Cultivar 216

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XVIII • Nº 216 • Maio 2017 • ISSN - 1516-358X

Cultivar

Destaques

Nossa capa

Pragas desafiadoras - 20

O desafio de controlar pragas em algodoeiro e o manejo de lagartas do gênero Spodoptera em cultivares que expressam proteínas Bt

Evaldo Kazushi Takizawa

Índice

Retorno produtivo - 12 O papel dos fungicidas no aumento da produtividade na cultura do milho

Diretas

04

Brusone em arroz

07

Fungicidas e produtividade em milho

12

Informe - Bico de aplicação

15

Plantas daninhas em cana

16

Cultivares de trigo do Sul

19

Capa - Pragas em algodoeiro

20

Ferrugem-asiática

24

Oferta de nitrogênio em soja

30

Podridão radicular em soja

34

Tratamento de sementes em soja

38

Manejo de nematoides

42

Coluna Mercado Agrícola

48

Coluna Agronegócios

49

Coluna ANPII

50

Preservação vital - 24

A urgência de reforçar o bom uso das moléculas fungicidas e de preservar os grupos químicos contra a ferrugem-asiática

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor

Gilvan Dutra Quevedo

• Redação

Rocheli Wachholz Karine Gobbi

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

• Revisão

CIRCULAÇÃO

Aline Partzsch de Almeida • Coordenação Simone Lopes

COMERCIAL • Coordenação

Charles Ricardo Echer

• Vendas

Sedeli Feijó

Rithieli Barcelos José Luis Alves

• Assinaturas

Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

• Expedição

Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


DIRETAS Sementes

A Nidera Sementes levou para a Expoagro Afubra, no Rio Grande do Sul, seu portfólio completo de cultivares de soja e de milho. NS 6535 Ipro, NS 6909 Ipro e NS 5445 Ipro foram os destaques da marca em soja. Em milho a empresa apresentou a cultivar NS 90PRO2. "Nossa participação na Expoagro Afubra confirma o compromisso que temos de estar próximos dos agricultores", disse o gerente comercial da Nidera, Fernando Soder.

Milho

A BioGene levou para Expoagro Afubra seu portfólio de milho. Os produtores que participaram da feira puderam conferir os produtos da marca com a tecnologia Leptra, de proteção contra insetos. "O BG7720VYHR é um híbrido recomendado para abertura de plantio, o BG7640VYH para fechamento de plantio e também temos a nova versão do BG7046VYH", explicou o auxiliar técnico da BioGene, Jairo Osterberg.

Manejo

A FMC Agricultural Solutions participou da Expoagro Afubra com sua equipe técnica para orientar os produtores através de palestras sobre manejo, portfólio e demonstração de resultados. Os agricultores também puderam conferir o lançamento do inseticida Warrant 700 WG e também do CROP+, produto da linha Fertis, voltado para nutrição de plantas. "A feira é uma excelente oportunidade para a companhia estreitar o relacionamento com a cadeia produtiva do tabaco, bem como com os elos da cadeia de grãos", avaliou o responsável por Desenvolvimento de Mercado da FMC, Márcio Ebling.

Participação

A LG Sementes, marca da Limagrain, apresentou na Expoagro Afubra os milhos LG 3055 PRO e LG 3040 VIP3. O gerente de Marketing, Maico Silva, destacou a importância de participar do evento. "É uma feira que atinge pequenos e médios produtores”, lembrou. A empresa é uma das principais fornecedoras de sementes para o programa Troca-Troca da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do Rio Grande do Sul.

Jairo Osterberg

Tecnologias

A Dupont Pioneer expôs na Expoagro Afubra os híbridos de milho com a tecnologia Leptra de proteção contra insetos, formada pela associação das tecnologias Agrisure Viptera, YieldGard, Herculex e Liberty Link. Além disso, a marca destacou a soja 96Y90, uma cultivar tolerante ao glifosato. "Nossa equipe esteve preparada para atender os visitantes e para sanar dúvidas sobre as nossas tecnologias", relatou o representante comercial da Dupont Pioneer, Rodrigo Fischer.

Soja e milho

A Agroeste esteve presente na Expoagro Afubra, em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. "Desde o primeiro dia muitos agricultores visitaram o nosso estande à procura de novos produtos e tecnologias", relatou o representante comercial Leandro Cheidt. O destaque da marca foi para a soja AS 3590 Ipro e para o milho AS 1633 PRO 3, além da tecnologia VT PRO 3.

Ricardo Almeida

04 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br


Resultados

A Agroceres aproveitou a Expoagro Afubra para mostrar resultados obtidos pela marca durante a safra. "Apresentamos os resultados do milho mais produtivo, AG 9025 PRO 3, que demonstrou ser o melhor do mercado, com um teto superalto", opinou o representante técnico Ladislau Ferreira. A empresa expôs, ainda, seu portfólio completo para silagem.

Fungicidas e inseticidas

A UPL aproveitou para fortalecer o destaque aos produtos da marca durante a Expoagro Afubra. O foco da empresa foi para os fungicidas Unizeb Gold, com potencial multissítio, e Unizeb Glory, que, além da ação no combate à ferrugem da soja, pode ser utilizado contra a mancha-branca em milho. A UPL expôs, ainda, o inseticida Perito, indicado para o manejo de pragas em soja.

Lançamentos

Híbridos

Os visitantes que estiveram no estande da Dekalb, na Expoagro Afubra, puderam conferir o portfólio completo de verão e o desempenho produtivo dos principais híbridos da marca. Também mereceu destaque a tecnologia PRO 3. O representante técnico de Vendas, Jocimar Fernandes, destacou a importância do evento para a troca de informações.

Marca

A Adama levou para a Expoagro Afubra os inseticidas Galil e Voraz, o fungicida Horos e o estimulante ExpertGrow. “Estamos retornando com a nossa participação na Expoagro, pois sabemos da importância de estar presente com a nossa marca”, avaliou o agrônomo de Desenvolvimento de Mercado, Fernando Moreira.

A Morgan Sementes e Biotecnologia lançou dois híbridos na 17ª Expoagro Afubra. Entre os destaques estiveram os híbridos MG 320 e MG 600 que passam a compor o novo portfólio da marca e a tecnologia Powercore, que reúne o controle das principais lagartas que atacam a cultura do milho com a tolerância aos herbicidas glifosato e glufosinato. A marca também ressaltou as melhores técnicas de manejo e proteção de cultivo, incluindo o plantio de refúgio e o Tratamento de Sementes Industrial. Os visitantes do estande puderam, ainda, observar o desenvolvimento dos híbridos que fazem parte do portfólio Morgan desde 2016, como o MG300 e o MG580, além dos já consagrados 30A77 e 30A91.

Presença

A Nufarm apresentou na Expoagro Afubra tecnologias para as culturas de soja e trigo, com destaque para os herbicidas Agritone, Crucial e ZethaMaxx. “ZethaMaxx é indicado para o controle de um amplo espectro de ervas na cultura da soja, a buva e o capim-amargoso, e tem sido aplicado com sucesso na dessecação pré-plantio de soja, bem como na pré-emergência e na pós-emergência das plantas daninhas”, explicou o coordenador regional de Trade Marketing da Nufarm, Rubens Fiorin.

Fernando Moreira

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Inseticidas

A Ourofino Agrociência lançou na 17ª Expoagro Afubra os inseticidas Terra Forte e Racio. Durante os três dias de evento, toda a equipe local da empresa esteve presente para receber os visitantes e sanar as principais dúvidas sobre lavouras, pragas e técnicas de manejo. “Estar presente em uma das principais feiras da região nos ajuda a fortalecer o relacionamento com clientes e parceiros, bem como a incrementar os negócios. Outro ponto essencial é que podemos contribuir para o crescimento do agronegócio regional”, avaliou o consultor comercial da Ourofino Agrociência no Rio Grande do Sul, Ricardo Oliveira.

Soluções

A Dow AgroSciences apresentou na Expoagro Afubra soluções completas e integradas de sementes, defensivos agrícolas e biotecnologia. A companhia levou ao público da feira tecnologias desenvolvidas com base em robustas pesquisas, na busca pelo aumento da produtividade no campo de forma sustentável. O visitante teve acesso a informações para diferentes tipos de culturas, como soja, milho, trigo, pastagem e também pôde conferir a linha de sementes de milho e soja e eventos biotecnológicos da marca.

Nutrição

A Microquímica, empresa que atua na produção e comercialização de fertilizantes, inoculantes e agroquímicos, esteve presente na Expoagro Afubra. O destaque da marca foi para seu programa de nutrição em soja com os produtos Atmo, Glutamin e Biomol.

Multiculturas

Produtos

Durante a Expoagro Afubra a Syngenta apresentou o fungicida Elatus e o inseticida Engeo Pleno, bem como o Fortenza Duo, mais recente lançamento da marca para Tratamento de Sementes Industrial. “Fortenza Duo é a mais poderosa solução contra as principais pragas que ameaçam as lavouras de soja, milho e algodão. Estudos que avaliaram os resultados de aplicação em mais de 300 áreas, de Norte a Sul do Brasil, indicaram um aumento expressivo de produtividade. Em média foram três sacas a mais por hectare em comparação aos resultados proporcionados por demais tecnologias disponíveis no mercado”, disse o Desenvolvimento Técnico de Mercado e Marketing, Adilson Jauer.

A Nortox participou da Expoagro Afubra e destacou o Biobase, produto completo para multiculturas. A equipe técnica esteve à disposição dos visitantes para apresentar o portfólio da empresa e sanar dúvidas.

Vitrine

Presente na Expoagro Afubra 2017, a Basf contou com uma extensa vitrine de inovações e tecnologias para toda a cadeia agrícola através de lavouras demonstrativas, além de palestras e seminários sobre o mercado do agronegócio. O principal destaque da empresa foi o fungicida Ativum, que atua no controle da ferrugem-asiática e de outras importantes doenças da soja. Com triplo mecanismo de ação o produto auxilia no manejo de resistência de fungos.

06 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br

Pontos

A Bayer levou para a 17ª Expoagro Afubra o fungicida e bactericida biológico Serenade, o inseticida Confidor Supra para o controle de pragas como pulgões, brocas e lagarta-rosca e o fungicida Infinito para o combate ao amarelão provocado pelo fungo Pythium. Outro importante destaque da marca foi o lançamento do Programa de Pontos, onde o produtor lança a sua nota fiscal e adquire o direito a pontos que podem ser trocados por produtos ou serviços da Bayer.


Arroz

Doença impiedosa Felipe Frigo Pinto

Com potencial para provocar perdas de até 100% na produtividade de arroz, a brusone desafia os orizicultores. Em áreas de cultivo irrigado o uso de cultivares resistentes, a semeadura na época adequada, os cuidados com daninhas e insetos, a adubação equilibrada e a aplicação racional de fungicidas são medidas recomendadas para o manejo integrado desta enfermidade

A

brusone é a doença que apresenta o maior potencial de danos à produção de arroz no Brasil. Fatores como suscetibilidade das cultivares, épocas de semeadura tardia, adubação nitrogenada em excesso e condições climáticas favoráveis a esta enfermidade podem provocar perdas de até 100% na produtividade. A brusone ocorre em todas as partes aéreas da planta, desde os estágios iniciais de desenvolvimento até a fase final de maturação dos grãos. Nas folhas, os sintomas típicos se caracterizam por pequenos pontos de coloração castanha, do tamanho da cabeça de um alfinete (Figura 1A), que evoluem formando manchas alongadas com crescimento em sentido da nervura apresentando o centro acinzentado e as bordas marrom-avermelhadas, às vezes circundadas com halo amarelado (Figura 1B). As formas e os tamanhos das lesões dependem das condições climáticas, da idade das lesões e do grau de suscetibilidade das cultivares. A redução da área foliar fotossinte-

tizante tem reflexo direto sobre a produção de grãos. Quando a doença ocorre severamente nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta (Figura 1B), principalmente em cultivares suscetíveis, o impacto é tão grande que a queima das folhas causa a morte das plantas, como pode ser observado na safra 2015/2016 em uma lavoura de arroz no município de Capivari do Sul, no Rio Grande do Sul, totalmente afetada pela brusone no estádio vegetativo (Figuras 1C e 1D). Nas panículas, a brusone pode atingir a ráquis, as ramificações e o nó basal. As manchas encontradas nas ráquis e nas ramificações são marrons e normalmente não apresentam forma definida, sendo que os grãos originados destas ramificações infectadas pelo patógeno se apresentam chochos. A infecção no último nó da panícula é conhecida como brusone do pescoço e tem papel relevante na diminuição da produtividade do arroz (Figuras 2A e 2B). O sintoma se expressa na forma de uma lesão marrom que circunda a região nodal, o que provoca

seu estrangulamento. Em condições favoráveis observa-se a esporulação do fungo de cor acinzentada (Figura 2A). Quando as panículas são atacadas logo após a emissão até a fase de aparecimento de grãos leitosos, a doença pode provocar o “chochamento” total das espiguetas e as panículas se apresentam esbranquiçadas, sendo facilmente identificadas no campo (Figura 2C), situação observada em reboleiras em lavoura de arroz no município de Glorinha, Rio Grande do Sul, na safra 2016/2017 (Figura 2D).

PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE MANEJO DA BRUSONE Utilização de cultivares resistentes O uso da resistência genética é a principal tática a ser empregada no manejo integrado da brusone em arroz irrigado, principalmente quando se pensa em uma produção de arroz mais sustentável, visto que se trata da forma mais fácil, eficiente,

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Fotos Cláudio Ogoshi

fungicidas de forma desnecessária. Entretanto, apesar da cultivar Irga 424 RI ser resistente a brusone até o presente momento, o Irga está constantemente monitorando esta variedade para verificar até quando ela será resistente, visto que esta é dependente da ocorrência de raças diferentes do fungo e que em algum momento esta resistência pode vir a ser superada. Além disso, O Irga, junto com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), começou um projeto para monitorar a ocorrência de raças do patógeno no estado e incorporar genes de resistência em cultivares para que se tenha uma resistência mais duradoura a brusone no campo e os produtores tenham sucesso no manejao desta doença ao longo dos anos.

Figura 1 - Brusone nas folhas. A) Sintomas iniciais da brusone. B) Sintomas característicos da brusone nas folhas com lesões alongadas que crescem em sentido da nervura e centro acinzentado. C e D) Lavoura de arroz já atacada no estádio vegetativo da cultura com mortes de plantas

Destruição da resteva de arroz O fungo que provoca a brusone tem a capacidade de sobreviver na palhada do arroz em condições ambientais adversas, principalPhytus Club

Fotos Cláudio Ogoshi

epidemias da doença nas lavouras orizícolas do estado gaúcho e, como consequência, o aumento da aplicação de fungicidas de forma irracional. Este cenário está mudando aos poucos devido ao aumento do cultivo com a cultivar Irga 424 RI resistente a brusone. De acordo com o Insituto Rio Grandense do Arroz a área pantada com esta variedade na safra 2016/2017 atingirá aproximadamente 50% do total, e esta circuntância com certeza contribuiu para a diminuição da ocorrência de brusone nas lavouras do estado gaúcho e também na diminuição da aplicação de

Gustavo Funck

de baixo custo e de menor impacto ambiental no manejo desta doença. O Programa de Melhoramento Genético de Arroz Irrigado do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) vem utilizando, desde a safra 1999/2000, uma estratégia para a obtenção de genótipos resistentes à brusone, denominada de Hot Spot. Neste método, a principal estratégia utilizada tem sido a avaliação de linhagens iniciais e de genótipos doadores de genes de resistência em condições de alta pressão de inóculo do patógeno, realizando várias avaliações durante o ciclo da cultura. Como consequência deste trabalho, as cultivares recém-lançadas do Irga apresentam graus de resistência à brusone. Um dos exemplos reside na cultivar Irga 424 RI, resistente tanto nas folhas quanto nas panículas. Mesmo tendo sido lançada em 2013, ainda se mantém resistente. Do mesmo modo, a cultivar Irga 424, ofertada aos agricultores em 2007 e resistente a esta doença até o momento. Na Figura 3, observa-se no viveiro de brusone uma cultivar suscetível já morta no estádio vegetativo em comparação com uma cultivar resistente (Irga 424) sem sintomas da doença. Apesar de notória a vantagem da utilização de genética resistente a brusone, infelizmente, nos últimos anos, as cultivares mais plantadas no Rio Grande do Sul foram suscetíveis a esta enfermidade, sendo que na safra 2014/2015, dos mais de um milhão de hectares cultivados no estado, em 70% foram utilizadas cultivares suscetíveis à doença. Este fato favoreceu muito a ocorrência de

Semeadura na época recomendada A semeadura na época recomendada é uma ferramenta importante para os orizicultores no manejo integrado da brusone e de outras doenças importantes como a mancha parda e a mancha de grão, pois evita que os períodos críticos de suscetibilidade das plantas de arroz coincidam com condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença. Pelo Projeto 10, desenvolvido pelo Irga, foram estabelecidas as épocas de semeadura mais adequadas para a semeadura do arroz irrigado. Esse período se situa entre o dia 1º de setembro e 5 de novembro, independentemente da região orizícola.

