C
Cultivar
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVI • Nº 190 • Março 2015 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Nossa capa
Ataque letal - 21
Saiba como manejar corretamente a lagarta elasmo, praga com registro de surtos em lavouras de soja e capacidade de levar plantas à morte
Dirceu Gassen
Índice Diretas
06
Brusone em trigo
12
Mancha alvo e antracnose em soja
14
Mofo branco em soja
18
Capa - Lagarta elasmo em soja
21
Manejo da ferrugem asiática
24
Aproveitamento de resíduos em cana
28
Tombamento em algodão
32
Controle da broca-do-café
34
Consórcio de forrageiras na safrinha
36
Como controlar o mofo branco em feijão
38
Empresas - Lançamento de fungicida UPL 40
Arranjo perfeito - 18
O papel do ajuste de espaçamento entre linhas e da densidade de semeadura no manejo do mofo branco em soja
Coluna ANPII
42
Coluna Agronegócios
44
Mercado Agrícola
46
Quando aplicar - 34
A importância de utilizar inseticidas para o controle da broca-do-café antes que ocorra a perfuração dos frutos
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
COMERCIAL
CIRCULAÇÃO
• Editor
• Coordenação
• Coordenação
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
Rocheli Wachholz Juliana Luz
Charles Ricardo Echer
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
Rithieli Barcelos
Simone Lopes
• Assinaturas
Natália Rodrigues Clarissa Cardoso Aline Borges Furtado
• Design Gráfico e Diagramação
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• Expedição
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• Revisão
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Participação
Eduardo Menezes
A FMC Agricultural Solutions apresentou no Show Rural parcelas demonstrativas com resultados de suas soluções. Para soja, foi destacado pela primeira vez no evento o inseticida biológico Helicovex, com foco no controle da Helicoverpa armigera. "As soluções da FMC estão dentro de uma proposta de manejo mais equilibrado composto por inseticidas biológicos e a linha Fertís, fertilizantes especiais que promovem a melhor absorção e assimilação de nutrientes pela planta", explica o gerente de Marketing Culturas Sul da FMC, Eduardo Menezes.
Solução combinada
Portfólio
Os visitantes do estande da BioGene no Show Rural Coopavel tiveram a oportunidade de conhecer o portfólio completo da marca. O gerente de Marketing, Sérgio Silva, destacou o híbrido BG7318YH, lançado para a safra verão do sul do país. De acordo com o fabricante o material possui elevado potencial produtivo e alta resposta ao manejo, além de superprecocidade e excelente tolerância à ferrugem comum.
Sérgio Silva
Aplicativo
A FMC Agricultural levou ao Show Rural uma solução combinada, entre o produto Rugby 200 CS e o sistema de aplicação “Pulvereasy”, um aplicador especialmente desenvolvido para trazer precisão e uso em larga escala no campo. Esse sistema permite que o produtor obtenha o controle eficiente de nematoides no campo.
No estande da Adama, no Show Rural, foi apresentado o Adama Alvo, aplicativo disponível para iOS e Android, que ajuda na identificação das principais pragas, doenças e plantas daninhas nas lavouras de soja, milho, trigo e algodão. Os visitantes também conheceram o Adama Clima, serviço de estação meteorológica, que pode ser instalado na propriedade e que fornece a previsão do tempo da microrregião de forma mais precisa. A empresa ainda realizou palestras técnicas sobre inseticidas, fungicidas, herbicidas e bioestimulantes, voltados para o cultivo de soja e milho.
Inseticidas
Adriano Roland
O gerente de Produtos Inseticidas da FMC, Adriano Roland, ressaltou a importância para a companhia estar presente no Show Rural, para interagir com os produtores. Destacou o inseticida Talisman, para o controle de percevejos com dois modos de ação, usado para a cultura do milho e também da soja, com efeito complementar no controle de lagartas.
Milho
A BioGene esteve presente no Show Rural Coopavel, com sua equipe à disposição dos produtores para levar informações de manejo para cultura do milho. A marca destacou os híbridos para a safrinha da região: BG7037H, BG7049YH, BG7061H, BG7330H e o lançamento para a Safrinha Sul, BG7432H. Já para a safra de milho verão, a empresa deu destaque ao BG7046, BG7046H, BG7060HR e BG7318YH.
06 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
Híbridos
A Agroeste destacou no Show Rural Coopavel o híbrido AS 1661 PRO, superprecoce para a safrinha. Esse híbrido proporciona a colheita antecipada. A marca mostrou ainda os híbridos AS 1660 PRO e AS 1656 PRO3. Para a soja, a Agroeste trouxe o AS 3610 Ipro, que apresenta precocidade com alto potencial produtivo, sanidade foliar e capacidade de compensação de plantas, o que possibilita plantio antecipado. Também foram destacadas duas variedades de soja recomendadas para a região: AS 3570 Ipro e AS 3575 Ipro.
Lançamentos
No ano em que comemora 70 anos a Sementes Agroceres realizou lançamentos de produtos para o Sul do País, durante o Show Rural Coopavel. O híbrido AG 9000 PRO3 promete elevado potencial produtivo, superprecocidade e qualidade de grãos, além de tolerância a grãos ardidos. É recomendado para o plantio na safrinha. Já o milho AG 8780 é também indicado para a abertura do plantio da safrinha e para a safra de verão.
Foco
O foco da Arysta no Show Rural foi levar ao produtor suas principais soluções em proteção de cultivos e BioSolutions. Além disso, a equipe técnica da empresa ministrou palestras com foco no controle do capim amargoso e alcance de altas produtividades. A grande novidade da marca foi o lançamento de Podset, fisioativador à base de algas, que nutre a planta e pode ser usado em qualquer tipo de cultura.
Cultivares
Presença
No estande da Nidera, na Coopavel 2015, os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer cultivares de soja Nidera Intacta (NS 5959 Ipro, NS 6909 Ipro, NS 6006 Ipro), com proteção contra as principais lagartas da soja. Além disto, os produtores contaram com uma equipe técnica para sanar dúvidas.
Fábio Bueno
O gerente de Produtos e Mercado, Bioativação e Nutrição, da Arysta, Fábio Bueno, ressaltou a importância para a empresa de estar presente no Show Rural Coopavel. Em produtos o destaque ficou com o Select 240 EC, herbicida altamente seletivo, e o Atabron 50 EC, inseticida fisiológico que atua como regulador de crescimento de insetos. O produto é indicado no controle de lagartas em culturas como algodão, soja e cana-de-açúcar, com residual prolongado e máxima seletividade, característica que o torna eficiente para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Outro produto focado pela marca foi o Orthene 750 BR, inseticida sistêmico.
Avaliação
Tecnologia
Durante o Show Rural Coopavel 2015 a equipe da Brasmax apresentou seu portfólio de cultivares de soja para a região Sul, com destaque para Brasmax Elite Ipro, lançamento da marca que conta com tecnologia Intacta RR2. Outra cultivar que chamou a atenção foi a Brasmax Ponta Ipro, com bons resultados de produtividade no campo. A Brasmax também participará da Expodireto Cotrijal 2015, em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul.
O gerente de Produtos e Mercado da Arysta, Marcus Bonafé, avaliou o Show Rural como uma grande oportunidade. “Para a Arysta é muito importante estar presente em um evento desse porte, que nos possibilita estar em contato direto com o agricultor, comprovando resultados efetivos dos nossos produtos, além de levar até o produtor a informação necessária para que consiga atingir um melhor resultado na sua colheita.”
Marcus Bonafé
Prospecção
Benoit Genot
O gerente global de BioSoluções e Nutrição Vegetal da Arysta, Benoit Genot, também participou do Show Rural Coopavel. O executivo veio até o evento com o objetivo de verificar in loco o posicionamento da Arysta e avaliar o nível de competitividade de outras empresas que atuam no mesmo segmento.
www.revistacultivar.com.br • Março 2015
07
Refúgio
O produtor que visitou o estande da Monsanto na feira encontrou um espaço chamado Canto do Refúgio, onde especialistas permaneceram à disposição para esclarecer dúvidas e orientar sobre a implantação destas áreas. Outro destaque da empresa em 2015 são os resultados do projeto MyOffice, um serviço inédito aplicado à rotina de produtores e técnicos da Monsanto. Este aplicativo identifica as necessidades e particularidades dos processos de produção por meio de georreferenciamento e análise de dados.
Inovação
Presente na 27ª edição do Show Rural Coopavel, a Basf apresentou inovações no Sistema Agcelence Soja mediante a incorporação do fungicida Orkestra SC ao modelo de manejo. O gerente de Negócios Cereais Centro-Sul, Eduardo Fadel Gobbo, destacou os benefícios. “Com a introdução do fungicida Orkestra SC, o sistema tornou-se ainda mais eficiente, já que o produto possui efeito ‘blindagem’, ou seja, protege a planta de soja por mais tempo da ocorrência de doenças.”
Eduardo Fadel Gobbo e Clairton Lima Silva
Manejo inteligente
Soja
A Bayer CropScience participou da 27ª edição do Show Rural Coopavel, no Paraná. Durante a feira os visitantes puderam acompanhar discussões sobre o manejo da cultura da soja em suas diversas etapas realizadas em parceria com o professor de Controle Integrado de pragas do Instituto de Ciências Agronômicas de Passo Fundo (RS), Dirceu Gassen. Também esteve presente o agrônomo, produtor e consultor, Jorge Verde, que falou da importância do tratamento de semente para o desenvolvimento e proteção ao ataque inicial de pragas e doenças nas culturas do feijão, milho, soja e trigo.
Encontro técnico
A Bayer CropScience apresentou no Show Rural Coopavel 2015 os projetos Bayer Contra Lagartas e o De Primeira, Sem Dúvida. De acordo com o gerente regional da Bayer CropScience, Everton Queiroz, o primeiro programa é uma plataforma que atenta para o monitoramento de mariposas, antevendo os problemas e prejuízos à lavoura. Já a segunda iniciativa tem como objetivo o monitoramento de lavouras em tempo real, por meio de câmeras em plantações de soja nas seis principais regiões da cultura no Brasil. “As informações fornecidas pelo time da Bayer são customizadas para atender à necessidade do produtor e, no caso do Paraná, tem como base os estudos realizados pela companhia, em parceria com um centro de pesquisa agrícola situado na região Oeste do estado”, explicou Queiroz.
A equipe da Limagrain esteve presente no Show Rural, com seu portfólio completo. O principal destaque da marca foi a cultivar de soja LG 60163 Ipro, precoce, com tecnologia intacta RR2 PRO e tolerância à ferrugem.
Durante o Show Rural Coopavel a Basf apresentou o inseticida Nomolt 150, destinado às culturas da soja e do milho e também o Sistema AgCelence Milho, composto pelos produtos inseticida/ fungicida Standak Top e o fungicida Abacus HC. Também foram destaque os fungicidas Comet e Opera Ultra, aliados ao inseticida/ fungicida Standak Top, que integram o Sistema AgCelence Feijão. Os outros dois produtos presentes nesse modelo de manejo oferecido por meio do Sistema AgCelence Soja são Standak Top e Opera. O herbicida Heat multicultura, indicado no controle de importantes plantas daninhas de folhas largas com destaque para a buva, e o inseticida e acaricida Pirate para controle da lagarta Helicoverpa armigera em soja, também foram destacados no evento.
Projetos
Everton Queiroz e André Angonese
08 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
Produtividade
A Morgan Sementes e Biotecnologia, marca comercial da Dow AgroSciences, apresentou no Show Rural Coopavel seus novos híbridos de milho: MG652 e MG300, produtos que já estão disponíveis para os agricultores da região. Os visitantes também puderam observar parcelas com outros cinco híbridos da marca. Todos os materiais apresentados contam com a tecnologia Powercore, que age por meio de cinco genes estaqueados, proporcionando aumento na produtividade das lavouras de milho de acordo com o nível tecnológico e com as condições climáticas.
Ação educativa
A presença do Instituto Nacional de Processamentos de Embalagens Vazias (inpEV) e das centrais de recebimento do Paraná, no Show Rural Coopavel, teve como objetivo a conscientização dos agricultores sobre a importância da destinação correta das embalagens vazias de agroquímicos e esclarecimento de dúvidas por meio de uma série de iniciativas educativas. Para o coordenador regional de Operações do inpEV, Caio Fernandes, estar presente no Show Rural Coopavel é uma oportunidade para fortalecer o compromisso do instituto na gestão pós-consumo das embalagens vazias de agroquímicos. “Todos os anos em que participamos podemos notar que as atividades desenvolvidas aproximam os visitantes do tema, além de os fazerem refletir sobre a importância da preservação do campo”, descreveu Fernandes.
Trigo
A Dow AgroSciences destacou, durante o Show Rural, o Tricea, novo herbicida pós-emergente para a cultura do trigo. Contou, ainda, com a apresentação de outras duas tecnologias desenvolvidas pela companhia, o Enlist e o Powercore. Foram mostrados, ainda, dados sobre o Programa Enlist Care e informações técnicas a respeito da tecnologia Enlist, uma combinação de melhoramentos genéticos que confere tolerância a herbicidas nas culturas de milho e soja, com diferentes modos de ação.
Sustentabilidade
A Koppert do Brasil apresentou sua nova missão no Show Rural Coopavel 2015, focada na promoção da sustentabilidade de cultivos. “A Koppert contribui para melhorar a saúde das pessoas e do planeta. Em parceria com a natureza, tornamos a agricultura mais saudável, mais segura e mais produtiva”, destacou a coordenadora de Marketing, Jaqueline Antonio.
Jaqueline Antonio
Fungicida
Pragas
A unidade agrícola do grupo Ourofino Agronegócio destacou durante o Show Rural Coopavel o inseticida BrilhanteBR. O produto atua nos três estágios da praga: ovo, lagarta e mariposa, no combate a insetos de difícil controle, agindo de forma sistêmica, de contato e ingestão à base de Metomil. "O grande diferencial do BrilhanteBR é a ação ovicida que contribui para o período de controle da praga na cultura", conta o diretor comercial Sul da Ourofino Agrociência, Antonio Sérgio Moraes.
O Unizeb Gold, fungicida lançado pela UPL, promete ser um novo marco no manejo de doenças da soja, além de trazer mais produtividade à cultura. O objetivo, segundo o fabricante, é contribuir para cultivos de soja, milho e algodão mais eficientes e sustentáveis. Com amplo espectro de ação e controle de diversos patógenos, o produto tem por meta alavancar a produtividade de soja no Brasil, auxiliando o país a atingir a meta de 100 milhões de toneladas. Por controlar doenças através de vários modos de ação, é considerado “Multi Site”, sendo também um aliado potente para o manejo de resistência.
www.revistacultivar.com.br • Março 2015
09
Genética
A Biotrigo Genética marcou presença pela primeira vez no Show Rural Coopavel 2015 com novidades para a cadeia tritícola. “A Biotrigo apresentou seu portfólio de cultivares e se aproxima do público final, com o objetivo de orientar o melhor manejo para garantir a qualidade e produtividade”, explica o diretor de Negócios da Biotrigo, André Cunha Rosa. “A presença da Biotrigo Genética em uma das maiores feiras agrícolas do país é resultado do trabalho realizado interna e externamente pela equipe”, comenta o gerente comercial, Lorenzo Mattioni Viecili.
Ferrugem
A Syngenta apresentou durante o Show Rural o fungicida Elatus, para o combate da ferrugem asiática da soja. Além do defensivo, a área expositiva da empresa no Show Rural destacou o portfólio de sementes, produtos e as soluções integradas para a cultura da soja e do milho. O objetivo foi ressaltar os principais pontos de atenção que o agricultor deve ter em cada fase da sua lavoura. Com 2,4 mil m² de área total e estande com 300m2, contou com 30 funcionários da empresa destinados a atender todas as necessidades dos clientes que visitaram o Show Rural. O estande concentrou, em um único ambiente, todos os espaços destinados para receber os produtores, como laboratório, lounge, café e sala VIP.
