Grandes Culturas - Cultivar 180

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 180 • Maio 2014 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa capa

Solução sustentável.............................20

Crébio José Ávila

Como manejar de modo correto e duradouro pragas, doenças e plantas daninhas em áreas de cultivo de soja

Abrigo perfeito..........................08 Patógeno letal............................24 Antes e depois...........................30 O papel das domácias foliares em cafeeiro, pequenas estruturas que abrigam ácaros e insetos

Saiba de que modo o tratamento de sementes pode auxiliar na prevenção do mofo-branco, doença agressiva em culturas como soja e feijão

Índice

A importância do manejo de plantas daninhas na pré-semeadura e na pós-emergência em trigo

Expediente

Diretas

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Domácias foliares em cafeeiro

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Manejo de pragas em sementes armazenadas

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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

• Editor

Gilvan Dutra Quevedo

Rithieli Barcelos

• Redação

Influência de restos culturais na antracnose em feijão

16

Informe - Tratamento de sementes

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Nossa capa - Manejo de pragas, doenças e daninhas

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Karine Gobbi Rocheli Wachholz

CIRCULAÇÃO

• Design Gráfico e Diagramação

• Coordenação

• Revisão

• Assinaturas

MARKETING E PUBLICIDADE

• Expedição

Cristiano Ceia

Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

Aline Partzsch de Almeida

• Coordenação

Edson Krause

Charles Ricardo Echer

Mofo branco em soja e feijão

24

Controle do bicudo em algodoeiro

27

Manejo de daninhas em trigo

30

Podridões do colmo na cultura do milho

33

Coluna ANPII

36

Coluna Agronegócios

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Mercado Agrícola

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GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 204,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Eleito

O produtor rural e diretor tesoureiro da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), Almir Dalpasquale, foi eleito presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Ricardo Tomczyk, atual vice-presidente da Aprosoja/ MT, assume como vice-presidente junto a Dalpasquale. Como diretriz de trabalho, o dirigente traça a consolidação e o fortalecimento das Aprosojas estaduais, dando apoio para que as entidades tenham estrutura para representar os produtores de grãos brasileiros. “Nosso desafio é estruturar política e financeiramente Almir Dalpasquale as entidades estaduais”, afirmou.

Linha

A Bayer CropScience levou à Expoagro Afubra 2014, em Santa Cruz do Sul, sua linha de produtos, com destaque para o portfólio voltado aos cultivos de tabaco e milho. Na linha de tabaco, a empresa apresentou o inseticida Confidor Supra e o fungicida Infinito. Já para a cultura de milho, os destaques foram o herbicida Soberan e o inseticida CropStar. Durante o evento, os especialistas da Bayer CropScience ministraram palestras técnicas para os produtores nas áreas demonstrativas de tabaco e milho.

Reconhecimento

O pesquisador Décio Gazzoni, da Embrapa Soja, foi eleito para a presidência do Comitê Gestor em Energia Sustentável do International Council for Science (ICSU), sediado na Cidade do México. O ICSU é uma organização não governamental que congrega as academias de Ciências de 140 países. Desde 2006, Gazzoni é membro do Painel Científico Internacional sobre Energia Renovável do ICSU, onde coordena estudos e elabora publicações. O pesquisador é, também, articulista de Cultivar Grandes Culturas, onde publica mensalmente a Coluna Agronegócios.

Equipe

Durante a Expoagro Afubra, a Agroeste contou com uma equipe para orientar os agricultores quanto às soluções da marca. Para a soja os destaques foram as variedades AS 3610 Ipro, AS 3575 Ipro, AS 3570 Ipro com a biotecnologia Intacta RR2 PRO, e para a cultura do milho, o híbrido AS 1666 PRO3 RIB (com refúgio completo na sacaria).

Décio Gazzoni

Mascote

A Sementes Piraí apresentou, na Expoagro Afubra 2014, o mascote Crotalino, que tem a missão de difundir de forma divertida e informativa a sustentabilidade e a adubação verde aos clientes da marca. A empresa também lançou uma página específica para a fumicultura brasileira, disponível no endereço: www.pirai.com.br/tabaco, com informações sobre como utilizar a técnica de adubação verde na cultura do fumo. Airton Leites

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Híbridos

A Dekalb apresentou, durante a Expoagro Afrubra, dois híbridos de milho de alta produtividade para agricultores que visitaram o estande da marca: o DKB 290 PRO3RIB e o DKB 240 PRO3RIB, ambos com a nova biotecnologia VT PRO3 Rib Completo.


Palestras

Durante a Expoagro Afubra 2014, a FMC promoveu palestras com Marcio Ebling (FMC) e Carmo José Kauffmann (Inagro) sobre “Aplicação Correta e Segura de Defensivos Agrícolas em Tabaco”, do Projeto Aplicar Tabaco, realizado em parceria com o SindiTabaco. O objetivo do projeto foi esclarecer dúvidas sobre o correto uso dos produtos e orientar sobre as melhores práticas de aplicação para obter melhores resultados no campo com segurança.

Soluções

A Monsanto destacou na Expoagro Afubra 2014 o Sistema Roundup Ready Plus, que promove o acompanhamento técnico e individual de agricultores para oferecer soluções de manejo de plantas daninhas. Outros destaques da marca foram as tecnologias da soja Intacta RR2 PRO, de milho VT Promax RIB Completo e VT PRO3 RIB Completo.

Presença

A Nidera Sementes esteve presente na Expoagro Afubra com sua equipe técnica para orientar os produtores que passaram pelo estande. Os destaques da empresa ficaram com os híbridos NS 5445 Ipro, NS 5959 Ipro e NS 7000 Ipro.

Tecnologia

A Sementes Agroceres marcou presença na Expoagro Afubra 2014. Os agricultores que visitaram o estande receberam orientações técnicas sobre as novas tecnologias e soluções voltadas para o produtor da região sul. O destaque da empresa foi o híbrido de milho AG 8780 PRO3 Rib.


Milho

A BioGene lançou os híbridos de milho BG7318YH, destaque por sua precocidade, e o BG7046H. Os agricultores que visitaram o estande da BioGene receberam informações técnicas sobre qualidade de plantio e manejo da silagem, e puderam conferir os demais híbridos de milho desenvolvidos para produção de grãos e silagem.

Lançamento

Plantio no Sul

Os produtores que visitaram o estande da DuPont Pioneer na Expoagro Afubra conheceram a linha de produtos recomendados para o plantio na região Sul do país. A marca destacou os híbridos de milho P1630H, P2530H e 30F53H, e em soja, ofereceu produtos com alta precocidade através das cultivares 95R51 e 95Y72. Os visitantes da feira também receberam mais informações sobre a tecnologia Optimum Intrasect e o Manejo Integrado de Pragas para proteção contra insetos.

Participação

A Morgan Sementes e Tecnologia, marca comercial da Dow AgroSciences, apresentou, na Expoagro Afubra 2014, seu lançamento para a cultura de milho: o híbrido MG 300. De ciclo superprecoce, o MG 300 amplia variedade de opções para os clientes da marca. O produto já está à disposição dos agricultores para o próximo plantio de verão.

A Syngenta apresentou, na Expoagro Afubra 2014, o fungicida Elatus para o combate da ferrugem asiática da soja. “O diferencial do produto é seu modo de ação, de amplo espectro e com excelente controle sobre a doença. Essas qualidades são proporcionadas pela combinação de Solatenol, nova molécula desenvolvida pela Syngenta, com a tecnologia Amistar”, explica Tiago Pavoni, engenheiro agrônomo da Syngenta. Pavoni destacou também o portfólio de sementes, produtos e soluções para a cultura do milho, soja e tabaco.

Receptividade

Durante a Expoagro Afubra, a UPL destacou o inseticida Azamax. O produto possui três modos de ação, sendo uma nova ferramenta para o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e para a prevenção da resistência de pragas a inseticidas convencionais. Atua também como regulador de crescimento, inibidor alimentar e possui ação repelente.

Inseticida

Durante a Expoagro Afubra, a Ihara lançou dois produtos: o Gemstar, para o controle de Helicoverpa na soja, e o inseticida Incrivel, para o manejo de percevejos na soja e no arroz. “A Ihara participou com estande e áreas demonstrativas de seus produtos, onde uma equipe comercial recepcionou e orientou clientes e produtores”, explicou o gerente de Marketing Regional, José Vicente.

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Café

Abrigo perfeito

Fotos Paulo Rebelles Reis

Estruturas naturais existentes na superfície inferior das folhas, as domácias acabam por abrigar ácaros e insetos, entre eles predadores. Entender como funciona a arquitetura das plantas e sua influência sobre pragas e inimigos naturais é fundamental para estabelecer estratégias de manejo eficientes na cultura do café

D

omácias foliares são pequenas estruturas naturais que apresentam diversas formas, tais como invaginações, cavidades, bolsas (com ou sem pelos), tufo de pelos etc existentes na superfície inferior das folhas (superfície abaxial), desde a base do limbo até aproximadamente 2/3 do seu comprimento. As domácias estão situadas nas junções das nervuras, ou seja, no ângulo menor entre a nervura central e as nervuras secundárias de certas espécies de dicotiledôneas (raramente em monocotiledôneas). As domácias existem em plantas de várias espécies e mais de 30 famílias de angiospermas lenhosas em todo o mundo (plantas espermatófitas cujas sementes são protegidas por uma estrutura denominada fruto), com ocorrência abundante em florestas tropicais e subtropicais. Essas estruturas foliares podem variar na quantidade, desenvolvimento e formato de acordo com as condições ambientais. Em 1864 já haviam sido observados “pequenos animais octópodes articulados e seus ovos”, ou seja, ácaros, no interior de pequenas cavidades existentes nos ângulos de união entre a nervura mediana e as secundárias de cafeeiros, Coffea arábica L., (hoje chamadas

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domácias). O termo domácia ou acarodomácia foi usado pela primeira vez em 1887, portanto, há 127 anos, por um pesquisador sueco, após observações de que essas estruturas serviam de abrigo e morada para ácaros (do grego domatium = casa pequena). Embora alguns pesquisadores, a maioria botânicos, considerem que as domácias foliares são úteis apenas como características morfológicase de interesse apenas taxonômico, pois não são conhecidas funções fisiológicas para elas, outros sugerem que essas estruturas abrigam ácaros que promovem benefícios para as plantas. Algumas evidências demonstram a existência de mutualismo entre plantas que apresentam domácias foliares e ácaros, como, por exemplo, (1) a ocorrência de ácaros dentro das domácias, (2) a presença de domácias aumenta a chance de serem encontrados ácaros nas plantas e (3) a atividade dos ácaros aumenta as chances de encontrar plantas com domácias. A observação do aparecimento de ácaros predadores dentro e ao redor das domácias em inúmeras plantas permite considerar a possibilidade de existir mutualismo facultativo entre ácaros e domácias.

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As domácias podem, então, representar a forma de mutualismo mais abundante e antiga e amplamente distribuída entre plantas e artrópodes. Pesquisas têm mostrado que existem interações entre algumas características morfológicas das plantas, como tricomas (apêndices da epiderme presentes em diversos órgãos das plantas, constituindo seu indumento), pilosidade, domácias etc e inimigos naturais de pragas, que podem influenciar de algum modo na capacidade desses organismos em reduzir populações de artrópodes pragas. Existe, portanto, um amplo mutualismo facultativo entre domácias e ácaros benéficos (predadores e fungívoros), em que as domácias foliares lhes servem de abrigo e criatório que, por sua vez, reduzem o número de artrópodes fitófagos e patógenos que se encontram nas plantas. Ácaros podem ser observados em domácias de plantas de diversas espécies, o que sugere que os ácaros encontram ali o seu alimento. Porém, pode não ser a regra, pois muitas pesquisas rejeitam a hipótese de que exista mutualismo entre ácaros e domácias, porque estas nem sempre contêm ácaros. Há domácias com completa ausência de desenvolvimento de ácaros em seu interior e também há insuficiência de informações sobre associações de ácaro e domácia. Já foi relatada a presença dos ácaros Tydeus sp. (Tydeidae), Agistemus sp. (Stigmaeidae), Typhlodromus haramotoi (Prasad, 1968) (Phytoseiidae), entre outros, em domácias de folhas de cafeeiro, C. arabica, e Bdella sp. (Bdellidae) e Amblyseius herbicolus (Chant, 1959) (Phytoseiidae) em Coffea liberica Bull. Provavelmente, os ácaros Tydeidae e Iolinidae são os mais encontrados nas domácias e por esse motivo ácaros dessas famílias são comumente chamados de ácaros-das-domácias, ácaros que também podem estar servindo de alimento aos ácaros predadores, mesmo que como alimento alternativo. Os tideídeos são encontrados em cafeeiros em qualquer época do ano, porém, aparentemente sem causar nenhum dano. As domácias também podem abrigar ácaros microbiófagos, ou seja, aqueles que se


Ácaros encontrados em domácias de folhas de cafeeiro no Brasil

Fêmea adulta de Brevipalpus phoenicis (Tenuipalpidae) dentro da domácia (esquerda) e saindo da domácia foliar de cafeeiro, Coffea arabica, (direita)

alimentam de “micróbios” e assim favorecem as plantas consumindo fungos fitopatogênicos ou epífitos, resultando na redução da severidade de doenças de plantas como, por exemplo, o míldio, Plasmopara spp., Phytophthora infestans (Peronosporaceae) etc. Alguns ácaros fitófagos podem acarretar sérios problemas para a saúde das plantas, mas têm numerosos inimigos naturais, especialmente pertencentes à família Phytoseiidae de ácaros predadores. Um benefício potencial que as plantas adquirem é o de que os ácaros predadores podem funcionar como seus “guardacostas” contra ácaros-praga. Além de ácaros, as domácias foliares também podem abrigar ocasionalmente pequenos insetos como tripes e ninfas de percevejos, possivelmente também predadores, e cochonilhas. Ácaros predadores e também aqueles que se alimentam de material em decomposição (detritívoros), de fungos (fungívoros) ou de outros micróbios, representam 90% dos artrópodes encontrados dentro da domácias foliares. Todos são considerados benéficos para a planta, nenhum é considerado prejudicial, os primeiros por serem inimigos naturais de ácaros e pequenos insetos, e os fungívoros por auxiliarem na redução de patógenos e na mobilização de nutrientes sequestrados por fungos, algas, bactérias leveduras, liquens etc. As domácias dos cafeeiros servem de abrigo e local de oviposição para o ácaro predador Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma, 1972 (Phytoseiidae), um dos ácaros que vêm sendo estudados na manutenção de ácaros-praga do cafeeiro em equilíbrio. Isso é uma indicação da importância das domácias como local e fonte de sua sobre-

Espécies Agistemus brasiliensis Matioli, Ueckermann & Oliveira Amblyseius aerialis (Muma) Bdella sp. Brevipalpus phoenicis (Geijskes) Daidalotarsonemus sp. Euseius citrifolius Denmark & Muma Euseius concordis (Chant) Homeopronematus sp. Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma Lorrya formosa Cooreman Lorrya sp.

