índice
destaques Com cuidado Giberela é uma doença sempre presente nas lavouras de trigo e cevada. Deve ser monitorada CAPA - Foto: Newton Peter
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A praga de amanhã
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Algumas pragas voltam a preocupar; é hora de pensar no manejo da próxima safra
O que plantar? Saiba quais as tendências das principais culturas para a próxima safra
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04 06 08 12 16 22 26 27 28 32 34 38 40 42 44 48 50 51 52 56 58 59 60 61 62
Diretas Diretas + Cartas Conheça a Giberela O bicudo volta a atacar Manejo para a próxima safra Pensando em algodão Administração rural Mercado agrícola Perspectivas para a safra Atualidades da Abrasem Entrevista: Marcos Kogan Congresso de Entomologia Resistência de insetos A boa semente de soja Prevenindo doenças Técnicas de nutrição em soja Coluna Aenda Sementes Dow vai às compras Controle da ferrugem Café no Mato Grosso De tudo um pouco Um pouco de tudo De tudo um pouco Transgênicos no Paraná Última Página
Pensando no futuro
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Nova fronteira Café começa a ser plantado também no Mato Grosso. Acompanhe os primeiros resultados
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Newton Peter - RPJ/RS 3513 Editor geral:
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Ano II - Nº 20 - Setembro / 2000 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (12 edições): R$ 58,00 Números atrasados: R$ 6,00
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Em entrevista a Décio Gazzoni, Marcos Kogan fala sobre novas técnicas de manejo de pragas
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Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Integração
Crescimento
O diretor de Marketing da Pioneer Sementes, Claudio Peixoto, dividido entre comemorar e guardar cauteloso silêncio: a empresa, estabelecida em Santa Cruz do Sul, RS, teve um crescimento de 40% na venda de sementes de milho este ano em relação à safra 99/00. Mas toda a expansão na produção de sementes não foi suficiente para atender à demanda. Numerosos clientes tradicionais não puderam ser atendidos plenamente, devido ao notável incremen-
Claudio
to da demanda de sementes pelo aumento do plantio, o que gerou situação delicada que a empresa está enfrentando com cautela diplomática. A Pioneer está trabalhando com uma perspectiva de aumento de produção da ordem de 30% para a safrinha de 2001.
Genoma de arroz
Alexandre
Valorizada
O diretor executivo da Unisoja, Alexandre Possebon Silva, de Rondonópolis, diz que os produtores de sementes estão cada vez mais empenhados em demonstrar ao produtor agrícola que devem procurar sementes com cada vez maior valor agregado, isto é, de cultivares mais produtivas, providas de genética refinada, com qualidade superior e resistentes a doenças e nematóides, por exemplo. O agricultor precisa estar seguro de que adquirindo sementes assim estará usufruindo de garantia de produtividade e investindo em tecnologia.
A Monsanto, que em abril deste ano anunciou a identificação da composição genética do arroz, junto com cientistas da Universidade de Washington, em Seattle (EUA), acaba de disponibilizar os dados da pesquisa por meio de um site na Internet, no endereço http:// www.riceresearch.org . Queremos reduzir tempo e custos associados à obtenção de aprovações necessárias para levar o arroz dourado aos agricultores dos países em desenvolvimento , explicou Hendrik Verfaillie, presidente (CEO) da Monsanto Company, subsidiária da Pharmacia Corporation.
Lançada um novo livro sobre a integração da lavoura e pecuária, proporcionada pelo Plantio Direto. Em suas 282 paginas, o livro reúne textos de apresentações realizadas durante o IV ERPDP (Uberlândia, 1999) e um painel especifico do 6º ENPDP (Brasilia, 1998) contendo experiências importantes da integração tecnológica, comercial e social que tem sido proporcionada pelo Plantio Direto. Pedidos podem ser feito para: APDC, telefone (61) 272.3191 e e-mail: apdc@tba.com.br
Proteção
A chefe do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, Ariete Duarte Folle, estranhou a redução, esse ano, do número de pedidos de registros de cultivares: apenas 36. Desde a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares, em 1997, o SNPC recebeu 276 pedidos, dos quais 47 receberam certificados provisórios, 20 estão em análise, 179 já
Aprovados
O governo suíço aprovou, para consumo humano e animal, a variedade de milho geneticamente modificado Mon810, produzida pela Monsanto. De acordo com o Departamento Federal de Saúde, o milho geneticamente modificado é inofensivo à saúde humana e aos animais que forem alimentados com rações feitas a partir dele.
Ariete têm certificado definitivo e os 36 ainda estão sendo processados.
Essa mesma variedade de milho já havia sido aprovada pelo governo dos Estados Unidos em 1996 e, em 1998, foi aprovado para importação pela União Européia. As informações foram divulgadas pela agência de notícias Bloomberg. Apesar disso, nova pesquisa mostrou impacto negativo de milho Bt contra as borboletas monarca. O estudo
Vem aí...
Ariete anunciou para 2001 o aumento do número de culturas cujas cultivares serão protegidas: integrarão o rol a maçã, café, braquiárias, eucaliptos, plantas ornamentais e olerícolas (cenoura, alface e cebola). O SNPC está providenciando a elaboração das minutas dos respectivos descritores, para discussão com a Embrapa, universidades e a Braspov.
foi realizado pela Universidade Estadual de Iowa e mostrou que o pólem da planta multiplica por sete as chances de morte do inseto. O estudo foi publicado pela revista Oecologia. As variedades usadas nos testes eram da Novartis NatureGard e Attribute. Ressalte-se que o aumento da morte das borboletas ainda não é consenso entre os pesquisadores.
Soja Asgrow
A Monsanto trará para os agricultores brasileiros, no segundo semestre, a soja Asgrow. A marca é utilizada em países como a Argentina e os Estados Unidos. A Asgrow chega ao Brasil com a assinatura Monsanto. Como exemplos de sementes de alta tecnologia que estarão à disposição do agricultor brasileiro, destacam-se a M-SOY 6101 e a M-SOY 8001. M-SOY 6101: crescimento indeterminado, permitindo a antecipação do plantio. Resistente a várias doenças, como o cancro da haste, a mancha olho-de-rã e a pústula bacteriana, adapta-se ao Cerrado e ao Sul do País. M-SOY 8001: resistente ao nematóide do cisto e com elevada tolerância ao nematóide de galha e principais doenças de raiz. Apresenta o melhor sistema radicular do mercado, possibilitando elevada produtividade tanto no Cerrado como no Sul de São Paulo e Norte e Oeste do Paraná.
Prêmio
A Agroplanta, que atua há mais de 20 anos no mercado de fertilizantes micronutrientes, recebeu da Câmara Nacional de Comércio BolivianoBrasileiro, um prêmio significativo para a economia brasileira, Prêmio Empresa do Ano . Com ele, a empresa passa a ser qualificada como uma das maiores importadoras de produtos bolivianos no Brasil. Este prêmio, que também foi dado à Petrobrás, estreita ainda mais a ligação comercial entre os dois países.
Scylla
Sementes
Um dos mais movimentados eventos do ano sobre sementes ocorreu em Foz do Iguaçu, de 15 a 17 de agosto, com cerca de 200 especialistas
discutindo os principais temas do setor. Foi o XIX Ciclo de Reuniões Conjuntas da CESM Paraná, que reuniu participantes de todo o Brasil, e sob a direção de Scylla Cesar Peixoto Filho, que foi homenageado pelos participantes. Áreas bastante conflituadas, como a de sementes de forrageiras, motivaram acentuados debates e abriram espaço para novas
discussões, bem como a biotecnologia, onde os participantes oviram palestras de especialistas da área pública e privada. Segundo Scylla, foi uma grande oportunidade para se entender melhor a questão e poder tirar conclusões sobre o melhor destino que o país pode dar à tecnologia.
Sementeiros
Antônio
Pesquisa
O agrônomo Antonio Ferreira Neto, da Monsanto, que trabalha com biotecnologia, destacou no Paraná a excepcional velocidade da pesquisa de modificação genética. A técnica evolui de tal forma que o que fazemos hoje quase certamente estará obsoleto em dois anos.
A Apassul e a Fundação Pró-Sementes, com o apoio da Abrasem e da Braspov, promoveram, de 23 a 24 de agosto em Canela (RS), o I Encontro entre Fundações de Apoio à Pesquisa Agropecuária, Obtentores Vegetais e Produtores de Sementes. O evento coordenado pelo secretário executivo da Apassul, Antônio Eduardo Loureiro da Silva, promoveu o intercâmbio de informações entre os participantes, na busca do aperfeiçoamento do setor sementeiro brasileiro. Nos painéis das Fundações, dos Obtentores Vegetais e das Parcerias, foram questionados assuntos gerais, enfocando as atividades atuais e perspectivas futuras. O presidente da Aprossul, Waldir Guerra, que também preside a Fundação de Pesquisa Vegetal Integrada, propôs a criação de uma federação para as fundações, para fortalecer a pesquisa para haver divulgação da demanda e conscientizar todos os produtores para evitar o canibalismo , explicou. Outro objetivo é regular a lucratividade e fazer o controle de mercado regulado, para produzir-se bom material e incrementar o progresso da pesquisa. Deve se constituir num fórum das discussões em âmbito de País , disse.
A Cultivar está fazendo um excelente trabalho, reunindo informações de todo o Brasil. Em destaque gostaria de parabenizá-los pelas matérias que envolvem a cultura do algodão.
e eu preciso fazer um trabalho sobre girassol. Tem uma figura que eu queria da revista que está na edição de abril/ 2000. Se vocês pudessem mandar para mim, agradeceria muito.
Justino S.F. Ribeiro
Cleiton Maccarini
justinoribeiro.uol.com.br
Gosto de ler a revista Cultivar, tem muitas notícias boas
cleiton_maccarini@zipmail.com.br
Recebi a revista Cultivar e estou interessada na notícia
da página 61, intitulada FUSÕES (edição de 08/2000, número 19). Gostaria de saber como conseguir o artigo completo, publicado na revista The Economist, de 22 de julho. Agradeceria imensamente o envio de uma cópia do mesmo via fax 019 207 3363 ou por e-mail, uma vez
que já não se encontra em bancas de jornais. Eliane Bognar
Eliane_Bognar@GriffinLLC.com
Cumprimentos pelo artigo na Última página. Gostaria de recebêlo via e-mail para divulgação. Por oportuno, outro assunto similar são os ditos adjuvantes. Fabricantes nacio-
A união de produtores agrícolas em instituições como as fundações de pesquisa é a forma
encontrada para não depender exclusivamente das empresas multinacionais que passaram a controlar todo o setor nacional, diz Geraldo Rodrigues Fróes, presidente da recém-criada Fundação Meridional, com sede em Londrina. De início voltada para o melhoramento e a pesquisa de novas cultivares de soja, a Fundação Meridional no futuro vai se dedicar a outras culturas, segundo Geraldo. A fundação recebeu aporte financeiro de 61 produtores instituidores .
Bom trabalho
Iniciativa
nais, pelas absurdas exigências legais, não têm condições financeiras e até administrativa de registrá-los. Os importados, além de muitas vezes comercializados sem as devidas licenças aqui, são mais facilmente registrados pois já contam com os registros estrangeiros, usualmente de
baixíssimo custo. A quem está servindo esta lei dos agrotóxicos ? Ao povo subnutrido? Não! Por exemplo, o registro de espalhante, baseado em produto largamente usado mundo afora, poderá chegar até R$ 300.000,00. Êste investimento jamais retornará.
Geraldo
Dependência
A SLC John Deere foi considerada uma das 100 melhores empresas para se trabalhar no Brasil. É a única fabricante de máquinas e implementos agrícolas a receber a distinção. A constatação é da revista Exame que traz em sua última edição o resultado da pesquisa realizada entre os empregados das mais expressivas empresas brasileiras.
Antônio Carlos Damaceno, exDuPont, está num novo projeto de assessoria a empresas internacionais que tenham interesse no Brasil. Sua empresa atua desde o desenvolvimento de produtos específicos até o suporte de marketing. Contatos: adamaceno@uol.com.br.
Nelson Azambuja Rigran
doenças
do continente americano, especialmente Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Referências à doença na Argentina datam de 1927, e no Brasil, provavelmente, de 1942, em Veranópolis, Rio Grande do Sul.
Embrapa Trigo
Trigo
GIBERELA:
um problema de todos Causada pelo fungo Gibberella zeae, a doença gera muitas perdas. Principalmente nas culturas de trigo e cevada
A
enfermidade giberela em cereais de inverno, conhecida também por fusariose, é causada pelo fungo Gibberella zeae [(Schwein.) Petch; Sn. G. saubinetti], forma assexuada Fusarium graminearum Schwabe. Outras espécies de Fusarium também podem estar envolvidas nesse patossistema. É uma doença de expressão econômica mundial, principalmente para as culturas de trigo e de cevada. Os sintomas característicos são espiguetas despigmentadas, de coloração esbranquiçada ou palha, que contrastam com o verde normal de espigas sadias. Em condições climáticas favoráveis, sinais do patógeno são facilmente observados, e as espiguetas afetadas apresentam coloração rosa-salmão. A formação de peritécios também pode ser observada em espigas maduras e em
grãos colhidos. Nas espiguetas atacadas formam-se grãos chochos, enrugados, de coloração branco-rosada a pardo-clara. Além de reduzir diretamente o rendimento, os grãos infectados e seus derivados podem ser tóxicos, tanto para o ser humano quanto para animais, devido à presença de micotoxinas, substâncias tóxicas que podem ser produzidas pelo fungo, elevando as perdas em rendimento de grãos e em qualidade de sementes e de grãos.
A giberela tem sido registrada em todas as regiões de clima temperado quente, úmido e semi-úmido, onde são cultivados cereais de inverno e milho. Sua ocorrência tem aumentado nos últimos anos, atingindo níveis epidêmicos em vários países. Essa enfermidade foi observada no México em 1977, e vários relatos referem-se à fusariose no Norte-centro da Europa, na Ásia, na África, no Norte dos Estados Unidos, no Sul do Canadá, assim como no Sul
ferida como uma das mais importantes doenças na América do Sul durante as duas últimas décadas. Essa importância de giberela em trigo resultou, recentemente, na realização, no mês de junho de 2000, de Relatos workshop sode perdas bre doenças Na China e no Japão existem relatos em sistema de até 50% de perdas devidas à gibere- plantio direto, la em trigo, enquanto na Argentina fo- com ênfase As epidemias ram estimadas perdas de 30% na pro- em manchas mais recentes dução. Em vários países como, Méxi- foliares e em ocorreram nos co, Paraguai, Austrália, entre outros, giberela, em anos de 1997 e 1998, quando também existem relatos de perdas cau- Passo Fundo, houve elevada sadas por giberela em trigo. A doença na Embrapa precipitação vem assumindo destacada expressão Trigo. O evenpluvial econômica nos Estados Unidos e no to contou com Canadá em trigo e em cevada, com per- a participação das significativas. Na epidemia ocorri- de pesquisada em 1993 nos Estados Unidos, esti- dores repremou-se perda de um bilhão de dólares sentantes da por giberela em trigo e em cevada. No Argentina, do Brasil, em 1998, nos ensaios de rendi- Brasil, do Chile, da Colômbia, do Pamento de trigo conduzidos na Embra- raguai e do Uruguai. pa Trigo constatou-se, em genótipos O sistema plantio direto, provavelbrasileiros mais suscetíveis, aproxima- mente, está influenciando o aumento damente 40% de grãos com sintomas de giberela, pois nesse sistema a made giberela. nutenção de restos culturais na superA giberela é uma doença que se des- fície do solo proporciona a sobrevitaca em trigo e em cevada no Sul do vência do patógeno G.zeae, garantinBrasil, principalmente no Rio Grande do, assim, inóculo em abundância. do Sul, nas regiões que têm estações de Restos de culturas são a principal recultivo com chuvas freserva de G. zeae, emqüentes durante a fase bora o solo, sementes de florescimento da e vários hospedeiros Na China e no cultura. A precipitação suscetíveis também Japão há relatos pluvial deve ser de no sejam fontes de inóde perdas de até mínimo 48 horas conculo. 50% causadas pela secutivas e a temperaMedidas de congiberela tura situar-se entre 20 trole, como rotação e 25oC. Relatos divulgade culturas e controdos em 1958 considele químico com os ram a giberela uma das três doenças que fungicidas disponíveis, têm sido poucontribuíram para o desastre da safra co eficazes para o controle da enferde trigo de 1957 no Brasil. No período midade. Isso ocorre porque nos sisteagrícola de 1975, a giberela foi incluí- mas de produção de grãos no Sul do da entre as enfermidades mais ocorren- Brasil as opções de culturas de invertes, destacando-se o ano como de alta no e de verão, principalmente milho, precipitação pluvial. Nos últimos anos, são suscetíveis ao patógeno, bem a enfermidade giberela deixou de ser como devido à deficiência na deposiuma doença esporádica em trigo e em ção de fungicidas nos sítios de infeccevada e passou a ocorrer em níveis epi- ção, ao momento de aplicação destes dêmicos. As epidemias mais recentes e às condições climáticas favoráveis. ocorreram em 1997 e 1998, anos de eleDentre as estratégias de controle de vada precipitação pluvial. doenças de plantas, a resistência genética tem sido a medida economicaImportância mente mais viável e desejável. O conno continente trole de giberela através de resistênA fusariose em trigo também é re- cia genética tem sido estudado em vá-
Embrapa Trigo
rios países, como México, Canadá, Estados Unidos, Japão e China. A caracterização de fontes de resistência a serem usadas em um programa de melhoramento é fundamental. A avaliação e a caracterização da resistência de genótipos brasileiros e a avaliação do comportamento de fontes de resistência de origens distintas nas condições climáticas brasileiras, assim como de linhagens oriundas de cruzamentos visando à incorporação de genes de resistência à giberela, são subsídios necessários ao desenvolvimento de cultivares mais resistentes a serem recomendadas ao produtor. A Embrapa Trigo está intensificando os trabalhos com relação à resistência genética à giberela. Inicialmente, realiza-se a seleção de genótipos de trigo e de cevada, sob condições artificiais favoráveis à enfermidade em campo. A metodologia de amostragem de espigas desenvolvida na Embrapa Trigo está sendo adotada atualmente nessa instituição para avaliar a resistência genética de genótipos de trigo e de cevada à giberela. Maria Imaculada P. M. Lima e José Maurício C. Fernandes, Embrapa Trigo
Nossa Capa algodão
dos cuidados dispensados ao pulgão. Walter acha que o aumento de plantio de cultivares resistentes reduziria os cuidados com o pulgão, favorecendo o bicudo. Uma substituição de pragas. Na safra passada o entomologista desenvolveu, com a Fundação MT, um projeto de trabalho de controle do bicudo nos focos, executado inicialmente na região da Pedra Preta, onde a produção estava quase inviabilizada. O resultado foi bom, com poucas aplicações de inseticidas e boa produtividade, aprovando o controle. Em contrapartida, no Ceará, onde se plantou 100 mil hectares, o governo informou ter havido prejuízo de 40% devido ao bicudo. No passado essa praga dizimou o cultivo de algodão cearense e nem mesmo a atual tecnologia impediu sua volta.