Palestras
A Alltech Crop Science promoveu debate sobre temas que influenciam a produtividade agrícola no Show Rural Coopavel 2015. A empresa, além de apresentar suas linhas de fertilizantes, com resultado comprovado no campo demonstrativo neste ano, promoveu em seu estande um ciclo de palestras sobre alguns dos principais temas que impactam a produtividade agrícola no momento.
Sementes
O time Seed Care, liderado pelo gerente de Marketing Felipe Fett, esteve presente no Show Rural. Fett destacou o inseticida Cruiser, além da volta de Avicta Completo para o tratamento de sementes industriais de alta tecnologia. “O único tratamento de sementes que oferece proteção integrada contra nematoides, pragas e doenças”, opinou Fett.
Total Biotecnologia
A Total Biotecnologia, especializada em fertilidade biológica, participou do Show Rural Coopavel. O diretor da empresa, André Floriani Kniphoff, destacou a caixa Soja Max como a mais completa solução biotecnológica de produtos destinados à coinoculação da soja. “Este conjunto de produtos fornece para a cultura da soja fixação biológica de nitrogênio, fitormônios de crescimento vegetal e moléculas de reconhecimento entre a planta e as bactérias, que potencializam o rendimento de grãos da cultura da soja”, explicou.
10 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
Aproximação
O presidente da Syngenta, Laércio Giampani, juntamente com o diretor da Unidade Comercial Sul da Syngenta, João Paulo Zampieri, e o gerente Comercial, André Toesca, aproveitou o Show Rural para se aproximar ainda mais de parceiros da empresa, como João Diniz, importante distribuidor do estado do Paraná.
TRIGO
Cultivar
Estratégias de convivência Realizar a semeadura do trigo a partir de maio, planejá-la de acordo com o ciclo e com as condições ambientais locais, evitar irrigação e buscar prevenir a coincidência do espigamento com períodos chuvosos estão entre as ações que podem ser adotadas para minimizar os efeitos da brusone em regiões de clima tropical
N
a Região Sul do Brasil a cultura do trigo tradicionalmente já faz parte do sistema produtivo das propriedades. Desempenha um papel importante não somente como alternativa para produção de grãos no inverno, mas também como cultura formadora de palhada de alta qualidade no sistema de plantio direto. Em algumas regiões do Brasil onde predominam o clima tropical, produtores começam a perceber alguns benefícios do cultivo do trigo na entressafra da cultura de verão. Um deles é a possibilidade de colheita em períodos de quase ausência de pluviosidade, proporcionando a obtenção de um produto de alta qualidade, cujo peso do hectolitro médio é maior de 80kg/ hl, normalmente superior ao conseguido na região Sul do Brasil. Também se destacam, entre os benefícios, a baixa umidade relativa do ar durante a maior parte do ciclo da cultura, que também
contribui para a diminuição da ocorrência de doenças e pragas, outro grave problema do Sul do Brasil. Outro aspecto importante se refere aos patamares de produtividade bem superiores às regiões tradicionais do país e possibilidade de colheita na entressafra da região Sul do Brasil e da Argentina, principal exportador de trigo para o Brasil, alcançando melhor competitividade de preço no mercado nacional. Em Minas Gerais, também considerada como região tropical para produção de trigo, percebe-se claramente o avanço da cultura nos últimos anos: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a área plantada passou de 21,5 mil hectares em 2012 para 55 mil hectares em 2014. Neste mesmo período, a produção aumentou de 80,7 mil toneladas em 2012 para 175,9 mil toneladas em 2014. Além da importância amplamente reconhecida da cultura no sistema
12 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
de produção agrícola das propriedades rurais, onde é altamente vantajosa, quer seja para formação de palhada e cobertura do solo ou para baixar fontes de inóculo de algumas doenças fúngicas, a cultura do trigo vem atraindo a atenção dos produtores mineiros também pelos bons preços pagos pela indústria nos últimos anos. A brusone do trigo (anamorfo Pyricularia oryzae, teleomorfo Magnaporthe oryzae) foi descrita em espigas de trigo no Brasil em 1985. Seus sintomas característicos são observados em todas as partes da planta, mas é nas espigas que causam danos significativamente econômicos. Nas últimas safras esta doença ganhou importância e chamou a atenção de produtores, técnicos e pesquisadores pelo seu potencial destrutivo. Em alguns casos, onde predominaram temperaturas mais elevadas durante o ciclo, as perdas alcançaram 100%. Os grãos de trigo afetados pela brusone são
chochos e adquirem uma forma enrugada, bem diferentes dos grãos sem a presença da doença nas espigas. Estas características dos grãos oriundos de espigas com brusone promovem baixo peso do hectolitro (kg/100L) e reduzem a produtividade, além de favorecer a péssima qualidade industrial. Várias estratégias para controle e/ou convivência com esta doença estão sendo pesquisadas. Algumas podem ser implementadas de imediato, enquanto outras demandam tempo para serem aplicadas. Atualmente poucos produtos químicos estão registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle da brusone. Ademais, estudos realizados pela Embrapa Trigo, em parceira com diversas outras instituições de pesquisa e outras empresas do setor, indicam que a eficiência do controle químico é baixa. As causas dessa baixa eficiência no controle da doença ainda são objeto de estudos. Doses de produtos, tecnologias de aplicação, número de aplicações, momento da aplicação, são algumas das variáveis estudadas com o objetivo de melhorar a eficiência no controle químico da brusone. A resistência genética, geralmente, é a alternativa mais econômica para o controle de doenças. No caso específico da brusone do trigo, os trabalhos de pesquisas conduzidos até o momento apontam poucas cultivares de trigo significativamente tolerantes. A maioria absoluta dos materiais recomendado e/ou cultivados nas regiões tropicais de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Bahia, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul tem se mostrado altamente suscetível ao patógeno causador da brusone. Nos últimos três anos vários trabalhos de pesquisas sobre a brusone do trigo vêm sendo conduzidos pela Epamig, em Patos de Minas (Financiados pela Fapemig) em conjunto com a Embrapa Trigo. Os resultados mostram que a incidência da doença é extremamente alta quando a semeadura é realizada nos meses de fevereiro e março, caindo significativamente
Fotos Maurício Antônio de O. Coelho
quando a semeadura é realizada a partir de maio. Entre os fatores preponderantes que podem explicar esse comportamento mais ou menos agressivo da doença, destacam-se as variações das temperaturas entre fevereiro e agosto. De acordo com essas pesquisas, a incidência de brusone nas espigas cai para valores inferiores a 10% quando as temperaturas médias das mínimas mensais ficam abaixo dos 14ºC. Na maioria das regiões brasileiras de clima tropical, as temperaturas médias mínimas são observadas apenas nos meses de maio, junho e julho, indicando que a semeadura deve ser planejada de forma a coincidir o espigamento do trigo (estágio da cultura suscetível à penetração do fungo causador da brusone na espiga) nesses meses mais frios. Outra estratégia de convivência com a brusone em regiões tropicais é o conhecimento da duração do ciclo das cultivares em cada área de cultivo. Uma determinada cultivar, de ciclo precoce ou tardio, pode alterar a duração do seu ciclo de acordo com as condições ambientais do local de semeadura. Temperaturas mais elevadas e déficit hídrico no solo são os principais fatores que podem encurtar o ciclo das cultivares. Por outro lado, regiões com alti-
Grãos de espigas de trigo com brusone e sem a presença da doença
tudes mais elevadas, normalmente mais frias, locais com índices pluviométricos mais elevados, cultivos irrigados, tendem a aumentar o ciclo das cultivares. O número de dias que o ciclo pode ser alterado depende da cultivar e da intensidade dos fatores ambientais predominantes na região. Neste sentido, é importante que o triticultor seja orientado tecnicamente ou tenha conhecimento da influência desses fatores, e avalie a possibilidade de efetuar a semeadura de forma que o espigamento ocorra nas condições mais desfavoráveis possíveis à penetração e ao desenvolvimento do fungo na espiga, ou seja, temperaturas mais amenas. Outro fator importante que está relacionado com a incidência de brusone é a presença de água no espigamento. Esta água pode ser oriunda de alta umidade relativa dor ar, das chuvas ou da irrigação. Resultados de trabalhos conduzidos na Epamig, em Patos de Minas, apontam que os meses com menor incidência de brusone coincidem com a queda da umidade relativa do ar. No manejo do trigo irrigado em regiões tropicais, é recomendável que o produtor evite irrigar durante o espigamento, com o objetivo de criar uma condição menos favorável à penetração do fungo e ao desenvolvimento da doença. Enquanto a pesquisa ainda trabalha na busca de cultivares com altos índices de tolerância e até de resistência à brusone, os triticultores, principalmente das regiões tropicais brasileiras, podem conviver com a doença dentro de níveis baixos de incidência. Os principais fatores desfavoráveis ao fungo causador da brusone são: espigamento da cultura em meses mais frios, planejamento da semeadura de acordo com o ciclo e com as condições ambientais locais, evitar irrigação e coincidência de períodos chuvosos no C espigamento. Maurício Antônio de O. Coelho, Epamig/Patos de Minas
www.revistacultivar.com.br • Março 2015
13
Solange Maria Bonaldo
SOJA
Dupla nefasta Mancha alvo e antracnose estão entre as principais doenças que limitam a produtividade e causam prejuízos sérios à cultura da soja. Para conter esses dois entraves o uso de fungicidas, aliado a outras medidas de manejo, constitui alternativa eficiente e economicamente viável
14 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
Pricila Basso
P
ara a expansão na produção de soja, tecnologias e inovações foram agregadas, basicamente pela introdução de materiais genéticos, melhoria nas práticas de manejo e consolidação do sistema plantio direto nas fronteiras agrícolas. Entretanto, isto não impediu o surgimento de problemas que reduzem a produtividade, como, por exemplo, doenças causadas por fungos, bactérias e nematoides. Dentre as doenças que preocupam o agricultor, além da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), destacam-se a mancha alvo (Corynespora cassiicola) e a antracnose (Colletotrichum truncatum), que ocorrem com frequência nas lavouras do Centro-Oeste. A aplicação de fungicidas na maioria dos casos é eficiente e economicamente viável para garantir a qualidade e a produtividade das culturas. Assim, avaliou-se o efeito dos fungicidas azoxistrobina, trifloxistrobina + protioconazol, piraclostrobina + epoxiconazol, fluxapiroxade + piraclostrobina, piraclostrobina, picoxystrobina + ciproconazol, e tebuconazole no controle de antracnose e mancha alvo, e nos caracteres morfológicos de soja no norte de Mato Grosso. O ensaio foi conduzido na Fazenda Andorinha, no município de Lucas do Rio Verde/ Mato Grosso, utilizando-se a cultivar BMX Desafio RR 8473 RSF, semeadura realizada na primeira quinzena de outubro, em sistema de plantio direto. A primeira aplicação dos fungicidas (Tabela 1) foi realizada no florescimento da soja e a segunda, 15 dias após. No controle de antracnose (Figura 1),
Manchas circulares com pontuação no centro, sintoma característico de mancha alvo (Corynespora cassiicola) na cultura da soja
não houve diferença significativa entre os tratamentos e isto pode ter ocorrido pela baixa severidade da doença no experimento, devido provavelmente à baixa concentração do inóculo no local. Considerando a área abaixo da curva de progresso de mancha alvo (AACPMA) (Figura 2), os tratamentos T2 - Azoxistrobina, T3 –Piraclostrobina + Epoxiconazol e Fluxapiroxade + Piraclostrobina, T4 - Piraclostrobina e Piraclostrobina + Epoxiconazol, T5 –Fluxapiroxade + Piraclostrobina e T8 - Tebuconazole, apresentaram os menores valores de AACPMA, apresentando eficiência no controle de mancha alvo. O melhor
Figura 1 - Área abaixo da curva de progresso da Antracnose (Colletotrichum truncatum) (AACPA) em folhas de soja, cultivar Desafio 8473, onde: T1 -Testemunha; T2 - Azoxistrobina (1ª aplicação) e Azoxistrobina (2ª aplicação); T3 –Piraclostrobina + Epoxiconazol (1ª aplicação) e Fluxapiroxade + Piraclostrobina (2ª aplicação); T4 - Piraclostrobina (1ª aplicação) e Piraclostrobina + Epoxiconazol (2ª aplicação); T5 –Fluxapiroxade + Piraclostrobina (1ª aplicação) e Fluxapiroxade + Piraclostrobina (2ª aplicação); T6 –Trifloxistrobina + Protioconazol (1ª aplicação) e Trifloxistrobina + Protioconazol (2ª aplicação); T7 – Picoxystrobina + Ciproconazol (1ª aplicação) e Picoxystrobina + Ciproconazol (2ª aplicação); T8 – Tebuconazole (1ª aplicação) e Tebuconazole (2ª aplicação). Médias seguidas com as mesmas letras não diferem significativamente pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade
controle da doença foi proporcionado pelo T3 – Piraclostrobina + Epoxiconazol (1ª aplicação) e Fluxapiroxade + Piraclostrobina, na 2ª aplicação. Com relação às características morfológicas, não houve diferença entre os tratamentos na altura de planta (cm), diâmetro de colmo (cm), altura de inserção da primeira vagem (cm), número de vagens por planta e número de grãos por planta (Tabela 2). De maneira geral, a aplicação de fungicidas não exerceu efeito sobre estas características morfológicas avaliadas, muito provavelmente pelo fato de serem influenciados pela população de plantas. Entretanto, a aplicação
Figura 2 - Área abaixo da curva de progresso da mancha alvo (Corynespora cassiicola) (AACPMA) em folhas de soja, cultivar Desafio 8473, onde: T1 -Testemunha; T2 - Azoxistrobina (1ª aplicação) e Azoxistrobina (2ª aplicação); T3 –Piraclostrobina + Epoxiconazol (1ª aplicação) e Fluxapiroxade + Piraclostrobina (2ª aplicação); T4 - Piraclostrobina (1ª aplicação) e Piraclostrobina + Epoxiconazol (2ª aplicação); T5 – Fluxapiroxade + Piraclostrobina (1ª aplicação) e Fluxapiroxade + Piraclostrobina (2ª aplicação); T6 – Trifloxistrobina + Protioconazol (1ª aplicação) e Trifloxistrobina + Protioconazol (2ª aplicação); T7 – Picoxystrobina + Ciproconazol (1ª aplicação) e Picoxystrobina + Ciproconazol (2ª aplicação); T8 – Tebuconazole (1ª aplicação) e Tebuconazole (2ª aplicação). Médias seguidas com as mesmas letras não diferem significativamente pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade
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Tabela 1 - Tratamentos utilizados no controle de antracnose e mancha alvo na cultura na soja, cultivar Desafio 8473, em Lucas do Rio Verde/MT TRATAMENTO 1 2
SEQUÊNCIA DE APLICAÇÃO 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª
3 4 5 6 7 8
PRINCÍPIO ATIVO Testemunha (sem controle) Azoxistrobina Azoxistrobina Piraclostrobina+Epoxiconazol Fluxapiroxade+Piraclostrobina Piraclostrobina Piraclostrobina+Epoxiconazol Fluxapiroxade+Piraclostrobina Fluxapiroxade+Piraclostrobina Trifloxistrobina+Protioconazol Trifloxistrobina+Protioconazol Picoxystrobina+Ciproconazol Picoxystrobina+Ciproconazol Tebuconazole Tebuconazole
DOSE (L ha-1) * 0,2** 0,2** 0,5 0,3** 0,3 0,5 0,3** 0,3** 0,3 0,3 0,3** 0,3** 0,3 0,3
Solange aborda medidas integradas para o manejo de ambas as doenças
*Doses recomendadas pelo fabricante; **Adjuvante aplicado de acordo com recomendação do fabricante.
