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Cultivar
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVI • Nº 198 • Novembro 2015 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Nossa capa
Especial ferrugem - 22 a 26
O clima propício para a incidência antecipada da ferrugem asiática na safra 2015/16 e as medidas para prevenir prejuízos com a doença
Claudia Godoy
Índice
Mais frequentes - 14
Aprenda a combater ácaros, cuja frequência de incidência tem aumentado ao longo das últimas safras em lavouras de algodão e de outras culturas
Diretas
04
Mosaico comum em trigo
08
Tratamento de sementes de trigo
11
Ácaros em algodão
14
Daninhas em soja
18
Capa - Especial ferrugem asiática
22
Manejo de pragas em milho
28
Cultivares para silagem
32
Empresas - Ourofino Agrociência
36
Manejo da broca-do-café
38
Lançamento Soja Vereda
42
Coluna ANPII
44
Coluna Agronegócios
45
Mercado Agrícola
46
Combate possível - 38
Como entender o comportamento e realizar o controle da broca-do-café Hypothenemus hampei
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
COMERCIAL
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Presença
A equipe técnica e comercial da Morgan Sementes e Biotecnologia, marca comercial da Dow AgroSciences, esteve presente no XIX Congresso Brasileiro de Sementes realizado em Foz do Iguaçu, no Paraná. De acordo com o gerente de Marketing, Denilson Anderson Rigonatto, além de participar da programação técnica e científica do evento, a equipe também recebeu no estande produtores, estudantes, professores, pesquisadores e empresários.
Tratamento de sementes
A Rigrantec Tecnologia para Sementes e Plantas, que em 2015 completou 20 anos, participou do XIX Congresso de Sementes. O diretor da empresa, Nelson Azambuja, avaliou que se trata de um evento relevante no segmento, que oferece oportunidades de conhecer inovações e manter contatos técnico-comerciais com clientes atuais e novos. “A Rigrantec, neste congresso, enfatizou a qualidade de seus produtos para tratamento industrial de sementes (TIS), sem dúvida os melhores do segmento, além de contar com diversidade de produtos, o que permite escolher o melhor custo-benefício no Tratamento Industrial de Sementes”, opinou.
Novidades
O time de Seedcare da Syngenta esteve presente no Congresso Brasileiro de Sementes e apresentou as novidades ligadas ao tratamento de sementes industrial. De acordo com o responsável pelo SeedCare Institute no evento, Nilceli Fernandes, os participantes puderam conferir as principais soluções da empresa, como o Avicta Completo, que propõe controle contra doenças, pragas e nematoides, e o Cruiser, inseticida para o tratamento de sementes que atua como aliado da biotecnologia.
Receptividade
A Biogrow, empresa que se dedica a criação, desenvolvimento e comercialização de produtos para o mercado de nutrição e proteção vegetal, participou pela primeira vez do XIX Congresso Brasileiro de Sementes realizado em Foz do Iguaçu, Paraná. Na avaliação do gerente-geral da empresa Alejandro Gesswein Scherp a receptividade da comunidade científica foi excelente. “O desenvolvimento constante de novos produtos e mercados, junto com a construção de alianças com importantes distribuidores, tem permitido que hoje a Biogrow Brasil esteja presente nas mais importantes áreas produtoras de frutas, hortaliças e grãos do Brasil”, explicou Scherp.
Tecnologia
A Dow AgroSciences destacou a tecnologia Powercore durante o XIX Congresso Brasileiro de Sementes. Trata-se do primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil. De acordo com o líder de Marketing da Dow AgroSciences, Aldenir Sgarbossa, a tecnologia, lançada em 2012, é atualmente líder de mercado e proporciona aumento de produtividade entre 5% e 10%, dependendo do nível tecnológico da lavoura e das condições climáticas. PowerCore atingiu, em 2014, a marca de dois milhões de sacas vendidas.
Especialistas
A Laborsan Agro, que completou 18 anos de atuação na agroindústria, marcou presença no XIX Congresso Brasileiro de Sementes em Foz do Iguaçu, no Paraná. De acordo com o sócio-diretor da empresa, Milton Ribeiro, a empresa levou ao congresso especialistas para atender ao público. “Estavam presentes no nosso estande Pedro Cruz, de Pesquisa e Desenvolvimento, e Edinis Oliveira, do Departamento Comercial, que estiveram à disposição dos participantes do Congresso”, explicou. Também foi apresentada ao público a linha de polímeros e produtos adjuvantes da marca.
04 Novembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
Fungicida
A Arysta LifeScience apresentou no Congresso Brasileiro de Sementes o fungicida Rancona. O lançamento marca a integração da nova Arysta ao mercado de tratamento de sementes, a partir da união da companhia à Chemtura. “A Chemtura já tinha forte presença no mercado de tratamento de sementes com produtos tradicionais, como é o caso do Vitavax-Thiram. Com esta integração a nova Arysta ganha força e traz novas soluções para uma base muito maior de clientes”, avaliou o gerente de Marketing de Tratamento de Sementes da Arysta LifeScience Jonatas Alves.
Novos rumos
Edgar Alonso Torres Toro é o novo diretor de Pesquisa da RiceTec Mercosul. Anteriormente, Torres Toro atuava no Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), instituição dedicada à pesquisa em melhoramento genético de arroz na América Latina. O executivo assumirá todas as áreas de Pesquisa da RiceTec no Mercosul e ficará sediado na Estação de Pesquisa Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Programa
A Ihara participou da 41ª edição do Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, no final de outubro, em Poços de Caldas, Minas Gerais, com o Programa de manejo da lavoura de café. Projeto exclusivo da companhia, possui como objetivo unificar todos os serviços e soluções disponíveis para garantir a eficiência do sistema e a rentabilidade do produtor. “O café está entre os principais focos de investimentos da Ihara para os próximos anos. Nesse cenário, apresentamos alternativas para o controle de pragas e doenças, utilizando o conhecimento do agricultor, com foco no aumento da produtividade”, explica o gerente de Marketing Regional, Leonardo Araújo.
Refúgio
Edgar Alonso Torres Toro
Soja Responsável
A Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS) anuncia Marcelo Visconti como diretor executivo. Visconti sucederá Agustín Mascotena, que liderou o secretariado e promoveu o desenvolvimento da RTRS ao longo dos últimos cinco anos. “Há um enorme potencial para desenvolvermos mercados onde os sistemas de certificação desempenhem um papel mais relevante. Eu acredito fortemente em uma abordagem que reúna múltiplas partes interessadas e estou ansioso por trazer as minhas contribuições à equipe para, juntos, concretizarmos as ambições da RTRS", disse.
Arroz
Leonardo Araújo
Os integrantes da Associação dos Produtores de Sementes do Estado da Bahia (Aprosem-BA), com o apoio da Monsanto e da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass), firmaram parceria no Matopiba (que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), para conscientizar os sojicultores da região sobre os benefícios das boas práticas de manejo no campo, com destaque para o Refúgio Estruturado. De acordo com o gerente de Regulamentação da Monsanto, Renato Carvalho, a preservação e a sustentabilidade das tecnologias dependem do cumprimento das recomendações de manejo de resistência de insetos (MRI), que incluem a adoção das áreas de refúgio estruturado, mantendo a eficácia e a longevidade da Renato Carvalho tecnologia.
A Dow AgroSciences desenvolveu um aplicativo para Smartphones com sistemas iOS e Android para a identificação das principais doenças no arroz. O aplicativo apresenta a descrição das características e imagens dos principais sintomas que assolam a cultura. O conteúdo técnico foi desenvolvido pelo time de Pesquisa em Arroz da empresa. “Desenvolvemos esse material com foco em toda a cadeia do arroz, para expandir o conhecimento técnico desse segmento e reunir informações de qualidade, de forma prática, com fotos e descrições úteis”, explicou o gerente de Marketing de Arroz da companhia, Luiz Grines. O aplicativo Doenças do Arroz está disponível gratuitamente nas lojas Apple Store e Google Play.
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2015
05
Aniversário
Vinicius Faião
Em 2015 a Monsoy completa 20 anos no Brasil. A empresa contabiliza sete programas de melhoramento genético, 11 estações de pesquisa, 14 mil linhagens e 180 mil parcelas por ano. A Monsoy oferece atualmente 32 variedades de soja entre convencionais, com a tecnologia Roundup Ready e Intacta RR2PRO. “O compromisso é disponibilizar ao sojicultor variedades com alta qualidade genética e tecnológica. Para isso contamos com parceiros alinhados com o objetivo da Monsoy que é oferecer constantemente a melhor qualidade em sementes para a sojicultura brasileira”, afirmou o gerente de Negócio da Monsoy, Vinicius Faião.
Tratamento
A Basf focou durante o XIX Congresso Brasileiro de Sementes nos benefícios do tratamento industrial de sementes. “É uma ferramenta para gerar ainda mais proteção ao potencial genético oferecido pelas empresas de sementes, e tende a crescer nos próximos anos, podendo alcançar o percentual de 70% de todas as sementes comercializadas para o uso na agricultura”, avaliou o gerente de Marketing de Produtos e Projetos da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil, Fernando Arantes. Outro destaque apresentado pela empresa no evento foi o Standak Top, produto com ação inseticida, fungicida e recomendado para tratamento de sementes na cultura de soja.
Inoculante
No Congresso Brasileiro de Sementes a Monsanto BioAg apresentou seu novo produto CTS 200, um inoculante longa vida para tratamento industrial de sementes. “Já aprovado e registrado pelo Ministério da Agricultura, CTS 200 é o primeiro inoculante longa vida com 38 dias de pré-tratamento. Com esta tecnologia é possível comprar sua semente com tratamento completo, com o inoculante, o inseticida e o fungicida no tratamento industrial de sementes. Conseguimos oferecer ao agricultor sementes prontas para plantar facilitando a vida do produtor”, explica o gerente de Marketing Brasil da Monsanto BioAg, Marcos Navai.
Campanha
Reconhecimento
A Syngenta acaba de ser eleita uma das dez empresas brasileiras que melhor enfrentam o trabalho escravo no País, de acordo com o Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (InPacto) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). O reconhecimento à Syngenta se deve às ações realizadas por meio do The Good Growth Plan, Plano de Agricultura Sustentável da empresa, para promoção de boas práticas nas relações de trabalho em toda a cadeia produtiva. “Todos os profissionais têm carteira assinada e fazemos um controle rigoroso quanto à idade dos trabalhadores, entre outras medidas que para nós são prioritárias”, afirma o gerente de Projetos da companhia e responsável pela Syngenta Agrícola, Márcio Pascholati.
Com a nova campanha de marketing para o inseticida CropStar “Comece bem, comece forte”, a Bayer participou da XIX edição do Congresso Brasileiro de Sementes, em Foz do Iguaçu, no Paraná. Durante o evento, a empresa apresentou os benefícios e as avaliações realizadas junto a produtores sobre o tratamento de sementes em 1,7 mil áreas de lavouras em todo o Brasil. “Os agricultores devem se questionar: ‘E se eu pudesse controlar melhor os fatores de risco da minha lavoura?’. Com este primeiro questionamento e para demonstrar a importância do tratamento de sementes, criamos a nova campanha de marketing do inseticida CropStar, nosso produto exclusivo para o tratamento de sementes e destaque para o Congresso”, explicou o gerente da Bayer SeedGrowth, área de tratamento de sementes da Bayer CropScience, Siegfrid Baumann.
Inauguração
Um ano depois de lançar no Brasil o inseticida para tratamento de sementes Dermacor, a DuPont inaugura, em seu Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (CP&D) de Paulínia (SP), um laboratório de última geração na área. O novo laboratório resulta de um investimento de 22 milhões de dólares realizado no CP&D e tem por objetivo impulsionar a companhia no mercado de tratamento de sementes. De acordo com o diretor de Tecnologia da DuPont Proteção de Cultivos e líder do CP&D de Paulínia, Marcelo Okamura, o novo laboratório conta com recursos humanos e tecnológicos para fornecer respostas rápidas ao agronegócio no tocante à proteção de sementes.
