Grandes Culturas - Cultivar 176

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 176 • Especial • ISSN - 1516-358X Editorial Um ano de vitórias e desafios O ano de 2013 terminou com saldo positivo para os produtores brasileiros, mas ao se despedir deixa a sensação de que poderia ter sido melhor. Problemas de logística, materializados em enormes dificuldades de escoamento e armazenagem, expuseram o quanto o Brasil ainda precisa avançar para alcançar eficiência nesse setor. O recrudescimento da incidência de pragas, recorrente nos últimos anos, também teve seu ápice em 2013, com a identificação da lagarta Helicoverpa armigera nas lavouras do País. Episódio traumático, que serviu para escancarar a fragilidade de nossa defesa e fiscalização fitossanitária.

Encerrado 2013, é momento de apresentarmos nossa Edição Especial, neste ano recheada com material inédito sobre aquela que, em curto espaço de tempo, se transformou em uma das principais pragas nas lavouras brasileiras. Buscamos elaborar uma cobertura ampla sobre Helicoverpa armigera, com a abordagem de instituições de pesquisa e especialistas que têm se debruçado diuturnamente sobre o assunto. Fatores como a velocidade de ataque e expansão da lagarta no País contribuem para que não se tenha, até o momento, unanimidade nas recomendações de manejo. Nosso objetivo ao subsidiar você, caro leitor, com diferentes pontos de vista a respeito deste grave problema, é o de cumprir com o compromisso que perseguimos desde a nossa fundação: servir de canal entre as informações geradas pela pesquisa e os produtores brasileiros, de modo a proporcionar aos autores expressarem seu conhecimento e opinião, sem a pretensão de representar consenso.

Por outro lado, o mercado segue favorável, a demanda aquecida e abstraídos os problemas pontuais, como, por exemplo, os registrados em milho safrinha, em parte justificados pela grande colheita, houve ganhos significativos aos produtores. E para 2014 o cenário Que venha 2014, repleto de boas notícias para o também continua positivo, com perspectivas concretas de aumento de exportações para a China, importante agronegócio brasileiro! comprador do Brasil e que pretende transferir 400 milhões chineses de áreas rurais para as cidades, o que implicará, Boas festas e ótima leitura! necessariamente, em crescimento de consumo.

Índice Helicoverpa armigera - A praga da vez

Expediente 04

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

• Editor

Helicoverpa armigera - Manejar ou perder Helicoverpa armigera - Verdades e mitos

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Helicoverpa armigera - primeiro relato no RS

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Fungicidas protetores e seu papel no manejo de doenças

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Manejo do bicho-mineiro em café

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Como enfrentar o complexo de lesões da bainha em arroz

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Controle de Diatraea saccharalis em cana

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Manejo de mofo branco em feijão

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Gilvan Dutra Quevedo Karine Gobbi Rocheli Wachholz

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CIRCULAÇÃO

• Design Gráfico e Diagramação

• Coordenação

• Revisão

• Assinaturas

Cristiano Ceia

Simone Lopes Natália Rodrigues Francine Martins Clarissa Cardoso

Aline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE

Controle químico do bicudo-do-algodoeiro

Rithiéli Barcelos

• Redação

• Coordenação

• Expedição

Charles Ricardo Echer

Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 187,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 210,00 Euros 180,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Especial Helicoverpa Lucia Vivan

Praga da vez

A espécie Helicoverpa armigera, altamente destrutiva e quarentenária no Brasil, acaba de ser identificada em meio ao complexo de lagartas da família Heliothinae no País. Desde a safra de 2011/12 esses insetos têm assolado de forma mais intensa lavouras de soja, milho, algodão, feijão, tomate, além de outros cultivos comerciais. Identificação correta, monitoramento e manejo integrado são exigências-chave para se obter sucesso no combate a esse desafio

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pós o recorde de produção agrícola em 2012, de acordo com as previsões oficiais, o Brasil se tornará em 2013, o maior produtor de soja do mundo, com mais de 82 milhões de toneladas. Em 2012, a produção brasileira de grãos e de oleaginosas totalizou mais de 162 milhões de toneladas (alta de 1,2% em relação a 2011), e em 2013 deve chegar a 178 milhões de toneladas, um provável aumento de quase 10% e um novo recorde de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Entretanto, todos esses recordes tem sido obtidos a duras penas, e, provavelmente, essa expectativa de produção não poderá ser alcançada devido aos entraves enfrentados ultimamente pelos agricultores brasileiros. Um dos problemas que vem preocupando de forma gradual e contínua, especialmente os produtores das Regiões Norte, Centro-Oeste e Sul do País é o aparecimento de frequentes

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surtos de lagartas que, provavelmente, iniciaram suas populações há alguns anos atrás, mas que somente agora mostraram sua força destruidora em muitas lavouras do Brasil como a soja, algodão, milho, feijão, tomate, sejam estas culturas geneticamente modificadas ou não. A esse complexo de lagartas pertencentes à subfamília Heliothinae que no primeiro momento foram identificadas como Heliothis virescens e Helicoverpa zea, podemos agora também acrescentar a espécie Helicoverpa armigera, sendo esta última identificada no dia 22/03/2013 em amostras coletadas nos Estados de Goiás, Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso, pelo taxonomista Vitor O. Becker, especialista em espécies da família Noctuidae. Cabe salientar que H. armigera é uma espécie altamente agressiva, considerada até então como praga quarentenária para o Brasil. Esse complexo de Heliothinae apresenta como característica comum, grande mobilidade,

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alta capacidade de reprodução, ampla gama de hospedeiros como soja, algodão, milho, feijão, tomate, sorgo e milheto, além de outras culturas e tem confundido muitos produtores e consultores tanto no que se refere à identificação, como também na dificuldade de implementação de táticas de controle.

Lagartas em surto

No Brasil, as espécies de Helicoverpa, embora extremamente polífagas, estavam relacionadas basicamente às culturas de milho, tomate e algodão, porém com baixa ocorrência de danos, sendo que a partir de 2012 foram relatados ataques seguidos que causaram danos severos como ocorreu nas áreas agrícolas de Goiás. Inicialmente, os surtos se fizeram presentes nas lavouras de tomate, seguidos por grandes populações nas culturas da soja, feijão e milho e, atualmente, há uma grande expectativa em relação à sua chegada,


Fabio Santos

Frutos de tomateiro atacados por Helicoverpa spp. Goiás/2012

No Fórum Regional sobre Helicoverpa realizado em Luís Eduardo Magalhães/Bahia no dia 22 de fevereiro, com a presença de mais de 1,5 mil profissionais do setor, foram relatados por produtores perdas e prejuízos estimados em torno de R$ 140,00/ha para a safra 2012/13 de soja. Somam-se a isso as aplicações extras de inseticidas nas lavouras e as perdas de produção. Segundo muitos produtores foram necessárias aproximadamente três aplicações a mais na cultura em comparação à safra passada. Estão sendo previstas severas perdas em cultivos de algodão em alguns municípios da Bahia e do Mato Grosso por conta do ataque deste complexo de lagartas, comprovando o potencial destrutivo que esses insetos apresentam quando não controlados de forma efetiva. Além disso, os danos foram potencializados basicamente por três fatores: dificuldade na identificação correta da espécie, utilização indiscriminada de inseticidas e a oferta de hospedeiros de forma contínua sem que haja quebra dos ciclos de desenvolvimento destas pragas, o que dificultou o estabelecimento de manejos adequados.

Emergência fitossanitária

O surto inesperado de Helicoverpa levou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a baixar uma portaria (PORTARIA Nº 42, DE 5 DE MARÇO DE 2013) a fim de declarar como emergência fitossanitária a situação do intensivo ataque da praga Helicoverpa zea em lavouras de algodão e soja durante a safra 2012/2013, com o objetivo da implementação de um plano de supressão da praga e adoção de medidas emergenciais para as safras de 2012/2013 a Fotos André Shimohiro

lagartas, após a dessecação, da soja tiguera para o milho. Também em algumas regiões do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul vários produtores de milho safrinha relataram a ocorrência de Helicoverpa sp. em lavouras Bt, sendo que estes ataques iniciaram-se no espigamento, observando-se certa preferência a espigas com estigmas claros. Ainda na atual safra agrícola do Mato Grosso, observaram-se altas populações de H. virescens e, provavelmente, H. armigera na cultura da soja. Em algumas localidades prevaleceu a incidência de Helicoverpa sp. (chegando a quase 70%) e em outras havia uma distribuição equivalente para as duas espécies. Outro fato a destacar foi a predominância das infestações no início do desenvolvimento da cultura (estágios V3 a V5), embora não se observasse falhas de controle dos inseticidas principalmente quando foram utilizadas as diamidas, que se apresentaram eficientes quando aplicadas em situações com predominância de lagartas pequenas (< 1cm). Além disso, em algumas regiões, a população se estendeu até o período reprodutivo ocasionando perdas devido ao ataque nas vagens.

Reação organizada e os danos na Bahia

Cecília Czepack

novamente, às lavouras recém-transplantas de tomate do Estado. Todavia, o maior surto registrado até então de Heliothinae no Brasil ocorreu no Oeste Baiano durante a safra de 2011/12 quando as lagartas deste complexo atacaram diferentes culturas da região, em especial a cultura do algodão, chegando a causar perdas de até 80% na produção. Nesta safra (2012/13) essas pragas voltaram a incidir com altas populações na Região Oeste da Bahia, inicialmente em cultivos irrigados de soja, sendo registradas, até oito aplicações de inseticidas somente para o controle de lagartas do referido grupo. Posteriormente, esse complexo de Heliothinae foi observado atacando cultivos de soja nos Estados do Maranhão, Piauí, bem como no Sul do Paraná (região de Ponta Grossa), onde causou severos danos durante os estádios iniciais da cultura. Além disso, no final desta safra, essas lagartas foram também observadas atacando soja nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Norte do Mato Grosso do Sul (Região em torno de Chapadão do Sul). A safra 2012/13 de milho foi também marcada por surtos sem precedentes dessas lagartas nas principais regiões produtoras, talvez a maior já registrada desde o início da comercialização das sementes de milho geneticamente modificado (milho Bt). Além da já conhecida Spodoptera frugiperda, as lagartas de Helicoverpa spp. passaram a ser as grandes vilãs tanto nos cultivos de primeira safra como de safrinha. Foi constatado no Oeste do Estado do Paraná (mais precisamente na Região de Campo Mourão) alta incidência de lagartas de Helicoverpa causando danos em plantas de soja safrinha ou em plantas de milho Bt circundadas por plantas de soja tiguera. Neste último, relatos dão conta da passagem destas

Helicoverpa armigera em vagem verde de soja (esquerda) e à direita grande diversidade de cores da lagarta em milho safrinha após dessecação da soja tiguera, em Ubiratã (PR), 2013

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Lúcia Vivan

ovos são colocados de forma isolada nos estilo estigmas das espigas de milho, nas sépalas do tomateiro, nas espiguetas do sorgo ou em folhas e brotações de outras culturas, como soja e feijão. O número de ovos pode chegar ao redor de 1.000/fêmea. As lagartas recém-eclodidas são de coloração creme e quando desenvolvidas adquirem coloração variável, marrom, amarelada, alaranjada, esverdeada, rosada ou quase preta, com faixas escuras pelo corpo e manchas pretas na base das cerdas (pinácula), sem a presença de microespinhos (Figura 4) e ausência de placa dentada na face interna da mandíbula (Figura 1) características que as diferenciam da espécie H. virescens. A pupa tem coloração marrom e permanece no solo em torno de 15 dias para a emergência dos adultos. As lagartas têm sido encontradas nos cultivos de algodão danificando botões florais e flores, além de maçãs pequenas e grandes. Em cultivos de tomate, também foi verificada sua presença alimentando-se de frutos sejam verdes ou maduros, inviabilizando-os para o consumo ou para a industrialização. Em milho atacam as espigas e na soja além do dano inicial nas plântulas, sua investida pode ocorrer na fase reprodutiva perfurando vagens e se alimentando de grãos em formação.

Espiga de milho atacada por Helicoverpa sp. MT, 2013

pas no solo e são de coloração marrom, dando origem a novos adultos em torno de dez a 15 dias. Esta espécie pode entrar em diapausa e permanecer no solo na fase de pupa por até 130 dias. Seus ataques estão sendo identificados em lavouras de tomate, soja e algodão. No caso da soja, esta lagarta apresenta-se tanto na fase inicial, atacando plantas recém-emergidas, como na fase reprodutiva, perfurando vagens e ocasionando queda na produção. Nos cultivos de algodão e tomate, seus ataques se concentram nos frutos ocasionando perdas irreversíveis para o produtor.

2014/2015. A medida instituiu um Grupo de Gerenciamento Situacional da Emergência Fitossanitária, no âmbito do Mapa, com o objetivo de identificar, propor e articular a implementação de ações emergenciais, ágeis e eficazes para contenção da praga, a fim de assegurar o completo restabelecimento da normalidade produtiva. Há quatro espécies conhecidas de Heliothinae que podem ser encontradas nas lavouras do país:

Heliothis virescens

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É uma espécie que apresenta grande mobilidade e alta capacidade de sobrevivência sob condições adversas, podendo completar várias gerações por ano, finalizando seu ciclo de ovo a adulto entre quatro a seis semanas no período de verão. O adulto apresenta nas asas anteriores uma série de pontos nas margens e uma mancha em forma de vírgula na sua parte inferior. As asas posteriores são mais claras apresentando uma borda marrom escura na extremidade apical, havendo dimorfismo sexual entre machos e fêmeas. Uma fêmea pode colocar de mil a 1.500 ovos sempre de forma isolada sobre os talos, frutos e folhas e de preferência no período noturno. Para a postura, preferem a página superior das folhas e as

Helicoverpa zea

Chamada lagarta da espiga ou broca grande do tomate, os adultos possuem asas anteriores amareladas ou castanho-amareladas, com uma mancha escura no centro e uma franja externa na ponta bem característica. As asas posteriores são mais claras com faixa escura acompanhando a margem lateral e uma mácula discoide no centro de cada asa. Além disso, segundo a literatura, possuem apenas um espinho apical nas tíbias anteriores. Os Fotos Cooplantio e Cecília Czepak

Chamada de lagarta das maçãs tem como característica adultos com asas de coloração verde-oliva-pardacenta, com três linhas oblíquas avermelhadas e asas posteriores de coloração esbranquiçada, sendo esses caracteres fáceis de identificação no campo. Os ovos são colocados nos ponteiros das plantas de forma isolada, sempre em folhas novas, numa média de 600 ovos/fêmea. As lagartas recém-eclodidas não apresentam estrias nem manchas e são de coloração verde, mas à medida que crescem assumem uma coloração variável de verde até bem escura e apresentam micropelos, facilmente observados com uma pequena lupa de bolso, que saem de pintas salientes do 1º, 2º e 8º segmentos abdominais (Figura 1). As lagartas de H. virescens podem também ser facilmente separadas das espécies de Helicoverpa pela presença de placa dentada na parte interna da mandíbula (Figura 2) e de cerdas na pinácula. Finda a fase larval, transformam-se em pu-

Helicoverpa armigera

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B Morfologia das asas dos adultos de H. virescens (a); Helicoverpa zea (b); H. armigera (c) e H. gelotopoeon (d)

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Figura 1 – Heliothis virescens apresenta pintas salientes com a presença de micropelos

Figura 2 - Mandíbula de H. virescens com placa dentada na face interna

Figura 3 - Tíbia anterior de Helicoverpa zea (a) e H. gelotopoeon (b), com vista lateral do número dos espinhos que diferenciam as espécies

fase de pupa ocorre no solo e pode permanecer em diapausa durante toda uma estação, não emergindo até a estação seguinte. Isto faz com que as gerações não sejam uniformes, podendo ser encontradas fêmeas adultas ao longo de quase todo o ano. Entretanto, esta é só mais uma das inúmeras pesquisas que precisarão ser implementadas para se saber exatamente como será o comportamento da referida praga no País.