Tabela 2 - Altura de planta (cm), diâmetro de colmo (cm), altura de inserção da primeira vagem (cm), número de vagens por planta, número de grãos por planta e massa de mil grãos de plantas de soja, cultivar Desafio 8473, submetidas à aplicação foliar de fungicidas Tratamentos Testemunha Azoxistrobina+Azoxistrobina Piraclostrobina+Epoxiconazol e Fluxapiroxade+Piraclostrobina Piraclostrobina e Piraclostrobina+Epoxiconazol Fluxapiroxade+Piraclostrobina e Fluxapiroxade+Piraclostrobina Trifloxistrobina+Protioconazol e Trifloxistrobina+Protioconazol Picoxystrobina+Ciproconazol e Picoxystrobina+Ciproconazol Tebuconazole e Tebuconazole
Altura de Diâmetro de Altura inserção Nº de vagens planta (cm) colmo (cm) 1ª vagem (cm) planta-1 32,86a 16,16a 80,80a 0,24a 31,40a 16,44a 78,76a 0,22a 39,70a 15,32a 79,13a 0,30a 36,10a 15,78a 75,87a 0,25a 41,50a 17,31a 81,43a 0,30a 35,96a 16,26a 74,28a 0,30a 34,53a 15,89a 76,75a 0,25a 36,13a 16,15a 81,48a 0,32a
Nº de grãos Massa de planta-1 1000 grãos (g) 70,60 a 147,30b 71,23 a 148,44a 85,06 a 149,14a 79,96 a 146,36b 89,06 a 149,70a 75,43 a 147,96a 72,90 a 146,33b 78,03 a 145,96b
Médias seguidas com as mesmas letras não diferem significativamente pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.
de rendimento de diversos cultivos. Além de ser um parâmetro utilizado para cálculo de densidade de semeadura, também pode ser empregado como fator comparativo da qualidade de sementes. De acordo com as condições em que foi estabelecido e conduzido este trabalho, os resultados permitem concluir que não houve diferença na altura (cm) de planta, altura (cm) da inserção da primeira vagem, número de vagens por planta e número de grãos por planta. Em relação à antracnose (C. truncatum), os tratamentos não apre-
Fotos Pricilla Basso
de T5 –Fluxapiroxade + Piraclostrobina e Fluxapiroxade + Piraclostrobina, T3 – Piraclostrobina + Epoxiconazol e Fluxapiroxade + Piraclostrobina, T2 - Azoxistrobina e Azoxistrobina, e T6 –Trifloxistrobina + Protioconazol e Trifloxistrobina + Protioconazol, proporcionou acréscimo na massa de mil grãos de 1,62%, 1,24%, 0,77% e 0,44%, respectivamente, em relação à testemunha. A massa de mil grãos é uma informação que pode ser adotada na comparação da qualidade dos grãos, apesar de ser comumente realizada em ensaios, como componente
Sintoma de antracnose (Colletotrichum truncatum) em pecíolo
16 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
sentaram diferença significativa no controle desta doença, porém, o tratamento com Piraclostrobina + Epoxiconazol na primeira aplicação e Fluxapiroxade + Piraclostrobina na segunda aplicação demonstrou maior eficiência no controle de mancha alvo (C. cassiicola) e maior massa de mil grãos. Além disso, o agricultor deve adotar medidas preventivas para o controle destas doenças, como rotação de culturas, uso de cultivares resistentes, semente certificada, tratamento de sementes, população de plantas, adubação e espaçamento adequados. Se for necessária a aplicação foliar de fungicidas, consultar um engenheiro agrônomo e seguir as recomenC dações técnicas dos produtos. Pricila Basso, Solange Maria Bonaldo e Solenir Ruffato, Univ. Federal de Mato Grosso
NO BRASIL
A
cultura da soja tem grande destaque no cenário mundial, pois é fonte de produtos alimentícios, tanto para animais quanto para humanos, além do crescente uso de biocombustíveis fabricados a partir do grão que é de grande interesse mundial em energia renovável e limpa. Segundo dados da Conab, a última safra de soja no Brasil, 2013/2014, atingiu recorde de produção (86,12 mil toneladas), com aumento na área produzida, totalizando 30,17 mil hectares, sendo o Mato Grosso responsável por 28,55% desta área.
SOJA
Fotos Rodrigo B. Rodrigues
Arranjo perfeito
Um dos problemas que preocupam os produtores de soja é o avanço de doenças fúngicas, que até pouco tempo não eram tão graves como, por exemplo, Sclerotinia sclerotiorum. Responsável por perdas consideráveis de produtividade, o mofo branco tem aumentado sua importância como patologia da soja em regiões de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. O ajuste do espaçamento entre linhas e a densidade de semeadura são práticas que podem auxiliar no manejo
E
m anos de ocorrência de períodos de chuvas acima da média, o mofo branco pode causar severas perdas em produtividade. Em média, as perdas de produtividade são de 10% a 20%. Porém, em condições favoráveis à ocorrência da doença, as perdas de produtividade podem ser maiores, atingindo, em alguns casos, até 70%. O controle químico desta doença é difícil e oneroso, necessitando-se a utilização de medidas de controle conju-
gadas, para se obter algum resultado prático. Algumas práticas de manejo podem favorecer o controle de mofo branco. Entre elas estão o uso de sementes certificadas, a rotação de culturas, a sucessão de soja com espécies não hospedeiras como milho, o aumento do espaçamento entre linhas e a redução da população de plantas ao mínimo recomendado. O espaçamento entre linhas e a população de plantas, associados a um dossel vegetativo que permita um arranjo
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de plantas capaz de explorar ao máximo o potencial de cada cultivar e suas particularidades, se constituem em fator primordial para o aumento de produtividade.
SINTOMAS
Os primeiros sintomas de mofo branco, nas plantas, são manchas de coloração verde-claro e aspecto “encharcado” ou “amanteigado”, que evoluem para coloração castanho-claro, e logo desenvolvem
Tabela 1 - Espaçamento entre linhas, população de plantas e número de plantas de soja por metro. São Desidério (BA) Espaçamento (m) 0,45 0,57 0,76
População (plantas ha-1) 290.000 150.000 220.000 13,05 6,75 9,9 16,53 8,55 12,54 22,04 11,4 16,72
HOSPEDEIROS
A
lém da soja, o fungo infecta uma vasta gama de plantas cultivadas e daninhas, com exceção das gramíneas. Portanto, S. sclerotiorum é um fungo polífago, sendo hospedeiras plantas de mais de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies. Recomenda-se fazer rotação de culturas com espécies não hospedeiras como milho, aveia, Brachiaria e demais gramíneas para se diminuir a incidência de S. sclerotiorum nas lavouras.
Presença abundante de sintomas característicos do mofo branco em plantas de soja
abundante formação de micélio branco e denso. Em poucos dias, o micélio transforma-se em massa negra e rígida. Este é o escleródio, que é a forma de resistência do fungo. Os escleródios variam em tamanho de poucos milímetros a alguns centímetros e são formados tanto na superfície como no interior da haste e dos legumes infectados. Escleródios caídos no solo, sob condições de alta umidade e temperaturas variando de 10ºC-21°C, germinam e desenvolvem, na superfície do solo, estruturas de reprodução sexuada, chamadas apotécios. Estes produzem ascósporos que são liberados ao ar e são responsáveis pela infecção das plantas.
ARRANJO DE PLANTAS
O ajuste do espaçamento entre linhas e a densidade de semeadura são práticas
que podem interferir na ocorrência da doença. Essa prática melhora a aeração e a infiltração de radiação solar no dossel da cultura, o que diminui o desenvolvimento e a proliferação do fungo. Tanto a aeração quanto a radiação solar reduzem a germinação dos escleródios e o desenvolvimento dos apotécios. Com base nesses conhecimentos, foi realizado um estudo em São Desidério, Bahia, com o objetivo de se avaliar o efeito do arranjo de plantas (espaçamento e população de plantas) na ocorrência de mofo branco (S. sclerotiorum) na cultura da soja. O estudo foi realizado em área experimental da Sementes Eliane, em São Desidério, Bahia. A cultivar utilizada foi FTS 4188. Esta cultivar apresenta grupo de maturação 8.8, com ciclo que pode variar de 130 dias a 135 dias. A população
de plantas recomendada oscila de 180 mil planta/ha a 200 mil plantas/ha. Cada tratamento constou de faixas de 7,6m de largura por 200m de comprimento. Os tratamentos testados foram combinações entre população de plantas por hectare e espaçamento entre linhas de semeadura, conforme ilustrado na Tabela 1. O número de linhas de semeadura por parcela variou de acordo com o espaçamento utilizado em cada tratamento. A avaliação foi realizada quando a cultura encontrava-se no estádio fenológico R5.5. Para a avaliação da incidência de S. sclerotiorum, em cada parcela foram realizadas amostragens em quatro pontos. Cada ponto de avaliação consistiu em dois metros de linha do cultivo, em que cada planta foi avaliada individualmente para, dessa forma, obter a porcentagem de plantas infestadas por S. sclerotiorum.
Figura 1 - Relação entre população de plantas e espaçamento entre linhas na incidência de Sclerotinia sclerotiorum na cultura da soja
Planta de soja infectada por Sclerotinia sclerotiorum (A); escleródios de S. sclerotiorum (B)
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Fotos Rodrigo B. Rodrigues
PREVENÇÃO E MANEJO
A
utilização de sementes de qualidade é uma forma de prevenir a entrada do patógeno nas lavouras. A transmissão por semente pode ocorrer tanto através de micélio dormente (interno) quanto por escleródios misturados às mesmas. A pulverização de fungicidas à base de tiofanato metílico e carbendazim pode reduzir a incidência da doença. Aplicações preventivas, a partir do período de pré-florescimento da soja, previnem a colonização do fungo nos tecidos vegetais. O arranjo de plantas adequado para cada cultivar também pode beneficiar a cultura em função da melhor infiltração dos fungicidas no dossel. O controle biológico de S. sclerotiorum
RESULTADOS
Os resultados obtidos indicam que, para essa situação, a porcentagem de plantas infestadas apresentou relação inversa com o espaçamento entre linhas e direta com a população de plantas (Figura
a partir de pulverização de suspensão de esporos do fungo Trichoderma spp. proporciona a redução da germinação de escleródios. Da mesma forma, o plantio de culturas que mantenham a superfície do solo coberta, como Brachiaria spp., impõe uma barreira física à germinação dos escleródios, diminuindo a incidência da doença. Outras medidas preventivas, como evitar o tráfego de máquinas entre áreas infestadas e não infestadas pelo fungo, realizar a limpeza de máquinas e equipamentos, evitar o revolvimento do solo para que escleródios que estavam enterrados sejam expostos e germinem, entre outras, previnem e diminuem a infestação das lavouras. 2). Ou seja, quanto maior o espaçamento entre linhas, menor foi a incidência de S. sclerotiorum. De outra forma, quando se aumentou a população de plantas, a porcentagem de plantas atacadas por mofo branco também aumentou. Portanto, nos
Em anos de ocorrência de chuvas acima da média, o mofo branco pode causar severas perdas
tratamentos em que se associou maior espaçamento entre linhas com menor população, a porcentagem de plantas atacadas foi menor. Esses dados concordam com as recomendações de pesquisadores e instituições, que afirmam que com o aumento do espaçamento entre linhas e a redução da população ao mínimo recomendado, promove-se maior ventilação e maior penetração dos raios solares no dossel da cultura, que diminuem a incidência de mofo branco. Com frequência, o produtor tem perdas de produtividade com a alteração desses parâmetros (aumento do espaçamento e redução da densidade). Entretanto, a soja é uma cultura plástica, com capacidade de manter a produtividade em maiores espaçamentos e com menor densidade populacional. Os resultados obtidos demonstram a menor porcentagem de plantas atacadas por S. sclerotiorum nos tratamentos em que se utilizou o maior espaçamento, ou seja, 0,76m, para todas as populações testadas (Figura 2). Dessa forma, fica claro que o arranjo de plantas pode ser um recurso utilizado dentro do sistema de manejo de S. sclerotiorum na cultura da soja, principalmente em lavouras com alta incidência C deste patógeno. Jerson V. C. Guedes, Jonas A. Arnemann e Ivair Valmorbida, UFSM Giliardi Dalazen, UFRGS Rodrigo B. Rodrigues, DuPont
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SOJA
Ataque letal
Fundação MT
Surtos frequentes da lagarta elasmo têm sido registrados em lavouras de soja de Mato Grosso. Capaz de levar plantas à morte, a praga gera enormes prejuízos como a necessidade de replantio, redução da densidade populacional e danos à produção. O tratamento de sementes é uma das alternativas para prevenir perdas com o inseto
D
i v e r s o s i n s e t o s o c o r re m durante todo o ciclo da soja, causando danos. Entre os que atacam na fase inicial, se destaca a lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus), (Zeller, 1848), que pode provocar a morte das plantas, com poder de fogo para reduzir a densidade populacional (estande) e prejudicar a produção. A incidência da broca-do-colo ou lagarta elasmo geralmente é cíclica, mas os surtos em soja têm sido frequentes, principalmente em solos arenosos e em anos com estiagem prolongada, na fase inicial das lavouras. Entretanto, dependendo da severidade da estiagem, atacam generalizadamente todas as variações de textura. Essa praga ocorre também em outras culturas, como milho, feijão e algodão se no momento do plantio houver um período de veranico. Costuma ser frequente em áreas novas de cultivo que estavam sob condições de pastagens degradadas ou nativas. Na safra 2014/15 ocorreram ataques desse inseto em todas as regiões de Mato Grosso, nas primeiras áreas semeadas, devido à falta de umidade no momento da emergência das plantas, mesmo em regiões como o norte do estado, onde não é comum a incidência de lagarta elasmo por se tratar de área onde as chuvas se iniciam com regularidade. Nessa safra observaram-se danos de elasmo e algumas áreas apresentaram necessidade de replantios, em razão da grande extensão atacada, ocasionando morte das plantas. Geralmente o ataque se dá no início da germinação, no entanto, quando ocorrem períodos de veranicos prolongados o dano de lagarta elasmo pode ser observado em plantas com estágios mais avançados e, nessa safra, também foi possível verificar o dano no período de janeiro, quando a planta se encontrava em estágio de desenvolvimento V7, com 25 a 30 dias após a emergência devido à estiagem nesse período do ano.
DESCRIÇÃO E BIOLOGIA
Possui hábito polífago, alimentando-se de diversas espécies de plantas, como gramíneas e leguminosas, por exemplo. A lagarta apresenta coloração variando do verde-azulado ao róseo, com listras transversais marrons e cabeça pequena, também marrom. Pode atingir 16mm no máximo. Assim que ataca a planta, a lagarta constrói um abrigo de teia e grãos de areia próximo ao orifício de entrada da planta, nele permanecen-
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Fotos Fundação MT
Tabela 1 - Número médio de plantas atacadas por lagarta elasmo e número médio de lagarta elasmo de cada tratamento de semente em soja convencional. Itiquira (MT). Safra 2014/15
Testemunha Fipronil + Piraclostrobina+ Tiofanato metílico (100mL/há) Tiametoxan (250mL/100kg de sem) Clorantraniliprole (100ml/100kg de sem) CV %
Plantas atacadas1 71,75 a 34,25 bc 61,00 ab 20,50 c 15,04
7 Dias após a emergência Lagartas1 %E2 3,25 a 1,75 a 52,3 2,00 a 15,0 0,75 a 71,4 28,44 -
%E2 46,2 38,5 76,9 -
Plantas atacadas e lagartas presentes em 60m2; 2Eficiência de Controle (%)
1
do quando não está dentro da galeria. São muito ágeis, quando tocadas pulam incessantemente por alguns segundos, sendo este comportamento uma forma de livrar-se dos inimigos naturais. A pupa se forma no solo, próxima à base da planta e apresenta coloração inicial amarelada ou verde, passando a marrom e, logo antes da emergência do adulto, assume a coloração preta. O adulto é uma micromariposa cinza que mede de 15mm a 23mm de envergadura, as asas são dispostas paralelas à linha do corpo e é muito atraída por focos luminosos. Os ovos são depositados sobre a planta, no solo ou nos restos vegetais da área, como a palhada. A umidade do solo afeta diretamenteo comportamento dos adultos na seleção do local para oviposição, a eclosão de lagartas e a mortalidade de lagartas recém-eclodidas. Diferentes sistemas de cultivos são fatores que também afetam a dinâmica populacional desse inseto. A infestação é grandemente reduzida em plantio direto, quando comparada à que ocorre no sistema de plantio convencional. As áreas queimadas antes do plantio, também, mantêm as infestações maiores, onde além da atratividade sobre os adultos do inseto, a fumaça estimula a oviposição, proporcionando o dobro do número de ovos quando confrontada com a ausência dafumaça (Magri, 1998).
