C
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVII • Nº 206 • Julho 2016 • ISSN - 1516-358X
Cultivar
Destaques
Nossa capa
Luta árdua - 24
A verdadeira operação de guerra montada no Mato Grosso na tentativa de evitar que o caruru Amaranthus palmeri avance sobre as áreas de cultivo
Omar Roberto da Silveira
Índice
Cuidados ao podar - 10
Como efetuar esse tipo de operação de modo racional e no momento adequado na cultura do café
Diretas
06
Podridão abacaxi em cana
08
Poda do cafeeiro
10
Adjuvantes em inseticidas
16
Manejo de manchas em arroz
19
Capa - Guerra ao Amaranthus palmeri
24
Informe - Segurança alimentar
27
Manejo de lagartas em soja
28
Controle de doenças em soja
32
Nanismo amarelo em trigo
36
Mancha-de-ramulária em algodão
40
Coluna Agronegócios
42
Coluna Mercado Agrícola
44
Coluna ANPII
46
Velhas inimigas - 28
O desafio sempre presente de manejar lagartas causadoras de prejuízos nas lavouras de soja do Brasil
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
Rocheli Wachholz Karine Gobbi
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
• Revisão
CIRCULAÇÃO
Aline Partzsch de Almeida • Coordenação Simone Lopes
COMERCIAL • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Vendas
Sedeli Feijó
Rithieli Barcelos
• Assinaturas
Natália Rodrigues Clarissa Cardoso Aline Borges Furtado
• Expedição
Edson Krause
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Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Pesar
Morreu em junho o pesquisador José Carlos Cruz, uma das referências em trabalhos voltados à cultura do milho. Vinculado à Embrapa desde 1975, atuava no Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo. Com doutorado em Manejo e Conservação de Solos pela Purdue University, acumulava extensa experiência na área de Agronomia, com ênfase em manejo e tratos culturais. Colaborador assíduo de Cultivar, era responsável por anualmente auxiliar na elaboração da lista completa de cultivares de milho disponíveis a cada safra, um dos materiais editoriais mais solicitados pelos leitores. Sua morte é uma perda inestimável para familiares, amigos, colegas e para a pesquisa brasileira.
Campeão
O agricultor João Carlos da Cruz, de Buri, São Paulo, é o novo campeão do Desafio de Máxima Produtividade da Soja, realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), com uma área de dez hectares que somou produtividade de 120,07 sacas por hectare. O numero é superior ao dobro do que o Brasil atinge como média anualmente. O anúncio do ranking ocorreu no final de junho, durante o Fórum Nacional de Máxima Produtividade da Soja, realizado na sede da Cocamar, em Maringá, no Paraná.
José Carlos Cruz
Arroz
A Sementes Cauduro, especializada na multiplicação de sementes certificadas de arroz, realizou em junho o evento denominado 20 + 20, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O encontro reuniu mais de 100 convidados para comemorar os primeiros 20 anos da marca e compartilhar os projetos da empresa para as próximas duas décadas. Houve palestras técnicas com os pesquisadores Ricardo Balardin, Enio Marchezan, Valmir Menezes, Rodrigo Schoenfeld e Paulo Dejalma Zimmer todos reconhecidos com troféus pelos serviços prestados às pesquisas arrozeiras. O diretor da empresa, Carlos Cauduro, também recebeu homenagem, entregue pela equipe da Basf, representada por Wilson Tavares, Nelton Brandão e Juçara Andreon.
Evento
Pesquisadores em inseticidas de diversas regiões do País se reuniram na Praia de Guarujaba, litoral norte da Bahia, para trocar experiências e buscar novas alternativas para o manejo de resistência de pragas nas lavouras brasileiras. O evento faz parte do Falcon Team, grupo de estudos organizado pela UPL Brasil, que conta com os principais entomologistas unidos para antever a evolução deste problema, que hoje afeta a produtividade da agricultura no País. A principal preocupação do Falcon Team é combater futuros surtos de pragas, como os já vistos nos últimos anos com a mosca-branca e o percevejo.
Nematicida
A Stoller do Brasil acaba de adquirir a empresa Rizoflora, que nasceu de uma parceria com a Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, e lança o nematicida biológico Rizotec. Trata-se de um isolado do fungo Pochonia chlamydosporia, selecionado por sua virulência a nematoides e alta capacidade de se reproduzir. “Cientes da relevância dos nematoides como fator limitante de produção, certamente esta tecnologia promoverá saltos importantes nos níveis atuais da produtividade agrícola brasileira. Este é mais um grande passo que a Stoller dá no sentido de sua missão, que é transformar conhecimento em inovações para uma agricultura altamente eficiente e sustentável”, destacou o CEO da Stoller do Brasil, Rodrigo Oliveira Rodrigo Oliveira.
06 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
Prêmio
O fungicida Orkestra, da Basf, foi reconhecido durante o Desafio de Máxima Produtividade da Soja, no final de junho, em Maringá, no Paraná. O produto desenvolvido pela Basf teria auxiliado na obtenção da maior produtividade do concurso de soja no Brasil: 120 sacas por hectare. O resultado foi conquistado na safra 2015/2016 pelo produtor rural João Carlos da Cruz, da Fazenda Lageado, no município de Buri, São Paulo.
João Carlos da Cruz
Cana
Favorecido pelo inverno Fotos Christiane Ceriani Aparecido
O fungo Ceratocystis paradoxa (Thielaviopsis paradoxa), causador da podridão abacaxi em cana-de-açúcar, encontra no período de temperaturas baixas ambiente propício para colonizar os toletes utilizados no plantio, que com o avanço da mecanização e o aquecimento do setor tem sido realizado em épocas pouco recomendadas no Brasil. Responsável por falhas nas lavouras e em incidência mais severa até mesmo por inviabilizálas completamente, a doença exige medidas de manejo e controle adotadas em conjunto para prevenir e minimizar os prejuízos neste modelo de cultivo
O
plantio tradicional da cana-de-açúcar ocorre nas estações de primavera e verão nas condições de São Paulo. Nesse período, a temperatura e a umidade favorecem o desenvolvimento da cultura, resultando, principalmente, na rapidez da brotação, crescimento e perfilhamento. Porém, o aquecimento e a expansão do setor sucroalcooleiro exigiram novo planejamento das áreas de plantio, levando usinas e produtores a realizar o plantio em diversas épocas do ano, com objetivo de um planejamento escalonado da colheita e melhor aproveitamento de maquinário e mão de obra. As unidades produtoras, geralmente, renovam até 20% das áreas cultivadas com cana-de-açúcar todos os
anos, mas com o aumento da área cultivada os produtores não têm conseguido fazer todo plantio de cana na época mais propícia. Assim, é comum o plantio em períodos menos favoráveis ao desenvolvimento da cultura, a exemplo do inverno, o que tem aumentado a incidência de doenças e pragas, acarretando em aumento no número de falhas no plantio. Durante o inverno, a umidade do solo é dependente da irrigação, via fertirrigação (vinhaça) ou água; a temperatura baixa associada aos dias curtos permite menor evaporação de água e temperatura no solo, que dependendo A
Figura 1 – Sintomas exibidos pelos toletes infectados por T. paradoxa
08 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
da textura, pode reter a umidade por mais tempo. Essas condições diminuem a velocidade de emergência dos brotos, pois pode demorar até 40 dias após o plantio para que os primeiros sejam emersos do solo. Como resultado, alguns patógenos fúngicos acabam sendo favorecidos. Um dos exemplos é Ceratocystis paradoxa (Thielaviopsis paradoxa), patógeno auxiliado pelas condições de inverno e que coloniza os toletes utilizados no plantio, que permanecem por maior tempo no solo sem começar o processo de brotação. Como resultado ocorre o apodrecimento dos tecidos, o que pode produzir cheiro característico de essência de abacaxi responsável pelo nome popular da doença, ou seja, podridão abacaxi, doença economicamente importante na cultura. Por ser capaz de atacar diversas culturas, o patógeno está presente em praticamente todas as regiões onde a cana-de-açúcar é cultivada. Neste contexto é importante chamar a atenção dos produtores de cana-de-açúcar quanto aos riscos do plantio da cultura em períodos de inverno ou em regiões de clima de temperatura baixa, bem como aos sintomas, manejo da doença e problemas na mecanização do plantio/colheita.
SINTOMAS E CONDIÇÕES FAVORÁVEIS À DOENÇA
Nas mudas infectadas recentemente são observados os sintomas iniciais de B
Figura 2 - Clamidosporos (A) e artroconídios (B) de Thielaviopsis paradoxa (anamorfo)
A
B
C
Figura 3 – Peritécios de Ceratocystis paradoxa (A - com exsudação de ascósporos e B - exibindo o rostro). Ascósporos hialinos (C)
encharcamento. Com progresso da infecção, o tolete contaminado inicialmente apresenta coloração amarelo-pardacenta, cinza-escuro e, ao final, passando à negra. Geralmente há destruição total do tecido parenquimatoso, permanecendo indestrutíveis os fibrovasculares. Os toletes atacados não germinam, provocando falhas na lavoura, podendo ocasionar prejuízo total. Durante o ataque pode ser exalado um odor típico, semelhante ao de frutos de abacaxi, como resultado da fermentação dos toletes. O fator primordial para a manifestação da doença é o retardamento da brotação das gemas, portanto, a ocorrência de baixas temperaturas, a utilização de mudas com mais de 12 meses, a cobertura muito profunda dos toletes e os plantios realizados em solos secos ou encharcados aumentam a intensidade da doença. Porém, deve-se ressaltar que, havendo condições que favoreçam a brotação, mesmo o patógeno estando presente no solo, os danos à cultura não ocorrem. A doença é causada pelo fungo Thielaviopsis paradoxa (De Seynes) Höhn (sinônimo de Chalara paradoxa) ou seu teleomorfo (forma sexuada) Ceratocystis paradoxa (Dade) C. Moreau, (1952) (Ascomycetes, Microascales, família Ophiostomatacea). Este é um patógeno polífago, pois já foi relatado em diversas outras espécies de plantas tropicais, como bananeira, abacaxizeiro, coqueiro, entre outras, e que sobrevive no solo em restos culturais, podendo infectar as mudas de cana-de-açúcar logo em seguida ao plantio, resultando em sua podridão. Na fase assexuada, podem ser observados conidióforos hialinos a marrom-claro crescendo livremente a partir de hifas septadas, produzindo numerosos conídios hialinos, cilíndricos e retangulares (artroconídios), formados por fragmentação das hifas, além de vários clamidósporos lisos, ovais e de coloração marrom-escuro, produzidos também a partir dos conidióforos. Devido aos clamidosporos serem estru-
turas altamente resistentes, T. paradoxa pode sobreviver no solo por períodos superiores a 15 meses. Na fase sexuada, ocorrem vários peritécios de coloração marrom-escuro, que ficam imersos no tecido necrosado ou no meio de cultura e exibem um longo pescoço (rostro) com filamentos de hifas associados na abertura, de onde são liberados os ascósporos hialinos, asseptados, elipsoides com lados desiguais curvados, e cercados em uma bainha gelatinosa típicos do fungo (Figura 3). O patógeno não possui mecanismos próprios de penetração, utilizando-se de aberturas naturais ou ferimentos para entrar e colonizar uma planta. Se a cana-de-açúcar for plantada em solo contaminado, a penetração do fungo ocorre pelo corte existente nos toletes de plantio. A sobrevivência do fungo é favorecida pela alta umidade. A doença ocorre, geralmente, em solos argilosos, encharcados e de difícil drenagem. Além disso, as temperaturas baixas são, também, altamente favoráveis ao desenvolvimento do fungo, por isso o outono da Região Centro-Sul é a época mais comum de aparecimento da doença. A disseminação da doença ocorre, principalmente, pelos conídios, mas também por meio de mudas infectadas.
MANEJO E CONTROLE DA DOENÇA
Para prevenir a podridão abacaxi são recomendadas medidas como tratar as mudas com fungicida indicado, em dosagens e preparo recomendados pelos fabricantes, evitar o plantio profundo dos toletes, cortá-los em tamanhos maiores, com seis gemas ou mais, prevenir replantio de mudas em solos contaminados recentemente e empregar variedades resistentes com rápida brotação. Observar o plantio em época correta, com bom preparo do solo, e colocação do tolete à profundidade adequada aceleram a germinação e constituem o melhor controle da doença. É importante ressaltar que, mesmo com a adoção de medidas de manejo e controle, com o aumento da mecanização do plantio é possível que os problemas causados pela doença se elevem, pois, além de utilizar mudas com mais ferimentos, provenientes de colheita mecânica, essas operações tornam possível o plantio durante praticamente todo o ano, inclusive no inverno, quando as condições são muito favoráveis ao fungo. Assim, faz-se necessária a adoção das mediC das em conjunto. Christiane Ceriani Aparecido Instituto Biológico Carlos Alberto Mathias Azania Instituto Agronômico
CANA-DE-AÇÚCAR NO BRASIL
A
cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é típica das regiões tropicais e subtropicais, bastante difundida em todos os continentes do globo. Fatores climáticos como temperatura, umidade e insolação são determinantes para o sucesso da cultura, que apresenta melhor desenvolvimento em locais quentes e ensolarados. Desempenha papel particular e muito importante na economia brasileira, uma vez que, no Brasil, seu plantio
comercial tem por objetivo atender à produção de açúcar e etanol, embora outros subprodutos, como o melado, o bagaço e a cachaça sejam obtidos e tenham outros fins. Sendo o Brasil um grande produtor de cana-de-açúcar com, aproximadamente, oito milhões de área cultivada e uma produção superior a 650 milhões de toneladas, observa-se o importante papel na economia do país.
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Giovani Belutti Voltolini
Café
Cuidados ao podar Podas de diferentes tipos são amplamente utilizadas na cafeicultura como excelentes ferramentas para auxiliar na renovação das lavouras cultivadas. Adotá-las de modo racional, no momento adequado e de acordo com o objetivo a que se destinam, é o melhor caminho para obter sucesso neste tipo de operação
O
Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, produzindo aproximadamente 30% do produto mundial. Porém, ainda sofre com a baixíssima média de produção que possui por unidade de área, com aproximadamente 23 sacas/ha. Isto se deve, em grande parte, às características que se encontram no parque cafeeiro nacional, com lavouras depauperadas, muito antigas e sem os devidos cuidados corriqueiros (manejos) de grande importância, como a parte química e física dos solos de cultivo. Contudo, atualmente, diversas tecnologias estão sendo empregadas com objetivo de elevar a produtividade, recuperar as lavouras e consequentemente proporcionar maior produção nacional.
Neste sentido, técnicas como a análise de solo, análise de folha, calagem, gessagem, fosfatagem, manejo de aplicação de insumos via foliar, podas e também a utilização de novas tecnologias na área dos fertilizantes fazem com que os baixos índices produtivos possam ser melhorados. As podas são amplamente utilizadas na cafeicultura, na maioria das vezes como uma das melhores ferramentas para auxiliar na renovação das lavouras cultivadas. Sabe-se que existem vários tipos de podas, cada qual com seus objetivos e particularidades. É possível citar podas de limpeza, podas de recuperação e podas de produção. O primeiro ponto a ser observado é o porquê de realizar a poda na lavoura, ou
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seja, em quais situações se fará necessário. Geralmente, é recomendada para lavouras que se encontram depauperadas, com derrame da saia, ou seja, quando há o “cinturamento” da lavoura pela morte dos primeiros ramos plagiotrópicos, ou também quando já não demonstram resposta à adubação. Também em casos extremos de condições climáticas adversas, como geadas. A tomada de decisão sobre podar ou arrancar uma lavoura se tornou uma recorrente dúvida, devendo-se analisar alguns aspectos importantes que auxiliam na escolha. A poda deve ser realizada em lavouras que apresentem boa genética, bom estande de plantas, bom espaçamento e também condições fitossanitárias
Estevam Reis, 2014
entanto, quando a lavoura apresenta um estande falho, é afetada por pragas e doenças, espaçamento inadequado, energia convertida apenas em crescimento e formação de folhas, mas nunca na produção de grãos, o correto manejo a se realizar é arrancar. O momento correto de se realizar a poda é muito variável, devendo ser adotado de acordo com a cultivar, com o clima, com a região e também com as condições financeiras do cafeicultor. Sobretudo, o tipo de poda também irá interferir nos manejos realizados nas lavouras, assim como o momento correto de se realizar cada atividade.
RECEPA
Esqueletamento: é a primeira atividade realizada neste sistema
abafamento dos brotos, e a concorrência por água, luz e nutrientes. Deve-se tomar os devidos cuidados, no caso do controle químico, com a ocorrência da deriva de herbicidas sobre as brotações do café, que causa sérios problemas de fitotoxidez ao cafeeiro.
DECOTE
O decote é um tipo de poda alta, leve, que ocasiona a eliminação do terço superior do cafeeiro, sendo recomendado para lavouras em vias de fechamento e também com a copa depauperada. Utiliza-se para viabilizar a colheita mecanizada, por meio da redução do porte da lavoura, e em caso de ocorrência de geada de capote e faísca elétrica. Seu uso é amplo, pois não ocasiona queda acentuada na produção Cafépoint
adequadas, que irão afetar no crescimento da planta e consequentemente na maior recuperação da estrutura vegetativa. O cafeeiro perde parte de suas raízes quando submetido a algum tipo de poda. No
A recepa é uma poda baixa, drástica, que promove a renovação quase total da estrutura vegetativa dos cafeeiros. É muito utilizada em lavouras atingidas por severas geadas e depauperadas. Há dois tipos de recepas, variando a altura do corte, podendo ser baixa (sem pulmão), onde toda a estrutura vegetativa é eliminada e a altura do corte varia de 20cm a 40cm, e alta (com pulmão), sendo mantidos os primeiros ramos plagiotrópicos inferiores, onde a altura de corte varia entre 50cm e 80cm. O corte no ramo ortotrópico deve ser realizado em bisel, evitando assim o acúmulo de água no tronco. As desbrotas devem ser realizadas periodicamente, para a eliminação do excesso de brotos, deixando apenas os mais vigorosos e melhor inseridos no caule, conservando o alinhamento do cafeeiro. Geralmente são efetuadas quando os brotos atingem aproximadamente 20cm, mantendo de duas hastes a quatro hastes. O manejo de plantas daninhas também deve ser realizado, para evitar o
Fonte Ufla
Figura 1 - Esquema de realização das podas no sistema safra zero
Figura 2 - Crescimento dos ramos de acordo com a época de poda
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Giovani Voltolini, 2014
Fotos Estevam Reis, 2015
Vigor inicial de brotação é elevado, gerando grandes pares de folhas por ramo plagiotrópico
Indução floral no segundo ano do biênio
do ano seguinte. Existem dois tipos de decote utilizados na cafeicultura, variando somente a altura de corte. O decote alto é realizado para a redução do porte da planta, com a finalidade de adequação à colheita mecanizada, onde a copa se encontra em boas condições, evitando, assim, a “reconstrução” das ramagens superiores. A altura do corte varia entre 2m e 2,5m. Já o decote baixo é realizado quando a lavoura se encontra prejudicada, em condições de desuniformidade na copa ou também cinturadas, sendo necessária a reconstituição da parte superior da planta, por meio do decote na altura de 1m a 1,2m. Outro tipo de decote não muito utilizado é o herbáceo, onde somente o ápice da planta é podado, cessando assim o crescimento do ramo ortotrópico. Porém, ocorre crescimento compensatório dos ramos plagiotrópicos, favorecendo o fechamento da lavoura. Plantas de café submetidas a podas devem estar sob frequentes cuidados com relação às desbrotas, que são de grande importância para o maior desenvolvimento do cafeeiro. Com esta prática evita-se o excesso de brotos e a consequente perda no crescimento pela competição que estes exercem, por funcionarem como drenos.
meio do esqueletamento, e a segunda e posterior com a realização do decote. O esqueletamento consiste na poda dos ramos plagiotrópicos (laterais) a uma distância que varia 20cm a 30cm do ramo ortotrópico na parte superior da planta, e de 30cm a 50cm nas partes “baixeiras”, com o objetivo de renovação total dos ramos laterais.
