Grandes Culturas - Cultivar 186

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 186 • Novembro 2014 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa capa

Revolução gênica................................28

Charles Echer

Saiba como cultivares transgênicas e o melhoramento genético ajudaram a levar a cultura do milho a um novo patamar de produtividade no Brasil

Nas plântulas e hastes................10 Tolerância limitada.....................24 Fantasma da resistência...............34 Como manejar adequadamente pragas como tamanduá-da-soja, lagarta-elasmo, piolho-de-cobra, lesmas e caracóis

Apesar de conviver relativamente bem com infestações de nematoides a cultura do milho sofre com a ação de determinadas espécies

Índice

A árdua luta para prevenir e minimizar os prejuízos de plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil

Expediente

Diretas

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Manejo de Sclerotinia sclerotiorum em feijão

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Pragas que atacam plântulas e hastes de soja

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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

• Editor

Gilvan Dutra Quevedo

Rithieli Barcelos

• Redação

Desempenho agronômico de cultivares de soja

14

Cultivares de milho para silagem

20

Nematoides que causam prejuízos em milho

24

Karine Gobbi Rocheli Wachholz

CIRCULAÇÃO

• Design Gráfico e Diagramação

• Coordenação

• Revisão

• Assinaturas

MARKETING E PUBLICIDADE

• Expedição

Cristiano Ceia

Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

Aline Partzsch de Almeida

• Coordenação

Edson Krause

Charles Ricardo Echer

Nossa capa - Revolução gênica em milho

28

Desafios fitossanitários em trigo

32

Controle de plantas daninhas resistentes

34

Como obter melhores resultados nos canaviais

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Coluna ANPII

42

Coluna Agronegócios

44

Mercado Agrícola

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GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 204,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.



Diretas Novos rumos

Vendas

Marcelo Okamura é o novo diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da DuPont do Brasil. O executivo, até o mês de setembro, ocupou o cargo de diretor de Marketing da empresa. “Minha missão nesta nova etapa será assegurar recursos à área de Pesquisa e Desenvolvimento e reforçar a visão dos clientes no desenvolvimento de soluções na área de Proteção de Plantas. Tenho como metas oferecer condições ao desenvolvimento profissional de nossos colaboradores e reforçar a posição do Brasil como polo gerador de conhecimento para a DuPont”, salientou Okamura.

Marcelo Ismael passou a ocupar a posição de diretor de Vendas da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil. O executivo será responsável pela área Comercial nos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Piauí e Paraná, bem como no oeste da Bahia. “Grande parte da área ainda disponível para a exploração agrícola no país se concentra na região do Cerrado brasileiro, onde assumo a responsabilidade de posicionar a Basf para auxiliar os agricultores na exploração sustentável destas terras, gerando maior renda e produtividade”, afirmou Ismael.

Café

Marcelo Okamura

A Basf destacou no 40º Congresso de Pesquisas Cafeeiras, em Outubro, em Serra Negra, São Paulo, o Sistema AgCelence Café. “Os principais benefícios desse Sistema são maior produtividade, maior percentual de grãos cereja e maior enfolhamento pós-colheita”, explicou o gerente de Marketing de Hortifruticultura e Café da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil, Adriano Adriano Abrahão Abrahão.

Feijão

Com foco na qualidade do produto final, a Bayer CropScience desenvolveu o programa Muito Mais Feijão, em que o suporte técnico e as informações de mercado são oferecidos, assessorando o agricultor com tudo que precisa para produzir e comercializar. Um bom manejo inicial para prevenção de pragas e doenças também é essencial e deve começar pelo tratamento de sementes, recomenda o gerente de Marketing Regional da Bayer CropScience para o Sul do Brasil, Ademir Santini. “Se o agricultor não faz o tratamento de semente, o plantio já pode ser comprometido, pois é neste momento que se manifesta a antracnose, principal Ademir Santini doença do feijoeiro”, alertou.

Consultoria

Oferecer acompanhamento customizado ao produtor, em pós-venda, é um dos trabalhos realizados pela Bayer CropScience. Um dos serviços mais solicitados é o de agroespecialista, consultoria de profissionais como fitopatologistas, entomologistas, fisiologistas, entre outros pesquisadores. “O papel do agroespecialista é dar dicas de como o produtor pode conviver com os entraves da lavoura, transformando-os em produtividade. Temos mais de 50 profissionais espalhados pelo Brasil”, explicou a coordenadora de Serviços Agronômicos da Bayer, Elaine Delgado.

Aquisição

A Arysta LifeScience anunciou que a Platform Specialty Products chegou a um acordo definitivo com a empresa Permira para adquirir a marca por aproximadamente 3,51 bilhões de dólares, sujeito à aprovação regulatória, capital de trabalho e outros ajustes. A Platform Specialty Products combinará a Arysta LifeScience com as empresas adquiridas anteriormente, Agriphar e Chemtura Crop Solutions. O CEO atual da Arysta LifeScience, Wayne Hewett, dirigirá o novo grupo. “Vamos ser capazes de oferecer a nossos clientes uma gama completa de biossoluções, proteção de cultivos e produtos de tratamento de sementes”, afirmou Hewett. A conclusão da transação está prevista para o primeiro trimestre de 2015.

06

Extensão de uso

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aprovou a extensão de uso do herbicida Select 240EC, uma das soluções de proteção do conceito Pronutiva, da Arysta LifeScience, para o controle do capimamargoso no pré-plantio da cultura da soja. “Dessa forma, o produtor terá à disposição uma nova e eficiente opção autorizada para controle dessa planta daninha, de forma a garantir o melhor desempenho da lavoura”, ressaltou o gerente de Produtos e Mercados da Arysta LifeScience, Marcus Bonafé.

Prêmio

Elaine Delgado

Marcelo Ismael

Marcus Bonafé

A Alltech Crop Science lançou o concurso “Melhor Café – Alltech Crop Science” em Dois Córregos, São Paulo. Nesta primeira edição os vencedores foram Evandro Lineu Bento de Camargo (Sítio São João), em primeiro lugar, e Antônio Airton Camilli (Sítio Recanto), em segundo. “O objetivo do concurso em uma área que não faz parte das renomadas regiões cafeeiras do Brasil é mostrar que com um manejo correto dos cafezais, oferecendo nutrição adequada para as plantas e cuidado com os grãos na pós-colheita, é possível melhorar o Brix (grau de açúcares nos grãos) e conseguir uma bebida de ótima qualidade”, explicou o gerente para a cultura do café, Marcos Marcos Dell'Agnolo Dell’Agnolo.

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Congresso

A DuPont participou do Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, no final de outubro, em Serra Negra, São Paulo. A marca apresentou o inseticida Benevia. De acordo com o gerente de Produtos da DuPont, Luiz Wanderlei Braga, essa nova tecnologia incrementa e fortalece o DuPont Programa Café, ancorado em tecnologias de ponta, com entrega de resultados diferenciados ao produtor na proteção do cafeeiro contra as principais pragas e doenças. “Com a inserção deste novo produto no portfólio da companhia, o DuPont Programa Café será o mais completo, eficaz e estruturado programa para o manejo de produção do café brasileiro”, finalizou Braga.

Expansão

A Alltech Crop Science realizou a aquisição de um novo distribuidor na África do Sul. Segundo o diretor comercial da Alltech Crop Science Brasil, Ney Ibrahim, a compra possibilita uma ampliação da atuação no mercado africano e segue alinhada com a estratégia global da empresa, que já está presente em 38 países. Também segundo Ibrahim, a América Latina é o mercado predominante da Alltech Crop Science. O Brasil acabou se tornando o principal país graças ao grande potencial agrícola e ao sucesso dos produtos no campo e, atualmente, representa 50% dos negócios da empresa no mundo. Luiz Wanderlei Braga

Herbicida

O herbicida Poquer, da Adama, já pode ser utilizado pelo agricultor na fase de dessecação para o cultivo da soja. A liberação pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) atende às necessidades do produtor, que poderá se beneficiar dos efeitos da aplicação para combater a planta daninha resistente capim amargoso, que tem aumentado significativamente em diversas regiões do País. “O Poquer é uma solução eficiente e de aplicação simples que veio para beneficiar o produtor brasileiro”, afirmou o gerente de Desenvolvimento de Produtos da Adama, Ernesto Benetti.

Clube

O 19º Clube da Cana FMC foi realizado em outubro, em Guarujá, no litoral de São Paulo. O objetivo do evento foi transmitir conhecimento com especialistas e troca de experiências com representantes do setor. O presidente da FMC América Latina, Antonio Carlos Zem, reforçou o tema central do evento “Paixão – Nossa Cultura é a Nossa Paixão”, mas também comentou sobre o momento do setor. “Temos que reconhecer que a cana tem sofrido, mas essa fase vai passar e a FMC estará contribuindo nessa empreitada junto com serviços e tecnologias inovadoras para incremento de produtividade nas lavouras”, ressaltou.

Ney Ibrahim

Cereais

Em outubro, a Ihara esteve no distrito de Entre Rios, em Guarapuava, Paraná, para participar do Winter Show, evento que foca na produção de cereais de inverno. Além de apresentar seu portfólio de produtos, a empresa ainda fez o lançamento dos tratamentos de sementes com inseticida Piramide e o fungicida Certeza. Este é o segundo ano que a Ihara participa do Winter Show. “Aqui temos a chance de apresentar nossas soluções aos produtores da região que vão auxiliá-los no manejo de doenças e pragas que atacam a cultura do trigo”, explicou o administrador técnico de Vendas da Ihara, Lucas Sonego da Silva.

Investimento

A Syngenta investirá R$ 100 milhões na expansão da fábrica de defensivos agrícolas em Paulínia, São Paulo, para a produção local do fungicida Elatus. O defensivo é fabricado por meio de uma tecnologia denominada Pepite, cuja estrutura industrial é inédita no País. Elatus foi desenvolvido para o combate à ferrugem asiática da soja e é considerado o principal lançamento da empresa nos últimos dez anos. “Essa tecnologia facilitará a vida do agricultor, pois proporciona uma eficiência no controle da ferrugem sem paralelos no mercado”, opinou o diretor geral da Syngenta no Laércio Giampani Brasil, Laércio Giampani.

Centro

Palestra on-line

Na reta final do calendário de palestras on-line de 2014, a DuPont Pioneer apresentou nos dias 21 e 22 de outubro a palestra “Manejo Inicial de Pragas na Cultura da Soja”. O assunto foi abordado por Marden Ataídes de Oliveira, coordenador de Agronomia da empresa. Marden orientou os produtores, trazendo recomendações relevantes e aplicáveis para um efetivo manejo de pragas iniciais no plantio da soja nesta safra. “Como o cultivo da soja pode ser atacado por diferentes espécies de insetos, o monitoramento e o manejo inicial de pragas merecem atenção por parte dos agricultores para alcançarem resultados expressivos ao final da safra”, explicou Oliveira.

A FMC instalou em Campinas, São Paulo, o Latin America Innovation Center, um polo tecnológico para desenvolvimento de soluções e formulações químicas e biológicas. Atualmente, a FMC conta com três centros de inovação no mundo que atendem América do Norte, Índia e China. O Latin America Innovation Center será o quarto da companhia e o primeiro, completamente dedicado ao negócio da FMC Agricultural Solution. O novo centro possibilitará o desenvolvimento de tecnologias baseadas em novos ingredientes ativos químicos e biológicos. “Nossa produtividade aumentará consideravelmente, adicionando soluções inovadoras e expandindo o portfólio de defensivos agrícolas e biológicos da FMC”, destacou o diretor de Inovação e Tecnologia da FMC Brasil, Yemel Ortega.

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Feijão

Antagonistas protetores

S

Murilo Lobo Junior

No combate a Sclerotinia sclerotiorum, causador de severos prejuízos ao feijão e a diversas outras culturas agrícolas, o tratamento de sementes e do sulco de semeadura com agentes de biocontrole mostra-se importante aliado no manejo desse fungo

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clerotinia sclerotiorum é um fitopatógeno altamente destrutivo, causador de perdas significativas na produção agrícola mundial, em culturas como soja, feijão, algodão, girassol, canola, amendoim e hortaliças em geral. O controle do fungo depende da associação de práticas culturais como o controle químico, com aplicação de eficientes fungicidas com ingrediente ativo fluazinam ou procimidona; o controle genético, embora ainda em estudo, a utilização de cultivares específicas e menos suscetíveis, com poder de reduzir a incidência do mofo branco; o controle cultural como utilização de espaçamentos maiores ou redução de população de plantas/hectare para diminuição das condições de umidade favoráveis ao patógeno, também rotação de culturas com milho, milheto, sorgo e braquiária, em intervalos de tempos maiores, e em alguns casos resultando em acúmulo de palhada; e o controle biológico, uma das técnicas que têm sido mais exploradas nos últimos anos, para utilização de forma integrada aos outros métodos de controle de doenças de plantas cultivadas. Dentre as técnicas de controle biológico se enquadra a microbiolização de sementes para o controle de doenças de plantas. Os microrganismos mais utilizados na microbiolização das sementes têm sido as bactérias, os fungos e as leveduras. Dentre as bactérias, Agrobacterium, Pseudomonas, Streptomyces e Bacillus, as leveduras são Sporobolomyces e Phodotorula e os fungos são principalmente os filamentosos como Trichoderma. A microbiolização das sementes é promissora como método de controle de patógenos em sementes e daqueles que habitam e sobrevivem no solo. A maioria dos estudos indica que os antagonistas protegem as sementes e não as raízes. Entretanto, em trigo, no Brasil e em outros países, a microbiolização das sementes tem sido considerada um protetor também das raízes, além de proteger contra patógenos de espermosfera. A aplicação de linhagens de fungos do gênero Trichoderma em sementes, na forma de suspensão de esporos, pode atuar contra o apodrecimento e a ação de patógenos causadores de doenças em plântulas, pois são ativos colonizadores da rizosfera de plântulas de várias culturas. O fungo Trichoderma tem ampla distribuição no mundo, em praticamente todos os tipos de solos e habitats naturais, especialmente, naqueles que contêm ou são formados de matéria orgânica. Trata-se de um microrganismo necrotrófico que tem apresentado grande


eficácia no controle de inúmeros fungos fitopatogênicos. São microrganismos de vida livre, altamente interativos nos solos, nas raízes e superfície foliar. Evoluíram como simbiontes de plantas oportunistas, proliferando, competindo e sobrevivendo em solos e outros ecossistemas complexos. São capazes de colonizar as raízes, invadindo as camadas superficiais da raiz, porém, sem penetração, pelo menos em parte. Mas tem poder de provocar reações de defesa da planta. Apesar de aparentemente terem a capacidade de atacar plantas, eles são geralmente avirulentos. As reações de defesa das plantas podem tornar-se sistêmicas e proteger a planta de uma série de fitopatógenos, mesmo quando o Trichoderma spp. cresce somente nas raízes. Essa colonização da raiz também pode aumentar o crescimento das raízes e da planta toda, aumentando assim a produtividade. Fungos desse gênero ajudam as plantas, com acréscimo na absorção de nutrientes, indicando uma interação de simbiose ao invés de uma relação parasitária. Suas colônias desenvolvem-se, inicialmente, com superfície lisa, quase translúcida e, posteriormente, flocosa ou compacta de forma rápida e eficiente. Em geral, o fungo Trichoderma spp. apresenta características ideais como antagonista para utilização na microbiolização. Para avaliar a eficiência da microbiolização foram desenvolvidos trabalhos na Universidade Estadual de Londrina (UEL) com aplicação de microrganismos biocontroladores para o controle de Sclerotinia sclerotiorum. Para tanto, foram inoculados Trichoderma hamatum, Pseudomonas fluorescens e Bacillus sp. no

sulco de semeadura e realizado o tratamento de sementes de feijão comum. Anteriormente à aplicação dos antagonistas realizou-se a inoculação no solo do fungo Sclerotinia sclerotiorum multiplicado em substrato com fubá + areia + água (9/2/2). Avaliaram-se a porcentagem de germinação, o estande final das plantas, o índice de velocidade de emergência e a porcentagem de controle em função da germinação. Nos três tratamentos foram observados eficiência na redução da degradação das sementes, melhoria na porcentagem de germinação das sementes avaliadas no 13º dia, maior estande final ao 13º dia e maior índice de velocidade de emergência ao 11º dia, quando comparados à testemunha. Para a germinação das sementes, todos os antagonistas mostraram ser efetivos quando utilizados como agentes protetores de sementes, observando-se aumentos de 19, 22 e 25 pontos percentuais, respectivamente para P. fluorescens, T. hamatum e Bacillus sp. Situação idêntica foi observada na proteção de plantas em fases posteriores, promovendo aumento nos índices de velocidade de emergência das plântulas (Figura 1). Para a porcentagem de controle, de acordo com a germinação de sementes e em comparação com a testemunha, observaram-se 47,6%; 54,8% e 61,9% de controle (Figura 2), respectivamente para P. fluorescens, T. hamatum e Bacillus sp. O possível sucesso alcançado pode ser em parte atribuído à antibiose dos microrganismos, impedindo a colonização das sementes e raízes, criação de barreiras protetoras contra a ação do patógeno,

Figura 1 - Porcentagem de germinação de sementes de feijão, estande final de plântulas e índice de velocidade de emergência, após tratamento das sementes e sulco de semeadura com Pseudomonas fluorencens (Ps35), Bacillus sp. (Bl33) e Trichoderma hamatum (TH05), em substrato inoculado com Sclerotinia sclerotiorum

diminuição da competição a favor dos antagonistas em função da produção de sideróforos pela P. fluorescens. Assim como indução de resistência das partes jovens em crescimento do efeito supressivo do solo. Baseado nos resultados, confirmou-se a eficiência da inoculação dos antagonistas Trichoderma hamatum, Bacillus sp. E Pseudomonas fluorescens, microrganismos comumente utilizados em programas de controle biológico. No entanto, é importante salientar que o sucesso do controle biológico através do tratamento de sementes com o fungo Trichoderma spp., por exemplo, depende de fatores como: idade e viabilidade do esporo, concentração de inóculo, pH, temperatura, umidade, concentração e potencial de inóculo do patógeno a ser controlado no solo. Devido a esses fatores, o manejo de doenças por meio do controle biológico é considerado uma técnica muito sensível, devendo-se sempre optar por produtos biológicos com eficiência comprovada e registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Também é fundamental seguir as recomendações das empresas fabricantes, tanto em relação às recomendações de aplicação do produto, como às de armazenamento. C Ciro Hideki Sumida, Guilherme Francischetti, Thiago Zanoni Bagio, Idenize Pedrina Orsini e Marcelo Giovanetti Canteri, Martin Homechim (in memoriam), UEL

Figura 2 - Porcentagem de controle de Sclerotinia sclerotiorum, de acordo com a germinação de sementes de feijão após tratamento com Pseudomonas fluorencens (Ps35), Bacillus sp. (Bl33) e Trichoderma hamatum (TH05) no sulco de semeadura e tratamento das sementes

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Crébio José Ávila

Soja

Nas plântulas e hastes

A expansão das fronteiras agrícolas da soja no Brasil acabou por impactar também a dinâmica de pragas. É o caso de insetos que atacam plântulas, hastes e pecíolos, cujo número crescente tem sido verificado nas últimas safras. Tamanduáda-soja, lagarta-elasmo, lagarta-do-cartucho, lesmas e caracóis e piolho-de-cobra estão entre os desafios que exigem atenção e manejo adequado por parte dos produtores

C

om a expansão da cultura da soja para novas regiões agrícolas, tem-se observado um número crescente de pragas que atacam plântulas, hastes e pecíolos das plantas de soja. Segundo Hoffmann-Campo et al (2012), o surgimento

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destes novos organismos-pragas nos agroecossistemas de soja foi decorrente da sua adaptação a esta cultura, na ausência dos hospedeiros nativos ou como consequência de uma ação seletiva dos produtos químicos de amplo espectro utilizados para controle

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de desfolhadores e sugadores na cultura. As plântulas e hastes da soja podem ser atacadas por diferentes grupos de pragas na fase inicial de desenvolvimento da cultura, sendo esses organismos maléficos constituídos basicamente por insetos, moluscos e diplópodes.

Tamanduá-da-soja

O bicudo ou tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus Boheman, como é popularmente denominado, é uma espécie em que tanto os adultos quanto as larvas podem causar danos à soja. Os adultos, para se alimentar, raspam e desfiam os tecidos da haste principal e, eventualmente, os ramos laterais e pecíolos das folhas, enquanto as larvas são endofíticas, ou seja, alimentam-se no interior da haste principal, mais precisamente na medula. Quando o ataque ocorre no início de desenvolvimento das plantas, a gema apical pode ser atingida e o dano é irreversível, resultando no desfiamento total da haste principal, causando redução da população de plantas. Quando o ataque ocorre mais tarde e a postura e o desenvolvimento da larva se dão na haste, ocorre a formação de uma galha de tecido muito frágil que pode se quebrar pela ação do vento ou de chuvas


fortes, causando a morte da planta e, consequentemente, redução do estande. O inseto se desenvolve em um número reduzido de hospedeiros, sendo sua alimentação restrita a apenas algumas espécies de leguminosas.

