C
Cultivar
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVIII • Nº 214 • Março 2017 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Nossa capa
Quando aplicar - 20
O que considerar na aplicação noturna de fungicidas para o controle de doenças como a ferrugem asiática na soja
Marcelo Madalosso/Phytus Club
Índice Diretas
04
Dessecação em trigo
08
Brusone em arroz
10
Nematoides em algodão
12
Empresas - Nova tecnologia LL
15
Novas tecnologias no manejo de pragas 16
Vilã principal - 10
Como manejar a brusone, principal doença na cultura do arroz
Capa - Aplicação noturna
20
Sintomas de hastes manchadas em soja
24
Manejo de daninhas em cana
28
Cana - Raquitismo em soqueiras
30
Fosfito no manejo da cercosporiose
34
Antracnose em feijão
38
Coluna Mercado Agrícola
40
Coluna Agronegócios
41
Coluna ANPII
42
Novos tempos - 16
O papel da tecnologia no aperfeiçoamento do manejo de pragas em soja
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
Rocheli Wachholz Karine Gobbi
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
• Revisão
CIRCULAÇÃO
Aline Partzsch de Almeida • Coordenação Simone Lopes
COMERCIAL • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Vendas
Sedeli Feijó
Rithieli Barcelos José Luis Alves
• Assinaturas
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• Expedição
Edson Krause
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Sementes
A Morgan Sementes e Biotecnologia apresentou no Show Rural Coopavel a tecnologia Powercore™, que reúne o controle das principais lagartas que atacam a cultura do milho e possui tolerância aos herbicidas glifosato e glufosinato. A marca também levou para a feira três lançamentos em híbridos de milho, com parcelas demonstrativas de MG600, MG711 e MG699. Os agricultores também puderam conhecer detalhes do Tratamento de Sementes Industrial, focado na proteção contra insetos e doenças iniciais da cultura do milho.
Sistema
A Dow AgroSciences apresentou no Show Rural Coopavel o Sistema Enlist, uma das inovações mais recentes da marca. Os visitantes tiveram acesso a informações sobre o sistema de controle de plantas daninhas, nas culturas de soja e milho, que associa características de tolerância a moléculas herbicidas consagradas, com diferentes modos de ação, além de herbicidas com formulações que tornam o controle de plantas daninhas mais eficiente e flexível. Em breve o Sistema ainda será complementado com duas proteínas combinadas, trazendo maior espectro e eficiência no controle do complexo de lagartas. Esse evento será comercializado com a marca Conkesta.
Fungicidas e inseticida
Unizeb Gold, Unizeb Glory e Perito foram os destaques da UPL no Show Rural Coopavel. Para o gerente de Produtos Fungicidas da UPL Brasil, Marcelo Figueira, a Coopavel proporcionou uma ótima oportunidade para levar ao produtor rural conhecimento sobre as principais ameaças à lavoura e, principalmente, sobre as medidas preventivas. “Mais importante do que expor nossos produtos é alertar o agricultor sobre as ameaças a que ele está exposto para, assim, poder atuar de forma pontual e eficaz no combate destes males.”
Cultivares
A Tropical Melhoramento & Genética (TMG) apresentou no Show Rural Coopavel sete cultivares do portfólio de soja para o Sul do Brasil e ainda demonstrou em parcelas o manejo mais adequado com a Tecnologia Inox, no controle da Ferrugem asiática. “É essencial para nós mostrar esse trabalho que é genuinamente brasileiro e de muita qualidade, orientar o produtor rural sobre o manejo e as escolhas corretas e também ouvir as demandas deles para desenvolver novos produtos, adaptados à região”, destacou o diretor-presidente da TMG, Francisco Soares Neto.
Marcello Cunha
Soluções e serviços
A Syngenta destacou no Show Rural Coopavel o fungicida Elatus utilizado para o controle da ferrugem asiática da soja, com até 21 dias de residual. A empresa divulgou resultados do acompanhamento de mais de 200 áreas demonstrativas na última safra - denominadas Áreas Referência -, em um projeto de monitoramento liderado pela Syngenta em conjunto com 80 pesquisadores e consultores brasileiros. Segundo o estudo, as áreas tratadas com Elatus registraram incremento médio de 3,3 sacas de soja a mais por hectare. Com o uso de recurso de realidade aumentada, painel em terceira dimensão e também de LED, o público pôde conferir todos os resultados durante o evento.
04 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
Ferrugem
Durante o Show Rural a Ihara destacou o fungicida Approve, registrado contra a ferrugem da soja. “O Approve possui resistência a chuva, ao contrário de muitas outras soluções utilizadas, o que proporciona uma melhor proteção”, opinou o gerente de Produtos da Ihara, Clayton Emanuel da Veiga. A importância de o agricultor ter um novo produto para manejo de resistência, essencial para manter os níveis de controle do fungo, também foi ressaltada por Veiga.
Grupo
A Fertiláqua, grupo que reúne as marcas Aminoagro, Dimicron e Maximus, participou do Show Rural Coopavel 2017. Visitantes e expositores puderam conferir no estande da empresa debates e palestras sobre a qualidade de sementes e a revitalização do solo. Durante todo o período da feira, a Fertiláqua também apresentou aos produtores resultados do Programa Construindo Plantas (PCP), tecnologia que promove ações específicas para cada cultura, desde seu plantio até a colheita, com o foco em garantir plantas mais fortes e produtivas e desenvolver um solo com qualidades físicas, químicas e biológicas melhores.
Fertilizantes
A Spraytec Fertilizantes, especializada em fertilizantes foliares com formulações especiais compostas por macro e micronutrientes, esteve presente no Show Rural. Sua linha abrange mais de 30 produtos, com diversas finalidades em nutrição foliar, para as mais diversas culturas. Durante o evento o destaque foi para Aminoseed Plus, Ultra Plus Mn, Ultrazeb e Ultra k.
Tratamento de sementes
Inseticidas
A Ourofino Agrociência participou pela primeira vez do Show Rural Coopavel. Durante o evento, a empresa apresentou os inseticidas Racio e Terra Forte. Durante a semana visitaram o evento os principais executivos da companhia, como Norival Bonamichi, presidente da Ourofino, e Jardel Massari, vice-presidente da Ourofino Agrociência.
A Syngenta destacou durante o Show Rural Coopavel o Fortenza Duo, combinação dos produtos Fortenza 600 FS, Cruiser 350 FS e Maxim Advanced. “É o mais poderoso tratamento de sementes contra as principais pragas que ameaçam as lavouras de soja, milho e algodão e pode render, em média, três sacas a mais por hectare em comparação aos resultados das demais tecnologias disponíveis no mercado”, disse o gerente Sul Seedcare, Felipe Fett. “O amplo espectro de controle de pragas proporcionado pela solução Fortenza Duo, aliado ao seu efeito residual prolongado, protege o estabelecimento da cultura e, consequentemente, viabiliza a maior expressão do potencial produtivo da lavoura”, opinou Fett.
Mais Milho
A Alta - América Latina Tecnologia Agrícola levou para o Show Rural Coopavel 2017 soluções que prometem ajudar ainda mais o agricultor nos desafios de uma boa produtividade. Com a chamada Evos é Mais Milho, a empresa convidou o produtor a preparar-se para colher mais com o fungicida da marca. “Evos controla as principais doenças da cultura e mantém as folhas verdes, proporcionando aumento de qualidade, granação de espigas, desempenho e rentabilidade”, explicou o gerente de Marketing, Ernesto Eugenio Bellotto. A empresa também apresentou seus novos herbicidas Venture e Zafera.
Guilherme Perroni, Felipe Fett e Vagner Cianci
Multiculturas
A Nortox destacou durante o Show Rural Coopavel o Biobase, produto completo para multiculturas. “Maior aproveitamento de nutrientes pelas plantas, incremento da microbiota do solo, maior produção de raízes e melhor desenvolvimento da parte aérea estão entre os benefícios deste produto. A nutrição vegetal tem um papel importante no ciclo de vida das culturas”, disse o representante técnico de Vendas, Erasmo Paulo Gonçalves.
www.revistacultivar.com.br • Março 2017
05
Pontos
A Bayer levou para o Show Rural Coopavel novidades como Programa de Pontos, serviço de monitoramento de pragas e variedades de sementes de soja. Através do App do Programa de Pontos o produtor lança sua nota fiscal e adquire direito a pontos que podem ser trocados por produtos ou serviços. Entre os serviços disponíveis dentro da plataforma do programa está o Patrulha Percevejo, que auxilia no monitoramento do inseto nas lavouras de soja e de milho. As sementes de soja Credenz™, com 20 variedades, 11 delas com tecnologia Liberty Link, que permite o uso do herbicida pós-emergente Liberty, também estiveram entre os destaques da empresa.
Equipe
A equipe da Basf apresentou no Show Rural Coopavel detalhes dos produtos Ativum EC, Standak Top e Orkestra SC. O Ativum EC possui registro conta a ferrugem asiática na soja, além de ser recomendado para a mancha-amarela para a cultura do trigo e ferrugem tropical para a cultura do milho. O Standak Top é utilizado para o tratamento de semente da soja, com características fungicidas e inseticidas, além de ter os benefícios do sistema AgCelence. O Orkestra SC é utilizado no controle de ferrugem asiática, mancha-alvo, antracnose, mancha-parda e oídio, doenças responsáveis por provocar danos e perdas de até dez sacas de soja por hectare.
Controle de pragas
A marca LG esteve presente no Show Rural Coopavel com a cultivar LG 60163 Ipro e Inox. "Essa cultivar está se destacando no campo, levando maior teto produtivo aos produtores, além de segurança no controle das principais pragas que atacam a cultura e pela tolerância ao herbicida glifosato. Além da tecnologia Inox, que permite à planta condições de conviver com a doença no campo, sendo uma importante ferramenta complementar de manejo. Caso os controles cultural e químico escapem das mãos, a tecnologia Inox proporciona maior tranquilidade e segurança ao produtor", explicou o gerente de Marketing, Maico Silva. Outro destaque foi o lançamento do híbrido LG 6036 PRO3.
Soja
A Basf apresentou durante o Show Rural Coopavel suas principais soluções para o manejo fitossanitário da soja, com destaque para os produtos Ativum EC e Standak Top. “O Ativum EC é o primeiro no mercado com triplo mecanismo de ação, sendo efetivo nas diferentes fases da cultura. O novo fungicida foliar também contribui para o manejo de resistência aos fungos”, explicou o gerente de Marketing de Território da Basf, Eduardo Eugênio. Para o tratamento de sementes a empresa destacou o Standak Top, produto que reúne características fungicidas e inseticidas, além dos benefícios do sistema AgCelence.
Eduardo Eugênio
Integração
Os visitantes que estiveram no estande da Monsanto no Show Rural Coopavel encontraram uma integração das marcas da companhia. Melhoramento genético, biotecnologia, práticas agronômicas e análise de dados foram unidos em um único espaço. Um dos destaques ficou por conta da plataforma Climate Field View, composta por um dispositivo de coleta de dados, além de aplicativos Web e mobile, que processam automaticamente as informações das máquinas agrícolas em mapas e relatórios. "Como apenas 10% das lavouras brasileiras têm 3G ou Wi-Fi no campo, capacitamos a plataforma para também armazenar dados mesmo sem sinal de internet”, explicou o líder da Climate no Brasil, Mateus Barros.
06 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
Presidente
O novo presidente da FMC, Ronaldo Pereira, destacou a importância de participar do Show Rural e de estar próximo do produtor. "A FMC possui uma parceria forte e consolidada com a Coopavel. Para a companhia é uma ótima oportunidade de reforçar o nosso compromisso com os agricultores e de mostrar soluções inovadoras para alcançar a produtividade de forma sustentável." Os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer o Programa Domínio Percevejo, que conta com soluções como os inseticidas Hero, Talisman e Mustang. Para o manejo de plantas daninhas os destaques foram os herbicidas Aurora e Gamit. Também foi apresentado o fungicida Authority para o complexo de doenças no milho, com foco no controle de ferrugens e manchas foliares.
Milho
A BioGene destacou no Show Rural Coopavel os híbridos de milho com a tecnologia Leptra de proteção contra insetos, que é a associação das tecnologias Agrisure Viptera, YieldGard, Herculex I e Liberty Link. O gerente de Contas da BioGene na região do Paraná, Tiago Hauagge, destacou os dois lançamentos para as culturas de milho verão e safrinha apresentados na feira. “O BG7640VYH é um híbrido com excelente perfil para a safrinha na região e o BG7720VYHR, híbrido para excelentes rendimentos no plantio de milho verão”, explicou.
Produtos e tecnologia
O novo fungicida Vessarya™, que será comercializado em breve, foi o destaque da DuPont Proteção de Cultivos no Show Rural Coopavel. Já a DuPont Pioneer levou ao evento informações de manejo, produtos e tecnologias. De acordo com o gerente de Contas para a região do Paraná, Gino Di Raimo Junior, a empresa destacou os híbridos de milho P3380HR, P2830VYH e P3456VYH para a safrinha, e P2866H e P1680H para o verão. Para a soja foram apresentadas as cultivares 95Y52 e 96Y90, recomendadas aos agricultores da região de Cascavel, no Paraná.
Túnel
A Adama levou ao Show Rural seu Túnel do Tempo da Ferrugem Asiática, onde os visitantes puderam, por meio de imagens, sons e odores, acompanhar a evolução de doença nos últimos tempos e conhecer as novidades que a companhia prepara para auxiliar os produtores na luta contra a ferrugem. A Adama também organizou grupos de produtores que puderam conferir o desempenho de defensivos da empresa, como o inseticida Voraz. “Foi uma ótima oportunidade para a companhia manter-se próxima dos produtores", avaliou a analista de Publicidades e Promoção, Karina Silva.
Nidera
O destaque da Nidera Sementes no Show Rural Coopavel foi a cultivar de soja NS 5445 Ipro, com ciclo superprecoce, de alto rendimento, com potencial para antecipar o plantio da safrinha de milho, com mais segurança ao produtor. "A companhia está focada no agricultor, desenvolvendo híbridos de milho e cultivares de soja de alto desempenho e adaptação regional, buscando sempre agregar valor ao negócio de nossos clientes", observou Nélio Reis, Marketing e Comunicação da Nidera Sementes.
Novos rumos
Daninhas
O destaque da Arysta no Show Rural foi o herbicida Select One Pack. O produto atualmente é destinado ao controle de plantas daninhas na cultura da soja e está em processo de expansão para outras culturas. “A Arysta conseguiu dar a um produto completo, com eficiência já consagrada, mais praticidade e mais qualidade de formulação. Melhorou um produto que já é destaque no mercado e o transformou em uma solução melhor ainda, exclusiva da Arysta. O Select One Pack controla gramíneas, sendo de alta performance no controle de gramíneas resistentes como o amargoso”, explicou o gerente de Produtos e Mercados Centro-Sul, Ricardo Dias.
Marcelo Okamura
André Franco
André Franco é o novo diretor executivo de Negócios Brasil e Paraguai da Nidera Sementes. Com experiência de mais de 20 anos no mercado agrícola, o executivo assumiu o novo desafio com foco no uso de conhecimento e inovação, na busca por desenvolver estratégias que estejam conectadas com a realidade da companhia. Franco participou do Show Rural com o objetivo de aproximar-se ainda mais dos agricultores e da nova realidade do agronegócio.
Negócios
O gerente sênior de Vendas da Basf, Eduardo Gobbo, destacou durante o Show Rural Coopavel soluções em negócios para as culturas de feijão, milho e soja. A empresa apresentou o fungicida Spot SC, composto por dois ingredientes ativos para o controle do mofo-branco com registro nas culturas de soja, feijão, algodão e girassol. Na soja o destaque ficou por conta dos produtos Ativum EC contra a ferrugem-asiática e Standak Top utilizado para tratamento da semente. No milho, a Basf apresentou proposta de manejo para o plantio no Paraná e Mato Grosso do Sul, com indicação dos fungicidas Abacus HC e Ativum EC.