Ásia, Oceania incluindo Austrália, África e Europa agora, mais recentemente, no Brasil, sendo que nos países de origem demonstra elevada capacidade de desenvolver resistência a inseticidas, especialmente para produtos a base de piretroides, organofosforados e carbamatos. Por ser polífaga, pode causar danos em diferentes culturas de importância econômica como algodão, leguminosas em geral, sorgo, milho, girassol e amendoim, além de hortaliças, plantas ornamentais e frutíferas. Portanto, são mais de 180 espécies de plantas nativas e silvestres hospedeiras da praga, distribuídas em pelo menos 47 famílias. As lagartas de H. armigera se alimentam de folhas e caules, contudo mostram forte preferência por órgãos reprodutivos como brotos, inflorescências, frutos e vagens. Além disso, apresentam uma tendência para agressividade, são carnívoras e propensas ao canibalismo. A

Helicoverpa gelotopoeon

Esta praga é conhecida na Argentina por Bolillera e mais recentemente foi denominada de lagarta das ponteiras por Gassen (2013). Esta espécie já é conhecida nas lavouras argentinas pelos seus danos em várias culturas dentre elas, soja, algodão, ervilha, girassol, milho, cebola, tomate, fumo e linho. No Brasil foi coletada por Ceslau Bie-

Cópula entre espécies

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utro fato a acrescentar, bastante curioso, é a constatação de cópulas entre espécies diferentes, neste caso H. virescens com Helicoverpa sp., verificada várias vezes no campo nestes últimos meses. Esta é uma característica já observada em espécies invasoras geneticamente relacionadas, sendo que ao copular há uma troca de material genético (hibridização) e se esta troca se der em quantidade suficiente, a constituição genética da população pode ser alterada, havendo assim uma espécie de extinção genética e o desenvolvimento de uma nova espécie. Ainda segundo a literatura, caso essa espécie apresente fertilidade, será altamente invasiva e poderá se tornar ainda mais agressiva do que as duas espécies individualmente

(Pysek & Richardson, 2010). Portanto estudos para verificação desta ocorrência tornam-se necessários. Sara Peixoto

superfícies pubescentes, sendo que o período de postura pode durar de oito a dez dias. O período larval é constituído de seis instares. A lagarta possui coloração variável, do verde ao amarelo claro a um tom mais escuro. São detalhes característicos, a sua cápsula cefálica de cor pardo-claro, umas finas linhas brancas laterais e a presença de pelos. Para o caso de lagartas a partir do 4º instar o quarto segmento apresenta formato de “sela” devido à presença de tubérculos abdominais escuros e bem visíveis (Figura 6). Além disso, quando perturbada apresenta um comportamento peculiar encurvando a cápsula cefálica até o primeiro par de falsas pernas, permanecendo deste modo por um bom tempo. Outra característica observada nesta espécie diz respeito à textura do tegumento que se apresenta de aspecto levemente coriáceo, muito diferente das lagartas de outras espécies de Helicoverpa, podendo ser esta particularidade um fator de resistência a inseticidas de contato, visto que apresentam-se pouco eficientes para esta praga. H. armigera apresenta distribuição na

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Cópula entre Heliothis virescens e Helicoverpa sp. em cultivo de tomate, maio de 2012. Morrinhos (GO)

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Figura 4 – Helicoverpa spp. apresenta pintas salientes sem a presença de micropelos

zanko, em Pelotas, 1952 e Dionísio Link, em Santa Maria, 1972. E segundo Gassen (2013) é considerada como lagarta esporádica em soja, desde a década de 70, e citada como praga na cultura desde a safra de 2007, mais especificamente nos Estados da Região Sul do País, isso se deve, provavelmente, em razão da fronteira seca de transito livre existente entre o Brasil e a Argentina. Os adultos possuem asas anteriores de cor marrom, podendo variar para marrom avermelhado, verde oliva ou cinza, sendo as asas posteriores mais claras com faixa escura acompanhando a margem lateral. Além disso, possui, segundo a literatura, de cinco a seis espinhos robustos e proeminentes nas tíbias anteriores (Figura 3b), o que a diferencia da H. zea que tem apenas um espinho na tíbia anterior. A diferenciação de H. gelotopoeon de H. virescens pode se dar também pela ausência de espinhos no primeiro, segundo e oitavo segmento abdominal e presença de placa esclerotizada sobre a superfície dorsal do protórax de coloração verde que em H. virescens é escura e pêlos do corpo de coloração branca enquanto em H. virescens é escura. Quanto a correta diferenciação entre as espécies H. gelotopoeon, H. armigera e H. zea, é importante salientar que, atualmente, esta se baseia em detalhes encontrados no aparelho genital masculino. Os ovos são colocados também de forma isolada, preferencialmente nas brotações terminais das plantas. As larvas recém-eclodidas possuem coloração marrom escuro acinzentado e permanecem no interior dos folíolos da soja fazendo um pequeno casulo. A medida

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que crescem adquirem coloração variável do amarelo a verde claro ou quase negro, segundo o tipo de alimentação utilizada. Esta lagarta pode atacar a soja em vários estágios, como por exemplo, recém-emergida, consumindo os cotilédones, destruindo a planta antes mesmo da emissão das folhas definitivas. Também pode atacar nas fases de emissão de folíolos e neste caso tem preferência pelas brotações, ramos e folhas mais novas, principalmente se estas lagartas são remanescentes de safras anteriores. Entretanto quando começam sua fase larval na cultura em desenvolvimento, costumam permanecer dentro das brotações, produzindo danos iniciais imperceptíveis, e a medida que crescem, as lagartas aumentam sua voracidade e iniciam desfolhas significativas nas culturas. Quando avançam para o estagio reprodutivo os danos se concentram nas inflorescências e mais tarde nas vagens consumindo grãos em desenvolvimento. Por este motivo a literatura considera uma praga ávida por proteínas e hidratos de carbono, além do que, apresenta maior tolerância aos inseticidas normalmente utilizados na cultura. Estas são, na verdade, características muito semelhantes as encontradas em H. armigera. Para Lannone (2011) os níveis de controle adotados para esta praga em lavouras na Argentina foram ajustados para os diferentes grupos de maturação, bem como espaçamentos utilizados, sendo que para soja com 35cm de espaçamento, foi recomendado o controle na fase inicial, quando forem encontradas de 1 a 2 lagartas/m, ou então 10% de plantas com presença de lagartas nos brotos. Quando a lagarta adquire o comportamento de desfolhadora, a

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recomendação é de três lagartas/m em condições normais e em veranicos uma lagarta/m. E, finalmente, quando atingem as inflorescências ou as vagens o nível de controle recomendado é de 0,5 lagartas/m. Segundo Igarzabal (2010) estudos realizados em Córdoba no ano de 2012 comprovaram que uma lagarta de H. gelotopoeon pode consumir até 18 grãos, com média de dez grãos consumidos/lagarta o que equivale a cerca de 50kg de perdas/ha. Seria importante uma investigação da entrada da H. armigera pela fronteira Brasil/ Argentina, pois considerando a dificuldade de diferenciação entre as duas espécies (H. armigera e H. gelotopoeon) e os relatos também de ataques da praga em Estados vizinhos a Argentina, há uma grande possibilidade de que naquele País a espécie presente não seja outra senão a H. armigera e, portanto poderá se aventar a probabilidade da entrada desta praga no País por esta fronteira seca. Assim, são recomendados estudos aprofundados para elucidar esta questão, inclusive com identificação imediata de espécimes obtidos na Argentina. Enfim, para todas as espécies descritas recomenda-se, atenção redobrada nos monitoramentos, pois além daqueles normalmente executados com o método do pano, verificações semanais nas brotações com intuito de monitorar ovos e pequenas lagartas são muito importantes para que o controle possa ser realizado com um maior número de lagartas recém-eclodidas, com o objetivo de impedir o alastramento da praga nas áreas e a evolução dos danos na cultura.

Estratégias para o manejo

A correta identificação das espécies de Heliothinae que estejam ocorrendo em uma determinada área é fator chave para o sucesso

Figura 5 - Mandíbula de H. zea sem placa dentada na face interna


populações de Heliothinae do Brasil.

As variedades transgências

Caso o produtor decida plantar cultivos transgênicos Bt de milho ou algodão, recomenda-se utilizar sempre materiais piramidados como VIPTERA, VTPRO, VTPRO2, POWER CORE, INTRASECT, BOLGARD II e WIDESTRIKE, ou seja, que expressam duas ou mais proteínas Bt. Esta opção pode aumentar a eficiência de controle da praga alvo, bem como reduzir a probabilidade de desenvolvimento de resistência às plantas Bt em questão. Isso pode explicar, em parte, os problemas enfrentados com lagartas de Helicoverpa na cultura do milho na região da Bahia, onde 70% do milho Bt plantado na região expressava apenas uma proteína (Cry1F).

Helicoverpa armigera no algodão

Fitt (1989) relatou que H. armigera predomina entre os lepidópteros que atacam a cultura do algodão do período médio a final do desenvolvimento da cultura. As larvas podem ocasionar danos em todas as estruturas e estágios do algodoeiro, particularmente nas estruturas reprodutivas como o botão floral e as maçãs jovens que, potencialmente, reduzem a produção quando atacadas. A cultura do algodoeiro tem recebido populações de Helicoverpa sp. migrantes das culturas de soja e milho (culturas fornece-

doras), sendo esse fato perceptível nas áreas atacadas do sudoeste da Bahia. No algodoeiro ocorre o dano a partir da fase de floração, onde a lagarta prefere se alimentar de botões florais a folhas, avançando até a fase de maçãs com perdas expressivas nesse período. Em relação à primeira geração do algodão Bt INGARD na Austrália que expressa a proteína Cry1AC, foi testada a ação inseticida para H. armigera e a reduzida toxicidade dessa cultivar proporcionou condições favoráveis para o desenvolvimento de indivíduos resistentes à proteína Cry1AC, favorecendo a evolução da resistência. Também com a tecnologia Bollgard II (Cry1AC/Cry2Ab) os trabalhos na Austrália tem demonstrado que mais de 20% de larvas de H. armigera consideradas suscetíveis tem sobrevivido nos materiais Bt2 na fase de maçãs ou cut-out. O mesmo trabalho demonstrou que mais de 30% das larvas sobreviveram quando criadas em materiais com a proteína Cry1AC, entretanto seu desenvolvimento até a fase de pupa foi dez dias maior quando comparado com as criadas em algodão não-Bt (S. Dowes, dados não publicados). Entretanto, Bollgard II usualmente oferece controle superior de H. armigera (Pyke, 2008), uma vez que a proteína Cry2AB é expressa em níveis tóxicos em plantas com estágios mais avançados. Dessa forma, durante o estágio de floração pulverizações com inseticidas em campos de Bollgard II (Whitburn & Downes,

Cecília Czepak

do manejo integrado desse complexo de lagartas. Da mesma forma, técnicas efetivas de amostragens de ovos, lagartas ou até mesmo pupas são essenciais como subsídios para as tomadas de decisões sobre as melhores táticas de controle, devendo os levantamentos ser realizados não somente em uma cultura ou propriedade, mas sim em todas as possíveis plantas hospedeiras de ocorrência na região. A tecnologia de manejo de pragas em grandes áreas, talvez possa ser uma estratégia adequada para o manejo do complexo de Heliothinae, pois esse sistema de controle é adequado para o manejo de insetos que apresentam grande mobilidade como são as espécies hora citadas. Dentre as vantagens desta abordagem de controle destacam-se a reduzida ocorrência de ressurgência da praga no ambiente manejado, a maximização do controle biológico natural e a redução do número de aplicações de inseticidas. No entanto, este princípio somente opera com eficiência quando é apoiado por um sistema competente de monitoramento da praga alvo de forma regional. A adoção de monitoramentos frequentes nas lavouras, antes, durante e após o desenvolvimento das culturas é uma estratégia eficaz para a prevenção dos danos causados por estas lagartas, pois se sabe que muitos dos problemas enfrentados na safra 2012/2013 foram gerados pela simples falta de percepção por parte dos responsáveis em detectar estas pragas nas suas fases iniciais de desenvolvimento, nas quais os controles são comprovadamente mais efetivos.

Armadilhas com feromônio sexual

O uso de armadilhas iscadas com feromônio sexual pode ser uma ferramenta importante para o monitoramento de adultos de Helicoverpa, cujos resultados, quando correlacionados com a incidência de ovos ou de larvas presentes nas plantas, fornecem um cenário importante da probabilidade de ocorrência de surtos da praga na região e, consequentemente, da necessidade de implementação de medidas de controle. O feromônio sexual pode ser também utilizado nas áreas de cultivo através da técnica de confundimento de machos, impedindo os insetos de encontrar o parceiro e se acasalar e, consequentemente, de se reproduzirem. Todavia, apesar da existência desse tipo de feromônio para a maioria das espécies de Heliothinae, a sua utilização não tem sido efetivamente implementada, necessitando de ajustes na composição e/ou formulação dos feromônios com o objetivo de obter uma melhor bioatividade para as

Posição característica da espécie Helicoverpa armigera após ser perturbada

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Laryssa M. Bernardes

H. armigera apresenta tendência para agressividade, é carnívora e propensa ao canibalismo

2009) podem ser necessárias. Atualmente no Brasil tem-se a tecnologia WideStrikeTM com as proteínas Cry1Ac e Cry1F que asseguram proteção às plantas durante todo o ciclo da cultura contra os danos provocados pela alimentação de larvas de lepidópteros. No entanto, em relação ao controle de larvas de Helicoverpa sp. não se tem efetividade completa do controle, sendo que alguns indivíduos sobrevivem nesse material.

Os impactos na soja e áreas de refúgio

No caso da soja INTACTA, embora ocorra a expressão de apenas a proteína Cry1Ac, acredita-se que o seu uso irá contribuir para o manejo das Heliotinae nos agroecossistemas, já que eventos piramidados em soja tem previsão para ser liberados somente daqui quatro a cinco anos. Recomenda-se, com relação aos cultivos transgênicos Bt, a adoção, em pelo menos 20% da área plantada, de refúgios estruturados com materiais convencionais (não transgênicos), os quais devem apresentar fenologia, ciclo e manejo semelhantes. Além disso, é imprescindível que não haja aplicação de produtos a base de Bt, para o controle de lagartas nestas áreas. E, em se tratando de refúgios, uma estratégia bastante eficaz seria a obrigatoriedade da adoção através de leis federais, instituídas pelos órgãos fiscalizadores para todas as áreas de cultivo, pois embora haja, atualmente, uma percepção geral para a necessidade de refúgios, essa medida caiu em desuso por parte dos produtores.

O controle químico

Com relação ao controle químico, sempre que possível, recomenda-se a utilização de inseticidas em tratamento de sementes para

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o controle de pragas iniciais da cultura como a lagarta elasmo, percevejo barriga verde e vaquinhas, além de possibilitar uma redução nas aplicações foliares na fase inicial das culturas. Deve-se também buscar, sempre que possível, retardar o máximo possível a primeira aplicação de inseticida nas lavouras de algodão e de soja, obedecendo os níveis de controle estabelecidos pela pesquisa. Em adição, recomenda-se utilizar produtos seletivos aos inimigos naturais até os 70 dias após a emergência do algodão e até o completo fechamento da soja nas entrelinhas, evitando sempre o uso de inseticidas fosforados e piretróides, considerados normalmente não seletivos para os inimigos naturais. Procedendo-se desta forma haverá o estabelecimento dos primeiros inimigos naturais das pragas (predadores e parasitoides) nas culturas, proporcionando com isso, reflexos positivos para os cultivos em razão da manutenção do equilíbrio biológico no agroecossistema. Deve ser abolida dos sistemas produtivos brasileiros, uma prática bastante utilizada pelos produtores, que é a calendarização generalizada das aplicações de inseticidas, que muitas vezes são desnecessárias, indiscriminadas e causadoras de desequilíbrios biológicos no agroecossistema. Com o intuito de conter a H. armigera que está atacando lavouras de algodão e de soja, na região Oeste da Bahia, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) autorizou a importação e aplicação de produtos agroquímicos, registrados em outros países, que tenham como ingrediente ativo único a substância benzoato de emamectina. A autorização foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia, 04 de abril, de 2013. A inserção para utilização dessas sustâncias foi concedida em caráter emergencial após

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negociações entre os Ministérios da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente, no âmbito do Comitê Técnico para Assessoramento de Agrotóxicos (CTA). Em 18/03/2013 o Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos (CTA) já havia autorizado exclusivamente para a Bahia, o registro do benzoato de emamectina, produto esse específico para combater lagartas de Helicoverpa spp. Entre as principais regras, para regulamentar o uso do Benzoato de Emamectina destacam-se aptos a usar o produto contendo o ingrediente ativo, as Associações ou Sindicatos de produtores rurais, cooperativas ou os próprios produtores, a partir dos planos técnicos aprovados pelas autoridades fitossanitárias dos Estados. A aplicação da substância também será acompanhada por Fiscais Estaduais Agropecuários e supervisionada por Fiscais Federais Agropecuários. As propriedades que utilizarem os produtos serão objeto de fiscalização de uso, sendo monitoradas também as doses, número de aplicações e tecnologias utilizadas. Dentre os ingredientes ativos que tem proporcionado controle de lagartas de Helicoverpa nas culturas da soja, milho e algodão podemos destacar clorantraniliprole, flubendiamide, clorfenapyr, indoxacarb e spinosad. Entretanto, nas aplicações de inseticidas, é de importância fundamental rotacionar os modos de ação dos produtos para reduzir a pressão de seleção dos ingredientes ativos. O uso de iscas tóxicas a base de melaço ou açúcar + inseticida carbamato, aplicadas nas bordaduras das lavouras, constitui também uma ação complementar para o controle de adultos de Helicoverpa.

Pontes verdes e clima

Considerando-se a polifagia deste grupo de Heliothinae, a presença de pontes verdes no período da entressafra de soja, algodão e milho tem favorecido a sobrevivência das lagartas no campo durante este período. O que muitos precisam entender é que apesar de não ocorrer invernos rigorosos, como os países do hemisfério norte, há períodos de secas prolongadas, dos quais, atualmente, são modificados com grandes projetos de irrigação e com isso se criam as chamadas “pontes verdes”, onde os insetos pragas, doenças e plantas daninhas crescem e se multiplicam, atingindo seu cume nas safras de verão. Dessa forma, a implementação de um plano de vazio sanitário para as culturas irrigadas e de sequeiro de milho, soja e algodão poderá constituir em importante estratégia para o manejo deste


André Shimohiro

Cecília Czepak

Soja tiguera em milho atacada por Helicoverpa armigera, no Paraná, 2013, e à direita presença da lagarta em vagem madura

complexo de lagartas. Este vazio sanitário poderá ser realizado entre os meses de agosto a outubro (ex. 20/08 a 20/10) e terá maior efeito se for normatizado por instrumento legal e contar com o envolvimento dos responsáveis pelo sistema de defesa vegetal, de cada região agrícola do País. Outra questão importante seria a necessidade do estabelecimento de um calendário de plantio para as diferentes culturas e regiões do país, sendo importante salientar que quanto mais estreita a janela de plantio mais adequada será para o manejo de Helicoverpa.

Controle cultural

Em adição, como estratégia de controle cultural de lagartas de Heliothinae recomenda-se a eliminação eficiente de soqueiras e rebrotas de algodão, bem como de tigueras de soja e de algodão após a colheita. A destruição mecânica de pupas de Helicoverpa em áreas com alta infestação da praga, através do revolvimento do solo, pode também ter grande contribuição para o manejo dessa praga, especialmente nas áreas irrigadas sob pivô, sendo o mês de agosto a época mais adequada para realizar esta operação em regiões como as que se apresentam na Bahia, Distrito Federal e Goiás.

Inimigos naturais

Lagartas de Helicoverpa podem ser ata-

cadas por um grande número de inimigos naturais em condições de campo, dependendo do tipo de manejo adotado no agroecossistema. Vários predadores, parasitoides e patógenos de ovos e de lagartas são relatados na literatura. No caso de ovos, parasitoides do gênero Trichogramma apresentam uma grande associação especialmente com as espécies H. zea e H. armigera. Existe a possibilidade real de multiplicação e liberação a campo de parasitoides do gênero Trichogramma visando o controle de ovos de Helicoverpa em cultivos de soja, milho e algodão como foi relatado no Fórum Regional de Helicoverpa, na Bahia. Na safrinha de milho deste ano, no Estado do Paraná, foi constatada uma alta incidência de lagartas de Helicoverpa parasitadas por moscas da família Tachinidae (informação pessoal de André Shimohiro). Além disso, os vírus da poliedrose nuclear (baculovírus) de H. armigera e H. zea tem sido testados com sucesso para o controle dessas pragas em vários países do mundo com destaque na Europa, Estados Unidos e Austrália. Sendo que esse vírus foi regulamentado pelo Mapa para uso emergencial no controle de lagartas Helitohinae. Considerando-se também que H. armigera é uma praga exótica no Brasil, deveriam os pesquisadores envolvidos buscar por inimigos naturais exóticos nas regiões de origem de ocorrência da lagarta, podendo vir a ser uma estratégia promissora para auxiliar no manejo dessa praga no País.

