Grandes Culturas - Cultivar 181

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 181 • Junho 2014 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa capa

Especial trigo.........................26, 33 e 38

Pedro Schereen

Conheça cultivares de trigo disponíveis no mercado brasileiro e suas principais características de adaptabilidade às regiões de cultivo do país

Adição avaliada.........................08 Ação seletiva............................10 Lucro mofado.............................22 O desempenho de fertilizante foliar nitrogenado na aplicação de fungicidas para combater doenças em milho

A importância dos inseticidas seletivos no controle de insetos e ácaros que afetam o algodoeiro

Índice

Cuidados que precisam ser observados no controle do mofo-branco, doença que provoca sérios prejuízos na cultura da soja

Expediente

Diretas

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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

• Editor

Fertilizante foliar nitrogenado em milho

08

Inseticidas e acaricidas seletivos em algodoeiro

10

Avanço da brusone em arroz

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• Design Gráfico e Diagramação

• Coordenação

Tratamento de sementes contra nematoides em soja

18

• Revisão

• Assinaturas

Manejo do mofo-branco em soja

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MARKETING E PUBLICIDADE

• Expedição

Gilvan Dutra Quevedo

Rithieli Barcelos

• Redação

Karine Gobbi Rocheli Wachholz Cristiano Ceia

CIRCULAÇÃO Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

Aline Partzsch de Almeida

• Coordenação

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Especial trigo - Produtividade no Sul

33

Especial trigo - Para o Cerrado

38

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300

Adama substitui marca Milenia no Brasil

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Diretor Newton Peter

Pragas - Como conter o avanço da mosca branca

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Coluna ANPII

48

Coluna Agronegócios

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Mercado Agrícola

50

Edson Krause

Charles Ricardo Echer

Especial trigo - O que plantar

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 204,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Novos rumos

Fábio Bueno é o novo gerente de Produtos para Nutrição da Arysta. Com mais de dez anos de experiência no mercado, Bueno trabalhará para reforçar o conceito ProNutiva, resultado da sinergia entre Proteção e Nutrição vegetal. “Os desafios impostos pelo mercado não param de surgir, mas sempre queremos elevar a produtividade e a qualidade dos produtores brasileiros”, Fábio Bueno ressalta Fábio Bueno.

Evento

A Ihara mostrou seus principais produtos para o manejo de soja, milho e feijão na AgroBrasília 2014. “Aproveitamos para apresentar o Gemstar e o Incrivel. O primeiro é um inseticida biológico para manejo da lagarta Helicoverpa, que tem obtido resultados muito positivos. O segundo é um inseticida para o controle de percevejos na cultura da soja”, explicou o consultor de Desenvolvimento de Mercado Edson Miranda.

Presidente

A Dow AgroSciences anunciou Welles Pascoal como novo presidente da empresa para o Brasil. Pascoal estava desde 2010 à frente da Diretoria de Vendas e é formado em Agronomia, possui MBA pela Universidade La Sabana – Bogotá (Colômbia). “Esta mudança reforça o compromisso global da Dow AgroSciences com o desenvolvimento de seus negócios no Brasil, um dos mercados prioritários para a companhia e com crescente potencial agrícola”, reforça o presidente.

Tecnologia

Durante a AgroBrasília, a Dow AgroSciences destacou a tecnologia Powercore, primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil contra as principais pragas e plantas daninhas desta cultura. Para Aldenir Sgarbossa, líder de Marketing para Sementes de Milho da Dow AgroSciences, este é um momento importante tanto para a companhia quanto para o produtor rural. “A região é bastante representativa e estratégica para a companhia, o evento aproxima o agricultor das soluções para as demandas da sua região”, destacou Sgarbossa. Welles Pascoal

Portfólio

A FMC apresentou seu portfólio de soluções para a cultura da soja durante a AgroBrasília 2014. Os destaques da marca foram o inseticida Talisman, usado para conter a proliferação de lagartas e percevejos, e o fungicida Locker, para controle das principais doenças que afetam a cultura. “A AgroBrasília é uma oportunidade de trocar ideias, firmar parcerias, fechar negócios e fazer com que o público conheça mais sobre nós e o que oferecemos”, opinou o supervisor comercial da FMC na região Leste, Fernando Diniz.

Sementes

Eduardo Mazzieri é o novo diretor da Unidade de Sementes da Bayer CropScience Brasil. Desde 2007 na empresa, o executivo passou pelas áreas de Marketing Estratégico e Marketing Regional Cerrados. Mazzieri tem como principal desafio alavancar ainda mais a estratégia de sementes da Bayer no Brasil, com foco na consolidação do negócio e na integração da proposta de valor para os clientes. O executivo é graduado pela Esalq/USP e pósgraduado em Marketing de Serviços pela Fundação Armando Eduardo Mazzieri Alvares Penteado (FAAP).

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Educativo

O inpEV e as centrais de recebimento goianas promoveram um trabalho educativo durante a AgroBrasília. O projeto contou com a distribuição livros infantis educativos da “Turma da Reciclagem”, reforçando a importância da destinação correta de embalagens vazias de defensivos agrícolas. Os gibis são parte do Programa de Educação Ambiental (PEA), ação promovida pelo instituto durante todo o ano e que, em 2013, envolveu mais de 1.800 escolas em todo o país.

Produtos e serviços

A Basf marcou presença na AgroBrasília com seus produtos e serviços com foco nos cultivos de soja, milho e feijão. Os destaques da marca foram o Orkestra SC e os inseticidas Fastac Duo e Pirate. O Orkestra é um fungicida para combate da ferrugem asiática por meio da molécula carboxamida. “A nova combinação contribui para o aumento da produtividade e reduz as perdas ocasionadas pela doença”, afirma Carlo Luz, gerente do Departamento de Marketing de Cultivos Extensivos da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf Carlos Luz para o Brasil.

Soluções

Linha completa

A Bayer CropScience apresentou sua linha completa de soluções em mais uma edição da AgroBrasília. Os destaques foram o Fox, fungicida para o manejo de doenças na cultura da soja, e o programa Bayer Contra Lagartas. Além disso, a Bayer CropScience exibiu as cultivares de sementes de soja desenvolvidas para atender os produtores da região.

A Morgan Sementes e Tecnologia, marca comercial da Dow AgroSciences, apresentou na AgroBrasília dois lançamentos para a cultura de milho: os híbridos MG652 e MG699, que atendem às particularidades do cerrado e reforçam o portfólio da marca. Quem visitou o estande da empresa também pode conhecer as vantagens do Tratamento de Sementes Industrial, outra solução para o controle de pragas iniciais da cultura.

Cultivares

Destaques

A BioGene participou da AgroBrasília com uma equipe à disposição dos produtores, para apresentar as novidades voltadas para as culturas do milho e da soja. Os destaques ficaram para os híbridos de milho posicionados para a região central do Brasil, tais como BG7037H, BG7046H, BG7061H, BG7049H e BG7032H, ideais para a produção de grãos e silagem. Além disso, a empresa apresentou cultivares de soja com diferentes ciclos de maturação, que oportunizam o planejamento de plantio do produtor do Cerrado.

Durante a AgroBrasília, o gerente de Vendas da Nidera Sementes André Luiz Michailoff ressaltou a tecnologia para soja Intacta como forma de obter o melhor resultado em produtividade nas lavouras. “Hoje a Nidera é uma empresa que tem portfólio de cultivares que sempre entrega mais resultados, pois juntamos a precocidade com a alta produtividade”, afirmou Michailoff.

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Sinergia

A Brasmax apresentou seu portfólio para a região do Cerrado na AgroBrasília 2014. Para o gerente de Desenvolvimento da região do Cerrado, Marcelo José Batistela, o evento é uma oportunidade para transmissão de conhecimento técnico aos agricultores e, consequentemente, de fazer chegar o posicionamento da companhia ao campo.

Fungicida

A Syngenta apresentou na AgroBrasília o fungicida Elatus, voltado para o combate de doenças em soja, como a ferrugem asiática. O gerente regional de Vendas da empresa, Marcos Queiroz, falou sobre o diferencial do produto. “O modo de ação de Elatus é de amplo espectro, com excelente controle sobre a doença. Essas qualidades são proporcionadas pela combinação de Solatenol, nova molécula desenvolvida pela Syngenta, com a tecnologia Amistar”, explicou.

Nutrição e fisiologia

A Juma-Agro recebeu clientes e parceiros durante a AgroBrasília. O diretor da empresa, Julio Iwao Matino, destacou o portfólio de produtos organominerais e aminoácidos da marca. “Tanto em termos de qualidade e eficiência de produtos quanto no apoio ao cliente, a empresa conta com equipe com excelentes profissionais especializados em nutrição e fisiologia vegetal”, ressaltou o diretor.

Bioinseticida

Durante a AgroBrasília a Koppert lançou o bioinseticida Diplomata para controle de Helicoverpa armigera. De acordo com a coordenadora de Marketing, Jaqueline Antonio, o produto tem como princípio ativo o vírus núcleo – poliédrico Helicoverpa armigera (HaNPV) e começa a ser importado e distribuído no Brasil pela Koppert Biological Systems .

Jaqueline Antonio

Programa

Participação

A Alltech, empresa especializada em biotecnologia natural, participou da AgroBrasília com seu portfólio completo e uma equipe especializada que orientou os produtores e esclareceu dúvidas sobre a empresa e os produtos.

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A Dimicron participou pela primeira vez da AgroBrasília 2014. Durante o evento, Gilberto Medeiros, da área de Desenvolvimento de Produtos e Marketing, destacou o Programa Construindo Plantas, que traz aos produtores rurais alta tecnologia para atingir maiores produtividades através do conhecimento da relação solo x planta.



Milho

Adição avaliada

Bianca Moura

Exigência de mercado, os híbridos de milho com alto potencial produtivo e período mais curto de maturação têm se popularizado cada vez mais nas lavouras brasileiras. Contudo, alguns desses materiais podem ser mais suscetíveis a doenças fúngicas. Adicionar fertilizante foliar nitrogenado na aplicação de fungicidas é uma estratégia utilizada na busca por melhorar a resistência das plantas e aumentar a produtividade

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entre os fatores que limitam o aumento de produtividade de milho, a ocorrência de doenças, causadas por agentes fitopatogênicos, como fungos, bactérias, vírus e nematoides, é um dos de maior importância. Atualmente, devido à procura do mercado agrícola por materiais mais precoces e de alta produtividade, empresas produtoras de sementes de milho têm dado ênfase ao trabalho de melhoramento genético, com o objetivo de lançar híbridos de alta produtividade e ciclo de maturação mais curto. Com isso, há um crescente aumento da oferta de novos híbridos com alta exigência em fertilidade de solo, adubação e distribuição hídrica - os chamados "híbridos de alta tecnologia". Trata-se de materiais com alto potencial produtivo, mas que além das exigências já citadas, apresentam, muitas vezes, maior suscetibilidade a algumas doenças causadas por fungos, que os materiais mais rústicos disponíveis no mercado. Nesse cenário, o uso de fungicidas do grupo dos triazóis e das estrobilurinas tem sido a melhor opção para o controle e a prevenção de doenças fúngicas.

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Além da preocupação no controle de doenças, outro fator tem sido preconizado como alternativa para o aumento de produtividade

e possível melhora na resistência da planta ao ataque de doenças. Trata-se da aplicação de fertilizantes nitrogenados na transição do estádio vegetativo para o reprodutivo (VT/R1). Diante disso, realizou-se um ensaio com o objetivo de avaliar a eficiência de diferentes fungicidas de uso comum na cultura do milho com ou sem a adição de fertilizante foliar nitrogenado Nitamin à calda. O ensaio foi conduzido no campo experimental da Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. No dia 29/11/2012 foi semeado o híbrido simples 30F53H, com regulagem da semeadora para obtenção de uma população de 87 mil plantas/ha. A adubação de plantio foi distribuída em linhas e constou de 250kg/ha de 5-25-20 (N-P2O5K2O), sendo realizada adubação de cobertura na dose de 200kg/ha de ureia, 35 dias após a semeadura. No dia 22/1/2012, momento em que as plantas atingiram o estádio VT (emissão do pendão), foi realizada a primeira pulverização dos diferentes fungicidas com ou sem a adição do fertilizante foliar nitrogenado Nitamin (30% de nitrogênio) conforme mostra a

Tabela 1 - Tratamentos aplicados no estádio fenológico VT (emissão do pendão) Tratamento T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 Testemunha

Fungicida tebuconazol 200g/L + trifloxistrobina 100g/L epoxiconazol 50g/L + piraclostrobina 133g/L Azoxistrobina 200 g/L + Ciproconazol 80 g/L tebuconazol 200g/L + trifloxistrobina 100g/L epoxiconazol 50g/L + piraclostrobina 133g/L tebuconazol 200g/L + trifloxistrobina 100g/L --Sem aplicação

Dose (mL/ha) 600 500 300 600 500 300 -----

Adjuvante Óleo Áureo Óleo Assist Óleo Nimbus Áureo + Nitamin Assist + Nitamin Nimbus + Nitamin Nitamin ---

Dose (L/ha) 0,5 0,5 0,5 0,5 + 10 0,5 + 10 0,5 + 10 10,0 ---

Tabela 2 - Incidência de doenças referentes à terceira avaliação após a aplicação dos tratamentos Tratamento T6 - Azoxistrobina 200g/L + Ciproconazol 80g/L + Nimbus + Nitamin T3 - Azoxistrobina 200g/L + Ciproconazol 80g/L + Nimbus T4 - tebuconazol 200g/L + trifloxistrobina 100g/L + Áureo + Nitamin T2 - epoxiconazol 50g/L + piraclostrobina 133g/L + Assist T5 - epoxiconazol 50g/L + piraclostrobina 133g/L + Assist + Nitamin T1 - tebuconazol 200g/L + trifloxistrobina 100g/L + Áureo T7 - Nitamin Testemunha - Sem aplicação

Média da avaliação de doenças 3,92d 4,00d 4,58cd 4,42cd 4,50cd 5,08b 6,00ab 6,50a

Médias seguidas pelas mesmas letras, dentro da coluna, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.

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Figura 1 - Escala de notas utilizada na avaliação da incidência de doenças foliares sobre a cultura do milho

Figura 2 - Evolução da incidência de doenças em três intervalos de tempo após as aplicações dos tratamentos em plantas de milho 30F53H

Fonte: Agroceres (1996).

Tabela 1. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com três repetições por tratamento e cinco linhas de plantio por parcela, sendo o comprimento de cada linha de 10m com espaçamento de 0,45m, totalizando a área de 18m2 por parcela. Três semanas após a primeira aplicação, em 13/2/2012, as pulverizações foram repetidas com cada um dos tratamentos descritos na Tabela 1. Tanto a primeira quanto a segunda aplicação foram realizadas sob condições favoráveis de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento, sendo realizadas através de um pulverizador portátil pressurizado com CO2. A calda de aplicação foi pulverizada de maneira a fornecer volume de 100L/ha, através de pontas de pulverização de jato plano da série XR 11001, operadas com pressão de 250kPa (gotas finas). A barra de pulverização foi conduzida a 40cm acima do pendão. Foram feitas três avaliações visuais da incidência de doenças a campo, nas quais os resultados obtidos foram de acordo com a escala Agroceres de notas de incidência de doenças foliares da cultura do milho (Figura 1). De acordo com essa metodologia, as notas vão de 1 a 9, sendo a nota 1 referente a plantas sem nenhuma incidência de doenças e 9 plantas com extrema severidade de doenças. A primeira avaliação foi realizada duas semanas após a primeira aplicação. A segunda, quatro semanas após a primeira aplicação. E,

finalmente, a terceira avaliação de doenças foi feita seis semanas após a primeira aplicação. As doenças fúngicas presentes no ensaio foram: ferrugem comum (Puccinia sorghi), mancha de helmintosporiose (Exserohilum turcicum), cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) e manchas de diplódia (Diplodia maydis) nas folhas, colmo e espigas. O gráfico a seguir (Figura 2) mostra a evolução da incidência de doenças avaliadas em um primeiro, segundo e terceiro momentos. A partir de então é possível observar o aumento progressivo no controle das doenças em todas as aplicações realizadas com a presença de fungicida. Observa-se, também, que em um primeiro momento (primeira avaliação a campo), não houve grande diferença entre os tratamentos. No entanto, a partir da segunda avaliação, 28 dias após o início das aplicações, os tratamentos mostraram diferenças significativas no controle de doenças em comparação àquelas feitas somente com Nitamin e às parcelas sem aplicação (Testemunha). De acordo com os dados da Tabela 2, é possível notar que houve diferenças significativas na incidência de doenças entre as parcelas que receberam os tratamentos fitossanitários e aquelas que não foram pulverizadas (testemunha) ou que receberam apenas aplicação do fertilizante foliar nitrogenado (tratamento 7). Nota-se, também, que parcelas tratadas com o fungicida azoxistrobina 200g/L + ciproconazol 80g/L, demonstraram melhor controle de doença em relação aos outros tratamentos,

sendo sua mistura com o fertilizante foliar nitrogenado o tratamento de maior eficiência entre todos aqueles testados (Tabela 2). No entanto, não houve diferença significativa na incidência de doenças em parcelas tratadas com misturas do fertilizante nitrogenado Nitamin aos fungicidas, em relação àquelas que foram pulverizadas somente com fungicida. A partir desse ensaio no campo experimental da Universidade de Passo Fundo conclui-se que os três fungicidas avaliados apresentam-se eficazes para controlar doenças em milho. Sendo que, dentre eles, o fungicida azoxistrobina 200g/L + ciproconazol 80g/L foi aquele que apresentou uma tendência de melhor controle de doenças, tanto com, como sem a adição do fertilizante foliar. Apesar de não terem sido encontradas diferenças estatisticamente significativas, a adição de fertilizante foliar nitrogenado Nitamin melhorou a performance dos fungicidas azoxistrobina 200g/L + ciproconazol e tebuconazol 200g/L + trifloxistrobina 100g/L no controle de doenças. Já nas aplicações feitas com o fungicida epoxiconazol 50g/L + piraclostrobina 133g/L, Nitamin não demonstrou melhoras no controle de doenças foliares. C Bianca Moura, Walter Boller, Eduardo R. Koenig e Valéria C. Ghissi, Universidade de Passo Fundo


Algodão

Ação seletiva

Efetuar de modo sustentável o controle de pragas e ácaros em algodoeiro exige a adoção de inseticidas e acaricidas seletivos, que preservem inimigos naturais e ajudem a prevenir problemas como surtos de pragas secundárias e ressurgência, frutos de desequilíbrio ecológico

N

produtos seletivos para fazerem a melhor indicação de produtos recomendados. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) consiste na integração de práticas e métodos apropriados de controle de pragas, de um modo compatível, que possibilita a manutenção das populações dos competidores abaixo do nível econômico. Na cultura do algodão, inclui a combinação de várias estratégias e táticas de controle,

A. P. Serra

o controle de pragas do algodoeiro são utilizadas diversas ferramentas de manejo. Os inseticidas e acaricidas são muito usuais, mas o desejável é que sejam empregados produtos fitossanitários que controlem com eficácia os organismos alvo e ao mesmo tempo preservem os inimigos naturais. Neste aspecto, os profissionais de fitossanidade precisam conhecer listas de

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tais como práticas culturais, resistência genética de plantas, controle biológico, feromônios e manejo de inseticidas e acaricidas. O controle químico ainda é a tática mais usual, devido a praticidade, rapidez de ação, viabilidade e eficácia; de outro lado, uma ampla adoção de algodãoBt resistente às lagartas tem contribuído para a redução das aplicações de lagarticidas, levando ao aumento da sobrevivência


J. F. Ribeiro

Preservar inimigos naturais é tática fundamental para o manejo sustentável de ácaros e insetos

de inimigos naturais. É frequente observar nos algodoais um controle biológico natural, exercido por inimigos naturais com potencial para manter em níveis razoavelmente baixos as populações de algumas pragas. Tais organismos benéficos minimizam a necessidade de intervenção do homem no controle. Assim, atitudes que busquem manter os predadores, parasitoides e patógenos de pragas nos agroecossistemas são de fundamental importância. A busca de um controle químico de pragas que provoque menor desequilíbrio biológico constitui-se ainda em um dos principais desafios da Ciência para o manejo dos agroecossistemas com sustentabilidade. O uso de inseticidas e acaricidas seletivos é de grande importância para retardar ou mesmo evitar problemas decorrentes do uso de pesticidas, como os surtos de pragas secundárias e a ressurgência.

