Destaques
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Índice
Como interagem
Os efeitos da interação de herbicidas no complexo manejo do capim-amargoso, planta daninha de difícil controle
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Proteção desde cedo
A importância do tratamento de sementes com fungicidas para prevenir prejuízos com doenças e garantir bons resultados nas lavouras
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Antigo aliado
A repopularização dos herbicidas préemergentes, que passam a ter papel destacado no manejo de daninhas resistentes Cultivar Grandes Culturas • Ano XIX • Nº 230 Julho 2018 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Camila Ferreira de Pinho
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas
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Evento - Lançamento da marca global Forseed
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Nematoides entomopatogênicos
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Recrudescimento de nematoides parasitos
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Informe empresarial Alltech
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Eventos - Fórum Andef
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Tratamento de sementes com fungicidas
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Capa - Amargoso e interação de herbicidas
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Herbicidas pré-emergentes
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Eventos - Campeões do Desafio Cesb
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Milho voluntário em áreas de soja
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Escolha de cultivares de trigo
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Café - manejo de daninhas
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
• Vendas Sedeli Feijó Rithieli Barcelos José Luis Alves
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas Fungicida
A UPL destacou no VIII Congresso de Soja o fungicida multissítio Unizeb Gold e as novas soluções como o Triziman, que combina sítio-específico e multissítio e o lançamento mais recente da marca, o Tridium. "A UPL reforça a questão da sustentabilidade da soja através de manejo de resistência e utilização de soluções como as orientações do Frac. Além disso, para dar suporte ao manejo de sugadores a empresa levou o inseticida Sperto, que possui uma forte ação de choque no controle de percevejos na soja e mosca branca", finalizou o supervisor de Marketing e Cultivos Extensivos, Rafael Borba.
Visita
O vice-presidente do Conselho de Administração e presidente-executivo do Citic Group, Wang Jiong, esteve no Brasil junto com uma comitiva de executivos do grupo para conhecer a operação brasileira da Longping High-tech, empresa de sementes controlada pelo Citic. A comitiva visitou o escritório de Ribeirão Preto, a unidade de Cravinhos, São Paulo e também clientes da empresa nas regiões Sul e Centro-Oeste. O grupo foi acompanhado pelo diretor-geral Latin America da Longping High-tech, Mozart Fogaça Junior. A visita teve a missão aproximar as lideranças e as equipes da corporação no Brasil e na China, reforçando o processo de globalização da companhia. Wang Jiong destacou durante a visita que a operação brasileira, lançada dia 1º de dezembro de 2017, marca o início da expansão internacional da Longping High-tech.
Inseticida
A Syngenta mostrou no VIII Congresso de Soja o inseticida Proclaim, o mais novo produto da companhia, registrado para o combate de lagartas de difícil controle. Outro destaque da marca ficou por conta da solução em tratamento de sementes Fortenza, com foco no controle de pragas, o Engeo Pleno S e o fungicida Elatus. “Também demonstramos as soluções digitais que ampliarão a eficiência de controle e gestão nas propriedades”, explicou o gerente de Cultura de Soja da Syngenta, Marcos Basso.
Equilíbrio das plantas
Marcos Basso
A Stoller do Brasil participou do VIII Congresso Brasileiro de Soja. De acordo como gerente de Comunicação Sergio Mariuzzo, as tecnologias Stoller ampliam o equilíbrio hormonal das plantas, tornando-as mais resistentes ao estresse e mais fortes durante todo o seu ciclo produtivo. A marca também expôs aos sojicultores o “Segredo dos Campeões”, iniciativa que tem por objetivo ajudar o produtor a superar as altas produtividades já alcançadas.
Wang Jiong e Mozart Fogaça Junior
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“A saga da soja”
Novidades
O livro "A saga da soja: de 1050 a.C. a 2050 d.C.", assinado pelos pesquisadores Amélio Dall´Agnol e Décio Gazzoni, foi lançado durante o Congresso Brasileiro da Soja, que ocorreu em Goiânia no mês de junho. Na publicação, os pesquisadores da Embrapa Soja contam como surgiu a cultura, desde a domesticação da oleaginosa na antiga China, até tornar-se o quarto principal grão produzido no mundo. “A soja encontrou condições adequadas de expansão nos trópicos, fruto de elevada disponibilidade de área, clima favorável, topografia adequada e vultosos investimentos em desenvolvimento de tecnologia, aliados à presença de agricultores empreendedores”, avaliam os autores. A obra pode ser adquirida no site da Embrapa Soja.
A Bayer mostrou no Congresso Brasileiro de Soja novidades em serviços e tecnologias para o manejo da lavoura da soja. Na avaliação do diretor estratégico de Marketing para a Soja da Bayer, Eduardo Mazzieri, o Congresso é um dos mais importantes eventos que debatem o futuro da produção agrícola do País. “Além de discutir o que é feito aqui por grandes pesquisadores do setor, referências de outros países também são apresentadas em primeira mão por profissionais renomados convidados para as plenárias. Portanto, sem dúvida, trata-se de um congresso inovador e de grande utilidade para o agronegócio brasileiro”, avaliou.
Amélio Dall'Agnol e Décio Gazzoni
Marcos Dallagnese e Eduardo Mazzieri
Reunião
A Rudan Agrotecnologia realizou sua convenção anual de vendas em maio, na cidade de Carazinho, no Rio Grande do Sul. De acordo com o diretor da empresa, Ivonel Teixeira, estiveram presentes representantes do Paraguai e de todas as regiões do Brasil. O tema escolhido para este ano foi “Desafios”, uma realidade diária na agricultura atual. Além de abordar assuntos como tecnologia de aplicação, nutrição de solo e aérea e proteção foliar, a Rudan aproveitou o evento para lançar o produto Hover, aumentando o portfólio da empresa.
Cultivares
A Tropical Melhoramento & Genética (TMG) destacou no VIII Congresso Brasileiro de Soja nove cultivares, lançamentos da safra 2017/18 para todas as regiões do Brasil, com destaque para variedades com junção das tecnologias Intacta RR2 PRO e Inox e variedades com Intacta RR2 PRO agregadas à ampla resistência a nematoide de cisto. No evento, a TMG também lançou sua nova identidade visual. A mudança, segundo a empresa, tem o objetivo de marcar uma nova fase da companhia, que passa por investimentos organizacionais, renovação de relações comerciais e inovações tecnológicas. A marca ganha ares mais modernos, maior liberdade de traços e cores, com o objetivo de simbolizar simplicidade e avanço.
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Presença
O Grupo Vittia, marca holding das empresas Biosoja, Samaritá, Granorte e Biovalens, esteve presente no VIII Congresso Brasileiro de Soja. Durante o evento apresentou o Vit Integra, projeto que tem por objetivo simplificar processos e maximizar resultados para seus clientes. Os visitantes puderam conferir as novidades da marca e obter mais informações sobre tecnologias de produtos como a linha de inoculantes Biomax.