DANOS
Quando pequenas, as lagartas alimentam-se raspando o parênquima foliar. À medida que crescem, perfuram um orifício na planta ao nível do solo construindo aí uma galeria ascendente que vai aumentando de comprimento e largura com o crescimento da lagarta e o consumo de alimento. Na entrada dessa galeria pode ser observado o abrigo formado por detritos ligados entre si por fios de seda secretados pela lagarta, utilizado na movimentação entre as plantas atacadas e também como abrigo na fase de pupa. As plantas atacadas inicialmente murcham, podendo morrer imediatamente levando a falhas de estande ou sofrer agravamento de danos posteriormente, sob a ação de chuvas, vento ou implementos agrícolas, que tombam as plantas. Frequentemente é uma praga que leva a falhas de estande e, ocasionalmente, obriga a uma nova semeadura nas falhas da lavoura ou na área total.
Dano de lagarta elasmo em estágios mais avançados
Na cultura do milho em alguns anos ocorre o dano da lagarta elasmo, causado na região do colo, penetrando em seguida no colmo e fazendo galerias no seu interior, o que provoca o perfilhamento e/ou a morte da planta.
CONTROLE
Os solos sob sistema de semeadura direta, por geralmente reter mais umidade, têm menores problemas com a praga. Áreas sem coberturas e que sofreram com fogo na entressafra tendem a apresentar maiores danos por favorecer o desenvolvimento das lagartas.
CICLO DE VIDA
A duração média é de 42 dias (ovo = três dias; lagarta = 20 dias; crisálida = sete dias; adulto = 12 dias).
PERÍODO DE ATAQUE
Começa logo após a germinação da soja, podendo estender-se por 30 a 40 dias. Muitas vezes o inseto já está presente na área antes da instalação da cultura, sendo necessário ter conhecimento de possíveis infestações em lavouras vizinhas e levar em conta a ocorrência de período de estiagem prolongada. Daí a importância de vistoriar a área ou a palhada antes da semeadura.
22 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
Prejuízos causados pela lagarta na fase inicial de desenvolvimento das plantas
Tabela 2 - Porcentagem de redução de estande final por tratamento de sementes em soja convencional e rendimento (kg/ha). Itiquira/MT. Safra 2014/15 Testemunha Fipronil + Piraclostrobina + Tiofanato metílico (100ml/ha) Tiametoxan (250ml/100kg de sem) Clorantraniliprole (100ml/100kg de sem) CV%
A alta umidade do solo é o principal fator abiótico que pode ser utilizado no manejo de elasmo. Age negativamente em qualquer estágio do ciclo biológico da praga. Porém, a sua importância é maior no início da fase larval, causando alta mortalidade. À medida que a lagarta desenvolve, a mortalidade decresce (Viana & Costa, 1992). A umidade elevada do solo também afeta negativamente o comportamento dos adultos na seleção do local para oviposição e na eclosão das lagartas. As mariposas preferem depositar os ovos em solos mais secos. A oviposição é maior em solos secos que em solos mais úmidos. O tratamento de semente com carbamatos (thiodicarb e carbosulfan), fipronil ou clorantraniliprole em dosagens adequadas pode ser uma medida que minimiza o problema. Entretanto, o risco de fitotoxicidade é alto, devendo o profissional que recomenda ficar atento quanto ao registro do inseticida para a cultura. Sementes de soja, especialmente as tratadas com carbamatos, devem ser imediatamente semeadas em solo úmido para evitar o agravamento da fitotoxicidade e permitir a adequada
62,5% 20,2% 39,5% 15,0%
Rendimento Kg/ha 2294,0 a 3246,2 a 3349,9 a 3469,1 a 9,85
Adulto de Elasmopalpus lignosellus
emergência de plantas logo após a semeadura. Pulverização de inseticida de boa ação de profundidade como clorpirifós, de preferência feita à noite, em alto volume de calda (400L/ha a 600L/ha) sobre as plantas, pode controlar a praga com até 60% de eficiência. Em situações de populações extremamente elevadas da praga, o uso de clorpirifós em pré-plantio incorporado, ou pulverizado no sulco de semeadura (faixa de 0,10 metro no sulco), aumenta a eficácia de controle da praga em relação às pulverizações de parte aérea. O ideal é semear a soja a partir do momento que ocorrer a regularização das chuvas na região, pois o mais efetivo controle da praga é feito pela boa umidade do solo. Em estudos realizados na safra de soja, com tratamento de sementes, os danos foram mais intensos no início do desenvolvimento das plantas devido à alta pressão de lagartas nesse período e houve diferença entre os produtos utilizados e o número de plantas atacadas foi superior para a área sem tratamento de sementes (testemunha), como também entre os tratamentos realizados (Tabela 1). Para o número de lagartas presentes
em cada tratamento não se observou diferença estatística nas avaliações realizadas. Isso se deve à dificuldade de encontrar a lagarta, que se desloca de uma planta para outra durante o ciclo, e nas plantas com sintomas de dano geralmente não se encontram lagartas, pois já migraram para outras plantas. Observou-se redução de estande nas áreas não tratadas em relação aos tratamentos de sementes realizados, onde os tratamentos com Fipronil e Clorantraniliprole oferecem menores percentuais de perda de estande final em relação ao estande observado aos sete dias após a emergência, o que indica que o tratamento de sementes oferece proteção às plantas na fase inicial de desenvolvimento à lagarta elasmo e, dentre os tratamentos, há diferença de controle. Nessa área, também se observou rendimento inferior para a área não tratada em relação às tratadas, e o tratamento com clorantraniliprole ofereceu rendimento superior em relação aos demais tratamentos. C Lúcia Vivan, Fundação MT
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SOJA
Genético e químico A ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é a doença mais agressiva já enfrentada pelos produtores de soja. Para controlá-la é importante a busca pela identificação de linhagens tolerantes e muita atenção à época de aplicação de fungicidas
E
Para o controle da ferrugem da soja podem ser utilizadas, além do vazio sanitário, várias técnicas, como o uso de cultivares precoces de acordo com cada região, monitoramento das lavouras desde o início da safra e aplicação de fungicidas. Além da aplicação de fungicidas para o controle da ferrugem da soja realizada no Brasil, trabalhos apontam o controle genético como uma importante estratégia no manejo racional da doença, com o objetivo de reduzir o uso de fungicidas na cultura (Silva, 2009). Ainda não se tem, entre as cultivares recomendadas, genótipos com bom nível de resistência parcial. Isto se deve, em parte, à recente ocorrência da doença no país, mas também devido ao fato de o fungo Phakopsora pachyrhizi possuir diversas raças com múltiplos genes de virulência.
Fotos Amanda Letícia da Silveira
ntre os principais fatores que limitam a exploração máxima do potencial de produtividade da soja estão as doenças. A ferrugem asiática possui destaque, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, patógeno biotrófico, ou seja, que necessita do hospedeiro vivo para sua sobrevivência. Esta doença tem sido de grande importância devido a sua incidência levar à diminuição da produção. A agressividade desta doença levou à implantação de um programa de vazio sanitário, desde 2006, que tem como objetivo proibir a plantação de soja por 90 dias durante a entressafra de acordo com cada região e também a eliminação da soja tiguera. Essa medida tem ajudado a diminuir a quantidade de inóculo no campo e a retardar o aparecimento da doença
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O EXPERIMENTO
Um experimento foi conduzido em condições de campo em área do Instituto Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados (DBC) em esquema fatorial de 3x5 (três linhagens e cinco épocas de aplicação de fungicidas), com quatro blocos. As parcelas experimentais constaram de quatro linhas com seis metros de comprimento por dois metros de largura e o espaçamento entre linhas de 0,5 metro. Foram semeadas entre dez e 15 sementes por metro em função da recomendação de cada linhagem. Foram realizados o preparo convencional do solo e a semeadura por meio de uma semeadora/adubadora. As adubações foram realizadas de acordo com recomendação da Comissão de Fertilidade de solo do estado
Área experimental no Instituto Federal do Triângulo Mineiro, onde foi conduzido trabalho em condições de campo
de Minas Gerais. A infecção da doença ocorreu de forma natural no campo e as aplicações dos fungicidas realizadas na parte aérea, para controle da ferrugem, com pulverizador costal. Nas parcelas experimentais os tratamentos foram dispostos da seguinte forma: duas linhagens promissoras (resistentes) transgênicas do Programa de Melhoramento Genético da Embrapa, Epamig/ Fundação Triângulo (BRSMG 780FRR e BRSMG 791 FRR), além de uma cultivar suscetível à ferrugem (BRS Favorita) do mesmo programa e épocas de aplicação de fungicidas (piraclostrobina e epoxiconazol 0,50 + óleo mineral 0,5% dose L p. c. ha). Na Tabela 1 é apresentado um resumo dos tratamentos empregados no experimento. As características avaliadas foram produtividade em kg/ha, peso de 100 grãos, severidade visual das plantas avaliadas semanalmente de acordo com a escala diagramática desenvolvida em porcentagem. Os valores de severidade de doença foram utilizados na obtenção da Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) (Shaner & Finney 1977). Foi realizada a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Scott Knott, ao nível de 5% de probabilidade.
realizada a pulverização conforme monitoramento (aplicação primeiras pústulas + retorno das pústulas + retorno das pústulas), comprovando certa resistência da cultivar. Enquanto para a linhagem BRSMG 791PRR foi observado que os menores índices de severidade ocorreram quando as aplicações foram realizadas durante a fase R5.1 e no monitoramento. Tais resultados são explicados em função das características genéticas dos materiais, sendo a cultivar BRS Favorita suscetível e as demais BRSMG 780FRR e BRSMG 791PRR resistentes à ferrugem asiática da soja. Em materiais com tolerância à ferrugem, a severidade da doença será menor e também o número de aplicações. Ao contrário da cultivar BRS Favorita, que apresenta suscetibilidade à ferrugem, portanto, necessitará de um número maior de aplicações de fungicidas ou épocas mais adequadas para aplicação. Ao analisar as épocas de aplicação de
fungicida nota-se que, na ausência de pulverização, a cultivar com menor severidade foi a linhagem BRSMG 780FRR. Quando a pulverização foi realizada seguindo o cronograma completo (R1 + 20 + 20) e o monitoramento não se observou efeito significativo para estas cultivares. Quando a aplicação do fungicida foi efetuada em 1 + 20 + R5.1 (surgimento das primeiras pústulas + 20 dias + fase R5.1) a menor severidade foi encontrada na cultivar BRS Favorita e quando as aplicações foram efetuadas na fase R5.1 a linhagem que apresentou menor severidade foi a BRSMG 791PRR. Resultado semelhante foi alcançado em experimento realizado por Silva, 2009, onde também se observou que os tratamentos com cultivares suscetíveis apresentou as maiores severidades de ferrugem. Entre todos os tratamentos, observou-se que aquele que apresentou a menor AACPD, foi para a linhagem BRSMG
Escala diagramática para avaliação de severidade de ferrugem da soja, Godoy (2006)
RESULTADOS DE PESQUISA
Pode-se observar na Tabela 2 que para a cultivar BRS Favorita a menor severidade encontrada ocorreu quando as pulverizações foram realizadas com surgimento das primeiras pústulas + 20 dias depois, e na fase de R5.1. Já para a linhagem BRSMG 780FRR a menor severidade foi encontrada quando não se efetuou nenhuma pulverização de fungicida e quando foi www.revistacultivar.com.br • Março 2015
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Tabela 1 - Descrição dos tratamentos empregados no experimento Tratamentos T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T 10 T 11 T 12 T 13 T 14 T 15
Cultivar BRS FAVORITA BRS FAVORITA BRS FAVORITA BRS FAVORITA BRS FAVORITA BRSMG 780FRR BRSMG 780FRR BRSMG 780FRR BRSMG 780FRR BRSMG 780FRR BRSMG 791PRR BRSMG 791PRR BRSMG 791PRR BRSMG 791PRR BRSMG 791PRR
791PRR na aplicação em R5.1. A explicação para tal resultado tem como base a característica do material, tolerante à ferrugem, e a época de ocorrência da doença, mais tardia, para a safra 2011/2012. A aplicação em R5.1 provavelmente ocorreu quando o inóculo estava em maior concentração e, portanto, proporcionou o maior efeito do fungicida agregado à resistência do material. No período R5.1 tem início o enchimento de grãos, época onde existe grande translocação de fotoassimilados, o que pode acarretar maior suscetibilidade das plantas. Para o peso de 100 grãos, pode-se observar que houve diferença significativa entre os tratamentos. Para os materiais BRS Favorita e BRSMG 791PRR notou-se que não houve efeito significativo. Já para a linhagem BRSMG 780FRR os maiores pesos de 100 grãos foram encontrados quando não se efetuou pulverização, quando as aplicações foram efetuadas conforme calendário (R1 + 20 + 20) e quando se pulverizou em R5.1 (Tabela 3). Quando observado o comportamento dos materiais para o peso de 100 grãos dentro de cada época de aplicação, constata-se que também houve diferença entre os tratamentos. Para os tratamentos onde não houve aplicação de fungicida, observou-se que os maiores pesos ocorreram no material BRSMG 780FRR. Quando a avaliação se deu na aplicação por calendário (R1+20+20), o menor peso foi encontrado no material BRSMG 791PRR, estatisticamente diferente dos demais. Já para o tratamento 1 + 20 + R5.1, o maior
Aplicação fungicida SEM FUNGICIDA FUNGICIDA (R1+20+20) FUNGICIDA (1+20+R5.1) FUNGICIDA (R5.1) (MONITORAMENTO) SEM FUNGICIDA FUNGICIDA (R1+20+20) FUNGICIDA (1+20+R5.1) FUNGICIDA (R5.1) (MONITORAMENTO) SEM FUNGICIDA FUNGICIDA (R1+20+20) FUNGICIDA (1+20+R5.1) FUNGICIDA (R5.1) (MONITORAMENTO)
R1 - Início da floração: até 50% das plantas com uma flor; R5.1 - Grãos com início de formação (perceptíveis ao tato) a 10% da granação.
