C
Cultivar
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVI • Nº 194 • Julho 2015 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Nossa capa
Exército do mal - 28
Como enfrentar o complexo de lagartas do gênero Spodoptera, causadoras de danos em soja, milho e algodão
Juliano Uebel - Instituto Phytus
Índice Diretas
04
Tratamento de sementes em soja
08
Manejo de lagartas em soja
12
Controle de percevejos em soja
16
Cenário e manejo da ferrugem asiática 19 Nematoide do cisto em soja
22
Cultivar vence prêmio Defesa Vegetal
26
Capa - Controle de Spodopteras
28
Basf discute futuro da agricultura
36
Bicudo em algodão
38
Manejo de nematoides em soja e algodão 43
Decisão racional - 46
Quando e como efetuar o combate da bicheira-da-raiz, principal praga em áreas de cultivo de arroz irrigado
Campeões de produtividade em soja
45
Controle da bicheira-da-raiz em arroz
46
Antracnose em milho
52
Desafios do caruru palmer no Brasil
56
Coluna ANPII
60
Coluna Agronegócios
61
Mercado Agrícola
62
Presença preocupante - 56
Os impactos e desafios da descoberta, no Brasil, do caruru palmer, planta daninha extremamente agressiva e de difícil controle
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
COMERCIAL
CIRCULAÇÃO
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• Redação
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Charles Ricardo Echer
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Drone Cropstar
Sigfried Baumann
A Bayer CropScience apresentou durante o Congresso Brasileiro de Nematologia o Drone CropStar para o monitoramento e manejo dos campos agrícolas contra o ataque dos nematoides. De acordo com a Embrapa Soja estima-se que a produtividade da cultura poderia ser de 8% a 10% maior se não fossem os nematoides. “Desde 2012 intensificamos coletas de solo e pesquisas para identificar as principais regiões com problemas de nematoides. Agora demos o segundo passo e desenvolvemos um sistema que fará o cruzamento de dados colhidos das análises de solo, com imagens aéreas feitas pelo drone. Assim poderemos identificar os focos de incidência e trabalhar no manejo e controle da praga”, ressalta o gerente de Seed Growth da empresa, Sigfried Baumann.
Destaques
A Ourofino Agrociência participou em junho da 11ª edição do Agronegócios Copercana e levou quatro produtos da empresa para o evento. O SingularBR, o CoronelBR, o FortalezaBR e o DiamenteBR. Destaque no setor sucroenergético, o SingularBR é um produto à base de fipronil usado no controle de pragas do solo e insetos em diversas culturas. De acordo com o gerente técnico da Ourofino Agrociência, Antônio Nucci, os produtores buscam aumento de produtividade e o manejo adequado de pragas de solo é fundamental neste processo.
No Sul
A DuPont Proteção de Cultivos realizou em junho, em Porto Alegre, o evento de premiação do programa DuPont Colheita Farta na região Sul do País. O projeto reconhece, anualmente, os agricultores que obtêm os melhores índices de produtividade atrelados ao manejo preventivo com o DuPont Programa Soja, desde a etapa do pré-plantio até a colheita. Os três primeiros colocados da região Sul são produtores do município gaúcho de Carazinho: Rogério Ferreira Pacheco, com produtividade média de 94,47 sacas/ha – também selecionado para a etapa nacional; o casal Lúcia e Altemir do Amaral, que colheu 89,25 sacas/há, e Vinícius Kramer, com 88,83 sacas/ha.
Agroservices
A Bayer CropScience apresenta ao mercado a Rede AgroServices, que busca fomentar discussões sobre o desenvolvimento da agricultura brasileira, compartilhando visões, somando conhecimentos e multiplicando possibilidades. Organizada em uma plataforma on-line de conteúdo interativo, a Rede tem por objetivo criar sinergia entre os diversos elos da cadeia produtiva como fontes de informações de gestão, mercado e tecnologia. “Decidimos unificar nossos programas de relacionamento em um conceito de rede, a fim de conectar, ampliar e permitir a troca de informações”, explica o diretor de Acesso ao Mercado da Bayer CropScience, Ivan Moreno.
Prêmio
Antônio Nucci
O programa da Syngenta, voltado ao melhoramento genético para o desenvolvimento de variedades de soja de elevado desempenho (Good Growth Through Advanced Analytics), recebeu em junho o prêmio norte-americano Franz Edelman Award, que é concedido pelo The Institute for Operations Researchand the Management Sciences (Informs) desde 1972. Por meio do programa, a empresa intensifica a pesquisa com foco na identificação de variedades com maior rendimento, considerando peculiaridades da região do produtor. "Vencer o Franz Edelman Award demonstra a liderança e a excelência científica que a Syngenta está levando para os produtores no campo", afirma Joseph Byrum, Head Global de P&D para Soja da Syngenta.
Inseticida
A Dow AgroSciences anunciou o lançamento regionalizado de Exalt, inseticida que faz parte da plataforma Soy Solution, um programa de soluções para soja. Com um mecanismo de ação exclusivo, amplo espectro e alto efeito de choque, o Exalt age sobre o complexo de lagartas. O diretor de Marketing da divisão de CropProtection da Dow AgroSciences, Christian Pereira, destaca a importância da solução para atender a uma demanda específica do país. “Entendemos que o Brasil é detentor de grande diversidade biológica. Para a Dow AgroSciences, a pesquisa científica é a fortaleza para o lançamento de produtos. Investimos, em média, de nove a dez anos em pesquisa e mais de US$ 250 milhões no desenvolvimento de uma solução que atenda às diversas condições e necessidades por cultura e região.”
Cafeicultura
Parceria
A Basf, a Fundação Espaço ECO (FEE) e a Usina Alta Mogiana firmaram parceria com foco na gestão sustentável das propriedades produtoras de cana da usina. A iniciativa, que teve início em fevereiro de 2015, tem por objetivo promover ações de conservação ambiental, como a implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), a realização de Projetos de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas (Prada) e estudos de passivos ambientais. “Identificamos um enorme potencial de sinergia nesta parceria. O compartilhamento do conhecimento adquirido ao longo do tempo pela Usina e pela Basf contribuirá para o avanço dos trabalhos em busca de uma gestão sustentável da produção”, afirma o diretor de Marketing para o Brasil da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, Oswaldo Marques.
04 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
Marcus Brites
A UPL participou da Expocafé e apresentou a sua estratégia para controle de pragas, doenças e plantas daninhas presentes na cafeicultura. “Além disso, apresentamos nosso catálogo completo de insumos agrícolas, bem como recebemos clientes e parceiros e ainda contamos com a presença de representantes técnicos para esclarecer as principais dúvidas de produtores e visitantes”, detalhou o gerente de Marketing da UPL, Marcus Brites.
Programas
A Bayer CropScience apresentou no VII Congresso Brasileiro de Soja os resultados dos programas De Primeira, Sem Dúvida e o Bayer Contra Lagartas. A empresa participou também do ciclo de palestras através do especialista global da Bayer CropScience em manejo de resistência a fungicidas, Andreas Mehl, que falou sobre a importância do monitoramento da sensibilidade de fungos da soja a fungicidas, abordando o manejo de resistência e os diferenciais dos produtos da empresa sob o aspecto científico.
Molécula
A Basf destacou durante o Congresso Brasileiro de Soja os efeitos da molécula F500. “Constatamos cientificamente que além da eficácia no controle fúngico, contribui para proporcionar ganho de produtividade de até 10%. Daí então surgiu a marca mundial AgCelence, que tem como diferencial essa molécula em alguns produtos”, explicou o gerente de Marketing Cultivos, da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, Fábio Minato.
Fábio Minato
Pesquisa
Soluções e serviços
A Basf expôs no VII Congresso Brasileiro de Soja soluções em defensivos agrícolas e serviços da marca voltados ao mercado brasileiro de soja. A companhia reforçou a importância da produtividade da soja com o fungicida Orkestra, que tem em sua composição benefícios AgCelence. Outras soluções foram destacadas como a campanha Comando Antipragas, cujo funcionamento se dá com base em três inseticidas, o Fastac Duo, o Pirate e o Nomolt 150. O controle de ervas daninhas, através do herbicida Heat, e o tratamento industrial de sementes com o serviço Seed Solutions também foram enfocados.
A Nidera Sementes participou do Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2015, com seu time de pesquisa composto por profissionais do Brasil e da Argentina. De acordo com Jefferson de Jesus Silva, do departamento de Marketing, a empresa aproveitou a oportunidade para estar próxima dos diversos membros da cadeia produtiva da soja, para dialogar sobre questões técnicas e comerciais ao longo dos dias do evento.
Relacionamento
A equipe da Brasmax e da DonMario, marcas integrantes do grupo GDM, participaram do 7º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja. A empresa aproveitou a oportunidade para estreitar relacionamento com pesquisadores e agricultores, além de estudantes e profissionais do setor.
Portfólio
A Bayer CropScience levou para o VII Congresso Brasileiro de Soja o seu portfólio de soluções e serviços para os sojicultores utilizarem em todo o ciclo do grão, desde o plantio até a comercialização. O diretor de Marketing Estratégico para a Cultura da Soja, Cassio Greghi, destacou a importância do evento. “Para nós é uma oportunidade ímpar participar do Congresso Brasileiro de Soja, que reúne importantes elos da cadeia produtiva para se discutir soluções que contribuam para o aumento de produtividade e qualidade do que é produzido. Fazemos parte desta cadeia e trabalhamos para levar aos sojicultores brasileiros, tecnologias e soluções inovadoras para que possam desenvolver seus negócios de forma sustentável”, disse.
Participação
A Microquímica esteve presente no VII Congresso Brasileiro de Soja, que este ano trouxe como tema "Tecnologia e mercado global: perspectivas para soja". O diretor técnico Roberto Batista, o gerente regional técnico Rodrigo Giordani e o diretor comercial Jorge Ricci participaram do evento, que debateu desafios e perspectivas de um dos principais segmentos da agricultura brasileira e mundial.
Cassio Greghi e Zin
www.revistacultivar.com.br • Julho 2015
05
Presença
O Instituto Phytus mostrou durante o Congresso Brasileiro de Soja os serviços de automação eletrônica para pesquisa agrícola que abrange o contador de grãos Phytus Cropcounter 2.0, o pulverizador para ensaios com comando eletrônico, além do dosador de água para ensaios. Também foi apresentada a Atualização em Fisiologia e Mobilidade de Produtos Químicos, que promove a abordagem dos aspectos práticos relacionados à absorção e translocação de produtos químicos no solo e na planta, com base nas estruturas e processos fisiológicos que ocorrem nas células. Outro destaque foi o aplicativo Phytus Mobile.
Atualização
A Ourofino Agrociência participou do Congresso Brasileiro de Soja. A equipe pôde se atualizar quanto às tendências de mercado, às novidades na parte técnica e às previsões sobre possíveis pragas na cultura. “Estamos sempre atentos aos movimentos do mercado para atender com excelência nossos clientes”, explicou o analista de Mercado da Ourofino Agrociência, Felipe Isicawa.
Plataforma
A Dow AgroSciences participou do VII Congresso Brasileiro de Soja com sua plataforma Soy Solution, com destaque para o recente lançamento do inseticida Exalt. O Soy Solution é baseado em três pilares fundamentais (portfólio, serviços e relacionamento), que atende às exigências do mercado, oferecendo todo o suporte a produtores, distribuidores, revendas e cooperativas do Brasil. Durante o Congresso, a marca também apresentou os avanços nas pesquisas sobre manejo de plantas daninhas que compõe o Sistema Enlist e sobre o controle de insetos da tecnologia Conkesta.
Manejo de resistência
Durante o VII Congresso Brasileiro de Soja a UPL apresentou sua estratégia de manejo de resistência através de fungicidas protetores. O gerente de Marketing, Gilson Oliveira, destacou o Unizeb Gold, registrado para os cultivos de soja, milho e algodão. “Estou muito feliz com o posicionamento da comunidade científica, que recomenda o uso de protetores alternados ou junto aos sistêmicos. E é esse conceito de manejo de espécies resistentes que vem orientando os avanços da UPL, como a reunião anual do Eagle Team que, há três anos, reúne os mais renomados fitopatologistas do Brasil para debater alternativas de programas de manejo de resistência, sempre com o intuito de proteger as plantas cultivadas de perdas ocasionadas por doenças, pragas e plantas daninhas resistentes”, relatou Oliveira.
Fungicida
Elatus foi o destaque da Syngenta no VII Congresso Brasileiro de Soja. Os visitantes puderam acessar os resultados alcançados com o uso do produto. A empresa também apresentou ao público a plataforma Integrare, que contempla soluções para proteção da cultura, sementes e serviços, de acordo com a necessidade do sojicultor. Profissionais da companhia também puderam detalhar informações sobre o Avicta Completo (tratamento de sementes industrial) e a respeito dos inseticidas Engeo Pleno (foco em percevejos) e Ampligo, que controla diversos tipos de lagartas.
06 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
Contato
A Oxiquímica Agrociência marcou presença no VII Congresso Brasileiro de Soja. O diretor comercial, Imero de Padula, destacou o fungicida Difere, do grupo químico dos inorgânicos. Sua formulação (Suspensão Concentrada - SC) possui ação protetora (de contato), agindo sobre os alvos biológicos (fungos) por meio da coagulação do protoplasma celular.
Encontro Técnico
A Ourofino Agrociência realizou, no primeiro semestre deste ano, o seu 2º Encontro Técnico. Desta vez, mais de 100 profissionais das áreas técnica, comercial e administrativa estiveram presentes no encontro, que tem como slogan a frase “Conhecer para crescer”. A ação visa capacitar os profissionais da empresa sobre as novidades do mercado de defensivos agrícolas, com intuito de atender cada vez melhor seus clientes.
Fitopatologistas
Após o Congresso de Soja a Syngenta reuniu, no município de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, um grupo de fitopatologistas referência no mercado para participar do Consfit. Trata-se de um grupo técnico da Syngenta que se reúne anualmente para discussões e trocas de conhecimento sobre manejo de doenças e tecnologias atuais e novas. Neste ano o grupo completou 15 anos.
Evento
A Ourofino Agrociência promoveu durante o mês de junho o lançamento de dois dos seus principais produtos no Mato Grosso. Trata-se do DesafioBR, um produto à base de benzoato de emamectina; e do SingularBR, composto pelo ingrediente ativo fipronil. Estiveram presentes mais de 1.500 produtores, consultores, gerentes e representantes de revendas. Ao todo, 12 cidades receberam o evento, oferecendo aos participantes as instruções necessárias para o manejo adequado com a utilização dos produtos.
Fertilizantes
A Spraytec Fertilizantes participou do Congresso Brasileiro da Soja representada pelos pesquisadores Júlio Fagliari e Emerson Reis, o gerente regional de Vendas Lauro Leonel, o supervisor de Vendas, Alvimar Costa, e o diretor nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, Dario Bernal. O destaque da empresa foi para o Fulltec S, recomendado para melhoria da qualidade da aplicação, da nutrição e da sanidade das plantas. Também foi demonstrado, através de trabalhos técnicos, o manejo da dessecação com Tractus Kit + Imantic, associado ao herbicida glifosato na pré-semeadura da soja.
Ferrugem
Durante o Congresso de Soja, a Syngenta reuniu, em Florianópolis, pesquisadores, consultores, distribuidores e clientes para mostrar os resultados do fungicida Elatus. Pesquisadores como Marcelo Canteri e Luis Carregal abordaram o histórico da doença no Brasil e a evolução das tecnologias em fungicidas. “A Syngenta acompanhou essa evolução e o Elatus é a prova mais recente disso. Um fungicida que entrega em média 3,25sc/ha a mais. No evento, aproveitamos para mostrar os resultados do produto. Em todo o País, mesmo em um ano com baixa pressão, tivemos uma média de +3,5sc/ha”, destacou o gerente de Portfólio, Robison Serafim. O evento será replicado em 200 encontros em 2D, em todo o País, com a participação (em vídeo) de Valtemir Carlin, consultor da Agrodinâmica, e do professor Walter Boller, especializado em tecnologia de aplicação.
Nutrição
A equipe da Stoller esteve presente no VII Congresso Brasileiro de Soja, realizado em junho, em Florianópolis, Santa Catarina. A empresa aproveitou o evento para demonstrar seu portfólio de produtos voltados para fisiologia e nutrição vegetal.
www.revistacultivar.com.br • Julho 2015
07
SOJA
Proteção inicial
Fotos Geraldo Papa
Os danos causados pelas pragas que ocorrem na fase de estabelecimento da cultura da soja no campo resultam em falhas na lavoura e consequentemente na redução da produtividade, em função do ataque às sementes após a semeadura, danos às raízes depois da germinação e à parte aérea de plântulas. Durante esse período, a melhor forma de controle é a utilização de inseticidas aplicados nas sementes pouco antes da semeadura
E
mbora tradicional nas culturas de milho e algodão, o emprego de inseticidas para o tratamento de sementes destinadas ao plantio ainda não é uma prática bem estabelecida na cultura da soja. Entretanto, com a expansão das áreas de cultivo, o uso intensivo do solo com plantios sucessivos e concomitantes durante todo o ano, a adoção de modernas técnicas de plantio e a introdução de nova praga na agricultura brasileira, como a Helicoverpa armigera, ocorreram mudanças na dinâmica do ataque de pragas nas lavouras de soja, com ocorrência de insetos logo na emergência das plântulas, levando os agricultores a uma busca alucinada pelo controle, agravando ainda mais o problema, principalmente pelo uso sem critérios técnicos de inseticidas. Diante desse cenário, fica evidente que a
sustentabilidade da cultura está ameaçada, sendo necessária com urgência a adoção de medidas mais racionais de manejo fitossanitário, associando medidas culturais e legislativas como a obrigatoriedade da “janela de plantio” definida por região produtora, vazio sanitário, destruição de soqueiras e controle de plantas voluntárias com outras formas de redução de pragas, como o controle biológico, a engenharia genética, o monitoramento constante e a adoção e uso de inseticidas químicos com respeito aos critérios técnicos e às recomendações de bula. O controle químico é fundamental para um bom estabelecimento da lavoura, sendo necessária a adoção de medidas iniciais para proteção contra as pragas que atacam precocemente a cultura da soja, como a utilização de inseticidas ainda na época da dessecação
08 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
preparatória ao plantio direto, controle de pragas nas culturas plantadas anteriormente e que podem “fornecer” pragas para a cultura recém-implantada e o tratamento de sementes com inseticidas, que tem se tornado uma ferramenta fundamental no estabelecimento da lavoura e no desenvolvimento inicial das plantas. Um dos fatores responsáveis para que a cultura da soja não atinja seu máximo rendimento é a ocorrência de um grande número de insetos que atacam a lavoura durante todo o ciclo e a dificuldade de empregar medidas racionais de manejo. Nas últimas safras tem ocorrido um grande complexo de pragas que atacam a cultura desde a época da emergência até a formação das vagens, exigindo dos produtores mudanças nas estratégias de manejo adotadas para enfrentar o problema.
INSETICIDAS EM TRATAMENTO DE SEMENTES CONTRA PRAGAS INICIAIS
Os danos causados pelas pragas que ocorrem na fase de estabelecimento da cultura da soja no campo resultam em falhas na lavoura e, consequentemente, na redução da produtividade, em função do ataque às sementes após a semeadura, danos às raízes depois da germinação e à parte aérea de plântulas. Durante esse período, a melhor forma de controle é a utilização de inseticidas aplicados nas sementes pouco antes da semeadura. O tratamento de sementes com inseticidas pode conferir à planta proteção que possibilita maior potencial para o desenvolvimento inicial da cultura. Essa prática, quando realizada adequadamente, reduz o número de aplicações foliares, que muitas vezes precisam ser iniciadas logo após a emergência das plântulas, além de proporcionar melhor estande e melhor desenvolvimento inicial das plantas. O tratamento das sementes é um dos métodos mais eficientes de uso de inseticidas. No solo desprendem-se das sementes e, devido a sua baixa pressão de vapor e à solubilidade em água, são lentamente absorvidos pelas raízes, conferindo à planta um adequado período de proteção contra insetos do solo e/ou da parte aérea, dependendo das propriedades do inseticida utilizado. No caso de inseticidas sistêmicos, como os do grupo das antranilamidas associadas aos neonicotinoides, o tratamento de sementes pode proporcionar, além do controle de pragas de solo e insetos sugadores, o controle das lagartas que ocorrem no início do desenvolvimento das plantas. Assim, a adoção do tratamento de sementes com inseticidas tem contribuído com o Manejo Integrado de Pragas na cultura da soja, por oferecer proteção na fase inicial do desenvolvimento de plantas e reduzir significativamente as aplicações foliares de inseticida durante esse período, proporcionando melhor estabelecimento e melhor desenvolvimento das plantas, além de preservar os inimigos
Papa, Celoto e Zanardi Júnior abordam o papel do tratamento de sementes com inseticida
Lagarta Helicoverpa armigera provocando danos em folha de soja
naturais das pragas devido à seletividade ecológica desta modalidade de aplicação. O tratamento de sementes com inseticidas normalmente é realizado pelo produtor na propriedade (“tratamento on farm”), que deve sempre ser acompanhado da recomendação de um técnico e auxílio de equipamentos específicos para esta finalidade. Além do “tratamento onfarm”, tem crescido a oferta de sementes tratadas industrialmente, que pode oferecer uma qualidade superior, minimizar os riscos de intoxicação dos trabalhadores rurais, reduzir a possibilidade de fitotoxicidade nas culturas tratadas e promover maior fixação dos inseticidas empregados no tratamento de sementes, devido à adição de polímeros para o revestimento das mesmas, proporcionando melhor aproveitamento do inseticida aplicado nas sementes. Em análises realizadas pela equipe coordenada pelo pesquisador Geraldo Papa, da Unesp de Ilha Solteira, constatou-se que o tratamento de sementes foi eficiente no controle de lagartas que atacam plântulas de soja, como a lagarta-elasmo, a lagarta-rosca e a lagarta-militar, proporcionando menor número de plantas atacadas pelas lagartas, melhor estande da cultura e maior produtividade.
modificadas para o controle de lepidópteros-praga, como a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), a lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens), a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a broca-das-axilas (Crocidosema aporema) e as lagartas da subfamília Heliothinae, é uma prática recomendada para a tecnologia Intacta (Bt) para evitar a incidência de pragas não alvo da tecnologia como mosca-branca, tripes, corós, ataque inicial de percevejos, lagartas do complexo Spodoptera entre outras pragas que não são controladas pela tecnologia Bt, além dos benefícios de melhor desenvolvimento das plantas. Mesmo com os benefícios da tecnologia Bt o produtor deve continuar a realizar o monitoramento constante das pragas e considerar o nível de dano econômico para a tomada de decisão para intervenção durante todo o ciclo da cultura. O tratamento de sementes pode ainda auxiliar mesmo no controle de lagartas que são alvo da tecnologia, mas que podem ter sobrevivido na palhada e encontram-se em estágio superior ao segundo instar, podendo cortar as plântulas recém-emergidas, pois a tecnologia Bt atua somente em lagartas C neonatas.
