Cultivar 199

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Cultivar

Cultivar Grandes Culturas • Ano XVI • Nº 199 • Dez 2015/Jan 2016 • ISSN - 1516-358X

Destaques

Nossa capa

Exército aéreo - 22

Como manejar pragas que se alimentam da parte aérea das plantas na cultura do milho

Juliano Uebel - Instituto Phytus

Índice Diretas

06

Reguladores de crescimento em trigo

08

Mancha de ramulária em algodão

11

Viabilidade econômica soja/milho

14

Nematoides emergentes em soja

16

Ferrugem-asiática em soja

18

Capa - Manejo de pragas aéreas em milho 22

Patógenos emergentes - 16 As espécies de nematoides que demandam a atenção dos produtores de soja no Brasil

Lagarta-cortadeira em feijão

26

Ferrugem alaranjada em cana

28

Cochonilha-vermelha em café

30

Empresas - Bayer amplia estrutura

32

Coluna ANPII

36

Coluna Agronegócios

37

Mercado Agrícola

38

Presença vermelha - 30

Depois de longo período cochonilhavermelha volta a ser observada em Minas Gerais

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

COMERCIAL

CIRCULAÇÃO

• Editor

• Coordenação

• Coordenação

Gilvan Dutra Quevedo

• Redação

Rocheli Wachholz

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

Charles Ricardo Echer

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

Rithieli Barcelos

Simone Lopes

• Assinaturas

Natália Rodrigues Clarissa Cardoso Aline Borges Furtado

• Expedição • Revisão

Aline Partzsch de Almeida

Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 239,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.



DIRETAS Preventivo

A DuPont Proteção de Cultivos acaba de introduzir no mercado uma nova geração do selo DuPont Izon, aplicável aos principais agroquímicos da marca comercializados no País. A medida tem por objetivo aumentar a proteção de usuários e dos canais de distribuição contra adulterações e falsificações de produtos. O selo acompanhava os inseticidas Altacor e Premio e, a partir de agora, estará também nos inseticidas Avatar e Benevia e no tratamento de sementes Dermacor.

Reestruturação

A Ourofino Agrociência anunciou mudanças na estrutura diretiva da empresa. Os sócios-fundadores Norival Bonamichi e Jardel Massari passam a assumir a presidência e a vice-presidência, respectivamente. Os sócios-fundadores também integram o Conselho de Administração. A reestruturação é parte de um planejamento estabelecido para o alcance de metas em 2016 e a consolidação da empresa no setor do agronegócio brasileiro. Durante 2015, foram realizados novos investimentos na fábrica, no desenvolvimento de produtos pela área de PDI e Registro, além de parcerias para o crescimento sustentável da empresa.

Lançamento

A FMC Agricultural Solutions lançou o fungicida Authority, com foco no controle de cercosporiose, doença com alto potencial destrutivo, causadora de perdas na produção de milho. “Com 1% de severidade, a cercosporiose pode levar a redução de 50kg/ha a 86kg/ ha, com danos podendo chegar a 60% na produção. O Authority vem com a missão de contribuir na prevenção dessa doença e assegurar a produtividade nas lavouras, pois conta com a mais alta sistemicidade apresentada no mercado atual. Isto significa menor dependência de altas doses de óleo mineral, além de menores fatores causadores de fito", destacou o diretor de Tecnologia e Inovação da Reginaldo Sene FMC, Reginaldo Sene.

Norival Bonamichi e Jardel Massari

Reconhecimento

Especialistas

A UPL Brasil reuniu, em novembro, em São Paulo, especialistas para discutir os desafios técnicos da cultura do algodão no Brasil. “Conseguimos reunir cerca de 35% da área desse tipo de cultivo que é atendida por consultores em todo o País", informou o gerente de Marketing de Produto da UPL, Luciano Zanotto. O objetivo da reunião foi identificar desafios e oportunidades na cultura algodoeira, sempre com foco em inovação e soluções diferenciadas. “Nota-se uma mudança no mercado de algodão e a UPL está adequando um portfólio mais forte para entrar nesta cultura", informou o gerente de Marketing da UPL, Gilson Oliveira.

Correção

Na edição 197 de Cultivar Grandes Culturas, à página 42, na matéria “Verde e amarela”, sobre cultivares disponíveis no sistema Cultivance, onde se lê BRS 297cv, o correto é BRS 397cv.

Joc O'Rourke

Pelo terceiro ano consecutivo a Mosaic Fertilizantes foi reconhecida como uma das empresas que mais demonstraram ações e estratégias concretas para reduzir a emissão de gases que causam o efeito estufa, além de diminuir os riscos que seu negócio pode oferecer ao clima. “Nossos esforços estão sendo reconhecidos. A Mosaic está preservando recursos naturais, reduzindo a pegada de carbono e diminuindo os custos de operações. Estamos liderando a indústria com estes esforços e ainda tem muito que pretendemos realizar”, afirmou o presidente global da Mosaic, Joc O’Rourke.

Investimentos

A Bayer CropScience anunciou a inauguração dos Laboratórios de Monitoramento de Resistência a Fungicidas, Herbicidas e Inseticidas (FHI) e o Centro de Tecnologia de Aplicação em Paulínia, São Paulo, e apresentou o conceito do Centro de Expertise em Agricultura Tropical (Ceat) durante cerimônia com a presença do CEO Global da Bayer CropScience, Liam Condon. O CEO destacou que a inauguração faz parte dos investimentos da empresa no Brasil, com foco no desenvolvimento de soluções tecnológicas. “Queremos oferecer abordagens inovadoras e soluções para que os produtores rurais brasileiros possam superar os desafios da agricultura tropical”, enfatizou.

06 Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • www.revistacultivar.com.br

Liam Condon


Novo mercado

Novidade

A Alltech Crop Science, Divisão Agrícola do Grupo Alltech, chega ao Chile. O começo das atividades da empresa no país terá como foco frutas, trigo, milho, arroz, batata, beterraba e tomates. “A vasta experiência que o grupo Alltech tem em nutrição é uma grande vantagem, com sua tecnologia inovadora de complexação por aminoácidos. Nossos produtos darão maior qualidade e valor à produção de nossos clientes”, aposta o gerente de Vendas da Alltech Crop Science no Chile, Eduardo Polanco.

Prêmio

O vice-presidente sênior da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina, Eduardo Leduc, recebeu o prêmio “World Class Manager Award” na categoria Executivo. A iniciativa é promovida anualmente pela International Business School of São Paulo (IBS) e premia profissionais de empresas e do universo acadêmico que se destacaram por desenvolverem iniciativas que colocam o Brasil em posição de destaque no mercado internacional em seus campos de atuação. Eduardo Leduc foi reconhecido por sua contribuição ao agronegócio brasileiro e por desenvolver tecnologias e profissionais brasileiros para atuarem internacionalmente.

Eduardo Leduc

André Arnone

A Dow AgroSciences lançou o Exalt (espinetoram), com efeito de choque e amplo espectro de ação para o controle do complexo de lagartas da soja. De acordo com o gerente de Marketing de Inseticidas da Dow AgroSciences, André Arnone, o produto apresentou excelentes resultados em ensaios de campo realizados na última safra (2014/15) em Mato Grosso, eliminando as lagartas nas primeiras 48 horas. “Isso impacta diretamente na produtividade do agricultor, proporcionando uma relação custo-benefício mais competitiva”, finaliza.

Socioambiental

A DuPont Proteção de Cultivos realizou, em parceria com o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), mais uma edição de seu projeto socioambiental DuPont Universidade. O representante comercial André de Morais fez uma palestra para cerca de 50 alunos dos cursos de Ciências Agrárias e Agronomia, do campus Arinos. Dirigido às escolas de Ciências Agrárias, DuPont Universidade tem por objetivo a difusão de conhecimentos sobre agroquímicos. “O projeto oferece aprofundamento na formação universitária, aborda temas relevantes ao exercício da profissão e trata sobre oportunidades para ingresso de estudantes no mercado de trabalho”, explica Maurício Fernandes, gerente de Segurança de Produtos e Meio Ambiente da DuPont.

Novos rumos

O engenheiro agrônomo Ricardo Dias volta a fazer parte da Arysta LifeScience. Dias já havia trabalhado na companhia por 14 anos e após três anos volta à casa de origem para assumir o cargo de gerente de Produtos e Mercados de Grandes Culturas na região Centro-Sul. Durante o período em que fez parte da Arysta, sua experiência foi principalmente na área comercial e também em Marketing de Hortifrúti e Grandes Culturas. Na nova função, que começou em novembro e que faz parte do novo posicionamento da empresa, os principais objetivos serão dar suporte às equipes comerciais da região Sul do Brasil e cuidar da estratégia de parte do portfólio da empresa, especialmente o herbicida Select e a linha de Tratamento de Sementes.

Cooperação

Percevejo

Ricardo Dias

A UPL, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Embrapa estudam a possibilidade de cooperação científica para estimular a produção de leguminosas em grãos, como grão-de-bico, lentilha e feijão, no Brasil. A Índia importa anualmente 3,6 milhões de toneladas desses grãos e tem expectativa de chegar a dez milhões de toneladas em cinco anos. A proposta partiu da UPL durante reunião em Nova Deli, com a ministra Kátia Abreu e o presidente da Embrapa Maurício Lopes. O governo indiano prevê que o consumo das leguminosas em grãos na Índia vá explodir nos próximos anos.

O programa Alerta Percevejos, da FMC, realizou em novembro atividades em Goiás. O trabalho tem por objetivo levar conhecimento e informação sobre a prevenção e o controle de surtos deste inseto aos produtores por meio de orientações técnicas e passará pelos principais estados brasileiros produtores de soja e milho, em eventos até janeiro de 2016. A campanha também contará com informações e dicas de manejo nas mídias sociais que podem ser visualizadas e compartilhadas na página da FMC no Facebook com a hachtag AlertaPercevejo. Os próximos estados serão Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Tocantins, Maranhão e Bahia. O entomologista Mauro Tadeu Braga será o responsável por apresentar os temas das palestras, destinadas a produtores e consultores da empresa. “O palestrante convidado é conhecido nacionalmente no segmento de agronomia, no qual tem vasta experiência e por este motivo sua participação será de extrema importância”, avaliou o gerente de Inseticidas da FMC, Adriano Roland. Adriano Roland

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TRIGO

Potencial maximizado

Fotos Fernando Fávero

Produzir trigo de modo a atender aos requisitos de qualidade e produtividade é um grande desafio no Brasil. Entre os entraves está o acamamento, capaz de gerar severos prejuízos. O manejo de reguladores de crescimento é uma alternativa viável para minimizar esse problema. Contudo, para que sua resposta seja positiva, outros fatores devem ser considerados, como sensibilidade de cultivar, população de plantas utilizada, condições ambientais, adubação nitrogenada e fertilidade do solo

O

consumo anual de trigo no Brasil é acima de 10 milhões de toneladas, porém apenas 50% dessa demanda é produzida pelo Brasil. Os países onde o Brasil mais importa trigo são: Argentina, EUA, Paraguai e Uruguai. O Paraná é o maior produtor nacional de trigo, cultivando uma área de 1,3 milhão de hectares, representando 50% da área cultivada no país. Apesar da oferta de área para produção de trigo no País, o setor passa

por dificuldades técnicas e comerciais, associadas à instabilidade de produção. A exigência por tipificações de farinhas pelos moinhos tem desafiado os programas de melhoramento e produtores brasileiros. Algumas cultivares de trigo produzem características de farinha que são desejadas pelos moinhos, porém não possuem aspectos agronômicos que permitam expressar o potencial de rendimento desejado pelos produtores.

08 Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • www.revistacultivar.com.br

Uma das características importantes para produção de trigo é o acamamento, que pode reduzir em até 50% o potencial produtivo. As perdas geradas pelo acamamento estão correlacionadas ao tipo de dano e à época em que ocorre. O acamamento no período reprodutivo do trigo causa prejuízos maiores. Ventos e altas precipitações provocam a quebra ou dobra dos colmos, reduzindo a taxa fotossintética e o fluxo de fotoassimilados na planta, comprometendo o rendi-


Figura 1 - Importação e produção de trigo pelo Brasil

mento de grãos através da diminuição da massa de grãos. Muitas das espigas das plantas acamadas ainda podem sofrer ataques de doenças de espiga por se apresentar na parte mais úmida do dossel, causando perdas de qualidade da produção. A resistência genética ao acamamento é uma característica desejável no lançamento de cultivares, visto o potencial de perdas. A resistência ao acamamento está amplamente relacionada com o porte da planta. Cultivares de porte elevado possuem maior sensibilidade ao acamamento. A densidade elevada de plantas e a adubação nitrogenada também favorecem o acamamento das plantas de trigo. O nitrogênio, quando disponível em excesso, pode ocasionar toxidez à planta pelo acúmulo de NH4+ nos tecidos, que associado à baixa luminosidade consome carbono gerado pela fotossíntese, enfraquecendo os tecidos de sustentação e promovendo o acamamento das culturas. A população de plantas interfere no rendimento da cultura do trigo, sendo a população ideal dependente da interação entre a cultivar e as condições do clima e solo em que se desenvolve. Cultivares de trigo que apresentem

elevada capacidade de produção de afilhos férteis têm menores respostas ao aumento do número de plantas por Figura 2 – Estádio recomendado para área. O aumento da aplicação do regulador de crescimento população de plantas de trigo eleva a proporção de plantas- As giberilinas são os fitormônios rela-mãe, que são mais altas em relação aos cionados ao crescimento vegetal. O uso afilhos, favorecendo o acamamento. A de redutor permite explorar populações maior quantidade de plantas por área e adubações nitrogenadas mais elevadas, aumenta a competição intraespecífica, sem problemas com acamamento, e exeleva a altura das plantas e deixa os plorando o potencial das cultivares. A colmos mais fracos, o que favorece o época de aplicação recomendada para o acamamento. O volume de sementes trinexapaque-etílico na cultura do trigo utilizado para o estabelecimento da ocorre quando as plantas apresentarem cultura do trigo impacta no custo de o 1º nó visível (Figura 2), na dose de produção. Por outro lado, a redução do 100g/ha a 125g/ha de ingrediente atinúmero de plantas por área pode dimi- vo. Quando a aplicação do regulador nuir o rendimento de grãos. de crescimento ocorre antes da fase O m a n e j o c o m re g u l a d o re s d e ideal, seu efeito na redução da altura crescimento na cultura do trigo é uma das plantas é minimizado. Já quando alternativa viável para reduzir o acama- aplicado após a fase ideal, promove a mento. O princípio ativo mais utilizado redução dos entrenós mais próximos à nesse manejo é o trinexapaque-etílico. espiga do trigo, podendo causar retenção Este produto atua inibindo a elongação dentro da folha bandeira. Neste caso o celular, provocando redução dos entre- efeito pode ser detrator do rendimento. nós e consequentemente do colmo das Não é recomendado aplicar o produto plantas. A diminuição da elongação ante à condição de estresse hídrico, uma ocorre pela inibição temporária da pro- vez que, nessa situação, as plantas já dução de ácido giberélico pela planta. tendem a ficar com o porte reduzido,

Figura 3 - Efeito da população de plantas e aplicação de regulador de crescimento no Figura 4 - Efeito da população de plantas e aplicação de regulador de crescimento no rendimento de grãos de trigo, cultivar CD 150, Cafelândia (PR), 2014 rendimento de grãos de trigo, cultivar Mirante, Cafelândia (PR), 2014

** significativo a 1% pelo teste F

** significativo a 1% pelo teste F. * significativo a 5% pelo teste F.

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Fotos Fernando Fávero

A

Tabela 1 - Efeito da aplicação de regulador de crescimento no rendimento de grãos de duas cultivares de trigo na média de cinco populações de plantas

B

Cultivar CD 150 Mirante Média

Sem regulador Com regulador Média Rendimento de grãos (kg/ha) 5527,1 aB 5978,7 aA 5752,9 5571,9 aB 6479,6 bA 6025,7 5549,5 6229,1 5889,3

Médias seguidas da mesma letra maiúscula na horizontal e minúscula na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

Figura 5 - Efeito da aplicação do regulador de crescimento (B) no ângulo de inserção das folhas (parte superior) e na redução do acamamento das plantas (parte inferior) quando comparada à não aplicação (A), cultivar Mirante

podendo a aplicação causar redução no rendimento de grãos. No âmbito de entender esta dinâmica, implantou-se um experimento na safra 2014, em Cafelândia, Paraná, com o uso de duas cultivares de trigo, Mirante (maior altura e sensibilidade ao acamamento) e CD150 (menor altura e sensibilidade ao acamamento), em cinco taxas de semeadura (120, 240, 360, 480 e 600 sementes viáveis/m 2), com e sem aplicação do regulador de crescimento. Houve uma redução de 6,5cm nas parcelas que receberam a aplicação do regulador de crescimento. Na cultivar CD 150 (Figura 2), o rendimento de grãos reduziu em função do aumento do número de sementes por área quando

não utilizado o regulador de crescimento. Quando o regulador foi aplicado, não houve resposta significativa para a população de plantas e o rendimento de grãos foi superior quando comparado à não aplicação. A diferença de rendimento foi proporcionalmente maior quanto mais alta a população de plantas. Para a cultivar Mirante (Figura 4), o aumento da população causou redução do rendimento de grãos quando não foi aplicado o regulador. Quando o regulador foi aplicado, houve resposta quadrática para rendimento de grãos em função do aumento do número de plantas por área. A população de máximo rendimento foi de 364 sementes viáveis/m2.

