C
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVII • Nº 210 • Novembro 2016 • ISSN - 1516-358X
Cultivar
Destaques
Nossa capa
Distante do fim - 22
Os desafios da Helicoverpa armigera passados quase quatro anos de sua identificação oficial nas lavouras brasileiras
Cecília Czepak
Índice Diretas
04
Manejo de pragas subterrâneas em milho
06
Controle da lagarta-do-cartucho
12
Informe - Sistema Enlist
16
Informe - Controle de pragas
18
Informe - Fosfito no manejo de doenças
20
Capa - Desafios da Helicoverpa armigera
22
Manejo integrado de pragas em soja
26
Tratamento de sementes em soja
30
Manejo de nematoides
32
Importância de novas moléculas herbicidas 35
Sequenciamento de risco - 32 Os cuidados com pragas de solo ao escolher culturas para rotação ou sucessão
Controle da cigarra Quesada gigas
36
Coluna Agronegócios
39
Coluna Mercado Agrícola
40
Coluna ANPII
42
Controle nutritivo - 36 O papel do enxofre no manejo de pragas como a cigarra Quesada gigas em cafeeiro
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
Rocheli Wachholz Karine Gobbi
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
• Revisão
CIRCULAÇÃO
Aline Partzsch de Almeida • Coordenação Simone Lopes
COMERCIAL • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Vendas
Sedeli Feijó
Rithieli Barcelos
• Assinaturas
Natália Rodrigues Clarissa Cardoso Aline Borges Furtado
• Expedição
Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Um ano
O Programa de Pontos, iniciativa da Bayer para o agronegócio brasileiro, completou um ano de atividades atingindo a marca de mais de um bilhão de pontos resgatados por mais de 70 mil produtores brasileiros inscritos. Os agricultores que compram insumos agrícolas com distribuidores somam um ponto a cada R$ 1,00 investido em produtos, podendo trocá-los por serviços agronômicos. O diretor de Acesso ao Mercado da Bayer, Ivan Moreno, explica que a partir de agora esta iniciativa está disponível dentro da Rede AgroServices. “Pelo fato do Programa de Pontos enfatizar, principalmente, a importância da integração do agronegócio, nada mais justo que uni-lo à rede para a construção de um setor mais forte.”
Cartão Safra
Ivan Moreno
A Unidade de Proteção de Cultivos da Basf lançou o Cartão Safra na Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol). Mais de cinco mil cooperados poderão aderir ao programa de fidelidade. “Para nós da Basf é muito gratificante levar mais esta inovação aos cooperados que terão sua fidelidade recompensada e poderão adquirir uma infinidade de itens em sites das principais redes varejistas”, garante o gerente sênior de Acesso ao Mercado e Gestão de Clientes da Basf, Mario Lavacca. O Cartão permite que o agricultor acumule pontos por meio da compra de produtos da linha agrícola da marca e troque por eletroportáteis, eletrodomésticos, utensílios domésticos e eletroeletrônicos em sites de redes varejistas.
Ação
Mariana Lorenzon
Segurança
A Bayer convocou os diretores da empresa para ter uma experiência inédita no canal de atendimento ao cliente Converse Bayer. “Vamos unir os elos da cadeia. Neste dia, nos aproximaremos ainda mais dos clientes para entender suas necessidades, trocando informações e tirando dúvidas, bem como ampliando nosso canal de relacionamento com eles", avaliou o diretor de Operações de Negócios da Divisão Crop Science da Bayer, Rafael Villarroe. “Nossa atenção está voltada completamente ao produtor. Com essa ação, os executivos vivenciarão um contato diferente com o cliente" explicou a diretora de Excelência Operacional da Bayer, Mariana Lorenzon.
Nicolau Serra
Datas como a Semana Nacional de Trânsito e o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho são períodos em que a FMC Agricultural Solutions reforça a importância do Programa Think! Safe (Pense! Seguro), que tem como intuito conscientizar os colaboradores e suas famílias. Na prática, o programa ocorre permanentemente por meio de diversas iniciativas. “A segurança está incorporada no nosso cotidiano e nosso principal objetivo é criar uma cultura de 'pensamento seguro', em que todos os colaboradores tenham atitudes de prevenção, seja com sua família ou no trabalho, e que o compartilhamento desta visão seja natural, constante e interativo”, aponta o gerente de Projetos e EHS da FMC, Nicolau Serra.
Manejo de resistência
Inseticida
O inseticida Tracer, que já tinha registro para o combate ao bicho-mineiro, acaba de receber aprovação para a broca-do-café. “A extensão da bula de Tracer na cafeicultura reforça a presença da Dow neste mercado tão importante para o Brasil e para nossa empresa. Com este novo registro, o inseticida passará a ser comercializado ainda este ano, já para a safra 2016/2017”, garante o gerente de Marketing para Café e Hortifrúti da Dow AgroSciences, André Baptista.
Mario Lavacca
André Baptista
A UPL Brasil reuniu o Falcon Team, grupo formado pelos principais entomologistas do país, para discutir e avançar em projetos que possam ajudar no manejo de resistência de pragas nas lavouras brasileiras. O foco foi apresentar aos pesquisadores as novas soluções no manejo de resistência de pragas e tecnologia de aplicação de produtos. “Trouxemos para o debate os mais recentes cenários vistos nos cultivos de grãos do Brasil para, após isso, discutir e buscar novas soluções que possam agregar no futuro do manejo de pragas nas lavouras”, explicou o gerente de Marketing de Inseticidas da UPL Brasil, Alexandre Manzini.
04 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
Alexandre Manzini
Cartilha
Uma cartilha sobre a sustentabilidade do setor, produzida pelos integrantes do Grupo de Trabalho de Alimentos e Agricultura da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, com participação da Syngenta, acaba de ser lançada. A publicação aponta todos os compromissos do Plano de Agricultura Sustentável da Syngenta como referências de boas práticas que de fato promovem a sustentabilidade na agricultura. "Ter a nossa história identificada como boa prática e apresentada na cartilha é prova do reconhecimento da Organização das Nações Unidas com relação ao que temos feito para proporcionar condições dignas a quem trabalha no campo, o que nos enche de orgulho", afirma Márcio Pascholati, líder da Syngenta Agrícola.
Prêmio
Márcio Pascholati
A Ourofino Agrociência recebeu em outubro o prêmio Lide Agronegócios 2016 na categoria Defensivos Agrícolas. O reconhecimento ocorreu durante o 5º Fórum Nacional de Agronegócios e foi recebido pelo CFO da empresa, Marcelo Abdo. Promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais, o Fórum tem como objetivo premiar as empresas e instituições do agronegócio brasileiro que se destacam no desenvolvimento sustentável a partir do uso de modernas ferramentas de tecnologia e gestão, além da visão e atuação socioeconômica para inserção competitiva nos mercados. Outros cinco segmentos foram premiados: Crédito, Fertilizantes, Sementes e Mudas, Implementos Agrícolas e Tratores.
Marcelo Abdo
Gabriel Saul
Gabriel Saul assumiu o cargo de gerente de Branding da Syngenta. Formado em Propaganda e Marketing pela PUC de Campinas, São Paulo, possui mais de dez anos de atuação no agronegócio. O profissional conta com experiência nas áreas de Marketing de multinacionais como Bunge e Mosaic. Saul concentrará seus esforços na contínua construção e geração de valor das marcas de produtos da companhia, uma das maiores empresas globais na categoria de defensivos agrícolas.
Registro
Gerente
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aprovou a inclusão do café entre as culturas de abrangência do produto Heat. O herbicida da Basf, já conhecido para o controle de invasoras na cana-de-açúcar, milho e soja, agora está disponível para o manejo das principais plantas daninhas de folhas largas que competem com os cafezais. A maior incidência de invasoras, como buva, corda-de-viola e trapoeraba, ocorre entre os meses de outubro e abril, período em que o volume de chuvas é maior. “O manejo inadequado durante esse período pode comprometer a produtividade do café, já que as plantas daninhas exercem competição principalmente por recursos”, destaca a gerente de Marketing de Café, Citros e Amendoim da Basf, Carulina Oliveira.
Expansão
A Kimberlit Agrociências, especializada no desenvolvimento, produção e comercialização de soluções em nutrição vegetal, comemora a expansão da empresa no Brasil. Fundada em 1989, a pequena fábrica possuía apenas quatro funcionários e ocupava uma área de 150 metros quadrados, em Batatais, interior de São Paulo. Atualmente conta com aproximadamente 200 funcionários, em uma área de 208 mil metros quadrados em Olímpia, São Paulo, e tem atuação internacional, com portfólio que atende desde o plantio até a colheita das lavouras. Um laboratório completo com equipamentos como espectrofotômetro de absorção atômica dão suporte ao rigoroso controle de qualidade e promovem a padronização dos produtos fabricados.
Daninhas
Pesquisadores brasileiros de plantas daninhas, integrantes do Wolf Team, se reuniram em outubro em Campinas, São Paulo, para discutir formas de capacitar melhor produtores e agrônomos e auxiliar no manejo eficaz de herbicidas nas lavouras brasileiras. O grupo, formado pela UPL do Brasil, busca pensar e planejar o futuro da resistência de plantas daninhas nos próximos anos e vislumbra a informação como divisor de águas para o aumento da produtividade e rentabilidade no campo.
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
05
P.R.V.S. Pereira
Milho
Mastigadoras subterrâneas
Corós e larva-alfinete estão entre as pragas de solo causadoras de prejuízos na cultura do milho. O uso de inseticidas por ocasião da semeadura e da implantação da lavoura, na forma de tratamento de sementes, é uma das ferramentas para o manejo desses insetos
A
cultura do milho, em todas as regiões produtoras do Brasil, está sujeita ao ataque de pragas de solo com potencial para causar perdas na produção, tanto pela diminuição da população de plantas como por prejuízos ao desenvolvimento e crescimento das plantas. Entre as várias espécies que podem ocorrer, considerando o potencial de danos, distribuição geográfica, frequência de ocorrência e dificuldade de
controle, destacam-se as larvas de coleópteros conhecidas pelo nome comum de corós e de larva-alfinete. Outras pragas associadas ao solo, tipicamente subterrâneas ou de superfície de solo, podem atacar e causar danos em milho. É o caso da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), da lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), da larva-angorá (Astylus variegatus), dos percevejos pentatomídeos (Dichelops melacanthus, D.
06 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
furcatus e Nezara viridula) e de grilos, moluscos e milípodes, entre outras. Neste texto são enfocados corós e larva-alfinete, pragas mastigadoras subterrâneas, sobre as quais se apresenta a caracterização morfológica, aspectos biológicos e da dinâmica populacional e se discutem as principais alternativas para manejo na cultura de milho. Na realidade, os corós constituem um complexo de espécies, cuja ocorrência varia
A
Salvadori, 2004), P. cuyabana (coró-da-soja) em soja, sorgo, girassol e trigo (Oliveira et al., 1997), P. triticophaga (coró-do-trigo) em trigo, aveia, centeio, cevada, triticale, trigo mourisco, canola, soja, ervilhaca, tremoço e azevém (Salvadori, 2000) e L. suturalis (coró-do-milho) em aveia e trigo (Santos & Ávila, 2007). No estado do Rio Grande do Sul, estima-se que a incidência de corós atinge 40% da área cultivada com milho, com perdas médias de 25%-30% (Salvadori et al., 2007). A larva-alfinete (D. speciosa) é a forma jovem de um pequeno besouro altamente polífago, conhecido pelo nome comum de vaquinha verde-amarela, patriota ou brasileirinho. A larva tem hábitos subterrâneos e se alimenta de raízes e de tubérculos das plantas. Os adultos são filófagos, mas também se alimentam de brotações, flores e frutificações. Adultos e larvas são pragas de grande importância econômica no Brasil. Anualmente, uma grande quantidade de inseticidas é usada para o controle desta praga (Ávila & Milanez, 2004). O adulto de D. speciosa mede aproximadamente 6mm de comprimento e apresenta coloração geral verde com três manchas amarelas ovaladas, dispostas transversalmente em cada élitro. A larva tem coloração esbranquiçada, com a cabeça e a placa anal escuras (Figura 1b); é cilíndrica, tem três pares de pernas, passa por três instares e, quando completamente desenvolvida, atinge cerca de 12mm de comprimento por 1mm de diâmetro (Ávila & Milanez, 2004; Cruz et al., 1998). O adulto ataca plantas de várias famílias, especialmente leguminosas, cucurbitáceas, solanáceas e crucíferas, mas prefere ovipositar junto a plântulas de gramíneas. A duração do ciclo de vida e de suas fases, assim como a capacidade reprodutiva, depende do alimento, incluindo a espécie da B
P.R.V.S. Pereira
morfológica, o reconhecimento das espécies pode ser feito por meio do “mapa” de pelos e espinhos presentes na região anal dos corós, que é característico para cada espécie (Figura 2). O ciclo de vida dos corós que podem ser encontrados na cultura do milho é bastante complexo e varia com a espécie. O tempo entre uma geração e outra pode ser de um ano, como D. abderus (Figura 3), P. cuyabana e L. suturalis (Figura 4), ou de dois anos, como P. triticophaga. O conhecimento do ciclo dos corós e da sua relação com a fenologia do milho, na safra e na segunda safra (safrinha), é fundamental para o manejo dos corós-praga. Os danos dos corós decorrem da alimentação das larvas que são de hábitos subterrâneos e essencialmente rizófagas. Todavia, os corós também comem sementes e até pequenas plantas que puxam para dentro do solo, após a destruição completa do sistema radicular. As perdas no rendimento de grãos em uma lavoura de milho decorrem, em geral, da combinação de dois efeitos: diminuição da população de plantas e comprometimento parcial ou total de plantas injuriadas pelos corós. O dano maior, em função do tamanho e da capacidade de consumo, é causado pelas larvas de terceiro instar, especialmente quando este coincide com as fases de emergência e crescimento inicial das plantas. Como este estádio dura vários meses, os danos se prolongam ao longo do ciclo da cultura, podendo ir além de uma única safra, dependendo do sistema de sucessão de cultivos utilizado, incluindo safrinhas. As espécies de corós mais importantes como pragas de milho também são citadas como pragas de vários outros cultivos, como o D. abderus (coró-das-pastagens) em pastagens, azevém, aveia, cevada, triticale, trigo, sorgo, canola, linho, trevos, alfafa e soja (Silva & D.N. Gassen
de acordo com a região de produção de milho. Uma das principais características dos corós que comem raízes é a polifagia, ou seja, a capacidade de se alimentar, indistintamente, de vegetais de diversas espécies e famílias, cultivadas ou não. Assim, apesar da denominação comum dos mais importantes corós-praga do milho levar o nome de uma cultura (coró do trigo, das pastagens, da soja e do milho), todos usam como alimento diferentes plantas hospedeiras, inclusive plantas daninhas. O coró-das-pastagens (Diloboderus abderus Sturm, 1826) e o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga Morón & Salvadori, 1998) são importantes no Rio Grande do Sul (Silva & Salvadori, 2004; Salvadori & Silva, 2004). O coró-da-soja (Phyllophaga cuyabana Blanchard, 1850) tem relevância no Paraná (oeste e norte), Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás (Oliveira et al., 2004; Vivan et al., 2007; Ávila & Santos, 2009). O coró-do-milho (Liogenys suturalis Blanchard, 1951) é praga importante em Mato Grosso do Sul (Santos & Ávila, 2007; Ávila & Santos, 2009). Estes dois últimos, em função do ciclo da espécie, têm danificado principalmente a segunda safra de milho (Santos & Ávila, 2007). Sob o ponto de vista prático, o conhecimento da espécie, e mais do que isso, do hábito alimentar, das demais características biológicas e do potencial de danos, é fundamental na tomada de decisão para controle de corós na cultura do milho. No solo, também podem ser encontradas várias espécies de corós que, devido a outros hábitos alimentares que não a rizofagia, especialmente a saprofagia, não são consideradas pragas. Corós é o nome popular dado a larvas de coleópteros do tipo escarabeiforme ou melolontoide (Figura 1a). Os adultos são besouros conhecidos por escaravelhos, que apresentam coloração variada e completam todo o seu ciclo de vida (ovo, larva e pupa) no solo, de onde emergem para se reproduzir e se dispersar. O coró-das-pastagens vive dentro de um pequeno túnel vertical por ele construído (galeria), cuja extremidade fica a 20cm de profundidade, em média. Outros corós que não fazem galerias, como espécies de Phyllophaga e Liogenys, vivem a menores profundidades. Os corós passam por três estádios ou instares larvais, ao longo dos quais vão aumentando de tamanho e a capacidade de consumo alimentar. Morfologicamente, os corós têm o corpo na forma de “C” e apresentam três pares de pernas torácicas; o corpo tem coloração geral branca ou amarelada e a cabeça é, em geral, marrom, variando a tonalidade (de amarelada a avermelhada), conforme a espécie. A identificação das espécies é feita com maior facilidade na fase adulta, devido às diferenças de cor e de tamanho dos besouros. Na fase larval, devido à grande semelhança
Figura 1 - Coró-das-pastagens (a) e larva-alfinete (b)
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
07
Fotos V. Santos
A
B
Fotos P. R. V. S. Pereira
C
D
nas (Viana et al., 2002) e que dez larvas/ planta já são capazes de provocar acamamento (Gassen, 1996).
MANEJO
Figura 2 – Phyllophaga cuyabana (a), Liogenys suturalis (b), Diloboderus abderus (c) e P. triticophaga (d)
planta hospedeira e o estádio de desenvolvimento desta e de outros fatores ambientais, principalmente da temperatura. A postura é feita no solo, geralmente em rachaduras, sendo que solos escuros e úmidos são preferidos para oviposição (Milanez & Parra, 2000b). A 25ºC, o período embrionário dura cerca de oito dias a nove dias (Milanez & Parra, 2000a), enquanto larvas e pupas, que também ocorrem no solo, duram cerca de 18 e 12 dias, em plântulas de milho, respectivamente (Milanez, 1995; 1997). Em laboratório, a longevidade dos adultos varia de 40 dias a 60 dias (Milanez, 1995) e, quando alimentados em folhas de batata e de feijão, a fecundidade pode atingir 500-600 ovos/fêmea, superior à verificada quando o alimento é folha de milho ou de soja (Ávila & Parra, 2002). A espécie apresenta ampla distribuição geográfica no país, possivelmente pela também ampla adaptação hospedeira e climática. No Sul, apresenta de cinco a seis gerações anuais e não há evidências de que entre em diapausa (Gassen, 1996). A população aumenta a partir de dezembro, ocorrendo picos em fevereiro e março (Ávila & Milanez, 2004). Nas regiões mais quentes, o número de gerações pode ser maior. Embora não seja um fator determinante, tendo em vista a grande mobilidade dos adultos, a presença de outros hospedeiros nas proximidades pode facilitar a incidência de larvas em milho. Os adultos podem perfurar folhas novas e até prejudicar a fertilização ao se alimentarem dos estilo-estigmas durante o período de polinização, porém, são as larvas que justificam a condição de praga desta espécie em milho. As infestações das larvas decorrem de adultos que voam de áreas adjacentes ou mais distantes para ovipositar junto às plântulas de milho. A larva-alfinete se desenvolve atacando as raízes, inclusive as adventícias, reduzindo o tamanho do sistema radicular das plantas. A infestação se origina a partir dos adultos que chegam à área de duas a quatro semanas após a emergência das plantas, fazendo com os que danos ocorram, geralmente entre 30 dias e 60 dias após a semeadura, período de
rápido crescimento da demanda das plantas por água e nutrientes (Gassen, 1996). As plantas atacadas ficam menos produtivas e mais sujeitas ao tombamento e à incidência de fitopatógenos do solo (Cruz et al., 1998). Passado o ataque, as plantas acamadas tentam retomar a verticalidade, gerando o sintoma típico conhecido por “pescoço-de-ganso” ou “milho ajoelhado”, situação que dificulta a colheita mecanizada, originando mais perdas. As lavouras semeadas fora de época e as áreas de plantio pequenas e isoladas tendem a apresentar infestações maiores e danos mais severos como consequência do deslocamento dos adultos em busca de plantas para a oviposição (Gassen, 1996). Em áreas de cultivo extensas, o ataque pode ser maior nas bordaduras (Ávila, 1999). O dano também tende ser maior em plantios tardios e na chamada segunda safra ou safrinha de milho (Gassen 1996; Milanez et al., 1999; Ávila & Milanez, 2004). Não está bem determinada a relação entre o nível de infestação da larva-alfinete e as perdas de produtividade do milho (Chiaradia, 2010). Em elevadas infestações, Silva (1999) constatou perdas de 200kg/ha a 600kg/ha. Há referências que 3,5 larvas/planta podem comprometer o sistema radicular de plantas ainda peque-
O acompanhamento da dinâmica populacional das pragas é condição básica para o seu manejo. No caso dos corós e da larva-alfinete, os hábitos subterrâneos e a distribuição agregada nas lavouras tornam a amostragem para acompanhamento e determinação dos níveis populacionais da praga uma operação trabalhosa e dispendiosa. Estas pragas apresentam uma diferença substancial e determinante a ser levada em conta no monitoramento e na tomada de decisões para controle. Os corós são considerados pragas residentes e já estão presentes na área por ocasião da semeadura. A larva-alfinete é dependente da presença de plantas hospedeiras para que o adulto, extremamente móvel, faça posturas, em pós-emergência da cultura. A amostragem de corós pode ser feita por meio da abertura de trincheiras no solo com o objetivo de identificar as espécies e quantificar os indivíduos de hábitos rizófagos e outros que não são pragas. Em áreas sabidamente infestadas, esse procedimento é praticamente obrigatório antes da semeadura e mesmo antes disso, por ocasião do planejamento de utilização da área. Todavia, considerando que o ciclo de vida dos corós é longo e ultrapassa os limites do ciclo de uma ou de duas culturas plantadas em sucessão, os cuidados para identificar o início das infestações devem ser constantes, durante as safras e nas entressafras. As ocorrências de plantas mortas, manchas em plantas mal desenvolvidas e áreas com perdas de produtividade são indicadoras que podem auxiliar no mapeamento das infestações. As populações de corós e da larva-
Figura 3 - Ciclo biológico e dano de Diloboderus abderus em relação a milho e outras culturas, no Rio Grande do Sul (Salvadori & Pereira, 2006)
08 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
Figura 4 - Ciclo biológico de Liogenys suturalis em relação a milho e outras culturas, em Mato Grosso do Sul (Santos & Ávila, 2007)
ocasião da semeadura e da implantação da lavoura, na forma de tratamento de sementes ou de aplicação no sulco de semeadura (líquidos ou granulados). No caso dos corós, que já estão presentes na área por
José Roberto Salvadori, FAMV/PPGAgro Univ. Passo Fundo
D.N. Gassen
-alfinete são reguladas por fatores bióticos (inimigos naturais) e abióticos (climáticos). Insetos predadores e parasitoides, além de entomopatógenos, de ocorrência natural, são reconhecidos como importantes freios do potencial de reprodução destas pragas. No caso dos corós, por exemplo, há evidências de que as infestações poderiam ser mais constantes, generalizadas e economicamente importantes, não fossem os colapsos populacionais causados por microrganismos causadores de doenças. O uso de feromônios e de outras substâncias atraentes apresenta-se como uma alternativa extremamente interessante tanto para monitoramento como para controle de pragas de solo. Há vários estudos sendo feitos nesse sentido, tanto para espécies de corós como para D. speciosa. Recentemente, uma nova opção para o controle da larva-alfinete foi oferecida no mercado, através de genótipos de milho geneticamente transformados que expressam proteínas entomotóxicas de Bacillus thuringiensis (milho Bt). Considerando o ciclo de vida e a dinâmica populacional de corós e da larva-alfinete, é viável se pensar no ajuste da época de semeadura do milho para escapar de situações mais críticas através da assincronia fenológica entre praga e cultura (Silva et al., 1996). Nesse sentido, há resultados práticos e efetivos no Rio Grande do Sul, onde o retardamento da semeadura do milho para o mês de novembro faz com que a cultura escape do ataque de corós, uma vez que nessa época tanto D. abderus como P. triticophaga já cessaram ou diminuíram a ingestão de raízes, para empupar (Salvadori & Oliveira, 2001). Para ambas as pragas, o uso de inseticidas para controle precisa ser feito por
ocasião do planejamento e da instalação da lavoura, é possível tomar decisões de controle com base em amostragens (abertura de trincheiras) no solo. O nível de ação para a espécie D. abderus em milho foi estimado em 0,5 coró/m² (Silva & Costa, 2002). Para a larva-alfinete, cuja incidência ocorre após a emergência das plantas de milho, a decisão de controle é tomada com base no histórico de ocorrência na área e no risco que representa. Vários inseticidas, desde que aplicados na dose, na forma e no momento mais adequados, são eficazes no controle, embora o tratamento de sementes possa não ter o efeito residual suficiente para um completo controle da larva-alfinete, dependendo da época de infestação. Esta prática é bastante usada na cultura do milho para o controle do complexo de pragas de solo e da fase inicial da cultura de modo a garantir a população de plantas desejada e o bom C desenvolvimento inicial das plantas.
