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Cultivar Grandes Culturas • Ano XVIII • Nº 218 • Julho 2017 • ISSN - 1516-358X
Cultivar
Destaques
Nossa capa
Avanço sorrateiro - 26
Os desafios impostos pela antracnose, doença que tem avançado nas lavouras de soja do Brasil, de modo discreto e nem sempre perceptível, com danos provocados pela falta de cuidado com a patologia de sementes
Lucas Navarini
Índice
Migração perversa - 12
Os impactos do cultivo sucessivo de soja e milho na incidência de pragas como o percevejo-barriga-verde, causador de danos em ambas as culturas
Diretas
04
Manejo de capim arroz
05
Spodopteras em milho, soja e algodão
09
Manejo do percevejo-barriga-verde
12
Atenção à incidência de gafanhotos
19
Controle do arroz vermelho
22
Capa - Antracnose em soja
26
Controle de nematoides
31
Manejo de nutrientes em soja
35
Trigo - Competitivo e sustentável
40
Eventos - Nucoffee Syngenta
44
Desafio Máxima Produtividade Cesb
46
Coluna Agronegócios
50
Coluna Mercado Agrícola
52
Coluna ANPII
54
Vermelho daninho - 22
O uso integrado de ferramentas de manejo na luta contra o arroz vermelho, daninha agressiva, de difícil identificação pela semelhança com o grão
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
Rocheli Wachholz Karine Gobbi
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
• Revisão
CIRCULAÇÃO
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COMERCIAL • Coordenação
Charles Ricardo Echer
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Rithieli Barcelos José Luis Alves
• Assinaturas
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
DIRETAS Correção
Ao contrário do publicado na Tabela 1, do artigo Desafios da resistência, na página 39 de Cultivar Grandes Culturas, edição 217, junho de 2017, os herbicidas Clodinafop-propargil e Pinoxaden não são indicados em casos de plantas com resistência a inibidores da ACCase e não a inibidores da ALS como veiculado.
Acordo
A Sumitomo Chemical e a Basf anunciaram acordo de colaboração para o desenvolvimento de um novo fungicida. "Junto com a Basf poderemos oferecer, para um maior número de produtores, a oportunidade de desfrutar dos benefícios deste novo fungicida, que desempenhará um papel importante no manejo da resistência das doenças mais difíceis de controlar. Por meio desta parceria, mostramos nosso compromisso com a produção agrícola sustentável", explicou o diretor executivo e representante da Sumitomo Chemical, Ray Nishimoto. O fungicida pretende ser uma nova ferramenta para garantir produtividade nas culturas onde as opções de químicos são limitadas. "Esta cooperação estratégica entre a Basf e a Sumitomo Chemical demonstra o compromisso das duas empresas no investimento em soluções para ajudar os produtores a gerenciar seus negócios", avaliou o presidente da Divisão de Proteção de Cultivos da Markus Heldt Basf, Markus Heldt.
Fungicida
A Bayer e a Sumitomo Química anunciaram acordo para produção de um novo fungicida no Brasil. Na combinação utilizarão um fungicida inédito da Sumitomo com fungicidas estabelecidos pela Bayer para produzir uma ferramenta potente de combate às principais doenças que afetam a soja, como é o caso da ferrugem-asiática. Os termos financeiros da operação não foram divulgados. “Com esta parceria estratégica, contribuímos para o desenvolvimento sustentável da agricultura no Brasil”, avaliou o integrante do Conselho Administrativo da Bayer AG e presidente da Divisão Crop Science, Liam Condon. A comercialização será iniciada logo após o registro e a devida aprovação regulatória das autoridades competentes. Ambas as companhias anteciparam que solicitarão o Liam Condon registro do produto no final de 2017.
Novos rumos
A FMC Agricultural Solutions reforça seu time de liderança Latam com a contratação de Shandrus Hohne de Carvalho. O profissional, que irá atuar como diretor de Marketing Brasil, possui bacharelado em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, MBA pela Fundação Getúlio Vargas e certificação em Gerenciamento de Estratégia de Mercado pela Universidade de Nova York. Com mais de 20 anos de experiência em companhias globais no Brasil, América Latina, EUA, Europa e Ásia, Carvalho recentemente atuou como diretor de Marketing América Latina da Bosch, onde liderou Marketing, Vendas, Portfólio de Produtos, Gerenciamento e Estratégia de Mercado em mais de 20 países. Na FMC será responsável pela definição e implementação de estratégias de marketing alinhadas com os objetivos globais e regionais da empresa. Shandrus Hohne de Carvalho
04 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Portal
Já está disponível o Portal Syngenta (www.portalsyngenta.com.br). A nova plataforma foi criada com o objetivo de oferecer ao produtor informações essenciais para a tomada de decisões. No Portal, o produtor poderá decidir qual informação melhor atende seus interesses. Além de acessível a partir de computadores, smartphones e tablets, a tecnologia aplicada no desenvolvimento do novo canal permite integrar as esferas complementares de entrega de conteúdo inteligente, customizável e interativo. “A tecnologia aplicada no desenvolvimento do novo canal permitirá direcionar informações personalizadas a cada visitante, definidas a partir de sua localização, do momento de tomada de decisão e do tipo de cultura a que se dedica", explicou o diretor André Savino de Marketing da Syngenta, André Savino.
Aplicação responsável
O Programa de Aplicação Responsável, um dos projetos de Boas Práticas Agrícolas da Dow AgroSciences, passou pelos municípios de Maracaju, São Gabriel do Oeste, Costa Rica e Chapadão do Sul, no Mato Grosso do Sul, no final de junho. “O objetivo principal do Programa é realizar ações de extensão para apresentar aos produtores rurais os conceitos de boas práticas na aplicação de defensivos agrícolas, além de conscientizar e incentivar a adoção destas iniciativas, a fim de otimizar recursos, reduzir o impacto no meio ambiente e prover maior sustentabilidade para o agronegócio”, comentou a coordenadora de Boas Práticas Agrícolas da Dow AgroSciences, Ana Cristina Ana Cristina Pinheiro Pinheiro.
Prêmio Global
As empresas brasileiras Agro Amazônia, Castrolanda e Qualicitrus foram vencedoras na América Latina do Prêmio Global DuPont Respeito ao Meio Ambiente 2017. O reconhecimento, de amplitude mundial, é conferido a projetos voltados a armazenagem segura de defensivos agrícolas, gestão ambiental e incentivo a boas práticas no manejo desses produtos. “Neste momento sem precedentes de nossa indústria, temos o privilégio de trabalhar com distribuidores e revendedores notáveis, líderes engajados na difusão de práticas referenciadas de gestão ambiental e segurança no uso de produtos agrícolas. Esperamos que seu exemplo seja inspirador para outras empresas compartilharem, em todo o mundo, o nosso comprometimento com a sustentabilidade ambiental”, avaliou o presidente da DuPont Tim Glenn Crop Protection, Tim Glenn.
Herbicida
A UPL lança o herbicida Fascinate para ajudar no controle de plantas daninhas resistentes. Registrado para as culturas de soja, milho, algodão e feijão, trata-se de um herbicida de contato. “Nas culturas de algodão, milho e soja o produto pode ser aplicado no pré-plantio da cultura. No feijão e na soja, o herbicida é indicado também para a dessecação pré-colheita", explica o gerente de Herbicidas da UPL, Luciano Zanotto. De acordo com o fabricante, o defensivo tem se mostrado eficaz no controle de buva (Conyza bonariensis) e capim amargoso (Digitaria insularis), duas das principais ervas daninhas resistentes ao glifosato.
Daninhas
Do arroz à soja
Dirceu Gassen
Gramínea de difícil manejo, o capim arroz também deve entrar no rol das preocupações em áreas de produção da principal oleaginosa brasileira, não só na rotação soja-arroz, como também nas principais regiões produtoras em terras altas, com chances de apresentar dificuldades no controle com o uso de glifosato
A
s gramíneas, no contexto atual do manejo de plantas daninhas, representam um grande desafio a ser vencido. Na cultura do arroz, em função do principal sistema utilizado ser basicamente atendido por herbicidas inibidores da enzima ALS (como as imidazolinonas), que são potencialmente latifolicidas (controle de plantas de folha larga), mas com efeito sobre algumas gramíneas (folhas estreitas), o problema, em número de espécies ocorrentes, é maior que em soja, onde ainda se utilizam em
larga escala herbicidas com eficiência graminicida que permitem um controle mais amplo e eficiente. Entre as gramíneas da cultura do arroz destaca-se o capim arroz (complexo de plantas do gênero Echinochloa). As diferentes espécies de capim arroz vegetam em ambientes variados, desde campos alagados das várzeas arrozeiras até terras altas drenadas. São plantas rústicas, de ampla adaptabilidade a distintos locais e condições. Entretanto, danos a culturas comerciais por estas espécies têm sido
relatados para a cultura do arroz e têm apresentado resistência a herbicidas de diferentes mecanismos de ação. Nos últimos anos, em levantamentos realizados pelo Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Herbologia da Universidade Federal de Santa Maria, o capim arroz, além de ocorrer em toda a área de produção do arroz, foi encontrado como infestante em lavouras de soja em Santa Maria, Tupanciretã, Júlio de Castilhos, Cruz Alta, Augusto Pestana, Cachoeira do Sul, Dom Pedrito, Rosário do Sul, São Sepé, São
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05
Tabela 1 - Caracterização de espécies de ciclo anual de capim arroz ocorrentes em lavouras de soja e arroz no RS - Giphe/UFSM. 2017 Nome POSSÍVEL RESISTÊNCIA Espécies ocorrentes em arroz ou soja popular identificadas pelo grupo interdisciplinar Herbicidas Herbicidas Herbicidas Herbicidas para o de pesquisa e herbologia – setor de inibidores da inibidores da inibidores da mimetizadores RS e SC botânica enzima ALS enzima ACCase enzima EPSPS de auxina coloninho Echinochloa colona Sim Não Sim Sim canevão, jaú, capim arroz Echinochloacrusgalli var. crusgalli Sim Não Não Sim crista de galo Echinochloacrusgalli var. cruspavonis Sim Não Não Não lombo branco Echinochloacrusgalli var. oryzoides Sim Sim Sim Não lombo branco, mitis, sesania branca Echinochloacrusgalli var. mitis Sim Sim Sim Sim capim arroz Echinochloacrusgalli var. caudata Sim Não Não Não
Figura 1 - Fenograma de similaridade morfológica entre biótipos de capim arroz, baseado em descritores morfológicos e anatômicos (qualitativos e quantitativos). UFSM/GIPHE
Borja e São Gabriel. Os estudos revelam que não ocorre uma população padrão de uma determinada espécie de capim arroz que esteja bem adaptada a todos os ambientes de terras altas, ocorrendo pelo menos quatro espécies: Echinochloa crusgalli var. crusgalli (capim arroz, canevão, jaú, crista de galo), Echinochloa crusgalli var. mitis (mitis, lombo branco), Echinochloa colona (coloninho), e uma espécie de introdução mais recente no Rio Grande do Sul Echinochloa crusgalli var. oryzoides (também chamada de capim lombo branco). Os produtores de soja, preocupados, têm afirmado que “o capim arroz está subindo a coxilha!”, em referência ao entendimento de que se trata de uma planta de terras baixas alagadas que, atualmente, está ocorrendo também no planalto em lavouras de soja e em áreas não suscetíveis ao alagamento. Mas isto é um engano! Ao viajar por regiões produtoras de soja do Rio Grande do Sul, desde a Zona Sul com as terras baixas alagadiças até o planalto com as terras altas drenadas, é possível encontrar estas espécies de capim arroz vegetando em beiras de estradas em ambientes não alagados, o que revela que se tratam de espécies com adaptação a terrenos mais secos.
Os estudos iniciais com plantas coletadas nos locais de produção de soja permitiram verificar que parte destes biótipos de capim arroz apresenta níveis variados de suscetibilidade ao herbicida
glifosato, entre outros herbicidas empregados. Espécies resistentes ao glifosato também têm sido identificadas por pesquisadores da Argentina, do Uruguai, da Austrália e dos Estados Unidos. Nas áreas onde realizaram-se as coletas, o manejo com aplicações de glifosato foi executado dentro de programas que incluem herbicidas graminicidas, como o cletodim, permitindo controlar as gramíneas em escapes, quando as plantas já estavam em avançado estágio de desenvolvimento. Há áreas onde o nível populacional já é preocupante, sendo necessário usar herbicidas pré-emergentes para segurar fluxos de germinações sequenciais oriundas da quantidade considerável de dissimínulos do banco de sementes do solo. Isto dá flexibilidade para controle com herbicidas pós-emergentes dentro do programa de manejo. O capim arroz também deve entrar no rol das preocupações com gramíneas que infestam áreas de produção de soja, não só na rotação soja-arroz, como também nas principais regiões produtoras em terras altas, podendo apresentar dificuldades no controle com o glifosato. Para evitar a introdução e a naturalização destas espécies no ambiente de produção de soja, é preciso atenção para prevenir a reprodução e a disseminação da planta daninha com aumento na quantidade de sementes no solo, o que resultaria em mais problemas aos produtores da principal oleaginosa brasileira. Neste contexto, a limpeza de má-
Figura 2 - Curva dose-resposta para massa seca de plantas em função da aplicação de glifosato para biótipo suscetível e biótipo resistente de Echinochloa colona - UFSM/GIPHE - Santa Maria/RS
06 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Tabela 2 – Descritores anatômicos e morfológicos com maior informação para a diferenciação entre as espécies de ciclo anual de capim arroz – UFSM 2017 Espécie Característica Nervuras transversais unindo feixes secundários Espaços intercelulares na nervura central Saliências (fibras) externas nos feixes vasculares Papilas epidérmicas Dimensões da espigueta Espínulas na superfície da espigueta Ápice da espigueta Tricoma na ráquis
ECHCO Var. colona Presentes
ECHCG Var. crusgalli Ausentes
ECHCM Var. mitis Presentes
ECHCV Var. cruspavonis Ausentes
ECHOR Var. oryzoides Ausentes
Ausentes Ausentes
Presentes Presente pouco desenvolvidas Não proeminente e presente em ambas faces C: 2,6 – 4 mm L: 1,5 – 2,1 mm Desenvolvidas Caudado a aristado Longos (2-6 mm)
Ausentes Presente bastante pronunciada Não proeminente e presente em ambas faces C: 2,5 – 4 mm L: 1,5 – 2,2 mm Desenvolvidas Mutico a curto aristado Longos (2-6 mm)
Presentes Ausentes
Presentes Presente pouco desenvolvidas Não proeminente e só na face dorsal C: 3,5 – 5 mm L: 2,0 – 2,5 mm Pouco desenvolvidas Mutico a curto aristado Longos (2-6 mm)
Proeminentes e presente em ambas as faces C: 2,0 – 3 mm L: 1,1 – 1,6 mm Não desenvolvidas Mutico Curto (1 mm)
quinas colheitadeiras que são usadas em diferentes locais onde esta planta daninha comumente ocorre, o uso de sementes de excelente qualidade tanto de soja como de forrageiras semeadas no inverno e o manejo adequado com quarentena de rebanhos bovinos rotacionados dentro do sistema integrado, exigem cuidados para que se evite a introdução destas espécies. Estes têm sido os principais meios de disseminação do capim arroz para áreas de terras altas. O uso de herbicidas graminicidas pós-emergentes para o controle das espécies é necessário, especialmente o herbicida cletodim, que mostrou eficiência superior aos demais graminicidas no controle destes biótipos de capim arroz em ensaios realizados em campo e casa de vegetação. A Figura 1 mostra que ocorrem dois grupos de espécies de capim arroz. O primeiro apresenta as de ciclo anual, caracterizadas pelas ausências de lígula, rizomas e pilosidade nos nós caulinares. O segundo apresenta espécies perenes, com lígula pilosa nas bainhas foliares (menos na folha bandeira), pilosidade nos nós caulinares, estolões e rizomas. Entre as espécies de ciclo anual se encontra o subgrupo 1 que corresponde à espécie Echinochloa colona, cujos biótipos foram coletados em 16 áreas de produção de arroz. O subgrupo 2 reúne a espécie Echinochloa crusgalli variedade mitis (dez áreas). Subgrupo 3 Echinochloa crusgalli variedade crusgalli (12 áreas). Subgrupo 4 Echinochloa crusgalli variedade oryzoides (uma área). Subgrupo 5 Echinochloa crusgalli variedade cruspavonis (nove áreas). Além destas espécies, em áreas alagadas, foram encontradas as duas espécies de ciclo perene Echinochloa helodes e Echinochloa polystachya. Recentemente foi localizada outra espécie de ciclo anual identificada como Echinochloa crusgalli variedade caudata.
Ausentes C: até9 mm L: 0,8 – 2,0 mm Desenvolvidas Aristada Longos (2-6 mm)
Tabela 3 – fator de resistência de Echinochloa colona ao herbicida glifosato - calculado em função da GR50 para massa seca entre biótipo suscetível e biótipo resistente População Suscetível (S) Resistente (R)
a 2,5077 2,5278
b 0,2556 1,2457
X0 = GR50 (L ha-1) 1,5234 6,9257
R2 0,96 0,93
Fator resistência (FR=R/S) 4,5402
GR50 foi estimado pela análise de regressão não linear utilizando o software Sigma Plot (version 12.0, SPSS, Chicago, IL, USA). Os dados foram ajustados pelo modelo de curva logística de três parâmetros: y = a x 1 + ( x0 )^b
CARACTERIZAÇÃO DE RESISTÊNCIA AO HERBICIDA GLIFOSATO
acompanhada a três safras consecutivas, revelam que controle em nível considerado satisfatório (acima de 80%) só tem sido obtido com doses superiores a 12 litros por hectare quando aplicadas em capim arroz resistente com 1-2 perfilhos. Obteve-se controle deste biótipo resistente (Figura 2) com a aplicação do herbicida C cletodim.
