C
Cultivar Grandes Culturas • Ano XVIII • Nº 217 • Junho 2017 • ISSN - 1516-358X
Cultivar
Destaques
Nossa capa
Enfezou - 28
O papel do tratamento de sementes com inseticidas associado a outras ferramentas integradas no manejo da cigarrinha Dalbulus maidis, transmissora de enfezamentos e viroses em milho
Gilvane Luis Jakoby
Índice
Com proteção - 07
Os benefícios do tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas no desenvolvimento inicial da cultura da soja
Diretas
04
Tratamento de sementes de soja
07
Manejo de nematoides
12
Eventos - AgroBrasília
18
Manejo de lagartas em algodão
20
Arroz: sementes certificadas
24
Capa - Controle da cigarrinha do milho
28
Manejo do bicho-mineiro
34
Manejo de daninhas em trigo
38
Controle da broca da cana
42
Manejo correto da buva
44
Coluna Mercado Agrícola
48
Coluna Agronegócios
49
Coluna ANPII
50
Desafios da resistência - 38 A integração de métodos na prevenção de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
Rocheli Wachholz Karine Gobbi
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
• Revisão
CIRCULAÇÃO
Aline Partzsch de Almeida • Coordenação Simone Lopes
COMERCIAL • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Vendas
Sedeli Feijó
Rithieli Barcelos José Luis Alves
• Assinaturas
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• Expedição
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Alta performance
Há uma década junto ao produtor que participa da AgroBrasília, nesta edição da feira a Nidera Sementes destacou as cultivares de soja NS 6906 Ipro, NS 7667 Ipro e NS 8338 Ipro de alta performance produtiva com resultados observados na região, e o híbrido de milho NS 90 PRO com destaque para sua sanidade e produtividade. “Agradecemos a todos os agricultores, amigos e parceiros que fazem deste evento um grande sucesso”, destacou Nélio Reis, Marketing e Comunicação da Nidera Sementes.
Milho
O diretor de Sementes da Dow, Mozart Fogaça, destacou na AgroBrasília o milho com a tecnologia PowerCore. “A tecnologia PowerCore apresenta um milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil, aliando o controle de algumas das principais pragas do milho à tolerância a dois tipos de herbicida, o glifosato e o glufosinato. Outro grande diferencial da tecnologia é a inserção de três diferentes proteínas Bt. Com isso, a possibilidade da praga-alvo desenvolver resistência simultânea para essas três proteínas é reduzida drasticamente. Em 2016, atingimos a marca de três milhões de sacas vendidas”, explicou.
Mozart Fogaça
Sementes
Domínio Percevejos
A FMC Agricultural Solutions mais uma vez marcou presença na AgroBrasília e esteve à disposição dos produtores para auxiliá-los em suas dúvidas sobre o manejo da soja e do milho, culturas foco da companhia. “Um dos nossos destaques é o Programa Domínio Percevejos, que tem por objetivo disseminar informações de boas práticas para o manejo de sugadores”, explicou o gerente de Marketing Regional da FMC, Fabio Lemos.
As empresas DuPont Proteção de Cultivos e DuPont Pioneer estiveram presentes na AgroBrasília, onde apresentaram ao público lançamentos recentes nas áreas de sementes e agroquímicos. Juliano Rosso, gerente de Vendas da regional Go3, explicou a estratégia das companhias. “Nosso principal objetivo foi trazer materiais e novidades para os clientes, com informações e resultados.”
Qualidade
Fungicida
A Basf esteve presente na AgroBrasília focada em expor a marca para clientes e distribuidores da região e apresentar suas tecnologias e seus lançamentos. Um dos destaques da empresa foi o fungicida Ativum, “Produto de alta eficiência no controle da ferrugem-asiática e de outras importantes doenças da soja. Ainda, para completar o manejo da soja, a Basf oferece o fungicida Orkesta SC”, lembrou o gerente de Desenvolvimento de Mercado-Cereais Norte Marketing Técnico, Marcelo Rodacki.
04 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Além de reforçar os produtos da marca, a Arysta levou para a AgroBrasília pesquisadores que palestraram sobre fisiologia das plantas, ervas daninhas resistentes e manejo de mosca branca. “A Arysta melhorou um produto que já é destaque no mercado e o transformamos em uma solução ainda melhor e exclusiva. O Select One Pack traz a concentração correta do óleo junto ao Clethodim, proporcionando a melhor eficiência, além da facilidade no preparo da calda. Essa tecnologia garante a máxima performance do ingrediente ativo, apresentando ótimos resultados no controle de ervas daninhas de difícil controle”, explicou o gerente de comunicação Latam da Arysta LifeScience, Eduardo Miguez.
Pilares
A Spraytec participou da 10ª edição da AgroBrasília. O consultor técnico de Vendas, Jose Augusto de Almeida, destacou as novidades da marca no evento. “Neste ano a Spraytec está trabalhando com três principais pilares, formados por novas soluções tecnológicas para nutrição, tecnologia de aplicação e indução de resistência em plantas.”
Soluções integradas
Durante a AgroBrasília os visitantes que passaram pelo estande da Dow puderam conhecer as soluções completas e integradas da empresa. “A Dow AgroSciences é uma empresa que prioriza a inovação e a tecnologia e incentiva a discussão sobre soluções integradas a fim de informar o agricultor num processo contínuo, que o atualize conforme as novidades forem surgindo. Dessa forma é possível disseminar recomendações que tornem todas as etapas do processo de cultivo e produção mais efetivas para o produtor e mais sustentáveis para o agronegócio”, explicou o líder de Herbicidas e CropLeader para RowCrops, Marcus Fiorini.
Agricultura sustentável
A Koppert esteve presente na AgroBrasília. Wanessa de Medeiros, representante Koppert na região, explicou o trabalho da empresa. “Um dos pilares da Koppert é a agricultura sustentável, onde se tornou líder mundial em proteção biológica de culturas protegidas e este ano estamos comemorando 50 anos de contribuição para o segmento”, lembrou.
Condições especiais
A Alltech levou para a AgroBrasília produtos como o Initiate Soy, o Grain Set e o Agromos. “Com o objetivo de fomentar os investimentos na safra 2016/17 apresentamos uma campanha com condições especiais de negociação para o produtor durante a feira”, explicou o gerente regional, Cleiton Cavagnoli.
Estação de conteúdo
A Syngenta levou para a AgroBrasília a estação de conteúdo, composta por uma casa com paredes de vidro. Neste espaço, além de visão panorâmica dos campos demonstrativos, os produtores tiveram acesso a diversas informações, depoimentos e vídeos sobre a efetividade e as características diferenciais do tratamento de semente industrial Fortenza Duo, do inseticida Engeo Pleno, do fungicida Elatus e também da biotecnologia Agrisure Viptera para milho, entre outras tecnologias do portfólio Syngenta. “A nossa meta é ser referência em produtividades e transformar vidas”, destacou o gerente regional de Vendas, Wagner Gonçalves.
Fernando Moreira
Troca de experiências
O gerente de Marketing da Agrichem, E d u a rd o Ro s s i n i , destacou a importância da AgroBrasília. “Aproveitamos o evento para discutir com o agricultor formas de melhorar o solo e recebemos agricultores de todas as regiões, o que foi muito positivo para a companhia.”
Eduardo Rossini
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05
Perspectivas
A Satis participa da AgroBrasília desde a primeira edição do evento. “Os resultados apresentados, tanto em termos de rendimento como de preservação dos campos, nos dão a segurança de que temos um importante potencial de crescer no mercado”, avaliou o diretor-presidente da Satis, José do Nascimento Ribeiro.
PamNutri
No terceiro ano de participação da Agrichem na AgroBrasília a empresa destacou o PamNutri, consultoria de nutrição através do método de diagnose da oferta de nutrientes no solo. Outro destaque foi o Yantra, fertilizante desenvolvido para promover o balanço metabólico.
Soluções
A Bayer focou nos três principais pilares da companhia durante a AgroBrasília que consistem em expor tecnologias, programa de pontos e manutenção do relacionamento com os clientes. “O grande compromisso da Bayer é com os produtores, levando soluções em serviços e produtos, para que nossos clientes alcancem os resultados de máxima produtividade”, explicou o gerente de Marketing Regional Cerrado Leste, Marcelo Junqueira.
Safra verão e safrinha
A Morgan Sementes e Biotecnologia apresentou durante a AgroBrasília seu mais recente lançamento em milho híbrido para sistemas de produção, o MG 711. Indicado para safra de verão e abertura de plantio na safrinha, o novo material é ideal para integração com híbridos de ciclo mais precoce, propiciando escalonamento da colheita. A novidade do portfólio da marca é oferecida também com a tecnologia PowerCore que, com múltiplos modos de ação, permite o controle de algumas das principais pragas do milho, além de oferecer tolerância aos herbicidas glufosinato e glifosato. Marcelo Junqueira
Lançamento
A Brasmax lançou na AgroBrasília a cultivar Foco Ipro. “É uma opção ao produtor que enfrenta problemas de nematoides na sua lavoura e não quer abrir mão da produtividade”, explicou Pablo Souza, gerente comercial da Brasmax. Os agricultores que estiveram presentes no estante da marca também puderam conferir outras cultivares do portfólio.
06 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Soja
André Oliveira de Mendonça
Com proteção
O
Efeito de fungicidas e inseticidas utilizados no tratamento de sementes sobre o desenvolvimento inicial da cultura da soja
excelente desempenho da soja nos últimos anos deve-se, em grande parte, à utilização de sementes de alta qualidade física, fisiológica, sanitária e genética, bem como à adoção de técnicas de tratamento de sementes com inseticidas, nematicidas, fungicidas, nutrientes e inoculantes. À medida que aumentam o valor da semente e a importância de proteger e/ ou melhorar seu desempenho no campo, cresce o número de produtos disponíveis para tratamento no mercado, com diferentes finalidades. Apresentam função de proteção (fungicidas ou inseticidas) ou nutrição (micronutrientes), tendo como objetivo principal melhorar o desempenho da semente e das plântulas, tanto no aspecto fisiológico como econômico. A importância da sanidade de sementes reside no fato de que, aproximadamente, 90% das culturas utilizadas para a alimentação, tanto humana como animal, são propagadas por esse meio. O inóculo presente nas sementes poderá resultar em aumento da incidência de doenças no campo, bem como na in-
trodução de patógenos em áreas livres, consequentemente reduzindo a produtividade. Dessa forma o tratamento de sementes com fungicidas tem por objetivo proteger as sementes e plântulas de possíveis ataques de patógenos presentes no solo e também aqueles que já se encontram na semente. O tratamento das sementes com inseticidas é considerado o método mais eficiente no controle de pragas incidentes durante o desenvolvimento inicial das culturas, podendo evitar possíveis perdas decorrentes da ação de pragas de solo e da parte aérea, que danificam as sementes e as plântulas jovens. Apesar do tratamento de sementes constituir-se em uma operação rotineira, pouco se conhece sobre a influência dos inseticidas na germinação e no vigor das sementes de soja. Alguns desses produtos podem conferir, além do efeito protetor, efeitos fisiológicos, auxiliando tanto no crescimento inicial quanto no desenvolvimento das plantas. Estudos foram conduzidos com objetivo de avaliar o efeito de fungicidas e inseticidas na qualidade fisiológica e
sanitária de sementes de soja. Para isso foram utilizadas sementes de soja das cultivares CD 233 RR e BMX Potencia RR. As sementes foram tratadas com fungicidas e inseticidas, isoladamente. Os fungicidas foram carbendazim + tiram (dose 2ml/kg de semente), fludioxinil + metalaxil-M (dose 1ml/kg de semente) e difenoconazol (dose 0,334ml/kg de semente) e os inseticidas testados foram fipronil, tiametoxam e imidacloprid na dose de 2ml/kg de semente, mais um tratamento sem aplicação de produto por cultivar, separadamente, totalizando sete tratamentos. O volume de calda utilizado foi de 0,6mL/kg de semente. As sementes foram submetidas a análise de germinação (G), primeira contagem da germinação (PCG), envelhecimento acelerado (EA), comprimento da parte aérea (CPA) e da raiz (CR), massa seca de parte aérea (MSPA) e de raiz (MSR) e teste de sanidade. Para quantificar a germinação foram semeadas em substrato de papel do tipo “germitest”, umedecidos com água destilada, montados em rolos e mantidos em
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Fotos André Oliveira de Mendonça
germinador à temperatura constante de 25°C. A avaliação foi realizada após oito dias, e os resultados expressos em porcentagem de plântulas normais. A PCG foi avaliada aos cinco dias após a semeadura, por ocasião do teste de germinação. O teste de EA foi efetuado em caixa tipo gerbox com tela metálica, contendo água ao fundo de cada caixa e sobre a tela foram distribuídas as sementes de cada tratamento. Em seguida as caixas foram tampadas e acondicionadas em incubadora do tipo BOD, a 41ºC, onde permaneceram por 48 horas. Após este período, as sementes foram submetidas ao teste de germinação e avaliadas no quinto dia. As variáveis CPA e CR foram determinadas a partir da semeadura de 20 sementes em substrato papel de germinação tipo “germitest”, umedecido e montados os rolos que foram acondicionados em germinador a 25ºC. A leitura foi realizada aos cinco dias após a semeadura, com auxílio de régua graduada em milímetros. A massa seca da parte aérea e da raiz foi aferida juntamente com o teste de comprimento de plântula. A parte aérea e a raiz foram separadas com auxílio de bisturi, colocadas em sacos de papel e levadas para secar em estufa com circulação a 60 ± 2ºC, durante 48 horas. Após esse período, as amostras foram colocadas para resfriar em dessecadores e pesadas em balança analítica. Os resultados foram expressos em mg/plântula. A sanidade das sementes foi avaliada pelo método do papel de filtro, em que as sementes foram distribuídas em caixas tipo gerbox, previamente desinfetadas com solução de hipoclorito de sódio a 1%, contendo papel mata-borrão umedecido
O inóculo presente nas sementes poderá resultar em aumento da incidência de doenças no campo
Com o aumento da importância das sementes cresceu também o número de produtos disponíveis para tratamento no mercado
ao fundo e, posteriormente, incubadas à temperatura de 20 ± 2°C, com fotoperíodo de 12 horas. Após sete dias, as sementes foram avaliadas individualmente. A identificação foi realizada com base na esporulação dos fungos. Os resultados foram expressos em porcentagem de ocorrência de cada fungo. Os dados de primeira contagem da germinação, germinação e envelhecimento acelerado de sementes de soja, das cultivares CD 233 RR e BMX Potencia RR tratadas com fungicidas e inseticidas estão apresentados na Tabela 1. Verificou-se que, em geral, não ocorreu diferença significativa entre os tratamentos pelos testes de primeira contagem de germinação, germinação e envelhecimento acelerado, em ambas as cultivares estudadas. Alguns inseticidas podem ativar proteínas transportadoras de membranas celulares, o que possibilita o maior transporte iônico, incrementando a nutrição mineral da planta e promovendo
Sementes de alta qualidade física, fisiológica, sanitária e genética têm influência na produtividade
08 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
respostas positivas no desenvolvimento e na produtividade vegetal. Além disso, podem promover maior eficiência na ativação enzimática tanto em sementes quanto de plantas adultas, onde a maior atividade enzimática incrementaria tanto o metabolismo primário como o secundário, aumentando, assim, a síntese de aminoácidos precursores de novas proteínas e a síntese endógena de hormônios vegetais, em que as respostas das plantas a essas proteínas e a biossíntese hormonal estariam relacionadas com aumentos significativos no vigor. O tratamento de sementes de soja com os fungicidas (carbendazin + tiram, fipronil e fludioxinil + metalaxil-M) e inseticidas (tiamatoxam, imidacloprid e difeconazol) e fungicidas (carbendazin + tiram, fipronil e fludioxinil + metalaxil-M) manteve os padrões de germinação para a comercialização de sementes. Para a germinação, todos os tratamentos apresentaram valores superiores a 80%, estando dentro dos padrões aceitos para comercialização de sementes de soja, o que caracteriza a ausência de efeitos danosos sobre esse parâmetro. Na Tabela 2 estão demonstrados os dados de comprimento de raiz e parte aérea, e massa seca de raiz e de parte aérea de plântulas de soja originadas de sementes tratadas com diferentes princípios ativos de inseticidas e fungicidas. De forma geral, não se observou diferença para as variáveis comprimento de parte aérea e massa seca de raiz em ambas as cultivares. Verificou-se que os tratamentos nas sementes da cultivar de soja CD 233 RR não tiveram grande diferença na variável comprimento de raiz, enquanto que para a massa seca de parte aérea o princípio ativo do fungicida fludioxinil
Tabela 1 - Primeira contagem da germinação (PCG), germinação (G) e envelhecimento acelerado (EA) de sementes de soja das cultivares CD 233 RR e BMX Potencia RR tratadas com diferentes fungicidas e inseticidas Tratamentos Carbendazim + Tiram Fludioxinil + Metalaxil-M Difenoconazol Fipronil Tiametoxam Imidacloprid Sem Aplicação
PCG (%) 73 75 74 73 76 73 76
Carbendazim + Tiram Fludioxinil + Metalaxil-M Difenoconazol Fipronil Tiametoxam Imidacloprid Sem Aplicação
73 74 72 72 76 73 72
CD 233 RR G (%) EA (%) 85 71 89 73 85 71 84 71 90 71 84 73 84 71 BMX Potencia RR 82 72 84 74 81 72 81 72 85 75 81 71 80 72
+ metalaxil-M apresentou desempenho significativamente superior ao dos princípios difeconazole carbendazin + tiram. Já na cultivar BMX Potencia RR, verifica-se que os tratamentos não apresentaram variação significativa para massa seca de parte aérea, porém para comprimento de raiz o tratamento com o princípio ativo do fungicida fludioxinil + metalaxil-M foi superior ao do inseticida difeconazol. Na avaliação da sanidade de sementes de soja submetidas ao tratamento com inseticida e/ou fungicida foram identificados os fungos Penicillium spp., Aspergillus spp., Rhizopus spp. e Fusarium spp. (Tabela 3). O tratamento testemunha apresentou incidência de Penicillium spp., Aspergillus spp., Rhizopus spp. e Fusarium spp., aparentemente superior aos demais tratamentos (Tabela 3). O tratamento com o princípio ativo do fungicida carbendazin + tiram foi o que apresentou melhor desempenho, controlando o Penicillium spp. em aproximadamente 93% e 99% nas cultivares CD 233 RR e BMX Potencia RR, respectivamente, e para Aspergillus spp. houve controle de 100% e 71,4% para as mesmas cultivares, respectivamente. Os fungos dos gêneros Penicillium spp. e Aspergillus spp. são considerados de armazenamento, podendo causar deterioração das sementes no solo ou podridão, levando, consequentemente, à morte de plântulas. A redução mais acentuada para os fungos Rhizopus spp. e Fusarium spp. também foi obtida pelo princípio ativo carbendazin + tiram, sendo controle para Rhizopus spp. de aproximadamente 93% e 84% nas cultivares CD 233 RR e BMX
Tabela 2 - Comprimento de raiz (CR), comprimento de parte aérea (CPA), massa seca de raiz (MSR) e parte aérea (MSPA) de plântulas oriundas de sementes de soja das cultivares CD 233 RR (CD) e BMX Potencia RR (BMX) tratadas com diferentes inseticidas e fungicidas CD 233 RR CR(cm) CPA(cm) MSR(mg) MSPA(mg) 21,9 6,1 8,5 Carbendazim + Tiram 9,6 23,0 7,3 8,7 Fludioxinil + Metalaxil-M 10,5 21,6 6,1 8,5 Difenoconazol 9,3 21,4 6,3 8,4 Fipronil 9,6 21,7 6,7 8,8 Tiametoxam 9,6 21,3 6,2 8,3 Imidacloprid 9,5 21,2 6,2 8,5 Sem Aplicação 9,5 BMX Potencia RR 23,0 6,2 8,8 Carbendazim + Tiram 11,5 23,6 6,9 9,2 Fludioxinil + Metalaxil-M 13,7 20,9 6,1 8,6 Difenoconazol 11,2 22,2 6,4 8,7 Fipronil 11,4 21,2 6,4 9,1 Tiametoxam 11,9 21,2 6,6 8,6 Imidacloprid 12,1 20,9 6,0 8,7 Sem Aplicação 11,5 Tratamentos
Potencia RR, respectivamente. Já para Fusarium spp. o controle foi de 100% para ambas as cultivares. Desta forma, o tratamento de sementes com fungicida, além de controlar patógenos importantes transmitidos via semente, é uma prática importante para assegurar populações adequadas de plantas quando as condições de clima e solo são desfavoráveis. Constata-se, de maneira geral, que tanto os inseticidas como os fungicidas testados reduziram a incidência dos fungos estudados. Além disso, o tratamento de sementes de soja com os fungicidas carbendazin + tiram, fipronil e fludioxinil + metalaxil-M e os
Tabela 3 - Incidência de fungos em sementes de soja das cultivares CD 233 RR (CD) e BMX Potencia RR (BMX) tratadas com diferentes inseticidas e fungicidas CD 233 RR Pen (%) Asp (%) Riz (%) Fus (%) 0 0 Carbendazim + Tiram 5 3 4 16 Fludioxinil + Metalaxil-M 34 16 4 0 Difenoconazol 25 15 3 21 Fipronil 29 37 12 48 Tiametoxam 31 50 21 18 Imidacloprid 55 52 42 62 Sem Aplicação 70 42 BMX Potencia RR 0 2 Carbendazim + Tiram 1 11 0 2 Fludioxinil + Metalaxil-M 14 15 11 2 Difenoconazol 8 34 6 6 Fipronil 15 30 3 19 Tiametoxam 25 72 4 32 Imidacloprid 48 38 44 7 Sem Aplicação 92 67 Tratamentos
Pen. = Penicillium spp.; Asp = Aspergillus spp.; Ryz = Ryzopus spp; Fus. = Fusarium spp.