Lagarta-elasmo

Lagarta-do-cartucho

Os danos nas plântulas de soja, causados pela lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, ocorrem quando esta praga já está previamente presente na cultura utilizada como cobertura e que será dessecada para o plantio da soja, adaptada ao sistema de produção com plantio direto. De modo geral, as gramíneas utilizadas como cobertura para produção de palha no sistema plantio direto (exemplo: milheto, aveia, trigo, braquiária etc) podem proporcionar o desenvolvimento de altas populações de S. frugiperda, especialmente nos períodos mais secos do ano. Caso o plantio da soja seja realizado imediatamente após a dessecação dessa cobertura, as lagartas de S. frugiperda presentes na área, se não forem controladas, podem cortar as plântulas de soja rente ao solo ou alimentar-se de sua folhagem, causando a sua morte e, consequentemente, redução do estande da cultura. Embora S. frugiperda tenha sido a principal praga encontrada nestas condições, outras espécies como S. eridania, S. cosmioides e até mesmo a lagarta-rosca, Agrotis ipsilon, podem, eventualmente, ocorrer. Durante o dia estas lagartas ficam normalmente abrigadas sob a palhada ou torrões, saindo para se alimentar nas plântulas de soja em dias nublados ou durante a noite.

Lesmas e caracóis

As lesmas e os caracóis são moluscos da

classe Gastropoda, que ocorrem, com maior frequência, em ambientes úmidos e frescos. As lesmas apresentam o corpo nu, mas os caracóis carregam sobre o seu dorso uma capa ou concha de carbonato de cálcio, que lhe confere abrigo e proteção. Esses organismos são muito sensíveis à desidratação e nos períodos secos ficam inativos enterrados no solo ou sob a palhada de lavouras implantadas em semeadura direta. Essas pragas apresentam maior abundância em solos com elevada quantidade de palha ou de matéria orgânica e têm forte associação com plantas do grupo das leguminosas e crucíferas (exemplo: feijão, soja, ervilhaca, nabo-forrageiro, serralha etc). Tanto as lesmas quanto os caracóis raspam o tecido do caule, dos cotilédones ou até mesmo das folhas de plântulas de soja, sendo as injúrias semelhantes àquelas causadas por insetos, podendo destruir a sua porção apical e causar a sua morte, reduzindo, assim, o estande da cultura. Em Mato Grosso do Sul, as espécies de caracóis e lesmas encontradas na cultura da soja foram identificadas, respectivamente, como Drymaeus interpunctus (Molusca: Bulimulidae) e Sarasinula linguaeformis (Molusca: Veronicellidae).

Piolhos-de-cobra

Os piolhos-de-cobra são organismos pertencentes à classe Diplopoda e se caracterizam por apresentarem o corpo cilíndrico e dividido em vários segmentos (de 20 a 100 segmentos). Apresentam dois pares de pernas em cada segmento do corpo, característica que difere dos artrópodos da Ordem Quilopoda, conhecidos como lacraia e centopeias, que apresenta apenas um par de pernas em cada segmento do corpo. Os piolhos-de-cobra ocorrem normalmente em áreas com abundância de palha, matéria orgânica morta e de tecido vegetal vivo, como prevalece nas áreas em que se faz

Fotos Mauro T. B. Silva

A lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus Zeller, é outra praga que pode danificar plantas jovens de soja, especialmente quando o inseto já estiver presente na cultura ou na cobertura a ser dessecada (exemplo: trigo, aveia) antes da semeadura da soja. O inseto é considerado polífago, ou seja, alimenta-se de diversas espécies de plantas cultivadas, silvestres e daninhas, em especial de gramíneas e leguminosas. O adulto faz a postura nas plantas de soja, no solo ou em restos culturais presentes na área. Após a eclosão, as larvas alimentam-se inicialmente de matéria orgânica ou raspam o tecido vegetal para, em seguida, penetrarem no colo da planta, um pouco abaixo do nível do solo, onde constroem uma galeria ascendente. Próximo ao orifício de entrada na planta, as larvas tecem um casulo formado de excrementos, restos vegetais e partículas de terra, sintomas que caracterizam a presença da praga na área. Uma mesma lagarta pode atacar até três plantas de soja durante a sua fase larval, sendo do período da emergência até aos 30-40 dias de desenvolvimento das plantas (até o estádio V2-V3), a fase da cultura mais suscetível ao ataque da praga. Como consequência do dano de elasmo, as plantas de soja inicialmente murcham e posteriormente secam, em razão da obstrução do transporte de água e de nutrientes do solo para a parte aérea da planta. Quando a planta de soja está mais desenvolvida e com o caule mais lignificado, a lagarta alimenta-se apenas da parte externa, deixando cicatrizes externas visíveis da injúria do inseto; nesta região, pode ocorrer a formação de um calo com tecido

frágil, que pode se quebrar facilmente pela ação do vento. A intensidade de danos de elasmo na soja é maior e mais frequente em condições de alta temperatura e déficit hídrico no solo, especialmente em solos arenosos ou mistos conduzidos em plantio convencional, especialmente nas áreas de primeiro cultivo, como eventualmente ocorre na região do Cerrado.

Tamanduá-da-soja, espécie em que tanto os adultos (esquerda) quanto as larvas (direita) podem causar danos à soja

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Fotos Embrapa

Adulto e larva da lagarta-elasmo, inseto polífago que alimenta-se de diversas espécies de plantas cultivadas, silvestres e daninhas

o plantio direto. Essas pragas concentram-se na linha do sulco de semeadura da soja, onde o solo é mais solto devido à ação do sulcador e do picador de palha, podendo periodicamente penetrar nas camadas superficiais do solo. Quando perturbados, se protegem retraindose e enrolando o corpo formando uma espiral plana; apresentam maior atividade no período noturno e abrigam-se debaixo da palhada nas horas mais quentes do dia, sendo seus danos mais severos quando o ataque ocorre na fase inicial do desenvolvimento da cultura. Os piolhos-de-cobra alimentam-se de matéria orgânica morta e de tecido vegetal vivo jovem, danificando sementes de soja em fase de germinação ou em emergência no solo, bem como plântulas recém-emergidas, ingerindo partes dos cotilédones ou as folhas novas, podendo matar as plantas e causar acentuada redução do estande nas lavouras. As espécies de piolhos-de-cobra mais conhecidas pertencem à família Julidae, sendo Plusioporus e Julus os gêneros mais abundantes nos cultivos de soja da região Centro-Sul do Brasil.

agricultores. A injúria do torrãozinho na soja é caracterizada por pequenos cortes nas bordas das folhas e dos cotilédones, conferindo-lhe um aspecto serrilhado.

Manejo de pragas que atacam plântulas e hastes

Para o manejo do tamanduá-da-soja, antes de planejar o cultivo da próxima safra, devem ser realizadas amostragens nos talhões em que, na safra anterior, foram observados ataques da praga. Essa amostragem deve ser feita preferencialmente na entressafra, entre os meses de maio e setembro, abrindo-se trincheiras no solo sobre as fileiras de soja da safra anterior. No exame da amostra de solo deverá ser contado o número de larvas hibernantes. Caso forem encontradas de duas larvas/m2 a seis larvas/m2 de solo do tamanduá, a soja deve ser substituída na área por uma cultura não hospedeira como milho, algodão, sorgo, girassol, milheto, Crotalaria juncea ou mucuna preta, onde o inseto não se desenvolve, o que, consequentemente, interromperá o seu ciclo biológico. Para aumentar a eficiência de controle da praga, esse talhão de plantas não hospedeiras do inseto deverá ser circundado por uma faixa de plantas hospedeiras preferenciais, como soja, feijão, lab-lab e guandu-anão, que atuarão como cultura armadilha, atraindo

Eventualmente, outros insetos-praga podem atacar as plântulas e as hastes da soja, dependendo da região de cultivo, como é o caso do cascudinho-da-soja, Myochorus armatus, e do torrãozinho, Aracanthus mourei. O torrãozinho tem sido observado com frequência em lavouras de soja do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. O adulto apresenta a mesma coloração do solo em que vive, pelo fato das partículas de terra aderirem ao seu corpo, quando se abriga sob torrões e folhas secas, o que explica a origem do seu nome popular. Quando presente na planta de soja, ao ser tocado ou perturbado, o inseto deixa-se cair no solo, permanecendo imóvel como que “fingindo-se” de morto. No passado, o torrãozinho era considerado uma praga secundária da soja, porém, nos últimos anos, o seu nível populacional tem aumentado notadamente em lavouras de soja do Paraná, gerando preocupação de técnicos e

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Embrapa Soja

Outras pragas que atacam plântulas e hastes

os adultos do tamanduá quando emergirem do solo na área adjacente. Nesta ocasião, os adultos devem ser controlados periodicamente com inseticidas químicos, para evitar a sua disseminação para as outras áreas de cultivo. Como medida complementar, a cultura armadilha pode ser destruída com roçadeira ou triton na fase de florescimento para eliminar larvas do tamanduá que eventualmente estejam se desenvolvendo nestas plantas. Com esse procedimento, o produtor “limpa” o tamanduá da sua área problema, podendo realizar normalmente o plantio de soja nesta área na safra seguinte. Quando não existe o inseto na área, mas o vizinho o tem, o controle do tamanduá pode ser realizado através de inseticidas aplicados nas sementes de soja (exemplo: fipronil, tiametoxam), planejando uma faixa de plantas tratadas na bordadura da lavoura de 40m a 50m para contenção dos adultos que chegarem à lavoura. No caso da lagarta-elasmo, tem sido comprovado que chuvas bem distribuídas, durante os primeiros 30 dias de desenvolvimento da cultura, praticamente eliminam a infestação do inseto nas lavouras de soja. A pulverização de inseticidas na parte aérea da soja tem proporcionado baixa eficiência de controle da lagarta-elasmo, em razão da posição em que a praga fica alojada na planta. O tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos (exemplo: fipronil, imidacloprido + tiodicarbe e clorantraniliprole) pode ser utilizado em áreas que tradicionalmente essa praga tem sido problema ou que requerem ressemeadura. O início do manejo integrado de pragas (MIP) na cultura da soja ocorre por ocasião da dessecação da espécie utilizada como cobertura para produção de palha no sistema plantio direto. Nessa ocasião, é necessário fazer uma pergunta: existem lagartas na cobertura a ser dessecada? Em caso negativo, deverá ser realizada a pulverização visando apenas à dessecação da cobertura com herbicida e não

Adultos de torrãozinho (Aracanthus mourei) com a mesma coloração do solo em que vive, pelo fato das partículas de terra aderirem ao seu corpo

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colocar um “cheirinho” de inseticida, como normalmente é feito pelo produtor. No caso de existirem lagartas na cobertura, há necessidade de outra pergunta: a semeadura da soja na área vai ser realizada logo após a dessecação ou é possível esperar para realizá-la? Retardando a semeadura depois da dessecação, em cerca de 20 dias, mesmo tendo lagartas na cobertura, na ausência de alimento, após o efeito do herbicida, as lagartas podem pupar ou morrer. No entanto, caso haja lagartas na cobertura e a semeadura for realizada logo após a dessecação, recomenda-se então aplicar um produto lagarticida em pulverização, mas que tenha pouco ou nenhum efeito sobre os inimigos naturais como são os inseticidas tiodicarbe, metomil, clorantraniliprole, flubendiamida, espinosade e os reguladores de crescimento de insetos (fisiológicos). Para o controle de lesmas e caracóis são sugeridos produtos à base de metaldeído e a dessecação prévia da cobertura infestada com essas pragas. Essa é uma medida auxiliar para reduzir a sobrevivência dessas pragas, uma vez que tal operação diminui a umidade e o teor de água na superfície do solo, além de extinguir a fonte de alimento. Trabalhos preliminares conduzidos pela cooperativa Coamo, em Campo Mourão, Paraná, evidenciaram que a mistura

As lesmas e os caracóis são moluscos da classe Gastropoda, que ocorrem, com maior frequência, em ambientes úmidos e frescos

de abamectina + leite integral, colocadas em quirelas de milho constituiu uma isca efetiva para o controle de caramujos na cultura da soja. Sugere-se, então, que as aplicações de inseticidas ou iscas nas lavouras de soja para o controle de lesmas e caramujos sejam realizadas durante a noite, período em que essas pragas apresentam maior atividade devido às condições favoráveis de umidade e de temperatura e, dessa forma, mais vulneráveis à ação dos produtos químicos. O controle do piolho-de-cobra pode ser realizado, com relativo sucesso, aplicandose inseticida nas sementes ou realizando-se pulverizações sobre as plantas. Os ingre-

dientes ativos mais eficazes para o controle de piolhos-de-cobra pertencem aos grupos dos carbamatos e fenil-pirazóis. Quando forem realizadas pulverizações sobre a soja, para o controle do piolho-de-cobra, sugere-se que sejam à noite, período em que essas pragas apresentam maior atividade, empregando-se pontas de pulverização do tipo leque em alto volume de calda C (mínimo de 200L/ha). Crébio José Ávila Embrapa Agropecuária Oeste Germison Vital Tonquelski Fundação Chapadão


Soja

Desempenho agronômico A escolha da cultivar adequada ao nível tecnológico, somada aos fatores do ambiente e à ocorrência de pragas, é o que mais influencia na obtenção de altas produtividades. Por isso é importante conhecer suas principais características e estabilidade produtiva para posicioná-lo conforme as condições de cultivo

Fotos Thomas Martin

A

cultura da soja tem sido destaque de produção no Brasil, com aumento de área de 8,5% em relação à safra passada (2012/2013), segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e produção de 86,052 milhões de toneladas, representando incremento de 5,6% em relação à safra 2012/13. Na Região Sul, a área cultivada atingiu 10,501 milhões de hectares, apresentando um incremento de 6,2% em relação ao exercício anterior. A produtividade média no estado do Rio Grande do Sul foi de 2.714kg/ ha na safra 2013/14 (Conab, 2014). A soja apresenta algumas particularidades em relação às outras culturas de interesse agrícola que precisam ser bem esclarecidas para a expressão do máximo potencial produtivo. Pode-se destacar como características próprias

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de cada cultivar as variações entre os grupos de maturidade e os tipos de crescimento, épocas de semeadura, populações de plantas e densidades de semeadura. A cultura da soja é responsiva ao fotoperíodo, e a principal resposta está relacionada à indução floral, que ocorre a partir do momento em que os dias se tornam mais curtos. Existem variações entre as cultivares para essa característica, e ainda ocorrem variações entre as épocas em que é realizada a semeadura, podendo alongar ou encurtar o ciclo destas cultivares. Semeaduras tardias, fora da época ideal, resultam em florescimento precoce e estatura de plantas reduzida (Board; Hall, 1984). As variações no comportamento das plantas de soja ocorrem também em função das latitudes onde é semeada, ocorrendo uma

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variação de cada cultivar à medida que esta é deslocada em direção ao sul ou norte, ou seja, quando varia a latitude. Para facilitar o entendimento desta característica foi proposto por Alliprandini et al (2009) a indicação da escolha de cultivares por faixas de latitudes. Assim, cada cultivar tem uma faixa limitada de adaptação, sendo classificada devido ao seu grupo de maturação relativa (GMR). E a indicação é de que em latitudes menores sejam utilizadas cultivares de ciclo mais longo, pois nessas condições a tendência é de que ocorra um encurtamento no seu ciclo em função da indução floral se dar antes. E em latitudes maiores, seja dada preferência a cultivares de ciclo mais curto, uma vez que nessas condições a indução floral ocorra mais tardiamente. Desta forma, são dadas condições para que a cultura possa expressar seu máximo potencial produtivo. Quanto ao tipo de crescimento, as cultivares dividem-se em determinadas, indeterminadas e semideterminadas. As determinadas apresentam florescimento praticamente ao mesmo tempo, em toda a extensão da planta e após seu início, a planta cresce pouco e não mais ramifica. Em contrapartida, nas indeterminadas o florescimento ocorre de forma escalonada, de baixo para cima na planta, podendo apresentar vagens bem desenvolvidas na base e, ao mesmo tempo, flores no topo da planta. Continuam crescendo mesmo após o florescimento, podendo dobrar sua estatura até a maturação. Essa característica é importante, pois em situações de estresse a planta poderá emitir novas florações, garantindo, assim, a estabilidade da produção. Em contrapartida, quando as condições climáticas são favoráveis à cultura, as cultivares com


tipo de crescimento determinado apresentam potencial produtivo superior. O zoneamento agroclimático para cada cidade do Brasil leva em consideração o grupo da cultivar, a textura do solo e a altitude. Para a cidade de Santa Maria, as épocas preferenciais variam entre 1º de outubro até 31 de dezembro, para qualquer altitude (Mapa, 2014). Na descrição de cada cultivar, há indicação de época de semeadura preferencial, tolerada e não indicada. A época não indicada está relacionada com a possibilidade de redução significativa do porte nas semeaduras de outubro, nas áreas baixas e quentes, ou na perda de rendimento, nas semeaduras a partir de 15 de outubro. Cultivares precoces semeadas em outubro podem resultar em plantas baixas, dificultando o fechamento das entre linhas. Por outro lado, a época preferencial apresentará menores riscos quanto a fenômenos climáticos e poderá proporcionar maiores rendimentos quando combinada com um bom balanço nutricional. O espaçamento entre fileiras e/ou a população de plantas inadequada podem condicionar a planta para maior crescimento vegetativo, aumentando a sua estatura e a probabilidade de ocorrência de acamamento, consequentemente acarretando perdas na

A soja apresenta particularidades em relação a outras culturas, que precisam ser bem esclarecidas para a expressão do máximo potencial produtivo

produtividade. Nas épocas indicadas de semeadura, são recomendados espaçamentos de 20cm a 50cm entre as fileiras e população em torno de 300 mil plantas por hectare ou 30 plantas/m². Porém, podem ocorrer variações em função das indicações do obtentor do cultivar. Um dos principais fatores de decisão para escolha de uma determinada cultivar para a semeadura na próxima safra é o conhecimento da planta (crescimento, desenvolvimento,

estatura e engalhamento), bem como características de produtividade de grãos e resistência a doenças. O escalonamento da semeadura de cultivares de diferentes GMR em épocas distintas durante o período indicado de cultivo representa uma estratégia interessante para a adoção nas propriedades. Desta maneira, proporciona-se a minimização de eventuais riscos causados por adversidades climáticas e melhoria da eficiência de uso de máquinas e equipamentos.


Tabela 1 - Massa de cem grãos (MCG, gramas), produtividade de grãos (PG, kg/ha), produtividade de grãos em sacos (PGS, sacos/ha), porcentagem de produtividade em relação ao experimento (% X E) e porcentagem de produtividade em relação à média do estado do Rio Grande do Sul, 2.789kg/ha (% X RS) Cultivar BMX ATIVA RR BMX TURBO RR BMX VANGUARDA IPRO BMX TORNADO BMX FORÇA RR BMX MAGNA RR BMX PONTA IPRO BMX POTÊNCIA RR TEC 5833 IPRO TEC 5936 IPRO TEC 6029 IPRO TEC 5718 IPRO TEC IRGA 6070 RR 5958 IPRO 6563 IPRO 6458 IPRO FUNDACEP 65 RR FUNDACEP 57 RR FUNDACEP 66 RR V-MAX RR (NK 7059) V TOP (SYN 1059 RR) SYN 1363 SYN 1163 SYN 1258 SYN 1263 SYN 1365 A 6411 RG NS 4823 NIDERA A 4725 RR FPS URÂNO PIONEER 95R51 Média Geral C.V.

MCG 16,64 b* 15,31 c 12,71 f 12,54 f 14,76 d 14,21 d 14,51 d 14,34 d 16,34 b 16,34 b 18,08 a 13,35 e 13,43 e 15,36 c 13,25 e 14,64 d 17,3 a 13,53 e 17,58 a 15,35 c 13,63 e 13,17 e 14,05 d 11,98 f 11,94 f 12,73 f 13,85 d 14,92 d 15,19 c 16,96 b 14,44 d 14,59 5,82

PG 3521,29 a 3044,53 b 2293,04 d 2490,23 d 2455,46 d 2826,60c 2243,10d 2750,88c 2793,26c 2867,87c 2678,81 b 2667,35c 1990,48d 2484,23d 2254,40d 2175,79d 3139,63 b 2437,49d 1552,25d 2362,94d 2380,04d 2093,31d 2297,56 d 2102,79 d 2558,98 c 2226,09 d 2429,89 d 2608,33 c 2128,55 d 2745,42 c 2237,25 d 2478,64 12,22

PGS 58,69 50,74 38,22 41,50 40,92 47,11 37,39 45,85 46,55 47,80 44,65 44,46 33,17 41,40 37,57 36,26 52,33 40,62 25,87 39,38 39,67 34,89 38,29 35,05 42,65 37,10 40,50 43,47 35,48 45,76 37,29 41,31

%xE 142,07 122,83 92,51 100,47 99,06 114,04 90,50 110,98 112,69 115,70 108,08 107,61 80,31 100,23 90,95 87,78 126,67 98,34 62,63 95,33 96,02 84,45 92,69 84,84 103,24 89,81 98,03 105,23 85,88 110,76 90,26

% x RS 126,26 109,16 82,22 89,29 88,04 101,35 80,43 98,63 100,15 102,83 96,05 95,64 71,37 89,07 80,83 78,01 112,57 87,40 55,66 84,72 85,34 75,06 82,38 75,40 91,75 79,82 87,12 93,52 76,32 98,44 80,22

*médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si, pelo teste Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade de erro. Coeficiente de variação (C.V.)

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de crescimento determinado, expressou grande parte de seu potencial produtivo. É importante salientar a maior exigência deste tipo de cultivar a boas condições de cultivo e sua pouca rusticidade quanto às intempéries da natureza. Este material pode ser indicado para lavouras em condições de nível tecnológico alto.