06 Novembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
TRIGO
Como reagem O mosaico comum, virose de difícil controle, possui vetor com longo período de sobrevivência no solo e ampla gama de plantas hospedeiras. Como a resistência genética é uma das principais alternativas disponíveis contra a doença, conhecer o comportamento das cultivares de trigo à sua incidência torna-se fundamental
Douglas Lau - Embrapa Trigo
A
Elliot Watanabe Kitajima
virose conhecida como mosaico comum do trigo, no Brasil, ocorre principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e no sul do Paraná. O vírus que causa esta doença foi identificado como sendo Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV). O SBWMV pertence ao gênero Furovirus. As partículas do vírus possuem formato de bastão rígido (Figura 1), e no seu interior está o material genético (RNA) que, uma vez transmitido para a célula vegetal, começa o processo infeccioso que resulta na expressão dos sintomas de mosaico. Este vírus, capaz de infectar o trigo, o triticale, o centeio, a cevada e outras gramíneas, é transmitido por um organismo eucarioto, residente no solo e parasita obrigatório de raízes de plantas, denominado Polymyxa graminis. Os danos à produção provocados por mosaico costumam ser limitados às áreas da lavoura onde o vetor se concentra, mas sob condições ambientais favoráveis (frio e umidade), grandes áreas com cultivares suscetíveis podem ser comprometidas. O longo período de sobrevivência do vetor no solo e a ampla gama de plantas hospedeiras dificultam o controle desta virose de outra forma que não por meio da resistência genética. Logo, é fundamental caracterizar o nível de resistência e o dano potencial das cultivares disponíveis no mercado para auxiliar na tomada de decisão quanto ao seu emprego em áreas com histórico e/ou risco de mosaico comum. Neste sentido, este traba-
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Foto de microscopia de partícula viral extraída de planta de trigo com sintomas de mosaico comum
08 Novembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
Tabela 1 - Cultivares de trigo, avaliação visual de sintomas de mosaico comum e rendimento de grãos das parcelas de trigo. Embrapa Trigo - Passo Fundo, 2014 Cultivar TBIO MESTRE ORS VINTECINCO TBIO PIONEIRO JADEÍTE 11 BRS PARRUDO AMETISTA TOPÁZIO TBIO ITAIPU ESTRELA ÁTRIA BRS 331 TBIO SINTONIA TEC FRONTALE MIRANTE CD 1440 BRS 327 FUNDACEP BRAVO LG Prisma TBIO SINUELO TBIO CELEBRA TBIO IGUAÇU CD 1550 QUARTZO BRS MARCANTE LG ORO TEC VIGORE FUNDACEP HORIZONTE MARFIM FPS NITRON TEC 10 BRS GUAMIRIM Média
Avaliação (17/09/2014) 1,1 1,1 1,2 1 1,1 1,1 1,1 1,4 1,3 1,9 1,8 1,1 1,7 1,7 1,8 1,1 1,5 1,6 2,3 2,5 2,7 2,5 2,4 2,4 3,3 3,7 3,1 4,1 3,4 5 2,1
Avaliação (03/10/2014) 1 1 1 1,1 1 1,3 1,2 1,5 1,6 1,2 1,4 1 1,6 1,7 1,7 1,2 1,4 2,2 2,2 1,8 1,8 2,4 2,3 3,2 4 3,5 4,2 4,1 5 5 2,1
Nota final 1,0 1,0 1,1 1,1 1,2 1,3 1,3 1,4 1,4 1,5 1,5 1,5 1,6 1,7 1,7 1,8 1,8 1,9 2,0 2,1 2,1 2,3 2,5 2,5 3,2 3,3 3,5 3,6 4,3 4,8 2,1
Peso grãos (g/parcela) 43,5 63,8 58,0 46,9 52,5 45,0 57,3 44,0 50,1 34,0 50,3 51,0 51,2 46,8 45,7 51,1 51,5 38,5 41,6 37,8 35,0 40,0 45,3 48,8 43,8 31,4 24,9 27,1 13,3 19,9 43,0
* Avaliação visual de sintomas: 1 (verde escuro) = ausência de sintomas de mosaico comum; 2 (verde-claro) = plantas raramente com sintomas, sendo estes pouco evidentes; 3 (amarelo) = sintomas de mosaico mais frequentes e evidentes, sem aparente comprometimento do desenvolvimento da planta; 4 (laranja) = plantas sempre com sintomas típicos de mosaico com evidentes estrias amareladas nas folhas e colmos, porém sem redução evidente da estatura das plantas e do tamanho das espigas e 5 (vermelho) = plantas com sintomas de mosaico evidentes nas folhas e colmos e com evidente redução da estatura das plantas e do tamanho das espigas. Cores das células da coluna e peso de grãos (g/parcela): Vermelho menor que média - 1 desvio padrão, amarelo entre a média e -1 desvio padrão, verde-claro entre a média +1 desvio padrão. Verde-escuro acima da média +1 desvio padrão. Dados apresentados na 9ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (7 a 9 de julho de 2015, Passo Fundo – RS)
do desenvolvimento da planta, 4 = plantas sempre com sintomas típicos de mosaico com evidentes estrias amareladas nas folhas e colmos, porém sem evidente redução da estatura
das plantas e do tamanho das espigas, e 5 = plantas com sintomas de mosaico evidentes nas folhas e nas hastes e com comprometimento do crescimento normal com redução da
Fotos Douglas Lau - Embrapa Trigo
lho apresenta a caracterização, em condições padronizadas, da reação de cultivares de trigo que compõem o Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo do Rio Grande do Sul ao mosaico comum. Os resultados desta caracterização, realizada anualmente, são apresentados na Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale O ensaio é realizado em campo, em área experimental da Embrapa Trigo (Passo Fundo, Rio Grande do Sul) com histórico da ocorrência de mosaico comum (S28°13’; O52°24’). São caracterizadas as reações ao mosaico comum das 30 cultivares do Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo do Rio Grande do Sul (EECT-RS). As cultivares testemunhas do ensaio são Embrapa 16, resistente, e BRS Guamirim, suscetível. A área do ensaio contém solo manejado sem aração, em sistema de plantio direto. A semeadura manual é realizada no início de julho, sendo efetuada abertura de sulcos de plantio e adubação com N-P-K (5-25-25) em quantidade estimada de 260kg/ha. O ensaio é conduzido em blocos casualizados com cinco repetições para cada cultivar de trigo. Cada unidade experimental (parcela) é constituída por uma linha de 0,5m de comprimento com aproximadamente 30 sementes/linha. Para mapear a área quanto à ocorrência de mosaico, linhas com as cultivares Embrapa 16 e BRS Guamirim são intercaladas a cada cinco linhas das cultivares em teste. Para evitar o efeito de outras doenças, pragas e plantas daninhas, são realizados tratos culturais com fungicidas, inseticidas e herbicidas nas doses indicadas para a cultura do trigo. Nitrogênio em cobertura é aplicado na dose de 40kg de N/ha, no estádio de afilhamento, na forma de ureia. Para cada parcela, são avaliados os sintomas e classificadas as plantas nas seguintes categorias: 1 = ausência de sintomas de mosaico comum, 2 = plantas raramente com sintomas, sendo estes pouco evidentes, 3 = sintomas de mosaico mais frequentes e evidentes, sem aparente comprometimento
Campo com plantas de trigo com sintoma de mosaico comum. No canto inferior detalhe de uma planta com sintomas
Vista do ensaio para avaliação da reação de cultivares ao mosaico comum. As cultivares são plantadas em cinco blocos (números romanos)
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estatura das plantas e do tamanho das espigas. As avaliações visuais são realizadas no estádio de alongamento e espigamento para a maioria das cultivares. Após a colheita, é quantificado o peso total de grãos para cada parcela. Para a comparação entre as cultivares, são utilizadas as notas médias das avaliações visuais e o peso total de grãos produzidos por parcela. No ano de 2014, a distribuição de mosaico comum foi uniforme na área. Das 35 parcelas do controle suscetível (BRS Guamirim), apenas cinco (14%) não receberam a nota máxima (5) que é esperada para esta cultivar. Os efeitos da virose sobre a cultivar BRS Guamirim foram significativos, resultando em um rendimento de grãos de 26,5g/parcela. A cultivar Embrapa 16 (controle resistente) raramente apresentou alguma planta com sintomas de mosaico e o rendimento de grãos foi de 56,1g/parcela. Portanto, o rendimento de grãos da cultivar BRS Guamirim foi 52,8% menor que Embrapa 16. A homogênea distribuição da doença na área e os efeitos sobre as testemunhas indicam que os resultados de caracterização são seguros com baixa ocorrência de escape. Entre as cultivares de trigo analisadas, foram observadas diferenças quanto à reação ao vírus do mosaico comum (Tabela 1) variando de sintomas nítidos nas folhas, com evidente redução do desenvolvimento normal da planta até plantas assintomáticas e com desenvolvimento normal. A correlação entre a nota visual e o rendimento de grãos das parcelas foi de -0,83. Exibiram sintomas frequentemente as cultivares BRS Guamirim, TEC 10, FPS Nitron, Marfim, TEC Vigore, Fundacep Horizonte, LG Oro. Mais raramente, foram observados sintomas em Quartzo e BRS Marcante. Deste grupo, BRS Guamirim, TEC 10, FPS Nitron, Marfim e Fundacep Horizonte apresentaram baixo rendimento de grãos das parcelas (abaixo da média do ensaio
Douglas Lau - Embrapa Trigo
Figura 1 - Cada cultivar é semeada em uma linha de 0,5m. A cor/número dentro de cada célula reflete a incidência e severidade da doença de acordo com a escala = 1 = Ausência de sintomas de mosaico comum, 2 = Plantas raramente com sintomas, sendo estes pouco evidentes, 3 = Sintomas de mosaico mais frequentes e evidentes, sem aparente comprometimento do desenvolvimento da planta, 4 = Plantas sempre com sintomas típicos de mosaico com evidentes estrias amareladas nas folhas e nos colmos, porém sem evidente redução da estatura das plantas e do tamanho das espigas e 5 = Plantas com sintomas de mosaico evidentes nas folhas e nas hastes e com comprometimento do crescimento normal com redução da estatura das plantas e do tamanho das espigas.
10 Novembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
– 1 desvio padrão), sugerindo efeito negativo da virose sobre o rendimento de grãos. Este efeito foi mais evidente em TEC 10 e BRS Guamirim, que receberam nota 5 da escala em todas as parcelas na segunda avaliação. A cultivar TEC Vigore, embora tenha sempre exibido sintomas foliares evidentes (nota 4 na segunda avaliação), apresentou rendimento de grãos próximo à média do ensaio. LG Oro teve como nota máxima 4, sendo 3 a mais frequente, e suas parcelas apresentaram rendimento de grãos pouco acima da média do ensaio. Entre as cultivares avaliadas, muitas não exibiram sintomas e apresentaram excelente rendimento em área com forte pressão da doença, sendo opção para cultivo em áreas C com histórico de mosaico. Douglas Lau, Paulo Roberto V. da S. Pereira e Ricardo Lima de Castro, Embrapa Trigo
TRIGO
Charles Echer
Importância de tratar Cuidar da sanidade do material genético utilizado nas lavouras de trigo é tarefa indispensável para obter bons resultados e evitar prejuízos não somente na safra atual, mas também nos cultivos subsequentes. O tratamento de sementes é uma alternativa para ao menos minimizar a incidência de doenças causadas por fungos e bactérias
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ara obter sucesso na lavoura de trigo é imprescindível cuidar da sanidade das sementes, com especial cuidado aos patógenos vinculados a estes materiais genéticos, pois dão continuidade ao ciclo biológico. As sementes podem abrigar e transportar microrganismos de todos os grupos taxonômicos, patogênicos ou não. Por isso a detecção desses organismos torna-se uma das mais importantes ferramentas no manejo fitossanitário de doenças. Os resultados dos testes empregados para este fim podem indicar a ausência de patógenos ou, ainda, caso o patógeno esteja presente, o nível de inóculo nas sementes. A incidência e severidade dos patógenos variam com o tempo e em função de diversos fatores, como localização, temperatura e umidade. Assim, é importante o monitoramento contínuo a fim de supervisionar qualitativa e quantitativamente a presença desses patógenos veiculados às sementes de trigo (Brancão, 2008). A adoção de medidas conjuntas, como rotação de culturas, eliminação de plantas voluntárias e de hospedeiros secundários, tratamento e utilização de sementes sadias,
uso de cultivares resistentes, aplicação de fungicidas e de produtos alternativos, tornam mais eficiente o controle das doenças do trigo (Santos et al, 2011). Dos fitopatógenos encontrados nas sementes de trigo, os fungos são os mais numerosos e importantes que atacam os cereais de inverno. É o caso de Alternaria, fungo extremamente comum e saprofítico, conhecido como mancha de alternária, caracterizado pela ocorrência de um ponto negro no local da penetração do fungo, com um halo amarelecido ao redor pouco proeminente, porém não se desenvolve sobre as nervuras mais espessas e causa a desfolha das plantas (Reis & Casa, 2012).
BIPOLARIS SOROKINIANA
Bipolaris sorokiniana, causador da podridão comum das raízes, é responsável pela mancha marrom, considerada uma das doenças mais danosas à cultura do trigo, com perdas de 20% a 80% no rendimento (Barros et al, 2006). Sob condições favoráveis com temperatura de 20ºC e 28ºC e pelo menos 15 horas de molhamento foliar, a doença ocorre durante todo o ciclo da cultura (Bacaltchuk
et al, 2006). Com o progresso da doença, as lesões se tornam elípticas e geram abundante esporulação do fungo de coloração castanho-escuro, o que dá uma aparência negra às lesões (Prates & Fernandes, 2001). Os inóculos primários desta patologia são as sementes geralmente com ponta preta, restos culturais de centeio, cevada, trigo, triticale, plantas voluntárias, hospedeiros secundários e conídios dormentes no solo. Podem ser disseminados através de chuva, vento e sementes contaminadas (Kimati et al, 2005).
FUSARIUM
Fusarium é causado pelo fungo Gibberella zeae, que ocasiona a giberela no trigo. Os principais inóculos desses fungos são os ascósporos, que ficam sobre os restos culturais e que permanecem entre uma estação de cultivo e outra devido à ampla gama de hospedeiros podendo ser transportados pelo vento a longas distâncias e depositados sobre anteras causando infecção (Brasil, 2009). Também pode ser disseminado a curtas distâncias quando os conídios são transportados por respingos de chuva.
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Fotos Baseggio e Sexto, 2013
Figura 3 - Microscopia do fungo Fusarium Figura 1 - Microscopia do fungo Alternaria
DRECHSLERA
Drechslera causa a mancha amarela que é predominante no Rio Grande do Sul, favorecida pelo sistema de plantio direto, que propicia a sobrevivência e multiplicação do patógeno, bem como pelo clima da região, com condições ideais de temperatura entre 18ºC e 28ºC e período de molhamento foliar superior a 30 horas. É um fungo necrotrófico, portanto com capacidade de sobreviver em restos culturais.
Figura 2 - Microscopia do fungo Bipolaris
O sintoma mais característico é a mancha amarela. As lesões são elípticas ou em forma de diamante, geralmente com uma borda amarela e o centro marrom-escuro. Dependendo da cultivar, pode-se observar maior ou menor clorose e necrose, devido à ação de toxinas específicas do patógeno (Manning &
Ciuffetti, 2005). Além destes fungos que acometem as plantas nas lavouras, é necessário observar os fungos de armazenamento, como Aspergillus, verticillium e Penicillium, que causam perdas e deixam o cereal impróprio para o consumo humano ou animal. As bactérias fitopatogênicas podem estar associadas às sementes tanto externa quanto internamente. A contaminação pode ocorrer na cultura, no período de maturação da semente, quando o inóculo produzido sobre
Gráfico 1 - Quantidades de fungos encontrados em sementes não tratadas em meio BDA Gráfico 2 - Quantidades de fungos encontrados em sementes não tratadas em meio AA
Gráfico 3 - Quantidades de fungos encontrados em sementes tratadas em meio BDA
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Gráfico 4 - Quantidades de fungos encontrados em sementes tratadas em meio AA
Figura 6 - Meios de cultura com isolamento da semente de trigo Mirante Figura 4 - Microscopia do fungo Penicillium
Figura 5 - Amostra com incidência de Pectobacterium
folhas ou outras partes da planta atinge a sua superfície, por meio de respingos de chuva, água de irrigação, vento, insetos ou durante as operações de colheita, transporte, beneficiamento e armazenamento (Brasil, 2009).
esporulação dos patógenos. Após esse período, foi analisada a incidência de patógeno em cada meio de cultura. Na primeira amostra de sementes não tratadas em meio BDA ocorreu grande incidência de Pectobacterium. Isso pode ser explicado devido a não realização de um tratamento específico para bactérias em sementes. Os fungos de maior incidência foram Drechslerae bipolarise de armazenamento Penicilliume aspergillus, por carecer de tratamento fúngico e pelas sementes estarem armazenadas em sacos desde a safra anterior, muitas vezes em locais inadequados. Na amostra 2 de semente não tratada em meio AA, observou-se uma menor incidência de Pectobacterium e também dos fungos. A explicação pode residir no fato de esse meio ser mais utilizado para a germinação de esporos, funcionando como câmara úmida (Alfenas et al, 2007) e também por ter menos nutrientes para o desenvolvimento de organismos. Na amostra 3 de sementes tratadas em meio BDA, observou-se um aumento expressivo de Pectobacterium. Segundo Sexto (2013), as bactérias conseguem se desenvolver em meios onde há menor incidência de fungos. Obteve-se menor incidência de fungos devido ao tratamento das sementes, porém houve
PECTOBACTERIUM
Os sintomas causados por Pectobacterium se devem à produção de grandes quantidades de enzimas que degradam a parede celular das plantas. Variam de acordo com as condições do ambiente, resistência ou suscetibilidade da cultivar e parte da planta afetada (Tumelero & Denardin, 2008).
