C
Cultivar
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVI • Nº 196 • Setembro 2015 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Nossa capa
Desde o início - 22
A importância do uso de sementes de qualidade e do seu tratamento com fungicidas para garantir a sanidade inicial da cultura do algodoeiro
Charles Echer
Índice
Avanços no controle - 08
A evolução do combate à podridão radicular por fitóftora, doença causadora da morte de plantas em soja
Diretas
06
Informe - Ourofino no Congresso Andav
07
Podridão radicular por fitóftora em soja
08
Resistência de Cyperus iria em arroz
10
Espaçamento adequado em cana
14
Irrigação em cana-de-açúcar
16
Capa - Tratamento de sementes
22
Percevejos em soja e milho
25
Manejo de milho voluntário
28
Inoculação na cultura do milho
32
Mancha de phoma em café
38
Empresas - Basf
42
Coluna ANPII
44
Coluna Agronegócios
45
Mercado Agrícola
46
Silenciosos e daninhos - 25 Os cuidados e manejo de percevejos no sistema produtivo da soja e do milho
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
COMERCIAL
CIRCULAÇÃO
• Editor
• Coordenação
• Coordenação
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
Rocheli Wachholz
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
Charles Ricardo Echer
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
Rithieli Barcelos
Simone Lopes
• Assinaturas
Natália Rodrigues Clarissa Cardoso Aline Borges Furtado
• Expedição • Revisão
Aline Partzsch de Almeida
Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 239,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Nova sede
A RiceTec inaugurou, no final de julho, sua nova sede no Uruguai, localizada no município de Trienta y Tres, a 129km de Jaguarão, no Rio Grande do Sul. Responsável por 16% do mercado de sementes certificadas no Mercosul, a empresa está presente no Uruguai desde 2003, onde desenvolve parceria com o Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária (Inia). O CEO global da RiceTec, Mike Gumina, destacou durante o evento de inauguração a importância dessa parceria. “Sabemos da importância social que a nossa atividade exerce para atender a demanda mundial por alimentos. Por isso valorizamos e investimos no país e na parceria com o Inia, a ACA, o Inase, a indústria e, especialmente, com os arrozeiros uruguaios, que têm destacada atividade no mercado mundial”, disse.
Congresso
A UPL Brasil participou pela primeira vez do Congresso Andav, realizado em agosto, em São Paulo. A empresa apresentou os Programas de Relacionamento voltados para distribuidores e cooperativas, além de expor seu portfólio de produtos. O destaque ficou para o Unizeb Gold, fungicida protetor multissítio registrado para soja, milho e algodão. “O estande contou com a presença de uma equipe técnica especializada para sanar as principais dúvidas de clientes e visitantes”, informou o gerente de desenvolvimento técnico de mercado da empresa, Marcus Brites.
Marcus Brites
Encontro global
Negócios
A Ourofino Agrociência anunciou João Sereno Lammel para assumir a posição de consultor de desenvolvimento de negócios. O novo integrante da empresa atuará em conjunto com o Departamento de Negócios com Terceiros, além de fazer parte do Conselho de Administração. Engenheiro agrônomo, Lammel possui experiência em empresas voltadas ao agronegócio, mais especificamente no setor de defensivos agrícolas. Atuou em cargos de alta gestão nas áreas de registro, marketing, comercial, desenvolvimento de negócios, além de posições de liderança em sindicato e associações do setor.
Estratégias
Claudia David João Sereno Lammel
A Syngenta reuniu em Porto Alegre diretores e gerentes de cooperativas e revendas que atuam no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O objetivo foi apresentar estratégias da empresa nas culturas de soja, arroz e milho para 2015. “Deixar de ser uma empresa que vende produtos para oferecer soluções integradas, pensar como o agricultor e procurar atender suas principais demandas através de intimidade com os clientes e muita presença no campo, para suprir a crescente demanda por alimentos de forma sustentável e sem avançar em novas áreas agrícolas, aumentando a produtividade por área”, explicou o gerente regional de Vendas, Rafael Chioquetta. No evento, foram compartilhadas experiências com os programas Integrare (soja), Grano Top (milho) e Gro More (arroz), além do lançamento do fungicida Priori Top para a orizicultura.
A Bayer CropScience promoveu, pela segunda vez, o Youth Ag-Summit (encontro global de jovens), em parceria com a Future Farmers Network (FFN). O evento ocorreu em agosto, em Camberra, na Austrália. Foram recebidas quase duas mil dissertações sobre os desafios de alimentar um planeta faminto, oriundas de mais de 40 países. Entre os 100 selecionados estão os brasileiros Cláudia Maria Coleoni, de Piracicaba, São Paulo, e Otávio Emerick da Silva, de Martins Soares, Minas Gerais. "Apoiamos jovens talentos que desejam contribuir para nossa missão ‘ciência para uma vida melhor’ e que querem ajudar a enfrentar o desafio global de alimentar a crescente população mundial", explicou a diretora de Comunicação da Bayer CropScience para América Latina, Claudia David.
Correção
Por um erro de composição na edição 194, página 51, na tabela sobre estimativas dos níveis de dano econômico de larvas de bicheira-da-raiz do arroz, divulgamos dados equivocados. Republicamos a tabela com os números corretos, enviada pelos autores à época da publicação. Estimativas dos níveis de dano econômico de larvas de bicheira-da-raiz do arroz, com a variação do custo de controle e do valor da saca de arroz, utilizando um inseticida com eficiência média de 80%. LabMIP/UFSM Custo do tratamento (R$ ha-1) 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150
20,00 1,7 2,1 2,4 2,8 3,1 3,4 3,8 4,1 4,5 4,8 5,2
Valor da saca de arroz (R$/50kg) 25,00 30,00 35,00 40,00 População de larvas de Oryzophagus oryzae/amostra* 1,4 1,1 1,0 0,9 1,7 1,4 1,2 1,0 1,9 1,6 1,4 1,2 2,2 1,8 1,6 1,4 2,5 2,1 1,8 1,5 2,8 2,3 2,0 1,7 3,0 2,5 2,2 1,9 3,3 2,8 2,4 2,1 3,6 3,0 2,6 2,2 3,9 3,2 2,8 2,4 4,1 3,4 3,0 2,6
* Redução de produtividade causada por uma larva/amostra (58,1kg/ha).
06 Setembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
45,00 0,8 0,9 1,1 1,2 1,4 1,5 1,7 1,8 2,0 2,1 2,3
Evento em comemoração aos cinco anos da Ourofino reúne mais de 200 clientes durante Congresso da Andav
Ourofino
INFORME EMPRESARIAL
Noite de homenagens
A
Ourofino Agrociência, empresa brasileira fabricante de defensivos agrícolas, completou cinco anos em 19 de agosto. Como parte das comemorações de aniversário, a empresa reuniu clientes e parceiros para um happy hour durante o Congresso da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumo Agrícolas e Veterinários (Andav), em São Paulo. Mais de 200 pessoas comemoraram a data e acompanharam a homenagem feita aos sócios-fundadores da empresa, Norival Bonamichi e Jardel Massari. O presidente da Ourofino Agrociência, Jurandir Paccini Neto, conduziu a cerimônia, agradeceu o trabalho realizado pelos empresários e enfatizou a credibilidade conquistada pelo empreendedorismo dos fundadores. “Somos uma empresa jovem, mas com profissionais experientes. A Ourofino Agrociência tem um know-how de pessoas que estão há anos no mercado, que sabem o que estão fazendo. Tudo isso aliado à visão de negócios dos senhores Norival e Jar-
del, que sabem como ninguém levar uma empresa ao sucesso”, opinou. Para marcar a data foi entregue uma placa aos empresários assinada em nome dos 315 colaboradores da Agrociência, além de um troféu ofertado pela própria Andav. “Para nós é uma honra poder acompanhar o trabalho de uma empresa como a Ourofino Agrociência, formada por brasileiros como nós, que fazemos parte da associação. Parabéns a todos os colaboradores, em especial aos fundadores da empresa”, disse o presidente do Conselho Diretor da Andav, Carlos Henrique Nottar. Além de Nottar, participaram da cerimônia o presidente-executivo da Andav, Henrique Mazotini, e o diretor comercial da Ourofino Agrociência, Antônio Sérgio Moraes, autor do primeiro pedido de compra realizado pela empresa em 19 de agosto de 2010. “É gratificante fazer parte de uma história tão bonita como esta. Sabemos que estamos em um mercado exigente e trabalhamos para atender cada vez melhor
nossos clientes”, explicou Moraes.
CONQUISTAS
Em apenas cinco anos, a empresa ganhou espaço no mercado de defensivos agrícolas com uma equipe experiente e qualificada. Além de contar com a mais moderna fábrica da América Latina neste segmento, mantém em Guatapará, São Paulo, um Centro de Pesquisa Agronômica certificado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Trata-se de uma fazenda experimental onde são testadas e desenvolvidas as soluções da Ourofino que posteriormente estarão no campo atendendo, com eficiência, às necessidades de clientes em todo o Brasil. Outro investimento que garante o padrão de qualidade de seus produtos foi a abertura de um escritório na China. Lá trabalham profissionais que mantêm contato com fornecedores de matéria-prima e realizam constantes inspeções para que se mantenha o padrão de qualidade exigido. Mais informações no site www.ourofinoaC grociencia.com.
www.revistacultivar.com.br • Setembro 2015
07
SOJA
Avanços no controle
Fotos Leila Maria Costamilan
Desde a safra 2005/06, quando mortes generalizadas de plantas de soja foram observadas no Brasil, o combate à podridão radicular por fitóftora registrou progressos importantes
H
á dez anos, na safra 2005/06, ocorreu um surto de plantas de soja mortas logo após a emergência, em lavouras nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, com tombamento de plantas em pós-emergência, em locais de solo compactado e com acúmulo de água, levando a falhas de estande inicial, à ressemeadura de áreas extensas e à morte de plantas adultas. A Embrapa Trigo, juntamente com especialista da Embrapa Soja, organizou várias visitas, percorrendo 38 lavouras em 22 municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, entre os meses de dezembro/2005 e fevereiro/2006, para tentar elucidar mais este novo problema fitossanitário em soja. Várias hipóteses quanto à causa dessas mortes foram levantadas. Como algumas plantas mortas foram encontradas em locais de solo mais compactado, pensou-se que o motivo fosse anaerobiose em raízes, causada por
excesso hídrico no período de pós-emergência (mais de metade da precipitação de novembro foi registrada entre os dias 23 e 25, depois da semeadura destas lavouras) e pela própria compactação de solo. Mas um grande número de plantas também morreu sem local específico e sem padrão de distribuição. Um fator relevante observado reside no fato de que, na maioria das lavouras com o problema, não havia rotação de culturas de verão, com o cultivo de soja intensivo há várias safras, inclusive com um caso de cultivo contínuo de soja por mais de 30 anos. Além disto, esta morte de plantas estava ocorrendo com um pequeno número de cultivares, principalmente em BRS 244 RR, BRS 245 RR e em BRS Charrua RR. Após estas visitas e análises em laboratório, identificou-se o patógeno como Phytophthora sojae, causador da doença conhecida como podridão radicular por fitóftora ou podridão da raiz e da haste por fitóftora.
