Grandes Culturas - Cultivar 191

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XVI • Nº 191 • Abril 2015 • ISSN - 1516-358X

Cultivar

Destaques

Nossa capa

Palmo a palmo - 22 Saiba como manejar a falsa-medideira, lagarta agressiva na cultura da soja

Dirceu Gassen

Índice

Absorção acelerada - 18 A importância do adjuvante para auxiliar a ação de fungicidas no controle da ferrugem asiática

Diretas

06

Bicudo em algodão

10

Ácaros em soja

14

Controle químico da ferrugem asiática

18

Capa - Manejo da falsa-medideira

22

Controle biológico com Trichogramma

28

Como enfrentar a broca da cana

30

Brusone em arroz

32

Manchas foliares em trigo

38

Spodoptera frugiperda em milho

41

Coluna ANPII

44

Coluna Agronegócios

45

Mercado Agrícola

46

Cartuchos no alvo - 41

De que modo proteger o potencial produtivo da lavoura de milho contra Spodoptera frugiperda

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

COMERCIAL

CIRCULAÇÃO

• Editor

• Coordenação

• Coordenação

Gilvan Dutra Quevedo

• Redação

Rocheli Wachholz Juliana Luz

Charles Ricardo Echer

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

Rithieli Barcelos

Simone Lopes

• Assinaturas

Natália Rodrigues Clarissa Cardoso Aline Borges Furtado

• Design Gráfico e Diagramação

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• Expedição

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• Revisão

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.




DIRETAS Sistema

Durante a Expodireto 2015 a Basf mostrou seu portfólio para arroz através do Sistema de Produção Clearfield para o controle do principal invasor, o arroz vermelho. De acordo com o gerente de Vendas Regional, Cleber Castro, o sistema veio para garantir a produtividade na cultura através do uso de variedades resistentes ao grupo das imidazolinonas. O sistema é baseado em três pilares: uso de sementes certificadas, o uso de produtos registrados para a cultura do arroz à base de imidazolinona e o manejo por parte do produtor, como, por exemplo, a eliminação da soca do arroz. “Em 12 anos de uso do sistema tivemos um aumento de 80% de produtividade na lavoura do arroz no Rio Grande do Sul”, garante Castro.

Cleber Castro

Equipe

A equipe da Bayer CropScience apresentou aos visitantes da Expodireto Cotrijal 2015 o portfólio de Proteção de Cultivos e programas para o manejo de lavouras, como o De Primeira Sem Dúvida e o Bayer Contra Lagartas. Ocorreu também durante a feira a assinatura do acordo entre a empresa e o Sistema Farsul, que permite o treinamento sobre tecnologia de aplicação para aproximadamente dez mil agricultores.

Presença

A Basf esteve presente na Expodireto 2015 com todo o seu time de campo mostrando os destaques e as novidades da empresa para as culturas da soja, milho e arroz, através dos sistemas Agcelence, SeedSolutions, AgroDetecta e Sistema Clearfield.

Prêmio

Durante a Expodireto Cotrijal foi realizada a solenidade de entrega do troféu Brasil Expodireto, que homenageou lideranças do agronegócio, empresas e produtores. A Bayer CropScience recebeu o troféu na categoria Proteção de Cultivos. O evento reconheceu a importância do agronegócio do Brasil no cenário internacional e destacou quem participou do desenvolvimento de uma cadeia produtiva competente, com base em resultados positivos e promissores.

Soja

A Basf apresentou na Expodireto 2015 o Sistema AgCelence Soja, modelo de manejo integrado e sequencial de produtos da empresa voltados para o controle de pragas e doenças e para o aumento da produtividade. De acordo com o gerente de Marketing Cultivos da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, Elias Guidini, com a introdução recente do fungicida Orkestra o modelo ganha mais eficiência. “O efeito blindagem do produto protege a planta de soja por mais tempo de importantes doenças e é responsável por aumentar a produtividade da cultura pela ação conjunta de dois princípios ativos diferenciados, o fluxapiroxade e a molécula F500”, explicou.

Cultivares

Elias Guidini

Proximidade

Para o diretor executivo de Negócios para a Região Sul da Bayer CropScience, Álvaro Simionato, a Expodireto Cotrijal foi uma excelente oportunidade para a empresa estar mais próxima do agricultor. “Nossa atuação em conjunto com a Cotrijal já tem mais de 30 anos e vem se fortalecendo muito nos últimos anos por serem dois importantes atores da cadeia produtiva que primam essencialmente por tecnologia e inovação para se produzir Álvaro Simionato e Mauro Alberton cada vez mais e melhor”, disse.

06 Abril 2015 • www.revistacultivar.com.br

No estande da Nidera na Expodireto os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer suas cultivares de soja Nidera Intacta (NS 5727 Ipro, NS 6006 Ipro), materiais que prometem conferir alta proteção contra as principais lagartas da soja e agir na manutenção do potencial produtivo. Além disso, os produtores que visitaram o estande também contaram com uma equipe técnica para sanar dúvidas. A empresa também recebeu o Troféu Brasil Expodireto na categoria Obtentores de Sementes.


Híbrido

A Agroeste apresentou o híbrido de milho AS 1666 PRO3, ideal para o plantio no cedo. Superprecoce, a semente promete alta resposta aos manejos agronômicos, controle de plantas daninhas, pragas e doenças. Outra novidade é o AS 1677 PRO4, hiperprecoce e de alta performance produtiva na abertura do plantio. O híbrido auxilia no planejamento de plantio e colheita antecipada.

Lançamento

A Brasmax apresentou na Expodireto o lançamento Brasmax Elite Ipro, voltado para a região do Planalto do Rio Grande do Sul. Com a tecnologia Intacta RR2, a BMX Elite Ipro possui ciclo precoce e bom potencial produtivo. Além do lançamento os visitantes que foram no estante da empresa puderam conhecer materiais com desempenho em áreas de várzea.

Inseticida biológico

Milho

O público que visitou o estande da BioGene pôde conferir as opções de híbridos de milho posicionadas para a safra verão, tais como BG7046H, BG7051H, BG7060HR e BG7318YH. A empresa, além de abordar aspectos ligados ao manejo da cultura do milho, ofereceu uma equipe técnica para sanar dúvidas dos agricultores. Também lançou o BG7318YH, híbrido superprecoce, com bom desempenho produtivo no mercado ao longo desta safra.

A FMC expandiu seu portfólio para soja com o lançamento do inseticida biológico, Helicovex. Além de campos demonstrativos de produtos e orientações com equipe técnica, os visitantes do estande da empresa na Expodireto puderam acompanhar palestra sobre a lagarta Helicoverpa armigera com o entomologista Mauro Braga. A empresa também destacou o nematicida Rugby e o sistema de aplicação Pulver Easy para controle de nematoides, os inseticidas Mustang, Hero e Talisman contra lagartas e percevejos, tratamento de sementes Rocks para combate a insetos sugadores e mastigadores, Dipel para manejo de resistência de pragas, inclusive Helicoverpa armigera, e o fungicida Locker, indicado para controle de ferrugem asiática, oídio, antracnose, mancha alvo e doenças de final de ciclo, além dos herbicidas Boral, Aurora e Profit.

Sementes

A Sementes Agroceres ofereceu aos visitantes da feira serviço completo de atendimento com técnicos e especialistas para fornecer informações sobre produtos, esclarecer dúvidas e indicar soluções para a atividade de cada cliente. No estante estiveram em destaque os híbridos AG 9000 PRO3, que prometem elevado potencial produtivo, superprecocidade e qualidade de grãos. Também foi destacado o AG 8780, igualmente recomendado para a abertura do plantio da safrinha e ainda para a safra de verão.

Foco

Os produtores que visitaram o estande da Donmario na Expodireto Cotrijal viram de perto a cultivar Intacta (DM 6563 RSF Ipro) e a aposta da marca para a safra 2014/2015, a cultivar DM 5958 RSF Ipro, que promete resultados de produtividade. Além disso, a empresa contou com equipe técnica para auxiliar os produtores que visitaram seu estante.

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07


Gestão

A BioGene participou da Expodireto 2015 com o objetivo de mostrar novos produtos, tecnologias e fortalecer a marca como referência no mercado de sementes. Para isso contou com equipe alinhada e com a integração dos setores de Marketing, Comercial e Agronomia, para a apresentação das novidades do portfólio da empresa voltadas para o milho verão. Estiveram presentes o Gerente de Agronomia Brasil e Paraguai Robson de Paulo, o líder da Unidade Comercial Brasil e Paraguai, Rodrigo Leão e o Gerente de Marketing, Sérgio Silva.

Marketing

André Savino

O engenheiro agrônomo André Savino, com 17 anos de experiência na Syngenta, foi nomeado diretor geral Marketing Brasil, após ocupar várias funções na companhia. “Meu principal desafio será alinhar as estratégias de Sementes, Produtos e Clientes na busca de ofertas diferenciadas para suportar nossos clientes e ajudá-los a aumentar sua produtividade e rentabilidade, continuando a jornada de crescimento sustentável”, explicou.

Contra insetos

A Dow AgroSciences destacou na Expodireto Cotrijal o pré-lançamento dos inseticidas Exalt e Delegate, duas alternativas de controle de insetos. Exalt apresenta alta seletividade a inimigos naturais da cultura de soja e atua de forma rápida e eficiente no controle do complexo de lagartas nesta cultura.

Conscientização

O Instituto Nacional de Processamentos de Embalagens Vazias (InpEV) e as centrais de recebimento do Rio Grande do Sul reforçaram a importância da destinação correta de embalagens durante a Expodireto Cotrijal. Os visitantes puderam conhecer ações desenvolvidas pelo Sistema Campo Limpo. Para o coordenador Regional de Operações do inpEV em Santa Catarine e Rio Grande do Sul, Marcelo Lerina, o evento foi uma oportunidade para fortalecer o compromisso do instituto na gestão pós-consumo das embalagens vazias de agroquímicos. “Todos os anos em que participamos pudemos notar que as atividades desenvolvidas aproximam os visitantes do tema, além de os fazerem refletir sobre a importância da preservação do campo.”

Helicoverpa

A Ihara apresentou tecnologias de combate à lagarta Helicoverpa na Expodireto, como o produto biológico Gemstar. “O produto é diferenciado e tem mecanismo de ação único. Quando aplicado, as lagartas o ingerem e ficam contaminadas, paralisando a alimentação em três dias, e morrem em até sete dias. É bastante inovador”, garante o gerente de Marketing Regional da empresa, Daniel Zanetti. Foram apresentados também os inseticidas biológicos Gemstar Max e Costar. “Nosso objetivo é consolidar a imagem da Ihara, como empresa líder em inovações e soluções no segmento de defensivos agrícolas. Esperamos estreitar ainda mais nossa relação com clientes e produtores”, explicou o consultor de Desenvolvimento de Mercado, Rudimar Spannemberg.

08 Abril 2015 • www.revistacultivar.com.br

Linha

A Rigrantec apresentou durante a Expodireto 2015 sua tradicional linha de produtos para tecnologia de aplicação, fertilizantes organominerais, corantes e polímeros para tratamento de sementes, peletização e incrustação de sementes.


Integração

A Tropical Melhoramento e Genética (TMG) levou para a Expodireto suas cultivares de soja com a junção da tecnologia Inox, com resistência à ferrugem asiática com a tecnologia Intacta RR2 PRO, resistente às lagartas e ao glifosato. A TMG 2158 Ipro e a TMG 7062 Ipro fazem parte de um grupo de cinco cultivares dotadas destas tecnologias em uma única cultivar. Para o gestor de Mercado e de Sementes, Osmair Mendonça, participar do evento é mais uma etapa na consolidação dos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento de mercado, com foco regional, que vêm sendo realizados pela TMG desde 2007.

Palestra

Com o objetivo de levar informação aos visitantes da Expodireto a Syngenta ofereceu palestras diárias com o professor Carlos Alberto Forcelini, da Universidade de Passo Fundo. O pesquisador abordou o manejo da ferrugem asiática, principal doença que afeta a cultura da soja.

Soluções integradas

Parcelas

Denilson Rigonato e Ricardo Paganeli

A Morgan apresentou dois lançamentos de híbridos de milho na Expodireto. Os visitantes puderam conhecer parcelas demonstrativas dos híbridos MG300 e MG580. As lavouras estavam em estádios de maturação fisiológica, fase em que é possível observar características fundamentais como sanidade foliar e empalhamento de espiga.

Cana

O engenheiro agrônomo Fábio Prata assumiu a recém-criada Diretoria de Vendas Cana, da Bayer CropScience. Com a criação desta nova DN, a empresa intensifica o foco e os investimentos na cultura. De acordo com o executivo, a companhia tem como objetivo impulsionar e acompanhar de perto o desenvolvimento do mercado. “Nosso principal foco será o cliente, queremos reduzir perdas e aumentar a produtividade, por meio de soluções integradas, serviços e atendimento diferenciado”.

O fungicida Elatus foi destaque do portfólio da Syngenta durante a 16ª Expodireto. A empresa apresentou em seu espaço uma tela interativa para o agricultor conferir todos os resultados do produto na região Sul do País. A gerente de Promoção e Propaganda da Syngenta, Renata Moya, destacou que o estande concentrou em um único ambiente todos os espaços destinados a receber os produtores, como a sala de palestras, café e salas VIP. O Desenvolvimento Técnico de Mercado da Syngenta, Laércio Hoffmann, lembrou que os visitantes também puderam conferir as áreas de teste do fungicida no campo e ainda o portfólio de sementes e outras soluções Renata Moya e Laércio Hoffmann integradas para a cultura da soja.

Participação

O diretor da Syngenta no Brasil, Laércio Giampani, marcou presença na 16ª edição da Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul. Com 30 anos de trabalhos dedicados à companhia o executivo acaba de ser eleito na categoria Agronegócio como uma das 100 pessoas mais influentes listadas pela Forbes Brasil.

Fábio Prata

Consultoria

Durante a Expodireto o público que passou pelo estande da Syngenta pôde contar com consultoria da equipe de técnicos e outros profissionais que estiveram à disposição para tirar dúvidas e prestar informações sobre produtos e serviços da empresa. O Desenvolvimento Técnico de Mercado, Milto Facco, destacou que nas áreas demonstrativas a empresa mostrou as principais variedades de sementes da cultura da soja e seu portfólio de proteção de cultivos. Outro destaque foi a volta do Avicta Completo para o tratamento de sementes industriais.

Parceria

Uma parceria entre a Syngenta e a Universidade de Passo Fundo (UPF) proporcionou aos produtores que visitaram o estande da empresa a oportunidade de conhecer mais sobre pragas e doenças que atacam as lavouras, além de opções de manejo integrado.

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ALGODÃO

Eduardo M Barros

Oculto e abundante Presente em todos os locais em que se cultiva algodão no Brasil, o bicudo Anthonomus grandis tem por característica permanecer a maior parte de seu ciclo escondido dentro dos botões florais e das maçãs do algodoeiro, o que dificulta tanto a ação de inimigos naturais quanto de inseticidas. Com incidência agravada nas últimas safras, essa praga exige atenção e muito esforço para o controle

O

bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman, 1843 (Coleoptera: Curculionidae), é a principal praga da cultura do algodoeiro no Brasil, responsável por perdas de produtividade de até 75%, quando não manejado. Este inseto permanece a maior parte de seu ciclo (fase de ovo, larva e pupa) no interior dos botões florais e maçãs do algodoeiro, o que dificulta o controle da praga. De fato, esta característica protege as fases de desenvolvimento do bicudo-do-algodoeiro da ação dos inimigos naturais e, principalmente, das aplicações de inseticidas. Assim, os adultos

do bicudo-do-algodoeiro são praticamente os alvos das aplicações. O bicudo-do-algodoeiro coloniza as lavouras de algodão, assim que a cultura emite os primeiros botões florais, estruturas preferidas para alimentação e oviposição. Esta colonização ocorre através de migrações da praga a partir de áreas de refúgios (matas, beira de açudes, rios etc). A colonização pode ser resultante ainda dos bicudos mantidos em plantas remanescentes na entressafra da cultura, em beira de estradas e vicinais, plantas tigueras de algodão e rebrota de algodoeiro nos talhões, devido à destruição incorreta. Em épocas de

10 Abril 2015 • www.revistacultivar.com.br

pressão elevada da praga, é observada colonização das lavouras ainda em fase vegetativa. Os altos níveis populacionais da praga nas lavouras têm sido influenciados pelo manejo da praga na safra anterior. Isto porque o bicudo-do-algodoeiro que está colonizando a área é aquele residual da safra passada. Assim, espera-se que ao realizar um bom manejo da praga na safra anterior – especialmente no final do ciclo do algodoeiro – e uma destruição bem feita de soqueira, a população que irá colonizar a lavoura subsequente seja reduzida. Infelizmente, em todos os locais que se cultiva algodão no Brasil, o bicudo-do-algo-


doeiro está presente, causando prejuízos. A última região em que esta praga foi relatada no País foi Sapezal, no noroeste de Mato Grosso, em 2007. Atualmente, o bicudo-do-algodoeiro já está completamente disseminado na região, demostrando seu potencial em colonizar novas áreas. Desde 2006, a equipe do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) vem executando um projeto de monitoramento e controle do bicudo-do-algodoeiro em Mato Grosso. Este trabalho tem sido financiado pelo Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e permite que o monitoramento seja realizado em todas as regiões produtoras de Mato Grosso, com início na entressafra e sendo mantido até o mês de janeiro. O resultado tem sido o estabelecimento de estratégias que permitem um bom manejo da praga no Estado, reduzindo a população em anos de pressão elevada. Através do monitoramento foi observado um aumento populacional do bicudo-do-algodoeiro nesta última safra, sendo constatado acréscimo na captura da praga nas armadilhas. Os resultados apontam uma média acima de 10 BAS (bicudos/ armadilha/semana) nos núcleos regionais Sul (Rondonópolis e região), Centro (Campo Verde e região) e Centro-Leste (Primavera do Leste e região), sendo que o índice acima de dois indivíduos/armadilha já coloca a lavoura em alerta vermelho. Um exemplo reside no Núcleo Regional Centro-Leste, que após reduzir os índices na safra 2013/2014 (média de 1,9 BAS), registrou percentual médio de 10,35 BAS no monitoramento em pré-safra 2014/15, o que corresponde a um aumento de 541% (Figura 1). Estes números têm preocupado toda a cadeia produtiva do algodão, já que os períodos de entressafra, pré-safra e início de cultivo seriam épocas de menor ocorrência da praga.