EXPERIMENTO COM TRATAMENTO DE SEMENTES
Foi realizado no Laboratório de Fitossanidade da Faculdade Ideau, um experimento utilizando sementes de trigo Mirante tratadas e não tratadas com thiran + carbendazin na proporção ml/kg em meios de cultura BDA (batata-dextrose-ágar) e AA (água-ágar). As sementes de trigo foram separadas em lotes de 50 sementes de cada método e colocadas em gerbox. Após, os meios permaneceram em câmara de crescimento a uma temperatura de 20ºC (± 2ºC), por um período de 12 horas de luz e 12 horas de escuro durante sete dias, induzindo a germinação das sementes e a
novamente o aparecimento de Bipolaris. Segundo Reis & Forcelini (1993), a ponta preta nem sempre se manifesta, fazendo com que a semente se mostre aparentemente sadia. Porém o fungo encontra-se no interior das sementes, dificultando a esterilização através do tratamento com fungicidas que atingem apenas o tegumento. A amostragem 4 apresentou somente fungos do gênero Bipolaris e novamente a incidência de bactérias, porém em menor quantidade que em meio BDA. A partir dos resultados obtidos no experimento observou-se que a eficácia de controle inferior a 100% não é suficiente e as sementes infectadas semeadas não cortam o ciclo de vida do parasita. Dessa forma, pode-se observar na pesquisa a grande incidência de patógenos em sementes não tratadas e sua significativa diminuição nas tratadas, demonstrando a importância do uso da quimioterapia, que embora não erradique as doenças, o que seria muito difícil, diminui a incidência. Se essas sementes fossem utilizadas em lavouras, certamente haveria grande índice de limiar de dano econômico na safra e também nos tratos culturais para C os próximos cultivos. Ediane Roncaglio Baseggio, UFFS - Campus Erechim/Fapergs Paloma Alves da Silva Sexto, Faculdade Ideau (RS)
ALGODÃO
Fotos Germison Tomquelski
Mais frequentes A frequência da incidência de ácaros em diversas culturas tem aumentado ao longo das últimas safras no Brasil. Em algodoeiro a praga ganha importância tanto pelos danos como pela necessidade de medidas de controle. Monitoramento, adoção de práticas culturais, uso de defensivos mais seletivos a inimigos naturais e atenção à tecnologia de aplicação estão entre as medidas para o necessário manejo integrado destes artrópodes minúsculos, porém agressivos
A
cultura do algodoeiro se destaca no Brasil por determinar o desenvolvimento de muitas regiões. A região dos Chapadões é uma das que foram impulsionadas em função do agronegócio em torno desta cultura. A cultura do algodoeiro no Brasil apresentou área de aproximadamente 1,017 milhão de hectares, e produção em torno de 1,532 milhão de toneladas de algodão em pluma na safra 2014/2015 (Conab, 2015). Na região dos Chapadões esta área totaliza em torno de 50 mil hectares. O agroecossistema utilizado no Centro-Oeste é um ambiente favorável à multiplicação de pragas, pois prevalece um sistema de produção em que a soja é a principal cultura a se estabelecer na grande maioria das áreas, sendo rotacionada muitas vezes com a cultura do algodoeiro ou milho em determinadas regiões e anos. Desta forma, o cultivo sucessivo destas
culturas faz com que muitas pragas se adaptem ao sistema. Aliado a isto, outros fatores como condições climáticas favoráveis, de altas temperaturas e de inverno ameno tornam-se ideais para a multiplicação dos insetos. Dentre os problemas, os ácaros têm aumentado a frequência no Brasil, principalmente em locais ou anos com maior incidência de veranicos, além do ataque as diversas culturas, e desta forma aumentando sua importância, tanto pelos danos causados, como pela necessidade de ações para o seu controle. Os ácaros-praga são artrópodes pertencentes à classe Arachinida, fitófagos e polífagos, ou seja, são encontrados em vários habitats e alimentam-se de diversas espécies vegetais onde perfuram as células com seus estiletes e se alimentam dos líquidos extravasados nas folhas. Se diferenciam dos insetos (classe Insecta) por não possuírem segmentação no corpo e por apresentarem quatro pares de
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pernas. No passado os ácaros fitófagos eram considerados pragas secundárias em algumas culturas, como o caso da soja. Porém, a utilização de alguns defensivos para o controle de pragas nas culturas fez com que os inimigos naturais fossem reduzidos drasticamente (como, por exemplo, os ácaros predadores da família Phytoseiidae), aumentando a população dos ácaros fitófagos, consideravelmente. E neste âmbito a cultura do algodoeiro não é diferente. A utilização de inseticidas, para o controle do bicudo-do-algodoeiro, tem proporcionado um aumento na população de ácaros. Os ácaros normalmente requeriam de duas a quatro intervenções por safra. Com a saída de moléculas do mercado de defensivos, como o caso do endossulfan, foi necessário ajustar novas estratégias de manejo, com outros inseticidas para o controle de diversas pragas, além do surgimento de novas (caso da
Figura 1 - Importância relativa de espécies-pragas presentes em plantas daninhas por ocasião da entressafra da cultura do algodoeiro. Fundação Chapadão 2012-2013
Aspecto do ataque de T. urticae em folhas de algodoeiro
Helicoverpa armigera), o que aumentou o número de aplicações de inseticidas na cultura. Pode-se ainda citar as diversas aplicações de fungicidas no controle das doenças, que tende a diminuir os fungos que poderiam atacar esta praga. Este ambiente favorece ao aumento populacional de ácaros, tendo os produtores de realizar um maior número de intervenções. Atualmente no Brasil, as espécies que atacam o algodoeiro são o ácaro-rajado Tetranychus urticae, o ácaro-verde Mononychellus
planki, ambos Tetraniquídeos, e o ácaro-branco Polyphagotarsonemus latus da família Tarsonemidae. De modo geral os ácaros perfuram as células e se alimentam do líquido exsudado. Entre as espécies, o ácaro-rajado é considerado por muitos pesquisadores como uma das mais importantes no sistema. Tetranychus urticae apresenta na fase adulta manchas no dorso, que são os depósitos de sua alimentação, retidos nos ventrículos. Colocam ovos esféricos de
coloração amarelada. Tecem teias que abrigam estes ovos conferindo proteção a diversos fatores (característica da família Tetranychidae). Passam pelas fases de larvas e ninfas, sendo divididas em proto e deutoninfas. É possível perceber a mudança nas folhas após a troca de fase. Pode-se processar o ciclo nas condições de Chapadão do Sul, em torno de 15 dias. As primeiras populações na cultura do algodoeiro iniciam-se a partir de plantas hospedeiras ou mesmo da dispersão de áreas
Fotos Germison Tomquelski
Algodoeiro atacado por T. urticae folhas avermelhadas com sintomas
Ataque de Polyphagotarsonemus latus em algodoeiro
vizinhas, em virtude do vento, e condições associadas como a aplicação em demasia de piretroides ou neonicotinoides na cultura. A colonização das plantas normalmente começa no terço superior. Esta praga em condições favoráveis pode ser altamente tolerante ao controle químico (Raizer et al 1985). Casos de resistência aos acaricidas já foram observados nas condições brasileiras (Sato et al 2009). O ácaro-verde (Mononychellus planki) é outra espécie encontrada, com menor frequência nas lavouras. Tende a se hospedar próximo às nervuras, ou mesmo quando do aumento da população entre as nervuras, normalmente iniciando na face inferior e, depois, quando em altas populações, chega a atacar a face superior das folhas, provocando alterações fisiológicas nas plantas, desfolha prematura, e diminuindo a produtividade da cultura. Esta espécie apresenta maior ocorrência normalmente nos estádios reprodutivos, principalmente quando o maior enfolhamento da lavoura, que propicia melhor condição de sobrevivência para os ácaros, e também ocorrência no final do ciclo da lavoura. Esta espécie Mononychellus planki é um ácaro de maior ocorrência no interior das plantas, colonizando primeiramente o terço médio e após o terço superior, causando desfolha precoce da cultura e diminuindo consequentemente a produção. O ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) apresenta ocorrência importante em diversas culturas. Em algodoeiro sua incidência está ligada principalmente ao período após as adubações nitrogenadas, além de outros nutrientes aplicados foliarmente, além de fatores coincidentes como dias úmidos, nublados e quentes. Ataca os tecidos jovens das plantas fazendo com que as folhas se desenvolvam de forma anormal, mantendo-se pequenas ou deformadas. A presença pode ser observada inicialmente por uma aparência brilhante da face inferior da folha acompanhada de ligeira ondulação desta, cujas margens se dobram para cima. Posteriormente, dobram-se para baixo, e o limbo torna-se coriáceo e quebradiço. Encontrado comumente em brotações novas e folhas novas.
Esta praga nos últimos anos tem aumentado em virtude de fenômenos como El Niño, que propiciam chuvas em períodos de maio e junho. Desta forma outra questão a ser considerada é a prática da adubação nitrogenada por ocasião dos 90 dias, o que pode proporcionar um aumento populacional se coincidente com outros fatores. Ao cessar das chuvas esta praga tende a diminuir. A amostragem, neste cenário, apresenta papel fundamental para o sucesso de manejo dos ácaros-pragas. Deve ser criteriosa, a fim de verificar o início das infestações e em virtude disto poder traçar as melhores alternativas de manejo. As infestações iniciam-se normalmente em reboleiras, e com o aumento populacional tende a se espalhar para todo o talhão, em função da sua dispersão, que pode ser pelo vento, além de outros meios. É imprescindível estar atento ao aumento populacional, pois ao se tomar alguma medida nestas condições, pode ser tarde, requerendo a utilização de uma sequência de estratégias para a melhor supressão da população. A partir da identificação o técnico deve analisar a cultura, o estádio, as condições de clima e assim se utilizar das estratégias disponíveis de Manejo Integrado de Pragas (MIP). O controle químico é a ferramenta mais empregada, no entanto, sem a observação destes critérios pode não ser possível controlar esta praga de forma satisfatória. Alguns defensivos apresentam também certa seletividade aos inimigos naturais nesta cultura, e dentro do cenário adverso de um grande número de aplicações, isto deve ser considerado a fim de
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melhorar o MIP. Dentro do MIP o manejo cultural é uma medida recomendada. Em trabalhos realizados pela Fundação Chapadão tem se observado frequência alta desta praga nas soqueiras mal destruídas, de uma safra para outra. Outras plantas daninhas como Commelina benghalensis (trapoeraba) em levantamentos nos anos de 2012 e 2013 apresentaram grande frequência de ácaros (Figura 1). Vale salientar que culturas utilizadas como cobertura também podem hospedar os ácaros, além de outras tigueras como o milho. Outro ponto sensível é o estimulo à reprodução dos ácaros, chamado de hormoligose, que provoca o aumento populacional dos indivíduos, propiciado por inseticidas piretroides, neonicotinoides e outros. A utilização de acaricidas é uma alternativa rápida e eficiente a fim de evitar os surtos destas pragas. No entanto, existem algumas diferenças na ação destes produtos. Alguns apresentam ação somente em adultos, não controlando fases como ovos e ninfas. Vale ainda salientar o poder residual de determinados acaricidas, o que confere interessante supressão nas diversas fases da praga. Estas diferenças na ação dos acaricidas devem ser levadas em consideração, sendo necessário, em alguns casos, a reaplicação na cultura, a fim de evitar os prejuízos. O ajuste de dose para cada espécie de ácaro não pode ser esquecido. Entre os acaricidas são exemplos espiromesifeno, abamectina, clorfenapyr, propargito e diafentiuron, com eficiências interessantes dentro das estratégias de manejo desta praga. Para alguns destes acaricidas é recomendado adjuvante específico (muitas vezes óleo vegetal), o que propicia maiores eficiências. Por serem pragas de difícil controle, a tecnologia de aplicação também exerce papel relevante no combate desta importante praga C para a cotonicultura. Germison Tomquelski, Gabriella Manna e Josiane Oliveira, Fundação Chapadão
C
Tomquelski, Gabriela e Josiane destacam a importância do manejo integrado de ácaros
SOJA
Fotos Thaise Dieminger Engroff
Estatura e produtividade Daninhas limitam a produtividade da soja, pois competem por água, luz e nutrientes, são hospedeiras de patógenos, dificultam a colheita e interferem em características morfológicas, como a altura das plantas. Época de semeadura, densidade, condições ambientes e comportamento de cultivares também são aspectos importantes neste contexto
A
cultura da soja apresenta grande sensibilidade à interferência de daninhas, causadoras de severos danos ao desenvolvimento das plantas. Isso ocorre principalmente por competirem por recursos existentes no meio, serem hospe-
deiras de agentes causadores de doenças, liberarem substâncias alelopáticas e prejudicarem os processos de colheita. A redução na produtividade da cultura pela presença de plantas daninhas ocorre devido à competição por recursos do meio
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como água, nutrientes e luz, além de favorecerem alterações morfológicas nas plantas cultivadas. Dessa forma, infere-se que as culturas tendem a incrementar altura quando se encontram sob competição, como uma forma de se sobressaírem sobre as demais plantas presentes para que possam maximizar a captação de radiação solar. A semeadura da cultura da soja em diferentes épocas também pode acarretar modificações na altura de planta. Porém, a densidade de semeadura é outro fator que influencia nessa variável, pois quanto maior a densidade, maior será a altura final da
Cultivares de soja submetidas ao convívio de plantas daninhas
planta. Características das atuais cultivares de soja fazem com que se sobressaiam na competição com espécies infestantes, dentre as quais a rápida emergência e a boa cobertura do solo no período da fase vegetativa. Nos estudos de interferência das plantas daninhas, três períodos são considerados importantes: período anterior à interferência (PAI), período total de prevenção à interferência (PTPI) e período crítico de prevenção à interferência (PCPI). O PAI situa-se entre os dez e os 33 dias após a emergência da soja. É a época de maior importância para o manejo de plantas daninhas, período onde deve haver medidas eficientes de manejo, a partir do qual o rendimento da cultura é significativamente afetado. Com o objetivo de avaliar a altura e a produtividade de três cultivares de soja, submetidas a épocas de semeadura, e a convivência ou não com plantas daninhas voluntárias durante todo o ciclo, foi conduzido um trabalho no município de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, no campus da Universidade Federal de Santa Maria, no ano agrícola 2013/2014. Foram empregadas três épocas de semeadura da soja (15 de outubro, 15 de novembro e 15 de dezembro), utilizadas para simular os diferentes períodos adotados no campo. A dimensão das parcelas experimentais foi de cinco linhas de três metros de comprimento espaçadas a 45cm. Realizou-se adubação de acordo com os resultados da análise de solo da área experimental. As cultivares de soja e suas principais características são apresentadas na Tabela 1. Simultaneamente foram implantadas as cultivares em suas respectivas épocas, uma área na presença e outra na ausência, de plantas daninhas voluntárias. Nos tratamentos com convivência de plantas
Cultivares de soja submetidas ao convívio de plantas daninhas (esquerda) e medição da altura de plantas de soja (direita), realizadas no município de Frederico Westphalen (RS), 2014
daninhas, não foi realizado nenhum tipo de controle químico ou mecânico. Apenas a cultura conviveu com o crescimento voluntário de espécies daninhas durante todo o período de cultivo. Já os tratamentos sem o convívio receberam controle químico durante todo o cultivo, para que não houvesse competição entre espécies. A avaliação de altura foi realizada aos 45 dias após cada data de semeadura, data escolhida por ser logo após o período anterior à interferência (PAI), avaliando quatro plantas aleatórias no centro de cada parcela, com auxílio de uma régua graduada em centímetros. A colheita das plantas foi realizada após os grãos atingirem a maturação, sendo que a produtividade de grãos foi determinada pela coleta das plantas contidas nas três linhas centrais de cada parcela, totalizando uma área útil de 1,35m². Após a trilhagem manual, os grãos foram pesados e os dados
transformados em kg/ha a 13% de umidade. A produtividade de grãos da cultura da soja, de maneira geral, foi maior na ausência de plantas daninhas. Na época de semeadura de 15 de outubro, esta tendência pode não ter sido observada, devido ao banco de sementes das invasoras ser baixo, a ponto de não comprometer a variável analisada. As cultivares BMX Tornado RR e TEC 7849 Ipro apresentaram produtividade superior na ausência de espécies daninhas, comportamento não observado na cultivar TEC 5718 Ipro. Estes resultados corroboram com Vazquez, et al (2014), que encontraram resposta diferenciada na produtividade de soja de acordo com a cultivar usada, e do uso ou não de herbicidas. Na comparação entre cultivares sem a presença de plantas daninhas, a BMX Tornado RR demostrou resultados superiores às demais cultivares.
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Fotos Thaise Dieminger Engroff
Na Tabela 3, onde se apresentam dados de altura de planta, a cultivar BMX Tornado RR na época de semeadura de 15 de novembro apresentou valores superiores às outras duas épocas, tanto no tratamento com convivência de plantas infestantes, quanto na ausência. Na data de 15 de outubro, com convivência das plantas daninhas a altura foi maior (43,32cm) comparado à presença (39,00cm), para a mesma cultivar. Estudos comprovam que as plantas tendem a incrementar a altura em convivência com plantas invasoras devido à diminuição da qualidade da luz, para assim se sobressair sobre as plantas daninhas. Isto é uma aclimatação relativa à competição das plantas (Jensen et al, 1998). Na semeadura do dia 15 de dezembro para a cultivar TEC 5718 Ipro, observa-se a superioridade desta época de semeadura sobre as demais, porém com pequenas diferenças entre as épocas, no tratamento com daninhas. Para a primeira época (15 de outubro), o tratamento sem daninhas desta cultivar foi superior ao tratamento com plantas daninhas. A cultivar TEC 7849 Ipro apresentou uma maior estatura nos tratamentos com a ausência de daninhas nas semeaduras de outubro e dezembro. Na semeadura de novembro, a cultivar atingiu 54,33cm com a presença de plantas daninhas, sendo superior ao tratamento sem daninhas. Comparando somente o cultivo com a presença de plantas infestantes desta cultivar, as plantas de soja com maior altura foram detectadas na época de 15 de novembro. A data de semeadura de 15 de dezembro está próxima da época de recomendação dessa cultivar, e por se caracterizar por porte alto e crescimento indeterminado, este tratamento sem a presença de plantas daninhas obteve a altura de 63,33cm No mês de janeiro a precipitação foi de 246,4mm, o que favoreceu o cultivo, porém em fevereiro a chuva foi de apenas 16,2mm, o que afetou o experimento. Este fator também pode ter influenciado
Diferentes épocas de semeadura de soja na ausência de plantas daninhas
na resposta das cultivares, principalmente pela competição entre as espécies daninhas e a soja pela pouca água disponível no mês de fevereiro. A presença ou a ausência de plantas infestantes faz com que a cultura da soja responda diferencialmente em cada situação, podendo não expressar seu máximo potencial produtivo, modificando assim suas características morfológicas como a altura de planta. Porém, a época de semeadura é de suma importância na condução da cultura, por isso devem ser observados o zoneamento e o ciclo de cada cultivar.