Eduardo Gobbo
www.revistacultivar.com.br • Março 2017
07
Trigo
Alto risco
Dirceu Gassen
Utilizada com o objetivo de encurtar o tempo de exposição da cultura no campo, manejar daninhas e antecipar o próximo cultivo, a dessecação de trigo na pré-colheita é uma prática não recomendada, que pode acarretar inúmeros prejuízos ao produtor
A
cultura do trigo está altamente consolidada no Brasil. Apresenta maiores áreas de cultivo nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e principalmente na região Sul, que representa 90% da produção do País. Apesar da alta produção do grão, o país não consegue abastecer totalmente o mercado interno, havendo a necessidade de, entre outras coisas, melhoria no estabelecimento das lavouras. Para garantir um estande de lavoura satisfatório, é imprescindível que a semente utilizada tenha alta qualidade, sendo que para sua obtenção é necessário o acompanhamento do campo de produção e efetuar o manejo técnico da lavoura. Também é importante no momento da colheita efetuar essa operação de modo que seja preservada sua qualidade sanitária e fisiológica. Muitas vezes ocorrem atrasos na colheita causados por chuvas ou dias nublados com alta umidade, sendo que estas oscilações climáticas entre as fases de maturação e colheita do trigo geralmente provocam perdas de suas qualidades físicas, fisiológicas e sanitárias, além da demora no plantio da próxima cultura a ser instalada. Como uma ferramenta para a antecipação da colheita, a dessecação do trigo na fase de maturação vem sendo utilizada. Esta prática, embora não recomendada, permite
a redução do tempo de exposição da cultura no campo, a uniformidade da maturação e o manejo de plantas invasoras de entressafra, possibilitando, assim, a antecipação da colheita com aumento da janela entre a colheita e o plantio da próxima cultura de verão, que será implantada na primavera, época muito chuvosa e que dificulta o tráfego de maquinários. No entanto, a utilização inadequada desta técnica ou o modo de ação inadequado do produto empregado pode ocasionar perdas na qualidade das sementes, além da possibilidade de gerar resíduo do produto, inviabilizando, dessa maneira, a utilização tanto de sementes como de grãos. Para a cultura do trigo, não existe, até o presente momento, produto recomendado e registrado para a prática de dessecação em pré-colheita para a antecipação ou uniformização da colheita, seja para produção de sementes ou de grãos. Dessa forma, são necessários estudos para definir os parâmetros de aplicação (dose, volume de calda, adjuvantes e momento de aplicação) e de toxicidade para humanos (resíduos, período de carência, ingestão diária, entre outros). Considerando os poucos relatos do emprego de dessecantes em pré-colheita para este cereal, pesquisas com este enfoque são necessárias para preencher esta lacuna.
08 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
Os fungos são os principais patógenos do trigo, podendo parasitar todos os órgãos da planta, incluindo sementes (principais meios de disseminação de microrganismos). A diminuição de patógenos existentes nas sementes é uma prática de grande valia, pois estes podem causar diminuição significativa no vigor e na germinação. Presentes desde a germinação, podem causar lesões já na fase de plântula, diminuindo a qualidade de estande, e na fase reprodutiva da cultura, quando o trigo está mais suscetível ao ataque de fungos, estarão disseminados na lavoura causando uma maior pressão. Com o propósito de avaliar se a dessecação altera a incidência de fungos nas sementes, foram testados dois tipos de herbicidas (glifosato e glufosinato de amônio) em três estádios reprodutivos: Grão leitoso (11.1); Conteúdo de grão macio e úmido (11.2) e Grão duro (11.3) na cultivar Quartzo. Para a análise sanitária das sementes foi empregado o método do papel filtro (Blottertest), com restritor hídrico (KCL/-1MPa), utilizando-se 250 sementes de cada tratamento, em oito repetições, incubadas em BOD por sete dias, a temperatura de 25ºC e fotoperíodo de 12 horas. Das sementes analisadas, 70% apresentaram incidência de algum tipo de fungo, sendo observados agentes causais dos seguintes problemas: Aspergillus sp. e Penicillium sp. (deterioração de sementes); Alternaria sp. (ponta preta em sementes); Bipolaris sp. (helmintosporiose); Epicoccum
BENEFÍCIOS E PERDAS CAUSADOS PELA DESSECAÇÃO Prós: - Antecipação da colheita; - Diminuição do tempo de exposição da cultura a campo; - Manejo de plantas daninhas; - Antecipação do próximo cultivo. Contras: - Redução da produtividade pela interrupção do processo fisiológico; - Baixa germinação e vigor da semente; - Contaminação do grão pelo herbicida; - Intoxicação humana e animal; - Impossibilidade de comercialização.
Figura 1 - Incidência de Alternaria sp., Fusarium sp. Em sementes de trigo, cultivar Quartzo, submetidas a diferentes épocas de aplicação de herbicidas dessecantes. Estádios: 11.1 (grão leitoso); 11.2 (conteúdo do grão macio e úmido/massa verde) e 11.3 (grão duro/massa dura). A = glifosato; b = glufosinato de amônio; c = testemunha Fusarium sp.
agente causal da giberela, observou-se maior incidência nas épocas 11.2 e 11.3 para os dois herbicidas, há alta incidência deste fungo nas duas últimas épocas de dessecação, antes da maturação fisiológica do trigo. Isso pode ser atribuído ao fato de que este fungo está associado a sementes que sofreram atraso de colheita ou deterioração por umidade no campo. A giberela causa danos como abortamento de flores, formação de grãos chochos, enrugados, ásperos, de coloração rósea a esbranquiçada que podem ser perdidos em grande parte na operação de trilha. As perdas pela ocorrência de giberela podem ultrapassar 50% da produção e, além da diminuição na produtividade, os grãos infectados tendem a apresentar micotoxinas (sustâncias tóxicas produzidas por fungos), que podem ser tóxicas quando ingeridas por humanos e animais. Para os demais fungos observados, não houve diferença entre os tratamentos e as épocas de aplicação. Entretanto, a prática da dessecação em trigo não é recomendada, pois pode acarretar contaminação das sementes. Análises dos grãos feitas nos moinhos onde o cereal vai ser moído poderão detectar resíduos de herbicidas, o que pode levar ao embargo de toda a safra de uma cooperativa ou empresa por contaminação de agroquímico. Mesmo que o trigo não atenda ao padrão exigido pela
indústria e seja destinado para ração animal, por exemplo, a dessecação não poderia ser feita, pois resíduos de herbicidas nos grãos poderão afetar a saúde animal. Diante destes resultados, deve-se salientar que o tratamento de sementes é indispensável, pois tem como principais funções diminuir os fungos patogênicos existentes na semente, diminuir a fonte primária de inóculo, reduzir o número de aplicações de fungicidas na parte aérea, manter as propriedades fisiológicas da semente, proporcionando maior poder germinativo com uma sanidade inicial de plantas superior, que resultará em uma lavoura com C alto potencial produtivo. Douglas Peron Gheller, Andressa Calderan Bisognin, Vanessa Graciela Kirsch, Stela Maris Kulczynski e Carla Werner, UFSM Divulgação
sp.; Phoma sp. (canela preta); Cladosporium sp. (mancha em sementes); Fusarium sp. (giberela); Colletotrichum sp. (antracnose); Drechslera sp. (mancha amarela); e Rhizopus sp. (podridão de sementes). Os fungos que apresentaram maior incidência foram representados em forma de gráficos (Figura 1), nos quais é possível observar com maior clareza a diferença quanto à ocorrência dos fungos em sementes que passaram por dessecamento em diferentes épocas. Sementes provenientes da época 11.1 (grão leitoso), tratadas com glifosato, apresentaram maior incidência de Alternaria sp. Por outro lado, as sementes em que foi aplicado glufosinato de amônio apresentaram menor incidência na mesma época. Para a época 11.2, a incidência deste fungo foi muito semelhante. Já para a terceira e última época avaliada, o fungo Alternaria sp. foi o que teve a maior frequência no tratamento que utilizou como dessecante o glufosinato de amônio. O fungo Alternaria sp. é considerado um dos agentes causais da ponta preta em sementes de trigo, sendo a semente uma importante fonte de disseminação deste patógeno. No armazenamento de sementes infectadas, os fungos podem permanecer viáveis no período de colheita até a próxima semeadura, sendo assim um importante meio de disseminação. Com relação ao fungo Fusarium sp.,
Alternaria sp.
Análises dos grãos poderão detectar resíduos de herbicidas, o que pode levar ao embargo da safra
Arroz
Vilã principal Fotos Luiza Elena Ferrari
Doença mais importante da cultura do arroz, a brusone pode levar, em casos severos e sem o manejo adequado, a perdas de produtividade da ordem de 100%. A prevenção e a adoção de medidas integradas são indispensáveis para minimizar os danos. Em lavouras com histórico do patógeno, semeadas tardiamente e/ou com cultivares suscetíveis, podem ser necessárias de uma a duas aplicações de fungicidas
A
brusone do arroz é causada pelo fungo Magnaporthe oryzae (forma perfeita) ou Pyricularia oryzae (forma imperfeita). É a doença mais importante na cultura do arroz no mundo, tendo sua ocorrência confirmada em mais de 85 países. Em condições ambientais favoráveis, pode apresentar altos índices de severidade e rápida disseminação. Em casos severos e sem manejo adequado, as perdas de produtividade podem alcançar 100%. O fungo P. oryzae pode
desenvolver-se sob diversas condições, sendo beneficiado por dias nublados, umidade relativa do ar superior a 93%, temperaturas na faixa de 15ºC a 35ºC, com ótimo de 25ºC a 28ºC e, principalmente pelo molhamento foliar. Os sintomas da doença podem ser observados, principalmente, a partir do início do perfilhamento e, quando a cultura estiver no estádio reprodutivo, nas suas panículas em florescimento. Quando a brusone infecta as folhas, é possível visualizar pequenas pontuações
10 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
elípticas com centro cinza e bordos marrons. Estas lesões crescem no sentido das nervuras e seu tamanho varia de acordo com o grau de resistência da cultivar e estágio fenológico. No centro da mancha de P. oryzae ocorre a necrose do tecido e, sob condições de alta umidade ocorre intensa esporulação. Nessas condições, a propagação da doença é facilitada, permitindo que se espalhe rapidamente para plantas de arroz adjacentes, através do vento, respingos de chuva e orvalho. É importante ressaltar que P. oryzae apresenta estruturas de sobrevivência como micélio e conídios, que em restos culturais, sementes de arroz e plantas infestantes permitem sua propagação e reinfestações futuras. Quando os sintomas são identificados no colmo ou, mais especificamente, na inserção da panícula, a doença recebe o nome de brusone do pescoço. As injúrias causadas pelo patógeno podem acarretar a quebra na base da panícula, caracterizando o sintoma conhecido como “pescoço quebrado”. Neste caso, há interrupção da passagem de fotoassimilados, impedindo o processo de enchimento de grãos, o que consequentemente reduz o peso e ocasiona chochamento parcial ou total dos grãos nas panículas, causando reduções severas na produtividade. No Rio Grande do Sul a incidência e a severidade da brusone variam de acordo com o ano e a região, sendo a depressão central e o litoral norte os locais com maior incidência. Caracterizam-se por elevada precipitação, alta umidade relativa do ar e, deste modo, maior período de molhamento foliar, beneficiando o desenvolvimento da doença. O estágio de desenvolvimento fenológico da cultura também é um fator a ser considerado. Plantas em R2 a R4 (emborrachamento e floração) são mais suscetíveis a P. oryzae, sendo recomendado intenso monitoramento da lavoura neste período. Estratégias de manejo para a brusone devem começar antes mesmo do plantio, com a escolha de cultivares com resistência à doença e/ou mais adequadas à região e ao sistema de cultivo. No Rio Grande do Sul é recomendada
a semeadura de arroz de setembro até meados de dezembro. Porém, devido a imprevistos, como as chuvas ocorridas durante o início da janela de semeadura, alguns produtores têm realizado a semeadura tardiamente. Esses atrasos podem beneficiar o desenvolvimento da doença, que se intensifica quando o plantio é realizado a partir do final de novembro, devido às condições climáticas mais favoráveis ao patógeno. Isso ocorre porque essas plantas irão atingir o estádio reprodutivo sob condições de menor insolação, menores temperaturas e maior tempo de molhamento foliar, potencializando a presença do patógeno. A avaliação do histórico da área também é um fator relevante para a escolha da cultivar, em locais de ocorrência frequente da doença. Deve-se, sempre que possível, optar por genótipos resistentes. O preparo antecipado das áreas também é uma alternativa que minimiza as chances de desenvolvimento de P. oryzae, pois viabiliza o plantio na época desejada. Esta prática é importantíssima em anos de elevada precipitação, pois permite que a área esteja pronta para semeadura independentemente das condições climáticas. A utilização de sementes sadias, certificadas e, de preferência tratadas, deve ser levada em consideração no momento do planejamento da lavoura. Sementes contaminadas servem como fonte de inóculo inicial, pois quando plântulas jovens são infectadas, toda a planta morre, dispersando esporos (conidiósporos) para plantas adjacentes. Uma fertilização equilibrada, evitando-se quantidades excessivas de nitrogênio, aliada à manutenção da lâmina d’água e rotação de culturas, também é prática importante para mitigar os danos causados pela doença em lavouras de arroz irrigado.
Lesão característica provocada pela brusone em plantas de arroz
O insucesso na utilização das estratégias descritas anteriormente no controle da brusone pode resultar em áreas com elevada incidência, demandando a utilização de produtos químicos. Em lavouras com histórico da doença, semeadas tardiamente e/ou com cultivares suscetíveis e sob condições favoráveis, recomenda-se de uma a duas aplicações de fungicidas. Atualmente existem no mercado diversos produtos comerciais para o controle da doença, com destaque para o triciclazol pertencente ao grupo químico dos benzotiazóis, que é um produto sistêmico e específico para a P. oryzae. Quando a brusone infecta as folhas, recomenda-se a primeira aplicação na fase de completo perfilhamento e uma segunda aplicação quando ocorrer uma maior incidência do fungo ou 20 dias após a primeira. Já para a brusone do pescoço, a primeira aplicação deve ser realizada no final do emborrachamento (até 5% de emissão das panículas) e a segunda,
aproximadamente 15 dias após ou com 75% das panículas expostas. O controle da brusone, em lavouras irrigadas ou de sequeiro, não se apresenta como uma tarefa fácil para o produtor. Contudo, a melhor estratégia recomendada é o manejo integrado de doenças, que corresponde à utilização conjunta do manejo cultural, eliminação de restos culturais, utilização de cultivares resistentes e controle químico, quando necessário. Nesse sentido, a redução da ocorrência da brusone e da necessidade de intensa utilização de fungicidas permite o pleno desenvolvimento da cultura, bem como da manutenção do potencial produtivo do arroz e elevados rendimentos da C lavoura. Luiza Elena Ferrari, Gerarda Beatriz Pinto da Silva e Tiago Edu Kaspary, UFRGS
O ARROZ
O
arroz (Oryza sativa L.) é o segundo cereal mais cultivado no mundo, sendo ultrapassado apenas pelo milho. Previsões realizadas pelo Ministério da Agricultura dos EUA (USDA) para a safra 2016/2017 sugerem incremento da produção mundial em 2,37%, atingindo cerca de 483 milhões de toneladas (Mt) de arroz. Enquanto isso, a produção brasileira deve passar dos 10,6Mt da última safra para cerca de 12Mt. Este aumento é reflexo das condições climáticas desta safra, que possibilitaram a semeadura dentro da época preferencial em um número maior de lavouras. Outros fatores como a elevação do investimento em tecnologia e a utilização de cultivares de alto potencial de rendimento refletem no aumento da produtividade média nacional, que poderá passar de 5,3t/ ha na safra 2015/2016, para 5,7t/ha em 2016/2017, representando incremento de 9,4%. Já a produtividade média obtida no Rio Grande do Sul, que planta mais de um milhão de hectares com essa cultura, foi de 6,9t/ha em 2015/2016. Esse estado representa 68% da produção nacional e somado a Santa Catarina são responsáveis por cerca de 80% da produção nacional de arroz. A exploração comercial do arroz no Brasil ocorre, principalmente, em dois sistemas de cultivos: o arroz irrigado ou de terras baixas, utilizado principalmente na Região Sul, e o arroz de sequeiro ou de
terras altas, usado no restante do país. As lavouras orizícolas sulinas apresentam condições peculiares de exploração, devido às classes de solo predominante serem Planossolos e Gleissolos, que possuem drenagem deficiente, favorecendo o seu cultivo sob condições de inundação. O arroz irrigado apresenta potencial produtivo superior em comparação ao de sequeiro. Além do fornecimento de água, frente à alta demanda da cultura, a presença de lâmina de água nas áreas de cultivo é uma importante ferramenta no manejo de plantas daninhas, em especial do arroz vermelho. O impacto na produtividade do arroz causado pela competição com plantas daninhas atingiu um elevado patamar, culminando no desenvolvimento de cultivares com tecnologia Clearfield (CL ou RI), que permitem a utilização de herbicidas do grupo das imidazolinonas, proporcionando o controle das plantas daninhas sem causar danos à cultura. Entretanto, o desenvolvimento dessa tecnologia, em alguns casos, não foi associado à genética de resistência à brusone, que é a principal moléstia fúngica no arroz irrigado. Entre as principais cultivares de alto rendimento semeadas no Rio Grande do Sul destacam-se Guri Inta CL, Puitá Inta CL, Irga 424 e Irga 424 RI. Porém, apenas as duas desenvolvidas pelo Instituto Riograndense do Arroz (Irga) apresentam níveis consideráveis de resistência à brusone.
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Algodão
População invisível Fotos Tatiane Zambiasi
De hábito subterrâneo e de difícil visualização, nematoides causadores de danos econômicos são diminutos seres silenciosos, com potencial para provocar prejuízos gigantescos. O mais rápido e eficiente manejo desses organismos habitantes do solo reside na adoção de técnicas conjuntas, como cultivo de material resistente, tratamento químico de sementes, adoção de cultura com baixo fator de reprodução na entressafra e integração com controle biológico Rotylenchulus reniformis. Segundo levantamento realizado anualmente pelo Laboratório da AgroLab em Primavera do Leste, Mato Grosso, tem-se a seguinte distribuição no estado (Gráfico 1) Os valores observados no Gráfico 1 correspondem à porcentagem em que cada gênero é encontrado nas amostras. Claro que estas amostras não são somente da cultura do algodão, mas na maioria dos casos as culturas mais cultivadas são soja, milho e algodão.