10 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
Dano do coró-daspastagens em milho
Milho
Devoradora de tecnologias Fotos Leonardo Burtet
Praga mais destrutiva da cultura do milho, a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) é capaz de reduzir a produtividade em mais de 50% e tem se tornado nos últimos anos uma ameaça concreta a híbridos Bt, que em alguns casos passam a demandar o uso de inseticidas para complementar o controle. Quantificar os custos dessa tecnologia quando associada à aplicação de inseticidas e identificar quais ainda são eficientes contra o inseto são questões cruciais era realizado, principalmente, por meio do controle químico, mas a partir de 2007, com a liberação comercial de tecnologias de milho expressando proteínas inseticidas de Bacillus thuringiensis Berliner (Bt), surgiu uma nova tática de controle para a praga. Atualmente, o milho Bt é cultivado em aproximadamente 12,5 milhões de hectares por ano no Brasil. Porém, em poucos anos, já foi reportada a quebra da resistência e a consequente redução de eficácia das proteínas Cry1F e Cry1Ab para a lagarta-do-cartucho (Farias et al, 2014; Omoto et al, 2016). As falhas de controle de S. frugiperda por algumas tecnologias Bt têm sido percebidas, tornando necessário o uso de inseticidas para complementar o controle. Nas últimas safras, o emprego de inseticidas sobre milho Bt aumentou consideravelmente no Brasil, inclusive no Rio Grande do Sul.
BIOTECNOLOGIAS E INSETICIDAS AVALIADOS
O
milho é cultivado em aproximadamente 16 milhões de hectares por ano no Brasil. Na maioria dos estados, o cultivo ocorre em duas safras por ano, denominadas de 1ª e 2ª safra, sendo que, nos últimos anos, a 2ª safra superou a 1ª em área de cultivo e produção. Além disso, em regiões com irrigação também há uma safra adicional para a produção de milho semente. No entanto, em alguns estados da Região Sul
(Rio Grande do Sul e Santa Catarina), devido ao inverno rigoroso, a 1ª safra é a principal época de cultivo e produção de milho. Entretanto, independentemente do local de cultivo, a lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) tem sido considerada o inseto-praga mais destrutivo da cultura do milho, sendo capaz de reduzir a produtividade em mais de 50%. O manejo de S. frugiperda em milho
12 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
Para subsidiar o manejo de S. frugiperda em milho, a equipe do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (LabMIP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) avaliou a eficácia de tecnologias de milho Bt e sua associação com inseticidas no controle da lagarta-do-cartucho. Os estudos foram conduzidos em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em lavoura com infestação natural da praga, durante a 1ª safra 2015/2016. Foram avaliados nove híbridos de milho, sendo oito tecnologias Bt e uma não Bt e seis programas de pulverização de inseticidas e o tratamento testemunha (sem pulverização). Os testes foram realizados entre todas as biotecnologias × todos os tratamentos químicos.
AVALIAÇÃO DE DANOS
As avaliações de danos de S. frugiperda em milho Bt e não Bt foram realizadas a cada cinco
Figura 1 - Médias de porcentagem de plantas com danos e notas de dano (Escala Davis) de Spodoptera frugiperda em milho Bt e não Bt, após 12 avaliações
% de plantas com danos de S. frugiperda
dias, nas três folhas centrais do “cartucho”, de dez plantas consecutivas da linha central de cada parcela. Foi contabilizado o número de plantas com danos (convertido em porcentagem de plantas com dano) e atribuída uma nota de dano, de acordo com a escala Davis (0 - nenhum dano visual - a 9 - danos severos no cartucho) (Davis et al, 1992). A pulverização dos inseticidas foi realizada quando 10% das plantas, em cada amostragem, apresentaram nota de dano >3 (Escala Davis). O volume de calda utilizado foi de 200L/ha.
RESULTADOS
Houve uma alta porcentagem de plantas com danos de S. frugiperda em milho Agrisure TL, Herculex e Optimum Intrasect, variando entre 55% e 60%, sendo similar a aqueles ocorridos em milho não Bt (68% das plantas com presença de danos). Para essas tecnologias, a nota média de dano (Escala Davis) variou de 2,1 a 2,9 (Figura 1). Nestas tecnologias de milho Bt e não Bt houve a necessidade de uma a três pulverizações de inseticidas para com-
Notas de dano de S. frugiperda
plementar o controle de S. frugiperda e evitar perdas econômicas significativas. Em contraste, em milho YieldGard VT PRO (20%), YieldGard VT PRO 3 (14%) e PowerCore (14%) houve similaridade na porcentagem de plantas com danos. Entretanto, os danos foram menos significativos (nota média de dano inferior a 0,5) que os observados nos híbridos mencionados anteriormente. De outro lado, em milho Agrisure Viptera e Agrisure Viptera 3 os danos de S. frugiperda foram insignificantes (0,5% das plantas com a presença de danos). Já em milho YieldGard VT PRO, YieldGard VT PRO 3, PowerCore, AgrisuMilho não Bt re Viptera e Agrisure Viptera 3 não houve a necessidade de uso de inseticidas para
complementar o controle da praga. Dentre os tratamentos inseticidas testados, o spinetoram isolado, na 1ª e na 2ª pulverização, e os inseticidas: metomil + clorantraniliprole (1ª pulverização) e indoxacarb (2ª pulverização); lambda-cialotrina + lufenuron (1ª pulverização) e lambda-cialotrina + clorantraniliprole (2ª pulverização) foram os mais efetivos no controle de lagartas sobreviventes
Agrisure TL
Herculex
Optimum Intrasect
YieldGard VT PRO
YieldGard VT PRO3
PowerCore
Agrisure Viptera
Agrisure Viptera3
Escala visual de danos de S. frugiperda em milho, adaptada de Davis et al (1992)
Fonte: Pioneer Sementes.
Figura 2 - Danos de Spodoptera frugiperda em tecnologias de milho Bt e não Bt sem pulverização de inseticidas. Santa Maria (RS), safra 2015/16
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
13
Tabela 1 - Tecnologias de milho Bt testadas para o controle de Spodoptera frugiperda. Santa Maria (RS), safra 2015/16 Tecnologia Agrisure TL Herculex OptimumIntrasect YieldGard VT PRO YieldGard VT PRO 3 PowerCore AgrisureViptera AgrisureViptera3
Cry1 Cry1Ab Cry1F Cry1Ab + Cry1F Cry1A.105 Cry1A.105 Cry1A.105 + Cry1F Cry1Ab
Proteínas Bt expressas Cry2 Cry3
Cry2Ab2 Cry2Ab2 Cry2Ab2
Vip3A
Cry3Bb1 Vip3Aa20 Vip3Aa20
Ano de liberação comercial 2008 2008 2011 2009 2011 2010 2009 2010
Tabela 2 - Inseticidas testados para o controle de lagartas sobreviventes de Spodoptera frugiperda em milho Bt e não Bt. Santa Maria (RS), safra 2015/16 Programa inseticida 1 2 3 4 5 6 7
Inseticida (gramas de ingrediente ativo/hectare)* 1ª pulverização 2ª pulverização Clorfenapir (192) Clorfenapir (192) Triflumuron (48) + Tiodicarbe (120) Flubendiamida (72) Spinetoram (12) Spinetoram (12) Metomil (322,5) + Clorantraniliprole (25) Indoxacarbe (60) Clorpirifós (720) + Diflubenzuron (96) Clorpirifós (720) + Diflubenzuron (96) Lambda-cialotrina (2,5) +Lufenuron (15) Lambda-cialotrina (7,5) + Clorantraniliprole (15) Água (controle) Água (controle)
*Quando foram necessárias mais de duas pulverizações, na terceira foram repetidos os inseticidas da segunda e na quarta foram usados os inseticidas da primeira pulverização.
Tabela 3 - Análise dos custos de controle de Spodoptera frugiperda na integração de milho Bt e inseticidas. Santa Maria (RS), safra 2015/16 Custo da Programa Nº de % plantas Custo do inseticida Custo final de Produtividade % plantas (R$/ha)4 controle (R$/ha)5 kg/ha com dano1 semente (R$)2 Inseticida3 pulverizações com dano 1 2 24,2 184,00 573 7117 2 3 21,5 220,00 600 5588 389,00 3 2 19,5 156,00 545 5856 Pioneer 30F53 68,0 4 1 23,2 112,00 501 5764 (Milho não Bt) 5 2 27,0 119,00 508 5821 6 2 23,5 105,00 494 6106 1 2 18,7 184,00 734 7086 2 2 23,5 136 686 8921 550,00 3 2 13,2 156 706 7191 Syn 3949 TL 58,0 4 1 14,0 112 662 8827 (Agrisure TL) 5 3 25,7 179 729 8444 6 2 15,7 105 655 7873 1 2 22,5 184 589 6631 2 3 18,5 220 625 7727 405,00 3 2 17,2 156 561 7439 60,0 4 1 17,5 112 517 7648 Biogene 7060 5 2 26,0 119 524 8110 (Herculex) 6 2 30,2 105 510 7556 1 2 18,0 184 687 7736 2 2 21,2 136 639 8103 503,00 3 1 17,5 78 581 8195 Pioneer 30F53 YH 55,0 4 1 14,5 112 615 7836 (Optimum Intrasect) 5 3 23,2 179 682 8603 6 2 15,0 105 608 7868 510,00 0 16,2 510 7626 AS1572 VT PRO (YieldGard VT PRO) 20,0 820,00 0 10,0 820 6325 AS1677 VT PRO 3 (YieldGard VT PRO 3) 14,0 492,00 0 12,0 492 8714 Morgan 30A77 (PowerCore) 14,0 648,00 0 0,5 648 9907 Syn Supremo (AgrisureViptera) 0,5 625,00 0 0,1 625 8995 Syn Status (AgrisureViptera 3) 0,1 Milho
Porcentagem de plantas com dano sem o uso de inseticidas. 2O preço da semente de milho Bt e não-Bt foi obtido junto à cooperativas e revendas da região central do Rio Grande do Sul. 3O número do programa inseticida nesta tabela, corresponde ao programa inseticida apresentado na tabela 2. 4O custo do inseticida é o valor do número total de pulverizações em cada programa inseticida. 5O custo final de controle foi composto pelo somatório do custo da semente + custo do inseticida/ha, não sendo considerados os custos operacionais, devido às grandes variações em tecnologia de aplicação. 1
14 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
de S. frugiperda em milho Bt e não Bt (Tabela 3). A combinação lambda-cialotrina + lufenuron (1ª pulverização) e lambda-cialotrina + clorantraniliprole (2ª pulverização) foi aquela que apresentou melhor custo-benefício (controle). Além da avaliação do desempenho de tecnologias de milho Bt e inseticidas no controle de S. frugiperda, foram estimados, de forma objetiva, os custos de controle (Tabela 3). O custo final de controlede S. frugiperda em milho Agrisure TL, Herculex, Optimum Intrasect e milho não Bt variaram de R$ 494,00/ha (milho não Bt) a R$ 734,00/ha (milho Agrisure TL), sendo esses números influenciados diretamente pelo custo inicial da semente, que é menor para o milho não Bt (Tabela 3). Em contrapartida, a porcentagem de plantas danificadas em milho YieldGard VT PRO, YieldGard VT PRO 3, PowerCore (entre 14% e 20%), Agrisure Viptera e Agrisure Viptera 3 (entre 0,1% e 0,5%) foram inferiores, dispensando aplicações de inseticida para o controle de S. frugiperda, com custo de controle ficando restrito ao híbrido Bt utilizado (Tabela 3). Em geral, a produtividade das tecnologias de milho Bt (com ou sem inseticidas) foi relativamente superior ao milho não Bt. Houve grande variação na produtividade entre as tecnologias de milho Bt, que ocorreram devido à presença ou ausência de danos de S. frugiperda, mas também, em grande parte devido à influência do material genético (híbrido), que varia naturalmente sua capacidade produtiva, o que se reflete no valor da semente. Em resumo, diversas tecnologias de milho apresentaram falhas no controle de lagarta-do-cartucho, o que demonstra que haverá um aumento considerável no uso de inseticidas sobre milho Bt para complementar o controle da praga. No entanto, a escolha de híbridos Bt com melhor eficácia contra a lagarta-do-cartucho pode ser uma alternativa para minimizar a necessidade de inseticidas e, consequentemente, reduzir os custos de controle. Além disso, existe a necessidade do monitoramento da presença de lagartas sobreviventes em milho Bt e o estabelecimento de níveis de ação para o uso de inseticidas, se necessário. Não obstante, a adoção de outras práticas de manejo, como as áreas de refúgio, também deve ser considerada para o manejo C de S. frugiperda em milho. Leonardo Burtet, Jerson V. C. Guedes, Oderlei Bernardi, Adriano A. Melo, Maiquel Pizzuti Pes, Thiago Strahl, Ericmar A. dos Santos e Frederico Hickmann, Univ. Federal de Santa Maria
Informe Empresarial
Conveniência e diversidade Fernando Adegas
Sistema Enlist busca restaurar a diversidade de mecanismos de ação de herbicidas e boas práticas agrícolas para o manejo de plantas daninhas em soja e milho
A
s plantas daninhas, em geral, apresentam elevada variabilidade genética entre plantas dentro de uma população ou entre populações, exibindo grande potencial para se adaptar ao manejo feito para o seu controle. Com isto, estas espécies naturalmente possuem predisposição à evolução frente aos métodos de controle, o que lhes permitem se estabelecer e perpetuar em quase todas as áreas agrícolas. Mais de 100 anos após Charles Darwin teorizar sobre a evolução das espécies, suas ideias são vivenciadas na prática, ao se analisarem os casos de resistência de plantas daninhas ao glifosato. De fato, o uso contínuo deste herbicida em áreas de soja e milho causou a evolução de oito espécies resistentes a este herbicida no Brasil, como a buva, o capim-amargoso, entre outras. A mesma abordagem também ocasionou a seleção de dezenas de plantas daninhas com tolerância natural a este herbicida, como a corda de-viola, a trapoeraba, entre outras. Assim, a adoção de novos sistemas que reúnam conveniência e diversidade no controle químico de plantas daninhas é essencial para a prevenção da resistência destas espécies aos herbicidas. O Sistema Enlist de Controle de Plantas Daninhas é uma plataforma que busca restaurar a diversidade de mecanismos de ação de herbicidas e boas práticas agrícolas para o manejo de plantas daninhas em soja e milho. Para isto, é baseado em três grandes pilares
que sustentam os programas de manejo e garantem elevada eficácia, flexibilidade e durabilidade para os herbicidas associados ao Sistema. O primeiro pilar são eventos que conferem tolerância aos herbicidas 2,4-D, glufosinato e glifosato em soja, além de haloxifope em milho, o que confere diversidade nas opções de controle. O segundo pilar são soluções herbicidas associadas a uma tecnologia de formulações ainda em fase de registro no Brasil, aliando-se, assim, aos objetivos de elevada eficácia e segurança no uso dos produtos. O terceiro pilar são boas práticas agrícolas que serão estimuladas, incentivadas por um programa inovador, o Enlist Care, o que garantirá a melhor experiência possível aos usuários do Sistema. Além disto, o Sistema Enlist será ideal para produtores que almejam altas produtividades, pois estará sempre associado a tecnologias de resistência a insetos-praga e a um germoplasma elite. No Brasil, os componentes do Sistema Enlist encontram-se em fase final de aprovação nas distintas agências regulatórias, com
lançamento comercial previsto para as culturas de soja e milho na safra 2018/19. Este Sistema foi avaliado a campo em distintas regiões do país ao longo das últimas sete safras, sendo obtidas informações técnicas customizadas e robustas sobre os seus atributos. Recentemente, muitas destas informações foram publicadas em 17 resumos no Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, que ocorreu em agosto, em Curitiba, Paraná.
EVENTOS BIOTECNOLÓGICOS DE TOLERÂNCIA A HERBICIDAS
Para avaliar a tolerância da soja Enlist E3 aos herbicidas 2,4-D e glifosato em condições de campo, oito ensaios foram conduzidos em diferentes regiões agrícolas do País, testando-se diferentes doses e estádios de aplicação. A soja Enlist E3 apresentou elevada tolerância aos herbicidas 2,4-D e glifosato, independentemente da dose e do estádio da cultura, mesmo em aplicações realizadas com o dobro da dose (Tabela 1). Em geral, a injúria foi ≤ 5% nas primeiras avaliações e gradualmente desapareceu com o passar do tempo, e não teve qualquer influência no desempenho da cultura (Rampazzo et al, 2016). Em outro estudo, que objetivou avaliar a tolerância do milho Enlist aos herbicidas 2,4 D, glifosato, glufosinato e haloxifope, dez ensaios foram realizados em distintas regiões utilizando-se diferentes doses e estádios de aplicação. Neste caso, a injúria geral foi nula, com alguns poucos casos com injúrias visuais ≤ 5% e que desapareceram com o passar do tempo, independentemente da dose e do estádio de aplicação testados. Estes resultados confirmam que todos os tratamentos herbicidas testados foram altamente seguros para o milho Enlist, sem interferir na sua produtividade de grãos (Minozzi et al, 2016a).
SOLUÇÕES HERBICIDAS PARA O MANEJO DE PLANTAS DANINHAS
Em estudos de eficácia de controle químico, demonstrou-se que os herbicidas associados ao Sistema Enlist constituem-se em excelentes opções para o manejo de espécies de difícil controle com glifosato em soja. Para buva, vários programas de manejo contendo uma mistura pré-formulada de 2,4D + glifosato em pós-emergência propiciaram controle superior a 95% (Martini et al, 2016). Em outro estudo, a associação de 2,4-D e
Plantas daninhas resistentes a glifosato (Adaptado de Heap, 2016)
Buva Conyza spp.
Azevém Capim-amargoso Lolium multiflorum Digitaria insularis
16 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
Capim-branco Chloris elata
Caruru-gigante
Capim-pé-de-galinha
Amaranthus palmeri
Eleusine indica
Plantas daninhas tolerantes a glifosato
Leiteiro Euphorbia heterophylla
Erva-de-Santa-Luzia Euphorbia hirta
Trapoerava Commelina spp.
Corda-de-viola Ipomoea spp.
Apaga-fogo Erva-quente Poaia Erva-de-touro Alternanthera tenella Spermacoce latifolia Richardia brasiliensis Tridax procumbens
Figura 1 - Plantas daninhas resistentes e tolerantes ao glifosato no Brasil
Soja não Enlist
glufosinato apresentou controle de 86% de caruru-gigante (Amaranthus palmeri), espécie de planta daninha resistente ao herbicida glifosato (Frene et al, 2016). Em outros estudos a campo, realizados com milho Enlist, avaliou-se o controle de gramíneas de difícil controle com glifosato, muitas das quais com resistência ao herbicida, como o capim-amargoso e o capim-pé-de-galinha. Em geral, programas de manejo contendo o herbicida haloxifope na condição de pós-emergência do milho Enlist propiciaram controle de ambas as espécies em valores acima de 90%. Deste modo, estes resultados demonstram que este herbicida se constitui em uma opção para o manejo de gramíneas de espécies de difícil controle com glifosato em milho (Minozzi et al, 2016b).
ENLIST CARE: PROGRAMA DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS
O Programa Enlist Care é constituído de diferentes ações e iniciativas relacionadas às boas práticas agrícolas, sendo algumas dependentes de dados de pesquisa para suporte das
Milho não Enlist
recomendações aos usuários. Em estudos de avaliação da redução da deriva do 2,4-D com a nova tecnologia de formulação, verificou-se redução de até 75%, de acordo com a ponta de aplicação (Kalsing et al, 2016). Em outros estudos, que avaliaram o potencial de volatilização de formulações de 2,4-D juntamente com a nova tecnologia, não se verificou qualquer deriva por vapor deste herbicida (Rubin et al, 2016). Outra iniciativa do Programa Enlist Care refere-se a estudos de manejo de plantas voluntárias, tigueras ou guaxas de culturas Enlist, que constituem-se em um grande desafio no uso de culturas geneticamente modificadas. Em estudos de avaliação do controle de plantas de soja Enlist E3, atrazina, metsulfuron, paraquate, entre outros herbicidas, foram opções para o manejo de plantas voluntárias (Lucio et al, 2016a). Em estudos similares realizados com plantas de milho Enlist em diferentes estádios, cletodim, setoxidim e tepraloxidim constituíram-se em opções para o manejo de voluntárias (Lucio et al, 2016b).
Figura 2 - Exemplos de tolerância a herbicidas da soja Enlist E3 e milho Enlist
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Sistema Enlist permitirá ao produtor aliar os conceitos de conveniência e diversidade em um mesmo programa de manejo de plantas daninhas nas culturas de soja e milho. Este Sistema é alicerçado em um programa robusto de boas práticas agrícolas, o Enlist Care, e em novas tecnologias de formulação de herbicidas, em fase de registro no Brasil, o que propiciará o uso seguro dos herbicidas associados. Desta forma, Sistema Enlist trará grande contribuição para a agricultura brasileira nos próximos anos, sobretudo maior eficácia e sustentabilidade no manejo de plantas daninhas e insetos-praga. Dentre todas as estratégias de opções disponíveis para o controle de plantas daninhas na agricultura, a “diversidade” é e continuará sendo aquela mais efetiva e duradoura para o manejo destas espécies. C Augusto Kalsing Felipe Ridolfo Lucio Marcello Cunha Dow Agrosciences
Tabela 1 - Tolerância da soja Enlist E3 à aplicação de 2,4-D e glifosato em função de diferentes doses dos herbicidas e estádios de aplicaçãoC (Adaptado de Rampazzo et al., 2016) Herbicidas Testemunha 2,4-D Glifosato 2,4-D Glifosato 2,4-D Glifosato 2,4-D Glifosato
Tratamentos Dose (g ea/ha) --975 1.075 1950 2.050 975 1.075 1950 2.050
Dias após a aplicação 7 14 28 0b 0 ns 0 ns 0b 0 ns 0 ns
Estádio --V6
3 0c 0c
V6
1c
0b
0 ns
0 ns
R2
1b
0b
0 ns
0 ns
R2
2a
1a
0 ns
0 ns
*Médias seguidas de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey (α=0,05). ** Não significativo na análise de variância (ns).
