Cultivar 213

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XVIII • Nº 213 • Fevereiro 2017 • ISSN - 1516-358X

Cultivar

Destaques

Nossa capa

Como se movem - 20

A capacidade de penetração dos fungicidas em tecidos foliares e sua relação com a eficácia e diminuição das perdas no campo

Marcelo Madalosso/Phytus Club

Índice Diretas

06

Controle da cigarrinha-do-milho

08

Manejo da adubação em milho

11

Mofo branco em algodão

14

Manejo de lepidópteros

16

Capa - Como se movem os fungicidas

20

Plantas voluntárias que viram daninhas 24

Branco temido - 14

Como enfrentar o mofo branco, uma das principais doenças que afetam o algodoeiro no Brasil

Controle do mofo branco em soja

28

Manejo da mosca branca

30

Manejo de nematoides em cana

32

Coluna Mercado Agrícola

36

Coluna Agronegócios

37

Coluna ANPII

38

Voluntárias daninhas - 24

O combate a plantas voluntárias tolerantes a herbicidas que se transformam em problema em cultivos sucessivos

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor

Gilvan Dutra Quevedo

• Redação

Rocheli Wachholz Karine Gobbi

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

• Revisão

CIRCULAÇÃO

Aline Partzsch de Almeida • Coordenação Simone Lopes

COMERCIAL • Coordenação

Charles Ricardo Echer

• Vendas

Sedeli Feijó

Rithieli Barcelos José Luis Alves

• Assinaturas

Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

• Expedição

Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.



DIRETAS Cinquentenário

Em 2017 a Koppert Biological System comemora o seu cinquentenário e realizará diversas atividades, como um dia de visitação na sede da empresa, na Holanda, e um Simpósio que será realizado em setembro. Ao longo dos últimos 50 anos a Koppert ganhou destaque mundial em proteção biológica de culturas protegidas. Atualmente conta com 1,2 mil funcionários distribuídos em 26 países, incluindo mercados como China, Brasil, Estados Unidos e Rússia. A empresa também exporta para mais de 90 países. “Precisamos avançar para a agricultura e a horticultura que não trabalham contra a natureza, mas em harmonia com ela. Resultando em maior produtividade de alimentos, melhores e mais seguros com menos pressão sobre o ambiente. Essa é a nossa contribuição diária”, avaliou o membro do Conselho Executivo, Henri Oosthoek.

Inovação e tecnologia

A Dow AgroSciences apresentou na Showtec, em Maracaju (MS), conteúdo técnico diferenciado por meio de ferramentas multimídias. Durante o evento, a companhia promoveu discussões para fomentar assuntos de interesse do produtor rural. “A Dow AgroSciences é uma empresa que prioriza a inovação e a tecnologia e incentiva a discussão sobre soluções integradas a fim de informar o agricultor em um processo contínuo, que o atualize conforme as novidades forem surgindo”, destacou o líder de Marketing para Grandes Culturas da companhia, Marcus Fiorini. Um dos destaques da empresa foi o Trio Superprecoce, composto pelos híbridos de milho 2B210PW, 2B346PW e 2A401PW.

Rota Tecnológica

A Dimicron realizou sua quinta edição da Rota Tecnológica no Sul do Brasil. A ação, que contempla palestra sobre a questão da qualidade do solo, passou por municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina e reuniu uma equipe de mais de 100 profissionais do agronegócio. Além de conhecer soluções da Dimicron para a lavoura em propriedades dedicadas à soja e ao milho, pela primeira vez, os participantes da Rota Tecnológica visitaram sementeiras. “Oferecemos ao produtor conhecimento e soluções para que ele tenha o que é essencial para uma produtividade consistente e em constante melhoria”, explicou o gerente de Desenvolvimento da Dimicron, Alyson Pereira.

Desafio

Alyson Pereira

Mudança

Jonas Cuzzi

Manejo responsável

A UPL marcará presença no Show Rural Coopavel para reforçar a importância de um manejo de qualidade e responsável. Segundo o gerente comercial da empresa, Marcelo Figueira, a feira é uma ótima oportunidade para levar ao produtor rural conhecimento sobre as principais ameaças à lavoura e, principalmente, sobre as medidas preventivas. “Mais importante do que expor nossos produtos é alertar o agricultor sobre as ameaças a que ele está exposto para, assim, poder atuar de forma pontual e eficaz no combate destes males”, explica Figueira. Entre outros produtos a UPL apresentará em seu estande a linha Unizeb, com os fungicidas Unizeb Gold e Unizeb Glory com foco no cultivo de milho.

Para fortalecer as estratégias de negócios da companhia e estreitar o relacionamento com os clientes, a FMC Agricultural Solutions promove o profissional Jonas Cuzzi para o cargo de gerente de Acesso ao Mercado e CRM Brasil. “Estou com grandes expectativas. Desenvolver uma agricultura produtiva, facilitando o acesso dos agricultores aos nossos produtos e tecnologias através da aproximação da FMC aos seus clientes é a nossa missão. Assim, acredito que podemos contribuir com uma agricultura de qualidade e que conceda rentabilidade aos produtores. Esse é o meu objetivo”, explicou Cuzzi.

06 Fevereiro 2017 • www.revistacultivar.com.br

Marcelo Figueira

O diretor de Marketing de CropProtection da Dow AgroSciences, Christian Pereira, passou a acumular também a função de diretor de Comunicação da companhia. Com formação em Veterinária e Administração, Pereira possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MBA em Marketing pela Fundação Instituto de Administração da USP. Além de larga experiência em empresas do segmento de alimentos e agroquímicos. O executivo assumiu em dezembro a área, que até então era ocupada por Marilene Iamauti. O setor de Government Affairs, também sob responsabilidade da executiva, passa a ser liderado pelo diretor global da área, Christian Pereira Theodore Verheggen.


Aliança estratégica

A Agro-Sol Sementes, empresa que atua há 17 anos na produção de sementes de soja, e a InVivo – o maior grupo de cooperativas agrícolas francesas, com presença em 30 países – assinaram acordo constituindo uma joint venture entre InVivo Agrosciences e Cultivo Participações - holding pertencente às famílias Dallastra e Tomazelli, fundadores da Agro-Sol - para investimentos no mercado brasileiro de sementes de soja. “Temos um plano de crescimento de longo prazo, revisado e respaldado pelo Grupo InVivo, que iniciou as negociações conosco ainda em 2015. Com esta parceria, esperamos ampliar nossa atuação no mercado colocando à disposição do agricultor produtos e serviços de excelência”, projeta o diretor administrativo da empresa, Eduardo Caramori Dallastra.

Patrulha

A partir de agora, a Bayer oferece ao produtor o Patrulha Percevejo, serviço de monitoramento de percevejos nas lavouras de soja e milho com objetivo de diminuir o prejuízo da praga no campo. O serviço está disponível para clientes do Paraná e Mato Grosso do Sul participantes do Programa de Pontos da empresa. Até o momento, mais de 70 mil hectares de soja foram monitorados. De acordo com o gerente de clientes da Bayer, Tiago Nascimento, o grande benefício deste monitoramento é a identificação do momento ideal para entrar com as aplicações de inseticidas nas lavouras, tendo assim um melhor aproveitamento dos produtos utilizados. “O monitoramento é a chave para o sucesso do controle desta praga. O foco do serviço é resolver este grande problema e ajudar o produtor a alavancar sua produtividade.”

Tiago Nascimento

Soluções

Novidades

A Arysta LifeScience participou do 14º Dia de Campo da Cocari, realizado pela Cooperativa Agropecuária e Industrial, com programação focada nas culturas de verão. “A Arysta é uma empresa parceira, que conhece o agronegócio e está comprometida com a busca de soluções inovadoras e confiáveis. É o caso das Biossoluções, que envolvem o uso de produtos sustentáveis, que respeitam o meio ambiente e proporcionam alta produtividade”, ressalta o gerente de Marketing da Região Sul, Ricardo Dias. Como exemplo, a Arysta apresentou o novo herbicida Select One Pack, com formulação diferenciada, prático e eficiente no combate às plantas daninhas mais resistentes.

Eduardo Eugênio

Crescimento

Ricardo Dias

Combate

Marcelo Okamura

A Basf leva ao Show Rural Coopavel suas principais soluções voltadas ao manejo fitossanitário da soja. Os destaques da empresa são os produtos Ativum EC e Standak Top. O Ativum EC é recomendado para o controle da ferrugem-asiática na soja, além de outras doenças como mancha-amarela no trigo e ferrugem-tropical no milho. “O produto é o primeiro no mercado com triplo mecanismo de ação, sendo efetivo nas diferentes fases da cultura. O novo fungicida foliar também contribui para o manejo de resistência aos fungos”, destaca o gerente de Marketing de Território da Basf, Eduardo Eugênio. Já para o tratamento de sementes de soja, a empresa oferece o Standak Top, produto que reúne características fungicida e inseticida, além de ter os benefícios do sistema AgCelence.

A DuPont Proteção de Cultivos apresenta, com destaque na edição 2017 do Show Rural Coopavel, o novo fungicida Vessarya, que recebeu nos últimos dias o registro oficial dos órgãos reguladores e passará a ser comercializado em breve. Segundo a empresa, Vessarya reúne na fórmula as moléculas picoxistrobina e benzovindiflupir, consideradas as mais ativas de seus grupos químicos no controle de doenças da oleaginosa, especialmente da ferrugem-asiática. “Trata-se de uma solução tecnológica inovadora, que dispensa o uso de adjuvantes e proporciona resultados excepcionais na comparação às demais tecnologias do mercado”, assinala o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da DuPont, Marcelo Okamura.

Instalada no país desde 2000, a Alltech Crop Science tem se consolidado no mercado brasileiro por meio de suas soluções naturais para os desafios da agricultura. Em 2016, a divisão agrícola do grupo Alltech Inc. apresentou crescimento de aproximadamente 30% em faturamento, média constante nos últimos cinco anos da empresa. Número impulsionado pelos R$ 4 milhões investidos, em 2016, sendo a maior parte do montante voltada para a nova fábrica em Uberlândia (MG), inaugurada em setembro. Com o empreendimento, a capacidade produtiva da empresa foi elevada em 150%. “A nova unidade nos deu sustentação para mantermos o ritmo forte de crescimento, permitindo o processo de abertura de novas áreas de atuação”, afirma o diretor comercial da Alltech Crop Science no Brasil, Ney Ibrahim.

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Milho

Cigarra agressiva Fotos Germison Tomquelski

A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é uma praga cuja incidência tem aumentado nas lavouras brasileiras. Capaz de transmitir vírus e provocar doenças como o enfezamento, este inseto tem impacto negativo sobre a produtividade e a qualidade dos grãos. Seu manejo passa por estratégias integradas, que incluem o tratamento de sementes com inseticidas

O

sistema de produção na cultura do milho tem apresentado, ano após ano, problemas com advento de certas alterações no sistema. Pragas secundárias têm passado a status de primárias. A cultura do milho está sujeita ao ataque de diversos insetos desde a germinação à colheita. Dentre a diversidade de pragas, a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) (Hemiptera: Cicadellidae) teve sua ocorrência constatada no Brasil há vários anos e tem aumentado a frequência nas lavouras de milho em todo o País, causando danos significativos às plantas e exigindo ações de controle. Este hemíptero, quando na fase adulta, mede de 3mm a 4,5mm de comprimento, sendo de coloração amarelo-palha. É frequentemente encontrado no cartucho do milho. O ovo, amarelado, apresenta um período embrionário em torno de nove dias, sendo colocado dentro dos tecidos das plantas, preferencialmente na nervura central da folha. As ninfas passam por cinco instares,

por um período médio de 17 dias - 20 dias. O ciclo completo varia de 23 dias a 60 dias. D. maidis se caracteriza por sugar a seiva, o que consequentemente resulta na diminuição do desenvolvimento das plantas. Outro fator importante, e atualmente o principal, é o efeito indireto através da transmissão de patógenos, sendo viroses e enfezamentos (corn-stunt). Estas pragas, em altas populações, ao sugarem a seiva e expelir parte do ingerido, podem favorecer a presença de fumagina nas folhas. No entanto, é importante salientar que outras pragas também levam a este sintoma na cultura. Este inseto é considerado como uma das mais sérias pragas de milho na América Latina devido à sua capacidade de transmitir, de forma persistente e propagativa, o vírus da risca do milho (maize rayado fino vírus - marafivirus – MRFV) e dois molicutes associados aos enfezamentos, Spiroplasma kunkelii (corn stunt spiroplasma – CSS, também chamado de enfezamento pálido) e o fitoplasma (maize bushy stunt phytoplasina – MBSP, conhecido

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ainda como enfezamento vermelho) (Naut, 1990) (Oliveira et al, 2003) (Martins et al, 2008). Os prejuízos, de modo geral, levam a perdas médias em algumas regiões na ordem de 10% a 30% de produtividade. No entanto, pode se chegar a 100% de prejuízos com o ataque de viroses e enfezamentos. De modo geral, a região Centro-Oeste do Brasil apresenta uma grande diversidade de ambientes onde se observam áreas com cultivos de verão e 2ª safra (“safrinha”), áreas somente com o cultivo de verão e áreas com até 2,5 safras (áreas irrigadas onde o produtor, em função do mercado, faz a escolha do período a semear a cultura do milho, diante da condição econômica). Em regiões com sistemas de produção em que a cultura do milho é mais intensiva, tem se observado aumento generalizado de D. maidis. A cigarrinha-do-milho apresenta ocorrência nas diversas fases da cultura. No entanto, pode ser considerada como uma praga inicial. É interessante relatar que na grande maioria


Folha com sintomas de alimentação-postura da praga

dos casos, as altas populações têm ocorrido na fase inicial. Nesta fase a planta de milho apresenta o seu colmo com menor diâmetro e desta forma a cigarrinha consegue alcançar os vasos de condução de seiva (floema) com estilete. Consequentemente, estes vasos são em parte obstruídos, causando menor desenvolvimento das plantas. Plantas com enfezamentos (sintoma do ataque de D. maidis) tendem a apresentar

Cigarrinha presente no cartucho do milho

estrias amareladas, avermelhamento de folhas (começando pelo ápice e nas margens), amarelecimento, diminuição no porte da planta, ocorrendo também a diminuição no tamanho de espigas. As plantas adquirem normalmente os vírus e fitoplasmas na fase inicial, mas mostram os sintomas nas fases posteriores como pendoamento e mesmo próximo à colheita. Vários estudos mostram que a planta, ao adquirir a doença na fase inicial, tende a

mostrar maiores prejuízos, levando até mesmo à não formação da espiga. Em muitos casos, no Brasil, devido ao menor desenvolvimento, as plantas tendem a cair pela ação do vento, levando a prejuízos por ocasião da colheita e dificuldades nesta operação. Também são observadas diferenças entre materiais no mercado em função do ataque desta praga, devendo o produtor estar atento à opção daqueles com melhor desenvolvimento/


Efeito do Tratamento de sementes (TS), Pulverizações (4 aplicações aos 7, 14, 21 e 28 dias após a emergência) e da associação TS + Pulverizações (4 aplicações aos 7, 14, 21 e 28 dias após a emergência) no controle de Dalbulus maidis na cultura do milho. Fundação Chapadão. Julho/2016-janeiro de 2017. G.91

épocas de semeadura, controle biológico e controle químico. Entre as estratégias químicas, o tratamento de semente com os inseticidas neonicotinoides (imidacloprid, thiametoxan e clotianidina) tem promovido bom controle desta população, podendo ser consideradoo controle da primeira população migrante no cultivo. Esta estratégia tem mostrado eficiências até os 15 dias e 20 dias após a emergência da cultura. O tratamento de sementes é uma modalidade de aplicação que apresenta algumas vantagens, como preservar parte dos inimigos naturais, não afetando a dinâmica nas culturas. Porém, apesar de ser um método eficaz, é preciso ter em mente que mesmo com o uso do melhor inseticida é esperado um certo nível de ataque da praga, pois como a plântula encontra-se tratada, haverá a necessidade de consumo para que ocorra o controle. Trabalhos têm mostrado que o tratamento de sementes apresenta controle favorável da praga (Martins et al, 2008), sendo recomendadas pulverizações após a emergência da cultura do milho mesmo com o produtor adotando esta medida de manejo. As pulverizações, se necessárias, podem ser realizadas nor-

malmente até o estádio de V8-V9 na cultura do milho (Fancelli et al 1997), onde a praga diminui os seus prejuízos. No entanto, em campos de produção de sementes, podem ser pulverizados até o estádio de pendoamento. Estas pulverizações tendem a complementar a estratégia do tratamento de sementes, sendo fundamental para o controle de populações migrantes de outras culturas, principalmente em ambiente com migrações de outras lavouras (ver Gráfico). Nos últimos trabalhos realizados na Fundação Chapadão, nas safras 2015/2016 e 2016/2017, foi observado que a produtividade da cultura pode ser comprometida em mais de 50%. O conhecimento da praga, a boa amostragem e as definições de estratégias integradas de controle são ferramentas que auxiliam o produtor no controle da cigarrinha e consequentemente propiciam o aumento dos índices de produção e produtividade da C cultura do milho. Patricia Mariano, João Vitor Bettiol, Ana Beatriz Spadoni e Germison Tomquelski, Fundação Chapadão

Fotos Germison Tomquelski

estabelecimento de colmo, o que pode diminuir os prejuízos. Além dos danos diretos e indiretos desta praga, vale salientar que ao promover menor desenvolvimento das plantas, o inseto pode provocar alterações no manejo da cultura, pois espaços com plantas menores favorecem a emergência de plantas daninhas, que além de serem competidoras por recursos, diminuem a produtividade e afetam também a qualidade dos grãos produzidos. O crescente aumento dos problemas de enfezamento se deve à presença de tigueras de milho, ou mesmo regiões e áreas em que se tem a 3ª safra normalmente irrigada. Devido à adoção da tecnologia de resistência de plantas ao efeito de herbicidas, tem-se a presença de tigueras da cultura antecessora na atual, o que resulta na oferta de alimento à praga, aumentando consequentemente sua população. Além do milho, existem diversos outros hospedeiros para D. maidis, como cana-de-açúcar, sorgo e plantas daninhas: Eleusine indica (capim-pé-de-galinha), Digitaria horizontalis (capim-colchão), entre outras. No manejo integrado desta praga devem ser levados em consideração todos os aspectos, como eliminação de hospedeiros, definição de

Efeito do Tratamento de sementes (TS), Pulverizações (4 aplicações aos 7, 14, 21 e 28 dias após a emergência) e da associação TS + Pulverizações (4 aplicações aos 7, 14, 21 e 28 dias após a emergência) no controle de D. maidis e seu reflexo na produtividade em sacas por hectare na cultura do milho. Fundação Chapadão. Julho/2016-janeiro de 2017. G.91

Detalhe da parcela sem tratamento e parcelas ao lado com TS e TS + pulverizações

10 Fevereiro 2017 • www.revistacultivar.com.br

Presença de tigueras de milho anterior à semeadura


Milho

C. Kappes

Adubação de arranque

O adequado manejo da adubação tem se mostrado fundamental para garantir altas produtividades e retorno econômico na cultura do milho, tanto no verão como na safrinha. A oferta adequada de nutrientes deve ocorrer desde os estádios iniciais, quando a demanda é grande e o sistema radicular ainda é pequeno, explorando poucos centímetros de solo ao redor das plântulas recém-emergidas

A

produção de milho passou por grandes transformações no Brasil nos últimos 20 anos. Houve mudança espacial, com o avanço da cultura para a região Centro-Oeste e recentemente para os chapadões do Maranhão, Piauí e Tocantins, com perda de área em regiões tradicionais de milho, especialmente nas de baixa altitude (Paraná e São Paulo), e mudança temporal, com a maior parte da área do milho verão sendo substituída pela da soja, passando a ser cultivado preferencialmente na segunda safra, em sucessão a esta leguminosa. O milho verão ficou concentrado em regiões de elevada altitude, onde as temperaturas noturnas são amenas e o estresse hídrico/térmico é menos frequente, com ênfase na rotação com a soja. O aumento da produtividade do milho na primeira safra (Figura 1) tem ocorrido pela referida concentração da produção em regiões e épocas mais favoráveis e também pelo lançamento de cultivares de alto potencial produtivo e modernização das práticas culturais, destacando-se o adensamento populacional, o aumento das doses na adubação, especialmente da nitrogenada, a melhoria na uniformidade de distribuição das sementes e a proteção efetiva das plantas contra pragas e

doenças, incluindo a tecnologia transgênica Bt e os fungicidas, respectivamente. Já o aumento da produtividade do milho safrinha (segunda safra em sucessão à soja e sem irrigação) decorre de fatores mais complexos, pois a cultura é desenvolvida em ambientes com elevada frequência de estresse hídrico e, ao sul do Paralelo 22, com estresse pelo frio, incluindo geadas (Duarte, 2004). O aumento mais expressivo na produtividade do milho safrinha ocorreu a partir do início deste século (Figura 1), devido principalmente à substituição de cultivares de soja de ciclo tardio por precoces, à antecipação da semeadura e colheita da soja e, consequentemente, da semeadura do milho safrinha.