NEMATOIDE DAS LESÕES (PRATYLENCHUS BRACHYURUS)
A elevada disseminação de Pratylenchus brachyurus é o que chama mais a atenção, pois está presente em 99% das amostras. Prefere solos arenosos, e as plantas atacadas não se desenvolvem normalmente. As áreas afetadas são mais difíceis de serem identificadas, pois não há a formação de galhas e de reboleiras, típicas dos nematoides. Às vezes, Pratylenchus brachyurus provoca um amarelecimento na parte aérea da planta, mas o fato mais importante é a diminuição do sistema radicular. Suas populações variam muito, e chegam a níveis astronômicos em áreas propícias (60 mil juvenis em dez gramas de raiz).
NEMATOIDE DAS GALHAS (MELOIDOGYNE INCOGNITA)
D
urante o desenvolvimento fenológico da cultura do algodão vários são os fatores que podem afetá-lo negativamente. Destacam-se os fitonematoides causadores de danos econômicos, pois
prejudicam a absorção de água e nutrientes, causando a diminuição da produtividade. As principais espécies de nematoides causadoras de danos na cultura do algodão são Meloidogyne incognita, Pratylenchus brachyurus e
12 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
Na cultura do algodoeiro as raças 3 e 4 são as mais comuns, sendo este nematoide o principal causador de danos na cultura. Ocorre de maneira mais localizada, sendo sua predominância em reboleiras e em áreas mais específicas. Provoca sintomas na parte aérea do algodão (folha carijó) e nas raízes (galhas), o que facilita sua identificação. Causa também danos à cultura da soja, e ainda infecta algumas coberturas utilizadas pelos cotonicultores na entressafra.
NEMATOIDE RENIFORME (ROTYLENCHULUS RENIFORMIS)
O nematoide reniforme (Rotylenchulus
Gráfico 1 - Distribuição (%) dos gêneros de nematoide no Estado do Mato Grosso, safra 2015/16. Laboratório AgroLab. Primavera do Leste/MT. 2016
Figura 1 - Sintomas de S. sclerotiorum na planta de algodoeiro
reniformis Linford & Oliveira 1940) é um importante patógeno radicular de diversos cultivos de interesse econômico em regiões tropicais e subtropicais, sendo relatado associado às culturas de melão, maracujá, tomate, soja e algodão, no Brasil. Durante muito tempo, R. reniformis foi considerado um nematoide de pouca importância, provavelmente devido à ausência de sintomas característicos nas plantas parasitadas, diferentemente do que ocorre com os nematoides das galhas, mais comuns no algodoeiro. Ainda é o menos frequente, salvo algumas
Danos causados pelo nematoide das lesões (Pratylenchus brachyurus) na cultura do algodoeiro, diminuição de porte da planta e menor quantidade de raízes
regiões que já possuem altas populações e danos agressivos. Tem preferência por solos argilosos e talvez por isso sua frequência seja mais baixa no estado do Mato Grosso. Aparece em apenas 3% das amostras.
ANÁLISE NEMATOLÓGICA
Para a aplicação de estratégias de manejo de nematoides é necessária a realização prévia de análise em laboratório, coletando amostras de solo e raízes com envio a um laboratório de Nematologia que oferece este serviço. Em alguns casos não é possível fazer o diagnóstico
correto somente com base em observação visual de sintomas no campo. A análise em laboratório, portanto, é imprescindível para o manejo de nematoides. Os resultados da análise devem conter informações sobre a identificação e a quantificação das espécies presentes no local. Com base nessas informações, o profissional responsável terá condições de estabelecer um plano de ação para o manejo (ou controle) adequado, com o objetivo de reduzir os danos e prejuízos. Os resultados das análises nematológicas devem expressar, da maneira mais confiável
Fotos Tatiane Zambiasi
Nematoide reniforme na raiz do algodoeiro
possível, a situação real no campo, em relação aos nematoides que ocorrem em um determinado local. Nesse sentido, é muito importante que a coleta de amostras no campo seja feita corretamente.
MANEJO DE NEMATOIDES
Atualmente existem várias alternativas de manejo que podem ser empregadas para diminuição das populações de nematoides. A primeira e mais importante consiste em evitar a disseminação dos nematoides. Toda disseminação ocorre através do transporte de partículas de solo, seja por erosão, transporte de máquinas ou equipamentos ou por outro veículo que carregue solo.
MATERIAIS RESISTENTES
Para a cultura do algodão são poucos os materiais resistentes aos três principais nematoides. Atualmente a resistência ocorre para Meloidogyne incognita e Rotylenchulus reniformis. Não existe ainda nenhum material resistente ao nematoide das lesões. O que ocorre são materiais com fatores de reprodução diferentes, alguns mais elevados e outros menos.
CONTROLE FÍSICO
O revolvimento do solo, às vezes, é uma opção, mas ao mesmo tempo pode disseminar os nematoides. Contudo, pode também contribuir para diminuir a população daqueles que ficam expostos à luz solar. Esta opção é bastante discutida, mas deve ser sempre bem avaliada, levando em conta o bom senso para verificação desta técnica.
CULTURAS ALTERNATIVAS
Existem atualmente várias culturas sendo utilizadas como alternativas para redução das
Diferença entre material suscetível e resistente ao nematoide das galhas (Meloidogyne incognita)
populações de nematoides. Estudos realizados pela AgroLab têm demonstrado grande eficiência na utilização de crotalárias, milhetos, mamona, sorgo e milho como redutores de nematoides. Estas culturas estão sendo inseridas no sistema de manejo do Mato Grosso aos poucos, sendo ainda necessários mais estudos.
CONTROLE BIOLÓGICO
Produtos biológicos constituídos de fungos ou bactérias estão sendo amplamente utilizados como controle de nematoides. A maioria à base de Paecilomyces lilacinus, Bacillus subtilis e Pasteuria spp. Estes produtos são altamente eficientes se utilizados de maneira correta. O maior problema encontrado reside na hora da aplicação, pois são organismos vivos e não podem ser manuseados a qualquer momento do dia. As restrições são de ordem operacional e de transporte/armazenagem.
CONTROLE QUÍMICO
A maioria dos produtos químicos é utilizada via tratamento de sementes, e em alguns casos via sulco de plantio. São produtos eficientes, com ação mais rápida que a de outros, mas com algumas restrições quanto à toxicidade e ao período em que agem no solo. É uma excelente opção, mas isoladamente muito perigosa, podendo não ser tão eficiente quanto várias opções conjuntas.
O MAIS IMPORTANTE PARA O MANEJO DE NEMATOIDE
Técnica de coloração de Pratylenchus brachyurus no interior de raiz de algodão. Laboratório da AgroLab
Uma vez presente na área, nunca mais as populações serão zeradas. A convivência será inevitável. O melhor, mais rápido e mais eficiente manejo é a adoção de técnicas con-
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juntas, ou seja, material resistente juntamente com tratamento químico de sementes, depois uma cultura com baixo fator de reprodução na entressafra. Posterior a isso, a adoção de um controle biológico, e assim sucessivamente. Ano após ano as populações estão aumentando rapidamente e em todas as regiões. O problema pode passar despercebido nos primeiros anos, mas com certeza os danos virão nas safras seguintes. A não adoção de medidas de manejo pode acarretar grandes prejuízos ou até inviabilizar a produção em áreas com C elevadas populações. Tatiane Cheila Zambiasi, Emanoelli Tonetti e Juliana do Nascimento Azevedo, Agrolab
LEMBRETES 1) Levantamento de onde está o problema, quais são os nematoides e suas quantidades 2) Organizar um plano de plantio/ pulverização/colheita nas áreas, separadamente, para não disseminar 3) Adotar um sistema de manejo para nematoides, com várias opções conjuntas 4) Avaliar rotineiramente as opções e os resultados de cada prática Se estes fatores forem satisfeitos, com certeza o nematoide não diminuirá a produção e não será um problema.
Empresas
Teste de campo Fotos Bayer
Bayer seleciona 400 sojicultores brasileiros para testar potencial produtivo da nova tecnologia Liberty Link (LL) através do programa #DeOlhonaSustentabilidade
U
m grupo seleto de 400 agricultores brasileiros foi o primeiro escolhido no país para testar a tecnologia em traits Liberty Link (LL), da Bayer. A iniciativa faz parte do programa da empresa #DeOlhonaSustentabilidade. O objetivo é apresentar o potencial produtivo da tecnologia a esses 400 sojicultores, que realizarão testes em suas propriedades na safra 2016/2017, e serão os responsáveis por apresentar a tecnologia a outros produtores de suas comunidades. Os agricultores foram escolhidos nas principais regiões produtoras de soja do Brasil e tiveram à sua disposição sete variedades de sementes com tecnologia LL, entre elas a Credenz, marca de sementes da Bayer. “Escolhemos produtores pioneiros, que estão abertos a testar novas tecnologias e que sempre procuram a melhor opção para suas lavouras. O intuito é oferecer o que a nova tecnologia demanda no que diz respeito ao manejo, para que tenham o melhor resultado possível por hectare plantado”, afirmou o diretor Executivo de Negócios Sul, Álvaro Simionato. Com esse perfil, os produtores Alexandre Guareschi, de Pontão, Rio Grande do Sul, e os irmãos Délcio e Odair Ceconello, de Sertão, também no estado gaúcho, testaram a nova tecnologia LL. Apesar de ainda não terem realizado a colheita de suas parcelas, compartilharam suas impressões. Para Guareschi, que afirmou enfrentar um grande problema de resistência a herbicidas, essa ferramenta seria uma nova maneira de realizar o manejo de plantas daninhas. Na parcela com tecnologia LL, o produtor precisou realizar duas aplicações
de Liberty para o controle de plantas daninhas. “Não podemos deixar de buscar e testar novas experiências e tecnologias”, ressaltou Odair Ceconello. “A tecnologia só vai ser aceita se trouxer rentabilidade”, disse o irmão, Délcio, que se mostrou satisfeito com a aparência da planta até então e espera colher acima de 70 sacas por hectare de LL. Na propriedade dos Ceconello foi necessária somente uma aplicação de Liberty. Nesta safra, o programa contabilizou aproximadamente 18 mil hectares de área plantada com a tecnologia. Cada um dos agricultores do programa recebeu o acompanhamento de consultores e representantes da empresa, que implementaram um protocolo de produção – realizando visitas com frequência de sete dias a dez dias - e se colocaram à disposição com as orientações necessárias de manejo para atingir o melhor resultado possível. O produtor que seguiu as recomendações da Bayer gerou pontos para trocar por produtos e serviços na rede Agroservices.
Romano e Simionato destacam a importância de colocar soluções à disposição do produtor
LIBERTY LINK
A Bayer lançou a tecnologia LL como uma ferramenta para ajudar os produtores brasileiros de soja a enfrentar o problema da resistência de herbicidas. A LL é resistente ao glufosinato de amônia, ingrediente ativo do Liberty, que é um herbicida pós-emergente indicado para uso em variedades resistentes de soja, algodão e milho. “Já possuímos know-how em traits e sementes, e é muito importante gerarmos ferramentas para o produtor poder lidar com a resistência de plantas daninhas”, afirmou o gerente de Marketing de Sementes de Soja para o Brasil e América Latina, Filipe Romano. Apesar de a colheita não ter sido concluída, Romano afirma que resultados preliminares apontam produtividades acima de 70 sacas por hectare, chegando a atingir 85 sacas em algumas propriedades de Santa Catarina. Levando em consideração a média do Rio Grande do Sul de 50 sacas por hectare nos últimos dez anos, os resultados têm ajudado a validar ainda mais a tecnologia para a empresa e produtores. Além disso, Romano ressaltou que a tecnologia traz mais um benefício: o auxílio na preservação da tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis). “Quando a soja LL é plantada em associação, ou junto de uma área Bt, auxilia no manejo de resistência de insetos porque funciona como uma ‘área de refúgio’”, afirmou. Isso se deve ao fato de os insetos criados em áreas LL serem suscetíveis à tecnologia Bt – gerando novos indivíduos suscetíveis ao cruzar com os insetos resistentes – o que gera a preservação de ambas as tecnologias. Com o aumento das áreas com daninhas resistentes, os produtores têm realizado mais aplicações de defensivos, o que gera gastos elevados em produtos e aditivos químicos desnecessários no ambiente. Com o uso responsável da tecnologia LL, promovendo a rotação de culturas, preparo adequado do solo, manejo integrado de pragas, e a aplicação de todas as ferramentas necessárias para se realizar o manejo correto da cultura, o produtor acaba contribuindo com a longevidade da tecnologia, economizando na diminuição do consumo de defensivos e gerando benefícios ao ambiente. C
Irmãos Ceconello participam do teste com a tecnologia LL em Sertão, no Rio Grande do Sul
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Soja
Novos tempos Fotos UFSM
O emprego de novas tecnologias tem auxiliado a entender melhor o comportamento de insetos na cultura da soja, com redução de custos de produção e maior proteção ao ambiente
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o Brasil a cultura da soja está sujeita ao ataque de grande número de espécies de insetos-praga, um dos fatores mais importantes na redução da produtividade. Na ausência de controle, os prejuízos, em média, são da ordem de 30% nas lavouras, sendo empregado o controle químico, o principal método de redução do número de pragas. No entanto, como resultado do uso intensivo de inseticidas, vem sendo observados impactos negativos sobre o ambiente, sobretudo no que diz respeito a inimigos naturais e à sua seletividade aos diferentes agroquímicos. O expressivo aumento do número de aplicações nas áreas de cultivo e o amplo espectro de ação dos produtos, muitas vezes usados de forma intensiva e indiscriminada, provocam prejuízos financeiros, desequilibram a cadeia alimentar, elevam pragas secundárias à categoria de pragas primárias e induzem a pressão de seleção a pragas resistentes. O conhecimento do padrão de distribuição espacial é uma das características mais importantes de uma população de insetos, sendo resultado da interação e coevolução de diferentes espécies em um agroecossistema. Estudar e identificar o padrão dessas espécies com o objetivo de entender sua adaptabilidade torna-se importante medida que revela a estrutura espacial de populações e subpopulações, que permitem a melhoria do processo de amostragem e o desenvolvimento de novas estratégias no
controle dessas pragas. Nesse sentido, o controle localizado surge como alternativa capaz de reduzir o impacto ambiental pela aplicação de inseticidas somente nas áreas com alta infestação, agindo nos focos de maior concentração da espécie-alvo, melhorando os índices de sustentabilidade do produtor em seu sentido amplo. Ao invés de ser efetuada uma aplicação em área total, aplica-se a estratégia de controle pontual a partir da indicação da infestação de pragas, representado através de mapas, que podem auxiliar no manejo de insetos-praga.
