Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 187 • Dezembro 14 / Janeiro 15 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Prevenção eficaz.................................20
Andréia Quixabeira Machado
Por que realizar a aplicação de fungicidas antes do florescimento no controle químico da antracnose, quando há presença real ou potencial do fungo Colletotrichum truncatum
Efeito testado...........................08 Na entressafra...........................24 Nova e hostil.............................30 Como proceder o controle da mancha de ramulária em sistema adensado de cultivo do algodoeiro
Como conter a ferrugem polissora, a mancha de feosféria e o complexo de helmintosporioses em milho
Índice
Os desafios da mancha de mirotécio, detectada recentemente em cafeeiro no Brasil
Expediente
Diretas
04
Manejo de picão-preto em feijão
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Controle de mancha de ramulária em algodão adensado 08
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
Rithieli Barcelos
• Redação
Karine Gobbi Rocheli Wachholz
CIRCULAÇÃO
Nematoides no sul do Brasil
12
• Design Gráfico e Diagramação
• Coordenação
Inoculação e tratamento de sementes em soja
18
• Revisão
• Assinaturas
Nossa capa - Combate à antracnose em soja
20
MARKETING E PUBLICIDADE
• Expedição
Cristiano Ceia
Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso
Aline Partzsch de Almeida
• Coordenação
24
Saldo da Helicoverpa no Sul do Brasil
27
Mancha de mirotécio em cafeeiro no Brasil
30
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300
Mudas pré-brotadas em cana
32
Diretor Newton Peter
FMC inaugura Centro de Inovação para América Latina 34 Coluna ANPII
36
Coluna Agronegócios
37
Mercado Agrícola
38
Edson Krause
Charles Ricardo Echer
Manejo de doenças na entressafra do milho
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 204,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Rentabilidade
Produtores dos municípios de Canarana e Querência, no Mato Grosso, foram premiados pelo potencial produtivo do híbrido 30F53H no DuPont Colhendo Rentabilidade, uma parceria entre DuPont Pioneer, DuPont e Agro Amazônia. Para participar, o produtor adquiriu o híbrido 30F53 na Agro Amazônia e utilizou o fungicida Aproach Prima em pelo menos 15 hectares. Os três produtores que venceram o concurso foram Endrigo Dalcin com 156sc/ha, Mário José Possamai com 143sc/ha e Diego Fernando Pasqualotti com 142sc/ha.
Centro
A gerente de Comunicação da FMC Agricultural Solutions, Fernanda Teixeira, foi a responsável pela abertura oficial de inauguração do Latin America Innovation Center, em outubro, em Campinas, São Paulo. O espaço integra um polo com tecnologias cujo objetivo é maximizar o desenvolvimento de soluções e formulações químicas e biológicas.
Fernanda Teixeira
Inovação
O diretor de Marketing da FMC Agricultural Solutions, Marcio Farah, destacou que o Latin America Innovation Center, inaugurado em outubro, em Campinas, será um local para melhoria de produtos e um complexo de desenvolvimento de novas ideias e tecnologias. “Nosso objetivo é melhorar a produtividade do agricultor de forma Marcio Farah sustentável”, disse.
Endrigo Dalcin, Mário José Possamai e Diego Fernando Pasqualotti
Tecnologia
A Adama trouxe ao Brasil um novo conceito para ampliar a resistência ao estresse ambiental. Trata-se do ExpertGrow, a terceira geração de bioestimulantes, cuja meta é aumentar o potencial produtivo entre 5% e 15%. “A Adama investiu dois anos em pesquisas para desenvolver uma linha de fertilizantes para aplicação foliar com efeito bioestimulante, atendendo às necessidades das principais culturas do Brasil como soja, feijão, milho, algodão, citros e café”, afirmou o gerente de Produtos da Adama, Marcelo Marcelo Rolim Rolim.
04
José Geraldo Sousa
Marketing
Parceria
A Bayer CropScience estabeleceu uma parceria com o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), entidade que desenvolve ações para mobilizar a cadeia produtiva da soja. “O que motivou a Bayer foi a possibilidade de trabalhar próxima aos agricultores, desenvolvendo e multiplicando boas práticas agrícolas. Cada vez mais o trabalho com entidades como o Cesb, que envolvem profissionais e empresas de várias áreas, permite interações de grande valia que, certamente, contribuirão para o sucesso da sojicultura no Brasil”, ressaltou o diretor de Marketing Estratégico Soja da Bayer, Cássio Greghi.
Sorgo sacarino
O gerente de Desenvolvimento da Ceres, José Geraldo Sousa, participou em novembro do 7º Congresso Nacional da Bioenergia, organizado pela União dos Produtores de Bioenergia (Udop) e pela Sociedade dos Técnicos Sucroalcooleiros do Brasil (Stab). O executivo palestrou sobre “Sorgo sacarino e alta biomassa: evolução e perspectivas para a próxima safra frente ao cenário do setor sucroenergético”. Sousa também anunciou o lançamento de três variedades da marca Blade, sendo duas de sorgo de alta biomassa e uma de sorgo sacarino.
Cássio Greghi
André Moraes é o novo líder de Marketing da DuPont do Brasil Proteção de Cultivos. O executivo, que até o mês de setembro ocupou o cargo de gerente de Pesquisa e Desenvolvimento, estava à frente do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, no município de Paulínia, São Paulo. Moraes ingressou na DuPont em 1996. Desde então, ocupou diversas posições na área de Pesquisa e Desenvolvimento, no Brasil e no exterior. “Nossa estratégia intensificará o trabalho baseado na visão de longo prazo, buscando fortalecer o portfólio André Moraes futuro de tecnologias”, projetou.
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Soja
A Bayer CropScience desenvolveu o projeto De Primeira, sem Dúvida, que tem por objetivo levar informações para ajudar os sojicultores a produzir mais e melhor. Por meio de câmeras, o projeto vai gerar imagens em tempo real das seis principais regiões da cultura no Brasil, como Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Fitopatologistas farão o acompanhamento. “Os produtores rurais poderão acompanhar tudo, em tempo real e em qualquer lugar do mundo, o avanço da lavoura e as projeções de manejo de doenças sob a ótica técnica dos pesquisadores envolvidos”, explicou o gerente de Estratégia de Marketing de Everson Zin Fox, Everson Zin.
Loja virtual
A Piraí Sementes inaugurou a loja virtual Eco Seeds, a primeira exclusivamente destinada à comercialização de sementes para adubação verde do Brasil. O endereço eletrônico da loja é www.ecoseeds.com.br. Segundo o diretor da Join Agro, agência responsável pelo marketing Piraí, Luís de Sousa, a ideia da criação da loja virtual veio para facilitar o acesso às sementes. O principal motivo foi o aumento da demanda de pequenos produtores e da agricultura familiar. “Na loja os clientes encontrarão facilidades como a conveniência de comprar em casa, as diversas possibilidades de pagamento e a garantia da Sementes Piraí que, além de excelência e qualidade, preza pela seleção criteriosa dos produtos”, afirmou Sousa.
Luís de Sousa
Academia
Cássio Teixeira
A Bayer CropScience comemorou três anos de existência da Academia Bayer de Inovação, plataforma criada para promover intercâmbio de informações entre pesquisadores de instituições públicas e privadas. O programa realizou o desenvolvimento do fungicida Fox, indicado para o controle das principais doenças da soja. “Somos reconhecidos pela comunidade científica por sermos uma sólida plataforma de troca de conhecimento”, afirmou o gerente de Desenvolvimento Agronômico da Bayer CropScience para a América Latina, Milton Suzuki. A Academia conta com a parceria de profissionais de instituições, como Fundação Chapadão (MS), Fundação MT, Fundação ABC (SP), Esalq/USP (SP), Universidade Federal de Viçosa (MG), Unesp (SP), Universidade Milton Suzuki Passo Fundo (RS) e Embrapa.
A FMC Agricultural Solutions realizou a Vitrine Tecnológica Trigo para técnicos, agrônomos e produtores do Sul do Brasil. Além de palestras, os participantes contaram com visitas nas estações com campos demonstrativos. O encontro foi realizado em novembro, nos municípios de Castro e Ponta Grossa, no Paraná, em parceria com a Fundação ABC. “Durante o evento, para o cultivo do trigo, demonstramos a eficiência dos fungicidas foliares Locker para o controle do complexo de doenças na cultura como ferrugem, oídio e manchas e Rovral para manchas foliares com um controle muito superior”, destacou o gerente de Marketing Culturas Sul da FMC, Eduardo Menezes Eduardo Menezes.
O grupo francês Limagrain que começou a atuar no Brasil em 2011 nas culturas de milho e sorgo, agora investe no mercado brasileiro de trigo. A marca consolidou em dezembro a aquisição da DNA Melhoramento Vegetal, empresa com sede no Rio Grande do Sul, que possui um grande banco de germoplasma tropical. “Com essa aquisição seguimos nosso objetivo de manter a liderança mundial na cultura do trigo e trazer para o mercado brasileiro a qualidade que encontramos nas cultivares da Limagrain na Europa e América do Norte”, afirmou o CEO da Limagrain América do Sul, Antoine Colombo. Na safra 2015, a empresa lança comercialmente as duas primeiras variedades de trigo no mercado brasileiro, batizadas Antoine Colombo de Oro e Prisma.
Mudas sadias
Com o objetivo de realizar a originação de material genético de cana-de-açúcar, utilizando-se de gemas da planta de variedades definidas previamente, a Basf incrementa o modelo de negócio AgMusae e passa a agregar no sistema a utilização da biofábrica móvel. A empresa possui acordos de originação e licenciamento com os principais institutos e empresas de melhoria varietal do País, como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa). “A aceleração de acesso às novas variedades e o plantio simplificado permitem ao produtor explorar o potencial produtivo e usufruir por mais tempo da inovação, maximizando sua rentabilidade”, afirmou o gerente de Marketing da AgMusa, Cássio Teixeira.
Trigo
Trigo
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Feijão
Competição acirrada Andressa Camana
A cultura do feijão sofre com a interferência de plantas daninhas, que competem por recursos do ambiente, dificultam a colheita, limitam a produtividade e depreciam a qualidade do produto, além de servirem de hospedeiras para pragas e doenças. É o caso do picão-preto, que exige muita atenção e manejo adequado por parte dos produtores
O
Brasil está entre os maiores produtores de feijão, com produção media anual de 3,1 milhões de toneladas. Produto típico da alimentação brasileira é cultivado por pequenos e grandes produtores em vários locais do país. Sendo um dos mais importantes componentes da dieta alimentar do brasileiro, tem elevado teor proteico, carboidratos, vitaminas, minerais, fibras e compostos antioxidantes que contribuem na redução de doenças. A cada dez brasileiros, sete consomem feijão diariamente. Entretanto, a produtividade da cultura no Brasil é considerada baixa, podendo triplicar quando se emprega o uso adequado de tecnologias na lavoura. Uma das causas da baixa produtividade é justificada pela interferência imposta pelas plantas daninhas na lavoura. O feijoeiro apresenta ciclo que varia de 80 dias a 100 dias conforme a cultivar, forma dossel de 40cm a 50cm de altura e se desenvolve principalmente em regiões de clima ameno e livre de geada. Seu desenvolvimento apresenta período crítico de interferência por plantas daninhas até os 30 dias após a emergência, sendo que depois desse período as plantas daninhas já não interferem diretamente na produtividade, dispensando a aplicação de herbicidas. Por ser uma cultura de ciclo vegetativo
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curto, torna-se bastante sensível à competição, sobretudo nos estádios iniciais de desenvolvimento vegetativo. As plantas daninhas nesta fase de desenvolvimento competem por recursos do ambiente (água, luz, nutrientes), dificultam a colheita, depreciam qualidade do produto, além de servirem de hospedeiras para pragas e doenças. Espécies de plantas daninhas podem se desenvolver normalmente mesmo em condições desfavoráveis, como estresse hídrico, baixa fertilidade, acidez ou alcalinidade e solos compactados. Na fase de plântula, uma espécie não altera o desenvolvimento da outra. A interferência de uma planta sobre outra começa quando a demanda pelos fatores de desenvolvimento é maior que a quantidade disponível. As plantas daninhas causam problemas sérios para a agricultura, pois se desenvolvem em condições semelhantes às culturas desejadas, apresentam elevada adaptação e podem sobreviver e se perpetuar muito facilmente, reduzem a produtividade e aumentam os custos de produção. A competição depende de um grande número de fatores relacionados à cultura do feijão ou das plantas daninhas presentes na área. Como exemplo se pode citar: cultivar, espaçamento, densidade de plantas, adubação, espécie de planta daninha, densidade de ocor-
rência e período de interferência. Caso ocorra competição entre plantas daninhas e a cultura, as perdas podem ser de 23%-80%, dependendo dos fatores relacionados anteriormente. São citadas como infestantes na cultura do feijão 32 espécies, sendo algumas as mais importantes: carrapicho de carneiro (Acanthospermum hispidum), picão-preto (Bidens pilosa), papuã (Brachiaria plantaginea), capim carrapicho (Cenchrus echinatus), capim colchão (Digitaria sp.), picão-branco (Galinsoga parviflora). Uma das espécies de plantas daninhas que têm se destacado na cultura é o picãopreto (Bidens pilosa), planta herbácea, ereta, com porte variável de 20cm a 150cm. Possui desenvolvimento rápido, alta produção de sementes e em condições favoráveis pode se desenvolver o ano todo. Comumente infesta lavouras anuais em mais de 40 países, sendo que altas concentrações podem provocar redução de 30% na produtividade, além de ser planta hospedeira de fungos, nematoides e vírus. No entanto, o manejo do picão-preto deve ser feito de forma a obter o máximo de benefícios para a cultura e o ambiente. Devido ao clima favorável, é evidente a presença de plantas de picão-preto em lavouras de feijão no sudoeste do Paraná, e do restrito conhe-
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Lucas Domingues
cimento sobre a habilidade competitiva da cultura com a planta daninha em questão. Buscou-se verificar a hipótese de que o feijão apresenta habilidade competitiva superior, quando ocorre em proporção equivalente ao picão-preto. Para determinar as relações de competição entre plantas, comumente são utilizados ensaios que permitem a interpretação do processo competitivo das espécies, os efeitos da população e a diferença do número de plantas da cultura com as plantas daninhas. Estes ensaios incluem a cultura sozinha e em mistura com plantas daninhas, em que o número de plantas por área das duas espécies é variável. A quantidade total de plantas é constante em todos os tratamentos do experimento, indicando qual espécie é mais competitiva, sendo que, de modo geral, as culturas têm mostrado ser mais competitivas que as plantas daninhas. Quando se pensa em estudos de competição, o ideal é que ocorra a germinação da cultura e planta daninha ao mesmo tempo, isto é, no mesmo dia. Quando ocorre no mesmo dia é possível verificar a habilidade de competição das plantas por metro quadrado, em diferentes densidades de plantas daninhas e cultura. Desta forma, foram feitos estudos em casa de vegetação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Dois Vizinhos (UTFPR-DV), em diferentes proporções da cultura e planta daninha, ou seja, foram testadas populações de até 400 plantas/m² das duas espécies juntas. De acordo com a Figura 1, os dados de produtividade relativa (PR) e produtividade relativa total (PRT) foram analisados por meio de diagramas e em função da proporção das espécies. Na análise de PR, a produção esperada é definida pela linha reta que liga o ponto da produção de cada espécie em estande puro (100:0) ao ponto de estande zero (0:100). Quando a PR resultar em linha reta, significa que não há efeito de uma espécie sobre outra. Em situações em que a PR resulte em linha côncava, há indicativo de prejuízo de uma ou
A competição depende de um grande número de fatores relacionados ao feijão ou das daninhas presentes
de ambas as espécies, mas quando resultar em linha convexa existem benefícios para uma ou ambas as espécies. Para a PRT, se o valor for igual a 1 (linha reta), ocorre competição pelos mesmos recursos; se o valor for maior (linha convexa), a competição é evitada; e, se o valor for menor que 1 (linha côncava), há competição. Em outras palavras, linha cheia, acima da pontilhada, indica ser mais competitiva a cultura e/ou a planta daninha. Quando ocorrer da linha cheia apresentar-se abaixo da pontilhada, houve perdas para uma ou as duas espécies de plantas. Quando ficar a linha cheia sobre a pontilhada não houve competição entre as plantas. No processo competitivo e nas condições em que foi realizado o ensaio, verificou-se que houve competição entre a planta daninha e a cultura do feijão por recursos como água, nutrientes, luz, espaço, entre outros fatores do ambiente. Para a produção de matéria seca, altura de plantas e número de folhas, a cultura do feijão expressou maior competitividade sobre a planta daninha durante os 30 dias de convívio, que são críticos para a cultura (Figura 1).