FATORES CRÍTICOS

Entre os fatores críticos que podem ser melhorados, prioritariamente, para aumentar a produtividade da cultura do milho e a lucratividade do agricultor, destacam-se o arranque inicial pouco vigoroso e a presença de plantas sem espigas (“dominadas”) e/ou espigas pequenas ou malformadas (grãos ausentes ou leves na ponta do sabugo). Quanto mais rápido e uniforme ocorrer a emergência, menor o tempo em que a

plântula fica exposta às pragas e aos patógenos que a atacam nos estádios iniciais de desenvolvimento. O trânsito de colhedoras em solo muito úmido proporciona faixas de solo compactado e a inadequada regulagem do picador de palha causa distribuição desuniforme dos restos culturais. Esses fatores levam à desuniformidade na profundidade de semeadura. Logo, em uma mesma área, as sementes são depositadas em sulcos rasos até muito profundos e/ou sem aderir ao solo. Outra possível causa é o manejo inadequado da adubação, por não proporcionar o arranque vigoroso de todas as plantas, por exemplo, devido ao efeito salino da adubação com potássio no sulco e à deficiência de nitrogênio quando aplicado somente em cobertura, como ocorre frequentemente no milho safrinha na região Centro-Oeste brasileira.

ADUBAÇÃO DE ARRANQUE

Nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho a demanda por nutrientes é grande e o sistema radicular ainda pequeno, explorando poucos centímetros de solo ao redor das plântulas recém-emergidas. O estádio de cinco folhas é crítico, pois é quando tem início a diferenciação floral (Fancelli & Dourado

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Figura 1 - Produtividade média do milho na primeira e na segunda safra no Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e nas regiões tradicionais de cultivo de milho (Paraná e São Paulo) no período 1984 a 2015. Fonte: Conab, Séries Históricas

Neto, 1996) e ocorre muito cedo, cerca de três semanas após a semeadura. Acrescenta-se que, do total acumulado pelo milho, entre 60% e 70% do nitrogênio e entre 65% e 85% do potássio são absorvidos até o florescimento, que corresponde à metade da duração do ciclo da cultura (Cantarella & Duarte, 2004). Os fertilizantes são aplicados preferencialmente na semeadura, pelos fatores já mencionados. Porém, no caso do nitrogênio, o parcelamento na semeadura e em cobertura permite, de maneira geral, maior eficiência de uso do nutriente proveniente do fertilizante, pois no momento da cobertura o sistema radicular está crescendo rapidamente e explorando maior volume de solo. O potássio também é parcelado em cobertura, para evitar possível efeito salino, quando os fertilizantes NPK são aplicados no sulco de semeadura. A omissão do nitrogênio na semeadura com aplicação de todo o fertilizante em pré-semeadura ou em cobertura, após a emergência das plantas, pode acarretar prejuízos. Na safra de verão, Duarte & Cantarella (2005)

Figura 2 - Resposta média dos híbridos DKB 333B e Master ao nitrogênio aplicado todo em cobertura e parcelado na semeadura (60kg/ha) e o restante em cobertura, em Votuporanga (solo textura arenosa), no sistema plantio direto. Fonte: Duarte (2003)

verificaram que a omissão de nitrogênio na semeadura, em comparação à dose de 60kg/ ha no sulco de semeadura mais cobertura, reduziu o potencial produtivo da cultura e a eficiência da adubação nitrogenada (Figura 2). Em milho safrinha, o mesmo efeito foi constatado por Duarte & Kappes (2016), em São Paulo e Mato Grosso, ao estudarem o efeito da adubação de cobertura, no estádio de cinco a seis folhas, na presença e ausência de 39kg/ ha de N na semeadura (Figura 3). Ressalte-se que a maioria do milho safrinha na região Centro-Oeste é cultivada sem nitrogênio na semeadura, aplicando-o apenas a lanço em cobertura. A simples antecipação da adubação nitrogenada a lanço, de preferência, para o momento da semeadura, pode aumentar substancialmente a rentabilidade da cultura nesta região. A antecipação da adubação nitrogenada, que seria aplicada em cobertura no milho para o momento do manejo da espécie cultivada para a produção de palha no outono-inverno, tem sido praticada em algumas áreas em sis-

tema de plantio direto com grande acúmulo de matéria orgânica e palhada, pela facilidade operacional, pois os agricultores têm tempo e máquinas livres no final do inverno. O argumento é que o nitrogênio aplicado na aveia pode ser imobilizado momentaneamente pela matéria orgânica presente no sistema, em especial pelos resíduos com alta relação C/N, e se tornar disponível para a cultura do milho posteriormente, pois os fatores que favorecem a mineralização do nitrogênio retido na fração orgânica – alta temperatura e umidade – são os mesmos que promovem o crescimento do milho. Porém, apresenta riscos de grandes perdas de nitrogênio por lixiviação e decréscimos no aproveitamento do nitrogênio fertilizante e na produtividade de grãos em anos com precipitação pluvial alta no período que antecede ao plantio do milho, como é frequente no verão. A técnica que agora se discute é o aumento da dose do nitrogênio aplicado na semeadura para melhorar o arranque das plantas. O nitrogênio na semeadura tem crescido gradativamente no Brasil, assim como a primeira

Figura 3 - Resposta do milho safrinha 2B587 PW ao nitrogênio em cobertura no estádio de cinco folhas, sem e com aplicação de nitrogênio no momento da semeadura (39kg/ ha), em Sapezal (MT) e Pedrinhas Paulista (SP). Fonte: Duarte & Kappes (2016)

12 Fevereiro 2017 • www.revistacultivar.com.br


Figura 4 - Resposta do milho DKB 290 PRO3 ao nitrogênio aplicado todo no sulco de semeadura, em comparação à aplicação na semeadura (36kg/ha) mais cobertura no estádio de cinco folhas, em Mococa (A) e Votuporanga (B), estado de São Paulo, safra 2015/16. Fonte: Duarte & Cantarella (2016)

(ou única) aplicação em cobertura tem sido feita cada vez mais cedo. Mas, qual é a dose máxima que se pode aplicar na semeadura? A resposta depende principalmente dos seguintes fatores: a) o modo de aplicação do fertilizante na semeadura - no sulco ou a lanço; b) do espaçamento entre linhas; e c) da textura do solo. Doses elevadas aplicadas no sulco de semeadura podem provocar efeito salino e comprometer o desenvolvimento inicial de parte das plantas e, em casos extremos, o estande. De maneira geral, a soma das doses de N e de K2O no sulco de semeadura não deve ultrapassar 80kg/ha, principalmente se o formulado contiver também sulfato e/ou o espaçamento entre linhas for entre 80cm e 90cm (em espaçamentos reduzidos, por exemplo, 45cm a 50cm, a quantidade de fertilizante distribuída por metro linear no sulco de semeadura é menor, pois ocorre distribuição em maior número de linhas). A lixiviação é maior em solos arenosos que em solos argilosos, aumentando o risco de perdas do nitrogênio aplicado na semeadura antes da absorção pelas raízes; o volume de solo explorado pelas raízes é muito pequeno imediatamente após a emergência das plântulas. Neste caso, a maior parte do nitrogênio deve ser aplicada em cobertura, em uma ou mais vezes. Ao comparar a aplicação da dose

total apenas na semeadura com a aplicação de 36kg/ha de N na semeadura acrescido de nitrogênio em cobertura, no estádio de cinco folhas, Duarte & Cantarella (2016) verificaram que o parcelamento foi fundamental para obter melhores produtividades em Votuporanga (São Paulo), em solo arenoso, mas pouco efetivo em Mococa (São Paulo), em ambiente de baixo potencial produtivo e solo argiloso (Figura 4). É importante mencionar que fertilizantes de liberação lenta estão sendo desenvolvidos para aplicação em alta dose na semeadura, ofertando parte do nutriente imediatamente após a aplicação e parte por tempo prolongado, minimizando as perdas por lixiviação. A consolidação da semeadura direta e de dois cultivos por ano na mesma área, juntamente com a melhoria da fertilidade do solo, permitiu a adoção da adubação de sistemas. Em solos com acidez corrigida e teores de fósforo e potássio acima do nível crítico, a recomendação da adubação é feita por ano agrícola, e não exclusivamente para cada cultura, utilizando como referência a reposição dos nutrientes exportados pelos grãos. Acrescenta-se que na maioria das lavouras dos chapadões do Centro-Oeste, Maranhão e Tocantins, os fertilizantes contendo NPKS são aplicados a lanço. Devido ao apelo operacional,

com janelas curtas para a realização das operações de colheita da soja e semeadura do milho safrinha, é comum aplicar todo o fósforo (e às vezes enxofre) na pré-semeadura da soja e apenas nitrogênio e potássio no milho safrinha. A adubação de sistemas não se deve restringir aos critérios do balanço de nutrientes e da facilidade operacional, mesmo em solos de fertilidade construída. Estudos realizados pelo IAC e Fundação MT revelaram o efeito de arranque da adubação fosfatada no milho safrinha, associado ao nitrogênio e/ou enxofre, aumentando sua produtividade, sem prejuízo na soja em sucessão, onde o fósforo deixou de ser aplicado parcialmente ou totalmente. Porém, este efeito não é evidente em ambientes com teor de fósforo muito alto (próximo ou superior a duas vezes o valor do nível crítico) e/ou potencial produtivo limitado (Figura 3). Portanto, o adequado manejo da adubação tem se mostrado fundamental para garantir altas produtividades e retorno econômico na cultura do milho no verão e na safrinha. C Aildson Pereira Duarte e Heitor Cantarella, Instituto Agronômico (IAC) Claudinei Kappes, Fundação MT


Algodão

Branco temido

Fotos Alfredo Riciere Dias

Causador de uma das principais doenças que ocorrem em algodoeiro no Brasil, Sclerotinia sclerotiorum é extremante dependente das condições climáticas favoráveis à sua incidência e ao seu desenvolvimento na cultura. Sementes costumam ser o modo mais eficiente de contaminação de áreas anteriormente livres do patógeno. A integração de vários métodos de controle, como genético, cultural, físico, químico e biológico, é necessária para manter uma sanidade maior frente a este problema fitossanitário

O

mofo branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença que ocorre de maneira esporádica nas regiões de cerrado. Na atualidade pode ser considerado uma das principais doenças que ocorrem na cultura do algodoeiro no Brasil. O fungo ataca diversas espécies de plantas em diferentes regiões do mundo, sendo assim, também é importante em outras culturas hospedeiras.

A importância desta doença é extremante dependente das condições climáticas favoráveis à incidência e ao desenvolvimento do fungo na cultura, podendo provocar redução na produtividade do algodoeiro, principalmente quando se tem cultivo sucessivo de culturas hospedeiras, como a soja e o feijão. Diversas regiões produtoras proporcionam condições favoráveis à doença, como todos os estados do Centro-Oeste do Brasil, bem

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como Bahia, Minas Gerais e São Paulo, locais que apresentam anos de clima chuvoso, temperatura amena e alta umidade relativa do ar, sendo fundamental quando ocorrem durante o período de florescimento. O início da infecção se dá a partir da presença de escleródios na área e/ou uso de sementes infectadas. As lesões começam na junção do ramo reprodutivo com o pecíolo, local onde normalmente ficam aderidas flores do algodoeiro que após a fecundação formam substrato para o inóculo primário do patógeno. Posteriormente os tecidos infectados apresentam coloração amarela evoluindo para marrom, produzindo uma podridão mole seguida da morte dos ramos. Com a presença de umidade, ocorre a formação do micélio branco em praticamente todo o tecido lesionado pelo fungo (Figura 1), formando uma massa compactada e endurecida de coloração escura, os escleródios, ocasionando a morte dos ramos infectados. O mesmo sintoma ocorre principalmente nas maçãs e provoca a formação de escleródios tanto internamente como externamente, limitando o número de estruturas reprodutivas viáveis (Figura 2). Uma característica deste patógeno é o desenvolvimento de escleródios, que consiste na estrutura de sobrevivência do mofo branco, podendo permanecer viável por 14 meses na superfície do solo e por aproximadamente 36 meses quando enterrados (Reis e Tomazini, 2005). Em função desta característica se faz necessário adotar várias estratégias de manejo como, por exemplo, controles cultural, biológico e químico. Quando estes escleródios, na presença do hospedeiro, são submetidos a condições climáticas favoráveis, tem-se a formação da estrutura de reprodução conhecida como apotécio (Figura 3), que libera o ascósporo e irá infectar a planta. É neste momento que algumas estratégias de controle podem reduzir o progresso do patógeno, como formação de palhada oriunda de gramínea exposta de modo


Figura 1 - Sintomas de S. sclerotiorum na planta de algodoeiro

Figura 2 - Sintomas de S. sclerotiorum, com formação de escleródios tanto interna como externamente

Figura 3 - Escleródio de S. sclerotiorum, formação da estrutura de reprodução conhecida como apotécio

uniforme no solo (Figura 4) - que servirá de barreira física e impedirá que os ascósporos cheguem ao órgão reprodutivo da planta -, ação de fungos antagonistas no escleródio e apotécio (controle biológico), rotação de culturas, população de plantas e espaçamento entre linhas adequado. Outra estratégia de controle, em que a formação de palha atua, consiste na formação de um microclima favorável, podendo induzir a germinação do escleródio na ausência de seu hospedeiro. Desta maneira irá interromper o ciclo do patógeno e invibializar o escleródio, pois uma vez germinados raramente germinam novamente. Tais estratégias ajudaram a reduzir a quantidade de inóculo inicial para a próxima cultura. O uso do controle químico, através da aplicação de fungicidas foliares, pode, neste momento, ser adotado como uma estratégia de controle. Estes produtos atuam como proteção das plantas, desde que aplicados de forma preventiva, podendo proteger a planta da principal forma de infecção que ocorre pela colonização de flores do algodoeiro por ascósporos. Neste sentido, desde a safra 2009/2010 a Fundação Chapadão e a UFMS realizam ensaios a campo com o objetivo de gerar resultados de pesquisa para auxiliar o registro e as recomendações de fungicidas para esta do-

ença. Os resultados destas pesquisas revelam a viabilidade do controle químico, sendo que sua eficácia depende da dose, do momento da aplicação, do número e do intervalo entre as pulverizações (Figura 5). S. sclerotiorum pode ser disseminado por máquinas, porém seu meio mais eficiente de contaminação de áreas anteriormente livres do patógeno são as sementes, que podem conter escleródios misturados ou micélio aderido na parte exterior e/ou nos tecidos internos. Tal aspecto justifica a importância do uso de sementes livres do fungo como ferramenta primordial na supressão do inóculo inicial e impedimento da contaminação de áreas livres do patógeno. O mofo branco está presente no algodoeiro cultivado na região dos Chapadões, sendo necessária a integração de vários métodos de controle de doenças como genético, cultural, físico, químico e biológico, a fim de manter uma sanidade maior da cultura, que acarretará em ganhos de produtividade ao produtor frente a este C problema fitossanitário.

AS DOENÇAS

Alfredo Riciere Dias, Fundação Chapadão Hugo Manoel de Souza e Gustavo de Faria Theodoro, UFMS

O

algodoeiro (Gossipyum hirsutum L.) é uma das culturas mais tradicionais no Brasil, constituindo-se na cadeia agroindustrial de maior desenvolvimento dentro do agronegócio brasileiro. A partir da década de 1990, quando o Brasil apresentava-se como o maior importador mundial de algodão, o país tornou-se exportador impulsionando expressivamente a parcela da produção interna devida ao agronegócio. A atividade, que antes era exercida quase que exclusivamente por pequenos produtores e com mão de obra intensiva, passa a ser desenvolvida em grandes propriedades e sistemas de produção altamente tecnificados. A incidência de doenças pode reduzir significativamente a produtividade da cultura, que além de causar grandes perdas de rendimento, pode gerar danos à qualidade do produto ou até inviabilizar determinadas áreas para o cultivo.

Figura 5 - Produtividade (@.ha-1) de algodão em caroço, em função dos diferentes fungicidas utilizados no controle de mofo branco. Colunas seguidas de cores iguais não diferem entre si (Skott-Knot, 5%). Coeficiente de variação (%) 2,74. Chapadão do Sul (MS)

Figura 4 - Palhada oriunda de gramínea exposta de modo uniforme no solo

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Pragas

Manejo de lepidópteros

Pragas como Helicoverpa, Heliothis, Chrysodeixis, Anticarsia, Elasmopalpus, Spodoptera, Alabama, Mocis, Pectinophora, Elaphria, Striacosta e Agrotis estão entre as que demandam sérios cuidados nos sistemas agrícolas. Manejar corretamente estes insetos passa por compreender sua dinâmica, adotar uma visão sistêmica de todo o processo produtivo e resgatar práticas consagradas que foram abandonadas ao longo dos anos

O

s sistemas produtivos agrícolas estão cada vez mais em evidência, demonstrando que atitudes pontuais não são capazes de afetar eficientemente o resultado final e garantir a rentabilidade desejada na agricultura. No manejo das pragas agrícolas pensar no sistema produtivo agrícola não é diferente, e entre as pragas, lepidópteros (borboletas e mariposas), caracterizados pela presença de escamas (“lepido”) que cobrem o corpo e as asas (“ptero”) dos insetos, merecem atenção especial pela quantidade de pragas deste grupo. No seu ciclo de vida, na fase jovem (quando são chamadas de lagartas e taturanas) mostram-se grandes devoradores de folhas e constituem importantes pragas agrícolas, podendo também atacar grãos e farinhas. Como curiosidade vale lembrar que as borboletas, pela beleza das suas asas, são muito apreciadas por artistas e colecionadores. Os insetos estão sobre a Terra há mais de 350 milhões de anos. Atravessaram todos os tipos de intempéries ambientais, inclusive uma colisão de asteroides que provavelmente

vitimou todos os dinossauros e criou-se a Era Glacial. Neste contexto seria muito ingênuo que a interferência humana seria capaz de acabar com essas pragas nas lavouras. Resta, então, aprender a conviver ou aplicar os conceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP). O tema de interesse dos lepidópteros nos sistemas produtivos agrícolas compreende pragas como Helicoverpa, Heliothis, Chrysodeixis, Anticarsia, Elasmopalpus, Spodoptera, Alabama, Mocis, Pectinophora, Elaphria, Striacosta, Agrotis e outras mais. É necessário entender o sistema produtivo agrícola como aquele composto de vários cultivos, onde existem várias práticas comuns de manejo associadas a uma espécie vegetal como a soja, o milho ou o algodão, por exemplo. Tudo isso em uma região onde há uma interligação entre essas culturas agrícolas ou lavouras. É por isso que porteiras não resolvem os problemas de pragas como os lepidópteros, que voam a centenas de quilômetros. A interligação entre as culturas agrícolas em uma região ou até mesmo em um continente garante o fluxo de lepidópteros de uma

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região a outra, de uma lavoura a outra e de uma cultura a outra. Os procedimentos adotados por um agricultor refletem diretamente na dinâmica das populações destas pragas, portanto, as estratégias devem ser conjuntas e coordenadas para surtirem resultados mais positivos, o que reforça a perspectiva sistêmica do processo agrícola.