inseticidas tiamatoxam, imidacloprid e difeconazol não prejudicam o desenvolvimento inicial das cultivares de soja. Sementes de soja tratadas com o fungicida carbendazin + tiram apresentam menor porcentagem de incidência dos fungos Penicillium spp., Aspergillus spp., Rizopus C spp. e Fusarium spp. André Oliveira de Mendonça Lizandro Ciciliano Tavares Zarela Casas Navarro Zanatta André Pich Brunes Francisco Amaral Villela UFPel/Faem
Tratar sementes com inseticidas e fungicidas é estratégia importante para garantir proteção inicial contra pragas e doenças
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Soja
Manejo desafiador Fotos Andressa C. Z. Machado
Combater nematoides em grandes extensões de cultivo, como no caso da soja, representa um grande desafio, principalmente devido ao número limitado de opções disponíveis contra esses patógenos. Práticas culturais, rotação de culturas, cultivares resistentes e emprego de nematicidas são ferramentas que devem ser utilizadas de modo integrado na busca por reduzir as populações desses inimigos que habitam o solo
O
manejo de nematoides em culturas de grande extensão, como a soja, apresenta uma série de dificuldades inerentes ao processo, além das poucas opções viáveis para redução da população destes patógenos no solo. Além do manejo cultural, através do uso de rotação com culturas não hospedeiras ou plantas resistentes, e do manejo genético, utilizando-se cultivares resistentes, a utilização de nematicidas, sejam eles químicos ou biológicos, desponta como opção viável e eficaz em lavouras de soja. Ademais, a utilização do manejo integrado de nematoides, explorando a combinação de várias medidas de controle, vem galgando notável interesse no Brasil e no mundo. Tais medidas incluem exclusão, rotação de culturas, utilização de plantas
antagonistas, controle químico, uso de cultivares resistentes e controle biológico. A rotação de culturas é uma técnica que deveria ser priorizada pelos produtores, uma vez que é sustentável e eficiente, principalmente para o controle do nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) e do nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis). Porém, seu uso em áreas infestadas pelo nematoide das lesões (Pratylenchus brachyurus) e das galhas radiculares (Meloidogyne incógnita e M. javanica) é mais limitado, porque quase todas as plantas cultivadas se mostram suscetíveis. As crotalárias são as mais estudadas para o manejo dos nematoides e têm mostrado possibilidades práticas de utilização nos sistemas de produção
12 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
atualmente em uso. Entre elas, Crotalaria spectabilis destaca-se pela quantidade de resultados positivos para o manejo de M. incognita, M. javanica e P. brachyurus. Além das leguminosas, outras plantas podem ser utilizadas, como os milhetos BRS 1501, ADR 300 e BN2, resistentes a M. incognita, M. javanica e P. brachyurus. Algumas cultivares de feijão guandu, como o Anão Iapar 43, e aveias são resistentes aos nematoides das galhas e das lesões. As aveias têm sido uma alternativa bastante viável em regiões onde é possível seu cultivo, uma vez que são cultivadas como uma cultura anual e geram renda ao produtor, não competindo com culturas mais atrativas economicamente, como a soja, já que são cultivadas no inverno. Resultados de pesquisas indicam que as aveias pretas são mais resistentes a P. brachyurus, enquanto cultivares de aveia branca, como a IPR Afrodite, são resistentes aos nematoides de galhas. Além das plantas individuais, o consórcio de plantas (coquetel) proporciona resultados favoráveis ao solo e às culturas posteriores (Figura 1). Diversas são as plantas que poderão compor os sistemas de produção regional. Obviamente dependerá do diagnóstico das áreas o que se quer de fato com essas plantas. É oportuno destacar que a reação de diferentes espécies vegetais frente às espécies de nematoides é bastante variada. Além disso, se a escolha de cultivos alternativos para o controle de uma única espécie de nematoide em uma área já é tarefa difícil, o que dizer então no caso de se necessitar selecionar uma cultura que, a um só tempo, precise se mostrar resistente a duas ou três espécies de nematoides ocorrentes no local, ecologicamente sustentável e, ainda, atraente e viável sob o ponto de vista econômico? Trata-se, sem dúvida, de assunto dos mais complexos e que só evidencia a dificuldade em se controlar tais patógenos através da rotação de culturas.
Adama
FMC
Figura 2 - Tecnologias de aplicação de nematicidas. (A) Tratamento de sementes. (B) Pulverização no sulco de plantio. (C) Aplicação no sulco de plantio via jato dirigido
de melhoramento genético da cultura, que conseguiu aliar vários genes de resistência em uma mesma variedade. Sem dúvida, tais variedades representam importante ferramenta no manejo do nematoide de cisto, desde que utilizadas de maneira racional. Sabe-se que, devido à grande variabilidade genética demonstrada por essa espécie de nematoide nas condições brasileiras, as populações do nematoide apresentam grande capacidade de sobrevivência e adaptação a diferentes condições ambientais, o que inclui a utilização de variedades com múltipla resistência. O uso frequente de uma mesma cultivar resistente exerce pressão de seleção
Figura 1 - Consórcio de Crotalaria spectabilis, Crotalaria ochroleuca e milheto
O uso de cultivares resistentes seria o método ideal de manejo, uma vez que é eficiente na redução populacional do nematoide, bem como não aumenta o custo de produção, já que a própria semente é a ferramenta de manejo e não há a necessidade de adaptação de maquinário agrícola dentro da lavoura. Entretanto, poucas opções estão disponíveis no mercado, com níveis elevados de resistência e alta produtividade. Além disso, a necessidade de conhecimento acerca da espécie de nematoide presente na área é imprescindível para o sucesso desta prática. Entretanto, a utilização de cultivares resistentes, ainda que dificultada por esses fatores ou mesmo pela grande variabilidade genética apresentada pelos nematoides, é o método de controle mais econômico e de melhor aceitação pelo produtor. Segundo a Embrapa, o desenvolvimento de cultivares resistentes a nematoides, com ênfase aos nematoides de galhas (M. incognita e M. javanica) e ao nematoide de cisto, é uma das principais estratégias do seu programa de melhoramento genético de soja. Contudo, ainda existe carência de cultivares adaptadas para várias regiões produtoras. Para M. incognita e M. javanica, a utilização de cultivares resistentes constitui importante forma de controle, uma vez que são nematoides com grande número de hospedeiros, inviabilizando a rotação de culturas. Graças aos trabalhos de melhoramento genético da cultura, seja de empresas públicas ou privadas, existem várias cultivares de soja resistentes disponíveis. A novidade no mercado são as variedades com resistência múltipla a várias raças do nematoide de cisto. Algumas variedades, por exemplo, apresentam resistência às raças 1, 2, 3, 4, 5, 6, 9, 10, 14, 4+, 14+, graças ao intenso trabalho
Adaptado de Soares (2006)
MANEJO GENÉTICO
sobre a população do nematoide, o que favorece o surgimento de novas raças e a consequente quebra de resistência. Portanto, a “rotação” de variedades de soja com resistência a diferentes raças ou que possuam genes de resistência diferentes deve ser obrigatória, com o objetivo de evitar o surgimento de raças que consigam quebrar tal resistência, inviabilizando essas cultivares. Infelizmente, para P. brachyurus não foram encontradas fontes de resistência em soja, até o momento. Portanto, não existem cultivares de soja disponíveis com resistência a esse nematoide, apesar de algumas apresentarem baixo fator de
Figura 3 - Imagens de nematoides capturados por diferentes estruturas formadas por fungos nematófagos. A e B) Rede tridimensional. C) Anel constritor. D) Anel não constritor. E) Ramo adesivo (seta). F) Anel constritor
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http://www.greenjn.com/dat/01/05/1117455104.jpg; http://www.lookfordiagnosis.com/
reprodução de P. brachyurus (fator de reprodução significa o quanto o nematoide consegue se multiplicar na soja; se o fator de reprodução é baixo, significa que a cultivar permite pequena multiplicação do nematoide e, por consequência, pequeno aumento populacional). Informações detalhadas a respeito da reação de variedades a nematoides, bem como produtividade média e adaptabilidade, podem ser obtidas junto às empresas de melhoramento genético da cultura.
MANEJO QUÍMICO
http://www.nutechseed.com
Atualmente, no Brasil, o manejo químico de nematoides em soja é feito basicamente através da utilização de nematicidas via tratamento de sementes ou através da aplicação no sulco de plantio, devendo ser integrada a outra técnica, como a utilização de cultivares resistentes ou rotação de culturas para melhores resultados. Novas estratégias de aplicação dos produtos têm substituído tecnologias anteriores, com a utilização de doses baixas ou ultrabaixas de princípios ativos e caldas. Tais procedimentos também têm por objetivo contornar o impacto ambiental causado pelos nematicidas, sem abrir mão de seu benefício no controle de nematoides, destacando-se o tratamento das sementes e a aplicação no sulco de plantio (Figura 2). O tratamento de sementes assegura a proteção das raízes iniciais da soja contra a penetração de nematoides presentes no solo, garantindo melhor desenvolvimento inicial da cultura. Além desta característica, o tratamento de sementes ainda surge como opção de fácil aplicação, uma vez que, geralmente, as sementes já chegam ao produtor tratadas, prontas para o plantio. A proteção ao desenvolvimento de raízes nos primeiros dias ou semanas após a germinação constitui ponto crítico ao estabelecimento de um potencial pro-
Figura 5 - Efeito desorientador de nematoides pela transformação de exsudatos radiculares pela bactéria Bacillus firmus
Figura 4 - Eletromicrografias de juvenil de Meloidogyne sp. parasitado por Pasteuria sp., com detalhe para os endósporos da bactéria aderidos em sua cutícula
dutivo ótimo. Entretanto, o tratamento de sementes utilizado de maneira única na cultura da soja não garante a proteção completa contra os danos causados por nematoides, especialmente em altas infestações. Nesse sentido, a aplicação de nematicidas na forma líquida em sulco de plantio pode ser uma alternativa, uma vez que permite melhor distribuição do produto no sulco, não apenas nas proximidades das sementes. Na cultura da soja, a aplicação de nematicidas em sulco de semeadura ainda é pouco utilizada e existem poucos produtos disponíveis no mercado com essa característica, apesar de alguns estarem em fase de registro para a cultura no Brasil.
MANEJO BIOLÓGICO
Este método vem sendo considerado uma medida que pode proporcionar reduções na população de nematoides para limiares abaixo do nível de dano econômico. Mais de 200 diferentes organismos são considerados inimigos naturais dos nematoides. Fungos têm se destacado como agentes potenciais para controle biológico (Figura 3), seguidos das bactérias (Figura 4). Parasitam ovos, predam juvenis, adultos ou cistos, produzem substâncias tóxicas aos nematoides, ou ainda apresentam efeito desorientador de nematoides pela transformação de exsudatos radiculares, como observado em relação à bactéria Bacillus firmus (Figura 5). A experiência adquirida nos trabalhos realizados em casa de vegetação com produtos biológicos demonstra que alguns micro-organismos têm uma eficiência de redução do fator de reprodução de nematoides de, pelo menos, 60%, seja em tratamento de sementes, seja
14 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
via pulverização no sulco de plantio ou área total. Entretanto, os experimentos de campo mostram grande variação nos resultados quanto à redução populacional dos nematoides no solo. Isso ocorre porque os micro-organismos utilizados como agentes de controle biológico ainda são bastante dependentes das condições edafoclimáticas que ocorrem na lavoura, independentemente da tecnologia de aplicação adotada. Para que o produtor possa usufruir de todos os benefícios do uso de um agente de controle biológico como aliado no manejo de nematoides é necessária a adoção de uma série de ferramentas complementares de manejo, de modo a criar condições favoráveis para que o micro-organismo seja efetivo. Um agente de controle biológico aplicado em solo extremamente pobre, degradado, sob condições climáticas adversas, como veranicos, provavelmente não conseguirá atuar de maneira adequada no controle de nematoides. O aumento da matéria orgânica no solo é essencial para o sucesso do agente microbiano; a rotação de culturas e a utilização de plantas de cobertura vegetal promovem um microclima bastante favorável para que o controle biológico tenha efetividade. Portanto, para que seja possível obter os benefícios do controle biológico, necessariamente se devem seguir os preceitos do manejo integrado de nematoides, ou seja, a adoção de duas ou mais ferramentas de maneira integrada e adequadamente planejada, principalmente no que diz respeito à cobertura C vegetal do solo. Andressa C. Z. Machado, Iapar - Inst. Agronômico do Paraná
Eventos
Além das expectativas Fotos AgroBrasília
Com montante em valores negociados 20% maior em relação a 2016, 10ª edição da AgroBrasília contabilizou 99 mil visitantes no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci
A
10ª edição da AgroBrasília, realizada em maio, registrou público recorde. Aproximadamente 99 mil visitantes passaram pelo Parque Tecnológico Ivaldo Cenci durante os cinco dias de evento. A Feira Internacional dos Cerrados superou todas as expectativas. Realizada pela Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF), a AgroBrasília contou com 430 expositores de diversos segmentos do agronegócio e movimentou um montante de R$ 710 milhões em valores negociados, 20% a mais do que na edição passada. Levantamento prévio realizado junto aos bancos aponta que algumas instituições aumentaram em 50% os resultados em relação à edição anterior da feira. Na média houve crescimento de 20%, no rendimento em montante e em número de propostas, comparados a 2016. Outro destaque da edição foi a diversificação do portfólio de produtos e serviços que as instituições financeiras ofereceram durante a AgroBrasília, como seguros e consórcios. Consolidada como uma vitrine das novidades do setor agropecuário, as empresas expositoras trouxeram para a AgroBrasília 2017 inovações no quesito máquinas, implementos e equipamentos agrícolas. Máquinas e insumos que prometem melhorar e auxiliar os agricultores na produção também estiveram disponíveis para os visitantes da décima edição da Feira. Segundo Leomar Cenci, presidente da Coopa-DF, a AgroBrasília fortalece o
agronegócio da região. “Nesses dez anos, o salto de produtividade que observamos no campo foi muito grande. Houve incremento de 30% na produtividade, não só no PAD-DF, mas em toda a região. Isso se deve à AgroBrasília. O produtor que tem interesse em buscar tecnologias, encontra na Feira. A AgroBrasília tem como missão apresentar as inovações disponíveis para o produtor rural, seja ele de pequeno, médio ou grande porte”, avaliou. Atenta às questões de responsabilidade social e ambiental, a feira teve como tema "Transmitir Conhecimento Garante Inovação". As entidades participantes desenvolveram atividades ligadas à educação ambiental para todas as idades. A abordagem contribuiu para o fortalecimento da imagem do agronegócio como ente gerador de oportunidades e multiplicador de ideias construtivistas. Grandes eventos estiveram em pauta durante a feira, como o IV Seminário de Economia Agrícola da AgroBrasília, que abordou a questão da sucessão familiar rural. Além disso, a questão do uso e conservação de recursos hídricos foi abordada e discutida durante o evento, tanto nos estandes, quanto na programação da Feira. A AgroBrasília realizou o Fórum Águas do Cerrado, que discutiu formas de otimizar o uso da água pela agricultura. Presente em edições anteriores e mais forte neste ano, a área internacional da AgroBrasília contou com a presença de diversos países, como México, Angola,
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Colômbia, Peru, Honduras e Romênia. Foi realizado, ainda, o Diálogo Internacional: Oportunidade, Tecnologia e Transmissão de Conhecimento entre Culturas, que teve como objetivo a parceria entre os países e a troca de experiências em relação ao setor agrícola. O Espaço de Valorização da Agricultura Familiar (Evaf) neste ano contou com 14 circuitos com tecnologias testadas e voltadas ao agricultor familiar. Já o Dia de Campo da Integração Lavora-Pecuária-Floresta, tradicional na Feira, foi promovido pela Embrapa e levou grande número de produtores rurais, técnicos e estudantes à Feira. Sob forte expectativa, empresas e produtores souberam o resultado do Dia de Campo da Competição de Cultivares de soja. A décima edição da AgroBrasília foi palco, ainda, da exposição PAD-DF 40 anos e AgroBrasília 10 Anos, que apresentou toda a história e o pioneirismo da região e, cronologicamente, os dez anos de feira. Foi lançado, também, durante os dias de evento, o livro que marca os 40 anos do PAD-DF. “A AgroBrasília superou todas as nossas expectativas. A Feira foi um sucesso, com satisfação total dos expositores e do público. Para nós, da organização, é uma grande alegria ter finalizado essa décima edição, que é um marco para nós e para a região como um todo. Então, estamos realmente com sentimento de dever cumprido e com números muito satisfatórios”, avaliou o coordenador-geral, C Ronaldo Triacca.
