Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 172 • Setembro 2013 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Lucia M. Vivan
Como reagir........................................18 As ferramentas disponíveis para enfrentar a Helicoverpa armigera, praga que ataca uma gama extensa de cultivos comerciais e não poupa sequer pastagens
Sombra ou sol?..........................08 Uso seguro................................10 Podre ou ardido..........................14 As vantagens e desafios da condução do cafeeiro em sistema sombreado em realação ao cultivo a pleno sol
Ferramenta nova e com potencial importante para o A nova legislação que classifica grãos ardidos manejo de daninhas, o uso de glifosato em milho RR2 e outras podridões na cultura do milho e as demanda pesquisas sobre efeitos de fitotoxidade estratégias para manejar esses problemas
Índice
Expediente
Diretas
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Cultivo de café sombreado
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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
Rithiéli Barcelos
• Redação
Aplicação de glifosato em milho RR
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Grãos ardidos e outras podridões em milho
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Especial Helicoverpa - Como manejar
18
Especial Helicoverpa - Ataque de H. armigera em pastagens 30
Karine Gobbi Rocheli Wachholz
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Coordenação
• Revisão
• Assinaturas
Cristiano Ceia
Simone Lopes Natália Rodrigues Francine Martins Clarissa Cardoso
Aline Partzsch de Almeida
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
• Expedição
Charles Ricardo Echer
Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Eventos - Premio Colheita Farta
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Eventos - 9ª edição do Top Ciência
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Eventos - Basf busca neutralizar emissão de carbono
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Coluna ANPII
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Assinatura anual (11 edições*): R$ 187,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Coluna Agronegócios
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com
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Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Mercado Agrícola
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com
Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 210,00 Euros 180,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Diretas Tecnologia
A Basf participou do 9º Insectshow, Seminário Nacional sobre Controle de Pragas da Cana-de-Açúcar, em julho, em Ribeirão Preto, São Paulo. A companhia ofereceu palestras aos participantes do evento. Os temas das discussões foram o uso de tecnologias para controle de insetos e o incremento de qualidade da matéria-prima e produtividade. Daniel Medeiros falou sobre o controle de Sphenophorus levis e Migdolus fryanus na cana e André Luis Mattiello abordou a tecnologia Basf para o controle de doenças e os benefícios AgCelence em cana.
Palestra
Durante o Insectshow, João Ibelli, da Syngenta, palestrou sobre o controle de pragas e doenças da cana para incremento de produtividade. Ibelli destacou, ainda, a eficiência dos produtos Actara e Engeo Pleno.
Táticas e estratégias
Presença
A Rotam participou do 9º Insectshow e anunciou investimentos no ramo sucroalcooleiro. O diretor de Marketing da empresa, Jadyr Sousa, destacou que a empresa está há dez anos no Brasil, tem 12 ingredientes ativos registrados, 32 marcas comerciais. A cana é um dos principais focos da marca que, em 2013, comemora dez anos de atuação no mercado agroquímico brasileiro.
Táticas e estratégias para o manejo de nematoides foi o tema abordado pelo nematologista Jaime Maia, durante o Insectshow. Maia enfatizou a necessidade de estabelecer um manejo adequado com destruição de restos da cultura, rotação com não hospedeira, pousio da área e introdução de culturas antagonistas como, por exemplo, a crotolária. Além disso, recomendou o uso de variedades resistentes e tratamento de sementes.
Jaime Maia
Alternativas
Controle de Sphenophorus foi o tema abordado pelo pesquisador José Francisco Garcia, da Global Cana, durante o Insectshow. O dano da praga é causado pelas larvas que perfuram os colmos, ocasionando perdas importantes na cultura da cana-de-açúcar. Garcia ressaltou a importância da continuidade de pesquisas na busca por alternativas mais eficazes, sem poluir o meio José Francisco Garcia ambiente.
História
No Insectshow, Antônio Soares, da Bayer CropScience, apresentou a história da empresa no controle de pragas e como primeira no mundo a lançar um inseticida, em 1863. Soares destacou também o Curbix para o controle da cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata). “O produto apresenta rápido efeito de choque, eficácia e maior período de controle, além de pertencer a um novo grupo químico, ideal para manejo de Antônio Soares resistência.”
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Soluções
O gerente técnico da FMC para Cultura Cana, Ricardo Werlang, abordou os fatores para um bom manejo de inseticidas e nematicidas no 9º Insectshow. Para controle de nematoides apresentou Furadan e Rugby, para combate de Sphenophorus levis o Talisman e contra a Diatrea o inseticida Dipel.
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Ricardo Werlang
Tema
Jantar
Critérios para controle de nematoides foi o tema abordado pelo pesquisador Wilson Novararetti. “Estes minúsculos parasitas podem reduzir drasticamente os rendimentos dos produtores de cana sem que eles sequer percebam”, lembrou.
Com a presença de produtores, pesquisadores e congressistas que participaram do VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, a Basf realizou jantar comemorativo aos dez anos do Sistema Clearfield e o lançamento da variedade de arroz Guri Inta CL. Entre as atrações do evento esteve o humorista gaúcho Jair Kobe, com o personagem Guri de Uruguaiana. Wilson Novararetti
Portfólio
A Bayer CropScience apresentou aos participantes do VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado seu portfólio de produtos. Através do programa Muito Mais Arroz - que oferece soluções integradas para todo ciclo da cultura – o gerente de Negócios de Sementes de Arroz da Bayer CropScience, Rodolpho Leal, destacou o arroz híbrido Prime CL e o QM1010 CL, da linha Arize. Durante o congresso a marca enfocou também o inseticida CropStar, o fungicida Nativo e o herbicida Starice.
Foco
A Milenia marcou presença no Insectshow com foco no controle de pragas em cana-de-açúcar. A empresa também ofereceu almoço para mais de 600 participantes do evento.
Participação
A Dimicron marcou presença no VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado que ocorreu em Santa Maria, enfatizando seus produtos voltados para cultura do arroz: A.20, Rice Seeds e Rice Dimistymulus.
Família Roundup
A Monsanto levou ao VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado seu sistema Roundup Ready Plus para solução de manejo, com destaque para o Roundup Transorb R para cultura do arroz.
Defensivos
Arroz irrigado
O Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado chegou à sua oitava edição na cidade de Santa Maria, com destaque para os diferentes cenários para a produção sustentável de arroz irrigado. O presidente do evento, Enio Marchesan, ressaltou a oportunidade de discutir temas atuais e relevantes para fortalecer a cadeia produtiva Enio Marchesan arrozeira.
A Dow AgroSciences participou da 8ª edição do Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, com três de seus defensivos agrícolas mais representativos, as linhas Ricer, Bim e Clincher. Para o responsável pelo segmento de crop da Dow AgroSciences, Joacir Rossi, a participação da empresa no evento reforça a proximidade e destaca a importância estratégica da região e da cultura de arroz. "Buscamos por meio de eventos e programas exclusivos de relacionamento com nossos clientes e distribuidores destacar todas as tendências e inovações no mercado", destacou.
Guri
A Basf lançou no VIII Congresso Brasileiro de Arroz a cultivar de arroz Clearfield: “Guri Inta CL. De acordo com gerente de Marketing Cultivos Cereais Sul da Basf, Eduardo Gobbo, essa variedade reforça o compromisso da empresa em controlar o arroz vermelho e permite melhores ganhos aos agricultores do estado do Rio Grande do Sul. Os estudos para a implantação da variedade iniciaram há quatro safras, baseados nos pilares do Sistema de Produção Clearfield: sementes certificadas, uso dos herbicidas Only e Kifix e Programa de Sustentabilidade do Sistema. “Preservamos a tecnologia com essa proposta de manejo e viabilizamos a produção nas melhores áreas”, afirmou Gobbo.
Sanidade
A Dupont apresentou no 9º Insectshow o tema: “Altacor, sanidade e qualidade de matéria-prima”. A palestra foi ministrada por Ivan Jarussi, da Dupont.
Ivan Jarussi
Regional cana
Em maio a UPL Brasil oficializou sua entrada no setor de cana-de-açúcar com o lançamento de uma regional exclusiva para o segmento. Agora, como forma de dar sequência ao projeto de consolidação no segmento, a empresa realizou seu primeiro Workshop Cana-de-açúcar, com a presença de alguns dos principais gerentes técnicos de usinas ao redor do País. “A entrada da UPL no segmento de cana-de-açúcar foi uma decisão estratégica. Este é o segundo maior mercado brasileiro e, para alcançar nosso objetivo de estar entre as cinco maiores empresas de agroquímicos no mundo, estamos atuando fortemente neste segmento. Nossos produtos podem contribuir muito para o aumento da produtividade dos canaviais, por isso é muito importante esse contato com produtores”, avalia Diego Arruda, gerente de Produtos da UPL Brasil.
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Café Fotos Fábio Partelli
Sombra ou sol?
A condução de cafeeiro em sistema sombreado apresenta vantagens em relação ao cultivo a pleno sol. Contudo, é necessário aprofundar o conhecimento sobre aspectos como escolha das espécies arbóreas adequadas, espaçamento, frequência da poda, nutrição das espécies cultivadas e seleção de cultivares de café mais adaptadas a essas condições de plantio
A
discussão sobre café arborizado/ sombreado versus café a pleno sol vem se desenvolvendo há mais de um século e atualmente as informações disponíveis ainda são inconclusivas. O sistema de cultivo de cafeeiros arborizados surge como alternativa. A exploração de duas culturas (café e outra espécie) na mesma área, por meio de um sistema de cultivo adequado, intercalandoas, contribuirá para o melhor equilíbrio do agrossistema, protegendo o cafeeiro contra ventos frios, geadas, altas temperaturas e excesso de irradiância. Além disso, possibilita a geração de novos empregos diretos e fixos no campo, diversificação da propriedade e agregação de uma fonte de renda extra para os cafeicultores. No mundo, em 2012 foram colhidos 144,1 milhões de sacas de café, sendo
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maior produtor o Brasil, seguido por Vietnam, Indonésia, Colômbia e Etiópia. O Brasil colheu 50,83 milhões de sacas (12,48 milhões de Conilon e 38,34 milhões de Arábica) e exportou um valor superior a oito bilhões de dólares em 2011. Culturas arbóreas geralmente consorciadas com cafeeiro também apresentam destaque econômico e ambiental, podendo inclusive desenvolver sistemas agroflorestais sustentáveis. Uma das espécies com potencial de consórcio é a seringueira, utilizada para produção de borracha. Em 2011 o Brasil atingiu uma produção recorde de borracha natural, produzindo 135 mil toneladas, estando em plena expansão. Contudo, mesmo assim o Brasil é grande importador de borracha. O cedro australiano, bem como o mogno, é utilizado no consórcio com cafeeiro e exerce
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grande importância na economia brasileira atualmente e no futuro. Outras culturas utilizadas por agricultores como consórcio na formação do cafeeiro também apresentam grande importância, como exemplos o mamão e a banana, que promovem a redução do custo de implantação do cafeeiro. A produção mundial de banana foi superior a 100 milhões de toneladas, destacando-se o Brasil como quarto maior produtor, com mais de sete milhões de toneladas. Por sua vez, o mamão destaca-se por apresentar grande importância nos mercados interno e externo brasileiros. O cultivo do cafeeiro arborizado é exemplo de prática agrícola sustentável, pois estudos indicam que no ambiente, em café cultivado sob sombra há maior biodiversidade, ao contrário de cafés cultivados
O plantio consorciado com mamão apresenta vantagens por se tratar de uma das culturas que auxilia a reduzir o custo de implantação do cafeeiro
a pleno sol. Além disso, durante a última década, o café sombreado tem promovido uma atividade comercial que é compatível com a conservação da floresta e sua fauna, mantendo alta diversidade de espécies de animais e plantas no agrossistema. O cultivo de café sombreado também pode proporcionar maior estabilidade da produtividade (menor bienalidade), maior vida útil da lavoura, maior facilidade de certificação como café sustentável, diversidade de atividades no campo, menor estresse por alta temperatura, maior sequestro de carbono, economia de adubo nitrogenado, quando consorciado com leguminosa, contribuindo com a redução da dependência de nitrogênio e mitigação do aquecimento global. Cafeeiros cultivados na sombra sofrem menos pressões ambientais, apresentando maior potencial fisiológico para a fixação de carbono, melhor desempenho fotossintético em comparação com plantas de café a pleno sol, produzindo grãos maiores,
A banana agrega valor ao cultivo, uma vez que o Brasil é o quarto produtor mundial dessa fruta, com produção de 7 milhões de toneladas
melhorando ainda a qualidade organoléptica dos grãos e menor incidência de cercosporiose. Cafés cultivados em sistemas agroflorestais associados com ingazeiro (Inga vera), grevílea (Grevillea robusta) e Gliricidia sepium obtiveram produtividade superior à do café cultivado a pleno sol. Contudo, outras literaturas citam que o sombreamento elevado diminui sua produção. Portanto, o manejo de forma correta é fundamental para o sucesso da atividade, sendo o limiar do sucesso ou do fracasso do sistema. Trabalhos realizados na Universidade Federal do Espírito Santo, Campus São Mateus, Espírito Santo, com cafeeiro Conilon, arborizado com seringueira, sugerem que o sombreamento influencia diretamente no microclima, reduz a luminosidade e a temperatura sobre a copa do cafeeiro, indicando diminuição do estresse. A produtividade das plantas cultivadas a pleno sol foi superior às plantas arborizadas com seringueira cultivada no espaçamento
de 7,8 x 2,3 metros, indicando que retenção de luminosidade igual ou superior a 72% atrapalha o desempenho produtivo do cafeeiro. Porém, a produtividade média obtida pelo cafeeiro sombreado foi superior à média nacional e a formação do seringal em espaçamento apropriado teve custos reduzidos. Existe uma demanda por conhecimento sobre os sistemas de produção de café arborizado em termos agronômicos e econômicos. Informações sobre a escolha das espécies arbóreas adequadas, espaçamento, frequência da poda, nutrição das espécies cultivadas e seleção de cultivares de café mais adaptadas a estas condições, ainda não são suficientemente claras para o cultivo totalmente eficiente, necessitando de mais pesquisas. C Fábio Luiz Partelli, André Vasconcellos Araújo e Gleison Oliosi, Univ. Federal do Espírito Santo
Milho
Uso seguro
Ferramenta nova e com grande potencial de utilização pelos produtores brasileiros para o manejo de plantas daninhas, a aplicação de glifosato sobre milho RR2 ainda necessita de mais pesquisas que favoreçam sua aplicação sustentável
A
tualmente é essencial aumentar a produção e a distribuição de gêneros alimentícios para alimentar uma população mundial crescente. Ao mesmo tempo é necessário reduzir os impactos ambientais e buscar a sustentabilidade dentro do sistema produtivo. Para isso ser alcançado é preciso a utilização responsável e adequada das descobertas científicas e de novas tecnologias disponíveis, como as plantas transgênicas. A cultura do milho, em função de seu potencial produtivo, composição química e valor nutritivo, constitui um dos mais importantes cereais cultivados e consumidos no planeta. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no Brasil, se forem confirmadas as previsões para a primeira e segunda safra de milho (ano agrícola 2012/2013), o cultivo nacional do cereal será recorde tanto em área como em produção, alcançando 15,69 milhões de hectares e produção total de 78 milhões de toneladas de grãos, dando destaque ao aumento de produtividade que será de 3,5%, quando comparado à safra anterior. Quando se relaciona a cultura do milho às tecnologias transgênicas disponíveis no Brasil, há os conhecidos eventos que conferem a resistência a insetos, e mais recentemente
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áreas agrícolas significativas cultivadas com milho contendo a tecnologia RR (Roundup Ready 2), que se refere ao milho tolerante ao herbicida glifosato. A tecnologia RR é muito conhecida no Brasil pela sua grande aceitabilidade por parte dos agricultores em relação à cultura da soja. Na safra (2012/2013), juntamente com o crescimento das áreas ocupadas pelas lavouras da oleaginosa que atingiram 27,65 milhões de hectares, passando a ser a maior área já cultivada com soja no país, ocorreu um elevado incremento das lavouras cultivadas com soja tolerante ao glifosato, chegando-se a aproximadamente 90% de toda área cultivada, ou seja, 24,45 milhões de hectares. Utilizando como exemplo a cultura da soja RR, que apresenta inegável êxito no Brasil e no mundo, resultados na literatura indicam que a aplicação de glifosato pode apresentar alguns efeitos indesejáveis. Baseados neste fato, algumas linhas de pesquisas especulam que o mesmo poderia ocorrer com o milho RR2. Porém, pouco se sabe efetivamente sobre este tema até o presente momento.