Um fantasma assola os produtores de algodão do cerrado. Agricultores e entomologistas estão espantados com a expansão do bicudo (Anthonomus grandis), que existia no cerrado sem muita expressão, como praga incipiente, e que na última safra exerceu forte pressão, como comenta Walter Jorge dos Santos, do IAPAR. O entomologista considera impressionante o que aconteceu em alguns locais em Goiás, Minas, Bahia e algumas áreas do Mato Grosso, no final do ciclo da cultura, a partir dos 90 dias. É uma praga em expansão, já em disseminação e preocupante, diz o acatado Walter Jorge, que registrou a presença de bicudo em algumas áreas de cerrado em níveis incomuns até em locais onde já existia de forma branda
W
alter vai além. Acha que seria grande falta de inteligência deixar o bicudo tomar conta do cerrado, onde as condições de entressafra são desfavoráveis para a sua sobrevivência. Naquele período lá não chove e a umidade relativa é muito baixa, enquanto as temperaturas permanecem altas. Em função disso, não há vegetação para alimentá-lo. Igualmente não há matas que lhe sirvam de refúgios, pois os talhões são muito longos. E ainda há os incêndios para ajudar. No início das safras a sobrevivência de indivíduos é baixa. Tomando atitudes no final da colheita, não permitindo a proliferação, e há muitas técnicas para isso, é possível controlá-lo. É preciso fazer alguma coisa para que o bicudo não se transforme no grande limitador do plantio de algodão do cerrado. Walter lembra que os americanos, com sua alta tecnologia, facilidade de recursos e subsídios agrícolas, convivem com o bicudo há 100 anos e agora resolveram erradicá-lo. E o Brasil deve também impedir que ele aumente no cerrado. Já estamos quase perdendo a oportunidade, mas ainda há tempo. Podemos, pelo menos, tornar o bicudo uma praga secundária, de final de ciclo, sem gastar muito e reduzindo prejuízo , diz, advertindo que o
processo exigirá muitas pulverizações. Não há alternativa. A expansão explodiu em alguns locais. Há muitos pontos onde a praga se encontra há muitos anos, como em Pedra Preta, ou Cáceres, Mato Grosso, regiões de pequenos produtores, que plantam pouco e tentam conviver com a praga apesar dos sérios prejuízos. O que preocupa são os focos na Bahia, generalização em todo Goiás e Minas. Há registros da praga em Rondonópolis, na Serra da Petrovina, Campo Verde, portanto já no cerrado. O produtor está sensível e há necessidade de se tomar decisões sérias e urgentes. Cultivares plantadas Até o momento predominaram no plantio no cerrado os materiais suscetíveis às viroses, como o Ita 90 e o DeltaPine Acala. Nessa safra surgiu uma cultivar em franca expansão, o DeltaOpal, também resistente a viroses, junto com materiais da Coodetec e da Embrapa. E a tendência é que ocupem mais espaço ainda. Nesse caso, a questão virose, e por conseqüência a do pulgão, deixa de ter importância, passando a ser praga secundária. Pode então a redução de aplicações de inseticidas dar espaço a uma praga, como o bicudo, que não crescia em função
Pulgão é chave O pulgão (Aphis gopssypii) ainda é praga-chave na cultura do algodão no
cerrado, onde as cultivares suscetíveis dual no momento crítico, pois o grana viroses, tanto a Ita 90 como a Delta- de risco das viroses é no início do proPine Acala 90 são as mais plantadas cesso, onde há maior prejuízo. À me(70%). Como o plantio do algodão co- dida que a planta cresce o prejuízo é meçou com materiais suscetíveis, a menor. Uma planta infectada de saída extensão de seu plantio aumenta a in- deixa de produzir, parando o seu defecção. Os pulgões, polífagos e distri- senvolvimento. Os botões florais surbuídos em todas as gem, por exemplo, ao reáreas, se infectam e dor dos 35, 40 dias. Se a disseminam a virovirose ocorrer antes disO pulgão ainda se. Após anos de so, não haverá botões, é praga-chave aprendizado com nem flor ou bola. Ocorna cultura do esse material suscerendo aos 90 dias, poalgodão no tível, o produtor se rém, já haverá algum bocerrado especializa e fica tão, alguma flor e já bola, atento. Com o creso que garante certa procimento da infecção dução. Em geral ela atacresce também o domínio da situação ca no final do ciclo, quando a planta pelo produtor. já garante 80% da produção ou mais. Para ajudar, nas últimas safras sur- A infecção pode crescer no tempo, mas giram novos produtos, com boas per- o risco de prejuízo é menor. formances de controle, aumentando a Por isso Walter recomenda aos prosegurança e auxiliando no tratamento dutores, que façam o melhor possível de sementes. É o grupo dos neonicoti- no início do ciclo da cultura, fechannóides, por exemplo, como Actara e o do o controle para manter os níveis Mospilan. Eles têm maior efeito resi- baixos. Nessa fase o nível admitido está
Cultivar
Walter explica a sua preocupação com uma possível praga de bicudos
ao redor de 5% de plantas com presença de pulgões. Conforme os técnicos observarem que o algodão já atingiu os 40, 50 dias sem a presença de viroses, pode-se abrir esse controle, admitindo-se maior quantidade de pulgões, com 10, 15 ou 20%, pois cai o risco de prejuízo. Pragueiro na defesa O produtor brasileiro também descobriu que não pode ter algodão sem gente treinada no processo, aqueles funcionários chamados pragueiros ou monitores de campo, lembra o entomologista, pois controlar o vetor é a questão principal. E isso nos leva a uma ciência única no mundo, pois se costuma controlar vetores de viroses em culturas de menores extensões, como tomates, batatas ou flores. O sistema era desconhecido em grandes extensões e foi aperfeiçoado no Brasil. Inicialmente os produtos não tinham boas performances. Depois vieram outros, como o Marshall, que deu sustentação à cultura, e mais recentemente os neonicotinóides. Vital, no processo, é a atuação do pragueiro, que dirá se a infestação existe e determinará seu nível e desenvolvimento. E vai definir, com esses da-
usado, nas propriedades amostradas, foi o Carbosulfan (Marshall), com 58%, o mesmo que deu sustentação para a implantação da cultura do algodão, quando não havia alternativa. Também usaram produtos como o Mospilan (Acetamiprid), Sauros e o Actara, mais específicos e de uso crescente. E houve também uso de Endosulfan, com várias marcas no mercado.
Comportamento dos insetos Uma análise do comportamento dos insetos na safra no cerrado mostra que houve também pressão maior da dos e de acordo com o tempo da cul- Heliothis virescens, a lagarta das matura, a hora certa da pulverização. O çãs, junto com o pulgão (Aphis gossypragueiro ou monitor de campo é a fi- pii), que ocorre de qualquer jeito. Teve gura mais importante no processo, pois uma freqüência de postura alta mas o algodão vem tendo alterado seus pa- com eclosão pouco acentuada, talvez radigmas. Já é plantado em altitudes por infertilidade ou parasitismo de de 800, 900 metros, superiores às an- ovos. A taxa de eclosão, no entanto, tes recomendadas, de 500, e com regi- era suficiente para causar dano. Houmes de chuvas mais intensos, passan- ve controle imediato e evitou-se maido a sofrer com enfermidades. Hoje or prejuízo dessa que, no mundo, de essa pessoa que caminha no campo é modo geral, é a principal praga do alimportante para detectar as pragas, as godão. No Brasil chegou a ser caractedoenças, e ainda para determinar a rizada como resistente aos antigos clohora certa do tratamento. Ele observa rados e fosforados dos anos 70 e dizitambém o desenvolvimento da cultu- mou o algodão em diversas regiões ra e ajuda na nutrição, aplicação de onde não havia condições de controredutores de crescimento, de herbici- le. Em muitos países desenvolveu resistência aos piretróides, das e tudo o mais. que nem são mais usados. O pragueiro, seEm função dessa praga é gundo Walter, é a Nesta safra, a que surgiram os transgênifigura que garanlagarta das maçãs cos em algodão, como nos te o sucesso nesvoltou a causar Estados Unidos e China pois se processo novo grandes problemas os agroquímicos perderam a de produção. ao algodão eficácia. Quem não valoriEm anos recentes, a lazou isso já está garta das maçãs não causou com problemas. maiores problemas no Brasil. Nessa safra retornou com pressão forte, talAvançam vez por questão climática. No ano anas viroses Outra novidade em algumas regi- terior havia sido a Spodoptera frugiperões de cerrado, como a de Barreiras, da. Na última safra, alguma coisa no por exemplo, onde o pulgão era trata- ambiente, geralmente ligada à umidado apenas como praga, é que se notou de, favoreceu a Heliothis virescens. o surgimento de viroses. Na safra pas- Pode ser isso, pois foi o ano em que sada a virose tornou-se importante e o surgiram também mais enfermidades pulgão deverá ser tratado como vetor, no algodão. Foi combatida com Metoo que é mais difícil. Até aqui tranqüi- mil, Propinofos, Triadifos, e também los, os produtores devem se preocu- com Endosulfan. Todos esses produpar com a disseminação da praga em tos, junto com os piretróides, funcionam bem quando as larvas são pequeáreas antes livres de viroses. O que estão os produtores fazendo? nas, no primeiro ou segundo instar, Notou-se que o produto ainda mais logo após a eclosão. NP
Algodão
manejo
Cuidado !!! Cultivar
Saiba quais as pragas que devem atacar a sua lavoura na próxima safra
O
setor têxtil brasileiro vive um dos seus melhores momentos econômicos graças à modernização da atividade frente a um mercado global muito competitivo. Um dos melhores exemplos deste sucesso vem do campo, justamente no setor de produção da mais importante fibra natural do mundo: a do algodão. O agronegócio do algodão moderniza-se, investe em ciência e tecnologia, busca qualidade e produtividade de fibra, avança em sistemas conservacionistas de produção, cria empregos, treina mão-de-obra especializada, e traz a desejável rentabilidade. O controle de pragas também está alinhado com esta visão econômica, ecológica e social da produção de algodão. Quando o manejo integrado começou a ser difundido, muitos duvidaram dos benefícios e praticidade da tecnologia. Hoje não existe um produtor de algodão no cerrado do Brasil que não use fichas de amostragens de pragas em suas lavouras. Mas é preciso avançar, aprimorar os sistemas de manejo, visando diminuir os riscos para cultura do algodoeiro dentro de agroecossistemas brasileiros. Para a safra 2000/01, a tônica da produção é a minimização de riscos para a cultura. Afinal, produzir sempre é o grande desafio . Este manejo de riscos passa pela irrigação em áreas de déficit hídrico, melhorias dos sistemas de transporte, programas de erradicação e prevenção de pragas e doenças, tecnologias eficientes que diminuam os custos de produção com preservação do meio ambiente, garantia de preço mínimo, investimento em pesquisa, juntamente com a manutenção da estabilidade econômica do País. A rentabilidade da atividade econômica está intimamente ligada aos custos de produção, à genética de plantas, práticas agronômicas e meio ambiente, beneficiamento de fibra e sua comercialização. O manejo integrado de pragas é seguro, tem uma relação benefício/custo satisfatória e contribui para a sustentação de novas e antigas tecnologias, e deverá ter seu uso ampliado e generalizado. Vive-se hoje um momento de refinamento das práticas de manejo, afinal poucas são as novidades de novos produtos para a safra 2000/01, exceção feita às novas variedades e alguns pesticidas mais seguros. Mas o
Cultivar
Misturas justificáveis As misturas só seriam justificáveis se elas permitissem controlar simultaneamente duas ou mais pragas que tenham atingido o nível de controle, se a mistura fosse sinérgica e/ou tivesse efeito aditivo no controle da praga. Como estratégia de manejo da resistência, as misturas somente seriam recomendáveis se houvesse as seguintes condições: baixa freqüência de alelos resistentes, ausência de resistência cruzada entre os compostos da mistura, os componentes da mistura têm a mesma persistência, a resistência deve ser recessiva para pelo menos um dos componentes, os genes que conferem resistência aos compostos não devem estar ligados e deveria existir a presença de refúgios para os indivíduos suscetíveis.
Degrande ensina quais cuidados devem ser tomados na condução da cultura
grande avanço está no aprimoramento do manejo. Aprimorando o sistema O responsável agronômico pela atividade, na verdade, é um verdadeiro gerente de riscos . Trabalha para alcançar os melhores resultados com o mínimo de risco. É ele quem pensa, ao lado do produtor, na segurança do empreendimento, tomando as decisões embasadas em conhecimento científico e tecnológico. Sempre está buscando maximizar a produtividade, otimizando o rendimento de fibra, na mais alta qualidade, reduzindo custos de produção e diminuindo impactos ambientais. Este profissional busca as tecnologias mais seguras, e para isso deve conhecer bem o portfolio disponível no mercado, seus benefícios e desvantagens, já que a adoção destas práticas implicará em grande parte no sucesso da atividade. Por exemplo, decisões sobre a genética (qual semente/variedade usar?) implicarão em práticas de manejo diferenciadas. Se a variedade for tolerante à doença-azul, o pulgão deixa de ser a praga-chave. Dependendo da região, as lagartas e/ou bicudo assumem esta posição e neste caso os inimigos naturais passam a exercer um controle biológico natural mais eficiente. Por outro lado a escolha de variedades tradicionais dá a vantagem de trabalhar com o conhecido, enquanto se avalia as novas em áreas menores. Isso deve ocorrer em praticamente todas as áreas, já que o cultivo do algodoeiro é uma atividade cuja mudança é sempre gradual, dada a complexidade de sua produção e das pragas do algodoeiro (figura 1). Lembrar que a seleção de uma variedade é a chave para a produção de algodão com lucro e menor impacto ambiental. Outro exemplo em controle de pragas é a necessidade de o profissional decidir pela escolha do pesticida. Dentre outras, algumas perguntas devem ser feitas, como: quais as características de um bom produto para manejo? , usar marcas registradas ou genéricos? , quando as misturas são justificáveis? , o que fazer para prevenir a resistência? , que sistema de rotação de modos de ação escolher e quando usar produtos seletivos? . A qualidade e o acompanhamento das aplicações aéreas
mentos que elas sejam mais competitivas e seguras.
e terrestres são fundamentais para o uso correto, a campo, dos inseticidas. A tônica de uma decisão baseia-se na expressão faça corretamente, na melhor eficácia e de uma única vez, pois é muito ruim perder uma aplicação. Características de um produto O bom produto para manejo deve ser efetivo (com controle, poder residual, período de carência, método de aplicação e formulação adequados à situação), ter baixa toxicidade, ser rotacional (de preferência com modo de ação exclusivo), apresentar vida curta no ambiente, ser seletivo (a inimigos naturais, polinizadores e demais organismos não-visados na aplicação), ser economicamente viável e estar disponível no mercado para aquisição e uso. Este último item é importante. Já alguns produtos têm aquelas características mas não são fáceis de serem adquiridos. Registradas ou genéricos Deve-se usar marcas registradas ou genéricos? Essa pergunta deve ser respondida, talvez, com uma outra pergunta: faz sentido produzir uma commodity, como o algodão, usando insumos não commodities? Uma das lógicas da produção é que um produto como algodão, largamente cultivado no mundo, em diversas regiões, e em sistemas altamente competitivos, deve ser produzido utilizando-se na medida do possível produtos genéricos. Exceções são feitas às tecnologias patenteadas que conferem benefícios econômicos, ambientais e sociais superiores às commodities. Duas tendências na cultura do algodão são o uso de produtos genéricos em maior escala, e o uso das novas tecnologias em mo-
Prevenir a resistência São medidas importantes para minimizar as possibilidades do desenvolvimento da resistência das pragas do algodoeiro aos inseticidas e acaricidas: 1. rotação, a longo prazo, de modos de ação de produtos; 2. uso de doses efetivas de um componente individual, em mistura de tanque; 3. uso de dose cheia em mistura de frasco; 4. o controle não deve ser conduzido com uma só classe de ingrediente ativo (procure rotacionar 4 modos de ação por ciclo da cultura); 5. compostos de mesmo modo de ação não devem ser misturados; 6. esgotar os métodos de controle cultural, físico e biológico; 7. use produtos seletivos; 8. evite subdose e superdose; 9. fique certo que foi obtida uma cobertura uniforme na pulverização; 10. se ocorrer redução da eficácia a campo, devido a resistência, na reaplicação trocar de modo de ação; 11. utilize sempre os níveis de controle mais elásticos recomendados pela pesquisa; 12. monitore as pragas, detectando os primeiros sinais de resistência; 13. controlar as pragas no seu estágio mais suscetível; 14. leve em consideração o tratamento de culturas vizinhas; 15. o uso de variedades transgênicas resistentes a pragas exige a manutenção de refúgios para populações suscetíveis; 16. destruir sempre os restos culturais de entressafra; e, 17. cada Companhia deve identificar o
Algodoeiro X Pragas (figura 01)
parceiro para seu produto na mistura ou na rotação. Produtos seletivos Para evitar surtos de pragas secundárias, como ácaros, e viabilizar a rotação de modos de ação, o uso de inseticidas piretróides deve restringir-se dos 80 aos 130 dias após a emergência das plantas. No caso de variedades suscetíveis à doença-azul, o tratamento de sementes ou o granulado escolhido define o primeiro bloco de modo de ação dos inseticidas a serem utilizados: se no plantio utilizou-se organofosforado ou carbamato, o primeiro bloco de pulverizações deve ser com produtos destes grupos, depois se aplica as nitroguanidinas / neonicotinóides / cloronicotinils e no terceiro bloco usa-se as tiouréias. Se o tratamento de sementes foi feito com nitroguanidinas / neonicotinóides, inverte-se o primeiro com o segundo bloco, aplicando-se no primeiro bloco inseticidas deste modo de ação, seguidos de carbamatos / organofosforados e no terceiro bloco as tiouréias. Essa é a chamada rotação de modos de ação em longo
prazo, já que voltaríamos a utilizar o mesmo modo de ação somente no próximo ano. A simples alternância de produtos já é melhor que usar um único modo de ação em todo ciclo da cultura, porém a rotação em longo prazo diminui ainda mais a pressão de seleção sobre populações resistentes. O ideal é identificarmos os períodos do ano para uso de cada modo de ação. A pesquisa está atrás desta resposta para o futuro. A seletividade de inseticidas a organismos benéficos permite a compatibilização do controle químico com o manejo integrado. Inseticidas e acaricidas seletivos, bem como herbicidas, fungicidas e outros produtos químicos e biológicos com esta característica, devem ser preferidos, para que sejam alcançados os objetivos do manejo integrado. O desenvolvimento de programas de controle integrado, baseados na compatibilização do uso dos métodos químicos e biológicos, tem recebido crescente atenção pelos pesquisadores em muitas partes do mundo. Pesticidas seletivos que possam ser usados no controle de pragas, sem afetar adversamente inimigos naturais importantes, são urgentes e necessários. Na cultura do algodão,
são preferidos os inseticidas seletivos durante os oitenta dias iniciais de cultivo. Basicamente, um produto pode apresentar dois tipos de seletividade: a ecológica e a fisiológica. Na seletividade ecológica ocorrem diferenças de comportamento ou habitat entre as espécies, possibilitando que o produto entre em contato com determinada espécie e não com outra; baseia-se nas diferenças ecológicas existentes entre pragas, inimigos naturais e polinizadores. Esse caso requer um conhecimento amplo dos aspectos bioecológicos das pragas e dos indivíduos benéficos. Pode-se conferir seletividade ecológica em função de uma tática de aplicação do produto químico. A seletividade fisiológica é inerente ao produto; e deve ser entendido o conjunto das condições determinantes da maior tolerância de um certo organismo, inimigo natural ou polinizador, em relação à praga, quando se encontram sob a ação de um produto. Manifesta-se devido à diferenciação fisiológica entre pragas, predadores, parasitóides, patógenos e polinizadores, onde as pragas são mortas a uma concentração do produto que não afeta os indiví-
Algodoeiro X Pragas X Controle (figura 02)
duos benéficos. Necessidades de investimentos Para o ano agrícola que se aproxima, os grandes avanços qualitativos que buscamos passam por aprimoramentos dos sistemas de produção. Como foi dito anteriormente, este refinamento acontecerá através de esforços maciços em estruturação de equipes de amostragens nas propriedades rurais e empresas especializadas de consultoria em manejo de cultivo. Muitas vezes, equipes altamente qualificadas são dispensadas no final da safra, não restando nem ao menos uns poucos inspetores de pragas para dar continuidade a um trabalho já iniciado. É a perda de material humano treinado e de qualidade elevando custos de produção, uma vez que na safra seguinte nova equipe precisará ser refeita. Também é fundamental monitorar a resistência de artrópodos aos pesticidas, particularmente aquelas pragas mais combatidas por métodos químicos e os produtos usados no seu controle, visando a manutenção da efetividade das tecnologias novas e antigas. A avaliação das novas tecnologias, a cam-
po, como a das plantas geneticamente modificadas é fundamental para conhecermos os benefícios e desvantagens na prática, saindo do discurso e partindo para uma avaliação menos apaixonada e ainda no campo das hipóteses. Através da experimentação teremos as respostas para os questionamentos que têm sido feitos, elucidando qual o papel destas práticas nos sistemas e custos de produção do algodão, meio ambiente, qualidade de produtos e de vida das pessoas, espectro de pragas controladas, segurança alimentar, bem como definir as melhores estratégias de manejo de cultivo. Também, o desenvolvimento de variedades mais precoces é prioritário, especialmente para convivência com pragas como o bicudo e a lagarta rosada. Outro aspecto a ser trabalhado, é a inicialização de associações de consultores, recomendadores e estrategistas de manejo integrado com vistas a se conseguir práticas coerentes, cientificamente comprovadas, para implementação de propostas de manejo baseadas em características regionais, as quais são o futuro da tecnologia do manejo. Implantar programas consistentes para
impedir a expansão de pragas, como o bicudo, a broca da haste e a lagarta rosada, se possível buscando a erradicação, com vistas a mantermos nossa competitividade no contexto global. O perfeito acompanhamento, ano-a-ano, dos custos com controle de pragas permite ao produtor comparar quanto ele vem gastando para controlar as pragas na sua lavoura. Ele não deve olhar apenas o montante total gasto por hectare, mas sim qual foi o percentual de uma arroba de algodão vendida que ele gastou para combater as pragas. O importante é saber o custo de controle de praga por arroba de algodão produzido. E por último, deverão surgir os primeiros sites na internet com o chamado e-commerce, o comércio eletrônico de insumos, criando um eficiente mercado destes produtos, fornecendo aos produtores e consultores informações nacionais de preços e dando aos distribuidores e vendedores a possibilidade de alcançar outros mercados nacionais, atualmente distantes de sua área geográfica. Paulo E. Degrande, UFMS
Algodão
mercado
FMC
Espaço para crescer Apesar de algumas dificuldades, há boas expectativas para a produção brasileira de algodão
Ciro Gomes, entre José Pessa e Geraldo Copello, foi destaque na reunião do Clube da Fibra
O
setor algodoeiro nacional tem até 2008 para crescer, pois até aquele ano as previsões indicam a necessidade de importação. Mas a luta é intensa e há muitos problemas a resolver, alguns deles evidentes, como sintetizou Clovis Vetoratto, produtor e vice-presidente da Fundação Mato Grosso, em palestra na VI Reunião do Clube da Fibra, em Fortaleza. O Clube, uma criação estratégica da FMC do Brasil, foi o embrião que gerou a Associação Brasileira de Produtores de Algodão Abrapa e reúne hoje cotonicultores responsáveis por mais de 80% da produção nacional de algodão. O encontro foi aberto pelo presidente da FMC do Brasil, Geraldo Copello, e organizado pelo gerente de marketing, Vicente Gongora, e pela gerente de algodão, Maria Paula Luporini. Na reunião de Fortaleza, assistida por autoridades nacionais como o próprio secretário nacional de política agrícola, Benedito Rosa do Espírito Santo,
os produtores bateram duro. Vetoratto, por exemplo, disse que não adianta o país pretender exportar algodão agora. Devemos, isso sim, exportar produto acabado, camisas, por exemplo, para aproveitar a mão-de-obra nacional. E para isso recomenda a instalação de escritórios no exterior, para agenciar as vendas, possivelmente colocando pessoal junto às embaixadas. Isenções fiscais Um dos temas mais criticado, no entanto, foi a facilidade com que se concedem isenções fiscais que prejudicam a produção brasileira. O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, presente ao encontro já na condição de candidato à Presidência da República - outro candidato presente, Blairo Maggi, pleiteia o Governo do Mato Grosso foi enfático ao admitir que a produção de algodão no Ceará foi reduzida em 10 anos de 120 mil para 12 mil toneladas
anuais de pluma não pela praga do bicudo, como se diz, mas pelas isenções fiscais concedidas à indústria têxtil estadual para comprar algodão no exterior, que derrubaram os preços internos. Ciro foi além, criticando a produção nacional de grãos parada nos 70 a 80 mil toneladas de grãos há muitos anos como se isso fosse motivo para festejar, e defendendo o total afastamento estatal da economia ( o setor público é corrupto ). Nosso povo trabalha duro, mas nossas elites fazem muitas bobagens, salientou Ciro Gomes, para quem deve ser estabelecido para a agricultura novo modelo de ação governamental, de modo a valorizar três pontos: a) obtenção de juros nos níveis internacionais; b) centralidade da tecnologia; e c) buscar empreendimentos de mega-escala, para se obter ganhos nessa amplitude. Finalmente, Ciro Gomes defendeu para os algodoeiros uma política que os situe no modelo econômico global sem traumas, pois sempre virá de al-
Fotos Cultivar
Adilton Sachett manifestou preocupação com o elevado roubo de cargas. Já Vicente Gongora e Paula Luporini estão otimistas com as perspectivas de safra
gum lugar algo bom, bonito e barato, à que precisamos contrapor uma produção compatível e a juros baratos.