-algodoeiro e sua manutenção nas áreas e até mesmo favorecido sua multiplicação e consequente crescimento nesta safra. Um deles reside na destruição malfeita da soqueira do algodoeiro, que resulta na rebrota das plantas nas áreas ou ainda a presença de plantas tigueras nas lavouras de soja e/ ou outras áreas. Outro aspecto é a introdução de variedades com eventos transgênicos resistentes ao herbicida glifosato, que tem dificultado a destruição química dos restos culturais, visto que este herbicida era uma ferramenta utilizada na eliminação das soqueiras, juntamente com o herbicida 2,4D. O período chuvoso nas épocas de colheita e vazio sanitário, encurtando a janela para destruição química ou mecânica é fato que também dificultou a destruição dos restos culturais na safra passada. Da mesma forma o enlonamento e o transporte de algodão em caroço de forma indevida, têm gerado plantas hospedeiras na entressafra, à beira de estradas vicinais e rodovias. Mais uma circunstância que tem contribuído para a presença do bicudo é a utilização de variedades de algodão transgênicos resistente a lagartas (algodão Bt). Como estes materiais apresentam controle satisfatório de algumas lagartas, especialmente na fase inicial do algodoeiro, houve uma redução do monitoramento de pragas. Consequentemente, a falta deste monitoramento inicial tem permitido o

escape de algumas pragas. Além disso, o uso destes transgênicos também resultou em redução do número de aplicações de inseticidas no início da safra. Indiretamente, as aplicações em fase inicial para o controle de lagartas controlavam o bicudo-do-algodoeiro e ajudavam a manter a população em níveis inferiores. O sistema de cultivo atual, com algodão de 1a e 2a safra, tem aumentado a janela de plantio e, portanto, um maior tempo da cultura no campo. Isto resulta em oferta de alimentos para o bicudo-do-algodoeiro por maior período do ano, favorecendo sua multiplicação. O maior período de plantas no campo também reduz a janela de vazio sanitário, desfavorecendo a destruição dos restos culturais. A redução das opções para realização do controle químico também agrava a situação, tendo em vista a proibição do uso de inseticidas sintéticos considerados eficientes no controle do bicudo-do-algodoeiro, tais como o endosulfan e o metamidofós. A adoção de medidas de manejo, de forma descoordenada e independente entre os agricultores, resulta em diferentes formas de condução da lavoura e favorece a praga. Devido à pressão do bicudo-do-algodoeiro neste início de safra do algodão, os produtores devem ficar atentos à importância das ações iniciais de controle da praga. Caso neste primeiro momento, em fase vegetativa, o monitoramento e o controle nos talhões não sejam rigorosos e efetivos, o produtor tem alto

Figura 1 - Média de bicudos/armadilha/semana – BAS em diferentes regiões produtoras de algodão de Mato Grosso (n = 150 armadilhas por Núcleo). Núcleos regionais e municípios envolvidos: Núcleo Centro (Campo Verde e região), Núcleo Centro Leste (Primavera do Leste e região), Núcleo Centro Norte (Lucas do Rio Verde e região), Núcleo Médio Norte (Campo Novo do Parecis e região), Núcleo Noroeste (Sapezal e região), Núcleo Norte (Sorriso e região) e Núcleo Sul (Rondonópolis e região)

FATORES AGRAVANTES

Arquivo IMAmt

Diversos fatores têm contribuído para um ambiente favorável ao bicudo-do-

Adulto do bicudodo-algodoeiro

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Edenilson Souza

Eduardo Moreira Barros e Jacob Casoriol Netto mostram as melhores soluções para manejar o bicudo-do-algodoeiro

DEZ AÇÕES IMPORTANTES NA FASE INICIAL Armadilha iscada com feromônio Grandlure na bordadura do talhão de algodão

risco de sofrer falhas de controle do bicudo, ocasionando prejuízos severos à sua lavoura. A adoção de medidas de manejo na fase inicial da cultura (desde antes do pré-plantio até o florescimento) é fundamental para o monitoramento, conhecimento da situação da praga nos talhões e controle na infestação inicial. A equipe do IMAmt está implementando em Mato Grosso um projeto de controle efetivo do bicudo-do-algodoeiro, com o objetivo principal de apoiar, organizar e conduzir os produtores para o uso de medidas de manejo, para a redução populacional da praga. Várias ações de manejo, que envolvem todo o processo produtivo, vêm sendo recomendadas. As medidas de manejo, desde o monitoramento até o controle da praga, devem ser adotadas por toda cadeia produtiva do algodão. Para ter sucesso no controle do bicudo-do-algodoeiro, as ações devem ser operadas de forma coordenada e aplicadas de maneira coletiva por região. Estas ações irão contribuir para a convivência com a praga, facilitando o manejo, resultando em menores custos de C produção e maiores produtividades.

Arquivo IMAmt

Eduardo Moreira Barros e Jacob Casoriol Netto, IMAmt

Detalhes das injúrias de alimentação (esquerda) e oviposição (direita)

1 - Levantamento do histórico de infestação nos talhões, mapeando os focos conhecidos do bicudo (portas de entrada e saída), identificando possíveis áreas de refúgio. Com a identificação destes focos, planejar, antecipar e executar medidas de controle diferenciadas. 2- Monitoramento de áreas de soja que sucedem algodão, verificando a presença e intensidade de soqueira ou tiguera de algodoeiro, e em áreas com alta intensidade realizar a inclusão de inseticida na dessecação da soja. 3 - Instalação de armadilhas com feromônio (Grandlure) 30 dias antes do plantio e mantê-las até emissão dos primeiros botões florais. A instalação deve ser feita no perímetro dos talhões, numa distância de 150 metros entre si, com troca de feromônio a cada 15 dias. Estas armadilhas devem ser monitoradas semanalmente e os dados organizados para acompanhamento da flutuação populacional da praga. 4 - Os plantios devem ser realizados com calendário de semeadura concentrados, principalmente em talhões vizinhos. 5 - Treinar os monitores de pragas para realização do monitoramento das armadilhas e inspeção visual. 6 - Realizar aplicações dos inseticidas com equipamentos ideais e regulados, em horários adequados, priorizando as técnicas recomendadas pela Tecnologia de Aplicação. 7 - As aplicações em bordadura devem ser iniciadas a partir do aparecimento da terceira folha, sendo conduzidas até o final da safra. A aplicação deve ser realizada de forma sequencial, a cada cinco dias, devendo evitar o uso de inseticidas piretroides,

12 Abril 2015 • www.revistacultivar.com.br

para não causar surtos de ácaros, mosca-branca e pulgões. Após o florescimento, atenção especial no monitoramento, para início das aplicações em área total. 8 - Aplicações nas áreas em fase vegetativa devem ocorrer de acordo com o monitoramento (dados obtidos em armadilhas). Como sugestão: tendo até duas armadilhas com bicudo, aplicar nos raios de ação da armadilha e das armadilhas vizinhas; acima de duas armadilhas com bicudo, aplicar em todo o talhão. Vale ressaltar que o histórico de captura de bicudo/armadilha/semana (número BAS) determina a definição das zonas de infestação, auxiliando nas aplicações a partir do surgimento do primeiro botão floral (B1). A classificação das zonas de infestação segue os seguintes parâmetros: Zona verde – 0 BAS, sem necessidade de aplicação Zona azul – 0 a 1 BAS, fazer uma aplicação Zona amarela – 1 a 2 BAS, fazer duas aplicações sequenciais, com intervalo de cinco dias Zona vermelha – acima de 2 BAS, fazer três aplicações sequenciais, com intervalo de cinco dias 9 - O monitoramento no interior dos talhões, através da inspeção visual das plantas, deve ser realizado desde a fase inicial. 10 - Realização de ações conjuntas e troca de informações entre os produtores. Isso contribuirá para um melhor entendimento do ataque do bicudo-do-algodoeiro e seu manejo em cada propriedade, bem como ter a padronização de boas ações.



SOJA

Fotos Samuel Roggia

Minúsculos e ofensivos

Pragas secundárias em soja, algumas espécies de ácaros têm sido registradas em surtos no Brasil, com relatos de perdas em situações de ataques mais intensos. Conviver com estes pequenos organismos de modo equilibrado e sem comprometer a produtividade exige medidas integradas, racionais e que passam por ações preventivas como a preservação de inimigos naturais

O

s ácaros são pragas secundárias em soja no Brasil. No entanto, existem regiões e épocas em que a praga pode exigir medidas de controle, merecendo por isso atenção do agricultor no monitoramento da sua lavoura. Atualmente são conhecidas seis espécie de ácaros associadas à soja no Brasil com potencial de causar dano, sendo o ácaro-verde e o ácaro-rajado os mais comuns. Os demais ácaros-praga são três espécies de ácaro-vermelho e o ácaro-branco. Associados aos ácaros-praga, comumente ocorrem agentes de

controle biológico como os ácaros predadores (ácaros benéficos) e doenças como o fungo Neozygites floridana. Tais agentes de controle biológico contribuem para reduzir a intensidade de ataque dos ácaros-praga na lavoura de soja, por isso, o agricultor deve fazer o uso racional de inseticidas e fungicidas na sua lavoura a fim de preservá-los. A ocorrência de estiagem é o principal fator condicionante para surtos de ácaros em soja. No entanto, o uso inadequado de inseticidas e fungicidas pode aumentar a intensidade de ataque da praga. Determinados inseticidas

14 Abril 2015 • www.revistacultivar.com.br

pouco seletivos, como os piretroides, utilizados em soja para o controle de lagartas e percevejos, podem intensificar o ataque de ácaros, pois são deletérios a predadores e competidores, e induzem a dispersão dos ácaros na lavoura, aumentando a área atacada pela praga. Também inseticidas neonicotinoides podem favorecer os tetraniquídeos por estimularem sua reprodução. Em soja, misturas comerciais de piretroides e neonicotinoides são amplamente utilizadas para o controle de percevejos. Além disso, os fungicidas (triazóis, estrobilurinas e benzimidazóis) utilizados para controle da


ferrugem-da-soja podem prejudicar o fungo Neozygites floridana que controla naturalmente os ácaros-praga. Quanto mais cedo for iniciada a aplicação de inseticidas fungicidas em soja, maior será o prejuízo ao fungo de controle biológico de ácaros. Os surtos de ácaros ocorrem, frequentemente, na fase reprodutiva da soja, quando a planta encontra-se na fase de maior área foliar da planta, dificultando a distribuição dos acaricidas, principalmente nas folhas medianas e inferiores. Devido à dificuldade de controle e ao custo do tratamento, para o manejo de ácaros em soja prevalecem estratégias de preservação de inimigos naturais pelo uso racional de agroquímicos. Neste contexto, a liberação comercial da soja Bt (intacta) traz boas perspectivas pela possibilidade de redução do uso de inseticidas. Porém, é indispensável que a soja Bt seja manejada corretamente, controlando percevejos só após o surgimento das vagens, quando for atingido o nível de ação, e utilização de fungicidas apenas na fase reprodutiva da cultura. Um estudo realizado pela Emater/Paraná com a colaboração da Embrapa Soja, na safra 2013/14 em 107 lavouras de agricultores no estado do Paraná indicou que é possível reduzir o número de aplicações de inseticidas e fungicidas, bem como atrasar a data da primeira aplicação, sem perdas de produtividade para o agricultor. Em outro estudo onde 189 lavouras de soja foram acompanhadas por engenheiros agrônomos da Coamo, nos estados de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, na safra 2010/11, foi constatado que é possível reduzir pela metade o número de pulverizações para o manejo de percevejos em soja utilizando o manejo integrado de pragas. Estudos recentes indicam que a resistência de cultivares pode ser uma ferramenta para o manejo de ácaros em soja. Mas ainda é um desafio obter conhecimento sobre: a fase crítica da soja ao ataque da praga; o nível de controle; a definição de estratégias práticas e eficientes de amostragem e a viabilidade do controle biológico aplicado, com predadores e patógenos. Ainda não existe um nível de controle consolidado para ácaros em soja no Brasil. No entanto, pesquisas científicas têm mostrado que, dependendo da intensidade de ataque, pode haver perdas de produtividade, justificando a utilização de medidas de controle. Em cultivos intensivos (flores, hortaliças, frutíferas) o controle de ácaros vem sendo realizado com a utilização de ácaros predadores (controle biológico), porém, na cultura da soja, devido à escala de produção, o controle de ácaros é realizado predominantemente com acaricidas químicos. Atualmente existe um pequeno número de acaricidas registrados para o controle de ácaros em soja, sendo seus

Dispersão de ácaro-verde, considerado o mais frequente na cultura da soja no Brasil

princípios ativos: espiromesifeno, diafentiurom, abamectina e profenofós + lufenurom. Como o ataque pode ocorrer de forma pontual na lavoura é aconselhável vistoriar todos os talhões e realizar pulverizações apenas nas áreas atacadas obedecendo à dose registrada de cada produto.

COMO SE COMPORTAM

Os ácaros são organismos minúsculos que se alimentam das células da folha da soja,

reduzindo a fotossíntese e a produção de energia pela planta, sendo que ataques intensos podem reduzir a produção da lavoura. No caso do ácaro-branco, o ataque pode produzir encarquilhamento das folhas e deformação na planta. O ácaro-verde (Mononychellus planki) é o ácaro mais frequente em soja no Brasil, porém, é menos agressivo que os demais. É comumente encontrado em baixa densidade populacional, porém, em períodos de estiagem na fase de enchimento de grãos da soja podem ocorrer surtos populacionais da praga. Este ácaro possui coloração verde intenso com as quatro pernas dianteiras de coloração amarelo-ouro. Os ovos são depositados diretamente sobre a superfície da folha, principalmente na sua face inferior e junto às nervuras. Produz pequena quantidade de teia, utilizada para fixar os seus ovos na folha e no processo de dispersão pelo vento. Os sintomas do ataque do ácaro-verde são pontuações claras (células mortas) ao longo de toda a superfície da folha, em ambos os lados, porém, mais intensamente na sua face inferior. No início, o ataque se concentra próximo das nervuras, no entanto, com o passar do tempo se distribui ao longo de toda a superfície da folha que apresenta coloração acinzentada. Folhas de diferentes alturas da planta apresentam intensidade de ataque semelhante entre si. O ataque do ácaro-verde é bem distribuído na lavoura, ocorrendo grandes reboleiras de coloração acinzentada. Como a transição de áreas pouco atacadas para outras com ataque mais intenso é gradual, o início do desenvolvimento de

Sintoma de ataque do ácaro-branco responsável pelo encarquilhamento das folhas e deformação na planta

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Fotos Samuel Roggia

Ataque do ácaro-rajado Tetranychus urticae, segunda espécie mais frequente em soja no Brasil

reboleiras pode passar despercebido para o olho pouco treinado. O ácaro-rajado (Tetranychus urticae) é a segunda espécie mais frequente em soja no Brasil, habitualmente é mais agressiva o que o ácaro-verde, porém, muito sensível à chuva e ao ataque de agentes de controle biológico. É notado em ataques intensos em soja, sendo favorecido pela estiagem. Esse ácaro possui coloração verde com duas manchas escuras laterais, o que motivou o seu nome “ácaro-rajado”. Vivem em colônias abrigadas sob teia que é produzida em grande quantidade na face inferior das folhas. Os sintomas do ataque na face inferior da folha são pontuações claras (células mortas) que evoluem rapidamente para manchas contínuas acinzentadas, correspondentes à região de abrangência da colônia, delimitada pela sua teia, enquanto na face superior surgem manchas amareladas. O ácaro-rajado, ao contrário do ácaro-verde, apresenta ataque bem concentrado em pequenas manchas na folha. Com o passar do tempo, novas colônias são estabelecidas formando novos pontos de ataque na mesma folha. O ataque é desuniforme ao logo da planta e da lavoura, sendo que folhas de uma mesma planta podem apresentar intensidades de ataques muito diferentes. Na lavoura são notadas pequenas reboleiras com plantas intensamente atacadas, com aspecto amarelado,

gerando forte contraste em relação ao entorno, o que facilita seu reconhecimento. As espécies de ácaros-vermelhos (Tetranychus desertorum, Tetranychus gigas, Tetranychus ludeni) que ocorrem em soja são semelhantes entre si. Possuem coloração vermelho-carmim que, com o passar do tempo passam para o vermelho-escuro. Apresentam sintomas e potencial de ataque semelhantes ao do ácaro-rajado, porém, são pouco frequentes

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em soja no Brasil. O ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) também é pouco frequente em soja no Brasil e comumente ocorre em baixas densidades populacionais. O ácaro-branco, ao contrário dos demais, é favorecido por períodos chuvosos e presente na fase vegetativa da soja. Esses ácaros apresentam coloração creme brilhante e são muito pequenos, difíceis de ser observados a olho nu. É comum observar os machos transportando pupas de fêmeas, com as quais copulam tão logo estas emerjam. Os ovos são depositados diretamente sobre a superfície da folha ao logo de toda sua extensão, principalmente na face inferior. O ácaro-branco não produz teia. Devido ao seu pequeno tamanho, ácaro-branco ataca preferencialmente folhas novas (ponteiros), sendo que seu ataque prejudica o processo de expansão da folha deixando-a encarquilhada, podendo ser confundido com virose. A deformação nos folíolos, causada pelo ácaro-branco, é sempre simétrica e ocorre com a mesma intensidade nos três folíolos da mesma folha. Enquanto que, no caso de viroses, pode ocorrer deformação assimétrica no folíolo e folíolos de uma mesma folha podem apresentar deformações com intensidades variadas. Os folíolos de plantas com virose podem apresentar rajadas de coloração amarelada, preta, avermelhada ou verde, já folíolos atacados pelo ácaro-branco não apresentam tais modificações. Na lavoura o ataque do ácaro-branco ocorre em reboleiras, já as viroses podem ser verificadas em plantas isoladas. A haste e vagens em desenvolvimento também podem ser atacadas. As estruturas afetadas apresentam aspecto bronzeado. Ataques precoces podem atingir consideravelmente a C arquitetura da planta. Samuel Roggia, Embrapa Soja



SOJA

Absorção acelerada

Simone Minuzzi

Na luta contra a ferrugem asiática o uso correto do adjuvante recomendado pelo fabricante de fungicidas é ferramenta importante para que o produto possa ser devidamente absorvido pela folha. Este efeito é principalmente destacado pela performance das estrobilurinas e das carboxamidas, altamente dependentes de absorção foliar para garantir maiores residuais de controle

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O

planejamento das ações de proteção de plantas está basicamente direcionado ao manejo da ferrugem asiática da soja, que está entre os principais fatores que limitam a obtenção de altos rendimentos em soja. O estabelecimento da doença contempla as condições climáticas adequadas à infecção do patógeno, como molhamento foliar prolongado associado à temperatura diária menor que 28ºC. É de domínio geral que os danos da ferrugem asiática são mais efetivos a partir da fase de florescimento pleno até o final da cultura, período que corresponde à maior mobilização de fotoassimilados para os grãos e não mais para ativação eficaz de defesas. Portanto, a planta está fisiologicamente comprometida com o enchimento de grãos em virtude do grande gasto energético, não conseguindo evitar a progressão acelerada da Phakopsora pachyrhizi. Com vistas ao manejo da cultura, faz-se necessário lançar mão de alternativas que protejam a área foliar ou reduzam a evolução da doença. Nesse sentido, inclui-se a utilização de cultivares precoces com algum nível de tolerância, plantio no início da época recomendada e aumento do espaçamento entre linhas. Estas estratégias acabam por melhorar a penetração dos fungicidas, principalmente no terço médio e inferior, além de favorecer um microclima de maior circulação de ar, maior temperatura e, consequentemente, menor umidade e menor molhamento foliar. Além disso, a eliminação de plantas de soja voluntárias, a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário e o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura são medidas indispensáveis para proporcionar maior sanidade à lavoura. Como complemento integrado ao manejo, a utilização de mistura de fungicidas do grupo dos triazóis + estrobilurinas é fundamental para a proteção foliar e redução dos danos. Além disso, recentemente, novas moléculas do grupo das carboxamidas