Famílias Iolinidae Stigmaeidae Phytoseiidae Bdellidae Tenuipalpidae Tarsonemidae Phytoseiidae Phytoseiidae Iolinidae Phytoseiidae Tydeidae

Referências Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro, 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Matos et al., 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al.,2006 Spongoski et al., 2005

vivência, sugerindo uma interação mutualística planta-predador e certamente para outras espéTydeidae cies de ácaros predadores também encontrados em Oligonychus ilicis (McGregor) Tetranychidae cafeeiro. Parapronematus acaciae Iolinidae Resultados de pesquiSaproglyphus sp. Winterschmidtiidae sas mostram que cafeeiros Spinibdella sp. Bdellidae da espécie arábica (C. araTarsonemus confusus Ewing Tarsonemidae bica) apresentam muitas Tarsonemus sp. Tarsonemidae domácias desenvolvidas Triophtydeus sp. Meyexellidae e aproximadamente 70% Typhlodromus camelliae (Chant & Yoshida-Shaul) Phytoseiidae mais domácias que RoTyrophagus sp. Acaridae busta e Conillon (Coffea Zetzellia malvinae Matioli, Ueckermann & Oliveira Stigmaeidae canephora Pierre & FroehZetzellia sp. Stigmaeidae ner), onde as domácias são escassas e pouco definidas. Acredita-se que seu desenvolvimento. Diversos estudos têm por isso os cafeeiros arábica apresentam demonstrado o uso das domácias por Phytocerca de oito vezes mais ácaros predadores seiidae preferencialmente para oviposição e da espécie I. zuluagai e até aproximadamen- muda. Em condições de campo, mais de 75% te 0,7 vez menos ácaros-praga [Brevipalpus de todos os ovos postos por fitoseídeos já foram phoenicis (Geijskes, 1939) (Tenuipalpidae) encontrados dentro das domácias. Ensaios de - e Oligonychus ilicis (McGregor, 1917) laboratório demonstraram que as domácias (Tetranychidae)] do que C. canephora e isso foliares protegem os ovos do efeito da baixa também pode ser explicado devido ao efeito umidade, e na presença de domácias um ácaro positivo da domácia sobre a sobrevivência predador coloca duas vezes mais ovos que na dos predadores. sua ausência. As domácias ainda contribuem para Somente a partir da década de 90 é que a a redução, em C. arabica, do canibalismo resposta dos ácaros à arquitetura das plantas existente entre o ácaro predador adulto de tem sido considerada, mas é claro que estruI. zuluagai sobre os jovens de sua própria turas porventura existentes na superfície foliar espécie, um fator igualmente favorável ao alteram a abundância de ácaros, influenciam aumento da população do predador. as interações predador-presa e são importantes Tudo indica que o benefício mais óbvio para o entendimento do relacionamento entre de uma domácia foliar ao ácaro predador é o ácaros plantículas e plantas. C de oferecer proteção e abrigo, especialmente como local para colocar seus ovos e efetuar a Paulo Rebelles Reis mudança de fase (muda) durante o ciclo de Epamig Sul de Minas/EcoCentro

Fêmea adulta de Iphiseiodes zuluagai (Phytoseiidae) após depositar um ovo dentro da domácia foliar de cafeeiro, Coffea arabica (esquerda), e larva de ácaro da mesma espécie dentro da domácia (direita)

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Pragas

Perigo armazenado Adriana de Marques Freitas

Pragas de armazenamento são um obstáculo à qualidade de sementes de grãos como soja, feijão, trigo e arroz. Manejá-las exige conhecer o hábito alimentar de cada um desses insetos, além da adoção de medidas de tratamento preventivo e curativo

A

qualidade das sementes, em especial a fisiológica, pode ser afetada pela ação de diversos fatores. Destacam-se as pragas de armazenamento, em especial Sitophilus zeamais, S. oryzae, Rhyzopertha dominica, Acanthoscelides obtectus, Lasioderma serricorne, Sitotroga cerealella, Ephestia kuehniella e E. elutella, que podem ser responsáveis pela deterioração física do lote de semente armazenado. O conhecimento do hábito alimentar de cada praga constitui elemento importante para definir o manejo a ser implementado nas sementes durante o período de armazenamento. Segundo esse hábito, as pragas podem ser classificadas em primárias ou secundárias. Existem dois principais grupos de pragas que atacam as sementes armazenadas, que são besouros e traças. Entre os besouros encontram-se as espécies: R. dominica (F.), Sitophilus oryzae (L.), S. zeamais (Motschulsky), Acanthoscelides obtectus (Say), Lasioderma serricorne (Fabricius). As espécies de traças mais importantes são: Sitotroga cerealella (Olivier), Ephestia kuehniella (Zeller) e Ephestia elutella (Hübner). Entre essas pragas, R. dominica, S. oryzae e S. zeamais são as mais preocupantes economicamente e justificam a maior parte do controle químico praticado nos armazéns de

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sementes. Além dessas pragas, há roedores e pássaros causadores de perdas, principalmente qualitativas, pela sujeira que deixam no produto final, que também devem ser considerados no manejo integrado de pragas (MIP).

Besourinho dos cereais

Os adultos de Rhyzopertha dominica (Coleoptera, Bostrichidae) são besouros de 2,3mm a 2,8mm de comprimento, coloração castanho escura, corpo cilíndrico e cabeça globular, normalmente escondida pelo protórax. Essa praga primária interna possui elevado potencial de destruição em sementes e grãos de trigo, arroz, milho, cevada, aveia, centeio e triticale, pois é capaz de destruir de cinco a seis vezes seu próprio peso em uma semana (Almeida & Poy, 1994). É a principal praga na armazenagem no Brasil, em razão da incidência e da grande dificuldade de se evitar os prejuízos que causa aos produtos. Deixa as sementes perfuradas e com grande quantidade de resíduos na forma de farinha, decorrentes do hábito alimentar. Tanto adultos como larvas causam danos às sementes armazenadas. Possui grande número de hospedeiros, e adapta-se rapidamente às mais diversas condições climáticas sobrevivendo mesmo em extremos de temperatura.

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Gorgulhos dos cereais

Sitophilus oryzae e S. zeamais (Coleoptera, Curculionidae) são muito semelhantes em caracteres, ambos podem ocorrer juntos no mesmo lote de sementes. Os adultos são gorgulhos de 2mm a 3,5mm de comprimento, de coloração castanho-escura, com manchas mais claras nos élitros (asas anteriores), visíveis logo após a emergência. Têm a cabeça projetada à frente, na forma de rostro curvado. É praga primária interna de grande importância, pois pode apresentar infestação cruzada, ou seja, infestar sementes no campo e também no armazém, onde penetra profundamente na massa de sementes. Apresenta elevado potencial de reprodução, possui muitos hospedeiros, como trigo, milho, arroz, cevada, triticale e aveia. Tanto larvas como adultos são prejudiciais e atacam sementes inteiras. A postura é feita dentro da semente; as larvas, após se desenvolverem, empupam e se transformam em adultos. Os danos decorrem da redução de peso e de qualidade física e fisiológica da semente (Lorini, 2008).

Caruncho do feijão

Acanthoscelides obtectus (Coleoptera: Bruchidae) é uma praga primária de produtos


Divulgação

de sementes. As larvas destroem a semente, alterando o peso e a qualidade. Também ataca as farinhas, nas quais se desenvolve, causando deterioração de produto pronto para consumo.

As traças

Adultos de Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae e Acanthoscelides obtectus

armazenados, atacando principalmente leguminosas como o feijão. Está adaptado tanto para viver e reproduzir em regiões tropicais como nas temperadas, em condições de baixa umidade. Os adultos de A. obtectus medem de 2mm a 4mm de comprimento e são de coloração pardo-escuros, com pontuações avermelhadas no abdômen, pernas e antenas (Pereira, 1993). Os adultos são bons voadores e começam as infestações de campo vindo dos armazéns, porém não se alimentam e têm vida curta. O ciclo de vida pode ser completado em apenas 23 dias e é por isso que esta espécie tem um grande potencial de desenvolvimento (Pereira, 1993). Causa prejuízos consideráveis, como perda de peso, redução da qualidade nutricional, do poder germinativo das sementes e a introdução de contaminantes secundários, como fungos, e micotoxinas. Muitas infestações começam no campo e as larvas se abastecem das sementes em maturação. As larvas de A. obtectus alimentam-se dos cotilédones, podendo em cada semente ocorrer diversas, e em função do seu rápido desenvolvimento, há um alto potencial para o crescimento populacional. Desta maneira os danos acumulados podem ser muito extensos (Pereira, 1993).

ciclo completo é de 60 a 90 dias e apresenta cerca de três gerações por ano. É uma praga cosmopolita, cujas larvas maiores escavam galerias. As larvas se alimentam dos produtos onde fazem as galerias, como é o caso da soja armazenada. Não é capaz de atacar plantas vivas, embora ataque um grande número de produtos em depósitos, como frutos secos, papéis, tapetes, grãos, farelos, farinhas, massas, biscoitos e rações.

Traça dos cereais

Os adultos de Sitotroga cerealella (Lepidoptera, Gelechiidae) são mariposas com 10mm a 15mm de envergadura e 6mm a 8mm de comprimento. As asas anteriores são cor de palha, com franjas, e as posteriores são mais claras, com franjas maiores. Vivem de seis a dez dias. Os ovos são colocados sobre as sementes, preferentemente naquelas danificadas. As larvas podem atingir 6mm de comprimento e são brancas com as mandíbulas escuras. A pupa varia de coloração branca a marrom-escura, próximo à emergência do adulto. O período de ovo a adulto dura, em média, 30 dias (Lorini, 2008). É praga que ataca sementes intactas (primária), porém afeta mais a superfície do lote

Métodos de controle

O controle dessas pragas depende praticamente de três métodos: inseticidas químicos líquidos (tratamento preventivo), inseticida natural à base de terra de diatomáceas (tratamento preventivo), e o expurgo das sementes com o inseticida fosfina (tratamento curativo). Estes três métodos podem ser usados isoladamente ou em combinação, com emprego de mais de um em cada UBS.

Tabela 1 - Inseticidas indicados para tratamento preventivo e/ou curativo de pragas de sementes armazenadas

Lasioderma serricorne

As fêmeas de Lasioderma serricorne (Coleoptera: Anobiidae) colocam os ovos em pequenas fendas nos fardos de fumo, onde é praga originalmente importante, ou nos charutos, mas não nas folhas de fumo no campo. Tem aparecido com certa frequência, perfurando sementes e grãos de soja, com prejuízos aos armazenadores, e ameaçando a qualidade do produto oferecido nos mercados interno e externo. No momento é a maior ameaça ao armazenamento de sementes e grãos de soja. O adulto é um besouro de corpo ovalado, de coloração castanho-avermelhada, recoberto por pelos claros. O comprimento varia de 2mm a 3mm, sendo as fêmeas maiores. O

Ephestia kuehniella e E. elutella (Lepidoptera, Pyralidae) são muito semelhantes. Os adultos são mariposas de coloração parda, com 20mm de envergadura, com asas anteriores longas e estreitas, de coloração acinzentada, com manchas transversais cinza-escuras. As asas posteriores são mais claras. A fêmea oviposita de 200 a 300 ovos. As larvas atingem até 15mm de comprimento; possuem coloração rosada e pernas e cabeça castanhas; tecem um casulo de seda, em cujo interior empupam. O período de ovo a adulto estende-se por aproximadamente 40 dias (Lorini & Schneider, 1994; Lorini, 2008). São pragas secundárias, pois as larvas se desenvolvem sobre resíduos de grãos e de farinhas deixados pela ação de outras pragas. Seu ataque prejudica a qualidade das sementes armazenadas, em razão da formação de uma teia sobre a massa de sementes ou nas sacarias durante o armazenamento. Penetra no interior das pilhas de sementes, fazendo a postura nas costuras da sacaria ou bags. Esta praga é responsável pela grande quantidade de tratamentos em termonebulização nas UBS, durante o período de armazenamento dos lotes de semente.

Nome Fosfina3

Terra de diatomácea Terra de diatomácea Deltamethrin Bifenthrin Bifenthrin Lambdacyalothrin Fenitrothion Pirimiphos-methyl

Dose (i.a.) 2,0 g/m3 2,0 g/m3 2,0 g/m3 2,0 g/m3 0,9-1,7kg/t 0,9-1,7kg/t 0,35-0,50ppm 0,40ppm 0,40ppm 0,50ppm 5,0-10,0ppm 4,0-8,0ppm

Dose comercial/t 6g 6g 6g 6g 1-2kg/t 1-2kg/t 14-20 ml 16 ml 16 ml 10 ml 10-20 ml 8-16 ml

Formulação1 PF PF PF PF Pó Pó CE CE CE CE CE CE

Concentração (g i.a./L,kg) 570 570 560 560 867 860 25 25 25 50 500 500

Intervalo de segurança2 4 dias 4 dias 4 dias 4 dias 30 dias 30 dias 30 dias 42 dias 120 dias 30 dias

CE = Concentrado emulsionável; PF = Pastilha fumigante; Pó = Pó seco. 2Período entre a última aplicação e o consumo. 3O período de exposição da fosfina é de, no mínimo, 168 horas, dependendo da temperatura e da umidade relativa do ar no armazém. 1

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Fotos Divulgação

Besouro de Lasioderma serricorne e adulto de Sitotroga cerealella

Inseticidas químicos líquidos

As sementes, após terem sido beneficiadas, expurgadas ou não, podem ser tratadas preventivamente para obter proteção contra o ataque das pragas durante o armazenamento. Se o período de armazenagem das sementes for superior a 60 dias, pode-se fazer este tratamento químico preventivo, que consiste em aplicar inseticidas líquidos sobre as sementes, na correia transportadora ou na tubulação de fluxo da semente beneficiada, no momento de ensacar a semente ou de armazenar nos silos. Recomenda se a dosagem de um a dois litros de calda por tonelada, a ser pulverizada sobre as sementes, e uso dos inseticidas pirimiphosmethyl, fenitrothion, deltamethrin, bifenthrin ou lambdacyalothrin (Tabela 1), de acordo com a espécie. Não se deve realizar tratamento via líquida na correia transportadora, caso exista infestação de qualquer praga nas sementes, pois poderá resultar em falhas de controle e início de problema de resistência das pragas aos inseticidas.

Inseticida natural à base de terra de diatomáceas

Métodos alternativos de controle estão sendo enfatizados, a fim de reduzir o uso de produtos químicos, diminuírem o potencial de exposição humana e reduzir a velocidade e o desenvolvimento de resistência de pragas a inseticidas. Recentemente oferecidos no mercado, os pós inertes à base de terra de diatomáceas constituem uma alternativa para o produtor de sementes controlar as pragas durante o armazenamento, através do tratamento preventivo da semente. O pó inerte à base de terra de diatomáceas é proveniente de fósseis de algas diatomáceas,

que possuem naturalmente fina camada de sílica, e pode ser de origem marinha ou de água doce. O preparo da terra de diatomáceas para uso comercial é feito por extração, secagem e moagem do material fóssil, que resulta em pó seco, de fina granulometria. No Brasil, apenas dois produtos comerciais, Insecto e Keepdry, à base de terra de diatomáceas, estão registrados como inseticidas e são recomendados para controle de pragas no armazenamento de sementes e de grãos. A atividade inseticida do pó inerte, entretanto, pode ser afetada pela mobilidade dos insetos, pelo número e distribuição de pelos na cutícula, pelas diferenças quantitativas e qualitativas nos lipídios cuticulares das diferentes espécies de insetos, pelo tempo de exposição e pela umidade relativa do ar, fatores que influenciam a taxa de perda de água, afetando consequentemente a eficiência dos pós inertes (Ebeling, 1971; LePatourel, 1986; Aldryhim, 1990; Banks & Fields, 1995; Golob, 1997; Korunic, 1998; Lorini, 2008). Trabalhos de pesquisa (Lorini et al, 2003) demonstraram que, para o tratamento de sementes, a terra de diatomáceas pode ser usada diretamente na semente, polvilhando-a no momento imediatamente anterior ao ensaque. A dose empregada é de 1-2kg de terra de diatomáceas por tonelada de semente (Tabela 1). Esse tratamento é realizado com auxílio de uma máquina desenvolvida especificamente para aplicação do produto, que proporciona mistura homogênea do produto com a semente, o que é fundamental para o sucesso do controle de pragas. O produto também pode ser usado para o tratamento de estruturas de armazenamento de sementes, polvilhando-se as paredes na dosagem de 25g/m2 para evitar a infestação externa de pragas.