Os estudos realizados com plantas de capim arroz da Depressão Central do Rio Grande do Sul, coletadas em áreas de soja, mostram que foram detectados biótipos de capim arroz coloninho (Echinochloa colona) resistente ao herbicida glifosato. Estes biótipos apresentam um fator de resistência de 4,54, portanto, teoricamente necessitam de dose pelo menos cinco Sylvio Henrique Bidel Dornelles, vezes maior que aquela que provoca perda UFSM de 50% da massa seca da parte aérea no Danie Martini Sanchotene, URI/Biomonte Pesq. e Desenvolv. biótipo suscetível. Entretanto, apesar de ser considerada Andrei Beck Goergen, academicamente como baixo nível de UFSM resistência, ensaios realizados em cam- Matheus Bohrer Scherer, po, em área cedida por produtor de soja Biomonte Pesq. e Desenvolv. Figura 3 - Percentual de controle de capim arroz resistente ao glifosato, com o herbicida cletodim. Santa Maria/ RS – 30 dias após a aplicação – capim arroz com 1-2 perfilhos
08 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br
Pragas Bruno Henrique Sardinha de Souza
Comida para o inimigo Favorecidas pela ponte verde proporcionada pela sucessão contínua de soja, milho e algodão, lagartas do gênero Spodoptera têm encontrado oferta abundante de alimento e consequentemente registrado aumentos populacionais nas lavouras brasileiras. Enfrentar a ocorrência comum nessas três culturas passa pelo manejo integrado e de resistência desses insetos
A
frequente sucessão e disponibilidade em campo das culturas de soja, milho e algodão proporcionam contínua oferta de alimento a insetos-praga, o que é conhecido popularmente como ponte verde. Entre os insetos que mais têm sido beneficiados por isso estão as lagartas do gênero Spodoptera, que são polífagas, e este fator em
especial tem sido fundamental para o aumento de suas populações e importância econômica nas últimas safras em soja, milho e algodão. A cultura do milho tem como praga-chave a lagarta-militar ou lagarta-do-cartucho S. frugiperda. No entanto, além do milho, este inseto tem adquirido gradativa importância nas culturas da soja e algodão por apresen-
tar ocorrência regular e causar injúrias nas plantas, principalmente em áreas próximas ou em sucessão envolvendo as três culturas. O fato de o milho ser plantado o ano todo no Brasil em cultivos de safra e safrinha, somado à presença de culturas de inverno ou plantas daninhas hospedeiras, proporciona à S. frugiperda condições ideais para se tornar uma praga de ocorrência frequente nas principais regiões sojicultoras e cotonicultoras (Papa e Celoto, 2011).
LAGARTA DE SPODOPTERA FRUGIPERDA
Em soja, lagartas de S. frugiperda podem atacar desde plântulas que acabaram de emergir, folhas, vagens e grãos em formação. Entre as espécies do gênero Spodoptera, S. frugiperda é a mais frequentemente encontrada se alimentando de cotilédones e folhas de plantas recém-germinadas (Moscardi et al, 2012). Devido a esse tipo de injúria, em algumas ocasiões é necessário replantio. Surtos populacionais de S. frugiperda durante os estádios iniciais das plantas são mais frequentes em épocas mais secas (Degrande e Vivan, 2010). As lagartas de S. frugiperda podem danificar plantas de algodão em qualquer estádio de desenvolvimento. Em plantas novas, lagartas mais desenvolvidas podem cortá-las na base rente ao solo e em plantas mais velhas o ataque
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Bruno Henrique Sardinha de Souza
Entre as espécies do gênero Spodoptera, S. frugiperda é a mais frequentemente encontrada se alimentando de cotilédones e folhas de plantas recém-germinadas
tende a ocorrer em hastes, meristemas apicais, folhas, brácteas, botões florais, flores, maçãs e sementes (Santos, 2001).
SPODOPTERA ERIDANIA (CRAMER)
A lagarta-das-folhas ou lagarta-das-vagens S. eridania é uma espécie multivoltina, que pode atingir quatro gerações anuais (Capinera, 2005). No Brasil, entre as espécies de lagartas que ocorrem na cultura da soja destaca-se S. eridania por causar prejuízos econômicos aos sojicultores, sendo a frequência de infestações em soja e algodão na região do Cerrado maior a cada safra (Quintela et al, 2007). Além do hábito desfolhador, em plantas de soja as lagartas também se alimentam das vagens, danificando diretamente os grãos e permitindo a entrada de micro-organismos patogênicos (Moscardi et al, 2012). Em algodoeiro, lagartas de S. eridania ocorrem a partir da emissão dos botões florais e durante o pleno florescimento, danificando as estruturas reprodutivas das plantas (Santos, 2007). Essa espécie não era tradicionalmente considerada uma praga de grande importância para soja e algodão. Porém, em decorrência de surtos frequentes, altas densidades populacionais e de níveis de desfolha e injúria em estruturas reprodutivas maiores que os níveis de controle, esse inseto tem se tornado uma praga importante nas principais regiões de cultivo do País (Souza et al, 2014).
LAGARTA DE SPODOPTERA ERIDANIA
Em milho, apesar de haver relatos de lagartas de S. eridania como causadoras de injúrias nas plantas, foi demonstrado que tanto folhas de milho convencional quanto de milho transgênico Bt causaram 100% de mortalidade larval (Bortolotto et al, 2015). Por outro lado, lagartas alimentadas com grãos de milho convencional atingiram mais de 50% de sobrevivência (Bortolotto et al, 2016), beneficiando o aumento populacional na ocasião da implementação das culturas de soja e algodão em sucessão ao milho.
SPODOPTERA COSMIOIDES (WALKER)
A lagarta-marrom ou lagarta-preta, S.
Dirceu Gassen
A lagarta-das-folhas ou lagarta-das-vagens S. eridania é uma espécie multivoltina, que pode atingir quatro gerações anuais
cosmioides também é considerada uma praga em expansão nas lavouras de soja e algodão do Cerrado brasileiro, atacando as plantas principalmente na fase reprodutiva (Zenker et al, 2007). Além de folhas, S. cosmioides provoca injúria nas vagens e sementes de soja, assumindo importância significativa pelos danos diretos no produto a ser comercializado (Panizzi et al, 2012).
LAGARTA DE SPODOPTERA COSMIOIDES
Em algodoeiro, verificou-se que lagartas de S. cosmioides se alimentam tanto de folhas, quanto de brácteas, botões florais e maçãs (Santos et al, 2010). Lagartas neonatas e de terceiro instar de S. cosmioides, alimentadas com folhas de milho convencional ou Bt não, conseguem completar a fase larval (Silva et al, 2016). Essas informações são importantes, pois indicam que outras plantas hospedeiras podem contribuir mais para a manutenção de lagartas de S. cosmioides em campo que as próprias plantas de milho.
MANEJO INTEGRADO
As lagartas de Spodoptera spp. geralmente se localizam nos terços mediano e inferior das plantas em fase reprodutiva, onde se abrigam próximas às vagens e maçãs em plantas de soja e algodão. Em milho, lagartas de S. frugiperda permanecem confinadas se alimentando no interior do cartucho das plantas ou às vezes também dentro da espiga. Esses comportamentos proporcionam às lagartas de Spodoptera spp. maior proteção a inseticidas, contribuindo para a redução da eficiência das aplicações, fato conhecido como efeito guarda-chuva. Atualmente, há apenas duas marcas comerciais à base de metomil registradas no Brasil para o controle de S. cosmioides em soja e nenhum produto para esta praga no algodoeiro. Para S. eridania, apenas os princípios ativos metomil, metomil + novaluron, lufenuron + profenofós, clorantraniliprole e ciantraniliprole estão registrados em soja e três na cultura do algodoeiro (flubendiamida, ciantraniliprole etiodicarbe). Nenhum inseticida tem registro para essas duas espécies de Spodoptera em milho. Desse modo, é bem provável que o
10 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br
controle parcial de lagartas de S. eridania e S. cosmioides está sendo realizado indiretamente com aplicações de inseticidas para outras pragas que ocorrem nessas culturas. No caso de S. frugiperda, o cenário é bem diferente e devido à sua importância econômica mais antiga para a cultura do milho, e um pouco menos recente em algodão e soja, essa praga tem mais opções de inseticidas registrados, sendo 169 produtos em milho, 42 em algodão e 25 em soja (Mapa, 2017). As liberações comerciais, no Brasil, de híbridos transgênicos de milho e de cultivares transgênicas de algodão e soja que expressam proteínas inseticidas provenientes da bactéria Bacillus thuringiensis (Tabela 1) modificaram todo o cenário do MIP nessas culturas, que dependiam quase que exclusivamente do controle químico para o controle de lagartas. O primeiro evento transgênico Bt (Evento MON531, Bollgard I, Cry1Ac) de algodão no país foi liberado em 2005, seguido do milho (Evento MON810, Yieldgard e Cry1Ab) em 2007. Em anos seguintes, vários eventos transgênicos de milho e algodão contendo uma, duas ou três proteínas foram liberados no Brasil, e atualmente há várias opções no mercado para uso dos agricultores. Em 2010, foi lançada a cultivar de soja transgênica (Evento MON87701 x MON89788, Intacta RR2 Pro, Cry1Ac) resistente a algumas lagartas desfolhadoras da cultura.
MANEJO DE RESISTÊNCIA DE INSETOS
Entre as principais medidas de manejo de resistência aos eventos transgênicos recomendam-se a expressão em alta dose da proteína inseticida, o uso da área de refúgio e a piramidação de genes. Cada uma dessas estratégias é resumidamente apresentada a seguir (Tabashnik et al, 2009). A expressão da proteína em alta dose consiste na utilização da proteína transgênica nas plantas em níveis pelo menos 25x acima da concentração necessária para matar 99% dos espécimes suscetíveis. Eventos transgênicos que não atingem essa taxa de mortalidade para uma determinada praga são considerados de baixa dose. O refúgio se baseia no emprego de uma
Bruno Henrique Sardinha de Souza
Tabela 1 - Proteínas inseticidas em plantas transgênicas de algodão, milho e soja liberadas comercialmente no Brasil. (Adaptado de IRAC, 2017) Cultura Algodão
As lagartas de Spodoptera spp. geralmente se localizam nos terços mediano e inferior das plantas
do intenso uso de transgênicos sem o cultivo de áreas de refúgio, emprego de eventos que expressam proteínas em baixa dose e que não causam mortalidade acima de 99%, e uso de transgênicos que expressam mais de uma proteína com o mesmo modo de ação, o que teoricamente não atende o conceito da piramidação de genes (ataque múltiplo). O uso de híbridos transgênicos considerados de baixa dose (por exemplo, Yieldgard, Cry1Ab) permite a sobrevivência em campo de uma porcentagem de lagartas de S. frugiperda (Sousa et al, 2016), favorecendo a transmissão dos genes resistentes para os descendentes e consequentemente aumento de sua frequência na população. Tem-se observado ainda a ocorrência de resistência cruzada entre proteínas transgênicas da mesma classe, por exemplo, proteínas da classe Cry1 (Cry1Ab, Cry1F, Cry1Ac e Cry1A.105) (Bernardi et al, 2015). Isso tem acelerado a evolução da resistência em populações de S. frugiperda expostas continuamente a plantas Bt. Essa questão é preocupante pelo fato de não apenas híbridos de milho expressarem proteínas com o mesmo modo de ação, mas porque a pressão de seleção é aumentada com o uso de cultivares de algodão e soja que também expressam essas proteínas e cuja resistência já é relatada em milho. Em plantas de algodão transgênico que contêm as proteínas Cry1Ac/Cry2Ab2 (Bollgard II) e Cry1Ac/Cry1F (Widestrike), verificou-se mortalidade total de lagartas neonatas de S. frugiperda, embora a eficiência
Dirceu Gassen
área da lavoura cultivada com plantas convencionais não Bt que proporcione a manutenção de espécimes suscetíveis. O uso da área de refúgio reduz a pressão de seleção sobre as pragas e permite que populações resistentes e suscetíveis cruzem entre si, dando origem a indivíduos que também serão suscetíveis às proteínas Bt. Recomenda-se que a área de refúgio não ultrapasse 800m de distância da área cultivada com plantas Bt e, dependendo da cultura, número de proteínas transgênicas nas plantas e confirmação de casos de resistência, que representem 5%-20% da área cultivada total. Quando necessário, para o controle de lagartas, recomenda-se o uso de produtos não Bt. Apesar de ainda não ser uma medida obrigatória, o emprego da área de refúgio em associação com transgênicos que expressam proteínas inseticidas em alta dose é uma estratégia fundamental para a manutenção de espécimes suscetíveis na população. O conceito da piramidação de genes é o mesmo do manejo por ataque múltiplo, já conhecido com inseticidas. Essa estratégia consiste na expressão de duas ou mais proteínas em plantas transgênicas com o objetivo de uma delas causar a morte do inseto no caso de a(s) outra(s) proteína(s) ser(em) ineficiente(s). A piramidação de genes leva em conta que as proteínas inseticidas apresentem distintos modos de ação e que não manifestem resistência cruzada, isto é, que o mecanismo que confere resistência à praga a uma proteína seja diferente do utilizado pela outra. Para S. frugiperda uma nova opção foi o lançamento do bioinseticida à base do vírus Baculovirus spodoptera (CartuchoVIT), cuja expectativa de comercialização é para a próxima safra (2017/2018), e que certamente contribuirá para o manejo de resistência de S. frugiperda a inseticidas. Situação mais alarmante é observada com o aumento do uso de transgênicos e a alta capacidade de S. frugiperda em evoluir resistência às proteínas inseticidas. Tem sido relatada a ocorrência de populações de S. frugiperda já resistentes às proteínas Cry1Ab, Cry1F, Cry1A.105 e Vip3Aa20 em híbridos de milho (Bernardi et al, 2015). Essa rápida evolução de resistência é o resultado conjunto
A lagarta-marrom ou lagarta-preta S. cosmioides também é considerada uma praga em expansão nas lavouras de soja e algodão do Cerrado brasileiro
Milho
Soja
Nome comercial Bollgard I Widestrike Bolgard II TwinLink Yieldgard Herculex Yieldgard VT Pro Agrisure Viptera Agrisure Viptera 3 PowerCore Optimum Intrasect VT Pro 3 Intacta RR2 Pro
Proteína inseticida Cry1Ac Cry1Ac/Cry1F Cry1Ac/Cry2Ab2 Cry1Ab/Cry2Ae Cry1Ab Cry1F Cry1A.105/Cry2Ab2 Vip3Aa20 Cry1Ab/Vip3Aa20 Cry1A.105/Cry2Ab2/Cry1F Cry1Ab/Cry1F Cry1A.105/Cry2Ab2/Cry3Bb1 Cry1Ac
tenha diminuído para lagartas mais desenvolvidas. Entre as duas tecnologias, maior mortalidade foi observada com Widestrike. Sabe-se que maior eficiência desses transgênicos é proporcionada pela adição das proteínas Cry1F e Cry2Ab2, já que Cry1Ac é expressa em menores concentrações nas plantas devido à baixa sensibilidade de S. frugiperda a Cry1Ac (Sorgatto et al, 2015). No caso da soja, a cultivar transgênica que expressa a proteína Cry1Ac (Intacta RR2 Pro) apresenta baixa toxicidade a S. eridania, S. cosmioides e S. frugiperda (Bernardi et al, 2014). Portanto, o uso dessa tecnologia não será suficiente para reduzir as densidades populacionais dessas pragas abaixo dos níveis de dano econômico. A partir dessa informação pode ser possível prever que cultivares de algodão que possuem somente a proteína Cry1Ac ou em combinação com proteínas da mesma classe Cry1 também poderão não ser eficientes para controlar lagartas de Spodoptera spp. Recomenda-se que além do plantio da área de refúgio, os produtores façam monitoramento periódico de lagartas de Spodoptera spp. para verificar se há falhas de controle, o que pode ser um indicativo de ocorrência de populações resistentes na área. Nesses casos, deve-se optar pela rotação de transgênicos com proteínas de distintos modos de ação e não apenas com diferentes proteínas, ou mesmo rotação com híbridos ou cultivares convencionais resistentes a insetos, diminuindo a pressão de seleção. Quando as densidades populacionais de lagartas atingirem níveis de controle, devem-se priorizar aplicações de inseticidas que não sejam à base de Bt e que apresentem seletividade a C inimigos naturais. Bruno Henrique S. de Souza, Amanda Maria Nascimento e Geraldo Andrade Carvalho, Universidade Federal de Lavras
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Pragas
Migração perversa Adair V. Carneiro
Cultivos sucessivos de soja e milho têm favorecido a ocorrência de pragas no Brasil, por conta da oferta constante de alimento nas lavouras. É o caso do percevejo-barriga-verde, causador de danos em ambas as culturas. Além dos cultivos, plantas daninhas, como a trapoeraba, merecem especial atenção por servirem de hospedeiras. O manejo deste inseto precisa ser realizado de modo racional e com muito critério, para prevenir o agravamento de problemas de resistência e preservar as tecnologias disponíveis para o controle
O
cultivo da soja (safra de verão) seguido imediatamente pelo de milho (segunda safra: outono-inverno) é um sistema de produção muito
utilizado no Brasil que vem favorecendo o crescimento populacional e a permanência de algumas espécies de percevejos nas lavouras. Tal ocorrência é justificada pelo fato de
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que esses insetos se beneficiam da oferta de alimento constante (ponte verde). Há uma grande diversidade de percevejos que atacam a soja. Muitos migram para a cultura do milho de segunda safra quando a soja está sendo colhida. Um exemplo é o percevejo-barriga-verde. Na soja, sua ocorrência é maior no final da fase reprodutiva, e no milho, já no início do desenvolvimento devido à população que cresceu no cultivo anterior. Em ambas as culturas, os danos podem ser expressivos. Assim, pesquisas vêm sendo conduzidas na Embrapa Soja para aprimorar o manejo do percevejo-barriga-verde levando em consideração o sistema de produção como um todo, o que é um dos maiores desafios no correto manejo da praga. Diversas espécies de percevejos atacam a cultura da soja e posteriormente migram para a cultura do milho cultivado em sucessão. Dessas, o percevejo-barriga-verde (Figura 1B), merece destaque, apesar de geralmente apresentar população inferior à do percevejo-marrom (Figura 1A) (espécie atualmente mais abundante no sistema produtivo da soja). O percevejo-barriga-verde, habitualmente ataca o milho na base da planta próximo ao solo. Quando esse ataque ocorre nas primeiras semanas de desenvolvimento da cultura pode haver prejuízo ao meristema apical, com deformação nas plantas. Diferentemente, o percevejo-marrom prefere a parte superior das plantas, sugando-as mais perto do cartucho, o que proporciona ataque com menor potencial de injúria às plantas de milho. Por isso é de grande importância o agricultor diferenciar o percevejo-marrom do percevejo-barriga-verde (Figura 1), pois enquanto precisa se preocupar mais com o percevejo-barriga-verde no milho, a ocorrência do percevejo-marrom não exige o mesmo cuidado e a planta de milho usualmente tem maior capacidade de tolerar o seu ataque. Diferentemente na soja, ambas as espécies causam o mesmo dano à planta. O percevejo-barriga-verde pertence ao gênero Dichelops, sendo as espécies Dichelops
tativa da soja ou para outras pragas que não sejam os percevejos de acordo com os níveis de ação (Tabela 1). Usar inseticidas de forma racional irá retardar a evolução da resistência e preservar as poucas ferramentas disponíveis para o controle dessa praga. Diferentemente da soja, no cultivo de milho o percevejo-barriga-verde é considerado praga-chave no início do desenvolvimento da cultura, com prejuízos significativos na implantação da lavoura, reduzindo o estande, prejudicando o vigor das plântulas e provocando perfilhamento quando o ataque é severo. Esse inseto utiliza a palhada como local de
abrigo e sobrevivência. Assim, a sucessão com a soja favorece o desenvolvimento, por permitir uma ponte-verde entre essas culturas pela oferta de alimento durante o ano todo. Por isso, o monitoramento indicado na cultura do milho se dá mesmo antes da semeadura, através da vistoria na palhada, com continuidade após a germinação das plantas (Tabela 1). Apesar da principal forma de controle disponível para D. melacanthus ser baseada na aplicação de inseticidas, é importante o desenvolvimento de métodos alternativos de manejo desta praga para auxiliar na redução do impacto desse inseto no cenário agrícola
Fotos A e B Jovenil J. Silva. Foto C Adair V. Carneiro
melacanthus e Dichelops furcatus mais importantes no Brasil. Dichelops melacanthus é mais comum, por abranger uma extensão territorial maior que D. furcatus, concentrando-se nas áreas agrícolas mais quentes das regiões subtropicais e tropicais. No norte do Paraná D. melacanthus foi a única espécie encontrada em levantamentos realizados entre 1998 e 2001. De modo diverso, no Rio Grande do Sul D. furcatus é a espécie mais importante, pois se concentra em áreas com temperaturas amenas. Estas duas espécies são muito semelhantes entre si e seu nome comum se dá por apresentarem a parte dorsal do corpo de cor marrom e a parte ventral verde (Figura 1B e 1C). Entretanto, em algumas situações de estresse ambiental, principalmente na entressafra, o percevejo-barriga-verde pode apresentar variações de cores, com um abdômen menos esverdeado que usualmente encontrado, podendo ser confundido com o percevejo-marrom. Por isso é importante observar a estrutura na cabeça entre as antenas - destacado pelas setas vermelhas na Figura 1C. Enquanto no percevejo-barriga-verde é bifurcada, no percevejo-marrom apresenta-se arredondada.