TRATAMENTO DE SEMENTES COM INSETICIDAS EM SOJA INTACTA (BT)
O tratamento de sementes com inseticidas nas cultivares de soja geneticamente
Geraldo Papa, Fernando Celoto e João Antonio Zanardi Júnior, Unesp – Campus de Ilha Solteira
Figura 1 - Redução de estande provocada pelo ataque da lagarta-elasmo em área Figura 2 - Redução de estande provocada pelo ataque da lagarta-rosca em área planplantada com sementes não tratadas (A) e área com estande normal devido à tada com sementes não tratadas (A) e área com estande normal devido à proteção proteção proporcionada pelo tratamento de sementes proporcionada pelo tratamento de sementes com antranilamidas + neonicotinoide
Fonte: G. Papa – Lab. de Manejo de Pragas/Unesp-Ilha Solteira
10 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
Fonte: G. Papa – Lab. de Manejo de Pragas/Unesp-Ilha Solteira
SOJA
Fotos Germison Tomquelski
Manejo do conhecimento
A cada ano a dinâmica das pragas que causam prejuízos à cultura da soja no Brasil passa por alterações que influenciam na incidência e nos danos provocados às lavouras. Por isso, conhecer o comportamento destes insetos para estabelecer um bom planejamento de estratégias de manejo integrado é indispensável para obter sucesso nesta atividade
M
udanças na dinâmica de pragas da sojicultura brasileira ocorrem a cada ano. Novas pragas, mudanças nos tratos culturais, englobando desde os aspectos nutricionais, plantas daninhas e doenças, até alterações no sistema de produção, têm influído neste tipo de ocorrência. O Manejo Integrado de Pragas na cultura da soja se baseia em alguns “pilares”, sendo o conhecimento do inseto e a amostragem fundamentais para suportar qualquer recomendação. Nos últimos anos, algumas lagartas diminuíram sua importância no sistema, como Anticarsia gemmatallis, uma das principais desfolhadoras da cultura em diversos países. No entanto, neste novo século, a expansão para o cerrado, as mudanças no sistema de produção com o monocultivo e mesmo a
baixa rotação de culturas fizeram com que lagartas como a falsa-medideira (Chrysodeixis includens) ganhassem destaque maior. Neste sistema de produção outras lagartas surgiram e se adaptaram às condições brasileiras, como por exemplo, a Helicoverpa armigera, presente atualmente nas diversas regiões produtoras, causando grandes prejuízos em função do seu ataque. Outra praga que depois de diminuir seus prejuízos na grande maioria das lavouras tem retomado posição de destaque nas últimas safras é a lagarta do gênero Spodoptera (S. frugiperda, S. eridania e S. cosmioides). Praga principal em milho, no caso de S. frugiperda, tem reconquistado importância, mesmo com o advento de tecnologias implantadas no sistema de produção para combatê-las. O conhecimento do aspecto da biologia destas pragas ajuda a entender e traçar es-
12 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
tratégias para o seu manejo. Os adultos de H. armigera apresentam as asas dianteiras amareladas-palha, enquanto as dos machos são cinza-esverdeadas com uma banda ligeiramente mais escura no terço distal e uma pequena mancha escurecida no centro da asa. As asas posteriores são mais claras, apresentando uma borda marrom na sua extremidade apical. Os ovos contêm coloração clara com estrias transversais e um formato achatado na parte superior. As lagartas mostram coloração variável em função de alimentação, clima, população, podendo ser verdes, marrons a escuras. Uma das características das lagartas é a de apresentar na base dos espiráculos (cerdas), no 2º e 8º segmento, aspecto liso, sem os pequenos pelos, além de apresentarem uma diferença na mandíbula. As lagartas se alimentam de tecidos novos, podendo produzir um tipo de teia.
Comparativo de desfolha em área com cultivo convencional de soja (esquerda) e plantio com tecnologia Bt (direita)
A partir do quarto instar, as lagartas apresentam tubérculos abdominais escuros e bem visíveis na região dorsal do primeiro segmento abdominal, os quais estão dispostos na forma de semicírculo, aparentando formato de “sela”, sendo esta característica determinante para a identificação de lagartas de H. armigera (Czepak et al 2013). A falsa-medideira é a lagarta responsável por maiores prejuízos na região Centro-Oeste do Brasil. Sua ocorrência é generalizada principalmente nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e coincide com o fechamento das entre linhas da cultura da soja. Esta fase apresenta diversos fatores que levam à dificuldade de manejo, como aspectos relacionados à tecnologia de aplicação, problemas para atingir o alvo, além da aplicação de fungicidas prejudicarem o fungo Nomuraea rileyi, importante ferramenta do controle biológico na cultura da soja. Culturas hospedeiras no caso do Centro-Oeste, como algodão, feijão entre outras, fizeram com que esta praga aumentasse em população e prejuízos. O adulto da falsa medideira é uma mariposa de coloração marrom-acinzentada, com duas manchas prateadas no primeiro par de asas; medindo em torno de 35mm de envergadura, com as asas posteriores também de coloração marrom. Os ovos são colocados de forma isolada, na maioria dos casos na página inferior das folhas e no terço médio das plantas. A fêmea pode ovipositar mais de 500 ovos durante o seu período de vida. Dentro de cinco dias eclodem as lagartas, que se alimentam das folhas, apresentando coloração verde-claro, com linhas brancas longitudinais sobre o dorso. Apresentam apenas três pares de falsas pernas na região abdominal, o que obriga o seu deslocamento à semelhança das lagartas mede-palmo ou medideira durante todo o seu desenvolvimento. Crescem rapidamente e podem atingir em torno de
50mm de comprimento, com seis instares. Esta espécie apresenta comportamento diferenciado de outras lagartas, desenvolvendo-se nos terços inferior e médio das plantas de soja, o que dificulta o seu controle. Após a passagem de larva, se transformam em pupas nas folhas. Durante todo o desenvolvimento, as lagartas raspam o tecido foliar, sem se alimentarem das nervuras, conferindo às folhas um aspecto rendilhado. As lagartas começam nas folhas do terço médio e baixeiro das plantas, vindo a atacar depois a parte superior das plantas. Quando detectadas tardiamente, já pode ter passado o nível de controle estabelecido para o seu manejo. Novas ferramentas como a biotecnologia são realidade para C. inclundes, como é o caso da soja Bt, que até o momento apresenta controle satisfatório. No entanto, grande parte da área desta cultura no país será de soja convencional (não Bt) na safra 2015/2016. Vale
destacar ainda a recomendação da pesquisa, para o bom funcionamento/perpetuação da tecnologia Bt: é necessária a utilização de no mínimo 20% de refúgio estruturado. Apesar de uma nova ferramenta que trará maior comodidade ao produtor, a biotecnologia existente esbarra em pragas não alvos como o complexo de Spodoptera. E, de certa forma, como em soja convencional não Bt, a amostragem não poderá ser esquecida, além de requerer maior qualidade de execução. É outro “pilar” que pode levar ao sucesso ou insucesso de toda a cultura. Ao conhecer a sua lavoura é possível racionalizar a utilização dos inseticidas, além de melhorar a estratégia de controle. O uso do pano de batida é fundamental para amostragem precisa na cultura da soja, sendo recomendada a utilização da batida de somente umas das linhas da cultura, a fim de verificar a presença de lagartas. Um pano com um metro de comprimento pode
Folhas de soja com severa destruição provocada pelo intenso ataque de lagartas desfolhadoras
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Fotos Germison Tomquelski
Lagarta (esquerda) e adulto de Helicoverpa (direita), praga que se adaptou às condições brasileiras e tem provocado prejuízos graves aos sojicultores
ser desenrolado na outra linha. Porém, é importante ressaltar que algumas pragas, como por exemplo H. armigera, podem ficar presas às vagens em certos momentos e não cair no pano, necessitando uma análise no ponto amostral das plantas em seu todo. Na cultura da soja, nas fases vegetativas, pode também ocorrer de, em certos momentos, as lagartas ficarem escondidas, necessitando o desenrolar de folhas (onde também o pano não será a medida mais eficiente). O caminhar pela lavoura com diversas metodologias pode ajudar a identificar os primeiros “focos” principalmente para lagartas do gênero Spodoptera. A descoberta dos primeiros focos auxilia na utilização das ferramentas. A grande maioria dos inseticidas apresenta controle de lagartas pequenas (até 0,7cm para H. armigera e até 1cm para as demais lagartas). Diversos trabalhos têm mostrado a importância do uso de inseticidas seletivos aos inimigos naturais na cultura da soja. As listas de produtos seletivos podem ser encontradas nas recomendações técnicas para a cultura da soja, tanto para a região central como para a região Sul do Brasil. São elaboradas pela Embrapa, em conjunto com outros órgãos, em Reuniões técnicas. Outras instituições também vêm desenvolvendo estas listas como as Fundações que as apresentam para suas regiões. Vale destacar que rotação de modos de ação nas diversas lagartas encontradas na cultura tende a favorecer o equilíbrio do sistema. Para cada região do Brasil observa-se comportamento diferente das tecnologias nas espécies. Em H. armigera observa-se funcionamento interessante das diamidas, no entanto, somente o emprego de uma estratégia pode levar a falhas de controle em determinadas espécies, além da pressão de seleção, podendo favorecer problemas de resistência no futuro. Neste caso, S. frugiperda demonstra variação de eficiência dos diversos grupos químicos e
moléculas, no Brasil, sendo em casos como este a rotação de modos de ação um dos pontos iniciais para o bom manejo desta praga. Diante desta diversidade de pragas e dos problemas encontrados é importante elencar a necessidade dos diversos modos de ação, desde os Reguladores de Crescimento de Insetos, Aceleradores da ecdise, diamidas, pirazois, spinosinas, oxadiazina, carbamatos, organofosforados e piretroides. Novos inseticidas para lagartas se encontram em estudo, sendo bem-vindos para o combate destas pragas, como mais uma opção ao produtor e ao técnico, a fim de rotacionar o modo de ação ou mesmo encaixá-lo dentro do MIP em ambiente com a tecnologia Bt. Outro ponto a salientar reside no fato de que o produtor, ao utilizar o controle químico em aplicações “carona”, deve lembrar algumas questões, como episódios em que se aplica em condições de baixa infestação ou mesmo de alta infestação. Os índices de controle devem ser trabalhados para as diversas pragas, haja vista a questão de custo do tratamento, eficiência, além dos problemas relatados anteriormente no Brasil, como o uso em demasia de diversos grupos químicos. Ainda é importante
Adulto de falsa-medideira, inseto responsável pelos maiores prejuízos na região Centro-Oeste
14 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
relatar fatores como incompatibilidade e fitotoxicidade de algumas associações às culturas. Os melhores resultados no controle químico de insetos são obtidos quando da detecção inicial no campo, encontrando-se o início da infestação, em estádios de menor desenvolvimento da praga. Nestas fases proporciona a utilização dos diversos grupos químicos. Uma problemática do campo é a realização de aplicações nos picos populacionais, após o aparecimento de lagartas, em índices superiores aos recomendados para o controle da praga, comprometendo todo o manejo. Nestas fases a praga consegue causar prejuízos muitas vezes irreversíveis, afetando seriamente a produtividade da cultura, além de demandar a necessidade das maiores doses recomendadas, ou mesmo a utilização deaplicações sequenciais, onerando mais o custo de produção. Aplicações com altos índices de infestação levam a sobras, haja vista que diversos fatores comprometem a eficiência do processo. Uma conta simples deve ser realizada, se uma praga apresenta índice de controle de dez lagartas por metro, ao aplicar inseticida com índice de 50 lagartas por metro, mesmo com bom defensivo (80% de controle), sobrarão dez lagartas, que é o índice estabelecido, necessitando o produtor/técnico reaplicar naquela área. Uma pergunta a realizar para todos os envolvidos no processo é quanto custa o conhecimento? A resposta é ruim, mas muitas vezes é percebida apenas quando se tem um prejuízo na produtividade. Somente um bom planejamento e estratégias de MIP podem levar ao sucesso da C atividade. Germison Tomquelski, Fundação Chapadão Sherithon Martins de Paula, Fundação Chapadão/UFMS Janaina Oliveira Borgelt, UFMS
SOJA
Potencial devastador
Fotos Geraldo Papa
Percevejos são pragas capazes de provocar enormes prejuízos às lavouras de soja, principalmente na fase reprodutiva da cultura. Seu controle exige estratégias eficientes, como o uso de inseticidas que apresentem boa resposta à presença destes insetos nas áreas de cultivo, aliado a outras medidas de manejo integrado do Brasil. O ciclo biológico do percevejo-marrom compreende a colocação dos ovos em forma de colunas, geralmente duas, ou agrupados. Após o período de incubação surgem as ninfas, que passam por cinco instares até se tornarem adultas.
DANOS
N
as últimas safras têm se observado mudanças no comportamento das pragas que ocorrem na cultura da soja. Dentre estes insetos, os percevejos que atacam a parte aérea das plantas apresentam enorme potencial de ocasionar prejuízos na cultura da soja, principalmente na fase reprodutiva. Embora estejam presentes desde o período vegetativo da cultura, é durante os estádios reprodutivos que o inseto causa o maior prejuízo, quando ataca vagens em formação. É um grupo de insetos que ocorre em todas as regiões produtoras de soja. Com a intensificação e as mudanças nos sistemas agrícolas, com vários cultivos sucessivos e/ou concomitantes, que embora proporcionem aumento de produção e otimização do uso do solo, ocorre também um favorecimento à reprodução e dispersão das pragas, devido à constante oferta de hospedeiros e à movimentação dos insetos de uma área de cultivo para o outra, aumentando as populações de pragas e as dificuldades de controle. Assim, a cada nova safra constatam-se populações crescentes de percevejos, devido à alta oferta de hospedeiros alternativos e também manejo inadequado, com pulverizações fora do mo-
Os danos causados pelos percevejos resultam da sucção de seiva em ramos, hastes, vagens e grãos. Ao sugarem ramos e hastes, os percevejos injetam toxinas, provocando a “retenção foliar” ou “soja louca” (onde não há maturação fisiológica das folhas, enquanto que as vagens maturam), dificultando a colheita da lavoura. Quando o ataque ocorre em vagens e grãos, pode ocorrer diminuição na produtividade e qualidade fisiológica das sementes, pelo dano direto decorrente da picada do inseto e pelo dano indireto, com a inoculação do fungo Nematospora corylii. mento apropriado e que não atingem o alvo, desencadeando problemas como resistência aos inseticidas e reinfestação dos percevejos em curto espaço de tempo. Com a introdução de variedades de soja geneticamente modificada com resistência a várias espécies de lagartas (Bt), os problemas com ataque de percevejo poderão se agravar, devido à baixa utilização do monitoramento, à demora para realizar a aplicação de inseticidas que favorece o aumento populacional da praga, ao uso de inseticidas com baixa eficácia e residual curto, à tecnologia de aplicação inadequada, à migração de percevejos de outras áreas e à resistência da praga aos inseticidas.
IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES
Para fazer o manejo adequado dos percevejos é importante conhecer as espécies, ou seja, identificá-las de maneira correta e conhecer a biologia e o comportamento da praga. Na cultura da soja, os percevejos da família Pentatomidae são os mais importantes. De todos, a espécie que merece destaque nas práticas de manejo da lavoura é o percevejo-marrom (Euschistus heros), por ser considerado o mais abundante nas lavouras de soja
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MONITORAMENTO E CONTROLE
O manejo de percevejos deve ser feito com base nos princípios do Manejo Integrado de Pragas, que consiste em tomadas de decisão baseadas nos níveis populacionais e no estádio de desenvolvimento da lavoura. Tais informações são obtidas por inspeções regulares na lavoura. Com relação ao ataque de percevejos, normalmente a colonização se inicia no final da fase vegetativa (Vn) e início da fase reprodutiva (R1 e R2) com a migração dos percevejos de hospedeiros alternativos e áreas vizinhas, com expressivo aumento do número de ninfas a partir da fase R3. Deve-se tomar maior cuidado com a lavoura ao ataque de percevejos, na fase R4 (final do desenvolvimento das vagens) e fase R5.1 (início de enchimento dos grãos), quando ocorre um aumento das populações. A fase crítica se estende até a fase R6 (grão verde ou vagem cheia), quando os percevejos atingem o pico populacional, e tende a decrescer a partir da fase R7 (início da maturidade) e os grãos estão mais suscetíveis ao ataque. As amostragens de percevejos são realizadas pelo método da batida de pano, que
Tabela 1 - Características morfológicas das principais espécies. Adulto Postura Ninfas Espécie Tamanho de 13 mm, coloração marrom, Agrupada em número de 6 a 15, Inicialmente de coloração marrom claro, Percevejo marrom com expansões em forma de espinho no pronoto de coloração bege tornando-se esverdeadas ou acinzentadas Euschistus heros Tamanho de 10 mm, cor verde com uma listra Depositados em coluna dupla, variando Inicialmente com abdome avermelhado e cabeça e tórax pretos, posteriorPercevejo verde pequeno de cor marrom ou vermelha na altura do pronoto de 10 a 30 ovos e cor preta mente, tornam-se de cor verde com manchas vermelhas e pretas no dorso Piezodorus guildinii Tamanho de 11 - 14 mm, coloração verde, com asas Depositados em fileiras duplas Amareladas com manchas esverdeadas, Percevejo asa preta escuras e antenas e pernas amareladas ou castanha ou isolados e coloração verde-claro cinza e preta sobre o abdome Edessa meditabunda Tamanho de 15 mm, cor verde-escura com a face ventral mais clara, Depositados em massa de 100 ovos, em Possuem coloração escura com manchas Percevejo verde antenas marrons com manchas vermelhas nos últimos segmentos forma hexagonal e são de cor inicial amarela amarela, vermelha e pretas sobre o dorso Nezara viridula Fonte: Adaptado de Saran, P.E., 2012.
consiste em um pano branco com 1m de comprimento, preso a duas varas, que deve ser posicionado em uma fileira de plantas, que são agitadas vigorosamente, para derrubar os insetos sobre o pano, permitindo a contagem. Este procedimento deve ser repetido em vários pontos da lavoura, preferencialmente nas horas mais frescas do dia, quando os percevejos se movimentam menos, com maior intensidade nas bordas da lavoura, onde, em geral, os insetos iniciam seu ataque, e repetidas com intervalo semanal, do início da formação de vagens (R3) até a maturação fisiológica (R7). Para lavouras destinadas à produção de grãos, o valor de referência indicado para a tomada de decisão para pulverizações é de dois percevejos (maiores que 0,5cm) por batida de pano e para lavouras destinadas à produção de sementes, o valor de referência para o controle químico é de um percevejo (maior que 0,5cm) por batida de pano, considerando uma fileira de plantas. Deve-se tomar cuidado com as diferentes datas de plantio nas propriedades e na região, pois lavouras mais tardias sofrem maior ataque da praga, pelo aumento populacional proporcionado pelas maiores áreas de cultivo semeadas anteriormente, aumentando o potencial de danos nestas áreas. Assim, os valores de nível de dano devem ser usados como referência. Entretanto, de acordo com informações específicas de cada região e considerando variáveis específicas de cada propriedade como histórico de danos, cultivares, idade da lavoura, época de semeadura, entre outras, os técnicos de cada região podem antecipar o início das pulverizações, lembrando que se deve sempre usar inseticidas registrados, seguir as recomendações do fabricante e os princípios que norteiam o manejo integrado de pragas como o uso de produtos seletivos aos principais inimigos naturais da praga. Em certas situações, o controle químico pode ser efetuado apenas nas bordas da lavoura, sem necessidade de aplicação de inseticida na totalidade da área, pois o ataque se inicia pelas áreas marginais. Outra medida que pode ser recomendada é a aplicação de inseticidas no manejo da palhada dos sistemas de semeadura direta visando reduzir as populações iniciais. Estas medidas são válidas, desde
RESULTADOS Tratamentos (Dose: g i.a./ha)
Testemunha Acefato (750 g i.a./ha) ametoxam + lambdacialotrina (33,2 + 26,5g i.a./ha) Tiametoxam (35g i.a./ha) Lambda-cialotrina (26,25g i.a./ha)
Efeito de contato 3h após 6h após aplicação aplicação %mortalid. %mortalid. 0 5 0 100 100 100 100 100
Contaminação via tarso 6h após 12h após exposição exposição %mortalid. %mortalid. 0 0 79 100 96 100
100 100
36 96
que sejam feitas amostragens prévias, para detecção dos insetos na área. Outro aspecto a se considerar é a diminuição das populações de final de safra que costumam migrar para outras áreas, com aplicação de final de safra, que devem ser criteriosamente baseadas em amostragens e levando em conta as restrições quanto ao intervalo de segurança (carência) do agroquímico utilizado. Para que o problema de populações de percevejos resistentes a inseticidas não seja intensificado, indica-se que inseticidas com o mesmo mecanismo de ação não sejam utilizados, na mesma área, de forma repetida.
PESQUISA
Experimentos realizados por Geraldo Papa, da Unesp de Ilha Solteira, São Paulo, demonstraram a eficiência de alguns dos principais inseticidas utilizados no controle do percevejo-marrom (Euschistus heros) em soja, verificando a ação e forma de contaminação do grupo dos organofosforados (acefato), da mistura dos inseticidas do grupo dos piretoides (lambdacialotrina) e neonicotinoides (tiame-
Efeito de contato com aplicação do inseticida direto sobre percevejos (esq.) e da pulverização via tarso (dir.)
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Contaminação via ingestão 12h após 24h após exposição exposição %mortalid. %mortalid. 0 5 15 29 21 29 26 5
26 21
Pulverização em campo 24h após 72h após pulverização pulverização %eficiência %eficiência --62 82 88 88 76 52
70 65
toxam) e de cada componente da mistura isoladamente.