NOVAS TECNOLOGIAS
Avanços tecnológicos nas áreas da computação, mecânica e mecatrônica chegaram ao campo, tornando possível armazenar e representar as mais diversas informações do mundo real em ambiente computacional, gerando mudanças inclusive na forma convencional de produzir. Atualmente, o produtor tem acesso a uma gama de tecnologias embarcadas em tratores, pulverizadores e na aviação agrícola, com a finalidade de maximizar a precisão e garantir melhores produtividades. O GPS está presente na maioria dos equipamentos agrícolas e faz parte do mais novo arsenal no controle de pragas. O método de amostragem georreferenciada permite armazenar informações espaciais através das coordenadas geográficas e criar um banco de dados com
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diferentes informações, processando-as em um ambiente virtual, em denominado sistema de informações geográficas (SIG), que tem por resultado final um mapa temático que indica, através de cores, as áreas que necessitam de uma intervenção, baseada na infestação de insetos-praga, propondo uma interpretação em tempo real da área, auxiliando na tomada de decisão de fazer uma aplicação em área total ou não. Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o grupo de estudos em Fitossanidade de Precisão, coordenado pelo professor Jerson Guedes, trabalha intensamente na aplicação dessas tecnologias a fim de caracterizar a distribuição espacial de pragas e insetos úteis. Em recente artigo publicado pelo grupo, de autoria do professor Valmir Aita e demais colaboradores, com o emprego da técnica de controle localizado de lagartas na cultura da soja, foi possível promover uma redução em 57% da quantidade de inseticida aplicada no ano agrícola, na cultura, em duas áreas. A pesquisa conduzida pelo professor Aita objetivou estudar os efeitos e a viabilidade técnica e econômica da utilização do controle localizado de lagartas da soja, através da determinação da distribuição espacial e temporal, da aplicação localizada de inseticida somente no foco da infestação, da verificação do efeito da aplicação localizada na população de lagartas e da análise econômica desta prática de manejo. Utilizaram-se cinco áreas de cultivo de soja, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, totalizando 80,79ha, nas safras agrícolas 2010/2011 e 2011/2012. As amostragens foram realizadas semanalmente em uma malha amostral de 50m x 50m, utilizando-se o pano de coleta largo (1m x 1,5m) para a amostragem do número de lagartas de Anticarsia gemmatalis, Chrysodeixis includens e Spodoptera eridania. Foram empregadas técnicas de geoestatística para o mapeamento da distribuição das lagartas através do programa CR Campeiro 7.0. Quando uma parte significativa da área atingia o nível estabelecido de 20 lagartas/m-2, foram confeccionados os mapas de aplicação, demarcaram-se os limites do mapa no terreno e realizou-se a aplicação localizada de inseticida somente nas áreas
Figura 1 - Imagem da área experimental com talhões identificados. Santa Maria, RS
Colocação de bandeirolas georreferenciadas nos pontos amostrais levantados na área
que ultrapassaram o nível de controle de lagartas e/ou desfolha maior que 15%. A utilização desta técnica proporcionou uma economia média de 62,43% de inseticida, o que contribui para a menor contaminação ambiental e preservação de inimigos naturais nos locais onde existe um equilíbrio biológico. “O procedimento é um pouco mais oneroso em mão de obra, por coletar um número maior de pontos amostrais em campo para realizar o monitoramento. No entanto, a precisão é muito maior e dá uma ideia mais próxima da realidade, além de garantir a identificação exata das pragas existentes”, explica o professor Aita. A Figura 2 demonstra a diferença entre os dois métodos no que diz respeito ao número de pontos onde se efetua a contagem do número de lagartas. Como resultado desse planejamento e monitoramento é gerado um mapa em programa de computador onde é possível associar cores às intensidades de insetos-praga encontrados. São ajustados em uma escala de intensidade, que varia de acordo com o número de insetos verificados nos pontos amostrais. Esse mapa é organizado semanalmente e informa a condição exata da evolução do número de pragas presentes na lavoura. Quando se atinge o nível de controle na área identificada como de risco, é realizada a pulverização com inseticida
somente neste local. do setor agrícola, permitindo intensificar os Na Figura 3 observa-se que os mapas saberes, a fim de garantir a maior rentabiforam gerados empregando cores primárias lidade do produtor, maior conservação dos para demonstrar a técnica. Nas áreas em preto recursos naturais e atentando para as questões e vermelho percebe-se o índice de elevada ambientais como conservação e manejo adeinfestação nas regiões dos talhões. As áreas quado de insetos úteis, pois reduzir o impacto em amarelo identificam uma quantidade entre ambiental é tarefa de todos os envolvidos no C 10-20 lagartas/m-2 ou por amostragem, e as setor primário. áreas em verde são as em que foram enconValmir Aita, tradas de 0-10lagartas/m-2 Deivid Magano, Realizada a aplicação localizada somente Maicon Machado e na área em vermelho e amostrada na semana Jerson V. C.Guedes, seguinte, constata-se que a população de Gefip - UFSM lagartas diminuiu, retornando ao equilíbrio biológico na lavoura. Logicamente que esse cenário é variável de acordo com cada condição e propriedade, variando localmente e em relação à espécie de pragas, em razão de características comportamentais de cada inseto. O caminho da profissionalização maciça da agricultura começa pela adoção de novas tecnologias. A cada dia vivencia-se o desafio de produzir mais e melhor a cada safra. O uso de tecnologias embarcadas, a busca pelo entendimento da heterogeneidade nos Amostragem de lagartas sistemas produtivos e o uso de tecnologias nos pontos determinados limpas são uma luta constante, que tende a ser superada, entendida e explorada. Novas tec- Figura 3 - Mapas de identificação da intensidade de lagartas em lavoura de soja, nologias começam a antes do controle (A) e após o controle localizado (B) fazer parte do cotidiano de pesquisadores, produtores e técnicos
Figura 2 - Comparação entre o método convencional de amostragem de lagartas em soja (A) e o modelo de amostragem georrefenciada (B)
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Soja
Aplicação noturna Pulverizar fungicidas à noite, quando o clima se mostra mais ameno, pode ser uma boa alternativa no combate a doenças como a ferrugem asiática, em soja. A partir do final do dia, os extremos climáticos se atenuam, o que proporciona condições muito interessantes para a produção de gotas e posicionamento nos tecidos foliares. Contudo, a operação deve ser evitada em finais de madrugada e quando há previsão de chuva no dia seguinte
O
grãos. Frente a isso, a alternativa é lançar mão das aplicações com fungicidas para evitar o avanço descontrolado dessa enfermidade. A aplicação por pulverização é um processo complexo e pode ser drasticamente influenciado pelos elementos do clima como temperatura, umidade relativa do ar, velocidade do vento e luminosidade. É notório que essas
Marcelo Madalosso/Phytus Club
Brasil possui uma larga faixa territorial, posicionada nas regiões tropicais e subtropicais do globo terrestre. Do ponto de vista biológico, não existe outro local no planeta que contemple melhores condições para um ser vivo se abrigar, se alimentar e se reproduzir. Desta forma, os cultivos agrícolas são alvos constantes dos mais intensos ataques bióticos já registrados. Especialmente a cultura da soja, pela sua representatividade espacial e econômica, sofre o impacto negativo da ferrugem asiática que acelera a queda da folha, prejudicando a formação e o enchimento dos
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condições influenciam na qualidade da tecnologia de aplicação, ainda mais com intenso desenvolvimento foliar e fechamento de entre linha, que consequentemente afetam a eficácia dos fungicidas utilizados pelos produtores. Sabe-se que durante boa parte do dia, as condições de clima são adversas para a aplicação. Vale ressaltar que, no momento da aplicação a temperatura deve estar abaixo de 30°C, velocidade do vento entre 3km/h e 10km/h e umidade relativa do ar acima de 55% (Andef, 2004). Desta forma, é necessário buscar momentos que apresentem estas condições e que favorecerão o aumento da vida da gota na superfície foliar. Assim, a
Figura 1
aplicação em períodos noturnos surge como uma estratégia para aplicações em condições de clima mais amenas. Na grande maioria das vezes, a partir do final do dia, os extremos climáticos se atenuam, apresentando condições muito interessantes para que o produtor produza gotas e posicione-as nos tecidos foliares. Em relação às aplicações noturnas, existe um fenômeno climático que precisa ser levado em consideração. Este fenômeno é a inversão térmica que poderá prejudicar a aplicação. O mesmo ocorre especialmente no final da tarde e início da noite em regiões mais baixas e próximas a matas. (Figura 1). A inversão térmica ocorre pela ausência de vento e convecção do calor que é armazenado e refletido para a superfície, formando uma camada de calor que evita a penetração de gotas no dossel inferior da cultura. Por isso, é fundamental a presença de vento leve para remover esta camada de calor e evitar a perda das gotas para o ambiente (Figura 2). Ao se analisar a planta, nota-se que existem particularidades muito importantes para serem observadas na qualidade da aplicação noturna, em especial na cultura da soja, a nictinastia. Este é o nome dado ao movimento foliar que as folhas exercem durante o período da noite e que pode prejudicar a aplicação, se não levado em consideração. Este termo deriva do grego nyctos = noite e nastos = fechar, e produz respostas não direcionais a estímulos exógenos provocados pela presença ou não de luz. O movimento foliar é responsabilidade do pulvino, conjunto de células localizadas na base do pecíolo de cada folíolo responsivo a turgescência (Figura 3). Desta forma, conseguem perder água
Figura 2
rapidamente, devido ao movimento dos íons cloro e potássio através das membranas, causando movimento da água para dentro ou para fora da célula, que proporciona mudança de turgor na célula (Taiz e Zeiger, 2014). Durante o dia, as plantas de soja posicionam as suas folhas abertas para captação de radiação solar e, à medida que a noite avança até o final da madrugada, este movimento vai lentamente fechando e apontando as folhas para o solo (Figuras 4a1 – 16h, 4a2 – 23h e 4a3 – 4h; 4b1 – 16h, 4b2 – 23h e 4b3 – 4h). Analisando esse contexto, é possível observar a dicotomia dos dois momentos, em relação ao dia, condição climática em determinados horários quase sempre adversa, mas estatura de plantas com folhas eretas; à noite, condição climática adequada e movimento foliar, sendo direcionadas para baixo. A grande vantagem deste último é que o movimento do pulvino é lento, e isso permite que as aplicações de fungicidas
possam ser realizadas até um momento da madrugada. Diversos trabalhos de pesquisa e acompanhamentos de campo têm direcionado para isso. Nas situações em que a logística da aplicação não pode ser atingida nas melhores condições do dia, ou especialmente em condições de estresse hídrico por falta de água, as aplicações noturnas com fungicidas são uma estratégia fundamental para a proteção da planta. No entanto, em aplicações noturnas, é preciso considerar e evitar algumas situações como o final da madrugada, chuva no dia seguinte e adjuvantes tensoativos (organosiliconados). Estes últimos podem ser evitados, nestas condições, pois irão quebrar a tensão superficial dos líquidos e, aí sim, pode haver alguma movimentação adversa, seja por escorrimento ou em direção ao pecíolo ou haste da planta. Em todos os ensaios conduzidos, no final da madrugada (entre 3h e 6h) as eficiências das aplicações para o controle
Figura 3
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de doenças não ficaram satisfatórias, permanecendo abaixo dos melhores momentos, 9h, 18h e 23h (Figuras 5 e 6). Este baixo desempenho não está diretamente ligado com o orvalho, como é atribuído, mas sim pela nictinastia das folhas de soja que, se posicionando para baixo, evitam captar as gotas da aplicação (Figura 7). Outro aspecto que demanda atenção é a precipitação após a aplicação. Por exemplo, aplicações noturnas que não sofrem o impacto da chuva no dia seguinte atingem eficácias muito próximas às realizadas durante o dia (Figura 8). No entanto, se ocorrer chuva após a aplicação noturna, haverá remoção de boa parte do fungicida e a eficácia será baixa. Isso ocorre porque a penetração do fungicida no interior dos tecidos foliares é lenta à noite e precisa de mais tempo que as condições de luz. Portanto, a decisão do momento adequado da aplicação precisa ser tecnicamente acompanhada, para evitar possíveis perdas de eficácia. A tomada de decisão para a aplicação noturna é extremamente positiva e de alto nível técnico, devido às observações necessárias, podendo otimizar o operacional e C em situações de estresse hídrico.
Fotos Marcelo Madalosso/Phytus Club
Figura 4 A1
A2
16h B1
A3
23h B2
16h
4h B3
23h
Marcelo Gripa Madalosso, Instituto Phytus e URI/Santiago Marlon Tagliapietra Stefanello, Leandro Nascimento Marques, Pedro Cadore e Ricardo Silveiro Balardin, Univ. Federal de Santa Maria
4h
Figura 5 – Stefanello 2013
Figura 7 – Cadore 2015 5H
9H
13 H
Figura 8 – Stefanello 2013
Figura 6 – Stefanello 2013 Horário aplicação 4:00 9:00 14:00 18:00 23:00 Test.**
0' 31,04 aA*** 22,91 bA 22,46 bA 23,20 bA 30,68 aA 35,85 aA
Intervalo de simulação de chuva 30' 60' 120' 27,01 bA 18,37 bcB 12,08 bcC 15,21 cB 10,85 dBC 6,78 cCD 18,62 cA 12,60 cdB 8,24 bcB 18,09 cAB 13,61 C 9,07 bcCD 25,66 bA 18,72 bB 13,43 bB 36,12 aA 35,37 aA 35,93 aA
Sem chuva* 6,28 bcD 3,84 cD 9,89 bB 5,37 bcD 5,83 bcC 34,82 aA
22 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
17 H
21 H
Soja
Hastes manchadas Fotos Leila Maria Costamilan
Doenças, danos mecânicos, aplicação de produtos químicos, fenômenos meteorológicos e até mesmo ataque de pragas estão entre as causas possíveis da presença de manchas nas hastes de soja observadas ao longo da safra 2016/17. Conhecer os principais sintomas dos problemas que ocorrem na cultura torna mais fácil a sua diagnose, a prevenção e o controle
N
a safra 2016/2017 observou-se a ocorrência de diversas manchas em hastes de plantas de soja que, na maior parte das vezes, podem ser confundidas com doenças. Outras vezes são causadas por danos mecânicos ou por aplicação de produto químico, mas que sempre geram dúvidas quanto às verdadeiras causas. Um dos pontos importantes para
a correta diagnose do problema é a observação da planta inteira: se a raiz está sadia (coloração interna clara) ou doente (escura e faltando a raiz principal ou as secundárias); se as folhas estão amarelando e murchando, com seca de tecido entre as nervuras; e que tipo de sintoma aparece na haste (deprimida? vermelha? escura? O escurecimento persiste no interior da haste quando se
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retira a camada superficial da lesão?). Todas estas informações podem ser colhidas analisando-se superficialmente as plantas com problemas, sendo importantes para se descobrir a causa. Alguns casos: Exemplo 1: plantas murcham intensamente, com necrose dos pontos de crescimento, tanto de folhas jovens quanto em brotos florais. Manchas
Figura 1 - Efeito da aplicação de herbicida inibidor de ALS em planta de soja
avermelhadas nas hastes, mais intensas nos terços superior e médio, diminuindo em direção ao terço inferior. Nervuras avermelhadas na face inferior das folhas (Figura 1). Raízes sadias. Resultado: efeito da aplicação de herbicida inibidor de ALS. Neste caso, o erro ocorreu por troca de produto (herbicida armazenado em embalagem de inseticida). Também é comum ocorrer a intoxicação de plantas devido à utilização de pulverizador com restos de herbicida inibidor de ALS no tanque. Neste caso, os sintomas aparecem em faixas, sendo mais fortes em plantas localizadas no início da aplicação, reduzindo gradativamente com o decorrer da operação. Exemplo 2: plantas murcham levemente, com alguns galhos mais afetados que outros, na mesma planta. Lesões escurecidas no terço inferior das has-
Figura 4 - Oósporos de P. sojae em corte de raiz de soja, como observado em microscópio óptico
Figura 2 - Lesões na haste e raízes podres em soja, causadas por podridão-radicular-de-fitóftora
Figura 3 - Na haste inferior, parte da superfície da lesão foi removida, para mostrar o interior sadio
tes, tanto entre tecido sadio quanto progressiva a partir do solo. Raízes com sinais de desenvolvimento em solo compactado, apresentando raiz principal morta e desenvolvimento considerável de raízes secundárias superficiais (Figura 2). Lesões não escurecidas abaixo da superfície, na haste (Figura 3). No interior do tecido das raízes, ao microscópio ótico, observam-se estruturas circulares com paredes duplas (oósporos), típicas de Phytophthora sojae (Figura 4). Resultado: após a constatação dos oósporos nas raízes, pode-se afirmar que os sintomas foram causados pela
podridão-radicular-de-fitóftora. Este tipo de lesão é resultado da ação de um tipo moderado a baixo de resistência parcial da cultivar de soja afetada. Estas lesões nas hastes poderiam ser confundidas com cancro-da-haste, mas a falta de escurecimento interno na medula e de folhas com necrose internerval já indica não ser este o problema. Também é preciso ter atenção ao se tentar isolar o patógeno, em laboratório, pois P. sojae não se desenvolve em meio de cultura padrão (batata-dextrose-agar). Para informações sobre técnicas com P. sojae, consulte: http://www.infoteca.cnptia.
Figura 5 - Cancro-da-haste em soja, causado por Diaporthe aspalathi (sin. Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis), na safra 1993/1994
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Fotos Leila Maria Costamilan
Figura 6 - Cancro-da-haste em soja, causado por Diaporthe caulivora, na safra 2005/2006
embrapa.br/handle/doc/1058082. Para auxiliar na diferenciação de sintomas são apresentadas lesões de cancro-da-haste, identificadas em safras anteriores, no Brasil, nas Figuras 5 e 6. Estas lesões normalmente originam-se nas inserções de ramos laterais, progredindo tanto verticalmente quanto em direção ao interior da haste, escurecendo o lenho (Figura 7) e a medula, causando a morte do ramo afetado. As raízes permanecem sadias. Outra causa de confusão é mostrada na Figura 8, quando manchas aparecem após a ocorrência de granizo, fenômeno meteorológico esporádico durante a safra de verão, nas condições do Rio Grande do Sul. A diferença principal entre cancro-da-haste e granizo é a ausência de folhas com necrose internerval e o aparecimento súbito de
Figura 7 - Escurecimento interno do lenho da haste de soja abaixo da lesão de cancro-da-haste
manchas escurecidas em toda a extensão da haste, em uma face (o lado voltado para a chuva de pedras), com o centro da mancha fendido devido à morte do tecido atingido. Exemplo 3: extremidades de ramos entortadas e escurecidas, brotações florais deformadas, folhas superiores menores e de coloração verde mais clara, com bolhas no limbo foliar. Pecíolos e legumes atacados apresentam coloração marrom. Resultado: não é uma doença de soja propriamente dita, mas sintomas da ação do ácaro-branco (Polyphagotarsonemuslatus). Ao contrário dos demais ácaros da soja, o ácaro-branco desenvolve-se melhor em períodos chuvosos. Por ser diminuto, é melhor observado sob lupa, em laboratório. Exemplo 4: plantas murchas, com lesão na haste iniciando na inserção de ramo lateral, após o florescimento.