Características próprias do feijoeiro, como maior altura e área foliar, podem ter contribuído para o melhor desempenho competitivo da cultura por luz e espaço, embora tenham emergido no mesmo dia, refletindo assim em maior produção de matéria seca. Atributos como altura, acúmulo de biomassa, arquitetura do dossel, número e tamanho de ramos cooperam para maior competitividade em cultivares em relação às plantas competidoras. As diferenças em termos de competitividade das espécies avaliadas podem ser explicadas pelo fato de apresentarem características morfofisiológicas diferentes. As plantas de picão-preto, quando submetidas a forte competição, têm suas características fisiológicas do crescimento e desenvolvimento, normalmente, alteradas, reduzindo altura de plantas, matéria seca e número de folhas das plantas. Outro fator que pode ter contribuído para este resultado é o lento desenvolvimento da planta daninha nos primeiros dias após a germinação. A cultura do feijão apresenta superioridade na competição com picão-preto interferindo no desenvolvimento da planta daninha, principalmente quando as duas espécies emergem no mesmo dia. Embora a cultura seja mais competitiva que picão-preto, o produtor rural deve estar atento à infestação da planta daninha nos 30 dias após a emergência DAE, pois são os dias mais importantes para a cultura, principalmente se já existirem plantas de picão-preto na área antes da emergência do feijão. É preciso lembrar que o controle integrado pode ser necessário, pois além de ser planta daninha agressiva e competitiva com as culturas por recursos do meio, o picão-preto pode servir de abrigo para pragas e doenças, com capacidade para provocar perdas significativas à cultura. C Andressa Camana, Pedro Valério Dutra de Moraes, Lucas da Silva Domingues, Jhessica Bortolotti e Maira Schuster, UTFPR-DV
Figura 1 - Diagrama da produção relativa média da massa seca aérea (A), altura (B) e número de folhas (C) de feijão e picão-preto em função da variação da proporção entre as duas espécies. UTFPR, Dois Vizinhos (PR), 2014
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Algodão
Efeito testado
O advento do cultivo adensado de algodão trouxe inúmeras vantagens, mas ao proporcionar microclima mais úmido e quente nas entre linhas, cria condição favorável ao fungo causador da mancha de ramulária, além de dificultar a penetração de fungicidas no interior do dossel das plantas. Mapear a ação desses produtos sobre a perda foliar e a incidência da doença é fundamental para orientar as decisões de manejo
A
cotonicultura é uma das principais atividades agrícolas no estado de Mato Grosso que atualmente é o maior produtor de algodão em caroço do país, com 57% da produção nacional na safra 2013/2014. As lavouras normalmente são semeadas em espaçamento convencional (0,90m entre linhas). No entanto, a partir da safra de 2008/2009 teve início um novo sistema de cultivo com espaçamento reduzido entre linhas de semeadura a 0,45m e estande chegando até 240 mil plantas/ha. Este sistema apresentou algumas vantagens, como a possibilidade da semeadura tardia após a colheita da soja safra, e ganhou espaço na
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cotonicultura. Com o adensamento da semeadura algumas alterações podem ser observadas na lavoura. Destacam-se a redução do ciclo de cultivo, que permite fugir do período crítico do ataque de pragas e doenças como a mancha de ramulária, fazer semeadura de segunda safra após a colheita da primeira, menor número de aplicações de defensivos agrícolas, menor investimento com adubação nitrogenada quando semeado após a colheita da soja devido ao residual deixado pela cultura. Outro ponto a ser considerado reside no fato de que neste sistema o fechamento dos espaços nas entre linhas normalmente
ocorre mais cedo, proporcionando algumas vantagens como melhor aproveitamento da radiação solar por conta do maior índice de área foliar, menor taxa de fotorrespiração e evapotranspiração, melhorando o aproveitamento da água disponível no solo, e menor ocorrência de plantas daninhas. No entanto, essa situação também proporciona um microclima mais úmido e quente nas entre linhas, coincidindo com as condições favoráveis à infecção e reprodução de fungos fitopatogênicos, como Ramularia aréola Atk, causador da mancha de ramulária, principal doença da cultura nas últimas safras, além de dificultar a penetração de fungicidas no interior do
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Figura 1 - Severidade de mancha de ramulária em cultivares de algodão em condição de aplicação e não aplicação de fungicida
Figura 2 - Altura da primeira folha da base das plantas de cultivares de algodão em condição de aplicação e não aplicação de fungicida
Figura 3 - Posição da primeira folha da base das plantas de cultivares de algodão em condição de aplicação e não aplicação de fungicida
Operação de adubação em experimento realizado em área da Universidade do Estado de Mato Grosso
dossel das plantas, podendo interferir em seu desempenho. Nessas condições ocorrem perdas foliares e apodrecimento de maçãs no baixeiro e no terço médio das plantas, podendo ser agravado em cultivares mais suscetíveis à doença, comprometendo a produção final. No entanto, pesquisas de campo e relatos de produtores de todas as regiões mostram que, se bem manejado, o algodão adensado proporciona produtividade e qualidade de fibra equivalente ou até mesmo superior ao cultivo convencional. Uma dificuldade enfrentada pelos cotonicultores no manejo da mancha de ramulária se refere às limitadas táticas de controle, uma vez que as cultivares disponíveis atualmente não apresentam resistência satisfatória à doença e até mesmo algumas moléculas de fungicidas já não proporcionam controle eficaz, chegando a acumular mais de dez aplicações em um único ciclo de cultivo em algumas regiões do estado, proporcionando aumento no custo de produção e na agressão ao ambiente. Visto isso, conduziu-se um experimento
com o objetivo de avaliar a severidade de mancha de ramulária e a perda foliarde algodão safrinha adensadosob condições de aplicação e não aplicaçãode fungicida em Tangará da Serra, Mato Grosso, na safra 2013/2014. O ensaio foi montado no campo experimental do curso de Agronomia da Universidade do Estado de Mato Grosso, sobre uma área que vem sendo utilizada com experimentos de cultivo de algodão há quatro anos. A região apresenta altitude de 443m, solo classificado como Latossolo Vermelho distrófico, com baixa fertilidade de fósforo e fração de argila em aproximadamente 40%, clima tropical úmido, com valores médios de temperatura do ar em 24,4ºC e precipitação anual de 1.500mm. O experimento foi montado com um esquema fatorial 4x2, onde foram testadas quatro cultivares (FMT 709, Fibermax 951 LL, FMT 705, IMA CD 05-8276) e duas condições (não aplicação e aplicação de fungicidas a cada sete dias). A semeadura foi realizada em 10/1/2014, caracterizando semeadura em época safrinha com espaçamento de 0,45m entre linhas e densidade
de oito plantas por metro linear. Aos 45 dias após a semeadura foram encontrados os primeiros sintomas da doença em campo, sendo comprovada no Laboratório de Fitopatologia da Universidade. A partir desta data passou a ser realizada a aplicação de fungicidas a cada sete dias na área destinada para controle da doença, realizando a rotação dos produtos azoxistrobina + difenoconazol, piraclostrobina, metiram + piraclostrobina, protioconazol + trifloxistrobina, difenoconazol e tebuconazol + trifloxistrobina. Aos 94 dias após a semeadura foram avaliados o número de folhas abortadas nos terços inferior (NFATI) e médio (NFATM), a altura da primeira folha da base na planta (APF), a posição do nó com a primeira folha (PPF) e a severidade da mancha de ramulária (SMR). O número de folhas abortadas no terço superior das plantas foi avaliado, no entanto, não foram constatados abortamentos em nenhum tratamento. Através da avaliação da severidade da mancha de ramulária expressa em porcentagem (%) de área foliar sintomática, observou-se que em todas as cultivares estu-
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Figura 4 - Número de folhas no terço inferior (NFATI) e médio (NFATM) das plantas de cultivares de algodão em condição de aplicação e não aplicação de fungicida
dadas houve maior severidade sob condições de não aplicação de fungicidas. As cultivares FMT 709 e IMA CD 05-8276 foram as que apresentaram as maiores severidades em condições de livre desenvolvimento da doença e também as maiores diferenças entre a severidade das parcelas aplicadas e não aplicadas. Já entre as cultivares sob rotação de fungicidas não foram constatadas diferenças de severidade (Figura 1). Para a altura e a posição da primeira folha da base das plantas a cultivar Fiber-
max951 LL apresentou as maiores médias sob a condição de ausência de aplicação de fungicidas, com a inserção da primeira folha aos 28,75cm do solo e no 7º nó a partir das cicatrizes cotiledonares. Também pode-se observar que, para a altura da primeira folha, todas as cultivares apresentaram menores médias quando em condição de aplicação de fungicidas e para a posição da primeira folha apenas para a cultivar IMA CD 05-8276 não foi observada diferença entre as parcelas aplicadas e sem aplicação
Processo de seleção de plantas para avaliação das variáveis de perda foliar
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(Figuras 2 e 3). Através da avaliação do número de folhas abortadas pode-se observar que no baixeiro das plantas todas as cultivares apresentaram maiores perdas de folhas sob condição de ausência de aplicação de fungicida. Nessas parcelas não aplicadas, maior perda foliar foi observada na cultivar Fibermax 951 LL, seguida pela FMT 709 e das FMT 705 e IMA CD 05-8276, que não diferiram entre si. Já em condições de rotação de fungicidas não foram observadas diferenças entre as cultivares (Figura 4). No terço médio das plantas novamente foram observadas maiores médias de abortamento de folhas para todas as cultivares sob condição de ausência de aplicação de fungicidas. Entre as cultivares observou-se que a Fibermax 951 LL apresentou maior perda de folhas que as demais que não diferiram entre si sob ausência de tratamento químico. Já nas parcelas submetidas à rotação de fungicidas, observou-se que as cultivares FMT 709 e Fibermax 951 LL apresentaram as maiores médias de abortamento de folhas, seguidas da FMT 705 e IMA CD 05-8276 (Figura 4). Não foram observadas relações proporcionais entre a severidade de mancha
Inspeção para verificar a severidade de mancha de ramulária em plantas de algodoeiro
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Processo de desbaste das plantas de algodoeiro
de ramulária e as características de abortamento foliar avaliadas. Possivelmente esse comportamento pode ser explicado pela diferença de níveis de suscetibilidade das cultivares estudadas, de forma que as folhas com maior área sintomática fossem abortadas, e as avaliações ocorressem nas folhas mais jovens e, consequentemente, menos atacadas pela doença, uma vez que
Flagrante de abortamento de folhas sintomáticas afetadas pela mancha de ramulária
a cultivar Fibermax 951 LL apresentou a menor severidade e as maiores médias de abortamento de folhas. Com base no exposto anteriormente, pode-se concluir que todas as cultivares testadas obtiveram maiores perdas foliares e severidade de mancha de ramulária em condições de ausência de aplicação de fungicidas. C
Leonardo Diogo Ehle Dias, Douglas Mateus Valgoi da Silva, João Paulo Ascari, Giovani Junior Bagatini, Jurandir Ambrósio, Mariana Batistti e Dejânia Vieira de Araújo, Unemat
Fotos Santos, 2014
Soja
Mapa dos nematoides
A cultura da soja é afetada por diversas espécies de fitonematoides, especializados em se alimentar do sistema radicular das plantas, com prejuízos ao seu desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. No Sul do Brasil esta realidade não é diferente, com ataques de Meloidogyne javanica, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e a detecção recente de Rotylenchulus reniformis no Rio Grande do Sul
A
cultura da soja tem sofrido freqüentes perdas, decorrentes do ataque de fitonematoides. Esses microrganismos são especializados em se
alimentar do sistema radicular, interferindo diretamente nos processos fisiológicos da planta, comprometendo o desenvolvimento vegetativo e consequentemente
o reprodutivo. As principais espécies associadas à diminuição da produtividade da cultura da soja são os nematoides formadores de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita), o nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis). Atualmente estas espécies encontramse amplamente distribuídas em vários estados brasileiros, principalmente em áreas com o cultivo da soja. Na região central do Brasil, a ocorrência e distribuição desses fitonematoides encontram-se bem mapeadas, através de levantamentos realizados por pesquisadores na Região. Embora seja tarefa difícil de mensuração, relatos apontam perdas provocadas pela espécie na ordem de 10% a 50%, podendo variar devido a fatores bióticos e abióticos. Os sintomas nas plantas infectadas por fitonematoides podem variar desde a formação de engrossamento no sistema radicular, tidos como galhas, diminuição no volume e crescimentoe em alguns casos a destruição. Esse complexo de injúrias compromete o funcionamento fisiológico da planta. Na lavoura, os sintomas ocorrem em manchas ou reboleiras, formadas por plantas amarelecidas seguidas de crescimento irregular. A erradicação ou eliminação dessas espécies, quando estabelecidas em áreas de cultivo, praticamente se torna inviável principalmente pela questão do custo. Deve-se optar por medidas combinadas que possibilitem a manutenção das populações próximas ou abaixo do limiar de dano econômico. Um dos grandes fatores que vêm contribuindo para o aumento dos problemas com fitonematoides, geralmente passa pelo não conhecimento por parte dos produtores ou pelo fato de os sintomas da ação dos nematoides no sistema radicular acabarem sendo creditados a qualquer outra injúria de ordem biótica ou abiótica,
Área com soja de mesma época de semeadura com e sem a presença do nematoide do cisto da soja
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Em áreas infestadas poderão ser observadas as fêmeas de H. glycines na superfície das raízes de soja em seu estádio de desenvolvimento com uma coloração esbranquiçada
comprometendo, assim, em curto espaço de tempo, sua produção. Pensando em obter informações sobre a ocorrência de fitonematoides associados à cultura da soja na região Sul do país o Instituto Phytus (localizado no Rio Grande do Sul), nos anos agrícolas de 2012/13 a 2013/14, realizou coletas em alguns municípios da região, com o objetivo deverificar a ocorrência das principais espécies causadoras de danos em soja. Os resultados obtidos evidenciaram a presença de quatro espécies capazes de causar danos na cultura da soja. O nematoide formador de galha (Meloidogyne javanica), o nematoide do cisto da soja Heterodera glycines, o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis). Sendo destaque as duas primeiras espécies, pois apareceram com mais frequência sobre ní-
veis elevados nas amostras de solo e raiz. Nos municípios amostrados o nematoide das lesões radiculares Pratylenchus brachyurus esteve presente em quase todos, no entanto, em níveis baixos e médios. Este nematoide está amplamente distribuído em regiões de climas tropicais e subtropicais. Isto se deve ao seu alto grau de polifagia (habilidade de parasitar e reproduzir-se em um elevado número de plantas, principalmente de importância econômica, sejam anuais ou perenes). Na região do Mato Grosso, a incidência desse nematoide em levantamento realizado por (Ribeiro et al, 2010) apontou presença em torno de 96,4%, causando redução de 30%50% em áreas infestadas. Em um dos municípios amostrados foi observadaa presença do nematoide Rotylenchulus reniformis, em valores acima sete mil (ovos + J2 + adultos) em 200cm³
de solo, em área com o cultivo de soja em sistema de plantio direto, com gramíneas no inverno. No entanto, este é o primeiro registro da ocorrência desse nematoide na região Sul do país. Cabe salientar a capacidade de adaptação a diferentes tipos de solos, e a habilidade de entrar em anidrobiose (mecanismo fisiológico que induz o nematoide a reduzir drasticamente o metabolismo, permanecendo em estado de quase ametabolismo), em condições ambientais desfavoráveis à sua sobrevivência. Embora R. reniformis seja frequentemente relatado causando perdas normalmente em áreas com longo histórico de cultivo de algodão (sua principal cultura), nesses últimos anos vários estudos vêm apontando frequentes danos devido ao parasitismo desse nematoide na cultura da soja. Embora ocorram na maioria das vezes em baixa e média densidade populacional no solo, este cenário requer alguns cuidados, pois esses microrganismos são especializados em alimentar-se diretamente das raízes, podendo rapidamente aumentar sua densidade populacional no solo em curto período de tempo, principalmente se o cultivo de variedades de soja suscetível for precedido também de outra cultura que permita a alimentação e reprodução desses nematoides. Com o passar do tempo o não cuidado com o sequenciamento (rotação/sucessão) ou a utilização do monocultivo de culturas hospedeiras aos nematoides certamente favorecerá o estabelecimento ou o agravamento dos problemas em determinadas áreas. Em alguns casos, o principal e primeiro aspecto percebido pelo produtor, e quase sempre não creditado à presença de nematoides, é um leve declínio na produtividade, ano a pós ano. O outro aspecto importante é quando ocorre em áreas de cultivo uma série de eventos como a di-
A observação direta no sistema radicular, após o período de 25 a 45 dias depois da semeadura, deverá ser bem mais cuidadosa, pois com o passar do tempo o nematoide completa seu ciclo de vida e sua tonalidade (cor) acaba ficando mais escura (marrom)
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Tabela - (Mapa com as regiões) Levantamento de espécies de fitonematoides presentes em áreas de cultivo da soja no Rio Grande do Sul Municipios/Cidades Ijuí São Luiz Gonzaga Santo Ângelo Ibirubá Giruá Cruz Alta Santa Bárbara Júlio de Castilhos Santo Augusto Tupanciretã Carazinho São Gabriel Santa Flora Porto Lucena São Vicente do sul Jaguari São Francisco de Assis Boa vista do cadeado Cachoeira do Sul Passo do Sobrado Candelária Paraíso do sul Nova esperança do Sul
Heterodera glycines
Pratylenchus brachyurus
Meloidogyne spp
Rotylenchulus reniformis
Densidade populacional entre 500 a 8000 (ovos e juvenis) por 200 cm3 de solo ou 5 gramas de raiz Densidade populacional entre 200 a 500 (ovos e juvenis) por 200 cm3 de solo ou 5gramas de raiz Densidade populacional entre 50 a 200 (ovos e juvenis) por 200 cm3 de solo ou 5gramas de raiz Ausência de fitonematoides na amostra
minuição no tamanho de plantas, seguido de amarelecimento na parte aérea, com murchamento e queda de folhas, normalmente disposto em manchas ou reboleiras (circulares). Estes sintomas são, em muitos casos, atribuídos à compactação do solo, deficiência nutricional, mancha de calcário, encharcamento ou até mesmo a outro complexo de patógenos (fungos, bactéria, vírus, entre outros). A falta de conhecimento dos produtores sobre a presença dos nematoides nas lavouras ajuda na sua disseminação, principalmente através de práticas rotineiras com implementos agrícolas e veículos. De certa forma esses maquinários movimentam o solo, com isso carreiam partículas contendo nematoides aderidos nas rodas e latarias, levando-os para outras áreas. Isto implica também na introdução de espécies oriundas de outras regiões do Brasil. Por exemplo, produtores que plantam ou alugam seus maquinários para semeadura ou colheita em outras regiões, correm o grande risco de introduzir essas espécies em suas próprias áreas.