Treinamento e integração

Finalmente, o sucesso no manejo de lagartas de Heliothinae nas diferentes culturas em que atacam somente acontecerá com o envolvimento de profissionais adequadamente treinados e/ou familiarizados com as características de identificação das espécies, bem como das técnicas de monitoramento e de manejo integrado desse complexo de pragas nos cultivos. Assim, é imprescindível criar um ambiente para realização de cursos dirigidos à capacitação de monitores sobre as diferentes táticas a serem empregadas para o manejo deste grupo de insetos, especialmente nas culturas do algodão, soja, milho e tomate. Por fim, resta registrar nosso reconhecimento ao taxonomista Vitor O. Becker pela identificação da espécie H. armigera, aqui citada. E aos alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG), pesquisadores e consultores de diversas instituições públicas e privadas que contribuíram de forma direta ou indireta na execução C deste artigo. Cecilia Czepak e Universidade Federal de Goiás Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Lucia Madalena Vivan, Fundação MT Karina C. Albernaz, Universidade Federal de Goiás

Figura 6 - Lagartas de H. armigera a partir do 4º instar apresentam o quarto segmento em forma de “sela” devido à presença de tubérculos escuros e bem visíveis

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Especial Helicoverpa Clérison Régis Perini

Manejar ou perder A lagarta Helicoverpa armigera é uma praga extremamente agressiva, que se alimenta de mais de 100 tipos de plantas, tem grande capacidade migratória, se reproduz em grande quantidade, é tolerante a alguns inseticidas e desenvolve resistência com muita facilidade a outros. O cenário da safra de 2013/14 é de insegurança pela falta de conhecimento, oferta de inseticidas e elevação do custo de produção com grandes riscos de perdas à cultura da soja. O seu manejo deve considerar todos os conhecimentos e ferramentas disponíveis, com o objetivo de evitar danos aos cultivos

A

lagarta Helicoverpa armigera é uma espécie-praga distribuída em toda a Ásia, Oceania, África e parte da Europa. Em muitos países destes continentes é considerada a praga mais importante, como em algodão na China, Índia, Paquistão e Austrália; e em hortaliças na Europa. Sua fase larval é extremamente agressiva, quando pode se alimentar de mais de 100 espécies de plantas de ocorrência natural ou cultivadas. A espécie apresenta resistência às variações do clima, como calor ou baixas temperaturas, além de ser pouco afetada pela seca. Apresenta grande prolificidade, com ciclo de ovo a adulto em 30 dias, resultando em grande capacidade de crescimento populacional e capaz de gerar surtos da praga. Nos locais onde ocorre a praga, há sérias dificuldades no seu controle, especialmente por tolerar naturalmente muitos inseticidas e doses que controlam outras espécies. De outro lado, estas populações locais desenvolvem com grande rapidez resistência para muitos inseticidas em uso nos cultivos. Este conjunto de características de Helicoverpa armigera coloca esta espécie como a mais im-

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portante e temida pela agricultura brasileira em todos os tempos, visto apresentar riscos a mais de 50 milhões de hectares e prejuízos de alguns bilhões de reais, seja pelo aumento do uso de inseticidas ou pelas perdas impostas aos cultivos como soja, algodão, milho, outros cereais, tabaco, batata, tomate, hortaliças em geral etc.

Bioecologia de Helicoverpa armigera

Helicoverpa armigera apresenta muitas particularidades no seu desenvolvimento, que a tornam tão temida pelos produtores. O ciclo completo apresenta as fases de ovo, larva/pré-pupa, pupa e adulto, com período de desenvolvimento de 30 dias a 45 dias, que sob baixas temperaturas, pode ser mais longo. As mariposas colocam ovos isolados ou agrupados nas folhas, durante a noite, totalizando entre 300 ovos até mais de dois mil ovos. Os ovos são branco-amarelados, tornando-se marromescuros, próximo ao momento da eclosão da larva, que ocorre entre cinco dias e sete dias após a postura. As lagartas de primeiro e segundo ínstares são pouco móveis na planta

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e possuem coloração variando de brancoamarelada a marrom-avermelhada com cápsula cefálica de marrom-escuro a preta, medindo de 1,4mm a 4mm, respectivamente. Já as larvas de sexto instar podem chegar a 34mm de comprimento. A cor das lagartas depende da alimentação, sendo predominante do amarelo-palha ao verde com listras marrom na lateral do tórax, abdômen e na cabeça. O período larval varia de 17 dias a 35 dias. A identificação de Helicoverpa armigera é muito difícil, inclusive nos últimos instares, entretanto, é possível separá-la dos outros grupos de lagartas da soja. Os heliotíneos têm um comportamento particular recurvando a cabeça e os segmentos abdominais em direção à região ventral, formando uma volta. Ao final da fase de lagarta, as larvas param de se alimentar e se deslocam até o solo, para pupar. Com a emergência do adulto, surgem as mariposas de Helicoverpa armigera, que apresentam asas dianteiras amareladas com uma série de pontos sobre as margens e uma mancha escurecida no centro da asa. As asas posteriores são mais claras com uma borda


marrom-escura na sua extremidade apical. A identificação morfológica dos adultos, pelo padrão das asas, permite separar Helicoverpa spp. de Heliothis virescens (que ocorre em todo o Brasil), entretanto, não permite separar as espécies de Helicoverpa, para as quais é necessário o exame da genitália, preferencialmente dos insetos machos. Este exame pode ser feito com insetos obtidos de criação ou de armadilha luminosa (machos e fêmeas) ou coletados nas armadilhas de feromônio sexual (somente machos). A identificação baseada nestes caracteres é realizada no Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da Universidade Federal de Santa Maria (LabMIP-UFSM).

Comportamento e danos de Helicoverpa armigera

Os adultos de Helicoverpa armigera apresentam grande capacidade migratória, que pode ser comprovada pela sua expansão no Brasil, e pela rápida distribuição no Rio Grande do Sul, na safra 2013/14. A seleção do hospedeiro pelos adultos permite grande polifagia dessa espécie, cujas fêmeas são atraídas por culturas que possuem substâncias adocicadas e néctar nas flores. As lagartas se alimentam tanto de partes vegetativas quanto de reprodutivas de várias espécies de importância econômica. No Brasil, já foi relatada a presença da espécie em algodão, soja, milho, feijão, sorgo, milheto, guandu, trigo, crotalária, girassol, frutíferas, tomate, outras hortaliças, bem como em diversas plantas daninhas. Apresentam potencial de atacar muitas outras espécies vegetais, entre as quais está arroz, batata, tabaco, entre outras, todas de importância agrícola para o Brasil. Na cultura da soja, apesar de se alimentarem de folhas e hastes das plantas, a preferência é por estruturas reprodutivas como botões florais, legumes e grãos. Os danos ocorrem desde quando as plantas estão emergindo, quando os cotilédones estão de fora e as folhas unifolioladas desenvolvendo-se, as lagartas seccionam as plantas sob ou sobre os cotilédones. A partir do estágio V3 a lagarta se comporta como desfolhadora e ataca o broto terminal. No período reprodutivo se alimenta fazendo uma pequena abertura circular no legume justamente sobre o grão que consome. Helicoverpa gelotopoeon, que ocorre na Argentina, pode consumir entre oito grãos de soja e 15 grãos de soja, durante os dois últimos estágios larvais, demonstrando o grande potencial daninho dessa lagarta (Igarzábal, 2008). Esta espécie está presente no Sul do Brasil também e provavelmente divide espaços com H. armigera.

Jerson Guedes

Armadilha de feromônio sexual em lavoura de soja no Rio Grande do Sul, safra 2013/14

Monitoramento de Helicoverpa armigera

dentro de ± cinco dias a sete dias eclodem as lagartas que inicialmente são muito pequenas, consomem pouca área foliar e ficam protegidas da pulverização. Estes dados correlacionando a ocorrência de adultos e lagartas de Helicoverpa armigera foram comprovados em grão-de-bico, em que se observou resposta positiva dos indivíduos da população à temperatura e umidade relativa do ar elevada. No Projeto LabMIP-UFSM e Nufarm Monitora - safra 2013/14, as armadilhas do tipo delta, iscadas com feromônio sexual Iscalure armigera ((Z)-9-hexadecenal (Z90C16Ald; (Z)-9-tetradecenal (Z9-C14Ald); (Z)-11C16Ald), foram colocadas em áreas de soja de 47 municípios do Rio Grande do Sul. Em cada município foi escolhida aleatoriamente uma lavoura de soja e foi montada estrutura de madeira para suportar a armadilha de feromônio sexual. As armadilhas permaneceram no campo entre os dias 23 e 29 de novembro de 2013. Dos locais amostrados somente seis coletaram insetos. Os machos adultos foram dissecados no LabMIP-UFSM e pela genitália foi possível confirmar a espécie. As amostras positivas para Helicoverpa armigera foram de Ipiranga do Sul, Cruz Alta, Tupanciretã, Estrela Velha, Santa Maria, Rosário do Sul. Em novo conjunto de amostras, cujas armadilhas permaneceram no campo entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro de 2013, foram confirmadas positivas para Helicoverpa armigera as armadilhas de Entre Ijuís, Espumoso, Eugênio de Castro, Giruá, Santa Cruz do Sul, São Sepé, Santo Augusto, Soledade e Vacaria. Dois aspectos resultam destas constatações. O primeiro significa que em alguns dias após a comprovação da ocorrência dos adultos (entre dez dias e 15 dias) as lagartas poderão estar danificando a soja; e o segundo é a expansão da praga na lavoura de soja gaúcha, no mês de dezembro de 2013, com seus riscos e impactos

O monitoramento das populações de Helicoverpa armigera é um procedimento-chave para o sucesso do manejo dessa praga. O acompanhamento da evolução populacional da praga, ao longo do ciclo das culturas e entre os cultivos, deve considerar os estágios de ovo, larva, pupa e adultos. É com base nesse monitoramento que serão definidas as estratégias de manejo, determinando a tomada de decisão sobre o uso do controle químico, a programação das pulverizações e a escolha de inseticidas e doses a serem empregados. No monitoramento das mariposas (adultos) os fatores ambientais estão correlacionados com a captura da espécie e podem influenciar na eficiência do método usado. Os adultos podem ser monitorados por armadilhas luminosas que capturam machos e fêmeas ou com armadilhas com o feromônio sexual (Projeto LabMIP-UFSM e Nufarm Monitora safra 2013/14) que capturam somente machos. Com a captura das mariposas em armadilhas de feromônio e identificação positiva para Helicoverpa armigera, significa que nestas áreas pode haver acasalamentos e em seguida posturas pela população indicada nas armadilhas. Após a postura dos ovos, Figura 1 - Momentos e formas de monitoramento de Helicoverpa armigera e prováveis momentos de controle químico da praga em soja

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Por medida de precaução até o desenvolvimento dos estudos de níveis de controle para a soja brasileira, levando em consideração cultivares, o custo do tratamento e a expectativa de produção, o LabMIP-UFSM recomenda a adoção destes valores.

minuciosamente as folhas e os brotos, contando ovos e lagartas, especialmente nos terços médio e superior da planta; R1 – R4 > fazer batida de pano vertical em 2m de fileira de soja (1m2) e vistoriar minuciosamente folhas, brotos, flores e legumes, contando lagartas, especialmente nos terços médio e superior da planta; R5– R7 > fazer batida de pano vertical em 2m de fileira de soja (1m2) e vistoriar minuciosamente os legumes, contando lagartas, especialmente nos terços médio e superior da planta; Estas fases de monitoramento são propostas em função da fenologia da cultura, da área foliar da soja, da fase reprodutiva e da produção de legumes. Cada amostragem deve repetir-se em diversos pontos da lavoura de soja, de modo a representar os diferentes talhões e também as diferenças do manejo ali aplicado, permitindo uma visão geral da resposta de Helicoverpa armigera ao ambiente e ao manejo praticado na safra. Também esta separação em fases/

Níveis de controle Helicoverpa armigera

O nível de controle para Helicoverpa armigera em soja encontra-se em estudo e ainda não foi estabelecido no Brasil. Com base na experiência de outros países como a Argentina e para outras espécies de Helicoverpa que atacam frutos e grãos, é possível estimar que os valores dos níveis de controle serão muito baixos, ou seja, poucas lagartas/m2 devido à agressividade da praga.

Controle químico de Helicoverpa armigera

Com a ocorrência da lagarta Helicoverpa nas lavouras brasileiras, surgiram muitas dúvidas sobre o manejo desta praga. Inicialmente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) liberou o uso de inseticidas Jonas André Arnemann

Clérison Régis Perini

à produção. Há ainda a necessidade de fazer o acompanhamento das populações de lagartas nas áreas, especialmente para verificar (1) se não havia populações anteriores; (2) o tamanho/estágio das lagartas; (3) as espécies e (4) principalmente a densidade e a distribuição da população. Desse modo, além do monitoramento de adultos com armadilhas, é necessária a verificação minuciosa das folhas e de toda a planta de soja desde o início do desenvolvimento até o final do ciclo, pelo menos duas vezes na semana, para a contagem e identificação de ovos e lagartas presentes e a definição da estratégia de manejo. O LabMIP-UFSM recomenda o monitoramento da praga de formas distintas ao longo do ciclo da soja: V1 – V3 > vistoriar 2m de fileira de soja (1m2), examinar minuciosamente as folhas e os brotos, contando ovos e lagartas; V4 – Vn > fazer batida de pano tradicional em 2m de fileira de soja (1m2) e vistoriar

formas de monitoramento deve anteceder especialmente os momentos tradicionais de pulverização da soja (Figura 1), seja para plantas daninhas e/ou para doenças. Por muito tempo estes problemas fitossanitários foram prioritários, entretanto, agora é necessário dar prioridade à praga que traz mais risco à lavoura de soja, ajustando o momento das pulverizações. A vistoria e a contagem dos ovos devem ser realizadas nas folhas, na haste central e nas hastes laterais; nas flores, legumes e especialmente nas brotações. Para as lagartas, considerando as dificuldades de identificação em campo, devem ser coletadas, separadas por grupos (Anticarsia gemmatalis, Plusiinae, Spodoptera spp. e Heliothinae) e quantificadas com o objetivo de decidir o manejo a ser adotado. Os Heliotíneos, especialmente as Helicoverpa spp., podem ser enviados ao LabMIP-UFSM, onde serão criados até a fase adulta e identificados por espécie.

Danos de Helicoverpa armigera no legume da soja, perfurado no local do grão

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Monitoramento de V1 a V3 em soja



Tabela 1 - Inseticidas e doses usados para o controle de Helicoverpa armigera em algodão em diversos países do mundo Ingrediente ativo Espinosade

Concentração 480g/L

Indoxacarb

150g/L

Emamectina

17g/L

Clorantraniliprole Metomil

200g/L 215g/L

Metoxifenozida

240g/L

Local dos ensaios Fonte Austrália FS-IRMS Paquistão Tarik et al, 2005 FS-IRMS Austrália 400 até 800 ml/ha Tarik et al, 2005 Paquistão FS-IRMS/Iain R Kay, 2007 Austrália 500 até 700 ml/ha Brévault et al, 2009 França Ahmad et al, 2003 Paquistão Farming Systems Insecticide Resistance Management Strategy (FS-IRMS) Austrália 150 até 250 ml/ha FS-IRMS/Iain R Kay, 2007 Austrália 1000 até 2000 ml/ha Achaleke et al, 2008 França Tarik et al, 2005 Paquistão FS-IRMS/Iain R Kay, 2007 Austrália 1700 até 2500 ml/ha Achaleke et al, 2008 França Dose 50 até 100 ml/ha

algodão e em bioensaios de laboratório. Os resultados permitem estimar que em soja é possível utilizar doses próximas às avaliadas, visto que em muitos destes experimentos se obteve eficiência de controle acima de 90%, permitindo resultados mais seguros. Um dos pontos mais importantes com relação ao controle químico de Helicoverpa armigera é a tecnologia de aplicação. Como essa espécie-praga ocorre desde muito cedo nas lavouras de soja (V1) até estágios finais de enchimento de grão (R6), os parâmetros para a pulverização de inseticidas não podem ser os mesmos nos distintos momentos. Deve-se considerar que existem três diferentes momentos de controle desta praga (Figura 1). O primeiro momento (V1 até V3), quando o principal fator limitante é a pequena área foliar da cultura e o rápido crescimento da planta, o que pode tornar algumas pulverizações pouco eficientes, como aquelas que utilizam piretroides, IGRs, entre outros que necessitam ser depositados e ingeridos para agir. O segundo momento (V4 até Vn), que é possível considerar como um dos mais importantes momentos de controle da praga, com o objetivo de impedir um estabelecimento da população, antes do fechamento da entre linha da cultura. Por fim, as aplicações de inseticidas realizadas depois do florescimento até o período final do enchi-

Fotos Jonas André Arnemann

registrados nas culturas para outras espécies e estuda outras medidas para diminuir os riscos e a insegurança pela falta de alternativas de manejo. Para o controle químico, na falta de conhecimento da praga no País e nas nossas culturas, um dos pontos mais delicados é prever como irão se comportar os inseticidas, quais as doses eficientes e por quanto tempo serão eficazes. Um parâmetro emergencial que se pode utilizar nesse caso é a consulta de trabalhos realizados em outros países, com culturas semelhantes e, dessa forma, ter uma base com maior respaldo sobre quais as melhores alternativas para o controle da praga na cultura da soja nessa safra, aqui no Brasil. Há inseticidas de praticamente todos os grupos de modos de ação, que controlam a lagarta Helicoverpa, tais como os organofosforados, os carbamatos, os piretroides, as spinosinas, as avermectinas, as oxadiazinas, as diamidas antranílicas, entre outros. Entretanto, há muitos inseticidas que necessitam de doses elevadas para controlar a praga, inviabilizando o seu uso; e outros para os quais a praga já desenvolveu resistência em muitos locais, como especialmente os inseticidas piretroides, para os quais há muita restrição de uso em muitos países. A Tabela 1 lista alguns dos inseticidas mais utilizados e mais eficientes para Helicoverpa armigera, avaliados em