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
17
Informe Empresarial
Fotos Ourofino
Sugadores de produtividade
Inseticida à base de acefato chega ao mercado brasileiro para ajudar no controle do percevejo-verde Nezara viridula e da lagarta-da-soja Anticarsia gemmatalis
A
produção de soja no Brasil deve atingir 97,3 milhões de toneladas na safra 2015/16. Desse total, 53,8 milhões de toneladas vão para a exportação. As estimativas foram divulgadas pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), no fim de junho, e demonstram a grandeza e a importância dessa cultura para o país. Os produtores, ao longo dos anos, vêm aperfeiçoando o manejo e aderindo a novas tecnologias em busca do tão sonhado aumento de produtividade. Contudo, uma praga insiste em atacar as lavouras e trazer prejuízos de milhões de reais a cada safra. Trata-se do percevejo, inseto sugador com enorme potencial para ocasionar prejuízos na cultura da soja. Embora esteja presente desde o período vegetativo da cultura, é no reprodutivo que ocorrem os danos. “Em algumas regiões do Brasil, como Paraná e Mato Grosso, a incidência de percevejo tem sido muito alta. Em alguns casos, os produtores chegam a fazer de seis a oito aplicações específicas”, explica o engenheiro agrônomo e consultor, Luis Henrique Kasuya. De fato, a praga ataca as lavouras de todas as regiões do País. A utilização da soja intacta, uma variedade que possui o gene Bt em seu DNA, tem resultado na redução da utilização de inseticidas que controlam as principais
lagartas. E isso tem impactado negativamente no aumento da população de percevejos. “O grande problema é que, muitas vezes, o controle é feito tardiamente e sem levar em consideração os níveis corretos de monitoramento. Isso gera sobras da praga na lavoura e aumenta o número de aplicações e os danos na soja”, afirma o consultor. Para o seu controle, especialistas indicam o tratamento químico como uma das principais estratégias para evitar ou reduzir os danos causados pelo percevejo. “A correta identificação da praga é extremamente importante para determinar os níveis de infestação. Dessa forma, é possível definir a época e as práticas mais adequadas para o controle”, explica o gerente de Produtos da Ourofino Agrociência, Marco Antonio Cunha.
tante para os produtores, uma vez que o seu modo de ação contribui para o melhor manejo de resistência e controle da praga. O consultor Luis Henrique Kasuya explica que atualmente existem poucos grupos químicos e a grande maioria concentra-se nos piretroides associados aos neonicotinoides. “Essas misturas podem encontrar resistência em determinadas espécies de percevejo”, assinala. Por pertencer ao grupo dos organofosforados, o Racio torna-se fundamental no manejo de resistência da cultura da soja. “Com uma aplicação eficaz, o produtor poderá ter o controle efetivo do percevejo barriga-verde e da lagarta-da-soja na lavoura, com a possibilidade de aumentar a produtividade e, consequentemente, os lucros”, garante o gerente de Produtos da Ourofino Agrociência, Marco Antonio Cunha. Cunha lembra ainda que o inseticida conta com embalagem hidrossolúvel, ou seja, em contato com a água, se dissolve totalmente. O aplicador, por não precisar manusear o produto, tem mais segurança. Racio também apresenta menos odor. “Buscamos oferecer as melhores tecnologias ao produtor, sempre visando ao manejo eficiente”, ressalta. Com tecnologia de ponta aplicada pela empresa em todos os inseticidas, herbicidas e fungicidas, o Racio complementa o portfólio de 21 produtos da Ourofino Agrociência.
DANOS DO PERCEVEJO
O ataque com mais potencial de dano é na fase reprodutiva, podendo ocasionar perdas, especificamente entre R4 e R5.5. Após a floração, o percevejo tende a provocar abortamento de flores e, posteriormente, danos diretos na vagem, por meio da sucção do grão com seu rostro. Vagem danificada abre a porta para a entrada dos fungos. A ação direta do percevejo resulta em grãos chochos e mais leves, diminuindo a produtividade e afetando sua qualidade. Em caso de produção de semente, se não forem respeitados os índices de monitoramento, a qualidade será totalmente comprometida C e inviabilizará a produção.
RACIO CHEGA PARA AUXILIAR OS PRODUTORES
Para o produtor que busca eficiência e competitividade em sua lavoura, a Ourofino Agrociência apresenta o Racio, produto à base de acefato lançado no início do segundo semestre. O inseticida, que controla um dos principais sugadores da cultura da soja, o percevejo-verde, é altamente eficiente, recomendado também no manejo da lagarta-da-soja. A solução chega em um momento impor-
18 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
C
Cunha destaca identificação de percevejos para determinar os níveis de infestação
Informe Empresarial
Nova arma
Cultivar
A importância do uso de fosfitos como indutores dos mecanismos de defesa das plantas e no manejo de resistência de doenças em soja, como a ferrugem-asiática
químicas não apresentam ação fungicida in vitro, mas apenas in vivo, por agirem como ativadores dos mecanismos de defesa das plantas (como se fossem uma vacina). Talvez por isso não deveriam ser consideradas fungicidas.
RESISTÊNCIA INDUZIDA EM PLANTAS
A resistência induzida consiste no aumento do nível de defesa por meio da utilização de agentes externos (indutores). Não se dá qualquer alteração do genoma da planta, “ocorrendo de maneira não específica”, por meio da ativação de genes que codificam para diversas respostas de defesa, tais como proteínas relacionadas à patogênese, por exemplo, quitinase e glucanase; enzimas envolvidas na rota de síntese de fitoalexinas, como fenilalanina-amônia-liase, e acúmulo de lignina em tecidos circunvizinhos ao local de penetração do micro-organismo (Bonato et al, 2005). Essas substâncias não estão presentes na planta, sendo formadas após o uso do indutor. Além dos fosfitos, tem sido demonstrado que o silício (Si) também age como um indutor de resistência em plantas.
INDUTORES DA RESISTÊNCIA EM PLANTAS
A
ferrugem foi detectada no Brasil na safra 2001/02 e na safra seguinte teve início o seu controle com fungicidas. Naquele momento, os fungicidas triazóis foram aplicados isoladamente em uma grande área, com várias aplicações no ciclo da soja. Já na safra 2005/06 alguns produtores reclamaram pela primeira vez da falha do controle da ferrugem com esses fungicidas. Pesquisas conduzidas em campos experimentais e em laboratório confirmaram a redução da sensibilidade de linhagens do fungo aos fungicidas triazóis. Embora em uma área menor, as estrobilurinas também foram e têm sido aplicadas isoladamente não só no Brasil, mas também no Paraguai. Como consequência, na safra 2012/13 foi detectada a redução da sensibilidade do fungo também para as estrobilurinas, nas mesmas condições, lavouras, campos experimentais e em laboratório. A situação é grave. Atualmente não se trata mais de evitar o desenvolvimento da resistência, mas sim de recuperar a eficiência do controle. Diante deste fato, o que se pode fazer para resgatar os níveis de controle tanto dos triazóis como das estrobilurinas isolados ou em mistura que no início de seu uso foi de 80% a 90%? Nas poucas safras em que foram usadas, as misturas contendo o benzovindiflupir e o protioconazol têm apresentado redução do controle. Portanto, essas duas moléculas vão suportar a pressão de seleção direcional imposta por P. pachyrhizi? É preocupante o fato de que os resultados da última safra (2015/16)
mostraram que a adição de mancozebe a algumas misturas não recupera mais o controle, mesmo com dose de 3kg/ha. Isso indica que a redução da sensibilidade de P. pachyrhizi, devido à seleção direcional aos fungicidas sítio-específicos, continua sendo reduzida safra após safra. Com base nessa constatação, haverá fungicidas protetores suficientes (quantidade) para serem usados em todas as aplicações (três a quatro) e em toda área cultivada de soja (> 30 milhões de hectares)?
CONCEITO DE FUNGICIDAS
O uso de fosfitos como indutores dos mecanismos de defesa das plantas tem tido sucesso no controle de doenças da macieira e da videira. O interessante é que são recomendados associados aos fungicidas aumentando sua potência. Portanto, um efeito sinérgico positivo. O mesmo fato foi demonstrado em relação ao controle da ferrugem da soja. A adição de fosfito de cobre + silício (Gran Protect) potencializou a eficiência do controle. Os resultados na safra 2015/16 mostraram que a adição do fosfito de cobre + silício (lL/ha) às misturas de fungicidas (triazóis + estrobilurinas em suas doses normais) + mancozebe (1,5L/ha) também apresentou um efeito sinergético. Na Tabela 1, consta o efeito dos tratamentos no rendimento de grãos da soja em experimento conduzido pelo Departamento Técnico da Cotripal, em Panambi, Rio Grande do Sul, na safra 2015/16. O aumento significativo no rendimento de grãos da soja pode ser explicado devido à potencialização das misturas de fungicidas ao efeito nutritivo do mancozebe fornecendo manganês e do C fosfito fornecendo fósforo à planta. Erlei Melo Reis
Uma substância química, para ser fungicida, não necessita obrigatoriamente matar o fungo. Algumas controlam doenças inibindo o crescimento micelial ou a esporulação, chamadas de substâncias “fungistáticas” e “antiesporulantes” ou “genestáticas. O conceito de fungicidas tem sido ampliado com o advento de novas substâncias químicas que controlam doenças causadas por fungos, porém não agem diretamente sobre o agente causal. Servem como exemplos os princípios ativos que, aplicados Tabela 1 - Efeito dos tratamentos no rendimento de grãos (sacas/ha) da soja pela às plantas, ativam o adição de fosfito de cobre + silício (Gran Protect) sistema de autodefe2ª 3ª 4ª 5ª Adição de: Rendimento Diferença sa (indutores de re- 1ª 52,5 c Testemunha sistência), tais como 81,8 b 29,3 o fosetil alumínio, o Tri+Pro Azo+Ben Azo+Ben Tri+Pro Tri+Pro Mancozebe 1,5 82,3 b 29,8 acibenzolar metílico, Tri+Pro Azo+Ben Azo+Ben Tri+Pro Tri+Pro 35,5 os fosfitos (de Ca, Tri+Pro Azo+Ben Azo+Ben Tri+Pro Tri+Pro Mancozebe 1,5 + Fosfito Cu + Si 1,0 88,0 a (Gran Protect) Cu, K e Mn) etc. Essas substâncias Fungicida 1: Azoxistrobina – Benzovindiflupir. Fungicida 2: Trifloxistrobina - Protioconazol
20 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
Capa
Fotos Luis Felipe Manso Lombardi
Distante do fim Passados quase quatro anos desde a identificação oficial da lagarta Helicoverpa armigera no Brasil, o desafio representado por esta praga segue muito longe de solução definitiva. Experiências negativas em outros países e o registro recente de casos não esporádicos do inseto em campos de soja, especialmente cultivos não Bt, áreas de pousio e soqueiras de algodão, principalmente em Mato Grosso, bem como relatos de ataques em outros estados como Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, dão o tom da dimensão do problema. É preciso redobrar os esforços conjuntos, para que erros cometidos no passado com outras pragas, como a mosca-branca, não se repitam no País
E
m 2013 notificou-se pela primeira vez a ocorrência de Helicoverpa armigera no Brasil e, à exceção de alguns órgãos que mantiveram suas pesquisas em torno do assunto, pouca coisa de concreto foi feita em relação ao manejo dessa praga. Mesmo com toda importância dada a este inseto nos anos que se seguiram, a partir do registro de moléculas inseticidas para o controle da lagarta e do aumento das áreas cultivadas com soja Bt, os estudos em relação à H. armigera diminuíram, e o que é pior, o Brasil ainda se encontra na dependência de portarias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para manutenção do “estado de emergência fitossanitária” e com isso obter a autorização para uso emergencial de alguns produtos ainda não registrados para a praga em questão.
O mais curioso é que apenas cinco estados brasileiros (o que é incoerente devido à ampla distribuição da H. armigera no País) pediram essa liberação, e desde então sua prorrogação ocorre anualmente. A dificuldade em se registrar agroquímicos e, neste caso, não só para H. armigera, se dá por vários motivos, entre eles a morosidade com que órgãos públicos emitem registros no Brasil. Atualmente, são necessários de cinco a dez anos para que um produto possa ser comercializado no país. Muito longe de desmerecer as exigências dos órgãos responsáveis pelo processo e tampouco a necessidade dos estudos em relação aos produtos químicos (fases extremamente importantes), a modernização dessa legislação torna-se necessária e urgente, uma vez que a falta de opções pode levar os produtores à adoção de defensivos
22 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
não registrados e/ou contrabandeados, que não possuem controle de qualidade, e por desconhecimento do que está sendo pulverizado coloca-se em risco a própria agricultura brasileira, seus usuários e o ambiente, além da perda de arrecadação de impostos para o País. Essa é uma questão que se espera ser discutida em breve, pois está em tramitação no Congresso Nacional um Projeto de Lei (nº 3.200/2015) que reduz para até 180 dias o prazo para este tipo de registro. Passados quase quatro anos da constatação oficial de H. armigera no Brasil, os problemas decorrentes da presença da praga nos cultivos agrícolas infelizmente foram sendo minimizados, uma falha, considerando a importância mundial deste inseto e a necessidade de estudos aprofundados em território brasileiro, principalmente relacionados à sua dispersão, biologia, comportamento em diferentes hospedeiros e regiões, táticas de controle, entre outros. Essa falta de informação arrisca comprometer o entendimento da praga e seu controle, e a possibilidade de que se enfrente novos ataques passa a ser iminente, já que se tem a sensação equivocada de que o problema “H. armigera” foi superado. Entretanto, acredita-se que a não ocorrência de surtos da praga nas últimas safras se deve ao empenho da cadeia produtiva em controlá-la e, portanto, não se pode deixar de reconhecer a contribuição das instituições públicas e privadas de Ensino e Pesquisa, em informar e orientar o produtor sobre como enfrentar esse inseto no campo. Sem essa contribuição, que muitas vezes foi vista como alardes exagerados, provavelmente o sucesso da lagarta em detrimento dos cultivos no Brasil seria bem maior. Porém, apesar dos alertas, estão sendo repetidos os mesmos erros cometidos no passado em relação às pragas exóticas, como é o caso da mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B). Após 20 anos desde a sua identificação
Fotos Cecilia Czepak
Figura 1 - Flutuação media da população de Helicoverpa armigera em 27 municípios de Goiás ao longo do ano de 2015 e inicio de 2016 em dois sistemas de cultivo, irrigado e sequeiro
O monitoramento de modo contínuo antes, durante e depois do plantio é medida que se impõe no combate ao inseto
em território brasileiro, as pesquisas pouco avançaram e atualmente, com raras exceções, os produtores têm como única ferramenta de controle os inseticidas, dos quais, muitos perderam eficácia ao longo dos anos e, além disso, o país já está enfrentando um novo biótipo de B. tabaci. Entender o porquê desse equívoco talvez não seja tão difícil, já que, também em relação à H. armigera, os produtores brasileiros se encontram na dependência quase que exclusiva de ferramentas químicas para seu controle. Embora tenham sido apresentadas outras formas de manejar essa praga (vide Quadro 1 e 2 com a exposição das diferentes táticas de manejo disponíveis para os produtores conforme a evolução da praga e da cultura). Sem contar as frequentes epizootias de fungos entomopatogênicos e a significativa presença de lagartas e pupas parasitadas de H. armigera observadas em vários cultivos se apresentando como importantes agentes naturais de controle biológico. Contudo, sempre se escolheu a ferramenta química como principal forma de controle, talvez por se apresentar ao produtor de forma mais cômoda, com resultados rápidos e “dispensar” mão de obra especializada. Um erro grave, pois em um país onde a agricultura é base de sustentação para a economia, manter-se tão dependente de uma única ferramenta pode ser no mínimo perigoso, tanto sob o ponto de vista socioambiental como econômico, ainda mais quando se trata de uma praga como a H. armigera. Basta lembrar que as perdas anuais causadas por insetos-pragas chegam a 12 bilhões de dólares no Brasil, sendo que 1,6 bilhão de dólares é consequência dos ataques de pragas quarentenárias. Além disso, segundo a Defesa Agropecuária/Mapa, a H. armigera pode gerar, somente nas culturas de soja, milho e algodão, um prejuízo em torno de R$ 2 bilhões/ano, sem contar os danos ocasionados em hortaliças por esta praga. Em levantamento feito pelo
mesmo órgão, no estado do Mato Grosso, para o controle desta praga há um acréscimo nos custos de produção de R$ 85,00/ha. Este valor corresponde até três aplicações de inseticidas a mais, podendo ainda aumentar dependendo da época e da intensidade do ataque. A partir de 2013, o Mapa passou a considerar H. armigera presente em vários estados brasileiros e sua erradicação, com certeza nem pôde ser aventada, já que casos de ataque da praga foram se multiplicando entre regiões e cultivos ao longo dos meses. Recentemente, estudos de genética de populações comprovaram que H. armigera está há mais tempo do que se preconiza no Brasil e sua detecção, infelizmente, foi tardia. Suspeita-se da sua presença em território brasileiro desde 2005, pois surtos de Heliothinae foram observados nesse ano. Porém, as lagartas foram identificadas como Chloridea virescens ou H. zea
devido à grande similaridade da forma jovem dessas espécies. Isso explica a impossibilidade de erradicá-la ou pelo menos impedi-la de se disseminar. Levando em consideração o grande potencial de H. armigera como praga em Goiás, por meio de um esforço em conjunto com Agrodefesa, Lanagro/Mapa, Emater, Faeg e UFG, tendo como suporte financeiro a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), estão sendo mantidos vários estudos sobre este inseto e já é possível dizer que em Goiás, H. armigera tem sua presença comprovada de Norte a Sul em diferentes regiões e sistemas agrícolas, tornando-se praga-chave não só em cultivos de soja e algodão, mas também em cultivos irrigados de tomate, feijão e milho doce, e sendo provavelmente estas as culturas hospedeiras e multiplicadoras da praga nas entressafras.
Casos de ataques de Helicoverpa armigera estão se multiplicando nas regiões produtoras à medida que o plantio da nova safra avança
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
23
Ainda em Goiás, estudos (dados ainda não publicados) demonstram a presença constante da praga ao longo de todo o ano, mesmo durante as estações secas (Figura 1), resultado preocupante, uma vez que isso pode comprovar a sobrevivência deste inseto sem maiores dificuldades apesar das condições climáticas desfavoráveis ao seu desenvolvimento. Este fato serve de alerta para que seja mantido de forma contínua o monitoramento antes, durante e após os plantios. Essa praga, conforme comprovaram estudos no exterior e no Brasil, mesmo em populações reduzidas, é capaz de causar danos irreversíveis, pois tem preferência pelas partes reprodutivas das plantas (Quadro 3). Sem contar que em pesquisas recentes, desenvolvidas na Escola de Agronomia/UFG e ainda não publicadas, constatou-se uma taxa de aumento popu-
lacional de uma geração para outra acima de 50 vezes, podendo apresentar até sete gerações ao ano, conseguindo em uma cultura como a soja manter-se por até duas gerações ou mais. É possível, ainda, que estas gerações possam se sobrepor, devido ao comportamento da praga em manter uma parte da população em diapausa conforme cita a literatura, o que dificultaria um controle satisfatório, principalmente se baseado somente na ação química. Além disso, essa espécie apresenta alto potencial para a evolução da resistência a inseticidas. De acordo com o Irac (Comitê de ação a resistência a inseticidas) já existem relatos de resistência de H. armigera a piretroides, carbamatos, organofosforados, fipronil, spinosad e indoxacarb em 265 localidades, tais como Austrália, China, Índia, Paquis-
Quadro 1
Quadro 2 - Sugestões de Táticas do Manejo Integrado de Pragas disponíveis para Helicoverpa armigera a partir do desenvolvimento da praga e/ou da cultura Táticas de controle* Armadilhas com feromonio da praga Revolvimento do solo caso a presença de pupas seja evidenciada Uso de produtos biológicos de ação sobre as pupas Destruição de tigueras, soqueiras e plantas espontâneas Controle de lagartas na dessecação Estabelecimento de janelas de plantio menores Adoção de tecnologia Bt, mantendo áreas de refugio Tratamento de sementes com inseticidas de ação comprovada sobre a praga Aplicação de Iscas atrativas + inseticida para adultos Liberação de Trichogramma Uso de produtos biológicos como Bacillus thuringiensis e o Baculovírus Padronização de estratégias para uso do controle químico Inseticidas seletivos manejando produtos pelo mecanismo de ação Uso preferencial de produtos com ação de choque, contato e ingestão
1
Fases da cultura e/ou da praga 2 3 4 5 6
* Táticas dependentes de um monitoramento continuo na área
24 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
tão, entre outros. Ainda sobre resistência, a literatura internacional relata a obtenção, na China, de população com razão de resistência de 24 vezes em apenas 15 gerações da praga.