DANOS E MANEJO NO SISTEMA SOJA: MILHO
O percevejo-barriga-verde pode ocorrer durante todo o ciclo de soja e milho. Entretanto, a planta de soja tolera os ataques de percevejos na fase vegetativa sem qualquer redução de produtividade, sendo, portanto, desnecessária qualquer medida de controle nessa fase de desenvolvimento da lavoura. Infelizmente, alguns agricultores e técnicos preconizam o uso de inseticidas na fase vegetativa da soja para controle de percevejos com o objetivo de reduzir seu aumento populacional na fase reprodutiva da lavoura. No entanto, é importante ressaltar que essas aplicações de inseticidas, realizadas na fase vegetativa, trazem apenas malefícios para a condução da lavoura. Entre os malefícios da aplicação antecipada do controle de percevejos na soja (no período vegetativo) destacam-se a seleção de insetos resistentes aos inseticidas utilizados e a eliminação dos inimigos naturais. Todo agricultor sabe quanto é difícil controlar os percevejos com os inseticidas disponíveis no mercado atualmente. Entre as causas estão a ocorrência de populações cada vez mais resistentes. O desenvolvimento da resistência dos percevejos deve-se ao uso excessivo de inseticidas para o seu controle ao longo dos anos. Por isso, devido à escassez de diferentes modos de ação de inseticidas para controle de percevejos, é importante preservar as poucas ferramentas disponíveis. Não é aconselhável o uso de inseticidas recomendados para percevejos na fase vege-
Figura 1 - Diferenciação entre o percevejo-marrom (A) e o percevejo-barriga-verde (B). Setas vermelhas indicam as diferenças na região da cabeça com o percevejo-barriga-verde à esquerda com estrutura da cabeça bifurcada entre as antenas e o percevejo-marrom à direita com estrutura da cabeça arredondada entre as antenas (C). Setas azuis indicam as diferenças na região do abdômen com o percevejo-barriga-verde à esquerda com abdômen verde e o percevejo-marrom à direita com o abdômen marrom (C)
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Tabela 1 - Monitoramento e nível de ação recomendados para o percevejo-barriga-verde nas culturas da soja e milho Quando aplicar inseticidas? Monitoramento Pulverizar quando encontrar 2 percevejos fitofágos (qualquer espécie) ≥0,3 cm/m ou pano de batida entre o estádio R3 e R6 de desenvolvimento da soja Soja Pano-de-batida em 1 metro de fileira de soja Utilizar tratamento de sementes para percevejos quando encontrar 2 percevejos-barriga-verde/m2 de palhada Milho Metro quadrado na palhada = antes da semeadura Pulverizar quando encontrar 1 percevejo-barriga-verde vivo para cada 10 plantas Milho Contagem de insetos a cada 10 plantas = após germinação do milho
Tabela 2 - Número de ovos parasitados de diferentes percevejos - teste de preferência hospedeira de Telenomus podisi (Fonte: Ana Paula de Queiroz, tese de doutoramento em andamento) Hospedeiro Dichelops melacanthus Podisus nigrispinus Euschistus heros
Número de ovos parasitados 30,8 a 23,7 a 11,8 b
Médias seguidas pela mesma letra não diferenciam entre si a 5% de significância (Tukey).
em um contexto mais sustentável. Isto é ainda mais importante em um cenário em que altas populações da praga estão chegando com maior intensidade e mais cedo nas lavouras de soja e milho. Fato que tem levado os agricultores a aumentar o uso de inseticidas, muitas vezes, sem obter resultados satisfatórios.
USO DE “VESPINHAS”
Fotos A e B Jovenil J. Silva e Fotos C e D Adair V. Carneiro
Um método de controle de pragas agrícolas que tem crescido muito em todo o mundo é o uso do controle biológico aumentativo. Essa tática de manejo consiste na liberação de um agente de controle biológico da praga no ambiente, para combater essas pragas naturalmente. Entre os inimigos naturais potencialmente úteis no controle de percevejos na cultura da soja, o parasitoide de ovos Telenomus podisi (Figura 2) mostra grande
desempenho e eficiência no combate de ovos de percevejos. Recentemente, estudos realizados demonstraram que esse parasitoide apresenta preferência por parasitar ovos de D. melacanthus em relação a outros percevejos estudados (Tabela 2), mostrando o seu grande potencial biológico para ser utilizado no manejo sustentável dessa praga. O parasitoide, ao encontrar os ovos do percevejo, oviposita dentro destes ovos, e após aproximadamente 14 dias, emergem outros adultos do parasitoide que darão continuidade ao controle, proporcionando um efeito duradouro, comparado ao controle químico convencional. Outra vantagem da utilização de parasitoides de ovos no Manejo Integrado de Pragas (MIP) está no fato do controle ser exercido sobre o ovo, antes de qualquer dano ocorrer. Isso permite que, caso haja alguma falha, outra medida de manejo possa ser adotada sem prejuízos à produção da lavoura. A utilização comercial desse parasitoide ainda depende de registro nos órgãos competentes, além de pesquisas que estabeleçam definitivamente todas as recomendações para a sua utilização (pacote tecnológico) como a quantidade necessária em cada liberação, formas de liberação adequadas e baratas, entre outras. Apesar de ainda não disponível comercialmente, sua ocorrência natural em campo precisa ser preservada. Sendo assim, devem-se evitar aplicações desnecessárias
Figura 2 - Ovos de D. melacanthus (A) e E. heros (B) não parasitados; Telenomus podisi parasitando ovos de E. heros (C) e ovos de E. heros parasitados (D)
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de inseticidas, preventivamente antes da ocorrência de pragas ou quando a praga estiver abaixo do nível de ação. Priorizar o uso dos produtos mais seletivos a parasitoides e outros agentes de controle biológico, que são aqueles que causam menos danos à sobrevivência desses inimigos naturais (Tabela 3). A preservação desses insetos benéficos (inimigos naturais) irá auxiliar a reduzir a pressão de percevejos observada nos últimos anos no sistema produtivo soja: milho. Como é possível observar na Tabela 3, os inseticidas para controle de percevejos são pouco seletivos ao T. podisi. Sendo assim, uma estratégia para preservar esses inimigos naturais é aplicar inseticidas quando for estritamente necessário, ou seja, quando o nível de ação for atingido (Tabela 1). Além disso, como os percevejos são maus voadores, usualmente iniciam a colonização pelas bordaduras. Em um sistema de monitoramento bem efetuado é muitas vezes possível verificar esse início de infestação. Nesse caso, a aplicação de inseticidas pode ser feita apenas na bordadura ou em regiões restritas da área, preservando os inimigos naturais do centro da lavoura. Essa recomendação é mais fácil de ser realizada em grandes áreas, onde o efeito da bordadura é mais notado.
COLHEITA DA SOJA E MANEJO DE INVASORAS
A maioria dos percevejos se alimenta de plantas na fase reprodutiva, por serem sugadores de sementes. Portanto, apesar da ocorrência de D. melacanthus na fase inicial das culturas de milho, resultados preliminares de pesquisas indicam que este inseto não consegue se desenvolver e se reproduzir alimentando-se unicamente dessas plântulas. Nesse contexto, avaliando a preferência alimentar de D. melacanthus foi possível verificar que plântulas de milho não são hospedeiras preferenciais da praga, sendo apenas utilizadas durante a safra de outono/ inverno (segunda safra) possivelmente para garantir a sobrevivência do inseto na ausência de hospedeiros no estágio reprodutivo. Restos culturais (sementes de soja caídas no chão, vagens secas, soja voluntária), além da presença de plantas invasoras (como trapoeraba entre outras) podem possuir um papel importante para o desenvolvimento e a reprodução desses percevejos nesse cenário em campo. Essa informação é importante na formulação de algumas hipóteses para o
Tabela 3 - Classificação de diferentes inseticidas utilizados na soja quanto sua seletividade a adultos do parasitoide de ovos Telenomus podisi Inseticida Lufenuron 7,5 gramas/ha Metoxifenozide 21,6 gramas/ha Clorantraniliprole 10 gramas/ha Clorantraniliprole + lambda-cialotrina 7,5 + 3,75 gramas/ha Beta-ciflutrina + imidacloprido 12,5 + 100 gramas/ha Thiametoxam + lambda-cialotrina 28,2 + 21,2 gramas/ha
Pragas alvo Lagarta-da-soja Lagarta-da-soja, falsa-medideira Lagartas Lagartas Percevejos, vaquinha, mosca-branca e lagarta-da-soja Percevejos, vaquinha, mosca-branca e lagarta-da-soja
Efeito sobre adultos do parasitoide T. podisi Seletivo (classe 1) Seletivo (classe 1) Seletivo (classe 1) Moderadamente nocivo (classe 3) Nocivo (classe 4) Nocivo (classe 4)
manejo dessa praga no milho que precisam ser confirmadas em experimentos futuros: 1) É importante reduzir perdas na colheita da soja, pois grãos caídos no chão poderão favorecer o desenvolvimento do inseto na segunda safra (milho); 2) É importante realizar um manejo adequado de plantas daninhas, visto que a trapoeraba é hospedeiro preferencial em relação a plântulas de milho. No intuito de controlar a população de percevejos e de plantas invasoras no final do ciclo da soja, justamente no momento em que há crescimento acentuado da população do percevejo-barriga-verde, muitos agricultores vêm dessecando a soja para colheita em misturas com inseticidas. No entanto, o uso de inseticidas na dessecação de colheita pode acarretar problemas de resíduo do inseticida utilizado nos grãos, como verificado em experimentos preliminares realizados na Embrapa Soja (Tabela 4). Uma alternativa para se evitar
o problema de manejo do percevejo em infestações tardias na soja pode ser mesmo o seu manejo no milho, com o uso de tratamento de sementes com inseticidas adequados, aplicações foliares se necessário e uma maior distância entre a colheita da soja e o estabelecimento da cultura do milho, quando a janela de semeadura da segunda-safra permitir. Além disso, é importante salientar que em áreas com bom controle de plantas invasoras, a população de percevejos foi reduzida, assim como quando houve a aplicação de inseticidas na dessecação, indicando a importância do bom manejo dessas ervas daninhas hospedeiras C do percevejo.
Tabela 4 - Análise de resíduo em grãos para acefato após diferentes manejos de percevejos
Ana Paula de Queiroz, Universidade Federal do Paraná Bruna Magda Favetti, Iapar – Londrina, PR Adeney de Freitas Bueno, Embrapa Soja – Londrina, PR
Resíduo de acefato (mg/kg de soja) 0,00 Área conduzida com MIP-Soja 0,03 Área dessecada no estádio R7 com mistura com acefato 0,8kg de produto comercial/ha Manejo
Ana, Bueno e Bruna reforçam a importância de preservar as ferramentas de controle
Pragas
Nuvem sombria Maria Laura de Wysiecki
Nos últimos meses produtores rurais têm vivenciado alertas sobre infestação de gafanhotos considerados pragas. A espécie Schistocerca cancellata tem histórico de danos, mas pode ser manejada. Contudo, qualquer medida nesse sentido exige muito critério, já que o foco deve ser a redução da densidade populacional e não a erradicação
G
afanhotos são considerados sinônimos de pragas e causadores de prejuízos econômicos. Apesar de se conhecerem quase 900 espécies de gafanhotos que ocorrem no Brasil, apenas em torno de 25 podem causar danos severos a cultivos. Dentre estas, têm-se destacado neste ano a subespécie Schistocerca cancellata cancellata, que foi descrita pelo entomólogo francês Jean Guillaume Audinet Serville em 1838, na sua obra “História Natural dos Insetos”. Gafanhotos do gênero Schistocerca são encontrados em toda a América Latina e têm historicamente causado graves danos econômicos. Dentre as espécies deste grupo destaca-se Schistocerca cancellata que é encontrada na Argentina, na Bolívia, no Brasil, no Chile, no Paraguai, no Peru e no Uruguai, sendo que os maiores e mais recentes surtos populacionais ocorreram nos dois primeiros.