Pesticidas seletivos para a cultura do algodão

A pesquisa mais atual padroniza técnicas para os estudos de seletividade, com o intuito de se obter tabelas de classificação de produtos com base na seletividade C (Tabela 1). Elmo P. de Melo, Unigran Paulo E. Degrande, UFGD * Critério de categorização da seletividade de acordo com o IOBC (International Organisation for Biological Control): N = inócuo ou levemente tóxico (mortalidade dos principais inimigos naturais a campo ou semicampo de 0 a 50%, em laboratório de 0 a 30%); M = moderadamente tóxico (mortalidade dos principais inimigos naturais a campo ou semicampo de 50 a 75%, em laboratório de 30 a 79%); T = tóxico (mortalidade dos principais inimigos naturais a campo ou semicampo maior que 75%, em laboratório maior que 80%)

Tabela 1 - Seletividade de inseticidas e acaricidas utilizados na cultura do algodão para predadores, por ingrediente ativo e produto comercial. Persistência média para praga(s)-alvo e predadores, onde: N = inócuo ou levemente tóxico; M = moderadamente tóxico; e, T = tóxico aos inimigos naturais mais abundantes (com base na classificação do IOBC, 2007) INGREDIENTE ATIVO abamectina acefato acetamiprido alfa-cipermetrina Bacillus thuringiensis beta-ciflutrina beta-ciflutrina + triflumurom beta-ciflutrina + Imidacloprido beta-cipermetrina bifentrina bifentrina + carbosulfano bifentrina + imidacloprido buprofezina carbosulfano cipermetrina cipermetrina + profenofós clorantraniliprole clorantraniliprole + lambda-cialotrina clorfenapir clorfluazurom cloridrato de cartape clorpirifós clotianidina deltametrina diafentiurom diflubenzurom dimetoato enxofre esfenvalerato esfenvalerato + fenitrotiona espinosade espiromesifeno etofenproxi etoxazol fenitrotiona fenpropatrina fipronil flonicamida flubendiamida flufenoxurom gama-cialotrina imidacloprido indoxacarbe lambda-cialotrina lambda-cialotrina + tiametoxam lufenurom malationa metidationa metomil metoxifenozida milbemectina novalurom parationa-metilica permetrina pimetrozina piriproxifem propargito tebufenozida teflubenzurom tiacloprido tiametoxam tiametoxam + clorantaniliprole tiodicarbe triflumurom VPN-HzSNPV zeta-cipermetrina zeta-cipermetrina + bifentrina

SELETIVIDADE* N T M T N T T T T T T T N M T T N T M N T T M T M N T N T T N N N M T T T N N N T M M T T N T T M N N N T T N N N N N M M M M N N T T

PERSISTÊNCIA PREDADORES PRAGAS Curta Longa Moderada Moderada Curta Moderada Moderada Longa Curta Curta Moderada Longa Moderada Longa Moderada Longa Moderada Longa Moderada Longa Moderada Longa Moderada Longa Curta Longa Moderada Moderada Moderada Longa Moderada Longa Curta Longa Moderada Longa Moderada Moderada Curta Longa Moderada Moderada Moderada Moderada Curta Moderada Moderada Longa Moderada Longa Curta Longa Curta Moderada Curta Curta Moderada Longa Moderada Longa Curta Moderada Curta Moderada Curta Longa Curta Moderada Curta Curta Moderada Longa Longa Longa Curta Moderada Curta Longa Curta Longa Moderada Longa Curta Moderada Moderada Moderada Moderada Longa Moderada Longa Curta Longa Curta Curta Curta Curta Moderada Moderada Curta Moderada Curta Moderada Curta Longa Moderada Curta Moderada Longa Curta Longa Curta Longa Curta Moderada Curta Moderada Curta Longa Curta Moderada Curta Moderada Curta Longa Moderada Moderada Curta Longa Curta Longa Moderada Longa Moderada Longa

PRAGA ALVO PRINCIPAL Ácaro Percevejo Mosca-branca/Pulgão Bicudo Lagarta Bicudo Bicudo/Lagarta Percevejo Bicudo Lagarta Bicudo/Lagarta/Pulgão Lagarta/Pulgão Mosca-branca Pulgão Lagarta Lagarta Lagarta Lagarta Ácaro/Lagarta Lagarta Lagarta Lagarta Pulgão/Mosca-branca Lagarta Ácaro/Mosca-branca/Pulgão Lagarta Pulgão Ácaro Lagarta Bicudo/Lagarta Lagarta Ácaro/Mosca-branca Lagarta Ácaro Bicudo Lagarta Formiga/Bicudo Pulgão Lagartas Lagarta Lagarta Mosca-branca/Pulgão Lagarta Bicudo/Lagarta Percevejo Lagarta Bicudo Bicudo Lagarta Lagarta Ácaro Lagarta Bicudo Lagarta Pulgão Mosca-branca Ácaro Lagarta Lagarta Mosca-branca/Pulgão Mosca-branca/Pulgão Lagarta/Pulgão Lagarta Lagarta Lagarta Bicudo/Lagarta Bicudo/Lagarta

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Arroz

Avanço acelerado Restrito inicialmente a áreas próximas ao litoral ou à beira de regiões montanhosas, o complexo da brusone se encontra atualmente disseminado pela maioria das regiões produtoras de arroz no Brasil. Fungicidas inibidores da biossíntese de melanina, triazóis e estrobilurinas estão entre as ferramentas para enfrentar esse desafio

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expectativa produtiva do setor orizícola a ser confirmada nesta safra é da ordem de 12,35 milhões de toneladas do grão, 5,1% maior que na safra passada, praticamente sobre a mesma área cultivada, em função de condições climáticas e de manejo (Conab, 2014). No entanto, a confirmação destes patamares produtivos sofreu a interferência de doenças sobre a cultura, vindo a reduzir quantitativamente a produção, bem como qualitativamente, através da depreciação da qualidade final do grão do arroz. Neste sentido, a brusone tem alcançado maior representatividade sobre a grande

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maioria das áreas cultivadas com arroz. A espécie do patógeno responsável ainda não é unanimidade frente aos micologistas que estudam o assunto. No entanto, trabalhos mais recentes são categóricos em afirmar que se trata do Complexo Magnaporthe (Choi, J. 2013), fase teleomórfica do gênero, onde sua fase anamórfica ganha a denominação de Pyricularia. Dentro do gênero Magnaporthe existem cinco espécies: M. salvinii, M. grisea, M.oryzae, M. poae e M. rhizophila. As duas últimas infectam somente raízes das gramíneas hospedeiras. Já M. salvinii, M. grisea e M. oryzae têm habilidade de afetar

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colmos e folhas dos hospedeiros, além de alguns relatos dessa última infectar também por meio das raízes. A diferença é que M. salvinii produz esclerócios sobre os tecidos atacados enquanto M. grisea e M. oryzae não apresentam a mesma estrutura (Zhang, N. 2011). Essas duas últimas são as espécies mais representativas para a cultura do arroz e ambas podem ser responsáveis pela inoculação e geração dos sintomas característicos de brusone, por isso denominado de Complexo Magnaporthe (Choi, J. 2013). Anteriormente, essa doença estava restrita a áreas próximas ao litoral ou à beira


Figura 1 – Porcentagem (%) de incidência de brusone na base da panícula (“pescoço”) devido Figura 2 - Porcentagem (%) de incidência de brusone na base da panícula (“pescoço”) em ao atraso no posicionamento químico função de densidade de plantas e kg de N/ha

de coloração marrom, com centro grizáceo. Em condições favoráveis ao patógeno, as lesões coalescem, podendo causar morte de folhas ou da planta inteira. No colmo, a infecção pode bloquear a circulação de seiva, provocando a quebra no ponto de infecção e, consequentemente, o acamamento da planta. Além disso, a infecção pode começar no colar, onde a lâmina da folha entra em contato com o colmo, causando necrose na junção destas duas estruturas, produzindo inóculo para a infecção de ráquis e grãos. No nó da base da panícula, a infecção, também conhecida como “brusone de pescoço”, provoca enegrecimento desta região e obstrução no transporte de seiva, resultando em panículas esbranquiçadas, enfezadas e chochamento total dos grãos. É importante salientar que os sintomas na base da panícula não necessariamente resultarão da infecção presente na folha do arroz, pois a fonte de inóculo pode ser do micélio ou conídio nos restos cul-

turais, plantas daninhas ou lavouras de curta e média distância, se as condições permitirem. Assim, o ponto-chave para a infecção do patógeno no “pescoço” e seu manejo passa pelo entendimento da época vulnerável da planta à infeção do fungo, que compreende todo período entre final do emborrachamento e emissão das panículas. Durante esta fase, qualquer chegada de inóculo, seja produzido pela lesão da folha ou não, irá depositar-se sobre a folha bandeira e o molhamento encarrega-se de movimentá-lo até o interior da bainha, onde encontrará o ambiente ideal para iniciar a infecção no nó da base da panícula – “pescoço”. Qualquer posicionamento químico após a emissão total da panícula terá o intuito somente de reduzir a produção de inóculo que chegará na ráquis ou nos grãos (Figura 1). Desta forma, se as condições adequadas para a infecção estiverem satisfeitas, como temperaturas diurnas entre 25ºC e 28°C e noturnas entre 17ºC e 23°C, UR acima

Fotos Marcelo Madalosso

de regiões montanhosas, onde as condições climáticas eram favoráveis ao progresso acelerado do patógeno. Atualmente, está presente em praticamente todas as áreas produtivas do País, inclusive no interior do estado do Rio Grande do Sul, onde a pressão se encontrava abaixo do nível de dano. O aumento do potencial produtivo dos materiais e consequente queda na rusticidade, aliado à dispersão de inóculo pela semente e sua permanência nos restos culturais, é fator responsável por esta “interiorização” do patógeno. Em regiões de sequeiro ou mesmo áreas irrigadas nas regiões tropicais (Tocantins, Roraima etc) os sintomas da brusone passam a se manifestar a partir das primeiras folhas da planta de arroz. Nas folhas estabelecidas os sintomas caracterizam-se pela formação inicial de pequenas lesões necróticas de coloração marrom, rodeadas por um halo amarelado. Após, evoluem para manchas alongadas com formato típico de diamante, com bordos irregulares e

Sintomas de brusone em plantas de arroz no estádio reprodutivo

Lesões coalescidas provocadas pela doença nas folhas das plantas

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Figura 3 - Mecanismo de penetração do apressório de Pyricularia oryzae em epiderme de arroz (adaptado de Kurahashi, 2001)

Marcelo Madalosso

de 90%, nebulosidade elevada e longos períodos de molhamento foliar, a ocorrência de brusone será notada, mesmo com baixa infestação na folhagem. O contrário também será verdadeiro, sendo observada a lesão nas folhas e baixa infecção no “pescoço”. Além disso, estresses causados por fornecimento intermitente de água, aliados a desequilíbrio nutricional (principalmente excesso de nitrogênio no início do ciclo) e associados à elevada população de plantas, também são fatores que aumentam a sensibilidade do arroz à brusone. No caso do descrédito desta interação, mesmo a aplicação do fungicida não será suficiente para reduzir a taxa de progresso do patógeno sobre os tecidos do hospedeiro, resultando em grandes quebras (Figura 2). Este fungo, em especial, possui algumas características no processo de infecção que o diferenciam da grande maioria dos causa-

Figura 4 – Rota biossintética da melanina (adaptado de Kurahashi, 2001)

dores de doenças em plantas. Com o início do processo de germinação do patógeno sobre os tecidos do hospedeiro, há formação do tubo polínico e posterior apressório que produz compostos diferentes dos demais. Neste processo, o fungo sintetiza biopolímeros a partir de compostos fenólicos, formando a melanina. Assim, passa a ser biossintetizada nas paredes do apressório, formando a hifa de infecção para a penetração na epiderme do hospedeiro (Figura 3). Essa é uma característica essencial à patogenicidade, conferindo vantagens adaptativas em condições inadequadas de infecção e aumentando a virulência do patógeno (Suryanarayanan, 2004), visto que indivíduos mutantes que não produzem melanina não causam brusone. Além do Complexo Magnaporthe, patógenos do gênero Colletotrichum sp. também fazem da melanina um componente fundamental do seu processo de patogenicidade (Rodrigues, 2006). De acordo com o Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas (Frac), 2013, alguns produtos têm a habilidade de impedir a biossíntese desse tipo de componente, causando a morte do patógeno. Esses mecanismos de ação são responsáveis pela redução ou desidratação enzimática na rota de biossíntese da melanina DHN (polímeros de 1,8-dihydroxynaphthalene), sendo, portanto, os principais sítios alvo (Quadro 1). De todos os produtos citados no Qua-

dro 1, o tricyclazole é o ingrediente ativo (i.a.) de maior comercialização para controle de brusone e sua ação é relatada entre os compostos 1, 3, 8 Trihidroxynaphtalene (THN) e Vermelone (Figura 4). Plantas de arroz foram tratadas com este i.a. e observou-se que a germinação e o início do desenvolvimento do apressório não sofreram alterações, porém, a melanização foi reduzida, diminuindo a patogenicidade e coloração de cinza-escuro para marromclaro. Além disso, ocorreu acúmulo de Scytalone, evidenciando que a continuação do processo de biossíntese foi interrompida a partir dali (Rodrigues, 2006). Além destes grupos de fungicidas, vale lembrar que alguns i.a. dos grupos dos triazóis e estrobilurinas também são eficazes quanto à supressão desta doença, especialmente quando posicionados preventivamente e dentro de um programa de proteção foliar associado às estratégias de manejo para reduzir as condições adequadas ao estabelecimento e avanço do patógeno sobre a planta. C Marcelo Madalosso, Instituto Phytus/URI Santiago Mônica Debortoli, Felipe Weber, Diogo Patias e Caroline Gulart, Instituto Phytus Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria

Quadro 1 – Fração do quadro de classificação de fungicidas de acordo com o mecanismo de ação (Frac, 2013) Mecanismo de ação

Sintomas de brusone na base da panícula (“pescoço”) no arroz

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I: Inibição da biossíntese de melanina (MBI’s)

Código e Sítio Alvo I1: redutase na biossíntese de melanina I2: desidratase na biossíntese de melanina

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Nome do Grupo MBI-R (inibidores da biossíntese de melanina - redutase) MBI-D (Inibidores da biossíntese de melanina-dehydratase)

Grupo Químico Nome Comum isobenzeno-furanone fthalide pyrrolo-quinolinone pyroquilon triazolobenzo-thiazole tricyclazole cyclopropane-carboxamide carpropamid carboxamide diclocymet propionamide fenoxanil


Informe Publicitário

Fitotoxicidade de fungicidas em soja

A

safra 2013/2014 foi marcada pela ocorrência de inúmeros relatos de fitotoxicidade na cultura da soja, em decorrência da utilização de fungicidas. A utilização de fungicidas na cultura da soja teve um aumento significativo nas últimas safras, em decorrência da frequência das doenças e de intensidade das mesmas quando o ambiente as favorece. A principal doença que ataca a cultura é a Ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Trata-se de uma doença muito agressiva e com elevado potencial de dano à cultura, sendo atualmente o controle químico a principal ferramenta de manejo dessa doença. Os principais fungicidas registrados e recomendados para o controle da Ferrugem Asiática da soja baseiam-se geralmente em misturas de dois ingredientes ativos, pertencentes aos grupos das estrobilurinas e dos triazóis/triazolintionas. De acordo com a tabela 1, observamos que a dose de ingrediente ativo recomendada para as estrobilurinas é muito semelhante entre os diferentes produtos registrados, em torno de 60 g de i.a./ha. Con-

tudo, para os triazóis/triazolintionas a dose de ingrediente ativo recomendada apresenta uma ampla variação, de 24 a 75 g i.a./ha. Sabemos que esses fungicidas, na sua maioria, penetram na planta e se movimentam com menor ou maior intensidade, dependendo do ativo. De uma forma geral, os fungicidas pertencentes ao grupo das estrobilurinas apresentam uma menor intensidade de movimento quando comparado aos fungicidas do grupo dos triazois/triazolintionas. Geralmente os fungicidas sistêmicos, acompanham o movimento da água no interior da planta, ou seja, quando há água disponível no solo, a planta absorve e transpira continuamente, movimentando

o fungicida no seu interior, nessa situação o risco de fitotoxicidade é mínimo. Porém em situações de défict hídrico, causado pela baixa quantidade de água disponível no solo, o produto quando aplicado fica concentrado na área aplicada e maior será a probabilidade de fitotoxicidade. Nessa situação, o produto com maior concentração de triazol/triazolintiona será o que apresentará maior probabilidade de fitotoxicidade. Henrique Antônio Morais, Engenheiro Agrônomo TESTagro Pesquisa Agropecuária

Tabela 1 – Principais produtos registrados e recomendados para o controle da ferrugem asiática da soja Ingrediente ativo azoxistrobina + ciproconazol picoxistrobina + ciproconazol trifloxistrobina + protioconazol piraclostrobina + epoxiconazol

Dose recomendada (g i.a./ha) 60 + 24 60 + 24 60 + 70 66,5 + 25

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Soja Fernando Godinho de Araújo

Perigo tratado Na luta contra nematoides na cultura da soja, tratar as sementes é uma iniciativa importante na manutenção da sanidade das lavouras durante a emergência e a fase inicial de desenvolvimento das plantas. Contudo, essa ferramenta não deve ser empregada de modo isolado e único no manejo desses fitoparasitas

A

soja é a mais importante oleaginosa cultivada no mundo. No entanto, para atingir altos índices produtivos é necessário o manejo correto de uma série de pragas e doenças que afetam a cultura. Dentre as doenças, os nematoides têm sido considerados grandes vilões na redução de produtividade da soja, nas áreas onde estão presentes. Mais de 100 espécies de nematoides envolvendo aproximadamente 50 gêneros estão associadas à cultura da soja. No Brasil, os nematoides que causam

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maiores danos à cultura são: o nematoide das galhas (Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita), o nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis). Os sintomas relacionados ao ataque desses fitoparasitas se assemelham muito. Em áreas com a presença do nematoide é comum encontrar reboleiras, com plantas atrofiadas e cloróticas, e a redução da produtividade da cultura é inevitável, já que eles parasitam o

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sistema radicular da soja, dificultando a absorção de água e nutrientes. Em casos de populações muito elevadas pode ocorrer a morte das plantas. Dependendo da espécie presente na área, alguns sintomas adicionais podem ser observados. Para as espécies do gênero Meloidogyne, é comum a presença de galhas no sistema radicular da soja. Em áreas com a presença de nematoide de cisto, o sistema radicular e a nodulação são reduzidos e é possível observar a presença de fêmeas, de coloração amarelada, nas raízes. As plantas



Renato A. Teixeira

tegendo as plântulas e permitindo um desenvolvimento adequado do sistema radicular. As plantas que conseguem ter um desenvolvimento inicial vigoroso de suas raízes têm a capacidade de resistir melhor ao ataque dos nematoides. Dentre os princípios ativos empregados no manejo de nematoides, via tratamento de sementes, destacam-se os à base de abamectina e de tiodicarbe. Esses produtos têm sido empregados em várias dosagens e geralmente associados ao tratamento com fungicidas e/ou inseticidas (Tabela 1). Esses produtos químicos têm como principal objetivo a redução da penetração do nematoide nas raízes da soja e consequentemente a redução do parasitismo. Em pesquisas conduzidas a campo e em casa de vegetação, pelo Laboratório de Nematologia do IF Goiano, Campus Urutaí, foram observadas reduções na penetração e no parasitismo dos nematoides M. incognita, P. brachyurus e H. glycines, quando as sementes de soja foram tratadas com produtos químicos à base de abamectina e imidacloprido + tiodicarbe. Esses resultados são mais visíveis até os primeiros 30 dias de vida da cultura, coincidindo com o período residual dos produtos. À medida que as plantas se desenvolvem, as diferenças no parasitismo se tornam imperceptíveis. A proteção inicial conferida pelos nematicidas, aplicados via tratamento

parasitadas pelo nematoide das lesões radiculares possuem lesões escuras em suas raízes, sendo comum a associação desse nematoide com fungos de solo, como os do gênero Fusarium. Já em áreas com a presença do nematoide reniforme, os sintomas diferem um pouco dos já apontados, não havendo a presença de reboleiras e sendo possível observar uma camada de terra aderida às massas de ovos do nematoide, que são produzidas externamente, nas raízes. O primeiro passo para manejar essa doença é a correta identificação da espécie de nematoide presente na área. De posse dessa informação, várias táticas de manejo devem ser empregadas com o intuito de manter os níveis populacionais dos nematoides o mais baixo possíveis. Dentre as alternativas de manejo, a rotação/sucessão de culturas, o manejo de solo, a adubação verde e a resistência genética têm sido as técnicas mais difundidas e empregadas pelos agricultores. Cada espécie exige uma atenção diferenciada no tocante às técnicas de manejo empregadas. A rotação/sucessão com culturas não hospedeiras deve ser adotada no manejo de todas as espécies de nematoide e para algumas espécies (H. glycines, M. incognita, M. javanica e R. reniformis) existem cultivares de soja resistentes. No entanto, o uso da resistência genética nunca deve ser

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empregado de forma isolada para evitarse a seleção de indivíduos capazes de parasitar as cultivares resistentes. Esse fato é muito comum para o nematoide de cisto da soja que, por possuir uma grande variabilidade genética, o surgimento de novas raças pode ocorrer em função do mau manejo decultivares resistentes. Com o objetivo de aumentar a eficiência do controle dos nematoides em áreas infestadas e diminuir a pressão de seleção tem-se buscado medidas alternativas de controle. A utilização de nematicidas aplicados no solo na cultura da soja mostra-se bastante limitada devido a problemas toxicológicos de contaminação do ambiente e ao alto custo do tratamento. Na busca por diminuir os impactos ambientais inerentes à aplicação de agroquímicos e o custo do tratamento tem-se utilizado o tratamento de sementes como alternativa adicional ao manejo de nematoides na cultura da soja. Com isso, reduzem-se os custos e o impacto ambiental, já que a quantidade de produto utilizado é reduzida e o tratamento de sementes permite uma aplicação mais segura do produto químico. O tratamento de sementes tem o objetivo de suprimir os nematoides durante as primeiras semanas após a semeadura, diminuindo a penetração, pro-

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Fernando Godinho de Araújo

Raiz de soja com a presença de galhas provocadas pela incidência de Meloidoygne incognita

Sistema radicular com juvenis de Heterodera glycines


de sementes, muitas vezes pode ser percebida na produtividade da cultura da soja. Isso se deve ao fato das plantas apresentarem bom estabelecimento inicial, sistemas radiculares mais vigorosos e, consequentemente, uma maior tolerância ao ataque dos nematoides. No entanto, é importante salientar que como o efeito residual do produto é de aproximadamente 30 dias, o tratamento de sementes nunca deve ser utilizado de forma isolada no manejo de nematoides, uma vez que superado esse período, os níveis populacionais do nematoide retomam o seu crescimento, chegando a atingir valores superiores aos encontrados antes do plantio. Na tentativa de aumentar a eficiência no manejo de nematoides, via tratamento de sementes, tem-se buscado a associação de produtos químicos com agentes de controle biológicos. Destacam-se os fungos do gêneros Paecilomyces e Arthrobotrys e algumas bactérias. Os dois fungos são bastante difundidos e atuam sobre juvenis e ovos dos nematoides, respectivamente. Já a utilização das bactérias tem como base a modificação da rizosfera, o que afeta direta ou indiretamente estes parasitas. A relevância dessas bactérias para o controle de nematoides é maior quan-

Fernando Godinho de Araújo

Tabela 1 - Produtos químicos registrados para o manejo de nematoides na cultura da soja via tratamento de sementes de sementes Ingrediente Ativo Abamectina Imidacloprido + Tiodicarbe

Dose recomendada (mL/100 kg sementes) 100 a 125 500 a 700

Nematoides controlados P. brachyurus M. incognita P. brachyurus M. javanica

Fonte: http://agrofit.agricultura.gov.br/

Sistema radicular parasitado pela incidência de Heterodera glycines

do possuem a capacidade de colonizar o interior das plantas, podendo agir sobre os nematoides antes e depois da penetração dos vegetais. No Brasil, já é possível encontrar produtos à base do fungo Paecilomyces lilacinus, registrados para outras culturas, e que tem sido testado, juntamente com produtos à base das bactérias do gênero Pasteuria e Bacillus, para a cultura da soja. É interessante ressaltar que esses testes têm sido feitos com os agentes de controle biológico isolados e em mistura com os produtos químicos já registrados para tratamento de sementes no manejo de nematoides.