Figura 8 - Lesões causadas por granizo em haste de soja
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Presença de micélio branco cotonoso sobre a lesão (Figura 9). Resultado: mofo-branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum. Esta doença ocorre em verões chuvosos, em regiões de temperatura amena, em plantas muito próximas ou acamadas. É facilmente identificável pelo micélio branco e pelo desenvolvimento de escleródios, que são pequenas estruturas negras, que se desenvolvem tanto dentro quanto fora da haste afetada. Conhecer os principais sintomas dos problemas que ocorrem na cultura da soja torna mais fácil a sua diagnose, a fim de evitá-los ou controlá-los nas C próximas safras. Leila Maria Costamilan e Leandro Vargas, Embrapa Trigo
Figura 9 - Haste de soja com lesão de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum)
Cana
Velhas conhecidas Luis Felipe Lombardi
Gramíneas e tiririca estão entre as daninhas que comumente infestam os canaviais e desafiam a produtividade. Ao realizar o controle químico dessas plantas indesejadas é preciso estar atento às características dos herbicidas, para que a escolha recaia sobre os que melhor atendem às necessidades da área cultivada e do momento em que será realizada a aplicação
O
Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, com 9,1 milhões de hectares plantados na safra 2014/2015, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O aumento da demanda de produção se deve, prin-
cipalmente, ao crescente uso do etanol como alternativa para a matriz energética mundial, em resposta à substituição dos combustíveis fósseis. Entretanto, apenas um terço da biomassa da cana é convertido em etanol, enquanto o restante constitui o bagaço e a
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palhada. Apesar da vasta extensão de área plantada, o país ainda apresenta média de produtividade abaixo dos três dígitos, considerada muito inferior quando comparada ao seu potencial produtivo acima de 100 toneladas/hectare. Dentre os principais entraves para atingir os níveis adequados de produtividade, é possível citar a presença de plantas daninhas e a sua interferência na cultura da cana-de-açúcar. Essas espécies são indesejadas, agressivas e competem por água, nutrientes, espaço físico e luz, além de liberarem substâncias com efeitos alelopáticos e atuarem como hospedeiras intermediárias de pragas e patógenos. A influência dessas plantas pode causar redução de até 80% da produtividade, aumentar o custo de produção (15% a 30%) com o uso de herbicidas, reduzir o rendimento operacional da colheita, afetar a qualidade da matéria-prima que entra na usina e reduzir a longevidade do canavial (três a cinco cortes viáveis em média), fatores que tornam fundamental a adoção de boas práticas de manejo para preservar a lucratividade no setor. Alguns autores comentam que a cultura da cana-de-açúcar é muito sensível a pragas, principalmente em épocas úmidas, nas quais nota-se um período crítico de intervenção: em média de 90 a 120 dias após a emergência da cultura e das plantas daninhas. Pitelli (1985) comenta que essa interferência é influenciada por fatores ligados à cultura da cana, como variedade, espaçamento, densidade de plantio ou de falhas, época e extensão do período de convivência. Condições características das próprias plantas daninhas (espécies, nível de infestação, densidade e distribuição na área) que intervêm nesse período. Dentre as principais espécies estão as “velhas conhecidas” gramíneas e tiririca, entre outras que infestam os canaviais das diferentes regiões do Brasil. (Tabela 1) A alternativa mais utilizada por usinas e fornecedores é o controle químico dessas plantas nos canaviais em período úmido, com herbicidas pré-emergentes, logo após o plan-
sulfentrazone, que possui excelente ação no controle de tiririca. Também são indicadas aplicações sequenciais com herbicidas mais seletivos em pós-plantio da cana em pré-emergência das gramíneas e tiririca, como associações de sulfentrazone e clomazone; sulfentrazone e tebuthiurom; metribuzim, diuron, ametrina, atrazina ou hexazinona com diuron. A seleção dos produtos a serem utilizados em pós-plantio deve considerar o período de controle desejado entre o plantio e a operação de sistematização da área, com o objetivo de facilitar a posterior colheita mecânica. Quando a operação de quebra-lombo ocorrer em 30 a 60 dias após o plantio, é possível selecionar herbicidas e/ou associações com residuais mais curtos e com custos mais acessíveis, como diuron, ametrina, clomazone e atrazina. Caso a operação de sistematização seja realizada entre 60 e 90 dias, deve-se optar por herbicidas e associações com residuais mais longos. Após o processo, também se faz necessária a aplicação de herbicidas com residuais mais extensos, como tebuthiurom, sulfentrazone, clomazone e hexazinona com diuron, entre outros, eliminando a interferência das plantas daninhas em cana-planta. Já no caso do manejo de plantas daninhas em cana-soca, é importante estar atento para a seleção do herbicida ou das associações a serem utilizadas, pois poderão resultar em fitotoxicidade elevada à cana-de-açúcar e/ ou baixa eficácia de controle. Portanto, é fundamental sempre consi-
Pedro Christoffoleti
tio ou corte da cultura da cana - em área total, e/ou pós-emergência, em aplicação dirigida ou em área total, conforme a seletividade do herbicida e a eficácia de controle. No entanto, uma das grandes dificuldades para manejar áreas com altas infestações de gramíneas, ciperáceas e outras plantas é ajustar a recomendação dos herbicidas e suas doses, a fim de manter a seletividade da cana e promover um eficiente controle, considerando a diversidade das espécies de gramíneas e o residual de controle necessário, aliados à flexibilidade de aplicação em cana-planta ou em cana-soca de final de safra e em épocas úmidas. Outra preocupação é a adequação do custo conforme planejamento e orçamento previstos. Para o manejo, em todas as fases do sistema produtivo, a seleção dos herbicidas e a definição de doses, épocas e números de aplicações são imprescindíveis para o sucesso do setor canavieiro. Os herbicidas aplicados corretamente, levando em conta uma ou duas aplicações sequenciais durante o ciclo, reduzirão os danos e promoverão significativa diminuição dos níveis de infestação ao longo dos anos. Além disso, haverá menos custos adicionais, com aplicações complementares e repasses de herbicidas que não estavam planejados e orçados, refletindo em bons níveis de produtividade e competitividade. Dentre as principais alternativas de manejo, recomendam-se as aplicações em pré-plantio incorporado (PPI) de herbicidas com ação em gramíneas com clomazone e trifluralina, associados ou não ao herbicida
Área altamente infestada pelo capim-colonião Panicum maximum
derar a seletividade do herbicida à cultura, a compatibilidade entre diferentes produtos, o nível de infestação e as espécies de plantas daninhas presentes na área, além do estágio de desenvolvimento e em que época do ano essas plantas irão competir com a cultura. Os herbicidas tebuthiurom, diuron, hexazinona com diuron, clomazone e sulfentrazone são os mais versáteis e permitem alternativas interessantes, tanto em aplicação única quanto em aplicações sequenciais planejadas. Em resumo, a definição de estratégias de manejo de plantas daninhas, incluindo as diferentes espécies de gramíneas e tiririca nas épocas úmidas, poderá auxiliar o setor sucroenergético a superar os níveis atuais de produtividade, tornando o sistema mais C sustentável. Roberto Estêvão B. de Toledo e Edson Donizeti de Mattos, Ourofino Agrociência Tabela 1 - Principais espécies de gramíneas, ciperáceas e trapoeraba que infestam os canaviais das diferentes regiões do Brasil, 2002 a 2015, resultando em reduções significativas de produtividade Plantas Daninhas gramíneas Nome comum Nome científico capim-braquiarão Brachiaria brizantha capim-braquiária Brachiaria decumbens capim-marmelada Brachiaria plantaginea capim-angola, capim-fino Brachiaria purpurascens capim-carrapicho Cenchrus echinatus capim-chloris, pé-de-galinha-gigante Chloris gayana capim-chloris, pé-de-galinha-gigante Chloris polydactyla capim-colchão Digitaria bicornis capim-colchão Digitaria ciliaris capim-colchão Digitaria horizontalis capim-colchão Digitaria nuda capim-amargoso Digitaria insularis capim-arroz Echinochloa colonum capim-arroz Echinochloa crusgalli capim-pé-de-galinha Eleusine indica capim-barbicha-de-alemão Eragrostis pilosa capim-colonião Panicum maximum capim-gengibre Paspalum maritimum capim-oferecido Pennisetum setosum capim-camelote Rottboellia exaltada capim-favorito Rynchelitrum roseum capim-falso-massambará Sorghum arundinaceum capim-massambará Sorghum halepense Plantas Daninhas Nome comum Nome científico trapoeraba Commelina benghalensis trapoeraba Commelina sp. grama-seda Cynodon dactylon tiriricão Cyperus esculentus junquinho Cyperus ferax tiririca-do-brejo Cyperus iria tiririca Cyperus rotundus Fonte: Toledo et al., (2015)
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Cana
Soqueiras raquíticas Fotos Alfredo Seiiti Urashima
O raquitismo-das-soqueiras é uma doença silenciosa e traiçoeira, capaz de provocar sérios danos sem ser percebida, cuja incidência tende a explodir com a mecanização da colheita de cana. Em levantamento realizado ao longo de três safras, apenas com a cultivar mais plantada, RB867515, o prejuízo estimado pode superar um milhão de dólares. Medidas de controle urgentes, como o uso de material propagativo sadio, são necessárias para enfrentar o problema
A
mecanização da colheita da cana-de-açúcar tem sido praticada pela totalidade das usinas e de seus fornecedores da região Centro-Sul, a principal produtora do Brasil. Essa mudança da colheita manual de cana queimada para a mecanizada fez com que restos culturais ficassem no campo, já que a colheita é feita em cana crua, ou seja, sem queima. Esses restos têm muitos efeitos benéficos, como aumento da matéria orgânica e da umidade do solo, diminuição da temperatura das camadas superficiais, da erosão e da emissão de dióxido de carbono
do solo, entre outros. No entanto, pouca informação chega aos produtores em relação às consequências dessa mecanização sobre as doenças da cultura. Dentre as inúmeras moléstias que atacam a cana-de-açúcar, o raquitismo-das-soqueiras, causado pela bactéria fastidiosa Leifsonia xyli sub sp. xyli, é a doença que mais vai aumentar com a mecanização da colheita. Estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que as lâminas da colheitadeira foram capazes de disseminar a bactéria a uma distância que variou de 3,9 metros a 7,3 metros a partir de
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uma touceira doente. Junte-se a esse fato, a dificuldade de se fazer a desinfecção das lâminas quando da mudança de talhões. Assim, a existência de um único talhão com raquitismo-das-soqueiras em uma usina pode fazer com que a doença se espalhe para outros campos. Outros fatores que reforçam a importância dessa doença incluem: a) Todas as variedades são atacadas pela bactéria; b) Dificuldade de identificação no campo das planas doentes, devido à ausência de sintomas característicos; c) Dano à produtividade com aumento dos cortes, justificando seu nome: raquitismo-das-soqueiras. Essas características fazem com que a doença seja considerada a mais traiçoeira e perigosa dentre todas da cultura, qual seja sua capacidade de causar danos sem ser percebida. Dados de quebra de produtividade devido à doença em outros países mostraram queda de 41% na África do Sul, 37% na Austrália, 33% nos Estados Unidos e de até 50% na Índia. No Brasil existe estudo que mostra dano de 26% na produtividade da RB867515. A despeito de todas essas informações, a real importância da doença para a indústria canavieira nacional ainda não podia ser avaliada devido à ausência de dados que indicassem quão disseminado estaria o raquitismo-das-soqueiras nos campos comerciais brasileiros. Vale lembrar que levantamentos realizados anteriormente focaram somente talhões destinados à multiplicação de material vegetativo, não mostrando, portanto, uma visão real do problema. Assim, para suprir essa deficiência, o laboratório (Lagem/UFSCar) fez uma parceria com a empresa Syngenta para estudar o grau de disseminação da doença nas usinas do Centro-Sul do Brasil. Para tanto foram coletadas 92.114 amostras, cobrindo 13.173 hectares em 1.154 talhões de 50 usinas de cinco estados (São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul) durante os anos de 2012 e 2013. Nesse trabalho,o tamanho da área e o número de talhões amostrados obedeceram a importância de cada variedade no cenário atual. Essa foi a razão para a RB867515 ter sido a cana com maior área
amostrada (3.001 hectares e 242 talhões), seguida de SP81-3250 (2.466 hectares e 213 talhões) e RB855453 (2.037 hectares e 162 talhões); RB855536, RB855156, RB966928, RB835054 e RB92579 completaram a lista das variedades examinadas. Em uma primeira análise dos dados, 121 talhões (10,5%) de um total de 1.154 amostrados estavam contaminados com a bactéria causadora do raquitismo-das-soqueiras, representando 11,3% da área total avaliada. Quando esses valores foram distribuídos por variedade, a RB92579 se destacou por apresentar 17,3% de talhões com a doença, seguida por RB855536 (13,2%), RB966928 (12,8%) e SP81-3250 (11,3%) (Tabela 1). Mas o dado que mais chamou a atenção foi que 58% das usinas amostradas (29 de um total de 50) tinham pelo menos um talhão com a presença da bactéria. Esse é um aspecto muito importante, pois a presença de um único talhão infectado em uma usina vai fazer com que a doença se espalhe para todas as variedades durante a colheita. Também foi possível estudar a incidência da bactéria de acordo com os cortes da cana-de-açúcar (Tabela 2). De todos os dados dessa tabela o mais importante é referente à cana-planta, pois não foi possível examinar a incidência da doença em função dos cortes, já que
A boa germinação das gemas advindas de toletes doentes não permite a identificação do raquitismo
os talhões avaliados não foram os mesmos nos dois anos do estudo. Assim, 9,4% dos talhões de cana-planta apresentaram-se contaminados com a doença, correspondendo a 10,4% do total de área de cana-planta amostrada. O que chama a atenção nesses dados é que 32% de todas as usinas estudadas empregaram mudas contaminadas com a bactéria do raquitismo
na reforma de canaviais. A lógica para tal conclusão se baseia no fato do patógeno não conseguir sobreviver em restos culturais e não ter inseto vetor para sua disseminação, fazendo com que o material propagativo seja o único meio de entrada da doença em área nova. Dessa forma, uso de material propagativo sadio é a principal medida para controlar a doença. Para a produção de cana-de-açúcar, a região Centro-Sul é a mais importante do Brasil. Nesse estudo, essa região foi subdividida em quatro sub-regiões para que a disseminação da bactéria do raquitismo fosse melhor avaliada (Tabela 3). O Cerrado (o estudo abrangeu Goiás e Minas Gerais) foi a região que mostrou a maior porcentagem de talhões infectados (16%) e também a maior área (16,7%); porém, o mais impressionante é que 81,8% (nove das 11 usinas) tinham pelo menos um talhão infectado com a bactéria. A região Sul, que englobou o Sul do estado de São Paulo e os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, também mostrou altíssima porcentagem (70%) de usinas com pelo menos um talhão doente. Por outro lado, metade das usinas analisadas nas regiões Central e Oeste do estado de São Paulo apresentou-se com talhões com raquitismo-das-soqueiras, demonstrando que a doença é uma preocupação em toda a
Fotos Alfredo Seiiti Urashima
região Centro-Sul. O fato de esse levantamento ter considerado as principais variedades, divisão em sub-regiões, ciclo de corte da cana e grande número de usinas proporcionou uma visão abrangente, robusta e bastante realista da incidência de raquitismo-das-soqueiras em campos comerciais do Centro-Sul brasileiro. Esses cuidados também permitiram calcular, pela primeira vez e com segurança, a perda econômica que a doença está causando. Para isso foram utilizadas informações referentes à variedade RB867515, que é a mais cultivada no País. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada com essa variedade na safra 2012-2013 foi de 1,5 milhão de hectares ou 29,1% de toda área com cana. De acordo com o levantamento, 5,5% das áreas avaliadas com essa variedade apresentaram a bactéria. Assumindo que essa proporção de contaminação também se mantenha para todo o Centro-Sul, uma área de 85,5 mil hectares estaria com raquitismo-das-soqueiras, com uma taxa de infecção de 0,2%, pois nem todas as touceiras estariam contaminadas nessa área (no presente estudo, 47 das 20.870 amostras analisadas dessa variedade estavam doentes). Em pesquisa realizada por Gagliardi & Camargo (2009), que comparou parcelas sadias com parcelas doentes, a diferença de produtividade entre elas em três anos de colheita foi de 26,2%. Considerando que a produtividade média seja de 100 toneladas por hectare para a RB867515 e a taxa de infecção média de 0,2%, estima-se um dano à produtividade de 78.600 toneladas de cana por ano devido ao raquitismo-das-soqueiras (100 toneladas de produtividade média x 1,5 milhão de hectares plantados com a variedade x 0,2% de taxa média de infecção encontrada no estudo x 26,2% de quebra de produtividade). Baseando-se no preço médio da tonelada de cana pago em 2015 de R$ 52,8 (US$ 13,2), essa quebra de 78.600 toneladas de cana causada pelo raquitismo-
Urashima alerta para o aumento do raquitismo das soqueiras com a colheita mecanizada
Tabela 1 - Incidência de Leifsonia xyli subsp. xyli nas usinas em função das variedades de cana-de-açúcar Variedade RB867515 SP81-3250 RB855453 RB855536 RB855156 RB966928 RB835054 RB92579 TOTAL
Área total Área infectada Número de talhões Número de talhões % talhões No total No de usinas com % usinas com (ha) (ha) amostrados infectados infectados de usinas talhões infectados talhões infectados 164 3.001 242 15 6,2 44 10 22,7 291 2.466 213 24 11,3 46 13 28,3 175 2.037 162 12 7,4 42 7 16,7 216 1.386 129 17 13,2 32 10 31,3 95 845 79 8 10,1 27 5 18,5 171 1.295 109 14 12,8 37 9 24,3 80 647 70 5 7,1 22 3 13,6 300 1.496 150 26 17,3 34 11 32,4 1.491 13.173 1.154 121 50 29
Urashima et al. (2016)
Tabela 2 - Incidência de Leifsonia xyli subsp. xyli em função dos ciclos de corte da cana-de-açúcar Ciclo de Talhões Talhões % talhões Área amos- Área infec- % área Número total N0 de usinas com % usinas com corte amostrados infectados infectados trada (ha) tada (ha) infectada de usinas talhões infectados talhões infectados 29 Cana planta 307 9,4 3.446 357 10,4 50 16 32,0 35 1º. Corte 254 13,8 2.785 437 15,7 43 17 39,5 20 2º. Corte 212 9,4 2.434 213 8,8 46 14 30,4 19 3º. Corte 203 9,4 2.472 238 9,6 42 12 28,6 18 4º. ou + 178 10,1 2.035 247 12,1 39 14 35,9 121 TOTAL 1.154 10,5 13.173 1.491 11,3 Urashima et al. (2016)
Tabela 3 - Incidência de Leifsonia xyli subsp. xyli em quatro regiões do Centro-Sul do Brasil No de talhões No de talhões % talhões Área amos- Área infec- % área Total N0 de usinas com % usinas com amostrados infectados infectados trada (ha) tada (ha) infectada de usinas talhões infectados talhões infectados 38 Cerrado 237 16,0 2.816 469 16,7 11 9 81,8 23 SP Oeste 207 11,1 2.738 287 10,5 12 5 41,7 33 SP Central 391 8,4 3.759 385 10,2 17 8 47,1 27 Sul 319 8,5 3.860 351 9,1 10 7 70,0 121 TOTAL 1.154 13.173 1.491 50 29 Região
Urashima et al. (2016)
-das-soqueiras resultou em prejuízo de mais de um milhão de dólares. Vale ressaltar que essa perda considerou somente a RB867515 e que todas as variedades podem ser atacadas, caso medidas de controle não sejam adotadas. Outro fator importante reside no fato que esses valores podem ser ainda maiores, pois a amostragem foi de somente seis amostras por hectare, coletadas aleatoriamente. Essa quantidade foi estabelecida devido à grandiosidade, à abrangência, ao custo e à logística do levantamento. Nas análises realizadas pelo laboratório (Lagem/UFSCar) a recomendação é de que a coleta seja de 100 amostras por talhão, direcionadas para plantas mais fracas.