os processos de absorção e translocação de água e nutrientes pela planta. O crescimento irregular, o amarelecimento nas folhas, murchamento em períodos quentes e secos do dia e quedas prematuras de
folhas se caracterizam como os princípios norteadores para diagnose, podendo variar de acordo com a espécie.
Os sintomas causados pelo nematoide do cisto da soja Heterodera glycines
Este nematoide foi detectado no Brasil na safra 1991/92 e atualmente esta presente em vários estados (Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Tocantins e Maranhão). No Brasil, já foram encontradas 11 raças do NCS (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). O nematoide do cisto da soja Heterodera glycines é responsável por perdas da ordem de 10% a 30%. No entanto, dependendo do tipo de solo e da densidade populacional, podem atingir até 70%. No Rio Grande do Sul, as raças 3, 5 e 6 já foram relatadas em três municípios da região por Dias et al (2009). Entretanto, novos estudos sobre a ocorrência de outras raças de H. glycines devem ser realizados, pois, devido ao não cuidado ou ao conhecimento por parte dos produtores sobre o potencial de disseminação por parte do trânsito de veículos e implementos agrícolas, de uma região para outra, há uma grande possibilidade de introdução de novas raças desse nematoide na região.
Sintomas (Reflexos)
Normalmente as plantas sob o ataque do nematoide do cisto da soja H. glycines apresentam o porte reduzido, seguido de
Diagnose
Para a diagnose os sintomas clássicos expressos na parte área geralmente são resultado do severo ataque no sistema radicular, que normalmente comprometem
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O produtor ou responsável técnico, ao observar esses sintomas em sua lavoura deve coletar amostras e enviar a um laboratório, para obter quantificação de cistos por 100cm³ de solo e a de ovos e formas juvenis de H. glycines
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amarelecimento na parte aérea. Em casos de alta densidade populacional no solo, estes sintomas podem ser mais severos. Após a observação desses sintomas de parte aérea, o produtor deve arrancar de 3-7 plantas dentro dessas manchas (reboleiras) e observar o sistema radicular, de preferência com a cultura entre 25-45 dias após a semeadura. Em áreas infestadas poderão ser observadas as fêmeas de H. glycines na superfície das raízes de soja em seu estádio de desenvolvimento com uma coloração esbranquiçada. A observação direta no sistema radicular, após o período de 25-45 dias depois da semeadura, deverá ser bem mais cuidadosa, pois com o passar do tempo o nematoide completa seu ciclo de vida e sua tonalidade (cor) acaba ficando mais escura (marrom). Nessa fase ou período o produtor praticamente não conseguirá observar esses sintomas no sistema radicular, pois o cisto se desprende da raiz no momento do arranque das plantas. Cada cisto pode armazenar cerca de 100 a 300 ovos garantindo a sobrevivência do nematoide por aproximadamente oito anos no solo sem a cultura hospedeira, seguido de períodos adversos do ano como altas e baixas temperaturas, incluindo a dessecação. A eliminação de H. glycines em áreas infestadas é muito difícil. O produtor ou responsável técnico, ao observar esses sintomas em sua lavoura (parte aérea e raiz), deve coletar amostras e enviar a um laboratório de nematologia o mais rápido possível, para obter quantificação de cistos por 100cm³ de solo e a de ovos e formas juvenis de H. glycines.
Os sintomas
Várias são as espécies do gênero Meloidogyne capazes de causar danos a culturas da soja. As mais frequentes são Meloidogyne javanica, M. incognita e M. arenaria. A espécie Meloidogyne javanica possui ampla gama de plantas hospedeiras, sendo a maioria de importância econômica, como soja, milho, feijão, batata, cenoura, tomate, cana-deaçúcar, fumo, entre outras. Os danos decorrentes do parasitismo desses nematoides dependem do nível populacional presente na área, associados à suscetibilidade da cultura e condições climáticas favoráveis. As perdas normalmente estão entre 10%30% da produção e dependendo da cultura podem chegar a 90%.
vigor e produtividade. Alguns sintomas que a planta expressa sob o ataque desse microrganismo tendem a ser identificados pelo produtor, que normalmente pode observar um leve subdesenvolvimento (tamanho desigual de plantas), seguido de amarelecimento da parte aérea, facilmente confundidos com deficiência nutricional. As folhas podem apresentar manchas cloróticas e necrose entre as nervuras, conhecidos como folha “carijó” e em alguns casos ocorre desfolha (queda das folhas), e em períodos mais quentes do dia, murchamento na parte aérea.
Sintomas (Diretos)
Os sintomas no sistema radicular são conhecidos como galhas, quase sempre presentes nas raízes infectadas por Meloidogyne spp, dando aspecto tumoral, com engrossamentos anormais, bem visíveis. Se realizar o corte na região das galhas, transversalmente, podem ser observadas fêmeas do nematoide, de coloração branca. Cada fêmea produz em torno de 200 ovos – 400 ovos por ciclo completo na cultura. Parte dos ovos é depositada em uma massa mucilagionosa que garante a sobrevivência por aproximadamente seis meses a um ano no solo. É importante frisar que em algumas plantas como milho, arroz, cana-deaçúcar, trigo entre outras, esses sintomas podem ser ausentes ou bem reduzidos, de difícil visualização. De maneira geral, o parasitismo de Meloidogyne pode causar a espoliação de nutrientes durante sua alimentação, a redução na eficiência da absorção de água e nutrientes pela planta, alteração no crescimento das raízes e até mesmo a destruição dos tecidos. A observação desses sintomas não deve ser tomada como medida única de identificação, pois servem apenas como indício da problemática e direcionamento para o gênero Meloidogyne, sendo necessário o
envio das raízes para um laboratório de nematologia o mais breve possível, para confirmação. A identificação da ocorrência em nível de campo deve sempre ser acompanhada de análise em laboratório.
Medidas gerais para o manejo de nematoides
O sucesso do manejo de fitonematoides passa primeiramente pela identificação e quantificação das espécies presentes na área. O manejo e controle de fitonematoides não são tarefas fáceis, pois dependendo do nível de infestação e a espécie presente na área, cada cenário ou situação exigirá adoção de uma medida diferente. Cabe ressaltar que a dificuldade aumenta principalmente em áreas com mais de uma espécie. Nesses casos os esforços são ainda maiores. De maneira geral, a rotação ou sucessão com plantas não hospedeiras, ou a utilização de hospedeiras desfavoráveis com baixo FR (fator de reprodução do nematoide), associada a temperaturas inferiores a 12°C, pode reduzir a densidade populacional do nematoide no solo, pois impede o contado patogênico com as raízes. A utilização de cultivares resistentes, plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos e biológicos, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas com grande potencial de utilização no manejo. Quando somados, podem apresentar resultados ainda mais C satisfatórios. Paulo Santos e Gracieli Rebelato, Instituto Phytus Diego Dalla Favera, Renan Dal Sotto e Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria Marcelo Gripa Madalosso, Inst. Phytus/Univ. Reg. Integr. - Santiago
Sintomas (Reflexos)
O sintoma do ataque deste nematoide normalmente ocorre em reboleiras que, muitas vezes, passam despercebidas, pois as culturas lentamente diminuem em
As folhas podem apresentar manchas cloróticas e necrose entre as nervuras, conhecidos como folha “carijó”; em alguns casos ocorre desfolha (queda das folhas) e em períodos mais quentes do dia, murchamento na parte aérea
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Fotos Cultivar
Soja
Compatibilidade possível Tratamento de sementes e inoculação são duas ferramentas importantes para que se alcance bons resultados na cultura da soja. Tornar ambos compatíveis, com baixa toxicidade aos rizóbios e sem afetar a eficácia da fixação biológica de nitrogênio, é um grande desafio
A
soja é a cultura anual, produtora de grãos, de maior relevância no agronegócio brasileiro. A maximização de rendimento requer considerável quantidade de nitrogênio, que se destaca como um dos componentes mais críticos do processo de produção desta cultura. A cada 1.000kg/ha de grãos produzidos, a soja demanda 80kg/ha de nitrogênio. Esta quantidade de nitrogênio pode ser suprida através de diferentes fontes. A principal e mais econômica é a fixação biológica de nitrogênio da atmosfera, que ocorre através de processo simbiótico que se estabelece entre a planta de soja e a bactéria do gênero Bradyrhizobium. Este fascinante processo simbiótico já provou ser capaz de oferecer nitrogênio à cultura de soja em suficiência para assegurar rendimento de grãos da ordem de 8.000kg/ha. De outra forma, a simbiose que se estabelece entre a planta de soja e o Bradyrhizobium pode fixar 640kg/ha de nitrogênio, o que equivale a 1.420kg/ha de ureia. Para suprir a demanda de nitrogênio da cultura de soja, na condição de solo deficiente em nitrogênio e sem comprometer o custo de produção, faz-se necessária a inoculação das sementes ou do solo com bactérias fixadoras de nitrogênio, ou seja, com estirpes específicas
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de Bradyrhizobium. O sucesso desta tecnologia depende da eficácia da simbiose estabelecida entre a planta de soja e a bactéria, que resulta, dentre outros fatores, de inoculantes de elevada qualidade e precisão e de eficiência no processo de inoculação. A pesquisa e a indústria, objetivando elevar o desempenho da cultura da soja mediante a eficácia da fixação biológica de nitrogênio, têm gerado e colocado no mercado tecnologias de produto que partem do melhoramento genético das plantas até a seleção de estirpes eficientes e competitivas, bem como tecnologias de processo pertinentes aos procedimentos de inoculação. A ação conjugada destas tecnologias tem mostrado aumentos consideráveis no rendimento de grãos de soja, dispensando, completamente, o uso de adubos nitrogenados oriundos de qualquer outra fonte. A partir da escolha da variedade de soja a ser cultivada, um complexo de medidas sistêmicas e sincronizadas é requerido para que a cultura expresse todo o seu potencial genético. Entre estas medidas, a escolha do inoculante assume relevância, conjuntamente ao cuidado com a qualidade da semente, o manejo de solo, os tratos culturais, o manejo integrado de pragas etc. Vários são os fatores que promovem
estresse às células bacterianas inoculadas nas sementes ou no solo. Condições como o excesso de umidade e de acidez do solo, déficit hídrico, deficiência de nutrientes, teores elevados de nitrogênio no solo, estresse decorrente de fatores bióticos como, por exemplo, doenças incitadas por fungos, bactérias, vírus etc, inibem o processo de formação de nódulos e, consequentemente, a fixação biológica de nitrogênio. Dentre as propriedades desejadas no inoculante, destaca-se a qualidade do suporte ou do substrato empregado para veicular as células de rizóbios, que influencia diretamente na qualidade técnica do inoculante. Esta propriedade é fundamental, pois é a responsável pela manutenção da concentração de células viáveis de rizóbio no inoculante ao longo do período de armazenamento e, inclusive, após a sua aplicação nas sementes ou no solo. Em adição, é imprescindível que o inoculante seja de fácil manipulação e aplicação às sementes ou ao solo, apresente preço acessível e detenha os padrões técnicos requeridos pela legislação vigente no país. Outra propriedade requerida nos inoculantes é que o suporte ou o substrato empregado proporcione proteção às células bacterianas quando colocadas em contato com produtos fitossanitário ou com outros
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produtos que possam afetar a sobrevivência dos rizóbios, por ocasião do tratamento de sementes. Modernos conceitos de manejo e controle de pragas têm sido empregados no sentido de minimizar os efeitos deletérios dos produtos fitossanitários ao ambiente e principalmente ao homem. O tratamento de sementes com produtos fitossanitários como fungicidas, inseticidas e nematicidas, tanto de natureza química como biológica, constitui método eficiente para o controle de certas pragas. Contudo, a influência destes agroquímicos na sobrevivência dos rizóbios, quando se processa concomitantemente o tratamento fitossanitário das sementes e a inoculação destas, é muito variada. Especial atenção deve ser dada ao chamado “pré-tratamento de sementes” ou “tratamento industrial de sementes”, atualmente em uso, que envolve a inoculação de sementes associada ao tratamento fitossanitário das sementes com fungicidas, inseticidas, nematicidas, micronutrientes e protetores celulares, pois pode representar risco de morte dos rizóbios, inibindo ou reduzindo a nodulação e, em decorrência, tornando ineficaz a fixação biológica de nitrogênio. Há comprovações técnico-científicas de que o uso, isolado ou combinado, de alguns fungicidas, inseticidas e nematicidas no tratamento de sementes, associado à inoculação, proporciona a morte de até 100% das células bacterianas, em apenas duas a três horas após a aplicação. Entretanto, outros produtos fitossanitários apresentam baixa toxicidade aos rizóbios, não afetando a eficácia da fixação biológica de nitrogênio. Pesquisa recente demonstrou que os princípios ativos fludioxonil 25g/L + metalaxil-M 10g/L e carboxamida 980g/kg, de ação fungicida, abamectina 500g/L, de ação inseticida e nematicida, e thiamethoxam 350g/L, de ação
A soja é bastante exigente em nitrogênio, componente crítico no processo de produção
Diversas medidas são necessárias para que a cultura expresse o seu máximo potencial produtivo
inseticida, três horas após os tratamentos das sementes, associando-os à inoculação, não afetaram a sobrevivência dos rizóbios. Contudo, aos 15 dias após estes tratamentos de semente, todos estes princípios ativos, mais o carbendazim 150g/L + thiram 350g/L, de ação fungicida, e o fipronil 250g/L, de ação inseticida, reduziram a concentração de células viáveis de rizóbios abaixo do padrão mínimo requerido pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). Aos 35 dias após os tratamentos, os princípios ativos carboxamida 980g/kg, carbendazim 150g/L + thiram 350g/L e fludioxonil 25g/L + metalaxil-M 10g/L, de ação fungicida, e abamectina 500g/L, de ação inseticida e nematicida, eliminaram completamente as células viáveis de rizóbios sobre as sementes. O cobalto (Co) e o molibdênio (Mo) são micronutrientes indispensáveis para a eficácia da fixação biológica de nitrogênio. Estes micronutrientes podem afetar expressivamente
a formação de nódulos de Bradyrhizobium no sistema radicular da planta de soja. Concluindo, ressalta-se que grande parte da população de rizóbio sobrevivente de uma safra para outra no solo perde a capacidade de estabelecer simbiose com as plantas de soja e, em decorrência, de fixar eficientemente o nitrogênio atmosférico, fato que compromete o rendimento da cultura. As estirpes utilizadas nos inoculantes competem com aquelas “naturalizadas” no solo, pois, por estarem junto às sementes, no momento da emissão das primeiras raízes, multiplicam-se devido aos estímulos produzidos pelas raízes, elevando a produção de substâncias responsáveis pela efetivação da simbiose. Assim, a reinoculação com inoculante de qualidade se faz necessária, a cada safra, garantido eficiente nodulação e fixação biológica de nitrogênio. C Norimar D´Avila Denardin, FAMV/UPF
Fotos Andréia Quixabeira Machado
Nossa capa
Prevenção eficiente A antracnose é responsável por prejuízos graves à cultura da soja. Seu manejo exige esforço e racionalidade dos produtores. Aplicações preventivas, antes do florescimento, têm se tornado essenciais no controle químico. Mas para isso é preciso considerar a presença real ou potencial do inóculo de Colletotrichum truncatum na lavoura
E
ntre os diversos microrganismos fitopatogênicos (fungos, vírus, bactérias e nematoides) associados à cultura da soja provocando algum tipo de dano, o fungo Colletotrichum dematium (Pers. Ex Fr.) Grove var. truncata (Schw) Arx (sin. C. truncatum (Schw.) Andrus & Moore, causador da antracnose, é um dos mais importantes. Afeta todas as fases de desenvolvimento, desde o estabelecimento da lavoura até o enchimento de grãos, constituindo-se em importante problema no cerrado do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. A maior intensidade da antracnose no cerrado tem sido atribuída à elevada precipitação e às altas temperaturas que ocorrem nas lavouras na época de safra. Porém, outros aspectos como excesso de população de plantas, cultivo contínuo da soja, uso de sementes infectadas, infestação e danos por lagartas e percevejo, além de deficiências nutricionais, principalmente de potássio, são também responsáveis pela maior incidência da doença. A partir da safra 2011/2012 tem sido observado aumento na ocorrência de
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C. truncatum em sementes de soja, que contribuem substancialmente para um aumento da pressão da doença nas fases iniciais das lavouras. Em tais situações os produtores são obrigados a aplicar medidas antecipadas de controle nas fases vegetativas, evitando perdas irreversíveis durante a fase reprodutiva da cultura.