Monitoramento entre V4 e Vn com batida de pano tradicional e vistoria minuciosa das folhas e dos brotos das plantas de soja

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Batidas de panos vertical em fileira de soja entre os estádios R1 e R7 das plantas de soja

mento de grãos (R1 até R7) requerem uma eficiente cobertura de gotas, principalmente porque após o aparecimento de legumes a praga passa a atacar preferencialmente essas estruturas, que se encontram distribuídas nos terços inferior, médio e superior das plantas. Para que o controle seja eficiente durante o ciclo da cultura, é necessário ajustar o volume de calda, especialmente nas associações com herbicidas ou fungicidas. A ocorrência e o impacto da lagarta Helicoverpa armigera podem trazer muitos prejuízos econômicos, ambientais e até de sustentabilidade da cultura da soja no Brasil, porém, este sério problema vai permitir o desenvolvimento de novas práticas e novas tecnologias, com o aperfeiçoamento do manejo de pragas da soja. O produtor de soja é quem pode sofrer as maiores perdas, enquanto a pesquisa oficial e a administração pública trabalham a uma velocidade muito inferior à expansão da praga e dos riscos que carrega. Dentre os registros importantes e indispensáveis deste momento, está a convicção de que não haverá soluções milagrosas, oriundas da soberba científica, da pressa ou da imprudência. As soluções eficazes e duradouras para o problema de Helicoverpa armigera só podem vir do trabalho coletivo e cooperativo, da colaboração da experiência internacional com a agricultura C brasileira. Jerson Vanderlei Carús Guedes, Jonas André Arnemann, Clérison Régis Perini, Adriano Arrué e Alberto Röhrig, Univ. Federal de Santa Maria


Especial Helicoverpa

Mitos e verdades

A presença de Helicoverpa armigera no Brasil, com prejuízos que chegaram a levar estados produtores a decretar situação de emergência, tem favorecido a instalação de um cenário alarmista no País. A praga demanda muita atenção, monitoramento e adoção de práticas preconizadas pelo manejo integrado, ao mesmo tempo em que determinadas estratégias não devem ser adotadas sob pena de agravar ainda mais a situação. Na aplicação de inseticidas é importante respeitar o nível de dano recomendado para o controle, bem como o uso de produtos seletivos a inimigos naturais

H

elicoverpa armigera tem assustado os produtores de soja desde a detecção no Brasil na safra 2012/13. Se por um lado essa nova praga trouxe de volta a discussão da importância do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para a agricultura, por outro lado, a presença desse inseto tem feito, muitas vezes, os sojicultores se precipitarem, antecipando a aplicação de inseticidas, quando as populações da praga ainda estão extremamente baixas ou até mesmo inexistentes. Isso ocorre devido à falta de monitoramento e quantificação da infestação

do inseto em campo. É importante destacar que aplicar inseticidas de forma abusiva apenas irá agravar os problemas, aumentar, desnecessariamente, o custo de produção. A cultura da soja pode ser atacada por diferentes espécies de lagartas que causam danos semelhantes ou até, algumas vezes, piores aos causados por Helicoverpa armigera. Entretanto, talvez em decorrência do próprio desconhecimento com relação a essa praga, além do grande volume de informações, muitas vezes contraditórias ou até excessivamente alarmistas, o sojicultor brasileiro vem

sendo aterrorizado com relação à presença da Helicoverpa armigera nas lavouras. Alguns estados, inclusive, já decretaram situação de emergência fitossanitária em algumas áreas. Helicoverpa armigera, assim como Heliothis virescens (lagarta-da-maçã-do-algodão) e o complexo de lagartas do gênero Spodoptera (principalmente S. cosmioides e S. eridania para a cultura da soja) podem atacar, além de folhas e brotações, também as estruturas reprodutivas da cultura (flores e vagens), merecendo, portanto, atenção do sojicultor em seu manejo, por meio de monitoramento constante, mas

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Figura 1 - Site de acesso gratuito aos agricultores com informações e recomendações de manejo de Helicoverpa armigera

sem, entretanto, a obrigatoriedade de aplicações de inseticidas, principalmente quando são realizadas sem a população ser grande o suficiente para justificar a necessidade do controle (= aplicações desnecessárias feitas com populações da praga abaixo do nível de ação recomendado pela pesquisa). Nesse cenário, aplicações de inseticidas devem ser realizadas apenas quando a população da praga atingir o nível de ação, ou seja, quando houver, em média, quatro lagartas (Heliothis + Helicoverpa)/metro na fase vegetativa ou duas lagartas/metro na fase reprodutiva da lavoura. Aplicações realizadas antes desse nível populacional (nível de ação) ser atingido ou ultrapassado, além de representar um aumento no custo de produção desnecessário, apenas propiciará maior pressão para seleção de populações de insetos resistentes aos inseticidas utilizados, além de agravar o risco de faltar inseticidas quando realmente for necessário efetuar o controle dessa ou de outras pragas da soja no decorrer da safra. Algumas informações que são transmitidas aos produtores têm piorado esse cenário de “terrorismo de informações” e por isso merecem destaque. Entre elas está, por exemplo, a ideia de que o controle da H. armigera tem que ser antes das lagartas atingirem 1cm, caso contrário não haveria inseticidas eficientes. É importante salientar que somente nos últimos instares (4º, 5º e 6º instares) a lagarta apresenta a maior de capacidade de causar injúria nas plantas. Lagartas da subfamilília Heliothiinae de 1º e 2º instares têm pequena capacidade de desfolha e não conseguem sequer se alimentar dos tecidos das vagens, que são mais resistentes do que os tecidos foliares. Sendo assim, por que realmente seria tão importante controlar essa praga quando elas são ainda bem pequenas e ainda incapazes de causar danos mais significativos às plantas de

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soja? Será que isso não poderia estar acarretando em uso excessivo de inseticidas no País, o que pode piorar o cenário de pragas na soja devido à eliminação de inimigos naturais e/ ou seleção de insetos resistentes? Essas são perguntas importantes que é necessário fazer antes de realizar aplicações de inseticidas sem o devido monitoramento e quantificação da população da praga. É muito importante estar atento no campo, monitorando a lavoura, mas a grande área de soja do País, associada à assistência técnica, muitas vezes, sobrecarregada, tem levado os produtores a realizarem aplicações de inseticidas sem a quantificação ideal de pragas em campo (sem monitoramento). O sucesso do manejo de H. armigera, assim como de qualquer outra espécie de praga, consiste na adoção do manejo integrado de pragas, que preconiza o controle realizado apenas quando a população de pragas atingir o nível de ação. Sendo assim, o manejo de H. armigera na soja deve ser baseado em amostragem e controle re-

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alizado com o produto certo, na hora certa. Sendo assim, é evidente a carência por informações isentas e pautadas com prudência e sem qualquer grau de sensacionalismo. Nesse sentido, e com o objetivo principal de orientar o sojicultor brasileiro auxiliando-o no melhor manejo da praga, a Embrapa lançou o site Helicoverpa armigera: ações de prevenção e manejo, que pode ser acessado no endereço http://www.cnpso.embrapa.br/helicoverpa/. Com esse site (Figura 1) a Embrapa espera estar mais próxima do sojicultor, levando de maneira mais rápida e mais abrangente informações atuais sobre o manejo dessa praga. Além disso, o produtor agrícola passa a ter um canal aberto para questionar e buscar informações relativas a H. armigera no próprio site. Entrevistas, palestras, publicações, fotos e orientações de como manejar a praga na cultura da soja poderão ser encontradas nesse site e devem ser seguidas pelos sojicultores que desejam manejar a lavoura de forma econômica e ambientalmente correta. Entre os principais passos para um bom manejo de H. armigera recomenda-se destacar o monitoramento (amostragem), o reconhecimento das pragas (ou pelo menos de seugrupo), a quantificação da população de cada grupo de praga e a aplicação de inseticidas (químicos ou biológicos) apenas quando a população de pragas atingir ou ultrapassar o nível de ação.

Amostragem

É recomendado amostrar e manejar a área plantada de soja dividida em talhões homogêneos (área menor, com mesma época de semeadura, mesma cultivar, mesma condição edáfica etc) de, no máximo, 400 hectares.

Presença de mariposa de Helicoverpa armigera sobre folha de soja danificada


Helicoverpa armigera em posição característica da praga na cultura da soja

Talhões menores são desejáveis, quando possível, porque serão mais homogêneos. A amostragem efetuada com o auxílio do pano de batida (um metro/pano de batida) (Figura 2) deve ser realizada com frequência mínima de uma vez por semana e em no mínimo um ponto para cada dez hectares. Isso deve ser realizado desde a emergência da soja até o início do estádio R7. No início, quando ainda não for possível utilizar o pano de batida, devido ao pequeno porte da planta, a amostragem visual pode ser realizada no mesmo tamanho de área e mesmo número de pontos por hectare. Na amostragem, o número de insetos deve ser anotado separando-se o número de lagartas pequenas (< ou = 1,5cm de comprimento) e grandes (> 1,5cm de comprimento), além da nota de desfolha (% visual) e número de outros insetos.

Heliothiina requer conhecimentos específicos da morfologia interna e externa. Mesmo a separação entre os gêneros Helicoverpa e Heliothis é difícil de ser realizada a campo, exigindo, para isto, a observação das lagartas em lupas de laboratório (mínimo de 35 aumentos). Portanto, a separação prática no campo entre as espécies Helicoverpa zea, Helicoverpa armigera e Heliothis virescens é complicada e à luz no conhecimento atual, estas espécies devem ser manejadas em conjunto em condições de campo. Entretanto, é importante e possível separar os insetos da subfamília Heliothiinae dos demais que também atacam a soja, como é o exemplo do complexo de lagarta do gênero Spodoptera (principalmente as espécies S. eridaniae S. cosmioides), as lagartas falsa-medideira (Chrysodeixis includes) ou até mesmo a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis). A diferenciação desses quatro grupos de lagartas é importante para a adoção do manejo adequado das pragas. A escolha dos inseticidas, agentes de controle biológicos, plantas resistentes e/ou outras práticas de manejo pode ser diferente para cada grupo de pragas que estiver ocorrendo na lavoura para obter a maior eficiência da tática de controle a ser adotada.

Dicas úteis para identificação das lagartas no campo

• Os adultos podem ser mais facilmente separados e a sua presença é um bom indicativo da espécie de lagarta que está ocorrendo na lavoura. Adultos de Heliothis virescens, por

exemplo, são facilmente identificados pelas três faixas laterais que cortam as asas. Os adultos de Spodoptera e Helicoverpa spp não apresentam essas faixas; • As posturas de Spodoptera spp. são realizadas em massas de ovos, sendo que a postura de Spodoptera eridania, especificamente, é esverdeada, o que é facilmente diferenciado da postura das espécies do gênero Heliothis ou Helicoverpa que ovipositam isoladamente. A presença desses ovos também é um forte indicativo de qual espécie (ou quais espécies) de praga ocorrem na lavoura. Comparações são bastante úteis e isto pode ser realizado comparando-se os insetos em campo com as fotos divulgadas no site da Helicoverpa no endereço http://www.cnpso. embrapa.br/helicoverpa/.

Controle

É importante destacar que as medidas de controle atualmente recomendadas para Heliothiinae na soja são baseadas nas informações de outros países (literatura internacional) e, assim, à medida que as pesquisas estão sendo realizadas com essa nova praga em condições brasileiras, adaptações e/ou alterações nestas recomendações poderão ser realizadas. É importante ainda destacar que as medidas de controle químico devem ser sempre tomadas após a detecção da praga em populações iguais ou maiores do que os níveis de ação (que é a população mínima de pragas para justificar economicamente o controle). Inseticidas nunca devem ser aplicados preventivamente,

Figura 2 - Representação do processo de amostragem de pragas na soja, passo a passo, com o auxílio do pano de batida

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Identificação da praga

Em primeiro lugar é importante destacar que existem outras espécies de insetos-praga na cultura da soja, como Spodoptera cosmioides, Spodoptera eridania e Heliothis virescens, sendo estas de ocorrência conhecida na soja há mais tempo. No entanto, essas espécies causam os mesmos danos que H. armigera nas estruturas reprodutivas da soja e podem ser confundidas em campo. Entretanto, uma boa identificação da praga é o ponto chave e inicial para escolha do controle mais apropriado, além da dose necessária para que seja eficiente. A diferenciação das espécies da subfamília

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Figura 3 - Número de lagartas da subfamília Heliothiinae por metro de soja em diferentes tratamentos. Arapongas, safra 2013/2014. As setas representam o momento em que o controle foi realizado em cada tratamento. O controle biológico foi realizado com liberação de Trichogramma pretiosum conforme a recomendação técnica da empresa produtora

Tratamentos ÁREA MIP: Aplicado inseticida do grupo das diamidas 50mlpc/ha em 15/11/13 ÁREA PRODUTOR: Aplicado inseticida do grupo das diamidas 50mlpc/ha em 5/11/13 e inseticida regulador de crescimento 62ml/ha em 15/11/13 ÁREA CONTROLE BIOLÓGICO: Liberado T. pretiosum em 7/11/13 e 15/11/13 porque isto apenas piora os problemas com pragas em longo prazo. O controle com inseticidas (químicos ou biológicos) deve ser realizado, portanto, apenas quando forem encontradas, em média, quatro lagartas de Heliothis ou Helicoverpa/metro quando a lavoura estiver no período vegetativo ou duas lagartas/metro quando a lavoura estiver no estádio reprodutivo de desenvolvimento. Se a maioria dessas lagartas for pequena (até 1,5cm) é aconselhável dar preferência para aplicação de produtos biológicos como os entomopatógenos, que são os vírus e as bactérias, ou por inseticidas do grupo de reguladores de crescimento (“fisiológicos”), devido à maior seletividade destes produtos aos inimigos naturais. Entretanto, se a maioria das lagartas encontradas for maior que 1,5cm de comprimento, produtos com ação de choque (efeito mais rápido) são mais recomendados. Entre os produtos de choque, que também são seletivos aos inimigos naturais, estão os dos grupos das diamidas e espinosinas, por exemplo. Diferentemente das lagartas da subfamília Heliothiinae, as do gênero Spodoptera devem ser controladas apenas quando a população atingir dez lagartas/metro. Outras lagartas como as falsas-medideiras ou a lagarta-da-soja apenas devem ser controladas quando a população atingir 20 lagartas/metro. Vale a pena lembrar que os desfolhares, em geral, também precisam de controle, quando a desfolha

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atingir 30% ou 15% nos estádios vegetativo ou reprodutivo do desenvolvimento da soja, respectivamente.

Escolha dos inseticidas

Ainda não se tem total conhecimento da eficiência dos inseticidas e agentes de controle biológico (para aplicação), em condições brasileiras, para o controle de H. armigera, porque não houve tempo hábil para produzir tal informação. Devido à detecção recente da praga, isso depende de ensaios em andamento ou que ainda serão executados. Entretanto, produtos estão sendo registrados, emergencialmente, para o combate dessa praga e apenas estes produtos legalmente autorizados devem ser aplicados pelos agricultores conforme a recomendação do fabricante. Preferencialmente, os produtos utilizados devem ser o mais seguro possível ao ambiente e ao ser humano, além de seletivos aos insetos benéficos como os inimigos naturais. Por isso, uma ordem de preferência na escolha dos inseticidas ou afins para serem utilizados pode ser: 1) Entomopatógenos (vírus e bactéria) ou liberação de inimigos naturais devidamente registrados; 2) Inseticidas do grupo dos reguladores de crescimento de insetos, diamidas ou espinosinas; 3) Inseticidas bloqueadores de Na; 4) Carbamatos;

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5) Outros produtos devidamente registrados. Essa ordem de escolha leva-se em consideração principalmente a seletividade desses compostos aos insetos benéficos e não tem relação direta com a eficiência no controle da praga. Além de escolher o controle seguindo essa ordem de preferência, os produtores também devem estar atentos aos seguintes aspectos: • Utilizar as mesmas recomendações descritas nesse documento para a soja Bt (quando disponível) e não Bt; • Monitorar semanalmente a lavoura; o pano de batida pode ser uma boa opção para auxiliá-lo nesta tarefa; • Aplicar inseticidas apenas quando necessário e utilizando-se dos produtos legalmente recomendados para controle dessa praga; • Atentar para todas as recomendações, na busca por uma boa tecnologia para a aplicação dos inseticidas e ou liberação dos inimigos naturais; • Evitar o uso de inseticidas não seletivos na lavoura (aqueles que matam também os insetos benéficos); Preferir utilizar inseticidas seletivos como vírus, bactérias, os inseticidas reguladores de crescimento, as diamidas ou as espinosinas, por exemplo, antes de utilizar outra opção mais agressiva ao agroecossistema; • Rotacionar inseticidas com diferentes modos de ação a cada aplicação que for necessária para reduzir a seleção de insetos resistentes; • Utilizar todas as tecnologias recomendadas no Manejo Integrado de Pragas. Em áreas com histórico de ocorrência dessas pragas, existem algumas medidas de manejo que podem ser adotadas mesmo antes da semeadura, como exemplificadas a seguir. Essas medidas de manejo antes da semeadura são adequadas para áreas onde há histórico de ocorrência frequente dessas pragas. 1) Pré-semeadura - Sempre que possível fazer uma dessecação sequencial para a semeadura (1ª aplicação de herbicida deve ser feita entre três e quatro semanas antes da semeadura e a 2ª aplicação próxima ao dia da semeadura); - Não utilizar inseticidas na dessecação, devido à baixa eficiência, e por causarem efeitos adversos aos inimigos naturais, o que pode agravar o problema com pragas em geral. 2) Semeadura - Em áreas com histórico de ocorrência


Vagens de soja perfuradas pelo ataque de lagartas; monitoramento é fundamental para adotar medidas contra a praga

de lagartas, o tratamento de sementes com inseticidas é outra opção que pode ser considerada; - Se o produtor optar pelo cultivo de soja Bt é necessária a adoção da área de refúgio, com soja não Bt, em no mínimo 20% da área cultivada do mesmo talhão para reduzir os riscos de se perder esta tecnologia para insetos resistentes (vale destacar que a maior distância entre uma planta Bt e uma não Bt na área não pode ultrapassar 800 metros); Observação: mesmo utilizando soja Bt (com a proteína Cry1Ac) há a necessidade de monitoramento constante para pragas em geral incluindo as lagartas, principalmente aquelas do gênero Spodoptera, naturalmente tolerantes ao evento Bt, além dos insetos sugadores como os percevejos, que são pragaschave na cultura.