Alguns cuidados devem ser tomados na realização desse tipo de poda, pois se os ramos plagiotrópicos forem cortados anteriormente à gema “cabeça de série”, não haverá brotação, resultando, assim, na morte do ramo. Preconiza-se que a realização das podas seja iniciada o quanto antes, pois a relação da época e da produtividade é direta. Lavouras podadas mais cedo, preferencialmente a partir de junho, respondem melhor e são mais produtivas. Após a poda, é necessária a trituração dos resíduos vegetais para que, de certa forma, o processo de decomposição seja acelerado. O uso de trincha é essencial para a realização deste manejo. Após o início da brotação do cafeeiro, se faz necessária a aplicação de cúpricos para proteger a sanidade da planta, visto que sofreu um grande estresse, possuindo ferimentos por toda sua extensão. Neste sentido, o cobre atua como protetor, reduzindo assim a incidência de patógenos sobre a cultura neste desenvolvimento inicial, quando a planta se mostra mais vulnerável. Ao final do primeiro ano do biênio deste sistema têm-se a diferenciação floral e a projeção da florada que originará a safra seguinte. Sobretudo, devido ao grande desenvolvimento vegetativo da planta no primeiro ano, obtêm-se grandes
SAFRA ZERO
O sistema safra zero consiste na adoção de um programa de podas cíclicas, realizadas bienalmente, ou seja, em intervalos de dois anos. Este sistema de condução da lavoura consiste em duas etapas, sendo uma primeira por
12 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
Florada no cafeeiro submetido ao sistema safra zero
floradas e consequentemente elevadas produções. Em diversos ensaios de campo com esta metodologia, os materiais de campo chegaram a atingir mais de 100sc/ ha, dependendo da cultivar e também da época de poda.
ADUBAÇÃO
O manejo nutricional das lavouras sob este sistema é diferente das convencionais, pois devido à característica de não produção no primeiro ano do biênio, as adubações via solo são realizadas somente com nitrogênio, com doses variando entre 300kg de N por hectare e 500kg de N por hectare. Contudo, no segundo ano ocorre o inverso, pois a planta estará voltada apenas à produção, sendo necessário maior atenção à adubação potássica.
CONTROLE FITOSSANITÁRIO
O controle fitossanitário deve ser realizado principalmente para doenças como phoma, ferrugem e mancha aureolada, pois as altas doses aplicadas de nitrogênio acarretam em maior infestação dessas doenças. A phoma é a primeira doença a se manifestar quando não realizado o controle adequado, sendo necessário o monitoramento de seus primeiros sinais no ano de produção. A ferrugem também é outra doença que pode ocorrer em cafeeiros podados, pois são mais suscetíveis e apresentam uma curva de progressão mais agressiva quando comparados aos não podados.
BENEFÍCIOS
Dentre os benefícios deste sistema, é possível citar a redução de custos, visto que a colheita (que representa até 50%
Uniformidade de produção no ramo e consequentemente maior produtividade da lavoura
dos gastos) só será realizada no ano de produção. Além disso, a lavoura estará com elevada carga pendente. Também pode servir como ferramenta em anos de preço baixo, por reduzir o custo e evitar mais investimentos por parte do cafeicultor nesses períodos. Pelo fato da adubação do primeiro ano consistir basicamente de N, os custos com estas operações também se tornam menores. Os incrementos na matéria orgânica no local de cultivo são consideráveis, visto que a deposição dos restos culturais nas linhas de cultivo são de grande escala, melhorando assim a fertilidade do solo. O sistema safra zero é amplamente utilizado na cafeicultura brasileira e está em expansão, pois se mostra como ferramenta de redução de custos e também da renovação dos ramos do cafeeiro.
Devido ao fato de não se produzir no primeiro ano do biênio e da elevada produção no seguinte, as adubações devem ser realizadas de modo diferente das tradicionais, seguindo as necessidades de cada ano. Os manejos fitossanitários devem ser seguidos com rigor, porque a planta podada estará mais exposta a estresses bióticos e abióticos, pelos ferimentos provocados e também pelo posterior vigor com que se apresenta no início das brotações. C Giovani Belutti Voltolini, IFSUL de Minas e Ufla Dalyse Toledo Castanheira, Thales Lenzi Costa Nascimento, Ademilson de Oliveira Alecrim, Ricardo Nascimento L. Paulino e Tiago Teruel Rezende, Universidade Federal de Lavras
Adjuvantes
Eficiência otimizada Leonardo Burtet
Adjuvantes melhoram o desempenho de inseticidas nas pulverizações agrícolas, potencializam suas características e aumentam a eficiência. Entretanto, sua escolha deve levar em conta a necessidade do produto e do alvo que se busca atingir, com o objetivo de melhorar o efeito no controle das pragas para uma melhor retenção e penetração do ingrediente ativo. O uso de adjuvantes, no Brasil, está associado à venda e ao emprego de fungicidas, herbicidas ou inseticidas da mesma empresa que o recomendam. Entretanto, resultados de pesquisa têm demonstrado que alguns adjuvantes podem potencializar a eficiência dos produtos agrícolas, melhorando a sua eficiência, desde que essa recomendação seja realizada de acordo com as características da aplicação, do produto a ser aplicado e do alvo biológico.
ADJUVANTES NAS APLICAÇÕES AGRÍCOLAS
propriedades físico-químicas da calda, melhorando a molhabilidade, a adesão e o espalhamento das gotas, contribuindo Fotos Adriano Arrué Melo
A
agricultura brasileira está em constante evolução e seu desafio principal é produzir cada vez mais alimentos, com menor impacto ambiental e sem aumento significativo da área cultivada. Nesse modelo o uso racional e eficiente de agroquímicos é indispensável, por reduzir reaplicações e a contaminação ambiental e melhorar as pulverizações agrícolas. No Brasil, de acordo com o decreto n° 4.074/2002, adjuvante significa “produto utilizado em mistura com produtos formulados para melhorar a sua aplicação”. Todos os significados para o termo adjuvante têm em comum uma melhora na qualidade de pulverização, pois os adjuvantes podem alterar as
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16 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
Os adjuvantes podem estar presentes nas caldas de pulverização de duas maneiras: incorporados na formulação do agroquímico (mais comum em formulações de concentrados emulsionáveis) ou adicionados ao tanque de pulverização antes da aplicação. A classificação se dá pela sua atividade, como ativadores ou utilitários. Os adjuvantes ativadores melhoram a atividade do agroquímico, aumentam a taxa de penetração do produto e auxiliam na eficiência. As principais formas de melhorar a qualidade da aplicação são a redução da tensão superficial e a retenção de umidade nas gotas sobre a superfície da folha. Os principais adjuB
Figura 1 - Ângulo de contato de gotas em folhas de trigo. (A) somente água; (B) água + organossiliconado
Figura 2 - Quantidade do inseticida clorantraniliprole em folhas de milho e trigo, 2016
vantes ativadores são os surfactantes, óleos vegetais, óleos metilados, óleos minerais, derivados de silicones e os fertilizantes nitrogenados. Os adjuvantes utilitários agem como facilitadores das pulverizações agrícolas, com a redução dos efeitos negativos da pulverização e não influenciam diretamente na eficiência dos agroquímicos. Incluem os agentes compatibilizantes, depositantes, dispersantes, redutores de deriva, antiespumantes, condicionadores da água, acidificantes, tamponantes, umectantes, protetores de raios ultravioletas e corantes. Embora não tenham influência direta na ação do defensivo, sua utilização pode resultar em maior praticidade na aplicação, como o uso de redutores de espuma no tanque de pulverização com água, que mantém a calda sem espuma durante a agitação do pulverizador.
CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DAS CALDAS DE PULVERIZAÇÃO
Para as pulverizações agrícolas, a água é o elemento básico. Entretanto, devido a determinadas características de
sua molécula, na superfície dos líquidos ocorre a formação de uma película, que é chamada de tensão superficial. Esse mesmo fenômeno ocorre nas gotas de pulverização, portanto, quando há apenas água, sem a adição de adjuvantes, ocorre a formação de gotas mais esféricas e que têm um contato menor com a folha, dificultando a cobertura. Uma das formas de medir a tensão superficial se dá por meio de um analisador da forma da gota (goniômetro). Recentemente, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) adquiriu esse equipamento e tem realizado testes com diversos adjuvantes disponíveis no mercado. A Tabela 1 apresenta alguns desses resultados com base na simulação de uma calda de pulverização de 200L/ha. Os dados obtidos mostram que a tensão superficial da água se dá em torno de 72mN/m e que alguns adjuvantes podem reduzir esse valor. A influência da tensão superficial das caldas de pulverizações agrícolas pode ser visualizada na Figura 1 com folhas de trigo. Na imagem A se tem apenas a água (71,8mN/m) e na
imagem B água + organossiliconados (22,8mN/m). Essa diferença do comportamento da gota ocorre devido à redução da tensão superficial pela adição do adjuvante. Comparando as duas gotas, a mais esférica (imagem A, sem a adição de adjuvantes) é mais exposta às condições ambientais (temperatura e umidade), e tem uma cobertura reduzida na folha. Entretanto, a gota mais achatada (imagem B, com a adição de adjuvante) tem melhor molhabilidade. Analisando o controle de pragas, essa gota apresenta um potencial de controle superior, devido à melhor proteção e à maior cobertura do inseticida.
RETENÇÃO DE AGROQUÍMICOS
A superfície da folha, composta pela cutícula, é a primeira barreira que os produtos precisam ultrapassar. A cutícula da folha varia em composição e estrutura entre as diferentes espécies de plantas. A adição de adjuvantes pode ajudar os produtos a entrarem na planta ou mesmo proteger os que são aplicados sobre a superfície foliar, resultando em maior quantidade de ingrediente ativo.
Fotos Adriano Arrué Melo
Em um trabalho da UFSM, realizado em conjunto com a Universidade de Bonn, na Alemanha, por meio de High performance liquid chromatography (HPLC), a quantidade do inseticida clorantraniprole foi medida em plantas de trigo e milho, aplicado isoladamente e em associação com diferentes adjuvantes. Para tal foi realizada a aplicação com volume de calda de 200L/ ha e após as plantas foram cortadas e quantificou-se quanto de inseticida havia em cada um dos tratamentos. Os resultados desse trabalho mostraram que tanto em milho como em trigo, a adição de adjuvantes aumentou a quantidade de ingrediente ativo nas plantas. Essa maior quantidade de produto na planta pode resultar na melhora da eficiência biológica e em alguns casos pode aumentar o período residual dos inseticidas.
Inseticida
A Inseticida + óleo mineral
EFEITO DA CHUVA NAS APLICAÇÕES DE INSETICIDAS
No mesmo trabalho foram extraídas imagens com microscópio eletrônico de varredura, equipamento que permite uma visão da epiderme da folha. As imagens mostram como se comportam os inseticidas isoladamente e em associação com adjuvantes quando expostos a chuvas. Na maioria das imagens foi possível visualizar os cristais do ingrediente ativo, o que indica que embora a chuva tenha grande influência na remoção, nem todo o produto que está sobre a folha acaba sendo retirado pelo impacto das gotas de precipitação. As folhas de trigo apresentaram maior quantidade de resíduos, devido à sua maior repelência com a água e à sua posição mais vertical, em comparação com as folhas de milho. A utilização de adjuvantes pode ajudar na qualidade das pulverizações, Tabela 1 - Tensão superficial da água em associação com diferentes adjuvantes em um volume de calda de 200L/ha. Santa Maria, 2016 Tensão superficial (mN/m) Tratamento Dose 71,8 Água 29,7 Água + Aller Biw 70 mL/ha 67,8 Água + Assist (0,5%) 22,8 Água + Break thru (0,05%) 31,1 Água + Li 700 500 mL/ha 36,6 Água + Nimbus 600 mL/ha 33,5 Água + Nitro fix 100 mL/ha 71,9 Água + Spray plus 50 mL/ha 37,5 Água + TA 35 50 mL/ha 35,2 Água + TKE-f 50 mL/ha 32,3 Água + Triunfo Flex 50 mL/ha 37,8 Água + Triunfo Neutrun 50 mL/ha
Inseticida + organosiliconado
A Inseticida + óleo vegetal
A Inseticida
A Inseticida + organosiliconado
B Inseticida + óleo mineral
B Inseticida + óleo vegetal
B
B
Figura 3 - Imagens de folhas de trigo (A) e milho (B) com a aplicação de inseticidas + adjuvantes após chuva simulada (5mm ou 10mm) em folhas. 2016
pois esses produtos, quando utilizados de maneira correta, aumentam a vida útil dos agroquímicos e melhoram a sua eficiência. A interação das gotas de pulverização com as superfícies que se quer atingir continua a ser um dos maiores desafios para a melhoria da eficiência de defensivos. Atualmente é possível inferir que o uso de adjuvantes é uma prática importante na melhora da eficiência de defensivos agrícolas. A sua utilização auxilia
18 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
no controle de pragas, na medida em que melhora a qualidade de aplicação e aumenta a quantidade de ingrediente C ativo absorvido pelas plantas. Adriano Arrué Melo, Jerson Vanderlei Carús Guedes, Jonas André Arnemann, Clérison Régis Perini, Maiquel Pizzuti Pes e Lucas Hahn, UFSM
Arroz
Manchas emergentes Embrapa Clima Temperado
Mancha-da-bainha, mancha-estreita e mancha-de-alternaria são doenças emergentes nas lavouras de arroz irrigado. Apesar de consideradas secundárias e nem sempre atingirem nível de controle, ocorrem todos os anos e exigem atenção e cuidado para evitar surpresas desagradáveis que resultem em prejuízos
N
a cultura do arroz irrigado há incidência de várias doenças de importância econômica secundária, que merecem ser destacadas por se tratar daquelas que ocorrem em todos os anos na região e que raramente ou ocasionalmente atingem o nível de controle, por provocar perdas moderadas, porém, sem ter seus danos mensuráveis. Estes tipos de doenças acontecem sem estar em expansão para outras áreas e a maioria é incidente no final de ciclo da cultura do arroz sem causar a queima das folhas ou a destruição das panículas ou de esterilizar todas as glumas. A mancha-da-bainha do arroz, causada por Rhizoctonia oryzae, ocorre em vários países produtores de arroz. Nos Estados Unidos e na Austrália, os prejuízos causados pela doença são considerados importantes nos anos de epidemia, alcançando de 10% a 20% de danos na produtividade de arroz, o que tem levado pesquisadores a buscarem fontes de resistência para esta doença. No Brasil, a doença ocorre em todas as regiões sem atingir dano econômico. No Rio Grande do Sul, a partir dos anos 70, foi muito frequente depois da introdução das cultivares americanas, principalmente com o cultivo da Bluebelle, que ocupou mais de 50% da área cultivada com arroz e atualmente a sua incidência é muito reduzida. Os poucos estudos realizados mostram que não existem cultivares resistentes ou imunes a esta doença, somente com resistência parcial ou tolerante. A pesquisa sugere que é possível identificar os principais genes, que conferem altos níveis de resistência parcial, piramizar esses genes e atingir resistência quase completa a essa doença. Os primeiros sintomas da doença ocorrem nas bainhas das folhas da planta de arroz, na altura da lâmina d’água de irrigação, após o alongamento dos entrenós, principalmente no estádio de grão pastoso. Nos ataques intensos, formam reboleiras com dez colmos a 20 colmos com sintomas da doença, com esclerócio castanho na parte inferior dos perfilhos de arroz. Porém, os seus danos na produtividade do arroz ainda não foram
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-faca com água quando feita após a colheita é mais vantajosa por representar menor custo e evitar o atraso do preparo do solo para semeadura. O manejo das práticas culturais como drenagem da área durante a entressafra, adequação da densidade de semeadura e uso de adubação nitrogenada equilibrada ainda é o mais implícito no controle da doença por ser uma estratégia promissora e ambientalmente correta para suprimir a mancha da bainha. Mas, ainda representa um desafio a produtores, assistência técnica e patologistas, pois as aplicações de fungicidas e rotação de cultura não são completamente eficazes no controle da doença e a adoção de cultivares resistentes não está disponível no mercado de sementes.