A utilização conjunta dos produtos químicos e dos agentes de controle biológico é bastante interessante por possibilitar o aumento da eficiência no controle dos nematoides. Os produtos químicos reduziriam principalmente a penetração dos nematoides e os agentes de controle biológico atuariam no parasitismo de ovos, juvenis ou mesmo de adultos. Porém, fica o alerta que como essas pesquisas ainda estão em fases iniciais e o tratamento de semente somente com produtos químicos não tem um longo período residual, essas formas de manejo nunca devem ser a única opção para o controle de nematoides na C cultura da soja. Fernando Godinho de Araújo, IF Goiano – Campus Urutaí


Soja

Lucro mofado

Fotos M. C. Meyer

Uma das mais antigas doenças na cultura da soja, o mofo-branco é capaz de reduzir a produtividade da oleaginosa em até 70%. O sucesso do emprego de fungicidas para realizar seu manejo depende de diversos fatores como dose, momento da pulverização, número e intervalo entre aplicações, além da tecnologia utilizada. Seu emprego deve se dar em conjunto com outras estratégias como adoção de cultivares menos suscetíveis e medidas de controle biológico

O

mofo-branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, é uma das mais antigas doenças da soja. Sua ocorrência e níveis de dano aumentaram significativamente no Brasil, tanto nas áreas mais altas do Cerrado, como nas mais tradicionais de cultivo do Sul e do Sudeste, podendo reduzir a produtividade em até 70%. Estima-se que aproximadamente 23% da área de produção de soja brasileira esteja infestada pelo patógeno, compondo 6,8 milhões de hectares que necessitam da adoção de medidas de controle da doença. O fungo causador do mofo-branco afeta mais de 400 espécies de plantas e os danos manifestam-se com maior severidade em re-

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giões com clima chuvoso, temperatura amena e alta umidade relativa do ar. A manutenção da umidade do solo é fundamental para o desenvolvimento da doença, pois a germinação dos escleródios (estruturas de sobrevivência do fungo) depende da umidade do solo, de temperaturas entre 15°C e 25°C, e de pouca incidência de luz solar. Pela dependência destas condições, a ocorrência de mofo-branco em soja varia de intensidade entre as safras. Uma das características marcantes do fungo S. sclerotiorum é a formação de escleródios. O escleródio é uma estrutura composta por aglomerado de hifas, comumente arredondadas ou alongadas, de coloração preta e consistência firme, que desempenha papel

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importante na sobrevivência do fungo de uma safra para outra. A germinação do escleródio tem origem carpogênica ou miceliogênica, desencadeando novos ciclos da doença. A produção de apotécios a partir dos escleródios é chamada de germinação carpogênica e é a principal fonte de infecção na cultura da soja. A germinação miceliogênica é caracterizada pelo crescimento de hifas hialinas, septadas, multinucleadas e ramificadas, com origem a partir de microporos do escleródio. O fungo é capaz de infectar qualquer parte da planta de soja, porém, as infecções iniciam-se com mais frequência a partir das inflorescências, das axilas dos pecíolos e dos ramos laterais. O patógeno pode atacar toda


Evolução da área cultivada com soja no Brasil (dados da Conab) e da área infestada com mofo-branco (dados estimados a partir de informações do setor produtivo e de pesquisa agrícolas), nas últimas sete safras

Escleródios de Sclerotinia sclerotiorum em resíduo de pré-limpeza de grãos de soja provenientes de lavoura atacada por mofo-branco

a parte aérea da planta, afetando folhas, hastes e vagens. A planta da soja infectada apresenta, inicialmente, lesões aquosas, de onde crescem hifas, formando abundante micélio branco, o que caracteriza o nome da doença. Os tecidos atacados apodrecem em consequência da ação das diversas toxinas produzidas por S. sclerotiorum. Nessa fase, pode ser observado o apodrecimento de hastes laterais, vagens e folhas, ou mesmo a haste principal com morte de toda a planta. Os escleródios são formados tanto na superfície como no interior da haste e das vagens infectadas, podendo se desprender sozinhos ou serem lançados ao solo durante a colheita, aumentado o inóculo na área. O manejo da doença tem como objetivos estratégicos a redução do inóculo (escleródios no solo) e a redução da incidência e de sua taxa de progresso. A redução de inóculo no solo é conseguida pela inviabilização dos escleródios no solo e pela diminuição da produção de escleródios nas plantas doentes, através de medidas como: formação de palhada para cobertura uniforme do solo, preferencialmente

oriunda de gramíneas; rotação e/ou sucessão com culturas não hospedeiras; emprego de controle biológico através da infestação do solo com agentes antagonistas; utilização de sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas adequados; emprego de controle químico, através de pulverizações foliares de fungicidas principalmente no período de maior vulnerabilidade da planta (R1 a R4). Para a redução da incidência do mofo-branco e de sua taxa de progresso, as seguintes medidas são importantes: escolha de cultivares com arquitetura de plantas que favoreça uma boa aeração entre plantas (pouco ramificadas e com folhas pequenas) e com período mais curto de florescimento, e a utilização de população de plantas e espaçamento entre linhas adequados às cultivares. Outra medida que contribui significativamente na redução da dispersão do fungo S. sclerotiorum é a limpeza de máquinas e equipamentos após utilização em área infestada para evitar a disseminação de escleródios para novas áreas. A efetividade do controle do mofo-branco

em soja só é conseguida com a integração dessas medidas, não apresentando resultados satisfatórios isoladamente. Pesquisas vêm sendo realizadas buscando o desenvolvimento de cultivares resistentes à doença em várias culturas, tanto pelo melhoramento clássico como pela transgenia, no entanto, nenhuma cultivar de soja é completamente resistente ao mofo-branco, mas alguns desses materiais apresentam resistência parcial. Por óbvio, cultivares com resistência parcial são menos afetadas pela doença que cultivares suscetíveis. Ainda não há cultivares comerciais de soja oriundas destes programas. Em 2008 foram iniciadas as atividades que deram origem aos ensaios cooperativos de controle químico e biológico de mofo-branco em soja, fruto de discussões nas Reuniões de Pesquisa de Soja organizadas pela Embrapa. Estas redes de ensaios são executadas por fitopatologistas de diversas instituições de pesquisa e ensino do País, sendo conduzidos experimentos nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais,

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Bahia, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Os fungicidas que apresentaram os melhores níveis de controle foram fluazinam e procimidona, pulverizados isoladamente ou em associação com tiofanato metílico ou carbendazim, variando de duas a quatro pulverizações em intervalos de dez dias, iniciando no estádio R1 de desenvolvimento das plantas (início do florescimento). Dois outros fungicidas, ainda em fase de registro, também apresentaram elevado nível de controle. Os resultados destes ensaios constam na publicação “Ensaios cooperativos de controle químico de mofo branco na cultura da soja – safras 2009 a 2012”, série Documentos 345 (disponível nas publicações on-line da Embrapa Soja em www.cnpso.embrapa.br). A eficiência do controle químico do mofobranco em soja depende de vários fatores, tais como dose, momento da aplicação, número e intervalo entre aplicações, além da tecnologia de aplicação utilizada. Como a principal forma de infecção da planta de soja por S. sclerotiorum ocorre através da colonização de flores e vagens em início de desenvolvimento por ascósporos do fungo (germinação carpogênica), as plantas precisam ser protegidas pelos fungicidas entre os estádios R1 (início de florescimento) e final de R4 (formação das vagens), caso haja

Fotos M. C. Meyer

Principais regiões brasileiras produtoras de soja infestadas com Sclerotinia sclerotiorum, patógeno causador do mofo-branco

Crescimento micelial de Sclerotinia sclerotiorum em planta de soja

Planta de soja com mofo-branco apresentando abundante formação de escleródios

presença de apotécios na lavoura. Em condições de campo, escleródios podem ser atacados e degradados por microparasitas como fungos e bactérias. Dentre esses microrganismos, algumas espécies do fungo Trichoderma e da bactéria Bacillus se destacam entre os antagonistas mais eficientes de patógenos habitantes do solo, existindo algumas formulações comerciais já registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A aplicação de antagonistas deve ser feita antes da germinação dos escleródios, ou seja, quando o escleródio encontra-se em repouso na superfície do solo, por estar mais vulnerável ao ataque. Para o bom funcionamento do controle biológico, condições de ambiente semelhantes às que favorecem a germinação dos escleródios são necessárias para o estabelecimento dos agentes de biocontrole, cujas estruturas de reprodução são mais sensíveis e dependentes de umidade e sombreamento do solo, assim como de temperaturas ame-

nas. Por esta razão, o sistema de semeadura direta sobre palhada de gramíneas tem se mostrado um pré-requisito para o sucesso desta medida de controle. Nos ensaios cooperativos de controle biológico foram avaliadas formulações de fungos e bactérias potencialmente antagônicos ao fungo S. sclerotiorum e um extrato vegetal à base de lignosulfonato, em duas aplicações nos estádios V2 e V4, respectivamente. Todos os tratamentos com biofungicidas superaram a testemunha sem controle e não diferiram entre si, apresentando índices de controle que variaram de 29% a 39%. Foram também observadas reduções de germinação carpogênica variando de 19% a 24%, representando importante C contribuição no manejo da doença. Maurício C. Meyer e Claudia V. Godoy, Embrapa Soja Hercules D. Campos, UniRV

Germinação carpogênica de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum. A) apotécios formados em condição de laboratório; B) Apotécio formado em campo, originário de escleródio enterrado a cerca de 2cm de profundidade; C) Apotécios formados a campo, de escleródios na superfície do solo

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Nossa capa

O que plantar

Charles Echer

É extensa a lista de cultivares de trigo disponíveis para plantio nas regiões produtoras brasileiras. Conhecer as características desses materiais como adaptabilidade ao ambiente de cultivo, resistência e tolerância a doenças, altura, germinação e crestamento é indispensável para que o produtor possa realizar a escolha mais adequada à realidade de sua lavoura

A

s atuais e potenciais regiões tritícolas brasileiras são região Sul, região Centro-Sul e região Central, representada pelo Cerrado brasileiro. As regiões Sul e Centro-Sul, abrangendo aproximadamente dois milhões de hectares (ha), são consideradas áreas tradicionais de cultivo de trigo e representam, aproximadamente, 95% da área atualmente cultivada e, por consequência, da produção brasileira de trigo. Nessa região ocorrem solos com e sem alumínio, sendo o clima classificado como temperado a subtropical, com chuvas menos frequentes e menos uniformes no Paraná e com precipitações mais abundantes no Rio Grande do Sul, durante a época de cultivo de trigo. Em geral, pelas condições de ambiente mais seco no Paraná, os genótipos de trigo cultivados nesse Estado têm apresentado melhor aptidão tecnológica para panificação, quando comparadas com as mesmas cultivares produzidas na região tritícola Sul. Como o Paraná e o Rio Grande do Sul respondem, tradicionalmente, por mais de 90% da produção nacional de trigo, uma boa

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produção nesses estados é importante para o Brasil reduzir a sua dependência de importações. O Paraná, até 2011, representava mais de 50% da área e da produção de trigo no Brasil. Com o aumento da área com milho de segunda safra, chamada de milho safrinha, que atingiu, aproximadamente, dois milhões de hectares no Paraná, esse Estado teve uma redução de área em torno de 26%, em 2012, perdendo a condição de maior produtor do país (dados da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab). Essa redução de área se deu, principalmente, devido ao aumento do milho safrinha na região oeste do Estado. Em 2014 a área plantada no Paraná deve alcançar 1,2 milhão de hectares, um aumento de aproximadamente 20% em relação ao ano passado. As informações são do relatório da safra de grãos 2013/2014 do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento. Se confirmada a área, em condição climática normal, a safra poderá atingir um recorde de 3,5 milhões de toneladas, o que daria ao Paraná a condição de maior produtor nacional, título perdido em

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2013 para o Rio Grande do Sul, quando a safra paranaense somou 1,8 milhão de toneladas devastadas pelas geadas. No Rio Grande do Sul, a área plantada em 2013 foi de 1.059.232 hectares, com rendimento médio de 3.060kg/ha, resultando na produção de 3.351.655 toneladas, a maior safra da história do trigo gaúcho, voltando a ser o “celeiro nacional” para a cultura do trigo. Para 2014, as estimativas apontam incremento de 10% na área a ser semeada, o que representa a projeção de 1.160.000 de hectares de trigo para 2014. Considerando a mesma produtividade de 2013, o Rio Grande do Sul poderá manter-se como maior produtor de trigo com a produção de 3.550.000 toneladas.

Cultivares com registro

Para que uma cultivar de trigo possa ser comercializada, cobrar royalties, e ser semeada em solo brasileiro, é necessário que esteja inscrita no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (RNC-Mapa) e no Sistema Nacional de Proteção de Cultivares do Minis-


Figura 1 - Regiões homogêneas de adaptação de cultivares de trigo no Brasil

Tabela 1 - Classes do trigo do Grupo II destinado à moagem e outras finalidades Classes Melhorador Pão Doméstico Básico Outros Usos

Força do Glúten (Valor mínimo expresso em 10-4 J) 300 220 160 100 Qualquer

e ou ou ou

Estabilidade Número de Queda (Tempo expresso em minutos) (Valor mínimo expresso em segundos) 14 250 10 220 6 220 3 200 Qualquer Qualquer

Fonte: Instrução Normativa No38, de 30 de novembro de 2010, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, publicada no Diário Oficial da União de 1º de dezembro de 2010.

formularios-protecao-cultivares. Na Figura 1 estão apresentadas as regiões homogêneas de adaptação de cultivares de trigo, utilizadas para fins de indicação de cultivares no Zoneamento Agrícola de Risco Climático do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e para realização de ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) de trigo para os estados considerados. tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SNPC-Mapa). Informações mais detalhadas sobre o registro e proteção de cultivares podem ser encontradas em: http://www.agricultura. gov.br/vegetal/registros-autorizacoes/registro/ registro-nacional-cultivares e em http://www.agricultura.gov.br/vegetal/ registros-autorizacoes/protecao-cultivares/

CLASSIFICAÇÃO TECNOLÓGICA

Para a comercialização do trigo há necessidade do enquadramento das cultivares indicadas para cultivo no Brasil em classes comerciais conforme a Tabela 1.

CULTIVARES DE TRIGO EM USO NO BRASIL

Se as cultivares conhecidas como “antigas”

tinham a rusticidade (adaptação e resistência geral a estresses bióticos e abióticos) como característica de destaque associada à boa resistência ao crestamento, também apresentavam como pontos negativos o porte alto e o baixo potencial de rendimento de grãos. Por outro lado, as cultivares de trigo conhecidas como “modernas” têm, em geral, porte mais baixo e, por isso, têm mostrado grande redução na incidência de acamamento quando cultivadas em solos mais férteis com maiores doses de adubos nitrogenados. A adição de novos genes de resistência às doenças, às pragas e aos estresses causados pelo ambiente adverso tem proporcionado substancial aumento no potencial de rendimento de grãos, que atualmente ultrapassa em muito os 2.000kg/ha, que eram alcançados nas melhores lavouras

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Fotos Pedro Luiz Scheeren

Cultivar de trigo BRS Parrudo, lançada pela Embrapa, pode ser semeada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná

de 20 anos atrás. Nos últimos anos, foram comuns os relatos de lavouras ultrapassando os 5.000kg/ha, principalmente em lavouras do Sul e Centro-Sul do Brasil, mesmo sem irrigação. Assim, as diversas empresas de melhoramento de trigo estão presentes na criação destas cultivares em todo o Brasil, com o objetivo de atender às diversas regiões de adaptação apresentadas no mapa das regiões de adaptação de trigo no Brasil (Figura 1) e conforme as diferentes demandas dos mercados consumidores. Na Tabela 2 são apresentadas as cultivares de trigo indicadas para comercialização de sementes nas três regiões de adaptação do Brasil no ano de 2014 (Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale 2013). São apresentadas, também, as informações sobre o obtentor (empresa que registrou a cultivar no Mapa), o ano de lançamento da cultivar, o estado e a região para onde a cultivar foi indicada ao cultivo, além da classe comercial da cultivar. Na Tabela 3 são apresentadas algumas das principais características das cultivares que poderão influenciar por ocasião da escolha da cultivar a ser semeada. São apresentadas as informações sobre: estatura de planta, reação ao crestamento, à germinação na espiga em pré-colheita, ao oídio, à ferrugem da folha, à ferrugem do colmo, à giberela, à brusone, à mancha da gluma, à mancha marrom, à mancha bronzeada, ao vírus do mosaico e ao vírus

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do nanismo amarelo da cevada (Vnac). Novas cultivares de trigo são desenvolvidas pelas empresas de melhoramento, anualmente, para todas as regiões produtoras. A melhoria da resistência, do potencial de rendimento e da qualidade, associada a novos “ideotipos” de planta, adaptados às condições brasileiras, é buscada continuamente pela pesquisa. Como nova recomendação de cultivo da Embrapa, merece destaque a cultivar BRS Parrudo (Figura 2), que foi indicada para semeadura nas regiões tritícolas 1 e 2, dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Região 1 do Paraná. BRS Parrudo possui ciclo precoce a médio (85 dias até o espigamento e 135 dias até a maturação de colheita) e tem arquitetura de planta diferenciada em relação às demais cultivares de trigo disponíveis no mercado. Apresenta, em sua genética, um conjunto de características agronômicas importantes, como, por exemplo, porte médio, vigoroso sistema radicular permitindo melhor “ancoramento” da planta ao solo e colmo cheio nos entrenós da base, resultando em boa resistência ao acamamento. BRS Parrudo apresenta ainda vigoroso crescimento inicial e folhas curtas e eretas, permitindo melhor penetração e distribuição da luminosidade, bem como melhor difusão gasosa também para as folhas inferiores da planta, tornando o microclima no interior da cultura menos favorável às doenças e permitindo, ainda, melhor penetração dos tratamentos aplicados. A resistência ao cresta-

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mento e moderada resistência à geada em fase vegetativa (com pouca “queima de folhas”) também merecem destaque. Mostrou, ainda, espiga longa, com até 20 espiguetas, e com excelente fertilidade, podendo formar de três a quatro grãos por espigueta em lavouras de elevado potencial de rendimento de grãos. Na colheita, chamam atenção os grãos duros, vermelhos e vítreos, com ausência de grãos mosqueados (chamados de “pança blanca” na Argentina e responsáveis pela posterior redução na força de glúten da farinha). Os primeiros lotes do trigo BRS Parrudo, produzidos em 2013, chegaram aos moinhos em 2014 quando a indústria já testou e os resultados foram promissores. Foram enviadas 38 amostras de BRS Parrudo cultivadas em lavouras de diversos municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná, a um moinho paranaense para análise dos grãos e da farinha. Como resultado foram obtidos valores de força de glúten (W) entre 279 e 495, com média de 351. No teste de Farinografia, que também mede a capacidade de amassamento, BRS Parrudo teve média de 31 minutos, com variação entre 15 e 62 minutos. Sendo classificado como Trigo Melhorador, sugere-se que esta cultivar seja empregada na produção de massas alimentícias secas, biscoitos tipo cracker, panificação industrial, podendo ser mesclada com trigo de glúten mais fraco, para panificação em geral. Seguindo as recomendações de manejo para uma boa lavoura de BRS Parrudo, o produtor pode alcançar a produtividade de grãos desejada e a qualidade que o mercado exige. As principais recomendações de manejo são: aplicar boa adubação de base, seguindo análise de solo; empregar tratamento de sementes; na semeadura usar, aproximadamente, 150kg de sementes por ha, com o objetivo de estabelecimento de uma população de, no mínimo, 300 plantas por m2; usar adubação de cobertura com até 120kg/ha de nitrogênio, somando base + cobertura, para a Região 1 (Planalto, Serra e Serra do Sudeste), e até 100kg/ha de nitrogênio, somando base + cobertura, para a Região 2 (Missões, Campanha e Depressão Central). Também as demandas das indústrias moageiras e do mercado consumidor de farinhas estão em constante ajuste, exigindo da pesquisa, em geral, novos investimentos para fazer frente aos desafios que vêm sendo apresentados. Espera-se que, no futuro, a pesquisa, os produtores de grãos e as indústrias de moagem e de transformação consigam atender às demandas dos consumidores finais, consumidores de pão, de massas, de bolos, de biscoitos C e demais produtos derivados de trigo. Pedro Luiz Scheeren e Manoel Bassoi, Embrapa Trigo