Biotecnologia
A Total Biotecnologia participou pela primeira vez como expositora no Congresso Brasileiro de Soja, onde apresentou seus produtos para a cultura e atendeu clientes e pesquisadores. De acordo com o gerente nacional de Vendas, César Eduardo Kersting, além de apresentar seu portfólio completo de produtos para fertilidade biológica das plantas, a empresa focou nos lançamentos Andax, produto à base de pseudômonas fluorescens para crescimento do milho, e Rudder, um produto à base de Bacillus amyloliquefaciens para a cultura da soja.
Lançamento
Durante o Congresso de Soja, a Bayer apresentou o novo fungicida Fox XPro, produto sistêmico que os sojicultores terão à disposição para o uso na lavoura a partir de 2019. Outro destaque da empresa foi o programa de pontos da Rede AgroServices e as palestras sobre temas fundamentais para a alta produtividade e sustentabilidade da soja promovidas durante os quatro dias do evento.
Manejo de daninhas
A discussão dos principais avanços e tendências dos sistemas de produção para os próximos anos no agronegócio foi tema do Congresso Brasileiro de Soja. Segundo o gerente de Marketing Soja da Basf, Hélio Cabral Costa, é fundamental que os produtores pensem no sistema de produção e utilizem as ferramentas adequadas que envolvam boas práticas agrícolas durante todo o ciclo. Dessa forma, terão um manejo eficiente de plantas daninhas sem perder produtividade e qualidade. “Entendendo esta necessidade do produtor rural, a Basf vai oferecer para a próxima safra duas tecnologias inovadoras para controle de plantas daninhas em soja”, adiantou.
Herbicidas
Hélio Cabral Costa
A Basf lançou no Congresso Brasileiro de Soja os herbicidas Atectra e Amplexus para o controle de plantas daninhas como a buva e o capim-amargoso. Durante o evento a empresa participou do Fórum Desafio de Máxima Produtividade da Soja, promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), que reconhece os agricultores que obtiveram os melhores resultados de produtividade nas lavouras de soja na última safra.
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Empresas
Foco em sementes D
Longping High-Tech apresenta nova marca comercial global Forseed em evento em Campinas, São Paulo
Fotos Longping
urante convenção de franqueados, a empresa chinesa Longping High-Tech apresentou a sua nova marca comercial global, a Forseed. O evento ocorreu em maio, em Campinas, São Paulo, e reuniu aproximadamente 400 pessoas entre clientes estratégicos, distribuidores, representantes de cooperativas e executivos chineses da companhia. A nova marca nasce com 12 produtos em catálogo, sendo cinco lançamentos realizados ao longo de 2018 e sete híbridos que já faziam parte do portfólio. Desta forma, a Longping High-Tech passa a contar com duas marcas comerciais globais: Forseed e Morgan. “A Forseed será uma marca global de milho. Futuramente vai ser utilizada para as mais diferentes plataformas de sementes que a empresa vier a operar. A Longping High-Tech está atenta a novas possibilidades de aquisições também em outras culturas”, afirmou o diretor-geral América Latina da companhia, Mozart Fogaça Júnior. A Forseed se propõe a levar aos agricultores brasileiros produtos de alta tecnologia, capazes de responder às especificidades de cada microclima, tipo de solo, época de plantio e pressão de pragas e doenças. “A Forseed está pronta para levar ao agricultor as sementes mais adequadas à sua realidade, antecipando necessidades e antevendo as tendências do mercado. Desta forma, ajudamos o agricultor a produzir melhor com menos riscos. Queremos em cinco anos dobrar nosso market share, que atualmente é de 15% no milho safrinha”, explicou o líder de Marketing da Longping High-Tech no Brasil, Aldenir Sgarbossa.
Adenir Sgarbossa, Mozart Fogaça Júnior e Kevin Chen
De acordo com Mozart Fagundes, a empresa pretende investir em sementes de soja e sorgo. “Nossa expectativa é de que possamos entrar no negócio de soja na safra 2019/2020. A Longping High-Tech inclui a abertura de duas plantas, além das quatro que operam atualmente, e a implantação de novas estações experimentais em diferentes regiões.” “A Forseed atende as especificidades de cada lavoura, como solo, clima, pragas e doenças. Tudo para você obter a melhor produtividade. Com um portfólio conhecido e consagrado no mercado brasileiro, a Morgan une eficiência, estabilidade e produtividade”, conclui Sgarbossa. A Longping High-Tech, maior empresa de sementes da China, reforça no Brasil seu alinhamento global e marca o final de um ciclo de transição. “A agricultura é global e, adotando o nome Longping High-Tech também no Brasil, nos preparamos para o avanço internacional da empresa”, explica Mozart Fogaça Júnior. O plano de internacionalização da empresa envolve a integração dos bancos de germoplasma que a Longping High-Tech possui na Ásia, nos Estados Unidos e no Brasil, o que amplia a capacidade da companhia de desenvolver novos híbridos para atender às necessidades da agricultura brasileira e mundial. O diferencial da empresa é focar somente em sementes. A companhia não irá atuar em C proteção de cultivos. Fogaça Júnior não descarta aquisições em outras culturas
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Nematoides Andressa L. Brida
Agentes de biocontrole
A situação atual e as perspectivas de emprego de nematoides entomopatogênicos no manejo de insetos-praga na agricultura
O
controle microbiano apresenta o papel de proteção de diferentes culturas contra insetos-praga e vem se expandindo com o descobrimento e o estudo de novos agentes. Dentre os agentes de controle biológico, os nematoides entomopatogênicos (NEPs) passaram a merecer maior atenção dos pesquisadores e a receber grande destaque nacional e internacional, e entre os motivos para o crescente interesse por tais nematoides pode-se citar a possibilidade
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de criação massal in vitro a custos relativamente viáveis. Os NEPs apresentam atributos como compatibilidade a diversos grupos químicos e biológicos com ação sinérgica em misturas, eficiência a certas espécies ou grupos de espécies que passam parte do seu ciclo biológico no solo, comportamento por busca do hospedeiro através de quimiorreceptores que detectam principalmente o gás carbônico liberado pelos insetos, persistência no ambiente, não toxicidade ao
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homem e ao ambiente. Estas qualidades levam esses agentes a terem um enorme potencial e os tornam mais adequados para o controle biológico, se comparados a outros grupos de micro-organismos, utilizados com sucesso em muitos países para o controle de diversas pragas agrícolas. Em muitos países, incluindo o Brasil, estudos são realizados, buscando estratégias de maximizar a eficiência desses agentes, com a formação de vários grupos de pesquisa trabalhando em várias