O RETORNO DA PRAGA EM SURTOS PREOCUPANTES
Evidenciaram-se no início desta nova safra casos não esporádicos, da presença de H. armigera em campos de soja, especialmente cultivos não Bt, áreas de pousio e soqueiras de algodão, principalmente no estado do Mato Grosso. Algo preocupante, por ser este estado o maior produtor das culturas de soja (safra 15/16 foram plantados 9.140.000 hectares de soja), milho (3.800.100 hectares de milho) e algodão (660.400 hectares de algodão). Resta saber se é um prenúncio da volta em grande escala de H. armigera ou apenas a resposta comportamental da praga ao descaso com que está sendo tratado o problema na região. Insetos da subfamília Heliothinae são conhecidos por persistirem em baixas densidades populacionais em plantas ou áreas que, aparentemente, não lhe são adequadas, como tigueras, soqueiras e plantas infestantes. Com isso, o aumento populacional e, consequentemente, surtos da praga em cultivos agrícolas passam a ser inevitáveis. Infelizmente, não somente no Mato Grosso, mas também em Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, os casos de ataques de H. armigera estão se multiplicando, à medida que o plantio da nova safra avança, obrigando produtores a começar as aplicações logo após a emergência das plantas. Casos de até três aplicações consecutivas para o controle da praga já foram relatados nesta nova safra, e médias de até quatro lagartas recém-emergidas/ metro em soja convencional foram quantificadas em monitoramentos, o que deixa muitos produtores em alerta, pois quem viveu o problema da “Helicoverpa” sabe que o seu descontrole pode causar danos irreversíveis. A dinâmica populacional dessa praga envolve vários fatores dos quais se pode destacar a capacidade de realizar migrações de curto e longo alcance para encontrar hospedeiros adequados, ou mesmo seu alto potencial de sobrevivência às condições adversas, como nos longos períodos de seca que passam os mais importantes sistemas agrícolas do Brasil. É possível definir melhor esse comportamento como um processo de “estivação” (estiva dos períodos de seca) pelo qual a H. armigera, em épocas de adversidades ambientais, pode reduzir seu metabolismo para atingir um
Luis Felipe Manso Lombardi
Quadro 3 - Resultado de campo demonstrando o potencial de risco de Helicoverpa armigera na cultura da soja na fase reprodutiva, uma semana após o controle químico da praga. Palmeiras de Goiás/GO Monitoramentos
Lagartas pequenas Lagartas medias Lagartas grandes Total de % de plantas c/ % de vagens (L1/L2) (L3/L4) (L5/L6) lagartas vagens atacadas atacadas/planta Antes do controle químico (11/01/14) 0,37 0,62 0,81 1,8 43 8,2 Após o controle químico (18/01/14) 0,1 0,15 0,35 0,6 84 22
que não é possível dar-se ao luxo de perder essas tecnologias. Vale ressaltar que estudos devem ser mantidos e outros retomados, para que o País não seja novamente surpreendido por surtos altíssimos da praga, como no passado, quando da ocasião da sua identificação oficial. O que não pode se repetir são os ataques disseminados e escalonados em diferentes regiões do Brasil, causando prejuízos incalculáveis, ou mesmo permitir um desastre como o ocorrido em 1973 na Austrália, no vale do rio Ord, região tropical norte do país localizada a 15º ao sul do Equador, onde toda a indústria do algodão da região entrou em colapso devido a fatores como a resistência de H. armigera a inseticidas, que obrigaram os produtores a fazer até 40 pulverizações para o controle da praga, o que tornou a atividade inviável econômica e ambientalmente. Coincidência ou não, esta região australiana se encontra em latitude semelhante a importantes regiões produtoras de Goiás e Mato Grosso. É preciso juntar forças e definir metas, tanto para as pesquisas a serem desenvolvidas, bem como para manter os produtores em alerta no quesito detecção da praga, já que seu controle é facilitado quando a H. armigera é constatada ainda nos primeiros estágios. Além do mais, a conscientização
estado de dormência similar à hibernação que objetiva superar os períodos de calor e desidratação. Além disso, outros fatores como temperatura, umidade e até as fases da lua podem comprometer a dinâmica populacional dessa praga. Há de se considerar também que nos países de origem da H. armigera, como na Austrália, foi comprovada sua presença em anos alternados, pois o efeito migratório está condicionado às condições climáticas das regiões. Neste país, as chuvas de outono/inverno facilitam o crescimento de plantas nativas hospedeiras, as quais a praga se desenvolve aumentando sua população, e com isso provocando surtos nos cultivos de verão em diversas regiões. Considerando esse fato e os plantios consecutivos de verão e inverno no Brasil, esta praga pode se perpetuar na área aparecendo em surtos, decorrentes do escasso manejo ou mesmo do desmazelo com que o produtor conduz a área, antes, durante e após os cultivos. Entretanto, é possível considerar que o relativo sucesso no controle da H. armigera nas últimas safras se deve a fatores como a comprovada eficácia dos químicos utilizados, tanto no tratamento de semente, como em pulverização e a adoção da tecnologia Bt. Porém, não são a solução para o problema da H. armigera no Brasil. Sendo assim, é importante ressaltar a necessidade de preservar essas ferramentas por meio da adoção e manutenção contínua de áreas de refúgios e a rotação dos mecanismos de ação dos inseticidas, ou seja, um programa de manejo de resistência para inseticidas e para cultivos Bt se faz necessário, uma vez
Cecilia Czepak, Rafael F. Silvério, Matheus Le Senechal, Karina A C. Godinho, Humberto O. Guimarães, Tiago Carvalhais, Mariana A. Ortega e Luis F. M. Lombardi, Escola de Agronomia/UFG Wanderlei D. Guerra, Superint. Fed. de Agric. MT/Mapa
Cecilia Czepak
Helicoverpa armigera em soja no município de Campo Verde do Parecis, Mato Grosso
dos produtores se torna fundamental, por meio de programas educacionais contínuos, pois somente a informação poderá levar os interessados na área a entender a importância do problema enfrentado. Vale ressaltar que a rapidez com que populações resistentes dessa praga evoluem torna o problema ainda mais grave. Portanto, produtores, consultores, pesquisadores, empresas e órgãos do governo devem se unir para preservar essas tecnologias por meio do estabelecimento de um efetivo e contínuo programa de manejo integrado de pragas, juntamente com um manejo de resistência eficaz e adaptado às diferentes regiões agrícolas brasileiras, mais precisamente retomar aquilo que foi discutido nas inúmeras reuniões feitas no ano da C constatação da praga no Brasil.
Presença de adulto de Helicoverpa armigera em sorgo dessecado, no município de Palminópolis, em Goiás
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
25
Soja
Ganhos mensurados Cecilia Czepack
Benefícios econômicos pela redução de custos e ambientais através de maior equilíbrio no agroecossistema estão entre as vantagens do manejo integrado de pragas, como a lagarta falsa-medideira e o percevejo-marrom, na cultura da soja
A
soja pode ser atacada por pragas desde a emergência das plantas até a fase de maturação fisiológica. Essas pragas são classificadas como de importância primária, regional ou secundária, em função da sua frequência e abrangência de ocorrência e do potencial de danos que causam na cultura. No início da década de 1970, antes da implementação dos trabalhos de manejo integrado de pragas (MIP) na cultura da soja, eram realizadas de seis a sete aplicações de inseticidas durante o ciclo da cultura. A partir de 1975, iniciaram-se os trabalhos de MIP-soja no Brasil através da parceria envolvendo diferentes instituições de pesquisa e de extensão rural. Após a determinação
dos níveis de dano para as principais pragas desfolhadoras e sugadoras na cultura, passou-se a recomendar o uso de inseticidas apenas quando fosse necessário, ou seja, quando as populações das pragas estivessem iguais ou acima do nível de controle. Após alguns anos, aquele quadro alarmante do uso de inseticidas nas lavouras de soja foi revertido para uma média de apenas duas aplicações por safra. Na década de 1980 foi desenvolvido o controle biológico da lagarta da soja através do uso do Baculovirus anticarsia que impulsionou ainda mais o MIP-Soja no Brasil, enquanto nos anos de 1990, foi também incluída no MIP da soja o controle biológico dos percevejos fitófagos através do uso de parasitoides de ovos. Porém, na última década, tem-se obser-
26 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
vado um retrocesso nos programas de manejo de pragas da soja ou até, em muitas situações, o abandono dessa estratégia, retornando novamente a um aumento abusivo do uso de inseticidas nas lavouras, com consequências indesejáveis do ponto de vista econômico, ecológico e ambiental. Neste novo cenário, os inseticidas deixaram de ser usados com base na população de pragas amostradas nas lavouras, desrespeitando-se os níveis de ação preconizados pela pesquisa, passando as pulverizações a serem realizadas com base em critérios subjetivos, sendo, muitas vezes, as aplicações de inseticidas programadas com base em calendários. Com o advento da soja transgênica RR resistente ao herbicida glifosato e com a chegada da ferrugem asiática no
Figura 1 - Mariposas capturadas nas armadilhas iscadas com feromônio sexual durante o período de monitoramento na área do MIP. Safra 2015/2016. Dourados, Mato Grosso do Sul
Brasil, em 2001, as aplicações de herbicidas e de fungicidas nas lavouras de soja tiveram um incremento acentuado. Este aumento do uso de fungicidas e herbicidas na cultura, em adição às aplicações de inseticidas de amplo espectro, tem contribuído para o desequilíbrio biológico no agroecossistema, em consequência da destruição dos inimigos naturais dos insetos-praga. Esse desequilíbrio biológico tem condicionado o aparecimento frequente de ressurgências das pragas principais, bem como de erupção de pragas secundárias, como ocorreu com a lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens). Em adição a isso, tem-se constatado nos últimos anos o desenvolvimento de resistência dos percevejos fitófagos aos inseticidas químicos aplicados na soja, acentuando-se os casos de insucesso de controle de pragas na cultura. Diante desse cenário caótico, há necessidade urgente de se desenvolver, atualizar e/ ou adequar novos conceitos e estratégias para o controle de pragas na soja, para resgatar o manejo integrado na cultura para que se possa usufruir dos seus benefícios. Trabalhos coor-
Figura 2 - Lagartas grandes e pequenas capturadas pelo método do pano de batida na área do MIP. A seta indica o momento da aplicação do inseticida na soja. Safra 2015/2016. Dourados, MS
denados pela Embrapa Soja, especialmente no estado do Paraná, tem evidenciado que o MIP constitui uma ferramenta importante para a racionalização do uso de inseticidas na cultura da soja, sem que ocorram riscos em perdas de produtividade. Conduziu-se também uma pesquisa em Mato Grosso do Sul para estabelecer o monitoramento e o manejo integrado dos insetos-praga e de seus inimigos naturais na soja, bem como realizar a análise econômica dos custos e benefícios dessa estratégia de controle de pragas na cultura.
METODOLOGIA DA PESQUISA
O manejo integrado de pragas (MIP-Soja) foi executado durante a safra 2015/2016 em uma área de produtor, no município de Dourados/Mato Grosso do Sul. A semeadura da soja foi realizada no dia 7 de novembro de 2015 com a cultivar Syn 1059 (Vtop), sendo a emergência constatada em 14 de novembro de 2016. As sementes de soja da área em que foi conduzido o MIP foram tratadas com o inseticida clorantraniliprole na dose de 1ml/kg de
Figura 3 - Lagartas grandes e pequenas capturadas pelo método do pano de batida na área do produtor. As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas na soja. Safra 2015/2016. Dourados, MS
sementes do produto comercial, enquanto que na área conduzida pelo produtor as sementes foram tratadas com fipronil na dose de 2ml/kg de sementes do produto comercial, considerada o padrão comparativo do MIP. As demais práticas agronômicas de implantação e condução das lavouras foram realizadas conforme as Recomendações Técnicas da Comissão de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil.
MONITORAMENTO DE LAGARTAS DESFOLHADORAS
Com o aparecimento das primeiras folhas de soja começaram as amostragens de lagartas que atacam a parte aérea da cultura, sendo este monitoramento realizado semanalmente até a fase de enchimento dos grãos. As lagartas foram monitoradas utilizando-se o pano de batida em oito pontos distintos, tanto na área do MIP quanto na área do produtor. Foram também instaladas armadilhas do tipo delta, que continham os feromônios sexuais de Spodoptera frugiperda, Helicoverpa sp., Heliothis virescens e Chrysodeixis includens. Os septos das armadilhas contendo o feromô-
Figura 4 - Adultos e ninfas de percevejos capturados pelo método do pano de batida na área do MIP. As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas. Safra 2015/2016. Dourados, MS
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
27
Crébio Ávila
Figura 5 - Adultos e ninfas de percevejos capturados pelo método do pano de batida na área do produtor. As setas indicam os momentos das aplicações de inseticidas. Safra 2015/2016. Dourados, MS
As lagartas foram monitoradas utilizando-se o pano de batida em oito pontos distintos
nio sexual foram substituídos mensalmente e os pisos adesivos semanalmente, quando os adultos coletados nas armadilhas foram identificados e quantificados.
MONITORAMENTO DE PRAGAS QUE ATACAM VAGENS E GRÃOS
Próximo ao início do período de florescimento da soja começou o monitoramento de percevejos nas duas áreas de soja (MIP e do produtor), utilizando-se o pano de batida. Quando a densidade populacional de lagartas ou de percevejos na área do MIP atingiu o nível de controle para essas pragas ou se posicionou próximo deste foram realizadas as aplicações de inseticidas na cultura de soja. O controle de pragas na área do produtor foi realizado conforme suas orientações.
ANÁLISE ECONÔMICA DO MANEJO DE PRAGAS NO PROJETO
Na análise econômica dos dois sistemas de manejo (área do MIP e a área do produtor) foram considerados os custos com inseticidas, operações com máquinas, implementos e de mão de obra por hectare. Em adição, foi feita uma análise extrapolada dos benefícios econômicos do manejo de pragas na área do MIP, em comparação à área total de soja cultivada pelo produtor, bem como considerando o cenário de produção de soja em nível estadual e nacional.
RESULTADOS ALCANÇADOS
Nas amostragens de adultos de lepidópteros, utilizando-se as armadilhas iscadas com feromônio sexual, constataram-se as quatros espécies de mariposas em que seus feromônios foram testados. As espécies Spodoptera cosmioides e Chrysodeixis includens foram as que apresentaram a maior incidência nas armadilhas de feromônio, sendo o pico da primeira observado no mês de dezembro e da
segunda no mês de janeiro (Figura 1). Apesar dos adultos de S. frugiperda serem abundantes nas armadilhas de feromônio sexual, esta espécie não apresentou importância econômica na cultura da soja. Dentre as lagartas desfolhadoras da soja, a espécie mais abundante foi C. includens. Com base nos dados de amostragens de lagartas com o pano de batida foram tomadas as decisões de aplicação ou não de inseticidas para o controle dessas pragas na área do MIP. O pico de abundância das lagartas na soja ocorreu em 7 de janeiro de 2016, tanto na área do MIP como na do produtor rural (Figuras 2 e 3), período este em que a soja encontrava-se no estádio inicial de desenvolvimento de vagens (R3). Para o controle de lagartas na área do Tabela 1 - Custo da aplicação dos inseticidas para o controle de lagartas e de percevejos na soja da área do MIP e do produtor. Safra 2015/2016. Dourados, MS Área do manejo do MIP Aplicações Finalidade Dose (L/ha) 1ª TS 0,05 2ª Foliar (Lagarta) 0,06 3ª Foliar (Percevejo) 0,30 4ª Foliar (Percevejo) 0,40 5ª Foliar (Percevejo) 0,25 Total
Custo (R$/ha) 90,00 47,52 54,63 46,71 47,58 R$ 286,44
Área de manejo do produtor Aplicações Finalidade Dose (L/ha) 1ª TS 0,1 2ª Foliar (lagarta) 1,00 3ª Foliar (lagarta) 0,40 4ª Foliar (lagarta) 0,10 5ª Foliar (Lagarta) 1,00 + 0,10 5ª Foliar (Percevejo) 0,30 6ª Foliar (Percevejo) 0,30 7ª Foliar (Percevejo) 0,30 Total
28 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
Custo (R$/ha) 31,34 31,33 39,13 69,83 131,13 54,63 54,63 R$ 412,02
MIP foi realizada apenas uma aplicação do inseticida clorantraniliprole em 30 de dezembro de 2015, utilizando-se a dose de 60ml/ha do produto comercial (Figura 2 e Tabela 1). Essa primeira pulverização da soja foi realizada somente aos 66 dias após a emergência das plantas, condição ideal para a implementação do MIP, uma vez que esta entrada tardia de inseticidas na cultura proporciona o desenvolvimento de inimigos naturais no agroecossistema, criando uma condição de equilíbrio biológico. Já na área de soja manejada pelo próprio produtor foram realizadas quatro aplicações de inseticidas para o controle de lagartas (Figura 3), sendo a primeira pulverização realizada com metomil em 17 de dezembro de 2015, com a dose de um litro/ha do produto comercial, a segunda com os inseticidas lufenurom + profenofós na dose de 400ml/ha do produto comercial, a terceira com o inseticida espinetoram na dose de 100ml/ha do produto comercial e quarta com a mistura metomil + espinetoram nas doses de um litro/ha e 100ml/ha, respectivamente, dos produtos comerciais (Tabela 1). Com relação à ocorrência de percevejos fitófagos na soja observou-se uma maior predominância de adultos em relação a ninfas, tanto na área do MIP quanto na área manejada pelo produtor. Na área do MIP foram necessárias Tabela 2 - Inferências dos benefícios econômicos do MIP a nível do produtor, do estado de Mato Grosso do Sul e do Brasil. Safra 2015/2016. Dourados, MS Economia/ha R$ 125,58 Área de soja do produtor 360 hectares Economia do produtor 45.208,80 Área de soja em MS – Safra 2015/2016 2.430.000 hectares Economia no MS R$ 305.159.400,00 Área de soja no Brasil – Safra 2015/2016 33.228.400 hectares Economia no Brasil R$ 4.172.822.472,00
três aplicações de inseticidas para o controle de percevejos, sendo a primeira realizada com os inseticidas tiametoxam + lambda-cialotrina + sal, na dose comercial de 300 ml/ha + 0,5% de NaCl, a segunda com os inseticidas imidacloprido + bifentrina + sal, na dose comercial de 400ml/ha + 0,5% de NaCl, e a terceira com os inseticidas tiametoxam + lambda-cialotrina + sal, na dose comercial de 300ml/ha + 0,5% de NaCl (Tabela 1). Já na área manejada pelo produtor foram realizadas três aplicações (Figura 5) utilizando apenas os inseticidas tiametoxam + lambda-cialotrina na dose de 300ml/ha do produto comercial (Tabela 1) Através da análise do custo das aplicações de inseticidas na soja verificou-se que na área onde se realizou o MIP houve uma economia de R$ 125,58 por hectare (Tabela 2). O produtor proprietário da local onde o MIP foi conduzido cultiva uma área de 360 hectares de soja. Se tivesse seguido as orientações do MIP, teria uma economia na fazenda de R$ 45.208,80. Extrapolando-se este valor de redução de custo para o estado de Mato Grosso do Sul, que teve uma área cultivada com soja de 2.430.000 hectares na safra 2015/2016, o benefício econômico estadual seria de R$ 305.159.400,00, enquanto que para o cená-
rio do Brasil, que teve uma área cultivada de 33.228.400 hectares nesta mesma safra, o benefício econômico seria em torno de R$ 4 bilhões (Tabela 2).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A principal espécie de lagarta desfolhadora da soja tanto na área do Manejo Integrado de Pragas (MIP) quanto do produtor foi a lagarta falsa-medideira (C. includens), enquanto que a espécie de percevejo predominante foi a marrom (E. heros). Com base nos resultados de manejo de pragas obtidos na área do MIP e do produtor, pode-se concluir que o controle de pragas na cultura da soja, seguindo os princípios e a filosofia do MIP, constitui uma prática que traz benefícios econômicos para os produtores rurais. Este resultado é alcançado porque esta estratégia de controle promove redução do número de aplicações de inseticidas por safra, o que, consequentemente, diminui o custo fitossanitário da lavoura de soja, garantindo, assim, uma maior margem de lucro para o produtor rural. Somando a isso, a utilização do MIP na cultura da soja promove o controle biológico natural no agroecossistema e reduz a contaminação ambiental, uma vez que menos produ-
tos são despejados anualmente no ambiente, o que representa uma melhoria na qualidade de vida da população. Com a adição de outras táticas de controle de pragas na cultura da soja, associadas e em harmonia com o MIP - como é o caso das plantas transgênicas Bt e do controle biológico aplicado de lagartas e de percevejos utilizando-se parasitoides -, espera-se que o número requerido de aplicações de inseticidas na cultura possa ser ainda mais reduzido, conduzindo assim para o estabelecimento de um ambiente biológico mais equilibrado no agroecossistema e mais limpo do ponto de vista ambiental. Espera-se que os resultados obtidos nesta pesquisa possam estimular a assistência técnica e os produtores rurais a utilizarem com maior intensidade o Manejo Integrado de Pragas em suas lavouras de soja e, com isso, obterem os benefícios econômicos, ambientais e sociais que esta estratégia de controle de pragas proporciona, como foi constatado neste estudo. C Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Viviane Santos, Instituto Federal - Ponta Porã, MS
Soja
Cuidados ao tratar
Andre Nagaoka
Ferramenta importante para proteger a germinação e a emergência de plântulas de soja, o tratamento de sementes com fungicidas deve ser adotado com critério e de modo adequado, com especial atenção a aspectos como necessidade, volume de calda, eficiência e compatibilidade de produtos micélio interno, dormente. Os fungicidas de contato tradicionalmente conhecidos (Captan, Thiram e Tolylfluanid), que têm bom desempenho no campo quanto à emergência, não controlam totalmente esses fungos, principalmente Phomopsis spp. e Fusarium pallidoroseum (syn. F. semitectum) nas sementes que apresentam índices elevados desses patógenos (> 40%). Os fungicidas de contato e sistêmicos já formulados e mais indicados para o tratamento de sementes de soja são apresentados na Tabela 1.
COMO REALIZAR O TRATAMENTO
O
tratamento das sementes com fungicidas oferece garantia de melhor estabelecimento da população de plantas por controlar patógenos importantes transmitidos pelas sementes e diminuir a chance de sua introdução em áreas indenes. As condições desfavoráveis à germinação da semente e a emergência da plântula de soja, especialmente a deficiência hídrica, tornam mais lento esse processo, expondo as sementes por mais tempo a fungos do solo, como Rhizoctonia solani, Pythium spp., Fusarium spp. e Aspergillus spp. (A. flavus), entre outros, que podem causar a deterioração ou a morte da plântula. Os principais patógenos transmitidos pela semente de soja são Cercospora kikuchii, Fusarium pallidoroseum (syn. F. semitectum), Phomopsis spp. anamorfo de Diaporthe spp. e Colletotrichum truncatum. O melhor controle dos quatro primeiros patógenos citados é propiciado pelos fungicidas do grupo dos benzimidazóis. Dentre os produtos avaliados e indicados para o tratamento de sementes de soja, carbendazin, tiofanato metílico e thiabendazole são os mais eficientes no controle de Phomopsis spp., Fusarium pallidoroseum (syn.F. semitectum) Cercospora kikuchii e principalmente Sclerotinia sclerotiorum, quando presente na semente, na forma de
A função dos fungicidas de contato é proteger a semente contra fungos do solo e a dos fungicidas sistêmicos é controlar fitopatógenos presentes nas sementes. Assim, é importante que os fungicidas estejam em contato direto com a semente. O tratamento de semente com produtos indicados como fungicidas, inseticidas, micronutrientes e inoculantes pode ser feito de forma sequencial, com máquinas específicas de tratar sementes, desde que disponham de tanques separados para os produtos, uma vez que não foi regulamentada a mistura de agroquímicos em tanque (Instrução Normativa 46/2002, de 24 de julho de 2002, que revoga a Portaria SDA Nº 67, de 30 de maio de 1995). Em pequenas propriedades, o tratamento da semente pode também ser realizado com tambor giratório ou com betoneira.