Glifosato e o milho RR
Hoje no mundo existem aproximada-
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mente 30 mil espécies de plantas daninhas que causam danos às culturas comerciais, através da competição por nutrientes, água, espaço físico, luz e liberação de substâncias alelopáticas, impossibilitando que a cultura expresse todo seu potencial produtivo. Assim, antes do surgimento e expansão das culturas tolerantes a herbicidas, a grande dificuldade no controle de plantas daninhas estava vinculada à dificuldade de um herbicida apresentar amplo espectro de controle e não causar danos à cultura de interesse. Desta forma, uma das primeiras características transgênicas a serem incorporadas com sucesso a culturas comerciais foi a tolerância a herbicida, com o desenvolvimento de culturas tolerantes ao herbicida glifosato, apresentando a tecnologia conhecida como Roundup Ready (RR). Esta tecnologia proporcionou aos agricultores expressivos benefícios, apoiada no eficiente herbicida glifosato. Segundo informações apresentadas no III Simpósio Internacional Sobre Glifosato, o produto representa de 12% a 14% do mercado mundial de defensivos agrícolas e tem participação entre 38% e 40% no mercado dos herbicidas, com uma produção anual do ácido de glifosato em torno de um bilhão de quilos, com uma taxa
média de crescimento no mercado mundial próxima a 15% ao ano. O glifosato é um herbicida pós-emergente, pertencente ao grupo químico das glicinas substituídas, classificado como não seletivo (seletivo somente para culturas RR). Apresenta largo espectro de ação controlando plantas daninhas anuais e perenes, tanto de folhas largas como estreitas. Sua ação é sistêmica, sendo absorvido por folhas e tecidos verdes, e translocado preferencialmente pelo floema, para os tecidos meristemáticos da planta. O produto age inibindo a atividade da enzima 5-enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintase (EPSPS), que é catalisadora de uma das reações de síntese dos aminoácidos aromáticos fenilalanina, tirosina e triptofano, essenciais ao desenvolvimento da planta. Segundo registros atualizados do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), o milho é atualmente, no Brasil, a cultura com maior número de eventos transgênicos aprovados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), com 18 eventos. Desse total, 13 apresentam algum tipo de tolerância a herbicidas (glifosato e glufosinato de amônio), 11 contêm a tecnologia RR2. A maioria dos eventos combina mais de uma tecnologia, por exemplo, cinco eventos apresentam tolerância aos herbicidas glifosato e glufosinato de amônio (tecnologia Liberty Link) somadas a diferentes tipos de resistência a insetos. O milho RR2 é amplamente cultivado em países como Estados Unidos, Canadá, Argentina, África do Sul, Filipinas, Colômbia, Uruguai, Paraguai e importado por União Europeia, Japão, México, Austrália, Nova Zelândia, Rússia, Taiwan, Coreia do Sul, China, Malásia e Singapura. O primeiro evento com esta tecnologia foi aprovado no Brasil em 2008, pela CTNBio, mas comercialmente áreas significativas foram cultivadas somente em 2011, apresentando grande potencial de aceitação pelos agricultores nos próximos anos,
Soja RR com sintoma de fitointoxicação em experimento com aplicação de altas doses de glifosato
a exemplo da soja RR. Existem outros eventos transgênicos que estão sendo desenvolvidos para a cultura do milho e estarão disponíveis em um futuro próximo. Destaca-se o sistema Enlist (Dow), que trará tolerância ao glifosato, e a um produto baseado no 2,4-D. Ainda terão alguns eventos que combinarão tolerâncias a mais de dois diferentes herbicidas, em uma única planta, como RR+2,4-D+glufosinato+ACCase. Tudo isso com o objetivo de controlar plantas daninhas resistentes aos herbicidas usuais. Também, em um futuro próximo, haverá grande dificuldade de controle de plantas voluntárias (tigueras) em meio a lavouras, devido à tolerância a grande número de herbicidas que apresentarão. Pelo fato da utilização recente do milho RR2, pelos produtores brasileiros, pouco se sabe de forma concreta sobre os possíveis efeitos que o glifosato pode causar a esta cultura, sob as condições edafoclimáticas brasileiras. Resultados de pesquisas abordando o efeito de glifosato sob o desenvolvimento da soja RR demonstram que em alguns casos pode, além de influenciar o balanço nutricional,
gerar efeitos fitotóxicos, afetar a eficiência no uso da água, na fotossíntese, na rizosfera, no acúmulo de biomassa, na síntese de aminoácidos e compostos secundários. A partir deste fato algumas pesquisas recentes recomendam cautela no uso de glifosato na cultura do milho RR2. De acordo com pesquisas realizadas no exterior, em algumas situações o milho RR2 pode apresentar alterações bioquímicas e fisiológicas com a aplicação do produto. Mas ao mesmo tempo outras pesquisas mostram que o glifosato não traz nenhum dano significativo ao milho RR2, quando aplicado dentro das doses recomendadas. Segundo informações técnicas da Dow AgroScience e Monsanto, herbicidas utilizados normalmente no milho convencional podem apresentar maiores danos que o glifosato em milho RR2, devido à melhor seletividade neste sistema, além de proporcionar maior flexibilidade e facilidade no controle das plantas daninhas. No Brasil, alguns dos poucos experimentos realizados abordando o milho RR2 foram apresentados em 2012, no XXVIII Congresso Brasileiro de Ciência das Plantas Daninhas, em Campo Grande. Um dos trabalhos verificou alterações nos teores de nutrientes em folhas do milho RR, após a aplicação de diferentes formulações de glifosato. Outros dois trabalhos conduzidos por uma mesma equipe (da UEM), também em vasos, demonstraram efeitos do glifosato sob a taxa fotossintética e condutância estomática no milho RR, além de prejuízo ao desenvolvimento das raízes das plantas. Alguns trabalhos também destacaram que se deve tomar muito cuidado com as associações do glifosato com outros herbicidas, inseticidas e fertilizantes foliares, pois dependendo da combinação pode-se potencializar a fitointoxicação da cultura, e ainda comprometer a eficiência de controle das
Resultados de experimentos realizados nas duas últimas safras, com milho RR2 apresentando menores sintomas de fitointoxicação causados pelo glifosato, aplicado em altas doses, quando comparada com a soja RR (UFPR – USP/Esalq)
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Áreas experimentais com Soja RR no centro-norte do Paraná (direita) e milho RR2 no oeste do Paraná (esquerda). Identifica-se fitointoxicação tanto no milho RR2 (leve) quanto na soja RR (acentuada), diagnosticada por clorose e menor desenvolvimento vegetativo (no lado esquerdo de cada foto para cada cultura), em doses superiores a 2.160g.e.a./ha
plantas daninhas. Devido à escassez de informações e dúvidas que persistem e precisam ser mais bem elucidadas no âmbito científico e técnico, relacionadas a possíveis efeitos do glifosato sob o desenvolvimento da cultura de milho RR2, está sendo conduzida, através de uma parceria entre a USP/Esalq e a UFPR (com apoio da Cooperativa CVale e Pioneer), uma série de experimentos com o objetivo de analisar o comportamento do milho RR2 submetido a diferentes manejos, formulações e doses de glifosato. As atividades estão sob a coordenação dos professores Leandro Paiola Albrecht (UFPR) e Ricardo Victoria Filho (Esalq). Nos principais trabalhos em parceira entre a UFPR e a USP/Esalq, estão sendo avaliadas duas formulações distintas, registradas no mercado para uso em pós-emergência no milho RR2 (Roundup Ready Milho e Zapp QI) sob cinco doses (0; 720; 1.440; 2.160; 2.880g.e.a./ha), e dois manejos (aplicação única e sequencial). Já em ensaios menores está analisando-se a associação de glifosato com outros herbicidas, sendo avaliadas variáveis relacionadas ao desempenho das plantas, produtividade, fisiologia, balanço nutricional e qualidade dos grãos produzidos. Isto vem sendo feito principalmente em áreas de produção
localizadas no estado do Paraná, na primeira e segunda safras. Resultados parciais com milho RR2, apresentados em 2012 pela equipe, no 29º Congresso Nacional de Milho e Sorgo, indicaram uma tendência de diminuição da clorofila A e B nas folhas (caracterizando visualmente a clorose), com o aumento das doses de glifosato. Outros dados preliminares de experimento realizado na safra 2012/2013 indicaram impacto sobre o desenvolvimento da cultura, como a diminuição na altura das plantas quando submetidas a altas doses de glifosato (acima da dose de registro das formulações). Em breve os resultados completos e conclusivos nos diversos experimentos serão obtidos (safra 2011/12, 2012/13 e 2013/14). Por fim, quando se fala de culturas RR, ressalta-se ainda que o uso contínuo de um mesmo produto e de uma mesma tecnologia pode resultar em resistência de plantas daninhas, como tem ocorrido no Brasil com o glifosato. Este fator causa prejuízos ao produtor e pode até inviabilizar o uso de tecnologias como as culturas RR. Portanto, deve ser evitado ao máximo. A chave de um controle eficiente destas plantas baseia-se na diversidade, seja de culturas implantadas, práticas de manejo e de produtos utilizados.