Tabela 2 - Cultivares de trigo registradas pelos obtentores junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e indicadas para comercialização, apresentadas à Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, com informações sobre o obtentor, o ano de lançamento, as regiões de recomendação, o ciclo e a classe comercial. Passo Fundo, 2014 Cultivar Abalone Ametista BR 18-Terena BRS 179 BRS 207 BRS 208 BRS 220 BRS 254 BRS 264 BRS 296 BRS 327 BRS 328 BRS 374 BRS 331 BRS Gaivota BRS Gralha Azul BRS Guabiju BRS Guamirim BRS Louro BRS Marcante BRS Pardela BRS Parrudo BRS Sabiá BRS Tangará BRS Tarumã BRS Umbu Campeiro CD 104 CD 105 CD 108 CD 111 CD 114 CD 115 CD 116 CD 117 CD 118 CD 119 CD 120 CD 121 CD 122 CD 123 CD 124 CD 1252 CD 150 CD 151 CD 154 CD 1440 CD 1550 Embrapa 22 Embrapa 42 Estrela Átria FPS Nitron Fundacep 30 Fundacep 40 Fundacep 47 Fundacep 50 Fundacep 51

Obtentor OR Biotrigo OR Sementes Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa OR Biotrigo Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Coodetec Embrapa Embrapa Biotrigo FPS CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC

Ano 2006 2011 1986 1999 1999 2001 2003 2005 2005 2009 2010 2012 2012 2012 2011 2012 2003 2005 2003 2013 2007 2012 2014 2007 2004 2003 2009 1999 1999 2003 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2009 2010 2010 2010 2012 2012 2009 2012 2012 2013 2012 1993 1995 2013 2011 1999 2002 2004 2005 2005

RS 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2P 1e2P 1e2P 1e2P 1 e 2 S. P. 1e2P 1e2P 1e2P 1e2P 1e2P 1e2T 1 e 2 S.T. 1e2M 1e2P 1e2P 1e2P 1e2M 1e2P 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1 e 2 M/T 1e2P 1e2M 1e2P 1e2M 1e2M 1e2M

Região de recomendação e ciclo em cada Estado SC PR MS SP 1e2M 1e2M 2 SI 1e2M 1,2 e 3 M 1,2 e 3 P 3e4P 4P 1e2M 1,2 e 3 M 1e2M 1, 2 e 3 M 3 M 2M 1e2M 1,2 e 3 M 3P 2P 1e2P 1,2 e 3 M 3M 2e3M 1e2P 1,2 e 3 M 3e4M 2,3 e 4 M 1e2P 1P 1e2P 1P 1 e 2 S. P. 1 S. P. 1e2M 1,2 e 3 M 1e2M 1,2 e 3 M 3M 1e2P 1,2 e 3 M 3M 3M 1,2 e 3 P 3M 4P 1e2P 1,2 e 3 M 1P 1e2M 1,2 e 3 M 3M 2M 1e2P 1P 1,2 e 3 P 3P 2P 1e2M 1,2 e 3 M 3M 2M 1e2T 1T 1 e 2 S.T. 1 S.T. 1e2M 1M 1,2 e 3 M 3e4M 2,3 e 4 M 1e2P 1,2 e 3 P 3e4P 2,3 e 4 P 1,2 e 3 P 3e4P 2,3 e 4 P 1e2P 1,2 e 3 P 3e4P 2,3 e 4 M 1e2P 1,2 e 3 P 3e4P 2,3 e 4 P 1e2M 1e2M 2 SI 1,2 e 3 P 3e4P 2,3 e 4 P 1e2P 1,2 e 3 P 3e4P 2,3 e 4 P 1,2 e 3 P 3e4M 2,3 e 4 M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1,2 e 3 M 1e2M 1,2 e 3 M 1e2M 1,2 e 3 M 2e3M 3M 2e3M 1,2 e 3 P 3e4P 2,3 e 4 P 2e3M 3e4M 2,3 e 4 M 2e3M 3e4M 2 e 3 SI 1e2M 1M 1e2M 1,2 e 3 M 2M 1 e 2 M/T 1e2P 1,2 e 3 P 3P 3P 1e2M 1e2P 1e2P 1 SI 1e2M 1 SI 1e2M 1e2M -

Cerrado Seq. P Irrig. M Irrig. P Irrig. P Seq/Irri P Irrig. P Seq/Irri P/M Seq/Irri P Seq/Irri P Irrig. M Irrig. M Irrig. P Irrig. M Irrig. M Irrig. P Irrig. P -

Classe comercial Pão Pão Melhorador Pão Básico Pão Pão Pão Melhorador Pão Doméstico Pão Pão (R1) Melhorador (R2) Outros usos (R1) Básico (R2) Doméstico (R1) Pão (R2) Pão Melhorador Pão (R1) Melhorador (R2) Pão Outros Usos Pão Melhorador Melhorador Pão Pão (R2 e R3) Doméstico (R1) Pão Básico Básico (R1) Melhorador Brando Pão Melhorador Pão Brando Melhorador Pão Melhorador Brando Brando Brando Pão Pão Pão Melhorador Melhorador Melhorador Pão Pão Pão Melhorador Melhorador Pão Pão Brando Brando Brando Brando Brando

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Cultivar

Obtentor

Fundacep 52 Fundacep 300 Fundacep Bravo Fundacep Campo Real Fundacep Cristalino Fundacep Horizonte Fundacep Nova Era Fundacep Raízes IAC 24-Tucuruí IAC 370-Armageddon IAC 375-Parintins IAC 380-Saira IAC 381-Kuara IAC 385-Mojave IPR 85 IPR 128 IPR 130 IPR 144 IPR Catuara TM Jadeíte 11 Marfim MGS1 Aliança MGS2 Ágata(3) MGS Brilhante Mirante Ônix ORS Vintecinco Quartzo RBO 302 RBO 303 RBO 403 Safira Supera TBIO Alvorada TBIO Bandeirantes TBIO Iguaçu TBIO Itaipu TBIO Ivaí TBIO Mestre TBIO Pioneiro 2010 TBIO Seleto TBIO Sintonia TBIO Sinuelo TBIO Tibagi TEC Frontale TEC Triunfo TEC Veloce TEC Vigore TEC 10 Topázio UFVT 1-Pioneiro UTF 101 Valente Vaqueano

CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC IAC IAC IAC IAC IAC IAC IAPAR IAPAR IAPAR IAPAR IAPAR OR Sementes OR Biotrigo Epamig Epamig Epamig OR Biotrigo OR Biotrigo OR Sementes OR Biotrigo Tamona Agp. Tamona Agp. Tamona Agp OR Biotrigo OR Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC CCGL TEC OR Sementes UFV UTFPR OR Biotrigo OR Biotrigo

Ano 2005 2009 2010 2009 2006 2009 2004 2006 1982 1999 2003 2009 2009 2012 1999 2006 2007 2009 2012 2012 2007 1999 1999 2005 2008 2002 2013 2007 2013 2013 2013 2004 2004 2012 2012 2012 2012 2010 2012 2010 2012 2013 2012 2010 2012 2012 2012 2012 2013 2011 2003 2001 2004 2008

RS 1e2P 1e2M 1e2M 1e2M 1e2P 1e2M 1e2M 1e2M 1 e 2 S.T. 1e2P 1e2M 1e2M 1e2P 1e2M 1e2M 1e2P 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2M 1e2P 2 P/M 1 e 2 M/T 1e2P 1 e 2 SI 1 e 2 P/M 1e2P 1e2P 1e2P 1e2M 1e2M

Região de recomendação e ciclo em cada Estado SC PR MS SP 1e2P 1e2M 1e2M 1,2 e 3 M 3M 2 SI 1e2M 1,2 e 3 M 1e2P 1,2 e 3 M 3M 2e3P 1e2M 1,2 e 3 M 3M 1e2M 1M 1e2M 1,2 e 3 M 2,3 e 4 M 2,3 e 4 M 2,3 e 4 P 2e3M 2 e 3 P/M 2M 2e3P 3P 3P 3M 3M 2e3M 1,2 e 3 M 2M 1,2 e 3 P 3P 2e3P 1e2P 1,2 e 3 P 3P 2e3P 1 e 2 S.T. 1,2 e 3 S.T. 1e2P 1,2 e 3 P 1e2M 1,2 e 3 M 1e2M 1,2 e 3 M 1e2P 1P 1e2M 1,2 e 3 M 2e3M 2e3M 3 M/T 1e2M 1M 1e2P 1,2 e 3 M 1e2M 1,2 e 3 M 3M 2e3M 2e3P 3P 2e3P 1e2M 1,2 e 3 M 3M 2e3M 1e2M 1,2 e 3 M 3M 2e3M 3M 1e2M 1,2 e 3 M 3M 2e3M 1e2M 1e2M 1e2P 1,2 e 3 P 3P 2e3P 1 e 2 M/P 1 e 2 M/T 1,2 e 3 M/T 3 M/T 2 e 3 M/T 1e2P 1,2 e 3 P 3P 2e3P 1 e 2 SI 1 e 2 P/M 1e2P 1e2P 1e2P 1e2P 1e2P 1,2 e 3 M 2e3M 1M 1M -

Cerrado Irrig. M Seq. P Irrig. M Seq. P Irrig. M Irrig. P Irrig. M -

Classe comercial Brando Brando Pão Brando Melhorador Pão Brando Pão Melhorador Pão Pão Melhorador Pão Melhorador Melhorador Pão Pão Pão Melhorador Melhorador Pão Pão Durum Pão Pão Pão Básico Pão Melhorador Melhorador Melhorador Pão Pão Pão Melhorador Pão Doméstico Pão Melhorador Pão Pão Melhorador Pão Pão Pão Doméstico Pão Pão Pão Pão Pão Brando Pão Brando

M = ciclo M; P = ciclo precoce; M = ciclo tardio; Seq. = Sequeiro; Irrig. = Irrigado; SI = sem informação. Para informações mais detalhadas e atualizações posteriores, acessar http://www.cnpt.embrapa.br/ ou as “Informações da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale”, editadas anualmente.

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Tabela 3 - Informações quanto à estatura, crestamento, reação à germinação na espiga e às doenças de cultivares de trigo indicadas para cultivo no Brasil, segundo o obtentor, em 2014 Cultivar Abalone Ametista BR 18-Terena BRS 179 BRS 207 BRS 208 BRS 220 BRS 254 BRS 264 BRS 296 BRS 327 BRS 328 BRS 329 BRS 331 BRS Gaivota BRS Gralha Azul BRS Guabiju BRS Guamirim BRS Guatambu BRS Louro BRS Marcante BRS Pardela BRS Parrudo BRS Sabiá BRS Tangará BRS Tarumã BRS Umbu Campeiro CD 104 CD 105 CD 108 CD 111 CD 114 CD 115 CD 116 CD 117 CD 118 CD 119 CD 120 CD 121 CD 122 CD 123 CD 124 CD 1252 CD 150 CD 151 CD 154 CD 1440 CD 1550 Embrapa 22 Embrapa 42 Estrela Átria FPS Nitron Fundacep 30 Fundacep 40 Fundacep 47 Fundacep 50 Fundacep 51 Fundacep 52

Altura Média/Baixa Média Baixa Média/Alta Baixa Média Média Baixa Baixa Média/Alta Alta Média Baixa Baixa Média Média Média Baixa Média/Alta Média Baixa Média Média Média Média Baixa Média Média Baixa Baixa Baixa Média Baixa Média Baixa Baixa Média Média Média Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Média Media Baixa Baixa Média Média/Baixa Média/Baixa Média Alta Alta Alta Baixa

Crestamento MR MR MS R/MR MS R MR S S MR MR SI SI SI MR MT MR MR R/MR MR MR MR MR MR MR MR MR MR MS MR S MS MR MR MS MR MS R SI MS MR MS MR MS MS MS MS MR MR MS MS MR SI MR R R R R R

Germinação na espiga MR/MS MR S MR S MS S MR MS MR MR MR/R MR/MS MS MS/S MR/R MS MR MS MS MS S MS MS/S MR MR MR MR/MS MR/MS MS MR/MS MR/MS MS MR MS MR/MS MS MR/MS MR MS MR/MS MR MR MR MR/MS MS MS R/MR R/MR MR MR MR MS/MR MS MR MR MS MS MS

Oídio MR MS MS MS S MR MS S S R MR R R R R MR S S/MS R MS MS R R R R R MR MR MS MS MS MS MS MS MS MS MS MR MS MR MR MR MR MR MS MR MS MR MR S S MR/MS MR R MR MS MR MR MR

Ferrugem Folha RPA/MR/MS MR MS S S R MS S S RPA S MR/R S MS/MR MS MR MR/MS MR/MS RPA MS MR MR MR/MS MS R RPA RPA MR/MS S MS MR S MR MR MR MS MR MS MS MR MR MR MR MR MR MS MS MR MR S S MR S S S MS S S S

Giberela MR/MS MS/S S MR S MS MS S S MR MR MS S MS MS MS MS MR S MR MR/MS MS MR MS MS MR MR MS S S S S MS MS S MS S MS MS MS MS MS MR/MS S S MS S MR/MS MS SI SI MR/MS MS/MR MS MS MS MS MS S

Brusone SI SI R SI S S MS S S SI SI SI SI SI MR MS SI SI SI SI SI MR/MS SI S MS SI SI SI S S MR S SI SI MR MR MR SI SI MR MR MR MR MR MR MR S MR MR S S SI MS SI SI SI SI SI SI

Gluma MS SI S MR SI MR MR SI SI MR MR SI SI SI MR MR/MS MS MR S MR MR MR MR MR MR MS MR SI MS MS MS MS MS MR MS MS MR MS MS MS MS MS MS MR MS MR/MS MS MR MS SI SI MR/MS MS MS MR SI MR MR MR

Mancha Marrom Bronzeada SI MS SI MR S S MR MS MS MS MR MR MR MR MS MS S S MR MR MR MS SI SI SI SI SI SI MR MR MR/MS MR/MS MS MS SI SI S S MS MS MR MR MR MR SI MR MR MR MS/MR MS/MR S MS S R MR MR MS MS MS MS MR SI MR SI MR SI MR SI MS SI MS MS MR MR MS MS MS MS MS MS MS MS MS MS MS MS MR MR MS MS MR/MS MR/MS MS MS MR MR S MS MS MS S S MR/MS MR/MS MS MS MS MR MR MR MR MR MS MR MS MR MS MR

VMT1

VNAC

MR R/MR S MS SI MR R SI SI MR MR S MS MR MR MR MS S MS MS MR/MS MR R MR MR MR MR MR MS MR MS MS MS MR SI SI MS MR S MR MR MR S MR S MR MR MR MR SI SI SI MR MR S S S S S

MS SI SI SI SI MR S SI SI MS MR S MS S SI MR SI SI SI SI MR/MS MR MS MR MR SI SI MS SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI SI MS/S MS MS S MS R R R

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Cultivar

Altura

Fundacep 300 Fundacep Bravo Fundacep Campo Real Fundacep Cristalino Fundacep Horizonte Fundacep Nova Era Fundacep Raízes IAC 24-Tucuruí IAC 370-Armageddon IAC 375-Parintins IAC 380-Saira IAC 381-Kuara IAC 385 Mojave IPR 85 IPR 128 IPR 130 IPR 144 IPR Catuara TM Jadeíte 11 Marfim MGS1 Aliança MGS2 Ágata(3) MGS Brilhante Mirante Ônix ORS Vintecinco Quartzo RBO 302 RBO 303 RBO 403 Safira Supera TBIO Alvorada TBIO Bandeirante TBIO Iguaçu TBIO Itaipu TBIO Ivaí TBIO Mestre TBIO Pioneiro 2010 TBIO Seleto TBIO Sintonia TBIO Sinuelo TBIO Tibagi TEC Frontale TEC Triunfo TEC Veloce TEC Vigore TEC 10 Topázio UFVT1-Pioneiro UTF 101 Valente Vaqueano

Média/Baixa Média/Baixa Média Média Média Média Média Baixa Baixa Baixa Baixa Média Baixa Média Média Baixa Baixa Média Média Baixa Baixa Baixa Média Média Média Média Média Média Média Média Média Média Média Média Média/Alta Média Média Média Média Média/Baixa Média Média/Alta Média SI Média/Baixa Média Média Média Média Baixa Média Média Média

Crestamento SI MR SI MR MR R R S S MR MS MR SI MR MS MS MS SI MR MR/MS R S R MR MR MR MR SI SI SI MR MR R/MR MR SI S MR MR MR MR MR MR MR SI MR MR MR MR MR SI MR MR MR

Germinação na espiga MS MR/MS MR S MS S MR/MS MR MR R R R R MR MS MS MS MR/MS R MR/MS MS AS MR MS R/MR R R/MR SI SI SI MR MS R/MR S MR MR MR/MS MR MR MR/MS R/MR R/MR MR/MS SI MS/S MS S MS MR/MS MS MS S MR

Oídio R MR R MS MS MR MS S S MR MS MR MS MR MR S MS MS MR S/MS S R R MR MR R MR/MS MS MR MR MR MS MR MR MR MR MR MR MR MR MS MR/MS MS/S SI MR MR/R MR MR MR S S MR MR

Ferrugem folha S MR S MR R S MR S S MR MR MR MR MR MS MS MS MS MR/R MR S S MR S S/R MR MS MR MR R RPA/MS MS R/MR MS MS MS MR R/MR MR MS MS MR S SI S S MR/R MR MS/MR S MS MS MR

Giberela S MS MR MS MR/MS S S MS MS MS MS MS SI MS S S S SI MR(1) MS/S SI SI SI S MS SI MS SI SI SI MS MS MR MS MR/MS MS MS MS MS MS MR/MS MS MR/MS SI MR/MS MR/MS MR/MS MS MR S MS S MS/MR

Brusone SI SI SI SI SI SI SI S S MS/MR MS MR SI MR MR MR MR MS SI MS/S MS S MS SI MR SI SI MR MR MR SI MS MS MR SI SI MR MR SI SI MR MR/MS MR SI SI SI SI SI SI S SI SI SI

Gluma SI MR SI MS SI MR MS S S S MS MS SI S SI SI SI SI SI MS SI SI SI MR SI SI MR MR SI SI MS MS MR SI SI SI MR MR SI SI MR/MS MR MR SI SI SI SI MS SI SI SI MR MS

Mancha Marrom Bronzeada MR MR MS MS MS MS MS MS S S MR MS MS MS S S S S S MS MS MS MS MS SI MR MS S MR MR MS MS MS MS SI MS MS SI MS MS MS MS SI SI MS MS MS/S S S S MR/MS SI MR MR MR MR MR MR/MS MR/MS MR S S MR MR S MS SI MR/MR SI MR SI MS MR MR MS MS MS MS SI MR/MS MR/MS MR/MS MS/MR MS/MR MR MS SI SI MR/MS MR/MS MS MS MR/MS MR/MS MS MS MR/MS SI MR MR MR MS MR/MS MR/MS MS/S MS

VMT1

VNAC

MR R R S R S MR SI SI SI SI SI SI S SI SI SI MR R SI SI SI SI MR MR R MR SI SI SI MR SI R/MR MR MR MR S MR MR MR SI MR MR/MS SI MR MR MR MR MR/MS SI SI S R/MR

MS MS MS MS MS R MR SI SI SI SI SI SI S SI SI SI MR SI SI SI SI SI S S SI MS SI SI SI S MS MS MR MR/MR MR/MS S S MS MS SI MS MR/MS SI MS MS MS MR SI SI MS MS MS/MR

R: resistente; MR: moderadamente resistente; S: suscetível; MS: moderadamente suscetível; AS: altamente suscetível; RPA: resistência de planta adulta; T: tolerante; SI: sem informação. (1)Dados preliminares. (2)Pode ocorrer mosaico em cultivar R ou MR, desde que as condições sejam extremamente favoráveis à doença. (3)Cultivar de trigo durum (Triticum durum). Para informações mais detalhadas e atualizações posteriores, acessar http://www.cnpt.embrapa.br/ ou as “Informações da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale”, editadas anualmente.