Adultos de Schistocerca cancellata cancellata são reconhecidos por terem um tamanho relativamente grande (machos podem medir aproximadamente de 3cm a 5cm e as fêmeas, de 4cm a 7cm), corpo cilíndrico e medianamente alongado, apresentam uma curta faixa clara lateralmente na borda da asa, asas pigmentadas com manchas de cor marrom, faixa de coloração branco/creme que recorre todo o corpo quando visto por cima (da cabeça até o final das asas), outra faixa branco/creme na metade inferior da face externa da perna posterior (saltadora) que possui espinhos pretos com pontas brancas. O padrão geral de cor desta espécie pode variar de marrom-claro, passando por castanho, marrom-escuro e até indivíduos de cor verde-oliva, sendo que sob determinadas condições já foram registrados indivíduos avermelhados (o que possivelmente ocorre quando os indivíduos
estão parasitados). No entanto, é importante destacar que a correta identificação da espécie é necessária e essencial para se tomar decisões quanto ao seu controle, pois a maioria dos gafanhotos é considerada economicamente neutra, não acarretando danos ou prejuízos econômicos, e ainda são benéficos para o campo, alimentando-se de plantas daninhas e acelerando a ciclagem de nutrientes e o fluxo de energia na área. O mais prudente é sempre entrar em contato com um especialista que irá auxiliar o produtor na correta identificação. Importante também sempre registrar com fotos a espécie, o local onde foi encontrada e se possível coletar alguns exemplares. A espécie S. cancellata possui duas fases: a solitária e a gregária. Na solitária os indivíduos se desenvolvem sobre a vegetação local e não migram. No entanto, com o aumento da den-
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uma atenção especial por parte dos produtores e da fiscalização agropecuária, pois, apesar de não serem constantes, as pululações podem afetar negativamente a produtividade e causar perdas econômicas importantes quando surgem. As regiões Nordeste, Sul, Centro-Oeste e pequena parte da Norte são as mais afetadas, com aparecimentos pontuais de pululações de gafanhotos. Estas podem chegar a casos mais severos, a mais de 30km de extensão e 2,5km de largura, com densidade de até 250 adultos por m2, sendo que inclusive já foram registradas populações de aproximadamente 50 milhões de indivíduos por km2. Com a formação destas pululações, os indivíduos tendem a se deslocar mais, o que aumenta ainda mais a voracidade dos gafanhotos, podendo devorar grandes plantações em poucas horas. Geralmente um gafanhoto consome diariamente uma média de 50% do seu próprio peso em matéria vegetal fresca, sendo que em pululações, este índice chega a 100%. Para se ter uma ideia desse impacto, pode se tomar por base a infestação ocorrida em 1992 no Mato Grosso, quando foi registrada uma pululação formada por aproximadamente de 70 a 100 toneladas de indivíduos, ou seja, no mínimo 35 toneladas de vegetação foram consumidas por dia por aquela nuvem de gafanhotos. Vale destacar que na Argentina a espécie Schistocerca cancellata já foi registrada formando uma pululação de 100km de comprimento por 10km de largura. Condições climáticas e oferta de alimentos são as causas primárias de formação desses adensamentos populacionais. Dentre estes fatores, pesquisadores têm apontado que efeitos ecológicos, aliados às modificações na paisagem, resultantes das próprias ações do homem, desencadeiam os processos formadores de pululações. Com condições adequadas
e a diminuição de seus inimigos naturais, as populações tendem a crescer, o que pode ocasionar a ocorrência desses surtos populacionais, inclusive de espécies que antes não causavam danos severos em cultivos. Diversas espécies de gafanhotos são especialistas com relação à sua alimentação, apresentando uma biologia intimamente ligada à sua planta hospedeira, mas a maioria das espécies é considerada polífaga, podendo se alimentar de diversos tipos de vegetação, como é o caso de Schistocerca, que possui mais de 400 espécies vegetais em seu cardápio. Tanto adultos quanto ninfas (formas jovens, geralmente sem asas e sem o padrão de cores dos adultos) provocam danos, alimentando-se principalmente da parte aérea dos vegetais. Gafanhotos são ativos durante o dia e a atividade de busca e consumo de alimento é mais intensa no período matutino. Seu ciclo reprodutivo é influenciado por diversos fatores ambientais com destaques para a temperatura e a precipitação. Durante períodos prolongados de precipitações, as populações de gafanhotos tendem a diminuir, mas após estas e com o aumento da temperatura, ocorrem os períodos reprodutivos. S. cancellata pode apresentar até três gerações por ano, sendo que as fêmeas depositam os ovos no solo. A chegada desses indivíduos em áreas produtivas pode causar perdas consideráveis, desde redução de área foliar e de brotes até a totalidade das plantas atacadas. S. cancellata já foi registrada causando severos danos às culturas de álamo, algodão, amendoim, batata, cana-de-açúcar, cevada, citrus, eucalipto, feijão, girassol, mandioca, milho, mimosa, pastagens, soja, sorgo e trigo. Enquanto a soja, devido à maior densidade de plantio, pode tolerar um nível maior de dano, culturas como a de girassol, milho e sorgo
Fotos Maria Laura de Wysiecki
sidade populacional, os indivíduos mudam o comportamento para a fase gregária, quando alteram a coloração, elevam o consumo de alimentos e a reprodução. Nesta fase tornam-se migradores e podem se deslocar por enormes distâncias. S. cancellata foi registrada destruindo várias extensões de pastagens e de diversos cultivos, principalmente na Argentina, na Bolívia, no Brasil e no Paraguai. Isto ocorre porque na região central da Argentina, entre os departamentos (estados) de Tucumán, Santiago del Estero, Salta, Catamarca, La Rioja e Córdoba, existe uma região chamada de zona de cria permanente, onde esta espécie ocorre naturalmente e com relativa abundância. Em certas condições, ocorre um pico de reprodução da espécie, com alta quantidade de indivíduos, que desencadeia a formação da “nuvem”. Esta, por sua vez, se dispersa para os demais países. Isto não quer dizer que a espécie não ocorra naturalmente nas demais localidades, mas a formação das chamadas pululações (como tecnicamente são chamadas as populares "nuvens" de gafanhotos) tem como epicentro essa região do país vizinho. Os primeiros registros de danos severos causados por C. cancellata no Brasil são da década de 1930, quando pululações vindas da Argentina e do Paraguai infestaram a região Sul do País. Na década seguinte, o Senado brasileiro regulamentou uma lei para controle e tentativa de erradicação dessa praga (Lei 483, de 12 de novembro de 1948). Tanto foi importante que até o Dia Nacional da Aviação Agrícola é comemorado no Brasil na data em que um monomotor foi usado para combater essa infestação de S. cancellata em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 1947. Apesar de não constar atualmente como um dos principais causadores de danos severos em cultivos no Brasil, os gafanhotos merecem
A correta identificação da espécie é necessária e essencial para se tomar decisões quanto ao controle de gafanhotos
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Apesar de se conhecerem quase 900 espécies de gafanhotos que ocorrem no Brasil, apenas em torno de 25 podem causar danos severos a cultivos
Adultos de Schistocerca cancellata cancellata são reconhecidos por terem um tamanho relativamente grande (machos podem medir aproximadamente de 3cm a 5cm e as fêmeas de 4cm a 7cm)
apresentam riscos maiores. O manejo deve ser realizado principalmente pelo monitoramento e pelo controle, destacando-se que este objetiva diminuir a densidade populacional e não a erradicação da espécie. Deve-se lembrar o aspecto benéfico que a ocorrência de gafanhotos tem, pois estes também são a base alimentar de diversas aves, e assim a sua presença as atrai, o que auxilia no controle das demais espécies de insetos que podem causar danos aos cultivos. Deve-se realizar monitoramento perma-
nente quanto à presença de gafanhotos na área cultivada. Conhecer as espécies que ocorrem no cultivo e nas áreas adjacentes é de extrema importância para detectar o risco de ocorrência de pragas. O monitoramento e a detecção precoce por parte dos diferentes atores do meio são fundamentais para a adoção de medidas no momento correto. Com relação ao controle, no caso do químico, deve ser realizado para a diminuição da densidade populacional e utilizando produtos autorizados, com a devida indicação de uso
para o cultivo e com tecnologia adequada para a aplicação. A efetividade deste controle vai depender da forma de aplicação e do produto empregado. Estudos demonstram que as aplicações terrestres têm sido mais efetivas para o controle de gafanhotos, devido às inúmeras vantagens como, por exemplo, o acesso às partes inferiores das plantas quando estão em adensamento. Já para o controle biológico, internacionalmente tem sido bem exitoso o uso de fungos entomopatógenos como Nosema locustae, Entomophthora grylli e Beauveria bassiana, além das bactérias Bacillus thurigiensis e Coccobacilus acridiorum. O extrato de folhas e de frutos de cinamomo (Melia azedarach, família Meliaceae) também tem sido estudado e indicado para o controle de gafanhotos, apresentando eficiência na mortalidade e repelência destes. Assim, como os gafanhotos se mantêm na forma solitária quando controlados e monitorados, não causando danos econômicos aos cultivos, a prevenção é a forma mais eficaz de ação. É importante estar atento a este inseto que necessita de “um pulo” para sair da sua condição de benéfico ao ambiente e se tornar C praga. Marcos Lhano, UFRB
Fotos Gerarda Beatriz Pinto da Silva
Arroz
Vermelho daninho
Agressivo, de difícil identificação e detentor de características genéticas, morfológicas e bioquímicas bastante semelhantes às do grão cultivado, o arroz vermelho desafia produtores e pesquisadores. O uso integrado de ferramentas de manejo, que não privilegie o emprego isolado de uma única tecnologia, é o caminho para prevenir e minimizar prejuízos
O
arroz daninho popularmente conhecido como arroz vermelho pertence à mesma espécie do arroz cultivado (Oryza sativa L.), sendo ambos originários da Ásia. A partir desta região, provavelmente como contaminante de sementes do arroz cultivado, se disseminou para todas as demais que cultivam arroz ao redor do mundo. Mundialmente o arroz daninho é a espécie responsável pelos maiores prejuízos em áreas cultivadas com arroz. No Brasil, essa espécie está difundida nas principais áreas produtoras, sendo relatada redução de produtividades de até 100%, quando a ocorrência é elevada. O arroz vermelho ou arroz preto recebeu inicialmente essa denominação devido à coloração do pericarpo. Com o passar dos anos e o contínuo convívio com o arroz cultivado, sua coloração e o formato têm se alterado. É possível,
atualmente, encontrar grãos com diferentes colorações, até mesmo branca e com formato semelhante ao cultivado. O processo de aproximação fenotípica e genotípica observado em arroz daninho ocorre em virtude do fluxo gênico entre esses genótipos, onde o arroz cultivado atua doando caracteres via pólen para o arroz daninho. Este, por sua vez, comporta-se como bom aceptor durante o florescimento. Contudo, é importante ressaltar que a taxa de cruzamento é baixa, não ultrapassando 5%, mas o suficiente para proporcionar essa aproximação de caracteres entre o arroz cultivado e o daninho. A presença conjunta no campo, do arroz daninho e o cultivado, gera facilmente confusão na identificação. De forma geral, o arroz daninho apresenta-se com maior vigor inicial, estatura avantajada e ciclo reduzido. A presença de debulha natural e dormência de
22 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br
sementes são as características que proporcionam a ressemeadura natural e reinfestações futuras dessa planta daninha. Neste contexto, em áreas com presença de arroz daninho, todo ano são adicionadas ao solo novas sementes dessa espécie, que podem ficar dormentes e viáveis no solo por até 30 anos. Aliadas a isso, a germinação e a emergência desuniformes ao longo dos anos têm potencial de elevar a variabilidade e a adaptabilidade do arroz daninho ao sistema de cultivo. A presença do arroz daninho em áreas de cultivo de arroz ocasiona prejuízos diretos e indiretos à cultura. Diretamente, os prejuízos são ocasionados em decorrência de sua alta adaptabilidade ao sistema de produção e com isso elevada competitividade por recursos essenciais como água, luz e nutrientes, resultando em menor desenvolvimento e produtividade da cultura.
Indiretamente, a presença de arroz daninho durante a colheita deprecia o produto colhido, gerando descontos no valor pago ao produtor. Na indústria, contaminações com os grãos daninhos, prejudicam o beneficiamento do arroz, reduzem o rendimento de grãos inteiros e a qualidade final do produto, além de limitar o preço recebido pelo produto. É importante ressaltar que os grãos de arroz daninho são comestíveis, mas não apresentam a palatabilidade e a cocção (cozimento) exigidas pelo consumidor. Consequentemente, a presença de grãos de arroz daninho junto ao cultivado reduz de forma significativa o valor agregado ao produto. O manejo eficiente dessa planta daninha é requerido, de modo a reduzir os impactos sobre a cultura e a qualidade final do produto. No entanto, por pertencer a mesma espécie do arroz cultivado, e possuir praticamente as mesmas características genéticas, morfológicas e bioquímicas, o controle dessa planta daninha é dificultado. O manejo do arroz daninho, no sistema irrigado e pré-germinado, é baseado na presença contínua de água na área,
Genótipos do arroz vermelho com diferentes colorações
evitando a germinação e o estabelecimento da invasora. Essa ferramenta de manejo vem sendo utilizada por muitos anos, contudo não controla plantas já estabelecidas na área. Sendo assim, um controle químico foi desenvolvido a partir da utilização de herbicidas seletivos
à cultura. O advento da tecnologia Clearfield (CL) permitiu o controle do arroz daninho após o seu estabelecimento, sem prejudicar a cultura. Esse sistema de produção é baseado no uso de cultivares tolerantes aos herbicidas do
A observação de escapes de arroz daninho, frente às ações de manejo utilizadas, não é incomum, sendo necessário o controle
grupo químico das imidazolinonas. Os herbicidas utilizados foram especialmente desenvolvidos para as condições edafoclimáticas do Brasil e permitem um controle seletivo desta invasora. As cultivares de arroz CL não são transgênicas e, sim, resultantes de mutações induzidas que deram origem a plantas resistentes a esses herbicidas. Este sistema proporciona o recebimento de sementes certificadas e isentas do arroz daninho pelos produtores e ainda viabiliza a retomada de áreas abandonadas em consequência da alta infestação. A adesão dessa tecnologia por parte dos produtores foi ampla e, atualmente, o cultivo com arroz CL ocupa 74,4% da área semeada no Rio Grande do Sul, principal produtor nacional. A manutenção da eficiência da tecnologia CL foi atrelada ao cultivo não contínuo dessas cultivares na mesma área por mais de dois anos. Com subsequente cultivo de arroz convencional ou rotação de culturas ou mesmo pecuária. Em muitos casos essa recomendação não tem sido respeitada, agravada por controles tardios e utilização de baixas doses dos herbicidas recomendados. Nesse cenário, o escape de arroz daninho foi observado, e sua presença na área permitiu o cruzamento com arroz cultivado. Deste modo, a resistência aos herbicidas foi transferida ao arroz daninho, tornando-os tolerantes, reduzindo a eficiência da tecnologia. A evolução da resistência às imidazolinonas em arroz daninho também está associada à contaminação de sementes mantidas sob domínio do produtor e utilizadas na safra seguinte. A utilização de cultivares CL não
pode ser a única ferramenta utilizada no manejo do arroz daninho, sendo requeridas práticas complementares de manejo, implementadas antes mesmo da semeadura. A utilização de sementes certificadas deve ser preconizada, evitando a introdução de sementes de plantas infestantes no momento de semeadura. A prática de utilização de sementes salvas pelos próprios produtores na safra seguinte deve ser extinta, de modo a evitar essa contaminação no momento da semeadura. Portanto, quando pensado no manejo adequado do arrozdaninho, a semente é o insumo de maior importância e a procedência de certificação torna-se imprescindível. O manejo em pré-semeadura do arroz baseado na utilização de glifosato e paraquat tem resultado em benefícios significativos no controle das daninhas, principalmente na redução do banco de sementes. Ambos reduzem a infestação do arroz daninho por dessecação antecipada, deixando a área limpa por mais tempo. Inicialmente, deve-se estimular a germinação das sementes existentes no banco, para posterior dessecação ou controle mecânico. Essa ação facilita o controle previamente, potencializando o estabelecimento do arroz cultivado em área livre da invasora, elevando a eficácia do manejo da lâmina de água e controle químico no período de pós-semeadura. Juntas, essas ações facilitam o controle e retardam a evolução de arroz daninho resistentes aos herbicidas, em especial às imidazolinonas. No sistema de cultivo irrigado, a presença da lâmina de água deve ser permanente, com entrada após o estabelecimento da cultura e remoção na
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colheita. O controle de plantas daninhas é mais eficaz quando a entrada da água é antecipada, com arroz em estádio de três folhas a quatro folhas. Adicionalmente, a eficiência dos herbicidas está diretamente relacionada à entrada de água, ou seja, quanto mais cedo, melhor, já que o atraso favorece o estabelecimento e desenvolvimento das plantas daninhas. A observação de escapes de arroz daninho, frente às ações de manejo utilizadas, não é incomum, sendo necessário o controle destes escapes, a fim de impedir que as plantas produzam sementes e sua deposição no banco de sementes. Cabe ressaltar que, uma única planta de arroz daninho tem capacidade para produzir mais de duas mil sementes, considerando que 50% delas estarão viáveis no primeiro ano, serão mil novas plantas na próxima safra. Neste sentido, estratégias que envolvam o rouguing devem ser consideradas, promovendo a retirada das plantas indesejáveis antes que formem grãos. No rouguing químico, utilizam-se luva e barra-química, associadas à aplicação de um herbicida sistêmico. A utilização de barra-química só é possível no controle de arroz daninho de elevada estatura frente ao cultivado. Em breve, devem chegar ao mercado nacional novas tecnologias direcionadas ao controle do arroz daninho. O sistema Provisia fornecerá cultivares resistentes aos herbicidas do grupo químico dos ariloxifenoxipropionatos (FOPs) e o Full Page aos herbicidas inibidores de ACCase. Até o momento encontram-se em fase de testes. Levando em consideração o cenário atual, a incorporação de tecnologias e os conhecimentos disponíveis ainda promovem um controle do arroz daninho de modo satisfatório. Entretanto, o sucesso nessa tarefa não será alcançado com a utilização isolada de uma tecnologia e sim através do uso integrado de ferramentas C de manejo. Maicon Drum, Luiza Elena Ferrari e Gerarda Beatriz Pinto da Silva, UFRGS
Drum, Luiza Elena e Gerarda Beatriz abordam o manejo integrado do arroz vermelho
Fotos Lucas Navarini
Capa
Avanço sorrateiro
A antracnose em soja tem avançado especialmente nos cerrados brasileiros, de forma ardilosa e com danos muitas vezes ocultos gerados pelo descuido com a patologia de sementes. Tal situação gera maior dificuldade de controle e aumenta a preocupação inclusive em regiões em que anteriormente a doença não era considerada tão importante
A
antracnose da soja, uma consequência fisiológica ou causa de abortamento de legumes. O tema é parte de uma discussão atual em lavouras de soja, onde nas últimas safras se observaram com maior frequência legumes sem grãos, presos às plantas. Na tentativa de estimar danos e apontar as causas desse sintoma, a doença, causada por fungo do gênero Colletotrichum, tem sido considerada. Na atual safra 2017, a antracnose surge como a segunda doença em importância na mente dos sojicultores, para a tomada de decisão na escolha do controle químico, ficando apenas atrás da ferrugem. As condições de alta temperatura e umidade, somadas a solos pobres em potássio, especialmente dos cerrados, favorecem sua ocorrência. Apesar de C. truncatum ser
o táxon mais comumente associado com a antracnose da soja, outras espécies do gênero também estão envolvidas, como C. destructivum (Lehman e Wolf), C. gloeosporioides (Spauld; Schrenk) e C. graminicola (Sinclair e Backman, 1989). Um experimento recentemente publicado por professores da USP/Esalq (Barbieri, 2017) que coletaram caules de plantas de soja, de janeiro de 2012 a novembro de 2014, com lesões marrons irregulares necróticas em lavouras comerciais no cerrado, encontrou entre os isolados a espécie Colletotrichum cliviae. Os testes de patogenicidade foram realizados duas vezes, com cinco cepas de C. cliviae em plantas de soja em vaso, cultivar BMX Potência ou AMS Tibagi e confirmaram a ocorrência de C. cliviae causando antracnose em soja no Brasil (Barbieri, 2017).