TRATAMENTO INDUSTRIAL DE SEMENTES (TIS)
Em muitas empresas, o Tratamento Industrial de Sementes (TIS) já faz parte das etapas do beneficiamento das sementes, sendo realizado com a utilização de equipamentos especiais e altamente sofisticados, que combinam a aplicação de fungicidas, inseticidas, micronutrientes, nematicidas, entre outros produtos. Este tipo de tratamento ganha espaço no mercado de sementes de soja (no Brasil, na safra 2015/16, cerca de 30% das sementes foram tratadas neste sistema), em que grande parte das empresas que comercializam as sementes já realiza o tratamento no pré-ensaque,
30 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
antes do armazenamento ou no momento da entrega das sementes ao produtor. Este tratamento realizado na Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS) apresenta uma série de vantagens em relação ao tratamento convencional (tambor ou betoneira). Destacam-se precisão do volume de calda e quantidade de sementes a serem utilizadas, melhor cobertura da semente com o produto químico, menor risco de intoxicação dos operadores e maior rendimento por hora (existem no mercado máquinas para tratamento industrial, com capacidade de tratar até 30 toneladas de sementes por hora). Entretanto, deve-se tomar cuidado com os pacotes de tratamento de sementes, pois muitas vezes é utilizada uma ampla gama de produtos na mesma semente, como a combinação de fungicidas, inseticidas, inoculantes, micronutrientes, nematicidas, reguladores de crescimento e polímeros, que podem causar fitotoxicidade às sementes, além do impacto ambiental, devido ao excesso de produtos utilizados, os quais muitas vezes não são necessários em determinadas realidades agrícolas Tabela 1 - Misturas formuladas e respectivas doses dos fungicidas indicados para o tratamento de sementes de soja e controle de Sclerotinia sclerotiorum (micélio interno, dormente) FUNGICIDAS NOME COMUM Carbendazin + Thiram Carbendazin + Thiram Carboxin + Thiram Piraclostrobina + Tiofanato metílico + Fipronil •1 Thiabendazole + Fludioxonil + Mefenoxan Fluazinam + Tiofanato metílico 2o180mL – 215mL
DOSE/100KG DE SEMENTE Ingrediente ativo (gramas) Produto comercial (g ou mL) 30g + 70g • 200mL 30g + 70g • 200mL •50g + 50g •250mL 5g + 45g + 50g • 200mL 15g + 2,5g + 2g a 18,75g + 2,75g + 2,5g • 100mL a 125mL 35g + 5,2g
1 Não é indicado para controlar Sclerotinia sclerotiorum, (micélio dormente) em sementes de soja. 2 Recomendação durante a XXXI RPSRCB, Brasília, DF. 2010. CUIDADOS: devem ser tomadas precauções na manipulação dos fungicidas, seguindo as orientações da bula dos produtos.
ou situações. Tabela 2 - Atividade específica de fungicidas de semente de soja O efeito fitotóPhomopsis Fusarium xico pode afetar a Ingrediente ativo Pythium Phytophthora Rhizoctonia captan bom baixo bom regular regular qualidade fisiolócarbendazim baixo baixo ineficaz bom bom gica das sementes, carboxin + thiram baixo ineficaz regular bom/regular bom/regular reduzir a germinadifenoconazol baixo baixo ineficaz baixo baixo ção e a emergência fludioxonil baixo baixo bom regular regular de plântulas. Esse metalaxyl excelente excelente* ineficaz ineficaz ineficaz efeito provoca enpiraclostrobina bom ineficaz bom ineficaz bom grossamento, enthiabendazol baixo baixo ? excelente excelente curtamento, rigidez baixo baixo ? bom bom e fissuras longitudi- tiofanato metílico thiram regular baixo bom regular regular nais em hipocótilos, tolilfluanida ineficaz ineficaz ineficaz regular regular principalmente em semeaduras pro- *Este efeito só é obtido se o produto contiver doses de metalaxyl entre 15,5g i.a./100kg e 31,0g i.a./100kg de fundas; atrofia do sementes e se for usado em cultivares de soja com alta resistência de campo à fitóftora, segundo Costa Milan, L.M. 2012 sistema radicular; retardamento do desenvolvimento vegetaCOMPATIBILIDADE DOS PRODUTOS tivo da parte aérea das plantas, associado É necessário sempre utilizar os produtos ao encurtamento da distância de entrenós que são recomendados (e registrados no e em algumas situações a presença de mul- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastibrotamento no nó cotiledonar, reduzindo tecimento) para a cultura e conhecer a comassim o estabelecimento e a produtividade patibilidade entre as formulações aplicadas, da cultura. como quando se aplicam inoculantes, pois em Diante disso, é fundamental que os agri- alguns trabalhos é possível verificar a redução cultores fiquem atentos à forma com que o da eficiência de alguns inoculantes através da mercado impõe esses pacotes de tratamento influência de produtos (fungicidas). de sementes, devendo ser levados em consideração alguns aspectos antes da sua realização. VOLUME DE CALDA Trata-se de um aspecto muito importante, NECESSIDADE DO TRATAMENTO pois com a ampla variedade de produtos e Antes de realizar o tratamento, o agricultor pacotes para o tratamento de sementes de soja deve conhecer a necessidade da sua lavoura, existentes no mercado muitas vezes são aplipois de que adianta tratar as sementes de soja cadas várias formulações, que podem exceder com determinados inseticidas, nematicidas, o volume de calda recomendado. entre outros produtos de ação específica se No passado utilizavam-se 600ml/100kg não existe a presença destes insetos-praga ou de sementes, quando os produtos eram nematoides em sua área? pós secos (em sua maioria) e a água era usada como o veículo para a aplicação dos EFICIÊNCIA DOS PRODUTOS fungicidas. Atualmente, a maioria dos proUm aspecto muito importante reside em dutos (misturas de fungicidas de contato conhecer a eficiência dos fungicidas (Tabela + sistêmico) já vem formulada com outros 2) que estão sendo aplicados nas sementes. veículos, incluindo corantes, polímeros Para isso, o técnico que irá recomendar o trata- etc. Por essa razão que, dependendo dos mento deve estar constantemente informado, produtos (formulações), volumes de até através de dados de pesquisa ou informações 1.100ml/100kg de sementes já foram técnicas, a fim de evitar uma aplicação menos empregados sem prejuízo à qualidade eficiente e que somente elevará o custo da das sementes. Porém, vale ressaltar que produção final da lavoura. as sementes devem conter alta qualidade
TRATAMENTO COM USO DE MÁQUINAS
V
antagens em relação ao tratamento convencional (tambor) a) Menor risco de intoxicação do operador, uma vez que os fungicidas são utilizados via líquida. b) Melhores cobertura e aderência dos fungicidas, dos micronutrientes e do inoculante às sementes. c) Rendimento em torno de 60 sacos a 70 sacos por hora. d) Maior facilidade operacional, já que o equipamento pode ser levado ao campo, pois possui engate para a tomada de força do trator. fisiológica (germinação e principalmente vigor) e a semeadura ser efetuada logo após o tratamento. Sementes com danos mecânicos e baixo vigor tendem a soltar o tegumento quando se utilizam volumes elevados de calda, prejudicando a qualidade da semente.
ARMAZENAMENTO APÓS O TRATAMENTO
O ideal é que a semeadura seja realizada logo em seguida ao tratamento e à inoculação da semente. Porém, estudos realizados com embalagens de polipropileno trançado, laminado, para o armazenamento de sementes tratadas industrialmente, não revelaram problemas desde que as sementes possuam elevada qualidade fisiológica (vigor e germinação) e o volume final de calda não ultrapasse 0,6L/100kg de sementes. Por outro lado, se as sementes forem tratadas e inoculadas industrialmente, seguir as recomendações dos fabricantes quanto aos cuidados com o transporte, armazenamento e prazo de valiC dade do inoculante. Ademir Assis Henning, Embrapa Soja
Pragas
Sequenciamento de risco
Fotos Paulo Sérgio Santos/Instituto Phytus
A escolha de culturas para rotação ou sucessão deve levar em conta a presença de pragas de solo, como o nematoide das lesões radiculares Pratylenchus brachyurus. O uso de plantas suscetíveis, ao longo de cada ano agrícola, poderá contribuir significativamente para o aumento populacional na área, além de favorecer interações com outros micro-organismos parasitas
A
tualmente, as novas tecnologias utilizadas na agricultura têm contribuído significativamente para o aumento da produção de alimentos. Este cenário deve-se aos inúmeros investimentos realizados por empresas de vários segmentos agrícolas que buscam, de modo insistente, gerar soluções aplicáveis aos principais problemas existentes no campo, relacionados à ocorrência de pragas e doenças, que colocam em risco a produção. Neste contexto, podem ser agrupados problemas que ocorrem em sementes, raízes e
parte aérea das plantas. Se forem analisados apenas os organismos que podem atacar as raízes das plantas, já há motivo para preocupação, pois as soluções para estes problemas, geralmente, passam por medidas conjuntas de extremo sincronismo. Nos últimos anos, a incidência de nematoides tem sido crescente, o que potencializa problemas de incidência de outros patógenos de solo, a exemplo dos fungos, acarretando anualmente frequentes perdas de diversas magnitudes. Como a sintomatologia pode
32 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
ser variada, em função da complexidade da interação das espécies de fitonematoides e das culturas, diversos problemas observados acabam, erroneamente, atribuídos a outros fatores, minimizando algo que na verdade tem dimensões preocupantes. Um exemplo bem claro desta dimensão é a incidência do nematoide das lesões radiculares Pratylenchus brachyurus que, de acordo com estudos recentes, apresenta-se amplamente disseminado por vários estados produtores. Micro-organismo biotrófico (depende exclusivamente das raízes das plantas
Figura 1 - Sequência de cultivos implantados durante as safras de verão e inverno nos anos de 2014 e 2015
para completar seu ciclo biológico) possui um alto grau de polifagia (capacidade de parasitar um vasto número de plantas de diferentes famílias botânicas), atrelado ao seu hábito de parasitismo (endoparasita migrador). Alimenta-se, nos estádios iniciais de desenvolvimento, das plântulas causando inúmeras lesões que servem de porta de entrada para fungos parasitas de solo, infectam concomitantemente as radicelas e acabam por comprometer o desenvolvimento das plântulas e o estande inicial. Esse processo, de maneira geral, causa interferência nos processos fisiológicos da planta, compromete a absorção e translocação de nutrientes e reduz, posteriormente, a produtividade. Cuidados na rotação ou sucessão de culturas devem ser seguidamente analisados, pois se trata de um micro-organismo extremamente polífago, que é dependente restritamente da planta para seu desenvolvimento. O sequenciamento, sem o devido cuidado, poderá potencializar o aumento desta praga de solo ao longo dos anos. Embora este problema tenha sido alertado por muitos pesquisadores e instituições de pesquisa, o reflexo disso são os inúmeros casos, onde o potencial produtivo depende do bom convívio com esta praga de solo. Vale lembrar que a sua erradicação ou eliminação, quando estabelecida em quaisquer áreas de cultivo a níveis de dano, é praticamente impossível, principalmente pela questão dos custos ou pelo tempo de operacionalização. Para melhor entender a dinâmica populacional do nematoide das lesões radiculares Pratylenchus brachyurus em diferentes cultivos, o Instituto Phytus, em sua sede localizada no município de Planaltina, Distrito Federal, acompanhou uma lavoura de cultivo comercial de grãos (latitude 15°39'39.5"S, longitude 47°20'24.2"W e altitude média de 875m), com histórico da ocorrência deste nematoide desde o ano de 2014. O trabalho tem por objetivo observar o comportamento populacional
Gráfico 1 - Número de juvenis e ovos de P. brachyurus nos agrícolas de 2014/15
deste nematoide, em diferentes cultivos ao longo de cada ano. Realizaram-se coletas de solo e raízes durante os anos de 2014 e 2015. Os pontos escolhidos para amostragem foram partes da lavoura, expressando os sintomas típicos do ataque deste nematoide, como “reboleiras” sobre a cultura do feijão. Estes pontos foram devidamente marcados através de coordenadas geográficas. Realizadas as coletas, as amostras foram encaminhadas ao laboratório da Estação Experimental do Instituto Phytus, no Distrito Federal, onde foram realizadas as extrações e quantificações da população presente no solo e nas raízes, nos anos de 2014 e 2015 (Figura 1). As contagens efetuadas no laboratório
de nematologia do Instituto Phytus apontaram um aumento gradual da população de P. brachyurus ao final de cada ano agrícola. Realizando uma média dos valores da população nos cinco pontos amostrados no ano de 2014, o número de 374 juvenis e 393 ovos evoluiu para 2.776 juvenis e 1.156 ovos no ano de 2015 (Gráfico 1). Analisado o sequenciamento de cultivo implantado pelo produtor no ano de 2014, observa-se que todas as opções de culturas ou plantas utilizadas (soja, feijão e milho) apresentaram suscetibilidade ao nematoide das lesões radiculares P. brachyurus, favorecendo desta forma o seu crescimento populacional no solo, o que explica o elevado valor diagnosticado no ano de 2015.
Raízes de plantas de feijão com sintomas do ataque de nematoides
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
33
Fotos Paulo Sérgio Santos/Instituto Phytus
Em 2015 todas as plantas coletadas nos pontos de amostragem apresentaram um quadro um pouco mais severo de sintomas que no ano anterior
Vale ainda ressaltar que, no ano de 2015, os sintomas em todas as plantas coletadas nos referentes pontos de amostragem apresentaram um quadro um pouco mais severo de sintomas que no ano anterior, observando um amarelecimento acentuado na parte aérea das plantas, seguido de forte subdesenvolvimento. Em função disso, realizou-se uma análise laboratorial nos tecidos de raízes e caule das plantas, onde foi identificada a presença do fungo de solo Fusarium solani f. spphaseoli. Este fungo causa a podridão radicular seca, de grande importância na cultura do feijão,
e ocorre em praticamente todas as regiões produtoras do Brasil. Depois de instalado na cultura, apresenta estruturas de resistência na superfície ou enterradas no solo e possibilita a sobrevivência nos restos culturais de plantas hospedeiras, dificultando seu controle e manejo. O sintoma da podridão radicular seca é o aparecimento de lesões pardo-avermelhadas ou necróticas, com bordos bem delimitados nas raízes, levando à rápida deterioração dos tecidos localizados abaixo do nível do solo. Sabe-se que a maioria dos nematoides parasitas de plantas pode predispor as plantas, mesmo que resistentes à ação de fungos fitopatogênicos habitantes do solo. Esta interação, embora complexa do ponto de vista de diagnose, deve ser um tanto comum em áreas onde exista a presença de ambos os patógenos, pois na maioria destes
Nematoide das lesões radiculares P. brachyurus (acima) e o fungo F. solani spphaseoli (abaixo)
34 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
casos, os danos são atribuídos apenas a um dos agentes infecciosos. A rotação ou sucessão de culturas apresenta diversos benefícios. No entanto, a escolha das culturas utilizadas deve considerar a presença desta praga de solo. A utilização de plantas suscetíveis, ao longo de cada ano agrícola, poderá contribuir significativamente para o aumento populacional na área, com chances ainda de favorecer interações com outros microC -organismos parasitas de solo. Janyne Moura dos Santos, Paulo Sergio dos Santos, Jéssika K. F. M. Lima e Iago Pereira Xavier, Instituto Phytus Nédio Rodrigo Tormen, Universidade Federal de Brasília
Lavoura de feijão com sintomas de reboleiras, típico do ataque de nematoides
Plantas daninhas
Oferta necessária Bayer
O sucesso no manejo e controle de plantas daninhas está relacionado à possibilidade de utilizar herbicidas com diferentes modos de ação dentro das culturas mente sobre a germinação, os pré-emergentes reduzem o banco de sementes, prolongando o período de controle.
NOVO MODO DE AÇÃO
O
número limitado de diferentes modos de ação eficazes de herbicidas no mercado e, consequentemente, o uso contínuo dos produtos disponíveis vêm ao longo dos anos exercendo uma pressão de seleção sobre as plantas daninhas e favorecendo o surgimento de populações resistentes, que passam a dominar a cobertura vegetal das áreas de cultivo. Por isso, o problema de resistência tornou-se uma das principais causas de dores de cabeça para os produtores, pois ao perder o controle das infestações nas lavouras, aumentam a dose e o número de aplicações de defensivos, elevando os custos de produção e favorecendo o desenvolvimento de plantas infestantes resistentes. A maioria das plantas daninhas resistentes a um ou mais tipos de herbicida está em áreas de culturas anuais, como arroz, soja, milho, trigo e algodão, mas também são frequentes em cultivos perenes, como café e citros. O manejo das plantas daninhas pode ser definido pelo conjunto das práticas implementadas pelo agricultor para o controle das plantas infestantes com objetivo de mantê-las sob controle e reduzir ao máximo a matocompetição, ou seja, a concorrência por água, nutrientes e luz entre as plantas cultivadas e as daninhas. Existem diferentes formas de controle das plantas daninhas, como o controle mecânico, o uso de cobertura morta e as aplicações de herbicidas. O planejamento cuidadoso destes métodos e a alternância do uso de diferentes modos de ação dos herbicidas são as medidas de manejo que irão favorecer a obtenção de resultados satisfatórios no controle, a redução dos riscos de surgimento de resistências e, consequentemente, uma diminuição nos custos de produção, assegurando o potencial produtivo das lavouras.
Para cada cultura estão registrados diferentes herbicidas disponíveis para realizar o manejo adequado, objetivando o controle do conjunto das plantas daninhas que se encontram na área de cultivo. Estas diferentes espécies dentro da mesma área formam uma comunidade chamada de composição florística. Neste conjunto, encontram-se espécies de mais fácil controle e outras de controle mais difícil. Conhecendo os diferentes modos de ação dos herbicidas disponíveis, pode-se planejar o manejo focando no controle das infestantes mais seletivas aos herbicidas e com maior dificuldade de serem controladas. Dessa forma, a opção deve ser pelos herbicidas mais eficazes e pela implementação do conceito da diversidade, isto é: utilizar herbicidas com diferentes modos de ação dentro do manejo, de forma a prevenir o surgimento da resistência. No momento de decisão é preciso levar em consideração o estágio de desenvolvimento da planta. Antes do plantio, recomenda-se o uso de herbicidas pré-emergentes, que possuem ação residual prolongada. Os herbicidas de pós-emergência são aplicados para o controle das plantas daninhas já em desenvolvimento, sendo que a identificação das espécies presentes na área, assim como o seu estágio de desenvolvimento, determinarão a escolha do modo de ação, a dose e a forma de aplicação. A aplicação de herbicidas residuais deve ser realizada com base no conhecimento das espécies presentes na área, no histórico dos herbicidas aplicados durante as safras anteriores e nos resultados de controle obtidos. Sua ação ocorre sobre a germinação das sementes, impedindo que se estabeleçam. Além de evitar a matocompetição inicial com a cultura, diminui e regula o fluxo de germinação e, com isso, facilita o controle e o planejamento dos herbicidas pós-emergentes. Ao agir direta-
Recentemente, chegou ao mercado nacional uma nova opção de herbicida para o controle de plantas daninhas em culturas perenes, como café e citros, e semiperenes, como a cana-de-açúcar. A molécula inédita possui um modo de ação totalmente diferenciado. Seu princípio ativo, o indaziflam, controla de forma eficaz as plantas daninhas, por inibição da biossíntese de celulose em plantas, inibindo a germinação das sementes. O indaziflam apresenta características técnicas que contribuem para que o agricultor obtenha melhores resultados no controle das plantas infestantes em suas lavouras. As propriedades mais interessantes são: a alta eficácia de controle sobre um amplo espectro de espécies, tanto de monocotiledôneas como de dicotiledôneas; o longo residual de ação; a baixa dose de aplicação (75g de indaziflam por ha/ano a 100g de indaziflam por ha/ano); e sua seletividade sobre as culturas em que está sendo indicado. Os resultados obtidos por meio do uso deste herbicida refletirão de forma positiva nas atividades dos produtores, com diversas vantagens: menor número de aplicações por ano, fluxo reduzido de emergência de plantas daninhas pela inibição da germinação, redução da matocompetição, favorecimento para o potencial produtivo da lavoura e para uma colheita maior em áreas limpas, livres de C infestantes. Johann Reichenbach, Bayer
Reichenbach destaca a importância de herbicidas com diferentes modos de ação
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
35
Café
Controle nutritivo Paulo Rebelles Reis
Nutriente essencial no desenvolvimento das plantas, o enxofre pode auxiliar também no controle de pragas como a cigarra Quesada gigas em cafeeiro, preferencialmente na modalidade de aplicação em linha contínua sob a projeção da copa e incorporado ao solo
A
s cigarras são insetos (Hemiptera; Auchenorryncha: Cicadidae) cuja fase imatura de ninfa móvel é vivida no solo, atuando de forma discreta e imperceptível nas raízes das plantas até que, no período geralmente compreendido entre o final de agosto e outubro de cada ano, é notada a presença da forma adulta na parte aérea. A espécie de cigarra Quesada gigas (Olivier, 1790) é a mais comumente encontrada em cafeeiros (Coffea spp.) no Brasil. Suas ninfas móveis medem 20mm a 30mm de comprimento e atacam a raiz principal e as mais grossas do restante do sistema radicular do cafeeiro. Na fase de ninfa móvel é que a cigarra adquire o estado de praga, o adulto é apenas para
reprodução da espécie. Os machos adultos são alados e produzem um ruído estridulante (canto), por meio de um par de órgãos estridulatórios, localizado no lado ventral do primeiro segmento abdominal, para atrair as fêmeas para a cópula. Cada espécie emite sons característicos, específicos. As fêmeas adultas das cigarras, também aladas, colocam os ovos, de coloração branco-leitoso e alongados, agrupados sob a casca dos ramos dos cafeeiros. Em poucos dias eclodem as ninfas móveis, que pendendo pelo filamento que excretam, descem e penetram no solo, indo localizar-se nas raízes. Nas raízes, as ninfas móveis, que possuem aparelho bucal sugador, começam
36 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
a sugar a seiva, cujo excesso é expelido e que também serve para amolecer a terra, facilitando ao inseto a abertura, com as pernas anteriores (pernas fossoriais ou escavadoras), de uma cavidade (câmara, célula ou galeria) onde permanece. Um cafezal muito infestado por cigarras da espécie Q. gigas pode apresentar em média 200 ninfas móveis por planta a 400 ninfas móveis por planta, população do inseto que causa severo dano. A sucção contínua de seiva causa o depauperamento, que se manifesta na parte aérea da planta pelo definhamento, clorose e queda precoce das folhas apicais dos ramos. Os sintomas são sempre mais acentuados nas épocas de déficit hídrico. As consequências finais do ataque resul-
Figura 1 - Relação entre a dose de enxofre 90% aplicada no solo sem incorporação Figura 2 - Relação entre a dose de enxofre 90% aplicada no solo sem incorporação e o número de ninfas móveis da cigarra por cova de cafeeiro e o número de ninfas móveis da cigarra por cova de cafeeiro
tam em quebra da produção, e mesmo perda total da lavoura se a praga não for controlada a tempo. O cafeeiro pode suportar, sem sofrer dano, uma infestação de aproximadamente 35 ninfas móveis de Q. gigas por planta, devendo ser considerado esse nível para a tomada de decisão do início do controle. O uso de inseticidas aplicados via solo era a única modalidade eficiente de controle para reduzir a população de cigarras. O controle deve ser realizado para a redução das ninfas móveis no solo, e embora não cause a morte de sua totalidade, a população é reduzida a níveis suportáveis pelas plantas, sem que haja danos econômicos. O controle de adultos da cigarra é inviável. Os inseticidas mais eficientes têm sido os granulados (GR) sistêmicos (exemplo aldicarb, carbofuran, disulfoton, phorate, terbufos, imidacloprid, thiamethoxam etc), que para maior
eficiência devem ser aplicados no solo durante o período chuvoso do ano, geralmente novembro-dezembro na maioria das regiões cafeeiras do Brasil, ou aqueles na formulação em grânulos dispersíveis em água (WG) - exemplo imidacloprid, thiamethoxam etc -, recomendados para aplicação na forma de esguicho (drench) no colo da planta, também no período chuvoso do ano. Comparativamente, os inseticidas neonicotinoides (exemplo imidacloprid, thiamethoxam etc), na formulação WG têm se mostrado mais eficientes que os mesmos produtos na formulação GR, além de apresentarem menor toxicidade. O enxofre como nutriente é essencial para o desenvolvimento de plantas e fundamental na formação da clorofila, pois participa do metabolismo dos carboidratos. Plantas com deficiência de enxofre apresentam diminuição da fotossíntese. A deficiência de enxofre pode não apresentar sintomas visíveis nas plantas, e
geralmente a deficiência que ocorre no cafezal só é visível quando já está severa. O enxofre elementar (S) não é assimilado diretamente pela planta. Os micro-organismos existentes no solo, bactérias do gênero Thiobacillus, oxidam o enxofre transformando-o em sulfato solúvel (SO 42-) no solo, processo que ocorre durante toda a fase de crescimento da planta. A ação do fertilizante, em contato com a umidade do solo, é prolongada, onde o enxofre é oxidado gradualmente acompanhando o ritmo de absorção durante todo o ciclo da cultura, culminando no florescimento, estágio de maior demanda. Níveis baixos de enxofre nos solos brasileiros são quase tão frequentes quanto os de fósforo. Sintomas de deficiência e respostas à adição de S são conhecidos tanto em culturas temporárias quanto perenes. Por esse motivo, é comum introduzir-se uma fonte de S na
Tabela 1 - Número de ninfas móveis vivas da cigarra Quesada gigas, por cova de cafeeiro, aos 150 dias após a aplicação dos tratamentos (mês de maio). Lavras, MG. Tratamentos
Dose Dose Tipo de Número de Média Eficiência (g i.a. /ha) (kg de p.c. /ha) aplicação aplicações (ninfas/cova)1 (%)2 1. Testemunha 28,50 b 2. thiamethoxam a 300 g i.a. + cyproconazole a 300g i.a./kg 300 + 300 1 Drench 3 1 5,50 a 80,70 3. Enxofre 90% pastilhado 27.000 30 ASS 4 1 5,00 a 82,46 4. Enxofre 90% pastilhado 54.000 60 ASS 1 3,00 a 84,47 5. Enxofre 90% pastilhado 81.000 90 ASS 1 2,00 a 92,98 6. Enxofre 90% pastilhado 27.000 30 AIS 5 1 3,00 a 84,47 7. Enxofre 90% pastilhado 54.000 60 AIS 1 2,00 a 92,98 8. Enxofre 90% pastilhado 81.000 90 AIS 1 1,50 a 94,74 1 Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott - Knott a 5% de significância. 2 Porcentagens de eficiências. 3 Drench = Aplicação na forma de esguicho no colo da planta. 4 ASS = Aplicado na superfície do solo sob a projeção da copa. 5 AIS = Aplicado incorporado ao solo em linha contínua sob a projeção da copa.
formulação NPK ou PK. Não foram encontrados, na literatura científica, trabalhos que recomendem o controle de pragas subterrâneas com enxofre elementar. Os encontrados referem somente o uso foliar no controle de alguns ácaros-praga e doenças fúngicas, como componente de misturas em biofertilizantes e caldas fitoprotetoras.