Epidemiologia e quadro sintomatológico
O fungo C. truncatum possui uma fase saprofítica, sobrevivendo na matéria orgânica do solo e em restos culturais. Acredita-se que C. truncatum possa sobreviver em outras plantas hospedeiras além da soja. Porém, a forma mais eficiente de introdução e disseminação da doença ocorre através de sementes infectadas. O patógeno é transportado principalmente nos tecidos internos das sementes de soja e, tratando-se de patógeno infectivo na parte aérea da planta, é facilmente levado, durante o processo de germinação, até as primeiras folhas cotiledonares e trifoliadas no terço inferior da planta. O progresso da doença pode ser rápido se o ambiente for
favorável à epidemia. Sob condições de alta precipitação, temperaturas elevadas, plantio adensado, oferta inadequada de nutrientes e cultivo contínuo da soja, o patógeno presente nas sementes ou em restos de cultura pode infectar a soja desde a fase de estabelecimento da lavoura. A dinâmica da infecção por Colletotrichum truncatum em soja apresenta um padrão de desenvolvimento quase exclusivo. As plantas infectadas pelo inóculo presente nas sementes podem não apresentar sintomas visíveis, e o patógeno percorrer longitudinalmente o caule atingindo as vagens. Nesse caso, caracteriza-se a natureza sistêmica e assintomática da doença. Com a queda dos cotilédones, o fungo alojado nestes tecidos sobrevive de forma saprofítica no solo até que as condições de microclima no terço inferior da planta sejam favoráveis. Assim, elevada umidade e lavouras adensadas permitem a manifestação de C. truncatum nas folhas mais velhas, levado por meio do vento ou respingos de chuva. A partir da infecção nas folhas o patógeno atinge pecíolos e vagens,
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Acérvulos (frutificações) de Colletotrichum truncatum em tecido infectado
garantindo a sua transmissão para novas gerações. A presença de C. truncatum em vagens de soja não indica necessariamente sua presença nas sementes. A sequência destes eventos dentro do processo patogênico da antracnose da soja não é obrigatória, uma vez que o patógeno proveniente de inóculo do solo ou carregado através de vento e chuva pode infectar diretamente vagens ou pecíolos sem ser identificado previamente em folhas ou cotilédones. Desse modo, lavouras isentas de antracnose na fase vegetativa não estão livres de infecção na fase reprodutiva. Este fato torna-se importante ao se avaliar as táticas a serem adotadas no manejo desta doença, Os cotilédones de sementes infectadas apresentam manchas deprimidas de coloração castanho-escuras. Esta necrose pode se estender para o hipocótilo, causando tombamento ou o estabelecimento de plantas pouco vigorosas. Após o fechamento da lavoura, os sintomas nas folhas inferiores da planta caracterizam-se pela necrose avermelhada e descontínua da epiderme das nervuras. Este sintoma, de ocorrência bastante irregular, pode ser confundido pela ocorrência de fitotoxidez provocada por herbicidas sistêmicos. Outro sintoma característico e extremamente comum da doença é a necrose e o estrangulamento dos pecíolos observados principalmente na parte sombreada da lavoura. Este sintoma pode ocorrer em pecíolos de folhas assintomáticas. Em condições de elevada umidade observa-se desfolha precoce dos terços inferior e médio durante a fase reprodutiva da cultura. O estrangulamento dos pecíolos sem a necrose progressiva correspondente (pecíolo clorótico) é sintoma que pode estar
relacionado à deficiência nutricional. As vagens infectadas no estádio inicial de formação adquirem coloração castanhoescura a negra, ficam retorcidas e não apresentam formação de grãos. Neste estádio pode ocorrer necrose do pedúnculo e queda de vagens ainda em formação. Durante o processo de enchimento de grãos, as lesões iniciam-se por estrias de anasarca e evoluem para manchas negras e deprimidas. Sob elevada precipitação ocorre a abertura das vagens, com consequente germinação e apodrecimento prematuros dos grãos. Em variedades mais suscetíveis, a queda acentuada do número de vagens pode levar ao sintoma de retenção foliar e haste verde. Em condições de elevada umidade e nebulosidade, estruturas reprodutivas de C. truncatum podem ser observadas sobre tecidos infectados no campo ou incubadas por 48 horas em ambiente controlado.
Gráfico 1 - Severidade da antracnose (% de tecido infectado por Colletotrichum truncatum) em soja Pioneer XB90C13 submetida a tratamento químico. Campo Verde (MT), 2013/2014
Gráfico 2 - Área abaixo da curva de progresso da antracnose (Colletotrichum truncatum) em soja Pioneer XB90C13 submetida a tratamento químico. Campo Verde, MT, 2013/2014
Gráfico 3. Área abaixo da curva de progresso da antracnose (Colletotrichum truncatum) relativa à testemunha (%) e produtividade (sacas/ha) em soja Pioneer XB90C13 submetida a tratamento químico. Campo Verde (MT), 2013/2014
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Tabela 1 - Relação dos tratamentos avaliados no controle da antracnose (Colletotrichum truncatum) em soja Pioneer XB90C13. Campo Verde (MT), 2013/2014 Nº 1 2 3 4 5 6 7 8
Tratamentos Testemunha Azoxystrobin + ciproconazole* Azoxystrobin + tebuconazole* Picoxystrobin + ciproconazole* Picoxystrobin + tebuconazole* Azoxystrobin + tebuconazole* Trifloxystrobin + prothioconazole** Trifloxystrobin + ciproconazole** Azoxystrobin + tebuconazole* Picoxystrobin + tebuconazole* Piraclostrobin Piraclostrobin + epoxiconazole***
Dose (mL pc/ha) 300 500 300 500 500 400 150 500 500 300 500
Estádio R1, R3, R5.1, R5.3 R1, R3, R5.1, R5.3 R1, R3, R5.1, R5.3 R1, R3 R5.1, R5.3 R1, R3 R5.1, R5.3 V6/V8, R5.1, R5.3 R1, R3 V6/V8 R1, R3, R5.1, R5.3
*Nimbus 0,5% v/v; **Aureo 0,25% v/v; ***Assist 0,25%V/V
Controle
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Fotos Andréia Quixabeira Machado
A redução dos danos provocados pela antracnose em soja no cerrado será tanto maior quanto maior for o número de táticas de controle a serem adotadas dentro do programa de manejo integrado desta doença. O cultivo da soja no sistema de plantio direto e em sucessão ou rotação com algodão e milho é amplamente vantajoso do ponto de vista fitossanitário, permitindo a redução do inóculo de vários patógenos fúngicos com fase saprofítica no solo e agressivos à cultura. Na instalação da lavoura, o uso de sementes sadias e/ou tratadas com mistura de fungicidas sistêmicos e de contato registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é medida essencial no controle da antracnose nas fases iniciais de desenvolvimento das plantas. Sementes com elevado potencial de inóculo de C. truncatum devem ser evitadas mesmo sob tratamento químico, já que os produtos registrados têm sua eficiência de controle reduzida na presença de altos índices de ocorrência do patógeno. A maneira mais barata e eficiente, portanto, preferencial no controle de patógenos fúngicos explosivos da parte aérea, é o uso de variedades com elevado grau de resistência genética. A literatura não apresenta variedades geneticamente resistentes à antracnose para as condições do cerrado, onde níveis intermediários entre suscetibilidade e resistência têm sido frequentemente observados, devendo, portanto, ser uma tecnologia integrada a outras técnicas de controle disponíveis. As pesquisas com a utilização de nutrientes, que vêm sendo realizadas em várias instituições de ensino e pesquisa do Brasil, têm apontado para resultados promissores quanto ao sucesso da aplicação de adubação foliar integrada ao uso
de fungicidas no controle da antracnose. Esta medida tem por objetivo o aumento da eficiência e a redução dos custos do controle químico da doença. O controle químico da antracnose em soja tem sido avaliado nas condições do cerrado. Resultados satisfatórios têm sido conseguidos com fungicidas sistêmicos (benzimidazóis, triazóis, triazolinthionas
e estrobilurinas) e fungicidas protetores (ditiocarbamatos) aplicados em diferentes misturas. O uso de princípios ativos isolados é prática não recomendada por possibilitar a seleção de populações menos sensíveis. Assim, a mistura comercial de ingredientes ativos proporciona a potencialização do modo de ação de cada ingrediente ativo e a redução do risco de seleção de populações resistentes. Um número elevado de trabalhos de pesquisa voltados ao controle químico de doenças em soja busca avaliar a eficiência de novas misturas, concentrações, épocas e programas de aplicação de ingredientes ativos já utilizados há algum tempo. Tendo em mente sempre a redução do inóculo inicial proveniente de sementes contaminadas ou infectadas, da matéria em decomposição no solo e de restos de cultura, as aplicações preventivas, consideradas aqui como aquelas realizadas antes do florescimento da cultura, têm se tornado essenciais no manejo químico das doenças fúngicas em soja, especialmente da antracnose. Esta prática deve considerar a presença real ou potencial na lavoura de
Vagens infectadas por Colletotrichum truncatum
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Lesões deprimidas nos cotilédones (esquerda) e lesões avermelhadas nas nervuras de folhas velhas (direita)
inóculo de C. truncatum.
