Grandes Culturas - Cultivar 193

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Cultivar

Cultivar Grandes Culturas • Ano XVI • Nº 193 • Junho 2015 • ISSN - 1516-358X

Destaques

Nossa capa

Risco ao armazenar - 22 Saiba como manter sementes de soja livres de pragas durante o armazenamento de grãos

Marcelo Madalosso

Índice

Defesa ativa - 18

Como o fosfito pode auxiliar no equilíbrio nutricional e ajudar a cultura da soja a se defender de doenças como o míldio

Diretas

06

Manejo da ferrugem em trigo

10

Plantas daninhas em trigo

14

Controle do míldio em soja

18

Capa - Pragas em armazenamento de soja

22

Brusone em arroz

26

Informe - Ourofino

28

Podridões em milho

30

Mancha-alvo em algodão

32

Empresas - Dow AgroSciences

34

Coluna ANPII

36

Coluna Agronegócios

37

Mercado Agrícola

38

Alvo definido - 32

Conheça medidas que podem ser adotadas para manejar adequadamente a mancha-alvo em algodoeiro

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

COMERCIAL

CIRCULAÇÃO

• Editor

• Coordenação

• Coordenação

Gilvan Dutra Quevedo

• Redação

Rocheli Wachholz Juliana Luz

Charles Ricardo Echer

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

Rithieli Barcelos

Simone Lopes

• Assinaturas

Natália Rodrigues Clarissa Cardoso Aline Borges Furtado

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

• Expedição

Edson Krause

• Revisão

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.




DIRETAS Nematoides

Inseticida

A FMC Agricultural Solutions apresentou na AgroBrasília 2015 tecnologias desenvolvidas para a cultura da soja, com destaque para o inseticida Rugby 200 CS, solução contra nematoides, aplicado com o sistema PulverEasy, conforme explica o gerente comercial da FMC, Ricardo Canedo. “Os nematoides são pragas microscópicas que podem causar perdas de até 70% do cultivo. Por isso, recomendamos uma solução combinada, entre o produto Rugby 200 CS, altamente eficaz, e o sistema de aplicação, o PulverEasy, um aplicador especialmente desenvolvido para trazer precisão e uso em larga escala no campo”, destaca.

A Dow AgroSciences lançou em maio o inseticida Exalt para controle do complexo de lagartas em soja. Segundo o presidente da empresa, Welles Pascoal, o produto é a grande aposta da Companhia para a cultura. “Com Exalt vamos crescer 50% nas vendas de inseticidas para o controle de lagartas”, projeta. Com a presença de clientes e representantes do setor agrícola, o evento de lançamento teve como inspiração temática uma partida de sinuca onde Exalt eliminaria o complexo de lagartas na soja com uma única tacada.

Welles Pascoal

Desafio

André Angonese

Identificar e entender o comportamento das principais espécies de lagartas que vêm devastando as lavouras do País é o objetivo e o desafio do Programa Bayer Contra Lagartas. “Lagartas são pragas que ocorrem nos cultivos em toda safra e a cada ano podem ser uma surpresa, atacando com mais ou menos pressão. Outro ponto importante reside no fato de que até pouco tempo as lagartas tinham hábitos alimentares que indicavam infestações exclusivas de cada cultura. Atualmente, indícios mostram que estes insetos se adaptaram e hoje são comuns nas culturas anuais, a exemplo das lagartas do cartucho, Helicoverpa armigera, Heliotis e falsa medideira”, relata o agrônomo de Desenvolvimento de Mercado da Bayer CropScience, André Angonese.

Divisão Bio

A Ihara apresentou na AgroBrasília a IharaBio, divisão responsável por todo o portfólio biológico como Gemstar, Agree, Sonata e Costar. “São soluções que vêm favorecer o manejo de controle fitossanitário, trazendo mais eficiência e segurança ao meio ambiente”, explica Edson Miranda, consultor de Desenvolvimento de Mercado da marca. A empresa também mostrou o inseticida Incrível, desenvolvido para o controle de percevejos na cultura da soja.

In Campo

A Basf completou a segunda edição do evento In Campo com a participação de 19 universidades dos cursos de Agronomia dos estados de Goiás, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. A iniciativa tem por objetivo apresentar as tecnologias da empresa, disponíveis no mercado, além de palestras direcionadas à carreira no agronegócio. Segundo a gerente de Recursos Humanos da Basf para América Latina, Gabriela Camargo, esse tipo de ação demonstra o compromisso da companhia com pessoas e possibilita apresentar às novas gerações de profissionais as oportunidades oferecidas por uma multinacional no mercado agrícola.

Ferrugem

Gabriela Camargo

Pré-lançamento

A Brasmax apresentou em primeira mão na AgroBrasília a cultivar Power Ipro, pré-lançamento que chegará aos multiplicadores na safra 2015/2016, com foco nos campos do Cerrado. “A Brasmax Power Ipro é do grupo de maturidade 7.3, possui arquitetura de planta semelhante à Brasmax Desafio RR, alto potencial produtivo e o diferencial de possuir tecnologia Intacta RR2 PRO. Em 65% dos ensaios realizados, obteve produtividade superior à Brasmax Desafio RR, o que nos deixa muito otimistas”, relatou o coordenador de Desenvolvimento para a Região do Cerrado, Bruno Rafael Rocha Parreira.

06 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

A Syngenta destacou durante a AgroBrasília o fungicida Elatus, tecnologia utilizada para o combate da ferrugem asiática da soja. O público que visitou o estande da empresa contou com a consultoria de técnicos e outros profissionais que estiveram à disposição para tirar dúvidas e prestar informações sobre produtos e serviços da companhia. O visitante também pode conferir o portfólio de sementes e as soluções integradas para a cultura da soja. Nas áreas demonstrativas, a Syngenta apresentou as principais variedades de sementes da cultura da soja e seu portfólio de proteção de cultivos. Outro destaque foi a volta do Avicta Completo, tecnologia para tratamento de sementes que reúne nematicida, inseticida e fungicida.


Aquisição

A FMC Corporation anunciou a conclusão do acordo para a aquisição da Cheminova A/S, multinacional dinamarquesa de defensivos agrícolas e subsidiária da Auriga Industries A/S. No ano passado, as companhias firmaram acordo definitivo de compra, tendo satisfeito todas as condições e aprovações regulatórias necessárias. “A compra da Cheminova está totalmente alinhada com nossa estratégia corporativa de focar o portfólio da FMC nos mercados de agricultura, saúde e nutrição", disse o presidente, CEO e chairman da FMC, Pierre Brondeau.

Parcelas

A Morgan Sementes e Biotecnologia, marca comercial da Dow AgroSciences, participou da AgroBrasília, com a apresentação de parcelas com resultados de produtos da marca já reconhecidos pelos agricultores da região. Todos os materiais expostos contam com a tecnologia Powercore, que age por meio de cinco genes estaqueados, nas lavouras de milho.

Pierre Brondeau

Vice-presidente

Jair A. Swarowsky

A DuPont anunciou que Jair A. Swarowsky será o novo vice-presidente da Dupont Pioneer Brasil, função até então exercida por Roberto de Rissi. Swarowsky retorna ao país depois de liderar as operações da Pioneer na América Latina Norte e de conduzir projetos especiais para toda a região. “A DuPont está focada em usar a sua ciência para o desenvolvimento de inovações que atendam demandas importantes do mercado agrícola mundial, melhorando significativamente a produtividade e qualidade dos alimentos”, conclui Swarowsky.

Proteção

A Monsanto destacou na AgroBrasília a tecnologia Intacta RR2 PRO destinada a proteger lavouras contra lagartas falsa-medideira, das maçãs, elasmo e as do gênero Helicoverpa, na cultura da soja, além da broca das axilas, também conhecida como broca dos ponteiros. Outro diferencial é a flexibilidade no manejo de plantas daninhas devido à tolerância ao herbicida glifosato.

Laboratório

A Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (Famv/UPF) inaugurou em maio as novas instalações do Laboratório de Nematologia. Criado em 2012 em parceria com a empresa, o laboratório atende produtores, empresas e cooperativas com relação à detecção de nematoides em solo e raízes de diversas culturas. De acordo com a responsável pelo laboratório, Carolina Deuner, somente em 2015 mais de 500 amostras já foram processadas. “Devido à demanda por análises, o laboratório precisou ser ampliado”, pontua.

Prêmio Internacional

André Schwanck

Soluções

A Basf destacou durante a AgroBrasília o papel do fungicida Orkestra na busca pelo aumento da produtividade na cultura da soja. O produto tem em sua composição benefícios AgCelence, marca mundial da multinacional alemã para defensivos, que contém em sua formulação a molécula F500. Durante o evento, o tratamento industrial de sementes também ganhou destaque com o Seed Solutions, um conjunto de serviços customizados que incluem máquinas de tratamento de sementes, polímeros, pós-secantes, inoculantes longa vida (pré-inoculação) e produtos AgCelence.

O aluno de doutorado André Schwanck (Université de Toulouse, França) é o primeiro brasileiro nomeado ao Melhus Graduate Student Symposium Award, prêmio da Sociedade Americana de Fitopatologia (APS) para alunos de pós-graduação. A apresentação de estudo, envolvendo abordagem epidemiológica e estatística para a predição de resistência à doença, ocorrerá em agosto, na Califórnia, durante o encontro anual da APS.

www.revistacultivar.com.br • Junho 2015

07


Marketing

Pragas

Como parte de sua estratégia para alavancar o crescimento no Brasil, a Dow AgroSciences renova seu corpo diretivo. Christian Pereira assume a diretoria de Marketing para Proteção de Cultivos, somando à função sólida experiência em cargos de liderança nas áreas de Marketing, Trade Marketing e Vendas acumulada em grandes empresas de bens de consumo e varejo.

O controle de pragas em soja foi destaque da Dow AgroSciences na AgroBrasília. O novo inseticida Exalt, que faz parte da plataforma SoySolution, apresenta seletividade a inimigos naturais e atua no combate ao complexo de lagartas e de outros insetos na cultura da soja. A tecnologia PowerCore, primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil contra as principais pragas e plantas daninhas desta cultura, também foi um dos destaques no estande da Dow AgroSciences.

Christian Pereira

Comitê Soja Brasil

O diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Nery Ribas, foi eleito presidente do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). O comitê tem como objetivo mostrar o potencial da soja em termos de produtividade. Ribas conta que a próxima diretoria deve pensar em ações estratégicas para a soja no Brasil. “Precisaremos do apoio das entidades de pesquisa e de classe para atingirmos o objetivo, que é a máxima produtividade da soja com contenção de custos e respeito ao meio ambiente”, frisou. A nova diretoria do Cesb tem gestão de dois anos.

Nery Ribas

Novos rumos

Fabio Torretta é o novo CEO para América Latina da Arysta LifeScience, empresa de agroquímicos da Platform Specialty Products. Torretta é formado pela USP de Piracicaba e pós-graduado em Marketing pela FGV. Com experiência de três décadas em agronegócios, já exerceu cargos em várias organizações de fertilizantes, nutrição animal e proteção de cultivos. Nos últimos quatro anos desempenhou a função de CEO da Arysta na região Sul do continente africano.

Portfólio

Para a 8ª edição da AgroBrasília a Bayer CropScience levou suas novas variedades de sementes de soja, além dos resultados de projetos como o De Primeira, Sem Dúvida e o Bayer Contra Lagartas. Outro destaque foi o lançamento do Programa de Pontos, plataforma de fidelização que recebeu novas inscrições durante o evento.

Cana e café

Fabio Torretta

Participação

A Agrichem do Brasil, empresa especializada em fertilizantes líquidos de alta concentração, participou da AgroBrasília pela primeira vez. Apresentou sua linha de produtos para soja e milho com o objetivo de oferecer ao produtor ferramentas para tornar sua lavoura mais rentável.

08 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

A Ourofino Agrociência apresentou durante a Agrishow o MegaBR, lançamento para as culturas de cana-de-açúcar e café. Trata-se de um herbicida seletivo sistêmico à base de ametrina, recomendado para o controle das folhas larga e estreita. Outro destaque da marca foi o Singular BR, um inseticida composto pelo ingrediente ativo fipronil, com formulação líquida.

Milho

Durante a AgroBrasília os visitantes puderam conhecer o portfólio da Nidera Sementes, como os lançamentos dos materiais genéticos NS 6906 Ipro, NS 7709 Ipro e NS 7447 Ipro. A empresa oferece tecnologias na cultura do milho com resistência e tolerância a pragas e ao herbicida glifosato.



TRIGO

Fotos UFSM

Seco ou molhado

Conhecer o comportamento de aplicações de fungicidas sob diferentes regimes hídricos e incidência de chuvas é importante para que se possa estabelecer o manejo sustentável da ferrugem do trigo em busca de elevadas produtividades

O

cultivo de trigo no Sul do país é o mais antigo, justamente pelo clima mais próximo do temperado e temperaturas amenas. A maior produção de trigo localiza-se nos estados da região Sul, mas São Paulo e Minas Gerais são também expressivos na produção do grão. Nos últimos anos, o plantio da cultura no Centro-Oeste vem sendo motivado pelos bons resultados alcançados em produtividade, pelos preços de mercado do produto, e também por constituir uma boa alternativa de aproveitamento do solo no período de inverno. Segundo a Conab (2013), o plantio de trigo sequeiro nas regiões central e sul de Minas Gerais respondeu, na safra 2011/2012, por mais de 70% dos cultivos implantados no estado. O trigo pode sofrer com possíveis impactos negativos decorrentes de variações climáticas, como, por exemplo, seca nas regiões do Centro-Oeste e chuvas em excesso nas lavouras do Sul do país, tornando necessário o ajuste de seu sistema de produção. Diante deste cenário, é importante a condução de estudos que avaliem a interação entre produtos agrícolas aplicados em parte aérea e planta. Sabe-se que plantas submetidas a limitações hídricas

apresentam algumas características morfológicas adaptativas, como a redução da relação entre superfície e volume, cutícula e paredes celulares espessadas; presença de ceras; estômatos protegidos; calotas de esclerênquima; tecidos armazenadores de água; parênquima paliçádico bem desenvolvido e idioblastos com compostos fenólicos e cristais (Burrows, 2001; Fahmy, 1997; Fahn; Cutler, 1992; Rotondi et al, 2003). O desenvolvimento de mecanismos morfofisiológicos adaptativos em plantas sob déficit hídrico faz com que reduzam as perdas de água para atmosfera, evitando a desidratação. Isso pode afetar também a absorção de produtos agrícolas, como os fungicidas. Nesse sentido, foi conduzido um ensaio na estação experimental do Instituto Phytus, em Itaara, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de verificar o comportamento de fungicidas em plantas de trigo cultivar Quartzo, submetidas a diferentes regimes hídricos e simulações de chuva após a aplicação. O ensaio foi conduzido em casa de vegetação, composto por dois regimes hídricos: com déficit hídrico (50%-60% da capacidade de campo) e sem déficit hídrico (90%-100% da

10 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

capacidade de campo), além de cinco intervalos de tempo entre a aplicação de fungicidas e a simulação de chuva (0 minuto, 30 minutos, 60 minutos, 120 minutos e 240 minutos), uma testemunha sem chuva e outra sem aplicação de fungicida. A deficiência hídrica foi estabelecida durante um período de 25 dias, entre os estádios de início da emissão da folha bandeira e espigamento, com controle da irrigação realizado pelo método de pesagem de vasos. Após a restrição hídrica foi aplicado o fungicida composto pela mistura dos ingredientes ativos trifloxistrobina + protioconazol (60g i.a./ha + 70g i.a./ha) com adição de Aureo na dose de 0,375L.p.c./ha. Após a aplicação do fungicida foi simulada chuva como descrito. As plantas de trigo foram inoculadas com uredósporos de Puccinia triticina 12 horas após aplicação do fungicida. Primeiramente foi avaliado o Número de Dias para Aparecimento das Primeiras Pústulas (NDAPP) (residual do tratamento). Para isso, iniciaram-se a partir do segundo dia após a inoculação, avaliações diárias para visualização dos primeiros sintomas com auxílio de lupa de 20x. Para a avaliação de severidade de P. triticina foi considerada apenas a folha bandeira de cada planta. A severidade da doença foi avaliada aos 25 Dias Após a Aplicação (DAA), quando todas as folhas bandeira de trigo apresentavam sintomas da doença. Para a determinação da severidade foram atribuídas notas visuais do percentual de área foliar com


sintomas da doença em relação à área sadia da folha. A análise dos dados revelou interação significativa entre os fatores analisados para as variáveis Número de Dias para Aparecimento da Primeira Pústula (NDAPP) e severidade de Puccinia triticina na folha bandeira (Figuras 1 e 2). O NDAPP demonstra indiretamente a velocidade de absorção do fungicida nas aplicações em diferentes intervalos de simulações de chuva, exercendo influência na interação fungicida/planta em aplicações de parte aérea. Quanto menor é o intervalo de tempo entre a aplicação do fungicida e as simulações de chuva, menor é o tempo para o aparecimento da primeira pústula (Figura 1). Assim, infere-se que com chuva ocorre lavagem e todo o fungicida ainda não absorvido pelo tecido foliar é removido. Nota-se em plantas de trigo sob condição favorável (sem déficit hídrico) que a simulação de chuva interferiu na retenção de produto na folha mesmo 240 minutos (quatro horas) após a aplicação. Como consequência, pode-se dizer que o tratamento apresentou um dia a menos de residual químico para controle da doença que o tratamento fungicida sem posterior simulação de chuva. Debortoli (2008), em estudo com o objetivo de avaliar o efeito da

Final do ciclo da cultura

chuva sobre o residual de azoxistrobina + ciproconazol em sete cultivares de soja, observou que a simulação de chuva 240 minutos após a aplicação influenciou na taxa de absorção do fungicida. Na chuva simulada zero minuto após a aplicação do fungicida, independentemente do regime hídrico imposto às plantas, o fungicida foi rapidamente absorvido pelas folhas de trigo. O atraso do aparecimento da primeira pústula de Puccinia triticina nas folhas bandeira em relação à testemunha permitiu essa conclusão.

Verifica-se um retardamento do aparecimento da primeira pústula e redução significativa na severidade de P. triticina em plantas sob déficit hídrico, quando comparado às plantas em condição favorável (sem déficit hídrico) (Figuras 1 e 2). Pode-se observar ainda que as testemunhas das plantas sob déficit hídrico apresentaram a primeira pústula dois dias após em relação às plantas em condições favoráveis. Taiz e Zeiger (2013) sugerem que plantas em deficiência hídrica respondem contra a desidratação, através do espessamento


Figura 1 - Número de dias para o aparecimento da primeira pústula de Puccinia triticina na interação entre regimes hídricos e intervalos de simulação de chuva após a aplicação. Itaara (RS), 2013

Figura 2 – Severidade de Puccinia triticina (%) na interação entre regime hídrico e intervalos de simulação de chuva após a aplicação aos 25 DAA. Itaara (RS), 2013

*Letras minúsculas (comparação de regimes hídricos em cada combinação de intervalos de simulação de chuva); letras maiúsculas (comparação de intervalos de simulação de chuva em cada combinação de regime hídrico); médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas e maiúsculas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 1% de probabilidade.