PESQUISA
RESULTADOS
Embora tenham sido observadas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O produto comercial enxofre 90% na formulação pastilhada, nas doses entre 30kg/ha e 90kg/ha (de preferência na modalidade de aplicação em linha contínua sob a projeção da copa e incorporado ao solo), é uma opção viável para o controle da cigarra-do-cafeeiro Quesada gigas. Apesar de mais eficiente incorporado ao solo, o enxofre pastilhado também apresenta bons resultados quando é somente aplicado na superfície do solo e sem incorporação. É também uma opção de controle da cigarra para cultivos que não podem receber produtos químicos de proteção de plantas, como a agricultura orgânica, entre outras. Além de controlar a praga, supre as necessidades em enxofre, elemento essencial para o desenvolvimento das plantas e fundamental na formação da clorofila, pois participa do C metabolismo dos carboidratos. Paulo Rebelles Reis Epamig Sul de Minas/EcoCentro
Fotos Paulo Rebelles Reis
Um experimento para conhecer o efeito de um produto à base de enxofre 90% no controle de ninfas móveis da cigarra Q. gigas (quando aplicado no solo sob a copa das plantas de cafeeiros, em linha contínua sem e com incorporação, nas dosagens de 30kg por hectare, 60kg por hectare e 90kg por hectare) foi instalado no município de Lavras, sul de Minas Gerais, em cafezal Catuaí com 19 anos de idade. O levantamento inicial do número de ninfas de cigarra, realizado em novembro, acusou uma média de 22 ninfas móveis por planta. Os tratamentos com enxofre 90% (produto comercial na forma de pastilhas) foram feitos com aplicação sobre o solo em filete contínuo na projeção da copa das plantas, sem e com incorporação ao solo.
As doses, em kg do produto comercial/ha, foram 30kg por hectare, 60kg por hectare, 90kg por hectare com e sem incorporação ao solo. O tratamento considerado padrão de controle no experimento foi o inseticida-fungicida thiamethoxam a 300g i.a. + cyproconazole a 300g i.a./kg de produto comercial aplicado via drench no colo das plantas, num total de 50ml de calda por planta e de um só lado, com um pulverizador costal manual dotado de lança longa e dosador. O produto foi escolhido para uso levando em consideração o componente inseticida da mistura, o neonicotinoide thiamethoxam, ser eficiente e recomendado para o controle da cigarra em cafeeiros. As aplicações dos produtos foram realizadas em novembro, época das chuvas na região, e a avaliação da eficiência feita em maio, após 150 dias da aplicação dos produtos, por meio da abertura de trincheiras no solo, abrangendo toda a região das raízes, e com a contagem das ninfas móveis encontradas vivas no sistema radicular de duas plantas da parte útil de cada parcela.
diferenças numéricas ao se comparar a maior e a menor dose de enxofre 90% em forma de pastilhas, não houve diferença estatística significativa entre as doses avaliadas, mostrando que mesmo na menor dose o produto reduziu significativamente o número de cigarras nas raízes. O tratamento com o produto comercial, na dose de 90kg/ha e na modalidade em linha contínua sob a projeção da copa e incorporado ao solo, apresentou a maior eficiência de controle das cigarras no experimento, aproximadamente 95%, no mês de maio (Tabela 1). Foi constatada uma correlação negativa e altamente significativa entre o aumento da dose do produto comercial enxofre 90% em pastilhas, com e sem incorporação ao solo, e a redução de ninfas móveis da cigarra.
Ninfas móveis da cigarra Quesada gigas retiradas do solo
38 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
Abertura de trincheira, abrangendo toda a região das raízes de dois cafeeiros, para contagem das ninfas móveis encontradas vivas
COLUNA AGRONEGÓCIOS
E
Um fascinante novo mundo
m setembro passado fui desafiado pelo sistema Confea/ Crea a apresentar uma palestra na Semana Oficial de Engenharia e Agronomia, respondendo à pergunta: “Como alimentaremos a população mundial nas próximas décadas?”. Foi um exercício estimulante, que me permitiu ordenar os fatores que pesam a favor e contra o sucesso dessa hercúlea empreitada. Esses fatores podem ser subdivididos em demográficos, econômicos, ambientais, sociais e tecnológicos. Do ponto de vista demográfico, a população mundial cresce até a década de 2050, estabilizando em nove bilhões de pessoas, decrescendo lentamente até o final do século. Logo, o maior desafio se concentra nos próximos 35 anos a 40 anos. Porém, a idade média da população mundial cresce, inexoravelmente, a cada ano. Enquanto a taxa de crescimento da população decresce até zero (2050) e depois se torna negativa, a taxa de incremento da idade continuará aumentando até o final do século e além. Isto influencia na mudança de hábitos e nos requerimentos alimentares. Em relação à economia, a previsão é de que cresça no mundo, em média, 3,5% nas próximas duas décadas, reduzindo gradativamente o crescimento em meados do século. Não porque o mundo terá menos bem-estar, mas por dois motivos: a base de riqueza será maior, logo, mesmo taxas menores significam maior incremento de renda a cada ano; e porque os países hoje pobres ou em desenvolvimento terão saltado de patamar, tornando-se economias maduras. Portanto, a renda per capita será muito mais alta, provavelmente um acréscimo superior a 100% até o início da segunda metade do século 21. Mais renda, maior demanda de alimentos. Porém, não bastará produzir. Duas outras características serão fundamentais: qualidade e sustentabilidade. As exigências de uma população cada vez mais rica e mais bem informada serão crescentes, impondo tanto condições comerciais de qualidade, quanto regras governamentais de mercado, vinculadas a questões sanitárias, ambientais e sociais. Leia-se rastreabilidade e certificação. A FAO estima que, até a década de 2050, a oferta global de alimentos
deverá crescer 70%. Consumiremos mais alimentos nos próximos 30 anos do que o acumulado desde o início da agricultura até o princípio deste século. A maior demanda de alimentos será por proteínas, mormente as de origem animal. Cresce, portanto, o consumo de cereais, mais para alimentar as criações do que para consumo humano direto. Também cresce a ingestão de óleos vegetais, frutas e hortaliças, constituindo, juntamente com carnes, os quatro grandes mercados. Decrescem raízes e tubérculos.
A REVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA
Aumentar 70% a produção de alimentos significará o incremento equivalente em produtividade agrícola. As terras férteis acabaram, as cidades, a infraestrutura, o lazer e a proteção ambiental avançam sobre as áreas rurais, limitando o crescimento líquido da área agrícola a menos de 5%, no plano global. Alguns países, como o Brasil, ainda expandirão área; outros, como a China, apenas contrairão. Haverá necessidade de conversão de área de pastagens para agricultura, de recuperação de áreas degradadas, de intensificação da agricultura e de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Outro agravante: desde 2010 há mais pessoas nas cidades do que no campo, e o avanço da urbanização é
Em minha conclusão pontuei que será necessário pensar “fora da caixa”, buscando novas ferramentas, gerando inovações direcionadas a esta meta e investindo muito fortemente em transferência e adoção de tecnologia
um fenômeno inexorável. Na década de 2050, menos de 10% dos cidadãos do mundo estarão nos campos. Com isto cresce o módulo médio de área e põe em risco a agricultura familiar, pois os jovens não querem mais saber de ficar no campo, onde o trabalho é penoso, a vida é dura e os riscos são grandes. Não nos olvidemos das mudanças climáticas globais, que reconfigurarão o ambiente produtivo – em geral tornando-o mais adverso. No cenário que elaborei, cresce dramaticamente a importância da tecnologia agrícola, para que ocorra um incremento sustentável da produtividade e, consequentemente, da produção agrícola. Imaginando que o pico da demanda ocorra em 40 anos, significa que, até lá, a produtividade da agropecuária deva crescer 1,4% ao ano. Parece fácil, pois, nas últimas três décadas, o crescimento alcançou o dobro deste valor. Mas, dois fatores depõem contra. Primeiro, se está falando de patamar de produção mais alta, logo antagônico a altas taxas de crescimento. Segundo, a produtividade da maioria das culturas atingiu um teto, nos principais países produtores. Em minha conclusão pontuei que será necessário pensar “fora da caixa”, buscando novas ferramentas, gerando inovações direcionadas a esta meta e investindo muito fortemente em transferência e adoção de tecnologia. A biotecnologia, a automação e a ecologia química terão muito a ver com a revolução tecnológica que está por vir. O paradigma majoritariamente químico parece estar com os dias contados, a biologia – mormente a microbiologia – ocupará espaços crescentes nos sistemas de produção. Não me assombra o sofisma da profecia de Malthus, o planeta não está condenado a ser assolado pela fome. Entrementes, para que o brutal aumento da demanda – que, progressivamente, se delineia com meridiana nitidez – seja atendido, será necessário que a sociedade pressione os governos por políticas públicas que, claramente, favoreçam a produção sustentável de alimentos de qualidade, e que as inovações tecnológicas sejam geradas e adotadas com agilidade cada vez maior, sempre com foco no aumento da produtividade sustentável C da agricultura.
Decio Luiz Gazzoni O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
39
COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
Mesmo com safra recorde nos EUA, mercado se mantém em alta O temor dos produtores de grãos era de que a safra dos EUA registrasse recorde e causasse uma derrocada das cotações. O recorde ocorreu e mesmo assim os indicativos permanecem 10% a 12% maiores do que estavam sendo praticados no mesmo período do ano passado, quando a produção norte-americana era muito menor e a da América do Sul já estava sendo afetada pelo El Niño. Agora há condições melhores, o plantio no Brasil avançou em ritmo forte e cedo. Os números finais norte-americanos confirmam recorde histórico de produção, mas o ponto mais importante reside no fato de que o consumo mundial tem avançado em ritmo galopante, maior que os indicativos apontados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Some-se a isso, o fato de que o clima tem causado estragos em lavouras que não são muito avaliadas pelos norte-americanos, como o arroz na Ásia, que tem sofrido grandes perdas. A demanda segue forte, atrelada ao avanço rápido da população mundial e do crescimento econômico. A China, que nos tempos áureos chegou a crescer acima de 10% ao ano, agora pode ficar na faixa de 6,8%. Haverá avanço no consumo de alimentos, que cresce a passos largos no país e vem batendo sucessivos recordes de importação de grãos. A soja dá sinais de que neste novo ano alcançará a casa de 90 milhões de toneladas importadas e mais de 100 milhões de toneladas consumidas, abrindo fôlego para a indústria chinesa, que continua com boa margem de lucros no esmagamento. Esse cenário também segue favorecendo o plantio crescente em países como o Brasil, que caminha para recorde de produção e safra acima de 100 milhões de toneladas. O fator demanda vem dando suporte para as cotações alcançarem valores maiores que os praticados no ano passado e aponta novamente para um bom ano para o setor agrícola, que trará lucratividade e permitirá bons investimentos em tecnologia. O Brasil seguirá como líder mundial na exportação de soja, que terá em seu complexo grão, farelo e óleo e tende a ultrapassar os 70 milhões de toneladas neste ano. Há boas expectativas dos demais segmentos do agronegócio, que segue com alto potencial de trazer bilhões de dólares em divisas para apoiar a retomada do crescimento da economia brasileira. O produtor brasileiro seguirá como Timoneiro deste novo momento do Brasil. MILHO
Plantio fechado e boas expectativas de produção
Os produtores de milho do Brasil fecharam a safrinha e a maior parte já foi negociada. Agora, os olhos estão voltados para a safra de verão, ou primeira safra do milho, que terá plantio pelo menos 10% maior que no ano passado, com grandes chances de alcançar 15% de avanço na área nacional. No Rio Grande do Sul o crescimento está na faixa de 10% na área. Santa Catarina tem indicativos acima de 15% e no Paraná pelo menos 15%. Outro estado importante para a safra do milho é Minas Gerais, onde os produtores estão animados e, pelo que se observa, haverá crescimento acima de 20%. Desta forma, a nova safra de verão, que neste último ano não ultrapassou 22 milhões de toneladas e foi fortemente prejudicada pelo El Niño, agora tem potencial de ir à faixa de 32 milhões de toneladas. Há crescimento na área, aumento na tecnologia e clima se mostrando favorável, com o plantio se dando no período considerado ideal. O Brasil caminha para uma grande safra e tudo indica que mesmo com cotações menores que as do primeiro semestre deste ano, haverá ganhos positivos para os produtores. SOJA
Entressafra e boa demanda por parte do setor biodiesel
O mercado da soja do Brasil está no período de entressafra, quando os negócios nos portos diminuem de ritmo. Mas neste ano se observa o embarque de mais alguns navios, porque ainda há um bom volume de soja para ser negociada no Rio Grande do Sul e nos demais estados do Sul, que tiveram co-
40 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
mercialização em ritmo lento. Mas no quadro global brasileiro já há entressafra e o movimento destes últimos dias veio mais forte do setor de biodiesel, que se prepara para a virada do ano, quando busca formar estoques. A demanda de diesel seguirá se recuperando, porque vinha em queda e tudo aponta que a fase ruim da economia está passando e o consumo tende a crescer. Aliado a isso haverá maior demanda de biodiesel, que terá aumento da mistura no próximo ano, o que resultará em maior procura pelo óleo da soja ou pelo grão por parte das indústrias que estão conseguindo remunerar melhor que a exportação. A safra nova teve negócios no primeiro semestre e agora segue calma, sem vendedores, que aguardam por cotações maiores. O ano fecha rapidamente e os negócios devem fluir em novembro, perdendo fôlego em dezembro. Assim, aqueles que necessitam fazer caixa ainda neste ano terão que aproveitar as próximas semanas, que devem trazer bons indicativos para o grão restante. FEIJÃO
Consumo estabilizado e cotações acomodadas
O mercado do feijão, que terá neste fechamento de ano a maior média de preços em reais da história, mostrou calmaria em outubro e deverá seguir assim em novembro. Isso porque de agora em diante começarão a aparecer ofertas de lavouras que foram plantadas neste segundo semestre. Junto a isso, a disparada dos preços, que empurrou as cotações nos momentos de pico para até R$ 20,00 o quilo no varejo, causou impacto no consumo. Esse cenário fez com que os brasileiros migrassem para outros tipos de feijões, o
que ajudou a diminuir a pressão sobre o Carioca. Houve mais demanda pelo Preto, Vermelho, Rajado e até mesmo por lentilha e outros produtos alternativos, com estímulo até mesmo ao consumo de ovo em substituição ao feijão. Agora, com colheitas aqui e ali, nota-se que as cotações devem girar com valores menores, mas ainda assim bastante atrativos aos produtores. ARROZ
Calmaria em outubro e pequeno fôlego em novembro
As cotações do arroz vinham em crescimento até agosto, perderam fôlego em setembro e mostraram leve queda em outubro. As indústrias sinalizaram ter pouco capital de giro
para comprar, houve boa parte do setor liquidando posições do produto beneficiado junto ao varejo, com descontos para fazer caixa e tudo isso trouxe efeito reverso nos indicativos, o que serviu para acomodar as cotações nas regiões produtoras. Os produtores tiveram de vender para fazer caixa e assim puderam tocar o plantio. A queda no dólar favoreceu as importações, que até o final de setembro superavam as 743 mil toneladas, sendo liderado pelas compras no Paraguai, com cerca de 393 mil toneladas acumuladas e com produto para seguir atendendo o mercado brasileiro. A calmaria do último mês pode ceder a uma leve pressão de alta em novembro, por conta do setor industrial buscando matéria-prima para trabalhar na virada do ano e no começo de 2017.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo (agora com a colheita do Sul avançando e a do Paraná próxima do final) mostra que mesmo com problemas de chuvas em grandes volumes em outubro há uma boa safra, estimada em aproximadamente 6,5 milhões de toneladas. Ainda existe pouca liquidez, com cotações baixas aos produtores que enfrentam dificuldade para negociar com os moinhos. Faltan apoio e recursos do governo e desta forma grandes volumes do grão acabam indo para o setor de ração. O consumo brasileiro neste novo ano irá passar de 11 milhões de toneladas e, por enquanto (com o dólar barato e boa oferta na Argentina), tem se limitado a avanços locais. Para o produtor, os números devem começar a melhorar mesmo a partir de fevereiro, com fôlego para níveis mais atrativos. Estimam-se volumes que podem chegar a 1,5 milhão de toneladas indo para o setor de ração, que no último mês remunerava melhor que os moinhos. ÁSIA - O clima mostrou melhora nesta fase final da safra asiática e assim houve recuperação de parte da safra da China e da Índia, que devem ter perdas menores que as expectativas. A safra de arroz da Tailândia acabou se concentrando neste segundo semestre, com potencial de 25 milhões de toneladas de arroz em Casca, números maiores que no ano passado. As perdas do primeiro semestre já estão contabilizadas e os países seguirão com estoques de alimentos em queda. CHINA - As importações de grãos da China continuam fortes e nestes últimos meses deram sinais de que há fôlego para alcançar fácil 90 milhões de toneladas de soja neste novo ano comercial. O país irá consumir mais de 100 milhões de toneladas da oleaginosa e segue com demanda crescente de frangos, suínos, ovos, leite, tudo puxando a soja. Os indicativos do governo apontam para mais de cinco milhões de toneladas de arroz sendo importadas e, se contabilizada a internalização não oficial (que vem do Vietnã pela fronteira), sobe para mais de sete milhões de toneladas. O país seguirá consumindo mais do que vem produzindo. Há expectativa de que possa importar mais de quatro milhões de toneladas de milho, sendo
que tem realizado grandes negócios com a Ucrânia, que tem parte da safra bancada por recursos chineses e assim atrelada à venda do grão futuro para o país asiático. A China seguirá crescendo em economia, população e demanda de alimentos. Espera-se que no próximo ano a queda do plantio de milho no país supere um milhão de hectares. Esta safra teve queda de dois milhões de hectares e seguirá nesta linha para se ajustar às exigências da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os EUA ingressaram com processo contra os subsídios que o governo chinês dá aos produtores e para se ajustar às normas serão necessárias queda na área e mais importações. ARGENTINA - A safra de grãos deste novo ano pode ter uma guinada forte porque o governo do presidente Maurício Macri tinha prometido retirar as Retenciones (imposto sobre a exportação de grãos). O fez em parte no primeiro ano de mandato, reduzindo de 35% para 30% no caso da soja e zerando os demais, favorecendo o milho e o trigo, que ficaram sem imposto de exportação. A promessa era de que iria reduzir no caso da soja a 5% ao ano. Contudo, em outubro, com o país sofrendo com uma grande crise e o governo necessitando de dinheiro, anunciou que somente voltaria a reduzir a partir de 2018, na ordem de 0,5% ao mês, de janeiro de 2018 a dezembro de 2019. A decisão causou grande desestímulo ao plantio. No final de outubro, depois de muita pressão do setor voltou atrás novamente e anunciou que manteria a programação de redução anterior em grande parte dos estados produtores do Norte do país, o que envolve uns seis milhões de hectares de áreas agrícolas, mantendo a programação de 0,5% ao mês, de janeiro de 2018 em diante, para as demais regiões, onde estão as maiores áreas de soja da Argentina. Isso inclui a Província de Buenos Aires e arredores. Mesmo assim, o milho, que tinha cerca de 3,8 milhões de hectares de área comercial no ano passado, agora deve superar 4,9 milhões de hectares. Ainda há expectativa de queda na soja, de no mínimo 500 mil hectares frente ao C plantio passado (20 milhões de hectares). Vlamir Brandalizze
brandalizze@uol.com.br • Twitter@brandalizzecons • brandalizzeconsulting.com.br
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2016
41
COLUNA ANPII
Simbiose benéfica O uso de inoculantes em feijoeiro ainda é muito pequeno no Brasil, principalmente se comparado com a soja. Diversos fatores são responsáveis por este cenário, no entanto, dados de pesquisas têm mostrado cada vez mais as vantagens de seu uso nesta cultura
E
m artigos anteriores já comentamos sobre a inoculação do feijoeiro. Como toda a leguminosa, o feijão forma simbiose com as bactérias do gênero Rhizobium, formando nódulos onde as bactérias passam a transformar o nitrogênio da atmosfera em formas assimiláveis pela planta, na chamada Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN). Praticamente todas as leguminosas se beneficiam deste fenômeno e o feijoeiro não é exceção. Há cerca de 50 anos já existem no Brasil inoculantes para o feijoeiro, mas seu uso ainda é muito pequeno. Comparado à soja, cultura em que o uso da FBN atinge mais de 80%, observa-se que para uma área próxima a três milhões de hectares, a produção de inoculantes para esta cultura é em torno de 400 mil doses. Assim, pouco mais de 10% da área usa este insumo que requer um baixo investimento e traz excelente retorno para o agricultor. Há vários motivos que levaram a esta situação, mas que atualmente já não existem mais e, pelo contrário, se acumulam dados de pesquisa e de observações de campo que demonstram claramente as vantagens do uso de inoculantes nesta cultura. Durante algum tempo predominou a visão totalmente sem base científica de que, por ser de ciclo curto, o feijoeiro “não teria tempo” de acumular todo o N necessário para o enchimento de grãos. Infelizmente esta visão míope ainda é divulgada, agora no caso das cultivares de ciclo precoce da soja. Na última edição da Fertibio foram apresentados dados em que no caso do feijão superprecoce o tempo de fixação é estendido até vários dias acima das cultivares de ciclo normal. Por outro lado, por muitos anos se trabalhou com cepas de Rhizobium phaseoli que, embora sendo as melhores da época, perdiam muito facilmente seu poder de fixação, levando a falhas na nodulação. Com a descoberta do Rhizobium tropici este