Figura 1 – Velocidade de absorção de fungicida com e sem adjuvantes sob intervalos Figura 2 – Eficácia variada de fungicida com e sem adição de adjuvante. AACPD – Área Abaixo de chuva simulada. Tz – triazol; St – estrubilurina; Adj – adjuvante da Curva de Progresso da Doença; St – estrobilurina; Cx – carboxamida; Adj – Adjuvante

Figura 3 – Severidade aos 14 dias após aplicação dos tratamentos (DAA) de Phakopsora pachyrhizi na cultivar de soja NA 5909. São Sepé/RS, 2012/13. Tz-Triazol; St-Estrobilurina; Adj Rec. – Adjuvante recomendado; FA – Fertilizante A (N, P, S, B, Zn), FB – Fertilizante B (N, P, S)

Figura 4 – Severidade aos 21 dias após aplicação dos tratamentos (DAA) de Phakopsora pachyrhizi na cultivar de soja NA 5909. São Sepé/RS, 2012/13. Tz-Triazol; St-Estrobilurina; Adj Rec. – Adjuvante recomendado; FA – Fertilizante A (N, P, S, B, Zn), FB – Fertilizante B (N, P, S)

Figura 5 – Severidade aos 28 dias após aplicação dos tratamentos (DAA) de Phakopsora pachyrhizi na cultivar de soja NA 5909. São Sepé/RS, 2012/13. Tz-Triazol; St-Estrobilurina; Adj Rec. – Adjuvante recomendado; FA – Fertilizante A (N, P, S, B, Zn), FB – Fertilizante B (N, P, S)

Figura 6 – Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) da cultivar de soja NA 5909. São Sepé/RS, 2012/13. Tz-Triazol; St-Estrobilurina; Adj Rec. – Adjuvante recomendado; FA – Fertilizante A (N, P, S, B, Zn), FB – Fertilizante B (N, P, S)

(fluxapiroxade e benzovindiflupyr) foram lançadas para auxiliar no controle, visto que o Brasil trabalhahá 14 anos com os mesmos dois grupos já citados. Infelizmente, o uso correto e posicionamento ainda é um impasse, seja por atraso em relação à chegada do patógeno, intervalo excessivo entre aplicações ou desuso da recomendação da empresa

relacionado ao adjuvante na mistura. Neste sentido, o uso de fertilizantes foliares associados aos fungicidas pode ser uma alternativa de aplicação, aproveitando a entrada do pulverizador na área. No entanto, esse manejo não inviabiliza a utilização do adjuvante indicado pela empresa detentora do fungicida. Caso isso venha a ocorrer,

além de não recomendado pelo fabricante, a eficiência do produto fica comprometida, pois o uso do adjuvante é fundamental para acelerar a absorção do produto pela folha. Este efeito é principalmente destacado pela performance das estrobilurinas e agora das carboxamidas, pois são altamente dependentes de absorção foliar para garantir

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Figura 9 – Produtividade e Peso de Mil Grãos (PMG) dos diferentes tratamentos na cultivar de soja NA 5909. São Sepé/RS, 2012/13. Tz-Triazol; St-Estrobilurina; Adj Rec. – Adjuvante recomendado; FA – Fertilizante A (N, P, S, B, Zn), FB – Fertilizante B (N, P, S)

Figura 8 – Desfolha na cultivar de soja NA 5909 no estádio R5.5 (Vagens entre 75 e 100% de enchimento dos grãos). São Sepé/RS, 2012/13. Tz-Triazol;St-Estrobilurina; Adj Rec. – Adjuvante recomendado; FA – Fertilizante A (N, P, S, B, Zn), FB – Fertilizante B (N, P, S)

Testemunha

Tz+St+Adj Rec.(0,6)

Tz+St+Adj Rec.(0,3)+FA

Tz+St+Adj Rec.(0,3)+FB

Simone Minuzzi

Figura 7 – Desfolha na cultivar de soja NA 5909 no estádio R5.4 (Vagens entre 50% e 75% de enchimento dos grãos). São Sepé/RS, 2012/13. Tz-Triazol; St-Estrobilurina; Adj Rec. – Adjuvante recomendado; FA – Fertilizante A (N, P, S, B, Zn), FB – Fertilizante B (N, P, S)

C

Tz+St+Adj Rec.(0,6)+FA

maiores residuais de controle (Figuras 1 e 2). Este fato deve-se à apolaridade dos óleos mineral ou vegetal, sendo de característica lipofílica e interagindo fortemente com os componentes da cutícula e membranas celulares, eliminando as barreiras que diminuem a absorção dos produtos pelas plantas. A associação de diversos produtos no tanque pode gerar alterações na calda de ordem química ou física, resultando em efeitos antagônicos, aditivos ou sinérgicos. Nessa situação, como consequência pode ocorrer menor cobertura da área foliar pelo ingrediente ativo e menor penetração nos tecidos foliares, reduzindo sua eficácia (Figuras 3, 4 e 5), acumulando maior quantidade final de doença (Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença – AACPD) (Figura 6). Não bastasse o gasto energético que a planta mobiliza para produção e ativação

de compostos de defesa do próprio metabolismo, que seriam direcionados para emissão de novas foTz+St+FA lhas ou enchimento de grãos, ainda compromete a área foliar fotossinteticamente ativa. Dessa forma, a expansão de lesões acaba tomando a área foliar, acelerando o processo de desfolha precoce (Figuras 7 e 8). Consequentemente, a perda prematura de folhas retira a principal fonte de produção de carboidratos que seriam direcionados aos drenos (grãos), reduzindo, assim, a produtividade final e a C massa de grãos (Figura 9).

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Tz+St+Adj Rec.(0,6)+FB

Tz+St+FB

Simone Gripa Minuzzi, Felipe Frigo Pinto e Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria Marcelo Gripa Madalosso, Inst. Phytus/Univ.Reg.Int.(Santiago)



CAPA

Palmo a palmo Caracterizada pelo hábito de se locomover dobrando o corpo, em decorrência de apresentar apenas dois pares de falsas pernas na região abdominal e um na caudal, a lagarta falsa-medideira tem sido responsável por sérios prejuízos em lavouras de soja ao longo das últimas safras. Dentro do conjunto de medidas integradas recomendadas para manejar a praga, o uso de inseticidas reguladores de crescimento constitui ótima opção, por se tratar de produtos seletivos para os inimigos naturais e apresentarem maior efeito residual em comparação aos convencionais

A

s lagartas conhecidas popularmente como falsas-medideiras são as que apresentam maior potencial para causar danos na soja, em razão da sua voracidade no consumo foliar e do comportamento na cultura, uma vez que as lagartas ficam normalmente alojadas na parte baixeira e mediana da planta, o que dificulta o seu controle. Esse grupo de pragas pertence à subfamília Plusiinae, compreendendo basicamente duas espécies: Crhysodeixis includens e Rachiplusia nu. A espécie R. nu tem sido observada com maior frequência na Região Sul do Brasil (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), enquanto C. includens é encontrada em todas as regiões tradicionais de cultivo da soja bem como nas áreas atuais de expansão da cultura (Nordeste e Norte). Estas lagartas são comumente denominadas de falsas-medideiras pelo hábito

de se locomoverem dobrando o corpo como que se medindo palmos, em decorrência de apresentarem apenas dois pares de falsas pernas na região abdominal e um na região caudal. Essa é uma característica importante na identificação da lagarta falsa-medideira que a distingue das outras espécies de lagartas desfolhadoras de ocorrência na cultura da soja, que apresentam quatro pares de falsas pernas na região abdominal, além de um na região caudal. Os ovos de C. includens são globulares, de coloração branca, translúcidos e brilhantes logo após a oviposição, mas tornam-se de coloração marrom-clara por ocasião da eclosão da larva. As fêmeas depositam seus ovos normalmente na superfície inferior das folhas de soja de forma individualizada,

apresentando a fêmea uma fecundidade média de 700 ovos. As lagartas pequenas (até o 3º instar) alimentam-se apenas de folhas mais tenras e novas e que apresentam baixo teor de fibra, porém, quando estão mais desenvolvidas podem se alimentar de folhas mais velhas e fibrosas, sem, no entanto, consumirem as nervuras, conferindo às folhas atacadas um aspecto

As lagartas mais desenvolvidas podem se alimentar de folhas mais velhas e fibrosas sem consumirem as nervuras

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Fotos Dirceu Gassen

rendilhado, o que caracteriza a injúria causada pela lagarta falsa-medideira. Períodos de seca favorecem o desenvolvimento desta lagarta e, nestas condições, pode ocorrer alta infestação e intensa desfolha nas plantas de soja, caso a praga não seja detectada e controlada a tempo. Tanto as lagartas pequenas quanto as grandes de C. includens são frequentemente observadas alimentando-se no terço médio e inferior das plantas de soja, situação esta que dificulta o seu controle através das pulverizações com inseticidas, uma vez que o alvo torna-se mais difícil de ser atingido. Próximo à fase de pupa, as lagartas diminuem ligeiramente de tamanho, apresentam os segmentos do corpo bem distintos e uma coloração mais clara. Na fase de pupa o inseto

O hábito de locomoção da falsa-medideira, como se estivesse a medir palmos, é uma característica que serve para distingui-la de outras lagartas

permanece dentro de uma teia construída com fios de seda, que demora de um a dois dias para ser tecida, em contato com a superfície da folha de soja. A pupa mede aproximadamente 16mm, tem coloração verde e período de desenvolvimento de, aproximadamente, sete dias, quando então emerge o adulto. Até a safra 2001/2002, a lagarta falsa-medideira apresentava baixa ocorrência em soja e era até então considerada uma praga de importância secundária na cultura, para a qual raramente medidas de controle eram necessárias. Todavia, após essa safra, grandes

mudanças ocorreram nos sistemas de produção de soja do Brasil, como a detecção da ferrugem-asiática em 2001, o que exigiu uma maior aplicação de fungicidas para o controle dessa doença. Posteriormente, foi autorizado o cultivo da soja transgênica RR, resistente ao glifosato, que também conduziu a um maior número de aplicações deste herbicida para o controle de plantas daninhas na cultura. Tanto os fungicidas empregados no controle da ferrugem quanto o herbicida glifosato aplicado na soja RR afetam negativamente o desenvolvimento de fungos benéficos, como é o caso

A lagarta falsa-medideira, na fase adulta (direita), quando a fêmea pode fecundar uma média de 700 ovos

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os estádios iniciais de desenvolvimento da cultura. Todas as tecnologias empregadas no manejo fitossanitário da lavoura devem sempre buscar o equilíbrio biológico no agroecossistema. Como princípio básico, é preciso ter a consciência de que nem todos os organismos que causam desfolha na soja necessitam de controle, já que a cultura também tolera certos níveis de desfolha ou de pragas sem que haja redução significativa da produção. Desta forma, as lagartas devem ser controladas quando forem encontradas, em média, 20 lagartas grandes (igual ou maior que 1,5cm) por metro de fileira de soja ou quando a desfolha atingir 30% antes da floração e 15% tão logo apareçam as primeiras flores. O seu controle não deve ser realizado empregando-se inseticidas não seletivos, visto que, nestas condições, poderá ocorrer alta mortalidade de inimigos naturais, prejudicando assim a ação do controle biológico natural no agroecossistema. Também não se recomenda a aplicação preventiva de insetici-

Dirceu Gassen

de Nomuraea rileyi (doença-branca). Estes fatos, associados ao emprego de inseticidas não seletivos na cultura, são considerados os principais fatores que condicionaram a mudança do status de C. includens de praga secundária para praga primária em soja. Este fenômeno é ecologicamente reconhecido como erupção de pragas secundárias, onde uma determinada espécie de pouca importância passa para o status de praga principal nos cultivos. Diante deste novo cenário, com a ocorrência de altas populações da lagarta falsa-medideira nas lavouras de soja, os inseticidas deixaram de ser usados com base nas amostragens do inseto nas lavouras, desrespeitando-se os níveis de ação preconizados pela pesquisa, e as pulverizações passaram a ser realizadas com base em critérios subjetivos, sendo estas, muitas vezes, calendarizadas. O sucesso do manejo integrado de pragas na cultura da soja tem como base as estratégias e táticas empregadas no controle de lagartas, especialmente durante

As lagartas devem ser controladas quando forem encontrados, em média, 20 insetos grandes por metro de fileira de soja ou quando a desfolha atingir 30% antes da floração e 15% tão logo apareçam as primeiras flores

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das em mistura com dessecantes, herbicidas e fungicidas, pois, além de ambientalmente incorreta, a aplicação desnecessária desses produtos pode aumentar o custo de produção da lavoura. Na escolha do inseticida, deve-se levar em consideração a toxicidade, o efeito sobre inimigos naturais e o custo por hectare. Além disso, o mesmo ingrediente ativo não deve ser usado em duas aplicações sucessivas, com objetivo de prevenir o surgimento de resistência do inseto ao produto químico utilizado. Informações sobre os inseticidas recomendados para o manejo da lagarta falsa-medideira estão contidas nas recomendações de inseticidas da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB), disponível no site da Embrapa Soja (http:// www.cnpso.embrapa.br). Após ou durante o fechamento da soja, os inseticidas reguladores de crescimento constituem ótima opção para o controle de lagartas, pois são considerados produtos seletivos para os inimigos naturais e apresentam maior efeito residual em comparação aos produtos convencionais. O controle químico da falsa-medideira tem sido relativamente difícil, por se tratar de uma espécie mais tolerante às doses de inseticidas normalmente recomendadas para a lagarta-da-soja. Além disso, vários princípios ativos atualmente registrados para o seu controle estão se mostrado ineficientes. Os inseticidas pertencentes ao grupo de carbamatos e diamidas são, em geral, os mais promissores para serem empregados no controle da lagarta falsa-medideira. Outra estratégia importante a ser empregada no manejo de lagartas na soja é ter sempre em mente que, quanto mais tempo for possível retardar a primeira aplicação de inseticidas na cultura, maior será a probabilidade de sucesso do manejo integrado de pragas na cultura. Essa atitude proporciona condições para o estabelecimento dos primeiros inimigos naturais no agroecossistema, os quais se multiplicam sobre a primeira geração de lagartas, que se estabelecem na cultura. É comum observar um aumento na população de inimigos naturais no campo ao longo do ciclo da cultura, quando o manejo de pragas é realizado de forma adequada. Na safra 2014/2015 a primeira desfolhadora a surgir nas lavouras de soja foi a lagarta-da-soja, A. gemmatalis. Após certo período a população da lagarta falsa-medideira começou a aumentar, depois se igualou em ocorrência à lagarta da soja e após o início do estádio reprodutivo da cultura predominou na cultura. Nesta ocasião, vários produtores relataram a dificuldade de controle dessa praga na cultura da soja, e alguns dos problemas relatados por eles foram a ineficácia dos inseticidas aplicados, bem como a tecnologia de aplicação empregada.


O uso de plantas resistentes, sejam elas transgênicas ou não, com o objetivo de manejo de uma determinada praga, é considerado a base do manejo integrado. As plantas transgênicas que expressam proteínas Bt constituem tecnologia bastante promissora para ser empregada no controle de lagartas na cultura da soja. É de conhecimento público que a soja que apresenta a tecnologia Bt possui bom controle da falsa-medideira, mas tem se mostrado pouco efetiva para as lagartas do complexo de Spodoptera. Essa tecnologia deve ser considerada como uma tática a mais a ser integrada com as diferentes estratégias do manejo de lagartas na soja, pois mesmo com a redução da aplicação de inseticidas químicos em consequência do uso da soja Bt, outros desfolhadores continuarão a ser ameaça na cultura. Por outro lado, a utilização exclusiva da soja com tecnologia Bt nas áreas de cultivo, poderá proporcionar o desenvolvimento de lagartas resistentes às proteínas Bt, podendo inviabilizar essa tecnologia em curto prazo, especialmente em razão de o material expressar apenas uma proteína (Cry1Ac). Para que não ocorra o desenvolvimento de resistência das lagartas à soja transgênica Bt e, consequentemente, prolongar a vida útil dessa tecnologia, é imprescindível a implementação de áreas de refúgios nas unidades de produção agrícola.

PRAGAS EM SOJA

A

soja é uma das principais commodities de exportação no Brasil, cultivada desde o Rio Grande do Sul até o extremo das regiões Norte e Nordeste do país e ainda com perspectivas de expansão de sua área plantada para novas fronteiras. Somente na safra 2013/2014 foram cultivados cerca de 30,2 milhões de hectares de soja no País, proporcionando uma produção de aproximadamente 86,1 milhões de toneladas (Agrianual, 2015). Apesar desse elevado potencial de produção de grãos, a cultura pode ser atacada por pragas desde a emergência das plantas até a fase de maturação fisiológica. Já Assim, recomenda-se a adoção de refúgios estruturados em pelo menos 20% da área cultivada com o transgênico Bt, utilizando-se nestas áreas materiais convencionais (não Bt) que apresentam fenologia, ciclo e manejo semelhantes ao material transgênico. Nas áreas de refúgio, o controle de lagartas deverá

nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, as lagartas que atacam a parte aérea das plantas começam a surgir nas lavouras, podendo persistir até a fase final de enchimento dos grãos. As principais espécies de lagartas desfolhadoras com potencial de danos na cultura, especialmente na região Centro-Oeste, são: a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis; a lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis includens; a lagarta-das-maçãs, Heliothis virescens; as lagartas de Helicoverpa armigera e aquelas do gênero Spodoptera, tais como S. frugiperda, S. cosmioides e S. eridania. ser realizado sempre que o inseto atingir o C nível de controle. Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Eunice Cláudia Schlick Souza, CNPq/Fundect




CONTROLE BIOLÓGICO

Heraldo Negri de Oliveira

Tecnologia consolidada O controle biológico chegou ao Brasil para ficar, embora ainda necessite transpor desafios. É o caso do Trichogramma, minúsculo inimigo natural que mede 0,25mm e parasita, principalmente, ovos de lepidópteros

V

árias famílias de insetos possuem representantes de parasitoides de ovos, que são importantes porque, ao destruírem a fase inicial do ciclo de vida dos insetos, impedem que os danos ocorram às culturas agrícolas. Dentre os diversos representantes, Trichogramma é um dos mais estudados e utilizados no mundo, desde o início do século passado, chegando a ser empregado em 20 milhões de hectares em diferentes partes do mundo. A literatura sobre o parasitoide citado é vasta, com inúmeras publicações, inclusive no Brasil, com dois livros sobre o tema, um em 1997 (Parra & Zucchi, 1997) e outro em 2010 (Cônsoli, Parra, Zucchi, 2010), e um terceiro dedicado à sua taxonomia, em 2011 (Querino & Zucchi, 2011). Existem mais de 200 espécies descritas de Trichogramma, 26 delas referidas no Brasil. Os estudos com Trichogramma, um

minúsculo inimigo natural (0,25mm) que parasita, principalmente, ovos de lepidópteros, iniciaram-se no Brasil para controle de Neoleucinodes elegantalis em tomateiro, no Rio de Janeiro (Gomes, 1963). Foram a seguir estudados, para controle de pragas de florestas por um grupo de Minas Gerais, liderado por George Washington Moraes da UFMG (Moraes, Brun e Soares, 1983). Posteriormente, em 1984, no Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP, por influência de um grupo francês, liderado por Jean Voegelé do Inra, teve início o programa de Controle Biológico de pragas agrícolas com Trichogramma, no início com objetivo de controle da broca-da-cana Diatraea saccharalis e das pragas do algodoeiro, Heliothis virescens, a lagarta-da-maçã, e Alabama argillacea, o curuquerê do algodoeiro. Foi um programa contendo diferentes etapas, multidisciplinar e que hoje, após 30 anos, começa a ser largamente utilizado no Brasil, com liberações inunda-