METODOLOGIA
• Efeito de contato: em laboratório, os inseticidas foram aplicados diretamente sobre os percevejos, nas mesmas condições de volume de calda e doses utilizados em campo. • Efeito da contaminação via tarso: os inseticidas foram pulverizados em plantas de soja em campo. As folhas tratadas foram colhidas e colocadas nas paredes internas de tubos de PVC, fazendo-se com que os percevejos caminhassem sobre as folhas de soja tratadas. • Efeito de ingestão: os inseticidas foram pulverizados em plantas de soja em campo. As vagens foram coletadas e colocadas sobre a tampa de tela de gaiolas contendo os percevejos. Para evitar o contato dos percevejos com as vagens, essas foram colocadas sobre C palitos de madeira. Geraldo Papa, Fernando Juari Celoto e João Antonio Zanardi Júnior, Unesp/Ilha Solteira
Vagens de soja sobre palitos de madeira em experimento para avaliar efeito de ingestão
SOJA
Como manejar
Fotos Cláudia Godoy
Produtores de soja do Centro-Oeste e do Sul do Brasil enfrentam a cada safra os desafios impostos pela ferrugem asiática, doença altamente agressiva e com potencial para provocar severos prejuízos à produtividade. Associado a outras medidas integradas o uso de carboxamidas em misturas com IQo e alternado com IDM e IQo está entre as alternativas para realizar o manejo e prevenir o aparecimento de resistência a esse grupo de fungicidas
A
soja (Glycine max) é a principal cultura de exploração econômica do Brasil e a região do cerrado seu principal produtor. Com a abertura de novas fronteiras e o deslocamento de produtores rurais gaúchos para a região Norte do Brasil, por volta da década de 70, dá-se o início à expansão da oleaginosa no Centro-Oeste, principalmente, nas regiões de cerrado. Com o avanço e o domínio de novas tecnologias, na década de 90 se dá a explosão de novas cultivares e de conhecimentos científicos e técnicos, permitindo assim que o cerrado se torne o principal produtor de soja do Brasil. No entanto, com a chegada da monocultura a soja traz consigo os patógenos que vivem e sobrevivem nesta cultura. Foram inúmeros desafios como fusarium, o nematoide do cisto, chegando à ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), que se estabelece causando dano econômico, criando dificuldade financeira a inúmeros produtores. Por ser uma doença em que a principal disseminação ocorre pelo vento, é fundamental que toda a comunidade técnica e científica
fique atenta para proceder a diagnose inicial e oferecer esta informação no site do Consórcio Antiferrugem (CAF), seguindo as ferramentas disponíveis para acompanhar o progresso desta enfermidade, como o site Windfider que mostra a movimentação e o deslocamento dos ventos e com isto o sentido de movimentação dos esporos da ferrugem a outras regiões; do Portal Elat e Rindat que oferta informações sobre a ocorrência de chuvas, e o Inmet acompanhando as condições meteorológicas (temperatura, umidade, horas de molhamento e precipitação pluviométrica), e estações meteorológicas. Importante ainda ficar atento aos fenômenos El Niño e La Niña, uma vez que interferem diretamente no clima e podem provocar seca ou chuvas mais intensas no inverno (em invernos mais chuvosos a ferrugem pode aparecer mais cedo). Outras práticas para o manejo desta doença na região do cerrado podem ser a efetiva e incondicional adoção do vazio sanitário (não permitindo a sobrevida de soja tiguera nas lavouras e beiras de estradas), o não plantio de soja após 31 de dezembro (não criar “pon-
te verde”), o uso de cultivares precoces (em regiões que efetivamente tenham conhecimento para isto), a concentração de plantio de soja no período ideal para cada região, o plantio de cultivares resistentes à ferrugem, o uso de produtos e seus adjuvantes em doses eficazes ao efetivo controle desta doença, o monitoramento das lavouras para efetivação de aplicações preventivas, o monitoramento das pulverizações, certificando-se que o produto aplicado esteja de fato atingindo o alvo desejado (parte interior das plantas de soja), a associação de programas de controle com produtos que garantam o controle da ferrugem e de outras doenças. Enfim, é fundamental a adoção de todas as práticas que levam ao manejo e controle da ferrugem asiática, pois esta é a principal doença que pode comprometer o resultado econômico de uma lavoura. Ao mesmo tempo, o registro de novos produtos ou moléculas deve ser encarado como prioritário. Assim, controlar a ferrugem da soja, incentivar as boas práticas de manejo para o controle da doença, coibir as ações que levam
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Gráfico 1 - Evolução da Ferrugem na região de Chapadão do Sul/MS e Chapadão do Gráfico 2- Curva de progresso da ferrugem em uma lavoura não aplicada (testemunha de Céu/GO. Fundação Chapadão 2015 meus ensaios de ferrugem) durante as safra 2007/08 a 2014/15. Fundação Chapadão 2015 Semanas 17 a 28/11 29 a 09/12 10 a 16/12 17 a 23/12 24 a 31/12 01 a 06/01 07 a 13/01 14 a 20/01 21 a 27/01 28 a 03/02 04 a 10/02
Safra Safra Safra Safra Safra Safra Safra Safra 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6 0 0 0 0 0 2 0 27 0 0 0 0 0 2 1 50 0 0 0 0 2 0 0 42 0 1 0 0 3 0 9 118 0 2 0 0 2 7 11 124 3 5 0 1 17 4 12 147 2 9 2 1 35 9 23 166 3 4 17 2 52 37 34 61 8 24 15 6 34 39 77 51 7 18
Estádio da soja R1 R4 R5.1 R5.2 R5.3 R5.4 R5.5 R6 R7.1
Safra Safra Safra Safra Safra Safra Safra Safra 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 2 1 9 8 1 2 1 1 7 8 25 17 1 12 1 10 42 15 52 62 8 33 10 48 90 38 70 100 19 55 30 92 100 62 89 38 100 60 100 76 100 78 100 100 100
Obs.: Os números representam a percentagem de área foliar lesionada (severidade na planta) em cada momento de avaliação e em cada estádio. Safra 2009/10 ano de El niño, ano de maior agressividade da ferrugem.
Observação: Os números representam a quantidade de diagnose positiva encontrada durante a semana nas lavouras de soja na região. Safra 2009/10, foi ano de El niño, o que configurou ano de maior intensidade.
ao comprometimento da ação dos produtos e a sobrevida destes são ações de segurança nacional. A adoção destas medidas permite que resultados efetivos sejam alcançados.
SITUAÇÃO ATUAL E MANEJO NO SUL DO BRASIL
Na região Sul do Brasil somente o estado do Paraná adota o vazio sanitário, de 15 de junho a 15 de setembro, como estratégia para redução de inóculo do fungo P. pachyrhizi. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, as geadas eliminam as plantas de soja no inverno. No entanto, em anos com invernos não tão rigorosos, como ocorreu em 2014, pode-se observar a sobrevivência no campo de plantas voluntárias de soja com ferrugem, que servem de inóculo para a safra seguinte. Os primeiros relatos de ferrugem em lavoura comercial na região Sul, de forma geral, começam na região oeste do Paraná, que abre o plantio logo após o término do vazio sanitário, sendo observados a partir de dezembro. A maior ou menor severidade da ferrugem na região Sul está relacionada à distribuição das chuvas (quanto melhor essa distribuição na safra, mais rápido o avanço da doença). Quando ocorrem períodos de veranicos a doença evolui de forma lenta. Safras onde o clima favorece o desenvolvimento da soja são onde o controle da ferrugem deve ser intensificado. As semeaduras que ocorrem logo após o término do vazio sanitário tendem a ter menor incidência de ferrugem e menor número de aplicações para o seu controle. A doença aparece após o fechamento da lavoura, devido ao acúmulo de umidade formado na parte de baixo do dossel, condição necessária para a infecção. À medida que a semeadura é atrasada, o número de aplicações aumenta e seu intervalo é reduzido. Em soja semeada em janeiro, devido à alta quantidade de inóculo do fungo produzido nas primeiras semeaduras e disseminado pelo vento, a doença incide antes
do fechamento da lavoura. Essa situação de incidência antes do fechamento só ocorre nas semeaduras tardias. Essas lavouras recebem, em média, cinco aplicações de fungicidas. A oferta de cultivares com gene de resistência à ferrugem para a região Sul tem aumentado. Esses materiais não dispensam a aplicação de fungicidas, mas garantem uma maior estabilidade de produção em situações onde ocorrem atrasos na aplicação. As lesões de ferrugem nessas cultivares são maiores (marrom-avermelhadas), porém, apresentam menor esporulação, atrasando o desenvolvimento da doença. Assim como nas outras regiões do País, observa-se na região Sul uma menor sensibilidade do fungo P. pachyrhizi aos fungicidas do grupo dos inibidores da desmetilação (IDM, “triazóis”) e Inibidores da quinona oxidase (IQo, “estrobilurinas), comprometendo a eficiência das misturas de IDM e IQo. Os períodos de veranicos, associados a altas temperaturas, podem favorecer o aparecimento de sintomas de fitotoxicidade, do tipo clorose internerval (folha carijó) para os IDMs como tebuconazol, metconazol e protioconazol.
As misturas que têm esses ativos, apesar de alta eficiência de controle para a ferrugem, muitas vezes são rejeitadas por produtores que já tiveram problemas com fitotoxicidade nas suas lavouras. As perdas com ferrugem na região Sul do Brasil têm sido localizadas e muitas vezes associadas ao desconhecimento da perda de eficiência de alguns fungicidas tradicionais. Com a baixa eficiência curativa dos fungicidas disponíveis, é importante que o produtor faça o planejamento adequado da sequência de aplicação para evitar o aumento de inóculo na lavoura. A partir de 2013 foram registrados fungicidas inibidores da succinato desidrogenase (ISDH, “carboxamidas”) em misturas com IQo. Esses fungicidas devem ser utilizados no manejo da ferrugem e alternados com misturas de IDM e IQo para atrasar o aparecimento de resistência a esse grupo, sendo limitados a C duas aplicações por cultivo. Edson Pereira Borges, Fundação Chapadão Cláudia Godoy, Embrapa Soja
A maior ou menor severidade da ferrugem na região Sul está relacionada à distribuição das chuvas (quanto melhor essa distribuição na safra, mais rápido o avanço da doença)
20 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
SOJA
Prevenção e manejo
Fotos Embrapa Soja
O nematoide do cisto gera sérios danos e possui elevada facilidade de disseminação e capacidade de sobrevivência no solo. A resistência de cultivares, apesar da oferta maior, vem sendo ameaçada pela prática de monocultura e pressão de seleção gerada sobre as populações do patógeno. Por isso o produtor deve apostar em outras medidas integradas, como o manejo adequado do solo e ações preventivas na tentativa de evitar a introdução desses organismos nas lavouras
O
nematoide de cisto da soja (NCS), Heterodera glycines Ichinohe, é uma das principais pragas da cultura, pelos prejuízos que pode causar e pela enorme facilidade de disseminação e capacidade de sobrevivência no solo. Foi detectado no Brasil pela primeira vez na safra 1991/1992. Atualmente está presente
em dez estados (Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Tocantins e Maranhão). Entretanto, ainda existem muitas propriedades isentas do patógeno, localizadas em municípios considerados infestados. Assim, a prevenção continua importante. Essa prática também contribui para
22 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
evitar a introdução de novas raças em propriedades já infestadas. A disseminação do NCS se dá, principalmente, pelo transporte de solo infestado. Isso pode ocorrer por meio dos equipamentos agrícolas, das sementes mal beneficiadas que contenham partículas de solo, pelo vento, pela água e até por pássaros que, ao coletar alimentos
Tabela 1 - Cultivares de soja brasileiras resistentes ao NCS. Embrapa Soja, maio de 2015
Cistos do nematoide do cisto da soja (NCS), Heterodera glycines
Com cultivares suscetíveis indica-se avaliar a população de cistos no solo antes do segundo cultivo
do solo, podem ingerir junto os cistos. É importante a conscientização dos produtores sobre a necessidade de se fazer boa limpeza nos equipamentos agrícolas, após terem sido utilizados em outras áreas, para evitar a contaminação da propriedade. O trânsito de máquinas, equipamentos e veículos tem sido o principal agente de dispersão do patógeno no país. O cultivo de gramíneas perenes (pastagens ou outras) em uma pequena faixa de cada lado da estrada pode retardar a introdução do NCS nas lavouras próximas. A aquisição de sementes beneficiadas, isentas de partículas de solo, também é fundamental para evitar a entrada do nematoide. Dentro da propriedade, a disseminação do NCS pode ser reduzida pela adoção da semeadura direta. O NCS penetra nas raízes da planta de soja e dificulta a absorção de água e
nutrientes. Os sintomas aparecem em reboleiras e sua intensidade varia de acordo com o tipo de solo, com a suscetibilidade da cultivar de soja utilizada e com a densidade populacional do parasita no solo. Em geral, condiciona porte e número de vagens reduzidos, clorose e baixa produtividade. Em muitos casos, as plantas parasitadas acabam morrendo. O sistema radicular fica reduzido e infestado por minúsculas fêmeas do nematoide. Essas fêmeas têm formato de limão ligeiramente alongado. Inicialmente são de coloração branca e, posteriormente, adquirem coloração amarela. Após ser fertilizada pelo macho, cada fêmea produz de 100 a 250 ovos, armazenando a maior parte no interior de seu corpo. Quando a fêmea morre, seu corpo se transforma em uma estrutura dura denominada cisto, de coloração marrom-escura, cheia de ovos,
Sintomas na lavoura provocados pelo ataque do nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines)
Obtentor Agroeste Brasmax Brasmax Coodetec Coodetec Coodetec Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa Embrapa/Fund. MT Fundação MT Fundação MT FT Sementes IAC Monsoy Monsoy Monsoy Monsoy Monsoy Monsoy Monsoy Monsoy Nidera Nidera Nidera Nidera Pionner Pionner Pionner Pionner Pionner Pionner Pionner Pionner Pionner Soy Tech Syngenta Syngenta Syngenta Syngenta Syngenta Syngenta Syngenta TMG
Cultivar AS 3820IPRO Forte RR Ponta IPRO CD 217 CD 237RR CD 242RR BRS 231 BRS 262 BRS 263 [Diferente] BRS 7980 BRS Invernada BRS Jiripoca BRS 295RR BRS 399RR BRS 8890RR BRSGO 7360 BRSGO Araçu BRSGO Chapadões BRSGO Edeia BRSGO Ipameri BRSGO Raíssa BRSGO 7561RR BRSGO 8460RR BRSGO 8660RR BRSGO 8661RR BRSGO 8860RR BRSMG 715A BRSMG 810C BRSMG 724CRR BRSMG 811CRR BRSMT Pintado FMT Tabarana FMT Tucunaré FT Esperança Foster M-SOY 8001 M-SOY 8200 M-SOY 8757 M 6707RR M 7639RR M 7739 IPRO M 8133 IPRO M 8330 IPRO A 4725RR NS 7490RR NS 8393RR NS 8490RR P 98N82 P 95Y21 P 95Y51 P 95Y72 P97Y07 P 98Y11 P 98Y12 P 98Y30 P 98Y70 ST 810RR NK 7059RR NK 7074RR Syn 1157RR Syn 1180RR Syn 1182RR Vmax Vmax RR TMG 4182
Raça* 1,3,6,9 e10 3 3 MR 14 3 3 3 1e3 1 e 3 MR 14 1 e 3 MR 14 1 e 3 MR 5 1e3 1 e 3 MR 14 1e3 3 e 14 1 e 3 MR 5 3 1e3 1,2,3,4,5,6,9,10 e 14 3 3 e 14 1e3 1e3 1e3 3 1,2,3 e 14 3 MR 14 3,4,4+,6,9,10 e 14 1e3 3 3 1 e 3 MR 14 3 1e3 1 e 3 MR 14 1 e 3 MR 14 1e3 1e3 3 1e3 3 1e3 1e3 1e3 3 3 3 3 3 3 1e3 3 3 1e3 3 3 3 1e3 3 3 3 3 MR 2,4,14 3 MR 1 3 e 14 3 e 14 1,2,3,4,5,6,9,10 e 14
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população do nematoide no solo suficiente para garantir o cultivo de soja suscetível por mais um ano. Contudo, deve-se continuar a rotação na sequência, pois a população volta a crescer a níveis de risco. No caso de cultivo de verão por dois ou mais anos consecutivos com espécie não hospedeira, desde que o pH do solo esteja nos níveis indicados para a região, na maioria dos casos, pode-se cultivar soja suscetível na área nos dois anos seguintes, sem risco de perda. Nesse caso, por medida de segurança, indica-se providenciar avaliação da população de cistos no solo antes do segundo cultivo de soja. Com relação ao cultivo de inverno, em áreas infestadas pelo NCS, indica-se utilizar apenas espécies vegetais não hospedeiras (gramíneas, crucíferas, girassol, mucunas, crotalárias etc). O cultivo de espécies hospedeiras no inverno, tais como soja, feijão, tremoço etc, faz com que a população do nematoide se mantenha alta. O NCS se reproduz na soja germinada a partir de grãos perdidos na colheita (soja “guaxa” ou “tiguera”), aumentando o inóculo para a próxima safra. Portanto, não deve ser permitida a presença de “tiguera” em áreas infestadas, prática também exigida para cumprir o vazio sanitário. Quando o NCS foi detectado no Brasil, todas as cultivares de soja em uso, exceto Ipagro 21, eram suscetíveis. A cultivar Ipagro 21, apesar de
Continuação Tabela 1 Obtentor TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG TMG Wehrmann Wehrmann Wehrmann Wehrmann Wehrmann
Cultivar TMG 4185 TMG 113 RR TMG 115RR TMG 117RR TMG 121RR TMG 123RR TMG 132RR TMG 133RR TMG 1168RR TMG 1174RR TMG 1175RR TMG 1176RR TMG 1179RR TMG 1180RR TMG 1188RR Anta 82RR TMG 2181IPRO W 831 W 851 W 855 W 888 W 901
Raça* 1,3,4,6,9,10 e 14 MR 2 e 5 3 1 e 3 MR 14 1e3 1 e 3 MR 14 1e3 1e3 1e3 3 e 14 1e3 1e3 1e3 1e3 3 3 e 14 3 MR 14 3 3 3 3 3 3
altamente resistente à deterioração e à dessecação e muito leve, que se desprende da raiz e vai para o solo. O cisto pode sobreviver no solo, na ausência de planta hospedeira, por mais de oito anos. Assim, é praticamente impossível eliminar o nematoide nas áreas em que ocorre. Em solo úmido, com temperaturas de 20oC a 30oC, o juvenil de segundo estádio eclode e, se encontrar a raiz de uma planta hospedeira, penetra e o ciclo se completa em três a quatro semanas. A gama de espécies vegetais hospedeiras do NCS é limitada, destacando-se a soja (Glycine max), o feijão (Phaseolus vulgaris) e o tremoço (Lupinus albus). A maioria das espécies cultivadas, tais como milho, sorgo, arroz, algodão, girassol, mamona, cana-de-açúcar, trigo, assim como as demais gramíneas, não o multiplica. O NCS também não se reproduz nas plantas daninhas mais comuns nas lavouras de soja brasileiras. Quando o NCS apareceu no Brasil, as perdas que ocasionou na produção de soja eram muito elevadas. Em alguns casos, chegavam a atingir 100%. Atualmente, em função do emprego da rotação de culturas e, principalmente, por causa da utilização de cultivares resistentes, têm sido bem menores. Em cada safra, podem ser estimadas em cerca de 5%-10%. Em geral, a substituição da soja, em uma safra de verão, por uma espécie não hospedeira (milho, algodão, arroz, dentre outras) proporciona redução da
Fotos Embrapa Soja
*As informações sobre a resistência das cultivares foram obtidas a partir de materiais de divulgação dos respectivos obtentores.
resistente, não tinha adaptação para cultivo nas áreas infestadas (Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). Para enfrentar mais esse desafio, empresas públicas e privadas de melhoramento genético de soja tiveram que recorrer ao germoplasma de soja norte-americano e passaram a incluir genes de resistência ao NCS em cultivares brasileiras “elites”. Cinco anos depois, foi liberada para cultivo, em Minas Gerais, a primeira cultivar resistente (BRSMG Renascença). Na sequência, apareceram BRSMT Pintado, BRSMT Piraíba, BRSMT Matrinxã, BRSMG Liderança, M-SOY 7901, M-SOY 8001, dentre outras. Atualmente, mais de 80 cultivares de soja resistentes estão disponíveis (Tabela 1). Entretanto, a variabilidade genética exibida pelo NCS no País (raças 1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+) dificulta sobremaneira o desenvolvimento de tais cultivares e, também, reduz a vida útil das mesmas. A maioria das cultivares de soja resistentes ao NCS disponíveis no Brasil é adequada apenas paras as raças 1 e 3. Para a região Centro-Oeste, onde raças com número maior de genes de parasitismo são frequentes (raças 2, 4, 5, 6, 9 e 14), existe carência de cultivares resistentes. Mesmo para as raças 1 e 3, não há cultivares adaptadas para todas as regiões de cultivo. Também tem havido dificuldade em obter cultivares resistentes precoces, em geral menos
24 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
Juvenis de segundo estádio do NCS (Heterodera glycines)
afetadas pela ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) e que permitem uma segunda safra (milho ou algodão) na área. Outro grande desafio é preservar a resistência das cultivares. Com a oferta de cultivares resistentes, os agricultores passam a praticar a monocultura. Essa enorme pressão de seleção gerada sobre as populações do patógeno, resulta na seleção de outras raças, que “quebram” a resistência das cultivares. Para evitar o problema, o ideal é a adoção de um sistema de rotação, que envolva cultura não hospedeira, soja suscetível e soja resistente. O manejo adequado do solo em áreas infestadas com o NCS (níveis mais altos de matéria orgânica, saturação de bases dentro do indicado para a região, parcelamento do potássio em solos arenosos, adubação equilibrada, suplementação com micronutrientes e ausência de camadas compactadas) também é importante, pois aumenta a tolerância da soja ao dano e favorece a atuação de inimigos naturais do nematoide (fungos, bactérias, ácaros, outros C nematoides etc). Waldir Pereira Dias, Embrapa Soja
Ovos do nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines)
ESPECIAL
Cultivar conquista o P
Half Ribeiro
A premiação mais importante do agronegócio brasileiro concedeu à Cultivar o título de 1º lugar na categoria Jornalismo – Veículo Especializado
A
Revista Cultivar conquistou o 18º Prêmio Defesa Vegetal, na categoria Jornalismo, modalidade Veículo Especializado. A escolha pela comissão organizadora levou em consideração “o expressivo conjunto de edições, ao longo dos 17 anos da publicação, enfocando com rigor as modernas técnicas e os manejos para o controle fitossanitário e a defesa vegetal”. A escolha foi realizada pela comissão formada por profissionais de comunicação indicados pela Andef e por um membro do Conselho Científico para a Agricultura Sustentável (CCAS). A cerimônia de divulgação e entrega do Prêmio ocorreu no dia 29 de junho,
em São Paulo. A premiação é a mais importante da agricultura brasileira, numa iniciativa da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InpEV) e Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). O Prêmio Defesa vegetal é um estímulo à inovação, à extensão do conhecimento e às melhores práticas no uso das tecnologias e no manejo da produção, integrado à utilização consciente dos recursos naturais para a produção de alimentos, fibras e energias renováveis.