MANCHA ESTREITA
A doença é causada pelo fungo Cercospora janseana, encontra-se disseminada em todos os países do mundo que cultivam o arroz. No Brasil, ocorre em todos os anos de cultivo de arroz em sistema de irrigado e de sequeiro, em todos os estádios de crescimento da planta, em maior severidade quando se aproxima dos estádios da emergência da panícula até a maturação dos grãos e, principalmente, quando semeados em solos pobres, em especial de potássio. A importância dos seus danos está condicionada ao emprego de cultivares muito suscetíveis, fato verificado nas décadas de 30 e 40 nos Estados Unidos com o cultivo de Blue rose. O fungo possui várias raças, o que permite adaptar-se nas cultivares resistentes, mas
Fotos Embrapa Clima Temperado
avaliados satisfatoriamente, em virtude que muitas vezes, além de ocorrer com outras doenças, os sintomas são confundidos com os da queima-das-bainhas (Rhizoctonia solani) ao ponto de ser feita a diagnose somente em laboratório e, portanto, por esta dificuldade de identificação do patógeno é chamada de rizoctoniose. O sintoma da doença é caracterizado pela forma oval da lesão bem definida na bainha, com centro branco-acinzentado e com bordo de cor castanho-escuro, sendo mais amplo que a da queima-da-bainha. No tecido ou na superfície da bainha da folha formam-se os escleródios até o término da maturação fisiológica dos grãos e persistem após a colheita, hibernando no solo e na palha até a próxima época de semeadura do arroz. Com irrigação, os escleródios flutuam, atinjem a base dos perfilhos, iniciando o novo ciclo da doença. Estudos epidemiológicos mostraram que somente a queima da palha não é suficiente para erradicar a doença na área, porque muitos dos escleródios que ficam no solo sobrevivem independentemente da temperatura do fogo ou do frio intenso do inverno. A temperatura limite para a mortalidade dos escleródios se encontra entre 93ºC e 121°C. Estes métodos, que removem a palha de arroz após a colheita por meio de enfardamento e queima, reduzem significativamente a quantidade de escleródios quando comparados aos métodos que incorporaram a palha no solo, e o controle ainda é menor quando realizada esta operação na época da semeadura. A operação de incorporar a palha com a gradagem ou passagem do rolo-
sem causar dano econômico. Nos diferentes estudos, o resultado mostra que a expressão do caráter é controlada por um simples gene. No Rio Grande do Sul, os danos econômicos causados pela mancha estreita na produtividade da lavoura são muito reduzidos, o que faz com que seja considerada como doença de pouca importância. Na década de 80, apresentou severidade maior nas folhas com o cultivo intenso das cultivares como Bluebelle, BR-Irga 409 e Irga 408, que mostraram reações suscetíveis em área experimental. Posteriormente, no decorrer das safras 2001/02 e 2002/03 nos plantios em áreas de solos pobres ou áreas de corte (solo sistematizado) com as cultivares El paso L144 e BR-Irga 410. As análises de sanidade das sementes básicas realizadas no período de 1993 a 1998 registraram porcentagens muito reduzidas de contaminação com o fungo, se aproximando de zero em 2003, o que vem se mantendo nos últimos anos. O sintoma típico da doença é caracterizado pelo próprio nome, sendo manchas foliares estreitas (linear) com formato alongado, no sentido longitudinal, e não atingindo mais do que 1-2 espaços internervuras. Normalmente possuem, em média, 2mm a 10mm de comprimento e 1mm de largura. As lesões possuem coloração pardo-avermelhada e podem ocorrer em grande número em uma mesma folha, podendo coalescer. As lesões tendem a ser mais estreitas, mais curtas e marrom-escuro em variedades tolerantes e mais largas e marrom-claro com centros necróticos de cor cinza, em variedades suscetíveis. Também, tendem a aparecer sintomas de cor semelhante ao observado no limbo da folha na bainha, no primeiro nó abaixo da panícula (“pescoço”) e na panícula (pedicelos e glumas). Quando o ataque de mancha-estreita é mais severo, reduz bastante a área foliar, forçando a maturação do arroz. A produção de grãos ou de sementes apresenta descoloração da casca, baixo rendimento de engenho e do peso dos grãos. A Cercospora oryzae sobrevive de um ano para outro, nas sementes, nos restos de cultura e nas plantas hospedeiras: arroz vermelho, grama da guinea (Panicum maximum Jacq.), capim torpedo (P. repens L.) e capim elefante (Pennisetum purpureum K. Schum). As práticas culturais utilizadas para controle da doença consistem no uso de variedades resistentes, o que constitui a abordagem mais eficaz quando associada com adubação com potássio.
MANCHA-DE-ALTERNARIA OU MANCHA-CIRCULAR
Folhas de arroz com sintomas de mancha-de-alternaria
20 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
A doença é causada pelo fungo Alternaria padwickii e é conhecida no mundo inteiro com o nome de stackburn. Não é considerada im-
portante por causar dano econômico insignificante. Quando as sementes têm altos índices de contaminação por este fungo, reduzem a germinação e o vigor. Provoca ainda a queima de plântula no estádio de desenvolvimento V1 (com uma folha), podendo levá-la à morte e reduzir a população de plantas. No Rio Grande do Sul, a doença sempre esteve presente e com maior incidência nas cultivares de arquitetura tradicional, podendo ser encontrada com certa facilidade nas sementes. A incidência da doença está associada ao nível tecnológico empregado na lavoura, principalmente em regiões em que ocorrem solos de baixa fertilidade, notadamente de potássio e com excesso de óxido de ferro e principalmente se as condições de temperatura estiverem entre 26ºC e 28°C e umidade acima de 90%. As incidências nas folhas das cultivares tipo tradicional (porte alto, folhas longas e decumbentes) são as mais suscetíveis comparadas com as do tipo moderno (porte anã), mas sem causar perdas de produtividade significativa. Normalmente, as manchas foliares não causam a queima das folhas, mas é suficiente para contaminar uma elevada porcentagem de sementes, principalmente quando houver alta precipitação e pequenas flutuações na temperatura e umidade relativa.
Sintomas da doença mancha-da-bainha
Embora ocorra a doença em todo o ciclo de desenvolvimento da planta, a maior incidência de manchas está entre os diferentes estágios de maturação de grãos, com destaque para fase leitosa. Quando há atraso na colheita, aumenta a porcentagem de sementes com o fungo. O fungo sobrevive em restos da cultura e nos vários hospedeiros como as gramíneas: milheto (Pennisetum glaucum), capim massambará (Sorghum halepense), capim braquiária decumbens (Brachiaria decumbens = Urochloa decumbens), bem como o arroz vermelho.
O sintoma da doença se observa em poucas folhas da planta de arroz, com pequeno número de lesões, tamanho de 0,3cm a 1cm, formato oval ou circular, margem marrom-escuro e centro marrom-claro e com o tempo tornam-se brancas. Este sintoma pode ser confundido com a brusone ou com o causado por herbicida. Na panícula, pode causar esterilidade de glumas e manchar as sementes de branco com margens marrom-escuro e com pontos pretos ao centro, que são a presença de escleródios. A alta incidência de gluma manchada ou descorada, por si só ou em combinação com outros fungos, pode depreciar o valor comercial das sementes. Recomenda-se para o controle da doença realizar adubação de base e de cobertura de forma equilibrada, controlar as plantas daninhas, usar sementes de alta qualidade fisiólogica e sanitária, ou seja, livres de contaminações ou dentro de padrões de tolerância. Como regra geral, o emprego do conjunto de práticas recomendadas para cultivo do arroz e aplicação dos fungicidas utilizados para o controle da brusone, normalmente é suficiente para evitar o aparecimento e controlar estas C doenças emergentes. Cley Donizeti Martins Nunes Embrapa Clima Temperado
Capa
Fotos Omar Roberto da Silveira
Luta árdua Daninha com grande potencial de prejuízos e alta capacidade de adquirir resistência a herbicidas, Amaranthus palmeri é mais um fantasma a rondar as lavouras brasileiras. Detectada em 2015, no Mato Grosso, esta planta desencadeou uma verdadeira operação de guerra, com medidas sanitárias adotadas na tentativa de erradicá-la
A
maranthus palmeri é uma planta daninha com grande potencial de prejuízo às culturas, devido à velocidade de crescimento, à grande produção de sementes, à fácil germinação, ao grande enraizamento e, em especial, à facilidade com que adquire resistência a herbicidas. É uma das plantas daninhas que mais têm causado problemas aos produtores de grão e de algodão dos Estados Unidos e da Argentina. Em 2015 foi detectada em Mato Grosso, estado em que se desenvolve um programa de erradicação desta planta daninha. O Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a Universidade de Várzea Grande (Univag), desenvolve programa de levantamento de plantas daninhas com resistência a herbicidas em áreas algodoeiras de Mato Grosso, junto a produtores pertencentes à Associação Mato-Grossense
de Produtores de Algodão (Ampa) (Andrade Junior; Guimarães; Cavenaghi, 2014). Nesse trabalho foram verificadas plantas do gênero Amaranthus que apresentaram resistência ao glifosato e a herbicidas inibidores de ALS que possuíam características morfológicas de Amaranthus palmeri S. Watson. Essas plantas foram avaliadas e, com suporte em literatura especializada, houve a confirmação de que se tratava de A. palmeri. O fato foi divulgado através da Circular Técnica nº 19 do IMAmt (Andrade Junior et al, 2015).
RESPOSTA À EMERGÊNCIA FITOSSANITÁRIA
Assim que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tomou conhecimento da ocorrência da praga no Brasil, em 19/6/2015 foram tomadas diversas medidas. Uma delas foi a realização de reunião em Cuiabá, Mato Grosso, entre o Mapa, o
24 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea-MT) e os pesquisadores que relataram ocorrência da planta daninha com o objetivo de se obter mais informações sobre o foco e sobre a espécie. O foco de ocorrência suspeito foi localizado nos municípios de Ipiranga do Norte e Tapurah, na região médio-norte de Mato Grosso. A partir desta informação foi realizado um levantamento de delimitação, com o estabelecimento de um perifoco com raio de 20km ao redor das fazendas onde foram feitas as coletas iniciais. Verificou-se que a espécie estava presente em três propriedades vizinhas entre si, ou seja, tratava-se de apenas um foco. As áreas infestadas nestas propriedades foram quantificadas em dez mil hectares, 500 hectares, e 15 hectares. Foi realizada a coleta de uma amostra oficial e enviada a laboratório credenciado pelo Mapa, que confirmou tratar-se de A. palmeri.
Enquanto era realizado o levantamento de delimitação do foco procedeu-se também a um inquérito epidemiológico na área para tentar descobrir a via de entrada. A primeira ocorrência da praga foi observada em 2012 pelos funcionários das propriedades, no foco. A distribuição de resíduos de descaroçamento do algodão não curtido, oriundo de áreas com ocorrência da praga, foi um fator importante para a dispersão da espécie em uma das propriedades. Observou-se que a dispersão natural da espécie é baixa, ocorrendo a curta distância. Em três anos houve dispersão da espécie em um raio aproximado de 9km, antes de qualquer ação de controle oficial. Observou-se que colhedoras contribuíram para a dispersão da espécie dentro das propriedades, no foco, evidenciada pela sequência de colheita de talhões e pela ocorrência da planta daninha em faixa, nos talhões. Constatou-se que uma das propriedades, no foco, importou máquinas colhedoras de algodão usadas da Argentina, em 2011, onde a praga A. palmeri está presente. Daí por que se supõe que tenham sido a via de introdução da praga no Brasil. Foi levantada a possibilidade de embargo às exportações de algodão, milho e soja, por países sem ocorrência da praga A. palmeri. Ainda não se verificou nenhuma restrição comercial, mas caso haja a dispersão da espécie
Plantas após o arranquio manual sendo transportadas para a destruição
no país, poderá haver a imposição de barreiras fitossanitárias pela União Europeia, já que o A. palmeri consta da lista de alerta da Eppo. Os fiscais estaduais do Indea-MT, que estavam realizando a fiscalização do vazio sanitário da soja, em 2015, foram orientados a fazer o levantamento concomitante de detecção da espécie no estado. Foram enviados aos fiscais a Circular Técnica nº 19 do IMAmt e o folheto elaborado com as características diferenciais desta espécie para facilitar a identificação. Foram inspecionadas mais de mil
propriedades no estado, não se constatando a ocorrência de A. palmeri, exceto no foco já identificado. De posse das informações levantadas foi realizada uma reunião entre Mapa, Indea-MT, Ampa, Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato) e pesquisadores do IMAmt, UFMT e Univag para avaliação dos resultados dos levantamentos e do inquérito epidemiológico, bem como para análise da estratégia de controle,
decidindo-se unanimemente pela erradicação da planta daninha, com a definição de medidas fitossanitárias a serem regulamentadas. No dia 15/7/2015, 26 dias após a tomada de conhecimento da ocorrência da praga pelo Mapa e pelo Indea-MT, foi publicada a Instrução Normativa Indea-MT nº 047/2015, que estabelece as normas para contenção e erradicação da praga A. palmeri no estado de Mato Grosso. Esta norma teve como amparo legal a Lei de Defesa Sanitária Vegetal do estado de Mato Grosso nº 8.589/2006. Com base na Instrução Normativa Indea-MT nº 047/2015, os produtores vêm realizando, sob fiscalização do Indea-MT, supervisão do Mapa e orientação dos pesquisadores do IMAmt, UFMT e Univag, o controle para eliminação da espécie, nas propriedades afetadas. Este trabalho consiste no controle cultural através de arranquio e queima de plantas presentes em cultivos. No controle químico nas culturas da soja, milho e algodão, e no controle mecânico, por meio de capina manual onde for necessário. No controle químico estão sendo utilizados produtos em pré e pós-emergência, com princípios ativos a que A. palmeri é suscetível, intercalando-se os mecanismos de ação. Destaca-se que o controle químico com esses herbicidas viabiliza a erradicação desta praga em larga escala, minimizando a necessidade de arranquio e capina, apesar de aumentar o custo de produção e tornar mais complexo o manejo das culturas. Em 21/10/2015, foi realizada uma reunião de avaliação do programa de erradicação de A. palmeri com a participação do Mapa, Indea-MT e pesquisadores da Embrapa Soja, Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Algodão, Embrapa Agrossilvipastoril, Univag e IMAmt. Foram analisadas as medidas adotadas e realizada visita à área de foco, onde foram sugeridas medidas corretivas para o controle em uma das propriedades. Com base nessa
COMO IDENTIFICAR A ESPÉCIE NO CAMPO 1) A ocorrência de plantas dióicas, ou seja, plantas somente com flores femininas (planta fêmea) ou somente flores masculinas (planta macho); 2) As inflorescências femininas possuem brácteas “espinhosas”, que são facilmente perceptíveis quando tocadas, enquanto as inflorescências masculinas não têm essa característica; 3) Folhas com pecíolos maiores ou iguais ao comprimento do limbo foliar.
Rogaciano de Arruda
Destruição das plantas em fornalha
discussão foram sugeridos ajustes na norma que, após discutidos com o setor produtivo, resultaram na Instrução Normativa Indea-MT nº 086/2015, de 4/12/2015. Desde a edição da Instrução Normativa Indea-MT nº 047/2015 o órgão tem realizado fiscalização das medidas fitossanitárias estabelecidas para a erradicação dessa praga, através dos fiscais lotados nos municípios do foco. A Coordenadoria de Defesa Sanitária Vegetal do Indea-MT tem realizado supervisão das ações de erradicação dessa praga, juntamente com o Mapa, resultando na detecção de alguns casos de descumprimento de medidas fitossanitárias e na determinação de seu cumprimento imediato. Todas as determinações de cumprimento de medidas fitossanitárias têm sido prontamente atendidas pelos produtores. Os levantamentos de detecção continuam a ser realizados no estado, de modo a se garantir o sucesso do programa. Caso algum outro foco seja detectado, as mesmas ações estabelecidas na normativa vão ser prontamente executadas.
MEDIDAS FITOSSANITÁRIAS FEDERAIS
O Departamento de Sanidade Vegetal (DSV) do Mapa tem acompanhado e apoiado as ações realizadas para a erradicação desta planta daninha em Mato Grosso. Paralelo a isso, ações estão sendo desenvolvidas para evitar a introdução ou dispersão para outras regiões do País. Uma das ações consiste no estabelecimento, através de Análise de Risco de Praga, dos requisitos fitossanitários para importação de espécies hospedeiras de países onde ocorre a planta daninha, com sua consequente categorização como quarentenária para o Brasil. Há alerta e determinação aos demais estados para a realização de levantamento de detecção, para se ter certeza de que o único foco existente, no País, é o de Mato Grosso. Esta atividade é de suma importância na Região Sul, devido à fronteira com a Argentina, onde A. palmeri está presente, e com o Paraguai, devido ao potencial de risco de ocorrência dessa praga naquele país. Como resultado deste alerta ocorreram ações de prevenção envolvendo parcerias
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público-privadas, como a campanha “Amaranthus palmeri no Paraná: alerta”, fruto da cooperação entre Adapar Seab PR, Sistema Faep, Sistema Ocepar, Embrapa Soja e Mapa, lançada em janeiro de 2016 (Gazziero; Adegas, 2016). Outra medida consiste na identificação e comunicação de laboratórios disponíveis da rede credenciada do Mapa, aptos a fazer a identificação da espécie. Também a solicitação ao Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) do Mapa, para que redobre a atenção em relação à importação de máquinas agrícolas usadas, verificando-se o que dispõe a Instrução Normativa SDA 14/2004; A elaboração de normativa federal para a praga, de forma a permitir uma ação rápida em caso de novos focos, em especial nos estados que não dispõem de legislação fitossanitária que garanta eficácia no controle de A. palmeri e a construção de normativa federal para exigência de limpeza de máquinas e de implementos agrícolas já utilizados, para o trânsito nacional, também compõem o conjunto de ações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dispersão de A. palmeri nas áreas agrícolas de Mato Grosso e no restante do Brasil poderá trazer consideráveis prejuízos aos produtores rurais, tendo em vista que os biótipos encontrados são resistentes ao glifosato e a herbicidas inibidores de ALS. Além do risco de desenvolvimento de resistência a outros mecanismos de ação, poderão ocorrer impactos econômicos, sociais e ambientais para a sociedade como um todo, devido à necessidade de utilização de herbicidas adicionais, à perda de produtividade, ao aumento do custo de produção, ao risco de imposição de barreiras fitossanitárias e à dificuldade do seu controle. O trabalho conjunto e alinhado do setor público e privado permitiu uma rápida tomada de decisão e a implementação eficaz das ações, que tem proporcionado sucesso na contenção dessa planta daninha. Observou-se, durante a execução dos trabalhos, que as ações de fiscalização por parte do Indea-MT e de supervisão por parte do Mapa são de fundamental importância para o êxito do programa. Isto reforça a necessidade da elaboração de um arcabouço regulatório nacional atualizado, na área de defesa vegetal, para dar suporte a ações oficiais de controle de pragas. C Dalci de Jesus Bagolin e Omar Roberto da Silveira, Mapa Rogaciano Araceli C. de Arruda, Cristiano Henrique de Souza e João Batista da Silva, Indea/MT Dionisio Luiz Pisa Gazziero, Embrapa Soja
Informe
Alimento para o mundo Divulgação
Parceria entre Syngenta e Informs resulta na Crop Challenge, criada com o objetivo de conectar as melhores mentes analíticas com o problema da segurança alimentar
P
ensadores criativos, mentes matemáticas, engenheiros e solucionadores de problemas devem se envolver mais com os problemas coletivos. Muitas pessoas ao redor do mundo passam fome todas as noites, e este número tende a aumentar significativamente nas próximas décadas se não houver incremento da produção agrícola agora e de maneira responsável do ponto de vista ambiental. No ano passado, através de uma parceria com o Instituto de Pesquisa Operacional e Ciências de Gestão (Informs), a Syngenta criou a Crop Challenge para ajudar a conectar as melhores mentes analíticas com o problema da segurança alimentar. A Crop Challenge 2017 terá início em setembro e promete ser um sucesso maior ainda. Naturalmente que não serão resolvidos todos os problemas do mundo com uma única tentativa. O que esse grande desafio pode fazer é dar início ao processo, melhorando a produtividade da terra no seu nível mais básico, auxiliando os produtores com as decisões que devem tomar todos os dias. O grande desafio no ano passado foi solicitar aos participantes que apresentas-
sem um método para determinar como os produtores tomam suas decisões em relação às variedades de sementes que possam reduzir riscos e aumentar a produtividade com segurança. Para isso, cada participante recebeu um conjunto de informações contendo dados de testes reais que ajudaram a julgar as propostas de maneira objetiva. O time vencedor era totalmente novo para a agricultura. “Este foi o nosso primeiro projeto sobre aplicação da Pesquisa Operacional na agricultura”, disse um dos membros do time, Xiaocheng. “Estávamos mais familiarizados com as aplicações tradicionais, tais como transporte e logística”, relatou. A proposta vencedora combinou as mais modernas técnicas de aprendizado sobre máquinas com uma estrutura analítica econômica, recebendo um prêmio de cinco mil dólares. Mas, mesmo aqueles que não atingiram o topo disseram que gostaram muito de ter a oportunidade de participar do projeto. De acordo com o professor Sam Burer, um candidato finalista em 2016, poucas empresas estão dispostas a engajar a comunidade em seus problemas e dados. “A
Syngenta está interessada em se envolver tanto na previsão quanto na otimização/ tomada de decisão, o que é bastante importante e de grande valor para estudantes de análises de negócios.” Toda tentativa, dentro deste contexto, tem aproximado de uma solução para o problema da segurança alimentar que ainda registra 870 milhões de pessoas ao redor do mundo indo para cama com fome todas as noites. O desafio para 2017 aumenta o escopo do problema, através da busca por um método para reduzir riscos e incrementar a produtividade em nível regional. A proposta certa irá oferecer os critérios usados para selecionar variedades, resultados quantitativos que justifiquem a escolha e uma clara descrição da metodologia adotada. Os finalistas da Crop Challenge 2017 farão as suas apresentações durante a Conferência da Informs em Análise de Negócios e Operações de Pesquisa, em Las Vegas, nos Estados Unidos, de 2 a 4 de abril. Mais informações podem ser acessadas pelo site https://www.ideaconnection.com/ C syngenta-crop-challenge/.