28 Abril 2015 • www.revistacultivar.com.br

tivas do parasitoide. É importante lembrar que na atual filosofia de Manejo Integrado de Pragas (MIP), Trichogramma poderá ser utilizado ao lado de outras medidas de controle, incluindo o controle químico, com a restrição de que, neste caso, devam ser usados apenas produtos seletivos para evitar a eliminação dos inimigos naturais que tenham sido liberados no campo. Uma das grandes vantagens deste parasitoide reside no fato de que por destruir o embrião, impede que haja progresso da praga. Além disto, para ser multiplicado em laboratório para liberação no campo, pode ser criado em hospedeiros alternativos, no caso, traças, facilmente criadas em laboratório. Isto foi descoberto por Flanders no final da década de 1920, nos EUA, e até hoje as traças continuam a ser utilizadas. Flanders indicou como hospedeiro alternativo a traça-do-milho, Sitotroga cerealella, que ainda hoje é usada em alguns países. Na década de 1970, descobriu-se que a traça Anagasta kuehniella era melhor hospedeira que a traça-do-milho e deveria substituí-la. Estudos mostram que realmente esta traça é a mais eficiente, por ser mais rica em nutrientes, para as espécies brasileiras comercializadas, ou seja, Trichogramma galloi, Trichogramma pretiosum e Trichogramma atopovirilia. Os chineses utilizam ovos da traça-do-amendoim, Corcyra cephalonica ou mesmo óvulos ou ovos de espécies de bicho-da-seda. Existem empresas no mundo que chegam a produzir cerca de 40kg de ovos da traça por dia, pois são utilizados para criar o parasitoide Trichogramma e vários predadores. É conveniente ressaltar que 1g de ovos da traça A. kueniella contém 36 mil ovos. Existem muitos estudos básicos do inimigo natural Trichogramma, o que permite sua produção em laboratório (Parra et al, 2014). Trata-se de um inseto muito especializado e que é atraído por substâncias voláteis existentes em escamas de lepidópteros-pragas ao realizarem a postura. Estes voláteis que favorecem o Trichogramma e que são chamados cairomônios já foram até identificados como tricosano. O ciclo de vida do Trichogramma pretiosum e T. galloi e outras espécies são variáveis de acordo com a temperatura (Tabela 1). Uma fêmea de Trichogramma coloca de 70 a 120 ovos, podendo sair de cada ovo parasitado uma, duas, três vespinhas ou às vezes um grande número de parasitoides, dependendo do tamanho do ovo hospedeiro. Atualmente, existem empresas comercializando Trichogramma, que é liberado de forma inundativa e que, portanto, tem


uma ação mais rápida, mais semelhante aos agroquímicos com os quais os agricultores estão mais familiarizados. Este é o chamado Controle Biológico Aplicado ou Aumentativo. Depois de 30 anos de estudos no Brasil, Trichogramma já é uma realidade em nosso país, chegando a ser liberado em 500 mil hectares de cana-de-açúcar para o controle da broca-da-cana, Diatraea saccharalis, além de T. pretiosum, que é liberado em soja para controle de Anticarsia gemmatalis, Chrysodeixis includens e Helicoverpa armigera, com outros exemplos em tomateiro, para controle de Tuta absoluta, além de ser utilizado ainda em feijoeiro, algodoeiro e milho (Helicoverpa zea). Ele é eficiente em campos abertos, em agricultura orgânica ou casa de vegetação.

COMO E QUANDO UTILIZÁ-LO?

COMO FAZER O LEVANTAMENTO POPULACIONAL

Pelo método convencional, por exemplo, em soja, com método visual, iscas ou o pano de batida (para detecção de lagartas). Isto é difícil em grandes áreas. Portanto, para tornar viável o controle biológico em áreas maiores, outros métodos devem ser utilizados para começar a liberação: feromônios ou mesmo novas técnicas de Sensoriamento Remoto devem ser desenvolvidos. E a liberação? Deve ser manual, com motocicletas ou com algo mais sofisticado como aviões ou drones (estes, em estudo). E as formigas, predadores muito abundantes em nosso país, devem ser evitadas. As formas de liberação devem proteger os inimigos naturais, com a utilização de cápsulas de material biodegradável, já utilizado, que permitem a saída do Trichogramma, mas impedem a entrada de formigas. Liberação de Trichogramma adultos seria outra opção. A quantidade a ser liberada deve ser variável de 50 mil parasitoides/ha a 200 mil parasitoides/ha; no Brasil, as altas temperaturas do solo podem inviabilizar a emergência do inimigo natural, pois podem chegar a 60°C no verão. Portanto, para aumentar as áreas tratadas com Trichogramma, existem obstáculos a serem transpostos incluindo: “cultura de inseticidas do agricultor”; incrementar o serviço de extensão para transferência de tecnologia ao usuário; monitoramento

Tabela 1 - Ciclo de vida de T. pretiosum e T. galloi em diferentes temperaturas Temperatura oC 18 20 22 25 28 30 32

T. pretiosum 27,3 19,4 15,4 9,7 7,1 8,6 6,7

T. galloi 31,3 19,5 15,6 12,1 8,0 7,1

adequado à realidade brasileira; oferta e qualidade do inimigo natural; logística de armazenamento e transporte; legislação adequada para inimigos naturais; utilização de produtos químicos seletivos e técnicas de liberação (Parra, 2014). Para Trichogramma, é muito importante o local de coleta da “linhagem ou espécie”, pois se esse processo for feito em clima frio o parasitoide pode não ser adequado para liberação em clima quente e vice-versa. A ausência de preocupação com este fato tende a levar a maus resultados de controle. Portanto, o controle biológico chegou para ficar após a introdução de H. armigera. Entretanto, para o Brasil progredir e mudar a “cabeça do agricultor” é preciso vencer desafios, especialmente considerando o dinamismo da agricultura brasileira e as grandes áreas com plantas transgênicas atualmente utilizadas com soja e milho. Em geral, se bem utilizado, o controle biológico é competitivo com o químico, com as vantagens ecológicas e sociais bastante C conhecidas. J. R. P. Parra, Esalq/USP

Fotos J. R. P. Parra

Como comentado, T. galloi já foi utilizado em grandes áreas de cana-de-açúcar e T. pretiosum também em grandes áreas de soja, milho, algodoeiro, para controle de C. includens, A. gemmatalis e H. armigera, o equivalente a mais de 250 mil hectares, não sendo mais utilizado pela não disponibilidade do insumo biológico. Em outros países, o Controle Biológico, em geral, é mais utilizado, mas principalmente em áreas mais restritas, ou seja, casas de vegetação. A nossa Agricultura é peculiar, pois são grandes áreas, algumas vezes 30 mil hectares, 50 mil hectares, 100 mil hectares, de uma cultura explorada por um único agricultor. Evidentemente que, neste caso, existem problemas de levantamento da praga, que

deve ser amostrada no início da cultura e após a detecção dos ovos, os parasitoides devem ser liberados.

Acima ovo de Chrysodeixis includens parasitado por Trichogramma pretiosum, abaixo, dois ovos não parasitados

Acima, cápsulas (fechadas) pioneiras desenvolvidas para a liberação de Trichogramma, abaixo, uma cápsula aberta com ovos parasitados e colados internamente

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CANA

Controle microbiano

Almeida J.E.M

Principal praga em cana-de-açúcar a broca Diatraea saccharalis provoca danos que vão desde a perda de peso até o menor rendimento em açúcar e álcool. O uso de fungos entomopatogênicos é uma das alternativas para realizar o combate deste inseto

C

om o aumento da demanda de álcool para a produção de biodiesel e exportações desse produto, a área de cana-de-açúcar deverá sofrer aumento significativo, podendo atingir até seis milhões de hectares em São Paulo, principalmente no oeste do estado, onde ainda são encontradas grandes áreas de pastagens. Houve uma ampliação da área de 6,5% em relação à safra anterior e a produção obtida foi 5,4% superior, atingindo 254,81 milhões de toneladas. Desse modo, o aumento da área plantada de cana resultará em muitos benefícios para a indústria sucroalcooleira, porém, as implicações desse crescimento trarão consequências na área agrícola, principalmente às pragas, como broca-da-cana, Diatraea saccharalis, cigarrinha-da-raiz, Mahanarva fimbriolata, entre outros insetos de solo. A broca-da-cana, D. saccharalis, é a principal praga desta cultura, ocorrendo em todas as áreas onde se planta cana-de-açúcar no mundo. As lagartas causam prejuízos diretos ao colmo, abrindo galerias que provocam perda de peso da cana, morte das gemas e falhas de germinação. Os prejuízos indiretos são causados pela infecção de fungos que penetram na galeria e causam a podridão vermelha, como Colletotrichum falcatume,

Fusarium moniliforme, que invertem a sacarose, diminuem a pureza do caldo e resultam em menor rendimento em açúcar e álcool. De acordo com resultados de pesquisas sobre o prejuízo causado pela broca, 1% de infestação da praga causa prejuízos de 0,25% de açúcar, 0,20% de álcool e 0,77% de peso. O controle químico pode ser realizado através de pulverização de inseticidas juvenoides, como triflumuron ou lufenuron ou por inseticidas sistêmicos como o fipronil. Porém, o principal método de controle é o biológico, através da vespinha Cotesia flavipes, introduzida no Brasil desde 1974. Nos últimos anos, esse parasitoide reduziu perdas de até 100 milhões de dólares por ano, sendo 20 milhões apenas no estado de São Paulo, diminuindo a infestação da praga de 10% para 2%. O parasitoide de ovos Trichogramma galloi também tem sido usado no controle da broca, podendo chegar a 60% de controle quando associado à C. flavipes. Com todas as perspectivas de aumento da área de cana, a produção de parasitoides teria que crescer na mesma proporção, porém, não seria possível no mesmo espaço de tempo, sendo então necessária a utilização de outros métodos de controle, tais como o uso de fungos entomopatogênicos. D. saccharalis é suscetível a Beauveria

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bassiana e Metarhizium anisopliae, sendo que esses fungos ocorrem naturalmente em cerca de 10% das lagartas nas condições do Nordeste. Estes fungos são patogênicos para todos os estágios de desenvolvimento da broca, sendo altamente eficientes para ovos de um a dois dias de idade. Em experimentos realizados em condições de campo, foi constatada a infecção de 58% de lagartas por M. anisopliae e 44% por B. bassiana, com dosagem de 1013 conídios/ha. A utilização de fungos entomopatogênicos para o controle de broca da cana foi estudada há 20 anos, porém, não houve continuidade devido ao sucesso do parasitoide C. falvipes. Contudo, com as grandes áreas de expansão da cana-de-açúcar, principalmente em regiões mais quentes, e a crescente demanda do parasitoide para a cultura, tornaram-se necessários novos estudos para aplicação de fungos entomopatogênicos. No entanto, devido ao hábito desta praga, de fazer galerias nos colmos da cana, os fungos só podem ser utilizados para o controle da broca na fase inicial, antes de perfurar o colmo, ou seja, lagartas de 1º ou 2º instar de 0,5cm a 1cm.

FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS

Os fungos entomopatogênicos B. bassia-


Fotos Giometti F.H

Lagartas de Diatraea saccharalis mortas por Beauveria bassiana

MONITORAMENTO NO CAMPO

O monitoramento da população na fase

Fungo Beauveria bassiana

Lagartas de Diatraea saccharalis

inicial da D. saccharalis pode ser feito com armadilha para a coleta de machos adultos, com galões de 20 litros abertos lateralmente, fixando-se cinco fêmeas virgens no teto do galão e colocando-se água + detergente na parte inferior, sendo que esta estrutura pode ser instalada no campo a dois metros do solo. Pode-se utilizar uma armadilha desse tipo a cada dez hectares, iniciando-se o monitoramento pelas áreas com variedades mais suscetíveis à broca. Essa técnica também é utilizada para a liberação de Trichogramma galloi, parasitoide de ovos da broca. Porém, no caso de uma infestação mais alta, é importante amostrar dois pontos por hectare, com dois sulcos de cinco metros cada, para se observar a presença de lagartas atacando as folhas da cana ainda, ou seja, de primeiro instar, sendo o momento de fazer uso de bioinseticidas à base de fungos.

A eficiência de controle com os fungos B. bassiana e M. anisopliae nas dosagens recomendadas é similar aos inseticidas juvenoides, obtendo-se em média 60% de controle das lagartas pequenas da broca.

CONTROLE BIOLÓGICO DA BROCA-DA-CANA

A broca-da-cana é a principal praga da cana-de-açúcar, causando enormes prejuízos para produção de açúcar e álcool. Portanto, o produtor não pode descuidar do monitoramento e utilizar as técnicas de controle baseadas no Manejo Integrado de Pragas, ou seja, o uso de parasitoides e entomopatógenos, medidas culturais e, por fim, no caso de populações que possam atingir o nível de dano econômico, fazer uso de controle químico. Porém, a cana é a cultura que mais suporta o uso de agentes de controle biológico, sendo o manejo da broca com parasitoides o mais importante, em termos de área aplicada. Sendo assim, o uso de bioinseticidas à base de fungos ainda pode ser considerado uma medida complementar importante para área de expansão onde os parasitoides ainda não se estabeleceram como os principais agentes C de controle. José Eduardo M. de Almeida, Instituto Biológico

APLICAÇÃO DE FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS

A aplicação de bioinseticidas à base fungos entomopatogênicos pode ser realizada com pulverizadores tratorizados terrestres ou avião, priorizando as folhas da cana, que normalmente no início da infestação ainda está mais baixa que um metro de altura. Podem-se utilizar bicos com jato em cone aberto para tratores terrestres com 100 litros/ ha ou 30 litros/ha para avião. O fungo B. bassiana pode ser utilizado no controle de D. saccharalis em condições de campo com a dosagem de 6kg de arroz + fungo/ha. Já M. anisopliae pode ser aplicado com a dosagem de 10kg de arroz + fungo/ ha, quando a infestação inicial estiver com no máximo 2% de lagartas pequenas para ambos. Deve-se respeitar algumas condições climáticas que irão favorecer a infecção do fungo no inseto, neste caso, a aplicação deverá ser sempre após as 16h e Umidade Relativa acima de 65%, de preferência um período de oito horas sem chuva intensa, para que os conídios não lavados.

Fotos Divulgação

na e M. anisopliae são comumente encontrados infectando insetos e o maior depósito se localiza no solo. A maioria das doenças de insetos é causada por fungos. Portanto, para o desenvolvimento de um programa de controle microbiano, a coleta, o isolamento, a caracterização e a seleção de isolados são etapas básicas para que se possa conhecer as espécies e isolados mais virulentos à praga-alvo. O Instituto Biológico possui uma coleção de fungos entomopatogênicos que podem ser usados nesse tipo de programa. Trata-se da Coleção de Fungos Entomopatogênicos “Oldemar Cardim Abreu”, do Laboratório de Controle Biológico em Campinas, São Paulo. Em projeto financiado pela Fapesp para estudos de isolados de B. bassiana e M. anisopliae foram realizadas coletas em 121 pontos georreferenciados com cana-de-açúcar de São Paulo, sendo incorporados 27 isolados de B. bassiana e um de M. anisopliae para estudos de comparação de virulência. Estudos de produção em fermentação sólida no substrato arroz também são necessários nesse tipo de programa, pois a multiplicação de conídios desses fungos é importante para que se possa obter um potencial de inóculo adequado para o controle da praga. Quanto à virulência, a CL90 para lagartas de 0,5cm e 1,5cm de comprimento para os dois fungos, verificou-se o seguinte: B. bassiana para lagartas de 0,5cm – 1,1x108 conídios/ml e lagartas de 1,5cm 5x108 conídios/ml. Para M. anisopliae para lagartas de 0,5cm 4,2x108 conídios/ml e para lagartas de 1cm – 7x108 conídios/ml, considerando a mortalidade total das lagartas nos bioensaios. A partir desses resultados de patogenicidade, pode-se verificar que o fungo B. bassiana foi mais virulento que M. anisopliae, pois a Concentração Letal 90 foi pelo menos três vezes nos dois tamanhos de lagartas. Verificou-se ainda que a dimensão do inseto influencia na mortalidade pelos fungos, pois a lagarta com 1,5cm de comprimento necessitou de maior quantidade de conídios para causar 90% de mortalidade.

Almeida aborda emprego de fungos entomopatogênicos contra a broca

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ARROZ

Fotos Fitopatologia UFT

Aplicação combinada A brusone é uma doença agressiva, capaz de provocar prejuízos severos à produtividade em áreas de cultivo de arroz. A suplementação da cultura com silício e nitrogênio pode se transformar em importante aliada na busca pela redução na severidade e na incidência deste patógeno

A

brusone, causada pelo fungo Pyricularia oryzae, é, sem dúvida, uma das principais doenças do arroz (Oryza sativa L.), sendo sempre uma constante ameaça à produção, provocando quebras de safras de lavouras inteiras. Todas as estratégias e técnicas de manejo geradas pela pesquisa têm sido empregadas de forma limitada para combater a brusone do arroz, de modo que a doença não tem sido completamente eliminada das regiões onde o arroz é cultivado. Assim, uma única mudança na forma em que o arroz é produzido ou no modo como os genes de resistência são empregados pode

resultar em significativas perdas mesmo após anos de sucesso no manejo da doença. No Brasil, a brusone ocorre em todos os estados produtores de arroz, sendo mais problemática na região Central do País. As perdas causadas são muito variáveis em função da pressão do inóculo, que é dependente das condições climáticas, do sistema de produção e das práticas culturais, do grau de resistência da cultivar utilizada, da ocorrência de populações virulentas do patógeno e da época de incidência da doença. A cada 1% de severidade nas folhas e panículas, estima-se que as perdas de produtividade variem de 2,7% a 1,5%, em

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cultivares de ciclo precoce e tardio, respectivamente. E quando em baixos níveis de infecção há relação entre a severidade de doença na folha e a infecção nas panículas. Alguns dados revelam perdas no peso de grãos da ordem de 8% - 14%, enquanto índices de 19% - 55% de espiguetas vazias foram observados em experimentos conduzidos em condições de campo. Noutros estudos, quando as condições ambientais são favoráveis e as cultivares apresentam alta suscetibilidade, as perdas podem chegar a 100%. As epidemias de brusone oneram os custos de produção de grãos em cerca de 15% a 18%. No arroz, a brusone, inicialmente, ataca as folhas na fase vegetativa, posteriormente dissemina-se na lavoura e com o início da fase reprodutiva a infecção pode se tornar mais severa e atingir as panículas ocasionando o comprometimento da cultura e perda total da produção. A severidade de brusone no arroz pode estar estreitamente relacionada ao estado nutricional da espécie vegetal, principalmente no que tange aos níveis de silício e nitrogênio. O silício é o segundo elemento mais abundante no solo e é considerado um elemento mineral benéfico ao crescimento e desenvolvimento de muitas espécies de gramíneas, tais como o trigo, a cevada e o arroz. Em arroz, o silício absorvido é acumulado nos tecidos e contribui para aumentar a taxa fotossintética e a eficiência de uso da água e, ainda, reduzir a taxa transpiratória e a toxicidade aos metais pesados. Além disso, esse elemento apresenta-se como efetivo na proteção contra doenças, dentre elas a brusone. Acredita-se que o Si esteja envolvido no aumento e na rigidez da parede celular da planta, sendo que o acúmulo e a deposição de Si nas células da camada epidérmica constituem-se numa barreira física. O efeito de proteção é teoricamente atribuído a dois mecanismos: o primeiro na deposição de sílica leva à modificação na anatomia da planta, como por exemplo, aumento da espessura das células da epiderme, o que acarreta em defesa mecânica contra a infestação de pragas e doenças; e o segundo na modificação nas propriedades fisiológicas e bioquímicas da planta, como, por exemplo, produção de substâncias inibitórias à infecção do patógeno, como as fitoalexinas, precursoras de lignina, biossíntese de suberina e silicificação, agindo o silício como ativador de resistência. O nitrogênio possui papel importante no metabolismo das espécies vegetais. Em condições de deficiência de nitrogênio, as espécies vegetais podem apresentar déficit no seu crescimento e desenvolvimento e,


consequentemente, queda na produtividade e qualidade dos grãos. Em situações onde há excesso de nitrogênio ocorre uma intensificação do crescimento vegetativo que, juntamente com a redução nos níveis de silício nos tecidos vegetais, pode resultar no favorecimento da infecção e desenvolvimento de fitopatógenos. Isso se explica pela maior produção de tecido vegetal em resposta ao incremento do nitrogênio que provoca uma diluição no silício incorporado ao tecido foliar e consequentemente maior quantidade de tecidos tenros e suculentos, que resultam na diminuição da resistência mecânica à penetração das hifas dos fungos causadores de doenças.