Importante

Independentemente da tática de controle utilizada contra as pragas (controle biológico, plantas Bt, inseticidas etc), é importante salientar que a revitalização de todos os conceitos de manejo integrado de pragas (MIP-Soja) e, consequentemente, da amostragem e da preservação do controle biológico natural de pragas é crucial e necessária para o sucesso do manejo não só das lagartas, mas também de todos os artrópodes-praga da cultura e assim garantir a sustentabilidade deste sistema produtivo. Além disso, algumas falhas são recorrentes no manejo de H. armigera e devem ser evitadas.

O que não fazer no manejo

de Helicoverpa armigera • Não aplicar inseticidas preventivamente; • Não aplicar inseticidas em baterias de aplicações ou em aplicações calendarizadas; • Não aplicar inseticidas em condições climáticas insatisfatórias ou com produtos, doses e volume de aplicação não recomendados. • Monitorar sempre. Entrar em desespero e aplicar inseticidas preventivamente, nunca. Os produtores não podem utilizar inseticidas abusivamente. Isso acarreta seleção de insetos resistentes, eliminação dos inimigos naturais presentes na lavoura e gastos desnecessários, além de fomentar uma falta de inseticida no mercado quando realmente for necessário. Os inseticidas devem ser aplicados apenas quando a população de pragas atingir

o nível de ação. Esperar o nível de ação é a melhor tática para o melhor manejo disponível até o momento. Como é possível observar no experimento, ainda em andamento sendo conduzido na cidade de Arapongas (PR), o tratamento em que utilizou o MIP com a aplicação de inseticida do grupo das diamidas na dose de 50ml do produto comercial por hectare foi o suficiente para obter o mesmo controle do tratamento realizado pelo produtor que seguiu o manejo utilizado na região (Figura 3). A segunda aplicação realizada no manejo do produtor foi para aproveitar a operação agrícola da aplicação de adubos foliares e assim tentar otimizar essa aplicação agrícola. Mas, a aplicação de inseticida, feita em população extremamente baixa da praga, foi totalmente desnecessária e apenas contribuiu para aumentar o custo de produção da lavoura. Erros como esse devem ser evitados pelos agricultores e isso só poderá ser realizado com a amostragem e a quantificação da praga presente na lavoura, sendo fundamental para auxiliar o manejo eficiente. Além disso, a aplicação realizada no tratamento MIP com quatro lagartas/metro foi efetuada com a maioria das lagartas (62%) consideradas grandes (acima de 1,5cm). Mesmo assim, o tratamento realizado teve sucesso, contrariando os mitos existentes de que nenhum inseticida controla lagartas maiores que 1cm C de comprimento. Adeney de Freitas Bueno, Samuel Roggia, Edson Hirose, Daniel R. Sosa-Gomez e Clara Beatriz H. Campo, Embrapa Soja Regiane Cristina O. de F. Bueno, Unesp, Botucatu Aline F. Pomari, Iapar

Lagarta Heliothis virescens, praga causadora de danos severos na cultura da soja

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Especial Helicoverpa

Gilvan Quevedo

Helicoverpa armigera no Sul Três estudos, realizados e relatados de modo independente, mas concomitantes, resultaram na confirmação da primeira ocorrência de Helicoverpa armigera no Rio Grande do Sul. Identificada em trigo, soja, milho e canola, há indícios de que a lagarta esteja amplamente distribuída no estado gaúcho

tes da lagarta H. armigera. E que cerca de 50% dos inseticidas utilizados na China e na Índia são para o seu controle. No Brasil, sua presença foi confirmada pela primeira vez na região do Cerrado (oeste da Bahia, Goiás e Mato Grosso) em março-abril de 2013 (Czepak et al, 2013). Em trabalho posterior, Specht et al (2013) registraram sua ocorrência nos estados da Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso e Paraná. Porém, admite-se que este inseto já estava presente no país há mais tempo, causando severos danos às culturas agrícolas, principalmente em soja, algodão, milho e tomate industrial. Atualmente, a praga está amplamente disseminada no país.

Características biológicas

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studos desenvolvidos na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, e na Universidade Federal de Santa Maria, em Santa Maria, desde dezembro de 2012, permitiram constatar pela primeira vez a ocorrência da espécie Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae: Heliothinae) no estado do Rio Grande do Sul. A oficialização da descoberta se deu no dia 19 de novembro deste ano quando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) emitiu um único comunicado validando o relato resultante dos três estudos, que foram realizados e relatados de forma independente, mas concomitantemente. A identificação foi realizada a partir dos insetos adultos (mariposas). No caso da FAMV-UPF e da Embrapa

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Trigo, lagartas sob suspeita foram coletadas em lavouras de soja e criadas em laboratório até obtenção de adultos, que foram encaminhados ao terceiro autor, taxonomista deste grupo de insetos. Confirmou-se a identidade específica de H. armigera em mariposas obtidas de lagartas provenientes dos municípios de Passo Fundo e Espumoso, coletadas respectivamente nos dias 20 e 21 de dezembro de 2012 e em Carazinho, coletadas em 22 de maio de 2013. H. armigera é um lepidóptero-praga de diversas culturas, mundialmente conhecido e muito estudado. Caracteriza-se pela polifagia (alimenta-se e pode causar danos em aproximadamente duas centenas de espécies de plantas) e está amplamente distribuído em países da Europa, África e Ásia e na Austrália. Estimam-se em cinco bilhões de dólares os custos anuais com controle e as perdas de produção decorren-

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Amplamente adaptada às mais variadas condições climáticas, esta espécie desenvolve uma geração a cada 35-42 dias, aproximadamente. A duração do ciclo de vida e de suas fases intermediárias (Figura 1) depende das condições ambientais, especialmente da temperatura. A mariposa dura cerca de 10-12 dias, período em que coloca uma média de 1.500 ovos. Após um período de incubação de 3-4 dias, eclode a lagarta que dura de 21 a 28 dias. As lagartas passam por seis instares larvais, atingindo ao final em torno de 3,5cm de comprimento, após se transformam em pupas no solo, à pequena profundidade (2 a 6 cm), de onde emergirão os insetos adultos (Eppo, 2013).

Hábitos e danos

As lagartas de H. armigera, além de se alimentarem de inúmeras espécies de plantas, têm preferência pelos brotos apicais, limitando o crescimento, e órgãos reprodutivos, como frutos, legumes, grãos etc. Todavia, na ausência destes, alimentam-se vorazmente de folhas. Em soja, podem ser pragas desde o início do ciclo, atacando os brotos e as folhas de plântulas e/ou ser típicas desfolhadoras


e consumidoras de legumes e grãos, mais tarde. As infestações em soja podem se originar de posturas feitas pela mariposa nas próprias plantas de soja ou em plantas guaxas, daninhas ou ainda em culturas ou coberturas vegetais que antecedem a soja. Lagartas maiores, já existentes na área por ocasião da semeadura da soja, também podem aparecer na lavoura causando danos severos à população de plantas. Ainda não se sabe se a severidade da praga no estado gaúcho vai atingir os mesmos níveis que ocorrem nos Cerrados, pois as condições climáticas e os modelos de sucessão de culturas são diferentes entre essas regiões. Por esta razão, recomenda-se que o problema seja encarado com a devida cautela, mas sem pânico ou precipitação.

Situação atual no Estado

A presença de adultos foi comprovada através de coletas com armadilhas de feromônio, no mês de outubro. Lagartas grandes, de último instar, foram coletadas em canola e em trigo, principalmente neste último, já na fase de maturação ou pronto para colheita, alimentando-se diretamente dos grãos em massa ou secos. Também foram encontradas lagartas grandes em milho, com 30 dias após a emergência, atacando as folhas. Em soja, já nos primeiros dias de novembro, se constatou a presença de lagartas pequenas, variando de 0,5cm a 1,5cm de comprimento, comendo brotações, folhas unifolioladas e as primeiras folhas trifolioladas, em plantas nos estádios fenológicos V1 e V2. Ocorrências de adultos e de lagartas em várias localidades e regiões sugerem que a espécie possa estar amplamente distribuída no Rio Grande do Sul.

Figura 1 - Ciclo de vida de Helicoverpa armigera

Inimigos naturais

É grande a relação de inimigos naturais de H. armigera registrados em todo o mundo. Nesse sentido, devido ao potencial de eficiência e por já existirem no país, especial referência merecem as vespinhas do gênero Trichogramma, parasitoides de ovos de várias espécies de lepidópteros. Em pupas provenientes de lagartas coletadas nas regiões de Passo Fundo e Carazinho, em dezembro de 2012 e em maio 2013, respectivamente, constatou-se um índice de parasitismo médio de 25% por dípteros da família Tachinidae (Figura 2a). Na presente safra, nesta mesma região, já em novembro de 2013, constatou-se o parasitismo por himenópteros da família Ichneumonidae, em larvas de 3-4 instar (Figura 2b).

Manejo

Para constatar o problema e, se for o caso, adotar medidas de controle no momento adequado, o monitoramento deve ser constante e cuidadoso para localizar

as infestações da praga logo no início. Para tanto, o acompanhamento da presença de ovos e de lagartas deve ser feito por meio do exame visual, diretamente sobre as plantas. A presença de mariposas nas lavouras pode ser diagnosticada pelo uso de armadilhas de feromônio sintético, já legalizado para uso e disponível no comércio nacional. O feromônio é uma substância volátil produzida pelos insetos com vistas à atração sexual, que é usado como atraente em armadilhas de captura. É recomendado começar o controle quando forem encontradas quatro lagartas/m na fase vegetativa e duas lagartas pequenas/m na fase reprodutiva da soja (Embrapa, 2013). Para conservar o potencial de controle biológico natural, deve-se preferir o uso de inseticidas seletivos a parasitoides e predadores. Por se tratar de espécie de difícil controle recomenda-se que cuidados especiais sejam tomados com o tamanho da lagarta e com a tecnologia e o horário da aplicação de inseticidas. Lagartas pequenas são mais facilmente controladas, ao contrário de lagartas grandes que exigem doses maiores de produtos. Inseticidas biológicos e reguladores de crescimento têm melhor eficácia se aplicados com lagartas pequenas (< 1,5cm). Em outras regiões do país, melhores resultados de controle têm sido obtidos em aplicações noturnas ou em C períodos de temperatura amena. José Roberto Salvadori, Universidade de Passo Fundo Paulo Roberto Valle da S. Pereira, Embrapa Trigo Alexandre Specht, Embrapa Cerrados

Figura 2 - Inimigos naturais de Helicoverpa armigera: a) adulto e pupa de Tachinidae; b) pupa e adulto de Ichneumonidae

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Doenças

Ferramenta protetora

Depois de perder espaço para novos grupos químicos os fungicidas protetores voltam a ganhar terreno como importantes aliados de triazóis e estrobilurinas no combate a doenças e no manejo antirresistência

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om o desenvolvimento e lançamento no mercado de novos grupos químicos de fungicidas com maior atividade residual e muitos com atividade sistêmica, os fungicidas protetores perderam espaço, especialmente em grandes culturas. O primeiro fungicida sistêmico registrado a assumir papel importante na agricultura mundial foi o benomil, que a partir da década de 1970 passou a ser amplamente utilizado. O diferencial do benomil em relação aos demais produtos utilizados na época era sua atividade sistêmica, que proporcionava controle sobre doenças tam-

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bém nos primeiros estágios infectivos após a penetração dos fungos na parede celular das plantas, além da atividade protetora. O benomil pertence ao grupo dos benzimidazóis e age na biossíntese da beta-tubulina durante a divisão celular dos fungos. Esse modo de ação sítio-específico classifica o benomil como de alto risco para o surgimento de indivíduos resistentes. Os primeiros casos aparentes de desenvolvimento de resistência de fungos a fungicidas surgiram no início da década de 1970, principalmente a partir do uso extensivo de defensivos com modo de

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ação sítio-específico. Até então, os produtores utilizavam rotineiramente fungicidas protetores, como zineb e mancozeb, sem observar queda na eficiência de controle mesmo com sucessivas aplicações. Posteriormente ao benomil, grande parte dos fungicidas registrados para uso comercial passou a contar com modo de ação sítio-específico e, consequentemente, apresenta risco de resistência. Entre os principais grupos de fungicidas com essa característica podem-se citar os triazóis e as estrobilurinas, extensivamente utilizados para o controle de doenças de grandes culturas como a soja. Um dos exemplos é a ferrugem asiática, que em média demanda, por safra, de duas a três aplicações dessa mistura (há extremos em que são realizadas até quatro ou cinco aplicações). Nessas condições, a pressão de seleção sobre o patógeno e o risco de surgimento de populações resistentes/ tolerantes é maior. É prudente ressaltar que os triazóis e as estrobilurinas são classificados pelo Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas (Frac) como sendo de médio e alto risco de surgimento de resistência, respectivamente. O desenvolvimento da resistência a fungicidas pode ser entendido como uma adaptação genética dos fungos, estável e hereditária, que resulta na diminuição da sua sensibilidade a uma determinada molécula


Marcelo Madalosso

Tabela 1 - Modo de ação dos principais grupos de fungicidas e risco de surgimento de resistência Grupo químico Benzimidazóis Dicarboximidas Triazóis, Pirimidinas Fenilamidas Morfolinas Carboxamidas Anilinopirimidinas Estrobilurinas MBI-R e MBI-D Amidas do ácido carboxílico Inorgânicos Ditiocarbamatos Ftalimidas

Modo de ação/inibição Biossíntese da betatubulina NADH citocromo “c” redutase em lipídios Demetilação do C-14 na biossíntese de esteróis RNA polimerase Isomerase e redutase na biossíntese de esteróis Oxidação do ácido succínico Biossíntese de metionina Biossíntese mitocondrial no citocromo bc1 Biossíntese de melanina (2 sítios) Formação da parede celular em oomicetos contato / multisítio contato / multisítio contato / multisítio

Fonte: FRAC

Resultados de pesquisa

O desenvolvimento de pesquisas acerca da inserção do mancozeb em programas de controle de doenças é necessário a fim de compreender as relações entre os fatores envolvidos, gerando assim subsídios para que se possa fazer uso correto e racional dessa ferramenta. Alguns experimentos foram desenvolvidos, com o objetivo de estudar o controle de doenças proporcionado pelo

mancozeb quando aplicado de forma isolada ou em associação com outros fungicidas. Os ensaios foram conduzidos a campo no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal com as culturas de soja, milho e algodão, durante a safra agrícola 2012/13. Em soja, foi conduzido ensaio em Itaara/ Rio Grande do Sul, avaliando-se a severidade da ferrugem asiática e a produtividade da soja submetida a diferentes tratamentos, formados pela aplicação de fungicidas comerciais com a mistura triazol + estrobilurina, de forma isolada ou em associação com mancozeb. Foram realizadas três aplicações de cada tratamento nos estádios R1, R1 + 14 dias e R1 + 28 dias. O ensaio de milho foi conduzido em Planaltina/Distrito Federal, para avaliar a severidade da mancha branca no híbrido DKB390RR2 PRO sob os mesmos tratamentos utilizados na ferrugem da soja. As aplicações foram realizadas nos estádios V8, pré-pendoamento e 20 dias após.

Fotos Marcelo Madalosso

fungicida (Reis et al, 2001). Maior será o risco de surgimento de resistência quanto menor o número de genes envolvidos. Essa informação é extremamente relevante, uma vez que fungicidas que atuam sobre vários sítios do fungo interagem com um número maior de genes e, como consequência, o risco de surgimento de resistência é menor. Um bom exemplo fungicida que possui modo de ação multissítio é o mancozeb, conhecido e presente no mercado há décadas. O mancozeb foi lançado comercialmente em 1961 e, desde então, tem sido extensivamente utilizado para o controle de doenças de plantas em cultivos menores, devido, principalmente, ao seu amplo espectro de ação e baixo risco de seleção de patógenos resistentes (Frac). Esse princípio ativo pertence aos etilenobisditiocarbamatos, que é um subgrupo dos ditiocarbamatos; é formado por um complexo de manganês e zinco, que além da ação antifúngica, apresenta em algumas culturas como alho e cebola o chamado efeito tônico (Amorin et al, 2011). A presença de zinco na formulação também diminui o efeito fitotóxico às plantas. A Tabela 1 apresenta alguns dos principais grupos químicos de fungicidas utilizados atualmente e a respectiva classificação do Frac quanto ao risco de surgimento de indivíduos resistentes. A situação atual da agricultura brasileira

confronta a necessidade constante de ampliação da produtividade e da área cultivada, buscando atender um mercado consumidor cada vez mais exigente, ao mesmo tempo em que se depara com uma diversidade e agressividade crescente de problemas. Essa condição impõe, em muitos casos, a utilização intensa e de forma indiscriminada de fungicidas, o que pode resultar no surgimento de populações de patógenos resistentes/tolerantes aos produtos disponíveis no mercado. Como alternativa, a reinserção de fungicidas protetores – multissítio – em programas de manejo de doenças desponta como uma ferramenta importante, pois além de agregar eficiência pode prolongar a vida útil dos demais fungicidas, evitando o surgimento de populações de patógenos resistentes/tolerantes.