Quando comparadas as médias de rendimento de grãos das diferentes populações entre as duas cultivares sem a aplicação do regulador, o rendimento foi similar. Com a aplicação do regulador a cultivar Mirante (sensível ao acamamento) produziu mais em função da redução do acamamento (Tabela 1). Além de reduzir a altura e o acamamento das plantas de trigo, a aplicação do regulador de crescimento modifica o ângulo de inserção das folhas na planta, deixando-as mais eretas. Essa modificação pode ser favorável para melhorar a penetração de luz e produtos fitossanitários no dossel das plantas, esse é um benefício secundário do uso do produto (Figuras 5 e 6). O uso do regulador de crescimento diminui a altura das plantas de trigo, modifica o ângulo de inserção das folhas, deixando-as mais eretas, e reduz o acamamento. Essa prática pode incrementar o rendimento de grãos de trigo. A resposta positiva depende da sensibilidade da cultivar ao acamamento, população de plantas utilizada, condições ambientais, adubação nitrogenada e fertilidade do solo. A necessidade de uso deve ser ponderada em função da C situação de cada lavoura. Tiago Madalosso e Fernando Fávero, Estação Experimental Copacol

Figura 6 - Severidade de mancha foliar (Drechslera tritici-repentis) em função da aplicação de regulador de crescimento no trigo, Cafelândia (PR). Teste de Tukey (p>0,05)

Madalosso e Fávero abordam manejo de reguladores de crescimento na cultura do trigo

10 Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • www.revistacultivar.com.br


ALGODÃO

Fernando Juchem

Agressiva e frequente Principal doença na cultura do algodoeiro, a mancha de ramulária tem incidido mais e com maior gravidade ao longo dos últimos anos nas lavouras brasileiras. Aumento da área cultivada, monocultivo, cultivares suscetíveis e falhas na destruição da soqueira estão entre as explicações para este agravamento. Sem descuidar de outras medidas de manejo, a busca por novas alternativas de controle químico é importante para auxiliar na rotação de fungicidas e prevenção de resistência, além de aumentar as ferramentas disponíveis ao produtor

A

tualmente, a mancha de ramulária, causada pelo fungo Ramularia areola (Atk.), é sem dúvida a principal doença da cultura do algodão, situação essa que vem se agravando desde 1998 devido ao incremento da área cultivada, monocultivo e utilização de genótipos de origem aus-

traliana e americana que eram bastante suscetíveis à doença. A doença tem demonstrado maior agressividade a cada safra, de maneira que em algumas regiões do Mato Grosso já são realizadas aproximadamente 12 aplicações de fungicida durante o ciclo da cultura, com média estadual em

torno de oito aplicações. Outro fato que vem chamando a atenção é o surgimento dos sintomas da doença cada vez mais precoce, o que ocorre principalmente devido à péssima destruição de soqueira que vem sendo realizada, o que aumenta o inóculo inicial da doença, que permanece ativa nessas plantas não destruídas. Na última safra, 2014/15, foram observados sintomas de ramulária já aos 20 dias após a emergência da cultura, o que tem feito com que as aplicações de fungicidas sejam iniciadas cada vez mais cedo. A doença causa manchas esbranquiçadas, com aspecto pulverulento, de coloração branco-azulada, entre as nervuras da folha em ambas as superfícies foliares. Posteriormente as lesões tornam-se necróticas e podem agregar-se e provocar desfolha. A ramulária é favorecida por temperaturas na faixa de 25ºC a 30ºC, umidade relativa superior a 80% e noites úmidas seguidas de dias secos, sem períodos prolongados de molhamento foliar, situação comum na maioria das regiões produtoras de Mato Grosso, sendo que já foram relatadas perdas de até 75% da produção devido à presença da doença em genótipos suscetíveis cultivados no estado. Atualmente, a principal estratégia para manejo de ramulária tem sido o controle químico, baseado fundamentalmente no uso de triazóis e organo-

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Gráfico 1 - Área abaixo da curva de progresso de ramulária (AACPR). Primavera do Leste (MT)

químico, de modo que aplicações tardiamente, após o pleno estabelecimento da doença, culminam em deficiência no controle de ramulária. As aplicações foram realizadas com pulverizador costal pressurizado a CO 2 dotado de seis pontas tipo leque 110.015, com volume de calda de 150L/ha e a severidade de ramulária foi avaliada semanalmente com auxílio de escala diagramática. De posse dos dados de severidade elaborou-se a Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD). Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Skott knott ao nível de 5% de probabilidade do erro. Os melhores controles da doença

foram obtidos pelos tratamentos com hidróxido de fentina e hidróxido de fentina + carbendazim, que não diferiram entre si. A terceira menor AACPD se deu para a mistura comercial de piraclostrobina + fluxapiroxade, que não diferiu significativamente do fungicida protetor mancozebe (Gráfico 1). Tais resultados são bastante promissores no que tange ao futuro do manejo desta doença, uma vez que fungicidas protetores, assim como misturas de estrobilurina + carboxamida não vêm sendo utilizadas com frequência para o controle de ramulária e podem ser inseridas no manejo da doença frente ao uso massivo de triazóis que vem ocorrendo nos últimos anos, com relatos de queda de eficiência. Na sequência vieram as

Fotos Aluízio Coelho

estânico, contemplando também estrobilurinas quando estas são formuladas comercialmente com o triazol. Diante disso, no presente estudo buscaram-se novas alternativas de controle para a doença, contemplando além dos fungicidas tradicionalmente já utilizados, também avaliar fungicida multissítio (ditiocarbamato) e misturas comerciais de carboxamida + estrobilurina, conforme descrição dos tratamentos na Tabela 1. Com o intuito de comparar os diferentes fungicidas de maneira clara e objetiva, com proteção da cultura por período necessário à obtenção de altas produtividades, foram realizadas oito aplicações de cada fungicida, iniciando-se aos 30 dias após a emergência da cultura e repetidas em intervalos de 14 dias. O emprego de oito aplicações do mesmo fungicida é uma estratégia válida somente para fins de pesquisa, já que esta é a melhor maneira de conseguir uma comparação confiável entre produtos e dessa maneira encontrar melhores alternativas de controle químico, com o intuito de elaborar programas de manejo com rotação de ingredientes ativos, contemplando a maior quantidade possível de mecanismos de ação, de modo a potencializar o controle da doença, bem como evitar o surgimento de resistência do patógeno aos fungicidas. O experimento foi conduzido no município de Primavera do L este (MT), na Estação Experimental Ceres Consultoria Agronômica, utilizando a cultivar FiberMax 975 WS semeada em 15/12/2014. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições e as aplicações foram iniciadas de maneira preventiva, ou seja, ainda não tinham sido observados sintomas de ramulária na área. O momento correto do início das aplicações é fator primordial para o sucesso do controle

Gráfico 2 - Produtividade, em arrobas (15 quilogramas) por hectare. Primavera do Leste (MT)

Diferença visual entre alguns tratamentos próximos ao fim do ciclo da cultura, aos 150 dias após a emergência. Primavera do Leste (MT)

12 Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • www.revistacultivar.com.br


Fotos Aluízio Coelho

Fotos Divulgação

Sintomas característicos de fitotoxicidade causada por hidróxido de fentina. Primavera do Leste (MT)

AACPDs de todos os triazóis, das misturas de azoxistrobina + ciproconazol e azoxistrobina + difenoconazol, além de azoxistrobina + benzovinflupyr que não diferiram estatisticamente. Os demais tratamentos não diferiram entre si, porém todos diferiram da testemunha sem aplicação. Hidróxido de fentina é um produto já reconhecido como tendo alta eficiên-

NO BRASIL

O

algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é cultivado em vários estados brasileiros, porém a maior área plantada, aproximadamente 85%, está concentrada no Mato Grosso e na Bahia. O Mato Grosso é o maior produtor nacional de algodão, cultivando mais de 560 mil hectares, com produção de cerca de 870 mil toneladas de pluma, correspondendo a 57% da produção do País O algodão migrou ao Centro-Oeste como alternativa para rotação de cultura e após os esforços dos precursores deste cultivo no Cerrado foram desenvolvidas tecnologias adaptadas à região que, associadas às extensas áreas de topografia plana e estação de chuvas bem definida, possibilitou a obtenção de altas produtividades da cultura. Entretanto, devido ao grande volume pluviométrico, à alta umidade relativa do ar e às noites com temperaturas amenas, principalmente em regiões de maior altitude, os patógenos também são favorecidos, propiciando surtos epidêmicos de doenças que não eram observados quando o cultivo do algodão era realizado predominantemente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.

Stefanelo, Ohl e Takizawa buscam alternativas para controle da ramulária

cia para controle de ramulária, porém em lavouras comerciais, comumente são realizadas no máximo três aplicações desse produto, em virtude da fitotoxicidade causada à cultura do algodoeiro, principalmente em aplicações mais tardias. A utilização de carbendazim em adição ao hidróxido de fentina gerou pouco incremento em termos de controle de ramulária, porém é um produto com boa ação de controle sobre outras doenças. Embora seja um estudo preliminar, o presente experimento nos indica o caminho a seguir nas próximas safras, já que obtiveram-se bons resultados com misturas formuladas de estrobilurinas + carboxamidas e ditiocarbamato, constituindo-se em moléculas que podem ser introduzidas nos programas de manejo, alcançando-se uma melhor rotação de ingredientes ativos e mecanismos de ação. Neste ponto merece destaque o fungicida de ação multissítio, constituindo-se em uma importante ferramenta no manejo de resistência do fungo a fungicidas, porém cabe salientar que este é um ensaio pioneiro e novos

estudos devem ser realizados com tais fungicidas, de maneira a buscar o melhor ajuste de dose, momento de aplicação e necessidade de uso de adjuvante, por exemplo. A Ceres Consultoria Agronômica ressalta que o presente estudo buscou estritamente novas alternativas para viabilizar o manejo químico da principal doença do algodoeiro, de maneira a colaborar na rotação de fungicidas com diferentes mecanismos de ação como estratégia para evitar o surgimento de resistência. No entanto, o controle químico deve ser complementado por outros métodos de controle, principalmente com a destruição adequada de soqueira e respeito ao vazio sanitário, além do emprego de cultivares com alto grau de tolerância à doença, caso das cultivares RX. Somente com a integração dos métodos de controle é que será possível travar o ímpeto da ramulária C do algodoeiro. Maurício Silva Stefanelo, Guilherme Almeida Ohl e Evaldo Kazushi Takizawa, Ceres Consultoria Agronômica

Tabela 1 - Descrição dos tratamentos avaliados. Primavera do Leste (MT) Trat. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Dose de P. C. (L ha-1 ou kg ha-1) 0,50 + 0,60 0,50 0,50 0,30 0,75 2,00 0,30 0,50 0,30 0,30 0,50 2,00 0,20 0,30

Ingrediente Grupo ativo (I. A.) Químico H. de fentina + Carbendazim Organoestânico + Benzimidazol Hidróxido de fentina Organoestânico Tetraconazol Triazol Difenoconazol Triazol Tebuconazol Triazol Mancozebe Ditiocarbamato Azoxistrobina + Difenoconazol Estrobilurina + Triazol Piraclostrobina + Epoxiconazol Estrobilurina + Triazol Azoxistrobina + Ciproconazol Estrobilurina + Triazol Picoxistrobina + Ciproconazol Estrobilurina + Triazol Piraclostrobina + Metconazol Estrobilurina + Triazol Piraclostrobina + Metiram Estrobilurina + Ditiocarbamato Azoxistrobina + Benzovindiflupyr Estrobilurina + Carboxamida Piraclostrobina + Fluxapiroxade Estrobilurina + Carboxamida

Concentração (g L-1 ou g kg-1) 400 + 500 400 125 250 200 750 200 + 125 133 + 50 200 + 80 200 + 80 133 + 80 50 + 550 300 + 150 333 + 167

Dose de I.A. ha-1 200 + 300 200 62,5 75 150 1500 60 + 37,5 66,5 + 25 60 + 24 60 + 24 66,5 + 40 100 + 1100 60 + 30 99,9 + 50,1

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Mesmo com problemas logísticos, preços de fretes altos, baixa fertilidade do solo e falta de estrutura para armazenagem, uma análise econômica do sistema soja-milho safrinha, realizada entre o final de 2014 e os primeiros meses de 2015, em um pequeno município do interior do Mato Grosso, mostra a viabilidade financeira destes cultivos

Charles Echer

SOJA E MILHO

Desafio de produzir

C

onfresa é o município mais populoso da região denominada Araguaia, Xingu, inserido a noroeste do estado de Mato Grosso, com 24.293 habitantes, dos quais 34,80% residem na zona urbana e 65,20% na zona rural. “Cresce” acima da média nacional no cultivo de soja e milho de forma integrada com a pecuária. Problemas logísticos como preços de frete, rodovias e estradas inacabadas e/ ou em péssimo estado de conservação, baixa fertilidade dos solos ocupados por anos com pastagens sem aporte de corretivos e fertilizantes e falta de estruturas armazenadoras de produção influenciam os componentes dos custos de produção. O crescimento de áreas agrícolas cultivadas em sucessão com soja e milho em Confresa demanda estudos econômicos para que agricultores possam entender de forma mais concisa os fatores técnicos e econômicos que influenciam a participação quantitativa dos componentes do custo de produção nesse sistema agrícola.

Com o objetivo de analisar economicamente o sistema agrícola soja-milho safrinha um estudo foi conduzido no campo agrícola do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, campus Confresa. Para obtenção dos valores financeiros médios da cultura da soja cultivaram-se três variedades de soja em 6/11/2014, com estande final de 13 plantas/m, 17 plantas/m e 11 plantas/m. A adubação total da soja foi constituída em kg/ha de 32N - 113P2O5 65K2O “posicionada” inteiramente na linha de semeadura por meio da adição de 814kg/ ha 04-14-08+0,2% Zn. O ciclo completo de desenvolvimento das variedades de soja foi compreendido entre 100 dias e 112 dias. Os valores financeiros do milho safrinha foram obtidos cultivando-se duas variedades nas datas de 27/2/2015 e 6/3/2015. A primeira foi cultivada em sucessão à soja, constatando-se população final de plantas de 3,1m, ou sobre pastagem de braquiária dessecada, com população final de plantas de 3,7m, recebendo ambas as áreas na semeadura 560kg/ha de 04-

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14-08 +0,2% Zn. A outra variedade de milho (segunda data de semeadura) foi cultivada recebendo apenas uma cobertura com ureia, em área previamente cultivada com milho para ensilagem. Nessa área a população final de plantas foi de 3,1m. O ciclo completo de desenvolvimento das variedades de milho foi compreendido entre 115 dias e 117 dias. Foram avaliados os custos de produção e a produtividade dos grãos à umidade de 14%, possibilitando a obtenção dos valores médios do sistema agrícola: ponto de nivelamento, lucratividade, rentabilidade e ganho líquido do investimento. Considerando os componentes: semente, tratamento de semente, fertilizante, agroquímico, mão de obra, combustível, colheita e depreciação de maquinários no custo de produção de soja safra 2014/2015 fornecidos pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), constatou-se custo de R$ 1.644,32, com participação percentual dos componentes fertilizante (33,35%), agroquímico (39,94%) e semente (11,49%), totalizando 84,78%. Na safra 2014/2015 os defensivos agrícolas estiveram 60,4% mais caros que na safra 2013/2014, o que elevou em 8,58% o custo final de produção por hectare em Mato Grosso. Do volume total gasto - considerando um maior número de componentes no custo de produção da soja - 63,2% equivaleram a custos com insumos (fertilizantes, defensivos e sementes), sendo a alta do dólar em 2014 o principal fator para tal resultado, bem como a elevação do combustível, que influenciou o custo da logística de insumos e colheita. Fertilizante, agroquímico e semente totalizaram aproximadamente 85% nos custos de produção da soja (Figura 1). Quanto a fertilizante, houve necessidade de elevação dos teores dos nutrientes no solo para cultivo da soja em área recém “aberta”, o que recai sobre o seu preço balizado pelo dólar em alta e seus custos de entrega em Confresa associados à elevação do combustível. É importante ressaltar que, embora menores os valores percentuais participativos dos componentes fertilizantes, agroquímicos e sementes no custo de produção em outros estados brasileiros quando comparados com o determinado para Confresa, considerando que grande parte das áreas agrícolas desses estados já atingiu teores razoáveis dos nutrientes no solo, além da logística de suas entregas, tais componentes também representam a maior


Figura 1 - Participação dos componentes de custo médio do cultivo da soja

parte do custo de produção. Em Goiás e Rio Grande do Sul na safra 2013/2014, os fertilizantes tiveram maior participação no custo de produção da soja seguidos dos defensivos, que somados ao componente semente somavam mais de 65%. A produtividade média de sacos de grãos de soja com 60kg foi de 66,67kg/ha, sendo o valor mínimo de comercialização por saco para que haja cobrimento do custo de produção (R$ 2.455,65/ha) de R$ 36,83. O ponto de nivelamento em sacos/ha (valor de comercialização: R$ 51,00 vendido em março de 2015) foi de 48,15. O valor citado de custo de produção estimado para safra 2014/2015 pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) considerando os mesmos componentes do presente trabalho foi R$ 811,38 menor. A lucratividade média obtida no período de cultivo entre as variedades de soja foi de 30,03% e a rentabilidade média de 38,46%. Este último percentual equivale ao valor mensal de 10%, que comparado à rentabilidade mensal fixa da poupança, de aproximadamente 0,50%, foi 20 vezes maior. De outra forma, a cada R$ 1,00 investido para o cultivo da soja obteve-se retorno financeiro médio de R$ 1,38, ou seja, um ganho líquido por hectare de R$ 944,52. É importante citar que os valores de lucratividade e rentabilidade são extremamente influenciados pela decisão da comercialização antecipada por contratos fixando preços e/ ou da época de comercialização, o que vai depender da capacidade de quem produz em armazenar sua produção para comercializá-la por melhores preços. Considerando os dados do Imea referentes aos componentes semente, tratamento de semente, fertilizante, agroquímico, mão de obra, combustível, colheita e depreciação de maquinários no custo de produção de milho safrinha em 2015, constatou-se custo de R$ 1.326,17. A participação percentual dos componentes teve em fertilizante (40,04%)