Lorini, França-Neto e Henning abordam o controle de pragas em sementes armazenadas

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Ephestia kuehniella (acima) e Ephestia elutella (abaixo)

Expurgo das sementes

A fumigação ou expurgo é uma técnica empregada para eliminar qualquer infestação de pragas em sementes armazenadas mediante uso de gás. Esse processo pode ser realizado nos mais diferentes locais, desde que sejam observadas a perfeita vedação do local a ser expurgado e as normas de segurança para os produtos em uso. Assim, pode ser realizado em lotes de sementes, silos de concreto e metálicos, em armazéns graneleiros, em câmaras de expurgo, entre outros, observando-se sempre o período de exposição e a hermeticidade do local. O gás introduzido no interior da câmara de expurgo deve ficar nesse ambiente em concentração letal para as pragas. Por isso, qualquer saída ou entrada de ar deve ser vedada, sempre com materiais apropriados, como lona de expurgo. Para lotes de sementes ensacados, é essencial a colocação de pesos ao redor das pilhas, sobre lonas de expurgo, para garantir vedação. O inseticida indicado para expurgo de sementes, pela eficácia, facilidade de uso, segurança de aplicação e versatilidade, é a fosfina (Tabela 1). No entanto, é importante lembrar que já foram detectadas raças de pragas resistentes a esse fumigante (Lorini et al, 2007). Além disso, a temperatura e a umidade relativa do ar no armazém a ser expurgado, para uso de fosfina, são de extrema importância, pois determinarão à eficiência do expurgo. Abaixo de 10°C e inferior a 25% de umidade relativa do ar, não é aconselhável usar fosfina em pastilhas, pois a liberação do gás será prejudicada, C afetando o expurgo. Irineu Lorini, Francisco Carlos Krzyzanowski, José de Barros França-Neto e Ademir Assis Henning, Embrapa Soja



Feijão

Palhada nociva

Restos culturais oriundos do plantio anterior de feijoeiro ajudam a aumentar a incidência da antracnose na área de cultivo, com prejuízos à produtividade e consequentemente aos produtores. Uso de sementes sadias, cultivares resistentes e rotação de culturas estão entre as principais medidas recomendadas para enfrentar a doença

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A

pesar da importância para o país, a produtividade média de feijão comum (Phaseolus vulgaris) é ainda baixa, devido, principalmente, às doenças que ocorrem na cultura e entre as quais destacamse aquelas causadas por fungos. Entre os fungos potencialmente transmitidos por sementes do feijoeiro, encontra-se Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. & Mag.), agente etiológico da antracnose, doença capaz de causar perdas de até 100% no campo, quando sementes contaminadas são plantadas e ocorrem condições favoráveis ao progresso da doença durante o ciclo da cultura. As condições favoráveis para a doença ocorrer e elevar rapidamente a taxa de progresso são alta umidade (92% a 100%) e temperaturas entre 18ºC e 22ºC. A doença tem início na lavoura devido ao inóculo inicial presente nos restos culturais ou nas sementes contaminadas, que podem introduzir o patógeno em áreas isentas da doença, bem como incrementar o inóculo em outras já contaminadas, por meio da utilização consecutiva de sementes portadoras do patógeno. Geralmente, a incidência da antracnose do feijoeiro em campo é diretamente proporcional ao inóculo primário fornecido pelas sementes contaminadas. Em função da capacidade de C. lindemuthianum, um fungo necrotrófico, sobreviver de uma estação para outra ou de um cultivo ao outro, como micélio dormente dentro do tegumento da semente e também a capacidade de sobreviver em restos culturais de seis meses a aproximadamente dois anos em função das condições climáticas, estes podem constituir e/ou incrementar o inóculo primário. Patógenos de sementes têm evoluído de acordo com os diferentes tipos de associações com o hospedeiro. Tais associações abrangem relações que variam de superficiais nos tegumentos à infecção dos tecidos do embrião. A infecção de sementes por C. lindemuthianum em feijão afeta o embrião e assim esses fungos podem permanecer nas sementes enquanto estas permanecerem viáveis, o que pode garantir ao patógeno longa sobrevivência. A disseminação da doença ocorre por meio de respingos de chuvas, ventos, implementos agrícolas, homem, insetos e vários outros agentes. A maior fonte de inóculo, do ponto de vista epidemiológico, é representada pelas sementes infectadas, responsáveis pela disseminação da doença a longas distâncias. A curta distância, as transmissões podem ser realizadas por respingos da água da chuva ao disseminarem os


Fotos Ufla

Vagens e folhas de feijoeiro afetadas pela antracnose, causada por Colletotrichum lindemuthianum

esporos que se encontram embebidos em uma substância gelatinosa, solúvel em água. Esta presença de água é essencial para dissolver a massa gelatinosa característica produzida por fungos do gênero Colletotrichum. Quando estas condições ocorrem, a disseminação é mais rápida e eficiente. O homem, ao caminhar entre as plantas úmidas, colabora na disseminação do patógeno. Outros agentes disseminadores são os insetos, implementos agrícolas e animais. Um aspecto importante das espécies do gênero Colletotrichum associadas às sementes é serem transmitidas para a parte aérea da plântula, onde ocorre a esporulação em lesões características. Os esporos são disseminados e inoculados em tecidos da mesma planta e de plantas vizinhas. A partir daí, o progresso da doença pode ser rápido se o ambiente for favorável à epidemia, e quanto maior a incidência do patógeno nas sementes, maior será a porcentagem de focos no campo de cultivo. O fungo é capaz de causar sintomas em toda a planta. Nas folhas, caracterizam-se por necrose ao longo das nervuras e manchas es-

curas no limbo foliar. No pecíolo e no caule as lesões são ovaladas, deprimidas e de coloração escura, nas vagens as lesões são arredondadas, deprimidas e apresentam o centro claro, delimitado por um anel negro levemente protuberante, rodeado por um bordo de coloração laranja-avermelhada e nas sementes as lesões são escuras e, quando infectadas, apresentamse descoloradas. Trabalhos conduzidos pela Universidade Federal de Lavras, em fazenda da região, avaliaram duas áreas distintas de cultivo, uma onde a cultura do feijoeiro já havia sido plantada, portanto com restos culturais, e outra sem restos culturais, onde não havia sido plantado feijão (área de plantio de milho). Na área com restos de cultura, a incidência da antracnose na época da colheita foi de 100% nas plantas e de 72% nas vagens. A colheita mecânica foi realizada e os restos culturais permaneceram na área. Após intervalo de 42 dias, esses restos foram incorporados por meio de gradagem. A semeadura foi realizada em ambas as áreas (com e sem restos de cultura) e quando a doença começou na lavoura (aproximadamente aos 40 dias após semeadura), realizaram-se avaliações de incidência e de severidade. De acordo com os resultados, os restos de cultura (palhada) deixados na área após a colheita, contribuíram para o aumento da doença no plantio seguinte. Analisando a produção em ambas as áreas de plantio, observou-se redução de produção na área com restos em relação

à área sem restos culturais. A produção na área com restos culturais foi cerca de 32% menor em relação à área sem restos culturais, ou seja, os restos culturais interferem no progresso da doença, acarretando em redução de produção. Na região sul de Minas, em determinadas épocas do ano ocorrem temperaturas entre 15ºC e 22°C e alta umidade relativa do ar. Essas condições, aliadas ao uso de cultivares suscetíveis, favorecem o progresso da antracnose. Assim, esta doença não tem importância, quando o tempo está seco, mesmo quando as sementes estão infectadas. O controle da antracnose do feijoeiro é dificultado devido à eficiente transmissão do patógeno pela semente, da capacidade de sobrevivência durante vários meses a anos no solo e em restos culturais. As principais estratégias recomendadas para o controle desta doença são o uso de sementes sadias, cultivares resistentes e a rotação de culturas, principalmente com plantas não hospedeiras, como o milho, por dois a três anos. Estas técnicas evitam a utilização de defensivos químicos, além de praticamente não onerarem o custo de produção, embora a pulverização de fungicidas, ainda, seja C bastante empregada. Marília Goulart da Silva e Edson Ampélio Pozza, Universidade Federal de Lavras

O feijoeiro

O

Nas folhas sintomas caracterizam-se por necrose ao longo das nervuras e manchas escuras no limbo

feijoeiro, Phaseolus vulgaris, entre as fabáceas de grãos alimentícios, é a espécie mais importante para consumo in natura desse gênero, além de ser um alimento típico na mesa dos brasileiros no dia a dia, sendo de importância econômica e social para o Brasil, que é o maior produtor e consumidor mundial. Segundo a estimativa da Conab para a 1ª safra 2013/2014, a área de feijão plantada foi de 1,17 milhão de hectares, o que significa um aumento

de 4,1% em relação à safra anterior, em que a Região Sul foi responsável por 48,2% da produção, representada principalmente por Paraná, o maior produtor. A Região Sudeste foi responsável por 29,2% da produção, destacando-se Minas Gerais e São Paulo. Já na Região Centro-Oeste, 12,7%, com destaque para Goiás e os 9,9% restantes foram produzidos nas Regiões Norte/Nordeste, com destaque para os estados da Bahia e do Piauí.

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Informe

tratamento de sementes (TS) vem crescendo tanto em volume de sementes tratadas quanto em diferentes tecnologias usadas ao longo dos anos, passando desde o uso de inseticidas e fungicidas para conservação das sementes até o embelezamento/diferenciação de produtos de alto valor agregado. Na década de 90 a Rigrantec começou a atuar neste mercado com o lançamento de polímeros que permitiram a fixação de ativos com maior segurança de aplicação em TS. Com o passar dos anos a empresa incluiu as tecnologias dos corantes, micronutrientes, bioestimulantes e recentemente o pó secante para uso em TS com elevado volume de calda. No segmento de polímeros e corantes, a Rigrantec possui a linha PolySeed e ColorSeed. Os produtos PolySeed CF, 70 e 78 são polímeros incolores para o revestimento de sementes (coating) que fixam o tratamento fitossanitário aplicado, melhoram a plantabilidade, protegem a semente e o operador (que não fica exposto a poeira oriunda do tratamento). Na linha de produtos ColorSeed a empresa possui os lançamentos ColorSeed Classic, Intense e Star que são formulados para uso na calda de TS, formando na semente uma película protetora de polímero, com pigmentos coloridos microgranulares, criando uma fina barreira protetora entre a semente e o meio ambiente. Não afeta o processo germinativo, mantendo todas as características originais; aumenta a fluidez das sementes no ensacamento, facilitando a embalagem e a precisão do plantio; reduz a perda de tegumento (película protetora) das sementes, com menor formação de poeira no manuseio, protegendo as sementes das variações de temperatura e umidade, melhorando a conservação e durabilidade; destaca as sementes em relação aos concorrentes, dando maior vantagem competitiva, permitindo identificar por cores, diferentes espécies, cultivares, tratamentos ou outras diferenciações; além de melhorar a fixação de ativos sobre as sementes, especialmente nos tratamentos com pós molháveis. Todos

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possuem as mesmas características, porém o Intense tem cores mais fortes e intensas que o Classic e o Star agrega brilho aos benefícios dos dois produtos anteriores. Como complemento aos polímeros a empresa possui o PolyDry que é um pó secante mineral que proporciona rápida secagem e acabamento perolizado de extrema beleza, além de evitar início da embebição e problemas de pré-germinação pelo elevado volume de calda. No uso das sementes nas plantadeiras, pela superfície lisa e sedosa, o escoamento será extremamente facilitado, podendo ser reduzida a quantidade de grafite ou produto similar. A empresa presta, também, serviços de incrustação e peletização. A incrustação é a aplicação de material inerte e polímeros permitindo um aumento de peso das sementes, preenchimento de irregularidades e imperfeições, além da uniformização de tamanho dentro de um mesmo lote facilitando o manuseio e plantio. Já a peletização envolve o uso de maior quantidade de produtos e produz um grão de maior tamanho e forma regular,

recomendado para sementes pequenas e de alto valor agregado. Permite a incorporação de produtos como fungicidas, inseticidas, nutrientes e enraizadores. Nos últimos anos o foco da empresa na linha nutricional fez com que os micronutrientes para TS assim como os bioestimulantes como algas, aminoácidos e ácidos húmicos passassem a ter grande importância pela necessidade dos produtores em buscar maior produtividade com maior qualidade. Os produtos da Rigrantec podem ser utilizados tanto em indústria quanto pelos produtores e revendas, sem nenhum problema. Foram testados pelas maiores empresas do setor, assim como são tidos como os melhores em testes de universidades especializadas em sementes. “Na última Expodireto Cotrijal estivemos com a Grazmec, que demonstrou a eficiência de nossos polímeros, e do PolyDry no seu próprio estande, evidenciando a flexibilidade de uso independentemente do porte do maquinário utilizado”, afirmou o diretor da C Rigrantec, Nelson Azambuja.

Sedeli Feijó

O

Tratamento de sementes

Nelson Azambuja, diretor da Rigrantec, destacou parceria realizada com a empresa Grazmec

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Nossa capa

Solução sustentável

Fotos Crébio José Ávila

Pragas, doenças e plantas daninhas constituem os principais pesadelos fitossanitários enfrentados pelos produtores, pela alta capacidade de limitarem a produtividade das lavouras, quando não combatidas adequadamente. Diante de prejuízos recorrentes e de claro indício de desequilíbrio biológico nas áreas de cultivo, com explosão populacional de insetos e problemas de resistência, o caminho continua a ser o emprego do manejo integrado, com preservação de inimigos naturais e aplicação de defensivos no momento e na medida necessária

O

s problemas fitossanitários da soja podem reduzir drasticamente a produtividade, sendo os principais agentes biológicos que causam estresses na cultura as pragas, doenças e plantas daninhas, que isoladamente ou em conjunto, podem causar até 100% de perdas na produção de grãos, dependendo da intensidade de ataque e do estádio em que estes organismos ocorrem durante o desenvolvimento da lavoura. A soja pode ser atacada por pragas desde a emergência das plantas até a fase de maturação fisiológica. Os problemas iniciam-se com a presença de lagartas na cobertura vegetal a ser dessecada e os insetos de solo, seguidos pelas pragas de superfície que atacam especialmente

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as plântulas. Em seguida vêm os besouros e as lagartas que se alimentam de folhas, flores e até mesmo de vagens e, finalmente, os insetos sugadores (percevejos, mosca-branca e ácaros), que atacam as folhas ou os grãos em formação. As doenças também ocorrem desde a emergência das plantas até a fase de enchimento de grãos. As iniciais, causadas por fungos de solo, têm poder para reduzir a população de plantas, apodrecendo as sementes antes da germinação ou causando a morte das plântulas, resultando, muitas vezes, em necessidade de ressemeadura. Diversas doenças da parte aérea, causadas por fungos, bactérias e vírus, podem afetar a

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produção de soja, com perdas anuais estimadas de 15% a 20% e, na ausência de medidas de controle, podendo chegar a 100%. As plantas daninhas têm capacidade para causar perdas tanto na produtividade como na qualidade do produto final. As perdas médias de produtividade são estimadas em 25% no Brasil, sendo que a intensidade depende da densidade das infestações, da época em que ocorrem e dos períodos de convivência entre as plantas daninhas e a cultura. O manejo integrado de pragas, doenças e de plantas daninhas não tem sido adequadamente utilizado pelos produtores de soja do Brasil. A aplicação demasiada de inseticidas, fungicidas e herbicidas na cultura da soja tem


Figura 1 - Número médio de lagartas desfolhadoras pequenas e grandes/pano de batida ao longo do período de avaliação na área Esperança, em Amambai (MS), safra 2012/2013

Figura 2 - Número médio de lagartas desfolhadoras pequenas e grandes/pano de batida ao longo do período de avaliação na área Janaína, em Amambai (MS), safra 2012/2013

Seta em vermelho indica o momento da aplicação de inseticida para o controle de lagartas na cultura.

Seta em vermelho indica o momento da aplicação de inseticida para o controle de lagartas na cultura.

causado desequilíbrios biológicos nas lavouras, além do aumento do custo de produção e da contaminação do ambiente. Dessa forma, há uma necessidade urgente de se desenvolver e avaliar novas estratégias e modelos de manejo fitossanitário na cultura com o objetivo de resgatar o manejo integrado. Na safra 2012/2013 realizou-se o controle de pragas, doenças e plantas daninhas em uma área de cultivo de soja no estado de Mato Grosso do Sul, empregando-se os princípios do manejo integrado.

Caracterização da área manejada

As glebas de cultivo de soja em que o manejo fitossanitário foi implementado totalizaram 282 hectares, sendo 172 hectares pertencentes à área denominada Esperança e 110 hectares à outra denominada Janaína, ambas situadas no município de Amambai, Mato Grosso do Sul. A semeadura da soja na área Esperança foi realizada em 27/9/2012 e na área Janaína, em 29/9/2012. Em ambas as áreas foi semeada a cultivar BRS 284 na densidade de 14 sementes por metro, com adubação de 120kg/ha de Monoamônio Fosfato (MAP) na linha acrescida de 100kg/ha de cloreto de

potássio (KCl) aplicado em cobertura aos 25 dias após a emergência das plantas. As sementes de soja foram tratadas com fungicidas comerciais e com inoculante.