Figura 2 - Sintomas da brusone no pescoço e nas panículas. A) Esporulação do fungo de cor cinza no pescoço. B) Brusone do pescoço. C) Panículas esbranquiçadas, facilmente identificadas no campo. D) Brusone na panícula em lavoura de arroz no município de Glorinha-RS, na safra 2016/2017

08 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br


OUTRAS MEDIDAS IMPORTANTES NO MANEJO INTEGRADO DA BRUSONE

Figura 3 - Viveiro de brusone em Torres na safra 2015/2016. Cultivar suscetível (linha morta) e cultivar resistente a brusone

mente na ausência do hospedeiro principal que é o arroz. Diante disso, para diminuir a pressão da doença para a próxima safra é fundamental a incorporação e a destruição da resteva do arroz, pois esta é a principal fonte de inóculo, como observado na Figura 4, onde é possível notar o aparecimento dos sintomas da brusone do lado de uma palhada de arroz com a presença do patógeno. Manejo de plantas daninhas e insetos Diversas daninhas são fontes de sobrevivência e de inóculo para muitos patógenos que atacam o arroz. Isso torna fundamental a realização do manejo adequado dessas plantas durante a safra e também na entressafra para reduzir o inóculo inicial destes patógenos e, consequentemente, começar uma safra de arroz com menor pressão de doenças. Além das plantas daninhas, os insetos muitas vezes também auxiliam no aumento da incidência de doenças, como a picada do percevejo-do-grão, que ajuda na infecção de diversos patógenos que causam a mancha de grãos. Diante disso, o monitoramento e o manejo correto deste inseto contribuem significamente para o controle da mancha de grãos. Adubação nitrogenada equilibrada A adubação equilibrada é um dos componentes essenciais a ser incluída no manejo integrado da brusone, pois plantas com excesso ou deficiência de um determinado nutriente são mais predispostas ao ataque de doenças. Entretanto, quando se busca principalmente a obtenção de altos rendimentos, pode ocorrer a aplicação de ureia em excesso, o que vem agravando ainda mais a situação da brusone no Rio Grande do Sul, pois o excesso de nitrogênio em cultivares suscetíveis, além de

desequilibrar a absorção de outros nutrientes promove condições favoráveis ao ataque da doença devido à redução da espessura das paredes celulares, tornando-as mais fracas e diminuindo a produção de compostos fenólicos e de lignina das folhas. Aplicação de fungicidas Os fungicidas são muito importantes no controle de doenças de plantas, entretanto não se deve considerá-los como única estratégia de controle, e, sim, como parte do manejo integrado de doenças de plantas. Os fungicidas recomendados para as doenças do arroz irrigado estão listados nas Recomendações Técnicas da Pesquisa Para o Sul do Brasil (Sosbai, 2016). Mas tão importante quanto a escolha dos produtos químicos o momento de aplicação é fundamental, possibilitando maiores chances de sucesso no controle da doença. Devido ao aparecimento dos sintomas da doença já ocorrer no estádio vegetativo, recomenda-se realizar o monitoramento dos sintomas iniciais da brusone na folha e caso sejam detectados realizar a aplicação do fungicida,

• Utilização de sementes certificadas com alta qualidade fisiológica e sanitária • Manejo adequado da lâmina de água de irrigação • Eliminação de hospedeiros alternativos • Sistematização da lavoura adequadamente, evitando reboleiras com focos da doença pois os produtos terão uma eficiência maior e a quantidade de aplicações subsequentes será menor. Já para a brusone da panícula em uma cultivar suscetível, deve-se realizar a aplicação preventiva no final do emborrachamento (estádio de desenvolvimento R2) para a proteção das plantas. Pois, caso a aplicação seja realizada com a doença já instalada, a eficiência do controle será baixa e as perdas ocasionadas pela doença serão significativas. Para a cultivar Irga 424RI, por ainda ser resistente a brusone, o Irga não recomenda a aplicação de produto químico contra esta doença. Entretanto, caso o histórico da área de cultivo demosntre a ocorrência de outras manchas foliares e o clima esteja favorável, recomenda-se uma aplicação com um produC to à base de estrobilurina + triazol. Cláudio Ogoshi, Epagri Filipe Selau Carlos, Irga

Sintomas da Brusone Sintomas da Brusone

Palhadas de arroz infectada

Palhadas de arroz infectada

Figura 4 - Início do aparecimento dos sintomas da brusone na folha próximos das palhadas de arroz infectado com o fungo causador da doença (fonte de inóculo) em Cachoeirinha-RS, na safra 2016/2017

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Milho

Retorno produtivo Uso da metanálise em trabalhos de pesquisa realizados entre 2007 e 2013 aponta maior probabilidade de aumento da produtividade quando ocorre o emprego de fungicidas na cultura do milho comparado à testemunha sem aplicação

Fotos Charles Echer

O

milho é uma das principais culturas agrícolas no Brasil, que apresenta contínuo crescimento de produtividade ao longo dos anos. Estimativas apontam que em um intervalo de dez anos, entre as safras 2004/05 e 2014/15, a média de produtividade subiu de 2.857kg/ ha para 5.396kg/ha, ou seja, a produtividade média de milho, incluindo a primeira e a segunda safra, quase dobrou (Conab). O ataque de doenças apresenta cada vez mais destaque na cultura no Brasil e tem incrementado a aplicação de fungicidas. Nos Estados Unidos, Paul et al (2011) citam que também ocorre o mesmo comportamento, como medida para obtenção de altas produtividades. Contudo, ensaios com aplicação de fungicidas nem sempre indicam incremento significativo de produtividade e mesmo apresentando diferença de produtividade entre os tratamentos, estatisticamente não é possível afirmar que essa diferença foi em função do uso dos fungicidas. Como alternativa ao método estatístico tradicional, pode ser utilizada a metanálise, que consiste em um conjunto de técnicas estatísticas usada para analisar todos, ou

pelo menos a maioria dos trabalhos já publicados em relação ao tema de estudo, ou seja, uso de fungicidas em milho, no presente caso. Esta revisão permite identificar indícios, que quando analisados em estudos isolados e sob estatística tradicional, não são observados. A técnica empregada na área da saúde vem ganhando destaque na fitopatologia, muito por conta do crescente número de informações geradas. O presente estudo tem como objetivo realizar a revisão sistemática de trabalhos relacionados à aplicação de fungicidas no controle de doenças foliares em milho e verificar seu efeito em produtividade, através do uso da metanálise.

LEVANTAMENTO DE DADOS E ANÁLISE

Inicialmente foi realizada a revisão sistemática, ou seja, coleta de todos os artigos publicados em periódicos nacionais e resumos expandidos de anais de congresso, contendo a aplicação de fungicidas no controle de doenças na cultura do milho. Para seleção de estudos foram estabelecidos os seguintes critérios: estudos que apresentassem dados de aplicação foliar

A produtividade média de milho quase dobrou nos últimos dez anos no Brasil

12 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br

de fungicidas para o controle de doenças em milho; estudos que informaram dados de produtividade de todos os tratamentos, produto utilizado, dose e número de aplicações, e o coeficiente de variação (CV) ou Quadrado Médio do Resíduo (QME); estudos publicados no intervalo de 2007 a 2013. Os dados selecionados foram agrupados e classificados através da diferença entre os valores de produtividade do tratamento com aplicação do fungicida, diminuído do valor da produtividade da testemunha sem aplicação. Em seguida os dados foram processados pelo programa Comprehensive Meta-Analyses. Na análise, para cada estudo foi atribuído um peso que foi inversamente proporcional à variância e assim gerado o gráfico floresta (forestplot), a estimativa metanalítica e os dados para obtenção da probabilidade de ocorrência daquele resultado. Logo após, os dados foram organizados considerando-se o número de aplicações, a composição do produto e a composição


do fungicida (princípio ativo único ou em mistura). Os grupos foram novamente processados e estimadas as probabilidade de ocorrência de cada acréscimo de produtividade com algumas estimativas econômicas.

Figura 1 - Decréscimo ou incremento de produtividade em milho obtido em 225 situações originadas de estudos com aplicação de fungicidas para o controle de doenças foliares em milho, publicados entre 2007 e 2013. Barras representam o erro padrão da medida

RESULTADOS

A revisão de literatura permitiu a seleção de 40 trabalhos. Alguns foram excluídos por não satisfazerem todos os critérios de seleção. Ao final, 21 trabalhos foram utilizados para metanálise, totalizando 225 entradas (pares com dados de produtividade com uso de fungicida comparados à testemunha sem aplicação). Os dados levantados foram organizados, gerando gráfico de distribuição de frequência a partir da diferença entre a produtividade da testemunha sem aplicação e o tratamento com aplicação de fungicidas, conhecido como medida de efeito e o erro padrão representado pelas barras (Figura 1). Dentre os estudos, 199 apresentaram acréscimo de produtividade (D>0) com a aplicação de fungicidas. A estimativa metanalítica indicou acréscimo de aproximadamente 660kg/ha (p<0,001), para aplicações de fungicidas no controle de doenças foliares de milho, frente ao tratamento testemunha sem aplicação. Cerca de 30% das entradas não apresentaram diferença estatística (p<0,05) nos estudos originais, demonstrando o maior poder dos testes metanalíticos para detectar pequenas diferen-

ças entre os tratamentos. Estes resultados indicaram que, na média dos casos analisados, o uso de fungicidas permitiu recuperar o potencial produtivo afetado pelas doenças foliares em milho. A probabilidade de obter incremento na produtividade com o uso de fungicidas foi de 95,2%, sendo 82,1% para ocorrer acréscimo de cinco sacas/ha e 56,7% de chance de acréscimo de dez sacas (Tabela 1). Com os resultados em mãos calculou-se a probabilidade de obtenção de lucro, com o uso de fungicidas, em função do preço esperado para venda do milho (Figura 2). Neste cálculo estimou-se o custo de controle em R$ 150,00/ha, para duas aplicações de fungicidas, variando-se o preço de venda da saca de milho de R$ 10,00 a R$ 30,00. Vale a ressalva de que se houver alteração no custo de controle também

haverá alteração na probabilidade de lucro.

FUNGICIDA COM PRINCÍPIO ATIVO ÚNICO OU EM MISTURA

Os trabalhos com aplicação de produtos com apenas um ingrediente ativo foram obtidos de 48 entradas, enquanto a maioria apresentou resultados para produtos em mistura, geralmente triazol + estrobilurina, com 178 entradas. Os tratamentos compostos por mistura indicaram incrementos maiores na probabilidade, porém a probabilidade de ocorrência de acréscimo mostrou-se similar para os dois tipos de produto (Tabela 2).

EFEITO DO NÚMERO DE APLICAÇÕES

Separando-se os estudos que apresentavam uma ou duas aplicações, observou-se que a maior parte apresentava incremento de produtividade, independentemente do número de aplicações. Contudo, o acréscimo de produtividade para tratamentos com uma aplicação foi menor (Tabela

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Figura 2 - Probabilidade de retorno econômico com aplicação de fungicidas em função do preço da saca de milho. Para base de cálculo, o custo médio total de duas aplicações foi estimado em R$ 150,00 por hectare

3). Os resultados mostraram que os tratamentos que utilizaram duas aplicações apresentaram maiores chances de obter acréscimos superiores a 10sc/ha (96,10%) e 12sc/há (33,9%) quando comparados aos tratamentos com apenas uma aplicação, 44% de chances de acréscimo de 10sc/ha e 7,2% de 12sc/ha.

ANÁLISE ECONÔMICA

Os dados da metanálise permitiram também estimar as probabilidades de retorno econômico (lucro) em função do preço da saca do milho e do custo total de aplicação (Figura 3). Como esperado, quando o preço da venda do milho está elevado, a probabilidade de lucro aumenta. O mesmo comportamento observa-se quando o custo de controle (aplicação) é reduzido. Vale lembrar que todos os cálculos foram baseados na metanálise de resultados de experimentos publicados entre os anos de 2007 e 2013. Também destaca-se que não foram consideradas na metanálise quais as doenças diagnosticadas em cada

Figura 3 - Probabilidade de retorno econômico com aplicação de fungicidas em função do custo total de aplicação e do preço da saca

trabalho, tampouco o nível de severidade. Em trabalho semelhante realizado para as condições dos EUA, Paul et al (2007) destacaram que a resposta à aplicação de fungicidas estava associada à suscetibilidade, ao potencial produtivo da cultura, ao nível de doença no momento da aplicação e à eficiência do produto utilizado. Outra influência na produtividade final foi destacada por Issa (1983), trabalhando com helmintosporiose, causada por Exserohilum turcicum. Nesse caso, quando os sintomas da doença começaram antes do pendoamento, os prejuízos gerados pela doença foram maiores.

CONCLUSÃO

A aplicação de fungicidas na cultura do milho apresentou 95,1% de probabilidade de promover efeito positivo na produtividade, com 82,1% de probabilidade de se alcançar cinco sacas/ha de acréscimo, comparada à testemunha sem aplicação. Quando se comparou o uso de uma ou duas aplicações, concluiu-se que duas aplicações

de fungicidas aumentaram as chances de maior produtividade, comparadas a apenas C uma aplicação. Lucas Henrique Fantin, André Luis da Silva, Marcelo Giovanetti Canteri, Universidade Estadual de Londrina Tabela 1 - Probabilidade de ocorrência de acréscimo de produtividade em resposta ao uso de fungicidas na parte aérea da cultura do milho Produtividade Decréscimo Acréscimo 5 sc/ha. 10 sc/ha. 12 sc/ha. 15 sc/ha. 20 sc/ha.

Probabilidade (%) 4,8 95,2 82,1 56,7 44,8 28,1 9,2

Tabela 2 - Probabilidade de acréscimo de produtividade para estudos utilizando produtos com um ingrediente ativo ou produtos em misturas de triazol + estrobilurina 1 ingrediente ativo Nível Kg/ha <0 >0 + 5 sc/ha. 300 10 sc/ha. 600 12 sc/ha. 1200 15 sc/ha. 1500

Charles Echer

Kg/ha + 300 600 720 900 1200

% 2 98 91,7 76,5 27,2 1,02

Mistura Nível Kg/ha <0 >0 + 5 sc/ha. 300 10 sc/ha. 600 12 sc/ha. 1200 15 sc/ha. 1500

% 0 100 98,1 77 28 1

Tabela 3 - Probabilidade de acréscimo de produtividade na cultura do milho com uso de uma ou duas aplicações foliares de fungicidas, comparada à testemunha sem aplicação 2 aplicações

1 aplicação

A aplicação de fungicidas na cultura do milho pode promover efeito positivo na produtividade

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Nível Kg/ha <0 >0 + 5 sc/ha. 300 10 sc/ha. 600 12 sc/ha. 1200 15 sc/ha. 1500

% 1 99,0 82,7 44,0 7,2 0

Nível Kg/ha <0 >0 + 5 sc/ha. 300 10 sc/ha. 600 12 sc/ha. 1200 15 sc/ha. 1500

% 0 100 99,8 96,1 33,9 6,6


Divulgação Syngenta

Informe

União de conhecimentos

Syngenta e Hypro desenvolvem bico para aplicação otimizada de defensivos agrícolas

N

o Brasil, as perdas relacionadas diretamente à aplicação inadequada de defensivos agrícolas giram em torno de 532 milhões de dólares por ano. Esse prejuízo, de proporções tão expressivas, é a soma não apenas do desperdício dos produtos (que pode ocorrer tanto pela regulagem inadequada dos equipamentos, quanto pela falta de perícia ou a preparação errônea da calda), quanto pela ineficácia no combate a fatores limitantes, ocasionada pela aplicação incorreta. Quando não realizada dentro dos princípios das boas práticas agrícolas, além de danos ambientais e perdas de produtos, ainda pode gerar a resistência de pragas, doenças e plantas invasoras. Em um cenário tão desafiador, a tecnologia e a transferência de conhecimento surgem como aliados importantes e, por essa razão, se tornam frentes de atuação indispensáveis para institutos de pesquisa e desenvolvimento ligados ao agronegócio, assim como para grandes empresas do setor, como a Syngenta. Neste esforço para proporcionar o desenvolvimento de novas tecnologias, gerando recursos que beneficiem o dia a dia das pessoas no campo, garantindo mais eficiência e, ao mesmo tempo, reduzindo perdas, a Syngenta desenvolve projetos em parceria com outras empresas do setor e em diferentes países. Um deles, realizado no Reino Unido, graças ao trabalho conjunto

com a empresa norte-americana Hypro, resultou no desenvolvimento de um bico para pulverização que otimiza a aplicação de defensivos agrícolas, proporcionando melhor cobertura, além de menos desperdício. Trata-se da ponta Hypro 3D. A tecnologia foi reconhecida internacionalmente com o Prêmio Inovação de Pulverizadores, da International Machinery Manufacturers Awards de 2016, e destacou-se pela ampliação no que se refere à precisão da aplicação e à proteção ambiental. Em países europeus, o bico é utilizado principalmente para a aplicação de defensivos em culturas de porte ereto, como milho e trigo, por exemplo. No Brasil, país que atualmente ocupa a liderança mundial na produção de soja, foi realizado um trabalho com a nova tecnologia em 15 propriedades produtoras da oleaginosa, no estado do Rio Grande do Sul. Com um amplo portfólio para a cultura da soja (com soluções como o fungicida Elatus e os inseticidas Ampligo e Engeo Pleno), a Syngenta encarregou-se de levar a nova tecnologia para os testes de campo, verificando a qualidade de aplicação, a eficácia e a produtividade, além da análise de fatores como o depósito do produto na planta, o percentual de área coberta com o ingrediente ativo, a distribuição do produto e a capacidade de recuperação, considerando a quantidade aplicada no local adequado. Para verificar o desempenho da nova

tecnologia, a equipe Syngenta delimitou duas áreas distintas em cada propriedade, com parcelas entre cinco hectares e 20 hectares. Em uma, manteve o padrão de aplicação do produtor, enquanto na outra a aplicação se deu utilizando apenas a tecnologia das Pontas 3D. Com uma média de sete sacas de soja a mais por hectare, os resultados dos experimentos Syngenta-Hypro comprovaram que as áreas em que se utilizou a tecnologia da Ponta 3D apresentaram significativa melhora com relação à distribuição e à cobertura dos produtos. Além de reduzir o impacto no ambiente e o desperdício e de ampliar a segurança do aplicador, por conta da deriva reduzida, a otimização da aplicação proporcionou rendimentos mais elevados, gerando rentabilidade maior para o produtor, na ordem de R$ 500,00 por hectare, em média. Tais resultados demonstram que a união do know-how de diferentes empresas, como Syngenta e Hypro, é capaz de trazer benefícios diretos para o rendimento do agricultor, bem como para a garantia de aplicação das C boas práticas agrícolas. Anne Silva, Syngenta João Eloy de Carvalho Neto, Hypro

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO - Qualidade de pulverização, com a eliminação de gotas muito finas, o que reduz o potencial de deriva; -Faixa de pressão com melhores resultados entre 1 a 3 bar; - Gotas com espectro medianas e grossas; - Menor amplitude relativa de tamanho de gotas; Muito mais gotas por volume aplicado, o que proporciona uma excelente cobertura.

BENEFÍCIOS - Melhor penetração e cobertura; - Maximização da produtividade de aplicação devido à eficiência em colocar o produto no local adequado.

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Fotos Diego Henrique Mendes Costa

Cana

Concorrência daninha

Problema que figura entre os mais importantes na cultura da cana-de-açúcar a incidência de daninhas pode levar a perdas de até 85% da produtividade nos canaviais. Concorrentes por água, luz, espaço e nutrientes estas plantas exigem identificação correta e manejo adequado, um grande desafio principalmente na presença de palhada e sistema cana-crua

A

cana-de-açúcar apresenta, normalmente, crescimento inicial lento e no sistema cana-crua, os espaçamentos entre linhas são maiores. Isso resulta em maior tempo para o fechamento da área e maior suscetibilidade à infestação de plantas daninhas. A concorrência com daninhas é um dos principais problemas que a cultura enfrenta durante as fases iniciais de desenvolvimento, e pode provocar perdas na produtividade da ordem de 85%. O Período Crítico de Prevenção à Interferência (PCPI), quando a cultura é sensivelmente afetada pela competição por água, luz e nutrientes com a comunidade infestante, vai em média até os 120 dias após a emergência.