Thaise Dieminger Engroff, Braulio Otomar Caron, Ana Paula Rockenbach, Elvis Felipe Elli e Luciano Schievenin, UFSM Elder Eloy, UFPR
Tabela 1 - Cultivares de soja utilizadas, porte, grupo de maturação (GM), hábito de crescimento e épocas de semeadura para a região de Frederico Westphalen/RS, 2014 Cultivar Características BMX Tornado RR Porte alto, GM 6.2, hábito de crescimento indeterminado, semeadura recomendada de 25 de outubro a 30 de novembro. TEC 7849 IPRO Porte alto, GM 7.8, hábito de crescimento indeterminado, semeadura recomendada de 25 do dezembro a 20 de janeiro. TEC 5718 IPRO Porte baixo, GM 5.9, hábito de crescimento determinado, época de semeadura recomendada de 10 a 25 de novembro.
Tabela 2 - Produtividade de grãos (kg/ha) da soja em diferentes épocas de semeadura e sobre a presença (com) ou não (sem) de plantas daninhas voluntárias. Frederico Westphalen/RS, 2014
Épocas diversas de semeadura de soja na ausência de plantas daninhas
Também é preciso considerar as condições ambientais a que serão expostas as plantas, uma vez que todos estes fatores podem interferir no desenvolvimento da cultura C da soja.
Plantas Época de semeadura Daninhas 15/nov 15/out 15/dez Com 2.078,09 2.708,48 2.410,13 Sem 2.880,06 2.540,96 2.844,89 Plantas Cultivar Daninhas BMX Tornado RR TEC 7849 IPRO TEC 5718 IPRO Com 2.026,16 2.452,47 2.718,06 Sem 2.462,46 3.264,23 2.539,22
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Tabela 3 - Altura de planta (cm) de três cultivares de soja (BMX Tornado RR, TEC 5718 Ipro e TEC 7849 Ipro), cultivadas em três épocas de semeadura (15/outubro, 15/novembro, 15/ dezembro/2013), submetidas ao convívio ou não com espécies daninhas voluntárias. UFSM, Frederico Westphalen/RS 2014 Cultivar BMX Tornado RR TEC 5718 Ipro TEC 7849 Ipro
Plantas Daninhas Com Sem Com Sem Com Sem
Época de semeadura 15/nov 15/nov 15/dez 43,32 41,37 52,70 39,00 41,99 52,62 52,80 55,00 53,20 54,32 59,21 48,14 44,35 51,58 54,33 46,13 63,33 51,95
Os efeitos climáticos do El Niño e o registro de ocorrências de ferrugem asiática em soja voluntária desde o final de agosto dão indícios de que a doença pode encontrar um cenário favorável na safra 2015/16, bem como atacar de modo antecipado as lavouras comerciais, como ocorreu em 2009. É preciso manter atenção e adotar estratégias de controle como emprego de variedades resistentes quando disponíveis, uso de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada, redução da janela de semeadura, monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento e aplicação de fungicidas preventivamente ou ao aparecimento dos primeiros sintomas
Embrapa Soja
ESPECIAL FERRUGEM
Sinal de alerta
A
safra de soja 2014/2015, como em outros anos, registra peculiaridades em relação à ocorrência da ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, variando em incidência e severidade nas diferentes regiões de cultivo, mas, como sempre, provocando redução de produtividade para alguns e aumento do custo de produção para a maioria. Após o término do vazio sanitário, entre os dias 15 de setembro e 1º de outubro de 2015, nos principais estados produtores de soja no Brasil iniciou-se a safra de soja 2015/2016. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), essa safra sofrerá influência do fenômeno El Niño. Com isso, podem ocorrer chuvas irregulares no Sudeste e no Centro-Oeste, chuvas abaixo da média na região Nordeste e chuvas acima da média na região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Desta forma, existe a possibilidade de ser uma safra favorável para a ocorrência da ferrugem, principalmente na região Sul. Adicionalmente a essa constatação, o site
do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net) registrou ocorrências de ferrugem em soja voluntária na entressafra, com os primeiros casos a partir de 27 de agosto de 2015. Os relatos foram registrados nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, de São Paulo, do Mato Grosso e de Tocantins, totalizando 42 ocorrências (Figura 1). De acordo com o histórico do site, a partir da adoção do vazio sanitário, sintomas de ferrugem aparecem a partir do mês de dezembro nas lavouras comerciais. A exceção ocorreu em ano de El Niño, como em 2009, quando a incidência em lavouras comerciais foi antecipada. Sendo assim, cabe aos agricultores e aos técnicos ficarem bastante atentos, fazendo o monitoramento das lavouras em busca da doença, procurando informações em instituições de pesquisa e/ou ensino e utilizando os fungicidas adequados, caso haja necessidade de aplicações.
MANEJO DA DOENÇA
Em relação ao controle da ferrugem, a
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maior preocupação no momento é referente ao fungo estar se adaptando aos fungicidas, ocasionando redução na sua eficiência. Os principais produtos utilizados desde a entrada da ferrugem no Brasil foram os fungicidas sistêmicos, ou sítio-específicos, com destaque para os inibidores da desmetilação (DMI, “triazóis”) isolados ou em misturas com inibidores de quinona oxidase (QoI, “estrobilurinas”). Na safra 2013/14 novos produtos com outro modo de ação passaram a integrar o controle da ferrugem, atuando na inibição da succinato desidrogenase (SDHI, “carboxamidas”), sendo registrados em misturas com QoI. Os fungicidas SDHI entram em um contexto onde a menor sensibilidade aos fungicidas DMIs e QoIs já é uma realidade para P. pachyrhizi e, por terem maior eficiência, tendem a ser produtos bastante usados no manejo. O excessivo número de aplicações pode exercer alta pressão de seleção para resistência a esse modo de ação. De acordo com os ensaios cooperativos para ferrugem de 2014/15, somente cinco produtos registrados no Brasil apresentaram eficiência de controle
superior a 50%. Por isso, é importante utilizar estratégias antirresistência que, de maneira geral, incluem rotacionar e empregar misturas comerciais de fungicidas com diferentes modos de ação, utilizar dose e intervalo de aplicação recomendados pelo fabricante e quanto aos produtos com carboxamidas, não devem ser utilizados em mais que duas aplicações por cultivo nem quando a doença já estiver instalada na lavoura. Além disso, todas as estratégias de controle disponíveis devem ser utilizadas, como a adoção do vazio sanitário, a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada, a redução da janela de semeadura, o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento, a utilização de fungicidas no aparecimento dos primeiros sintomas ou preventivamente (baseado na situação de inóculo na região, aplicando logo antes do fechamento das entre linhas da soja) e a utilização de cultivares resistentes, quando disponíveis.
MEDIDAS LEGISLATIVAS
L. Hoffmann
Atentos ao problema da ferrugem da soja, alguns estados estabeleceram medidas, por meio de instruções normativas e portarias, com o objetivo de reduzir a pressão de seleção para resistência aos fungicidas. O estado de Goiás publicou uma medida de restrição de semeadura da soja por meio da Agência de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), que aprovou em novembro de 2014 a Instrução Normativa nº 08/2014, que estipula o calendário para a semeadura da soja no estado, que só poderá ser semeada entre 1º de outubro e 31 de dezembro. No estado do Mato Grosso, a Instrução Normativa (IN) conjunta nº 01/2015 da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), da Secretaria de Agricultura Familiar
(Seaf) e do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea-MT), divulgada em 10 de fevereiro, havia alterado a vigência do vazio sanitário para 1º de maio a 15 de setembro. No entanto, com a nova IN conjunta Sedec/Indea-MT nº 02/2015, publicada em 29 de setembro de 2015, o período do vazio voltou a ficar entre 15 de junho e 15 de setembro e a semeadura de soja no estado só poderá ser realizada entre 16 de setembro e 31 de dezembro de cada ano. Além disso, não será permitidaa semeadura de soja sobre soja na mesma área (soja safrinha) e o prazo final para colheita de áreas cultivadas será 5 de maio. Nesse último caso poderão permanecer no campo somente as plantas de soja guaxa ou de germinação espontânea de grãos oriundas das perdas da colheita, até a data estabelecida para o início do vazio sanitário. Também, de acordo com a IN, o produtor fica obrigado a fazer o tratamento de plantas de soja para o controle da ferrugem, com fungicidas registrados, compostos pela mistura de ingredientes ativos de diferentes grupos químicos, devendo realizar no mínimo duas aplicações, sendo que para os cultivos de soja cuja colheita ocorra nos meses de dezembro e janeiro, uma dessas aplicações deve se dar no estádio R5.3. Da mesma forma ocorrerá no Paraná, por meio da Portaria 193, de 6 de outubro de 2015, mas só a partir da safra 2016/2017. Por essa portaria, fica estabelecido o período de semeadura da soja entre 16 de setembro e 31 de dezembro de cada ano, e o prazo final para colheita ou interrupção do ciclo da cultura (dessecação) a data de 15 de maio. Todas essas medidas têm como objetivo reduzir as semeaduras tardias, que necessitam de maior número de aplicações de fungicidas em razão da incidência precoce da ferrugem e, consequentemente, aumentam o risco do aparecimento de resistência aos fungicidas.
OUTRAS AÇÕES
Paralelamente às ações governamentais, algumas associações ligadas ao agronegócio têm se mobilizado para enfrentar o problema da ferrugem na soja. Um exemplo foi a divulgação, em 2015, do documento “Propostas para o enfrentamento da ferrugem asiática no Brasil”, assinado pelo Instituto de Estudos do Agronegócio (Ieag), pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), pelo Consórcio Antiferrugem e pela Aprosoja Brasil, e que deverá ser encaminhado para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério do Meio Ambiente/Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (MMA/Ibama). Esse documento tem como principais propostas: 1) estabelecer força-tarefa nos órgãos reguladores para concluir o processo de avaliação de fungicidas em fase de registro com boa performance nos ensaios cooperativos para controle da ferrugem da soja; 2) garantir o acompanhamento pelos órgãos reguladores dos resultados dos próximos ensaios cooperativos para identificar e dar prioridade de registro às novas formulações promissoras para o controle da ferrugem; 3) atualização do marco regulatório dos agroquímicos de forma que promova previsibilidade, transparência e ciência como base de análise; 4) uniformização do vazio sanitário e período de semeadura de soja no Brasil, de acordo com as peculiaridades climáticas de cada estado; 5) regulamentação da mistura em tanque para pulverização de agroquímicos. C Rafael Moreira Soares, Cláudia Vieira Godoy e Claudine D. Santos Seixas, Embrapa Soja
Figura 1 - Site do Consórcio Antiferrugem em 30 de outubro de 2015, mostrando ocorrências de ferrugem em soja voluntária
Soja voluntária com ocorrência de ferrugem na entressafra de 2015, no estado do Rio Grande do Sul
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Em um cenário de difícil interação entre logística, escala de cultivo e ações de manejo integrado, combater a ferrugem asiática de modo sustentável é um grande desafio, que demanda harmonizar estratégias tecnicamente embasadas, sem conflito com limitações operacionais. Na safra 2015/2016 os fatores preliminarmente observados apontam para um nível de risco alto, que exige proteção e cautela por parte do produtor. A evolução do patógeno na lavoura é extremamente rápida e não tolera atrasos na tomada de decisão e na execução das ações de controle
Marcelo Madalosso/ Instituto Phytus
ESPECIAL FERRUGEM
Equação complexa
C
ontrolar doenças considerando as características da lavoura brasileira é, sobretudo, um exercício de estratégia operacional e técnica. No âmbito da estratégia operacional, fatores climáticos são tão impactantes quanto a escolha de uma cultivar, de uma data de semeadura, sistema da
semeadora ou opção de programas de controle químico. Em um cenário, cuja diversidade de alvos é crescente e precocemente estabelecida, programas de controle também devem considerar diferenciais fitotécnicos e fisiológicos das cultivares de soja como ponto básico na definição
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de programas de manejo sustentáveis, além daqueles tradicionalmente considerados do ponto de vista da evolução das doenças. A dimensão das áreas de cultivo, principalmente no Cerrado brasileiro, obriga os produtores a priorizarem aspectos gerenciais e operacionais, muitas
Aplicações de fungicidas em soja x níveis de severidade da ferrugem asiática
controle químico destinam-se a proteger a planta, o correto é ter claro em que momento da patogênese está sendo empregado, independentemente do estádio fenológico da cultura. Aplicar no estádio R1 da soja pode não indicar absolutamente nada em termos de evolução da ferrugem da soja. Por outro lado, se as aplicações necessitam ser protetoras, têm que ser realizadas nos estádios iniciais da patogênese, o que pode ocorrer em quaisquer estádios de desenvolvimento da planta, mas sempre nos estádios iniciais da infecção. Em safras como a que está por vir, 2015/2016, as condições climáticas serão decisivas, tanto do ponto de vista operacional como da disponibilidade de inóculo. Normalmente existe uma migração de inóculo desde locais onde a soja é semeada mais cedo, iniciando um crescimento da densidade de inóculo no ar. Como o inverno de 2015 foi ameno no Sul do Brasil e a presença de soja safrinha ganhou proporções maiores em relação às últimas safras em todo o Brasil, foi possível observar, praticamente em todos os locais onde houve soja voluntária presente na entressafra, infecção nas plantas de soja. Este crescimento, na disponibilidade de inóculo primário, aliado às condições úmidas previstas para a safra de verão, garante infecções mais severas e, pro-
Divulgação
vezes em detrimento de programas, mesmo que tecnicamente eficientes no controle das doenças. O grande desafio, neste caso, é o desenho de estratégias que sejam tecnicamente embasadas, mas não conflitantes com limitações operacionais. Por outro lado, ao considerar Phakopsora pachyrrizi, analisa-se um patógeno cuja evolução na lavoura é extremamente rápida, não permitindo atrasos na tomada de decisão e tampouco na execução das ações de controle. Por esta razão, o controle da ferrugem asiática tem se tornado uma tarefa complexa e dispendiosa. O que inicialmente parecia ser resolvido através da adoção direta de programas de controle químico preventivo, converteu-se em uma difícil interação entre logística, escala de cultivo e ações de manejo integrado. Os programas de controle químico são fundamentados na escolha e no posicionamento de fungicidas em momentos definidos do ciclo da soja. Contudo, uma eficácia elevada de controle somente será obtida se forem considerados fatores ligados ao patógeno, ambiente e planta hospedeira. Neste caso, é fundamental considerar as características intrínsecas dos fungicidas para que sua utilização, em momento correto da patogênese, produza um controle eficaz do patógeno. Na medida em que os programas de
vavelmente, antecipadas. Este cenário torna-se mais difícil a partir do mês de dezembro. É provável que, para semeaduras de outubro possa ser iniciado o controle 45 dias após a emergência, mas para as semeaduras de novembro o momento ideal de controle seja 25 dias depois da emergência. Não se trata de uma simples calendarização, mas da perspectiva de incremento de inóculo no ar com o avançar da safra. Acredita-se que a janela ideal para a pulverização inicial em sojas semeadas no início de dezembro seja entre 15 dias e 20 dias após a emergência. As perspectivas de controle da ferrugem da soja na safra 2015/2016 apontam para um cenário com dificuldade crescente. Havendo condições ambientes locais favoráveis, quaisquer erros serão decisivos. Como os residuais obtidos em condições normais de lavoura estão ao redor de 15 dias ou menos, caso o sistema El Niño efetivamente ocorra o produtor irá aplicar seus produtos quando puder, mas não no momento que efetivamente for correto. Neste caso, sempre a antecipação será mais prudente e rentável. Do mesmo modo, em condições de alta umidade e temperatura, o crescimento vegetativo será maior, dificultando uma correta penetração de gotas e cobertura com um número mínimo de gotas. Neste sentido, o atraso nas aplicações acarretará deposição e coberturas insuficientes, resultando em uma subdose do fungicida, residual inferior, controle ineficaz e, portanto, baixa produtividade. Nesta safra, por todos os fatores preliminares que estão sendo observados, o nível de risco é extremamente alto, exigindo por parte do produtor uma atitude de proteção e cautela. C Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria
Distribuição de Phakopsora pachyrhizi na América do Sul
TESTEMUNHA
AZOXISTROBINA (ESTROBILURINA) + BENZOVINDIFLUPYR (PIRAZOL CARBOXAMIDA) É fundamental considerar as características intrínsecas dos fungicidas para que sua utilização, em momento correto da patogênese, produza controle eficaz do patógeno
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Corós, percevejos e larva-alfinete estão entre as pragas que afetam as sementes e raízes na cultura do milho. Seu manejo, para que alcance eficiência, passa principalmente por táticas preventivas, com o monitoramento preciso deste grupo de insetos antes mesmo da instalação da lavoura
A
s plantas de milho podem ser atacadas por pragas desde a germinação das sementes e emergência das plantas até a sua fase de maturação fisiológicado grãos, sendo esses organismos maléficos constituídos por insetos, moluscos, diplópodes e ácaros. Os problemas se iniciam com a presença de lagartas na cobertura a ser dessecada para a semeadura do milho e dos insetos de solo, que atacam as sementes e as raízes desta cultura, seguidos pelas pragas de superfície que afetam especialmente as plântulas. Em seguida, vêm as lagartas, que se alimentam de folhas e da espiga e, finalmente, os sugadores como os pulgões, percevejos e a mosca-branca, que atingem as folhas ou os grãos em formação.