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Soja
Velhas inimigas O C. Bortolotto
Desde o início do cultivo de soja no Brasil, as lagartas se encontram entre as principais pragas da cultura. Muitas décadas depois, apesar de toda tecnologia desenvolvida para o cultivo, essas pragas continuam a ameaçar a sojicultora nacional e a tirar a tranquilidade de muitos produtores. As espécies podem ser diferentes em alguns casos, mas esses insetos seguem a figurar entre as principais pragas da soja. Aprender a manejá-las, com o uso correto de ferramentas disponíveis, dentro do Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIP-Soja), é a maneira mais eficaz de controlá-las e evitar prejuízos
A
té final da década de 90, a lagarta-da-soja era a principal na cultura. Depois dos anos 2000, outra lagarta, a falsa-medideira cresceu em importância e também atingiu o status de praga-chave da soja, principalmente devido à redução de seus inimigos naturais, entre os quais estavam fungos entomopatogênicos que controlavam naturalmente sua população. Atualmente, o complexo de lagartas do gênero Spodoptera, apesar de não ser praga-chave generalizada em todo o país, causa temor nos sojicultores por causar desfolha, atacar as vagens das plantas e não ser controlado pela soja Bt, que expressa a proteína Cry 1Ac. Prejuízos às lavouras devido ao ataque dessas lagartas devem-se, em grande parte, ao abandono do Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIP-Soja) e a utilização de inseticidas de forma “calendarizada” ou em
“carona” com as pulverizações de herbicidas e fungicidas efetuadas na cultura. A não adoção da área de refúgio, na soja Bt, também é uma nova ameaça ao manejo dessas pragas. Algo que precisa ser corrigido e ter sua adoção incentivada, assim como a retomada do MIP-Soja. Para o sucesso do controle dessas pragas é preciso utilizar de forma correta as principais ferramentas de manejo disponíveis.
PRINCIPAIS FERRAMENTAS PARA O MANEJO E CORRETA UTILIZAÇÃO Controle químico Os inseticidas estão entre as mais importantes ferramentas de manejo de pragas na atualidade e quando bem utilizados trazem grandes benefícios ao produtor. Entretanto, o uso errado dessa ferramenta, com pulveriza-
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ções desnecessárias, realizadas sem a adoção dos devidos critérios agronômicos, pode trazer grandes malefícios como o aumento abusivo do custo de produção, seleção de populações de insetos resistentes, surtos de pragas ainda maiores do que haveria na ausência da aplicação, sem contar os riscos de contaminação do homem e meio ambiente. Quando comparados os gastos com agroquímicos entre as safras 2002/2003 e 2012/2013 (Figura 1) é possível visualizar o aumento do custo de produção devido ao uso de defensivos. Parte desses gastos pode ser reduzida evitando-se o uso desnecessário de inseticidas. Não é recomendada ao produtor de soja a utilização de controle em qualquer infestação de pragas ou preventivamente. A aplicação de inseticidas deve ser econômica e, portanto, somente justificável quando a
Adeney Bueno
Figura 1 - Gastos com agroquímicos na soja em diferentes safras
Fonte: Kleffmann Group
população da praga estiver em níveis reconhecidamente ameaçadores à lucratividade da lavoura, conhecidos como níveis de ação. Resultados com cultivares de soja de ciclo precoce ou superprecoce, crescimento indeterminado e pequeno índice de área foliar indicam que a soja continua tolerante à desfolha sem perder produtividade (Figura 2). Por isso, os níveis de ação recomendados (Tabela 1) são confiáveis, não havendo razão para o produtor aplicar antes desses níveis serem atingidos. Além de aplicar no período correto é preciso também escolher o inseticida e a dose certa. Estes procedimentos dependem da espécie de lagarta ou do grupo predominante, o que só pode ser obtido através da avaliação da lavoura com o pano de batida (Figura 3). Considerar que lagartas são todas iguais é um grande erro, pois a melhor dose e produto a ser empregado depende de qual grupo desses insetos está se destacando nos cultivos. Para amostragem na lavoura o produtor necessita anotar separadamente pelo menos quatro grupos de lagartas que são: spodopteras, falsas-medideiras, lagartas do grupo heliothinae e a lagarta-da-soja (Figura 3). É importante salientar que, em geral, os inseticidas mais indicados para o controle de lagartas na soja são aqueles que conseguem aliar boa eficiência no controle das pragas-alvo com alta seletividade aos insetos benéficos (abelhas, insetos predadores e parasitoides de pragas). Os inseticidas do grupo dos reguladores de crescimento de insetos (popularmente conhecidos como “fisiológicos”), inseticidas biológicos à base de vírus (baculovírus) e bactérias (Bt) e alguns mais novos grupos de inseticidas como as espinosinas e diamidas conseguem ser mais seletivos aos insetos benéficos quando comparados a grupos de inseticidas mais antigos como piretroides, carbamatos, organofosforados, entre outros, e por isso são mais indicados no controle das lagartas da soja desde que devidamente regis-
Presença da lagarta C. includens causando danos em folha de soja
trados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a praga-alvo. Além disso, é importante “rotacionar” a utilização de inseticidas com modo de ação diferenciado, o que irá reduzir a seleção de insetos resistentes aos defensivos utilizados. Ainda, a prática de aplicações preventivas, “calendarizadas” ou de “carona” com outros agroquímicos como herbicidas e fungicidas deve ser evitada, pois, em longo prazo há intensificação do problema, principalmente decorrente da supressão dos inimigos naturais, da seleção de linhagens resistentes e do aumento das pragas não alvo.
Soja Bt Na safra 2013/14 houve a liberação e utilização da soja Bt para cultivo no Brasil. Essa primeira geração de soja Bt tem como objetivo o controle das espécies A. gemmatalis, C. includens, H. virescens e broca das axilas, além da supressão da H. armigera. Vale ressaltar que as lagartas do complexo Spodoptera não são controladas por essa tecnologia. É importante destacar que ao mesmo tempo em que essas plantas estarão controlando as pragas-alvo 24 horas por dia/sete dias da semana, também estão selecionando insetos resistentes ao Bt 24 horas por dia/sete dias da semana. Assim, da mesma maneira
Figura 2 - Produção da soja (kg/ha) após diferentes intensidades de desfolhas (%)
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Figura 3 - Procedimento de amostragem com o uso do pano de batida e os principais grupos de lagartas que precisam ser anotadas separadamente na amostragem para a correta escolha do produto e sua dose
Figura 4 - Exemplo de disposição de refúgio e sua função no manejo de resistência
C
que ocorre com os inseticidas convencionais, a utilização de culturas transgênicas que expressam toxinas inseticidas (plantas Bt) tem trazido consigo o risco enorme de seleção de populações de insetos resistentes. Entre as diversas medidas para retardar a seleção de indivíduos resistentes, o plantio do refúgio apresenta especial importância. O refúgio, portanto, é o cultivo de 20% da área (no mesmo talhão) com a mesma cultura não Bt (preferencialmente uma isolinha) com o objetivo de reduzir a seleção de insetos resistentes a essa tecnologia (Figura 4).
É importante estar claro que na área de refúgio é estratégica a formação de indivíduos suscetíveis à toxina que possam cruzar com possíveis insetos resistentes provenientes da área Bt e assim originar insetos que continuarão sendo mortos pela tecnologia (Figura 4) que são os heterozigotos. Portanto, deve-se evitar uso abusivo de inseticidas na área de refúgio, aniquilando a população de insetos presente na área. A área de refúgio precisa sim produzir economicamente, mas de forma sustentável, onde além de produzir soja exista também a produção de insetos suscetíveis à
tecnologia. Assim, é fundamental que o manejo da área de refúgio seja realizado de acordo com o MIP-Soja. Tecnologias como amostragem com o emprego do pano de batida, assim como a aplicação de inseticidas apenas quando os níveis de ação das pragas forem atingidos (aplicação racional de inseticidas) continuarão sendo essenciais na área de refúgio assim como também na área Bt. Plantas Bt vieram para somar ao MIP e não para substituí-lo! Controle biológico O controle biológico de lagartas na
Tabela 1 - Principais níveis de ação para lagartas na cultura da soja Praga Lagartas (qualquer espécie)
C. includens e A. gemmatalis Lagartas da Subfamília Heliothiinae (Helicoverpa + Heliothis)
Lagartas do complexo Spodoptera
Observação Dar preferência para aplicação de produtos mais seletivos aos inimigos naturais Mais que 50% das lagartas menores que 1,5cm dar preferência para aplicação de vírus, bactéria ou inseticida do grupo dos reguladores de crescimento de inseto. 2 ou mais lagartas/metro (pano de batida) durante o estádio reprodutivo da cultura Mais que 50% das lagartas maiores que 1,5cm dar preferência para aplicação de produtos com maior efeito de choque. Dar preferência para aplicação de produtos mais seletivos aos inimigos naturais 10 ou mais lagartas≥1,5cm/metro (pano de batida) Quando controlar? Desfolha igual ou superior a 30% no estádio vegetativo Desfolha igual ou superior a 15% no estádio reprodutivo 20 ou mais lagartas ≥1,5cm/metro (pano-de-batida) 4 ou mais lagartas/metro (pano de batida) durante o estádio vegetativo da cultura
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soja pode ser realizado com a utilização de entomopatógenos, sendo o baculovírus e a bactéria Bacillus thurigiensis os exemplos mais comuns, ou com a utilização de parasitoides de ovos. Dentre as táticas que têm mostrado bons resultados, principalmente no manejo de lepidópteros, está a utilização de parasitoides de ovos do gênero Trichogramma e mais especificamente Telenomus remus para o controle de Spodoptera spp. O principal benefício da liberação desses parasitoides é o controle dos ovos das pragas em todas as regiões da planta antes mesmo que qualquer injúria ocorra. Entretanto, o sucesso ou fracasso das liberações depende do conhecimento da bioecologia desses parasitoides e da sua interação com agroquímicos seletivos para que, assim, as principais recomendações possam ser realizadas. Com base nos resultados de pesquisas obtidos até o momento, é possível afirmar que T. pretiosum tem o potencial de permanecer efetivo no controle em campo por quatro dias após sua liberação. A avaliação de suas características biológicas e exigências térmicas demonstra que essa espécie apresenta condições de se desenvolver durante todo o ciclo da soja nas mais diversas temperaturas. No campo, o raio de ação médio e a área de dispersão de T. pretiosum na soja foram de 8m e 85,2m2, respectivamente. Portanto, o número de pontos de liberação do parasitoide, determinado através do raio efetivo de dispersão, deve ser de 117 pontos por hectare, para que haja uma distribuição homogênea na área tratada nas primeiras 24 horas e assim obter maior eficiência no parasitismo e consequentemente no controle das pragas. Essa quantidade grande de pontos/ha pode ser um entrave no uso dessa tecnologia, mas, a liberação aérea dos parasitoides, por meio de veículos aéreos não tripulados (Vants ou drones), já é realizada em algumas localidades e pode suprir essa necessidade. Quanto ao número de T. pretiosum a ser liberado, pode-se concluir que a melhor densidade de parasitoides para liberação foi à proporção de 25,6 parasitoides/ovo da praga. Após a liberação desta densidade de parasitoides ocorreu alto parasitismo dos ovos de lepidópteros em todas as partes da planta. Entretanto, como a avaliação de ovos no campo é impraticável na condução comercial da lavoura, outra metodologia para indicar o melhor momento de liberação do parasitoide ainda precisa ser avaliada e é o principal desafio para o uso de parasitoides de ovos na soja no momento. A utilização de armadilhas de feromônios para detecção das mariposas pode ser uma alternativa, mas a diversidade de espécies na cultura ainda apresenta seus desafios para o correto uso dessa tecnologia. Em ensaios de campo, com a liberação
Figura 5 - Unidades de referência implantadas no Paraná pelo programa de estado Plante Seu Futuro, sob a coordenação da Emater-PR
de T. pretiosum em diferentes fases, pode-se observar que a liberação do parasitoide foi uma boa ferramenta complementar na supressão dos lepidópteros-praga em soja quando associado às demais práticas já consagradas de MIP-Soja. Mesmo após a liberação de Trichogramma o controle químico com inseticida pode vir a ser necessário. Em face desses fatores, o emprego de inseticidas seletivos que preservem o T. pretiosum, além dos outros parasitoides e demais insetos benéficos, é crucial para o sucesso do manejo. Embora existam algumas lacunas no conhecimento para a melhor utilização dos parasitoides de ovos na cultura da soja para o controle dos lepidópteros-pragas, já é possível empregar de forma satisfatória esses agentes de controle biológico na cultura.
EXEMPLOS DE SUCESSO NO MANEJO
Quando é realizado o manejo correto dos lepidópteros, torna-se possível racionalizar os inseticidas com a mesma eficiência de controle. No estado do Paraná, o MIP-Soja tem sido conduzido em diversos municípios em um programa de estado chamado “Plante seu Futuro”. Nessas unidades de referência (URs), onde os técnicos da Emater prestam assistência e introduzem o MIP-Soja aos produtores, já foi possível reduzir o uso de inseticidas em aproximadamente 50%, além de aumentar o intervalo da primeira aplicação em aproximadamente o dobro (de 35 dias para 63 dias), permitindo maior preservação dos inimigos naturais e propiciando menos impacto da aplicação do inseticida químico
(Figura 5). O sucesso do MIP-Soja no Paraná deve-se ao grande esforço da Emater para mostrar a importância de que os mais diferentes métodos de controle sejam desenvolvidos e continuem disponíveis para o sojicultor, visto que a integração dessas tecnologias de forma harmônica é crucial para o sucesso do manejo de pragas na soja. Por isso, mesmo na era da biotecnologia, o controle biológico, os inseticidas e as demais táticas de controle de pragas disponíveis continuarão sendo necessários no combate das pragas da soja e precisam ser preservados e utilizados de forma sustentável C e integrada. Adeney de Freitas Bueno, Embrapa Soja Débora Mello da Silva, Iapar
Bueno e Débora destacam a importância das ferramentas do Manejo Integrado de Pragas
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Soja
Cenário hostil Fotos Margarida Fumiko Ito
A produção de soja no Brasil é afetada por uma gama extensa de doenças, causadas por fungos do solo e da parte aérea, favorecidos por características locais como o clima predominante nas regiões de cultivo do País. Manejá-las é um grande desafio que passa por integrar os métodos genético, legislativo, cultural, físico, biológico e químico em busca do equilíbrio entre a sustentabilidade do agroecossistema e o retorno financeiro satisfatório ao produtor
A
cultura da soja consolidou-se no Brasil e tornou-se uma das principais commodities, representando importante fatia da economia brasileira. O País é o segundo maior produtor mundial dessa oleaginosa, que ocupa extensas áreas de cultivo, anualmente. A produção de soja, em alta escala no Brasil, e o descuido no manejo sustentável apresentam como consequência o cenário atual, em relação ao estado fitossanitário da cultura, com aumento de diferentes doenças e muitas que passaram a apresentar maior severidade, tanto na parte aérea, quanto no sistema radicular. O emprego de técnicas modernas para
a produção de soja, essenciais para grandes escalas como no Brasil, trouxe boas soluções ao atendimento à demanda, mas proporcionou também alguns desequilíbrios naturais, evidenciados nas alterações das populações de pragas e patógenos das culturas. As cultivares de soja em uso são compostas, em geral, de populações de mesma constituição genética. Na ocorrência de uma doença nessa cultivar, todas as plantas da cultura podem ser atacadas pelo patógeno causador dessa doença, tornando mais difícil o seu controle. O clima brasileiro, de característica tropical a subtropical, também favorece a sobrevivência de pragas e de patógenos no campo.
ANTRACNOSE - Colletotrichum truncatum
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Países de clima frio têm um intervalo natural, o estresse climático, que pode interromper os ciclos de vida das pragas e dos patógenos, o que contribui para a redução ou até a sua erradicação. Em relação ao controle químico, a cultura da soja já sofre com populações de patógenos menos sensíveis a ingredientes ativos dos grupos dos triazóis e estrobilurinas, que apresentavam elevada eficácia quando lançados ao mercado e, algumas safras após, deixaram de apresentar essa eficácia, no patossistema soja x Phakopsora pachyrhizi. Para o controle das doenças na cultura da soja, como também de outras culturas, o ideal é utilizar todas as formas possíves de controle, o manejo integrado de doenças. É importante acompanhar as lavouras, desde a semeadura até a colheita, constantemente, e usar os métodos de controle indicados a cada etapa da cultura. Muitas doenças podem ocorrer na cultura da soja e já foram descritas mais de 40 no Brasil, a maioria causada por fungos que são transmitidos e/ou disseminados pelas sementes contaminadas. As doenças podem ser provocadas por patógenos da parte aérea e habitantes do solo, causadores de podridão do sistema radicular e morte da planta.