Risco de resistência alto alto médio alto baixo-médio médio médio alto médio baixo-médio baixo baixo baixo

Folha de algodoeiro com sintomas de incidência da mancha de ramulária

O complexo mancha branca é um dos limitantes na cultura do milho

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Figura 1 - Área abaixo da curva de progresso da ferrugem (AACPF) em soja BMX Potên- Figura 2 - Área abaixo da curva de progresso da mancha branca (AACPMB) em milho DKB390RR2PRO, submetido a diferentes tratamentos fungicidas. Planaltina/DF, safra 2012/13 cia RR, submetida a diferentes tratamentos fungicidas. Itaara/RS, safra 2012/13

*TZ = Triazol; ST = Estrobilurina; MZ = Mancozeb.

para o controle químico de doenças. A utilização de produtos de amplo espectro, que agem sobre diversos sítios do patógeno e em consequência apresentam menor risco de surgimento de indivíduos resistentes/tolerantes, pode não apenas melhorar a eficácia de controle de doenças, mas também prolongar a vida útil dos fungicidas existentes no mercado. Essa analogia pode ser estendida para outros patossistemas. Apesar de ainda não possuir registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para utilização em grandes culturas como soja, milho e algodão, já existem alguns produtos à base de mancozeb em fase de testes para tal finalidade. Diversos trabalhos realizados nessas culturas têm mostrado controle eficiente de doenças, principalmente quando o mancozeb é empregado em um programa de manejo de forma integrada a outros fungicidas. Adicionalmente, destaca-se como um dos mais eficientes para algumas doenças mesmo quando utilizado de forma isolada, como é caso do complexo da mancha branca na cultura do milho. A ocorrência dessa doença foi por muito tempo associada ao fungo Phaeosphaeria maydis, porém, apesar de não haver consenso,

atualmente admite-se como agente causal a bactéria Pantoea ananatis. Os fungicidas sistêmicos mais comumente utilizados não possuem bom controle sobre essa doença. Por mais de 50 anos, o mancozeb tem sido uma ferramenta interessante para que os produtores do mundo inteiro possam combater doenças e assim produzir alimento. Dessa forma, o mancozeb apresenta-se como uma ferramenta para o manejo de doenças nas culturas, agregando eficácia de controle, estratégia de manejo antirresistência e, como consequência, manutenção da eficácia de produtos modernos e menos agressivos ao meio ambiente. A utilização do produto de forma racional e dentro do conceito de manejo integrado de doenças é indispensável para a manutenção dessa C tecnologia. Nedio Tormen, Universidade de Brasília Marcelo Madalosso, Instituto Phytus/URI Santiago Mônica Debortoli e Diogo Patias, Instituto Phytus Jonas Dammer e Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria Marcelo Madalosso

O ensaio de algodão também foi conduzido em Planaltina/DF, testando a aplicação de diferentes doses de mancozeb aplicado de forma isolada para o controle da mancha de ramulária. A cultivar utilizada foi a BRS 293 e as aplicações foram realizadas nos estádios F4, F6 e F8. Nos três ensaios foram realizadas avaliações semanais da severidade das doenças a partir da primeira aplicação até 28 dias após a última pulverização. Os dados de severidade das doenças foram utilizados para o cálculo da área abaixo da curva de progresso da doença. Os resultados obtidos evidenciam melhora na eficácia de controle das doenças estudadas quando o mancozeb é inserido no programa de controle. A redução média na AACPD pela adição de mancozeb à mistura triazol + estrobilurina foi de 29,1% para ferrugem em soja e 31,9% para mancha branca em milho (Figuras 1 e 2). Para o controle da mancha de ramulária em algodão, a redução na AACPD variou de 21,6% a 41,7%, da menor para a maior dose, respectivamente (Figura 3). Ainda que a melhora no controle das doenças pelo uso do mancozeb seja bastante clara, esse não é o principal fator que qualifica o mancozeb como uma ferramenta importante

*TZ = Triazol; ST = Estrobilurina; MZ = Mancozeb.

Figura 3 - Área abaixo da curva de progresso da mancha de ramulária (AACPMR) em algodão BRS 293, submetido a diferentes tratamentos fungicidas. Planaltina (DF), safra 2012/13

Em situações extremas a ferrugem asiática pode demandar até cinco aplicações de fungicidas por safra

Mzeb = Mancozeb.

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Café

Café “minado”

O bicho-mineiro ou minador de folhas é uma das principais pragas que afetam o cafeeiro, responsável por graves prejuízos à cultura. Em regiões onde sua incidência não é frequente o manejo integrado com o uso de agroquímicos é recomendado quando for constatado nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelos inimigos naturais. Nos locais em que o inseto ocorre de forma frequente o controle deve ser realizado com inseticidas sistêmicos aplicados via solo, na época recomendada pelos fabricantes e complementado entre os meses de junho e outubro

O

bicho-mineiro, ou minador das folhas, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é uma das principais pragas do cafeeiro (Coffea spp.) no Brasil, principalmente nas regiões e épocas de temperatura mais elevada e de maior déficit hídrico. É uma praga exótica, que tem como região de origem o continente africano, oriundo provavelmente de mudas atacadas provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon, em 1851. É considerada praga monófaga, por atacar somente cafeeiro. O surgimento da ferrugem-docafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 1970 pode ser considerado um marco para que o bicho-mineiro ganhasse status de praga. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia, e a pleno sol, para o controle da ferrugem propiciam ambientes favoráveis para a multiplicação do bicho-mineiro, que se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar.

Aspectos biológicos

O inseto adulto é uma pequena mariposa com 6,5mm de envergadura, que possui coloração brancoprateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso as asas anteriores cobrem as posteriores. Coloca os ovos na superfície superior das folhas e a lagartinha, ao eclodir, penetra diretamente em seu interior, sem entrar em contato com a parte externa. Nessa fase vive dentro de lesões ou mina foliar, construída pelo próprio inseto, e quando

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Fotos Paulo Rebelles Reis

Casal de adultos do bicho-mineiro pousado sobre uma folha de cafeeiro

Lagartas de bicho-mineiro no interior da mina, tendo sido retirada a epiderme superior da folha na lesão

completamente desenvolvida mede cerca de 3,5mm de comprimento. Após completo desenvolvimento abandona a folha pela parte superior da mina e com o auxílio de um fio de seda desce até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos com fios de seda no formato da letra X. As lesões apresentam o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções da lagarta. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade. De modo geral e, principalmente nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas da parte superior das plantas. O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 dias e 87 dias, sendo mais rápido em temperaturas elevadas. A fase de lagarta, que é a que causa danos, dura de nove a 40 dias, passando por três fases (ecdises), e podem ocorrer de oito a 12 gerações ao ano.

ferrugem, já foram também correlacionadas com o aumento da população do bicho-mineiro.

Dano

As lesões causadas pelas lagartas nas folhas reduzem sua capacidade de fotossíntese em função da diminuição da área foliar. Em ataque intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo devido à distribuição da praga. Em conseqüência, há redução da produção. Lavouras intensamente desfolhadas pela praga podem levar até dois anos para se recuperar. No sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido a uma desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993 também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada uma redução na produção entre 34,3% e 41,5%.

Casulo do bicho-mineiro construído por fios de seda no formato de X

Controle

Além do controle químico convencional, algumas formas de controle biológico natural ou aplicado podem auxiliar na redução da praga. Porém, nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos.

Controle cultural

A utilização de quebra-ventos, ou arborização, com plantas apropriadas para esse fim, auxilia na redução do ataque da praga, que tem preferência por locais mais secos e arejados. São indicadas as leguminosas leucena (Leucaena leucocephala [Lam.]) e guandu (Cajanus cajan Millsp.).

Controle por comportamento

Já é conhecido o feromônio sexual do bicho-mineiro, que pode ser utilizado para monitoramento da praga e mesmo na captura de machos adultos, em armadilhas de feromônio e cola. Essa alternativa reduz

Épocas de ocorrência

A presença do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores, como climáticos (temperatura e chuva principalmente), condições da lavoura (áreas mais arejadas têm maior probabilidade de serem atacadas) e presença ou ausência de inimigos naturais (parasitoides, predadores e entomopatógenos como fungos e bactérias). As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, geralmente nas principais regiões cafeeiras, com início em junho a agosto e pico em outubro, sendo menor antes e após esses meses. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como frequentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro. A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga. Ao contrário, a temperatura exerce influência positiva. Pulverizações de produtos cúpricos, para o controle da

Lagartas de bicho-mineiro retiradas do interior da lesão e vistas em maior aumento

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Fotos Paulo Rebelles Reis

Lesão ou mina produzida pelas lagartas do bicho-mineiro

a possibilidade de acasalamento e consequentemente a população da praga.

Controle biológico por predadores

O controle das lagartas do bicho-mineiro por predadores, feito principalmente com o uso de vespas (Hymenoptera: Vespidae), alcança em torno de 70% de eficiência. Os vespeiros formados nos cafeeiros, apesar de poucos, em geral são destruídos pelos trabalhadores rurais, pois as vespas são agressivas e podem causar acidentes. Resta, portanto, a preservação de matas remanescentes e o reflorestamento com espécies nativas da região, o que contribuirá para a preservação e aumento das vespas predadoras que nelas se abrigam. Em condições de laboratório já foi verificado que larvas do predador Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) conseguem predar as fases de pré-pupa e pupa do bicho-mineiro, constituindo-se, assim, em mais um agente de controle biológico da praga.

Barra de aplicação de inseticida sistêmico via líquida no solo

Erwinia herbicola (Entero bactéria ceae) e Pseudomonas aeruginosa (Pseudomona daceae) são apontadas como os microorganismos mais eficientes até então conhecidos em epizootias de lagartas de bicho-mineiro, com ocorrência de 65% e 90%, respectivamente.

Controle químico

Embora não se saiba exatamente qual a população do bicho-mineiro capaz de causar dano econômico, os trabalhos realizados pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), desde 1973, mostram que quando ocorrer 30% de folhas minadas, sem apresentarem rasgaduras provocadas por vespas predadoras, nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco), há necessidade de ser efetuado o

Representação do ciclo evolutivo do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro

Controle biológico por parasitoides

O parasitismo natural das lagartas de bicho-mineiro apresenta cerca de 18% de eficiência no controle da praga, feito principalmente por micro-himenópteros (Himenóptera: Braconidae, Eulophidae, Entedontidae etc).

Controle biológico por entomopatógenos

Dos agentes de controle biológico do bicho-mineiro, os patógenos ou microorganismos entomopatogênicos são os menos conhecidos, passando até mesmo despercebidos, embora possam causar epizootias quando as condições lhes são favoráveis. Já foram relatadas as presenças de bactérias e fungos em lagartas agonizantes ou mortas. As bactérias

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controle químico. Caso não seja feito, e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro forem favoráveis à praga, os prejuízos serão graves. A pulverização de inseticidas somente quando a população atingir o nível de controle deve influir pouco sobre o equilíbrio biológico, pois se a praga apresenta um aumento populacional significa que os inimigos naturais não estão sendo eficientes e que as condições para aumento da praga estão mais favoráveis do que para aumento dos inimigos naturais. Tal fato justifica a adoção de medidas de controle para abaixar a população do bicho-mineiro, restabelecendo o equilíbrio entre a praga e os inimigos naturais. A amostragem de folhas, para ser conhecida a população do bicho-mineiro, deve ser feita nos terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do

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Detalhe da aplicação de inseticida sistêmico via líquida no solo

inseto. Recomenda-se evitar a coleta de folhas apicais dos ramos ou do interior das plantas. São indicadas, nesse caso, folhas do 3º ao 5º par, a partir do ápice do ramo. Caso não seja constatado o nível de controle (30%) não é recomendável o controle químico, pois esse percentual é indicativo de que somente o controle natural, por meio do parasitismo e do uso de predadores, e as condições climáticas estarão sendo suficientes para manter baixa a população da praga. Este nível de controle não se aplica aos cafeeiros novos, com até três anos de idade, onde a desfolha, mesmo em baixos níveis, é prejudicial à sua formação. O controle químico, quando realizado com produtos recomendados em pulverização (fosforado ou carbamato mais um piretroide) e com base no nível de controle da praga, não afeta de maneira significativa os inimigos naturais do bicho-mineiro. As lavouras devem ser inspecionadas constantemente na época crítica de ataque da praga, principalmente as muito expostas a ventos constantes. Na maioria das vezes o controle é necessário somente em alguns talhões do cafezal e as inspeções devem continuar até que comecem as chuvas mais frequentes e haja início de novas brotações. Uma segunda pulverização, nos ta-

lhões já pulverizados, somente deve ser realizada após 20 dias a 30 dias, se nas amostragens forem constatadas lagartas vivas dentro das minas. Caso haja condições extremamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro e fevereiro (veranico) pode ocorrer um pico nos meses de abril e maio, que também deve ser controlado. Essa situação é muito comum na região dos cerrados de Minas Gerais. Este pico não ocorre quando são aplicados inseticidas sistêmicos via solo na época das chuvas (imidacloprid e thiamethoxam), porém o efeito residual nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até junho, havendo necessidade de complementar o controle com pulverizações foliares. Diversos produtos, ou mistura de produtos, em pulverização, apresentam eficiência no controle do bicho-mineiro, tais como os fosforados chlorpyrifos, tria-

zophos etc, o carbamato cartap e diversos piretroides, sendo que estes últimos, pelo amplo espectro de ação que possuem, são mais prejudiciais aos parasitoides e predadores da praga. Em resumo, o manejo integrado do bicho-mineiro nas regiões onde sua incidência não é frequente fica restrito ao uso de pulverizações quando for constatado o nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelas vespas predadoras. Nas regiões onde o inseto frequentemente se constitui em praga, o controle deve ser feito com inseticidas sistêmicos aplicados via solo, na época recomendada pelos fabricantes, e complementado com pulverização (entre junho e outubro) caso seja constatado 30% de folhas minadas sem sinais de C predação. Paulo Rebelles Reis, Epamig Sul de Minas/EcoCentro


Arroz

Bainha lesionada

Gerson Dalla Corte

Doenças anteriormente consideradas secundárias têm sido observadas com frequência nas áreas de cultivo de arroz irrigado. É o caso do complexo de lesões da bainha, composto por patógenos de difícil identificação que induzem a erros no manejo, capazes de redundar em prejuízos severos

A

sustentabilidade do setor orizícola está ligada diretamente a altas produtividades e qualidade do grão retirado da lavoura. A busca por estes incrementos produtivos remetem à excessiva perda de rusticidade por parte da planta, apresentando danos ainda mais severos quando atacada por patógenos em safras passadas (Gráfico 1). Diante deste cenário, há necessidade de proteger as plantas de arroz do efeito deletério das doenças, o que justifica-se pela grande gama de patógenos que podem vir a ocasionar danos à cultura. Doenças até então classificadas como secundárias têm sido frequentemente observadas nas áreas de cultivo, porém não identificadas no momento correto, como é o caso do complexo de lesões da bainha, representado pelas manchas das bainhas (Rhizoctonia oryzae), queima das bainhas (Rhizoctonia solani) e podridão das bainhas (Sarocladium oryzae), principalmente. A dificuldade de identificação remete a erros que partem de posicionamento de fungicidas até tomadas de decisões equivocadas de manejo, como repetição de aplicações em cobertura

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de nitrogênio. Característica de áreas de cultivo intensivo de arroz, o gênero Rhizoctonia sp é recorrente nas áreas e responsável por danos crescentes, representados por duas espécies que recebem denominações de mancha das bainhas (Rhizoctonia oryzae) e queima das bainhas (Rhizoctonia solani). A sintomatologia diferencia os dois patógenos por características detalhadas das lesões. A mancha das bainhas (Rhizoctonia oryzae) pode aparecer distribuída em reboleiras na lavoura e as lesões mostram-se ovais, entre 0,5cm e 2cm de comprimento e 0,5cm e 1cm de largura, localizando-se próximas à lâmina de água. As lesões são de coloração verde-claro a acinzentado no centro, bordas escuras e margens marrom-avermelhadas bem definidas. Em alguns casos apresentam esclerócios. Já para queima das bainhas (Rhizoctonia solani), as lesões são semelhantes nas folhas e colmos, estando localizadas próximas à lâmina de água e distribuídas em reboleiras em lavouras com rotação com soja. No entanto, as lesões grandes apresentam coloração verdeacinzentada no centro, ovaladas, coalescem e

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possuem borda irregular e de coloração marrom. Ataques severos podem causar secagem das folhas e acamamento devido à infecção do colmo. O colmo pode apresentar lesões menores. Em alta umidade produz micélio branco e, por fim, esclerócios de coloração rosada a parda. Os dois patógenos possuem características semelhantes de epidemiologia com umidade relativa do ar adequada acima de 90%, porém com uma variação de tolerância à baixa temperatura. Para mancha das bainhas (Rhizoctonia oryzae), a faixa de temperatura adequada é ampla e está entre 10ºC e 35°C, já para queima das bainhas (Rhizoctonia solani) apresenta-se entre 25ºC e 37°C. Além disso, atividades de manejo são decisivas para a manutenção e o aumento da progressão da doença, como ureia em excesso (> 200kg/ha), alta densidade de plantas (acima de 100kg/ha) e manutenção de restos culturais (soqueira) associados a solos com matéria orgânica acima de 2%. Especialmente para Rhizoctonia solani, a cultura da soja está entre as culturas hospedeiras representando um potencial multiplicador deste inóculo, principalmente no atual avanço da soja sobre a


Gerson Dalla Corte

Gráfico 1 - Rendimento de grão em diferentes cultivares e anos de cultivos submetidos ou não à aplicação de fungicidas

Sintomas de queima das bainhas (Rhizoctonia solani) na cultura do arroz irrigado; alguns já em processo de coalescência

Sintomas castanho-escuros após infecção de Rhizoctonia solani em plantas de soja

de insetos. Como nos demais patógenos ligados ao complexo de lesões da bainha, a união de estratégias de manejo tem por objetivo reduzir a sobrevivência e a progressão da doença incrementando a eficiência do controle químico C (veja Box). Marcelo Madalosso, Instituto Phytus/URI Santiago Felipe Frigo Pinto e Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria Marcelo Madalosso

Em severidade elevada, as lesões de coloração acinzentada ou marrom-claro ao centro aumentam e podem coalescer, cobrindo a maior parte da bainha da folha, dificultando a emissão da panícula e levando ao apodrecimento das espiguetas dentro da bainha. Nesse caso, a maioria dos grãos é estéril, chocha e descolorida. As espiguetas infectadas possuem coloração marrom-avermelhado e podem apresentar esterilidade. Este patógeno tem seu desenvolvimento adequado em umidade relativa superior a 90% e temperaturas variáveis entre 20ºC e 25°C próximos à maturidade da cultura do arroz, sobrevivendo na forma de micélio nos restos culturais e pode ser transmitido pelas sementes. O manejo inadequado da lavoura também possui grande responsabilidade pela elevação da incidência deste patógeno, como ervas daninhas presentes em taipas e pousios, quantidade elevada de nitrogênio e adensamento da cultura associada à lesão

Lesões de coloração acinzentada ou marrom-claro ao centro, dificultando a emissão da panícula

Estratégias

Marcelo Madalosso

Monica Debortoli

área orizícola. Todos estes fatores contribuem para sobrevivência do patógeno na forma de esclerócios (0,5mm) e micélio no solo. As infecções iniciais ocorrem a partir de hifas oriundas destes esclerócios, que flutuam sobre a água ou micélio em restos culturais flutuantes. As hifas crescem sobre perfilhos ao nível da água e, posteriormente, infectam as bainhas das folhas pelos estômatos ou cutícula. A doença evolui na medida em que o microclima se estabelece e o controle fica limitado a partir do início do emborrachamento. Em ataques muito severos de Rhizoctonia oryzae, a doença ocasiona a seca total ou parcial das folhas, podendo ocasionar o acamamento das plantas (Kimati, 1997). Outra doença ligada ao complexo de lesões na bainha de crescente representatividade é a podridão da bainha (Sarocladium oryzae). A identificação no campo é possível pelos sintomas típicos da doença presentes na bainha, abaixo da folha bandeira, podendo atingir panículas jovens. As lesões começam como manchas oblongas ou irregulares, de coloração castanho-escuro, evoluindo para grande parte da extensão do colmo, causando descoloração da bainha.