leiro. Mas nesse ano, advertiu, o governo está investindo em setores estratégicos que produzem respostas rápidas. Tudo isso trouxe o Brasil de volta ao rol dos países considerados seguros pelos investidores externos, o que auxiliará no crescimento. Por isso o Governo aumentou em 60% os recursos para a agricultura. Também disse que o nível tecnológico agrícola nacional está entre os melhores do mundo, o que já não ocorre com a comercialização, problema que deve ser atacado daqui por diante.
Política agrícola Benedito Rosa do Espírito Santo mostrou que a agricultura nacional está em movimento, com uma política agrícola de objetivos gerais. Hoje, disse, no Brasil se persegue a produção com produtividade e a agricultura tem sido fundamental para reduzir o déficit da balança comercial. O problema, no entanto, é que os países não escolhem o que exportam, mas sim vendem o que poFibras dem, o que o mercado absorve. Para se sintéticas obter harmonia interna, no algodão, por O representante da cadeia têxtil, Anexemplo, a indústria drew Macdonald, adtêxtil deveria pagar o vertiu sobre a concorproduto nacional nos rência, cada vez maior, O avanço da fibra níveis praticados com o que o algodão vem sosintética é produto importado, pois frendo com a adoção devido a uma toda a cadeia deve estar das fibras sintéticas. forte campanha comprometida com o Mostrou, com dados de marketing processo de consolidaestatísticos, o crescição. mento industrial, com Os produtores, seforte importação das figundo Benedito, já estão fazendo sua bras sintéticas, oriundas do petróleo. E parte, pois a recuperação do setor pro- que as mulheres, as maiores compradutivo do Centro Oeste é superior à dos doras, buscam, além do fator estético, Estados Unidos. O crescimento é tão o conforto, hoje a onda da moda. O algrande, salientou, que brevemente ou- godão, explicou, ainda é o produto obritros países terão de usar barreiras não- gatório nas roupas infantis, dado o seu tarifárias para segurar o algodão brasi- caráter não alergênico. Mulheres com-
pram 57% de roupas, das quais a maioria provém de lançamentos sintéticos. Depois, as crianças, com 23%, consomem algodão. Os homens usam 20%, mas também estão aderindo aos sintéticos. Em tudo isso, onde estão os designers, os agentes influenciadores do uso do algodão? Ninguém está incentivando essa gente. E o algodão não é commodity, devendo ser salientadas e incrementadas as pesquisas para aumentar nas fibras a resistência, comprimento, uniformidade, micronaire e maturidade. Ele defende, até como vantagem ecológica, a adoção de sementes de plantas resistentes às pragas e doenças. Porém o presidente da Abrapa, José Luiz Pessa, acredita que o avanço da fibra sintética é mais devido ao marketing agressivo dos seus fabricantes do que ao conforto proporcionado. Em qualquer feira de moda, disse, se vê o esforço e o investimento de marketing das multinacionais da fibra sintética, que estão criando no consumidor uma necessidade fictícia. Os produtores deveriam se organizar e contrapor estratégias para valorizar o algodão, um produto natural, e mostrar que os sintéticos geram coisas como por exemplo o recente desastre ecológico encenado pela Petrobrás. Pessa acredita que se deva usar, contra a fibra sintética, as armas que os ecologistas estão usando contra os transgênicos, pois é a mesma coisa. E daí um alerta geral. A China, responsável por algo entre 20 e 25% da produção mundial de algodão, ainda não tem excedentes. Mas a perspectiva é que dentro de pouco mais de um ano, com as cultivares transgênicas e outras medidas, tenha um excedente de 900 mil toneladas. Considerando-se que o mercado importador de todo o mundo é de apenas 600 mil, há um novo e grave risco no ar. Roubalheira na estrada Outro tema discutido, levantado pelo produtor Adilton Sachett, foi o dos roubos de cargas de algodão nas estradas. Somente até julho 110 caminhões (cargas de 27 toneladas, que valem R$ 60.000,00) desapareceram nas estradas. E o industrial têxtil Andrew Macdonald confirmou: da mesma forma sumiram mais de 100 caminhões de tecidos no país. NP
Administração
dicas
B. Consulting Cultivar
BRANDALIZZE consulting
De olho na produção
COLHEITA
A Administração da propriedade rural é um esforço coletivo dos proprietários, técnicos e funcionários através do qual se tenta atingir uma meta previamente estabelecida, balanceando o potencial produtivo da propriedade, o nível de investimento a ser efetuado, a valorização a partir do resultado econômico das atividades envolvidas
U
ma boa administração é uma tarefa complexa que requer tempo, disciplina, paciência, conhecimento e principalmente muita dedicação e trabalho. Muitos proprietários deixam de seguir alguns princípios básicos, já testados através dos tempos, que aumentam as chances de se atingir com sucesso as metas desejadas minimizando os riscos associados a este tipo de atividade. Eis algumas idéias para ajudar nessas tarefas: Não brinque de Fazendeiro. A propriedade rural deve ser administrada de forma séria e competente. Participe ativamente e demonstre interesse. Se você não fizer por que os outros farão? Nada é Gratuito. Risco e retorno estão inter-relacionados. Estabeleça objetivos razoáveis conhecendo os recursos de sua propriedade, técnicas de produção disponíveis e as possibilidades de comercialização. Não coloque todos os ovos na mesma cesta. Diversifique. Atividades zootécnicas podem perfeitamente serem integradas com agricultura. Descubra as aptidões de sua propriedade. Nunca Arrisque Demais para Obter Retorno. A Agropecuária deve ser vista como uma atividade estável. Plantios fora de época devem ser acompanhados de adequados recursos técnicos. Culturas exóticas ou animais com preços recordes em leilão normalmente farão você perder dinheiro. Reinvista os Resultados. As atividades do setor rural não são extrativas. Aplique os resultados no seu próprio negócio. A correta
modernização do seu trabalho trará sempre um aumento de produtividade e, conseqüentemente, maiores lucros. Faça comparação de performance. Conheça seus vizinhos, estude e avalie seu sistema de produção. Quando necessário, copie as técnicas. Não tenha receio de assumir perdas. Não insista no que não funciona. A Agropecuária não deve ser vista como um jogo. Entretanto, eventuais erros e fracassos no sistema de produção podem ocorrer. Observe sempre produtividade e preço médio. Na prática produza o máximo com custo mínimo - e pelo melhor preço possível. Cuidado com Modismos. Estude a fundo seu processo de produção. Cuidado com as atividades em moda, que na prática nem sempre são viáveis e realistas. Pense, Decida e Aja. Os processos de conhecimento, a decisão e a ação são atividades imprescindíveis na produção. Nem sempre haverá informações suficientes para eliminar as incertezas, mas procure estar sempre exatamente certo de que aproximadamente errado . Considere o tempo como um fator de produção. Uma produção agrícola eficiente não deve ser imediatista. O proprietário rural deve ser fiel ao seu plano fazendo, no entanto, as retificações e reajustes necessários. Conheça o retorno dos acontecimentos e aproveite o tempo necessário. Busque o Bom senso (mas não só o seu).
Use o bom senso mas nem sempre o seu quer dizer que você está correto. Busque descobrir o senso dos demais envolvidos no processo. Dicas para o produtor 1. Planeje suas atividades, isto é, pense antes de fazer; 2. Procure descobrir sua verdadeira vocação no campo; opte pelo que lhe der mais prazer e satisfação; 3. Conheça a fundo sua propriedade rural; 4. Selecione programas de produção viáveis, compatíveis com a região e de acordo com a sua disponibilidade de tempo e recursos; 5. Trabalhe sempre com um olho no custo de produção e outro na tendência de mercado; 6. Treine seu pessoal para que eles façam bem e saibam por que estão fazendo. Incentive a participação de todos; 7. Procure aplicar sempre as mais modernas e eficientes tecnologias agronômicas disponíveis; 8. Controle cuidadosamente os processos, o follow up servirá de base para retificações e reajustes; 9. Lembre-se: a qualidade depende dos processos que o geram. Marcelo Tacchi, Agrisoft
SOJA
Reflexos das geadas chegam ao mercado
Muita soja e poucos negócios
As geadas ocorridas nas lavouras de milho, trigo, sorgo e outros, começaram a dar os primeiros reflexos. No caso do Trigo, está fazendo as indústrias pagarem acima dos R$ 270 por tonelada e a farinha teve que ser ajustada acima dos 20% em agosto. A qualidade do milho safrinha foi bastante prejudicada e só apareceu na segunda quinzena de agosto, junto à escassez de ofertas de produtos substitutos. Os produtores novamente estão reclamando que o governo prometeu ajuda ao setor para que pudessem se recompor e efetivar o novo plantio. Até agora poucos foram beneficiados com recursos.
O mercado da soja segue com poucos fechamentos e grande parte dos produtores segurando, à espera do momento favorável. Com isso estamos com cerca de 7,5 milhões de T de soja para ser negociada, contra menos de 3 do ano passado. Com muita soja no mercado, as indústrias seguem sem interesse na compra e rolam a formação dos estoques para frente. Para termos avanços dependemos da safra americana, em fase final e próxima à colheita. Passou por períodos de seca e calor nas últimas semanas.
MILHO
Safrinha na casa das 4,5 milhões de T A safrinha, colhida em agosto, mostrou 4,48 milhões de T contra as 7 ou mais estimadas inicialmente. Além do baixo volume da safrinha, a qualidade do produto foi baixa e assim forçará as indústrias a buscarem milho da safra de verão para realizar misturas afim de não comprometer as formulações das rações. Neste mês de setembro o mercado poderá ver pressão dos compradores em busca de milho de boa qualidade, que deverá ser melhor valorizado. O mês de agosto passou com poucas alterações nos indicativos porque os compradores esperavam ver a colheita para se posicionarem posteriormente. O Brasil continuará com oferta e demanda apertada e as grandes indústrias em busca da liberação das importações dos transgênicos. As carnes em alta darão suporte ao mercado do milho para novo avanço nas próximas semanas.
ARROZ Governo acena com exportação
CURTAS E BOAS ... TRIGO - as geadas causaram grandes perdas na safra do Paraná e as cotações chegaram aos R$ 270, podendo subir os produtores esperavam R$ 230. Deveremos colher cerca de 1,8 milhão contra até 3 milhões previstos inicialmente. Iremos consumir mais de 9 milhões de T.
de recompra de Opções pelo governo devem continuar. Assim a Conab tenta não ficar com o produto nas mãos para evitar custos de carregamento dos estoques. EUA - o USDA divulgou a sua estimativa de safra de soja em agosto, mostrando 81,3 milhões de T, mas os produtores locais, e também brasileiros que estiveram por lá, não acreditam nestes números.
A exportação de 100 mil T de arroz em troca por sorgo é vista pelo governo como uma PARAGUAI - contiboa alternativa para o setor, nuou colocando milho no pois diminuiu seus estoques e Brasil, com boatos que já melhorou as condições do setenha fechado mais de 250 tor de ração. É mais uma atitu BRASIL - novamente o mil T, com indústrias de rade paliativa, que dificilmente irá fortalecer o mercado do arção do lado de cá. Ainda governo teve que confirmar roz, que passou o mês de agosexistem cerca de 100 para safra baixa, com 82,4 mito em ritmo lento, e aponta lhões de T, contra as estimavender. pouco crescimento em setemtivas de supersafra que bro. As indústrias trabalham ALGODÃO - produto- apontavam para 85,2 mi das mãos para boca e assim res apostam em alta a partir lhões. Ainda estamos disnão deixam margem de crescide setembro e venderam os tantes de chegar à marca das mento das cotações. Mesmo contratos de Opções que ti- 90 ou 100 milhões tão espeassim os produtores gaúchos, tendo as melhores condições nham ao governo. Os leilões radas. de água dos últimos anos, devem aumentar o plantio, fato que não será seguido por grane-mail: brandalizze@uol.com.br de parte dos estados centrais. A alta do trigo poderá dar mais fôlego às indústrias do arroz e assim o com casca poderá res- indicativos firmes e acima dos para produto de ponta. Neste pirar melhor. R$ 55,00 para o Carioquinha, mês de setembro deveremos o que não aconteceu com o Prever a chegada de produto novo FEIJÃO to que esteve muito abaixo. A irrigado do Brasil Central e de Poucas ofertas e indicati- alta das carnes (frangos e suí- São Paulo. Desta forma, em alvos firmes nos) deu fôlego para os empaguns momentos crescerá a oferA disponibilidade de feijão cotadores, que puxaram os inta. Se os produtores não se prede boa qualidade esteve escas- dicativos, e se observava o kg cipitarem as cotações seguirão sa em agosto, o que manteve os no varejo acima dos R$ 2,00 firmes.