PRINCIPAIS DOENÇAS DA PARTE AÉREA DA CULTURA DA SOJA
As principais doenças da parte aérea, patógenos, condições ideais para o seu desenvolvimento e sobrevivência encontram-se na Tabela 1.
CANCRO DA HASTE - Diaporthe aspalathi
CRESTAMENTO FOLIAR E MANCHA PÚRPURA DA SEMENTE - Cercospora kikuchii
FERRUGEM ASIÁTICA - Phakopsora pachyrhizi
MANCHA ALVO - Corynespora cassiicola
MÍLDIO – Peronospora manshurica e OÍDIO - Microsphaera diffusa
SECA DA VAGEM E DA HASTE - Phomopsis spp.
SEPTORIOSE OU MANCHA-PARDA - Septoria glycines
As doenças cancro da haste (Diaporthe aspalathi) e mancha-olho-de-rã encontram-se controladas através da resistência genética aos patógenos, incorporada às cultivares de soja em uso.
DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS HABITANTES DO SOLO
Na Tabela 2 encontram-se os principais fungos causadores de podridão do sistema radicular, habitantes do solo, condições ideais para o seu desenvolvimento e sobrevivência.
FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA
No cenário fitossanitário atual, a doença que mais causa preocupação ao produtor de soja é a ferrugem asiática. O controle com fungicidas formulados em mistura de diferentes grupos químicos tem se mostrado eficiente. É importante realizar a rotação de produtos com diversos modos de ação, para evitar o aumento da população de P. pachyrhizi menos sensível ao ingrediente ativo e proporcionar maior vida útil ao produto. Devem-se seguir as recomendações da empresa detentora do produto. Os principais grupos são triazóis, estrobilurinas e carboxamidas. No site http://www.agricultura.gov.br/ser-
vicos-e-sistemas/sistemas/agrofit encontram-se os fungicidas recomendados ao controle da ferrugem e de outras doenças.
MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DA CULTURA DA SOJA
O objetivo do manejo integrado de do-
SEQUÊNCIA DE MEDIDAS RECOMENDADAS
V
azio sanitário: a maioria dos estados brasileiros adota este período, que consiste na ausência de planta de soja viva durante 60 dias a 90 dias, conforme determinação de cada estado. Os objetivos são redução do inóculo de Phakopsora pachyrhizi, retardamento do aparecimento da doença, redução de aplicações de fungicidas, redução do risco de aplicação e redução do custo de produção. Início da semeadura, se possível, logo após o vazio sanitário, em solo analisado e corrigido e com adubação equilibrada, dando preferência à cultivar de ciclo precoce, com objetivo de se escapar da ferrugem, ou na ocorrência, sofrer baixa pressão de inóculo. Dar preferência a cultivares de porte
ereto e que não se acamem, para proporcionar maior aeração na cultura, o que pode reduzir a umidade. Na disponibilidade, usar cultivares com resistência a Phakopsora pachyrhizi, porém, mesmo essas cultivares precisam ser complementadas com controle químico, em algumas situações. Monitorar a cultura, desde a emergência, com atenção às condições climáticas. O fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem, desenvolve-se bem, nos períodos chuvosos, a alta umidade lhe favorece e apresenta ampla faixa de temperatura, de 8ºC a 30°C, sendo a faixa de 18ºC a 21°C ótima para a infecção. Muita atenção para não perder o exato momento de iniciar o controle químico, preventivamente.
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Tabela 1 - Principais doenças fúngicas da parte aérea da cultura da soja, patógenos, condições ideais e sobrevivência Doença Antracnose Cancro da haste
Sobrevivência Sementes e restos culturais Sementes e restos culturais Sementes e restos culturais Hospedeiros alternativos Sementes e restos culturais Plantas hospedeiras: muitas espécies de plantas hospedeiras: algodão, abóbora, berinjela, feijão caupi, feijão, mamona etc Temperatura: alta / Alta umidade Sementes e restos culturais Cercospora sojina Temperatura: entre baixa a alta; a infecção e o desenvolvimento Sementes, restos culturais Septoria da doença são favorecidos pelas altas temperaturas e umidade e hospedeiros alternativos glycines Sementes, oósporos e restos culturais Peronospora manshurica Temperatura: 20oC a 22oC / Alta umidade / Esporulação: 10oC a 25oC Temperatura: baixa / Alternância de umidade: baixa e alta Hospedeiros alternativos Microsphaera diffusa Temperatura acima de 20oC / Baixa a alta umidade, solos com Sementes e Phomopsis spp. deficiência de potássio hospedeiros alternativos
Patógeno Colletotrichum truncatum Diaporthe aspalathi Diaporthe caulivora Crestamento foliar e mancha púrpura da semente Cercospora kikuchii Ferrugem Phakopsora asiática pachyrhizi Mancha Corynespora alvo cassiicola Mancha-olho-de-rã Mancha parda ou septoriose Míldio Oídio Seca da vagem e da haste
Condições ideais Alta temperatura: 28oC a 34oC / Alta umidade Temperatura: 15oC a 25oC Alta umidade, períodos chuvosos Temperatura entre 28oC e 30oC / Alta umidade Temperatura: 8oC a 30oC / 18oC a 21oC = Ótima para infecção Alta umidade, períodos chuvosos Temperatura: ampla faixa / Alta umidade / Em meio de cultura: 18oC a 28oC, porém podem desenvolver entre 5oC e 39oC
Fontes: Sinclair, J.B. (Edit.). Compendium of Soybean Diseases. 104p. 1982; Embrapa Soja, 2014. 266 p. (Sistemas de Produção).
Tabela 2 - Principais doenças da cultura da soja, patógenos habitantes do solo, que causam podridão do sistema radicular, condições ideais e sobrevivência Doença Mela ou requeima da soja Mofo branco Morte por fusarium e Podridão vermelha da raiz (síndrome da morte súbita) Podridão cinzenta Podridão da raiz Podridão parda da haste Podridão radicular de corinéspora
Condições ideais Patógeno Regiões tropicais e subtropicais / Temperatura:25oC a 30oC Rhizoctonia solani (anamórfica) Alta umidade, períodos chuvosos Thanatephoriscucucmeris (pleomórfica) Temperatura: 11oC a 25oC/5oC a 30oC Sclerotinia Alta umidade sclerotiorum Temperatura: alta e baixa Fusarium spp. Alta umidade alternada com baixa umidade
Macrophomina phaseolinai Phytophthora sojae Phialophora gregata Corynespora cassiicola
Rizoctoniose, tombamento de plântulas e morte em reboleiras Tombamento
Rhizoctonia solani Phytium spp.
Tombamento e murcha de sclerotium
Sclerotium rolfsii
Temperatura: 28oC a 35oC / Baixa umidade / Solo compactado Temperatura: 5oC a 28oC (ótima: 15oC) / Alta umidade / Solo compactado Temperatura: 15oC a 32oC Temperatura: ampla faixa / Alta umidade / Em meio de cultura: 18oC a 28oC, porém podem desenvolver entre 5oC a 39oC Temperatura baixa, entre 15oC e 29oC / Alta umidade e Solo compactado Temperatura: 10oC a 36oC, variando conforme a espécie /Alta umidade Temperatura: 25oC a 35oC, solo compactado, arenoso, pH entre 3 e 6,5
Sobrevivência Sementes, restos culturais, escleródios e muitos hospedeiros alternativos Sementes, restos culturais, escleródios, algumas plantas daninhas e muitos hospedeiros alternativos Sementes e restos culturais, solo compactado Sementes, restos culturais, microescleródios, hospedeiros alternativos Restos culturais, oósporos Sementes, restos culturais, solo Sementes e restos culturais / Plantas hospedeiras: muitas espécies de plantas hospedeiras: algodão, abóbora, berinjela, feijão caupi, feijão, mamona etc Sementes, restos culturais, escleródios, ampla gama de hospedeiros Sementes, restos culturais, oósporos Sementes, restos culturais, escleródios, ampla gama de hospedeiros
Fontes: Sinclair, J.B. (Edit.). Compendium of Soybean Diseases. 104p. 1982; Embrapa Soja, 2014. 266 p. (Sistemas de Produção).
enças (MID), que contempla os métodos genético, legislativo, cultural, físico, biológico e químico consiste em obter a máxima expressão do potencial genético da cultivar, com alta produtividade e boa qualidade da soja colhida. Esses métodos devem ser usados conjuntamente, considerando-se a sustentabilidade do
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agroecossitema e o retorno financeiro satisfatório ao produtor. No MID, a cultura da soja é “construída” desde a escolha da área e época de semeadura, observando-se a rotação de culturas/adubação verde, para reduzir o potencial de inóculo dos patógenos, plantio direto (prática sustentável), correção do solo, adubação equilibrada, cultivar com resistência genética a patógenos, boa qualidade fisiológica e sanitária das sementes, tratamento de sementes, acompanhamento atento da cultura, controle biológico e controle C químico. Margarida Fumiko Ito, Instituto Agronômico (IAC)
Trigo
Sinal amarelo
Fotos Douglas Lau – Embrapa Trigo
Entre as viroses que afetam a cultura do trigo o nanismo amarelo, causado por Barley yellow dwarf virus (BYDV), tem potencial para provocar prejuízos graves, como atraso no desenvolvimento da planta, diminuição da capacidade de suportar estresses ambientais e consequente diminuição da produtividade pela redução do número e peso dos grãos. Quando disponível, a resistência genética é um importante aliado no manejo desta doença
V
irose é uma doença causada por vírus. Assim como ocorre em humanos e animais, as plantas podem ser infectadas por espécies de vírus que são capazes de se multiplicar em suas células, produzindo desordens que resultam em sintomas visíveis e redução da produção. O trigo é hospedeiro de muitas espécies de vírus. No Brasil, duas viroses são mais comuns e vêm causando prejuízos à triticultura desde a sua expansão nos anos 1970 até os dias atuais: o nanismo amarelo, causado por espécies dos vírus Barley yellow dwarf virus (BYDV) e Cereal yellow dwarf virus (CYDV), e o mosaico comum do trigo, atribuído ao Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV). Recentemente foi introduzido no Brasil, o Wheat streak mosaic virus (WSMV), que é transmitido pelo ácaro do enrolamento do trigo (Aceria tosichella). Como os vírus de
plantas dificilmente podem ser tratados em condições de lavoura, as medidas de controle de viroses são preventivas, com o objetivo de impedir ou dificultar a chegada dos vírus à cultura e sua disseminação. A resistência genética é uma eficiente forma de controle de viroses, devendo ser utilizada quando disponível. Os nomes dos vírus de plantas costumam fazer referência ao hospedeiro e aos sintomas típicos decorrentes da infecção. No caso do Barley yellow dwarf virus (BYDV - Luteovirus), a descrição original ocorreu em cevada e os sintomas evidentes nesse hospedeiro são um forte amarelecimento das folhas (que ocorre no sentido do ápice para a base da folha), a redução do crescimento e o atraso no desenvolvimento da planta. A redução de crescimento não se restringe à altura (nanismo), também podem ser reduzidos o
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número de perfilhos, a massa foliar e a massa do sistema radicular. Entre os sintomas mais característicos desta virose, está a alteração da coloração do limbo foliar. No trigo, geralmente ocorre o amarelecimento do limbo foliar, mas, dependendo da cultivar, outras tonalidades mais avermelhadas podem ser observadas. Além da alteração da cor, ocorrem mudanças morfológicas, com o limbo foliar adquirindo aspecto lanceolado e tornando-se mais rígido. O conjunto destas alterações morfofisiológicas pode levar ao atraso no desenvolvimento da planta (aumento do tempo necessário para completar o ciclo) e tornar a planta menos capaz de suportar estresses ambientais, como o déficit hídrico. A diminuição da produtividade é decorrente da redução do número e do peso dos grãos. A expressão dos sintomas é variável e depende do nível de suscetibilidade
e/ou tolerância da cultivar e da época em que as plantas foram infectadas. Quanto mais cedo ocorrer a infecção, mais severos tendem a ser os sintomas. Assim, os sintomas nem sempre são evidentes, podendo ser percebidos apenas de maneira comparativa entre plantas infectadas e não infectadas. Geralmente são observados em grupos de plantas (reboleiras), que correspondem às áreas de multiplicação e dispersão do afídeo vetor. As plantas no centro da reboleira foram infectadas no início do seu desenvolvimento, sendo mais afetadas. As plantas infectadas apresentam amarelecimento das folhas, redução do crescimento e atraso no desenvolvimento. As espécies de BYDV (Luteovirus) e CYDV (Polerovirus) são transmitidas por afídeos (pulgões) (Hemiptera, Aphididae). Das várias espécies de BYDV (BYDV-PAV, BYDV-PAS, BYDV-MAV) e de CYDV (CYDV-RPV, CYDV-RPS), no Brasil predomina BYDV-PAV. No outono, este vírus pode ser facilmente encontrado em aveia-preta (cujas folhas ficam com uma coloração avermelhada e o limbo da folha enrolado). Também em plantas de aveia é comum encontrar o pulgão da aveia (ou do colmo) Rhopalosiphum padi, um dos mais eficientes transmissores de BYDV-PAV. Este vírus também é transmitido por afídeos que ocorrem em estádios mais avançados do trigo, como Metopolophium dirhodum (pulgão da folha) e Sitobion avenae (pulgão da espiga). Ao se alimentar da seiva de uma planta infectada, o afídeo adquire partículas virais, que migram pelo seu trato digestivo e hemoceles e acumulando na glândula salivar. O vírus é retido nas mudanças de fase do afídeo, mas não é transmitido à sua progênie. A transmissão ocorre quando o afídeo virulífero alimenta-se de uma planta sadia. O vírus não é transmitido por outros insetos, sementes, solo ou mecanicamente. Durante o outono e a primavera, quando as temperaturas são amenas e as populações de afídeos numerosas, ocorre migração de afídeos de gramíneas infectadas para gramíneas sadias, permitindo a transmissão do vírus. Para as condições brasileiras, pode
ocorrer a migração dos afídeos de lavouras de aveia para os cultivos recém-implantados de trigo. Também é possível que ocorram migrações de afídeos entre lavouras de trigo. Como em função das condições de clima, o trigo é plantado em diferentes épocas, na medida em que em algumas regiões a cultura entra em maturação, os afídeos podem migrar para outras em que o trigo está em estádios mais novos de desenvolvimento. O potencial de dano deste complexo afídeo-vírus à produção de trigo resulta da interação dos componentes: incidência da doença decorrente das condições epidemiológicas e do nível de tolerância/resistência das cultivares. Anos secos e com temperaturas elevadas (temperaturas de 18ºC-25°C) favorecem as populações de afídeos, permitindo aumento da incidência da virose. Para controlar as populações de afídeos, pode-se combinar práticas culturais (evitar a presença de plantas reservatórios), com o controle químico e biológico. O controle biológico, realizado principalmente por espécies de microime-
nópteros (“vespinhas”), tem grande êxito no Brasil, reduzindo de forma considerável a população de afídeos. O controle químico pode ser realizado no tratamento de sementes e em aplicações na parte aérea. Os níveis de ação preconizados são 10% das plantas com afídeos nas fases vegetativas e dez pulgões por afilho/espiga nas fases reprodutivas. As cultivares de trigo, mesmo sendo suscetíveis (ou seja, são infectadas pelo vírus), apresentam variação da reação ao BYDV. Assim, pode-se se optar pelas que sejam mais tolerantes à infecção, principalmente nas regiões de clima mais quente e, portanto, mais sujeitas a epidemias de nanismo amarelo. Com o objetivo de fornecer informações sobre a reação das cultivares de trigo ao BYDV-PAV realiza-se na Embrapa Trigo, anualmente, a avaliação de cultivares que compõe o Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo do Rio Grande do Sul (EECT-RS). Os ensaios são realizados em condições padronizadas. Em cada ensaio são avaliados 34 genótipos de trigo, as 30 cultivares do EECT-RS do res-
Espécies de afídeos vetoras de Barley yellow dwarf virus (Rhopalosiphum padi) pulgão da aveia ou do colmo
Espécies de afídeos vetoras de Barley yellow dwarf virus (Sitobion avenae) pulgão da espiga
Espécies e afídeos vetoras de Barley yellow dwarf virus (Metopolophium dirhodum) pulgão da folha
Redução do crescimento de plantas de trigo devido à infecção por Barley yellow dwarf virus
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Douglas Lau – Embrapa Trigo
Impactos à produtividade causados pelo nanismo amarelo. O gráfico representa a distribuição de frequência por classe de Dano % (redução do potencial produtivo quando da infecção em estádio inicial de desenvolvimento) sofrido pelas cultivares que compunham o Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo do Rio Grande do Sul nos anos 2011, 2012, 2013 e 2014
*Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Duncan (p>0,05).