Monitoramento e manejo de insetos-praga e inimigos naturais

Nas duas áreas de manejo foram constatadas lagartas das espécies Chrysodeixis includens (falsa-medideira) e Anticarsia gemmatalis (lagarta-da-soja). O pico populacional observado tanto de lagartas grandes como de lagartas pequenas, em ambas as áreas de manejo, ocorreu em 13 de outubro de 2012, ocasião em que foi realizada a primeira pulverização de inseticida na cultura da soja nos dois ambientes de manejo. Após a primeira pulverização, verificouse que a densidade populacional tanto de lagartas grandes como de pequenas foi expressivamente reduzida (Figuras 1 e 2), sendo constatados níveis populacionais próximos de zero nas duas avaliações consecutivas à pulverização. Após esse período, a população de lagartas (grandes e pequenas) permaneceu baixa nas duas áreas, não demandando outras pulverizações.

Foram constatados dois picos populacionais de percevejos fitófagos, nas duas áreas (Figuras 3 e 4). Na área Esperança, os picos foram verificados em 20/11/2012 e 3/1/2013 (Figura 3), e na área Janaína, em 20/11/2012 e 27/12/2012 (Figura 4). Após a constatação de cada pico, foi realizada a aplicação de inseticida. Depois das pulverizações, as densidades populacionais de percevejos foram reduzidas para menos de 0,5 percevejo/ pano de batida. O segundo pico populacional do percevejo foi superior ao primeiro e após a segunda pulverização, a população do inseto caiu drasticamente nas duas áreas de manejo e em poucos dias a soja atingiu o estádio de maturação fisiológica (R6), a partir do qual as plantas não são mais suscetíveis ao ataque da praga. Nas duas áreas foram constatadas também altas densidades populacionais de predadores durante o período das amostragens (Figuras 5 e 6). Os predadores observados nas áreas foram representados por aranhas (39,8%), Geocoris sp. (56,6%) e Tropiconabis sp. (3,6%). Após a pulverização dos inseticidas para lagartas, a densidade populacional de predadores não foi reduzida (Figura 6). No entanto,

Figura 3 - Número médio de percevejos/pano de batida ao longo do período de avaliação na área Esperança, em Amambai (MS), safra 2012/2013

Figura 4 - Número médio de percevejos/pano de batida ao longo do período de avaliação na área Janaína, em Amambai (MS). Safra 2012/2013

Setas em vermelho indicam o momento das aplicações de inseticidas na cultura para o controle de percevejos.

Setas em vermelho indicam o momento das aplicações de inseticidas na cultura para o controle de percevejos.

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Figura 5 - Número total de predadores (em 20 batidas de pano)observados ao longo do período de avaliação na área Esperança, em Amambai (MS), safra 2012/2013

Figura 6 - Número total de predadores(em 12 batidas de pano)observados ao longo do período de avaliação na área Janaína, em Amambai (MS), safra 2012/2013

Setas verde e vermelha indicam o momento das aplicações de inseticidas na cultura para o controle de lagartas e percevejos, respectivamente.

Setas verde e vermelha indicam o momento das aplicações de inseticidas na cultura para o controle de lagartas e percevejos, respectivamente.

quando foram aplicados os inseticidas para o controle de percevejos, as densidades populacionais de predadores foram drasticamente diminuídas na cultura da soja para as duas épocas de pulverização e nos dois ambientes de manejo. A utilização de inseticidas seletivos para o controle de lagartas nos estádios iniciais de desenvolvimento da soja é de fundamental importância para o sucesso do manejo integrado na cultura. Essa atitude favorece o estabelecimento e o desenvolvimento dos inimigos naturais no agroecossistema. O controle de pragas na soja transcorreu de maneira eficaz e econômica, pois o combate de lagartas foi concluído empregando-se apenas uma aplicação de inseticida na cultura, enquanto que para o manejo de percevejo foram necessárias duas aplicações, totalizando apenas três aplicações para manejo dessas pragas. Tradicionalmente, um número bem maior de pulverizações tem sido realizado para o controle de pragas na cultura da soja, especialmente em áreas onde o manejo integrado não é empregado. Os resultados deste monitoramento podem ser modelo para ações de transferência de tecnologia sobre manejo de pragas da soja. O monitoramento e a correta tomada de decisão podem proporcionar consequências desejáveis do ponto de vista econômico, ecológico e social.

nos cotilédones eram provenientes de dano mecânico ou de outros fatores que não a incidência de doenças. Quando as plantas encontravam-se no estádio R2 (pleno florescimento), observou-se severidade de mancha-parda entre 10% e 15% nas folhas do terço inferior, em parte da área denominada Esperança. Segundo o produtor, naquela área a fertilidade do solo é menor que nas demais avaliadas. Desequilíbrios nutricionais e baixa fertilidade podem tornar as plantas mais suscetíveis a esta doença. Nessa ocasião, recomendou-se a aplicação de fungicida para o controle da doença somente na área de menor fertilidade, para evitar excessiva queda de folhas e posterior abortamento de flores e vagens. Foram utilizados dois fungicidas distintos, em faixas alternadas, sendo ambos eficientes no controle da doença. A próxima intervenção para controle de doenças foi realizada quando as plantas encontravam-se no estádio R5.2 de desenvolvimento, com misturas formuladas de fungicidas. Os fatores que motivaram a aplicação do fungicida foram: a) ressurgência da mancha-

parda em toda a área, com severidade próxima de 10% nas folhas do terço inferior das plantas; b) relatos de ocorrência de ferrugem-asiática em lavouras em municípios próximos; c) a aplicação de fungicidas promoveria proteção das plantas contra doenças aproximadamente até o final do enchimento de grãos; d) previsão de normalização das chuvas nos dias subsequentes. A última avaliação realizada antes dessa aplicação de fungicida foi em 11 de dezembro, com as plantas em R5.1. Já se contavam 13 dias desde a última chuva na lavoura e as plantas começavam a apresentar sintomas de murcha. Assim, recomendou-se a aplicação de fungicida após a próxima chuva, sendo realizada em 19 de dezembro, com as plantas no estádio R5.2. O monitoramento da lavoura continuou em intervalos semanais, até o estádio R5.5. Não foi observada incidência da ferrugemasiática até esta fase de desenvolvimento e a mancha-parda foi mantida sob controle. No estádio R5.3 observaram-se sintomas esparsos de mancha-alvo e antracnose em folhas, na

Figura 7 - Número e massa seca de plantas daninhas em função da área avaliada, com base na avaliação de superfície na pós-emergência inicial da cultura da soja convencional

Figura 8 - Número e massa seca de plantas daninhas em função da área avaliada, com base no estudo do banco de sementes do solo, coletado na pós-emergência inicial da cultura da soja convencional

Monitoramento e manejo de doenças iniciais e tardias

Durante o monitoramento até os 30 dias após a semeadura, não foi observada a incidência de doenças nas plantas de soja. Isso se deve provavelmente a dois fatores: eficiência do fungicida utilizado no tratamento de sementes e ausência ou baixa população no solo dos patógenos envolvidos no complexo das doenças iniciais da soja. Não foi observado crescimento de patógenos nos cotilédones coletados no campo, indicando assim que as lesões observadas

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C


área de maior fertilidade, denominada Janaína. Os sintomas não evoluíram até o estádio R5.5 e nenhum sinal da doença nas vagens foi observado. Após a última avaliação da lavoura, o produtor foi orientado a não realizar mais nenhuma aplicação de fungicida na área monitorada, pois a formação dos grãos já estava concluída e as folhas e vagens apresentavam aspecto saudável.

Monitoramento e manejo de plantas daninhas

As áreas avaliadas foram sempre cultivadas com soja convencional em sistema de integração lavoura-pecuária, com ciclo de dois anos. Antes da semeadura, a área total foi dessecada. A avaliação de ocorrência de plantas daninhas foi realizada na pósemergência inicial da cultura. A análise de nível de infestação (Figuras 7 e 8) indicou nível médio de ocorrência de plantas daninhas. A análise de superfície (Figura 7) apontou nível de infestação equivalente entre as áreas, exceto para Esperança 1. A análise do banco

Fotos Crébio José Ávila

Figura 9 - Análise multivariada de agrupamento de áreas por similaridade de infestação, com base na avaliação de superfície, pelo método UPGMA e coeficiente de Jaccard. Coeficiente de correlação cofenética: 0,87

Lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens), uma das pragas agressivas em soja

Percevejo Euschistus heros, outro desafio que afeta lavouras brasileiras

de sementes, por outro lado, constatou que as áreas Janaína 1 e 2 apresentaram maior potencial de infestação (Figura 8), o que pode demandar manejo mais apurado das plantas daninhas nesta área devido à alta habilidade de reinfestação a partir do banco de sementes do solo. O levantamento de ocorrência de plantas daninhas feito no campo (Figura 7) foi decomposto por espécie daninha, sendo apresentados os Valores de Importância de Infestação (V.I.%) na Tabela 1. O V.I.% considera o potencial da espécie de produzir descendentes e ocupar a lavoura (abundância da espécie), a sua distribuição relativa na área de cultivo (frequência) e a capacidade dos indivíduos da espécie de acumular massa seca e dominar as plantas das demais espécies (dominância). Nas áreas “Janaína” (1 e 2), as duas espécies daninhas mais importantes foram o caruru (Amaranthus retroflexus) e o capimamargoso (Digitaria insularis). Nas áreas Esperança (1 e 2), no entanto, o caruru foi substituído pelo picão-preto (Bidens pilosa), que ao lado do capim-amargoso ocupou posição de destaque quanto à importância

de infestação (Tabela 1). O picão-preto foi responsável por até 49% da infestação na área Esperança 1, o que, aliado ao maior nível de infestação desta área (Figura 7), indica necessidade de integração de métodos de controle, aliada à aplicação de herbicidas para reduzir a ocorrência desta espécie. As análises de similaridade indicaram semelhança de 86% na composição de espécies daninhas para as áreas Janaína 1 e 2, enquanto Esperança 1 e 2 foram agrupadas à parte, com 63% de semelhança na composição da infestação (Figura 9). O manejo de cada área está selecionando determinadas espécies daninhas, que passam a predominar na área por estarem adaptadas ao sistema de manejo adotado. No entanto, o manejo adotado nos últimos anos pelo produtor foi suficientemente diversificado e sustentável para eliminar algumas das C espécies daninhas da área. Crébio José Ávila, Alexandre Dinnys Roese, Germani Concenço e Augusto Cesar Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste

Tabela 1. Valor de Importância (V.I.%) de espécies daninhas constatadas na avaliação de superfície por ocasião da avaliação em pós-emergência inicial da cultura da soja convencional, no Município de Amambai (MS) Espécie

Plantas daninhas, como o capim-amargoso (Digitaria insularis) também são entrave à produtividade

Amaranthus retroflexus Amaranthus viridis Avena sativa Bidens pilosa Conyza bonariensis Digitaria insularis Eleusine indica Euphorbia heterophylla Ipomoea spp. Richardia brasiliensis Sida spp.

Janaina 1 Janaina 2 Esperança 1 Esperança 2 Levantamentos de superfície (V.I.%) 1,74 26,23 2,13 30,8 0 1,56 0 0 6,33 0 0 0 34,16 24,15 49,57 9,58 17,56 0 1,7 0 33,35 30,25 35,23 31,85 0 0 4,21 0 0 8,52 4,85 5,11 0 3,54 0 19,06 6,86 0 2,31 0 0 5,73 0 3,6

NOTA: Células marcadas com fundo colorido (██) indicam as espécies daninhas mais importantes em cada área avaliada, com base nos seus valores de importância (V.I.%).

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Soja e Feijão

Patógeno letal

Fotos Crébio José Ávila

Com poder de fogo para levar plantas à morte o mofo-branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença agressiva, responsável por perdas severas em lavouras de culturas como soja e feijão. Tratar sementes com fungicidas é uma prática importante na prevenção desse patógeno

S

clerotinia sclerotiorum, agente causal do mofo-branco, vem acarretando danos em muitas espécies vegetais de importância econômica. Estima-se que aproximadamente 408 espécies vegetais são suscetíveis a este patógeno, como soja, feijão, algodão e girassol. O principal meio de propagação deste patógeno são os ascósporos, esporos sexuais do fungo produzidos em apotécios, que são

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frutificações formadas a partir de estruturas rígidas, denominadas escleródios que, por sua vez, são disseminadas por meio de solo contaminado (em equipamentos agrícolas, calçados, mudas infectadas), adubação com esterco de animais alimentados com restos de plantas infectadas, irrigação e sementes contaminadas ou infectadas. Neste último caso o micélio dormente do fungo pode estar presente no interior das sementes de onde

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pode dar início ao processo de infecção. Na cultura da soja, as perdas na produção têm atingido valores expressivos no Brasil, com relatos de níveis de até 60% nas safras dos últimos cinco anos. O mofo-branco causa danos em grande escala principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. O fungo causador desta doença provoca danos como estrangulamento do colo em plântulas ou seca de ramos em plantas adultas, levando à morte em ambos os casos. É um patógeno que infecta as plantas invadindo o espaço inter e intracelular dos tecidos vegetais, provocando a formação de manchas aquosas, com consequente murcha e morte das plantas. Os sintomas do mofo-branco caracterizam-se por crescimento do micélio branco, com lesões inicialmente encharcadas que se espalham rapidamente para haste, ramos, folhas e vagens/inflorescências e que, com o passar do tempo, adquirem coloração amarronzada. Em poucos dias, parte do micélio transformase em uma massa negra, rígida, que forma os escleródios. Estes variam, em tamanho, de poucos milímetros a alguns centímetros, e são formados tanto na superfície como no interior da haste e das vagens infectadas. As folhas acima da região afetada podem murchar ou amarelecer. As sementes atacadas perdem o brilho, tornam-se opacas e de peso reduzido. O período crítico da doença vai do florescimento até a formação e enchimento das vagens, no caso de soja e feijão. No Brasil, o mofo-branco tem adquirido importância devido a recentes epidemias ocorridas na cultura da soja, principalmente em regiões onde ocorrem condições climáticas amenas na safra de verão (região Sul, chapadas dos cerrados, acima de 800m de altitude) ou, mesmo, em anos de ocorrência de chuvas acima da média. A infecção de plantas pode ocorrer através de micélio ou ascósporos, ou seja, os escleródios germinam, produzindo apotécios que liberam os ascósporos. Cada escleródio pode produzir de um a mais de 20 apotécios. Cada apotécio pode liberar mais de dois milhões de ascósporos, durante um período de cinco dias a dez dias. Essas características demonstram o grande poder reprodutivo de S. sclerotiorum e o perigo do aumento do inóculo, podendo, assim, infestar áreas de produção agrícolas. A alta capacidade de reprodução, por meio da formação de escleródios com capacidade de sobreviver no solo, também chama a atenção. Estudos recentes realizados nas regiões do Sul do Brasil mostram que os escleródios nem


Fotos Willian Zancan e José da Cruz Machado

Apotécio formado a partir de escleródio de S. sclerotiorum na cultura da soja

sempre permanecem viáveis por períodos superiores a 12 meses, mas mesmo assim tornam estas estruturas de resistência um dos componentes centrais na epidemiologia desse patógeno. Assim, a forma de disseminação do patógeno através do micélio dormente no interior das sementes acaba não tendo a devida atenção quanto aos aspectos de importância e à comercialização destas sementes, em geral não certificadas. Este fato tem sido, com certeza, um dos principais fatores responsáveis pela disseminação do agente da doença em foco ao longo destes últimos anos no Brasil. Vale salientar que estudos recentes realizados em condições controladas mostram que a partir de sementes infectadas (micélio no interior das tecidos) a doença se fortalece não só pelas per-

Sintomas de S. sclerotiorum em diferentes fases de desenvolvimento da soja

das diretas e crescentes de produção em cada safra como também pela formação de novos escleródios que permanecem no solo.