por espécies nativas através da amostragem em diferentes partes do Brasil, para efeitos de comparação dessas linhagens nativas com as de outros países. Apesar do baixo investimento, pesquisadores têm realizado levantamentos em diversas regiões e culturas, e até o momento duas novas espécies foram descritas, H. amazonensis (Andaló, Nguyen & Moino Jr., 2006) e S. brazilense Nguyen, Ginarte, Leite & Santos, 2010). Além destas espécies, sete espécies do gênero Steinernema: S. australe (Edgington, Buddie, Tymo, Hunt, Nguyen, France, Merino & Moore), S. Diaprepesi (Nguyen & Duncan), S. feltiae Filipjev, 1934, S. glaseri (Steiner, 1929), S. puertoricense (Roman & Figueroa, 1994), S. Rarum (Doucet, 1986) e S. riobrave (Cabanillas, Poinar & Raulston, 1994) e três espécies do gênero Heterorhabditis: H. bacteriophora (Poinar, 1976), H. baujardi (Phan; Subbotin; Nguyen; Moens, 2003) e H. indica Poinar, Karunakar, David, 1992, foram registradas (Dolinski et al, 2017). Diante das peculiaridades desenvolvidas pelos NEPs, tem se confirmado a importância destes agentes frente ao controle de pragas agrícolas. O gorgulho-da-goiaba, Conotrachelus psidii (Marshall), é a praga de maior importância nas plantações comerciais de goiaba, afetando a qualidade e a quantidade dos frutos obtidos. H. baujardi LPP7 aplicado como cadáveres infectados ou em suspensões aquosas tem causado a redução de larvas e adultos da praga em pomares comerciais. O bicudo-da-cana-de-açúcar, Sphenophorus Levis (Vaurie, 1978) é uma importante praga na produção de cana-de-açúcar. As larvas destroem rizomas e colmos das plantas reduzindo a produtividade e a longevidade dos canaviais. O coró-daspastagens, Diloboderus abderus (Sturm), praga responsável por danos em raízes e diminuição do número de plantas nas áreas afetadas. A utilização de H. bacteriophora SMC demonstrou ser eficiente no controle de larvas de primeiro e segundo estádio do inseto em aplicações a campo, atingindo níveis de controle similares aos tratamentos químicos convencionais. Trabalhos demonstram ótimos resultados na utilização dos nematoides S. brazilense e H. bacteriophora contra larvas de último
Fábio S Schmidt
questões, incluindo biodiversidade, taxonomia, produção in vivo e in vitro, formulação, seleção de isolados, testes de compatibilidade com pesticidas e testes de campo de diferentes isolados. Os nematoides Steinernema spp. e Heterorhabditis spp. são os únicos associados a insetos que são largamente utilizados para o controle de pragas. Possuem uma associação simbionte incomum que estabelecem com as bactérias Xenorhabdus spp. e Photorhabdus spp., respectivamente, resultando invariavelmente na morte rápida dos insetos parasitados. Os juvenis infectantes (JIs) são naturais do solo. Quando em contato com o inseto hospedeiro, os JIs penetram pelas aberturas naturais (boca, ânus e espiráculos) ou diretamente através da cutícula. Uma vez dentro do hospedeiro, liberam as bactérias simbiontes na hemocele do inseto. Com o fim do alimento, os juvenis infectantes (JIs) emergem do cadáver do inseto e buscam um novo hospedeiro no solo. As bactérias se multiplicam rapidamente, produzindo toxinas que causam septicemia e morte ao hospedeiro. Adicionalmente, as bactérias fornecem os nutrientes para o desenvolvimento e multiplicação dos nematoides, além de antibióticos e antifúngicos para a manutenção da infecção dos nematoides. Nos últimos anos, as bactérias simbiontes de NEP tornaram-se uma área de pesquisa, particularmente para testes de virulência e estudos moleculares. O crescente interesse pelo estudo de tais formas se deve ao fato de que várias tiveram comprovada experimentalmente patogenicidade a diferentes espécies de insetos consideradas importantes pragas agrícolas. Tais bactérias contêm mais de quatro mil genes de proteínas, que codificam um número muito grande de toxinas, maior que o de outras bactérias patogênicas descritas, tornando-as agentes de biocontrole de grande potencial. Nas últimas décadas, os NEPs foram isolados de solos em diferentes ecossistemas, do Ártico aos Trópicos. Essa variabilidade geográfica os torna ferramenta potente no controle de diferentes pragas, devido à especificidade que muitos nematoides podem possuir. Portanto, tem havido um aumento na busca
Produção in vitro em meio sólido de Steinernema brazilense
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instar e pré-pupa de Conotrachelus humeropictus (Fiedler, 1940), conhecida popularmente como broca-do-cupuaçu, importante praga na cultura de cupuaçu e cacau. As larvas atacam os frutos, causando estragos consideráveis, atingindo perdas de até 60% na produção. Moscas dos fungos, Bradysia spp e tripes, principalmente Frankliniella occidentalis, merecem destaque pelos danos consideráveis causados em cultivos protegidos e outras culturas como morango e cebola. Excelentes resultados são observados em estudos conduzidos com o nematoide S. feltiae. Em pragas de frutíferas, em especial ao complexo moscas-das-frutas, principalmente os gêneros Anastrepha e Ceratitis, são consideradas suscetíveis a diversas espécies de nematoides. Atualmente, pesquisas estão sendo desenvolvidas com o uso de diferentes espécies de NEPs no controle de Drosophila suzukii (Matsumura, 1931), importante praga que ataca diferentes frutíferas como morango, amora, framboesa, mirtilo e pitanga. Trata-se de uma espécie fortemente colonizadora e vem causando perdas expressivas no Rio Grande do Sul. Os NEPs também têm sido avaliados em outros setores, como o agropecuário para o controle do carrapato em bovino, Rhipicephalus microplus, utilizando H. baujardi LPP7 com eficácia de 33% de controle. Já de interesse na saúde pública, descobriu-se também a eficiência de H. indica LPP35 contra larvas de Aedes aegypti. Os resultados do estudo certamente serão úteis no sentido de eventualmente se poder contar com alternativa ao controle do inseto (mosquito).
Andressa, Schmidt e Claudia analisam papel de nematoides entomopatogênicos
Embora haja casos de sucessos com a aplicação de NEPs no controle de pragas, são necessárias pesquisas adicionais que permitam incorporar nematoides no Manejo Integrado de Pragas de cada cultura em particular. O maior conhecimento de cada espécie e isolado, otimização dos métodos de aplicação e de formulação vão aumentar a eficiência de NEPs no controle de pragas agrícolas. No Brasil, os NEPs são considerados um campo recente na pesquisa, mas que está progredindo rapidamente em vários aspectos. Talvez o principal entrave em disseminar o uso de NEPs seja a escassez de empresas que comercialmente produzem esses nematoides, o que compromete sua aplicação em larga escala no campo. Por esta razão, grupo de pesquisadores, em parceria com uma empresa privada, desenvolveu um produto baseado em NEPs para o controle da Fábio S Schmidt broca-da-cana (S. levis), a broca-docupuaçu (C. humeropictus) e a larvaalfinete (Diabrotica speciosa), e esta será mais uma alternativa aos produtores, embora os nematoides ainda não sejam a solução definitiva para garantir a saúde das culturas, mas uma ferramenta extra para o controle biológico. Outros fatores ainda precisam ser analisados para o sucesso destes agentes, como o custo final do produto, o processo de registro, o transporte refrigerado eficaz, a produção em massa, fatores essenciais para alavancar o estabelecimento de produção em massa de NEPs por empresas, e expandir em todo território o uso de NEPs com mais uma futura e promissora ferramenta de controle C biológico.