Setembro 2000
Cultivar •
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Safra
perspectivas
R
esumindo o ano que estamos encerrando, podemos apontar que o milho foi o produto que mais se destacou para os produtores; e o algodão continuou sendo a novidade para os produtores de melhor tecnologia. Enquanto isso a soja e o arroz foram os produtos que não atingiram os objetivos dos agricultores. A safra brasileira de grãos do último ano foi marcada por números divergentes até o final da colheita, onde se apontavam 33/34 milhões de T para o milho, e que na realidade não fecharam as 32 milhões, enquanto a soja vinha com indicativos de 30,5 a 31 milhões e fechou próxima dos 32 milhões de T. Em resumo, as previsões do governo apontavam para mais de 85 milhões de T e fecharam próximas das 82 milhões. Mas o fator mais importante para os produtores continua sendo o que lhe dá resultados econômicos positivos. Assim ele pode se manter na agricultura de maneira competitiva. Supersafra contra a soja Pelos indicativos, a safra americana deve ser recorde (mais de 80 milhões de T, contra 71,9 na passada). Com isso, as ofertas mundiais do produto passarão para 168 milhões de T, contra 156,1 milhões nesta safra. Assim os indicativos futuros de Chicago projetam para menos de $ 5,00 por bushel. Para mudar este quadro somente uma seca neste final de safra dos EUA. Este é o ponto de vista dos nossos produtores.
com pouca alteração na área. O mercado da soja indica uma produção de 30 a 33 milhões de T. São poucas as chances de grande queda; dificilmente Porém, mesmo com a safra crescendo, teremos também números grandes, ou próhá a possibilidade de a demanda (projeta- ximos das previsões do USDA (32,8 mida para 159 milhões de T) passar para casa lhões de T para o Brasil). Os argentinos, por sua vez, acham que das 165 milhões no próximo ano. Ou seja, com cotações consideradas baixas os con- o USDA superestima a safra local (21,5 misumidores aparecem e assim vamos crescen- lhões de T). Este ano foram colhidas 19,8 do - ainda existe muito espaço para avan- milhões de T. Ou seja se o mercado está çar no mercado mundial. Outro ponto im- ruim, porque é que os produtores irão auportante é a China, que, nesta safra, previa mentar a produção? Vendo o que ocorre no importação de 3 milhões de T, mas que está Mercosul, onde os números do USDA pochegando a setembro com importações de derão estar pelo menos 3 milhões de T aci8,3 milhões. A demanda projetada atual- ma da realidade, vemos que a safra mundimente poderá ser superada e assim as cota- al, apontada em 168/169 milhões de T(2000/2001), poderá ficar abaixo das 165 ções baixas poderão avançar. milhões. Dentro das expectativas do conPara o Brasil, as indisumo. Estamos vendo os cações de safra vêm com números da produção senestabilidade na área, com do estimados com otimisflutuações isoladas de Os produtores do mo e o consumo subestiplantio. No Centro OesCentro-Oeste mados. Pode, então, haver te, os produtores têm audevem aumentar alguma surpresa favorável mentado a área do algoa área de ao setor. Mesmo assim redão em detrimento a árealgodão comendamos: andar com as nobres de soja, princios pés no chão, usando de palmente no Mato Grosuma boa tecnologia econôso. Mas, também, muitas áreas que tinham arroz devem receber soja, mica, que lhes dê lucro em cima de cotaequilibrando o quadro. Na mesma situação ções baixas, que é conseguido em cima de produtividade e boa administração da saestão os estados da Bahia e do Maranhão. Já no Paraná, nota-se crescimento do fra. interesse dos produtores pelo plantio do miMilho, nova lho no verão. Os produtores do Rio Grancoqueluche de do Sul continuam com dúvidas: penSe a cada ano temos um produto que sam em aumentar o milho, mas temem a estiagem - e assim acabam plantando soja, dá boa rentabilidade, este foi o do milho,
que avançou bem atingindo até R$ 13,00 e, em casos isolados, mais. Nas regiões mais distantes do país chegou próximo dos R$ 10,00. Como o Brasil vem colhendo menos que consome há vários anos (certamente não será auto-suficiente em 2001), continuaremos na dependência das importações e favorecendo os produtores brasileiros. O milho mostrou uma oferta de 32 milhões de T para um consumo de 35,5 milhões - déficit de 3,5 milhões, que deveria ser coberto por estoques que não tínhamos. Assim, somos obrigados a buscar importações do Paraguai e Argentina (e produtos alternativos), dando fôlego ao sorgo que também tem crescido, além de quebrados de arroz, triticale, trigo de baixa qualidade. O setor de ração vai tocando o ano em que cresce a produção de frangos e suínos, além de demanda por suplementos alimentares na pecuária (a geada queimou pastagens). O milho vem sendo um bom negócio para os produtores, que apostam no plantio de verão. Por enquanto, acreditamos num crescimento de 5 a 8% no plantio de verão. Assim passaremos das 27 milhões de T para as 29 milhões - e poderemos colher até 30 milhões de T. Se adicionarmos uma safrinha de 5 milhões de T (efetivada nos últimos anos), chegaremos as 35 milhões. Novamente abaixo da demanda, projetada para 38 milhões de T. Sendo otimistas, colheremos 7 milhões de safrinha e 30 de safra de verão. Chegaremos à supersafra esperada pelo governo, com 37 milhões de T de produção. Estaremos assim sem grandes necessidades de importações, mas sem sobras. Lembramos que na última alternativa é levado em consideração um quadro ideal, que até hoje nunca aconteceu. O quadro geral é que estamos passando de uma safra muito apertada, com cotações altas, e que passaremos para um ano com expectativas de aumento da oferta. Mas continuaremos a ter demanda crescente. O setor de frangos e suínos continuará avançando e também deveremos ter aumento de demanda humana, dando sustentação ao crescimento da produção. Continua mostrando boas expectativas para safra nova e boa liquidez aos produtores.
xo pela saca com 50 kg do irrigado e indicativos menores ainda para o sequeiro. Assim dificultou os novos investimentos do setor. No Rio Grande do Sul neste ano estamos vendo as reservas de água dentro dos níveis máximos ou dando condições para um grande plantio. Os produtores locais dizem que não têm outra alternativa a não ser plantar arroz. E buscam na tecnologia a maneira de aumentar a produtividade e baixar os custos. A melhor saída para o arroz do Mercosul seria a exportação para outros países, porque o Brasil neste ano colheu 11,8 milhões de T, para um consumo de 11,8/12 milhões, e que se lembrarmos que passamos com 1,3 milhões em estoque da safra passada, sobrariam mais de 1 milhão novamente. Mas como compramos e deveremos continuar recebendo grandes volumes de arroz da Argentina e Uruguai, que apontam nos internalizar cerca de 700 mil T, o que fará os nossos estoques de passagem se aproximarem de 2 milhões de T. À primeira vista estaríamos com grande excedente e com poucas chances de reação no próximo ano. Mas a realidade é que estaremos entrando em um ano de crescimento de consumo do arroz, porque as carnes devem trabalhar em alta, e assim com menos produtos alternativos, cabeO consumo de rá à população arroz deverá o tradicional crescer, arroz. Deveremantendo os mos chegar preços estáveis próximo da casa das 12,5 milhões de T consumidas. Mas também temos que apontar que alguns estados devem reduzir o plantio, como é o caso do Tocantins, onde muitos produtores tiveram dificuldades financeiras e não irão plantar. No Mato Grosso as áreas do arroz poderão estar recebendo soja, o mesmo ocorrendo no Maranhão e Bahia. Assim poderemos ter menor pressão de venda do Centro-Oeste. O arroz está se tornando uma cultura de grande necessidade tecnológica: a produtividade alta e o custo baixo ditarão as regras do jogo.
Água disponível segura o RS O mercado do arroz não foi favorável aos produtores, com as cotações médias em baixa e os indicativos abaixo dos custos de produção. Assim aqueles que não conseguiram obter AGFs, ou Opções, que garantiram cotações de R$ 13,00/14,00 pela saca, tiveram que negociar nos R$ 12,00 e abai-
Oferta baixa, plantio em alta As geadas ocorridas em julho junto as regiões produtoras do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, serviram para der um fôlego novo ao mercado do feijão. Chegamos a bater números próximos aos R$ 70,00/60kg para o Carioquinha de melhor qualidade. O quadro de oferta e demanda brasileiro estará fechando apertado, entre 3 milhões
de T de produção para 3 milhões de consumo. Com isso estamos vendo motivação do setor ao novo plantio que já começou em estados como Paraná e Santa Catarina. Deveremos ter crescimento na área de verão. Continuaremos vendo o feijão como uma boa alternativa de demanda. Isso porque o frango (proteína popular) teve avanços nas cotações e a exportação deve tomar grande parte da produção de 2001, junto com o crescimento das cotações da carne bovina que estará sendo exportada em grandes quantidades, abrindo assim espaço para volta do crescimento do consumo do feijão. O primeiro feijão colhido da safra de verão irá encontrar um mercado desabastecido e de cotações firmes, devendo dar bom retorno aos produtores. Vale para o tecnificado Os produtores do Centro-Oeste descobriram no algodão a melhor alternativa para manter as grandes propriedades de soja em atividade. Com custos de implantação muito acima dos verificados com a soja e com alta necessidade de tecnologia, o algodão veio como uma boa alternativa para o setor. Porém não serve para todos, porque necessita de grandes investimentos para a produção, e estrutura mais sofisticada que a soja. Aqueles que estão produzindo menos de 180 arrobas por hectares estão numa zona de risco de prejuízos. Já quem colheu 300 ou mais arrobas por hectare está ganhando o que nunca conseguiu com a soja. Nesta nova safra deveremos ter avanço no plantio, que somente no Mato Grosso deverá avançar entre 100 e 150 mil hectares. Com isso o Brasil, que é importador há mais de 10 anos, poderá passar a ser auto-suficiente. E já existem produtores se preparando para ir buscar espaços no mercado internacional, o que certamente será uma das saídas para não estrangularmos o governo, que domina os negócios. O produtor que continuará bem na atividade será aquele que estiver colhendo 250 ou mais arrobas por hectare. Assim não estará sujeito às flutuações de preços. Neste nível continuará sendo um bom negócio. Lembrando também que a comercialização do algodão é lenta; e que no próximo ano poderá ter ritmo menor, pois a oferta crescerá e dará às indústrias mais fôlego para esperar. Vlamir Brandalizze, Consultor
Rapidinhas Boa colheita de algodão no MT
Informativo da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes Encartado na Revista Cultivar nº 20
Novos tempos, velhos erros A pirataria em sementes, isto é, usar cultivares sem pagar os direitos aos melhoristas, é coisa antiga. Com a Lei de Proteção de Cultivares, virou crime. Mas a pirataria continua
O
Serviço Nacional de Prote ção de Cultivares, órgão do Ministério da Agricultura, levantou as principais formas usadas por produtores de sementes para burlar a Lei de Proteção de Cultivares, segundo José Neumar Francelino, coordenador técnico do órgão, e já começa a estabelecer meios de coibir as ilegalidades, punindo os infratores. Segundo explicou José Neumar no XIX Ciclo de Reuniões Conjuntas da Comissão Estadual de Sementos e Mudas do Paraná, realizada entre 15 e 17 de agosto em Foz do Iguaçu, as práticas mais usuais são as que seguem: O produtor de sementes não inscreve campos de produção, mas adquire sementes de cultivar protegida e produz sementes intituladas próprias, comercializando-as com falsa identificação ou denominação de outra cultivar de domínio público, cujos campos foram inscritos; O produtor de sementes desativado e dispondo de equipamento I
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de beneficiamento e espaço para armazenar, presta serviços para terceiros, beneficiando e armazenando grãos de cultivares protegidas, às vezes embalando-as em sacaria com identificação de sementes para produtores não registrados. O produtor não solicita inscrição de campos, contrata a produção de grãos de uma cultivar protegida, de ex-cooperados, beneficia sob o pretexto de devolver sementes próprias para agricultor, mas comercializa como sementes atribuindo outra denominação. O produtor solicita a inscrição de campos para uma cultivar protegida, não apresenta autorização do obtentor, recebe o indeferimento do campo, dá prosseguimento ao processo de produção, colhe, beneficia e identifica com outra denominação, vendendo-a como outra cultivar. Cooperativas de produtores rurais adquirem sementes de uma cultivar protegida para produção de grãos. Após a colheita armazenam
com o propósito de beneficiarem como sementes próprias para associados, mantendo-as armazenadas em embalagens brancas, sem identificação. Mas terminam por beneficiar, trocar de embalagem e comercializar como sementes fiscalizadas. O comerciante adquire sementes de um produtor com denominação de outra cultivar de domínio público para revender. Para inibir esses abusos José Neumar está propondo um conjunto de medidas, desde um convênio com a Braspov, por exemplo, para tornar a fiscalização mais efetiva, via denúncias, além da adequação das normas legais sobre fiscalização da produção e comércio de sementes e mudas à fiscalização de cultivares protegidas. Ou o treinamento urgente para os fiscais da produção e comércio de sementes e mudas, bem como a regulamentação do art 37 da Lei 9456/97, que trata das punições para os infratores da LPC que incorrerem em crime de violação dos direitos dos melhoristas. Nesse contexto, caberia ao SNPC atender com agilidade as denúncias Atualidades ABRASEM
José Neumar alerta para a pirataria
sobre o uso não-autorizado de cultivares protegidas e adequar os procedimentos de credenciamento de campos de produção e instalação de viveiros de mudas para evitar que os produtores continuem se conduzindo como se inscritos ou credenciados estivessem. Também deveria prover os órgãos de fiscalização nos Estados de instrumentos normativos e recursos suficientes para o atendimento das demandas fiscais, e atualizar de imediato o cadastro de produtores de sementes de forma a identificar os que deixaram de solicitar inscrição de campos nos dois últimos anos. O SNPC deveria ainda distribuir para as entidades certificadoras e fiscalizadoras os descritores de todas as cultivares protegidas, e munir os laboratórios oficiais de amostras originais das cultivares protegidas, para fins de comparação das características das sementes em análises laboratoriais de fiscalização. Igualmente cabe ao órgão definir procedimentos harmonizados para a fiscalização da produção e comércio de sementes e mudas, adequados para a proteção de cultivares, reavaliando a oportunidade de obter informações pertinentes à produção colhida dos campos cujas inscrições foram deferidas. E, finalmente, diz José Neumar, caberia ao SNPC executar os procedimentos de combate às irregularidades na produção e comercialização de sementes, principalmente aquelas envolvendo cultivar protegida. NP Atualidades ABRASEM
De normal para boa . Assim o secretário executivo da Aprosmat, Tsuyoshi Kobayashi definiu a colheita de algodão este ano no Mato Grosso, já na fase final. Significa produção de 300 arrobas de caroço por hectare, em média. De um modo geral, porém, a produtividade deverá ficar entre 220 a 230 arrobas, superando em 10 a 20% safras anteriores. As causa do aumento foram basicamente adubação melhor na cultura e o clima favorável, que não provocou perda significativa de peso na pluma. A variedade apontada como carrochefe é a Ita 90 que, nos últimos dez anos, ocupou em torno de 75 a 80% da área geral plantada com algodão no Estado. De outra parte, disse, os agricultores reclamam do alto custo de produção e falta de liquidez de mercado. Esses problemas acontecem com o algodão por ele não ser uma commodity . Os compradores são as tecelagens, os únicos no Brasil, e compram volumes de acordo com as suas necessidades . Segundo Tsuyoshi, o governo também compra e faz estoques. Assim, explica, muitos preferem que o próprio governo compre e faça estoques, para se livrarem dos custos financeiros .
MS prepara safra de verão
Choveu um pouco, e isto é ótimo. Só espero que não tenha chovido demais para não faltar água na hora de plantar , comemorou e brincou o sócio-proprietário da Sementes Grimm, Ottmar Rehn Loma. Ele referia-se aos preparativos para a safra de verão, com soja e milho, na área abrangida pela empresa - próximo a Campo Grande, cujo clima estava muito seco . A variedade predominante de milho é a Pioneer e de soja as da Epaer (um órgão do governo estadual do Mato Grosso do Sul), além da Suprema da Agrevo. Já na safrinha, informa Ottmar, foi cultivada uma área com sorgo em nível industrial . Segundo ele, está ocorrendo redução na produção de sementes de soja - o carro-chefe da nossa produção . Em números, a diminuição chega a 3% em relação ao que plantávamos antes , diz. Os motivos são as variedades diferentes e convênios que precisam ser feitos. Além disso, há o fator competitividade, meio difícil , comenta. Sobre os convênios, aponta dificuldades. Isso restringe um pouco o acesso aos materiais . Desta forma, acrescenta, estamos um pouco devagar e puxando o freio de mão para ver o que acontecerá. Sobre o milho, informa que o plantio começa em outubro, em nível industrial , reitera.
Valorização da batata
Em Santa Catarina, a Aprosesc está elaborando projetos de financiamento agrícola na parte de sementes. A Associação, segundo o diretor administrativo Renato José Yassuda, observa uma tendência de redução da área geral da produção da semente de batata, em função da crise verificada com esta cultura, em âmbito de país. Calculamos que a diminuição ficará em torno de 40%, ou menos . Na região catarinense onde a cultura era forte, diversos produtores estão abandonando a atividade, e restam muito poucos . Para amenizar o problema, explica, estamos tentando desenvolver um trabalho que abrange todo o Brasil visando à valorização, também, da produção da batata-consumo . O trabalho inclui uma política geral do cultivo da batata e, além da valorização maior do produto, visa estimular a retomada dos preços através de um planejamento de escalonamento de safra. O objetivo central é fazer com que o agricultor tenha uma ligação direta de comercialização com o comprador. Com relação a isso, acrescenta, a Aprosesc está trabalhando junto com a Associação Brasileira dos Produtores de Batata. Na parte de sementes, atua em conjunto com a Abrasem no desenvolvimento de estudo sobre o real consumo de sementes, ou seja, quanto o produtor tem efetivamente comprado ou o volume que está utilizando de semente própria. Os resultados do trabalho serão direcionados aos produtores desta área.
Análise de sementes
Muito trabalho com diversas atividades. Era nesse ritmo que a Apsemg estava no início da segunda quinzena do mês de agosto, com as análises e programação de curso. Toda a semente para ser comercializada tem de passar pelas análises dentro dos padrões preconizados pelo Estado, e cada Estado tem um padrão , informa a secretária executiva da Associação, Maria Selma Carvalho. No caso da Apsemg, a maior produção em volume de sementes é de milho, vindo a seguir soja, batata, feijão, arroz, sorgo, trigo, forrageiras e olerícolas. De outra parte, estava programado para os dias 23 e 24 de agosto, curso na área de armazenagem e secagem de grãos e de sementes, em Uberlândia, uma região central em termos de produção de sementes em Minas Gerais. É um pólo , define Maria Selma. Segundo ela, a programação do curso é muito boa e o instrutor é o professor Érico Aquino Weber, um especialista na área de armazenagem e secagem .
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Cultivar • II
Agronegócios entrevista
Fotos Cultivar
Biodiversidade e controle de pragas O conceito de Manejo Integrado de Pragas sempre incorporou a filosofia da sustentabilidade, antes que essa viesse a dominar os corações e mentes do final desse século, como uma herança devida aos nossos filhos. A preservação do ecossistema, e o entendimento da necessidade de integração de métodos de regulação de populações constituem parcela da filosofia atual de desenvolvimento sustentado. Durante o XXI International Congress of Entomology, realizado em Foz do Iguaçu, em agosto passado, a questão da sustentabilidade do processo agrícola perpassou toda a discussão sobre entomologia aplicada à agricultura. O ponto alto foi a conferência proferida pelo Dr. Marcos Kogan, um brasileiro a quem qualquer platéia ouve com atenção e respeito, e cujos escritos são disputados com avidez. Ao invés da coluna tradicional, Décio Gazzoni entrevistou o Dr. Marcos Kogan, Diretor do Integrated Plant Protection Center, localizado em Oregon EUA.
avanços tecnológicos que permitiram um sensível aumento da produtividade. Em muitos pontos do planeta, a exploração de recursos finitos ultrapassou o ponto da irreversibilidade e atingiu índices de insustentabilidade do uso de recursos como terra, água e energia. Sem um controle demográfico adequado será muito difícil pensar em desenvolvimento sustentável. C - Então o conceito de sustentabilidade está vinculado às sociedades mais ricas e mais avançadas tecnologicamente? MK - Não necessariamente. A sustentabilidade dos sistemas é uma necessidade tanto de sociedades ricas quanto pobres. Essas porque encontram na exploração predatória, com baixo uso de tecnologia, a única solução de curto prazo para sua sobrevivência. Aquelas porque têm seu padrão de consumo baseado no excesso e no desperdício. Mais do que esse enfoque, é importante entender a definição dada pela Sociedade Americana de Agronomia: agricultura sustentável é aquela que, no longo prazo, melhora a qualidade do ambiente e dos recursos básicos dos quais depende a agricultura; atende as demandas de fibras e alimentos; é economicamente viável; e melhora a qualidade de vida dos agricultores e da sociedade como um todo. C - Durante sua apresentação no XXI ICE o senhor colocou uma série de princípios nos quais se baseia a sustentabilidade da agricultura. Quais são esses princípios? MK - Foram propostos cinco princípios para o manejo sustentável do agroecossistema: (1) é baseado em um uso prudente dos recursos renováveis ou recicláveis; (2) protege a integridade dos sistemas naturais, de maneira que os recursos naturais são continuamente regenerados; (3) melhora a qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades; (4) é viável do ponto de vista econômico; (5)é baseado em uma ética que considera os benefícios de longo prazo para todos os membros de uma comunidade.