Relato de experimento
Com o objetivo de avaliar a eficiência das misturas dos ingredientes ativos azoxystrobin + tebuconazole (120 + 200g/L) e picoxystrobin + tebuconazole (120 + 200g/L) no controle da antracnose em soja, foi conduzido um experimento no município de Campo Verde, Mato Grosso, na área experimental da Assist Consultoria e Experimentação Agronômica (coordenadas 15°31'36"S, 55°18'31"W, altitude de 763m em relação ao nível médio do mar), durante o período de 3/11/2013 a 22/3/2014. Foi utilizada a variedade Pioneer XB90C13, relatada como suscetível à antracnose, semeada em parcelas de cinco linhas de 5m de comprimento numa densidade de nove plantas/m (200 mil plantas/ha). Foram avaliados oito tratamentos em quatro aplicações (Tabela 1) após o fechamento das linhas de soja (aplicações preventivas) ou no início do florescimento (aplicações curativas). A partir da primeira e em cada aplicação dos tratamentos foi registrada a severidade da antracnose (porcentagem de tecido infectado), a área abaixo da curva de progresso da doença
(AACPD), a desfolha (no final do enchimento de grãos) e a produtividade da cultura (sacas/ha). O melhor controle da antracnose, resultando em menor severidade (menos de 5% de tecido infectado até o início do enchimento de grãos e menos de 10% de infecção nas vagens – Gráfico 1) e menor AACPD (Gráfico 2) foram proporcionados por: aplicação preventiva (antes do fechamento das linhas de soja) e curativa (durante o enchimento de grãos) de azoxystrobin + tebuconazole (120 + 200g/L) intercalado por picoxystrobin + tebuconazole (120 + 200g/L) no florescimento e formação de vagens; aplicações no florescimento e formação de vagens de picoxystrobin + tebuconazole (120 + 200g/L) seguido por azoxystrobin + tebuconazole (120 + 200g/L) durante o enchimento de grãos; azoxystrobin + tebuconazole (120 + 200g/L) em quatro aplicações durante o florescimento, formação de vagens e enchimento de grãos; picoxystrobin + ciproconazole (200 + 80g/L) em quatro aplicações durante o florescimento, formação de vagens e enchimento de grãos. As aplicações de azoxystrobin + tebu-
conazole (120 + 200g/L) e picoxystrobin + tebuconazole (120 + 200g/L) intercaladas entre as fases vegetativas e reprodutivas da cultura da soja também proporcionaram as melhores produtividades, superiores a 51 sacas de soja/ha, representando ganhos acima de 25% no rendimento em relação às parcelas sem tratamento (Gráfico 3). Estes resultados revestem-se de importância, pois proporcionam segurança no manejo preventivo de doenças em soja e oferecem maior flexibilidade ao produtor na escolha de misturas de ingredientes ativos diferentes das tradicionalmente usadas nas lavouras de soja no cerrado, auxiliando na diminuição da seleção de populações de fungos resistentes. C
Lucas M.A. Marinho, Daniel Cassetari Neto, Rafael da Silva Juliani, Douglas L. G. Mesquita, Marllon Darlan S. Almeida, Pedro L. B. Lacerda, Univ. Federal de Mato Grosso Adriano Melo e Danilo Silva, Adama Brasil S/A
Fotos Luis Carregal
Milho
Na entressafra Ferrugem polissora, mancha de feosféria e complexo de helmintosporiose estão entre as doenças que atacam a cultura do milho e possuem grave incidência em regiões de plantio de segunda safra, como o sudoeste goiano. Agravadas por fatores que incluem possibilidade de cultivo em épocas distintas, expansão de áreas no cerrado e ausência de rotação de culturas, demandam muito cuidado e manejo adequado, com integração de estratégias de maneira sustentável
O
Brasil destaca-se entre os maiores produtores de grãos do mundo, sendo a soja e o milho as principais commodities. Diferentemente da soja, o milho tem sido cultivado em duas épocas distintas, sendo a primeira na safra de verão e a segunda na safrinha ou entressafra, podendo ou não ser irrigado. A possibilidade de cultivo em épocas distintas, aliada à expansão de áreas no cerrado e a não realização de um sistema de rotação de culturas elaborado, tem feito com que os problemas fitossanitários se tornem cada vez mais frequentes. Atualmente, se por um lado os híbridos apresentam potencial produtivo elevado, por outro, são mais suscetíveis às principais doenças que, isoladamente ou em patossistemas múltiplos, têm restringido a obtenção da máxima produtividade almejada pelos agricultores. Na região dos cerrados é comum a adoção constante de tecnologia para cultura do milho, sendo verificadas produtividades acima dos 220 sacos por hectare na safra principal.
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Contudo, as práticas de manejo integrado têm sido pouco adotadas. O controle das doenças normalmente é realizado apenas com o uso de fungicidas, o que tem gerado resultado positivo até o momento. Tem se verificado, inclusive, o aumento no número de aplicações dos fungicidas, além do início das aplicações cada vez mais cedo. Embora não seja empecilho o uso correto de defensivos, essa prática pode onerar custos e perder efetividade a médio e longo prazo, conforme já verificado para outras culturas. A resistência genética é, sem dúvida alguma, a principal estratégia de controle a ser adotada. A suscetibilidade dos híbridos varia grandemente de doença para doença e até mesmo do local em que são cultivados. De maneira geral os principais híbridos apresentam resistência a uma ou outra doença, não sendo totalmente efetivos para o complexo que pode incidir na cultura. Na região dos cerrados pelo menos dez doenças destacam-se como importantes limitantes da produção. No sudoeste goiano, por exemplo, as principais doenças em
parte aérea têm sido: ferrugem polissora, mancha de feosféria, complexo de helmintosporiose, cercosporiose e manchas por Stenocarpella (conhecida anteriormente como Diplodia macrospora). É difícil precisar qual a doença mais importante, uma vez que existe enorme variação a cada safra e, também, em relação ao híbrido cultivado e à época de plantio.
Ferrugem polissora
Dentre as três ferrugens incidentes na cultura do milho, a ferrugem polissora, causada pelo fungo Puccinia polysora, tem se destacado como a principal nesta região, reduzindo a produtividade em até 60% na ausência de medidas de controle. Os sintomas da doença são representados por pequenas lesões amarelas, nas quais se verifica a presença de pústulas arredondadas, tanto na face inferior quanto superior das folhas (Figura 1). As pústulas podem também ocorrer na bainha das folhas e palha que recobre a espiga. As condições ambientais que favorecem epidemias dessa doença são alta umidade relativa e tempe-
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Comparativo entre parcela testemunha (lado esquerdo) e parcela tratada com fungicida (lado direito) para o controle da ferrugem polissora
raturas entre 25ºC e 32oC. Resultados de controle químico obtidos em trabalhos conduzidos pela AgroCarregal Pesquisa e Proteção de Plantas, em parceria com a Universidade de Rio Verde na safrinha de 2014, evidenciam a importância do uso de fungicidas para controle dessa doença. O uso do fungicida correto, no momento exato e em quantidade suficiente de aplicações, pode proporcionar incrementos de produtividade acima de 30% a 40%. As misturas entre estrobilurinas e triazóis têm
sido os produtos mais efetivos no controle dessa doença. Normalmente as estrobilurinas atuam impedindo a germinação dos uredosporos, enquanto os triazóis agem em processos posteriores a esse, como o ingresso no tubo de penetração e colonização do fungo (crescimento das hifas no interior do tecido hospedeiro). Na Figura 2 pode ser verificada a alta eficácia de fungicidas no controle da ferrugem polissora do milho em experimento conduzido na AgroCarregal Pesquisa e Proteção de Plantas durante a safrinha de 2014.
Mancha de feosféria
A macha branca, também conhecida como esferulina ou mancha de feosféria, é causada, provavelmente, pela associação
de um fungo (Phaeosphaeria maydis) e uma bactéria (Pantoea ananatis). Embora não seja consenso entre os fitopatologistas, resultados de controle químico indicam tal possibilidade. Fungicidas à base de triazóis, estrobilurinas e ou benzimidazóis não têm apresentado eficácia satisfatória de controle nas mais diferentes regiões do país. A associação com fungicidas protetores, como o mancozebe, tem se mostrado promissora nos ensaios experimentais. Os sintomas da doença são representados por lesões mais ou menos arredondadas, mas irregulares e com descoloração inicial dos tecidos foliares. Tais lesões se assemelham com aquelas aquosas do tipo anasarcas provocadas por bacterioses. À medida que a doença evolui, as lesões tornam-se claras, esbranquiçadas, poden-
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Fotos Luis Carregal
Sintomas da mancha de feosféria na cultura do milho
do ocorrer em qualquer parte da planta (folhas, bainhas que recobrem o colmo e palha da espiga). Sob alta severidade, as lesões coalescem e secam totalmente o limbo foliar. Os principais sintomas podem ser verificados na Figura 3. A campo deve-se tomar cuidado para evitar confusões com fitotoxidez causadas por herbicidas, normalmente utilizados na dessecação da soja. A distribuição dos sintomas na área e na planta facilita a identificação. Normalmente a doença começa pelas folhas inferiores e ocorre em área total, enquanto a fitotoxidez é mais facilmente visualizada nas folhas superiores e ocorre em parte da área (oriunda da deriva dos herbicidas). Se a cultura ainda estiver emitindo folhas, cuidado com a posição dos sintomas, uma vez que folhas novas saem sem sintomas da fitotoxidez. As epidemias dessa doença têm sido favorecidas por condições ambientais de temperaturas mais amenas, principalmente durante a noite. Regiões de altitude mais elevada, cujas noites são mais frias, apresentam maior possibilidade de incidência sob altas severidades. A melhor alternativa para o manejo dessa doença reside no uso de híbridos com maior nível de resistência. A menor população de plantas sob maior espaçamento também desfavorece as epidemias. No caso do emprego de fungicidas, associar um fungicida protetor (mancozebe a 2kg/ha) aos produtos tradicionalmente utilizados pode promover incrementos significativos no controle da doença e, consequentemente,
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na produtividade.
Complexo de helmintosporiose
O complexo helmintosporiose pode ser causado por três espécies de fungos: Exserohilum turcicum (mais conhecida como mancha de HT), Bipolaris maydise, Bipolaris zeicola (Helminthosporium carbonum). Dentre essas espécies, E. turcicum tem sido a de maior incidência e, consequentemente, causado os maiores prejuízos. Embora façam parte do complexo helmintosporiose, os sintomas são conspícuos a cada espécie. Os sintomas oriundos da infecção por Exserohilum turcicum são representados por lesões elípticas de coloração palha, tornando-se escuras com a esporulação do fungo. O tamanho das lesões varia em função da suscetibilidade dos híbridos (2,5cm a 15cm de comprimento) e, em materiais altamente suscetíveis, podem progredir atingindo todo limbo foliar (Figura 4). Em híbridos resistentes, as lesões são menores
e cloróticas. Bipolaris maydis causa lesões menores que a espécie anterior, normalmente retangulares com dimensões de aproximadamente 2,5cm x 0,5cm e coloração palha a necrótica (Figura 5). É importante salientar que são conhecidas duas raças desse fungo, denominadas de raça “O” (sintomas descritos anteriormente) e raça “T”, que pode causar lesões maiores, de coloração marrom a castanho e também a formação de halos cloróticos. Já Bipolaris zeicola, doença de pouca importância no Brasil até o momento, apresenta sintomas diferentes entre as raças 1 e 3. A raça 1 causa lesões de coloração palha, com formato circular a oval e anéis concêntricos. Já raça 3, provoca lesões estreitas e alongadas, de coloração castanho-claro. Essa doença incidiu sob alta severidade em alguns híbridos durante a safrinha de 2013 no sudoeste goiano, predominantemente a raça 1. O manejo desse complexo depende principalmente do híbrido utilizado. Na ausência da resistência genética, a rotação de culturas torna-se fundamental, pois ambas as espécies são necrotróficas, ou seja, podem sobreviver em restos culturais. Como no cerrado a maioria das áreas é cultivada no sistema de sucessão de culturas, o inóculo tem aumentado ano a ano. Estudos em diferentes regiões do país indicam que esses patógenos podem sobreviver na palha, sob alta viabilidade, durante 20 meses ou mais. Complementarmente às medidas supracitadas, o uso de fungicidas tem sido a alternativa mais empregada. Somente o uso concomitante de diferentes estratégias de controle pode favorecer o manejo do complexo de doenças no milho de entressafra a médio e longo prazo de forma sustentável. Por isso, consulte sempre um engenheiro agrônomo. C Luís Henrique Carregal, Univ. de Rio Verde-UniRV Agro Carregal Pesq. e Proteção de Plantas
Sintomas de Exserohilum turcicum em híbridos suscetíveis de milho (esquerda) e por Bipolaris maydis (direita)
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Fotos José Salvadori
Pragas
Saldo da Helicoverpa
Um ano após a detecção de H. armigera no Sul do Brasil, muitas lacunas ainda permanecem abertas a respeito do status dessa espécie exótica. Com intensidade de danos variável de acordo com a região de ocorrência, o manejo do inseto exige muita atenção e medidas racionais, como alternar, nas aplicações, inseticidas com diferentes mecanismos de ação, em relação aos sítios bioquímicos e fisiológicos dos insetos, com o objetivo de prevenir o desenvolvimento de populações resistentes da praga
E
m se tratando de uma espécie exótica, que até bem pouco tempo não existia na região, um ano de experiência em campo e mesmo com o grande esforço de pesquisa feita e em andamento e os avanços de conhecimentos já obtidos, ainda é muito pouco o que se conhece sobre o status de Helicoverpa armigera, após o seu surgimento no Sul do Brasil. Objetiva-se por meio deste texto divulgar o que foi possível aprender neste período após o aparecimento do problema, bem como apontar para dificuldades e lacunas existentes,
no sentido de, em última instância, auxiliar no manejo desta praga e de minimizar seus danos à produção vegetal. Muitas perguntas têm sido feitas, como, por exemplo: ela veio para ficar? Será que vai ocorrer novamente? O que vai acontecer com ela no inverno? Ela vai ser praga de outras culturas além da soja? Será que o problema é tão sério como está sendo apresentado? Tem outras espécies de lagartas ocorrendo também? As informações aqui colocadas em sua maioria são preliminares e precisam de confirmação. Algumas são decorrentes de pesquisas
ainda em andamento. Outras, da vivência e da troca de experiência que o contato com agrônomos, técnicos agrícolas, profissionais que atuam em empresas de insumos e produtores tem permitido. Entende-se que diante do problema, não se pode sonegar o que vem se observando e aprendendo, mesmo que seja pouco e preliminar.
Antecedentes
A confirmação oficial da ocorrência de H. armigera no Rio Grande do Sul ocorreu na safra de soja 2013-14 (Salvadori et al,
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Mariposas de H. armigera em armadilha de feromônio
2013; Salvadori et al, 2014a), quando esta lagarta veio à tona como problema e ficou muito evidente a sua presença nas lavouras, com ampla distribuição geográfica. Não se sabe exatamente em que ano ela teria surgido por aqui, todavia, é lógico admitir que os níveis verificados na safra passada resultaram de um processo de crescimento populacional cujo início ocorreu em anos anteriores. Inicialmente, foi constatada como uma espécie de lagarta de difícil controle, cujos indivíduos sobravam nas aplicações de inseticidas feitas na cultura da soja para controle das lagartas de ocorrência comum. Especulou-se, em um primeiro momento, até em função das notícias que chegavam das regiões produtoras de soja do Brasil central, que se tratava da lagarta-da-maçã do algodoeiro (Heliothis virescens). Também foi cogitado que poderia ser a própria lagartada-espiga do milho (Helicoverpa zea), devido à semelhança morfológica entre as lagartas e os adultos. Outra possibilidade considerada foi de que poderia ser Helicoverpa gelotopoeon, espécie já constatada anteriormente no estado, que recentemente havia ocorrido em nível de praga em soja, na Argentina. Este tipo de situação, de dúvida sobre a taxonomia de espécies, é comum quando se trata de pragas novas, especialmente quando já ocorrem espécies semelhantes na região. Insetos dos gêneros Helicoverpa e Heliothis são considerados “afins”, pertencentes não só à mesma família (Noctuidae) como também à mesma subfamília (Heliothinae), razão pela qual são denominados de heliotíneos. Um
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exemplo que ilustra esta proximidade taxonômica é que a lagarta-da-espiga do milho, atualmente denominada como Helicoverpa zea, já foi Heliothis zea.