Os prejuízos à produtividade causados nesse período são irreversíveis. Apenas a competição por um desses componentes já é capaz de desencadear a redução na quantidade de colmos colhidos e muitas vezes tornar a manutenção da cultura impraticável. Quanto maior for este período de convivência, maior será o grau de interferência. A interferência de plantas daninhas depende de uma série de fatores, tais como densidade de ocorrência, ciclo de vida e tipo de reprodução, além dos fatores fitotécnicos relacionados à cultura, como espaçamento, densidade de plantio, variedade, época de plantio e adubação. O efeito físico da cobertura morta pode

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reduzir as chances de sobrevivência das plântulas de invasoras com pequena quantidade de reserva nas sementes, o que pode não ser suficiente para lhes garantir a sobrevivência no espaço percorrido através da cobertura, até que se tenha acesso à luz e comece o processo de fotossíntese. Portanto, dentre outras características, espécies que possuam sementes com grandes quantidades de reservas terão maior probabilidade de perpetuarem-se neste novo ambiente. Existem cerca de mil espécies de plantas daninhas que habitam o agroecossistema da cana-de-açúcar, distribuídas nas mais distintas regiões produtoras do mundo, que podem causar reduções na quantidade e na qualidade


CANA-DE-AÇÚCAR NO BRASIL

A

Presença de trapoeraba emergida sobre a palhada

do produto colhido, diminuir o número de cortes viáveis, além de aumentar os custos de produção em cerca de 30% para cana-soca e de 15% a 20% para cana-planta. A palha afeta, de várias maneiras, o estabelecimento de plantas daninhas em áreas cultivadas. É possível citar a limitação da variação da temperatura na superfície do solo; a formação de uma barreira física a ser transposta pela planta em germinação; o aumento da quantidade de micro-organismos que podem decompor as sementes dessas plantas; e os possíveis efeitos alelopáticos que inibem a germinação. Apesar disso, algumas plantas daninhas, como a corda-de-viola, a flor-de-são-joão e o leiteiro, que possuem sementes com grandes quantidades de reservas e são fotoblásticas negativas (não requerem luz para que ocorra a germinação), não têm sua germinação inibida pelas quantidades de palha de cana-de-açúcar que normalmente são encontradas em campo. Espécies fotoblásticas positivas (requerem luz para que ocorra a germinação), por sua vez, que requerem determinado comprimento de

Capim-colchão (Digitaria nuda) sob quatro toneladas/hectare de palhada

cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) é uma gramínea que se desenvolve em forma de touceira, sendo a parte aérea formada por colmos, folhas e inflorescências, e a subterrânea por raízes e rizomas. As regiões produtoras tradicionais possuem regime pluviométrico anual entre 1.000mm e 1.600mm. Para a cultura da cana-de-açúcar, além do volume de chuvas, é importante a distribuição ao longo dos ciclos de desenvolvimento. Durante o período vegetativo, a cultura demanda chuvas abundantes, mas na maturação, o período seco favorece o acúmulo de sacarose. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e seus derivados, com produção estimada de 700 milhões de toneladas de colmo em 9,1 milhões de hectares cultivados na safra 2016/2017. A produção de álcool apresentou grande expansão a onda para germinar, e espécies com pequena quantidade de reservas são inibidas pela camada de palha depositada sobre o solo. Dentre essas espécies estão algumas muito importantes na cultura: braquiárias, colonião, capim-carrapicho, capim pé-de-galinha e capim-colchão; que são facilmente controladas com a presença de 15t/ha de palha.

partir do Proálcool e da mistura obrigatória do etanol anidro com a gasolina. Além disso, o Brasil tem como aliadas grandes áreas cultiváveis e condições edafoclimáticas favoráveis à cana-de-açúcar, sendo, portanto, promissor para a exportação dessa commodity. A demanda por etanol de cana-de-açúcar no mercado internacional tende a crescer. Além dos EUA, outros países colocam em prática o uso de etanol na matriz energética e o déficit entre a oferta e a demanda mundial desse produto pode manter o Brasil como seu principal fornecedor. O consumo mundial de açúcar se comporta quase que de maneira independente das oscilações das economias e tende a seguir o crescimento da população, o que deve agregar um volume adicional de 29,8 milhões de toneladas à demanda nos próximos dez anos.

Ressalta-se que a realização do Manejo Integrado de Plantas Daninhas é imprescindível. No entanto, o principal método de controle na cultura da cana-de-açúcar é o químico,

através da aplicação de herbicidas, tanto na condição de pré como de pós-emergência. No Brasil, a área cultivada com cana-de-açúcar ocupa o segundo lugar no consumo total de herbicidas, sendo a primeira em utilização por metro quadrado. Os objetivos almejados no controle químico de plantas daninhas são evitar perdas devido à interferência, viabilizar a colheita, reduzir o banco de sementes, evitar problemas de seleção/resistência e evitar a contaminação do ambiente através da redução da quantidade de produto aplicado e o residual no solo. O uso de herbicidas em pré-emergência sobre a palhada de cana-de-açúcar vem sendo

Leiteiro emergido em área com 16 toneladas/ha de palha

Plantas de leiteiro em área com presença de palhada

MANEJO EM PRÉ-EMERGÊNCIA NA CANA-DE-AÇÚCAR

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Fotos Diego Henrique Mendes Costa

Capim-colonião em área canavieira com 4t/ha de palhada

considerado como um dos maiores desafios do sistema cana-crua, pois são poucas as informações sobre a maioria dos produtos recomendados, no que diz respeito à retenção/travessia da camada de palha, e consequentemente ação. A eficácia desses herbicidas no sistema de cana-crua é diretamente influenciada pelas características físico-químicas dos herbicidas, pela quantidade e a distribuição de palha na área, bem como pela ocorrência de chuvas após a aplicação. Quando um herbicida é aplicado sobre a palhada, é interceptado pela superfície da palha ali depositada e torna-se vulnerável à perda causada pela volatilização e/ou fotodecomposição. No contexto de manejo de plantas daninhas, a aplicação de herbicidas em pós-emergência é uma prática bastante comum nos diferentes sistemas produtivos de cana-de-açúcar. Essa modalidade de aplicação tem sido predominante em razão da dificuldade de utilização de herbicidas em pré-emergência e da necessidade de adaptação de diversas tecnologias. No entanto, exige que esses herbicidas sejam seletivos à cultura. Os herbicidas utilizados no sistema de cana-crua para o controle de plantas daninhas em pré-emergência necessitam

Renata, Castoldi e Diego abordam manejo de daninhas na presença de palhada

de algumas características físico-químicas específicas para que sejam eficazes no controle, tais como alta solubilidade em água, baixa pressão de vapor e alta polaridade. Vários herbicidas em pré-emergência são utilizados no sistema de cana-crua. Dentre eles está o tebutiurom, um herbicida residual amplamente utilizado para controle das principais espécies anuais. Como característica deste herbicida, que facilita seu uso no sistema de cana-crua, está sua alta solubilidade em água, que sugere que em condições de alta umidade ou chuvas após aplicação pode facilitar a transposição deste herbicida na palhada. Outro herbicida altamente solúvel com excelentes resultados no controle de plantas daninhas anuais e perenes é o clomazone. Em condições de pré-emergência, no controle de plantas daninhas de folhas largas e monocotiledôneas, também destaca-se o flumioxazin, mesmo sendo pouco solúvel, tem baixa pressão de vapor, o que indica que tem baixo potencial de perda por volatilização. A utilização de combinações de herbicidas na cana–de-açúcar é comum e proporciona aumento na eficiência, bem como amplia o espectro de controle, pois cada produto é eficiente para determinadas espécies, devido a suas diferenças morfofi-

Saulo Ítalo Costa, da Terracal Alimentos e Bioenergia

siológicas. Ao produtor, cabe reconhecer que a primeira etapa de um manejo adequado de plantas daninhas em um canavial envolve a identificação das espécies na área e quais destas têm maior importância. Após essa fase, decide qual o melhor manejo a ser adotado. Ressalta-se que o mais indicado é que se realize o Manejo Integrado de Plantas C Daninhas. Renata Pereira Marques e Gustavo Castoldi, IF Goiano, Rede Arco Norte Diego Henrique Mendes Costa, SGS Gavena Saulo Ítalo de Almeida Costa, Terracal Alimentos e Bioenergia

PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR

O

sistema de produção de cana-de-açúcar adotado no Brasil vem passando por modificações, principalmente em relação ao método de colheita. A colheita mecanizada da cana-de-açúcar iniciou-se na década de 1980, como alternativa de substituição parcial à colheita manual após a queima do canavial. Em seguida, com o advento das legislações que tratam sobre a eliminação gradativa da queimada, a colheita mecanizada é tendência irreversível no Brasil em áreas em que a topografia permite o tráfego de máquinas. A legislação estabeleceu preceitos para a eliminação da queimada da cana-de-açúcar em alguns estados produtores, dentre eles Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e São Paulo. Em Goiás, por exemplo, a expectativa é de que até o ano de 2028 a colheita seja 100% mecanizada. A colheita sem queima deixa sobre o solo uma espessa camada de palha, que varia de 5t/ha a 20t/ha. A palhada é o coproduto mais recente da cultura e

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seu acúmulo no campo foi desencadeado pela alteração no método de colheita e criou um novo sistema de produção, denominado de cana-crua. A palha resultante no sistema cana-crua apresenta diversificado conjunto de efeitos e potenciais de uso, que inclui a produção de energia, a proteção do solo, o aumento da matéria orgânica, a melhoria da atividade microbiana e das propriedades físicas e químicas do solo, a redução da infestação de plantas daninhas e alguns possíveis benefícios em termos de dinâmica e eficácia de herbicidas. Por outro lado, a utilização deste sistema de produção pode trazer algumas desvantagens, como a retenção e/ou dificuldade na brotação em algumas variedades de cana-de-açúcar, o aumento de pragas e doenças, a necessidade da utilização de doses maiores de nitrogênio, a redução da eficácia de herbicidas em pré-emergência e o favorecimento à sobrevivência de algumas espécies de plantas daninhas que podem se sobressair através da palhada.


Trigo

Mais produtivos Embrapa Trigo

Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo, conduzido através de conjunto de experimentos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, compara desempenho de materiais disponíveis no mercado

A

caba de ser concluído o Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo 2016, documento organizado pelos principais obtentores do Brasil com o objetivo de avaliar o desempenho das cultivares de trigo indicadas para o Rio Grande do Sul em diferentes regiões produtivas. A cultivar da Embrapa, BRS Reponte, atingiu a melhor média de rendimentos nos ensaios que comparou 29 cultivares de trigo que estão no mercado. O Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo é um conjunto de experimentos conduzidos anualmente em vários locais nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. A base dos experimentos envolve cultivares de trigo tanto de obtentores públicos quanto privados, desde que indicadas pela pesquisa para cultivo comercial no Rio

Grande do Sul. “Os resultados servem como subsídio para assistência técnica na indicação de opções para o produtor, além de orientar pesquisadores avaliando a resposta dos materiais na interação entre genótipo e ambiente”, explica o pesquisador Ricardo Lima de Castro. Em 2016 foram avaliadas 29 cultivares em 18 locais, com ensaios conduzidos por OR Sementes, Limagrain, Coodetec, Embrapa, Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Biotrigo, Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e Fundação Agrária de Pesquisa

Agropecuária (Fapa). O documento final será apresentado na XI Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (25 a 27 de julho de 2017, em Cascavel/PR).

DESTAQUES NO RENDIMENTO

A cultivar da Embrapa Trigo BRS Reponte apresentou o melhor desempenho na média geral de rendimentos, com 6.136kg/ha (102 sacos por hectare). Logo abaixo, com 100sc/ ha, estão Quartzo, ORS Vintecinco e TBIO Itaipu. BRS Reponte também alcançou os maiores rendimentos em grande parte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, ocupando a terceira posição nas regiões com temperaturas mais altas, como norte e centro-oeste do Paraná e noroeste do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, onde a média foi de 93sc/ha. As cultivares da Embrapa BRS Marcante, BRS Parrudo e BRS 327 contabilizaram médias próximas a 90sc/ha. “O ensaio pode ajudar o produtor a avaliar a melhor opção para a sua região”, observa o pesquisador C Eduardo Caierão.


Capa

Pragas desafiadoras Evaldo Kazushi Takizawa

Responsáveis por enorme avanço no controle de lagartas em algodoeiro, cultivares que expressam proteínas Bt encontram no gênero Spodoptera um dos maiores desafios. Por isso, em regiões produtoras onde a ocorrência desses insetos é maior, o produtor precisa redobrar a atenção, através do monitoramento constante das lavouras para executar o controle químico no momento em que as lagartas ainda se encontram nos primeiros instares (polifagia), alta capacidade de produzir danos e alto potencial reprodutivo. Entre o complexo de lagartas que atacam a cultura estão as desfolhadoras, curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argillacea), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis inclundens), lagarta-eridania (Spodoptera eridania), lagarta-cosmioides (Spodoptera cosmioides) e as lagartas que ocasionam danos em estruturas reprodutivas, como a lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens), lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armigera) e a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda).

CURUQUERÊ-DO-ALGODOEIRO (ALABAMA ARGILLACEA)

A lagarta A. argillacea é considerada a principal praga desfolhadora da cultura, as lagartas recém-eclodidas alimentam-se do parênquima das folhas no ponteiro das plantas, depois passam a devorar grandes áreas do limbo foliar. Esta lagarta pode provocar perdas que variam entre 20% e 35%. A adoção de cultivares Bt que expressam toxinas Cry1Ac (Bollgard I) controla eficientemente o curuquerê-do-algodoeiro. Cultivares que expressam mais de uma proteína como Cry1ac + Cry2Ab2 (Bollgard II), Cry1Ac + Cry1F (Widestrike) e Cry1ab + Cry2Ae (Twinlink) apresentam acentuada resistência ao ataque de curuquerê.

LAGARTA-FALSA-MEDIDEIRA (CHRYSODEIXIS INCLUDENS)

O

Brasil possui aproximadamente 900 mil hectares de área cultivada com algodão, sendo que a maior concentração encontra-se na região Centro-Oeste, seguida pela região Nordeste. O sistema produtivo concomitante e/ou sucessivo de soja, milho e algodão adotado atualmente na região Centro-Oeste, aliado a outros fatores como condições climáticas favoráveis, torna-se

ideal para a multiplicação de insetos. A cultura do algodão atrai e hospeda permanentemente um complexo significativo de pragas, que atacam as plantas desde as raízes até os capulhos, ocasionando danos, afetando a produtividade e as características importantes das sementes e fibras. Entre as pragas que atacam a cultura, o complexo de lepidópteros-pragas (lagartas) se destaca por sua diversidade de hospedeiros

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A proximidade de lavouras de feijão e principalmente soja vem favorecendo a permanência e a migração da mariposa de C. includens para a cultura do algodão. Essas lagartas causam orifícios no limbo foliar, atacando preferencialmente as folhas desenvolvidas nos terços médio e inferior das plantas, o que dificulta o controle da praga por pulverização de inseticida. Inicialmente as lagartas raspam as folhas e com desenvolvimento passam a consumir o tecido foliar sem se alimentarem das nervuras, deixando um aspecto rendilhado. As cultivares de algodão que expressam apenas a toxina Cry1Ac (Bollgard I) não proporcionam controle eficiente para C. includens.


A adoção de cultivares que expressam genes combinados como Bollgard II, Widestrike e Twinlink proporcionam resistência ao ataque de C. includens.

SPODOPTERA ERIDANIA E SPODOPTERA COSMIOIDES

A cada safra é maior a frequência de elevadas infestações de S. eridania e S. cosmioides, em lavouras de soja e algodão. As lagartas se alimentam principalmente de folhas e brácteas do algodão, porém podem danificar estruturas reprodutivas. Assim como a lagarta-falsa-medideira, não são controladas por cultivares que expressam apenas a proteínas Cry1Ac (Bollgard I), sendo necessário para o controle destas lagartas a adoção de cultivares que expressam genes combinados Bollgard II, Widestrike e Twinlink.

LAGARTA-DA-MAÇÃ (HELIOTHIS VIRESCENS)

A lagarta-da-maçã (Heliothis virescens) possui hábito alimentar polífago, proporcionando sérios danos a diversas culturas de importância econômica como soja e algodão. As injúrias provocadas por esta lagarta são inicialmente observadas em brotações no ponteiro das plantas onde são depositados os ovos dessa espécie. Com o desenvolvimento das lagartas, passam a atacar flores, botões florais e maçã, podendo causar injúrias em até sete estruturas reprodutivas durante seu ciclo. A adoção de cultivares que expressam proteínas Bt tem sido satisfatória para o controle desta praga.

HELICOVERPA ARMIGERA

Lagartas da espécie H. armigera possuem alta mobilidade e alto potencial destrutivo. Os danos provocados são observados em todo o

Tabela 1 – Graus de resistência das diferentes tecnologias (atuais e futuras) de algodão Bt, para diferentes lepidópteros-pragas no Brasil: alta suscetibilidade (AS), suscetibilidade (S) moderada resistência (MR), alta resistência (AR) Evento Bollgard I Bollgard II Bollgard III Widestrike Widestrike II Twinlink Twinlink Plus

Alabama Chrysodeixis Heliothis Spodoptera Spodoptera Pectinophora Helicoverpa argillacea includens virescens frugiperda eridania gossypiela armigera AR Cry1Ac S AR AS AS AR S AR Cry1Ac + Cry2Ab2 AR AR MR MR AR MR AR Cry1Ac + Cry2Ab2 + Vip 3A AR AR AR AR AR AR AR Cry1Ac +Cry1F AR AR S AR AR S AR Cry1Ac + Cry1F + Vip 3A AR AR AR AR AR AR AR Cry1ab + Cry2ae AR AR MR MR AR MR AR Cry1ab + Cry2ae + Vip 3A AR AR AR AR AR AR Proteina(s)

Adaptado de Soria et al, 2012.

ciclo da cultura, ocasionados em caule, folhas e estruturas reprodutivas (porém a espécie possui preferência por estruturas reprodutivas). O controle desta praga por cultivares que expressam apenas a proteína Cry1Ac não é eficiente. A adoção do material que expressa a proteína Cry1Ac + Cry1F (Widestrike) não está proporcionando controle suficiente quando ocorrem altas infestações da praga necessitando de aplicações complementares de inseticidas. Cultivares de algodão que possuem a tecnologia Bollgard II e Twinlink proporcionam redução significativa de danos desta praga.