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Ideais para o Sul

Divulgação

Para obter sucesso na produção de trigo é fundamental a escolha correta da cultivar, com atenção a aspectos como adaptação às condições climáticas da região de cultivo, boa produtividade e capacidade de rendimento em farinha para moagem

O

trigo (Triticum aestivum L.) é uma espécie que, devido ao seu aprimoramento genético, possui atualmente ampla adaptação edafoclimática, sendo cultivado desde regiões com clima desértico, em alguns países do Oriente Médio, até regiões com alta precipitação pluvial, como é o caso de China e Índia (Cadore & Marcolin, 2011). A partir do conhecimento das características das cultivares de trigo e do seu potencial produtivo, pode-se escolher as melhores cultivares para assim maximizar a produção de grãos de determinada região. Atualmente, a produção anual mundial do trigo é superior a 640 milhões de toneladas, representando a segunda maior produção

de grãos em nível mundial, sendo superada somente pelo milho. Essa situação permite que essa cultura tenha uma significativa contribuição na economia agrícola, sendo considerado alimento básico pelos inúmeros derivados obtidos de sua industrialização, como pães, massas, biscoitos, entre outros (Cadore & Marcolin, 2011). Além disso, pode ser utilizada na redução da erosão nos períodos de maior incidência de chuvas no inverno, pela boa quantidade de palha que permanece no solo na rotação de culturas. Com isso, estima-se que há uma redução aproximada de 20% nos custos das lavouras de verão que são precedidas pelo trigo (Colle, 1998), sendo esta, fundamental para o sistema de rotação

de culturas e consolidação do plantio direto na região Sul do Brasil. No Rio Grande do Sul, a área semeada tem se estabilizado em aproximadamente um milhão de hectares, sendo 6,4% superior na safra 2012/2013 em relação à safra anterior. Isso ocorreu devido ao bom valor de venda do produto, estimulado por uma relação limitada entre oferta e demanda local e a ocorrência de insuficiência na produção dos principais fornecedores internacionais (Conab, 2014). As causas para os aumentos produtivos da cultura do trigo são a redução do ciclo das cultivares aliado com a maior eficiência das cultivares em converter água e CO2 em matéria seca, resistência e/ou tolerância a

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A adaptação da cultivar à região de plantio tem papel preponderante no sucesso da lavoura

diferencial dos genótipos frente à modificação do ambiente (Allard, 1999), o que dificulta a identificação das cultivares superiores, quando ocorre inconstância de desempenho nos diferentes ambientes (Carvalho et al, 2002). Contudo, ao considerar-se uma propriedade, não é recomendado basear-se em apenas uma cultivar, mas em um conjunto de cultivares que podem ser utilizadas em função de sua dimensão e de sua capacidade de manejo. Nesse contexto, este trabalho apresenta uma discussão a respeito de cultivares de trigo, juntamente com as suas características para a região central do Rio Grande do Sul, a fim de auxiliar os produtores na definição das cultivares para a próxima safra. O trabalho foi realizado em dois locais distintos, sendo um na área experimental do

Fotos Divulgação

doenças, acamamento, debulha natural e melhoria na qualidade industrial dos grãos. Fatores relacionados à qualidade da semeadura, como espaçamento, profundidade e densidade populacional adequados, respeitando o período indicado para a semeadura conforme recomendações do zoneamento agrícola para região produtora, bem como investimentos em calagem e a fertilização. O manejo de plantas invasoras, doenças e pragas é fundamental para se atingir o máximo potencial da cultivar escolhida (Embrapa, 2011). Nas últimas décadas, o advento de novas tecnologias possibilitou o aumento da produtividade média da lavoura de trigo que era de 700kg/ha (anos de 1950 a 1960) para mais de oito mil kg/há (Embrapa, 2013). Em média, a substituição das cultivares de trigo permite a ampliação da produtividade em 44,9kg/ha/ ano. Sendo que essa evolução é uma das maiores considerando 13 estudos internacionais realizados em diversos países. No mercado brasileiro, o produtor dispõe de mais de 106 cultivares de trigo (disponibilidade do mercado de sementes e registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para cultivo em três regiões tritícolas. Essas cultivares possuem adaptação nas mais diversas realidades e padrões tecnológicos, entretanto, pouco se conhece a respeito do seu desenvolvimento nas diferentes regiões e condições climáticas do Brasil, o que torna o processo decisório difícil e com elevado grau de incerteza. Para a identificação de qual a cultivar ideal para cada área, é necessária a realização de experimentos em diferentes locais contrastantes, em que várias cultivares são avaliadas (Cargnin et al, 2006). Entretanto, para determinados caracteres de interesse, principalmente produção de grãos, ocorre a interação dos genótipos com os ambientes, que é uma resposta

Para a identificação de qual a cultivar ideal para cada área, é necessária a realização de experimentos em diferentes locais contrastantes

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Grupo de Pesquisa em Grandes Culturas, do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Rurais, no campus da Universidade Federal de Santa Maria, e o outro na Cooperativa Central Gaúcha LTDA (CCGL), no município de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Na área experimental de Santa Maria foram utilizadas 11 cultivares de trigo semeadas em 6 de junho de 2013. Em Cruz Alta, na CCGL, foram conduzidos dois ensaios pertencentes à rede de Ensaio Estadual de Cultivares (EECT) de responsabilidade da Fepagro com emprego de 30 cultivares de diferentes obtentores. As semeaduras para Cruz Alta ocorreram nos dias 1° de junho de 2013 e 25 de junho de 2013. Ao verificar as médias das características avaliadas (Tabela 1), observase a massa do hectolitro (kg/hl), considerada como uma medida indireta da qualidade do trigo e muito utilizada para classificação por ocasião da comercialização. No Brasil, o trigo é comercializado utilizando-se, como valor de referência, MH igual a 78kg/hl. A obtenção de um alto valor de MH significa maior rendimento em farinha na moagem. Fatores adversos à lavoura, como, por exemplo, chuvas no momento da maturação fisiológica, fazem baixar o MH. No experimento realizado, exceto para a cultivar Fundacep Bravo (MH 72kg/hl), as demais cultivares apresentaram bom MH, entre 77kg/hl e 78kg/hl. No que diz respeito à produtividade de grãos (Tabela 1 – Santa Maria), observou-se que as cultivares Tbio Itaipu (4.628kg/ha), Quartzo (4.350kg/ha), Mirante (4.107kg/ha) e BRS 327 (4.057kg/ha) são as que apresentaram os melhores resultados. Ao comparar-se com a média de produtividade do estado do Rio Grande do Sul nesta mesma safra, que foi de 3.060kg/ha, estas cultivares apresentam acréscimo médio de 40% em relação à média do estado. A cultivar com a menor produção de grãos é a Tarumã, com uma média de 2.464kg/ ha (deve-se considerar que se trata de material com dupla aptidão e que não foi submetida ao pastejo). A produtividade de grãos é uma medida que apresenta forte controle genético, sendo muito dependente do manejo adotado pelo produtor e das condições edafoclimáticas durante todo o ciclo da cultura. Na variável massa de mil grãos (MMG) pode-se observar que as cultivares BRS 327 e Mirante apresentaram as maiores médias, sendo 41,09 gramas e 40,27 gramas, respectivamente. Este parâmetro é utilizado para classificar o trigo, já que grãos de tamanho excessivo não são desejados pela indústria, pois podem provocar perdas devido às dificuldades de regulagem dos equipamentos de limpeza e moagem. Em contrapartida, grãos muito pequenos podem passar pelas peneiras de limpeza e causar perdas na produção de farinha, pela diminuição da quantidade de trigo moído


(Gutkoski et al, 2007). Este parâmetro é muito importante para estimar a produtividade dos cultivos e, no caso de sementes, a qualidade Tabela 1 - Média da massa de hectolitro (MH, kg/hl), produção de grãos (PG, kg/ha), e massa de mil grãos (MMG, g) de diferentes cultivares de trigo. Santa Maria (RS), 2013 CULTIVAR BRS TARUMÃ OR/BIOTRIGO QUARTZO OR/BIOTRIGO MIRANTE TBIO ITAIPU FUNDACEP RAIZES FUNDACEP BRAVO BRS 327 TBIO PIONEIRO BRS GUAMIRIM BRS331 TEC VIGORE MÉDIA CV (%)

MH 78 a 77 a 77 a 77 a 78 a 72 b 77 a 77 a 78 a 78 a 77 a 76,9 2,11

PG 2464 c 4350 a 4107 a 4628 a 3382 b 3782 b 4057 a 3661 b 3953 b 3852 b 3772 b 3819 10,86

MMG 26,90 d 36,17 b 40,27 a 36,50 b 34,67 b 29,49 c 41,09 a 33,89 b 35,96 b 32,52 c 30,56 c 34,36 5,82

*Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Skott-Knott (p>0,05).

do lote e cálculo da densidade de semeadura (Cunha, 2004) Na Tabela 2, são apresentados os resultados de produtividade do EECT 2013, para a média geral do estado do Rio Grande do Sul, e os números de duas épocas de semeadura em Cruz Alta. Levando em consideração a média geral do estado, pode-se destacar algumas cultivares, como TBIO Sinuelo (5.541kg/ha), Mirante (5.312kg/ha), TEC Vigore (5.217kg/ ha), TBIO Mestre (5.187kg/ha) e Quartzo (5.136kg/ha). Os resultados da média estadual permitem verificar a estabilidade produtiva das cultivares que ficaram nas cinco primeiras posições, o que aumenta a chance de sucesso na escolha de uma destas cultivares. Em Cruz Alta, na primeira época de semeadura, pode-se destacar entre as cinco cultivares mais produtivas Mirante (7.788kg/ha), BRS328 (7.504kg/ha), Ametista (7.463kg/ ha), TEC Vigore (7.411kg/ha) e TBIO Mestre (7.281kg/ha). Já na segunda época de semeadura, estão entre as cinco melhores

Tabela 2 - Produtividade (Prod) (kg ha-1), posição na classificação geral (Class) e grupo de classificação estatística (Estat) pelo teste de Skott-Knott (α= 0,05) para genótipos avaliados no Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo 2013. Fepagro (RS) Genótipo

AMETISTA BRS 327 BRS 328 BRS 331 GUAMIRIM PARRUDO CAMPEIRO CD 1440 CD 1550 ESTRELA ATRIA FUNDACEP 52 FCEP BRAVO HORIZONTE FCEP RAÍZES JADEÍTE 11 JF 90 MARFIM MIRANTE QUARTZO TBIO ALVORADA TBIO IGUAÇU TBIO ITAIPU TBIO MESTRE TBIO PIONEIRO TBIO SELETO TBIO SINUELO TBIO TIBAGI TEC FRONTALE TEC VIGORE TOPAZIO CV (%)

Média Geral do RS Prod1 Class2 Estat3 4.825 14 d 4.790 18 d 4.511 25 e 4.395 28 e 4.552 24 e 4.998 9 c 4.798 16 d 4.822 15 d 4.671 21 d 5.040 7 c 4.795 17 d 4.634 22 d 4.916 11 c 4.487 27 e 4.831 13 d 4.489 26 e 4.706 20 d 5.312 2 b 5.136 5 b 4.736 19 d 5.033 8 c 5.063 6 c 5.187 4 b 4.994 10 c 4.332 30 e 5.541 1 a 4.386 29 e 4.569 23 e 5.217 3 b 4.842 12 d 11,40

EECT 2013 Cruz Alta (1/6) Prod¹ Class² Estat³ 7.463 3 a 6.095 22 b 7.504 2 a 5.956 24 b 6.053 23 b 7.133 8 a 7.043 10 a 7.232 7 a 6.176 21 b 4.824 30 b 6.799 15 a 5.956 25 b 6.863 12 a 6.835 13 a 6.390 20 b 6.424 19 b 6.829 14 a 7.788 1 a 6.907 11 a 5.824 27 b 7.235 6 a 6.747 17 a 7.281 5 a 6.525 18 a 5.534 29 b 7.055 9 a 5.841 26 b 5.777 28 b 7.411 4 a 6.756 16 a 11,58

Cruz Alta (25/6) Prod¹ Class² Estat³ 2.837 30 b 3.819 1 a 3.403 15 a 2.870 29 b 3.510 9 a 2.983 26 b 3.301 18 a 3.128 24 b 3.038 25 b 3.468 11 a 3.580 5 a 3.444 14 a 3.453 13 a 3.295 19 a 3.280 20 a 3.475 10 a 2.965 27 b 3.590 4 a 3.527 7 a 2.919 28 b 3.357 16 a 3.713 2 a 3.460 12 a 3.515 8 a 3.166 22 b 3.267 21 a 3.642 3 a 3.350 17 a 3.534 6 a 3.164 23 b 11,65

¹Prod: Produtividade de grãos (kg ha-1). Class: Posição da cultivar na classificação. ³Estat: Resultado da comparação de médias pelo teste de Skott-Knott ao nível de 5% de probabilidade. FONTE: Fepagro, 2013

classificadas as cultivares BRS 327 (3.819kg/ ha), TBIO Itaipu (3.713kg/ha), TBIO Tibagi (3.642kg/ha), Mirante (3.590kg/ha) e Fundacep 52 (3.580kg/ha). Os resultados completos do EECT 2013 podem ser acessados pelo site: http://www. fepagro.rs.gov.br/upload/1395063424_Relatorio%20Resultados%20EECT%202013%20 (vers%C3%A3o%20site).pdf. Além dos números de produtividade, podem ser encontrados dados de MH, MMG ciclo, estatura de plantas e locais de condução dos ensaios, servindo de ferramenta para o produtor conhecer o desempenho das cultivares na sua região. O sucesso de uma lavoura comercial depende necessariamente do desempenho agronômico das cultivares que estão sendo implantadas, da adaptabilidade e da estabilidade de genótipos de trigo, que auxiliam o melhorista na recomendação de novos materiais e de quais as cultivares existentes no mercado possuem melhores resultados nos locais onde estão sendo semeadas, indicando linhagens de adaptação ampla ou específica aos ambientes. Esse procedimento é particularmente importante para a cultura do trigo, principalmente levando em consideração a grande diversidade de ambientes a que o cereal é submetido no Rio Grande do Sul. Além disso, deve-se considerar a reação das cultivares às principais doenças que incidem sobre a cultura. No que diz respeito ao manejo de doenças, deve-se utilizar diversas estratégias, que incluem rotação de culturas e de cultivares. A escolha da cultivar adequada, somada aos fatores do ambiente como a distribuição da precipitação pluvial e temperatura, uma correta adubação e o estabelecimento de esquemas de rotação de culturas com leguminosas, aliados a um manejo fitossanitário adequado, compõe os principais fatores que devem ser observados para a obtenção da qualidade tecnológica desejada. E isso deve sempre ser acompanhado do emprego de uma cultivar que responda ou expresse o seu máximo potencial nas diversas condições a que são expostas. Com informações importantes a respeito do desempenho destas cultivares, o produtor estará pronto para a escolha do material que responda às características de sua propriedade, auxiliando assim na sua tomada de decisão. Além disso, deve-se observar o zoneamento e o ciclo de cada cultivar adaptando as cultivares existentes no mercado de sementes às exigências, necessidades e potencialidades das áreas a serem semeadas com trigo. C Jonatas dos Santos Maciel, Thomas Newton Martin e Rodrigo Luiz Ludwig, UFSM Dalvane Rockemback, CCGL

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Para o Cerrado

Juliana Caldas

Cultivares desenvolvidas pela Embrapa alcançam 90% da área semeada com trigo irrigado no Cerrado brasileiro. É importante conhecer o comportamento desses materiais quanto a fatores como tipo de solo, ciclo, altura, reação ao acamamento e resistência a doenças fúngicas

N

o Cerrado do Brasil central o final do período das chuvas marca também o início da época de semeadura da safra de inverno (cultivos irrigados), que tem na cultura do trigo uma das opções mais competitivas no ano de 2014. A triticultura na região está relacionada com alta produtividade e excelente qualidade industrial, consequência da base tecnológica desenvolvida pela Embrapa Cerrados e Embrapa Trigo no Cerrado. A Embrapa, juntamente com órgãos de pesquisa, extensão e cooperativas, definiu na V Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale as informações técnicas para a cultura de trigo irrigado na região do Brasil Central, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso e no Distrito Federal, que deverão ser utilizadas na safra de 2014. Nas informações técnicas são destacadas as cultivares de trigo da Embrapa, época de semeadura e algumas práticas culturais.

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O cultivo do trigo irrigado deverá ser antecedido por um planejamento que estruture a lavoura com todos os pré-requisitos básicos para que o empreendimento chegue a bom termo. No planejamento, deve-se buscar a utilização do conjunto de técnicas que levem a lavoura a ter bom potencial de produção e qualidade dos grãos colhidos. As cultivares de trigo desenvolvidas pela Embrapa que, atualmente, ocupam 90% da área semeada com trigo irrigado no Cerrado brasileiro, estão relacionadas por Estado e tipo de solo.

Minas Gerais

Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 400m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável: BRS 264 BRS 254

Embrapa 22 Embrapa 42

Goiás e Distrito Federal

Para cultivo com irrigação, em altitudes

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acima de 500 m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável BRS 264 Embrapa 22 BRS 254 Embrapa 42

Bahia

Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável EMBRAPA 221 BRS 2541

EMBRAPA 421 BRS 2641

1 Indicada apenas para a região Oeste do Estado.

Mato Grosso

Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável EMBRAPA 22 BRS 254

BRS 264

EMBRAPA 42 BRS 264

Possui alto potencial produtivo e boa qualidade industrial dos grãos. É a cultivar


com alta força do glúten. Nas safras de 2012 e 2013 foram observados rendimentos de até 6,5 toneladas de grãos por hectare, em lavouras com boa fertilidade do solo, na região triCultivar Estado Ciclo Altura Acamamento1 Classe BRS 254 MG, GO, DF, MT, BA Precoce Baixa MR Melhorador tícola dos estados de Minas Gerais e Goiás. Para alcançar este potencial BRS 264 MG, GO, DF, MT, BA Precoce Baixa MR Pão Embrapa 22 MG, GO, DF, MT, BA Precoce Baixa MR Melhorador produtivo é indicada a utilização Embrapa 42 MG, GO, DF, MT, BA Precoce Baixa R Melhorador de aproximadamente 140kg/ha de nitrogênio total (base + cobertura) 1 R = Resistente; MR = Moderadamente resistente. e aplicação do redutor de cresciTabela 2 - Cultivares de trigo da Embrapa indicadas para o Brasil mento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com Central, com sua reação ao crestamento e às doenças fúngicas o primeiro nó visível) na dose de Ferrugem Cultivar Crestamento Colmo Helmintosporiose Brusone 0,5L/ha. Por causa da tendência Oídio Folha para acamar, deve haver limitação BRS 254 S S S S MS no uso de nitrogênio se não for utiBRS 264 MS AS S S S S lizado o redutor de crescimento. A Embrapa 22 MS AS S S S S BRS 254 apresenta em média uma Embrapa 42 MS S S S S S força geral do glúten (W) de 350 Obs.: AS = Altamente suscetível; S = Suscetível; MS = Moderadamente suscetível; MR = x 10-4 J (obtido pela alveografia), Moderadamente resistente; R = resistente; - = Sem informação. sendo considerado trigo de glúten mais semeada pelos triticultores do Brasil mais forte dos materiais que estão sendo central, ocupa 80% da área cultivada com indicados para o Brasil central; apresenta trigo no cerrado. Trata-se da mais precoce uma estabilidade média de 20 minutos e um das indicadas para o Brasil central. Seu ciclo rendimento industrial (dados de moinho exda emergência à maturação é de 110 dias, perimental Brabender) de 62,2% (base 14% enquanto as outras cultivares apresentam de umidade), em média. Tem tendência de ciclo em torno de 125 dias. A BRS 264 não apresentar peso do hectolitro alto. tolera chuvas no estádio de maturação final dos grãos, por isto a semeadura deve ser Embrapa 22 programada de modo que a colheita seja É uma cultivar antiga e ainda está no realizada na época de menor risco de chuvas. mercado pelas suas excelentes características Possui elevado potencial de produtividade, de qualidade industrial e produtividade. nas safras de 2012 e 2013 foram observadas Embrapa 22 é classificada como trigo mevárias lavouras com rendimentos de grãos lhorador, em média tem alta força de glúten superiores a sete toneladas de grãos por hec- (W) superior a 350 x 10-4 Joules e uma estatare nas regiões tritícolas do Brasil central. bilidade acima de 16 minutos. O potencial de No município de São João da Aliança, Goiás, produção de grãos dessa cultivar, em lavouras foram colhidas 7,6 toneladas de grãos por comerciais nas regiões tritícolas do Cerrado, é hectare, em uma área de 120ha, irrigada por de 6.000kg/ha. Para se alcançar essa produtivipivô central. Para se alcançar alta produti- dade, deve-se utilizar o redutor de crescimento vidade, deve-se utilizar em torno de 140kg/ (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da ha de nitrogênio total (base + cobertura) e aplicação de redutor de crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,5L/ ha. A cultivar BRS 264 é classificada como Trigo Pão, tem Força geral do glúten (W) média de 270 x 10-4 Joules variando de 250 a 314 x 10-4 Joules e uma estabilidade média acima de 15 minutos. Apresenta rendimento industrial (dados de moinho experimental Brabender) de 66,4% (base 14% de umidade) em média. Também tem tendência de apresentar peso do hectolitro alto. Esta cultivar tem uma boa aceitação por parte da indústria moageira que produz farinha destinada à produção de pães e macarrão. Divulgação

Tabela 1 - Cultivares de trigo irrigado da Embrapa indicadas para o Brasil Central, estados onde são indicadas, ciclo, altura, reação ao acamamento e classe comercial

BRS 254

Cultivar com excelente qualidade industrial e potencial produtivo. Produz grãos

Albrecht aborda cultivares disponíveis para lavouras do Cerrado brasileiro

cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,4L/ha. Tem baixa tolerância ao acamamento e alta capacidade de perfilhamento. Por causa da tendência para acamar, deve haver limitação no uso de nitrogênio, se não for utilizado o redutor de crescimento.