Métodos de detecção de Sclerotinia sclerotiorum em sementes

Uma das medidas mais importantes de controle do mofo-branco é a utilização de sementes livres da presença de escleródios e de micélio de S. sclerotiorum no seu interior. As propostas de padrões de tolerância deste patógeno em amostras de sementes de soja, feijão, algodão e girassol, já discutidas para as condições brasileiras, recomendam o valor zero para as diferentes classes de certificação destas sementes, não admitindo a presença deste organismo junto às sementes. Nesse

sentido é preciso que algumas correções sejam ainda realizadas para incluir nas proposições existentes a análise de sementes por meio de métodos de incubação ou moleculares. A inspeção de amostras para avaliar apenas a presença de escleródio contaminante é, portanto, um procedimento insuficiente e inseguro para garantir a boa qualidade sanitária das sementes em relação ao patógeno em foco. Atualmente, ao lado do método de Rolo de Papel, um dos testes recomendados nas Regras para Análise de Sementes no Brasil para detecção de S. sclerotiorum em sementes de soja e feijão é a incubação em meio semisseletivo ágar-bromofenol – Neon. As placas contendo as sementes são acondicionadas em câmara de incubação com temperatura


Tabela 1 - Principais fungicidas utilizados para o tratamento de sementes de soja Produto comercial Captan 750 TS Rhodiauran 500 SC Euparen M 500 WP Derosal 500 SC Derosal Plus Protreat Vitavax + Thiram WP Vitavax + Thiram 200 SC Spectro Maxim XL Standak Top Tecto 100 (WP e SC) Cercobin 700 WP Cercobin 500 SC Topsin 500 SC Certeza

Ingrediente ativo captan thiram tolylfluanid carbendazin carbendazin + thiram carbendazin + thiram carboxin + thiram carboxin + thiram difenoconazole fludioxonil + metalaxyl – M piraclostrobina + tiofanato metílico + fiproni thiabendazole tiofanato metílico tiofanato metílico tiofanato metílico tiofanato metílico + tluazinam

Grupo químico dicarboximida dimetilditiocarbamato fenilsulfamida benzimidazol benzimidazol + dimetilditiocarbamato benzimidazol + dimetilditiocarbamato carboxanilida + dimetilditiocarbamato carboxanilida + dimetilditiocarbamato triazol fenilpirrol + acilalaninato estrobilurina + benzimidazol + pirazol benzimidazol benzimidazol benzimidazol benzimidazol benzimidazol + fenilpiridinilamina

Concentração I.A. 750 g/kg 500 g/L 500 + 500 g/kg 500 g/L 150 + 350 g/L 150 + 350 g/L 375 + 375 g/kg 200 + 200 g/L 150 g 25 + 10 g/L 25 + 225 + 250 g/L 485 g/L ou 600 g/kg 700 g/kg 500 g/L 500 g/L 350 + 52,5 g/L

Dose/100 kg de sementes 120 g 140 mL 100 g 60 mL 200 mL 200 mL 200 g 250 mL 33 mL 100 mL 200 mL 170 g ou 31 mL 100 g 140 mL 140 mL 180 a 215 mL

Fonte: XXXI Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. São Pedro (SP). Agosto/2011.

de 20ºC e fotoperíodo de 12 horas. A partir do terceiro dia de incubação, as sementes são examinadas com o intuito de detectar ao seu redor a formaçãode halos amarelos, indicativo da presença de S. sclerotiorum. Caso haja necessidade, as sementes podem ser analisadas com auxílio do microscópio esteroscópico quanto ao crescimento de micélio característico e presença de escleródios de S. sclerotiorum. As técnicas moleculares, principalmente a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), surgem como um método eficaz e que pode ser utilizado em conjunto com esquemas de análise laboratoriais para a detecção micelial do fungo localizado no interior das sementes de soja.

fungicidas apresentaram desempenho superior e significativo em relação a sementes não tratadas. Por meio deste tratamento observa-se ganhos expressivos de estandes, além da redução do inóculo do fungo que seria uma fonte posterior para novos ciclos infectivos da doença. De modo geral, sementes tratadas com misturas de produtos protetores e sistêmicos, devidamente registrados para o tratamento de sementes das culturas referenciadas têm sido uma forma das mais importantes no manejo do mofo-branco e outras doenças. Misturas, envolvendo produtos do grupo dos benzimidazóis, como carbendazim, thiabendazol, tiofanato metílico com produtos thiram, fluzinam, estrobilurinas etc. Vale salientar que o desempenho do tratamento químico de sementes para controle de doenças é influenciável por diversos fatores bióticos e abióticos, sendo o nível de ocorrência do patógeno nas sementes infectadas um fator biótico da maior relevância para o sucesso deste tipo de tratamento. Ao lado das características físicas e fisiológicas das sementes, além de outros aspectos tecnológicos e operacionais que envolvem este tipo de tratamento, o

O tratamento de sementes com fungicidas tem sido uma prática que oferece garantia adicional ao estabelecimento da lavoura a custos reduzidos. Além de controlar patógenos importantes transmitidos pelas sementes, o tratamento é uma prática eficaz para assegurar populações adequadas de plantas em campos de cultivos, quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são desfavoráveis à germinação e à rápida emergência, deixando-as expostas por mais tempo a organismos habitantes do solo que podem causar a morte de sementes e plântulas. O tratamento de sementes também é de fundamental importância para evitar a introdução de S. sclerotiorum em áreas de cultivo. Fungicidas do grupo dos benzimidazóis, associados a produtos protetores de outros grupos, têm se mostrado eficazes na redução da disseminação e transmissão do fungo por meio de micélio dormente nas sementes. Estudos recentes realizados com sementes de soja e feijão artificialmente infectadas por S. sclerotiorum mostram, de modo geral, que sementes tratadas com o ingrediente ativo de

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Willian Zancan

Tratamento de sementes

Alteração na coloração do meio Neon proporcionada pela presença do fungo S. sclerotiorum

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conhecimento prévio do perfil sanitário do lote a ser tratado é imprescindível para o direcionamento correto do tratamento das sementes para o controle de patógenos e outras finalidades que esta operação permite agregar. É importante destacar que as sementes começam rapidamente os processos de germinação e emergência quando semeadas em solos com boa oferta de água e temperaturas adequadas, porém, quando essas condições não são satisfatórias, as sementes ficam expostas à ação de microrganismos presentes no solo, e estes podem provocar sua deterioração. O tratamento de sementes com fungicidas nestas condições torna-se imprescindível, pois promove uma zona de proteção ao redor das mesmas contra os microrganismos nocivos do solo. A ação de S. sclerotiorum nas sementes como fonte de inóculo primário nas lavouras de soja e outros hospedeiros, associada ao nível de severidade, representa um desafio para o tratamento de sementes, com o objetivo de erradicar o inóculo nestas condições. Os resultados deste estudo indicam que a infecção micelial por S. sclerotiorum no interior das sementes torna-se um risco para os produtores, principalmente em elevados potenciais de inóculo. Finalmente, é preciso lembrar que o teste de sanidade de sementes, conforme recomendado nas normas existentes para esta finalidade nas Regras para Análise de Sementes no país, deve ser realizado antes do tratamento de sementes, sendo os resultados desta análise a base para que a assistência técnica envolvida no sistema produtivo regional possa orientar C de forma adequada estas questões. Marciel Pereira Mendes, Willian Luís Antônio Zancan e José da Cruz Machado, Univ. Federal de Lavras, Ufla


Algodão Círculo Verde

Contra o bicudo

Principal praga a atingir o algodoeiro, Anthonomus grandis provoca queda de botões florais, afeta flores e destrói internamente maçãs, sendo responsável por prejuízos graves à cultura. Manejar esse inseto exige medidas integradas, que incluem a correta aplicação de inseticidas

A

Bahia é o segundo maior estado produtor de algodão com previsão de incremento da área cultivada para a safra 2013/14 da ordem de 17,3% em relação ao ano anterior, passando de 271,4 mil para 318,4 mil hectares cultivados. A expectativa para produção é de 1.204 toneladas e produtividade de 3.780kg/ha, o que poderá ser considerada safra recorde na região (Conab, 2014). Entre os fatores que podem prejudicar a produtividade do algodoeiro está o bicudo (Anthonomus grandis), atualmente considerado a praga de maior importância econômica em todas as regiões produtoras desta cultura no país. Este inseto-praga provoca queda de botões florais e flores e impede a abertura normal das maçãs, destruindo-as internamente. Devido ao

seu ataque, a lavoura de algodão perde a carga, apresenta grande desenvolvimento vegetativo, fica bem enfolhada, mas sem produção (Santos, 1999; Gallo et al, 2002). No cerrado do oeste da Bahia a introdução do bicudo ocorreu já nos primeiros anos de cultivo do algodão na região, em meados de 1993/94, possivelmente através do transporte de material vegetal e/ou equipamentos contendo a praga proveniente de estados do Nordeste, onde sua ocorrência já havia sido constatada. O aumento da área infestada pelo bicudo acompanhou a expansão do cultivo da fibra na região. O controle do bicudo deve envolver medidas integradas de manejo, que incluem a utilização de inseticidas químicos. Diversos produtos estão disponíveis no mercado, mas, se faz necessário testar sua

eficiência de controle. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes inseticidas e/ou doses no controle do bicudo do algodoeiro. Para isso, foram conduzidos dois ensaios na safra 2012/2013 no Campo de Validação da Círculo Verde Assessoria Agronômica & Pesquisa, em Luís Eduardo Magalhães/Bahia.

O primeiro ensaio

Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com sete tratamentos e quatro repetições, sendo os tratamentos constituídos por sete diferentes inseticidas, aplicados uma única vez, conforme apresentado na Tabela 1. O ensaio foi realizado em bandejas plásticas retangulares de 30cm x 40cm, onde foram colocados sete bicudos/

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Tabela 1 - Tratamentos e respectivos inseticidas (nome comercial), ingredientes ativos e doses testadas no Ensaio 1. Círculo Verde, safra 2012/13 Tratamentos Inseticidas T1 Bulldock 125 SC T2 Fury 200 EW T3 KarateZeon 250CS T4 Nexide T5 Paracap350 CS T6 Malathion 1000 EC T7 Fipronil 800WG

Ingrediente ativo Doses (ml ou g/ha) 100 Beta-ciflutrina 280 Zeta-cipermetrina 120 Lambda-cialotrina 150 Gama-cialotrina 1.200 Parationa metílica 1.000 Malationa 50 Fipronil

Tabela 2 - Tratamentos e respectivos inseticidas (nome comercial), ingredientes ativos e doses testadas no Ensaio 2. Círculo Verde, safra 2012/13 Tratamentos Inseticidas T1 Testemunha T2 Fury 200 EW T3 Fury 200 EW T4 Bulldock 125 SC T5 Bulldock 125 SC T6 Nexide T7 Nexide T8 Malathion 1000 EC

Ingrediente ativo Doses (ml ou g/ha) ----280 Zeta-cipermetrina 420 Zeta-cipermetrina 100 Beta-ciflutrina 150 Beta-ciflutrina 150 Gama-cialotrina 225 Gama-cialotrina 1.000 Malationa

Tabela 3 - Porcentagem de bicudo do algodoeiro morto em função dos tratamentos em diferentes tempos de avaliação. Círculo Verde, safra 2012/13 Tempo após a aplicação dos tratamentos 24 horas 1 hora 48 horas 13,0 c 0,0 a 25,0 b T1.Testemunha 40,0 b 3,0 a 58,0 b T2. Zeta-cipermetrina(280 mL) 18,0 c 0,0 a 75,0 a T3.Zeta-cipermetrina(420 mL) 5,0 c 0,0 a 30,0 b T4.Beta-ciflutrina(100 mL) 23,0 c 0,0 a 78,0 a T5.Beta-ciflutrina(150 mL) 18,0 c 0,0 a 53,0 b T6. Gama-cialotrina (150 mL) 40,0 b 0,0 a 68,0 a T7.Gama-cialotrina (225 mL) 100,0 a 0,0 a 100,0 a T8.Malationa(1.000ml) 27,18 12,65 18,84 CV (%) Tratamentos

Obs. Letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância. Dados transformados segundo √x + 0,5.

aplicação, os inseticidas formaram dois grupos estatísticos, sendo o de melhor controle representado por parationa metílica (100%), malationa (100%), fipronil (100%), zeta-cipermetrina (82%) e lambda-cialotrina (75%) (Figura 3). O desempenho de cada produto para o controle de A. grandis ao longo do tempo após a aplicação pode ser visualizado na Figura 2. Conforme apresentado anteriormente, a maioria dos inseticidas propiciou o início da mortalidade 30 minutos após a sua aplicação, como lambda-cialotrina, parationa metílica, malationa e fipronil. No entanto, a mortalidade do inseto ao se utilizar beta-ciflutrina e gama-cialotrina só foi verificada após 24 horas, e 48 horas para zeta-cipermetrina.

Segundo ensaio

Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com oito tratamentos (inseticidas e doses) e quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos de quatro diferentes inseticidas, sendo três avaliados em duas doses, todos aplicados uma única vez, e mais uma testemunha, que não recebeu aplicação de inseticida (Tabela 2). Semelhante ao primeiro ensaio, também foram utilizadas bandejas plásticas de 30cm x 40cm, mas revestidas internamente com folhas de algodão colhidas momentos antes da aplicação. Para cada tratamento foram utilizadas quatro bandejas, que representaram as repetições. A distribuição das bandejas, a aplicação dos tratamentos e a cobertura das bandejas com tecido tipo voil neste ensaio seguiram a mesma metodologia do Ensaio 1. Após a aplicação dos tratamentos foram liberados dez bicudos/ bandeja, coletados da área experimental

Fotos Círculo Verde

bandeja, coletados da área experimental da Círculo Verde no dia da aplicação dos tratamentos. Para cada tratamento foram utilizadas quatro bandejas, que

representaram as repetições. Para a aplicação dos tratamentos, inicialmente as bandejas foram distribuídas paralelamente em uma superfície plana, distanciadas de 0,50m entre elas, de modo a simular quatro linhas de semeadura com espaçamento de 0,50cm, e então pulverizadas com os inseticidas (tratamentos) utilizando-se um pulverizador costal pressurizado a CO2, com quatro pontas de pulverização tipo leque 11002, pressão de 4bar e volume de calda equivalente a 200L/ha. Após a aplicação dos tratamentos, as bandejas foram cobertas por um tecido de voil para impedir a saída dos insetos-pragas. As avaliações consistiram da contagem do número de insetos mortos aos 30 minutos, uma hora, 24 horas e 48 horas após a aplicação dos inseticidas. Posteriormente foi calculada a porcentagem de mortalidade do bicudo em cada tratamento, sendo os dados submetidos à análise de variância e as médias obtidas comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Nas avaliações aos 30 minutos e uma hora após a aplicação dos tratamentos apenas quatro inseticidas foram capazes de promover a mortalidade do bicudo, em valores crescentes, sendo Lambdacialotrina (18% e 21% de mortalidade), Parationa metílica (25% e 43%), Malationa (15% e 25%) e Fipronil (4% e 7%) (Figura 1). Com 24 horas após a aplicação, três dos inseticidas apresentaram mortalidade superior a 90%, sendo eles fipronil (93%), parationa metílica e malationa (100%), enquanto os demais com valores inferiores a 40% (beta-ciflutrina, lambda-cialotrinae gama-cialotrina) e apenas um deles, zeta-cipermetrina, sem mortalidade. Com 48 horas da

Bandejas plásticas com os bicudos antes da aplicação dos tratamentos

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Bandejas cobertas com tecido voil após a aplicação dos tratamentos


Figura 1 - Porcentagem de mortalidade do bicudo sob efeito de diferentes inseticidas aos 30 minutos, uma hora, 24 horas e 48 horas após a aplicação. Círculo Verde, safra 2012/2013. (cores iguais em cada coluna e horário de avaliação não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância. Dados transformados segundo √x + 0,5. CV30 min = 98,57%; CV1h = 72,86%; CV24hs = 35,05%; CV48hs = 17,10%).

da Círculo Verde no dia da aplicação dos tratamentos. A contagem do número de bicudos vivos e mortos foi realizada uma hora, 24 horas e 48 horas após a aplicação dos inseticidas. Considerando todos os inseticidas testados, independentemente da dose, na avaliação de uma hora após a aplicação não foram encontrados insetos mortos, exceto para zeta-cipermetrina (280ml) com média de 0,3 inseto morto. A mortalidade do bicudo nos demais tratamentos somente foi observada a partir de 24 horas, destacando-se malationa com 100% de mortalidade (dez insetos mortos), seguido de zeta-cipermetrina e gama-cialotrina com 40% (Tabela 3). Na avaliação às 48 horas, quatro tratamentos diferiram significativamente da Testemunha, sendo malationa (1.000ml) e as maiores doses de zeta-cipermetrina (420ml), beta-ciflutrina (150ml) e gamacialotrina (225ml) com valores de controle entre 68% (gama-cialotrina) e 100% (malationa), evidenciando o efeito direto do aumento de dose na mortalidade do inseto. Em uma análise conjunta dos dois ensaios, ficou evidente a consistência nos resultados para malationa (1.000ml),

fipronil (50g) e parationa metílica (1.200ml) destacando-se como produtos com boa eficiência de controle de A. grandis. Já os produtos zeta-cipermetrina, beta-ciflutrina e gama-cialotrina apresentaram melhor performance em suas doses mais elevadas, 420ml/ha, 150ml/ C ha e 225ml/ha.