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FOCO NA QUALIDADE DAS LAVOURAS
A escolha da Revista Cultivar pela comissão julgadora levou em conta o conjunto da obra, destacando que “ao longo dos últimos 17 anos, suas três publicações: Cultivar Grandes Culturas, Cultivar Máquinas e Cultivar Hortaliças e Frutas têm contribuído, de forma destacada, ao vital propósito de transmissão de informações técnicas especializadas em sanidade vegetal e mecanização agrícola ao produtor brasileiro”. O Prêmio também destacou que “o foco dos trabalhos da Revista Cultivar está na ampla cobertura de temas como controle de pragas,
rêmio Defesa Vegetal doenças, plantas daninhas, novos métodos de cultivo, irrigação e adubação, além de artigos e reportagens sobre manutenção e lançamentos de máquinas e implementos agrícolas”. A comissão ainda finalizou sua justificativa dizendo que a “Revista Cultivar tem buscado durante a sua trajetória a efetiva prestação do serviço de levar o conhecimento técnico necessário aos produtores, pautada no aumento da produtividade, na melhoria da qualidade do trabalho no campo, com observância dos conceitos de sustentabilidade”. Para o diretor-presidente do Grupo Cultivar de Publicações, Newton Peter, o reconhecimento engrandece o trabalho realizado pela Revista Cultivar. “Queremos dividir este reconhecimento com todos os colaboradores e pesquisadores que estão conosco a cada edição. Graças a eles, nossas publicações são uma referência para aqueles produtores que buscam incansavelmente aprimorar as técnicas de cultivo e aumentar a produtividade de suas lavouras a cada safra”, afirma Peter.
O PRÊMIO DEFESA VEGETAL
C
riada em 1998, inicialmente com a denominação de Prêmio Mérito Fitossanitário, a iniciativa objetiva homenagear profissionais, empresas e entidades por suas ações de educação para o uso correto e seguro das modernas tecnologias no campo, além de constituir um marco do compromisso da indústria do setor com o desenvolvimento sustentado do agronegócio no País. O Prêmio Defesa Vegetal 2015 premiou oito categorias distintas que contribuem para transformar a produção
de alimentos no Brasil: Campo Limpo, Canais de Distribuição, Cooperativas, Ensino, Indústria, Jornalismo, Produção Rural e Profissionais.
GRUPO CULTIVAR
O Grupo Cultivar de Publicações é uma empresa especializada na transmissão de informações técnicas focadas em sanidade vegetal e mecanização agrícola. Fundada em 1998 pelo jornalista Newton Peter e o entomologista Milton Guerra (*1934 - +2013), edita três publicações: Cultivar Grandes Culturas, Cultivar Hortaliças e Frutas e Cultivar Máquinas. O Grupo Cultivar também está on-line. No Portal www.grupocultivar.com são publicados diariamente notícias e artigos 100% focados em agricultura. O produtor pode também receber diariamente em seu e-mail uma newsletter com as principais notícias do agronegócio, bem como submeter notícia ou artigo e fazer download de papéis de parede com calendários mensais no portal ou nas principais redes sociais. www.revistacultivar.com.br • Julho 2015
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CAPA
Exército do mal
Dirceu Gassen
Com grande capacidade de adaptação ao sistema de produção de soja, milho e algodão utilizado no Cerrado, o complexo de lagartas do gênero Spodoptera tem registrado surtos e alterações em sua dinâmica populacional ao longo das últimas safras. Favorecidas por cultivos sucessivos estas pragas exigem manejo amplo e criterioso por parte dos produtores
N
a região Centro-Oeste as pragas apresentam uma dinâmica com mudanças constantes. Algumas têm registrado surtos, requerendo atenção e controle, a fim de evitar prejuízos às culturas. Entre estas pragas com grande adaptação ao sistema de produção implantado na região do Cerrado, é possível citar o complexo de lagartas do gênero Spodoptera (Gallo et al, 2002),
com crescente importância econômica nas culturas de soja, milho e algodoeiro. Algumas espécies deste gênero são listadas como pragas secundárias, por ocorrência esporádica e danos antes não expressivos, mas no cenário atual seus prejuízos podem chegar a 50% na produtividade das culturas. As espécies que se destacam por maior ocorrência e importância de danos nas prin-
28 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
cipais culturas da região Centro-oeste são Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho), Spodoptera eridania e Spodoptera cosmioides, popularmente conhecidas como lagartas-das-vagens ou lagartas- pretas. Estas pragas têm apresentado ocorrências e prejuízos em diferentes fases de desenvolvimento das culturas. Em determinados locais pode também se observar Spodoptera albula, já identificada em estados como Goiás e outros. As lagartas do gênero Spodoptera são pertencentes à ordem Lepidoptera, da família Noctuidae e possuem ciclo médio em torno de 30 dias, dependendo do hospedeiro. Nas formas adultas são mariposas de hábito noturno. S. eridania apresenta coloração cinzento-clara, medindo cerca de 40mm de envergadura, sendo asas anteriores acinzentadas com um ponto preto no centro e uma faixa preta longitudinal ao corpo da praga, e as posteriores de coloração esbranquiçada. Uma fêmea pode ovipositar cerca de 800 ovos, que colocados em massas possuem forma de uma esfera aplainada, de cor esverdeada e recobertos por pelos do corpo da mariposa. São inseridos na parte inferior das folhas. As lagartas, nos primeiros instares são esverdeadas, com quatro pontos escuros no dorso. Com o desenvolvimento apresentam coloração marrom, com três listras longitudinais amarelas e passam a atacar a face dorsal das folhas. Na cultura do algodoeiro podem chegar a seis instares, e na cultura da soja alcançam sete instares (Parra et al, 1977). Geralmente as lagartas de S. eridania são encontradas na parte mais baixa das plantas (“baixeiro”) e se mostram mais ativas à noite. Na cultura do algodoeiro os seus danos são desfolha, destruição dos limbos, muitas vezes deixando intacta a parte superior, provocando perfurações no talo, furo e corte, resguardando as nervuras principais (Silvie et al, 2007). Os danos desta praga se destacam quando do aparecimento dos botões florais, perfurando-os. Segundo Santos et al (2010), em laboratório, mais de 57% das lagartas avaliadas danificaram as estruturas reprodutivas de algodoeiro, sendo uma proporção 1,7 botão floral atacado por lagarta, de 4º instar. Entre as espécies do gênero Spodoptera, S. cosmioides também foi constatada na região e observada em diversos estados, como Mato
Germison Tomquelski
Cecília Czepack
Detalhe dos pontos escuros no dorso na parte mediana de S. eridania
Grosso, Paraná, Goiás, Bahia, Piauí, Maranhão e Rondônia (Tomquelski 2011). Observam-se danos desta praga, principalmente na cultura da soja, provocando desfolha, efeito da “sobra” das aplicações realizadas para controle de outras pragas. S. cosmioides apresenta o adulto, uma mariposa de coloração cinza-claro, com manchas mosqueadas, longitudinalmente e margeadas por uma franja de coloração esbranquiçada, medindo cerca de 40mm de envergadura. As asas anteriores apresentam coloração branca com uma franja. Esta praga também apresenta duração do ciclo em torno de 30 dias, dependendo do hospedeiro. As lagartas possuem coloração marrom a preta, com uma faixa lateral longitudinal amarela que é interrompida por uma mancha escura no tórax (Gallo et al, 2002). A fêmea deste inseto pode colocar mais de 500 ovos, de coloração esverdeada. Após a eclosão, as lagartas alimentam-se a princípio do parênquima das folhas até completarem a primeira ecdise. As lagartas de S. cosmioides apresentam semelhanças no padrão de coloração e variabilidade intraespecífica, relacionado à S. eridania, Gráfico 1
Ataque da lagarta à base de planta de milho
tornando confusa sua identificação. As lagartas de S. cosmioides recém-eclodidas possuem o corpo de cor marrom-claro e a cabeça preta, depois apresentam coloração marrom a preta, com três listras longitudinais alaranjadas, uma dorsal e duas laterais, com pontos brancos. Acima estão presentes triângulos pretos apontando para o dorso do inseto, podendo atingir 48mm de comprimento. Um parêntese deve ser feito em relação a estas duas espécies, pois na cultura da soja têm se observado diferenças quanto à suscetibilidade de controle destas duas lagartas. Vale ressaltar que muitas vezes este inseto é percebido no campo quando em estádios de desenvolvimentos mais avançados, e no interior das plantas atacando as vagens, o que dificulta o seu controle. Ainda deve-se ressaltar a espécie Spodoptera frugiperda, conhecida também como lagarta-militar e lagarta-do-cartucho do milho, considerada por muitos como um dos principais problemas para o Brasil. Na fase adulta possui coloração pardo-escuro nas asas anteriores e branco-acinzentadas nas posteriores, medindo em torno de 35mm de envergadura. As mariposas expelem de 1.500 ovos a 2.000 ovos
na página superior das folhas, são colocados em grupos com média de 100 ovos recobertos por escamas e pelos em camadas sobrepostas (diferença importante para o campo quanto à S. eridania). Em fase larval a coloração varia de cinza-escuro a marrom, apresenta faixa dorsal com pontos pretos (pináculas) na base das cerdas, sendo característicos quatro pontos no 8º segmento, possui cápsula cefálica com a sutura adfrontal, não alcançando o vértice da cabeça. A larva recém-eclodida tece um fio de seda que é usado como meio de dispersão e/ou escape de inimigos naturais. Podem chegar a medir 50mm de comprimento ao final da fase. Finalizado o período larval, as lagartas penetram no solo, onde se transformam em pupas de coloração avermelhada, medindo cerca de 15mm de comprimento (Gallo et al, 2002). Este complexo é formado por lagartas polífagas, que atacam grande diversidade de plantas, causando variados danos, podendo chegar, em níveis elevados, a perdas irreparáveis às culturas, na produtividade. Os ataques podem ocorrer desde o início do desenvolvimento das plantas. Após a emergência da plântula, lagartas de instares mais avançados podem cortá-la rente ao solo, semelhante ao Gráfico 2
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mais tenras, deixando as nervuras principais, levando a redução da taxa fotossintética. Ao analisar o agroecossistema no Centro-Oeste observa-se o favorecimento da multiplicação de algumas pragas, em virtude de ser um sistema em que a soja é a cultura principal, estabelecida na maioria das áreas, podendo ser rotacionada com milho ou algodão, ou mesmo cultivada em anos sucessivos. Após a colheita, em algumas situações, é estabelecida uma cultura de entressafra (milho ou sorgo safrinha, milheto, nabo forrageiro, braquiária, girassol, crotalária) ou mesmo o solo ficando em “pousio” coberto por grande diversidade de plantas daninhas. A ocorrência de pragas em função da utilização de algumas plantas de cobertura, que são importantes dentro do sistema de plantio direto, pode muitas vezes servir como alimento a outras pragas. Aliado a isto, condições climáticas favoráveis (altas temperaturas no verão e inverno ameno), tornam a região ideal para a multiplicação dos insetos. Algumas culturas sofrem ainda com a migração de pragas. Após a colheita de determinada cultura o inseto pode vir a atacar outra cultura, e, neste caso, áreas de algodão cultivadas próximas às de milho apresentam acentuado incremento populacional de Spodoptera frugiperda, por ocasião da maturação do milho, verificado por vários pesquisadores, como Soares e Vieira (1998); Santos (2007), Tomquelski e Rotundo (2007). O mesmo fenômeno ocorre com Spodoptera eridania, infestando as lavouras de algodão com finalização do ciclo de soja e milho. Neste âmbito o produtor/técnico deve se atentar para o fato de que a cultura hora pode servir como fonte/fornecedora para culturas que porventura venham na sequência, ou mesmo como dreno/recebendo e abrigando
Figura 1 – Como utilizar o refúgio Bloco ou Faixa Lateral
Perímetro ou Bordadura
Faixas
Fotos Germison Tomquelski
Pivô Central
as pragas, com consequentes prejuízos. As lagartas deste gênero apresentam condições ideais para o seu desenvolvimento no sistema de produção adotado de diversas regiões. As populações destas pragas devem ser monitoradas ao longo dos anos, para que seja possível acompanhar mudanças no sistema de produção. Algumas armadilhas, como a luminosa, apresentam grande auxílio à pesquisa, e mesmo para o campo-produtor, as armadilhas de feromônio. Em alguns levantamentos na região dos Chapadões, tem se verificado que as populações de Spodoptera spp. em determinados anos diminuiu, principalmente naqueles em que ocorreu entrada da biotecnologia Bt em milho. No entanto, com a diminuição da eficiência das biotecnologias Bt, os números desta lagarta vêm aumentando. Em alguns trabalhos, observações desta praga mostram captura de mariposas na região dos Chapadões, em duas safras agrícolas. Este fato apresenta grande correlação com o sistema de produção envolvendo culturas e plantas de cobertura, em que o gênero Spodoptera tende a habitar. Muitas áreas, na região do Cerrado, por questão de logística, tempo e clima, além de outros fatores, ficam em pousio. Em trabalhos sobre a correlação entre pragas e plantas daninhas observou-se que S. frugiperda e S. eridania, além de outras pragas, apresentaram grande frequência de infestação, como demonstrado em estudo realizado por duas safras agrícolas em sucessão soja/feijão, nas safras 2011/2012 e 2012/2013, em que no período anterior à semeadura da soja apresentava o problema. O entendimento desta biologia de insetos é um dos pilares do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e, desta forma, o técnico produtor poderá realizar uma melhor recomendação de manejo para as pragas.
ataque da lagarta-rosca, levando à redução de estande, realizado principalmente por S. frugiperda. Na plântula de milho o ataque no colmo atingindo o ponto de crescimento ocasiona o sintoma conhecido como “coração morto”, semelhante ao ataque provocado pela lagarta-elasmo. Entretanto, estas pragas são importantes desfolhadoras, sendo que em seus instares iniciais as lagartas raspam os limbos das folhas, depois consomem as partes
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Detalhe de área de milheto com Spodoptera próxima à dessecação e semeadura da soja
Gráfico 3
O monitoramento é outro pilar do MIP. Para lagartas deste gênero observa-se uma distribuição desuniforme nas lavouras, pontos chamados de “ilhas” com grande quantidade da praga por apresentar esta postura em massa, sendo, com o passar do tempo e da população de adultos, distribuído em toda área. Em Spodoptera sp. há tendência das lagartas passarem de uma planta a outra por contato, e quando jovens serem distribuídas pelo vento a pequenas distâncias. Tal fato ressalta a importância da qualidade da operação de monitoramento, que exige técnicos capacitados e acurácia. A amostragem realizada frequentemente tende a evitar prejuízos maiores destas pragas. O pano de batida é instrumento fundamental para uma boa amostragem na cultura da soja, sendo a quantidade de amostragens variável em função do tamanho do talhão, operacionalidade e, além de ser representativa, para esta cultura níveis de desfolha de até 10% na fase reprodutiva tendem a não levar a prejuízos significativos. Em milho a observação de plantas raspadas e a abertura dos cartuchos para quantificar e identificar o estádio das lagartas têm levado a bons resultados para o manejo, sendo níveis de até 15% de plantas raspadas em milho não Bt e 10% em milho Bt, os índices com produtividades satisfatórias nos trabalhos da Fundação Chapadão. Em algodoeiro a amostragem pode também ser realizada utilizando-se o
Efeito do horário de aplicação de inseticidas carbamatos, organofosforados e fisiológicos no controle de lagartas de Spodoptera frugiperda em milho. Fundação Chapadão
pano de batida, além da amostragem manual, contando-se o número de lagartas em toda a planta, não esquecendo o ataque às estruturas reprodutivas, que devem ser mensurados. Resultados desta cultura mostram que a desfolha na cultura de até 10% não gera prejuízos significativos, mas um ponto importante está na quantificação das estruturas reprodutivas, em que o índice de controle de 5%, deve ser adotado. Outro ponto a analisar atualmente reside no monitoramento implementado antes da semeadura, observando a cultura de cobertura. Em algumas situações encontram-se áreas com altas infestações de Spodoptera. Situações desta ordem levam o produtor-técnico a traçar estratégias para o manejo destas pragas. Uma das alternativas é retirar o alimento da praga, dessecando a área, com antecedência, provocando a mortalidade de parte da população, e/ou mesmo parte da população vir a empupar no solo. Mas diversas vezes o produtor necessita semear rapidamente, com períodos em média de três dias de dessecação e semeadura (caso da região dos Chapadões), sendo necessário o controle desta população, a fim de evitar um ataque de pragas na fase inicial da cultura. Apesar da opção das plantas Bt com resistência a diversos Lepidopteros, esta tecnologia afeta lagartas neonatas (1º e 2º instares), não controlando-as em estádios avançados. Dados de mais de 30 experimentos
desenvolvidos na região dos Chapadões mostraram que o manejo destas pragas por ocasião da dessecação leva a mais de 50% de chance de o produtor produzir uma saca de soja a mais, por hectare, por evitar danos à fase inicial da cultura, danos estes por diminuição de estande ou mesmo desfolha precoce que pode comprometer o desenvolvimento das plantas. Apesar de novas ferramentas como a biotecnologia em soja, com o advento das cultivares de soja Bt com o evento Cry1Ac, observa-se que Spodoptera ainda é uma praga não alvo de controle. Em algumas culturas como o milho e o algodoeiro, observam-se várias tecnologias disponíveis. No entanto, algumas já apresentam certo “desgaste” com o passar dos anos, em virtude de diversos fatores. Se destacam, neste sentido, a ausência da correta utilização de refúgio, a biotecnologia como o única tática de controle, a não expressão de alta dose aos indivíduos heterozigotos, o sistema de cultivo intensivo, a não observância de “janelas” para a descontinuidade da utilização de biotecnologia, os refúgios alternativos, as tigueras, entre outras questões. Somem-se a isso táticas que poderiam ter sido adotadas, favorecendo longevidade maior aos primeiros eventos Bt. Analisando o sistema de produção atualmente entre as alternativas de manejo com maior utilização, há os inseticidas e o emprego de plantas Bt. Estas estratégias apresentam vários pontos interessantes ao produtor, em
Sítios de ação de algumas proteínas Bt (Ferré e Van Rie 2002)
Lavoura de soja atacada por Spodoptera na fase inicial
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www.irac-br.org.br). Outra análise que não pode ser esquecida reside no fato que diversas tecnologias Bt apresentam mesmo sítio de ação. Analisando o que há disponível no mercado, é interessante o produtor buscar eventos piramidados, que poderiam garantir maior eficiência no controle desta praga. Vale ressaltar que grande parte dos traits já apresenta uma proteína com eficiência reduzida, o que de certa forma fará com que somente uma proteína esteja funcionando, podendo haver novamente o problema de resistência, mas não a uma e sim duas. O complexo Spodoptera exige que o produtor esteja atento à correta utilização do refúgio, a fim de manter a efetividade da tecnologia. Observações de campo mostram que em lavouras da região dos Chapadões, têm se constatado as primeiras falhas de controle, ou mesmo porcentagens maiores de plantas atacadas com S. frugiperda. Algumas sugestões de como se dispor a tecnologia na área seguem na Figura 1. Atentar ao aspecto de migração das pragas à distância de no máximo 800m de uma área a outra. Algumas adaptações como a utilização nas semeadoras com uma ou duas linhas, das culturas, estão sendo estudadas. Mais informações podem ser encontradas no site www.planterefugio. com.br. As porcentagens de 10% para milho, algodoeiro 20% e soja 20%, ainda estão sendo validadas pela pesquisa, se estas porcentagens conseguirem promover a quantidade de indivíduos suscetíveis necessários ao ambiente, além de outras táticas dentro do MIP possíveis de serem implementadas nestas áreas. Mas sabe-se que havendo a possibilidade de maiores índices é interessante para o manejo.