LAGARTA-MILITAR (SPODOPTERA FRUGIPERDA)

A lagarta Spodoptera frugiperda é a principal espécie do complexo de Spodoptera. Sua importância tem crescido na cultura do algodão, principalmente no cerrado brasileiro. Ataca as plantas em todo o estágio fenológico da cultura. Pode também, após a dessecação da cultura antecessora ao algodão, se abrigar na palhada junto ao solo, atacando as plantas logo após a emergência na região do colo, com hábito semelhante ao da lagarta-rosca (Agrotis

Figura 1 - Porcentagem média de desfolha em cultivares de algodão (Bt) e convencional, atacadas por Alabama argillacea, Chrysodeixis includens e Spodoptera eridania, aos 45, 66, 73, 80 e 94 dias após a emergência das plantas (DAE). (Fonte: Silva, R.& Papa. G. – Unesp/Ilha Solteira)

Tabela 2 - Toxicidade e caracterização de algodão expressando proteína Bacillus thuringiensis Cry1Ac e Cry2Ab2 para controle de pragas de lepidópteros Espécie Heliothis virescens Helicoverpa zea Spodoptera frugiperda

CL50 (Cry1Ac) 0,013 0,870 >100

CL50 (Cry2ab2) 0,549 17,476 82

Fonte: Sivasupramaniam et al (2008).

ipsilon). Quando a praga ocorre no estágio reprodutivo da cultura, atacam botões florais, flores e maçãs. A espécie não é controlada por cultivares que expressam apenas Cry1Ac, e vem sendo observada falha no controle das cultivares que expressam as proteínas Cry1Ac + Cry1F (Widestrike). As cultivares Bollgard II e Twinlink, embora possam proporcionar redução nos danos produzidos por S. frugiperda, podem demandar a necessidade de aplicações complementares de inseticidas químicos. Atualmente no Brasil são comercializadas as cultivares Bt Bollgard I, Bollgard II, Widestrike e Twinlink. Estão em desenvolvimento novas cultivares como Bollgard III, Widestrike II e Twinlink Plus (Tabela 1), que poderão pro-

Figura 2 - Número médio de lagartas de Alabama argillacea por planta, aos 66, 73, 80, 87 e 101 dias após a emergência das plantas (DAE). (Fonte: Silva, R.& Papa. G. – Unesp/Ilha Solteira)

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Figura 3 - Número médio de lagarta de Spodoptera eridania por planta, aos 45, 66, 73 e 80 dias após a emergência das plantas (DAE). (Fonte: Silva, R.& Papa. G. – Unesp/Ilha Solteira)

porcionar aos cotonicultores melhor controle também da Spodoptera frugiperda, devido à inserção da proteína Bt VIP 3A. Estudos realizados pela equipe de pesquisa do professor Geraldo Papa, comparando as três principais cultivares Bt utilizadas atualmente (Bollgard II, Widestrike e Twinlink) com a cultivar convencional (não Bt) FMT701, constataram que as cultivares que expressam proteínas Bt são eficientes na proteção de plantas contra os ataques das lagartas desfolhadoras do algodão Alabama argillacea, Chrysodeixis includens e Spodoptera eridania (Figuras 1, 2, 3 e 4). A adoção de materiais que expressam proteínas inseticidas (Bt) exige medidas de

Figura 4 - Número médio de lagartas de Chrysodeixis includens por planta, aos 52, 59, 66, 73 e 80 dias após a emergência das plantas (DAE). (Fonte: Silva, R.& Papa. G. – Unesp/Ilha Solteira)

manejo, que incluem o estabelecimento das áreas de refúgios, visto que o sistema produtivo brasileiro das grandes culturas como soja, milho e algodão Bt apresentam praticamente as mesmas proteínas e são cultivadas em sucessões de culturas e sobreposições, favorecendo a seleção de resistência destas pragas, já que possuem elevada polifagia. A área de refúgio consiste no cultivo de 10% da área de algodão Bt, com cultivares de algodão não Bt distante no máximo 800 metros das áreas cultivadas com algodão Bt. Nas áreas de refúgio encontram-se indivíduos suscetíveis que podem acasalar com os resistentes selecionados nas áreas Bt, gerando indivíduos heterozigotos que são controlados

pelas cultivares Bt, retardando assim a evolução de resistência. Vale lembrar que em apenas quatro anos após a liberação de cultivares de milho Bt que expressam proteínas Cry1F foram constatadas falhas no controle de S. frugiperda, demonstrando a importância de se realizar o manejo com área de refúgio. Sabe-se que os eventos Bt comportam-se de forma distinta para cada espécie de lepidópteros-pragas, ou seja, não se espera o mesmo nível de eficiência para o controle de cada praga. O manejo de Spodoptera frugiperda é um dos maiores gargalos do sistema produtivo brasileiro, visto que as lagartas são expostas a elevada pressão de seleção e são capazes de tolerar maiores concentrações das proteínas Bt, em comparação as outras espécies controladas pela tecnologia (Tabela 2). Embora sejam significativos os avanços da biotecnologia, proporcionando plantas tolerantes ao ataque desta praga, o controle de S. frugiperda continua sendo realizado predominantemente por meio de inseticidas, o que potencializa a seleção de indivíduos resistentes a inseticidas. Um dos grandes desafios do sistema produtivo brasileiro é adotar medidas para o manejo de resistência a inseticidas e proteínas Bt. É necessário interagir com as práticas propostas pelos programas de Manejo Integrado

O

cultivo de variedades transgênicas de algodão que expressam proteínas Bt foi, sem dúvida, um enorme avanço no controle de lagartas em algodão, com excelente controle da maioria das espécies de lepidópteros-pragas como lagartas desfolhadoras, curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argillacea), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis inclundens). Para as lagartas que ocasionam danos em estruturas reprodutivas, como a lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens) e a lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armigera), as cultivares Bt proporcionam significativa redução de ataque. Entretanto, o gênero Spodoptera tem sido o grande problema para essas cultivares devido à menor sensibilidade das lagartas às proteínas Bt. Assim, os

cotonicultores que adotam a tecnologia, optando por cultivares transgênicas (Bt) na expectativa de controle de todas as lagartas, acabam necessitando pulverizar as lavouras de algodão para o controle de Spodoptera, aumentado seu custo, pois além do maior valor das sementes transgênicas, os inseticidas de menor custo não têm sido efetivos para o controle de Spodoptera, sendo necessário o uso de inseticidas mais modernos e mais caros. Assim, para regiões produtoras onde a ocorrência de Spodoptera é maior, o produtor necessita estar atento à presença das lagartas, efetuando monitoramento constante dos algodoais para executar o controle químico no momento em que as lagartas ainda estão nos primeiros instares.

22 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br

Divulgação

ALGODÃO: A AMEAÇA DAS SPODOPTERAS

Papa, Zanardi Júnior e Silva abordam o manejo de lagartas na cultura do algodão


Lab. MIP – Unesp/Ilha Solteira

Figura 5 - Porcentagem de botões florais atacados por Helicoverpa armigera e Spodoptera frugiperda, aos 38, 52, 66, 73, 80, 87 e 94 dias após a emergência das plantas (DAE). (Lab. MIP – Unesp/Ilha Solteira)

Lagarta desfolhadora de algodão Spodoptera eridanea

de Pragas, para reduzir a chance de perda ou o comprometimento das tecnologias. Para o manejo da resistência de lagartas a inseticidas e plantas Bt existe a necessidade de planejamento do sistema de produção em âmbito regional, com o intuito de permitir períodos com ausência de plantas hospedeiras da praga, definindo as épocas de semeadura e a realiza-

ção de manejo racional, adotando estratégias de controles cultural, biológico e químico. O controle químico ainda é fundamental para um bom estabelecimento da lavoura e como complemento ao controle oferecido pelas cultivares Bt, sendo necessária a adoção de medidas iniciais para a proteção contra as principais espécies de lagartas que atacam

precocemente a cultura do algodão, como a utilização de inseticidas ainda na época da dessecação preparatória ao plantio direto e o C tratamento de sementes. Geraldo Papa, Roberto da Silva e João Antonio Zanardi Jr, Unesp – Campus de Ilha Solteira/SP


Juliana Medeiros/Phytus Club

Soja

Preservação vital Diante do aumento da pressão de seleção de resistência da ferrugem-asiática à aplicação de fungicidas é preciso reforçar o bom uso das moléculas e a preservação dos grupos químicos, sob pena de se tornarem ainda mais escassas as ferramentas para manejar a doença mais agressiva na cultura da soja

A

adoção do uso de fungicidas contendo carboxamidas foi rápida no manejo de doenças em soja. A razão está no seu elevado nível de eficácia em baixas doses e na ausência de opções de controle com tamanha performance. A primeira carboxamida com amplo espectro para pulverizações foliares foi a boscalida, lançada em 2003 para hortifrúti. Nos últimos anos, vários novos inibidores da succinato desidrogenase (SDHI) tem sido lançados como fluxapiroxade, benzovindiflupir e bixafen para a cultura da soja. Novos indícios já publicados pelo Frac (2017) indicam que a eficácia destes ingredientes ativos pode estar ameaçada.

A ESTRUTURA QUÍMICA DAS MOLÉCULAS DE CARBOXAMIDA

As diferentes moléculas de fungici-

das SDHI são estruturalmente muito semelhantes e apresentam uma característica comum essencial, um grupamento amida (-NH) (Rheinheimer, 2007). A classificação das moléculas é feita com base na parte central da molécula, que está ligada à carbonila da amida. Seis tipos químicos principais são encontrados distinguindo diferentes classes de carboxamidas (Figura 2, painel tracejado em vermelho) (Sierotzki & Scalliet, 2013). A classificação se baseia nos elementos presentes no sistema, no anel de cinco ou seis componentes. O maior número de carboxamidas, principalmente aquelas para aplicação foliar, está incluso no grupo dos pirazóis, como benzovindiflupir, fluxapiroxade e bixafen. Essa região do núcleo é essencial para a ligação no sítio-alvo no fungo e por conferir atividade fungicida. No

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outro lado da ligação amida encontra-se uma porção vinculadora que pode ou não ter a presença de substituintes (Figura 2, painel tracejado em azul). O ligante mais frequente é um grupo fenil. Ligado a este grupo está uma porção hidrofóbica. Esta porção tem sido relatada por ter uma forte influência sobre o espectro da atividade fungicida e a eficácia do composto (Figura 2, painel tracejado de verde).

A PROTEÍNA-ALVO E O MECANISMO DE AÇÃO DOS SDHI

A enzima SDH transfere elétrons derivados do succinato para a ubiquinona da cadeia respiratória, sendo essencial a respiração do fungo (Keon et al, 1991). A estrutura da SDH é formada por quatro proteínas, CII-A (Flavoproteína) e CII-B (Proteína Enxofre ferroso) e as proteínas CII-CeCII-D que são


Figura 1 – Madalosso, traduzido de Dehne et al (2015)

ções de aminoácidos são estritamente conservadas entre as espécies porque estão diretamente envolvidas na funcionalidade da enzima (Silkin et al, 2007; Tran et al, 2006). A porção central da molécula interage com as frações dos aminoácidos Arg87 em SDHC e His267 em SDHB localizado no fundo da cavidade da enzima. A porção vinculadora interfere principalmente através da interação hidrofóbica com algumas frações de aminoácidos em SDHB e SDHC, incluindo Pro220 em SDHB, que também é estritamente conservado (Sierotzki & Scalliet, 2013). A porção hidrofóbica interage principalmente com frações

de aminoácidos de subunidades SDHC e SDHD. Diversas mutações promovendo alterações nos aminoácidos da enzima podem conferir diferentes graus de resistência ou perda de sensibilidade. Isso ocorre em função da alteração afetar a ligação e o encaixe do fungicida na enzima. Ainda não foram relatadas ocorrências de fungos mutados em duas frações de aminoácidos no sítio de ligação, Trp224 e Tyr130 em SDHB e SDHD, respectivamente, o que seria a resistência completa às carboxamidas em campo. A substituição da histidina no fundo da cavidade (His267B) tem sido en-

Marcelo Madalosso/Phytus Club

formadoras de polipeptídeos ligados às membranas (Figura 3). A proteína CII-B é responsável pelo transporte de elétrons da cadeia respiratória do Complexo I para o Complexo III. Já a proteína CII-C é o principal local de ação das carboxamidas. Elas se ligam fortemente ao local de ligação da ubiquinona, bloqueiam fisicamente o acesso ao substrato e consequentemente impedem a oxidação do succinato e a transferência de elétrons. Assim, qualquer surgimento de resistência aos SDHI depende de um novo arranjo dos aminoácidos dentro da proteína. Em âmbito celular, estudos do mecanismo de ação das carboxamidas ainda indicam seu efeito na biossíntese de proteínas, lipídeos, DNA e RNA, além de ser observada maior transformação de glicose ou acetato em succinato e uma diminuição na transformação de citrato, malato e fumarato. Na ligação das carboxamidas na interface, entre as subunidades SDHB e SDHC, tem sido relatada que muitas frações de aminoácidos em SDHC e SDHD exibem um alto grau de variação entre espécies de fungos (Cecchini, 2003). Tal fato é responsável, em grande parte, pela diversidade das estruturas químicas dos ativos e pela variação no espectro de ação entre os fungicidas SDHI. A Figura 4 ilustra as principais características da interação entre as fracções de aminoácidos da ubiquinona (numeração com base no fungo M. graminicola) com o inibidor, no caso as carboxamidas. A ligação amida central estabelece ligações -H com os aminoácidos Trp224 em SDHB, Tyr130 em SDHD e através de uma molécula de água para Ser83 em SDHC. Estas fra-

Figura 2 - Visão esquemática das estruturas químicas dos fungicidas inibidores da succinato desidrogenase (SDHIs). Marques, traduzido de Sierotzki & Scalliet (2013)

Lavoura de soja com incidência agressiva da ferrugem-asiática, com intensa desfolha das plantas

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Figura 3 - Visão esquemática das estruturas enzima mitocondrial succinato desidrogenase (SDH)[EC 1.3.5.1]. Madalosso, adaptado de Frac (2016)

contrada em muitas espécies de fungos como sendo uma das alterações mais frequentes, conferindo resistência. A substituição das frações de aminoácidos de prolina na posição 225 em SDHB também já foi frequentemente relatada em B. cinerea (Stammler et al, 2011). Para além destes importantes efeitos no sítio de ligação na ubiquinona, uma gama de outras posições substituídas podem conduzir à resistência por alterar a conformação da ligação do fungicida. Diversas alterações em aminoácidos das subunidades SDHC e SDHD também têm sido frequentemente relatadas conferindo resistência, como em alternária (SDHC H134 e SDHD H133) (Mallik et al, 2014).

ferrugem-asiática/soja, pois é necessário um entendimento populacional deste. A dinâmica e herdabilidade destes isolados na população do fungo é uma linha de estudo que precisa ser trabalhada para elucidar esta dúvida. Com base nos vastos estudos em outros patógenos com ocorrência de mutações, mais de uma mutação pode ser selecionada na mesma espécie conferindo resistência, porém até então não tem sido relatada a ocorrência conjunta de mais de uma mutação em SDH, no mesmo isolado (Sierotzki & Scalliet, 2013).

QUAL O GRAU DE RESISTÊNCIA QUE PODE SER IMPOSTO PELAS MUTAÇÕES?

Os fatores de resistência conferidos pelas mutações no local-alvo até então detectadas diferem em função do fungicida selecionador e do tipo de mutação

Mutações nos genes que alteram a conformação dos aminoácidos nas subunidades da SDH são a razão para a ocorrência de isolados com resistência a carboxamidas em outras culturas. Até 2013, pelo levantamento feito por Sierotzki and Scalliet (2013), 27 mutações conferindo resistência a carboxamidas em diferentes patógenos foram relatadas. Até agora, nenhum mecanismo, que não seja mutação na conformação dos aminoácidos nas subunidades, foi relatado como sendo responsável pela resistência a carboxamidas. As mutações relatadas estão ligadas a substituições de aminoácidos nas proteínas das subunidades SDHB, -C e -D. No caso de P. pachyrhizi, segundo o comunicado do Frac (2017), parece envolver a substituição de uma isoleucina por uma fenilalanina na proteína da subunidade C, por uma mutação na posição 86 (I86F) da SDHC. Esta alteração, inicialmente, parece estar ligada a um ingrediente ativo somente. Assim, ainda não é claro que existe o conceito de resistência aplicado ao patossistema

Marcelo Madalosso/Phytus Club

A POSSIBILIDADE DA RESISTÊNCIA

(Scalliet et al, 2012; Ishii et al, 2010). Com base na Figura 3, em que é mostrado o esquema ilustrativo da interação entre proteína-alvo e fungicida, nota-se que, dependendo de qual aminoácido é alterado, o encaixe do fungicida pode ser mais ou menos prejudicado. Nota-se pela Figura 4 que os aminoácidos têm diferentes terminações, e a troca de um aminoácido pode impactar maior ou menor grau a eficiência de ligação do fungicida. Ainda, o aminoácido trocado pode imprimir diferenças na eficiência de ligação entre as diferentes carboxamidas, o que caracterizaria uma perda de sensibilidade diferencial. Mutações na enzima SDH foram relatadas por conferir resistência a carboxin em Ustilago maydis e Aspergillus nidulans na década de 1970 (Georgopoulos et al, 1972; 1977). Interessante é que fatores de resistência, variando de 20 vezes a 100 vezes, foram verificados entre diferentes mutantes alélicos do mesmo gene. Leroux & Berthier (34) relataram a resistência de Puccinia horina ao fungicida carboxin, mas mutantes com fator de resistência baixa, ≈10 vezes. Nesse caso, os autores afirmam que a resistência desapareceu após o cultivo da estirpe, não aumentando sua frequência. Nota-se assim que o grau de resistência conferido pela mutação detectada em P. pachyrhizi deverá ser investigado, bem como se afetaria a eficiência de ligação para todas as carboxamidas.

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Esporos da ferrugem-asiática presentes em plantas de soja


Em M. graminicola, a alteração de uma treonina para asparagina na subunidade SDHC na posição 79 foi detectada em isolados (Frac). O fator de resistência descrito foi como baixo, supostamente não afetando o desempenho dos fungicidas SDHI. A simples detecção de uma mutação não pode ser usada como justificativa para todas as falhas de controle e muito menos para inferir que o efeito de determinada molécula está perdido.

Figura 4 - Vista esquemática das interações intermoleculares de carboxamidas no local de ligação naubiquinona de Mycosphaerella graminicola. Em vermelho está a cavidade polar interagindo com a parte central ácida da molécula de carboxamida e com o grupamento amida; Em azul é a fração hidrofóbica interagindo com a fração vinculadora da carboxamida; Em verde é o sulco na superfície da proteína acomodando a fração hidrofóbica restante da carboxamida. Linhas tracejadas representam ligações de hidrogênio ou interações eletrostáticas; linhas completas representam contatos hidrofóbicos ou estéricos; A indicação por asteriscos indica os locais com ocorrência de mutações já relatadas, conferindo algum tipo de resistência a SDHI. Marques, traduzido de Sierotzki & Scalliet (2013).

É ESPERADA MUTAÇÃO CRUZADA?