Juliano Uebel
Algodão
Compatibilidade avaliada
Prática comum nas fazendas, misturas em tanque podem ocasionar problemas como entupimento de bicos de pulverização e até mesmo redução da eficácia dos produtos. Quando esse processo envolve misturar inseticidas biológicos com defensivos químicos, os efeitos no desempenho de controle de lagartas na cultura do algodão podem se tornar ainda mais evidentes
A
cultura do algodão está entre as mais importantes no cenário brasileiro de produção agrícola. A cada ano tem aumentado a área plantada, o que gera a necessidade de desenvolvimento de ferramentas que otimizem o manejo da cultura e sejam viáveis ao agricultor. Uma dessas ferramentas é a mistura de tanque. Muitas vezes a prática de mistura em tanque ocasiona problemas de incompatibilidade dos produtos, o que pode formar precipitados, entupir bicos de pulverização e até mesmo reduzir a eficácia dos produtos. Esse fato tende a ser mais evidente quando se trabalha com mistura de defensivos com produtos de controle biológico. Com o surgimento dos inseticidas biológicos, muitos produtores ainda continuam a adotar essa prática de mistura sem ter certeza de que as reações que ocorrem entre o defensivo e o agente de controle biológico, que são geralmente as bactérias Bacillus thuringiensis (Bt), não venham a causar danos, diminuindo sua eficiência sobre lagartas. Diante da prática comum adotada nas últimas safras e do desconhecimento do efeito de fungicidas sobre a bactéria Bt, foi realizado ensaio com o objetivo de avaliar a eficiência de
inseticida biológico à base de B. thuringiensis em mistura com fungicidas no controle de lagartas na cultura do algodão. O ensaio foi instalado em condições de campo na Estação Experimental da Assist Consultoria e Experimentação Agronômica, no município de Campo Verde, Mato Grosso. A variedade de algodoeiro utilizada foi FM 944 GL, semeada em 27/1/2015. O delineamento foi em Delineamento em Blocos Casualizados (DBC) com seis tratamentos (inseticidas, fungicidas e misturas) e quatro repetições. A parcela experimental foi composta de quatro linhas de algodão espaçadas de 90cm entre linhas, com cinco metros de comprimento. Foram avaliadas dez plantas/parcela (Tabela 1). Os produtos foram aplicados duas vezes com intervalo de sete dias. A primeira aplicação ocorreu em 15/5/2015 (estádio C4) e a segunda em 22/5/2015 (estádio C5) com auxílio de pulverizador costal de ar induzido com pressão constante. O volume de calda foi de 130 litros por hectare, com barra de aplicação composta de seis pontas tipo leque, com espaço de 50cm. As avaliações para determinação do número de lagartas foram realizadas antes da
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aplicação dos tratamentos (prévia) e aos três dias e sete dias após primeira aplicação, e aos três, sete, dez e 14 dias depois da segunda aplicação. Foram avaliadas dez plantas em cada parcela, com varredura da planta inteira (observação criteriosa em todas as partes da planta) para identificação e contagem das lagartas presentes. As principais lagartas encontradas e avaliadas foram Helicoverpa spp e curuquerê. Para Helicoverpa foi possível observar que aos 3 DA1A (três dias após primeira aplicação) não houve diferença estatística entre os tratamentos. Porém, o tratamento que Tabela 1 - Produtos e dose utilizados para controle de lagartas na cultura do algodão (Gossypium hirsutum). Campo Verde – Mato Grosso, 2017 Dose L ou kg./ha Tratamento Ingrediente Ativo 1 Testemunha (sem aplicação) 0,15 2 Spinosad 1,0 3 Bacillus thuringiensis 1 + 0,5 4 Bacillus thuringiensis + Tetraconazole 1 + 0,5 5 Bacillus thuringiensis + Estanhado 1 + 1,5 6 Bacillus thuriginensis + Mancozeb Fonte: Sivasupramaniam et al (2008).
Tabela 2 - Número de lagartas Helicoverpa/planta e eficiência de controle (E%) aos 3 dias Tabela 3 - Número de lagartas Helicoverpa/planta e eficiência de controle (E%) aos 3, 7, 10 e após a 1ª aplicação (3DA1A) e aos 7 dias após 1ª aplicação (7DA1A). Campo Verde (MT), 2017 14 dias após a 2ª aplicação (3DA2A, 7DA2A, 10DA2A e 14DA2A). Campo Verde – MT, 2016 TRATAMENTO Testemuna Espinosade B. thuringiensis B. thuringiensis + Tetraconazole B. thuringiensis + Hidróxido de fentina B. thuringiensis + Mancozeb
Prévia 0,30 A 0,25 A 0,15 A 0,15 A 0,25 A 0,20 A
Número de lagartas Helicoverpa/planta 3DA1A E(%) 7DA1A 0,20 A 0,30 A 0,05 A 75 0,00 B 0,10 A 50 0,05 B 0,15 A 25 0,15 A 0,10 A 50 0,25 A 0,10 A 50 0,15 A
Médias seguida da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Scoot & Knott (P<0,1)
100 83 50 17 50
Prévia 0,30A Testemuna 0,00B Espinosade 0,05A B. thuringiensis B. thuringiensis + Tetraconazole 0,15A B. thuringiensis + Hidróxido de fentina 0,25A 0,15A B. thuringiensis + Mancozeb
3DA2A 0,25A 0,00B 0,05B 0,15A 0,20A 0,15A
Número de lagartas Helicoverpa/planta E(%) 7DA2A E(%) 10DA2A E(%) 14DA2A 0,25A 0,25A 0,30A 100 0,00B 100 0,00B 100 0,00B 67 0,05B 80 0,05B 80 0,05B 40 0,15A 40 0,15A 40 0,15A 20 0,20A 20 0,30A -20 0,50A 33 0,15A 33 0,30A -20 0,20A
E(%) 100 83 50 -67 33
Médias seguida da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Scoot & Knott (P<0,1)
ção), conforme observado para Helicoverpa, notou-se que houve efeito da mistura do inseticida biológico com fungicidas, onde essas misturas foram pouco eficientes no controle da lagarta, sendo estatisticamente iguais à testemunha. Isso evidencia que há algum efeito do fungicida sobre a bactéria contida no inseticida à base de B. thuringiensis. Segundo Knaak et al. (2003), a presença de emulsificantes e outros aditivos concentrados utilizados nas preparações pode gerar problemas de compatibilidade com entomopatógeno. Além dos emulsificantes foi possível observar que o fungicida Pó Dispersível em água (WP) e suspensão concentrado (SC) também podem acarretar problemas de compatibilidade com o entomopatógeno. Foi possível concluir que os tratamentos que receberam espinosade e B. thuringiensis apresentaram os melhores níveis de controle para as lagartas curuquerê e Helicoverpa. Já a adição dos fungicidas tetraconazole, hidróxido de fentina e mancozeb apresentaram efeito antagônico sobre Bacillus thuringiensis quando misturados ao inseticida biológico. Constatou-
Tabela 4 - Número de Curuquerê grande e pequena/ planta e eficiência de controle (%) aos 10 e 14 dias após 2ª aplicação (10 e 14 DA2ªA). Campo Verde (MT), 2016 Número de Curuquerê/planta 10DA2A E(%) 14DA2A E(%) 0,30A Testemuna 0,55A Espinosade 0,00C 100 0,00B 100 B. thuringiensis 0,00C 100 0,00B 100 B. thuringiensis + Tetraconazole 0,25B 55 0,25A 17 B. thuringiensis + Hidróxido de fentina 0,25B 55 0,25A 17 B. thuringiensis + Mancozeb 0,40A 27 0,40A -33 TRATAMENTO
Médias seguida da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Scoot & Knott (P<0,1)
-se que a mistura de B. thuringiensis com esses fungicidas testados influencia negativamente no controle de Helicoverpa e curuquerê. C Rita de Cássia Santos Goussain, Mauricio Claro Silva e Luciano Marchioro, IFMT Centro de Ref. de Campo Verde Marcio Goussain, Assist Cons. e Exper. Agronômica
Germison Tomquelski
recebeu espinosade (0,15L/ha), apresentou maior eficiência de controle com 75%. Na avaliação aos 7 DA1A (sete dias após primeira aplicação) verificou-se que os tratamentos com espinosade e Bacillus thuringiensis aplicados isoladamente foram estatisticamente superiores aos tratamentos onde foram aplicados em mistura com fungicida. Mesmo com baixa quantidade de lagartas foi possível diferenciar os tratamentos, onde os dois melhores apresentaram eficiência acima de 80% de controle (Tabela 2). B. thuringiensis aplicado isoladamente apresentou bom controle de lagartas. Porém, em mistura com tetraconazole, hidróxido de fentina e mancozeb não foi possível observar essa eficiência. Provavelmente, a adição dos fungicidas ao produto à base de B. thuringiensis pode ter ocasionado alguma reação que interferiu na efetividade desse inseticida biológico. Nas avaliações após a segunda aplicação foi possível observar novamente que houve diferença entre os tratamentos. Aos 3DA2A (três dias após a segunda aplicação) constatou-se novamente que espinosade e B. thuringiensis aplicados isoladamente foram mais eficientes no controle de Helicoverpa (Tabela 3). Aos sete, dez e 14 DA2A, espinosade e B. thuringiensis apresentaram eficiência de controle semelhante entre si e distinguiram de B. thuringiensis + tetraconazole, B. thuringiensis + hidróxido de fentina e B. thuringiensis + mancozeb que foram iguais entre si e tiveram o mesmo comportamento da testemunha. Esses resultados demonstram que a adição dos produtos afetaram o comportamento do inseticida biológico no controle da lagarta Helicoverpa spp. Para a lagarta curuquerê foram realizadas duas avaliações, aos 10 DA2A e aos 14 DA2A. Na avaliação aos 10 DA2A constatou-se que os tratamentos onde foram aplicados o produto à base de B. thuringiensis e espinosade foram semelhantes entre si, diferindo das misturas de B. thuringiensis + tetraconazole e B. thuringiensis + hidróxido de fentina que foram estatisticamente superiores à mistura de B. thuringiensis + mancozeb que se igualou estatisticamente à testemunha (Tabela 4). Aos 14 DA2A (dias após segunda aplica-
TRATAMENTO E(%)
Dano severo causado pelo ataque de lagartas na cultura do algodoeiro
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Fotos Flávia Miyuki Tomita
Arroz
Sementes certificadas Insumo fundamental dentro do sistema produtivo, sementes de qualidade são um investimento barato capaz de trazer enormes benefícios à produtividade e à sustentabilidade das lavouras de arroz. Importante meio de disseminação de tecnologias, esses materiais também são aliados dos produtores no combate e prevenção a espécies contaminantes como o arroz vermelho, um dos piores inimigos dos orizicultores
A
semente é um insumo de fundamental importância dentro do sistema produtivo, pois é nela que estão inseridas todas as características agronômicas selecionadas no desenvolvimento de uma variedade, o que torna possível que novas tecnologias cheguem aos produtores. Segundo dados da Política Setorial do Instituto Rio Grandense do Arroz, na safra 2016/2017 a aquisição de semente certificada representou apenas 3,76% do custo total de produção, o que leva à conclusão de que a aquisição de uma semente de qualidade representa muito pouco em relação aos benefícios que ela pode trazer ao produtor, principalmente em relação ao aumento da produtividade e sustentabilidade do negócio. Além disso, ao utilizar sementes com boa procedência, o produtor pode trabalhar com densidade de semeadura menor quando comparado com a semeadura de materiais que não passaram por nenhum controle na produção como, por exemplo, as sementes salvas e piratas. Com isso, o produtor que adquire sementes sem procedência precisa aumentar a densidade de
semeadura para obter a mesma população de plantas que uma lavoura de semente certificada, igualando o custo de aquisição da semente e aumentando os riscos de contaminar a sua área com os diversos contaminantes que podem vir nesses produtos. Os benefícios da utilização de sementes certificadas estão baseados em quatro aspectos: pureza genética, qualidade sanitária, qualidade fisiológica e pureza física.
QUALIDADE GENÉTICA
A qualidade genética é um fator determinante para o sucesso na produção. Todas as características de interesse de uma cultivar, como a resistência a doenças, a toxidez por ferro, o potencial produtivo, estão incluídas nesse “pacote” chamado semente. O produtor, ao adquirir uma semente certificada, terá a garantia de que esse material passou por todos os controles de gerações que a legislação exige para que chegue o mais pura possível no campo. Esse trabalho de pureza genética começa na produção das sementes (genética e
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básica) pelo obtentor e termina com a produção das categorias C1 e C2 por parte dos sementeiros credenciados para realizar esta atividade, finalizando o ciclo de produção de sementes certificadas (Figura 1). Ao adquirir uma semente que não passou pelo processo de certificação corre-se o risco de semear um produto que “segregou”, ou seja, que perdeu alguma das características de interesse da cultivar, parcialmente ou na totalidade.
QUALIDADE SANITÁRIA
A semente é o principal meio disseminador de doenças nas grandes culturas agrícolas, não sendo diferente no arroz, onde praticamente todos os patógenos que afetam a cultura podem estar infectados na semente. As sementes certificadas passam por um rigoroso processo de vistorias a campo, onde a identificação de doenças causadas por fungos, por exemplo, pode condenar o campo de produção de sementes, pois sua presença pode afetar aspectos fisiológicos da semente, como germinação, por exemplo. Com isso, os produtores de sementes certificadas têm
a consciência de que devem realizar um manejo diferenciado na lavoura, normalmente com aplicação preventiva de fungicidas para proteger as sementes da infecção de patógenos. Além do rígido controle no campo e no laboratório, um bom acondicionamento e o controle das embalagens também são realizados pelos produtores e vistoriados pelos certificadores, credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para que a semente certificada chegue ao produtor com uma qualidade sanitária desejável.
Figura 1 - Avanço de gerações: classes certificadas e não certificadas
QUALIDADE FISIOLÓGICA
A qualidade fisiológica se refere a aspectos inerentes à semente propriamente dita, onde se destacam a germinação e o vigor. A germinação diz respeito à quantidade de sementes que conseguem “nascer” quando apresentam as condições ideais. Já o vigor caracteriza-se por um conjunto de atributos que conferem à semente a capacidade de germinar, emergir e se desenvolver, principalmente sob condições adversas. Normalmente germinação e vigor caminham lado a lado. Na prática, a germinação determina a população de plantas na área e o vigor, o desenvolvimento inicial da cultura, que é determinante para o estabelecimento inicial da lavoura e se manifesta até o seu final. Nesse sentido é muito importante o produtor receber o certificado da semente para ter o conhecimento do lote do produto que está adquirindo.
PUREZA FÍSICA
A última característica da semente certificada é a pureza física, que diz respeito à ausência de outras sementes noci-
vas, destacando-se o arroz vermelho, além da presença de outras espécies contaminantes, como capim-arroz e angiquinho, que também são motivos de reprovação do lote. Com isso, adquirindo sementes certificadas o produtor não corre o risco de estar disseminando na sua área sementes de outras espécies contaminantes que podem, em curto prazo, comprometer a sustentabilidade do negócio.
PROGRAMA DE CERTIFICAÇÃO
O programa de Certificação de Sementes do Instituto Rio Grandense do Ar-
roz (Irga) começou em 2002, ano em que o Instituto foi credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para ser Entidade Certificadora de Sementes de Arroz no Estado do Rio Grande do Sul. No mesmo ano, a área semeada foi de 2.070 hectares, com uma oferta de sementes certificadas capaz de atender a apenas 10% da área do estado. Ao longo desses 15 anos o programa vem em uma crescente, sendo que na safra 2015/2016 a área semeada em solo gaúcho foi de 18.500 hectares, com a certificação de um volume de 67.500 milhões de
Arroz vermelho longo fino, difícil identificação em campo (esquerda) e semente com baixa sanidade, vigor e poder germinativo (direita)
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Fotos Flávia Miyuki Tomita
Semente genética no método panícula por linha passa por avaliação dos melhoristas do Irga para garantir pureza genética
toneladas, capaz de atender 75% da área semeada no estado na Safra 2016/2017. A expectativa para a safra 2017/2018 é de que a oferta de sementes certificadas siga nesse patamar.
LABORATÓRIOS DE ANÁLISE DE SEMENTES
A Etapa de Certificação de semente que envolve os Laboratórios de Análise de Sementes funciona como o teste final para determinar a qualidade na qual a semente analisada foi produzida. O Irga possui quatro Laboratórios de Análises de Sementes (LAS) localizados nos municípios de Cachoeirinha, Uruguaiana, Rosário do Sul e Pelotas, por onde passa toda a produção de semente de arroz certificada do estado. As sementes analisadas no LAS são submetidas a quatro tipos de análises: a) Análise de pureza, onde a amostra deve ter no mínimo 98% de sementes puras; b) Determinação de outras sementes por número, a amostra não deve ter sementes nocivas; c) Arroz vermelho, neste teste a amostra de sementes é descascada e, caso tenha um grão de arroz vermelho, o lote analisado é condenado; d) Teste de germinação, sendo 80% o limite mínimo aceitável para aprovação. Portanto, para que um lote seja aprovado e receba o certificado de semente deverá ter padrões mínimos de qualidade respeitando a Instrução Normativa nº 45 de 17/06/13 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Todas as avaliações seguem os procedimentos das Regras de Análise de sementes, nor-
mativas e legislações vigentes.
trata-se de exemplo típico do barato que sai caro, sem esquecer que tal prática é ilegal. Há também o uso de semente salva, quando o produtor guarda parte de sua produção para semear na safra seguinte. Apesar da prática não ser vedada por lei, a qualidade da semente salva jamais atingirá os padrões de qualidade pela qual passa a semente certificada. Segundos dados do Mapa/Sefia-RS a taxa de uso de semente certificada em arroz na safra 2015/2016 alcançou 45%. O restante do volume de sementes certificadas comercializadas acabou indo para outros estados do país, além de outros países da América Latina. Portanto, mais da metade das áreas de produção comercial de arroz no estado do Rio Grande do Sul ainda são semeadas com sementes sem origem, podendo comprometer, em um futuro próximo, a produtividade e a C sustentabilidade dessas lavouras.
ARROZ VERMELHO, O PIOR INIMIGO DO ORIZICULTOR
O arroz vermelho é o principal problema que afeta alto percentual das lavouras do estado do Rio Grande do Sul, e grande parte deste problema foi, e continua sendo, causada pelo uso de sementes sem procedência. Durante o processo de certificação de sementes, são realizadas duas vistorias a campo, onde a presença destes contaminantes é fator de condenação do campo. Como atualmente a presença do arroz vermelho longo fino está em todas as regiões do estado e, caso uma lavoura de sementes seja aprovada a campo com a presença desde tipo de nociva, o laboratório poderá detectar a presença, sendo assim, reprovado o lote. Atualmente o padrão exigido para a semente certificada é de presença zero de sementes de arroz vermelho, por este motivo a semente certificada é uma ferramenta importante para o controle desta nociva. Outra ferramenta reside no uso de cultivares com a tecnologia do Sistema Clearfield, portadoras de genes que lhes conferem resistência aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas. O Irga e a Basf, juntos, possuem as cultivares comerciais Irga 424 RI e Irga 428 com a tecnologia Clearfield. Esse sistema, que tem por objetivo o combate ao arroz vermelho, só foi possível chegar aos produtores via semente.
Flávia Miyuki Tomita e Gustavo Campos Soares, Seção de Prod. de Sementes do Irga Divulgação Irga
Campo de semente básica em Uruguaiana em fase de vistoria pré-colheita
E POR QUE MUITOS PRODUTORES AINDA NÃO USAM SEMENTES CERTIFICADAS?