problema foi resolvido e atualmente há excelentes cepas deste micro-organismo aptas a fixarem todo o nitrogênio que a cultura do feijão necessita. A cada dia a pesquisa vem demonstrando de forma clara e muito nítida que se consegue produzir acima de 3.000kg de grãos por hectare com baixas doses de fertilizante nitrogenado, até mesmo sem este insumo. Nas últimas reuniões técnicas, como a Relare, em junho, e a recente Fertbio, em outubro, foram mostrados resultados, tanto pela Embrapa Soja como pela Embrapa Arroz e Feijão, a Embrapa Agropecuária Oeste e a Embrapa Cerrados, mais que convincentes dos
Existem atualmente no país todas as condições para que o inoculante para feijão se torne uma importante ferramenta para maior rentabilidade desta cultura ao agricultor
ganhos oriundos do uso de inoculantes na cultura do feijão em diversos locais do país e em diversas situações de padrão tecnológico da cultura. Aumentos de produtividade de 10% a 20% já são comuns nos dados da pesquisa. No Paraná houve no Iapar a seleção de novas cepas, altamente eficientes, para uso nos inoculantes, proporcionando aumentos de até 20% na produtividade do feijoeiro. Falta ainda uma maior divulgação destes dados, levando estas informações até o agricultor para que o uso do inoculante na cultura do feijoeiro venha a se tornar uma prática comum, fazendo parte da agenda dos produtores desta leguminosa. No momento em que os plantadores de feijão experimentarem este inoculante e sentirem que a inoculação traz economia em fertilizantes nitrogenados e aumento de produtividade, a prática se instalará rapidamente e poderá atingir os patamares relativos à área plantada, tal como ocorre na soja. Entretanto, para potencializar ainda mais o aporte de nitrogênio através da inoculação, no feijoeiro, o uso da coinoculação, isto é, o emprego do inoculante específico para a cultura em conjunto com o inoculante à base de Azospirillum, utilizado em gramíneas e já adotado na coinoculação em soja, tem também trazido expressivos ganhos de produtividade. Desta forma, existem atualmente no país todas as condições para que o inoculante para feijão se torne uma importante ferramenta para maior rentabilidade desta cultura ao agricultor. As empresas ligadas à Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) produzem inoculantes para feijão com as novas cepas e com concentrações que atendem aos padrões exigidos pela legislação, bem como contam com um sistema de distribuição que permite que os produtos cheguem a praticamente todas as regiões C produtoras. Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
42 Novembro 2016 • www.revistacultivar.com.br
www.revistacultivar.com.br • Plantas daninhas • Novembro 2016 •
03 Pedro Christoffoleti
Ação diversificada Com a popularização de culturas tolerantes ao glifosato, produtores passaram a realizar o emprego massivo de um único herbicida, em uma tentativa frustrada de simplificar o controle de plantas daninhas. Essa prática resultou no agravamento dos casos de seleção de espécies tolerantes e resistentes à aplicação de herbicidas. O advento de genes que conferem tolerância a outros mecanismos de ação, como a soja LibertyLink, surge como importante alternativa para auxiliar no enfrentamento deste problema
O
manejo de daninhas pressupõe a adoção de diferentes estratégias que busquem a diversidade das práticas adotadas para o controle destas plantas. Isso é alcançado quando se consegue integrar práticas preventivas, culturais, mecânicas ou químicas. A inserção de genes de tolerância ao glifosato em culturas como a soja fez com que o agricultor simplificasse o controle de plantas daninhas, focando na adoção de um único herbicida. Essa estratégia diminuiu a diversificação de mecanismos de ação
de herbicidas e, por consequência, selecionou determinadas espécies daninhas não controladas por este herbicida. Uma alternativa para essa simplificação é o uso de genes que conferem tolerância a outros mecanismos de ação, como o caso da soja LibertyLink (LL), tolerante ao herbicida glufosinato de amônio, que inibe a glutamina sintase (GS). A inibição da GS causa rápido acúmulo nos níveis de NH 4+ intracelular, associado à ruptura da estrutura do cloroplasto, resultando na inibição da fotossíntese e na morte das células da planta. Embora a toxicidade de
NH 4+ pareça ser o mecanismo de ação primário do glufosinato, NH 4+ pode não ser a causa principal da morte da célula na presença do inibidor. Além da toxicidade de NH 4+, o efeito do herbicida na fotossíntese pode ser explicado pela inibição na síntese de proteínas. Os herbicidas à base de glufosinato de amônio são usados de forma não seletiva e aplicados em pós-emergência no manejo de áreas, na dessecação de culturas e em aplicações em jato dirigido, em culturas como o milho. Porém, com o advento da transgenia
04 • Novembro 2016 • Plantas daninhas • www.revistacultivar.com.br Tabela 1 - Representação do controle proporcionado pelo uso do herbicida amônio glufosinato em espécies daninhas de difícil controle
podem ser aplicados seletivamente em culturas geneticamente modificadas, resistentes ao herbicida glufosinato de amônio, como o caso de soja, algodão e milho. O glufosinato de amônio é um herbicida de contato, que possui amplo espectro de controle de plantas daninhas de folhas largas e estreitas, incluindo espécies de difícil controle como buva e amargoso, desde que aplicado nos estádios iniciais de desenvolvimento destas espécies (Tabela 1). O seu uso passa a ser importante alternativa no controle de espécies resistentes e tolerantes ao glifosato, além de ser um herbicida ao qual não existem casos de resistência associados ao seu uso no Brasil. O glufosinato de amônio (Liberty) é seletivo às cultivares de soja com a tecnologia LibertyLink, e pode ser aplicado em qualquer fase da cultura. Porém, é funda-
mental que se considere o estádio da planta daninha e o período em que pode haver matocompetição, o que normalmente ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura. O controle de plantas daninhas com a adoção da tecnologia LibertyLink deve ser iniciado antes mesmo da semeadura da cultura, pois um dos principais pilares reside na necessidade de semear a cultura no limpo. A eliminação das plantas daninhas antes da semeadura da cultura pode ser obtida com a combinação de herbicidas em aplicação única ou, preferencialmente, em sequência. O ideal dentro da perspectiva de sustentabilidade é utilizar herbicidas de mecanismos de ação diversos, inclusive diferentes daqueles usados em pós-emergência. Naquelas situações onde os
Figura 1 - Manejo de plantas daninhas em soja LibertyLink, SEM o uso de herbicidas pré-emergentes residuais
herbicidas usados na operação de manejo (dessecação) não possuam atividade residual sobre as sementes de plantas daninhas e, dependendo do banco de sementes de plantas no solo, é possível que sejam necessárias pelo menos duas aplicações do herbicida Liberty sobre a soja (Figura 1). A primeira aplicação deverá ser realizada logo após a emergência das plantas daninhas e no máximo até o estádio V2 (dois nós) da soja, para que se evite a matocompetição. A segunda aplicação se fará necessária caso ocorram novos fluxos de emergência de plantas daninhas antes do completo fechamento das entrelinhas da cultura. Outra alternativa de manejo é o uso herbicidas com ação residual no solo, antes da emergência das plantas daninhas e cultura, ou associado com a aplicação de dessecação (Figura 2). Entre os herbicidas com ação residual encontram-se diclosulam, flumioxazina, imazetapir, metribuzim, s-metolacloro, sulfentrazona, entre outros. O uso destes herbicidas atrasa o primeiro fluxo de emergência das plantas daninhas fazendo com que a cultura permaneça no limpo por um período maior de tempo e, principalmente, diminuindo uma aplicação do herbicida em pós-emergência. A redução de uma aplicação pode aumentar a sustentabilidade da tecnologia LibertyLink, pela diminuição na pressão de seleção de plantas daninhas. C Mauro Antônio Rizzardi Universidade de Passo Fundo
Figura 2 - Manejo de plantas daninhas em soja LibertyLink, COM o uso de herbicidas pré-emergentes residuais
www.revistacultivar.com.br • Plantas daninhas • Novembro 2016 •
Manejo em transformação
05 Pedro Christoffoleti
O manejo de plantas daninhas em soja tem passado por mudanças profundas, que exigem cada vez mais do produtor estratégias adequadas que passam por prevenção, racionalidade e capacidade de reagir de modo rápido às ameaças à produtividade e à sustentabilidade das lavouras
D
entre os fatores redutores da produtividade da cultura de soja, a infestação de plantas daninhas destaca-se como um dos mais significativos, fato que torna fundamental a recomendação racional de seu manejo, para assim obter a expressão do potencial produtivo do ambiente de produção, evitando as perdas provocadas pelas plantas daninhas. Este manejo tem como principal ferramenta o herbicida, que, se utilizado de forma sustentável e integrado com outras medidas, é alternativa economicamente viável. Com o desenvolvimento e extensiva adoção de culturas transgênicas resistentes ao glifosato, este herbicida tornou-se o mais utilizado, de tal forma que no início era praticamente o único a ser empregado no sistema. No entanto, o processo evolutivo das plantas
daninhas, aliado ao uso intensivo do sistema, levou os sistemas produtivos a enfrentarem novos desafios no manejo de plantas daninhas. Sendo assim, neste artigo destacamos alguns aspectos importantes da prática de manejo de plantas daninhas em áreas de cultivo da soja transgênica resistente ao glifosato, assim como a sustentabilidade da recentemente liberada soja transgênica resistente ao amônio glufosinato, comercialmente conhecida como LibertyLink.
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Um aspecto de fundamental importância no manejo de plantas daninhas em soja é atentar para a dinâmica populacional de plantas daninhas ao longo dos cultivos subsequentes, quando uma
tecnologia é utilizada intensamente. Há plantas daninhas de maior tolerância ao glifosato, que se não controladas no momento certo, ou com associação de herbicidas alternativos ao glifosato, podem representar riscos de perdas de produtividade da cultura devido à ineficácia do herbicida. Destacam-se dentre as espécies de plantas daninhas tolerantes ao glifosato a trapoeraba (Commelina spp), a guanxuma (Sida spp), a erva-quente (Borreria spp), além de outras dicotiledôneas. Adicionalmente, a dinâmica intraespecífica de biótopos de plantas daninhas resistentes ao glifosato representa, atualmente, com certeza, o maior desafio no manejo de plantas daninhas na cultura de soja. Sendo assim, o sistema de manejo de plantas daninhas na soja deve passar por profundas transformações. Produ-
06 • Novembro 2016 • Plantas daninhas • www.revistacultivar.com.br tores devem agir de forma proativa no sentido de evitar a seleção de daninhas resistentes/tolerantes ao glifosato, bem como em situações onde medidas reativas devem ser adotadas para evitar as perdas potenciais de produtividade.
de contato utilizados neste momento destacam-se amônio glufosinato, paraquat, inibidores da Protox e ALS, dentre outros. Já dentre os residuais que podem ser utilizados, destacam-se herbicidas inibidores da ALS, como chlorimuron e imazethapyr, herbicidas inibidores da Protox, como flumioxazin e sulfentrazone, e herbicidas inibidores da divisão celular, como s-metolachlor. O importante é destacar que esta aplicação permite a semeadura da soja “no limpo”, bem como proporciona a chamada “dianteira competitiva” para a soja, ou seja, a cultura tem seu desenvolvimento inicial livre de plantas daninhas, que se desenvolve mais tarde. A escolha do herbicida residual é dependente de fatores edáficos e climáticos e do potencial de infestação.
MANEJO EM PRÉ-PLANTIO
MANEJO EM PÓS-PLANTIO
Após a emergência da soja, quando o efeito residual dos herbicidas de pré-plantio terminou, algumas plantas daninhas começam a emergir e interferir no seu desenvolvimento, momento então em que deve ser realizada a aplicação do herbicida pós-emergente seletivo. O glifosato ou o glufosinato de amônio, para as culturas resistentes a estes herbicidas, respectivamente, são regularmente recomendados. Importante destacar que ambos os herbicidas devem ser aplicados em fase inicial de desenvolvimento da planta daninha, Divulgação
Sistemas conservacionistas de produção de soja começam, fundamentalmente, com o manejo de pré-plantio da vegetação, para que além da formação da palhada na superfície atenda ao princípio fundamental do manejo integrado de plantas daninhas, que é a “semeadura no limpo”. Este princípio exige que seja programada associação de herbicidas de diferentes mecanismos de ação no manejo da vegetação. Para o manejo de plantas daninhas que se desenvolvem durante o período invernal, ou seja, no período de entressafra da soja, destacam-se o 2,4-D, os inibidores da Protox e ALS para folhas largas e os inibidores da ACCase para as gramíneas, sempre associados com o glifosato, pois é comum ocorrer complexos de espécies de plantas daninhas. Também herbicidas residuais podem ser utilizados neste período para que assim não existam fluxos de emergência durante o período de inverno. Destaca-se que neste período é agronomicamente recomendável que a instalação de uma cultura de cobertura seja implantada. No entanto, na impossibilidade de seu cultivo, o herbicida de outono é, sem dúvida, uma prática necessária em muitas situações onde o regime hídrico e as faixas de temperatura permitem a emergência de plantas daninhas. Quando se aproxima o momento da semeadura da soja, a dessecação para a “semeadura no limpo” é essencial para um bom sistema de manejo na soja. A prática de maior sucesso neste momento é realizar a chamada “dessecação antecipada”, ou seja, em torno de 15 dias a 20 dias antes da semeadura da soja é realizada uma operação de dessecação, utilizando herbicidas de ação total, envolvendo principalmente herbicidas de translocação, onde o glifosato também faz parte da associação. Antecedendo a semeadura, uma nova aplicação de herbicida é normalmente recomendada, onde um herbicida de contato pode ser associado a um herbicida residual de pré-plantio. Dentre os herbicidas
pois para o glifosato as doses indicadas serão mais eficazes, e no caso do amônio glufosinato sua ação de contato exige que as plantas daninhas estejam em pós-emergência inicial (máximo 10cm de altura a 12cm de altura). No entanto, se plantas daninhas tolerantes ou resistentes ao glifosato estiverem presentes em uma soja também resistente ao glifosato, herbicidas alternativos devem ser associados, destacando-se os inibidores da Protox e inibidores da ALS para as dicotiledôneas e os inibidores da ACCase para as gramíneas. Para a soja resistente ao amônio glufosinato, a associação com herbicidas inibidores da ACCase pode ser necessária em áreas com alta infestação de gramíneas.
MANEJO DE “ESCAPES”:
Mesmo adotando todas as práticas recomendadas é possível ainda a presença de plantas daninhas resistentes ao glifosato espalhadas em baixa densidade na área, geralmente em “reboleiras”. Uma recomendação preventiva para os próximos anos é que estas plantas sejam eliminadas completamente, em uma operação chamada de “catação”. Geralmente esta operação é manual, porém, pode eventualmente ser feita com aplicação dirigida de herbicidas na planta. O importante é que o produtor tenha consciência da necessidade da eliminação destas plantas para evitar que a produção de sementes ocorra e infeste a área para os próximos anos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Christoffoleti chama a atenção para as alterações no manejo de daninhas
O manejo de plantas daninhas na cultura da soja tem passado por transformações profundas. Destacam-se a realização da dessecação com herbicidas alternativos isolados ou em associação com o glifosato para garantir a semeadura da cultura no limpo, a volta do emprego de herbicidas pré-emergentes (que possibilitam o fechamento da cultura também no limpo), além de herbicidas alternativos associados ao glifosato no controle em pós-emergência, o que vai favorecer a colheita e possibilitar a entrega da área limpa para a cultura C posterior. Pedro Jacob Christoffoleti e Acácio Gonçalves Netto, Esalq/USP Marcelo Nicolai, Agrocon
www.revistacultivar.com.br • Plantas daninhas • Novembro 2016 •
07
Intruso voluntário
Mauro Rizzardi
Com o advento do milho resistente a glifosato, a presença de plantas voluntárias, anteriormente eliminadas pela aplicação desse produto, passou a se tornar mais um problema a demandar cuidado por parte dos produtores. A elaboração da melhor estratégia de controle precisa considerar a realidade específica de cada local, com a devida observação de critérios técnicos para a escolha dos herbicidas e do momento de aplicação
A
partir da liberação comercial de milho resistente ao glifosato tornou-se comum observar lavouras de soja RR, semeadas em sucessão, infestadas por plantas voluntárias de milho. O glifosato, que antes controlava o milho voluntário na cultura da soja RR, passou a não ser eficiente no seu controle, devido à inserção do gene de resistência a este herbicida em milho. As plantas voluntárias são oriundas de restos de sementes e espigas perdidas durante o processo de colheita e se estabelecem no início das chuvas, podendo competir com a cultura semeada em sucessão por água, luz e nutrientes. Estima-se que uma planta de milho por metro quadrado
possa reduzir a produtividade da soja em, aproximadamente, 30%. Controlar o milho voluntário é de fundamental importância para que a soja possa expressar o seu potencial produtivo. Além de competir pelos recursos do ambiente, o milho voluntário pode servir de ponte verde para pragas e doenças, ocasionando prejuízos aos agricultores. A redução de perdas na colheita através de ajustes nas colhedoras e da realização da colheita na época adequada auxilia na diminuição do número de plantas voluntárias de milho. Estas práticas simples, além de garantirem maior produtividade, reduzem o número de plantas emergidas dentro da cultura subsequente, proporcionando menor
competição das plantas voluntárias com a cultura da soja. Para se estabelecer uma adequada estratégia de manejo, deve-se compreender a dinâmica do fluxo de emergência e a estratégia de controle que melhor se adapte à realidade.
FLUXO DE EMERGÊNCIA
A dinâmica do fluxo de emergência do milho voluntário está relacionada a condições climáticas específicas de cada localidade e à origem dessas plantas, que podem ser provenientes de grãos isolados ou ligados às espigas. Grãos sobre a superfície ou levemente incorporados tendem a apresentar um grande fluxo de emergência logo após as
08 • Novembro 2016 • Plantas daninhas • www.revistacultivar.com.br primeiras chuvas. Já as espigas de milho, por exemplo, apresentam mais de um fluxo de emergência ao longo do ciclo da soja, indicando, em algumas situações, a necessidade de mais de uma aplicação de herbicida para o seu controle.
de atividades metabólicas, como a divisão celular, e do fornecimento de lipídios para a formação de membrana, o que comprometeria a atividade dos inibidores da ACCase. Dentre os latifolicidas, tem-se observado maior efeito antagônico dos graminicidas, principalmente quando associados a herbicidas auxínicos, como o 2,4-D, do que quando associados a inibidores da acetolactato-sintase (ALS) e protoporfirinogênio-oxidase (PPO). Os herbicidas inibidores da ACCase apresentam comportamento diferenciado quando associados ao 2,4-D, enquanto determinadas moléculas reduzem drasticamente a sua eficiência no controle do milho voluntário, outras mantêm o mesmo nível de controle observado quando aplicadas isoladamente. O efeito antagônico, decorrente da associação de herbicidas destas duas classes, é mais pronunciado, principalmente em plantas mais desenvolvidas. Tendo em vista as diversas interações possíveis de ocorrer nas aplicações envolvendo a associação de graminicidas e herbicidas para o controle de folhas largas é recomendável a leitura do rótulo dos produtos, antes do seu uso.
CONTROLE DE MILHO VOLUNTÁRIO
CARRY OVER
Ao fazer uso de herbicidas inibidores da ACCase é importante que o produtor respeite intervalo entre a
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração da estratégia de controle deve se basear na realidade específica de cada local. A escolha dos herbicidas e do momento de aplicação deve levar em consideração os aspectos técnicos abordados ao longo do texto. Para o adequado manejo de plantas daninhas na lavoura, é importante rotacionar os mecanismos de ação para minimizar ao máximo os problemas de resistência. Não adquira nenhum defensivo agrícola sem receituário agronômico. Verifique a origem e a data de validade, evitando comprar produtos vencidos e com embalagens danificadas. Lembre-se de que embalagens vazias de defensivos devem ser retornadas a locais apropriados e definidos C em cada região. Alexandre Ferreira da Silva, Dionisio Luiz Pisa Gazziero, Décio Karam, Leandro Vargas e Fernando Storniolo Adegas, Embrapa Soja
Mauro Rizzardi
O controle de milho voluntário deve ser realizado na pré-semeadura e/ou após a implantação da cultura da soja. O uso de herbicidas de contato como diquat, paraquat e paraquat + diuron para o controle de milho voluntário demonstra ser eficiente somente no controle de plantas jovens, com até duas folhas completamente expandidas (V2), enquanto plantas mais desenvolvidas tendem a rebrotar. Dentre os herbicidas com maior eficiência de controle do milho voluntário destacam-se os inibidores da acetil-CoA carboxilase (ACCase), pertencentes ao grupo químico das ciclohexanodionas (DIMs) e ariloxifenoxipropionatos (FOPs). De uma maneira geral, quando aplicados na dose recomendada, no estádio de desenvolvimento com quatro (V4) a cinco folhas (V5) completamente expandidas, tanto os FOPs quanto os DIMs apresentam níveis de controle similares e satisfatórios. No entanto, em aplicações mais tardias, os FOPs demonstram melhor eficiência que os herbicidas do outro grupo químico. O momento e o número de aplicação de herbicidas para o controle de milho voluntário, na pós-emergência da soja, irão depender do nível de infestação presente na área. Períodos mais prolongados de convivência do milho com a soja podem ocasionar maior competição pelos recursos do meio e consequentemente menor produtividade.
aplicação destes produtos e o semeio de culturas sensíveis, como o trigo e o milho. Condições de alta umidade do ar e chuvas próximas ao plantio, associadas a baixas temperaturas, tendem a favorecer o aparecimento de sintomas de fitotoxicidade em culturas sensíveis, semeadas logo após a aplicação destes herbicidas.