Glauber Monçon Fipke, Bruna Pimenta e Thomas Newton Martin, UFSM Dalvane Rockenbach, CCGL

Thomas Martin

Conforme a análise de dados (Tabela 1) verificaram-se diferenças significativas para as variáveis explicativas observadas. Para a variável massa de cem grãos, houve destaque para as cultivares TEC 6029 Ipro, Fundacep 65 RR e Fundacep 66 RR, todas da empresa CCGL, que obtiveram valores de 18,08g, 17,3g e 17,58g, respectivamente. Tais valores observados vão de acordo com a informação oferecida pela empresa para cada uma delas, porém, salienta-se que este tipo de teste pode apresentar variações em diferentes locais e épocas de semeadura. Para variável produtividade de grãos, houve destaque para a cultivar BMX Ativa RR, da empresa Brasmax, com 3.521,29kg/ ha. Este resultado foi superior à média de produtividade do experimento e também à média de produtividade do Rio Grande do Sul, o que pode servir de alerta, pois em testes experimentais são oferecidas condições ótimas de crescimento e desenvolvimento das plantas. Com isso, essa cultivar, de tipo

As cultivares BMX Turbo RR, TEC 6029 Ipro e Fundacep 65 RR estatisticamente foram inferiores à cultivar BMX Ativa RR, porém, as três apresentaram uma boa produtividade (50,74 sacos/ha, 44,65 sacos/ha e 52,33 sacos/ha, respectivamente) e, principalmente, uma boa estabilidade produtiva em relação ao experimento (22%, 8% e 26%, respectivamente) e também à média de produtividade do Rio Grande do Sul (9%, -4% e 12%, respectivamente). BMX Turbo RR possui o sistema Soja Tolerante a Sulfonilureias (STS), o que torna possível utilizar herbicidas deste grupo químico no controle da buva (Conyza bonariensis L.), uma planta daninha que tornou-se resistente ao glifosato. Portanto, serve como alternativa para aquelas áreas infestadas, aliada a uma boa produtividade. TEC 6029 Ipro oferece boa resposta em condições de alta fertilidade e nas semeaduras no início do período recomendado, material tolerante a nematoide, excelente sanidade radicular e, ainda, proteção contra as principais lagartas (tecnologia Intacta). Fundacep 65 RR tem como principais características precocidade, alta produtividade, resistência ao acamamento, boa sanidade, boa adaptação em ambientes com histórico de doenças em geral. Os requisitos quanto ao uso desta cultivar se assemelham a BMX Ativa RR, pois, também tem tipo de crescimento determinado. Portanto, a escolha da cultivar adequada ao nível tecnológico, somada aos fatores do ambiente e à ocorrência de pragas, é o que mais influencia na obtenção de altas produtividades. Isso comprova que é importante conhecer as principais características e estabilidade produtiva da cultivar que se deseja semear, posicionando-a conforme as condições C de cultivo.

A escolha da cultivar adequada ao nível tecnológico, somada aos fatores do ambiente e à ocorrência de pragas, é o que mais influencia na obtenção de altas produtividades

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Milho

Como escolher

Solidete de Fátima Paziani

Para realizar a escolha correta de cultivares de milho destinadas à produção de silagem é preciso estar atento a características como adaptabilidade à região de cultivo, proporção de grãos na planta, valor nutritivo dos colmos, além de produtividade e valor nutritivo da planta toda

A

escolha da cultivar de milho que seja adaptada regionalmente é importante para a obtenção de alta produtividade de silagem, diluindo os custos de implantação e colheita da cultura. Na avaliação de cultivares de milho realizada pela Esalq/IAC/Apta, em Votuporanga, São Paulo, nos últimos cinco anos, as três melhores cultivares produziram a mais por hectare, em relação à média das outras, sete toneladas de massa verde e 1,8 tonelada de massa seca digestível, evidenciando o grande impacto da escolha correta. No caso de silagem, a elevada produtividade de massa deve estar associada com o seu bom valor nutritivo, apesar de nem sempre uma cultivar associar simultaneamente produtividade e qualidade nutricional. Por isso, os fatores quantidade (produtividade de massa) e qualidade (digestibilidade) são multiplicados para obter o valor de matéria seca digestível das plantas por hectare. As características da planta de milho que mais interferem na qualidade da silagem são a proporção de grãos na planta e o valor nutritivo de colmos, expresso pela sua digestibilidade. É desejável que a proporção de grãos e a digestibilidade de colmo sejam elevadas, sendo os

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grãos responsáveis por quase 65% da energia da silagem. A fração fibrosa, apesar de ser um componente essencial na dieta de ruminantes, como fonte de energia através da fermentação ruminal, também deve apresentar elevada digestibilidade, favorecendo o rápido trânsito no trato digestivo do animal e com isso elevando a ingestão de alimento e melhorando o desempenho animal.

Buscam-se, em alguns casos, cultivares que apresentam também maior teor de proteína bruta (PB), (Tabela 1). Ressalte-se, porém, que o fator de maior interesse é a produtividade de matéria seca digestível, sendo preferível escolher materiais reconhecidamente mais produtivos, independentemente de seu teor de PB, uma vez que esse teor pode ser facilmente corrigido no balanceamento da ração final com uma fonte barata de N, como a ureia ou outra fonte proteica. Outra característica observada na escolha da cultivar é a densidade dos grãos, por influenciar na facilidade da sua quebra e/ou maceramento. As cultivares com grãos dentados ou semidentados apresentam a vantagem de proporcionar maior janela de corte e, consequentemente, facilitam o escalonamento do período de colheita. Na avaliação realizada pela Esalq/IAC/ Apta as cultivares mais dentadas ou menos densas foram AS1573YG, AG1051, BM3063, 2B688Hx, SG6030YG e AL Piratininga, na safra 2012/13, e DKB175 PRO2, 2B688Hx, 30S31H, JM3M51, 30A91HX, 2B610PW e BM3063, na safra 2013/14. É importante que as cultivares apresentem também plantas com boa resistência ao acamamento e quebramento e sanidade foliar, e que a lavoura seja estabelecida e manejada adequadamente para assegurar elevada produtividade com boa qualidade nutricional da silagem. Na Tabela 1 são apresentados os dados

Tabela 1 - Características desejáveis em uma silagem de milho de boa qualidade Variável Preceito de matéria seca na colheita (MS, %) Fração espiga na planta (% da MS) Fração folha na planta (% da MS) Fração colmo na planta (% da MS) Fração grão na planta (% da MS) pH Teor Proteína bruta (% da MS) Extrato etéreo (EE, % da MS) Fibra em detergente neutro (FDN, % da MS) Fibra em detergente ácido (FDA, % da MS) Digestibilidade (Dig., %) Matéria mineral (MMi, % da MS) Nutrientes digestíveis totais (NDT, %) Amido (% da MS)

Planta

Silagem

Fonte: Adaptado de Nussio (1991, 1992), Mello et al (2005), França et al (2011)

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Valor 30 - 35 60 - 65 14 - 16 20 - 23 40 - 50 3,8 - 4,2 6-9 3,0 - 3,6 < 50 <30 60 – 70 3-4 >62 > 25


Figura 1 - Médias de produtividade de massa verde (PMV, kg/ha) e matéria seca (PMS, kg/ha) nas safras 2012/13 e 2013/14 nas diversas localidades do estado de São Paulo

médios desejáveis em uma silagem de milho de boa qualidade.

Avaliação de cultivares

A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), por intermédio do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Polos Regionais, em parceria com a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ Esalq), avalia cultivares de milho para silagem em São Paulo desde a safra 1998/1999, sendo 16 a 24 cultivares avaliadas em três a

cinco localidades anualmente. Os resultados das safras anteriores estão disponíveis no site www.zeamays.com.br. Os resultados da produtividade de matéria verde e seca das duas últimas safras são apresentados na Figura 1. O desenvolvimento da cultura na safra 2013/14 foi afetado negativamente pela escassez de chuvas nos meses de dezembro a fevereiro, exceto em Votuporanga, onde a deficiência hídrica foi menos acentuada (Tabela 2). Isso contribuiu para a redução do porte das plantas e a queda na produtividade

de matéria seca em todos os locais, sendo a redução mais severa em Pindorama (50%), seguida por Mococa (43%), Andradina (30%) e Votuporanga (15%). Porém, isto não afetou a qualidade final na mesma proporção, uma vez que a digestibilidade de planta toda na safra 2012/13 foi em média 60,7% e na safra 2013/14 foi de 62,6%. Nas Tabelas 3 e 4 são apresentados os resultados de produtividade de matéria seca digestível (kg/ha) nas safras 2012/2013 e 2013/2014, respectivamente. Este dado foi obtido multiplicando-se a produtividade de matéria seca de cada cultivar pela sua respectiva digestibilidade de planta toda. Embora determinadas cultivares se destacaram em um local e/ou ano específico, há algumas que se sobressaíram na maioria das localidades, demonstrando adaptabilidade e estabilidade nos diferentes ambientes, o que torna sua escolha mais segura (Tabelas 3 e 4). Por isso, recomenda-se o uso de resultados de avaliação de cultivares em mais de um local e, no mínimo, por duas safras. Em ordem decrescente de produtividade de matéria seca digestível no estado, na safra 2012/13 ficaram AS1581PRO (13.538kg/ha), AS1633PRO, DKB340PRO, DKB175PRO, AG8676PRO, 8K90007PW, SG6030YG, 30A91HX, 2B604Hx, AG8088PRO, AG5055PRO, DKB390PRO2, AS1573YG, IAC8390, 2B688Hx, AG1051, BM3063, AlPiratininga


Tabela 2 - Quantidade de chuva, em mm, nas safras 2012/13 e 2013/14 em diversas localidades no estado de São Paulo Local

mm mm Diferença entre Safra 2012/2013 Safra 2013/2014 nov/13 dez/13 jan/14 fev/14 mar/14 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13 anos (mm) 107 Andradina 139 145 108 526 120 134 87 144 406 68 209 Mococa 103 230 872 264 168 610 262 371 66 71 102 Pindorama 150 198 846 291 197 571 275 301 123 55 48 Tatuí 80 133 568 188 177 382 186 178 65 81 173 Votuporanga 137 231 690 180 192 610 80 130 162 95 Fonte: http://www.ciiagro.sp.gov.br

Tabela 3 - Produção média de matéria seca digestível (MS Digestível) em cultivares de milho, no estado de São Paulo, na safra 2012/13 Andradina Cultivar PMSDi/ha 2B604 Hx 12.103 AS 1581 PRO 11.441 AG 8676 PRO 11.023 DKB 340 PRO 10.999 AG 8088 PRO 10.951 AS 1633 PRO 10.797 DKB 175 PRO 10.739 AS 1573 YG 10.227 AG 5055 PRO 9.965 8K90007PW 9.727 DKB 390PRO2 9.680 2B688 Hx 9.668 30A91HX 9.554 BM 3063 9.402 IAC 8390 9.367 AG 1051 9.051 Al Piratininga 9.026 SG 6030 YG 8.993 Média 10.151 CV (%) 11,2 DMS 2.956

Mococa Cultivar PMSDig/ha AS 1581 PRO 16.323 DKB 340 PRO 15.346 AG 8088 PRO 15.236 AS 1633 PRO 15.224 AG 8676 PRO 15.131 2B604 Hx 15.025 DKB 175 PRO 14.916 8K90007PW 14.689 30A91HX 14.267 SG 6030 YG 14.054 DKB 390PRO2 13.903 AG 5055 PRO 13.830 2B688 Hx 13.728 Al Piratininga 13.484 AS 1573 YG 13.403 IAC 8390 12.951 AG 1051 12.896 BM 3063 12.554 Média 14.276 CV (%) 9,28 DMS 3.438

Pindorama Cultivar PMSDig/ha AS 1581 PRO 14.971 DKB 175 PRO 14.861 AS 1633 PRO 14.318 DKB 390PRO2 13.681 8K90007PW 13.663 DKB 340 PRO 13.411 30A91HX 13.110 AG 5055 PRO 13.065 SG 6030 YG 13.030 AG 8676 PRO 12.652 AG 8088 PRO 12.310 AG 1051 11.999 2B604 Hx 11.745 AS 1573 YG 11.451 IAC 8390 10.973 Al Piratininga 10.616 BM 3063 10.266 2B688 Hx 10.253 Média 12.576 CV (%) 9,10 DMS 2.985

Tatui Cultivar PMSDig/ha IAC 8390 13.428 2B688 Hx 13.406 30A91HX 13.246 AS 1633 PRO 13.058 DKB 340 PRO 12.838 SG 6030 YG 12.779 AG 5055 PRO 12.454 8K90007PW 12.197 AG 1051 12.024 DKB 175 PRO 11.846 AG 8676 PRO 11.791 AS 1581 PRO 11.724 BM 3063 11.655 2B604 Hx 11.592 AS 1573 YG 11.499 AG 8088 PRO 11.110 Al Piratininga 10.925 DKB 390PRO2 10.532 Média 12.117 CV (%) 9,3 DMS 2.936

Votuporanga Cultivar PMSDig/ha DKB 175 PRO 14.919 DKB 340 PRO 14.855 AS 1633 PRO 14.118 SG 6030 YG 14.086 AG 8676 PRO 13.496 AS 1581 PRO 13.230 AG 8088 PRO 12.878 AS 1573 YG 12.875 8K90007PW 12.673 30A91HX 12.665 AG 5055 PRO 12.475 IAC 8390 12.393 2B604 Hx 12.303 AG 1051 12.187 DKB 390PRO2 11.985 2B688 Hx 11.459 BM 3063 10.697 Al Piratininga 10.165 Média 12.748 CV (%) 12,2 DMS 4.031

C.V. = coeficiente de variação e dms = diferença minima significativa pelo teste Tukey 5%

Tabela 4 - Produção média de matéria seca digestível (MS Digestível) em cultivares de milho, no estado de São Paulo, na safra 2013/14 Andradina Cultivar PMSDi/ha DKB 340 PRO2 9.046 AG 8676 PRO 8.681 DKB 175 PRO2 8.495 AG 5055 PRO 8.133 2B610PW 7.507 MG652PW 6.912 BG 7049 H 6.881 Al Piratininga 6.854 BM 3063 6.777 IAC 8390 6.770 JM 3M51 6.654 P 3862 YH 6.519 2B688 Hx 6.437 30A91HX 6.228 30S31 H 5.256 AG 1051 Média 7.143 CV (%) 15,2 DMS 2.755

Pindorama Mococa Cultivar PMSDig/ha Cultivar PMSDig/ha BG 7049 H 8.230 MG652PW 9.078 AG 8676 PRO 7.627 JM 3M51 9.072 2B610PW 7.554 DKB 175 PRO2 8.880 30S31 H 7.100 AG 5055 PRO 8.849 2B688 Hx 6.804 2B610PW 8.370 DKB 175 PRO2 6.475 2B688 Hx 8.363 30A91HX 6.291 30S31 H 8.249 JM 3M51 6.247 DKB 340 PRO 8.231 Al Piratininga 5.963 30A91HX 8.176 DKB 340 PRO2 5.875 IAC 8390 8.167 P 3862 YH 5.206 AG 8676 PRO 8.022 AG 5055 PRO 4.784 BG 7049 H 7.612 BM 3063 4.780 BM 3063 7.478 MG652PW 4.294 Al Piratininga 7.381 AG 1051 P 3862 YH 6.700 IAC 8390 AG 1051 6.435 Média 6.231 Média 8.066 CV (%)* 13,80 CV (%)* 8,4 DMS 2.237 DMS 1.521

Votuporanga Cultivar PMSDig/ha AG 8676 PRO 11.867 JM 3M51 11.642 DKB 340 PRO2 11.512 IAC 8390 11.435 BG 7049 H 11.368 2B688 Hx 11.350 2B610PW 11.335 DKB 175 PRO2 11.093 MG652PW 10.979 BM 3063 10.872 AG 5055 PRO 10.866 P 3862 YH 10.793 30S31 H 10.712 Al Piratininga 9.954 30A91HX 9.820 AG 1051 8.321 Média 10.870 CV (%) 12,0 DMS 3.338

C.V. = coeficiente de variação e dms = diferença minima significativa pelo teste Tukey 5%

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(10.843kg/ha). Já na safra 2013/14, em ordem decrescente de produtividade de matéria seca digestível no estado, ficaram AG8676PRO (9.049kg/ha, a mais produtiva), IAC8390, DKB175PRO2, 2B610PW, DKB340PRO2, BG7049H, JM3M51, 2B688Hx, AG5055PRO, 30S31H, MG652PW, 30A91HX, AlPiratininga, BM3063, AG1051, P3862YH (7.305kg/ha). Nas Tabelas 5 e 6 são apresentados os resultados de composição nutricional nas safras 2012/13 e 2013/14, respectivamente. É evidente que o teor de proteína bruta (PB) do colmo é inferior e o teor de fibra (FDN e FDA) é superior em relação à planta inteira, tornando esta parte da planta menos digestível. Logo, em algumas cultivares, a elevada digestibilidade de planta toda é devido em parte à sua maior digestibilidade de colmo. Também é interessante notar que na safra 2012/13 a cultivar AS1581PRO apresentou elevada produtividade de massa seca digestível apesar da baixa digestibilidade de seu colmo e na safra 2013/14 o mesmo ocorreu com a cultivar DKB175PRO, que foi altamente produtiva, mas com baixa digestibilidade de colmo em comparação às demais. Nestes casos a elevada produtividade de massa seca digestível pode ser atribuída a outros fatores que não apenas a digestibilidade de colmo, como elevada produção de massa seca e/ou elevada proporção de grãos na massa. Sobre digestibilidade de colmo, destacaram-se DKB340PRO (49,3%), BM3063, AS1633PRO, AG5055PRO, SG6030YG, AS1573YG e AG8676PRO, na safra 2012/13, e IAC8390 (49,2%), 30S31H, AlPiratininga, 2B610PW, DKB340PRO2, BM3063 e AG8676PRO, na safra 2012/13. É interessante notar que na safra 2012/13, em ano de chuvas regulares, a amplitude do valor de digestibilidade de colmo foi de 46,9% a 49,3%, ou seja, 2,4 unidades de diferença entre as cultivares. Já na safra 2013/14, com chuvas atípicas e estresse hídrico esta amplitude foi de 41% a 49,2%, 8,2 unidades de diferença entre cultivares, demonstrando o efeito da falta de água em cultivares mais sensíveis, piorando sua qualidade nutricional. No mercado há ampla predominância de cultivares precoces. Entretanto, em situações especiais, para escapar de estresses climáticos como seca e geada, em condições de período chuvoso reduzido e quando há necessidade em liberar a área para o plantio de outra cultura, as cultivares hiperprecoces e superprecoces são utilizadas preferencialmente. Já os materiais de ciclo normal são empregados por tolerar os estresses que ocorrem regionalmente, como, por exemplo, as doenças de ocorrência epidêmica ou as altas temperaturas. Em algumas situações, são preferidos para silagem por apresentarem porte alto e elevada produção de matéria


seca, mas nem sempre se destacam quanto à qualidade da silagem, devido ao aumento da participação da fração colmo e redução da fração espiga em relação aos precoces. As cultivares mais precoces, na maioria dos locais, com relação ao momento do corte para silagem, foram AS1633PRO, AG8088PRO, 2B604Hx e 30A91Hx na safra 2012/13, e 2B688Hx, AG8676PRO, DKB175PRO2 e IAC8390 na safra 2013/14. As cultivares mais tardias, com ciclo mais longo, apresentam maior período de deposição de matéria seca e enchimento de grãos e isso pode ser uma vantagem por ampliar a janela de colheita, principalmente em grandes áreas. Outra forma de ampliar a janela de corte é utilizar mais de uma cultivar com ciclos diferentes, ou seja, uma mais precoce e outra mais tardia para distribuir a ensilagem no tempo de colheita. Ou ainda o plantio escalonado, dividindo a área em talhões com diferentes épocas de semeadura. E ainda a combinação do escalonamento no plantio com híbridos de C diferentes ciclos. Solidete de Fátima Paziani, Polo Apta Centro Norte Aildson Pereira Duarte, Programa Milho IAC/Apta Luiz Gustavo Nussio, USP/Esalq

Tabela 5 - Valor nutritivo de milho no estado de São Paulo, considerando a proteína bruta (PB), a fibra em detergente neutro (FDN), a fibra em detergente ácido (FDA) e a digestibilidade in vitro da matéria seca (DVIVMS), na safra 2012/13 Cultivar

PB planta % AS 1633 PRO 7,7 DKB 340 PRO 7,8 AG 5055 PRO 7,6 AS 1581 PRO 7,9 AG 8676 PRO 7,8 2B604 Hx 7,7 IAC 8390 7,7 AG 8088 PRO 7,5 30A91HX 7,8 BM 3063 7,4 SG 6030 YG 7,6 AG 1051 7,6 AS 1573 YG 7,8 2B688 Hx 7,5 DKB 390PRO2 7,9 Al Piratininga 7,5 DKB 175 PRO 7,7 8K90007PW 7,8 Média 7,7 CV (%) 11,1 dms (Tukey 5%)* 0,9

FDN

FDA

51,8 51,7 51,8 51,0 51,3 51,6 51,5 51,6 51,1 51,6 52,9 52,3 52,9 51,7 52,1 52,9 53,7 54,0 52,1 10,4 6,0

32,6 32,1 31,7 31,4 31,3 31,3 31,5 31,9 30,9 31,6 32,5 32,2 32,8 31,5 31,3 32,7 32,7 32,6 31,9 15,2 5,4