OS DANOS PROVOCADOS PELOS LEPIDÓPTEROS

Antes da tomada de decisão de controle de lepidópteros é imprescindível o conhecimento sobre os danos e seus potenciais sobre as lavouras, uma vez que nem sempre são iguais para cada cultura agrícola. Em um determinado cultivo o dano poderá ser maior ou menor. O estudo do dano pode ser aprofundado quando se reconhecer que em uma mesma cultura este poderá ser diferente em função da fase de desenvolvimento da planta. Normalmente na fase vegetativa as plantas têm maior capacidade de superar as injúrias provocadas pelas lagartas, exceto na fase de emergência, onde o dano pode resultar na morte da planta.


Fotos Evaldo Takisawa

Chrysodeixis parasitada através de controle biológico

Os lepidópteros podem atacar estruturas vegetativas como folhas e caules de plantas, assim como botões florais, flores, frutos e grãos secos. O tipo de prejuízo deve ser caracterizado individualmente e essas informações estabelecerão o rigor do controle em cada fase da cultura. Determinarão gravidade, urgência e tendência do ataque das lagartas de modo a orientar a prioridade na tomada de decisão de manejo.

Chrysodeixis em fase de lagarta sobre as folhas

A tendência de uma praga, quando observado que não existem elementos naturais capazes de estabelecer o equilíbrio dos lepidópteros, é de levar danos para outros cultivos. Por exemplo, o milheto, cultura muito difundida entre os cotonicultores no Mato Grosso para estabelecimento da cobertura vegetal e que é acometida pela Spodoptera. Nesta cultura os cuidados focam a desfolha, e os níveis de controle são superiores aos adotados quando

o foco da Spodoptera passa a ser o estabelecimento da plântula do algodão. Neste caso o controle deve ser realizado ainda no milheto, quando a semeadura do algodão se aproxima.

ESTRATÉGIAS DE MANEJO

Entre as estratégias de manejo há plantas transgênicas capazes de oferecer bons controles, embora os riscos de resistência sejam preocupantes e já exista demonstração de fa-


lhas do controle desta tecnologia relativamente recente, assim como a resistência de insetos à ação dos inseticidas sintéticos. Uma forma inteligente de evitar aumentos de populações de lepidópteros nos sistemas produtivos agrícolas é favorecer o controle natural presente em todas as lavouras sem a necessidade do dispêndio de nenhum recurso financeiro. Entre os controles naturais existem o próprio controle oferecido pelas condições climáticas como sol, chuva e vento. Também há agentes de controle biológico naturais em qualquer lavoura, como parasitos, fungos, vírus e bactérias, mas para se beneficiar disso é preciso conhecer sua lavoura em profundidade. Neste ponto surge a necessidade do monitoramento da lavoura. Um bom monitor, conhecedor de todos os conceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP), deve ter a capacidade de olhar em profundidade cada detalhe de sua lavoura. Além da vista quase “microscópica” é necessária uma visão holística de toda a região, incluindo as interligações de um cultivo e outro, dentro e fora dos limites da propriedade. Para o manejo de lepidópteros em sistemas produtivos agrícolas deve-se conhecer características da biologia de insetos deste grupo. É muito comum se prender aos aspectos morfológicos para identificação, mas detalhes relacionados aos hábitos e às preferências ambientais podem ser mais úteis para o manejo, uma vez que o agroecossistema é bastante alterado pelo homem. O homem tem certo domínio sobre o ambiente agrícola e o agroecossistema. Claro que sobre os elementos climáticos não é possível interferir, mas em todos os outros aspectos há possibilidade da ação do homem. Desde a escolha das espécies vegetais a serem cultivadas, proporção das culturas, distribuição nas áreas, espaçamento, população, época de semeadura e tratos culturais interferem sobre as populações dos lepidópteros, além das intervenções químicas como medidas de

Fotos Evaldo Takisawa

de lepidópteros não químicos, o controle químico pode ser a solução, observados todos os cuidados necessários. As intervenções químicas demandam conhecimento em vários ramos, que vão desde os atributos químicos destes compostos passando pelos processos metabólicos que interferem sobre os insetos e suas formas de degradação na planta e no ambiente. Também é indispensável atenção à tecnologia de aplicação e às condições meteorológicas adequadas para o uso deste recurso de modo a usufruir da eficácia e da eficiência destes compostos.

SOLUÇÕES DO MANEJO DE LEPIDÓPTEROS

Takizawa detalha o que deve ser considerado no manejo de lepidópteros

controle das pragas. Essa série de combinações reflete diretamente nos resultados na própria lavoura e na dos vizinhos. O grande objetivo do manejo de lepidópteros é manter as populações destes insetos abaixo dos índices de dano, uma vez que a presença do inseto é indispensável para o equilíbrio do sistema. Como o personagem bíblico Noé preservou um casal de cada espécie diante do dilúvio, os agricultores modernos devem antes de aprender a controlar as pragas, saber como mantê-las em níveis não prejudiciais na lavoura. Isso é a base do controle biológico cada vez mais difundido, porém, pregando o uso de produtos exóticos aplicados como qualquer defensivo químico. Se as condições da lavoura não forem favoráveis ao estabelecimento de um inseticida biológico serão em vão as aplicações. Mais um custo com baixo benefício. O controle biológico é uma ferramenta poderosa no combate às pragas, mas não quando utilizado de forma inadequada. Quando esgotados todos os controles

Detalhe da presença de Chrysodeixis com fungo

18 Fevereiro 2017 • www.revistacultivar.com.br

Não aparecerão formas milagrosas de manejo de lepidópteros, nem a médio ou a longo prazo. As soluções são muito obvias e não há segredo para ninguém. Qualquer um pode adotá-las sem efeitos colaterais, mais isso requer a conscientização de que medidas concretas podem ser tomadas individualmente e outras necessitam ser coletivas. Diante da evolução e das dimensões das áreas agrícolas brasileiras é fundamental a presença de profissionais capazes de elaborar estratégias racionais de manejo de lepidópteros. O simples fato do profissional ser capaz de recomendar um inseticida não o habilita no MIP. É importante refletir sobre os rumos aos quais se dirige a agricultura. O grande problema do momento é o abandono das boas práticas agrícolas consagradas. Resgatar essas medidas terá reflexo direto não somente na ocorrência de lepidópteros como em todas as questões ligadas à fitossanidade e à nutrição das plantas. Uma visão sistêmica do processo produtivo agrícola é fundamental para o entendimento e a aplicação do MIP. C Evaldo Kazushi Takizawa, Ceres Consultoria

Escamas costumam recobrir o corpo e as asas da mariposa



Capa

Como se movem Conhecer as características físico-químicas dos fungicidas e sua penetração em tecidos foliares é fundamental para obter melhor eficácia e prevenir perdas no campo. Seja qual for a classificação, não se pode perder de vista que sua movimentação a longas distâncias na planta é limitada. Fator que demanda muita atenção à tecnologia de aplicação porque se o produto atingir somente as folhas de cima jamais chegará às do baixeiro

A

penetração de substâncias nas folhas é um processo passivo impulsionado por gradientes de concentração. De acordo com a lei de Fick, o gradiente de concentração é a força motriz para a difusão. As taxas de penetração por difusão de qualquer solução aplicada externamente sobre a superfície da folha dependem tanto da sua concentração na superfície como da concentração no interior da folha. A concentração de uma determinada solução no interior da folha depende da natureza do composto e de fatores fisiológicos das plantas, tais como a mobilidade e a taxa de penetração na epiderme e nas células do mesofilo (Grignon et al, 1999; Ewert et al, 2000). A concentraçãodo produto dentro do tecido foliar, logo abaixo da gota, é supostamente muito menor, especialmente na chegada da gota. Portanto, pode-se dizer que as taxas de difusão para o interior da folha são principalmente governadas pela concentração externa dos solutos (Figura 1). A difusão foliar é determinada por muitas características inerentes aos ingredientes ativos e à sua formulação, como a interação planta-ambiente, o que acabará por ter uma influên-

cia direta em fatores como morfologia da folha, estrutura, posição, exposição ao sol e taxa de processos fisiológicos na planta. Ao entrar em contato com a planta, a primeira barreira que

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o produto químico encontra é a cutícula, uma fina película superficial composta de lipídios solúveis e poliméricos (Jeffree, 1996). A função mais importante da cutícula é a proteção dos tecidos vivos das plantas contra a perda de água (Schönherr, 1982), mas constitui-se também em uma barreira para a penetração de produtos químicos aplicados via foliar. O movimento de agroquímicos através das cutículas das plantas tem sido extensivamente modelado e revisado (Briggs; Bromilow, 1994; Wang; Liu, 2007; Satchivi et al, 2006) e é consideravelmente mais complexo do que o movimento previsto por simples leis de transferência de massa (Riederer; Friedmann, 2006). Os adjuvantes, tipo de formulação, relações de ingrediente ativo (IA) para adjuvante e a concentração do IA na pulverização de gotículas estão entre os muitos parâmetros de aplicação que influenciam a absorção foliar (Zabkiewicz, 2007; Stock, 1996; Forster et al, 2006; Stock et al, 1993). Entre as propriedades físicas dos IA que influenciam a absorção foliar, a partição octanol-água (logKow) é frequentemente considerada o

Figura 1 - Taxas de difusão para o interiro das plantas


Figura 2 - Fungicidas que permanecem na superfície da planta

parâmetro fundamental para a penetração através da cutícula e redistribuição na planta (Wang; Liu, 2007; Kirkwood, 1999). De fato, Bromilow e Chamberlain (1989) afirmaram que a sistemicidade de compostos pode ser prevista por lipofilicidade e que compostos com valores LogKow maiores que 3 deixam de se mover nas plantas. O volume molar (VM) também tem sido considerado um preditor-chave do movimento dos compostos através da membrana cuticular (Satchivi et al, 2006; Schönherr; Baur, 2004). Briggs e Bromilow (1994) consideram que o ponto de fusão (PF) pode ser uma propriedade-chave para controlar a solubilização de um composto na superfície foliar, sendo o primeiro passo para a penetração e redistribuição na planta. Sauter (2007) também propôs que o PF é um parâmetro importante, sendo que o baixo PF impulsiona uma forte atividade translaminar de piraclostrobina, afetando positivamente o espectro de atividade desse produto, a segurança das culturas e melhorias de rendimento. Os fungicidas podem ser classificados quanto à mobilidade na planta, a partir da permanência na superfície da planta após

Figura 3 -Substâncias que absorvidas pelas raízes e folhas são translocadas via xilema ou floema

a deposição, ou da absorção e translocação pelo sistema condutor para locais distantes da deposição. Dessa forma, os fungicidas podem ser classificados como: (I) Tópicos ou imóveis: são fungicidas que ao serem aplicados nos órgãos aéreos não são absorvidos nem translocados, permanecendo na superfície da planta (do grego topykos = lugar), no local onde foram depositados (Figura 2). Também são chamados de não sistêmicos. Exemplo: fungicidas multissítios (Tabela 1). (II) Sistêmicos ou móveis: substâncias que ao serem absorvidas pelas raízes e folhas são translocadas pelo sistema condutor da planta via xilema (grande maioria) ou floema (Figura 3). Uma vez no interior da planta, estes fungicidas conferem uma ação protetora prolongada. Não ficam expostos à lixiviação pela chuva e à fotodecomposição e, portanto, não requerem aplicações tão frequentes. Os fungicidas sistêmicos aplicados nas sementes não são absorvidos nem translocados, pois as sementes não apresentam sistema condutor. Dessa forma, os fungicidas permanecem na superfície, sendo somente ab-

sorvidos via solo (pela radícula) e translocados (via xilema) para os órgãos aéreos da plântula quando ocorre a germinação. Exemplo: triazóis, algumas estrobilurinas e carboxamidas (Tabela 1). (III) Mesostêmicos: fungicidas mesostêmicos consistem na união de dois conceitos: sistemicidade translaminar e episistemicidade. A ação translaminar ocorre quando o fungicida é aplicado na superfície adaxial da folha (em cima) e é translocado para a superfície abaxial (embaixo). Fungicida episistêmico apresenta distribuição nas camadas de cera das folhas através de sua fase de vapor. Se a pressão de vapor da substância é suficientemente alta, a migração pode começar a partir da deposição na superfície da folha e transporte na forma Figura 5 - Capacidade do fungicida se movimentar tanto pelo xilema como pelo floema, atingindo todas as partes da planta

Figura 4 - Fungicidas mesostêmicos consistem na união dos conceitos de sistemicidade translaminar e episistemicidade

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de vapor. Os fungicidas mesostêmicos apresentam características lipofílicas, cujos depósitos aderem fortemente à camada de cera cuticular. Por isso, apresentam elevada resistência à remoção pela água da chuva ou irrigação. Os principais exemplos são: estrobilurinas e carboxamidas (Tabela 1). Existe ainda na literatura uma terminologia chamada de Sistêmico verdadeiro ou Amfimóvel (do grego amphi = ao redor). Essa terminologia é definida como a capacidade do fungicida se movimentar tanto pelo xilema como pelo floema, atingindo todas as partes da planta, independentemente do local em que

foi depositado. Não são conhecidos exemplos de fungicidas de grandes culturas com esta característica. O único exemplo prático é o fosetil-alumínio, ingrediente ativo do grupo químico dos etilfosfonatos, recomendado para a maioria dos cromistas (oomicetos) em frutas e hortaliças. O conhecimento das características físico-químicas do fungicida a ser trabalhado é fundamental para melhoraria da eficácia e redução das perdas no campo. Um exemplo são os fungicidas multissítios, que são imóveis e demandam boa cobertura de gotas por unidade de folha e, por conseguinte, são muito suscetíveis à lavagem pela chuva. Do outro

lado, os fungicidas que penetram no tecido e possuem vantagens inversamente proporcionais ao citado anteriormente. No entanto, é importante frisar que a movimentação a longas distâncias na planta de qualquer fungicida é limitada. Por isso, não deve ser dispensada uma atenção significativa à tecnologia de aplicação, visto que se o produto atingir somente as folhas de cima da planta, jamais chegará C nas folhas do baixeiro. Marlon Tagliapietra Stefanello, Leandro Nascimento Marques, Marcelo Gripa Madalosso e Ricardo Silveiro Balardin, UFSM/Instituto Phytus

Tabela 1 - Classificação, modo de ação e mobilidade dos fungicidas Código do grupo1 1 2

Classe do fungicida2 benzimidazol ou MBC dicarboximida

3

inibidores da desmetilação (DMIs) - triazóis

4 7 9 11

12 14

17 18 19 21 (P)3 M (33) 40 M M M M M (29) U (27) U (28)

Nome comum tiofanato metílico iprodiona

Modo de ação do fungicida inibe a formação de tubulina na mitose, amplo espectro NADH citocromo c redutase em peroxidação lipídica Peroxidação (proposto), espectro amplo inibidor da biossíntese de esteróis, espectro amplo

Mobilidade móvel no xilema penetração localizada/translaminar

triflumizol móvel no xilema triforina miclobutanil tebuconazol bannermaxxpropiconazol bayleton epoxiconazol translaminar4/móvel no xilema4 metconazol protioconazol fenilamida (PA) mefenoxam inibe a síntese de RNA, ativa em oomicetos móvel no xilema carboxamidas flutolanil inibe a respiração (MET2, succinatodesidrogenase), ativa em basidiomicetos localmente sistêmico boscalida anilinopirimidina ciprodinil biossíntese de metionina e enzimas hidrolítica, ativa em Botrytis, Monilinia, Venturia localmente sistêmico inibidores da quinona externa (QoIs) kresoxim-metil inibe a respiração, amplo espectro localmente sistêmico/ translaminar - estrobilurina azoxistrobina móvel no xilema trifloxistrobina localmente sistêmico/ translaminar picoxistrobina móvel no xilema4/ translaminar4 piraclostrobina localmente sistêmico4/ translaminar4 fenilpirrole fludioxonil disruptura da integridade da membrana, amplo espectro imóvel hidrocarbonetos aromáticos quintozeno pensado em agir sobre os lipídios, ativo em basidiomicetos e alguns ascomicetos imóvel dicloran atua sobre Botrytis, Monilinia, Rhizopuse Sclerotinia etridiazol controle curativo e preventivo de doenças transmitidas através do solo, especialmente oomicetos hidroxianilina fenhexamida inibidor da biossíntese de esteróis, Botrytis, Monilinia, Sclerotinia localmente sistêmico antibióticostreptomyces estreptomicina bactericida, sítio-específico móvel no xilema "polyoxin" "polyoxin D" sítio-específico, inibe a síntese da quitina, atua em alguns fungos móvel no xilema Indutores de defesa em plantas hospedei- acibenzolar-S-metílico ativa a Resistência Sistêmica Adquirida (SAR) de plantas, amplo espectro sistêmico - xilema/ floema ras, resistência sistêmica adquirida (SAR) harpina induz uma resposta hipersensível em plantas, amplo espectro atividade multissítio fosfonato fosetil-alumínio inibe a fosforilação oxidativa em oomicetos Amfimóvel - sistêmico verdadeiro ácido fosfórico ácidocinâmico dimetomorfe pensado em atuar na síntese da parede celular em certos oomicetos penetração localizada/ translaminar atividade multissítio inorgânicos cobre interrompe a função das enzimas e sistema de transporte de energia, integridade das membranas imóvel enxofre inibe o movimento de elétrons, assim interfere com a respiração celular atividade multissítio ditiocarbamatos mancozebe, manebe, Reagem com proteínas dos grupos SH, amplo espectro imóvel dietilditiocarbamato atividademultissítio "chloroalkythios" captan Combina com tióis (grupos SH), amplo espectro imóvel atividademultissítiocloronitrilo clorotalonil Atua na respiração fúngica via tiol, amplo espectro imóvel atividademultissítiofenilpiridinamina fluazinam Desacopla a fosforilação oxidativa, amplo espectro localmente sistêmico cianoacetamidaoxima desconhecido cimoxanil Residual curto, atua em oomicetos localmente sistêmico carbamato desconhecido propamocarbe Ativo em oomicetos móvel no xilema

1 Código Frac listado entre parênteses sob o código do Grupo EPA quando os códigos diferem. Nenhum dos dois sistemas inclui biofungicidas. 2 Por questões de consistência, códigos de grupo e classes de fungicidas são aqueles usados pelo Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas (Frac) e pela Agência de Programas de Pesticidas da EPA. Este programa faz parte do sistema de classificação de pesticidas desenvolvido para auxiliar os produtores na gestão da resistência. 3 Embora descritos similarmente, os modos de ação são diferentes. 4 Sugerido por Goertz, A. (2012)

22 Fevereiro 2017 • www.revistacultivar.com.br



Cristiano Piasecki

Plantas daninhas

Voluntárias daninhas

Eventos biotecnológicos, quando bem utilizados, são tecnologias importantes para facilitar o manejo de daninhas. No entanto, são necessários conhecimento técnico e planejamento para que o avanço tecnológico não resulte em sério problema representado por plantas voluntárias tolerantes a herbicidas