08 Setembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
Esta doença foi identificada, pela primeira vez, nos EUA, em 1955, e também ocorre em outros países, como Austrália, Argentina, China e Canadá. No Brasil, a doença foi identificada no Rio Grande do Sul na safra 1994/95, mas perdas significativas ocorreram apenas na safra 2005/06. Depois disto, no Brasil, a doença foi também encontrada em Santa Catarina, no Mato Grosso do Sul, em Minas Gerais, em Goiás e em Tocantins. Nas últimas seis safras, o Laboratório de Fitopatologia da Universidade de Passo Fundo analisou 802 amostras de soja com sintomas de podridões radiculares, sendo que 11% foram diagnosticadas como podridão por fitóftora. A maior incidência da doença foi no ano de 2015, com 22%, seguido dos anos 2012 e 2011, com 16% e 15%, respectivamente. Os sintomas podem ser observados desde a pré-emergência até a fase adulta, sendo que plantas mais jovens são mais suscetíveis e mor-
rem mais rapidamente. Em pré-emergência, pode ocorrer apodrecimento de sementes ou flacidez e escurecimento na radícula e nos cotilédones. Sementes infectadas germinam lentamente e, quase sempre, as plântulas morrem durante a emergência. No período de emissão dos primeiros trifólios, a extremidade da raiz principal torna-se flácida e marrom e esse apodrecimento envolve o hipocótilo até o nó cotiledonar, ocorrendo o colapso do tecido. As folhas ficam amareladas e murchas e a planta murcha, seca e morre, permanecendo as folhas presas às plantas, voltadas para baixo. A doença promove a destruição quase completa de raízes secundárias e apodrecimento da raiz principal, que adquire coloração marrom-escura. Nessa fase, o sintoma característico é o aparecimento, no exterior da haste, de apodrecimento marrom-escuro, a partir da superfície do solo, frequentemente progredindo ao longo da haste principal e das hastes laterais em direção ao topo da planta. Plantas infectadas podem aparecer isoladas entre plantas sadias, ou em grupos, geralmente onde há acúmulo de umidade no solo. É comum observar, em um mesmo momento, plantas com sintomas da doença em diferentes estádios de desenvolvimento. As condições climáticas que favorecem a ocorrência da podridão radicular por fitóftora são temperatura igual ou superior a 25°C e água livre no solo. Desse modo, chuvas no início do ciclo favorecem o apodrecimento de sementes e o tombamento de plântulas, enquanto chuvas durante o ciclo propiciam a ocorrência de murcha, escurecimento externo na haste, apodrecimento de raízes e morte de plantas adultas. Práticas culturais como cultivo mínimo do solo, plantio direto em monocultura de soja e aplicação de altas doses de fertilizantes orgânicos ou com potássio, imediatamente antes da semeadura, podem tornar a doença mais severa. Os esporos de resistência (oósporos), formados em raízes e hastes infectadas, podem sobreviver no solo por muitos anos na ausência do hospedeiro, não germinando todos ao mesmo tempo. Os oósporos servem de inóculo primário e, em temperaturas próximas a 25°C, germinam e produzem esporângios que se acumulam até que ocorra encharcamento do solo, quando liberam zoósporos que nadam em direção às raízes de soja. Nas raízes, os zoósporos germinam e penetram diretamente, dando início à doença na planta, onde serão produzidos oósporos, encerrando o ciclo. Outras estruturas, como micélio e esporângio, podem também germinar diretamente e causar a doença. Além de soja, P. sojae infecta apenas a ancestral selvagem Glycine soja e espécies de tremoço (Lupinus spp.), que não são culturas comercialmente importantes no Brasil. As
principais fontes de inóculo são o solo e os restos culturais de soja contaminados. A transmissão e a disseminação do patógeno não ocorrem por sementes de soja. O uso de cultivares de soja com resistência genética é o principal método de controle da doença. Esta resistência pode ser completa (genes maiores) ou parcial (conhecida como tolerância ou resistência de campo, que limita o dano à raiz). Existem 14 genes de resistência na soja: Rps 1a, 1b, 1c, 1d, 1k, 2, 3a, 3b, 3c, 4, 5, 6, 7 e 8, além de mais dois recentemente descritos, mas ainda não incorporados à série diferencial. Os genes Rps 1a, 1c, 1k, 3a e 6 são amplamente utilizados em cultivares de soja em uso nos EUA, onde a duração da efetividade da resistência variou entre oito anos, para Rps 1a, e 20 anos, para Rps 1k. Após análise da população brasileira de P sojae, constatou-se que todas as raças, ou patótipos, encontradas foram inéditas, significando que a população brasileira do patógeno é nativa. Foram identificados 17 tipos diferentes, sendo que os mais frequentes causam doença em variedades de soja sem genes Rps, ou que possuem os genes Rps 1d, 2, 3c, 4, 5, 6 e 7. Os genes que ainda não são afetados são Rps 1a, 1c, 1k, 3b e 8. Na Embrapa Trigo, linhagens de soja em processo final de melhoramento, com resistência à podridão por
fitóftora, carregam preferencialmente os genes Rps 1a ou 1c, e 3a ou 8. Também há linhagens, em menor número, com o gene Rps 1k. Já a resistência parcial é durável e não específica a raças do patógeno, sendo efetiva a partir da emissão da folha unifoliolada. Linhagens da Embrapa Trigo também têm alto nível de resistência parcial. Assim, muito já se evoluiu desde a safra 2005/06, quando mortes generalizadas de plantas de soja foram observadas. Atualmente, há condições de se realizar diagnóstico mais rápido e preciso, e há cultivares de soja resistentes para indicar. Dificilmente observam-se casos tão severos de mortes generalizadas, levando a replantio de grandes áreas e à consequente perda de investimentos pelo agricultor. Empresas de melhoramento de soja têm permanecido atentas à importância da liberação de cultivares resistentes a esta doença e desenvolvem testes para caracterizar suas linhagens, ou contratam este serviço. Desta forma, é possível considerar, em um futuro não muito distante, a podridão radicular por C fitóftora sob controle, no Brasil. Leila Maria Costamilan e Cláudia Cristina Clebsch, Embrapa Trigo Carolina Cardoso Deuner, Universidade de Passo Fundo
Planta de soja morta, com sintomas de podridão radicular por fitóftora
www.revistacultivar.com.br • Setembro 2015
09
ARROZ
Prevenção à resistência
Fotos Diego Martins Chiapinotto
Evidência de possíveis biótipos de Cyperus iria resistentes à dose recomendada de herbicidas inibidores de ALS na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul acende sinal de alerta sobre o indispensável manejo adequado destes herbicidas, altamente eficientes mas muitas vezes alvo do uso incorreto, intenso e contínuo do mesmo mecanismo de ação
A
ocorrência de plantas daninhas na cultura do arroz irrigado causa perdas importantes, tanto pela competição por água, luz, nutrientes, como por interferências indiretas, sendo o principal fator biótico limitante do potencial produtivo desse cereal. Conforme a população de plantas daninhas, a redução da produtividade pode alcançar quase a totalidade, o que inviabiliza a atividade. Entre as principais daninhas infestantes dessas lavouras, as espécies do gênero Cyperus (C. difformis; C. esculentus e C. iria), conhecidas como junquinho, ocorrem em todas
as regiões produtoras. Sua ocorrência, além de perdas de produtividade por competição, causa o acamamento do arroz, desvalorização da área, aumento do custo de produção, entre inúmeros outros. Desse modo, o controle eficiente dessas e de outras espécies de daninhas é crucial. Assim, devido à alta eficiência e praticidade, o controle químico pelo emprego de herbicidas tem sido o método mais utilizado. Dentre esses, herbicidas que apresentam como mecanismo de ação a inibição da enzima Aceto Lactato Sintase (ALS) têm sido amplamente aplicados nas lavouras.
10 Setembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
A enzima ALS participa do processo metabólico de aminoácidos ramificados (valina, leucina e isoleucina), essenciais para o desenvolvimento das plantas. Na ausência da produção desses aminoácidos, provocada pela ação dos herbicidas inibidores da ALS, o vegetal suscetível apresenta aparência clorótica, seguida de morte, até três semanas após a aplicação – conforme o estágio da planta, condições ambientais e tecnologia de aplicação. Na cultura do arroz irrigado, há diversos herbicidas inibidores da ALS em uso, com diferentes ingredientes ativos: imazapir + imazetapir e imazapir + imazapic (imidazolinonas); ethoxysulfuron, azimsulfuron, cyclosulfamuron e pyrazosulfuron-ethyl (sulfonilureias); byspyribac-sodium (pirimidilbenzoato) e penoxsulam (triazolopirimidina). Tais herbicidas são altamente seletivos para o arroz e eficientes, controlando daninhas mono e dicotiledôneas. Os inibidores da ALS são indicados para o controle de arroz-vermelho (Oryza sativa), capim-arroz (Echinochloa sp.), junquinho (Cyperus sp.), sagitária (Sagittaria sp.), angiquinho (Aeschynomene sp.), entre outras. No Brasil, o primeiro registro desses herbicidas para o controle de daninhas em arroz irrigado se deu em 1991, com o produto Sirius, que conquistou rapidamente a adesão dos orizicultores, assim como outros lançados na sequência. Com o surgimento da tecnologia Clearfield no Brasil, em 2002, para o controle do arroz-vermelho, introduziram-se cultivares de arroz tolerantes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas (Irga 422 CL, tolerante ao imazapic + imazetapir). Posteriormente surgiram novas cultivares tolerantes ao imazapir + imazapic e ao imazetapir + imazapir, difundindo os inibidores da ALS.
DA EFICIÊNCIA AO SURGIMENTO DE BIÓTIPOS RESISTENTES
O uso intenso e contínuo (manejo inadequado) dos herbicidas inibidores da ALS, altamente eficientes e com o mesmo mecanismo de ação, causa pressão de seleção na população de infestantes. A intensidade dessa pressão, associada a características inerentes de
certas espécies daninhas, selecionou biótipos com habilidade de resistir à dose recomendada dos herbicidas. Plantas daninhas do gênero Cyperus eram de pouca importância para o arroz irrigado, porém, com o aumento da infestação e com o surgimento de espécies resistentes, sua importância tem sido reconsiderada. Devido ao limitado número de herbicidas alternativos, ou mesmo à sua inexistência, o controle acaba tornando-se ineficiente por meio do método químico. Identificar biótipos resistentes é crucial para alternativas de controle. Desse modo, em março de 2014 coletaram-se, em propriedade que cultiva arroz irrigado, localizada no município de Itaqui, no Rio Grande do Sul, 25 biótipos de Cyperus iria (CYPIR do 1 ao 15 de área 28°55’54” S, 56°11’7” W e CYPIR 16 ao 25 de área 28°55’42’ S, 56°11’18” W) remanescentes ao tratamento, à dose recomendada de inibidores da ALS (imidazolinonas, sulfonilureias e triazolopirimidina). Coletaram-se, também, biótipos de CYPIR suscetíveis de área onde nunca foram utilizados tais herbicidas (29°09’43” S, 56°33’06” W), com fins de comparação. As sementes dos biótipos foram armazenadas em local seco e temperatura ambiente, até a instalação do experimento, que foi conduzido em casa de vegetação na Universidade Federal
Biótipos de CYPIR resistentes (esq.) e suscetíveis (dir.) à dose recomendada de herbicidas inibidores da ALS. Os tratamentos, de cima para baixo, foram: imazetapir + imazapir, pyrazosulfuron-ethyl, penoxsulam e imazapir + imazapic
do Pampa (Unipampa/Campus Itaqui), entre 2014/2015. As unidades experimentais foram copos plásticos com capacidade de 300ml, preenchidos com Pintossolo peneirado. A semeadura foi realizada no dia 19 de dezembro de 2014, com densidade superior ao necessário, desbastando-se para quatro plantas/copo. Os tratamentos foram aplicados quando os biótipos estavam com até quatro folhas, utilizando pulverizador pressurizado a CO2 comprimido, bico jato plano, tipo leque, modelo XR 110.02, pressão de trabalho de 250kPa e barra postada a 40cm da superfície do alvo. O volume de calda utilizado foi de
100L/ha. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições. Os tratamentos utilizados, com a dose recomendada do produto comercial (p.c.), foram: imazapir + imazapic (140g/ha); penoxsulam (150ml/ha); pyrazosulfuron-ethyl (80ml/ha); Imazapic + imazetapir (1L/ha) – inibidores da ALS que comumente eram empregados na propriedade. Além destes, utilizou-se um herbicida com mecanismo inibidor do fotossistema II, do grupo químico Bentazon (1,6L/ha). A variável avaliada foi a diagnose visual,
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27
Fotos Divulgação
ficiente de alguns biótipos da área 28°55’54” S, 56°11’7” W. Os biótipos resistentes foram transplantados para vasos de 5L, onde foram conduzidos até o final do ciclo, para obter sementes e dar continuidade às pesquisas. Estudos posteriores serão conduzidos com o objetivo de
determinar o fator de resistência dos biótipos C e investigar seu valor adaptativo. Diego Martins Chiapinotto, Francisco de Assis Pujol Goulart, Ricardo de Mello Scalcon e Carlos Eduardo Schaedler, Unipampa Itaqui
Tabela 1 - Resposta (0=morte, 1=sobrevivência) de biótipos de Cyperus iria suscetíveis, área 29°09’43” S, 56°33’06” W, em função da aplicação da dose recomendada de herbicidas, avaliado visualmente aos 28 dias após o tratamento (DAT). Unipampa/Campus Itaqui Biótipos
Schaedler, Chiapinotto, Goulart e Scalcon analisaram comportamento de herbicidas
realizada aos 28 dias após a aplicação do tratamento (DAT). Os biótipos foram identificados de acordo com a resposta aos herbicidas, como suscetíveis ou resistentes – adotando-se escala binária onde zero (0) representou a suscetibilidade das plantas (morte); um (1) resistência (sobrevivência de pelo menos um biótipo à dose herbicida). A avaliação dos dados revelou que nos biótipos de CYPIR suscetíveis, todos os herbicidas utilizados obtiveram controle igual ou superior a 90% – tanto aos inibidores da ALS como ao inibidor do Fotossistema II. Pode-se constatar a eficiência dos herbicidas pelos resultados apresentados na Tabela 1. Os biótipos que foram coletados na área 28°55’54” S, 56°11’7” W tratados com os herbicidas inibidores da ALS, não apresentaram controle eficiente, obtendo índice inferior a 40%. Enquanto o herbicida alternativo obteve controle superior a 78% – como pode ser visualizado na Tabela 2. Os biótipos da área 28°55’42’ S, 56°11’18” W resistiram a todos os tratamentos com a dose recomendada dos herbicidas inibidores da ALS. O herbicida Basagran controlou 100% dos biótipos – Tabela 3. Tecnicamente, constatou-se a ocorrência de biótipos de CYPIR resistentes à dose recomendada de herbicidas inibidores da ALS, na cultura do arroz irrigado, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. A rotação de herbicidas, com diferentes mecanismos de ação, é fundamental para evitar a pressão de seleção de novos biótipos resistentes. O Bentazon, indicado como herbicida alternativo para o manejo de CYPIR, apresentou controle ine-
CYPIR 26 CYPIR 27 CYPIR 28 CYPIR 29 CYPIR 30 CYPIR 31 CYPIR 32 CYPIR 33 CYPIR 34 CYPIR 35
Imazapir + imazapic 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Penoxsulam 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Tratamentos Pyrazosulfuron-ethyl Imazapic + imazetapir 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Bentazon 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
Tabela 2 - Resposta (0=morte, 1=sobrevivência) de biótipos de Cyperus iria resistentes, área 28° 55’ 54” S, 56° 11’ 7” W, em função da aplicação da dose recomendada de herbicidas, avaliado visualmente aos 28 dias após o tratamento (DAT). Unipampa/Campus Itaqui Biótipos CYPIR1 CYPIR2 CYPIR3 CYPIR4 CYPIR5 CYPIR6 CYPIR7 CYPIR8 CYPIR9 CYPIR 10 CYPIR 11 CYPIR 12 CYPIR 13 CYPIR 14 CYPIR 15
Imazapir + imazapic 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 0 0 0
Penoxsulam 1 1 1 1 1 0 1 0 1 1 1 1 0 0 0
Tratamentos Pyrazosulfuron-ethyl Imazapic + imazetapir 1 1 1 0 1 1 1 0 1 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0