*Letras minúsculas (comparação de regimes hídricos em cada combinação de intervalos de simulação de chuva); letras maiúsculas (comparação de intervalos de simulação de chuva em cada combinação de regime hídrico); médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas e maiúsculas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 1% de probabilidade.

e ao fechamento dos estômatos (Stuhfauth et al, 1990; Ohashi et al, 2006; Lei et al, 2006) podem explicar a redução nos valores de severidade e atraso no aparecimento das primeiras pústulas. Na condição de estresse, a planta reduz a demanda por ATP como consequência da diminuição do crescimento e fotossíntese (Flexas; Medrano, 2002) e, com isso, reduz a degradação do fungicida em plantas nessa condição. A aplicação de fungicida em plantas de trigo submetidas ao déficit hídrico resultou em incremento no residual de controle da doença, assim como menores valores de severidade. Independentemente do regime hídrico, 240 minutos (quatro horas) é o intervalo mínimo de tempo entre a aplicação do fungicida e a ocorrência de chuva para um controle eficiente da doença. Com isso, torna-se importante o conhecimento do

comportamento das aplicações fungicidas em trigo sob diferentes regimes hídricos e simulações de chuva, com o objetivo de estabelecer um manejo sustentável da doença em busca C de elevadas produtividades. Marlon Tagliapietra Stefanello, Leandro Nascimento Marques, Marcos Belinazzo Tomazetti, Renan Viero Dal Sotto e Ricardo Silveiro Balardin, Univ. Federal de Santa Maria

Fotos UFSM

da cutícula para diminuir a transpiração, bem como a penetração de patógenos. Segundo Paiva e Oliveira (2006) várias estratégias são desenvolvidas pelas plantas em déficit hídrico para reduzir a perda de água e otimizar o uso da pequena quantidade que ainda possa ser encontrada no solo. A aplicação de fungicida sem posterior simulação de chuva em plantas sob déficit hídrico representou cinco dias de atraso no aparecimento da primeira pústula e 3,2% de redução na severidade de P. triticina, em relação às plantas sem déficit hídrico. Os dados sugerem que a concentração de ativo fungicida dentro da célula é maior em plantas sob déficit hídrico devido à redução do potencial hídrico das folhas e da turgescência. A maior quantidade de ativo fungicida em células e a menor degradação do fungicida em plantas sob déficit hídrico, devido à menor atividade fisiológica, à queda na condutância estomática

Diferença na estatura das planta, esquerda com déficit e direita sem déficit hídrico

12 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

Simulação de chuva posterior às aplicações



TRIGO

Disputa intensa Plantas daninhas competem de modo implacável com a cultura do trigo, sendo responsáveis por perdas graves em produtividade e interferência negativa na qualidade dos grãos. Prevenção, manejo cultural e controle químico adotados preferencialmente de modo integrado são o caminho para enfrentar esse problema

Leandro Vargas

cultura do trigo pode reduzir sua produtividade de grãos de 60% (Agostinetto et al, 2008) a 83% (Holman et al, 2004).

PRINCIPAIS PLANTAS DANINHAS

N

ão menos importantes que patógenos e pragas, plantas daninhas se destacam na redução da produtividade e da qualidade de grãos do trigo, pela competição imposta por recursos do meio como água, luz, nutrientes e espaço. Dentre as características de plantas daninhas que podem determinar sua maior competitividade sobre trigo, se sobressaem seu porte elevado e sua arquitetura foliar paralela ao solo, a maior velocidade de germinação e estabelecimento da plântula, a maior extensão do sistema radical, a menor suscetibilidade das espécies daninhas às intempéries climáticas e a maior capacidade de produção e liberação de substâncias químicas com propriedades alopáticas. Estudos têm demonstrado que em densidades iguais de planta daninha e de trigo por área, a cultura tem se mostrado mais competitiva. Entretanto, os resultados

da relação planta daninha-trigo dependem, também, de outros fatores específicos, que incluem variações meteorológicas, composição e população da flora presente e práticas de manejo utilizadas pelo produtor. Diferentes genótipos de trigo podem apresentar diversas capacidades competitivas com plantas daninhas. Dentre as características morfológicas da cultura, a estatura de plantas e a matéria seca da parte aérea frequentemente são utilizadas para demonstrar a habilidade competitiva do trigo. Outras características morfológicas dessa cultura também podem definir a capacidade de supressão das plantas daninhas como a emergência precoce, o alto vigor de plântulas, o estabelecimento e crescimento inicial acelerado, proporcionando, dessa forma, uma rápida cobertura do solo. A competição exercida pelo azevém durante todo o ciclo de desenvolvimento da

14 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

Nas regiões brasileiras onde o trigo é cultivado, as plantas daninhas causam perdas econômicas na produtividade de grãos. Em grande parte das lavouras da região Sul, o azevém e a aveia-preta são as espécies que causam os maiores prejuízos/ano trigo. Já entre as dicotiledôneas, as de maior ocorrência são Raphanus raphanistrum (nabiça), Raphanus sativus (nabo forrageiro), Vicia spp. (ervilhaca), Polygonum convolvulus (cipó-de-veado ou erva-de-bicho), Rumex spp. (língua-de-vaca), Echium plantagineum (flor roxa), Bowlesia incana (erva salsa), Sonchus spp. (serralha), Silene gallica (silene), Spergula arvensis (gorga, espérgula) e Stellaria media (esparguta). Em anos em que o inverno não é rigoroso ocorrem também outras plantas daninhas que são mais comuns no verão, como Bidens spp. (picão preto), Ipomoea spp. (corriola) e Richardia brasiliensis (poaia branca). Mais recente é a presença de Conyza spp. (buva) em lavouras de trigo. De modo geral, azevém e aveia preta, por serem também gramíneas como o trigo, terem boa adaptação regional, apresentar demandas de crescimento semelhantes à cultura e ampla dispersão, são as plantas daninhas que têm causado as maiores perdas na produtividade. Cada planta de azevém por m2 reduz a produtividade do trigo em 1,14% (Vidal et al, 2010). Essa redução é mais severa quando o azevém presente na lavoura encontra-se em estágio mais adiantado de desenvolvimento. Deve-se considerar também que o azevém apresenta afilhamento intenso e ressemeadura natural, características importantes para áreas com integração de lavoura-pecuária; porém, em lavouras de trigo, o azevém se torna sério problema pelo fluxo de emergência desuniforme, dificultando seu controle. Em geral, as cultivares de trigo com maior estatura, folhas largas e decumbentes, afilhamento intenso e rápido crescimento apresentam maior habilidade competitiva com as plantas daninhas.


PERÍODO DE COMPETIÇÃO

infestação de plantas daninhas que sejam economicamente indesejáveis no cultivo do trigo e se baseia no conhecimento dos processos de reprodução e de disseminação dessas espécies, com o objetivo de interromper seu ciclo de vida. O monitoramento constante de plantas daninhas na propriedade, por parte do triticultor e de colaboradores, é o ponto-chave para o sucesso com a prevenção. Nesse sentido, os métodos preventivos são importantes nos programas de manejo de plantas daninhas, considerados medidas eficientes e de baixo custo. Dentre os componentes das medidas de prevenção destaca-se o uso de material genético de trigo livre de sementes de plantas daninhas. Também devem ser consideradas limpeza de máquinas, implementos e equipamentos agrícolas, calçados e vestuários dos operadores/funcionários da propriedade antes da transferência de áreas infestadas para áreas livres de plantas daninhas; limpeza e manutenção de áreas próximas das lavouras livres de plantas daninhas, como locais próximos de linhas de cercas, bordas de lavouras e beira de estradas; cuidado na movimentação e manejo de animais de pastoreio de áreas infestadas para áreas sem infestação; rotação de sistemas de cultivo e de culturas, pousio das áreas de cultivo e, no caso do controle químico, alternar os herbicidas com mecanismos de ação diferentes.

Um dos fatores determinantes para se manter altas produtividades de trigo é o manejo adequado das plantas daninhas, pois interferem no crescimento e desenvolvimento da cultura. A competição entre plantas que ocupam o mesmo nicho tem início muito cedo, e seu grau pode ser alterado em função do período em que a comunidade estiver disputando determinado recurso. Nas fases iniciais de desenvolvimento do trigo, a convivência com plantas daninhas pode ocorrer sem danos à produtividade da cultura. Essa etapa é conhecida como período anterior à interferência (PAI) (Brighenti et al, 2004). A partir do PAI é recomendado adotar ferramentas de controle para evitar prejuízos à produtividade do trigo. Agostinetto et al (2008) determinou que essa adoção deve ocorrer entre 12 e 24 dias após a emergência da cultura.

MÉTODOS DE CONTROLE

UFSM

As plantas daninhas podem ser manejadas e/ou controladas pela prevenção, manejo cultural e controle químico utilizados, preferencialmente, de maneira integrada. As informações sobre os períodos de competição de plantas daninhas no trigo podem auxiliar na decisão do momento da adoção de medidas de manejo e/ou de controle. A prevenção objetiva evitar ou reduzir a

Uma das medidas preventivas mais eficientes no controle de plantas daninhas é impedir a produção de sementes e outros órgãos de reprodução. Para as espécies anuais é essencial efetuar o controle antes do florescimento. O manejo cultural engloba qualquer procedimento ou prática agrícola que favoreça maior competitividade do trigo com as plantas daninhas, principalmente na fase inicial de seu estabelecimento. As características das culturas que conferem habilidade competitiva com plantas daninhas são na maior parte definidas geneticamente. A crescente importância das plantas daninhas resistentes a herbicidas sugere que os melhoristas de trigo considerem a ideia de selecionar cultivares com maior habilidade competitiva. Evidências indicam que genótipos modernos são menos competitivos que genótipos mais antigos (Lemerle et al, 1996). Provavelmente, a habilidade competitiva não recebeu prioridade nos programas de melhoramento genético de trigo (Bueren et al, 2002). As interações entre as características das culturas que conferem habilidade competitiva dificultam a identificação daquelas que realmente aumentam a capacidade competitiva. Esse fato dificulta o processo de seleção de cultivares com maior habilidade competitiva com as plantas daninhas, dificultando o processo de melhoramento vegetal quando se


Fotos UFSM

Na seleção de herbicidas é recomendado levar em conta o mecanismo de ação, evitando-se repetição na safra e também na entressafra ou sistema de rotação

busca aumentar a capacidade de competição das culturas (Rigoli, 2008, p. 100). No contexto dos procedimentos adotados, a rotação e a sucessão de culturas assumem papel de grande destaque, principalmente em áreas infestadas com biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas, notadamente o azevém. Para isso, podem-se utilizar culturas alternativas como canola e outras espécies não gramíneas, como as forrageiras, desde que sejam satisfeitas suas exigências culturais. No caso da rotação envolvendo canola, nabo forrageiro, ervilhacas e outras espécies não gramíneas, deve-se associar a esses cultivos, quando possível, herbicidas que proporcionem eficiente controle de plantas daninhas notadamente de azevém e de mecanismos de ação diferentes daqueles usados normalmente no trigo, promovendo, assim, a rotação de mecanismos de ação para o manejo de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas. No controle mecânico utilizam-se implementos manuais ou tracionados, para a eliminação de plantas daninhas. Contudo, seu uso é pouco viável após a implantação do trigo, devido às peculiaridades dos sistemas de semeadura, tamanho das áreas cultivadas, elevados níveis de infestação e a diversidade de plantas daninhas. Entretanto, esse método pode ser empregado, de forma isolada ou combinando com outras alternativas, em cultivos orgânicos e pequenas propriedades, onde a semeadura em linhas de cultivo mais espaçadas possibilita o uso de capinas na fase inicial do desenvolvimento da cultura. No sistema convencional de cultivo, o preparo do solo com diferentes equipamentos antes da semeadura do trigo, na entressafra ou em áreas sob pousio invernal, constitui-se em alternativa eficiente para controlar mecanicamente as plantas daninhas estabelecidas e para reduzir o banco de sementes no solo.

O controle químico tem sido o método mais utilizado contra daninhas em trigo em função de sua praticidade, eficiência e rapidez

O controle químico pelo emprego de herbicidas tem sido o método mais utilizado na lavoura de trigo em função de sua praticidade, eficiência e rapidez. Por se tratar de método que envolve produtos químicos, subentende-se como pré-condição conhecimentos técnicos sobre a ação dos herbicidas, principalmente para atender três requisitos fundamentais: alcançar máxima eficiência biológica, causar mínimo impacto no ambiente e reduzir a ocorrência de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Assim, a opção pelo método depende da participação de um técnico capacitado tanto para a recomendação como para o acompanhamento da aplicação dos produtos. Contudo, quando são aplicados corretamente, os herbicidas respondem com eficiência e segurança aos objetivos pretendidos.

RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS

Várias espécies de plantas daninhas têm sido identificadas com resistência a herbicidas comumente utilizados na cultura do trigo no mundo. O surgimento de biótipos resistentes ocorre, com maior frequência, em áreas onde há uso repetido de herbicidas de um mesmo grupo ou pertencentes a diferentes grupos, mas com o mesmo mecanismo de ação (Gressel & Segel, 1990). Os fatores mais importantes que influenciam a seleção de biótipos resistentes são a intensidade de uso, a eficiência e persistência do herbicida, a eficácia dos mecanismos de resistência, a especificidade do herbicida com respeito ao mecanismo de ação, o padrão de emergência da planta daninha e a eficiência dos métodos de controle alternativos aos métodos químicos (Rubim, 1991). O uso do glifosato para dessecação de áreas infestadas com azevém é comum no Rio Grande do Sul e vem sendo repetido há longo tempo.

16 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

Os casos mais frequentes de resistência de plantas daninhas aos herbicidas que têm surgido no Brasil são relacionados aos herbicidas inibidores das enzimas ALS e ACCase. No entanto, suspeitas de falhas no controle de azevém na dessecação para a semeadura do trigo, em algumas propriedades no Rio Grande do Sul, confirmaram a ocorrência de resistência de biótipos de azevém ao herbicida glifosato, empregado repetidamente por vários anos em algumas propriedades; sendo também detectados casos de resistência múltipla no mesmo biótipo de azevém ao glifosato e a inibidores da ACCase. No Brasil, há, ainda, casos de resistência a herbicidas de biótipos de aveia, nabo, nabiça e buva. O potencial de desenvolvimento de casos de resistência a herbicidas acentua-se com o uso prolongado de um mesmo herbicida, ou com o emprego continuado de herbicidas que apresentam o mesmo mecanismo de ação nas plantas. Assim, medidas preventivas para reduzir os riscos do desenvolvimento de resistência de plantas daninhas devem ser tomadas, como acompanhar com atenção mudanças na população de plantas daninhas na lavoura, com ênfase especial ao surgimento de manchas de infestação; praticar rotação de culturas, já que esta prática favorece a alternância de herbicidas a utilizar na lavoura; alternar sistemas de cultivo; fazer a rotação do uso de herbicidas, evitando utilizar, por mais de duas aplicações consecutivas, produtos que apresentem o mesmo mecanismo de ação; associar herbicidas com diferentes mecanismos de ação ou fazer aplicações sequenciais; manejar de forma integrada o controle de plantas daninhas mesmo antes de haver a constatação de escapes no controle químico de determinada espécie; uma vez constatado algum problema de resistência, realizar a semeadura, a aplicação dos tratos culturais e


a colheita da área-problema por último, praticando completa limpeza dos equipamentos/ ferramentas utilizados para evitar a disseminação de sementes dessas plantas para outras áreas da propriedade.

MANEJO NO SISTEMA

O número de moléculas herbicidas registradas para a operação de manejo (dessecação) antecedendo a semeadura de trigo é pouco expressiva. Os herbicidas registrados e disponíveis para uso são glifosato, paraquat, paraquat + diuron, 2,4-D e metsulfuron-metil. Enquanto os primeiros são herbicidas de amplo espectro de controle, 2,4-D e metsulfuron-metil controlam essencialmente plantas dicotiledôneas, constituindo-se em alternativa para o controle de Sida spp. (guanxuma) antes da semeadura de trigo. A ocorrência de biótipos de buva ou azevém resistentes ao glifosato e de nabo resistente a herbicidas inibidores da enzima ALS é problema para o sistema atual de produção de trigo. As sementes de buva e azevém podem germinar na entressafra após a colheita das culturas de verão (soja-milho) e se desenvolver até antes da semeadura do trigo. Também as sementes de soja resistente ao herbicida glifosato, resultante de perdas de colheita, originam plantas que se constituem em planta daninha importante no sistema e que devem ser controladas antes da semeadura

do trigo. Nessa condição, as plantas de buva e soja ainda são de pequeno porte, o que facilita muito seu controle. O controle eficiente pode ser obtido antes da semeadura do trigo com glifosato associado com o metsulfuron-metil ou com o 2,4-D. Após a emergência do trigo os herbicidas iodosulfuron-metil e metsulfuron-metil são eficientes no controle de biótipos de buva resistente a glifosato e plantas voluntárias de soja. Já biótipos de azevém resistente a glifosato, que também podem se constituir em problema antes da semeadura do trigo, são controlados com haloxyfop-metil, clethodim, fenoxaprop, fluazifop-butil e sethoxydim. No caso de haloxyfop-metil, podem apresentar efeito residual no solo. A aplicação deve ser realizada com antecedência de 15 a 30 dias antes da semeadura do trigo. No caso de “escapes”, herbicidas à base de paraquat podem ser aplicados no controle de azevém antes da semeadura do trigo (um a dois dias). É importante destacar também a ocorrência de biótipo de Raphanus sativus resistente a metsulfuron-metil e outros herbicidas inibidores da enzima ALS. Nesse caso, a alternativa consiste na aplicação de bentazon e de herbicidas mimetizadores de auxinas, como 2,4-D. Em pós-emergência do trigo os herbicidas registrados para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas são 2,4-D, bentazon, metsulfuron-metil e iodosulfuron-metil; enquanto

para o controle de aveia preta e azevém estão registrados pendimetalin, diclofop-metil, clodinafop-propargil e o iodosulfuron-metil. Pendimetalin é aplicado em pré-emergência do trigo e a seletividade é atribuída à deposição do produto na superfície do solo, devendo o trigo ser semeado na profundidade de 4cm a 5cm. Há risco de injúria desse herbicida nas plantas de trigo quando ocorrem chuvas intensas após a aplicação, principalmente em solos arenosos e com menos de 2% de matéria orgânica. Já clodinafop-propargil e iodosulfuron-metil são aplicados em pós-emergência, destacando-se clodinafop-propargil no controle de azevém em comparação com as aveias e a eficácia de controle desses herbicidas é maior quando aplicado no estádio de até quatro folhas do azevém e aveias. É importante destacar que na seleção do(s) herbicida(s) deve-se levar em conta o mecanismo de ação, evitando-se assim repetir na mesma safra (trigo) e também na entressafra ou sistema de rotação (trigo/soja, plantas de cobertura do solo/milho) o uso de produtos com o mesmo mecanismo, especialmente os C herbicidas inibidores da enzima ALS. Fernando Piccinini, Otávio dos Santos Escobar, Thomas Newton Martin e Sérgio Luiz de Oliveira Machado, UFSM


SOJA

Defesa ativa

Sandra Dalla Pasqua

O míldio tem apresentado incidência crescente nas últimas safras de soja no Brasil, com perdas acentuadas de produção. Entre os fatores que causam predisposição à doença está o desequilíbrio nutricional, que afeta a capacidade das plantas se defenderem. Por isso a oferta de fosfitos tem importante papel na ativação dos mecanismos de defesa e consequentemente no manejo deste patógeno

A

soja é a cultura anual que apresentou maior crescimento nos últimos anos, tanto em produtividade, quanto em hectares semeados, sendo que em Santa Catarina cresceu 5,9% na área semeada e 4,2% na produção. Porém, existem muitos entraves que limitam a exploração do máximo potencial produtivo da cultivar. Dentre os vários limitantes, encontram-se as doenças que causam muitas perdas, como é o caso da ferrugem, que pode chegar a prejuízos de até 100%. O míldio é uma doença causada pelo fungo Peronospora manshurica (grupo dos Oomicetos) e apesar de ser considerada secundária, vem ocorrendo com maior frequência nas últimas safras, com perdas de produção que podem chegar a 14%. Os sintomas iniciais do míldio são manchas verde-claro, que evoluem para a cor amarela na página superior da

folha, e mais tarde para tecido necrosado. No verso da folha as manchas são amareladas e surgem estruturas de frutificação do fungo, de aspecto cotonoso e de coloração levemente rosada a cinza. Os fungicidas que são normalmente usados para o controle de outras doenças de final de ciclo da cultura da soja não possuem efeito no controle de míldio, sendo necessário usar meios alternativos ou novas estratégias para o controle e manejo desta doença. Dentre as principais causas para ocorrência da doença e predisposição das plantas a patógenos está o desequilíbrio nutricional, que pode ser considerado um dos principais fatores responsáveis pelo desencadeamento dos mecanismos de defesa. Os fosfitos são uma importante estratégia de manejo, pois possuem capacidade de ativar os mecanismos de defesa das plantas e reduzir a severidade

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das doenças. A função mais aceita atualmente do fosfito é a de mostrar-se um excelente indutor de mecanismos de defesa das plantas, aumentando a quantidade de fitoalexinas e proteínas relacionadas com patogênese, que evitam a infecção de patógenos como as bactérias e os fungos. Os fosfitos podem atuar de forma direta, por ter ação fungicida sobre alguns fungos invasores no interior do tecido da planta, causando a morte ou inibição do crescimento do fungo, mostrando-se efetivos no controle de doenças do grupo dos Oomicetos, como o míldio, ou atuar de forma indireta através da ativação dos sistemas de defesa das plantas. Os fosfitos são os únicos compostos químicos antifúngicos sistêmicos de rápida absorção que, além de mobilizarem-se pelo xilema, também o fazem através do floema.