Figura 2 - Participação dos componentes de custo médio de produção de grãos do milho

e semente (19,52%), Figura 3 - Participação média dos componentes de custo de produção do sistema totalizando 59,56%. soja-milho "safrinha" Os componentes fertilizante e semente totalizaram aproximadamente 75% de participação nos custos de produção do milho (Figura 2), influenciado pela quantidade de fertilizante utilizado, visto a necessidade de elevação dos teores dos nutrientes no solo, dando continuidade à “formação” da sua fertilidade em área ganho líquido médio de R$ 262,84. Imporrecém “aberta”. Em Mato Grosso do Sul, a tante ressaltar a influencia sobre os valores participação conjunta dos componentes fer- de lucratividade e rentabilidade das decisões tilizante e semente é relativamente menor de comercialização antecipada e/ou da época que em Mato Grosso no cultivo de milho de comercialização. safrinha. Mas ambos são os mais expressivos Na Figura 3 observa-se participação média no custo de produção. dos componentes do custo de produção no A produtividade média de sacos de grãos sistema agrícola soja-milho safrinha. de milho com 60kg foi de 112,86kg/ha, sendo O custo total de produção do sistema de o valor mínimo de comercialização por saco, cultivo soja-milho safrinha foi de R$ 4.202,07/ para que haja cobertura do custo de produção ha, com ganho líquido de R$ 1.207,36. Sua (R$ 1.746,42/ha), de R$ 15,47. O ponto de lucratividade foi de 43,34% e a rentabilidade nivelamento para o valor de comercialização 55,58%. Este último valor, considerando de R$ 19,00 vendido em julho de 2015 foi sete meses de duração do sistema soja-milho de 91,92 sacas/ha. O custo de produção por safrinha, é equivalente mensalmente ao perhectare de grãos de milho estimado para centual aproximado de 4%, que comparado safrinha de 2015 pelo Imea, considerando os à rentabilidade mensal fixa da poupança mesmos componentes do presente trabalho, (aproximadamente 0,50%) foi oito vezes foi R$ 420,25 menor em comparação ao custo maior. Assim, a cada R$ 1,00 investido nesse médio obtido. sistema agrícola obteve-se retorno financeiro C A lucratividade média foi de 13,31%, e a líquido médio de R$ 1,28. rentabilidade média de 17,12%. Este último valor equivale mensalmente ao aproximado Raphael Maia Aveiro Cessa, de 4,28%, comparado à rentabilidade mensal Miashyro Fortes de Sousa, fixa da poupança (aproximadamente 0,50%) Djone Mingori Perin e se mostrou de 8,6 vezes maior. De outra for- Eduardo Dias de Araújo, ma, a cada R$ 1,00 investido para o cultivo Confresa de milho obteve-se retorno financeiro líquido Elmo Pontes de Melo, médio de R$ 1,18. Ainda, constatou-se Cientificams

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SOJA

Patógenos potenciais

Divulgação

Além dos nematoides que já provocam prejuízos à cultura da soja no Brasil, Helicotylenchus dihystera e Scutellonema brachyurus passam a preocupar produtores e a pesquisa. Embora de ocorrência mais restrita, Tubixaba tuxaua é outra espécie que merece atenção

N

o ano em que a Sociedade Brasileira de Nematologia comemora seus 40 anos de existência, estão em foco entre os nematologistas brasileiros discussões a respeito da problemática envolvendo nematoides como sérios patógenos de diversas culturas de importância agrícola para o Brasil, além de espécies emergentes, que podem se tornar importantes em um futuro próximo. Desde a primeira descrição de um nematoide de galhas, Meloidogyne exigua, parasitando cafeeiros na então província do Rio de Janeiro, em 1892, periodicamente a agricultura é confrontada por novas ou emergentes espécies de nematoides que se tornam sérios problemas em pouco espaço de tempo. Exemplos existem em abundância na literatura nematológica. Após aproximadamente um século dessa primeira descrição, outro nematoide foi relatado no Brasil, o nematoide de cisto da soja (NCS), Heterodera glycines, parasitando plantas de soja. Este nematoide se disseminou rapidamente pelas lavouras e, de uma área inicial de 5.000 hectares na época de sua constatação, 1991/92, expandiu-se para mais de 200.000 hectares até o início dos anos 2000, com perdas estimadas em mais de 20 milhões de dólares. Atualmente, o NCS conti-

nua causando perdas econômicas em lavouras de soja no Brasil, apesar da ampla utilização de cultivares resistentes, com uma área infestada estimada em cerca de 2 milhões de hectares. Além disso, apesar da constante e bem conhecida importância dos nematoides de galhas para a agricultura brasileira, há exemplos recentes de espécies de Meloidogyne emergentes que têm causado perdas importantes, como é o caso de M. enterolobii (=M. mayaguensis) em goiabeira e tabaco. Mais recentemente, uma espécie considerada como patógeno secundário na cultura da soja até o final dos anos 1990, o nematoide das lesões radiculares, Pratylenchus brachyurus, tornou-se o principal problema nematológico da cultura, especialmente nas condições do Cerrado brasileiro. Diante de tais problemas, os nematologistas sempre uniram esforços para enfrentar a crise e encontrar soluções de manejo eficientes para os produtores. E agora não é diferente: na iminência de novos problemas, muitos já estão discutindo a situação e iniciando as buscas por alternativas de manejo, antes que tais nematoides venham a causar maiores prejuízos aos produtores. É o caso de duas espécies, apontadas

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como potenciais patógenos para a cultura da soja, Helicotylenchus dihystera e Scutellonema brachyurus, além de uma terceira, de ocorrência mais restrita, Tubixaba tuxaua (Figura 1). Tanto H. dihystera como S. brachyurus são consideradas espécies ectoparasitas, ou seja, que não teriam a capacidade de penetrar nas raízes das plantas e, portanto, teoricamente, os danos causados ao sistema radicular seriam menores. O primeiro, H. dihystera, é um nematoide bastante comum de se observar em amostras de solo em muitas culturas, enquanto que S. brachyurus teve sua ocorrência incrementada nos últimos anos. Nos últimos tempos, ambas as espécies têm aparecido em maior frequência de ocorrência nas análises nematológicas realizadas em lavouras de soja e também em maior quantidade, principalmente nos estados do Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Paraná. Já no caso de T. tuxaua, trata-se de nematoide descrito no Brasil pelo professor da Esalq, em Piracicaba, Aílton Rocha Monteiro, ainda com poucas informações sobre seu ciclo de vida ou círculo de hospedeiros. Sua ocorrência também parece estar restrita aos estados do Maranhão, Tocantins, Paraná e Mato Grosso, embora sua disseminação possa estar sendo subestimada devido às dificuldades em seu reconhecimento e identificação. Na última edição do Congresso Brasileiro de Nematologia, realizado em junho de 2015, em Londrina, Paraná, os três nematoides ganharam destaque e foram tema de uma mesa-redonda exclusiva para discussão a respeito de sua ocorrência, potencial de danos e manejo. Infelizmente, a informação que se tem até o momento ainda é pequena para concluir que se tratam de patógenos importantes para a cultura da soja. Mas os estudos realizados até o momento trazem uma preocupação em relação a esses nematoides. Estudos realizados este ano pelo Laboratório de Nematologia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), localizado em Londrina, apontam que H. dihystera e S. brachyurus podem ser considerados como potenciais patógenos para a cultura da soja e outras que fazem parte do sistema produtivo da sojicultura. Os trabalhos apresentados pelo Iapar no Congresso de Nematologia mostram que am-


Santino A. da Silva e Priscila M. Amaro

Priscila Moreira Amaro

Figura 1 – Helicotylenchus dihystera, Scutellonema brachyurus e Tubixaba Figura 2 - Raiz de soja cultivar TMG 115 RR inoculada com 50 exemplares de Helicotytuxaua lenchus dihystera, com lesões causadas pelo parasitismo do nematoide. Helicotylenchus dihystera no interior das raízes de soja cultivar TMG 115 RR, aos 70 dias após a inoculação

Santino A. da Silva e Priscila M. Amaro

Santino A. da Silva e Priscila M. Amaro

Figura 3 - Raiz de milheto cultivar ADR 300 inoculada com 50 exemplares de Figura 4 - Raiz de soja cultivar TMG 115 RR inoculada com Scutellonema brachyurus, com Helicotylenchus dihystera, aos 70 dias após a inoculação. Helicotylenchus dihystera lesões causadas pelo parasitismo do nematoide. Scutellonema brachyurus no interior das no interior das raízes de milheto ADR 300, aos 70 dias após a inoculação raízes de soja cultivar TMG 115 RR, aos 60 dias após a inoculação

cimento de sintomas e, posteriormente, coloridas. Os resultados mostraram que S. brachyurus consegue multiplicar-se em soja, apresentando fator de reprodução de 2,77 e número de nematoides por grama de raízes de 165, aos 60 DAI. Além disso, aos 60 DAI, grande número de lesões radiculares também foi observado, semelhantes àquelas causadas por P. brachyurus (Figura 4) e, após coloração das raízes, verificou-se que o nematoide estava presente em seu interior, sugerindo que possa estar também facultativamente comportando-se como endoparasita migrador na cultura da soja (Figura 4). Ainda não foi possível isolar e multiplicar o nematoide T. tuxaua em condições de casa de vegetação para a realização dos mesmos tipos de experimentos realizados com H. dihystera e S. brachyurus. Além disso, pesquisadores que trabalham nas regiões em que esse nematoide costuma estar presente têm relatado o aparecimento de um nematoide do gênero Tubixaba, mas com características diferenciadas em relação à T. tuxaua, por exemplo, menor tamanho, o que traz mais um complicador para os estudos envolvendo esse nematoide. Faz-se necessário o esclarecimento acerca da(s) espécie(s) de Tubixaba que ocorre(m) em lavouras de soja no Brasil para que novos estudos possam ser realizados

de maneira a trazer resultados mais confiáveis aos produtores. Conclui-se, portanto, a partir dos estudos realizados até o momento, que H. dihystera e S. brachyurus podem constituir-se em potenciais patógenos para a cultura da soja no Brasil e que estudos para o esclarecimento acerca de sua capacidade de causar danos em soja e C milho são essenciais. Andressa C. Z. Machado e Santino Aleandro da Silva, Iapar Priscila Moreira Amaro, Unifil Divulgação

bos conseguem penetrar no sistema radicular da soja, ao contrário do se esperava em função do hábito de parasitismo desses nematoides, e, além disso, causar lesões semelhantes àquelas provocadas por P. brachyurus, o nematoide das lesões radiculares (Figuras 2, 3 e 4). No caso específico de H. dihystera, uma população foi purificada a partir de amostra de solo recebida pelo laboratório e mantida em casa de vegetação em plantas de soja e milheto. O milheto foi utilizado, uma vez que a amostra recebida era oriunda de lavoura de soja onde houve rotação com milheto ADR300. Observou-se, cerca de 70 dias após a inoculação de 50 exemplares por planta, o aparecimento de sintomas radiculares semelhantes aos observados para P. brachyurus, ou seja, lesões escurecidas, tanto em soja (Figura 2) quanto em milheto (Figura 3). Além disso, raízes de soja e milheto foram coloridas e foi possível a visualização do nematoide no interior das raízes de ambas as plantas, sugerindo que o nematoide possa estar facultativamente comportando-se como endoparasita migrador nas culturas da soja e do milheto (Figuras 2 e 3). Já para S. brachyurus, o estudo realizado objetivou avaliar a multiplicação em soja e a possível sintomatologia associada ao parasitismo. Para tal, plantas de soja foram inoculadas com 500 exemplares e avaliadas quanto à multiplicação do nematoide aos 20 e 60 dias após a inoculação (DAI). Além disso, raízes de soja foram observadas quanto ao apare-

Andressa, Da Silva e Priscila abordam espécies emergentes de nematoides

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SOJA Embrapa Soja

Intervalo e efeito

Principal doença na cultura da soja, a ferrugem asiática sempre chama a atenção pelo potencial de prejuízos, agressividade do fungo e exigências quanto ao controle. A adição de fungicidas multissítios aos tratamentos e a identificação do intervalo adequado entre as aplicações tendem a maximizar os resultados do manejo do fungicida mancozebe 750g/l, associado à azoxystrobina + ciproconazol, 200g/l + 80g/l, em diferentes períodos e intervalos entre aplicações.

EXPERIMENTOS

A

intensificação do uso de fungicidas no Brasil se deu a partir da entrada da ferrugem asiática da soja, causada por Phakopsora pachyrhizi Syd. & P. Syd, em 2001. Desde então, a doença é a principal da cultura no país, podendo ocasionar danos de 90%. Inicialmente, os fungicidas empregados para controle possuíam moléculas com ação de sítio-específico, isso é, o composto químico atua apenas em um ou poucos processos, como o caso de triazóis e estrobilurinas. Entretanto, com o surgimento de populações do fungo menos sensíveis, tem se observado diminuição da eficiência de controle destes produtos, conforme indicam resultados obtidos pelo Consórcio Antiferrugem e a Fundação Chapadão. A utilização de produtos com ação multissítio, como mancozebe, pode promover benefícios adicionais para o controle da doença, e também para o manejo de resistência. No intuito de verificar o efeito da adição de fungicidas multissítios para o controle da

O ensaio foi conduzido na safra 2014/15, na unidade experimental da Fundação Chapadão, localizada em Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul. O objetivo foi de avaliar o melhor intervalo entre aplicações do fungicida (azoxystrobina + ciproconazol, 200g/l + 80g/l) somado ou não ao fungicida (Mancozebe, 750g/l), para o controle de ferrugem asiática da soja, causada por P. pachyrhizi. Para isso, foram realizadas aplicações iniciando-as em diferentes estádios de desenvolvimento, combinadas a intervalos de aplicação, variando entre 14 dias e 21 dias. O ensaio contou com 12 tratamentos, mais a testemunha sem aplicação (Tabela 1). O delineamento adotado foi em blocos casualizados, com quatro repetições. Foi empregada a cultivar Valiosa, semeada em 21/11/2014. As aplicações de fungicida dos tratamentos utilizaram volume de calda equivalente a 150L/ha, e em todos, exceto a testemunha, houve adição de óleo mineral Nimbus, dose de 0,6L/ha. Para identificar o momento de início da

ferrugem e determinar o melhor programa de manejo para a doença, a Fundação Chapadão realizou ensaios para avaliar o comportamento

Tabela 1 - Produtos e intervalos entre aplicações utilizados no controle de ferrugem asiática da soja na Fundação Chapadão, MS, safra 2014/15 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 T13

Dose (mL/ha) Tratamento testemunha Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb 300+1500 300 Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb 300+1500 300 Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb 300+1500 300 Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb 300+1500 300 Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb 300+1500 300 Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb 300+1500 300 Azoxystrobina + Ciproconazol

Obs: Adição de Nimbus 600mL/ha em todos tratamentos, exceto testemunha Dose: mL de produto comercial/ha

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V8 V8 V8 V8 V8 V8 -

Aplicações (+dias após aplicação R1) R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+14 R1 R1+28 R1+42 R1+14 R1 R1+28 R1+42 R1+14 R1 R1+28 R1+42 R1+14 R1 R1+28 R1+42 R1+21 R1 R1+42 R1+56 R1+21 R1 R1+42 R1+56 R1+21 R1 R1+42 R1+56 R1+21 R1 R1+42 R1+56

R1+56 R1+56 R1+56 R1+56 -


Figura 1 - Resultados sumarizados das safras 2010/11, 2011/12, 2012/13 e Figura 2 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) de ferrugem asiática da 2013/14 realizadas na Fundação Chapadão, Chapadão do Sul, MS soja, de tratamentos com aplicação de fungicidas na Fundação Chapadão, MS, safra 2014/15

doença na área, três vezes por semana foram coletadas folhas de soja das parcelas testemunhas e enviados a laboratório de análise e diagnose de doenças. As avaliações de severidade tiveram início a partir da detecção da doença. A estimativa da porcentagem de área foliar lesionada foi dada a partir da avaliação de dez folhas coletadas em quatro pontos distintos de cada parcela. Os avaliadores atribuíram as notas seguindo a escala de avalição de severidade proposta por Godoy, Koga e Canteri (2006). Os resultados foram submetidos à análise de variância e teste de Scott-Knott, a 5% de significância, através do software Sasm-Agri (Canteri et al, 2001).