Tabela 2 - Valores médios da área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) para severidade visual de ferrugem asiática em plantas de soja. Uberaba, MG, 2012 Épocas de aplicação de fungicida S/F R1+20+20 1+20+R5.1 R5.1 Monitoramento
Cultivares BRS Favorita BRSMG 780 FRR BRSMG 791 PRR 555,12 a A 714,86 a1 A2 331,53 b B 710,93 a A 757,31 a A 612,50 a A 682,50 a A 432,25 b B 600,68 a A 256,93 b B 739,37 a A 581,65 a A 400,31 b A 560,00 b A 472,50 b A
as médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas na vertical não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Scott Knott. 2 as médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na horizontal não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Scott Knott. 1
Épocas de aplicação de fungicida S/F R1+20+20 1+20+R5.1 R5.1 Monitoramento
Cultivares BRS Favorita BRSMG 780 FRR BRSMG 791 PRR 17,95 a B 17,45 a1 B2 20,01 a A 17,76 a B 19,19 a A 19,15 a A 17,89 a B 19,22 a A 17,25 b B 18,55 a A 18,31 a A 18,82 a A 18,91 a A 18,39 a A 18,04 b A
Amanda Letícia da Silveira, Juliana Stracieri, Larissa Nogueira de Souza e Antonio Pizolato Neto, Unesp Franciele Morlin Carneiro e Daniel Rufino Amaral, IFTM, Campus Uberaba
Amanda Letícia da Silveira
Tabela 3 - Valores médios do peso de 100 grãos (gramas). Uberaba (MG), 2012
peso ocorreu para o material BRS Favorita. Nos demais tratamentos, R5.1 e Monitoramento, observou-se que não ocorreu diferença entre os tratamentos. Não houve diferença significativa entre os tratamentos para a produtividade da cultura. Na Tabela 4 estão os valores de produtividade média encontrados em cada tratamento. Nota-se que as produtividades médias variaram entre 2.784,75kg/ha e 3.428,50kg/ha. Estes valores são similares aos encontrados por Silva (2007), onde a produtividade média variou de 1.330,20kg/ ha a 2.688,6kg/ha. Pode-se concluir, nas condições do atual trabalho, que a ferrugem asiática da soja pode ser controlada com resistência genética utilizando a linhagem BRSMG 780 FRR. Conclui-se também que a associação de diferentes épocas de aplicação e resistência genética se mostra viável para o manejo da ferrugem e que houve uma diminuição no número de aplicações de fungicidas. Outra conclusão gerada a partir do trabalho está relacionada à eficiência da aplicação, que baseada em diferentes critérios se mostra mais eficaz quando comparada ao manejo tradicional, onde prevalece a pulverização em períodos predeterminados. C
as médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas na vertical não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Scott Knott. 2 as médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na horizontal não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Scott Knott. 1
Tabela 4 - Médias de produtividade em kg ha-1 Épocas de aplicação Cultivares de fungicida BRS Favorita BRSMG 780 FRR BRSMG 791 PRR 3197,50 S/F 2830,25 3428,50 2719,50 R1+20+20 2784,75 3155,25 2659,00 1+20+R5.1 3270,75 2800,25 3353,25 R5.1 3375,00 3172,00 2801,75 Monitoramento 3086,25 3055,50 as médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas na vertical não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Scott Knott. 2 as médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na horizontal não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Scott Knott. 1
Para o controle da ferrugem da soja podem ser utilizadas, além do vazio sanitário, várias técnicas como o uso de cultivares precoces de acordo com cada região
26 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
CANA
Aplicação de resíduos Com o advento da colheita mecanizada da cana-de-açúcar e a consequente supressão da queima na pré-colheita, o destino e a correta utilização da biomassa foliar dos canaviais transformaram-se em desafio adicional, repleto de potencialidades. Sustentar a produtividade das áreas e auxiliar na armazenagem de matéria orgânica no solo são algumas das possibilidades quando se efetua o adequado manejo desses resíduos
E
studos em diversas regiões brasileiras vêm sendo conduzidos com o objetivo de desenvolver estratégias para utilização sustentável dos solos, com a finalidade de reduzir o impacto das atividades agrícolas sobre o ambiente. Há quase um século as pesquisas na cultura da cana-de-açúcar são baseadas em áreas sob queima da biomassa foliar (palhada) na pré-colheita. Porém, a supressão da queima na pré-colheita vem sendo adotada com efetividade nos últimos anos. Mudanças no manejo de resíduos de colheita são importantes, pois ajudam a sustentar a produtividade das áreas e auxiliam na armazenagem de matéria orgânica no solo, principalmente quando grandes áreas fazem parte do sistema de produção. Os aspectos ambientais e sociais do uso negativo da queima na pré-colheita são:
poluição do ar e aumento de fuligem ao redor de centros urbanos; maior consumo de água para limpeza da cana colhida em seu processamento na indústria, além da limpeza de sujeira nas cidades próximas; elevação no número de acidentes em rodovias devido à fumaça proveniente da queima; aumento de problemas respiratórios; supressão da fauna e flora silvestre no canavial e áreas vizinhas, assim como ambiente de trabalho adverso para o cortador de cana. Nos últimos anos, a proibição da queima para eliminar as palhas na pré-colheita tem representado um dilema socioambiental. De um lado, a eliminação da etapa de queima pode contribuir para melhoria da qualidade do ar e redução de problemas respiratórios, além de favorecer a sustentabilidade ambiental, mas, por outro, pode suprimir milhares
28 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
de empregos, sendo necessário direcionar a mão de obra para outros postos de trabalhos, como operar máquinas agrícolas e atuar nas suas revisões e manutenções. Ao colher a cana crua através da utilização de máquinas, as folhas secas e verdes dos colmos, além dos ponteiros, formam camada de palha na superfície do solo, o que contribui para: (I) redução da compactação superficial e melhorias dos atributos físicos do solo, (II) redução do escorrimento superficial do solo, água e nutrientes, impedindo a erosão, (III) aumento no teor de matéria orgânica, (IV) elevação da capacidade de troca catiônica (CTC), (V) favorecimento do microclima próximo ao solo, que auxilia a manutenção da umidade por período maior, evitando mudanças bruscas na temperatura e influência positiva na dinâmica do carbono no solo, armazenando-o por maior período.
Além da substituição da queima da palhada da cana-de-açúcar durante a pré-colheita, tem-se também incremento à utilização dos resíduos da própria indústria, minimizado impactos ambientais, além de reduzir o uso de fertilizantes minerais. Destacam-se, entre os resíduos gerados, a água de lavagem da cana, o bagaço, a torta de filtro e a vinhaça (Figura 1). A aplicação destes resíduos em solo cultivado é uma das formas de repor os nutrientes extraídos pela cultura, complementando ou substituindo total ou parcialmente a quantidade de fertilizantes minerais recomendados nos programas de adubação, além de reduzir a contaminação ambiental no descarte destes resíduos. O aproveitamento da vinhaça gerada durante a produção do etanol (álcool)/açúcar como fertilizante agrícola pode ser realizado mediante fertirrigação. Esse resíduo tem alto valor como fertilizante por possuir elevado teor de potássio e matéria orgânica. A fertirrigação com vinhaça é bastante difundida nas regiões canavieiras, com resultados satisfatórios em relação às alterações químicas no solo, proporcionando aumento de matéria orgânica, pH, cálcio, magnésio e potássio. Porém, cuidados devem ser tomados no momento de sua recomendação, para evitar aplicação em excesso com consequente contaminaçãodo solo e lençol freático. Outro resíduo muito aproveitado pelas usinas é a torta de filtro, composta por resíduos solúveis e insolúveis, que equivalem
Fotos Divulgação
Ao colher a cana crua através da utilização de máquinas, as folhas secas e verdes dos colmos, além dos ponteiros, formam camada de palha na superfície do solo
ao precipitado (lodo) formado na etapa de clarificação do caldo de cana. O lodo formado é um composto orgânico e inorgânico insolubilizado, que passa por processo de filtração a vácuo, recebendo, então, a denominação de torta de filtro. Este resíduo tem composição química variável e apresenta altos teores de matéria orgânica, fósforo, nitrogênio, cálcio e possui, ainda, teores consideráveis de potássio e magnésio. Características deste resíduo como ausência de alumínio, teores consideráveis de potássio e acidez fraca permitem que a torta de filtro seja usada para práticas de correção
do solo. No Quadro 1 são apresentadas as características e os usos dos mais diversos tipos de resíduos da indústria sucroalcooleira. A manutenção dos nutrientes decorrentes da adição da vinhaça e torta de filtro entre outros resíduos aplicados ao solo, associada à eliminação da queima da cana por ocasião da colheita mecanizada, promove maior acúmulo de restos culturais e consequentemente incremento da matéria orgânica no solo, contribuindo para manutenção e elevação da qualidade do solo, que repercute em melhor
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Tabela 1 - Área manejadas na cultura da cana de açúcar no município de Maracajú, Mato Grosso do Sul, 2012 Sistema de uso e manejo do solo Descrição Queimada sem resíduo (QSR) Área de cultivo de cana-de-açúcar. Colheita manual com utilização da queima. Não houve aplicações de resíduos Crua com vinhaça (CCV) Área de cultivo de cana-de-açúcar. Colheita mecanizada sem a utilização da queima. Aplicação de vinhaça durante 3 anos Queimada com vinhaça (QCV) Área de cultivo de cana-de-açúcar. Colheita manual com utilização da queima. Aplicação de vinhaça durante 16 anos
desenvolvimento da cultura. Em trabalho realizado no estado de Mato Grosso do Sul, Rosset e colaboradores avaliaram diferentes sistemas de manejo de cana-de-açúcar com ou sem queima na pré-colheita na presença e ausência de vinhaça (Tabela 1). Com intuito de identificar os possíveis benefícios de cada sistema de manejo foram avaliados indicativos de qualidade do solo, como a quantidade de carbono estocado em profundidade, além de parâmetros estruturais do solo. Os menores estoques de carbono orgânico total (COT) foram observados na área de cana-de-açúcar com queima antes da colheita sem aplicação de resíduos (QSR), variando de 11,04mg/ha e 22,96mg/ha(toneladas por hectare) (Gráfico 1). Ao longo dos anos, a queima do canavial, aliada à não aplicação de resíduos como a torta de filtro e vinhaça, influenciou negativamente os estoques de COT, sendo prejudicial à qualidade do solo. Em áreas manejadas com cana-de-açúcar, a mobilização do solo com grade aradora (reforma do canavial), associada à queima antes da colheita, contribui para perda de COT. Ao observar áreas com aplicação de vinhaça, a área com queima (QCV) apresentou os maiores estoques de COT. Tal fato se deve ao maior tempo de aplicação de vinhaça nesta área (16 anos), diferente da área de colheita com cana crua, que passou a receber vinhaça somente após a conversão do sistema de colheita (três anos). Com o passar dos anos de cultivo recebendo resíduos existe tendência de que a área de colheita da cana crua em comparação à queima aumente consideravelmente seus estoques de carbono, uma vez que o carbono
que seria emitido para a atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO2), no momento da queima, retorna ao sistema solo. Trabalhos na literatura indicam que após vários anos com colheita sem a prática da queima, associada à aplicação de resíduos como a vinhaça, promove aumento do conteúdo de carbono no solo, consequentemente com benefícios às propriedades químicas, físicas e biológicas das áreas cultivadas. Canellas et al (2003) verificaram que a contribuição da palhada possibilitou prolongar de quatro para oito anos o cultivo sem renovação do canavial. Em áreas que receberam somente aplicação de vinhaça como resíduo (CCVe QCV), foi possível observar que a área de cana crua apresentou maiores valores de diâmetro médio ponderado (DMP) e diâmetro médio geométrico (DMG), 4,76mm e 4,32mm, enquanto na área de cana queimada, estes valores foram de 4,68mm e 4,22mm, respectivamente (Gráfico 2), evidenciando que a supressão da queima associada à aplicação de vinhaça por três anos fornece melhoria aos atributos físicos do solo. Passarin et al (2007) encontraram para a camada de 0-0,1m valores de DMP variando de 2,73mm a 3,30mm e DMG de 1,01mm a 2,02mm nos tratamentos com aplicação de vinhaça. Também evidenciaram que a vinhaça, quando aplicada ao solo provoca, aumento da atividade microbiana, em consequência da presença de matéria orgânica. Essa atividade é acompanhada pelo aumento na produção de mucilagem, que pode favorecer a agregação e promover aumento na estabilidade estrutural do solo. A área com queima na pré-colheita sem aplicação de resíduos apresentou os menores índices de agregação, tanto DMP quanto
NO BRASIL
S
egundo dados da União das Indústrias de Cana-de-açúcar (Unica), na safra 2013/2014 a região Centro-Sul brasileira é responsável pela maior produção em área e moagem de cana-de-açúcar, com destaque para os cinco maiores estados produtores: São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul, que, juntos, somam aproximadamente 574,09 mil toneladas moídas (87% da produção nacional). DMG. Ceddia et al (1999) explicam que menores valores de DMP em áreas de cana queimada estão relacionados à destruição dos agregados do solo com o passar do tempo, pois a diminuição no conteúdo de matéria orgânica (considerada agente de “cimentação” entre as partículas minerais do solo), interfere negativamente, proporcionando menores valores para os índices de agregação DMP e DMG. Souza et al (2004) verificaram que o uso intensivo de áreas de Latossolos em São Paulo, com preparo excessivo do solo e queima dos resíduos, modifica significativamente as propriedades físicas do solo, principalmente afetando a estabilidade de agregados. No Gráfico 2 é observado que mesmo na área CCV com aplicação de vinhaça e colheita sem queima há apenas três anos ocorreu maior porcentagem de agregados maiores que 2mm, chegando a 94,4%. Isso indica que a prática da supressão da queima na pré-colheita, associada à aplicação de vinhaça, auxilia os processos de agregação do solo, aumentando o tamanho dos agregados. A maior porcentagem de agregados maiores que 2mm indica que o solo está melhor estruturado, com presença de agregados mais estáveis, ou seja, maior
Figura 1 - Fluxo de massa no setor sucroalcooleiro
Fonte: adaptado de Lora (2000).
30 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
Presença de rebrota oriunda da colheita de cana crua
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Rosset, Schiavo e Rampim abordam o manejo de resíduos oriundos da colheita dos canaviais
resistência à ruptura por forças externas, como ação da chuva. Comparando diferentes formas de colheita e manutenção dos resíduos sobre o solo, Graham et al (2002) observaram maiores porcentagens de agregados maiores que 2mm em área de cana crua (78%) e posteriormente na área que passou pelo processo de queima na pré-colheita (70%). Esse padrão demonstra a importância da manutenção da palhada e consequente aumento nos teores de COT do solo no processo de estabilização dosagregados. Padrão totalmente inverso à área de QSR, como observado no Gráfico 2, com menor
Resíduo deixado no solo após colheita de cana crua
porcentagem de agregados maiores que 2mm. Observa-se a importância da aplicação dos resíduos para manutenção e aumento nos estoques de carbono e melhorias na agregação do solo. Essa prática se torna duplamente viável, pois além de diminuir os problemas com impactos ambientais do descarte de resíduos em rios como a vinhaça, traz melhorias para os atributos químicos e físicos do solo e, consequentemente afeta positivamente os atributos biológicos com o passar dos anos de cultivo. Ao longo dos anos, a manutenção da palhada no momento da colheita, associada à
aplicação de resíduos como a vinhaça e torta de filtro, pode auxiliar no aumento dos teores e estoques de carbono orgânico total e melhoria dos atributos físicos do solo, especialmente obtendo maior tamanho e estabilidade dos C agregados. Jean Sérgio Rosset, Instituto Federal do Paraná Leandro Rampim, Univ. Est. do Oeste do Paraná Jolimar Antonio Schiavo, Univ. Est. de Mato Grosso do Sul
Quadro 1 - Principais resíduos gerados pela indústria sucroalcooleira, origem, composição, formas de redução e sua utilização Resíduo Água de lavagem da cana
Bagaço
Torta de filtro Vinhaça
Origem - Lavagem da cana antes da moagem
Composição Formas de redução Utilização - Alto teor de sacarose (principalmente - Eliminação das queimadas, reduzindo a concentração de - Reciclagem no processo de embebição no caso de queima na pré-colheita) terra e pedregulhos - Reciclagem no processo de lavagem - Matéria vegetal, terra e - Lavagem em mesas separadas onde ocorre desfribrilamento pedregulhos aderidos - Remoção a seco de parte das impurezas - Moagem da cana e extração do caldo - Celulose. Teor de umidade de 40-60 % - Co-geração de energia elétrica - Composto como adubo orgânico - Produção de ração animal, aglomerados e celulose - Filtração do lodo gerado na clarificação - Resíduos da calagem - Uso como condicionador de solo - Produção de celulose - Resíduo da destilação do melaço - Alta demanda biológica - Uso como fertilizante fermentado para obtenção do álcool e química de oxigênio
Fonte: adaptado de CETESB, 2002.