Figura 1 - Chuva diária (mm), temperatura média diária (°C), Umidade relativa do Figura 2 - Severidade do míldio da soja na cultivar BMX Força, em Campos Novos-SC, ar (%), registrada na safra 2012/2013, correspondente ao período de semeadura safra 2012/2013. (T1) Fungicida Azoxistrobina + Ciproconazol; (T2) Fosfito de até a colheita das plantas de soja, em Campos Novos (SC) Manganês + Fosfito de Cálcio com Boro + Fosfito de Cobre; (T3) Fungicida Azoxistrobina + Ciproconazol + Fosfito de Manganês + Fosfito de Cálcio com Boro + Fosfito de Cobre (Dose Recomendada); (T4) Fungicida + Fosfitos em Doses Duplicadas em relação ao T3. Todos os tratamentos receberam 0,5 % de óleo vegetal

Fonte: Epagri/Ciram, 2013

chuvas (Figura 1). Mesmo com esta irregularidade de chuvas, observou-se uma variação de severidade da doença entre 4,73% e 14,03% entre o estádio fenológico V7 a R5 (Figura 2). Os primeiros sintomas do míldio da soja foram observados no estádio V7 e a severidade máxima ocorreu no estádio R5 no tratamento com apenas fungicida. Na avaliação realizada no estádio R1 e estádio R5 os tratamentos que incluíram o uso de fosfito (T1, T2 e T3), tanto isolado

quanto associado ao fungicida, apresentaram menor severidade de míldio em relação ao tratamento com apenas fungicida (T4) (Figura 2), comprovando a eficiência do produto no controle da severidade do míldio. Além das avaliações de severidade do míldio da soja, também foi avaliada a produtividade da cultura (Figura 3). Os dados obtidos demonstraram que a aplicação dos fosfitos em conjunto com fungicida proporcionou maior rendimento, justificando

Dirceu Gassen

Pesquisas realizadas por Silva (2011) na cultura do milho concluíram que a aplicação foliar de fosfito reduziu a severidade em ordem decrescente das doenças: mancha de cercospora, mancha branca, helmintosporiose comum e ferrugens. Além disso, o fosfito de potássio proporcionou incremento de produtividade no milho variando entre 6,5% e 7% em relação à testemunha, devido ao controle das doenças foliares. Já na cultura da soja, o fosfito de potássio reduziu a severidade da ferrugem asiática quando foi feita uma única aplicação, aplicado duas vezes e após a aplicação dos fungicidas (piraclostrobina + epoxiconazole, tiofanato metílico + flutriafol e tebuconazole), mostrando que o fosfito teve efeito sobre severidade da doença, porém, não houve diferença em produtividade (Neves, 2006). Com o objetivo de verificar o efeito do uso de fosfitos associado ou não ao fungicida sobre o míldio na cultura da soja em Campos Novos, a Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) conduziu experimento a campo na safra 2012/2013 onde se buscou avaliar o efeito deste produto no controle da severidade da doença e na produtividade de grãos de soja. Os dados diários de precipitação, temperatura e umidade relativa para o local de cultivo foram obtidos através da Epagri/ Ciram - Campos Novos, onde até os 40 dias após semeadura as condições climáticas foram favoráveis para o desenvolvimento do míldio, sendo registrados neste período 316,5mm de precipitação pluviométrica. De 40 a 60 dias após semeadura não ocorreram

Sintomas de míldio (Peronospora manshurica) nas folhas da cultura da soja

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Erivelton Zanon

Sandra, Zanon e Tamara avaliaram uso do fosfito isolado e também associado a fungicida

Os sintomas iniciais do míldio são manchas verde-claro, que evoluem para a cor amarela

o uso desta tecnologia no município de Campos Novos. O tratamento fungicida + fosfito dose recomendada (T3) aumentou 264,4kg/ ha e o tratamento fungicida + fosfitos dose duplicada (T4) teve um aumento de 350kg/ha em relação ao tratamento fungicida (T1), e os dois foram superiores ao tratamento fungicida (T1). O tratamento fosfitos (T2) foi significativamente inferior

ao tratamento fungicida em 559,4kg/ha. O uso de fosfitos isolado, embora tenha efeitos sobre a severidade do míldio, foi inferior em produtividade quando comparado ao tratamento só fungicida. Isso provavelmente ocorreu devido à incapacidade dos fosfitos controlarem outras doenças. A massa de grãos é um importante componente de rendimento para a cultura, sendo que está relacionada à produtividade final da cultura. Assim como na produtividade, os tratamentos com uso de fosfito consorciado ao fungicida (T3 e T4) foram os que alcançaram a maior massa de 100 grãos (Figura 4). No tratamento Fungicida (T1), que normalmente é usado pelos produtores da região de Campos Novos, Santa Catarina, a produtividade foi de 2.864kg/ha, ficando abaixo da média da região que é de

Figura 3 - Produtividade da soja, cultivar BMX Força, em Campos Novos (SC), safra 2012/2013. (T1) Fungicida Azoxistrobina + Ciproconazol; (T2) Fosfito de Manganês + Fosfito de Cálcio com Boro + Fosfito de Cobre; (T3) Fungicida Azoxistrobina + Ciproconazol + Fosfito de Manganês + Fosfito de Cálcio com Boro + Fosfito de Cobre (dose recomendada);(T4) Fungicida + Fosfitos em doses duplicadas em relação ao T3. Todos os tratamentos receberam 0,5 % de óleo vegetal. Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (p>0,05)

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3.300kg/ha. Isso provavelmente ocorreu devido à falta de chuvas entre o período de 40 dias a 60 dias após a semeadura. O uso dos fosfitos, de modo isolado e associado ao fungicida, proporcionou controle sobre a severidade do míldio da soja. A aplicação dos fosfitos associados ao fungicida proporcionou maior rendimento de grãos, quando comparado à testemunha só fungicida. Os resultados obtidos recomendam o uso de fosfitos no controle do míldio da soja, tendo em mente que deve fazer parte de um programa de manejo integrado associando-se C os fosfitos com fungicida. Sandra Dalla Pasqua, UTFPR Erivelton Zanon e Tamara Pereira Felicio, Unoesc

Figura 4 - Massa de 100 grãos de soja, cultivar BMX Força, em Campos Novos (SC), safra 2012/2013. (T1) Fungicida Azoxistrobina + Ciproconazol; (T2) Fosfito de Manganês + Fosfito de Cálcio com Boro + Fosfito de Cobre; (T3) Fungicida Azoxistrobina + Ciproconazol + Fosfito de Manganês + Fosfito de Cálcio com Boro + Fosfito de Cobre (Dose Recomendada); (T4) Fungicida + Fosfitos em Doses Duplicadas em relação ao T3. Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (p>0,05)



CAPA

Risco ao armazenar

R.R. Rufino

A manutenção da qualidade das sementes de soja durante o período de armazenamento exige, além da observação de parâmetros fisiológicos e sanitários, o correto manejo de pragas como Lasioderma serricorne, Oryzaephilus surinamensis, Cryptolestes ferrugineu e Ephestia kuehniella, responsáveis por deterioração dos grãos. A realização de expurgo com gás biocida fosfina é uma das alternativas para prevenir e tratar a incidência destes insetos

A

evolução das cultivares de soja e o manejo populacional da lavoura para produção de grãos têm demandado a oferta de sementes de altas qualidades física, fisiológica e sanitária. A manutenção da qualidade durante o período de armazenamento, além dos parâmetros fisiológico e sanitário, requer também o manejo de pragas. A qualidade de sementes de soja na

armazenagem pode ser afetada pela ação de diversos fatores. Entre esses, as pragas de armazenamento, em especial os besouros Lasioderma serricorne, Oryzaephilus surinamensis e Cryptolestes ferrugineus, e a traça Ephestia kuehniella, podem ser responsáveis pela deterioração das sementes. O conhecimento do hábito alimentar de cada praga é um elemento importante para definir o manejo a ser implementado nas

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sementes durante o período de armazenamento. Segundo esse hábito, as pragas podem ser classificadas em primárias ou secundárias. As primárias são aquelas que atacam sementes sadias e, dependendo da parte que afetam, podem ser denominadas de primárias internas ou externas. As internas perfuram e penetram nas sementes para completar seu desenvolvimento. Alimentam-se de toda semente e possibilitam a instalação de outros agentes de deterioração. Um exemplo desse grupo é a espécie L. serricorne. As primárias externas destroem a parte exterior da semente (tegumento) e, posteriormente, alimentam-se da parte interna sem, no entanto, se desenvolverem em seu interior. Há destruição da semente apenas para fins de alimentação. Pragas que dependem das sementes já danificadas ou quebradas para se alimentar são consideradas como secundárias, pois não conseguem atacá-las quando intactas. Ocorrem nas sementes trincadas, quebradas ou mesmo danificadas por pragas primárias e, geralmente, infestam desde o período de recebimento ao de beneficiamento do produto. Possuem a característica de se multiplicar rapidamente e, na maioria das vezes, causam prejuízos elevados. Pragas em soja armazenada podem representar uma preocupação para os armazenadores, em função de: (a) a migração de insetos é facilitada pelo armazenamento de outras espécies de sementes na mesma unidade de beneficiamento; (b) perda de qualidade da semente atacada por insetos; e (c) perda de todo o trabalho e valor econômico da semente que deverá ser comercializada como grão para a indústria. As principais espécies que atualmente causam prejuízos no armazenamento de soja são Lasioderma serricorne, Oryzaephilus surinamensis, Cryptolestes ferrugineu e Ephestia kuehniella.

LASIODERMA SERRICORNE (COLEOPTERA: ANOBIIDAE)

Essa praga é originária do fumo armazenado, por isto é denominada besourinho-do-fumo e, recentemente, passou a ocorrer com frequência em grãos e sementes de soja


Monitoramento da concentração de fosfina (PH3) durante o expurgo de sementes Tabela 1 - Componentes de produtividade da soja em função de diferentes populações de soja. Fonte: Krzyzanowski et al (2012) de Chloris distichophylla, Itaqui, RS, 2014 Germinação (%) Env. Acel. (%) Comp. Plântula (cm) Comp. Hipocótilo (cm) Tratamentos Testemunha 77 b 72 b 29,4 a 9,3 a 75 c 67 b 28,1 a 9,3 a Vigor TZ 1 Pastilha 2 Pastilhas 73 c 69 b 27,0 a 9,0 a 82% 3 Pastilhas 77 b 70 b 28,6 a 9,8 a Testemunha 84 a 84 a 28,5 a 9,1 a 87 a 85 a 29,8 a 9,7 a Vigor TZ 1 Pastilha 2 Pastilhas 88 a 85 a 29,7 a 9,6 a 93% 3 Pastilhas 87 a 84 a 29,3 a 9,6 a 2,79 3,03 6,49 7,53 C. V. ( % ) Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade. Fonte: Krzyzanowski et al (2012)

ORYZAEPHILUS SURINAMENSIS (COLEOPTERA: SILVANIDAE)

É uma espécie cosmopolita que ocorre em praticamente todas as regiões do mundo, sempre em produtos armazenados. No Brasil, a praga está presente em toda a região produtora de grãos, bem adaptada às regiões climáticas de produção, com preferência por climas quentes onde tem sua melhor distribuição. É considerada uma praga que infesta grande variedade de commodities, especialmente cereais, frutos secos e oleaginosas. Assim, grãos de milho, trigo, arroz, soja, cevada, aveia, entre outros, são os mais procurados pela espécie. Também é uma praga infestante de estruturas de armazenamento, como moegas, máquinas de limpeza, elevadores, secadores, túneis, fundos de silos e caixas de expedição. Trata-se de praga secundária que ataca grãos quebrados, fendidos e restos de grãos. Pode danificar a massa do grão, sendo expressiva quando ocorre em grande densidade populacional. Aparece praticamente em todas as unidades armazenadoras, onde causa a deterioração dos grãos pela elevação acentuada da temperatura. É uma espécie muito tolerante a inseticidas químicos, sendo uma das primeiras a colonizar a massa de grãos após aplicação desses produtos.

CRYPTOLESTES FERRUGINEUS (COLEOPTERA: CUCUJIDAE)

É uma espécie cosmopolita encontrada em várias partes do mundo onde existem

produtos secos. No Brasil, ocorre em toda a região produtora de grãos e sementes. Geralmente associado a outras espécies pragas de produtos armazenados, nas regiões mais quentes do país. É uma praga secundária de maior importância na armazenagem de soja, milho, trigo, arroz, cevada e aveia, além de infestar frutos secos e nozes. Também é uma praga infestante de estruturas de armazenamento como moegas, máquinas de limpeza, elevadores, secadores, túneis, fundos de silos e caixas de expedição. É praga que pode destruir grãos fendidos, rachados e quebrados, neles penetrando e atacando o germe. Consome grãos quebrados e restos de grãos e de farinhas, causando elevação na temperatura da massa de grãos e deterioração. Da mesma forma que O. surinamensis, aparece em grande quantidade em armazéns, após o tratamento com inseticidas, pois é tolerante a esses tratamentos. É necessário estudar e determinar o potencial de dano desse inseto, tendo em vista a facilidade de reprodução em massas de grãos armazenados e o nível de resistência aos inseticidas empregados.

EPHESTIA KUEHNIELLA (LEPIDOPTERA: PYRALIDAE)

A traça-dos-cereais normalmente ocorre em todas as regiões do mundo. No Brasil, está distribuída em toda região produtora de grãos de Norte a Sul e de Leste a Oeste do

Fotos Divulgação

durante o armazenamento. É cosmopolita, encontrada em praticamente todos os países, se alimentando de produtos secos armazenados. No Brasil, tem sido relatada em todas as regiões e em todos os estados produtores, em armazenagem de cereais e em oleaginosas, como a soja. Os adultos vivem até 20 dias e não se alimentam. As larvas escavam os produtos, no caso a soja armazenada, onde fazem as galerias. Não é capaz de atacar plantas vivas, embora afete um grande número de produtos em armazenamento, como frutos secos, fumo, condimentos, cereais, grãos oleaginosos, farelos, farinhas, massas, biscoitos e rações. Frequentemente é observado em produtos manufaturados de origem vegetal, como cigarros e charutos. Pesquisas desenvolvidas na Embrapa Soja evidenciaram que a praga consome, sobrevive e se desenvolve adequadamente em dieta de grãos de soja. Foi possível obter mais de 800 insetos adultos, após 140 dias do desenvolvimento em frascos de vidro com 220 gramas de grãos de soja. O consumo de grãos de soja aumentou conforme o aumento da infestação inicial, por conta da multiplicação da espécie, demonstrando sua ampla adaptação em grãos de soja, durante o armazenamento. Estes resultados evidenciaram o desenvolvimento de L. serricorne em grãos de soja durante o armazenamento, com elevado potencial de destruição e consumo do produto armazenado.

As pragas de armazenamento, em especial os besouros Lasioderma serricorne, Oryzaephilus surinamensis e Cryptolestes ferrugineus, e a traça Ephestia kuehniella, podem ser responsáveis pela deterioração das sementes

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EXPURGO DE SEMENTES

Lasioderma serricorne é uma praga que passou a ocorrer com frequência em grãos e sementes de soja durante o armazenamento

apenas recentemente passou a ser empregado em sementes de soja, devido à presença de pragas durante o armazenamento. Todo manuseio da fosfina para realizar o expurgo deve ser feito com EPIs adequados (luvas, máscaras com filtro para gases tóxicos etc), mantendo sempre a segurança do operador. Tanto no momento de colocar as pastilhas de fosfina, quanto no momento de liberar o expurgo (retirar a lona ou abrir o silo), as pessoas devem estar protegidas com os EPIs, e o local deve estar ventilado. Especial cuidado deve-se ter ao retirar a lona do silo ou lote de sementes, pois existe alta concentração do gás fosfina, que deve ser ventilado imediatamente para que se dissipe e degrade na atmosfera com o oxigênio. O armazém deve estar com as portas abertas e com ventilação forçada para permitir a remoção do gás remanescente. É proibida a presença de pessoas sem EPI em armazéns onde estão sendo conduzidas operações de expurgo, devido ao iminente risco de intoxicação. A distribuição do gás deve ser uniforme

R.R. Rufino

O expurgo ou fumigação é uma técnica empregada para eliminar pragas infestantes em sementes e grãos armazenados mediante uso de gás. Deve ser realizada sempre que houver infestação no lote, silo ou armazém. Esse processo pode ser efetuado nos mais diferentes locais, desde que observadas a perfeita vedação do local a ser expurgado e as normas de segurança para os produtos em uso. O gás liberado ou introduzido no interior do lote de sementes deve ficar nesse ambiente em concentração letal para as pragas. Por isso, qualquer saída ou entrada de ar deve ser vedada sempre com materiais apropriados, como lona de expurgo. A fosfina é um biocida geral, um gás altamente tóxico, que é liberado na presença de umidade relativa do ar. Embora seu uso em sementes esteja sendo feito há muitos anos,

Adriana de Marques Freitas/Embrapa Soja

país. Ocorre no armazenamento de produtos durante o ano todo, desde que haja oferta de alimento. São relatados no cacau, no fumo, nos frutos secos, nos vegetais desidratados, nos cereais e nas oleaginosas. Grãos e sementes de soja, milho, sorgo, trigo, arroz, cevada e aveia são preferidos, além de produtos elaborados, como biscoitos, barras de cereais e chocolates. É uma praga secundária, pois as larvas se desenvolvem sobre resíduos de grãos e de farinhas deixados pela ação de outras pragas. Seu ataque prejudica a qualidade dos grãos e das sementes armazenadas, por causa da formação de uma teia em sua superfície ou mesmo nas sacarias, durante o armazenamento. Penetra no interior dos lotes de sementes, fazendo a postura nas costuras da sacaria. É responsável pela grande quantidade de tratamentos em termonebulização nas unidades, durante o período de armazenamento dos lotes de semente.