SILÍCIO CONTRA BRUSONE

Em Formoso do Araguaia, Tocantins, foi realizado ensaio para avaliar o efeito de fontes e doses de aplicações de silício na produtividade e no controle das principais doenças do arroz irrigado. Neste estudo (Santos et al, 2011) foi verificado que o aumento da dose de Silicato de Cálcio e Magnésio diminuiu a severidade de brusone foliar (Bf), brusone na panícula (Bp) e mancha parda (Mp) a partir da dose 1ton/ha, aplicada na forma de pó. No mesmo trabalho, também se verificou que a partir da dose 1.000ton/ha de Si ao solo houve aumento da produtividade de grãos. Verificou-se que as plantas que receberam maiores doses de termofosfato de Ca e Mg também acumularam maiores teores de Si na planta, comprovando-se que a maior absorção do silício aplicado ao solo interferiu no incremento da produtividade, além de também promover o maior controle de doenças. Verificou-se que a maior produtividade foi alcançada na dose 4 ton/ha de termofosfato de Ca e Mg. Resultados semelhantes foram obtidos

Disseminação inicial da brusone no campo em reboleiras em lavoura comercial de arroz

por Santos et al (2003a) quando estudaram doses crescentes de metasilicato na cultura do arroz irrigado e verificaram aumento da produtividade a partir das dosagens maiores. Gascho e Korndörfer (1998), quando também utilizaram o termofosfato de Ca e Mg como fonte de silício obtiveram resultados semelhantes, comparando com outras fontes de silício. Datnoff et al (2001) também verificou efeito do silicato sobre o controle de brusone foliar. Segundo OU (1975), normalmente as plantas que apresentam alto teor de silício em seus tecidos são menos infectadas pela brusone. O mecanismo de resistência à doença é conferido ao Si pela sua associação com constituintes da parede celular, fortalecendo-a e tornando-a menos acessível às enzimas de degradação (Santos et al, 2003b). Acredita-se que possivelmente tenha ocorrido mecanismo semelhante no presente estudo, dificultando a penetração do fungo Pyricularia grisea nas folhas.

SILÍCIO E NITROGÊNIO CONTRA BRUSONE

O estudo (Santos et al, 2014) foi con-

duzido em uma área de várzea no município de Formoso do Araguaia/Tocantins (11°47’ S e 49°41’ W; 197m de altitude). A aplicação do silicato de cálcio e magnésio foi realizada na forma de pó, manualmente a lanço, nas doses de 1.000kg/ha; 2.000kg/ ha; 4.000kg/ha; e 6.000kg/ha juntamente com a adubação de base com NPK (350kg/ ha; 5-25-15). Aos 45 dias após o plantio, foi realizada a adubação de cobertura com duas doses de nitrogênio (45kg/ha e 90kg/ha) na forma de ureia. Observou-se uma redução linear na severidade de brusone em folhas de arroz com o aumento das doses de silicato de cálcio e magnésio. A incidência e a severidade de doenças, tal como a brusone, tendem a diminuir com o aumento da concentração de silício no tecido foliar e esta resposta é um processo complexo resultante da atuação conjunta de inúmeras reações bioquímicas, pela produção de compostos secundários de defesa, com os mecanismos de deposição e polimerização do silício na forma de ácido monosilícico abaixo da cutícula foliar que resulta na formação de barreiras físicas ou mecânicas passivas. A redução nas doenças parece estar correlacionada positivamente com o aumento da concentração de silício no tecido foliar. Estudos com plantas adubadas com silício mostram que a adubação silicatada pode resultar em minimização dos estresses abióticos e bióticos por contribuir com o crescimento e desenvolvimento saudável de muitas gramíneas, principalmente a cana-de-açúcar e o arroz. Em arroz de terras altas, observou-se que doses elevadas de silício diminuem a incidência da brusone foliar e o aumento da resistência ao acamamento resultante da adubação com excesso de nitrogênio.

Plantas mortas pela brusone (esquerda) e lavoura severamente afetada pela doença (direita)

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Figura 1 - Severidade da brusone foliar em função de doses crescentes de termo- Figura 2 - Severidade de brusone nas panículas em função de doses crescentes de fosfato de cálcio e magnésio na cultura do arroz irrigado termofosfato de cálcio e magnésio na cultura do arroz irrigado

Figura 3 - Severidade de mancha parda em função de doses crescentes de termo- Figura 4 - Teores de Silício na planta, no solo e produtividade (ton ha-1), do arroz fosfato de cálcio e magnésio na cultura do arroz irrigado irrigado em função de doses crescentes de termofosfato de Ca e Mg

Figura 5 - Severidade de brusone nas folhas (A) e incidência de brusone na panícula (B) em plantas arroz cultivar Epagri 109, suplementadas com doses crescentes de silicato de cálcio e magnésio (0; 1.000; 2.000; 4.000; e 6.000kg ha-1) em combinação com o nitrogênio (45 e 90kg ha-1) aplicado em cobertura.

O nitrogênio é um elemento mineral essencial para o crescimento e desenvolvimento vegetal e o seu manejo inadequado pode limitar a produtividade, causar o sombreamento e o aumento de pragas e doenças. Comparando-se as duas doses de nitrogênio aplicadas em cobertura, 45kg/ha e 90kg de ureia/ha, foi possível notar que a severidade de brusone foliar foi maior em plantas de arroz suplementadas com 90kg/ha de nitrogênio. Alguns autores relatam que plantas de arroz de sequeiro cultivadas na ausência de

Figura 6 - Produtividade de grãos e silício na parte aérea de plantas arroz cultivar Epagri 109 suplementados com silicato de cálcio e magnésio (0; 1.000; 2.000; 4.000; e 6.000kg ha-1) em combinação com (A) 45kg e (B) 90kg de ureia ha-1 aplicado em cobertura

nitrogênio apresentaram maior severidade de brusone nas suas folhas. Além disso, as doses e a forma de aplicação de nitrogênio podem influenciar a severidade da brusone. A incidência de brusone nas panículas, neste estudo, apresentou um decréscimo exponencial com o aumento da adubação silicatada e foi diferente entre os níveis aplicados de adubação nitrogenada. A aplicação das doses de 4.000kg/ha e 6.000kg/ha de silicato de cálcio e magnésio, independentemente do nível de nitrogênio associado, ocasionou

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uma redução da incidência de brusone nas panículas superior a 60% em relação ao tratamento controle (sem aplicação de silício). Em genótipos de arroz crescidos em solo de cerrado, houve redução na severidade de brusone nas panículas em arroz suplementado com doses elevadas de silício. Já em doses menores, registrou-se diminuição na severidade de brusone foliar e nenhum efeito na brusone nas panículas em arroz. Pode-se notar que a severidade de brusone foliar e a incidência de brusone nas


Fotos Fitopatologia UFT

Sintomas de brusone das panículas (esquerda) e conídios de Pyricularia oryzae sob microscópio ótico (direita)

empregada. Nas plantas suplementadas com 45kg/ha de nitrogênio em combinação com as doses de 4.000kg/ha e 6.000kg/ha de silicato de cálcio e magnésio não foram encontradas diferenças em termos de produtividade de grãos em relação às plantas não suplementadas com silício. Nossos dados corroboram com outros autores que verificaram aumento no rendimento de grãos em arroz de sequeiro submetido à adubação silicatada. Esta resposta está positivamente correlacionada com os teores de silício registrados na planta e no solo. Em plantas suplementadas com 90kg/ha de nitrogênio, houve um aumento da produtividade em resposta à adubação silicatada. As plantas suplementadas com 4.000kg/ha de silicato de cálcio e magnésio apresentaram maior produtividade em relação aos demais tratamentos, enquanto as plantas suplementadas com 6.000kg/ha de silicato de cálcio e magnésio apresentaram redução

na produtividade de aproximadamente 15% quando comparado às plantas suplementadas com 4.000kg/ha de silicato de cálcio e magnésio. Neste caso, é possível que tenha ocorrido um efeito de interação entre o silício (6.000kg/ha de silicato de cálcio e magnésio) e o nitrogênio (90kg/ha) que resultou em maior incidência de brusone nas panículas associado a um decréscimo na produtividade. Os resultados obtidos nos permitem afirmar que a suplementação do arroz combinada com silício e nitrogênio promoveu redução na severidade e incidência de brusone do arroz sem afetar a produtiC vidade de grãos. Gil Rodrigues dos Santos, Justino José Dias Neto, Rodrigo Ribeiro Fidelis e Marcos Vinicius Giongo, Univ. Federal do Tocantins Manoel Delintro de Castro Neto, Instituto Federal do Tocantins

Fotos G.H. Korndorfer

panículas foram mais severas em plantas suplementadas com 90kg/ha1 de nitrogênio em cobertura e tais respostas podem ser resultado do aumento da área foliar e número de panículas nestas plantas em resposta à grande oferta de nitrogênio. O nitrogênio promove aumento na área foliar que resulta em incremento na eficiência fotossintética, nas taxas metabólicas e na produtividade. Além disso, o autossombreamento resultante do aumento da área foliar pode resultar na criação de um microclima favorável ao desenvolvimento de vários patógenos, dentre eles o agente causal da brusone, P. oryzae. Foram registrados diferentes padrões de produtividade de grãos nas plantas de arroz quando suplementado com 45kg/ha e 90kg/ ha de nitrogênio (Figura 6A e 6B, respectivamente). Em plantas suplementadas com 45kg/ha de nitrogênio, houve um aumento exponencial da produtividade de grãos em resposta às doses de adubação silicatada

Aspectos de plantas de arroz não adubadas com silício (esquerda) e adubadas com silicato de cálcio (direita) em ensaio realizado em Formoso do Araguaia, Tocantins

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TRIGO

Fotos Caroline Wesp Guterres (CCGL)

Tratamento preventivo Tratar sementes com fungicidas é uma estratégia eficaz para proteger as plantas de trigo do ataque de doenças como o complexo de manchas Drechslera tritici-repentis, Bipolaris sorokiniana e Stagonospora nodorum durante a fase inicial de desenvolvimento nas lavouras, além de proporcionar estande mais uniforme

D

entro de um sistema de manejo integrado e sustentável, que se inicia com a rotação de culturas, o tratamento de sementes é uma prática importante, já que a definição do potencial produtivo da lavoura começa na emergência, através do adequado estabelecimento de plantas e posterior desenvolvimento. Por isso, é de fundamental importância que a semente utilizada seja de boa qualidade (alto vigor e poder germinativo), mas principalmente, livre de doenças. Nesse sentido, os fatores construtores da produtividade (escolha da cultivar, época de semeadura, população e distribuição de plantas, adubação e calagem, dentre ou-

tros), devem estar de acordo com os fatores protetores da produtividade que relacionam os aspectos fitopatológicos, que vão desde a semeadura (ou antes, com o tratamento de sementes) até a colheita. Várias doenças de importância econômica que ocorrem em trigo são causadas por patógenos que podem ser transmitidos via semente. Neste caso, a semente serve de abrigo, sendo um dos principais meios de disseminação. Como exemplo, citam-se as enfermidades conhecidas por manchas foliares em trigo (mancha amarela e mancha marrom), com taxas de transmissão de semente para parte aérea variando de 40% a 79%, respectivamente.

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As principais manchas foliares de trigo no Sul do Brasil são: a mancha amarela, causada por Drechslera tritici-repentis, a mancha marrom, causada por Bipolaris sorokiniana, e a septoriose, causada por Stagonospora nodorum. No campo, geralmente os patógenos ocorrem de forma associada, resultando em um “complexo de manchas foliares”. As manchas foliares são responsáveis por reduções na produtividade que variam de 40% a 80%. Bipolaris sorokiniana também provoca a podridão comum de raízes, com poder de resultar em reduções na produtividade de cerca de 20%. Outra doença transmitida via semente é o carvão, causado por Ustilago tritici, embora de ocorrência esporádica. Em razão da elevada precipitação durante todo o ciclo da cultura de trigo na última safra agrícola (2014), a giberela ou fusariose (Fusarium graminearum) foi detectada em níveis bem elevados nas sementes, não só de trigo, mas de outros cereais de inverno. A taxa de transmissão de Fusarium para raiz primária e mesocótilo fica em torno de 59%. No entanto, a presença de F. graminearum em sementes de trigo está relacionada com a podridão comum de raízes e não com a ocorrência de giberela em espigas. A ocorrência de oídio, embora não seja transmitido via semente, também pode ser controlada ou minimizada via tratamento de sementes. Neste caso, o fungicida permanece aderido externamente à superfície da cariopse e por ocasião da semeadura, é dissolvido e lixiviado pela água do solo, sendo absorvido pelas raízes e translocado via xilema nas plântulas. Os principais objetivos do tratamento de


Tabela 1 - Descrição dos tratamentos empregados no experimento Tratamento Trat. 06 - Iprodione Trat. 04 - Carboxina + Tiram Trat. 02 - Fipronil + Thiofanate methyl + piraclostrobina Trat. 03 - Triadimenol Trat. 07 - Carbendazim Trat. 05 - Difenoconazol Trat. 01 Testemunha C.V.

Produtividade de grãos (kg/ha) 2379,1 a* 2352,6 a 2310,3 a 2294,3 a 2266,5 a 2256,2 a 2034,0 b 3,23%

Severidade final manchas foliares 20,4 ab 20,8 ab 18,4 a 21,2 ab 21,6 ab 18,8 ab 22 b 4,60%

Severidade final oídio 7,6 a 6,8 a 7,2 a 2,4 a 6,6 a 6,4 a 9,4 b 14,80%

*Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05).

sementes são: eliminar os fungos associados à semente, evitando, assim, a transmissão para plântulas; proteger a plântula do ataque de fungos necrotróficos que já estejam presentes na palhada e, indiretamente, evitar a morte de plântulas; auxiliar no controle de fungos biotróficos, como o oídio e a ferrugem; reduzir a fonte de inóculo primário de doenças e potencializar a eficiência dos tratamentos realizados em parte aérea. Sendo assim, o uso de fungicidas no tratamento de sementes evita a introdução de fungos associados a sementes e sua transmissão para parte aérea e raízes, além de proteger do ataque de fungos existentes no solo ou na palhada. Além disso, as plantas oriundas de sementes tratadas apresentam melhor desenvolvimento inicial e estande mais uniforme. Para sistemas produtivos que buscam altas produtividades a uniformidade é fundamental, e esse pré-requisito somente será conseguido se a lavoura for uniforme desde o seu início. A prática de monocultura reduz drasticamente os efeitos do tratamento de sementes. Como os fungos causadores de manchas foliares apresentam a capacidade de sobreviver nos restos culturais de um ano para outro, as plantas podem estar expostas à doença antes mesmo da emergência, especialmente em situações onde a monocultura é praticada, o que favorece a sobrevivência e a multiplicação dos fungos. Assim, dentro de um sistema de manejo integrado de doenças, a utilização de múltiplas estratégias de controle, iniciadas com a rotação de culturas, e o tratamento de sementes com fungicidas, têm por objetivo minimizar os impactos negativos causados por doenças, já que interferem no processo de fotossíntese, o que reduz a área foliar verde e, consequentemente, o rendimento e a qualidade de grãos de trigo. Para definição de qual o melhor tratamento fungicida a ser utilizado em um lote de sementes, recomenda-se a sua análise sanitária, a fim de identificar a incidência e as espécies de fungos associadas às sementes. Outra estratégia possível é observar de modo a ter-se um histórico das principais doenças que se desenvolvem no período inicial, e assim

traçar estratégias que minimizem os efeitos dessa doença, seja pelo controle químico e/ ou pelo controle integrado. Desta forma, pode-se direcionar a escolha do fungicida de acordo com seu espectro de ação, já que um único fungicida não controla todas as espécies de fungos. A qualidade do tratamento de sementes também influencia na eficiência de controle. As formulações líquidas de fungicidas possuem eficácia maior que em pó seco. O ideal é que se utilize entre 1% e 2% de água para veiculação dos fungicidas junto à semente, propiciando melhor cobertura. Com uma cobertura inadequada ou insuficiente, existirão três tipos de plântula na lavoura. O primeiro tipo de plântula é a que teve origem de uma semente com tratamento bem feito;

o segundo tipo é de plântula que teve origem em um tratamento parcial (com menor dose/ menor concentração e menor recobrimento da semente) e o terceiro tipo é a que tem origem em uma semente em que o produto químico não está presente ou é insuficiente para exercer a sua completa ação. Nesse sentido, quando da presença de um tratamento de sementes desuniforme, deve-se esperar que a lavoura também seja desuniforme, o que certamente causará prejuízos para o sistema, pois nessa condição haverá plantas contaminadas com determinado fungo que estarão realizando a dispersão em toda a área, motivando, assim, uma pulverização mais precoce da lavoura.