Avermelhamento das folhas de aveia-preta causado por BYDV-PAV
pectivo ano e quatro testemunhas (BRS Timbaúva e BR 35, tolerantes ao BYDV; Embrapa 16 e BR 14, intolerantes ao BYDV). Como vetor utiliza-se R. padi, portando um isolado BYDV-PAV. O inóculo viral é multiplicado em plantas de aveia-preta que são empregadas na criação de R. padi virulíferos. O ensaio é realizado em telado da Embrapa Trigo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, entre julho e novembro. As cultivares de trigo são semeadas na primeira semana de julho em vasos plásticos (capacidade de sete litros). Após a emergência, realiza-se o desbaste, mantendo-se cinco plantas por vaso. Para cada cultivar, cinco vasos são submetidos à inoculação (infestação com R. padi virulífero). Outros cinco vasos não são inoculados e servem como testemunha do padrão de desenvolvimento e potencial produtivo do genótipo nas condições em que o ensaio é conduzido. A inoculação é realizada no estádio de duas folhas expandidas. Os vasos a serem inoculados são transferidos para outro telado, onde cada uma das plantas recebe um fragmento de folha, com dez pulgões, posicionado na intersecção entre as duas folhas. Dois dias após, é realizada nova infestação nas plantas que contêm menos de dez pulgões. O período para a transmissão do vírus é de uma semana, após aplica-se inseticida. Depois da morte dos pulgões, os vasos inoculados são transferidos para o telado inicial e, para cada genótipo, formam-se cinco pares, compostos por um vaso inoculado e um vaso não inoculado, que são distribuídos aleatoriamente na área do telado. Nitrogênio em cobertura é aplicado na forma de ureia (80kg/ha) no estádio de afilhamento. Durante o ensaio são aplicados inseticidas e fungicidas para evitar a ocorrência de insetos e de doenças. As avaliações visuais de sintomas são realizadas
nos estádios de alongamento do colmo e espigamento. A avaliação visual de sintomas é realizada por comparação da estatura e massa da parte aérea, estimando-se a redução que o conjunto de plantas inoculadas apresenta em relação ao conjunto de plantas não inoculadas para cada um dos cinco pares de vasos de cada cultivar. São atribuídas notas de acordo com a seguinte escala: 1 = 0% a 20% de redução; 2 = 21% a 40% de redução; 3 = 41% a 60% de redução; 4 = 61% a 80% de redução, e 5 = redução superior a 81%. Ao final do ensaio, cada vaso é colhido separadamente e determinado o peso total de grãos para cada unidade experimental (vaso). As comparações são realizadas utilizando-se o peso de grãos produzido por vaso (g/ vaso). O dano causado por BYDV-PAV sobre a produtividade de grãos é estimado para cada cultivar comparando-se o tratamento “Plantas Inoculadas” (I) com o tratamento “Plantas Não Inoculadas” (NI). Dano% = (NI - I)/(NI)*100, onde: NI = peso de grãos/vaso para o tratamento plantas não inoculadas; I = peso de grãos/vaso para o tratamento plantas inoculadas. No ensaio de 2014, todas as cultivares avaliadas apresentaram sintomas com notas médias variando entre 1,9 e 5 (Tabela1). Para a maioria das cultivares houve variação na nota atribuída entre as repetições. Em geral, as plantas com nota igual ou superior a 4, além da pronunciada redução da estatura e da massa da parte aérea, também apresentaram atraso do ciclo de desenvolvimento e severo amarelecimento das folhas. Incluem-se nesse grupo, Mirante, única cultivar com nota 5 em todas as repetições, e as cultivares BR 14 (apenas uma nota abaixo de 5), Estrela Átria, CD 1550, Jadeíte 11, FPS Nitron,
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Ametista e TBIO Sintonia. As cultivares que demonstraram menor efeito da virose com notas médias abaixo de 3 foram LG Oro, BR 35, BRS Parrudo, TecFrontale e ORS Vintecinco. Os danos à produtividade de grãos causados por BYDV-PAV, em média, foram de 44,4%. A distribuição de frequência foi: danos 0%-20% = 2,9% (1); 21%-40% = 35,3% (12); 41%-60% = 58,8% (20); 61%-80% = 0% (0) e 81%-100% = 2,9% (1). A maior redução observada foi de 88,9% (Mirante) e a menor de 20,1% (ORS Vintecinco) (Tabela 1). A correlação entre a produtividade dos vasos inoculados e a dos não inoculados foi 0,64. A correlação entre a avaliação visual de sintomas e dano % foi de 0,73. A correlação entre NI e dano % foi de -0,21, e a correlação entre I e dano % foi de -0,87. A única cultivar com dano entre 0%-20% foi ORS Vintecinco (Tabela 1). A produtividade obtida dos vasos não inoculados dessa cultivar foi próxima à média, e a produtividade dos vasos inoculados acima da média +1 desvio padrão. As cultivares LG Oro, BRS Parrudo, TEC Frontale, e BR 35 também se destacaram positivamente como um grupo que apresentou dano entre 21%40%. As cultivares com produtividade acima da média (+1 desvio padrão) na presença do vírus foram ORS Vintecinco, TecFrontale, LG Oro, Fundacep Horizonte e TBIO Pioneiro. As cultivares com produtividade abaixo da média (-1 desvio padrão) na presença do vírus foram Mirante, CD 1550, BR 14, TBIO Sintonia. Considerando a combinação entre nota visual de sintomas e produtividade das plantas inoculadas, as cultivares Mirante, CD 1550, BR 14 e TBIO Sintonia foram aquelas que se mostraram mais intolerantes à infecção por BYDV-PAV. Pelo mesmo critério as cultivares LG Oro, TEC Frontale e ORS Vintecinco se mostraram as mais tolerantes à infecção.
Tabela 1 - Cultivares de trigo, produtividade das plantas não inoculadas e inoculadas, dano % e nota média da avaliação visual da reação ao BYDV-PAV, agente causal do nanismo amarelo. Passo Fundo, 2014 Cultivar ORS VINTECINCO BRS TIMBAÚVA LG ORO BRS PARRUDO TEC FRONTALE BRS 331 TEC 10 BR 35 EMBRAPA 16 FUNDACEP HORIZONTE TEC VIGORE BRS MARCANTE TBIO MESTRE TBIO ITAIPU FUNDACEP BRAVO QUARTZO ESTRELA ÁTRIA TBIO PIONEIRO MARFIM FPS NITRON BRS 327 CD 1440 BR 14 TBIO IGUAÇU TBIO SINUELO TBIO CELEBRA JADEÍTE 11 TOPÁZIO BRS GUAMIRIM AMETISTA LG PRISMA CD 1550 TBIO SINTONIA MIRANTE Média
NI 31,0 22,3 29,2 29,6 33,9 27,6 28,7 25,2 24,6 33,0 30,6 32,0 28,7 34,5 31,9 24,2 32,7 36,8 27,5 26,5 30,9 27,7 22,7 32,5 30,5 32,8 30,3 29,9 28,1 28,5 29,2 28,2 29,9 21,7 29,2
I 24,8 16,1 20,9 20,2 22,5 17,9 18,5 16,2 15,6 20,9 19,2 19,3 17,3 20,4 18,3 13,8 18,4 20,7 14,8 14,2 16,5 14,7 11,8 16,7 15,4 16,2 14,9 14,5 13,1 13,3 12,7 11,4 11,9 2,4 16,3
Dano % 20,1 27,8 28,5 31,7 33,5 35,3 35,7 35,7 36,5 36,7 37,1 39,6 39,7 41,0 42,8 42,9 43,6 43,7 46,2 46,3 46,7 47,1 48,0 48,6 49,4 50,7 50,8 51,4 53,4 53,4 56,7 59,8 60,4 88,9 44,4
Nota 2,8 3,1 1,9 2,3 2,8 3,4 3,4 2,1 3,2 3,6 3 3,3 3,3 3 3,5 3,7 4,3 3,9 3,5 4 3,3 3,6 4,9 3,8 3,5 3,3 4 3,8 3,9 4 3,3 4,3 4 5 3,5
Dados apresentados na 9ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (7 a 9 de julho de 2015, Passo Fundo – RS) NI - produtividade (g/vaso) para o tratamento “plantas não inoculadas”; I - produtividade (g/vaso) para o tratamento “plantas inoculadas”; Dano % = (NI - I)/(NI)*100; Nota - redução visual na estatura e massa da parte aérea ao se comparar as plantas inoculadas com as não inoculadas; Cores das células para I e NI: Vermelho menor que média; -1 desvio padrão, amarelo entre a média e; 1 desvio padrão, verde maior que a média; +1 desvio padrão. Para Dano % - 0% a 20% verde-escuro; 21% a 40% verde-claro; 41% a 60% amarelo; 61% a 80% laranja e redução superior a 81%, vermelho.
De acordo com os ensaios realizados desde 2011, o dano percentual às cultivares de trigo devido à infecção viral variou entre 44,4% e 49,9%. Na Tabela 2 podem ser comparadas as estimativas de Dano % causado por BYDV-PAV para todas as cultivares que estiverem presentes no ensaio C estadual durante este período. Douglas Lau, Paulo Roberto Valle da S. Pereira e Ricardo Lima de Castro, Embrapa Trigo
Tabela 2 – Dano % estimado causado por BYDV – PAV em cultivares que integravam o Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo do Rio Grande do Sul nos anos de 2011, 2012, 2013 e 2014 Cultivar Cruzamento Fundacep Campo Real CEP 889171 / PF 869114 // OR1 ORS Vintecinco Vanguarda/TEMU 2624-00 JF 90 TEC Vigore Fundacep Cristalino/Pampeano LG Oro Fundacep 30/Fundacep Cristalino Fundacep 52 CEP 88132/PG 876//BR34/CRDN Campeiro ORL 97217//BRS 177/Avante TEC 10 CEP 99131/Fundacep 30//Abalone BRS Timbaúva BR 32/PF 869120 TEC Triunfo BRS 177/CEP 9612//Ônix TEC Frontale ORL 95688/Embrapa 16 TBIO Seleto ORL 04300/Ônix BRS Parrudo WT89109/TB0001 TBIO Alvorada Vaqueano/Abalone Fundacep Bravo Rubi/Fundacep 37 Turqueza Pampeano/ORL 98231//Cronox BRS Marcante PF 980533/PF 970227//BRS Guamirim BRS 329 PF 88618/Koker80.33//Frontana/Kari CD 123 BRS 177/CD 108 BRS 296 PF 93232/COOK*4/VPM1 Fundacep Horizonte BRS 119/CEP 97184 CD 121 ORL 96688/CD 116 BR 35 IAC5*2/3/CNT7*3/Londrina//IAC5/Hadden TBIO Pioneiro Cronox/Vaqueano FPS Nitron ORL94300/Ônix TBIO Sinuelo Quartzo/3/Fundacep30/Ônix//Pampeano/4/Quartzo BRS 327 CEP 24/BRS 194 CD 1440 Ônix/CDFAPA 2001129 CD 122 IPR 85/WT 96168 Marfim ORL 94101/2*ORL 95688 CD 124 ORL 95282 / CD 2019 CD 119 BRS 49/CDI 0303 TBIO Itaipu Quartzo/Safira BRS 331 PF 990606/WT 98109 TBIO Celebra Marfim/Quartzo//Marfim Quartzo Ônix/Avante TBIO Tibagi Supera/Ônix Jadeíde Campo Real/Vanguarda//Ônix TBIO Mestre IBIO 0810/Cronox// ORL 00255 BRS Guamirim EMB 27/BUCK NANDU//PF 93159 Berilo EMBRAPA 16 Hulha Negra/CNT7//Amigo/CNT7 Estrela Átria Ônix/Fundacep30//Vaqueano/3/Vaqueano BRS328 Klein H 3394 e 3110/PF 990744 CD 1550 Ônix/CDFAPA 001129 BR 14 IAS63/Alondra Sib//Gaboto/Lagoa Vermelha LG Prisma BRS Timbaúva/Abalone CD 114 PF 89232/OC 938 TBIO Iguaçu Quartzo/Safira TBIO Sintonia Marfim/Quartzo/Marfim Topázio Pampeano 'S' / Abalone CD 120 Rubi/CD 105 Ametista PF 950351/Abalone//Ônix Fundacep Raízes EMB 27/CEP 24/3/BUC"S*/FCT"S*//PF 85229 Mirante Ônix/Taurum/Ônix Média
2011 15,41
2012
2013
29,2 35,8
12,1 30,5
2014 20,1
7,19
37,1 28,5
32,9 33,5 43,68 33,92 36,64
41,1 41,1 36,9 27,8
21,67 38,14
43,3 48,8 40,8
31,8 42,3 48,4 43,7 33,0 40,5
35,7 27,8 33,5 31,7 42,8 39,6
48,84 40,59 42,64 45,84 50,05 46,73 44,92
47,78
30,7 41,8 38,4 38,8 46,0 46,6
49,8
36,7
51,1 48,3
42,8 54,8
47,3 36,9 51,5
35,7 43,7 46,3 49,4 46,7 47,1
41,04 48,98 46,95 50,15 41,68 68,08
57,8 53,2 53,3
50,5
46,2
60,3 57,5
58,3 40,6
50,52 54,72
55,1 49,1
56,3 51,3 53,0 62,5 49,9
41,0 35,3 50,7 42,9
59,65 53,82 61,53
54,4 48,1
36,5 43,6
44,96
43,6 46,8 64,0
54,8 64,5 58,3 59,9 65,4
65,62
57,0 65,9
56,6
57,8
61,7
48,6 60,4 51,4
73,2 63,0 87,1 49,9
65,4 60,2 89,5 49,8
63,38
71,59 61,40 53,77 63,19 78,30 48,3
62,8
50,8 39,7 53,4
59,8 48,0 56,7
53,4 88,9 44,4
Média 15 20 21 28 29 33 33 36 36 37 38 38 38 38 38 39 40 40 41 43 43 44 45 46 46 46 47 49 49 50 50 50 50 50 51 51 52 52 52 53 54 54 54 55 55 56 57 57 59 60 61 61 61 62 86 43,4
Dados Douglas Lau – Embrapa Trigo. As células em branco não contêm informação, pois a cultivar não estava em teste naquele ano. Valores médios devem ser considerados com cautela, pois algumas cultivares foram avaliadas em um único ano.
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Algodão
Status negativo Fotos Nelson Dias Suassuna
Considerada inicialmente como doença apenas de fim de ciclo e incapaz de implicar danos, a mancha-de-ramulária atualmente detém no Brasil o posto de enfermidade principal na cultura do algodoeiro. Como a maioria das cultivares atualmente em uso não possui resistência completa, o controle químico ao aparecimento das primeiras lesões nas folhas mais velhas é uma das estratégias mais utilizadas contra o patógeno
A
mancha-de-ramulária do algodoeiro foi relatada pela primeira vez nos EUA. No Brasil, até algum tempo atrás, ocorria apenas no final do ciclo da cultura sem implicar perdas. Entretanto, com o aumento da área cultivada e uso de cultivares suscetíveis, a doença passou a surgir mais cedo, sendo considerada, atualmente, a principal enfermidade em algodão no cerrado brasileiro. A doença é causada pelo fungo Ramularia areola (Atk.) (sinônimos: Ramularia gossypii Speg. Ciferi, Cercosporella gossypii Speg.), forma anamórfica de Mycosphaerella areola Ehrlich & Wolf. A mancha-de-ramulária surge nas folhas mais velhas após a emissão das primeiras maçãs. No Brasil, entretanto, os primeiros sintomas são percebidos entre o surgimento do primeiro botão floral e o início do florescimento. Os sintomas iniciais podem ser percebidos na fase de colonização do patógeno, mesmo antes do início da esporulação. São pequenas lesões (3mm a 4mm de largura) delimitadas pelas nervuras. Portanto, com formato angular, nas folhas mais velhas. Vistas pela superfície superior da folha, as lesões são de coloração verde-clara. A esporulação é iniciada
na face inferior da folha, dando às lesões um aspecto cotonoso semelhante aos míldios. Em condições de alta umidade, ocorre intensa esporulação do patógeno também na face superior das folhas, ocupando quase todo o limbo foliar. Os pontos colonizados necrosam após o período de esporulação do patógeno, sendo que, em alguns genótipos de algodoeiro, a necrose pode ocorrer no início da colonização pelo patógeno. Em casos de alta severidade da doença, pode ocorrer desfolha parcial ou total das plantas. Nesses casos, a perda de folhas durante a fase de formação de maçãs compromete a produção no terço superior da planta, reduz a produtividade nas estruturas reprodutivas já formadas e induz a abertura precoce de capulhos, implicando perda de qualidade da fibra. R. areola sobrevive sobre lesões em restos de cultura e os esporos produzidos nestas condições constituem o inóculo primário. É comum o fungo sobreviver em plantas nativas de algodão perene. A dispersão do patógeno ocorre por meio de vento, água de chuva ou de irrigação, pessoas e máquinas. Conídios do fungo germinam em água livre em temperaturas que variam de 16ºC a 34ºC, com tem-
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peratura ótima entre 25ºC e 30ºC. Embora seja necessária água livre para a germinação dos conídios, a penetração, via estômatos, é maior em ciclos de noites úmidas e dias secos do que em ciclos de umidade contínua. Algumas infecções ocorrem após dois ciclos de noites úmidas com infecção máxima após quatro ciclos. Plantios menos adensados e conduzidos de forma a evitar o sombreamento excessivo entre plantas e controle químico são as principais táticas utilizadas no manejo da doença. A maioria das cultivares de algodoeiro atualmente exploradas no Brasil é, em algum nível, suscetível à mancha-de-ramulária. O uso de cultivares com algum nível de resistência, principalmente aquelas com arquitetura de copa, que permita ou facilite a aeração, aliado a espaçamentos maiores e à menor densidade de plantas, pode reduzir a severidade da doença. Recentemente foi lançada a cultivar resistente BRS 372. Outras cultivares com alta tolerância também estão disponíveis no mercado, como a BRS 371 RF, TMG 41 WS, TMG 42 WS e TMG 43 WS. Como a maioria das cultivares atualmente em uso no Brasil não possui resistência completa à doença, o controle químico é uma tática comumente empregada para contenção da doença, devendo ser iniciado assim que as primeiras lesões forem identificadas nas folhas mais velhas. O monitoramento constante da lavoura é crucial, visto que as primeiras lesões são de difícil identificação antes de ocorrer esporulação. Os primeiros sintomas da doença surgem concomitantemente com o início da fase reprodutiva da planta, em geral, entre o aparecimento do primeiro botão floral até a abertura da primeira flor. Os danos causados pela doença estendem-se até o final do ciclo da cultura, sendo mais expressivos entre o início do florescimento e a abertura dos primeiros capulhos. Após o início de abertura de cápsulas, o controle químico não traz benefícios. No controle químico da doença, é importante conhecer o modo de ação e o tipo de translo-
cação do fungicida na planta, para a decisão sobre qual produto deve ser usado e quando deve ser aplicado. Além desse conhecimento, o uso de maneira alternada de fungicidas com diferentes princípios ativos é fundamental, pois é uma estratégia eficaz para se evitar o aumento da frequência de isolados resistentes, dentro da população de R. areola. No início dos primeiros sintomas da mancha-de-ramulária, o inóculo inicial de R. areola é baixo e oriundo de correntes aéreas, folhas de algodoeiro da safra anterior ou das primeiras lesões instaladas nas folhas mais velhas. Nesta fase, fungicidas do grupo das estrobilurinas podem ser usados isoladamente ou em mistura pré-fabricada com outros fungicidas, uma vez que são muito eficazes em prevenir a germinação de esporos e, também, têm efeito erradicante. O atraso no início da primeira aplicação diminui a eficiência do controle, podendo, inclusive, ser economicamente inviável. Antes do término do período residual do fungicida, deve-se monitorar novamente as plantas, pois, caso se constatem novas lesões com esporulação (lesões esbranquiçadas), no terço médio da planta, recomenda-se iniciar a segunda aplicação, de preferência com um fungicida pertencente a um grupo químico diferente do que foi empregado na primeira aplicação. Essa estratégia impede o acréscimo de inóculo na área e protege as plantas durante períodos críticos em necessidade de fotoassimilados, além de reduzir o risco de surgimento de isolados do patógeno resistentes a fungicidas. Moléculas com lançamento recente devem ser usadas também na rotação de produtos, como protioconazol, cresoxim-metílico e fluoxastrobin, além dos fungicidas denominados SDHI (succinate dehydrogenase inhibitors) da família química dos pirazóis-carboximidas como boscalide, fluopyram e fluxapyroxade, pois foram pouco expostos à população do patógeno. Outros fungicidas, como o mancozebe, também são importantes no controle químico da mancha de ramulária e devem ser usados na rotação com as estrobilurinas e triazóis. Dependendo da cultivar em uso, não é necessária uma terceira aplicação de fungicidas, principalmente para aquelas com algum nível de resistência, de ciclo precoce e cultivadas em segunda safra. Para as suscetíveis, de ciclo médio a tardio, cultivadas em safra única, podem ser necessárias outras aplicações. As aplicações subsequentes dependem do progresso da doença, após os 80-90 dias de emergência. Princípios ativos que integram a lista de registro contra a doença podem ser observados na Tabela 1. Os nomes comerciais dos produtos contra a mancha-de-ramulária estão listados no sítio do Sistema Agrofit (http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/ principal_agrofit_cons).