O manejo de pragas também durante a etapa de armazenagem é necessário para manter a sanidade dos grãos

24 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

em todos os pontos da massa de grãos ou sementes a serem tratadas, controlando assim todas as pragas, nas suas diferentes formas do ciclo de vida. A taxa de liberação do gás fosfina (PH3) proveniente das pastilhas fumigantes, determinarão o tempo necessário para a mortalidade total das pragas e eficiência do processo de expurgo. Em estudos de monitoramento da concentração de gás fosfina observou-se a liberação gradual e uniforme do gás fosfina ao longo do tempo, indicando que a reação de liberação do gás PH3, proveniente das pastilhas fumigantes, ocorreu atingindo concentrações elevadas até o final do experimento. Houve liberação de gás fosfina já a partir da 0,5 hora após introdução das pastilhas na câmara, aumentando lentamente até as 8 horas, e rapidamente após 24 horas de liberação, atingindo níveis superiores a 1.200ppm de gás PH3 após 72 horas. Esta concentração alta se manteve até o final do experimento a 240 horas da liberação das pastilhas fumigantes. A temperatura e umidade relativa do ar, durante todo período de avaliação, foram de 24ºC ±1ºC e de 40% ± 5%, respectivamente, o que são consideradas de medianas a baixas para que ocorra a rápida liberação do gás fosfina proveniente das pastilhas fumigantes. Quando a temperatura do local a ser expurgado for inferior a 10°C ou a umidade relativa do ar menor que 25%, desaconselha-se a realização do expurgo devido à dificuldade de ocorrer a reação de liberação do gás fosfina. Para que um expurgo seja eficiente, ou seja, para que todas as fases de vida do inseto (ovo, larva, pupa e adultos) sejam eliminadas, a concentração de fosfina deve ser mantida por no mínimo em 400ppm por pelo menos 120 horas, e a distribuição do gás no interior do silo deve ser uniforme. Conforme estes autores, a concentração de fosfina, após a liberação das pastilhas, ficou acima de 400ppm a partir das primeiras 24 horas e manteve-se em todas formulações avaliadas neste patamar, até o final do experimento, as 240 horas.


Pesquisas desenvolvidas com sementes de soja com dois níveis de vigor determinado por meio do teste de tetrazólio, das cultivares Embrapa 48 (93% e 82%) e CD202 (69% e 62%), foram usadas concentrações 1g, 2g e 3g de PH3/m3, conseguidas pela aplicação de 3g, 6g e 9g do produto comercial. Diariamente, durante sete dias e a concentração do gás fosfina no interior de cada câmara foi monitorada através do medidor Silocheck. A concentração de fosfina se manteve nas câmaras durante todo o período do experimento, permitindo a exposição das sementes ao gás nas concentrações determinadas. Mesmo a dose mais baixa manteve a concentração superior aos 400ppm, que é a referência técnica de concentração mínima para a eliminação de todas as fases dos insetos-praga de sementes armazenadas. A qualidade fisiológica da semente foi avaliada por meio dos testes de germinação comprimento de plântulas, comprimento do hipocótilo e envelhecimento acelerado, cujos resultados relatados na Tabela 1 não permitem detectar efeitos entre os tratamentos, significando que a fosfina não prejudicou a qualidade da semente. Os testes de comprimento de plântulas e de hipocótilo que indicariam se houve toxidez da fosfina nas cultivares, em ambos os níveis de vigor, não detectaram nenhum

Dulce Mazer

Comissão Tecn. de Semente

Dulce Mazer

Pedro Crusciol

Lorini, Krzyzanowski, França-Neto e Hening abordam uso da fosfina contra pragas armazenadas

efeito das concentrações de fosfina usadas nas sementes.

CONSIDERAÇÕES

O expurgo de sementes de soja com fosfina pode ser realizado com um período de exposição de 168 horas sem que haja qualquer prejuízo na qualidade fisiológica. O gás fosfina usado para o expurgo das sementes de soja, apesar de ser altamente tóxico, é bastante seguro para os operadores e eficaz no controle de todas as fases (ovo, larva, pupa e adultos) das pragas das sementes armazenadas. O responsável técnico pelo armazenamento das sementes de soja deve seguir as recomendações técnicas preconizadas pelo Manejo Integrado de Pragas de Sementes

Armazenadas (MIP Sementes), usando quando necessário o expurgo das sementes com fosfina. Este expurgo deverá obedecer à concentração mínima de 400ppm de fosfina em todos os locais onde foi realizado o tratamento, e um período mínimo nunca inferior a 120 horas de exposição ao gás. A medição da concentração do gás fosfina durante o expurgo deverá ser feita com auxílio de equipamentos medidores destinados a este fim, já disponíveis no mercado brasileiro. C Irineu Lorini, Francisco Carlos Krzyzanowski, José de Barros França-Neto e Ademir Assis Henning, Embrapa Soja


ARROZ

Manejo necessário

Fotos Felipe Frigo Pinto

A brusone é a principal doença em arroz irrigado no Rio Grande do Sul. Com alto potencial de dano pode comprometer em 100% a produtividade quando presentes condições favoráveis ao patógeno. O emprego do controle químico preventivo, com intervalos entre aplicações reduzidos, é uma ferramenta importante para o manejo integrado, que não deve dispensar também medidas de controle cultural e genético

O

s danos da brusone na produtividade e na qualidade do arroz variam em função de uma série de fatores, tais como as práticas culturais adotadas, o grau de suscetibilidade do genótipo, as condições climáticas, o nível de inóculo do patógeno, o momento em que a doença se instala na cultura, entre outros. Os sintomas da brusone nas folhas iniciam-se com pequenas manchas necróticas que aumentam de tamanho, adquirindo forma elíptica, com os bordos marrons e centro cinza ou esbranquiçado. Na região do colar

das folhas é comum a ocorrência da brusone, podendo ocasionar a queda e morte das folhas. Ao infectar as folhas do arroz, a brusone causa danos indiretos na produção, reduzindo a área foliar ativa e, consequentemente, o potencial produtivo da cultura. A brusone também pode incidir nas panículas do arroz, colonizando o primeiro nó abaixo da panícula. Essa incidência é chamada de brusone de base de panícula, também conhecida como “brusone de pescoço”, onde a doença afeta diretamente a produtividade do arroz, impedindo o acúmulo de carboidra-

26 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

tos nos grãos, reduzindo o peso de grãos e a porcentagem de grãos formados. O elevado potencial produtivo que os atuais híbridos e cultivares de arroz apresentam está atrelado, na maioria das vezes, a uma baixa rusticidade dos genótipos. Dessa forma, como resultado há materiais bastante suscetíveis à ocorrência de doenças e com elevada sensibilidade a fatores de estresses, tanto bióticos como abióticos. A adoção de práticas de manejo integradas, tais como utilização de cultivares resistentes, semeadura dentro da época preferencial, adubação equilibrada,


Tabela 1 – Estádios fenológicos no momento das aplicações para o controle de Pyricularia oryzae. São Sepé (RS), 2014 Dose (g.i.a.ha-1) Tratamento Estádio no momento da aplicação* Ingrediente Ativo T1 Testemunha T2 R1 Cresoxim-metílico + Epoxiconazol + Tricyclazol + Óleo Mineral 93,75 + 93,75 + 225 + 378 T3 R2 T4 R4 T5 R1 + R2 T6 R2 + R4 T7 R1 + R2 + R4 * Estádios fenológicos determinados pela escala fenológica proposta por Counce et al, 2000.

Sintomas de brusone na base da panícula do arroz (brusone de “pescoço”)

irrigação adequada e o emprego do controle químico por meio da aplicação de fungicidas, é fundamental para o eficiente manejo da brusone na cultura do arroz irrigado. O emprego de fungicidas para o manejo da brusone deve ser utilizado como uma ferramenta dentro do Manejo Integrado da Doença e não apenas como um método isolado de controle. A utilização do controle químico de doenças na cultura do arroz irrigado objetiva a manutenção do potencial produtivo e da qualidade da produção, protegendo a cultura dos efeitos prejudiciais das doenças. A escolha do momento e o número ideal de aplicações de fungicidas na cultura do arroz irrigado é uma decisão difícil e que depende de uma série de fatores. É possível citar o nível de suscetibilidade da cultivar, o manejo utilizado na condução da lavoura, a presença de inóculo do patógeno e de focos da doença na lavoura, o histórico de ocorrência de brusone na área, o estádio fenológico da

cultura, a presença de condições climáticas favoráveis à brusone, entre outros. Na safra 2013/14, no município de São Sepé, Rio Grande do Sul, foi conduzido um experimento com o objetivo de avaliar o desempenho de sete programas de manejo químico de brusone. Os programas foram compostos por um tratamento Testemunha (sem aplicação de fungicida) e seis tratamentos com controle químico, que diferiram entre si apenas quanto ao número e ao momento em que foram realizadas as aplicações dosfungicidas (Tabela 1). O efeito dos tratamentos foi avaliado no controle da brusone nas folhas, na incidência de brusone na base da panícula e na produtividade do arroz irrigado (Figuras 1 e 2). A intensidade e a severidade da ocorrência da brusone na cultura do arroz, durante a condução do experimento, foram extremamente altas (Figura 1). Os primeiros sintomas da doença foram observados quando o arroz ainda estava na fase vegetativa, antes do ponto de algodão, sendo que a doença apresentou aumento significativo até a maturação fisiológica da cultura. Pode-se observar que nenhum dos tratamentos testados promoveu o controle total da doença, ou seja, mesmo com a aplicação dos programas de manejo químico houve ocorrência de brusone nas

folhas e incidência nas panículas do arroz. Essa é uma situação que comprova a importância de se realizar o Manejo Integrado de Doenças, com a integração entre os métodos de controle cultural, genético e químico, pois ao empregar apenas a aplicação de fungicidas como uma ferramenta isolada haverá dificuldades no controle eficiente da brusone. Devido ao elevado ataque da brusone, o dano na produtividade da testemunha foi de 73,4%, quando comparada com o tratamento onde realizaram-se três aplicações (Figura 2). Esse resultado indica o enorme potencial de dano da brusone na cultura do arroz e a importância de realizar um manejo adequado da doença, a fim de evitar a ocorrência de elevados danos. O emprego do controle químico preventivo, com intervalos entre aplicações reduzidos, é uma ferramenta importante para o manejo da brusone. Contudo, é fundamental a integração entre os métodos de controle cultural, genético e químico para o eficiente manejo da C brusone na cultura do arroz irrigado. Felipe Frigo Pinto, Ricardo Silveiro Balardin, Marcos Belinazzo Tomazetti, Jacson Zuhl e Bruno Pedro Lazzaretti, UFSM e Colaboradores Inst. Phytus

Figura 3 – Área abaixo da curva de progresso da brusone e incidência de brusone na Figura 4 – Produtividade arroz irrigado sob diferentes programas de manejo químico. base da panícula na cultura do arroz irrigado sob diferentes programas de manejo São Sepé (RS), 2014 químico. São Sepé (RS), 2014

*Médias seguidas por letras distintas, minúsculas para AACPB e maiúsculas para Incidência, diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Skott Knott. CV % para AACPB = 57,89; CV % para Incidência = 11,75.

*Médias seguidas por letras distintas, diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Skott Knott. CV % = 22,47.

www.revistacultivar.com.br • Junho 2015

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Ourofino Agrociência contabiliza cinco anos de atuação no mercado de defensivos agrícolas, com a conquista de importantes certificações e a construção de estreita relação com os agricultores brasileiros

Fotos Ourofino

INFORME EMPRESARIAL

Balanço positivo

D

os desafios que permeiam a entrada de uma empresa no mercado, qualidade e credibilidade estão entre os maiores a serem conquistados. Em 2015, a Ourofino Agrociência, empresa 100% brasileira, chega ao seu quinto ano e já é considerada por clientes e parceiros referência no mercado de defensivos agrícolas. A recente história mistura-se com a de seus idealizadores, os empreendedores Norival Bonamichi e Jardel Massari, como é o caso do nome da companhia. Ambos são naturais de Inconfidentes, um distrito mineiro da cidade de Ouro Fino. Em Minas Gerais está localizada a fábrica de defensivos da Ourofino, considerada a mais moderna neste segmento da América Latina. A cidade escolhida para abrigar os 40 mil m² de

área construída foi Uberaba, onde se encontram equipamentos modernos e um ambiente automatizado, capazes de produzir até 100 milhões de litros por ano. Em pouco tempo de existência, seu Sistema de Gestão Integrada conquistou todas as certificações que garantem alta confiabilidade nos processos: Inmetro em Boas Práticas de Laboratórios (BPL) para estudos de resíduos em vegetais, ISOs 9001 (garantia da qualidade) e 14001 (meio ambiente) e Ohsas 18001 (segurança). Para dar suporte a toda tecnologia empregada em sua fábrica, a Ourofino conta com um Centro de Pesquisa Agronômica, certificado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), localizado no interior de São Paulo, em Guatapará. Trata-se de uma

28 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

fazenda experimental onde são testadas e desenvolvidas as soluções da Ourofino, que posteriormente estarão no campo atendendo, com eficiência, às necessidades de clientes em todo o Brasil. Ao todo, 17 produtos já chegaram ao mercado através desta unidade de pesquisa e outros 50 estarão disponíveis em breve, compondo um portfólio completo e diferenciado aos produtores. Outro feito conquistado neste curto período foi estar presente comercialmente em todo o território nacional. Com uma equipe comercial em expansão, atualmente a companhia conta com mais de 60 engenheiros agrônomos, além de 270 profissionais localizados nas unidades de Uberaba, Guatapará e Ribeirão Preto (SP), onde está a sede administrativa da empresa.


Em Minas Gerais está localizada a fábrica de defensivos da Ourofino, considerada a mais moderna neste segmento da América Latina

A essência da marca está fundamentada em dois pilares: "pés no chão e olhar para o futuro", diz Jurandir

POSICIONAMENTO DA MARCA

Além do desenvolvimento de novos produtos, a Ourofino tem investido em soluções que garantam uma diferenciação da empresa frente ao mercado. Para isso, vem sendo efetuado um trabalho de reposicionamento de marca e de maior aproximação junto a seus clientes, como é o caso da denominação “Agrociência”, que representa a união da terra e do solo em que são produzidos os alimentos com a tecnologia empregada na fabricação dos produtos. “A essência da marca está fundamentada em dois pilares: ‘pés no chão’, relacionado à proximidade aos clientes, parceiros e colaboradores, e ‘olhar para o futuro’, que representa a busca por inovação e novos caminhos para o desenvolvimento”, explica o presidente da empresa, Jurandir Paccini. Outro exemplo é a campanha institucional lançada no final de 2014. Com o slogan “O mundo espera o que você produz. A gente produz o que você espera”, a

empresa pretende se aproximar ainda mais de seu principal público, os agricultores. “O entendimento dessa frase se dá pela esperança que o planeta tem no homem do campo em aumentar sua produção para alimentar um mundo que demanda por alimentos e a Ourofino está preparada para auxiliar o produtor a atingir seu objetivo com produtos de qualidade”, explica o gerente de Marketing e Inteligência Competitiva da Ourofino Agrociência, Everton Molina Campos. Peças publicitárias, vídeos e anúncios estão sendo veiculados em jornais, revistas e programas de TV relacionados ao agronegócio. Representantes da Ourofino Agrociência também estão apresentando o reposicionamento da marca reformulada em feiras e eventos do setor. “O resultado é uma releitura das possibilidades de aplicação da marca e uma nova maneira de apresentar nossa identidade e nossos valores aos clientes e parceiros”, complementa Campos.

SUPORTE AOS PRODUTORES

A aproximação junto aos agricultores também pôde ser notada quando ocorreu a chegada da Helicoverpa armigera às terras brasileiras, que trouxe sérios

problemas fitossanitários em lavouras de várias regiões. Na época, a Ourofino Agrociência buscou orientar os produtores sobre as formas de combate à praga, lançando a Campanha Ohan – Operação Helicoverpa Aqui Não (www.ohan.com. br), um site com informações técnicas sobre o manejo da praga. Ainda no combate à Helicoverpa armigera, a empresa oferece em seu portfólio o DesafioBR, produto à base de benzoato de emamectina, de uso restrito para o controle emergencial da lagarta e para os estados que autorizaram seu uso em campanha fitossanitária. Para o seu lançamento foram programados mais de 20 eventos durante os meses de junho e julho nos estados da Bahia e Mato Grosso, locais onde seu uso foi autorizado. Treinamentos também são um diferencial da Ourofino. Semanalmente, equipes técnicas trabalham capacitando profissionais de revendas e produtores rurais no manejo adequado das principais pragas. “Esse trabalho traz dois grandes benefícios ao produtor: garante melhor eficácia do produto, além de gerar maior segurança no manejo. São ações importantes e que fazem parte dos nossos C objetivos”, afirma Molina.


MILHO

Perdas e danos

Cultivar

O fungo Fusarium verticillioides, causador de podridões em milho, é também responsável pela produção de fumonisinas, grupo de micotoxinas tóxicas e altamente nocivas à saúde humana e animal. Quando apresentam alto teor, resultam ainda na imposição de barreiras comerciais que prejudicam a lucratividade do produtor. Seu manejo exige medidas corretas adotadas tanto na fase de campo quanto no armazenamento dos grãos

C

om 80 milhões de toneladas produzidas na safra de 2012/13, o Brasil se destaca como o terceiro maior produtor mundial de milho. Recentemente passou a ser não só um fornecedor deste grão para o consumo interno, mas também um país exportador, sendo atualmente o terceiro maior exportador mundial, com mais de 15 milhões de toneladas exportadas. Atualmente as exigências sobre qualidade dos produtos, não só destinados à exportação, mas também para o consumo interno, vêm se tornando cada vez mais rigorosas, principalmente aquelas voltadas à qualidade sanitária dos grãos e aos teores de micotoxinas. Deste modo, por ser uma cultura amplamente cultivada no Brasil, sob diversas condições climáticas, as plantas estão sujeitas

ao ataque de um número elevado de patógenos que são responsáveis por podridões de espiga, com consequente acúmulo de micotoxinas. O fungo Fusarium verticillioides (Saccardo) Nirenberg é o patógeno mais frequentemente associado a grãos de milho, causando podridões de grãos e espigas. F. verticillioides, além de ser encontrado com alta frequência, é a espécie com maior potencial de produção das fumonisinas, o grupo de micotoxinas mais importante para a cultura do milho. As fumonisinas são tóxicas para os seres humanos, sendo, principalmente, relacionadas ao câncer de esôfago. São tóxicas, também, aos animais, sendo associadas, principalmente, ao edema pulmonar em suínos, à encefalomalacia em equinos, e a problemas generalizados em aves.