H

istoricamente, o manejo de plantas daninhas é considerado um dos maiores desafios enfrentados por técnicos e agricultores. A competição pelos recursos do ambiente, entre plantas daninhas e culturas, resulta em perdas de produtividade e, consequentemente, menor rentabilidade da atividade agrícola. A inserção de eventos biotecnológicos, que conferem tolerância a herbicidas na soja e no milho, quando bem utilizada favorece o manejo das plantas daninhas. No entanto, é necessário conhecimento técnico e planejamento para que o avanço tecnológico não se torne sério problema, uma vez que plantas voluntárias (tigueras) tolerantes a herbicidas poderão ocorrer em cultivos sucessivos, tornando-se plantas daninhas. As sementes oriundas de perdas na colheita darão origem a plantas da cultura infestando a cultura sucessiva e, assim, uma cultura se torna planta daninha evidenciando “o outro lado da moeda”. Toda e qualquer planta que ocorre em

local não desejado e cause dano (econômico, social e/ou ambiental) é considerada planta daninha. Dentro desta definição, incluem-se as plantas resistentes e sensíveis a herbicidas, bem como plantas voluntárias de culturas transgênicas tolerantes aos herbicidas. Eventos biotecnológicos que conferem tolerância a herbicidas em soja e milho, como, por exemplo, a tecnologia Roundup Ready (RR), são avanços na agricultura. No primeiro momento, esta tecnologia simplificou o manejo das plantas daninhas, que por cerca de uma década baseou-se na utilização do mesmo herbicida, o glifosato. A tecnologia RR facilitou o manejo por possibilitar o uso do glifosato em pós-emergência das culturas com esta tecnologia, aliando eficácia no controle de amplo espectro de daninhas e menor risco ao ambiente. O uso monólogo do glifosato favoreceu a seleção de espécies daninhas resistentes como azevém (Lolium multiflorum), buva (Conyza bonariensis, C. canadensis e C. sumatrensis),

24 Fevereiro 2017 • www.revistacultivar.com.br

capim-amargoso (Digitaria insularis) e, mais recentemente, o caruru-gigante (Amaranthus palmeri) e o capim pé-de-galinha (Eleusine indica), onde o controle químico com herbicidas de diferentes modos de ação (MoA) se faz necessário. Além dos problemas relacionados com a seleção de espécies daninhas resistentes ao glifosato, quando houver perdas na colheita de cultivares/híbridos com a tecnologia RR, há maiores chances da ocorrência de plantas voluntárias resistentes ao glifosato nos cultivos subsequentes. As plantas voluntárias originadas das sementes perdidas na colheita de cultivares da tecnologia RR, por serem tolerantes ao herbicida, têm seu controle dificultado e custo mais oneroso. No Brasil, dados de pesquisa indicam perdas médias de sementes durante a colheita entre 1% e 4% (Tabile et al, 2008). As perdas na colheita são inerentes a vários fatores da cultura como cultivar/híbrido, manejo (plantas daninhas, doenças, pragas e manejo solo


RR principalmente em pós-emergência das culturas é dificultado pelo fato de restritas opções de herbicidas estarem registrados para esta finalidade. Herbicidas como os mimetizadores de auxina, inibidores da glutationa sintase (GS), inibidores dos fotossistemas I e II (FSI e FSII), dentre outros, não apresentam seletividade para aplicações, principalmente em pós-emergência da soja, enquanto os herbicidas inibidores dos fotossistemas I e II (FSI e FSII), dentre outros, não apresentam seletividade para a cultura do milho. A resistência das plantas daninhas aos herbicidas e a busca por vantagens competitivas no mercado entre as companhias químicas são os principais fatores que tornaram crescente a demanda por novas tecnologias que possibilitem a proteção dos cultivos. Dentre as novas tecnologias está a inserção de novos eventos biotecnológicos que conferem a tolerância às culturas a outros herbicidas, além dos já disponíveis em soja e milho (glifosato e glufosinato de amônio). Assim, novos traits de tolerância a herbicidas foram introduzidos na soja e no milho, dentre outras culturas, e em breve serão ofertados no mercado de forma isolada ou associados (genes empilhados). De acordo com a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), no Brasil estão liberados para comercialização as seguintes tecnologias: • Soja – Roundup Ready- RR (tolerância ao glifosato, 1998), Cultivance – CV (tolerância a herbicidas inibidores da acetolactatosintase (ALS), grupo químico das imidazolinonas, 2009), Liberty Link– LL (tolerância ao glufosinato de amônio, 2010), Balance GT 3 (tolerância a glifosato, glufosinato de amônio e isoxaflutole, 2015) e Enlist 3 (tolerância ao 2,4-D, glifosato e glufosinato de amônio, 2015); • Milho - LL (2007), RR (2008) e Enlist (tolerância ao 2,4-D, haloxifope-R, glufosinato

de amônio e glifosato, 2016). Além das tecnologias já liberadas pelos órgãos oficiais, novos eventos biotecnológicos como a soja Xtend (tolerância a glifosato, dicamba e glufosinato de amônio) estão em processo de tramitação, e em pouco tempo estarão à disposição de técnicos e agricultores no campo. Tais tecnologias inseridas nos genomas da soja e do milho aumentarão as opções de herbicidas disponíveis para o manejo das plantas daninhas, principalmente das resistentes, e irão possibilitar aplicações em pré e pós-emergência das culturas tolerantes. Nesse contexto, o “outro lado da moeda” caracteriza-se pelo fato da possibilidade de plantas voluntárias tolerantes a vários herbicidas serem originadas a partir dos propágulos perdidos na colheita das culturas geneticamente modificadas. A oferta de novas tecnologias que conferem tolerância a vários mecanismos de ação herbicida nas culturas da soja e milho sinalizam para o aumento na complexidade do manejo das plantas voluntárias, com tendência de maior ocorrência destas competindo com as culturas de interesse. Além disso, espera-se maior dificuldade no controle, visto que, dependendo da combinação das tecnologias usadas nas culturas em sucessão, poucas opções de herbicidas serão efetivas para o controle das voluntárias. A maioria dos herbicidas para o controle de soja ou milho voluntário que proporcionam altos níveis de controle está direcionada para a aplicação em pré-emergência das culturas e pós-emergência das plantas voluntárias. Nessa modalidade de aplicação, nem sempre se consegue atingir as plantas voluntárias, em função de a germinação e a emergência das plantas voluntárias ocorrerem em diferentes fluxos e, nessa situação, a aplicação de herbicidas pré-emergentes (da cultura e das voluntárias) com efeito residual é a opção mais indicada, Leandro Vargas

Cristiano Piasecki

etc) e da colheitadeira (regulagens, manutenção, velocidade de operação etc). Caso não controladas as plantas voluntárias competem com as culturas por recursos do ambiente, de modo a reduzir a produtividade, dificultam a colheita, contaminam os grãos e são hospedeiras de insetos-pragas e fungos, fatores que reduzem a viabilidade econômica da atividade agrícola. O milho voluntário possui elevada capacidade competitiva em relação à soja e causa perdas de produtividade (Rizzardi et al, 2012; Piasecki, 2015; Pertile, 2016). Plantas voluntárias de milho se originam de sementes individuais, de espigas ou pedaços de espigas, que produzem plantas individuais ou touceiras (várias plantas de milho em um mesmo ponto), respectivamente (Piasecki, 2015). O nível de dano econômico (NDE) da competição de plantas individuais de milho com soja variou de 0,19 planta m-2 a 0,56 planta m-2 (Pertile, 2016). A soja, em competição com população média de 0,5, 1 e 2 plantas de milho, reduziu a produtividade de 22%, 36% e 54%, respectivamente, enquanto a mesma população, quando oriunda de touceira, reduziu a produtividade da soja em 46%, 64% e 80%, respectivamente (Piasecki, 2015). Quando da ocorrência de plantas voluntárias de soja em milho, foi observada redução na produtividade do milho de 9,3% e 23% nas respectivas populações de 1 planta de soja m-2 e 32 plantas de soja m-2 (Koenig et al, 2012). Em relação à competição de milho voluntário em lavouras de milho e soja voluntária em lavouras de soja, poucas informações encontram-se disponíveis na literatura. A partir desses dados fica evidente a elevada capacidade competitiva das plantas voluntárias e o potencial de danos da competição com as culturas, o que torna seu controle extremamente importante. Entretanto, o controle das plantas voluntárias

O milho voluntário possui elevada capacidade competitiva em relação à soja e causa perdas de produtividade

Plantas voluntárias de milho se originam de sementes individuais, de espigas ou pedaços de espigas

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Tabela 1 - Situações hipotéticas de cultivo e sugestões de herbicidas para manejo de plantas voluntárias de milho e soja em função da tolerância a herbicidas. Passo Fundo-RS, 2016 Cultura utilizada Planta voluntária Herbicidas pré-emergência da cultura1 Herbicidas pós-emergência da cultura1 Soja RR Milho Glifosato Glifosato Glufosinato de amônio Cletodim Paraquat Setoxydim Diquat Haloxyfop Paraquat+diuron Fluazifop Imazapic+imazapir2 Quizalofop Diclosulam Imazetapir Clorimuron+sulfumeturon Milho RR Glufosinato de amônio Cletodim Paraquat Setoxydim Diquat Haloxyfop Paraquat+diuron Fluazifop Imazapic+imazapir2 Quizalofop Diclosulam Imazetapir Clorimuron+sulfumeturon Milho LL Glifosato Glifosato Paraquat Cletodim Diquat Setoxydim Paraquat+diuron Haloxyfop Imazapic+imazapir2 Fluazifop Diclosulam Quizalofop Clorimuron+sulfumeturon Imazetapir Milho Enlist Paraquat Diquat Cletodim Paraquat+diuron Setoxydim Imazapic+imazapir2 Imazetapir Diclosulam Clorimuron+sulfumeturon Milho RR e LL Paraquat Cletodim Diquat Setoxydim Paraquat+diuron Haloxyfop Imazapic+imazapir2 Fluazifop Diclosulam Quizalofop Clorimuron+sulfumeturon Imazetapir Milho RR Soja RR Atrazina Paraquat Atrazina Diquat Mesotrione3 Paraquat+diuron Tembotrione3 Glufosinato 2,4-D 2,4-D Nicosulfuron Isoxaflutole Saflufenacil Soja LL Atrazina Paraquat Atrazina Diquat Mesotrione3 Paraquat+diuron Tembotrione3 Glifosato Nicosulfuron 2,4-D 2,4-D Isoxaflutole Saflufenacil Soja LL e RR Atrazina Paraquat Atrazina Diquat Mesotrione3 Paraquat+diuron Tembotrione3 2,4-D Nicosulfuron Isoxaflutole 2,4-D Saflufenacil Soja Enlist3 Atrazina Paraquat Atrazina Diquat Mesotrione3 Paraquat+diuron Tembotrione3 Isoxaflutole Nicosulfuron Saflufenacil Soja Cultivance Atrazina Paraquat Diquat Atrazina Paraquat+diuron Glifosato Glifosato Mesotrione3 Glufosinato

continuação...

Soja Balance GT 3

Soja Xtend

Soja RR

Soja RR

Soja LL

Soja LL e RR

Soja Enlist

Soja Cultivance

Soja Balance GT 3

Soja Xtend

Milho RR

Milho RR

Milho LL

Milho Enlist

Milho RR e LL

2,4-D Isoxaflutole Saflufenacil Atrazina Paraquat Diquat Paraquat+diuron 2,4-D Saflufenacil Saflufenacil Atrazina Paraquat Diquat Paraquat+diuron Glufosinato Isoxaflutole Saflufenacil Paraquat Diquat Paraquat+diuron Glufosinato 2,4-D Saflufenacil Paraquat Diquat Paraquat+diuron Glufosinato 2,4-D Saflufenacil Paraquat Diquat Paraquat+diuron 2,4-D Saflufenacil Paraquat Diquat Paraquat+diuron Saflufenacil Paraquat Diquat Paraquat+diuron Glifosato Glufosinato 2,4-D Saflufenacil Paraquat Diquat Paraquat+diuron 2,4-D Saflufenacil Paraquat Diquat Paraquat+diuron Glufosinato Saflufenacil Paraquat Diquat Paraquat+diuron Glifosato Paraquat Diquat Paraquat+diuron Paraquat Diquat Paraquat+diuron Paraquat Diquat Paraquat+diuron

Tembotrione3 2,4-D

Atrazina 2,4-D Nicosulfuron

Atrazina Mesotrione3 Tembotrione3 Nicosulfuron

-

Glifosato

-

-

Glifosato

-

Glifosato -

1A eficácia do herbicida está relacionada ao estágio da planta voluntária, sendo maior para estágios menos desenvolvidos; 2Quando for utilizada a soja Cultivance; 3Controle pode ser baixo dependendo da dose e do estágio de aplicação.

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deseja aumentar o espectro de controle, uma vez que podem ocorrer interações negativas (antagonismo) e redução do controle da planta voluntária como relatado para as associações de glifosato, 2,4-D e inibidores da ACCase. Cabe ressaltar que no Brasil poucos herbicidas possuem registro para o controle de plantas voluntárias. Além das opções limitadas de produtos para o controle de plantas voluntárias, herbicidas como a atrazina e o paraquat estão em avaliação e apresentam a possibilidade de proibição ou restrição de uso, o que tornaria o problema ainda mais sério. Outra situação importante que deve ser observada é o efeito da persistência do herbicida até a próxima estação de crescimento (cultivo) de forma a restringir a rotação de cultivo em função da sua atividade residual, denominado efeito de “carry over”. Por exemplo, ao serem aplicados herbicidas inibidores da ACCase antes da semeadura de culturas sensíveis como trigo e milho, ou atrazina antes da instalação da lavoura de soja, devem ser respeitados intervalos específicos entre a aplicação de cada herbicida e a semeadura da cultura sensível. Situações hipotéticas de cultivos de soja e milho com diferentes tolerâncias a herbicidas e as possíveis combinações de plantas voluntárias que podem ser originadas na lavoura, bem como algumas sugestões de herbicidas para o controle, quando disponíveis, encontram-se na Tabela 1. Na Tabela 1 é possível observar a complexidade das diversas possibilidades de sucessões de culturas com tolerância aos herbicidas e, também, que em algumas situações (que devem ser evitadas) não há herbicidas disponíveis para o controle das plantas voluntárias. Para que sérios problemas com a ocorrência de plantas voluntárias sejam evitados, é imprescindível observar alguns princípios básicos no momento do planejamento da lavoura ou do sistema produtivo, como: • Consultar assistência técnica espe-

UFPel/Embrapa Trigo

principalmente para o controle do milho voluntário, como diclosulam, clorimuron + sulfometuron, imazapic + imazapir (Piasecki e Rizzardi, 2016). Em muitos casos a falta de conhecimento e planejamento do sistema produtivo que envolve a sucessão de cultivos de plantas transgênicas como milho/soja, soja/milho, soja/soja e milho/milho, dá origem a plantas voluntárias tolerantes aos mesmos herbicidas da cultura subsequente. Estas plantas voluntárias constituem grande problema, pois possuem elevada capacidade competitiva com a cultura e seu controle fica restrito a poucos herbicidas e, se não controladas, reduzem a produtividade e causam prejuízos econômicos. Após a emergência das culturas a situação se agrava, onde o manejo resume-se aos herbicidas inibidores da enzima acetil coenzima A carboxilase (ACCase) como os ciclohexanodionas (DIMs - cletodim e setoxydim) e ariloxifenoxipropionatos (FOPs - haloxyfop, fluazifop, quizalofop) para manejo de milho voluntário RR em soja, e da atrazina (inibidor de FSII) e inibidores da síntese de carotenoides para controle de soja voluntária RR em milho. Os herbicidas inibidores da ACCase, quando aplicados na dose recomendada, no estádio de desenvolvimento de quatro a cinco folhas do milho voluntário (V4-V5), apresentam controle satisfatório do milho. No entanto, FOPs têm melhor eficiência em aplicações em milho maior que V5. Para o controle da soja voluntária em milho, quando a aplicação não ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento o controle é reduzido, sendo a atrazina o principal herbicida utilizado para seu controle. Dessa forma, tanto técnicos como produtores devem ficar atentos quanto à aplicação, visto que o controle somente será eficiente se for realizado na dose e no estádio correto de aplicação. Atenção especial deve ser prestada à associação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, especialmente quando se

Plantas voluntárias tolerantes a herbicidas competem com a cultura instalada em sequência e podem comprometer a produtividade

cializada: através do auxílio de engenheiros agrônomos capacitados e bem informados será possível planejar a lavoura levando em consideração todo o sistema produtivo, e não apenas um cultivo/ano. Assim, perdas em produtividade em função da competição de plantas voluntárias com as culturas serão evitadas, e o retorno econômico da lavoura será maior. • Planejar o sistema de modo que haja opções de herbicidas para o controle das plantas voluntárias no cultivo seguinte: cultivos sucessivos com os mesmos eventos de tolerância a herbicidas devem ser evitados. Por exemplo, em caso de cultivo de soja RR após o milho, evitar cultivar milho RR, pois dessa forma as plantas voluntárias de milho emergidas na soja serão facilmente controladas pelo glifosato. Outro exemplo de situação que deve ser evitada é o cultivo de milho RR seguido por milho RR. Para essa situação, onde há plantas voluntárias de milho RR emergidas na cultura do milho RR, não há opção de herbicida para o controle. Várias combinações de cultivos podem ser hipotetizadas ao se analisar a Tabela 1. • Adotar medidas para minimizar perdas de sementes durante a colheita: as perdas na colheita podem ser reduzidas com planejamento da cultura envolvendo desde o manejo (adubação, controle de insetos-praga, doenças e plantas daninhas, cultivar/híbrido, espaçamento, população, época de semeadura) até o procedimento operacional durante a colheita (tipo de máquina colhedora, estádio da cultura, umidade dos grãos, altura de corte, regulagem da plataforma, do cilindro/rotor, côncavo, ventilador, peneiras, velocidade de operação e manutenção). Medidas preventivas podem reduzir as perdas de sementes com potencial de originar plantas voluntárias em cultivos sucessivos. Assim, a tolerância a diferentes mecanismos de ação herbicida nas culturas será ferramenta útil a auxiliar no manejo das plantas daninhas. Porém, “o outro lado da moeda” em que as culturas responsáveis pela sustentação da propriedade podem ser responsáveis pela inviabilização dos cultivos sucessivos em função de transformarem-se em plantas daninhas de alto custo/difícil controle. Nesse contexto, a questão das plantas voluntárias deve ser analisada com atenção, pois o manejo exige conhecimento técnico, informação sobre fisiologia, ação dos herbicidas e planejamento estratégico para que as tecnologias não se tornem problema maior do que aquele para C o qual foram criadas para resolver. Cristiano Piasecki, Joanei Cechin, Dirceu Agostinetto e Leandro Vargas, UFPel/Embrapa Trigo

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Doenças

Detecção preventiva Fotos F. C. Juliatti

O mofo branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença grave em diversas culturas, capaz de provocar prejuízos de até 70% em lavouras de soja. A disseminação ocorre muitas vezes pela própria semente infectada, por isso detectar a presença de micélio nestes materiais, possível através do auxílio de laboratório especializado, é essencial para prevenir danos

A

doença conhecida como mofo branco, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é responsável por perdas significativas em inúmeras culturas agrícolas de importância econômica no mundo. Os danos variam de acordo com os níveis de suscetibilidade das culturas, com as condições climáticas e com o manejo adotado. O primeiro relato da doença no Brasil foi em 1921, na cultura da batata. Atualmente, o patógeno acomete as culturas de feijão, soja, girassol, algodão, canola, batata, tomate e alface em diversas regiões produtoras do país. O mofo branco, de acordo com os resultados dos ensaios cooperativos de controle químico das últimas seis safras, causa reduções médias de 21% na produtividade da soja, podendo chegar a até 70% em algumas lavouras isoladas. Conforme os levantamentos feitos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na safra 2015/16, e considerando-se as regiões de maior ocorrência da doença no

país, estima-se que a área de produção de soja infestada por S. sclerotiorum seja de aproximadamente 7,7 milhões de hectares. Como o mofo-branco é uma doença que incide sobre várias outras culturas, é de fundamental importância observar a sequência de cultivos na sucessão de culturas em áreas infestadas com o fungo, intercalando-se culturas não hospedeiras como estratégia para diminuir o inóculo do patógeno. Outras medidas de manejo do mofo branco também devem ser adotadas de forma integrada, como a utilização de sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas adequados; formação de palhada para cobertura uniforme do solo, preferencialmente oriunda de gramíneas; a escolha de cultivares com arquitetura de plantas que favoreça boa aeração entre plantas (pouco ramificadas e com folhas pequenas) e com menor período de florescimento; população de plantas e espaçamento entre linhas adequados às cultivares; emprego de controle quí-