Considerações finais
Infere-se que, diante da literatura disponível, dentro desta linha de estudo, pouco se sabe sobre o real impacto da aplicação de glifosato sobre a cultura do milho RR2, em distintas condições de campo dentro do território brasileiro. Assim, faz-se necessária a continuidade no processo de geração de informações, provenientes da pesquisa dirigida, buscando-se caracterizar a real situação referente ao uso de glifosato em pós-emergência na cultura do milho RR2, em campo. Isso por meio da obtenção de informações que possam fomentar o posicionamento seguro desta nova tecnologia. Sem dúvida este assunto exige mais pesquisas, com o objetivo de proporcionar condições que favoreçam o uso sustentável desta nova ferramenta que apresenta grande potencial de utilização pelos produtores brasileiros, com benefícios relacionados ao C manejo de plantas daninhas. Alfredo Junior Paiola Albrecht, Esalq Leandro Paiola Albrecht, UFPR - Palotina Ricardo Victoria Filho USP/Esalq
Área experimental com milho RR2 em São Paulo (Piracicaba - SP, USP/Esalq), com comparativo entre milho RR2 (esquerda na imagem) e milho convencional (direita na imagem) 20 dias após a aplicação de glifosato. Experimento com milho RR2 no estado do Paraná (imagem à direita)
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Milho
Podre ou ardido
Fotos Marcelo Madalosso
A partir deste mês de setembro está prevista nova legislação para estabelecer os limites máximos de tolerância de grãos ardidos, quebrados ou carunchados na cultura do milho. Reflexo das podridões de espigas, causadas principalmente por fungos presentes no campo, a doença além de afetar a produtividade constitui risco à saúde humana e animal pela produção de micotoxinas. Sua prevenção passa por programas de controle com fungicidas, uso de variedades resistentes e densidades adequadas de plantio
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os últimos anos, notadamente a partir do final de década de 90, as doenças têm se tornado uma grande preocupação para técnicos e produtores envolvidos no cultivo do milho. Relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras do País. É importante entender que o desenvolvimento das doenças do milho está estreitamente relacionado à evolução do sistema de produção desta cultura no Brasil. Modificações ocorridas no sistema de produção, que resultaram no aumento da produtividade da cultura, foram, também, responsáveis pelo crescimento da incidência e da severidade das doenças. Desse modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio
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(safra e safrinha), a adoção do sistema de plantio direto, o aumento do uso de sistemas de irrigação, a ausência de rotação de cultura e o uso de materiais suscetíveis têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos, resultando no surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura relacionados à ocorrência de doenças (Zambolim et al, 2000). Neste caso, os fungos causadores de podridões do colmo e da espiga têm recebido destaque nos últimos anos pelo aumento de sua incidência e pelas perdas provocadas na produtividade, por afetarem diretamente a qualidade do produto final. De acordo com a Instrução Normativa n° 60 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de 22/12/2011,
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que revoga a de nº 845, de 8 de novembro de 1976, e a Portaria SDR nº 11, de 12 de abril de 1996, que estabelece o Regulamento Técnico para Cultura do Milho, “os grãos ou pedaços que se apresentam atacados por insetos considerados pragas de grãos armazenados em qualquer de suas fases evolutivas” são classificados como Carunchados. Já os considerados Avariados “são os grãos que se apresentarem mofados, gessados, germinados, fermentados, imaturos, chochos ou ardidos”. Sendo que “serão considerados ardidos os grãos ou pedaços que apresentam escurecimento total, por ação do calor, umidade ou fermentação avançada atingindo a totalidade da massa do grão, sendo também considerados como ardidos, devido à semelhança de aspecto, os grãos totalmente
Tabela 1 – Limites máximos de tolerância expressos em percentual pella macrospora nas demais regiões produtoras de milho (Pinto, 2005; (%). Brasil, 2012 Mario; Reis, 2001). Enquadramento Grãos Avariadoso Grãos Carunchados Matérias Estranhas Espécies do gênero Fusarium, Total Ardidos Quebrados e Impurezas como F. verticillioides, F. gramineaTipo 1 6 1 3 2 1 rum, F. sporotrichioides, F. nivale, F. Tipo 2 10 2 4 3 1,5 culmorum, F. poae, F. proliferatum, Tipo 3 15 3 5 4 2 entre outras, requerem nos grãos Fora de tipo 20 5 >5 8 >2 umidades acima de 20% para o seu queimados”. desenvolvimento. Já a podridão na espiga Inicialmente, era para esta IN entrar predomina em anos em que prevalecem em vigor em 1º/7/2012, porém, a Portaria condições úmidas após a polinização ou onde do Mapa n° 611 de 4/7/2012 prorroga e ocorrem seca ou danos de insetos nas espigas estabelece o início em vigor a partir de 1° de (Pinto, 2005). setembro de 2013. Assim, os limites máximos Como principais fontes de inóculo de de tolerância para cada tonelada de grão são Fusarium spp. tem-se os restos de cultura de expressos em porcentagem na Tabela 1. milho, como colmos e espigas, as sementes Os grãos ardidos em milho são o reflexo de milho contaminadas, as gramíneas de das podridões de espigas, causadas princi- inverno (trigo, aveia e cevada) e também palmente pelos fungos presentes no campo. o solo. A disseminação dos esporos se dá Esses fungos podem ser divididos em dois através do vento e de insetos e o período grupos: aqueles que podem apenas produzir de maior suscetibilidade ocorre de sete dias grãos ardidos e aqueles que, além da produ- a dez dias após a polinização dos estigmas ção de grãos ardidos, são biossintetizadores (Pinto, 2005). de micotoxinas. Sintomatologicamente pode ocorrer No primeiro grupo, encontram-se os uma pigmentação rosa (F. verticillioides) ou fungos Drechslera zeicola, Cladosporium roxa (F. graminearum) entre os grãos, sendo herbarum, Ustilago maydis, Nigrospora oryzae, que as espigas que não dobram após a maColletotrichum graminicola, entre outros. No turidade fisiológica dos grãos e aquelas com segundo grupo, se tem os fungos Stenocar- mau empalhamento, são as mais suscetíveis. pella maydis (=Diplodia maydis), Stenocarpella Quando ocorrem fortes chuvas após o estádio macrospora (=Diplodia macrospora), Fusa- da maturidade fisiológica dos grãos e tamrium verticillioides (=Fusarium moniliforme), bém há a postergação na colheita do milho, F. subglutinans, F. graminearum, F. sporotri- normalmente a incidência de grãos ardidos chioides e Gibberella zeae. supera esse limite de tolerância máxima, Ocasionalmente no campo pode haver cujos valores têm atingido frequentemente produção de grãos ardidos e de micotoxinas 10% a 20% em algumas cultivares (Pinto, pelos fungos Penicillium oxalicum, Aspergillus 2005). flavus e A. parasiticus. Os fungos F. graminearum, F. sporotrichioides e Stenocarpella Podridão branca da espiga maydis são mais frequentes nos estados do A podridão branca da espiga é causada Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; pelos fungos Stenocarpella maydis e S. mae F. verticillioides, F. subglutinans e Stenocar- crospora. As espigas infectadas apresentam
Presença de estruturas de frutificação do patógeno – picnídios
Crescimento micelial branco entre as fileiras de grãos na espiga causado por Stenocarpella spp.
os grãos de cor marrom, de baixo peso e com crescimento micelial branco entre as fileiras de grãos. No interior da espiga ou nas palhas das espigas infectadas, há a presença de numerosos pontos negros (picnídios), que são as estruturas de frutificação do patógeno. Uma característica peculiar entre as duas espécies de Diplodia é que apenas a S. macrospora ataca as folhas do milho (Pinto; Santos; Wruck, 2006). A precisa distinção entre essas espécies só é possível mediante análises microscópicas, pois comparativamente os esporos de S. macrospora são maiores e mais alongados do que os de S. maydis (Casa, R. T., Reis, E. M.; Zambolim, L., 2006). Os esporos desses fungos sobrevivem dentro dos picnídios no solo e nos restos de cultura contaminados e, nas sementes, na forma de esporos e de micélio dormente, sendo essas fontes primárias de
Sintoma de mancha de diplodia com picnídios na folha do milho
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inóculo para a infecção das espigas. A infecção geralmente começa na base da espiga e avança até o ápice. No entanto, as espigas mal empalhadas ou com palhas frouxas ou que não se dobram após a maturidade fisiológica são as mais suscetíveis. A alta precipitação pluviométrica na época da maturação dos grãos favorece o aparecimento dessa doença. A evolução da podridão praticamente cessa quando o teor de umidade dos grãos atinge 21% a 22% em base úmida. O manejo integrado para o controle desta podridão de espiga envolve a utilização de cultivares resistentes, de sementes livres dos patógenos, da destruição de restos culturais de milho infectados e da rotação de culturas, visto que o milho é o único hospedeiro desses patógenos (Pinto, 2001).
Podridão rosada da espiga
Marcelo Madalosso
É causada por Fusarium moniliforme ou por Fusarium subglutinans apresentando elevado número de plantas hospedeiras, sendo
considerados parasitas não especializados. A infecção pode se iniciar pelo topo ou por qualquer outra parte da espiga, mas sempre associada a alguma injúria (insetos, pássaros). Com o desenvolvimento da doença, uma massa cotonosa avermelhada pode recobrir os grãos infectados ou a área da palha atingida. Em alguns grãos, pode haver o aparecimento de estrias brancas no pericarpo, causadas pela ação do fungo. Quando a infecção ocorre através do pedúnculo da espiga, todos os grãos podem ser infectados, mas a infecção só se desenvolverá naqueles que apresentarem alguma injúria no pericarpo (Reis et al, 2004. Pereira, 1997). Quando o teor de umidade dos grãos atinge 18% a 19%, paralisa o desenvolvimento do patógeno, em base úmida. Embora esses fungos sejam frequentemente isolados das sementes, essas não são a principal fonte de inóculo. Como os fungos possuem a fase saprofítica ativa, sobrevivem e se multiplicam na matéria orgânica, no solo, sendo essa a fonte prin-
cipal de inóculo.
Podridão da ponta da espiga
É causada pelo patógeno Gibberella zeae, comum em regiões de clima ameno e de alta umidade relativa, principalmente com ocorrência de chuvas após a polinização. A doença inicia-se com uma massa cotonosa avermelhada na ponta da espiga e pode progredir para a base da espiga. A palha pode ser colonizada pelo fungo e tornar-se colada na espiga. Ocasionalmente, essa podridão pode iniciar-se na base e progredir para a ponta da espiga, confundindo o sintoma com aquele causado por Fusarium moniliforme ou F. subglutinans (Pinto, 2001). Chuvas frequentes no final do desenvolvimento da cultura, principalmente em lavoura com cultivar com espigas que não dobram, aumentam a incidência dessa podridão de espiga. Esse fungo sobrevive nas sementes na forma de micélio dormente. A forma anamórfica de G. zeae é denominada Fusarium graminearum.
Produção de micotoxinas
Na podridão branca da espiga a infecção geralmente começa na base e avança até o ápice
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A infecção dos grãos de milho pode ocorrer em duas condições específicas, isto é, em pré-colheita (podridões de espigas com a formação de grãos ardidos) e em pós-colheita dos grãos durante o beneficiamento, armazenamento e transporte (grãos mofados ou embolorados) (Pinto, 2003). No processo de colonização dos grãos, muitas espécies denominadas de fungos toxigênicos podem, além dos danos físicos (descolorações dos grãos, reduções nos conteúdos de carboidratos, de proteínas e de açúcares totais), produzir substâncias tóxicas denominadas de micotoxinas. É importante ressaltar que a presença do fungo toxigênico não implica necessariamente na produção de micotoxinas, que estão intimamente relacionadas à capacidade de biossíntese do fungo e das condições ambientais predisponentes, como em alguns casos, da alternância das temperaturas diurna e noturna (Embrapa, 2005). As perdas qualitativas por grãos ardidos são motivos de desvalorização do produto e uma ameaça à saúde dos rebanhos e à humana. O gênero Fusarium tem uma faixa de temperatura ótima para o seu desenvolvimento situada entre 20ºC e 25ºC. Contudo, suas toxinas são produzidas a temperaturas baixas (Pinto, 2001). Isso significa que Fusarium produz as micotoxinas sob o efeito de choque térmico, principalmente com alternância das temperaturas diurna e noturna. Fungo do gênero necessita de temperaturas em torno de 25ºC para crescer, mas para a biossíntese das toxinas é necessário que as temperaturas
sejam mais amenas ou frias, geralmente abaixo de 16ºC-18ºC e o teor de umidade mais elevado para se desenvolver (Jay, 2005, Julliatti, 2007). As principais micotoxinas que têm sido relatadas contaminando o milho na pré-colheita são as aflatoxinas (Aspergillus flavus e A. parasiticus), a ocratoxina (Aspergillus ochraceus) e as toxinas de Fusarium: zearalenona (produzida por F. graminearum e F. roseum), deoxinivalenol - DON ou vomitoxina (F. graminearum e F. verticillioides), toxina T-2 (F. sporotrichioides) e as fumonisinas (F. verticillioides, F. subglutinans e F. proliferatum). O gênero Fusarium é, basicamente, constituído de fungos de campo que geralmente infectam os grãos de milho em pré-colheita. As fumonisinas (B1, B2, B3, B4 e C1) são o resultado da ação de Fusarium subglutinans, F. verticillioides e F. proliferatum em grãos de milho (Pinto, 2005).
Micotoxicoses
Micotoxicoses é o nome dado às enfermidades causadas pelos fungos que acometem humanos e animais, por metabólitos secundários tóxicos (micotoxinas) que são produzidos por algumas espécies fúngicas (Gimeno e Martins, 2007). As micotoxicoses podem promover, nos animais domésticos e em humanos, danos como redução no crescimento, interferências nas funções vitais do organismo, produção de tumores malignos etc (Embrapa, 2005). Para citar alguns exemplos, o efeito tóxico das aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2), denominado de aflatoxicose, pode ser de curta duração (aflatoxicose aguda) ou de longa duração (aflatoxicose crônica). Bovinos, suínos e aves podem ingerir rações formuladas com grãos de milho contaminadas com aflatoxinas, converter a toxina em seus metabólitos tóxicos, que entrarão na cadeia alimentar humana via consumo de leite, carne e ovos. Quando grãos de milho tornam-se contaminados com afla-
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toxinas, por exemplo, a aflatoxina B1, que é um carcinógeno, pode via arraçoamento animal ser convertida em outro carcinógeno potencial (aflatoxina M1) e ser liberada no leite (Pinto, 2005). A contaminação por fumonisinas (B1, B2, B3, B4, A1 e A2.) em grãos de milho é extremamente maléfica à alimentação de suínos (edema pulmonar) e em equinos (leucoencefalomalácea - a toxina destrói as células cerebrais, formando grandes orifícios no cérebro do animal) (Pinto, 2005). As fumonisinas têm sido, em humanos, associadas com a incidência de câncer do esôfago. Por outro lado, suínos, bovinos, aves e ovelhas são muito sensíveis à zearalenona, que causa o hiperestrogenismo em suínos, pois a sua molécula é semelhante à da progesterona (hormônio feminino). Quanto à toxina T-2, causa má formação óssea nas pernas de frangos de corte.
Estratégias de manejo
A prevenção contra a infecção dos grãos de milho por fungos promotores de grãos ardidos deve levar em consideração um conjunto de medidas: cultivares de
milho resistentes/tolerantes aos fungos dos gêneros Fusarium e Stenocarpella. Rotação de culturas com espécies de plantas não suscetíveis (evitar principalmente gramíneas). Sementes são as principais fontes de inóculo: qualidade sanitária e fungicida. Não utilizar altas densidades de plantio. Evitar desbalanço N – K, irrigação no florescimento e danos por insetos nas espigas. Preferência a híbridos com bom empalhamento de espiga. Utilização de C cultivares de milho com espigas que dobram após a maturidade fisiológica dos grãos pode auxiliar. Não retardar a colheita e/ou colher espigas de plantas tombadas. Quando possível, realizar o enterrio de restos de culturas de milho infectado. Programa de controle com fungicidas: folha limpa reduz inóculo C para espiga. Marcelo Madalosso, Instituto Phytus/URI Santiago Caroline Gulart, Instituto Phytus Diego Dalla Favera, Francis Maffini e Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria
Cultivar
Especial Helicoverpa
Como reagir
Responsável por prejuízos graves na safra 2012/13 a lagarta Helicoverpa armigera tem ceifado lucros e tirado o sossego de produtores brasileiros de soja, algodão, milho e outros cultivos comerciais. Manejar essa praga demanda estratégias integradas, de modo racional, com sustentação técnica e capaz de produzir resultados sustentáveis
O
Brasil tem batido recordes seguidos de produção de grãos nas últimas safras, podendo, em breve, segundo as previsões oficiais, tornar-se o maior produtor mundial. Na safra 2012/2013 a produção brasileira de grãos foi de 184,1 milhões de toneladas, um aumento de 10,8% em relação à safra 2011/2012, com possibilidade de crescer mais ainda na safra 2013/2014 (Conab, 2012). Entretanto, esse cenário de expectativa crescente de produção agrícola poderá não se concretizar em decorrência dos problemas fitossanitários que os produtores brasileiros vêm enfrentando ultimamente. Uma das questões que têm atormentado os produtores agrícolas, especialmente das regiões Norte, Nordeste e Centro-Sul do País, é a ocorrência de lagartas da subfamília Heliothinae, que têm atacado intensamente diferentes culturas de importância econômica nessas regiões, como soja, algodão, milho,
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feijão e tomate, independentemente dessas plantas cultivadas serem transgênicas, que expressam as proteínas Bt, ou convencionais (Czepak et al, 2013). Três espécies de lagartas da subfamília Heliothinae têm sido observadas causando danos nessas culturas, sendo elas: Heliothis virescens (Fabricius), Helicoverpa zea (Boddie) e Helicoverpa armigera (Hübner). H. virescens é uma espécie de longa ocorrência no Brasil, sendo sua fase larval conhecida, popularmente, como lagartadas-maçãs-do-algodoeiro e que tradicionalmente ataca cultivos de algodão, soja e tomate. A espécie H. zea, cuja fase larval é denominada de lagarta-da-espiga-do-milho ou por alguns como broca-do-tomateiro, tem sido observada causando danos em botões florais, flores e maçãs do algodoeiro, bem como em frutos verdes e maduros do tomateiro, nas extremidades das espigas do milho, alimentando-se dos grãos em forma-
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ção, em plântulas e estruturas reprodutivas da soja (Czepak et al, 2013). Já H. armigera é uma espécie que até pouco tempo era considerada praga quarentenária A1 no Brasil, mas que foi recentemente detectada nos estados de Goiás, Bahia e Mato Grosso, associada principalmente às culturas do algodão e da soja (Czepak et al, 2013), sendo esta constatação o primeiro registro de ocorrência no Continente Americano.