30 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

Em razão destes problemas, nos últimos anos, órgãos governamentais têm monitorado a qualidade de lotes de grãos de milho, sobretudo quanto aos teores de fumonisinas. O Ministério da Agricultura e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceram o limite de tolerância de 2µgg-1 para fumonisinas em grãos de milho (Diário Oficial da União, 2011). Este limite muitas vezes motiva barreiras para a exportação e o comércio nacional de lotes de grãos de milho, gerando grandes perdas aos produtores. Diante das barreiras comerciais impostas pela agroindústria e pelos órgãos governamentais, estratégias de manejo para a diminuição dos teores de fumonisinas têm sido estudadas ao longo dos anos, sendo fundamentais para obtenção de grãos de milho


MANEJO DE FUMONISINAS

A produção e consequente acumulação de fumonisinas em grãos de milho podem ocorrer tanto em fase de campo quanto nos grãos armazenados. Existem diferentes tipos de estratégias de manejo para as diferentes fases. Para o manejo de fumonisinas no campo, é considerado como principal metodologia o uso da resistência genética. A herança da resistência genética a F. verticillioides tem sido estudada ao longo dos anos, utilizando tanto sintomas visuais quanto infecções assintomáticas. Porém, a maioria das empresas desenvolvedoras de genótipos de milho emprega somente como metodologia de seleção o descarte de genótipos que são altamente suscetíveis por apresentarem sintomas visuais. Essa metodologia apresenta um grave problema, pois se baseia em taxas visuais de doença, o que nem sempre reflete as infecções assintomáticas ou os níveis de fumonisinas, descartando possíveis genes de resistência específicos à acumulação de fumonisinas. No entanto, alguns relatos de genótipos com níveis aceitáveis de resistência, tanto à infecção por F. verticillioides como à acumulação de fumonisinas, já podem ser encontrados na literatura. Outra metodologia que pode ser utilizada no manejo integrado de fumonisinas em milho é a adoção de genótipos transgênicos, principalmente Bt. Resumidamente, genótipos de milho Bt são cultivares que receberam genes de uma bactéria chamada Bacillus thuringiensis, e tornaram-se capazes de sintetizar uma proteína derivada desses genes, conhecidos como CryIA. Em ordem, a proteína Cry é tóxica a certos tipos de insetos, principalmente aqueles que utilizam o milho em sua alimentação. Tais insetos muitas vezes abrem portas para a entrada de F. verticillioides ou proporcionam um ambiente favorável para o desenvolvimento dele, causando assim um aumento nos teores de fumonisinas. Consequentemente, genótipos que são denominados Bt muitas vezes são resistentes à infecção e acumulação de fumonisinas. Porém, ainda é alvo de muita especulação a utilização de genótipos de milho Bt no manejo de fumonisinas em milho, pois, mesmo com estes genótipos, ainda são detectados em alguns casos, altos teores de fumonisinas nos grãos em plantios convencionais. Basicamente, estudos voltados para a ação direta desses genes sobre a colonização de F. verticillioides e acumulação de fumonisinas em milho ainda devem ser realizados. A escolha da densidade de plantio também pode ser adotada como uma metodologia de controle de fumonisinas. Trabalhos

grãos contaminados, respectivamente, ainda no campo ou no beneficiamento, com o mínimo de perda de grãos sadios. No entanto, grãos sadios podem carregar altos teores de fumonisinas, assim, a retirada de grãos danificados pode ser uma estratégia para reduzir os teores de fumonisinas, porém, nem sempre tão eficaz. No armazenamento, o desenvolvimento de fungos toxigênicos, como F. verticillioides, é influenciado pela atividade de água, temperatura do substrato, danos nos grãos, aeração, inóculo fúngico, interações com outros organismos e insetos. Entretanto, a acumulação de fumonisinas depende primeiramente do controle da umidade. Porém, se houver atividade de insetos, roedores ou algum outro fator que cause alteração nos teores de água, a acumulação de fumonisinas pode ocorrer. Os agentes antifúngicos de baixa toxicidade podem ser utilizados para complementar as boas práticas de manejo de fumonisinas, mas não como um substituto das outras práticas que objetivem alimentos de alta qualidade. O crescimento de fungos e a contaminação por micotoxinas de grãos de elevada umidade podem ser prevenidos com ácido propiónico ou misturas de ácido acético e propiónico. Sprays líquidos são geralmente mais eficazes que as formulações secas de ácido propiónico, mas as formulações secas C são mais fáceis de usar.

recentes relatam que os teores de fumonisinas em densidade de 65 mil plantas/ha podem ser duplicados quando adotada densidade de plantio de 85 mil plantas/ha, ou seja, quando há adensamento de plantas. Outro aspecto importante a ser abordado é o combate de fumonisinas em grãos de milho utilizando controle químico. Existem vários relatos na literatura sobre o efeito da aplicação de fungicidas no controle de fumonisinas em milho, porém, são trabalhos que apresentam resultados pouco conclusivos. No último ano, na Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, Minas Gerais, foi conduzida uma série de três experimentos utilizando vários fungicidas para o controle de grãos ardidos e fumonisinas em milho. Os resultados deste trabalho foram conclusivos, indicando que os fungicidas existentes no mercado aplicados via foliar de maneira convencional, independentemente do número de aplicações, não foram capazes de controlar os teores de fumonisinas nos grãos. Contudo, os teores de fumonisinas podem ser influenciados por condições ambientais, principalmente por períodos de veranicos durante a fase de enchimento de grãos e chuvas na fase de secagem na planta, o que proporciona aumentos nos teores desta importante micotoxina. No entanto, o correto manejo da irrigação, evitando o estresse hídrico, também pode ser utilizado para reduzir os riscos de contaminação por fumonisinas.

Fabrício Eustáquio Lanza e Laércio Zambolim, Universidade Federal de Viçosa Dagma Dionísia da Silva, Rodrigo Véras da Costa e Luciano Viana Cota, Embrapa Milho e Sorgo Elaine Aparecida Guimarães, Universidade Federal de Lavras

NA COLHEITA, BENEFICIAMENTO E ARMAZENAMENTO

Muitas espécies de fungos toxigênicos, como F. verticillioides, que colonizam os grãos, são bem adaptadas a se desenvolver em substratos com baixa umidade. Por esta razão, o atraso da colheita pode resultar em aumento da contaminação com fumonisinas, principalmente quando ocorrem chuvas depois da fase de maturação dos grãos. Apesar de a cinética da produção de fumonisinas em milho ainda ser objeto de estudos, tem sido relatado que F. verticillioides pode crescer em grãos até que o teor de água atinja 18% a 20%. Porém, para um bom armazenamento de grãos, é amplamente aceito que o teor de água não ultrapasse 15%. Durante a colheita, é importante ajustar corretamente as colheitadeiras para evitar o dano em excesso aos grãos, o que pode predispor à infecção durante o armazenamento, pois os mais altos níveis de fumonisinas muitas vezes estão associados aos grãos quebrados e danificados por insetos. Em geral, a diminuição dos teores de fumonisinas pode chegar a 60% com a retirada de grãos danificados. O ajuste cuidadoso da colhedora ou da mesa densimétrica pode eliminar esses

Fabrício Lanza

com baixos teores de fumonisinas.

C

Espiga de milho severamente atacada pelo fungo

www.revistacultivar.com.br • Junho 2015

31


ALGODÃO

Alvo definido

André Luiz Silva

Folhas, brácteas e maçãs novas de algodoeiro têm sido afetadas pelo ataque de macha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola. Escolha de cultivares com menor vigor vegetativo, densidades de plantios mais baixas, fracionamento das adubações de cobertura com nitrogênio, gerenciamento adequado de turnos de rega em áreas irrigadas e correto manejo de reguladores de crescimento estão entre as medidas recomendadas contra esta doença

N

as últimas safras, em várias lavouras de algodoeiro nos estados da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás foi observada uma doença foliar com sintomas semelhantes ao da mancha-alvo da soja, causada pelo fungo Corynespora cassiicola (Berk & Curtis) Wei. Em algumas áreas de ocorrência, além das manchas nas folhas, também ocorreu intensa desfolha. O primeiro relato desse fungo associado a plantas de algodão ocorreu em 1951 (Jones, 1961). Recentemente, essa doença foi noticiada nos EUA no estado da Geórgia, afetando principalmente a cultivar DP 1048 B2RF com desfolha estimada em 70% (Fulmer et al, 2012). Os sintomas iniciais da mancha-alvo no algodoeiro são pequenos pontos circulares de coloração arroxeada nas folhas. Com a evolução da doença, esses pontos tornam-se manchas de formato arredondado ou irregular, com bordas marrom-escuro e centro marrom-claro,

variando em tamanho de 2mm a 20mm. As lesões, quando completamente desenvolvidas, podem apresentar anéis concêntricos e serem circundadas por halos cloróticos, quando a infecção é alta, as folhas caem prematuramente. A rápida desfolha é causada pela aceleração da senescência, o que torna a folha amarelada em poucos dias. As lesões também ocorrem em

brácteas e em maçãs novas. Associado aos sintomas, foi isolado um fungo com conidióforos simples, que originavam conídios sub-hialinos, com número variável de septos (4 a 20) com dimensões de 50μm a 190μm de comprimento e 7μm a 16μm de largura, ligeiramente curvados e com formato obclavado a cilíndrico. Com base na similaridade dos sintomas e sinais já descritos na literatura (Fulmer et al, 2012), a diagnose tentativa aponta para Corynespora cassiicola (Berk & Curtis) Wei, mesmo agente causal da mancha-alvo em soja. Esse fungo causa doença em 530 espécies de plantas de 380 gêneros, incluindo monocotiledôneas e dicotiledôneas (Dixon et al, 2009). Além de isolados fitopatogênicos, alguns isolados de C. cassiicola são saprofíticos. As condições ambientais ideais para o desenvolvimento de C. cassiicola são temperaturas abaixo de 30ºC e períodos prolongados de alta umidade. Como o desenvolvimento e a disseminação da mancha-alvo são dependentes de alta umidade (longos períodos de molhamento foliar), a doença progride mais rapidamente após fechamento do dossel, causando desfolha. Locais onde ocorre a combinação de fatores que favorecem maior umidade no dossel como cultivares de crescimento mais vigoroso, população de plantas elevadas ou falhas no manejo de regulador de crescimento, aliada a fatores ambientais como dias nublados e períodos ininterruptos de chuva, são mais propensos à ocorrência da mancha-alvo.

No início as folhas apresentam pontos com coloração arroxeada

Pequenos pontos circulares são sintomas iniciais da mancha-alvo no algodoeiro

32 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br


Fotos Fabiano Perina e Nelson Suassuna

Com a evolução da doença, pontos tornam-se manchas de formato arredondado ou irregular

Associado aos sintomas, foi isolado um fungo com conidióforos simples, que originavam conídios sub-hialinos

As lesões também ocorrem em brácteas

O vento é a principal via de disseminação do patógeno a curtas distâncias e não há informações ainda sobre a disseminação por meio de sementes de algodoeiro. O fungo, por ser cosmopolita e necrotrófico, pode sobreviver em plantas hospedeiras e colonizar restos culturais de diversas espécies vegetais (Snow; Berggren, 1989). Diante da severidade observada na cultura da soja e mais recentemente em algodoeiro, nas áreas de cultivo do cerrado, demonstrou-se por meio de inoculação cruzada, que isolados tanto de algodão como de soja são capazes de causar doença em ambos os hospedeiros (Galbieri et al, 2014). O mesmo fato já havia sido registrado nos EUA (Jones, 1961) e foi demonstrado também envolvendo isolados de soja e outras sete espécies de plantas cultivadas, evidenciando que o algodão apresentou alta suscetibilidade quando comparado às demais espécies testadas (Terramoto, 2013). Portanto, sistemas de cultivo que envolvem a rotação e/ou sucessão de áreas previamente cultivadas com soja devem-se atentar para o agravamento da doença no algodoeiro. Considerando que o aumento do inóculo na cultura da soja pode afetar o cultivo subsequente de algodoeiro, seja este de segunda safra ou de safra única, resultando em aumento gradativo do inóculo de C. cassiicola na área. As 23 cultivares de algodão mais plantadas no Brasil foram testadas em condições controladas e todas se mostraram suscetíveis ao patógeno, sem apresentarem diferença de severidade (Galbieri et al, 2014). Entretanto, existe um relato de resistência identificada na fase de

plântula no genótipo PR 02-77. Outro problema recente que pode ser apontado para o surto epidêmico é o uso de fungicidas à base apenas de triazóis e estrobilurinas tanto em algodoeiro direcionado ao controle da mancha de ramulária, quanto em soja para o controle da ferrugem asiática. Não se sabe se existem no Brasil isolados do patógeno naturalmente resistentes aos diversos fungicidas usados em soja, algodão e milho, como já demonstrado para fungicidas do grupo dos benzimidazóis, estrobilurinas e carboxamidas em outros países. Todavia, isolados de soja que apresentavam insensibilidade ao grupo dos benzimidazóis (carbendazim e tiofanato-metílico), quando testados in vitro, demonstraram sensibilidade intermediária a triazóis (ciproconazole e protioconazole) e, na maioria das vezes, foram sensíveis aos SDHI (succinate dehydrogenase inhibitors) boscalide, fluopiram e fluxapiroxade (Teramoto et al, 2013). Na tentativa de encontrar formas de controle para essa enfermidade, alguns calendários de aplicações de fungicidas foram propostos em trabalhos desenvolvidos nos EUA (Hagan et al, 2015; Kemerait et al, 2011). Apesar das reduções consideráveis nos níveis de desfolha, particularmente com o fungicida piraclostrobina, as produtividades médias de algodão em parcelas tratadas com fungicida e não tratadas, não diferiram em vários trabalhos (Kemerait et al, 2011; Hagan et al, 2014; 2015). Mesmo com eficiência reduzida em evitar perdas na produtividade de algodão,

Lesões, quando desenvolvidas, apresentam anéis concêntricos circundados por halos cloróticos

A rápida desfolha é causada pela aceleração da senescência, o que torna a folha amarelada

alguns tratamentos diferiram do controle sem aplicação, no que diz respeito à redução de desfolha: piraclostrobina (nas doses de 657ml/ ha ou 876ml/ha) - Três aplicações (início da floração, duas e quatro semanas após a primeira aplicação); Piraclostrobina (657ml/ha) + clorotalonil (1,167L/ha) – Três aplicações (início da floração, duas e quatro semanas após a primeira aplicação); piraclostrobina + fluxapyroxad (292ml/ha) - Duas aplicações (duas e quatro semanas após o florescimento) e Fluxapyroxad (328ml/ha) - Duas aplicações (duas e quatro semanas após o florescimento). Entretanto, no Brasil ainda não há fungicida registrado para o controle da mancha-alvo em algodoeiro. Pelo fato de ser um fungo necrotrófico e com ampla gama de plantas hospedeiras, a sobrevivência de C. cassiicola em restos culturais de algodão e soja servirá de inóculo primário para a próxima safra. Nesse contexto, é provável que a doença seja mais intensa em áreas onde prevaleça o cultivo sucessivo dessas culturas. A escolha de plantas não hospedeiras, como as gramíneas, para uso em rotação, pode auxiliar na redução do inóculo inicial do patógeno para a safra subsequente. Diante da ausência de resistência genética nas cultivares em uso atualmente, o manejo deverá ser fundamentado em práticas culturais que retardem ou impeçam o desenvolvimento da doença. Conhecendo-se a dependência do patógeno por prolongados períodos de molhamento foliar, todas as medidas que possam aerar o interior do dossel das plantas, também afetarão negativamente o desenvolvimento da mancha-alvo. Entre essas medidas, podem ser destacados a escolha de cultivares com menor vigor vegetativo, densidades de plantios mais baixas, o fracionamento das adubações de cobertura com nitrogênio, o gerenciamento adequado de turnos de rega em áreas irrigadas e o correto manejo de reC guladores de crescimento. Nelson Dias Suassuna, Luiz Gonzaga Chitarra e Fabiano José Perina, Embrapa Algodão

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Dow AgroSciences lança inseticida Exalt para o combate do complexo de lagartas que afetam lavouras de soja e de milho

Fotos Dow AgroSciences

EMPRESAS

Tratamento de choque Tabela 1 - Lagartas controladas por Espinetoram em soja e milho Cultura Nome científico Nome vulgar Milho Spodoptera frugiperda Lagarta-do-cartucho; Lagarta-militar Soja Crysodeixis includens Lagarta-falsa-medideira Soja Helicoverpa armigera Lagarta-do-algodão Soja Heliothis virescens Lagarta-das-maçãs Fonte: Sistema Agrofit/Mapa

A

Dow AgroSciences lançou em maio o inseticida Exalt, direcionado ao controle do complexo de lagartas que afetam as culturas da soja e do milho. Pertencente ao grupo das espinosinas e à classe Naturalyte o produto possui ingrediente ativo espinetoram, com atuação também no manejo de resistência de insetos. Espinetoram causa a excitação do sistema nervoso do inseto, atuando como modulador alostérico dos receptores nicotínicos da acetilcolina (nAChR). O diretor de Marketing da Divisão de CropProtection, Christian Pereira, destacou o esforço para o desenvolvimento de novas tecnologias. “Uma das maiores preocupações do sojicultor tornou-se o complexo de lagartas diante das diferentes espécies como a Helicoverpa e Pseudoplusia e de seu impacto na produtividade das lavouras. Entendemos que o Brasil é detentor de grande diversidade biológica. Pensando nisto a Dow AgroSciences investiu em média de nove a dez anos em

pesquisa e mais de 250 milhões de dólares no desenvolvimento de uma solução que atenda às diversas condições e necessidades por cultura e região.” Pereira destacou que o inseticida apresenta maior efeito de choque que as diamidas, eliminando as lagartas mais rapidamente. “Isso aumenta a produtividade do agricultor e proporciona uma relação custo/benefício mais competitiva. Seu modo de ação único e exclusivo oferece um controle mais efetivo, além do manejo de resistência de insetos. Não requer associação de ativos, o que resulta em um menor custo para o sojicultor”, explicou. O inseticida Exalt está registrado para as culturas de soja e de milho (veja Tabela 1) e estará disponível no mercado a partir de junho. O algodão também é uma cultura de grande interesse para a companhia e a expectativa é de que até 2016 o inseticida já tenha obtido registro também para aplicação em algodoeiro.

Diretor de Marketing da Divisão CropProtectio, Christian Pereira

Gerente de Marketing de Inseticidas, André Arnone

34 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br

O líder de Marketing para Grandes Culturas, Afonso Matos, reforçou que a companhia, ao investir no desenvolvimento de tecnologias, tem como objetivo auxiliar no atendimento das necessidades presentes e futuras da sojicultora. “Como resultado desse trabalho oferecemos o SoySolution, um pacote de soluções para todo o ciclo produtivo da soja, com suporte completo a produtores, distribuidores, revendas e cooperativas do Brasil.”

DOW SNOOKER NIGHT

“Uma tacada de mestre” foi o tema da noite que a Dow Agrosciences preparou para receber clientes, parceiros, pesquisadores e representantes do setor agrícola para o lançamento do Exalt. O presidente da companhia, Welles Pascoal, informou que nos próximos cinco anos a empresa prepara novidades. “Nosso objetivo é o lançamento de mais de 20 produtos entre agroquímicos, sementes e C biotecnologia”, adiantou.