Mônica Cagnin Martins, Elisangela Kischel, Fernando Fumagalli, Genivaldo Batista dos Santos e Pedro Brugnera, Círculo Verde Ass. Agron. & Pesq. Marco Antonio Tamai, Uneb, Campus IX

Figura 2 - Mortalidade do bicudo do algodoeiro sob efeito de diferentes inseticidas e períodos após sua aplicação. Círculo Verde, safra 2012/2013

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Trigo Fotos Divulgação

Antes e depois

O custo com controle de plantas daninhas, somado aos prejuízos provocados por problemas com resistência à aplicação de herbicidas, tem onerado fortemente o bolso dos produtores de trigo nas últimas safras. Para enfrentar esse entrave, medidas adequadas precisam ser adotadas tanto na pré-semeadura como na pós-emergência da cultura

U

m dos entraves para expansão da área cultivada com cereais de inverno no Sul do Brasil tem sido a alta infestação de plantas daninhas nas lavouras. As principais espécies daninhas existentes em lavouras de trigo da região Sul do Brasil são as gramíneas Lolium multiflorum (azevém) e Avena strigosa (aveia-preta). Já entre as folhas largas de maior ocorrência estão Raphanus raphanistrum e R. sativus (nabo ou nabiça), Vicia spp. (ervilhaca), Polygonum convolvulus (cipó-de-veado ou erva-de-bicho), Rumex spp. (língua-de-vaca), Echium plantagineum (flor roxa), Bowlesia incana (erva salsa), Sonchus

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oleraceus (serralha), Silene gallica (silene), Spergula arvensis (gorga ou espérgula) e Stellaria media (esparguta). Em anos em que o inverno não é rigoroso (sem ocorrência de geadas fortes) ocorrem também outras plantas daninhas de folhas largas, mais comuns no verão, como Bidens pilosa (picão preto), Ipomoea spp. (corriola) e Richardia brasiliensis (poaia) e plantas de soja ou milho.

Controle antes da semeadura do trigo

O número de moléculas herbicidas registradas para controle (dessecação) de plantas

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daninhas, antecedendo a semeadura de trigo, é considerado pequeno. Os herbicidas disponíveis para uso são 2,4-D, metsulfuron-metil, glifosato, paraquate e diuron. Enquanto os dois primeiros controlam essencialmente plantas dicotiledôneas (folhas largas), glifosato e paraquate são herbicidas totais, controlando tanto dicotiledôneas quanto gramíneas. Em áreas com elevada frequência de guanxuma (Sida spp.), a utilização de metsulfuron e glifosato na dessecação antes da semeadura de trigo tem sido uma alternativa mais eficiente do que a aplicação isolada dos herbicidas. Já áreas infestadas com plantas adultas de poaia


e corriola o 2,4-D é indispensável. A ocorrência de buva e azevém resistentes ao glifosato e de azevém resistente aos graminicidas e inibidores da ALS, é um problema para o sistema de produção. Essas espécies resistentes se dispersaram rapidamente e o cultivo de trigo pode ser oportunidade de controle. As sementes de buva e azevém podem germinar após a colheita das culturas de verão e se desenvolver até antes da semeadura do trigo. Além disso, as sementes de soja ou milho resistente ao herbicida glifosato e/ou soja tolerante aos inibidores da ALS (como a soja STS), resultante das perdas de colheita mecanizada, também podem originar plantas que se constituem em planta daninha importante e deve ser controlada antes da semeadura do trigo. Nessa condição, as plantas de buva, de soja ou milho são de pequeno porte, o que facilita muito seu controle. Geralmente, o controle eficiente de buva e soja pode ser obtido antes da semeadura do trigo, com o uso de glifosato associado com o metsulfuron-metil ou com o 2,4-D, já as plantas de milho e azevém podem ser controladas com graminicidas associados ao glifosato. Na pós-emergência do trigo os herbicidas iodosulfuron-metil e metsulfuron são eficientes no controle da buva e plantas voluntárias de soja resistentes ao glifosato, já, se a soja for resistente aos inibidores da ALS, do tipo STS, somente o 2,4-D irá controlar. Para controlar azevém (resistente a ALS) e milho na pósemergência do trigo, o herbicida clodinafoppropargil é alternativa eficiente. O azevém representa atualmente a espécie daninha de mais difícil controle nas lavouras do Rio Grande do Sul. O azevém resistente

somente ao glifosato pode ser controlado com Controle após a emergência do trigo herbicidas graminicidas “fops e dims” (Tabela O controle de plantas daninhas após a 1). Haloxyfop, clethodim, fenoxaprop, flua- emergência do trigo é realizado em geral com zifop e sethoxydim são exemplos altamente o herbicida iodosulfuron-metil. Contudo, o eficientes sobre o azevém. Vale destacar que controle de folhas largas pode ser realizado alguns desses graminicidas, como o haloxyfop, também com os herbicidas bentazon, 2,4-D, podem apresentar efeito residual e afetar a cul- e metsulfuron-metil (Tabela 2). Esses herbicitura do trigo. Recomenda-se que a aplicação das de forma geral controlam eficientemente dos “fops” ocorra 20 dias antes da semeadura as plantas daninhas de folhas largas que do trigo e a aplicação dos “dims” dez dias ocorrem na cultura do trigo. Os herbicidas antes da semeadura. Se houver “escape” de registrados para controle de plantas daninhas plantas da primeira aplicação deve ser aplicado gramíneas na cultura de trigo são o pendimeherbicida à base de paraquate antes (1-2 dias) talin, diclofop-metil, clodinafop-propargil e o da semeadura do trigo. Já o azevém resistente iodosulfuron-metil (Tabela 2). Esses herbiciao glifosato e a inibidores da ACCase somen- das são eficientes no controle de aveia-preta te será controlado por inibidores da ALS e de azevém. Pendimetalin é usado em pré(iodosulfuron-metil) ou por herbicida total como o paraquate. De forma Tabela 1 - Herbicidas graminicidas e totais que controlam azevém geral, áreas com azevém resistente a resistente e sensível ao glifosato glifosato e ACCase devem ser cultiva- Mecanismo de Ação Grupo químico Ingrediente Ativo Nome Comum das com culturas de cobertura como --- HEBICIDAS GRAMINICIDAS --aveia-preta em altas densidades para Fluazifop-p Fusilade evitar o estabelecimento de plantas AriloxifenoxiHaloxyfop-r Verdict R, Gallant de azevém. Inibidores propionatos Propaquizafop Shogun Em trigo, foi identificado um da ACCase (fop’s) Fenoxaprop Furore, Podium biótipo de Raphanus sativus (nabiça) Diclofop Iloxan resistente à ação de metsulfuron-metil Ciclohexanodionas Clethodim Select e outros herbicidas inibidores de ALS. (dim’s) Sethoxydim Poast Em áreas em que houver a presença Inibidores da ALS Sulfoniluréia Iodosulfuron Hussar do biótipo resistente, as alternativas de --- HEBICIDAS NÃO SELETIVOS --herbicidas para controle são o bentazon Inibidores do FS I Bipiridílios Paraquat Gramoxone e o 2,4-D. Inibidores da GS Ácido fosfínico Amônio-glufosinato Finale Tabela 2 - Herbicidas seletivos, doses e época de aplicação recomendadas para controle de plantas daninhas na cultura de trigo Nome Comum Pendimetalin

Concentração1 Produto Comercial (g L-1 ou g kg-1) (g ou L ha-1) 500 i.a. 2,0 a 2,5 (a) 2,5 a 3,0 (b) 3,0 a 3,5 (c) Bentazon 600 i.a. 1,2 a 1,6 480 i.a. 1,5 a 2,0 Metsulfuron-metil2 600 i.a. 4,0 2,4-D amina 400 e.a. 1,0 a 1,5 670 e.a. 1,0 a 1,5 720 e.a. 1,0 a 1,5 2,4-D éster3 400 e.a. 0,6 a 1,0 2,4-D + MCPA 275 + 275 e.a. 1,0 a 2,0 2,4-D + Picloran 360 + 22,5 e.a. 1,0 Metribuzin4 480 i.a. 0,3 2,4-D éster + Dicamba 0,6 a 1,0 + 0,2 2,4-D éster + Bentazon 0,6 + 0,8 2,4-D amina + Bentazon 1,0 + 0,8 Diclofop-metil5 280 i.a. 1,5 a 2,0 Iodosulfuron-metil

50 i.a.

70-100

Clodinafop-propargil

240 i.a.

100-150

Época de aplicação Pré-emergência. A dose varia conforme textura do solo. Solos arenosos (a), francos (b) e argilosos (c). Pós-emergência de plantas daninhas (2 a 6 folhas). Em trigo pode ser aplicado a partir do início do perfilhamento. Pós-emergência de plantas daninhas (2 a 6 folhas). Em trigo pode ser aplicado no estágio de perfilhamento (4 folhas- até ocorrência do 1o nó).

Pós-emergência de azevém e aveia (2 a 4 folhas). Em trigo pode ser aplicado no estágio de perfilhamento (4 folhas- até ocorrência do 1o nó). Pós-emergência de azevém e aveia e folhas largas (2 a 4 folhas).Em trigo pode ser aplicado no estágio de perfilhamento (4 folhas- até ocorrência do 1o nó). Pós-emergência de aveia (2 a 4 folhas). Em trigo pode ser aplicado no estágio de perfilhamento (4 folhas- até ocorrência do 1o nó).

i.a.= ingrediente ativo; e.a.= equivalente ácido. 2Adicionar 0,1% v/v de óleo mineral emulsionável (100 mL 100-1 L de água). O Metsulfuron-metil apresenta incompatibilidade biológica com a formulação concentrado emulsionável de Tebuconazole, Paration metilico, Clorpirifós e Diclofop-metil. 32,4-D na forma éster está sendo retirado do mercado desde 2003. 4Não aplicar em solos com menos 1% de matéria orgânica. Não misturar em tanque com outros agrotóxicos ou com adubo foliar. 5Não misturar em tanque com latifolicidas. Sua aplicação deve ser efetuada três dias antes ou depois desses herbicidas. 1

Espécie de folha larga Silene gallica

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Adaptado a diferentes regiões

O

s cereais de inverno (trigo, triticale, cevada, aveia e centeio) são cultivados no Brasil, principalmente nos estados da região Sul - Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná -, pois essas culturas se adaptam melhor em regiões que possuem temperaturas mais amenas. Entretanto, desses cereais, o

tipla até seis mecanismos de ação. Os biótipos com resistência múltipla foram identificados somente no Rio Grande do Sul em diferentes locais e devem dispersar-se por todo estado nos próximos anos. As medidas de prevenção e manejo da resistência, se adotadas pelos produtores, podem reduzir a dispersão e prolongar o tempo de uso dos herbicidas aos quais o azevém adquiriu resistência. Dentre as medidas de prevenção e manejo destacam-se o uso de sementes certificadas; não usar repetidamente o mesmo mecanismo herbicida; e considerando que a resistência se dispersa via pólen a eliminação de plantas “voluntárias” ou “escapes” é indispensável para evitar a dispersão. É importante o planejamento do controle do azevém. A aplicação de glifosato deve ser feita de 15 dias a 20 dias antes da semeadura da soja de forma a permitir o controle em tempo suficiente para evitar os efeitos negativos da competição e da alelopatia sobre as culturas. É importante a identificação de biótipos resistentes na área, a fim de associar herbicidas alternativos se necessário.

Leandro Galon, Siumar Pedro Tironi, Evander Alves Ferreira e Antonio Alberto da Silva, UFV Leandro Vargas, Embrapa Trigo

Fotos Divulgação

emergência da cultura. A sua seletividade é dada por sua posição na camada superficial do solo (cerca de 2cm a 3cm), devendo trigo ser semeado na profundidade de cerca de 5cm. Chuva intensa logo após sua aplicação, principalmente em solos de textura arenosa e com níveis de matéria orgânica abaixo de 2% podem causar fitotoxicidade à cultura. A sua maior ação é no controle de azevém e de aveia-preta. Já os herbicidas diclofop-metil (Iloxan CE), clodinafop-propargil e iodosulfuron-metil são usados em pós-emergência e, com exceção do clodinafop-propargil, têm maior eficiência em azevém em relação a aveias. A eficácia desses herbicidas é dependente do estádio de desenvolvimento do azevém e das aveias, sendo os melhores resultados obtidos quando aplicado em plantas jovens, com duas a quatro folhas. Vale destacar a necessidade de que as plantas daninhas tenham área foliar suficiente para absorver o herbicida no momento da aplicação e que as condições ambientais sejam adequadas para absorção e translocação dos produtos. Uma situação que comumente ocorrem falhas no controle é após a colheita da cultura de verão, quando há corte da parte aérea das plantas daninhas e estas não apresentam parte aérea suficiente para absorver os herbicidas. Nesses casos é necessário aguardar o desenvolvimento de novas folhas antes da aplicação dos herbicidas.

trigo (Triticum aestivum) pode ser cultivado em vários estados da federação, pois existem variedades adaptadas a diferentes condições edafoclimáticas. Isso torna o trigo o cereal de inverno mais cultivado, além da sua grande importância como fonte de alimento para a população.

No caso de azevém resistente ao glifosato podem-se utilizar na área os herbicidas inibidores da ALS ou da ACCase (Tabela 1). Já nos casos de resistência múltipla, ou seja, ao glifosato e aos inibidores da ALS, somente os inibidores da ACCase serão eficientes. Por outro lado, nos casos de resistência múltipla, que envolva o glifosato e os inibidores da ACCase, somente os inibidores da ALS serão eficientes. Na dessecação de azevém podem ser utilizados herbicidas de contato como, por exemplo, paraquate e glufosinato, atentando-se para o estádio vegetativo, pois esses herbicidas controlam eficientemente plantas jovens de azevém, preferencialmente ainda não perfilhadas. Vale salientar que mesmo utilizando-se um graminicida para controle do azevém na pré-semeadura (dessecação), a necessidade de utilização de glifosato para controlar as espécies dicotiledôneas (folhas largas) permanece. Assim, a resistência do azevém aos herbicidas glifosato, glifosato + ALS e glifosato + ACCase faz com que os produtores necessitem acrescentar mais um herbicida na lista de aplicações ou alterar o manejo da vegetação nestas áreas, utilizando métodos de manejo e controle, muitas vezes menos eficientes e com maior custo de implantação. Esses fatos ilustram o custo C da resistência para o produtor.