H. armigera
A espécie H. armigera é um inseto holometábolo, ou seja, de metamorfose completa, em que o seu desenvolvimento biológico passa pelas fases de ovo, lagarta, pré-pupa, pupa e adulta. Os ovos de H. Armigera (Figura 1) são de coloração branco-amarelada com aspecto brilhante logo após a sua deposição no substrato, tornando-se marromescuro próximo do momento de eclosão da larva. A porção apical do ovo é lisa, porém,
Tabela 1 - Produtos autorizados emergencialmente pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento até 30 de agosto de 20131 para o controle de Helicoverpa spp. no Brasil Produtos químicos Ingrediente ativo Flubendiamida Lambda-cialotrina + Clorantraniliprole Clorfenapir Zeta-cipermetrina + Bifentrina Zeta-cipermetrina Bifentrina + Carbosulfano Metoxifenozida Bifentrina Espinosade
Bacillus thuringiensis aizawai Bacillus thuringiensis Bacillus thuringiensis Bacillus thuringiensis Bacillus thuringiensis Bacillus thuringiensis Bacillus thuringiensis Bacillus thuringiensis Baculovirus sp. Baculovirus sp. Baculovirus sp. (VPN-HzSNPV) (Z)-11-Hexadecenal; (Z)-9-Hexadecenal
Nome comum ou comercial Belt Ampligo Pirate Hero Mustang 350 EC Talisman Intrepid 240 SC Talstar 100 EC Tracer Produtos biológicos e feromônios Agree Thuricide Bac-control WP Dipel Dipel WG Dipel WP BMP 123 (2x WDG) BMP 123 (2x WP) HzSNPV CCAB Gemstar LC Gemstar Bio Helicoverpa (Feromônio sexual)
Cultura autorizada Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Milho Algodão e Soja Algodão Algodão Algodão e Feijão Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja Algodão e Soja
Outros produtos poderão ser autorizados a partir desta data, ou até mesmo a extensão de uso para outras culturas dos produtos já aprovados. Fonte: MAPA
1
forma de semicírculo, aparentando formato de sela (Figura 4), sendo esta característica determinante para a identificação de lagartas de H. armigera (Matthews, 1999). Outra característica detectável nas lagartas desta espécie diz respeito à textura do seu tegumento, que se apresenta com aspecto levemente coriáceo, diferindo das demais espécies de Heliothinae que ocorrem no Brasil (Czepak et al, 2013). Esta característica no tegumento da lagarta pode estar relacionada à capacidade de resistência que o inseto apresenta aos inseticidas químicos,
especialmente para os produtos que têm ação de contato, como piretroides, organofosforados e carbamatos. Em adição, a lagarta de H. armigera, quando é tocada, apresenta o comportamento de encurvar a cápsula cefálica em direção à região ventral do primeiro par de falsas pernas, provavelmente exibindo comportamento de defesa (Figura 3). A fase de pré-pupa compreende o período entre o momento em que a lagarta cessa a sua alimentação, até a fase de pupa. A pupa de H. armigera é do tipo obtecta
Bayer CropScience
André Shimohiro
o restante da sua superfície é esculpido em forma de nervuras longitudinais. O período de incubação dos ovos é, em média, de 3,3 dias, com o seu comprimento variando de 0,42mm a 0,60mm e a largura de 0,40mm a 0,55mm (Ali; Choudhury, 2009). As fêmeas realizam a oviposição normalmente durante o período noturno e colocam seus ovos de forma isolada ou em pequenos agrupamentos preferencialmente na face adaxial das folhas ou sobre talos, flores, frutos e brotações terminais com superfícies pubescentes (Mensah, 1996). O período larval de H. armigera é completado com o desenvolvimento de seis distintos instares. Os primeiros instares larvais, que apresentam coloração variando de branco-amarelada a marrom-avermelhada e cápsula cefálica entre marrom-escuro e preto, alimentam-se inicialmente das partes mais tenras das plantas, onde podem produzir um tipo de teia ou até mesmo formar um pequeno casulo (Figura 2). Este seria o momento adequado para o controle químico da praga, pois é quando as lagartas estão mais expostas e também mais suscetíveis ao contato dos produtos químicos aplicados em pulverização. À medida que as larvas crescem, adquirem diferentes colorações (Figura 3), variando do amarelo-palha ao verde, apresentando listras de coloração marrom lateralmente no tórax, abdômen e na cabeça, podendo o tipo de alimentação utilizado pela lagarta influenciar na sua coloração (Ali; Choudhury, 2009). A partir do quarto instar, as lagartas apresentam tubérculos abdominais escuros e bem visíveis na região dorsal do primeiro segmento abdominal, que são dispostos na
Figura 1 - Ovos de Helicoverpa armigera recentemente depositados sobre o substrato
Figura 2 - Lagartas pequenas de Helicoverpa armigera na folha de soja
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Fotos André Shimohiro
Figura 3 - Lagartas de Helicoverpa armigera de diferentes colorações
(Figura 5); apresenta coloração marrommogno e superfície arredondada nas partes terminais. Este estágio dura entre dez e 14 dias (Ali; Choudhury, 2009). O desenvolvimento pupal ocorre no solo e, dependendo das condições climáticas, pode entrar em diapausa (Karim, 2000). As mariposas fêmeas de H. armigera apresentam as asas dianteiras amareladas, enquanto as dos machos são cinza-esverdeadas com uma banda ligeiramente mais escura no terço distal e uma pequena mancha escurecida no centro da asa, em formato de rim. As asas posteriores são mais claras, apresentando uma borda marrom na sua extremidade apical (Figura 6). As fêmeas apresentam longevidade média de 11,7 dias e os machos de 9,2 dias (Ali; Choudhury, 2009). Os adultos de H. armigera são fortemente atraídos por flores que produzem néctar, sendo esse recurso importante na seleção do hospedeiro, que também influencia a sua capacidade de oviposição (Cunningham et al, 1999). Outros compostos secundários (semioquímicos) que são produzidos pelas plantas hospedeiras também influenciam o comportamento de colonização de H. armigera (Firempong; Zalucki, 1991). Cada fêmea, durante o período de oviposição, que é de cerca de 5,3 dias, pode colocar de 2.200 ovos até 3.000 ovos sobre as plantas hospedeiras (Naseri et al, 2011; Reed, 1965), o que caracteriza o elevado potencial reprodutivo desta espécie.
Distribuição geográfica e plantas hospedeiras
compreendendo cerca de 45 famílias, incluindo Asteraceae, Fabaceae, Malvaceae, Poaceae e Solanaceae (Ali; Choudhury, 2009; Fitt, 1989; Pawar et al, 1986; Pogue, 2004; Reed; Powar, 1982). No Brasil, as lagartas de H. armigera já foram constatadas se alimentando de várias culturas de importância econômica, tais como algodão, soja, milho, tomate, feijão, sorgo, milheto, guandu, trigo e crotalária, bem como em algumas espécies de plantas daninhas. Pelo fato de ser uma espécie polífaga, além das plantas hospedeiras preferenciais em que as fêmeas, normalmente, realizam as posturas, outros hospedeiros alternativos presentes nos arredores das lavouras assumem papel decisivo na sobrevivência e dinâmica sazonal da praga, uma vez que dão suporte à manutenção de suas populações em determinada região (Fitt, 1989).
Danos nos cultivos
As lagartas de H. armigera podem se alimentar tanto dos órgãos vegetativos como reprodutivos de várias espécies de plantas de importância econômica. Estima-se que a perda mundial causada por lagartas de H. armigera, nas diferentes culturas em que atacam, chega anualmente a cinco bilhões de dólares (Lammers; Macleod, 2007. Sharma et al (2008) relataram que a perda anual causada por H. armigera supera dois bilhões de dólares apenas na região dos trópicos semiáridos da Europa e que o custo anual da aplicação de inseticidas nas lavouras, para o controle dessa praga, é de 500 milhões de dólares. No Brasil, as maiores intensidades de danos econômicos causados por lagartas
Gabriella C. Gaston
H. armigera apresenta ampla distribuição geográfica pelo mundo, sendo registrada
em praticamente toda a Europa, Ásia, África, Austrália e Oceania (Guo, 1997; Guoqing et al, 2001; Zalucki et al, 1986). Nas américas, essa praga não havia sido detectada até 2013, quando sua ocorrência foi registrada em várias regiões agrícolas do Brasil (Czepak et al, 2013). Existe a possibilidade de que H. armigera já esteja disseminada por todo o País, o que reforça a necessidade da realização de estudos de levantamento taxonômicos com o objetivo de conhecer sua real distribuição geográfica no território brasileiro, em especial nas regiões de importância agrícola. Essas informações, quando devidamente obtidas e catalogadas, fornecerão subsídios para o planejamento e a implementação de estratégias no manejo integrado dessa praga. A grande capacidade de dispersão de H. armigera está estreitamente relacionada à habilidade com que os adultos desta espécie apresentam de se dispersar em condições de campo, podendo-se nesta fase migrar a uma distância de até 1.000km (Pedgley, 1985). Associado a isso, esta espécie também apresenta alta capacidade de sobrevivência em condições ambientais adversas, tais como excesso de calor, frio ou seca, sendo possível ter várias gerações ao longo do ano, uma vez que o ciclo de ovo a adulto pode ser completado dentro de quatro a cinco semanas (Fitt, 1989). H. armigera é considerada uma espécie altamente polífaga, ou seja, que apresenta a capacidade de se desenvolver em ampla gama de plantas hospedeiras. Suas larvas têm sido registradas se alimentando e/ou causando danos em mais de 100 espécies de plantas, sejam elas cultivadas ou não,
Figura 4 - Desenho esquemático ilustrando a presença de tubérculos escuros no primeiro e segundo segmento abdominal de Helicoverpa armigera, caracterizando o formato de uma cela
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Narcizo da Silva Câmara
Figura 5 - Pupa de Helicoverpa armigera
armigera em cultivos de soja dos estados do Maranhão e Piauí. Em Mato Grosso, essa praga foi também observada atacando lavouras de algodão, soja e milho, enquanto em Goiás os danos foram mais acentuados nas lavouras de tomate e soja. Na cultura da soja, as larvas de H. armigera podem atacar as folhas, mas têm preferência pelas vagens, sejam elas em desenvolvimento ou já completamente formadas (Figura 8). No Estado de Mato Grosso do Sul, lagartas de H. armigera foram verificadas causando danos em lavouras de algodão e soja, apenas na região dos Chapadões (entorno de Chapadão do Sul), enquanto na região sul do estado do Paraná, abrangendo especialmente a área do entorno do município de Ponta Grossa,
foi observado um ataque severo dessa praga, durante os estádios iniciais de desenvolvimento da soja. A safrinha de milho de 2013 foi também marcada por elevados surtos de lagartas de H. armigera nas principais regiões produtoras, talvez a maior já registrada desde o início da comercialização das sementes de milho geneticamente modificado (Bt) no Brasil. Além da lagartado-cartucho, Spodoptera frugiperda, as lagartas de Helicoverpa spp. passaram a ser as grandes vilãs nos cultivos de milho. Na região oeste do estado do Paraná, mais precisamente na região de Campo Mourão, foi constatada alta incidência de lagartas de Helicoverpa, provavelmente H. armigera, causando danos em plantas de soja safrinha (Figura 9) ou em plantas de milho Bt circundadas por plantas novas de soja tiguera (Figura 10). Inicialmente, as lagartas estavam se alimentando na soja tiguera, porém, após a dessecação da soja, as lagartas migraram para as plantas do milho. Em algumas regiões dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, vários produtores de milho safrinha também relataram a ocorrência de lagartas de Helicoverpa sp. em lavouras de milho Bt, notadamente na cultivar transgênica Herculex (Hx), sendo também observada certa preferência do inseto por materiais que apresentavam espigas com estigmas claros.