O EXPERIMENTO

Para avaliar o efeito do tratamento de sementes com fungicidas no controle de manchas foliares e no rendimento de trigo, realizou-se um ensaio na área experimental da CCGL TEC, em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, durante a safra agrícola de 2014, com a cultivar Fundacep Horizonte, suscetível às manchas foliares, moderadamente suscetível ao oídio e resistente à ferrugem da folha. Foram testados sete produtos, com diferentes princípios ativos. Em todos os tratamentos, incluindo a testemunha, fez-se a aplicação do inseticida Imidacloprido 150g/l + Thiodicarb 450g/l (300ml/100kg

Amostra de lote de trigo, proveniente da safra agrícola 2014, plaqueada em papel germitest e com alta incidência de Fusarium graminearum. CCGL TEC, 2015

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Com tratamento de sementes

Sem tratamento de sementes

% de cobertura de solo: 21,6%*

% de cobertura de solo: 16,2%

* Imagens processadas através do software Assess 2.0. Área vermelha corresponde à cobertura foliar verde (em área de 1m²) aos 18 dias após a semeadura de trigo

Comparativo entre plantas tratadas e não tratadas com fungicida na semente. CCGL TEC, 2015

Fotos Caroline Wesp Guterres (CCGL)

sementes). Na parte aérea foram realizadas aplicações padrão de fungicida, a partir da elongação, totalizando três aplicações, em intervalos de 15 dias, de modo que o único fator variante entre os tratamentos foi a presença ou ausência de tratamento químico com fungicida na semente. Os tratamentos testados foram: 1) testemunha sem fungicida em TS; 2) Fipronil 250g/l, Piraclostrobina 25g/l, Thiophanate methyl 225g/l (100ml/ ha); 3) Triadimenol 150g/l (300ml/100kg sementes); 4) Carboxin 200g/l + Thiram 200g/l (250ml/100kg sementes); 5) Difenoconazole 150g/l (200ml/100kg sementes); 6) Iprodione

500g/l (100ml/100kg sementes) e 6) Carbendazim 500g/l (100ml/100kg sementes). Foram avaliadas a produtividade de grãos (kg/ha) e a severidade de manchas foliares e de oídio. O delineamento experimental foi de blocos ao caso, com cinco repetições. Os resultados foram submetidos à Anova, com discriminação de médias pelo teste de Tukey (p < 0,05). De acordo com os resultados observados na safra 2014, todos os tratamentos de semente testados reduziram a severidade de manchas foliares, tornando mais eficiente o controle químico realizado na parte aérea. A menor severidade de manchas foi observada no tratamento com fipronil + thiofanate methyl + piraclostrobina, não diferindo estatisticamente dos tratamentos com iprodione,

carboxina + tiram, triadimenol, carbendazim e difenoconazol. Da mesma forma, todos os tratamentos foram eficientes no controle de oídio (Tabela 1). Observaram-se, ainda, ganhos significativos no rendimento de grãos, com diferenças que variaram de 3,7 sacas/ha a 5,8 sacas/ha, em comparação com a testemunha não tratada com fungicida nas sementes (Tabela 1). Desta forma, fica claro que o tratamento de sementes com fungicidas é uma ferramenta importante para o controle de doenças de parte aérea e a manutenção dos potenciais produtivos do trigo. Recomenda-se, ainda, a associação de inseticidas ao tratamento de sementes, a fim de proteger não só do ataque de doenças, mas também do ataque de insetos, que são importantes vetores de introdução de doenças e vírus. Em sistemas intensivos de produção de grãos, deve-se estabelecer um conjunto de manejos integrados para a sustentabilidade do sistema. A rotação de culturas, eliminação de plantas voluntárias, semeadura em época indicada para o zoneamento, colheita e armazenagem com umidades adequadas, aquisição de sementes com qualidade sanitária comprovada, dentre outros aspectos, reduzem a pressão de patógenos nos períodos iniciais da cultura. Além disso, permitem que o tratamento químico tenha um melhor desempenho. Dessa forma o manejo integrado passa a ser sempre a melhor opção para a garantia da C sustentabilidade do sistema. Caroline Wesp Guterres, Juliana da Silva Bruinsma e Gilmar Seidel, CCGL TEC Thomas Newton Martin, UFSM

Comparativo entre distintos fungicidas para tratamento de sementes e testemunha não tratada. Barras: rendimento; linhas: severidade de manchas foliares e oídio. Cultivar Fundacep Horizonte. CCGL TEC, 2015. Fonte: Caroline Wesp Guterres (CCGL)

A qualidade do tratamento de sementes influencia diretamente na eficiência de controle

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MILHO

Cartuchos no alvo

Thomas Martin

Principal praga na cultura do milho a lagarta Spodoptera frugiperda pode levar a perdas de até 50% em áreas de cultivo com registro de altas infestações. Seu manejo correto passa principalmente pelo monitoramento do inseto para a adoção de medidas de controle no momento adequado, antes que o potencial produtivo reste comprometido

A

produtividade da cultura do milho é definida em função dos fatores da produtividade, que são divididos em construtores e protetores da produtividade. No que diz respeito aos protetores da produtividade, o manejo fitossanitário (de plantas daninhas, doenças e pragas) deve garantir que esses aspectos fitossanitários não interfiram negativamente no potencial produtivo estabelecido com base na genética e no ambiente. Percebe-se, atualmente, que o controle de pragas na cultura do milho, especialmente da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), é uma das práticas que apresentam dificuldades de manejo. A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) pertence à ordem Lepidoptera, da família Noctuidae. O ciclo total da lagarta-do-cartucho varia de 24 dias a 45 dias, sendo dividido em fase adulta (mariposa, dez dias a 12 dias), ovos (três dias a cinco dias), lagartas neonatas (canibalizam-se até restar uma ou duas por planta). Como

lagartas possuem seis estádios (14 dias a 22 dias) e finalizam o seu ciclo como pupa, no solo (sete dias a 13 dias). Cada fêmea possui uma postura em massa que varia de 100 ovos a 150 ovos por postura, e durante o ciclo chega a mil ovos sendo colocados preferencialmente nas folhas. Uma característica marcante dessa lagarta é a presença de um “Y” invertido na parte frontal da cabeça. A lagarta-do-cartucho, em altas infestações, causa prejuízos que podem variar de 20% a 50%, sendo a principal praga da cultura do milho. Em milho doce o prejuízo pode chegar a 60% (Cruz, 1997) o grau de dano da lavoura é relacionado principalmente com a época de semeadura, clima, estado nutricional da lavoura e estádio fenológico da planta. O período crítico do ataque compreende os estádios entre V2 e V10. Um ataque severo entre V2/V3 nas plantas, faz com que haja atraso no desenvolvimento inicial, estabelecimento e até morte das plantas. Nesse caso, ocorrem reduções do estande de plantas na lavoura. A redução da área foliar

e, consequentemente, a taxa fotossintética nesse período afetam de forma decisiva a produtividade da cultura do milho, pois a partir de V4 a V6 é que se define o potencial produtivo da lavoura. Em V8 é o momento que está sendo definido o número de fileiras e entre V10 e V12, o comprimento da espiga. A lagarta-do-cartucho pode possuir um comportamento semelhante ao da lagarta-elasmo e ao da lagarta-rosca, em que a larva entra pela base da planta e alimenta-se do interior do colmo, provocando o sintoma conhecido como “coração morto”. Assim, será verificado o seccionamento total ou parcial da planta. Contudo, isso é ocasionado por lagartas mais desenvolvidas. Além disso, já foram verificados danos no pendão e na espiga. Os hábitos de vida da lagarta-do-cartucho também influenciam para que seja uma praga de difícil controle. O local onde o inseto habita é muito importante. Logo após a eclosão dos ovos a praga realiza a raspagem das folhas do milho, mas

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Tabela 1 - Média das notas atribuídas aos híbridos, segundo a Escala de Davis e a classificação Experimento I Híbridos Notas Defender 7617 Viptera 1,35 DKB 290 Pro3 1,90 32R48 YH 1,95 Status 7205 2,05 SX 7331 VIP 2,20 P1630H 2,35 Fórumla 3949 2,80 AG 8780 Pro3 2,80 30F53YH 2,85 DKB 240 Pro 3 3,00 30F53 3,10 30F53 YHR 3,75 BG7051 3,95 BG 7060 3,95 30B30 H 4,10 30B39 HR 4,55 P2530 4,70 Média 3,02 CV 44,18

Clas. d* cd cd cd cd cd bc bc bc bc bc ab ab ab ab a a

Experimento II Híbridos Notas VIP3-Status 1,00 VT PRO2-DKB 250 1,10 MIR162-VIP-Feroz 1,10 Power core-DW-2B610 3,10 VT PRO3-DKB-240 3,80 Optimum-YH-3F53YB 4,50 Herculex-HX-Biogene 5,70 BT11-TLTG-Celeron 6,80 Convencional-Fórmula 7,10

Média CV

BAIXO

NÍVEL

1 De nenhum dano até três lesões muito pequenas nas folhas do cartucho

Clas. d* cd cd cd cd cd bc bc bc bc bc ab ab ab ab a a

2 Lesões muito pequenas e pequenas circulares nas folhas do cartucho 3 Pequenas lesões circulares e algumas pequenas lesões alongadas (formato de retângulo) lesões de até 1,3cm de comprimento nas folhas do cartucho

3,64 45,14

*médias seguidas por letras distintas diferem a 5% de probabilidade de erro pelo teste de Duncan.

(Davis et al, 1992)

derar o monitoramento do dano da lagarta-do-cartucho na planta. Considera-se que o nível de dano econômico é de 10% das plantas atacadas (folhas raspadas), então se deve realizar a intervenção química. Os principais grupos de inseticidas para controle da lagarta-do-cartucho no milho safrinha são os carbamatos (carbaril, metomil e tiodicarbe), inibidores da síntese de quitina (lufenuron, diflubenzuron, triflumuron, novaluron e clorfuazuron) e espinosinas (espinosade), organofosforados (triazofós, triclorfon e parathion metílico) e piretroides (permetrina e Fotos Thomas Martin

ao haver a troca de instares se dirige para o cartucho, onde fica mais protegida em relação aos predadores, dificultando assim também o manejo de inseticidas. Em períodos mais quentes e secos (semeaduras de dezembro e janeiro, para os estados do Sul) os danos causados pela lagarta são mais severos devido às temperaturas mais elevadas, à redução do ciclo de vida e às condições ecológicas mais favoráveis para o seu desenvolvimento. Os manejos possíveis em relação à lagarta-do-cartucho envolvem o manejo cultural que deve ser observado com semeaduras sendo realizadas no início do período recomendado. Além disso, deve-se priorizar a rotação de culturas com leguminosas, monitoramento com armadilhas com feromônios sexuais, bem como a utilização do controle biológico. Nesse caso podem ser citados os predadores de lagartas (besouros da família Carabidae, percevejos reduviídeos e tesourinhas); predadores de ovos (tesourinhas); parasitoides de lagartas (formas jovens de Ichneumonidae, Bracconidaee moscas da família Tachinidae), parasitoides de ovos (Trichograma spp.) e microrganismos entomopatogênicos (fungos: Nomureae sp., e Beuaveria sp. e vírus: Baculovírus spodoptera). Atualmente, estão sendo oferecidos híbridos de milho transgênicos que têm a capacidade de não serem atrativos para o consumo de muitas pragas ou até mesmo tolerantes. Além da rotação de culturas e híbridos (com características distintas de transgenia). Outra opção é a utilização de controle químico, contudo, esse método deve consi-

Figura 1 - Nível de dano classificado como baixo, segundo a Escala de Davis

Duru sp. predando ovos de lagarta-do-cartucho

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lambdacialotrina) eventualmente podem ser utilizados, contudo, há indícios de perda de sua eficácia (FMS - Barros, 2012). Se ocorrer ataque precoce nas plantas de forma a reduzir o estande, deve-se direcionar o jato de pulverização para a base das plantas, dando-se preferência para aplicações noturnas com alto volume de calda (200L/ha) utilizando-se o bico jato plano (leque). O manejo integrado de insetos deve ser realizado para evitar que as populações dos insetos-praga possam tornar-se problemas. Deve-se considerar a utilização de inseticidas sistêmicos no tratamento de sementes, pois se trata de uma operação localizada, sendo um método eficiente e econômico. Contudo, esse método somente é eficiente enquanto o ativo do produto químico estiver atuante, o que em média confere proteção até os primeiros 18 dias após a semeadura. Depois desse período deve-se, a partir do monitoramento com amostragens periódicas, realizar controle por meio de pulverizações. A amostragem pode ser realizada em zigue-zague ou percorrendo um perímetro na lavoura. Ao entrar na lavoura deve-se percorrer ao menos 30 metros da entrada (bordadura ou cabeceira) da lavoura e amostrar 20 plantas distantes entre si. O número de pontos avaliados é de cinco, com 20 plantas por amostra, totalizando 100 plantas. O dano é verificado pelo corte das plantas ou pela redução da área foliar. No primeiro caso, em que se verifica que as lagartas do cartucho estão causando corte nas plântulas/ plantas, o nível de controle deve ser de 2%3% das plantas atacadas, pois esse ataque


Figura 2 - Nível de dano classificado como médio, segundo a Escala de Davis MÉDIO

NÍVEL

Figura 3 - Nível de dano classificado como alto, segundo a Escala de Davis ALTO

NÍVEL

4 De 4 a 7 lesões alongadas pequenas ou médias de 1,3 a 2,5cm em algumas folhas do cartucho e folhas expandidas

7 De 8 a mais lesões alongadas de todos os tamanhos presentes em várias folhas do cartucho além de furos de formato uniforme a irregular nas folhas do cartucho e expandidas

5 De 4 a 7 lesões alongadas grandes maiores que 2,5 de comprimento em algumas folhas do cartucho e folhas expandidas e/ou alguns furos pequenos a médios de formato uniforme a irregulares (membrana consumida) no cartucho e nas folhas expandidas

8 De 8 ou mais lesões alongadas de todos os tamanhos presentes na maioria das folhas do cartucho além de muitos furos médios a grandes de formatos uniforme a irregular nas folhas do cartucho e expandidas

6 De 4 a 7 lesões alongados em várias folhas do cartucho e expandida e/ou vários furos uniformes a irregulares nas folhas nas folhas do cartucho e expandidas

9 Cartuchos e folhas expandidas quase ou totalmente destruídas

(Davis et al, 1992)

irá repercutir diretamente no estande da lavoura e consequentemente no número de espigas. Já o nível de controle para ataque nas folhas, o período que requer mais atenção deve estar compreendido entre V2/V3 e V10. Nos primeiros estádios (V3 a V4 – 30 dias, aproximadamente) ao observar-se 20% das plantas atacadas deve-se entrar com uma medida de controle. Contudo, nos estádios posteriores V7/V8 (40 dias a 60 dias) a porcentagem de plantas atacadas deve ser de 10%, baseando-se nas recomendações da Embrapa. Também se deve considerar a época de desenvolvimento da cultura do milho, que em períodos de atraso de semeadura (“safrinha”) deve-se tomar como nível de controle 10% das plantas atacadas (Cruz, 1999). Outros parâmetros que podem ser adotados indicam que lavouras comerciais ou com tecnologia Bt devem ser manejadas com inseticida quando 17% das plantas possuírem lesões de até 1,3cm de comprimento nas folhas novas ou já expandidas (nível 3 ou superior da Escala Davis). Após um primeiro manejo ou em condições históricas de alta pressão de insetos ou, ainda, em circunstâncias ambientais em que o ciclo da praga é reduzido o nível de dano que deve ser adotado é de 10%. O acompanhamento da lavoura é fundamental. Para tanto recomenda-se realizar levantamento de danos desde os primeiros estádios. Pode-se ter uma definição do nível de dano de forma mais específica, considerando a Escala Davis. O levantamento é feito por talhão (área uniforme) considerado uniforme. Avaliam-se 20 plantas, individualmente, atribuindo-se notas a cada planta. Se

(Davis et al, 1992)

em quatro dessas plantas forem observadas notas iguais ou acima de três, deve-se realizar medida de controle. A utilização de refúgio é fundamental em toda a lavoura que possui algum nível de transgenia associado ao combate da lagarta-do-cartucho. Deve-se considerar que as plantas não Bt devem ser situadas no máximo a 800m de distância das lavouras transgênicas. Além disso, esses talhões podem ser semeados em diferentes configurações, no perímetro da lavoura, em faixas ou dentro da área de cultivo. A área de refúgio deve ser de 10% em relação à área total. Em duas áreas da UFSM foram instalados experimentos com diferentes híbridos de milho seguindo as orientações técnicas para a cultura do milho (Indicações Técnicas Milho, 2013). No experimento I foram realizadas duas aplicações de inseticidas V3 e V5, já no experimento II, não foram aplicados inseticidas. Em cada unidade experimental foram avaliadas cinco plantas por meio da escala de Davis (Davis et al, 1992), que considera uma escala visual conforme as Figuras 1, 2 e 3. E a partir dessas avaliações verificam-se diferentes graus de dano nos híbridos, auxiliando a tomada de decisão (Tabela 1). A partir da Tabela 1, verifica-se que os híbridos de milho que possuem menores notas associadas possuem um menor ataque de lagarta-do-cartucho, o que é favorável dentro de um sistema integrado para a proteção dessas plantas. Já os híbridos que possuem notas acima de três necessitam da aplicação de inseticidas para controlar o dano causado pela lagarta-do-cartucho, evitando-se assim que as plantas atinjam níveis altos

como apresentados na Figura 3. O manejo integrado possui ações que irão desde a preparação da área, escolha correta da época de semeadura em função da pressão de lagarta-do-cartucho, escolha do monitoramento das lavouras, rotação de culturas, utilização de controle biológico, rotação de princípios ativos dos inseticidas e especificidade dos inseticidas; uso de tratamento de sementes; utilização de híbridos geneticamente modificados (milho Bt) e uso de rotação de híbridos com “rotação de genes”; controle de plantas daninhas-monitoramento. Assim, será possível reduzir os danos e possuir uma produtividade de grãos de acordo com o estabelecido pelo potencial genético do milho juntamente com as condições ambientais e C de manejo. Thomas Newton Martin, Leonardo Tissot, Alex Taglia Pietra Schönnell e Tânia Müller, Univ. Federal de Santa Maria

Lagarta-do-cartucho com o detalhe do “Y” invertido

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COLUNA ANPII

Desafio conjunto A pré-inoculação em sementes pré-tratadas tem enorme potencial para facilitar o processo de semeadura e popularizar ainda mais o uso desta tecnologia. Contudo, alguns entraves precisam ser transpostos pelas empresas de inoculantes e de sementes para que essa solução não se transforme em ameaça

O

processo de inoculação das sementes, com mistura do inoculante no dia do plantio, sempre foi um dos pontos mais questionados pelo agricultor, sob o ponto de vista prático, de manuseio na lavoura. Embora reconhecendo a importância da inoculação para a nutrição em nitrogênio, indispensável para elevadas produtividades, muitas vezes o manuseio das sementes, a mistura em máquinas apropriadas ou mesmo em betoneira, tudo tendo que ser feito poucas horas antes da semeadura, se constituíam em dificuldades que até mesmo levavam ao não uso do produto. O inoculante líquido, mais fácil de utilizar, misturando mais facilmente com as sementes, se constituiu em um avanço, facilitando o uso do produto, por misturar mais rapidamente e mais facilmente com as sementes. Entretanto, em grandes áreas e quando se necessita semear muito rapidamente, para aproveitar as “janelas” do tempo ideal, a mistura de grandes quantidades de sementes em um curto espaço de tempo ainda se constitui em uma dificuldade para a inoculação. As empresas começaram a desenvolver produtos que pudessem permanecer por mais tempo viáveis sobre as sementes, permitindo que se fizesse a inoculação com alguns dias de antecedência à semeadura. Apesar da sensibilidade das bactérias do inoculante à desidratação, que ocorre quando estão expostas sobre as sementes, alguns protetores celulares foram desenvolvidos e hoje existem produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que garantem de dez a 15 dias de antecedência à semeadura, com um número de bactérias que permite uma boa nodulação. Alguns produtos só permitem este tempo com sementes sem tratamento com fungicidas, mas outros podem manter as bactérias vivas mesmo na presença dos defensivos utilizados para proteger as sementes.