Quadro 1 - Inseticidas recomendados para o controle de Spodoptera spp. (Fonte e adaptado de Agrofit, 2015)*
Organofosforado (1B)
Moduladores de canais de sódio
Piretroides (3A)
Agonistas de receptores nicotínicos da acetilcolina
Neonicotinoide (4A)
Ativadores alostéricos de receptores nicotínicos da acetilcolina
Espinosina (5)
Disruptores microbianos da membrana do mesêntero Desacopladores da fosforilação oxidativa via disrupção do gradiente de próton H Inibidores da formação de quitina, tipo 0, Lepidoptera
Biológico (11) Clorpenapir (13) Benzoilureia (15)
Agonistas de receptores de ecdisteroides
Diacilhidrazina (18A)
Bloqueadores de canais de sódio dependentes da voltagem Moduladores de receptores de rianodina
Oxadiazina (22) Diamida (28)
Ingrediente Ativo Carbofurano Carbosulfano Metomil Tiodicarbe Acefato Clorpirifós Malationa Parationa-Metílica Profenofós Piridafentiona Triazofós Alfa-Cipermetrina Beta-Ciflutrina Beta-Cipermetrina Bifentrina Cipermetrina Deltametrina Esfenvalerato Etofenproxi Fenpropatrina Gama-Cialotrina Lambda-Cialotrina Permetrina Zeta-Cipermetrina Acetamiprido Clotianidina Imidacloprido Tiametoxam Espinetoram Espinosade Bacillusthuringiensis Clorfenapir Clofluazurom Diflubenzurom Lufenurom Novalurom Teflubenzurom Triflumurom Cromafenozida Metoxifenozida Tebufenozida Indoxacarbe Clorantraniliprole Flubendiamida
* Deve o técnico ou agrônomo consultar a situação do produto junto ao Mapa antes de emitir o receituário agronômico.
vista da praticidade e do custo relativamente satisfatório em alguns casos. Entretanto, fatores comentados anteriormente como a característica da espécie de polifagia, com alimento o ano todo, aliados ao alto potencial reprodutivo, com elevado número de descendentes, à alta capacidade de dispersão com adultos chegando a grandes distâncias, às condições climáticas favoráveis à praga e desfavoráveis aos inimigos naturais e à alta pressão de seleção exercida por uso de mesmas tecnologias, elevam o gênero Spodoptera a um dos maiores riscos de resistência. Em S. frugiperda é de conhecimento que
algumas moléculas inseticidas já apresentaram o problema de resistência, sendo necessárias mudanças na forma de utilização, e até o desuso de determinada molécula por certo tempo. Esta praga é alvo de estudo por um comitê formado por diversas instituições, o Irac-BR, que tem como missão manter todos os grupos químicos de inseticidas e acaricidas e as plantas geneticamente modificadas como alternativas viáveis de manejo de insetos e ácaros por meio de programas de parceria com Produtores e Instituições de Ensino, Pesquisa e Extensão, para o gerenciamento destas táticas de controle de uma maneira sustentável (site
32 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
CONTROLE QUÍMICO
O controle químico apresenta grande importância neste cenário, visto que junto Janaina Palma
Grupo Químico ou Ingrediente Ativo Carbamato (1A)
Sítio de Ação Primário Inibidores de acetilcolinesterase
Triângulos pretos apontando para o dorso de S. cosmioides, podendo atingir 48mm de comprimento
a outras tecnologias poderá complementar o MIP. Contudo, se não manejado, pode não gerar resultados. Desta forma os modos de ação devem ser analisados principalmente por região. A experiência com Spodoptera frugiperda mostrou, com a ação do Comitê Brasileiro de Ação à Resistência de Inseticidas (Irac-BR), que esta praga apresenta suscetibilidade diferencial a determinadas regiões, em função principalmente da intensidade de cultivo de milho nas regiões, além de hospedeiros, clima etc. Vale destacar ainda que a ação de vários inseticidas é muito dependente de diversas condições, onde vale a sabedoria popular de que não existe produto ruim e sim mal posicionado. Esses defensivos devem muitas vezes ser aplicados em estratégias de rotação de modos de ação. Alguns grupos químicos como espinosinas, inibidores de canais de Ca, diazinas, pirazol, biológicos, e novos grupos, são necessários dentro do manejo. No tratamento de sementes torna-se fundamental, além de promover o controle destas pragas, manter a longevidade das tecnologias Bt. Esta estratégia, dentro do MIP, apresenta vários benefícios além de possuir caráter da seletividade ecológica. Por controlar o início das infestações (primeira população que chega em
Sistema de produção adotado na região dos Chapadões, com épocas de culturas no campo Cultura Soja Feijão Milho Algodão
Outubro
Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março
determinados períodos) tende a ter um maior sucesso para as demais práticas adotadas. Condições climáticas desfavoráveis também devem ser levadas em consideração provocando mais de uma intervenção a fim de diminuir a infestação da praga. Em trabalhos realizados pela Fundação Chapadão observou-se que no período inicial, final do dia e noturno, o controle de Spodoptera frugiperda tende a ser superior. A rotação de modos de ação tende a evitar surpresas desagradáveis com o problema de S. frugiperda. Trabalhos de acompanhamento da eficiência dos inseticidas em milho mostram que com o aumento do uso de determinado grupo químico tende-se a diminuir a eficiência e levar a variações nos resultados das aplicações dos produtores (Tomquelski e Martins 2007) e (Tomquelski e Rotundo 2015). Com as “novas” ocorrências de S. eridania e S. cosmioides observou-se que os inseticidas para estas espécies apresentam comportamento diferenciado à S. frugiperda, com eficiências
Abril
Maio
Junho
Julho Agosto Setembro
ora superiores. No entanto, deve-se atentar muito ao horário e à tecnologia de aplicação utilizados para garantir o sucesso do manejo. Em culturas como soja e algodoeiro, dependendo do estádio e porte da planta, podem se apresentar escondidas, dificultando o controle. Ainda há o controle biológico que, para espécies como S. frugiperda, registra grande sucesso em culturas como o milho (Cruz et al 1999) (Valicente e Tuelher 2010), podendo ser implementado no MIP em sistema de produção. Observa-se diante do exposto que ainda há uma longa caminhada para o total domínio populacional do gênero Spodoptera. Mas é importante ir vencendo cada batalha, sem C contudo, a guerra acabar. Germison Tomquelski, Fundação Chapadão Sherithon Martins de Paula e Janaina Oliveira Borgelt, UFMS/Fundação Chapadão
EMPRESAS
Desafios e oportunidades Basf realiza evento para divulgar investimentos, lucros, resultados e discutir estratégias para a agricultura brasileira
A
Basf registrou aumento de 4% em vendas voltadas ao agronegócio, em 2014, na América Latina. Os dados foram divulgados juntamente com investimentos e projeções da Divisão de Proteção de Cultivos para os próximos anos, durante evento em Campinas, São Paulo, que debateu também os desafios e as perspectivas para a agricultura brasileira nos próximos anos. A companhia fechou 2014 com vendas globais da ordem de 74 bilhões de euros, dos quais 5,446 bilhões de euros dizem respeito ao agronegócio. A meta da companhia para 2020 é de que esta participação chegue a oito bilhões de euros. Atualmente a Europa lidera o mercado de vendas de Proteção de Cultivos, com 37%. A América do Sul, somada à África e ao Oriente Médio, alcança 24%, enquanto a América do Norte detém 29% da fatia. Quando se analisam os dados totais de vendas da companhia, a América do Sul alcança singelos 6%, enquanto a Europa lidera o ranking com percentual de 57%. “Fomos fundados na Alemanha”, lembra o membro da Junta Diretiva da Basf, Harald Schwager, para em seguida acrescentar
que estes percentuais tendem a mudar. A explicação reside no fato de que a Europa, ao contrário de outras regiões, não deve registrar aumento populacional. “Até 2050 teremos 9,5 bilhões de pessoas na terra para alimentar, o que é uma tarefa árdua, um desafio para nós como empresa e como sociedade”, avaliou. Para atender a demanda até 2050 será necessário aumento de 70% na produção de alimentos. Tudo isso com área disponível 30% menor e outras limitações de recursos naturais, como a água. Neste contexto o Brasil ainda possui algumas vantagens competitivas. Além da vocação agrícola do país é possível aumentar área sem desmatar, como ocorre com o aproveitamento de pastagens degradadas (Gráfico 2). “O Brasil é um dos principais fornecedores globais de alimentos, por isso faz parte de nossa estratégia de longo prazo. Queremos continuar a investir em pessoas e em inovação no Brasil”, afirmou o presidente global da Divisão de Proteção de Cultivos, Markus Heldt. No ano passado a Basf realizou investimentos pesados em regiões consideradas pequenas, como é o caso de Camaçari, na
36 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
Bahia. O Complexo de Guaratinguetá e a Estação Experimental de Santo Antônio da Posse também passaram por ampliações, além de uma fábrica de produtos biológicos para hortifruticultura ter sido construída no Chile. No Complexo Químico Industrial da Basf, em Guaratinguetá, Vale da Paraíba, São Paulo, o investimento total alcançou 65 milhões de euros, com novas fábricas para produção de fungicidas, inseticidas e herbicidas. Produtos, como o fungicida Orkestra, passaram a ser produzidos no Brasil. “A Basf consolida a liderança na exportação de defensivos agrícolas, uma exceção ao mercado, que costuma importa-los”, orgulha-se o vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos para a América Latina, Eduardo Leduc. Ao lado do herbicida Heat, o fungicida Orkestra é citado pelo executivo como um dos impulsionadores do aumento de 4% em vendas agro da companhia para a América Latina. As principais culturas geradoras de receitas foram soja, cana, milho, café e laranja. A companhia também apresentou resultados de iniciativas que podem auxiliar o Brasil no desafio de produzir mais com recursos limi-
Gráfico 1 - Comparativo entre resultados do sistema integrado e convencional
tados. Um dos exemplos reside em experiência no estado de Goiás, com a integração lavoura/ pecuária/floresta, que provou ser possível produzir a mesma quantidade de alimentos e energia com seis vezes menos área (Gráfico 1). Com o emprego da ferramenta AgBalance, criada para mensurar e avaliar a sustentabilidade na agricultura, o estudo está em andamento desde o ano passado na Fazenda Santa Brígida, Unidade de Referência Tecnológica (UTR) da Embrapa, no município de Ipameri. Parcerias com instituições de pesquisa e profissionais do setor são outro motivo de orgulho para a companhia. “A Basf é pioneira em realizá-los no Brasil. O país ainda busca muita inovação fora, que nem sempre se adapta a sua realidade”, lembra Leduc.
AUMENTO DA VENDA DE DEFENSIVOS
O mercado de agroquímicos se encontra em ascendência no Brasil. Entre 2013 e 2014 o aumento superou 8%, passando de 11,454 milhões de dólares para 12,365 milhões de dólares. Em 2007 este valor era de apenas 5,372 milhões de dólares (Gráfico 3). “Isto não representa necessariamente aumento de aplicações. Há que se levar em consideração o crescimento de produtividade e a realização de até três safras por ano”, alerta o vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos para o Brasil, Francisco Verza. Para 2015 o cenário ainda é de incertezas a
Gráfico 2 - Demonstrativo uso e ocupação do solo no Brasil
respeito do preço de commodities como soja e milho. Por isso, a companhia pretende intensificar ações de barter (troca de insumos por grãos), principalmente em regiões do Cerrado, cuja expectativa é de maiores dificuldades na comercialização. Para Eduardo Leduc, o atraso nas compras para a safra, por conta da insegurança do produtor quanto ao mercado, pode impactar em um gargalo de logística no segundo semestre, com dificuldades de transporte e conseqüente demora na entrega de insumos.
CULTIVANCE
Com lançamento comercial previsto para o segundo semestre deste ano, a soja Cultivance, resultado de parceria entre a Basf e a Embrapa, acaba de receber aprovação de exportação por parte da União Europeia. O sistema de produção combina cultivares geneticamente modificadas com herbicidas de amplo espectro para o manejo de plantas daninhas de folhas largas e gramíneas.
AGMUSA
Para cana-de-açúcar a Basf anunciou que seguirá investindo forte na tecnologia Agricultura de Mudas Sadias (AgMusa), sistema de produção e plantio de mudas lançado em 2013.
Em dois anos a empresa contabiliza sete patentes já estabelecidas, com mais de 50 clientes do serviço, entre usinas e outros fornecedores, com oferta de matéria-prima ou material varietal com sanidade, passando pela extração de gemas, tratamentos de mudas até o plantio e o acompanhamento do canavial, de acordo com o modelo escolhido pelo cliente.
O FUTURO DA AGRICULTURA
O evento contou ainda com mesa-redonda para debater desafios e o futuro da agricultura, com temas como produção de alimentos e combate à fome, uso racional da água, gargalos de logística e infraestrutura. Participaram o representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) Alan Bojanic, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) Luiz Carlos Carvalho, o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Roberto Brant e o pesquisador da Embrapa e articulista da Revista Cultivar Grandes Culturas Décio Gazzoni, além do vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina, Eduardo Leduc. C
Gráfico 3 - Evolução do mercado de agroquímicos no Brasil
Mesa-redonda reuniu representantes da FAO, Abag, CNA, Embrapa e da Basf para discutir futuro da agricultura
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ALGODÃO
Eterno desafio
Principal praga em algodoeiro, o bicudo tem assustado técnicos e produtores pelos enormes prejuízos e ônus causados aos custos de produção. O manejo regional, de modo integrado, com racionalidade e gestão na aplicação de inseticidas é essencial para que seja possível conviver com o inseto sem inviabilizar a cultura
D
Embora as aplicações para o controle do bicudo sejam consideradas mais baratas que as para combate de lagartas, por exemplo, a frequência eleva significativamente o número de aplicações. Na região oeste da Bahia, o número médio de aplicações específicas – ou combinadas para um complexo de pragas, também com objetivo de controle do bicudo – soma aproximadamente 26 nas lavouras de sequeiro e 40 nas lavouras irrigadas. Neste modelo de manejo e controle, as lavouras irrigadas e em áreas de risco já se tornam inviáveis. Outros fatores também influenciarão na decisão do produtor em plantar ou não o algodão e isso também é regional, dependendo do sistema produtivo adotado. Em Mato Grosso, devido ao clima, a maior área plantada é safrinha, enquanto na Bahia é safra, ou seja, na Bahia as áreas de algodão disputam espaço com as culturas de soja e milho, enquanto em Mato Grosso as lavouras de algodão são plantadas após a soja, disputando espaço apenas com o milho como opção de safrinha. Mas a substituição dos custos para o controle de lagartas pelos royalties pagos e que se somam aos custos crescentes para o controle do bicudo poderá inviabilizar economicamente o algodão.
As larvas apresentam coloração branca, cabeça cor parda-clara, sem patas e encurvadas
É possível observar os vestígios dos diferentes membros do corpo dos futuros adultos
Fotos Divulgação
esde sua primeira identificação no Brasil, o bicudo é considerado a principal praga do algodoeiro. No início, o inseto rapidamente infestava as lavouras que, na sua grande maioria eram caracterizadas por serem relativamente pequenas e de nível tecnológico extremamente baixo quando comparadas com as lavouras atuais, devido à ausência de monitores de pragas, equipamentos de pulverização modernos etc. Com a migração da cotonicultura para as regiões de Cerrado, provavelmente pelas grandes áreas cultivadas e aliado à rotação de culturas, acreditava-se que a praga não dominaria lavouras, limitando-se a bordaduras ou pequenos percentuais das áreas plantadas. Nas últimas safras, a capacidade demostrada pela praga em dominar lavouras, gerar enormes prejuízos e elevar de maneira assustadora os custos de produção tem preocupado muitos produtores e técnicos envolvidos na cadeia produtiva. As novas tecnologias introduzidas na cotonicultura correm sério risco de se tornarem inviáveis sob o ponto de vista econômico, já que o benefício da segurança no controle de lepidópteros poderá dar lugar a enormes prejuízos provocados pelo bicudo.
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DESCRIÇÃO E BIOLOGIA (BREVE RESUMO)
Os ovos de bicudo são lisos e brancos, com 0,08mm de comprimento. As larvas apresentam coloração branca, cabeça cor parda-clara, sem patas e encurvadas. As pupas são brancas, com comprimento de 10mm. Nelas, se podem observar os vestígios dos diferentes membros do corpo dos futuros adultos.
ADULTO
Os adultos apresentam cor geral cinzenta ou castanha, com 7mm de comprimento (incluindo o bico), e cerca de 2,3mm de largura. O corpo é
O fêmur das patas dianteiras apresenta duas aristas (espinhos), uma maior que a outra
coberto com pequenos e finos pelos dourados, conferindo ao inseto uma aparência penugenta. Os adultos recém-emergidos possuem cor marrom-avermelhada. O fêmur das patas dianteiras apresenta duas aristas (espinhos), uma maior que a outra. Os fêmures das patas medianas e posteriores só apresentam uma arista. Os olhos e o bico são escuros e as antenas apresentam 12 segmentos. O adulto é um inseto de reprodução sexuada. As fêmeas colocam em média 150 ovos. Os ovos são depositados no interior dos botões florais com aproximadamente 7mm de diâmetro. As brácteas dos botões florais atacados tornam-se amareladas e se abrem em três a quatro dias após o ataque. Os botões caem ao solo, contendo larvas em desenvolvimento que empupam e se transformam em novos adultos. O ciclo de vida de ovo a adulto se completa em aproximadamente 19 dias. Podem ocorrer de seis a oito gerações durante a safra.
A ORIGEM
No início da década de 1830, no México, o bicudo do algodoeiro foi coletado pela primeira vez. Em 1855, também no México, ocorreu o primeiro registro de A. grandis como praga do algodão cultivado (Gossypium hirsutum). Em 1892 já era encontrada como praga em lavouras nos Estados Unidos (Manessi, 1997).
No Brasil, em 1983 ocorreu o primeiro registro do inseto, no município de Jaguariúna, São Paulo, região de Campinas. A partir daí, o inseto se disseminou para praticamente todas as lavouras da região e de maneira muito rápida para as outras áreas produtoras do Brasil, principalmente do Sudeste e do Nordeste. Em 1985 o bicudo já infestava lavouras de algodão dos estados de São Paulo, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte (Barbosa et al, 1986). No mapa, as cores associam os anos do primeiro registro da ocorrência do bicudo nas regiões produtoras.
DIAGNÓSTICO DO PROBLEMA ATUAL
O problema vivido atualmente é resultado de anos acumulados, de situações mal resolvidas, medidas ineficientes ou parciais de supressão ou de controle. Dentre os mais variados problemas, alguns são particularidades de algumas regiões, como condições climáticas e tamanho das propriedades ou lavouras e outros são generalizados.
COMPORTAMENTO
Durante muitas safras, todas as técnicas de manejo sugeridas para o controle ou convivência com a praga consideraram um comportamento padrão, onde o bicudo do algodoeiro, em condições normais de ambiente, ocorre de maneira padronizada, procurando abrigo no final da safra anterior com a queda da temperatura e “encurtamento” dos dias.
Mapa com as cores associando aos anos do primeiro registro da ocorrência do bicudo nas regiões produtoras
C
As brácteas dos botões florais atacados tornam-se amareladas e se abrem em 3 a 4 dias após o ataque
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Fotos Divulgação
padrão, mas também nas áreas centrais, devido à presença de adultos nutridos e aptos a voar, e de forma continuada, por conta da presença de estruturas produtivas atacadas que geram novos adultos constantemente.
MANEJO DE LAVOURAS
A fase B1 é altamente atrativa aos adultos hibernantes e que apresentam comportamento padrão
Neste comportamento, seus locais preferidos para se abrigar são alagados, matas nativas que margeiam ou são próximas às lavouras atacadas e culturas refúgio (eucaliptos, cafezais etc), também marginais ou próximas às lavouras atacadas, onde entra em estado hibernante e desperta no início da safra seguinte, retornando para o algodão pelas bordaduras, se alimentando nos pecíolos cotiledonares e, após nutrir-se, migra para o interior das lavouras que, com o início da fase reprodutiva do algodoeiro, começa a “colonização”. Atualmente, parte do comportamento citado como padrão ainda é verdadeiro, como a procura de abrigo no final da safra, com a queda da temperatura e o “encurtamento” dos dias, e seus locais preferidos continuam sendo alagados, matas nativas e culturas refúgio, onde entram em estado hibernante,
despertando na safra seguinte. Mas, sob condições de ambiente alterado, o bicudo do algodoeiro tem como opção as soqueiras e tigueras de algodão das rodovias, estradas e restos culturais de lavouras, onde permanece ativo durante um período em que deveria estar hibernante. Nessa atividade, observa-se a manutenção dos adultos, que se alimentam de folhas e pecíolos, e até a multiplicação da praga, quando as plantas de soqueiras e tigueras apresentam estruturas produtivas (botões florais, flores e maçãs). O agravante ocorre nas lavouras de soja e milho, plantadas em sucessão às lavouras de algodão da safra anterior, com a presença de plantas rebrotadas e tigueras. Quando isso ocorre, as infestações nas lavouras de algodão vizinhas não se dão apenas pelas bordaduras e no período inicial, como no comportamento
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As atividades de combate ao bicudo exigem pessoas empenhadas e disciplinadas, assim como as definições de método, gestão e atitude. O inseto deve ser respeitado e reconhecido como uma praga altamente prolífera, silenciosa e extremamente habilidosa. Quando existe um controle comunitário ou regional, isso facilita o controle individual de cada produtor. Numa sequência de ações para o manejo do bicudo nas áreas, propriedades ou regiões atacadas, são sugeridos o armadilhamento para criar histórico de capturas ao longo dos anos, para a determinação dos níveis de risco à próxima safra e para a identificação das rotas dos adultos hibernantes; o plantio isca (*) nas rotas dos adultos hibernantes (previamente identificadas pelo armadilhamento) para a atratividade e morte dos adultos dispersantes; a época de semeadura, considerando as características das variedades (ciclos vegetativos), mantendo os adultos nas rotas de hibernação já conhecidas; as aplicações em B1 (**) para promover a “supressão” dos adultos que apresentam o comportamento padrão na fase de colonização; as aplicações intermitentes em bordaduras para manter o “controle” dos adultos dispersantes nas áreas de maior risco da lavoura; a catação de botões florais atacados e caídos ao solo, quando concentrados nas bordaduras ou em reboleiras devidamente identificadas; as baterias em parte da lavoura ou em área total a partir da identificação do primeiro foco (***), desfolhar com inseticidas (****) para a redução de bicudos adultos hibernantes, reduzindo os riscos de altas infestações para a safra seguinte; a colheita associada à época de semeadura, mantendo as rotas já conhecidas; a destruição de restos
QUANDO APLICAR • Aplicação esporádica de inseticidas para o controle de percevejos com controle simultâneo ao bicudo em plantas voluntárias na soja. • Aplicação “obrigatória” de bateria com intervalos de 05 dias durante a senescência da soja. • Aplicação “obrigatória” de bateria com intervalos de 03 dias nas bordaduras do algodão durante o período de senescência da soja.
culturais de maneira adequada e eficiente (Planta morta); a instalação de tubos mata bicudos ou de soqueiras iscas também para a redução de bicudos adultos hibernantes, reduzindo os riscos de altas infestações para a safra seguinte, e a rotação de culturas com controle eficiente de rebrotes e tigueras, também contribuindo com as demais culturas (soja e milho) e garantindo a sustentabilidade da cotonicultura no sistema produtivo. O plantio isca consiste em antecipar o cultivo de faixas em 15 dias ao plantio da lavoura, instalando essas faixas nas rotas de entrada e saída de adultos, e devem respeitar o período de vazio sanitário. A fase B1 é altamente atrativa aos adultos hibernantes e que apresentam comportamento padrão. O número de aplicações de inseticidas a partir do B1 será determinado pelo índice de captura das armadilhas. Caso o cotonicultor não tenha armadilhado as áreas destinadas ao plantio, o número de aplicações deverá ser fixado em três aplicações sequenciais com intervalos de três dias. Os adultos hibernantes com comportamento padrão são mais sensíveis aos inseticidas, portanto, a disciplina na execução desta atividade é extremamente importante e refletirá no manejo das lavouras durante o
período de florescimento. O período de duração e os intervalos das aplicações em caráter de bateria serão determinados pela intensidade e época de dispersão de adultos na lavoura. É extremamente importante desfolhar com inseticidas. Também é fundamental o controle de quais produtos foram utilizados na desfolha para que nas primeiras aplicações da safra seguinte sejam utilizados produtos diferentes. Produtos fosforados e com forte cheiro, mesmo que pouco tóxicos para mamíferos, deverão ser evitados na desfolha, pois, além de incomodar as pessoas envolvidas no processo de colheita, o odor destes produtos poderá contaminar o leite de animais tratados com o caroço do algodão.