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mico, por meio de pulverizações foliares, principalmente no período de maior suscetibilidade da planta de soja (início da floração até começo da formação de vagens); emprego de controle biológico, por meio da propagação de agentes antagonistas no solo; e a limpeza de máquinas e equipamentos após a utilização em área infestada para evitar a disseminação de escleródios (Juliatti et al, 2010). A disseminação do mofo branco na lavoura frequentemente ocorre pela própria semente infectada. Apesar de os escleródios serem facilmente detectados nos lotes de sementes, o micélio dificilmente o será sem a ajuda de um laboratório especializado. Os critérios utilizados para a detecção de fungos em sementes, de modo geral, consistem em estimular os micro-organismos a produzirem estruturas, ou metabólitos, que permitam a sua identificação. Para o fungo S. sclerotiorum, a observação visual da presença de escleródios é feita pelo teste de papel de filtro (blottertest). O método de Neon-S também tem sido utilizado para a detecção desse patógeno em sementes de soja e de feijão desde a safra de 2010. Tal método consiste na adição, ao meio de cultura, de um indicador de pH (o azul de bromofenol) e baseia-se na formação de halo amarelo em torno da semente devido à presença de ácido oxálico produzido pelo fungo, que acidifica o meio alterando sua coloração. Porém, esse método pode levar à leitura de falsos positivos devido ao aparecimento de outros fungos que igualmente podem alterar o pH do meio. Nesse sentido, diversos trabalhos têm sido desenvolvidos e/ou metodologias ajustadas a fim de minimizar alguns problemas nos testes já estabelecidos como padrão. Métodos alternativos, como o rolo de papel modificado e o método Neon-S modificado, têm-se mostrado promissores para o diagnóstico mais seguro e rápido do patógeno. Foram avaliadas no Laboratório de Micologia e Proteção de Plantas da Universidade Federal de Uberlândia (Lamip - UFU) 637 amostras/lotes de sementes


Fases do mofo branco (micélio, escleródios e esporos)

de soja e de feijão, provenientes do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Figura 1), compreendendo o período de 2008 a 2012. O objetivo foi verificar se o aumento do período de incubação poderia contribuir para otimizar a confiabilidade do teste Neon-S. Três métodos de detecção foram comparados: rolo de papel, Neon-S e Neon-S2 (teste modificado do Neon-S, sendo alterado o tempo de leitura de sete para 15 dias). Foram utilizadas sementes da cultivar de feijão Pérola e das cultivares de soja BRS Valiosa RR e Nidera 7255 RR. Os lotes de sementes estavam naturalmente infectados, à exceção da cultivar Nidera 7255 RR, que teve suas sementes expostas à infecção pelo patógeno em placas de Petri durante 72 horas. A técnica do rolo de papel não permitiu detecção da presença do mofo-branco

nas sementes de soja coletadas no ano uma área isenta do patógeno e da doença. de 2008 e, para as demais safras, apre- Se esta estratégia tivesse sido utilizada sentou menor capacidade de detecção do no Brasil nos últimos anos haveria com patógeno comparativamente ao Neon-S2 certeza uma menor área contaminada com (21,88 e 31,25% de amostras positivas, o fungo, que atinge mais de 7,7 milhões respectivamente). Apesar da sensibilidade de hectares. A rede de laboratórios que de detecção de S. sclerotiorum em lotes prestam este tipo de serviço é pequena, de sementes ter sido maior pelo método mas vale a pena avaliar os lotes de seNeon-S2 em relação ao método do rolo, mentes antes da compra caso o serviço a diferença não foi significativa quan- esteja disponível na região. Ressaltando do comparado com o método Neon S, a importância da checagem da qualidade embora numericamente o percentual de das sementes e que as amostras têm que incidência do método modificado tenha ser representativas, uma amostra padrão sido superior (Figura 2). Ainda assim, a deve ter uma alíquota de um quilo, detecção de S. sclerotiorum pelo método acondicionada em sacos de papel. O Neon-S2 é mais confiável em decorrência Lamip UFU está apto a realizar os testes da incubação por 15 dias, uma vez que a de detecção de Sclerotinia sclerotiorum formação de escleródios, neste período, e emissão de laudos comprobatórios da próximos às sementes infectadas, confir- qualidade sanitária das principais culturas ma a presença do patógeno e evita a leitura praticadas no Brasil. Para tanto é preciso enviar lotes identificados para a avenida de falsos-positivos. A importância deste método de detec- Amazonas s/n, bloco 2E, sala 106, Jardim ção implica no melhor planejamento da Umuarama, Uberlândia, Minas Gerais, propriedade, como a escolha de lotes de CEP 38400-902. O custo por amostra C sementes livres do patógeno e o direcio- gira em torno de R$ 100,00. namento de um tratamento de sementes mais adequado incluindo fungicidas Fernando Cezar Juliatti, específicos para o fungo Sclerotinia scle- Roberto Resende dos Santos e rotiorum. Deste modo, o agricultor poderá Tâmara Prado de Morais, escolher o melhor tratamento e o melhor Lamip – Univ. Fed. de Uberlândia lote de sementes para cada situação, Figura 2 - Incidência (%) do fungo Sclerotinia sclerotiorum em sementes de soja e evitando uma futura de feijão aferida por três métodos de detecção frustração de safra ou contaminação de

Figura 1 - Amostras de soja e feijão analisadas. Lamip - UFU, 2008 a 2012 Município Araguari Ibiá Patos de Minas Uberlândia Tupaciguara Total

Número de amostras Feijão 15 -

Soja 06 395 194 42 637

-: não obtiveram amostras

Cultivar1 Feijão Positivo Soja Positiva Soja Inoculada

S 0,00 aB 0,00 aB 20,70 aA

Método S2 1,91 aB 3,26 aB 24,13 aA

Rolo de Papel 0,00 aB 2,31 aAB 7,51 bA

1 Médias seguidas por letras distintas minúsculas na linha e maiúsculas na coluna diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

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Soja

Grande problema Fotos Edson Hirose

Inseto pequeno, a mosca branca transforma-se em gigante quando o assunto é potencial de danos e dificuldades de controle nas lavouras. A introdução de biótipos inexistentes no Brasil, como o Q (Mediterranean), aumenta ainda mais a preocupação. Manejar esta praga demanda ações amplas e planejadas, que incluem a correta rotação de inseticidas para prevenir resistência

A

mosca branca (Bemisia tabaci) tem causado preocupação aos sojicultores brasileiros em várias regiões do país devido aos prejuízos observados e à dificuldade do controle com inseticidas. Para melhorar o manejo deste pequeno inseto é importante que o agricultor aprenda a reconhecê-lo em suas diferentes formas e compreenda a interação da praga com as diversas culturas que compõem o sistema agrícola. Apesar do termo mosca branca ser utilizado de modo geral para designar a espécie B. tabaci, este inseto não é uma mosca. Pertencendo à ordem Hemiptera e à família Aleyrodidae, é mais próximo aos percevejos e pulgões que às moscas. A própria espécie B. tabaci ainda gera questionamentos, pois há 24 biótipos de B. tabaci distribuídos pelo mundo. É muito provável que os biótipos não sejam variações da mesma espécie, mas sim um complexo de espécies que, apesar de compartilharem similaridades morfológicas, apresentam incompatibilidade reprodutiva. Desta forma, apesar do termo biótipo não estar correto, ele ainda é utilizado até que uma solução melhor seja apresentada. No Brasil, o primeiro registro de B. tabaci deu-se em 1923. Nessa época, tratava-se provavelmente do biótipo A ou New World, segundo a classificação mais atual. Sua impor-

tância econômica era, entretanto, secundária. Na década de 1990, populações elevadas de B. tabaci foram observadas em diversas regiões do País causando prejuízos, principalmente no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Estudos posteriores confirmaram a presença de um novo biótipo no Brasil, o biótipo B ou Middle East-Asia Minor 1 – MEAM1. Atualmente este é o biótipo mais comum no Brasil. Mais recentemente, em 2013, um novo biótipo, o Q (Mediterranean), foi detectado no Rio Grande do Sul. A diferenciação destes biótipos somente pode ser feita mediante a utilização de ferramentas moleculares. Algumas preocupações surgem com as introduções de bióticos inexistentes no país. Os problemas com B. tabaci eram menores até a entrada do biótipo B no final do século passado. Após a sua introdução, a frequência de prejuízos com este inseto cresceu no Brasil. Relatos de outros países já ocupados pelo biótipo Q informam a maior capacidade deste biótipo em tolerar altas temperaturas, de resistir a diferentes grupos de inseticidas e de transmitir vírus. Na China, a expansão do biótipo Q está associada à maior incidência do vírus TYLCV (Tomato yellow leaf Curl virus) em tomate. Em Israel, onde os biótipos B e Q coexistem, em lavouras submetidas a pressão com inseticidas, o biótipo Q torna-se

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predominante. Independentemente do biótipo, B. tabaci é altamente polífaga, isto é, possui centenas de hospedeiros entre plantas cultivadas (soja, algodão, girassol, feijão, tomate etc), ornamentais e invasoras. Essa habilidade favorece a manutenção e a formação de grandes populações da praga. As invasoras servem de abrigo na entressafra, as plantas cultivadas permitem a proliferação da praga em períodos favoráveis e as ornamentais facilitam sua disseminação a longas distâncias pelo transporte humano. As plantas hospedeiras pertencem principalmente às famílias Asteraceae, Brassicaceae, Convolvulaceae, Cucurbitaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae, Malvaceae e Solanaceae. É também preciso delimitar os problemas causados por B. tabaci como vetor de doenças daqueles causados pela sucção da seiva e formação de fumagina. Como vetor de doenças, os prejuízos potenciais são maiores e o tamanho da população de mosca branca tem uma importância menor: a simples presença dos adultos associada à presença de plantas portadoras de vírus é capaz de disseminar a doença para toda a lavoura. Nessa situação, a mosca branca assume uma importância maior para culturas como o feijão e o tomateiro, que são suscetíveis a doenças virais transmitidas pelo inseto, como o mosaico dourado do feijoeiro e as geminiviroses do tomateiro. Para a soja, o impacto de B. tabaci depende diretamente do tamanho da população da mosca branca e do estádio em que a cultura é atacada. Isto porque a mosca branca favorece o aparecimento da fumagina, um fungo que se desenvolve devido aos açúcares excretados pelas ninfas e depositados sobre as folhas (Figura 1). A fumagina, dependendo de sua intensidade, dificulta a fotossíntese e, em condições extremas, pode causar a morte prematura da planta antes do enchimento dos grãos. Portanto, a presença de ninfas associada às condições climáticas é que determinará a ocorrência de fumagina. Mas para entendermos como isto ocorre é preciso compreender o ciclo de vida deste inseto e os fatores que afetam o seu desenvolvimento. B. tabaci é um inseto de metamorfose incompleta, em que o ciclo de vida é dividido


Figura 1 - Formação de fumagina sobre as folhas de soja decorrente da deposição de açúcares por ninfas de Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae)

em ovo, ninfa (forma jovem) e adulto (Figura 2). A fêmea adulta, que tem apenas 1,5mm de comprimento por 0,5mm de largura, deposita de 30 ovos a 150 ovos durante sua vida. Os ovos são depositados na face inferior das folhas e levam entre cinco dias e seis dias para eclodirem. A ninfa, ao sair do ovo, caminha sobre a folha até encontrar um local onde possa penetrar o aparelho bucal em forma de estilete. Ao se conectar com um vaso de transporte de seiva, a ninfa fixa-se, permanecendo ligada à folha até a fase adulta. Esse período dura em média 18 dias, até a emergência do adulto. Todo o ciclo de vida pode durar de 20 dias a 35 dias, dependendo principalmente da temperatura. Temperaturas mais elevadas favorecem o desenvolvimento mais rápido da praga e, consequentemente, sua multiplicação. Nos períodos de entressafra, a mosca branca sobrevive em baixas densidades em plantas daninhas. Com o final do inverno e do período seco em outubro no Centro-Oeste do Brasil, inicia-se a semeadura das diversas culturas, principalmente a soja. A partir dos focos iniciais em plantas espontâneas, a mosca branca dispersa-se e, graças às temperaturas mais altas e à abundância de plantas hospedeiras, multiplica-se rapidamente. Assim, as lavouras que são semeadas tardiamente e possuem um ciclo maior são as que mais sofrem com altas populações de mosca branca, pois as primeiras lavouras são a fonte primária das grandes populações de B. tabaci para as

lavouras tardias, quando estas ainda estão em desenvolvimento. Somando-se a isto, períodos quentes e veranicos favorecem as explosões populacionais. São as lavouras tardias que geralmente exigem intervenções para reduzir a população da praga. As moscas brancas são voadoras pouco eficientes. Caso a planta hospedeira apresente condições que permitam a multiplicação do inseto, os adultos não se expõem, realizando somente voos curtos nos períodos mais frescos do dia. Quando as populações atingem altas densidades, os insetos deslocam-se em nuvens para novas áreas, transportados pelas correntes de ar, buscando novos hospedeiros onde possam se manter. A ocupação da lavoura pela mosca branca ocorre de forma agregada, a partir das bordas do talhão para o centro. Dessa maneira, o monitoramento deve dar prioridade às bordas dos talhões. A contagem de adultos em soja é mais difícil e normalmente de baixa precisão. Por isso, recomenda-se observar a presença de ninfas, com o auxílio de uma lupa, nas folhas do terço médio das plantas para acompanhar a evolução da população da mosca branca. Ao se optar pelo controle químico é indispensável a orientação de um técnico para a escolha do inseticida mais adequado e orientações sobre a pulverização. A grande dificuldade no controle da mosca branca reside em atingir o alvo, pois trata-se de um inseto

diminuto, cujas ninfas crescem imóveis na face inferior das folhas. A contaminação do inseto pelo inseticida durante o caminhamento, portanto, praticamente não existe. Por isso é vital que a pulverização garanta a melhor cobertura possível com o inseticida. Outro grande desafio no controle da mosca branca consiste na sua capacidade de evolução rápida para populações resistentes a inseticidas. Apesar de aparentemente haver muitos inseticidas comerciais para o controle da mosca branca, a maior parte é baseada nos mesmos ingredientes ativos, que podem ser agrupados em: neonicotinoides, piretroides, juvenoide, feniltioureia, análogo de pirazol, cetoenol, tiadiazinona e mais recentemente diamida. A bibliografia internacional está repleta de registros de resistência à maioria destes grupos inseticidas. Entretanto, aproximadamente 50% dos casos de resistência foram registrados para o grupo dos neonicotinoides. Isto não surpreende, uma vez que são os inseticidas mais amplamente utilizados, de forma maciça, sem o manejo adequado, o que certamente é a causa dos problemas com resistência. Como recomendações gerais para um bom manejo da mosca branca sugere-se semear e colher dentro do menor período possível. Monitorar os talhões para a chegada e a distribuição de B. tabaci. Caso seja necessário, buscar as melhores condições de pulverização e uma boa cobertura das plantas e folhas. Rotacionar os inseticidas considerando seus diferentes modos de ação para impedir a rápida evolução da resistência. Em um contexto mais amplo deve-se analisar toda a paisagem, espaço temporal do agroecossistema, observando a dinâmica da mosca branca, da cultura precedente e subsequente. Deve-se avaliar se há risco de transmissão de doenças, a área ocupada por estas culturas e a distribuição das lavouras dentro da propriedade e das propriedades vizinhas. Apenas dessa forma é possível manejar C esta importante praga. Edson Hirose, Embrapa Soja

Figura 2 - Ciclo de vida de Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae) – ovo, ninfa (fase jovem) e adulto

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Cana

Redutores de produtividade Fotos Leila Dinardo-Miranda

Nematoides são parasitos cujos danos variam de acordo com a espécie presente no canavial, cuja redução de produtividade pode superar 50% em casos de níveis populacionais muito altos. Devido à ausência de variedades comerciais resistentes, se sobressai o uso de nematicidas químicos aplicados no plantio e/ou nas soqueiras

O

s nematoides são importantes redutores de produtividade em canaviais brasileiros. A análise do banco de dados do laboratório DMLab, referente às amostras coletadas em canaviais da Região Centro-Sul do Brasil, entre 2001 e 2013, revelou que Pratylenchus zeae é, sem dúvida, a espécie mais frequentemente encontrada em populações altas o suficiente para causar danos econômicos, presente em 97% das amostras analisadas. As espécies Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus foram encontradas em aproximadamente 35% das amostras, enquanto Meloidogyne incognita, em

somente cerca de 20% das amostras, embora seja a espécie mais patogênica para a maioria das cultivares de cana-de-açúcar (Dinardo-Miranda, 2014). Os danos causados por esses parasitos variam em função das espécies ocorrentes, da população de cada uma delas, do tipo de solo, da variedade de cana e de muitos outros fatores, mas se situam em média entre 20% e 40% de redução de produtividade no primeiro corte, podendo chegar a mais de 50%, em casos de níveis populacionais muito altos e variedades muito suscetíveis. Nas soqueiras, a produtividade também é

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seriamente reduzida, comprometendo a longevidade da lavoura, que precisa ser renovada mais frequentemente em áreas infestadas (Dinardo-Miranda, 2014). A grandeza dos danos causados por nematoides em cana-planta e em cana-soca pode facilmente ser observada em campo, pelo uso de nematicida em áreas infestadas, em comparação com áreas não tratadas: plantas maiores apresentam menores populações de nematoides em suas raízes devido ao uso de nematicidas, no plantio ou nas soqueiras. O primeiro passo para reduzir os problemas com nematoides é conhecer as áreas onde


ocorrem. Para isso, é imprescindível realizar uma boa amostragem, que pode ser feita em qualquer ciclo da cultura, sendo os resultados utilizados na adoção de medidas de controle no ciclo seguinte. Dois parâmetros devem ser considerados para realizar uma boa amostragem: a época e o número de amostras a serem coletadas na área. Em relação à época de amostragem, deve-se considerar que as populações de nematoides nas raízes e no solo são influenciadas por inúmeros fatores, como temperatura e umidade do solo. Ambos exercem tanto influência direta sobre as populações de nematoides, afetando sua sobrevivência e capacidade de multiplicação, como indireta, interferindo no desenvolvimento das raízes. Uma vez que esses nematoides são parasitos obrigatórios, o desenvolvimento das raízes tem influência preponderante sobre seu desenvolvimento. Em épocas de temperaturas mais baixas e falta de água no solo, a cana-de-açúcar perde parte de seu sistema radicular e as populações de nematoides se reduzem, tanto devido às condições de umidade e temperatura baixas como por conta da morte das raízes das plantas. As populações de nematoides só voltam a crescer quando as temperaturas se elevam e a água no solo se torna abundante, condições favoráveis também para o bom desenvolvimento das raízes. Assim, o período mais adequado para amostragem é o mais quente e chuvoso do ano, que na região Centro-Sul do Brasil corresponde à primavera e ao verão. Nessa região, o pico populacional de nematoides em canaviais geralmente ocorre entre janeiro e março. O ideal é iniciar as amostragens cerca de 30 a 40 dias depois do início das chuvas e estendê-las até 30 a 40 dias após o fim da estação chuvosa (Dinardo-Miranda, 2014). Devido à grande variabilidade espacial das populações de nematóides é recomendável que

Soqueira em área infestada por nematoides, tratada (à esquerda) e não tratada com nematicida (à direita)

a amostra que representa determinado talhão seja composta por duas subamostras para cada hectare do talhão. São as amostras compostas que devem ser enviadas ao laboratório para análise. As amostras devem conter cerca de 100g de raízes e 1L de solo (Dinardo-Miranda, 2014). Considerando as espécies de nematoides presentes na amostra, a quantidade de cada uma delas, a época de amostragem, o ciclo da cultura, o ambiente de produção e outros fatores, baseado em dados experimentais o nematologista interpreta os resultados da análise, informando ao produtor o nível populacional de nematoides na área. Populações médias e altas de nematoides são consideradas superiores ao nível de dano econômico, e em áreas com tais populações medidas de controle devem ser adotadas.