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Também existem diversos trabalhos na literatura que consideram Colletotrichum truncatum como o principal agente causal da antracnose da soja. Porém, para Yang et al, 2012, 2014, há várias outras espécies de Colletotrichum envolvidas em diferentes regiões geográficas. Os trabalhos de Dias, 2014, e Barbieri, 2017, são o primeiro relato de C. cliviae envolvido com a antracnose da soja no Brasil. O estudo efetuado na Universidade de Brasília mostrou que o isolado I5H, proveniente do estado do Tocantins, apresentou lesões em plantas de soja mais severas, comparativamente, onde os autores classificaram como um dos mais agressivos à soja, causando lesões tanto em cotilédones, como em hastes. Os autores apontaram, ainda, que a prevalência desta antracnose está separada geograficamente nos estados de Tocantins, Maranhão e no
Lesões escuras, irregulares, formando depressões nas hastes e pecíolos estão entre os sintomas mais relatados da antracnose
Distrito Federal, justamente os locais onde têm sido relatados casos mais agressivos e recorrentes de danos por esta doença. (Dias, 2014). Com a luz desses estudos mais recentes observa-se que o patossistema antracnose da soja é complexo e sua etiologia confusa. A escassez de informações sobre o patógeno, nas diversas regiões produtoras de soja, pode dificultar estratégias de controle, seja de uso de cultivares resistentes ou mesmo de fungicidas. Se no Brasil há a ocorrência de múltiplas espécies de Colletotrichum causadores da antracnose em soja, a própria reação varietal de suscetibilidade à doença pode ser diferencial entre regiões. Além de que, a espécie mais “agressiva” pode estar sendo disseminada através de sementes contaminadas sem o devido cuidado, oferecendo maior dificuldade de controle para regiões em que anteriormente a antracnose não era uma doença tão importante. Observa-se um avanço da doença, especialmente nos cerrados brasileiros, de forma ardilosa proporcionando um dano oculto através do descuido com a patologia de sementes. Os sintomas mais relatados e observados da antracnose nessas condições são lesões escuras, irregulares, formando depressões nas hastes e nos pecíolos. Comumente não se observam sintomas foliares e o fungo tem um comportamento preferencialmente saprofítico, colonizando estruturas (pecíolos) muitas vezes já descartadas pela planta. Em legumes, quando infectados no estágio inicial de formação, adquirem coloração castanho-
-escuro a negro e ficam retorcidos, recobertos pelos acérvulos do fungo (usar a sequencia de em uma montagem). Nos legumes em granação, as manchas negras inicialmente se concentram na região do grão, podendo atingir todo o legume, e também, apresentarem abundante produção de acérvulos. Muitos autores explicam que esse tipo de infecção é causa de abortamento de legumes, o que justifica o alto potencial de dano dessa doença. Contudo, quando a infecção é tardia existe a formação de sementes, mas com baixa qualidade, que servem como fonte de inóculo, visto que a doença apresenta uma alta taxa de transmissibilidade via sementes. Alguns trabalhos também relatam que em altas severidades a doença pode induzir a retenção foliar e a haste verde, devido à perda acentuada de legumes (Embrapa, 2008; Recomendações, 2007; Balardin, 2002;
Dias et al, 2012). Apesar da crescente importância da doença no Brasil (Dias et al, 2012; Barros, 2008), existe pouca informação sobre métodos adequados de controle, até mesmo a respeito da disponibilidade de resistência genética em soja. Nas recomendações oficiais constam métodos culturais de controle como rotação de culturas, manejo do solo, adubação potássica, maior espaçamento e menor densidade de plantio (Embrapa, 2008). Entretanto, Dias et al (2012) e outros autores enfatizam o emprego de variedades resistentes como ponto-chave no manejo integrado da antracnose na cultura da soja. Klingelfuss e Yorinori (2001) observaram C. truncatum presente em folíolos de soja, mesmo na ausência de sintomas no campo. Para estes, a antracnose apresenta um longo período latente, onde o patógeno infecta a planta precocemente, mas os sintomas só são observados na fase de formação de legumes. Observações realizadas em lavouras comerciais nos estados de Tocantins, Bahia e Mato Grosso, na safra 2017, constataram um comportamento diferencial quanto à sintomatologia da antracnose, não só em diferentes cultivares, como também relacionada ao regime de chuvas, especialmente na floração. Algumas cultivares apresentavam mais sintomas em hastes e pecíolos, enquanto outras demonstravam mais legumes sem grãos. Lavouras em que a época de semeadura coincidiu com alta pluviosidade durante a floração chegaram a apresentar 20% a mais de legumes nulos, em relação à mesma cultivar em outra época de semeadura, no estado da Bahia. O devido entendimento da diversidade do patógeno, principalmente sobre as diferenças quanto à agressividade e ao comportamento epidêmico, é imprescindível para entender as diferenças observadas na eficiência das medidas de controle, em
Em legumes, quando infectados no estágio inicial de formação, adquirem coloração castanho-escuro a negra e ficam retorcidos, recobertos pelos acérvulos do fungo
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tado bons resultados de controle. Os dados apresentados nas Figuras 1 e 2 demonstraram numericamente as observações realizadas a campo e os danos da antracnose. Além dos sintomas conhecidos em legumes e hastes de soja, Blood, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2015 observou que Colletotrichum horii é capaz de infectar flores, permanecer latente e provocar sintomas de antracnose em frutos de caquizeiro. Isso também já foi relatado em citros, oliveiras e morango (Zulfiqar, 1996; Iannota, 1999; Wilson, 1990). Em citros, os sintomas são caracterizados pela presença de lesões necróticas marrons ou alaranjadas nas pétalas e queda dos frutos recém-formados. Talvez seja necessária uma metodologia adequada para a devida quantificação e, mais importante ainda, comprovação da infecção floral em soja, visto que em várias espécies vegetais onde o fungo Colletotrichum é patogênico a flor é parte importante do processo epidêmico. Assim, especula-se que possa ocorrer infecção floral pelo fungo, o que por
consequência resultaria em um menor pegamento de legumes na soja, explicando o elevado potencial de dano da doença. Sendo assim, o número de legumes por planta está sendo avaliado e catalogado nas mais diversas regiões, com o objetivo de medir a eficiência de controle químico de antracnose. Os resultados da safra 2017, em experimentos conduzidos em sete diferentes municípios do estado do Rio Grande do Sul, mostraram que quanto maior a retenção de legumes por planta, menor o número daqueles com sintomas de antracnose (Figuras 1 e 2). Por fim, o impacto na produtividade é elevado, considerando uma condição menos agressiva, comparativamente ao observado nos estados da Bahia e do Tocantins C nesta mesma safra. Lucas Navarini, IFRS
Erlei Reis
especial o químico. Além da avaliação, por parte do próprio produtor, da suscetibilidade das cultivares no seu local (e na sua espécie de Colletotrichum) de cultivo, a primeira medida para o controle da doença reside no uso de sementes livres do patógeno, produzidas em áreas livres da doença. Essas sementes devem ser tratadas com fungicidas capazes de reduzir os riscos de introdução do patógeno no campo. Resultados demonstraram no ano passado que o uso de misturas de mais de um ingrediente ativo no tratamento de sementes de soja diminuiu significativamente a transmissibilidade de C. truncatum para plântulas de soja. Porém, o desafio para o controle químico de antracnose na parte aérea da soja é atingir o alvo. Considerando a dificuldade de atingir as folhas do terço inferior da cultura em estágios avançados, como de formação de legumes, certamente atingir legumes e hastes nesta fase fenológica é muito mais difícil. Portanto, tem se observado, não só em experimentos, como em lavouras comerciais, que programas de fungicidas com ativos mais efetivos sobre Colletotrichum nas primeiras aplicações (vegetativo e primeiras flores) têm apresen-
Figura 2 - Número de grãos por planta, e número de legumes com sintomas visíveis de antracnose para os tratamentos fungicidas aplicados em sete diferentes municípios na cultura da soja no estado do RS – 2017
Fotos Lucas Navarini
Figura 1 - Número de legumes por planta, divido em legumes com um grão, dois grãos e três grãos, para os tratamentos fungicidas aplicados em sete diferentes municípios na cultura da soja no estado do RS – 2017
Presença de acérvulos do fungo do gênero Colletotrichum, causador da antracnose
Navarini aborda o aumento da preocupação com a antracnose nas lavouras
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Nos legumes em granação as manchas negras, inicialmente se concentram na região do grão
Soja
Ameaça oculta
Guilherme Lafourcade Asmus
Impulsionados por aspectos como sistema de cultivo e operações agrícolas, nematoides têm registrado maior disseminação e aumento populacional em diversas regiões produtoras de soja no Brasil. Com status elevado a um dos principais problemas enfrentados pelos sojicultores no país, estes patógenos protagonizam ataques silenciosos, capazes de resultar em grandes prejuízos. Diante da impossibilidade de eliminá-los, o caminho para evitar perdas provocadas por estes agentes bióticos reside no manejo da área de forma racional e consciente
A
soja é uma das principais culturas agrícolas exploradas no Brasil. As operações agrícolas, aliadas ao sistema de cultivo da cultura em cada região do País, proporcionaram condições adequadas para o desenvolvimento dos nematoides nos solos brasileiros. Esse desenvolvimento ocorreu tanto pela falta de estratégias de manejo dos nematoides com rotação de culturas, quanto pelo intenso trânsito de máquinas para diversas regiões, o que culminou com o transporte de algumas espécies até então restritas a algumas áreas de cultivo e para a elevação da população
dos fitonematoides. Atualmente os nematoides vêm crescendo em importância no sistema produtivo e ganham espaço no cenário brasileiro como um dos principais problemas fitossanitários da sojicultura, com poder, inclusive, para inviabilizar algumas áreas de cultivo da oleaginosa. Essa importância é explicada pelo fato de causarem danos diversos às plantas parasitadas, além de participarem de complexos de doenças de diferentes modos, como criação de portas de entrada para outros patógenos; modificação da rizosfera, favorecimento do crescimento de outros
patógenos; atuação como vetores de viroses, bactérias e fungos; alteração da suscetibilidade do hospedeiro a outros patógenos por meio da indução de alterações fisiológicas no hospedeiro, provocar senescência prematura e indução de respostas sistêmicas nas plantas hospedeiras e muitas vezes associados ao aumento na suscetibilidade de outros órgãos da planta (Friedman e Rohde, 1976; Sitaramaiah e Pathak, 1993). Existem diversas espécies de fitonematoides de importância agrícola na cultura da soja, com destaque para o nematoide do cisto (Heterodera glycines), o nematoide das
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Dias et al., 2010
Fotos Guilherme Lafourcade Asmus
Sintomas em reboleira do ataque do nematoide do cisto (Heterodera glycines) em plantas de soja
galhas (Meloidogyne spp.), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis). Estas espécies podem limitar a produtividade das lavouras de forma significativa e, por vezes, são relacionadas como agentes responsáveis pela estagnação da produtividade em algumas regiões sojícolas. O controle de fitonematoides é uma tarefa difícil e deve ser planejado com ações anuais para garantir a efetividade das táticas implementadas. Geralmente o produtor precisa conviver com o patógeno através do manejo dos níveis populacionais no solo. Métodos de controle contra nematoides têm
eficiência relativa por seu tegumento ser pouco permeável, o que lhes confere grande resistência a agentes físicos e químicos (Alcanfor et al, 2001). A correta identificação e o conhecimento de suas características de desenvolvimento em plantas alternativas são o primeiro passo, uma vez que a rotação de culturas é a medida mais efetiva no controle e na redução da população da praga. O uso de algumas crotalárias é eficiente no combate ao nematoide das lesões radiculares, enquanto a braquiária, o nabo forrageiro, o sorgo forrageiro, a aveia preta, o milheto e o capim pé-de-galinha são alternativas no controle do nematoide reniforme. Para o controle do nematoide do cisto da soja recomenda-se utilizar culturas como arroz, algodão, sorgo, mamona, milho e girassol. Dependendo da infestação da área, indica-se o plantio de uma destas espécies durante a safra, deixando sem a cultura da soja por um ano agrícola, para reduzir sig-
nificativamente a população de H. glycines a níveis que possibilitem a produção de soja novamente. Existem aproximadamente 50 cultivares de soja resistentes a este nematoide, mas esta espécie rapidamente suplanta a resistência genética. Assim, o ideal para áreas infestadas por este nematoide é que se adote a rotação milho-soja resistente-soja suscetível, para evitar seleção de raças e permanência da resistência nas cultivares (Caviness, 1992; Riggs, 1995; Dias et al, 2010). Para o controle do nematoide das galhas é indicado utilizar espécies como Crotalaria spectabilis, C. grantiana, C. mucronata, C. paulinea, mucuna preta, mucuna cinza ou nabo forrageiro para redução populacional das espécies M. javanica e M. incognita. Algumas cultivares da forrageira Panicum maximum e espécies de Brachiaria brizantha também se mostraram eficientes na redução da população de M. incognita e M. javanica (Dias-Arieira et al, 2003), sendo uma alternativa para áreas infestadas com
Sintomas causados pelo nematoide das galhas (Meloidogyne spp.) em lavoura de soja e nas raízes de plantas de soja
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Dias et al., 2010
Divulgação
Grigolli fala do aumento populacional de nematoides em regiões produtoras de soja
Raízes de soja sem (a) e com (b) o ataque do nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus)
essas espécies. Considerando-se que a maioria das gramíneas forrageiras não é hospedeira do nematoide das galhas, a integração lavoura-pecuária pode se constituir em uma excelente estratégia de manejo de áreas infestadas. Nesse caso, há que se dar especial atenção ao controle de plantas daninhas nas pastagens, muitas das quais suscetíveis ao nematoide e capazes de manter altos níveis populacionais, tornando a estratégia de manejo ineficiente. Importante ressaltar que tão fundamental quanto o uso da rotação de culturas
em áreas infestadas com nematoides é a correta lavagem dos equipamentos e o controle de tráfego na lavoura para evitar a disseminação para outras áreas não infestadas ou que novas espécies sejam trazidas para a área de cultivo. Além das estratégias culturais citadas, é importante realizar o controle químico, como forma de manter a população de nematoides em níveis considerados adequados para o cultivo de soja. Em resultados conduzidos pela Fundação MS nas safras 2014/15 e 2015/16, verificou-se que os produtos abamectina, imidacloprido +
A
tiodicarbe, cadusafós e Trichoderma harzianum apresentaram resultados interessantes no manejo de fitonematoides nas camadas de 0cm-20cm e 20cm-40cm de profundidade do solo. O manejo adequado deve ser realizado sempre com atenção ao sistema de cultivo, com ações na safra, safrinha e entressafra, de modo a evitar um acréscimo populacional demasiado. Áreas com nematoides presentes requerem ações todos os anos para manter possível a convivência da soja com estes patógenos. Eliminá-los da área é uma condição irreal e pouco provável que ocorra. O segredo para evitar perdas por estes agentes bióticos é o manejo da área C de forma racional e consciente. José Fernando Jurca Grigolli, Fundação MS
B
Sintomas do ataque do nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis) na lavoura (A) e em plantas de soja (B)
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Soja
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Manejo específico O uso de fertilizantes foliares tem papel importante no aumento da produtividade a partir da promoção de manejo fisiológico para cada fase da cultura da soja
O
s nutrientes aplicados no solo precisam de várias reações para que possam ser oferecidos e absorvidos pelas plantas. Além disso, sofrem a influência de vários fatores inerentes ao solo, tais como textura e densidade, que reduzem a sua oferta para absorção pelas raízes das plantas. Esses fatores podem ser os principais responsáveis pelo sucesso da complementação através da adubação foliar, principalmente se fornecidos nos momentos críticos, isto é, quando há maior demanda pelas plantas. O crescimento da produção e o aumento da capacidade produtiva da soja brasileira estão associados aos avanços científicos e ao oferecimento de tecnologias no setor produtivo. São inúmeras as pesquisas realizadas sobre a interferência de reguladores vegetais na agricultura, destacando-se as áreas de floricultura, de olericultura e de fruticultura. Entretanto, ainda são poucas as pesquisas com grandes culturas, como a soja. Alguns reguladores apresentam em suas formulações micronutrientes, inseridos para minimizar problemas advindos
da deficiência nutricional durante os processos de germinação, desenvolvimento e produção de sementes. Além dos macro e micronutrientes essenciais, o uso de biorreguladores ou bioestimulantes ou bioativadores (também conhecidos no mercado como fertilizantes organominerais de última geração) tem se intensificado nas culturas agrícolas, com resultados importantes nas lavouras, o que gera necessidade de se conhecer, detalhadamente, o funcionamento desses compostos químicos nas plantas. O emprego de estratégias que favoreçam o crescimento rápido torna-se premente, em especial no período inicial da vida da planta e os bioestimulantes podem, em função da sua composição, concentração e proporção das substâncias, incrementar o crescimento e desenvolvimento vegetal, estimulando a divisão celular, a diferenciação e o alongamento das células, favorecer o equilíbrio hormonal da planta, com poder também para aumentar a absorção e a utilização de água e dos nutrientes pelas plantas. O manejo nutricional e, principal-
mente, o manejo fisiológico de plantas como o balanço hormonal, incremento de absorção de água a nutrientes pelas plantas, manejo do estresse abiótico e biótico, biprospecção de novos elementos, osmoproteção, dentre outras estratégias, são conceitos inovadores para o atendimento das necessidades da agricultura moderna. A adubação foliar é uma das principais inovações no que diz respeito à nutrição mineral de plantas, pois tem a capacidade de fornecer macro e micronutrientes às plantas, com fórmulas de alta solubilidade. Com isso, fornece-os às plantas em quantidades e nas épocas corretas, em que são mais exigidos pela cultura, de forma a evitar e corrigir as deficiências dos nutrientes utilizados via solo. Informações em relação à adubação foliar com micronutrientes têm sido escassas, havendo a necessidade de novas pesquisas que possibilitem a utilização de produtos que incrementem a produtividade da soja. A partir da hipótese de que os fertilizantes foliares, aplicados no momento específico, promovem efeito na produtividade da cultura da soja, realizou-
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Tabela 1 - Características dos produtos, dose, número e fase de aplicação testados Categoria Especial Biológico Nutrição Especial Nutrição Nutrição Especial Nutrição Especial Produtos* P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9
Produtos* P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 Dose sugerida 100-200 mL ha-1 1-5 doses ha-1 100-200 mL ha-1 1,5-3 L ha-1 1-3 Kg ha-1 0,3-1 Kg ha-1 0,3-1 L ha-1 0,3-1 Kg ha-1 1-3 Kg ha-1
N
P 18
K 2,5
Mg 0,5
5
8
5 8 1
0,6
Ca
Nutrientes (%) S B Cu 3,0 0,03 0,4
0,4 1
11,6
Fe 0,2
Mn 2,5
Zn 2,0
1,0
15
0,5 8 25
0,2
12,9
Co
Mo
1
10
2,0 1 30
5,0
6,2
Doses usadas 100 e 200 mL ha-1 3 doses ha-1 150 mL ha-1 2 L ha-1 1,5 Kg ha-1 750 g ha-1 250, 500, 750 e 1000 mL ha-1 750 g ha-1 250, 500, 750 e 1000 g ha-1
13 1 Nº de aplicações 1 1 1 1 1 1 1e2 1 1e2
Fase de aplicação TS TS TS V4 V4 V4 R1 e R3 R1 R4 e R5.1
*Produtos comerciais pertencentes a empresa Tecno Nutrição Vegetal e Biotecnologia Ltda. TS – Tratamento de sementes.
-se estudo para avaliar a produtividade de grãos e entender melhor o comportamento desses produtos, aplicados isoladamente e combinados, dentro das diferentes fases de crescimento e desenvolvimento da cultura da soja. Os experimentos foram desenvolvidos através de parceria entre o Instituto Federal Goiano e a empresa Tecno Nutrição Vegetal e Biotecnologia, em área no município de Rio Verde, Goiás com a localização geográfica 17°44’20.88’’S e 50°57’55.79’’O, com 860m de altitude, na safra de verão 2015/16. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho distrófico. No preparo do solo foram efetuadas uma subsolagem e duas nivelações posteriores à aplicação de calcário. A adubação de correção e plantio foi realizada com base na análise de solo. A variedade de soja utilizada foi a CZ36B80RR, semeada em 17, de novembro de 2015, em um total de 18 sementes por metro linear, com espaçamento entre linhas de 0,45m, totalizando uma população de 360 mil plantas/ha. Foi utilizada uma semeadora mecanizada de plantio direto. Durante o desenvolvimento da cultura foram feitas aplicações de produtos químicos para o controle de plantas daninhas, pragas e doenças. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com quatro repetições. As parcelas experimentais continham oito fileiras espaçadas em 0,45m e 10m de comprimento com
bordaduras de 2m entre parcelas e 0,90m entre blocos. Foram testados diferentes produtos, isoladamente e combinados, no tratamento de sementes, nas fases vegetativa e reprodutiva da soja. A classificação e as características de cada produto estão descritas na Tabela 1. As aplicações dos fertilizantes foliares foram efetuadas com pulverizador costal, com pressurização por CO2, munido de barra de 2m, contendo quatro pontas de pulverização do tipo TT 110-02 (0,45m entre pontas), aplicando volume de calda equivalente a 100L/ha. No final do ciclo, os experimentos foram dessecados e foi quantificada a massa de 100 grãos e produtividade de grãos. A produtividade de grãos foi determinada através da colheita de plantas de uma área de 4m2 por parcela experimental, totalizando 16m2 por tratamento. Foi determinada a umidade da massa total de grãos e corrigido para 13% (b.u) e os valores extrapolados para kg/ha. Os dados produtivos foram submetidos à análise de variância (p<0,05) e os casos de significância passaram por teste de média (Tukey p<0,05), com uso de software estatístico Sisvar. Os diferentes produtos adotados em todas as fases promoveram aumento de produtividade de grãos (PG) quando comparados ao tratamento controle. Nos produtos posicionados para o tratamento de semente, os maiores valores de PG foram observados na combinação de (P1 + P2 + P3) com aumento médio
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de 334,80kg/ha (10,48%), em relação ao controle, mostrando a eficiência dos tratamentos contendo P1 associado a P2 e a P3 no tratamento de semente, contribuindo para um melhor arranque inicial e formação de planta vigorosa na fase vegetativa, com maior capacidade de investir em estruturas reprodutivas e, consequentemente, maior produtividade de grãos de soja (Figura 1A). Na fase vegetativa os produtos posicionados que promoveram maiores valores de PG foram observados no tratamento combinado de (P4 + P6) com aumento médio de 372,60kg/ha (10,92%), em relação ao controle. Estes resultados demonstram a contribuição dos tratamentos contendo a combinação de P4 com P6 aplicados na fase vegetativa para aumento da PG de soja (Figura 1B). Os produtos aplicados na fase reprodutiva de floração promoveram os maiores valores de PG nos tratamentos (P7(2x500) + P8, P7750 + P8, P7(2x750) + P8, P71000 + P8 e P7(2x1000) + P8) com aumento médio de 297kg/ha (9,02%), em relação ao controle, mostrando contribuição dos tratamentos contendo P7 aplicados na fase reprodutiva para o aumento da PG de soja (Figura 1C). Nos tratamentos com doses e números de aplicações de P9, observou-se que houve aumento da produtividade de grãos (PG) quando comparados ao tratamento controle, exceto os tratamentos (P9250, P9(2x250), P9500 e P9(2x500)). Os maiores valores de PG foram observados nos tratamentos de (P9(2x500), P9750, P9(2x750, P91000 e P9(2x1000)) com aumento médio de 230,75kg/ha (7,06%), em relação ao controle, mostrando a eficiência dos tratamentos contendo P9 aplicados na fase reprodutiva e sua contribuição no processo de aumento de aceleração do enchimento de grãos e consequentemente da PG de soja (Figura 1D). Na fase inicial, o uso de P1 combinado a P2 e P3; na fase vegetativa, o P4 combinado com P5 ou P6; na fase reprodutiva de floração, duas aplicações de P7 combinado com P8 na dose de 500ml/ha; na fase reprodutiva de enchimento de grãos, duas aplicações de P9 na dose de 500g/ha proporcionaram os maiores aumentos na C produtividade de grãos. Nelmício Furtado da Silva e Marconi Batista Teixeira, IF Goiano Giovani Saccardo Clemente e Luís Otavio da Silva Azevedo, Tecno Nutrição Vegetal e Biotecnol.