Dinâmica populacional
Antes mesmo da identificação precisa da espécie, o problema tomou proporções de praga de importância econômica na safra 2013-14, uma vez que sua existência no Rio Grande do Sul só foi oficializada em 19 de novembro de 2013 (Salvadori et al, 2013). Nesta mesma temporada, já no início de dezembro/2013, lagartas inicialmente sob suspeita e posteriormente confirmadas como sendo H. armigera, já tinham sido detectadas em níveis preocupantes em várias lavouras do norte do Estado. No mês de novembro, foram registradas várias ocorrências em lavouras de trigo de lagartas grandes comendo espigas, às vezes maduras, ou mesmo após a colheita, junto com os grãos colhidos. Lagartas grandes também foram registradas em canola e em linho, alimentando-se de estruturas reprodutivas. Em lavouras de soja, a primeira constatação na região norte do Estado ocorreu nos primeiros dias de novembro, em plantas recém-emergidas, de ovos e de lagartas pequenas, com menos de 1cm de comprimento. Antes disso, já tinham sido coletadas mariposas em armadilhas de feromônio no mês de outubro. Inicialmente, devido ao hábito da lagartinha se abrigar no interior do ponteiro da soja, houve certa dificuldade de identificar qual seria o agente causal dos danos que apa-
reciam nas folhas recém-abertas. O fato é que já no primeiro decêndio de dezembro/2013, a partir de amostras trazidas para identificação por técnicos e produtores ao Laboratório de Entomologia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo, tinha-se registrado o problema em 33 municípios do Rio Grande do Sul e em alguns de Santa Catarina. Tentando fazer uma generalização, no sentido de descrever a dinâmica populacional de H. armigera em relação ao ciclo da soja, mas já admitindo que ela varia de um local para outro, é possível descrever que após uma infestação inicial que se prolongou até meados de dezembro, o problema se estabilizou e, em torno de janeiro-início de fevereiro, coincidindo com um período de temperaturas excepcionalmente altas, voltou a crescer (Salvadori et al, 2014c). Posteriormente, no fim do ciclo da soja voltou a ocorrer um crescimento na infestação de lagartas. Embora em pequena intensidade, constatou-se a lagarta em espigas de milho e, após a colheita da soja, em soja guaxa, nabo-forrageiro, aveia-preta, mariamole e buva. Esta flutuação populacional de lagartas correspondeu à abundância de mariposas coletadas em armadilhas de feromônio. Fato surpreendente, quando se perguntava em que época as mariposas iriam reaparecer após a estação fria, foi a coleta de mariposas durante o outono e o inverno, embora em número muito reduzido em relação ao ocorrido na estação quente. É necessário ressaltar que o inverno de 2014 não foi rigoroso, pelo contrário, foi ameno o suficiente para que pupas originassem mariposas em um período em que isso parecia improvável. Na safra atual (2014/15), os eventos estão se repetindo: a captura de mariposas aumentou consideravelmente na primavera e, agora, na primeira quinzena de novembro, já foram constatados ovos e lagartas pequenas em lavouras de soja na região de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. No que diz respeito às espécies de heliotíneos que têm ocorrido, embora seja prematuro concluir a respeito, através da captura com armadilhas de feromônio para H. armigera distribuídas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, se constatou 97,5% de H. armigera e 2,5% de H. zea (Salvadori et al, 2014b). Em armadilhas com feromônio para H. gelotopoeon, colocadas no campo em março de 2014, na área experimental da Famv, não foram capturados heliotíneos. Como já foi registrado no Rio Grande do Sul (Salvadori et al, 2013), o controle biológico natural de H. armigera, mesmo se tratando de espécie há pouco introduzida, tem atingido níveis expressivos, especialmente devido ao parasitismo por dípteros e himenópteros. Levantamentos mais completos e precisos re-
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alizados em lavouras de soja de 16 municípios do Paraná, na safra 2013/14, evidenciaram um índice médio de mortalidade de lagartas de Helicoverpa pela ação de inimigos naturais de 60,9% (variando de 27,8% a 92,8%) (CorreiaFerreira et al, 2014).
soja (Suzana et al, 2014b). Não há dúvidas de que a presença de H. armigera contribuiu para que o uso de inseticidas na última safra de soja atingisse a média de quatro a cinco aplicações e que, em alguns casos, até sete aplicações de inseticidas foram realizadas na cultura. Existe ainda uma grande carência de informações sobre a eficiência comparada de inseticidas no controle de H. armigera. É comum se ouvir tantos comentários negativos como positivos sobre o resultado de controle proporcionado pelos mesmos produtos, indicando que isso depende muito das condições em que foram aplicados. Na falta de pesquisa, além do que é posicionado pelas empresas registrantes e/ou que comercializam os produtos inseticidas para soja, os próprios agentes de assistência técnica e produtores têm gerado informações, testando lagarticidas de diferentes grupos, químicos e biológicos. Isso, aliado aos poucos resultados de pesquisa existentes, embora não haja consenso, permitiu alguns avanços e indicativos em relação aos produtos que podem ser mais eficientes. Todavia, testes em nível de lavoura, além de estarem sujeitos a diferentes condições ambientais e operacionais, geralmente não têm o controle experimental (testemunha, sem aplicação) que permita comparações, fazendo com que os resultados nem sempre sejam convergentes e que persista muita dúvida a respeito. Uma questão que não parece ser objeto de dúvidas reside no fato que o sucesso da aplicação de inseticidas não depende apenas da escolha do produto e do ajuste da dose. Depende muito do momento (tamanho das
Biologia
Quanto à biologia de H. armigera para as condições locais, observações preliminares indicam que o período de incubação dos ovos varia muito pouco, ficando em torno de três dias. Os ovos inicialmente são claros, quase brancos, e vão escurecendo à medida que se aproxima a eclosão das lagartinhas. Estas, nascem com aproximadamente 2mm de comprimento, são de coloração creme e transparentes, tornando-se esverdeadas tão logo dão início ao consumo de folhas. A fase larval dura em torno de 14 dias a 18 dias, sendo que nos períodos mais quentes do verão constatou-se que a lagarta pode durar apenas 12 dias e atingir 40mm de comprimento. Existe uma variação muito grande na cor das lagartas, tanto em relação à coloração geral do corpo, como das listras e das pintas. A duração fase de pupa, que ocorre no solo, na estação quente, também não varia muito (dez dias a 12 dias). Tudo indica que o tempo para completar uma geração é mais determinado pela duração das lagartas, acrescido do tempo necessário para que as mariposas entrem em atividade reprodutiva (cópula e oviposição). A intensidade do ataque de H. armigera nas lavouras de soja no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina variou muito conforme o local. Porém, a ocorrência de lagartas e de adultos em várias localidades e regiões indica que a espécie está amplamente disseminada em solo gaúcho e catarinense. Os danos, da mesma forma, variaram com a densidade das infestações e, principalmente, com o resultado das ações de manejo e controle empregados. Há, contudo, certa polêmica nesse sentido, havendo de um lado relatos de que os danos médios para os estados não teriam sido tão expressivos e, de outro, relatos de perdas médias significativas. Em situações que o controle não foi realizado ou não foi eficiente, há relatos de que as perdas teriam sido superiores a 30%, no rendimento de grãos. De fato, a quantificação das perdas causadas por pragas deve ser feita com metodologia apropriada e experimentalmente e os dados de pesquisa sobre os danos de H. armigera para as condições locais são poucos. Uma avaliação de danos realizada na área experimental da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (Famv), em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, permitiu estimar uma perda de 22,5% no rendimento de grãos da
José Roberto Salvadori e Crislaine Sartori Suzana, PPGAgro-Famv-UPF
José Salvadori
Dano e manejo
lagartas) e da qualidade (tecnologia, horário etc) da aplicação. Aplicações quando as lagartas ainda estão pequenas têm sido mais eficientes, inclusive evitando a repetição de aplicações e o aumento de doses devido a procedimentos malsucedidos por serem tardios. A aplicação preventiva (na ausência de pragas) não é a melhor opção, à medida que o alvo não está definido e que se perde em efeito residual. O monitoramento das lavouras com armadilhas de feromônio (mariposas), pelo exame de plantas (ovos e lagartas pequenas) e pelo método do pano de batida (em plantas maiores), é uma prática imprescindível para se obter bons resultados no controle de H. armigera. Não se deve menosprezar o potencial do controle biológico, preservando inimigos naturais da praga através do uso de produtos seletivos ou do uso seletivo de produtos, especialmente nas primeiras aplicações que se fizerem necessárias. Nesse particular, o tratamento de sementes com certos inseticidas tem se mostrado eficiente para controle de lagartas neonatas de H. armigera (Suzana et al, 2014a), com a vantagem de ser seletivo. Outro cuidado importante a ser adotado é alternar, nas aplicações, inseticidas com diferentes mecanismos de ação, em relação aos sítios bioquímicos e fisiológicos dos insetos, com o objetivo de prevenir o desenvolvimento de populações resistentes da praga. C
Ocorrência de H. armigera em armadilhas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina em dezembro de 2013
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Café
Nova e hostil Hélcio Costa
Detectada recentemente no Brasil, a mancha de mirotécio, causada por Myrothecium roridum, é uma doença agressiva, passível de ser confundida com outras de ocorrência mais frequente em cafeeiro, como as manchas de olho pardo, Phoma e Ascochyta. Embora não existam produtos específicos registrados no Brasil contra o fungo, triazóis e estrobilurinas de uso comum na cultura têm apresentado bons resultados no seu controle
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A
mancha de mirotécio do cafeeiro, causada pelo fungo Myrothecium roridum, foi constatada pela primeira vez na Índia, em 1955. Posteriormente, a doença foi relatada na Colômbia, Costa Rica, Guatemala e Indonésia. No Brasil, a mancha de mirotécio foi observada pela primeira vez em 2003, em um viveiro de mudas de café Arábica (cultivares Catuaí 144, IAC Obatã, Iapar 59 e IAC Tupi) no estado do Rio de Janeiro. Apesar de sua ocorrência em cafeeiros no Brasil, a doença havia sido detectada em baixa incidência. Em 2013 e 2014, a doença foi detectada em viveiros de mudas de café Conilon (Coffea canephora) no Espírito Santo, atingindo cerca de 30% das mudas. A mancha de mirotécio é caracterizada inicialmente por pequenas lesões circundadas por um halo amarelo, formato circular e coloração marrom, com centro brancoacinzentado em ambas as faces da folha. Ao se expandirem, as lesões formam anéis concêntricos e se tornam marrom-escuras, alcançando até 3cm de diâmetro. Nas lesões mais desenvolvidas, observam-se as estruturas reprodutivas do fungo, que são os esporodóquios superficiais, circundados por um micélio de coloração branca e encobertos por uma massa negra de esporos. Em condições favoráveis, as lesões coalescem e afetam grandes áreas do limbo foliar, ocasionando a perda da área foliar fotossinteticamente ativa. A ocorrência da doença leva ao atraso no desenvolvimento da muda e à queda de suas folhas, tornandoas impróprias para o plantio. As lesões iniciais podem ser confundidas com a mancha de olho pardo, devido ao seu formato e aspecto, enquanto as lesões mais velhas são confundidas com a mancha de Phoma e a mancha de Ascochyta. No entanto, a mancha de mirotécio expande-se rapidamente, possui formato regular nas bordas das folhas e atinge maior tamanho de lesão, o que a diferencia das demais doenças citadas. No Brasil, foram descritos apenas os
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Hélcio Costa
O local de instalação do viveiro é um dos primeiros passos para o manejo da doença. Por isso, áreas sujeitas à alta umidade devem ser evitadas e recomenda-se dar preferência a áreas que não possuem plantas hospedeiras do fungo. Nutrição adequada se faz necessária, uma vez que a doença pode ser mais severa em plantas sob estresse, sobretudo o nutricional. Neste sentido, deve-se tomar cuidado com a qualidade do substrato utilizado para plantio das mudas. É importante evitar o molhamento foliar, uma vez que a água contribui para a disseminação e infecção do patógeno. Embora não existam fungicidas registrados no Brasil, sabe-se que alguns produtos utilizados para o controle de doenças do cafeeiro são efetivos para a mancha de mirotécio. Em observações prévias, tem sido verificada a redução da doença em áreas que receberam a aplicação de fungicidas do grupo dos triazóis e das estrobilurinas. A convivência de produtores com a doença já vem ocorrendo no campo e em viveiros. No entanto, é necessário um maior entendimento da doença na cultura do cafeeiro, para que cada vez mais medidas de manejo possam ser implementadas, C com o objetivo dereduzir os danos.
Formação de anéis concêntricos
sintomas de manchas foliares causadas por esta doença. No entanto, sabe-se que outros sintomas como morte dos ponteiros, podridão do colo e necrose dos ramos também já foram relatados em outros países.
mentes. Embora ainda não seja encontrado em grãos de café, os produtores devem monitorar a doença no campo, pois o fungo produz micotoxinas que podem afetar a qualidade da bebida.
Medidas de controle
Danilo Batista Pinho, Athus Diego de Azevedo Silva e Olinto Liparini Pereira, Universidade Federal de Viçosa Hélcio Costa, Instituto Capixaba de Pesquisa Ueder Pedro Lopes, Univ. Federal Rural do Pernambuco
Danilo Batista Pinho
A mancha de mirotécio é mais frequente em condições de temperatura e umidade elevadas. Estas condições ambientais são requeridas para a doença, pois o patógeno pode ser disperso por água na forma de respingos de chuva, orvalho ou de irrigação. Além disso, o fungo necessita de longos períodos de molhamento foliar e temperaturas próximas a 28ºC para que ocorra a infecção. Estas condições favoráveis ocorrem na maioria das regiões de cultivo de café Conilon (estação das chuvas), nas lavouras de café Arábica localizadas no cerrado brasileiro e principalmente em viveiros de produção de mudas. M. roridum é um fungo saprófita oportunista que ataca mais de 200 espécies de diferentes famílias botânicas. No Brasil, já foi relatado em abóbora, acerola, algodão, amendoim, arroz, berinjela, café, feijão, feijão caupi, girassol, melancia, melão, milho, pepino, pimenta, pimentão, soja, tomate, trigo e diversas plantas ornamentais e daninhas. Isso indica que estas plantas próximas a viveiros de mudas de cafeeiro podem servir de fonte de inóculo do patógeno. Além da ampla gama de hospedeiros, o patógeno pode sobreviver no solo e em restos culturais e, em alguns casos, nas se-
A doença foi detectada recentemente no Brasil e, por isso, informações sobre as medidas de controle ainda são escassas. Até o momento, faltam dados a respeito da resistência genética e não existem fungicidas registrados para essa doença. As principais medidas que vêm sendo implementadas nos viveiros são baseadas nas características do patógeno, manejo utilizado em outras culturas e observações feitas por produtores e pesquisadores. Estas medidas têm por objetivo evitar novas infecções e disseminação do patógeno, além de dificultar o desenvolvimento da doença.