Colmos colhidos de parcelas com raquitismo-das-soqueiras
32 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
Embora o tamanho do talhão varie muito, levantamentos dos anos de 2009, 2010 e 2011 com amostras coletadas seguindo essa orientação mostraram incidência média de 30,4% na RB867515, corroborando a suspeita de que a contaminação por raquitismo-das-soqueiras pode ser ainda maior. Espera-se que a divulgação desses dados mostre à indústria canavieira a importância atual do raquitismo-das-soqueiras e o dano invisível que essa doença está causando. O setor necessita adotar urgentemente medidas de controle, empregando-se exclusivamente materiais propagativos sadios. Para isso, é fundamental antes do plantio realizar análise laboratorial e o tratamento térmico dos materiais propagativos, quando este for o sistema adotado. Se a opção for de plantio de mudas pré-brotadas, uma alternativa disponível são os produtos Plene, que por serem advindos de culturas de tecidos, garantem a sanidade C desses materiais. Alfredo Seiiti Urashima, Univ. Federal de São Carlos
Café
Controle intermediário Fotos Silva Júnior, 2015
A aplicação de formulações de fosfito, de modo preventivo e associada a outras medidas de controle, pode auxiliar no manejo da cercosporiose, doença importante capaz de provocar perdas diretas e indiretas no cafeeiro
O
s cultivos de café estão sujeitos a vários fatores capazes de reduzir a produtividade. Destacam-se as doenças, especialmente a cercosporiose, causada pelo fungo Cercospora coffeicola, capaz de causar perdas de até 30% na produtividade quando não controlada. Seus principais sintomas são manchas foliares necróticas de coloração amarronzada, com centro claro, que podem ou não ser circundadas por um halo amarelado e lesões elípticas e deprimidas nos frutos. Portanto, as
perdas podem ser diretas, por afetar os frutos depreciando a qualidade da bebida, e indiretas pela diminuição da área foliar, desfolha e consequente redução da fotossíntese. Cultivos com maior espaçamento favorecem a doença, porque o fungo produz uma toxina denominada cercosporina, que é ativada pela luz e está relacionada à virulência do fungo. A principal forma de controle da cercosporiose consiste na aplicação de fungicidas. Por muito tempo produtos à base de cobre (oxicloreto de cobre, calda
34 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
bordalesa) com ação protetora e amplo modo de ação foram os únicos utilizados no controle de doenças do cafeeiro. Entretanto, na década de 1960 estes fungicidas foram substituídos pelos sistêmicos, que possuem tanto ação protetora quanto curativa e modo de ação específico, entre os quais se destacam as estrobilurinas, os triazóis e as misturas de ambos. A constante aplicação destes fungicidas tem selecionado populações de C. coffeicola resistentes e isso fez com que a doença, antes secundária, ganhasse maior importância. Além disso, o mercado tem cada vez mais exigido que os alimentos produzidos tenham quantidades mínimas ou zeradas de resíduos provenientes de produtos como fungicidas, inseticidas, entre outros. Com isso, as empresas e instituições de pesquisa têm voltado os estudos para redução na aplicação de produtos fitossanitários químicos ou para encontrar produtos pouco tóxicos que possam ser uma fonte alternativa no controle da cercosporiose. Destacam-se os extratos de plantas, fertilizantes foliares, indutores de resistência, entre outros. Os fertilizantes foliares são aplicados em plantas de cafeeiro para suprir deficiências de micronutrientes como Mn, Zn, Cu, Mo e B ou de macronutrientes, principalmente de Ca e K. A aplicação destes produtos pode reduzir de forma indireta a intensidade da cercosporiose, pois fornecem macro e micronutrientes. Estes são cofatores (ativadores) de enzimas de defesa das plantas. Com
Figura 1 - Diferença entre lavoura atacada pela cercosporiose e lavoura sadia
Figura 2 - Sintomas da cercosporiose em folhas de café. Local: área experimental da Ufla, Lavras (MG)
isso, a atividade dos vegetais aumenta e reduz a intensidade da doença quando em comparação com uma planta que não recebeu a aplicação. Além disso, os nutrientes promovem maior e melhor crescimento/desenvolvimento das plantas, levando a formação de barreiras físicas como maior espessura da camada de cera, fechamento dos estômatos e aumento na espessura da parede celular vegetal. Os fosfitos são sais derivados do ácido fosforoso, registrados e comercializados como fertilizantes foliares com potencial para o controle de doenças do cafeeiro, de acordo com vários estudos do Laboratório de Fisiologia do Parasitismo da Universidade Federal de Lavras (Ufla). As pesquisas se concentram principalmente no manejo da ferrugem
Figura 3 - Lesões elípticas e deprimidas nos frutos, típicas da doença em café
(Hemileia vastatrix), cercosporiose (Cercospora coffeicola), mancha de Phoma (Phoma tarda) e mancha aureolada (Pseudomonas syringae pv. garcae) com fosfitos e caracterização dos modos de ação (bioquímico, molecular, entre outros). Estes produtos apresentam triplo modo de ação no controle de doenças de plantas, sendo estes a indução de resistência e nutrição do hospedeiro, além da toxidez direta contra patógenos fúngicos e bacterianos. Entretanto, a nutrição em fósforo não ocorre, pois o íon fosfito não é metabolizado pela planta para ser convertido em fosfato, que é a única forma em que a planta absorve o fósforo. Outra característica dos fosfitos é a sua translocação via xilema e floema, o que facilita e otimiza a aplicação. O preço destes produtos é
competitivo quando comparado ao dos fungicidas comerciais. Entretanto, o controle proporcionado por estes produtos é geralmente intermediário, sendo o ideal substituir uma das aplicações do fungicida ciproconazol + azoxystrobin, por exemplo, por uma aplicação de fosfito em condições de campo. Já no viveiro devem ser realizadas mais aplicações intercaladas com as de fungicida, de acordo com o nível de incidência da cercosporiose. Para maior efetividade do fosfito no controle da cercosporiose a aplicação deve ser realizada de forma preventiva, ativando os mecanismos de defesa para que, ao ser invadida pelo fungo, a planta esteja com a defesa pronta para impedir ou retardar a colonização do tecido vegetal. Um trabalho foi realiza-
Figura 4 - Progresso da severidade (A) e da desfolha (B) da cercosporiose do cafeeiro ao longo do tempo em função dos produtos aplicados
Figura 5 - AACPS (A) e AACPD (B) da cercosporiose do cafeeiro em função dos produtos utilizados e controles proporcionados por estes em ambas as variáveis
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% pelo teste de Scott-Knott
do com o objetivo de avaliar o efeito da aplicação de formulações comerciais de fosfitos de potássio sobre a severidade e a incidência da cercosporiose em mudas de cafeeiro. O ensaio foi realizado em casa de vegetação da Ufla. Foram utilizados os fosfitos comerciais Reforce, Pepfós e Green Fós, comparados com o fungicida comercial ciproconazol + azoxystrobin, com o indutor de resistência acibenzolar-S-metile com uma testemunha sem aplicação. Estes produtos foram aplicados em mudas de cafeeiro da cultivar Topázio, com seis pares de folhas. Após a aplicação foi realizada a inoculação do fungo (Cercospora coffeicola) através da pulverização de uma suspensão com 3x104 esporos por mililitro de água. As plantas foram então acondicionadas por 72 horas em câmara úmida, com umidade aproximada de 80% ± 2% e temperatura de 25ºC ± 2ºC. Após o aparecimento dos sintomas (30 dias após a inoculação) foram realizadas cinco avaliações da severidade
(área foliar lesionada) e da desfolha. Com base na severidade e na desfolha foram calculadas a área abaixo da curva de progresso da severidade (AACPS) e da desfolha (AACPD), além dos controles proporcionados individualmente pelos produtos utilizados. As curvas de progresso da severidade e da desfolha indicam o crescimento ao longo do tempo. AACPS e AACPD representam o “acúmulo” da doença ao longo do tempo. É possível verificar que todos os fosfitos utilizados promoveram redução na severidade e na desfolha da cercosporiose ao longo do tempo, apresentando efeito bem próximo ao do fungicida e muito menor que os da testemunha. Todos os fosfitos utilizados promoveram controle da AACPS (A) e da AACPD (B) da cercosporiose com mesmo efeito do fungicida e do indutor de resistência. Foram obtidos controles de 74% a 87% na AACPS e de 79% a 89% na AACPD. Com base nos resultados obtidos é
possível recomendar qualquer uma das três formulações de fosfitos de potássio para o controle da cercosporiose do cafeeiro no viveiro nas mesmas doses utilizadas neste ensaio. Novos ensaios serão montados em campo para verificar a eficácia destes produtos neste ambiente, uma vez que o mesmo está sujeito à ação de muitos outros fatores que podem favorecer ou não a intensidade da cercosporiose. Assim, poderemos saber qual melhor sistema de aplicação dos fosfitos e se a associação destes com C fungicidas é mesmo viável. Manoel Bastista da Silva Júnior, Mário Lúcio Vilela de Resende, Alexandre R. Maia de Resende, Victor Augusto M. Vasconcelos, Rossiane Oliveira Vilela e Lucas Gabriel P. Nogueira, Universidade Federal de Lavras Bruno Henrique Garcia Costa, Agrichem do Brasil
Silva Júnior, Mário, Alexandre, Vasconcelos, Rossiane, Nogueira e Costa abordam o efeito de formulações de fosfito sobre a cercosporiose do cafeeiro
36 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
Feijão
Prova de resistência Fotos Leonardo José Frinhani Noia da Rocha
Com efeito devastador sobre vagens e grãos de feijoeiro, a antracnose (Colletotrichum lindemuthianum) tem capacidade para levar a perdas de até 100% quando a infecção ocorre no início do ciclo. O plantio de cultivares resistentes e o uso de sementes certificadas estão entre as alternativas mais eficientes de manejo dessa doença
A
cultura do feijoeiro é conduzida através de diversos sistemas de produção, desde a agricultura familiar até o emprego de alto nível tecnológico, o que gera grande variação de produtividades entre as lavouras. Além disso, a ocorrência de doenças nas plantas reduz a produtividade, pois a alta temperatura e a umidade elevada favorecem patógenos como a antracnose (Colletotrichum lindemuthianum). Essa doença reduz a qualidade dos grãos e o rendimento do feijoeiro. Presente em todo território brasileiro, e em todas as épocas do ano, esta doença pode causar até 100% de perdas quando a infecção ocorre no início do ciclo. A doença é favorecida por temperaturas entre 13ºC e 27ºC e umidade relativa acima de 90%, o que torna o cultivo de outono-inverno, conhecido também como “terceira época de plantio” ou “feijão de inverno”, aquele com os maiores riscos de ocorrência de antracnose. Irrigações frequentes e em excesso podem intensificar ainda mais os
prejuízos causados à cultura. Os sintomas podem ser observados em toda a parte aérea da planta. Quando a cultura está em estádio inicial é possível visualizar lesões pequenas de coloração marrom ou preta nos cotilédones. Em estádios mais avançados ocorrem lesões necróticas marrom-escuras geralmente na face inferior das folhas. As lesões podem, ainda, se estender para o caule, as vagens e as sementes. As lesões deprimidas e de coloração marrom que surgem nos grãos ocasionam redução da qualidade do produto final. O controle da antracnose é realizado com a utilização de sementes sadias, manejo correto da irrigação, rotação de culturas e eliminação de restos culturais. A aplicação de fungicidas na parte aérea também é eficiente no controle da doença e tem sido utilizada por agricultores. Cruz (2014) constatou que o uso do silício na nutrição mineral do feijoeiro pode reduzir 52% da incidência da doença na parte aérea. Outra alternativa para o manejo é
38 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
o controle biológico com o fungo Trichoderma spp., capaz de reduzir a severidade da doença (Pedro, 2012). Além destas práticas de manejo, o uso de cultivares resistentes tem contribuído para redução dos danos e perdas. Porém, é restrita a oferta de cultivares com resistência devido à alta variabilidade genética do patógeno, tendo sido identificadas no Brasil mais de 50 raças fisiológicas. Dada a importância do feijoeiro, e o quanto essa cultura pode ser afetada pela doença, nesse estudo foram quantificados os dados e avaliada a resistência de dez cultivares de feijoeiro à antracnose. O experimento foi instalado na Fazenda Experimental do Cento de Ciências Agrárias e Engenharias da Universidade Federal do Espírito Santo, no município de Alegre (ES). O clima da região é quente e chuvoso no verão e frio e seco no inverno. As cultivares estudadas foram BRS Notável, BRS Ametista, BRS Pérola, BRS Estilo, BRS Pontal, BRS Esplendor, In-
Figura 1 - Incidência (%) de grãos com sintomas de antracnose em vagens e grãos de cultivares de feijoeiro
Plantas de feijoeiro (Phaseolus vulgaris) em estádio de crescimento vegetativo
caper Serrano, Agreste Mulatinho e duas cultivares tradicionais obtidas com pequenos produtores da região, denominadas como Carioca Comum e Vagem Riscada. As sementes foram colhidas em julho e a implantação da cultura realizada em abril, com o intuito de coincidir o ciclo com a época favorável à ocorrência da doença. O experimento foi realizado em delineamento em blocos casualizados. Após a colheita, foi avaliada a incidência da doença, quantificando o percentual (%) de grãos e vagens com sintomas da doença. As cultivares Vargem Riscada, Incaper Serrano e BRS Esplendor foram as que apresentaram melhores níveis de resistência à doença. Essas cultivares registraram menor incidência da doença nos grãos, o que pode representar grãos de melhor qualidade. Por outro lado, a cultivar Agreste Mulatinho apresentou maior suscetibilidade à antracnose. As cultivares BRS Pérola, BRS Estilo, BRS Pontal, Carioca Comum, Incaper Serrano e IPR Tiziu demonstraram
suscetibilidade à doença, uma vez que apresentaram incidência superior a 40%. A cultivar Agreste Mulatinho apresentou também alta incidência de antracnose nos grãos. Isso indica que tal material, se cultivado em locais com histórico de problemas com antracnose, além de ter seu rendimento comprometido pode registrar redução na qualidade dos grãos e afetar a rentabilidade econômica da cultura. O mesmo também pode acontecer com as cultivares BRS Notável, BRS Ametista, BRS Pérola, BRS Estilo e BRS Pontal. Caso o produtor queira utilizar sementes colhidas na última safra para plantios posteriores, deve-se tomar muito cuidado com a incidência de antracnose nos grãos, principalmente se as sementes são de cultivares suscetíveis, como Agreste Mulatinho, e provenientes de cultivo outono-inverno. Este cuidado deve ser observado, uma vez que estas sementes servirão de fonte de inóculo inicial para o próximo cultivo, o que tende a representar aumento de custos
com o controle fitossanitário e perda qualitativa e quantitativa do produto colhido. Desta forma, é necessário que haja um monitoramento constante do cultivo que irá fornecer as sementes, verificando sempre a incidência de antracnose e demais doenças. O plantio de cultivares resistentes e o uso sementes certificadas consistem no método mais eficiente de manejo da doença e para evitar a entrada do patógeno na área. No entanto, o agricultor pode, ainda, realizar o tratamento de sementes com fungicidas como medida complementar, de modo a garantir a sanidade da cultura. Por isso é indispensável o acompanhamento de um engenheiro agrônomo durante o planejamento e a C condução do cultivo. Rogério de Souza Noia Junior, Leonardo José F. Noia da Rocha, Leonardo Leoni Belan, Leandro Pin Dalvi e Leônidas Leoni Belan, Ufes
NO BRASIL
O
Visão parcial do experimento, evidenciando o delineamento em blocos
feijoeiro-comum (Phaseolus vulgaris) é uma das principais culturas produzidas no Brasil, e um dos alimentos mais consumidos no mundo. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de feijão, sendo que a produção total brasileira nas safras 2015/2016, foi de 2,51 milhões de toneladas, em uma área plantada de 2,84 milhões de hectares, e produtividade média de 886kg/ha. Porém, mesmo com toda a importância para a população brasileira, a produtividade no País ainda é considerada baixa.