Figura 1 - Médias da produtividade de grãos (PG) nos diferentes tratamentos em cada fase de cultivo
Letras iguais não diferem entre si nas colunas segundo teste Tukey (p<0,05). P1100 – P1 na dose de 100mL ha-1; P1200 – P1 na dose de 200 mL ha-1; P7250+P8 – P7 na dose de 250ml ha-1 + P8; P7(2x250)+P8 – P7 em 2 doses de 250ml ha-1 + P8; P7500+P8 – P7 na dose de 500ml ha-1 + P8; P7(2x500)+P8 – P7 em 2 doses de 500ml ha-1 + P8; P7750+P8 – P7 per na dose de 750ml ha-1 + P8; P7(2x750)+P8 – P7 em 2 doses de 750ml ha-1 + P8; P71000+P8 – P7 na dose de 1000ml ha-1 + P8; P7(2x1000)+P8 – P7 em 2 doses de 100ml ha-1 + P8; A250 – P9 na dose de 250 g ha-1; A(2x250) – P9 em 2 doses de 250 g ha-1; A500 – P9 na dose de 500g ha-1; A(2x500) – P9 em 2 doses de 500g ha-1; A750 – P9 na dose de 750 g ha-1; A(2x750) – P9 em 2 doses de 750g ha-1; A1000 – P9 na dose de 1000g ha-1 e A(2x1000) – P9 em 2 doses de 100g ha-1.
Trigo
Viável e lucrativa Fotos João Leonardo Fernandes Pires
Planejar uma lavoura de trigo competitiva e sustentável, com foco em altos rendimentos e no uso racional das tecnologias disponíveis, depende de organização e encaixe das possibilidades de manejo de processos, produtos e conhecimentos que aproximem a decisão tomada do custo/oportunidade ao retorno econômico
N
o Sul do Brasil, o cultivo de trigo é a principal alternativa de inverno nos sistemas de produção de grãos. Entretanto, anualmente repete-se a pergunta: “plantar ou não plantar trigo?”. A resposta passa pela análise de fatores peculiares ou complexos da produção dessa cultura, como preço do produto, políticas públicas, previsões meteorológicas, custos de produção, tecnologia ofertada e sua efetividade, regionalização e validação de tecnologias e potencial de rendimento de grãos. O trigo e outras culturas de inverno são fundamentais para o aproveitamento dessa estação de crescimento e para a diversificação de cultivos em áreas agrícolas, atualmente concentradas no cultivo de soja, no verão. Entretanto, em termos técnicos e econômicos, é importante criar condições para a diversificação das culturas econômicas. Melhores condições de armazenamento e oferta de água no solo, de aporte de carbono, de cobertura de solo para redução da erosão, de controle de plantas daninhas e de quebra do ciclo de pragas e doenças são alguns ganhos técnicos da utilização de trigo no inverno, que beneficia ainda as demais culturas participantes do sistema de sucessão/rotação de culturas. Alterar políticas públicas ou acessar novos mercados é difícil por parte dos produtores, e é papel demandado pelas entidades que os representam. Entretanto, as decisões técnicas da produção do grão são dos produtores, sendo
influenciadas pela assistência técnica. Nesse ponto há oportunidades de ajustar e melhorar a eficiência na produção de trigo e a viabilidade do sistema de produção. Planejar uma lavoura de trigo competitiva e sustentável, com foco em altos rendimentos e no uso racional das tecnologias disponíveis, depende de organização e encaixe das possibilidades de manejo de processos, produtos e conhecimentos que aproximem a decisão tomada do custo/oportunidade ao retorno econômico. Infelizmente, não há receita mágica. Essas decisões devem ser personalizadas e regionalizadas, respeitando as características edafoclimáticas, a capacidade de investimento do produtor, o potencial de rendimento do ambiente e as particularidades de cada cultivar. A agricultura contemporânea não aceita mais as ainda usuais generalizações constantes em pacotes tecnológicos fechados. Os principais componentes dos custos de produção de trigo são os fertilizantes, seguidos de agroquímicos, sementes e operações com máquinas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A afirmação “quanto maior o rendimento de grãos, maior o lucro” não é uma verdade absoluta. Respostas lineares ao aumento de dose de adubação nitrogenada em trigo, por exemplo, ocorrem em baixas doses, mas estabilizam na dose em que o ganho em rendimento de grãos e o retorno econômico se equivalem. Essas respostas variam de acordo com a cultivar, a região, as condições meteo-
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rológicas e de solo. Isso remete a uma reflexão: quem está usando maior nível de tecnologia? O produtor que emprega um pacote com elevada adubação nitrogenada ou aquele que considera a cultivar, a região, a expectativa de rendimento de grãos e a previsão meteorológica para definir a dose desse macronutriente? Outro exemplo diz respeito ao número de aplicações de fungicidas. Em uma situação “A”, um produtor realizou duas aplicações de fungicidas e, em uma situação “B”, outro agricultor efetuou cinco aplicações. Qual dos dois utilizou mais tecnologia? O primeiro monitorou a lavoura, observou condições meteorológicas, utilizou um sistema de alerta de ocorrência de doenças no espigamento e pulverizou a lavoura com base em critérios técnicos. O segundo fez aplicações por calendário, com momentos de aplicação predeterminados, quiçá definidos ainda antes da semeadura da lavoura. Diversas pesquisas têm verificado que, em ambas as situações, os produtores obtiveram rendimento similar de grãos. A escolha da cultivar, o ajuste da adubação, o manejo fitossanitário integrado, a rotação de culturas, a melhoria da qualidade do solo (física, química e biológica) e o não uso de produtos/práticas desnecessários, não validados ou indicados generalizadamente, são algumas das decisões técnicas possíveis de ajuste que podem tornar a triticultura mais ou menos viável. Argumentos técnicos e conhecimentos, gerados em pesquisa ou disponíveis, são elen-
cados a seguir para que o produtor rural tome a decisão mais adequada para a sua condição de lavoura.
ROTAÇÃO DE CULTURAS
A rotação de pelo menos uma safra, com espécies não hospedeiras de doenças do trigo (como aveias, canola e nabo) reduz a pressão de doenças e eleva o rendimento de grãos. Experimentos de longa duração, conduzidos na Embrapa Trigo desde 1980, comparando a monocultura de trigo no inverno com a rotação de um, dois ou três anos com outras culturas, demonstram acréscimo de 35% (ou 12,7 sacas/ha) no rendimento de grãos após um ano sem trigo, chegando a 45% de ganho com três anos de rotação. A rotação de culturas é prática de manejo básica, muito conhecida e que impacta positivamente, se bem utilizada.
ESCOLHA DA CULTIVAR
Direciona a necessidade de insumos, o manejo fitossanitário, o potencial de rendimento de grãos, a qualidade tecnológica indicativa, além de influenciar na liquidez. É fundamental respeitar a indicação dos obtentores quanto ao manejo específico da cultivar e aos limites de variação, conforme a situação da propriedade rural ou da região.
ÉPOCA DE SEMEADURA
Escalonar a semeadura do trigo dilui perdas ligadas à geada, à giberela e ao excesso de chuvas no final de ciclo. Embora sem custos adicionais, essa prática é pouco utilizada, resultando na concentração de períodos críticos nas mesmas épocas. Semear cultivares de ciclos contrastantes em diferentes épocas, dependendo de como é realizado, pode fazer o espigamento/floração e a maturação ocorrerem na mesma época. Sugere-se semear a mesma cultivar em épocas distintas ou adotar diferentes cultivares na mesma época, para que o espigamento/floração e a maturação ocorram em tempos diferentes entre as lavouras, diluindo riscos e ajudando na logística de tratos culturais e de colheita. Questão recorrente é se o trigo afeta ou não o rendimento da soja em sucessão. Estudos realizados pela Em-
É preciso respeitar as características edafoclimáticas, a capacidade de investimento do produtor, o potencial de rendimento do ambiente e as particularidades de cada cultivar
brapa Trigo, pela Fapa/Agrária e pela Setrem demonstraram que somente nas regiões mais frias do Sul do Brasil, onde o trigo pode atrasar a semeadura da soja para dezembro, ocorrem perdas de até 20% no rendimento de grãos de soja. Entretanto, a sucessão trigo-soja (com rotação no inverno com aveia preta) é a melhor opção quando se avaliam o resultado do ano inteiro e o conjunto de culturas adotadas na propriedade. Nessas regiões frias, o potencial de rendimento das culturas de inverno é muito alto, compensando eventuais perdas na soja. Indica-se, nessas situações, utilizar o encaixe apropriado de cultivares de trigo e de soja para obter o melhor retorno econômico no ano.
DENSIDADE DE SEMEADURA
Diversos estudos recentes evidenciam falta de resposta em rendimento de grãos de trigo em densidades superiores a 300-330 sementes aptas/m2. Vários trabalhos, inclusive, indicam a adoção de densidade inferior à tradicional, mantendo o rendimento de grãos elevado. Alguns técnicos e produtores sugerem relação direta da densidade com o rendimento e até usam metas, por exemplo, de número de espigas por área, para indicar rendimentos elevados. Efetivamente, a planta adota diferentes estratégias para chegar ao mesmo rendimento de grãos, conforme a cultivar e as condições do ambiente, como modular o tamanho de espigas, o número de espiguetas por espiga, o número de espigas e o peso de grão, fazendo com que “números mágicos” de espigas por área sejam pouco úteis para explicar o rendimento de grãos obtido. Como
componente importante do custo de produção, o investimento em sementes deve ser bem pensado, com utilização de sementes de elevada qualidade, na quantidade necessária. É importante ressaltar que a densidade escolhida deve estar alinhada com o perfil da cultivar de trigo e suas particularidades.
ADUBAÇÃO
Corresponde à maior parte do custo de produção e tem grande impacto no potencial produtivo. Muitas vezes, na visão de “quanto maior a dose, maior o rendimento”, ocorrem excessos de aplicação, mesmo em rendimentos elevados. Adubação baseada na análise de solo e nas características da lavoura planejada deve ser privilegiada, sem adotar pacotes fechados. Adubação de sistemas, ou a maior dose de adubo aplicado no trigo para reduzir a dose na soja em sucessão, deve ser bem planejada, a fim de diluir custos entre o trigo e a soja. Quanto ao manejo do nitrogênio (N) em cobertura, além dos aspectos previamente discutidos, o momento de aplicação também é decisivo. Nas regiões com chuvas frequentes durante o cultivo de trigo, a melhor opção é fracionar a dose a ser aplicada, com pequena parte na semeadura e o restante em cobertura entre o afilhamento e o início do alongamento. Aumentar a dose na semeadura somente se justifica em regiões com incerteza sobre a disponibilidade hídrica para aplicação em cobertura. A aplicação tardia de N, discussão recorrente nos últimos anos, deve ser avaliada técnica e economicamente, pois acresce em uma entrada na lavoura e em gasto com N. Além disso, a eficiência dessa
Fotos João Leonardo Fernandes Pires
O trigo e outras culturas de inverno são fundamentais para o aproveitamento dessa estação de crescimento e para a diversificação de cultivos em áreas agrícolas
prática para aumentar a força de glúten (W) e mudar a classe do trigo não é referendada pela pesquisa, assim como os efeitos no rendimento de grãos também não são garantidos. O que ocorre, geralmente, é o aumento no teor de proteína no grão, sem correlação com o W, na maioria das situações. O triticultor precisa identificar se a cultivar utilizada necessita dessa suplementação para atingir a qualidade tecnológica característica da cultivar e se essa resposta foi validada e é consistente na sua região.
REDUTOR DE CRESCIMENTO
Deve ser empregado somente em condições que estimulem o crescimento exagerado das plantas e em cultivares com risco de acamamento. Estes fatores podem ser potencializados por fertilidade do solo, densidade de plantas e adubação nitrogenada elevadas. Em algumas cultivares/anos, a aplicação de redutor de crescimento pode diminuir o rendimento de grãos e aumentar os custos de produção. O acamamento de plantas pode ser equacionado com redução de densidade de semeadura e ajustes na adubação nitrogenada e na época de semeadura. Para cultivares tolerantes e/ou em condições não favoráveis ao acamamento, o uso de redutor não é indicado. Potenciais ganhos de rendimento, previstos com aplicação de redutor no afilhamento (momento não recomendado pelo fabricante), não foram consistentes em estudos conduzidos pela Embrapa Trigo.
PRODUTOS POTENCIALIZADORES
Nos últimos anos, produtos contendo aminoácidos, micronutrientes, hormônios sintéticos e Azospirillum brasilense têm sido oferecidos aos triticultores como forma de aumentar o rendimento de grãos ou a qualidade do grão colhido. Apesar do potencial das novas tecnologias, é fundamental a validação regionalizada, para identificação da condição de lavoura, da genética empregada e de manejo que permitam maior segurança e consistência
Os principais componentes dos custos de produção de trigo são os fertilizantes, seguidos de agroquímicos, sementes e operações com máquinas
de respostas positivas. Estudos recentes da Embrapa Trigo não verificaram ganhos consistentes de rendimento de grãos quando do uso daqueles produtos.
PROTEÇÃO DE PLANTAS
É um conjunto de práticas que tem por objetivo a diminuição do impacto negativo de plantas daninhas, de pragas e de doenças no rendimento de grãos. Atualmente, a principal estratégia é a pulverização de defensivos, representando o segundo grupo de maior impacto no custo de produção do trigo. Portanto, cada decisão de controle deve ser pensada. Aplicações calendarizadas, em função do estádio da cultura, ainda são rotineiras. Em geral, a primeira aplicação é realizada no período de afilhamento da cultura, e as seguintes são repetidas conforme o período de carência do produto. As caldas de aplicação reúnem fungicidas e inseticidas, além de adjuvantes. Entretanto, essa estratégia, apesar de sugerir proteção total do cultivo, com a vantagem da praticidade operacional, conflita com a triticultura competitiva e sustentável. Ademais, o mais grave é que misturas de princípios ativos, que não estejam devidamente registradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), podem ser danosas ao ambiente e ao próprio aplicador. O conhecimento agronômico atualmente disponível permite avançar em estratégias diferentes, com foco em elevado rendimento de grãos com a proteção necessária, com menor impacto ambiental e melhor relação custo/benefício. Escalonar a época de semeadura, escolher cultivares com resistência às principais doenças da região, monitorar a lavoura para identificar os primeiros sintomas, acompanhar as condições meteorológicas e adotar sistemas de alerta que indiquem o nível de risco da ocorrência de doenças (como Sisalert) reduzem o risco de doenças e auxiliam na tomada de decisão sobre a aplicação ou não do controle químico. Ensaios/validações utilizando estas estratégias, realizados pela Embrapa Trigo nos últimos
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anos, têm demonstrado que é possível associar rendimentos elevados com o uso racional de agroquímicos, privilegiando a rentabilidade e o respeito ao ambiente.