Tabela 1 – Lista de princípios ativos registrados para o manejo da mancha-de-ramulária em algodoeiro
Planta com desfolha no terço inferior (esquerda) e planta totalmente desfolhada (direita)
O programa de melhoramento da Embrapa Algodão tem selecionado genótipos resistentes à mancha-de-ramulária. A seleção de linhagens resistentes tem sido possível mesmo em populações oriundas de parentais apenas com resistência parcial, demostrando haver segregação transgressiva, portanto, de herança poligênica para o caráter. O cruzamento entre as cultivares Cacique e Ita 90 gerou uma população em que diversas linhagens resistentes foram selecionadas: CNPA GO 2007-419, CNPA GO 2007-423, CNPA GO 2008-1265, CNPA GO 2008-1266, CNPA GO 2008-1271 e CNPA GO 2009-204. Outro exemplo de segregação transgressiva é a linhagem resistente CNPA BA 2003-2059, que foi selecionada em população que envolvia parentais suscetíveis e com resistência parcial [(Stoneville 373 x BRS Itaúba) x Delta Opal]. A linhagem CNPA GO 2007-423 foi lançada como cultivar, denominada BRS 372, com resistência total à doença e alta produtividade de fibra. Outra cultivar resistente recém-lançada é BRS 371 RF, [(CS 50 x BRS Facual) x Suregrow 125 RF], que também possui resistência transgênica ao herbicida glifosato. Atualmente, esforços estão sendo envidados para a obtenção de marcadores moleculares ligados aos genes de resistência à mancha-de-ramulária que poderão acelerar o processo de desenvolvimento de cultivares resistentes. C Nelson Dias Suassuna e Wirton Macedo Coutinho, Embrapa Algodão
epoxiconazol (triazol) + piraclostrobina (estrobilurina) acibenzolar-S-metílico (benzotiadiazol) tebuconazol (triazol) epoxiconazol (triazol) + tiofanato-metílico (benzimidazol (precursor de)) ciproconazol (triazol) + Picoxistrobina (estrobilurina) cresoxim-metílico (estrobilurina) + tebuconazol (triazol) azoxistrobina (estrobilurina) + flutriafol (triazol) carbendazim (benzimidazol) + flutriafol (triazol) acibenzolar-S-metílico (benzotiadiazol) flutriafol (triazol) metiram (alquilenobis(ditiocarbamato)) + piraclostrobina (estrobilurina) metconazol (triazol) carbendazim (benzimidazol) flutriafol (triazol) + tiofanato-metílico (benzimidazol (precursor de)) tiofanato-metílico (benzimidazol (precursor de)) piraclostrobina (estrobilurina) azoxistrobina (estrobilurina) + tetraconazol (triazol) azoxistrobina (estrobilurina) + Benzovindiflupyr (pirazol carboxamida) tetraconazol (triazol) azoxistrobina (estrobilurina) + flutriafol (triazol) flutriafol (triazol) Protioconazol (Triazolinthione) + trifloxistrobina (estrobilurina) epoxiconazol (triazol) + cresoxim-metílico (estrobilurina) azoxistrobina (estrobilurina) + tebuconazol (triazol) flutriafol (triazol) + tiofanato-metílico (benzimidazol (precursor de)) carbendazim (benzimidazol) + flutriafol (triazol) carbendazim (benzimidazol) + cresoxim-metílico (estrobilurina) + tebuconazol (triazol) azoxistrobina (estrobilurina) + ciproconazol (triazol) tebuconazol (triazol) + trifloxistrobina (estrobilurina) tebuconazol (triazol) epoxiconazol (triazol) + piraclostrobina (estrobilurina) metconazol (triazol) + piraclostrobina (estrobilurina) Picoxistrobina (estrobilurina) fluxapiroxade (carboxamida) + piraclostrobina (estrobilurina) azoxistrobina (estrobilurina) + ciproconazol (triazol) azoxistrobina (estrobilurina) azoxistrobina (estrobilurina) + difenoconazol (triazol) difenoconazol (triazol) flutriafol (triazol) epoxiconazol (triazol) propiconazol (triazol) + trifloxistrobina (estrobilurina) azoxistrobina (estrobilurina) + flutriafol (triazol) epoxiconazol (triazol) + tiofanato-metílico (benzimidazol (precursor de)) mancozebe (alquilenobis(ditiocarbamato) Fonte: Agrofit/Mapa
ALGODÃO E DOENÇAS NO BRASIL
A
tualmente o Brasil é o quinto maior produtor de algodão no mundo. A ampla maioria dessa produção é realizada no cerrado do Brasil. As elevadas produtividades de fibra alcançadas nesse ecossistema, devido aos avanços genéticos e às melhorias nos sistemas de produção, tornam a
cultura economicamente viável. O atual sistema de produção, com base em extensas áreas e poucas cultivares, muitas delas suscetíveis a mais de uma doença, leva ao agravamento de enfermidades antes consideradas pouco expressivas; também possibilita surtos epidêmicos de novas doenças.
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COLUNA AGRONEGÓCIOS
U
OGMs, benefícios e riscos
m dos fundamentos da Natureza é a diversidade biológica, que, apesar dos cataclismas, se tornou cada vez mais ampla ao longo dos milênios. Mesmo dentro de uma espécie botânica ou animal, pode existir enorme diversidade de características. Trata-se de um mecanismo de adaptação dos mais aptos às condições ambientais em que está inserido. Alterando-se as condições ambientais, a diversidade permite que um determinando grupo de indivíduos, mais bem adaptado, apresente melhor desempenho, preservando a espécie. Para criar e manter a diversidade existem diversos processos naturais, como mutações gênicas, fluxo gênico dentro e entre espécies, interações gênicas diversas, dominância e recessividade, coevolução etc. Desde tempos imemoriais, o homem utiliza o melhoramento genético. Inicialmente, de forma rudimentar e intuitiva, simplesmente selecionando os melhores grãos ou frutos para reprodução. Com o tempo e o domínio dos fundamentos da biologia, passou a emular as técnicas naturais. A última incorporação ao instrumental científico foi a transposição de genes entre espécies reprodutivamente incompatíveis – que foi denominada engenharia genética. Em última análise, a Ciência apropriou-se de técnicas que a Natureza utiliza, porém com metas bem definidas, reduzindo o tempo de séculos ou décadas dos processos naturais, para poucos anos, nas manipulações de laboratório.
AVANÇOS E POLÊMICAS
Desde a década de 1980, novas características foram introduzidas nas plantas e nos animais, valendo-se de processos da engenharia genética. A face visível dos avanços científicos plasmou-se em duas características amplamente disponíveis em cultivos comerciais: a resistência a determinados herbicidas e a resistência a alguns insetos-pragas. A introdução das variedades ou cultivares modificadas geneticamente em laboratório (OGMs) foi cercada de muita polêmica, contrapondo as vantagens agronômicas propostas com alegações de impacto negativo sobre o ambiente e a saúde humana. O debate tem sido constante, intenso e pouco conclusivo, embora tenha arrefecido em período mais recente. Para alinhar um posicionamento científico, a Academia de Ciências dos EUA criou uma comissão composta por 20 renomados cientistas. Para elaborar seu relatório (Genetically Engineered Crops – Experience and Prospects), com 400 páginas, a comissão consultou outros 80 especialistas, analisou cerca de 700 documentos recebidos de cientistas e organizações ligadas ao tema, além de revisar milhares de
artigos científicos sobre os impactos de OGMs. gênicos são tão seguros quanto os de culturas não transgênicas, mas a comissão reexaminou BENEFÍCIOS AOS PRODUTORES os estudos originais. A sua conclusão foi de que O relatório conclui que os OGMs comer- um grande número de estudos experimentais ciais das culturas de soja, algodão e milho ge- forneceu provas suficientes de que os animais ralmente demonstraram resultados econômicos testados não foram prejudicados pela ingestão favoráveis para os produtores que adotaram a de alimentos derivados de cultivos transgênicos. tecnologia. Não obstante, observou-se heteroge- Os resultados de longo prazo sobre a saúde neidade nos ganhos dos produtores em função dos animais, antes e depois da introdução de da abundância de pragas, da infraestrutura variedades transgênicas na sua alimentação, disponível e das práticas agrícolas que compõem não mostraram efeitos adversos associados com o sistema de produção. O uso de OGMs que as culturas transgênicas. A comissão também incorporam genes da bactéria Bacillus thurin- analisou dados epidemiológicos sobre a incigiensis (variedades ou cultivares Bt) redundou dência de câncer e outros problemas de saúde em reduções das perdas de produtividade devido humana ao longo do tempo e não encontrou ao ataque das pragas para as quais apresenta provas que alimentos provenientes de culturas resistência, bem comono uso de inseticidas, transgênicas eram menos seguros que alimentos em comparação com lavouras em condições convencionais. similares, em que a tecnologia não é utilizada. O O relatório destaca que, para o futuro, gerrelatório destaca que esse benefício foi observado moplasma com características de resistência tanto em pequenas propriedades quanto em a uma gama mais ampla de pragas e doenças lavouras extensivas. estará disponível. Novas tecnologias ômicas Na maioria das situações, as lavouras permitem uma análise completa, segura, cultivadas com OGMs resistentes ao herbicida rápida e barata da sequência de DNA de glifosato apresentavam pequenos aumentos uma planta, da expressão do gene e de sua no rendimento, quando cotejados com os seus composição molecular. Esses avanços cientíhomólogos convencionais. Os estudos realiza- ficos não apenas permitirão produzir OGMs dos não verificaram diferenças de diversidade com novas características, como servirão para de plantas em campos com culturas resistentes detectar alterações indesejadas, sejam elas a herbicidas quando comparados com cultivos provocadas por engenharia genética ou por não transgênicos. Em regiões onde o plantio melhoramento clássico. de OGMs resistentes a herbicidas redundou Os processos regulatórios para OGMs em forte dependência de glifosato, algumas variam muito entre países, devido às suas plantas daninhas desenvolveram resistência ao diferenças sociais, políticas, legais e culturais, herbicida, gerando problemas para seu controle, particularmente em função do estado da arte e demonstrando, na prática, a inviabilidade do da Ciência, da importância da agricultura e da uso e OGMs sem as correspondentes práticas capacidade técnica, em cada país. Essas diferende manejo da resistência. ças permanecerão no futuro mediato, podendo Em alguns casos, o uso de germoplasma Bt redundar em conflitos comerciais. diminuiu a abundância de pragas específicas Atualmente, tornou-se difícil, do ponto de na paisagem, contribuindo para a redução vista científico, avaliar de forma diferencial os de danos e menor uso de inseticida mesmo eventuais impactos toxicológicos e ambientais para culturas que não têm a característica Bt. de novas variedades. Dessa forma, em seu Também aponta que as lavouras com culturas relatório final, a comissão recomenda que esses Bt apresentam maior biodiversidade de insetos materiais, sejam eles geneticamente modificacomparativamente a fazendas semelhantes, nas dos ou criados convencionalmente, devam ser quais foram utilizados inseticidas químicos para submetidos a testes de segurança. Para tanto, é controlar as pragas. Entrementes, em locais proposta uma abordagem de análise em etapas, onde não foram implantados os processos de vinculadas à regulamentação. Assim, eventos manejo da resistência das pragas aos OGMs já considerados seguros permitiriam liberação Bt, foi observada a evolução da resistência das comercial mais rápida. Também propõem o uso pragas, consequentemente, aumentando a intensivo de tecnologias ômicas, para suporte repopulação de pragas e de seus danos. gulatório, devido à sua capacidade de comparar os perfis moleculares de uma nova variedade SAÚDE E AMBIENTE com um paradigma de uso generalizado. Ao longo das últimas décadas houve aleFinalmente, o relatório recomenda que gações de efeitos adversos de OGMs sobre a a governança dos cultivos GM por parte dos saúde humana. Revisões anteriores indicavam governos e da iniciativa privada deva ser transC que alimentos provenientes de cultivos trans- parente e participativa.
Decio Luiz Gazzoni O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
42 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
Recordes de cotações para os grãos do Brasil As cotações dos grãos, no Brasil, registram ano de recorde histórico de valores em reais, com a soja batendo na casa de R$ 100,00 a saca de 60 quilos, pelo produto negociado nos portos em seus melhores momentos deste ano. O milho obteve patamares que nunca antes se imaginava, superando a marca de R$ 60,00 por saca de 60 quilos, como observado no mercado gaúcho e também em outras regiões. O feijão também ultrapassou R$ 500,00 a saca, com episódios de produto nobre Carioca chegando aos R$ 600,00, acima do praticado pela saca de café em Minas Gerais. O último a mostrar forças e também avançar para patamares recordes é o arroz, que chega à faixa dos R$ 50,00 por saca no mercado gaúcho e mostra fôlego para ultrapassar esses valores. Os fatores principais de apoio para estas cotações recordes estão basicamente alicerçados na queda da oferta devido ao clima (que diminuiu a produção) e na forte demanda internacional (que consumiu grandes volumes de grãos, como milho e soja, nos primeiros meses do ano), escasseando rapidamente as ofertas internas. Como há pouca capacidade de armazenagem no Brasil, os produtores têm colhido e negociado a maior parte dos grãos, como se percebe na soja, que já mostra mais de 80% da safra negociada, sendo que o ano comercial se encerra em fevereiro. Assim, ainda há cerca de oito meses pela frente para trabalhar com menos de 20% da safra e em estados importantes, como o Mato Grosso, a comercialização já se encontra acima de 92%, restando menos de 8% para a indústria local trabalhar. Para que ocorra uma evolução no setor será necessário começar a focar mais no aumento da capacidade de armazenagem dos produtores e de agora em diante buscar aumentar a produtividade das lavouras, porque as terras estão escasseando e o mundo continuará com alta demanda pelo produto brasileiro. Desta forma, para que não ocorra desabastecimento, será preciso mais armazéns para guardar a safra em momentos de oferta grande e distribuir a comercialização por um período mais longo, dando mais garantia de renda constante aos produtores. A oferta irá continuar crescendo, porque já existem tecnologias que irão melhorar o desempenho das lavouras e assim haverá mais produtividade para atender ao mercado interno e à exportação. MILHO
Colheita ganha forças e cotações em queda
Os produtores da safrinha colhem o milho em ritmo forte. Neste mês de julho há a concentração da oferta, com os indicativos já mostrados com quedas que vão de R$ 10,00 a R$ 15,00 por saca, frente aos níveis que estavam sendo praticados até maio. Os produtores têm colhido e vendido rapidamente, para aproveitar as cotações, porque ainda existe tendência de pressão de baixa nos indicativos internos até que se aproximem dos valores da exportação (que em junho estava na faixa de R$ 37,50 a R$ 38,50 pela saca nos portos para as entregas de agosto a outubro). Com espaço para reação a partir desse período, porque há níveis maiores para o milho do começo do ano que vem, que tende a rodar com cotações pouco acima de R$ 40,00 nos portos, mesmo assim com valores muito abaixo do que vinham sendo trabalhados no mercado interno. Agora, chegou a vez do setor de ração comandar as cotações. Com pressão de baixa até o final da colheita. Contudo, as cotações serão muito melhores que as praticadas no ano passado. SOJA
Poucas ofertas para o restante do ano
44 Julho 2016 • www.revistacultivar.com.br
O mercado da soja já negociou a maior parte do grão colhido neste ano (que no último levantamento ficou na faixa de 93 milhões de toneladas). Mesmo sendo a segunda maior safra da história do Brasil, houve perdas de aproximadamente dez milhões de toneladas em seu potencial produtivo, e agora, com mais de 80% da soja já negociada, restará pouco para atender ao mercado nos próximos meses. Assim, internamente deve se observar um descasamento dos níveis, mantendo as posições locais maiores que o mercado da exportação. Favorável aos produtores que ainda têm uma parte da safra para ser negociada neste segundo semestre. As cotações recordes da soja neste ano serão um fator importante para estimular o novo plantio, que irá crescer. Servirá também para melhorar a tecnologia, onde os produtores deverão buscar crescer em produtividade para conseguir ganhar mais e diminuir custo de produção. FEIJÃO
Safra não atendeu a demanda e cotações dispararam
O mercado do feijão obteve nas últimas semanas os maiores níveis de preços já praticados pelo grão. O Carioca alcançou R$ 600,00 a saca, para o produto de
ponta. Também houve corrida para os demais tipos, porque os consumidores acabaram optando por produtos alternativos, como o vermelho, rajado e também aumentando a demanda do Preto, todos com forte avanço nas cotações, chegando ao consumidor com valores que variavam de R$ 10,00 a R$ 16,00 por quilo no varejo. Cenário em que um quilo de feijão chegou a valer mais que cinco quilos de arroz. A expectativa é de que a nova safra venha com avanço no plantio e mais tecnologia para buscar melhorar a qualidade do produto colhido. O Brasil não possui estoques e mesmo uma safra boa pela frente não será suficiente para equilibrar o abastecimento. Como tentativa de barrar esta escalada de preços, no final de junho o governo federal anunciou que adotará medidas para estimular a importação do produto. ARROZ
Recorde histórico de cotações no Rio Grande do Sul A safra brasileira do arroz registrou perdas na
produtividade e a produção não conseguiu ir além dos 10,5 milhões de toneladas. Com isso, as cotações já começaram a disparar antes mesmo do segundo semestre, com indicativos entre R$ 46,00 e R$ 53,00 pelo Casca gaúcho e níveis de R$ 60,00 pelo mesmo produto no Centro-Oeste. Assim, resta apelo altista para este segundo semestre. O limite de alta se dará em cima dos valores de chegada do arroz importado, que ainda estava com níveis maiores que o produto nacional (com fôlego para crescer mais uns 10% se o dólar permanecer próximo de R$ 3,50). Será um ano de forte demanda de arroz, porque todos os demais alimentos estão em alta e isso irá auxiliar o produto a seguir com cotações firmes no segundo semestre. Esse cenário tende a estimular o novo plantio do Rio Grande do Sul, que além de boas cotações do grão conta neste ano com boas condições de chuvas sobre as regiões produtoras, o que vai deixando as represas com bom nível de água para o período posterior ao inverno (que em 2016 poderá se alongar um pouco).