Bentazon 0 0 0 0 1 0 0 1 -1 0 0 0 0 1 0
1. Não houve germinação de CYPIR.
Tabela 3 - Resposta (0=morte, 1=sobrevivência) de biótipos de Cyperus iria resistentes, área 28° 55’ 42’ S, 56° 11’ 18” W, em função da aplicação da dose recomendada de herbicidas, avaliado visualmente aos 28 dias após o tratamento (DAT). Unipampa/Campus Itaqui Biótipos CYPIR 16 CYPIR 17 CYPIR 18 CYPIR 19 CYPIR 20 CYPIR 21 CYPIR 22 CYPIR 23 CYPIR 24 CYPIR 25
Imazapir + imazapic 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
12 Setembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
Penoxsulam 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Tratamentos Pyrazosulfuron-ethyl Imazapic + imazetapir 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Bentazon 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CANA
Espaço adequado
Fotos Unesp/Botucatu
Diante das limitações para expansão dos canaviais, elevar a produtividade sem aumentar a área plantada é um grande desafio. Por esta razão, encontrar o espaçamento que permita melhor desenvolvimento da cultura é fundamental
A
cultura da cana-de-açúcar, sem dúvida, já está entre as principais commodities do Brasil. Nos últimos anos tem se tornado importante peça no setor energético brasileiro; porém, existem alguns entraves que bloqueiam seu desenvolvimento. O principal deles reside no fato de que a área cultivada da cultura tem se tornado cada vez mais limitada, devido a uma série de fatores. Portanto, para essa cultura não ficar defasada, técnicas vêm sendo estudadas para elevar a produtividade da cana-de-açúcar sem aumentar as áreas plantadas. Uma dessas técnicas é o espaçamento entre fileiras da cultura saindo do plantio simples (1,40m x 1,40m) para combinado (1,40m x
0,5m ou 1,50m x 0,9m). Mas, para a realização desses novos espaçamentos, o produtor necessita adequar todos os equipamentos para a nova realidade, além de fazer a estimativa de quanto será a produção da lavoura, mesmo antes da colheita. Isso pode ser feito através de algumas medidas, como altura da planta e diâmetro de colmo da cultura, uma técnica que recebe o nome de biometria. Na cultura da cana-de-açúcar, após os 120 dias de emergência da cultura, ocorre a estabilização do processo de perfilhamento e a planta passa a se dedicar ao desenvolvimento
da parte aérea. Uma grande dificuldade que os canaviais enfrentam é o estresse hídrico, isso reflete na cultura e, consequentemente, na sua produção. A deficiência hídrica na fase inicial afeta o rendimento da cana, reduzindo o tamanho das plantas em geral, e algumas variáveis como a produção de perfilhos, número, altura e diâmetro de colmos industrializáveis, área foliar e finalmente o peso individual dos colmos (Gonçalves, 2008). O Núcleo de Ensaio de Máquinas e Pneus Agroflorestais (Nempa) e o Grupo de Plantio Direto (GPD) da Faculdade de Ciências Agronômicas Unesp, campus de Botucatu, em parceria com a empresa PHD Cana, no município de Lençóis Paulista (SP), realizou experimento com os espaçamentos de 1,40m x 0,5m, 1,40 x 1,40m e 1,50m x 0,9m. Desconsiderando os problemas com cultivares para produção de álcool e açúcar, a variedade utilizada no experimento foi RB 966928. A Figura 1 mostra uma representaçao gráfica dos espaçamentos. As análises de altura de plantas foram
Tabela 1 - Análise estatística de altura das plantas e diâmetro do colmo para os espaçamentos avaliados Diâmetro de colmo Espaçamentos 1,4 x 0,5 1,5 x 0,9 1,4 x 1,4 C.V.
Médias 29.53 a 29.19 a 28.79 a 2.58
C.V.: coeficiente de variação. Médias seguidas pela mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade
Diâmetro de colmo
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Altura de plantas da cana-de-açúcar
Figura 1 - Espaçamentos entre fileiras da cana em metros
feitas em 40 plantas com quatro meses de brotação, escolhidas ao acaso, sendo que a medição da altura se iniciou do solo até a folha mais nova que emitiu bainha. O diâmetro de colmo foi medido com o auxílio de um paquímetro digital e a medição foi feita a 0,10m a partir do solo. As plantas escolhidas para aferição da altura foram as mesmas onde se realizou a medição de diâmetro. O clima da região de Lençóis Paulista, segundo a classificação de Köppen (1948), é do tipo Cwa, isto é, clima temperado quente (mesotérmico), em estação seca de abril a agosto e chuvosa de setembro a março, sendo o mês de janeiro o mais chuvoso (Cunha et al, 1999). O solo da área experimental foi classi-
ficado como Latossolo Vermelho Escuro (Embrapa, 1999). As áreas foram manejadas com preparo do solo convencional, sendo uma gradagem e uma subsolagem para cada respectivo espaçamento. A análise estatística das variáveis foi com Tukey 5% de significância. A avaliação de diâmetro não teve diferença estatística, conforme a Tabela 1. Os valores encontrados para os diferentes espaçamentos avaliados apresentaram diferença estatística. Na Figura 2 são apresentadas as diferenças entre os espaçamentos avaliados. Nas Figuras 3, 4 e 5 uma vista frontal dos experimentos. Os resultados mostraram que o diâmetro do colmo não foi afetado significativa-
mente com os tratamentos, porém, a altura foi maior no espaçamento de 1,4m x 0,5m seguido dos espaçamentos de 1,5m x 0,9m e 1,4m x 1,4m. Portanto, de acordo com os resultados encontrados, é possível concluir que os espaçamentos de linha dupla apresentaram um desenvolvimento inicial melhor para a cultura da cana-de-açúcar. O experimento continua em desenvolvimento na PHD Cana, em Lençóis C Paulista, São Paulo. Indiamara Marasca, Saulo Fernando Gomes de Sousa, Vinícius Paludo, Paulo Roberto Arbex Silva e Kleber Pereira Lanças, Unesp/Botucatu
Figura 2 - Representação gráfica da altura das plantas em (m) para os espaçamentos avaliados
Figura 3 - Espaçamento 1,50m x 0,90m
Figura 4 - Espaçamento de 1,40m x 0,50m
Figura 5 - Espaçamento 1,40m x 1,40m (esquerda) e ao lado espaçamento 1,40m x 0,50m
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15
CANA
Fotos Rodrigo Brunini
Sede saciada
A irrigação complementar ou suplementar da cana-de-açúcar é uma ferramenta cada vez mais necessária para melhorar a produção canavieira, pois a deficiência hídrica impacta negativamente tanto a produtividade como a qualidade das lavouras
E
m um cenário de crescimento da cana-de-açúcar e maior competição por áreas com potencial de produção, destacam-se a água e o clima como fatores limitantes de grande parte das regiões de expansão agrícola no Brasil e que apresentam problemas de déficit hídrico para a cultura. Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em 2014 cerca de 80% da área explorada com cana-de-açúcar na região Sudeste do país apresentou precipitações abaixo do esperado e aumento significativo nas temperaturas médias máximas, gerando prejuízos aos produtores. As necessidades hídricas da cana-de-açúcar variam conforme suas fases de desenvolvimento, necessitando em média de 1.500mm a
2.500mm de chuva, distribuídos de maneira uniforme durante todo o ciclo. A oferta de água no solo governa a produção vegetativa da cultura, sendo que sua falta ou excesso afeta de maneira significativa o desenvolvimento. Quando a quantidade de água não atende às necessidades hídricas da cultura, desenvolve-se estresse hídrico, que causa o fechamento dos estômatos, a diminuição da fotossíntese e acaba afetando negativamente o rendimento final da produtividade. Este obstáculo não se limita apenas às regiões áridas e semiáridas, uma vez que, mesmo em regiões consideradas úmidas, com a distribuição irregular das chuvas e as altas temperaturas, pode haver limitação de crescimento. A irrigação para cultura de cana-de-açúcar já é uma realidade que alguns
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produtores tomam como essencial em sua produção, especialmente nas decisões para a maximização da produtividade de açúcar e álcool. A evapotranspiração das plantas é o principal componente de perda de água para a atmosfera dentro de um balanço hídrico, que é a relação entre a temperatura do dossel vegetativo e o potencial de água no solo. Neste contexto, uma melhor compreensão do planejamento e manejo da irrigação das culturas pode fornecer aos agricultores melhores oportunidades de aplicação em áreas onde há potencial de cultivo.
BENEFÍCIOS QUANTIFICADOS
Pesquisas desenvolvidas em área experimental do Departamento de Engenharia Rural da FCAV/Unesp, Campus de Jaboticabal,
Tabela 1 - Lâmina d’água mensal recebida pela cultura em cada tratamento e precipitação, em mm, ocorrida durante o desenvolvimento do experimento. Jaboticabal, SP, 2014/2015 Data Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Total
São Paulo, buscam quantificar os benefícios da irrigação para a cultura de cana-de-açúcar. Para tanto, foram utilizados tratamentos caracterizados como T1 (tratamento irrigado), Figura 1 A, e T2 (testemunha, não irrigada), Figura 1 B. A variedade de cana-de-açúcar cultivada na área experimental é a RB855453, que se encontra no quarto corte. Para monitorar o comportamento do po-
A
T1 52,85 79,52 65,76 124,65 93,03 137,98 44,80 65,67 59,92 26,31 30,75 9,35 790,59
T2 -
Precipitação 5,40 1,60 26,20 1,00 39,40 38,40 150,00 117,80 76,40 223,50 149,20 53,40 882,30
tencial de água no solo de forma rápida e com menor custo, foram instalados no centro de cada superfície três tensiômetros a 20cm e três a 40cm de profundidade, respectivamente. A quantidade de água aplicada no tratamento irrigado se deu em função dos valores da Evapotranspiração (ET0), obtidos pelo método de Penman-Monteithe de acordo com o coeficiente da cultura (Kc) de cana-de-açúcar. A irrigação, do tipo gotejamento, foi realizada através da instalação de seis mangueiras de 3,5m de comprimento, com gotejadores a cada 20cm, em toda a sua extensão. O turno de rega foi a cada três dias ou quando a soma da evapotranspiração da cultura chegasse a 50% do total de água disponível no solo. A determinação da área foliar, do diâmetro dos colmos, da altura das plantas e a posterior medição da massa de matéria seca foram realizadas no período de crescimento e maturação dos colmos. Ao final do experimento foi reali-
CANA NO BRASIL
N
o Brasil, a cultura de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) é de grande importância, tanto econômica como ambiental. Atualmente ocupa mais de 9,9 milhões de hectares, com produção de aproximadamente 700 milhões de toneladas. Destaque para São Paulo com maior área e produção no País (5,4 milhões de hectares e 400 milhões de toneladas, respectivamente). Para a safra de 2015/2016 estima-se aumento aproximado de 12,2 milhões de hectares, com produção de 902,8 milhões de toneladas de cana processada. Se estes valores se confirmarem, em poucos anos o País será o líder mundial na produção de energia limpa e renovável. zada a colheita, em 8/4/2015, todas as plantas foram pesadas e a produtividade calculada em toneladas por hectare (t/ha). Os dados da Tabela 1 apresentam as lâminas d’água mensais recebidas em cada tratamento, e a precipitação em seus respectivos meses de ocorrência. A quantidade total de água recebida das chuvas ocorridas foi de 882,30mm, possibilitando o desenvolvimento da cultura no tratamento T2 (testemunha, não irrigada). Nota-se que o tratamento T1 (irrigado) apresentou as maiores quantidades de lâmina d’água pela irrigação nos meses iniciais de crescimento e desenvolvimento da cultura (agosto: 124,65mm, setembro: 93,03mm e outubro: 137,98mm). Nestes meses houve limitações da precipitação pluvial para o ano de 2014, seguidas de grande período de seca
B Figura 1 - Fase de perfilhamento da cana-de-açúcar, irrigada (A) e não irrigada (B), cultivada na área experimental do Departamento de Engenharia Rural da FCAV/Unesp. Jaboticabal, SP, 2014
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Figura 2 - Altura da parte aérea (A), em cm; Diâmetro dos colmos (B), em mm; Índice da área foliar (C), em cm2, e Massa de matéria seca (D), em gramas, para os tratamentos T1 (irrigado) e T2 (testemunha, não irrigado). Jaboticabal, SP, 2014/2015
A
B
C
D
e altas temperaturas na região. A falta de água para a cultura no período de perfilhamento afeta os tecidos imaturos da planta e acaba prejudicando os processos de armazenamento de açúcar. Por isso, o uso da irrigação complementar vem sendo adotado cada vez mais pelos produtores devido à queda na produção, seja em regiões semiáridas ou em períodos de intenso estresse hídrico. Segundo dados apresentados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA/2015) e o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC/2015), a falta de água na safra de 2013/2014 provocou danos severos à cultura de cana-de-açúcar, com quedas superiores a 25% na produtividade. Essa diminuição se deve a áreas que mais sofreram por conta da falta de chuvas e ao aumento das temperaturas médias máximas que registraram aumento superior a 5% em relação às safras anteriores. Na Figura 2 (A, B, C e D), para o tratamento T1 (irrigado) nota-se que houve maior desenvolvimento da cana-de-açúcar em relação ao T2 (testemunha, não irrigado), devido à resposta da cana-de-açúcar ao manejo da irrigação. O crescimento em altura no tratamento T2 (Figura 2 A) foi afetado pela ocorrência da limitação no suprimento de água e de variações na temperatura do dossel, assim como os colmos (Figura 2 B), que são compostos por nós e entrenós bem marcados e se localizam acima do solo, tendo como principais funções a sustentação das folhas e das panículas, condução de água e nutrientes do solo às folhas e o armazenamento de açúcares. Em relação ao
índice de área foliar (Figura 2 C) e à massa de matéria seca das folhas (figura 2 D), ao sofrer estresse hídrico a cultura de cana-de-açúcar apresenta algumas modificações específicas como a queda de folhas verdes e porcentagem diminuta da área foliar. A Figura 3 apresenta os dados de produtividade média da cana-de-açúcar, para cada tratamento, em toneladas por hectare (t/ha). Observa-se que o tratamento T1 (irrigado) foi o que apresentou maior produtividade (107,1t/ha1), enquanto o T2 (testemunha, não irrigado) obteve menor produtividade (63,1t/ha), cerca de 58% a menos que a irrigada. Estes dados indicam que a falta de água, aliada ao estresse hídrico para a cultura de cana-de-açúcar, principalmente nas fases de brotação e perfilhamento, causa redução na produtividade.