Manejo e controle de azevém com resistência múltipla

Com o advento da resistência múltipla os produtores devem ficar atentos e alternar os herbicidas de acordo com o tipo de resistência presente na área. No Rio Grande do Sul já foram identificados biótipos de azevém com resistência simples ao herbicida glifosato e resistência múltipla ao glifosato + ALS e glifosato + ACCase. Até o momento não foram identificados biótipos com resistência aos três mecanismos de ação na mesma planta, contudo, na Austrália existem biótipos de Lolium rigidum que apresentam resistência múl-

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Planta de serralha (Sonchus oleraceus)

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Picão preto (Bidens pilosa) de maior ocorrência no verão


Milho

Colmos apodrecidos Podridões do colmo, além de causar danos diretos à produção, provocam redução do enchimento dos grãos e morte prematura, tombamento das plantas, depreciam espigas e dificultam a colheita mecânica do milho. Seu manejo passa pela integração de medidas como escolha de cultivares com maior resistência, aplicação de fungicidas para garantir a sanidade das folhas, uso de densidade adequada de plantas e adubação equilibrada

D

entre os fatores que limitam o aumento de produtividade do milho no Brasil as doenças têm se destacado nos últimos anos. Em especial as que afetam os tecidos do colmo apresentam grande potencial de perdas. Sua ocorrência tem aumentado, significativamente, nas últimas safras em todas as regiões de plantio. Os plantios sucessivos, a ampla adoção do sistema de plantio direto sem rotação de culturas e a utilização de genótipos suscetíveis favorecem a ocorrência de doenças. Os patógenos possuem elevada capacidade de sobreviverem no solo e em restos de cultura, resultandono rápido acúmulo de inoculo nas áreas de cultivo. Incidência de podridões de colmo acima de 70% e perdas de produtividade em torno de 50% têm sido relatadas em cultivares suscetíveis sob condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença. Além dos danos diretos à produção, causados pela

colonização dos tecidos vasculares do colmo pelos patógenos, resultando na redução do enchimento dos grãos e morte prematura, ocorre também o tombamento das plantas, dificultando a colheita mecânica e expondo as espigas à ação de roedores e à podridão pelo contato com o solo. As podridões de colmo são causadas por vários patógenos, incluindo fungos e bactérias. No Brasil os principais são: Colletotrichum graminicola (Ces.) G.W. Wils., Stenocarpella maydis (Berk) Sacc, Stenocarpella macrospora Earle, Fusarium graminearum Schwabe, F. verticillioides Sheld e F. verticillioides var. subglutinans Wr. & Reink. Os sintomas da antracnose são mais visíveis após o florescimento, caracterizados pela formação de lesões estreitas e elípticasna casca, que se tornam, posteriormente, marrom-escuras a negras (Figura 1). O tecido interno do colmo apresenta coloração marrom-escura podendo desintegrar-se,

levando a planta à morte prematura. Com frequência, ocorre a seca do ponteiro da planta, sintoma conhecido como “top dieback” em que, inicialmente, observam-se o murchamento e a seca das folhas apicais, que, posteriormente, secam. Plantas infectadas por fungos do gênero Stenocarpella spp. apresentam externamente, próximo aos entrenós inferiores, lesões marrom-escuras (Figura 2), em que é possível observar a presença de picnídios. No caso das podridões causadas por Fusarium spp., o tecido infectado dos entrenós inferiores geralmente adquire coloração avermelhada, que progride em direção à parte superior da planta (Figura 3). Esses sintomas são mais visíveis após a polinização e o desenvolvimento da doença pode levar a planta à morte precoce. Dois aspectos relativos às doenças de colmo em milho merecem destaque: primeiro, compõem um grupo de doenças altamente agressivas, com um grande potencial de Charles Echer

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Fotos Rodrigo Véras da Costa

A)

B)

C)

Figura 1 - Sintomas da antracnose nas partes externa (A) e interna de colmos (B) de milho e sintomas de “top dieback” ou seca do ponteiro (C)

redução da produtividade e, segundo, são doenças de difícil controle e não são controladas de forma eficiente pelo uso de fungicidas foliares. Assim, práticas como o uso da resistência genética e da rotação de culturas são fundamentais para a redução das perdas causadas por esse grupo de doenças. Entretanto, o grande número de patógenos envolvidos nestas enfermidades dificulta a adoção dessas estratégias de controle, além de permitir sua ocorrência em diferentes condições de ambiente. Desse modo, um trabalho constante de monitoramento dos patógenos envolvidos no processo de podridão de colmo, bem como da incidência desta enfermidade nas principais regiões produtoras, torna-se necessário para possibilitar a utilização mais eficaz das estratégias de manejo. Para isso, é fundamental, também, um maior conhecimento da dinâmica de colonização dos tecidos do colmo pelos diferentes patógenos associados às podridões desses tecidos em plantas de milho. A Embrapa Milho e Sorgo tem realizado A)

trabalhos de pesquisa para a identificação e a quantificação dos principais patógenos fúngicos, predominantemente associados às podridões de colmo em milho nas diferentes regiões produtoras. O conhecimento das espécies predominantes é fundamental para direcionar as medidas de manejo, incluindo o uso de cultivares resistentes. Além disso, tem sido avaliada a eficiência de diversas estratégias de manejo para as podridões de colmo. Nestes trabalhos tem sido avaliada, em condição de campo e laboratório, a incidência de patógenos fúngicos presentes em diferentes partes do colmo de plantas de milho. A partir dos ensaios a campo, são coletados fragmentos de colmo, para isolamento em laboratório. Em cada planta são coletados três entrenós do colmo: o segundo entrenó acima do solo, o entrenó de inserção da espiga e o entrenó localizado logo abaixo do pendão. Também são realizadas coletas de espigas para avaliação da incidência de patógenos fúngicos nos grãos. De acordo com os dados já obtidos, a

incidência dos diferentes patógenos associada à podridão de colmo é influenciada, significativamente, pela localidade, pelos diferentes genótipos de milho e pela parte da planta da qual foram isolados. Nos ensaios realizados em Minas Gerais, entre os patógenos isolados dos fragmentos de colmo, predominaram: Colletotrichum graminicola, Fusarium spp. E Stenocarpella spp. Considerando os dados médios, a incidência de C. graminicola variou de 62,8% e 66,8%, com média de 64,8% (Figura 4). Para F. verticillioides a variação da incidência foi de 20,3% a 21,07%, com média de 20,6%. A menor incidência média foi observada para Stenocarpella spp., 15,6%. Com relação à distribuição dos patógenos nas diferentes partes das plantas, o fungo C. graminicola apresentou uma ampla distribuição nos tecidos do colmo. Sua incidência variou de 51,9% a 72,9% nas diferentes partes das plantas (Figura 5). Para Fusarium spp., foi verificada maior incidência na parte superior, que diferiu, significativamente, das partes mediana e inferior das plantas. Para

B)

Figura 3 - Sintomas de podridão de colmo (A) e seca precoce de plantas de milho (B) causados por Fusarium spp.

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Figura 2 - Sintomas da podridão de colmo causada pelo fungo Stenocarpella spp.

Figura 4 - Incidência média de Colletotrichum graminicola, Fusarium spp. e Stenocarpella spp. em tecidos do colmo de plantas de milho em ensaios conduzidos em Minas Gerais

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Stenocarpella spp., foi verificada tendência inversa à observada para Fusarium spp., que apresentou incidência significativamente maior na base do colmo (Figura 5). Nos grãos houve ampla predominância de Fusarium spp., com 55% de incidência, seguido de Penicillium spp. (20,3%), Aspergillus spp. (1,5%) e Stenocarpella spp. (0,4%) (Figura 6). O fungo C. graminicola não foi detectado nos grãos. Esses resultados demonstram que a incidência de C. graminicola e Fusarium spp. ocorreu em toda a extensão do colmo, com predominância no terço médio superior. No caso de Stenocarpella spp. houve predominância de incidência no terço médio inferior da planta. Os resultados obtidos nos isolamentos de grãos em que houve predominância de Fusarium spp. confirmam os resultados obtidos para a ocorrência desse patógeno na parte média superior da planta. A habilidade desse fungo de causar infecção sistêmica em plantas de milho foi demonstrada em vários trabalhos, que apontaram que a movimentação de Fusarium spp. a partir do colmo para as espigas contribui significativamente para ocorrência de podridão nos grãos.

Estratégias de manejo

Não existe uma medida única recomendada para o controle das podridões de colmo em milho. Para se obter sucesso no manejo dessa doença, um conjunto de medidas deve ser executado de forma integrada. A primeira, e talvez a mais importante, é a escolha correta da cultivar. Nesse caso, deve ser dada preferência para híbridos que apresentem, além de alta produtividade, satisfatória resistência no colmo. Resultados obtidos pela Embrapa Milho e Sorgo demonstram a existência de elevada variabilidade quanto à resistência à podridão de colmo em genótipos de mi-

Tabela 1 – Efeito de híbridos e densidade de plantio na incidência de podridões de colmo (%), no experimento realizado em Sete Lagoas (MG), na safra 2011/2012 Densidades de plantas 60.000 pl ha-1 75.000 pl ha-1 90.000 pl ha-1

Híbridos BRS 1035 DKB 390YG Status TL 12,53 bB 11,86 cB 21,95 cA 18,92 aB 18,75 bB 52,61 aA 14,63 abB 30,91 aA 35,75 bA

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade.

lho. Nesse caso, para a recomendação de cultivares resistentes a esses fungos deve-se considerar os patógenos predominantes em cada região, uma vez que é difícil incorporar resistência a todos os patógenos em uma única cultivar. O uso de fungicidas para o controle de doenças foliares tem se tornado prática comum nas principais regiões produtoras de milho do Brasil. No entanto, os resultados de pesquisa têm demonstrado que o uso de fungicidas, aplicados nas épocas recomendadas para o controle de doenças foliares, não tem ou tem pouca eficiência, para o controle de fungos causadores de podridões de colmo. Em algumas situações, o que se observa é um efeito indireto da aplicação de fungicidas foliares na redução das podridões de colmo. O colmo, além de um órgão estrutural da planta, é também um órgão de reserva. Nesse caso, qualquer fator que resulte em redução da área foliar e, portanto, da capacidade fotossintética da planta, como a ocorrência de doenças foliares, induz a uma translocação de açúcares do colmo para as espigas para garantir o enchimento dos grãos. Com isso, ocorre a senescência precoce dos tecidos do colmo, tornando-os mais suscetíveis ao ataque de patógenos. Portanto, o uso de fungicidas, garantindo a sanidade das folhas, pode re-

Figura 5 - Incidência de Colletotrichum graminicola, Fusarium spp. e Stenocarpella spp. em isolamentos realizados em diferentes partes do colmo de plantas de milho. (Fonte da figura da planta de milho: IITA, http://old.iita.org)

sultar em efeito indireto sobre a ocorrência de patógenos no colmo. Além das medidas acima mencionadas, algumas práticas culturais adotadas pelos produtores apresentam elevado efeito sobre a ocorrência de podridões de colmo em milho, como a densidade de plantas. Os resultados de pesquisa têm demonstrado que no caso de cultivares suscetíveis, o aumento da densidade de plantas resulta, também, no aumento da incidência de podridões de colmo (Tabela 1). Em elevadas populações de plantas, ocorre maior nível de sombreamento das folhas, levando a uma redução na capacidade fotossintética das plantas e, consequentemente, maior translocação de fotoassimilados do colmo para as espigas, visando o enchimento dos grãos. Além disso, em maiores densidades há redução na aeração e aumento na umidade do ar na parte inferior do dossel, favorecendo os fungos causadores de podridões. Assim, o uso de populações de plantas adequadas para diferentes cultivares é uma medida importante para o manejo dessas enfermidades. Além destas, outras medidas como adoção de uma adubação equilibrada, principalmente quanto à relação N/K, manejo de irrigação, controle de pragas, de plantas daninhas e de doenças, observação das épocas adequadas de plantio e colheita, devem, também, ser consideradas em um programa de manejo integrado das podridões de colmo na C cultura do milho. Rodrigo Véras da Costa, Luciano Viana Cota e Dagma Dionísia da Silva, Embrapa Milho e Sorgo Marielle Martins Marcondes, Univ. Estadual do Centro-Oeste

Figura 6 - Incidência de patógenos Fusarium spp., Penicillium spp. Aspergillus spp. e Stenocarpella spp. em grãos de milho. (Fonte da figura da planta de milho: IITA, http://old. iita.org)

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Coluna ANPII

Contribuição importante Expansão da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) no Brasil possui forte ligação com a Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão da Tecnologia de Inoculantes Microbiológicos de Interesse Agrícola (Relare)

O

nome completo da Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão da Tecnologia de Inoculantes Microbiológicos de Interesse Agrícola (Relare) é tão grande quanto sua importância para o agronegócio do Brasil. Criada em 1985, por iniciativa de João Rui Jardim Freire, nome emblemático da Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) no Brasil e no mundo, a rede realizou sua primeira reunião nos dias 5, 6 e 7 de maio de 1985 em Curitiba, nas dependências da Associação Paranaense de Engenheiros Agrônomos. A ideia fundamental desta reunião

Mas que importância tem esta entidade para a agricultura brasileira? Ao longo destes anos as sucessivas reuniões têm mantido um fio condutor que norteia, de forma orgânica, a FBN no Brasil sempre apresentando avanços que acompanham a evolução desta importante tecnologia. Um exemplo claro disto é a recomendação do número de bactérias por semente: na reunião de 1998 foi estabelecido, com base em dados de pesquisa, o número mínimo de bactérias por semente para garantir uma boa nodulação: 80 mil células bacterianas por semente. Ao longo dos anos, em função da maior exigência das novas

tamos no patamar de cinco a seis bilhões por grama de produto. Mas, embora a enorme importância destes pontos para o uso da fixação biológica no Brasil, talvez a maior contribuição seja a forma orgânica, sistêmica, com que a Relare vem atuando através dos anos. Foi nas reuniões da entidade que se delineou e implementou o sistema de seleção e recomendação de estirpes para a produção de inoculantes. De um quadro caótico e sem direcionamento técnico que existia anteriormente, passou-se para um sistema único no mundo, com procedimentos padronizados para a seleção e recomen-

A próxima reunião da Relare será realizada nos dias seis e sete de agosto em Londrina, Paraná era a criação de um núcleo que unisse os pesquisadores da área, os produtores de inoculantes e o setor de fiscalização do Ministério da Agricultura, com o objetivo de traçar políticas que incrementassem cada vez mais, e com mais eficiência, o uso dos inoculantes no Brasil. De uma forma muito aberta discutiu-se desde a necessidade de pesquisas, o estabelecimento de ensaios em rede e as formas de se aumentar o padrão de qualidade dos inoculantes brasileiros. Esta primeira reunião contou com aproximadamente 15 profissionais das diversas áreas. Nos anos seguintes novas reuniões foram realizadas, sempre se buscando delinear os eixos condutores da FBN no país, desenvolvendo projetos tanto de pesquisas, de legislação e de melhoria da qualidade dos inoculantes. Até então a Relare era uma reunião informal, sem que tivesse sido criada oficialmente uma entidade. Em 3 de junho de 1998, em reunião realizada em Londrina foi aprovado o estatuto criando uma entidade com personalidade jurídica, com registro em cartório e demais órgãos oficiais.