Lúcia Madalena Vivan
de H. armigera têm-se verificado, até então, nas culturas de algodão, milho, soja, feijão, tomate e sorgo (Figura 7). As lagartas podem se alimentar de folhas e hastes dessas plantas, mas têm preferência pelas estruturas reprodutivas como botões florais, frutos, maçãs, espigas e inflorescências, causando deformações ou podridões nestas estruturas ou até mesmo a sua queda. Essa inerente capacidade de H. armigera causar danos nas partes reprodutivas das culturas, em associação à sua habilidade de atacar grande número de hospedeiros, é fator que eleva o status de importância econômica da praga (Cunningham et al, 1999). Na Espanha, H. armigera é também considerada espécie devastadora nos cultivos de tomate para a indústria (Arnó et al, 1999). Na safra 2011/2012 foi registrado um grande surto de lagartas de H. armigera na região oeste da Bahia, especialmente no algodoeiro, quando foram constatadas perdas de até 80% da produção desta cultura, segundo relatos dos produtores. Outras culturas como a soja e o milho, sejam estas transgênicas (Bt) ou não, também foram atacadas por essa praga na ocasião. Na safra 2012/2013 foram verificadas novamente incidências de H. armigera nos cultivos da Bahia, em especial nas lavouras de soja irrigada, algodão e feijão, quando os produtores tiveram de realizar várias aplicações de inseticidas para o seu controle. Em função dos problemas decorrentes da ocorrência de lagartas de H. armigera nos cultivos da Bahia, foi realizado no dia 22 de fevereiro de 2013, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, um fórum regional sobre Helicoverpa para avaliar a situação da incidência das lagartas desse gênero na região, bem como para definir estratégias efetivas de convivência e de manejo do inseto (Czepak et al, 2013). O evento contou com a presença de mais de 1,5 mil profissionais do setor, envolvendo produtores, consultores agrícolas, estudantes e pesquisadores ligados à área de entomologia. No evento, os produtores relataram prejuízos da ordem de R$ 140,00 por hectare na produção da safra 2012/2013, além da necessidade de aplicações extras de inseticidas nas lavouras, pois, segundo esses produtores, seriam necessárias aproximadamente três aplicações a mais de inseticidas nas culturas, em comparação à safra 2011/2012. Na mesma safra de 2012/2013 foram constatados ataques de lagartas de H.
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Figura 6 - Adulto de Helicoverpa armigera
Lúcia Madalena Vivan
Lúcia Madalena Vivan
H. Kasuya
Cecília Czepak
H. Kasuya
Bayer CropScience
Figura 7 - Danos de lagartas de Helicoverpa armigera na cultura do algodão (A), milho (B), soja (C), feijão (D), tomate (E) e sorgo (F)
Estratégias de manejo
Para se obter controle eficiente de lagartas de H. armigera nos sistemas de produção é necessário conhecer a dinâmica populacional do inseto no tempo e no espaço, bem como entender os principais fatores ambientais ou biológicos que podem interferir, facilitando ou dificultando seu desenvolvimento. O princípio básico é atacar a praga no seu ponto de fraqueza. Outra questão importante a ser considerada é a necessidade da correta identificação da espécie. Uma identificação errônea da praga em condições de campo pode comprometer seriamente o sucesso do seu manejo ou não ter efeito algum sobre o inseto, uma vez que a estratégia de controle adotada poderá não ser adequada.
Monitoramento
O monitoramento efetivo de ovos, lagartas, pupas e de adultos de H. armigera é considerado o fator-chave para a implementação com êxito das estratégias
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de manejo dessa praga. Através do conhecimento dessas informações é que as decisões ou as táticas de controle serão definidas, como, por exemplo, a oportunidade de se executar ou não o controle químico em um determinado momento, a escolha do produto e da dose a serem empregados, o tipo de pulverização requerida etc. Os adultos de H. armigera podem ser monitorados com o uso de armadilhas luminosas, como também armadilhas iscadas com o seu feromônio sexual. Nas armadilhas luminosas são coletados machos e fêmeas do inseto, enquanto nas armadilhas de feromônio são capturados apenas machos. A intensidade de captura de adultos de H. armigera em uma determinada área fornece previsão do potencial de ocorrência de ovos e de lagartas e, consequentemente, dos danos nos cultivos da região. Para que a captura de adultos nas armadilhas tenha importância como instrumento orientador do manejo, é necessário que os valores dessa captura sejam correlacionados com
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os valores de amostragens de ovos e de lagartas nas plantas da cultura, em tempo real ou nos dias subsequentes a esta captura. Sharma et al (2012) encontraram uma alta correlação (r = 0,83) entre a captura de machos de H. armigera em armadilhas iscadas com o seu feromônio sexual e a densidade de larvas nas plantas de grãode-bico (Cicer arietinum L.). O feromônio sexual de H. armigera pode ser também empregado como estratégia de controle dessa praga através da técnica de confundimento de machos. A impregnação deste feromônio sexual em vários pontos da lavoura em que se deseja proteger desorienta o inseto macho na busca da fêmea para acasalar e, consequentemente, de reproduzir. Todavia, apesar da oferta no mercado do feromônio sexual de H. armigera, a sua utilização não foi ainda devidamente implementada, necessitando, provavelmente, de ajustes na composição e/ou formulação dos componentes do produto, com o objetivo de obter melhor bioatividade para as populações dessa praga no Brasil (Czepak et al, 2013). A estratégia de manejo de pragas em grandes áreas geográficas constitui outra alternativa interessante e poderia também ser empregada para o controle de H. armigera nos diferentes sistemas de cultivos, pois esse sistema é adequado para o manejo de insetos que apresentam polifagia e grande mobilidade, como é o caso dessa praga. Dentre as vantagens que esta abordagem de controle apresenta, destaca-se a reduzida ressurgência da praga no ambiente manejado, a maximização do controle biológico natural e a redução do número de aplicações de inseticidas nas lavouras.
Plantas resistentes
O uso de plantas resistentes, transgênicas ou não, com o objetivo de manejar uma determinada praga, é considerado uma das bases do manejo integrado. As plantas transgênicas Bt, especialmente para aqueles materiais que expressam mais que uma proteína, constituem tecnologia bastante promissora para ser utilizada no controle de lagartas de H. armigera. No entanto, para que não ocorra o desenvolvimento de resistência do inseto aos materiais transgênicos Bt e, consequentemente, prolongar a vida útil dessas tecnologias, é imprescindível a utilização de áreas de refúgios nas unidades de produção agrícola. Assim, recomenda-
se a adoção de refúgios estruturados em pelo menos 20% da área cultivada com os transgênicos Bt, utilizando-se nestas áreas materiais convencionais (não Bt) que apresentam fenologia, ciclo e manejo semelhante aos materiais transgênicos. Nas áreas de refúgio, o combate a H. armigera deverá ser realizado sempre que o inseto atingir o nível de controle. Outra opção para o manejo da resistência reside na utilização de refúgios alternativos, que consistem em plantar uma espécie hospedeira de H. armigera diferente da cultura principal (exemplo sorgo, milheto, guandu etc), podendo realizar ou não o controle da praga nesta cultura alternativa.
Controle químico
nível de controle da praga. Nas aplicações de inseticidas químicos, é de importância fundamental rotacionar os modos de ação dos ingredientes ativos para reduzir a pressão de seleção e o desenvolvimento de resistência dos insetos aos produtos. O controle de adultos de H. armigera pode também ser realizado utilizando-se iscas tóxicas à base de melaço ou açúcar + inseticida carbamato, podendo essas misturas ser aplicadas nas bordaduras das lavouras.
Controle cultural
O controle cultural consiste na manipulação do ambiente da cultura ou do solo, de maneira a torná-lo desfavorável para a praga que se deseja manejar e favorável para os seus inimigos naturais (Fathipour; Sedaratian, 2013). Considerando-se que H. armigera é uma espécie que apresenta elevada capacidade reprodutiva e que se reproduz em diferentes hospedeiros, a presença de pontes verdes durante o período da entressafra de culturas como a soja, o algodão e o milho pode favorecer a sobrevivência das lagartas neste período e servir de focos de infestações para os cultivos implantados em sucessão. Neste sentido, o planejamento na entressafra de um período sem a presença de plantas hospedeiras de H. armigera, estratégia essa conhecida como vazio sanitário, poderá se constituir em importante alternativa complementar para o manejo dessa praga. Este vazio sanitário deverá ser realizado entre os meses do ano com menor incidência de cultivos agrícolas em uma determinada região, sendo o período de agosto a outubro o mais adequado para a sua implementação, especialmente para as regiões Norte,
Fotos Cecília Czepak
O controle de H. armigera com inseticidas químicos tem sido largamente utilizado nos ambientes agrícolas em que essa praga ocorre, em razão de ser, muitas vezes, uma alternativa de controle de ação rápida, confiável e econômica. Na Índia e na China, cerca de 50% dos inseticidas utilizados na agricultura desses países são direcionados para o controle de H. armigera (Building; Arhabhata, 2007). Como estratégia complementar do manejo integrado de H. armigera nos sistemas de produção, recomenda-se a utilização de inseticidas em tratamento de sementes para o controle de pragas iniciais, tais como coleópteros desfolhadores, lagarta-elasmo, percevejo barriga-verde, pulgões, tripes etc. Os inseticidas aplicados nas sementes garantem o controle desse complexo de pragas iniciais e, consequentemente, reduzem o número de pulverizações foliares durante os estádios iniciais de desenvolvimento da cultura.
Outra importante estratégia de manejo é a possibilidade de retardar ao máximo a primeira aplicação de inseticida nas lavouras, obedecendo sempre que possível os níveis de controle estabelecidos pela pesquisa. Associado a isso, recomenda-se também utilizar, sempre, produtos seletivos aos inimigos naturais até um determinado estádio da cultura, como, por exemplo, até os 70 dias após a emergência do algodão ou até o início de florescimento da soja, evitando sempre o uso de inseticidas fosforados e piretroides neste período, por serem considerados normalmente de alta toxicidade para os inimigos naturais. Essas ações seletivas de manejo permitirão o estabelecimento inicial dos inimigos naturais (predadores e parasitoides) no agroecossistema, proporcionando reflexos positivos nos estádios mais avançados das culturas, em razão da manutenção do equilíbrio biológico. No início do ano de 2013, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aprovou, em caráter emergencial, o registro temporário de algumas substâncias, para serem utilizadas no controle de H. armigera. Na Tabela 1 são listados os principais ingredientes ativos em fase de testes para serem empregados no manejo dessa praga. A aplicação desses produtos para o controle de H. armigera tem sido sugerida quando houver predominância de lagartas pequenas nas culturas. Este é o momento em que as lagartas estão mais expostas e também mais suscetíveis à ação dos produtos químicos. Quando for constatada alta infestação de H. armigera em uma determinada cultura, especialmente quando houver incidência de lagartas grandes, pulverizações sequenciais poderão ser necessárias para se obter melhor
Figura 8 - Lagartas de Helicoverpa armigera alimentando-se de vagens de soja em formação (A) e em vagens completamente já formadas (B)
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Fotos André Shimohiro
servem como substratos para o desenvolvimento do inseto. O revolvimento do solo tem sido também recomendado para a destruição de pupas de H. armigera em áreas com alta infestação da praga, especialmente em sistemas irrigados, sendo o mês de agosto o mais adequado para realizar esta operação. As pupas de H. armigera ficam normalmente localizadas cerca de 10cm da superfície do solo e a mortalidade dessas formas imaturas, quando se faz o revolvimento do solo, é causada pela sua exposição ao calor e aos inimigos naturais. Figura 9 - Lagartas de Helicoverpa armigera alimentando-se de plantas jovens de soja cultivada na safrinha de 2013, em Ubiratã (PR)
Nordeste e Centro-Sul do Brasil. Cabe salientar que o sucesso da utilização do vazio sanitário como estratégia de controle de pragas terá maior efeito se for normatizado por instrumento legal e contar com a fiscalização dos agentes responsáveis pelo sistema de defesa vegetal da região. Uma nova estratégia de controle cultural de pragas, denominada de push and pull, tem sido utilizada para o controle de H. armigera, especialmente em cultivos de algodão na Austrália. Esta estratégia de manejo baseia-se na manipulação comportamental da praga através da implementação de técnicas que repelem (push) ou atraem (pull) o inseto. Essa manipulação é baseada em estímulos visuais e de compostos voláteis emitidos pelas plantas hospedeiras ou que são pulverizados sobre estas com o objetivo de intensificar ou reduzir a oviposição e/ou alimentação do inseto nas plantas manejadas (Fathipour; Sedaratian, 2013). O sistema push and pull é constituído basicamente de duas culturas, sendo uma considerada a cultura principal, a que se deseja proteger contra a praga, e outra a cultura armadilha, para onde a praga deverá ser atraída e, posteriormente, controlada. Como exemplo, pode-se imaginar a cultura do algodão como cultura principal e o guandu como a cultura armadilha plantada nas áreas adjacentes ao algodoeiro. Quando se pulveriza azadiractina (óleo de neem) sobre o algodoeiro e açúcar ou feromônio de agregação de H. armigera sobre as plantas de guandu, os adultos dessa praga evitarão ovipositar no algodoeiro (efeito push) e intensificarão a oviposição nas plantas de guandu (efeito pull). Da mesma forma, as lagartas que estiverem presentes no algodoeiro terão dificuldade de se alimentar nesta cultura devido à ação
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fagodeterrente¹ do óleo de neem (efeito push), mas se alimentarão normalmente no guandu (efeito pull). Para finalizar essa estratégia de manejo, as lagartas de H. armigera devem ser controladas na cultura armadilha (guandu), antes que o inseto atinja o estágio de pupa, podendo para isso utilizar um inseticida químico efetivo ou até mesmo um produto biológico como o baculovírus de H. armigera, que apresenta seletividade aos inimigos naturais da praga. Alguns produtos, quando aplicados na cultura principal que se deseja proteger, podem afetar negativamente a capacidade de colonização de H. armigera. Mensah (1996) verificou que pulverização do produto comercial Environfeast na cultura do algodão reduziu significativamente a intensidade de oviposição de H. armigera nesta cultura (efeito push) quando comparado às áreas adjacentes de algodão pulverizadas com apenas água. Outra estratégia de controle cultural importante é a possibilidade de os produtores de uma determinada região estabelecerem um calendário organizado de plantio para as diferentes culturas exploradas economicamente e que são hospedeiras de H. armigera. Considerando o período inicial e final da época estipulada no calendário de plantio de uma determinada cultura (exemplo soja, algodão, milho), quanto mais estreita for a janela de plantio, maior será o efeito desta estratégia no manejo da praga, pois a condensação dos plantios contribuirá para reduzir a incidência e os danos da praga nas culturas. Como estratégia complementar para o controle cultural de lagartas de H. armigera, recomenda-se a eliminação de plantas tigueras e de rebrotas, especialmente da soja e de algodão na pós-colheita, uma vez que essas plantas
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Controle biológico
Embora ainda não tenham sido conduzidos no Brasil trabalhos científicos para avaliar a magnitude do controle biológico em ovos, lagartas e pupas de H. armigera, estas informações são abundantes na literatura internacional. Fathipour e Sedaratian (2013) relataram 36 parasitoides, 23 predadores e nove patógenos associados às formas imaturas de H. armigera, sendo constatados níveis de controle biológico natural por estes inimigos naturais variando de 5% a 76%, dependendo da cultura e do estágio de desenvolvimento da praga. Segundo André Shimohiro² (comunicação pessoal), na safrinha de milho de 2013 foi constatada, no estado do Paraná, uma elevada ocorrência de parasitismo em lagartas de Helicoverpa, provavelmente H. armigera, quando se observou que cerca de 50% das lagartas coletadas apresentaram-se parasitadas por moscas da família Tachinidae. Estes resultados evidenciam o alto potencial de controle biológico natural que pode ser explorado, especialmente quando se utilizam métodos de controle seletivos para o manejo de H. armigera. O controle biológico de H. armigera, utilizando-se táticas de conservação ou de incremento dos inimigos naturais no agroecossistema, bem como pela implementação do controle biológico clássico ou também através do controle biológico aplicado, é uma realidade que necessita ser investigada e explorada nas condições brasileiras. O baculovírus de H. armigera é um inseticida biológico que tem apresentado boa eficiência no controle desta praga em vários países da Europa e da Ásia (Sun et al, 2004). Esse vírus foi regulamentado pelo Mapa, para uso emergencial no controle de lagartas de Heliothinae, podendo o produto estar disponível na próxima safra para uso no Brasil, uma vez que várias empresas
de defensivos já se mostraram dispostas a realizar a sua importação. Trabalhos na literatura evidenciam que os parasitoides do gênero Trichogramma apresentam grande associação com ovos de espécies da subfamília Heliothinae, que abrange H. armigera. Existe a possibilidade real de multiplicação e liberação a campo dos parasitoides deste gênero para o controle de ovos de H. armigera, especialmente em cultivos de soja, milho e algodão, como já foi mencionado por especialistas que trabalham com estes inimigos naturais durante o fórum regional de Helicoverpa, que ocorreu na Bahia. Considerando-se também que H. armigera é uma praga exótica para o Brasil, esforços da pesquisa deveriam ser direcionados com o objetivo de buscar inimigos naturais exóticos nas regiões de origem de ocorrência dessa praga, para serem utilizados como agentes biológicos de controle nos sistemas de produção agrícola.