DVIVMS planta % colmo % 61,9 48,6 61,4 49,3 61,3 48,5 61,2 47,3 61,1 48,3 61,0 47,2 61,0 47,3 60,9 48,2 60,8 47,6 60,7 49,2 60,7 48,5 60,6 48,2 60,5 48,4 60,3 47,5 60,3 46,9 60,2 47,6 60,0 47,6 58,5 47,6 60,7 47,9 6,9 9,6 4,7 5,1

C.V. = coeficiente de variação e dms = diferença minima significativa pelo teste Tukey 5%

Tabela 6 - Valor nutritivo de cultivares de milho no estado de São Paulo, considerando a proteína bruta (PB), a fibra em detergente neutro (FDN), a fibra em detergente ácido (FDA) e a digestibilidade in vitro da matéria seca (DVIVMS), na safra 2013/14 Cultivar

PB planta % JM 3M51 7,4 2B610PW 7,4 IAC 8390 7,6 P 3862 YH 7,4 2B688 Hx 7,2 30S31 H 7,1 AG 5055 PRO 7,8 Al Piratininga 7,8 BG 7049 H 7,7 BM 3063 7,7 AG 8676 PRO 7,3 DKB 340 PRO2 7,5 MG652PW 8,1 AG 1051 7,5 DKB 175 PRO2 7,2 30A91HX 6,8 Média 7,5 CV (%)* 16,9 dms (Tukey a 5%) 1,6

FDN

FDA

53,2 51,5 54,6 55,9 53,4 56,1 56,4 55,6 56,6 55,9 57,9 56,8 56,4 56,6 55,2 57,1 55,6 10,4 7,1

19,9 18,6 20,0 21,9 20,0 21,1 21,0 20,6 21,8 21,3 21,3 20,7 21,4 21,1 21,0 21,2 20,8 21,3 5,5

DVIVMS planta % colmo % 65,0 46,7 64,1 48,5 63,8 49,2 63,8 46,7 63,4 44,7 63,0 49,1 62,9 47,2 62,9 48,9 62,9 47,1 62,8 47,4 62,1 47,3 62,1 48,3 61,6 46,9 61,3 42,9 60,9 46,1 59,6 41,0 62,6 46,7 4,8 9,1 3,7 5,3

C.V. = coeficiente de variação e dms = diferença minima significativa pelo teste Tukey 5%


Elderson Ruthes

Milho

Tolerância limitada

Bastante tolerante a nematoides, o milho costuma produzir mesmo na presença de altas densidades do parasita no solo. Contudo, há limites para a produção nessas condições. Espécies como P. zeae, P. brachyurus e M. incógnita são causadoras de prejuízos severos à cultura e exigem atenção e manejo adequado por parte dos produtores

E

m 2013 foram produzidos no Brasil 78,5 milhões de toneladas de milho, em 15,7 milhões de hectares. Portanto, é da maior importância conhecer as relações entre o milho e os fitonematoides. Há três facetas nessas relações. As mais conhecidas dos agricultores são: 1) o papel do milho como agente redutor dos nematoides Heterodera glycines (nematoide de cisto da soja), Rotylenchulus reniformis (nematoide reniforme), Ditylenchus dipsaci (nematoide dos caules e bullbos), Meloidogyne hapla, M. exigua e M. paranaensis (três espécies de nematoides das galhas); e 2) como promotor do crescimento populacional de nematóides como Meloidogyne incognita, Pratylenchus zeae e P. brachyurus. Em resumo, o milho é encarado como participante da rotação ou sucessão de culturas, que pode assumir

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papel positivo ou negativo no manejo de nematoides. Frequentemente, esquece-se que algumas espécies de nematoides causam danos significativos às raízes de milho, acarretando perdas de produção.

Nematoides que causam perdas em milho

O milho é muito tolerante aos nematoides, ou seja, produz satisfatoriamente mesmo na presença de altas densidades do parasita no solo. Infelizmente, essa característica, a tolerância aos nematoides, tem um limite. Em muitas áreas do Brasil, as densidades já atingiram valores tão elevados, e os danos às raízes são tão intensos, que a produção de milho não tem alcançado os patamares esperados ou desejados. São perdas significativas, mas que talvez ainda não tenham chamado a

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atenção dos agricultores. Porventura satisfeitos com as produtividades atuais, mas que poderiam ser melhores, não chegam a desconfiar que os nematoides subtraem anualmente algumas sacas de milho por hectare plantado. Os fitonematoides são presença frequente em solos cultivados com milho, e as espécies mais comuns são Pratylenchus zeae, P. brachyurus, Helicotylenchus dihystera e Meloidogyne incognita. Desde 1963, há registros de milharais nos quais aparecem reboleiras de plantas enfezadas, com folhas cloróticas e raízes apodrecidas. No centro das reboleiras, as plantas são minúsculas, atingindo menos de 1/5 da altura das plantas da margem das reboleiras. Geralmente, os nematoides mais associados a tais sintomas são duas espécies de nematoides das lesões, P. zeae e P. brachyurus, havendo


Leandro Martinho

Nematoides das lesões possuem de 0,4mm a 0,5mm de comprimento Patrícia Milano

relatos de perdas de 50%. Justificando seu nome, são parasitas que causam lesões, ou seja, manchas escuras, em decorrência de sua atividade dentro das raízes. São muito pequenos, com 0,4mm a 0,5mm de comprimento, e passam a maior parte da vida dentro das raízes, alimentando-se das células do córtex (= casca da raiz). É preciso esclarecer, porém, que as reboleiras nem sempre estão presentes nos locais infestados. A expectativa de que esses nematoides sempre produzam sintomas claramente visíveis talvez seja um dos maiores erros dos agricultores. Muitas vezes, as infestações são relativamente uniformes, não se formando, portanto, reboleiras. Em outras palavras, existem locais em que o efeito do nematoide é uniforme, não havendo variações visíveis no tamanho das plantas. Além disso, as plantas nem sempre apresentam nanismo acentuado. Ocorrendo um desenvolvimento inferior, mas próximo do normal, o agricultor tem a falsa impressão de que está tudo bem. Somente após uma avaliação minuciosa se desfaz tal impressão. São situações nas quais ambas as espécies, P. brachyurus e P. zeae, penalizam vagarosa e continuamente o agricultor. Utilizando uma metáfora, são como se fossem pequenas feridas, que causam pouco incômodo, mas sangram sem parar. A ocorrência dessas duas espécies depende muito da sucessão de culturas adotada. Em locais onde o milho é cultivado em sucessão com outras poáceas, a espécie predominante é P. zeae, que é mais adaptada a estas plantas que P. brachyurus. Em locais onde o milho é cultivado em sucessão com soja, feijão, algodão, batata, cenoura etc, há predomínio de P. brachyurus, pois esta espécie tem um rol de plantas hospedeiras muito mais amplo que P. zeae. De fato, há

Presença de reboleiras de plantas de milho enfezadas, com folhas cloróticas e raízes apodrecidas

muito poucas plantas hospedeiras de P. zeae fora da família Poaceae. A propósito, essa característica de P. zeae poderia ser aproveitada para a utilização da rotação ou sucessão como método altamente eficaz de controle. Por meio da rotação ou da sucessão com soja, algodão, girassol, feijão etc, é possível obter uma grande redução populacional de P. zeae. Como a importância dos nematoides para o milho tem sido subestimada, o agricultor brasileiro não está acostumado a utilizar nenhuma técnica de controle contra esses parasitas. Atualmente, há duas técnicas principais de controle para P. zeae e P. brachyurus: o nematicida carbofurano na formulação granulada, para aplicação no sulco de plantio, e o inseticida-nematicida abamectina, na formulação para tratamento de sementes. Experimentalmente, a aplicação de nematicidas no sulco de

plantio foi eficaz na redução da densidade dos nematoides, resultando em aumentos de 14% a 39% na produção de milho. Em função do reduzido número de opções para o controle dos nematoides das lesões, há várias pesquisas em andamento com a finalidade de avaliar a eficácia de outros produtos. Alguns defensivos são capazes de restaurar grande parte da capacidade de crescimento das plantas de milho, em locais infestados por nematoides das lesões, quando se compara com plantas que não receberam o produto. Também de forma experimental, foi provado o efeito benéfico da torta de mamona, aplicada no sulco de plantio na proporção de 300kg/ha, na redução populacional de P. zeae e P. brachyurus (-38% em comparação à testemunha), bem como no aumento da produção (+15% em comparação à testemunha). O efeito sobre


Elvio Uzuele

Mário Inomoto

Leandro Martinho

E fácil encontrar milharais em que as raízes estão tomadas de galhas. Em condições controladas é possível verificar o tamanho das plantas, efeitos de M. incognita e dos tratamentos aplicados

crescimento da planta de milho mesmo na presença de M. incognita. Entretanto, é fácil encontrar milharais em que as raízes estão tomadas de galhas. Para comprovar o efeito negativo de M. incognita sobre o crescimento de milho, indica-se comparar o tamanho de uma planta não infectada com outra idêntica, mas infectada, em condições controladas. Da mesma forma, é fácil provar o efeito positivo dos métodos de controle, como o tratamento de sementes, que, no entanto, ainda se encontra indisponível comercialmente no Brasil.

No centro das reboleiras, as plantas são minúsculas, atingindo menos de 1/5 da altura das demais

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Recomendações finais

A primeira recomendação é avaliar o risco representado pelos fitonematoides na propriedade e a primeira ação deve ser a coleta de amostras de solo e de raízes, para verificar a presença de espécies daninhas ao milho e também sua densidade populacional. Perdas geralmente ocorrem em densidades acima de 200 espécimes dos nematoides das lesões (P. zeae e/ou P. brachyurus) por grama de raízes, ou o Elvio Uzuele

os nematoides foi inferior ao obtido pela aplicação de carbofurano nas proporções de 1,5kg e 3kg de ingrediente ativo/ha (as duas dosagens reduziram a densidade em 86%), porém, o efeito sobre a produtividade de milho foi próximo (+14% para 1,5kg e +23% para 3kg). O uso de cultivares ou híbridos resistentes poderia ser importante ferramenta para o controle de P. brachyurus e P. zeae, como demonstraram trabalhos realizados há 30 anos por pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas. No entanto, essa linha de pesquisa prosperou muito pouco nos últimos três decênios, pelo menos para P. zeae, devido à pouca importância atribuída aos nematoides pelo setor produtivo. Para P. brachyurus, por outro lado, tem havido renovado interesse, no último decênio, pela seleção de cultivares ou híbridos resistentes. No entanto, o objetivo tem sido enfrentar as perdas causadas por P. brachyurus à cultura da soja, em uma sucessão soja-milho. Existe ainda uma terceira espécie de fitonematoide que merece menção. Tratase de Meloidogyne incognita, espécie que, embora frequente em milharais, não tem recebido a devida atenção dos agricultores. Há um registro muito bem documentado, embora antigo (1986), de milharal em Goiás com plantas exibindo severo ataque por M. incognita. Os sintomas foram acentuado enfezamento e amarelecimento foliar; em plantas mais atacadas, secamento e morte. As galhas radiculares eram muito grandes, com até quatro vezes o diâmetro normal da raiz. Não há registros posteriores de sintomas tão severos, porventura em decorrência do uso muito intenso de adubos, nos plantios atuais, promovendo o bom

Para comprovar o efeito negativo de M. incognita sobre o milho, indica-se comparar o tamanho das plantas

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mesmo valor por 200cm3 de solo; ou 800 espécimes de M. incognita por grama de raízes ou o mesmo valor por 200cm3 de solo. Se nenhuma das três espécies for encontrada, a recomendação seguinte é manter o local isento de nematoides, por meio da adoção dos métodos clássicos de prevenção: 1) limpeza frequente do maquinário agrícola e do rodado dos veículos com fortes jatos de água, se possível diariamente ou logo após seu uso; 2) extremo cuidado e rigor quanto à qualidade fitossanitária de mudas, sementes, bulbos etc que adentram a propriedade. Se uma ou mais das três espécies (P. zeae, P. brachyurus e/ou M. incognita) for encontrada em densidades acima dos limites apontados, a recomendação é estimar o tamanho das perdas causadas. Isso pode ser feito de várias formas: 1) comparação da produtividade do talhão infestado com outros da mesma propriedade, com características semelhantes, mas não infestadas; 2) comparação da produtividade na propriedade com a de vizinhos; 3) avaliação do histórico de produtividade no talhão; 4) medição da resposta aos métodos de controle, em microparcelas dentro do talhão infestado etc. Havendo indicação da ocorrência de perdas, surge a grande dificuldade: como fazer o controle. São escassos os métodos de controle com eficácia comprovada. Há somente um produto registrado para tratamento de sementes contra P. brachyurus (abamectina) e nenhum contra os demais fitonematoides do milho. Similarmente, há um produto nematicida registrado para aplicação no sulco de plantio contra P. zeae (carbofurano) e nenhum contra os demais nematoides. Torta de mamona foi utilizada com sucesso, mas somente em trabalhos experimentais. As escolhas das culturas para rotação ou sucessão são óbvias: plantas que não as poáceas para P. zeae; Crotalaria spectabilis e C. breviflora C para P. brachyurus e M. incognita. Mario Inomoto, Esalq/USP



Nossa capa

Revolução gênica

Cultivar

A evolução agrícola promovida pelas cultivares transgênicas, associada ao avanço do melhoramento genético do milho no Brasil, nos últimos 20 anos, levou ao atual processo de transgenia definitiva e acelerada. Em 2013 a área cultivada com esses materiais chegou a 4,89 milhões de hectares na primeira safra e 7,67 milhões de hectares na segunda safra. Nos últimos anos a cultura apresentou um novo patamar de produtividade, só antes alcançado por países desenvolvidos e detentores de alta tecnologia

S

em imaginar que sua descoberta pudesse levar à transformação genética de plantas, o bioquímico alemão Johann Friedrich Miescher descobriu o DNA (ácido desoxirribonucleico) em 1869, que foi denominado nucleica. Entretanto, somente em 1935 o pesquisador russo Andrei Nicolaevitch Belozersky isolou o DNA e apenas em 1953 James Watson e Francis Crick descreveram a estrutura molecular (dupla hélice) do DNA, revolucionando os estudos relacionados à biologia molecular. Oriundo deste conhecimento, o DNA recombinante foi obtido em 1973, tornando possível o isolamento do gene e a transferência de pedaços deste gene de um organismo para outro. Com isto, deu-se o início da modificação genética de organismos, conhecidos como

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organismos geneticamente modificados (OGM) ou transgênicos. A evolução da manipulação genética através do desenvolvimento do primeiro organismo transgênico é datada de 1974, com a produção pelo pesquisador alemão, Rudolf Jaenisch, do primeiro animal (rato) obtido através da inserção de parte do DNA de um vírus. Em 1983 foi desenvolvida a primeira planta transgênica, quando plantas de tabaco receberam genes de resistência ao antibiótico canamicina, uma substância usada para tratar o cancro e a artrite reumatoide. Quase uma década depois, houve a liberação comercial em 1994 de um produto geneticamente modificado (GM) para a alimentação humana proveniente da técnica do DNA recombinante. O tomate de maturação

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prolongada, Flavr Savr, desenvolvido pela empresa Calgene, apresentava alterações metabólicas para desacelerar o processo de amadurecimento, impedindo, assim, o amolecimento dos frutos sem que a cor e o sabor fossem alterados. No mesmo ano, a mesma empresa desenvolveu a canola com concentração aumentada de acido láurico, dando início à revolução gênica observada hoje na agricultura mundial. A primeira soja transgênica foi introduzida no mercado americano no ano de 1995 pela Monsanto, com tolerância ao herbicida glifosato. A soja tolerante ao glifosato (soja RR) foi desenvolvida para que este herbicida pudesse ser utilizado, como alternativa segura, no controle de plantas daninhas, sem causar toxidez às plantas da cultura. Este herbicida inibe a síntese de amino-


Tabela 1 - Eventos de milho GM aprovados para liberação comercial no Brasil pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) Eventos e características Empresa detentora Ano de aprovação MON810: resistente a insetos da ordem lepidóptera Monsanto do Brasil Ltda 2007 Bt11: resistente a insetos da ordem lepidóptera Syngenta Seeds Ltda 2007 T25: tolerante ao herbicida glufosinato de amônio Bayer S.A. 2007 GA21: tolerante ao herbicida glifosato Syngenta Seeds Ltda 2008 TC1507: resistente a insetos da ordem lepidóptera Dow Agrosciences Industrial Ltda/DuPont do Brasil S.A – Divisão Pioneer Sementes 2008 MON810 e NK603: resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante ao herbicida glifosato Monsanto do Brasil Ltda 2009 TC1507 e NK603: resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante ao herbicida glifosato Dow Agrosciences Industrial Ltda/DuPont do Brasil S.A – Divisão Pioneer Sementes 2009 MON89034: resistente a insetos da ordem lepidóptera Monsanto do Brasil Ltda 2009 MIR162: resistente a insetos da ordem lepidóptera Syngenta Seeds Ltda 2009 Bt11 e GA21: resistência a insetos da ordem lepidóptera e tolerância ao herbicida glifosato Syngenta Seeds Ltda 2009 MON89034 e NK603: resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante ao herbicida glifosato Monsanto do Brasil Ltda 2010 Bt11, MIR162 e GA21: resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante ao herbicida glifosato Syngenta Seeds Ltda 2010 MON89034, TC1507 e NK603: resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante aos Monsanto do Brasil Ltda 2010 herbicidas glifosato e glufosinato de amônio MON88017: resistente a insetos e tolerante ao herbicida glifosato Monsanto do Brasil Ltda 2010 TC1507, MON810 e NK603: resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante aos herbiciDuPont do Brasil S.A – Divisão Pioneer Sementes 2011 das glufosinato de amônio e glifosato TC1507 e MON810 resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante ao herbicida DuPont do Brasil S.A – Divisão Pioneer Sementes 2011 glufosinato de amônio MON89034 e MON88017: resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante ao herbicida glifosato Monsanto do Brasil Ltda 2011 TC1507 e DAS-59122-7: resistente a insetos e tolerante ao herbicida glufosinato de amônio DuPont do Brasil S.A – Divisão Pioneer Sementes/Dow Agrosciences Sem. & Biotecnologia Brasil Ltda 2013 MIR 604: resistente a insetos da ordem coleóptera e tolerante ao herbicida glufosinato de amônio Syngenta Seeds Ltda 2014 Bt11, MIR 162, MIR 604 e GA21: resistente a insetos da ordem lepidópteras e coleóptera e Syngenta Seeds Ltda 2014 tolerante aos herbicidas glifosato e glufosinato de amônio

ácidos aromáticos através da inibição da enzima EPSPS (5-enolpiruvilchiquimato3-fosfato sintase). Segundo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologias (International Service for the Acquisition of Agri-Biotech Applications - Isaaa), entidade sem fins lucrativos, em 2002, mais de 50% da área plantada com soja no mundo era de cultivares modificadas geneticamente. No Brasil, em 26 de setembro de 2003, foi editada a Medida Provisória nº 131, que passou a regulamentar o cultivo de organismos geneticamente modificados (transgênicos) em escala comercial no país. No Congresso Nacional, a MP nº 131 não sofreu mudanças significativas, convertendo-se na lei nº 10.184, de 15 de dezembro de 2003. Na safra 2005/2006, a comercialização da soja “Roundup Ready” (soja RR), com tolerância ao herbicida glifosato, passou a ser normatizada no país. Com esta mudança, o produtor acreditou que o problema das plantas daninhas resistentes a outros mecanismos de ação estaria resolvido. Entretanto, o uso contínuo do glifosato, muitas vezes com até sete aplicações ao ano, levou à seleção mais rápida de plantas daninhas resistentes a este herbicida. No caso do milho, cultivares modificadas geneticamente foram introduzidas no mercado mundial também a partir de 1995 pela antiga empresa Ciba-Geigy através de plantas resistentes à broca do milho

obtidas pela inserção de genes do Bacillus thuringiensis (Bt). Com foco na alimentação animal, a empresa Renessen LLC desenvolveu, no início da década de 2000, o milho transgênico LY038, primeiro com abordagem de transgenia para modificar a qualidade nutricional do milho, resultando em elevadas concentrações do aminoácido lisina livre nos grãos. Apesar da liberação comercial desse material ter acontecido no Japão, nas Filipinas, na Coreia do Sul, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia, assim como o cultivo nos Estados Unidos, a produção comercial teve atraso devido à alegação de problemas de segurança pelos órgãos regulatórios internacionais. Seguindo a tendência de desenvolvimento de transgênicos com melhor valor nutricional, também foi ofertado o milho

GM com presença de fitase, entendido como de grande importância para a nutrição de aves e suínos entre outros animais monogástricos, já que essa enzima é essencial para oferta do fósforo que se encontra na forma ligada no grão de milho como ácido fítico. A liberação comercial na China ocorreu em 2009, mas não houve produção comercial até 2013. Em anos mais recentes, a indústria de biotecnologia agrícola obteve liberação comercial para o evento transgênico de milho Enogen (Syngenta) referente à presença da enzima α-amilase termorresistente nos grãos de milho, cuja destinação é a indústria de etanol. A presença dessa enzima na matéria-prima aumenta a eficiência do processo de hidrólise do amido do milho pela enzima, favorecendo o rendimento

Figura 1 - Cronologia da biotecnologia relacionada à engenharia genética e ao desenvolvimento de produtos agrícolas

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Figura 2 - Cultivares geneticamente modificadas registradas no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – Mapa

Figura 2 - Cultivares geneticamente modificadas registradas no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – Mapa