RESULTADOS

Os ensaios de intervalo de aplicação vêm sendo conduzidos pela fundação Chapadão desde a safra 2010/11, porém sem a adição dos tratamentos com mancozebe. Os resultados sumarizados para estes trabalhos encontram-se na Figura 1. Observou-se neste período que os tratamentos com menores intervalos de aplicação apresentavam melhores resultados de produtividade. O início da doença na safra 2014/15, diagnosticada via laboratório, ocorreu no dia 2 de fevereiro com a cultura em estádio R4. As avaliações tiveram início

em R5.1, ocorren- Figura 3 - Produtividade média de tratamentos com fungicidas no controle de do em intervalos ferrugem asiática da soja na Fundação Chapadão, MS, safra 2014/15 semanais (Tabela 2). Os resultados das avaliações de severidade demonstraram o rápido avanço da doença a partir de sua identificação, chegando à severidade média de 95% na testemunha. O Quadro 1 apresenta a evolução da doença e desfolha na testemunha. Na avaliação de severidade em R5.5 os tratamentos contendo aplicações em R1, R1+14, R1+28, R1+42 e R1+56 e R1+36), a utilização de mancozebe apresentaram as menores porcentagens de associado a azoxystrobina + ciproconazol severidade, contudo a adição de mancoze- contribuiu significativamente para a mebe não implicou em diferença significativa nor severidade de ferrugem, em relação na severidade, em relação ao tratamento aos tratamentos apenas com azoxystrobina somente com azoxystrobina + ciprocona- + ciproconazol (Tabela 2). A evolução da zol. Já para os tratamentos com intervalos doença foi menor nos tratamentos com de aplicação de 21 dias (V8, R1, R1+21, mancozebe, indicando possível efeito adiR1+42 e R1+56 dias e R1, R1+21, cional no residual de controle da doença. R1+42 e R1+56 dias) e tratamentos com A área abaixo da curva de progresso da menor número de aplicações (R1, R1+21 doença AACPD e a desfolha foram signi-


ficativamente menores em relação à testemunha para todos os tratamentos (Tabela 3). Os menores valores foram apresentados pelos tratamentos com menor intervalo de aplicação R1, R1+14, R1+28, R1+42 e R1+56 dias (Tabela 3, Figura 1). As maiores médias de produtividade foram encontradas nos tratamentos com aplicações iniciando em R1, e em intervalos de R1, R1+14, R1+28, R1+42 e R1+56 (tratamentos 8 e 9) e R1, R1+21, R1+42 e R1+56 (tratamentos 12 e 13). Estes resultados podem estar ligados ao surgimento da doença apenas em R4. Em geral, as aplicações que persistiram até os 56 dias após o estádio R1 possibilitaram maior proteção da cultura e menor avanço da doença, resultando em maior produtividade. Em ensaio testando apenas a aplicação de fungicida multissítio frente à mistura de triazol + estrobilurinas (ciproconazol + azoxistrobina), Silva et al (2015) verificaram acréscimo significativo de produtividade para os tratamentos com aplicação isolada

Quadro 1 - Vista parcela, Eficácia dos tratamentos e momento de desfolha. Chapadão do Sul (MS), safra 2014/15. Fundação Chapadão, 2015

1 - Testemunha (14/03/2015)

1 - Testemunha (20/03/2015)

de mancozebe. Os autores ainda citam o potencial da adição do mancozebe a outros fungicidas.

CONCLUSÃO

Antes da adoção dos fungicidas multissítios os tratamentos com menor intervalo entre as aplicações apresentaram melhores resultados de produtividade. No ensaio com multissítios na safra 2014/14, sob condição de início tardio da epidemia, as aplicações em fases finais do ciclo da cultura promoveram melhor controle da doença e incrementaram

1 - Testemunha (25/03/2015)

a produtividade. A adição de mancozebe às aplicações de azoxystrobina + ciproconazol reduziu a velocidade da epidemia, evidenciada pela severidade dos tratamentos, indicando possível efeito adicional do multissítio no C residual de controle da doença. Lucas Henrique Fantin, João Vitor Andrade, Marcelo Giovanetti Canteri, Edson Pereira Borges e Alfredo Riciere Dias, Univ. Estadual de Londrina e Fundação Chapadão

Tabela 2 - Avaliações de severidade de ferrugem asiática da soja na Fundação Chapadão, MS, safra 2014/15 Severidade (%) T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 T13

Tratamento testemunha Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol

Dose (mL/ha) 300+1500 300 300+1500 300 300+1500 300 300+1500 300 300+1500 300 300+1500 300

V8 V8 V8 V8 V8 V8 -

Aplicações (+dias após aplicação R1) R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+14 R1 R1+28 R1+14 R1 R1+28 R1+14 R1 R1+28 R1+14 R1 R1+28 R1+21 R1 R1+42 R1+21 R1 R1+42 R1+21 R1 R1+42 R1+21 R1 R1+42

R1+42 R1+42 R1+42 R1+42 R1+56 R1+56 R1+56 R1+56

R1+56 R1+56 R1+56 R1+56 -

20/fev R5.1 0,9 a 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b

27/fev R5.3 6,1 a 0,0 c 1,8 b 0,0 c 2,8 b 0,1 c 1,8 b 0,0 c 0,1 c 0,0 c 1,4 b 0,0 c 1,8 b

08/mar R5.4 14/mar R5.5 95,0 a 37,5 a 24,4 c 6,9 c 26,9 b 13,8 b 16,9 c 7,3 c 27,5 b 12,8 b 26,3 b 10,0 b 24,4 b 11,3 b 17,5 c 3,8 d 17,5 c 3,5 d 15,0 d 3,3 d 23,1 b 10,0 b 17,5 c 6,3 c 35,0 b 13,8 b

Obs: Adição de Nimbus 600mL/ha em todos tratamentos, exceto testemunha *Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si no teste de scott-knot 5%

Tabela 3 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), desfolha e produtividade de soja na Fundação Chapadão, MS, safra 2014/15 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 T13

Tratamento testemunha Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol Azoxystrobina + Ciproconazol + Mancozeb Azoxystrobina + Ciproconazol

Dose (mL/ha) 300+1500 300 300+1500 300 300+1500 300 300+1500 300 300+1500 300 300+1500 300

V8 V8 V8 V8 V8 V8 -

Aplicações (+dias após aplicação R1) R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+21 R1 R1+36 R1+14 R1 R1+28 R1+14 R1 R1+28 R1+14 R1 R1+28 R1+14 R1 R1+28 R1+21 R1 R1+42 R1+21 R1 R1+42 R1+21 R1 R1+42 R1+21 R1 R1+42

R1+42 R1+42 R1+42 R1+42 R1+56 R1+56 R1+56 R1+56

R1+56 R1+56 R1+56 R1+56 -

Obs: Adição de Nimbus 600mL/ha em todos tratamentos, exceto testemunha *Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si no teste de scott-knot 5%

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Desfolha 99 a 90 b 91,3 b 90 b 92,5 b 91,3 b 86,3 b 86,3 b 88,8 b 85 b 92,5 b 88,8 b 88,8 b

AACPD 618,5 a 124,8 d 198 b 105,3 d 200,3 b 155 c 171,8 c 80,8 e 79,8 e 69,5 e 155,5 c 99,5 d 222,3 b

Prod (sc/ha) 26,5 c 37,5 b 38,5 b 39,8 b 39,8 b 38,8 b 39,5 b 44,5 a 43,3 a 41,5 b 39,3 b 45,5 a 44,3 a



CAPA

Exército aéreo

Fotos Crébio Ávila

Além das pragas de solo e de plântulas, a cultura do milho pode ser atacada por desfolhadores, brocas e até mesmo sugadores que se alimentam da parte aérea das plantas. Cigarrinha-das-pastagens, lagarta-do-cartucho, broca-da-cana-de-açúcar, lagartada-espiga, curuquerê-dos-capinzais, percevejo e pulgão do milho estão entre os insetos que exigem medidas de controle para minimizar os danos

V

árias espécies de insetos estão associadas à cultura do milho, todavia relativamente poucas são consideradas pragas-chave, apresentam regularidade de ocorrência, consistência na abrangência geográfica e potencialidade para causar danos significativos na cultura. O comportamento dos insetos-praga no milho varia de acordo com o estádio fenológico da cultura, condições edafoclimáticas, sistema de cultivo e fatores bióticos locais relacionados à sua sobrevivência.

PRAGAS DA PARTE AÉREA

Além das pragas de solo e de plântulas, a

cultura pode ser atacada por desfolhadores, brocas e até mesmo sugadores que se alimentam na parte aérea das plantas do milho. Nestes estádios de desenvolvimento as medidas de controle empregadas são de caráter curativo. O controle de insetos que atacam a parte aérea do milho tem sido realizado basicamente através de pulverização de inseticidas sobre as plantas. No caso de lagartas desfolhadoras ou brocas, o uso de variedades transgênicas Bt constitui também uma excelente alternativa de manejo.

CIGARRINHA-DAS-PASTAGENS

O complexo de cigarrinhas das pas-

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tagens que ataca a parte aérea do milho é basicamente representado por duas espécies, Deois flavopicta e Zulia entreriana. A espécie D. flavopicta mede cerca de 10mm de comprimento, apresenta coloração preta, com três faixas amareladas nas asas, sendo duas transversais e uma longitudinal na região alar denominada clavo. Quando as asas estão em repouso, os clavos ficam próximos, formando uma imagem parecida com a letra “V”. Já a espécie Z. entreriana mede aproximadamente 7mm de comprimento e apresenta coloração preta brilhante, com uma faixa branca na parte final da asa.


Condições de temperatura e de umidade propícias ao desenvolvimento dessas cigarrinhas, aliadas ao incremento de áreas com pastagens como Brachiaria decumbens nas adjacências das lavouras de milho, são predisposições positivas para a ocorrência de altas populações do inseto. Nessas condições, os insetos podem migrar intensamente para a cultura do milho, onde pousam sobre o limbo foliar das plantas ou abrigam-se entre o colmo e a bainha e dentro do cartucho. O dano é causado, exclusivamente, pelos adultos, que, ao sugarem a planta, injetam uma toxina que bloqueia o fluxo da seiva. Os sintomas do ataque são caracterizados por manchas foliares que evoluem para uma clorose bem definida, generalizada, com início de senescência. As plantas mais jovens são mais sensíveis ao ataque destas cigarrinhas.

LAGARTA-DO-CARTUCHO

A lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, é considerada a praga mais importante da cultura do milho nas condições do Brasil. A postura é feita nas folhas, em massas de aproximadamente 50 ovos a 100 ovos, em umtotal de 1.360 por fêmea. Passados três dias da postura, eclodem as lagartinhas que alimentam-se das cascas dos ovos (córion) que lhes deram origem. O período larval dura cerca de 23 dias, podendo as lagartas atingirem cerca de 40mm de comprimento no último dos seus seis instares. No segundo instar a lagarta migra para o cartucho do milho, onde completa o seu desenvolvimento. Pode ser encontrada, por cartucho, mais de uma lagartinha recém-eclodida. Todavia, devido ao comportamento canibal, normalmente é localizada apenas uma lagarta desenvolvida em cada cartucho. Contudo, é possível encontrar indivíduos de instares diferentes em um mesmo cartucho, porém separados por lâminas de folhas. O ataque sobre o milho pode ocorrer desde a fase de plântula até o pendoamento e espigamento. As pequenas lagartas começam raspando o limbo foliar, de preferência das folhas mais novas, provocando o sintoma conhecido como “folhas raspadas”. A partir daí atacam todas as folhas centrais da região do cartucho, podendo este, sob danos mais severos, ficar totalmente destruído. Em ataques mais tardios, podem ser encontrados indivíduos entre o colmo e a espiga, onde destroem a palha e alguns grãos. Em condições de alta densidade populacional da praga na palhada em que será instalada a cultura do milho, a lagarta pode perfurar o colo de plantas jovens, semelhante ao ataque da lagarta-rosca, e provocar a morte das folhas do cartucho, levando, às vezes, ao perfilhamento. O período pupal dura cerca de dez dias no verão. Períodos relativamente prolongados de estiagem favorecem o estabelecimento e o

Ataque de Spodoptera frugiperda no colo da planta de milho

ressurgimento de altos níveis populacionais da lagarta-do-cartucho no milho. Em regiões de cultivo contínuo de milho, a praga ocorre em alta abundância durante todo o ano. Até os 30 dias de desenvolvimento da cultura, pode ser observado até 15% de redução da produção ou 34% após o florescimento.

BROCA-DA-CANA-DE-AÇÚCAR

A broca-da-cana, Diatraea saccharalis, é uma praga que tradicionalmente ocorre na cultura da cana-de-açúcar, mas que frequentemente pode atacar também a parte aérea do milho. A lagarta penetra no colmo das plantas de milho e alimenta-se no seu interior, fazendo galerias. Aparentemente, os danos diretos não são importantes, pois a planta mesmo lesionada pode produzir normalmente. Entretanto, sob a ação de ventos fortes, a planta pode tombar e a espiga, ao entrar em contato com o solo, favorece a germinação ou o apodrecimento dos grãos, além de não serem

Planta com sintoma de “coração morto” provocado por ataque de Diatraea saccharalis

mais capturadas pela colhedeira.

LAGARTA-DA-ESPIGA

O adulto da lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea, é uma mariposa que tem aproximadamente 35mm de envergadura. Uma fêmea pode ovipositar cerca de mil ovos, colocados em qualquer parte da planta, embora as mariposas prefiram os cabelos (estilo-estigmas) das espigas. Os ovos medem cerca de 1mm de diâmetro, são de coloração branca no início e marrom próximo da eclosão. Após o período de incubação, de três a cinco dias, a lagarta eclode apresentando a cabeça marrom e o restante do corpo branco. Inicialmente as lagartas alimentam-se dos “cabelos” novos e, em seguida, migram para o interior no ápice da espiga, onde consomem grãos em formação. Próximo à pupação, a lagarta abandona a espiga, deixando um orifício de saída na palha, dirige-se para o solo, onde transforma-se em pupa, que dura, em média, 14 dias.

Broca-da-cana Diatraea saccharalis atacando milho

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Fotos Crébio Ávila

Presença da lagarta Helicoverpa zea provocando danos em espiga de milho

CURUQUERÊ-DOS-CAPINZAIS

As lagartas do curuquerê-dos-capinzais, Mocis latipes, são do tipo mede-palmo, apresentando coloração amarelada com estrias longitudinais castanho-escuras. No seu máximo desenvolvimento medem cerca de 45mm de comprimento e apresentam cabeça proeminente, com estrias amareladas. Esta praga alimenta-se das folhas do milho, consumindo apenas o limbo foliar a partir dos bordos, deixando somente a nervura central. O inseto deve merecer maior atenção dos 60 dias aos 80 dias da cultura, fase em que o milho é muito sensível à desfolha.

PERCEVEJO-DO-MILHO OU "GAUCHO"

Os adultos do percevejo do milho, Leptoglossus zonatus, medem cerca de 20mm de comprimento, são de coloração marrom-escura, com duas manchas amarelas circulares no pronoto. Os hemiélitros (asas anteriores) apresentam uma faixa transversal amarela em zigue-zague e as tíbias posteriores possuem uma expansão em formato de folha. Os adultos e ninfas introduzem o estilete nos grãos do milho para succioná-los e a punctura praticada para fins de alimentação passa a ser uma porta de entrada para a penetração de fungos patogênicos. A ação destes, interagindo com os danos diretos oriundos do ato de alimentação da praga, provoca falhas nas espigas, murchamento e apodrecimento dos grãos. Os insetos preferem, normalmente, espigas de palha aberta, que apresentam as sementes mais expostas.

MANEJO DE PRAGAS DA PARTE AÉREA DO MILHO

O controle da cigarrinha-das-pastagens pode ser realizado com o tratamento das sementes com inseticidas, quando o inseto ocorrer nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura ou através de pulverizações sobre as plantas em ocorrência mais tardia. O controle de lagartas que atacam a parte aérea do milho é normalmente realizado com aplicações de inseticidas em pulverização sobre as plantas. Além dos inseticidas organofosforados, os piretroides, fisiológicos e as diamidas proporcionam bom controle desse grupo de pragas, dependendo da dose empregada do produto. O controle da broca-da-cana normalmente não é feito. Em áreas próximas a canaviais e sujeitas ao frequente ataque, o uso de variedades de porte baixo minimiza o problema. Em situações de altíssimas infestações, o uso dos mesmos lagarticidas reguladores de crescimento de insetos, como sugeridos para o controle da lagarta-do-cartucho, diminui os possíveis danos. As plantas transgênicas que apresentam atividade inseticida constituem uma importante alternativa para o manejo de insetos-praga nas lavouras de milho. A planta de milho transgênico com atividade inseticida é mundialmente conhecida como milho Bt, por expressar uma toxina (inseticida) isolada da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), que

PULGÃO-DO-MILHO

As colônias do pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maydis, normalmente são vistas no interior do cartucho e no pendão das plantas, onde sugam a seiva continuamente. Na cultura do milho este inseto multiplica-se com facilidade, mas, geralmente, não assume importância econômica. Sob condições de altíssima infestação, no período de pré-florescimento, pode ocorrer perda econômica.

Ávila destaca características e manejo de pragas aéreas no milho

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é específica especialmente para as larvas de Lepidóptera. No Brasil, vários eventos Bt foram liberados para comercialização, expressando diferentes toxinas como Yieldgard, Herculex e Agrisure, também combinados com tolerância a herbicidas. Dentre as principais pragas-alvo dessa tecnologia, incluem-se a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), a lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) e a broca da cana-de-acúcar (Diatraea saccharalis) e até mesmo as lagartas mede-palmo (Mocis latipes) e a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus). A eficiência de controle dessas espécies é bastante elevada, podendo muitas vezes dispensar a aplicação de inseticidas químicos para o seu controle. Todavia, para que a toxina Bt apresente atividade inseticida, é necessário que ela seja ingerida pela lagarta e, dessa forma, o produtor poderá constatar alguma injúria nas folhas do milho, como é o sintoma de folhas raspadas. O cultivo do milho Bt em extensas áreas poderá condicionar a seleção de biótipos resistentes às toxinas dessas plantas. Dessa forma, é de suma importância a implementação das áreas de refúgios com o objetivo de evitar ou retardar o desenvolvimento da resistência. Nas condições brasileiras, a área de refúgio consiste basicamente da semeadura de 5% a 10% da área cultivada com milho Bt, com híbridos não Bt, de porte e ciclo semelhantes ao primeiro. Essa área de refúgio não pode estar além de 800m de distância das plantas transgênicas, para permitir os cruzamentos dos adultos sobreviventes da área do milho Bt com os emergidos na área de refúgio. O monitoramento de lagartas tanto nas plantas Bt como do refúgio é de extrema importância, já que dependendo da cultivar utilizada e da intensidade da infestação, medidas de controle complementares poderão ser necessárias. Na área de refúgio deverá ser implementado o manejo das lagartas empregando-se outros métodos de controle e evitar o emprego de bioinseticidas à base de Bt.