S. brazilense emergindo do corpo do inseto morto
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Andressa Lima de Brida, UFPel Fábio Silber Schmidt, Instituto Biológico Claudia Dolinski, Uenf
Nematoides
Desafio real
A presença de nematoides parasitos de plantas tende a se agravar nos próximos anos, principalmente por conta do sistema intensivo de cultivo. O uso de cultivares resistentes e plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos ou biológicos, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas com grande potencial de utilização no manejo
O
o principal órgão da planta (raízes) em seu período mais crítico de desenvolvimento, acarretando perdas no rendimento da cultura. Dentre os diversos grupos de micro-organismos que habitam o solo e podem atacar as raízes da soja, os nematoides parasitos de plantas têm o papel de destaque, com perspectivas sólidas de agravamento para os próximos anos, muito em função do Fotos Paulo Santos
cultivo da soja nos últimos anos tem se tornado extremante desafiador, devido à elevada diversidade de problemas fitossanitários que incidem na cultura. Além das doenças que podem atacar as plantas via parte aérea, o complexo de patógenos habitantes do solo tem aumentado significativamente. Micro-organismos de difícil controle atacam
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sistema intensivo de cultivo. Há pouco tempo os fitonematoides apresentavam status intermediário de preocupação em muitas regiões produtoras do Brasil, quadro por hora, já ultrapassado nos dias atuais. Esses parasitos possuem ampla distribuição geográfica e são capazes de causar severos danos à cultura, podendo impactar em mais de 50% da produção. Fatores que contribuem neste processo passam, inevitavelmente, pelo grau de suscetibilidade da cultivar, a densidade populacional da espécie envolvida, bem como as condições climáticas durante o cultivo. Das espécies que atuam abaixo da linha do solo, os nematoides das galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), o nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis) figuram como as principais espécies associadas ao sistema radicular das plantas de soja. No entanto, recentes estudos de mapeamento em diversas regiões do Brasil têm apontando o surgimento de espécies de nematoides potenciais para a cultura, como é o caso de Helicotylenchus dihystera, Scutellonema brachyurus e Tubixaba tuxaua. Na busca por informações sobre a ocorrência de fitonematoides associados à soja na Região Sul do país, o Instituto Phytus, Rio Grande do Sul, vem realizando o mapeamento de áreas de produção comercial, com o objetivo de verificar a presença de espécies prejudiciais à cultura. Este estudo teve seu início na safra 2012/13 e sua primeira compilação ocorreu no ano de 2014/15, contemplando 23 municípios da região. Nessa safra de 2017/18 esse mesmo estudo abrange 71 municípios da região (Tabela 1). Os resultados das análises apontaram a presença de nematoides das galhas Meloidogyne spp., nematoide do cisto da soja Heterodera glycines, nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis) e nematoide espiralado Helicotylenchus dihystera. No levantamento populacional realizado entre 2012 e 2014, dos 23 municípios amostrados, 21,7% apresentaram a
Sintomas visualizados nas raízes de soja infectadas
presença de Heterodera glycines, sendo que, no levantamento de 2017/2018, esse percentual aumentou para 31,42% dos 71 municípios avaliados. Nesse caso, mesmo tratando-se de um nematoide que até pouco tempo não era relatado no estado do Rio Grande do Sul houve aumento de 9,72% em seis anos (Gráfico 1). No caso de P. brachyurus, no primeiro levantamento realizado, 69% das amostras apresentaram a presença do nematoide em diferentes níveis populacionais. Já em 2018 houve aumento de aproximadamente 4%, chegando a estar presente em 72,8% das amostras. Já Meloidogyne spp. mostrou-se o nematoide mais comum no estado do Rio Grande do Sul, pois no levantamento iniciado em 2012 foi constatada a presença em 86,9% das amostras. Em 2018 esse percentual baixou para 72,85%, porém, ainda é extremamente significativo. O nematoide R. reniformis, apesar de menos frequente em relação aos demais, praticamente duplicou a sua incidência nas cidades amostradas. Nesse caso houve aumento de 8,69% (2012/2014) para 14,28% (2018). Helicotylenchus dihystera teve taxa de frequência em 2012/14 de 60,8% e em 2018 houve incidência desse nematoide em praticamente todas as amostras analisadas, com percentual de 98,5%. Entretanto, existem variações não somente no percentual de incidência dos nematoides encontrados nos pontos amostrados (considerando os levantamentos realizados), mas também na sua
densidade populacional. Cabe salientar que todas essas espécies interagem de modo parcial ou intimamente com as plantas, necessitando perfurar o sistema radicular, culminando em ferimentos que podem servir como porta de entrada para fungos patogênicos presentes no solo, capazes de potencializar o dano sobre as plantas. Certamente esses resultados seguirão apresentando variação, conforme os estudos avancem anualmente para municípios ainda não contemplados. No tocante à falta de conhecimento dos produtores sobre a presença dos nematoides em suas lavouras, esse aspecto pode causar o aumento da problemática, pois a disseminação dos nematoides ocorre principalmente por trânsito de implementos agrícolas e veículos. Esses maquinários podem carrear partículas de
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Gráfico 1 - Porcentagem de ocorrência de fitonematoides
Fotos Paulo Santos
solo contendo nematoides aderidos em suas rodas e latarias, levando-os para áreas talvez ainda isentas, implicando diretamente na introdução de espécies oriundas de outras regiões do Brasil. Um exemplo reside em produtores que plantam ou alugam seus maquinários para semeadura ou colheita em outras regiões e que correm grande risco de introduzir essas espécies em suas próprias áreas. Embora ocorra grande variação em sua densidade populacional (solo e/ou raízes), este cenário requer alguns cuidados, pois esses micro-organismos podem rapidamente aumentar sua
densidade populacional no solo, devido à alta taxa de reprodução em curto período de tempo (duas a quatro semanas), principalmente se o cultivo de variedades de soja suscetíveis estiver associado à outra cultura também hospedeira suscetível, seja ela precedente ou subsequente, promovendo continuidade à alimentação e à reprodução desses nematoides. Cabe salientar que com o passar do tempo o não cuidado com o sequenciamento (rotação/sucessão) ou a utilização do monocultivo de culturas hospedeiras durante alguns anos certamente favorecerá o estabelecimento ou o agravamento dos problemas em determinadas áreas. Alguns sintomas que a planta expressa quando atacada por esses micro-organismos podem ser facilmente diagnosticados pelos produtores. O primeiro aspecto percebido e quase sempre não creditado à presença de nematoides passa por um leve declínio na produção, que evolui consideravelmente nos anos subsequentes. Outros eventos são visualizados nas lavouras como a diminuição no tamanho de plantas, seguido de amarelecimento na parte aérea, murchamento e queda de folhas, normalmente disposto em manchas ou reboleiras. Já os sintomas visualizados abaixo da linha do solo passam por uma abrupta redução no volume do sistema radicular, apresentando uma coloração mais escura, seguida de necrose causada pela rápida colonização de agentes oportunistas, ou até mesmo deformações na estrutura do sistema radicular comumente conhecidas como galhas. No entanto, o fato da observação desses sintomas não deve ser tomado como me-
Manchas e reboleiras em lavouras de soja infectadas por fitonematoides
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Tabela 1 - Lista dos municípios amostras no presente estudo
dida única de identificação, pois serviram apenas como indício da problemática, sendo necessária a identificação da espécie. O envio das raízes para um laboratório de nematologia o mais breve possível é indispensável. A identificação da ocorrência em campo deve sempre ser acompanhada de análise em laboratório.