478 cultivares, entre híbridos e variedades, sendo 292 cultivares transgênicas. Uma das tendências mundiais e que se segue no Brasil é o desenvolvimento de cultivares que apresentam mais de um gene inserido, técnica conhecida como estaqueamento de genes, conferindo diferentes características a uma mesma cultivar. Apesar da evolução agrícola promovida pelas cultivares transgênicas, sem o avanço do melhoramento genético do milho no Brasil, nos últimos 20 anos, sobre as cultivares, híbridas ou não, utilizadas pelos produtores rurais, nada teria acontecido e de nada adiantaria o processo da transgenia que atualmente vem ocorrendo de maneira definitiva e acelerada nas cultivares modernas desse cereal. Nas últimas safras, a cultura do milho no Brasil apresentou um novo patamar de produtividade, só antes alcançado por países desenvolvidos e detentores de alta tecnologia, a exemplo dos Estados Unidos. Atualmente, no Brasil, é comum encontrar produtores com médias de produção de milho variando de 10.000kg/ha a 12.000kg/ ha, ocorrendo áreas com patamares de até 15.000kg/ha C

industrial. No Brasil, as primeiras liberações comerciais de milho transgênico ocorreram em 2007 com duas cultivares resistentes a insetos da ordem lepidóptera e uma cultivar tolerante ao herbicida glufosinato de amônio. Atualmente, 21 eventos em milho estão liberados (Tabela 1) pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), para serem comercializados, sendo que, destes, 13 eventos apresentam estaqueamento relativo à resistência a insetos-praga e tolerância a herbicidas no milho (Figura 3). No ano de 2013, cultivares de milho GM foram plantadas em mais de 55 milhões de hectares, sendo principalmente cultivadas nos Estados Unidos (34,1milhões de hectares), no Brasil (12,1 milhões), na Argentina (3,3 milhões), África do Sul (2,4 milhões) e no Canadá (1,6 milhão). A área correspondente de milho transgênico no Brasil, em 2013, chegou a 4,89 milhões de hectares na primeira safra e 7,67 milhões de hectares na segunda safra. O que contribuiu para esta expansão de área foi a oferta de 765 cultivares e 205 linhagens de milho modificado geneticamente no mercado nacional, que estão inclusas no Registro Nacional de Cultivares (RNC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na safra 2014/15 estão no mercado

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Cultivar

Décio Karam, Maria Cristina Dias Paes e Israel Alexandre Pereira Filho, Embrapa Milho e Sorgo

Nas últimas safras o milho tem apresentado novo patamar de produtividade no Brasil

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Trigo

Desafios fitossanitários

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Em anos de El Niño produtores de trigo precisam redobrar a atenção e realizar monitoramento rigoroso das lavouras contra doenças de espiga e manchas foliares, cuja incidência tende a se intensificar

brusone do trigo, causada pelo fungo Pyricularia oryzae Sacc. (teleomorfo: Magnaporthe oryzae (T.T. Hebert) M.E. Barr), é uma das principais doenças da cultura, constituindo-se fator limitante para a produção de trigo no Brasil, especialmente no norte e oeste do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. Pode ser considerada uma das doenças mais difíceis de controlar por meio de fungicidas (Maciel, 2011, Santana et al, 2014). Os sintomas no campo podem ser confundidos com giberela, mas há algumas diferenças básicas, que se caracterizam pelo modo de infecção do fungo. Na brusone, ocorre uma necrose quase pontual na ráquis, que é o local de infecção do fungo. Na giberela, o sítio de infecção do fungo é o grão. Em infecções severas, a giberela pode causar necrose da ráquis, mas de maneira generalizada, e não pontual como a brusone. Na brusone, a espiga torna-se descolorida, desde o ponto de infecção na ráquis até o ápice (Figura 1-A, 1-B). No caso de giberela, pode haver descoloração de toda a espiga ou de algumas espiguetas, ao acaso, de forma descontínua (Figura 2-A, 2-B). Esses dois patógenos do trigo são

altamente dependentes das condições meteorológicas, desde o momento da infecção até o desenvolvimento de sintomas. Temperaturas entre 20ºC e 25°C, associadas à umidade relativa acima de 90%, em períodos chuvosos, suficientes para manter as espigas molhadas por períodos superiores a 30 horas, constituem-se condições ideais para o desenvolvimento da giberela (Lima, 2004). A brusone do trigo, que também é dependente de condições meteorológicas, segue um padrão climático diferente de giberela. São necessárias temperaturas mais elevadas, em torno de 28°C, associadas à umidade relativa acima de 90% e chuvas no período de espigamento, suficiente para promover um molhamento das espigas por períodos superiores a dez horas. Devido à dificuldade do fungo em se desenvolver em ambientes com temperaturas baixas, a brusone do trigo é mais frequente nas regiões centro-oeste e norte do Paraná. Portanto, nas regiões tritícolas classificadas como frias, localizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, a brusone não chega a ser um problema. No entanto, pode afetar boa parte do estado do Paraná, que é o maior produtor nacional (Conab, 2013, Torres et al, 2009). Dados de ensaios cooperativos para o controle

químico da brusone têm mostrado que o patógeno é bastante agressivo (Santana, et al, 2014). Dependendo do ano e do local, as perdas podem chegar a 100% da produção, como ocorreu na região central do Brasil, em 2014, quando as condições meteorológicas foram favoráveis ao desenvolvimento da doença (Figura 3). Em 2014, por conta do fenômeno El Niño, houve ambiente favorável para alta incidência de doenças de espiga e de manchas foliares, como observado em algumas áreas na região central do Brasil, onde o trigo é plantado mais cedo, em comparação ao Sul. Uma doença foliar que costuma surgir com bastante intensidade em ano de El Niño é a mancha amarela, causada por Drechslera tritici-repentis. De acordo com Reis et al (2011) a distribuição geográfica da mancha amarela não está limitada pelo clima, pois é uma doença encontrada em diversos países. No Brasil, é igualmente importante desde o Paraná até o Rio Grande do Sul. Entretanto, são os dias chuvosos, associados a temperaturas acima de 20°C, que favorecem a liberação de esporos do fungo, presentes na palhada, e a consequente dispersão entre as plantas na lavoura. De modo geral, a utilização de fungici-

Figura 2 - Giberela em espigas de trigo. A) Espigas de trigo com sintomas de descoloração das espiguetas infectadas por Fusarium graminearum; B) Em infecções severas pode, haver necrose das ráquis, sendo que espiguetas acima da região infectada podem permanecer assintomáticas

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A

Fotos Flávio Santana, Embrapa

Figura 1 - Brusone em espigas de trigo. A) Espigas de trigo com sintomas de descoloração das espiguetas que tem início no ponto de infecção por Pyricularia oryzae; B) Visualização do ponto de infecção nas ráquis das espigas, a partir das quais as espiguetas tornam-se descoloridas

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B

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Figura 3 - Efeito da brusone nas sementes de trigo, cultivar BRS 208, colhido de parcelas experimentais, sem tratamento fungicida, do Ensaio Cooperativo de Controle Químico, realizados em Passo Fundo/RS e Planaltina/ DF em 2014. A) Sementes de parcela experimental em Passo Fundo, em ano de baixa ocorrência de doenças de espiga. B) Sementes de parcela experimental em Planaltina, em ano de alta incidência de brusone

Tabela 1 – Germinação de esporos (em percentagem) avaliado em meio de cultura com fungicidas (propiconazol e azoxistrobina), de dois isolados de Drechslera tritici-repentis, obtidos a partir de amostras coletadas em Três de Maio e em Maringá. Passo Fundo, 2014 Dose Isolado Três de Maio Isolado Maringá fungicida Propiconazol Azoxistrobina Propiconazol Azoxistrobina 0 99 Aa 99 Aa 100 Aa 100 Aa ½ 96 Aa 0 Bb 98 Aa 99 Aa 1 10 Ab 3 Bb 58 Bb 97 Aa 2 0 Ac 0 Ab 2 Bc 83 Ab Médias seguidas das mesmas letras maiúsculas na horizontal e minúsculas na vertical não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Duncan a 5% probabilidade.

A

Tabela 2 – Diametro (em centímetros) do crescimento micelial avaliado em meio de cultura com fungicidas (propiconazol e azoxistrobina), de dois isolados de D. tritici-repentis, obtidos a partir de amostras coletadas em Três de Maio e em Maringá. Passo Fundo, 2014

B

das tem se mostrado eficiente no controle da mancha amarela. Por ser uma doença foliar e, portanto, de mais fácil recobrimento pelos fungicidas, comparada à brusone e à giberela, as estratégias de controle mostram-se mais eficientes. Entretanto, devese ter em mente que, para manter o sucesso no uso do controle químico, recomenda-se rotação de princípios ativos, a fim de evitar o surgimento de raças resistentes. Em testes de laboratório, realizados na Embrapa Trigo, foi observado comportamento diferencial de dois isolados de D. tritici-repentis utilizando-se, separadamente, dois princípios ativos rotineiramente empregados em lavouras comerciais (Tabela 1 e Tabela 2). Foram avaliados germinação dos esporos e crescimento micelial. Neste experimento o isolado de Maringá mostrou-se menos sensível a propiconazol e a azoxistrobina,

tanto no teste de germinação de esporos, quanto na avaliação de crescimento micelial (Figura 4 e Figura 5). No caso da brusone do trigo, Castroagudin et al (2013) observaram que genes associados à resistência ao grupo químico das estrobilurinas estão amplamente difundidos na população de Pyricularia sp. no Brasil. Esse cenário demonstra a necessidade de se investir em pesquisa e avaliar a importância do local, consequentemente do patotipo, em relação ao uso de fungicidas para o controle da doença, com o objetivo de se obter melhores resultados no Brasil. Atenção redobrada e monitoramento constante das lavouras são recomendos aos agricultores, em ano de El Niño. Na região Sul, cuidado especial deve ser adotado em relação à ocorrência de giberela e de manchas foliares. E, fazendo-se uso do controle

Figura 4 – Crescimento micelial de isolado de Drechlera tritici-repentis, obtido de amostras coletadas em Três de Maio, em meio de cultura com diferentes doses de fungicidas. A) propiconazol ½ dose; B) propiconazol 1 dose; C) propiconazol 2 doses; D) azoxistrobina ½ dose; E) azoxistrobina 1 dose; F) azoxistrobina 2 doses; G) Isolado obtido de amostras coletadas em Maringá: Controle (meio de cultura sem fungicidas); H) Isolado obtido de amostras coletadas em Três de Maio: Controle (meio de cultura sem fungicida)

Dose Isolado Três de Maio Isolado Maringá fungicida Propiconazol Azoxistrobina Propiconazol Azoxistrobina 0 99 Aa 99 Aa 100 Aa 100 Aa ½ 96 Aa 0 Bb 98 Aa 99 Aa 1 10 Ab 3 Bb 58 Bb 97 Aa 2 0 Ac 0 Ab 2 Bc 83 Ab Médias seguidas das mesmas letras maiúsculas na horizontal e minúsculas na vertical não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Duncan a 5% probabilidade.

químico, deve-se manter um rodízio de princípios, recomendados pela pesquisa e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para minimizar o risco de perda de sensibilidade C dos fungos aos fungicidas. Flávio Martins Santana, João Leodato Nunes Maciel e Gisele Abigail Montan Torres, Embrapa Trigo Ângelo Aparecido B. Sussel, Embrapa Cerrados

Figura 5 – Crescimento micelial de isolado de Drechlera tritici-repentis, obtido de amostras coletadas em Maringá, em meio de cultura com diferentes doses de fungicidas. A) propiconazol ½ dose; B) propiconazol 1 dose; C) propiconazol 2 doses; D) azoxistrobina ½ dose; E) azoxistrobina 1 dose F) azoxistrobina 2 doses; G) Isolado obtido de amostras coletadas em Maringá: Controle (meio de cultura sem fungicidas); H) Isolado obtido de amostras coletadas em Três de Maio: Controle (meio de cultura sem fungicidas)

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Plantas daninhas

Fantasma da resistência

Mauro Rizzardi

A incidência de plantas daninhas resistentes à aplicação de glifosato no Brasil cada vez mais exige manejo adequado, sob pena de comprometer e inviabilizar o sistema de semeadura direta. Relatos de agricultores que optaram pela aração ou gradagem da área para controlar buva e amargoso ajudam a exemplificar as dificuldades de combate e o risco do perigoso retrocesso a práticas comuns nas décadas de 1970 e 1980

N

o contexto atual da produção de alimentos, os herbicidas são a principal e mais eficiente ferramenta utilizada no manejo de plantas daninhas. Contudo, o uso repetido e continuado de mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, tem selecionado espécies resistentes, o que poderá inviabilizar o controle químico de plantas daninhas. Uma planta é suscetível a determinado herbicida quando, após exposta à sua aplicação, tem crescimento e desenvolvimento interrompidos, ocorrendo sua morte. Por outro lado, a resistência é a capacidade da planta desobreviver e se reproduzir após a exposição à dose registrada (dose indicada na bula) de um herbicida, que normalmente é letal à população normal (suscetível) da mesma espécie. No sistema de semeadura direta, o glifosato é utilizado em larga escala devido à

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sua alta eficiência e ao custo relativamente baixo. Com a inserção da tecnologia Roundup Ready (RR), o uso deste herbicida tornou-se quase exclusivo, sendo empregado de duas a três vezes no mesmo ciclo da cultura da soja (Nohatto, 2010). Sua utilização permitiu a redução do uso de outros herbicidas para controle de diversas espécies de plantas daninhas. Porém, a pressão de seleção exercida pela aplicação do herbicida favoreceu a seleção de plantas resistentes. No mundo existem 28 biótipos de plantas daninhas resistentes ao glifosato, sendo que cinco já ocorrem no Brasil, demonstrando a importância da adoção de medidas eficientes para controle e prevenção do surgimento de novas espécies resistentes. O primeiro caso de resistência ao glifosato no país foi de Lolium multiflorum Lam. (azevém), no ano de 2003, no Rio Grande do Sul. Posteriormente, em 2005, foram relatados ou-

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tros dois casos, Conyza bonariensis (L.) (buva) em São Paulo e no Rio Grande do Sul e Conyza canadensis (L.) em São Paulo. Recentemente, foram identificadas no estado do Paraná Digitaria insularis (L.) Fedde (capim-amargoso) e Conyza sumatrensis (Retz.) E. Walker (buva) resistentes ao glifosato e, esta última, também resistente ao herbicida clorimurom-etílico (Heap, 2014). Não existe outro herbicida com as mesmas características do glifosato que possua amplo espectro de ação sobre as plantas daninhas, sistêmico, controlando plantas anuais e perenes e não cause significativos efeitos a outros organismos do ambiente. Desse modo, a impossibilidade de uso deste herbicida inviabilizaria em muitas lavouras o sistema de semeadura direta, uma vez que a dessecação da cobertura vegetal para a semeadura das culturas é essencial para a formação da palhada e evitar a competição inicial com as culturas. Com o surgimento da resistência ao glifosato é comum o agricultor utilizar misturas de herbicidas alternativos, buscando obter níveis satisfatórios de controle das daninhas, porém, além de ser prática não indicada (proibida), aumenta os custos de produção, o potencial de contaminação do ambiente, a possibilidade de efeito residual sobre culturas sucessivas e, pelo uso continuado, selecionar espécies resistentes a outros herbicidas, reduzindo ainda mais as alternativas de produtos que tenham controle seguro e satisfatório. Azevém, buva e capim amargoso são espécies resistentes a glifosato presentes no Brasil.

Azevém

O azevém (Lolium multiflorum Lam.) é uma planta daninha monocotiledônea de fecundação cruzada, com ciclo anual que se adapta a baixas temperaturas e se desenvolve no inverno e na primavera (Kissmann, 2007). Em solos férteis é altamente produtiva, possuindo considerável capacidade de rebrote e alta produção de afilhos, suportando, assim, pastoreio intensivo, sendo considerada excelente forrageira. No entanto, em função da fácil dispersão e boa ressemeadura natural, tornou-se uma das principais plantas daninhas em áreas de cultivo anuais e pomares da região Sul do Brasil. No sistema de semeadura direta, o controle do azevém para formação de palhada é realizado quase que exclusivamente com a aplicação de glifosato, sendo aplicado em vários estádios de desenvolvimento da planta daninha. Contudo, após aplicações sucessivas


Tabela 1 - Herbicidas graminicidas e não seletivos que controlam azevém resistente e sensível ao glifosato Mecanismo de ação Inibidores da ACCase1

ALS2

Inibidores do FS I3 Inibidores da GS4

Grupo químico Ingrediente Ativo HERBICIDAS GRAMINICIDAS Ariloxifenoxipropionatos Fluazifope (fop’s) Haloxifope Propaquizafope Fenoxaprope Diclofope Ciclohexanodionas Cletodim (dim’s) Setoxidim Sulfonilureia Iodosulfurom Nicosulfurom

Exemplos de marcas comerciais Fusilade Verdict R, Gallant Shogun Furore,Podium Iloxan Select Poast Hussar Nicosulfuronnortox Sanson

HERBICIDAS NÃO SELETIVOS Bipiridílios Paraquate Paraquate+diurom Ácido fosfínico Glufosinato

Gramoxone Gramocil Finale

Tipo Resistência/Mecanismo EPSPs (glifosato)¹ ALS² ACCase³ EPSPs + ALS EPSPs + ACCase EPSPs + ALS + ACCase

Mecanismo Alternativo ALS, ACCase, FSI4, GS5 EPSPs, ACCase, FSI, GS EPSPs, ALS, FSI, GS ACCase, FSI, GS ALS, FSI, GS FSI, GS

EPSPs: enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintase. 2ALS: Acetolactatosintase. 3ACCase: Acetil-CoEnzimaA carboxilase. 4FSI: Fotossistema I.5GS: Glutamina sintetase. 1

plantas de Lolium rigidum, deve-se ter muito cuidado com o manejo do controle químico, integrando outros métodos para controle dessa planta daninha.

Buva

ACCase: Acetil-CoEnzimaA carboxilase. 2ALS: Acetolactato sintase.³3FSI: Fotossistema I. 4GS: Glutaminasintetase.

1

ção de forragem e maior cobertura morta, para a implantação do sistema de semeadura direta, novos genótipos de azevém estão sendo cultivados pelos agricultores, como é o caso do azevém tetraploide, cujas principais características são alta produção de matéria seca e ciclo vegetativo mais longo (meados de dezembro), o que difere do azevém diploide, utilizado pela maioria dos produtores. Assim, considerando a elevada taxa de cruzamento existente no gênero Lolium, especula-se que poderá originar uma planta resistente com maior ciclo e, com isso, elevado potencial de competição inicial com as culturas de verão. Como prática de manejo, de áreas infestadas com azevém resistente, o cultivo com aveia, trigo, centeio, nabo entre outras espécies, por período de três-cinco anos, reduz ou elimina completamente o banco de sementes, dependendo da eficiência em impedir a produção de sementes de plantas voluntárias de azevém e consequente reabastecimento do banco. Após o esgotamento do banco de sementes, a introdução de azevém sensível pode ser alternativa. Considerando a evolução da resistência no Brasil (azevém resistente a EPSPs, a ALS e a EPSPs + ACCase) e a ocorrência no mundo de biótipos com resistência múltipla em

A buva é uma planta daninha do gênero Conyza pertencente à família Asteraceae, caracterizada por produzir elevado número de sementes e de fácil dispersão. Uma única planta de buva chega a produzir mais de cem mil sementes, que germinam durante o outono/inverno com as plantas desenvolvendo-se na primavera/verão. Vários fluxos germinativos ocorrem durante o ano devido à baixa dormência das sementes, o que favorece o fato de, no momento de efetuar o controle, ser possível encontrar plantas de buva em diferentes estágios de desenvolvimento (Lazaroto et al, 2008). O controle de plantas do gênero Conyza foi realizado por muitos anos, de forma eficiente, com o herbicida glifosato. Contudo, no ano agrícola 2004/05 algumas plantas sobreviveram à ação do herbicida e estudos posteriores confirmaram o surgimento de biótipos resistentes a este herbicida. No Brasil destacam-se as espécies Conyza bonariensis, C. canadensis e C. sumatrensis, distribuídas principalmente nos estados do Sul e Sudeste. O primeiro registro de buva resistente no país ocorreu em São Paulo, em biótipos de Conyza bonariensis. No mesmo ano, plantas de C. canadensis foram relatadas com resistência em São Paulo. Passados cinco anos foram registrados biótipos

Fotos Ceherb

de glifosato para o controle de azevém foram selecionadas plantas resistentes a este herbicida em pomares de maçã no Rio Grande do Sul e, posteriormente, a resistência foi também confirmada em áreas com cultivo de trigo, milho e soja no Sul do país. Assim, tem-se observado dificuldade no controle de azevém com este herbicida, dificultando a semeadura das culturas de trigo, milho e soja. Com o surgimento da resistência do azevém ao glifosato, os herbicidas inibidores da ACCasese tornaram a principal alternativa de controle no manejo pré-semeadura da soja e do milho (Tabela 1). Dessa forma, esses herbicidas foram e estão sendo utilizados repetidamente para controlar azevém e, como esperado, selecionaram biótipos resistentes. Ainda, em áreas de trigo e cevada, o herbicida iodosulfurom-metílico foi utilizado como única ferramenta de controle do azevém e da mesma forma que aconteceu com o uso repetido dos inibidores da ACCase e do glifosato, o iodosulfurom-metílico selecionou biótipos de azevém resistentes aos inibidores da ALS. No Rio Grande do Sul existem biótipos de azevém resistentes ao glifosato, aos inibidores da ALS e biótipos resistentes ao glifosato e inibidores da ACCase (Heap, 2014). Não foram encontradas até o momento plantas que resistam aos três mecanismos de ação simultaneamente (glifosato, inibidores da ALS e ACCase), porém, devido à grande pressão de seleção exercida por esses herbicidas e ao uso repetido, em poucos anos pode haver a seleção dessas populações, dificultando ainda mais o controle dessas plantas, visto que as únicas alternativas são a utilização de herbicidas inibidores do fotossistema I e da glutamina sintetase (Tabela 2). Na busca por maior eficiência na produ-

Tabela 2 – Mecanismos herbicidas com azevém resistente e mecanismos alternativos de acordo com o tipo de resistência

O azevém é uma planta daninha monocotiledônea de fecundação cruzada, com ciclo anual que se adapta a baixas temperaturas

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Fotos Kissmann

Capim-amargoso

O capim-amargoso é uma espécie perene que se destaca pela capacidade de formação de rizomas e touceiras

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mento, podendo-se utilizar herbicidas como metsulfurom-metílico ou 2,4-D (Tabela 3). Vale ressaltar que o metsulfurom-metílico deve ser aplicado ao menos 60 dias antes da semeadura da soja ou milho e o 2,4-D, dez dias antes da semeadura da soja, em função da dose aplicada, pois apresenta residual no solo que deve ser levado em consideração. Em muitos casos na dessecação em présemeadura da soja ou milho, as plantas de buva estão em estágios avançados de desenvolvimento, apresentando maior tolerância aos herbicidas. Para estas circunstâncias, uma alternativa eficiente pode ser a associação do herbicida 2,4-D com glifosato. As aplicações sequenciais têm se mostrado eficientes, nesse caso a aplicação de glifosato associado ao 2,4-D ou clorimurom-etílico é aplicado de 15 dias a 20 dias antes da semeadura, e a segunda aplicação é realizada utilizando glufosinato de amônio ou paraquate (produto com restrição de uso no Rio Grande do Sul), sendo aplicado três dias antes da semeadura. Uma alternativa, que além de ser bastante eficiente e desejável por utilizar um herbicida com mecanismo de ação alternativo aos comumente utilizados, é a associação de glifosato com saflufenacil. Ainda, herbicidas pré-emergentes como sulfentrazona, diclosulam e flumioxazina são eficientes no controle de plantas de buva provenientes do banco de sementes do solo.