Líder de Marketing para Grandes Culturas, Afonso Matos



COLUNA ANPII

Aporte suficiente Bactérias fixadoras de nitrogênio são plenamente capazes de garantir a oferta necessária deste elemento à cultura da soja

D

esde as primeiras lavouras de soja no Brasil, na década de 60, no norte do Rio Grande do Sul, já se conhecia, pelos trabalhos de J. R. Jardim Freire, que esta cultura poderia ser conduzida tendo como fonte de nitrogênio apenas o inoculante à base das bactérias fixadoras de nitrogênio. Entretanto, desde esta época também vêm sendo feitas tentativas de se incluir os fertilizantes químicos nitrogenados na cultura da soja, sempre com argumentos sem base científica e/ou experimental. Hoje, um enorme acervo de trabalhos científicos, de ensaios de campo, de observações em lavouras, conduz de forma consistente e inequívoca para a direção de uso zero de N mineral nesta cultura. Uma boa inoculação, com inoculante de boa qualidade, com os corretos procedimentos de uso, é suficiente para se ter um aporte de nitrogênio suficiente para os mais elevados padrões de produtividade exigidos pela moderna agricultura. Entretanto, mesmo com todo o conhecimento existente, ainda persistem tentativas sem a menor base científica de utilizar fertilizantes nitrogenados na cultura da soja, trazendo prejuízos para o agricultor e para o país. Níveis de nitrogênio no solo acima de 20kg por hectare acarretam prejuízos para a produtividade, pois inibem a formação de nódulos e trazem deficiência de N durante o ciclo da cultura. Inúmeros argumentos falaciosos são levantados para tentar justificar o uso de fertilizantes nitrogenados na cultura da soja: os nódulos demoram a iniciar seu processo de fixação. Argumento falso porque a planta tem no solo e nos cotilédones o N necessário para os primeiros dez dias a 12 dias, quando se inicia a fixação biológica. Outro argumento sem base científica é o de que a fixação cessa no enchimento de grãos. De fato, o auge da fixação é na floração, onde a planta busca acumular nas folhas o máximo de nitrogênio para, em seguida, remobilizá-

-lo para as vagens. Mas, se neste período o N acumulado não for suficiente, a planta estende por um período mais longo seu processo de fixação, podendo ir até o enchimento de grãos. Isto está demonstrado por trabalhos científicos que não deixam margem a dúvidas. Não menos descabida é a alegação de que a fixação não tem condições de fixar todo N para elevadas produtividades.

As plantas precoces têm um metabolismo mais acelerado, executando todas as “tarefas” de forma rápida e cumprindo seu ciclo de modo uniforme

Não vale a pena nem discutir este argumento, pois é tentar cobrir o sol com a peneira. A FBN pode fornecer todo o N necessário para produtividades acima de 5.000kg/ha. Basta consultar a literatura científica e andar um pouco por lavouras bem conduzidas para se chegar a esta conclusão. O mais recente e absurdo argumento é o de que as cultivares precoces não têm tempo para fixar todo o N. Ora, a valer este argumento, a planta também não teria tempo para absorver todo o fósforo, todo o potássio e os demais nutrientes,

além de não ter tempo para fazer toda a fotossíntese. As plantas precoces têm um metabolismo mais acelerado, executando todas as “tarefas” de forma rápida e cumprindo seu ciclo de modo uniforme. E a FBN não foge disto. Adapta-se ao ciclo da planta. Mais uma vez: dados de pesquisa demonstram que a adição de fertilizante nitrogenado é totalmente desnecessária em soja precoce. Em recente enquete com alguns agricultores, verificou-se que muitos estão utilizando fórmulas de adubação com 08 de N. No cerrado, quem utilizar 400kg/ha desta fórmula, estará colocando 32kg de N no solo. Isto, somado ao N existente no solo, poderá levar a mais de 40kg de N disponível, o que resultará em diminuição da produtividade. Esta quantidade é totalmente insuficiente para as necessidades da planta, mas é prejudicial à formação de nódulos. Desta forma, a planta em poucos dias ficará sem N no solo e não terá o N proveniente da FBN. Portanto, quem usa esta fórmula está perdendo produtividade e quem as recomenda está prejudicando o agricultor. A ANPII, dentro de seus princípios de estar sempre alinhada com a pesquisa agrícola do Brasil, uma das mais respeitadas e eficientes do mundo, vem lutando para que os agricultores sejam devidamente informados no sentido de obter maiores produtividades dentro de um bom padrão de rentabilidade. E os inoculantes são os insumos modernos de melhor relação custo/benefício, pois requerem um investimento baixo para elevada rentabilidade. É importante que os órgãos de pesquisa, de extensão, os consultores, enfim, todos os que estão envolvidos na cultura da soja, divulguem as informações de que fertilizante químico em soja é totalmente desnecessário, salvo em situações pontuais, e que o agricultor que utilizar fórmulas de adubação com alto N está perdendo dinheiro. C Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII

36 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br


COLUNA AGRONEGÓCIOS

N

o cenário mais provável, a produção de soja excederá o consumo em 2015, promovendo recomposição dos estoques em níveis muito superiores aos do passado recente, tornando a cotação oscilante, em torno de US$ 10,00 por bushel. Não vemos muito espaço para oscilações bruscas, menos ainda para melhoria sensível da cotação, mas pode haver leve queda se a China reduzir as compras ou se aumentar a produção americana. Em resumo: Cenário pessimista: a China reduz compras além do esperado; os EUA plantam mais de 34 milhões de hectares, com produção superior a 101 milhões de toneladas (Mt) e preço médio de US$ 10,00/bushel. Cenário otimista: com problemas climáticos, os EUA produzem menos de 100Mt e o Mercosul colhe menos de 150Mt e preço médio acima de US$ 11,00 por bushel. Cenário mais provável: com safra global recorde, a oferta fica acima da demanda, ampliando os estoques de passagem e preço médio de US$ 10,00 por bushel.

CENÁRIO BASE

Os estoques de passagem estão estimados em 32%, valor muito acima da série histórica recente, que sustentava preços de até US$ 16,00/bushel. Os estoques bateram, na baixa, em 15% e, em 2014, estavam em 25%. A redução do apoio ao etanol de milho, nos EUA, liberou área para expandir a produção de soja. O clima adequado no Brasil e o Peso desvalorizado na Argentina impulsionam a produção nos dois países, levando junto o Paraguai. Esperam-se preços estáveis até a definição do plantio americano, com eventuais oscilações por conta do clima até agosto, e provável leve queda de preços no final do ano, caso a produção recorde seja confirmada. A previsão dos analistas para a produção global, em 2014/15, chega a 9% acima da última safra, com a colheita podendo atingir 312Mt, superando a demanda global em 30Mt, o que permite manter o estoque significativamente alto. Argentina, Brasil e Paraguai devem

A soja em 2015 responder por 50% dessa produção. O mercado antecipou estes movimentos, incorporando o fator estoques elevados, e o preço atual reflete a previsão de safra recorde. O mercado trabalha com a estimativa de 94Mt para a colheita brasileira de 2015, um aumento de 7% sobre o ano anterior. Na Argentina, a área de soja aumentou em 2%, com parte da área de milho da Região Pampeana sendo comutada para a soja. No entanto, houve redução de área nas zonas marginais argentinas, onde os custos de produção e de transporte são significativamente mais elevados que os da Pampeana, mesmo para um grão valorizado como a soja. O mercado estima a produção da Argentina em 58Mt, valor superior ao do ano anterior. O potencial de exportação de soja em grão para os países do Mercosul é de 60Mt. O Brasil deverá exportar 47Mt, a Argentina 9Mt e o Paraguai 4Mt. Com maior concorrência da grande safra americana, ficará difícil para esses países superarem essa estimativa. Em termos de processamento na área do Mercosul, os analistas preveem um crescimento de 5% no período, próximo de 80Mt.

CHINA

A importação da China continuará sendo o principal suporte para os preços da soja, em 2015. Sua produção doméstica diminuiu 3% em 2014 (menos de 12Mt) e seu estoque doméstico permanece baixo, como ocorreu nos dois anos anteriores. Entrementes, a projeção de crescimento global (33,5%) e da China em particular (7%) pode colocar um ponto de interrogação na magnitude da demanda de farelo de soja, postos os estoques globais altos e a perspectiva de produção recorde. Os analistas estimam as importações chinesas em 73Mt, crescimento de 4Mt sobre 2014. Não é esperado grande aumento nas importações da União Europeia, ou mesmo de outros países, devendo situar-se próximo dos 3% de crescimento da economia global.

OUTROS FATORES

A redução da tremenda valorização

do real, que passou de R$ 1,25/US$ 1,00 para R$ 3,05/US$ 1,00, em menos de um ano, é um alento para o agricultor brasileiro. Desta vez, a correção cambial veio após as aquisições de insumos, antes da venda da soja. Porém, a partir de julho, as compras de sementes, agroquímicos e fertilizantes incorporarão o novo patamar cambial, aumentando o custo de produção do agricultor. A safra americana de 101Mt; o estoque de passagem próximo de 35%; a recessão prevista para o Brasil (crescimento negativo do PIB de até 1,5%), que restringe o mercado doméstico; e o aumento do custo de produção no Brasil são fatores que permitem antever uma freada na taxa de expansão da produção brasileira para 2016. Porém, problemas climáticos podem resultar em frustração da safra americana que, em anos anteriores, chegou a menos 13% da produção prevista. Na Argentina, nos últimos anos, os agricultores retiveram sua soja como um hedge contra a inflação e a desvalorização da taxa de câmbio. Esse aspecto, junto com os conhecidos gargalos logísticos do Brasil, podem resultar em picos conjunturais de preços em determinados momentos do ano. Preveem-se aumento da produção brasileira de frangos e de suínos e melhoria nas condições de exportação, em virtude de negociações entabuladas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para superação de barreiras sanitárias de países importadores. Se os novos acordos forem implementados nos próximos três meses, esse fato pode significar um impulso extra nas exportações de carnes, aumentando a demanda de soja e milho para rações. Em suma, o cenário é de precaução. O produtor já está postergando a aquisição de máquinas e implementos, ou outros investimentos que não sejam urgentes. Com a previsão de aumento do preço de agroquímicos e fertilizantes, mais do que nunca vale a velha máxima: consulte um engenheiro agrônomo. Análise de solo, adubação correta, adequada regulagem de máquinas e manejo de pragas podem representar importante redução de custos, sem comprometer a C produtividade da lavoura. Decio Luiz Gazzoni

O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

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COLUNA MERCADO AGRÍCOLA

Nova virada de consumo maior que produção de grãos O mercado mundial de grãos deverá registrar nos próximos anos uma nova fase de produção menor que o consumo, puxando estoques mundiais para baixo. Desta forma se abre nova janela de avanços positivos nas cotações. Para se proteger deste ciclo, a China, neste ano, divulgou nota informando que vai aumentar seus volumes de estoques de grãos para prevenir problemas de abastecimento nos Oferta e demanda mundial de grãos (em milhões de toneladas) próximos anos, com o objetivo de controlar a inflação e assim dar condições para que o país Ano 2015/16* 2014/15* 2013/14 2012/13 2011/12 continue a crescer. O crescimento é o que os chineses buscam agora. Para isso, em maio reduziram 462 462 469 527 508 os juros internamente para estimular o crescimento da economia, que na década passada crescia Est. Inicial 2.314 2.476 2.255 2.478 2.487 acima de 10% ao ano e atualmente cresce na faixa de 7% a 8% ao ano. Comparados ao Brasil são Produção 2.307 2.430 2.472 2.486 2.468 números excelentes, mas o que a China persegue mesmo é voltar a crescer em ritmo maior, com Consumo 469 508 452 519 527 aumento da poupança interna, de renda da população e com demanda muito forte e importações Est. Final de todos os tipos de grãos e em grandes volumes. Fonte: USDA, mai-15, Elaboração Brandalizze Consulting MILHO

SOJA

Safrinha teve clima favorável e mercado segue calmo

Produtores segurando para vender no segundo semestre

O mercado do milho registrou ritmo lento de negócios em abril e maio. Foi comercializado produto da safra de verão, atendendo as necessidades das indústrias que não precisaram exercer grande pressão de compra. Dessa forma, as cotações seguiam o ritmo que os portos tinham como valores de exportação (próximos de R$ 28,00 a saca). Assim, internamente o mercado trabalhava destes níveis para baixo e os fechamentos eram pontuais. Em junho ocorrem as primeiras colheitas da safrinha e os compradores seguirão a mesma política de ir negociando dentro dos valores de exportação. Os fechamentos devem continuar calmos, porque há bom volume negociado antecipado com embarque previsto entre agosto e outubro e, desta forma, os produtores deverão segurar parte do milho para vender mais tarde, porque neste momento haverá poucas chances de cotações atrativas. Somente uma evolução do dólar poderia trazer avanços importantes nos indicativos ou se houvesse forte pressão de alta em Chicago, o que não é esperado para as próximas semanas. Assim, a expectativa é de calma, mas com bons fundamentos de médio e longo prazo. A safrinha teve clima favorável neste ano e caminha para uma boa produtividade com colheita, que poderá superar a marca de 45 milhões de toneladas.

Os produtores já negociaram a maior parte da soja, com mais de 75% da safra comercializada. O produto restante deve ser usado como ativo financeiro para ser vendido posteriormente. Enquanto isso, a safra nova, que teve bons negócios entre março e abril, passou por maio com poucos negócios, porque houve indicativos mais frágeis no período. Os bons fechamentos da safra nova se deram entre R$ 75,00 e R$ 76,00 pela saca nos portos e em maio os níveis estavam entre R$ 71,00 e R$ 73,00. Os produtores seguraram as vendas à espera de números melhores à frente. O setor segue otimista e realizando fechamentos de insumos com a soja a fixar, mostrando que o novo plantio irá crescer algo ao redor de um milhão de hectares e a nova safra irá passar dos 33 milhões de hectares plantados. FEIJÃO

Segue com demanda maior que oferta

O mercado do feijão se mostrou positivo aos produtores nas últimas semanas com o consumo maior que a oferta e as cotações se mantendo firmes. O Carioca registrou valores que passavam de R$ 150,00 pela saca do produto de boa qualidade e as ofertas seguiam pontuais. O Preto mostrava indicativos

entre os R$ 100,00 e os 130,00 a saca, também com boa liquidez e demanda. Houve até mesmo produto saindo do Mato Grosso para atender consumidores do Norte do país que estão crescendo em demanda do feijão Preto. As ofertas devem continuar restritas e a demanda forte, porque este será o ano do arroz com feijão no consumo brasileiro de alimentos devido à crise financeira que o país atravessa. ARROZ

Calmaria com safra fechada

O mercado do arroz registrou fechamento de colheita no último mês, com indicativos de que tenha superado 12 milhões de toneladas colhidas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou 12,4 milhões de toneladas, números considerados muito otimistas pelos produtores. A demanda está crescendo e a Conab voltou a estimar 12 milhões de toneladas de consumo, número idêntico ao do ano passado. A expectativa é de que haverá um crescimento no consumo entre 3% e 5%, o que elevaria para 12,5 milhões de toneladas consumidas. O ano começou com estoques baixos e tende a registrar aperto no abastecimento no final do ano, quando haverá escassez de ofertas, e quem conseguir armazenar arroz para venda poderá lucrar. Os fundamentos são bons, mas ainda se está em fase de calmaria do mercado que tende a melhorar.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado internacional mostrou boa reação nas cotações do trigo em maio, quando o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostrou em seu relatório de oferta e demanda que será um ano de aperto. Houve problemas climáticos em vários pontos do planeta e indicativos de que o El Niño poderá afetar a produção da Austrália, que vem sendo sacrificada pelo clima. O produto mostrou alta de 20% nas cotações internacionais nas últimas semanas e tudo indica que para chegar ao mercado brasileiro o custo não ficara abaixo dos R$ 900,00 por tonelada. Desta forma, os moinhos terão que pagar mais pelo produto nacional, atualmente negociado bem abaixo deste nível. ALGODÃO - O mercado tem se mostrado calmo, mas como houve queda na área e também há redução no plantio dos EUA tudo aponta para cotações externas maiores e também espaço para reação internamente. A safra brasileira tem recebido chuvas em pleno período de abertura dos capulhos, fato que, segundo alguns produtores, poderá prejudicar a qualidade do algodão e diminuir a produtividade. O setor espera boas cotações no segundo semestre. CHINA - A boa notícia nestas últimas semanas veio da presença do primeiro-ministro chinês Li Keqiang em missão de investimentos no Brasil, que poderá resultar em dezenas de bilhões de dólares para ferrovias, agronegócio, além da formação de uma grande trader de compra de grãos. Os chineses estão atuando no País e desta forma abrindo um canal de venda de grãos e carnes do Brasil para a China, que precisa importar grandes volumes de todos os tipos de alimentos.

Estima-se em mais de R$ 50 bilhões em investimentos no Brasil, com consequentes benefícios ao setor agrícola. UCRÂNIA - Os ucranianos plantaram a safra de grãos em maio e o clima aparentemente estava normal para o cultivo. Contudo, há indicativos de que o país poderá passar por período de estiagem em junho, o que comprometeria as lavouras. Deverá colher algo abaixo de 25 milhões de toneladas de milho, sendo que o trigo também registra indícios de queda na área e na produção. ARGENTINA - A safra de soja deste ano está com a colheita praticamente fechada, mostrando bons números, com níveis de 58,5 milhões de toneladas até 60 milhões de toneladas nos dados dos mais otimistas. O milho se encontra em colheita, com safra apontada em mais de 25 milhões de toneladas. As geadas que ocorreram em maio não mostravam grandes problemas para as lavouras porque foram fracas e pegaram áreas já prontas. Os produtores compraram muitos silos bolsa e tudo indica que vão segurar a safra para vender depois da eleição, que ocorre em outubro. Os produtores argentinos apostam em novo presidente e em cotações melhores. Isso pode favorecer o mercado internacional, que ficará vazio de oferta de grãos da Argentina nestes próximos meses. EUA - O plantio da safra de grãos dos norte-americanos se deu dentro do período ideal, porém, há temor de que o El Niño traga altas temperaturas entre julho e agosto no país, o que seria fator de queda na produtividade e poderia trazer algum reflexo C positivo para o mercado brasileiro no segundo semestre.

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

38 Junho 2015 • www.revistacultivar.com.br







04 • Junho 2015 • Soja • www.revistacultivar.com.br

Inovações no manejo

Fotos R. C. O. F. Bueno

Estratégias diversificadas têm sido empregadas no controle de pragas, cujo combate se torna cada vez mais exigente diante de problemas como a resistência destes insetos à aplicação de produtos fitossanitários. Esforços científicos e tecnológicos, adotados de modo integrado, como o aprimoramento das técnicas de monitoramento, com uso de drones e Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants), aliados à busca por inseticidas mais eficientes e sustentáveis, estão entre as ferramentas que compõem a nova visão necessária para enfrentar lagartas e percevejos na cultura da soja

A

soja [Glycine max (L.) Merrill] é uma importante cultura no Brasil e no restante do mundo, cuja produtividade é limitada por diversos fatores, destacando-se os danos de insetos-praga, principalmente quando não são manejados

eficientemente. As perdas causadas por insetos podem reduzir anualmente em média 7,7% a produção agrícola no Brasil, correspondendo a uma diminuição de aproximadamente 25 milhões de toneladas de alimentos, fibras e biocombustíveis.

Esse fato aliado ao crescente número de espécies de pragas resistentes a produtos fitossanitários tem imposto à ciência uma nova visão de exploração dos recursos naturais à disposição da agricultura, com a utilização de estratégias mais diversificadas e


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Foto Inquima Tecnologia em Aplicação

www.revistacultivar.com.br • Soja • Junho 2015 •

Figura 1 - Drone ou Veículo Aéreo Não Tripulado (Vant)

MIP-soja. Nesse sentido, novas alternativas estão sendo desenvolvidas,com a finalidade de tornar o monitoramento mais acessível aos produtores. Os Drones ou Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants), aeronaves de pequeno porte, comandados por controle remoto, que não apresentam capacidade de carregar tripulação, mas podem percorrer até 50 km de área em apenas 60 minutos, são uma possibilidade de alto potencial, pois carregam uma câmera que gera dados para identificação de

Isca

Biocontrole

Biocontrole

O monitoramento é uma importante ferramenta no manejo de insetos-praga e quando realizado de forma eficiente permite o conhecimento da origem dos problemas fitossanitários e do comportamento dos insetos ao longo da safra, o que resulta consequentemente na aplicação de táticas de controle no momento certo, ou seja, quando o nível de controle for atingido. O método mais utilizado na cultura da soja é o pano de batida que requer treinamento e conhecimento para uma correta identificação das espécies que estão ocorrendo na lavoura. No entanto, devido ao tempo que esse tipo de amostragem demanda, a recomendação de se realizar dez amostragens/100 ha transforma esta ferramenta em um dos principais entraves à consolidação do

Planeta Sustentável

MONITORAMENTO DO COMPLEXO DE PRAGAS

áreas com a presença de pragas. As imagens geradas pela câmera podem ser analisadas após o vôo e os dados são de suma importância para o agricultor, por apresentar um diagnóstico localizado do problema. O Sensoriamento remoto é outra técnica que vem sendo utilizada e baseia-se na utilização de imagens provenientes de aeronaves ou satélites, que posteriormente são enviadas para computadores onde recebem um tratamento que permite a diferenciação de áreas irrigadas e não Fundação MT

especialmente ligadas ao Manejo Integrado de Pragas (MIP). Assim, o setor agrícola tem a necessidade de buscar avanços na produtividade, porém aliado a sistemas de apoio à defesa fitossanitária, na garantia da segurança ambiental e na inocuidade de alimentos, o que exige a incorporação contínua de inovações, na forma de conhecimentos científicos e tecnológicos.