Lesões irregulares marrom-escuros, coalescendo e evoluindo para a extensão do colmo

• Reduzir o adensamento da cultura (< 100kg/ha); evitar excesso de ureia (< 200kg) e manutenção da lâmina de água uniforme em 10cm; • Destruição de restos culturais (soqueira) após a colheita, associada à drenagem da área; • Adubação com potássio pode reduzir a incidência da doença; • Aplicação de fungicidas (triazóis + estrobilurinas), até os 40 DAE, sob condições de histórico de ocorrência das doenças; • Uso de cultivares tolerantes/ resistentes; • Rotação com culturas não hospedeiras (evitar soja em áreas com queima das bainhas (Rhizoctonia solani).

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Fotos José Francisco Garcia - Global Cana Soluções Entomológicas

Cana-de-açúcar

Broca voraz

Diatraea saccharalis é uma praga extremamente nociva à cana-de-açúcar, capaz de dizimar canaviais inteiros se não adotadas medidas de combate adequadas. O plantio de variedades suscetíveis, a ausência de cuidados com o controle biológico e o emprego de inseticidas de forma inadequada têm contribuído para o agravamento do problema

N

o Brasil, a produção de cana-deaçúcar tem crescido a uma taxa média anual de 11% nos últimos cinco anos e a produção de álcool teve incremento de quase 20% nesta safra, motivada pelas vendas de carros flex-fuel, frota que representa 90% dos veículos novos fabricados no país em 2012. Diante deste cenário, o Brasil se mantém líder mundial na produção de canade-açúcar e seus derivados, tendo colhido uma área superior a nove milhões de hectares na safra 2011/12, resultando em produção superior a 560 milhões de toneladas. Nos próximos dez anos, os mercados do açúcar e do álcool serão norteados pela crescente demanda mundial por álcool para combustível. Será o álcool, refletindo o provável aumento dos preços do petróleo, que determinará a oferta e, consequentemente, os preços do açúcar. No entanto, apesar de todos os prognósticos e como ocorre com as culturas de importância econômica, a cana-de-açúcar é atacada por inúmeras pragas, destacandose dentre estas a broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. Trata-se de uma praga extremamente nociva à cana-de-açúcar, capaz de dizimar canaviais inteiros se não tomadas as devidas medidas de controle. O aumento da infestação da praga nos canaviais está ligado a fatores climáticos, grandes áreas de expansão, plantio de variedades suscetíveis, aumento das áreas fertirrigadas (nitrogênio) e principalmente pela forte redução no controle biológico através da liberação de Cotesia flavipes.

Descrição e biologia

O ciclo biológico completo, de ovo a adulto, da broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis dura em torno de dois meses (60 dias), existindo quatro a cinco gerações anuais, dependendo das condições climáticas. As fêmeas ovipositam nas folhas, de preferência na face dorsal. Cada postura pode conter de cinco a 50 ovos, agrupados de forma semelhante a escamas de peixes. A fecundidade média desta espécie é de 300 ovos, aproximadamente. Inicialmente os ovos

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são amarelos, com o desenvolvimento embrionário, ficam alaranjados e, posteriormente, é visível a cápsula cefálica da lagarta ainda no interior do ovo. Quatro a nove dias após a postura, se os ovos estiverem fecundos, ocorre a eclosão das lagartas. As lagartas recém-eclodidas são de cor branca, tornando-se creme com o desenvolvimento, apresentando algumas manchas escuras espalhadas pelo corpo. Alimentam-se, no início, do parênquima foliar, no interior da bainha da folha; após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem galerias de baixo para cima. Essas galerias podem ser de duas formas: longitudinais, na maioria dos casos, e, às vezes, transversais. Passam por cinco instares, durante um período médio de 40 dias, dependendo das condições climáticas. A lagarta preste a se transformar em pupa cessa a alimentação, limpa e amplia a galeria onde se desenvolveu, abre um orifício para o exterior, fecha-o com fios de seda e serragem e transforma-se em crisálida. É de coloração castanha e tem a duração de nove a 14 dias, variando o tempo de acordo com as condições climáticas. Mede aproximadamente de 16mm a 20mm de comprimento. Os adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores, as asas posteriores são esbranquiçadas, medem aproximadamente 25mm de envergadura. Apresentam hábito noturno e ficam escondidos durante o dia. A oviposição ocorre principalmente no início do anoitecer.

Flutuação populacional

No estado de São Paulo, o ciclo de D. saccharalis inicia-se em setembro-outubro, normalmente, após a emergência de adultos provenientes da geração de inverno na região. Esses adultos, geralmente, procuram canas novas para efetuar suas posturas. A segunda geração verifica-se entre dezembro e fevereiro, a terceira entre fevereiro e abril, e em maio e junho se inicia a quarta geração, que pode se prolongar por cinco a seis meses.


Ovos de D. saccharalis sobre a folha (esquerda) e pupa dentro do colmo (direita)

Prejuízos

As lagartas causam prejuízos diretos, pela abertura de galerias, ocasionam perda de peso da cana e podem levar a planta à morte, “coração morto”, especialmente em canas novas. Quando faz galerias circulares (transversais), seccionam o colmo, provocando sua quebra pela ação de ventos. Enraizamento aéreo e brotações laterais também ocorrem devido ao seu ataque. Os prejuízos indiretos são consideráveis, uma vez que, através de orifícios e galerias, penetram fungos que causam a podridão vermelha do colmo, podendo abranger toda a região compreendida entre as diversas galerias. Os fungos causadores da podridão-vermelha, Colletotrichum falcatum e Fusarium subglutinans, invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e o rendimento industrial no processo de produção de açúcar e/ou álcool. No caso da cana destinada apenas à produção de álcool, os microrganismos que contaminam o caldo concorrem com as leveduras no processo de fermentação alcoólica, diminuindo o rendimento. Para cada 1% de intensidade de infestação da praga (número de entrenós atacados pelo complexo broca/podridão-vermelha), ocorrem prejuízos de 0,42% na produção de açúcar ou 0,22% na produção de álcool e mais 1,14 na produção de cana (TCH), sendo os prejuízos maiores em cana-planta.

Intensidade de = No de Internódios Broquiados * 100 Infestação Final ( IIF ) No Total de Internódios

Determinada a intensidade de infestação final, têm-se diferentes graus de infestação, Aceitável (≤ 1); Baixo (1,1 a 3); Médio (3,1 a 6); Alto (6,1 a 9) e Inaceitável (> 9,1), sendo esses valores expressos em porcentagem. O controle é econômico quando for encontrada uma intensidade de infestação igual ou superior a 3%. A estratégia de controle deve levar em conta a fenologia da planta, variedades mais suscetíveis ao ataque, viveiros, áreas irrigadas entre outros fatores, para o futuro planejamento da tomada de decisão.

Métodos de controle

Controle cultural: no Manejo Integrado desta praga, o plantio de variedades resistentes, corte da cana sem desponte, moagem rápida, eliminação de plantas hospedeiras das proximidades do canavial, principalmente milho, milheto e sorgo, após suas colheitas são medidas eficazes para diminuição da população da praga. Controle biológico: existem diversos inimigos naturais capazes de controlar a praga, como predadores, parasitoides de ovos e de lagartas, além de fungos entomopatogênicos. Predadores: são responsáveis, natural-

Amostragem – Intensidade de Infestação Final (IIF)

A amostragem de Intensidade de Infestação Final (IIF) é realizada coletando-se colmos de cana-de-açúcar no momento do corte a campo ou do seu recebimento na indústria. Em campo, deve-se amostrar quatro pontos, ao acaso, sendo representados por cinco colmos cada, tomados aleatoriamente, totalizando 20 colmos avaliados. Para o cálculo da intensidade de infestação abre-se longitudinalmente cada um dos colmos coletados, contando-se o número de entrenós e aqueles que se encontram lesionados pelo complexo broca/ podridão-vermelha. Os dados obtidos são aplicados à fórmula:

D. saccharalis atinge e danifica a gema apical das plantas de cana-de-açúcar

mente, por eliminar uma expressiva parcela, principalmente de ovos e de lagartas recémeclodidas. As formigas, pertencentes a gêneros como Solenopsis sp., Pheidole sp., Camponotus sp. entre outros, formam o principal contingente, sendo complementado por coleópteros, neurópteros e dermápteros. Em alguns locais, mais de 90% da população inicial da praga é controlada por esse complexo de inimigos naturais. Parasitoides de ovos: sendo a fase do ovo o fator-chave do crescimento populacional da praga, justifica-se empregar o parasitoide Trichogramma galloi, para evitar que o inseto inicie o ataque ao colmo da cana. Esta espécie deve ser liberada na forma adulta em 25 pontos/ha, em um total de 200 mil parasitoides por hectare em quatro liberações sucessivas feitas à tarde e espaçadas de uma semana. Associado com C. flavipes, T. galloi chega a reduzir a intensidade de infestação em 60%. Parasitoide de lagartas: A vespinha C. flavipes foi introduzida no Brasil em 1974 e vem se destacando em diversos locais como extremamente eficiente no controle de D. saccharalis. Apresenta vantagens pela facilidade de multiplicação em laboratório em relação às moscas Lydella minense e Paratheresia claripalpis que foram utilizadas anteriormente. Nos últimos anos, esses inimigos naturais diminuíram as perdas anuais que eram da ordem de 100 milhões de dólares, para 20 milhões de dólares, para São Paulo, devido à redução de Intensidade de Infestação que era, aproximadamente, de 10% e atualmente está em cerca de 2%. A amostragem para este método de controle é baseada em duas metodologias, que devem ser iniciadas em áreas de plantio

Detalhe de ovos parasitados por Trichogramma galloi

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Fotos José Francisco Garcia - Global Cana Soluções Entomológicas

“cana-planta”, canas de segundo corte, viveiros de muda, áreas irrigadas, histórico da área e sintomas de ataque (“coração morto” em cana jovem e quebra de ponteiros em canas mais velhas). Na metodologia Hora/Homem, esta deve ser intensificada a partir de novembro e repetida quinzenalmente, priorizando áreas com variedades suscetíveis, primeiros cortes, áreas fertirrigadas ou com sintomas do ataque. Aleatoriamente no talhão, visar colmos que apresentem sintomas e que contenham em seu interior lagartas maiores que 1,5cm. As liberações serão iniciadas nas áreas que apresentarem dez lagartas/hora/homem ou mais. O parasitoide C. flavipes deve ser liberado em quatro copinhos com 1,5 mil indivíduos cada, totalizando seis mil indivíduos por hectare, repetindo mais uma ou duas vezes, se necessário. No outro método, Levantamento Populacional, são analisados dois pontos por hectare, sendo que em cada ponto de amostragem são avaliados os colmos de todas as plantas em cinco metros lineares de duas ruas paralelas, totalizando dez metros lineares por ponto. Todos os colmos com orifícios de entrada da broca são rachados e observados, anotando-se o número de lagartas acima de 1,5cm de comprimento, sendo estes valores extrapolados para um hectare, de acordo com o espaçamento da cultura. A liberação do parasitoide C. flavipes é embasada em uma tabela, em que aumenta o número de vespinhas de acordo com a população da praga. De mil a três mil lagartas por hectare, liberam-se seis mil vespinhas/ha (quatro copos); de três mil a dez mil lagartas por hectare, liberam-se de seis mil a 20 mil vespinhas/ha (quatro a 13 copos), equivalente a duas vespinhas por lagarta. De dez mil a 15 mil lagartas/hectare, recomendam-se três vespinhas por lagarta. Acima de 15 mil lagartas/ hectare, recomendam-se quatro vespinhas por lagarta. Esse método, embora funcional, tem o seu rendimento reduzido pelo processo de amostragem, bem como o custo elevado pelo excesso de material liberado. Fungo Entomopatogênico - O emprego do

Danos provocados pelo complexo broca x podridão vermelha do colmo

fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, no controle da broca da cana-de-açúcar, é recomendado quando há superpopulação da praga, situação que exige resposta rápida e eficiente de controle sob o risco de, não o tendo, agravar sobremaneira os prejuízos. Este fungo B. bassiana pode proporcionar mortalidade média de 50%, quando empregado na concentração de 4 x 1012 conídios viáveis por hectare, equivalente a aproximadamente 4kg por hectare do fungo mais o meio de cultura (arroz). Controle químico: este método de controle deve ser visto como ferramenta útil a ser usada, com muito critério, apenas em locais onde haja, de fato, a necessidade de seu emprego como meio auxiliar ao controle biológico e nunca como única medida. Para este tipo de controle, a amostragem é realizada observando-se, na região do “palmito” da cana, a presença de lagartas (menores do que 1cm), antes de penetrarem no colmo, sendo o nível de controle representado por 3% de canas com lagartas nessa região. A metodologia de amostragem é a mesma da Intensidade de Infestação. Após a tomada de decisão, pulverizar o mais rápido possível o inseticida, diminuindo a chance das lagartas penetrarem no colmo. Os inseticidas usados para o controle químico de Diatraea saccharalis geralmente apresentam eficientes resultados. As melhores respostas têm sido obtidas com aplicação em pulverização foliar. O produto do grupo Modulador de Receptores de Rianodina – Cloran-

No detalhe, à esquerda, massa de Cotesia flavipes após abandonarem o corpo da lagarta e, à direita, lagarta parasitada por Beauveria bassiana

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Adultos de D. saccharalis: macho (acima) e fêmea (abaixo)

traniliprole, 350 WG se destaca, atualmente, pela eficiência, modo de ação, sistematicidade e residual. Outros importantes grupos, como Inibidores da Síntese de Quitina – Triflumuron, 480 SC, Lufenuron 50 CE, Novaluron, 100 EC - e Agonista de Ecdisteroides – Tebufenozide, 240 SC, apresentam também eficiência de controle, porém com resultados mais tímidos quando comparados ao primeiro grupo. Todos os grupos são compatíveis com o controle biológico.

Considerações finais

Nestes últimos anos tem ocorrido aumento no plantio de variedades suscetíveis à D. saccharalis. A expansão do plantio para novas áreas e a falta de atenção aos cuidados que necessitam existir ao se empregar o controle biológico, especialmente com o parasitoide C. flavipes, têm levado ao aumento da praga. Esses fatos têm gerado a sensação de que o controle biológico não tem sido capaz de conter as infestações da praga, ocasionando crescente emprego de inseticidas para o seu controle. Dentre os produtos químicos utilizados há sérios riscos, em alguns casos, de estar-se aplicando ingredientes ativos que em médio e longo prazos ofereçam sérios riscos à biodiversidade, face aos seus amplos espectros de ação, especialmente sobre insetos úteis (predadores e parasitoides), naturalmente existentes nos canaviais e que necessitam ser preservados por exercerem importantíssimo papel no controle de pragas. Assim, cuidados com o material biológico (especialmente C. flavipes), como controle de qualidade, forma de transporte ao campo, quantidade a ser liberado, horário, forma e local de liberação, dentre outros, são pontos importantes a serem respeitados, sob o risco de não o sendo, C ocasionar descrédito ao método. José Francisco Garcia Global Cana - Soluções Entom. Ltda.



Feijão

Branco fatal

Fotos Margarida Fumiko Ito

Causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum o mofo branco é agressivo, com poder de levar a 100% de perdas na cultura do feijão. O tratamento de sementes e a adoção do controle químico na fase de florescimento estão entre as estratégias recomendadas para o manejo eficiente, que deve ocorrer de forma integrada e preventiva

A

doença mofo branco é causada pelo patógeno Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, fungo polífago que pode afetar mais de 200 gêneros de plantas, abrangendo 408 espécies, que compreendem desde culturas de alto potencial econômico a plantas daninhas. Essa doença é conhecida também como podridão branca, podridão aquosa, podridão de esclerotinia e murcha de esclerotinia. A ocorrência dessa doença já foi relatada em muitos países, causando sérios danos a várias culturas, com prejuízos na produção. Ocorre com maior severidade nas culturas em países de clima temperado a subtropical e regiões com clima ameno, sob alta umidade relativa e do solo. No Brasil, a doença mofo branco foi relatada pela primeira vez em 1921, no estado de São Paulo, em plantas de batata e, atualmente, encontra-se amplamente disseminado, com maior ocorrência nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, como também em regiões de clima ameno, em condições de alta umidade. Essa doença tem sido relatada em várias culturas como alface, algodão, amaranto, amendoim, batata, canola, cenoura, ervilha, feijão, fumo, girassol, guandú, hortelã, repolho, soja, tomate, trevo, quinoa, dentre outras, além de plantas daninhas como picão, carrapicho, caruru, mentrasto e vassoura. As plantas daninhas hospedeiras de S. sclerotiorum e as plantas tigueras de cultivos de plantas, também hospedeiras desse patógeno, podem multiplicar o fungo, com a formação de grande quantidade de estruturas de resistência, os escleródios, que caem ao solo ou ficam nos restos culturais e podem sobreviver por muitos anos; dessa forma, o potencial de inóculo de S. sclerotiorum pode aumentar muito, e na instalação de uma cultura suscetível, sob baixa temperatura e alta umidade, principalmente do solo, a doença poderá ocorrer com alta severidade. No feijoeiro as perdas podem chegar a 100%, se não forem adotadas medidas preventivas de controle.