É possível concluir que o manejo da irrigação afeta o desenvolvimento da cana-de-açúcar, influenciando em seus aspectos fisiológicos ao longo de todo o ciclo produtivo e também depois do corte. A irrigação complementar ou suplementar da cana-de-açúcar é uma ferramenta que vem cada vez mais sendo utilizada para promover a verticalização da produção canavieira. Principalmente devido à incorporação de novas áreas agrícolas em crescente expansão, sobremaneira as que apresentam maiores variações ambientais, como a deficiência hídrica, o que acaba influenciando na produtividade e qualidade C das lavouras. Rodrigo Garcia Brunini e José Eduardo Pitelli Turco, FCAV/Unesp
Figura 3 - Produtividade de cana-de-açúcar, em t/ha, para os tratamentos T1 (irrigado) e T2 (testemunha, não irrigado). Jaboticabal, SP, 2014/2015
18 Setembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
CAPA
Desde o início
Charles Echer
Utilizar sementes de qualidade e tratá-las com fungicidas é medida indispensável para garantir bons resultados no cultivo de algodoeiro. De fácil execução esta ferramenta é relativamente barata quando avaliados os benefícios que proporciona aos cotonicultores, como prevenir a infestação ou reinfestação de áreas com doenças que limitam a cultura
A
cotonicultura brasileira apresenta-se atualmente com um novo modelo produtivo, em que são utilizados altas tecnologias, investimento em qualidade de fibra e semeadura em extensas áreas. Esse modelo produtivo tem sido empregado nas diversas regiões produ-
toras de algodão do país. No entanto, apesar dessa revolução tecnológica, a cotonicultura passa por problemas fitossanitários sérios de relevância econômica, principalmente quando se trata da qualidade das sementes de algodoeiro. Portanto, é importante que os cotonicultores conheçam a procedência
22 Setembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
do material a ser utilizado na propriedade e também procurem adquirir os lotes de sementes de produtores/empresas idôneos, pois sua qualidade sanitária é fundamental no estabelecimento da lavoura. O uso de sementes sadias e/ou tratadas com fungicidas torna-se necessário e indispensável para
o controle adequado de inúmeras doenças, cujos agentes causais são transmitidos por sementes. A utilização de sementes tratadas com fungicidas é considerada o meio mais econômico e seguro para controlar os patógenos que são transmitidos por sementes, proporcionando o menor uso de defensivos na lavoura. Os fungos são os principais agentes fitopatogênicos que podem associar-se às sementes de algodoeiro, os quais, se não controlados, podem causar redução de rendimento da lavoura e prejuízos econômicos ao produtor, seja na fase inicial e/ou durante o ciclo da cultura no campo. Os principais agentes etiológicos da parte aérea que podem estar associados às sementes de algodoeiro são Alternaria spp., Ascochyta gossypii, Colletotrichum gossypii, Colletrotrichum gossypii South var. cephalosporioides Costa, Corynespora cassiicola, Lasiodiplodia theobromae, Myrothecium roridum, Sclerotinia sclerotiorum, Sclerotium rolfsii e a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum. Os agentes etiológicos presentes no solo que afetam as raízes e o sistema vascular da planta e são transmitidos por sementes são Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum, Fusarium sp., Macrophomina phaseolina, Rhizoctonia solani, Verticillium albo-atrum e
Luiz Gonzaga Chitarra
Sementes tratadas com fungicida (à esquerda) e material com ausência de tratamento (direita)
Verticillium dahliae. Existem também organismos que causam deterioração das sementes em armazenamento que são veiculados às sementes de algodoeiro, como exemplos, Aspergillus flavus, Aspergillus glaucus, Aspergillus candidus, Aspergillus ochraceus e também várias espécies de Penicillium. Esses fungos podem ser transportados em mistura com as sementes, como parte da fração impura do lote, destacando-se principalmente os escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, ou também estar presentes no interior das sementes, como por exemplo as
espécies pertencentes aos gêneros Fusarium e Colletotrichum. A importância e os objetivos de controlar os patógenos nas sementes de algodoeiro com a utilização de fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Tabela 1) antes da implantação da lavoura ou da semeadura no campo são erradicar ou reduzir, aos mais baixos níveis possíveis, os fungos presentes nas sementes; proporcionar proteção às sementes e plântulas contra fungos de solo; prevenir a transmissão e disseminação de inóculo por
em diferentes regiões do país, têm demonstrado que os fungicidas atualmente disponíveis para tratamento de sementes de algodoeiro (pertencentes ao grupo dos protetores e dos sistêmicos) têm controlado de forma variável o complexo de fungos associados às sementes desta cultura. Os mais utilizados são aqueles com ingrediente ativo à base de captana, tiram, carboxina, carbendazim, fludioxonil, metalaxil, triadimenol, pencicurom, tiofanato metílico, azoxistrobina, flutriafol, difeconazol, quintozeno e procimidona. A combinação de dois ou três fungicidas sistêmicos com protetores, em que cada produto é efetivo contra um fungo específico, tem proporcionado maior espectro de ação no controle destes fungos nas sementes e no solo, em comparação ao uso isolado de um determinado fungicida. Estratégia eficaz no controle de maior número de patógenos presentes nas sementes e/ou no solo tem sido a combinação de fungicidas com diferentes espectros de ação, além de evitar, em grande parte, o surgimento de populações resistentes entre os patógenos e garantir um estande ideal de plantas, em diversas situações. Portanto, o tratamento das sementes com fungicidas tem sido, até o momento, a principal medida adotada e a opção mais econômica para minimizar os efeitos negativos dos patógenos que são veiculados por sementes. Trata-se de uma medida de fácil execução, relativamente barata quando avaliada a relação custo/ benefício e que vem ao encontro da necessidade de se racionalizar o uso de produtos químicos na agricultura. Dessa maneira, em função do seu baixo custo e em vista dos benefícios que proporciona, é imprescindível a sua utilização. Julga-se oportuno salientar que, principalmente quando se trata de algodoeiro, o tratamento de sementes com fungicidas faz-se necessário e até mesmo indispensável, evitando-se a infestação ou reinfestação de áreas com doenças. C Luiz Gonzaga Chitarra, Embrapa Algodão Gilma Silva Chitarra, IFMT – Campus Sinop
Patógeno Aspergillus spp.
Colletotrichum gossypii
Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides
Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum
Lasiodiplodia theobromae
Penicillium spp.
Rhizoctonia solani
Ingrediente Ativo (grupo químico) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Captana (dicarboximida) Captana (dicarboximida) Carbendazim (benzimidazol) + Tiram (dimetilditiocarbamato) Carbendazim (benzimidazol) Captana (dicarboximida) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Captana (dicarboximida) Captana (dicarboximida) Captana (dicarboximida) Carbendazim (benzimidazol) Tiofanato-metílico (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Azoxistrobina (estrobilurina) + fludioxonil (fenilpirrol) + metalaxil – M (acilalaninato) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Azoxistrobina (estrobilurina) + fludioxonil (fenilpirrol) + metalaxil – M (acilalaninato) Flutriafol (triazol) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carbendazim (benzimidazol) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato Captana (dicarboximida) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Triadimenol (triazol) Captana (dicarboximida) Captana (dicarboximida) Carbendazim (benzimidazol) + Tiram (dimetilditiocarbamato) Azoxistrobina (estrobilurina) + fludioxonil (fenilpirrol) + metalaxil – M (acilalaninato) Fludioxonil (fenilpirrol) Pencicurom (feniluréia) Captana (dicarboximida) Tiram (dimetilditiocarbamato) Tiram (dimetilditiocarbamato) Difeconazol (triazol) Procimidona (dicarboximida) Quintozeno (cloroaromático) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato) Carboxina (carboxanilida) + tiram (dimetilditiocarbamato)
meio de sementes e promover a uniformidade na germinação e na emergência das plântulas de algodoeiro. Esses fungicidas, no entanto, devem ser tóxicos aos patógenos
Dose do produto comercial (p.c) 400-500g/100kg sementes 400-500ml/100kg sementes 350ml/100kg sementes 350ml/100kg sementes 600ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 240-300g/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 350ml/100kg sementes 160g/100kg sementes 80ml/100kg sementes 100ml/100kg sementes 300ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 100ml/100kg sementes 300ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 400-500g/100kg sementes 400-500ml/100kg sementes 100ml/100kg sementes 100ml/100kg sementes 100-300ml/100kg sementes 150ml/100kg sementes 400-500ml/100kg sementes 500g/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 80ml/100kg sementes 400-500ml/100kg sementes 400-500g/100kg sementes 350ml/100kg sementes 400-500g/100kg sementes 400-500ml/100kg sementes 200ml/100kg sementes 350ml/100kg sementes 220g /100kg sementes 600ml/100kg sementes 200-300ml/100kg sementes 200ml/100kg sementes 300ml/100kg sementes 240-300g/100kg sementes 560ml/100kg sementes 560ml/100kg sementes 33,4ml/100kg sementes 150-300g/100kg sementes 300-600g/100kg sementes 500g/100kg sementes 400-500ml/100kg sementes
e não podem ter ação tóxica às sementes. O tratamento de sementes é uma das principais medidas para o controle integrado de doenças. Estudos recentes, conduzidos
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Divulgação
Tabela 1 - Principais fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o tratamento de sementes de algodoeiro. Maio 2015
Chitarra e Gilma apontam benefícios do tratamento de sementes
PRAGAS
Silenciosos e daninhos
Dichelops melacanthus / Jovenil J. Silva
Enquanto os agricultores se mantêm preocupados com lagartas e outros insetos desfolhadores que causam sintomas impactantes e fáceis de visualizar, os percevejos têm atacado seriamente as lavouras de soja e milho. Muitas vezes pouco notados pelos produtores, esses insetos estão entre as pragas de mais difícil controle no sistema produtivo e que ganham maior importância a cada ano
A
tualmente, o manejo do complexo de percevejos que ataca as vagens, causa dano nos grãos da soja na safra de verão e depois migra para o milho safrinha, sugando as plântulas recém-emergidas é o principal desafio do manejo integrado de pragas (MIP) nessas culturas. A pouca diversidade de inseticidas registrados com diferentes modos de ação, a resistência comprovada de populações da praga a alguns inseticidas, a deficiência na tecnologia de aplicação e o uso equivocado de inseticidas, devido ao abandono da amostragem e dos níveis de ação, estão entre as principais causas da ocorrência de altas infestações da praga nas lavouras de soja e milho nas últimas safras. Manejar corretamente o percevejo não significa aplicar com maior frequência ou antecipadamente os inseticidas. Pelo contrário, o uso abusivo do controle químico apenas agrava o problema com a praga. Para contrapor essa situação, técnicos e produtores devem estar conscientes de que a base para a tomada de decisão de utilizar ou não os químicos está no monitoramento criterioso da densidade populacional do inseto, procurando-se abolir as aplicações pré-agendadas - os famosos calendários - e as aplicações “carona”, bastante comuns na dessecação de plantas infestantes e/ou no controle de doenças, quando se junta um inseticida ao herbicida ou mesmo em mistura com o fungicida, sem adotar qualquer critério técnico. Há uma grande diversidade de espécies de percevejos que atacam a soja durante a safra de verão. Muitos desses insetos migram para a cultura do milho quando a soja está sendo colhida. Sugam as plântulas de milho, podendo levá-las à morte dependendo da intensidade e da fase de desenvolvimento da cultura em que o ataque ocorre. Entre as espécies de percevejos mais comuns e importantes nesse sistema produtivo, estão o percevejo-marrom (Euschistus heros) e o percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus ou D. furcatus). O percevejo-marrom, praga-chave da soja, prejudica essa cultura sugando as vagens em desenvolvimento. O período de desenvolvimento da soja entre a fase de “canivetinho” (R3) e o final do enchimento de grãos (R6) é o mais crítico aos danos desse inseto sugador. Entretanto, devido às grandes populações que normalmente ocorrem no final do verão, estes insetos têm também atacado a cultura do milho em início de desenvolvimento. Maior risco de danos ocorre no milho semeado mais cedo (até meados de fevereiro), quando o percevejo-marrom ainda está bastante ativo.
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No milho, o percevejo-marrom é usualmente menos prejudicial, quando comparado ao percevejo barriga-verde. É comum observar vários adultos do percevejo-marrom agregados nas folhas de plantas de milho mais desenvolvidas. Esses percevejos, entretanto, não estão causando danos às plantas. Além da presença dos percevejos no milho deve-se observar também o comportamento desses insetos. Isso é importante porque em algumas situações, o percevejo-marrom pode atacar o colmo do milho, semelhantemente ao hábito do percevejo barriga-verde, e assim causar danos similares, inclusive matando a planta e reduzindo o estande inicial. Diferentemente do percevejo-marrom, o barriga-verde é hoje conhecido como praga-chave do milho. Este inseto tem sua população em crescimento já na fase final do desenvolvimento da cultura da soja (antecedendo o milho). Entretanto, como sua ocorrência na soja é quase sempre no final do desenvolvimento da cultura (R7 ou R8), o mesmo usualmente não causa injúrias importantes na soja e, portanto, seu controle isoladamente não é necessário nessa cultura. Entretanto, durante todo o período reprodutivo da soja esse percevejo é monitorado e deve ser computado junto com as demais espécies de percevejos sugadores para a tomada de decisão de controle. Atualmente, altas populações de percevejos estão chegando com maior intensidade e mais cedo nas lavouras de soja e milho. Isto tem levado os agricultores a aumentar o uso de inseticidas, muitas vezes sem obter resultados satisfatórios. Esse uso abusivo de inseticidas tem apenas agravado o problema com essas pragas, além de representar um gasto desnecessário ao produtor. Por isso conhecer a praga e respeitar as recomendações técnicas para seu manejo são cruciais para o sucesso no manejo.