Fotos F.J. Celoto

Presença da lagarta Helicoverpa zea provocando danos em espiga de milho

A aplicação de inseticidas químicos em pulverização para o controle da lagarta do cartucho deve ser feita utilizando-se bicos tipo leque (8002, 8004, 6502, 6504), com o jato dirigido para o cartucho da planta. O volume de calda a ser aplicado dependerá do estádio de desenvolvimento da cultura, utilizando-se 200L/ha a 300L/ha para plantas com até 3040 dias de idade. Períodos chuvosos na fase inicial de desenvolvimento da cultura tendem

a minimizar os problemas causados pela lagarta-do-cartucho no milho, seja pela derrubada dos ovos da planta ou pelo afogamento de lagartas pequenas. Diversos inimigos naturais são citados como importantes agentes de controle natural da lagarta-do-cartucho, destacando-se os predadores de lagartas e de ovos, parasitoides de lagartas e de ovos, além dos micro-organismos entomopatogênicos como fungos e vírus.

Em situações de alta infestação do percevejo do milho e do pulgão, o controle pode ser realizado através de inseticidas fosforados sistêmicos ou da mistura contendo piretroide e neonicotinoides, C aplicados em pulverização. Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Geraldo Papa, Unesp - Campus de Ilha Solteira


FEIJÃO

Lucro cortado

Fotos Daniel Fragoso

A lagarta-cortadeira do feijoeiro (Spodoptera frugiperda) é a espécie mais observada na fase inicial da cultura do feijão, responsável por cortar as plantas novas, rentes ao solo e provocar severos prejuízos. Seu controle passa pela adoção de medidas integradas, que adotadas em conjunto permitem a manutenção da sustentabilidade do manejo da praga

A

ocorrência de lagartas do complexo Spodoptera na cultura do feijão tem aumentado e em algumas é preciso estar alerta para que as injúrias causadas não resultem em perdas importantes na produtividade. Nesse gênero, as espécies Spodoptera cosmioides, Spodoptera eridania, Spodoptera latisfacia e Spodotera frugiperda podem atacar as plantas do feijoeiro em diferentes estágios de desenvolvimento vegetativo. Embora as plantas de feijão recém-emergidas possam ser atacadas por outras lagartas do gênero Spodoptera, que perfuram ou destroem os cotilédones e atacam as folhas, a espécie mais comumente observada nessa fase de desenvolvimento da cultura tem sido Spodoptera frugiperda, a lagarta do cartucho do milho ou lagarta militar, referida pelos produtores de feijão como lagarta-cortadeira do feijoeiro. Essa espécie constitui-se em uma das mais nocivas para as culturas anuais nas regiões tropicais.

podem ocorrer, quando os ataques coincidem com a ocorrência de lagartas grandes (últimos instares) e as plantas recém-emergidas ou em estágios iniciais de crescimento. O ataque da praga nessa fase de desenvolvimento da cultura reduz o número de plantas por área e pode comprometer a produção e o lucro dos produtores de feijão. Em plantas mais desenvolvidas, as lagartas raspam o caule na altura do solo. Os insetos podem tolerar o dano por mais tempo, porém murcham e podem sofrer tombamento pelo vento.

DESCRIÇÃO DA PRAGA

em massa. Devido ao comportamento de canibalismo, as lagartas de primeiro instar têm comportamento dispersivo. As lagartas têm coloração variada (verde-claras, marrom-escuras ou quase pretas) e medem cerca de 40mm ao completarem o desenvolvimento. As que atacam plântulas de feijão normalmente são oriundas de outras plantas hospedeiras, milho e sorgo e gramíneas diversas, inclusive pastagens. A lagarta empupa no solo, na profundidade de 2cm a 8cm, e se transforma em mariposa em torno de oito a dez dias.

CONDIÇÕES FAVORÁVEIS À OCORRÊNCIA DA PRAGA

As mariposas de Spodoptera frugiperda medem de 35mm a 38mm de envergadura, com dimorfismo sexual (asas anteriores marrom-acinzentadas na fêmea e mais escuras no macho). Os ovos beges são colocados

No Brasil, está presente em todos os estados e por ser uma praga polífaga é responsável por prejuízos em várias culturas, entre elas a do feijoeiro. A intensificação dos sistemas

Spodoptera cosmioide pode atacar o feijoeiro em diferentes estágios de desenvolvimento vegetativo

Plantas de feijoeiro atacadas por Spodoptera frugiperda

DANOS DA LAGARTA-CORTADEIRA

Na cultura do feijão é conhecida como lagarta-cortadeira, pois ataca no estágio inicial de plântula, cortando as plantas novas rentes ao solo. As injúrias são parecidas com as causadas pela lagarta-rosca (Agrotis ipsilon). Surtos de Spodoptera frugiperda na cultura do feijão costumam estar associados a períodos mais secos e danos econômicos

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Quadro 1 - Período de maior probabilidade de ocorrência da lagarta-cortadeira Spodoptera frugiperda e nível de ação para cultivos do feijoeiro Período de maior Nível probabilidade de ocorrência de ação Germinação até estágio de 2 plantas cortadas ou com sintomas 3 a 4 folhas trifolioladas de murcha, em 2 m de linha

A variação populacional de Spodoptera frugiperda é determinada por um conjunto complexo de fatores

Fragoso aborda quando e como controlar lagartas na cultura do feijão

de cultivo nas regiões produtoras brasileiras, que permitem a colheita de duas e até mesmo três safras/ano, formando a chamada “ponte verde”, associada ao grande número de plantas hospedeiras, é o principal fator da permanência desse inseto no campo durante todo o ano. A ocorrência de lagartas de Spodoptera frugiperda que atacam as plantas de feijão no estágio de plântula está relacionada à presença delas em plantas hospedeiras, geralmente daninhas ou pastagens, pouco antes da semeadura.

que causam maiores danos na fase inicial de desenvolvimento do feijoeiro. O controle biológico natural deve sempre ser favorecido por meio de boas práticas agrícolas, como o uso de produtos seletivos aos inimigos naturais. A liberação de parasitoides como Trichogramma na cultura é também uma prática a ser priorizada. Recomendam a liberação de cerca de 100 mil indivíduos por hectare quando aparecerem as primeiras posturas ou adultos da praga. Assim, pode-se incrementar os lucros obtidos com a cultura do feijão não apenas através de aumentos de produtividade, mas também pelas reduções nos custos de produção, na medida em que se pode aumentar a estabilidade ambiental e evitar os problemas de pragas decorrentes da condução inadequada da lavoura.

MEDIDAS RECOMENDADAS PARA O MANEJO

Para o controle da lagarta cortadeira recomenda-se o Manejo Integrado de Pragas (MIP), cujos princípios básicos que o norteiam devem ser empregados dentro do enfoque de sistema de produção integrados. A variação populacional de Spodoptera frugiperda é determinada por um conjunto complexo de fatores, que na medida do possível devem ser manipulados para evitar que o seu crescimento populacional atinja níveis que causem danos econômicos. Não se deve, entretanto, empregar métodos de controle isolados, como, por exemplo, apenas o uso do controle químico, e sim buscar a integração das práticas disponíveis para a manutenção da sustentabilidade do manejo da praga. Cultivos de lavouras de feijão conduzidas em condições favoráveis podem tolerar melhor o ataque de Spodoptera frugiperda, e as recomendações disponíveis em relação a espaçamento, cultivares, épocas de plantio, adubação, condições de umidade e preparo do solo, rotação de culturas e associação de cultivos devem ser cuidadosamente observadas na instalação da cultura. Nesse contexto, pode-se diminuir a infestação de Spodoptera frugiperda pela eliminação das plantas hospedeiras (daninhas, soja, milho entre outras) no mínimo três semanas antes da semeadura. Isto diminuirá a oviposição das mariposas nessas áreas, evitando, assim, a presença de lagartas grandes (3º instar)

COMO E QUANDO CONTROLAR A PRAGA

O nível de controle para pragas de solo que reduzem o estande de plantas do feijoeiro é de 10% de plantas atacadas ou duas plantas cortadas ou com sintomas de murcha em dois metros de linha. Se o nível de controle for atingido, devem-se fazer pulverizações com inseticidas dirigidas para a base da planta. Não existem produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle de Spodoptera frugiperda na cultura do feijoeiro. Quando há surtos, são usados os lagarticidas acefato e carbaril registrados para o controle das outas lagartas cortadeiras do feijoeiro: lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) e lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis). O controle químico deve ser visto como uma alternativa ou ferramenta a ser utilizada quando as outras medidas de controle não forem suficientes para um combate efetivo, sendo, portanto, complementar, e levando-se em consideração as relações entre os benefícios, riscos e custos. A escolha do produto, dose e número de aplicações deve se basear na gravidade e nível populacional da praga, no estádio de desenvolvimento e na sua eco-

nomicidade. Aplicações corretas significam reduções na quantidade de produto aplicado, nos custos de produção, na poluição ambiental e nos resíduos nos alimentos. Outro aspecto importante diz respeito à tecnologia de aplicação dos inseticidas, que também deve ser considerada no momento da aplicação do controle químico, com atenção para a manutenção e regulagem dos equipamentos, volume de calda, horário de aplicação e velocidade de vento. Assim, recomendam-se o uso de bicos apropriados, o volume de calda suficiente para uma boa cobertura da área, realizar as aplicações nos horários mais frescos do dia e que velocidade de vento não C seja superior a 10km/hora. Daniel de Brito Fragoso, Embrapa Arroz e Feijão

A CULTURA

O

feijão comum (Phaseolus vulgaris), com seus diferentes tipos de grãos, no Brasil é cultivado em três épocas distintas de semeadura: feijão de 1ª época ou “feijão das águas” ou cultivo de primavera-verão; feijão de 2ª época ou “feijão da seca” ou cultivo de verão-outono; e o feijão de 3ª época ou “feijão de inverno” ou cultivo de outono-inverno. Os cultivos do feijão de 1ª e 2ª épocas correspondem a mais de 80% da produção nacional. As principais regiões produtoras são a Sudeste e Centro-Oeste, com destaques para os estados do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Goiás. A evolução das práticas culturais, aliada ao desenvolvimento de cultivares modernas e de tecnologias desenvolvidas pelas instituições de pesquisa e que são adotadas pelos produtores de feijão, permitiu expressivo ganho em produtividade nas últimas décadas. Por outro lado, um dos fatores que têm afetado a produtividade do feijoeiro e a lucratividade do produtor é o ataque de pragas, cujos gastos com inseticidas em média pode chegar a 5% do custo de produção.

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CANA

Aplicação rentável

Ciro Sumida

A ferrugem alaranjada é uma doença grave, capaz de gerar redução na produção agrícola da ordem de 20% a 40% e de 15% a 20% no teor de sacarose nos colmos. O uso de variedades resistentes, ou tolerantes, é o método de controle mais eficiente e economicamente viável, mas nem sempre apresenta características desejáveis para a indústria sucroalcooleira. O emprego de fungicidas é uma alternativa para reduzir a severidade e aumentar a produtividade

O

Brasil sempre teve tradição no cultivo de cana-de-açúcar e atualmente é o maior produtor mundial desta cultura que é parte integrante da matriz de energia renovável do País. Para que a cadeia de produção da cana-de-açúcar mantenha sua competitividade e sustentabilidade, além de outras tecnologias, como a produção de etanol de segunda geração a partir do bagaço e palha, os fatores de produção devem também ser otimizados. Um dos entraves para se lograr grandes produtividades é a ocorrência de doenças, como, por exemplo, a ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar. Essa doença é causada pelo fungo biotrófico Puccinia kuehnii (W. Krüger) E.J. Butler. Os primeiros sintomas da ferrugem alaranjada na cultura da cana-de-açúcar são pequenas pontuações amareladas e alongadas que evoluem gradativamente para pústulas salientes, com coloração alaranjada a castanho-alaranjada, conforme ocorre a liberação dos urediniósporos. As

pústulas podem ocorrer distribuídas por toda a superfície da folha, porém, tendem a ser observadas agrupadas e próximas ao ponto de inserção da folha ao colmo. Em condições de alta severidade da doença, é comum a coalescência das pústulas e necrose das folhas que geralmente ocorre a partir das bordas (CDA, 2010). Estima-se que a doença pode causar redução na produção agrícola na ordem de 20% a 40% em TCH (Toneladas de colmos/hectare) e de 15% a 20% no teor de sacarose nos colmos. Isso ocorre porque a partir do momento em que as pústulas se desenvolvem nas folhas, ocorre a redução da área fotossintética e consequentemente a planta não consegue expressar o seu potencial produtivo (Cruz et al, 2014). O fungo Puccinia kuehnii era considerado praga quarentenária ausente no Brasil (Barbasso et al, 2010) e praticamente uma doença de importância secundária, em outros países, até o final da década de 90 (Braithwaite et al, 2009; Ferrari et al,

28 Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • www.revistacultivar.com.br

2010). A doença estava restrita à Ásia e à Oceania, sem registro de perdas significativas na produtividade e acúmulo de açúcar (Margarey et al, 2001). No entanto, nas safras de 2000 a 2003 na Austrália, alta severidade da ferrugem alaranjada foi observada na maioria dos campos comerciais da Q124, a variedade mais cultivada de cana no País. Foram estimadas perdas de rendimento superiores a 40% (Staier et al, 2003). O primeiro relato deste patógeno no continente americano foi na Flórida, Estados Unidos, em 2007 (Comstock et al, 2008). Posteriormente foi relatado na Guatemala (Ovalle et al, 2008), Nicarágua, Costa Rica (Chavarría et al, 2009), Panamá, México, El Salvador (Flores et al, 2009), Cuba (Pérez-Vicente et al, 2010) e Colômbia (Cadavid et al, 2012). No Brasil, o primeiro relato da doença ocorreu no município de Rincão, São Paulo, em dezembro de 2009. A doença se manifestou na variedade CV14 (Centaurus) em campo de multiplicação de clones,


com alto índice de severidade (Barbasso et al, 2010) e se espalhou pelo interior de São Paulo, atingindo as regiões de Piracicaba, Assis, Araçatuba, São José do Rio Preto e norte do Paraná (Mapa, 2010). A partir de então, a doença se estabeleceu e se disseminou pelas principais regiões canavieiras do país: São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Alagoas (Giglioti et al, 2010) e Pernambuco (Chaves et al, 2013). Antecipadamente, havia se iniciado o planejamento das estratégias a serem executadas para o manejo da doença no país. Desde então, foram desenvolvidos projetos de pesquisas na Universidade Estadual de Londrina e Smartbio Tecnologia, envolvendo o mapeamento das zonas de risco e épocas de maior favorabilidade para ocorrência da doença, identificação das variedades mais sucetíveis e tolerantes, e testes de eficiência de fungicidas. A importância do mapeamento das zonas de risco se baseia na influência do ambiente na ocorrência de doenças de plantas, causada pelos fitopatógenos, assim como na sua sobrevivência, taxa de esporulação, multiplicação, dispersão, germinação de esporos e penetração nas plantas em um novo ciclo. Dentre os fatores ambientais mais importantes que afetam a ocorrência de epidemias de doenças de plantas estão a umidade relativa e a temperatura. Portanto, a favorabilidade para a ocorrência de uma doença varia de um local para outro, de acordo com as diferenças meteorológicas. Segundo o mapeamento realizado foram observadas condições favoráveis para o desenvolvimento da ferrugem alaranjada nas principais regiões canavieiras do Brasil, concentradas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Mato Grosso do Sul, sendo as épocas mais favoráveis setembro-outubro até março-abril. Nos testes de suscetibilidade, as variedades SP84-2025 e CV 14 foram

Figura 1 - Visão microscópica de urediniósporos da ferrrugem alaranjada

classificadas como altamente suscetíveis e as variedades RB72454 e SP89-1115, como suscetíveis. De acordo com Cruz et al (2014), as variedades como a RB72454 e a SP89-1115 apresentam suscetibilidade à ferrugem alaranjada, corroborando com os resultados do trabalho, e foram substituídas dos canaviais paulistas por outras que apresentam resistência ou tolerância. O uso de variedades resistentes ou tolerantes é o método de controle mais eficiente e economicamente viável para o combate dessa doença, entretanto nem sempre apresentam características desejáveis para a indústria sucroalcooleira. Em relação aos testes de eficiência de fungicida foi instalado um experimento na soca da variedade SP84-2025, onde foram testados 23 fungicidas comparados com a testemunha sem controle. O delineamento experimental foi de blocos casualizados, no esquema de parcela subdividida, com 24 tratamentos (1 testemunha + 23 fungicidas) e quatro repetições, sendo cada parcela constituída por seis linhas de cinco metros de comprimento, espaçadas a 1,4m, ou seja, 42m2. Foram realizadas quatro aplicações de cada fungicida, com intervalo de 30 dias, utilizando um pulverizador costal pressurizado por CO2, com