DESSECAÇÃO DO TRIGO EM PRÉ-COLHEITA
Esta prática de uso crescente, com a qual o trigo é dessecado ainda antes da maturação, agrega “custo não tradicional” à produção, pelo dispêndio com produto e pulverização. Estudos recentes verificaram que a dessecação em pré-colheita, com o único produto registrado (amônio glufosinato), pode uniformizar a lavoura, facilitar e antecipar a colheita do trigo em até seis dias, que é um período insuficiente para antecipar a semeadura de soja e para aumentar o rendimento de grãos nas regiões mais frias. Como riscos, podem ser apontados a menor germinação de sementes, o menor rendimento de grãos (dependendo do produto e do estádio de aplicação), as falhas no manejo de plantas daninhas dentro do trigo (quando aplicado para este fim) e, principalmente, os resíduos de herbicida no grão acima do permitido. As práticas e estratégias para a tomada de decisão, anteriormente tratadas, apontam fatores capazes de ajuste na cultura do trigo, com foco na criação e validação de sistemas competitivos e sustentáveis. Vários cenários são possíveis e a informação técnica qualificada, regionalizada e validada é fundamental. Obtentores vegetais das cultivares, assistência técnica e pesquisa devem estar imbuídos de vontade e serem desafiados para viabilizar a triticultura e os sistemas de produção do Sul do Brasil. Se a solução fosse uma “receita pronta e universal”, certamente constaria em livros e, portanto, poderia ser usada com relativa facilidade. Infelizmente, a realidade C não é essa! João Leonardo Fernandes Pires, Eduardo Caierão, Mércio Luiz Strieder e Flávio Martins Santana, Embrapa Trigo, Passo Fundo/RS
Empresas
Fotos Syngenta
Café de qualidade
Syngenta realiza evento em Minas Gerais para marcar os dez anos da plataforma Nucoffee, programa baseado na troca de insumos, serviços e inteligência para aumentar a produtividade de cafeicultores
A
Syngenta celebrou dez anos da plataforma Nucoffee, no final de maio, em Uberaba, Minas Gerais. O evento contou com a presença de aproximadamente 300 pessoas, entre produtores, representantes de cooperativas, distribuidores, pesquisadores, ONGs, parceiros, consultores e autoridades. O diretor da Unidade Comercial Leste, André Pozza, salientou que somado o número de produtores e de cooperativas presentes, o evento reuniu aproximadamente 680 mil hectares de café. “A Syngenta está oferecendo uma oportunidade única, com contrato fechado de três anos, ou seja, os custos de produção estão travados por três anos, o que torna possível saber com quantas sacas será pago o tratamento da lavoura, independentemente do que possa acontecer com o cenário econômico. É realmente uma situação inovadora e muito positiva para o produtor se programar com antecedência. A história de sucesso da plataforma Nucoffee já tem capítulos escritos até, pelo menos, o ano de 2020.” Criada pela Syngenta, a plataforma Nucoffee é um programa baseado na troca de insumos, serviços e inteligência para aumentar a produtividade de cafeicultores por lotes de café com qualidade certificada e crescente. Foi criada para interagir com todos os participantes da cadeia do café, promovendo a
integração entre produtores, cooperativas e torrefadores por meio da comercialização de cafés de qualidade diferenciada. A plataforma oferece a produtores e cooperativas uma série de serviços para apoiá-los no aprimoramento da qualidade e nas boas práticas de cultivo, ao mesmo tempo em que ajuda a criar relacionamentos mais próximos entre a demanda e a origem do café. A gerente de Negócios, Roberta Armentano, ressaltou a importância da plataforma para a evolução da qualidade e da produtividade do café brasileiro nos últimos anos. “É uma grande emoção ter visto nascer uma inovação para agregar valor ao produtor, quando a Syngenta ainda estudava a melhor forma de fazer isso.
Ali, tínhamos 29 propriedades integrantes. Atualmente são quatro mil. Quando o barter já era uma estratégia vencedora, o maior desafio então foi conectar produtores, cooperativas e torrefadores de todo o mundo. A ideia é, até hoje, a de levar informação para a demanda e capturar valor para a origem, e assim conferimos transparência à cadeia produtiva.” Para tornar isso possível, a empresa investiu na criação da Nutrade, trading construída para negociar a exportação do café especial, abrindo as portas do mercado internacional para milhares de cafeicultores brasileiros. O diretor de Marketing Brasil, André Savino, destacou que se trata de uma solução integrada, pensada para auxiliar tanto no
Evento contou com participação de produtores, cooperativas, distribuidores, pesquisadores, autoridades e outros parceiros da iniciativa
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incremento da qualidade quanto no controle das principais ameaças às lavouras de café. “Hoje a Syngenta consegue oferecer aos participantes da plataforma cerca de 20% a mais em produtividade”, disse. O café possui várias particularidades, diferentemente de outras culturas. “Nem tudo acaba na colheita. Talvez ali comece tudo. Se fosse possível resumir o que é plataforma Nucoffee, uma história tão profunda, composta de várias histórias, ousaria resumir em a combinação perfeita de três elementos, que são oferta agronômica, serviços e reconhecimento”, sintetizou Savino.
OFERTA AGRONÔMICA QUE VAI DESDE CONTROLE E PRODUTIVIDADE
Os serviços englobam tecnologia de aplicação, manejo de pragas e doenças, planejamento de colheita, cuidados pós-colheita e EPI. Na oferta, tecnologia, descascamento, tratamento de águas residuais, estruturação de auditoria e boas práticas. A implementação do SCI Nucoffee, avaliação cafeicultor sustentável, treinamento de produtores e equipe da cooperativa para serem membros. Reconhecimento engloba aplicabilidade, rastreabilidade (opcional), prêmio de reconhecimento, adicional equivalente a “UTZ Certified”, possibilidade de comercialização adicional de volume equivalente ao trocado (café certificado para novos mercados). “Hoje compartilhamos com vocês um sonho que virou realidade, o de atuar em toda a cadeia do café, reforçando elos e remunerando quem é de direito, o produtor. E de permitir que os muitos sabores, as identidades e a diferenciação das diversas regiões do Brasil estejam presentes nas xícaras de milhões de pessoas em todo o mundo. É para garantir a melhor oferta agronômica, os melhores serviços e o reconhecimento, na forma de valor para o café de quem produz (pilares de Nucoffee) que a plataforma existe”, finalizou Savino. O diretor-geral da Syngenta no Brasil, Laércio Giampani, explicou a relação da companhia com os clientes. "Acreditamos nas relações pessoais e principalmente a longo
RECONHECIMENTO NUCOFFEE Francisco Sérgio de Assis Presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Embaixador Nucoffee Evanete Peres Proprietária das Fazendas Paraíso Mulher Empreenderora Nucoffee Acácio Dianin Sócio/Diretor Técnico da Agrocafé Distribuidor Referência na Implementação Nucoffee José Eduardo Vanzela Diretor Comercial da Cooperativa dos Cafeicultores de Campos Gerais e Campo do Meio (Coopercam) Cooperativa Referência na Implementação Nucoffee Elder Bovi Proprietário da Fazenda Estrela Dalva Pioneira na Plataforma Nucoffee Carlos Eduardo Cepera Proprietário da Fazenda São Paulo Referência no Ciclo da Oferta Nucoffee Flávio Ruiz Pequini Proprietário da Fazenda Nossa Senhora da Aparecida Referência em Valorização pela Qualidade Silvio Sussumu Nishikawa Proprietário da Fazenda TRI S Agregação de Valor através da Qualidade Marcio Borges Castro Alves prazo. Nucoffee 10 Anos é um exemplo real, genuíno de um relacionamento de sucesso, onde todos são vencedores. Trabalhamos e buscamos relações de longo prazo. Este é o jeito Syngenta de ser. E eu estou aqui para reforçar essa mensagem da empresa”, discursou. O evento serviu ainda para premiar
Plataforma oferece a produtores e cooperativas uma série de serviços para apoiá-los no aprimoramento da qualidade e nas boas práticas de cultivo
Proprietário da Fazenda Barinas Referência em Produção de Qualidade Wagner Ferrero Proprietário da Fazenda Pântano Referência em Conexão Nucoffee Mike McKim Proprietário da Cuvee Coffee Nucoffee Conection Demetrio Flaviano de Oliveira Proprietário do Sítio Rocinha Modelo de Produção Sustentável Marcio José Gomes Proprietário da Fazenda Pai Herói Modelo de Produção Sustentável Alvaro Pereiro Coli Diretor da Cooperativa Regional dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde (Cocarive) Pioneira em Concursos Nucoffee Armando Hirotaku Tomizawa Proprietário da Fazenda São Bento Pioneira Nucoffee em Venda de Excedentes Flávio Meira Borém Pesquisador e Professor do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras (Ufla) Maestro da Qualidade Juliano Tozzi Diretor de Especialidades Syngenta Nucoffee 10 Anos agentes que integram a plataforma Nucoffee. “Esta é uma noite especial, de reconhecimento ao trabalho de todos vocês que fazem parte desta história. Ressaltamos que as pessoas que chamaremos aqui representam os quatro mil participantes da plataforma Nucoffee”, observou a gerente de Negócios, C Roberta Armentano.
Time da Syngenta comemora os bons resultados da plataforma Nucoffee e a parceria com os cafeicultores
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Fotos Divulgação CESB
Eventos
Celebração de recordes Desafio de Máxima Produtividade contabiliza 149,08 sacas de soja por hectare colhidas por produtor do Paraná. Número representa o triplo da média nacional
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romovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), o Desafio de Máxima Produtividade de Soja premia, desde 2008, os campeões de produtividade de soja do Brasil. Com mais de cinco mil inscritos neste ano, 12% a mais do que no ano passado, a premiação dos melhores da safra ocorreu em junho, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, em parceria com a Cotrijal. Para o presidente do Cesb, Luis Nery Ribas, o Comitê tem a missão de ser referência em produtividade de soja no Brasil. “Temos sido citados pelos elos da cadeia como referência. A importância da ciência, da pesquisa, do produtor rural, das entidades organizadas para que tenhamos resultados, é fundamental. E nada melhor que um desafio para que busquemos na provocação atingir os potenciais produtivos que sabemos que a cultura da soja tem. Hoje, o que queremos é mostrar o reconhecimento aos nossos campeões e a todos os elos da cadeia produtiva da soja”, disse Ribas.
Em um ano de safra recorde, o Desafio também premiou um novo patamar de produtividade, que superou qualquer desafio passado. Com 149,08 sacas por hectare, o paranaense Marcos Seitz, de Guarapuava, no Centro-Sul do estado, foi o grande ganhador da edição 2016/2017. Até então a maior marca registrada tinha sido de 141,79 sacas por hectare no ciclo 2014/15, número atingido pelo produtor Alisson Alceu Hilgenberg, de Ponta Grossa, também no Paraná. Esta edição foi a quarta participação de Seitz no Desafio, segunda vez em que consegue o título. Na safra 2012/2013, o produtor atingiu a marca de 110,5 sacas por hectare, o que além de torná-lo campeão máximo naquela safra, representou o recorde nacional de produtividade na época. Marcos Seitz, engenheiro agrônomo de apenas 25 anos, se posiciona como visionário na cultura de soja e ressalta a importância da busca pelo conhecimento e alternativas corretas de manejo para chegar a novos patamares de produtivi-
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dade. A marca atingida pelo produtor em 2016/2017 representa o triplo da média de produtividade de soja nacional, que está em torno de 50 sacas por hectare. Para o presidente, o grande objetivo do Desafio é criar um histórico de áreas e de conhecimento para transferência de tecnologia, a fim de extrapolar essas produtividades até áreas comerciais. “Os critérios para participação no desafio são passíveis e possíveis de serem expandidos. Todos os fatores estudados e analisados nas parcelas do Desafio criam um histórico de conhecimentos que podem auxiliar a atingirmos novos níveis de produtividade também em áreas comerciais”, afirmou o presidente. O evento de premiação também coroou os campeões de produtividade nas demais regiões do país. Na região Sudeste o campeão foi José Renato Nunes, da cidade de Capão Bonito, São Paulo, com 108,26sc/ ha. Nas regiões Norte e Nordeste venceram o Desafio Leandro Ficagna e Almir Ficagna, de Luis Eduardo Magalhães, na Bahia, com 95,76sc/ha. Na região Centro-Oeste o produtor Elton Zanella registrou na cidade de Campos de Júlio, Mato Grosso, a produção de 122,20sc/ha, a segunda maior marca na safra 2016/2017.
CAMPEÃO NORTE-NORDESTE (NÃO IRRIGADO), 95,76 SACAS POR HECTARE
O campeão da região Norte-Nordeste Leandro Ficagna, juntamente com o pai Almir Ficagna, é proprietário da Fazenda Paraíso da Serra, no Núcleo Bela Vista, da cidade de Luis Eduardo Magalhães, na Bahia. O consultor desse processo foi Henrique Fernandez, que auxiliou para que batessem a marca de 95,76 sacas por hectare de soja.
A Agropecuária Seitz se consagrou com o recorde nacional de produtividade de soja, com 149,08 sacas por hectare, como Campeão Sul e Brasil (Não Irrigado)
A atividade agrícola se iniciou na família há 30 anos e, atualmente, a primeira e a segunda gerações trabalham juntas com uma propriedade de 1.350 hectares. A fazenda tem a característica de produzir soja e milho no verão, e milheto no inverno. A semeadura ocorreu com a variedade Monsoy 8349 Ipro, e a utilização de espaçamento entre linhas de 50cm e também aplicação da tecnologia Agrosystem para melhor distribuição de sementes. Na visão do produtor e do consultor, para alcançar esse resultado foi determinante a construção e o manejo do perfil de solo (químico, físico e biológico); a rotação de culturas; a escolha de uma semente e genética de qualidade; o cuidadoso manejo fitossanitário e o uso de fungicidas protetores em intervalos curtos (no máximo 15 dias).
CAMPEÃO DA REGIÃO SUDESTE (NÃO IRRIGADO)
Para a região Sudeste, o campeão para Não Irrigado foi o produtor José Renato Nunes, que teve auxílio do consultor Samir Rafael Fogaça Gonçalves. Nunes é proprietário da Fazenda Marcolino, em Capão Bonito, São Paulo. A fazenda já tem 40 anos de produção, atualmente com a terceira geração à frente do negócio. O produtor conduz 1.200 hectares, com produtividade média de 72 sacas por hectare. Além de soja, a Fazenda produz milho, feijão, trigo, cevada e cria gado. No Desafio, Nunes atingiu 108,25 sacas por hectare. O genótipo escolhido foi a cultivar TMG 7062, plantada com espaçamento entre linhas de 45cm. A semeadura foi cruzada, com botinha e depois disco. O produtor e o consultor atribuíram esse feito a diversas escolhas de manejo e consideram essencial a construção da fertilidade e do perfil do solo, pois o solo é a base da lavoura de alto rendimento.
Campeão da Região Centro-Oeste (Não Irrigado), com 122,20 sacas por hectare, produtor Elton Zanella, juntamente com o consultor Marcos Adriano Storch
Destacam também a importância de sempre trabalhar com genótipos adaptados à região de plantio: a qualidade de semente e de semeadura deve ser sempre garantida por determinar o estande e a distribuição de plantas. Além disso, a sanidade e o metabolismo adequado da planta não podem ser negligenciados pelo produtor que busca atingir novos patamares de produtividade. Campeão da Região Centro-Oeste (Não Irrigado), 122,20 sacas por hectare A segunda maior produtividade do Desafio ficou com Elton Zanella, produtor da região Centro-Oeste, com 122,20 sacas por hectare atingidas. O consultor que auxiliou o produtor a chegar a esse resultado foi Marcos Adriano Storch. Em Campos de Júlio, no Mato Grosso, Zanella gerencia a Fazenda Zanella II e já é a terceira vez que participa do desafio do Cesb. A fazenda, atualmente, é dirigida pela primeira e segunda gerações da família no agro, com produção de soja, milho, milho pipoca, milho branco e feijão. Em 2017, a família Zanella cultivou oito mil hectares de soja. A cultivar escolhida foi a BMX Desafio,
com 45cm de espaçamento entre linhas. Para chegar a essa produtividade, produtor e consultor indicaram o manejo do solo, com aconstrução do perfil (base), uma das principais diretrizes tomadas. A escolha correta da cultivar em cada talhão também foi citada, com a utilização de sementes com vigor mínimo de 85% e peneira 7. Outro fator que contribuiu foi o uso criterioso de adubação foliar, combinado com a proteção efetiva de plantas. O desempenho da lavoura depende, também, do resultado operacional de máquinas, que deverá estar sempre comprometido com a qualidade da operação. Por último, Zanella e Storch ressaltam a necessidade de um manejo correto de nematoides. Para isso, é recomendado rotacionar cultivares de soja com resistência a nematoide (dois anos no máximo no mesmo talhão), associada com a prática de investir na implementação da segunda safra com qualidade, através do “milho safrinha + crotalária ou braquiária”, culturas de cobertura ou mix de plantas de cobertura para preservar o equilíbrio de nematoides de solo com seus antagonistas.
Promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), o Desafio de Máxima Produtividade de Soja premia, desde 2008, os campeões em produtividade de soja
www.revistacultivar.com.br • Julho 2017
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Fotos Divulgação CESB
Produtores Octaviano Raymundo e Octaviano Themudo Camargo Silva foram os campeões do Desafio para cultivo Irrigado, com consultoria de Antônio Luiz Fancelli
CAMPEÃO IRRIGADO – 106,43 SACAS POR HECTARE
Os produtores da Fazenda Siriema do Lago, em Bernardino de Campos, São Paulo, Octaviano Raymundo Camargo Silva e Octaviano Themudo Camargo Silva, foram os campeões do Desafio para cultivo Irrigado. A produtividade atingida na parcela analisada foi de 106,43 sacas por hectare. Antônio Luiz Fancelli foi o consultor que os guiou durante o processo. A Fazenda, que realiza suas atividades agropecuárias há 30 anos, é administrada pela primeira e a segunda gerações da família e realiza de duas a três safras ao ano, com sistema de produção composto por soja, milho, trigo, feijão, cevada e gado. Nesta safra, a cultivar utilizada foi a Monsoy 5917 Ipro, com espaçamento entre linhas de 50cm. Com os conhecimentos aplicados à lavoura, produtor e consultor conseguiram alcançar números de produtividade exemplares. Ambos atribuem
Campeão Regional Norte-Nordeste, consultor Henrique Fernandez e produtor Almir Ficagna
esses números a diversas práticas adotadas, como diagnóstico correto da área – as peculiaridades de cada ano agrícola, Fazenda e talhão devem nortear as estratégias de manejo. Uma visão holística, analisando a interação solo-planta-clima, é fundamental; rotação de culturas para promover a estabilidade do ambiente produtivo; avaliação do desempenho da planta para perceber a necessidade de intervenções ou mudanças no manejo; e fundamentar sempre todas as escolhas em conhecimentos de fisiologia e fenologia.
CAMPEÃO SUL E BRASIL (NÃO IRRIGADO), 149,08 SACAS POR HECTARE
No quarto ano de participação no Desafio, a Agropecuária Seitz se consagrou com o recorde nacional de produtividade de soja: 149,08 sacas por hectare. A empresa familiar é gerenciada pela primeira e a segunda gerações da família e cultiva cerca de 1.100 hectares. Marcos Seitz,
Campeão Sudeste, produtor José Renato Nunes, e o consultor Samir Rafael Fogaça Gonçalves
48 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br
produtor, foi auxiliado pelo consultor Alexandre Seitz. BMX Ativa foi a cultivar escolhida pelo produtor para esta safra. Para chegar ao recorde, o produtor e o consultor destacam a importância da construção da fertilidade do solo e a correção e construção do perfil do solo de forma a aumentar a capacidade de infiltração e armazenamento de água. A escolha e o posicionamento correto das cultivares, de acordo com as características de solo e clima, também são pontos fundamentais. Seitz ressaltou a necessidade de atentar à nutrição, com atenção especial para o manejo de K e Mg. Já o manejo fitossanitário da produção foi iniciado cedo, em busca da proteção efetiva das primeiras folhas e do baixeiro das plantas. Por fim, tanto consultor quanto produtor ressaltam a importância da semeadura: além de uma quantidade correta de sementes por metro. É imprescindível que haja a correta distriC buição, sem falhas ou duplas.