Modelos de homologia e simulações de acoplamento explicam comportamentos de ligação e algumas peculiaridades dos perfis de resistência cruzada exibidos por diferentes membros desta classe de fungicidas. Além disso, os padrões de resistência cruzada entre os SDHIs são complexos porque muitas mutações conferem resistência cruzada total, enquanto outras não. Na Figura 2 foi abordada a questão estrutural das principais carboxamidas amplamente utilizadas atualmente no campo, e pode-se notar que suas moléculas são muito semelhantes, com variação mais acentuada na porção hidrofóbica final. Nesse sentido, a priori, resistência cruzada afetando todos os SDHIs deve ser esperada. No entanto, poderá configurar perda de sensibilidade diferencial dependendo da mutação encontrada no patógeno e do fungicida selecionador. Com base nos estudos com outros fungos, um fato tem sido claro até então, as possibilidades existem para ambos os lados, há relatos de mutantes com resistência cruzada afetando todos os SDHIs, como também existem situações em que a resistência foi estabelecida para uma carboxamida selecionadora, porém outras carboxamidas continuavam a ter efeito. Como, por exemplo, a eficácia de diferentes carboxamidas foi diferencialmente afetada por mutantes resistentes em U. maydis (White & Thorn, 1980). Os mutantes foram selecionados pela exposição acarboxin, no entanto, tais mutantes poderiam ser controlados por outros ativos carboxamidas. Mesmo mutações na mesma posição conferindo a troca apenas de diferentes aminoácidos podem conferir um padrão de sensibilidade completamente diferente a fungicidas SDHI. Por exemplo, a mudança de H272 para Y272 em SDHB induz sensibilidade diminuída para boscalida, isopirasam e bixafen, por outro lado, hipersensibilidade ao fluopiram

(Scalliet et al, 2012). Estes exemplos mostram que, no caso da P. pachyrhizi, será crucial explorar esse evento genético para avaliar os comportamentos de resistência cruzada às carboxamidas. O que se nota nos trabalhos com outros patógenos é que parecem existir mutações mais frequentes que ocorrem, as quais induzem padrões de resistência diferentes, dependendo da espécie em que ocorrem.

É ESPERADO UM AUMENTO RÁPIDO DA FREQUÊNCIA DE ISOLADOS MUTANTES?

Na maioria dos trabalhos em que a resistência parcial foi relatada, a frequência dos isolados era ainda muito baixa em nível de campo ao ponto de impactar significativamente na queda acentuada de desempenho dos fungicidas. Em situações em que o aumento na frequência de isolados mutantes na população não ocorra de maneira rápida, a melhoria na implementação de estratégias para manejo da doença pode vir a prevenir o estabelecimento da resistência em área total (o que poderia impactar a perda potencial de uso das moléculas carboxamidas). As substituições que conferem resistência às carboxamidas exibem um efeito negativo na eficiência enzimática

da enzima. Algumas mutações podem diminuir a atividade da enzima em até 90%. Esse fator é provável que exerça influência negativa sobre a adaptação dos isolados resistentes. No entanto, ainda não há provas claras de que isso ocorra (Fraaije et al, 2011; Kim & Xiao, 2011). Estudos adicionais, no caso de P. pachyrhizi, precisarão investigar os custos adaptativos (se existirão e se terão alguma influência significativa sobre a sobrevivência de populações com a presença da mutação).

QUAL A PERSPECTIVA PARA A NOVA GERAÇÃO DE MOLÉCULAS CARBOXAMIDAS?

Com base nos trabalhos já conduzidos com outros fungos, apenas algumas mutações parecem induzir fatores de resistência elevados, ao ponto de afetar o desempenho de todos os fungicidas no campo. Infere-se, aqui, que o fungicida que foi mais exposto à população de onde se originou o mutante, pode ter tido papel decisivo no tipo de mutação. Com base nesse contexto e nos estudos com outros patógenos, sugere-se que, apenas algumas mutações em campo são suspeitas de induzir redução na eficácia da nova geração de fungicidas carboxamidas. Qual o impacto que isso teria em situações de campo? Se caso houver perda de sensibilidade diferencial para

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Ferramentas para a preservação de grupos químicos

como, por exemplo, no cenário de P. pachyrhizi em soja. Portanto, nesses casos, a carboxamida da mistura foi o principal protagonista no controle da doença e uma considerável pressão de seleção de SDHI foi estabelecida nas populações do patógeno. Dessa forma, configura-se um risco potencial de haver, de curto a médio prazo, a ocorrência de isolados mutantes com adaptações conferindo resistência parcial múltipla, tanto a estrobilurinas quanto a carboxamidas.

INDAGAÇÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

Em primeiro instante infere-se que Marcelo Madalosso/Phytus Club

as diferentes carboxamidas, aquelas que porventura venham a apresentar maior eficácia serão mais utilizadas, e isso será um risco potencial na seleção de novas mutações. Essa ideia sugere que o fungicida mais utilizado funciona como uma espécie de selecionador para determinados tipos de mutação e, consequentemente, o fator de resistência conferido ao grupo em si. Por exemplo, se ficar comprovado a campo que a carboxamida A perdeu drasticamente sua eficácia e a carboxamida B ainda não, aí existirá o risco de uso. Na safra seguinte haverá uma migração gigantesca dos produtores para o uso da carboxamida B, podendo provocar uma seleção direcional para este produto. Assim, com essa pressão de seleção, poderão selecionar novas mutações na conformação dos aminoácidos nas subunidades da SDH, declinando a eficácia da carboxamida B, que até então era funcional. Por esta razão, as duas carboxamidas ficarão ineficazes sequencialmente, diferentemente da resistência cruzada, que também é um risco. Porém, a mutação precisaria ser em mais de um aminoácido na SDHC, impedindo a entrada do anel pirazol na SDH. Dentre as diretrizes estabelecidas pela Frac para manejo antirresistência, estava o fato de restringir o uso de misturas contendo ativos com mecanismos de ação similares. No entanto, muitos dos produtos formulados atualmente disponíveis no mercado são misturas de SDHIs com QoIs. Infelizmente, em alguns cenários, estes produtos começaram a ser largamente utilizados em patossistemas onde a resistência parcial a QoI já era relativamente frequente,

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o relato de ocorrência de uma mutação conferindo menor sensibilidade a P. pachyrhizi é um início. Muitas outras investigações deverão ser conduzidas a fim de melhor caracterizar o quanto isso irá refletir no campo. Existe uma grande diversidade de mutações potenciais, inclusive já relatadas em outros patógenos, ou seja, em P. pachyrhizi foi a primeira. A esperança que fica é de que novas mutações em P. pachyrhizi sejam evitadas e assim seja possível continuar tendo as carboxamidas como ferramenta de manejo. É muito importante que esforços continuem sendo somados para o bom uso dessas moléculas, diante do pequeno número de grupos químicos utilizados para o manejo da ferrugem da soja. Já é notório que a queda de eficácia de alguns triazóis, estrobilurinas e, agora, as carboxamidas, pode deixar os produtores sem opções para manejar esta doença. Antes que algum grupo perca totalmente sua eficácia, pela resistência completa por parte do patógeno, é urgente que se trabalhe com ferramentas C para a preservação de todos eles. Leandro Nascimento Marques, Marlon Tagliapietra Stefanello e Mônica Debortoli, Instituto Phytus Marcelo Gripa Madalosso Instituto Phytus e URI/Santiago Ricardo Silveiro Balardin Univ. Federal de Santa Maria



Soja

Oferta de nitrogênio Altamente exigente em N a cultura da soja tem na fixação biológica deste nutriente uma importante aliada para aumentar a produtividade. Entre as novas tecnologias disponíveis está a inoculação mista ou coinoculação com bactérias do gênero Azospirillum, consideradas promotoras do crescimento de plantas

Cultivar

A

soja é uma das principais culturas de grãos do mundo, cujo grão apresenta elevado teor de proteína, o que a torna altamente exigente em nitrogênio (N). Estima-se que são necessários aproximadamente 80kg de N para produzir uma tonelada de grãos de soja, sendo inviável economicamente a sua aplicação de forma mineral (Hungria, 2011). Na cultura da soja, a demanda por N é suprida pelo processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN), sendo realizado por bactérias diazotróficas, que convertem o N atmosférico, transformando-o em formas assimiláveis pelas plantas. O processo de FBN na cultura da soja é realizado principalmente pelas bactérias B. japonicum, B. elkanii e B. diazoefficiens (Delamuta et al, 2013). A interação planta-bactéria, neste caso, é chamada simbiose, resultante na infecção das raízes da soja e formação dos

nódulos. Estas bactérias possuem a enzima nitrogenase, que quebra a ligação tripla existente entre as moléculas de N2, transformando assim em amônia (NH3), que é a mesma forma obtida no processo industrial. A essa amônia são incorporados no interior dos nódulos íons de hidrogênio, resultando em amônio (NH4), que são distribuídos pela planta e incorporados em forma de N orgânico, como ureideos, aminoácidos e amidas, sendo utilizados nos processos metabólicos da planta. Para que ocorra a simbiose é necessária a inoculação de sementes ou até mesmo pulverização no sulco de semeadura com a bactéria, principalmente em áreas de primeiro cultivo, pois essas não são nativas em solos brasileiros. Áreas onde já receberam inoculantes possuem a população de até 106 rizóbios por grama de solo, sendo possível a formação de nódulos pela população presente. Porém, existe a

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necessidade de reinoculação anual, pois as bactérias advindas da inoculação são mais eficientes que as já presentes no solo, possibilitando o contato mais precoce entre bactérias e sementes, acelerando o processo de infecção e nodulação. Segundo Hungria et al (2006), são obtidos incrementos de produtividade de grãos de 5% a 8% com a reinoculação anual, uma diferença importante com a inoculação ao longo dos anos, proporcionando diferenças de produtividade representativas nas lavouras que utilizam essa tecnologia. Levando em consideração o baixo custo da utilização da inoculação, torna-se indispensável esta prática, que possui um custo aproximado de R$ 15,00 por hectare. A simbiose entre Bradyrhizobium e a cultura da soja é conhecida há muitas décadas. Estas bactérias foram por muitos anos as únicas utilizadas para a inoculação na cultura da soja,



Fotos Evandro Deak

Figura 3 - Número de nódulos por planta de soja com a inoculação padrão e a coinoculação em relação à testemunha não inoculada, conforme a disponibilidade de água em relação à capacidade de campo (25%, 50%, 75% e 100%)

Figura 1 - Raízes de soja submetidas a 25% da capacidade de campo, à esquerda sem coinoculação e à direita com coinoculação

até que as pesquisas realizadas com bactérias do gênero Azospirillum mostraram resultados positivos para a cultura da soja com a associação das duas bactérias, processo conhecido como inoculação mista ou coinoculação. As bactérias do gênero Azospirillum são consideradas promotoras do crescimento de plantas (BPCP). Além de fixar N, atuam principalmente na produção de fito-hormônios de crescimento, como auxinas, giberelinas e citocininas, que favorecem a emissão de raízes, melhorando a absorção de água e nutrientes pelas plantas. As bactérias da espécie Azospirillum brasilense são utilizadas em estudos realizados com trigo, milho, cana-de-açúcar e pastagens. Em soja, muitos autores verificaram maiores valores médios para massa seca de parte aérea e comprimento de raiz. Além disso, estudos indicam incrementos na produtividade de culturas como a soja, o feijão, o milho e o trigo.

FATORES QUE AFETAM A INOCULAÇÃO

São vários os fatores que afetam a FBN, sendo divididos em bióticos e abióticos. Dentre os fatores bióticos é possível citar o tipo de inóculo, o modo de inoculação, a competitivi-

dade do rizóbio no solo, a resposta genética das cultivares à FBN e o controle fitossanitário da cultura para evitar que pragas e doenças interfiram no desenvolvimento da planta. Para os fatores abióticos há a acidez do solo, a toxidez por alumínio, a salinidade, a baixa fertilidade do solo, as altas temperaturas do solo, a presença de metais pesados, a baixa precipitação pluviométrica, o tipo de solo e a sua composição e a deficiência de nutrientes essenciais para o bom funcionamento da FBN, como o cobalto e o molibdênio. A combinação destes fatores, durante o ciclo de desenvolvimento da cultura, é primordial para determinar o sucesso na inoculação e da FBN, sendo essencial o conhecimento de técnicas adequadas para a inoculação, as estirpes de melhor desempenho, as condições que possibilitam um ambiente adequado para que estas bactérias possam interagir com a planta e assim fixar quantidades suficientes de N. Dentre os fatores que mais prejudicam a interação planta bactérias estão o pH do solo, a temperatura e a umidade do solo e a compatibilidade entre o tratamento de sementes (inseticida + fungicida). O pH do solo afeta a FBN tanto em condições de acidez quanto de alcalinidade, sendo

Figura 2 - Desenvolvimento de plantas de soja conforme a disponibilidade de água em relação à capacidade de campo (25%, 50%, 75% e 100%)

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que os melhores resultados são encontrados em solos com pH entre 6,5 e 7, dependendo da espécie de planta em estudo. Solos ácidos apresentam efeito sobre a disponibilidade de nutrientes, reduzindo a disponibilidade de fósforo, cálcio e magnésio e aumentando os níveis de alumínio tóxico. O aumento do alumínio tóxico causa redução no sistema radicular, reduzindo a absorção de água e nutrientes, tornando a planta mais suscetível a possíveis déficits hídricos. Além disso, a acidez do solo pode promover redução na multiplicação e sobrevivência do rizóbio, interferindo no processo de infecção das raízes e, consequentemente, na fixação biológica do nitrogênio. O estresse hídrico tanto por déficit quanto por excesso ocasiona redução da sobrevivência e multiplicação dos rizóbios, além de reduzir o tamanho dos nódulos. A falta de água é considerada a principal limitação para a efetividade da FBN. Mesmo que as precipitações sejam constantes, o que determina a quantidade de água disponível é a capacidade de retenção deste líquido no solo. As temperaturas elevadas podem reduzir drasticamente a sobrevivência das bactérias e, portanto, a formação dos nódulos. Temperaturas altas, assim como a umidade do solo, também estão ligadas ao processo fotossintético das plantas, interferindo na emissão de novas raízes, o que reduz os pontos de infecção pelas bactérias. A incompatibilidade entre produtos utilizados no tratamento de sementes e os inoculantes pode causar a morte das células, sendo que a redução no número de nódulos pode chegar a 80%, e as perdas em produtividades até 20%. Além disso, recomenda-se que a inoculação das sementes seja realizada no máximo até 24 horas anteriores à semeadura, para que seja mantido o maior número de células viá-


Figura 4 - Comprimento total de raiz de soja aos oito dias após a semeadura, com a inoculação padrão e a coinoculação em relação à testemunha não inoculada, conforme a tempereatura testada (15, 20, 25, 30 e 35ºC)

veis da bactéria possível. Porém, muitas vezes produtores deixam de realizá-la, ou a efetuam inadequadamente, pois este processo acaba reduzindo a eficiência da semeadura devido ao tempo destinado para sua operação, além da demanda de mais mão de obra. Portanto, há necessidade que a operação de inoculação das sementes possa ser realizada com dias de antecedência à semeadura, ou que venham pré-inoculadas, o que traria vantagens à logística do processo. Diante destas limitações à FBN, tornam-se necessários estudos direcionados à seleção de estirpes de bactérias cada vez mais eficientes, como também técnicas de manejo do solo e da planta que possibilitem condições favoráveis à sobrevivência e à eficiência das bactérias. A relação entre cultivares e estirpes de bactérias, bem como a otimização da tecnologia de inoculação, também é necessária, a fim de manter a sustentabilidade econômica e ambiental desta prática. Novas tecnologias, que proporcionam melhores condições de sobrevivência das bactérias, têm surgido. Uma destas se dá pelo uso de osmoprotetores, que proporcionam a formação de uma “película”, impedindo o contato direto do inoculante com o tratamento de sementes, ofertam substâncias que beneficiam a comunicação entre as bactérias e as raízes da planta, além de fornecerem substratos que servem de alimento para as bactérias. A coinoculação com bactérias do gênero Azospirillum também é uma das tecnologias que vieram para se somar à já conhecida incoculação com o Bradyrhisobium. Essas são consideradas bactérias promotoras do crescimento de plantas, pois atuam na produção de fito-hormônios de crescimento, como auxinas, giberelinas e citocininas, que favorecem a emissão de raízes, melhorando a absorção de

Figura 5 - Efeito do tipo de inoculação sobre a Produtividade de grãos (Mg ha-1) e porcentagem de incremento e a dose de ureia em cobertura na soja

água e nutrientes pelas plantas. Além disso, são capazes de realizar a fixação biológica de nitrogênio.

RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Diversos trabalhos foram realizados pelo grupo de pesquisa em manejo de culturas de coxilha da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Em relação à temperatura, Deak (2016) verificou que a coinoculação promoveu um incremento no comprimento total de raiz (somatório do comprimento de todas as raízes de uma planta) de 33% em relação à testemunha não inoculada, e 25% a mais em relação à inoculação padrão, em medida realizada aos oito dias após a semeadura (Figura 4). A coinoculação apresentou superioridade na faixa entre 20ºC e 30ºC, demonstrando que temperaturas elevadas são prejudiciais para a bactéria do gênero Azospirillum. Além disso, em um experimento realizado em vasos com diferentes níveis de umidade do solo (Figura 1) verificou-se ao utilizar a coinoculação que o número de nódulos foi 30% maior em relação à testemunha, e 10% superior comparado à inoculação padrão (aos 35 dias após a emergência). Além disso, ao ampliar a umidade do solo de 50% para 75% da capacidade de campo, é possível dobrar o número de nódulos (Figura 2 e Figura 3). Em trabalho realizado por Stecca (2016), com a utilização de osmoprotetor em sementes de soja inoculadas em diferentes dias anteriores à semeadura e semeadas em diferentes pH de solo, verificou-se que sementes inoculadas com quatro e sete dias anteriores à semeadura com Bradyrhizobium e osmoprotetor no pH de 5,3 obtiveram produtividades semelhantes às inoculadas no mesmo dia da semeadura. Sendo que houve uma maior formação de nódulos em solos mais ácidos quando se utilizou o

osmoprotetor. Dessa forma, o emprego de osmoprotetor é uma das estratégias para garantir maior sobrevivência das bactérias do gênero Bradyrhizobium na cultura da soja, além de permitir que a inoculação possa ser realizada até sete dias anteriores à semeadura. Em trabalho realizado a campo com a coinoculação e o osmoprotetor (Fipke, 2016), observou-se um aumento de produtividade de grãos de soja de 31% (da coinoculação em relação ao não inoculado) e 25% (da inoculação padrão com Bradyrhizobium em relação ao não inoculado). Com isso, a coinoculação apresentou um aumento de 6% (240kg/ha) em relação ao processo tradicional (inoculação com Bradyrhizobium). Em relação ao uso do osmoprotetor para os dois tipos de inoculação, aos sete dias antes da semeadura não ocorreu diferença em relação aos demais tratamentos (inoculação no dia da semeadura), permitindo assim que a inoculação seja realizada ao menos sete dias antes da semeadura (Figura 5). Diante da importância econômica da cultura da soja e também dos benefícios já citados do N para esta cultura, é importante a realização da inoculação anual para a obtenção de altas produtividades. Pelos resultados encontrados pelo grupo de pesquisa e por demais pesquisadores da área é indispensável que se realize a inoculação padrão com bactérias do gênero Bradyrhizobium, bem como utilização de Azospirillum brasilense e osmoprotetor, permitindo assim uma maior nodulação, sobrevivência das bactérias e fixação de N para C elevadas produtividades. Thomas Newton Martin, UFSM Evandro Ademir Deak, Giovane Matias Burg, Glauber Moçon Fipke e Jessica Deolinda Leivas Stecca, PPGA

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Embrapa

Soja

Variabilidade que mata Intimamente ligada à presença de excesso de umidade no solo, a podridão radicular de Phytophthora é uma doença agressiva com a qual a preocupação tem aumentado à medida que novos patótipos têm sido encontrados em cultivares comerciais consideradas resistentes. Combinar resistência genética com drenagem e descompactação e planejar previamente a área de cultivo, com atenção para situações de acúmulo de água, palhada e terraços em curva de nível, são medidas que auxiliam no manejo integrado

A

podridão radicular de Phytophthora (PRP), em soja, é causada por Phytophthora sojae, um micro-organismo anteriormente classificado como fungo e que, atualmente, é posicionado no reino Chromista (ou Straminipila), mais próximo às algas, pois uma de suas características é ter parede celular como um vegetal. Essa doença foi identificada pela primeira vez no Brasil no Rio Grande do Sul, na safra 1994/95,

mas perdas significativas ocorreram apenas na safra 2005/06, em lavouras do Rio Grande do Sul e do Paraná. Até a safra 2007/08, plantas com sintomas da doença foram também encontradas nos Estados de Santa Catarina, do Mato Grosso do Sul e de Minas Gerais. Na safra 2009/10, plantas com sintomas da doença foram observadas em lavouras no município de Cristalina, Goiás. Desde então, casos da doença têm sido verificados em todas

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as safras nesses e em outros estados, como o Mato Grosso, o Tocantins e em São Paulo, revelando uma evolução espacial na ocorrência da PRP no Brasil. A ocorrência da PRP está intimamente associada com o excesso de umidade no solo, fator que sofre influência direta do manejo e uso da terra. Solos compactados, cultivo mínimo do solo e/ou plantio direto em monocultura de soja e aplicação de


Os esporos de resistência (oósporos) do patógeno, formados nas raízes e hastes de soja infectada, podem sobreviver no solo por muitos anos na ausência do hospedeiro, não germinando todos ao mesmo tempo. A transmissão e a disseminação do patógeno não ocorrem por sementes, sendo o solo e os restos culturais de soja contaminados as principais fontes de inóculo. O uso de cultivares resistentes (que possuem um ou mais genes de resistência Rps) é o principal meio de controle da doença, mas a variabilidade genética de P. sojae torna difícil a obtenção de cultivares resistentes a todas as raças existentes. Podem ocorrer dois tipos de resistência nas cultivares: a completa e a parcial (também denominada “resistência de campo”). A completa não permite o aparecimento de sintomas, mas como ocorre em razão da presença de apenas um gene na planta (monogênica), pode ser “quebrada” pelo patógeno a partir do uso intensivo da cultivar resistente. A resistência parcial é durável, por ser resultado de uma combinação de genes (poligênica), mas as cultivares de soja podem apresentar diferentes níveis de desenvolvimento de sintomas, geralmente restritos às raízes, mas que podem resultar em menor desenvolvimento das plantas. Os testes para determinar a resistência de linhagens e cultivares de soja a PRP, realizados na Embrapa Soja, são feitos pela inoculação com o método do palito de dente [Keeling (1982), adaptado por Yorinori (1996)] para a resistência completa, e pelo método de camada de micélio (Schmitthenner & Bhat, 1994) para a resistência parcial.

Cultivar de soja com sintomas da podridão radicular de Phytophthora na safra 2016/2017 no Paraná

Cultivar com resistência parcial, não inoculada (esq.) e inoculada (dir.) com Phytophthora sojae

Fotos Rafael Soares

altas doses de fertilizantes orgânicos ou com potássio, imediatamente antes da semeadura, podem tornar a doença mais severa. Pode ocorrer em qualquer fase de desenvolvimento das plantas. Quando causa apodrecimento de sementes e morte de plântulas, pode levar à necessidade de replantio de áreas afetadas. Em plantas adultas a incidência costuma ser menor, causando diminuição no desenvolvimento e morte de plantas, que pode ocorrer lado a lado com plantas sadias. Nesse caso, a morte ocorre lentamente, com as folhas ficando amarelas até a murcha completa e seca dos tecidos, permanecendo presas às plantas, voltadas para baixo. Há destruição quase completa de raízes secundárias e apodrecimento da raiz principal, que adquire coloração marrom-escura. O sintoma característico é o aparecimento, no exterior da haste, de coloração marrom-escura, circundando-a desde o solo e, frequentemente, progride ao longo desta e das hastes laterais em direção ao topo da planta. Em plantas adultas de cultivares de soja que apresentam menor suscetibilidade, os sintomas ficam restritos ao apodrecimento da raiz principal e, ocasionalmente, ocorrem lesões longas, lineares, levemente aprofundadas e de cor marrom, em apenas um dos lados da haste, muito parecidas com lesões de cancro da haste. As condições climáticas que favorecem a ocorrência da PRP são temperatura igual ou superior a 25°C e água livre no solo, pela ocorrência intensa de chuvas.

VARIABILIDADE DO PATÓGENO

A variabilidade da população de P. sojae tem sido constatada em diversos trabalhos com isolados do patógeno. O termo “raça”, tradicionalmente utilizado para descrever essa variabilidade, passou a ser substituído pelo termo “patótipo”, que descreve com mais clareza os genes de resistência das plantas afetados por cada isolado do patógeno. A caracterização do patótipo é realizada com inoculações do patógeno em uma série diferencial de cultivares de soja, cada uma com um gene Rps específico. Atualmente, a série mais comumente utilizada testa 14 genes: Rps1a, Rps1b, Rps1c, Rps1d, Rps1k, Rps2, Rps3a, Rps3b, Rps3c, Rps4, Rps5, Rps6, Rps7 e Rps8. Mas já existem resultados descrevendo a existência de novos genes Rps, como o RpsYu25 (Sun et al, 2011) e o Rps11 (Ping et al, 2016). Cada novo gene incorporado à série diferencial aumenta o número de raças possíveis, bem como a complexidade do estudo sobre a variabilidade do patógeno. Por isso, o termo “patótipo” é preferido, pois descreve determinado isolado de P. sojae por meio dos genes Rps, os quais o isolado consegue suplantar (denominada “fórmula de virulência”), matando cultivares de soja com esses genes. O isolado de PRP atualmente utilizado pela Embrapa no teste das linhagens do programa de melhoramento possui o patótipo (1d, 2, 4, 5, 7), ou seja, esse isolado é capaz de causar doença em cultivares de soja que contenham um ou mais dos genes Rps1d, Rps2, Rps4, Rps5 e Rps7. O que também significa que as cultivares com resistência completa à doença, que a Embrapa tem lançado, não possui algum desses cinco genes. Costamilan et al (2013) descreveram a presença de 17 patótipos diferentes presen-

Cultivar resistente, não inoculada (esq.) e inoculada (dir.) com isolado de P. sojae com ampla virulência

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Fotos Rafael Soares

Armazenamento de substrato contaminado usado para teste de resistência parcial e seu efeito em cultivar suscetível

tes na população brasileira de isolados de P. sojae, obtidos em 25 diferentes municípios, na sua maioria no Rio Grande do Sul, mas também nos estados de Santa Catarina, do Paraná, de Mato Grosso do Sul, de Goiás e de Minas Gerais. Esse trabalho também indicou que os genes Rps1a, Rps1b, Rps1c, Rps1k, Rps3b e Rps8 mostram-se os mais efetivos para resistência de cultivares de soja desenvolvidas para o Brasil. A preocupação com essa doença aumenta à medida que novos patótipos têm sido encontrados causando doença em cultivares comerciais. Na safra 2014/2015, no município de São José do Ivaí, Paraná, ocorreu a morte de plantas em lavoura com uma cultivar descrita como resistente à Raça 1 de P. sojae, o que significa que essa cultivar possui o gene de resistência Rps7. O isolado obtido dessas plantas foi identificado como possuidor do patótipo (1a, 1b, 1d, 2, 3a, 3c, 4, 5, 7, 8), ou seja, não só capaz de quebrar a resistência do Rps7, mas também dos demais genes com a numeração equivalente. Na safra seguinte, 2015/2016, no município de Campo Mourão, Paraná, plantas de outra cultivar descrita como resistente à PRP (embora os detalhes sobre essa resistência não sejam informados pelo obtentor da cultivar), morreram a campo por causa da doença, e o isolado do patógeno obtido foi identificado com o patótipo (1a, 1b, 1c, 1d, 1k, 2, 3a, 3c, 4, 5, 7). A ampla virulência desses dois isolados exemplificados alerta para a dificuldade que se pode ter no desenvolvimento de cultivares resistentes a essa doença, se situações semelhantes começarem a ocorrer em mais localidades. Além disso, testes em casa de vegetação revelaram que algumas cultivares am-

plamente semeadas em diversos estados, reconhecidas como resistentes, quando semeadas em solo contaminado com P. sojae, embora não expressem sintomas da doença na parte aérea das plantas, podem ter o seu desenvolvimento reduzido. Dessa forma, a PRP pode estar causando prejuízos à produtividade das lavouras, que não estão sendo visualizados por técnicos e produtores.

CONTROLE

A resistência genética das cultivares de soja é o principal meio de controle da doença. A combinação de uso de genes Rps e de altos níveis de resistência parcial é recomendada. Nos Estados Unidos, há indicação do uso do fungicida metalaxil-M ou de seu isômero ativo mefenoxam (classe fenilamidas, grupo químico acilalaninato), na semente ou na linha de semeadura, como estratégia adicional de manejo em cultivares com resistência parcial no período da emergência, atuando por duas a três semanas. No Brasil, esses produtos estão registrados para o tratamento de sementes na cultura da soja, mas para outros fungos de solo, como Pythium spp., Rhizoctonia solani, Phomopsis spp., entre outros, e não P. sojae. Pesquisas indicam que em razão da baixa concentração desses ingredientes ativos nos produtos comerciais disponíveis no Brasil, o tratamento pode não proporcionar um controle satisfatório da doença. Avaliações de metalaxil-M e de mefenoxam mostraram que em cultivar com resistência parcial, apenas mefenoxam igualou-se aos melhores tratamentos. Mas para a cultivar suscetível, nenhum tratamento foi semelhante à testemunha sadia e apenas

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mefenoxam se mostrou superior à testemunha doente (Costamilan et al, 2009). A aplicação de fungicidas na parte aérea não tem efeito contra a doença. O ideal é realizar o manejo integrado da doença, combinando o uso de cultivares resistentes (de preferência com resistência parcial ou “de campo”) e melhoria nas condições físicas do solo, especialmente com drenagem e descompactação. Portanto, é importante que o agricultor, ao planejar o próximo cultivo de soja, verifique previamente a situação das suas áreas quanto à compactação e ao acúmulo de água, atentando para a situação de terraços em curvas de nível, baixadas e locais com acúmulo excessivo de palha. A Embrapa Soja, dentro do programa de melhoramento de soja da instituição, tem na sua rotina de testes de linhagens a avaliação para resistência completa a PRP. Com as constatações recentes de patótipos mais virulentos do patógeno, tem buscado intensificar o teste para a resistência parcial, que é menos sujeita a ser “quebrada”. No entanto, esse teste é mais trabalhoso e demorado que aquele para resistência completa, o que dificulta sua realização em maior escala. Na busca por soluções para isso, a Embrapa Soja tem desenvolvido adaptações para esse teste, por meio da produção e do armazenamento de substrato infectado com o patógeno, evitando a necessidade de constante produção do inóculo em meio de cultura em laboratório. Com isso, espera-se poder testar e oferecer um número cada vez maior de cultivares C resistentes para o agricultor. Rafael Moreira Soares, Embrapa Soja

Soares chama a atenção para a presença de novos patótipos em cultivares consideradas resistentes



R.R. Rufino

Soja

Qualidade preservada

Com tecnologia de baixo custo e portador de grandes benefícios o tratamento químico de sementes com nematicidas, inseticidas e fungicidas tem grande importância na proteção inicial das sementes e plântulas contra o ataque de nematoides, insetos e fungos. Preservar o desempenho fisiológico do material genético também é fundamental

A

cultura da soja está em ascensão nos últimos anos no Brasil, segundo maior produtor mundial do grão, onde na safra de 2015/2016 foi responsável pela produção de 95.631 milhões de toneladas (Conab, 2016). Com isso o aumento da área de cultivo e também a busca pelo aperfeiçoamento de manejos na cultura que aumentem a produtividade por área cultivada cada vez mais despertam o interesse dos produtores. Dentre os manejos necessários, estão os que auxiliam na implantação, no estabelecimento e no desenvolvimento do dossel de plantas na lavoura. Deste modo, uma série de manejos realizados devem ser considerados, desde a escolha da cultivar, a época, a profundidade e a densidade de semeadura, dentre outros. No entanto, para que a população final de plantas esteja dentro do estabelecido inicialmente, deve-se utilizar sementes de qualidade, sendo protegidas adequadamente quanto a problemas relativos a pragas e doenças. Com isso, se torna importante a utilização de sementes certificadas com garantia de qualidade, tendo os padrões mínimos de germinação, pureza física e pureza genética

exigidos por normas de produção e comercialização estabelecidas (Embrapa, 2003). Alguns trabalhos mostram que sementes de alta qualidade fisiológica desenvolvem plantas com maior altura e diâmetro de caule, além de produtividade de grãos superior (Schuch et al, 2009). Outros ainda concluem que a baixa qualidade fisiológica acarretará uma menor uniformidade de plantas e a diminuição da sobrevivência dessas na lavoura (Cantarelli et al, 2015). Com isso, para que haja garantia de manutenção das qualidades propostas deve-se realizar um tratamento de sementes adequado, com ativos capazes de proteger as sementes contra pragas e doenças. Pois sementes, mesmo certificadas, podem ser veículo para disseminação e transmissão de doenças. Não há exigência de testes de patologia e normas que limitem a comercialização de sementes de soja quanto à presença de patógenos no Brasil. De forma que o tratamento químico de sementes tem sido a alternativa para proteger o potencial fisiológico e genético desses materiais. Entre os manejos para a implantação satisfatória da lavoura, o tratamento químico de sementes é uma prática eficiente. Além de controlar patógenos importantes transmitidos

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pelas sementes, assegura população adequada de plântulas, quando as condições edafoclimáticas são desfavoráveis à germinação e à rápida emergência da soja. O tratamento químico de sementes tem como função permitir que ocorra a germinação de sementes livres de patógenos, protegendo-a nesse momento, bem como erradicar ou reduzir os patógenos transmitidos pela semente (Mertz et al, 2009). Além disso, pode apresentar um custo relativamente baixo (0,5%) do custo de implantação da lavoura (Henning, 2005) e impacto ambiental reduzido, devido à área que recebe o produto ser pequena, se comparada à aplicação de agroquímicos em parte aérea (Almeida et al, 2011). Sendo assim, objetiva-se com o presente trabalho verificar a eficiência de diferentes tratamentos químicos de sementes separados ou em conjunto (fungicida; fungicida + inseticida; inseticida; inseticida + nematicida), nos aspectos fisiológicos de plântulas de soja (Glycine max L). O experimento foi desenvolvido em Santa Maria, Rio Grande do Sul, no Laboratório Didático e de Pesquisas em Sementes do Departamento de Fitotecnia da Universidade


Evandro Deak

Tabela 1 - Princípios ativos usados no tratamento de sementes, dose para 100kg de semente e classificação, respectivamente Princípio Ativo Abamectina Tiofanato metílico + Fluazinam Tiametoxan Fludioxonil Acetamiprido Difenoconazol Fipronil+Tiofanato metílico+Piraclostrobina

D.P.C. 100ml 200ml 250ml 200ml 150ml 33,4 ml 200ml

Fungicida

Inseticida x

Nematicida x

x x x x x x

Avaliação do comprimento de plântulas de soja

* D.P.C. = Dose de produto comercial

espalhadas em camadas e deixadas secar por 48 horas. A avaliação dos efeitos dos tratamentos foi realizada a partir do teste padrão de germinação (TPG) e testes de vigor. O TPG foi efetuado segundo as Regras para Análise de Sementes-RAS (Brasil, 2009). A primeira contagem do TPG, que é uma estimativa de vigor, associada à velocidade de germinação das sementes, foi realizada no quinto dia após a semeadura, e a germinação obtida somando o número de plântulas normais do quinto e do oitavo dia após a semeadura (Brasil, 2009). Os resultados foram expressos em porcentagem de germinação. O comprimento da raiz primária e da parte aérea foi determinado ao final do quinto dia, com o auxílio de régua milimetrada. A parte aérea e a raiz das plântulas foram colocadas em sacos de papel e levadas à estufa com 60°C por 48 horas para a posterior pesagem de massa seca. Os resultados foram submetidos à análise de variância e quando significativas, as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância. Para a primeira contagem e a germinação não ocorreram diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos. Conforme Figura 1,

Thomas Martin

Federal de Santa Maria (UFSM). Foram utilizadas sementes de soja, cultivar 6968 RSF, da categoria S1 com germinação e pureza mínima de 80% e 99%, respectivamente. Foram elaborados e efetuados dez tratamentos e uma testemunha (sem tratamento), sendo eles: Tratamento 1 – [Tiametoxan + Fludioxonil]; Tratamento 2 – Fludioxonil; Tratamento 3 – Tiametoxan; Tratamento 4 –[Fipronil + Tiofanato metílico + Piraclostrobina + Difenoconazol]; Tratamento 5 – [Fipronil + Tiofanato metílico + Piraclostrobina]; Tratamento 6 – Difenoconazol; Tratamento 7 – [Tiofanato metílico + Fluazinam + Acetamiprido]; Tratamento 8 – [Tiofanato metílico + Fluazinam]; Tratamento 9 – Acetamiprido; Tratamento 10 – Abamectina. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com quatro repetições. A dose de produto comercial foi calculada para 100kg de sementes e um volume de calda de 500ml (Tabela 1). O tratamento químico das sementes foi realizado manualmente, misturando as proporções adequadas dos tratamentos e das sementes em sacos plásticos que foram agitados até a obtenção de distribuição homogênea dos produtos nas sementes. As sementes foram