MANEJO ALTERNATIVO NAS LAVOURAS DE ALGODÃO E EM ÁREAS DE ROTAÇÃO
É recomendável que as propriedades criem
o Dia do Bicudo, dedicado a uma operação de caça ao inseto ou de danos em plantas de algodão (lavouras ou plantas voluntárias), mobilizando toda a equipe técnica da propriedade. Vistoriar o botão preferido (estrutura mais visível na planta, localizada na transição do terço médio para o terço superior). O nível de ação recomendado para as lavouras atacadas durante o período anterior ao Cut-out é iniciado com aplicações em bateria com intervalo de cinco dias, com a presença de um adulto ou 3% de botões preferidos atacados (OA ou OP). O nível de ação recomendado para as lavouras atacadas durante o período posterior ao Cut-out é a aplicação em bateria, com intervalo de cinco dias até a desfolha. Detectada a presença de reboleiras ou adultos no interior das lavouras de algodão, realizar três aplicações em bateria com intervalo de cinco dias.
para o sucesso da atividade. Quando, devido às condições climáticas de alguns períodos ou aos curtos intervalos, as aplicações terrestres não conseguem cumprir os prazos determinados para as baterias, mesmo em baixas infestações, as aplicações terrestres poderão não ser suficientes. Quando considerados níveis de infestações de média a alta intensidade, a melhor metodologia para o “controle” do bicudo são as aplicações aéreas com água e baixas vazões de 3L/ha a 10L/ha (sua maior eficiência se deve ao baixo volume da água, que resulta em uma maior concentração do produto na calda, aliado à melhor penetração da calda nas brácteas e flores, que são os pontos-alvo de ataques dos adultos). Quando se consideram altos níveis de infestações e dispersões frequentes, o método mais apropriado para “controle” e “supressão” das populações de bicudo são as aplicações aéreas com UBV (Ultra Baixo Volume) ou BVO (Baixo Volume Oleoso), com vazões de 2L/ha a 3L/ha, que conferem maior período residual da calda no controle de adultos (recém-eclodidos ou dispersantes). Todavia, as aplicações aéreas com água, se continuadas, são ótimas ferramentas para a “supressão” da praga. Em resumo, as aplicações terrestres são recomendadas apenas para baixas intensidades de ataque e em qualquer condição de infestações e dispersões do bicudo, o método mais eficiente de controle e supressão são as aplicações aéreas (com água, UBV ou BVO), sendo as aplicações em UBV e BVO as mais indicadas para o controle do bicudo em altas infestações e dispersões constantes das fontes C para a lavoura. Paulo Edimar Saran, Saran Treinamentos Técnicos Solo e Planta Consultoria Técnica
PRINCIPAIS CAUSAS DO AUMENTO POPULACIONAL
PRODUTOS
Poucas são as opções de produtos e todas consideradas antigas. Malahion e Parathion têm apresentado as melhores performances nos resultados de campo e em ensaios comparativos, todavia, algumas outras opções como metidationa e fipronil apresentam resultados interessantes. Considerando o complexo de pragas no início da lavoura, durante a fase B1, os produtos carbosulfan e acefato, quando intercalados com aplicações específicas, são uma opção interessante para o manejo do bicudo. Produtos piretroides devem ser direcionados para o período de final de ciclo da lavoura e quando as populações estiverem controladas ou apresentarem baixo risco de danos ou para a pré-colheita, adicionado junto à desfolha. Alguns produtos considerados anteriormente como eficientes no controle do bicudo, atualmente sofrem críticas e têm sua eficácia bastante questionada, dentre eles a provável perda de eficiência dos produtos piretroides. Provavelmente esses produtos, quando utilizados nas infestações antigas, muito inferiores às infestações atuais, eram rotacionados com produtos mais eficientes e suficientes para manter a praga em níveis aceitáveis de infes-
bate à praga. 6) Devido ao complexo de pragas no algodoeiro, é comum o uso de produtos de amplo espectro, formulações CE, aplicações aquosas e aplicações noturnas. Essas opções quando somadas ou muitas vezes mesmo isoladas apresentam baixa eficiência no controle ou supressão do bicudo. Um exemplo prático são as aplicações noturnas que geralmente visam o controle de adultos de lepdopteros. Durante a noite, as flores do algodoeiro estão fechadas e o impacto destas aplicações sobre as populações dos adultos recém eclodidos ou qualquer adulto que esteja na flor é extremamente baixo. 7) As janelas de aplicações para o controle de lagartas nas variedades transgênicas e a “sensação” de segurança que esse sistema produtivo oferece fez com que as amostragens tivessem sua frequência diminuída. 8) A desmotivação ou pouco zelo para o controle das populações de final de safra tem contribuído para um aumento crescente das populações iniciais das safras seguintes. tação para os padrões da época. Atualmente, os altos índices populacionais das infestações iniciais, assim como a grande pressão populacional das dispersões continuadas, não são considerados seguros para a utilização destes produtos (de amplo espectro e de controle moderado do bicudo). Vários fatores dão razão para esses questionamentos, e o principal deles é o efeito visual após a aplicação ou os percentuais de infestação crescentes, mesmo após várias aplicações. A reação lógica do produto é o aumento considerável da dose e a redução dos intervalos de aplicação, o que certamente acelera o processo de seleção. Todavia, em aplicações combinadas, observa-se melhora significativa nos controles. Como sugestão de aplicações para as lavouras infestadas, consideram-se os níveis de infestação, classificando-os como moderados a baixos, médios a altos e altos com dispersão frequente. Quando os níveis de infestações são classificados de moderados a baixos, as aplicações terrestres convencionais com vazões de 50L/ ha a 100L/ha são consideradas eficientes para o “controle” das populações, mas a disciplina no cumprimento das datas predeterminadas para as aplicações é o elemento fundamental
42 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
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1) A retirada de produtos essenciais do ponto de vista técnico como o endosulfan, abrindo oportunidade de mercado para produtos de amplo espectro, porém menos eficientes para o bicudo. 2) O deslocamento do período de plantio de parte das lavouras (áreas irrigadas e safrinha), expondo a fase de maior atratividade da cultura ao período de maior fornecimento de bicudos pelo ambiente. 3) Condições climáticas desfavoráveis à boa destruição dos restos culturais e ao bom manejo de plantas voluntárias de algodão nas culturas de soja e milho. 4) Transgenias comuns entre culturas em rotação, inviabilizando o uso do benefício no controle de ervas daninhas na cultura principal, e exigindo controles complementares, muitas vezes corretivos e baixa eficiência no controle de tigueras, resultando no fluxo continuado de adultos, principalmente nos períodos de senescência e colheita da soja e do milho. 5) Monitoramentos deficientes e que dão pouca importância nos focos iniciais, resultando em uma reação tardia no com-
Saran avalia os danos e prejuízos causados pelo bicudo nas lavouras de algodão
Em plantios sucessivos, alcançar sucesso no manejo de nematoides em algodoeiro passa por ações adotadas desde o cultivo da soja. Enfrentar esses minúsculos organismos exige integração de estratégias. O tratamento químico de sementes é uma prática complementar, que pode ajudar também no combate a outras pragas iniciais
Jaime Maia dos Santos
NEMATOIDES
Combate antecipado
O
s nematoides causam perdas expressivas à cotonicultura em todo mundo e as espécies que causam danos à cultura podem variar de região para região. No Brasil, Meloidogyne incognita, raças 3 e 4 (nematoide de galha), Rotylenchulus reniformis (nematoide reniforme) e Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares) são as espécies que causam prejuízos à cotonicultura. Essas mesmas espécies, mais Meloidogyne javanica (outro nematoide de galha) e Heterodera glycines (o nematoide de cisto da soja) são os nematoides que causam danos à soja no Brasil. Considerando que todo produtor de algodão também planta soja nas mesmas áreas, em geral antecedendo o cultivo do algodoeiro, deduz-se que se todos eles controlassem criteriosamente esses nematoides na soja, a
cultura do algodoeiro que viria em seguida não sofreria danos. Ao contrário de outras pragas e doenças, não há medidas de controle dos nematoides na cultura atual, para o caso das culturas de ciclo curto, depois que os sintomas se manifestam. Sendo assim, o controle dos nematoides na cultura do algodoeiro deve ser praticado na cultura da soja que a antecede. Entre as práticas que poderiam ser adotadas, recomenda-se efetuar o semeio de dez covas de algodão sabidamente suscetível nas reboleiras da soja, geograficamente bem distribuídas na lavoura, tão logo se perceba os sintomas na parte aérea das plantas e presença de galhas nas raízes. Depois de duas a três semanas após a emergência, essas plantas de algodão deveriam ser examinadas quanto à presença de galhas. Se não houver presença de galhas nas raízes, esse fato indicaria que a espécie
presente poderia ser M. javanica ou outra espécie que não infecte o algodoeiro ou a raça 1 ou 2 de M. incognita, que também não infecta essa cultura e, portanto, quando essa cultura fosse plantada, não estaria sob risco de ocorrência de danos causados por M. incognita. Ao contrário, se as plantas de algodão semeadas nas reboleiras exibissem galhas, isso indicaria que o nematoide presente seria a raça 3 ou 4 de M. incógnita, que é único nematoide de galha que infecta o algodoeiro no País e o de maior importância econômica para a cultura. Por conseguinte, o semeio a lanço de Crotalaria spectabilis sobre as reboleiras, seguido de capina das plantas de soja com sintomas, propiciaria a redução da população da praga no solo, durante o ciclo da soja, de modo que a cultura do algodoeiro que viria em seguida não sofreria dano. A capina das plantas de soja infectadas nas reboleiras, mecânica ou manualmente, é necessária para promover o indispensável enterro das sementes de crotalária e a eliminação do hospedeiro. Quando a soja exibe numerosas reboleiras causadas por M. incognita, raça 3 ou 4 em um talhão ou parte dele, a equipe da fazenda há de tomar uma decisão. Uma delas seria não se plantar algodão nessa parte ou no talhão todo, dependendo da extensão da área infestada no talhão. Em vez disso, seria feito o semeio de Crotalaria spectabilis a lanço ou em linha (25kg a 30kg de sementes/ha) com a semeadora de arroz ou trigo (linhas espaçadas de até 20cm). A C. spectabilis é igualmente efetiva contra todos os nematoides das culturas brasileiras. Por isso, o semeio de C. spectabilis sobre reboleiras causadas por P. brachyurus ou por R. reniformis também pode ser uma prática de manejo efetiva para esses nematoides. Se, mesmo assim, ainda houver reboleiras na cultura do algodão, a remoção dessas como anteriormente descrito beneficiará a cultura subsequente e, se praticada sistematicamente, aliada a outras práticas de manejo que serão discutidas a seguir, pode propiciar a eliminação das perdas por nematoides na fazenda. Em verdade, até os anos da década de 1970, o uso de nematicidas foi a prática de controle de nematoides mais enfatizada
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Fotos Jaime Maia dos Santos
Sinais de Rotylenchulus reniformis. Nas raízes são vistos pontos escuros correspondentes às fêmeas e suas massas de ovos presas externamente
(Controle Químico). Nos anos 1980, foi introduzido o conceito de Manejo Integrado de Pragas. O controle químico ainda era praticado, mas apenas nas reboleiras e não em toda área como na situação anterior. Chegando-se aos anos da década de 1990, o conceito do Manejo Integrado da Cultura foi introduzido. Na verdade, houve uma mudança no foco. Mirou-se a cultura e não a praga. Os meios culturais, tais como a rotação de culturas e variedades resistentes, eram o foco central no controle das populações de nematoides, embora, com ênfase muito menor que antes, ainda se utilizassem as outras práticas, inclusive a aplicação de nematicidas. Mais para o final do século passado e início do século 21, os Sistemas Biológicos foram enfatizados. Não se pretendia mais fazer uso de produtos químicos, apesar de continuarem em uso. Foi nesse período que a Agricultura Orgânica recebeu maior ênfase. Poucos anos depois se introduziu o conceito do Manejo Natural de Pragas que ainda vigora. Dentro desse novo enfoque, busca-se o manejo das populações dos nematoides com uma combinação de práticas e não com apenas uma delas. Assim, a adoção da quarentena pode ser uma prática efetiva no controle de nematoides, já que esses não se movem no solo de uma área para outra. Portanto, o transporte de máquinas de uma área infestada para outra deve ser precedido da lavagem cuidadosa de pneus e outras partes que possam transportar solo infestado. A proteção de margens das estradas com uma linha de plantadeira de milheto resistente aos nematoides pode ser outra prática relevante para ser somada às anteriormente
mencionadas. Inclusive, o perfilhamento das plantas de milheto é uma característica que constitui uma vantagem do milheto sobre a crotalária, nesse caso. Entretanto, nas margens das rodovias, a C. spectabilis pode ser mais vantajosa, pois, além de propiciar a prevenção contra a infestação das áreas da fazenda por nematoides transportados em máquinas e veículos, em função do seu antagonismo, a largura das faixas marginais das rodovias que podem ser utilizadas para plantio da crotalária também contribui para aumentar a eficácia dessa prática. Além disso, as sementes produzidas nessas faixas podem ser plantadas nas áreas internas da fazenda, representando significativa economia. A rotação/sucessão de culturas com variedades de soja ou de milho resistentes aos nematoides do algodoeiro também constitui uma prática importante para ser utilizada em combinação às já mencionadas. As cultivares de milho 20A78 Hx, 30A91 PW e Somma são tidas como resistentes a M. incognita, M. javanica e P. brachyurus, enquanto as cultivares 30A95 PW e GNZ 2005 são resistentes a M. javanica e P. brachyurus. Em soja, a cultivar TMG 1182RR é tida como resistente a M. incognita e M. javanica. O plantio de um material resistente antecedendo um suscetível, certamente contribui para a redução da população da praga no solo. Entretanto, na ausência de hospedeiro, os nematoides de
Crescimento retardado decorrente das necroses de raízes causadas por Pratylenchus brachyurus
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galha sobrevivem no solo por até 11 meses. Na prática, embora, um estudo criterioso não tenha sido feito, aplicou-se essa informação também a P. brachyurus. Isso indica que as cultivares de soja, cada vez mais precoces, ainda que resistentes, não reduzirão a população dessas pragas no solo ao ponto de evitar danos à cultura subsequente de algodão. Por essa razão, mesmo quando uma cultura resistente antecede uma suscetível é necessário que outras práticas de manejo sejam também utilizadas para complementar o controle. Além disso, não se deve negligenciar o papel das plantas daninhas como hospedeiras dos nematoides. O tratamento químico das sementes para o controle de nematoides ou mesmo o tratamento químico do solo, ao menos nos talhões ou partes deles onde se observou que a infestação foi mais severa, pode ser uma prática complementar muito vantajosa. Especialmente quando se considera que essa prática, também, proporciona o controle de outras pragas iniciais da cultura. Na prática, o manejo de nematoides deve ser considerado em todo o sistema produtivo da fazenda e não em uma dada cultura que está no campo. Assim, é na soja que antecede o algodoeiro que a atenção deve ser redobrada para se obter o manejo adequado dos nematoides do algodão. Ao final, a destruição da soqueira do algodão o mais cedo possível contribui para o manejo dos nematoides na área. É por essa razão que a cultura do sorgo aumenta consideravelmente os ricos de perdas causadas por nematoides na fazenda, haja vista que a soqueira das plantas não morre e, sendo um bom hospedeiro de M. incognita e P. brachyurus, propiciam aumentos expressivos das populações dos nematoides no solo. É imprescindível, pois, que a destruição das soqueiras do sorgo também seja efetuada o C mais breve possível. Jaime Maia dos Santos, Unesp
Reboleira em lavoura de soja causada por Meloidogyne sp. sobre a qual poderia ser feito o semeio de 10 a 20 covas de algodão
EVENTOS
Campeões de produtividade
Divulgação
Com produção de mais de 140 sacas por hectare, produtor e consultor de Ponta Grossa é vencedor do Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja Safra 2014/2015 promovido pelo Cesb
O
Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) divulgou durante o VII Congresso Brasileiro de Soja, em junho, em Florianópolis, Santa Catarina, os vencedores do Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja. O campeão desta edição é o produtor e consultor Alisson Alceu Hilgenberg, de Ponta Grossa, Paraná, que alcançou a marca de 141,79 sacas por hectare, a mais alta já registrada em todas as edições do concurso. O resultado foi anunciado pelo presidente do Cesb, Luiz Nery Ribas. “A produtividade alcançada nesta safra é bastante superior à do vencedor do ano passado, de 117 sacas por hectare, e ainda maior do que a média de produtividade nacional, que é de 48 sacas/ hectare”, frisou. Além de conquistar o título de campeão nacional, Hilgenberg foi também o vencedor da categoria Regional/Sul (soja não irrigada). Outras categorias do Desafio também registraram altas produtividades.
SOJA NÃO IRRIGADA
Campeão do Norte-Nordeste: do município de Correntina, na Bahia, o produtor Rui Luiz Gaio e o consultor Ivair Gomes alcançaram a média de 112,44 sacas por hectare. Campeão do Centro-Oeste: da cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, o produtor Arthur Exley Edwards e o consultor
Antonio Cavicchioli Pereira Neto obtiveram a produção de 127,17 sacas por hectare. Campeão do Sudeste: em Capão Bonito, São Paulo, a produtora Elizana Baldissera e o consultor João Paulo de Sá Dantas obtiveram 122,99 sacas por hectare.
SOJA IRRIGADA
O campeão nacional da categoria é do Sudeste, da cidade de Brasilândia de Minas, em Minas Gerais. Leonardo Latalisa França, produtor, e Lucas Gontijo de Araújo, consultor, chegaram a 113,32 sacas por hectare.
CAMPEÕES ESTADUAIS NA CATEGORIA SOJA NÃO IRRIGADA
Goiás: do município de Doverlândia, o produtor Claudio José Ragagnin Junior e o consultor Jalel Augusto Bertotti conseguiram produzir 91,71 sacas por hectare. Minas Gerais: em Formoso, o produtor James Juliano Marchese e o consultor Cristiano Lopes Furtado alcançaram 73,56 sacas por hectare. Mato Grosso do Sul: em Lucas do Rio Verde, o produtor José Eduardo Macedo Soares Junior e o produtor Advando Alves conquistaram 96,45 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: na cidade de Coxilha, o produtor Gustavo Gomes e a consultoria Prime Agrotecnologia chegaram a 107,11 sacas por hectare.
CAMPEÕES MUNICIPAIS
Paraná: da cidade de Guarapuava, o produtor Alexandre Seitz e o consultor José Carlos Sandrini Junior conquistaram 126,79 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: em Colorado, o produtor Ediomar Luiz Daudt Chagas e o consultor Romeo Sandri chegaram a 101,51 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: do município de Santo Antonio do Planalto, o produtor Valdomiro Altmann e o consultor Fernando Cirolini chegaram a 98,61 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: em Não Me Toque, o produtor e consultor Ademir Celso Rambo alcançou 97,20 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: da cidade de Ernestina, o produtor André Luiz Heckler e a consultora Meiri Penz chegaram a 94,60 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: da cidade de Tapera, o produtor Eduardo Bervian e o consultor Givago Souza Borghetti obtiveram 93,57 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: de Mato Castelhano, o produtor Juliano Manfroi e o consultor Angelo Rigon Machado chegaram a 92,99 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: em Carazinho, o produtor Renato Augusto Ahlert e o consultor Igor Jonas Pereira da Silva produziram a 92,37 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: da cidade de Victor Graeff, o produtor Jairo Marcos Kohlrausch e o consultor Fernando Cirolini conquistaram 89,27 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: em Almirante Tamandaré do Sul, o produtor Rômulo Delamar Lampert e o consultor Juliano Algeri chegaram a 88,92 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: da cidade de Saldanha Marinho, o produtor Francisco Schreiner e o consultor Ediomar Daudt Chagas atingiram 84,33 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: no município Três de Maio, o produtor Igor Beling e o consultor Lucas Nascimento do Amaral alcançaram 84,01 sacas por hectare. Rio Grande do Sul: da cidade de Tio Hugo, o produtor Wellington Cristiano Machado e o consultor Leoder da Silva Machado chegaram a 82,96 sacas por hectare. O evento de premiação ocorre no dia 31 de agosto, na 3ª Bienal de Negócios de Agricultura do Brasil Central, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Os campeões regionais e nacionais serão premiados com uma viagem técnica aos Estados Unidos, que ocorrerá entre 1º e 9 de agosto. Aos campeões estaduais e municipais, o Cesb fornecerá certificado de reconhecimento, que os identificará como referência em produtividade de soja no Brasil.
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ARROZ
Decisão racional
Jerson Guedes
A bicheira-da-raiz é a praga mais importante do arroz irrigado nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o que pode ser explicado por sua ampla distribuição e ocorrência nas lavouras, perdas de produtividade imputadas à cultura e dificuldades de controle. A escolha da estratégia adequada e do momento de começar o combate deve levar em conta aspectos como custo com inseticida + aplicação, valor da saca do grão e expectativa de produção, potencial de dano das larvas presentes na lavoura e eficiência do inseticida escolhido contra as larvas perdas que variam de 15% a 70%, dependendo da cultivar. Tanto os adultos (gorgulho-aquático) quanto as larvas (bicheira-da-raiz) ocasionam danos à cultura do arroz irrigado em intensidade variável, dependendo do grau de infestação, do sistema de cultivo, da cultivar e da época de semeadura. No entanto, a fase de larva, que fica submersa no solo inundado, é a mais prejudicial à produtividade. O sistema de cultivo de arroz irrigado favorece a ocorrência de O. oryzae, que necessita da presença de plantas e de água para a sua instalação e sobrevivência. No sistema de cultivo pré-germinado a infestação e a intensidade do dano dos adultos e das larvas são mais importantes em decorrência da presença precoce da água na área. Na semeadura do arroz já ocorrem os danos, pois as plântulas e plantas (pequenas) são mais suscetíveis ao ataque da praga. O manejo eficiente desta praga depende do conhecimento da bioecologia da espécie, das suas características de ataque, da infestação das áreas e do sistema de cultivo. A adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP) é indispensável para a redução dos danos, como também é o acompanhamento dos resultados de controle e o aperfeiçoamento destas práticas.
COMPORTAMENTO E COLONIZAÇÃO DAS LAVOURAS
A
bicheira-da-raiz do arroz ocorreu em mais de 650 mil hectares (65% da área cultivada) nas últimas safras, abrangendo todas as regiões orizícolas do estado do Rio Grande do Sul e causou perdas de produtividade que variaram de 10%
a 30%, ou seja, perdas maiores que 12 sacas de arroz por hectare. Nas lavouras do estado de Santa Catarina, onde predomina o cultivo pré-germinado, a importância do adulto e da larva de Oryzophagus oryzae é ainda maior, por ocorrer na totalidade da área cultivada, com
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No período da entressafra o gorgulho-aquático permanece hibernando em restos culturais, na base de gramíneas, ciperáceas ou outras plantas, como também em resíduos nas taipas, irrigadeiras, das bordas e/ou do entorno das lavouras. Após a semeadura, com a presença de sementes pré-germinadas, de plântulas e de plantas, na presença de água nos arrozais, ocorre a saída dos adultos dos sítios de hibernação, migrando para o interior da lavoura. Os adultos medem 2,6mm a 3,5mm de comprimento e coloração acinzentada, com manchas dorsais brancas; se alimentam do
Adulto de O. oryzae (esquerda) e larvas sobre tela de peneiramento (direita)
parênquima das folhas entre as nervuras, formando lesões longitudinais esbranquiçadas. Após aproximadamente três dias da irrigação, inicia-se o acasalamento e posterior oviposição em partes submersas das plantas (dessa forma tem que haver planta e água presentes para começar o ataque). As fêmeas já copuladas escolhem os locais de água mais profunda para a postura (temperaturas mais amenas) ou depressões do terreno onde ocorrem lâminas mais profundas e permanentes (lavouras com maior declividade) onde posteriormente se concentra a maioria das larvas. Após o período embrionário (fase de ovo) dentro do colmo do arroz, as larvas, alimentam-se dos tecidos do interior da bainha foliar e depois de 36 horas afundam na água de irrigação em direção ao solo para se alimentar das raízes. Apresentam coloração branca, são ápodas e possuem seis pares de austórios por onde retiram oxigênio dos tecidos das raízes. Passam por quatro instares com duração entre 25 dias e 30 dias e transformam-se em pupa no solo inundado em um casulo impermeável e construído de barro, que fica aderido a uma raiz de arroz ou de planta daninha. Após dez dias emergem adultos destes casulos e podem começar uma nova geração, invadindo outras áreas de arroz ou se deslocar para os locais de hibernação.
plantas severamente atacadas, que estão com o sistema radicular comprometido e em que a perda econômica já ocorreu. O dano das larvas é mais significativo durante o início do desenvolvimento radicular que coincide com a primeira geração de O. oryzae, que é considerada a mais prejudicial. Nesta fase a densidade de larvas é maior e as raízes das plantas de arroz são pequenas e mais suscetíveis. A primeira geração tem ocorrência a partir de setembro/outubro, com o início da irrigação por inundação dos arrozais. Além disso, cultivares de ciclo curto sofrem maiores reduções de produtividade, pois apresentam menor tempo para recuperação. Com o desenvolvimento do sistema radicular, as plantas ficam mais tolerantes ao ataque das larvas, coincidindo com a segunda geração da bicheira-da-raiz, que ocorre de janeiro a fevereiro (a ocorrência desta geração tem sido contestada). Após a fase inicial de diferenciação da panícula, o controle de larvas não é recomendado pois não há resposta na
produtividade. Desse modo, a proteção mais importante deve ser dada às sementes e plântulas (cultivo pré-germinado) e no início do desenvolvimento, em função de seu sistema radicular pouco desenvolvido.