Muitos produtores ainda querem economizar fazendo uso de sementes piratas, acreditando que assim irão diminuir o custo de produção, mas na verdade
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Flávia e Soares destacam a importância da qualidade da semente para as lavouras de arroz
Gilvane Luis Jakoby
Capa
Enfezou A incidência da cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis tem aumentado de modo rápido, principalmente em lavouras da região Central do Brasil. A presença de plantas tigueras, que fornecem abrigo e comida para o inseto durante o período de entressafra e de cultivo da soja, está entre os fatores que ajudam a explicar a maior incidência. O tratamento de sementes com inseticidas neonicotinoides, associado a outras estratégias integradas e preventivas, tem mostrado bons resultados no manejo desta praga
A
intensificação do cultivo do milho na safrinha e de sistemas irrigados quebrou a sazonalidade de plantio, proporcionando maior pressão de pragas e doenças específicas, com exposição da cultura durante todo o ano no campo. Aliado a isso, outros fatores como as condições climáticas favoráveis, altas temperaturas e invernos amenos têm favorecido a multiplicação de insetos. Dentre os problemas fitossanitários da cultura do milho, a cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) (Hemiptera: Cicadellidae) tem aumentado substancialmente com frequência nos últimos anos, exigindo estratégias de controle em função dos prejuízos provocados. Um dos possíveis fatores que têm proporcionado o aumento da cigarrinha-do-milho, principalmente na Região Central do Brasil, é a presença de plantas tigueras de milho durante o período de entressafra
e de cultivo da soja, já que estas plantas voluntárias são as principais hospedeiras da praga e das doenças transmitidas por ela. Em função da adoção da tecnologia de resistência a herbicidas presentes em grande parte dos materiais disponíveis no mercado, essas plantas de milho não são devidamente controladas na cultura da soja, servindo de alimento, abrigo e de fonte de reprodução para diversos insetos-praga. O aumento da oferta de alimento durante o período de entressafra e de cultivo da soja proporciona a manutenção da cigarrinha D. maidis no ambiente, favorecendo a multiplicação e ainda a manutenção de plantas infectadas, com viroses e enfezamentos. A manutenção da praga no ambiente durante a entressafra e o cultivo da soja tem gerado altas densidades populacionais na fase inicial de desenvolvimento da cultura do milho, período de maior
28 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
suscetibilidade ao ataque da praga com elevados prejuízos aos produtores. Os adultos de D. maidis medem cerca de 4mm de comprimento e menos de 1mm de largura. Embora a coloração predominante seja palha, no abdômen possui manchas negras, que podem ser maiores nos indivíduos desenvolvidos em climas com temperaturas amenas. Na cabeça destacam-se duas manchas negras com o dobro do diâmetro dos ocelos. Possuem como característica duas fileiras de espinhos nas tíbias posteriores (Oliveira et al, 2003, Waquil, 2004). Durante a fase adulta, esses insetos podem ser facilmente visualizados no interior do cartucho das plantas de milho. O estabelecimento ocorre na fase inicial de desenvolvimento da cultura, porém é capaz de se manter em altas populações durante todas as fases de desenvolvimento do milho. A longevidade média dos adultos é de 16,3 dias
Gilvane Luis Jakoby
Área com presença de milho tiguera no período de entressafra. Fonte de alimento e de multiplicação de Dalbulus maidis
para machos e de 42,1 dias para fêmeas (Marín 1987). No entanto, esse período pode chegar a 106 dias em condições de temperaturas mais baixas (Tsai, 1988). As fêmeas depositam os ovos de maneira isolada, em pares ou em grupos de cinco a seis ovos no limbo foliar ou na parte adaxial das folhas, de preferência na metade basal das primeiras folhas das plantas
Ronaldo D. Freitas
Presença de milho tiguera no cultivo da soja, favorecendo a multiplicação da praga e manutenção de plantas infectadas, com viroses e enfezamentos
jovens. A postura é endofítica, ocorrendo dentro do tecido da nervura central das folhas da planta. Cada fêmea deposita aproximadamente 14 ovos por dia, podendo depositar durante seu ciclo de vida até 611 ovos. Os ovos são translúcidos, com o formato de uma banana, medem menos de 1mm x 0,2mm e são fáceis de observar com a folha do milho contra a luz. Depois
de sete a dez dias, se tornam leitosos. A biologia da cigarrinha é diretamente afetada pela temperatura. Sob condições de temperaturas amenas não ocorre a eclosão dos ovos. No entanto, quando incubados a temperaturas acima de 20ºC ocorre a eclosão normal das ninfas (Marín 1987). Durante a fase de ninfa, passam por cinco instares, que duram em torno de
Adultos da cigarrinha Dalbulus maidis em planta de milho
Em áreas infestadas, as cigarrinhas podem ser facilmente observadas, alimentando-se, preferencialmente, na região do cartucho da planta de milho (Vianna et al, 2002; Waquil, 2004). Embora a cigarrinha D. maidis possa provocar danos diretos através da sucção da seiva nas plantas de milho, comprometendo o desenvolvimento da planta, e principalmente o sistema radicular, essa espécie é mais importante devido à sua capacidade de transmitir de forma persistente e propagativa o vírus da risca do milho (maize rayado fino virus – MRFV) e dois molicutes, associados aos enfezamentos Spiroplasma kunkelii e o maize bushy stunt fitoplasma (MBS-fitoplasma), agentes causais, respectivamente, das doenças do milho denominadas de enfezamento pálido e enfezamento vermelho (Sabato et al, 2015). Os molicutes são responsáveis por infecções e entupimentos dos tecidos do floema. A crescente importância do complexo dos enfezamentos verificados nos últimos anos, nos cultivos de milho tardios e de safrinha, está relacionada diretamente ao aumento da população do inseto-vetor, a cigarrinha D. maidis. Os agentes causais dos enfezamentos são adquiridos pela cigarrinha quando se
alimentam de plantas de milho doentes. Esses micro-organismos multiplicam-se nas cigarrinhas (inseto-vetor) e são transmitidos para plântulas de milho jovens e sadias, quando a cigarrinha migra de lavouras maduras para as recém-implantadas. As cigarrinhas infectadas conseguem transmitir os fitopatógenos para as plantas sadias por um tempo de alimentação relativamente curto, de aproximadamente uma hora (Vianna et al, 2002; Waquil, 2004; Oliveira & Oliveira, 2010). A transmissão de fitopatógenos ocorre na fase inicial de desenvolvimento da cultura do milho, fase em que a planta apresenta menor diâmetro de colmo, permitindo com que a cigarrinha D. maidis consiga alcançar os vasos de condução de seiva (floema) com o estilete. Em consequência das infecções nos tecidos do floema ocorre um menor desenvolvimento das plantas e o enfraquecimento dos colmos, podendo se dar a queda das plantas em função da ação de ventos. Os sintomas do enfezamento vermelho são caracterizados pela descoloração e o avermelhamento da margem e do ápice das folhas. Em infestações severas, todo o limbo foliar pode apresentar características típicas do enfezamento. É possível verificar também o perfilhamento das plantas, seja nas axilas foliares ou na base da planta, e a proliferação de espigas, além de redução na altura. Os sintomas de enfezamento normalmente são mais visíveis a partir do florescimento e próximos à maturação da cultura, principalmente em regiões de temperatura mais alta (Reis et al, 2004; Sabato et al, 2002). Os sintomas do enfezamento pálido caracterizam-se pela presença de faixas cloróticas ou esbranquiçadas, que se estendem da base em direção ao ápice das folhas, podendo apresentar avermelhamento das folhas inferiores. Plantas infectadas demonstram crescimento reduzido, espigas
Fotos Gilvane Luis Jakoby
15 dias. As ninfas tendem a permanecer estáticas, alimentando-se na folha, e só se movem se forem incomodadas (Oliveira et al, 2003, Waquil, 2004). A fase de ninfa até a formação de adultos ocorre, geralmente, entre 20 dias e 25 dias, sendo esse período influenciado pela temperatura ambiente. A cigarrinha D. maidis possui poucos hospedeiros, com multiplicação restrita ao gênero Zea. Há relatos de outros hospedeiros, como a cana-de-açúcar, o sorgo e algumas espécies de plantas daninhas, como o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) e o capim-colchão (Digitaria horizontalis) (Oliveira et al, 2016). Além de alguns hospedeiros alternativos para D. maidis, espécies da família Poaceae, como o capim-colonião (Panicum maximum), o capim-marmelada (Brachiaria plantaginea) e a Brachiaria decumbens podem ser infectadas por fitoplasmas (Hass, 2010), no entanto, segundo Sabato et al (2015) é necessária uma melhor avaliação da importância epidemiológica dessas espécies vegetais na perpetuação e disseminação desse patógeno na cultura do milho. A cigarrinha D. maidis é um inseto de ampla ocorrência, com presença tanto nas lavouras da safra de verão quanto na safrinha. Movimenta-se dentro e entre lavouras de milho e nas plântulas. A cigarrinha D. maidis é considerada uma praga inicial em milho, visto que ocorre nas plântulas de milho logo após a emergência da cultura, sendo proveniente de outras lavouras de milho (Oliveira et al, 2013a). Ao longo do ciclo do milho, a população desse inseto-vetor aumenta desde os estádios iniciais de desenvolvimento até o florescimento das plantas, em função da produção de novas gerações de insetos, e da entrada contínua de mais cigarrinhas adultas, especialmente quando há milho em estádios mais adiantados nas imediações (Oliveira et al, 2015b).
Planta de milho com Rayado fino (maize rayado fino virus – MRFV)
30 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Sintomas do enfezamento pálido
Jurema F. Rattes
Rayado fino, característica dos pontos cloróticos, em forma de risca fina
Encurtamento dos internódios e superespigamento em função da presença de molicutes
menores com grãos frouxos, pequenos e descoloridos ou manchados. Dependendo da cultivar, pode apresentar perfilhamento e secamento precoce. Os sintomas foliares se manifestam a partir do florescimento das plantas e os demais sintomas depois da formação e enchimento de grãos (Balmer & Pereira, 1987; Fernandes & Oliveira 1997). Plantas de milho infestadas com vírus do rayado fino apresentam sintomas da doença entre sete dias e dez dias após a inoculação, na forma de pequenos pontos cloróticos alinhados. Com o crescimento desses pontos, se fundem e formam uma risca fina. Em cultivares suscetíveis, a infecção precoce pode acarretar redução de crescimento e aborto das gemas florais. A intensidade dos danos na cultura do milho depende da fase fenológica em que a cultura é atacada pela cigarrinha infectada. Quando o ataque ocorre na fase inicial da cultura (V1 – V3-4), maiores são os prejuízos e quanto mais tardiamente as cigarrinhas infectadas chegam à cultura, menores são os danos e prejuízos.
fonte de aquisição e posterior inoculação desses patógenos nos cultivos. No entanto, como se trata de um inseto com alto potencial biótico e com grande capacidade de migração a longas distâncias para colonizar campos de milho recém-emergidos, essas estratégias devem ser realizadas em conjunto com todos os produtores de uma mesma região. O uso de materiais tolerantes, ou menos suscetíveis, é o método de controle mais eficiente e recomendado para o controle dessas doenças transmitidas pela cigarrinha D. maidis. No entanto, nem todos os materiais de milho disponíveis no mercado possuem tolerância satisfatória, assim, cabe ao produtor fazer a melhor escolha no momento da aquisição das sementes e optar por materiais que apresentem maior tolerância, com intuito de diminuir as perdas. Como os danos mais severos ou a transmissão de fitopatógenos ocorrem na fase inicial de desenvolvimento da cultura do milho, medidas de controle na fase inicial são extremamente necessárias por protegerem as plântulas neste período, além de promover ou reduzir a população inicial, evitando uma explosão populacional da cigarrinha D. maidis nos estágios subse-
As estratégias de manejo da cigarrinha D. maidis devem ter início antes da semeadura do milho, através da eliminação de plantas tigueras no período de entressafra e durante o cultivo da soja, com intuito de eliminar as possíveis fontes de alimento e de reprodução da praga, para a redução na sua população na fase inicial de desenvolvimento do milho semeado em sequência. Tais medidas, além das possíveis reduções das primeiras gerações de cigarrinhas, têm por objetivo a redução de plantas de milho infectadas nesses períodos, que servem de
Waiquil, 2004
MANEJO DA CIGARRINHA-DO-MILHO
quentes. Entre as estratégias químicas de controle adotadas na fase inicial, o tratamento de sementes com inseticidas neonicotinoides é fundamental para reduzir a população da praga nesse período de desenvolvimento da cultura e tem proporcionado resultados muito eficazes no controle desta praga. Em trabalhos realizados pela Rattes Consultoria e Pesquisa Agronômica em parceria com a Universidade de Rio Verde (UniRV), na safra atual, os inseticidas disponíveis no mercado para tratamento de sementes, realizados com as moléculas tiametoxan, imidacloprido, e clotianidin proporcionaram supressão de até 80% da população de D. maidis, até 15 dias após a emergência da cultura. Após esse período, dependendo da pressão e região, se fazem necessárias aplicações foliares de inseticidas. As aplicações foliares devem ser realizadas com base nas amostragens das populações da praga, com intuito de complementar o tratamento de sementes e de controlar as populações em função da produção de novas gerações dentro do mesmo cultivo ou de insetos migrantes de áreas vizinhas. Até o momento não existe um Nível de Dano Econômico (NDE) que possa ser adotado em função de ser um inseto transmissor de fitopatógenos. Assim, os danos não são proporcionais ao tamanho da população, mas sim em função da capacidade de disseminação dos agentes causais dos enfezamentos, o que torna necessário o uso de medidas preventivas. As pulverizações foliares são realizadas normalmente até os estádios V8 – V9 na cultura do milho, podendo se prolongar até a fase de pendoamento. Dentre as possíveis estratégias de manejo desta praga, o produtor tem que conscientizar que com a adoção de uma única, de modo isolado, não vai obter C sucesso no controle da D. maidis. Jurema F. Rattes, Universidade de Rio Verde- UniRV Gilvane Luis Jakoby, Rattes Consult. Pesq. Agronômica
Ovos de D. maidis - postura endofídica (esq.) e Ninfa de D. maidis (dir.)
32 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Molicutes, responsáveis por infecções dos tecidos do floema na planta de milho
Fotos Paulo Rebelles Reis
Café
Minador no ataque
Praga de maior importância no cafeeiro, o bicho-mineiro é favorecido por períodos secos, com maior insolação e baixa umidade do ar. Responsáveis por desfolha intensa, esses insetos demandam controle químico para a manutenção da produtividade, principalmente em regiões de clima quente
O
bicho-mineiro das folhas do cafeeiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae), é a praga de maior importância para o cafeeiro (Coffea spp.) nas regiões de clima quente e mais seco. É uma praga exótica que tem como região de origem o continente africano, tendo sido introduzida no Brasil provavelmente em mudas de cafeeiros atacadas e provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon em 1851. É considerada praga monófaga, atacando somente cafeeiro. O surgimento da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 1970, pode ser considerado um marco para colocar o bicho-mineiro no status de praga. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia e a pleno sol, para o controle da ferrugem, propiciam ambientes favoráveis para a multiplicação do inseto que se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar. O inseto adulto é uma pequena mariposa com 6,5mm de envergadura, de coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso as asas anteriores cobrem as posteriores. A fêmea coloca os ovos na superfície superior das folhas e a lagarta ao eclodir penetra diretamente em seu interior, sem entrar em contato com a parte externa, o
que ajuda a explicar uma das dificuldades para o seu controle. Nessa fase a lagarta vive dentro da lesão ou mina foliar, por ela construída, e quando completamente desenvolvida mede aproximadamente 3,5mm de comprimento. As lesões ou minas foliares apresentam o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções da lagarta sob a epiderme. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade. Após completo desenvolvimento a lagarta abandona a folha por uma abertura realizada na face da superfície superior da mina, e com o auxílio de um fio de seda desce até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos também com fios de seda e no formato da letra X. De modo geral e principalmente nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do terço superior da planta. Isso ocorre devido às lagartas encontrarem nesses locais maior insolação, temperatura e vento (que retira a umidade das folhas) o que lhes é favorável. O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 dias e 87 dias, sendo o mais curto em temperaturas mais elevadas. Daí a severidade da praga em regiões mais quentes. A fase de lagarta (a que causa dano), dura de nove dias a 40 dias, passando por três fases (ecdises) (Figura 1), e podem ocorrer de oito gerações ao ano a 12 gerações ao ano.
34 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
DANO CAUSADO PELO BICHO-MINEIRO
As lesões ou minas produzidas pelas lagartas reduzem a capacidade foliar de fotossíntese em função da redução da área foliar. Em ataque intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo, devido à distribuição da praga. Lavouras intensamente desfolhadas pelo inseto podem levar até dois anos para se recuperar. As pesquisas mostram que o nível de controle para L. coffeella encontra-se entre 26% e 36% de área foliar lesionada, percentuais após os quais começam a ocorrer prejuízos à produção de café. No Sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido a uma desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, na mesma região, entre 1987 e 1993, também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada uma redução na produção entre 34,3% e 41,5%.
CONDIÇÕES PARA A OCORRÊNCIA
Épocas do ano com temperaturas mais elevadas e maior déficit hídrico são condições propícias para o desenvolvimento da praga. Lavouras mais arejadas, com maior espaçamento entre plantas, estão mais predispostas ao ataque do bicho-mineiro. Em geral, os cafeeiros em locais de maior altitude em uma mesma lavoura estão mais sujeitos ao ataque
do inseto, por esses locais propiciarem condições ideais para a sua ocorrência, como maior exposição aos ventos e consequentemente menor umidade do ar e maior insolação. As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, com início em junho e pico em outubro, sendo menor antes e após esses meses, nas principais regiões cafeeiras. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como frequentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro. A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga. Ao contrário, a temperatura exerce influência positiva.
MÉTODOS DE CONTROLE
Além do controle químico convencional, diversas outras formas de controle natural ou aplicado podem auxiliar na redução da praga. Porém, nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos. Destacam-se o controle cultural, a resistência genética, o controle por comportamento e o controle biológico.