MEDIDAS GERAIS PARA O MANEJO
O sucesso do manejo de fitonematoides passa primeiramente pela identificação e quantificação das espécies presentes na área. Deve-se optar por medidas combinadas que possibilitem a manutenção das populações próximas ou abaixo do limiar de dano econômico. O manejo e o controle de fitonematoides não são tarefas fáceis, pois dependendo do nível de infestação e a espécie presente na área, cada cenário ou situação exigirá adoção de uma medida diferente. Cabe ressaltar que a dificuldade aumenta principalmente em áreas com mais de uma espécie. Nesses casos os esforços são ainda maiores. De maneira geral, a rotação ou sucessão com plantas não hospedeiras ou a utilização de hospedeiras desfavoráveis com baixo fator de reprodução (FR) do nematoide, associada a temperaturas baixas, pode reduzir a densidade populacional do nematoide no solo, pois impede o contato patogênico desses organismos com as raízes. A utilização de cultivares resistentes, plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos ou biológicos, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas com grande potencial de utilização no manejo. Quando somados podem apresentar resultados ainda mais satisfatórios. C Paulo S. Santos, Caroline A. Gularte e Gracieli Rebelatto, Instituto Phytus
Municípios Heterodera glycines Pratylenchus brachyurus Meloidogyne spp *** Rotylenchulus reniformis Helicotylenchus dihystera Alegrete Boa vista do Cadeado Cachoeira do Sul Candelária Capão do Cipó Carazinho Céu Azul Cruz Alta Cruzeiro do Sul Ernestina Giruá Ibirubá Ijuí Jaguari Jóia Júlio de Castilhos Manoel Viana Não-Me-Toque Nova esperança do Sul Paraíso do Sul Passo do Sobrado Passo Fundo Porto Lucena Santa Bárbara Santa Cruz do Sul Santa Flrora Santa Tecla Santiago Santo Ângelo Santo Augusto Santo do Jacuí São Francisco de Assis São Gabriel São Luiz Gonzaga São Miguel das Missões São Pedro do Sul São Sepé São Vicente do Sul Seberi Selbah Tupanciretã Uruguaiana Pontão Doutor Maurício Cardoso Independência Tucunduva São Borja Tuparendi Boa Vista do Incra Vacaria 15 de Novembro Frederico Westphalen Três de Maio Pirajú Alegria Itaqui Paverama Minas do Leão Vitoria das Missões Horizontina Don Pedro de Alcântara Ivaí Barra do Quaraí Fortaleza dos Valos Santana do Livramento Rosário do Sul Rio Pardo São Vicente do Sul Cacequi Pejuçara Santa Maria Densidade populacional acima de 500 juvenis e ovos por 200 cm³ de solo ou 5 gramas de raiz Densidade populacional entre 200 a 500 (ovos e juvenis) por 200 cm³ de solo ou 5gramas de raiz Densidade populacional entre 50 a 200 (ovos e juvenis) por 200 cm³ de solo ou 5gramas de raiz Ausência de fitonematoides nas amostras analisadas
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Informe Empresarial
Produtividade potencializada Formulação desenvolvida a partir de extratos fermentados e nutrientes, que atuam na potencialização das condições biológicas do solo, ajuda a alavancar os resultados das lavouras de soja
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busca por novas alternativas para o aumento da produtividade da soja tem sido alvo constante de pesquisas e, em uma agricultura competitiva, potencializar os recursos naturais disponíveis no meio se torna uma alternativa sustentável para os negócios e para a natureza. Desta forma, o uso de biotecnologias que promovam a qualidade do solo, e o tornem biologicamente ativo, revela-se uma necessidade iminente para
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preservar a dinâmica e a diversidade microbiológica presente. Esse processo irá proporcionar maiores chances de aproveitamento e utilização dos minerais solubilizados no meio. Com vistas a colaborar com esse cenário, a empresa de biotecnologia Alltech Crop Science formulou o Soil-Plex Active, desenvolvido a partir de extratos fermentados e nutrientes capazes de promover a atividade
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e o desenvolvimento da rizosfera, que conferem equilíbrio e ativam a microbiota de maneira natural e espontânea, tornando-a mais saudável e vigorosa.
ENSAIO TÉCNICO
Com o objetivo de avaliar o desempenho da aplicação do Soil-Plex Active na cultura da soja via sulco de semeadura, foi conduzido um ensaio
T1. Testemunha; T2. Soil-Plex Active 1L/ha - sulco de plantio. Após as análises dos resultados, foi possível observar diferenças significativas para as avaliações de nodulação (Tabela 1), uma vez que a viabilidade dos nódulos foi maior no tratamento com aplicação de Soil-Plex Active no sulco de plantio. Essa maior viabilidade garantiu aumento do fornecimento de nitrogênio, por meio da presença elevada da bactéria Bradirhizobium, que se instala nas raízes das plantas, captura o nitrogênio presente no ar e fornece o elemento para a cultura, ou seja, contribui diretamente para o desenvolvimento de rizóbios- bactérias responsáveis pela fixação do nitrogênio atmosférico na raiz do vegetal. Outro importante benefício ocorreu após a formação das vagens, fase em que a oferta de fotoassimilados passou a ser maior para os grãos do que para os agentes fixadores de nitrogênio, influenciando positivamente no incremento de produtividade. Como o crescimento e o desenvolvimento da cultura estão diretamente ligados à oferta de nutrientes foi possível identificar um aumento de 15 sacas/hectare no tratamento em C que o produto da Linha Solo da Alltech Crop Science foi utilizado.