CUIDADOS
O uso de herbicidas inibidores da ACCase na dessecação merece atenção por parte dos produtores, pois devido à diversidade de plantas daninhas presentes na área é comum o uso de latifolicidas que podem ocasionar redução na eficiência (antagonismo) do herbicida graminicida. O antagonismo pode ser decorrente da redução na absorção e/ou translocação dos graminicidas pelos latifolicidas ou devido à redução
Além de competir pelos recursos do ambiente, o milho voluntário pode servir de ponte verde para pragas e doenças ocasionando prejuízos aos agricultores
Pedro Martini (Oroagri)
www.revistacultivar.com.br • Plantas daninhas • Novembro 2016 •
09
Adaptadas para sobreviver A resistência a herbicidas constitui uma estratégia de sobrevivência das plantas daninhas, que exige de técnicos e pesquisadores o desenvolvimento de alternativas e recomendação adequada. A rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, aliada a outros métodos de controle, é uma das ferramentas para contornar este problema
A
adaptação a diversos ambientes é uma das mais importantes características intrínsecas das plantas daninhas. Há muitos anos, o cientista Charles Darwin desenvolveu ateoria da seleção natural e da evolução dos seres vivos, conhecida como Darwinismo. Ao analisar as taxas de reprodução e de mortalidade em diversas populações, Darwin observou que havia indivíduos que, por serem diferentes da maioria, eram capazes de sobreviver e se reproduzir em determinado ambiente, passando assim suas características para os seus descendentes. Após algumas gerações, os indivíduos com esta característica tornavam-se maioria na população e aqueles com características menos favoráveis tendiam a desaparecer. No caso das plantas daninhas, a história não é diferente. Desde 1957, ano em que foi relatado o primeiro caso de resistência a herbicidas no mundo, diversas espécies têm se adaptado ao am-
biente que a agricultura gera por meio da aplicação de herbicidas. Portanto, a resistência a herbicidas é simplesmente uma forma que as plantas daninhas encontraram para sobreviver, frente ao ambiente da seleção em que o homem proporcionou ao longo dos anos. O uso de herbicidas não torna a planta resistente. O indivíduo resistente está naturalmente presente na população que compõe a comunidade infestante, porém em baixa frequência, o que faz com que inicialmente sua presença seja imperceptível na lavoura. Neste sentido, o herbicida atua como agente selecionador, controlando as plantas suscetíveis, o que torna o ambiente favorável para o crescimento e a multiplicação dos indivíduos resistentes até que o problema se torne visível (Figura 1). Em muitos casos, a resistência só é perceptível quando a frequência de plantas resistentes é maior que 20% dentro de uma lavoura. A detecção de um problema de
resistência em uma lavoura possui implicações importantes para o manejo de plantas daninhas, portanto deve ser trabalhado de maneira criteriosa. Diversos fatores podem ser confundidos com a resistência a herbicidas, como falhas no equipamento de aplicação, condições climáticas, doses insuficientes de herbicidas, uso inadequado de adjuvantes, estádio da planta daninha, aplicação repetitiva do mesmo mecanismo de ação, entre outros. No Brasil, a história da resistência a herbicidas está fortemente atrelada ao histórico dos métodos de manejo de plantas daninhas nas lavouras. No caso específico da soja, nos anos 1980 e início dos anos 1990, o controle de plantas daninhas era realizado à base de revolvimento do solo e de aplicações de herbicidas em pré-plantio e incorporado. Durante este período, nenhum caso de resistência foi relatado. Já no fim dos anos 90, com o crescimento do plantio direto, passou-se a
10 • Novembro 2016 • Plantas daninhas • www.revistacultivar.com.br Figura 1 - Aumento da frequência de plantas resistentes a herbicidas ao longo dos anos em lavoura com sucessivas aplicações de um mesmo mecanismo de ação. Verde: indivíduo suscetível; vermelho: indivíduo resistente
os produtores. Entre as espécies que têm causado maiores prejuízos para os diferentes ambientes de produção agrícola estão buva e capim-amargoso. Segundo o pesquisador da Embrapa, Fernando Adegas, o custo de produção de soja pode aumentar em até 400% em áreas com alta infestação destas espécies. O início da resistência a herbicidas em buva e capim-amargoso ocorreu no Sul do Brasil, mais especificamente no Oeste do Paraná. Apesar disso, estudos realizados por instituições de pesquisa do Brasil mostram que produtores de todas as regiões do País enfrentam problemas de resistência com pelo menos uma dessas espécies em sua lavoura. Dentre os fatores que favoreceram a ampla dispersão de buva e capim-amargoso no País estão as características biológicas que estas espécies apresentam, as quais proporcionam Hudson Takano
realizar a dessecação pré-plantio com herbicidas não seletivos, além de aplicações de herbicidas inibidores da ALS e inibidores da ACCase em pós-emergência da soja. Neste período, casos de resistência à ALS começaram a ser observados em espécies como picão-preto e leiteiro, assim como para inibidores da ACCase em capim-marmelada. Mais tarde, o uso de herbicidas inibidores da Protox também selecionou populações de leiteiro resistente a este mecanismo de ação. Com o advento das culturas resistentes a glifosato a partir do ano de 2005 no Brasil, o controle de plantas daninhas passou a ser fundamentado quase que exclusivamente na utilização deste herbicida. Como resultado, até o ano de 2016, já foram confirmadas oito espécies como resistentes ao glifosato: buva (Conyza bonariensis, C. canadensis e C. sumatrensis), azevém (Lolium perenne ssp. multiflorum), capim-amargoso (Digitaria insularis), capim-branco (Chloris elata), caruru (Amaranthus palmeri) e capim pé-de-galinha (Eleusine indica). Além disso, no caso da buva e do azevém, há populações com resistência a mais de um mecanismo de ação de herbicidas (resistência múltipla), o que torna o problema ainda maior. Atualmente, existem 41 casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas relatados no Brasil, ao longo desta história que se iniciou nos anos 1990. O problema da resistência de plantas daninhas a herbicidas está difundido em todas as regiões do País, afetando as mais diversas culturas, trazendo prejuízos de forma direta e indireta para
boa adaptação às condições de plantio direto. No caso do capim-amargoso, a dispersão foi mais rápida que da buva, principalmente pelo fato de ser uma planta que apresenta tolerância a altas temperaturas, condições climáticas comumente observadas nas regiões agrícolas do Cerrado brasileiro. A resistência a herbicidas constitui uma estratégia de sobrevivência das plantas daninhas, cabendo aos técnicos e pesquisadores o desenvolvimento de alternativas e a recomendação adequada para contornar este problema. Ao observar o passado, a própria história indica como se deve combater a resistência a herbicidas: a diversificação. Além da rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, é necessário criar o conceito do manejo integrado de plantas daninhas, procedendo a utilização em conjunto de outros métodos de controle, além do químico. Neste sentido, o uso de espécies de cobertura por meio da rotação de culturas, a utilização de métodos mecânicos de controle, o emprego de herbicidas com ação pré-emergente, além da associação de herbicidas são ferramentas fundamentais para obter C êxito no combate à resistência. Hudson Kagueyama Takano, Rubem Silvério de Oliveira Jr., Jamil Constantin e Guilherme Braga Pereira Braz, Univ. Estadual de Maringá
Lavoura de soja no Oeste do Paraná com infestação de capim pé-de-galinha (Eleusine indica), o caso mais recente de resistência ao glifosato no Brasil
Caderno Técnico: Plantas daninhas • Circula na Cultivar Grandes Culturas • nº 210 • Novembro 2016 • Capa - Eduardo Canova /Phytus Club Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
www.revistacultivar.com.br
04 • Novembro 2016 • Pragas • www.revistacultivar.com.br
Atenção redobrada
André Shimohiro
Pragas sugadoras como percevejos, pulgões, mosca-branca e bicudo estão entre os insetos que desafiam a produtividade agrícola brasileira e exigem extremo cuidado por parte dos produtores. O controle químico, realizado com racionalidade e critério, é uma das principais ferramentas para auxiliar no manejo correto das lavouras
www.revistacultivar.com.br • Pragas • Novembro 2016 •
A
heros, por ser considerado o mais abundante nas lavouras de soja do Brasil (Corrêa-Ferreira et al, 2009). A soja é a principal planta hospedeira desta praga e, mesmo após a colheita da cultura, o percevejo-marrom pode sobreviver, alimentando-se de outras plantas hospedeiras (daninhas ou cultivadas). As fêmeas ovipositam nas folhas em massas com cinco ovos amarelados a sete ovos amarelados. As ninfas de terceiro instar começam o processo alimentar e a dispersão. Os adultos apresentam longevidade média de 116 dias, podendo viver por mais de 300 dias (Corrêa-Ferreira e Panizzi, 1999), incluindo o período de entressafra. Os percevejos de E. heros podem completar até três gerações durante uma safra. Após a colheita completam a quarta geração e entram em diapausa na palhada, protegendo-se
Marcelo Madalosso/Phytus Club
área cultivada com soja no Brasil ultrapassa 32 milhões de hectares (Conab, 2016), o que naturalmente contribui para o estabelecimento e desenvolvimento de pragas que atacam as lavouras, especialmente sugadoras. Apesar das vantagens que as tecnologias Bt trazem ao agricultor brasileiro, considerando o aspecto de controle das lagartas, os produtores devem estar atentos ao combate de outras pragas que também podem prejudicar a produtividade e qualidade das lavouras. Dentre as principais pragas que atacam a cultura da soja, destacam-se os percevejos. Embora estejam presentes desde o período vegetativo da cultura, é no reprodutivo que ocorrem os prejuízos. De todos, a espécie que mais merece destaque nas práticas de manejo da lavoura é o percevejo-marrom Euschistus
A mosca-branca tem se tornado uma problemática cada vez mais constante nos cultivos no Brasil
05
de parasitoides e predadores (Vivan e Degrande, 2008). Na fase reprodutiva da soja os percevejos ganham destaque, pois aumentam a população e provocam os maiores danos, desde a formação dos legumes até o final do enchimento de grãos (Hoffmann-Campo et al, 2000). As perdas de rendimento nessa fase da soja variam de 49kg/ha a 125kg/ ha para um percevejo/m 2 (Guedes et al, 2012). Existem ainda os danos qualitativos causados pelo percevejo-marrom, que pode gerar ainda mais prejuízo ao sojicultor, pois o grão de soja deve ser esférico, com coloração clara na superfície, totalmente claro na parte interna nos quais já representam os cotilédones. Havendo qualquer tipo de mancha no cotilédone o grão é considerado como danificado pelo percevejo. Esses danos são encontra-
06 • Novembro 2016 • Pragas • www.revistacultivar.com.br Juliano Uebel/Phytus Club
desenvolvimento), faz com que os níveis de controle sejam eficientes e minimizem os prejuízos causados pelo percevejo marrom em soja.
PERCEVEJO-MANCHADOR E PULGÕES
O percevejo-manchador Dysdercus ruficollis também faz parte do complexo de pragas sugadoras que afetam cultivos no Brasil
dos cada vez com maior frequência. Se observada a instrução normativa 11/2007, que regula a classificação, a identidade e a qualidade da soja, grãos manchados são pesados separadamente e este peso ainda é dividido por quatro. Considera-se dentro da somatória grãos chochos, imaturos, fermentados, ardidos, queimados, ou seja, depreciando em 25% a qualidade do grão, que ainda pode ser continuado durante o processo de armazenagem. O manejo de E. heros em soja é realizado essencialmente com aplicações de inseticidas, atualmente compostos basicamente por combinações de piretroides e neonicotinoides. O isento pode apresentar uma maior tolerância a alguns destes compostos (Guedes et al, 2012). Faz-se necessária a busca de soluções para o manejo de percevejos, como o teste de novos produtos, formulações e doses, bem como o posicionamento das aplicações ao longo do ciclo da soja. Dentre as estratégias para evitar ou reduzir os danos causados pelas pragas sugadoras, o controle químico é uma das principais ferramentas,
levando-se em conta a aplicação dentro dos níveis de ação oficialmente recomendados e, também, a alternância de modos de intoxicação das pragas, a fim de evitar um processo de seleção de indivíduos menos sensíveis dentro de uma população a um determinado modo de ação inseticida. Dentro deste contexto, a UPL trouxe ao mercado brasileiro o inseticida Perito. Composto por modo de ação que inibe permanentemente a enzima acetilcolinesterase da praga-alvo, o produto conta com formulação exclusiva, que contém 970 gramas do ingrediente ativo por quilograma do produto formulado. Isso, obrigatoriamente, faz com que a pureza do princípio ativo fique ao redor de 100%. Esse novo inseticida se torna ferramenta fundamental para o manejo da resistência, devendo ser utilizado na primeira aplicação ou intercalado com as combinações de piretroides e neonicotinoides. Devido ao seu modo de ação diferenciado e ao efeito “knockdown” (efeito de choque caracterizado pela incapacidade de caminhar e com evolução para a morte, controlando a praga-alvo em qualquer fase do seu
Além da incidência de percevejos em soja, outra praga recorrente no cenário da cotonicultura do Brasil é o percevejo-manchador Dysdercus ruficollis, que se alimenta pela sucção de seiva em botões florais, flores, maçãs e partes tenras do caule. Os botões e as maçãs pequenas, quando picados, caem ao solo. As maçãs maiores crescem defeituosas, as fibras ficam manchadas, com intumescências na parte interna da casca, e geralmente apodrecem. No final do ciclo da cultura, os adultos e as ninfas picam as sementes nos capulhos, depreciando-as, e mancham as fibras com suas dejeções. O controle efetivo do complexo de pragas em culturas de alto valor, como o algodão, passa também pelo combate a pulgões, importantes no início do ciclo vegetativo do algodoeiro, até 60 dias após a emergência das plantas. Há duas espécies que atacam o algodoeiro, porém Aphis gossypii Glover, 1876 (Hemiptera: Aphididae) é a mais prejudicial, sendo responsável pela transmissão de viroses como o “vermelhão”, o “azulão” e o vírus do mosaico das nervuras, que reduzem drasticamente a produtividade da cultura (Nakano et al, 1981; Santos et al, 2004). São insetos de tamanho pequeno, coloração variável do amarelo-claro ao verde-escuro. A sua capacidade reprodutiva em clima tropical é enorme, devido à partenogênese telítoca, que favorece sua proliferação na lavoura (Gallo et al, 2002) e consequentemente as viroses. Embora haja preferência do pulgão do algodoeiro pela face inferior da folha, adultos e ninfas podem também ocupar sua face superior (Gonzaga et al, 1991). Em uma única folha encontram-se colônias de indivíduos ápteros e alados, em diferentes estágios, sendo que as formas aladas aparecem com maior frequência em altas densidades de infestação, quando a competição por alimento é maior (Fernandes et al, 2001). As plantas
www.revistacultivar.com.br • Pragas • Novembro 2016 • seiva, que prejudica o crescimento da planta atacada. Causa o encarquilhamento das folhas. Os danos indiretos ocorrem com a picada do inseto, que favorece a inoculação de vírus causadores de moléstias. Realizar o manejo dessas pragas se torna uma tarefa de toda a comunidade agrícola. Nesse contexto, empresas de agroquímicos têm realizado estudos e investimentos. A UPL, por exemplo, tem investido de forma crescente e constante em diversos países do mundo e com foco especial no Brasil, através de parcerias com instituições públicas e privadas. A ideia é entender primeiramente a real necessidade do agricultor local e, de forma ágil, trazer as soluções mais adequadas para cada cenário de controle e manejo responsável da resistência de insetos a inseticidas. Uma das ações consiste no grupo
batizado de Falcon Team, que reúne especialistas da área de entomologia. Através de reuniões periódicas, esses profissionais usam em conjunto o entendimento da problemática identificada, análise detalhada e customizada para a condição local da região e perfil do agricultor, com o objetivo de desenvolver as soluções mais adequadas para a agricultura brasileira. Dentro desta perspectiva e considerada a autonomia em desenvolver produtos que atendam às demandas locais em conjunto com especialistas de cada área, a UPL trabalha em mais um produto, em fase de registro, para os agricultores brasileiros. Trata-se do inseticida Sperto, ferramenta para o manejo real da resistência, que combina modos de ação distintos e complementares e em concentrações que atendem às necessidades do controle de diversas pragas sugadoras
Juliano Farias/Phytus Club
atacadas apresentam como sintoma o encarquilhamento das folhas e deformação dos brotos, prejudicando seu desenvolvimento (Degrande, 1998). Segundo Calcagnolo e Sauer (1954), os pulgões, quando não controlados, podem reduzir em até 44% a produção de algodão. Em batata, uma das principais pragas é o pulgão das solanáceas Macrosiphum euphorbiae, e em tomate o pulgão-verde, Myzus persicae, praga amplamente distribuída no Brasil e que está comumente disseminada em diversos cultivos e estados, provocando danos diretos e indiretos nas culturas. Os insetos têm cerca de 2mm de comprimento, sendo a forma áptera de coloração verde-clara, enquanto a forma alada possui cor verde, com cabeça, antena e tórax pretos. Os danos diretos são provocados devido ao succionamento contínuo de
07
O bicudo está entre as principais pragas do algodão, por ser a de maior incidência e com mais potencial de dano
08 • Novembro 2016 • Pragas • www.revistacultivar.com.br André Shimohiro
A soja é a principal hospedeira do percevejo marrom, que pode sobreviver mesmo após a colheita, alimentando-se de outras plantas
que apresentam maturação forçada, caindo precocemente no chão.
BICUDO-DO-ALGODOEIRO
O bicudo está entre as principais
Gabriel Brasileiro/Phytus Club
como a broca-do-café (Hypothenemus hampei). Segundo Gallo et al (1988), o ciclo evolutivo deste inseto, desde a postura até a emergência do adulto, completa-se de 27 dias a 30 dias. O ataque da broca proporciona uma porta de entrada para micro-organismos, os quais, sob condições propícias, podem desenvolver-se, atingindo os grãos e alterando a qualidade da bebida do café. O fruto de café é o alimento para todas as fases de desenvolvimento da broca, proporcionando um meio para o seu crescimento e reprodução (Benassi, 1989). Em linhas gerais, os principais prejuízos causados pela broca-do-café são a perda de peso do café beneficiado, devido à sua destruição pelas larvas, a perda da qualidade, pela depreciação do produto na classificação por tipo, pois cinco sementes broqueadas já constituem um defeito. Como prejuízos quantitativos se têm ainda a queda prematura de frutos quando perfurados e o apodrecimento de sementes em frutos broqueados,
As plantas de algodoeiro estão entre os hospedeiros preferenciais da mosca branca
pragas do algodão, por ser a de maior incidência e com mais potencial de dano. Esse destaque se dá em função de sua alta capacidade reprodutiva, do elevado poder destrutivo, da dificulda-
www.revistacultivar.com.br • Pragas • Novembro 2016 • causadas por esta praga decorrem da utilização das estruturas florais e frutíferas do algodoeiro para a oviposição dos adultos e alimentação tanto das larvas como dos adultos do bicudo-do-algodoeiro. Os danos de oviposição não afetam imediatamente o botão floral, que continua se desenvolvendo normalmente até o início do segundo instar larval e, posteriormente, o botão floral cai da planta. Os danos de alimentação comprometem o desenvolvimento normal do botão, o que reduzirá significativamente a produtividade das plantas e a qualidade final do produto.
A MOSCA-BRANCA
Ainda no tema do controle de pragas sugadoras, a mosca-branca em soja, feijão e algodão tem se tornado uma problemática cada vez mais constante nos cultivos no Brasil. As ninfas passam a sugar a planta, ex-
traindo a seiva e, simultaneamente, excretam uma substância açucarada, que é um eficiente meio de cultura para desenvolvimento da “fumagina”, um fungo que impede a realização da fotossíntese e causa a morte da planta. Este inseto também pode ser vetor de viroses em diversas culturas de importância econômica. Os adultos da mosca-branca são de coloração amarelo-pálida. Medem de 1mm a 2mm, sendo a fêmea maior que o macho. Quando em repouso, as asas são mantidas levemente separadas, com os lados paralelos, deixando o abdome visível. A longevidade do inseto depende da alimentação e da temperatura. Do estágio de ovo ao de adulto o inseto pode levar de 18 dias a 19 dias (com temperaturas médias de 32°C). Os ovos, de coloração amarela, apresentam formato de pera e medem cerca de 0,2mm a 0,3mm. São
Juliano Uebel/Phytus Club
de de controle e também pelos danos causados ao produto final destinado à comercialização, constatados desde a década de 1990, quando a praga teve sua ascensão na região dos cerrados brasileiros, acarretando grande aumento no custo de produção. Os adultos podem se dispersar por longas distâncias, mas a frequência e os padrões geográficos dessa movimentação distante ainda são pouco conhecidos. Pela forma como o inseto ataca as lavouras, é considerado por muitos cotonicultores como a principal praga da cultura, pois os danos causados pelo bicudo são quase invisíveis. Caso não seja realizado um monitoramento detalhado e ágil, quando o produtor se dá conta o campo está completamente infestado pela praga e os danos são irreversíveis. O inseto ataca os botões florais, destruindo-os. Os danos são diretos e as injúrias
09
Os danos de alimentação do bicudo comprometem o desenvolvimento normal do botão, o que reduzirá significativamente a produtividade das plantas e a qualidade final do produto
André Shimohiro
10 • Novembro 2016 • Pragas • www.revistacultivar.com.br
depositados pelas fêmeas, de maneira irregular, na parte inferior da folha. A duração dessa fase é de seis a 15 dias, dependendo da temperatura. As ninfas são translúcidas e apresentam coloração amarela a amarelo-pálida. São hospedeiros preferenciais da mosca-branca: algodão, brássicas (brócolos, couve-flor, repolho), cucurbitáceas
(abobrinha, melão, chuchu, melancia, pepino), leguminosas (feijão, feijão-de-vagem, soja), solanáceas (berinjela, fumo, pimenta, tomate, pimentão), uva e em algumas plantas daninhas, como o picão, joá-de-capote e amendoim-bravo. Ocorre principalmente em períodos mais secos e quentes, que favorecem o desenvolvimento e a dispersão da praga,
sendo, por isso, observados maiores picos populacionais na estação seca. Existem diversos métodos que ajudam no controle da mosca-branca, como o controle cultural, que consiste no emprego de práticas agrícolas rotineiras para criar um agroecossistema menos favorável ao desenvolvimento e à sobrevivência desta praga. O plantio
www.revistacultivar.com.br • Pragas • Novembro 2016 •
11
Sobre a UPL
A
UPL, fundada em 1969, possui atuação em 86 países. A empresa conta com 27 Centros Tecnológicos projetados para o desenvolvimento de produtos de alta qualidade. Contabiliza mais de 28 aquisições nos 11 últimos anos e está entre as dez maiores empresas do mundo no segmento de agroquímicos. Investimentos contínuos para fomentar a diferenciação a partir de novas formulações, produtos e combinações inovadoras cada vez menos agressivas ao meio ambiente e à saúde das pessoas fazem parte da política da empresa.
de mudas sadias, que foram cultivadas longe de campos de produção eventualmente já contaminados por vírus, o uso de barreiras vivas que retardam a entrada de adultos da praga na lavoura, as arma-
dilhas, que têm como finalidade atrair e reduzir a população de adultos de mosca-branca e manter a lavoura sempre livre de plantas daninhas hospedeiras de viroses antes do plantio e nos primeiros
dias do estabelecimento da lavoura, além da eliminação de restos culturais e o uso de cultivares resistentes, quando disponíveis, são medidas importantes. Assim como o controle biológico. O controle químico é o mais eficiente e deve ser realizado de forma racional, obedecendo algumas medidas como utilizar produtos registrados para o controle da mosca-branca, nas dosagens recomendadas pelo fabricante, empregando adjuvantes quando indicados. A rotação (espacial ou temporal) dos diferentes modos de ação também é necessária, pois populações resistentes aos diversos princípios ativos podem ser rapidamente selecionadas quando os produtos são aplicados intensivamente. É indispensável ainda não aplicar um só produto de modo isolado, mesmo que tenha sua dosagem aumentada. A chegada do inseticida Sperto, ainda em fase de registro, tem entre seus objetivos aumentar a oferta de produtos que permitam ao produtor rotacionar e melhor prevenir casos de C resistência.
Alexandre Manzini, Killer Abreu e Rafael Pereira, UPL do Brasil
Encarte Técnico: Pragas • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 210 • Novembro 16 • Capa - André Shimohiro Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
www.revistacultivar.com.br