Embrapa 42

Cultivar de excelente qualidade industrial e bom potencial de produtividade. O potencial de produção de grãos dessa cultivar, em lavouras comerciais nas regiões tritícolas do Cerrado, é de 5.700kg/ha. Possui uma força do glúten (W) média de 300 x 10-4 Joules, estabilidade média de 15 minutos, considerado um trigo de glúten "balanceado". Com essas características a cultivar Embrapa 42 é classificada comercialmente como Trigo Melhorador. Cultivar com boa tolerância ao acamamento. Pela sua menor capacidade de perfilhamento, deve ser cultivada com densidade maior de plantas que as outras cultivares indicadas para o Brasil central. Nos últimos anos tem mostrado grande suscetibilidade geral às doenças, especialmente às manchas foliares.

Época de semeadura

Indica-se a semeadura de 10 de abril a 31 de maio, dando-se preferência ao mês de maio. Nesta época, o trigo encontra condições favoráveis para um bom desenvolvimento, sendo favorecido por temperaturas mais baixas nos meses de maio, junho e julho. Semeaduras no mês de abril correm maior risco da incidência de Brusone e das manchas foliares (helmintosporioses). Por outro lado, semeaduras atrasadas correm o risco de redução da produtividade devido a uma combinação entre temperatura e fotoperíodo desfavoráveis, além do risco das indesejáveis chuvas na colheita com consequente perda de qualidade dos grãos.

Densidade, espaçamento e profundidade de semeadura

Respeitando-se os espaçamentos (17cm20cm entre linhas), deve-se obter cerca de 330 a 400 plantas nascidas por m2, sendo que densidades menores que 330 plantas por m² podem afetar a produtividade e maiores que 400 plantas por m2 tendem a levar ao acamamento com consequente perda de produtividade e qualidade dos grãos. A profundidade de semeadura deve ficar em torno de 5cm. Deve-se dar preferência à semeadura em linha, por distribuir mais uniformemente as sementes, oferecer maior eficiência na utilização de fertilizantes e menor possibilidade de danos às plantas, quando da utilização de herbicidas em pré-emergência. C Julio César Albrecht, Embrapa Cerrados

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Informe

Nova marca Divulgação

Milenia Agociências passa a se chamar Adama, termo de origem hebraica, que significa terra ou solo. Globalmente, a empresa conta com subsidiárias em 45 países, mais de 4,5 mil colaboradores e comercialização em 120 países

A

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A capacidade instalada no Brasil é da produção de 170 milhões de litros/ano. A fábrica de Taquari é fornecedora global de princípios ativos de várias formulações, com atuação no segmento de defensivos agrícolas, intermediários químicos e produtos veterinários. Londrina é uma unidade multipropósito, sendo a responsável pela formulação da maior parte dos defensivos agrícolas comercializados pela Adama no Brasil. A Adama tem forte atuação no campo, com três diretorias de negócio para chegar diretamente ao agricultor: Cerrado, Sul, e Sudeste-Nordeste. São 112 representantes técnicos de vendas, mais 60 assistentes técnicos, jovens agrônomos, recém-formados, frutos de parceria da empresa com a Unicampo, em Maringá, no Paraná. Além disso, conta também com a presença de equipe de DesenRithieli Barcelos

Milenia Agrociências, empresa especializada em produção e distribuição de soluções para proteção ao cultivo, a partir de agora passa a se chamar Adama. A decisão foi oficialmente anunciada, no Brasil, em maio, em Londrina, no Paraná. A iniciativa faz parte da ação de transição da marca global capitaneada pela companhia israelense Makhteshim Agan, grupo que adquiriu a Milenia em 2001. A antiga marca, Milenia, já conhecida no Brasil, permanecerá na rotulagem dos produtos, nos distribuidores, até o segundo semestre de 2014, quando começará um processo gradativo de troca para Adama, observando as regras regulatórias brasileiras. No Brasil, Adama, termo de origem hebraica, significa terra ou solo, e é pronunciado “adamá”. O Ceo da Adama Agriculture Solutions, no Brasil, Rodrigo Gutierrez, explicou que o objetivo principal é proporcionar simplicidade na agricultura. A empresa possui duas fábricas, em Londrina, no Paraná, e em Taquari, no Rio Grande do Sul, conta com 15 unidades regionais de venda e três centros de distribuição, em Ibiporã, Paraná, Rondonópolis, Mato Grosso, e Assis, São Paulo. O País é responsável por cerca de 15% dos negócios do grupo. São aproximadamente 550 colaboradores que, nos últimos anos, têm feito aumentar a participação da América Latina na receita total da empresa. De 2012 para 2013, os negócios nessa região cresceram 17,8% (o maior nas unidades regionais da Adama), para um valor de vendas de 757,5 milhões de dólares. No Brasil, o crescimento foi de 19%, atingindo cerca de 460 milhões de dólares.

Ceo da Adama no Brasil, Gutierrez explicou a estratégia da empresa que busca a simplicidade na agricultura

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volvimento de Mercado e Suporte Técnico que ajuda a assegurar o posicionamento dos produtos e a treinar o corpo técnico da rede de distribuidores e cooperativas. Por ano são realizados cerca de três mil pequenos eventos com agricultores. São demonstrações de produtos, sessões de esclarecimento de dúvidas e palestras técnicas. Globalmente, a empresa conta com subsidiárias em 45 países, mais de 4.500 colaboradores e venda para 120 países. Fazem parte do portfólio de produtos fungicidas, herbicidas, inseticidas, reguladores de crescimento, tratamento de sementes e produtos não agrícolas.

História da Adama no Brasil

Em outubro de 1970 foi fundada a Herbitécnica, com sede em Londrina, Paraná. Com base no mercado que se mostrava cada vez mais promissor, em 1975 a empresa montou a sua primeira unidade formuladora. Decidida a ampliar os seus negócios, em 1998, a Herbitécnica uniu-se à empresa Defensa, da cidade de Taquari, no Rio Grande do Sul. A fusão deu origem à Milenia Agrociências. Em 2001, a companhia israelense Makhteshim Agan adquiriu totalmente a Milenia Agrociências, integrando-a ao seu Grupo, presente em mais de 120 países. Em 2011, o Grupo Makhteshim Agan foi incorporado pela ChemChina, uma das maiores companhias de produtos químicos da China, com expressão mundial. Recentemente, a Makhteshim Agan começou o processo de transição de sua marca, instituindo C globalmente o nome Adama.



Pragas

Alta infestação

Fotos Lúcia Vivan

Lavouras de soja e algodão localizadas em Mato Grosso têm registrado aumento populacional de mosca branca e consequente crescimento dos prejuízos ocasionados pelo inseto nas áreas de cultivo. Entre as medidas de manejo integrado recomendadas contra a praga destacamse a eliminação de plantas hospedeiras, o emprego de cultivares com maior tolerância, o monitoramento e o uso de produtos seletivos para preservar inimigos naturais, além de rotação de modos de ação para prevenir problemas com resistência

P

rodutores de soja do Médio Norte do Mato Grosso enfrentaram problemas com a mosca branca Bemisia tabaci (Gennadius) biótipo B, também referida como B. argentifolli Bellows & Perring. Os municípios de Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Sapezal já tinham presença da praga desde o início da safra, mas em algumas áreas, a população aumentou muito no final da safra devido a erros de manejo desse inseto. Na safra de 2012/13 muitos produtores já enfrentavam o problema e houve muito abandono de áreas com alta infestação da mosca branca. Outro ponto importante é que a mosca branca tem um grande número de hospedeiros. O seu ciclo só não é tão intenso em gramíneas. Áreas com a cultura do algodão também favorecem a praga, mesmo com aplicação de defensivos químicos. Além disso, o fator climático também interfere onde a mosca branca permanece nas lavouras até em períodos de seca, sendo um ambiente preferido para essa espécie.

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A mosca branca é uma das pragas causadoras de prejuízos à cultura da soja e do algodoeiro no estado do Mato Grosso. Ao sugar a seiva das plantas, os adultos e ninfas provocam alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, debilitando-a e reduzindo sua produtividade. A biologia da mosca branca é complicada pela aparente existência de diferentes biótipos, cujo significado evolutivo e prático continua pouco esclarecido. No Brasil existem diferentes biótipos de B. tabaci e a B. argentifolii (também chamada de Biótipo B da B. tabaci), cuja separação só é possível de ser feita através de marcadores moleculares ou técnicas especiais de criação. Os adultos medem 0,8mm de comprimento e, aparentemente, são de coloração geral branca, mas apresentam asas brancas e corpo amarelo. Sob condições climáticas favoráveis, seu ciclo de vida pode ser de duas a quatro semanas, podendo produzir até 15 gerações por ano. Localizam-se, preferencialmente, na face inferior das folhas, onde

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ovipositam, em média, 150 a 300 ovos por fêmea. A preferência para oviposição em algodão é afetada pela estrutura da folha, pela gravidade (positiva) e pela luz (negativa, exceto para adultos em voo). Outros fatores que podem estar envolvidos são interações entre gravidade, luz, estruturas foliares, condições ambientais e inimigos naturais. A temperatura é o principal agente externo que influencia a metamorfose progressiva da mosca branca, fazendo com que o seu ciclo de vida possa variar de 15 a 24 dias. As ninfas apresentam coloração verde-amarelado e passam por quatro instares. A ninfa de 1º instar é móvel, ou seja, apresenta pernas e é capaz de se mover na folha ou planta. Já a partir do 2º instar, as ninfas perdem as pernas e são imóveis. Permanecem dessa forma até a emergência do adulto. A partir do 3º instar, as ninfas são facilmente visíveis, assemelhando-se a cochonilhas. As ninfas das moscas brancas do gênero Bemisia caracterizam-se por não terem franjas formadas por filamentos ceráceos ao redor do corpo.


Danos

Na cultura da soja o dano direto é causado tanto pelas ninfas como pelos adultos, que ao se estabelecerem na face inferior da folha sugam a seiva, extraindo carboidratos e aminoácidos, podendo causar folhas com manchas cloróticas, murcha e queda. Ocorre a depauperação das plantas pela extração da seiva, comprometimento do desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, reduzindo a produtividade e a qualidade na produção e, em ataques severos, antecipação do ciclo em até 15 dias. Durante a alimentação, o inseto excreta um “melado” que favorece o desenvolvimento de fumagina um fungo negro que cresce sobre as folhas, escurecendo-as, prejudicando a realização da fotossíntese e, consequentemente, pode interferir na produtividade dependendo do estágio da planta e população presente da praga. São as ninfas que liberam grande quantidade dessa substância açucarada, possibilitando maior crescimento de fumagina sobre as folhas que, tornando-se pretas, absorvem muita radiação solar, provocando “queima” e queda das folhas da soja. Ataques severos provocam o amarelecimento das folhas mais velhas. Quando as plantas são jovens pode ocorrer a seca e até a morte das folhas. Os danos podem se agravar se houver períodos de veranico ou irrigação inadequada. Na cultura do algodão, os adultos e as ninfas se alimentam através da sucção da seiva do floema das plantas, retirando os nutrientes das plantas, podendo levá-las à morte ou queda de produção. As folhas atacadas tornam-se amareladas, secam e, como principal sintoma, caem. Durante sua alimentação ocorre excreção de uma substância açucarada e pegajosa, conhecida como “honeydew”. Essa secreção acarreta a formação da fumagina sobre ramos, folhas e frutos, ocorrendo em consequência redução

Isolados do fungo Aschersonia aleyrodis possuem ação contra a mosca branca

Altas infestações do inseto foram observadas em Crotalaria ochroleuca

da capacidade fotossintética da planta, contaminação do línter do algodoeiro e prejuízo à qualidade da fibra, além de interferência na colheita.

o uso de diferentes estratégias para controle e convivência com a praga. Destaca-se a busca de inseticidas seletivos ou um uso seletivo deles e o prolongamento da vida útil dos inseticidas eficientes contra este inseto. Ambas as opções podem implementar-se mediante avaliação de novos produtos, o aperfeiçoamento dos métodos de aplicação e o monitoramento constante dos níveis de resistência de mosca branca em áreas específicas, para realizar rotação dos inseticidas, no contexto de outras práticas próprias do MIP. Devido às características do inseto, o controle químico tem sido o método mais empregado, todavia, seu uso intensivo em alguns sistemas de produção pode conduzir ao aparecimento de populações resistentes. Altas populações tornam-se difíceis de controlar, bem como a exposição repetida aos inseticidas sem rotacionar o modo de ação, sendo muito provável a evolução de resistência a produtos. Desta forma, deve-se utilizar uma estratégia integrada com controle biológico,

Dano indireto

A mosca branca é vetor de vírus dos grupos geminivírus, carlavírus, closterovírus e luteovírus. Para a cultura do algodão, os vírus do grupo geminivírus são os mais comuns. Como insetos-vetores podem causar danos mais graves, mesmo quando presentes em baixas populações. Embora outros fitopatógenos possam ser transmitidos por esse inseto, os vírus são causadores dos maiores problemas. Em soja, os principais danos são relacionados à transmissão de viroses, caracterizados pelos sintomas: nanismo severo, enrolamento de folhas, intensa clorose e diminuição da produção de grãos.

Manejo integrado

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é

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Fotos Lúcia Vivan

Danos provocados pela mosca branca em algodoeiro (esquerda) e à direita Nicandra physaloides (joá-de-capote), espécie nativa hospedeira da praga

controle cultural e controle químico. A preservação de inimigos naturais nos agroecossistemas é de fundamental importância como fator de equilíbrio dinâmico das populações de espécies de insetos-praga, minimizando a intervenção do homem no controle. Por isso, são necessários estudos básicos de seletividade de produtos, pois as informações obtidas poderão ser utilizadas nas tomadas de decisão com relação ao produto a ser utilizado. O controle biológico, atualmente, possível consiste na preservação dos inimigos naturais da mosca branca pelo uso de inseticidas seletivos. Várias espécies de inimigos naturais têm sido identificadas em associação com complexo de espécies de mosca branca. No grupo de predadores, foram identificadas 16 espécies das ordens: Hemíptera, Neuróptera, Coleóptera e Díptera. Entre os parasitoides, identificaram-se 37 espécies de micro-himenópteros. Dentre os parasitoides destacam-se os gêneros Encarsia, Eretmocerus e Amitus, comumente encontrados. Com relação a entomopatógenos, há diversos isolados mais virulentos dos fungos Verticillium lecanii, Paecilomyces fumosoroseus, Aschersonia aleyrodis e Beauveria bassiana, com ação sobre moscas brancas. Em um programa de controle biológico, após a identificação de inimigos naturais, deve-se estabelecer de modo mais eficiente o emprego desses agentes, provavelmente, por liberações inundativas bem no início da cultura ou através de liberações de parasitoides em plantas daninhas adjacentes. Em vários países, estão sendo identificados e estudados diversos agentes de controle biológico da mosca branca, cujos resultados têm sido bastante promissores para o manejo dessa praga. Algumas espécies nativas da família Malvaceae são hospedeiros reservatórios do vírus, principalmente Sida rhombifolia (guaxuma), S. micrantha (vassourinha) e Nicandra physaloides (joá-de-capote), além de outras plantas cultivadas como feijoeiro, soja, quiabeiro e

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tomateiro. O controle é realizado por meio da eliminação das malváceas nativas próximas ao plantio, arranquio de plantas sintomáticas e controle químico da mosca branca. Ainda não foram relatadas cultivares resistentes ou tolerantes. Outras plantas daninhas como nabo forrageiro, leiteiro, picão preto, corda de viola, trapoeraba devem ser eliminadas das áreas por serem hospedeiras do inseto. Nessa safra observaram-se infestações altas de mosca branca em Crotalaria ochroleuca sendo preferencial em relação a outras espécies como C. spectabilise, C. juncea. Outra estratégia do MIP é a utilização de cultivares das culturas comerciais que ofereçam tolerância ao ataque ou não preferência dos insetos. Nas safras 2011/2012 e 2012/2013 realizou-se quantificação da população de mosca branca em algumas cultivares de soja utilizadas em Mato Grosso. No primeiro ano do trabalho a infestação foi alta desde o início do ciclo da cultura e observou-se que as cultivares TMG1176RR, TMG132RR e P98Y11 apresentaram menor preferência para oviposição e colonização de mosca branca em relação às demais avaliadas que apresentaram população superior (TMG1188RR, NA8015, TMG1288RR, TMG133RR e TMG127RR).

Populações de mosca branca podem ser mantidas em soqueiras de algodão

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Na safra 2012/2013 a população de mosca branca foi crescente durante o ciclo da cultura e as cultivares TMG1288RR, TMG1176RR, TMG132RR e P98Y11 apresentaram desenvolvimento mais lento e inferior dessa população durante o ciclo da cultura. No entanto, em alguns momentos do desenvolvimento da cultura todas as cultivares avaliadas apresentaram populações altas, o que indica que quando há uma alta pressão do inseto não é possível diferenciar a preferência ou não pelas diferentes cultivares de soja. Esse estudo deve ser continuado a fim de identificar outras cultivares em relação a não preferência de mosca branca. As aplicações preventivas e/ou sucessivas de produtos fitossanitários, para controlar a mosca branca na soja podem favorecer a seleção de insetos resistentes e o aumento da população da praga. Uma das táticas mais importantes de manejo de resistência de pragas a inseticidas é a rotação por modo de ação e para atingir este objetivo é fundamental criar um programa de rotação com produtos que possuem mecanismos de ação distintos. Portanto, os técnicos precisam conhecer o modo de ação dos inseticidas e acaricidas existentes no mercado, para incluí-los em suas recomendações de controle químico de pragas. Em traços gerais é importante realizar medidas preventivas que desfavoreçam o desenvolvimento de mosca branca nas áreas de cultivo sendo: eliminar plantas hospedeiras da praga dentro da cultura e em áreas vizinhas; fazer levantamento e contagem da praga no campo; utilizar produtos seletivos para manter os inimigos naturais; destruir os restos culturais; evitar o plantio de cultivares muito atrativas à praga; treinamento do monitor e do aplicador de produtos; seleção dos produtos considerando: rotação de modo de ação, efeito sobre inimigos naturais e fase de C desenvolvimento da mosca branca. Lúcia Vivan, Fundação MT



Coluna ANPII

Para desmitificar

A

Após se firmar como tecnologia de alto nível, a Fixação Biológica do Nitrogênio ainda precisa transpor a barreira de mitos e informações falsas ou equivocadas sobre sua utilização

Fixação Biológica do Nitrogênio é hoje reconhecida como uma tecnologia de ponta no cenário agrícola brasileiro. Com a evolução propiciada pela pesquisa e pelo alto nível das empresas produtoras de inoculantes, esta tecnologia se firmou como um dos grandes fatores para a obtenção das elevadas produtividades da soja brasileira. Entretanto, algumas falsas informações são divulgadas, infelizmente, por pessoas que ainda não tiveram acesso às mais recentes informações sobre os ganhos que os agricultores

quem entende de FBN. Assim, quem utilizar fórmulas de fertilizantes que contenham N, deve fazer o cálculo entre a quantidade de N na fórmula e a quantidade utilizada por hectare para não ultrapassar o limite. É falsa, também, a afirmativa de que é necessário adubar com N para a produção de hormônios pela planta. De fato, o N é necessário para a formação de hormônios, mas a quantidade deste nutriente para tal finalidade é mínima, sendo suprida pelo nitrogênio existente no solo e nos cotilédones. Embora na maioria dos casos este

de mais de 300kg de nitrogênio por hectare. Por outro lado, se a FBN durante o ciclo vegetativo não armazenou todo o N necessário, a fixação se estenderá por mais tempo, provendo a planta deste nutriente até o enchimento das vagens. Isto também está comprovado cientificamente. 3 – É necessário inocular mesmo em áreas com muitos anos de plantio de soja? Sim, é não só necessário como indispensável para se obter elevadas produtividades. As bactérias que permanecem no solo de um cultivo

É falsa, também, a afirmativa de que é necessário adubar com N para a produção de hormônios pela planta brasileiros e o ambiente obtêm com o uso correto desta tecnologia. Informações sem base científica prejudicam a plena utilização da fixação biológica do nitrogênio e trazem prejuízos aos agricultores. A ANPII, dentro de seu escopo de divulgar as conquistas da pesquisa brasileira sobre FBN, pesquisa esta que se encontra no mais alto nível em todo o mundo, vem fazendo um trabalho de divulgação que tem por objetivo levar as mais recentes e mais confiáveis informações sobre o tema para os agricultores e consultores de todo o Brasil. Vejamos abaixo algumas destas dúvidas para discutir se são verdadeiras ou falsas. 1 – É necessário usar nitrogênio de arranque no sulco de plantio? Como regra geral isto não é necessário e se constitui em um gasto a mais para o agricultor. Quantidades de N disponível no máximo até 20kg/ ha não chegam a causar prejuízos, mas mais do que este limite, 25kg ou 30kg de N trará prejuízos à produtividade, fato comprovado por mais de cem trabalhos científicos realizados por

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N na base seja dispensável, podem ocorrer situações pontuais nas quais se deva recomendar seu uso, pois em agricultura não existem fórmulas definitivas para todas as situações. Solos de primeiro ano de cultivo ou aqueles em que haja uma palhada muito densa, poderão, ocasionalmente, requerer de 10kg/ha a 15kg/ha de nitrogênio mineral. Mas somente uma observação criteriosa por quem esteja bem informado sobre FBN poderá determinar com certeza quando será necessário o uso de N na base. Como regra geral, ele é dispensável. 2 – Como a fixação cessa no final da floração, é necessário utilizar N no final do ciclo? Esta afirmação é totalmente falsa. Duas situações poderão ocorrer: se a fixação se deu em sua plenitude durante todo o ciclo, o N armazenado nas folhas migrará para as vagens, sem necessidade de mais N a ser aportado, seja via solo ou foliar. Principalmente no caso de N foliar, é um absurdo a falsa divulgação de que 800g ou 1kg de N fará alguma diferença, como nutriente, em uma cultura que necessita

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para outro não estão na quantidade necessária para que se obtenham as elevadas produtividades requeridas pelos agricultores brasileiros. O potencial genético de nossas cultivares está em um patamar tão elevado que requer que se explore ao máximo o poder de fornecimento de nitrogênio que a FBN pode oferecer. E isto só se obtém com inoculações anuais, utilizando inoculante de qualidade e usando-o de forma correta. Para finalizar, a ANPII possui todas suas publicações e toda sua divulgação respaldadas por trabalhos científicos. O relacionamento da associação e de suas empresas associadas com a pesquisa é muito forte, em trabalhos cooperativos e constante troca de informações. Desta forma, todas as afirmativas sobre a tecnologia são apoiadas em fortes bases científicas, suportadas por centenas de resultados obtidos em lavouras espalhadas por C todo o país. Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

“P

ues” no começo era só pampeano gaúcho (brasileiro, argentino ou uruguaio) que sorvia o seu amargo, enquanto os paraguaios iam de tererê. “Alla putcha”, agora ando pelo mundo e vejo chá-mate engarrafado, até gaseificado, para não falar em sorvete de erva-mate. “Bá tchê”, gaúcho sempre compartilhou a cuia, agora terá que compartilhar a erva-mate para outros usos. Com centro de origem no cone sul da América do Sul, a erva-mate (Ilex paraguariensis Saint Hillaire), uma planta perene da família Aquifoliaceae, com porte de seis a oito metros de altura, é utilizada há séculos como bebida nesta região, obtida de forma extrativista ou cultivada para aproveitamento comercial. Daqui o seu hábito está se expandindo para o mundo. No entanto, novos usos não foram acompanhados de aumento da oferta.