Cultivar - É possível a convivência entre a pressão para um imediato aumento da oferta de alimentos e desenvolvimento sustentável? Marcos Kogan - Nos últimos 50 anos a população mundial teve um crescimento de 140%, até atingir 6,1 bilhões de pessoas nesse ano. O crescimento populacional dos últimos 50 anos foi superior ao total de habi-
tantes que a Terra já teve nos últimos 4 milhões de anos. Nos próximos 50 anos estima-se uma dramática redução da taxa de crescimento, mas ainda assim o planeta crescerá, em média, um Brasil a cada 2 anos, devendo abrigar 9 bilhões de pessoas em 2050. O excessivo crescimento populacional da segunda metade do século teria comprovado a teoria de Malthus, não fossem os
C Se hoje a sustentabilidade dos ecossistemas atinge o ponto de consenso, porque a geração que nos antecedeu foi tão perdulária no uso dos recursos naturais? MK - O chamado esforço de guerra concentrou todos os recursos disponíveis durante o período 1939-45, e um dos efeitos da Segunda Guerra foi a destruição de campos e lavouras, gerando uma fome endêmica nos
países afetados. O aumento da oferta de alimentos tornou-se uma das prioridades máximas, e como as pragas respondiam por 30% das perdas da produção agrícola, houve uma euforia com o uso de pesticidas organo-sintéticos recém-descobertos. O sucesso inicial foi muito grande, obscurecendo os sinais de que os efeitos colaterais negativos poderiam superar os benefícios advenientes do aumento de produção. Passaram-se muitos anos, e quase três milhões de toneladas de organo-clorados foram despejados no ambiente, para que o paradigma do uso exclusivo de inseticidas migrasse para o conceito de manejo de pragas. Quase 50 anos depois, as perdas estimadas por ataques de pragas continuam na faixa de 30%, o que sugere que os avanços na produtividade foram devidos principalmente a outros fatores que não o controle adequado das pragas. C Um dos efeitos dos maus tratos aos recursos naturais é a mudança climática. Nesse caso, qual o papel da agricultura? MK - Um dos aspectos mais importantes para o efeito estufa é a concentração de gás carbônico na atmosfera. A agricultura contribui para o processo pela destruição de florestas, e pela queima de combustíveis fósseis em diversas fases do processo. Entretanto, a agricultura pode mitigar o efeito estufa através de fontes renováveis de energia, para substituir os combustíveis fósseis. Por exemplo, a produção de álcool para substituir derivados de petróleo; e a produção de energia
A agricultura pode mitigar o efeito estufa através de fontes renováveis de energia, para substituir os combustíveis fósseis
a partir de biomassa, para reciclar o carbono ao invés de liberá-lo na atmosfera. C De alguma forma o efeito estufa pode afetar um Programa de Manejo de Pragas? MK - Sem dúvida. Tomemos o exemplo do MIP de frutíferas nos EUA, que tem a Cydia pomonella como praga-chave em pereiras e macieiras. O manejo da praga é baseado em um sofisticado monitoramento, acompanhado de modelos matemáticos de
predição de eventos, que dependem de dados biológicos obtidos em determinadas condições climáticas. Um acréscimo de 2o. C na temperatura média anual seria suficiente para causar uma geração adicional da praga, forçando os agricultores a pulverizar muito próximo à colheita, quando as restrições sanitárias são maiores. Somente esse fato seria suficiente para colocar em xeque um dos programas de MIP de maior sucesso nos EUA. C E nesse caso estaria criado um problema potencial para o comércio de produtos agrícolas, como também é o caso das invasões biológicas? MK - As invasões biológicas cresceram muito com a globalização e a liberação do comércio, e também com a intensificação dos fluxos turísticos. O potencial de impacto econômico das espécies invasivas não ocorre apenas quando elas se tornam pragas, mas quando ocorrem restrições impostas pelos regulamentos quarentenários. Existem referências mostrando ter havido mais de 2000 introduções de insetos exóticos nos EUA, dos quais 235 espécies se tornaram pragas sérias, causando prejuízos superiores a 92 bilhões de dólares durante o século que ora finda. E essas invasões também podem desestabilizar programas consolidados de Manejo de Pragas, como ocorreu com o ingresso do bicudo no Brasil, na década de 80.
C As invasões biológicas contribuem para a redução da biodiversidade? MK - Seguramente, assim como a destruição progressiva dos ecossistemas, a poluição e outros fatores. A redução da biodiversidade é mais clara nos sistemas agrícolas, e está muito associada com a revolução verde , posto que muitas variedades locais foram substituídas por exóticas, de maior produtividade. Por exemplo, a China reduziu o número de variedades de trigo de 10.000, que eram plantadas em 1949, para 10% desse total em 1970. A perda desse material genético se acentua continuamen-
importadas, apresentavam algum resíduo de pesticida, sem que fosse constatada a presença de resíduos acima dos limites estabelecidos. Mesmo nessa situação, a sociedade tem pressionado no sentido de revisar os padrões de resíduos estabelecidos, exigindo garantias adicionais de segurança dos alimentos.
C No caso das variedades transgênicas, a pressão também tem sido grande? MK - O surgimento de variedades de algodão, batata, soja, milho e outras culturas obtidas com a incorporação da toxina do Bacillus thuringiensis em alguns momentos Pergunta-se: Há espaço para variedades lembrou a e xc i t a ç ã o transgênicas em programas de manejo de pragas? do surgiA discussão aparentemente aponta para o uso de mento dos variedades transgênicas como mais uma ferrameninseticidas ta no manejo de pragas orgânicos. Entretanto, a reação tanto de leite, porque novas variedades são desenvolvi- gos quanto de cientistas tem acompanhadas a partir de uma base genética que se es- do o assunto desde o surgimento dos pritreita cada vez mais, e que também repre- meiros plantios comerciais. Pergunta-se: Há senta um risco do ponto de vista da vulnera- espaço para variedades transgênicas em programas de manejo de pragas? A discusbilidade ao ataque de insetos. são aparentemente aponta para o uso de C Mas o risco para os programas variedades transgênicas como mais uma ferde manejo de pragas estariam concen- ramenta no manejo de pragas que, se utilitrados na redução da biodiversidade? zada adequadamente, pode ser uma técniMK - Embora muito importante, exis- ca poderosa para o controle de populações tem outros fatores associados, com as pres- de pragas. Entretanto, é necessário sempre sões provenientes da comunidade onde os ter em mente que estamos falando de intesistemas de manejo de pragas estão contex- gração. Caso essas variedades sejam utilitualizados. Por exemplo, a sociedade se de- zadas com cuidado, integradas no conceito bate hoje com duas questões apaixonantes e de manejo de pragas, considerando as prespolêmicas, que tratam da segurança dos ali- crições de resistência de plantas, e monitomentos e da utilização de variedades trans- rando cuidadosa e continuamente seus efeigênicas. No caso da segurança alimentar, po- tos colaterais, sempre dentro do contexto demos tomar o exemplo dos EUA, onde cer- de integridade do ecossistema, então exisca de um terço das 8500 amostras de ali- te um espaço para variedades transgênicas mentos analisadas, produzidas localmente ou em programas de manejo de pragas.
C Em resumo, o Manejo de Pragas pode auxiliar na sustentabilidade do processo agrícola? MK - Considerando-se que um programa bem conduzido de manejo de pragas pode reduzir um terço das perdas causadas por insetos, pode-se aumentar a disponibilidade de alimentos em 750 milhões de toneladas de grãos, suficientes para alimentar 1,8 bilhões de pessoas por ano. Para atingir esse objetivo, é necessário alguns avanços importantes no desenvolvimento de novas táticas de controle que sejam compatíveis com a sustentabilidade ambiental, e que podem substituir técnicas consideradas disruptivas. Temos sido pouco criativos nas propostas de novas estratégias. O uso de manejo de pragas em grandes áreas é um exemplo recente de como pequenas adaptações estratégicas podem conduzir a resultados palpáveis. É necessário também avançar em outros conceitos, como a necessidade de deslocar o foco de uma cultura para um sistema, e de pequenas áreas ou propriedades isoladas para uma região relativamente homogênea. Devemos objetivar concretamente a que o conceito de agricultura sustentada utilize o que tem sido denominado de nível III de integração, com a adoção do planejamento em eco-regiões como unidade básica, quando então as abordagens de agricultura sustentada e de manejo de pragas serão indissociáveis. C Para finalizar, o senhor referiu que estamos ganhando as batalhas, mas perdendo a guerra. O que isso significa? MK - Essa frase de um agrônomo americano significa que o Homem imagina que a Natureza possa ser agredida impunemente. Quando surge um problema, a tendência é resolvê-lo isoladamente. Ganhamos a batalha ao resolver o problema, muitas vezes à custa da agressão à natureza. E é justamente onde podemos estar perdendo a guerra, porque com agressão à natureza não há sustentabilidade. E sem sustentabilidade, o mundo continuará a passar fome, donde perdemos a guerra.
Congresso
Lições de um CONGRESSO E
ntomologistas preservando a biodiversidade foi o tema do Congresso. A lição que se aprendeu é que ao invés de focar em espécies individuais ou um taxa em particular, é importante desenvolver estratégias holísticas, objetivando a integridade dos ecossistemas e os bens e serviços providenciados pela biodiversidade, que sustentam a biosfera inclusive o Homem, através de uma mentalidade conservacionista permanente. Não se deve pensar apenas nas espécies mais carismáticas, que chamam a atenção pública, mas no conjunto da biodiversidade, concedendo a todos os organismos vivos uma chance de lutar por sua sobrevivência - uma das bases do desenvolvimento sustentável. Com 800 milhões de pessoas famintas, 180 milhões de crianças em idade pré-escolar sem alimentação adequada, 20 milhões de crianças morrendo desnutridas todos os anos, a população mundial crescendo 50% em 50 anos, está lançado o desafio para produzir mais alimentos. Para eliminar a fome do mundo será preciso produzir mais nos próximos 20 anos do que nos 10.000 anos decorridos até hoje! Para tanto, a ciência precisará avançar, a fim de que a maldição da equação malthusiana não caia sobre nossas cabeças na forma de uma bomba demográfica faminta. Não se trata simplisticamente de controlar insetos. Há que controlá-los de forma inteligente dentro de um processo sustentável, imitando a natureza. Isso só será possível com o avanço
das ciências básicas, dominando os processos bioquímicos e fisiológicos dos insetos, entendendo sua respiração e seu sistema nervoso, os microrganismos que vivem em seu trato intestinal, ou a forma como se comunicam. Somente assim saberemos onde estão seus pontos fracos, para atuar com precisão. Conhecendo o mecanismo respiratório de cada ordem de inseto (um processo diferente do dos animais superiores), será possível interferir no processo respiratório com novos inseticidas. Conhecendo os códigos de comunicação entre insetos, pode-se desorientá-los, enviando contra-ordens se o inseto manda agregar, pode-se ordenar a dispersão, se a fêmea emite sinais para o macho, para iniciar o rito reprodutivo, pode-se arrastar o mesmo macho para um local inóspito ou criando confusão de sinais, que perturbem a comunidade, evitando danos imediatos às plantas e reduzindo a descendência dos insetos pragas. O controle biológico terá muito espaço justamente pelo seu potencial de conferir sustentabilidade aos sistemas agrícolas. Em especial processos permanentes de controle biológico, como é o caso do controle biológico clássico, constituem uma esperança. Variedades transgênicas, com capacidade de resistir ao ataque de insetos também deverão conquistar espaços maiores. A ameaça ao mundo é uma grande oportunidade para o Brasil. Nos pró-
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Entomologia
Para Gazzoni, deve-se cuidar da biodiversidade
ximos 50 anos o mundo precisará acrescentar à sua capacidade produtiva mais 1,8 bilhão de toneladas anuais de grãos. Considerando uma produtividade média de 5 ton/ha, significa uma demanda de quase 400 milhões de hectares. Essa terra não está disponível na Europa, nos Estados Unidos, na China ou na Índia. O restante do mundo poderia responder por metade do acréscimo de produção. Precisamos mudar o refrão de deitado eternamente em berço esplêndido para trabalhando adequadamente o solo sagrado, produzindo com sustentabilidade a comida para aplacar a fome do mundo, arrecadando 250 bilhões de dólares anuais. Finalmente, a conclusão mais do que óbvia: a oportunidade está posta para os engenheiros agrônomos professores, pesquisadores, extensionistas e de outras áreas porque deles depende o mundo para se alimentar de forma sustentável, e o Brasil para captar a oportunidade comercial. Décio Luiz Gazzoni, Embrapa Soja
Resistência manejo
Sempre que o desempenho de um produto não é satisfatório para o controle de uma praga, o termo resistência geralmente surge dentro de um contexto prático como uma das razões deste mau resultado
Produto do Grupo A
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Produto do Grupo A
de produtos que melhorem a performance (sinergistas) ou altas dosagens acima das recomendadas. Este procedimento tem que ser usado com muita moderação, já que vai contra os princípios de Manejo Integrado de Praga (MIP) e pode levar até a seleção de indivíduos super-resistentes. Manejo por ataque múltiplo: uso de produtos em rotação ou misturas. A rotação e a mistura deverão ser feitas com produtos de grupos químicos e modo de ação diferentes e, no caso da mistura, esta deve ter por princípio o fato que os indivíduos resistentes ao produto A serão controlados pelo produto B e viceversa.
Conseqüências da resistência Quando a resistência de uma praga a um determinado produto se desenvolve as conseqüências são drásticas. As primeiras reações são: aplicar mais freqüentemente os pesticidas, usar dosagens acima das recomendadas pelo rótulo e, por último, trocar de produto por um outro geralmente mais tóxico ou mais caro. Todas estas mudanças comprometem os programas de manejo integrado de pragas em virtude da maior destruição de inimigos naturais, maior contaminação do meio ambiente com pesticidas e aumento do custo no controle de pragas. Diante desta situação, vamos procurar entender o que é resistência, como se desenvolve e como podemos manejá-la. Não se cria indivíduos resistentes com a aplicação de produtos. Ela é uma característica hereditária. Os resistentes se encontram naturalmente em uma determinada população de pragas na natureza e inicialmente sua freqüência é extremamente baixa. Porém,
o uso contínuo de um determinado produto ou de um mesmo grupo químico ou modo de ação induz uma seleção destes indivíduos mais adaptados, ou seja, resistentes, comprometendo em certo momento a eficácia deste produto. O desenvolvimento da resistência pode ser afetado por diversos fatores: característica da praga (taxa de reprodução, modo de reprodução, capacidade de dispersão e hábito alimentar), produto utilizado (persistência dos resíduos e natureza química do ingrediente ativo), intensidade de uso (número de aplicações e dosagem usada), etc. Algumas estratégias de manejo da resistência podem ser adotadas: Manejo por moderação: aplicação menos freqüente de pesticidas, controle em reboleiras (quando viável), manutenção de áreas não tratadas para servir de refúgio e aplicação de produtos no estágio mais vulnerável da praga objetivando preservar indivíduos susceptíveis em uma determinada população. Manejo por saturação: diminuir o número de indivíduos resistentes através do uso
Manejo de resistência Não existe uma receita pronta para o manejo da resistência de pragas a pesticidas. Cada caso deve ser analisado separadamente. Como uma regra geral para contornar o problema da resistência está a implementação de um programa de MIP, ou seja, a implementação de diferentes táticas de controle para minimizar a pressão de seleção com um determinado agente de controle. O Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas (IRAC-BR) foi criado em maio de 1997 com a missão de manter todas as classes de inseticidas e acaricidas como opções viáveis de controle, através de um programa de parceria com instituições de pesquisa, extensionistas e produtores, para o gerenciamento dos produtos agroquímicos de uma maneira sustentável , através do fomento a pesquisas, treinamentos técnicos e implementação de estratégias de manejo da resistência de pragas a pesticidas. Atualmente o IRAC-BR é composto por representantes de 13 companhias químicas (Aventis, Basf, Bayer, Dow AgroSciences, Dupont, FMC, Hokko, Iharabras, Milenia, Monsanto, Novartis, Rohm and Haas e Zeneca), 2 consultores técnicos (Prof. Celso Omoto da Esalq/USP e Prof. Raul Guedes da UFV) e pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento/ CFA. Florindo Orfi, FMC Para maiores informações contactar: IRAC-BR Fax (19) 3806.8736 ou nosso site: http://www.ciagri.usp.br/~seb/IRACBR
Produto do Grupo A
Após a Pulverização
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Pavan, Celso Omoto e Florindo pesquisam resistência
D
iante de uma situação de campo como esta, será que poderíamos sempre atribuir o fracasso no controle de uma determinada praga como sendo resistência desta ao produto utilizado? Certamente não, pois vários fatores podem influenciar na eficácia de um determinado produto no campo, tais como: qualidade de aplicação, produto utilizado (formulação e dosagem inadequadas), densidade populacional da praga e condições climáticas desfavoráveis no período. Entretanto, o fator resistência das pragas a alguns princípios ativos também deve ser considerado para avaliar o mau desempenho de um determinado produto. O primeiro caso relatado de resistência de uma praga de importância agrícola a um pesticida foi em 1908 quando detectou-se a resistência de uma cochonilha, conhecida como piolho de São José, a enxofre. Os casos aumentaram após a introdução dos inseticidas organo-sintéticos, por volta da II Guerra Mundial. Em 1939 tivemos a introdução de DDT e logo nos anos subseqüentes detectouse a resistência da mosca doméstica a este produto. Posteriormente outros grupos químicos foram lançados como: ciclodienos, organofosforados, carbamatos, piretróides, etc e outros casos de resistência de insetos e ácaros foram observados. No final da década de 80 tínhamos aproximadamente 500 espécies resistentes a pelo menos um grupo químico.