Perspectivas de novas plantas resistentes

Dentre as espécies daninhas com grande distribuição no território brasileiro e ainda suscetíveis a glifosato, porém já resistentes ao herbicida no mundo, destacam-se as do gênero Amaranthus, conhecidas como caruru, Sorghum halepense, conhecido por capim-

Fotos Dirceu Gassen

de C. sumatrensis com resistência ao glifosato no Paraná. Esta mesma espécie foi identificada também com resistência ao herbicida clorimurom-etílico, que é um dos herbicidas alternativos ao glifosato para o controle de buva em áreas de soja (Tabela 3). Presume-se que quase a maioria das populações das três espécies de buva em áreas agrícolas do Brasil é resistente ao glifosato. No mundo ocorrem diversos casos de resistência de buva a vários herbicidas com mecanismo de ação diferente do glifosato, tendo sido confirmados casos de resistência aos herbicidas inibidores da ALS (clorimurometílico, metsulfurom-metílico e cloransulammetílico), inibidores do Fotossistema I (paraquate e diquate) e inibidores do Fotossistema II (atrazina e simazina). Ainda, nos Estados Unidos, existem populações de Conyza bonariensis com resistência múltipla a glifosato e paraquate e outras resistentes a glifosato e atrazina (Heap, 2014). O fato da resistência a outros herbicidas existir em outros países serve como alerta da complexidade que o controle de buva poderá se transformar no caso do manejo incorreto de herbicidas alternativos. De maneira geral, as principais recomendações para o manejo de buva estão relacionadas com a integração de métodos de controle. Um manejo bastante importante em áreas infestadas de buva é evitar que as plantas produzam sementes. A utilização de plantas de cobertura no inverno como aveia, trigo e nabo forrageiro pode reduzir a população de plantas de buva, além de diminuir o porte das plantas antes da semeadura da cultura. Este manejo facilita o controle pelos herbicidas, seja na dessecação para semeadura da soja ou no milho, além do que, a redução da população de plantas diminui a chance de seleção de biótipos resistentes aos herbicidas utilizados. Durante o inverno, o controle da buva é mais eficiente, uma vez que ela é mais sensível nos estágios iniciais de desenvolvi-

O capim-amargoso (Digitaria insularis (L.) Fedde) é uma espécie perene que se destaca pela capacidade de formação de rizomas e touceiras, apresentando alta produção de sementes, facilmente disseminadas pelo vento. É nativo de regiões tropicais e subtropicais da América, encontrado em pastagens, cafezais, pomares e em áreas ruderais como beira de estradas e terrenos baldios. É pouco comum em locais com movimentação de solo, sendo uma das mais importantes infestantes em semeadura direta na região Sul do país (Kissmann, 2007). A elevada quantidade de sementes produzidas, com rápido desenvolvimento vegetativo, associada ao aumento da dose do glifosato, é agravante na seleção de plantas resistentes. O primeiro caso relatado de capim-amargoso resistente ao glifosato ocorreu no Paraguai no ano de 2005, e no Brasil em 2008 (Heap, 2014). O surgimento da resistência leva à adoção de alternativas de controle para a população resistente, a fim de obter sucesso no manejo dessa planta daninha. A associação do glifosato com herbicidas de diferentes mecanismos de ação para a ampliação do espectro de controle tem sido realizada em culturas como a soja e o algodão. O controle do capim-amargoso resistente ao glifosato tem sido realizado de modo eficiente, principalmente em estádios iniciais de desenvolvimento através de herbicidas alternativos como cletodim, fluazifope-Pbutílico, tepraloxidim, paraquate e haloxifopeP-metílico (Tabela 4).

A buva é uma planta daninha caracterizada por produzir elevado número de sementes e por sua fácil dispersão

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Tabela 3 - Alternativas de herbicidas para uso em um programa de controle químico de buva resistente e sensível ao glifosato Mecanismo de ação CONTROLE NO INVERNO Inibidores da Acetolactatosintase

Grupo químico CONTROLE NO INVERNO Sulfonilureia

Mimetizador de auxinas

Ácido ariloxialcanóico

Inibidores do Fotossistema I

Bipiridílios

Inibidores da Glutamina sintetase Inibidores da Acetolactatosintase Mimetizador de auxinas Inibidores de Protox

Homoalanina substituída Sulfonilureia Ácido ariloxialcanoico Primidinadiona

Inibidores da Acetolactatosintase Inibidores de Protox

Triazolopirimidina Triazolona Ftalimidas

Ingrediente ativo1 CONTROLECONTROLE NO INVERNONO INVERNO Iodosulfurom - metílico Metsulfurom - metílico 2,4-D NA DESSECAÇÃO PRÉ-SEMEADURA Paraquate Paraquate + diurom Glufosinato de amônio Clorimurom - etílico 2,4-D Saflufenacil NA PRÉ-EMERGÊNCIA EM SOJA Diclosulam Sulfentrazona Flumioxazina

Exemplos de marcas comerciais CONTROLE NO INVERNO Hussar Ally Aminol 806, Capri, DMA 806 BR, Herbi D-480 Gramoxone Gramocil Finale Classic Aminol 806, Capri, DMA 806 BR, Herbi D-480, U46 D-Fluid 2,4-D Heat Spider 840 WG Boral 500 SC Flumizyn 500

Para definição da dose e da melhor alternativa, consulte um Eng. Agrônomo.

1

Tabela 4 - Herbicidas alternativos para uso em um programa de controle químico de capim-amargoso resistente e sensível ao glifosato Mecanismo de Ação

Grupo químico

Síntese de Ácidos Nucleicos e Proteínas Inibidores do Fotossistema II Inibidores do Fotossistema I Inibidores da polimerização da tubulina

Cloracetamidas Ureia Bipiridílios Dinitroanilinas

Inibidores da Glutamina sintetase Inibidores do Fotossistema I

Ácido fosfínico Bipiridilios

Inibidores da ACCase1

Ariloxifenoxipropionatos

Ciclohexanodionas

Inibidores da 4-HPPD2²

Tricetona

Ingrediente ativo HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES Alacloro Diurom Paraquate Pendimetalina Trifluralina HERBICIDAS NÃO-SELETIVOS Glufosinato de amônio Paraquate HERBICIDAS PÓS-EMERGENTES Haloxifope Quizalofope Fluazifope Cletodim Setoxidim Tepraloxidim Mesotrione

Exemplos de marcas comerciais Alacloro Diurom Gramoxone Herbadox Trifluralin Finale Gramoxone Verdict Targa Fusilade Select Poast Aramo Callisto

¹ ACCase: Acetil-CoEnzimaAcarboxilase. HPPD:hidroxifenilpiruvatodioxigenase. Adaptado de AGROFIT, 2014 1

2

massambará e Eleusine indica, conhecida por capim pé-de-galinha. Cabe destacar que estas espécies já foram identificadas como resistentes a glifosato na Argentina e, devido à proximidade geográfica, podem invadir áreas de cultivo de soja no Brasil. As plantas de caruru destacam-se por possuírem alta capacidade de multiplicação devido ao número de sementes produzidas e apresentam elevada competitividade, causando danos irreversíveis em lavouras de soja, milho e demais cultivos de sequeiro. O capimmassambará destaca-se pela eficiência na reprodução por sementes, além da vegetativa. Já o capim pé-de-galinha é anual, autógamo e pode produzir até 40 mil sementes por planta (Kissmann, 2007).

Medidas complementares de manejo

Com o objetivo de prolongar a utilização

do sistema de semeadura direta, várias medidas devem ser adotadas conjuntamente, tais como: minimizar a pressão de seleção do herbicida sob a população de plantas daninhas presentes em áreas agrícolas, pela adoção de rotação de culturas, rotação de mecanismo de ação herbicida e realização de aplicações sequenciais de herbicidas com mecanismo de ação diferente; e utilizar métodos culturais como emprego de plantas de cobertura nas entressafras, para evitar o incremento do banco de sementes do solo, evitar a introdução de sementes de culturas contaminadas com propágulos de plantas daninhas e estar sempre alerta ao aparecimento de plantas daninhas resistentes nas áreas, tomando medidas de controle rápidas e eficientes.

Considerações finais

De modo prático, se medidas de manejo

integrado de plantas daninhas não forem adotadas, o sistema de semeadura direta estará, em curto período de tempo, seriamente comprometido e, em alguns casos, inviabilizado. Já existem casos de agricultores que optaram pela aração ou gradagem da área para controlar plantas daninhas como buva e amargoso, retrocedendo, dessa forma, ao sistema convencional. A volta ao sistema convencional significa reviver os problemas ambientais (erosão etc) e econômicos (perda de nutrientes, maior gasto de combustíveis etc), comuns nas décadas de C 1970 e 1980. Leandro Vargas, Embrapa Trigo Dirceu Agostinetto, Diego Severo Fraga, Queli Ruchel e Theodoro Schneider, Ceherb/Faem/UFPel

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Fotos Márcio Aurélio Pitta Bidóia

Cana-de-açúcar

Relação dinâmica Tipo de solo, manejo adotado, oferta de água, estado nutricional, arquitetura e distribuição do sistema radicular, além da escolha de cultivar estão entre os aspectos que, observados adequadamente, auxiliam os produtores a extrair o máximo rendimento e lucratividade dos canaviais

A

cana-de-açúcar é importante produto no cenário social, ambiental e econômico nacional. A área cultivada, colhida e destinada à atividade sucroalcooleira, na safra 2012/2013, foi de 8,485 milhões de hectares, distribuídos em todos os estados produtores, conforme suas características. A área de cana-de-açúcar destinada à produção neste ano/safra apresentou um crescimento de 2% ou 164,44 mil hectares em relação à safra passada (Conab, 2012). Como o Brasil é um dos mais tradicionais produtores de cana-de-açúcar e possui grande extensão territorial, seu cultivo ocorre em vários tipos de solos que estão sob influência de diferentes climas, o que resulta em vários tipos de ambientes para a produção desta cultura (Dias, 1997). Vários fatores interferem na produção e maturação da cana, sendo os principais a interação edafoclimática, o manejo da cultura e a cultivar escolhida. De

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acordo com Maule et al (2001), esses fatores que interferem na produção e qualidade da cana-de-açúcar, estão sendo constantemente estudados sob diferentes aspectos. Estudar a cultura no seu ambiente de desenvolvimento pode gerar uma enorme quantidade de informações para adequar o melhor manejo e cultivar para os específicos ambientes (solo e clima). Assim é possível explorar ao máximo o local de produção para promover o melhor rendimento da cultura e consequentemente maior lucratividade ou competitividade para as agroindústrias da cana-de-açúcar. O solo é apenas um dos componentes de um conjunto complexo de fatores de produção, destacando-se pelo seu importante papel de fornecer às plantas suporte físico, água e nutrientes. Portanto, o conhecimento das características inerentes a cada solo, os chamados fatores edáficos, é importante para julgar o potencial de produção agrícola

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(Lepsch, 1987). A oferta de água no solo governa a produção vegetal, assim, sua falta ou excesso afeta de maneira decisiva o desenvolvimento das plantas (Reichardt, 1996), pois altera a absorção dos nutrientes e da própria água. A cana-de-açúcar apresenta elevado consumo de água, necessitando de 250 partes de água para formar uma parte de matéria seca na planta (Dillewijn, 1952). A qualidade estrutural do solo tem sido associada às condições físicas favoráveis ao desenvolvimento radicular, aeração, infiltração e movimento de água no perfil do solo. A cultura da cana-de-açúcar no Brasil sofreu rápido processo de modernização, onde são adotadas técnicas de cultivo e colheita intensamente mecanizadas, que promovem alterações no comportamento das propriedades físicas e hídricas do solo e na produtividade dos canaviais. As principais alterações são


evidenciadas pelo aumento da densidade do solo e como consequência o crescimento da resistência do solo à penetração radicular e redução da aeração e modificações na oferta e fluxo de água. As propriedades físicas do solo desempenham importante papel, senão o principal dentre as propriedades do solo. Os atributos físicos do solo variam entre pontos relativamente próximos em área de mesma unidade taxonômica, muitas vezes de forma significativa. Em consequência dessas variações, o uso do valor médio é, às vezes, de pouca utilidade, podendo conduzir a decisões de manejo equivocadas, principalmente no sistema solo-águaplanta, e o conhecimento das formas do relevo, identificadas em diferentes escalas temporais e espaciais, é de extrema importância. A análise de dados obtidos em condições de campo tem apresentado dificuldade nas diversas áreas da Ciência, devido à variabilidade espacial. Quando se trata da variabilidade do solo, as dificuldades tornam-se maiores porque, sendo a formação do solo resultante de uma série de fatores, o produto final é bastante heterogêneo em relação às suas características e propriedades. Em áreas cultivadas, além da variabilidade natural do solo, existem fontes adicionais de variabilidade devido ao manejo exercido pelo homem. Uma dessas fontes é o cultivo em linhas e a consequente aplicação localizada de fertilizantes. Os Latossolos, sob cultivo de cana-de-açúcar, apesar de serem considerados homogêneos, apresentam variabilidade diferenciada para os atributos granulométricos. Diversos estudos relativos à compactação do solo, que utilizam sua densidade como atributo indicador, convergem para o fato de que seu aumento desencadearia, em geral, uma diminuição da produtividade agrícola.

Brancalião aborda aspectos que influenciam no rendimento e na lucratividade dos canaviais

A porosidade total do solo, principalmente em ambientes tropicais, por se referir às fases líquida e gasosa do solo, está estreitamente ligada aos processos bioquímicos das plantas e sua produtividade, por isso a importância de relacionar os atributos físicos do solo e também entender a dinâmica do manejo da fertilidade do solo. A microporosidade do solo, os poros menores, ou seja, os que proporcionam a retenção de água nos solos, é fortemente influenciada pela textura e pelo teor de carbono e pouco influenciada pelo aumento da densidade ocasionada pelo tráfego de máquinas e uso de implementos agrícolas. Por outro lado, a macroporosidade é fortemente influenciada pelo sistema de manejo; o aumento da densidade provoca redução da macroporosidade e isso pode ser considerado um dos primeiros indícios do processo de compactação do solo.

Figura 1 - Sistema Radicular das Plantas. Distribuição no perfil de solo

O solo ideal tem sido referido como aquele que apresenta 1/3 de macroporos e 2/3 de microporos. Em cultivos altamente tecnicizados, como no caso da cana-de-açúcar, é fundamental ter o conhecimento da variabilidade espacial de atributos físicos do solo, o que poderá contribuir para a redução de custos nos sistemas de produção. A variabilidade do solo é consequência de complexas interações dos fatores e processos de sua formação. Além dos fatores e processos, práticas de manejo do solo e da cultura são causas adicionais de variabilidade. Áreas pedologicamente idênticas podem apresentar variabilidade distinta em atributos, quando submetidas às diferentes práticas de manejo. Da mesma forma, áreas pedologicamente diferentes, quando submetidas ao mesmo manejo, podem apresentar-se semelhantes em seus atributos. O manejo pode alterar atributos químicos, físicos, mineralógicos e biológicos, com impacto principalmente nas

Figura 2 - Vermelho: Horizonte A erodido e Verde: Horizonte A preservado

Fonte: Hélio do Prado

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camadas superficiais do solo. O conhecimento da variação de atributos químicos é importante para o levantamento e manejo do solo, planejamento de esquemas de amostragem e gerenciamento de práticas agrícolas. A variabilidade dos atributos químicos do solo são alguns dos possíveis responsáveis pela influência na oscilação da produtividade. Antes de buscar qualquer relação destes elementos com a cultura, é importante avaliar a extensão e a intensidade da dependência espacial desta variação, isoladamente ou em conjunto com outros parâmetros, tais como o sistema radicular (Tabela 1).

Variedade IACSP95-5000

Tabela 1 - Dados médios de massa seca de raiz (em gramas) para cada trincheira (T) e cada profundidade, sendo A na profundidade de 0-30cm, B de 30-60cm e C de 60-90cm, em Latossolo Vermelho Distroférrico, cultivado com cana soca, variedade IACSP95-5000, em quarto corte, na Usina Alta Mogiana em São Joaquim da Barra – SP. MMS: massa de matéria seca Trincheira (T) T1A T1B T1C T2A T2B T2C T3A T3B T3C

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Trincheira T4A T4B T4C T5A T5B T5C T6A T6B T6C

MMS (g) 1,36g 0,50g 1,39g 2,57g 0,40g 1,39g 0,30g 1,60g 1,71g

de máquinas nas linhas de cana (Vasconcelos, 2002; Faroni, 2005). A manutenção de terraços e a preservação da cobertura vegetal, bem como o manejo dos solos, têm reflexo direto na produtividade (Figura 2). A cultura da cana-de-açúcar, sob condições adequadas de suprimento de água, possui elevada capacidade de conversão de energia luminosa em energia química. No entanto, essa eficiência pode variar em função das condições edafoclimáticas e do estado nutricional da cultura. Um dos fatores de maior importância na relação planta-água-solo é a arquitetura e distribuição do sistema radicular, bem como sua dinâmica de crescimento, sendo que, ao compreender a dinâmica do sistema radicular da cana-de-açúcar, é possível entender que existe também boa correlação com sua parte aérea, que acaba sendo mais facilmente analisada pelo fato de estar acima C do perfil do solo. Sandro Roberto Brancalião e Márcio Aurélio Pitta Bidóia, Centro de Cana/IAC

A qualidade estrutural do solo tem sido associada às condições físicas favoráveis ao desenvolvimento radicular, aeração, infiltração e movimento de água no perfil do solo

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MMS (g) 1,39g 3,51g 1,67g 0,78g 1,37g 2,10g 0,50g 0,75g 0,40g

Letras iguais na Coluna não diferem entre si pelo teste LSD, de student, a 5% de probabilidade