PERDA DE PRODUTIVIDADE E NÍVEL DE DANO ECONÔMICO (NDE)
As perdas em produtividade ocasionadas pelas larvas são bastante variáveis, dependendo principalmente do grau de infestação e do período de convivência das larvas com a cultura (momento do controle). Uma análise de perdas de produtividade causadas pela bicheira-da-raiz, em experimentos de controle químico, em diferentes cultivares e safras, estimou uma perda de 58,1kg/ha para uma larva/amostra. Este valor de perda foi obtido pela diferença de produtividade do tratamento inseticida com a maior eficiência de controle e a testemunha sem tratamento, assim como a diferença do número de larvas por amostra do tratamento inseticida com menor infestação e
INJÚRIAS E DANOS DOS ADULTOS E LARVAS
Independentemente do sistema de cultivo, as maiores perdas são ocasionadas pelas larvas, porém, os gorgulhos provocam danos significativos em lavouras no sistema pré-germinado, por consumirem a radícula e o coleóptilo, matando a planta logo após a germinação. Podem atacar 100% das plantas determinando a ressemeadura da lavoura. As larvas consomem as raízes mais novas das plantas, causando a sua ruptura, que interfere na absorção de nutrientes. Os sintomas típicos são plantas com tamanho reduzido e folhas de coloração verde-claro/amareladas. As plantas podem ser facilmente arrancadas. Estes sintomas são de
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Casulos de O. oryzae com pupas
a testemunha. Esta estimativa da perda causada por uma larva por amostra será utilizada no cálculo do Nível de Dano Econômico (NDE). A escolha da estratégia de controle de bicheira-da-raiz na cultura do arroz está diretamente relacionada ao custo/benefício da medida de controle. Para o agricultor, a escolha do inseticida e a definição do momento em que será usado têm relação com quatro fatores: 1 - Custo de controle (inseticida + aplicação); 2 - Valor da saca de arroz e expectativa de produção; 3 - Potencial de dano das larvas presentes na lavoura e 4 - Eficiência do inseticida escolhido no controle das larvas. Tais fatores são componentes da equação do NDE, que deve decidir o momento (densidade populacional) de controlar as pragas. O NDE é um número variável, com base na fórmula (NDE = [(C / VD) * %M]), em que “C” é o custo do controle (soma do valor do inseticida + aplicação), “V” é o valor do quilo do arroz, “D” é o dano (em kg) ocasionado pela praga e “% M” é a eficiência do método/inseticida utilizado no controle. A eficiência do método é utilizada como um fator de correção para o NDE, pois os tratamentos não possuem controle de 100%. O produtor deve decidir em função desta situação (de preço de inseticida adquirido ao valor da saca de arroz vendida). O cálculo do NDE (valor dado em larvas/amostra), resultante da fórmula, mostra o limite máximo de larvas que o produtor deve tolerar em sua lavoura. Porém, a decisão de manejo deve ser adotada anteriormente ao NDE, definido como Nível de Controle (NC), devido à regra prática e operacional determinante à aplicação aérea de inseticida. Para um custo de tratamento de sementes pré-fixado na semeadura do arroz, o produtor deve levar em consideração a expectativa de preço de venda do arroz. Para exemplificar, analisaram-se dois cenários com o custo do tratamento de R$ 100,00/ha. Cenário 1: o produtor possui uma expectativa de venda da saca de 50kg por R$ 20,00, assim, o cálculo do NDE mostra que o número de larvas que podem ser toleradas é de 3,4 por amostra. Cenário 2: o produtor possui uma expectativa de venda do arroz a R$ 40,00/saco, o cálculo do NDE informa que o critério de decisão é mais rigoroso e deverá tomar a decisão de controlar quando o número de larvas for de 1,7/amostra. Assim, quanto maior a expectativa do valor de venda do arroz, menor será a tolerância à infestação de bicheira-da-raiz, justificando o controle com poucas larvas por amostra para evitar maior dano econômico.
MONITORAMENTO DE ADULTOS E LARVAS
Com a grande ocorrência nas lavouras e os danos ocasionados, principalmente pelas larvas de bicheira-da-raiz do arroz, o produtor
Adulto de O. oryzae por emergir
deve preocupar-se com o monitoramento e principalmente com o registro histórico de infestação das lavouras. O monitoramento de adultos apresenta distintos momentos na cultura, dependendo do sistema de cultivo, com atenção principal aos sinais de alimentação do inseto nas folhas. No sistema de cultivo em solo seco, o monitoramento do gorgulho deve começar logo após a inundação (três dias) ou imediatamente depois da distribuição das sementes no solo, com água, ou emergência das plantas no sistema de cultivo pré-germinado, com uma vistoria minuciosa nas folhas de arroz, buscando raspagens nas folhas e injúrias no coleóptilo e no mesocótilo. Esta vistoria deve ser realizada em dez pontos ao acaso na lavoura com observação às folhas mais novas de 20 plantas, em cada local. Para o monitoramento das larvas se recomenda começar as amostragens no 20º dia após o início da irrigação, com auxílio de um cano PVC (10cm de diâmetro), aprofundando-o entre 8cm e 10cm no solo, retirando solo e raízes. A amostra retirada deve ser lavada sobre uma peneira e as larvas, por diferença de densidade, irão boiar na superfície da água facilitando a contagem. Outra metodologia empregada pelos produtores e recomendada por alguns técnicos é a retirada direta de uma touceira/plantas e lavagem das raízes sobre a peneira. Esta técnica demanda menor tempo na amostragem, porém, o volume da amostra não é conhecido, diminuindo a precisão da contagem de larvas.
MANEJO E CONTROLE DE ADULTOS E LARVAS
A tomada de decisão para o controle de adultos ou de larvas muitas vezes é realizada antes mesmo da semeadura, utilizando como base o nível de infestação dos anos anteriores. A decisão de não controlar pode acarretar perdas significativas de produtividade. Os métodos amplamente utilizados para o
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controle de adultos e larvas vão de algumas práticas culturais, até o sistema de cultivo e o controle químico. Dentre este último, o tratamento de sementes tem por objetivo o controle preventivo da bicheira-da-raiz. A aplicação de inseticidas granulados controla as larvas e a pulverização foliar busca o controle de adultos. A destruição dos restos culturais após a colheita e a limpeza da vegetação nas irrigadeiras reduzem os locais de hibernação dos adultos no inverno, o que diminui a infestação na safra seguinte. O aplainamento do solo para uniformizar a lâmina de água na lavoura faz com que as larvas se espalhem na área, distribuindo a infestação e consequentemente reduzindo os danos. Além disso, o uso de cultivares mais tolerantes com capacidade de recuperação do sistema radicular, de ciclo médio a tardio, e menos atrativas à alimentação e oviposição dos adultos, pode ser implantado em áreas com histórico de altas infestações de bicheira-da-raiz. Porém, há poucas informações da tolerância de cultivares a esta praga e também poucas cultivares comerciais com esta característica. Embora as práticas culturais contribuam para reduzir a infestação da praga, em muitos locais o controle químico com inseticidas torna-se necessário para evitar perdas de produtividade. O tratamento de sementes é adotado em áreas que possuem histórico de ocorrência da praga, visto que é um método preventivo à ocorrência das larvas, além de controlar outras pragas de solo, em sistema de cultivo em solo seco. O tratamento de sementes é o método mais adequado, principalmente pela baixa quantidade de ingrediente ativo aplicado e por ser uma aplicação de inseticida direcionada e não em área total. Porém, no sistema de cultivo pré-germinado, o tratamento de sementes apresenta baixa eficiência no controle das larvas, levando o produtor a buscar outras alternativas de controle, tal como aplicação foliar para o controle de adultos ou a aplicação de inseticidas granulados para o combate de larvas. Logo após a entrada da água ou depois da emergência da cultura há um segundo momento para o controle de O. oryzae, os gorgulhos que atacam as plântulas ou plantas. Este controle, com base na quantidade de raspagens nas folhas ocasionada pelo adulto em semeadura em solo seco ou radículas e coleóptilos cortados em sistema pré-germinado, é realizado com a pulverização de inseticidas três a cinco dias após a irrigação ou emergência das plantas quando a maioria dos insetos já migrou para a o interior da lavoura. O terceiro momento de controle, em caso de o tratamento de sementes ou a pulverização foliar não ter sido adotado (ou na hipótese de não apresentarem eficiência), restaria a aplicação de inseticidas granulados diretamente na
Perda de produtividade de arroz em experimentos de controle químico da Estimativas dos níveis de dano econômico de larvas de bicheira-da-raiz do arroz, com bicheira-da-raiz do arroz a variação do custo de controle e do valor da saca de arroz, utilizando um inseticida com eficiência média de 80%. LabMIP/UFSM Referência Cultivar Número de larvas/amostra Perda/larva (kg) BRS 6-Chuí BRS 6-Chuí BRS Taim Irga 421 BR-Irga 414 BR-Irga 414 SCS 112 SCS 112 SCS 112 SCS 112 Bluebelle Bluebelle BR-Irga 414 Média
6,4 20,2 9,2 4,6 37,3 17,7 21,1 12,8 20,7 20,4 22,5 21,3 17,9
79,0 64,1 28,6 27,2 110,4 23,0 42,5 14,0 79,6 86,1 89,4 36,1 75,0 58,1
Grützmacher et al (2003) Botton et al (1998) Grützmacher et al (2008) Freitas (2013) Martins et al (1996) Martins et al (1996) Prando (2000) Prando (2000) Prando (2000) Prando (2000) Martins et al (1996) Botton et al (1996) Botton et al (1996)
Custo do tratamento (R$ ha-1) 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150
20,00 1,7 2,1 2,4 2,8 3,1 3,4 3,8 4,1 4,5 4,8 5,2
Valor da saca de arroz (R$/50kg) 25,00 25,00 25,00 25,00 População de larvas de Oryzophagus oryzae/amostra* 1,4 1,4 1,4 1,4 1,7 1,7 1,7 1,7 1,9 1,9 1,9 1,9 2,2 2,2 2,2 2,2 2,5 2,5 2,5 2,5 2,8 2,8 2,8 2,8 3,0 3,0 3,0 3,0 3,3 3,3 3,3 3,3 3,6 3,6 3,6 3,6 3,9 3,9 3,9 3,9 4,1 4,1 4,1 4,1
25,00 1,4 1,7 1,9 2,2 2,5 2,8 3,0 3,3 3,6 3,9 4,1
* Redução de produtividade causada por uma larva/amostra (58,1kg/ha).
água de irrigação para o controle das larvas. A decisão de realizar este manejo está baseada no monitoramento das larvas logo após o início da irrigação e o NDE de acordo com o custo do tratamento e a expectativa de venda da produção de cada realidade de produtor. Por fim, é importante registrar que o controle da bicheira-da-raiz do arroz apresenta respostas variáveis dependendo das condições
do local (lavoura), do ano e do sistema de cultivo, que influenciam na sua densidade e na eficiência de controle. De outro lado, a decisão de controlar passa pela importância atribuída pelo produtor à sua infestação, mas também pela expectativa de produção e preços da saca de arroz, refletidos na rentabilidade da lavoura, mas principalmente pelo custo do tratamento. Todos estes fatores interferem na ocorrência
da praga e também na sua ressurgência e relevância ao longo dos últimos tempos. C Jerson Vanderlei Carús Guedes, Clérison Régis Perini, Vinicius Paim Alende, Luis Eduardo Curioletti, Regis Felipe Stacke e Ivair Valmorbida, LabMIP - UFSM
MILHO
Redutora de lucros
Fotos Rodrigo Véras da Costa
A antracnose, provocada pelo fungo Colletotrichum graminicola, pode reduzir a produção do milho em até 40% quando utilizadas cultivares suscetíveis e as condições de umidade forem favoráveis à enfermidade. O emprego de materiais geneticamente resistentes à doença é uma das principais estratégias para o correto manejo
52 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
N
as últimas safras, as doenças têm sido um dos grandes problemas enfrentados por parte dos técnicos e produtores envolvidos no agronegócio do milho. Relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras do país. A evolução das doenças em milho está estreitamente relacionada à evolução do sistema de produção da cultura no Brasil. Modificações ocorridas no sistema de produção, que resultaram no aumento da produtividade da cultura, foram, também, responsáveis pelo aumento da incidência e severidade das doenças. Desse modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), a adoção do sistema de plantio direto, o aumento do uso de sistemas de irrigação, a ausência de rotação de cultura e o uso de materiais suscetíveis têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos, resultando no surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura, relacionados à ocorrência de doenças. Dentre as doenças da cultura do milho que causam danos às lavouras no Brasil destaca-se a antracnose, provocada pelo fungo Colletotrichum graminicola. A doença pode reduzir a produção do milho em até 40% em cultivares suscetíveis sob condições favoráveis de ambiente. Um fator complicador relacionado à ocorrência da antracnose é a inexperiência por parte da maioria dos técnicos em reconhecer os sintomas dessa enfermidade no campo, permitindo que ela ocorra em elevadas severidades, resultando em perdas significativas à cultura. O fungo C. graminicola é capaz de infectar praticamente todas as partes da planta. Nas folhas os sintomas típicos da antracnose são observados em plantas nos primeiros estágios vegetativos. É, de modo geral, a primeira doença detectada no campo. Os sintomas são caracteri-
zados por lesões de coloração marrom-escura e formato oval a irregular, o que torna, às vezes, difícil seu diagnóstico. Tipicamente, um halo amarelado circunda a área doente das folhas. Sob condições favoráveis as lesões podem coalescer necrosando grande parte do limbo foliar e surgem, no interior das lesões, pontuações escuras que correspondem às estruturas de frutificação do patógeno, denominadas acérvulos. Nas nervuras são observadas lesões elípticas de coloração marrom-avermelhada que resultam em necrose foliar em formato de “V” invertido. Esses sintomas são geralmente confundidos com os sintomas de deficiência de nitrogênio. A fase de podridão do colmo é caracterizada pela formação, na casca, de lesões encharcadas, estreitas, elípticas na vertical ou ovais. Posteriormente, essas lesões tornam-se marrom-avermelhadas e, finalmente, marrom-escuras a negras. As lesões podem coalescer, formando extensas áreas necrosadas de coloração escura-brilhante. O tecido interno do colmo apresenta, de forma contínua e uniforme, coloração marrom-escura
Sintomas da antracnose na nervura e queima foliar em formato de “V” invertido em plantas de milho
podendo se desintegrar, levando a planta à morte prematura e ao acamamento. A fase de podridão de colmo da antracnose
é reconhecidamente uma das mais importantes para a cultura do milho. As podridões do colmo na cultura do milho
Fotos Luciano Viana Cota
Efeito da antracnose na produção do milho: planta esquerda doente e da direita sadia
Sintomas da antracnose do colmo do milho (esq.) e sintomas no tecido interno do colmo (dir.)
podem ocorrer antes da fase de enchimento dos grãos, em plantas jovens e vigorosas, ou após a maturação fisiológica dos grãos, em plantas senescentes. No primeiro caso as perdas se devem à morte prematura das plantas com efeitos negativos no tamanho e no peso dos grãos, como consequência da redução na absorção de água e nutrientes. No segundo caso, as perdas na produção se devem ao tombamento das plantas, o que dificulta a colheita mecânica e expõe as espigas à ação de roedores e ao apodrecimento, pelo contato com o solo. O tombamento das plantas é função do peso e altura da espiga, da quantidade do colmo apodrecida, da dureza da casca e da ocorrência de ventos. A taxa de aumento da doença é uma função da quantidade inicial de inóculo presente nos restos de cultura, o que indica a importância do plantio direto e plantio em sucessão para o aumento do potencial de inóculo. Outro fator a influir na quantidade de doença é a taxa de reprodução do patógeno, que vai depender das condições ambientais a da própria raça do patógeno presente. Temperaturas elevadas (28ºC a 30ºC), alta umidade relativa do ar e chuvas frequentes favorecem o desenvolvimento da doença. O correto manejo da antracnose é imprescindível para evitar reduções na
produtividade da cultura no Brasil. O manejo da doença deve começar com a escolha de híbridos que apresentem bom nível de resistência. Outras medidas como o uso de adubação equilibrada, principalmente quanto à relação ni-
54 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
trogênio/potássio, manejo correto de irrigação, manejo de pragas e plantas daninhas, uso de densidade de plantio recomendada para a região e para as cultivares, realização do plantio e da colheita em épocas adequadas devem ser consideradas para o manejo dessa enfermidade. Práticas que reduzam o potencial de inóculo do patógeno nos restos de cultura e no solo, como rotação de cultura e/ou de híbridos, são importantes para a diminuição da incidência da doença. Essas medidas, além de trazerem benefício imediato ao produtor por reduzir o potencial de inóculo dos patógenos presentes na lavoura, contribuem para maior durabilidade e estabilidade da resistência genética presentes nas cultivares comerciais por reduzirem a população de agentes patogênicos. A mais atrativa estratégia de manejo de doenças é a utilização de cultivares geneticamente resistentes, uma vez que o seu uso não exige nenhum custo adicional ao produtor, não causa nenhum tipo de impacto negativo ao meio ambiente, é perfeitamente compatível com outras alternativas de controle e é, muitas vezes, suficiente C para o controle da doença. Luciano Viana Cota, Rodrigo Véras da Costa, Dagma Dionisia da Silva Embrapa Milho e Sorgo
Recentemente introduzido no Brasil o caruru palmer (Amaranthus palmerii) é uma planta daninha agressiva com alto grau de seleção de biótipos resistentes à aplicação de herbicidas. Evitar a matocompetição precoce e prevenir a produção de sementes são os principais desafios para o manejo correto desta invasora
Pedro J. Christoffoleti
PLANTAS DANINHAS
Presença detectada
A
planta daninha caruru palmer, conhecida botanicamente como Amaranthus palmerii, é agressiva, sendo para o Brasil uma exótica invasora. Originária das regiões semiáridas do norte do México e sul dos Estados Unidos da América, a principal razão de sua agressividade é a facilidade com que biótipos são selecionados com resistência tanto ao glifosato, quanto aos herbicidas inibidores da ALS. Por ter sido introduzida no Brasil recentemente, de acordo com o relato do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMA)1, as informações com pesquisas na literatura no Brasil são inexistentes, sendo assim, a maioria das informações contidas nesta publicação foi adaptada de Legleiter e Johnson (2013)2. Ensaios realizados nos Estados Unidos pela Universidade de Purdue, em condições de casa de vegetação, demonstraram que certos biótipos da planta daninha sobrevivem à dose de 9kg/ha de equivalente ácido do glifosato, que corresponde a 25L/ ha da formulação convencional contendo 360g/L de glifosato. Sua dispersão nas lavouras tem ocorrido por máquinas e equipamentos agrícolas, que são utilizados nos sistemas de preparo de solo e na colheita das culturas. Também existe a disseminação por animais. Informações obtidas em eventos técnicos realizados na
Argentina, onde a planta daninha já está estabelecida, certos pássaros alimentam-se das sementes de caruru palmer e podem ficar viáveis em seu trato digestivo por até três dias, sendo que alguns acreditam que a ave pode defecar sementes intactas. O caruru palmer é facilmente adaptável às alterações edafoclimáticas. Seu sistema de reprodução é do tipo dioica, ou seja, há plantas masculinas e femininas, sendo que normalmente as femininas compõem 30% da população. Esta característica torna a espécie de polinização cruzada obrigatória, resultando, portanto, em maior diversidade genética. Também produz grande quantidade de sementes, que mesmo estando em condições de competição com a cultura, uma planta produz em média 100 mil sementes. Em condições não competitivas, uma planta isolada chega a produzir 500 mil sementes (fonte – Universidade de Purdue – USA). Compete agressivamente com as culturas agrícolas, pois uma planta pode crescer até 2cm a 3cm por dia, quando em condições favoráveis. Causa perdas da ordem de 91% em milho e 79% em soja, quando não controlada.