Cultivar
Quando a praga insiste em ficar viva
DESENVOLVIMENTO DA RESISTÊN
Após a Pulverização
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S = Indivíduo Susceptível R = Indivíduo Resistente a Produtos do Grupo A
ROTAÇÃO DE PRODUTOS Produto do Grupo A
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Produto do Grupo B
Produto do Grupo C
Após a Pulverização
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Após a Pulverização
Após a Pulverização
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S = Indivíduo Susceptível R = Indivíduo Resistente a Produtos do Grupo A R = Indivíduo Resistente a Produtos do Grupo B R = Indivíduo Resistente a Produtos do Grupo C
RESTABELECIMENTO DA SUSCEPTIBILID
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SEM a Aplicação de Produtos do Grupo A
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è Aplicação de Produtos de Outros Grupo Redução no Uso de Produtos Químicos
sementes
Superior desde o princípio
Embrapa Soja
A utilização de uma semente de qualidade é o primeiro passo para uma boa produção
A
semente é a mais importante e estratégica embalagem dos avanços genéticos, em termos de rendimento, qualidade do produto e qualidade do meio ambiente, que pode ser ofertada ao produtor rural. Entretanto, para manter esse nível de excelência na transferência de tecnologia, é fundamental que um programa de alto nível de produção de sementes de classe superior seja conduzido. Nesse trabalho, busca-se assegurar que os ganhos genéticos sejam mantidos e a semente, como veículo difusor desses avanços, possa repassá-los à sociedade à hora e a tempo, quando demandados. Um programa de produção de semente de classe superior requer, em sua base, um trabalho detalhado e criterioso de produção de sementes das classes genética, básica, registrada e certificada, elos fundamentais para assegurar a transferência dos avanços genéticos obtidos no trabalho de melhoramento vegetal da espécie. A semente de classe superior leva em seu bojo e põe à disposição do agricultor ao germinar, emergir e estabelecer a lavoura, os ganhos genéticos oriundos do trabalho de melhoramento, como por
exemplo: maior produtividade, resistência a pragas e doenças, melhor qualidade organoléptica (qualidade de óleo e proteína), características de resistência à deterioração de campo e ao dano mecânico na colheita e durante o manuseio dos grãos. Isto resulta numa matéria-prima de melhor qualidade para a indústria, barateando o seu processamento e, por conseguinte, o preço final do produto numa economia eficiente de mercado. Economia na semente O agricultor, ao utilizar a sua própria semente, acredita estar economizando recursos no processo produtivo, uma vez que não há o custo inicial de sua aquisição. Entretanto, ao adotar esse procedimento, o agricultor deixa de ter acesso aos diversos serviços oferecidos pelas empresas de sementes, como por exemplo: a assistência técnica prestada pelas mesmas; a possibilidade do pagamento das sementes em equivalente grão; o acesso às novas cultivares mais produtivas, que têm os ganhos genéticos, já apontados anteriormente; e a segurança da qualidade do produto semeado, que propiciará o estabelecimento de lavouras com
população de plantas adequada, fator fundamental para se alcançar níveis superiores de produtividade. A diferença de qualidade entre a semente de classe superior e o grão próprio utilizado para a instalação da lavoura de soja não é facilmente observada quanto à germinação. Entretanto, a superioridade da semente melhorada fica evidente através de outros parâmetros de qualidade, como o vigor, a presença de sementes de invasoras, mistura varietal, pureza física e sanidade. Todos esses parâmetros de qualidade são rigidamente controlados no programa de produção de sementes de classe superior, através dos padrões de campo e de sementes, averiguados através dos trabalhos de inspeção de campo e de fiscalização do comércio, instrumentos fundamentais para o controle de qualidade do produto final. Milhares de toneladas de matéria-prima destinadas à produção de sementes são anualmente descartadas pelos produtores de sementes para o mercado de grãos, por não atingirem os padrões mínimos requeridos para a sua comercialização. A semente de classe superior, para ser comercializada, passa por procedimentos criteriosos de colheita, resultando em
matéria-prima de altas qualidades física, fisiológica e sanitária. Além disso, é também submetida a processos aprimorados de limpeza, classificações por tamanho, forma e densidade, que resultam numa semente limpa e uniforme, cujo armazenamento é realizado em ambientes apropriados quanto à temperatura e umidade relativa do ar, bem como quanto à sua sanitização, indispensáveis para a preservação da sua qualidade. Esses procedimentos não são utilizados pelos agricultores no preparo e armazenamento da sua própria semente. A semente limpa e classificada resulta no incremento da precisão de semeadura, que é importante para se obter uma população de plantas adequada e uniformemente distribuída na lavoura, que, por sua vez, é a base para o sucesso da adoção das diversas práticas agronômicas, utilizadas no processo de produção. Nesse sentido, pode-se destacar o melhor controle de plantas daninhas, decorrente da rápida e uniforme cobertura do solo pelas plantas, o que resulta no melhor desempenho dos herbicidas utilizados. Além disso, ressalta-se a obtenção de maiores produtividades, em função da melhor utilização dos fertilizantes aplicados, e a melhoria da eficiência da operação de colheita, resultando em menores perdas de grãos. Vantagens da semente A título de informação, estudos realizados em diversas regiões dos Estados Unidos por mais de seis anos (Butzen, 1993) demonstraram as vantagens comparativas da utilização de sementes de classe superior em relação às sementes próprias, ilustradas a seguir: a) ganho médio de 130 kg/ha na produtividade,
França Neto e Krzyzanowski explicam as vantagens de adquirir uma boa semente
Embrapa Soja
Soja
tendo variado de 70 a 1020 kg/ha; b) 76% dos lotes de sementes de classe superior resultaram em maiores produtividades do que as sementes próprias; c) 23% dos lotes de sementes próprias apresentaram mistura varietal acima dos padrões tolerados. Tais misturas varietais resultam, na maioria das vezes, em sérias perdas de qualidade do grão produzido, em virtude da presença de grãos verdes, deteriorados e ardidos, defeitos esses que resultarão em deságios aplicados aos preços pagos ao sojicultor, no momento da sua comercialização. No Brasil, a taxa de utilização de sementes de soja de classe superior varia nos diversos estados produtores, segundo informações da Abrasem. Observase que as maiores produtividades médias de grãos são obtidas nos estados onde as taxas de utilização de sementes de soja de classe superior são as mais elevadas, destacando-se o Mato Grosso com 95% de utilização e rendimento de grãos de 2780 kg/ha e o Paraná, com taxa de 90% e produtividade de 2750 kg/ha, o que é um reflexo do nível de tecnificação utilizado pelos agricultores na produção de soja nesses estados, com especial ênfase na adoção de novas cultivares mais pro-
dutivas. Por outro lado, o Rio Grande do Sul, estado que detém a maior área cultivada com soja, mais de três milhões de ha, e o maior número de sojicultores do Brasil, ao redor de 142.000, tem uma baixa taxa de utilização de semente de classe superior, da ordem de 60%, o que contribui preponderantemente para o índice de produtividade média de 1800 kg/ ha, que é o mais baixo do Brasil. Portanto sojicultor, semente de classe superior é um dos seguros mais baratos que você pode adquirir para o seu empreendimento agrícola, garantindo a valorização das práticas agronômicas e dos insumos aplicados na sua lavoura, assegurando maiores produtividades e melhores retornos econômicos. Além disso, a utilização de sementes de classe superior permite o acesso às inovações científicas e tecnológicas, associadas a uma nova cultivar, que são transferidas aos agricultores através de suas sementes. Francisco C. Krzyzanowski e José de Barros França Neto, Embrapa Soja
tratamento Cultivar
Soja
Cultivar
Prevenido vale por dois
Tratamento de sementes com fungicida e aplicação de micronutrientes melhoram o rendimento da lavoura
A
rápida expansão da cultura da soja, nas últimas três décadas, quase sempre feita sem o mínimo cuidado fitossanitário, permitiu que a maioria dos patógenos fosse disseminada a todas as regiões produtoras, através da semente, seu principal veículo de disseminação e introdução em novas áreas de cultivo. Na cultura da soja, a obtenção de uma lavoura com população adequada de plantas depende da correta utilização de diversas práticas. O bom preparo do solo, a semeadura na época adequada, em solo com boa disponibilidade hídrica, a utilização correta de herbicidas e a boa regulagem da semeadora (densidade e profundidade) são práticas essenciais, estando o seu sucesso condicionado à utilização de sementes de boa qualidade. Todavia, freqüentemente, a semeadura não é realizada em condições ideais, o que resulta em sérios problemas na emergência da soja, havendo, muitas vezes, a necessidade de ressemeadura. Em tais circunstâncias, o tratamento da semente com fungicidas (sistêmico + contato) oferece garantia adicional ao estabelecimento da lavoura a custos reduzidos (menos de 0,5% do custo de instalação da lavoura). O tratamento de sementes com fungicidas, é uma prática que vem sendo utilizada por um número cada vez maior de sojicultores. O volume de sementes tratadas com fungicidas, que, na safra 1991/92, não atingia 5% da área semeada, foi de 12%, na safra 92/93, 28%, na safra 93/94, 48% na safra 94/95, 54%, na safra 95/96 e, segundo levantamentos da Embrapa Soja / CONABMAA, foi de 65% na safra 1996/97. Atualmente estima-se que este índice esteja em torno de 80-
Ademir Henning explica a importância e as técnicas de um bom tratamento de sementes
85%. Além de controlar patógenos importantes transmitidos pela semente, o tratamento de sementes é uma prática eficiente para assegurar populações adequadas de plantas, quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são desfavoráveis à germinação e à rápida emergência da soja, deixando a semente exposta por mais tempo a fungos habitantes do solo como: Rhizoctonia solani, Pythium spp., Fusarium spp. e Aspergillus spp. (A. flavus) que, entre outros, podem causar a
sua deterioração no solo ou a morte de plântulas. Eficiência de produtos A eficiência de diversos fungicidas e/ou misturas desses no controle dos principais patógenos da soja: Cercospora kikuchii, Cercospora sojina, Fusarium semitectum, Phomopsis spp. (anamorfo de Diaporthe spp.) e Colletotrichum truncatum é anualmente avaliada na
Embrapa Soja. O controle dos quatro primeiros patógenos citados é propiciado pelos fungicidas sistêmicos, especialmente do grupo dos benzimidazóis. Dentre os produtos testados e hoje recomendados para o tratamento de sementes de soja, benomyl, carbendazin e thiabendazole, têm sido os mais eficientes. Os fungicidas de contato, tradicionalmente conhecidos (captan, thiram e tolylfluanid), que apresentam bom desempenho no campo, quanto à emergência, não controlam, totalmente, Phomopsis spp. e Fusarium semitectum, nas sementes, quando estas apresentam índices elevados daqueles patógenos (>40%). Por essa razão, tais produtos devem ser sempre utilizados em misturas com um dos fungicidas sistêmicos. Aplicação de micronutrientes A aplicação de micronutrientes, especialmente o Molibdênio (Mo) e, em menor importância, o Cobalto (Co) é fundamental para uma boa fixação de nitrogênio. Em solos deficientes, estes elementos devem ser aplicados juntamente com os fertilizantes (FTE), com os fungicidas, via tratamento das sementes ou ainda via foliar, nos estádios iniciais de
desenvolvimento da cultura, até 15 -20 dias após a emergência. Recomenda-se a aplicação de Mo nas doses de 12 a 30 g/ha e Co (2 a 3 g/ha). Vários produtos comerciais existentes no mercado contêm Mo e Co e podem ser facilmente encontrados em lojas de insumos. O tratamento com fungicida é indispensável para assegurar boa emergência a campo e a não-introdução de novas raças ou disseminação de patógenos transmitidos via semente, como por exemplo: Colletotrichum truncatum, causador da antracnose, Diaphorthe/Phomopsis sp., causador do cancro da haste, Sclerotinia sclerotiorum causador da podridão branca da haste, doenças ainda não totalmente controladas por cultivares resistentes. Como tratar Durante a operação de tratamento, se o micronutriente for adicionado, o fungicida sempre deve ser aplicado junto com os micronutrientes antes da inoculação, para garantir boa cobertura e aderência do fungicida
e dos micronutrientes às sementes e diminuir seus efeitos tóxicos sobre as células do bradirrizóbio, quando for feita a inoculação. O papel do fungicida é proteger a semente contra fungos do solo e da própria semente. Assim, é importante que o fungicida esteja em contato direto com a semente. O tratamento com fungicidas, a aplicação de micronutrientes e a inoculação podem ser feitos em máquinas específicas de tratar sementes, tanto na unidade de beneficiamento, como na propriedade do produtor. Outra forma de se efetuar esta operação é através do uso de betoneira ou de um tambor giratório com eixo excêntrico. Máquinas e tratamento Até recentemente, um dos maiores obstáculos para a adoção da prática do tratamento de sementes era a inexistência de um equipamento adequado. Hoje, existem no mercado máquinas de tratar sementes que realizam todas as operações (tratamento, aplicação de micronutriente e inoculação) ao mesmo tempo. Dentre as diversas vantagens que
essas máquinas apresentam em relação ao tratamento convencional (tambor) destacam-se: a) diminuição nos riscos de intoxicação dos operadores, uma vez que os fungicidas são utilizados via líquida; b) melhor cobertura e aderência do fungicida, micronutriente e inoculante à semente; c) rendimento em torno de 60 a 70 sacos por hora; e d) o equipamento pode ser levado ao campo, pois possui engate para a tomada de força do trator. Com estas máquinas, a calda do fungicida + micronutrientes (Mo e Co) é colocada no primeiro compartimento e será a primeira a entrar em contato com a semente. No segundo compartimento (se for feita a inoculação) é colocado o inoculante. Se for turfoso, o inoculante não deve estar com excesso de umidade, caso contrário ficará aderido aos mecanismos da máquina e não será distribuído homogeneamente sobre as sementes. Os detalhes quanto à regulagem do equipamento são fornecidos pelos próprios fabricantes. Todavia é importante observar que o volume final da calda não pode ultrapassar a 300 ml/ 50 kg de sementes. Tambor giratório Quando forem utilizados o tambor giratório, com eixo excêntrico, ou betoneira, o tratamento poderá também ser efetuado tanto via seca (fungicida e micronutriente em pó) ou via úmida (fungicida e micronutriente líquidos ou um deles líquido). No caso do tratamento via seca, adicionar 250 a 300 ml de água ou de solução açucarada por 50 kg de semente e dar algumas voltas na manivela para umedecer uniformemente as sementes. Após essa operação, aplicar os fungicidas (tabela) e o micronutriente, ambos na dosagem recomendada. O tambor é novamente girado até que haja perfeita distribuição da mistura às sementes. Se for feita a inoculação, o inoculante é o último a ser adicionado, e novamente o tambor é girado até distribuição do inoculante uniformemente. Se os fungicidas e/ou micronutrientes forem na forma líquida, observar os mesmos cuidados anteriores para nunca exceder o volume de 300 ml por 50 kg de semente. Isto pode causar danos às sementes, soltando o tegumento e prejudicando a germinação. Não se aconselha o tratamento da semente diretamente na caixa semeadora, devido à baixa eficiência (pouca aderência e cobertura desuniforme das sementes). Ademir Assis Henning, Embrapa Soja
Soja
nutrição
Em experimentos, e em alguns cultivos de soja, tem sido verificado que o potencial genético de produtividade das variedades de soja recomendadas para o Brasil é superior a 5000 kg/ha (83 sacos/ha). Entretanto, em lavouras comerciais raramente a soja produz acima de 4000 kg/ha (66 sacos/ha). Por quê?
A
expressão do potencial produtivo da soja depende do meio ambiente (incidência de luz solar, temperatura, etc.), de técnicas adequadas de cultivo (preparo do solo, controle de pragas e doenças, sistema de plantio, cultivares, etc.), dos fatores físicos do solo (matéria orgânica, umidade, temperatura, textura, etc.), dos fatores químicos do solo (excesso de acidez, Al e Mn ou deficiência de P, K, Ca, Mg, S, micronutrientes, etc.) e, principalmente, do suprimento do nitrogênio (N) para a planta, que é o nutriente mais exigido pela cultura. Para cada 1000 kg de soja produzidos são necessários, aproximadamente, 80 kg de N. Ou seja, para uma produtividade de 5000 kg, seriam necessários 400 kg de N. Considerando que os outros fatores de produção não sejam limitantes, seria possível fornecer todo o N que a soja necessita para obter produtividade acima de 5000 kg/ha? O N que a soja necessita pode vir do solo, do fertilizante, das descargas elétricas ou do processo da fixação biológica do N2 atmosférico. As quantidades de N mineral provenientes do solo e das descargas elétrica são baixas. O N dos fertilizantes nitrogenados é indesejável pois ele possui custo elevado, é de baixa utilização pela planta, sua adição ao solo aumenta a decomposição do material orgânico e, devido a sua lixiviação fácil, é altamente poluente. Além disso, o N dos fertilizantes inibe a expressão do potencial produtivo das variedades de soja atualmente recomendadas no Brasil, pois elas foram selecionadas para produzir altos rendimentos em so-
Cultivar
Como a soja pode produzir mais
los com baixo teor de N, e sem a adição desse nutriente. Assim, a adição de N na forma de fertilizante deve ser evitada, pois ele é poluente, caro, não é eficiente para a cultura da soja e, principalmente, reduz a nodulação e a eficiência do processo de fixação simbiótica do N2. Em ensaios conduzidos em rede nacional nos últimos seis anos, por exemplo, não foi constatado nenhum benefício pela aplicação de doses baixas (20 a 40 kg de N/ha) ou elevadas (200 a 400 kg de N/ha) de N. Mesmo quando o N mineral foi aplicado de forma parcelada, em até dez vezes, não se conseguiu produtividade de soja superior a 3600 kg/ha. Teria o processo de fixação simbiótica do N2 condições de fornecer 400 kg de N para produzir 5000 kg/ha? A atmosfera do solo possui 80% de N na forma gasosa (N2). Isoladamente, a soja, ou qualquer outra cultura, não consegue quebrar a tripla ligação entre os átomos de N do N2 atmosférico, nem absorvê-lo nessa forma. Isso só é possível através da fixação simbiótica. O processo de fixação simbiótica do N2 consiste de uma associação entre as bactérias do gênero Bradyrhizobium e a soja. A bactéria penetra no sistema radicular da soja, através dos pelos radiculares, e forma os nódulos. Dentro dos nódulos, a ligação tripla dos átomos do N2 é
quebrada por um complexo enzimático e o N2 é transformado em amônia, forma de N que a soja pode absorver e utilizar para sua nutrição. Assim como a nutrição da soja, a eficiência do processo de fixação biológica do N2 depende de fatores inerentes à planta, à bactéria e a ambos. Os fatores inerentes à planta já foram citados. Com relação à bactéria, estudos demonstram que o processo de fixação biológica do N pode fornecer 450 kg de N. O que estaria então faltando para atingirmos maiores produtividade? Seria uma deficiência do processo de fixação biológica do N2 o fator responsável pelas baixas produtividades? Nesse contexto, o uso adequado de práticas agrícolas, que garantam a sustentabilidade do sistema de produção como a calagem, as adubações corretivas e de manutenção da fertilidade do solo, o manejo adequado do solo, e da cultura, o plantio direto e a reinoculação da soja com estirpes competitivas e eficientes, favorece a população do Bradyrhizobium do solo, a nodulação e a contribuição da fixação simbiótica do N2. Por outro lado, o uso de inoculante de má qualidade, a inoculação mal feita, a aplicação de fungicidas e micronutrientes nas sementes, juntamente com os inoculantes, de forma inadequada, reduzem a nodulação, a eficiência da fixação simbiótica do N2 e a pro-
dutividade da soja. O aperfeiçoamento dos métodos de inoculação, compatibilizando a necessidade de aplicação de fungicidas, micronutrientes e inoculantes, garantindo uma maior população da bactéria nas sementes, é indispensável para aumentar a nodulação nas raízes principais da soja, onde os nódulos são mais eficientes, aumentando, assim, a eficiência da fixação biológica do N2 e, como conseqüência, a produtividade da soja. Portanto, para obter lavouras de soja com produtividade de 5000 kg/ha, é preciso plantar variedades de alto potencial produtivo, adaptadas, com técnicas adequadas de cultivo, em solos com boas condições físicas e químicas e, especialmente, em relação à inoculação das sementes de soja deve-se: (a) aplicar no mínimo 400 g de inoculante de boa qualidade por 50 kg de semente, (b) não aplicar os micronutrientes (molibdênio e cobalto) nas sementes, mas sim em pulverização foliar antes da floração e (c) efetuar o plantio com boa umidade evitando a aplicação de fungicidas nas sementes ou aplicar os fungicidas menos tóxicos para a bactéria que fixa o N simbioticamente. Rubens José Campo e Mariangela Hungria, Embrapa Soja
Entrevista
Aenda
mercado
Inocente sob fogo cruzado O
agricultor, ao se defrontar com a lavoura atacada por um ácaro e um inseto, ou por espécies diversas de ervas daninhas, ou outras situações impossíveis de controlar com um só produto, recorre a dois produtos, diluindo-os em água e aplicando-os conjuntamente. Não estamos falando de agricultor brasileiro, mas de lavrador americano e europeu. É uma prática lógica e racional, menos no Brasil, como se pode concluir da polêmica entre os ministérios responsáveis pelo registro dos agroquímicos. Aqui, exagera-se no temor aos produtos aplicados nas culturas agrícolas, provoca-se uma verdadeira síndrome junto à população e busca-se barrar o uso sob qualquer pretexto, sem atentar para a lógica ou para a evolução científica. As misturas em tanque pagam um pouco dessa conta. Agora, sob o manto da defesa da saúde do trabalhador rural e do meio ambiente, busca-se no poder judiciário derrubar a prática das misturas, protagonista inocente desta conjuntura. É uma confusão de tal ordem, que beira à irracionalidade, e terá lastimável resultado para a agricultura nacional se a justiça também for inconseqüente. Do lado da saúde do trabalhador, a alegação é estarem as misturas expondo o aplicador de agrotóxico a um coquetel de substâncias de difícil socorro médico em caso de intoxicação. Trata-se de argumento infundado, pois o socorro é decorrência do diagnóstico do quadro clínico de maior significância, atentando-se em seguida para as demais seqüelas. Ademais, o risco de exposição do trabalhador em verdade é menor quando aplica uma mistura, uma vez que limita o tempo de exposição à metade. Aplicar um e outro produto, separadamente, duplicaria o
tempo de pulverização e exporia o trabalhador aos mesmos produtos, ou não ? Por sua vez, defensores do meio ambiente apontam a possibilidade de impacto maior sobre a microfauna / flora do solo ou sobre espécimes dos rios e lagos, em razão do não-estudo prévio das misturas. Outra distorção da realidade, porquanto não há reação química entre os ingredientes da mistura. Cada produto em separado, teve o impacto ambiental devidamente avaliado e, portanto, aplicados em mistura ou em seqüência, impactam igualmente o meio. Os responsáveis pelo registro no Ministério da Agricultura, por seu turno, preocupados em regular uma boa informação ao usuário e dotar o agrônomo de instrumento legal para receitar corretamente as misturas, mas sob as pressões acima descritas, excederam nas exigências aos registrantes. Obrigaram a informar no rótulo/bula as marcas comerciais dos produtos a misturar, além de obrigar cada empresa a obter permissão das demais empresas para tal ato. Isto restringe as opções do agricultor, que fica com um leque mais restrito de misturas para comprar e usar. As empresas de genéricos, pequenas e médias, via de regra não conseguem as permissões das grandes empresas (guerra normal de concorrência) e não registram suas misturas. A regra deve ser simples: o rótulo deve apresentar a recomendação específica para a mistura e indicar o nome químico do produto, a concentração, o tipo de formulação, limitações de uso e precauções referentes ao produto de maior risco, na esteira do que acontece nos Estados Unidos. É obvio que, se uma empresa quiser citar as marcas comerciais com a
simbologia de marca registrada tem todo o direito. É claro, também, que o agricultor deve realizar um teste prévio de compatibilidade física. Aliás, a esse respeito é bom lembrar que uma mistura nasce nas instituições de pesquisa regionais, usando-se normalmente produtos líderes de mercado e, depois, o fomento e os agricultores mais experientes vão substituindo essas marcas por outras de produtos genéricos. Portanto, é uma técnica testada e implementada aos poucos, até uma difusão mais generalizada. Há tempo suficiente para detecção de qualquer inconveniente de monta. Por fim, erra também o judiciário ao acatar demanda contra as misturas sem qualquer fundamentação técnica comprobatória dos riscos adicionais que se alega existir. O ônus fica todo para o acusado. É preciso retomar a linha do bom senso, parar de rotular o defensivo agrícola de símbolo da poluição a envenenar nossos alimentos, florestas e rios. A indústria fabrica por necessidade da agricultura, pois a humanidade precisa preservar o que planta. Ao mesmo tempo, a ciência vai ao longo da história consertando erros e aprimorando seus protocolos de cuidados e prevenções ao lançar novos inventos. Neste diapasão, a ciência agronômica desenvolveu sistemas de manejo, empregando todas as técnicas possíveis de controle das pragas, de forma a diminuir o uso da química. Todavia, o método químico ainda é o mais eficaz e econômico. E no alcance do método químico, o emprego de misturas, além da sua importância prática, é instrumento considerado no manejo à resistência de plantas daninhas a herbicidas. Não se pode prescindir delas em agricultura de escala comercial.