afetando negativamente o estabelecimento do estande, o vigor e o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, a produtividade da cultura. Dentre as pragas que atacam as raízes do milho na região Centro-Oeste, destacam-se as larvas subterrâneas rizófagas de besouros melolontídeos, também denominadas de coró, bicho-bolo ou pão-de-galinha, a larva-alfinete e o percevejo castanho-da-raiz, os quais, embora possam ocorrer durante todo o ciclo da cultura, causam danos mais severos nos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas. Essas pragas apresentam normalmente hábitos alimentares polífagos, ou seja, que
PRAGAS DE SEMENTES E RAÍZES
As pragas que atacam as sementes e raízes do milho são normalmente insetos subterrâneos pertencentes a diferentes grupos taxonômicos, sendo Coleoptera e Hemiptera as duas principais ordens que abrangem este complexo de organismos. Este grupo de pragas apresenta, normalmente, uma forte associação com o solo onde ocorre e pode destruir as sementes ou as raízes do milho,
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se alimentam de várias espécies de plantas, sejam elas cultivadas ou não.
CORÓS RIZÓFAGOS
Corós rizófagos são larvas de coleópteros da família Melolonthidae que apresentam o corpo de coloração branca, três pares de pernas torácicas e se posicionam no formato de U, quando em repouso. Os danos de corós no milho são causados pelo consumo de raízes, acarretando-se redução na capacidade das plantas de absorver água e nutrientes, ingredientes esses essenciais para o seu desenvolvimento. Essa intensidade de danos é maior em plantas jovens de milho, cultivadas em solo de baixa fertilidade, com camadas adensadas e sob condições de déficit hídrico. As plantas atacadas por corós apresentam inicialmente desenvolvimento reduzido, seguido por amarelecimento, murcha e morte, podendo esses sintomas ocorrer em grandes
Fotos Dirceu Gassen
MILHO
Controle preventivo
reboleiras distribuídas irregularmente nas lavouras. Em condições de alta infestação de corós no solo, pode ocorrer até 100% de perda da lavoura, especialmente quando a presença de larvas mais desenvolvidas coincide com a fase inicial de desenvolvimento das plantas de milho. Os corós Liogenys suturalis e Phyllophaga cuyabana são espécies que apresentam uma geração/ano (univoltino) e que tradicionalmente ocorrem nas lavouras de milho do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. P. cuyabana é uma espécie que pode causar danos tanto em milho como na soja, enquanto L. suturalis está associado somente a gramíneas como milho, trigo e aveia. As revoadas de adultos destas espécies ocorrem durante os meses de setembro a novembro. Após o acasalamento, os ovos são colocados no solo, onde se dá o completo desenvolvimento das fases imaturas do inseto. As larvas apresentam três estágios de desenvolvimento (instares) e, no final do terceiro estágio, entram no de pré-pupa, quando não mais se alimentam e apresentam baixa mobilidade. Nos estados de Goiás e Mato Grosso tem-se também constatada a espécie de coró Liogenys fusca que apresenta grande potencial de danos tanto em milho como na soja. Após completar o seu ciclo, os adultos saem do solo entrando em revoada nos meses de setembro e outubro, coincidentemente com as primeiras chuvas da região. Em semeaduras tardias ou no cultivo do milho “safrinha” os danos são maiores, uma vez que neste período há predomínio de larvas de 2o e 3o instares que são mais vorazes. As larvas de 3o instar apresentam mobilidade no solo e, no início do período de estiagem, aprofundam-se até 20cm e 30cm, onde constroem sua câmara pupal. Quando param de se alimentar, limpam o abdome e transformam-se em pupa dentro da câmara pupal entre os meses de julho e agosto. Os adultos permanecem no solo por aproximadamente 30 dias, aguardando a presença de umidade ideal para sua emergência. Após as primeiras chuvas, entre os meses de setembro e outubro, começa novamente a revoada e a fase de postura. Outras espécies de corós de menor importância econômica como Diloboderus abderus ou Cyclocephala sp. podem, eventualmente, ser observadas em associação com o milho em especial na região Sul do País.
mais acentuada na região dos Cerrados. O ataque desses insetos ocorre, normalmente, em grandes reboleiras nos cultivos de milho, sendo observados focos de infestação de até 70 hectares. Os danos são decorrentes da sucção contínua da seiva nas raízes do milho, o que pode levar ao enfraquecimento ou até mesmo à morte das plantas. As diferentes espécies de plantas hospedeiras das quais o percevejo castanho-da-raiz se alimenta, apresentam graus diferenciados de suscetibilidade ao seu ataque. Ávila et al (2009) constataram que o algodoeiro foi a espécie mais suscetível à alimentação de S. castanea, seguido por soja, milho, sorgo e arroz. Esses percevejos predominam em solos arenosos, especialmente naqueles com pastagem degradada. Os sintomas de ataque nas plantas dependem da intensidade e da época de ocorrência da praga na cultura, variando do murchamento e amarelecimento das folhas a um subdesenvolvimento e secamento da planta, podendo causar acentuadas perdas da lavoura. A presença dos percevejos castanho-da-raiz nas lavouras é facilmente reconhecida pelo forte cheiro que estes insetos exalam, quando o solo é movimentado nas áreas infestadas. No Brasil, as principais espécies de percevejo-castanho associadas à cultura do milho são Scaptocoris castanea, S. carvalhoi e S. buckupi. Ávila et al (2009) constataram que em Mato Grosso do Sul ocorre, pelo menos, duas espécies de percevejo castanho: Scaptocoris castanea e S. carvalhoi. A primeira espécie foi encon-
trada em lavouras de soja, algodão e milho e a segunda em áreas de pastagens. Nos últimos anos foram também constatadas severas infestações de percevejos castanho-da-raiz, especialmente nos sistemas de plantio direto do Cerrado brasileiro. Em Goiás, as revoadas dessa praga iniciam-se no período chuvoso durante o mês de novembro e persistem até março, período em que há predominância de adultos no solo. Em Mato Grosso há ocorrência da espécie S. castanea em todas as regiões do Estado. Já a espécie S. carvalhoi foi identificada na região Leste, em áreas de soja, milho e algodão. As informações mais recentes sobre os percevejos castanho-da-raiz foram obtidas por Nardi (2006), que descreveu a ocorrência do polimorfismo alar em S. carvalhoi. Esse estudo revelou a existência de indivíduos de asas curtas (braquípteros) e longas (macrópteros), destacando a importância dessas alterações morfológicas para a colonização de novas áreas, uma vez que a revoada, realizada somente pelos adultos macrópteros, constitui-se na única forma de dispersão desses insetos por longas distâncias. Durante períodos do ano de maior umidade, este inseto permanece nas camadas mais superficiais do solo, mas, em condições mais secas, se desloca para camadas inferiores, chegando a profundidades além de 1,5m.
LARVA-ALFINETE
À semelhança do coró, a larva-alfinete (Diabrotica speciosa) alimenta-se das raízes
PERCEVEJO CASTANHO-DA-RAIZ
No Brasil, há registros da ocorrência de percevejo castanho em vários estados brasileiros, embora exista uma incidência
À semelhança do coró, a larva-alfinete, Diabrotica speciosa, alimenta-se das raízes do milho
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Dirceu Gassen
-se também uma redução da população de percevejo-castanho-da-raiz ao final de três anos, evidenciando que esta cultura interfere no desenvolvimento desse inseto. O controle biológico do percevejo-castanho empregando-se fungos entomopatogênicos pode ser, também, uma alternativa promissora. Xavier e Ávila (2006) identificaram quatro isolados de Metarhizium anisopliae, que proporcionaram níveis de controle de S. carvalhoi superiores a 80%, em condições de laboratório. Todavia, a eficiência desse fungo no controle do percevejo-castanho, em condições de campo, não foi avaliada. O controle químico de larvas de vaquinha deve também ser preventivo. No entanto, o tratamento das sementes com inseticidas normalmente não protege o sistema radicular do milho do ataque da larva de vaquinha. Isso acontece porque no período em que as larvas causam danos no milho (mais que 30 dias da emergência), as plantas já não apresentam efeito residual dos produtos aplicados nas sementes. Alguns inseticidas, quando aplicados na forma granulada ou em pulverização no sulco de semeadura têm-se mostrado eficazes no controle de larvas de vaquinha. Cabe salientar que existem atualmente kits adequados para aplicação de inseticidas no sulco tanto em pulverização como na forma de grânulos, sendo a calda inseticida ou os produtos granulados aplicados concomitantemente durante a operação de semeadura. C Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste
do milho. As larvas dessa praga são de coloração esbranquiçada, porém apresentam, na cabeça e na placa anal, uma mancha esclerotizada de coloração pardo-escura ou preta. Essas larvas alimentam-se especialmente das raízes adventícias do milho. A perda dessas raízes reduz a capacidade da planta de absorver água e nutrientes, tornando-as menos produtivas, bem como mais suscetíveis a doenças e ao tombamento. As plantas caídas ficam com aspecto recurvado, caracterizando o sintoma conhecido como “pescoço de ganso”. Embora essas plantas, por ocasião da colheita, possam conter espigas de milho desenvolvidas, estas geralmente não são colhidas pela plataforma da colhedeira.
MANEJO DAS PRAGAS QUE ATACAM AS RAÍZES DO MILHO
Para que o controle de pragas que atacam a parte subterrânea das plantas de milho seja efetivo, é necessário fazer o monitoramento preciso desse grupo de pragas antes mesmo da instalação da lavoura, uma vez que todas as táticas de controle a serem implementadas são preventivas. Tanto para o manejo de corós como do percevejo-castanho, é de fundamental importância a realização de amostragens no solo, com o objetivo de avaliar as espécies presentes, o seu nível populacional e os estádios de desenvolvimento predominante desses insetos. Dentre as técnicas que podem ser
utilizadas para o controle de corós e percevejos castanho, destacam-se: manipulação da época de semeadura, preparo do solo com implementos adequados e aplicação de inseticidas nas sementes ou em pulverização no sulco de semeadura. Como os adultos dos corós apresentam normalmente forte atração pela luz, o uso de armadilhas luminosas durante o período de emergência dos insetos do solo serve para capturar um número expressivo de adultos durante a noite e assim contribuir para reduzir a sua infestação nos cultivos subsequentes. A aplicação de inseticidas nas sementes e no sulco de semeadura do milho constitui alternativa promissora para o manejo de corós na cultura do milho, especialmente em sistemas conservacionistas, como o plantio direto. Já no caso do percevejo castanho, inseticidas aplicados nas sementes não têm se mostrado uma tática eficiente. Todavia, a pulverização no sulco de plantio com inseticidas químicos, especialmente quando o percevejo está localizado próximo da superfície do solo, pode proporcionar um bom controle da praga, dependendo do produto e da dose empregada. Em trabalhos realizados com coberturas vegetais, em Mato Grosso, no período de entressafra, observou-se redução da população do percevejo castanho na cobertura contendo crotalária, Crotalaria spectabilis, em relação às áreas com plantio de milheto, sorgo e braquiária. Em plantios sucessivos de algodão observou-
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Os danos de corós no milho são causados pelo consumo de raízes, acarretando redução na capacidade das plantas de absorver água e nutrientes
Ávila enfatiza a necessidade de táticas preventivas no manejo de pragas em milho
Na produção de milho e sorgo para silagem, optar por cultivares produtivas e com elevado valor nutricional é uma exigência para quem pretende alcançar rentabilidade. Conhecer as interações destes materiais genéticos com o clima e solo da região de cultivo também é fundamental, pois variações ambientais regionais podem interferir em seu desempenho
Solidete Pazian
MILHO E SORGO
Escolha adequada
A
silagem de milho ou sorgo é uma fonte de alimento muito utilizada para os rebanhos, principalmente no período seco do ano. Devido ao seu elevado custo de produção é necessário que a produtividade seja elevada para reduzir o custo por unidade produzida (tonelada de massa seca ou verde) e uma forma de redução no custo final é a escolha de cultivares mais produtivas e com elevado valor nutricional. Esta escolha deve ser feita com base nas informações obtidas regionalmente, devido à existência de interações entre cultivares e o ambiente, à medida que variam as condições de clima e do solo. A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), por meio dos Polos Regionais e do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em parceria com USP/Esalq e empresas de sementes de milho e sorgo, realiza pesquisas com o objetivo de avaliar cultivares de milho e sorgo para silagem. Este trabalho é efetuado com o objetivo de identificar as cultivares mais adaptadas à produção de forragem para ensilagem, em diversas localidades de São Paulo.