Luis Nery Ribas comemora o fato de o Cesb ter se tornado referência em produtividade de soja no Brasil
COLUNA AGRONEGÓCIOS
A
Melhor manejo, maior produtividade de mel
s Boas Práticas são fundamentos de sucesso em qualquer atividade do agronegócio. Não é diferente com a apicultura. Quando essa atividade é desenvolvida com o objetivo de gerar renda, seu retorno financeiro depende diretamente da localização dos apiários, da gestão das atividades apícolas no campo e das práticas aplicadas no manejo das colmeias, ou seja, do conhecimento que o apicultor possui sobre as abelhas. Para obter colmeias populosas, saudáveis e, consequentemente, maior produtividade e rentabilidade, é necessário que o apicultor inclua em sua rotina de trabalho as ações mencionadas, que formam a base da apicultura profissional no campo. Grande parte dos apicultores conhece a importância dessas ações para uma boa produção de mel e demais produtos apícolas, porém não as usam em sua rotina ou utilizam somente parte delas. Dentro desse contexto, a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), em parceria com o apicultor José Maurício, instalou um apiário experimental com o objetivo de demonstrar aos apicultores a importância do correto manejo apícola. Essas ações devem compor uma programação anual, com o objetivo de manter colmeias vivas, populosas e altamente produtivas em mel.
METODOLOGIA
O apiário experimental está localizado no município de Itatinga, São Paulo, cuja vegetação original é formada por manchas de mata nativa, que corresponde ao cerrado, e Floresta Estacional Semidecidual. Localiza-se na região de maior produção de eucalipto do estado de São Paulo, razão pela qual existe uma concentração de apicultores dedicados à produção de mel. A vegetação, em um raio de três quilômetros do apiário, é composta por plantações de eucalipto, mata nativa e pastagem. O apiário experimental possui 20 colmeias, todas do tipo Langstroth acomodadas em cavaletes individuais, e foi instalado em novembro de 2016, quando as colmeias estavam populosas para a divisão e o clima apresentava temperaturas mais elevadas e baixa pluviosidade. As colmeias foram obtidas por meio de divisões de colmeias altamente populosas do plantel do apicultor e,
após a instalação, foram divididas em dois grupos de dez colmeias e numeradas de 1 a 10, seguidas das letras A e B. No grupo (A) foram estabelecidas ações de manejo produtivo atreladas a um calendário de atividades apícolas em campo, enquanto o grupo (B) não está recebendo as ações em manejo produtivo, sendo mantido sem intervenções. No site da A.B.E.L.H.A. pode ser visualizado um exemplo de planilha, com um calendário de atividades de campo para o manejo produtivo adequado e para a coleta de mel. O modelo de planilha pode ser visualizado em http://abelha.org.br/artigo-melhor-manejo-maior-produtividade/. Até o momento, duas ações de manejo produtivo foram aplicadas para diferenciar os dois grupos. As rainhas das 20 colmeias foram trocadas após as divisões dos enxames, porém o grupo (A) recebeu rainhas selecionadas a partir das melhores colmeias. Dentre as que mais produziram mel na safra passada, foram selecionadas as colmeias menos defensivas, as quais forneceram larvas para a produção de rainhas. Portanto, as rainhas introduzidas no grupo (A) detinham as características genéticas de alta produção da rainha e baixa agressividade das operárias. Já as rainhas do grupo (B) foram puxadas naturalmente, sem seleção. Outro aspecto que diferenciou os dois grupos foi a alimentação suplementar, para estimular o crescimento populacional anterior à florada de eucalipto. Assim, enquanto as colmeias do grupo (B) não receberam qualquer suplementação alimentar, aquelas do grupo (A) foram tratadas com xarope de açúcar invertido e uma ração proteica comercializada para o mercado apícola. A ração contém extrato de soja, levedo de cerveja inativado, dez aminoácidos essenciais para a sobrevivência e o bom desenvolvimento das abelhas, além de vitaminas e sais minerais, como ferro e cálcio. A suplementação alimentar foi iniciada dez dias após a instalação do apiário e suspensa no final de janeiro, com o início da floração do eucalipto, tendo sido fornecidos dois litros de xarope por colmeia a cada sete dias, em alimentadores de cobertura. A ração foi oferecida fora da colmeia, também a cada sete dias, em um alimentador coletivo, caracterizado por um ninho distante cerca de cinco metros das colmeias, simulando a coleta
José Maurício Ambrósio do Amaral Apicultor
50 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br
de pólen em flores.
RESULTADOS OBTIDOS
Foram efetuadas três coletas de mel da florada de eucalipto, uma no início de março e outras duas no início de abril e maio de 2017. Pelos resultados da coleta, foi possível verificar que as ações de manejo produtivo produziram efeitos positivos na produção média de mel nas colmeias do grupo (A). Não foi verificada diferença no número de colmeias produtivas entre os dois grupos, pois na primeira retirada houve sete colmeias produtivas no grupo (A) e seis colmeias produtivas no grupo (B). Na segunda e terceira retiradas, houve oito colmeias produtivas em ambos os grupos. Entende-se como colmeias produtivas aquelas que contenham favos estocados com mel em células operculadas, chamado popularmente de mel maduro. A diferença marcante entre os dois grupos foi na produção total, refletida na quantidade de melgueiras retiradas em cada grupo, e, consequentemente, na produção média das colmeias. Enquanto no grupo (A) foi coletado um total de 624kg de mel, no grupo (B) foram coletados 373kg. Considerando cada grupo, as colmeias produziram, respectivamente, uma média de 62kg (grupo A) e 37kg (grupo B) de mel. Levando em conta o preço de R$ 12,20 para o quilo do mel comercializado em Itatinga, o apicultor elevaria seu ganho financeiro em R$ 3.062,20 com três coletas de mel em um único apiário seguindo as boas práticas de manejo apícola acima referenciadas. A margem do produtor será proporcional ao número de apiários que disponha, e pode ser potencializada pelas floradas da região, quando pode atingir até seis coletas de mel no ano. É necessário continuar o estudo sobre o efeito de melhores práticas de manejo apícola, porém os resultados obtidos até o momento demonstram que o adequado manejo das colmeias pode fazer toda a diferença na sustentabilidade econômica dos apicultores, razão pela qual devem ser criteriosamente observados. Os acessos ao conhecimento, associados às novas tecnologias empregadas na área de produção, têm se tornado cada vez mais essenciais para o crescimento da atividade apícola como um todo. Para mais informações, acesse o site www. C abelha.org.br.
Kátia Paula Aleixo e Décio Luiz Gazzoni Associação Brasileira de Estudos das Abelhas – A.B.E.L.H.A.
COLUNA MERCADO AGRÍCOLA
Safra fechada no Brasil e aberta nos EUA Os produtores brasileiros se preparam para encerrar a colheita da safra de grãos, sendo que a fase de verão com o milho, a soja e o feijão já foi concluída. Estão em colheita o milho safrinha e algumas lavouras de feijão de segunda ou terceira safra. Mas o quadro geral brasileiro já está pronto, porque não há grandes riscos de problemas de agora em diante. Somente o trigo vai ficar para trás porque ainda está em plantio e com atraso devido às chuvas em excesso deste ano. O global da safra brasileira é de recorde de produção. A soja tende a atingir patamar superior a 112 milhões de toneladas (talvez até mesmo feche o número final em 113 milhões de toneladas) sendo muito acima das pouco mais de 96 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Para o milho a produção da primeira safra foi acima das 30 milhões de toneladas, frente a 22 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Agora a safrinha promete algo entre 63 milhões de toneladas e 66 milhões de toneladas, mostrando altas produtividades nas áreas já colhidas e assim a produção vai muito além do ano passado que não superou 45 milhões de toneladas. Desta forma, o que se vê é uma safra de milho que saiu de 67 milhões de toneladas em 2016 para algo próximo de 95 milhões de toneladas atuais, o que obriga a avanços fortes na exportação do cereal para evitar produto parado internamente, o que deixaria as cotações muito baixas. Somada à safra de arroz, próxima de 12 milhões de toneladas à de feijão com 3,3 milhões de toneladas e aproximadamente cinco milhões de toneladas de trigo, a produção brasileira de grãos alcançará algo próximo de 230 milhões de toneladas. Números muito acima dos pouco mais de 180 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Com a safra fechada no Brasil, o que irá formar as cotações nos mercados mundial e nacional é a safra dos EUA, que está aberta e o plantio fechou neste último mês, com avanço da soja e queda da área do milho. Mas o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) por enquanto indica que a safra será menor em ambos os grãos, porque os níveis de produtividade do ano passado tendem a não se repetir. Desta forma, a safra norte-americana é aguardada em 115,7 milhões de toneladas de soja frente a 117,2 milhões de toneladas do ano passado. Contudo, pode ser que a safra real seja maior que as projeções. No milho, os números, que no ano passado superaram 384 milhões de toneladas, tendem a sofrer queda para patamares inferiores a 350 milhões de toneladas. O que se projeta é que os EUA deverão deixar espaço maior no mercado mundial para outros vendedores, porque terão menos milho e soja para exportar. O Brasil deve viver um ano ajustado e já vislumbra 2018 como melhor e com mais espaço no mercado mundial para exportar. Com cotações mais atrativas está na hora do Brasil começar a olhar para frente, para os novos negócios que estão começando a fluir. MILHO
Safrinha em colheita e recorde
O milho da safrinha está em colheita e tudo aponta que neste ano se estenderá até agosto, porque houve atraso no plantio e o clima chuvoso e mais frio deste ano deixou as lavouras com ciclo mais longo. Desta forma ainda há milho em fase de enchimento dos grãos. Os produtores reclamam que o problema maior é o excesso de chuvas, que tem derrubado um pouco a qualidade dos grãos do Paraná e de parte do Mato Grosso do Sul, além de pontos de São Paulo. Já nos demais estados, a colheita flui em boas e excelentes condições e alta produtividade. Sinal de que os investimentos dos produtores em tecnologia estão compensando em parte a queda dos preços, ocorridas neste ano frente ao ano passado. Por isso, mesmo com níveis de preços considerados baixos, boa parte dos produtores está colhendo e com margem de ganho, mesmo que pequena. Os exportadores têm trabalhado na faixa de R$ 30,00 aos R$ 31,00 a saca no portos (que neste ano serão os que comandarão os negócios). Há espaço para ganhos no segundo semestre. SOJA
Comercialização avançou com apoio do dólar
O mercado da soja do Brasil mostrou bom ritmo de ne-
52 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br
gócios nestas últimas semanas com produtores aproveitando para fechar negociações de parte do grão disponível entre R$ 70,00 e R$ 71,00 a saca nos portos e níveis proporcionais, descontados os custos no interior. Com isso, os movimentos levaram o Brasil a mais de 70% da safra negociada e o Mato Grosso um pouco à frente, com pouco mais de 80% da safra negociada. Enquanto isso, a safra nova ainda mostrava ritmo lento nos negócios. No Mato Grosso, onde estavam mais avançadas as negociações, pouco mais de 5% tinham sido comercializados. Em julho, esse percentual deve pular para mais de 10% negociados. O Brasil estava com indicativos de 2% negociados, e vai para os 5% comercializados neste novo mês, mas com grande atraso frente aos anos anteriores. FEIJÃO
Consumo em alta deixa cotações fortes
O mercado do feijão teve fortes emoções positivas nas últimas semanas. Houve avanços importantes nas cotações, alicerçados em boa demanda e problemas da segunda safra, principalmente no Paraná, onde as geadas ceifaram parte da produção e da qualidade do grão. Os negócios se situaram entre R$ 200,00 e mais de R$ 300,00 pela saca do Carioca de melhor qualidade. O feijão Preto também avançou para patamares de R$ 150,00 a R$ 200,00 a saca,
ambos sustentados pela boa demanda que continuará neste segundo semestre, em ano de feijão com arroz. ARROZ
Calmaria no primeiro semestre e alta no segundo
As negociações fluíram de maneira calma nos primeiros seis meses do ano e agora se encaminham para um segundo semestre com mais demanda e redução das
ofertas. Com isso há apelo para recuperação das cotações que andaram lentas até junho. Os indicativos no mercado gaúcho, neste primeiro semestre, foi de patamares abaixo de R$ 40,00 em média pela saca do Casca comercial. Agora, tudo aponta para a recuperação dos níveis, com espaço para operar em alta nos próximos meses e espaço para alcançar a faixa de R$ 45,00 a saca. Segue com forte demanda e fôlego para ajustes já existe.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo está de olho no produto importado, que devido a problemas nos EUA vem com cotações em alta. Os indicativos são de que o importado chegará ao Brasil acima de R$ 800,00 a tonelada, o que dará fôlego ao produto nacional. O plantio deste ano é menor e com atraso devido às chuvas em excesso no Sul do país. Cenário que dá ainda mais argumento para cotações maiores. UCRÂNIA - O plantio da safra de grãos ocorreu com atraso, mas o milho já foi todo plantado e a safra tem evoluído dentro de boas condições de clima. Aproximadamente 3,5 milhões de hectares seguem mantendo projeção de colher volume superior a 27 milhões de toneladas. CHINA - As importações seguem a bater recordes. O mês de maio registrou 9,6 milhões de toneladas importadas e assim entre janeiro e maio foram mais de 37,1 milhões de toneladas. Os chineses seguirão comprando forte. Neste ano a safra de soja local tem área maior, com especulações de que alcance meio milhão de hectares a mais. Deste modo, aguarda-se produção de 13,5 milhões
de toneladas frente a 12,5 milhões de toneladas do último ano. Mesmo assim, as importações crescerão. ARGENTINA - A safra ainda se encontra em colheita, com grande atraso, e agora vem o resultado do cultivo do feijão local, que chegará ao mercado brasileiro. BRASIL - O governo brasileiro anunciou a liberação de R$ 192 bilhões para a nova safra. Com isso, aumentou o volume e diminuíram os juros, permitindo aos produtores segurar a safra e utilizar os recursos oficiais para o plantio. CONAB - A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem realizado pregões de apoio à comercialização do milho no Mato Grosso, o que serviu para segurar a queda das cotações do grão no estado, que tem trabalhado com níveis mais próximos do preço mínimo, de R$ 16,50 a saca. Mas quem manda no milho é o valor que liquida na exportação. Os pregões foram bons para segurar a queda e a exportação é o caminho para dar fôlego ao milho nacional. O Brasil deve exportar mais de 30 milhões de C toneladas neste ano. Vlamir Brandalizze
brandalizze@uol.com.br • Twitter@brandalizzecons • brandalizzeconsulting.com.br
COLUNA ANPII
Modernidade na agricultura Relegada durante anos como uma tecnologia ultrapassada, da “velha” agricultura, a microbiologia do solo desponta como o novo filão para a pesquisa e para as empresas produtoras de insumos agrícolas
P
or séculos a natureza se encarregou de manter florestas e pastagens em equilíbrio, produzindo alimentos para a pequena população então existente. Algumas intervenções humanas acrescentavam ao solo pequenas quantidades de material orgânico, vislumbrando, de forma empírica, uma maior produtividade. Estercos, restos de cultura, ossos e outros materiais já eram utilizados, via observação, como fontes de nutrientes. Os fenômenos naturais, dentro da dinâmica do solo, abrangendo as alterações físicas, químicas e microbiológicas, se encarregavam de manter os níveis de fertilidade suficientes para uma agricultura que abastecia as populações e permitia até mesmo uma já incipiente comercialização intercontinental de grãos. Com o crescimento populacional explosivo, no século 19, foi constatado que os métodos tradicionais de cultivo não produziriam alimento suficiente para todos os seres humanos. Iniciaram-se aí, devido aos trabalhos de pesquisa, estudos científicos para se poder produzir mais em uma mesma área. Os trabalhos decisivos de Liebig mostraram o papel dos minerais na nutrição das plantas, abrindo caminho para a larga utilização de fertilizantes químicos na agricultura, culminando com a atual agricultura, quando é exigida uma alta produtividade, e para isto é indispensável o uso de fertilizantes químicos em grande escala. Assim como a “Revolução Verde” começou uma nova era na agricultura, agora já se percebe claramente uma segunda onda, onde se busca não só o aumento de produtividade, mas que isto seja compatível com o ambiente no sentido de prover os nutrientes necessários, aliado a uma política de menor uso de recursos finitos ou que causem efeitos colaterais que venham a prejudicar, em um
futuro próximo, o próprio conceito de produtividade. Esta nova revolução, que se delineia muito claramente no horizonte, passa por uma utilização cada vez mais ampla dos recursos biológicos, a mais moderna tecnologia a ser usada na agricultura. Relegada durante anos como uma tecnologia ultrapassada, da “velha” agricultura, a microbiologia do solo desponta como o novo filão para a pesquisa e para as empresas produtoras de insumos agrícolas. Despertada pelo uso massivo dos inoculantes na cultura da soja, com resultados incontestáveis no aumento da produtividade com sustentabilidade, o uso deste insumo vem servindo para sinalizar de modo claro que a microbiologia ainda tem recursos incomensuráveis para que a produtividade possa crescer continuamente com insumos não
A utilização de uma bactéria com atuação em mais de 70 culturas abre as portas de um enorme campo de atuação na agricultura
agressivos ao ambiente ou ao homem. O advento do inoculante para gramíneas em 2009, com a bactéria Azospirillum brasilense, demostrou que o uso de bactérias poderia ir muito além do tradicional fixador em leguminosas. A utilização de uma bactéria com atuação em mais de 70 culturas abre as portas de um enorme campo de atuação na agricultura. O uso concomitante dos dois inoculantes, para soja e para gramíneas na cultura da leguminosa, abriu um novo campo, uma larga via para as pesquisas e para os agricultores: o uso conjunto de micro-organismos, em “coquetéis” cientificamente estudados e recomendados pela pesquisa. Sabe-se que na natureza não há atividades isoladas. A interação entre organismos e estes com o ambiente faz parte da vida em si. Por isto, os estudos de consórcio de micro-organismos resultarão em novos caminhos não só na área nutricional como na de controle biológico, trazendo novos conceitos e novas práticas na agricultura. Atualmente se estuda de modo profundo a comunicação, via bioquímica, de micro-organismos com plantas, seja entre si ou entre micro-organismos, em um sentido de comunidades e não de seres isolados. Com o entendimento destes fenômenos e sua utilização racional na agricultura, haverá uma nova era na produção de alimentos. A Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) elegeu no dia 9 de junho sua nova diretoria, que ficou assim composta: Presidente: José Roberto Pereira de Castro, da associada Bio Soja Vice-presidente: Guilherme Figueiredo, da associada Agrocete Secretário: Roberto Berwanger Batista, da associada Microquímica Tesoureira: Andreza Percechitto, C da associada Stoller
Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
54 Julho 2017 • www.revistacultivar.com.br