Material produzido pela Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas. As opiniões manifestadas são de sua responsabilidade. E-mail: aenda@sti.com.br
Por que a compra da ZENECA SEMENTES Dow
Mistura:
T
ão importante quanto o milho, que representa o maior volume de vendas, o sorgo pesou bastante na decisão de compra da divisão de sementes da Zeneca pela Dow AgroSciences e deverá ser ainda mais implementado tendo em vista a expansão que a cultura vem obtendo no Brasil. O diretor da Sementes Dow, José Manuel Arana, vê na aquisição, que eleva a participação da empresa nas vendas de milho para cerca de 12% do mercado brasileiro, uma grande oportunidade para acelerar os negócios com sementes de sorgo, mercado do qual, com as cultivares desenvolvidas pela Zeneca, passa a ter 30%. As marcas com que serão vendidos os produtos ainda não estão definidas, disse Arana. A Sementes Dow já havia comprado as empresas de sementes de milho Dinamilho e Colorado e os bancos de germoplasma da Hatã e FT Milho. No sorgo é detentora da marca Hardy. Arana, sem descuidar do milho, está interessado particularmente no mercado de sementes de sorgo, cultura com um crescimento exponencial nos últimos anos. Iniciado o plantio em 1985, em 95 havia 280 mil ha plantados que rendiam 280 mil toneladas. De lá para cá o total já atinge os 800 mil ha, colhendo-se 2 milhões de toneladas. O sorgo é produto ideal para a safrinha no Brasil, onde sua resistência à seca incentiva o plantio. Usando-se melhor tecnologia, em especial de adubação, é possível melhorar o lucro, na sua opinião. E o sorgo já começa a ser cultivado nas variedades para silagem. Também vem surgindo como opção para rotação de culturas em plantio
direto no cerrado. E no Rio Grande do Sul já vem sendo usado no sistema de rotação e desponta como cultura de menor risco. O mercado de milho, lembra Arana, cresce a uma velocidade percentual de 3 a 5% ao ano, enquanto o sorgo, ainda que a área plantada seja bastante menor, aumenta 30% no mesmo período. E a cultura ainda está sendo adaptada às condições brasileiras, necessitando de maior pesquisa local, no meio tropical e subtropical, tornando-a ainda mais lucrativa para o produtor. É o sorgo o elemento ideal para complementar a nutrição animal frangos e suínos e reduzir a dependência brasileira externa de milho. Na sua opinião o próxiArana fala sobre a aquisição da Zeneca Sementes pela Dow mo passo para incrementar o sorgo está no estabelecimento de um pacote tecnológico, pela programas da Sementes Dow, onde o pesquisa da nutrição e população, por milho segue ocupando o primeiro exemplo. Daí a necessidade de pesqui- lugar. A empresa já exporta semensa. É preciso estabelecer-se a época tes de milho para o Paraguai, Bolímelhor do plantio, espaçamento entre via, Venezuela e Equador e pretende linhas, número de plantas, controle de aumentar esse mercado. Uma de pragas e de plantas daninhas, resistên- suas armas será a variedade de micia a doenças e a qualidade nutritiva lho Supercede, com maior teor de dos híbridos. proteínas, aminoácidos e óleo, já lanA tendência é de a cultura preen- çada nos Estados Unidos e atualmencher nichos onde não se desenvol- te em testes no Brasil. Suas caractevem a soja e milho. Hoje isso ocorre rísticas a tornam própria para uso em na safrinha, mas novos híbridos mais rações de frangos e suínos, onde tem produtivos tornarão o produto atra- maior conversão, proporcionando tivo também na safra de verão. melhor custo/benefício aos criadores. Mas nem só de sorgo vivem os NP
Milho
doenças
O clima que traz a ferrugem Fator decisivo em toda a lavoura, o clima é a variável chave para se prever e controlar a ferrugem no milho
A
área cultivada com milho no Brasil tem-se man tido constante nos últimos 10 anos - ao redor de 14 milhões de hectares. No entanto, modificaram-se nesse período, as regiões e épocas de plantio. A área ocupada pela cultura na região Centro-Oeste aumentou significativamente e o plantio tardio (fevereiro a abril), conhecido como safrinha , mostrou expressivo avanço. A sucessão de plantios na safra de verão com os plantios safrinha proporcionam a presença da cultura no campo durante praticamente o ano todo em certas regiões. O novo ambiente ao qual foi submetida a cultura ocasionou alterações no quadro fitopatológico, expondo os produtores a situações até então inexistentes. Até o final da década passada havia um senso comum de que as doenças do milho não se constituíam em problema nas principais áreas de cultivo. Danos de 47% devido ao mosaico comum e de 50 a 100% devido ao enfezamento, relatados recentemente na literatura nacional, refletem bem esta mudança. As doenças foliares, embora sempre presentes, raramente ocasionavam prejuízos. Atualmente tem-se constatado um significativo aumento na intensidade de ferrugens, mancha de Phaeosphaeria, enfezamento e viroses, com incidências de até 100%. Ferrugens do milho Entre as doenças foliares que ocorrem na cultura do milho podem-se destacar as ferrugens. Três diferentes ferrugens incidem na cultura do milho, sendo a importância de cada uma delas associada com as condições climáticas e com a natureza genética do hospedeiro. A ferrugem comum, causada por Puccinia sorghi Schw., é a menos severa sendo bastante disseminada, fato que possibilitou nos programas de melhoramento genético seleção adequada para resistência. Os danos econômicos à cultura não são muito significativos devido ao bom nível de resistência apresentado pela maioria dos híbridos comercializados. Sua ocorrência é mais freqüente em regiões de temperaturas amenas. A ferrugem tropical, causada por Physopella zeae (Mains) Cummins & Ramachar foi constatada pela primeira vez no Estado do Espírito Santo em 1976. Nos últimos anos
Cláudia Godoy
Cláudia Godoy
dições severas a doença pode acarretar quebramento do colmo. A redução da produção também varia de acordo com o material genético utilizado.
Influência do ambiente O aumento da importância da ferrugem polysora tem sido associado freqüentemente à expansão da lavoura em áreas e épocas não tradicionais de cultivo e, principalmente, ao cultivo sucessivo do milho numa mesma área. A exposição da cultura a condições climáticas diferentes daquelas às quais ela é usualmente A ferrugem pode comprometer a lavoura submetida pode ocasionar mudança no comportamento de determinados patossistemas. tem-se tornado bastante importante princi- No entanto, a utilização de híbridos suscetípalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudes- veis e o plantio em áreas intensamente cultite, devido às condições favoráveis associadas vadas com milho nem sempre desencadeiam ao freqüente plantio de híbridos suscetíveis. epidemias, devido às limitações impostas peA ferrugem polysora, causada por Pucci- las condições climáticas. nia polysora Underw., é a mais agressiva e desPatógenos causadores de ferrugens se retrutiva das três e tem se destacado como uma produzem abundantemente e quando em das mais importantes doenças foliares do mi- condições favoráveis infectam e se dispersam lho nos últimos anos no Brasil, sendo relata- rapidamente, mesmo a partir de uma quantidas reduções na produção de 45-60% em hí- dade mínima de inóculo, podendo dar origem bridos suscetíveis. Os sintomas característia epidemias devastadocos dessa doença são pústuras. O inverso é também las pequenas, circulares a verdadeiro, ou seja, caso elípticas, de cor marrom-claas condições de ambienClima favorável ra que podem ocorrer em te sejam desfavoráveis, o é condição ambas as faces da folha e da inóculo presente, ainda essencial para o bainha foliar, nas brácteas das que em elevada quantidesenvolvimento espigas, e em condições de dade, não é suficiente da ferrugem alta severidade, no pendão. para garantir progresso Na regiões Centro-Oeste e epidêmico. A elevada seSudeste do Brasil essa ferruveridade da doença, regem ocorre durante todo o ano agrícola, sen- latada em plantios tardios de áreas comercido mais importante em plantios realizados en- ais, não é conseqüência exclusiva do acúmutre a segunda quinzena de novembro e janei- lo de inóculo, proporcionado pelo plantio saro. Na Região Sul, essa doença é observada frinha. Clima favorável é condição essencial nos plantios realizados no verão, sem no en- para o progresso da ferrugem polysora. tanto causar danos severos. Entre as variáveis meteorológicas que mais Os danos decorrem principalmente da afetam o desenvolvimento de doenças estão destruição de tecido foliar, resultando na des- a temperatura e a umidade (umidade relativa secação prematura de tecido, sendo depen- do ar, orvalho e chuva). O conhecimento dos dentes da época de incidência na cultura. efeitos da interação entre as variáveis climáAssim, quando a doença incide nas fases ini- ticas e as diferentes fases do ciclo da doença ciais de desenvolvimento da cultura e as con- pode permitir a previsão com maior efetividições climáticas são favoráveis, a redução na dade da ocorrência de epidemias. Melhorisprodução é significativa. Por outro lado, quan- tas de plantas selecionam materiais genéticos do incide na fase final de desenvolvimento, com resistência a uma doença em um ambipraticamente não afeta a produção. Em con- ente, mas essa seleção pode resultar em resis-
tência não efetiva em um outro ambiente. A compreensão do modo pelo qual o clima afeta determinada doença pode permitir melhorar os métodos de seleção em programas de melhoramento para resistência, além da elaboração de sistemas seguros de previsão de epidemias de doenças. Epidemias de ferrugem polysora no campo parecem ser mais influenciadas por diferenças nos regimes de temperaturas em diferentes locais uma vez que, embora sempre necessário, o período de molhamento para se estabelecer a infecção com sucesso é mínimo (2 a 4 horas). A duração do período de molhamento pode ser vista como um fator para que se estabeleça a infecção, enquanto a temperatura determina a rapidez e a extensão da epidemia. A ferrugem polysora tem sido descrita pela literatura como uma doença de clima quente, sendo favorecida por temperaturas entre 23-27oC. Embora longos períodos de molhamento sejam favoráveis à infecção, a mesma condição pode inibir outras fases do ciclo de relações patógenos-hospedeiro, como a esporulação e a disseminação, por exemplo Medidas de controle As principais medidas de controle são a utilização de cultivares resistentes, escolha da época e local de plantio, rotação de culturas e aplicação de fungicidas. O método mais eficiente e mais utilizado é o uso de híbridos ou variedades com níveis satisfatórios de resistência ao patógeno. A escolha do híbrido a ser utilizado deve estar associada com o local e época de plantio. Assim é possível escapar da doenças realizando-se o plantio em locais e épocas onde as condições são desfavoráveis ao crescimento da doença. Práticas de sanitização, normalmente executadas em lavouras anuais como a sucessão e a rotação de culturas, por exemplo, são suficientes para manter o inóculo em níveis baixos e garantir boa produtividade. De modo geral, epidemias de grandes proporções só ocorrem nas regiões tropicais e subtropicais quando o inóculo dentro das plantações ou nas suas proximidades está anormal e consideravelmente elevado. O controle químico por meio de pulverizações com fungicidas é eficiente no controle da doença, no entanto só é economicamente viável em campos de produção de sementes e vantajoso apenas quando a doença ocorre nas fases iniciais de desenvolvimento das plantas, colocando em risco a produção. As pulverizações devem ser feitas no início do aparecimento de sintomas para evitar o aumento do potencial de inóculo na lavoura. Cláudia V. Godoy, ZENECA
Café
cultivo
dutos à base de Endossulfan (1,5 a 2 lt/ha). Outra praga, a lagarta mede-palmo (Oxydia saturniata) se alimenta de folhas novas, causando desfolha e atraso no desenvolvimento da planta. O nível de controle é realizado no início da infestação. Os produtos usados são o Pounce (130 ml/ha) ou Decis 25 CE (0,5 lt/ha)
duto é relativamente novo, mas tem bom podium por ser irrigado , diz Hokazono. A certeza de mais resultados em linha ascendente alicerça-se nos cerca de 80% da colheita feitos até agora e na expectativa do agrônomo. Esperamos repetir o índice de produtividade por hectare no próximo ano, quando entram em produção outras duas áreas, num total de 214 hectares . Deverão produzir entre 17 e 20 mil sacos de diversas variedades, entre elas a Catuaí 86, Catuaí 144 e Catucaí cultivadas nos pivôs três e dois.
Com o pé direito Boas condições climáticas e solo apropriado respaldam pioneirismo de cafeicultor no Sul do Mato Grosso
O
solo tem mistura de argila com areia e oferece boa profundidade; o clima não é muito quente, a temperatura média é de 21°C e a precipitação anual fica em torno de 2000mm. Respaldado por este aparato natural foi que Gilberto Flávio Goellner, proprietário da Fazenda Girassol, começou a plantar café em 1997. Situada no Sul do Mato Grosso - a 80 quilômetros de Rondonópolis -, a fazenda tem hoje quatro pivôs, num total de 328 hectares de área cultivada com o produto. A estrutura do solo permite que a raiz se desenvolva bem, mas fazemos irrigação complementar por haver déficit hídrico no período de abril a outubro , explica o engenheiro agrônomo Marcos Antônio
Hokazono. Outro detalhe - entre tantos outros - que contribui para o sucesso na empreitada, é a instalação de quebra-vento um pouco antes de instalar a cultura , indica o técnico. Segundo ele, uma das medidas, também importante para o sucesso da cultura, é o bom preparo do solo com calagem e adubação de plantio de acordo com a análise de solo. E os resultados começam a brotar, efetivamente. A Fazenda Girassol está começando a fazer a primeira colheita - a maior -, ressalta Hokazono, no pivô três (114 hectares), cujo rendimento estimado é de 55 sacos beneficiados/ha. Isso significa que Gilberto Flávio pisou com o pé direito na região, onde é pioneiro no cultivo de café. A produtividade é boa e o pro
Fotos M.A. Hokazono
Pragas na região O bicho mineiro (Perileucóptera coffeella) tem ocorrido nas plantações. Ele se alimenta das folhas, formando minas que provocam a queda das mesmas, e pode ocasionar perdas de até 55% na produção. Ocorre durante todo o ano, mas com mais intensidade no período seco. Para reduzir a ação da praga, é feito monitoramento semanal com nível de controle entre 5% a 10%. No controle, é usado granulado de solo - o produto Temik - entre 15 a 20 kg/ha. A época de maior incidência do bicho mineiro é de março a outubro, quando são aplicados produtos via foliar utilizados em sistema de rodízio: Cartap (1 kg/ha) + Lorsban (1 lt/ ha) ou Ethion 500 (1 lt/ha) + Karate (150 ml/ha) ou Lorsban (1 lt/ha) + Polytrin (0,6 lt/ha). Já a broca (Hypothenemus hampei) causa queda e diminuição do peso dos frutos, provocando perda direta na produtividade. Ocorre entre dezembro e março. Neste caso, o nível de controle é de 3% a 5% dos frutos perfurados. O controle é feito com pro-
Controle de doenças A cercosporiose (Cercospora coffeicola) causa queda acentuada das folhas e frutos e a época de maior ocorrência é de janeiro a abril. O controle é feito de dezembro a abril e agosto (pós-colheita) com os produtos Folicur (1 lt/ha) ou Benlate (1 kg/ha) ou Garant (2 kg/ha), que é preventivo. Já a mancha aureolada (Pseudomonas garçae) provoca a morte dos ramos produtivos devido à intensidade de
desfolha. A ocorrência e controle são de dezembro a abril. Produtos usados: preventivo à base de cobre (2 kg/ha) ou curativo - Kazumin - (2 lt/ha). A phoma (Phoma SPP) causa seca de ponteiros, desfolha e queda de flores e frutos. Ocorre de maio a novembro e o controle é feito geralmente de julho a outubro, com os produtos Benlate (1 kg/ha) ou Folicur (1 lt/ha), ou ainda, com o Garant (2 kg/ha). A ascochyta (Ascochyta coffeae) ocasiona a morte das plantas novas e intensa desfolha, prejudicando a granação e qualidade dos frutos. O controle começa no momento em que se observa a presença da doença. O produto usado contra ela é o Folicur (1 lt/ha). Sobre a doença chamada Ferrugem (Hemileia vastatrix), Hokazono diz que não temos problemas com ela porque utilizamos variedades tolerantes e fazemos o controle preventivo . JP
Aspecto atual de um dos pivôs cultivados com café na Fazenda Girassol, no Mato Grosso
Manejo Ecológico de Pragas CONSULTORIA T REINAMENTO PESQUISA GRAVENA - Manejo Ecológico de Pragas Agrícolas Ltda. - Chácara Paulista Rodovia Deputado Cunha Bueno, SP 253, km 0.7, 14870-000, Jaboticabal/SP, Fone/Fax: (16) 323-2221 e-mail: gravena@asbyte.com.br
Cia do Arroz
Calypso
Com a presença do diretor da Bayer para a América Latina, Jean Pierre Longueteau, a empresa apresentou aos 3.600 participantes do XXI Congresso Internacional de Entomologia, o Calypso, produto já à venda no Brasil, princípio ativo Thiacloprid, do grupo químico dos Cloronicotinis. O Calypso controla insetos sugadores, coleópteros e microlepidópteros, além da mosca branca, uma praga que hoje ataca um crescente número de Longueteau culturas. O produto tem rápida penetração e distribuição no interior da planta, dificultando período, resultando em menos entradas nas lavouras. (ver anúncio a lavagem pela chuva. Protege, ainda, por maior na página 37)
A FMC do Brasil e a Rohm and Haas, líderes de venda de produtos para o segmento de arroz, uniram forças e lançam dia 18, em Pelotas (RS) a Cia. do Arroz, uma estrutura criada especialmente para concentrar esforços para o desenvolvimento da cultura do arroz irrigado. Trata-se de uma aliança estratégica que tem por objetivo pensar 100% neste mercado, diferenciando-se das demais empresas por dirigir o foco do negócio apenas para esta cultura. Como primeiro benefício, a Cia do Arroz se propõe a criar estratégias para o desenvolvimento do arroz irrigado, lavoura que movimenta, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, 5.5 milhões de toneladas por ano, num total de treze mil produtores. Os dois estados concentram 60% da produção nacional, hoje estimada em 11 milhões de toneladas. A Cia. do Arroz vai trabalhar em conjunto com a BMS Bolsa do Arroz Irrigado, que tem sede em Pelotas RS e já movimenta 20% de toda a comercialização do produto, no sentido de oferecer aos produtores facilidades na hora da comercialização da safra.