Com o advento do tratamento industrial de sementes, entregues ao agricultor já com todos os defensivos, polímeros e até mesmo micronutrientes, passou-se a pensar em adicionar o inoculante neste tratamento, facilitando enormemente o processo de semeadura. Sem dúvida este cenário é o ideal para o agricultor, pois a semente iria direto da saca ou do bag para a semeadeira, sem a necessidade de nenhuma outra operação adicional. Entretanto, esta operação de se misturar um ser vivo à bactéria do inoculante, com produtos altamente tóxicos,

De nada adiantará priorizar o operacional, mas com perda de produtividade

tanto pelos princípios ativos como pelos solventes e corantes, em uma mesma calda, e deixar estas sementes por um período de 60 dias em condições não ideais para a bactéria, se mostra como um desafio tecnológico de grande monta e que requer o concurso de especialistas em diversas modalidades para solucioná-lo a contento. Não basta, neste caso, ter um bom inoculante, altamente concentrado, com bons protetores celulares. É necessário levar em conta toda a cadeia: que produtos são adicionados às sementes, quais solventes e secantes são utilizados, qual a ordem de

mistura, que tipo de máquina é utilizado, quanto tempo a semente leva para secar, em que condições é transportada e armazenada. Se tudo isto não for muito bem equacionado, há o perigo de se chegar ao final do prazo com zero de bactérias ou com um número insignificante, insuficiente para uma nodulação capaz de fixar todo o nitrogênio necessário para as elevadas produtividades que se desejam e necessitam na soja. Desta forma, é importante que as empresas de inoculantes e de sementes trabalhem em conjunto para desenvolver esta tecnologia de modo a permitir uma operacionalidade compatível com a necessidade do agricultor, mas sem prejudicar a eficácia da fixação biológica do nitrogênio. De nada adiantará priorizar o operacional, mas com perda de produtividade. É necessário que os produtores de sementes e de inoculantes façam rigorosos testes para verificar se, ao final do prazo prometido, as sementes ainda contam com número expressivo, em torno de 600 mil bactérias viáveis por semente. Testes em solos de primeiro ano de cultivo são fundamentais, pois plantios em solos com antecedentes de uso de inoculantes muitas vezes mascaram os resultados por nodulação proveniente de Bradyrhizobium já existente. Em solo de primeiro ano de cultivo é que se pode realmente avaliar com grande margem de certeza a potencialidade de um inoculante. Desta forma, o agricultor deve estar muito atento em relação às sementes tratadas industrialmente com inoculante. Exigir registro no Mapa e pedir resultados de ensaios feitos por instituições de pesquisa são providências que podem melhorar a produtividade. Esta tecnologia é extremamente promissora e virá para facilitar a semeadura e o uso de inoculante. Entretanto, como toda a nova tecnologia, deve ser muito bem avaliada para que não coloque em risco todos os avanços conseguidos na fixação C do nitrogênio pela via biológica. Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII

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COLUNA AGRONEGÓCIOS

P

erdoem-me os estimados leitores, porém, para que o texto fique claro terei que fazer reminiscências que remontam à década de 1960, quando cursava Engenharia Agronômica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O Lysenkismo se refere a um episódio exemplar e didático da imposição da narrativa dominante sobre a Ciência. Trofim Denisovich Lysenko (1898-1976), o personagem principal, não era um cientista - ao contrário do que alguns pensam - mas um agricultor russo, militante do Partido Comunista, que foi o principal defensor do Michurianismo durante os anos negros de dominação da União Soviética por Lenin e Stalin. Ivan Vladimirovich Michurin, por sua vez, era um cientista russo, defensor do Lamarckismo, teoria proposta por Jean-Baptiste de Lamarck, um cientista francês do século 18, que defendeu uma teoria da evolução, anterior aos estudos de Charles Darwin. Contudo, a teoria de Lamarck foi rejeitada pelos estudiosos do tema na época, porque não conseguia explicar adequadamente a evolução das espécies. Sua antípoda era o Darwinismo, teoria proposta por Darwin, fundamentada na seleção natural, a qual postula que todas as características de uma espécie estão presentes no seu código genético, mesmo que não sejam visivelmente expressas. Qual um exército de prontidão, os genes responsáveis permanecem silentes até que haja necessidade de expressar o caráter. Portanto, alguns condicionantes, especialmente do ambiente, teriam apenas o papel de tornar visível, até mesmo dominante, determinada característica já presente nos genes da espécie.

LAMARCKISMO

Em oposição, de acordo com Lamarck, a evolução ocorreria porque os organismos herdariam características adquiridas em vida pelos seus antepassados. Ele citava, como exemplo, as girafas, animais lentos que se alimentam das folhas no alto das árvores. Elas foram compelidas a esse hábito porque, ao nível do solo, a competição com outros herbívoros era muito intensa. Em consequência, os seus pescoços alongar-se-iam, e o caráter seria transmitido às gerações futuras. Assim, uma espécie de animal com pescoço originalmente curto teria evoluído para uma espécie com pescoço longo, exclusivamente

Lysenkismo por sua própria vontade, dada a necessidade de sobrevivência no ambiente. Ou seja, não haveria variabilidade genética anterior para “pescoço alongado”. A característica passaria a existir depois que a girafa encompridou o pescoço para alcançar o alimento, e o caráter propagar-se-ia para as gerações seguintes. O Lamarckismo foi apoiado pelos que creditam à vontade do indivíduo a força primária da vida, como o filósofo francês Henri Bergson (1859-1941). De outra parte, o Darwinismo não é aceito por cidadãos que acreditam na teoria do criacionismo.

NARRATIVA DOMINANTE

A princípio, tudo indicaria que os Marxistas prefeririam o Darwinismo por seu conceito mecanicista, materialista e determinista da seleção natural, justamente para confrontar os adversários e críticos da URSS, fossem eles religiosos ou liberais. Em oposição, o Lamarckismo ajustava-se com perfeição ao modelo apregoado pelos defensores do livre mercado, pela apologia da vontade de vencer, com ênfase no esforço, no trabalho, na superação das adversidades e nas escolhas, como único caminho para uma vida melhor. De forma surpreendente, a visão de Michurin (=Lamarckismo) sobre evolução, encontrou o apoio dos líderes da União Soviética. A explicação está no fato de que o Lamarckismo confrontava a visão dominante da Ciência do resto do mundo, da qual os dirigentes da URSS precisavam se diferenciar, para demonstrar que outro mundo era possível e melhor. Ou seja, quando a maioria dos cientistas fora da URSS seguia as ideias de Mendel (em linha com o Darwinismo), desvendando e desenvolvendo a nova ciência da genética, o Partido Comunista impediu que ela aflorasse na União Soviética. Enquanto o resto do mundo não podia explicar a evolução sem genética, a União Soviética usou o poder político para impor uma narrativa dominante, proibindo que os seus cientistas aceitassem a evolução baseada na genética. Em uma conferência científica (?) realizada em 1948, Lysenko denunciou Mendel como "reacionário e decadente" e declarou que cientistas ou outros cidadãos que acreditassem na genética eram "inimigos do povo soviético". Anunciou que a sua tese havia sido aprovada pelo Comitê Central do Partido Comunista e que, a partir daquele momento, os cientistas que compartilhavam as teorias de

Mendel dispunham de duas alternativas: ou escreviam cartas públicas confessando os seus erros e reconhecendo a sabedoria do Partido Comunista (narrativa dominante) ou seriam sumariamente demitidos. Alguns dissidentes foram enviados para campos de trabalho forçado e de outros, não mais se ouviu falar. Assim, sob a “liderança” de Lysenko, parte da ciência (com “c” minúsculo) na URSS passou a ser guiada não pelos cânones da metodologia científica, mas pela ideologia do Partido, subordinada ao Estado, amordaçada pela ideologia.

O PREÇO DA NARRATIVA

Os resultados eram mais que previsíveis: a rápida deterioração da na União Soviética. Na ex-URSS do período 1950-1980, a Ciência (com “C” maiúsculo) da genética sofreu um atraso incomensurável – em um período em que cada ano do século 20 representava um século de avanço da Ciência comparativamente a períodos anteriores. A agricultura foi a mais prejudicada. Mesmo após o fim da União Soviética e do domínio monopolista do Partido Comunista, não está sendo possível recuperar o passado, porque a base conceitual desapareceu e o atual avanço da Ciência é de uma dinâmica alucinante, difícil de acompanhar até por quem está no estado da arte. Atualmente, a Rússia e os países da antiga URSS dependem de tecnologia genética de países cuja Ciência seguiu Mendel, como a Europa, o Canadá, os Estados Unidos e o Japão. São bilhões de dólares anuais transferidos dos países da ex-URSS para os países detentores de tecnologias avançadas, como variedades mais produtivas e mais resistentes a estresses, baseadas na genética mendeliana. O efeito devastador da não contestação dessa narrativa dominante, apesar de que hoje ela repousa na lata do lixo da História, pode demorar décadas. Este é o tempo necessário para purgar os pecados e para que a Rússia, fulgurante na Ciência e nas Artes durante o século 19, possa novamente ombrear-se entre os protagonistas de inovações científicas globais. Que este episódio clássico nos sirva de farol para refutar qualquer ingerência meramente ideológica na Ciência, pois as narrativas dominantes, sem contrapontos, são o caminho mais curto para impedir a C chegada do futuro. Decio Luiz Gazzoni

O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

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COLUNA MERCADO AGRÍCOLA

USDA mostra poucas novidades em março O relatório mensal de oferta e demanda mundial de grãos divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em março não trouxe novidades e frustrou os operadores. Isso porque era dado como certo que as exportações americanas viriam com números maiores que 48,72 milhões de toneladas, apontados em fevereiro. A maior parte do mercado esperava por patamares próximos de 49,5 milhões de toneladas. É possível estimar que os números finais fiquem próximos de 50 milhões de toneladas, trazendo apelo positivo para o mercado de Chicago, que aguardava por estoques abaixo de dez milhões de toneladas, mas que na prática ainda se encontra acima deste nível. Com isso, os indicativos de Chicago continuaram navegando sem rumo. Enquanto isso, a colheita da safra brasileira avança para a reta final nesta virada de março, devendo entrar em abril em boa parte do Sul e Norte do país, além das lavouras do Nordeste. No Centro-Oeste, cujo processo já está mais avançado, a expectativa é de conclusão ainda em março. Desta forma, os números para a safra brasileira de soja sinalizam, em março, para a faixa das 91,7 milhões de toneladas. Desse total já estavam negociados 52% até o dia 10 de março, quando avaliou-se o quadro de produção e negociação. No começo de março houve um ritmo acelerado de negócios que empurrou a comercialização para cima, com os produtores aproveitando as boas cotações nos portos, que chegaram a alcançar níveis de R$ 72,50 (melhor momento do ano até então) e muito produto negociado. Os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) continuam otimistas, apontados para pouco acima de 93,2 milhões de toneladas. O que soa no mínimo ambicioso, já que a safra de alguns estados sofreu com o clima e registrou perdas. Em milho a produção brasileira mostra incertezas, porque até 10 de março o plantio ainda estava distante de ser fechado. Mesmo assim, com aproximadamente 25% das áreas para serem plantadas, a Conab estimou uma produção de 48,5 milhões de toneladas frente às 48,4 milhões colhidas no ano passado, esquecendo-se de considerar que há queda na área plantada e grande atraso no plantio que compromete o potencial produtivo. Desta forma, pode-se estimar a safra total de milho no Brasil ao redor de 70 milhões de toneladas contra mais de 78 milhões de toneladas apontadas pela Conab. Enquanto isso, percebem-se boas expectativas para as cotações agrícolas no Brasil porque neste mês o dólar alcançou os maiores níveis em mais de dez anos, superando a marca dos R$ 3,00, dando fôlego aos exportadores, impedindo as importações e criando bons níveis de suporte para as cotações internas. Os custos vão crescer, mas o fator mais importante é que toda a produção está sendo valorizada. MILHO

Grande atraso no plantio deixa safra indefinida

Safra com ritmo de negócios acelerado

O ritmo dos negócios da soja, que vinha lento até fevereiro, agora mostra avanço. Até o final da colheita, em abril, certamente haverá mais de 65% da safra negociada e restará pouco produto para ser comercializado no restante do ano. Isso obrigará os consumidores internos a ficar atentos neste ano, que terá forte avanço na demanda interna de farelo para ração e óleo para o biodiesel e consumo humano. Ou seja, ainda existe muito espaço para os produtores comercializarem a soja com ganhos. O dólar, em forte alta, irá fazer com que o setor acompanhe de perto a evolução dos custos e favorecer a relação de troca pela soja, com a escolha de bons momentos de compra para a nova safra, que tende a ter custos maiores em reais, mas que tudo indica, seguirá lucrativa ao setor.

O mercado do milho tem mostrado indicativos positivos nos portos, que chegaram a negociar a R$ 32,00 para os embarques no segundo semestre. Com isso houve uma corrida dos vendedores para fechar contratos e garantir estes números ou algo ao redor destes patamares. Com indicativos de que até a primeira quinzena de março já haveria mais de dez milhões de toneladas de milho negociadas para entrega futura. Os vendedores aproveitaram para garantir os custos. De agora em diante será o clima que irá comandar o mercado. Se escassear a chuva cedo haverá forte alta nas cotações e se as geadas aparecerem nas previsões também haverá pressão positiva. Como fator limitante à queda, o dólar tende a seguir firme neste ano, favorecendo as FEIJÃO exportações do milho e segurando possíveis quedas Demanda crescendo e indicativos firmes forçadas pelos compradores internos, que terão um O mercado do feijão se encontra em um ano bom ano para o setor das carnes com espaço crescente com forte demanda devido ao alto grau de endinas exportações. vidamento dos brasileiros, obrigados a retornar ao consumo de alimentos básicos. Estima-se que níveis SOJA

de R$ 150,00 a R$ 200,00 pela saca serão uma constante em 2015.. ARROZ

Safra chegando com boa qualidade e produtor capitalizado

Os produtores de arroz do Sul do Brasil estão colhendo uma boa safra, com atraso devido ao plantio que se deu de modo tardio. Mesmo assim, o produto chega com alta produtividade e qualidade. Com níveis acima de oito milhões de toneladas no Rio Grande do Sul. Dessa forma, com silos cheios e produtores capitalizados ao longo dos últimos anos, não haverá necessidade de vender tudo imediatamente. Sendo assim, o orizicultor terá fôlego para segurar e esperar reação nos indicativos. Os valores do arroz neste ano deverão ser maiores em relação ao ano passado, porque o dólar em alta impede as importações e irá favorecer o avanço nas exportações. Dessa forma se espera que em média haverá níveis de R$ 1,50 a R$ 2,50 acima dos valores praticados no ano passado. O setor seguirá com forte demanda interna em ano de arroz com feijão no Brasil. .

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro teve como boa notícia a disparada do dólar que ajuda a encarecer o produto importado, o que trouxe apelo positivo para o trigo nacional. Esse cenário serve de estímulo para a nova safra que começa com expectativas de lucros. É preciso lembrar que os produtores devem plantar com planejamento, para não necessitar vender imediatamente após a colheita. O grande problema do trigo continuará sendo a liquidez imediata após a colheita. Mesmo assim, tudo aponta que será o ano do trigo, porque os custos do importado estão em forte alta e isso favorecerá o produto nacional. Haverá boa demanda no Brasil que terá de importar mais de 6,5 milhões de toneladas. ALGODÃO - O mercado continua navegando em cima de movimentos pontuais, mas, a exemplo dos demais, o ponto de equilíbrio dos produtores é o dólar acima da faixa de R$ 3,00, viabilizando a safra que está nos campos. Esse cenário certamente irá trazer lucros aos produtores. Os indicativos são de safra menor neste ano e mais pressão altista à frente.

CHINA - A demanda interna está em crescimento no setor de alimentos. O país irá crescer 7% neste ano, segundo o governo, e desta forma os chineses não irão parar de consumir. Com bons números das exportações que vieram nos primeiros relatórios do ano, já se cogitam importações acima de 77 milhões de toneladas de soja, frente a expectativas anteriores de 74 milhões de toneladas. Com isso, haverá apelo positivo para seguir crescendo em compras. O país irá importar mais de seis milhões de toneladas de arroz, mais de três milhões de toneladas de trigo, o milho tem indicativos de mais de quatro milhões de toneladas e a soja tende a registrar recorde. A China continuará buscando tudo o que se produz no mundo para manter sua economia crescente. RÚSSIA - Os russos devem seguir comprando carnes brasileiras, mas a situação do país não é das melhores porque já está abaixo do grau de investimento. Com o petróleo abaixo de 50 dólares por barril, a economia local se aprofunda em crise. Contudo, um aspecto importante é que os alimentos serão sempre os últimos a C serem afetados pela crise que o país enfrente.

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

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03

Em evolução Tiago Marangoni

Em tempos de busca incessante por melhores índices de produtividade, contar com a alta qualidade genética proporcionada pela modernização de híbridos de milho e com melhores técnicas de manejo tem papel crucial para que os produtores alcancem bons resultados de modo sustentável

A

estimativa de produtividade média da safra de milho verão no Brasil gira em torno de 4.892kg/ha (Figura 1). Já a produtividade média dos Estados Unidos, maior produtor mundial, na safra de 2014, ficou em 10.672kg/ha, de acordo

com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Mesmo com a média brasileira se mantendo ainda em patamares baixos, alguns produtores alcançaram elevados níveis de produtividade em suas lavouras na safra de verão 2014-15,

ultrapassando até mesmo a média americana de produtividade de milho. Isto tem ocorrido mesmo em anos com adversidades climáticas, comuns em várias regiões nos últimos anos. Das plantas cultivadas, a cultura do milho foi uma das que


04 • Abril 2015 • Milho • www.revistacultivar.com.br veis pelo aumento da tolerância a estresses abióticos. Dentre as principais mudanças em relação ao genótipo estão a relação fonte/ dreno, as melhorias genéticas, as mudanças fisiológicas, a interceptação e utilização de luz e o stay green funcional. Relação fonte/dreno - Uma das formas em que estresses abióticos afetam o rendimento de grãos se dá pela mudança no equilíbrio Robson F. de Paula

Figura 1- Fonte: Conab, março 2015. Elaborado por Robson Fernando de Paula

mais evoluíram nos últimos anos, com avanços obtidos via melhoramento genético, que trouxe significativos ganhos de produtividade através de híbridos com melhor resposta a manejo, e adaptada a diversas regiões do Brasil. O incremento no rendimento de grãos nos últimos anos não é apenas resultado da evolução genética, mas sim produto dela e de avanços nas práticas agronômicas desenvolvidas nas últimas décadas, que vão desde a adoção de estratégias de fertilização mais eficientes, com o aumento gradual das doses de nitrogênio, até os níveis atuais, passando pelo melhor controle de plantas invasoras, com adoção de herbicidas mais modernos. A distribuição de plantas de forma mais uniforme, via redução do espaçamento entre linhas e ajustes na época de plantio, contribuiu muito para o aumento da eficiência de interceptação da radiação solar disponível. A densidade de plantas usada em lavouras comerciais também aumentou muito, maximizando a produção de grãos por área. Com o ganho genético, associado a modernas práticas de manejo, as altas produtividades já têm sido uma realidade nesta safra 2014-15 na região Sul do Brasil. A produtividade do milho pode ser definida como componente de um processo fisiológico

amplo, que ocorre durante várias fases do ciclo de vida da planta. Resumidamente, produtividade de grãos é uma porção da matéria seca acumulada na parte aérea da planta e alocada nos grãos.