Plântulas de soja avaliadas durante experimento realizado em Santa Maria, Rio Grande do Sul

os tratamentos não diferiram da testemunha (sem tratamento), que apresentou 80% de germinação. Quanto à primeira contagem, tanto tratamentos como a testemunha apresentaram valores entre 60% e 70%, mas sem diferenças significativas. Em trabalho realizado por Cunha et al (2015) com nove tratamentos combinando ação de nematicidas, inseticidas e fungicidas, verificaram que o tratamento com o produto Tiametoxan inibiu a germinação, resultado esse não encontrado no presente trabalho. Deste modo, a utilização destes tratamentos químicos de sementes não influencia o desempenho das sementes quanto à velocidade de germinação e à porcentagem de germinação. É importante a escolha por sementes com procedência e qualidade, o que é garantido pelo processo de certificação, para que se obtenha adequada população, distribuição e homogeneidade no estabelecimento inicial de plantas no campo. No entanto, segundo o trabalho de Vanzolini & Carvalho (2002), sementes com mesma porcentagem de germinação, mas com níveis de vigor diferentes, acabaram por estabelecer populações de plantas diferentes. Sendo assim, apenas uma boa germinação não basta para o estabelecimento da população de plantas desejadas. Nesse contexto, é necessário o uso de sementes vigorosas, pois um baixo vigor pode influenciar e resultar em baixa velocidade e no total de emergência, além de desenvolver plantas menores (Scheerene et al, 2009), prolongar o estágio vegetativo das plantas (Vanzolini & Carvalho, 2002), além de fornecer menor índice de área foliar e produção de matéria seca (Kolchinski et al, 2005). Deste modo é senso comum atualmente que o vigor é um parâmetro importante para que se estabeleça um adequado e uniforme arranjo de plantas no campo (Brzezinski et al, 2015), trazendo segurança aos produtores durante o estabelecimento inicial da cultura. O ritmo de desenvolvimento inicial de plântulas logo após a germinação está associado ao vigor das sementes, especialmente na habilidade de conversão da reserva das sementes em crescimento de plântula. Para estudar esta característica foi avaliado o comprimento e a

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Figura 1 – Primeira contagem (%) germinação de sementes (%) de soja sobre os efeitos de diferentes tratamentos químicos. Médias de tratamentos seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, teste F a 5% de significância

mente ou em misturas, não interferem ou interferem pouco no desenvolvimento da parte aérea e da raiz das plântulas de soja. Além de que, em alguns tratamentos causam incremento benéfico no desenvolvimento em relação ao não uso de tratamento de sementes, apresentando maiores valores para as variáveis citadas anteriormente. A ocorrência de redução em alguns dos parâmetros individuais associados ao vigor deve ser compensada pelo efeito protetor conferido pelo tratamento químico das sementes frente aos agentes que atuarão no campo, e que potencialmente podem reduzir a densidade e a homogeneidade da população, como os fungos, insetos e nematoides. Assim, o uso de tratamento químico de sementes é de extrema importância para que o dossel de plantas seja estabelecido adequadamente com emergência de plantas sadias, livres de patógenos e problemas fitossanitários em geral, além de manter a qualidade fisiológica e genética, ainda beneficiando o crescimento inicial e o desenvolvimento da cultura (Cunha et al, 2015). Desta forma, nos sistemas de produção intensiva é importante que se realize o tratamento de sementes. É

uma das formas de aumentar a segurança que o produtor terá para a obtenção de um estande de plantas adequado na lavoura. Considerando todas as variáveis estudadas simultaneamente (primeira contagem, germinação e crescimento de plântulas) não há evidências de que os tratamentos de sementes testados individualmente ou em conjunto possam interferir negativamente no desempenho fisiológico das sementes. O tratamento químico das sementes pode contribuir para o desenvolvimento inicial de raiz e parte aérea, além do benefício quanto à qualidade sanitária e à proteção a agentes bióticos do solo, como C fungos, insetos e nematoides. Camila Veiga Cambai Sementes Guilherme Bergerjir da Rosa, Rogério Luiz Backes e Thomas Newton Martin, UFSM

Evandro Deak

massa seca de parte aérea e raiz de plântulas ao quinto dia após a semeadura, sendo verificadas diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos analisados, conforme Figura 2. O Tratamento 10 – Abamectina proporcionou o melhor resultado tanto para comprimento de parte aérea quanto comprimento de raiz. Espera-se que essa propriedade apresente correlação positiva com a emergência de plântulas a campo (Vanzolini et al, 2007). No entanto, Cunha et al (2015) encontrou resultados onde o mesmo tratamento com Abamectina não diferiu da testemunha sem tratamento para o comprimento de parte aérea e raiz, o que pode estar relacionado a características específicas de cada lote de sementes. O Tratamento 7 – [Tiofanato metílico + Fluazinam + Acetamiprido] e o Tratamento 9 – Acetamiprido foram inferiores à testemunha para comprimento de parte aérea, já para comprimento de raiz nenhum tratamento foi inferior à testemunha. Quanto à massa seca de parte aérea e raiz, o Tratamento 10 – Abamectina foi novamente superior, e o pior desempenho foi do Tratamento 3 - Tiametoxan, com desempenho inferior à testemunha quanto à massa seca da raiz. Quanto à massa seca da parte aérea nenhum tratamento foi inferior à testemunha (sem tratamento), Figura 2B. Alguns autores correlacionam maior massa seca de raiz a um maior desenvolvimento de raízes secundárias (Cunha et al, 2015), as quais, por serem mais finas, têm uma maior eficiência na absorção de nutrientes do solo (Rosolem & Marcelo, 1998). Ao observar as Figuras 1 e 2A e B é possível notar que os tratamentos químicos de sementes tendem a proporcionar desempenho fisiológico semelhante ou até superior à testemunha (sem tratamento). Sendo assim satisfatório, pois comprovam que os tratamentos de sementes tanto com fungicida, inseticida ou nematicida, usados individual-

Figura 2 – Comprimento de parte aérea e raiz aos cinco dias após a montagem dos testes (A) e massa seca de parte aérea e raiz (B) para os diferentes tratamentos químicos das sementes de soja

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Avaliação de germinação das plântulas de soja



Germison Tomquelski

Soja

Coberturas antagônicas Capazes de exercer efeito contrário a nematoides, coberturas de solo podem auxiliar na redução da espécie Pratylenchus brachyurus em soja, tanto em monocultivo como em rotação com a cultura do milho 42 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br

A

cultura da soja é uma das mais importantes do complexo do agronegócio no Brasil. O cultivo em solos do Cerrado proporcionou crescimento em área e rendimento, devido à semeadura de cultivares adaptadas às condições da região. Porém, o aumento do ataque de pragas e doenças é um dos fatores que limitam a obtenção de altas produtividades. O nematoide Pratylenchus brachyurus (Figura 1) é considerado uma das espécies de maior frequência no Brasil, de acordo com Ferraz (2006). Tal fato está relacionado à capacidade de se desenvolver e causar danos a várias culturas de interesse agronômico, tanto anuais como perenes. Na região dos Chapadões, em Mato Grosso do Sul, em levantamento



Germison Tomquelski

os nematoides das galhas (Dias-Arieira et al, 2003) e o nematoide reniforme (Asmus e Cargnin, 2005). No entanto, pouco se conhece sobre a reação dessas plantas ao nematoide P. brachyurus. Em estudo realizado a esse respeito em casa de vegetação, Charchar e Huang (1981) verificaram três meses após a inoculação de P. brachyurus, pequeno aumento populacional do nematoide em Urochloa decumbens.

A PESQUISA

O uso de culturas de cobertura na entressafra é uma boa alternativa para reduzir o impacto desses parasitas sobre as culturas principais

Norbertino Angeli

monocrotalina isolado de C. spectabilis (Ferraz e Valle, 2001). O nabo forrageiro também é empregado na adubação verde e rotação de culturas, possui raízes vigorosas e agressivas, que rompem camadas compactadas do solo (Reinert et al, 2008). A utilização do milheto, com baixo fator de reprodução, pode reduzir a população de importantes fitonematoides, como o de cisto da soja (Heterodera glycines), o reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o Pratylenchus brachyurus. O uso das braquiárias para formação de palhada é crescente no Centro-Oeste. São plantas promissoras devido à produção de grande quantidade de matéria seca e também à capacidade de suprimir

Débora C. Agnes

realizado nas últimas safras, verificou-se que P. brachyurus encontra-se presente em mais de 90% das amostras coletadas (Abreu et al, 2014). Ao atacar as células do parênquima cortical, injeta toxinas, provocando lesões que facilitam a entrada de micro-organismos patogênicos, como bactérias e fungos. A parte aérea de plantas afetadas pode apresentar clorose e/ou murchamento, sendo esses sintomas mais acentuados durante períodos de seca. Há relatos de reduções na produção do grão que vão de 30% a 50% devido às infestações do nematoide das lesões (Dias et al, 2010) (Figura 2). A utilização de plantas antagônicas (contrárias) aos nematoides, como culturas de coberturas na entressafra, é uma boa alternativa para reduzir o impacto desses parasitas sobre as culturas principais, já que elas permitem a penetração nas raízes sem deixá-los completar o ciclo de vida. Algumas dessas plantas produzem compostos nematicidas/nematostáticos (inibidor) em seus tecidos. Um exemplo de substância de origem vegetal com propriedades nematicidas é o alcaloide

Realizou-se um estudo na área experimental da Fundação Chapadão, localizada no município de Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul, no período de outubro de 2009 a agosto de 2014. A área foi preparada por uma safra verão (2009/2010) com a semeadura da soja, e uma safra de inverno (2010), com sorgo. No verão 2010/2011 iniciou-se o programa de rotação de culturas com sucessão das coberturas de inverno na entressafra (Figura 2), onde foram quantificados 31.440 espécimes de Pratylenchus brachyurus por 10g de raízes. Nesta ocasião a produtividade média era de 47,7 sacas de soja por hectare. A cultivar utilizada foi Anta 82RR, na safra 2011/12 com semeadura em 17/10/2011, na safra 2012/13 em 25/10/2012 e na safra 2013/14 em 21/10/2013. O delineamento experimental foi blocos casualizados em esquema fatorial 2 x 17 (safra x culturas de cobertura) com quatro repetições. Os sistemas de cultivos adotados foram soja em monocultivo (soja-soja-soja) e

Figura 1 - Desenho de Pratylenchus brachyurus

44 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br

Figura 2 - Área experimental com diferentes sistemas de cultivo



2012/131 2013/141 2011/121 Redução Incremento -1 -1 P. brachyurus Soja (sc ha ) P. brachyurus Soja (sc ha ) P. brachyurus Soja (sc ha-1) Nematoide2(%) Produtivo3(%) 51,8bB Urochloa decumbens 9.820,0bC 3.475,0cB 87,60 32,43 68,6aA 63,5aA 1.217,5aA 52,0bB Urochloa ruziziensis 5.370,0aB 3.450,0cB 85,20 34,42 69,9aA 65,2aA 795,0aA Sorgo 12.667,5bC 52,0bC 4.750,0cB 81,96 29,23 67,2bA 58,4aB 2.285,0bA 58,8aB Milho + C. spectabilis 7.050,0aC 4.125,0cB 81,91 20,24 70,7aA 61,8aB 1.275,0aA 54,6aB Milho (V% < 50) 7.782,5aC 3.192,5cB 81,61 28,94 70,4aA 64,2aA 1.431,2aA Urochloa brizantha 11.970,0bB 50,5bC 2.330,0bA 80,89 40,20 70,8aA 61,0aB 2.287,5bA 49,7bC Milheto + S. capitata 9.285,0bC 4.900,0cB 80,51 48,89 74,0aA 61,1aB 1.810,0bA 50,6bC Crotalaria ochroleuca 9.831,2bC 480,0aA 73,30 34,58 68,1aA 61,3aB 2.625,0bB 50,3bC Crambe abssynica 6.907,5aB 1.745,0bA 70,61 41,15 71,0aA 64,4aB 2.030,0bA 50,6bB Milheto 9.125,0bB 3.452,5cA 67,21 28,46 65,0bA 66,4aA 2.992,5bA 50,2bC Crotalaria spectabilis 7.547,5aC 912,5aA 66,71 39,04 69,8aA 61,7aB 2.512,5bB 52,2bB 1.862,5bA Nabo-forrageiro 8.160,0aB 66,70 27,20 66,4bA 66,4aA 2.717,5bA Stylosanthes capitata 10.565,0bC 55,5aB 925,0aA 50,90 13,51 63,0bA 61,3aA 5.187,5cB 53,5aB U. ruziziensis + C. spectabilis 6.440,0aB 5.337,5cB 53,57 14,02 61,0bA 65,0aA 2.990,0bA 53,1bB 1.537,5bA Girassol 8.617,5bC 47,43 21,66 64,6bA 64,9aA 4.530,0cB 55,9aB 1.482,5bA Pousio 7.320,0aC 38,52 31,31 73,4aA 61,2aB 4.500,0cB 54,5aB Milho (V% > 55) 7.565,0aB 2.705,0cA 36,85 28,99 70,3aA 59,2aB 4.777,5cB 52,7 Média 8.589,63 2.744,85 67,73 30,25 68,5 62,76 2.703,75 Coberturas

Jorge Diniz

1Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Scott-knott ao nível de 5% de probabilidade. Os dados foram transformados em raiz quadrada de Y + 0.5 – SQRT (Y+0.5). 2Percentual de redução em ordem decrescente: (N0 P. brachyurus 2011/12 - N0 P. brachyurus 2013/14/ N0 P. brachyurus 2011/12) *100. 3Percentual de incremento produtivo: (Produtividade 2013/14 - Produtividade 2011/12/ Produtividade 2011/12) *100.

soja em rotação com milho (soja-milho-soja), ambos com o uso de coberturas na entressafra (Figura 3). As coberturas utilizadas foram: Stylosanthes capitata, Urochloa ruziziensis + Crotalaria spectabilis, Milheto + S. capitata, Crotalaria ocroleuca, C. spectabilis, Crambe abssynica, nabo-forrageiro, milheto, Urochloa decumbens, Urochloa brizantha, Urochloa ruziziensis, milho + C. spectabilis, girassol, sorgo, milho com saturação de base acima de 55% e abaixo de 50%, além de área em pousio. O sistema de produção adotado foi de semeadura direta, utilizando o espaçamento de 0,45 metro entre fileiras, com a população de plantas ajustada para 400 mil plantas por hectare. As avaliações de produtividades e população de nematoides nas raízes foram realizadas nas safras 2011/12, 2012/13 e 2013/14.

RESULTADOS

No sistema de cultivo soja-soja-soja, ao analisar a população de P. brachyurus nas raízes, observou-se que da safra 2011/12 para a safra 2013/14, ou seja, após duas safras com cultivo na entressafra, todas as coberturas propiciaram reduções de P. brachyurus em raízes de soja, na ordem de 36,85% a 87,60%, com milho (V%>55) e Urochloa decumbens, respectivamente. Porém, as coberturas: milheto + S. capitata, U. brizantha, U. ruziziensis, milho + C. spectabilis, sorgo e milho (V%<50) também se destacaram, pois, apresentaram redução acima de 80%. Em relação à produtividade de

Germison Tomquelski

Figura 3 - Área experimental com diferentes coberturas na entressafra

Alexandra Abreu

Tabela 1 - Número de P. brachyurus nas raízes nas safras 2011/12, 2012/13 e 2013/14 com as respectivas produtividades. Porcentagem de redução de nematoides e incrementos produtivos da safra 2011/12 para a safra 2013/14 em função do uso de coberturas no inverno, no sistema de cultivo soja-soja-soja. Chapadão do Sul, MS, 2017

46 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br

Área com a presença de B. ruziziensis dessecada


Tabela 2 - Número de P. brachyurus nas raízes de soja e milho nas safras 2011/12, 2012/13 e 2013/14 com as respectivas produtividades. Porcentagem de redução de nematoides e incrementos produtivos da safra 2011/12 para a safra 2013/14 em função do uso de coberturas no inverno, no sistema de cultivo soja-milho-soja. Chapadão do Sul (MS), 2017 2012/131 2013/141 2011/121 Redução Incremento -1 -1 P. brachyurus Soja (sc ha ) P. brachyurus Milho(sc ha ) P. brachyurus Soja (sc ha-1) Nematoide2(%) Produtivo3(%) 52,8aB Urochloa ruziziensis 7.297,5aB 1.807,5 93,14 34,85 71,2aA 201,9 500,5aA 54,7aB Milho + C. spectabilis 7.217,5aB 487,5 85,65 23,03 67,3aA 181,0 1.035,7aA 53,5aB Sorgo 8.611,2aA 1.825,0 51,57 26,73 67,8aA 177,3 4.170,7bA 49,7bB Girassol 9.072,5aA 1.337,5 30,70 30,78 65,0aA 182,8 6.287,5bA 55,4aB Crotalaria spectabilis 6.113,7aA 80,0 27,94 17,33 65,0aA 199,1 4.405,7bA 58,8aB Milheto + S. capitata 6.960,0aA 282,5 22,30 19,05 70,0aA 203,8 5.407,7bA 57,0aA U. ruziziensis + C. spectabilis 8.377,5aA 292,5 21,81 0,18 57,1bA 183,8 6.550,0bA 55,4aB Crambe abssynica 9.132,5aA 60,0 15,48 14,98 63,7bA 191,0 7.718,7bA 55,9aB Urochloa decumbens 7.170,0aA 447,5 13,67 16,99 65,4aA 186,7 6.190,0bA 54,0aB Nabo-forrageiro 6.060,0aA 160,0 12,99 24,81 67,4aA 192,0 5.273,0bA 53,4aB Urochloa brizantha 6.500,0aA 392,5 11,18 27,53 68,1aA 194,7 5.773,2bA Milho (V% > 55) 11.876,2aA 49,7bB 602,5 9,90 27,57 171,7 10.700,0bA 63,4bA 57,5aB Milho (V% < 50) 8.275,0aA 620,0 -1,06 17,22 67,4aA 174,7 8.362,5bA 47,2bB Crotalaria ochroleuca 7.167,5aA 130,0 -3,52 45,55 68,7aA 190,9 7.419,7bA 56,6aB Milheto 7.025,0aA 475,0 -17,54 16,08 65,7aA 201,0 8.257,0bA 53,7aB Stylosanthes capitata 4.462,5aA 61,2 -53,89 14,71 61,6bA 191,2 6.867,5bA 58,3aA Pousio 4.305,0aA 112,4 -59,52 1,89 59,4bA 200,1 6.867,5bA 54,3 Média 7.389,6 539,6 15,3 21,1 65,5 189,6 5.987,5 Coberturas

de P. brachyurus, ainda incrementou a produtividade de soja em 34,85%. Na safra 2011/12 a média de produtividade foi de 54,3sc/ha, já na safra 2013/14 foi de 65,5sc/ha.

Alexandra Abreu

1Médias seguidas de mesma letra, minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Scott-knott ao nível de 5% de probabilidade. Os dados foram transformados em raiz quadrada de Y + 0.5 – SQRT (Y+0.5). 2Percentual de redução em ordem decrescente: (N0 P. brachyurus 2011/12 - N0 P. brachyurus 2013/14/ N0 P. brachyurus 2011/12) *100.3Percentual de incremento produtivo: (Produtividade 2013/14 - Produtividade 2011/12/ Produtividade 2011/12) *100.