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo registrou neste ano forte demanda para o setor de ração. Há indicativos que mais de dois milhões de toneladas do cereal tenham ido para as indústrias de ração em substituição ao milho (com parte do produto sendo de triguilho ou trigo de baixa qualidade e ou baixo pH e o restante de produto de boa qualidade). Desta forma, neste segundo semestre haverá menos oferta do cereal para a indústria moageira e necessidade de mais importações, que devem superar com facilidade a marca de seis milhões de toneladas. Com o produto importado chegando mais caro que o nacional, há espaço para alta nos indicativos a partir de agora. ÁSIA - O clima neste ano foi marcado por seca nos primeiros meses e causou grandes perdas na safra de grãos da região. Agora, alguns países sofrem com inundações, principalmente em lavouras de arroz, e com isso a oferta será menor e a pressão das cotações já é notada. Com pressão de demanda também para o milho, que apresenta queda de área na região, com seca na Índia e redução dos subsídios na China, o que obrigou os produtores a plantar menos. CHINA - As importações do país seguem crescentes e há apelo para níveis ainda maiores. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontou que os chineses irão importar 83 milhões de toneladas nesta temporada que se encerra em agosto. Mas os números negociados já superam 84 milhões de toneladas. Da safra nova, onde o USDA aponta que as compras de soja serão de 87 milhões de toneladas, os compradores
chineses dão indicativos de que devem passar de 90 milhões de toneladas. A indústria tem registrado boa margem de esmagamento e com lucros está buscando crescer em venda de farelo e óleo na Ásia, importando mais grãos. Como o país tem capacidade de esmagamento que supera 110 milhões de toneladas, ainda há espaço para crescer mais em compras para atender ao mercado local e regional. UCRÂNIA - O plantio da safra fechou com boas condições e as lavouras de milho evoluíam bem em junho. O país confirma que houve quebra da safra de trigo e principalmente do grão forrageiro, que é exportado para o setor de ração. Assim, abre-se mais espaço para demanda de milho. O milho local tem a safra toda plantada e estará em florescimento de julho até o começo de agosto. Há riscos de perdas se ocorrerem geadas em setembro. ARGENTINA - Os produtores perderam produtividade e qualidade dos grãos neste ano, porque não conseguiam gás para secar a safra e a colheita foi sendo adiada. Muito milho ainda estava nos campos no final de junho, com perdas que podem se agravar se o quadro não mudar. EUA - O plantio fluiu dentro da normalidade e a safra mostrava boas condições em junho. O período importante para soja e milho irá ocorrer entre a metade de julho e agosto, quando estarão em florescimento e começo de formação das vagens, quando não toleram altas tempeC raturas e seca. Será a definição da safra. Vlamir Brandalizze
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COLUNA ANPII
Uso tímido Favorecido pela crença desatualizada de que a planta de feijão fixa quantidades muito baixas de nitrogênio, o emprego da FBN nessa cultura ainda é pouco utilizado
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ue o feijoeiro é uma planta da família das leguminosas, todos sabem. Que, como toda a leguminosa, fixa nitrogênio, todos também conhecem. Entretanto, quando se fala em uso de inoculante para o feijoeiro, observa-se que a utilização deste insumo é baixíssima no Brasil. Apenas cerca de 10% da área cultivada emprega inoculante. A soja, por sua vez, tem cerca de 80% da área inoculada. A que se deve esta enorme diferença entre os índices de utilização da fixação biológica do nitrogênio (FBN) nestas duas importantes culturas? Ao longo do tempo foi se consagrando a crença de que a planta de feijão fixa quantidades muito baixas de nitrogênio e que seria impossível cultivá-lo sem o uso de fertilizante nitrogenado. Diversos fatores contribuíram para isto: • As estirpes de Rhizobium phaseoli utilizadas antigamente perdiam muito facilmente seu potencial de fixação, resultando em baixíssimas taxas de aporte de nitrogênio. • Em função disto o melhoramento do feijoeiro foi realizado ao longo dos anos com o uso de nitrogênio mineral, levando ao desenvolvimento decultivares de baixa resposta à fixação biológica de nitrogênio e alta resposta aos fertilizantes químicos. • Outro ponto que dificulta um pouco o estabelecimento de estirpes selecionadas é a elevada população de Rhizobium existente nos solos brasileiros. Ao contrário da soja, que não tem a bactéria específica nativa no Brasil, as bactérias do feijão são extremamente abundantes e competem com as do inoculante, podendo, em alguns casos, estabelecer maior número de nódulos que as estirpes selecionadas presentes no inoculante. • Outro óbice, mas este exclusivamente fruto de intepretações erradas, seria de que o feijão, por seu ciclo curto, não teria “tempo” para acumular todo o nitrogênio necessário. Isto absoluta-
mente não procede, pois se ocorresse, a planta não teria tempo para absorver os demais nutrientes e nem para cumprir toda a fotossíntese necessária. Por
O melhoramento do feijoeiro já está sendo conduzido com vistas à maior afinidade com as bactérias fixadoras, prometendo uma nova geração de cultivares mais responsivas à fixação do nitrogênio que ao fertilizante nitrogenado. Isto abrirá novos horizontes, cada vez mais amplos, para que se possa reduzir significativamente, ou até mesmo eliminar como se faz na soja, o uso de fertilizante nitrogenado nesta cultura
terem ciclo curto, as plantas têm seu metabolismo acelerado, cumprindo todas as funções metabólicas em uma velocidade maior. Entretanto, atualmente a pesquisa já encontrou respostas, ou pelo menos está em um caminho avançado para que se possa utilizar largamente o inoculante específico para o feijoeiro. A descoberta e a seleção de estirpes de Rhizobium tropici, com muito maior estabilidade genética, eliminaram a perda de variabilidade e de diminuição do poder de fixação. O melhoramento do feijoeiro já está sendo conduzido com vistas à maior afinidade com as bactérias fixadoras, prometendo uma nova geração de cultivares mais responsivas à fixação do nitrogênio que ao fertilizante nitrogenado. Isto abrirá novos horizontes, cada vez mais amplos, para que se possa reduzir significativamente, ou até mesmo eliminar como se faz na soja, o uso de fertilizante nitrogenado nesta cultura. Esta nova visão da pesquisa, olhando a cultura como um todo e não apenas em partes, sem dúvida nenhuma trará para o agricultor brasileiro novas ferramentas que promovam aumentos de produtividade e de rentabilidade a seu negócio, ao mesmo tempo em que reduzem a poluição causada pelos produtos nitrogenados. Sem dúvida, o agricultor brasileiro atualmente já dispõe de inoculantes específicos e de alta qualidade para a cultura do feijoeiro. Dados de pesquisa, extremamente confiáveis, demonstram que já é possível obter elevadas produtividades reduzindo significativamente o uso de fertilizantes nitrogenados e com o emprego de inoculantes específicos para a cultura. As empresas associadas à ANPII, sempre acompanhando a evolução da agricultura brasileira, produzem e distribuem por todo o Brasil inoculantes para o feijoeiro, colocando excelentes produtos à disposição dos agricultores C brasileiros. Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
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Desafio dinâmico
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Ao longo dos anos o manejo de doenças em soja tem assumido contornos diferentes e exigido atenção e racionalidade crescentes. Além da grande vilã ferrugem asiática, outros patógenos como macha-alvo e antracnose têm tirado o sossego dos produtores e pesquisadores, diante de escassas ferramentas de combate disponíveis. Cultivares mais produtivas e ao mesmo tempo mais suscetíveis, emprego equivocado da tecnologia e o fantasma da resistência de fungos à aplicação de defensivos compõem um cenário extremamente desafiador, onde novas misturas ou combinações de fungicidas, com diferentes espectros de controle, são muito bem-vindas
Basf
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A
companhar e avaliar a evolução das doenças foliares na cultura da soja no Mato Grosso nos últimos 20 anos tem sido atividade bastante envolvente, e tem exigido muito discernimento para que seja possível entender que o processo é extremamente dinâmico. Por volta de 1996 a 1998, as doenças representavam menor importância neste cenário em termos de perdas de produtividade. As doenças de final de ciclo (DFCs), onde com algumas dificuldades de diagnose eram englobados fungos como Cercospora kikuchii, Septoria glycines, Colletotrichum truncatum e Corynespora cassiicola, representavam algo em torno de duas a quatro sacas por hectare de perdas, dependendo do contexto em que ocorriam. O direcionamento da pesquisa para cultivares resistentes a nematoide-do-cisto e a busca por altos potenciais produtivos levaram a sanidade das cultivares a outro patamar de suscetibilidade, onde passou-se a observar materiais muito mais suscetíveis à mancha-alvo (Corynespora cassiicola), que a partir de um determinado momento, juntamente com a antracnose, passou a ser tratada independente das DFCs e começou a ter maior importância em função dos danos causados e consequentemente na redução de produtividade. A chegada da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) ao Mato Grosso em 2002 trouxe outra forma de enxergar a importância das doenças. Passou-se a ter danos e perdas muito mais severos e foi necessário utilizar ferramentas de manejo muito mais intensas para minimizar as perdas causadas por esta doença. O entendimento de diferentes regiões, cenários de épocas de semeadura, ciclo das cultivares, altitudes, correntes de vento, preci-
Fotos Basf
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A mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, é uma doença agressiva cujos desafios de manejo tem se intensificado ao longo dos anos no Brasil
pitação e período de molhamento foliar, passou a ser muito importante, explicando a dinâmica das epidemias e as diferentes respostas no sucesso ou fracasso no manejo da ferrugem ao longo dos anos. As regiões mais altas do Mato Grosso, como a região Sudoeste, onde está a Chapada do Parecis, a região Sul do Mato Grosso, que envolve a Serra da Petrovina, e Leste, que abrange principalmente Campo Verde e Primavera do Leste, são as que historicamente mais sofreram ao longo destes anos com a ferrugem da soja, em função do contexto anteriormente relatado. O manejo químico assumiu grande importância e, o que antes manejava-se com uma aplicação de fungicidas à base de benzimidazóis ou estrobilurinas isoladas, naquele momento exigiu-se duas a quatro aplicações por safra de fungicidas triazóis ou misturas de triazóis e estrobilurinas a fim de realizar um controle satisfatório.
Em pouco tempo, em função da pressão de seleção, a sensibilidade dos fungos aos fungicidas foi sendo alterada e ficando evidente. Isso ocorreu em um momento em que pouco se conhecia sobre o assunto e também nada se sabia sobre a dimensão que este fato poderia tomar. Entre 2006/2007 e 2007/2008, observou-se em ensaios de campo e em áreas comerciais uma redução abrupta de eficiência dos fungicidas à base de triazóis, extremamente eficientes até aquele momento, que eram a grande sustentação do manejo da ferrugem da soja em função do modo de ação e de seu caráter sistêmico e curativo. Ingredientes ativos como tebuconazole, flutriafol e ciproconazole, que representavam grande parte das marcas comerciais dos fungicidas triazóis isolados, caíram de patamares de 90% de controle para algo em torno de 10% a 30% de
controle dependendo da molécula em estudo. Mudou-se, então, a estratégia, e passou-se a recomendar e utilizar nas safras seguintes somente misturas prontas de triazóis e estrobilurinas e o controle voltou a patamares aceitáveis. Por volta de 2009/2010, a performance dos fungicidas benzimidazóis, produtos amplamente utilizados no controle de mancha-alvo, antracnose e DFCs, devido ao amplo uso, também sentiram o efeito da pressão de seleção e foi observada a redução no controle para Corynespora no estado de Mato Grosso (Carlin, et al, 2011). Infelizmente, “a coisa não parou por aí”. Percebe-se safra após safra que estrobilurinas + triazóis continuaram reduzindo a eficiência de controle, dando a impressão de que as estrobilurinas também estariam perdendo o seu poder de controle. Após três anos de constatação no campo foi confirmado, oficialmente, no final de
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2014, com a detecção da mutação F129L. As grandes extensões de soja, aliadas ao uso repetido dos mesmos produtos ou de grupos de fungicidas com iguais modos de ação, com todo um cenário climático favorável à doença, continuam a reduzir a eficácia destes defensivos, que têm se mostrado diretamente proporcional à exposição destes produtos no campo, além da maior ou menor fragilidade de cada ativo. Em ensaios conduzidos na safra 2013/2014, para semeaduras de início de dezembro, época altamente favorável à ocorrência da doença, ultrapassou-se a perda de 90% de rendimento devido à ocorrência da ferrugem da soja (3,5 sacas por hectare na testemunha contra 43,5 sacas por hectare nos melhores tratamentos), confirmando o potencial de perda extremamente alto e já citado na literatura (Yorinori, 2004). Recentemente, novos ativos de ação específica têm chegado ao mercado, as carboxamidas, altamente eficientes dentro do propósito de cada produto, mas que necessitam de triazóis e estrobilurinas para completarem sua performance e/ou protegê-las da resistência dos fungos aos fungicidas, pois este grupo, se mal utilizado, passa a ser vulnerável. Para este grupo de ativos ter maior longevidade, os demais ativos (estrobilurinas e triazóis) precisam contribuir como fungicidas protetores das moléculas e como parceiros, completando e melhorando seu espectro de controle. Fungicidas protetores e multissítios têm sido avaliados nos últimos anos, com ações interessantes quando associados às misturas de triazóis e estrobilurinas, mostrando respostas importantes em complemento de performance de controle da ferrugem da soja, ação antirresistência, além de efeito em outras doenças como Corynespora,
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Redução abrupta de eficiência do uso isolado de fungicidas à base de triazóis tem sido observada no combate à ferrugem asiática
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Cercospora, dependendo de cada produto. Considerando a dificuldade em que se obtenha novos produtos fungicidas, com diferentes modos de ação, nos próximos sete a dez anos, preservar as ferramentas existentes e trabalhá-las integradamente no manejo é essencial para a sustentabilidade e a rentabilidade do negócio soja, não apenas em Mato Grosso, mas em todo o Brasil. Manejar doenças em soja de modo racional e viável, no contex-
to atual, tem se tornado complexo, pois a ferrugem asiática, mesmo sendo a mais importante, não está só. Dependendo da região, histórico da área, cultivar etc, doenças como Cercospora, Corynespora, Septoria e Colletotrichum assumem papel cada vez mais importante, em função de sensibilidade de materiais, fontes de inóculo cada vez maiores em função do modelo agrícola brasileiro de monocultura e práticas de manejo que muitas vezes não almejam o equilíbrio do
sistema. Além disso, manter-se atualizado em relação à eficiência de fungicidas tem sido obrigatório, pois as mudanças têm ocorrido com muita frequência. Novas misturas ou combinações de fungicidas com diferentes espectros de controle sempre são bem-vindas diante das tão poucas ferramentas disponíveis, de modo a ter mais opções para rotacionar modos de ação e ativos ou produtos distintos e abranger as mais diferentes doenças que afe-
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tam a cultura. O novo fungicida Ativum™EC, estudado pela Agrodinâmica desde 2010/2011, é um exemplo. Composto por uma mistura tripla, estrobilurina, triazol e carboxamida (piraclostrobina + epoxiconazole + fluxapiroxade), lhe confere ação em ferrugem da soja, mancha-alvo e DFCs, sendo mais uma ferramenta viável e possível de ser adotada. Em suma, utilizar todas as ferramentas de manejo como adoção maciça do vazio sanitário; plantios
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Acima, área tratada com fungicida Ativum no combate à ferrugem asiática e abaixo tratamento com estrobilurina + triazol
10 • Julho 2016 • Soja • www.revistacultivar.com.br Tabela 1 – Resultados de controle de ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), massa de mil grãos (MMG) e produtividade em soja cultivar Msoy 8372 Ipró. Semeadura 03/01/2016. Estação Experimental Agrodinâmica, Deciolândia – Diamantino (MT) Tratamento
% Controle
Testemunha Triazol Estrobilurina Triazol+Estrobilurina AtivumTM EC C.V. (%)
0,0 a 22,8 c 13,7 b 35,0 d 71,9 e 1,96
MMG (g) 107,3 c 110,6 c 110,7 c 119,9 b 138,4 a 1,70
Produtividade Sc/ha Kg/ha 32,9 1974,0 b 32,4 1943,4 b 32,3 1935,1 b 36,2 2169,7 b 43,8 2625,4 a 7,40
Incremento Sc/ha 0,0 0,0 0,0 3,3 10,9 -
Média seguida de mesma letra nas colunas não difere entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Dados extraídos dos ensaios cooperativos. * Severidade na testemunha de 82,8% em R5.5.
Tabela 2 - Resultados de controle de ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), massa de mil grãos (MMG) e produtividade em soja cultivar Msoy 8372 Ipró. Semeadura 16/12/2015. Estação Experimental Agrodinâmica, Campo Novo do Parecis (MT) Tratamento
% Controle
Testemunha Triazol Estrobilurina Triazol + Estrobilurina AtivumTM EC C.V. (%)
0,0 a 24,1 c 13,5 b 38,3 d 80,3 e 3,66
MMG (g) 122,2 c 126,6 bc 123,4 bc 132,7 ab 140,9 a 3,30
Produtividade Sc/ha Kg/ha 39,6 2373,9 c 43,1 2585,1 bc 44,7 2679,6 b 45,8 2747,0 b 50,9 3052,7 a 4,64
Incremento Sc/ha 0,0 3,5 5,1 6,2 11,3
Média seguida de mesma letra nas colunas não difere entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Dados extraídos dos ensaios cooperativos. * Severidade na testemunha de 81,5% em R5.5.
Basf
antecipados e de materiais de ciclo mais curto (precoces); adoção de materiais resistentes quando possível; aplicações de forma preventiva; monitoramento da lavoura e diagnose de qualidade; não aplicar mais que duas vezes o mesmo produto/ativo durante a safra, rotacionando produtos e modos de ação diferentes; conhecer performance e espectro dos produtos; utilizar dose adequada do produto e o adjuvante recomendado; empregar tecnologia de aplicação compatível com o estágio da cultura e condição climática; conhecer as características das cultivares e o histórico da região e da área em que se encontra inserido e utilização de fungicidas protetores e ou multissítios associados aos fungicidas sistêmicos, garantirão o sucesso no manejo, eficiente C técnica e economicamente. Valtemir José Carlin, Agrodinâmica
Encarte Técnico • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 206 • Julho 2016 • Capa - Basf Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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