Tabela 1 - Dados médios de número de nódulos por planta, massa fresca de nódulos e viabilidade de nodulação, em função da aplicação de Soil-Plex Active Tratamentos
Nodulação Nº de Nódulos por Planta Nº pl-1 mg pl-1 Viáveis Não viáveis T1. Testemunha 8.05 27.36 5.3 2.75 T2. Soil-Plex Active 15.23 51.74 12.15 3.08 Fotos Altech Crop Sciences
no ano agrícola de 2017/2018, na área experimental da Fertigeo, no município de Rio Verde, Goiás, com sementes da variedade Power IPRO. Cada parcela experimental foi composta por seis linhas de cinco metros de comprimento, com espaçamento de 0,5m entre si, perfazendo área total de 15m². As características agronômicas avaliadas foram: viabilidade de nodulação e produtividade. O delineamento do experimento ocorreu em blocos casualizados e com quatro repetições, com os seguintes tratamentos:
Pesquisas buscam alternativas para aumentar a produtividade da soja
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Eventos
Gargalos na inovação Fotos Andef
Fórum Inovação e Sustentabilidade na Agricultura, promovido pela Andef, apresenta estudo que aponta perdas de até R$ 25 bilhões devido à demora na aprovação de novas tecnologias por órgãos regulatórios
P
romovido pela Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e pela CropLife Latin America, o Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Agricultura ocorreu em junho, em São Paulo. Entre os temas debatidos no evento, esteve um dos principais gargalos no avanço da produtividade brasileira: a demora na aprovação
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de tecnologias agrícolas. Atualmente, uma lista com 36 defensivos aguarda análise para obtenção de registro no Brasil. No entanto, 28 deles já têm registros em países como EUA, Japão, Canadá, Austrália e Argentina. Isso porque o processo de avaliação e registro, que nesses países costuma levar cerca de dois anos, no Brasil dura de oito a dez
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anos. Essa realidade motivou o estudo “Defensivo: uma visão sobre inovação tecnológica e os impactos na Economia”, realizado pela MBAgro a pedido da Andef e apresentado pelo engenheiro agrônomo e doutor em Economia Aplicada Alexandre Mendonça de Barros durante o evento. O estudo incluiu uma simulação
de perdas financeiras com a morosidade na aprovação dessas inovações no Brasil. A pesquisa considerou ganhos pelo uso de novos produtos para o controle de pragas, que permitiriam às plantas atingir um potencial maior de produtividade da ordem de 5% a 10%, e mostra que as perdas para a economia nacional vão de R$ 12 bilhões a R$ 25 bilhões. Além desta queda no Produto Interno Bruto Agrícola, o Governo deixa de arrecadar de R$ 5 bilhões a R$ 10 bilhões e não são gerados entre 760 mil e 1,5 milhão de postos de trabalho. A análise considera as principais culturas do agronegócio brasileiro: algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, milho e soja. “A inovação é a alma da agricultura brasileira”, disse Mendonça Barros, para quem a ineficiência regulatória é um dos principais desafios no avanço da produtividade e de uma produção mais sustentável, com tecnologias mais limpas e eficientes. “Nós precisamos reconhecer que é impossível seguir desenvolvendo sem estar sempre incorporando tecnologia. Nós precisamos acelerar o padrão de incorporação para alcançar as demandas do campo no controle de pragas, doenças e plantas daninhas. Não dá para esperar oito anos para usar uma molécula nova que nossos concorrentes já estão usando. Nós precisamos de um arranjo institucional que seja compatível com a dimensão e posição estratégica que queremos no sistema de produção de alimentos do mundo”, afirmou. Também presente no Fórum, o engenheiro agrônomo e doutor em Produção Vegetal, Edivaldo Domingues Velini, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, falou sobre a necessidade de diversificar a matriz de insumos. “O que gera progresso não é fazer inovação, é tornar a inovação pública e nas mãos das pessoas e do processo produtivo”, simplificou. Durante a apresentação, Velini mostrou que até 2006 a produção brasileira havia se estabilizado em 120 milhões de toneladas e, a partir de 2007, apresentou crescimento contínuo, superando 200 milhões de toneladas. O avanço registrado é explicado, principalmente, pela incorporação de inovações na agricultura, com destaque para as fundamentadas na biotecnologia que sofreram avanços por conta de uma modernização realizada em sua legislação. Pensando nisso, o professor defende uma reforma na legislação regulatória para os produtos fitossanitários, com o objetivo de aprovação de produtos mais eficazes, mais sustentáveis e que promovam o aumento da produtividade. Em relação ao tempo que leva para novos produtos serem avaliados no País, Velini destaca novamente os benefícios das pesquisas recentes. “Os produtos que atualmente estão na fila aguardando liberação são, em média, cerca de 30% mais favoráveis ao meio ambiente e à saúde do que os que estão em uso”, complementa o docente. Do ponto de vista político, a deputada do DEM-MS
Tereza Cristina defendeu desburocratização da legislação de agroquímicos
e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Tereza Cristina, defendeu a desburocratização da legislação que regula a aprovação dessas tecnologias. Tereza comentou sobre a atual discussão em torno da legislação dos defensivos agrícolas, frisando que as mudanças propostas têm o objetivo de modernizar leis de quase 30 anos. Para a deputada, o poder Legislativo tem papel fundamental na agricultura brasileira. “Buscar inovação e segurança para a nossa agricultura é o dever do legislador; além disso, é importante que o debate seja científico e tratado sem paixão e com embasamento técnico. O Brasil precisa assumir que é agropecuário e deve abraçar a oportunidade que está aí para a geração de riqueza, renda e qualidade de vida”, afirmou a deputada. Todas as informações discutidas no Fórum, incluindo as apresentações dos palestrantes, estão disponíveis em www.inovacaoesustentabilidade.com.br. C
Prêmio Inovação para Sustentabilidade
O
diretor executivo da Andef, Mário Von Zuben, aproveitou a oportunidade do Fórum para lançar o Prêmio Andef Inovação para Sustentabilidade na Agricultura, cujo objetivo é reconhecer profissionais de destaque na criação ou no desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis para a agricultura, que contribuam para o aumento da produtividade e com a proteção à saúde humana e ao meio ambiente. A cada edição, serão contempladas uma personalidade e duas iniciativas: uma na área da Inovação, outra na área da Sustentabilidade e ainda uma personalidade com destaque ou na Inovação ou na Sustentabilidade da agricultura. “Com esse Prêmio queremos incentivar projetos inovadores que possam contribuir para a produção e distribuição de alimentos, fibras e energia de forma sustentável”, destacou o executivo.