O PERCEVEJO NA SOJA
Embora os percevejos ocorram desde o período vegetativo da soja, podendo nessa fase até sugar a planta em busca de água, não causam qualquer redução na produtividade, pois os grãos ainda não estão formados. O grande potencial de dano do percevejo na soja ocorre quando essa praga se alimenta diretamente dos grãos. Por isso, o MIP-Soja considera que seu controle deve ser realizado quando atingir o nível de ação. No caso de lavouras para produção de grãos esse nível é de dois percevejos maiores de 0,3cm, sejam ninfas e/ou adultos de todas as espécies fitófagas, por metro de fileira de plantas (pano de batida). Quando a lavoura for para produção de sementes, o
nível de ação passa a ser de um percevejo cimento indeterminado, mostram que os (ninfas e/ou adultos de todas as espécies níveis de ação recomendados continuam fitófagas). O período mais crítico aos da- confiáveis, indicando o melhor momento nos dos percevejos e ideal para o controle para o sojicultor começar a aplicação de desses insetos-praga está entre os estádios inseticidas. de desenvolvimento R3 e R6. Portanto, aplicações para controle de percevejos na O PERCEVEJO NO MILHO soja antes de R3 não são necessárias. No O percevejo barriga-verde, tido como período após o R6, além da densidade praga secundária na cultura da soja, vem populacional de percevejos, outros parâ- nos últimos anos crescendo em impormetros como a colheita das lavouras do tância na cultura do milho. Duas espécies entorno, tempo para a colheita, tamanho têm sido associadas ao milho, Dichelops da área, período chuvoso etc precisam furcatus, mais comum no Sul do Brasil, também ser observados, especialmente se a e D. melacanthus, predominante nas lavoura é para produção de sementes, pois demais regiões produtoras. Esta última situações de elevados níveis populacionais se diferencia por apresentar os espinhos de percevejos, muitas vezes comuns nesse do pronoto negros, enquanto na outra período, poderão afetar negativamente a são amarronzados. As duas espécies são qualidade. igualmente daninhas e injetam toxinas no Infelizmente, a busca incessante pelo colo das plântulas durante o processo de aumento da produtividade, associada aos alimentação. Sendo uma praga inicial, tem bons preços pagos pela soja e ao baixo prejudicado significativamente o milho na custo de muitos inseticidas, tem levado os implantação da cultura, seja reduzindo produtores a questionarem a validade dos o estande ou prejudicando o vigor das níveis de ação recomendados pela pesquisa plântulas, provocando o perfilhamento das para o controle de percevejos. Essa dúvida, plantas. Maiores danos têm sido verificaassociada à redução do número de técnicos dos quando coincide uma alta incidência da assistência técnica oficial, contribuiu da praga, com períodos de estiagem. Essa para que muitos produtores abandonassem praga utiliza a palhada como local de abrio MIP, passando a aplicar os inseticidas go, sobrevivência e multiplicação. A sucesna soja para controle de percevejos junto são continuada de soja/milho ou soja/trigo com os fungicidas na fase reprodutiva, favorece o desenvolvimento destes insetos. sem qualquer amostragem da população Durante a colheita da soja, os grãos caídos de pragas e a devida comparação com o ao solo, associados à presença de ervas nível de ação. Isso tem sido feito inclusive daninhas, particularmente a trapoeraba, na tentativa de aproveitar a operação agrí- têm favorecido o aumento de populações cola que está sendo realizada. Com essa desse percevejo, por constituírem excelente aplicação errônea de inseticidas realizada alimento na entressafra. Portanto, reduzir junto (“na carona”) dos fungicidas e não as perdas na colheita da soja e manter a mais no momento apropriado (que é o nível área livre de plantas infestantes também de ação), o controle de percevejos na soja constituem fatores de relevância na regutem gerado resultados desastrosos. Nesse lação da população do inseto. contexto, é importante salientar que apesar A situação atual de altas populações dos questionamentos sobre a necessidade exige mudanças no manejo, sendo necessáde controle antecipado de percevejos na rio considerar o controle no sistema como soja, resultados recentes de pesquisa, com um todo. É preciso melhorar o controle cultivares de soja de ciclo precoce e cres- desses percevejos nos cultivos que anteFigura 1 - Escala de notas de injúrias do percevejo-barriga-verde
* Maior certeza de recuperação dos danos ocorre quando se têm chuvas regulares e adubação nitrogenada complementar
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Tabela 1 - Recomendações gerais para o manejo de percevejos no sistema produtivo soja e milho Na soja •Utilizar inseticidas para percevejos apenas entre os estádios R3 (início das primeiras vagens) e R6 (final do enchimento de grãos) em lavouras de produção de grãos; •Respeitar os níveis de ação (dois percevejos ≥0,3cm por pano de batida, para soja destinada a grãos ou um percevejo ≥0,3cm, para soja destinada a semente), pois são confiáveis, inclusive para as cultivares precoces e de crescimento indeterminado; •Sempre fazer a rotação de inseticidas utilizando produtos de diferentes modos de ação; •Preservar o uso das misturas (neonicotinoides + piretroides), do acefato ou de outro produto indicado para controle de percevejos apenas para uso no período reprodutivo da soja para o controle dessa praga. Isso reduz a pressão de seleção para percevejos resistentes a esses inseticidas e preserva sua ação para o controle dessa praga por maior tempo. •Evitar as pulverizações em horários de alta temperatura e/ou baixa umidade relativa. No milho •Em áreas com presença de plantas daninhas, deve-se aplicar um dessecante sete a dez dias antes da semeadura; •Realizar o tratamento de sementes, quando encontrar acima de um a dois insetos por m2 de palhada; •Os produtos para tratamento de sementes são altamente solúveis, portanto, em situações de muita chuva imediatamente após a semeadura até os dez dias da emergência, a atenção deve ser redobrada; •Após a emergência do milho (dois-três dias) avaliar a lavoura e, se encontrar um percevejo vivo/dez plantas, realizar pulverização complementar; •Reavaliar cinco-sete dias depois. Encontrando novamente um percevejo vivo/dez plantas, reaplicar; •Usar bico cone ou duplo leque espaçados de 50cm, com vazão de 150L/ha ou mais. A altura da barra não deve passar dos 50cm do solo; •Em função do comportamento do percevejo e do período de maior exposição, aplicar das 7h-13h e das 16h-19h, evitando os horários de alta temperatura; •Evitar aplicações em dias frios e/ou com baixa umidade relativa; •Áreas com histórico de altas infestações: realizar manejo de população no sistema produtivo; •Nunca esperar o aparecimento dos sintomas de dano para controlar a praga, pois poderá já ser tarde; •Prover boa nutrição do milho. O nitrogênio ajuda na recuperação das plantas com sintomas de dano.
com os neonicotinoides, leva vantagem por ser mais eficiente e por ser seletivo aos inimigos naturais. Para decidir pelo tratamento de sementes do milho, deve-se levar em conta o histórico de ocorrência do inseto na propriedade e o monitoramento da palhada,
Jovenil J. Silva
cedem o milho safrinha, principalmente durante a safra da soja. Tratar as sementes de milho com produtos de alta solubilidade e ação sistêmica (neonicotinoides) pode apresentar bons resultados no controle da praga. Entretanto, a melhor eficiência dos produtos está condicionada à utilização correta da dose recomendada. Atualmente existe no mercado grande diversidade no tamanho das sementes de milho, por isso a dosagem deverá ser recomendada por número de sementes (60 mil sementes) e não mais pelo peso, como anteriormente. Quanto ao controle do percevejo via pulverizações, é preciso estar atento ao momento mais adequado para efetuá-las. Pulverizações atrasadas, ou seja, depois dos 10-15 dias de idade da planta, podem tornar ineficaz o controle. Nesse caso, mesmo havendo o controle do percevejo, nada impede o aparecimento do dano, pois a toxina que o inseto injetou anteriormente já está na planta, e o dano aparece depois. O ideal é que o monitoramento se dê logo nos primeiros dias da emergência do milho e o controle realizado sempre que atingir o nível de ação. Não é recomendável pulverizações em milho depois dos 15-20 dias de idade e/ou quando a planta atingir espessura de colmo acima dos 1,5cm. Comparando-se os dois sistemas de controle, o tratamento das sementes,
pouco antes da semeadura do milho. Pulverizações complementares somente poderão ser necessárias após monitoramento depois da emergência do milho. Muitas vezes, por falta de informação, produtores decidem pela ressemeadura do milho com base na porcentagem de plantas com danos, sem levar em conta os diferentes graus de injúria que o inseto provoca. As informações na Figura 1 buscam subsidiar técnicos e produtores na hora da tomada de decisão. Somente seria justificável a ressemeadura nas situações de morte de plantas e pelo menos 60% – 70% das plantas com notas 3 ou 4, associada a clima desfavorável.
PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO
O percevejo-marrom, Euschistus heros, é uma das espécies mais comuns e importantes que incidem em soja e em milho
É verdade que ainda é preciso melhorar o manejo do complexo de percevejos focado no sistema produtivo. Entretanto, existem algumas recomendações que podem ser realizadas e que, quando seguidas, permitem um bom manejo da praga e uma convivência aceitável, reduzindo os custos de produção e maximizando a lucratividade do produtor. As principais recomendações a serem seguidas pelos agricultores no manejo dos percevejos na soja e milho estão C resumidas na Tabela 1. Adeney de Freitas Bueno, Beatriz S. Corrêa-Ferreira e Samuel Roggia, Embrapa Soja Rodolfo Bianco, Iapar
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MILHO
Voluntário indesejado
Fotos Aline Almeida Gonçalves, Ednaldo Rogério de Oliveira Marinho e Gizelly Santos
Cultura extremamente importante para o agronegócio brasileiro, o milho pode se transformar em vilão quando grãos remanescentes da colheita germinam e passam a competir com o cultivo seguinte por espaço, água, luz e nutrientes. O uso de herbicidas à base de haloxyfopmethyl é uma alternativa para tornar mais rápido o controle destas plantas tigueras
A
tualmente no agronegócio brasileiro a cultura do milho perde apenas para a soja, sendo a segunda mais cultivada. De acordo com o décimo primeiro levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em agosto de 2015, a consolidação da produção brasileira do milho, reunindo as duas safras, aponta para 84.304,3 toneladas, o que representa acréscimo de 5,3% em relação à produção passada. Parte da produção total é exportada principalmente para a Ásia. Ainda de acordo com o levantamento da Conab (2015), estima-se que de agosto de 2015 a janeiro de 2016 o país irá exportar uma média de 3,5 milhões de toneladas/mês, totalizando o volume de 25 milhões de toneladas. A outra parte da produção total tem como destino o consumo nacional, que tem aumentado nos últimos anos devido à maior demanda por confinamento de animais no país e ao uso de milho
para produção de etanol no Mato Grosso, que passa a ser um novo agente demandante do grão no mercado nacional. Entretanto, a cultura do milho pode passar de “mocinho” da história a “vilão” em pouco tempo, ou seja, é importante para o agronegócio brasileiro, porém, após a sua colheita, os grãos que ficaram na área germinam, e então o milho passa a atuar como planta daninha (planta guaxas, voluntárias ou tigueras) para a cultura seguinte. Se mal controlado pode trazer prejuízos acima de 70% na produção da soja, devido à competição por água, luz, nutrientes e espaço. Vale ressaltar que toda planta daninha traz enormes prejuízos se não manejada corretamente. Para evitar perdas de produção na cultura seguinte, devido à competição com as plantas daninhas, a aplicação de herbicidas é excelente ferramenta. Para o controle do milho voluntário o cenário é o mesmo.
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Existem atualmente no mercado produtos seletivos que podem ser aplicados na pós-emergência da soja e que proporcionam excelente controle do milho tiguera resitente ao glifosato (RR). No entanto, estes produtos estão restritos a um único mecanismo de ação que são os inibidores da enzima acetil coenzima A carboxilase (ACCase). A enzima ACCase é responsável pela catalisação das reações de síntese dos ácidos graxos. Com a inibição dessa enzima, interrompe-se o processo de formação dos lipídios. Como consequência, fica comprometido o processo de liberação de energia através da quebra do ATP, levando a planta à morte. Todos os herbicidas conhecidos como graminicidas pós-emergentes encontrados atualmente no mercado são inibidores da ACCase. Entretanto, o aparecimento dos sintomas de clorose seguida de necrose na planta pode demorar de uma semana a três semanas, dependendo da escolha do graminicida. Em geral, entende-se que um bom herbicida é aquele que controla as plantas daninhas de forma rápida e evita os prejuízos pela competição por água, nutrientes, luz e espaço. No caso do milho tiguera RR, a escolha do graminicida é fundamental, pois não basta apenas paralisar o crescimento da planta tiguera na primeira semana e ter um controle efetivo na terceira ou quarta semana após a aplicação, pois se o milho tiguera continuar sombreando a soja, a competição por luz e espaço trará grandes prejuízos à produção de soja. Os principais herbicidas graminicidas encontrados no mercado são baseados nos seguintes ingredientes ativos: haloxyfop-methyl, cletodim, quizalofop-p-tefuryl. O tempo para aparecer os sintomas e controlar de forma efetiva as plantas de milho tiguera RR pode variar entre os três princípios ativos citados. Geralmente, herbicidas à base de haloxyfop-methyl proporcionam o combate mais rápido do milho tiguera, podendo ser observado o controle efetivo após dez dias da aplicação. O herbicida haloxyfop-methyl também pode ser encontrado no mercado com o nome comercial de Verdict - R. Sua aplicação é recomendada quando as plantas daninhas
Cletodim
Logo aos 8 DAA notam-se severos sintomas de necrose, semelhante à aplicação de outros graminicidas. Aos 12 DAA as plantas de milho RR tiguera já encontram-se caídas no solo. Este efeito é importante para evitar a competição por luz e espaço.
Sintomas de necrose aparecem rápido aos 8 DAA, porém as plantas continuam eretas e firmes aos 12 DAA, sombreando o solo. Isso pode provovar alta competição com a cultura por luz e espaço.