CONTROLE QUÍMICO CONVENCIONAL
Em regiões de clima quente, favorável ao bicho-mineiro, o controle químico tem
Lagartas de bicho-mineiro no interior da mina, com a retirada da epiderme superior da folha na lesão Casal de adultos do bicho-mineiro pousado sobre uma folha de cafeeiro
sido imprescindível para a garantia da produtividade. Nessas regiões geralmente ocorrem dois picos populacionais da praga. O primeiro em abril-maio e o segundo em setembro-outubro. O primeiro pico, de abril-maio, pode ser evitado por meio da aplicação de inseticidas sistêmicos via solo durante a época chuvosa anterior ao pico, com uma aplicação em outubro-novembro e outra em fevereiro, tanto com produtos na formulação granulada (GR) como em grânulos dispersíveis em água (WG). Na formulação WG os produtos podem ser aplicados na forma de esguicho (drench) no colo da planta ou em filete contínuo
no solo, sob os cafeeiros e acompanhando a linha de plantio ou ainda na água de irrigação por gotejamento. Cada produto tem suas particularidades, cujas informações devem ser obtidas junto aos fabricantes ou assistência técnica especializada. Como o efeito residual dos inseticidas aplicados em novembro e fevereiro nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até o mês de outubro (pico da praga), haverá a necessidade de complementação do controle a partir de junho com pulverizações foliares, sempre com base no monitoramento da praga. No Sul de Minas, com o uso do inseticida thiamethoxam, por exemplo, aplicado em outubro-novembro (só ou em mistura com fungicida) e novamente em fevereiro (sem mistura com fungicida), não
Fotos Paulo Rebelles Reis
Lagartas de bicho-mineiro retiradas do interior da lesão e vistas em maior aumento
tem havido necessidade de pulverização foliar até agosto para complementar o controle da praga durante o ano. As pesquisas realizadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), desde 1973, mostram que ao ocorrer 30% de folhas minadas (nível de controle), sem apresentarem rasgaduras provocadas por vespas predadoras, nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco), há necessidade de ser efetuado o controle químico via pulverização. Caso não seja efetuado e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro forem favoráveis à praga, a desfolha será significativa e o prejuízo considerável. A amostragem de folhas, para ser conhecida a população do bicho-mineiro deve ser efetuada nos terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do inseto. Recomenda-se evitar a coleta de folhas apicais dos ramos ou do interior das plantas. São indicadas folhas do 3º ao 5º par, a partir do ápice do ramo. Não devem ser coletadas folhas somente na altura média do cafeeiro, pois os resultados não expressarão a infestação real da praga. Para a região Sul de Minas, caso não seja constatado o nível de controle (30%) não é recomendável o controle químico, pois somente o equilíbrio natural está sendo suficiente para manter baixa a população da praga. Este nível de controle não se aplica em cafeeiros novos, de até três anos de idade, onde a desfolha, mesmo que pequena, é prejudicial à sua formação. As lavouras devem ser inspecionadas constantemente na época crítica de ataque da praga, principalmente aquelas muito expostas a ventos constantes. Na maioria das vezes, o controle é necessário somente em alguns talhões do cafezal, e as inspeções devem continuar até que comecem as chuvas mais frequentes e haja início de novas brotações nas plantas, quando a infestação apresenta níveis insignificantes. Uma segunda pulverização, nos talhões já pulverizados, somente deve ser feita após 20 dias - 30 dias, se nas amostragens forem
constatadas lagartas vivas do inseto dentro das minas. Caso haja condições extremamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro e fevereiro (veranico) pode ocorrer um pico nos meses de abril e maio, que também deve ser controlado (muito comum na região dos cerrados de Minas Gerais). Esse pico pode não ocorrer quando são usados inseticidas sistêmicos (thiamethoxam, imidacloprid etc), no solo, em drench no colo da planta ou na água de irrigação por gotejamento, no início da época das chuvas (outubro-novembro). Porém, como já mencionado, o efeito residual nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até julho, havendo necessidade de complementar o controle com pulverizações foliares. Diversos produtos, ou misturas comerciais de produtos, em pulverização, apresentam eficiência no controle do bicho-mineiro, tais como abamectina (avermectina), análogo da nereistoxina (cartape), antranilamida (rynaxypyr), benzoilureia (novaluron), carbamatos, éter piridiloxipropílico (piriproxifem), organofosforados, piretroides e espinosinas (espinosade), entre outros. Inseticidas de efeito fisiológico, como os inibidores da formação de quitina, têm mostrado eficiência no controle do bicho-mineiro, podendo ser outra opção de controle químico, principalmente se forem associados a um inseticida fosforado. O manejo integrado do bicho-mineiro nas regiões onde sua incidência não é frequente, como no Sul de Minas, fica restrito ao uso de pulverizações quando for constatado o nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelas
Casulo característico do bicho-mineiro construído por fios de seda e no formato de X
vespas predadoras, geralmente no período seco do ano. Nas regiões onde o inseto frequentemente se constitui em praga, como na cafeicultura do cerrado, o controle deve ser feito com inseticidas sistêmicos aplicados via solo no período chuvoso que antecede o ataque, associados ou não a fungicidas sistêmicos para ferrugem, em aplicação escalonada (outubro-novembro e em fevereiro) complementado com pulverização (entre junho e outubro) caso sejam constatados 30% de folhas minadas sem sinais de predação. Em grandes plantios talvez seja recomendável iniciar o controle com 10% a 20% de folhas minadas, devido a fatores operacionais. A partir daí, com o início do período chuvoso e a emissão de novo enfolhamento pelo cafeeiro, que ocorre anualmente, a infestação de bicho-mineiro é reduzida a índices muito baixos e praticamente desaparece no período C chuvoso do ano. Paulo Rebelles Reis, Epamig Sul de Minas/EcoCentro Pesquisador do CNPq
Figura 1 - Representação do ciclo evolutivo do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro
36 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Trigo
Desafios da resistência Leandro Vargas
Daninhas resistentes a herbicidas são um problema recorrente, que a cada safra ameaça ainda mais a produtividade e a sustentabilidade das lavouras de trigo. Nabo, azevém e buva estão entre as que mais limitam os cereais de inverno. Pensar o sistema produtivo como um todo, com a integração de métodos químicos, físicos e culturais, bem como a rotação de culturas e de mecanismos de ação, é medida fundamental para o manejo eficiente
A
nualmente os agricultores se deparam com novos desafios no manejo de plantas daninhas em cereais de inverno. São espécies indesejadas que vegetam simultaneamente com as culturas. Estão entre os principais fatores que causam perdas na produtividade agrícola e seu manejo/controle é fundamental para evitar perdas de produção. Os herbicidas são a ferramenta preferida de controle por parte dos produtores. Porém, o uso repetido dos herbicidas provocou o surgimento de espécies resistentes. A resistência reduz a eficiência e torna o controle oneroso com uso de herbi-
cidas. Dentre as principais plantas daninhas em cereais de inverno que apresentam resistência a herbicidas estão o nabo (Raphanus sativus e R. raphanistrum), o azevém (Lolium multiflorum) e a buva (Conyza spp.). O nabo é uma espécie de cobertura de solo de outono/inverno amplamente utilizada em sistemas agrícolas do Sul do Brasil, pois se estabelece rapidamente, realiza a ciclagem de nutrientes e melhora as características físicas do solo, além de suprimir o crescimento de outas plantas daninhas (Balbinot Jr et al, 2007). Porém, apesar dessas características desejáveis, o nabo é a principal
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planta daninha dicotiledônea presente nos cultivos de inverno, pois compete e reduz a produtividade final das culturas (Bianchi et al, 2011). Os herbicidas inibidores da enzima acetolactatosintase (ALS) foram durante muitos anos a principal ferramenta para manejo do nabo, devido à alta eficiência, à seletividade às culturas de inverno e ao baixo custo (Vargas & Roman, 2005). No entanto, o uso continuado do mesmo mecanismo de ação selecionou plantas resistentes (Walsh et al, 2007). Os primeiros registros da ocorrência de biótipos de nabo resistente aos inibidores
Figura 1 - Região, em vermelho, infestada com azevém (Lolium multiflorum) resistente ao glifosato no Rio Grande do Sul. Embrapa Trigo, 2015
Figura 2 - Região, em azul, infestada com azevém (Lolium multiflorum) resistente aos inibidores da ALS no Rio Grande do Sul. Embrapa Trigo, 2015
Figura 3 - Região, em verde, infestada com azevém (Lolium multiflorum) resistente aos inibidores da ACCase no Rio Grande do Sul. Embrapa Trigo, 2015
da enzima ALS ocorreram no Brasil em 2001, sendo constatada resistência cruzada a metsulfurom-metílico, clorimurom-etílico, imazetapir, nicosulfuron e cloransulam-metílico (Heap, 2017). Outra planta daninha importante de inverno é o azevém, que embora possa ser utilizado como espécie forrageira e no fornecimento de palha para o sistema de plantio direto, quando ocorre em cereais de inverno compromete a qualidade e a quantidade do produto colhido (Roman et al, 2004; Vargas et al, 2005). Além disso, o surgimento de biótipos resistentes e a dificuldade de controle são fatores que contribuem para o agravamento do problema. A ocorrência de azevém resistente ao glifosato (inibidor da enzima 5-enolpiruvil shiquimato 3-fosfato sintase EPSPS) no Brasil, registrada em 2003, direcionou o controle do azevém por herbicidas inibidores da acetil coenzima A carboxilase (ACCase) e ALS. Porém, o uso contínuo dos herbicidas inibidores de ACCase e ALS selecionou plantas de azevém resistentes aos inibidores da ALS em 2010. Para piorar o cenário foram registrados casos de resistência múltipla do azevém aos herbicidas inibidores de ACCase e EPSPS em 2011; ALS e ACCase em 2016; e EPSPS e ALS em 2017 (Heap, 2017). Em 2017, a infestação com azevém resistente ao glifosato no Brasil é superior a quatro milhões de hectares, com a maior parte das áreas no Rio Grande do Sul (Figura 1). Já as áreas infestadas com azevém resistente aos inibidores da ALS e ACCase no estado gaúcho eram superiores a 1.200 hectares e 1.000 hectares, respectivamente (Figuras 2 e 3). A resistência consiste na capacidade inerente e herdável de um determinado biótipo de planta daninha sobreviver e reproduzir-se após a aplicação da dose recomendada de um determinado herbicida, que normalmente seria letal à população original (Heap & Le-
baron, 2001; Gazziero et al, in Agostinetto, D.; Vargas, L, 2014). Existem dois tipos de resistência, a cruzada e a múltipla. A resistência cruzada ocorre quando o biótipo é resistente a mais de um grupo químico dentro do mesmo mecanismo de ação herbicida. Já a resistência múltipla ocorre quando o biótipo é resistente a mais de um mecanismo de ação (Agostinetto; Vargas, 2014). Para os casos de nabo resistente a ALS e azevém resistente a EPSPs, ALS e ACCase o aumento da dose não melhora o controle significativamente. Em trabalho realizado por Cechin (2016) foram necessárias doses 33 vezes e 274 vezes (115g i.a/ ha e 959g i.a/ ha) superiores a aquela recomendada para o herbicida iodosulfurom-metílico, para controlar nabo resistente à ALS, tornando a sua utilização inviável. Estudos realizados na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e na Embrapa Trigo, para determinar resistência cruzada entre os herbicidas iodosulfurom-
-metílico e pyroxsulam, evidenciaram que a aplicação de 16 vezes a dose comercial (56g i.a/ha e 288g i.a/ha) não controlou as plantas resistentes, o que torna inviável a aplicação desses herbicidas em plantas resistentes a inibidores da ALS. Já em trabalhos realizados com biótipos com resistência múltipla aos inibidores da ALS (iodosulfurom-metílico) e inibidores da ACCase (cletodim) foram necessárias 16 vezes e 15 vezes a dose comercial (56g i.a/ha e 1.820g i.a/ha), respectivamente, para se obter controle superior a 90% do biótipo resistente. Os casos de resistência múltipla estão se tornando mais frequentes nos últimos anos, o que constitui uma ameaça para a agricultura. Este fato é preocupante, pois reduz as alternativas de manejo químico para estas populações, juntamente com o aumento das perdas de produtividade nas culturas devido à presença de plantas daninhas nos cultivos. Além das dificuldades de controle devido à
Tabela 1 - Herbicidas para controle de nabo e azevém em dessecação, pré e pós-emergência da cultura do trigo em função dos casos de resistência Cultura Planta daninha Herbicidas para uso em dessecação Herbicidas para uso em pré-emergência Herbicidas para uso em pós-emergência Glifosato Oryzalin** Iodosulfuron-metilico Inibidores da ACCase (Fops e Dins) Azevém Pendimentalina** Pyroxsulam Paraquat + Diuron Trifluralina** Flucarbazone-sódium* Paraquat S-metolacloro*** Clodinafop-propargil Glufosinato de amônio Pyroxasulfone* Pinoxaden* Metsulfurom-metílico Nabo Metribuzim Metsulfurom-metílico Glifosato Trigo Flumioxazina*** Pyroxsulam Glufosinato de amônio Iodosulfuron-metilico 2,4D Flucarbazone-sódium* MCPA Bentazona Dicamba Metribuzim Paraquat 2,4D Paraquat+Diuron Dicamba Saflufenacil*** MCPA Não indicado no caso de plantas com resistência à inibidor da EPSPs. Não indicado em casos de plantas com resistência à inibidores da ACCase. Não indicado em casos de plantas com resistência a inibidores da ALS. Herbicidas que não apresentam casos de resistência para azevém e nabo. *Produto em fase de registro. **Produto não apresenta registro para cultura, porém eficácia agronômica relatada pela pesquisa no controle da planta daninha. ***Produto apresenta registro para a cultura, mas não para a planta daninha, no entanto eficácia agronômica relatada pela pesquisa.
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resistência, os custos de controle aumentam por conta da necessidade da aplicação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. Nesse contexto, o uso de diferentes métodos de controle de plantas daninhas (como, por exemplo, métodos físicos para evitar a produção de sementes dos biótipos resistentes) é fundamental para evitar a seleção, a multiplicação e a dispersão de plantas resistentes.
MANEJO DE AZEVÉM E NABO RESISTENTES E PERSPECTIVAS PARA CONTROLE
Maicon Fernando Schmitz
Práticas como a rotação de mecanismos de ação são importantes para aumentar o tempo de uso dos herbicidas e retardar a evolução da resistência. Para minimizar os efeitos da resistência e evitar o aumento da seleção de espécies tolerantes e resistentes e também prolongar o tempo de utilização eficiente dos herbicidas no controle de plantas daninhas recomenda-se adotar as medidas indicadas no Quadro 1. Os casos de resistência múltipla de azevém apresentam impacto direto no manejo, sendo necessária a utilização de herbicidas com distintos mecanismos de ação daqueles para os quais já há resistência documentada. Cada caso de resistência exige diferentes produtos e formas de manejo (Tabela 1). Para o controle de azevém em pré-semeadura da cultura (dessecação) nos casos de resistência a EPSPs necessita-se a adição de herbicidas inibidores da ACCase ou aplicações isoladas de paraquat, paraquat + diuron ou glufosinato de amônio. Quando se utilizar paraquat, paraquat + diuron e glufosinato deve-se observar o estádio de aplicação, pois esses herbicidas controlam eficientemente
plantas jovens de azevém, preferencialmente no início do perfilhamento. Nos casos de resistência múltipla aos inibidores da EPSPs e ALS pode-se utilizar em dessecação paraquat, paraquat + diuron e glufosinato, ou glifosato associado com herbicidas inibidores da ACCAse. Em pós-emergência deve-se evitar o uso de iodosulfuron-metílico e pyroxsulam, ambos inibidores da ALS. Para os casos de resistência múltipla aos inibidores da EPSPs e ACCase, também restam os herbicidas de ação total, paraquat, paraquat + diuron e glufosinato para uso em dessecação. Em alguns casos de resistência a ACCase, o azevém pode apresentar resistência para apenas um grupo químico. Desta forma, se o azevém não é controlado pelos ariloxifenoxipropionatos (FOPs), pode ser sensível às ciclohexanodionas (DINs) e vice-versa. No entanto, é necessário ter conhecimento prévio do histórico de aplicações na área para recomendação desse tipo de manejo e observar o intervalo entre a aplicação do herbicida e a semeadura, para evitar injúrias à cultura. Para pós-emergência deve-se evitar clodinafop-propargil em áreas com suspeitas de resistência a ACCase. Quando o azevém apresenta resistência a ALS e ACCase, no manejo de dessecação seguem-se as mesmas recomendações para azevém resistente a ACCase. No entanto, para pós-emergência extinguem-se as ferramentas de controle, podendo ser utilizados inibidores da ALS ou ACCase, somente se previamente houver o conhecimento de em quais grupos químicos ocorre a resistência, e se o biótipo presente na área apresenta resistência simples ou cruzada para aquele mecanismo de ação.
Figura 4 - Lavoura de trigo com azevém resistente a EPSPs e ACCase
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MEDIDAS PREVENTIVAS PARA MINIMIZAR EFEITOS DA RESISTÊNCIA - realizar rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; - destruir plantas suspeitas de resistência; - fazer rotação de culturas; - acompanhar a população de plantas daninhas a fim de detectar o aparecimento da resistência no início; - evitar que plantas resistentes ou suspeitas produzam sementes e se disseminem pela área. Diante desse cenário, a aplicação de herbicidas pré-emergentes é importante para reduzir a pressão de seleção na pós-emergência (Tabela 1). No entanto, atualmente não é registrado nenhum herbicida no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para essa modalidade de aplicação, com controle de azevém em trigo. Pyroxasulfone é um novo herbicida pré-emergente, em fase de registro junto ao Mapa, que por ser um mecanismo diferente dos atualmente utilizados auxiliará no manejo de azevém resistente. Em fase de registro, também se encontra pinoxadem, que apresenta seletividade para trigo e cevada em aplicações na pós-emergência, atuando como herbicida inibidor da ACCase, mas em um novo grupo químico, o das fenilpirazolinas (DENs). Esses herbicidas auxiliarão no manejo de azevém resistente à ALS, e para ACCase quando o mecanismo de resistência não seja metabolização do herbicida. Outro fator preocupante é a perda da molécula paraquat por questões legais relacionadas à toxicologia do produto. Sem esse herbicida, lavouras com a presença de biótipos com resistência múltipla para EPSPs e ACCase, a única molécula disponível em dessecação será glufosinato de amônio, que além do problema da limitação quanto ao estágio de aplicação, pode favorecer a seleção de biótipos de azevém resistentes como já é realidade nos Estados Unidos, por conta de seu uso continuado e repetido. Os herbicidas disponíveis para uso em dessecação de nabo são 2,4-D, metsulfurom-metil, MCPA, dicamba, glifosato, glufosinato de amônio paraquat e paraquat + diuron. Enquanto os quatro primeiros controlam essencialmente nabo e outras folhas largas, o
Leandro Vargas
glifosato, o glufosinato de amônio, o paraquat e o paraquat + diuron são herbicidas de ação total, controlam tanto folhas largas quanto gramíneas. Para pré-emergência somente metribuzim apresenta registro para controle de nabo, enquanto flumioxazin é uma importante ferramenta que pode ser utilizada nesta modalidade de aplicação, a fim de controlar a buva já no início do inverno, podendo o herbicida contribuir para redução da futura população de nabo na pós-emergência. Os herbicidas registrados para controle de nabo em pós-emergência são metsulfurom-metílico, pyroxsulam, iodosulfuron-metílico, bentazona, metribuzim, 2,4-D, dicamba e MCPA. Metsulfurom-metílico, pyroxsulam, iodosulfuron-metílico são inibidores da ALS, enquanto metsulfuron controla apenas folhas largas, pyroxulam e iodosulfuron-metílico controlam tanto gramíneas quanto folhas largas. Bentazona e metribuzim, herbicidas inibidores do fotossistema II, podem ser aplicados para manejo de nabo em pós-emergência. No entanto, deve-se ter cuidado de realizar as aplicações nos estádios iniciais de crescimento da planta daninha. Os herbicidas auxínicos 2,4-D, dicamba e MCPA são eficientes no controle de nabo, mas a precaução quanto ao uso destes herbicidas reside no estádio da cultura para a aplicação. O uso destes produtos deve-se restringir apenas ao estádio de perfilhamento, pois aplicações precoces afetam os primórdios de espiguetas, causando retenção das espigas, enquanto aplicações tardias afetam a esporogênese, reduzindo a produtividade da cultura. A presença de nabo resistente à ALS dificulta o manejo da planta daninha principalmente na pós-emergência do trigo, pois acaba se restringindo a moléculas menos seguras em relação a injúrias à cultura, no caso dos auxínicos, ou estádios inicias de aplicação no caso de inibidores do fotossistema II. Para manejar os biótipos resistentes, o agricultor deve evitar o uso de herbicidas inibidores da ALS e utilizar a rotação de mecanismos de
Plantas de azevém resistentes a herbicidas EPSPs e ALS
ação, principalmente na dessecação, onde se têm maiores alternativas, como também a utilização de pré-emergente, a fim de reduzir a pressão de seleção. Infelizmente, na prática a escolha do herbicida fica baseada apenas no custo e na eficiência do produto, onde os auxínicos cumprem esses dois requisitos, e consequentemente são a principal forma de manejo em pós-emergência de nabo resistente à ALS em cereais de inverno. Caso a pulverização com auxínicos continuar nessa intensidade, possivelmente serão selecionados biótipos de nabo resistentes a estes herbicidas, como já é realidade na Austrália. Por isso, o máximo de esforços é necessário para evitar a perda deste importante grupo de herbicidas. Outro herbicida que pode ser boa alternativa para o controle de dicotiledôneas em pré-emergência em trigo é o saflufenacil (inibidor de Protox). Porém, este produto é limitado quanto ao estádio de aplicação da mesma forma que os herbicidas de ação total. Diante do preocupante cenário da resistência de plantas daninhas aos herbicidas, é imprescindível que sejam seguidas as reco-
mendações técnicas pensando-se no sistema produtivo como um todo. No manejo de plantas daninhas, além dos métodos químicos, devem-se ser empregados métodos físicos e culturais, com o objetivo de minimizar a reprodução e o reabastecimento dos bancos de sementes de plantas daninhas no solo, bem como sua dispersão para outras áreas. A rotação de culturas ajuda na diversificação dos tratos culturais e nos mecanismos de ação de herbicidas aplicados, o que favorece o manejo. Atitudes proativas irão contribuir para a sustentabilidade da atividade agrícola do ponto de vista da resistência de plantas daninhas aos herbicidas, garantindo a máxima produtividade das culturas e rentabilidade C aos agricultores. Jonas Rodrigo Henckes, Maicon Fernando Schmitz, Cristiano Piasecki, Joanei Cechin e Dirceu Agostinetto, Universidade Federal de Pelotas Leandro Vargas, Embrapa Trigo
L.D. Simi
Cana
Ferramenta importante Na luta contra broca-da-cana, cigarrinhas-da-raiz e Sphenophorus levis, principais pragas em cana-de-açúcar, o melhor caminho reside na adoção do manejo integrado, com o uso de técnicas culturais, varietais, biológicas e químicas. Dentre as estratégias de controle biológico o emprego de fungos entomopatogênicos tem papel relevante no combate a esses insetos
O
Manejo Integrado de Pragas (MIP) tem como principal objetivo o uso de várias técnicas culturais, varietais, biológicas e químicas para o controle de pragas nas culturas de interesse econômico, tendo como princípio a utilização daquelas mais sustentáveis, como variedades resistentes, técnicas culturais, monitoramento das pragas, agentes de controle biológico e por fim os inseticidas químicos (de preferências os menos tóxicos), que devem ser aplicados quando o nível de controle da praga atinge um patamar perigoso para a cultura. Porém, essa metodologia de manejo nem sempre é levada em consideração por desconhecimento dos níveis de controle e de danos econômicos da maioria das culturas. Quando isso ocorre a tendência é de que se aplique inseticidas químicos de maneira indiscriminada. Os fungos entomopatogênicos são
importantes agentes de controle biológico para o manejo integrado de pragas na cana-de-açúcar, pois essa cultura é conhecida como a que mais tem suportado o uso de controle biológico de pragas com sucesso, principalmente no Brasil. O estado de São Paulo produz metade da cana do Brasil (o restante se situa em torno de 30% no Nordeste, e 20% no Centro-Oeste e no Paraná). Pelo menos 5% do custo de produção de açúcar e álcool é afetado por pragas, entre as quais se destacam broca-da-cana, cigarrinhas-da-raiz e Sphenophorus levis. A broca-da-cana (Diatraea saccharalis) é considerada a principal praga desta cultura, ocorrendo em todas as áreas onde se planta cana-de-açúcar no mundo. As lagartas causam prejuízos diretos ao colmo, abrindo galerias que provocam perda de peso da cana e também morte das gemas, que levam a falhas de
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germinação. Os prejuízos indiretos são ocasionados pela infecção de fungos que penetram na galeria e causam a podridão vermelha, como Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme, que invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e dando menor rendimento em açúcar e álcool. De acordo com resultados de pesquisas sobre o prejuízo causado pela broca, apenas 1% de infestação da praga é capaz de gerar prejuízos de 0,25% de açúcar, 0,20% de álcool e 0,77% de peso. O principal método de controle é o biológico, através da vespinha Cotesia flavipes, introduzida no Brasil desde 1974. Nos últimos anos, esse parasitoide reduziu perdas de até 100 milhões de dólares por ano, sendo 20 milhões em São Paulo, reduzindo a infestação da praga de 10% para 2%. O parasitoide de ovos Trichogramma galloi também tem sido usado no controle da broca,
podendo chegar a 60% de controle quando associado à C. flavipes. Nas áreas de expansão da lavoura de cana, o fungo Beauveria bassiana pode ser utilizado para o controle de lagartas da broca-da-cana no primeiro instar, devendo ser pulverizado na dosagem de 6x1012 conídios/hectare pelo menos.