Figura 1 - Estoque de carbono orgânico total nas diferentes áreas avaliadas em sistemas de manejo com diferentes formas de colheita e aplicação ou não de vinhaça: QSR: cana-de-açúcar com queima na pré-colheita sem aplicação de resíduos, CCV: cana-de-açúcar crua (sem queima) e aplicação de vinhaça e QCV: cana-de-açúcar com queima na pré-colheita e aplicação de vinhaça
Figura 2 - Índices de agregação: DMP – diâmetro médio ponderado e DMG – diâmetro médio geométrico e porcentagem de agregados maiores que 2mm em sistemas de manejo com diferentes formas de colheita e aplicação ou não de vinhaça: QSR: cana-de-açúcar com queima na pré-colheita e sem aplicação de resíduos, CCV: cana-de-açúcar crua (sem queima) e aplicação de vinhaça e QCV: cana-de-açúcar com queima na pré-colheita e aplicação de vinhaça
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ALGODÃO
Tombo controlado Causado por fungo que ataca sementes e plântulas de algodão, o tombamento pode levar à perda de estande e necessidade de replantio nas lavouras. O tratamento de sementes é uma das alternativas para enfrentar esse problema
O
tombamento (em muitos casos também a mela) é uma importante doença que ataca o algodoeiro na fase inicial de estabelecimento da cultura. É causado por fungos como Rhizoctonia solani Khun habitantes naturais do solo e que têm distribuição generalizada na cultura do algodão em sucessão à soja, muito comum em áreas de produção de Cerrado. Este fungo ataca sementes e plântulas de algodão e em safras com alta precipitação os sintomas são mais evidentes, levando à perda de estande e necessidade de replantio (Goulart, 2008). Para o manejo, várias práticas são recomendadas. O tratamento de se-
mentes (TS) com fungicidas sistêmicos e protetores é uma ação indispensável que tem sido adotada pelos produtores, apresentando resultado variável de acordo com o produto utilizado e eficiência do tratamento. Além do tratamento de sementes com fungicidas, o uso de agentes de controle biológico também é uma alternativa para otimizar o manejo desses fungos de solo e de sementes. Por ser um problema frequente e recorrente, outras formas de aplicação e de produtos têm sido estudadas com o objetivo de garantir melhor estabelecimento da cultura. Um exemplo é a pulverização aérea com fungicidas logo após a emergência, bem como o sistema plante e aplique,
32 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
alternativas que têm sido adotadas para otimizar o manejo do tombamento. Além disso, produtos com ação fisiológica como hormônios e indutores de resistência também vêm sendo utilizados como alternativa de manejo. Atualmente a tendência é de que as sementes já venham tratadas, através do Tratamento de Sementes Industrial (TSI). Porém, uma prática comum que vem sendo adotada pelo produtor é a adição de fungicidas sobre tudo do grupo das estrobilurinas ao tratamento de sementes industrial no sentido de otimizar o controle desses fungos. Portanto, o uso de fungicidas, produtos indutores de resistência, fisiológicos e à base de agentes
Rita de Cássia Santos
Tabela 1 - Produtos utilizados no tratamento de sementes de algodão para controle de tombamento. Campo Verde (MT), 2014 TRATAMENTO/DESCRIÇÃO 1. Testemunha sem TS 2. TSI padrão Bayer 3. TSI Bayer + Priori (TS - Tratamento de Sementes) 4. TSI Bayer + Soil Set (TS) 5. TSI Bayer + Trichodermil (TS) 6. TSI Bayer + Priori Plante e Aplique 7. TSI Bayer + Soil Set Plante e Aplique 8. TSI Bayer + Soil Set no sulco 9. TSI Bayer + Trichodermil no sulco 10. TSI Bayer + Agro Mos após 100% de emergência 11. TSI Bayer + Priori após a emergência 12. TSI Bayer + Soil Set após a emergência 13. TSI Bayer + 2aplicações de Priori (50% e 100% de emergência) 14. TSI Bayer + 2 aplicações de Soil Set (50% e 100%) de emergência
de controle biológico, além de diferentes formas de aplicação, pode ser adotado para garantir o bom estabelecimento inicial da cultura. Pensando nisso foi realizado um ensaio em Campo Verde, região Sul de Mato Grosso, a fim de testar diferentes produtos e formas de aplicação para tratamento de sementes de algodão. As sementes da cultivar FM 975 WS foram previamente tratadas com o TSI padrão Bayer (2.400ml/100kg de Cropstar, 600ml/100kg de Derosal Plus, 200ml/100kg de Baytan e 300ml/ha de Monceren) (Tabela 1). O plantio foi feito manualmente em 29/1/2014 com 11 sementes por metro sobre palhada de soja. Quando se observa o resultado de todos os tratamentos, em relação à testemunha, aos sete e 14 dias após a emergência, verificou-se que o tratamento industrial padrão Bayer, isoladamente, proporcionou um controle eficiente do tombamento indicando que o tratamento
de sementes industrial é uma boa alternativa no manejo da doença. A adição de Priori em todas as formas, seja ao TS, após a emergência ou no plante e aplique, também foi eficiente, bem como Soil Set no sulco e em TS e AgroMos após a emergência. Trichodermil em TS junto com o TSI Bayer foi o que apresentou o maior número de plantas por metro, indicando que agentes de controle biológico podem potencializar o manejo de fungos, contribuindo também para reduzir a ocorrência de resistência (Tabela 2). Embora tenha havido diferença significativa no número de plantas não ocorreu grandes falhas nas linhas de plantio e as plantas, mesmo em menor número, nos diferentes tratamentos, ficaram bem distribuídas. Embora tenha havido diferença em relação ao número de plantas por metro, ao se analisar a produção, mesmo os tratamentos que apresentaram menor número de plantas obtiveram produtividade maior que aqueles com maior densidade (Tabela 3). Isso ocorre pela capacidade que a planta de algodão tem de compensar e tolerar certas perdas no campo. Por isso, é importante verificar não somente a perda de estande mas também a distribuição das plantas na linha. Portanto, cabe ao produtor a tomada de decisão sobre buscar outras alternativas de tratamento e realização de replantio em C caso de perda e estande. Rita de Cássia Santos, José Ney Lazarini, Elivelton Maciel Biesdorf, Mauricio Claro Silva, Angela Flávia Oliveira, Calebe Farias França Junior e Evandro Marcos Biesdorf, Inst. Fed. Edu. Ciên. e Tecn. de MT Marcio Goussain, Assist Cons. e Exper. Agronômica
DOSE E FORMA DE APLICAÇÃO
200ml/100kg de semente 1000mL/ha 20g/ha 200mL/ha com volume de calda de 130L/ha 1000mL/ha com volume de calda de 130L/ha 1000mL/ha com volume de 60L/ha 20g/ha com volume de 60L/ha 2000mL/ha com volume de calda de 130L/ha 200mL/ha com volume de calda de 130L/ha 1000mL/ha com volume de calda de 130L/ha 200mL/ha com volume de calda de 130L/ha 1000mL/ha com volume de calda de 130L/ha
Tabela 2 - Número de plantas por metro após tratamento de sementes com diferentes produtos e formas de aplicação na cultura do algodão para controle de tombamento. Campo Verde (MT), 2014 TRATAMENTO 1 7 14 9 12 13 11 8 10 4 2 3 6 5
7 DIAS APÓS TRATAMENTO 14 DIAS APÓS A EMERGÊNCIA A EMERGÊNCIA 5,12B 1 5,12B 5,87B 7 5,87B 6,08B 14 6,08B 6,17B 9 6,17B 6,46B 12 6,46B 6,96A 13 6,96A 7,58A 11 7,58A 7,58A 8 7,58A 7,62A 10 7,62A 7,66A 4 7,66A 7,71A 2 7,71A 8,00A 3 8,00A 8,04A 6 8,04A 8,37A 5 8,37A
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott e Knott a 5% de probabilidade
Tabela 3 - Produção (arroba de algodão em caroço/ha) após diferentes produtos e formas de aplicação utilizados para controle de tombamento. Campo Verde (MT), 2014 TRATAMENTO 3 5 4 14 9 13 12 2 8 10 6 1 7 11
PRODUÇÃO (@ algodão em caroço/ha) 377,63B 385,65B 389,04B 391,51B 392,59B 400,62A 403,00A 408,80A 408,95A 409,47A 413,43A 414,35A 419,56A 426,66A
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott e Knott a 5% de probabilidade
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CAFÉ
Quando Com a proibição de inseticidas à base de endosulfan, cafeicultores buscam alternativas para o controle da broca-do-café, praga responsável por perdas de rendimento e da qualidade da bebida. Uma das alternativas é realizar a aplicação de defensivos no momento de trânsito do inseto, antes que ocorra a perfuração dos frutos
A
broca-do-café é uma das principais pragas do fruto na cultura cafeeira. No Brasil e nos demais países produtores de café este problema gera prejuízos consideráveis para o setor produtivo. O processo de deterioração do fruto inicia-se com a perfuração e penetração do inseto no fruto, abrindo galerias onde as fêmeas, depois de fecundadas, depositam seus ovos. Também, a galeria aberta pelo inseto se torna uma porta de entrada para fungos, causando a destruição parcial ou total do fruto. A perda de rendimento no beneficiamento é um dos primeiros prejuízos contabilizados pela incidência da broca-do-café, seguidos
por aspecto ruim, perda na qualidade da bebida e um grande número de defeitos, ocasionando desvalorização do café e inviabilizando sua exportação. Um das alternativas para a redução populacional do inseto seria o controle biológico, pouco utilizado e com baixa eficiência. Também uma colheita eficiente, por meio de repasse, sem deixar frutos remanescentes, ajuda a evitar que os descendentes da praga sobrevivam de uma safra para outra. Este é um método eficiente, porém, muito caro. Devido ao avanço da tecnologia de colheita, as áreas estão cada vez mais mecanizadas, com altos custos de produção, falta de mão de
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obra para colheita e preços relativamente baixos. E também por uma série de fatores políticos, econômicos e a oferta e demanda do produto no mercado, o método de controle de broca-do-café mais utilizado, mais eficiente e economicamente viável que vem sendo adotado é o controle químico. Tradicionalmente este inseto foi amplamente controlado através do uso de inseticida de ingrediente ativo endosulfan, que possui bom controle da praga e de baixo custo. Contudo, a partir do ano de 2013, esses produtos comerciais foram proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devido aos problemas de toxicidade. Após a não comercialização
Cultivar Fotos Paulo Rebelles Reis
Tabela com os produtos comerciais testados Nome Comercial Ingrediente ativo Endossulfan Endusulfan Trebon + kumulus Etofenproxi + Enxofre Trebon Etofenproxi Altacor* Clorantraniliprole Vexter Clorpirifós Azamax Azadiractina
Dose por hectare 2 L/ha 2 L + 2 kg/há 2 L/há 90 gr/há 2 L/há 2 L/ha
*O produto comercial Altacor, não tem registro para o controle da broca dos frutos na cultura do café.
O ideal seria a aplicação de inseticidas antes do inseto perfurar o fruto
aplicar destes inseticidas, os frutos de café nas lavouras ficaram vulneráveis à evolução do ataque da broca e ao aumento populacional aritmético. Antes, logo no início
do ataque da praga nos frutos de café, eram detectados através de amostragens, avaliando o início da perfuração do inseto no fruto e, em seguida, fazendo a pulverização quando o nível de infestação da praga atingisse 5% de frutos perfurados. Quanto mais cedo era realizado o controle com endosulfan, melhor o resultado, e mesmo em estado avançado de ataque dentro do fruto, havia um controle satisfatório com a morte da broca. Diante deste cenário, um grupo de estudantes de graduação em Engenharia Agronômica do Unis, em Varginha (MG), coordenados pelo professor Gustavo Rennó Reis Almeida, montou um ensaio em campo, na Fazenda Santa Mariana, em Carmo da Cachoeira, Minas Gerais, em que foram testados diferentes inseticidas, adquiridos comercialmente, por meio de aplicação após a perfuração do inseto no fruto de café a fim de avaliar a influência destes produtos no controle da broca-do-café e, assim, propor outras opções para os produtores, técnicos e pesquisadores com relação a um substituto ao endosulfan. De acordo com os resultados encontrados, o endossulfan apresentou maior
eficiência (65,5% de morte do inseto) no controle da broca-do-café, após aplicação na perfuração do fruto, confirmando, assim, que é um produto que realmente possui bom controle da praga. Contudo, os produtos testados, apesar deapresentarem menor eficiência quando comparados ao endossulfan, também mostraram melhora na eficiência do combate ao inseto. O produto 2-trebon+kumulus, um inseticida contendo enxofre, apresentou a maior eficiência na morte do inseto (43%) quando comparado aos outros inseticidas sem a presença de enxofre. A presença do enxofre possui a característica de desalojar o inseto de dentro do fruto, melhorando a eficiência do inseticida. O inseticida que obteve eficiência na mortalidade da broca-do-café, após a perfuração dos frutos, se encontra proibido para comercialização. Os demais não devem ser aplicados após a perfuração dos frutos. Assim, uma sugestão aos produtores é que, para um bom controle da broca-do-café, a aplicação do inseticida seja realizada no momento de trânsito da broca, ou seja, antes do inseto perfurar o fruto, através da pulverização com produto C químico. Fábio de Souza, Unis Varginha, MG
No gráfico estão apresentadas as porcentagens de mortalidade da broca-do-café após a aplicação dos inseticidas
Presença e danos de larvas da broca em interior de fruto de café
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MILHO
Opção lucrativa O consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras permite diversificar o cultivo sem alterar a sucessão com a soja. Com investimento mínimo, é possível aumentar a cobertura do solo com palha, melhorar a produtividade da oleaginosa em sucessão e, ainda, produzir forragens para animais na entressafra
O
milho safrinha é cultivado em um ambiente peculiar, com menor oferta de água e calor em comparação ao milho verão, o que desfavorece o crescimento do capim de origem tropical. Assim, o maior desafio não é suprimir o crescimento inicial do capim, mas proporcionar boas condições para o seu estabelecimento e desenvolvimento. A forrageira pode ser pastejada em curto espaço de tempo (dois meses, em média) ou utilizada como planta de cobertura. Para tanto, a gramínea não pode produzir sementes antes do manejo,
precisa cobrir a área uniformemente, ser de fácil dessecação e proporcionar bom desempenho da máquina semeadora de soja. A Brachiaria ruziziensis é a espécie que atende todos estes requisitos. Os métodos de implantação da braquiária que se adaptam à maioria dos ambientes de milho safrinha são os simultâneos ou com uma mínima defasagem de tempo em relação à semeadura do milho, seja com distribuição das sementes a lanço ou no sulco de semeadura. O consócio com linha intercalar é o me-
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lhor método quando o milho safrinha é cultivado com espaçamento entre linhas de 80cm ou 90cm. A máquina que semeia a soja é a mesma que vai ser utilizada no milho safrinha, com o mesmo espaçamento entre carrinhos. Normalmente o produtor tira uma linha sim outra não após a semeadura da soja, deixando a máquina preparada para o espaçamento de 80cm a 90cm do milho safrinha. No caso da utilização do consórcio o produtor deve manter as linhas a 45cm e utilizar discos diferentes para o capim: em semeadoras convencionais é utilizado o disco universal de sorgo de 5mm
Fotos Aildson Pereira Duarte
Figura 1 - Concentração dos nutrientes N, P, K, Ca, Mg e S na parte aérea das espécies forrageiras Panicum maximum cv. Tanzânia, Brachiaria ruziziensis, B. brizantha cv. Marandu e B. decumbens) em consórcio com milho safrinha. Média de cultivo intercalar com milho safrinha, no estádio de maturidade fisiológica dos grãos, em 2008 e 2009, na região do Médio Paranapanema, Estado de São Paulo (Palmital, Campos Novos Paulista, Pedrinhas Paulista e Florinea)
A implantação da braquiária se adapta à maioria dos ambientes de milho safrinha
com 50 furos e nas semeadoras pneumáticas, o disco de canola de 1,2mm a 1,5mm com 120 furos. Apenas a linha do milho deve ser adubada e, para tanto, se deve tampar a saída da caixa de adubo na linha onde será semeada a planta forrageira. A distribuição a lanço é utilizada em lavouras com espaçamento reduzido e deve ser feita antes da semeadura do milho para permitir que os mecanismos das linhas da máquina semeadora-adubadora incorporem parte das sementes do capim. As desvantagens deste método são o maior gasto de sementes (pelo menos o dobro em relação ao consórcio intercalar) e a emergência em reboleiras, conforme as condições climáticas na época da semeadura do milho safrinha. A distribuição simultânea pode ser feita também na própria linha de semeadura, utilizando semeadora de milho com caixa para sementes de capins ou fazer a adaptação da terceira caixa em oficina regional. No caso do milho safrinha, não é recomendada a técnica da mistura das sementes com o adubo de semeadura, pois o posicionamento profundo do adubo pode retardar a emergência do capim. Também a mistura da semente com o fertilizante nitrogenado de cobertura não é adequada, porque o adubo é distribuído algum tempo depois da emergência do milho. O consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras permite, além de diversificação das espécies cultivadas, a maximização da ciclagem de nutrientes. São acumulados aproximadamente 35kg de potássio (K20) por tonelada de massa seca da parte aérea da B. ruziziensis que, após a dessecação com glifosato, são rapidamente mineralizados e contribuem para a nutrição da soja cultivada em sucessão, como demonstrado na Figura 1.