8 dias após a aplicação (8 DAA)
Haloxyfop-methyl
12 dias após a aplicação (12 DAA)
se encontram em adequado estado de vigor vegetativo, evitando-se períodos de estiagem, horas de muito calor e umidade relativa do ar inferior a 60%. O produto apresenta translocação via floema e acumula-se nos meristemas. Haloxyfop-methyl é um herbicida seletivo recomendado para o controle de plantas daninhas de folhas estreitas nas culturas da soja, do algodão e do feijão, em aplicação em pós-emergência (Rodrigues & Almeida, 2011). Sua formulação é a do tipo concentrado emulsionável (EC) e a atual composição possui 124,7g ia/L (ingredientes ativos). A adição de óleo mineral à calda na proporção de 1% v/v é recomendada para possibilitar melhor distribuição das gotículas na superfície foliar, melhor absorção e penetração do produto. Para ser observada máxima performance dos inibidores da ACCase, não se deve associar graminicidas com produtos à base de 2,4-D. Segundo Trezzi et al (2007), tal prática pode provocar efeito antagônico do 2,4-D sobre a ação de graminicidas inibidores da ACCase. Para que isso não ocorra é necessário intervalo de pelo menos cinco dias C entre as aplicações. Luiz Henrique Zobiole, Gizelly Santos, Bruno Cavenaghi, Marcus Fiorini e Ricardo Hendges, Dow AgroSciences (CPR&D)
MILHO
Inoculação efetiva
Cultivar
Altamente exigente em nitrogênio, a cultura do milho encontra na inoculação com Azospirillum brasilense importante ferramenta para a nutrição das plantas e redução de custos com adubação nitrogenada
A
adubação básica foi calculada de acordo com a análise de solo. As variáveis analisadas foram altura de planta, diâmetro, número de folhas, altura de inserção da espiga, tamanho da espiga, diâmetro da espiga, quantidade de linha por espiga comparados com número de grãos por linha, peso de grãos por planta, peso de 100 grãos e produção final. As avaliações de altura, diâmetro basal da haste (4cm do solo) e número de folhas foram efetuadas semanalmente após a emergência, com régua graduada, paquímetro digital e contagem visual, respectivamente. Os dados foram submetidos à analise de variância, e comparação de médias utilizando o programa estatístico Statical Analysis System (SAS). Os resultados obtidos podem ser
observados na Tabela 2 em relação à altura de plantas. A cultura do milho tem capacidade para responder de forma diferente às aplicações de nitrogênio. Com isso, pode-se utilizar e escolher diferentes tipos e variedades de genótipos de milho para se desenvolver uma cultivar de milho que possua maior possibilidade de absorção de nitrato ou amônia, que podem vir de diferentes fontes (Purcino et al, 1990), (Magalhães et al, 1993). É possível observar na Figura 1 que não houve diferença significativa em relação ao nível de 1% de probabilidade quanto à altura de plantas. Mas ocorreu alteração em relação ao nível de 5%. Verificou-se uma homogeneidade entre os tratamentos e uma tendência para o tratamento T7 (50kg de N/ha + C/
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Az + C/Ts) que apresentou em média 232cm de altura. Esta diferença se deu por conta da adubação, pois não houve aplicação de alta dose de nitrogênio. Tal diferença também pode ser explicada pela inoculação das sementes com Azospirillum, o que gerou maior fixação de nitrogênio no solo e consequentemente o milho apresentou aumento de desenvolvimento aéreo e de seu sistema radicular. O resultado que gerou média menos expressiva foi o tratamento T3 (50kg de N/ha + C/Az + C/Ts) com altura média de 194cm, o que pode ser atribuído à falta da aplicação de nitrogênio no leito de plantio. Diante dos dados oferecidos pela Tabela 3, observa-se resultado significativo apenas quanto ao efeito de blocos com relação à altura de plantas, sendo rele-
Figura 1 - Altura média de plantas de milho em Kg/ha em função dos diferentes tratamentos aplicados. 1- 0Kg de N/ha; 2-50Kg de N/ha; 3-100Kg de N/ha; 5-150Kg de N/ha; 6-200Kg de N/ha; 5-250Kg de N/ha.
Tabela 1 – Tratamentos utilizados na implantação do experimento. Sendo: C/AZ – Com Azospirillum; S/AZ – Sem Azospirillum; C/Ts – Com Tratamento de semente (Fungicida); S/Ts – Sem tratamento de semente. Doses de Nitrogênio: 0- 0Kg de N.ha-1; 1- 50Kg de N.ha-1; 2- 100Kg de N.ha-1; 3- 150Kg de N.ha-1; 4- 200Kg de N.ha-1; 5- 250 Kg de N.ha-1 Tratamentos
vante ao nível de 5% de probabilidade (. 01 =< p < .05). Dentre os blocos o melhor nível de significância foi o número 2. Tal efeito pode ser atribuído à sua localização dentro da estufa de vegetação. Na cultura do milho, para se alcançar altos rendimentos as plantas têm de estabelecer grande capacidade fotossintética, não só quando surgem as primeiras folhas, mas desde a formação das sementes até o enchimento de grãos. Grande parte do nitrogênio da folha associa-se ao cloroplasto e sua capacidade de fotossíntese gira em torno de 60% de nitrogênio total das folhas. Com o passar do tempo e do envelhecimento foliar a capacidade de produção de clorofila diminui, gerando grande diminuição dos associados responsáveis pelo suprimento de enchimento de grãos. Essa redução ocorre principal-
mente nas folhas que possuem menor quantidade de nitrogênio, causando espigas menores e com média de grãos muito abaixo do esperado para uma espiga com alta produtividade (Lara Cabezas et al, 2002). Na Figura 2 observa-se que não houve diferença significativa em produtividade em relação às doses de nitrogênio aplicadas no leito de plantio. Tal efeito pode ter se dado devido à inoculação das sementes com Azospirillum e com o tratamento de sementes com fungicida Fipronil. Com o intuito de aumentar os resultados, uma boa opção seria a utilização de inoculantes de sementes como o Azospirillum, que são bactérias de vida livre (Boddey & Döbereiner, 1995) que auxiliam na fixação de nitrogênio atmosférico no solo, aumentando sua produtividade.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Doses de Nitrogênio 0 0 0 0 50 50 50 50 100 100 100 100 150 150 150 150 200 200 200 200 250 250 250 250
Azospirillum S/Az C/Az C/Az S/Az S/Az C/Az C/Az S/Az S/Az C/Az C/Az S/Az S/Az C/Az C/Az S/Az S/Az C/Az C/Az S/Az S/Az C/Az C/Az S/Az
Tratamento de Sementes C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts C/Ts S/Ts
O nitrogênio, por ser o principal mineral absorvido pela planta em qualquer estágio de crescimento, influencia nos principais fatores que limitam uma boa produção na cultura do milho como o sistema radicular. Diversos trabalhos relativos às bac-
Tabela 2 - Resultado da analise de variância dos tratamentos em relação a altura de plantas de milho. -- Os tratamentos são quantitativos. O Teste F não se aplica ** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01); * significativo ao nível de 5% de probabilidade (.01 =< p < .05) ; ns não significativo (p >= .05) FV Fator1(F1) Fator2(F2) Fator3(F3) Int. F1xF2 Int. F1xF3 Int. F2xF3 Int.F1x2x3 Tratamentos Blocos Resíduo Total
GL 5 1 1 5 5 1 5 23 4 92 119
SQ 2605.56667 48.13333 100.83333 3122.46667 1074.96667 374.53333 1859.46667 9185.96667 6254.70000 55023.70000 70464.36667
QM 521.11333 48.13333 100.83333 624.49333 214.99333 374.53333 371.89333 399.38986 1563.67500 598.08370
F 0.8713-0.0805 ns 0.1686 ns 1.0442 ns 0.3595 ns 0.6262 ns 0.6218 ns 0.6678 ns 2.6145 *
térias do gênero Azospirillum mostraram eficácia em relação à sua inoculação em sementes. Nos primeiros trabalhos essas bactérias se mostraram eficazes na fixação biológica de nitrogênio, mas posteriormente se constatou que a eficácia desses microrganismos se dava por meio das modificações fisiológicas e também morfológicas nas raízes das plantas, melhorando sua capacidade de absorção de nutrientes vindos do solo (Dobbelaere et al, 2001), (Okon & Vanderleyden, 1997). Verifica-se que a produtividade, quando comparados os tratamentos, não mostrou diferença significativa (Tabela 4). Mas os tratamentos T 9 e T 23, com 11.400kg/ ha e 11.700kg/ha, obtiveram maiores níveis de produtividade quando confrontados com outros como T 23 com dose 5 de nitrogênio (250kg de N/ha) com a inoculação com Azospirillum e sem o tratamento de sementes com fungicida. Quanto aos tratamentos T6 (50kg de N/ha + C/Az + S/Ts) e T 24 (250kg de N/ha + S/Az
Tabela 3 - Media geral em função dos blocos utilizados para alturas de plantas. As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade Blocos 1 2 3 4 5 Dms
Médias 216.79170 ab 227.29170 a 220.04170 ab 213.54170 ab 205.41670 b 19.65983
+ S/Ts) os valores em produtividade não ultrapassaram 7.452kg/ha e 7.920kg/ha. Observa-se que os tratamentos onde as sementes foram inoculadas com Azospirillum, mesmo não apresentando diferença significativa, proporcionaram maior rendimento em produtividade. Também se observou que mesmo com uma maior dose de nitrogênio as plantas não obtiveram rendimento alto, como no tratamento T 4. Tal diferença pode ser explicada pela ausência do tratamento de sementes e também por causa da alta dose no leito de plantio. O nitrogênio é um dos minerais mais difíceis de aplicar por conta de suas diferentes movimentações no solo por lixiviação, volatilização, mineralização, nitrificação, desnitrificação, mobilização e imobilização. Tudo isso pode causar na planta sérios problemas durante todos os estágios de seu crescimento principalmente na fase de enchimento de grãos, por causa da falta de nitrogênio na sua absorção. (Amado et al, 2002). Com os dados e resultados obtidos no decorrer do trabalho é possível concluir que a inoculação de sementes com Azospirillum obteve aumento de produção com cerca de 30% em média quando comparado com a testemunha. Por meio da dose de 250kg de N/ha inserida no solo obteve-se crescimento tanto na altura quanto na produção.
Tabela 4 - Resultado da analise de variância dos tratamentos em relação a produtividade de plantas de milho. -- Os tratamentos são quantitativos. O Teste F não se aplica ** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01); * significativo ao nível de 5% de probabilidade (.01 =< p < .05) ; ns não significativo (p >= .05) FV Fator1(F1) Fator2(F2) Fator3(F3) Int. F1xF2 Int. F1xF3 Int. F2xF3 Int.F1x2x3 Tratamentos Blocos Resíduo Total
GL 5 1 1 5 5 1 5 23 4 92 119
SQ 37571550.00000 4586430.00000 5418750.00000 21258510.00000 15360990.00000 8670.00000 36858750.00000 121063650.0000 39296580.00000 665168700.0000 825528930.0000
QM 7514310.00000 4586430.00000 5418750.00000 4251702.00000 3072198.00000 8670.00000 7371750.00000 5263636.95652 9824145.00000 7230094.56522
F 1.0393 -0.6344 ns 0.7495 ns 0.5881 ns 0.4249 ns 0.0012 ns 1.0196 ns 0.7280 ns 1.3588 ns
Mas quando o Azospirillum foi associado juntamente com essa dosagem alta não se viu vantajoso aumento de produção. Contudo, quando comparado com as menores doses de nitrogênio no leito de plantio, houve considerável aumento de altura e também de produtividade. Quando o milho é inoculado e lhe ofertado um ambiente propício para o crescimento, pode-se conseguir alto nível de rendimento de produção. Outra grande vantagem reside em reduzir custos, que representam grande porcentagem dos gastos totais do produtor no plantio de uma determinada cultura, especialmente do milho, que necessita de grande quantidade de nitrogênio para seu desenvolvimento. A adubação nitrogenada pode ser reduzida consideravelmente em relação a outros plantios por causa da inoculação com as bactérias C fixadoras de nitrogênio. Leonardo Quirino de Oliveira, UFRPE
Figura 2 - Produtividade média de milho em Kg.ha-1 em função dos diferentes trata- Figura 3 - Produtividade média de milho em Kg/ha/ em função dos diferentes tramentos aplicados. 1-0Kg de N.ha-1; 2-50Kg de N.ha-1; 3-100Kg de N.ha-1; 5-150Kg tamentos aplicados. 0-0Kg de N/há/; 1-50Kg de N/ha; 2-100Kg de N/ha; 3-150Kg de N.ha-1; 6-200Kg de N.ha-1; 5- 250Kg de N.ha-1 de N/ha; 4-200Kg de N/ha; 5-250Kg de N/ha
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CAFÉ
Cesar Abel Krohling
Aplicação preventiva O controle químico da mancha de phoma, realizado na pré-florada com o emprego de canhão, em lavoura de café Arábica, pode trazer benefícios que se refletem no aumento da produtividade da cultura
A
mancha de phoma e a mancha de aschochyta ou complexo de doenças phoma/ascochyta são doenças que atacam folhas, ramos, botões florais, flores e frutos. As duas doenças podem ocorrer juntas, formando um complexo, pois são porta de entrada para outros fungos e de bactérias, com potencial para causar sérios prejuízos em todas as regiões, principalmente as localizadas em altitudes superiores a 600m. Constituem-se características favoráveis às doenças a baixa temperatura e a alta umidade, causadas por chuvas finas e contínuas durante o período do inverno e da primavera. Prejuízos grandes ocorrem no período de pré e pós-florada, pois vão refletir diretamente na safra (Matiello et al, 2010). Esse complexo de doenças afeta vários países produtores
como Costa Rica, Colômbia, Guatemala e no Brasil está presente em todas as regiões produtoras de café (Chalfoun, 1997). Medidas de controle para este complexo de doenças devem ser adotadas, como o controle químico preventivo (agosto a outubro) com pelo menos duas aplicações, havendo em alguns casos necessidade de até quatro aplicações para que se obtenha sucesso (Matiello et al, 2010). Os princípios ativos e seus respectivos grupos químicos mais usados no momento são etilfosfonato (monoetil fosfite metálico), iprodione, tebuconazole e boscalida (anilida). Para avaliar a eficiência do princípio ativo boscalida no controle do complexo de doenças phoma/aschochyta quando aplicado preventivamente via canhão nas
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pré-floradas do cafeeiro em Santa Maria de Marechal, município de Marechal Floriano, Espírito Santo, foi realizado estudo comparativo com o sistema convencional através de pulverização costal manual. Também verificou-se a eficiência do mesmo ativo na produtividade e na infecção de ferrugem. O estudo foi conduzido no município de Marechal Floriano, na localidade de Santa Maria de Marechal, no Sítio Chapada Verde, a 678 metros de altitude, composto por Latossolo Vermelho Amarelo (LVA), em lavoura de café arábica Catuaí Vermelho IAC-44, com 14 anos de idade, com 5ha de área total, sendo recepada em 2004 e conduzida com duas hastes por planta. O espaçamento foi de 2m x 1m (5.000 pés/ha), área exposta a ventos frios
Tabela 1 - Tratamentos, modo de aplicação, nº e épocas de aplicações com respectivas doses em café arábica na Região de Montanhas do ES Tratamentos 1- Testemunha 2- Boscalida manual 3- Boscalida - uma passada 4- Boscalida - duas passadas 5- Boscalida + Copolímero poliéster-polimetil siloxano
Modo de Aplicação Nº Aplicações Época das aplicações
Dose (g/ha)
2 2 2 2
200 150 100 + 100 200 + 0,025%
manual canhão canhão canhão
set. e out./2009 set. e out./2009 set. e out./2009 set. e out./2009
Para a análise estatística foi utilizado o programa STATISTICA 7.0. A média dos valores encontrados foi comparada pela ANOVA e aplicado o teste Tukey ao nível de 5% de significância. A normalidade dos dados foi testada conforme Zar, 1999.