Chimarrão é saúde! mido no Brasil, Argentina e Uruguai; o tererê, muito popular no Paraguai; além de outros usos como bebidas prontas de chá-mate solúvel, chá-mate tostado e chá preparado na hora. Qualquer das infusões da erva-mate possui baixo valor calórico, estimado em 5kcal por porção de 50g em 500ml de infusão. Porém, a presença de substâncias como cafeína e polifenóis, além de conferir cor, aroma e sabor típicos da erva-mate, adicionalmente apresenta efeitos fisiológicos que permitem incluí-la na categoria de alimento funcional. Também foi determinado que extratos de erva-mate apresentam ação bactericida, controlando eficazmente em laboratório, bactérias patogênicas como Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis, Salmonella enteritidis e Escherichia coli.

Fitoquímicos

Os compostos fenólicos ou polife-

Efeitos fisiológicos

A ação dos polifenóis nos organismos animais tanto pode ser negativa quanto positiva. Um aspecto negativo é o efeito antinutricional dos taninos, que reduz o valor nutritivo de um alimento, ao ligar-se com proteínas, carboidratos ou enzimas, além de minerais como ferro e zinco. Por outro lado, podem atuar como compostos antioxidantes, juntamente com betacaroteno, vitamina C e vitamina E. O efeito antioxidante é considerado de extrema importância para a saúde. O estresse oxidativo decorre do desequilíbrio entre a formação e a remoção de radicais livres, devido à presença de substâncias que contêm um ou mais elétrons não pareados, cuja configuração as torna instáveis e altamente reativas, podendo ocasionar sérios distúrbios, que conduzem a infarto, diabetes, doenças autoimunes ou tumores malignos.

Estudos comprovaram o efeito antioxidante do extrato de erva-mate, reduzindo a oxidação do LDL-colesterol, desta forma diminuindo o risco de aterosclerose Ao longo da década passada, a área cultivada no Brasil aumentou, porém, a produção mostrou queda significativa. No Rio Grande do Sul houve movimento contrário, pois a produção aumentou apesar de redução superior a 20% na área cultivada. Em 2011, o Brasil colheu 445 mil toneladas (kt) de erva-mate, cultivadas em 71 mil hectares (kha), comparativamente a 2000, quando foram produzidas 522 kt em 69k/ha cultivados.

Produção

A maior produção atual é da Argentina, com 779 mil toneladas, colhidas em 202 mil hectares, números inferiores a 2000, quando foram produzidas 814 mil toneladas, em 178 mil hectares. Em 2011 o Paraguai produziu 85 mil toneladas contra 59 mil toneladas em 2000. Lá também a redução de área foi drástica, passando de 31 mil toneladas para 18 mil toneladas do início para o final da década passada. As folhas e outras partes dos ramos são utilizadas no preparo de bebidas estimulantes como o chimarrão, consu-

nóis, que são metabólitos secundários nos vegetais, representam um importante grupo de substâncias fitoquímicas, com diversidade de estruturas químicas, porém caracterizadas pela presença de, ao menos, um anel aromático e um ou mais grupamentos hidroxilas. Existem mais de oito mil diferentes compostos fenólicos presentes nos vegetais, sendo os exemplos mais conhecidos os ácidos fenólicos e seus derivados, cumarinas, ligninas, taninos e flavonoides. Os polifenóis determinam algumas características sensoriais dos alimentos (cor, aroma, sabor ou odor). Polifenóis como antocianinas são responsáveis pelas cores vermelha, azul, violeta, laranja ou púrpura, observadas em frutas e flores. Por outro lado, a reação de oxidação dos compostos fenólicos, gerandoquinonas produz a cor marrom ou parda nos alimentos em processo de envelhecimento ou degradação. O sabor amargo das infusões de erva-mate também é devido a compostos fenólicos, como o ácido clorogênico ou seus derivados, enquanto a adstringência está associada a taninos.

Os antioxidantes são capazes de interceptar os radicais livres gerados pelo metabolismo celular ou por fontes externas, com a habilidade de reduzir espécies pró-oxidantes ou reativas de importância patológica. Estudos comprovaram o efeito antioxidante do extrato de erva-mate, reduzindo a oxidação do LDL-colesterol, desta forma diminuindo o risco de aterosclerose, o que é associado à presença de flavonoides e compostos fenólicos na erva-mate. Entrementes, os efeitos benéficos podem variar, em função da variedade de erva-mate, do local onde é plantada ou da época em que é colhida, assim como conforme o processo de preparo, a proporção de ramos e folhas ou a quantidade ingerida. Mas, o que se sabe até o momento permite indicar efeitos positivos do consumo de erva-mate sobre a saúde. “Bueno, entonces”, se é assim, me C passa outra cuia, “tchê”!

Décio Luiz Gazzoni

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Safra 2014/15 começa com boas expectativas nos EUA

Os produtores americanos começaram o plantio da safra 2014/15 com problemas climáticos, ao mesmo tempo em que a janela de plantio dos EUA está, a cada ano, mais apertada. Mesmo assim o quadro foi melhorando e o plantio sendo realizado, com ritmo acelerado de máquinas, o que tornou possível plantar a maior parte no período considerado ideal para as lavouras de milho e de soja. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou suas primeiras estimativas de safra, apontando para uma colheita recorde de soja. No primeiro relatório, de Maio, foram estimadas 98,9 milhões de toneladas da oleaginosa, oriundas de uma área de 33 milhões de hectares, com crescimento de 2,1 milhões frente ao ano passado, apostando em colheita próxima de três toneladas por hectare, número bastante otimista porque o país nunca colheu nível tão alto de produtividade média. Para o milho a safra também é esperada como recorde, na faixa de 354 milhões de toneladas, provenientes de 37,1 milhões de hectares, contra os 38,6 milhões de hectares plantados no ano passado e que resultaram em 353,7 milhões de toneladas. Novamente a estimativa é otimista, porque também leva em consideração uma produtividade recorde. Mesmo assim o quadro mundial apontado pelo USDA, neste novo, ano indica que haverá queda na produção total de grãos frente aos números atuais, o que serve de apelo positivo para dar suporte às cotações. A produção mundial de grãos para esta nova safra começa com estimativa de 2.434 mil toneladas, contra 2.459 mil toneladas deste ano que está em andamento. O trigo é a cultura que perde potencial produtivo e desce para 697 milhões de toneladas frente as 714 milhões de toneladas deste último ano. O clima tem mostrado evolução e causado problemas em grande parte do planeta e tudo aponta que este não será um ano diferente. O quadro geral pode sofrer mudanças e mostrar um 2015 muito parecido com 2014, com expectativas de lucros aos produtores em todas as regiões produtoras do Brasil. A boa noticia é que o consumo mundial poderá continuar crescendo forte e dar suporte a novos incrementos na produção brasileira de alimentos. MILHO

Safrinha na “boca da colheita”

O mercado do milho registrou calmaria até queda nas cotações, em Maio, com aproximação da colheita da safrinha e ausência de indicativos de geadas sobre as lavouras do Paraná e de Mato Grosso do Sul (risco que se estende até a metade de junho). Mas já se observava problemas e perdas devido à seca que começou no final de abril na maior parte das regiões produtoras do Centro Oeste e de Minas Gerais. Esse cenário tende a trazer perdas crescentes, porque não havia prognóstico de que as chuvas viessem a cair para melhorar o quadro. Junho será o mês de início da colheita e aumento das ofertas de milho novo, oriundo dos campos do Centro Oeste para os portos e para os consumidores do Sudeste e do Sul, além de atender às necessidades do Nordeste, onde o Governo tem comprado o produto via pregão. Os indicativos de agora até o segundo semestre deverão navegar em cima de valores que liquidam na exportação e que nas últimas semanas variavam de R$ 28,50 nos dias de cambio mais fraco até níveis de R$ 30,00 para os dias de cambio melhor. Estes patamares devem permanecer de junho em diante, com expectativa de leve pressão de baixa no começo da colheita e de alta a partir de agosto, quando haverá redução das ofertas.

maio e seguiam emitindo sinais de que venderiam um pouco mais de milho para fazer caixa, deixando parte da soja restante para negociar a frente. Muitos produtores apostam na soja como um ativo financeiro, buscando se proteger de riscos que podem vir com a copa do mundo e eleições, eventos que tendem a trazer pressão sobre o cambio. A oleaginosa responde imediatamente a estas alterações, o que tem feito com que os produtores acreditem mais na soja que no mercado financeiro brasileiro, segurando parte dos grãos para negociar no futuro. Neste momento resta algo próximo de 25% da safra para ser negociado, número este um pouco abaixo da media registrada em outros anos, que normalmente superavam os 30%. A maior parte da soja negociada até agora foi de produto para quitar dívidas de insumos ou de trocas realizadas e que foram quitadas pelos produtores. A safra está fechando a colheita e ainda há pequenas dúvidas sobre a produção (ao redor de 86,5 milhões de toneladas na safra convencional). Mas há grandes áreas de safrinha nos campos e que podem fechar o total da produção brasileira em 88 milhões de toneladas. Há calmaria por parte dos produtores que também se mostram lentos nas negociações da safra nova 2014/15, a espera de cotações maiores para negociar.

mente oriundo da região de Sorriso, que em poucos anos se tornou um dos maiores produtores do País e que, mantido o ritmo, caminha para ser a capital do Feijão. Os indicativos se mostraram calmos neste último mês e devem seguir com poucas alterações em junho, quando são aguardadas as primeiras ofertas de feijão Preto vindo da Argentina o que pode gerar leve pressão de baixa, sem contudo haver espaço para grandes oscilações. O principal obstáculo observado no Feijão é a qualidade, porque o produto comercial inferior não tem obtido aceitação pelos consumidores. Nem com valores menores tem conseguido comercialização. ARROZ

Consumo em crescimento

Os produtores gaúchos fecharam a colheita na faixa de 8,3 milhões de toneladas e a produção brasileira alcançou patamar levemente acima das 12 milhões de toneladas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou a safra em 12,6 milhões de toneladas e consumo de 12 milhões de toneladas, (números iguais ao ano passado). Contudo há razões para acreditar que o consumo está mais para as 12,6 milhões de toneladas e a produção para 12 milhões de toneladas. FEIJÃO As cotações cresceram em abril e em maio. O arroz Ofertas do Mato Grosso em maio em Casca deverá chegar ao final do ano acima da faixa SOJA O mercado do Feijão começou a ver a oferta de dos R$ 40,00 no Rio Grande do Sul, favorecendo os Estabilidade e poucos negócios Os produtores seguraram as vendas de soja em produto do Mato Grosso crescer em maio, principal- produtores para o novo plantio.

CURTAS E BOAS TRIGO - o mercado do trigo brasileiro registra safra em plantio e tudo aponta para um dos melhores resultados em vários anos. Para que os produtores possam obter lucros, terão que se preparar para enfrentar um mercado diferente daquele da Soja (que tem liquidez constante). O Trigo é um produto cujo consumo alcança quase um milhão de toneladas por mês. Os moinhos geralmente preferem trabalhar com o grão importado porque tem financiamentos e prazos para pagar. Com isso deixam o mercado interno com pouca liquidez, por comprarem esporadicamente. Assim, os produtores tem de plantar e se possível negociar alguma coisa antecipada. O mercado ainda tem distorções tributárias que beneficiam o produto importado nas vendas entre os estados. Os produtores terão de acompanhar este quadro para poder negociar nos momentos em que os moinhos estarão comprando. Nota-se que algumas cooperativas estão montando moinhos e isso tende a favorecer a liquidez dos produtores. Certamente em poucos anos o quadro estará bastante favorável ao avanço da produção e a autossuficiência do trigo brasileiro. O mercado segue positivo porque há cotações em alta no mercado mundial e a safra que está nos campos do hemisfério norte mostra problemas. Haverá produção menor, como aponta o USDA, com queda em mais de 20 milhões de toneladas frente ao ano anterior. algodãO - os produtores observam a safra se encaminhar para a fase final

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neste mês de junho, com a colheita devendo começar em algumas semanas. Mesmo com safra aparentemente maior que no ano passado o Brasil terá um quadro positivo para os cotonicultores, porque países importantes como a China estão com indicativos de forte queda na produção neste novo ano. china - O plantio continua e o governo chinês teme que neste ano, com prognóstico de El Niño, possa haver problemas para a safra do país. Com isso tem comprado arroz em vários países vizinhos, seguia com fortes aquisições de soja e buscava alternativas para milho e trigo (porque nestes últimos anos tem comprado da Ucrânia, que enfrenta crise interna e pode ter dificuldade para manter a produção e atender o mercado internacional). É possível observar que nos primeiros quatro meses deste ano houve recorde de importações de soja pelos chineses, com 6,5 milhões de toneladas importadas em abril e no acumulado do ano 22 milhões de toneladas, sinalizando que o país irá seguir comprando forte e dando suporte às cotações futuras. mercosul - A safra de Soja de Argentina, Uruguai e Paraguai está fechada. Foram mais de 55,5 milhões de toneladas colhidas na Argentina, 9,1 milhões de toneladas no Paraguai e mais de 3 milhões de toneladas no Uruguai. Há expectativa de que todos registrem avanços neste novo ano para atender à demanda crescente que aparece no mercado mundial.






Encarte técnico - Junho 2014

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Saudável na origem Fotos Bayer CropScience

Empregar o tratamento de sementes, com produtos de qualidade e produzidos com alta tecnologia, é estratégia importante para garantir a sanidade das lavouras, com ganhos na germinação e no desenvolvimento inicial das plantas

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desenvolvimento de cada semente, envolvendo não só a produção, mas a genética, a biotecnologia, o tempo de desenvolvimento e os demais avanços tecnológicos, agrega muito valor às sementes e isso reforça a necessidade e as estratégias de manejo para a proteção das sementes e também do investimento realizado, tanto na fase de pesquisa como comercialmente pelo agricultor, que por sua vez espera ao final da safra a melhor produtividade e rentabilidade. Há um século, a Bayer introduziu seu primeiro tratamento de sementes. Desde então, pesquisas e desenvolvimento de produtos incrementaram o portfólio de soluções para o segmento, com as mais modernas tecnologias do mercado. Líder mundial no segmento de tratamento de sementes, a Bayer CropScience oferece portfólio amplo e completo, que inclui inseticidas, fungicidas, nematicidas, produtos biológicos e combinados, além de alta tecnologia em recobrimentos. Os produtos voltados exclusivamente para a proteção das sementes preservam a qualidade, proporcionam boa germinação e bom desenvolvimento inicial. A prática do tratamento de sementes tem como principal obje-

tivo proporcionar a proteção das sementes, assegurando bom estande e desenvolvimento inicial da plantação. Com quantidades adequadas de produtos químicos ou biológicos, como fungicidas, inseticidas ou nematicidas, aplicados sobre as sementes, ocorre a proteção contra doenças causadas por fungos e pragas durante a germinação e na fase inicial do desenvolvimento. Principais benefícios

• Confere segurança e proteção das sementes; • Proporciona bom estande inicial; • Uniformidade na emergência das plantas; • Controla as doenças e pragas na fase inicial; • Evita perdas pela ação de pragas; • Retarda as doenças na parte aérea; • Proteção do potencial produtivo. Sementes saudáveis são a base de uma boa safra e isso torna sua proteção indispensável!

Pensando nisso, a Bayer CropScience desenvolveu e recomenda o uso de CropStar, uma das soluções para um tratamento de sementes

completo e diferenciado, no que se refere ao controle de insetos-pragas e nematoides na fase inicial da lavoura. Seja com o tratamento Industrial ou com o tratamento realizado na fazenda, o agricultor irá constatar os benefícios proporcionados pelo produto. Vantagens do produto

√ Formulação específica para tratamento de sementes; √ Excelente controle de pragas de solo e parte aérea na fase inicial; √ Controle de sugadores, mastigadores e nematoides; √ Produto sistêmico; √ Seletivo a inimigos naturais; √ Residual prolongado; √ Destacado efeito de vigor. O tratamento de sementes é um dos pilares da estratégia de negócios da Bayer CropScience e o CropStar exerce papel fundamental. Composto pelos ingredientes ativos imidacloprido e tiodicarbe, o produto age no controle de pragas iniciais e no desenvolvimento forte das plantas. Originalmente destinado apenas à cultura do milho, a partir de 2010, conquistou a extensão de uso para outras 11 culturas: algodão, amendoim, arroz, aveia, feijão, mamona, girassol, soja, cevada, sorgo e trigo.


04 • Junho 2014 - Encarte técnico

O tratamento de sementes tem importante função na proteção na fase inicial das plantas

O produto, utilizado para o tratamento das sementes, protege as lavouras contra pragas sugadoras (como pulgões e percevejos), pragas mastigadoras (como lagartas) e nematoides. “A dinâmica de pragas requer soluções completas e o Cropstar é um produto que cobre a maior parte dessas necessidades”, afirma Siegfrid Baumann, gerente de SeedGrowth da BCS. O produto atua ainda no sistema da planta, promovendo a ação denominada Força Anti-Stress (FAS), que ajuda em um melhor estabelecimento das plantas na área de cultivo, no desenvolvimento de raízes e parte aérea, contribuindo para a produtividade de toda a lavoura. Para adquirir e aplicar o CropStar em sua lavoura, o agricultor possui duas maneiras disponíveis no mercado: via onfarm, em que ele mesmo compra o produto direto de

um distribuidor Bayer e faz o tratamento das sementes diretamente na fazenda; e via tratamento industrial de sementes, em que multiplicadores, cooperativas, sementeiras e indústria vendem as sementes de cultura como soja, milho, algodão, trigo e feijão, já protegidas com o CropStar. “Quanto ao tratamento industrial, o agricultor tem o benefício de receber cada semente tratada com segurança, extrema precisão quanto à dose e pode conseguir uma otimização da mão de obra”, explica o gerente. O sucesso do CropStar não se mantém apenas pela eficiência, mas também pelo período em que as sementes podem ser armazenadas e por sua formulação única. Segundo Siegfrid Baumann, a composição traz uma quantidade equilibrada de ativos e preparada com agentes que fazem com que o produto seja

A qualidade do tratamento aplicado às sementes e a tecnologia empregada são essenciais para a obtenção de plantas vigorosas e produtivas

totalmente aderido à semente. “Os cristais da formulação também são menores e mais homogêneos, permitindo proteção desde o plantio além da rápida absorção do produto pelas plantas. Essas são questões de segurança importantes para o produtor. O CropStar proporciona a proteção de seu investimento e auxilia em um maior rendimento, sustentabilidade e lucratividade da lavoura”, emenda o gerente de SeedGrowth. Durante a safra 2013, a Bayer concluiu o projeto CropStar com o envolvimento de mais de 1.900 clientes e 108 profissionais na cultura da soja, com o objetivo de gerar demanda e apresentar os benefícios do produto para os agricultores do país. Os resultados comprovaram a excelência do produto no controle de pragas na cultura e destacou o benefício da Força Anti-Stress. Mais de 80% dos clientes se mostraram muito satisfeitos com os resultados. Na região Sul foram 748 clientes e um incremento de 2,4 sacas de soja por hectare. Na região dos Cerrados, 1.030 clientes e 1,9 saca por hectare; no Sudeste, foram 145 clientes e 2,6 sacas a mais por hectare. “Em 2014, a Bayer completa 100 anos do lançamento do primeiro produto voltado para o tratamento de sementes. O CropStar é prova de que a Bayer busca constantemente o desenvolvimento de soluções inovadoras para o campo que proporcionem benefícios adicionais aos nossos clientes, tais como segurança e comodidade, isso faz parte da nossa história!”, finaliza C Baumann.