Figura 2 - Severidade da ferrugem alaranjada

barra de aplicação dotada de três pontas de pulverização do tipo leque (XR110015), espaçadas a 0,75m. A pressão utilizada foi de 255kPa, conferindo um volume de 200L/ha. Constatou-se que mesmo em um período de alta favorabilidade climática ao desenvolvimento do patógeno, a severidade da doença foi menor nas plantas que receberam as aplicações dos fungicidas que nas plantas sem controle (Figura 2). No tratamento com a mistura azoxistrobina + flutriafol (100 + 100g ingrediente ativo/ ha), observou-se controle significativo da ferrugem alaranjada (Figura 3) e incremento de 19 toneladas/ha (31,6%). Os dados do presente trabalho comprovam que o controle químico com fungicidas é eficaz para diminuir a severidade da ferrugem alaranjada e evitar grande parte das consequentes perdas. Portanto, a ferrugem alaranjada pode ser controlada de forma emergencial nas variedades suscetíveis e/ou intermidiárias, se eficientes fungicidas forem aplicados corretamente, seguindo as recomendações da empresa para cada produto. Outros experimentos de campo detectaram ganhos acima de 60% com o uso de fungicidas, comparando-se a produtividade de parcelas tratadas com parcelas-testemunha (Araujo et al, 2011). Em geral, o desenvolvimento e a execução dessas estratégias que envolvem o mapeamento das áreas favoráveis, o monitoramento meteorológico, a escolha de variedade tolerantes ou menos suscetíveis e a aplicação de fungicidas, estão auxiliando na redução dos danos causados pela ferrugem alaranjada nos campos de produção de C cana-de-açúcar. Ciro Hideki Sumida, Gabriel Danilo Shimizu e Marcelo Giovanetti Canteri, UEL Eder Antônio Giglioti, Smartio Tecnologia

Figura 3 - Porcentagem de controle de Puccinia kuehnii

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CAFÉ

Presença vermelha

Eduardo Mosca

Considerada não habitual em cafezais do Brasil, a cochonilha-vermelha Nipaecoccus coffeae foi detectada no município de João Pinheiro, Minas Gerais, depois de um longo período sem que fosse observada. Ainda sem demandar medidas de controle especiais, a praga exige monitoramento e atenção dentro das estratégias de manejo integrado

30 Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • www.revistacultivar.com.br

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cochonilha-vermelha, Nipaecoccus coffeae (Hempel) (Hemiptera: Pseudococcidae) faz parte do grupo das cochonilhas conhecidas como cochonilhas-farinhentas e são insetos sugadores de seiva que têm como hospedeiros diversas plantas, tanto silvestres como ornamentais e cultivadas. Em cafeeiro ainda são consideradas pragas secundárias ou eventuais, porém em determinadas circunstâncias podem ocasionar perdas em plantas ou em reboleiras no cafezal. Em um manejo integrado de pragas, essas cochonilhas devem ser incluídas no grupo daqueles insetos que devem ser monitorados, porém habitualmente não necessitam de medidas de controle especiais. Existem aproximadamente 15 espécies de cochonilhas-farinhentas associadas ao cafeeiro no Brasil, ocorrendo tanto na raiz como na parte aérea, as quais devem ter suas populações monitoradas ao longo do tempo. No mês de setembro de 2014, no município de João Pinheiro, Minas Gerais, e dentro da atividade normal de monitoramento, foi detectada uma cochonilha não habitual no cafeeiro. As colônias das cochonilhas localizavam nos brotos e frutos de café no estágio de chumbinhos, com abundante quantidade de teia por elas produzida, onde se encontravam o inseto adulto, numerosos ovos e pequenas ninfas pululando ao redor. A colônia desses insetos era composta por uma massa cotonosa de cor branca, porém a cochonilha, diferentemente das outras espécies encontradas em cafeeiro que são de coloração branca, apresentava cor vermelha e tamanho relativamente grande para esse tipo de cochonilha-farinhenta (4mm aproximadamente), daí a denominação de cochonilha-vermelha-do-cafeeiro e cujo nome científico é Nipaecoccus coffeae (Hempel) (Hemiptera: Pseudococcidae). O interessante dessa detecção foi que não se tinha registros escritos de sua presença desde o ano de 1919, data de sua descrição pelo entomologista Adolfo Hempel, em amostras obtidas na região de Campinas e São Paulo. Possivelmente, a cochonilha-vermelha tenha se hospedado nos cafezais durante todo o tempo, porém, por sua baixa incidência e impacto econômico, não causou preocupação e nem foi


Eduardo Mosca

Teia da cochonilha-vermelha-docafeeiro sobre a massa cotonosa

de infestação nas plantas, que são as raízes e parte aérea. Quando as plantas são arrancadas, a presença de lanosidades brancas e/ou criptas (pipocas) nas raízes pode ser um indicativo do ataque de cochonilhas, que resulta em declínio das plantas. Já na parte aérea, e especialmente em setores sombreados das plantas, ao levantar os ramos, as colônias das cochonilhas se apresentam habitualmente em grupos compactos (colônias). As formigas doceiras, geralmente associadas a elas e se alimentando das secreções expelidas pelas cochonilhas (melado açucarado), são uma boa indicação para encontrar esses insetos. Frutos caídos com massas brancas ou cochonilhas também devem ser cuidadosamente examinados. A presença de teia na colônia também é outro indicativo do ataque da cochonilha-vermelha. O controle dirigido especificamente contra essa cochonilha não é necessário, considerando os antecedentes conhecidos até o momento. Inseticidas sistêmicos registrados e utilizados contra o bicho-mineiro devem certamente exercer algum grau de controle deste inseto. As formigas doceiras interferem na ação dos inimigos naturais, e qualquer medida de controle adotada contribuirá para melhorar a C eficiência do controle biológico.

Ernesto Prado, Lenira V.C. Santa-Cecília e Paulo Rebelles Reis, Epamig Sul de Minas/EcoCentro Apoio: Consórcio Pesquisa Café Eduardo Mosca, Consultor em cafeicultura

COMO MANEJAR 1) Monitorar periodicamente o complexo de cochonilhas-farinhentas, tanto em raízes como na parte aérea das plantas 2) Marcar as áreas com presença de cochonilhas para um acompanhamento das populações dos insetos 3) Controlar formigas doceiras para melhorar o controle biológico de todo tipo de cochonilhas 4) Se necessário o uso de produtos químicos, aplicar somente nas reboleiras que estão infestadas por cochonilhas 5) Avaliar se os tratamentos contra bicho-mineiro estão reduzindo os ataques das cochonilhas

Fotos Ernesto Prado

estudada ou reportada. O ataque da cochonilha-vermelha no local onde foi detectada ocorreu em setores e plantas isoladas do cafezal e sua população se manteve limitada a esses lugares segundo o engenheiro agrônomo Eduardo Mosca. Essa situação, em parte se deve à característica das cochonilhas de apresentar baixa mobilidade, particularidade que resulta em dispersão habitualmente lenta e presença localizada ou em reboleiras. As populações costumam ocorrer em colônias densas, de preferência em áreas sombreadas. Embora atualmente as populações dessa cochonilha sejam consideradas baixas e sem importância econômica, seu acompanhamento é importante, pois geralmente esses insetos estão presentes por longo tempo em baixas densidades e subitamente se convertem em pragas, ocasionando os chamados surtos. Junto às cochonilhas foi encontrado um inimigo natural, mosca da família Syrphidae, porém seu impacto e também de outros agentes de controle nas populações do inseto é ainda desconhecido. A biologia da cochonilha-vermelha ainda não foi estudada pelo fato de ser um inseto pouco habitual e que tem passado despercebido. Sua presença tem sido reportada até agora somente no Brasil, porque possivelmente se trata de uma espécie nativa, com um hospedeiro silvestre ainda desconhecido e que se adaptou ao cafeeiro, que é uma planta exótica. Esta situação é comum entre as cochonilhas-farinhentas, que são capazes de se alimentar de plantas de diferentes famílias (polífagas). A presença de fêmeas adultas, ovos e ninfas de primeiro instar no mês de setembro indica que essa época deve corresponder ao início da reprodução da espécie. Com esta detecção já se conhece que sua área de ocorrência abrange os estados de São Paulo e de Minas Gerais, porém novos levantamentos poderão certamente ampliar essa distribuição no Brasil. No monitoramento das cochonilhas-farinhentas devem ser considerados os locais

Fêmea adulta da cochonilha-vermelha-do-cafeeiro (esquerda) e ovos da cochonilha-vermelha-do-cafeeiro no interior da teia (direita)

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EMPRESAS

Reforço tecnológico

Fotos Bayer CropScience

Com investimento de mais de R$ 30 milhões, a Bayer CropScience amplia seu Centro de Pesquisa e Inovação de Paulínia com a inauguração do Centro de Tecnologia de Aplicação e dos Laboratórios de Monitoramento de Resistência a Fungicidas, Herbicidas e Inseticidas

C

om a presença do CEO global, a Bayer CropScience inaugurou no início de novembro os Laboratórios de Monitoramento de Resistência a Fungicidas, Herbicidas e Inseticidas (FHI) e o Centro de Tecnologia de Aplicação em Paulínia (SP). Além disso, apresentou o conceito do Centro de Expertise em Agricultura Tropical (Ceat), onde foram investidos aproximadamente R$ 31 milhões. O Centro de Expertise em Agricultura Tropical é uma plataforma colaborativa para estabelecer parcerias público-

-privadas de pesquisa e inovação, que contribuam para o desenvolvimento de soluções integradas, focadas nos desafios da agricultura tropical no Brasil e outros países da América Latina. Os Laboratórios de Monitoramento de Resistência a Fungicidas, Inseticidas e Herbicidas (FHI) vão monitorar constantemente as evoluções de fungos, pragas e plantas daninhas para o desenvolvimento de soluções específicas em prol do manejo da resistência. O Centro de Tecnologia de Aplicação vai concentrar suas atividades no desenvolvimento de soluções

32 Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • www.revistacultivar.com.br

para a aplicação de defensivos agrícolas adequadas às realidades locais. Os laboratórios e o Centro de Tecnologia de Aplicação fazem parte do Centro de Pesquisas e Inovação de Paulínia, um complexo de 90 hectares onde trabalham mais de cem profissionais que realizam estudos e testes de princípios ativos encaminhados pela matriz da Bayer CrospScience, na Alemanha, e também criam novas soluções e produtos de alta tecnologia para as lavouras. Mais de 150 moléculas, que poderão se tornar novos produtos são analisadas anualmente


Ministra Kátia Abreu cortou a faixa de inauguração ladeada pelo CEO Global Liam Condon (esquerda) e o presidente da Bayer para a América Latina, Eduardo Estrada (direita)

neste espaço. O CEO global da Bayer CropScience, Liam Condon, destacou que a inauguração faz parte dos investimentos da empresa no Brasil, com foco no desenvolvimento de soluções tecnológicas. “Queremos oferecer abordagens inovadoras e soluções para que os produtores rurais brasileiros possam superar os desafios da agricultura tropical”, enfatizou o CEO. “Nos últimos quatro anos a Bayer investiu aproximadamente R$ 31 milhões no centro brasileiro e, destes, R$ 22 milhões só em 2015. Estamos comprometidos com a nossa estratégia de crescimento em longo prazo e para o fornecimento de soluções integradas voltadas à agricultura sustentável.” Condon salientou ainda que sementes de alto valor, química inovadora e produtos biológicos para proteção de cultivos, bem como serviços, são necessários para garantir uma oferta adequada de alimentos de alta qualidade para a crescente população mundial no futuro. Já o presidente da Bayer CropScience para América Latina, Eduardo Estrada, reforçou que independentemente do cenário desafiador, a empresa acredita no Brasil e na força do agronegócio. “Estamos atentos a todos os fatores-chave que influenciam a cadeia produtiva para o desenvolvimento sustentável da atividade nos campos de todo o País. A agricultura tropical requer atenção diferenciada, e os novos laboratórios contribuirão para acelerar o apoio necessário aos agricultores.” Condon acrescentou: “Como uma

empresa líder de ciência para a vida, a Bayer continuará a investir na região para alavancar o agronegócio brasileiro. A inovação é essencial para a agricultura sustentável e os nossos investimentos têm como objetivo assegurar abordagens mais inovadoras e sustentáveis para a agricultura tropical". Entre as principais linhas de atuação já iniciadas pelo Ceat estão os desafios atuais da agricultura como manejo de resistência a doenças, controle de pragas e plantas daninhas nas culturas de soja, milho, algodão, assim como as problemáticas da ferrugem asiática e do Greening no citrus, por exemplo. Estes trabalhos já vêm sendo realizados em parceria com a Embrapa e o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), além de outras entidades conectadas via Academia Bayer de Inovação, programa realizado há quatro anos para a criação de um relacionamento ainda mais próximo da comunidade científica da América C Latina.

Evolução de fungos, pragas e plantas daninhas é monitorada constantemente em laboratórios

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COLUNA ANPII

Pó ou líquido? A escolha do inoculante mais adequado, seja formulado em turfa ou líquido, deve levar em consideração as necessidades da propriedade, bem como as condições de plantio e as diversas situações do cultivo

F

requentemente há perguntas por parte de agricultores se existe diferença de qualidade entre os inoculantes apresentados na forma líquida em relação aos em pó, veiculados em turfa. Desde a década de 50 do século passado se utiliza inoculante em turfa, sendo este o mais tradicional inoculante no mundo. Entretanto, com o aumento das áreas de plantio e a diminuição da “janela” de semeadura pelo uso de cultivares com menor ciclo e advento da “safrinha”, o agricultor passou a exigir um método mais rápido de inocular as sementes. As entidades de pesquisa e as indústrias desenvolveram os inoculantes em forma líquida, que, a partir dos anos 80 passaram a ser comercializados no Brasil. Inicialmente estes inoculantes apresentavam uma qualidade baixa, não se mostrando muito recomendados, principalmente em solos de cerrado. A partir do momento em que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) passou a exigir testes de eficiência agronômica para tais produtos, as empresas elevaram seu nível de qualidade e passaram a oferecer ao mercado inoculantes que satisfaziam a necessidade em nitrogênio, com excelentes nodulações. A partir daí as pesquisas foram intensificadas e atualmente há no mercado brasileiro inoculantes líquidos de excelente qualidade. Entretanto, é importante analisar alguns pontos particulares de cada tipo de inoculante, fazendo com que se possa recomendar o melhor produto para determinadas situações. Quando se pensa em uma lavoura onde o solo já esteja com bom nível de preparo, cultivado já há alguns anos, sem que se prevejam situações adversas (pouca umidade, calor excessivo etc), tanto o inoculante líquido como o turfoso apresentam mesmo desempenho. Aí passa a predominar a escolha do produtor, de acordo com sua preferência e

condições logísticas da fazenda. Entretanto, em algumas ocasiões o inoculante em pó ainda é a solução mais adequada. Por exemplo, em solos que apresentem alguma adversidade, como é caso típico de solos de primeiro ano de cultivo. A turfa, sendo um material orgânico de elevada qualidade, se constitui em um meio de cultivo adequado para a bactéria. Também pelo fato da turfa ser um material finamente granulado e com poder absorvente, cada partícula se constitui em minirreservatório de água e nutrientes, permitindo uma sobrevivência da bactéria por maior tempo, mesmo em condições adversas. Inúmeras observações de campo têm comprovado isto: em solos de primeiro ano de cultivo de soja, ou quando há baixa umidade nos primeiros estágios da planta, o desempenho do inoculante em pó tem se mostrado superior ao líquido. Nestes casos, muitas vezes a combinação de inoculante líquido e turfoso tem se mostrado muito eficaz, tanto do ponto de vista de nodulação como de facilidade de operação. O inoculante líquido contém adesivos que facilitam a aderência da turfa nas sementes. Desta forma o agricultor

A granulometria também é importante, seja para a sobrevivência da bactéria ou para o recobrimento e aderência às sementes

se beneficiará das qualidades de cada um dos tipos de inoculante. Sem dúvida o apelo do inoculante líquido, pela facilidade de operação, é muito forte, tanto que atualmente 70% do mercado de inoculantes é representado pelos produtos em formulação líquida. Sem dúvida nenhuma os líquidos existentes no mercado brasileiro apresentam um elevado padrão de qualidade, com excelente desempenho em campo, permitindo que se obtenham elevadas produtividades, tendo este produto como única fonte de fornecimento de nitrogênio. Além do mais, os líquidos são os únicos produtos para utilização na inoculação no sulco. Nestes casos, onde não se possa ou não se queira utilizar a turfa, deve-se aumentar a dose do líquido para assegurar uma boa inoculação. O inoculante em pó, por sua vez, exige que a turfa tenha uma série de condições para que cumpra sua finalidade: a turfa deverá conter elevado teor de matéria orgânica, em especial as frações umificadas; deverá ter seu pH ajustado e não conter areia, muito comum em turfas coletadas em beira de rios. A esterilização da turfa é um dos pontos mais críticos do processo. Sendo um material orgânico, com elevado teor de nutrientes, a turfa tem uma rica microfauna. Se não for adequadamente esterilizada, estes microrganismos serão competidores e, muitas vezes, antagônicos às bactérias do inoculante. A granulometria também é importante, seja para a sobrevivência da bactéria ou para o recobrimento e aderência às sementes. Assim, cabe ao agricultor ou a seu responsável técnico monitorar as condições de plantio, as diversas situações do cultivo para que se faça a escolha certa, de acordo com cada situação. As empresas filiadas à ANPII possuem departamentos técnicos competentes, sabendo orientar o agricultor a utilizar o produto adequado C para cada situação. Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII

36 Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • www.revistacultivar.com.br


COLUNA AGRONEGÓCIOS

À

O maior ônus é para os pobres

semelhança de diversas outras situações do cotidiano, tais como moradia, transporte, alimentação, saúde e educação, as mudanças climáticas trarão consequências mais sérias para os mais pobres. Países com menores índices de desenvolvimento sofrerão impactos negativos maiores que os países ricos. E os extratos mais pobres da população dos países serão os mais afetados. Independentemente das conclusões dos cientistas, o senso comum já demonstra que o mundo sofre os impactos das alterações climáticas, com consequentes custos financeiros e econômicos adversos. Por exemplo, fortes ondas de calor, tanto secas quanto precipitações pluviométricas intensas e prolongadas, multiplicam os custos de atenção à saúde, exigem reconstrução de casas e outras edificações, aumentam o absenteísmo no trabalho e reduzem o rendimento das culturas agrícolas.