Tabela 2 - Resultados do Nº de frutos que permaneceram após florada, produtividade (Sc/ha) dos anos 2009, 2010 , média de dois anos e % de infecção de ferrugem em café arábica na Região de Montanhas do ES, com a aplicação do fungicida Boscalida Tratamentos 1- Testemunha 2- Boscalida manual 3- Boscalida - uma passada 4- Boscalida - duas passadas 5- Boscalida + Copolímero poliéster-polimetil siloxano
Prod. (Sc/ha) Prod. (Sc/ha) Prod. (Sc/ha) %Ferrugem Nº de frutos 2010 (M±DP) 2009 (M±DP) 2010 (M±DP) Média -2 anos 2010 (M±DP) 37,95 99±1 a 70,76±14,1 a 35,2±1,2 a 40,7±1,4 a 46,8 95±2 b 96,83±10,7 bc 38,4±1,7 ab 55,2±1,5 b 53,9±2,3 b 34,9±1,2 c 44,4 85±1 d 92,05±9,9 c 49,15 96±2 bc 93,73±9,3 bc 40,7±2,3 b 57,6±1,7 d 49,15 98±2 ac 98,73±14,3 b 40,1±1,7 ab 58,2±1,7 d
e favorável ao ataque do complexo de doenças. A média da precipitação anual dos últimos 22 anos foi de 1.614mm. A área foi dividida em cinco tratamentos (Tabela 1), sendo uma de controle manual de 15 metros de largura por 30 metros de comprimento e mais quatro: uma como
testemunha e três áreas com aplicação de canhão com 50 metros de largura e 30 metros de comprimento. As áreas-testemunha e com canhão totalizaram cada uma 750 plantas, ou 0,15ha. A vazão foi de 500L/ ha para todos os tratamentos, com exceção do tratamento 4, onde o volume adota-
Figura 1 - Produtividade em sacas/ha de 2009, 2010 e média dos 2 anos com duas aplicações preventivas de boscalida em café arábica na Região de Montanhas do Espírito Santo
Letras diferentes nas colunas indicam diferença estatística significativa pelo teste de Tukey (p≤0,05)
comparados às plantas da testemunha. Para a produtividade de 2010 observa-se na Tabela 2 e Figura 1 que somente o tratamento 3 (boscalida – uma passada), com uma produtividade de 34,9sc/ha, foi inferior significativamente à testemunha, devido principalmente à alta produtividade na safra de 2009 (53,9sc/ha). Os demais tratamentos, 2, 4 e 5, tiveram produtividade significativa maior que a testemunha e ao tratamento 3, sendo que não houve diferença relevante entre os tratamentos 4 (boscalida – duas passadas) e o tratamento Cultivar
do foi o dobro (1.000L/ha). A primeira aplicação foi realizada em 7/9/2009 e a segunda em 12/10/2009, antes das melhores floradas e sempre feitas antes da chegada de uma frente fria, ou seja, preventivamente. O horário da aplicação foi às 17h e com vento calmo, buscando o máximo de cobertura. O trator trabalhou com 1.800rpm, com marcha 1ª reduzida, equipada com canhão da marca Montana, de capacidade de dois mil litros com três bicos de saída. As avaliações focaram em frutos que permaneceram após as floradas, realizadas em janeiro/2010, onde foram avaliadas cinco linhas (repetições) da 4ª a 8ª linha. Em cada linha foram examinadas oito plantas, com dois ramos completos cada, ou seja, 80 ramos por tratamento. A produtividade em sacas/ hectares foi medida na colheita em junho de 2010 e a porcentagem de infecção de ferrugem. Foram avaliadas cinco linhas (repetições) da 4ª a 8ª linha, sendo que em cada uma examinaram-se dez plantas com 100 folhas/parcela para a porcentagem de infecção de ferrugem. Os tratos culturais consistiram em duas adubações em novembro e fevereiro, duas aplicações foliares com micronutrientes (B, Cu, Mn e Zn) em setembro e outubro, duas capinas manuais (outubro e março), uma roçada em dezembro e uma limpeza de saia a 80cm de altura. Não houve ações direcionadas especificamente para controle de ferrugem nem de bicho mineiro. A Tabela 2 e a Figura 1 mostram que houve aumento significativo do vingamento de frutos nos tratamentos que receberam a aplicação preventiva do fungicida boscalida, seja manual ou via canhão,
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5 (boscalida + copolímero poliéster-polimetil siloxano). A infecção da ferrugem foi alta para todos os tratamentos. Pereira et al (2009) também avaliou a eficiência de diferentes fungicidas usados no controle químico de Phoma, no município de Muzambinho, Minas Gerais, e verificou que o fungicida boscalida apresentou boa eficiência no controle da doença nos ramos, assim como promoveu incremento de 19,2% no número de rosetas com frutos. Krohling (2008), estudando a eficiência do controle da phoma e o aumento na produtividade através de aplicação de fungicidas com pulverizador costal manual em Santa Maria de Marechal, verificou que duas aplicações preventivas pontuais dos fungicidas boscalida na pré-floração aumentaram em 78% a produtividade da lavoura. É possível concluir que a mancha de phoma, em regiões de altitude elevada, causa prejuízos significativos na produtividade quando não se realiza controle da doença, sendo variável conforme o clima do ano agrícola. A aplicação deve ser preventiva. A pulverização manual aumentou a produtividade, na média dos dois anos, em 23,3% e a aplicação via canhão acresceu C a produtividade em até 29,5%. Cesar Abel Krohling e José Braz Matiello, Mapa/Procafé Pedro Paulino de Mendonça, Basf
EMPRESAS
No arroz
Basf
Basf, Fundação Espaço Eco e Fazenda Condessa divulgam resultados de estudo comparativo sobre socioecoeficiência em lavouras orizícolas localizadas no Rio Grande do Sul
vida) comparado à média do estado na safra 2012/13 ao avaliar-se o uso da terra. Ao avaliar o pilar social, a Condessa apresentou desempenho superior à média do Rio Grande do Sul. Com relação ao número de acidentes de trabalho, por exemplo, a Fazenda está há oito anos sem registro deste tipo de ocorrência. Considerando toda a pré-cadeia, o número de acidentes foi 95% menor na safra 12/13. Além disso, a fazenda apresentou salários e remunerações 20% superiores para seus funcionários, quando comparada à média do estado no mesmo período. “O uso correto da tecnologia, associado a outras boas práticas agrícolas da fazenda, foi importante para esse desempenho e pode ser disseminado para outras propriedades, o que trará benefícios a toda cadeia orizícola”, avaliou o diretor-presidente da Fundação Espaço ECO, Roberto Araújo.
ECONOMIA MENSURADA
A
Basf apresentou em agosto, em Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul, resultados de socioecoeficiência alcançados na cultura do arroz irrigado. Os dados comparativos das safras 2004/2005 e 2012/2013 fazem parte de estudo aplicado pela Fundação Espaço Eco, em área da Fazenda Condessa, no município gaúcho de Mostardas. O estudo sobre os impactos ambientais, econômicos e sociais da produção de arroz irrigado utilizou a ferramenta AgBalance TM, desenvolvida pela área de sustentabilidade da Basf. Foram comparados, tomando por base a colheita de uma saca de arroz de 50 quilos, os resultados gerados pela Fazenda Condessa, onde foi adotado o sistema Clearfield (desenvolvido pela multinacional alemã) e a média obtida pelo estado gaúcho. Para o estudo, a Fazenda Condessa forneceu dados primários, divididos por etapa de produção. Já os números de produção do Rio Grande do Sul (dados primários) foram levantados através de fontes oficiais e reconhecidas pelo setor, como Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Agrianual/FNP, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Embrapa. O estudo levou em conta os pilares de sustentabilidade econômico, ambiental e
social. Em relação ao aspecto econômico, apontou que o custo de produção utilizado na fazenda Condessa foi 15% menor e obteve produtividade 6% maior comparado à média do Rio Grande do Sul, na safra 2012/13. Sob a ótica ambiental, a avaliação do consumo de energia identificou que o modelo utilizado pela fazenda Condessa consumiu 14% menos energia (em todo ciclo de vida) comparado à média do Rio Grande do Sul, na safra 2012/13. A economia de energia na irrigação (dentro da fazenda) foi de 12% comparada ao consumo médio das fazendas do estado gaúcho. Em relação ao consumo de água, o Sistema Clearfield e Condessa consumiu 6% menos água (em todo ciclo de vida) se comparado à média do Rio Grande do Sul na safra 2012/13. A economia de água na irrigação (dentro da fazenda) foi de 16% comparado ao bombeado nas fazendas do restante do estado. Já quando se avaliou a emissão de gases de efeito estufa, o mesmo modelo emitiu menos 13% (em todo ciclo de vida) se comparado à média do Rio Grande do Sul na safra 2012/13. Este fato deve-se ao modelo de plantio (cultivo mínimo) adotado na fazenda. Quando a área do arroz é alagada, o impacto de degradação da matéria orgânica é menor em relação a outros modelos convencionais. Por fim, o modelo consumiu 7% menos área (em todo ciclo de
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Por meio da ferramenta AgBalanceTM ainda foi possível traçar cenários hipotéticos, considerando os benefícios ambientais gerados caso todo o Rio Grande do Sul alcançasse a mesma eficiência da Fazenda Condessa. Em relação à água, o volume economizado em todo o estado alcançaria 412 bilhões de litros, quantia equivalente ao consumo da cidade de Porto Alegre ao longo de dois anos. No quesito uso da terra, os produtores gaúchos usariam 60 mil hectares a menos que atualmente. Já no consumo de energia, a estimativa de redução ficaria em torno de 990 milhões de kWh (o que corresponde ao uso de 330 mil residências em um ano). De acordo com o proprietário da Fazenda Condessa, Geraldo Condessa Azevedo, os resultados são importantes para a tomada de decisões na propriedade. “O estudo colocou luz em boas práticas que já utilizávamos e contribuíam para nossos resultados em termos de produtividade, mas que agora foi comprovado. Estamos no caminho certo e conseguimos demonstrar cientificamente que investir em processos de gestão, qualidade de vida dos nossos funcionários e respeito ao meio ambiente pode ser muito produtivo”, avaliou. Dados do Instituto Rio Grandense de Arroz Irrigado (Irga) indicam que 57% dos agricultores de arroz do Rio Grande do Sul utilizaram o Sistema Clearfield na safra 12/13. “Nossa ideia com o resultado do estudo é disseminar outros benefícios sustentáveis da tecnologia, além das fitossanitárias, incluindo as sociais, econômicas e ambientais”, afirmou o diretor de Vendas para Negócio Sul da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, Clairton Lima Silva. C
COLUNA ANPII
Controle indispensável A fiscalização rigorosa é um dos trunfos para o sucesso da Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) e a garantia da oferta de inoculantes de qualidade
E
m toda atividade industrial ou comercial existem regulamentos para ordenar o relacionamento entre as empresas produtoras ou comerciantes e os consumidores. A produção e a comercialização de insumos agrícolas não fogem à regra, existindo toda uma legislação pertinente ao assunto junto ao Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (Mapa). Esta legislação, muito ampla e abrangente, regula a produção e comercialização de insumos utilizados na agricultura, exigindo o registro de estabelecimentos produtores e comercializadores, bem como dos respectivos produtos. Muitas vezes mal vista pela longa lista de exigências, esta regulamentação tem um grande sentido prático, pois garante, dentro de certos limites, que o agricultor compre e utilize produtos que foram analisados e avaliados quanto à sua segurança e confiabilidade como insumos que, de fato, irão contribuir para o aumento da produtividade das propriedades rurais brasileiras. Com os inoculantes não é diferente. Inicialmente produzido e comercializado livremente, sem nenhuma espécie de registro e regulamentação, o produto foi incluído no sistema de regulamentação pela Lei 6.894, de 16/12/1980. Nos dois anos seguintes, mais uma lei foi promulgada, um decreto e uma portaria publicados para regulamentar a atividade tanto de inoculantes como de fertilizantes e corretivos. Esta nova lei passou a exigir registro dos estabelecimentos produtores, com uma lista de equipamentos mínimos para produção e controle de qualidade que cada empresa deveria instalar para poder obter o registro para exercer a atividade. Estufas, autoclaves, microscópios e tudo o mais indispensável para a produção de um inoculante de qualidade passou a ser exigido e a empresa vistoriada antes de receber o registro como Estabelecimento Produtor (EP).