Fotos Márcio Aurélio Pitta Bidóia

A variedade IACSP95-5000 é um genótipo que mostra distribuição de raízes mais superficial e, portanto, explora bem a camada arável, podendo responder bem às tecnologias e aos insumos aplicados. Não deve ser recomendada para regiões onde ocorram períodos de deficiência hídrica prolongada durante o desenvolvimento vegetativo. Argissolos com boa oferta hídrica no horizonte B proporcionam condição muito favorável para esta variedade. Entretanto, em Latossolos com boa qualidade química e climática, ambientes mais favoráveis são recomendados para a locação desta variedade. Quanto à distribuição no perfil de solo, os fatores que mais afetam o sistema radicular da cana-de-açúcar são o nível do lençol freático, o impedimento mecânico e as características químicas do solo. Avilan (1978) verificou que, na profundidade entre 25cm e 50cm, a baixa macroporosidade restringiu a penetração radicular da cana-de-açúcar. A densidade do solo maior que 1,02g cm-3 causou deformação ou restrições na distribuição de raízes de cana-de-açúcar. Já a densidade de 1,25g cm-3 provocou danos nas radicelas. A densidade de 1,36g cm-3 reduziu a quantidade de raízes (Figura 1) e causou distorção nas radicelas, enquanto a densidade maior ou igual a 1,46g cm-3 comprometeu a

penetração das raízes no solo. Avilan (1978) verificou que a maior concentração radicular ao redor das soqueiras está na distância de 0cm a 35cm, enquanto a menor concentração radicular está na distância de 35cm a 70cm da touceira. Esse autor constatou que a maior concentração de raízes está na profundidade de 30cm a 50cm. Geralmente 60% a 70% das raízes de canade-açúcar se encontram nos primeiros 40cm de profundidade na fase inicial de desenvolvimento da cultura. Já a maior concentração de raízes na horizontal está a 30cm–40cm das linhas de cana. Estudando o crescimento de raízes de cana colhida com queima e sem queima, obteve-se que 75% das raízes de cana colhidas sem queima situaram-se nos primeiros 40cm de profundidade do solo no primeiro ano de análise e 70% concentraram-se nessa profundidade na avaliação de segundo ano. Já para cana colhida queimada, os valores foram de 72% de raízes nos primeiros 40cm no primeiro ano e de 68% no segundo ano. Faroni (2005) encontrou 65% da quantidade de raízes de cana-de-açúcar na projeção das linhas e somente 18% na distância de 14cm a 42cm. Outros autores também observaram maior quantidade de raízes bem próxima às linhas de cana. A distribuição horizontal de raízes de cana-de-açúcar pode ser influenciada pela posição em que é aplicada a adubação de soqueiras e pelo efeito do tráfego de máquinas e implementos. O acúmulo de nutrientes em determinado local no solo pode proporcionar maior crescimento de raízes, devido à maior disponibilidade de nutrientes. O efeito do tráfego de máquinas e implementos pode ocasionar maior compactação em locais específicos, que apresentarão condições desfavoráveis ao desenvolvimento radicular. Como o tráfego ocorre principalmente nas entre linhas, maior compactação e menor quantidade de raízes são esperadas nesse local. Trabalhos mostraram efeitos do tráfego



Coluna ANPII

O

Resposta à inoculação

feijoeiro, semelhantemente à soja, possui a capacidade de fixar nitrogênio pela simbiose com bactérias denominadas rizóbios. A inoculação dos rizóbios nas sementes é uma alternativa de baixo custo para aumentar o rendimento dessa cultura, além de evitar a contaminação dos recursos hídricos pelo adubo nitrogenado e de diminuir a emissão de gases causadores do efeito estufa. A inoculação das sementes de feijão é aplicável não apenas a pequenos agricultores familiares, mas também a produtores do agronegócio que adotam altos níveis tecnológicos na busca por produtividades elevadas. Quando o feijoeiro é cultivado sob condições irrigadas, onde todo o investimento tecnológico é feito no sentido de maximizar o rendimento da cultura,

testemunha e apenas com inoculação não foram tratadas com fungicidas e inseticidas. Na safra de 2013 todos os tratamentos utilizaram esses produtos. O plantio do feijão foi efetuado em maio, no espaçamento de 50cm entre linhas e densidade de oito plantas/m. A inoculação foi realizada com inoculante turfoso (Embrapa Cerrados), de modo a se obter uma concentração de 106 células/semente. Na colheita, foi avaliada a produção de grãos. Aumentos médios de produtividade de 10,8% foram obtidos apenas com a inoculação, em relação ao tratamento sem inoculação e sem adubação nitrogenada (cujo rendimento médio foi de 3.163kg/ha). Também foi verificado que a inoculação com suplementação de 60kg/ha de N obteve níveis de produtividade (4.010kg/ha) superiores àqueles

2 - Usar adubo nitrogenado (até 60kg de N/ha) em cobertura, sendo a primeira aplicação após 15 dag, e a segunda no início da fase de florescimento. 3 - Usar o inoculante turfoso produzido com turfa esterilizada Verificar: prazo de validade, o registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e as condições de armazenamento do produto antes de sua venda 4 - Usar apenas os inoculantes líquidos com registro no Mapa. Esses produtos devem comprovar a eficiência agronômica. É muito importante que o produtor atente para o fato de que o inoculante não pode ser misturado com os fungicidas e micronutrientes, pois os mesmos são, em maior ou menor grau, tóxicos

É muito importante que o produtor atente para o fato de que o inoculante não pode ser misturado com os fungicidas e micronutrientes geralmente o uso da inoculação não garante todo o N necessário para que tetos de produtividade sejam atingidos, sendo necessária a suplementação com adubação nitrogenada. Nos plantios de terceira safra de 2012/2013 foram conduzidos, sob irrigação, dois experimentos no âmbito do Grupo Executivo do Feijão (Gtec-Feijão) na fazenda Guaribas, Unaí, Minas Gerais. O solo era do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo, distrófico, textura franco-argilosa, e o feijão (cultivar Pérola, grupo Carioca) foi cultivado sob plantio direto após milho. Além do tratamento apenas com inoculação (estirpes Semia 4080 (PRF-81) e Semia 4088 (Cpac H-12), na dose de 1kg de inoculante por 50kg de sementes) também foram incluídos tratamentos testemunha (sem inoculação e sem adubação nitrogenada), com adubação nitrogenada (120kg de N/ha divididos em duas aplicações: 80kg de N/ha na base e 40kg N/ha na fase de canivetinho) e com inoculação + adubação nitrogenada (60kg de N divididos em duas aplicações de 30kg de N/ha aos 15 e 40 dias após a germinação). Na safra 2012 as sementes dos tratamentos

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onde foram utilizados 120kg/ha de N (3.411kg/ha), demonstrando que a inoculação substitui, com sucesso, a metade do adubo nitrogenado, normalmente utilizado nas grandes propriedades. Considerando os preços do saco de feijão (R$ 120,00) e da tonelada de ureia (R$ 1.282,00), o retorno econômico para cada real investido no tratamento apenas com a inoculação foi de R$ 33,00, contra um retorno de R$ 8,00 e R$ 0,40 nos tratamentos com inoculação + 60kg de N/ha e com 120kg de N/ha, respectivamente. A substituição, ainda que parcial, do N -fertilizante utilizado com a cultura do feijoeiro, além de resultar em economia para o agricultor, também promove ganhos ambientais. Considerando que a área cultivada com feijão atualmente no Brasil é de 3,3 milhões de hectares, e que a meta do governo em FBN no plano ABC é de expansão dessa tecnologia para 5,5 milhões de hectares, o uso da tecnologia da inoculação nas áreas de feijão pode auxiliar o país a cumprir em cerca de 60% a meta do plano ABC.

RECOMENDAÇÕES

1 - Inocular sempre:

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para as bactérias. De maneira geral, fungicidas à base de metais pesados, como o zinco e o cobre, e alguns inseticidas organofosforados, prejudicam a nodulação de leguminosas. Os herbicidas e os defensivos contra nematoides são menos tóxicos. No caso de sementes tratadas com fungicidas e inoculadas, a semeadura deve ser efetuada em, no máximo, 12 horas. Caso isso não seja possível, as sementes devem ser inoculadas novamente. Recentemente, a inoculação no sulco de plantio vem ganhando popularidade. Essa pode ser uma boa alternativa principalmente no caso de sementes tratadas com agroquímicos e micronutrientes. Resultados de pesquisas indicam que a dose de inoculante necessária para a aplicação no sulco deve ser, no mínimo, seis vezes superior àquela indicada para a inoculação das sementes. C C

Ieda de Carvalho Mendes e Fabio Bueno dos Reis Junior, Embrapa Cerrados Tarcísio Cobucci, Embrapa Arroz e Feijão



Coluna Agronegócios

E

A falta que faz o bioetanol

m meados da década passada o Brasil viveu uma euforia de investimentos no setor sucroenergético que apontavam para a retomada da liderança mundial de produção e uso de bioetanol. Em 2008, a frota de veículos brasileiros, majoritariamente equipada com o sistema flex, utilizou mais etanol que gasolina. As projeções indicavam uma ocupação crescente do mercado pelo bioetanol, ao longo da presente década. Entretanto, a partir de 2010 houve um refreamento da sua produção e, consequentemente, do consumo. A razão fundamental foi a compressão artificial dos preços dos derivados de petróleo, cujos valores atuais situam-se muito abaixo do custo de produção ou importação do petróleo, e de seu refino e distribuição, o que também ocasiona forte prejuízo para a Petrobras. O bioetanol pode representar inúmeras vantagens para o Brasil. Do ponto de vista econômico, significa produzir um combustível de baixo custo (comparativamente ao preço do petróleo no mercado internacional), potencializando uma cadeia produtiva com inúmeros desdobramentos vantajosos para os diferentes participantes, desde produtores de cana, pequenos fornecedores de insumos e serviços até os conglomerados de produção e distribuição do bioetanol, além do seu potencial de exportação.

Benefícios sociais, ambientais e de saúde

Sob o aspecto social, significa não apenas centenas de milhares de empregos muito bem remunerados, especialmente após a adoção do plantio e da colheita mecânica da cana, que exigem operadores de máquinas habilidosos e bem treinados. Deve-se considerar também a interiorização do desenvolvimento e a inversão dos fluxos migratórios, a ampla distribuição de renda (um contraponto à concentração de renda do setor petrolífero) e a geração de apreciável arrecadação tributária para os estados e municípios, revertendo-se em benefícios nos setores de saúde, educação, transporte e outros que melhoram a qualidade de vida das regiões de produção de bioetanol. Porém, não se pode perder de vista que, entre os principais benefícios de substituir os poluentes derivados do petróleo - a energia suja - por biocombustíveis - a energia limpa - estão as vantagens ambientais e de

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saúde pública. O principal componente é a forte redução das emissões de gases de efeito estufa e de outros poluentes lançados na atmosfera, quando se compara o uso de biocombustíveis aos derivados de petróleo.

Poluentes

A queima de combustíveis fósseis é um grande problema ambiental, não apenas pelas emissões de dióxido de carbono, como por outros gases tóxicos e pelo material particulado (MP), um resíduo da queima de combustíveis fósseis, de extrema toxicidade. OMP é uma mistura de partículas muito pequenas, cerca de cinco vezes mais finas que um fio de cabelo. Essas partículas compõem-se de substâncias químicas orgânicas, ácidos, sulfatos e nitratos, metais ou poeira. Um dos problemas ambientais gerados pelo MP é o aumento na densidade das nuvens, dificultando a entrada da luz solar na atmosfera, criando um processo conhecido como forçamento radiativo. Em decorrência, ocorre diminuição da frequência de precipitações e a chuva ácida, além de diminuir a precisão das previsões climáticas.

Impacto sobre a saúde humana

O material particulado pode ser subdividido em MP2,5, quando é composto por partículas de até 2,5µm (micrômetros ou milésimos do milímetro), ou em MP10, se o tamanho das partículas variar entre 2,5µm e 10µm. Esse poluente é classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o de maior efeito nocivo para a saúde humana. Entre os problemas causados pela emissão de MP na atmosfera estão a morte prematura de pessoas com distúrbios cardíacos e o surgimento ou agravamento de problemas do coração, como infartos e arritmia cardíaca. Problemas no aparelho respiratório também são comuns, como o surgimento de asma em crianças e adolescentes, a irritação das vias aéreas, tosse, dificuldade de respiração, chegando até mesmo a comprometer a oxigenação do sangue. Um dos principais centros de estudo do impacto das emissões veiculares sobre a saúde humana é o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Liderada pelo doutor Paulo Saldiva, a equipe do laboratório estudou o impacto das emissões na principais regiões metropolitanas

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do Brasil, como Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória. O modelo utilizado na pesquisa previa o uso, pelos motoristas, de três tipos de combustíveis: a) gasolina sem a mistura de etanol anidro (gasolina A); b) gasolina com 25% de etanol anidro (gasolina C); e c) etanol hidratado.

Impactos

Focando no segmento MP2,5, que pode atingir severamente os pulmões, as conclusões do estudo mostraram que, utilizando apenas gasolina comum nos carros que rodam nas principais regiões metropolitanas do país, ocorreria um incremento na concentração de MP2,5, aumentando as internações hospitalares e as mortes decorrentes da inalação de material particulado. O custo para a saúde pública atingiria R$ 429 milhões. Utilizando-se a mistura de gasolina com 25% de etanol anidro, foi constatado aumento nos níveis do poluente, embora de menor intensidade, e os gastos do sistema de saúde diminuiriam para R$ 267,973 milhões. Caso a opção fosse pelo uso exclusivo de bioetanol, os números mostraram redução na concentração ambiental do MP2,5, além de uma economia de R$ 67 milhões com gastos em saúde, em relação ao patamar atual. O estudo também apontou que, se os veículos utilizassem apenas gasolina, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, as internações por problemas respiratórios e cardiovasculares aumentariam em 9.247. O número de mortes decorrentes desse fator de risco seria aumentado em 1.384. Por outro lado, com o uso do etanol haveria uma redução de 505 internações e de 226 mortes por ano. Portanto, sobram motivos para que sejam eliminadas as ações que redundaram no represamento da produção e do uso de bioetanol carburante no Brasil. Esperase que muito brevemente o Brasil possa retomar o ciclo virtuoso de ampliação do uso de energias limpas – como é o caso dos biocombustíveis - em substituição às energias poluidoras, provenientes de fontes fósseis, erroneamente interrompido no início da presente década. C

Décio Luiz Gazzoni

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja



Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Grande safra americana começa com alta demanda mundial Ao contrário do pregado pelos que esperavam calamidade agrícola neste final de 2014, o cenário se mostra diverso. Observa-se que a grande safra de grãos dos EUA (que é um fato real, visualizado lá no final do mês de agosto, quando as lavouras estavam ainda em fase de formação das vagens e espigas e já apresentavam um quadro de certeza de alta produtividade) está, sim, nas melhores condições da história do País, mas a demanda tem crescido de maneira mais rápida que o esperado, muito à frente do projetado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e que normalmente serve de norteador do rumo dos negócios e das cotações internacionais. Nos dados semanais sobre exportações, divulgados pelo próprio USDA, se observa que até 9 de outubro os EUA tinham exportado ou fechado contratos de exportação para um volume de 30,6 milhões de toneladas de soja contra 27,4 milhões de toneladas registradas no mesmo período do ano passado. É preciso lembrar que a safra anterior foi uma das melhores da história em exportação para os EUA. Para o milho a exportação estava em 17,2 milhões de toneladas contra as 15,9 milhões de toneladas do ano passado, sinalizando, também, a exemplo da soja, excelentes números para este início de temporada que começou no dia 1º de setembro. Para consolidar estes dados, o relatório semanal do USDA mostra que os embarques americanos de soja, até 16 de outubro, estavam em praticamente seis milhões de toneladas embarcadas. No mesmo período do ano passado esses números eram de 4,8 milhões de toneladas. Percebe-se, portanto, um quadro muito acelerado, indicando que a demanda forte já é uma realidade. Em milho o ritmo também é confirmado pelos embarques que mostram 5,7 milhões de toneladas acumuladas neste começo de ano agrícola americano frente a 3,7 milhões de toneladas do mesmo período do ano passado, com um ritmo mais forte que a própria soja. Desta forma a fase negativa do mercado, que ainda pode trazer alguma pressão leve, passará ou já está passando. À frente haverá um quadro melhor para os mercados agrícolas do Brasil. É preciso lembrar que a safra brasileira está começando com atraso devido ao clima, com muita chuva no Sul e seca nas demais regiões. Isso obrigará o produtor a não cometer erros no campo para conseguir a melhor produtividade possível e assim melhorar o seu bom potencial de lucros, que novamente virá em 2015. MILHO

Safrinha indo para a exportação Os pregões de Pepro do governo já deram suporte a mais de 6,5 milhões de toneladas da safrinha, que tem como destino a exportação. O mercado exportador atuou de maneira mais agressiva em outubro e tudo aponta que seguirá assim de novembro em diante, porque existe muita demanda reprimida no mercado mundial e há muitos países que preferem o Brasil aos Estados Unidos para comprar milho. Um exemplo é o Irã, que normalmente compra grandes volumes de milho brasileiro. Desta forma é importante seguir aproveitando estas oportunidades para que o produtor possa ter margens de lucros com o milho que colheu neste ano e que vinha lento entre julho e setembro, mas já mostrou reação em outubro e de agora em diante tende a trazer ajustes positivos e melhorar o desempenho financeiro dos produtores. A retenção das vendas segue uma boa estratégia para conseguir valores crescentes pelo cereal. Isso pode ser observado pelas cotações para 2015, que ultrapassam R$ 28,00 por saca no mercado de Campinas, São Paulo, indicando que a fase negativa do mercado já passou. SOJA

Plantio atrasado e área recorde Os produtores enfrentaram clima desfavorável para o plantio neste ano, com chuvas em excesso em parte do Paraná e em outros estados da região Sul e calor e seca da outra metade do Paraná para cima. Com isso, houve atraso no início do plantio, que deverá se concentrar em novembro (mesmo assim, dentro do período recomendado para se plantar soja). O problema do setor é que parte das áreas estará fora do período ideal para o milho safrinha, ou seja, estourará a janela agrícola e alguns produtores, para tentar amenizar este quadro e obter tempo para plantar o milho, irão fazer o cultivo da soja em ritmo acelerado, com as máquinas literalmente “voando” sobre os campos, fato que os especialistas apontam que é o primeiro passo

para se ter limitação de produtividade, porque as sementes ficarão mal distribuídas. A soja começa a mostrar um quadro mais favorável em relação ao que apontavam os pessimistas nos últimos meses. Certamente a cultura vai fornecer boa renda aos produtores, mas para isso é preciso fazer tudo certo, plantar corretamente, tratar as lavouras de maneira adequada para que não ocorram problemas com pragas e doenças, como tem sido registrado no Mato Grosso, com lavouras sem controle sobre lagartas. Com esse cenário há problemas com a produtividade e os custos poderão crescer. O fato é que agora é necessário fazer um bom plantio para que a soja possa expressar o máximo potencial produtivo que as sementes possuem, com chances de ganhos maiores. Tudo indica um bom ano pela frente, com uma área que ficará entre 31,5 milhões de hectares a 32 milhões de hectares frente aos 30,6 milhões de hectares deste último ano. Ou seja, em área o Brasil já começa ganhando.

maneira favorável, se estará diante da safra maior do Preto. Isso obrigará o produtor à comercialização escalonada ou até mesmo à busca por uma fatia do mercado internacional, porque o produto é de exportação e, desta forma, há condições de evitar que as cotações recuem muito na colheita, a partir de janeiro. Enquanto isso, o Carioca começa com boas expectativas de mercado, porque a safra irá ser menor que a demanda e este restante de produto da terceira safra será comercializado, projetando para 2015 um quadro ajustado de oferta para uma boa demanda de feijão. É preciso lembrar, ainda, que os brasileiros estão voltando ao consumo do arroz com feijão diário, porque estão com alto grau de endividamento, poucos recursos para os supermercados e as carnes se encontram em alta no mercado local e internacional. Desta forma, haverá pressão de alta para o feijão e boa demanda.

FEIJÃO Primeira safra tem queda no Carioca e avanço no Preto O mercado do Feijão navega sobre momentos um pouco melhores que os registrados até o final do primeiro semestre do ano. Mesmo assim, se encontra distante dos bons momentos verificados em outros tempos. A expectativa é de boa demanda em novembro e nova onda de alta é aguardada. O plantio da primeira safra, que se concentra no Sul e em parte do Sudeste, já ocorreu e agora com a safra no campo é possível verificar que houve forte queda na área do feijão Carioca e avanço no feijão Preto. As mudanças maiores se deram no Paraná, que terá uma safra maior de Preto neste ano em relação ao ano passado, quando os produtores do Centro-Sul do Estado migraram para o Carioca na expectativa de uma renda maior e se frustraram, com preço e qualidade. Estes mesmos produtores agora estão voltando ao que sabem fazer bem, que é produzir o feijão Preto. Sabendo disso pode-se esperar que, se tudo andar de

Os produtores esperavam plantar cedo a maior parte da safra gaúcha de arroz, o que não ocorreu devido às chuvas em excesso. As mesmas precipitações que são boas para garantir as lagoas cheias, também serviram para empurrar o plantio para novembro. Desta forma, para boa parte dos técnicos isso acaba limitando o potencial produtivo, porque normalmente as lavouras do cedo correm menos riscos com o clima e mostram maior potencial produtivo e melhor qualidade, além de serem colhidas antes. Neste ano haverá uma entressafra mais longa e valorização do produto disponível em fevereiro. A Conab segue vendendo estoques e terá pouco arroz para negociar em 2015, o que sinaliza novamente para um bom ano ao setor arrozeiro. Para apoiar esta tese é possível lembrar que o dólar está mais forte, o que dificulta importações e favorece exportações, além de ajudar a pressionar o arroz para cima. Esse conjunto de fatores dá sinais de que os produtores irão ganhar com o arroz.