tomopatogênico Metarhizium anisopliae é um dos principais componentes do manejo integrado de cigarrinhas. Não é poluente, não provoca desequilíbrios biológicos, é duradouro e aproveita o potencial biótico do agroecossistema. Não é tóxico para o homem e animais e pode ser aplicado com as máquinas convencionais, com pequenas adaptações. No período de 2015/2016 a área aplicada com o fungo foi de aproximadamente 350 mil hectares, sendo que mais uma biofábrica começou a produção. O custo da aplicação e o valor do bioinseticida comercializado não variaram em relação ao período anterior.
CIGARRINHAS-DA-RAIZ
SPHENOPHORUS LEVIS
O besouro da família Curculionidae é outra praga que tem causado grandes prejuízos para a cultura canavieira, principalmente na região de Piracicaba e Jaú, São Paulo, destruindo as soqueiras e levando-as à morte. As larvas perfuram o rizoma da cana ao longo de seu ciclo biológico, causando diminuição na produção da cana. A aplicação do inseticida fipronil em área total, com disco de corte na soqueira, é uma estratégia que tem proporcionado algum controle, formando uma barreira química. Porém, ainda é uma técnica que tem sido usada de maneira M. Britto
As cigarrinhas-da-raiz (Mahanarva fimbriolata, M. spectabilis, Mahanarva sp.) são consideradas as pragas mais importantes da cana-de-açúcar. As ninfas, ao se alimentarem, ocasionam a "desordem fisiológica" em decorrência de suas picadas que, ao atingirem os vasos lenhosos da raiz, os deterioram, impedindo ou dificultando o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrios na fisiologia da planta, caracterizados pela desidratação do floema e do xilema que darão ao colmo características ocas, afinamento e posterior aparecimento de rugas na superfície externa. Os adultos, ao injetarem toxinas produzem pequenas manchas amarelas nas folhas que com o passar do tempo tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese das folhas e o conteúdo de sacarose do colmo. As perfurações dos tecidos pelos estiletes infectados provocam contaminações por micro-organismos no líquido nutritivo, causando deterioração de tecidos nos pontos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes subterrâneas. As deteriorações aquosas apresentam cores escuras começando pela ponta da cana e podem causar a morte do colmo. As ninfas são especificamente radicícolas e se desenvolvem sobre as raízes superficiais ou raízes adventícias inferiores das gramíneas hospedeiras. Sugam a seiva segundo a sua idade, envolvendo-se em uma espuma branca, espessa e que serve como proteção a inimigos naturais. Os adultos são de hábitos crepusculares-noturnos, ficando escondidos dentro das olhaduras ou no enviés das folhas durante o dia. O dano mais importante que as cigarrinhas causam é a “queima da cana”, sendo consequência direta ao ataque das folhas, devido à injeção de substâncias tóxicas da saliva da cigarrinha, além de diminuir o teor de sacarose. Causam também a redução no tamanho e grossura dos entrenós da cana grande e a morte de rebentos jovens. O controle biológico com o fungo en-
Ninfa da cigarrinha da raiz da cana infectada por Metarhizium anisopliae
única, o que pode levar a populações da praga resistente e contaminações ambientais. O controle químico é o mais utilizado, sendo aplicado em iscas de toletes de cana cortados, previamente tratados com inseticidas como carbaril 850 PM, sendo aplicadas 200 iscas/hectare. Atualmente tem se pesquisado o uso de fungo entomopatogênico Beauveria bassiana selecionado para essa praga em iscas e nematoides entomopatogênicos, tais como Steinernema spp. A falta de conhecimento para uso de fungos entomopatogênicos para o controle biológico de pragas da cana ainda é um fator importante para explicar a baixa aplicação desses agentes de controle biológico, sendo importante a divulgação de técnicas de aplicação desses fungos em área total ou através de iscas ou sistemas avançados, de modo a atingir as pragas da cana, já que os fungos atuam por contato no corpo do inseto. O uso de agentes de controle biológico depende de produtos disponíveis no mercado em condições de atender a essa demanda. Atualmente são 55 empresas que produzem fungos entomopatogênicos e aproximadamente 20 empresas que produzem parasitoides para a cana. O estado São Paulo tem dado suporte nessa área de conhecimento, apoiando o desenvolvimento de novas produções ou o aumento de quantidade de fungos entomopatogênicos. O Instituto Biológico (SAA-SP/Apta) possui um programa de assessoria técnica para produção de bioinseticidas à base de fungos entomopatogênicos, com fornecimento de cepas selecionadas para essas principais pragas da cana. O Instituto já assessorou 54 dessas empresas. Além disso, desenvolve pesquisas para métodos de produção por fermentação líquida e formulações, imprescindíveis para o desenvolvimento do controle biológico. Porém, é necessário que as empresas e o governo estimulem inovações nessa área, tanto para pesquisa como comercialização e aplicação. São necessárias pesquisas para o desenvolvimento de novos isolados, formulações, armadilhas, iscas ou outras estratégias adequadas para o controle das principais pragas da cana, mas, sem dúvida, os fungos entomopatogênicos já são uma importante ferramenta para o Manejo Integrado de Pragas da canaC -de-açúcar. José Eduardo M. de Almeida Instituto Biológico/APTA/SAA-SP
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Plantas daninhas
Abrigo de pragas Tiago Edu Kaspary
Além das perdas por conta da competição por recursos como luz, água e nutrientes, plantas de buva servem como hospedeiras de insetos como percevejos e lagartas, o que agrava os prejuízos em produtividade. Com capacidade vertiginosa de multiplicação e histórico de resistência a herbicidas, essa planta daninha precisa ser corretamente manejada, com a utilização em conjunto de práticas culturais e de controle químico
A
tualmente a necessidade de manejar plantas daninhas em áreas agrícolas é uma prática recorrente e importantíssima ao agricultor. Algumas espécies invasoras são comumente encontradas em campos de cultivo devido a características atreladas à sua adaptabilidade ecológica, à capacidade de se moldarem ao sistema de manejo empregado e à evolução da resistência a herbicidas. A presença de tais espécies acarreta perdas em produtividade às culturas em virtude da competição por recursos como luz, água e nutrientes e por serem hospedeiras alternativas de pragas. Dentre as inúmeras espécies daninhas incidentes em áreas agrícolas, em especial naquelas cultivadas com soja no Brasil, a buva é considerada a mais importante devido ao seu elevado potencial competitivo e ao impacto sobre a produtividade da cultura. A redução da produtividade ocorre em função
do número de plantas por m². Portanto, elevadas infestações podem reduzir em até 80% o rendimento da cultura da soja e, mesmo que a sua ocorrência seja baixa, as perdas são significativas. As plantas conhecidas popularmente por buva pertencem ao gênero Conyza e podem ser de três diferentes espécies, Conyza canadensis, C. bonariensis e C. sumatrensis. No Brasil, C. bonariensis é a que apresenta maior importância agrícola, presente principalmente na região Centro-Sul. A buva apresenta elevada capacidade de multiplicação. Uma única planta de C. canadenses e C. bonariensis pode produzir de 200 mil sementes a mais de 800 mil sementes, respectivamente. Estas sementes são leves e apresentam “papus”, estrutura que permite sua disseminação pelo vento a longas distâncias. Essa característica possibilita sua presença nos mais diversos cultivos, como
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milho, trigo, algodão, frutíferas e pastagens. É importante ressaltar que plantas de buva são frequentemente encontradas em áreas marginais, como encostas, beira de estradas, áreas abandonadas, entre outros. Permitindo, deste modo, a sua multiplicação e reinfestações futuras em áreas cultivadas próximas. O manejo de Conyza spp. foi realizado até pouco tempo, em especial na cultura da soja transgênica (RR), com o herbicida glifosato. Após muitos anos utilizando-se constantemente esta molécula, mais de uma vez no ciclo da cultura, a evolução da resistência ocorreu de forma generalizada, inviabilizando o uso desse herbicida no manejo de Conyza spp. No Brasil os primeiros casos de resistência ao glifosato foram identificados em 2007 para as espécies C. bonariensis e C. canadensis. Já em meados de 2010, o primeiro caso de resistência ao
Tiago Edu Kaspary
Tiago Edu Kaspary e Gerarda Beatriz Pinto da Silva
Figura 1 - Inflorescência de buva: Momento da floração (esquerda). Sementes maduras (direita)
glifosato foi relatado para C. sumatrensis. A resistência é resultado do uso contínuo de um mesmo herbicida ou de herbicidas diferentes com mesmo mecanismo de ação. Essa prática seleciona plantas naturalmente resistentes, que sobrevivem e produzem sementes, o que culmina no aumento em frequência da resistência em áreas agrícolas. A partir da ocorrência da resistência ao glifosato, outros herbicidas passaram a ser utilizados para o controle desta invasora, como o chlorimuron-ethyl, que é um produto com mecanismo de ação diferente do glifosato. Novamente, o uso
Figura 2 - Capítulos de buva com as sementes maduras sendo dispersas pelo vento
contínuo e de forma isolada deste herbicida proporcionou a evolução à resistência, sendo encontrados no ano de 2011 biótipos de C. sumatrensis com resistência múltipla aos herbicidas glifosato e chlorimuron-ethyl. Os relatos de casos com resistência múltipla estreitam o espectro de herbicidas disponíveis para o controle de Conyza e que não causem fitointoxicação na cultura de interesse econômico. Em diferentes regiões do mundo já foram confirmados casos de resistência de Conyza spp. a herbicidas com os mecanismos de ação: inibidores do fotossistema
II (atrazina, simazina, diuron e linuron), inibidores do fotossistema I (paraquat e diquat), inibidores da enzima ALS (chlorsulfuron, imazapyr, cloransulam-methyl e chlorimuron-ethyl) e inibidores da enzima EPSPs (glifosato). Da mesma forma, confirmaram-se casos de resistência múltipla: inibidores da enzima EPSPs + inibidores do fotossistema I, inibidores da enzima ALS + inibidores do fotossistema II, e inibidores da EPSPs + inibidores da ALS. Este cenário alerta para a elevada variabilidade genética das populações de buva e do potencial evolutivo da resis-
Gerarda Beatriz Pinto da Silva
encontraram a lagarta Helicoverpa armigera em estágio avançado de desenvolvimento, alimentando-se de plantas de buva no estado do Mato Grosso do Sul, durante a fase de preparo para o plantio da soja. A buva ganha importância para essas pragas principalmente nos momentos em que a oferta de alimento é reduzida, ou seja, entressafras e períodos próximos à colheita. Outra espécie que pode utilizar buva como hospedeiro alternativo é o ácaro Brevipalpus phoenicis, vetor da leprose dos citros, que é uma espécie polífaga. Estudos constataram a preferência do ácaro B. phoenicis por se alimentar na base dos tricomas presentes na superfície do caule da planta, servindo, portanto, como hospedeira alternativa, o que pode contribuir para a disseminação do ácaro e, consequentemente, da leprose nos pomares de citros. O manejo integrado da buva é a ferramenta mais eficaz na redução dos prejuízos causados por essa planta daninha. A utilização em conjunto de práticas culturais e controle químico, buscando a eliminação por completo dessa planta durante o período de desenvolvimento das culturas, na entressafra e em pomares, é imprescindível para evitar perdas diretas de rendimentos causadas pela competição, ou indiretas, geradas por pragas alojadas oportunamente na buva. Por fim, é fundamental o uso racional de herbicidas, principalmente aqueles que ainda desempenham controle satisfatório sobre a buva, de modo a evitar a seleção de plantas resistentes e prolongar a utilização C desta ferramenta de manejo.
Figura 3 - Capítulo de buva, no detalhe estrutura de dispersão “papus” e sementes
palha apresentam desenvolvimento lento e menos vigoroso, facilitando o controle químico. Culturas de inverno, como trigo e aveia, além de serem uma fonte de renda proporcionam a obtenção de uma densa camada de palha que acarreta redução de mais de 90% no número de plantas infestantes na área. Ervilhaca e nabo forrageiro também têm se mostrado como excelentes formadores de palhada na redução da emergência de buva. A utilização do controle químico de forma isolada ainda é uma ferramenta eficaz, porém exige atenção. Herbicidas pré-emergentes, como o diclosulan, são uma alternativa promissora na redução da infestação de buva. Já para os herbicidas pós-emergentes, a utilização de produtos de diferentes mecanismos de ação de forma associada ou em sucessão, proporciona ótimos resultados. Atualmente, não há relatos confirmados de resistência de buva aos herbicidas auxínicos, tornando-os uma importante ferramenta no manejo dessa planta daninha. Contudo, é importante salientar que o uso isolado desses produtos poderá selecionar genótipos resistentes, inviabilizando mais essa tecnologia. Estudos científicos têm relatado que a buva pode se comportar como hospedeiro alternativo para pragas, como o percevejo verde-pequeno (Piezodorus guildinii), percevejo-marrom-da-soja (Euschistus heros) e percevejo-asa-preta (Edessa meditabunda), e também de lepidópteros, como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda). Além destes insetos, produtores e técnicos, no ano de 2013,
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Luan Cutti, Tiago Edu Kaspary, Gabriele Casarotto e Gerarda Beatriz Pinto da Silva, Univ. Federal do Rio Grande do Sul Tiago Edu Kaspary
tência múltipla a herbicidas, pois engloba praticamente todos os mecanismos de ação utilizados no Brasil para seu controle. Neste contexto, é imprescindível o correto uso destes herbicidas, respeitando doses, sucessões e estádios das plantas aspergidas, de modo a evitar a perda por completo, em um futuro próximo, da eficiência desses produtos. O controle da buva deve ser realizado de forma integrada, utilizando métodos culturais em concomitância ao químico. A presença de densas camadas de palhada (mais de 4ton/ha), a partir de culturas ou coberturas de inverno, proporciona redução drástica na capacidade de germinação e emergência dessa daninha. Essa redução ocorre porque a buva apresenta germinação fotoblástica positiva, ou seja, precisa de luz para germinar. As pequenas sementes de Conyza sob densas camadas de palha não recebem o estímulo luminoso para a germinação e, portanto, não há o estabelecimento na área. A viabilidade das sementes ainda tende a diminuir em função do tempo que permanecem no solo, além de aumentar a possibilidade da ação de micro-organismos que as destroem, diminuindo o banco de sementes no solo e reinfestações futuras. O efeito físico da palhada sobre o solo de forma isolada dificulta a emergência das plântulas, exigindo uma maior demanda energética para que atinjam a superfície, comecem o processo fotossintético e se estabeleçam. Durante este período, muitas sementes com baixo vigor não conseguem emergir, diminuindo a incidência de buva na área. De forma complementar, plantas que conseguem ultrapassar a camada de
Figura 4 - Planta de buva aos seis dias após a emergência
COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
Brasil ferve, dólar sobe e produtores negociam na exportação O mercado brasileiro de grãos vinha registrando comercialização lenta e atrasada neste ano, com os produtores ainda fixados naquilo que tinha ocorrido no ano passado, quando houve recordes históricos de cotações. O ritmo da comercialização continuava devagar até que uma avalanche de delações e escândalos contra políticos brasileiros fez com que o dólar voltasse a atingir aproximadamente R$ 3,30, movimentando os negócios. A soja alcançou patamares de R$ 72,00 a R$ 73,00 a saca nos portos, que eram os alvos de boa parte dos vendedores desde a colheita. O milho chegou próximo de R$ 30,00 a saca e mostrava espaço para trabalhar acima nas posições de final do ano. O arroz apresentava mais pressão de compra das indústrias que estavam retraídas e assim o giro foi maior. Novamente uma grande disparada do feijão, que não sofreu efeito do dólar ou da crise política, mas pegou carona nelas porque há grande demanda e novamente safra apertada. Saltou de R$ 130,00 a saca para R$ 300,00 a saca do Carioca em pouco mais de duas semanas. O setor ainda tem espaço para novos ganhos nos próximos meses. O Brasil fechou a colheita da safra de verão e agora começa a colheita da safrinha, que em ambos os casos foram recordes. O volume total deste ano deve superar com facilidade os 225 milhões de toneladas, capitaneado pela soja com mais de 112 milhões de toneladas e milho acima de 93 milhões de toneladas. Certamente mais de 100 milhões de toneladas terão como destino o mercado mundial para trazer um grande volume de dólares para a balança comercial brasileira, dando mais uma vez suporte à economia cambaleante do país. MILHO
FEIJÃO
Safrinha em colheita recorde
O milho safrinha está em colheita e já dá sinais de recorde, com mais de 60 milhões de toneladas sendo esperadas. A primeira safra foi de pouco mais de 30 milhões de toneladas e assim haverá oferta de 93 milhões de toneladas, sendo que menos de 60 milhões serão consumidas internamente. É necessário colocar o restante no mercado internacional para aliviar a pressão que há no mercado interno. Os indicativos nos portos estão fluindo na faixa dos R$ 28,50 a R$ 29,00 a saca, mas as ofertas aparecem um pouco acima. A tendência é de fechamentos para os embarques no segundo semestre, quando tendem a ser observados grandes volumes sendo embarcados. SOJA
Dólar em alta favoreceu negócios
O mercado da soja do Brasil mostrava ritmo lento. Mas houve alta do dólar em maio e com isso os negócios fluíram novamente. O ritmo já superava 60%, com indicativos de que estados como o Mato Grosso já estariam com comercialização acima de 70%. Os portos seguem embarcando em ritmo acelerado e até a terceira semana de maio já havia sido exportado volume de 30,7 milhões de toneladas de soja, um recorde histórico para o período. Tudo caminha novamente para um bom ano em soja. Já há sinais de que haverá leve aumento na área plantada.