EVOLUÇÃO GENÉTICA* (*ADAPTADO DE LEE & TOLLENNAR, 2007)

Os processos que influenciam o acúmulo de matéria seca são comumente referidos como componentes “fonte” e os processos envolvidos na alocação de matéria seca em grãos se referem aos componentes “dreno”. Para obtenção de elevados rendimentos é importante alcançar um bom balanço entre fonte e dreno. Acompanhando o aumento expressivo na produtividade dos híbridos modernos, observa-se uma melhoria acentuada na capacidade de os materiais tolerarem estresses abióticos. Nesses mais de 75 anos de melhoramento e avanços de materiais, houve um aperfeiçoamento muito grande na tolerância a altas populações de plantas, deficiência de nitrogênio, baixas temperaturas, restrição hídrica e matocompetição. Enquanto o aumento da tolerância a estresses abióticos foi resultado indireto das seleções dentro do melhoramento, as mudanças genéticas que contribuíram para o crescimento de rendimento de grãos também foram responsá-


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dos processos fonte (folhas e colmos) - dreno (grãos). Para haver aumento de produtividade é preciso incremento em ambos, de forma equilibrada. Excesso de capacidade de fonte, sem acompanhamento da capacidade de dreno, resulta em outros tecidos “fonte”, como folhas e colmos, agindo como “dreno”. A coloração roxa em folhas e colmos durante o enchimento de grãos é

sintoma clássico desse desequilíbrio. De forma oposta, o excesso da capacidade de dreno durante o enchimento de grãos resulta em senescência prematura de colmos e folhas. Melhorias genéticas, mudanças fisiológicas – Provavelmente o estudo mais abrangente e conhecido sobre a evolução da planta de milho híbrido é o conhecido como “ERA Hybrids” (título em

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inglês para híbridos ERA, em tradução livre) (Duvick et al, 2004). Os híbridos ERA foram desenvolvidos e comercializados pela Pioneer Hi-Bred International de 1930 a 2001, sendo considerados sucessos comerciais e amplamente plantados em várias regiões, representativos da elite de germoplasma em suas respectivas décadas. Para fazer uma análise sobre

Figura 2 - Híbrido BG 7318YH, excelente padrão de espigas e sanidade foliar. Exemplo de stay green funcional, mesmo no final do período de enchimento de grãos


Regis Borin

06 • Abril 2015 • Milho • www.revistacultivar.com.br

Figura 3 – Híbrido BG7318YH de arquitetura moderna e folhas eretas

quais atributos fisiológicos contribuíram para o aumento nos patamares de produção, é preciso citar brevemente quais atributos não mudaram. De acordo com vários estudos, a fotossíntese potencial máxima (florescimento) não mudou. O rendimento potencial por planta em condições ótimas e controladas, a proporção de matéria seca alocada nos grãos (índice de colheita) e o acúmulo de matéria seca até o florescimento também não. A taxa de crescimento da planta até o florescimento mudou, porém, não significativamente. O resultado dos ensaios conduzidos nos estudos ERA comparando híbridos das décadas de 1930 e 1990 apontou produtividades de 4,8ton/ha e 10,2ton/ha, respectivamente. Considerando que a alocação de matéria seca nos grãos (índice de colheita) não mudou, pode se atribuir um incremento de 113% no acúmulo de matéria seca nos híbridos mais modernos. Essa melhoria da capacidade de fonte pode ser atribuída, em parte, a avanços na capacidade de interceptação de luz, pelo aumento do índice de área foliar (área de folha por m2 de solo) e melhor utilização da radia-

ção incidente, devido à inserção de folhas mais eretas. Outro fator que contribuiu com aumento da capacidade de acúmulo de matéria seca é a manutenção de área foliar fotossinteticamente ativa (verde) por maior período de tempo durante o enchimento de grãos, característica denominada como stay green. Diferenças de interceptação e utilização de luz – O acúmulo de matéria seca é função da duração

do ciclo de vida e da interceptação e utilização da radiação solar incidente durante o ciclo da planta. A interceptação da luz é dirigida principalmente pela área foliar, enquanto a utilização da luz é função da fotossíntese do dossel. Como já mencionado, a área foliar por planta não sofreu grandes variações durante a era dos híbridos, entretanto, a tolerância a maiores populações de plantas permitiu dobrar o índice de área foliar. Somado a isso, a inserção de folhas mais eretas permite aumentar ainda mais a utilização da radiação solar incidente, pela distribuição mais uniforme de luz dentro do dossel. De acordo com o estudo, a associação de maior índice de área foliar (aumento da população) e plantas de folhas mais eretas permitiu incremento de 31% na produção de matéria seca. Stay green funcional – O stay green característico de híbridos modernos consiste na retenção da clorofila por um período mais longo durante o enchimento de grãos. A fotossíntese da folha é máxima durante o florescimento e diminui ao longo do enchimento de grãos. O stay green funcional (Figura 2), presente nos genótipos de milho modernos, se caracteriza pela menor diminuição da capacidade de fotossíntese durante o enchimento

Figura 4 - População de Máxima Eficiência Técnica (MET), para o híbrido BG 7318YH, média de seis locais na região Sul do Brasil, 2013-14


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de grãos quando comparado a híbridos mais antigos, nos quais a senescência foliar e a diminuição de atividade fotossintética são mais aceleradas.

PRÁTICAS DE MANEJO

População de Plantas - Como resultado do lançamento destes híbridos mais modernos, as populações utilizadas em nível de lavoura têm aumentado gradativamente nos últimos anos, principalmente na safra de verão. Um exemplo claro desta evolução está no híbrido BG7318YH (Figura 3), um produto da BioGene altamente tolerante a elevadas populações de plantas. Em ensaios conduzidos na safra 2013/14, a população de máxima eficiência técnica (MET) ou de maior resposta em produtividade foi de 96.500 plantas por hectare (Figura 4), na média de seis locais na região Sul do Brasil. O tamanho de dreno na planta de milho é função do número e peso de grãos. Como mencionado anteriormente, a melhoria genética do potencial de rendimento deve-se mais ao aumento do número de grãos, que ao seu tamanho ou peso específico. O número de grãos em milho é função da taxa de acúmulo de matéria seca no período ao redor do florescimento. Em outras palavras, taxa de crescimento da planta (gramas de matéria seca por dia/planta). Os estudos apontam que a taxa de crescimento nesse período

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Quadro 1 - Fonte: http://www.agphd.com/resources/nutrient-removal-charts/corn-grain-and-stover-nutrient-removal-charts/ (Adaptado por Robson Fernando de Paula) Exportação de Nutrientes pelos Grãos Expectiva de Produtividade (Sc/ha) 314

293

272

Nutrientes (Kg/ha) 195 Nitrogenio (N) 210 225 102 Fosfato (P2O5) 110 118 73 Potassio (K2O) 78 84 Enxofre (S) 26,88 25,09 23,30 Magnesio (Mg) 11,19 10,44 9,70 Calcio (Ca) 4,54 4,23 3,93 Cobre (Cu) 0,17 0,16 0,15 Manganês (Mn) 0,24 0,22 0,20 Zinco (Zn) 0,37 0,35 0,32 Boro (B) 0,81 0,75 0,69 Ferro (Fe) 0,50 0,47 0,44

251 180 94 67 21,50 8,95 3,63 0,13 0,19 0,29 0,65 0,40

230

209

188

167

150 165 120 135 78 86 63 71 56 62 45 50 19,71 17,92 16,13 14,34 8,21 7,46 6,71 5,97 3,33 3,02 2,72 2,42 0,12 0,11 0,10 0,09 0,17 0,16 0,15 0,12 0,27 0,25 0,22 0,20 0,59 0,54 0,48 0,43 0,37 0,34 0,30 0,27

146

125

105

84

105 55 39 12,54 5,22 2,12 0,08 0,11 0,17 0,38 0,24

90 47 34 10,75 4,48 1,81 0,07 0,09 0,15 0,32 0,20

75 39 28 8,96 3,73 1,51 0,06 0,08 0,12 0,27 0,17

60 31 22 7,17 2,98 1,21 0,04 0,07 0,10 0,21 0,13

Extração de Nutrientes pelos Restos Culturais Nutrientes (Kg/ha) Nitrogenio (N) Fosfato (P2O5) Potassio (K2O) Enxofre (S) Magnesio (Mg) Calcio (Ca) Cobre (Cu) Manganês (Mn) Zinco (Zn) Boro (B) Ferro (Fe)

151 141 131 121 111 101 91 81 71 60 50 40 54 50 47 43 39 36 32 29 25 22 18 14 370 345 320 296 271 246 222 197 172 148 123 99 23,52 21,95 20,38 18,82 17,25 15,68 14,11 12,54 10,98 9,41 7,84 6,27 67,20 62,72 58,24 53,76 49,28 44,80 40,32 35,84 31,36 26,88 22,40 17,92 43,68 40,77 37,86 34,94 32,03 29,12 26,21 23,30 20,38 17,47 14,56 11,65 0,10 0,09 0,09 0,08 0,08 0,07 0,06 0,06 0,04 0,04 0,03 0,02 2,52 2,35 2,18 2,02 1,85 1,68 1,51 1,34 1,18 1,01 0,84 0,67 0,50 0,47 0,44 0,40 0,37 0,34 0,30 0,27 0,24 0,20 0,17 0,13 0,10 0,09 0,09 0,08 0,08 0,07 0,06 0,06 0,04 0,04 0,03 0,02 0,84 0,784 0,728 0,672 0,616 0,56 0,504 0,448 0,392 0,336 0,28 0,224

Fonte: http://www.agphd.com/resources/nutrient-removal-charts/corn-grain-and-stover-nutrient-removal-charts/. Adaptado por Robson Fernando de Paula

varia pouco na comparação de híbridos novos versus híbridos antigos. Sendo assim, pode-se concluir que a maior produção de número de grãos nos híbridos modernos deve-se à otimização da partição de matéria seca produzida em grãos durante esse período

Figura 5 - Número de fileira de grãos para o híbrido BG 7318YH, média de seis locais na região sul do Brasil 2013-14

sensível ao estabelecimento do número de grãos nos híbridos modernos, muito mais eficiente que nos híbridos antigos. O balanço entre os componentes fonte e dreno é mantido nos híbridos modernos, mesmo sob diferentes populações de plantas

Figura 6 - Número de grãos por fileira para o híbrido BG 7318YH, média de seis locais na região sul do Brasil 2013-14


08 • Abril 2015 • Milho • www.revistacultivar.com.br Resultados de produtividade de clientes que plantaram BG7318YH na safra verão 2014/15 em diversas regiões do sul do Brasil Nome do Produtor Produtor 1 Produtor 2 Produtor 3 Produtor 4 Produtor 5 Produtor 6 Produtor 7 Produtor 8 Produtor 9 Produtor 10 Produtor 11 Produtor 12 Produtor 13 Produtor 14 Produtor 15

Município/UF São Domingos/SC Mafra/SC Centenário/RS Abelardo Luz/SC Xaxim/SC Xanxerê/SC Ouro Verde/SC São José do Ouro/RS Coxilha/RS Carazinho /RS Chapada /RS Ouro Verde/SC Chapada /RS Quilombo/SC Palmeira das Missões/RS

(desde 30 mil plantas/ha até 90 mil plantas/ha), sendo mantido um índice de colheita ao redor de 50%. Já híbridos antigos não toleram altas populações de plantas, sendo que a razão dreno/fonte diminui muito quando cultivados sob altas populações (mais folhas e menos grãos). Pode-se considerar que a tolerância a altas populações dos híbridos modernos é um dos principais fatores que viabilizaram o aumento de rendimento de grãos em comparação aos híbridos antigos. O principal componente de produtividade de grãos de milho é a quantidade de grãos colhidos por hectare. De acordo com Strachan, 2001, 85% da produtividade de grãos está relacionada ao número de grãos colhidos por área. Existe uma compensação entre os componentes de rendimento quando se varia a população de plantas. No ensaio de população conduzido com o híbrido BG7318YH, o número de fileiras se manteve constante, mesmo com incremento da população (Figura – 5) e houve uma diminuição do número de grãos por espiga (Figura – 5). Ainda assim, deve-se salientar que o número de grãos da população de 90 mil plantas por hectare não diferiu estatisticamente de todas as demais testadas, o que mostra que o híbrido mantém excelente padrão de espigas mesmo em altas

Produtividade(Kg/ha) 15960 15384 14880 14580 14340 14280 14100 14100 13920 13860 13800 13800 13740 13560 13560

População(Plantas/ha) 76600 71000 69000 70000 74000 77700 76000 72000 73000 75000 77000 74000 76000 73000 76000

populações de plantas. Isto evidencia estabilidade produtiva do híbrido em populações elevadas, com adequadas práticas de manejo e condições de clima. Para obter maior resposta do híbrido é importante ressaltar que a adoção de populações elevadas deve seguir rigorosos critérios técnicos e de manejo adequado, como condições ideais de temperatura e umidade evitando riscos ao produtor.

ARRANJO ESPACIAL DE PLANTAS

O arranjo espacial de plantas se refere a como esses vegetais estarão dispostos na lavoura, e

o espaçamento reduzido favorece a melhor distribuição espacial, acarretando em maiores produtividades. Na Figura 7 é possível visualizar a resposta em rendimento de grãos com altas populações de plantas quando o espaçamento foi reduzido de 80 para 40 centímetros, mostrando que quanto maior a população de plantas, maior a resposta no espaçamento reduzido.

QUALIDADE DE PLANTIO

A qualidade de plantio é fundamental para manter o padrão de plantas e consequentemente o padrão desejado de espigas na colheita. Nesse sentido, a velocidade de plantio é o principal fator a ser observado quando se trata da obtenção de plantas uniformes e na população recomendada para determinado híbrido. Madaloz et al, 2014, concluíram que o aumento da velocidade de semeadura acarretou uma distribuição irregular de sementes, que contribuiu para a diminuição da população final, refletindo na redução da produtividade do milho (Figura 8).

ADUBAÇÃO PARA ALTO RENDIMENTO DE GRÃOS

Em relação à adubação para alta produtividade de grãos na cultura do milho, não se preten-

Figura 7 - Rendimento de grãos do milho em função da densidade de plantas e do espaçamento entre linhas. Lages, SC, Sangoi et al., 2011/2012 CV: 4,49%


www.revistacultivar.com.br • Milho • Abril 2015 •

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Depoimentos de produtores Luciano Mattos – Carazinho/RS

aproveitamos a área onde vai o híbrido mais rápido “Eu acho que o manejo é o principal. O bom para fazer rotação de culturas com lavoura de feijão.” material também é importantíssimo, o material Marcelo Degraf – Ponta Grossa/PR genético que estamos colocando na terra, uma boa “Não deixo de fazer a rotação de culturas dentro semente, é fundamental. Eu dividi a área da fazenda dos 25%-30% da área, com todos os manejos necesem quatro quadrantes e estou no último deles, agosários para o inverno ou verão, onde a programação da ra no processo de agricultura de precisão, fechando escolha dos híbridos segue conforme o tipo de solo e 25% no primeiro ano, 25% no segundo, 25% no a necessidade (silagem ou grão). Os ensaios feitos na terceiro e em quatro anos fechei o processo. Quando propriedade e demais informações trazidas pelo meu você termina o quarto, volta à análise do solo do recomendante e pela representação nos auxiliam na primeiro. É um processo contínuo de agricultura escolha dos híbridos a serem programados.” de precisão, que é fundamental. Saber o solo, saber como ele está, consiste em ter uma análise do solo José Renato Nunes – Capão Bonito/SP bem auferida e não de uma amostra pura e simples. “Eu, como todo produtor rural, procuro sempre O grid de amostragem deve ser por hectare. O bom obter melhorias e maiores produtividades, então sigo resultado primeiro vem desses cuidados com o solo. todas as práticas de manejo recomendadas, como Só se chega a altas produtividades se tiver o cuidado controle de plantas daninhas, manejo de insetos, anterior com o manejo, o manejo de inverno, rotação rotação de culturas, calagem, adubação de solo e um de culturas é fundamental. Na nossa propriedade o dos pontos fundamentais é a escolha das sementes milho é rotacionado sempre e isso não se discute.” utilizadas. Isso eu faço pessoalmente, pois tenho meu próprio campo de avaliação na fazenda, onde avalio Zidione Jose Cherobin – Xanxerê/SC “Em nossa fazenda priorizamos o plantio de hí- doenças, população ideal, sanidade e principalmente bridos de diferentes ciclos, visando diluir riscos, e potencial produtivo.”

de neste artigo fazer nenhuma recomendação pronta. Ross et al, (2012) comentam que, enquanto a biotecnologia, o melhoramento genético e as práticas de manejo agronômico trouxeram aumentos significativos em produtividade, o manejo da fertilidade do solo e adubação para híbridos modernos ainda precisa ser melhor estudado, pois as práticas de fertilização em milho, desenvolvidas décadas atrás, podem não atender a capacidade

de absorver nutrientes e atingir altas produtividades em híbridos modernos cultivados em altas populações. Também, ao desenvolver uma recomendação de adubação, dois principais aspectos da nutrição de plantas são importantes de entender e manejar para elevadas produtividades de milho, como a quantidade total de nutrientes absorvidos para a planta produzir e a quantidade de nutriente removidos ou exportados pelos grãos.

No Quadro 1 é possível verificar que altas produtividades requerem fornecimento (solo + fertilização) adequado de nutrientes baseado na expectativa de rendimento que se está buscando.

A BIOGENE DENTRO DESTA EVOLUÇÃO

Levando em consideração os requisitos genéticos e fisiológicos característicos de materiais altamente produtivos, os híbri-

Figura 8 - (A) Relação entre velocidade de plantio e produtividade; (B) Relação entre velocidade de plantio e população de plantas


Tiago Marangoni

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dos marca BioGene apresentam todos os atributos de materiais modernos, de alta tecnologia e excelente potencial de rendimento de grãos. A marca faz parte do grupo reconhecido como detentor da maior coleção de germoplasma do mundo, a Pioneer Hi Bred International, e os materiais são desenvolvidos localmente, testando sua adaptação aos mais variados ambientes de produção do Brasil. O programa de desenvolvimento de novos materiais usa o inter-

câmbio e desenvolvimento de linhagens “elite”, desenvolvidas por pesquisadores e programas de melhoramento ao redor do mundo. Toda essa estrutura viabilizou a criação de híbridos modernos e altamente produtivos para o Sul do Brasil, como o BG7318YH e o BG7046H, ambos com excelente potencial produtivo, stay green e arquitetura de planta moderna, com ótima sanidade e qualidade de colmo. Esta realidade vem sendo per-

cebida por um número cada vez maior de agricultores. Produtores que aplicam as melhores práticas de manejo, tanto as citadas neste artigo como outras, em lavouras com híbridos de alta qualidade genética, percebem maiores produtividades na colheita (veja o box na página 9). C Robson Fernando de Paula, BioGene Brasil e Paraguai Douglas Jandrey, BioGene RS/SC

Encarte Técnico: Milho • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 191 • Abril 2015 • Capa - Tiago Marangoni Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075

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