MANEJO DA PLANTA DANINHA
Nas áreas onde o caruru palmer é introduzido, o objetivo do manejo não é apenas de evitar a matocompetição precoce, mas
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também de prevenir a produção de sementes. Como é bastante prolífica, a espécie estabelece um banco de sementes muito rapidamente e de forma dominadora, tanto que pode até invadir o habitat das demais plantas daninhas e ser a única infestante da área. É preciso combinar práticas de manejo cultural com a aplicação de herbicidas. Dentre as práticas culturais utilizadas destaca-se a rotação de culturas. No Brasil, o conceito da sequência de cultivo soja – milho não é novo, mas sim regra, principalmente na região onde a planta daninha foi detectada. Assim, é oportuno aos produtores desta região utilizar residuais de diferentes mecanismos de ação. No cultivo do milho o controle do caruru palmer é mais fácil que na soja. Dentre os herbicidas que apresentam algum controle, destacam-se em pré-emergência atrazina, isoxaflutole, s-metolachlor, acetochlor, pyroxasulfone e dimethenamid (alguns herbicidas mencionados nesta publicação não possuem registro de uso no Brasil), e em pós-emergência há os herbicidas aplicados em pré-plantio, como glifosato (em populações não resistentes), 2,4-D, dicamba e saflufenacil (nestes herbicidas observar recomendação do fabricante sobre o intervalo entre aplicação e semeadura da soja), atrazina, mesotrione, tembotrione, topramezone, glufosinato
Fotos Pedro J. Christoffoleti
Área de algodão com infestação de caruru palmer nos Estados Unidos
de amônio (milho Liberty Link), sendo estes seletivos com possibilidade de aplicação após o estabelecimento da cultura. Devido à agressividade do caruru palmer muitos produtores nos Estados Unidos têm observado que é necessário associar na última aplicação do pós-emergente seletivo um residual de alta seletividade, como por exemplo o S-metolachlor, acetochlor ou pyroxasulfone (alguns destes herbicidas não são registrados no Brasil). Cuidado especial deve ser tomado com relação ao uso de atrazina e inibidores da HPPD (mesotrione, tembotrione e isoxaflutole), pois nos Estados Unidos já foram encontrados biótipos resistentes desta planta daninha a estes herbicidas. Uma recomendação sábia para controle desta planta daninha é “comece a cultura no limpo”, ou seja, na semeadura da cultura, a planta daninha deve estar sob absoluto controle, sem nenhuma planta em pós-emergência, para a cultura emergir antes do caruru palmer e assim tirar proveito da chamada “dianteira competitiva”. Na dessecação, o caruru palmer pode ser controlado efetivamente com herbicidas alternativos ao glifosato. A associação de glifosato com 2,4-D é uma delas, assim como com dicamba. Trabalhos realizados nos Estados Unidos também evidenciam que a associação de paraquat com metribuzin é funcional. Glufosinato de amônio aplicado com a planta em fase bem inicial de desenvolvimento (duas a quatro folhas) também controla adequadamente a planta daninha. Nas situações onde o sistema Liberty Link é adotado, não deixar de utilizar o residual também,
pois não é recomendado mais que três aplicações de glufosinato de amônio na cultura. Saflufenacil e outros inibidores da Protox podem ser associados ou não ao glifosato com eficácia adequada sobre a planta daninha, porém, com a necessidade de serem aplicados em fases iniciais de desenvolvimento da planta daninha (duas a quatro folhas), lembrando que o estádio ideal de controle é muito curto, pois o caruru palmer cresce 2cm a 3cm por dia. Devido às restrições de semeadura após a aplicação de alguns herbicidas no tratamento de dessecação é comum a necessidade de aplicações sequenciais, sendo primeiro aplicados os produtos com restrições e na pré-semeadura a associação dos defensivos sem restrição com os residuais.
Detalhe da inflorescência do caruru palmer nos Estados Unidos
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Os residuais na dessecação são a fundação de um bom programa de controle do caruru palmer antes da semeadura da soja, pois isso reduzirá tremendamente a pressão dos herbicidas pós-emergentes na soja, em especial a pressão do glifosato. Para um bom controle do caruru Palmer recomenda-se aplicar o herbicida residual o mais próximo possível da semeadura. Aplicações de residuais antecipadas no outono ou início da primavera não resolvem o problema, pois o caruru palmer tem múltiplos fluxos de emergência. Mesmo os melhores residuais, que na literatura têm indicado os inibidores da Protox, proporcionam, na dose recomendada, um máximo de duas a três semanas de controle, portanto, a aplicação deve ser feita o mais próximo possível da semeadura. É comum a associação de inibidores da Protox com outros residuais. Na Argentina, um dos residuais de grande uso na dessecação antes da semeadura da soja é a atrazina. No entanto, é importante ajustar a dose deste herbicida e o intervalo entre a aplicação e a semeadura, pois a atrazina não é seletiva para a soja. Na cultura da soja o número de herbicidas que controlam o caruru palmer é limitado, assim é recomendado lançar mão principalmente dos herbicidas residuais associados ao dessecante. S-metolachlor associado com fomesafen pode ser uma alternativa interessante para o controle. Também o uso de lactofen é possível, porém, neste caso, o produtor deve estar familiarizado com os aspectos de fitotoxicidade que o produto causa. Para a soja Liberty Link há possibilidade de emprego C do glufosinato de amônio. Pedro Jacob Christoffoleti, Esalq/USP
Christoffoleti mostra o porte elevado de planta feminina de caruru palmer
COLUNA ANPII
Olhar atento A ANPII se mantém atenta para que o mercado possa ter acesso à oferta de inoculantes de alta qualidade e que atendam às exigências de elevada produtividade
J
untamente com a fotossíntese, a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) se constitui em um dos fenômenos essenciais. Enquanto a fotossíntese captura o CO2 do ar e o transforma em madeira, folhas, frutos, a FBN captura o nitrogênio da atmosfera e o transforma em aminoácidos e proteínas, ambos possibilitando a existência da vida na terra. O nitrogênio existente no ar, que representa 79%, encontra-se na forma de N2 com uma ligação muito forte entre os dois átomos, exigindo elevados níveis de energia para romper esta ligação e fazer com que o nitrogênio se combine com outros elementos químicos e possa ser aproveitado pelas plantas. Desta forma, as plantas estão rodeadas de nitrogênio e, ao mesmo tempo, este nutriente é bastante escasso na maioria dos solos (escasso quando se pensa em agricultura, em elevadas produtividades). Mas de onde veio todo o estoque de nitrogênio existente nas grandes florestas, nas pastagens e que alimentaram a vida na terra durante milênios? Uma grande gama de microrganismos, minúsculos seres existentes no solo, é capaz de desdobrar a molécula do nitrogênio e permitir sua combinação com o hidrogênio em um primeiro estágio, possibilitando, a partir daí, a formação de substâncias mais complexas, chegando até a formação de grandes cadeias proteicas. Estas bactérias, que podem viver no solo, em associação com as raízes e em sistemas mais complexos, formando simbiose, possuem uma enzima chamada nitrogenase (na realidade, um sistema enzimático chamado dinitrogenase), que é um catalisador biológico capaz de reduzir a energia necessária para o desdobramento da molécula de nitrogênio, permitindo sua combinação com o hidrogênio. Assim, uma reação que em laboratório ou reator industrial requer cerca de 5000C para se comple-
tar, realiza-se em condições ambientais. Embora as bactérias de vida livre (Azotobacter, Beijerinckia) e as associativas (Azospirillum, Herbaspirillum) possam fixar ao longo dos anos quantidades
Uma grande gama de microrganismos, minúsculos seres existentes no solo, é capaz de desdobrar a molécula do nitrogênio e permitir sua combinação com o hidrogênio em um primeiro estágio, possibilitando, a partir daí, a formação de substâncias mais complexas, chegando até a formação de grandes cadeias proteicas
apreciáveis de nitrogênio quando se pensa em sistemas estáveis, é no sistema simbiótico entre rizóbios e leguminosas que se encontra a maior quantidade de N fixado e é este sistema simbiótico o mais explorado na agricultura. Descoberto no final do século 19, o processo começou a tomar vulto no século 20, em especial na cultura da soja. Através do isolamento de bactérias nativas de solos, foram formulados os primeiros inoculantes para alfafa, trevos e ervilha e outras leguminosas, inicialmente nos Estados Unidos e posteriormente na Austrália, Brasil, Uruguai e Argentina. Com o crescimento do cultivo da soja nos EUA e América do Sul, a produção de inoculantes tomou um vulto significativo, tornando-se um dos fatores primordiais para a expansão desta leguminosa. Embora existam muitas cepas de rizóbios (de Bradyrhizobium no caso da soja), o trabalho de seleção de cepas cada vez mais eficazes foi a base, e continua sendo, para o sucesso da tecnologia. É importante que as cepas que serão utilizadas nos inoculantes tenham diversas características: grande poder de fixação do N, competitividade com cepas nativas, resistência a estresse hídrico, crescimento adequado em meios de cultura artificiais e boas taxas de recuperação (sobrevivência) quando colocadas sobre as sementes. O programa de seleção e de manutenção de estirpes é um dos pilares sobre os quais se assenta toda a cadeia do inoculante, assegurando que este insumo partirá de cepas selecionadas e testadas em diversas condições ambientais e em uma grande variedade de cultivares de soja. A ANPII acompanha estes programas continuamente, em contato com organismos de pesquisa, com o objetivo oferecer ao mercado inoculantes de alta qualidade e que atendam às exigências de elevada produtividade. C Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
60 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br
COLUNA AGRONEGÓCIOS
J
uracy Magalhães foi um político e militar que ocupou diversos cargos, entre os quais o de ministro da Justiça e das Relações Exteriores durante os governos militares. Mas passará à História principalmente pela famosa frase “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, pronunciada quando era embaixador em Washington. Algumas décadas após Magalhães cunhar a frase, percebo, em visita a propriedades rurais no Meio Oeste americano, que os agricultores são quase todos sessentões, raros são os jovens. Até que, em uma fazenda, encontrei um jovem agricultor com menos de 30 anos. Entabulei uma longa conversa com ele, para entender por que estava na contramão da tendência. O que mais me marcou foi sua resposta, quando lhe perguntei o que mais o perturbava no cotidiano de agricultor: “As moças não querem namorar agricultores”! Corta para o Brasil, onde jovens também abominam o meio rural. Primeiro foram as moças, que preferem ser domésticas ou ocupar subempregos a viver na área rural. Sem namoradas, os rapazes também se foram, tentando capturar oportunidades nas cidades. Alguns, rapazes e moças, por falta de oportunidades, às vezes escorregam para a marginalidade. Outros investem seriamente no futuro, educam-se e obtêm sucesso. As principais razões do êxodo são o trabalho penoso do campo, os riscos elevados da atividade agrícola, a baixa rentabilidade na falta de escala, a dificuldade de acesso a serviços públicos (saúde, educação e transporte, primordialmente), o lazer e o “conforto” da cidade. Os pais permanecem no sítio enquanto têm saúde e forças para o trabalho. Quando o trabalho fica penoso para sua condição física, são convencidos pelos filhos a vender a propriedade, porque ninguém quer voltar para o campo. Assim, a realidade dominante nas áreas de pequenas propriedades do interior do Brasil é a falta de mão de obra e, quando existe, seu preço não pode ser absorvido pelos pequenos proprietários. Segundo os sindicatos de trabalhadores rurais, ainda existe mão de obra nas pequenas cidades do interior, mas é encontrada nas mesas de bar ou nos bancos de praça, vivendo de transferências governamentais ou da
Terra em transe aposentadoria de pais e avós.
NINGUÉM MAIS QUER SOL NO LOMBO! SERÁ?
Exceções existem. Nos estados do Sul do Brasil, onde a colonização europeia dos séculos 19 e 20 foi muito intensa, existe uma arraigada tradição de garantir o sustento familiar na propriedade agrícola. São produtores de aves, suínos, frutas ou hortaliças. Que mantêm a cultura do trabalho de sol a sol, de olho em boas oportunidades de negócio, especialmente pela agregação de valor na agroindústria. Produtores de flores e ornamentais de São Paulo, especialmente os de ascendência japonesa, se incluem nesta categoria. Essas regiões também sofrem a fuga de mão de obra e os problemas da sucessão rural, mas a gravidade do problema é menor que ao norte de São Paulo. Outra exceção: as grandes propriedades do Centro-Oeste e do Nordeste do Brasil. Os pais e avós foram pioneiros, normalmente gaúchos expulsos do pampa pela excessiva minifundização nas plagas do Rio Grande. “Comemos o pão que o diabo amassou” contam, relembrando como viviam sob lonas, sem estradas, sem acesso à saúde, transporte ou educação, sem qualquer apoio dos governos. Alguns pereceram pelo caminho ou não resistiram à dureza do pioneirismo, retornando aos pagos – ou migrando para as cidades. Outros venceram, são os grandes proprietários rurais de hoje, produtores de milho, soja e algodão, por vezes feijão, cana ou café. Mas, atualmente, quem administra os negócios rurais são seus descendentes, jovens, formados em boas universidades, com pós-graduação no exterior. Os pais e avós foram remetidos para o Conselho de Administração, onde sua sabedoria, experiência e intuição são úteis. Mas as ferramentas de gestão são modernas, a conexão com o mercado é integral. Nos empreendimentos pujantes acima descritos, a mão de obra também é escassa e muito cara. Esta é uma das razões para a intensa mecanização, especialmente lastreada em megamáquinas e implementos gigantescos, de alto rendimento. Um operador de colhedora fatura, ao final de um ano, muito mais que a grande maioria dos egressos das universidades, nas grandes cidades.
Ao contrário dos EUA, no Brasil os proprietários não são umbilicalmente arraigados aos bens de raiz. Lá, esse comportamento, associado com a falta de mão de obra no campo propiciou o surgimento de uma nova oportunidade. São empresários que possuem pequenas áreas de terra, mas que contam com um apreciável parque de máquinas e implementos para plantio e colheita, cultivando terras arrendadas. Movimentam-se no sentido sul – norte, primeiro plantando, depois colhendo. Terceirizam as operações de manejo da lavoura, especialmente medidas fitossanitárias, bem como o transporte da colheita até os entrepostos. Essa é uma das razões pelas quais a área agrícola dos EUA é totalmente aproveitada. Aparentemente, o que é bom para os Estados Unidos não necessariamente é bom para o Brasil, pois aqui começa a sobrar terra agrícola no interior do país. Apesar do problema estrutural extremamente sério do êxodo rural, em escala global, a demanda de produtos agrícolas associada ao aumento da população, ou por incremento de renda, manterá acesa a oferta. Países se especializarão e os ganhos de escala, principalmente por cultivo de áreas cada vez maiores serão a marca dos próximos anos. A explosão do agronegócio brasileiro a partir da década de 1990, cuja locomotiva foi a espetacular ascensão da demanda chinesa, continuará nas próximas décadas, pelas vantagens comparativas do nosso país. O tom será dado pela mecanização cada vez mais intensa, substituindo a mão de obra que escasseia. As máquinas serão cada vez mais complexas e sofisticadas, além de confortáveis. E a remuneração, tanto dos operadores de máquinas, quanto dos jovens administradores, terá que superar o custo de oportunidade de ocupações semelhantes nos centros urbanos. A confluência desses fatores indicaria que os produtos agrícolas ficarão cada vez mais caros. Mas, as inovações tecnológicas, os ganhos de escala e de gestão serão o contraponto de equilíbrio. E, se nosso governo equacionar as bigornas do custo Brasil, especialmente a infraestrutura e a logística deficitárias, a burocracia e a tributação excessivas, mantendo o câmbio equilibrado, o agronegócio continuará sendo o grande C negócio do Brasil. Decio Luiz Gazzoni
O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
USDA conservador no consumo e otimista na produção O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) tem mostrado números demasiadamente conservadores em relação à demanda por alimentos, que não cresce nos EUA no mesmo ritmo que em países emergentes ou pobres, onde o aumento é muito superior em comparação com outros tipos de consumo. Desta forma a demanda tem sido normalmente maior do que aponta o USDA e os estoques acabam menores que os divulgados. Situação semelhante se observa no Brasil. Isso se comprovou no relatório de junho, em que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) teve de rever os números dos últimos quatro anos do milho. No USDA o cenário é muito parecido, o que pode ser notado nos relatórios semanais de exportações, onde já haveria 50,3 milhões de toneladas exportadas até o começo de junho para o ano agrícola que fecha no começo de setembro, enquanto a projeção do relatório de oferta e demanda de junho informa que a exportação de soja dos EUA alcançou 49,3 milhões de toneladas. Ou seja, já há um volume de um milhão de toneladas contratadas a mais do que aponta o relatório do mês. Desta forma, os dados finais de estoques vão ficando maiores que o estoque propriamente dito. Situação que também se vê no Brasil, no caso do milho, onde o governo divulga estoques iniciais de 11,9 milhões de toneladas e os estoques da Conab não chegam à marca de 1,5 milhão de toneladas. O que se sabe é que a demanda tem crescido forte, em todos os grãos. Houve recorde de exportação de soja do Brasil em maio e junho segue o mesmo caminho. As exportações americanas continuam acima das projeções e isso comprova que o mundo está consumindo mais e não seguindo a demanda que se vê somente nos EUA, que tem crescido de maneira lenta e gradual, ao passo que a Ásia, África e outros países apresentam crescimento de demanda de alimentos que chega a superar a marca dos 10% ao ano. Portanto, os dados que sempre foram o timoneiro para nortear o rumo das cotações, nestes últimos tempos têm servido para limitar avanços e prejudicar parte dos produtores que necessita de vendas logo depois da colheita. do milho já está comprometida. Desta forma a fase de degradadas que já vêm sendo preparadas com soja. baixa pode durar somente o período da colheita. Após, Sem deixar de apontar que também haverá muitas lavouras de cana sendo renovadas com soja, visto que O mercado do milho registra a colheita da safrinha o mercado tende a se inverter e avançar. o álcool e o açúcar tiveram melhora nas cotações e já em ritmo lento, com chances de avançar para julho e SOJA abrem espaço para o setor voltar a crescer, necessitando agosto, porque neste ano o plantio se estendeu até abril, Pouca soja para ser negociada de canaviais mais produtivos. A soja deverá sair da faixa em casos mais extremos. Desta forma haverá milho de Os produtores já negociaram a maior parte da safra dos cerca de 32 milhões de hectares para algo próximo maneira lenta e escalonada, mas em grandes volumes, porque o clima foi favorável e a produtividade pode ser deste ano, com indicativos de aproximadamente 80% de 33 milhões de hectares neste novo ano no Brasil. recorde. Tudo isso mesmo com parte dos produtores da soja comercializada. O restante tende a ser vendido ARROZ tendo reduzido a tecnologia. O clima foi perfeito, em momento de maior lucro aos produtores, fato que Cotações já caíram o que podiam choveu todo o ciclo favorecendo as lavouras que agora irá manter as negociações de forma pontual, com O mercado do arroz mostrou as cotações no entram no período de seca, mas com as espigas já vendas quando o dólar ou Chicago estiverem em alta prontas e sem grande necessidade de água. Há um (ou ambos). Mas tudo isto de maneira lenta e com a fundo do poço em junho, com níveis de R$ 31,00 a pequeno risco de áreas tardias do Paraná, Mato Grosso tendência de o mercado interno “descasar” do externo R$ 34,00 a saca no Rio Grande do Sul e até abaixo de do Sul e partes de São Paulo sofrerem com geadas, o nas próximas semanas. Já na safra nova as negociações R$ 30,00 para o abastecimento de indústrias de parque poderia gerar pequenas perdas. Mas a safra tende a têm fluído via insumos, que andaram em ritmo menor boilização. Houve pressão negativa atrelada às vendas passar de 47 milhões de toneladas (dados mais otimistas que em anos anteriores. Muitos produtores têm optado dos produtores em busca de caixa para pagar dívidas, apontam para 50 milhões de toneladas). Ou seja, tende pela compra dos insumos com a soja a fixar, esperando principalmente de custeio. Como o setor conseguiu a a ser a melhor safrinha já colhida no Brasil. Contudo, é números maiores para que a relação de troca lhes seja rolagem destas dívidas para o final do ano, espera-se preciso assinalar que a comercialização deste ano está mais favorável. Enquanto isso os indicativos apontam que a fase de baixa encerre. A exemplo do feijão, este muito avançada e nos estados centrais já passa dos 60%, para um plantio maior neste ano, sendo que no Sul o é o ano dos alimentos básicos. Há espaço para crescer frente a volumes de aproximadamente 30% de outros milho e o arroz darão grande espaço à soja e nos estados em cotação no varejo, porque mesmo com reajuste de anos. Sendo assim, há volume maior, mas grande parte centrais a cultura avançará sobre áreas de pastagens até 20%, trata-se de produto barato ao consumidor. MILHO
Safrinha seguirá com colheita lenta até agosto
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado internacional está de olho na entrada em vigor da taxação das exportações do trigo da Rússia, que tem por objetivo a limitação das vendas do grão local para que não falte no mercado interno ou para que não pressione a inflação. Enquanto isso, a Argentina, precisando de caixa, emitiu mais uma autorização de exportação de uma cota adicional de venda de um milhão de toneladas do grão, o que tende a beneficiar indústrias importadoras do Brasil e novamente servirá de limitante de alta de curto prazo sobre o produto no Brasil. Importante mencionar que há forte queda na área de trigo de todos os produtores da América do Sul, com indicativos de diminuição de 20% a 40% na área plantada dos parceiros do Brasil, como Argentina, Uruguai e Paraguai, todos reduzindo fortemente a área do trigo deste ano. No Brasil se observa queda na área do Rio Grande do Sul. Haverá menos trigo para o próximo ano e isso já é indício de cotações maiores à frente. ALGODÃO - O mercado está em colheita no Centro-Oeste e na Bahia, com os produtores apontando que a safra deste ano trará bons resultados, com clima regular. Contudo, houve forte queda na área plantada e, assim, até mesmo os dados conservadores da Conab apontam para 1,507 milhão de toneladas de algodão em pluma contra 1,734 milhão de toneladas do ano passado. Com este cenário, quem puder segurar o produto tende a ter boa remuneração no segundo semestre. A produção da Ásia está com problemas, o que poderá trazer apelo altista no mercado internacional. CHINA - As importações seguem aceleradas e os novos números do USDA apontam que o país asiático irá importar 77,5 milhões de toneladas neste novo ano comercial. Dados que são vistos como conservadores porque, como a soja está barata e a demanda é forte na China, o país caminha para aumentar os estoques
de grãos, com o objetivo de diminuir riscos com inflação. Os chineses poderão importar mais e passar de 80 milhões de toneladas, porque possuem dinheiro e têm “fome” de alimentos. UCRÂNIA - O país está sentindo a pressão do El Niño e assim a produção pode ter limitação, com menor potencial de exportação para 2016. No caso do milho não devem passar de 16 milhões de toneladas frente aos 18,5 milhões de toneladas do último ano. ARGENTINA - A comercialização tem andado a conta-gotas, com os produtores segurando o máximo que podem, enquanto o governo, ávido por caixa, tenta forçar as vendas de todas as maneiras. Mas o setor aposta que no segundo semestre o quadro possa melhorar. Há eleições em outubro e posse do novo presidente em novembro e se mudar o rumo do país, os produtores poderão vender com dólar majorado no final do ano. Os argentinos também esperam que a taxa de exportação de 35% na soja seja reduzida pelo novo governo, para estimular mais a produção local. Mas, por enquanto, o ritmo dos negócios é muito lento. EUA - O plantio da safra de grãos dos americanos ocorreu no período ideal para o milho e com atraso para parte da soja. Agora, o setor segue de olho no clima, em ano de El Niño, que pode trazer irregularidades, como chuvas em excesso (já registradas neste começo de safra) e seca em outros momentos. O fenômeno climático pode trazer também altas temperaturas entre julho e agosto, que é momento de floração e definição de produção. As plantas não toleram calor extremo neste período. As atenções se voltam para os campos americanos, que irão comandar os negócios da C nova safra do Brasil.
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
62 Julho 2015 • www.revistacultivar.com.br