O objetivo de se avaliar tipos de sorgo tão distintos foi exatamente identificar vantagens comparativas entre sorgos graníferos, biomassa e forrageiros, não só em produtividade, mas também em valor nutritivo, pois sorgos de porte elevado atraem pelo volume de massa produzida, mas há de se considerar também o seu valor nutritivo. Quanto às cultivares de milho para silagem, apesar de possuírem algumas variações no ciclo (precoces x tardios), porte da planta, produtividade e proporção de grãos etc, são relativamente mais uniformes em comparação ao sorgo. Este último, devido à maior diversidade de tipos (graníferos, sacarinos, biomassa e forrageiros), resulta em plantas com arquiteturas diversas, diferentes proporções de suas frações (colmo, folhas, grãos), fatores que interferem no seu valor nutritivo. Na Tabela 1 são apresentados dados de produção de matéria seca por local, valores médios de altura de plantas e ciclo até a colheita em cultivares de milho nas três localidades avaliadas. Nas Tabelas 2 e 3 são apresentados dados de valor nutritivo de plantas inteiras e de
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colmo de milho, respectivamente. Ao comparar estas tabelas, verifica-se que o colmo apresenta menor teor de proteína bruta (4,5 x 8,2%) e maior teor de fibra em detergente neutro (66,0 x 53,3%), resultando em menor digestibilidade do colmo em relação à plantatoda (45,8 x 60,4%). Além da digestibilidade do colmo, outro fator que afeta a digestibilidade da planta é a presença de grãos, daí ser desejável que plantas destinadas à ensilagem sejam também boas produtoras de grãos. Na escolha das cultivares para silagem deve-se considerar os fatores produtividade (quantidade) e valor nutritivo (qualidade). Por este motivo, na Tabela 4 são apresentados dados de produtividade de matéria seca digestível por hectare, que é o resultado da multiplicação da produtividade de matéria seca pela digestibilidade de Matéria Seca (MS) da respectiva cultivar. Como nem sempre a cultivar mais produtiva é a de melhor digestibilidade ou a mais digestível é a mais produtiva, faz-se esta associação entre produtividade e qualidade para ranquear as cultivares que melhor associam estas duas características. Observa-se ainda que as cultivares tiveram variação na produtividade
conforme a localidade, comprovando a interação com o ambiente. Como exemplo, em Mococa e Tatuí, com semelhantes condições de altitude, as cultivares NS 92 PRO e 30S31 YH estiveram dentre as mais produtivas em Mococa e ficaram em um ranqueamento inferior em Tatuí. Já as cultivares AL Piratininga, IAC 8390 e IAC 8046, em uma posição
intermediária em Tatuí, estiveram dentre as menos produtivas em Mococa. Quanto ao sorgo, na Tabela 5 são apresentados os dados de produtividade de matéria seca (MS) das três localidades avaliadas. Observa-se que as cultivares IAC Santa Elisa e Volumax apresentaram-se dentre as mais produtivas nas três localidades e houve
grande variação no ciclo até a colheita. As cultivares mais precoces, IG282 (granífero) e a N52I2274 (biomassa), foram colhidas por volta de 95 dias, quando atingiram teor de matéria seca (MS) entre 30% e 35%, e a cultivar IAC Santa Elisa foi colhida aos 158 dias. Este fato deve ser levado em consideração ao se programar as épocas de plantio e de colheita na
Tabela 1 - Produção de matéria seca por local, valores médios de altura de plantas e Tabela 2 - Valor nutritivo da planta de milho no estado de São Paulo (Tatuí e Mococa), ciclo até a colheita em cultivares de milho avaliadas em São Paulo, safra 2014/15 safra 2014/15 Cultivar
Mococa
BM 3066 PRO2 DKB 340 PRO NS 1590 PRO2 BM 3063 PRO2 NS 92 PRO MG 652 HX 30S31 YH IAC 8390 JM 3M51 2B688 PW IAC 8046 CR 808 AG 1051 2B610 PW AL Piratininga P 3862 YH Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)
17.764 17.497 17.778 16.681 18.447 16.889 18.320 15.453 16.523 16.687 15.645 16.703 16.266 16.391 14.611 15.564 16.701 7,0 2.991
Produção de Matéria seca Votuporanga Tatuí Kg/ha ? 23.877 10.523 23.447 12.557 22.831 ? 22.811 14.464 20.041 12.505 21.153 12.369 19.671 10.918 21.106 11.481 19.838 12.939 19.573 8.690 20.434 11.896 19.304 13.852 19.597 12.001 19.401 12.187 20.866 10.876 19.841 11.947 20.862 11,8 7,7 3.563 4.092
Altura média de planta cm 229 214 204 235 211 196 210 213 212 211 201 207 218 202 215 223 213 ? ?
Ciclo
Cultivar
Proteína bruta
Dias 109 104 104 102 103 101 100 103 97 96 103 96 104 99 104 97 99 ? ?
AG 1051 MG652HX NS 1590 PRO2 P 3862 YH 30S31 YH NS 92PRO IAC 8046 IAC 8390 DKB 340 PRO BM 3063 PRO2 2B610PW JM 3M51 BM3066 PRO2 CR 808 Al Piratininga 2B688 PW Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)
8,1 9,2 8,4 8,4 8,1 7,5 8,2 8,3 8,0 8,1 8,5 8,3 7,9 7,5 8,2 8,1 8,2 12,3 1,8
* cv = coeficiente de variação; dms = diferença mínima significativa ** número de dias da semeadura à colheita para silagem
Fibra em detergente neutro % 52,6 49,8 52,5 54,3 53,1 55,4 50,5 51,3 51,9 55,7 52,1 56,4 53,4 55,1 54,0 54,8 53,3 5,4 5,1
Digestibilidade in vitro da matéria seca 62,1 62,0 61,8 61,6 61,3 61,3 61,2 60,7 60,4 60,4 59,6 59,3 59,1 59,1 58,5 57,9 60,4 7,4 7,8
* cv = coeficiente de variação; dms = diferença mínima significativa
Tabela 3 - Valor nutritivo do colmo de milho no estado de São Paulo (Tatuí e Mococa), Tabela 4 - Produção de matéria seca digestível de milho (kg/ha), safra safra 2014/15 2014/15 Cultivar
P 3862 YH IAC 8046 DKB 340 PRO IAC 8390 30S31 YH BM 3066 PRO2 MG 652 HX 2B610PW AG 1051 AL Piratininga NS 92PRO JM 3M51 NS 1590 PRO2 CR 808 BM 3063 PRO2 2B688 PW Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)
Proteína bruta 4,9 4,8 4,5 4,9 4,2 4,3 4,7 4,9 4,6 5,1 4,4 4,3 4,4 3,9 4,3 4,5 4,5 21,6 1,7
* cv = coeficiente de variação; dms = diferença mínima significativa
Fibra em detergente neutro % 63,8 63,1 63,3 60,6 64,7 63,3 63,0 65,6 69,7 63,0 69,8 69,3 67,0 69,4 70,8 69,3 66,0 9,3 10,7
Digestibilidade in vitro da matéria seca 51,0 48,5 48,4 48,0 46,5 45,8 45,7 45,4 45,3 45,2 44,9 44,3 44,1 43,9 43,6 42,9 45,8 12,0 9,6
Mococa Cultivar NS 92PRO 30S31 YH NS 1590 PRO2 BM 3066 PRO2 DKB 340 PRO MG 652 HX BM 3063 PRO2 CR 808 AG 1051 P 3862 YH 2B610PW 2B688 PW JM 3M51 IAC 8046 IAC 8390 AL Piratininga Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)*
kg/ha 12.035 11.770 11.545 11.091 11.087 10.978 10.747 10.694 10.600 10.456 10.397 10.177 10.075 9.959 9.891 8.975 10.655 9,0 2.454
Tatui Cultivar DKB 340 PRO NS 1590 PRO2 BM 3066 PRO2 BM 3063 PRO2 MG 652 HX IAC 8390 IAC 8046 Al Piratininga AG 1051 JM 3M51 NS 92PRO 30S31 YH P 3862 YH 2B610 PW 2B688 PW CR 808 Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)*
kg/ha 13.502 13.443 13.294 12.863 12.506 12.113 11.995 11.621 11.609 11.504 11.502 11.493 11.131 10.791 10.702 10.457 11.908 9,1 2.785
Votuporanga Cultivar NS 92PRO AG 1051 30S31 YH 2B688 PW MG 652 HX NS 1590 PRO2 CR 808 2B610PW Al Piratininga JM 3M51 IAC 8390 P 3862 YH DKB 340 PRO IAC 8046 BM 3063 PRO2 BM 3066 PRO2 Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)*
kg/ha 8.696 8.092 7.449 7.396 7.293 7.247 7.056 6.506 6.335 6.305 6.031 5.951 5.580 4.841 ? ? 6.770 2.400
* cv = coeficiente de variação; dms = diferença mínima significativa
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Tabela 5 - Produção de matéria seca por local e valores médios de altura de plantas e ciclo até Tabela 6 - Valor nutritivo da planta de sorgo no estado de São Paulo, safra a colheita para silagem, em cultivares de sorgo avaliados em São Paulo, na safra 2014/15 2014/15 1 Cultivar
Birigui
IAC Santa Elisa Volumax Ss318 Astral Podium N52I2274 BR 610 Silomais Ig282 Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)
28.535 25.331 20.771 20.968 20.088 ? 20.957 15.500 11.759 20.489 10,4 5.058
Matéria seca Pindorama Kg/ha 35.083 21.125 20.721 20.337 19.191 19.863 17.274 13.183 10.763 19.727 12,6 5.954
Votuporanga 24.849 22.217 19.716 19.584 19.515 18.911 14.564 13.302 13.014 18.408 11,4 6.119
Altura da planta cm 377 287 251 217 197 368 237 200 120 246 ? ?
Ciclo médio dias** 158 116 128 116 116 98 124 105 93 118 ? ?
Solidete Pazian
* cv = coeficiente de variação; dms = diferença mínima significativa;** Número médio de dias da semeadura à colheita para silagem
Cultivar
Proteína bruta
Fibra em detergente neutro
IG282 Podium Astral BR 610 Silomais SS318 Volumax IAC Santa Elisa Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)
8,5 6,2 6,7 6,9 6,9 5,9 6,5 4,9 6,6 14,9 1,3
54,6 56,3 57,9 58,7 62,0 59,3 61,8 69,4 60,0 7,1 5,6
Amido
Digestibilidade in vitro da matéria seca
22,3 21,9 18,3 14,2 18,7 16,2 15,7 9,8 17,1 19,5 4,4
60,7 56,3 54,6 54,5 54,3 52,9 52,7 50,1 54,5 9,0 6,5
%
* cv = coeficiente de variação; dms = diferença mínima significativa 1 Locais: Votuporanga, Pindorama e Birigui
Tabela 7 - Produção de matéria seca digestível de sorgo (kg/ha), safra 2014/15
Na escolha das cultivares para silagem deve-se considerar os fatores produtividade (quantidade) e valor nutritivo (qualidade)
propriedade e sucessão de culturas na mesma área, com liberação da área para plantio da próxima cultura mais cedo ou mais tarde. O sorgo apresentou menor teor de proteína, maior teor de fibra e, consequentemente, menor digestibilidade de planta toda em comparação ao milho (Tabelas 2 e 6). Ao associar produtividade com digestibilidade, obteve-se o dado de produtividade de matéria seca por hectare (Tabela 7). Dentre as cultivares mais produtivas, apresentaram-se a IAC Santa Elisa e a Volumax, e apesar de terem apresentado menor digestibilidade de planta toda, apresentaram maior produtividade de massa seca digestível devido à elevada produção de massa seca bruta. Neste momento, é oportuno fazer uma observação e estabelecer uma comparação: a cultivar IG282, dentre as menos produtivas em volume de massa, apresentou elevada digestibilidade, atribuída ao maior teor de grãos na massa. A IAC Santa Elisa, de elevada produtividade, apresentou baixo valor nutricional. Quando se pergunta qual a melhor, a resposta é: depende do nível de exigência do rebanho a que se des-
Birigui Cultivar IAC Santa Elisa Volumax BR 610 Astral Podium SS318 Silomais IG282
kg/ha 14.752 14.371 12.429 12.256 12.001 11.468 8.712 7.293
Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)*
11.660 12,3 3.411
kg/ha 17.651 11.530 11.475 11.275 11.197 10.946 9.310 7.777 6.508 10.852 13,2 3.455
Votuporanga Cultivar IAC Santa Elisa Volumax Podium Astral SS318 N5212274 IG282 BR 610 Silomais Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)*
kg/ha 11.898 9.855 9.554 9.521 9.262 8.517 7.667 7.302 6.046 8.847 16,8 4.327
* cv = coeficiente de variação; dms = diferença mínima significativa
tinam. Rebanhos leiteiros de alto potencial ou confinamentos de alto ganho diário são mais exigentes e requerem dietas mais ricas em energia, proteína, digestibilidade, menor teor de fibra etc. Assim, a cultivar IG282 seria mais indicada por apresentar melhor valor nutritivo e exigir menor inclusão de concentrado na ração, pois já possui maior teor de grãos. Já a cultivar IAC Santa Elisa, apesar da elevada produtividade, apresenta baixo valor nutritivo por quilo de forragem, assim seria destinada a rebanhos menos exigentes. Acrescenta-se que cada sistema produtivo possui suas próprias peculiaridades e custos inerentes ao seu sistema, desde a produção de volumoso, com pacote tecnológico característico, nível produtivo dos animais, oferta e custo de ingredientes para formular a ração. Outro fato a ser observado é a comparação entre a produtividade de matéria seca digestível entre milho e sorgo (Tabelas 4 e 7). O sorgo apresentou média de produtividade de 10,5t/ ha e o milho de 9,8t/ha, valores muito próximos, questionando a ideia corrente de que o sorgo é menos produtivo. Há de se considerar
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Pindorama Cultivar IAC Santa Elisa Volumax SS318 Astral Podium N5212274 BR 610 Silomais IG282 Média cv (%)* dms (Tukey a 5%)*
que em muitas situações o sorgo é semeado em áreas marginais, de baixa fertilidade e sem receber o manejo e a adubação necessários, daí as baixas produtividades. Com manejo adequado as cultivares de sorgo mais produtivas foram superiores às produtividades das melhores cultivares de milho. Assim, a opção entre milho e sorgo vai depender do nível de exigência do rebanho, do nível de tecnologia empregado na cultura, do custo da ração final em função da adição de ingredientes concentrados, da época de plantio etc. Estes resultados indicam que, quando possível, deve ser escolhida cultivar com desempenho conhecido na região, pois variações ambientais regionais (clima, solo) podem interferir no desempenho. Outras informações podem ser obtidas em www. C zeamays.com.br Solidete de Fátima Paziani, Apta Centro Norte, Pindorama/SP Aildson Pereira Duarte, IAC, Campinas/SP Luiz Gustavo Nussio, USP/Esalq, Piracicaba/SP
EMPRESAS Fotos Ourofino
Meta estabelecida
de área construída, equipamentos modernos e ambiente automatizado, com capacidade de produção de 100 milhões de litros por ano. A unidade também está apta a prestar serviços às demais empresas do segmento, para quem terceiriza 40% de sua produção, sendo auditada e aprovada por grandes corporações multinacionais. A partir de um Sistema de Gestão Integrada (SGI), a fábrica conquistou todas as certificações que garantem alta confiabilidade nos processos, como em Boas Práticas de Laboratórios (BPL) para estudos de resíduos em vegetais, pelo Inmetro; além dos ISOs 9001 (garantia da qualidade) e 14001 (meio ambiente) e Ohsas 18001 (segurança). A empresa também possui um Centro de Pesquisa Agronômica localizado em
Guatapará, São Paulo, certificado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Trata-se de uma fazenda experimental onde são testadas e desenvolvidas as soluções da Ourofino que posteriormente estarão no campo para atender clientes em todo o Brasil. Outro investimento consistiu na abertura de um escritório na China, onde trabalham profissionais brasileiros e chineses que mantêm contato com fornecedores de matéria-prima e realizam constantes inspeções para aferir o padrão de qualidade. “Somos uma empresa jovem, mas com profissionais experientes. A Ourofino Agrociência tem um know-how de pessoas que está há anos no mercado, que sabem o que estão fazendo”, avalia Neto. Em apenas cinco anos, a empresa ganhou espaço no mercado de defensivos agrícolas. São mais de 315 colaboradores internos e externos. “Só a força de vendas, em constante expansão pelo território nacional, conta com 60 profissionais engenheiros agrônomos”, orgulha-se. Jardel Massari, sócio-fundador da Ourofino Agrociência, destacou a importância do agronegócio no contexto atual do País, uso dos defensivos na agricultura em um país tropical como o Brasil e o que classificou como inoperância de órgãos regulatórios. Massari anunciou a intenção da empresa de desenvolver produtos na área de nutrição e biológicos. “Manter o crescimento, buscar caminhos para isso através da inovação, qualidade e pessoas. Não é segredo, é a única forma de crescer e permanecer no mercado. C Temos tudo para crescer”, aposta.