CALCULANDO AS PERDAS

Porém, para que medidas paliativas e de adaptação possam ser tomadas, tanto pelos governos, quanto pela iniciativa privada, agricultores ou cidadãos em geral, é fundamental que estudos sejam desenvolvidos, estabelecendo de forma tão realística quanto possível, os custos das mudanças climáticas. Não se trata de tarefa fácil, não existem estudos similares anteriores para servir de exemplo e os modelos matemáticos precisam ser desenvolvidos, testados e validados. Um exemplo típico do agronegócio: como fica o seguro agrícola, quais os impactos nos prêmios a serem pagos, quanto deve ser a cobertura governamental, o quanto a saúde financeira das seguradoras será afetada? Uma análise da literatura mostra que as tentativas de calcular os custos de um dos parâmetros, o aumento da temperatura média, têm produzido resultados conflitantes. Não é tão difícil montar um modelo em escala micro; porém, ao transpor-se o mesmo modelo para uma escala maior, surgem diversas incongruências. Em

artigo publicado na revista Nature, em novembro de 2015 (www.nature.com/ nature/journal/v527/n7577/full/nature15725.html), Burke e colaboradores mostraram que essas inconsistências podem ser solucionadas se, em algumas situações, uma abordagem de não linearidade na relação entre a temperatura e a produtividade econômica for levada em conta, ao transportar os modelos desenvolvidos em situações circunscritas para uma escala macro. Isto significa que o aumento de uma unidade de temperatura não redundaria, necessariamente, no aumento de uma unidade no custo que ela impõe. Em algumas situações, o aumento de 1°C pode significar menos que uma unidade adicional de custo, enquanto, em outro contexto, o impacto pode ser de múltiplas unidades. Uma unidade de custo pode ser, por exemplo, um milhão ou um bilhão de reais. Os mesmos autores chamam a atenção para o fato de que os danos decorrentes das alterações climáticas são muito mais graves do que geralmente é percebido. Por exemplo, uma seca que reduza a colheita de hortaliças de uma determinada região impõe um custo direto para o produtor rural, e isto é quase tudo o que ele percebe do seu ponto de observação. Mas, o consumidor sente no bolso o aumento do preço das hortaliças (e ele também não aquilata o ônus do produtor). Entre essas duas pontas, sofre o transportador (menos fretes), o atacadista e o varejista (menos negócios), o comércio local (menos dinheiro disponível na praça), os governos (menos impostos), entre outros aspectos.

POBRES SOFREM MAIS

Ocorre que Melissa Dell e colaboradores, estudando os impactos dos choques de temperatura sobre o crescimento econômico na segunda metade do último século, não encontraram correlação entre temperatura e produtividade nos países ricos, mas uma correlação linear em países de baixa renda (https://www.aeaweb.org/articles.php?doi=10.1257/mac.4.3.66). Sua conclusão é de que, quanto maior a temperatura, maior o custo para a

economia dos países menos desenvolvidos, que perdem eficiência econômica. Mas, não é apenas o estudo de Burke e colaboradores. Outros trabalhos têm mostrado que vários componentes de nível micro da economia exibem uma resposta altamente não linear à variação da temperatura nos países ricos, entretanto não necessariamente o fenômeno se repete nos pobres. Neste particular, dois estudos chamam atenção, o primeiro de Wolfram Schlenker e Michael J. Roberts (www.pnas.org/content/106/37/15594) e o segundo de Joshua Zivin e Matthew Neidell (www.jstor.org/stable/10.1086 /671766?seq=1#page_scan_tab_contents ). Uma das descobertas desses estudos é de que tanto a produtividade do trabalhador, quanto a produtividade das culturas, são relativamente estáveis em temperaturas médias de até 25°C. Entretanto, conforme a temperatura aumenta além dos 25°C, ocorre um declínio abrupto, não linear, tanto da produtividade do trabalho, quanto do rendimento dos cultivos. Voltando ao estudo de Burke e colaboradores, seus modelos demonstraram que os picos de produtividade econômica ocorrem em regiões com temperatura média anual de 13°C e que declinam fortemente em temperaturas mais elevadas, ou mesmo inferiores. Ora, quase todos os países de baixa renda estão em regiões quentes do planeta. Portanto, é razoável supor que os efeitos de aumento da temperatura média serão maiores nestes países, enquanto os países ricos, industrializados, situam-se em regiões de temperatura mais baixa e, mesmo com aumento da temperatura média, esta não ultrapassaria o teto de 25°C. O Brasil se enquadra claramente no exposto, sendo um país de baixa renda, com o seu território localizado em regiões tropicais e subtropicais, de alta temperatura, e com previsão de aumento, em decorrência das mudanças climáticas. Assim, o país necessita desenvolver estudos e modelos próprios para sua condição, estabelecendo com a maior fidelidade possível os custos das mudanças climáticas, as políticas e ações que devem ser implementadas para reduzir seu impacto C sobre a sociedade. Decio Luiz Gazzoni

O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

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COLUNA MERCADO AGRÍCOLA

Ano em fechamento com sucesso para os produtores brasileiros Mais um ano se aproxima do final e 2015 será lembrado com otimismo pelos produtores brasileiros. Houve bons ganhos em praticamente todos os grãos e até mesmo no momento de forte queda no mercado internacional, com Chicago despencando e com impacto negativo sobre as commodities brasileiras, ocorreu grande apoio à desvalorização cambial que compensou e trouxe ganhos ainda maiores. O grande problema do ano veio com as chuvas em excesso no Sul do País e que atingiram uma boa parte das lavouras de trigo. Também já comprometeram uma fatia da produção de arroz. Não fosse o El Niño, o Brasil estaria fechando 2015 com chave de ouro. A soja teve um excelente ano e encerra com os estoques próximos de zero, com recorde de exportações, liderando o faturamento brasileiro das exportações que, somando grão, farelo e óleo, irá encerrar 2015 com níveis ao redor de 70 milhões de toneladas, disparado na frente dos EUA, que tende a não alcançar 60 milhões de toneladas. Isso abre bom cenário para 2016 que, contudo, dependerá de muito mais acompanhamento por parte dos produtores brasileiros. A safra deste ano enfrenta o El Niño e assim a instabilidade climática tende a trazer alteração no quadro da produtividade. Com isso, os produtores que já negociaram mais de 50% da safra que se pretende colher (mais de 50 milhões de toneladas já estão negociadas) agora terão de ter muita cautela e acompanhar o mercado para vender somente quando tiverem certeza da produção e da lucratividade. Espera-se um ano mais trabalhoso, mas novamente lucrativo. O quadro deste fechamento de ano, em uma visão global do agronegócio brasileiro, é de sucesso. Se não fosse este segmento, certamente o País já estaria em crise profunda. Continua sendo o setor que dará fôlego para a economia girar a favor de uma saída rápida desta fase de descontrole do governo que gasta mais que arrecada. O agronegócio continuará sendo o melhor negócio que o Brasil tem. MILHO

SOJA

2016 já dá sinais de mais um bom ano para o milho

Soja fecha ano sem estoque

Os produtores da primeira safra reduziram a área plantada e com isso os primeiros indicativos de colheita mostram algo entre 25 milhões de toneladas e 27 milhões de toneladas. As chuvas em excesso e o tempo nublado comprometem parte do potencial produtivo das lavouras e os números tendem a ficar muito abaixo das cerca de 30 milhões de toneladas colhidas neste último ano. Para dar mais fôlego ao setor, há indefinições sobre o que é possível plantar de milho safrinha, porque o Mato Grosso, maior estado produtor, já mostra problemas, pois há grande atraso no plantio da soja, muito replantio e, desta forma, grande parte das áreas perderá a janela de plantio do milho, que vai até o começo de março. A nova safrinha, que teria potencial de crescer, já está quase 50% negociada na exportação para entrega entre agosto e novembro de 2016. Assim, novamente será um ano de colheita grande, mas sem pressão de oferta na entrada da safra. O produtor terá de acompanhar o mercado para ganhar, porque novamente será um ano de muita turbulência na economia interna e o dólar tende a abrir momentos positivos para as negociações.

Os produtores já venderam mais de 95% da safra brasileira frente a níveis de 90% de outros anos. Há comprometimento de embarques que superam a casa de 70 milhões de toneladas para o grão, o farelo e o óleo. Desta forma o Brasil vai fechar o ano praticamente zerado de estoques e muitos compradores terão de correr para cobrir posições do que já venderam de farelo e óleo. Isso gera apelo positivo para o começo de 2016. O mercado mundial passa por uma fase de calmaria, porque a China comprou muito nos últimos meses e agora dá preferência ao recebimento dos contratos, retardando novas compras. Junto a isso, há falta de ofertas de físico nos EUA, onde os produtores estão dispostos a segurar a soja para vender no ano que vem, quando os níveis de Chicago melhorarem. A safra tem expectativa de novo recorde, com potencial para alcançar de 98 milhões de toneladas a 102 milhões de toneladas. Mas como o clima não está muito favorável, estimam-se os números mais próximos das projeções mínimas. Mesmo assim, recorde histórico.

no potencial produtivo e boa demanda no varejo, abre-se um novo ano de apelo positivo para as cotações de feijão. Os produtores terão de estar atentos a dois pontos: clima e mercado. Os ganhos serão praticamente certos para quem tiver o produto disponível, porque o país vai se aprofundar na crise e consumirá muito mais feijão e arroz. Será um novo ano de importações de feijão e o dólar em alta pressionará o mercado interno para cima. ARROZ

Fechando um bom ano para abrir outro melhor

As negociações com o arroz neste ano se deram com ganhos para os produtores e vão fechando 2015 com patamares atrativos no Sul, acima de R$ 40,00 pela saca de 50kg e pagamento bem melhor para o produto de ponta. A safra mostra grande atraso no plantio, há comprometimento na produtividade devido ao El Niño, fazendo com que o País possa vir a colher menos de 11 milhões de toneladas, porque há perdas que podem chegar a 30% em Santa Catarina e há queda generalizada no plantio nas demais regiões. O consumo certamente ficará acima de 12 milhões de toneladas e a Conab não tem mais estoques que lhe permitam interferir no mercado. FEIJÃO Com este cenário um grande ano se aproxima para os Safra menor que o consumo Pelo andar da safra no Sul, com clima irregular, perda produtores que tiverem arroz em 2016.

CURTAS E BOAS TRIGO - Enquanto os produtores contabilizam as perdas devido às chuvas em excesso no Sul do País, os moinhos se preocupam com o abastecimento para 2016, que lhes obrigará a importar mais. O dólar em alta tende a forçar os níveis de liquidação. O mercado internacional já bateu no fundo do poço e para viabilizar a nova safra do Hemisfério Norte em 2016, terá de contar com cotações maiores, caso contrário muita gente não irá plantar. Os produtores que tiveram trigo de boa qualidade para negociar entre fevereiro e abril conseguirão bons lucros. ALGODÃO - Tudo indica nova queda na área plantada nos EUA e se o quadro climático seguir como previsto, o El Niño continuará trazendo problemas aos produtores do Hemisfério Norte em 2016. A fase de sobras de algodão tenderá a encerrar e dar lugar a outra, de demanda maior que oferta e recuperação das cotações, forçadas para baixo nestes últimos dois anos. No mercado interno o quadro será de oferta restrita, porque há nova queda no plantio desta safra e o Brasil caminha para uma produção muito apertada frente à demanda. Como parte do que se planta vem comprometida com exportações, abre espaço para avanços nos indicativos depois do Carnaval brasileiro, quando a economia tradicionalmente começa a andar. CHINA - As importações de grãos têm sido grandes e o país seguirá comprando forte em 2016, porque a fase de ajustes na economia interna estará produzindo os primeiros resultados neste novo ano. Assim, depois de ter batido recorde de importações, comprando muito acima do programado (compraram 1,3MT acima das projeções), neste novo ano o ritmo dos negócios com os chineses deve continuar forte porque as margens de esmagamento nas indústrias chinesas estão sendo lucrativas e

isso tende a trazer demanda crescente. A soja está barata para os chineses comprarem e assim o apelo será de demanda maior. EUROPA - Os produtores colheram uma safra bastante prejudicada pelo clima, com grandes perdas em milho, geradas pela seca. O leste europeu todo perdeu e assim o apelo será de menor oferta de milho pelo bloco em 2016. ARGENTINA - Os produtores apostam todas as suas fichas em cima do novo governo, que tem indicativos de abertura da economia, câmbio flutuante e se isso se confirmar abrirá fôlego importante para os argentinos, que amargam prejuízos grandes. Se não se confirmar, junto com a redução das retenciones, certamente a nova safra do país será um desastre. O plantio já mostra forte queda na tecnologia, que irá resultar em perda no potencial produtivo. Os produtores ainda têm grãos que deverão ser negociados no começo de 2016 para cobrir dívidas. EUA - Os produtores fecharam a safra e, pelos sinais do mercado em novembro, amargavam prejuízos com os custos maiores que os valores do mercado. Se a ausência de avanços em Chicago persistir, irá comprometer o novo plantio. Os custos de todos os grãos estão acima dos valores médios praticados em cerca de 10%. Desta forma, para poderem plantar a nova safra, os norte-americanos terão de contar com cotações maiores, porque os bancos não irão querer financiar produtor que não tenha como pagar as contas e ainda carrega grandes dívidas de máquinas compradas nestes últimos anos. Os indicativos são de que haverá queda na área plantada de todos os grãos e de pluma. É o primeiro passo para C uma retomada das cotações.

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

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Como manejar Fotos Luís Henrique Carregal

Em um cenário em que aumenta a cada dia o nível de complexidade no controle de doenças em soja, como mancha-alvo, mofo-branco, oídio, antracnose e ferrugemasiática, se faz necessário lançar mão de um conjunto de medidas de controle, de forma lógica e racional. Manejar a resistência dos fungos a fungicidas, de modo amplo, com a integração de estratégias não apenas químicas, mas também práticas culturais, é o caminho para o agricultor que busca alcançar rentabilidade e extrair o máximo potencial produtivo da cultura

A

expansão do cultivo da soja para áreas do cerrado nas últimas décadas possibilitou ao Brasil a condição de segundo maior produtor mundial dessa leguminosa e, também, o desenvolvimento e crescimento de várias cidades no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, oeste da Bahia, Minas Gerais, Rondônia, sul do Pará etc. Com essa expansão, o desafio de produzir também aumentou vertiginosamente, seja no desenvolvimento de cultivares adaptadas às mais diferentes regiões, no manejo da fertilidade, seja no

manejo fitossanitário. Atualmente, dentre os principais limitantes à obtenção da máxima produtividade, os problemas fitossanitários merecem especial atenção. Tem se verificado nos últimos anos grande incidência de plantas invasoras resistentes ao glifosato, surtos de lagartas e sugadores mas, principalmente, maior dificuldade no controle de doenças como a ferrugem-asiática, doenças de final de ciclo (mancha-parda e crestamento-de-cercospora), mancha-alvo, oídio, mofo-branco e antracnose. É importante realizar uma análise

crítica dos motivos pelos quais o controle dessas doenças está mais difícil a cada dia. Talvez o problema comece conceitualmente na palavra “controle”. Controle dá a sensação de completo domínio de uma determinada situação, o que nunca acontece quando se tratam de doenças de plantas. Por que não conseguimos o “controle” de doenças? Principalmente em virtude da forte influência dos fatores ambientais na sua manifestação. Toda e qualquer doença de planta é fortemente influenciada por temperatura, umidade relativa, período de molhamento foliar, in-


www.revistacultivar.com.br • Soja • Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • cidência de raios ultravioleta e, até mesmo, pelas condições locais de desenvolvimento da planta (tipo de solo, quantidade de matéria orgânica, pH do solo, quantidade e qualidade de microrganismos presentes no solo e, claro, disponibilidade de nutrientes). Sob condições de campo não é possível prever com relativa antecedência como serão as condições para a próxima safra, o que dificulta a tomada de decisão do agricultor ou técnico. Além disso, a situação pode ser muito diferente mesmo dentro de uma mesma propriedade, onde cada talhão pode necessitar de estratégias distintas. Em fitopatologia, considera-se como “controle” medidas isoladas para minimizar os efeitos de um patógeno nas plantas, o que comumente é realizado pelo uso de fungicidas. Para os agricultores, o controle químico é a principal estratégia a ser adotada e que, em sua concepção, é suficiente para evitar as perdas oriundas de ocorrência de uma doença. Felizmente ou infelizmente, isso não é uma verdade absoluta. Em alguns raros casos, o uso isolado de fungicidas pode até ser efetivo, mas, na maioria das vezes, essa prática não é satisfatória para evitar as perdas. Recomenda-se, portanto, o manejo das doenças, onde várias estratégias de controle deverão ser adotadas de forma lógica e racional. Além disso, muitas das medidas a serem adotadas pelo agricultor são de amplo espectro, ou seja, auxiliam no manejo de diferentes doenças. A importância de cada doença varia entre as regiões e até mesmo dentro de uma mesma região a cada safra em virtude das condições ambientais e, também quantidade de inóculo e suscetibilidade do material plantado. Sendo assim, algumas das principais doenças foliares da soja serão descritas separadamente a seguir e as principais estratégias recomendadas para o manejo.