Fonte: Batista et al. (PAB, v.46, 2011)
CUIDADOS
O correto estabelecimento do consórcio depende de sementes do capim de boa qualidade. A maioria das sementes de forrageiras objetiva atender ao mercado pecuarista que, pela necessidade de maior volume para distribuição a lanço e pouco impacto da presença de terra e plantas daninhas na formação das pastagens, adota padrões oficiais relativamente baixos na comercialização das sementes. O mínimo do valor cultural (VC) para comercialização é 50. O VC é o produto entre a pureza (%) e a germinação (%, em tetrazólio) das sementes. No caso do consórcio, devem-se utilizar sementes com VC acima de 70, que, por apresentarem altos índices de germinação e pureza, são apropriadas para distribuição nas pequenas quantidades requeridas no cultivo consorciado e reduzem a chance de contaminar a área com nematoides e plantas daninhas. O gasto de sementes VC 70 no cultivo intercalar é de aproximadamente 3kg/ha.
DESENVOLVIMENTO DO CAPIM E SUPRESSÃO COM HERBICIDAS
Geralmente, não há diferença significativa na produtividade de grãos de milho comparando-se o milho no consórcio e o milho solteiro, não sendo necessária a aplicação de herbicidas para a supressão parcial do crescimento do capim. Da mesma maneira, não há necessidade de aumentar a adubação nitrogenada de cobertura do milho safrinha para compensar possível absorção pelo capim. Porém, quando se utiliza população elevada da forrageira, híbridos de milho de folhas mais eretas e/ou quando a época de semeadura do milho é antecipada (período mais quente) a produção de massa do capim pode ser favorecida, atingindo 3t/ha ou mais, afetando o desenvolvimento e a produtividade do milho. Embora esses casos sejam poucos,
deve-se acompanhar o desenvolvimento inicial do capim para verificar a necessidade de supressão com uma subdose de nicussulfuron (até 100ml/ha do produto comercial para a Brachiaria ruziziensis).
CONTROLE DE PRAGAS
Atualmente, com o emprego do milho transgênico Bt pode ser necessária a aplicação de inseticidas para controle de lagartas especificamente no capim, pois as braquiárias são atacadas pela maioria das lagartas.
DESSECAÇÃO E SEMEADORA DA SOJA
Para assegurar os benefícios do consórcio na produtividade de soja é necessária uma dessecação apropriada do capim (aproximadamente duas semanas antes) e ajustes na plantadeira da soja (aumento do tamanho e afiação do disco de corte, por exemplo) para a distribuição uniforme e contato direto das sementes com o solo (sem bolsas de ar).
ROTAÇÃO DO CONSÓRCIO
É recomendado evitar o cultivo contínuo do consórcio milho safrinha-braquiária e não implantá-lo em solos com alta população de Pratylenchus brachyurus porque esse nematoide se multiplica nas duas espécies. Assim, o sistema deve ser alternado nos diferentes talhões da propriedade para maximizar os benefícios da quebra da monocultura. Geralmente, quando a braquiária é cultivada por apenas um ciclo, o aumento da matéria orgânica e da porosidade do solo suplanta a possível multiplicação de pragas e nematoides, que pode se tornar um problema se o capim continuar sendo utilizado C na mesma área. Aildson Pereira Duarte e Isabella Clerici De Maria Instituto Agronômico (IAC)
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A rápida disseminação de mofo branco pelas áreas produtoras de grãos tem chamado a atenção pelo potencial de perdas que pode ocasionar. Na cultura do feijão possui potencial para comprometer mais de 30% da produção. Estratégias de manejo que envolvam diversas práticas em conjunto são recomendadas para manter um nível baixo de inóculo em áreas já infestadas com a doença
O
mofo branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é uma das principais e mais destrutivas doenças do feijoeiro, caracterizada por ser de ocorrência endêmica em algumas regiões do Brasil. Conforme a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), a doença está presente em 9% das áreas de produção agrícola no Brasil, incluindo feijão, soja, algodão, entre outras. Diversas estratégias de controle devem ser adotadas, desde a procedência da semente a ser utilizada até o transito de máquinas agrícolas, pois, uma vez instalada na área, a erradicação do patógeno é quase impossível.
Fotos Nédio Rodrigo Tormen
FEIJÃO
Difícil de controlar
CARACTERÍSTICAS DO PATÓGENO
O agente causal Sclerotinia sclerotiorum é um fungo polífago, pois ataca diversos tipos de plantas, sendo descritas mais de 400 espécies hospedeiras (Boland, 1994). Dentre as condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento da doença estão temperaturas amenas (18ºC – 23ºC) e alta umidade relativa, sendo as áreas irrigadas com cultivo de feijão no inverno os locais onde a doença apresenta maior severidade (Oliveira, 2005). A doença tem início a partir das estruturas de resistência do fungo presentes no solo, denominadas de escleródios, que, ao germinarem, originam os apotécios, que contêm os agentes responsáveis pela infecção, os ascósporos, que ao serem liberados, podem se depositar sobre as plantas e darem início à infecção (Tormen, 2014). A doença assume maior importância a partir do período de floração até o período de formação de vagens, exigindo um monitoramento criterioso durante estes estádios. Os sintomas típicos nas plantas são o encharcamento nos tecidos e a presença de micélios com aspecto cotonoso. Em estádios mais avançados, micélios aglomerados amadurecem e formam os escleródios, que podem se depositar nas partes externas e internas da planta (Link & Johnson, 2007).
QUALIDADE DA SEMENTE
A semente é o principal meio de disseminação da doença, podendo carregar o patógeno na forma de micélio dormente
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em seu interior ou na forma de escleródios, misturados às sementes. O uso de sementes não certificadas ou de procedência duvidosa está entre as principais causas do aumento da incidência de mofo branco em áreas do Brasil. Diante disso, o uso de sementes certificadas e sadias torna-se um potencial meio de prevenção à doença. Entretanto, apenas uma pequena parte dos produtores de feijão costuma aderir a esta prática, facilitando a disseminação e o aumento da incidência da doença. Além do uso de sementes certificadas, o tratamento químico com fungicidas (tiofanato metílico, fluazinam e tiram, entre outros) é uma importante alternativa para o controle da doença.
CONTROLE CULTURAL
Conforme Görgen et al (2009), os apotécios necessitam de luz para completarem seu desenvolvimento e, consequentemente, a produção de palhada torna-se importante ferramenta para a redução na incidência da doença. A função da palhada é a formação de uma barreira física contra o desenvolvimento dos apotécios e a liberação de ascósporos que possam atingir as plantas e iniciarem as infecções (Lobo Junior & Santos, 2013). Esta palhada deve ser oriunda de espécies gramíneas com alto potencial de produção de massa, como as do gênero Brachiaria, as quais o patógeno não parasita. A cobertura permitirá também aumento na atividade de micro-organismos que auxiliam na degradação de escleródios presentes no solo. Além da palhada, o aumento no espaçamento entre fileiras de plantas também é uma alternativa de manejo, pois permitirá menor adensamento e maior aeração na lavoura, evitando a formação do microclima favorável para o desenvolvimento da doença. Em locais onde foram realizadas operações agrícolas e que continham a doença, torna-se necessária a limpeza das máquinas, pois o trânsito entre áreas também é uma forma de disseminação. O enterrio de escleródios em operações de preparo do solo em profundidades de 20cm a 30cm torna as estruturas de resistência do fungo inviáveis.
CONTROLE QUÍMICO
A aplicação de fungicidas deve ser feita de maneira preventiva. Entretanto, esta prática poderá apresentar eficácia abaixo do esperado quando utilizada de maneira isolada para o manejo da doença. O período crítico da ocorrência da doença se dá da floração à formação de vagens, o que determina a necessidade de uma boa cobertura das flores através da aplicação do fungicida (Vieira et al, 2001). A aplicação pode ser via terrestre ou por irrigação, com um período de proteção descrito em torno de 12-14 dias, exigindo média de duas a três aplicações, que podem variar de acordo com a incidência da doença e condições ambientas para seu desenvolvimento. Os fungicidas com os ingredientes ativos fluazinam, procimidona e fluopyram apresentam boa eficácia no controle da doença. Em condições experimentais, o fungicida de ingrediente ativo dimoxystrobin + boscalid tem despontado como outra alternativa eficaz.
CONTROLE BIOLÓGICO
Resultados de pesquisa têm demonstrado eficácia no controle de mofo branco através do uso de agentes biológicos, mais especificamente fungos do gênero Trichoderma. Estes agentes estão presentes naturalmente no solo e produzem substâncias que inibem o crescimento de diversos fungos causadores de doenças em plantas, como o mofo branco, através da degradação dos escleródios e parasitismo. Entretanto, por se tratar de um organismo vivo, este requer cuidados referentes às condições do ambiente e da aplicação para que possa colonizar e expressar controle satisfatório. Fernandes et al (2007) constataram que isolados de Trichoderma apresentaram maior crescimento em temperaturas entre 20ºC e
Escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, fungo causador do mofo branco
30ºC, sendo que temperaturas inferiores a 20ºC reduziram significativamente a atividade parasitária do fungo sobre os escleródios. A palhada também pode ser outro fator influente que potencializa a ação do agente biológico. Görgen et al (2009), ao avaliarem o efeito da palhada de Brachiaria ruziziensis em conjunto com aplicação de Trichoderma harzianum 1306 para o controle de mofo branco em soja, constataram aumento no parasitismo sobre os escleródios, reduzindo a incidência da doença no cultivo da oleaginosa e aumentando a produtividade. Sendo assim, haverá a necessidade de fornecer condições adequadas para o desenvolvimento do agente biológico, de forma que este possa atuar com significância sobre o patógeno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, ficam claros a agres-
sividade do patógeno e o potencial da doença em interferir na produção agrícola. Entretanto, a associação de diferentes medidas de controle pode reduzir significativamente a incidência de mofo branco nos cultivos, permitindo a manutenção dopotencial produtivo e tornando os sistemas de produção mais sustentáveis. C Pedro Ceretta Cadore, Univ. Federal de Santa Maria Nédio Rodrigo Tormen, Universidade de Brasília
NO BRASIL
S
egundo levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada de feijão, na safra 2013/2014, contabilizando as três safras, cobriu cerca de 4,37 milhões de hectares, com estimativa de produção de 3,30 milhões de toneladas. Estes valores de produção refletem o cenário ao qual a cultura está inserida no Brasil, em que o predomínio da baixa tecnologia resulta em produtividades muito aquém do potencial genético das cultivares, apesar de haverem sistemas de cultivo baseados em alta tecnologia, onde os patamares produtivos podem superar 3.000kg/ha. Além da forte influência climática que pode condicionar significativas perdas, a suscetibilidade da cultura às doenças traz desafios relacionados ao manejo, para que o potencial produtivo das cultivares seja alcançado.
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EMPRESAS
Mais proteção Fotos UPL
UPL apresenta Unizeb Gold, fungicida protetor para culturas como soja, milho e algodão, com possibilidade de uso como ferramenta no manejo de resistência de doenças
N
o ano em que completa dez anos de atuação no Brasil, a U P L a p re s e n t o u , e m janeiro, o fungicida protetor Unizeb Gold, produto voltado para importantes culturas como soja, milho e algodão. Indicado para aplicação desde o pré-plantio até a colheita, o defensivo chega ao mercado com a promessa de auxiliar a melhorar a produtividade de soja do país, contribuindo para a almejada marca de 100 milhões de toneladas. Composto por ingrediente ativo mancozeb, do grupo químico alquilenobis (ditiocarbamato), controla doenças através de vários modos de ação e é considerado “Multi Site”, aliado também no manejo de resistência. Segundo o fabricante o produto age, ainda, na redução do estresse da plantação, proporcionando o chamado efeito verde às plantas. Pode ser utilizado em conjunto com outros produtos ou aplicado sozinho. Em algodão o produto é indicado para o combate ao falso oídio ou ramulária (Ramularia aureola). Na soja age contra crestamento foliar (Cercospora
kikuchii) e mancha alvo (Septoria glycines). Em milho pode ser aplicado contra a mancha-foliar (Phaeosphaeria maydis). O desenvolvimento do Unizeb Gold teve início em 2011 e suas características são fruto de pesquisas e debate de
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um grupo de 21 fitopatologistas brasileiros sobre alternativas de programas de manejo de resistência. O produto é ferramenta importante para auxiliar nesse processo através de fungicidas protetores alternados ou aplicados em conjunto com sistêmicos, conforme preconizado pela reunião anual do Eagle Team, grupo formado por profissionais que se debruçam sobre esse tema. O presidente da UPL no Brasil, Carlos Pellicer, e o gerente de Marketing, Gilson Oliveira, adiantaram que a empresa também está trabalhando em novos produtos, ainda a serem lançados este ano para tratamento pós-colheita. Pellicer também acredita que o Brasil ainda pode crescer muito em cultivos agrícolas. “Acreditamos que o país irá voltar a crescer, apostamos nisso”, avalia. “A soja é a cultura agrícola brasileira que registrou o maior crescimento nas últimas três décadas. Encontramos nesse cultivo uma área extremamente atrativa para o desenvolvimento dos nossos negócios, por isso investimos sempre em novas tecnologias que contribuam cada vez mais para o sucesso da plantação”, C disse Pellicer.