Consumo crescente e disparada das cotações
O mercado do feijão mostra demanda do grão em ritmo forte no varejo brasileiro. Enquanto isso, a safra registrava problemas, com geadas que atingiram parte das lavouras do Paraná. Houve corrida pelo grão e desta forma as cotações que em abril estavam entre os R$ 120,00 e os R$ 170,00 receberam forte pressão positiva para o Carioca, com o produto de alta qualidade negociado novamente na faixa de R$ 300,00 a saca. Os sinais são de um restante de ano com cotações firmes novamente. ARROZ
negociando com olhos para cima
A comercialização do arroz vinha em ritmo lento e com pouco interesse das indústrias, que receberam a safra, próxima de 12 milhões de toneladas, dentro da expectativa de consumo, o que fez boa parte dos compradores deixarem de lado os negócios. Porém, a partir da metade de maio o quadro começou a mudar, com a volta dos compradores e os primeiros sinais de que o mercado poderá crescer a partir de junho. Os níveis de R$ 37,00 a R$ 43,00 a saca em maio poderão ter avanços para patamares mais próximos dos R$ 40,00 a R$ 45,00 de junho em diante. Há forte demanda no varejo para dar suporte aos ajustes.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo também mostra alta nos indicativos devido ao dólar, que evoluiu aproximadamente 8% nas últimas semanas. UCRÂNIA - O plantio da safra de grãos registrou atraso, mas já está concluído. Houve geadas no começo, porém o quadro se normalizou. A colheita é esperada entre 27 e 28 milhões de toneladas de milho em 3,5 milhões de hectares plantados. CHINA - As importações de soja seguem aquecidas, com mais de 27,5 milhões de toneladas compradas entre janeiro e abril, com projeções de que o país irá romper a barreira de 90 milhões de toneladas neste ano. ARGENTINA - A safra continuava em colheita em maio, com
os produtores sinalizando que irão deixar para negociar no futuro. Alguns apostam em vendas a partir de janeiro, esperando o dólar com cotações melhores e impostos menores. As estimativas são de colher 57,5 milhões de toneladas de soja e 39 milhões de toneladas de milho. EUA - A safra foi plantada com leve atraso, mas o clima será incerto neste ano, o que pode trazer fôlego ao mercado em julho. CONAB - Há pregões de apoio à comercialização de milho de Mato Grosso, com expectativa de que isso ajude nos negócios de mais de dez milhões de toneladas e alivie a pressão de outros estados produtores, porque a maior parte deste grão tende a ir para a exportação. C Vlamir Brandalizze
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48 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
COLUNA AGRONEGÓCIOS
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Vamos agir?
verdadeiro cientista conhece o dogma: uma hipótese será sempre uma hipótese, a menos que comprovada além de qualquer dúvida razoável. Outro dogma reza que um cientista apenas debate sobre fatos e números, discursos pertencem a outros domínios das atividades humanas, como direito ou política. Em 24 de janeiro de 2017, o Conselho de Direitos Humanos da ONU divulgou um relatório produzido pela doutora Hilal Elver, com o título “Direito à Alimentação”. A relatora é advogada, nascida na Turquia e professora da Universidade da Califórnia. A íntegra do documento está em https://documents-dds-ny.un.org/ doc/UNDOC/GEN/G17/017/90/PDF/ G1701790.pdf?OpenElement. A ONU produziu um release sobre o documento, em cujo primeiro parágrafo é afirmado "O uso excessivo de pesticidas é muito perigoso para a saúde humana, para o meio ambiente e é enganoso afirmar que eles são vitais para garantir a segurança alimentar". No último parágrafo propõe: "É hora de derrubar o mito de que os pesticidas são necessários para alimentar o mundo e criar um processo global de transição para uma produção mais segura e saudável de alimentos". Ambas as afirmativas são uma síntese fiel do relatório. Conforme o relatório, os pesticidas são responsáveis por cerca de 200 mil mortes por intoxicação aguda a cada ano, e que 99% das fatalidades ocorreram em países em desenvolvimento onde a saúde, a segurança e os regulamentos ambientais são mais fracos. Puxa, que descoberta sensacional, ninguém sabia que lidar com substâncias potencialmente perigosas, sem tomar os devidos cuidados, pode resultar em acidentes! Por analogia, seria possível afirmar que carros com problemas de freios, pneus carecas ou suspensão avariada são responsáveis pela maior parte dos acidentes com automóveis. Ou que a maioria dos acidentes está associada com excesso de velocidade, desrespeito à legislação de trânsito, motoristas não habilitados, alcoolizados ou sob o efeito de drogas. Para resolver o problema, haveria duas soluções possíveis: a primeira, tomar atitudes para garantir que os veículos circulem obedecendo toda a legislação vigente; a segunda, proibir a
circulação de veículos para acabar com testar nossas hipóteses. Confirmadas em pequena escala, ampliamos para parcelas os acidentes. maiores, para uma propriedade, para DEFENSIVOS: PROBLEMA OU SOLUÇÃO? diversas propriedades, para diferentes O relatório alerta que certos pesti- regiões, até que estejamos convencidos cidas podem persistir no ambiente por que ela é uma verdade científica. Só endécadas e representar uma ameaça para tão recomendamos aos agricultores o que todo o sistema ecológico de que depende comprovamos nos estudos. A doutora Hilal Elver tem uma hia produção de alimentos. Isto era verdadeiro na primeira geração de pesticidas pótese: pesticidas matam pessoas e são organossintéticos clorados, cujo uso pre- dispensáveis para produzir alimentos, valeceu do pós-guerra até os anos 1980. portanto devemos alimentar o mundo Essa característica não está mais presente com lavouras agroecológicas. Precisamos testar essa hipótese. Sugiro que, como nos pesticidas modernos. O documento pontua que o uso exces- doutora em leis, proponha ao seu país, sivo de pesticidas contamina as fontes de a Turquia, uma lei que proíba terminanágua e do solo, causando perda de biodi- temente a produção, a comercialização versidade, destruindo os inimigos naturais e o uso de qualquer pesticida destinado das pragas e reduzindo o valor nutricional a combater pragas agrícolas, urbanas ou dos alimentos. Concordo, defensivos vetores de doenças. Os resultados da Lei seriam avaliados agrícolas devem ser usados apenas quando necessário, nas doses recomendadas, após cinco anos de sua vigência, garantomando todos os cuidados para que não tindo que houve sua efetiva e integral atinjam alvos não desejados, sejam cursos aplicação. Os parâmetros para avaliação serão a produção, a produtividade e a área de água, solo ou vegetação nativa. O relatório acusa: o uso de pesticidas utilizada para produção, a importação de neonicotinoides é particularmente preo- alimentos e o custo para a população. Na cupante porque eles são responsáveis por saúde pública serão computados os casos um colapso sistemático do número de de doenças transmissíveis por vetores abelhas ao redor do mundo, que ameaça atualmente controlados por pesticidas. Se, ao final de cinco anos, ficar a agricultura, já que 71% das plantas cultivadas são polinizadas por estes in- demonstrado além de qualquer dúvida setos. Voltemos ao primeiro parágrafo: razoável, que a Turquia melhorou sua É direito de um especialista propor uma qualidade de vida, que produziu mais hipótese, desde que calcada em evidên- alimentos e de melhor qualidade, que cias razoáveis. E é uma obrigação dele reduziu a importação de alimentos (até comprovar que esta hipótese é verdadeira, exportou) e que o custo ao consumidor além de qualquer dúvida razoável. Já ouvi diminuiu, bem como que os casos de doesta hipótese inúmeras vezes, nunca a enças transmissíveis por vetores diminuívi comprovada. Propalar hipóteses, sem ram ou desapareceram, então iniciaríamos comprovação, é a antítese da Ciência, não um processo de comprovação do mesmo deveríamos esperar isto de um professor estudo em outros países. No limite, os universitário – mesmo de um advogado, pesticidas poderão ser banidos do mundo, que não é especialista nas questões agro- se comprovada sua inutilidade. Por oportuno, se a Turquia não aceinômicas que se propõe a discutir. A relatora especial sobre alimentos tar ser objeto deste estudo, quem sabe a destaca a evolução da agroecologia, que doutora Hilal Elver proponha que ele seja substitui a química pela biologia, capaz de conduzido na Califórnia (onde leciona), fornecer rendimentos suficientes para ali- um dos maiores produtores agropecumentar e nutrir toda a população mundial, ários dos Estados Unidos. Enquanto sem prejudicar os direitos das gerações fu- isto, relembro a todos que defensivos turas à alimentação e à saúde adequadas. agrícolas são potencialmente perigosos, e Não sei se a relatora concordará com a que devem ser manipulados com extremo minha proposta, mas precisamos de fatos e cuidado, apenas por pessoas treinadas e números que comprovem hipóteses, além capacitadas, utilizados nas doses e frede qualquer dúvida razoável. Em Ciência, quências realmente necessárias, sempre in casu na Agronomia, usamos estudos de obedecendo estritamente as determinaC laboratório ou em pequenas parcelas, para ções legais e indicações de uso.
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, membro do Conselho Consultivo de Agricultura Sustentável, CCAS
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COLUNA ANPII
Agricultura moderna Prática que contabiliza mais de um século, o uso de inoculante tem se adaptado de modo concomitante e rápido à modernização e às profundas transformações pelas quais passou e ainda passa a agricultura brasileira
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o final do século 19, após a comprovação da fixação do nitrogênio pelas bactérias em simbiose com raízes de leguminosas, iniciaram-se os estudos da utilização agronômica deste fenômeno. No início do século 20 já se iniciou a produção comercial de inoculante, com o objetivo de difundir seu uso na agricultura. Na segunda metade do século passado houve a universalização do emprego de inoculantes como forma de fornecer nitrogênio para a cultura das leguminosas. Em especial no Brasil, Argentina e Uruguai, esta técnica agrícola assumiu enorme importância, tornando-se um dos fatores fundamentais para a cultura da soja na América do Sul. Pode-se pensar: uma tecnologia com mais de 100 anos de uso deve estar superada pelos enormes avanços pelos quais a agricultura passou e vem passando nos últimos anos. Nada mais enganoso. Ao mesmo tempo em que as práticas agrícolas evoluíram, a produção de inoculantes acompanhou esta evolução tecnológica. Alinhado com a moderna tendência de um crescimento do uso de produtos biológicos na agricultura mundial, seja no fornecimento de nutrientes, de promoção de crescimento ou de controle biológico, o setor de inoculantes passa em todo o mundo por um processo de modernização continuada. Oferece ao agricultor produtos perfeitamente alinhados com os modernos conceitos de uma agricultura, ao mesmo tempo altamente produtiva, mas com sustentabilidade frente ao ambiente e à sociedade. Se por um lado os fertilizantes químicos tornaram-se cada vez mais eficazes e fáceis de usar, se os princípios ativos para controle de pragas e doenças também foram desenvolvidos para aumentar seu espectro de controle e com menor potencial de danos ao ambiente, se as máquinas e os equipa-
mentos passaram e passam por modificações radicais, os inoculantes também avançaram na mesma proporção. Se olharmos os inoculantes dos anos 70 do século 20, observa-se que possuem poucos pontos em comum com os atualmente em uso. Eram exclusivamente na formulação em pó, produzidos com turfa arenosa, sem esterilização, portanto com a presença de contaminantes, concentração em torno de dez a 100 milhões de bactérias por grama. Cumpriram o seu papel? Sem dúvida. Tudo tem sua época. A produtividade da soja era muito menor que a atual, não se utilizavam defensivos sobre as sementes e tudo isto permitiu que mesmo em baixas concentrações os inoculantes espalhassem o Bradyrhizobium pelos solos brasileiros e aportassem o N necessário para aqueles níveis de produtividade.
Com a tomada de consciência da necessidade imperiosa de uma agricultura mais amigável com o ambiente, mas ao mesmo tempo altamente produtiva, novos caminhos se abrem, de forma irreversível para novos tempos na produção de alimentos
Entretanto, à medida que o melhoramento da soja trouxe materiais genéticos cada vez mais produtivos, com a necessidade de novos defensivos agregados à superfície das sementes, causando moralidade das bactérias, o inoculante soube responder às novas exigências e se modernizar, permanecendo como um insumo essencial e responsivo às novas necessidades da soja. Durante muito tempo, os produtos biológicos, com exceção do inoculante, permaneceram como uma tecnologia de pequena importância na agricultura. Eram produtos da “agricultura de baixa tecnologia” ou exclusivos para a agricultura orgânica. Mas talvez o sucesso do inoculante, adaptando-se rapidamente à modernização, mostrou o caminho para que outros produtos também encontrassem seu espaço na agricultura altamente produtiva. Com a tomada de consciência da necessidade imperiosa de uma agricultura mais amigável com o ambiente, mas ao mesmo tempo altamente produtiva, novos caminhos se abrem, de forma irreversível para novos tempos na produção de alimentos. Não apenas a agricultura de precisão, mas o uso de informática no campo, o uso de GPS, drones e sensores altamente sofisticados darão o tom para as mudanças no panorama rural. Os produtos biológicos fazem e cada vez mais farão parte deste ferramental sofisticado, moderno, inovador, trazendo soluções altamente eficazes para o produtor colher sempre mais, com mais segurança e perfeitamente afinado com as modernas tendências mundiais de agricultura sustentável. As empresas associadas da ANPII estão perfeitamente afinadas com estes conceitos e desenvolvem não só inoculantes, mas outros produtos da área biológica para atender aos agricultores brasileiros, seja através de pesquisas em seus próprios departamentos, seja em convênio com os melhores centros de C pesquisa do país.
Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
50 Junho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Charles Echer
04 • Junho 2017 • Pragas • www.revistacultivar.com.br
Base sólida
Em um agroecossistema marcado por cultivos sucessivos de soja, milho e algodão e em meio à popularização do uso de materiais que expressam proteínas Bt, pragas como lagartas, percevejos, corós, tripes e cigarrinhas têm adquirido novas dinâmicas que desafiam técnicos e produtores. Entre as práticas para complementar a biotecnologia se destaca o tratamento de sementes, que tende a suprimir parte das populações de insetos a níveis adequados para o manejo, de modo a garantir que as plantas tenham um começo de cultivo seguro, com proteção ao potencial produtivo
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agroecossistema utilizado no Centro-Oeste é um ambiente favorável à multiplicação de pragas, pois prevalece um sistema de produção em que a soja é a principal cultura a se estabelecer na grande maioria das áreas, sendo rotacionada muitas vezes com milho e algodoeiro, por questões de rentabilidade e
mesmo de comercializações específicas a cada microrregião. Desta forma, o cultivo sucessivo de duas ou três culturas faz com que muitas pragas se adaptem ao sistema. Aliado a isto, outros fatores como condições climáticas, com altas temperaturas e inverno ameno, tornam-se ideais para a multiplicação dos insetos.
A região do Cerrado Brasileiro caracteriza-se pela presença de áreas extensas e altamente mecanizadas. Muitas das vezes o processo de colheita e semeadura de uma nova cultura é rápido, sem intervalos para que ocorra quebra no ciclo das pragas. Neste sistema de produção, em que a maioria das pragas presentes no Cerrado Bra-
sileiro apresenta polifagia (atacam várias culturas), há, por exemplo, lagartas, percevejos, cigarrinhas, corós, tripes, ácaros, entre outras. O manejo integrado passa a ser tratado de forma mais estratégica neste âmbito multicultural. De certa forma a base para a construção das estratégias é o produtor-técnico conhecer a praga e a sua lavoura, possuir conhecimento da biologia dos principais insetos ocorrentes na região e uma boa amostragem a campo. A amostragem no sistema deve ser constante. Uma equipe técnica deve ser montada em propriedades, a fim de construir o histórico das áreas e analisar a dinâmica populacional. Algumas pragas são observadas visualmente, através de contagem direta nas plantas. No entanto, algumas necessitam de uma acurácia maior na amostragem como a utilização de armadilhas, ou mesmo a realização de trincheiras nos talhões. Os avanços biotecnológicos trazem comodidade para o manejo. No entanto, este conforto, quando associado à não observação de novas dinâmicas de pragas, pode levar a prejuízos enormes. É o que se observa, principalmente, no controle de lagartas, em que algumas pragas antes secundárias têm passado ao status de pragas primárias-chave. Além desta questão, as tigueras de determinados eventos têm feito com que algumas culturas continuem durante todo o ano no campo. O que permite, além da reprodução das pragas, que sirvam também como fonte para o desenvolvimento de doenças, aumentando o inóculo safra após safra. Muitas das vezes a primeira cultura no campo é a soja, semeada em grandes extensões. O manejo de diversas pragas se faz importante a fim de quebrar a dinâmica populacional, ou seja, manter as populações em níveis adequados
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Fotos Germison Tomquelski/Fundação Chapadão
www.revistacultivar.com.br • Pragas • Junho 2017 •
Detalhe da parcela sem tratamento e parcelas ao lado com TS e TS + pulverizações
para que não levem a prejuízos significativos na cultura. Muitas pragas atualmente têm atacado na fase inicial desta cultura, época em que está muito suscetível, gerando grandes diminuições na produtividade ou mesmo até a necessidade de ressemeadura. Entre as pragas iniciais que atacam nesta fase a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) tende a reduzir o estande de plantas e por consequência a produtividade. Esta praga apresenta grande polifagia, atacando também milho, algodoeiro, entre outras. Esta praga pode ainda se encontrar em diversas plantas daninhas que servem como hospedeiros alternativos, como capim-braquiária, capim pé-de-galinha, capim-colchão, milheto, entre outras. As lagartas apresentam coloração variável de esverdeada a arroxeada, com a cabeça escura. Perfuram as plantas na região do colo fazendo galerias, matando-as com este ataque. Fazem, ainda, como forma de abrigo, um casulo com teias (facilmente encontrado no campo). Em algumas culturas, como o milho, por atacar o meristema na fase inicial provoca a morte da planta, secando as primeiras folhas, o que provoca o sintoma denominando de “coração-morto”. Os adultos são mariposas de coloração cinza e asa com envergadura de aproximadamente 20mm. Ao completarem seu ciclo larval, as lagartas empupam próximas à
planta, em sua base ou no solo (Tomquelski e Martins 2017). Uma das práticas mais adotadas para o manejo é a utilização do tratamento de sementes, que tende muitas vezes a ser considerada como um “seguro” principalmente em regiões arenosas, com estresses hídricos e alta incidência da praga-histórico. Tem apresentado grande sucesso quando ajustado ao sistema de produção. Neste aspecto vale destacar que com a diversidade de hospedeiros alternativos como as plantas daninhas esta prática tem auxiliado algumas ferramentas novas no manejo de pragas. A biotecnologia utilizada para o controle de lagartas apresenta certa supressão a esta praga, necessitando um auxílio para garantir o melhor desenvolvimento das plantas. Em soja, nos trabalhos da Fundação Chapadão, a tecnologia tem feito supressão em torno de 60% de controle. Outras pragas importantes e que com o advento da biotecnologia têm aumentado sua ocorrência, em determinadas regiões, são as vaquinhas. Estes coleópteros popularmente têm sido considerados como pragas-chave de culturas como a soja, o feijão e o milho, além de outras. Elas atacam principalmente folhas (causando o rendilhamento) e eventualmente vagens, pecíolos e hastes de soja (Tomquelski e Martins, 2017), provocam danos que na fase inicial de desenvolvimento podem promover a morte
06 • Junho 2017 • Pragas • www.revistacultivar.com.br Figura 1 - Efeito do Tratamento de sementes (TS), Pulverizações (4 aplicações aos 7, 14, 21 e 28 dias após a emergência) e da associação TS + Pulverizações (4 aplicações aos 7, 14, 21 e 28 dias após a emergência) no controle de D.maidis e seu reflexo na produtividade em sacas por hectare na cultura do milho. Fundação Chapadão. Julho/2016-Janeiro de 2017. G.91.