Hélcio Costa
Características do patógeno e da doença
Os esporodóquios formados sob os tecidos são circundados por micélio branco e encobertos por massa negra de esporos
Mancha de mirotécio, grandes lesões marrom-escuras circundadas por um halo amarelo e com centro branco-acinzentado
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Cana-de-açúcar
Avanços e desafios Fotos IAC
Com o advento da nova tecnologia de plantio de Mudas Pré–Brotadas (MPB) de cana-de-açúcar, se ampliam as oportunidades, ao mesmo tempo em que as pesquisas se intensificam para acompanhar o ritmo das demandas geradas pelo sistema. Uma delas se refere ao manejo químico de plantas daninhas
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ual a diferença de MPB e da cana convencional? Ou seja, o que muda entre plantar uma muda de cana e um colmo de cana? Apesar de parecer uma simples pergunta, para ser devidamente respondida se faz necessário envolver todas as diferentes áreas agronômicas. Incluindo-se fitopatologia (estudo de fungos, bactérias e vírus); física e conservação do solo; fertilidade do solo, entomologia (estudo de insetos-pragas), irrigação, melhoramento genético e, dentre outras, a fitotecnia. Diferente do plantio da cana convencional, MPB chega ao campo como uma muda e, como possui folhas e raízes novas e sensíveis, essa é a principal e radical mudança. Não há mais um colmo submerso no solo (que se torna uma barreira física em alguns casos). Diferentemente, as mudas pré-brotadas, por sua juvenil idade (muda nova), possuem folhas com cutículas finas, o que as predispõe a uma perda de água por evapotranspiração. Além de permitir com mais facilidade a entrada menos seletiva de solutos de produtos químicos aplicados. Dentro da fitotecnia há a área de matologia, que é responsável pelos estudos de manejos de controle de plantas daninhas em diversas culturas. Assim como na maioria das culturas, MPB de cana-de-açúcar estão sendo lançadas para ocupar extensas áreas, o que inviabiliza manejos físicos no controle de
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daninhas. Com isso, direcionam-se estudos exploratórios sobre manejos químicos (herbicidas), devido aos bons resultados de controle já conhecidos com a adoção desses produtos, além do rendimento de operação. Em se tratando de manejo químico de plantas daninhas no plantio e início do ciclo em MPB, há duas principais diferenças comparando à cana convencional. No plantio de MPB, além da parte aérea predisposta a receber aplicações, existe presença de raízes e
pelos radiculares com alta taxa de absorção de solutos da solução do solo nos primeiros cinco centímetros. O que se distancia fortemente da característica do plantio convencional de cana-de-açúcar, onde o colmo é enterrado entre 20cm e 40cm de profundidade. Essa discrepância de características de plantio e início de ciclo leva a uma nova área, que pode ser chamada de manejo químico de plantas daninhas em MPB de cana-de-açúcar. Como toda inovação e início de trabalho, não se tem, ainda, resultados concretos para montar uma recomendação de controle adequada. Porém, há propostas para testes de manejos químicos com base em formulações técnicas científicas. Isso significa que é possível usar informações da biofísica dos herbicidas a serem aplicados, para prever um possível resultado positivo ou não no controle das plantas daninhas, com o objetivo de minimizar sua interferência negativa em MPB. Uma aplicação prática é a escolha do herbicida consultando o seu Kow, que é o coeficiente de partição entre octanol e água, ou seja, qual será a facilidade desse produto penetrar na folha da planta. Quanto maior o valor de Kow, maior será a absorção do produto pelas folhas das plantas cultivadas e daninhas. Normalmente herbicidas de Kow alto são usados para aplicações em pós-emergência
Parte aérea e radicular de Mudas Pré-Brotadas de cana-de-açúcar
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Plantio e uniformidade das mudas pré-brotadas de cana-de-açúcar no campo
das plantas daninhas, e herbicidas de Kow baixo em pré-emergência. Outra variável a ser considerada é o Koc, que é o coeficiente de adsorção no solo, determinando a força de ligação da molécula química do herbicida aos coloides do solo. Em uma linguagem popular, quanto maior for o valor de Koc, maior será a retenção do produto pelo solo, ou seja, ele ficará menos disponível na solução do solo (água disponível no solo). Valores de Koc baixo fazem o inverso, grudam-se menos ao solo e permanecem livremente na solução do solo. No plantio, a solubilidade do herbicida é de suma importância, pois comanda a permanência da molécula do produto nos primeiros centímetros ou o direcionamento para as camadas subsuperficiais. Outro ponto importante é a época de aplicação do herbicida. Atualmente há três opções: o Plantio Pré-Incorporado (PPI), Préemergência (PRÉ) e Pós-emergência (PÓS). Em uma primeira instância não é possível classificar uma das três opções como melhor ou pior, mas, sim, pensar na interação para que cada uma ajude a cultura no momento certo. O PPI consiste na aplicação do herbicida no solo 60 dias em média antes do plantio. Isso significa que quando as MPB chegarem ao solo, o período em que a molécula estava mais ativa no solo passou e controlou fortemente o banco de sementes que emergiria sem a presença desse defensivo. Com essa característica, teoricamente é possível inferir que haverá um plantio e início de cultura no limpo, sem uma
pronunciada absorção radicular de herbicida e, consequentemente, fitotoxidez. Em relação à PRÉ, a aplicação ocorre logo em seguida ao plantio das mudas pré-brotadas, na intenção de evitar a germinação das sementes de plantas daninhas que estão presentes na área da cultura. Esta aplicação deve ser feita com herbicidas seletivos à cana-de-açúcar, ou seja, que causem pouco ou nenhum dano fitotóxico às mudas pré-brotadas recémplantadas, sobre as quais ocorre a aplicação, antes da emergência de daninhas. O método de PÓS poderá ser uma alternativa para combater plantas daninhas que não foram controladas pelos herbicidas aplicados em PPI e PRÉ. Popularmente é possível dizer que a PÓS é usada para controlar as plantas que escaparam, seja por
Operação de pulverização em área cultivada com cana-de-açúcar
Aplicações de herbicidas em PPI, Pré-emergência e Pós-emergência
conta do espectro de ação dos herbicidas (quantidade de espécies que o produto controla) aplicados em fases anteriores não incluir essas plantas que estão presentes na área, ou mesmo por questões bióticas, como pluviosidades regulares e temperaturas que estimulem a quebra de dormência de espécies presentes no rico banco de sementes dos solos C cultivados no Brasil. Tácio Peres da Silva, Renan Vitorino, Ivo Soares Borges, Andrea Aparecida de P. Azania e Carlos Alberto Mathias Azania, IAC, Ribeirão Preto – SP Ana Regina Schiavetto, Unesp Jaboticabal, SP
Sistema MPB
M
udas pré-brotadas (MPB) é um sistema de produção de mudas veloz, com elevado padrão de fitossanidade (livre de doenças, insetos etc), vigor e uniformidade de plantio. Essa nova tecnologia foi desenvolvida pelo Programa Cana do Instituto Agronômico – IAC, com a intenção de aumentar a eficiência e diminuir gastos na instalação de viveiros, replantio de falhas de áreas comerciais e quem sabe até renovação e expansão de áreas de canade-açúcar. Algumas vantagens do sistema MPB são: redução de falhas, diminuição do número de gemas por metro linear, diminuição do gasto de toneladas canade-açúcar para plantio de 20t ha-1 para 2t/ha, facilidade de transporte, sanidade da muda, plantio mecanizado, uniformidade da lavoura, entre outros. O tempo que se gasta para produzir uma muda pré-brotada é de 60 dias.
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Fotos Rithiéli Barcelos
Empresas
Inovação e pesquisa
FMC inaugura no Brasil o Latin America Innovation Center para alavancar o desenvolvimento de tecnologias baseadas em novos ingredientes ativos químicos e biológicos
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FMC Agricultural Solutions inaugurou em outubro, em Campinas, São Paulo, o Latin America Innovation Center. A estrutura é a quarta da rede de Centros de Inovação e Pesquisa da empresa, distribuídos pelo mundo para gerar novas soluções baseadas em tecnologias biológicas, sintéticas e as combinações de ambas. Localizado no Technopark, na Rodovia Anhanguera, conta com aproximada-
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mente 1,3 mil m², dos quais 700m² são de laboratórios. O Latin America Innovation Center será o primeiro completamente dedicado ao negócio da FMC Agricultural Solution. “A América Latina representa a região de maior geração de receitas e crescimento da FMC Agricultural Solutions e o investimento no Latin America Innovation Center confirma o compromisso da empresa com o agronegócio mediante o desenvolvi-
mento de soluções inovadoras e específicas para alcançar uma maior produtividade de forma sustentável. Inovação é a essência de nosso negócio”, disse o presidente da FMC Corporation para América Latina, Antonio Carlos Zem. O novo complexo possui equipamentos de última geração para proporcionar o desenvolvimento de tecnologias baseadas em novos ingredientes ativos químicos e biológicos para atender às necessidades dos produtores do Brasil e da América Latina. “Nossa produtividade aumentará consideravelmente, adicionando soluções inovadoras e expandindo o portfólio de defensivos agrícolas e biológicos da FMC”, destaca o diretor de Inovação e Tecnologia, Yemel Ortega. O Latin America Innovation Center contempla diferentes módulos que permitirão alcançar o escopo integral de desenvolvimento de produtos e tecnologias que potencializarão a produção agrícola de forma sustentável. “O primeiro módulo, já em operação, inclui laboratórios de desenvolvimento de formulações de defensivos agrícolas e contempla plantas-piloto para as principais tecnologias de formulação
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Laboratório de Formulações Sólidas (Linus Pauling)
O Laboratório de Formulações Sólidas conta com estrutura que permitirá o desenvolvimento de formulações que vão desde os pós-solúveis e molháveis, aos grânulos dispersíveis e solúveis.
Laboratório de Análise Óptica e Reológica (Jansen)
Com um microscópio eletrônico de alta resolução, o Laboratório de Análise Óptica e Reológica permite visualizar e analisar imagens e otimizar o desenvolvimento das mais diversas formulações. Desta forma, é possível analisar partículas infinitesimais que não poderiam ser observadas com instrumentos ópticos de menor capacidade ou resolução, possibilitando a percepção de pequenas mudanças determinantes para a funcionalidade dos produtos.
Laboratório Analítico (Tswett)
O Laboratório Analítico prevê a certificação Boas Práticas de Laboratório (BPL) que permitirá fornecer o pacote de estudos físico-químicos oficiais, requeridos pelos órgãos regulatórios para obtenção de registros dos novos produtos.
Laboratório de Formulações de Produtos Biológicos (Agostino Bassi)
O laboratório de desenvolvimento de formulações biológicas facilitará a elaboração de produtos à base de microrganismos,
Zem destacou a importância da América Latina para os negócios da FMC
semiquímicos e extratos botânicos. Com o aumento das pragas resistentes e a baixa oferta de novos ingredientes ativos, este laboratório servirá para desenvolver alternativas eficazes para o manejo de resistência e implementação de programas de manejo integrado de pragas.
Câmara de crescimento para avaliação de eficácia (Anton de Bary)
O FMC Agricultural Solutions Latin America Innovation Center prevê a instalação de câmaras de crescimento para ratificar a bioeficácia das soluções que serão desenvolvidas no laboratório e a confirmação e otimização das formulações C de produtos já comerciais.
comercialmente existentes. O próximo passo será um laboratório de microbiologia desenvolvimento de formulações biológicas, além de um módulo contendo câmaras climatizadas para realização de experimentos para avaliação preliminar in loco da eficácia das tecnologias desenvolvidas. A finalização do projeto está prevista para o início de 2016”, conclui Ortega.
Laboratório de Formulações Líquidas (Van der Waals)
O Laboratório de Formulações Líquidas foi projetado para permitir o desenvolvimento simultâneo de diferentes tecnologias de formulação, buscando sempre o equilíbrio entre custo e performance. Além das formulações usuais de mercado como EC (concentrado emulsionável), SC (suspensão concentrada), SL (concentrado solúvel) e ME (microemulsão), a estrutura permitirá desenvolver formulações líquidas mais complexas e diferenciadas que ofereçam um desempenho superior às formulações líquidas tradicionais, um perfil Zem lembrou os desafioscom enfrentados pelos toprodutores soja na safra anterior xicológico maisdefavorável.
Laboratórios totalizam 700m² da área ocupada pelo Latin America Innovation Center
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Coluna ANPII
Evolução constante
H
O uso de inoculantes transpõe as barreiras do tempo e se aperfeiçoa cada vez mais no desafio de nutrir adequadamente as plantas
á determinadas tecnologias que alcançam grande sucesso durante uma época, mas que acabam sendo substituídas por novas ferramentas, mais eficientes e, por consequência, entram em desuso ou passam a ser utilizadas marginalmente. O uso de inoculantes para fixar o nitrogênio do ar em leguminosas vem sendo utilizado há mais de um século na agricultura e poderia ser considerado tecnologia “velha”, sendo
A soja pulou de uma média nacional de 1.500kg/ha nos anos 60 para 3.000kg/ha nos dias atuais. Mas lavouras com nível tecnológico mais elevado produzem 4.000kg ou até mais. Em certas áreas, pode-se chegar a 5ton/ha. Sabendo-se que para cada 1.000kg de grãos são necessários cerca de 80kg de nitrogênio, pode-se concluir que para produzir 5.000kg de soja serão necessários 400kg de N, o equivalente a 1.000kg de ureia. E mesmo para estas elevadas quan-
A aplicação do inoculante via sulco de plantio, com equipamentos especialmente desenhados para esta finalidade tem se mostrado extremamente eficaz, pois elimina o efeito nocivo dos produtos químicos aplicados nas sementes, bem como não interfere na velocidade da semeadura. Por seus resultados extremamente promissores, esta técnica vem sendo adotada cada vez mais por um grande número de agricultores e se difunde rapidamente em todas as regiões do
As tentativas de se aumentar a produtividade de soja via fornecimento de nitrogênio mineral têm resultado infrutíferas, levando o agricultor, muitas vezes, a perder dinheiro ultrapassado por novas opções para nutrir as plantas. Entretanto, não é o que se vê. Com o passar dos anos, com todas as modificações ocorridas na agricultura, em especial na cultura da soja, em que se utilizam grandes quantidades de inoculantes, o uso deste insumo vem crescendo nas lavouras tanto brasileiras como de outros países. Como uma tecnologia de mais de um século de utilização vem se mantendo nos dias atuais, em uma agricultura que passou por mudanças radicais em várias tecnologias? A palavra-chave parece ser “inovação”. O inoculante veio se modificando, se adaptando, se renovando em seus aspectos intrínsecos, como seleção rigorosa de estirpes de alta eficiência, novas formulações, aumento da concentração de bactérias, introdução de aditivos que potencializam o efeito do produto e outras alterações que permitem que o produto se mantenha como novo, moderno, perfeitamente consentâneo com as novas necessidades das culturas.
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tidades do nutriente apenas o uso do inoculante é suficiente para o completo suprimento. As tentativas de se aumentar a produtividade de soja via fornecimento de nitrogênio mineral têm resultado infrutíferas, levando o agricultor, muitas vezes, a perder dinheiro com esta aplicação desnecessária. Vale muito mais a pena fazer maiores investimentos no processo de inoculação, seja pelo aumento na dose, seja por uma aplicação mais criteriosa, levando em conta que se está lidando com seres vivos que necessitam de cuidados especiais, embora simples, em seu manuseio. As novas formas de semeadura, com sementes tratadas industrialmente, os novos produtos colocados sobre as sementes, muitos deles com potencial de causar mortalidade das bactérias, bem como a necessidade de muita rapidez no plantio, levaram à necessidade de novas formas de aplicação dos inoculantes, alternativas à tradicional mistura com as sementes.
país. Uma nova alternativa tem sido estudada: a aplicação de altas doses de inoculante pulverizadas no solo, junto às plantas em seus primeiros estágios para propiciar uma elevada nodulação. Esta técnica já tem se mostrado eficaz em casos esporádicos e atualmente está sendo estudada mais a fundo, para dar mais uma opção ao agricultor. A Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), atenta a todos estes movimentos em torno da cultura da soja, firmou convênio com a Fundação MT para a realização de ensaios sobre formas de aplicação de inoculantes, com dois objetivos principais: aumento na fixação do nitrogênio e viabilidade de aplicação nas diversas situações de semeadura. C
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C
Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
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Reflexões sobre Deus e Ciência
ezembro chegou, mais um ano acabou, hora de reflexões. Talvez inspirado pela proximidade do Natal, dois aspectos chamaram minha atenção no mapeamento genético do arroz. O primeiro: ao lado da Syngenta, maior empresa de agribusiness do mundo, estava um instituto de pesquisa chinês, criado há dois anos. Luz amarela: na Era da Informação, investir em inovação é a diferença entre possuir uma perspectiva de futuro ou permanecer ancorado no passado. Os dirigentes chineses tiveram a sabedoria de Gandhi que, quando perguntado por que a Índia, um país tão pobre, investia tanto em Ciência e Educação, respondeu: “Justamente porque somos pobres”. A China e a Índia continuam pobres, porém, muito menos pobres do que seriam sem pesados investimentos em Ciência e Tecnologia. Hoje dispõem de perspectivas de futuro, apesar das restrições edafoclimáticas, topográficas, demográficas, políticas, raciais e sociais que enfrentam.
Inteligência genética
O segundo aspecto inspirou uma reflexão filosófica: por que o arroz possui mais genes (55 mil) que o homem (40 mil)? Qual a lógica de o arroz, uma plantinha que sequer sai do lugar, cujos cachos não resistem ao vento, ter mais genes que Beethoven, Van Gogh ou Einstein? Seguramente não significa que organismos mais complexos devam ter mais genes. Quanto mais me debruço sobre os avanços da Ciência, mais enxergo um Cientista-mor, que arquitetou todo o Universo, desde as galáxias até as sequências de bases de um único gene. Nem bilhões de anos permitiriam ao acaso arquitetar tanta perfeição, lógica, criatividade e diversidade. Se você tem fome, vai à geladeira ou à despensa. Planta com fome tem que procurar seus nutrientes no ambiente de suas raízes. Sob ameaça os animais podem fugir, plantas não. Se a tempestade desaba, a planta deve suportá-la fixa a um local. Se as plantas pensarem, imaginarão os animais como seres interessados em destruí-las, mas precisam conviver com eles. Será que o Cientista-mor tornou o arranjo gênico de alguns vegetais mais numeroso que o de muitos animais para dispor de um leque de alternativas que garantam a sua sobrevivência, mesmo contra as adversidades? Ao contrário dos animais, uma planta não tem como copiar hábitos e comportamentos. Assim, é possível creditar à evolução e à coevolução, a transformação das plantas em sofisticadas usinas de produtos químicos especializados, que corariam de vergonha as poderosas indústrias químicas do mundo. É o que lhes concede capacidade competitiva,
resistindo às pragas, adaptando-se ao ambiente ou manipulando o comportamento dos animais. Mas os genes é que são responsáveis pela síntese das proteínas que dão cor às flores, aroma às frutas, repelem ou atraem insetos, resistem a fungos, endurecem os tecidos. Lá no íntimo, no princípio de tudo, é onde vejo o dedo Divino.