O uso de variedades resistentes seria, sem dúvida, um dos métodos mais práticos para reduzir as populações de nematoides (Lordello, 1981). Entretanto, são raras as variedades atualmente em cultivo resistentes a, pelo menos, uma das espécies de nematoide de importância econômica. Além disso, em campo é frequente a ocorrência de duas ou mais espécies de nematoides na mesma área, fazendo com que o emprego de uma variedade resistente a uma única espécie não seja efetiva. A adição de matéria orgânica ao solo também é frequentemente citada como efetiva na redução populacional de certos nematoides, por criar condições favoráveis à multiplicação de seus inimigos naturais, principalmente fungos, e por liberar, durante sua decomposição, substâncias orgânicas com ação nematicida (Lordello, 1981). Em


canaviais, a matéria orgânica mais utilizada é a torta de filtro, mas trabalhos conduzidos em campo por Novaretti & Nelli (1985) e Dinardo-Miranda et al (2003) revelaram que a torta de filtro não tem efeito significativo sobre as populações de nematoides, pelo menos nas doses em que é empregada em canaviais. Os autores de ambos os trabalhos concluíram que os aumentos de produtividade observados pelo uso da torta de filtro deveriam ser atribuídos a seus efeitos nutricionais. Na implantação da lavoura em áreas infestadas por nematoides, a torta de filtro tem sido uma ferramenta valiosa para obtenção de produtividades mais elevadas, principalmente quando utilizada em conjunto com nematicidas, porque aos seus efeitos benéficos (umidade e nutrientes) se somam os benefícios dos nematicidas (redução populacional de nematoides). Outro material muito empregado em canaviais é a vinhaça, cujos efeitos na redução populacional de nematoides foram verificados por Pedrosa et al (2005), em estudos em laboratório e casa de vegetação. Embora os autores tenham observado que a vinhaça em altas doses (até 1.500m³/ha) pudesse prejudicar a eclosão de ovos de M. javanica e M. incognita, ressaltaram a necessidade de avaliações em campo, principalmente porque a vinhaça naquelas doses prejudicou o desenvolvimento das plantas. A torta de mamona teve efeitos mais expressivos. Em ensaio em campo, esse produto reduziu as populações de nematoides e, em função disso, promoveu incrementos de produtividade (Dinardo-Miranda & Fracasso, 2010a). Apesar disso, esse material tem sido pouco estudado e raramente empregado em canaviais devido ao seu alto custo. A rotação com plantas não hospedeiras,

para diminuir os prejuízos causados por nematoides, também tem sido alvo de estudos, em várias culturas. Em áreas cultivadas tradicionalmente com cana-de-açúcar, as crotalárias estão entre as plantas mais empregadas, por serem muito produtivas, o que reflete diretamente na produtividade do canavial subsequente. Estudos conduzidos no Nordeste do Brasil revelaram que as crotalárias podem reduzir as populações de nematoides do gênero Meloidogyne quando cultivadas por pelo menos dois anos na área (Moura, 1991; Rosa et al, 2003). Entretanto, podem aumentar as populações de P. zeae (Rosa et al, 2003). Quando o período de rotação de culturas se limita a quatro ou cinco meses, tempo entre a destruição do canavial antigo e a implantação da nova lavoura, como ocorre na região Centro-Sul do Brasil, faz-se apenas um ciclo de cultivo de crotalárias. Neste caso, não há efeito significativo da rotação com crotalárias sobre as populações de Meloidogyne no canavial implantado em seguida, embora possa ocorrer aumento nas populações de Pratylenchus (Dinardo-Miranda & Gil, 2005). Apesar disso, a rotação com crotalárias geralmente contribui para aumentos de produtividade no canavial subsequente, devido aos seus benefícios como adubo verde (Dinardo-Miranda & Gil, 2005), razão pela qual a rotação com crotalárias em áreas infestadas com nematoides tem sido bastante empregada em cana, sem dispensar, entretanto, o uso de nematicidas na implantação da lavoura de cana-de-açúcar. Devido à falta de variedades comerciais resistentes a nematoides e à baixa eficiência da matéria orgânica e da rotação de culturas na redução populacional de nematoides em canaviais, o manejo de áreas infestadas baseia-se no uso de nematicidas químicos aplicados no

Raízes coletadas (esquerda) e amostra contendo raízes e solo para análise nematológica (direita)

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plantio e/ou nas soqueiras, associado ou não ao emprego de matéria orgânica e à rotação de culturas. No plantio, os nematicidas são aplicados sobre os toletes, imediatamente antes do fechamento dos sulcos. Por reduzirem as populações de nematoides pelos primeiros dois a cinco meses de idade da cultura, promovem um melhor desenvolvimento das raízes e, consequentemente, da parte aérea das plantas, o que resulta em 15% a 50% de aumento de produtividade, em relação às áreas sem nematicida (Dinardo-Miranda, 2014). Nas soqueiras, os nematicidas são aplicados em corte ao lado das linhas de cana ou sobre elas, contribuindo para incrementos de produtividade de 10% a 25% (Dinardo-Miranda, 2014). A grandeza dos incrementos de produtividade está intimamente ligada à época em que se faz a aplicação do nematicida na soqueira e esta, ao desenvolvimento do sistema radicular da cana-de-açúcar. Como ocorre morte de raízes no período seco do ano e crescimento de raízes no período chuvoso, independentemente do corte da parte aérea das plantas (Vasconcelos, 2006), a aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas na época seca do ano (entre junho e outubro, na região Centro-Sul do Brasil) tem se mostrado mais vantajosa quando feita de 30 a 90 dias depois da colheita, de maneira a ficar próxima do período chuvoso subsequente. Por outro lado, para canaviais colhidos em pleno período chuvoso, as aplicações são mais efetivas e resultam em maiores incrementos de produtividade se realizadas logo depois do C corte (Dinardo-Miranda, 2014). Leila Luci Dinardo-Miranda, Centro de Cana-de-açúcar, IAC



COLUNA MERCADO AGRÍCOLA

Trump chega ao governo dos EUA e cria fato que ajuda agronegócio brasileiro O novo presidente dos EUA, Donald Trump, ao assumir o governo tirou o país do Tratado Transpacífico (sigla em inglês TPP), do qual mais 11 países da Ásia e Américas fazem parte. Essa medida pode trazer compradores tradicionais de produtos americanos para o mercado brasileiro, como o Japão, que faz parte deste pacto. Outra medida impactante consiste na liberação da construção de dois oleodutos, que irão aumentar a oferta de combustíveis fósseis aos americanos. Seguindo a regra que está estabelecida em lei, isso tende a aumentar também o uso de biocombustíveis nos EUA, produzidos por indústrias e produtores americanos. Mas o ponto importante é que os grandes mercados do agronegócio do Brasil estão na Europa, já consolidados, e na Ásia, em fase de crescimento. E com a medida adotada pelo governo norte-americano, que busca se fechar em uma economia protecionista, muitos países compradores de produtos americanos, como grãos e carnes, passam a buscar alternativas de abastecimento. Crescerão muito rapidamente os consumidores da Ásia e isso tudo pode trazer boas oportunidades de novas vendas ao Brasil. A demanda dos maiores volumes de importações de soja e de milho está na Ásia, em locais em que o Brasil pode crescer porque possui estes dois grãos em desenvolvimento de produção com facilidade de atender a estes mercados. Como tudo indica que os EUA adotarão uma economia mais burocratizada, com possibilidade de impostos de importação, os países fornecedores tenderão a retaliar e ir em busca de outros fornecedores. Desta forma este começo de governo Trump indica reflexos positivos para o mercado da América do Sul e principalmente para o Brasil. O Brasil se encontra em um ano de safra cheia, estimada em mais de 100 milhões de toneladas de soja e outros 90 milhões de toneladas de milho. Aliado ao arroz, com pouco mais de 11 milhões de toneladas, trigo, com seis milhões de toneladas, e feijão, com três milhões de toneladas. Somente nestes cinco produtos o país soma mais de 210 milhões de toneladas, que se acrescidos aos demais grãos, tende a resultar em colheita de mais de 215 milhões de toneladas. E para ter onde comercializar boa parte desta grande produção é importante uma mexida na política e na economia mundial, como a que está sendo proporcionada pelo novo governo norte-americano.

MILHO

FEIJÃO

Safra cheia e mercado lento

O milho tem a primeira safra estimada em aproximadamente 30 milhões de toneladas e como a soja foi plantada no período ideal, a safrinha do milho também deverá ser semeada na época recomendada. Com isso é aguardado potencial recorde, em torno de 60 milhões de toneladas, o que forçará o foco na exportação. Em dólares o milho registra aproximadamente US$ 10,00 por saca nos portos. Como a moeda norte-americana registra cotações baixas, isso deverá deixar lento o mercado do milho.

SOJA

Calmaria e boa demanda

O mercado do feijão, que no ano passado bateu recorde histórico de preços, começou 2017 calmo, com safra maior que pode atender a demanda e deixar as cotações mais favoráveis para os consumidores, que foram surpreendidos por níveis de até R$ 20,00 por quilo no varejo e agora observam níveis bem mais modestos, entre R$ 4,00 e R$ 6,00. Mas em tempos de crise o feijão voltou a ser o prato preferido dos brasileiros. Com isso há expectativa de grande demanda e alta nos indicativos depois de março.

ARROZ

Poucos vendedores

O mercado da soja do Brasil negociou antecipadamente percentual acima de 40% dos mais de 100 milhões de toneladas. Agora os produtores não mostram interesse em novas vendas, porque esperavam valores de setembro e outubro, quando a cultura alcançou valor acima de R$ 80,00 a saca ao produtor do Sul e acima de R$ 70,00 a saca no Centro-Oeste. Com cotações atuais bem abaixo destes indicativos, os produtores tendem a colher e entregar os contratos e segurar o restante. Pode ser que se observem navios esperando para carregar nos portos brasileiros, sem soja para embarcar. Mesmo com safra recorde.

Safra atrasada e mercado firme

A safra de arroz do Rio Grande do Sul (maior produtor) chegará com atraso ao mercado a partir do final de fevereiro. Desta forma, oferta mesmo do novo produto só será observada em março. O mercado começou o ano firme, próximo de R$ 50,00 a saca, e dá sinais de que novamente haverá um bom ano, mesmo com safra normal. Não há estoques e desta forma a disputa pelo grão será forte. O governo também não possui estoques e desta maneira haverá pequena baixa na colheita e alta na sequência, com espaço para voltar aos patamares atuais. Isso porque existe espaço para exportar com valores na faixa de R$ 45,00, sem muito espaço para queda. Será mais um bom ano para os orizicultores, que terão de negociar escalonadamente.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo seguirá atrelado aos contratos governamentais de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) porque o dólar barato facilita importação e dificulta reação local. Os piores momentos se dão em fevereiro, sendo que de março em diante tende a melhorar os indicativos e favorecer o produtor. UCRÂNIA - O inverno tem sido um dos mais fortes dos últimos anos na região, o que causou perdas na safra de cereais. Haverá menos trigo forrageiro e isso pode aumentar o consumo local de milho, o que pode auxiliar o Brasil, de quem os ucranianos são concorrentes neste mercado, uma vez que os produtores da Ucrânia tendem a ter menos milho para exportar em 2017. CHINA - As importações de grãos da China continuam fortes e isso não deve mudar. O país está no Ano Lunar do Galo e seguindo a tradição deverá haver forte demanda de ração. As compras de soja tendem a passar de 90 milhões de toneladas e o Brasil deve ser o grande fornecedor,

porque o novo presidente norte-americano tem se mostrado pouco amistoso aos chineses. ÁSIA - Os primeiros indicativos da safra de arroz deste ano na região apontam para uma produção menor. A Tailândia tem estimulado seus produtores à troca de cultivos, com plantio de menos arroz e redução da safra de 33 milhões de toneladas para 27 milhões de toneladas. A reação nas cotações já está ocorrendo e aponta níveis próximos de 400 dólares por tonelada no beneficiado local. Isso trará apoio ao arroz brasileiro. ARGENTINA - A safra deste ano está bastante comprometida por conta do clima. O país sofre com inundações em parte da faixa mais ao Norte e seca ao Sul. Com isso os números das perdas já são reais e tudo indica que alcançarão a casa de milhões de toneladas, o que acabará compensando parte do avanço da safra brasileira e dando fôlego para as cotações internacionais se manterem em C patamares atrativos.

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br • Twitter@brandalizzecons • brandalizzeconsulting.com.br

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COLUNA AGRONEGÓCIOS

U

Questionando dogmas

m dos princípios basilares da Ciência é o questionamento permanente. Dogmas são fundamentos religiosos, não científicos. Em Ciência, a verdade é sempre a última verdade, faz parte do cotidiano o permanente questionar, na busca da construção da verdade. Apesar disso, até recentemente, parte do estamento intelectual das nossas instituições científicas abdicou da obrigação de questionar determinadas afirmativas que partissem de uma autoridade do governo, quando sua obrigação seria fazê-lo até que não houvesse mais qualquer dúvida razoável por esclarecer. O fenômeno pode ser parcialmente explicado pela onda do “politicamente correto”, ou seja, determinados temas estariam acima do bem e do mal, seriam inquestionáveis. No universo da agricultura, temas como agricultura familiar, agricultura orgânica e similares eram tidos como incontestáveis. Na década passada, contestar a reforma agrária, que sempre foi um tema de polêmicas apaixonantes, também passou a ser considerado incorreto. O que ocorreu nesse período pode ser resumido em uma frase latina: “Brasilia locuta tollitur quaestio” que, em livre tradução, significa que, se uma autoridade do Governo Federal falou, então a questão não deve ser discutida, jamais deve ser dito “O rei está nu!”.

REFORMA AGRÁRIA

é um volume que pudesse ser escondido ou sonegado, pois significaria aumentar em 147% a produção brasileira. Para tentar forçar a discussão, provoquei aventando hipóteses extremadas: a) Nunca foram assentados 63 milhões de hectares, sequer 10% disto; b) A produtividade dos assentados é ínfima, servindo apenas para o autoconsumo; c) Em geral, os assentados recebem a terra e não produzem adequadamente, pois sua sobrevivência está garantida por outros programas assistenciais; d) parte dos assentamentos virou área de convivência e não de produção. O texto está disponível em http://www.gazzoni.eng. br/pagina25.htm#cad. Escusado informar que jamais recebi resposta ou fui contestado, afinal. “Brasilia locuta causa finita”, petulantes e inconvenientes devem ser olimpicamente olvidados.

AGRICULTURA FAMILIAR

Não fui caso isolado. O professor Rodolfo Hoffmann (Esalq/USP), cujas trajetória acadêmica e orientação ideológica o tornam insuspeito, reagiu quando autoridades do Governo Federal afirmaram que a agricultura familiar produziria 70% dos alimentos consumidos no Brasil (http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2011/07/agricultura-familiar-precisa-aumentar-vendas-e-se-organizar-melhor-diz-secretario). O professor Rodolfo não usou meias-palavras: “A afirmativa é falsa. O valor monetário de toda a produção da agricultura familiar corresponde a menos de 25% do total das despesas das famílias brasileiras com alimentos”. A íntegra do artigo está em http:// www.unicamp.br/nepa/publicacoes/san/2014/ XXI_1/docs/a-agricultura-familiar-produz-70-dos-alimentos-consumidos-no-brasil-.pdf. Em seu artigo, usando a definição legal de agricultura familiar, o professor Rodolfo foi direto ao busílis da questão: “É espantosa a reprodução sem crítica da porcentagem porque a afirmativa, em si, não faz sentido. Falar em ‘70% dos alimentos’ torna necessário definir o total de alimentos. Somam-se toneladas de soja com toneladas de uva e toneladas de açúcar? Toneladas de açúcar ou toneladas de cana-de-açúcar? Toneladas de trigo, de farinha de trigo ou de pão? Toneladas de soja ou de óleo de soja? Dada a grande heterogeneidade dos alimentos, é um absurdo somar as quantidades físicas”.

Entrementes, apesar do risco ao fazê-lo, alguns questionamentos foram antepostos, e eu fui um permanente questionador de verdades impostas. Relembro, como um dos exemplos, o questionamento público que fiz quando o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) anunciou que, até 2007, assentara mais de 1,5 milhão de famílias em 30 anos, que ocupariam uma área de 63 milhões de hectares (Mha), e que a agricultura familiar responderia por mais de 50% do PIB agrícola do Brasil. Achei os números muito elevados e fui verificar a série histórica de área cultivada e produção colhida no Brasil, disponíveis na FAO, no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As estatísticas mostravam que, nos 30 anos mencionados, a área cultivada no Brasil havia aumentado apenas 9Mha. Mesmo que essa área proviesse tão somente de assenDESCONSTRUINDO O SOFISMA tamentos – e não o era! – ainda faltariam Como convém a todo o cientista, o pro54Mha, nos quais, pela produtividade da fessor Rodolfo não ficou apenas no discurso época, seria possível produzir 193Mt. Fiz a vazio, mas fundamentou sua contestação pergunta óbvia: “Cadê a produção?”. Não em fatos e números, utilizando informações

oficiais do próprio governo, para desmentir as autoridades. Com base nos dados do IBGE (Censo Agropecuário de 2006), encontrou números totalmente diferentes da versão oficial. Verificou que a agricultura familiar participou com 83,2% da produção de mandioca, 69,6% do feijão, 33,1% do arroz e 14% da soja. Os números do Censo mostraram que 29,7% das cabeças de bovinos, 51,2% das aves e 59% dos suínos pertencem à agricultura familiar, na qual trabalham 12,3 milhões de pessoas. O professor Rodolfo foi além, analisando os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, que permitem avaliar a contribuição dos diversos alimentos para a nutrição dos brasileiros. Para esse levantamento, o IBGE usa uma amostra de pessoas com idade igual ou superior a dez anos, registrando o consumo de todos os alimentos ao longo de 24 horas. O IBGE também disponibiliza uma tabela que permite calcular a energia e os nutrientes fornecidos pelos alimentos. De posse dessas informações, o professor Rodolfo verificou que aqueles constituídos essencialmente por mandioca (aipim, macaxeira, tapioca, farinha de mandioca etc) fornecem apenas 2,3% da energia total dos alimentos consumidos. Também comparou o valor da produção da agricultura familiar com o total da despesa com alimentação das famílias do País. De acordo com os dados da POF, o total da despesa anual com alimentos era R$ 292,6 bilhões. Assim, o valor da produção da agricultura familiar corresponde a 21,4% do valor total das despesas com alimentos das famílias do País.

QUESTIONAR É PRECISO

O professor Rodolfo assim finaliza seu artigo: “Como neto de imigrantes alemães que criaram seus filhos no Brasil com base na agricultura familiar, nada mais distante das intenções de quem escreve do que reduzir a importância que o leitor atribui à agricultura familiar. Mas a afirmativa de que ‘A agricultura familiar produz 70% dos alimentos consumidos no Brasil’ não tem base e, pior, não tem sentido. O reconhecimento da importância da agricultura familiar no Brasil não precisa de dados fictícios”. É lamentável verificar que a afirmativa de que 70% dos alimentos consumidos no Brasil provêm da agricultura familiar ainda continua a ser repetida. Mas, para o bem da agropecuária brasileira, é fundamental aprendermos a lição, e que a fase dos dogmas inquestionáveis, se pronunciados por uma autoridade, esteja devidamente relegada ao lugar da História C que lhe seja mais apropriado.