dessas doenças. Além disso, aos olhos menos treinados, pode haver confusão de diagnose em virtude da semelhança de sintomas. Diferentemente do que ocorre em países de clima temperado, no Brasil o complexo final de ciclo tem incidido nas lavouras em qualquer fase do ciclo da cultura. Normalmente, a mancha-parda ocorre primeiro, desde os estádios iniciais de desenvolvimento da planta e o crestamento de cercospora mais ao final do ciclo. Vale ressaltar que ambas podem ocorrer em qualquer estádio fenológico. Os sintomas da mancha-parda são representados por lesões que se iniciam por minúsculas pontuações de coloração amarronzada. Com seu desenvolvimento, as lesões tornam-se angulares e necrosadas, podendo ou não apresentar halo amarelo (normalmente com halo amarelo). A diagnose correta da doença pode ser realizada ao se constatar a presença de picnídios nas lesões. Os primeiros sintomas podem se dar desde os estádios iniciais de desenvolvimento, portanto não deve ser considerada exclusivamente como doença de final de ciclo. O fungo pode ser disseminado por sementes infestadas ou infectadas, ação do vento e implementos agrícolas contaminados. A sobrevivência pode ocorrer em restos culturais, sementes, hospedeiros alternativos e soja tiguera. Por produzirem esporos secos e ter sua disseminação eficiente pelo vento, os sintomas ocorrem de forma generalizada a campo, podendo causar perdas superiores

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a 20%. Já os sintomas do crestamento de cercospora se iniciam nos bordos dos folíolos e não apresentam um formato definido. Geralmente, ocorre associado aos da mancha-parda, o que dificulta sua identificação a campo. Com seu desenvolvimento, as lesões podem secar completamente o limbo foliar, deixando-o com coloração púrpura. Nas sementes ocorrem lesões arroxeadas, também sem um formato definido. As formas de sobrevivência e disseminação são semelhantes às da mancha parda, assim como as condições ambientais que favorecem o progresso da doença. O manejo desse complexo de doenças deve ser realizado pelo uso de sementes sadias e tratadas, adubação equilibrada (principalmente em relação ao potássio), rotação de culturas com espécies não hospedeiras, eliminação de soja tiguera e hospedeiros alternativos, evitar a alta população de plantas/ha e emprego de fungicidas. O momento ideal para as aplicações pode variar de uma área para outra, mas trabalhos realizados por Klingelfuss e Yorinori (2001) demostraram que esses fungos estavam presentes na maioria das amostras de folíolos e também hastes coletados a campo, mesmo quando não havia sintomas aparentes da doença. Para esses autores infecções latentes são comuns nesse patossistema e a maior colonização ocorre inicialmente na parte inferior das plantas, podendo se dar desde a fase vegetativa. A infecção pode ser oriunda tanto de sementes infectadas quanto do

DOENÇAS DE FINAL DE CICLO

O complexo conhecido como doenças de final de ciclo pode ser causado por dois patógenos distintos: Septoria glycines, agente etiológico da mancha-parda, e Cercospora kikuchii, causadora do crestamento de cercospora ou mancha-púrpura-do-grão. Provavelmente são consideradas como um complexo em virtude de serem favorecidas por condições ambientais com temperaturas entre 25ºC e 35ºC e alta umidade relativa. Longos períodos de molhamento foliar favorecem epidemias

A mancho-alvo apresenta lesões arredondadas e necrosadas, seguidas pelo halo amarelo, que como o próprio nome já sugere lembram um alvo


Fotos Luís Henrique Carregal

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A principal doença da soja no Brasil é a ferrugem-asiática, causada por Phakopsora pachyrhizi

inóculo sobrevivente nos restos culturais. Desta forma, as aplicações iniciadas na fase vegetativa podem contribuir significativamente para o manejo de mancha-parda e crestamento de cercospora. Trabalhos conduzidos na Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas e Universidade de Rio Verde demonstram a viabilidade técnica e econômica dessas aplicações. É importante salientar que pode haver diferenças significativas na eficácia dos fungicidas, inclusive produtos pertencentes ao mesmo grupo químico e a escolha do produto a ser utilizado deverá seguir as recomendações técnicas de um engenheiro agrônomo.

MANCHA-ALVO

A mancha-alvo é causada pelo fungo Corynespora cassiicola, favorecido por temperaturas entre 18ºC e 38ºC e alta umidade relativa. Longos períodos de molhamento foliar, seja por chuva, seja por orvalho, favorecem o desenvolvimento do patógeno. A ampla faixa de temperatura ilustra a grande capacidade de adaptação do fungo, que também é considerado polífago, podendo infectar diferentes espécies vegetais. Na prática tem se verificado epidemias da doença em regiões de temperaturas mais elevadas associadas à alta umidade relativa. No cerrado esses fatos podem se tornar ainda mais preocupantes, pois além do ambiente favorável, nos locais onde se cultiva soja e também algodão, o aumento na concentração de inóculo tem aumentado de forma significativa.

Os sintomas da doença são lesões que se iniciam por minúsculas pontuações circundadas por forte halo amarelado ou alaranjado. À medida que se desenvolve, pode formar lesões arredondadas e necrosadas, seguidas pelo halo amarelo. A lesão se assemelha a um alvo, podendo conter um ponto mais escuro no centro da lesão. Pode causar, ainda, desfolha precoce e o apodrecimento de vagens. O fungo é disseminado por sementes infestadas ou infectadas, ação do vento e implementos agrícolas contaminados. Por também ser um patógeno necrotrófico apresenta habilidade de sobreviver em restos culturais e sementes, além de hospedeiros alternativos (algodoeiro e várias espécies de plantas invasoras) e soja tiguera. A doença ocorre de forma generalizada a campo, podendo afetar áreas de grandes dimensões. As perdas oriundas dessa doença podem variar em virtude da suscetibilidade das cultivares e também do controle químico adotado. No entanto, tem se verificado até 20% de perdas em materiais suscetíveis ao patógeno. O manejo da doença deve ser realizado pelo uso de sementes sadias e tratadas, adubação equilibrada, rotação de culturas com espécies não hospedeiras (preferencialmente gramíneas), eliminação de soja tiguera e hospedeiros alternativos, resistência parcial de variedades e emprego de fungicidas.

OÍDIO

O oídio é causado pelo fungo Micros-

phaera diffusa e apresenta temperaturas entre 18ºC e 25ºC e baixa umidade relativa do ar como condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno. Os sintomas/sinais do patógeno podem ser facilmente identificados pela presença de esporulação branca que recobre folhas, pecíolos e hastes. É disseminado especialmente pelo vento, não sendo transmitido por sementes. Apresentava habilidade de sobreviver exclusivamente em hospedeiros vivos, como soja tiguera e hospedeiros alternativos. A doença ocorre de forma generalizada a campo, podendo afetar áreas de grandes dimensões. Entretanto, para as condições de Cerrado, a doença começa às margens dos talhões e carreadores, onde a incidência dos ventos é maior. Acredita-se não ocorrer em nível de dano econômico nos cerrados, mas talvez seja a principal doença da cultura nos estados do Sul do País. Há relatos de perdas superiores a 40%. Em locais onde a doença ocorre com grande frequência a


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ponto de causar dano econômico, deve-se utilizar variedades resistentes e controle químico, o qual deve ser realizado logo após os sintomas iniciais da doença.

ANTRACNOSE

A antracnose é causada pelo fungo Colletotrichum truncatum. Temperaturas entre 25ºC e 34ºC e alta umidade relativa favorecem a incidência da doença. Longos períodos de molhamento foliar, seja por chuva, seja por orvalho e altas populações de plantas, podem provocar epidemias da doença. O fungo pode infectar toda e qualquer parte da planta, causando lesões deprimidas nos cotilédones, escurecimento no hipocótilo e necroses nas nervuras das folhas, pecíolos, hastes e vagens. A presença desse fungo pode induzir a abertura de vagens no período chuvoso. A disseminação ocorre através de sementes infestadas ou infectadas, respingos da chuva, vento e implementos agrícolas contaminados.

Os sintomas iniciais da mancha-alvo são lesões com minúsculas pontuações circundadas por forte halo amarelado ou alaranjado

Apresenta habilidade de sobreviver em restos culturais, sementes, soja tiguera e outras hospedeiros, incluindo plantas daninhas. Por apresentar conídios produzidos em uma matriz de polissacarídeos (semelhante a uma gelatina), a doença ocorre em manchas na lavoura, denominadas por reboleiras, tendo sua disseminação facilitada pela chuva tanto dentro da planta quanto entre plantas vizinhas. Resultados experimentais têm demonstrado que a perda oriunda da antracnose nos cerrados varia de quatro a sete sacos por hectare. Relatos em literatura indicam que as perdas podem ser muito superiores, conforme verificado em outros países. Alguns autores indicam até 100% de perda em lavouras com alta severidade da doença. Esse fato não foi constato sob nenhuma situação de cultivo comercial no Brasil. O manejo da doença deve ser realizado pelo uso de sementes sadias e tratadas, adubação equilibrada, população adequada de plantas e rotação de culturas. O controle químico a campo tem sido insatisfatório em áreas experimentais. Desta forma, os principais pesquisadores afirmam a necessidade de manejo integrado, onde o uso de fungicidas é apenas uma ferramenta adicional.

FERRUGEM-ASIÁTICA

A principal doença da soja no Brasil é


06 • Dezembro 2015 / Janeiro 2016 • Soja • www.revistacultivar.com.br Figura 1 - Aminoácidos produzidos no códon 129 em isolados sensíveis (esquerda) e resistentes às estrobilurinas (direita)

nos (chumbinhos). O fungo é facilmente disseminado pela ação do vento, principalmente em períodos secos e pode sobreviver de uma safra para outra em hospedeiros alternativos (plantas cultivadas e plantas daninha), soja cultivada sob pivô para produção de sementes e em soja tiguera. Tem se verificado que a soja de segunda época e também a soja tiguera representam a principal forma de sobrevivência do fungo. Desde o ano de 2001, epidemias da doença têm sido constatadas em diferentes regiões do Brasil. Nos últimos dez anos, a doença causou prejuízo estimado em mais de 20 bilhões de dólares. Em função de sua fácil disseminação pelo vento, esse fungo pode ser encontrado em praticamente todas as regiões produtoras de soja, causando redução na produtividade de até

Fotos Luís Henrique Carregal

a ferrugem-asiática, causada por Phakopsora pachyrhizi. As condições ambientais favoráveis são de temperaturas entre 18ºC e 26ºC e alta umidade relativa. Longos períodos de molhamento foliar (acima de seis horas), seja por chuva, seja por orvalho, favorecem o desenvolvimento do patógeno. As lesões iniciam por minúsculos pontos verdes mais escuros que a folha (visto contra fundo claro). Na face inferior da folha observa-se a formação de pústulas (pequenas elevações). Sob condições de estresse ou altíssima severidade, as pústulas podem ser formadas também na face superior. Dependendo da variedade, pode ocorrer o amarelecimento ou a seca total do limbo foliar, seguido de desfolha prematura. Os grãos ficam leves e peque-

A mancha-parda apresenta lesões que se iniciam por minúsculas pontuações de coloração amarronzada, que evoluem para angulares e necrosadas

75% (Kimati et al, 2005). Até a safra 2005/06, o fungo foi eficientemente controlado pelo uso de fungicidas, principalmente os triazóis em mistura com as estrobilurinas (Silva et al, 2006). Entretanto, em algumas regiões no Mato Grosso, a partir da safra 2005/06 foram verificadas falhas no controle, em tratamentos com o triazol flutriafol. Neste mesmo ano, ainda não havia relatos de problemas da mesma natureza no estado de Goiás. A partir da safra 2006/07, a redução na eficácia dos triazóis, mesmo em aplicações preventivas, foi verificada em experimentos conduzidos em Goiás (Silva et al, 2008; 2010). Os problemas foram verificados não somente para o flutriafol, mas também para os demais triazóis, como tebuconazol e ciproconazol. Na safra, 2008/09, os mesmos problemas também foram verificados para as misturas (estrobilurinas + triazóis) quando utilizadas de forma erradicativa ou sob alta concentração de inóculo. Os resultados dos ensaios cooperativos também têm corroborado com esses resultados, sendo que, ainda na safra 2008/09, os triazóis proporcionaram de 34% a 49% de controle e as misturas apresentaram eficácia de 63% a 73% (Godoy et al, 2009). Observações semelhantes também foram verificadas nos ensaios cooperativos nas safras 2009/10 e 2010/2011 (Godoy et al, 2010; Godoy et al, 2011). Silva e Silva (2014) e Wegener (2014) demonstraram também a menor eficácia das estrobilurinas no controle da ferrugem asiática, postulando a ocorrência de resistência, ou menor sensibilidade de Phakopsora pachyrhizi às estrobilurinas. Este foi o primeiro relato mundial, sendo


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Práticas culturais recomendadas

Racionalidade no uso de fungidicas

• Evitar cultivos de soja em segunda safra (safrinha); • Realizar a semeadura no início da época recomendada de cada região; • Optar por cultivares de ciclo mais curto; • Obedecer o período de vazio sanitário; • Eliminar a soja tiguera de forma eficiente em áreas marginais às rodovias e estradas de terra; • Eliminar soja tiguera remanescente em cultivos de milho, trigo e girassol; • Realizar o monitoramento constante da lavoura. comprovado por Klosowski et al (2015), os quais demonstraram molecularmente a mutação no códon 129 do citocromo B. A mutação no códon 129 é responsável pela alteração do aminoácido produzido. Em isolados não mutantes, o aminoácido produzido é a fenilalanila e, após a mutação, a leucina. Com a alteração na proteína decorrente dessa mutação, há a menor sensibilidade do fungo a esse grupo químico (Figura 1).

RESISTÊNCIA DE FUNGOS A FUNGICIDAS

A resistência pode ser entendida como um ajuste estável e hereditário que culmina na redução ou perda de sensibilidade de uma determinada espécie de fungo a um fungicida ou grupo químico. As implicações práticas da ocorrência da resistência estão relacionadas a falhas no controle, à necessidade de maior número de aplicações, ao maior custo de produção e à maior necessidade de investimentos, seja na identificação do problema, em treinamentos para difusão da informação, seja para descoberta de novas moléculas. O prejuízo da ocorrência da resistência é enorme em todos os setores, sendo que o maior risco é do produtor rural. É importante salientar que nem toda falha de controle observada a campo pode ser considerada imediatamente como resistência do patógeno ao fungicida. Vários

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• Aplicar os fungicidas preventivamente; • Não realizar mais de duas aplicações por safra de um mesmo produto; • Sempre utilizar produtos em mistura de dois ou mais grupos químicos; • Introduzir fungicidas multissítios (protetores) no sistema de aplicação; • Rotacionar grupos químicos com sítio de ação diferente; • Respeitar a dose de registro do produto; • Utilizar conjuntamente o adjuvante recomendado, sem substituí-lo ou alterar concentração de aplicação (dose); • Utilizar da tecnologia de aplicação que permite a boa cobertura da planta com o produto químico; • Obedecer ao intervalo entre as aplicações, realizando a quantidade necessária para manter a lavoura sadia.

são os fatores que podem estar envolvidos a falhas de eficácia, a saber: tecnologia de aplicação inadequada; aplicações atrasadas (curativas/erradicativas); uso de subdose por parte do agricultor; problemas com intempéries climáticas (chuva após as aplicações); uso de produto inadequado para determinado alvo etc. Uma vez que essas alternativas tenham sido checadas e, não confirmada nenhuma delas, pode realmente se tratar de um caso de resistência. Os fungicidas não são mutagênicos e não induzem a ocorrência da resistência, apenas selecionam indivíduos resistentes, os quais aumentam sua frequência na população com o passar do tempo. Entretanto, alguns fatores podem favorecer a seleção dos indivíduos resistentes, estando ligados ao próprio fungo, ao fungicida utilizado e, também, à forma com que se utiliza o controle químico. O principal fator inerente ao fungo é a capacidade de variabilidade genética, seja oriunda da reprodução sexuada ou dos processos naturais de mutação. Quanto maior a variabilidade genética, maior o risco de ocorrência de indivíduos mais adaptados. Vale ressaltar que nem toda mutação é benéfica ao fungo. Mesmo os fungos com alta taxa de mutação não apresentam necessariamente alta frequência da mutação. Além disso, normalmente um fungo mutado apresenta também alguma deficiência, o que é conhecido por fitness.

O fungicida a ser utilizado também deve ser analisado. O Comitê de Ações Antirresistência (Frac) classifica o risco de resistência também em virtude do grupo químico utilizado. Fungicidas sitioespecíficos, ou seja, que atuam inibindo um único processo metabólico ou fisiológico do fungo, estão mais sujeitos à resistência, uma vez que uma mutação simples (em um único códon) pode resultar na redução ou perda de eficácia dos fungicidas. Embora não seja único, a resistência de Phakopsora pachyrhizi aos triazóis e, mais recentemente, às estrobilurinas é a situação mais crítica na cultura da soja, uma vez que o controle químico destaca-se como a principal estratégia adotada a campo pelos agricultores e por se tratar de um patógeno com elevado potencial de dano. O manejo da resistência não deve envolver apenas estratégias químicas, mas, inclusive, práticas culturais que serão fundamentais para reduzir o inóculo inicial do patógeno, atrasando e minimizando as epidemias. Para que o agricultor possa explorar o máximo potencial produtivo na cultura da soja, obtendo a rentabilidade desejada, é fundamental a assistência de um engenheiro agrônomo. C

Luís Henrique Carregal, Universidade de Rio Verde Juliana Resende Campos Silva, Agro Carregal Pesq. Prot. Plantas

Encarte Técnico: Soja • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 199 • Dez 15/Jan 16 • Capa - Luís Henrique Carregal Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075

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