Figura 2 - (A) Feromônio; (B) Armadilha PET; (C) Armadilha Delta (D) Armadilha Luminosa; (E) Armadilha Adesiva


R.C.O.F.Bueno

06 • Junho 2015 • Soja • www.revistacultivar.com.br

(Esquerda) Lagarta; (Direita) Adulto de Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 (Lepidoptera: Erebidae)

irrigadas, culturas, estimativa de produtividade, vigor da cultura e detecção de áreas infestadas por doenças e atacadas por pragas. É possível monitorar a densidade amostral das espécies Anticarsia Gemmatalis Hübner, 1818 (Lepidoptera: Erebidae) e Chrysodeixis includens (Walker 1857) (Lepidoptera: Noctuidae). Assim, o monitoramento georreferenciado de lagartas na cultura da soja constitui mais uma alternativa em potencial para o desenvolvimento de futuros protocolos de controle de pragas, para o manejo em sítios específicos e consequente redução nos impactos ambientais gerados pela atividade agrícola. Outra alternativa para o monitoramento de pragas da soja é a utilização de substâncias químicas que influenciam o comportamento dos insetos, ou seja, os feromônios. Por ser um

composto volátil o feromônio é liberado lentamente pela armadilha, e assim atrai as fêmeas da espécie, que entram na armadilha e ficam presas, o que auxilia no monitoramento rápido e eficaz das pragas e apresenta efeito em grandes áreas, podendo chegar a até 20 km de distância. Essas substâncias são consideradas uma alternativa verde para o monitoramento de pragas, pois a utilização desta técnica preserva os insetos benéficos. Outras opções de uso de armadilha, porém sem associação com ferômonios, são as luminosas e adesivas que atraem os insetos pelo espectro de cor emitido. As armadilhas são métodos de monitoramento eficientes e de baixo custo (Figura 1). Podem ser instaladas sobre a cultura para o monitoramento de mariposas de C. includens e

Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae), mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) (Gennadius, 1889), tripes Frankliniella schultzei (Trybom, 1920) (Thysanoptera: Thripidae) e pulgões Myzus persicae (Sulzer 1778) e Aphis gossypii (Glover, 1877) (Homoptera: Aphididae) e/ou na bordadura do campo para percevejos, como Euschistus heros (Fabricius, 1794) (Hemiptera: Pentatomidae). Existem atualmente vários modelos para essa finalidade (veja box).

MANEJO DO COMPLEXO DE LEPIDÓPTEROS - PRAGA

Há alguns anos o maior problema relacionado a lepidópteros-praga na cultura da soja era a lagarta desfolhadora A. Gemmatalis conhecida como lagarta-da-soja, porém no cenário atual

Modelos de armadilhas para percevejos e outros insetos A - Estacas armadilhas ou Iscas tóxicas: São instaladas estacas e na ponta pendura-se uma estopa embebida com inseticida e sal. Os percevejos são atraídos e quando entram em contato com a estopa morrem. B - Armadilha “PET”: Em uma garrafa PET de 2L faz-se alguns orifícios para a entrada dos percevejos, com uma telinha de alumínio galvanizado fazer funis e colar nos orifícios – evita que o inseto volte. Nessa armadilha há a associação com feromônio de atração (Embrapa, 2006). C - Armadilha tipo Delta: São armadilhas triangula-

res, no piso é colocado um papel adesivo (trocar a cada um mês e contabilizar os lepidópteros), no centro do papel adesivo é posto o ferômonio. D - Armadilha Luminosa: São utilizadas para insetos que apresentam hábito noturno, atividade entre 19h até 5h. Espécies como lepidópteros, percevejos e algumas moscas são atraídos pela luz e caem em um saco coletor. Devem ser instaladas nos locais mais altos do campo. E - Armadilha Adesiva: Composta por um papel adesivo de cor amarela ou azul, que atraí insetos como lepidópteros, mosca branca, pulgões.


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Fotos R. C. O. F. Bueno

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(Esquerda) Lagarta e (Direita) adulto de Chrysodeixis includens (Walker 1857) (Lepidoptera: Noctuidae)

se destacam devido ao modo de ação diferenciado, pois atuam em hormônios específicos dos lepidópteros. Assim, o efeito tóxico ocorre em qualquer interferência nesses hormônios resultando em crescimento anormal e prejudicial ao seu desenvolvimento e reprodução. Esses estão entre os inseticidas preconizados pelo MIP, devido à eficácia e elevado grau de seletividade e segurança para inimigos naturais, predadores e parasitóides. Os neurotóxicos são inseticidas que atuam no sistema nervoso, representam até 80% de todos os inseticidas utilizados na agricultura. Atuam durante a transmissão dos impulsos nervosos dos insetos, por isso

apresentam um efeito de choque bastante acentuado, muitas vezes matando o inseto-praga em minutos ou poucas horas. Sendo essa caracterísstica muito importante para proteger uma lavoura contra lagartas que se alimentam de vagens ou grãos. Entretanto os inseticidas neurotóxicos costumam apresentar maior toxicidade para mamíferos, aves e peixes. Por isso, devem ser utilizados com o máximo de cuidado. Um novo inseticida pertencente do grupo das spinosinas (Exalt) está chegando no mercado do Brasil, podendo ser utilizado em diversos Estados com registro para soja e milho. Esse inseticida, embora pertencente à classe dos neurotóxicos, apresenta

Dirceu Gassen

esta cultura sofre o ataque de um complexo de lagartas como a lagarta-falsa-medideira, C. includens que também causa desfolha, Crocidosema aporema (Walsingham, 1914) (Lepidoptera: Tortricidae), o complexo Spodoptera composto por três espécies conhecidas como lagarta-das-vagens, S. frugiperda, S. eridania (Cramer, 1782) e S. cosmioides (Walker, 1858) (Lepidoptera: Noctuidae), que além de desfolha causam danos nas vagens, assim como Heliothis virescens (Fabricius, 1777) (Lepidoptera: Noctuidae) e mais recentemente a lagarta Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae). Esse quadro exige mudanças nos métodos de controle, ou seja, a busca por medidas mais eficientes e de menor impacto ambiental. A ferramenta mais utilizada para o combate desses lepidópteros é o controle químico. Na cultura da soja os inseticidas têm uma participação de 50% no total de produtos fitossanitários utilizados durante o ciclo da cultura (Imea, 2015). Dentre os principais inseticidas utilizados pelos sojicultores merecem destaque os reguladores de crescimento e os neurotóxicos. Comercialmente alguns dos inseticidas mais utilizados no manejo de lepidópteros-praga na cultura da soja são metoxifenozide, clorantraniliprole, flubendiamida e clorfenapir. Os reguladores de crescimento

Lagarta de Crocidosema aporema (Walsingham, 1914) (Lepidoptera: Tortricidae)


08 • Junho 2015 • Soja • www.revistacultivar.com.br perfil ecotoxicológico e características ambientais favoráveis, semelhantes ao do espinosade. Outro benefício é o sítio de ação completamente diferente que as espinosinas possuem em relação aos demais inseticidas presentes no mercado. O ingrediente ativo espinetoram se caracteriza por ser uma evolução no grupo das espinosinas, apresentando maiores benefícios como, maior atividade inseticida para diversas pragas de importância econômica como o complexo de espécies de lepdopteros, tripes e minadoras. Apresenta também um alto efeito de choque, cessando o dano de imediato, além de efeito translaminar, que traz como benefício a proteção total de folhas ou partes tenras da planta minimizando o problema em áreas que não foram completamente cobertas na pulverização. Como última característica, possui maior fotoestabilidade, que permite potencializar o efeito residual. O espinetoram é derivado da fermentação de uma bactéria, originando duas espinosinas, com posterior modificação sintética para potencializar a atividade biológica, bem como o período de controle. Porém, é importante utilizar os inseticidas de forma racional e sempre considerando o nível de controle determinado. O uso indiscriminado do controle

Lagarta de Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae)

químico associado à dificuldade de produção de novas moléculas tem levado à utilização de produtos com mesmo modo de ação na mesma safra ocasionando a seleção de populações resistentes de inseto, aparecimento de novas pragas ou a ressurgência de outras, ocorrência de desequilíbrio biológico, além de efeitos prejudiciais ao homem e outros animais. Para manejar a resistência é importante utilizar inseticidas mais seletivos, aplicando somente nas áreas em que a densidade da praga encontra-se no nível de

Lagarta de Spodoptera cosmioides (Walker, 1858) (Lepidoptera: Noctuidae)

dano, realizar a rotação de produtos, utilizando inseticidas com diferentes modos de ação, por exemplo, se foi aplicado um organofosforado e houver necessidade de reaplicação, usar piretroide ou neonicotinoide, principalmente quando aplicado no mesmo ciclo agrícola (Sosa-Gómez, 2010), e realizar a rotação de culturas, escolhendo preferencialmente aquelas cujas pragas são diferentes das que apresentam problemas de resistência. Nesse contexto, em que o controle químico sofre algumas restrições e a adaptação a diversos métodos de controle tornam-se necessários para otimizar o manejo de pragas e um dos mais promissores é o controle biológico. Entre as táticas do controle biológico, os parasitoides têm sido reconhecidos mundialmente como um dos principais fatores de resistência do ambiente ao crescimento populacional de insetos-praga. Porém muitas vezes a importante função biológica destes organismos é negligenciada na elaboração de estratégias de programas de MIP. A espécie Trichogramma prestiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) tem posição de destaque devido à facilidade de criação, à


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Lagarta de Heliothis virescens (Fabricius, 1777) (Lepidoptera: Noctuidae)

agressividade com controle e por parasitarem ovos de praticamente todo o complexo de lepidópteros-praga. O uso do controle microbiano é outra estratégia do controle biológico, que nos últimos anos tem crescido devido aos avanços nas pesquisas que promoveram o

Lagarta de Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae)

aumento da quantidade de produtos disponíveis e ampliaram as perspectivas para o mercado. Esse método de controle consiste na utilização racional de bactérias, fungos, vírus e nematoides de forma racional para o controle de insetos pragas. A bactéria Bacillus thuringiensis, os fungos Meta-

rhizium anisopliae e Beauveria bassiana, e os vírus pertencentes à família de baculovírus entre eles o baculovírus AgMNPV para o controle da lagarta-da-soja e o vírus HearNPV (nucleo polyhedro virus Helicoverpa armigera) para lagarta H. armigera são exemplos de importantes ferramentas no MIP-soja.

SOJA BT E OS IMPACTOS EM ORGANISMOS NÃO ALVO

Adulto de Trichogramma prestiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae)

O MIP-soja conta recentemente com um novo método de controle de insetos-praga, as plantas geneticamente modificadas com resistência a insetos. Essa tecnologia, chamada de soja Bt/RR2, apresenta espectro de controle contra as principais lagartas que atacam a cultura, como A. gemmatalis, C. includens, C. aporema, H. viresncens, e ainda supressão às lagartas do gênero Helicoverpa, como a H. armigera. Porém, é importante ressaltar que a preservação e a sustentabilidade dessa tecnologia somente ocorrerão com o cumprimento das recomendações de Manejo de Resistência de Insetos pelos produtores. Entre as orientações, a utilização das áreas de refúgio é a principal, pois pode retardar o desenvolvimento de resistência permitindo a sobrevivência dos indivíduos suscetíveis. Além disso, é importante a realização do monitoramento periódico e a utilização de inseticidas, de


10 • Junho 2015 • Soja • www.revistacultivar.com.br preferência com modo de ação diferente do Bt, para controle das lagartas quando em elevada infestação. A soja Bt pode ocasionar também efeitos indiretos, na população de organismos não-alvos, como lagartas do complexo Spodoptera e percevejos, pois com a diminuição de aplicações de inseticidas para pragas alvos, esses insetos-praga que antes eram controlados têm sua mortalidade reduzida, ou seja, esse controle não mais ocorre podendo assim aumentar a importância desses organismos na cultura da soja. Por outro lado, os inimigos naturais também serão expostos a essa tecnologia, sendo beneficiados devido à menor utilização de controle químico e diretamente através de sua alimentação (por exemplo, pólen, flores e seiva de plantas Bt), e ainda pelo consumo de presas ou hospedeiros que se alimentaram dessas plantas que expressam as proteínas Cry, interferindo na biologia e/ou ocorrência natural (Silva, 2013).

Porém, estes possíveis efeitos das plantas geneticamente modificadas na dinâmica populacional dos inimigos naturais são dependentes de vários fatores, entre os quais o nível de resistência da planta, a especificidade da proteína expressa nos tecidos da planta, os tecidos, nos quais essas proteínas estão sendo expressas, à presença de plantas suscetíveis próximas ao local de plantio, o manejo que a cultura vem recebendo, entre outros (Shuler, 2000). Um exemplo do efeito da soja Bt em organismos não-alvos, como a espécie de lepidóptero S. eridania e do inimigo natural Telenomus remus Nixon (Hymenoptera: Platygastridae), é a redução de aproximadamente dois dias na fase larval da praga e um aumento de três dias na longevidade dos machos, e em relação ao parasitoide T. remus a redução do parasitismo de ovos de S. eridania, que na fase larval foram alimentadas com a soja Bt/RR2, com isso as populações desta lagarta

Adulto de Telenomus remus Nixon (Hymenoptera: Platygastridae)

seriam indiretamente impactadas no campo (Silva 2013). É importante ter consciência que os efeitos da soja Bt sobre os organismos não-alvo variam de acordo com a espécie estudada, assim mais estudos sobre estes efeitos, principalmente em campo sobre diferentes condições ambientais, devem ser realizados para melhor manejo do ambiente, e a flutuação populacional de insetos monitorada cuidadosamente para assim ser possível obter mais informações sobre o uso dessa nova ferramenta no MIP-soja.

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA SOJA

Frente aos desafios referentes à ocorrência de pragas e às novas tecnologias disponíveis no cultivo da soja, é importante salientar que para o manejo adequado da cultura é importante à adoção de estratégias de controle de pragas dentro do contexto de Manejo Integrado de Pragas (MIP). A filosofia do MIP baseia-se na premissa


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Fotos R. C. O. F. Bueno

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(Esquerda) Trissolcus basalis parasitando ovos de percevejo; (Direita) Adulto de Telenomus podisi

de que não são todos os insetos que necessitam de controle e que alguns níveis de infestação são toleráveis sem redução econômica de produção (Peterson & Higley, 2000), definindo assim como Nível de Dano Econômico (NDE) a menor população de pragas capaz de causar dano. O MIP também considera primordial a integração das diferentes formas de manejo de pragas. Assim, considerando a importância nacional e o tamanho da área plantada com soja, a utilização de táticas de MIP contribui para o aumento da produtividade, uma vez que reduz o custo de produção. O controle realizado atualmente não utiliza como base a população de pragas existente na lavoura, respeitando o NDE e sim se baseando em critérios subjetivos de percepção do agricultor que utiliza aplicações pré-programadas em calendário para, muitas vezes, aproveitar outras operações agrícolas, como as aplicações de herbicidas e/ou fungicidas. A não utilização das premissas do MIP, além de causar desequilíbrio no agroecossistema da soja, também tem causado muitas vezes a utilização de inseticidas de forma inadequada, seja através de aplicações preventivas, junto com o des-

secante ou com o herbicida em pós-emergência ou mesmo com as aplicações de fungicidas. Essas práticas que são bastante comuns nas lavouras de soja e que objetivam o aproveitamento de operações, aliado às aplicações frequentes de produtos de amplo espectro de ação, sobretudo na fase inicial do desenvolvimento da soja e o não uso das amostragens de pragas, tem levado a um grande desequilíbrio nas lavouras de soja e acarreta sérios problemas como, por exemplo, a eliminação do complexo de inimigos naturais e também reduz drasticamente o período útil dos princípios ativos dos inseticidas, pois são pulverizados nas lavouras de forma sequencial e selecionam os indivíduos rapidamente. Diante disso, é necessário repensar a forma de realizar o manejo de pragas na cultura da soja. É verdadeiramente possível, com as tecnologias disponíveis no mercado, posicionar as pulverizações de inseticidas de forma mais adequada, sempre respeitando o número de pragas estabelecidas pelo nível de controle. Nesse sentido, destaca-se o estudo realizado em áreas comerciais de cultivo de soja as áreas onde receberam pulverização de

inseticidas reguladores de crescimento no período vegetativo a população de lagartas ficou controlada e a população de inimigos naturais permaneceu elevada. A menor população de lagartas durante todo o ciclo da cultura ocorreu pelo uso do inseticida, mas isto também tem relação direta com a alta população de inimigos naturais, que aturam de forma sinérgica ao controle químico na supressão das pragas, auxiliando a permanência da população abaixo do nível das pragas. Além disso, nas áreas onde foram pulverizados os inseticidas reguladores de crescimento no início do desenvolvimento da soja também houve menor ocorrência de percevejos durante o ciclo da soja. O menor número de percevejos na cultura também ocorreu devido à preservação dos insetos benéficos pela pulverização dos inseticidas seletivos que mantiveram os inimigos naturais, que auxiliam na supressão das pragas no agroecossistema durante todo C o ciclo. Regiane Cristina O. de F. Buenos, Marina Mouzinho Carvalho, Leidiane Coelho Carvalho, Ana Laura Favoreto, Lucas Silva Barros FCA/Unesp

Encarte Técnico: Soja • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 193 • Junho 2015 • Capa - Andre Katsuo Shimohiro Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075

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02 • Junho 2015 • Soja • www.revistacultivar.com.br

Mapa da incidência Rafael Soares

Apesar da ocorrência e da intensidade da ferrugem asiática serem distintas entre as safras, nas diversas regiões de cultivo do Brasil, uma tendência observada ao longo dos últimos anos reside no início da doença a partir de dezembro. Estratégias como a calendarização da semeadura e a rotação de princípios ativos são importantes para o manejo do patógeno e a prevenção de problemas de resistência do fungo à aplicação de fungicidas

A

safra de soja 2014/2015 encaminha-se para conclusão. Como já constatado em outros anos, a ocorrência da ferrugem-asiática teve peculiaridades exclusivas, variando em incidência e severidade nas diferentes regiões de cultivo. Além disso, a comercialização de novos fungicidas, a semeadura de soja sobre soja (safrinha) e alterações no período de vazio sanitário e na época de semeadura movimentaram o cenário agrícola da cultura, tendo sempre a ferrugem como fator preponderante nas discussões. Segundo a estimativa de

março de 2015 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil semeou 31,3 milhões de hectares de soja (área 3,9% maior que em 2013/14), com produtividade média de 2.976kg/ha (4,3% maior que em 2013/14) e produção de 93,3 milhões de toneladas (8,3% maior que em 2013/14). O aumento da produtividade reflete as condições de clima que, de forma geral, favoreceram a cultura. Mas algumas regiões tiveram períodos pontuais de escassez de chuva e altas temperaturas, com consequente influência nas epidemias de ferrugem.