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Fotos Agro Carregal
Soja
Prote A
agricultura moderna tem exigido mais profissionalismo a cada safra. O antigo agricultor, que realizava apenas o trabalho braçal na lavoura, tem dado lugar ao novo empresário rural que, além de acompanhar o campo em seu cotidiano, tem estado mais atualizado quanto às novas tecnologias, à aquisição de insumos e à comercialização de grãos. A era digital chegou às fazendas com oferta, quase em tempo real, de informações sobre clima, valores das commodities e resultados de pesquisa que facilitam a tomada de decisão por parte dos agricultores e técnicos. Mas, por outro lado, aspectos básicos para alcançar maiores produtividades têm sido deixados de lado. Não adianta escolher a cultivar mais adaptada para sua região e com maior teto produtivo, realizar a correção química, física e biológica do solo, adquirir os melhores programas de defensivos para aplicação em parte área e investir em máquinas modernas se o agricultor esquecer que o início de tudo está na semente, que precisa ser protegida. Poucos são os agricultores que realizam uma análise da qualidade fisiológica e sanitária da semente, principalmente dentre aqueles que “salvam” suas próprias sementes. E, como não há obrigatoriedade da realização da patologia de sementes, muitas vezes o próprio agricultor é responsável por introduzir novas doenças ou raças de patógenos em suas áreas. Aproximadamente 90% das culturas utilizadas para alimentação humana são provenientes de sementes, dentre as quais se destacam soja, feijão, arroz, milho, trigo, cevada, girassol e amendoim. No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) existem regras e normas brasileiras para análises sanitárias de sementes, e tais testes têm como principal objetivo determinar a condição sanitária, provendo importan-
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eção desde cedo
Na era digital, marcada pela oferta abundante de informações quase em tempo real, aspectos básicos para alavancar a produtividade não podem ser abandonados. É o caso dos cuidados exigidos com a qualidade sanitária das sementes, cujo tratamento químico com fungicidas mantém papel fundamental na prevenção de doenças nas lavouras
tes informações, tais como: serviços de quarentena, certificação de sementes, valor cultural, resistência de cultivares aos patógenos, necessidade e eficiência de tratamento químico, além de qualidade de grãos armazenados (Embrapa, 2005). Nas principais culturas há um grande número de patógenos importantes que interferem na germinação das sementes e emergência de plântulas, resultando na redução de estande e, consequentemente, nos parâmetros produtivos. Dentre os patógenos da cultura da soja que têm sido verificados com maior frequência no Laboratório da AgroCarregal e que são disseminados por sementes, destacam-se Phomopsis spp., Colletotrichum spp., Fusarium spp., Cercospora kikuchii, Macrophomina phaseolina, Aspergillus spp., Penicillium spp., Sclerotinia sclerotiorum e Rhizoctonia solani. Como o uso de sementes certificadas não é garantia de que estejam isentas de patógenos, existe a necessidade crescente da realização do tratamento químico.
SCLEROTINIA SCLEROTIORUM
Causador do mofo-branco em diferentes culturas pode estar associado à semente através do micélio dormente e também pelo escleródio (estrutura de resistência do fungo) aderido (Goulart, 2005). Neste caso, as sementes constituem um abrigo seguro à sobrevivência do fungo e também um eficiente método de disseminação às longas distâncias. A incidência desse fungo nas sementes pode causar falhas de estande tanto pelo tombamento em pré quanto em pós-emergência. Além disso, haverá a produção de escleródios que constituirão a fonte de inóculo para o próximo cultivo. Hoffman et al (1998) verificaram de 0,3% a 0,7% de incidência de S. sclerotiorum em sementes de soja colhidas em áreas com alta incidência da doença. Apesar de parecer baixa, tal porcentagem de sementes infectadas pode ser extremamente elevada. Para uma cultivar cuja população seja 300 mil plantas por hectare, o agricultor poderá estar introduzindo de 900 a 2.100 sementes infectadas por hectare, o que muitas vezes explica a incidência da doença mesmo em áreas nunca cultivadas com soja anteriormente. Devido à dificuldade de controle e ao potencial de destruição desse patógeno, o nível de tolerância de Sclerotinia sclerotiorum
é zero em todas as categorias de sementes de soja comercializadas. Porém, esse índice é baseado somente na presença de escleródios no lote, não sendo obrigatório o teste de sanidade para detecção de micélio dormente. A melhor alternativa para o agricultor (além de proceder a análise sanitária das sementes) é a realização do tratamento de sementes com fungicidas para tal finalidade. O tratamento de sementes pode ser realizado na própria fazenda (onfarm) ou solicitado na aquisição das sementes (TSI – tratamento de sementes industrial). Nos experimentos desenvolvidos durante a safra 2017/18 na AgroCarregal, verificou-se eficiência de diferentes princípios ativos quando comparados à testemunha sem tratamento (7% de incidência em sementes infestadas artificialmente). Os principais fungicidas foram mancozebe, fluazinam, thiabendazol, carbendazim, tiofanato metílico e metalaxil M + fludioxonil, os quais proporcionaram até 100% de controle.
PHOMOPSIS SPP.
O fungo Phomopsis, causador da seca da haste e das vagens e também de infecção de sementes, é muito comum nas áreas
Plantas infectadas com a presença de lesões nos cotilédones
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areia não é afetada, se a qualidade fisiológica for boa e as condições forem adequadas para rápidas germinação e emergência. Esses resultados podem ser explicados por um mecanismo de escape em que a plântula, ao emergir, solta o tegumento infectado no solo, ao passo que, no teste padrão de germinação (rolo de papel) o tegumento permanece em contato com os cotilédones, causando sua deterioração. Esses resultados demonstram que o teste padrão de germinação, isoladamente, é inadequado para avaliar a qualidade de sementes de soja com alta incidência de Phomopsis. Sementes infectadas superficialmente por Phomopsis spp., quando semeadas em solos úmidos, geralmente chegam a emergir. Porém, o fungo desenvolvido no tegumento não permite que os cotilédones se abram, impedindo a expansão das folhas primárias. Somente infecções que se iniciam nas vagens resultam em deterioração das sementes (Almeida et al, 2005). Dentro do manejo de doenças, o tratamento das sementes com fungicidas do grupo dos benzimidazóis (carbendazin, tiofanato metílico e tiabendazol) pode reduzir a taxa de transmissão da doença e é recomendado para o controle de Phomopsis spp. (Tecnologias, 2010).