Capacitação em manejo de pragas
A possibilidade real de implementação de um manejo efetivo para H. armigera nas diferentes culturas em que essa praga
Figura 10 - Lagartas de Helicoverpa armigera alimentando-se em plantas de milho Bt (A), circundado de plantas tigueras de soja (B), em Ubiratã (PR)
causa danos poderá ser conseguida através da utilização de estratégias de controle seguras, saudáveis e econômicas. No entanto, a consolidação do manejo integrado dessa praga nas diferentes regiões do País somente acontecerá com o envolvimento de profissionais adequadamente treinados e/ou familiarizados com as características de identificação dessa praga, com o entendimento dos fatores que determinam a dinâmica populacional do inseto no campo, bem como com o conhecimento das técnicas de monitoramento e de controle para os diferentes sistemas de cultivos. Neste
sentido, é imprescindível criar um ambiente para realização de cursos de manejo integrado de pragas, dirigidos a profissionais que atuam nesta área, com o objetivo de capacitar monitores sobre as diferentes táticas a serem empregadas para o controle de H. armigera, especialmente nas culturas C do algodão, da soja e do milho. Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Lúcia Madalena Vivan, Fundação MT Germison Vital Tomquelski, Fundação Chapadão
Charles Echer
Especial Helicoverpa
Come até pasto
Já detectada em ataque a diversos cultivos comerciais e plantas voluntárias, com uma gama extensa de hospedeiros, a lagarta Helicoverpa armigera também se constitui em sério problema em pastagens, com alto poder destrutivo, condições favoráveis para o desenvolvimento e enormes limitações para que se efetue o controle
C
om as viagens e os transportes cada vez mais globalizados tornase fácil a entrada de pragas exóticas no país e o Brasil com suas extensas áreas fronteiriças é extremamente vulnerável. Por sua vez, a fiscalização de produtos proibidos pela Vigilância Sanitária Vegetal e Animal fica quase que exclusivamente na dependência da obediência do cidadão, que, por falta de responsabilidade, acaba burlando as regras e ignorando os enormes prejuízos que pode causar à economia do País. Das inúmeras pragas e doenças introduzidas, apesar da fiscalização existente, o serviço é dificultado quando o material proibido é propositadamente escondido nas bagagens e uma pequena quantidade é suficiente para desencadear, depois, na natureza, uma explosão de descendentes. Assim aconteceu também com a nova lagarta Helicoverpa armigera, terrível praga devoradora das mais variadas espécies vegetais, de expressivo valor econômico, como soja, algodão, fumo, tomate, milho e outras gramíneas, como as das pastagens, cuja área ocupa mais de 198 milhões de hectares. Admitindo que mais da metade dessa área esteja em regiões adequadas ao desenvolvimento do
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inseto, sua abrangência será enorme. Além disso, as pastagens, diferentes de outras culturas, recebem pouco ou quase nenhum defensivo, o que permite a essa lagarta maiores chances de sobrevivência. Outro aspecto preocupante é o fato de suas pupas se alojarem no subsolo, protegidas pelo emaranhado de palha que sobra da alimentação dos animais, oferecendo um nicho ideal ao seu desenvolvimento. Esse hábito também é motivo de preocupação no sistema de plantio direto em que o solo não é revolvido, deixando intactas as pupas, para posterior transformação em mariposas. A mariposa mede cerca de 45mm de envergadura com as asas de coloração variável de marrom-avermelhado a oliva com pontuações escuras. As asas posteriores são mais claras com margem marrom-escura. A postura de ovos é parcelada durante seis a oito dias e varia de 500 a três mil ovos, dependendo da alimentação recebida na sua fase larval e da qualidade do vegetal consumido. A eclosão se dá entre três e cinco dias, dependendo da temperatura, e as lagartas recém-nascidas alimentam-se inicialmente dos tecidos tenros, localizados nas brotações
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das plantas. Na medida em que crescem, procuram se alojar sob as folhas, em botões ou frutos em desenvolvimento, dependendo da natureza da planta hospedeira. Esta praga produz várias gerações por ano, provavelmente cinco ou seis, em função das condições climáticas, o que a torna mais importante no Brasil por conta da temperatura que a favorece e um curto período de inverno. Existem muitas pesquisas já realizadas com esta lagarta em soja, algodão, fumo e mesmo tomate no exterior, pois a praga está largamente distribuída por vários países da Ásia, Europa, África e Austrália há longo tempo. As lagartas que são as formas prejudiciais, passam por seis trocas de pele e, a cada troca, vão crescendo, aumentando o consumo de alimento, completando essa fase em cerca de 21 dias, quando então possuem cerca de 40mm de comprimento. Sua coloração é bastante variável, dependendo do local onde esteja se alimentando e da quantidade de lagartas convivendo no mesmo nicho, pois a concorrência na alimentação excita o seu sistema nervoso, provocando alteração na
As lagartas da praga também apresentam multiplicidade de cor
sua coloração. No caso de pastagens como a braquiária, as lagartas atacam as folhas e o consumo passa a ser significativo a partir da 4ª troca de pele, quando então consumiram apenas 40% do total de folhas exigidas. Daí em diante, passam a consumir os 60% restantes, sendo consideradas as fases mais prejudiciais. Estima-se que cada lagarta consome aproximadamente 100cm2 de folhas de braquiária com peso equivalente a dois gramas. Considerando que um boi consome o equivalente a 21 quilos de capim/dia, seriam necessárias 10,5 mil lagartas para esse consumo ou 1.050 lagartas em dez dias para essa equivalência. Para uma mariposa que consegue ovipo-
As mariposas de Helicoverpa armigera apresentam variação de coloração
sitar em média 1,5 mil ovos, seriam necessárias apenas sete a oito delas para atingir essa quantia, muitas vezes encontrada na forma de pupa em 1m2 de subsolo, em pastagem, nas regiões de Mato Grosso e Bahia. Em pastagem, a situação se agrava porque os defensivos que poderiam ser empregados no seu controle, não podem comprometer o capim que serve de alimento ao gado, e um dos lagarticidas mais recomendados para esse tipo de atividade é o Bacillus thruringiensis, que neste caso não tem efeito.
Essa praga tem causado problemas no milho, na soja e no algodão transgênicos, pois o bacilo incorporado nessas plantas não produz efeito em seu organismo. Os produtos recomendados para controle não são permitidos em pastagens e não podem ser empregados por problemas toxicológicos. A praga é extremamente agressiva e em poucos dias tem produzido enormes desfolhas nas C pastagens dessas regiões. Octavio Nakano e Lucas Ferreira de Oliveira, Esalq/USP
Eventos
Colheita farta Fotos Dupont
Programa da Dupont premia produtores de soja com melhores índices de produtividade
Vencedores da safra 2012/13 1º) PR Leste: Renato Paulo Zaika – Média de 98,33 sacas/ha 2º) RS/SC: Roberto Baseggio – Média de 89,33 sacas/ha 3º) PR Norte: Ivan Cícere – Média de 89,06 sacas/ha 4º) MS: Zélio Antônio Pessato – Média de 82,32 sacas/ha 5º) SP/MG: Sidney Hideo Fujivara – Média de 80,63 sacas/ha 6º) Mapitoba: Alvaro Kagawa – Média de 80,57 sacas/ha 7º) BR Central: Deonir Finkler – Média de 80,21 sacas/ha 8º) GO/BA: Johnny Alberto Quesinski – Média de 79,13 sacas/ha 9º) MT Norte: Adelmo Nunes – Média de 74,59 sacas/ha 10º) MT Sul: Norma Gatto – Média de 64,60 sacas/ha
que tratou toda a área com Aproach Prima. “Sempre buscamos aumentar a produtividade e quando a ferrugem começa a aparecer em cidades vizinhas adotamos medidas para prevenir”, conta.
Presença feminina
O
correu em São Paulo, em agosto, a final do programa DuPont Colheita Farta Safra 2012/13. O projeto premia anualmente, por região produtora, os sojicultores que obtêm os melhores índices de produtividade atrelados ao manejo químico preventivo da ferrugem asiática. Do grupo de vencedores regionais, sai o campeão nacional. Quase 250 produtores estiveram inscritos no programa neste ano. DuPont Colheita Farta é um projeto idealizado pela empresa com o objetivo de disseminar medidas contra a ferrugem asiática, baseadas na aplicação do fungicida Aproach Prima. Dados da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) apontam que nos últimos dez anos os produtores brasileiros amargam prejuízos de aproximadamente 25 bilhões de dólares com a doença. De acordo com o vice-presidente da DuPont Produtos Agrícolas, Mario Tenerelli, os indicadores apurados pela empresa com o programa evidenciam o peso que o controle adequado da ferrugem exerce sobre os números de produção que são obtidos pelos agricultores no final da safra. “O agricultor fica mais competitivo e aumenta a rentabilidade de seu negócio com o manejo preventivo contra a ferrugem”, resumiu o executivo. Lançado no Brasil há pouco mais de três anos, Aproach Prima, de acordo com a DuPont, tem como principais diferenciais o efeito sistêmico – age no interior da planta - e a forte tolerância à lavagem por chuvas, fator que proporciona prolongado período de
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A maior produtividade do Programa Colheita Farta foi atingida pelo produtor Renato Paulo Zaika, do Paraná, que alcançou a marca de 98,33 sacas por hectare. A área avaliada foi de 50 hectares, de um total de 600 hectares cultivados na fazenda que ainda conta com 600 hectares de milho e outros 500 hectares dedicados ao feijão. Zaika, que trabalha há 38 anos com agricultura, credita o bom resultado em produtividade a uma sucessão de fatores. “Correção do solo, matéria orgânica, boa adubação e São Pedro também ajudou”, relata bem-humorado ao se referir ao clima favorável durante a safra. O controle preventivo da ferrugem asiática foi outro aspecto apontado por Zaika,
Entre os vencedores do Programa Colheita Farta está Norma Gatto, de Mato Grosso, com produtividade de 64,40 sacas por hectare. A área avaliada contabiliza 50 hectares, de um total de 12,2 mil hectares que cultiva há 13 anos. O fungicida Aproach Prima foi utilizado em toda a propriedade contra a ferrugem, bem como o Sistema Dupont para o manejo de doenças, com quatro aplicações. Fertilizante com dosagem correta, análise de solo, semente de qualidade, manejo de pragas e doenças estão entre os aspectos atribuídos pela produtora para a boa produtividade. Um dos grandes trunfos, segundo Norma, reside no cuidado com o momento da aplicação de defensivos. “É preciso aplicar na hora certa para obter o melhor resultado. O sistema Aproach é uma importante ferramenta para controle de doenças em soja, especialmente ferrugem. A combinação das técnicas já empregadas na fazenda com o produto facilita a obtenção de boas produtividades e tem sido uma sugestão agronômica de manejo para a fazenda. No entanto, o maior desafio para que esta ferramenta seja mais representativa em abrangência de área está em relação a aspectos de custo e condições comerciais que precisam ser melhorados a benefício do C produtor”, opinou.
Norma, de Mato Grosso, foi a única mulher premiada no Programa
Zaika foi o primeiro colocado, com produtividade de 98,33 sacas por hectare, no Paraná
controle da doença com reduzido número de aplicações por safra.
Campeão é do Paraná
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Eventos
Agricultura em evolução Basf
Focado na inovação do setor agrícola, o 9º Top Ciência, realizado pela Basf, reuniu cerca de 400 participantes e anunciou três novas patentes. Com o tema “Evoluir Sempre”, o fórum debateu maneiras sustentáveis de suprir a crescente demanda por alimentos nos próximos 40 anos
A
Unidade de Proteção de Cultivos da Basf realizou nos dias 27 e 28 de agosto em Campinas (SP), a 9ª edição do Top Ciência. O tema do fórum este ano foi “Evoluir Sempre”, reforçando o objetivo de incentivar projetos de pesquisa agrícola sustentável em parceria com instituições e pesquisadores, com foco em soluções inovadoras que aumentem a produtividade da mesma área plantada. Além de propiciar o networking entre pesquisadores, o Top Ciência premiou os melhores trabalhos submetidos e patenteou pesquisas desenvolvidas na América Latina. O evento reuniu aproximadamente 400 participantes. Na edição de 2013 três novas patentes foram anunciadas. As pesquisas contemplam as áreas de milho, pastagens, entre outros cultivos variados em um estudo sobre a combinação entre QL Agri e diferentes compostos com ação biopesticida e regulador de crescimento – pesquisa desenvolvida em parceria entre a Basf Brasil e Chile. (Na cultura do milho), a patente trata de uso de F500 para aumento da viabilidade de pólen, da instituição Grandmend, do México. No setor pastagens, a patente vem da Lechería Barriles, empresa do Panamá e trata de uso de F500 para aumento de produção de leite.