CONCLUSÃO

Da safra 2011/12 para a safra 2013/14 grande parte das coberturas se mostrou redutora de Pratylenchus brachyurus e ao mesmo tempo incrementaram a produtividade, tanto na soja em monocultivo, como na soja rotacionada com milho. As espécies vegetais que são utilizadas no Sistema Plantio Direto (SPD) podem ser úteis no manejo de áreas infestadas com nematoides, devendo-se realizar a integração das diversas ferramentas C existentes. Alexandra Botelho de L. Abreu, Edson Pereira Borges e Germison Vital Tomquelski, Fundação Chapadão Divulgação

soja, no sistema de cultivo soja-soja-soja, nota-se que todas as coberturas proporcionaram incrementos, inclusive em área onde foi utilizado o pousio (31,31%). Esses acréscimos de produtividade na safra 2011/2012 para a safra 2013/2014 foram de 13,51% (Stylosanthes capitata) a 48,89% (milheto + S. capitata). Na safra 2011/12 a média de produtividade foi de 52,7sc/ha, e na safra 2013/14 de 68,5sc/ ha. Tal fato pode também estar relacionado aos benefícios físicos, químicos, biológicos, assim como a redução de fitonematoides que o uso de coberturas e até mesmo pousio podem promover ao longo dos anos quando utilizadas em sucessão à cultura de verão (Tabela 1). Ainda vale salientar que fatores climáticos também interferem na produtividade. Ao analisar a população de P. brachyurus nas raízes de soja, no sistema de cultivo soja-milho-soja (Tabela 2), observa-se que da safra 2011/12 para a safra 2013/14, a maioria das coberturas propiciou reduções de P. brachyurus em raízes de soja, que variam de 9,90% a 93,14% com milho (V% > 55) e U. ruziziensis, respectivamente. Porém, o consórcio de milho + C. spectabilis também se destacou, pois apresentou redução de 85,65%. No sistema de cultivo soja-milho-soja, ao analisar-se a produtividade de soja, nota-se que os incrementos variam de 0,18% a 45,55% em U. ruziziensis + C. spectabilis e Crotalaria ochroleuca, respectivamente. Neste sistema a utilização de U. ruziziensis, além de ter proporcionado maior redução

Tomquelski, Alexandra e Borges abordam o auxílio de coberturas antagônicas contra nematoides

Sintoma de P. brachyurus em raízes de soja

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COLUNA MERCADO AGRÍCOLA

O que fazer com a supersafra do Brasil? O Brasil prepara-se para fechar a colheita da maior safra de sua história, com mais de 221 milhões de toneladas. As antigas projeções de que o País se tornaria o celeiro do mundo virou realidade. Com isso, vem a questão sobre o que os produtores farão com esta safra e, o mais importante, o destino das novas safras que tendem a ser cada vez maiores, com mais tecnologia e mais produtividade. Há grandes problemas para resolver em curto prazo, como a melhoria nas rodovias e o aumento da capacidade de transporte via ferrovia e hidrovia. Um fator simples e importante e cuja falta se tornará ainda mais evidente nos próximos meses é a armazenagem, onde o Brasil é carente e há necessidade de crescer rapidamente. Não há local para guardar a grande safra de milho nestes próximos dois meses. Primeiramente resta esclarecer o que é esta supersafra. A soja domina a produção, com a colheita praticamente fechada em pouco mais de 110 milhões de toneladas, seguida pelo milho que caminha para superar 90 milhões de toneladas (primeira com mais ou menos 30 milhões de toneladas e safrinha estimada em 60 milhões de toneladas). Desta forma, somente estes dois grãos chegam à marca de 200 milhões de toneladas e ambos disputam os mesmos armazéns. O arroz tem safra próxima de 12 milhões de toneladas, mas possui produção e armazenagem distintas. O trigo vem na sequência, com mais ou menos 5,5 milhões de toneladas e também estará nos armazéns do Sul do País disputando os mesmos espaços de soja e milho. O feijão tem safra normal neste ano, com pouco mais de 3,3 milhões de toneladas e entra pouco na disputa por espaço de armazenagem porque possui colheita e entradas em diferentes momentos. Os demais grãos, como sorgo, girassol e triticale, têm pouco volume no contexto global e disputam pouco espaço com os grandes grãos. Mas o maior problema do momento é a armazenagem, que fará com que parte do milho tenha de ser guardada em Silo Bolsa ou ficar exposta ao ar livre no Centro-Oeste, o que obriga o produtor a vendê-lo pelo valor do momento para a exportação. O mercado interno de milho já está abastecido até a metade do ano e não haverá necessidade de grandes ofertas. Mas a boa notícia para os produtores é que a fase de fundo de poço está passando e de agora em diante o mercado pode ter correções positivas para todos os grãos. recordes mensais. O Brasil continuará como maior exportador mundial da soja, com espaço para ganhos nos indicativos nos O milho da primeira safra já foi negociado e agora a comercia- próximos meses. O ano para a soja será longo e obrigará os lização flui para atender à demanda imediata, porque a colheita produtores a acompanhar de perto o mercado. está fechada e supre as necessidades das indústrias, sem pressão FEIJÃO para a formação de estoques. Enquanto isso, há boas condições Colheita da segunda safra e mercado firme das lavouras da safrinha, que tem recebido chuvas regulares e O mercado do feijão observou a primeira safra passar e os apelo em colheita cheia. Com pouco espaço para grandes mudanças nas cotações, porque já se encontra dentro dos patamares indicativos se manterem em posições entre R$ 130,00 e R$ da exportação. Os níveis dos portos em abril ficaram na faixa de 170,00 a saca e agora assiste à segunda safra chegar com indiR$ 29,00 a saca e este foi o patamar de base para a formação dos cativos se mantendo firmes e com espaço para aumentos assim preços internos, que tende a ser seguido pelos compradores em que fechar esta colheita. Há demanda forte e com isso o feijão novas negociações. Ou seja, para melhorar o mercado interno seguirá com cotações também fortes em 2017. Contudo, não será necessário que ocorram alterações positivas nos portos, o que se deve esperar por disparada das cotações como as registradas depende da bolsa de Chicago e da cotação do dólar (que podem no ano passado. registrar pequenas correções positivas à frente). ARROZ Safra chegou e produtor segurando oferta SOJA A safra de arroz está fechando pouco abaixo de 12 milhões Fechada colheita O mercado da soja do Brasil observa a safra em fechamento de toneladas, número que deve coincidir com os valores do com produção recorde histórica, de pouco mais de 110 milhões de consumo. Assim, a fase de baixa do grão, que chegou a operar toneladas (aproximadamente 60% já negociada). Restam ainda em pontos do Rio Grande do Sul entre R$ 37,00 e R$ 37,50 a em torno de 45 milhões de toneladas para serem comercializa- saca em abril, agora dá sinais de recuperação e em pouco tempo das nos próximos meses. A boa notícia reside no fato de que as deve operar acima de R$ 40,00 a saca. Existe fôlego para níveis exportações de contratos antigos seguem aceleradas, batendo ainda maiores nos próximos meses aos produtores gaúchos. MILHO

Safrinha em boas condições

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo começa a reagir e os negócios seguem em ritmo ainda lento. Mas há bom potencial de demanda em 2017. UCRÂNIA - O plantio da safra de grãos deste ano sofreu com o clima, que se manteve muito frio até o final de abril e pode limitar a nova colheita. CHINA - As importações de soja seguem fortes e os chineses devem continuar comprando de maneira agressiva nestes

próximos meses. Com expectativa de que o país plante um pouco mais de soja e menos de milho. ARGENTINA - A safra enfrentou problemas climáticos, mas segue em colheita e mantendo projeção de 56,5 milhões de toneladas de soja e 37 milhões de toneladas de milho. EUA - Os norte-americanos se encontram em período de plantio e há expectativa de queda na área de milho e aumento C em soja. Mas o clima ainda é incerto. Vlamir Brandalizze

brandalizze@uol.com.br • Twitter@brandalizzecons • brandalizzeconsulting.com.br

48 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br


COLUNA AGRONEGÓCIOS

O

A carne é muito forte

objetivo deste artigo é analisar por que o potencial explosivo da Operação Carne Fraca não deverá se concretizar. Para tanto vamos focar a análise em três quesitos: atendimento dos anseios do mercado, competividade e inocuidade, que são características essenciais para entrar no comércio agrícola internacional e nele permanecer. As carnes brasileiras atendem a esses quesitos. Há 20 anos o Brasil começou a conquista do mercado, no bojo de uma tendência portadora de futuro que indicava o crescimento do consumo de carnes acima da média dos demais alimentos. Essa tendência lastreava-se na mudança de hábitos de consumo, pautada pelo crescimento da renda per capita global, muito intensa nos últimos 15 anos. Em valores consolidados, enquanto a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima um aumento de 50% na busca por alimentos até 2050, a demanda de carnes deve fixar-se próxima a 100%.

PROTAGONISMO

No final da década de 1990, o Plano Real consolidou seus efeitos positivos, ocorreram reformas na economia e o câmbio foi ajustado para valores realistas. Ao mesmo tempo, o mundo ingressava no século 21 vivenciando um ciclo virtuoso, com elevadas taxas de crescimento econômico. A conjunção de fatores abriu uma espetacular oportunidade para o agronegócio brasileiro, com a disparada do preço das commodities. Considerando os últimos 17 anos, a exportação do setor de carnes cresceu acima de 600%, o que significa uma média geométrica superior a 13% ao ano, com destaque para o setor de frangos. No ano passado foram quase 15 bilhões de dólares em exportação. O Brasil é o maior exportador de carne de aves, atingindo mais de 160 países, que renderam 6,5 bilhões de dólares, seguido pelos EUA, com 3,2 bilhões de dólares. Também é o primeiro exportador de carne bovina (empatado com a Índia), detendo 19,6% do mercado mundial e atingindo 140 países do mundo. E há muito espaço para crescer em carne suína, onde o País detém 4,6% do mercado mundial (8º colocado), liderado pelos EUA, que abocanham 15,7%.

do mundo, com a vantagem de ser a pasto, mais palatável aos consumidores. O País se encaminha para ser o maior produtor de soja do mundo e o segundo de milho. Esses grãos são a base da alimentação de frangos e suínos. Dispor de quantidade suficiente de grãos para abastecer a indústria é uma forte vantagem comparativa, por representar 70% do custo de produção de suínos e aves. Para contornar a nossa enorme deficiência logística, cada vez mais as indústrias de processamento de carne se deslocam para as regiões produtoras de grãos, diminuindo o trânsito de grãos e aumentando o de carnes, de maior valor agregado. Ainda nas pastagens e lavouras, deve-se considerar os ganhos zootécnicos e de produtividade obtidos nos últimos 20 anos, o que reduziu custos e garantiu margens que tornam o Brasil muito competitivo em escala mundial. Um novo ciclo começa a permear o ambiente produtivo brasileiro, com a utilização de sistemas de integração lavoura-pecuária, com ganhos agronômicos, ambientais e econômicos ponderáveis. Tanto nas lavouras quanto nas pastagens, o incremento na produtividade superou 150% nos últimos 20 anos. A tecnologia está fazendo a diferença, sinergizando ganhos ao longo da cadeia de valor. Na indústria, alguns diferenciais são essenciais. O primeiro deles foi atender a demanda do mercado, em termos de qualidade e forma. Cortes de acordo com a preferência do consumidor, abate e processamento de aves conforme a cultura e o costume de cada sociedade, com carnes pré-processadas, pré-cozidas ou pré-temperadas fazendo parte do cardápio exportador.

INTEGRAÇÃO E SANIDADE

Um sofisticado sistema de integração efetua a conexão entre o campo e a indústria, que padroniza a criação de suínos e aves, garantindo a qualidade genética, os insumos utilizados, a idade e o peso para abate e a sanidade dos animais que seguem para a indústria. O Brasil erradicou a febre aftosa em quase todo o território nacional, não há surtos de influenza aviária, newcastle, peste suína, diarreia porcina, doença da vaca louca e outras enfermidades animais que são um flagelo em outros países produtores. As indústrias processadoras brasileiras constituem-se em exemplo mundial de eficiência de processamento e de inocuidade da A BASE DO SUCESSO Tudo começa no campo. O Brasil dispõe carne, apoiadas por um sistema primoroso de de 170 milhões de hectares de pastagens, inspeção, capitaneado pela Dipoa/SDA/Mapa. permitindo manter o maior rebanho bovino É parte da práxis internacional a execução de

auditorias técnicas por parte dos países importadores, para garantir que a carne atenda os mais rígidos padrões de segurança sanitária, tanto para proteger a saúde pública quanto o seu ambiente de produção animal. Estima-se que apenas os dois maiores exportadores de carnes do Brasil tenham sido objeto de quase 600 auditorias externas de órgãos oficiais de sanidade animal dos países importadores, em 2016. E, em todos os casos, o Brasil tem sido aprovado com louvor. O Brasil dispõe de uma invejável cadeia de frio, que assegura as características originais de qualidade e sanidade, desde o abate até a chegada no porto, que se estende nos navios e se integra às cadeias de frio dos países importadores.

CARNE FRACA

O potencial de danos da Operação Carne Fraca era muito grande. O valor de mercado das duas maiores exportadoras caiu mais de R$ 5 bilhões, nos 30 dias que se seguiram à operação. Entretanto, com enorme possibilidade de reversão no médio prazo. Já as exportações brasileiras parecem retornar ao seu leito anterior, em especial devido aos seguintes fatores: 1. A imediata reação do governo brasileiro, capitaneada pelo ministro Blairo Maggi, que isolou os poucos casos de desvio ético da seriedade com que os processos das cadeias de carne são conduzidos no Brasil. 2. O reconhecimento mundial de que o status da sanidade agropecuária no Brasil é muito elevado, com destaque para a inocuidade das carnes processadas, garantida por um eficiente sistema de inspeção, e avalizada por centenas de auditorias anuais dos países importadores. 3. O protagonismo do Brasil no mercado internacional, o que torna impossível substituí-lo no médio prazo, sem desabastecimento no mercado. 4. A elevada qualidade e o preço competitivo da carne brasileira, que torna ainda mais difícil substituí-la, mesmo no longo prazo. As razões expostas não devem servir para que o Brasil deite eternamente em berço esplêndido, deixando de lancetar os tumores localizados, que afetaram o sistema. Abrir novos mercados e consolidá-los por longo prazo é uma tarefa a ser reconstruída dia após dia, garantindo competitividade, qualidade e sanidade. Que a Operação Carne Fraca sirva de lição para elevar os controles éticos ao mesmo patamar com que são tratadas a produtividade e a sanidade. C

Decio Luiz Gazzoni O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

www.revistacultivar.com.br • Maio 2017

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COLUNA ANPII

Mais informação ANPII oferece curso com o objetivo de estimular o uso correto de inoculantes e preencher a lacuna por informações atualizadas sobre a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN)

A

Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) é um dos fenômenos naturais mais importantes da natureza. Durante séculos a vida na terra foi mantida pelo aporte de nitrogênio da atmosfera para o sistema solo/planta, retornando para a atmosfera uma vez tendo participado das diversas etapas do ciclo do nitrogênio. Mas, mais do que isto, atualmente este fenômeno natural foi trabalhado para ter seu uso agronômico, como uma tecnologia que ajuda o produtor a obter mais produtividade com menor investimento e de uma forma totalmente compatível com os modernos conceitos de sustentabilidade ambiental. O uso de inoculantes pelos agricultores brasileiros já atinge um elevado grau, calculando-se que, no caso da soja, mais de 75% das lavouras utilizam este insumo que vem se modernizando constantemente e proporcionando cada vez mais incrementos na produtividade. Entretanto, ainda há alguns bolsões que, por falta de informação ou por informações fora da realidade, ainda insistem em não usar o inoculante ou o utilizam de forma incorreta, inclusive com o uso de fertilizante nitrogenado, que, como se sabe, prejudica a produtividade se usado em quantidades acima de 20kg de nitrogênio por hectare. No caso do feijão a situação é ainda mais grave. Até poucos anos atrás a palavra Rhizobium nem constava no site do maior órgão de pesquisa em feijão do Brasil. Inoculante não fazia parte da agenda da cultura desta importante leguminosa. Por sorte, pela tenacidade de alguns pesquisadores, atualmente já existe uma massa crítica de informações que permitem o cultivo do feijoeiro com baixíssimas doses de fertilizante nitrogenado, utilizando-se a ino-

culação como fonte de suprimento deste importante nutriente. Mas uma grande parte dos consultores da área e principalmente dos produtores ainda desconhece esta técnica e continua presa ao fertilizante nitrogenado em grandes quantidades. Assim, o que se observa é que aqueles que não utilizam inoculantes em suas culturas de leguminosas estão sem acesso às informações corretas, atualizadas, modernas, ficando reféns de recomendações ultrapassadas e distantes da melhor tecnologia. A difusão da técnica da inoculação é de fundamental importância para a agricultura brasileira. Órgãos de pesquisa, entidades de fomento, consultores, professores das escolas de agronomia, todos os que têm alguma ligação com o produtor rural deveriam ter um bom nível de conhecimento do potencial da fixação biológica do nitrogênio para

Assim, o que se observa é que aqueles que não utilizam inoculantes em suas culturas de leguminosas estão sem acesso às informações corretas, atualizadas, modernas, ficando reféns de recomendações ultrapassadas

obter o máximo de produtividade nas leguminosas. Com o objetivo de contribuir para cobrir esta lacuna a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) oferece em seu site (www.anpii.org.br) um curso sobre FBN. Desenvolvido por uma consultoria especializada no tema e com a participação do corpo técnico das empresas associadas, o curso abrange, de forma simplificada e didática, todo o espectro do tema, desde sua parte teórica, os fundamentos da fixação do nitrogênio, o ciclo deste nutriente, entrando na formação dos nódulos, nas reações bioquímicas que transformam o nitrogênio do ar em formas aproveitáveis pelas plantas. Em continuidade, o curso, que conta de cinco módulos, explica como usar corretamente os inoculantes e quais métodos os agricultores podem empregar. Dados de pesquisa, mostrando os excelentes resultados que são obtidos com a técnica da inoculação, também constam do curso, comprovando a excelência da técnica. No último módulo é abordada a fixação de nitrogênio em gramíneas. Lançado no Brasil em 2009, o inoculante à base de Azospirillum atualmente já é usado em mais de 10% da área de milho e com boa utilização também em trigo. No curso são abordados os aspectos científicos, como se processa a fixação, as limitações e outros benefícios deste inoculante além da FBN. Este curso é um passo a mais para a compreensão e a difusão do uso do nitrogênio biológico nas principais culturas do País. As empresas associadas à ANPII, cientes da necessidade de difundir cada vez mais a tecnologia da FBN, participam do programa de difusão do uso de inoculantes da Embrapa e agora, com este curso em EAD, contribuem ainda mais para C esta finalidade.

Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII

50 Maio 2017 • www.revistacultivar.com.br




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