www.revistacultivar.com.br • Março 2017
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COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
Safra recorde no Brasil e produtor de olho no mercado em 2017 O clima em geral oscilou entre bom e excelente neste ano agrícola no Brasil. A colheita flui em bom ritmo e os números que chegam dos campos dão sinais que haverá recorde histórico de safra. A soja tende a avançar para números finais entre 105 milhões de toneladas e 110 milhões de toneladas. O Mato Grosso vai passando de 30 milhões de toneladas colhidas e quase todos os demais estados registram recordes de safra, o que serve para que o custo unitário da soja seja menor que o esperado. O mesmo ocorre com o milho da safra de verão, cujos indicativos são de 30 milhões de toneladas. E tudo aponta também para uma grande safrinha, porque o plantio da maior parte das áreas se deu no período ideal, o que pode levar a segunda safra do milho para a casa de 60 milhões de toneladas. Soja e milho, ao se confirmarem os prognósticos atuais, resultarão em algo entre 190 milhões de toneladas e 200 milhões de toneladas no acumulado apenas destes dois grãos. A safra de arroz é aguardada entre 11,5 milhões de toneladas e 12 milhões de toneladas. O feijão deve ter mais de três milhões de toneladas colhidas e o trigo, mesmo com os produtores reclamando dos preços baixos, tende a registrar entre cinco e seis milhões de toneladas. Estes cinco grãos reunidos devem atingir a faixa de 220 milhões de toneladas e recorde histórico de produção no Brasil. Com isso, se encherão os silos, obrigando novamente o setor a ir em busca de expansão de novos armazéns. Em 2017 haverá grandes volumes da safra para serem comercializados a partir de abril e boa parte será armazenada. Bom sinal, com safra cheia, riscos baixos de prejuízos aos produtores, mas demandando um acompanhamento mais próximo do mercado, que envolve os valores dos grãos internos e externos e também a cotação do dólar. A moeda norte-americana começou o ano em queda livre, mas não há qualquer garantia de que seguirá assim nos próximos meses. Será um ano de flutuações e isso obrigará o produtor a ficar atento para vender nos momentos de alta.
Colheita forçou cotações para baixo
MILHO
O mercado do feijão no ano passado teve forte queda no plantio, problemas climáticos e redução na produção, com disparada das cotações, que chegaram à casa de R$ 600,00 a saca do feijão Carioca. A safra de verão chega em boas condições e com isso as cotações se aproximam de R$ 100,00 a saca. Como fator positivo nota-se que a demanda volta a crescer forte, o que tende a dar espaço para a recuperação parcial das cotações. Após passar a pressão da colheita desta primeira safra, deve registrar algo próximo SOJA Produtor apontando que vai segurar para negociar à frente de R$ 150,00 a saca. O mercado da soja do Brasil negociou em torno de 40 ARROZ milhões de toneladas da safra, que agora está projetada entre Safra em colheita e recorde no RS 105 milhões de toneladas e 110 milhões de toneladas. Ainda A safra do arroz do Rio Grande do Sul está em colheita, há muito para ser negociado e os produtores estão sendo cautelosos e demonstram pouco interesse de venda neste com boas condições e provável recorde de produção e promomento de colheita. Como boa parte do setor está mais dutividade. Os indicativos de preços estão em leve queda, capitalizada, poderá esperar para negociar no futuro, em mas não mostram muito espaço para grandes baixas, porque momentos que possam resultar em melhores preços pela soja os produtores tendem a reduzir as vendas quando os indicativos atingirem algo próximo de R$ 45,00 a saca. Há boa que os oferecidos na colheita. demanda e passada a pressão da colheita o mercado tende a se estabilizar e mostrar pequeno fôlego de reação. FEIJÃO
Safra chegando ao recorde
O milho está em colheita, com alta produtividade e tranquilidade aos consumidores, que têm adiado as grandes compras. Com indicativos nos portos na faixa de 10,00 dólares a saca, esse nível tem se mantido, sendo o balizador do mercado interno com tendência de continuar nesta mesma linha nos próximos meses.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo continua atrelado aos pregões do governo para garantir níveis próximos do preço mínimo e pouco irá mudar. O dólar barato dificulta avanços internos, porque permite importação barata. UCRÂNIA - Concorrente do Brasil na exportação de milho, o país passa por um inverno forte, com indicativos de perdas na produção da safra de grãos forrageiros. O temor dos ucranianos é de que o milho, que será plantado de agora em diante, seja alcançado por geadas tardias. Há ainda o medo por conta dos rebeldes russos, que ameaçam retomar a guerra civil interna. CHINA - As indicações do país são de que seguirá comprando muita soja (próximo de 90 milhões de toneladas). Além da oleaginosa, os chineses devem importar cinco milhões de toneladas de milho e de cinco a oito milhões de toneladas de arroz, entrando
cada vez mais forte nas importações de grãos. O país desistiu da intenção de se tornar autossuficiente na produção de alimentos. Além disso, os EUA ingressaram na Organização Mundial do Comércio (OMC) com uma ação contra os subsídios que os chineses dão aos produtores de grãos, o que desestimulou o novo plantio. Aponta-se queda de meio milhão a um milhão de hectares em milho neste ano, sendo que no ano passado o país já reduziu em dois milhões de hectares o plantio. ARGENTINA - A safra, mesmo sofrendo com inundações em janeiro, se mostrou em boas condições em fevereiro. O país pode colher mais de 55 milhões de toneladas de soja e mais de 35 milhões de toneladas de milho. EUA - Seguem os indicativos para uma queda na área do milho e aumento do plantio da soja. C Vlamir Brandalizze
brandalizze@uol.com.br • Twitter@brandalizzecons • brandalizzeconsulting.com.br
40 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
COLUNA AGRONEGÓCIOS
N
Questionando dogmas II
a última edição de Cultivar comentamos o dogma da intocabilidade da temática relativa à reforma agrária e à agricultura familiar. No presente artigo analisaremos o dogma de que a agricultura orgânica seria uma cornucópia de benefícios, nenhuma desvantagem podendo a ela ser imputada. Produto orgânico, por definição, seria melhor, mais saudável, mais saboroso, mais rentável, mais barato, mais favorável ao ambiente. Nenhuma dessas afirmativas precisaria ser provada, por ser um dogma. Em contrapartida, adubos, agroquímicos ou variedades transgênicas seriam tecnologias inapropriadas, destinadas a intoxicar o ser humano, portanto seu uso deveria ser banido. Em 2012, este dogma tipicamente fundamentalista e anticientífico foi frontalmente questionado por três artigos científicos. O primeiro deles foi publicado pela cientista canadense Verena Seufert e colaboradores, na revista Nature (www.nature.com/nature/ journal/v485/n7397/full/nature11069.html). Utilizando técnicas estatísticas de meta-análise de resultados publicados na literatura científica, os autores concluíram que a produção orgânica apresenta produtividade entre 5% e 34% inferior à produção convencional. A partir destes números é possível inferir o impacto de uma mudança do padrão mundial – superior a 99% de agricultura convencional – para orgânico. De imediato, enfrentar-se-ia uma escolha de Sofia: aumentar a fome no mundo ou desmatar as florestas que sobraram. Isto porque, de acordo com a FAO, entre 2010 e 2050, será necessário aumentar em cerca de 70% a produção agrícola mundial, para atender ao crescimento previsto na população, e para eliminar o atual espectro da fome, que atinge quase um bilhão de pessoas. Isto não significa que a agricultura convencional não expandirá área. Porém, apenas com o uso de tecnologias como fertilizantes, agroquímicos e, futuramente, de OGMs, será possível expandir a produtividade em altas taxas, ou produzir em áreas marginais e inóspitas, como regiões semiáridas, em especial com o uso de variedades transgênicas, tolerantes à seca, à salinidade e à acidez do solo. O segundo artigo, de cunho ambiental, foi publicado por Hanna Tuomisto (Universidade de Oxford) e colaboradores, no Journalof Environmental Management (vol. 112, p. 309-320, 15/12/2012). Revisando 109 artigos científicos, os autores concluíram que a agricultura orgânica apresenta maiores emissões de amônia e óxido nitroso, maior
lixiviação de nitrogênio, potencial mais elevado de eutrofização e acidificação do solo por unidade produzida, sempre exigindo maior área para a mesma produção. O terceiro artigo foi publicado por Crystal Smith-Spangler (Stanford Center for Health Policy) e colaboradores, comparando 237 estudos médicos, em que analisaram o efeito sobre a saúde de cidadãos alimentando-se de alimentos orgânicos ou convencionais. Sua conclusão foi de que os resultados publicados na literatura médica não fornecem qualquer evidência de que alimentos orgânicos sejam mais nutritivos ou benéficos à saúde que os convencionais (Annals of Internal Medicine, vol. 157, p. 348, 4/9/2012).
NEW SCIENTIST
Em sua edição de 30/11/2016, a prestigiosa revista publicou uma matéria intitulada “Stop buying organic food IF you really want to save the planet” (https://www.newscientist.com/article/mg23231022-900-stop-buying-organic-food-if-you-really-want-to-save-the-planet/). O título “Pare de comprar alimento orgânico se você realmente quer salvar o planeta” é tão contundente quanto polêmico, tendo atraído violentas reações dos defensores da agricultura orgânica. No texto, Michel Le Page aponta diretamente para a diferença de produtividade entre a agricultura orgânica e a convencional, bem como sobre a impossibilidade de cultivo orgânico em condições muito adversas, para mostrar como a produção orgânica emite mais gases de efeito estufa que a convencional. Vai além, dizendo que, além de ser ambientalmente incorreta, o produto da agricultura orgânica não é saudável.
EL PAÍS
Em dezembro de 2016, o jornal espanhol El País produziu extensa matéria sobre o tema (http://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/15/ ciencia/1481801597_706486.html?id_externo_rsoc=fb_BR_CM). O jornal afirma que “produtos orgânicos prometem não apenas um sabor autêntico, mas que ao escolhê-los o consumidor contribuirá para preservar a natureza”. Refere que, na Espanha, 36% das pessoas que consomem produtos orgânicos o fazem movidos por motivos ambientais, segundo uma pesquisa de 2014 do Ministério da Agricultura. O jornal demonstra a incredulidade de inúmeros técnicos sobre a possibilidade de a agricultura orgânica vir a suprir o mundo de alimentos. Em entrevista ao jornal, Marco Antonio Oltra (Univ. de Alicante) afirma: “É um modismo aderir ao orgânico pelo atrativo
da palavra, mas ninguém tem ideia de como ele é produzido”. Segundo o professor, mudar para uma agricultura orgânica faria com que metade da população mundial deixasse de comer. Também afirma que “só se cultiva assim em regiões onde faltam meios para a agricultura técnica, como na Índia ou em alguns países africanos, sem a motivação do respeito ao meio ambiente, embora o consumidor ignore isto. Muitos consumidores associam o orgânico ao bom, sem que a afirmativa esteja fundamentada cientificamente”.
MAIOR PEGADA
A produção orgânica implica maior emissão de dióxido de carbono que a convencional por quilograma de alimento produzido. Além de maior área, deve-se considerar as emissões decorrentes de mais trabalho no campo, maior uso de mão de obra, menor eficiência dos produtos fitossanitários para o controle de pragas ou a menor eficiência dos fertilizantes, explica Emilio Montesinos (Universidade de Girona). O pesquisador cita o exemplo do controle da sarna-da-maçã, que requer aplicações semanais ou mais frequentes, durante três meses, de produtos pouco eficazes como o bicarbonato de potássio, o enxofre e o caulim, alcançando 12 ou mais aplicações. Segundo Montesinos, na agricultura convencional seriam usadas de duas a cinco aplicações de fungicidas sintéticos muito mais eficazes. Montesinos chama a atenção, ainda, para o fato de a agricultura orgânica permitir o uso de derivados de cobre, com um elevado impacto ambiental. Embora sejam considerados naturais, na verdade os insumos provêm da reciclagem de cabos elétricos e outros produtos industriais, demandando considerável consumo energético, logo redundando em grande emissão de CO2.
QUESTIONAMENTO
O objetivo deste artigo não foi, em absoluto, convencer alguém a não fazer uso de alimentos orgânicos, uma decisão de foro íntimo de cada indivíduo. Seu propósito foi mostrar que tanto alimentos orgânicos quanto convencionais têm vantagens e desvantagens, e que muitos dogmas propalados a respeito da agricultura orgânica não resistem a uma análise científica. É esse direito à informação transparente, fundamentada, correta e imparcial que o consumidor necessita, para tomar a decisão que julgar melhor para si e seus semelhantes. C
Decio Luiz Gazzoni O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa
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COLUNA ANPII
Por que não? A pesquisa tem comprovado que é possível aumentar e muito a produtividade da soja com o uso de inoculantes. Ainda assim, com todas as vantagens econômicas e ambientais do nitrogênio biológico, a desinformação do potencial deste fenômeno e o conservadorismo, com manutenção de conceitos tradicionais e ultrapassados, têm impedido que produtores façam uso desta importante ferramenta
A
Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) é, juntamente com a fotossíntese, um dos mais importantes fenômenos biológicos da natureza. Enquanto a fotossíntese provê a planta do carbono necessário para suas estruturas físicas, a FBN oferta o nitrogênio essencial para que as plantas realizem inúmeros processos, inclusive a própria fotossíntese, e forme a proteína, vital para a sobrevivência da vida na terra. Debater sobre a maior ou menor importância de cada uma é uma discussão bizantina. As duas não são apenas necessárias, mas sim essenciais. Mas no caso da FBN é possível uma intervenção mais forte da agronomia, com o objetivo de incrementar e tirar mais proveito deste fenômeno, através da tecnologia da inoculação. Em quase um século de pesquisas, os agricultores dispõem hoje de um robusto arsenal para poder aumentar a produtividade em suas lavouras de forma econômica, altamente produtiva e perfeitamente sintonizada com os novos rumos de uma agricultura sustentável. Com o uso de inoculantes, a forma de incrementar o aporte de nitrogênio no sistema solo planta, o agricultor pode obter as mais elevadas produtividades em suas lavouras com um baixíssimo investimento. O inoculante, desde que bem utilizado, provê todo o nitrogênio do qual as leguminosas necessitam, sem necessidade de se acrescentar fertilizante nitrogenado, salvo casos excepcionais. A pesquisa, através de centenas de trabalhos em todo o mundo, tem comprovado que se pode obter mais 5.000kg de soja/ha somente com o inoculante como fonte de nitrogênio. Seja soja transgênica ou não, de ciclo
curto, médio ou longo, os resultados sempre mostram que é possível atingir elevadas produtividades com o uso das bactérias fixadoras. Mas por que, com todas as vantagens econômicas e ambientais do nitrogênio biológico, ainda há gente que não confia na técnica e procura usar fertilizante nitrogenado na cultura da soja? A causa mais frequente é a desinformação do potencial deste fenômeno. Outro fator que leva ao uso de N mineral na cultura da soja é o conservadorismo de pessoas apegadas a conceitos tradicionais e que ainda não
O inoculante, desde que bem utilizado, provê todo o nitrogênio do qual as leguminosas necessitam, sem necessidade de se acrescentar fertilizante nitrogenado, salvo casos excepcionais
entenderam o potencial das modernas técnicas biológicas e continuam presas a conceitos ultrapassados. Com frequência se observam recomendações de uso de fórmulas com elevado teor de nitrogênio, de até 9%, o que mostra uma fórmula totalmente desequilibrada, que vai causar prejuízo ao agricultor, pois é mais do que conhecido que altos teores de N disponível no solo inibem a formação de nódulos e a planta vai produzir menos grãos pela falta de uma elevada fixação do nitrogênio, que não será suprida por esta quantidade de N na fórmula. Muitas vezes também são publicados trabalhos pseudocientíficos que tentam demonstrar limitações da fixação biológica e lançam dúvidas sobre esta técnica. Logicamente que o inoculante, como todo o produto, pode ocasionalmente apresentar alguma falha, mas isto é raro e é pontual, sempre devido a algum erro cometido na cadeia da cultura, inclusive na forma de aplicação. Basta que se use corretamente, de acordo com princípios técnicos para que a tecnologia funcione corretamente e traga grandes produtividades para o agricultor. A Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) vem, desde sua criação, trabalhando constantemente para a difusão do uso desta tecnologia, com o objetivo de atender aos interesses do agricultor brasileiro e a uma agricultura totalmente amigável com o ambiente. As empresas associadas aprimoram seus produtos, seja em sua qualidade intrínseca, seja na sua forma de aplicação, no sentido de oferecer ao mercado produtos sempre atualizados, modernos, atendendo aos anseios do produtor rural por produC tividades cada vez maiores.
Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
42 Março 2017 • www.revistacultivar.com.br
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Charles Echer
www.revistacultivar.com.br • Soja • Março 2017 •
Vigorosas e produtivas
Principal insumo, sementes de alta qualidade têm papel fundamental na busca pelo aumento de rendimentos e da produtividade. Por isso o uso de material genético de alto vigor é um dos passos mais importantes e indispensáveis para que o produtor possa alcançar estande adequado, plantas vigorosas e consequentemente maximizar os lucros
J.B. França-Neto
04 • Março 2017 • Soja • www.revistacultivar.com.br
A
Lavoura de soja bem estabelecida, com plantas vigorosas, provenientes de sementes de alta qualidade
safra brasileira de soja de 2015/16 atingiu uma produção de aproximadamente 96 milhões de toneladas, fruto do cultivo de cerca de 33 milhões de hectares (Conab, 2016). Aproximadamente 70% dessa produção se concentra em regiões tropicais. Isso representa um grande desafio ao setor produtivo de sementes dessa espécie, pois a produção de sementes de alta qualidade sob as condições estressantes dos trópicos demanda a utilização de técnicas especiais. Apesar dessa limitação, as empresas de sementes têm ofertado no mercado sementes de elevada germinação e vigor. O sucesso da lavoura de soja depende de diversos fatores, mas, sem dúvida, o mais importante deles é a utilização de sementes de elevada qualidade, que geram plantas de alto vigor, que terão um desempenho superior no campo. O uso de semente de elevada qualidade permite o acesso aos avanços genéticos, com as garantias de qualidade e tecnologias de adaptação nas diversas regiões, assegurando maiores produtividades. Portanto, o estabelecimento da lavoura de soja com sementes da mais alta qualidade é de fundamental importância. Sementes de alto vigor propiciam
a germinação e a emergência de plântulas em campo de maneira rápida e uniforme, resultando na produção de plantas de alto desempenho, que têm um potencial produtivo mais elevado. Plantas de alto desempenho apresentam uma taxa de crescimento maior, têm uma melhor estrutura de produção, com sistema radicular mais profundo e produzem maior número de vagens e de sementes, o que resulta em maiores produtividades. Esse potencial para maiores produtividades é ainda maior em situações de estresse, como, por exemplo, em situação de seca, uma vez que o sistema radicular mais profundo dessas plantas terá condições de supri-las com água e nutrientes, assegurando a produção. VIGOR DE SEMENTES O conceito de vigor em sementes tem sido bastante difundido pelo setor produtivo de diversas culturas e em especial no cultivo da soja. Uma boa definição desse conceito foi publicada recentemente pela Associação Oficial dos Analistas de Sementes dos Estados Unidos (Aosa, 2009): “São aquelas propriedades das sementes que determinam o seu potencial para uma emergência rápida e uniforme e o desenvolvimento de plântulas normais sob
ampla diversidade de condições de ambiente”. Essa definição contempla diversos parâmetros importantes que merecem destaque: • Emergência rápida e uniforme das plântulas, o que é fundamental para o bom estabelecimento da lavoura; • Desenvolvimento de plântulas normais; • Desempenho das sementes sob condições ideais e sob ampla diversidade de condições de ambiente, incluindo condições ótimas e sob estresses. Como estresses, podem ser exemplificadas algumas situações como profundidade excessiva de semeadura; compactação superficial ou assoreamento em consequência da ocorrência de chuvas pesadas após a semeadura; semeadura em condições de solo com baixas temperaturas, comuns no Sul do País; ataque de fungos de solo à semente; e seca após a semeadura. Sementes de alto vigor sempre apresentam vantagens nessas situações em relação a uma semente de vigor médio ou baixo. Em suma, é possível afirmar que o uso de sementes vigorosas assegura o estabelecimento de uma população adequada de plantas mesmo sob condições estressantes. Toda cultivar de soja requer uma população de plantas ideal para a obtenção de máximas produtividades. É importante que essa população seja atingida após a semeadura. O uso de sementes de alto vigor facilita em muito para que isso seja alcançado. Porém, deve-se enfatizar que é importante que essa população seja composta por plantas de alto desempenho, que assegurarão maiores produtividades. Muitos produtores ainda não têm a perfeita noção dessa informação e de suas vantagens, e ainda creem que basta obter a população ideal de plantas, recomendada para cada cultivar, para que o estabelecimento e a produtividade da lavoura estejam assegurados. Isso, sem se levar em
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consideração o nível de vigor das sementes utilizadas na semeadura. Pode-se citar o exemplo daquele produtor que adquire sementes de vigor médio ou baixo e ainda acredita que, com o aumento da densidade de semeadura, poderá obter o estande ideal de plantas para aquela cultivar. Isso pode até ser verdadeiro, porém será que as plantas que compõem essa população são de alto desempenho? Mesmo obtendo a população ideal de plantas, está tudo resolvido? Com certeza não! Serão descritos a seguir diversos trabalhos de pesquisa que dão embasamento para essa afirmativa. EFEITO DO VIGOR SOBRE A PRODUTIVIDADE Esse tema tem sido amplamente estudado para a soja e para diversas culturas no Brasil e em diversos outros países. No Brasil, um dos primeiros trabalhos realizados sobre o tema em soja foi relatado por França-Neto et al (1983). Nesse trabalho foram avaliadas as três cultivares de soja mais cultivadas na época no Paraná (Paraná, Davis e Bossier), com três níveis de vigor (alto, médio e baixo). Foi utilizada uma alta densidade de semeadura e, após a emergência, realizado um desbaste, deixando a mesma população de plantas para todos os tratamentos (400 mil plantas/ha), que era a população recomendada para as referidas cultivares na época da execução do trabalho. Na colheita, as plantas originadas de sementes de alto vigor foram 12,8% mais altas do que as de baixo vigor e a produtividade foi superior em 24,3% (Figura 1). Mais recentemente, Kolchinski et al (2005), em atividade realizada em Pelotas, Rio Grande do Sul, trabalharam com sementes com um gradiente de cinco níveis de vigor, a partir de vigor baixo, com 70% de emergência em canteiro e 75% de germinação, até vigor alto, com emergência de 95% e germinação de 94%. Esses níveis de vigor fo-
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Figura 1 - Produtividade (kg/ha) de três cultivares de soja, geradas com sementes de três níveis de vigor
Adaptado de França-Neto et al (1983)
Figura 2 - Produtividade (kg/ha) de soja, gerada com sementes com um gradiente de cinco níveis de vigor
Adaptado de Kolchinski et al (2005)
Figura 3 - Produtividade (kg/ha) da soja obtida com sementes com um gradiente de quatro níveis de vigor
Adaptado de Pinthus et al (1979)
ram criados mediante a mescla de sementes de alto e baixo vigor nas seguintes proporções: 100% alto vigor; 75%, alto, e 25%, baixo; 50%,
alto, e 50%, baixo; 25%, alto, e 75%, baixo; e 100% de baixo vigor. Os autores verificaram que as plantas oriundas de sementes do mais alto
J.J. da Silva
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Sementes de soja de alta qualidade
de baixo vigor (Figura 3). Um aspecto comum entre esses três trabalhos, que foram realizados em condições bem diversas, foi que o Charles Echer
vigor produziram 25% a mais de vagens por planta, resultando em parcelas experimentais com 35% a mais de rendimento de grãos em relação às oriundas de sementes de baixo vigor (Figura 2). Outro trabalho muito interessante sobre o tema foi desenvolvido por Pinthus et al (1979), que trabalharam com a cultivar de soja Clark. Os autores semearam a cultivar em centenas de potes com cerca de 10cm de diâmetro, com uma semente por pote. Após a emergência, cada pote foi identificado, de acordo com a velocidade de emergência das plântulas: as que emergiram muito rapidamente, aos quatro dias, foram classificadas como vigor muito alto; as que emergiram aos cinco dias, como vigor alto; aos seis dias, vigor médio; aos sete e oito dias, vigor baixo. Essas plântulas foram transplantadas para condições de campo, em parcelas experimentais, cada uma composta por duas linhas com 6m de comprimento e com uma densidade de 12,5 plantas/m linear. Aos 60 dias após a emergência foi verificado que as plantas originadas de sementes de vigor muito alto produziram 41% mais de matéria seca em relação às de baixo vigor. Por ocasião da colheita essas plantas tiveram uma produtividade 31% superior em relação às
aumento na produtividade de grãos, com o uso de sementes de elevado vigor, variou de 24,3% a 35%, índices muito expressivos e significativos. Vale ressaltar que essas respostas ocorreram em condições experimentais e representaram respostas extremas de aumento de rendimento. Caso essas respostas sejam obtidas em lavoura e ao redor de 5% a 10%, mesmo que inferiores, com certeza serão significativas, justificando a utilização de sementes de alto vigor. Cervieri Filho (2005), em estudos conduzidos em Alto Taquari, Mato Grosso, com plantas individuais de duas cultivares de soja, Monsoy 9914 e Monsoy 9350, relatou a produção de grãos por planta, com base em dois níveis de vigor: alto, caracterizado por plântulas que emergiram mais rapidamente, ou seja, até o quinto dia após a semeadura, e bai-
Sementes de qualidade, com alto vigor, são importantes para alcançar estande adequado e gerar plantas vigorosas
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Charles Echer
xo, aquelas que emergiram após o quinto dia. Por ocasião da colheita, as plantas originadas de sementes de alto vigor da cultivar Monsoy 9914 produziram 13,7g de grãos, ao passo que plantas de sementes de baixo vigor produziram apenas 7g, significando uma diferença de até 99,7% a mais. Resultados similares foram observados para plantas da cultivar Monsoy 9350, com um aumento de 95,7%. Vale enfatizar que essas diferenças altamente significativas foram constatadas em plantas individuais, que mostram um efeito muito mais marcante que os observados em populações de plantas. Trabalhos conduzidos por Schuch et al (2009) e por Panozzo et al (2009) constataram efeitos positivos do alto vigor sobre a produção em plantas individuais de soja, com aumentos não tão expressivos como os relatados por Cevieri Filho (2005), mas superiores a 20% na produção por planta. A comparação de respostas dos possíveis efeitos do vigor das sementes em diferentes populações de plantas de soja foi realizada nos
Estados Unidos, por TeKrony et al (1987). Quando foram estudados os efeitos do vigor em altas populações, ou seja, acima de 343 mil plantas/ha, não foram constatados os efeitos do vigor das sementes sobre a produtividade. Entretanto, esses efeitos foram significativamente evidenciados em populações mais baixas de plantas, entre 115 mil plantas/ha e 150 mil plantas/ha.
VANTAGENS DO USO DE SEMENTES VIGOROSAS
Com base nas informações mencionadas anteriormente e as incluídas nos trabalhos de pesquisa citados, pode-se concluir que: • Na instalação da cultura da soja é de suma importância utilizar sementes do mais alto vigor, com o objetivo de obter um estande adequado, com plantas vigorosas. • Sementes de alto vigor têm maiores índices e velocidade de germinação e de emergência, mesmo em condições de estresse, como, por exemplo: quando a semeadura é realizada com maior profundidade,
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quando ocorre compactação superficial ou assoreamento na linha de semeadura, quando ocorrem ataques de fungos, ou com a ocorrência de baixas temperaturas por ocasião da semeadura. • Plântulas que emergem mais cedo têm vantagens competitivas sobre as que emergem mais tarde, pois obtêm melhor aproveitamento de água, luz e nutrientes e o processo fotossintético é iniciado mais cedo e de maneira mais eficiente. • Plantas vigorosas apresentam taxa de crescimento maior, com elevado acúmulo de matéria seca, resultando em plantas com melhor estrutura de produção, ou seja, maior área foliar e melhor sistema radicular. • Essas plantas têm maior capacidade de produção de vagens e sementes e, consequentemente, maior potencial de C rendimento de grãos. J.B. França-Neto, F.C. Krzyzanowski, A.A. Henning, I. Lorini e F.A. Henning, Embrapa Soja
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Proteção vital Fotos Charles Echer
Responsável por apenas 3% a 5% do custo total de uma lavoura de soja, o tratamento de sementes constitui um grande seguro contra pragas e fungos de solo, cuja capacidade de danos pode comprometer até 40% da produtividade. Ao adotar essa tecnologia é recomendável dar preferência a um bom programa, que faça o uso de princípios ativos adequados, menos agressivos e na medida exata, para que não ocorra degeneração e seja preservado o potencial genético das sementes
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ara que os agricultores consigam plantar 33 milhões de hectares de soja é necessária uma figura muito importante no cenário do agronegócio brasileiro: o sementeiro. As sementes podem ser produzidas por obtentores com produção verticalizada, sementeiros especializados, cooperativas e revendas sementeiras que possuem o compromisso de levar a genética das obtentoras para o agricultor por meio das variedades. Mesmo que a semente seja morfologicamente igual ao grão, o processo produtivo, o beneficiamento, o armazenamento e o tratamento industrial das sementes são realizados com o objetivo de obter o produto com maior potencial genético (pureza) e fisiológico (germinação e vigor). Destacam-se algumas práticas de manejo, como: - Época de semeadura: observar o período de menor incidência de doenças, bem como o melhor momento para a colheita. A ocorrência de chuvas na colheita pode diminuir a qualidade da semente. - Manejo fitossanitário diferenciado: emprego de fungicidas para evitar a contaminação das sementes e inseticidas focados principalmente em percevejos, que podem danificar gravemente as sementes e até causar abortamento. - Colheita: a colhedora necessita estar devidamente regulada e colher em uma velocidade menor que na colheita de grãos para que ocorra o mínimo de dano físico possível nas sementes. Além disso, a porcentagem de água que a semente possui no momento da colheita é primordial (o ideal é de que seja até 18%); por outro lado, umidade muito baixa pode comprometer o tegumento da semente. Após todos os cuidados e devidamente separadas na unidade de beneficiamento de sementes, por variedades e peneiras, chega o momento do tratamento de sementes industrial. É nessa etapa que o agricultor deve escolher o tratamento
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A qualidade e a sanidade das sementes adequadamente tratadas têm influência positiva sobre o arranque inicial e o estabelecimento das lavouras
que possua o melhor complexo de controle de pragas e doenças de solo. Atualmente, o tratamento de sementes representa apenas 3%-5% do custo total de uma lavoura de soja e pode significar um grande seguro contra pragas e fungos, já que podem causar uma quebra de até 40% na produtividade. Além do benefício da proteção da semente e plantas, é necessário escolher o produto que proteja o potencial genético das sementes sem degenerá-las, como pode ocorrer com ingredientes ativos agressivos, alto volume de calda, incompatibilidade de produtos, entre outros fatores que podem comprometer o potencial das sementes. Com o objetivo de proteger o potencial genético das sementes,
foram realizados mais de 270 experimentos, com nove variedades diferentes, na estação experimental da Basf, em Santo Antônio de Posse, São Paulo. Os dados compilados de todos os experimentos encontram–se na Figura 1. Os resultados mostram que a recomendação SeedSolutions, composta por Standak Top + Florite 1197 (polímero) + Sepiretwhite (pó secante) foi o tratamento que menos agrediu a semente ao longo do tempo e protegeu todo o potencial genético da cultivar Além do amplo controle de pragas e doenças de solo, baixo volume de calda com dois fungicidas (piraclostrobina + tiofanato metílico) e um inseticida (fipronil), e a manutenção do potencial genético das sementes,
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a recomendação SeedSolutions traz outros benefícios: - Melhor revestimento e fixação do tratamento nas sementes, gerando menor liberação de pó pós-tratamento, e no manuseio com as sementes, garantindo maior segurança humana e ambiental - Alta seletividade dos produtos, sem interferência na qualidade fisiológica da semente, mesmo com armazenamento pós-tratamento de até 120 dias - Benefícios AgCelence: melhor arranque inicial das plântulas e melhor estabelecimento da lavoura, com manutenção dos cotilédones por mais tempo e efeito supressor em nematoides - Fluidez e plantabilidade: melhor precisão de plantio, garantindo a correta distribuição de plantas na lavoura. Segundo Gassen (fonte: adaptado de Dirceu Gassen e André Pessoa, Agro DBO 76, 11 de abril de 2016. Dados de plantabilidade fornecidos pelo SeedSolutions Technology Center - SSTC-Basf), cada falha de plantio por metro quadrado representa uma perda potencial de três sacas a quatro sacas de soja por C hectare. André Shinzato, Alexandre Alves e José Mauro Guma, Basf
Charles Echer
Figura 1 - Média de germinação em papel de nove variedades tratadas e armazenadas por 0, 30, 60, 90 e 120 dias com o tratamento SeedSolutions da Basf e de três concorrentes de mercado. Realizado no Laboratório de Análise de Sementes Basf (ensaio acreditado pela ISO 17025)
A correta distribuição de plantas na lavoura, sem falhas, é essencial para manter o potencial produtivo
Encarte Técnico • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 214 • Março 2017 • Capa - Charles Echer Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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