Lançamentos
A inovação não ficou só na área de pesquisa. A Basf aproveitou a oportunidade para
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divulgar o site Porteira, canal que gerencia uma rede de relacionamento no agrobusiness. O espaço reúne comunidade científica, produtores rurais, consultores, distribuidores e, também, a equipe técnica da própria empresa. A plataforma traz conteúdo individual e colaborativo, com dados de mercado, novas tecnologias e serviços, além de trabalhos técnicos e a possibilidade de desenvolver o networking entre pesquisadores de maneira prática e rápida. O Porteira é mais uma ferramenta que incentiva o conceito de Open Innovation (Inovação Aberta), colaborando para a troca de conhecimentos e pesquisas entre profissionais de qualquer parte da América Latina. Uma versão para tablets do Digilab também foi lançada durante o fórum e já está disponível para aquisição: é o Digilab Mobile Tablet. O objetivo da nova tecnologia é dar mais mobilidade ao usuário. A nova ferramenta vem equipada com uma lente que pode aumentar em até 100 vezes as imagens tiradas pelo aparelho e um software com banco de dados e fotos das principais pragas e doenças que atacam os cultivos agrícolas no país. Além disso, o Digilab foi atualizado com mais sete culturas, totalizando 23, além de dois novos módulos – Non Crop e Nematoides. Outra novidade da Basf para agricultura de precisão é o AgroDetecta. O serviço é composto por 230 estações meteorológicas localizadas nas principais regiões produtoras
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agrícolas do Brasil, distribuídas em dez estados e que, atualmente, monitoram cinco culturas – soja, feijão, milho, trigo e algodão – e 11 doenças com abrangência superior a 12 milhões de hectare/ano. Além de monitorar doenças, o equipamento possui previsão de tempo para dez dias e todos os dados climáticos e de manejo podem ser armazenados no sistema. O serviço é comercializado através de assinaturas, sendo customizável para atender os diversos segmentos da cadeia produtiva.
Premiação
A premiação do Top Ciência deste ano contou com 403 trabalhos de toda América Latina submetidos para avaliação. A comissão julgadora elegeu as melhores pesquisas, levando em consideração a inovação da proposta; a viabilidade de implementação prática; a qualidade dos resultados alcançados; o cumprimento dos objetivos propostos; a fundamentação teórica e metodológica; e o amparo bibliográfico dos estudos. Todos estes fatores em mais de 20 cultivos pesquisados, tanto na área de hortifruti, grandes culturas e também Non Crop. As categorias foram divididas em: fitopatologia, herbicidas, fitotecnia, fisiologia e inovação. Também foram premiados trabalhos multidisciplinares. Os vencedores deste ano ganharam uma viagem com tudo pago para C o Canadá. Karine Gobbi
Os premiados Categoria: Fitopatologia
América Latina
Leysimar Ribeiro Pitzr Guimarães -UNESP – Botucatu, SP
Categoria: Fitopatologia
Caroline Wesp Guterres – Cooperativa Central Gaúcha - Cruz Alta, RS
Rolando EgúsquizaBayona – Universidad Nacional Agraria La Molina - Peru
Carine Rezende Cardoso - Universidade Federal de Viçosa (UFV) – Viçosa, MG
Felipe Terrazas- BABURO SPR. – México
Fernando Cezar Juliatti - Universidade Federal de Uberlândia (UFU) – Uberlância, MG
Categoria: Herbicidas
Sérgio Schneider - Cooperativa Mista São Luiz Ltda – Santa Rosa, RS
SebastiánSabate- Estación Experimental Agroindustrial ObispoColombres – Argentina
Caroline Almeida Gulart – Instituto Phytus – Santa Maria, RS
Claudio Pandolfo – Universidad Nacional delSur – Argentina
Marcos AntonioZeneratto – Coopercitrus – Bebedouro, SP
Categoria: Fisiologia
Vanessa Nathalie Modesto Boratto - CWR Pesquisa Agrícola – Palmeira, PR
María Fernanda Cruz – Rurais ConsultoraAgropecuaria – Argentina
Categoria: Herbicidas
Juan Pablo Silva – Fiafa Consultores – Chile
Milton Aike Ide - Milton Ide Consultoria Agrícola SC – Luiz Eduardo Magalhães, BA
Categoria: Inovação
Pedro Jacob Christoffolleti – ESALQ – USP – Piracicaba, SP
Kattia Abarca – Basf y Dos Pinos de Costa Rica – Costa Rica
Categoria Fitotecnia
Patentes estabelecidas:
Fabio TakemiTrugilloMutta – AGRO 100 – Londrina, SP
Título do Trabalho: Uso de F500 para aumento da produção de leite
Durval Dourado Neto – ESALQ – USP – Piracicaba, SP
Autor: Jorge Luis Rios S
Roberto Santinato – MAPA/Procafé – Campinas, SP
Instituição: LecheríaBarriles (Panamá)
Ricardo Pacheco Borges – COOXUPE – Guaxupé, MG
Cultivo: pastagem
Categoria: Fisiologia
Título do Trabalho: Uso de F500 para aumento da viabilidade de pólen
Aguinaldo Jose Freitas Leal – UFMS – Chapadão do Sul, MS
Autores: Ernesto Hernández Mendieta e CatalinaRubio Granados
Elizabeth Orika Ono – UNESP – Botucatu, SP
Instituição: Grandmend (México)
AntonioChalfun-Junior – UFLA – Lavras, MG
Cultivo: milho
Abraão Carlos Verdin Filho – INCAPER – Marilândia, ES
Título do Trabalho: QL Agri + diferentes compostos com ação biopesticida e regulador de crescimento
Sidnei Osmar Jadoski – UNICENTRO – Guarapuava, PR
Autores: Fabrizio Romano e Jorge Nitsche
Categoria: Inovação
Instituição: Basf (Brasil e Chile)
Claudinei da Cruz – UNIFEB – Barretos, SP
Cultivo: ensaios estão sendo realizados em vários cultivos, mas o foco da patente são as misturas
Alan EneasAraldi – Três Tentos AgroindustrialLtda – Santa Barbara do Sul, RS
Eventos
Festa responsável
Basf
Basf realizará plantio de sete mil mudas de árvores para neutralizar emissão de dióxido de carbono que foi emitido durante preparação e desfiles da Vila Isabel no Carnaval 2013
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Unidade de Proteção de Cultivos da Basf realizou em agosto, no Rio de Janeiro, evento para divulgar os resultados das análises feitas e medidas tomadas para neutralizar as emissões de carbono que ocorreram em todo o processo de desenvolvimento dos desfiles da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, campeã do Carnaval carioca 2013, com o patrocínio da companhia. Os dados foram apurados durante quatro meses e o resultado foi: a Vila Isabel emitiu 1.054,75 toneladas de dióxido de carbono equivalente no último Carnaval. Isto equivale às emissões de um caminhão de 14 toneladas dando cerca de 20 voltas completas na circunferência da Terra. Desde o início do projeto foram analisadas as informações de emissões da produção de fantasias, carros alegóricos e atividades no barracão – incluindo mão de obra -, além do transporte dos carros alegóricos e integrantes da Escola entre a Marquês de Sapucaí, a Ci-
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dade do Samba e alguns pontos da cidade do Rio de Janeiro. Também inclusos nos estudos estavam todos os ensaios técnicos realizados pela Vila. Para neutralizar esse número é necessário plantar e monitorar o crescimento de seis mil árvores. Ao chegar a este resultado, a Basf decidiu realizar o plantio de sete mil mudas, equivalente a 4,2 hectares, das quais 6.668 serão plantadas na Fazenda Santa Irene, propriedade cooperada da Coopercitrus e que pertence à Fundação Abílio Alvez Marques, localizada no município de Bebedouro, São Paulo. O restante será plantado nas propriedades dos agricultores convidados a participar do desfile. Para esse plantio serão utilizadas árvores de 80 espécies diferentes do Bioma Mata Atlântica. Toda a atividade será realizada pelo Programa de Adequação e Educação Ambiental Mata Viva, coordenado pela FEE e o início do plantio está previsto para outubro. O monitoramento das espécies será feito por dois anos.
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Além dos trabalhos de compensação de dióxido de carbono, o estudo propõe melhorias nos processos de produção do Carnaval para que o número de emissões seja mais baixo nos próximos anos. Um exemplo apontado neste sentido refere-se à utilização de biodiesel nos geradores de energia da quadra da Escola e no barracão da Cidade do Samba, entre outras possibilidades que podem ajudar a reduzir o impacto ambiental. A comunidade de Vila Isabel também promoverá ações de educação ambiental. A partir do primeiro semestre de 2014 uma escola pública adotará o projeto Escola Ecoeficiente, também gerenciado pela FEE. O engajamento da comunidade escolar é fundamental para o sucesso do projeto, que visa trabalhar com conceitos de ecoeficiência utilizando-se de teorias e práticas pedagógicas. O objetivo da Basf é conscientizar a comunidade de Vila Isabel sobre a importância do desenvolvimento sustentável e do pensamento ecológico começando pelas as crianças. C
Coluna ANPII
Elos em sintonia Para que os inoculantes expressem seus melhores resultados e máximo rendimento é necessário que todos os atores da cadeia envolvida nessa tecnologia façam sua parte de forma racional e responsável
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o longo dos anos a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) vem se firmando cada vez mais como importante insumo para a agricultura brasileira. Basta raciocinar que o Brasil planta mais de 27 milhões de hectares de soja, cada hectare necessitando do aporte de, no mínimo, 600kg de nitrogênio, para se perceber a dimensão da importância deste nutriente para a cultura. Pensando ainda mais, vemos que todo este nitrogênio incorporado ao sistema solo/planta provém do ar, transformado de uma forma não aproveitável pelas plantas para formas que possibilitam a nutrição vegetal. E a transformação de todo este volume é feito
passou para patamares de produtividade de 3.000kg de grãos/ha, 4.000kg de grãos/ha e hoje já existem estudos mostrando que se pode chegar a mais de 6.000kg de soja por hectare tendo somente o inoculante como fonte de nitrogênio, conforme dados apresentados recentemente na 33a Reunião de Pesquisa de Soja do Brasil Central. Desta forma, com uso exclusivo do nitrogênio biológico, o agricultor obtém uma lavoura mais rentável, o país ganha em sua balança comercial, pois importa menos fertilizante nitrogenado e exporta mais soja, e ganha também o meio ambiente, com menor consumo de energia. Entretanto, para que o inoculante apresente sua total
entram na recomendação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para uso comercial. Como passo seguinte se tem os estabelecimentos produtores de inoculantes, setor que também orgulha o Brasil. O inoculante produzido atualmente no país é um dos melhores do mundo, com elevados padrões de qualidade e em constante evolução, acompanhando o crescimento da produtividade da soja. A assistência técnica, tanto a oficial como a de entidades privadas, deve estar capacitada a transmitir os conhecimentos sobre inoculantes, em especial no que se refere à maneira correta de uso. À fiscalização
Com uso exclusivo do nitrogênio biológico, o agricultor obtém uma lavoura mais rentável, o país ganha em sua balança comercial por organismos microscópicos, as bactérias fixadoras de nitrogênio presentes em um produto: o inoculante. Durante todos estes anos a agricultura brasileira, e por consequência toda a sociedade, tem se beneficiado deste produto que nem sempre tem sua importância reconhecida. A agregação de valor dos inoculantes vem crescendo conforme aumenta a produtividade da soja. Quando a cultura produzia em torno de 2.000kg de grãos/ha, muita gente acreditava que, para patamares mais elevados, a FBN seria insuficiente para prover todo o nitrogênio necessário. A soja
potencialidade, trazendo o máximo de rendimento para o agricultor, toda a cadeia envolvida na tecnologia deve funcionar corretamente, com todos seus elos bem ajustados, como mostra o diagrama. O princípio de tudo é a seleção de estirpes, ou cepas, de bactérias altamente eficientes. Este trabalho, desenvolvido por entidades de pesquisa, é um dos grandes sucessos do Brasil no campo da agricultura. Dentro de um modelo aceito em todo o país, as estirpes utilizadas nos inoculantes são selecionadas mediante rigorosos testes de eficiência e só depois de validadas em campo
cabe, dentro das normas legais, zelar pelo seu cumprimento por parte das empresas produtoras de inoculantes, assegurando que o produto chegue ao agricultor com a qualidade prometida. Finalmente, mas não menos importante, se tem o último elo da cadeia, o agricultor. Fazendo uma analogia com uma corrida de Fórmula 1, de nada adianta um excelente carro com mau piloto. Da mesma forma, não resolve um extraordinário inoculante, com estirpes altamente selecionadas se o produto for usado de forma inadequada. É importante ter sempre presente que o inoculante é um produto vivo, as bactérias têm que estar plenamente viáveis no momento do uso. A mistura com as sementes, ou a aplicação no sulco de plantio, deve ser feita de uma forma muito técnica, seguindo rigorosamente as instruções da empresa produtora e dos órgãos de pesquisa. Assim, a responsabilidade pelo sucesso desta, bem como de outras tecnologias, depende de vários agentes que deverão, individualmente, cumprir conscienciosamente sua parte para que o todo funcione plenamente. C Solon de Araujo Consultor da ANPII
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Coluna Agronegócios
Agricultura de baixas emissões
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Ciência estabeleceu conexões definitivas de causa e efeito entre emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), como gás carbônico, óxidos de nitrogênio ou metano, e as Mudanças Climáticas Globais. Essas incluem câmbios radicais nas séries históricas recentes do clima, além de aumentar a frequência e a intensidade de eventos climáticos de grande impacto. Exemplos são as recentes fortes ondas de calor, nevascas extremas, secas intensas e extensas, inundações e furacões, de ocorrência cada vez mais constante. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) busca fórmulas para limitar as emissões de GEE e, como tal, conterá sua concentração na atmosfera em limites aceitáveis, reduzindo a extensão e os impactos das mudanças climáticas. Na reunião do IPCC realizada em Copenhagen, em 2009, o Brasil propôs uma ambiciosa redução voluntária das emissões nacionais até 2020, variando entre 36% e 39%, dos quais 25% adviriam da redução do desmatamento
reduzindo até 60% das emissões. Um estudo da Embrapa Agrobiologia demonstrou aumento de até 700% na taxa de ganho de peso e redução de 90% das emissões de GEE, quando uma área de pastagem degradada foi plantada com capim colonião, que recebeu 150kg/ha de nitrogênio. Imaginando a recuperação de todas as pastagens degradadas do Brasil, poderíamos reduzir em cerca de 30% a área de pastagens, para alimentar o mesmo rebanho, devido ao aumento de lotação e da taxa de ganho de peso.