ANÁLISE POR REGIÃO Região Sul

No Paraná a semeadura da soja foi atrasada em várias regiões produtoras, em decorrência da falta de umidade no início do período de cultivo, com o encerramento da semeadura realizado somente no final do ano. A primeira ocorrência de ferrugem registrada no site do Consórcio Antiferrugem (CAF) foi em soja voluntária no dia 22/11, e em lavoura comercial, no dia 4/12, 22 dias mais cedo que na safra 2013/14. A ocorrência e a severidade da doença foram maiores que nas duas safras anteriores,


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muitas plantas voluntárias de soja na entressafra, possibilitando a perpetuação e a multiplicação do fungo causador da ferrugem. Por isso, foram diversos os registros de ferrugem em plantas voluntárias enviados ao site do Consórcio Antiferrugem ainda no mês de outubro. Assim, é possível afirmar que lavouras recém-implantadas, na safra 2014/2015, já estavam expostas ao inóculo da doença. A maioria dos produtores teve dificuldades na realização da semeadura em época antecipada, em função do excesso de chuvas. O clima chuvoso em todo o Estado, predominante de outubro a janeiro dessa safra, aumentou a severidade da doença, comprometendo o rendimento de algumas lavouras. No noroeste do Estado, a partir do último decêndio de dezembro, em janeiro e fevereiro, a precipitação foi elevada. As altas temperaturas e umidade, além de permitirem o maior crescimento das plantas e, consequentemente, o fechamento mais rápido das entre linhas de semeadura, favoreceram a ocorrência da ferrugem. Em função das chuvas, muitos produtores atrasaram a entrada na lavoura para a primeira aplicação de fungicida e aumentaram

os intervalos entre as aplicações. Com a doença estabelecida e a lavoura fechada, a evolução da ferrugem foi rápida, ocasionando perdas de rendimento de grãos, que variaram entre 10% e 40%. A maior intensidade da ferrugem fez com que parte dos produtores aumentasse o número de aplicações de fungicidas, ficando a média em torno de quatro. Na região norte do Rio Grande do Sul, de maneira geral, a severidade da ferrugem não foi alta até o final do ciclo da cultura, quando naturalmente ocorre uma elevação em razão da maior quantidade de inóculo e do envelhecimento das plantas. Em decorrência da alta intensidade de ferrugem-asiática no final da safra anterior e por ser um ano de El Niño, alguns produtores anteciparam as aplicações de fungicidas para o estádio vegetativo, resultando em quatro aplicações, número superior ao registrado em safras anteriores. Porém, em experimentos com diferentes épocas de semeadura de soja, controle satisfatório foi obtido com duas aplicações, em semeaduras no início da época recomendada, e três aplicações foram suficientes em semeaduras de novembro. Na região sul do Rio Grande do Sul, a semeadura

Cláudia Godoy

mas de maneira geral os produtores conseguiram bom controle da doença devido à semeadura de cultivares precoces e à aplicação de fungicidas. A situação preocupante resta em relação ao aumento de 19% na área de soja safrinha no estado, passando para cerca de 130 mil hectares (Seab/Deral, 2015). Embora em grande parte dessa área a ferrugem esteja bem controlada, isto tem sido feito à custa de quatro a seis aplicações de fungicidas. Merece destaque o fato de que, a despeito da intensa variação do clima que afetou principalmente as lavouras de ciclo precoce, as produtividades medidas, a partir do avanço da colheita, dão indicações de que se manterão aproximadamente 12,1% acima do observado na safra passada, com a produção paranaense representando o maior incremento absoluto da oleaginosa nesse ano agrícola (Conab, 2015). Em Santa Catarina, de forma geral, as chuvas ocorridas ao longo do ciclo favoreceram o desenvolvimento das lavouras. O site do Consórcio Antiferrugem registrou ocorrências de ferrugem em soja voluntária a partir de 15 de setembro, mostrando que o inverno menos rigoroso permitiu a sobrevivência de plantas voluntárias, que garantiram a sobrevivência do fungo da ferrugem na entressafra. Os focos em lavouras comerciais foram relatados a partir de janeiro de 2015. A continuidade das precipitações coincidindo com a proliferação da ferrugem-asiática causou dificuldade aos agricultores nas aplicações de fungicidas, o que pode ter prejudicado a eficiência do tratamento fitossanitário. Mesmo assim, a Conab estima aumento de 2,3% de produtividade em relação à safra anterior, o que, somado aos 8% de crescimento de área, deve gerar aumento de produção de cerca de 10,5%. No Rio Grande do Sul a ocorrência de inverno ameno em 2014 propiciou a sobrevivência de

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Na última safra a ferrugem asiática registrou diferentes graus de severidade e de incidência nas diversas regiões de cultivo de soja


04 • Junho 2015 • Soja • www.revistacultivar.com.br alcançar níveis de produtividade ao redor de 2.855kg/ha (acréscimo de 27% em relação ao fraco desempenho da safra anterior).

A dispersão da ferrugem asiática

Região Centro-Oeste

que pode ser considerado uma de suas maiores safras. Região Sudeste

Em Minas Gerais, a escassez de chuvas desde o início da safra foi determinante para a baixa pressão da ferrugem-asiática, assim como afetou o rendimento médio da cultura no estado. A maior ocorrência da doença foi registrada no final da safra, com alta severidade. Algumas lavouras tiveram perdas elevadas em função da restrição de aplicação de fungicidas devido ao baixo retorno econômico das aplicações, considerando-se a redução de produtividade pela escassez de chuvas. Em São Paulo, principalmente na região sul do estado, a ferrugem foi mais severa que no ano passado, mesmo com um mês outubro com pouca chuva e com 15 a 20 dias praticamente sem precipitações e com altas temperaturas (entre 10/01 a 28-30/1/15). Circunstâncias que ajudaram a segurar a epidemia, que aumentou bastante no final de fevereiro. Desta forma, agricultores conseguiram controlar a doença nesta região. Em geral, foram realizadas três aplicações (Fundação ABC). Segundo a Conab, existe a expectativa de

Fotos Cláudia Godoy

de soja ocorreu normalmente em novembro de 2014. Nos meses de outubro a janeiro, a precipitação registrada foi acima da média, seguida de redução em fevereiro e março. As primeiras informações de ocorrência de ferrugem surgiram no último decêndio de janeiro e sua severidade, durante o ciclo da cultura na região foi branda. Para o controle, foram usadas, em média, duas aplicações de fungicidas. Em algumas lavouras com áreas menores de 100 hectares, com semeaduras em outubro, a incidência da doença ocorreu no início da desfolha, não necessitando fungicida. No Rio Grande do Sul, em geral, não foram registradas falhas de controle ou fitotoxicidade causadas por fungicidas. Onde ocorreram, as falhas de controle foram associadas a problemas de tecnologia de aplicação ou de condições climáticas adversas no momento da aplicação. O controle satisfatório pode ser comprovado pelo maior rendimento obtido com a cultura da soja, quando comparado com a safra 2013/2014. De acordo com dados da Emater, no Rio Grande do Sul, estima-se que o Estado colherá cerca de 14,84 milhões de toneladas de soja, o

De modo geral, a epidemia da ferrugem-asiática teve seu início tardio na maior parte do Centro-Oeste, principalmente em função do retardamento da semeadura por causa do atraso do início das chuvas e da baixa pluviosidade no mês de janeiro. O uso de cultivares precoces, aliado ao controle químico, foi efetivo no controle em muitas regiões, principalmente naquelas que não tiveram registros de ferrugem na entressafra. A doença ocorreu mais cedo na região norte do Mato Grosso, com registros ainda na fase vegetativa da soja, havendo maior dificuldade de controle químico. No centro-sul do estado, a doença ocorreu na fase reprodutiva e, com ambiente menos favorável à ferrugem no mês de janeiro, as aplicações constantes de fungicidas e a prevalência de cultivares precoces, as perdas foram menores. No Mato Grosso do Sul ocorreu maior irregularidade na distribuição das chuvas, o que afetou o progresso da ferrugem, principalmente na região centro-sul do estado. No norte do Mato Grosso do Sul, os primeiros registros

Altas temperaturas podem agravar epidemias da doença


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da doença ocorreram no estádio reprodutivo da cultura, como na safra anterior, com progresso relativamente lento em função das poucas chuvas de janeiro e temperaturas médias mais elevadas. Em Goiás, os primeiros registros foram observados no sudoeste do estado, onde a semeadura da soja tem início mais cedo. Da mesma forma nos demais estados do Centro-Oeste do País, a escassez de chuvas no mês de janeiro ocorreu em todo o estado de Goiás, comprometendo a produtividade da soja e afetando também o progresso da ferrugem. Nas regiões central, sul e norte do estado, assim como no Distrito Federal, a doença ocorreu de forma mais intensa no final da fase reprodutiva da soja, comprometendo mais a produtividade das lavouras semeadas mais tarde e com cultivares de ciclo mais longo. Nesses casos, houve dificuldade de controle químico, com necessidade de aumento do número e da frequência de pulverizações. Regiões Norte e Nordeste

A maior severidade de ferrugem-asiática ocorreu nos estados do Maranhão e de Tocantins na safra 2014/15, em razão principalmente da boa distribuição de chuvas na fase reprodutiva da cultura. Houve elevado crescimento da curva de progresso da doença no mês de março, quando boa parte das lavouras de soja encontrava-se em final de formação de grãos, registrando-se baixa eficiência do controle químico em vários casos. Outro aspecto marcante nesses dois estados foi a elevada incidência de outras doenças, como mancha-alvo (Corynespora cassiicola), antracnose (Colletotrichum truncatum) e doenças de final de ciclo - DFCs - (Cercospora kikuchii e Septoria glycines), causando perdas significativas e apresentando difícil controle pela maioria dos fungicidas. No sul do Pará houve ocorrência de ferrugem, mas as perdas de produtividade da soja foram mais associadas à mancha-alvo, à

antracnose e a DFCs. Nas demais regiões produtoras de soja do Pará não houve registro de ferrugem, mas os problemas com as demais doenças também ocorreram. Na Bahia e no Piauí, a escassez das chuvas limitou a ocorrência da ferrugem, havendo, em alguns casos, restrição na aplicação de fungicidas pelo baixo potencial produtivo das lavouras.

VAZIO SANITÁRIO E ÉPOCA DE SEMEADURA

O vazio sanitário da soja passou a ser adotado para reduzir a quantidade de esporos do fungo durante a entressafra e, assim, retardar a ocorrência da doença na safra. Atualmente é adotado em 12 estados, no Distrito Federal e no Paraguai. Cada estado possui sua legislação específica para a implantação do vazio sanitário, regulada por Instruções Normativas, Portarias e Resoluções. Os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul não têm o vazio sanitário regulamentado, em função das condições do inverno normalmente não permitirem que plantas de soja sobrevivam na entressafra. Entretanto, em 2014 o inverno foi menos rigoroso e foram relatados focos de ferrugem-asiática em soja guaxa nos dois estados. No Rio Grande do Sul, o

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primeiro relato de ferrugem ocorreu em 5/12/14, com antecedência de mais de um mês em relação à safra 2013/14. Além da proibição do cultivo, o controle de plantas de soja voluntárias é o principal foco do vazio sanitário. Esse controle tornou-se um desafio para os produtores, que a partir da perda de grãos durante a colheita podem ter suas áreas infestadas de plantas voluntárias, muitas vezes no meio de lavouras de milho, girassol, milheto, entre outras culturas. Além disso, uma prática que, embora não seja novidade, tem se intensificado nas últimas safras é a semeadura de soja safrinha, que favorece a sobrevivência e a multiplicação do fungo que ocorreu na safra normal. Com isso, a soja safrinha acaba necessitando de aplicações antecipadas de fungicida, e em maior número, o que resulta no aumento da pressão de seleção para resistência do fungo aos fungicidas. A partir desses problemas e depois de muitas discussões, o governo do estado do Mato Grosso ampliou o período do vazio sanitário. O novo prazo antecipa em 45 dias o início do vazio, que agora começa em 1º de maio e termina no dia 15 de setembro. A decisão foi divulgada em Diário Oficial do

A maior severidade da ferrugem asiática ocorreu nos estados do Maranhão e em Tocantins, na safra 2014/15


06 • Junho 2015 • Soja • www.revistacultivar.com.br Estado publicado em 10 de fevereiro por meio da Instrução Normativa (IN) conjunta nº 01/2015 da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), da Secretaria de Agricultura Familiar (Seaf) e do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea-MT). A IN tem por objetivo inibir a semeadura consecutiva de soja sobre soja e revoga a Instrução Normativa anterior, de número 11, publicada em 30 de dezembro de 2014, que estabelecia a vigência do vazio sanitário entre 1º de junho e 30 de setembro. O cultivo de soja para pesquisa científica e melhoramento genético, avanço de gerações de linhagens e produção de sementes pré-genéticas de cultivares testadas como resistentes ao fungo, por instituições de pesquisa, poderá ser autorizado de forma excepcional durante o período. Com a mesma intenção da medida do Mato Grosso, mas usando uma estratégia diferente, o estado de Goiás publicou uma medida de restrição de semeadura da soja através da Agência de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), que aprovou em novembro de 2014 a Instrução Normativa nº 08/2014, que estipula o calendário para a semeadura da soja no estado. A cultura da soja só poderá ser semeada entre 1º de outubro e 31 de dezembro.

NOVOS FUNGICIDAS E ESTRATÉGIAS DE MANEJO

Os fungicidas são a principal estratégia para evitar reduções de produtividade causadas pela ferrugem-asiática. Os produtos mais

utilizados desde a entrada da ferrugem no Brasil foram os fungicidas sistêmicos, ou sítio-específicos, com destaque para os inibidores de desmetilação (DMI, “triazóis”) isolados ou em misturas com inibidores de quinona oxidase (QoI, “estrobilurinas”). Populações de P. pachyrhizi menos sensíveis aos DMIs foram observadas no campo a partir de 2007/2008. A partir de 2008, somente misturas de DMI e QoI foram recomendadas para o controle da ferrugem. Na safra 2013/14 um novo modo de ação passou a integrar o controle da ferrugem, atuando na inibição da succinato desidrogenase (SDHI, “carboxamidas”), sendo registrados em misturas com QoI. A eficiência dos fungicidas no controle da ferrugem vem sendo avaliada desde 2003/04, por meio de uma rede de ensaios cooperativos, realizados por diferentes instituições de pesquisa públicas e privadas. Esses ensaios permitiram acompanhar a mudança na eficiência dos principais produtos ao longo do tempo. Nos ensaios realizados em 2013/14, uma acentuada queda de eficiência foi observada para o fungicida azoxistrobina (QoI) isolado (Figura 1). No final de 2014, o Frac-Brasil (Comitê de Ação à Resistência a Fungicidas) publicou informativo relatando a identificação da mutação na posição F129L para o fungo P. pachyrhizi em populações monitoradas no Brasil. A mutação na posição F129L, do gene do citocromo b, é uma das que conferem alteração parcial na sensibilidade

Figura 1 - Porcentagem de controle da ferrugem-asiática da soja com fungicidas DMI (tebuconazol), QoI (azoxistrobina) e mistura de DMI + QoI (ciproconazol + azoxistrobina), avaliada no período de 2004 a 2014. Fonte: Consórcio Antiferrugem

desse patógeno aos fungicidas do grupo dos QoI. A resistência de fungos a fungicidas é uma resposta evolutiva natural dos fungos a uma ameaça externa à sua sobrevivência, nesse caso o fungicida. Populações de fungos menos sensíveis a fungicidas já estão presentes no conjunto de populações existentes na natureza, mesmo sem nunca terem sido expostas a aplicações. Quando os fungicidas com modo de ação específico começam a ser aplicados, tendem a eliminar populações mais sensíveis do patógeno, aumentando a frequência das populações menos sensíveis. Dessa forma, essa redução de eficiência que vem sendo observada para diversos produtos no campo pode ser explicada pela seleção natural, colocando em risco o controle da ferrugem. Os fungicidas SDHI entram num contexto onde a resistência/menor sensibilidade aos fungicidas DMIs e QoIs já é uma realidade para P. pachyrhizi e, por terem maior eficiência, tendem a ser produtos bastante usados no manejo. O excessivo número de aplicações pode exercer uma alta pressão de seleção para resistência a esse modo de ação. Fungicidas multissítios ou protetores, avaliados nas primeiras safras com ferrugem no Brasil, e descartados em razão da menor eficiência quando comparados a fungicidas DMIs, voltaram a ser avaliados para controle de doenças na soja. Na safra 2013/14, mancozebe foi registrado para controle de doenças na cultura da soja e já

Figura 2 - Evolução do número de ocorrências relatadas no site do Consórcio Antiferrugem, de 2011/12 a 2014/15. Fonte: www.consorcioantiferrugem.net


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Rafael Soares

www.revistacultivar.com.br • Soja • Junho 2015 •

vem sendo utilizado pelos produtores para aumentar a eficiência de fungicidas sistêmicos e integrar o manejo da resistência. Estratégias antirresistência foram divulgadas pelo Consórcio Antiferrugem no final de dezembro de 2014 para prolongar a vida útil dos novos fungicidas e daqueles que ainda possuem boa eficiência. Essas estratégias ressaltam a importância de incluir todos os métodos de controle de doenças, dentro do programa de manejo integrado; utilizar sempre misturas comerciais formadas por dois ou mais fungicidas com modo de ação distinto; aplicar doses e intervalos recomendados pelo fabricante e utilizar os fungicidas preventivamente; evitar aplicações em alta pressão de doença e de forma curativa; não adotar mais que duas aplicações do mesmo produto em sequência e empregar no máximo duas aplicações de produtos

contendo SDHI por cultivo e não utilizar SDHI quando a doença estiver bem estabelecida. Apesar de a ocorrência e a intensidade da ferrugem serem distintas entre as safras, principalmente em razão da variação das condições de sobrevivência do fungo no inverno e das condições climáticas na safra, uma tendência observada nos dados do CAF nas últimas safras é o início da doença a partir de dezembro (Figura 2). Esse fato ocorre em função do fechamento das entre linhas de soja nas semeaduras iniciais, que favorece a infecção por P. pachyrhizi por causa do microclima formado no terço inferior das plantas, e também da regularização das chuvas com o início do verão. A incidência de ferrugem em lavouras semeadas logo após o término do vazio sanitário normalmente ocorre próximo ao início de enchimento de vagens

e, sob baixa pressão de doença, em razão do inóculo estar baixo. A calendarização da semeadura, nas diferentes regiões, como já realizada em Goiás, pode contribuir para o manejo da ferrugem e também para a redução da pressão de seleção para resistência que ocorre em função do elevado número de aplicações nas semeaduras tardias C e na soja safrinha. Rafael M. Soares, Cláudia V. Godoy, Claudine D. S. Seixas e Maurício C. Meyer, Embrapa Soja Leila M. Costamilan, Embrapa Trigo Carolina Deuner, UPF Caroline W. Guterres, CCGL Tec Cley D. M. Nunes, Embrapa Clima Temperado José Nunes Júnior, CTPA

Encarte Técnico: Soja • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 193 • Junho 2015 • Capa - Rafael Soares Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075

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