lações, em função do melhor ambiente para seu desenvolvimento. Estas pragas têm apresentado seu ataque na fase inicial de diversas culturas, principalmente as com resistência a lagartas (Bts), sendo que em vários momentos o produtor se utiliza de pulverizações para o controle destes desfolhadores. Entretanto, uma prática que o produtor pode adotar a fim de diminuir os danos, principalmente nos primeiros estádios das culturas, é o tratamento de sementes com inseticidas registrados à base de fipronil, thiametoxan, imidacloprid + tiodicarbe, imidacloprido + bifentrina. Outros coleópteros importantes para a soja e para outras culturas,
Fotos Germison Tomquelski/Fundação Chapadão
da planta devido à destruição da brotação apical. Entre as espécies mais importantes se destacam: Diabrotica speciosa - inseto conhecido vulgarmente como patriota ou brasileirinho, que possui coloração verde, manchas amareladas sobre os élitros e mede em torno de 4mm. Batizada como larva-alfinete em sua fase jovem, ataca tubérculos e raízes de algumas espécies vegetais, podendo provocar sérios danos ao sistema radicular (Milanez e Parra, 2000). Outra espécie presente em determinadas regiões é Megascelis spp., conhecida como metaleiro. Apresenta o adulto medindo em torno de 5mm, com coloração verde metálica, abdome afilado e tórax mais estreito. Maecolaspis calcarifera também tem sido encontrada no sistema de produção com soja e milho e os seus adultos medem em média 5mm com coloração do corpo verde, com sulcos e pontuações em toda sua extensão. Suas larvas apresentam coloração branco-acinzentada e medem aproximadamente 7mm. Outra espécie que tem adquirido importância é o Id-Amim (Lagria vilosa), besouro com até 10mm de comprimento, que apresenta cabeça de cor preta e élitros verde-amarronzados escuros. Atacam as plantas cortando-as, causando a morte na fase inicial, sendo facilmente confundidos com a lagarta-rosca. Áreas com a presença de grande quantidade de palha tendem a ter maiores popu-
Detalhe de tigueras de milho anterior à semeadura
como o milho, são os corós, sendo as espécies Phyllophaga cuybana, P. capilata e Liogenys suturalis. Os adultos medem cerca de 10mm a 30mm de comprimento, com colorações variáveis de castanho a castanho-escuro. As larvas são brancas, atingindo até 35mm de comprimento, passando por três instares. Os ovos são colocados isoladamente no solo, de coloração branca, depositados em camadas de até 15cm de profundidade. O ataque se dá às raízes, principalmente após a passagem para o segundo estádio da praga. Os sintomas são caracterizados por reboleiras (manchas) de plantas amareladas, murchas e redução no volume radicular. Quando ocorre sincronia da fase inicial da cultura com larvas maiores de 15mm pode levar à morte das plantas. Já o manejo desta praga deve levar em conta a integração de vários métodos, a fim de evitar grandes perdas. O monitoramento deve ser anterior à semeadura, com a abertura de trincheiras para identificar e quantificar áreas problemas. A semeadura antecipada é uma forma de diminuir os danos, porque em alguns casos a soja consegue passar o período inicial sem o ataque
www.revistacultivar.com.br • Pragas • Junho 2017 • Diferença de produtividade em lavoura de MS com altas infestações de corós (L. suturalis). Chapadão do Sul/MS – safra 2013/2014
da praga e tolerar os danos com maior desenvolvimento da cultura. Recomenda-se evitar a semeadura em áreas compactadas, pois isso prejudica o desenvolvimento radicular, agravando o problema com o ataque da praga. A rotação de culturas é prática que diminui a infestação da praga. Plantas como a crotalária são boas alternativas e o uso do tratamento de sementes em áreas infestadas é uma ferramenta que tem apresentado bons resultados, sendo os inseticidas fipronil, tiodicarb + imidacloprido, bifentrina + imidacloprido, clorantraniliprole os que demonstram melhores resultados. No entanto, em áreas com histórico de grandes ataques pode se fazer necessário o uso de aplicação no sulco, integrando as duas alternativas. Outra cultura que apresenta grande porcentagem de utilização de biotecnologia Bt é o milho. E
neste caso, em função do menor uso de inseticidas para lagartas, algumas pragas têm registrado aumento no sistema. A cultura do milho está sujeita ao ataque de diversos insetos, desde a germinação à colheita. Dentre a diversidade de pragas, a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) (Hemiptera: Cicadellidae) teve sua ocorrência constatada no Brasil há vários anos e tem aumentado a frequência nas lavouras de milho em todo o País, causando danos significativos às plantas e exigindo ações de controle. Este hemíptero, quando na fase adulta, mede de 3mm a 4,5mm de comprimento, sendo de coloração amarelo-palha. É frequentemente encontrado no cartucho do milho. O ovo, amarelado, apresenta um período embrionário em torno de nove dias, sendo colocado dentro dos tecidos das plantas, preferencialmente na nervura central. As
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ninfas passam por cinco instares, por um período médio de 17 dias - 20 dias. O ciclo completo varia de 23 dias a 80 dias. D. maidis se caracteriza por sugar a seiva, o que consequentemente resulta na diminuição do desenvolvimento das plantas. Outro fator importante (atualmente o principal) é o efeito indireto através da transmissão de patógenos, sendo viroses e enfezamentos (corn-stunt). Esta praga, em altas populações, ao sugar a seiva e expelir parte do ingerido, pode favorecer a presença de fumagina nas folhas. No entanto, é importante salientar que outras pragas também levam a este sintoma na cultura. Este inseto é uma das mais sérias pragas de milho na América Latina devido à sua capacidade de transmitir, de forma persistente e propagativa, o vírus da risca do milho (maizerayado fino vírus - marafivirus – MRFV) e dois molicutes associados aos enfezamentos, Spiroplasma kunkelii (corn stunt spiroplasma – CSS, também chamado de enfezamento pálido) e o fitoplasma (maize bushy stunt phytoplasina – MBSP, conhecido ainda como enfezamento vermelho) (Naut, 1990) (Oliveira et al 2003) (Martins et al 2008). Os prejuízos de modo geral levam a perdas médias em algumas regiões na ordem de 10% a 30% de pro-
Área com tratamento de sementes para controle de corós (esquerda) e detalhe da área (uma passada de semeadora) sem o tratamento de sementes e com ataque de corós
dutividade. No entanto, pode-se chegar a 100% de prejuízos com ataque de viroses e enfezamentos. De modo geral, a região Centro-Oeste do Brasil apresenta uma grande diversidade de ambientes onde se observam áreas com cultivos de verão e 2ª safra (“safrinha”), áreas somente com o cultivo de verão e áreas com até 2,5 safras (áreas irrigadas onde o produtor, em função do mercado, faz a escolha do período a semear a cultura do milho, diante da condição econômica). Uma das práticas obrigatórias em áreas com histórico de enfezamentos na região, além da presença da praga, é a utilização do tratamento de sementes. As diferenças com a utilização desta prática passam de 20 sacas de milho em determinados casos (Figura 1). Pode-se dizer, popularmente, que ao se utilizar desta ferramenta o produtor pelo menos não sai perdendo o jogo. Os inseticidas à base de imidacloprido + bifentrina e imidacloprido + thiodicarb, thiametoxan e clothianidim são boas opções de manejo para o tratamento de sementes. Além de utilizar o tratamento
Fotos Germison Tomquelski/Fundação Chapadão
08 • Junho 2017 • Soja • www.revistacultivar.com.br
Detalhe da planta de milho com o ataque de Elasmopalpus lignosellus
de sementes para o controle de cigarrinha, o produtor também estará controlando uma importante praga no sistema de produção que envolve as culturas de soja, milho e algodoeiro. Estas pragas são os percevejos, problema que tem aumentado ao longo dos anos. Em determinadas culturas com a
utilização dos Bts é praga-chave principal. São exemplos a soja no Brasil (em que a praga tem requerido maior controle) e também o algodoeiro nos EUA. Para a cultura do milho a principal espécie é Dichelops spp., sendo que em algumas áreas há D. melacanthus e D. furcatus. Os adultos medem
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cerca de 10mm de comprimento e possuem na face dorsal a coloração marrom e na ventral a cor verde, além de espinhos laterais. Os ovos são de coloração verde, colocados em forma de placa (Tomquelski e Rotundo, 2017). Tanto a ninfa quanto o adulto são localizados no solo e se alimentam posicionados de cabeça para baixo, através da sucção de seiva da base das plântulas, causando, desta forma, os principais danos provocados pelo percevejo no milho. Os sintomas são o “encharutamento” em que não há a abertura do limbo foliar, bem como pode ocorrer um superperfilhamento, tornando a planta improdutiva. A prática do tratamento de sementes é fundamental para culturas como o milho, principalmente pela praga ocorrer no início do desenvolvimento da cultura. Os produtos químicos mais utilizados são à base de imidacloprid (imidacloprid + tiodicarb, imidacloprid + bifentrina), thiametoxan e clotianidin. Na soja alguns trabalhos de Bianco (2016) relatam que a prática pode suprimir parte da população no sistema de produção de soja-milho safrinha. Ainda na cultura do milho (poderia também encaixar a questão do algodoeiro e a soja), as lagartas de Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho-do-milho) se apresentam atualmente como um grande desafio. A massa de ovos possui normalmente a coloração cinzenta. Após a eclosão, a lagarta vai em direção ao cartucho das plantas e começa a sua alimentação, raspando apenas um lado das folhas. Ao longo do tempo, à medida que crescem, causam orifícios nas folhas chegando a destruir o cartucho por completo. Caracterizada por variar entre o cinza-escuro e o marrom e apresentar um “Y” invertido na parte frontal da cabeça, é uma lagarta que permanece de 12 dias a 30 dias no estágio
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Detalhe de Spodoptera em soja
de lagarta e pode chegar a atingir até 5cm de comprimento. A pupa é frequentemente encontrada no solo. O adulto é uma mariposa com asas anteriores mais escuras e desenhadas que as posteriores, medindo 3,5cm de envergadura. Atualmente, em função de diversos hospedeiros alternativos e seu aumento populacional, tem atacado as culturas na fase inicial adquirindo o hábito da lagarta-rosca, cortando as plântulas rentes ao solo ou mesmo como a lagarta-elasmo, que perfura o colmo provocando o sintoma de “coração-morto”. A tecnologia Bt auxiliou e muito no manejo de pragas principalmente em culturas como o algodoeiro e o milho. No entanto, como o Brasil é um país em grande parte de clima tropical, pragas como Spodoptera frugiperda podem apresentar um grande número de gerações, e algumas biotecnologias por selecionar alguns indivíduos resistentes, que têm apresentado escapes de controle desta praga. O Manejo Integrado de Pragas tem por objetivo também integrar medidas de controle, logo nenhuma estratégia deve ser considerada isoladamente para o controle das pragas. Uma das práticas que têm auxiliado na diminuição dos danos das pragas, ajudando a diminuir a população inicial, quebrar o ciclo das primeiras gerações na área é
o tratamento de sementes. Em função da quebra de resistência das tecnologias Bts, esta prática é atualmente uma importante ferramenta no manejo integrado de pragas. Principalmente como método de controle em lavouras com baixo estande, a fim de diminuir a aplicação de inseticidas e garantir a permanência dos inimigos naturais na área. Os tratamentos recomendados são carbamatos e diamidas, tendo um residual de 15 dias a 25 dias. A prática do tratamento de sementes apresenta grande conveniência por ser uma aplicação localizada, evitando a distribuição do inseticida em todo o ambiente. Entre as pragas, a mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo b tem causado grande preocupação e prejuízos para alguns produtores das culturas de soja, algodão, feijão e outras mais. A mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo b (Gennadius, 1889), é um inseto polífago e já foi observada reproduzindo-se em mais de 500 diferentes espécies vegetais, pertencentes a diversas famílias botânicas. Pertence à ordem Hemiptera e família Aleyrodidae. O ciclo biológico da mosca-branca pode variar de 17 dias a 45 dias, sendo influenciado principalmente pela temperatura. Os adultos apresentam tamanho de cerca de 2mm, com quatro
10 • Junho 2017 • Soja • www.revistacultivar.com.br ta substância açucarada sobre as folhas que favorece o crescimento de fungos oportunistas, no caso do gênero Capnodium spp. levando ao recobrimento da folha por este fungo (comumente chamado de fumagina). Isto leva à redução de área foliar e da taxa fotossintética, e por consequência de produtividade. Outra característica é a habilidade na transmissão de viroses, em especial do gênero Begomovirus – Geminiviridae, além também do gênero Carlavirus Cowpea mild mottle virus – CpMMV, que leva à necrose da haste e posteriormente à morte de plantas. O biótipo Q ou do mediterrâneo já se encontra no Brasil, sendo
Fotos Germison Tomquelski/Fundação Chapadão
asas membranosas de coloração branca. A fêmea pode colocar mais de 200 ovos. Os ovos de coloração verde-claro a castanho-claro são colocados na face inferior das folhas. Eclodindo, as ninfas são móveis em seu primeiro estádio. Após selecionarem um local, introduzem seu estilete e fixam-se, não se movendo mais. Os adultos emergem depois de quatro estádios. Por ser um inseto sugador, durante a sucção de substâncias ricas em nutrientes e água das plantas, a mosca-branca pode introduzir toxinas que provocam desenvolvimento desuniforme na planta e queda na produtividade. Além disso, secre-
Detalhe de plantas mortas em função do ataque de E. lignosellus
alvo de estudos por entomologistas da IAC e Embrapa Arroz e Feijão. Nos estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo já foi reportada sua ocorrência. Este biótipo teve sua introdução nos EUA por volta de 2004 e seu reporte de ocorrência nos países de Uruguai e Argentina no ano de 2012. Na cultura da soja a mosca-branca pode começar sua ocorrência nos primeiros dias, em algumas regiões com pressão maior da praga. O seu prejuízo comumente só é percebido na fase do enchimento dos grãos, pois as plantas tendem a terminar o seu ciclo antes do prazo normal, com os grãos menores, o que consequentemente diminui a produção (em função muitas vezes da presença da fumagina). Altas infestações na cultura da soja, quando não controladas ou mantidas em populações que não comprometam a produtividade da cultura, podem vir a migrar para culturas adjacentes ou mesmo em sucessão. Caso de algumas regiões onde o sistema de produção é mais intensivo, como a região dos Chapadões e mesmo as áreas irrigadas no Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Bahia e Maranhão, com culturas como feijão, soja e algodoeiro. Outra praga a ser monitorada em determinadas regiões são os tripés Frankliniella schultzei – Thripspalmi, além de outras espécies em estudo como Caliothrips phaseoli. De modo geral os tripes apresentam variação de coloração, sendo as ninfas amareladas e os adultos de coloração parda-escura com algumas espécies com manchas características nos primeiros pares de asas. Medem aproximadamente 2mm. Em sua fase adulta observa-se a presença de asas franjadas. São encontrados nas folhas, brotações novas e flores. Seu ataque torna as folhas, como também as brotações, coriáceas com aspecto deformado. Também provocam
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pequenas raspagens, indicativo de sua presença na cultura. Seu ciclo pode se passar em torno de 15 dias (Tomquelski e Marques, 2015). Alimentam-se da seiva das plantas, provocando deformações. Podem ocorrer tardiamente em determinados anos, provocando deformidade das plantas levando a sérios prejuízos para as culturas de soja e também o algodoeiro (Gallo et al, 2002). É uma praga que se apresenta no sistema de produção, onde também se abriga muitas vezes em várias plantas daninhas. Estas plantas servem, muitas vezes, como hospedeiros para a praga também finalizar o seu ciclo biológico e posteriormente vir a atacar as culturas. Condições climáticas de temperaturas elevadas e baixas precipitações favorecem a infestação das lavouras. O período de maior ocorrência de surtos populacionais se dá desde a emergência até os 40 dias após a emergência (Embrapa, 2010). Por se abrigarem na página inferior das folhas são consideradas
pragas de difícil controle, pois são locais que dificilmente são atingidos pelos produtos (Tomquelski, 2013). Com isto, o tratamento de sementes vem sendo utilizado como alternativa de controle, com o uso de inseticidas sistêmicos agindo em torno de 15 dias a 20 dias após a emergência das plantas (Bellettini et al, 2005). De modo geral as culturas de soja, milho e algodão foram melhoradas geneticamente através da combinação de genes da bactéria Bacillus thuringiensis. As plantas com a expressão dos Bts possuem em seu fenótipo proteínas capazes de matar pragas que venham a se alimentar dessas plantas (Martinelli, 2005), e têm apresentado bom potencial no que diz respeito ao controle de pragas, proporcionando maior segurança ao agricultor, e promovendo ganhos econômicos com a redução do custo de produção devido à redução do uso de inseticidas químicos na lavoura. Contudo, apesar dos benefícios dessa tecnologia, é importante que seja complementada com outras práti-
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cas de manejo para um controle de pragas mais abrangente, garantindo assim uma melhor proteção à cultura, mantendo um bom estande de plantas e consequentemente uma boa produtividade. Entre as práticas para complementar a biotecnologia, a utilização do tratamento de sementes tende a suprimir parte das populações de pragas a níveis adequados para o manejo, levando as culturas a expressar o seu potencial produtivo. Pois de nada adianta todo o zelo do produtor com bom planejamento, escolha de material, boa prática da semeadura se começar perdendo o jogo para as pragas. Além disto, sabe-se que problemas no início dos cultivos dificilmente serão revertidos no final, com outras práticas. Uma boa base faz toda a C diferença no resultado final. Fernanda Franco, Nayara Luchiari, Yara Barbosa, Andressa Shirmann e Germison Tomquelski, Fundação Chapadão
Encarte Técnico • Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas • nº 217 • Junho 2017 • Capa - Charles Echer Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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