Paccini Neto fez um balanço dos cinco anos da Ourofino e projetou perspectivas futuras
Massari anunciou intenção da empresa de desenvolver produtos na área de nutrição e biológicos
Ourofino Agrociência projeta alcançar 5% de Market share e registrar mais 32 produtos nos próximos cinco anos
A
Ourofino projeta para 2015 atingir faturamento total de R$ 500 milhões (35% superior ao do ano passado) e para os próximos cinco anos alcançar 5% de Market share com a obtenção do registro de mais 32 produtos. Atualmente o portfólio da empresa se divide em herbicidas, fungicidas e inseticidas para as principais culturas do Brasil, como soja, milho, cana-de-açúcar e algodão. Os dados foram divulgados durante o 1º Encontro de Jornalistas da Ourofino Agrociência, realizado em setembro. A programação faz parte das comemorações de cinco anos da presença da empresa no País. O evento ocorreu ao longo de dois dias nas cidades de Ribeirão Preto, São Paulo, onde fica a sede administrativa, e Uberaba, Minas Gerais, onde se localiza a fábrica. O gerente de Marketing, Everton Campos, falou sobre os valores da empresa e também a respeito dos pilares que sustentam o trabalho. O diretor industrial Jair Sunega apresentou a fábrica e sua estrutura. O presidente Jurandir Paccini Neto fez um balanço dos cinco anos da Ourofino Agrociência e também as perspectivas futuras. O sócio-fundador Jardel Massari contou a história da empresa e como os objetivos foram traçados. O presidente da Ourofino relatou que a empresa começou suas atividades em 2010, no distrito químico de Uberaba, Minas Gerais. A fábrica possui atualmente 40 mil metros quadrados
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CAFÉ
Combate possível
Fotos Paulo Rebelles Reis
Praga responsável por prejuízos graves à produtividade e à qualidade do café, a broca Hypothenemus hampei continua a desafiar os produtores brasileiros. Seu manejo passa por monitoramento, controle cultural adequado e aplicação correta de inseticidas
A
broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Curculionidae, Scolytinae), é, atualmente, para a maioria das regiões cafeeiras do Brasil, a segunda praga em importância do cafeeiro Coffea spp. Conhecida no País desde 1922, e até 1970 considerada a principal praga do cafeeiro, passou a ser a segunda ou até terceira em importância na maioria das regiões cafeeiras do País, com exceção da Zona da Mata de Minas Gerais, estados do Espírito Santo e Rondônia, e também de lavouras muito próximas às grandes represas, em qualquer região, devido às condições de alta umidade e temperatura, nesses locais, condições ideais para o desenvolvimento do inseto e sua sobrevivência na entressafra. A broca constitui-se em importante praga na cafeicultura irrigada, pela sua maior sobrevivência na entressafra, nos frutos úmidos remanescentes da colheita e que permanecem nas plantas ou sobre o solo. O inseto, fêmea adulta é um pequeno besouro de cor preta, luzidio, medindo aproximadamente 1,7mm de comprimento por 0,7mm de largura. O macho é menor e apresenta aproximadamente 1,2mm de comprimento por 0,5mm de largura. Não voa (asas posteriores atrofiadas) e permanece constantemente dentro dos frutos onde são realizadas a cópula e a fecundação das fêmeas. As fêmeas perfuram os frutos, desde verdes (chumbões) até maduros (cerejas) ou secos (passas), geralmente na região da coroa,
cavando uma galeria com cerca de 1mm de diâmetro até atingir a semente. No ciclo evolutivo da broca o desenvolvimento do macho é mais rápido (dois instares larvais) que o desenvolvimento da fêmea (três instares larvais) (Figura 1).
DANO CAUSADO
O ataque da broca-do-café, H. hampei, causa a queda de frutos, redução do peso dos grãos (prejuízo quantitativo) e diminuição da qualidade do café por meio da alteração no tipo e às vezes da própria bebida (prejuízo qualitativo). Os danos são causados pelas larvas do inseto, que vivem no interior do fruto de café, atacando geralmente uma só semente,
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e raramente as duas, para sua alimentação. A destruição do fruto pode ser parcial ou total. Inicialmente os prejuízos são ocasionados pela queda de frutos. Para Coffea arabica L. já foi constatado que a broca aumenta a porcentagem de queda natural de frutos da ordem de 8% a 13% e para Coffea canephora Pierre & Froehner (Conilon) o inseto pode ser responsável por uma queda de frutos de aproximadamente 46%, por ser mais suscetível ao ataque da broca. Os frutos broqueados que permanecem nas plantas sofrem redução de peso, tendo sido já demonstrado experimentalmente, em Minas Gerais, que essas perdas podem chegar a 21% ou 12,6kg por saco de 60kg de café beneficiado. Foi constatado
Macho com asas posteriores atrofiadas (esquerda) e fêmea com asas posteriores normais (direita)
também que a qualidade do café é alterada pelo ataque da broca, passando do tipo 2 ao tipo 7 somente com o aumento da infestação da praga, pois dois a cinco grãos broqueados constituem um defeito. As perdas aumentam durante a operação de descascamento devido à fragilidade que o grão atacado passa a apresentar, sendo quebrado e descartado com a ventilação da máquina de descascar. Os danos provocados pela broca começam quando a infestação atinge 7% a 10% nos frutos da maior florada. A qualidade da bebida do café não é diretamente influenciada pelo ataque da broca, mas sim indiretamente pela facilidade que os danos proporcionam à penetração de micro-organismos, como fungos dos gêneros Fusarium e Penicillium, que estão relacionados com a alteração da qualidade da bebida do café.
MONITORAMENTO DA BROCA
Para que o controle seja iniciado em época correta, devem ser efetuadas amostragens periódicas dos frutos (monitoramento da broca), nos diversos talhões da lavoura, começando pelas partes mais baixas e úmidas. O monitoramento da broca deve ser iniciado na época de “trânsito” do inseto, de novembro a janeiro, aproximadamente três meses após a grande florada (outubro), quando forem observados nas rosetas os primeiros frutos broqueados, e realizado até
Fruto de café no estágio de cereja apresentando orifício produzido pela fêmea da broca-do-café
abril. Nessa época as fêmeas adultas do inseto abandonam os frutos remanescentes da safra anterior (frutos encontrados na entressafra) onde se criaram, voam e perfuram frutos verdes desenvolvidos (chumbões) da safra seguinte, sem ainda colocar ovos logo após perfurá-los, o que fazem aproximadamente 50 dias depois. Entre novembro e janeiro os frutos se apresentam muito aquosos, com mais de 80% de umidade, não sendo ainda um alimento ideal para as larvas do inseto.
MÉTODOS DE CONTROLE
O controle cultural constitui-se, talvez, no mais eficiente método de combate da broca-do-café. Os cafezais devem ser plantados em
espaçamentos que permitam maior arejamento e penetração de luz, a fim de propiciar baixa umidade do ar em seu interior, condições que são desfavoráveis à praga, além de permitir a circulação de pulverizadores acoplados a tratores. Mais importante ainda é que a colheita do café deve ser realizada de modo a evitar que restem frutos nas plantas e no chão e que a broca sobreviva na entressafra (frutos remanescentes), principalmente se houver grande volume de chuva. Após a colheita, caso tenham ficado muitos grãos nas plantas e no chão, é recomendável fazer o repasse ou a catação. Esse método já praticado nos primórdios da cafeicultura brasileira precisa
Fotos Paulo Rebelles Reis
PESQUISAS AGRÍCOLAS
Corte de fruto de café mostrando a presença de larvas da broca em seu interior e destruição parcial (esquerda, uma semente danificada) e total das sementes (direita, as duas sementes danificadas)
ser novamente considerado no manejo da broca-do-café, em virtude dos altos custos e da carência de produtos eficientes para o seu controle. Estudo realizado em cafeeiro da espécie C. canephora cultivar Conilon, no Espírito Santo, mostrou, cinco meses após a colheita, que aproximadamente 71,7% dos frutos remanescentes estavam atacados pela broca, o que evidencia a importância da colheita bem feita e do repasse (coleta de frutos que não foram colhidos), principalmente em lavouras não mecanizadas, onde as pulverizações são difíceis de serem realizadas. Em Rondônia, também em Conilon, já foi constatada infestação média de 76,3% nos frutos na entressafra e caídos no solo. A colheita deve ser sempre iniciada nos talhões que apresentem os cafeeiros mais infestados, a fim de que sejam evitados maiores prejuízos, pois a broca apresenta grande capacidade de reprodução e, em anos de alta infestação, os últimos talhões a serem colhidos apresentarão, sem dúvida, maiores populações de broca e consequentemente maiores prejuízos.
CONTROLE QUÍMICO CONVENCIONAL
Na cafeicultura brasileira os maiores Figura 1 - Esquema do ciclo biológico da broca-do-café, Hypothenemus hampei
espaçamentos permitem aplicações com pulverizadores acoplados a tratores. Neste caso o controle químico da broca é considerado eficiente e rápido, ao contrário de alguns países produtores que praticam uma cafeicultura adensada e/ou sombreada. Existem poucos ingredientes ativos com registro no Brasil para uso em cafeeiro no controle da broca-do-café: [chlorpyrifos-ethyl 480 EC (organofosforado), etofenproxi 100 SC (éter difenílico) e azadiractina 12 EC (tetranortriterpenoide)]. A tática do controle químico muitas vezes é a única disponível para manter a praga abaixo do nível de controle que é de 3% a 5% de frutos broqueados. Se possível atingir ainda aqueles em que a broca não tenha alcançado a semente, onde será morta pela ação de contato com o inseticida aplicado, antes de colocar ovos. Como o ataque não se distribui uniformemente em uma lavoura, recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu mais de 3% a 5% dos frutos. Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas, limitando-se a alguns talhões. Em lavouras irrigadas, o controle químico pode ser necessário na maioria dos talhões.
A pesquisa agrícola em cafeicultura no Brasil sempre esteve atenta para buscar novos métodos de controle da broca-do-café, o que inclui o controle químico, considerado mais eficiente no controle da praga. Em levantamento realizado em 30 anos de pesquisa no controle químico da broca no Brasil, entre 1973 e 2003, de 269 tratamentos levantados, aproximadamente 21% foram feitos com endosulfan, cuja eficiência variou de 70% a 100%. Atualmente este produto está proibido de ser utilizado no controle de qualquer praga no Brasil. Os demais inseticidas não apresentaram eficiência equivalente ao endosulfan. Embora alguns se mostrassem promissores, nunca chegaram a ser registrados para uso na cafeicultura devido a problemas ambientais ou ao custo elevado. Posteriormente, diversas moléculas em teste para o controle da broca-do-café têm se destacado nas diversas regiões cafeeiras do Brasil. Uma delas é o cyantraniliprole 10% OD (cyazypyr), com registro emergencial no Brasil e com o nome de Benevia, inseticida do grupo das diamidas antranílicas desenvolvido em vários países pela DuPont e que apresenta um novo modo de ação. É uma segunda geração (única ação pela ativação de receptores de rianodina), com um modo de ação semelhante ao chlorantraniliprole (altacor, rynaxypyr), outro inseticida já em uso no Brasil e com registro para o controle do bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mènev. & Perrotet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) em cafeeiro. Outros princípios ativos em teste, e já com resultados promissores no controle da broca, são metaflumizone (Basf), etiprole (Bayer) e as misturas clorantraniliprole + abamectin (Syngenta) e imidaclopriodo + bifentrina C (Adama). Paulo Rebelles Reis, Epamig Sul de Minas/EcoCentro
Figura 2 - Perda de peso de café beneficiado em função da porcentagem de infestação pela broca-do-café. Fonte: Reis et al. (1984); Reis (2002)
Sintomas causados por Meloidogyne sp. em raízes de Tephrosia sp.
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EMPRESAS Fotos Divulgação
Soja Vereda
ADV4341 Ipro e ADV4317 Ipro, são resultados da parceria com a Don Mario na genética e com a Monsanto na tecnologia Intacta. De acordo com o CEO da Advanta Sementes no Brasil, Edison Kopacheski, as soluções se destacam pela produtividade. “Estes materiais são de ciclo precoce, muito bem adaptados para o Cerrado do Brasil. Além da produtividade e estabilidade produtiva, comporá, junto ao milho e sorgo, a oferta de soluções Advanta para safra e safrinha”, afirma.
INVESTIMENTOS
Advanta Sementes lança suas primeiras variedades no Brasil e anuncia investimentos na casa de R$ 200 milhões em estruturas e nas áreas de produção, beneficiamento, pesquisa e desenvolvimento
O
s produtores poderão contar para a safra 2016/17 com duas novas variedades de soja, lançadas pela Advanta Sementes, sob o nome de Vereda. As sementes de soja se somarão aos outros mercados já atendidos pela empresa no Brasil, como milho, sorgo, girassol e canola. Aproxi-
madamente 500 produtores parceiros da empresa terão a oportunidade de plantar as novas variedades ainda na safra 2015/16, dentro de uma estratégia da Advanta para divulgar o potencial produtivo das variedades nas principais regiões produtoras de soja do Brasil. As duas variedades lançadas,
Em visita ao Brasil, por ocasião do lançamento da linha de sementes Vereda, o CEO Global da Advanta, Claudio Torres, confirmou investimentos de R$ 200 milhões no País nos próximos anos. Pesquisa, Desenvolvimento e Produção são as áreas que receberão parte considerável deste valor. A companhia teve um crescimento global de 21% em receitas chegando a 240 milhões de dólares em 2014. “A meta é um crescimento agressivo nos próximos cinco anos e o Brasil terá papel fundamental neste processo”, adicionou Torres. No Brasil, a empresa possui estação de pesquisa e desenvolvimento, localizada na região de Uberlândia, Minas Gerais.
PORTFÓLIO
A Advanta Seeds é uma empresa multinacional com escritório global em Dubai (Emirados Árabes Unidos), com ações listadas na Bolsa de Mumbai (ADV:IN). Está presente em todos os continentes, com atuação no Brasil, Estados Unidos, México, Argentina, Índia, Tailândia, Austrália e sudeste asiático. No Brasil atua nas culturas de milho, soja, sorgo, girassol e canola. C
Torres e Kopacheski detalharam trabalho da Advanta Sementes no Brasil
42 Novembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
COLUNA ANPII
Inoculante “caseiro”? Multiplicação realizada de forma amadora despreza longos anos de pesquisas para selecionar material genético de alta qualidade, bem como o trabalho de desenvolvimento tecnológico empregado pelas indústrias de inoculantes para a oferta de produtos de alta qualidade
A
produção de inoculantes é uma atividade altamente profissionalizada. Desde a obrigatoriedade de utilizar cepas de bactérias selecionadas pelos órgãos de pesquisa, passando por pessoal de elevado gabarito técnico em microbiologia industrial até o mais rígido controle de qualidade no produto final, todo um aparato de alta tecnologia é mobilizado para oferecer ao agricultor um produto de qualidade, permitindo o fornecimento de nitrogênio para as mais expressivas produtividades da soja. Quem visita alguma fábrica de inoculantes logo se depara com fermentadores de aço inoxidável hermeticamente fechados e submetidos a temperaturas acima de 120 graus para permitir uma eficiente esterilização do meio de cultivo. A seguir verá caldeiras que geram vapor pressurizado, microscópios que permitem aumentos de mais de 1.000 vezes, salas com injeção de ar esterilizado, câmaras de fluxo laminar, filtros absolutos para o ar injetado nos fermentadores e o pessoal que trabalha nestas áreas vestido como se estivesse em uma sala de cirurgia de hospital. Será que todo este aparato, de elevado custo, está ali simplesmente por gosto ou capricho do empresário? Todos estes equipamentos e mais os procedimentos sofisticados executados por pessoas altamente preparadas são fruto da absoluta necessidade para se produzir os inoculantes com o padrão de qualidade necessário à produtiva agricultura brasileira. Entretanto, apesar de tudo isto, estão surgindo determinados “kits para multiplicação de inoculantes” que visariam reproduzir os inoculantes dentro da própria fazenda, nas mais precárias condições. O resultado disto, obviamente, será uma verdadeira calamidade para o agricultor que, a partir de
um inoculante ou defensivo biológico de alta qualidade, vai degradá-lo totalmente, resultando em um produto sem a mínima condição de atender às suas necessidades. Por exemplo, em um folheto que circula na área agrícola, é recomendado que “se dilua o produto em água (não fala em esterilização) e se misture com um bastão ou espátula”, deixando por 48 horas. Isto contraria as mais elementares leis da microbiologia, pois um meio de cultura, em ambiente aberto, sem esterilização, irá desenvolver inúmeros microrganismos de todos os tipos, fungos e bactérias, prejudicando e até mesmo eliminado as bactérias benéficas desejáveis no produto. Nas empresas produtoras de inoculantes, o produto, após pronto, fica durante um período esperando o laudo do controle de qualidade para então ser comercializado. Contagens de bactérias
É imprescindível que o agricultor tenha plena consciência de que os produtos empregados em sua lavoura sejam reconhecidos e aprovados pela pesquisa, com garantia de qualidade
no microscópio, contagem por cultivo em placas e verificação de contaminantes em meios específicos são feitos antes de entregar o produto à venda, para que o agricultor receba um inoculante capaz de fornecer um número de bactérias viáveis conforme recomendação da pesquisa (1.200.000 bactérias/semente). E neste caso de multiplicação “caseira”, o que ocorre? Nenhum controle, fazendo com que o agricultor utilize em suas sementes um produto totalmente desconhecido, seja na qualidade e na quantidade de bactérias. São anos e anos de pesquisa por parte da Embrapa, institutos e universidades selecionando material genético de alta qualidade e também anos de desenvolvimento tecnológico por parte das indústrias de inoculantes com o objetivo de oferecer produtos que proporcionem aumentos de produtividade. E todo este trabalho, reconhecido internacionalmente, pode ser jogado fora por uma multiplicação feita de maneira totalmente amadora e sem nenhum controle. No atual estágio de profissionalização da agricultura brasileira, dando lições de produtividade para o mundo inteiro, com uma das tecnologias agrícolas mais desenvolvidas do mundo, não cabem mais estas soluções sem respaldo na ciência. Ainda mais na área biológica, em que se buscam soluções que, ao mesmo tempo em que oferecem elevada produtividade são perfeitamente amigáveis com o ambiente, caminhando para uma agricultura sustentável. É imprescindível que o agricultor tenha plena consciência de que os produtos empregados em sua lavoura, seja esta convencional ou orgânica, sejam reconhecidos e aprovados pela pesquisa, com garantia de qualidade e que venham a proporcionar os benefícios prometidos, resultando nos níveis de produtividade necessários para uma C agricultura rentável. Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
44 Novembro 2015 • www.revistacultivar.com.br
COLUNA AGRONEGÓCIOS
A
Matéria-prima para biodiesel
s culturas oleaginosas estão entre as mais importantes no comércio internacional. Em 2015, o consumo mundial de óleos vegetais e gorduras animais e vegetais ultrapassou 300Mt (milhões de toneladas). Somente a produção mundial de óleos vegetais cresceu mais de 600% em cerca de 40 anos, saltando de 23,6Mt em 1973 para 180Mt em 2015. Mais de 70% da produção mundial de óleos vegetais é concentrada em apenas seis países: Estados Unidos, China, Brasil, Índia, Argentina e Indonésia. A nutrição é de longe o maior mercado, mas a aplicação nas indústrias de química fina e de energia estão exigindo quantidades crescentes de óleos vegetais, nos últimos anos. Cerca de 80% de óleo vegetal produzido no mundo provém de apenas quatro culturas oleaginosas: palma de óleo (dendê), soja, canola e girassol. Quatro outras culturas representam a próxima parcela de 11%: amendoim, algodão, coco e oliva. Em seguida, dezenas de outras plantas produtoras de óleo partilham menos que 10% da produção mundial de óleos e gorduras vegetais. Existem centenas de espécies vegetais produtoras de óleo. No entanto, apenas algumas têm características que justificam o seu cultivo em grande escala. Muitas oleaginosas apenas são economicamente viáveis porque outros produtos, após extração do óleo, são altamente demandados no mercado, como o farelo de soja ou a fibra de algodão. Entre estas há diferentes potenciais para expansão futura, dependendo da oferta de tecnologia de produção adequada e cadeia de produção bem estruturada: mamona, linhaça, gergelim, cártamo, nabo forrageiro, crambe, tucumã, buriti, macaúba, indaiá, açaí, geriva, patauá, cotieira, oiticica, nhandiroba, pequi, pinhão manso, jojoba, tingui, entre outros.