Regras da ISTA não passam Nivaldo Carlucci
ABMR
O diretor de marketing da Dow AgroSciences, Nivaldo Carlucci, será o próximo presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural, com sede em São Paulo. Carlucci encabeça a única chapa inscrita para as próximas eleições, um grupo dirigente de consenso na entidade. Já anuncia que entre suas metas está a ampliação do número de associados.
Não será nada fácil alterar a sistemática de análises laboratoriais de sementes no Brasil, adotando-se para consumo interno as normas da ISTA, a organização internacional que regula as análises no que tange ao comércio internacional. A responsável pela Comissão de Laboratórios Vegetais do Ministério da Agricultura, Maria Mazarelo, bateu de frente com quem pretende alterar as regras do jogo. Falando em Foz do Iguaçu, no XIX Ciclo de Reuniões Conjuntas da CESM/ PR, Mazarelo fez uma defesa passional da manutenção da legislação nacional própria, a única de um país da América Latina, em lugar de adotarse normas internacionais, muito mais complexas, para as relações internas. A Portaria 77, de 03.03.93, do Ministério da Agricultura, já previu que as regras da ISTA deverão ser usadas unicamente em casos de exportações. Estender sua jurisdição aos produtores de
Sementes Adriana amplia produção A Sementes Adriana, associada à Aprosmat, ampliou este ano a área plantada com soja. Em 1999, cultivou 8.200 hectares. Este ano, deve ficar em torno de 10 mil hectares. Estamos notando que outros sementeiros têm diminuído a área de semente, e nós estamos aumentando , informou o engenheiro agrônomo Odair Costa. Segundo ele, na última colheita a produção atingiu 410 mil sacas, e toda a nossa semente é vendida . A empresa, disse o agrônomo, tem laboratório própro na fazenda e faz controle de qualidade. Só entregamos para o produtor semente que passe pelo nosso controle . Conta que já aconteceram casos de o órgão oficial aprovar e nós reprovarmos . Há muitos anos a empresa não troca um saco de semente, garante. Ocorre, às vezes, uma pequena reclamação por parte do produtor. Aí, vamos no local ver o que realmente aconteceu . A garantia da venda integral da produção reside no fator qualidade, comenta. Hoje, diz Odair, concorremos com empresas de grande porte e temos de nos adequar a esta realidade . As variedades cultivadas: Conquista, Pintada, Xingu, Uirapuru, Tucano e uma variedade nova chamada Arara Azul. Mas, o carrochefe de todas as variedades é a Pintada, resistente a nematóides de cisto .
Sem uréia
Maria Mazarelo
sementes brasileiros em todos os casos será submetê-los a despesas desnecessárias e com as quais nem sempre poderão arcar. É uma distorção e Maria Mazarelo não deixará passar facilmente. E ela está realmente com o poder nas mãos. No início de agosto a própria ISTA reconheceu a CLAV como autoridade designada no Brasil para credenciar laboratórios e representá-la no país. Antes isso era atribuição do Serviço de Produção de Sementes Básicas, da Embrapa.
A Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc) alertou que está em marcha uma severa crise de abastecimento de uréia que afetará o desempenho da produção de grãos da próxima safra. O presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo, mostra que o aumento do consumo mundial e a redução da produção em países fornecedores provocaram a elevação do preço da uréia em cerca de 60% no mercado brasileiro. Os preços praticados no mercado internacional em 1999 eram, em média, de US$ 100 dólares a tonelada, incluído o frete. Neste ano, os preços situam-se em US$ 160 dólares a tonelada e não devem ceder neste semestre. Em situação de normalidade, a produção linear da uréia é maior que a demanda. Ocorre que não existe capacidade de estoques no Brasil e, como a uréia é um produto que não permite armazenamento por longo tempo, o mercado busca abastecer-se somente no estágio da necessidade - que é sazonal.
Expansão da Agroeste A Agroeste, empresa produtora de sementes de milho de Xanxerê, SC, está acelerando o projeto de complementação de sua unidade de Mato Grosso, esgotada a capacidade da matriz. Com a nova UBS de Mato Grosso funcionando desde maio em recepção, secagem e debulha, a Agroeste busca agora implementar a segunda fase do programa, que prevê a instalação de depósito e classificação para 2002. Mas é possível que o cronograma seja acelerado, de acordo com o diretor de Desenvolvimento de Mercado da empresa, Eloy Luiz Vaccaro, pois a unidade de Xanxerê está saturada.. Com uma participação no mercado de 600 mil sacas de sementes de milho, a Agroeste está em franca expansão e vai festejar 35 anos de atividades em 2001. Nos próximos dias a Agroeste re-
Eloy Vaccaro
ceberá uma delegação de representantes de uma empresa de sementes chinesa, da cidade de Chi Nan, a nordeste de Pequim, interessada em estabelecer uma parceria. A empresa brasileira está interessada nas características de precocidade dos híbridos que sua congênere chinesa desenvolveu, enquanto os visitantes vêm buscar informações sobre cultivares com maior teor de óleo, proteína e caroteno da Agroeste.
Novo café Paulo Calegaro
Jubileu O engenheiro agrônomo Paulo Renato Calegaro, chefe de Desenvolvimento de Produtos da Bayer, e coordenador técnico da influente revista Correio Agrícola da empresa, está completando este mês 25 anos no emprego. Calegaro é vastamente relacionado no país e no exterior. Em razão do jubileu será homenageado pelos colegas.
Instituto Agronômico (IAC) lançou uma nova variedade de café, o IAC Ouro Verde. Outras duas cultivares, já conhecidas do produtor, também foram apresentadas e lançadas oficialmente. Os cafeeiros da cultivar Ouro Verde apresentam-se produtivos e mais rigorosos que a cultivar Catuaí Vermelho. As folhas novas são de cores verde ou bronze, e as adultas de um verde escuro brilhante. Apresenta ótimo enfolhamento e, usualmente, os dois principais florescimentos ocorrem em setembro e outubro, e maturação em maio-junho. Os frutos são de coloração vermelha e apresenta uma média de 230 dias, desde a fertilização e maturação completa dos frutos. O valor da peneira média é de 17 (pouco acima do Catuaí Vermelho) e a porcentagem de sementes do tipo chato é da ordem de 95%. Em um experimento no Núcleo Experimental de Campinas, a produção média de café beneficiado da cultivar Ouro Verde foi levemente superior ao Catuaí Vermelho.
Biotecnologia transgênicos
Fim de caso
RimOn A maior fabricante de produtos agroquímicos genéricos do mundo, a Makhteshim Chemical Works Ltda, lançou no Brasil, através de sua subsidiária, a Milenia, o primeiro defensivo totalmente desenvolvido pela empresa. O lançamento do RimOn, princípio ativo denominado Novaluron, con-
Seminário de sementes Produtores de sementes dos 15 países que compõem a Federação Latino-Americana de Associações de Sementes - FELAS pretendem discutir e adotar uma posição oficial conjunta sobre as plantas transgênicas no XVII Seminário Panamericano de Sementes, que será realizado de 20 a 22 de novembro próximo em Punta Del Este, Uruguai. O presidente da FELAS, o brasileiro José Amauri Dimarzio, confirma as inscrições antecipadas de 150 pessoas e acredita que será atingida a meta de reunir entre 300 e 500 especialistas e produtores de sementes. Estão convidados 42 conferencistas e debatedores da Bélgica, Itália, Espanha, Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina e Uruguai. Além da biotecnologia, a organização panamericana de sementeiros pretende adotar posição oficial em relação às normas de proteção de cultivares e barreiras para o li-
A
questão principal, que precisa ser decidida, é a forma como esses produtos geneticamente modificados serão cultivados. Em síntese, esse é um ângulo da posição adotada pelo Estado do Paraná, segundo o agrônomo Alvim Jacob, da Secretaria da Agricultura, manifestada no XIX Ciclo de Reuniões Conjuntas da CESM/PR, em Foz do Iguaçu. Fotos Cultivar
Yariv Kedar
tou com dirigentes de âmbito internacional da Makhteshim, no XXI Congresso Internacional de Entomologia, em Foz do Iguaçu. O RimOn, do grupo químico das benzofenil-uréias, já é vendido na maior parte do mundo, como demonstra na foto com o globo estilizado o diretor técnico Yariv Kedar, da empresa Agricur, também do grupo Makhteshim. O novo produto é recomendado para controle de pragas em algodão, soja, milho, tomates, batatas e citros, entre outras culturas. (Ver anúncio na pág. 2)
Uma das associações mais lucrativas, que realmente serviu de lastro para tornar o Estado do Mato Grosso um dos maiores produtores agrícolas do Brasil, acabou. E, como a maioria das parcerias que produzem bons frutos, assim como alguns casamentos, terminou na Justiça na hora da divisão dos bens. O convênio entre a Embrapa e a Fundação Mato Grosso não existe desde junho passado e a briga na Justiça ainda não acabou, embora haja decisões em caráter liminar. O convênio foi firmado em 1993 por um prazo de cinco anos, tendo permanecido após esse período. A partir de materiais da Embrapa, a simbiose possibilitou a pesquisa e a difusão de novas cultivares que literalmente explodiram a produção de soja e algodão no Centro Oeste. Pesquisadores da Embrapa e o dinheiro fornecido pelos integrantes da Fundação MT fizeram o milagre. O fim do caso ocorreu exatamente em função de divergência sobre a titularidade dos materiais gerados. A divisão dos bens, portanto, exacerbou o litígio. Produtores do Centro Oeste acham que a desavença começou com a cessão de materiais, pela Embrapa, para a Monsanto, para inclusão do gene resistente ao herbicida glifosato. Já a Embrapa acredita que é a única titular dos materiais. A Embrapa está trabalhando agora no Mato Grosso em parceria com a estadual Empaer, enquanto a Fundação MT contratou diversos pesquisadores, alguns da própria Embrapa, e decidiu continuar o trabalho sozinha, solidamente amparada nos amplos recursos financeiros de seus filiados. Até prova em contrário, as duas partes saem perdendo.
Diminui a resistência
Geadas no Paraná Amauri
vre comércio. Paralelamente ao Seminário estão programadas reuniões de diretorias da Abrasem - Associação Brasileira de Sementes, BRASPOV, da FELAS e de franqueados de empresas públicas e privadas, adiantou Amauri. Também haverá exposições de produtos de diversas empresas de vários países e rodadas de negócios. A tradução simultânea das palestras para português, espanhol e inglês já assegurou a participação de observadores de vários países europeus. A inscrição custa, até o dia 13 de outubro, US$ 300.
As fortes geadas ocorridas no Paraná, com conseqüentes prejuízos para os produtores principalmente de milho e café, motivaram reavaliações importantes na estratégia de agricultores e das empresas de diversos setores, segundo Milton Suzuki, gerente regional da Aventis naquele Estado. Os produtores ainda não calcularam exatamente as perdas no café e esperam a época do rebrote para avaliar os danos. Já as empresas, que se preparavam para investir pesadamente na área, sustaram os projetos e estudam novas estratégias, salientou. Milton lembrou, por exemplo, os investimentos maciços em insumos para a safrinha de milho, perdidos na maioria.
Jacob acredita na importância da tecnologia
Alvim Jacob, que não é conhecido por posições liberais, considera entretanto que sua posição é realista. A tecnologia chegou e não pode ser ignorada, até porque a demora em decidir-se uma posição oficial propiciou o contrabando de sementes transgênicas de soja. Agora o que se precisa fazer é definir posições. Tudo se resume em relações comerciais e não pode ser tratado política ou ideologicamente. Os Estados Unidos estão limitando a área cultivada com transgênicos de soja em 54% do total. A razão é simples: eles não querem abrir mão do mercado de soja convencional. Assim, o Brasil não pode simplesmente liberar a biotecnologia sem as devidas precauções, ou perderemos nossos clientes. Não estaremos sendo inteligentes abrindo mão desse potencial, mas também não podemos nos dar o luxo de desprezar tecnologia. Há mercado, hoje, para produtos geneticamente modificados, para os convencionais, para os fármaco-transgênicos (a segunda onda da biotecnologia) e até para os orgânicos. Se agirmos com equilíbrio, nossos produtores poderão participar de todos os segmentos. Por isso Jacob critica a paralisação pura e simples da pesquisa com biotecnologia. Sem pesquisa não há avanço. Mas também não adianta pesquisar apenas, mas sim comercializar o produto pesquisado. Política do lança-chamas A instabilidade dos pesquisadores foi destacada, no encontro, pelo especialista em genética molecular da Novartis Seeds, Gloverson Lamego Moro. A questão ideológica, disse, começa a afetar a qualidade da pesquisa brasileira. Hoje o Brasil tem cientistas capazes de transformar as plantas, mas não dispõe de pessoal em condições de trabalhar nas fases posteriores. Não é possível produzir bons resultados se o ci-
Proibir ou não o cultivo de plantas transgênicas no Brasil não é o ponto principal, pois a tecnologia é produto da ciência e veio para ficar
Para Gloverson, a pesquisa deve continuar
entista trabalha com a constante preocupação de vir a receber a visita de um oficial de justiça armado com lança-chamas para destruir o campo de pesquisa. A criação no Brasil está paralisada. Dentro de cinco anos, a persistir tal quadro, o país estará irremediavelmente atrasado, pois não disporá de pessoal habilitado e experimentado para continuar as pesquisas. Do mesmo quadro sombrio compartilha o agrônomo Antonio Ferreira Neto, da Monsanto, que comparou os opositores da biotecnologia no Brasil com os inimigos da vacina contra a varíola, na maioria médicos e a própria Igreja, com os quebradores de máquinas na Inglaterra, em 1820 (achavam que elas tirariam seus empregos) e mais recentemente com os críticos dos fornos de microondas e dos computadores. Antonio Ferreira qualificou a biotecnologia de tecnologia limpa, que reduz o uso de agroquímicos e a poluição ambiental. Admitiu, no entanto, que parte da culpa pela discussão cabe às próprias empresas detentoras da tecnologia, que não a explicaram antecipada e convenientemente ao público consumidor, permitindo reações contrárias. NP
Soja
commodity E
stamos condicionados a ouvirque grão é commodity e assim o mercado o trata. Mas será mesmo? Vejam como cai mais um dogma. Empresas européias estão contactando fornecedores brasileiros de soja, interessadas em adquirir grãos com capacidade de germinação acima de 90%. À primeira vista parece que os europeus querem na verdade sementes. Nada disso. Querem grãos, mesmo; porém com alta capacidade de germinação, não a commodity, que sai do porto misturada. Preferem soja rastreada, com a identidade preservada. Para evitar transgênicos? Também, mas não apenas por isso. Elas já estão muito além. As empresas importadoras atentam para o fato de que quando a soja mantém alto o seu poder germinativo, o produto foi colhido adequadamente, sem danos mecânicos, não recebeu chuva, foi bem armazenado, teve um secamento correto, como se se tratasse de semente. Esse processo cuidadoso evita que a soja ative as lipoxigenases, um fator antinutricional. A indústria trata esse grão inicialmente ativando a pré-germinação, eliminando completamente a lipoxigenase e ganhando, dessa forma, cinco ou seis pontos percentuais em proteína, transformando-a em ração altamente valorizada, pois representa altos ganhos na conversão animal, em especial frangos e suínos. Ou seja, melhora o custo/benefício. O mundo moderno, portanto, aproveita melhor a soja, o que os brasileiros ainda não acordaram para fazer. Imbuídos da idéia de que soja é commodity, o produtor nacional está perdendo excelentes oportunidades para valorizar seu produto, adequandoo às necessidades do mundo mais desenvolvido. Nichos de mercado como esse es-
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• Cultivar
Setembro 2000
Cultivar
Grão deixa de ser tão surgindo em alta velocidade e as empresas nacionais nem sempre estão atentas. A FT Sementes está no mercado e já vai entregar este ano para uma importadora holandesa cerca de 3.000 toneladas de grãos com altíssimo grau de limpeza e germinação acima de 90%.Teve de colher mais de 200 hectares à mão no local em que a colheita mecânica estava incluindo terra em excesso. Mas o mercado especial não se limita a isso, como explica o pesquisador José Luiz Alberini, para quem as empresas européias estão hoje volta-
O mundo moderno aproveita melhor a soja, o que os brasileiros ainda não acordaram para fazer das para a qualidade e não querem mais comer tranqueiras e venenos misturados, como os qualifica. Nossos portos terão de melhorar o serviço, a qualidade de armazenagem terá de aumentar, e o produtor terá de se atrelar a toda uma nova linha, se quiser vender algo com valor agregado lá fora. Consumo humano As lipoxigenases são as enzimas que respondem pelo sabor amargo da soja. Daí não podermos comer soja diretamente. Mas elas podem ser retiradas geneticamente, através de melhoramentos. E a cultivar resultante pode ter seus grãos usa-
Soja com valor agregado tem venda certa
dos, por exemplo, para produzir leite, porém sem aquele sabor amargo que derrubou nos anos 80 o projeto do governo de oferecer leite de soja para a merenda escolar. Há outros aspectos a melhorar, ainda. O feijão pode receber novos tratamentos para outras técnicas alimentares. E a própria soja, pode ter retirados os açúcares contidos nos carbohidratos, que causam flatulência, de forma a ser aproveitada para alimentação infantil. Uma substância chamada rafinose, por exemplo, que causa esse tipo de problema, já está praticamente eliminada pela pesquisa da DuPont, o que abre novas perspectivas alimentares, pois a soja mantém o padrão nutritivo. Tudo indica, portanto, uma explosão de consumo dessa soja, quando lançada no mercado, em bolos, farinhas, leite. E a pesquisa não parou por aí. Esperem pelo que ainda vem por aí. NP