ARROZ

Plantio atrasado alongará a entressafra

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro colheu uma boa safra, que passou de sete milhões de toneladas. Mesmo assim, o volume é muito abaixo do consumo, que sinaliza para algo próximo de 12 milhões de toneladas neste novo ano. Haverá importações que devem se aproximar de cinco milhões de toneladas e, com o dólar em alta, o trigo importado ficará mais caro, dando apoio ao produto nacional. Os melhores momentos para o cereal deverão começar a aparecer a partir de fevereiro. ALGODÃO - Os produtores têm negociado pouco e sendo apoiados pelo governo com pregões. Tudo indica que o quadro, aos poucos, irá melhorar. A exemplo de anos anteriores, os chineses começam o ano com indicativos de que vão importar um volume e no momento dos negócios acabam comprando quase o dobro. Isso acaba refletindo positivamente nas cotações. A alta do dólar também servirá de apelo positivo para o algodão a partir de novembro. CHINA - As importações foram recordes em 2014 e o governo já acena que continuarão crescendo em 2015, com expectativa de avanços nas compras para todos os produtos. No momento, os chineses compram praticamente de tudo: arroz, trigo, milho, algodão, soja,

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DDG (subproduto proteico do etanol do milho). A demanda interna de alimentos cresce em ritmo acelerado para dar suporte a uma economia que irá crescer 7,5% neste ano. Sem esquecer que o país necessita de volumes crescentes de alimentos para que possa manter a inflação controlada. RÚSSIA - Os russos estão chegando para grandes compras de carnes do Brasil, como já vem ocorrendo. Com isso, há avanço nas cotações internas, principalmente na carne suína, que neste ano bate recorde de valor. Boi e frango caminham na mesma direção, com todos necessitando de componentes de ração para dar suporte ao crescimento das vendas externas e também para o mercado interno. BIODIESEL - Começa a Era do B7, ou 7% de biodiesel no diesel, com uma demanda prevista para a faixa de 60 bilhões de litros ao ano. Somente de biodiesel haverá um consumo de 4,2 bilhões de litros. Esse cenário força as cotações do óleo de soja para cima, favorecendo os produtores, porque a maior parte das indústrias foi financiada pelo governo e se comprometeu a pagar um pouco mais pela matéria-prima dos agricultores familiares (que são maioria no Brasil). Dessa forma, há mais um ponto de apoio positivo aos negócios com a soja.

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Folhas castigadas

André Shimohiro

Lagartas, mosca-branca e ácaros estão entre os insetos que afetam a área foliar das plantas de soja e causam severos prejuízos à cultura. Manejar estas pragas exige critério, racionalidade, integração de medidas e emprego de inseticidas seletivos que preservem inimigos naturais

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om o surgimento das primeiras folhas de soja, as lagartas que atacam a parte aérea começam a ocorrer na lavoura, podendo persistir até a fase de enchimento dos grãos. As principais espécies de pragas desfolhadoras com potencial de danos na cultura na região Centro-Oeste são a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis; a lagarta-falsa-medideira, Chrysodeixis includens; a lagartadas-maçãs, Heliothis virescens; as lagartas de Helicoverpa armigera e as do gênero Spodoptera, tais como S. frugiperda, S. cosmioides e S. eridania.

Lagarta-da-soja

A lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis (Figura 1), pode apresentar até quatro gerações durante a safra, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto. As lagartas possuem potencial para apresentar de cinco a sete instares (fases) larvais, sendo seis o mais comum, e podem consumir até 150cm2 de área foliar durante este estágio. Nos estágios iniciais de desenvolvimento, as lagartas podem pendurar-se por um fio de seda para mudar de lugar nas plantas ou para não caírem sobre o solo. Ainda nos estágios iniciais, se deslocam

medindo palmo à semelhança das falsas-medideiras, por não apresentar as pseudopernas abdominais completamente formadas. Do quarto ao sexto instar, as lagartas apresentam grande potencial de injúrias na soja, podendo causar 100% de desfolha, caso não sejam controladas, e afetar significativamente a taxa fotossintética das plantas e o rendimento de grãos da cultura. Lagartas falsas-medideiras

As lagartas, conhecidas popularmente como falsas-medideiras e que atacam a cultura da soja, são


Fotos Embrapa

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Figura 1 - Adulto (A) e lagarta (B) de Anticarsia gemmatalis (lagarta-da-soja)

pertencentes à subfamília Plusiinae, compreendendo basicamente três espécies: Crhysodeixis includens, Trichoplusia ni e Rachiplusia nu. A espécie R. nu é encontrada com maior frequência na região Sul do Brasil (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), enquanto C. includens tem sido observada em todas as regiões tradicionais de cultivo da soja, bem como nas áreas atuais de expansão da cultura (Nordeste e Norte). Já T. ni tem sido eventualmente constatada em associação com C. includens, especialmente nas regiões onde se cultiva o algodoeiro. Estas lagartas são comumente denominadas de falsas-medideiras pelo hábito de se deslocarem dobrando o corpo como se estivessem medindo palmos, em decorrência de apresentarem apenas dois pares de falsas pernas na região abdominal e um na região caudal. Até a safra 2001/2002, a lagarta-falsa-medideira (Figura 2) era considerada de importância secundária na cultura da soja, quando raramente exigia medidas específicas de controle. Todavia, após essa safra, as grandes mudanças que ocorreram no sistema da soja, como a detecção da ferrugemasiática, contribuíram para alterar o status de C. includens de praga secundária para praga-chave nas diferentes regiões do Brasil. O uso de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática-da-soja, que também afeta negativamente os fungos benéficos como Nomuraea rileyi (doença-branca), associado ao emprego de inseticidas não seletivos na cultura, é considerado o principal fator que proporcionou

a mudança do status de praga de C. includens na cultura da soja. Tanto as lagartas pequenas quanto as grandes de C. includens são frequentemente observadas alimentando-se no terço médio e inferior das plantas de soja, situação que dificulta o seu controle através das pulverizações com inseticidas. Outras pragas desfolhadoras

Outras pragas, especialmente das ordens Lepidoptera e Coleoptera, podem eventualmente causar desfolha na cultura da soja, sendo sua ocorrência de importância regional. Como exemplo, podem ser citadas as espécies de lagartas pertencentes ao gênero Spodoptera, que atacam a cultura da soja, tanto no estádio vegetativo quanto reprodutivo, e causando redução de produtividade. Nesse gênero, S. cosmioides e S. eridania (Figura 3) são as duas espécies mais importantes, pela frequência e abundância com que ocorrem e pela capacidade de causar desfolha na cultura. Todavia, essas duas espécies apresentam grande número de inimigos naturais que usualmente mantêm suas populações naturalmente sob controle. Outra praga que pode causar

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desfolha na soja é a lagarta-dasmaçãs, Heliothis virescens (Figura 4) e Helicoverpa armigera (Figura 5). Essas lagartas podem se alimentar em todos os estádios de desenvolvimento da soja, consumindo folhas, vagens e brotos terminais da planta, bem como vagens e grãos em formação. Sua importância como praga tem sido maior nos sistemas de produção em que a cultura do algodão é cultivada em rotação ou em sucessão à cultura da soja. Além das lagartas, algumas espécies de coleópteros podem também causar desfolha na cultura da soja. Destacam-se Diabrotica speciosa, Cerotoma arcuata, Megascelis sp., Maecolaspis calcarifera e Diphaulaca viridipennis (Figura 5). Embora essas espécies possam reduzir a área foliar da soja através da sua alimentação, raramente atingem níveis populacionais que possam causar danos significativos à cultura. Mosca-branca

Os danos da mosca-branca na soja em fase vegetativa ou reprodutiva são causados tanto pelos adultos quanto pelas ninfas (formas jovens), quando se alimentam, através da sucção, da seiva das plantas, causando debilidade ou até mesmo a sua morte. Em condições de população muito elevada, especialmente as ninfas, excretam substâncias açucaradas (“honeydew”) em grande quantidade, proporcionando o desenvolvimento da fumagina (Capnodium sp.), um fungo de coloração negra que se desenvolve sobre as folhas, tornando-as escuras, o que prejudica a realização da fotossíntese. Esse escurecimento da superfície

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Figura 2 - Adulto (A) e lagarta (B) de Chrysodeixis includens (lagarta-falsa-medideira)


Soja - Novembro 2014 foliar causa o ressecamento, a queima e a queda das folhas de soja devido à radiação solar, podendo provocar a antecipação do ciclo da cultura. Todo esse processo acarreta redução de produtividade que, dependendo do nível populacional da mosca-branca e do estádio de ocorrência na cultura, pode chegar até a 100% de perdas, sendo os maiores danos observados na soja, quando o inseto ataca a cultura na fase de enchimento de grãos. Danos indiretos na soja podem também ser observados pela transmissão de vírus pelo inseto, cujo sintoma é a necrose da haste. Plantas infectadas com esse vírus apresentam a haste necrosada, tornando a planta debilitada ou causando a sua morte. Ácaros fitófagos

Nas últimas safras tem sido registrada a presença de ácaros em lavouras de soja de praticamente toda a região Centro-Sul do Brasil, sendo os ácaros-rajados, Tetranychus urticae, o verde, Mononychellus planki, e o branco, Polyphagotarsonemus latus, as três espécies mais frequentes e abundantes. Os ácaros possuem estiletes que perfuram as células da epiderme ou do parênquima foliar, liberando o conteúdo celular que é sugado através da bomba faringeana. Em função dessa in-

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Figura 3 - Lagartas de Spodoptera eridania (A) e Spodoptera cosmioides (B)

júria, os folíolos ficam com uma coloração esbranquiçada ou prateada, passando para amarelada e, posteriormente, marrom. Ataques intensos de ácaros na soja podem reduzir a taxa fotossintética da planta, causar quedas das folhas e, consequentemente, reduzir a produtividade da cultura. Trabalhos conduzidos na Fundacep, no Rio Grande do Sul, demonstraram que pode ocorrer o definhamento das plantas e quedas no rendimento de grãos em até 50%, em manchas amareladas nas lavouras de soja contendo alta incidência de ácaros. Manejo de pragas que atacam as folhas da soja

O sucesso do manejo integrado de pragas na soja tem como base as estratégias e táticas empregadas no

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Figura 4 - lagarta de Heliothis virescens (lagarta-das-maçãs)

controle de lagartas, especialmente nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura. Todas essas tecnologias empregadas na condução da lavoura devem sempre buscar o equilíbrio biológico no agroecossistema. Como princípio básico, é necessário ter consciência de que nem todos os organismos que causam desfolha na soja necessitam de controle, já que a cultura também tolera certos níveis de desfolha ou de pragas sem que haja redução significativa da produção. Manejo de pragas desfolhadoras

O controle de lagartas desfolhadoras, especialmente a lagarta-dasoja e a falsa-medideira, na cultura da soja, deve ser realizado quando forem encontradas, em média, 20 lagartas grandes (igual ou maior que 1,5cm) por metro de fileira ou quando a desfolha atingir 30% antes da floração ou 15%, tão logo apareçam as primeiras flores. Outra estratégia importante é ter em mente que, quanto mais tempo for possível retardar a primeira aplicação de inseticidas na cultura, maior será a probabilidade de sucesso do manejo de lagartas. Essa atitude proporciona condições para o estabelecimento dos primeiros inimigos naturais no agroecossistema, que se multiplicam sobre a primeira geração de lagartas estabelecidas na cultura. Em adição, o controle de lagartas não deve ser feito com inseticidas não seletivos, visto que, nestas condições, poderá ocorrer alta mortalidade dos inimigos naturais, prejudicando a ação do controle biológico natural no agroecossiste-

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Lúcia M. Vivan

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Figura 5 - Adulto de Helicoverpa armigera

são, em geral, os mais promissores para serem empregados no controle da lagarta-falsa-medideira. O uso de plantas resistentes, transgênicas ou não, para o manejo de uma determinada praga é considerado a base do manejo integrado. As plantas transgênicas que expressam proteínas Bt constituem uma tecnologia bastante promissora para ser empregada no controle de Embrapa

ma. Informações sobre os inseticidas recomendados para o manejo da lagarta-da-soja estão contidas nas recomendações de inseticidas da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Após ou durante o fechamento da soja, os inseticidas reguladores de crescimento constituem uma ótima opção para o controle de lagartas, pois são considerados produtos seletivos para os inimigos naturais e apresentam maior efeito residual que os produtos convencionais. O controle químico da falsamedideira tem sido relativamente difícil, por se tratar de uma espécie mais tolerante às doses de inseticidas normalmente recomendadas para a lagarta-da-soja. Além disso, parte dos princípios ativos atualmente recomendados para o seu controle tem-se mostrado ineficiente. Outro fator limitante para o controle efetivo da falsa-medideira está relacionado ao seu hábito. Como as lagartas ficam situadas, geralmente, no baixeiro e/ou no terço médio das plantas, os inseticidas aplicados sobre a cultura, normalmente, não atingem o ambiente onde o inseto está alojado. Os inseticidas pertencentes ao grupo dos carbamatos e as diamidas

Figura 6 - Adultos de Diphaulaca viridipennis

lagartas na cultura da soja. É de conhecimento público que a soja Intacta apresenta bom controle da lagarta-da-soja, falsa-medideira e lagarta-das-maçãs, mas tem-se mostrado pouco efetiva para as lagartas do complexo de Spodoptera. Essa tecnologia deve ser considerada como uma tática a mais a ser integrada com as diferentes estratégias do manejo de lagartas na soja, pois mesmo com a redução da aplicação de inseticidas químicos em consequência do uso da soja Bt, outros desfolhadores continuarão a ser ameaça na cultura. Por outro lado, a utilização exclusiva da soja Intacta nas áreas de cultivo poderá proporcionar o desenvolvimento de lagartas resistentes às proteínas Bt, podendo inviabilizar essa tecnologia em curto prazo, especialmente em razão de o material expressar apenas uma proteína (Cry1Ac). Para que não ocorra o desenvolvimento de resistência das lagartas à soja transgênica Bt e, consequentemente, prolongar a vida útil dessa tecnologia, é imprescindível a implementação de áreas de refúgios nas unidades de produção agrícola. Assim, recomenda-se a adoção de refúgios estruturados em pelo menos 20% da área cultivada com o transgênico Bt, utilizando-se nestas áreas materiais convencionais (não Bt) que apresentam fenologia, ciclo e manejo semelhante ao material transgênico. Nas áreas de refúgio, o


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Figura 7 - Adulto (A) e ninfa (B) de Bemisia sp. (mosca-branca)

controle de lagartas deverá ser realizado sempre que o inseto atingir o nível de controle.

neonicotinoides, constitui também outra tática auxiliar para reduzir ou retardar o estabelecimento da praga em uma determinada área.

Manejo da mosca-branca

O manejo efetivo da moscabranca na cultura da soja, em regiões onde essa praga é problema, somente é obtido através da integração de táticas de controle. O controle químico da mosca-branca na cultura da soja deve ser realizado empregando-se uma tecnologia de aplicação adequada dos inseticidas, pois especialmente as ninfas do inseto ficam normalmente alojadas na parte inferior das folhas dos terços médio e inferior da cultura, onde o inseticida deve ser colocado durante a pulverização. O sucesso de controle da moscabranca está em reduzir a população de suas formas jovens (ovos e ninfas), já que a aplicação de adulticidas na cultura constitui apenas uma ação paliativa e de efeito temporário. Em pouco tempo ressurgirá uma nova geração de adultos, exigindo reaplicação. Alguns inseticidas podem apresentar bom controle de formas jovens da mosca-branca (exemplo piriproxifem, espiromesifen e a mistura spirotetramat + imidacloprido), exigindo, quase sempre, aplicações sequenciais, enquanto outros têm boa ação somente sobre adultos (exemplo endosulfam). A adição de óleo na calda inseticida tem sido recomendada como alternativa para maximizar a eficácia de controle dos inseticidas. O tratamento de sementes, especialmente com inseticidas

Manejo de ácaros

A grande dificuldade para o manejo de ácaros na cultura da soja reside no fato de que não existe atualmente um método adequado para realizar a sua amostragem, bem como uma orientação segura sobre o momento para começar seu controle. Produtos de amplo espectro, como os piretroides, aplicados para o controle de lagartas nos estádios iniciais de desenvolvimento da soja, podem favorecer a incidência de ácaros na cultura, pois causam a morte de inimigos naturais, especialmente de ácaros predadores da família Phytoseiidae. Inseticidas organosfosforados como metamidofós, profenofós dimetoato, endosulfam e clorpirifós são sugeridos para o controle de ácaros Fotos Embrapa Soja

Fotos Embrapa

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na cultura da soja. Estudos conduzidos na Fundacep, em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, demonstraram que inseticidas acaricidas à base de abamectina possuem eficiência igual e efeito residual superior aos inseticidas convencionais utilizados pelos produtores. Em outro estudo conduzido na Fundação Chapadão, em Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul, foi constatado um bom controle dos ácaros com os inseticidas/ acaricidas à base de spiromesifen e flufenoxurom, além do abamectina. A adição de óleo mineral na calda inseticida tem proporcionado efeito aditivo de mortalidade dos ácaros na cultura da soja, bem como assegurado maior efeito residual dos produtos aplicados em pulveC rização.

Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste José Fernando Jurca Grigolli, Fundação MS

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Figura 8 - Adultos do ácaro rajado (A) e do ácaro vermelho (B) na soja

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Fotos Cecília Czepack

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Manejo de sugadores

Percevejos são pragas que exigem táticas de controle seletivas, adotadas no momento correto. A rotação de inseticidas é estratégia fundamental para que o combate a esses insetos ocorra de modo sustentável e seguro

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controle de percevejos sugadores na cultura de soja se inicia no estádio R3, ou seja, logo após a formação dos “canivetinhos”, que são os primórdios do desenvolvimento das vagens. Todavia, o manejo de percevejos na cultura deve começar com as estratégias empregadas para o controle de pragas iniciais e de lagartas desfolhadoras. Dessa forma, a utilização de táticas de controle seletivas, que preservem os inimigos naturais (predadores, parasitoides e patógenos) na fase vegetativa da cultura, contribuirá para o estabelecimento do equilíbrio biológico no agroecossistema, proporcionando reflexos positivos


Soja - Novembro 2014 no manejo de percevejos na fase reprodutiva. Nos estádios da soja que apresentam suscetibilidade ao ataque dos percevejos (após R3), o controle deve ser realizado com base nos níveis de ação determinados pela pesquisa, que é de dois percevejos por metro de fileira de plantas para lavouras de grãos e um percevejo por metro de fileira para lavouras destinadas a sementes. Para isso, os percevejos devem ser monitorados através de amostragens utilizando o pano de batida. Essa vistoria na lavoura deve ser executada, no mínimo, uma vez por semana, a partir do início do desenvolvimento de vagens (fase de “canivetinho”), até a maturação fisiológica (R7) em diferentes pontos da lavoura, intensificando as amostragens nas bordaduras, onde os insetos normalmente começam a colonização da soja. Nas amostragens, é importante identificar as formas jovens dos percevejos (ninfas) as quais, a partir do terceiro instar, devem ser registradas junto com os adultos. A simples observação visual das plantas de soja não expressa a real população de percevejos que pode estar ocorrendo na área. Em geral, cultivares precoces escapam dos danos dos percevejos. Porém, quando se multiplicam nessas cultivares, dispersam para as cultivares de ciclo médio e mais tardio, onde podem causar os maiores prejuízos. A época de semeadura influencia a dinâmica populacional dos percevejos, devendo-se evitar os plantios muito tardios, onde ocorrem as maiores concentrações desses insetos. A escassez de ingredientes ativos para o controle de percevejos e o uso abusivo de produtos nas lavouras têm proporcionado elevados surtos dessas pragas e selecionado populações resistentes aos inseticidas químicos. Para que esses problemas não sejam intensificados, recomenda-se que o mesmo inseticida não seja utilizado na mesma área repetidas vezes ou em doses maiores que as recomendadas. No período da colonização,

quando as populações de percevejos estão concentradas nas bordas da lavoura, o controle pode ser efetuado somente nessas áreas marginais, evitando-se a dispersão dos insetos para toda a lavoura. Vários inseticidas são recomendados pela Comissão de Entomologia da Reunião de Pesquisa de

Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB) para o controle dos percevejos (www.cnpso.embrapa. br). Além da eficiência, o critério da seletividade, ou seja, o efeito dos produtos sobre os inimigos naturais, deve ser considerado na sua escolha. Eventualmente, durante os meses de outubro e

O manejo de percevejos na cultura deve começar com as estratégias empregadas para o controle de pragas iniciais e de lagartas desfolhadoras

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Cecília Czepack

10 • Novembro 2014 - Soja

Caderno Técnico: Soja Foto de Capa: André Shimohiro Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 186 - Novembro/14 Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075 www.revistacultivar.com.br

novembro, podem ser constatadas altas populações de percevejos fitófagos na fase vegetativa da soja. Essas infestações não causam danos significativos à cultura, não havendo, portanto, necessidade de controle do percevejo. Em lavouras de soja muito adensadas, como as que existem atualmente, os inseticidas aplicados em pulverização podem não atingir os percevejos devido ao fenômeno conhecido como “efeito guarda-chuva”. Nestas condições, o uso do sal de cozinha (NaCl) na concentração de 0,5% na calda inseticida (500g para cada 100L de água) pode incrementar a mor-

talidade dos percevejos em pelo menos 25%, quando comparado a áreas aplicadas sem o sal. O sal apresenta um efeito arrestante sobre o percevejo, fazendo com que permaneça mais tempo sobre a superfície tratada, o que intensifica a sua contaminação. O sal não é volátil, portanto, não atrai os percevejos de áreas vizinhas como temiam alguns produtores no passado. Várias espécies de parasitoides são normalmente encontradas nas lavouras de soja atuando sobre as populações dos percevejos fitófagos. Dentre os parasitoides de ovos destacam-se as espécies

Trissolcus basalis, que ocorre no estado do Paraná, e Telenomus podisi, que apresenta predominância na região Centro-Oeste do Brasil. Já Hexacladia smithii é um parasitoide de adultos dos percevejos, sendo já constatado nos estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul. A sensibilidade desses insetos benéficos aos inseticidas é alta, sendo muitas vezes totalmente dizimados das lavouras, quando se aplicam produtos de amplo C espectro.

Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Silvestre Bellettini, Univ. Est. do Norte do Paraná




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