Siegfrid Baumann, Gerente Bayer SeedGrowth


Encarte técnico - Junho 2014

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Máquinas para tratamento de Precisão

Equipamentos adequados e com tecnologia avançada são fundamentais para garantir a qualidade do tratamento industrial de sementes e contemplar aspectos como precisão, agilidade, segurança e controle de processos

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uando se pensa em equipamentos para tratamento industrial de sementes, alguns pontos devem ser levados em consideração, como precisão, agilidade, segurança para sementes e para o operador, além de controle de processos. A Bayer CropScience está ciente de tais necessidades e por isso conta com fábrica própria de equipamentos para tratamento de sementes. Localizada na cidade de Shakopee, no estado do Minnesota, Estados Unidos, a fábrica da Bayer possui estrutura especial para a frente de equipamentos de tratamento de sementes como engenharia, pesquisa e desenvolvimento, fabricação, armazenagem, controle de qualidade e suporte técnico. É exatamente nessa unidade que são fabricados os equipamentos utilizados no Brasil para a proteção das sementes: as Continuous Batch Treaters (CBTs), que na tradução para o português podem ser chamadas de Tratadoras

de Bateladas Contínuas. Os modelos disponíveis são: CBT 50: capacidade até seis toneladas/hora; CBT 100: capacidade até 12 toneladas/hora; CBT 200: capacidade até 20 toneladas/hora. Obs: As capacidades acima têm como referência a cultura do trigo. As máquinas são para tratar multiculturas, ou seja, podem ser utilizadas para soja, milho, trigo, cevada, algodão, feijão, arroz, entre outras. Por serem máquinas de bateladas, as CBTs realizam os tratamentos lote a lote. Como funciona o sistema

1) Sobre o equipamento existe uma moega pré-tratamento, onde ficam armazenadas as sementes que passarão pelo processo de aplicação de produtos. 2) Abaixo da moega, há uma balança de precisão que faz a dosagem

Figura 1 – Itens que compõem o sistema de tratamento por bateladas

de sementes que serão tratadas na batelada. Para garantir a precisão na dosagem, o sistema conta com duas válvulas controladas por cilindros pneumáticos: quando se está chegando próximo ao alvo de pesagem, uma das válvulas se fecha, diminuindo o fluxo de sementes e, consequentemente, aumentando a precisão de pesagem. 3) Após pesadas, as sementes se deslocam em fluxo descendente para a câmara de mistura, onde serão aplicados os produtos líquidos e sólidos. A câmara de mistura, comumente chamada de centrífuga, pode ter sua velocidade de rotação ajustada em função da cultura. Fixas à parede da centrífuga existem barras elevadoras, que fazem com que a massa de sementes em movimento centrífugo suba em direção à sua tampa. Outro grande diferencial está nas tampas: nelas existem aletas dimensionadas pela Bayer após muitos anos de pesquisa, desenvolvimento e testes. As sementes, quando se Figura 2 – Layout de instalação: Tratador CBT/Balanças de Aplicação/IBCs


06 • Junho 2014 - Encarte técnico Figura 3 – Linha do tempo e sequência de processos

encontram com as aletas das tampas, são gentilmente deslocadas para baixo, formando um movimento elíptico em direção ao atomizador de produtos líquidos. Dosagem e aplicação de líquidos

4) A dosagem de produtos líquidos é feita por meio das estações de bombeamento e pesagem, que são constituídas por duas bombas peristálticas e uma balança de precisão, atuando da seguinte forma: a bomba um tem a função de transferir o produto em questão das embalagens de mil litros até a balança de precisão. A bomba dois, controlada por inversor de frequência, envia os produtos dosados de forma muito precisa na balança até a máquina. As bombas utilizadas são peristálticas devido à sua alta precisão e pelo fato de não se ter contato entre os produtos e partes mecânicas da mesma (o produto é conduzido por mangueiras), aumentando consideravelmente sua vida útil. Cada CBT dispõe de quatro estações, possibilitando aplicação de produtos de forma separada sem necessidade de preparo de calda. Figura 4 – Avaliação do fluxo de sementes por meio da aleta

Sistema de aplicação por peso: outro grande diferencial é o fato de as máquinas produzidas pela Bayer realizarem as aplicações dos produtos por peso. O sistema apresenta balanças tanto para sementes quanto para produtos, provendo dessa maneira aplicação do produto em questão em gramas/kg de sementes, mostrando que cada produto é tratado de forma particular, levando em consideração densidade e dosagem de registro. Nota: bombas peristálticas são bombas hidráulicas de deslocamento positivo e constituídas por rotores ou roletes que pressionam mangueiras conduzindo os líquidos em questão, tendo inúmeras vantagens: • Alta precisão mesmo quando estão sob constantes repetições. • Bombeamento sem contaminação – adequado para agroquímicos • Fácil Instalação, operação e manutenção • Baixa manutenção 5) Após a dosagem, os produtos químicos são enviados para a máquina sem necessidade de pré-mistura, o que significa ainda

mais segurança para o operador. Os produtos para o tratamento serão bombeados para a CBT por meio de mangueiras até um atomizador, que é um disco com perfurações nas laterais rodando a alta velocidade para literalmente atomizar os produtos nas sementes. 6) Além da aplicação de produtos na forma líquida, o equipamento tem em sua configuração até dois aplicadores de produtos sólidos, com sistema extremamente preciso e transportador controlado por inversor de frequência. 7) Descarga: fechando o ciclo de tratamento há a descarga da semente da centrífuga para o restante do processo industrial (Ensaque). Esta descarga utiliza a própria força centrífuga que, por meio de uma porta lateral aberta por um pistão pneumático com êmbolo magnético, expulsa as sementes da mesma. Este pistão possui um sensor que informa para o CLP quando o mesmo fecha, informando que o processo de descarga foi finalizado e que já é possível realizar o ciclo novamente. Nota: todo o processo do equipamento é controlado por CLP (controladores lógicos programáveis) de última geração e, dada a modernidade do equipamento, é possível acesso remoto a fim de promover ágil assistência, além de emissão de relatórios a cada batelada. Características das CBTs

• Fabricação própria Bayer CropScience • Multiculturas • Não causa dano mecânico às sementes • Sistema de aplicação por

Figura 5 – Influência do número de aletas no fluxo de sementes


Encarte técnico - Junho 2014 Figura 6 – Influência do número de aletas no fluxo de sementes

peso • Dispensa preparo de calda • Balanças de precisão para sementes e produtos químicos • Bombas peristálticas para aplicação extremamente precisa • Possibilidade de aplicação de até dois produtos sólidos • Sistema automatizado de última geração controlado por CLP • Possibilidade de acesso remoto e emissão de relatórios. Painel de controle

Todo o sistema é controlado por CLP. Além disso, a tela de operação (interface) é bastante amigável e permite fácil entendimento por parte do operador. O sistema de automação dos equipamentos merece vários destaques, que ajudam a trazer acuracidade para a aplicação: • A aplicação de produtos químicos se ajusta em função do número real pesado pela balança de sementes. • Permite input de mais de 200 receitas diferentes. • O sistema realiza ajuste automático de autocompensação para que o valor real aplicado seja extremamente próximo ao alvo desejado.

Figura 7 – Influência do número de aletas no fluxo de sementes

Equipe de engenheiros, assistência técnica remota e peças de reposição

A Bayer possui também uma equipe de engenheiros altamente capacitados para oferecer aos clientes todos os serviços necessários, que possam assegurar o bom rendimento das CBTs: projetos, instalação, startup, manutenção e suporte técnico. Com relação à assistência técnica, um destaque é o acesso remoto, pelo qual a equipe técnica da Bayer CropScience pode fornecer suporte aos clientes de forma rápida e ágil. Apesar de as máquinas serem muito robustas e raramente se ter paradas para manutenção corretiva, a Bayer dipõe em seu Centro, em Paulínia, o SeedGrowth Center, de um estoque muito amplo de peças de reposição a fim de atender rapidamente às necessidades dos clientes. Tratamento Industrial de Sementes - Simulações por modelagem

A Bayer CropScience busca sempre a melhoria contínua e o uso das mais inovadoras tecnologias para desenvolver os seus equipamentos para tratamento de sementes. Utiliza de simulações por modelagens

Gráfico 1 – CBT 50, massa total sobre zona de revestimento

para criar e aperfeiçoar estes equipamentos. Simulações e análises nos movimentos que as sementes desenvolvem durante o tratamento são feitas com o intuito de se obter o melhor desempenho de tratamento e de forma segura para as sementes. Por meio de simulações por modelagens, pode-se avaliar os movimentos das sementes dentro da câmara de mistura em função das aletas localizadas na parte superior da mesma Pontos para avaliação

- Menos produto na câmara de mistura e maior velocidade no fundo da centrífuga; - Melhor limpeza da câmara de mistura entre bateladas; - Melhor revestimento; - Menor zona de revestimento. Através das simulações e modelagem, verifica-se as grandes diferenças para o tratamento de diferentes culturas , suportando a Bayer nas tomadas de decisão a fim de desenvolver um equipamento cada vez C mais próximo da excelência.

Ricardo Otranto e Bruno Lemes, Bayer SeedGrowth Center

Gráfico 2 – Velocidade tangencial e força centrífuga pelo raio da centrífuga

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08 • Junho 2014 - Encarte técnico

Centro de tecnologia Destinado a oferecer suporte ao tratamento industrial de sementes, treinamentos e testes de qualidade, o Bayer SeedGrowth também se propõe a ser um elo eficiente entre empresa, clientes e formadores de opinião

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entro da estratégia global Bayer SeedGrowth há quatro competências técnicas: produtos, recobrimentos, equipamentos e serviços. É na competência serviços que se concretizou o Bayer SeedGrowth Center. A finalidade desse centro é oferecer suporte para a estratégia de tratamento industrial de sementes, bem como treinamentos operacionais, desenvolver testes de qualidade do tratamento e ser uma importante ferramenta de negociação direta com clientes e formadores de opinião. O Bayer SeedGrowth Center Brasil está sediado em Paulínia, São Paulo, dentro do Centro de Pesquisa e Inovação da Bayer CropScience. Nesse centro, encontra-se toda a estrutura física de suporte aos clientes da estratégia Bayer SeedGrowth. Treinamento como centro de excelência, o SeedGrowth Center possui equipamentos que são referência para os clientes que o visitam. Toda a estrutura montada, sala de aula, laboratório e área de aplicação, favorece o aprendizado dos futuros operadores. Estoque de Peças

O Centro dispõe de um estoque de peças, permitindo melhor atendimento ao cliente em relação à manutenção dos equipamentos no campo. Acesso remoto

Um dos diferencias do Bayer SeedGrowth Center Brasil é a possibilidade

de oferecer acesso remoto aos clientes. Todo o corpo técnico possui ferramentas com as quais, em qualquer parte do Brasil, pode realizar tal acesso, desde que o cliente possua uma conexão de internet. Isso contribui para a agilidade no tempo de resposta e na eficiência do equipamento. Laboratório

Outro foco do Bayer SeedGrowth Center está voltado ao controle de qualidade oferecido pelo laboratório, que envolve todos os testes para a avaliação de sementes tratadas industrialmente. Os testes são: - Heubach (emissão de poeira): cada cultura possui um limite de emissão de poeira. Esse equipamento mede a quantidade de emissão por amostra. - HPLC (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência): equipamento que afere a quantidade de ingrediente ativo na semente - Fluidez: equipamento que mede a vazão de sementes. - Scanner: por meio de uma foto de alta resolução, o scanner analisa uniformidade e intensidade de cor. - Plantabilidade: equipamento que simula o plantio no campo e avalia parâmetros como duplas, falhas e número de sementes por metro. Como ferramenta para a equipe de campo Bayer SeedGrowth, o Centro é capaz de efetuar testes para novas formulações, pois possui equipamentos de pequena escala, facilitando os traba-

lhos de pesquisa. O suporte completa o ciclo da estratégia envolvendo todos os quesitos, para que, assim, a prioridade seja sempre o cliente. O Bayer SeedGrowth Brasil oferece aos seus clientes todo o suporte necessário para o desenvolvimento de suas atividades relacionadas ao tratamento de sementes. Com um corpo técnico altamente qualificado, o cliente recebe suporte desde o momento da confecção do projeto, de acordo com a sua demanda, até o momento do startup comercial do equipamento, quando os representantes da Bayer SeedGrowth certificam que todo o processo foi concluído satisfatoriamente. O suporte não termina aí, está presente por meio do acesso remoto ao equipamento, manutenções preventivas e estoque de peças pela Bayer SeedGrowth Brasil. Luis Eduardo Salomão, representante da Sementes Goiás, é um dos parceiros do projeto. “A Sementes Goiás participa há cinco anos do tratamento industrial de sementes, em parceira com a Bayer. Tivemos uma de suas primeiras máquinas no Brasil. Nesse período, sofremos com a falta de assistência e de preparo das nossas equipes. A máquina é muito moderna; é um sistema computacional de última geração e com qualidade, que requer pouca mão de obra! Nesse período, tínhamos dificuldades no operacional e ficávamos parados até mesmo por causa de detalhes e ajustes simples”, relata.


Encarte técnico - Junho 2014

O treinamento de futuros operadores no Bayer SeedGrowth Center conta com profissionais qualificados e modernos recursos para facilitar o aprendizado

Com a criação do Bayer SeedGrowth Center e a implantação de treinamentos o cenário mudou. “Nossas equipes hoje entendem a máquina e dominam o processo de tratamento. Conseguimos otimizar o equipamento, diminuir o tempo de parada e ganhamos principalmente na segurança e na qualidade do tratamento”, conta Salomão. O acesso remoto também foi importante. “É uma ferramenta simples, que nos auxilia nos eventuais problemas que enfrentamos. O especialista da Bayer, por meio de seu laptop, consegue visualizar e manusear a máquina a distância, sugerir ajustes nas regulagens, melhorar a performance do equipamento e, quando temos algum problema, agiliza, e muito, a solução. Essa ferramenta nos traz segurança”, comemora. As manutenções e a oferta de peças eram outras preocupações do cliente. “A máquina é bem resistente. Por ser um equipamento importado, preocupavanos muito a possibilidade de quebrar em plena safra e fazer-nos deixar nosso cliente esperando. Hoje perdemos essa preocupação. A Bayer tem um estoque diversificado e, principalmente, um plantão que funciona aos fins de semana e feriados”, elogia. A importância da orientação recebida é outro ponto apontado por Salomão. “O acompanhamento se inicia na confecção do projeto, com profissionais qualificados, que nos orientam em todas as etapas (projeto, montagem, treinamento das equipes), e no primeiro dia de trabalho a presença dos profissionais da Bayer ajuda e nos traz a segurança de que estamos

Laboratório Bayer SeedGrowth Center presente na unidade instalada no Brasil

fazendo o certo. Nosso objetivo é entregar a melhor semente com o melhor tratamento e a Bayer é nossa parceira. Nesta safra tratamos 264 mil sacos de 40 quilos”, comenta. Qualidade em tratamento de sementes

A qualidade do tratamento de sementes pode ser avaliada pelo teor de cada ingrediente das sementes, que quantidade do ingrediente ativo realmente está na semente; distribuição homogênea de semente a semente entre todos os grãos; baixos níveis de poeira: boa adesão do produto à semente e sem abrasão do recobrimento; fluidez/ plantabilidade da semente tratada por meio de linhas de ensacamento e simulação do plantio. São oferecidos aos clientes todos os testes que avaliam esta qualidade. HPLC (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência), que avalia se o ingrediente ativo está na semente; Dustmeter, que avalia o grau de emissão de poeira da semente; Fluidez, que avalia a vazão

(g/s) da semente na amostra; Scanner, que por meio de uma foto com alta qualidade avalia a uniformidade da amostra quanto à cor e ao recobrimento; e Plantabilidade, que simula a condição de plantio no campo. Com a união de todos estes testes é possível avaliar de forma precisa a qualidade da semente tratada. Global

Bayer SeedGrowth é uma estratégia global. A rede de atendimento é composta por dez Bayer SeedGrowth Centers ao redor do mundo e diversos profissionais de campo, além de expertise de 100 anos de experiência em tratamento de sementes. Abrange diversos ramos de atuação com serviços tanto para agricultor, semeador, tratador, varejista ou assessor. Todos esses serviços estão disponíveis nos Bayer SeedGrowth Center C Brasil ou por meio dele.

Maurício Amade, Bayer CropScience

Figura 1 - Dez Bayer SeedGrowth Centers

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10 • Junho 2014 - Encarte técnico

Recobrimento protetor Reduzir poeira, ajudar a reter, distribuir e uniformizar ingredientes ativos nas sementes são características do processo realizado com o uso de polímeros

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Encarte Técnico: Bayer Foto de Capa: Bayer Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 181 - Junho/14 Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075 www.revistacultivar.com.br

ais popularmente conhecidos como polímeros, os recobrimentos, também chamados globalmente de filmcoatings, são produtos líquidos e sólidos inertes (não possuem ingrediente ativo) que contêm agentes aglomerantes, agentes de fluidez, pigmentos, agentes secantes, entre outros ingredientes, que recobrem o tegumento da semente com uma fina película - peliculização. O recobrimento em forma sólida é um pó de composição mineral ou orgânica e também não possui ingrediente ativo e faz parte do processo de peliculização e/ou peletização e incrustação. No processo de peliculização, diferentemente dos corantes, que possuem função de apenas colorir as sementes, os recobrimentos são capazes de reter ingredientes ativos e, quando aplicados em conjunto, possuem função estética no tratamento das sementes, além de uniformizarem a distribuição dos produtos de proteção no tegumento da semente. O recobrimento líquido auxilia na redução da emissão de poeira química, que pode conter ingrediente ativo dos produtos de proteção aplicados à semente no tratamento industrial, proporcionando ainda mais segurança ao tratamento. Além disso, diminui a perda de produto por atrito durante o transporte e operações de plantio, pois reduz a abrasividade do tegumento após tratamento e também auxilia na fluidez do processo. O recobrimento sólido, mais comumente conhecido como pó secante, é utilizado em processos de peliculização, nos quais o volume de calda aplicado às sementes é excessivo. É aplicado

logo após os produtos líquidos e auxilia assim, o processo de secagem e fluidez do tratamento. Também é usado em processos de peletização e incrustação de sementes (combinados com produtos líquidos), em especial de hortaliças, neste caso a composição e a dose utilizadas do recobrimento são diferentes e o processo é mais longo e complexo. Nos processos de tratamento industrial de sementes do Bayer SeedGrowth, os recobrimentos líquidos e sólidos são combinados com produtos de proteção de plantas para melhorar a performance do tratamento, aumentar a fluidez das sementes tratadas, auxiliar o processo de secagem, durante e após o tratamento, além de recobrir as sementes de forma mais uniforme e eficiente, garantindo a segurança tanto do tratamento como dos operadores envolvidos nos processos, desde o tratamento das sementes ao plantio. Os produtos para tratamento de sementes utilizam a coloração para diferenciar sementes tratadas de sementes nuas (sem tratamento), além disso, os recobrimentos com diferentes cores permitem diferenciação das sementes de acordo com cultivares, híbrido e tecnologias, evitando o contato de diferentes “traits” nos processos de plantio e agregando valor ao produto final. Os recobrimentos líquidos são aplicados concomitantemente com os produtos de proteção durante o processo de tratamento de sementes. No processo Bayer de tratamento de sementes – Bayer SeedGrowth – o recobrimento é levado individualmente, por meio de bombas e mangueiras, até a tratadora, onde é aplicado sobre um atomizador e pulverizado nas sementes juntamente com os produtos de proteção, otimizando a integração. O recobrimento sólido – pó secante – é aplicado logo após o término da aplicação dos produtos líquidos, através de uma caixa exclusiva, e cai diretamente sobre a massa de sementes na centrífuga da tratadora. O recobrimento é uma tecnologia para uso exclusivo para o tratamento industrial de sementes.

A Bayer produz seus recobrimentos em Méréville, na França. O Bayer SeedGrowth Coatings, especializada em recobrimentos e aplicação de tecnologia às sementes, foi adquirida pela Bayer em 2002 e incorporada ao conceito do Bayer SeedGrowth. Com uma história de quase 100 anos em tratamento de sementes, o Bayer SeedGrowth Coatings possui expertise em tecnologia de sementes desde 1915. O Bayer SeedGrowth Coatings possui em seu portfólio recobrimentos das linhas Peridiam e Fluency, que são produtos com características específicas para o tipo de semente no qual o recobrimento será aplicado, para o tipo de produto de proteção que será aplicado e para a necessidade de aplicação de pó secante. O Bayer SeedGrowth Coatings produz recobrimentos para o mundo todo com o intuito de melhorar e uniformizar todo o processo de tratamento de sementes, aumentando a qualidade e segurança do mesmo. Dentre as culturas mais comumente tratadas industrialmente, o Bayer SeedGrowth Coatings possui recobrimentos para soja, milho, trigo, cevada, algodão, arroz, sorgo, entre outras. Todos os recobrimentos produzidos pelo Bayer SeedGrowth Coatings passam por rigoroso processo de análise de qualidade, para assegurar todas as características do produto e garantir a performance do produto no tratamento das sementes. Testes físico-químicos, assim como viscosidade, densidade, coloração, são feitos em cada um dos lotes de recobrimento produzidos no Bayer SeedGrowth Coatings. As principais características dos recobrimentos são a redução da emissão de poeira, a uniformidade de distribuição de ingrediente ativo nas sementes, a fluidez e a qualidade do recobrimento. Para cada um desses aspectos o Bayer SeedGrowth apresenta testes especializados em sua plataforma C de serviços.

Danila Conceição, Bayer CropScience




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