ILPF e Plantio Direto
O processo conhecido como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) integra, na mesma área, atividades agrícolas, pecuárias e florestais, consorciadas, em sucessão ou rotação. O objetivo é aproveitar a sinergia ambiental e agronômica entre os componentes do agroecossistema. A integração promove a fixação de carbono no solo, resultante dos resíduos vegetais transformados em matéria orgânica. O alto teor de matéria
sentado pelos fertilizantes. O nitrogênio, além de caro, necessita muita energia para sua produção, na qual o petróleo é matériaprima. Os adubos químicos nitrogenados são responsáveis por 50% das emissões de GEE por uso de fertilizantes. Mas, para as lavouras de soja ou feijão, o agricultor pode obter o nitrogênio a custo quase zero, através da inoculação das sementes com bactérias fixadoras de nitrogênio. É o processo conhecido como Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), baseado em bactérias simbióticas como aquelas do gênero Brady rhizobium. Estima-se que cada hectare com FBN substituindo adubos químicos reduza as emissões de GEE em duas toneladas.
Dejetos
Cada metro cúbico de dejetos animais adequadamente manejados reduz 1,4 tonelada de emissões de GEE. Este volume gera quatro metros cúbicos de biogás e até 800kg de biofertilizante. Além da imposição legal, as certificações ambientais também obrigam ao adequado manejo de dejetos, como uma
Todo o agricultor sabe que o maior custo de produção da lavoura de grãos é representado pelos fertilizantes e mudança do uso da terra e 5%-6% da produção agropecuária.
Plano ABC
Para materializar a proposta, foi criado o Plano ABC, uma linha de crédito especial, com condições favoráveis, condicionada à adoção de tecnologias sustentáveis como recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta, plantio direto na palha, fixação biológica de nitrogênio, plantio de florestas e manejo de dejetos animais. O ganho ambiental varia de acordo com a tecnologia utilizada. Pastagens sem manejo adequado sofrem um processo inexorável na sua capacidade nutritiva, redundando em menor lotação de gado nas áreas degradadas. Quando o estágio de degradação é avançado, grande parte do solo fica improdutivo e descoberto, com decomposição da matéria orgânica, provocando a emissão de CO2 para a atmosfera. O processo pode ser revertido com técnicas de renovação de pastagens e integração lavoura-pecuária. O solo adequadamente manejado acumula matéria orgânica, com alto teor de carbono,
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orgânica é um dos principais benefícios do sistema integrado, por melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo. Além de melhorar a fertilidade, permite maior aeração do solo, maior retenção de água (portanto, maior capacidade de tolerar períodos de seca mais prolongada) e recicla nutrientes do solo. O uso do ILPF mantém o solo coberto durante quase todo o ano, aplacando o intemperismo e a erosão, diluindo custos fixos e aumentando a margem do agricultor. O Plantio Direto (PD) é uma técnica consagrada no Brasil, utilizada em 75% da área de grãos. O Plano ABC tem dois objetivos: aumentar a área de adoção do PD e promover o uso integral da tecnologia. Exemplos de técnicas que necessitam ser utilizadas conjuntamente com o PD são a rotação de culturas, a cobertura permanente e a presença de palha na superfície do solo.
Nitrogênio
Todo o agricultor sabe que o maior custo de produção da lavoura de grãos é repre-
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exigência do mercado. Já, do ponto de vista econômico, o tratamento adequado dos dejetos pode significar um negócio adicional, pela obtenção de energia e biofertilizante a baixo custo, adotando tecnologias de eficiência comprovada.
Um plano do bem
O Plano ABC é um excelente exemplo do poder transformador que pode ter uma política pública, especialmente quando todos são beneficiários. Ganha o agricultor por reduzir seus custos ao longo do tempo, aumentando sua produção e lucratividade. Ganha o país, por expandir a produção agrícola de forma sustentável, contendo o desmatamento e a expansão desnecessária de área. E ganha o planeta, pela redução das emissões de GEE, a fonte primária das Mudanças Climáticas Globais, consideradas como o grande perigo à qualidade de vida em nosso planeta. C Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Bons ventos para o agronegócio brasileiro
O plantio da safra de grãos dos EUA deste ano se deu com atraso em todas as regiões. As lavouras que já deveriam estar com os grãos em fase adiantada de formação ainda se encontram no início, o que as tornas vulneráveis aos problemas climáticos. Como neste ano as chuvas foram escassas de julho a agosto, os indicativos apontam que a safra virá com problemas. Neste final de agosto os números comentados pelo Crop Tour, que percorre as regiões produtoras e avalia as lavouras, apontaram que a safra deverá ser menor que os dados apontados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que em agosto já eram menores que os de julho. Com esse cenário o Brasil caminha, novamente, para uma boa safra. A Bolsa de Chicago bateu o limite de alta no pregão do dia 26 de agosto, trazendo boas cotações para o mercado disponível. Houve negócios na faixa de R$ 80,00 pela saca da soja no Porto de Rio Grande. O milho para exportação, no mesmo porto, registrou R$ 28,00, o que tirou as cotações do cereal do fundo do poço. Ocorreu mais uma grande injeção de ânimo para os produtores de soja, que registravam comercialização em ritmo lento e aproveitaram o cenário favorável para realizar bom volume de negócios com o grão disponível. Também houve registro de muitos fechamentos para a safra nova, o que garantiu bons lucros aos produtores. Desta forma, o Brasil caminha para a nova safra, com primeiros plantios previstos neste mês de setembro, com a soja mostrando otimismo e com a área de plantio saltando de menos de 28 milhões de hectares para algo ao redor dos 30,6 milhões de hectares. O avanço ocorre sobre áreas de pastagens degradadas das regiões Centro-Oeste e Norte, além de posições do Sul e Sudeste. A cultura ganhará espaço sobre milho de verão do Sul e Sudeste e também sobre áreas de arroz onde a oleaginosa cresce em participação no Rio Grande do Sul. O Brasil reúne todas as condições para abastecer o mercado com o mesmo volume estimado em perdas para a safra dos Estados Unidos. O mercado aponta para um bom ano pela frente, mas ainda distante da realidade do ano passado, quando o Brasil bateu recorde histórico nas cotações dos grãos. A nova safra começa com o pé direito e bons lucros no horizonte.
MILHO
Governo e exportações tiram o grão do fundo do poço
A safrinha foi colhida, com resultados acima das expectativas, porque os produtores apostaram em boa tecnologia e mesmo com adversidades climáticas como seca, chuvas em excesso e geadas, houve boa produtividade na maior parte das regiões. Ocorreram perdas localizadas de qualidade, como as registradas no Paraná, mas em geral foi uma grande colheita. O Brasil está colhendo uma safra total de milho de mais de 77 milhões de toneladas e os mais otimistas apontam para 80 milhões de toneladas. Número que ficará muito acima das projeções de consumo interno. Com isso será necessário “desovar” boa parte do cereal para a exportação. Neste ano o governo não tem ajudado, porque teme o retorno da inflação e somente realizou pregões de Opções na ordem de 2,5 milhões de toneladas, para melhorar os estoques oficiais que estão baixos e fez vários pregões de Pepro, o que tira do mercado mais de seis milhões de toneladas. Este tipo de operação beneficia os consumidores internos, como granjeiros e o setor de ração. Mesmo sem apoio à exportação, houve bons fatores, como o dólar em alta e Chicago melhorando os níveis por conta das perdas americanas. Com esse cenário, as cotações, que estavam na faixa de R$ 23,00 a R$ 25,00 nos portos, saltaram para R$ 26,50 e R$ 28,50, com boatos de valores até acima desses patamares. Desta forma o milho saiu do “fundo do poço” em que tinha mergulhado no Mato Grosso, quando chegou a ser negociado abaixo dos R$ 8,00 por saca. Agora, já navega acima de R$ 10,00, com fôlego para crescer ainda mais.
soja
Escassez continuará por mais um ano
O mercado da soja, tanto no Brasil como no cenário internacional, começou a indicar que haverá escassez do grão por pelo menos mais um ano. As perdas americanas já são apontadas como grandes. Os mais otimistas falam em patamares de mais de cinco milhões de toneladas de perdas e os mais pessimistas indicam prejuízos de mais de dez milhões de toneladas no potencial produtivo. Inicialmente se apontava para uma colheita de 93,1 milhões de toneladas, o que agora está distante da realidade. Com isso haverá poucas ofertas, porque o quadro de oferta e demanda dos EUA já começa apertado e novamente deve ocorrer limitação de exportação. Isso abre espaço para novas vendas dos produtores da América do Sul. Bons ventos sopram para a nova safra do Brasil. A China anunciou que vai comprar na faixa de 70 milhões de toneladas, e normalmente quando cogita um número, a realidade confirma compras maiores. O cenário é bom para a nova safra brasileira que tem mostrado bons fechamentos. A safra nova já registrou cotações acima de R$ 70,00 e a soja disponível andou na faixa dos R$ 80,00. São cotações melhores que as auferidas em 2012. feijão
Colheita ainda segurando cotações
O mercado do feijão recebeu parte da terceira safra em agosto e também alguns volumes em setembro. A pressão de alta nas cotações registrada até julho ficou mais fraca e deverá voltar a mostrar pressão a partir do final do mês, quando se espera por nova retração na oferta. As lavouras da primeira safra do norte do Paraná e São Paulo foram afetadas pelas geadas, o que resultará em pouca oferta de feijão nestes últimos meses do ano. As primeiras lavouras do Paraná morreram com as geadas do final de agosto. O dólar em alta deixa o feijão importado com valores acima dos R$ 170,00 e não há
oferta de novos volumes da China. Com esse cenário se abre oportunidade para que o Brasil também possa exportar feijão Preto nos próximos meses. O mercado segue positivo para os produtores. arroz
Exportações em crescimento com dólar em alta
O mercado do arroz andou em ritmo lento em agosto, com as cotações práticas no Rio Grande do Sul estabilizadas, com níveis de R$ 33,00 a R$ 37,00 para o Casca de boa qualidade disponível. Mas a disparada do dólar abriu boa oportunidade para o Brasil voltar a exportar, tanto o produto beneficiado como o Casca. Cenário que pode trazer apelo positivo para as cotações a partir de setembro. As importações perderam força devido ao dólar em alta, mas é preciso esperar que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) comece as vendas de estoques, que atualmente se encontram na casa de um milhão de toneladas, em uma medida do governo que busca segurar a inflação e fazer caixa. Sendo o arroz o único que ainda possui bom volume de estoque, seguido pelo milho, que registra pouco mais de 400 mil toneladas, não há quase nada de outros produtos estocados. Este é um dos anos que registra o menor volume de estoques de alimentos. O mercado do arroz mostra fôlego para crescer neste mês e dependerá do dólar para que se possa prever até onde poderá ir. Mas há espaço para ganhos. A soja registrou cotações recordes em algumas regiões arrozeiras e desta forma os produtores devem optar por plantar parte das áreas com a oleaginosa. Ao mesmo tempo, tem ocorrido fechamentos antecipados de insumos via soja, favorecendo mais liquidez aos produtores e maior poder de negociação para o arroz no novo ano.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro deverá registrar uma das menores safras dos últimos anos, sendo que o Paraná perdeu forte com as geadas de julho e agosto. Há perdas nas lavouras do Rio Grande do Sul com estas últimas geadas e de uma safra que se esperava colher mais de 5,5 milhões de toneladas, o resultado não deve ultrapassar mais de três milhões de toneladas. Esse cenário comprometerá o abastecimento interno, porque há consumo previsto próximo de 11 milhões de toneladas. Nem mesmo a liberação da Taxa de Importação do produto de fora do Mercosul, por parte do governo, poderá aliviar a pressão sobre as cotações (que tudo indica irão alcançar de R$ 800,00 a R$ 1,1 mil por tonelada neste restante de ano). algodãO - O mercado está firme, com a colheita quase na reta final no CentroOeste e já fechada na Bahia, mostrando pouca oferta interna e cotações com espaço para crescer. Há perdas na safra dos EUA, indicativos de problemas na China e apelo de alta para a nova safra que começa a ser negociada pelos produtores. Tudo sinaliza que bons lucros podem ser esperados. O plantio da próxima safra deve crescer, com indicativos de que as cotações serão mais lucrativas para os produtores. china - As compras de grãos poderão surpreender neste novo ano comercial, que começa em setembro. Os indicativos são de que os chineses devem comprar algo na casa de mais de dez milhões de toneladas de milho, frente aos sete milhões de toneladas apontados pelo USDA. Estima-se que irão levar mais de 70 milhões de
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toneladas de soja, frente aos 69 milhões de toneladas também apontados pelo USDA. Tudo indica ainda que o país vai importar mais de quatro milhões de toneladas de arroz. Os números ainda divergem, mas chegam a sinalizar mais de sete milhões de toneladas de trigo para serem compradas no mercado internacional. Além disso, devem comprar grandes volumes de algodão, que poderia ter queda no volume. Existem indicativos de que devido ao clima irregular deste ano, com prejuízos à safra local dos chineses, o país terá de importar quase todos os tipos de alimentos, buscando atender à demanda interna crescente. mercosul - Os indicativos do fechamento da safra da Argentina, segundo apontou a Bolsa de Buenos Aires, colheu 48,5 milhões de toneladas de soja, 24,8 milhões de toneladas de milho e agora registra aumento no plantio da safra de trigo para faixa dos 3,9 milhões de hectares. Mesmo assim, é um dos menores plantios da história do país, que normalmente plantava mais de cinco milhões de hectares. Haverá menos produto para exportar neste novo ano. A nova safra deve chegar com leve crescimento no plantio da soja e queda no milho. A safra do arroz, segundo dados dos produtores, não chegou a 1,4 milhão de toneladas. Este foi um dos piores anos para o feijão no país, sendo que o feijão Preto, que tinha expectativa de 110 mil toneladas, ficou em apenas 24,6 mil toneladas. Desta forma, o país sofre com safra pequena em ano de cotações altas.
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