Decio Luiz Gazzoni O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa

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COLUNA ANPII

Avanços consistentes Novos resultados de pesquisas mostram que a soja pode atingir níveis ainda mais elevados de produtividade com o uso de inoculante como fonte de nitrogênio, além de mostrar o potencial desta tecnologia para a cultura do feijão

O

fornecimento de nitrogênio para leguminosas, prática consagrada na agricultura brasileira, em especial na cultura da soja, encontra-se em constante evolução. Há cinco anos que o uso de inoculantes no País não para de crescer, mostrando a plena aceitação do produto pelos agricultores brasileiros. Embora ainda não tenham sido fechados os números de vendas referentes a 2016, já se sabe que houve incremento em relação a 2015, mostrando uma curva crescente no uso do inoculante biológico. No campo da pesquisa, a Reunião da Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola (Relare), realizada em Londrina, em junho, mostrou consistentes avanços na credibilidade dos resultados referentes ao aumento da produtividade com o uso de inoculantes na cultura da soja e, fato promissor, novos resultados em feijoeiro mostram que em breve será possível chegar nesta cultura aos mesmos patamares de fixação do nitrogênio observados em soja. Novos resultados da pesquisa, somados aos que já vinham sendo apresentados em reuniões anteriores, mostram um caminho muito claro para o uso de inoculantes na cultura do feijão no Brasil. Fica muito claro, também, como uma tendência com dados insofismáveis, que a cultura da soja pode atingir as mais elevadas produtividades, tendo o inoculante como única fonte de nitrogênio. Espera-se que aqueles que, ainda apegados a conceitos antiquados, recomendam o uso de nitrogênio mineral na cultura da soja, parem de fazê-lo, pois esta recomendação é um claro desserviço aos agricultores.

Espera-se, também, que mais esclarecimentos cheguem ao campo e agricultores deixem de ser enganados pelo uso de métodos que prometem a produção de inoculantes em “fermentadores” caseiros, com nítida perda de qualidade, pois é impossível multiplicar bactérias em ambientes que não respeitem estritamente os parâmetros de biotecnologia. No campo de inoculantes para gramíneas também se abre um promissor caminho: novas cepas de Azospirillum estão em processo de seleção, bem como novas formulações dos inoculantes, prometendo novidades

Há cinco anos que o uso de inoculantes no país não para de crescer, mostrando a plena aceitação do produto pelos agricultores brasileiros. Embora ainda não tenham sido fechados os números de vendas referentes a 2016, já se sabe que houve incremento em relação a 2015

que poderão incrementar o uso deste insumo nas culturas de gramíneas, inclusive em pastagens. Mas é no consórcio de microrganismos onde poderão surgir as maiores novidades. Já consagrado, o uso conjunto de inoculantes à base de Bradyrhizobium com os inoculantes formulados com Azospirillum tendem a crescer exponencialmente, devido aos excelentes resultados obtidos nas lavouras espalhadas por todo o País, confirmando os consistentes resultados obtidos pela pesquisa. E neste campo, da coinoculação, mais uma vez aparece o feijoeiro como uma cultura que tem respondido fortemente ao uso conjunto do Rhizobium e do Azospirillum. Resultados de produtividade mostram que esta combinação das duas bactérias traz um resultado altamente positivo para o agricultor, diminuindo o custo da lavoura e aumentando a produtividade. Mas novos caminhos se abrem para este uso conjunto de microrganismos. Como na natureza nada ocorre isoladamente, mas todos os seres interagem, os trabalhos de pesquisa para o uso simultâneo de diversos microrganismos, com ações sinérgicas, são o caminho para uma agricultura ao mesmo tempo altamente produtiva como também sustentável e inserida nos projetos de preservação do ambiente. As empresas da ANPII, com seu elevado patamar tecnológico, se mantêm permanentemente atualizadas e acompanhando, através de seus departamentos de P&D e com os convênios com os centros de pesquisa, os avanços da área de microbiologia do solo e as possibilidades existentes para o avanço na produção e no uso de inoculantes que, a cada avanço, agreguem ainda mais valor ao agroC negócio brasileiro.

Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII

38 Fevereiro 2017 • www.revistacultivar.com.br






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Tecnologia de sementes

03

A

Cultivar

Um longo e árduo caminho foi percorrido pela pesquisa no Brasil até que se tornasse possível contar com variedades de algodão que, além de atender ao mercado interno, permitissem alcançar os padrões exigidos para exportação. Atualmente, o País desponta na adoção de práticas tecnológicas nesta cultura

partir de 1994, o algodão foi levado para o Cerrado brasileiro, o que deu início a uma era de grande prosperidade. Começou-se pelo estado do Mato Grosso, posteriormente Oeste da Bahia, Mato Grosso do Sul, Goiás, etc. No Cerrado, com grandes extensões de áreas, a mecanização foi uma questão primordial para o crescimento da cultura. A partir daí, foi intensificada a utilização de herbicidas seletivos ao algodão, melhorando o controle de ervas, a colheita mecânica e consequentemente a qualidade do algodão. Então a pesquisa começou a andar a passos largos e a desenvolver variedades, tecnologias que pudessem levar ao produtor e principalmente ao mercado externo um produto de alta qualidade. E para isso são necessários alguns parâmetros essenciais para a exportação do algodão brasileiro, como Tipo, Micronair, Resistência, Comprimento, Maturidade, Uniformidade e Índice de Fibra Curta.

O TIPO

Influenciado diretamente pela condição de manejo da fazenda, pois, é o tipo que nos indica se o algodão está branco ou cinza, “sujo” ou “limpo”, e a quantidade de folhas ou impurezas. A brancura também está relacionada à variedade, pois existem algumas mais brancas do que outras, ou seja, a genética também ajuda.

O MICRONAIR

O micronair é a espessura da parede celular, que depende da deposição da celulose para ser formado e do período de formação de 25 a 30 dias, o que vai conferir maturidade a esta célula. Dentro deste período de formação qualquer falha no clima (veranicos, tempo nublado ou chuvoso) faz com que o algodão tenha um comportamento diferente do normal e se apresse na formação da maçã, prejudicando assim a maturidade da fibra e promovendo uma parede celular mais fina. Também temperaturas noturnas menores que 20°C afetam diretamente. Essa parede celular mais fina significa que a fibra não teve tempo suficiente para maturar, ou seja, a deposição da celulose foi prejudicada pela condição climática que paralisou de alguma forma a planta, prejudicando o metabolismo ou até mesmo o paralisando.


04 • Fevereiro 2017 • Algodão • www.revistacultivar.com.br Figura 1 - Processo de formação da espessura da parede celular através da deposição da celulose

Dentro do contexto, não é correto dizer que o micro deixa a fibra mais fina, com a resistência baixa ou até mesmo que pode prejudicar o comprimento da fibra, pois o micro é a espessura da parede celular. Então, podemos ter um micro baixo e uma fibra com comprimento, resistência, uniformidade e maturidade dentro dos padrões, por isso a importância de analisar o contexto geral das características intrínsecas da fibra.

A RESISTÊNCIA

É a união da celulose depositada, agregando-se e formando um só tecido. Tecido este que com a uniformidade da celulose depositada unindo umas às outras formam um tecido forte promovendo a resistência à tração, devido à formação da fibra que se faz com torção.

O COMPRIMENTO

Se dá através do crescimento da célula, que pela carga genética, desde o início, se diferencia no processo. Esse processo pode ser interrompido quando o algodão sofre algum tipo de estresse, paralisa suas funções e como uma proteção à perpetuação da espécie matura o fruto antes da hora priorizando as sementes que já estão prontas dentro das cápsulas e prejudicando as Figura 2 - Resistência

que ainda não se formaram plenamente. Como é possível observar na Figura 3, há uma fibra já longa e outra ainda no início do processo. Neste caso, se a planta não tiver tempo suficiente para a formação plena, a fibra fica curta, prejudicando o comprimento médio do algodão.

A MATURIDADE

Como o próprio nome indica, é o período que cada fibra necessita para completar seu ciclo e se desenvolver. Quando este período é adiantado por estresse hídrico, período nublado ou falta de nutriente no solo capaz de dar à planta capacidade de formar suas maçãs, ocorre um período reduzido na formação da fibra, o que indica uma fibra imatura. Isso prejudicará todos os processos em questão comentados anteriormente. Maior número de fibras imaturas significa maior número de índice de fibra curta, micronair reduzido, comprimento anormal e uma uniformidade comprometida, como mostra a Figura 4.

A UNIFORMIDADE

É a relação entre comprimentos das inúmeras fibras formadas em uma só semente. Cada semente se protege formando fibras em sua volta, cada fi-

bra sendo uma celular tem crescimento individual e contínuo. Esse crescimento contínuo, quando paralisado por algum fator externo, reduz o tamanho da fibra, fazendo com que cada fibra que envolve a semente seja de um tamanho diferente, afetando a uniformidade. O fator que mais prejudica a uniformidade chama-se algodoeira desregulada, que quebra o fio. Outro fator menos comum, que neste ano chama a atenção, é a maturação precoce do algodão, prejudicando a formação das maçãs de ponteiro, causando a falta de uniformidade.

O ÍNDICE DE FIBRAS CURTAS

A fibra por si só possui dentro de sua genética o quanto vai crescer. Se não for prejudicada, manterá o crescimento que já está inserido em sua genética. O grande vilão é novamente a algodoeira desregulada, que com suas serras quebram as fibras, promovendo um alto índice de fibras curtas, o que vai provocar os famosos nep’s nas fibras, que são imperfeições ou nós que se formam pelo acúmulo de “restos” de fibras quebradas dentro do processo. Isso provoca imperfeições no tecido, principalmente no ato de tingi-lo. Atualmente os patamares são (interno e externo): Micro: 3.8 - 4.2 Comp: >28mm Resist: >29g/tex Elong: >7,0 Maturidade:>80% Uniformidade: >75% Índice de Fibra Curta: <10% (mais importante) SCP: > 2200 SCI: > 130

Figura 3 - Fibra já longa e outra ainda no início do processo


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FATORES QUE INFLUENCIAM NAS CARACTERÍSTICAS DA FIBRA

– Componente genético (cultivar, semente de boa qualidade) – Condições climáticas (água, temperatura, luz) – Pragas e doenças – Plantas daninhas – Época de semeadura – Práticas agrícolas (arranjamento po-pulacional)

COMPONENTE GENÉTICO

O primeiro passo para uma alta produtividade é a escolha de uma cultivar que reúna todas as características que o mercado exige. A semente de boa qualidade, com alto vigor e germinação, é fundamental para estabelecimento de um bom estande, tendo plantas emergidas na mesma época, evitando problemas com plantas dominantes. Sementes com baixo vigor, que ficam muito tempo debaixo do solo (acima de 12 dias), podem consumir parte da sua reserva de energia, fazendo com que surjam plantas desuniformes e em diferentes estágios. Isto afetará diretamente a produtividade final. Atualmente, existem materiais sendo lançados com diferentes tecnologias para controle de pragas e seletivos para diferentes classes de herbicidas.

BOLLGARD I

Controla curuquerê (Alabama argilacea), lagarta das maçãs (Heliothis virescens) e lagarta rosada (Pecthinophora gossypiela). Em relação ao glifosato, recomenda-se a aplicação somente até a emissão do primeiro botão floral. Após,

05

Tabela 1 - Eventos, tolerância e resistência Evento Bollgard I Bollgard II WideStrike Twilink

Proteína Cry 1Ac Cry 1Ac + Cry 2Ab2 Cry 1Ac + Cry 1F Cry 1 Ab + Cry 2Ae

Tolerância a lagartas parcial poucos escapes parcial poucos escapes

há riscos de abortamento.

BOLLGARD II RR FLEX

Controla curuquerê (Alabama argilacea), lagarta das maçãs (Heliothis virescens), lagarta rosada (Pecthinophora gossypiela) e falsa medideira (Crysodeixis includens), e promove supressão a Helicoerpa zea e Spodoptera frugiperda. Em relação ao glifosato, pode ser usado em qualquer estágio da cultura.

WIDESTRIKE

Controla curuquerê (Alabama argilacea), lagarta das maçãs (Heliothis virescens), lagarta rosada (Pecthinophora gossypiela) e Spodoptera frugiperda (nas últimas safras este inseto tem demandado necessidade de controle).

TWILINK PLUS

Controla curuquerê (Alabama argilacea), lagarta das maçãs (Heliothis virescens), lagarta rosada (Pecthinophora gossypiela) e falsa medideira (Crysodeixis includens), e uma supressão a Helicoerpa zea e Spodoptera frugiperda. Essa tecnologia também é conhecida como GLT (Glifosato, Liberty e Twilink). Em relação ao glifosato e glufosinato, podem ser usados em qualquer estágio da cultura. Todas essas tecnologias, quando lançadas, apresentaram uma alta eficiência no controle de lagartas lepidópteras. Contudo, seu uso deve obedecer sempre

Figura 4 - A maturidade é o período que cada fibra necessita para completar seu ciclo e se desenvolver

Resistência a glifosato parcial sim não sim

Resistência a glufosinato não não não sim

Tabela 2 ESTÁDIO Solo (Semeadura) Crescimento Vegetativo Pr. Botão Floral Crescimento Reprodutivo Pico Florescimento Primeiro Capulho Maturação TOTAL

ÁGUA DIÁRIA (mm) >0 1–2 2–4 3–8 8 8–4 4 550 – 700

o recomendado pelas empresas detentoras, com no mínimo 20% de área de refúgio (plantar cultivares convencionais para geração e cruzamento de indivíduos suscetíveis com resistentes para evitar possível resistência). Ao longo desses anos, nota-se uma tolerância às proteínas, principalmente Cry 1F, que era para promover total controle à lagarta Spodoptera frugiperda. Neste caso, já foram encontrados escapes em materiais Bollgard II e Twilink, sendo necessário o controle de acordo com o monitoramento realizado na lavoura. Quanto à resistência aos herbicidas glifosato e glufosinato, também é possível notar escapes de algumas daninhas. Por isso sempre é aconselhável, antes de qualquer plantio, verificar quais são as ervas daninhas predominantes e trabalhar com herbicidas pré-emergentes que são extremamente eficientes para o controle. E depois, na pós-emergência, efetuar o controle com glifosato ou glufosinato.

Figura 5 - Desenvolvimento e distribuição das fibras no óvulo


06 • Fevereiro 2017 • Algodão • www.revistacultivar.com.br Luis Henrique Kasuya

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS

O algodão é uma cultura exigente em termos de luz, água (550mm a 700mm) e temperaturas na faixa de 28ºC a 32ºC durante o dia e 20ºC a 22ºC durante a noite. O Gráfico 1 mostra condições normais de temperatura para uma variedade de ciclo médio – 170 dias da emergência até a colheita. A emissão do primeiro botão floral ocorre em média por volta dos 28 dias a 32 dias após a emergência (DAE). A primeira flor a ser emitida em média com 53 a 58 DAE tem o seu pico de florescimento entre 65 e 95 DAE. A Tabela 2 mostra a necessidade hídrica da cultura de acordo com o estágio fenológico. Tudo isto pode mostrar uma pequena variação de acordo com o tipo de solo (solos mais argilosos, maior retenção de água) e também de acordo com tipo de plantio (direto ou não).

pé de galinha (Eleusie indica) e caruru (Amaranthus spp), também têm se tornado ervas de difícil controle. Por isso sempre é aconselhável a utilização de herbicidas pré-emergentes: inibidores de mitose trifluralina, inibidores de crescimento – metolachlor, inibidores de síntese de caroteno – clomazone (necessário utilização de safety) e inbidores de fotossistema II – diuron e prometryne.

para o algodão é essencial para o número de plantas ideal de acordo com cada variedade para obtenção de alta produtividade. Na região Oeste da Bahia, o espaçamento entre linhas prevalece entre 0,76m e 0,90m. É realizada uma safra de sequeiro, sendo plantada entres os meses de novembro e dezembro. Para o irrigado permanece o mesmo espaçamento, porém sendo plantado entre janeiro e 1° decêndio de fevereiro. No Mato Grosso, o plantio na 1a safra ocorre preferencialmente em dezembro e até começo de janeiro com espaçamento variando entre 0,76 m e 1,00 m entre linhas. Na 2a safra o plantio é realizado entre janeiro e fevereiro, adensado, com espaçamento entre linhas de 0,38 m a 0,45 m. Atualmente, com as variedades disponíveis no mercado com toda a sua tecnologia o manejo mudou, principalmente em relação à marcha de absorção de nutrientes. Por isso é fundamental conhecer a fundo o material, suas necessidades hídricas, demanda por luz, nutrientes e manejo de regulador de crescimento, fatores preponderantes para obtenção de alta produtividade e qualidade. O algodão é uma cultura extremamente técnica que exige conhecimentos profundos de todas as áreas e o Brasil com certeza é o país que mais adota práticas C tecnológicas nessa cultura.

ÉPOCA DE SEMEADURA

PRAGAS E DOENÇAS

As variedades mais modernas atualmente têm um amplo espectro de controle para lagartas lepidópteras. Porém, existem outras pragas como pulgões, mosca branca, trips, bicudo, ácaros, percevejos e etc. que demandam total atenção desde a dessecação da área até a finalização da colheita. Algumas pragas podem interferir diretamente na qualidade da pluma. Algumas plantas daninhas como capim amargoso (Digitaria insularis), capim pé de galinha (Eleusine indica) entre outras, estão se tornando resistentes à ação do herbicida glifosato. Para o herbicida glufosinato, capim

O algodão é plantado na maior parte do Cerrado brasileiro entre os meses de novembro e janeiro (cultura sequeiro) e janeiro e 1° decêndio de fevereiro (cultura irrigada). Essa janela tem por objetivo obter temperaturas ideais para o desenvolvimento da cultura, evitando-se as mais amenas (abaixo de 20°C durante o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta). Temperaturas baixas aumentam a produção de fitoalexinas, causando um avermelhamento na planta e diminuindo sua taxa fotossintética, também aumentando o ciclo e diminuindo o peso das maçãs.