Decisões cruciais
Pelo senso comum, uma mosca é um organismo muito mais complicado que uma planta. Ela voa, toma decisões perceptíveis como andar, parar, mexer as antenas, fugir, voar, copular, procurar alimento. A planta germina, cresce, floresce, amadurece e desaparece, sem decisões envolvidas. Será? Ledo engano. A planta toma decisões a seu modo, e a todo o momento, pelo alto custo energético que teria se estivesse sempre preparada para enfrentar a tudo e a todos. Ela tem alternativas que aciona quando necessário. Certas plantas somente se tornam resistentes a um fungo depois que o primeiro esporo tenta atacá-la. A planta aciona o seu “departamento de vacinas”, produzindo substâncias químicas para resistir ao fungo, utilizando a receita de seus genes. O processo decisório da planta é diferente do nosso: quando uma infecção nos afeta, vamos a um médico, um laboratório e a uma farmácia. A planta tem um laboratório de análises clínicas, uma biblioteca de receitas de remédios e uma usina para produzi-los. E toma uma decisão mais difícil e sofisticada: identifica o agressor, seleciona o antídoto, localiza a receita, produz o composto químico e dirige-o para os pontos vulneráveis ao ataque.
Mais genes, mais complexidade?
Está tudo esclarecido, fechamos os livros? Negativo, este é só o prefácio. A complexidade não se explica só pelo número de genes, pois um gene pode ser utilizado parcialmente, outros combinam-se para produzir diferentes efeitos. São múltiplas interações, muitas das quais sequer foram identificadas. Mal comparando, imagine o teclado do seu computador, com 26 letras e três teclas (Shift, Ctrl e Alt). Se você aperta o “A”, aparece um “a” na tela – óbvio. Se você aperta “Shift A”, surge o também óbvio “A”. Porém, ao combinar Ctrl com qualquer letra, o que ocorre não é nada óbvio. E você pode combinar Ctrl, Shift e Alt entre si e com qualquer letra ou conjunto de letras, ou números. Assim, com menos de 40 teclas, você dispõe de um menu de milhares de opções que não são nem óbvias, nem visíveis. Mas, você pilotaria adequadamente um computador, sem saber utiliza-las? É mais ou menos isto que ocorre no complexo recôndito
do núcleo e do citoplasma das células, animais ou vegetais.
Genes pavlovianos
Então, vamos revisar o que foi escrito anteriormente, sob outra ótica: o Cientistamor conferiu a cada gene uma função mais ou menos fixa, mas ele pode interagir com outros genes e demais fatores condicionantes. Algumas manifestações dependem da presença de um conjunto de genes, de outros elementos presentes nas células e dos efeitos ambientais, uma concepção extremamente complexa, digna de um Supercientista. Na prática significa equilibrar relações que poderiam ser antagônicas, tornando-as sinérgicas. Exemplo: embora animais sejam predadores de plantas, também são essenciais para a sua sobrevivência e multiplicação. Alguns insetos são pragas, então, que tal repeli-los, tornar a planta menos palatável, gerar substâncias que impeçam a digestão ou intoxiquem o inseto? De outra parte, há plantas que somente se reproduzem se polinizadas por insetos. Então, ofereça-se néctar ou pólen (altamente nutritivos) para atrair polinizadores! Outros vegetais necessitam que animais carreguem suas sementes para longe, disseminando a espécie. Até nesse momento o Cientista-mor demonstrou criatividade suprema. Um animal consome um fruto contendo uma semente em seu interior. Se digerir a semente, não haverá propagação da planta. Então, a planta protege suas sementes do ataque no trato digestivo dos animais. Ela tanto pode tornar sua casca resistente aos sucos gástricos, quanto punir o predador com uma dose de veneno, se ele ousar invadir a intimidade do embrião. Assim, animais que digerissem a semente seriam eliminados, o princípio da seleção e da coevolução. Voltemos ao primeiro parágrafo. Mais que curiosidade ou ficção científica, tudo o que filosofamos neste artigo tem a ver com desenvolvimento, progresso, educação, qualidade de vida, emprego, renda, comércio, competitividade, longevidade, justiça social, distribuição de renda, segurança, ou seja, os valores perseguidos pela sociedade no III Milênio. Terão acesso a estes valores quem entender que, para atingi-los, será necessário investir fortemente em Ciência e Tecnologia para decodificar os desígnios divinos, entendendo os princípios que regulam a fisiologia dos seres vivos e a sua herança. Um investimento dos seus impostos C para a geração de seus filhos e netos.
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Sementes lançadas e incerteza quanto ao clima A safra dos EUA está colhida. Os números foram bons, com a soja chegando ao seu potencial máximo, sendo que de agora em diante os americanos terão de aumentar a área em cima de lavouras de milho ou algodão para poderem crescer. Com excelentes condições de clima e alta tecnologia, colheram pouco mais de 107 milhões de toneladas de soja e 365 milhões de toneladas de milho. De agora em diante para um ou outro destes grãos crescerem, terão de avançar sobre áreas de outubro, porque os avanços em tecnologia resultarão em pouco potencial adicional. O país se encontra próximo dos limites econômicos de produtividade, com a soja pouco acima das três toneladas por hectare e o milho acima das dez toneladas por hectare. Os melhores estados americanos ultrapassaram as 12 toneladas de milho por hectare e a partir deste patamar o avanço será pequeno, já que neste ano houve registro das melhores condições climáticas de todos os tempos. Desta forma, se ingressa em um novo ano que será o divisor dos tempos do agronegócio, em que os EUA chegaram ao topo e terão pouco espaço para avançar. Em contrapartida, o mundo continuará crescendo em demanda e outros fornecedores deverão aparecer para dar conta de atendê-la. Os americanos continuarão por um bom tempo como líderes mundiais na venda de grãos, mas a participação de outros fornecedores irá crescer. Os custos de produção das lavouras americanas aumentaram muito nestes últimos anos, com o valor do arrendamento chegando ao topo nesta última safra, com casos de mais de 350 dólares por acre (865 dólares por hectare). Nível que alguns produtores já consideravam impagáveis devido aos demais custos. Com isso cria-se uma base de valores para venda de grãos, visto que ninguém irá vender com prejuízos. Mas o principal aspecto é que 2015 será a porta de entrada ou do crescimento de novos fornecedores de grãos para o mercado mundial. Neste cenário o Brasil deverá despontar e se o novo governo brasileiro não atrapalhar, conseguirá abocanhar a maior parte dos espaços abertos nestes próximos anos. Caminha-se para uma “nova era” do agronegócio, com o Brasil puxando a fila dos grandes fornecedores. As sementes da safra foram lançadas com confiança, mas sempre há pela frente a incerteza do clima, que vem limitando as colheitas no hemisfério norte, onde se concentram os maiores espaços para o crescimento do consumo mundial de alimentos, que tende a avançar rapidamente. E com este panorama o Brasil vai se posicionando potencialmente como novo líder mundial. MILHO
SOJA
Com o fim da safrinha, mercado abrirá espaço para bons lucros
Clima incerto e safra abaixo do potencial
O mercado do milho esteve no fundo do poço e agora mostra que deu certo a estratégia dos produtores de segurar as vendas logo após a colheita da safrinha e investir em milhares de Silos Bolsa ou deixar os grãos nos armazéns, cujos estoques continuam muito abaixo das necessidades. Além disso, o dólar, em nova fase positiva, ajuda o setor. Em novembro a moeda chegou aos maiores níveis desde 2005, furando a marca de R$ 2,60, o que fez com que o milho superasse com facilidade a marca dos R$ 32,00 por saca na BMF de março próximo. O porto de Paranaguá passou a carregar grandes volumes para a exportação, superando patamares de R$ 29,50 por saca e desencadeando uma verdadeira corrida de venda de milho por parte de produtores do Centro-Oeste, que têm desovado seus estoques com lucros. Cenário que irá criar um bom ambiente para a nova safrinha, que começará a ser plantada em dois ou três meses e que já nasce com boas expectativas de ganhos. Bons ventos já se projetam para os produtores da safra de verão que neste ano reduziram cerca de 25% a área plantada e com menos milho terão maiores cotações. Além deste fator, há bom ritmo das exportações que devem fechar o ano com pouco mais de 20 milhões de toneladas exportadas, desovando o excedente. O novo ano trará um potencial de produção entre 65 milhões de toneladas e 70 milhões de toneladas (cerca de dez milhões de toneladas abaixo do colhido neste último ano). Números que vão de impacto a um consumo interno crescente e ao cenário mundial que espera do Brasil a venda de mais ou menos 20 milhões de toneladas novamente em 2015. Tudo apontando que haverá disputa entre os compradores externos frente aos consumidores internos e boas expectativas de remuneração aos produtores de milho do Brasil.
O Brasil está plantando uma safra que pode chegar à marca dos 32 milhões de hectares, frente a pouco mais de 30,6 milhões plantados no último ano. O avanço no plantio se dá em cima de trocas de cultivos, com a saída do milho no Sul e Sudeste em favor da oleaginosa e do avanço da soja sobre pastagens degradadas nos estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Começa-se uma grande safra, com clima irregular, plantio atrasado e, mesmo assim, com alto potencial de produção, porque área maior tende a compensar as perdas potenciais. A estimativa de colheita está na casa das 90 milhões de toneladas, mesmo com episódios de algumas regiões em que no ano passado o produtor colheu mais de 55 sacas por hectare, agora, devido ao clima seco e à baixa germinação, se estime com potencial entre 30 sacas a 35 sacas. Mas o quadro geral segue de um ano próximo do normal, ainda com problemas climáticos por vir. A colheita deve ficar pouco acima de 88 milhões de toneladas do último ano, com bom potencial de lucros para os produtores que aproveitaram novembro para fechar parte dos grãos com valores que chegaram a níveis de R$ 65,00 aos R$ 67,00 nos portos para abril, com nova fase de lucros aos produtores brasileiros. A comercialização ainda está muito abaixo do ritmo dos anos anteriores, mas este fato pode ser ponto positivo porque obriga os compradores a se abastecer, sem grande espaço para novas baixas nas cotações à frente. FEIJÃO
Calmaria de final de ano O mercado do feijão registra uma nova fase de consumo no Brasil, que oscila entre altos e baixos. Trata-se de um produto que serve de divisor de demanda. Neste momento se navega em nova fase do consumo, onde os brasileiros carregam o maior endividamento da história. Com a economia estagnada e queda no poder aquisitivo, em 2015 voltará o habito diário do
arroz com o feijão. As principais proteínas deverão navegar o mundo, porque há demanda forte lá fora, com dólar aquecido internamente as cotações deverão seguir atrativas e limitantes para avanço no consumo interno. O feijão será novamente uma fonte importante dos brasileiros e assim as cotações que estão fechando o ano em calmaria, com valores de R$ 90,00 a R$ 120,00 por saca na base do Carioca e níveis parecidos para o Preto, devem em 2015 apresentar fôlego para se manter firme. A primeira safra deverá ser menor em volume de oferta e como o milho voltou a ser atrativo como safrinha, boa parte das áreas que tinham feijão neste último ano deverá migrar para o cereal e dar fôlego maior ao feijão. ARROZ
Produtores otimistas investem em alta tecnologia Os produtores do arroz estão fechando o plantio deste ano com otimismo. O propulsor da safra brasileira, que é o Rio Grande do Sul, apresenta cerca de 1,1 milhão de hectares plantados, com potencial de colher perto de oito milhões de toneladas. Santa Catarina, segundo estado em produção de arroz, tem aproximadamente 150 mil hectares plantados e estimativa de um milhão e 100 mil toneladas de produção. Do restante do país, somente Tocantins, com parte das lavouras irrigadas, tem garantia de produção. Os demais seguem incertos. O indiscutível é que o Brasil irá consumir mais arroz em 2015, pelos mesmos motivos que impulsionarão a compra de feijão. Com população empobrecida e endividada, estará de volta o consumo crescente do arroz, que deverá superar a marca de 12,5 milhões de toneladas. Para isso os produtores investiram em alta tecnologia, buscando compensar o atraso no plantio que ocorreu neste ano devido ao excesso de chuvas. A boa notícia é que os mananciais gaúchos estão todos cheios e dão condições para uma boa colheita, novamente com bons lucros aos produtores gaúchos, em um ano em que o mercado se mostra altamente favorável.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro obteve apoio com os pregões de Pepro, que melhoraram a liquidez dos produtores e geraram cotações melhores, com indicativos crescentes. Mas o ponto principal de apoio ao setor e que serve de apelo para o novo plantio reside no dólar em forte alta, que alcançou os maiores níveis desde 2005. Junto a isso houve alta do trigo no mercado internacional, inibindo as grandes importações realizadas pelos moinhos com grandes prazos para pagar. Tudo indica bom potencial de negociação e lucros de agora em diante. ALGODÃO - Os produtores estão otimistas com o setor, que com o dólar ajustado percebem maior potencial de exportação e melhor liquidez a partir de dezembro. Com a safra mundial esperada em pouco mais de 119 milhões de fardos, contra 120 milhões de fardos da safra anterior (somada à expectativa de que a economia mundial alcance melhores condições de crescimento para 2015), haverá apoio para dar fôlego às cotações, que andaram em baixa nos últimos meses. A estimativa é de que os preços comecem a ganhar forças de agora em diante, pois haverá boa demanda interna nestes próximos meses. A nova safra continua indefinida porque o milho em alta pode estimular os produtores ao plantio da safrinha neste começo de 2015. CHINA - As compras de soja neste começo de ano agrícola foram agressivas. Os chi-
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neses compraram 24,7 milhões de toneladas dos EUA até o começo de novembro, sendo que o ano comercial fecha em final de agosto de 2015 e já havia sido adquirida a maior parte do que podem comercializar com os americanos. As vendas americanas já somavam 75% do potencial de exportação do país. Com isso, para os chineses completarem seu abastecimento deste novo ano terão de vir em busca de produtos na América do Sul, de onde deverão comprar algo próximo de 50 milhões de toneladas. Seguem com “fome” de grãos e continuam com grandes problemas para produzir, porque o clima tem sido desfavorável à produção de alimentos no país, que tem perdido grandes áreas para a desertificação. Não tem chovido em boa parte do país. RÚSSIA - Os russos chegaram e estão levando grandes volumes de frangos, suínos e bovinos, abrindo espaço para alguns grãos como a soja. É uma boa novidade para o mercado brasileiro, que terá boa presença desses compradores em 2015. BIODIESEL - A era B7, ou 7% de biodiesel no diesel, chegou e já trouxe apelo para a soja e para o óleo de soja, que segue como a matéria-prima mais barata para a produção e o atendimento da demanda do setor. Especula-se que em 2015 essa demanda pode variar de 4,2 bilhões de litros a 4,3 bilhões de litros de biodiesel, a maior parte composta do óleo de soja. Com este cenário há forte demanda e apelo positivo para a soja nacional.
Dezembro 2014 / Janeiro 2015 • www.revistacultivar.com.br