Oliveira e Pellicer detalharam o posicionamento do Unizeb Gold e as estratégias da UPL com o lançamento
COLUNA ANPII
Qual o limite? Insumos biológicos têm papel cada vez mais relevantes na agricultura moderna mas apenas uma parte ínfima deste universo é conhecida. Seleção de cepas mais eficazes, identificação dos mecanismos de interação planta-microrganismo, consórcio de microrganismos e muitos outros conhecimentos ainda deverão ser gerados em universidades e institutos de pesquisa, para transformarem-se em tecnologias aplicáveis nas lavouras
A
agricultura chamada “moderna”, de alta tecnologia, com práticas advindas ou pelo menos consolidadas na chamada “revolução verde” na década de 70 do século passado, passou a ser responsável por grande parte da produção agrícola mundial. De escassez de alimentos o mundo entrou em uma fase de abundância de alimentos. Pode-se alegar que ainda existem grandes bolsões de fome em muitos países, inclusive no Brasil, mas esta fome não é oriunda de escassez de alimentos, mas sim de problemas de distribuição de renda, problemas logísticos e, talvez mais sério que tudo, de problemas políticos que impedem estes alimentos de chegarem a todos os seres humanos. Mas os avanços tecnológicos, de grande utilidade sem sombra de dúvida, parecem estar chegando ao seu limite, não permitindo mais os acréscimos significativos de produtividade necessários para alimentar bilhões de pessoas que se incorporam anualmente à população mundial, não só pelo crescimento populacional, mas pelo aumento do consumo por parte de populações antes excluídas de uma alimentação adequada. Aliado à necessidade de mais alimentos, junta-se o espectro de que o ciclo de mudanças climáticas, bem evidentes, se alongue mais que o suportável e venha a reduzir de forma mais ou menos intensa as condições ótimas para elevadas produtividades. Neste contexto, altamente mutável, a agricultura também tem que mostrar resiliência e se adaptar com rapidez aos novos desafios que se apresentam. O simples aumento na quantidade de fertilizantes, o uso cada vez mais elevado de defensivos, cultivares com elevado potencial de produtividade mas com alta sensibilidade
aos fatores ambientais não se apresentam mais como estratégias que possam “virar o jogo” e tornar nossa agricultura mais produtiva e menos responsiva aos fatores adversos que se apresentam no ambiente. Muitas ferramentas estão em desenvolvimento no cenário agrícola mundial, tendo como alvo justamente as mudanças de paradigmas que possam aumentar a produtividade pela adoção de inovações. Dentre estas ferramentas, uma das que
Seleção de cepas mais eficazes, identificação dos mecanismos de interação plantamicrorganismo, consórcio de microrganismos e muitos outros conhecimentos deverão ser gerados em universidades e institutos de pesquisa, transformando-se em tecnologias aplicáveis nas lavouras
mais crescem é a utilização de microrganismos como insumos biológicos. Embora já se conheça a importância de bactérias, fungos e outros micro e macro-organismos no solo, seu papel transcende a simples degradação da matéria orgânica. Atualmente se amplia o horizonte pela utilização de microrganismos para o controle de pragas e doenças, na liberação mais acelerada de nutrientes minerais, na fixação do nitrogênio e no aumento da resistência de plantas a fatores adversos, sejam de origem biótica ou abiótica. Este novo campo se abre de forma infinita para a nova agricultura, pois é conhecida apenas uma pequena, pequeníssima, parte deste universo. Seleção de cepas mais eficazes, identificação dos mecanismos de interação planta-microrganismo, consórcio de microrganismos e muitos outros conhecimentos deverão ser gerados em universidades e institutos de pesquisa, transformando-se em tecnologias aplicáveis nas lavouras pela ação das empresas privadas que trabalham com insumos biológicos. Neste sentido as empresas filiadas à Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), já com larga tradição em pesquisa e desenvolvimento, bem como na produção de inoculantes para leguminosas e mais recentemente para gramíneas, começam a utilizar estes conhecimentos para ampliar o uso de microrganismos. Pesquisas no consórcio de Bradyrhizobium com Azospirillum já levaram à adoção desta tecnologia para lavouras com grande sucesso e, com toda a certeza, nos próximos anos haverá cada vez mais ferramentas biológicas para, em conjunto com as existentes na área química, tornar possível enfrentar o desafio de elevar as produtiviC dades das lavouras. Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
42 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
COLUNA AGRONEGÓCIOS
E
Em 2015, o custo Brasil fará a diferença
m 2015, no cenário mais provável, a produção de soja excederá o consumo, recompondo estoques em níveis sem precedentes, mantendo preços oscilantes em Chicago entre nove dólares e dez dólares por bushel. O cenário agrava-se caso a China compre menos que 73 milhões de toneladas (Mt), ou se os EUA plantarem mais de 35 milhões de hectares (Mha). Porém, se os EUA produzirem menos de 103Mt ou a América Latina menos de 150Mt, os preços tendem a subir. A expectativa é de preços em queda até o plantio da soja americana, podendo, a partir daí, estabilizar-se ou cair mais, porém, a volatilidade será menor que em 2014. Isso tudo é devido à grande produção americana em 2014, combinada com safras recordes na América do Sul, em 2015. A menos que ocorram problemas climáticos mais sérios, quem vendeu a futuro no ano passado conseguirá melhores negócios que a venda em 2015. Esta análise já incorpora um crescimento de 5%-6% (4Mt) nas importações chinesas.
PRODUÇÃO
Argentina, Brasil e Paraguai devem produzir 153Mt-155Mt em 2015, 4-6 milhões a mais que em 2014. A área brasileira aumentou em 1,6Mha, devido ao preço favorável da soja em relação ao milho, porém, as condições climáticas adversas podem restringir a produtividade, e a produção deve ficar entre 90Mt e 93Mt. Na Argentina, a área de soja aumentou em 2%, com captura de área do milho no Pampa, porém, com redução nas zonas marginais, onde os custos de produção e de transporte são muito altos, mesmo para soja. A produção da Argentina deve ficar próxima de 55Mt. A produção mundial deve superar 312Mt, 8,6% acima de 2014, ultrapassando a demanda global em 30Mt. Os preços da soja oscilarão em uma amplitude mais estreita que nos anos anteriores, principalmente pela estimativa de que os estoques ficarão 30% acima da demanda, ao final da colheita americana. Lembrando que este valor era de 25% na safra passada, uma das razões da queda de preço do 2º semestre de 2014.
Para 2015, o potencial de exportação da América do Sul é superior a 60Mt. Entrementes, com o suprimento mais organizado dos EUA, será difícil para a América do Sul exceder este patamar – efeito direto do custo Brasil. O país deverá exportar 47Mt, a Argentina 9Mt e o Paraguai 4Mt de grãos, afora óleo e farelo. A demanda da China continuará a ser o principal fator de suporte para os preços da soja em 2015. Sua produção doméstica diminuiu 3% em 2014, para menos de 12Mt, seus estoques são baixos e sua demanda continua a crescer. Se a taxa de crescimento das importações for de 6% (igual a 2013 e 2014), a China deve importar 73Mt. O comportamento previsto para os preços deve induzir o agricultor a retardar a comercialização. Isto é particularmente verdadeiro para a Argentina, pois seus agricultores têm estocado soja como um hedge contra a inflação e a desvalorização da taxa de câmbio, comercializando de forma pontual e de acordo com as suas necessidades de capital.
CUSTO BRASIL
Como nunca antes na história deste país, o impacto do custo Brasil, eclipsado pelos altos preços de comercialização que vinham se mantendo altos e estáveis desde 2007 - será o principal depressor da competitividade do agronegócio da soja. Explica-se: quando o preço de um produto está muito acima de seu custo de produção, as diferenças entre custos de diferentes países importam menos, pois as margens são remuneratórias, mesmo que remunerem mais um que outro. Entretanto, quando o preço se aproxima do custo de produção, as vantagens competitivas fazem toda a diferença entre lucro e prejuízo, entre manter-se no negócio ou dele desaparecer. Nos últimos 20 anos, após a estabilização da economia e a queda da inflação a patamares civilizados, o agronegócio brasileiro cresceu a altas taxas, acima do crescimento do PIB nacional e, especialmente, foi o grande motor das exportações, superando as ineficiências, encobrindo fatores adversos e até escondendo a perda de competitividade de ou-
tros setores da economia nacional. Porém, seu crescimento não se fez acompanhar de fundamentos que lhe conferissem sustentabilidade no longo prazo, em especial nos sempre previsíveis ciclos de baixos preços. O melhor contraste é com os concorrentes, mas basta cotejar as nossas desvantagens comparativas do presente com nosso passado. Senão vejamos: de 2000 para cá a produção nacional de grãos praticamente dobrou. Já a infraestrutura de transporte é mais ou menos a mesma há 15 anos, até mais deteriorada. Sem novas rodovias, ferrovias ou hidrovias importantes. Os portos se desaparelharam e entupiram, há casos de caminhões saindo de Sorriso, Mato Grosso, para o porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul (três mil quilômetros!). Os custos dos fretes e dos portos são altíssimos, se comparados aos concorrentes, além da demurrage, devido à sua ineficiência. A capacidade de armazenamento, como percentual da colheita, diminuiu. Grãos são estocados nas ruas, a céu aberto, ou em carrocerias de caminhões, depreciando-se! O percentual da safra financiada por crédito oficial diminuiu, apesar do alarde de valores crescentes de crédito. A taxa de câmbio, que chegou quase a R$ 4 = um dólar, na posse de Lula, agora está em R$ 1,75 = um dólar, assim mesmo posto o reconhecimento recente da impossibilidade de o Governo continuar sustentando o real valorizado artificialmente. O agricultor brasileiro paga pelo óleo diesel quase o dobro do valor dispendido pelo agricultor americano. Os impostos estão entre os mais elevados e complexos do mundo. A burocracia estatal, em especial as regulamentações de insumos, impõe atrasos tecnológicos. Moral da história: sobreviverão ao ciclo de preços baixos, que deve perdurar alguns anos, os agricultores mais eficientes. Porém, o país como um todo pagará muito caro por haver agido como a cigarra da fábula, não aproveitando a bonança para gerar vantagens competitivas para o agronegócio, a galinha dos ovos de ouro do país, que garantiu o crescimento do PIB, o saldo nas exportações, os empregos e os C impostos, nos últimos 12 anos. Decio Luiz Gazzoni
O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
44 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br
COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
USDA traz boas notícias para os produtores do Brasil No final de fevereiro houve a primeira indicação do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) de que o plantio de soja e milho nos EUA irá recuar em área e também em produção em 2015. Isso é bom para esta safra e também para a safra do novo ano agrícola dos produtores brasileiros. Em milho já havia indícios de que os produtores americanos iriam reduzir o plantio porque os custos de produção cresceram. Enquanto isso, se esperava que a soja ganhasse o espaço deixado pelo milho, avançando em até um milhão de hectares. Contudo, o USDA surpreendeu com a divulgação de dados de queda na área, criando um ambiente mais positivo para as cotações internacionais e favorável aos países exportadores da América do Sul. O fato é que os produtores americanos não plantam nada sem boa remuneração e nos patamares que o milho e a soja se encontravam em Chicago havia sinais de que os prejuízos seriam generalizados nos campos americanos. Agora, com um quadro de menor oferta de grãos, um mercado mundial mais consumidor e espaço crescente de demanda haverá ajuste nas posições com indicativos melhores trazendo os produtores para a faixa de valores que lhes traz lucros. O plantio norte-americano neste ano mostra o milho com área de 36,02 milhões de hectares frente à safra passada que tinha sido de 36,67 milhões de hectares. Dessa forma, as primeiras indicações de produção para o cereal apontam para 345 milhões de toneladas, frente a 361 milhões de toneladas colhidas neste último ano, dando sinais de que o novo ano será de oferta e demanda mais apertadas nos EUA. O país caminha para consumir e exportar mais de 360 milhões de toneladas, tendo de lançar mão de uma boa fatia dos estoques finais, apontados neste ano em 46,4 milhões de toneladas. Para a soja o quadro é mais ajustado ainda, porque a safra está estimada em 33,79 milhões de hectares contra os 33,87 milhões de hectares plantados no ano passado. Há que se mencionar que a safra passada foi a melhor da história dos EUA em condições de clima, desenvolvimento e colheita. A produção esperada pelos primeiros números do USDA alcança a casa de 98 milhões de toneladas frente 108 milhões de toneladas colhidas na safra passada. Esses números deixarão o mercado americano mais ajustado e haverá apelo positivo para o quadro mundial com a abertura de espaço para dez milhões de toneladas. Espaço que poderá ser coberto por outros fornecedores, em um mundo em que o consumo de soja cresce em ritmo acelerado. Quadro favorável para um novo ano de cotações atrativas para os produtores brasileiros. MILHO
ano e desta forma a colheita, que em outras
Atraso no plantio e boas expectativas de preços épocas se concentrava entre fevereiro e come-
ço de março, agora irá se alongar, com casos extremos de colheita em maio. Isso porque os últimos plantios se deram em janeiro. Desta forma a entrada da safra será escalonada e boa parte do que chegará neste começo de temporada tem como destino quitar contratos negociados antecipados, na faixa dos 40%, com atraso frente à média histórica superior a 50%. Desta forma o apelo é de boas cotações para o decorrer do ano, com apoio do dólar em alta e de melhores resultados na bolsa de Chicago. O Brasil mostra aumento na demanda interna para atender ao consumo crescente de farelo para o setor de ração e principalmente do óleo, para cobrir o forte consumo do biodiesel, que saltou de B5, ou 5% no diesel, para o B7 ou 7% de biodiesel no diesel, como determina a legislação atual. Isso tende a resultar em um consumo adicional SOJA Safra chegando com atraso e boas expectativas em 2015 de mais de um milhão e meio de O plantio da safra se deu com atraso neste toneladas de óleo de soja.
O mercado do milho mostra a safrinha com atraso de plantio na maior parte das áreas, com riscos crescentes frente ao potencial produtivo. Neste ano, mais de 50% das lavouras foram plantadas além do período ideal, que encerrou no último dia 20 de fevereiro e boa parte será cultivada em março, quando aumenta o perigo de perdas com seca e/ou geadas, no caso das áreas mais ao Sul do Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Desta forma, o Brasil navega em um ano favorável ao milho. O dólar segue em alta e os indícios são de que se manterá firme, o que tende a resultar em bons níveis de cotações nos portos e auxiliará a formar uma boa base de preços para o mercado interno. Níveis estes que estavam rodando a faixa dos R$ 30,00 nos principais portos de exportação, em fevereiro, criando uma espécie de “colchão de apoio” aos produtores no mercado interno.
ARROZ
Safra em colheita e boas expectativas de mercado
Os produtores do arroz do Sul do País colhem a safra com leve pressão de baixa nos níveis praticados no Rio Grande do Sul, com queda média de R$ 1,00 por saca em fevereiro e tendência de leve pressão de baixa em março. Mas o quadro de baixa será curto neste ano, porque há a favor do arroz, por exemplo, o dólar em alta, que favorece a exportação e dificulta as importações. Isso cria uma demanda interna maior e favorece os produtores, que devem seguir vendendo escalonadamente, mantendo os indicativos firmes. Neste ano há potencial de crescimento das cotações maior que no ano passado, porque o consumo doméstico deverá crescer e com menos produto importado e mais exportações os indicativos do arroz devem crescer logo após a colheita. Nesta fase de colheita os produtores normalmente vendem para fazer caixa e cobrir custos que aparecem neste período e depois passam a segurar à espera de cotações mais atrativas. Cenário que tende a ser visto neste ano.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro dá sinais de reação, com aumento da procura do produto nacional, que apoiado pelo dólar em alta e indicativos de leve acréscimo no mercado internacional favorece cotações mais atrativas no Brasil. A exemplo do arroz e do feijão, o trigo, como alimento básico, também irá ter demanda maior neste ano em decorrência da situação econômica do país. O Brasil segue como um dos maiores importadores mundiais e com isso o trigo, com dólar batendo na casa de R$ 3,00, chega ao país com custos altos, que já superam a marca dos R$ 800,00 por tonelada. Esse cenário tende a valorizar o trigo nacional que de agora em diante mostra espaço para crescer. E também cria ambiente propício para o produtor plantar uma safra maior e buscar crescer em tecnologia para ter melhor produtividade e alta qualidade. ALGODÃO - A safra foi plantada tardiamente neste ano devido ao atraso das primeiras lavouras de soja no Centro-Oeste. Com isso, a colheita deve ser limitada e do potencial de crescimento estimado, agora, com o plantio fechado, não há margem para grandes alterações no quadro da safra. A expectativa é de um ano de aperto na produção e no consumo interno. A boa notícia para os produtores é
que o dólar em alta favorece as exportações e limita a queda no mercado interno. CHINA - A safra deste ano ainda está indefinida no país e o inverno duro, que vai se alongando, dá sinais de que a janela agrícola dos grandes grãos tende a ser mais apertada, aumentando os riscos de perda de produtividade. Enquanto isso, o governo tem estimulado as províncias a aumentarem seus estoques de alimentos, principalmente de grãos, porque o país teme problemas de suprimento mundial de grãos nestes próximos anos. Desse modo, o quadro de importações deste ano segue aberto. Aparentemente começa com indicativos de 75 milhões de toneladas de soja, mas pode chegar até 80 milhões de toneladas, porque o consumo de ração do país bate recorde em cima de recorde. O mesmo ocorre com o consumo de carne suína, frangos, ovos, leite e outros. Os indícios são de que a China seguirá como maior importadora de arroz do mundo, sendo que poderá chegar a seis ou sete milhões de toneladas neste ano. Também irá importar milho, ainda em patamar indefinido, e trigo, cujas compras tendem a crescer. Os chineses seguirão comprando forte, porque os indicativos de crescimento da economia do país para este ano estão entre os 7% e 7,2%, com forte demanda de alimentos para atingir esta projeção.
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
46 Março 2015 • www.revistacultivar.com.br