Com o correr dos anos e a evolução tecnológica da agricultura, novos padrões foram incorporados à legislação, que passou por seguidas atualizações, para adequá-la a estas novas exigências de produtividade das lavouras brasileiras. Para novas tecnologias de produção de inoculantes, como o produto líquido, inoculante para gramíneas e outros, passou a ser exigido teste de eficiência agronômica, dentro de protocolos elaborados em reuniões da Relare, a entidade que discute toda a política de inoculantes no país. Assim, todos os novos inoculantes que entram no mercado brasileiro e que obrigatoriamente possuem registro no Mapa passaram por uma avaliação, apresentando uma boa margem de segurança para sua utilização. A necessidade de esterilização da turfa, estabelecimento de novos patamares de concentração de bactérias nos inoculantes, número mínimo de contaminantes são exemplos da adequação da lei às novas exigências tecnológicas. Entretanto, não basta a existência de uma legislação, por melhor que ela seja para garantir que somente bons produtos cheguem às mãos dos agricultores. É indispensável um regime de fiscalização contínua, para evitar que seja burlada por pessoas inescrupulosas que, infelizmente, existem em toda a atividade
O produto é analisado por técnicos especializados nos laboratórios da Fepagro, em Porto Alegre, e o resultado encaminhado ao Mapa
humana. O Mapa, durante todos estes anos, vem exercendo com altos e baixos esta fiscalização. Os fiscais foram muito bem treinados sobre o tema, passando por diversos cursos, com o objetivo de exercer sua atividade com proficiência. Seguidamente as empresas são visitadas pelos fiscais que recolhem amostras e as enviam ao laboratório de referência para análise. O produto é analisado por técnicos especializados nos laboratórios da Fepagro, em Porto Alegre, e o resultado encaminhado ao Mapa. Por eventuais falhas que venham a ocorrer, empresas podem ser autuadas e punidas dentro da lei. Esta fiscalização rigorosa foi um dos trunfos para o sucesso da Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN), com o uso de inoculantes de boa qualidade, levando o Brasil a ser o país que mais utiliza este insumo no mundo. Entretanto, pela descontinuidade administrativa que ocorre no Brasil, mesmo atividades fundamentais sofrem alternâncias, com intensificação em épocas de economia em crescimento e decréscimo em épocas de “vacas magras”. E, infelizmente, no momento o país está justamente nesta fase, de baixa atividade econômica e, consequentemente, de redução nas atividades de fiscalização. O agronegócio cresceu no Brasil, mas o quadro do Mapa não acompanhou a mesma proporção, reduzindo sua capacidade de fiscalização. Mas, para que a FBN, uma das tecnologias de maior sucesso no Brasil e no mundo, se mantenha dentro do elevado patamar exigido pelos agricultores brasileiros, é indispensável que o Mapa reforce seu contingente de fiscais, analisando o maior número de amostras para assegurar que os produtos cheguem com todo seu potencial às mãos dos agricultores. As empresas da ANPII, como produtoras de bons inoculantes, têm todo o interesse em que esta fiscalização se intensifique, para comprovar a seriedade com que seus produtos são produzidos. C Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
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COLUNA AGRONEGÓCIOS
Até quando?
N
os últimos 40 anos, o Brasil promoveu uma revolução sem paralelo na História das Nações. De importador passou a ser o maior exportador líquido de produtos agropecuários do mundo. Sua produção alimenta toda a população brasileira e sua exportação alimenta outros dois brasis. Os ganhos de produtividade por adoção de tecnologia sustentaram a expansão da agropecuária. Nos próximos 40 anos o Brasil será o principal protagonista da produção e comércio internacional de produtos agrícolas do planeta. O sucesso se deve ao forte investimento em geração e transferência de tecnologia e às escolas de Agronomia. Merece destaque a atuação do Iapar, da Embrapa e da Esalq/USP, a principal formadora de talentos que permite que
os agricultores produzam mais, melhor e com sustentabilidade. O mundo reconhece a excelência dos institutos de pesquisa do Brasil e de escolas como a Esalq, um portento reverenciado mundo afora. Apesar de o mundo se render à excelência dessas instituições brasileiras, elas não estão livres de assaques retrógrados. Dezenas de estações e campos experimentais de instituições de pesquisa, incluindo a Embrapa, já foram invadidos pelo MST. Em alguns casos a destruição foi completa, como nas estufas de experimentação florestal. Anos e anos de pesquisa, dezenas de milhões de reais de investimentos foram dilapidados, a chegada do futuro retardada. Quando imaginamos haver atingido um patamar civilizatório mínimo, eis que a fazenda experimental da Esalq
é invadida. Alexandre Von Pritzelwitz, agrônomo e ex-aluno da Esalq, doou a propriedade para a Universidade. Na área já foram – ou estavam sendo – conduzidas pesquisas que muito auxiliaram o agricultor. Em uma delas, demonstrou-se ser possível multiplicar por três a lotação de gado por hectare, um benefício enorme para o pecuarista, para o consumidor e para o ambiente. Na fazenda, 1,2 mil hectares de floresta de Mata Atlântica nativa constituem uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) preservada. Se há uma coisa que não falta neste país é terra. Até quando a sociedade e as autoridades permitirão que áreas altamente produtivas, ou dedicadas a garantir o desenvolvimento tecnológico do Brasil, sejam vilipendiadas, atrasando a chegada do futuro e de uma agropecuária cada vez mais sustentável? C
SOBRE A FAZENDA FIGUEIRA
A
o falecer, em janeiro de 2000, o engenheiro agrônomo Alexandre Von Pritzelwitz deixou em testamento, para a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiróz (Fealq), uma propriedade agrícola denominada Fazenda Figueira, no município de Londrina, Paraná, com a determinação de que fosse administrada pela Fundação
sob orientação técnica de professores do Departamento de Zootecnia da Esalq/USP, mantivesse a pecuária de corte como atividade principal e se criasse uma estação agrozootécnica com o nome de sua progenitora, Hildegard Georgina Von Pritzelwitz. Uma comissão técnica, indicada pelo Departamento de Zootecnia,
está encarregada do desenvolvimento da fazenda com o objetivo de torná-la produtiva e autossustentável. Uma comissão científica, indicada pela Fealq, analisa e aprova os projetos de pesquisa a serem desenvolvidos na Estação Experimental. Fonte: Fealq
Decio Luiz Gazzoni O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
Brasil caminha para recorde de exportação de grãos em 2015 O ano ainda está longe de encerrar e o que se percebe são números do agronegócio que geram otimismo quanto à safra que vem pela frente. O acumulado das vendas do complexo soja, até o final de julho, já somava 50 milhões de toneladas, sendo 40,6 milhões de toneladas embarcadas de grão e o restante de farelo e óleo. As expectativas são de que o complexo todo chegue à marca de 70 milhões de toneladas e mantenha o Brasil como líder mundial da exportação do setor da soja. Outro produto que registra exportações em ritmo acelerado e pode obter recorde nesta temporada é o milho, com 6,6 milhões de toneladas exportadas até o final de julho. Volumes maiores são aguardados neste restante de ano, onde os níveis tendem a chegar próximos da faixa de quatro milhões de toneladas mensais, o que pode resultar em estouro do recorde histórico de exportações de milho (26,5 milhões de toneladas). As estimativas são de que os embarques do grão fiquem entre 28 milhões de toneladas e 30 milhões de toneladas, trazendo o Brasil da soja e do milho para a marca histórica de 100 milhões de toneladas exportadas ou muito próximo disso. Abre-se espaço entre clientes que antes não consumiam ou buscavam grãos dos EUA, país que de agora em diante terá limitação de vendas, porque a safra deste ano é menor que a colhida anteriormente. Os norte-americanos também não têm mais espaço para crescer em produção, por não disporem de novas áreas para serem plantadas e ainda porque a demanda interna nos EUA irá crescer e limitar o volume de vendas. Desta forma, o Brasil irá crescer e é possível visualizar que em um período de quatro anos a cinco anos haverá mais exportações de milho do Brasil que os volumes exportados pelos EUA, como já observado na soja, onde o Brasil alcançou a liderança mundial. O país começa a ganhar espaço internacional também como vendedor de arroz e feijão. Ou seja, o mundo terá cada vez mais de se acostumar a vir aos portos brasileiros para se abastecer.
MILHO
nestes mercados e desta forma as cotações nos portos devido ao biodiesel, com o aumento da mistura de 5%
Safrinha tem recorde de colheita e de exportações alcançaram entre R$ 31,00 e R$ 33,00, com grandes (B5) para 7% (B7), o que resulta em usar pelo menos
O mercado do milho assiste às ultimas lavouras em colheita, com números muito acima dos anos anteriores, vindos de investimentos crescentes e muito trabalho dos produtores que agora observam os resultados, com produtividade média acima de 100 sacas por hectare. Há lavouras com produtividade próxima das 200 sacas por hectare na safrinha. A colheita caminha para níveis acima de 50 milhões de toneladas, com chances de chegar a 52 milhões de toneladas, enquanto inicialmente eram esperados 42 milhões de toneladas. O cenário seria negativo para os produtores se não houvesse exportações, estimadas no começo do ano em 20 milhões de toneladas, mas que agora tendem a passar de 30 milhões de toneladas. Os portos brasileiros estão lotados de navios à espera para carregar milho, sendo que somente para o mês de agosto estão programados 82 cargueiros, com forte demanda mundial do cereal. Há recorde de colheita em um ano em que o clima causou grandes perdas na produção da Europa e da Ásia e isso irá abrir grandes espaços para novos vendedores. O Brasil está entrando
volumes sendo negociados. Para comprovar que o Brasil entrou para ficar e crescer nas exportações, basta observar os grandes volumes de milho negociados para entrega nos portos em setembro e outubro de 2016. Os indicativos de negócios neste mês de agosto já apontavam para algo entre seis milhões de toneladas e oito milhões de toneladas negociadas. SOJA
Negócios avançados e agora reportes pontuais
Negócios avançados e agora reportes pontuais Os produtores já negociaram a maior parte da safra e, de agora em diante, irão valorizar o produto e seguirão usando a soja como ativo financeiro ou como investimento em dólares. Este cenário aponta que a queda já ocorreu e agora o que vier pela frente será lucro para o setor. Junto a isso, os produtores irão apostar na demanda interna, que normalmente remunera mais pelo grão local no final do ano, buscando segurá-lo para atender à demanda de farelo e óleo. Sem esquecer que neste ano o óleo terá demanda forte
4% a mais de óleo para atender a este segmento, o que se traduz em apelo positivo para o consumo interno. O mercado externo também se mostra comprador e irá “brigar” pelo produto. E nesta disputa quem tende a sair ganhando é o produtor que tiver soja disponível. As negociações da safra nova já avançaram e os agricultores se mostravam calmos, em agosto, à espera de números melhores para voltar a negociar. ARROZ
Agora em avanços positivos
A fase de estabilidade do arroz passou na virada de julho e começo de agosto. De agora em diante (principalmente em setembro), os indicativos serão de crescimento, com demanda maior e ofertas escasseando. Com alta já observada em agosto, registrando ganhos de R$ 2,00 a R$ 3,00 por saca, o produto saiu da fase de calmaria e entrou em período de estímulo aos produtores. Esta etapa mais atrativa e lucrativa tende a minimizar a queda forte no plantio, prevista no primeiro semestre.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado internacional seguia calmo ao passo que o dólar avançava em ritmo forte no Brasil e inviabilizava as importações. Paralelo a isso, a Argentina, a cada semana que passava, mostrava indicativos de área menor e menos produto para exportar. Com isso, veio se criando um quadro de favorecimento para a safra brasileira, que está nos campos e mostra queda de área no Rio Grande do Sul e pouca alteração no Paraná. Assim, haverá safra menor e demanda maior, com aumento das dificuldades e dos custos para importar. ALGODÃO - Os produtores estavam colhendo a safra no mês passado, com as lavouras do Mato Grosso com algumas perdas devido às chuvas que se alongaram e pegaram as primeiras plumas. Ainda há baixa liquidez e o produto sofre o impacto da crise brasileira, mas as exportações começam com otimismo devido ao dólar em alta. Assinale-se que para o novo ano os produtores indicam queda no plantio em favor da soja. O dólar em alta já é um fator positivo para o setor, mas os produtores ainda não conseguem visualizar ganhos sólidos à frente. Porém, tudo indica que será um ano de lucros porque haverá safra menor e maior espaço para a exportação. Isso porque a safra dos EUA está muito abaixo dos anos anteriores e o país terá menos para vender em 2016. O quadro tende a melhorar de agora em diante. CHINA - As importações seguem crescentes e os novos números da soja apontados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já estão em 79 milhões de toneladas. O país tem comprado grandes volumes de milho e os indicativos são de que irá crescer em compras de arroz. Na Ásia se comenta que poderão levar sete milhões de toneladas do cereal. Em um rápido retrospecto, é possível observar que há quatro ou cinco anos os chineses não compravam nenhum grão.
No ano passado já tinham comprado 4,5 milhões de toneladas, ou seja, o país não consegue produzir para atender à demanda, mas possui muito dinheiro para comprar, o que tende a seguir abrindo espaço para grandes importações de todos os tipos de alimentos. A China continuará como a locomotiva mundial na compra de alimentos, com crise ou sem crise. Bom para o Brasil, que cresce como fornecedor de alimentos. EUROPA - O clima foi duro com as lavouras da Europa neste ano, com a seca e o calor forte, causando severas perdas na safra de grãos dos grandes produtores desta região. Os dados oficiais da França, grande produtora e exportadora de milho para o Bloco, indicam perdas de 30% da safra, o que, confirmado, resultaria em colheita menor de cinco milhões de toneladas. Situação semelhante se observa no leste europeu, com perdas como as enfrentadas pelos ucranianos, que terão menos para exportar neste novo ano. Sinalizando mais espaço para outros fornecedores fora da região. ARGENTINA - A safra está fechada, com boa colheita de milho (mais de 26 milhões de toneladas) e outros 60 milhões de toneladas de soja. Há queda no plantio do trigo, que se mostrou desfavorável financeiramente aos produtores e, para piorar o quadro, os argentinos enfrentam problemas climáticos. Os produtores ainda seguram parte da safra de grãos para vender depois das eleições de outubro, apostando no fim da “Era Kirchner”. Mas as pesquisas eleitorais de agosto mostravam o candidato do governo na frente. EUA - O clima melhorou em agosto e a safra fluía em boas condições. Mas o país está dentro do limite de potencial produtivo para soja e milho e, desta forma, o que se abrir de espaço no mercado mundial nos próximos anos terá de ser atendido por outros fornecedores. C
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
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