PRÁTICAS AGRÍCOLAS

Um bom arranjamento populacional

Gráfico 1

Luis Henrique Barbosa Kasuya, Kasuya Inteligência Agronômica Divulgação

PLANTAS DANINHAS

O algodão é uma cultura extremamente técnica que exige conhecimentos profundos de todas as áreas

Kasuya aborda os padrões que o algodão precisa atender para comercialização


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07 Germison Tomquelski

Ambiente Bt O uso de plantas geneticamente modificadas resistente a insetos é uma ferramenta importante no manejo integrado de lagartas como Helicoverpa armigera e Spodoptera frugiperda, duas pragas que têm apresentado alto custo e dificuldades de controle em lavouras de algodão. Seu uso, assim como o das demais tecnologias, demanda critério, além de respeito a áreas de refúgio e emprego não isolado, com adoção de outras técnicas como manejo cultural, vazio sanitário, controle biológico natural e controle químico

A

planta de algodão é afetada por um grande número de pragas, que durante o ciclo da cultura são capazes de causar redução na produção, resultando em prejuízos consideráveis ao agricultor. As lagartas levam comumente a que-

bras na ordem de 30% ou mais. Somente a lagarta Helicoverpa, na região dos Chapadões, tem seu custo de controle na ordem de 200 dólares por hectare. De modo geral, na região Centro-Oeste, a intensidade do ataque das diversas espécies de lagartas tem obrigado os

produtores a realizarem de 8 a 15 pulverizações na cultura em ambiente não Bt. O alto custo tem afetado a produção, a sustentabilidade e a comercialização do algodão, tornando-o menos competitivo no cenário mundial. Entre as diversas lagartas se destacam o curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argillacea), a lagarta-da-maçã (Heliothis virescens), as lagartas do complexo (Spodoptera frugiperda e S. eridania) e a Helicoverpa armigera que nas condições de cerrado apresentam alta frequência, destruindo folhas, maçãs e sementes, comprometendo a produção. No Manejo Integrado de Pragas (MIP) é fundamental o reconhecimento das pragas e seus inimigos naturais. O monitoramento é a operação que reúne informações para tomada de decisão de controle, como danos e a intensidade da ocorrência. Entretanto, nos programas de MIP, a tomada de decisão de controle se modifica em função de diversos fatores, como eficiência das estratégias de manejo, pátio de máquinas, custos


08 • Fevereiro 2017 • Algodão • www.revistacultivar.com.br Gráfico 1 - Porcentagem de ataque por H.armigera às estruturas reprodutivas de cultivares Bt e convencionais

Fundação Chapadão. Chap.Sul/MS. 2013. G.51.

de controle, entre outras, variáveis ao longo dos anos. O MIP caracteriza-se em alterar o agroecossistema o mínimo possível e a partir desse pressuposto, o controle de pragas da cultura algodoeira deixou de ser realizado por meio da dependência exclusiva de inseticidas químicos, para se adotar sistemas que enfatizam o manejo da população de artrópodes no agroecossistema. Com o advento da biotecnologia, desenvolveu-se um método de controle que consiste no uso de plantas geneticamente modificadas resistentes a insetos, resultado de técnicas de laboratório utilizando-se o gene de Bacillus thuringiensis Berliner (Bt), uma bactéria encontrada no solo, introduzida em plantas de algodoeiro, conferindo resistência à planta, contra algumas espécies de lepidópteros-praga. A tecnologia do algodão geneticamente modificado foi introduzida comercialmente nos EUA em 1996, e vem sendo utilizada também em outros países como Canadá, Argentina, África do Sul, Austrália e outros. A liberação de cultivares transgênicas comerciais no Brasil ocorreu em 2006. Essa liberação das cultivares transgênicas apresenta uma questão importante com efeito da sustentabilidade da tecnologia, sendo a estratégia de “alta dose de toxina associada à área de refúgio”. Essa estratégia se apresentou por modelos matemáticos a simulação de resistência, sendo necessários 20% de área de refúgio, para durabilidade de pelo menos dez anos dessa tecnologia (Comissão Técnica de Biossegurança, 2005). Esta prática tem o fim de que indivíduos suscetíveis e resistentes a esta tecnologia possam se cruzar, diminuindo a rapidez da aquisição de resistência,

além de servirem como hospedeiras de inimigos naturais. Novas tecnologias foram incorporadas no sistema de produção como a WideStrike, Bollgard 2 e por último a TwinLink. No Brasil, por apresentar condições de vários ciclos da praga, tem se observado um aumento principalmente no número de indivíduos do complexo de Spodoptera. Entre as lagartas deste gênero destacam-se a Spodoptera frugiperda e S. eridania. No caso do algodoeiro, as lagartas podem cortar as plantas jovens na base do caule, causar desfolhamento e perfurações aos botões florais, flores e maçãs. Algumas plantas invasoras como corda-de-viola, trapoeraba e capim-amargoso, além de culturas de cobertura como milheto, braquiárias e nabo-forrageiro,

se comportam como boas hospedeiras, tornando possível o desenvolvimento e a permanência do complexo de Spodoptera nas áreas de cultivo. Outra espécie importante na cultura do algodoeiro é a Helicoverpa armigera. Praga altamente polífaga, pode se alimentar tanto dos órgãos vegetativos quanto reprodutivos de várias espécies de plantas de importância econômica no país, dentre estas o algodoeiro. Seus prejuízos já foram constatados na região dos Chapadões na ordem de 75%. Para o manejo destas importantes pragas o alicerce está na boa amostragem de campo, onde o monitor deve realizá-lo obedecendo alguns pontos importantes como a frequência de amostragem, em intervalos de cinco dias, bom número de pontos que dê representatividade da lavoura, além de uma boa acurácia com relação às pragas. O número de pontos em um talhão é variável em função da operacionalidade, mas não pode-se deixar de lado a questão da boa representação dessas amostras. Uma das táticas de manejo é a utilização de cultivares Bts (com gene de resistência a lagartas). Os cristais de B. thuringiensis, ao serem ingeridos pelas larvas sofrem ação do pH intestinal e de proteases, que solubilizam o cristal e ativam as toxinas. Estas, por sua vez, se ligam a receptores localizados no tecido epitelial do intestino da larva,

A Helicoverpa se alimenta tanto dos órgãos reprodutivos quanto vegetativos da planta


www.revistacultivar.com.br • Algodão • Fevereiro 2017 • ocasionando a quebra do equilíbrio osmótico da célula, que se intumesce e rompe, propiciando o extravasamento do conteúdo intestinal para hemocele do inseto. Em consequência, a larva para de se alimentar, entra em paralisia geral e morre por inanição ou septicemia. Essa estratégia é muito bem vista por preservar grande parte dos inimigos naturais na cultura. No entanto, a sua utilização sem os cuidados com refúgio e outros aspectos tem levado ao processo de seleção de indivíduos resistentes. Estudos conduzidos na Austrália por Daly et al. (2000) demonstraram que há um certo declínio na mortalidade de Helicoverpa armigera e H. punctigera, em lavouras com algodão Bt que expressavam somente a proteína Cry1Ac. No início da cultura ocorria mortalidade de 100% das lagartas e com o passar do tempo, surgindo as maçãs, o nível de mortalidade caiu para 40%, sendo um fator relacionado ao decréscimo no nível de mRNA. Uma extensa série de genes de B. thuringiensis pode ser utilizada na transgenia, incluindo alguns produtos comercialmente disponíveis e pipelines, principalmente os que expressam as toxinas Cry1Ab, Cry2Ab, Cry2Ae, Cry1F e Cry1Ac, tais como: WideStrike, Bollgard, Vip-Cotton e Fibermax TwinLink. Em geral, a proteção do potencial produtivo tem favorecido a rentabilidade da cultura do algodoeiro. Seu amplo espectro de controle tem valorizado o investimento feito pelo produtor durante toda a safra. As pesquisas com algodão Bt testam algumas hipóteses, eficiências e pressupostos. Neste quesito já foi observado que algumas espécies não são controladas adequadamente com somente um gene Cry, precisando de aplicações foliares de inseticidas para espécies como Helicoverpa armigera e Spodoptera frugiperda. Vale salientar que grande parte das moléculas no Brasil ainda apresenta certos problemas de resistência, e isto é variável em função das diversas populações que apresentam suscetibilidades diferentes dentro do País. A boa escolha de uma tecnologia Bt aliada a outras táticas de manejo pode fazer a diferença no resultado final do produtor. Trabalhos desenvolvidos pela Fundação Chapadão mostraram que novas tecnologias (caso do TwinLink) se

09 Fotos Germison Tomquelski

Tecnologia Bt é uma das armas dos cotonicultores contra H. armigera

apresentam muito eficientes no caso de H. armigera (Gráfico 1) e S. frugiperda. Esta última trata-se atualmente de uma das pragas que apresenta maior dificuldade no manejo, em função de diversos aspectos. Trata-se de uma praga do sistema de produção que se adaptou às diversas condições do Cerrado brasileiro, com hospedeiros alternativos, sendo o milheto ou mesmo outras gramíneas presentes fornecedores de populações para o início das infestações nas áreas. O aumento da população de S. frugiperda e das outras espécies é inegável, e em função das várias gerações que ocorrem

durante o ano, esta praga tende a incomodar mais produtores e técnicos. A biotecnologia deve ser analisada como mais uma ferramenta no manejo dessas importantes pragas. É preciso aliá-la a outras técnicas como o manejo cultural, o vazio sanitário, o controle biológico natural e o controle químico para o bom C manejo integrado de pragas.

Thais Santos Dias, Josiane Oliveira, Bruna Reis de Mello e Germison Tomquelski, Fundação Chapadão


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Questão de sanidade Luiz Chitarra

Para alcançar bons níveis de produtividade e produzir fibra de qualidade, cuidados com a sanidade das sementes de algodão e com o estabelecimento do estande inicial da lavoura são imprescindíveis

A

condição sanitária é extremamente importante considerando-se que as sementes são veículos de agentes fitopatogênicos, que nelas podem se alojar e serem levados ao campo, provocando redução na germinação e vigor, além de originar focos primários de infecção. O objetivo do teste de sanidade de sementes é determinar o estado sanitário de uma amostra de sementes e, consequentemente, do lote que representa, obtendo-se, assim, informações que podem ser usadas para comparar a qualidade de diferentes lotes de sementes ou determinar a sua utilização comercial. Existem vários testes de laboratório que podem ser utilizados para caracterizar o estado sanitário das

sementes, sendo que o principal método é o papel de filtro (blotter). Em casos específicos, o método pode ser alterado, variando-se a temperatura e o período de incubação para detectar patógenos como Sclerotinia sclerotiorum, por exemplo. No caso de Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, o método recomendado para a detecção desse patógeno nas sementes de algodão é o blotter test. Em relação a Sclerotinia sclerotiorum, que é um fungo não detectável facilmente nas sementes pelo método de incubação em substrato de papel (blotter test), métodos específicos foram desenvolvidos com o objetivo de detectar com rapidez e maior precisão esse patógeno, tais como rolo de papel toalha modificado, blotter test

modificado e incubação em meio ágar-bromofenol (Neon). Colletotrichum gossypii South var. cephalosporioides Costa - (C.G.C.)

O patógeno, causador da ramulose, é transmitido tanto externa quanto internamente pelas sementes de algodoeiro, que são o mais eficiente veículo de disseminação do mesmo. O papel das sementes na transmissão do patógeno fica evidente ao constatar-se a doença em áreas novas. As taxas de transmissão de C.G.C. planta-semente e semente-planta são bastante elevadas e por esta razão, a utilização de sementes portadoras do patógeno representa sério risco de sua introdução em áreas novas


www.revistacultivar.com.br • Algodão • Fevereiro 2017 • (taxa de transmissão do patógeno das sementes para a parte aérea do algodoeiro é de aproximadamente 3:1, o que significa que três sementes com C.G.C. representa uma planta no campo com ramulose). Em condições de clima favorável (temperatura de 25ºC a 30ºC e umidade elevada), a doença avança na lavoura 1 m a cada cinco dias. O patógeno pode ainda sobreviver de um ano para outro em restos culturais e provocar o tombamento de pré e pós-emergência, porém isso só ocorre quando a incidência desse patógeno nas sementes é elevada (acima de 20%, através de inoculação). De maneira geral, a incidência e a frequência desse patógeno em lotes de sementes são baixas, variando em função da resistência do genótipo. Considerando que, em condições naturais de infecção no campo, a incidência máxima desse patógeno nas sementes tem variado de 5% a 9%, a ocorrência de tombamento no campo devido a este fungo é rara. Lesões deprimidas, pardo-escuras, atingindo grande extensão do colo e da raiz das plântulas são os sintomas característicos provocados por esse patógeno. O tratamento de sementes com fungicidas é considerado a prática mais importante no controle desse patógeno presente nas

sementes de algodão. Os fungicidas mais utilizados são vitavax-thiram, vitavax-thiram + carbendazin, carbendazin + pencycuron + triadimenol, carbendazim + thiram, fludioxonil + mefenoxan + azoxistrobina e piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil, nas doses recomendadas pelos fabricantes. Dados de pesquisa têm demonstrado que a eficiência de um determinado fungicida está relacionada diretamente com o nível de incidência dos fungos nas sementes, sendo maior em lotes de baixa infecção. Nesse contexto, o ideal e recomendável do ponto de vista epidemiológico, é fazer o tratamento com fungicidas em sementes com baixos níveis de infecção/ contaminação, pois nelas o controle é mais efetivo. Além da adoção do tratamento de sementes com fungicidas, o manejo da ramulose envolve outras práticas culturais, principalmente a rotação de culturas e a pulverização de fungicidas na parte aérea das plantas. O cultivo contínuo de algodão e o uso de sementes contaminadas contribuem para o acúmulo de inóculo na área que, associado a períodos prolongados de chuva, culminam em danos econômicos. Com relação à resistência genética, a cultivar IAC 24 possui bom nível de

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resistência, sendo considerada moderadamente resistente às cultivares BRS Aroeira, BRS Camaçari e BRS Buriti Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) De Bary

Causador da doença conhecida como mofo branco, S. sclerotiorum é um dos fitopatógenos mais antigos relacionados às doenças de plantas de alto potencial destrutivo. No algodoeiro, o mofo branco foi constatado pela primeira vez em 1996, na cultivar Deltapine, irrigada sob pivô central, em Paracatu, MG. Atualmente esta doença encontra-se disseminada pelas principais regiões produtoras de algodão, tanto em áreas irrigadas quanto em áreas de sequeiro, com temperaturas amenas (médias abaixo de 25°C), altitudes acima de 500m a 600m e alta umidade do solo, onde encontra condições adequadas para promover epidemias da doença. A falta de cuidados com a semente, oriunda de áreas afetadas pelo mofo sem o devido cuidado com o beneficiamento, contribui de forma significativa para a disseminação dessa doença para as regiões produtoras do Brasil. A detecção da presença de uma semente infectada na amostra é preocupante. Para se ter uma ideia do potencial de disseminação desse

Augusto César Goulart

Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides - agente causal da ramulose do algodoeiro


12 • Fevereiro 2017 • Algodão • www.revistacultivar.com.br Fotos Augusto César Goulart

com fluazinam + tiofanato metílico, carbendazim + thiram, fludioxonil + mefenoxan + thiabendazole e fipronil + pyraclostrobin + tiofanato metílico, nas doses recomendadas pelos fabricantes. Rhizoctonia solani Kuhn

TOMBAMENTO DE PLÂNTULAS

A mela é uma doença agressiva e relativamente nova em algodoeiro

fungo na lavoura, considerando a cultura da soja, veja o seguinte exemplo: cada semente produz mais que um escleródio e que este, por si só, pode produzir 20 apotécios com a capacidade individual de liberar 2.000.000 ascósporos em dez dias. Neste sentido, uma semente tem a possibilidade de produzir, no mínimo, 2.000.000 de focos de infecção. Assim, a detecção do patógeno em sementes torna-se um dos pontos importantes para a tomada de decisão das estratégias de controle a serem utilizadas. As recomendações para o controle do mofo branco baseiam-se no sistema integrado de medidas, como rotação de culturas com plantas não hospedeiras; formação de palhada homogênea sobre o solo objetivando formar uma barreira física à formação dos apotécios, que necessitam da presença de luz para o seu desenvolvimento; menores densidades

de semeadura; espaçamento entre linhas maiores, permitindo deste modo uma maior aeração das plantas diminuindo o possível contato de plantas atacadas com plantas adjacentes; controle biológico (tendo como alvo os escleródios presentes no solo, visando a redução da viabilidade dos mesmos para os próximos cultivos); uso de fungicidas pulverizados na parte aérea e em tratamento de sementes; e utilização de sementes isentas do patógeno, que é a principal maneira de evitar a sua introdução em áreas indenes. Atualmente, o tratamento de sementes com misturas de fungicidas tem sido a maneira mais eficiente de controle de S. sclerotiorum presente nas sementes. Das misturas fungicidas atualmente disponíveis no mercado, os melhores resultados no controle de S. sclerotiorum presente nas sementes de algodão estão sendo obtidos

Além dessas doenças transmitidas pelas sementes, merecem destaque aquelas causadas pelo fungo de solo Rhizoctonia solani. Esse patógeno pode ser transmitido pelas sementes, porém raramente isto ocorre, motivo pelo qual a semente não é considerada a principal fonte de inóculo desse fitoparasita. O tombamento de plântulas de algodoeiro, causado por Rhizoctonia solani Kuhn, grupo de anastomose AG-4 (teleomorfo: Thanatephorus cucumeris (A.B. Frank) Donk), é uma doença que está amplamente disseminada no Brasil, principalmente nas regiões dos cerrados (onde está 85% do algodão cultivado no Brasil) dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia. O manejo dessa doença deve ser feito de maneira integrada, agregando diferentes táticas de controle. Recomenda-se evitar semeaduras anteriores a meados de outubro, uma vez que baixas temperaturas favorecem a severidade e a incidência do tombamento causado por R. solani. Sob baixas temperaturas, sementes de algodoeiro exsudam maior quantidade de açúcares e aminoácidos,

O tombamento de plântulas é outra doença amplamente disseminada nas áreas de cultivo de algodão no Brasil


www.revistacultivar.com.br • Algodão • Fevereiro 2017 •

Formação de micélio e escleródio de Sclerotinia sclerotiorum em sementes inoculadas com o patógeno (Método do Rolo de Papel Modificado)

o que é extremamente favorável ao ataque do patógeno. Essas condições atrasam a germinação ou tornam mais lento o processo de emergência, mantendo a plântula num estágio suscetível por um período mais longo. Assim, a necessidade de adoção de medidas de controle, como o tratamento de sementes com fungicidas, tem sido claramente demonstrada sob condições de solo com temperaturas baixas, o qual assume um importante papel, sendo considerado, até o momento, a principal medida a ser adotada e a opção mais segura e econômica (representa apenas 0,17% do custo total de produção) para minimizar os efeitos negativos dessa doença. Os melhores resultados no controle desta doença têm sido obtidos com as misturas fludioxonil + mefenoxan + azoxistrobina; carbendazim + pencycuron + triadimenol; carboxin + thiram; piraclostrobina + tiofanao metílico + fipronil e tiofanato metílico + fluazinam nas doses recomendadas pelos fabricantes. A rotação de culturas e a resistência genética também são táticas de controle importantes neste contexto e devem ser consideradas no manejo do tombamento. Com relação à rotação de culturas, cultivos prévios de braquiária (Brachiaria ruziziensis), aveia-preta, milheto, milho e sorgo forrageiro, além do pousio, são eficientes na redução da população de R. solani do solo, o que resulta em menores índices de tombamento de plântulas de algodoeiro. O uso de soja, feijão, crotalária (Crotalaria jun-

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Plântula de algodão morta pela ação do fungo Sclerotinia sclerotiorum inoculado nas sementes

cea) e braquiária (Brachiaria ruziziensis) + crotalária (Crotalaria juncea) como culturas antecessoras consistentemente esta associado aos maiores índices de tombamento de plântulas de algodoeiro, o que evidencia um aumento da população desse fungo no substrato. Resultados de pesquisa têm mostrado que maiores índices de tombamento são observados com o uso contínuo do algodão sem o tratamento de sementes com fungicidas. Da mesma forma que o uso contínuo do algodão, a utilização de leguminosas contribui para o aumento da população de R. solani no solo, devendo ser evitadas como cultivos prévios à cultura do algodoeiro. Por outro lado, a adoção de gramíneas com características de supressividade a R. solani devem ser as preferenciais como culturas antecessoras ao algodoeiro.

MELA

A mela do algodoeiro, doença relativamente nova na cultura, é causada pelo fungo Rhizoctonia solani Kuhn, grupo de anastomose AG-4 HGI (teleomorfo: Thanatephorus cucumeris (A.B. Frank) Donk). Com relação ao manejo, o tratamento das sementes com fungicidas associado a uma pulverização na fase inicial de desenvolvimento da lavoura (fase de plântula – cotiledonar) tem sido a estratégia mais eficiente e viável de controle desta doença. Desta forma, pesquisas desenvolvidas a campo vêm apontando, ao longo dos anos, bons

resultados de controle da mela com a adição do fungicida PCNB, na dose de 500g/100kg de sementes às misturas padrões (fludioxonil + mefenoxan + azoxistrobina; carbendazim + pencycuron + triadimenol; carboxin + thiram; piraclostrobina + tiofanao metílico + fipronil e tiofanato metílico + fluazinam) já utilizadas para o tratamento de sementes para o controle do tombamento. Adicionalmente ao tratamento de sementes, quando as condições climáticas estão favoráveis à ocorrência da mela, tem sido realizada uma pulverização com o fungicida azoxystrobin, na dose de 300 ml/ha, com bons resultados sendo obtidos. A rotação de culturas também deve ser considerada como mais uma opção neste caso, dando preferência para as gramíneas que apresentem potencial de supressividade da população de R. C solani no solo.

Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste

Goulart alerta para a importância do cuidado com a sanidade das sementes

Encarte Técnico • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 213 • Fevereiro 2017 • Capa - Cultivar Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075

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