CRITÉRIOS RÍGIDOS
A produção de biodiesel exige, anualmente, mais de 30Mt de óleos vegetais e gorduras animais, em escala mundial. Para atender um mercado de volume tão elevado, quatro aspectos são cruciais para uma determinada cultura ser considerada como matéria-prima com potencial de competição no mercado: A) Possibilidade de cultivo extensivo,
em grande escala e mecanizado B) Cadeia produtiva bem estruturada C) Inserção como uma commodity no mercado internacional D) Baixo custo de produção e preço competitivo, em comparação com outros óleos, e próximo ao paradigma de energia fóssil, que é o óleo diesel O fracasso de tentativas de cultivo de plantas oleaginosas não tradicionais, como o pinhão manso, ou de mercado restrito, como a mamona, indica a importância de observar atentamente os quesitos mencionados, seguindo estritamente a racionalidade do mercado. Normalmente, os óleos vegetais não competem em preço com o óleo diesel, a menos que disponham de suporte de políticas públicas. Entrementes, outras vantagens devem ser consideradas, como o menor impacto sobre o ambiente e os ganhos sociais, que compensam seu custo mais elevado, posto que a produção de biodiesel gera muito mais empregos que a cadeia de petróleo. Cada 1% de biodiesel adicionado ao diesel mineral resulta na criação de 45 mil postos de trabalho, de acordo com estimativas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Além disso, ocorre uma redistribuição de oportunidades de negócios, nas regiões de produção de matéria-prima ou de sua transformação em biodiesel.
CRESCENDO, APESAR DOS SOFISMAS
A produção global de biodiesel aumentou dramaticamente na primeira década deste século, quando a cotação do petróleo oscilou em torno de 100,00 dólares/barril (pico de 142,00 dólares/barril em 2008), surfando a onda da busca de uma matriz energética mais sustentável, posto que o biodiesel gera 93% mais energia que aquela investida em sua produção, sem contar a energia da radiação solar para a fotossíntese. Assim mesmo, durante a primeira década do século 21, a teoria LUC/Iluc (Mudanças no uso da terra) foi muito popular, culpando os biocombustíveis como responsáveis pela emissão de dióxido de carbono, além da concorrência com a produção de alimentos. Uma revisão por mim efetuada (http://ainfo.cnptia.embrapa.br/ digital/bitstream/item/95502/1/Doc-347. pdf) concluiu que o modelo descrito pela
teoria LUC/Iluc não se encaixava com os dados reais de produção agrícola, de acordo com os mais recentes estudos e estatísticas da FAO. Estudando a produção e o uso de biocombustíveis brasileiros, entre 2007 e 2011, demonstrei que o uso de biodiesel no Brasil reduziu em 16Mt as emissões de CO2 no período (http://www.cnpso.embrapa.br/ download/Doc_334_OL.pdf). Em 2015, a produção global de biodiesel alcançará 35 bilhões de litros. As principais matérias-primas para sua produção são os óleos de palma, soja e canola, com alguma participação de gordura animal e óleo de girassol. Como regra geral, cada país usa a sua matéria-prima mais abundante para a produção de biodiesel. Desta forma, EUA, Brasil e Argentina dependem do óleo de soja; Indonésia e Malásia usam óleo de palma; e a União Europeia conta com óleo de canola. A gordura animal também constitui uma importante fonte de matéria-prima para produção de biodiesel, sendo a principal matéria-prima na China (gordura de porco). No Brasil, cerca de 20% do biodiesel é obtido de gordura animal (principalmentesebo), normalmente misturado com o biodiesel obtido de óleo vegetal, para satisfazer as especificações legais e de mercado.
FUTURO PROMISSOR
Na esteira da crise financeira do final da década passada, a produção de biodiesel se estabilizou em escala global, à espera de novos estímulos para retomar as suas taxas históricas de aumento de produção, que inclui políticas públicas de apoio à sua produção e utilização. A reunião da Conferência do Clima, a realizar-se em Paris em novembro/dezembro de 2015, deve gerar novos e importantes estímulos ao uso de energia renovável, o que inclui biocombustíveis. No Brasil a política pública é das mais avançadas do mundo, prevendo a adição de 7% de biodiesel ao diesel de petróleo. Entretanto, esse não deve ser o limite, posto que, tecnicamente, os motores podem operar sem problemas com misturas muito superiores a esta. Do ponto de vista da produção, as expectativas futuras indicam que o Brasil produzirá óleo vegetal em quantidade suficiente para atender a expansão da atual política pública, sem quaisquer transtornos nos demais mercados de óleo, tanto domésC tico quanto internacional. Decio Luiz Gazzoni
O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2015
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COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
Safra da América do Sul passa a comandar o mercado mundial de grãos Os produtores ainda realizam o plantio da safra da América do Sul, que tende a se alongar até o começo de 2016. As chuvas chegam com atraso e até o final de outubro era baixo o percentual de soja plantada no Brasil. O vazio agrícola se encerrou em 15 de setembro para o Mato Grosso, mas as máquinas pouco puderam fazer. Sem chuvas o plantio não avançou e os poucos produtores que se arriscaram a plantar viram as plantas morrerem com o forte calor e o tempo seco. De novembro em diante o clima e a safra da América do Sul é que irão comandar o mercado internacional de grãos. Desta forma a safra dos EUA, que avança para a reta final da colheita, deixará de ter muita importância para as cotações, porque já estará nos armazéns e os números não deverão variar muito em relação aos dados já estimados. Aguardam-se patamares entre 238 milhões de toneladas e 245 milhões de toneladas de milho, frente os 261,1 milhões de toneladas colhidas na safra passada e para soja entre 103,5 milhões de toneladas e 105,5 milhões de toneladas, ambas abaixo de 108 milhões de toneladas da safra passada. Desta forma, os números já estão se consolidando com volumes menores que no ano anterior. Mas o fato é que ainda há muito para ocorrer na América do Sul. A Argentina permanece indefinida sobre o que irá plantar, ainda no aguardo do novo presidente e de que rumo este irá adotar para a economia local. O sonho dos produtores argentinos de ver queda nos valores das retenções ou das taxas de exportação (35% em soja), dificilmente irá se concretizar, porque o governo portenho depende deste dinheiro para cobrir os gastos públicos. Com este cenário o que se observa são produtores reduzindo a área, como aponta a Bolsa de Buenos Aires. Há indicativos de queda no milho de 3,4 milhões de hectares para 2,7 milhões de hectares. A soja recuará dos 20 milhões de hectares para pouco mais de 19 milhões de hectares e parte dos produtores aponta que este número ainda seria muito otimista. Desta forma, o apelo é de queda na oferta de grãos na Argentina. Enquanto isso, no Brasil tudo vai depender do clima, que neste ano de El Niño apresenta muita chuva no Sul e poucas precipitações no restante do País. Mesmo com safra indefinida, há otimismo dos produtores brasileiros. Com a cotação do Dólar próxima de R$ 4,00 os agricultores investem na tentativa de colher mais de 100 milhões de toneladas de soja no Brasil. O milho apresenta forte queda no plantio da primeira safra enquanto a nova safrinha já apresenta mais de 15 milhões de toneladas vendidas para entrega nos portos entre agosto e novembro de 2016. Os resultados dependerão de boas condições de clima para alcançar colheita próxima à obtida neste ano. A grande vantagem dos produtores brasileiros reside no fato de que o dólar em alta favorece as negociações e já oferece lucratividade em todos os grãos. Novamente o setor agrícola vai ajudar o Brasil. MILHO
Comercialização andou rápida neste ano e pouco resta para ser negociado Os produtores aproveitaram as boas cotações do milho nas últimas semanas e a forte alta do dólar, que ajudou na exportação, para negociar a maior parte do cereal. Os indicativos são de que há menos de 20% da safra para ser comercializada e no Mato Grosso, maior produtor, a comercialização margeia a faixa dos 90%. A exportação consome grandes volumes do cereal e tudo indica que haverá aperto no abastecimento interno nos próximos meses. A primeira safra, que se encontra nos campos e na reta final do plantio, terá queda forte na área e um grande volume do que será colhido terá como destino a exportação, no período de janeiro até março. Com isso, não haverá excedentes sendo ofertados e o quadro seguirá favorável aos produtores. A nova safrinha ainda está longe de ser plantada, mas já há pelo menos 15 milhões de toneladas negociadas para entrega entre
agosto e novembro de 2016.
ARROZ
Aperto no abastecimento de agora em diante
SOJA
Entressafra da soja e negócios regionalizados Os produtores já estão fechando a comercialização da safra atual. As exportações alcançaram recorde histórico e superaram a marca de 51 milhões de toneladas embarcadas até outubro. E tudo aponta que avançarão um pouco mais, deixando para trás um mercado interno com pouca oferta e demanda crescente, com espaço para alta nos indicativos acima dos valores de exportação para os negócios regionalizados. Os setores de ração e de biodiesel seguem aquecidos e comprando forte, com apelo para os negócios fluírem com valores maiores que a exportação pode pagar. Os negócios da safra nova já estão bem avançados, mas poucos vendedores querem se posicionar neste momento, aguardando que o quadro climático se normalize e que as cotações avancem em dólares para voltarem a negociar.
As negociações de arroz em casca avançaram forte em outubro, com os produtores em busca de fazer caixa para quitar as dívidas de custeio que vencem em novembro. Houve boa presença de vendedores e forte pressão de compra, com as indústrias buscando matéria-prima para se abastecer. Já há previsão de aperto no abastecimento de matéria-prima, porque neste ano não será possível contar com os estoques da Conab, restritos a pregões de troca e para doações internacionais de ajuda humanitária. Com isso os indicativos cresceram e ultrapassaram R$ 40,00, maiores níveis em reais já vistos e com fôlego para novos avanços antes do final do ano. As chuvas em excesso no Rio Grande do Sul trouxeram atrasos no plantio e riscos de comprometimento do potencial produtivo. Também há indicativos de leve queda na área plantada.
CURTAS E BOAS TRIGO - Enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostra uma safra maior de trigo neste ano, na casa de 720 milhões de toneladas, os principais países produtores vêm divulgando os seus dados com colheitas menores. Assim, a oferta de trigo em 2016 tende a ser bem abaixo do que apontou o USDA. Os principais produtores do leste europeu apontam perdas e na Europa Ocidental o cenário é semelhante. Há perdas na safra da Austrália e do Canadá, além de indicativos de que na Ásia o El Niño também tenha ceifado parte da produção do trigo. Com produção menor que o consumo espera-se um déficit de mais de dez milhões de toneladas, que serão usadas dos estoques. No Brasil haverá importações de mais de seis milhões de toneladas. Com o dólar alto, o trigo chegará ao País com valor acima de R$ 1.000,00 a tonelada. ALGODÃO - A crise econômica no mercado global nestes últimos três anos tem afetado diretamente a demanda do algodão e, com isso, as cotações foram pressionadas para baixo. Mas esta fase, aparentemente, está passando. A boa notícia é que a China vai consumir perto de 34 milhões de fardos enquanto colhe uma safra que pode não passar de 25 milhões de fardos. O país foi afetado pelo clima e terá grandes perdas. Com isso começará a derrubar os estoques, que nos últimos anos vinham somente em crescimento. O consumo será muito acima da produção, o que favorece a volta da China ao ranking de grande importador. CHINA - As importações de soja foram recordes em setembro, com aquisição de mais de 7,26 milhões de toneladas e crescimento forte sobre o mesmo período do
ano passado, quando a China havia importado 44% a menos. Outra boa notícia reside no fato de que neste ano comercial, que fechou em setembro, os chineses compraram 78,3 milhões de toneladas, enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontou que as importações totais seriam de 77 milhões de toneladas. Houve compras de 1,3 milhão de toneladas a mais, o que sinaliza demanda mundial maior. O USDA projetou que neste novo ano a China irá comprar 79 milhões de toneladas de soja. Pelo ritmo do país e com as compras aceleradas que vêm realizando, certamente os chineses vão furar fácil a barreira de 80 milhões de toneladas de soja. O que demonstra que o quadro mundial de estoques está muito mais apertado do que apontam os dados do USDA. Fato positivo para as cotações em médio prazo, que deverão sair desta fase de níveis baixos para patamares acima de dez dólares em Chicago. É preciso lembrar que abaixo deste nível se torna inviável o plantio na Argentina, no Paraguai e nos EUA. EUA - Os produtores já estão fechando a safra e agora os boatos rondam a safra nova, com indícios de queda na área de soja e crescimento em milho. O que se percebe é que se as cotações não avançarem, com o milho na faixa de 4,50 dólares em Chicago e a soja a partir de 10,50 dólares, haverá queda de plantio dos dois produtos, porque os custos de produção se encontram acima de 4,10 dólares para o milho e de 9,60 dólares para a soja. Para o produtor sobreviver, tem de ter uma margem mínima de 10%. Com este cenário é possível concluir que haverá queda de plantio nos EUA ou C avanço nas cotações em Chicago.
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
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