Introdução do patógeno

O fungo S. sclerotiorum pode ser introduzido em uma área através de sementes de feijão contaminadas, na forma de micélio dormente, assim como pode ser levado em contaminação concomitante, em forma de escleródios misturados às sementes (Figura 1). As estruturas de reprodução do fungo S. sclerotiorum, os ascósporos, podem ser disseminadas pelo vento e, ao atingirem a cultura de feijão, têm capacidade para iniciar o desenvolvimento da doença, se as condições climáticas forem favoráveis. Outra forma da área ser contaminada por S. sclerotiorum é pelo uso de máquinas e implementos agrícolas infectados com estru-

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A)

B)

C)

Figura 1 - Escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, contaminação concomitante às sementes de feijão: A) escleródios; B) Escleródios misturados às sementes; C) Formação de escleródios na vagem, internamente

turas do fungo. Água de irrigação ou de chuva, insetos, o próprio homem e animais podem introduzir o fungo S. sclerotiorum numa área, pelo transporte de estruturas do fungo e de restos culturais contaminados. Adubação de culturas com dejetos de animais alimentados com material contaminado com o fungo S. sclerotiorum pode conter escleródios que se desenvolverão sob condições favoráveis. Uma vez introduzido em uma área, o fungo S. sclerotiorum é de difícil erradicação, devido à rápida multiplicação de escleródios, em grande quantidade, além de afetar mais de 408 espécies de plantas e ser viável por mais de cinco anos no solo. Dessa forma, é importante evitar a sua introdução utilizando-se as várias formas de controle.

Condições favoráveis

O fungo S. sclerotiorum desenvolve-se bem a temperaturas de 11ºC a 25ºC, porém, pode se desenvolver em uma ampla faixa, de 5ºC a 30ºC, sob alta umidade relativa e do solo. Culturas de feijão no período de outonoinverno, sob irrigação, são mais afetadas, porém, têm-se observado ocorrências também em outras épocas de cultivo, em períodos chuvosos. Culturas em solo compactado, sob excesso de umidade, tendem a sofrer maior ataque por S. sclerotiorum. O estádio mais propício ao início do aparecimento do mofo branco é quando o feijoeiro atinge a fase de fechamento da cultura, normalmente quando da emissão dos primeiros botões florais, sendo que a adubação em excesso com nitrogênio também favorece o desenvolvimento de S. sclerotiorum. A falta de rotação de culturas com plantas não hospedeiras de S. sclerotiorum contribui para o aumento do potencial de inóculo no solo.

planta, que toma a coloração palha. A partir do micélio, são formados inúmeros escleródios, nas partes externa e interna das plantas. Na colheita, muitos desses escleródios caem ao solo (Figura 2).

Controle do mofo branco

É importante o uso de sementes certificadas de feijão, para não introduzir o fungo na área, como também o tratamento de sementes, de acordo com a época de semeadura e histórico da área onde será semeada. A rotação de culturas com gramíneas, como aveia, milheto, milho-doce, sorgo, trigo, auxilia na redução do potencial de inóculo de S. Sclerotiorum no solo. O uso de cultivar de feijão de porte ereto, com maior espaçamento entre linhas e plantas, auxilia no controle, pois a maior aeração na cultura diminui a umidade e desfavorece as condições de desenvolvimento da doença mofo branco. É importante a escolha da área e a época de semeadura de feijão. O plantio direto na palha, como de braquiária, tem apresentado bons resultados, pois além de aumentar a população de microrganismos biocontroladores de S. Sclerotiorum dificulta a entrada de luz, necessária para a formação dos apotécios. A palha também forma barreira física, que impede os ascósporos de alcançarem a parte

superior à palha. Outra medida para reduzir o número de escleródios no solo é enterrá-los a 20cm ou 30cm de profundidade. É importante ter cuidado com a adubação nitrogenada no feijoeiro, pois o excesso de nitrogênio propicia o ataque de S. sclerotiorum. O controle de plantas daninhas e de plantas voluntárias suscetíveis a S. sclerotiorum pode evitar o aumento do seu potencial de inóculo. É importante limpar e lavar máquinas e implementos agrícolas utilizados em áreas contaminadas com S. sclerotiorum, para evitar a introdução ou disseminação desse fungo. Em relação a controle biológico do mofo branco, são comercializadas formulações de Trichoderma spp., em forma líquida ou em pó. No entanto, é importante avaliar a qualidade do produto, pois em alguns casos pode não conter a concentração adequada do fungo ou estar contaminado, principalmente com bactérias (às vezes até antagônicas ao fungo). O controle químico deve ser preferencialmente realizado de forma preventiva, para o fungicida agir de forma eficiente. A época do florescimento do feijoeiro, quando normalmente coincide com o fechamento da cultura, é a fase mais propícia ao início do desenvolvimento da doença. Portanto, nessa etapa deve-se redobrar a atenção na cultura, para não perder o momento certo de se iniciar o controle químico. O fungicida deve atingir o alvo: escleródios e apotécios no solo, ramos, folhas, flores e pétalas, com cobertura adequada. Repetir aplicações, conforme o monitoramento indicar necessidade, seguindo as recomendações do fabricante. C Margarida Fumiko Ito, João José Dias Parisi e Marcio Akira Ito, IAC

A)

B)

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Sintomas da doença

O sintoma inicial caracteriza-se por manchas de aspecto encharcado, em qualquer parte aérea do feijoeiro, iniciando-se em forma de reboleiras e podendo atingir extensas áreas. Sob alta umidade, forma-se o micélio branco do fungo sobre o tecido afetado, as lesões se alastram, podendo evoluir até a morte da

Figura 2 - Sclerotinia sclerotiorum em feijão: A) Murcha de plantas; B) Morte de plantas; C) Vagens e ramos infectados, com coloração palha; D) Morte em reboleira; E) Formação de micélio cotonoso; F) Escleródios infestando o solo

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Algodão

Via alternativa

Fotos F. J. Celoto

Sem poder contar com produtos à base de endosulfan contra o bicudo-do-algodoeiro, produtores brasileiros precisam lançar mão de novas ferramentas para efetuar o manejo dessa praga, que ainda domina o maior número de aplicações de inseticidas na cultura do algodão. Sem perder de vista que o controle químico não deve ser empregado de modo isolado, o uso de chlorantraniliprole + thiamethoxam é uma das estratégias para proteger os botões florais da ação deste inseto

A

cultura do algodoeiro está, entre as plantas cultivadas, como uma das mais atacadas pelas pragas, sendo que cerca de 20 diferentes espécies podem causar sérios danos à cultura. A ocorrência deste grande número de pragas atacando a cultura em todas as fases de desenvolvimento da lavoura torna extremamente necessária a implementação do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que é um “Sistema de apoio de decisões para a seleção e uso de táticas de controle de pragas, usadas individualmente ou

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harmoniosamente coordenadas em uma estratégia de manejo baseada em análises de custo e benefício que levam em conta os interesses dos produtores, e impactos na sociedade e no meio ambiente” (Kogan, 1996). Nas duas últimas safras, principalmente no oeste da Bahia, a nova praga Helicoverpa armigera, que vem causando muitos danos às culturas de algodão, soja e feijão, foi o centro das atenções fitossanitárias dos produtores e pesquisadores. Entretanto, o bicudo-doalgodoeiro continuou atacando as lavouras,

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causando muitos prejuízos e proporcionando dificuldades de controle. Apesar das preocupações e dificuldades com a nova lagarta, o maior número de aplicações realizadas no algodoeiro ainda foi efetuado para o controle do bicudo, com média de 17 aplicações contra 11 aplicações para conter Helicoverpa armigera (Figura 1). O bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, é um pequeno besouro da família dos Curculionídeos e originário da América Central. Possui um rostro (“bico”) bastante


Figura 1 - Número médio de pulverizações específicas para cada espécie de praga nas safras 2011/12 e 2012/13

Com o fim da safra, insetos adultos do bicudo costumam migrar para refúgios e podem entrar em diapausa ("hibernação")

alongado, com mandíbulas afiadas e grande capacidade reprodutiva. A fêmea perfura os botões com o rostro (Figura 2), depositando um ovo por orifício. Coloca em média 100 ovos a 300 ovos durante sua vida. As larvas se desenvolvem dentro dos botões florais que caem ao solo. Os adultos também se alimentam dos botões florais, mas na ausência destes, sob forte pressão populacional, passam a se alimentar das maçãs do algodoeiro. Com o fim da safra, alguns adultos migram para refúgios e podem entrar em diapausa (“hibernação”), principalmente em países de inverno rigoroso, por períodos que variam de 150 dias a 180 dias, até que comece a nova safra. A fase crítica de ataque do bicudo para o algodoeiro compreende o período entre os 40 e 90 dias após a emergência. O inseto provoca intensa queda de botões devido à sua alimentação. Botões florais que receberam postura também caem ao solo, onde permanecem em condições ótimas de umidade, proporcionando desenvolvimento e proteção para a larva. Para o monitoramento do bicudo, o uso de armadilha de feromônio é um método útil e confiável. A captura de mais de dois bicudos por armadilha por semana indica a necessidade da realização de três aplicações de inseticidas registrados para a espécie na cultura do algodoeiro; a partir do primeiro botão floral, entre dois e um bicudos capturados por armadilha por semana, duas aplicações; entre um e zero bicudo capturado por armadilha por semana, uma aplicação e se não ocorrer captura de bicudos nas armadilhas, não realizar aplicação. Além do uso de armadilhas, amostragens manuais inspecionando-se os botões florais das plantas, iniciadas nas bordaduras da área, principalmente próximo aos locais de refúgio (matas) são importantes para retardar a entrada da praga na lavoura. O nível de controle considerado é de 5% de botões danificados até

os 70 dias após a emergência, passando para 10% dos 70 aos 100 dias e 15% de ataque a partir dos 100 dias após a emergência. O sucesso no manejo do bicudo é a integração de métodos, a fim de diminuir a população da praga e reduzir a infestação na safra seguinte. Entre as medidas principais, a destruição da soqueira logo após a colheita e o controle eficiente das tigueras (“plantas voluntárias”), além de definição, de acordo com as características de cada região, de um calendário de semeadura, serão fundamentais para a sustentabilidade da cotonicultura em áreas com a presença do bicudo. Aplicação de inseticidas nas bordaduras da área com o aparecimento dos primeiros botões florais também auxilia a retardar a entrada do bicudo na área. Em áreas menores, a catação e a destruição de botões florais caídos constituem-se em uma medida importante de redução de adultos.

Controle químico

Um dos erros frequentes no combate a pragas é o de não adotar nenhuma medida de redução ou diminuição da infestação das pragas e deixar todo o controle para o uso sequencial de inseticidas, ou seja, cultiva-se de forma a facilitar a reprodução e estabelecimento das pragas e utiliza-se o controle químico como única medida de redução ou controle. No caso do bicudo-do-algodoeiro o controle químico é essencial, mas sempre

integrado a outras medidas de manejo. No controle químico do bicudo utilizavase predominantemente o inseticida endosulfan até 80 dias de idade da lavoura e, após este período, predominava o uso de piretroides. Com esta medida, buscava-se evitar o desequilíbrio precoce em favor dos ácaros devido ao uso de piretroides. Com a descontinuidade dos inseticidas à base de endosulfan, determinada pelos órgãos regulatórios, as opções de inseticidas para o controle inicial do bicudo tornaram-se escassas. Assim, buscou-se encontrar novas alternativas químicas para o controle inicial do bicudo (até 80 dias de idade da lavoura) ou mesmo para rotacionar com os inseticidas piretroides empregados após os 80 dias de idade da lavoura.

Novos inseticidas

Acompanhando a evolução tecnológica pela qual passa todo o setor produtivo, a indústria de defensivos vive um período de grande modernização de seus produtos, introduzindo no mercado inseticidas e acaricidas menos tóxicos, com menor persistência no ambiente, mais seletivos em relação aos mamíferos e aos inimigos naturais das pragas e que atuam sobre sistemas ou enzimas exclusivas dos artrópodes, tornando possível a integração dos diferentes métodos de controle, com o uso de defensivos de forma a eliminar ou atenuar significativamente os efeitos adversos causados. Isto vem contribuindo para um manejo

Tabela 1 - Efeito do inseticida chlorantraniprole + Thiamethoxam 300 SC, no controle do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, na cultura do algodão. Porcentagem média de botões florais danificados (BD) por tratamento aos 5 dias após a primeira e segunda aplicação e aos 5, 10 e 15 dias após a terceira aplicação. Selvíria (MS). Fevereiro/Março 2008 Dose (g i.a./ha) 1. Testemunha -2. chlorantraniliprole + thiamethoxam 15 + 30 3. chlorantraniliprole + thiamethoxam 20 + 40 4. chlorantraniliprole + thiamethoxam 25 + 50 5. Endosulfan 700 Tratamentos

Prévia 5 daa (1ª aplic.) 5 daa (2ª aplic.) 5 daa (3ª aplic.) 10 daa (3ª aplic.) 15 daa (3ª aplic.) %BD %BD %BD %BD %BD %BD 4,5 a 6,0 a 8,5 a 12,0 a 2,5 a 2,0 a 0,0 b 0,5 b 2,5 b 6,5 b 1,0 a 1,5 a 0,0 b 0,0 b 2,0 bc 5,0 b 0,5 a 1,0 a 0,5 b 1,0 b 1,5 c 5,0 b 0,0 a 0,0 a 3.5 b 3.5 ab 5,5 a 7,0 ab 1,5 a 0,5 a

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Figura 2 - Efeito do inseticida Pimetrozine (Chess 500 WG) no controle do bicudo, Figura 3 - Efeito do inseticida Pimetrozine (Chess 500 WG) no controle do bicudo, Anthonomus grandis, em algodão. Porcentagem de botões atacados aos 5 dias após Anthonomus grandis, em algodão. Número de adultos emergidos 12 dias após a a quarta aplicação. Selvíria (MS). Fevereiro 2011 quarta aplicação. Selvíria (MS). Fevereiro 2011

mais racional no controle de pragas e maior segurança aos agricultores, iniciando-se uma substituição gradativa dos grupos químicos de pesticidas mais tóxicos e de amplo espectro de ação por grupos menos tóxicos e mais seletivos, como os reguladores de crescimento de insetos, neonicotinoides, bloqueadores de canais de sódio (oxadiazinas), moduladores de receptores de acetilcolina (naturalytes), cetoenoles (inibidores da biossíntese de lipídeos), moduladores de receptores da rianodina (diamidas antranilicas), modificadores de comportamento alimentar (piridina azometina), entre outros.

pelo travamento das pernas posteriores, ocasionando redução na locomoção, menor permanência na planta (os bicudos caem ao solo constantemente) e menor reprodução. Com o objetivo de avaliar o desempenho desta nova molécula química de perfil toxicológico favorável (pimetrozine) pertencente ao grupo dos bloqueadores seletivos de alimentação, em aplicações foliares, no controle do bicudo-do-algodoeiro, foi instalado um experimento na Fazenda Experimental da Unesp de Ilha Solteira, localizada em Selvíria, Mato Grosso do Sul. Foram realizadas quatro aplicações, com intervalo de cinco dias. Constatou-se que o inseticida pimetrozine, nas doses de 100g i.a/ha e 200g i.a./ha, foi eficiente na proteção dos botões florais do algodoeiro contra o ataque do bicudo e reduziu a emergência de adultos (Figuras 3 e 4).

Bloqueador seletivo de alimentação

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Diamidas antranilicas e neonicotinoides

O grupo inseticida das diamidas está entre as mais recentes descobertas e possui Fotos F. J. Celoto

Desenvolvido inicialmente para o controle de insetos sugadores, os bloqueadores seletivos da alimentação afetam o comportamento alimentar dos insetos. Sua ação é rápida, provocando a imediata paralisação da alimentação devido ao bloqueio neural do aparelho sugador. Não apresentam efeito de choque. O mecanismo de ação ocorre pela ligação da molécula aos receptores neurais, ocorrendo a liberação de serotonina nos espaços sinápticos. Devido à presença de serotonina nos espaços sinápticos, seus respectivos receptores inibem o sistema nervoso do aparelho bucal do inseto, ocasionando uma rápida e irreversível paralisação da sucção, seguida da retração do estilete e movimentação descoordenada do inseto, levando-o à morte por fraqueza e falta de alimento e, consequentemente, redução significativa na transmissão de vírus persistentes. Em insetos mastigadores a ação deste grupo inseticida é pouco conhecida, porém, foi constatado haver ação na locomoção e coordenação motora dos insetos tratados com inseticidas deste grupo. Em estudos com o bicudo, constatou-se que os adultos têm a locomoção prejudicada, principalmente

duas moléculas em uso no Brasil (flubendiamide e chlorantraniliprole). Possui perfil toxicológico favorável aos mamíferos e ao ambiente e excelente ação lagarticida. O mecanismo de ação ocorre através da ligação destas moléculas inseticidas aos receptores de rianodina nas miofibrilas dos músculos do inseto. Em consequência, grandes quantidades de cálcio fluem do retículo sarcoplasmático, que atua como depósito de cálcio dos músculos, para as miofibrilas, fazendo com que os filamentos de miosina deslizem por entre os filamentos da actina. As miofibrilas se encurtam e o músculo se contrai, permanentemente, causando paralisia de toda a atividade muscular, levando o inseto à morte. O chlorantraniliprole misturado ao neonicotinoide thiamethoxam foi estudado no controle do bicudo e proporcionou proteção aos botões florais contra o ataque C do bicudo. (Tabela 1) Geraldo Papa, Fernando J. Celoto e João Antonio Zanardi Júnior, Unesp

C

Botões florais do algodoeiro são perfurados pela praga, cujas larvas se desenvolvem em seu interior levando-os à queda

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