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cultivares de soja, novos patamares foram sendo estabelecidos, estando hoje em 1.200.000 células/sementes. Estas recomendações, de fundo estritamente técnico, foram até mesmo incorporadas à legislação oficial. Outras conquistas, como a obrigatoriedade da esterilização da turfa para a produção de inoculantes e a exigência de testes de eficiência agronômica para novos tipos de inoculantes foram discutidas na Relare e incorporadas ao sistema de produção e à legislação brasileira pertinente ao assunto. A obrigatoriedade da esterilização da turfa, assunto que gerou muitos debates técnicos nas reuniões, foi um passo decisivo para a melhoria de qualidade dos inoculantes no Brasil. Inicialmente os inoculantes eram produzidos com turfa sem esterilização e nem mesmo desinfecção. Com isto, o Rhizobium se desenvolvia, mas sofria a competição de outros microrganismos naturalmente presentes no meio e isto limitava a concentração do produto. Não se conseguiam concentrações acima de 100 milhões de bactérias por grama. Com a esterilização as concentrações puderam chegar a um bilhão e hoje es-

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dação de estirpes. Foram desenvolvidos protocolos para o processo de seleção, indo desde o laboratório até ensaios em rede, respaldando a recomendação do material microbiológico por parte do órgão regulador, o Mapa. Esta estruturação, fortemente embasada em aspectos técnico-científicos, foi o que possibilitou juntamente com o espírito inovador da indústria que o inoculante atingisse os patamares de uso praticamente universal na cultura da soja no Brasil, tornando o inoculante um insumo indiscutível na implantação das lavouras. Basta dizer que o país planta hoje 30 milhões de hectares de soja sem a necessidade do uso de fertilizante nitrogenado, mesmo para as mais altas produtividades. A próxima reunião da Relare será realizada nos dias seis e sete de agosto em Londrina, Paraná. A ANPII, como vem fazendo há alguns anos, patrocinará mais esta edição, repassando verba do Fundo de Pesquisa para a realização C do evento. Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

A

Biocombustíveis e mudanças climáticas

s Mudanças Climáticas Globais apresentam enorme potencial de afetar negativamente a vida no planeta Terra, nas próximas décadas. Exemplo pálido, porém atual, desse potencial são os extremos climáticos recentes. Aqui no Brasil, 2013 encerrou-se com intensa e prolongada precipitação pluviométrica no leste de Minas Gerais e no Espírito Santo, deixando um rastro de vidas humanas ceifadas e de prejuízos materiais e financeiros. Seguiu-se um longo e severo período de alta temperatura e de déficit hídrico, que assolou o Sul, o Sudeste e partes do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, quebrando recordes históricos registrados há quase um século, enquanto o Rio Madeira, no Norte, atingiu a maior cota da história. No Hemisfério Norte, os Estados Unidos foram assolados por três ondas gélidas em um período de 40 dias, no início de 2014. Em uma delas, o vórtex polar provocou uma queda de temperatura tão intensa que, no norte do estado de Illinois, a sensação térmica aproximou-se de inacreditáveis -60ºC. Na

em veículos da frota brasileira, bem como estimar as emissões evitadas, em função do uso de biocombustíveis como sucedâneos de derivados de petróleo (gasolina A e diesel), no período compreendido entre 2000 e 2011. O segundo objetivo foi estimar as emissões dos biocombustíveis e aquelas evitadas por seu uso, em três cenários. Esses se diferenciavam pela manutenção do apoio atual (BAU), incentivo moderado (PRO) ou agressivo (SUS) do Governo Federal ao sistema de PD&I das cadeias de biocombustíveis, à sua produção e uso e à adequação da infraestrutura de transporte da matéria-prima e dos biocombustíveis. Para elaborar os estudos foram utilizados dados de diversas fontes, mormente o licenciamento de novos veículos, a estimativa de frota do período, o consumo de combustíveis e biocombustíveis e seus parâmetros físicos e químicos, bem como as emissões líquidas avaliadas pelo ciclo de vida, sob o conceito “welltowheel”, significando toda e qualquer emissão havida ao longo da cadeia, do início do processo até a combustão no motor do

lítica de mistura de álcool anidro à gasolina A, bem como a implementação do mandato de mistura de biodiesel ao diesel, foram fundamentais para os ganhos ambientais do período. Entre 2000 e 2011, as emissões evitadas com etanol hidratado alcançaram 159Mt de CO2; as emissões evitadas pelo uso de etanol anidro montaram a 135Mt de CO2; e o biodiesel contribuiu com emissões evitadas no volume de 16Mt de CO2, totalizando 310Mt de CO2. Nos três cenários estudados foi utilizado um modelo matemático para estimar as emissões evitadas entre 2011 (linha base) e 2020, que foram: a) cenário BAU - 546Mt de CO2, sendo 301 de etanol hidratado, 178 de etanol anidro e 67 de biodiesel; b) cenário PRO, com 618Mt de CO2, sendo 337 de etanol hidratado, 176 de etanol anidro e 105 de biodiesel; e c) cenário SUS - 759Mt de CO2, sendo 471 de etanol hidratado, 156 de etanol anidro e 132 de biodiesel. Neste último cenário, estima-se a necessidade de 2,8Mha adicionais de cana-de-açúcar, para

O segundo objetivo foi estimar as emissões dos biocombustíveis e aquelas evitadas por seu uso, em três cenários mesma época, a Inglaterra foi assolada por inundações de intensidade sem registro nas séries históricas recentes, e o Japão enfrentou nevascas recordes. Sóchi, na Rússia, foi escolhida como sede das Olimpíadas de Inverno deste ano pela temperatura muito baixa que lá é registrada em fevereiro. Quem acompanhou o evento viu provas sendo canceladas, atletas competindo sem as pesadas roupas de frio e espectadores sem camisa aproveitando o banho de sol na temperatura amena. Em todos os casos, a agricultura sempre foi afetada negativamente. A Humanidade espera da Ciência soluções que permitam, alternativamente, que os efeitos das mudanças climáticas possam ser evitados ou mitigados, ou ainda que fórmulas de convivência estejam disponíveis. A principal fonte de emissão de gases de efeito estufa é representada pelos combustíveis fósseis. A contribuição da Ciência está em desenvolver alternativas técnica e economicamente viáveis para substituí-los, como é o caso do biodiesel. Recentemente elaborei um estudo, com dois objetivos principais. O primeiro foi efetuar um balanço entre as emissões efetivamente verificadas com o uso de biocombustíveis (etanol hidratado, etanol anidro e biodiesel)

veículo. Para compor as projeções futuras foram usados documentos oficiais do Governo Federal para estabelecer parâmetros que permitissem fixar uma frota e um consumo de combustível, em termos de equivalente energéticos, comum a todos os cenários. Posteriormente foram formuladas as premissas que determinariam a parcela de mercado que ocuparia cada combustível ou biocombustível, em função das políticas públicas e de demais incentivos. Para a obtenção do biodiesel foi considerado um mix médio da matéria-prima de 82% de óleos vegetais, tendo como paradigma o óleo de soja e 18% de sebo bovino. O biodiesel de óleo de soja apresenta emissões líquidas de 955g de CO2 eq/L; e do sebo bovino de 440g de CO2 eq/L, ao longo do ciclo de vida. No mix considerado, o biodiesel brasileiro emite 862g/L de CO2 equivalente. Já o óleo diesel emite 2.970g/L de CO2, ou seja, cada litro de biodiesel reduz emissões equivalentes a 2.108g de CO2. Os resultados da série histórica mostraram que a introdução dos veículos flexfuel, que permitem a operação do motor com qualquer proporção de mistura de gasolina C e etanol hidratado, a continuidade da po-

produção de etanol e 6,2ml de óleo vegetal, além de 1,5Mt de sebo adicionais, para produção de biodiesel. Em conclusão, quanto maior o incentivo das políticas públicas de suporte à inovação tecnológica, à produção sustentável de biocombustíveis e à infraestrutura de transportes de matéria-prima e biocombustíveis, tanto maior será o volume das emissões evitadas no setor de transporte brasileiro. Considerando que 2014 é um ano de eleições gerais (presidente da República, governadores, deputados e senadores), os resultados decorrentes do estudo podem contribuir para fundamentar a discussão da construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para o país, para o que a ampliação do uso de biocombustíveis é fator essencial. A íntegra da publicação (Série Documentos 344 - Balanço de emissões de dióxido de carbono por biocombustíveis no Brasil: histórico e perspectivas) pode ser solicitada à Embrapa Soja pelo e-mail cnpso. vendas@embrapa.br ou pelo telefone +43 C 3371-6119.

Décio Luiz Gazzoni

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

www.revistacultivar.com.br • Maio 2014

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Produtor capitalizado segura parte da safra como ativo financeiro

Os produtores brasileiros, mesmo com registro de perdas na produtividade da safra de grãos deste ano, ainda conservam margem de lucros na maior parte das regiões. Com isso há sobra de parte da safra para ser negociada e uma boa parcela destes produtores tem segurado a soja, o milho e o arroz como se fossem um ativo financeiro ou um investimento. Todos apostando mais em seus produtos que propriamente no mercado financeiro normal. Não querem vender e ficar com o dinheiro nos bancos. Uma das justificativas reside no fato de que neste ano haverá grandes eventos no país, sendo o primeiro a Copa do Mundo, em menos de dois meses. Durante a Copa há temor de que ocorram tumultos, o que poderia impactar a cotação do dólar. Se isso ocorrer, pressionaria as cotações dos grãos para cima. O segundo grande evento do ano será a eleição para presidente, governadores, senadores e deputados. Nesse período normalmente há forte apelo positivo para os alimentos internamente. Junto a isso, se soma o chamado capital especulativo, que vem entrando no mercado brasileiro oriundo de locais considerados de riscos maiores, como Rússia, Crimeia e Ucrânia. Ávidos por lugares que rendam altos juros e que possam ser retirados rapidamente encontram cenário favorável no Brasil, que possui juros próximos dos maiores do mundo (11% em Maio). Com apelo destes investidores voláteis a cotação da moeda pode atingir patamares também voláteis, porque assim como esses investimentos entraram em um país, podem sair rapidamente. O saldo da Balança Comercial brasileira acumula um déficit de seis bilhões de dólares nos primeiros três meses deste ano e este, que é o fundamento mais importante da cotação do dólar, se encontra muito negativo. Enquanto seria necessário pressionar o dólar para cima, o que se percebe é um quadro agudo de menos forças que o capital volátil, aliado a vendas diárias de grandes volumes de moeda pelo Banco Central. A tática de segurar parte dos grãos livres para negociação futura, em anos como este, é bastante positiva, porque as chances de ganhar normalmente são muito maiores que as de perder e ter que vender com valores menores à frente. O quadro do setor agrícola segue bastante positivo e os fundamentos internos e externos continuam favoráveis ao setor, que tende a investir forte nesta nova safra. MILHO

Demanda interna aquecida

de verão neste mês de Maio e, mesmo chegando ao final da safra, não se sabia ao certo o que haverá de produção de soja em 2014. Isso porque houve problemas climáticos em várias regiões, com perdas, mas também condições de safra boa em muitas outras regiões que registraram colheita normal. E, principalmente, porque existe, neste ano, quase meio milhão de hectares de soja safrinha cultivada, o que irá fazer toda diferença no fechamento dos números. Com isso, ainda há folego para chegar à marca de 88 milhões de toneladas, porque se o clima for favorável e pragas e doenças deixarem, a safrinha pode trazer mais de 1,2 milhão de toneladas de soja para 2014 (o que deve ser somado a mais de 86 milhões de toneladas da primeira safra). Sem novidades, porque mais de 65% deste volume já está negociado e desta forma resta pouco para ser comercializado até o próximo ano. Os produtores tendem a negociar de maneira escalonada este produto. O mercado da soja continua com bons fundamentos, pelo menos até o final de agosto, quando se define a safra americana.

O mercado interno do milho tem puxado forte os volumes que aparecem em oferta. Com isso, os indicativos se mantêm firmes, pois existe um mercado potencial de exportação, que mesmo com registro de queda no ritmo dos embarques em março (devido à pouca oferta e ao crescimento dos embarques da soja, que bateu recorde histórico no mês) serviu para dar apoio aos indicativos do milho local. A cada semana que passa se confirma: a safra foi menor que o estimado e o milho tem mostrado menos vendedores que compradores. A expectativa do setor se volta agora para a safrinha, com temor em relação ao clima, com as chuvas no Centro-Oeste que terão que cair até maio para dar condições de evolução normal da safra. Para que não ocorram perdas, as geadas não poderão aparecer nas lavouras do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo até junho e desta forma há grande temor dos consumidores sobre o que haverá de produto para cobrir a demanda do segundo semestre. É preciso lembrar que parte do FEIJÃO milho que está no Mato Grosso já tem como destino Ofertas têm que vir com qualidade certo a exportação. Assim, não haverá sobras para este O mercado do feijão, que teve concentração de ano, como ocorreu nos últimos dois anos. O quadro colheita em janeiro e escassez de ofertas nos meses segue de mercado firme. seguintes, seguia em Maio com pouco produto à venda. Boa parte disponível era do tipo Carioca, de baixa SOJA qualidade, sem mercado e baixo valor. O fato é que os Safra ainda indefinida Os produtores estavam fechando a colheita da safra consumidores não querem mais produto inferior e,

quando este aparece, ninguém quer comprar. E como os empacotadores estão atrelados ao setor do arroz (que também mostra avanço na qualidade), isso obriga os produtores a trazer produto de alta qualidade das lavouras para obter mercado. As cotações de Maio mostravam indicativos entre R$ 130,00 e R$ 170,00 pelo Carioca superior e níveis de R$ 170,00 a R$ 190,00 pelo tipo Preto (em situação de escassez). As expectativas para maio são boas. Convém lembrar que no final de maio e principalmente em junho entram no mercado ofertas de feijão Preto oriundo da Argentina, o que pode limitar estas cotações, porque tende a ser ofertado em níveis ao redor de R$ 160,00 por saca. Mas o mercado segue com boas expectativas para os produtores que terão produto irrigado. ARROZ

Colheita fechada e boas cotações Os produtores gaúchos fecharam a colheita da safra em Maio, que poderá confirmar algo próximo de 8,5 milhões de toneladas. Uma excelente safra, que conserva, mesmo assim, alto potencial de cotação. O arroz esteve operando em níveis de R$ 33,00 a R$ 35,00 aos produtores, com chances de avançar a partir de maio. Segue com maior demanda que oferta e como os produtores estão capitalizados e irão vender escalonadamente, isso abre espaço para ganhos constantes e mensais. Será um grande ano para o setor arrozeiro.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro começa a apresentar as primeiras áreas plantadas no Paraná, com indicativos de crescimento, que poderá resultar em até 1,5 milhão de toneladas a mais que no último ano. Mesmo assim, o Brasil segue entre os maiores importadores mundiais do produto, porque apesar de colher algo perto de sete milhões de toneladas ainda estará longe das mais de 11 milhões de toneladas de consumo previsto. Assim, o país necessitará de algo próximo de cinco milhões de toneladas importadas. Por outro lado o mercado internacional segue em alta devido a perdas importantes já confirmadas nas grandes planícies produtoras dos EUA. Há também problemas na Ucrânia, que certamente terá dificuldade para produzir neste ano. A seca que se alonga por três anos na Austrália é outro fator que ajuda a consolidar o quadro de menor oferta que demanda. Junto a isso, há que se apontar que a China poderá passar a ser a maior importadora mundial de trigo e chegar à marca de dez milhões de toneladas neste ano, tudo isso deixando o trigo mundial com cotações em alta e acima dos 300 dólares por tonelada na origem. algodão - A safra deste ano do Mato Grosso mostra problemas devido ao excesso de chuvas e, mesmo com avanço na área, pode não crescer em produção como os produtores esperavam. Desta forma, o mercado segue firme e mostra alto potencial de lucros para aqueles que tiverem algodão disponível em 2014. china - O consumo interno de alimentos cresce a ritmo acelerado, com

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importações recordes para este ano, sendo que a soja irá superar os 70 milhões de toneladas, o trigo poderá chegar a dez milhões, milho também estimado em oito milhões de toneladas, todos acima dos indicativos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Há chances também de o arroz importado superar os cinco milhões de toneladas. O algodão voltou a crescer em negociação e tem sido cogitadas importações que possam variar de 12 milhões de fardos a 15 milhões de fardos para este ano. O quadro geral da economia da China é considerado bom e desta forma o país continuará comprando forte para atender à demanda que cresce em ritmo chinês. mercosul - Os produtores da Argentina sonham com um novo governo que venha a retirar ou reduzir a taxa de retenção da soja, do trigo e do milho, que atualmente é de 35% do valor da soja, 28% do trigo e 25% do milho. Com isso, a tendência é de que negociem de maneira lenta, neste ano, esperando que as eleições lhes tragam boas notícias. O fator negativo para o setor agrícola portenho é que o país está totalmente dependente deste dinheiro e dificilmente haverá cortes de maneira brusca. Ou seja, a Argentina, mesmo trocando o governo, tende a piorar muito antes de começar a melhorar. Quadro que acaba servindo para apoiar os produtores do Paraguai que podem crescer forte por possuírem taxas e impostos muito menores.




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