COLLETOTRICHUM TRUNCATUM
A antracnose é a principal doença que afeta a fase inicial de formação das
vagens e um dos principais problemas nos cerrados. A maior ocorrência pode ser atribuída à elevada precipitação, às altas temperaturas e ao adensamento de semeadura. É causada pelo fungo Colletotrichum truncatum, podendo ocorrer morte das plântulas, necrose dos pecíolos e manchas nas folhas, hastes e vagens. Inóculo proveniente de restos de cultura e sementes infectadas pode causar necrose nos cotilédones, que tende a se estender para o hipocótilo, causando o dampingoff (tombamento) de pré e pós-emergência. Fungicidas à base de thiram, benzimidazóis, determinadas estrobilurinas e também alguns triazóis apresentam controle efetivo da doença. Os produtos comerciais mais modernos têm apresentado alta eficácia de controle do patógeno nas sementes. Com relação à perda de viabilidade deste patógeno nas sementes durante o armazenamento, pesquisas demonstraram que esse fungo é mais persistente que Phomopsis spp. e Fusarium semitectum, apesar de sua incidência diminuir quando as sementes são armazenadas em condições ambientes, por um período de seis meses. O conhecimento da variabilidade espacial de C. truncatum, encontrado nos campos de produção de sementes e de grãos, constitui-se em informações fundamentais para o entendimento do progresso da antracnose e para tomada de decisão de medidas de controle. Caso o inóculo primário disseminado via semente encontre
Fotos Agro Carregal
de cultivo de soja, causando perdas em produtividade e na qualidade dos grãos (Wrather et al, 2010). A senescência prematura de plantas de soja ocasiona redução na produtividade quando ocorre antes do completo enchimento de grãos, podendo ainda aumentar a infecção de hastes e sementes por Phomopsis spp., já que a senescência geralmente ocorre sob condições ambientais ótimas ao desenvolvimento da doença (Meriles et al, 2004). Apesar da espécie Phomopsis longicolla ser mais comumente recuperada de sementes que as demais (Lu et al, 2010), todas as espécies desse complexo podem atacar e afetar a qualidade das sementes. As sementes infectadas podem não apresentar sintomas, mas geralmente são enrugadas e esbranquiçadas e acabam não germinando ou o fazem de forma mais lenta, resultando em tombamento pré ou pós-emergência. Estudos histológicos têm demonstrado que os conídios de P. longicolla germinam e estabelecem-se dentro de 24 horas após sua chegada à superfície da vagem, ressaltando-se que, após 24 horas a 48 horas, ocorre a penetração nas vagens. As colonizações das sementes ocorrem após a colonização da vagem (Dringra, Acunã, 1997). Outros trabalhos têm demonstrado que sementes altamente infectadas por Phomopsis podem ter sua germinação drasticamente reduzida, quando avaliada pelo teste padrão rolo de papel-toalha a 25°C. Porém, a emergência das plântulas oriundas de sementes no teste de solo ou
Bandejas com tratamento à esquerda e sem tratamento (direita)
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ambiente favorável e o hospedeiro seja suscetível, os focos iniciais de infecção ocorrerão de forma aleatória a campo. Posteriormente, o progresso da doença no espaço e no tempo ocorrerá a partir da fonte de inóculo secundário (normalmente oriundo dos cotilédones sintomáticos), produzido nas primeiras lesões das plantas infectadas. De acordo com Henning (2013), no Brasil não foi estabelecido nível de tolerância para C. truncatum em sementes de soja. Do mesmo modo, ainda não se tem muitas informações referentes à transmissibilidade da semente para a planta e da planta para a semente.
CERCOSPORA KIKUCHII
O crestamento foliar de cercospora (Cercospora kikuchii) é um fungo cosmopolita e encontra-se em todas as regiões produtoras de soja do Brasil, causando o crestamento na folha e a mancha-púrpura na semente da soja, caracterizada visualmente pelo arroxeamento das sementes (Carregal et al, 2015). Esse fungo pode reduzir a qualidade e a germinação da semente, cuja incidência é favorecida por condições quentes e úmidas, desde a floração até a maturidade fisiológica da soja (FAO, 1995). As perdas causadas por esta doença variam de 15% a 30% (Embrapa, 2000), podendo resultar em até 50% de perdas resultantes do chochamento das vagens (sem sementes), caso incidência elevada ocorra no estágio de granação (Câmara, 1998). Além disso, a desfolha antecipada, induzida por C. kikuchii, pode reduzir a produção, devido à formação de sementes de menor tamanho (FAO, 1995). As sementes infectadas não parecem ser fonte importante de inóculo, a não ser em áreas novas, uma vez que a taxa de transmissão semente-planta-semente é bastante baixa. No teste de sanidade, a presença da coloração púrpura do tegumento facilita a identificação do fungo, bastando observar o seu crescimento e/ou esporulação. O controle da disseminação e da transmissão de patógenos por sementes pode ser realizado por meio do tratamento com fungicidas (Machado, 2000). Neste caso também, os produtos mais modernos e que normalmente contêm benzimidazóis em sua constituição têm apresentado controle eficiente. É importante salientar que o tratamento de sementes é fundamental para proteger as sementes dos patógenos já presentes no solo e erradicar aqueles que estão infestando as sementes (lado de fora do tegumento). Já para o controle de sementes infectadas, a eficácia do tratamento pode variar grandemente. O agricultor precisa entender que o efeito dos fungicidas em tratamento de sementes permanece efetivo por um período de dez dias a 15 dias, protegendo inclusive a plântula (produtos sistêmicos) nos primeiros dias após a emergência. Após esse período, a plântula estará desprotegida e outras medidas de controle, como rotação de culturas, são fundamentais para minimizar as perdas. Assim sendo, um engenheiro agrônomo C deve sempre ser consultado.
Phomopsis spp, um dos patógenos mais frequentes transmitidos por sementes
Sementes tratadas contra patógenos presentes no solo
Geliane Cardoso Ribeiro e Luís Henrique Carregal, Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas
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Capa
Como interagem De grande potencial infestante e alta capacidade de formar touceiras, o capim-amargoso se torna ainda mais desafiador quando há infestações em conjunto com plantas de folhas largas resistentes/tolerantes ao glifosato. O necessário emprego de mistura ou sequencial de herbicidas para enfrentar essas daninhas demanda muita atenção e cuidado para que não ocorram interações desfavoráveis entre os produtos utilizados
O
capim-amargoso (Digitaria insularis) é uma gramínea perene, entouceirada e que se reproduz por rizomas e sementes. Essa espécie apresenta crescimento inicial lento. No entanto, dos 45 dias aos 105 dias após a emergência o seu crescimento é acelerado, apresentando aumento exponencial de matéria seca. Trata-se de uma planta de grande potencial infes-
tante, devido ao desenvolvimento rápido e agressivo, seu tipo de reprodução e capacidade de formar touceiras. O controle químico em pré-emergência do capim-amargoso apresenta alta eficiência. Contudo, em pós-emergência existem poucos herbicidas registrados para aplicações, dentre os quais os inibidores da EPSPs (glifosato) e os da ACCase (graminicidas) são os que apresentam
capacidade de translocar até os rizomas, característica importante para um controle eficiente. Além das características desfavoráveis de controle desta planta daninha, atualmente ainda há registro de resistência de capim-amargoso ao herbicida glifosato na Argentina, no Paraguai e no Brasil (primeiros relatos no estado do Paraná em 2008). Em 2016 também foi relatado
Camila Ferreira de Pinho
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Fotos Andherson Matuczak
Área de produção de soja safra 2017/2018 na região do oeste do Paraná sob alta infestação de plantas daninhas no momento da colheita da soja Tabela 1 - Interações antagônicas entre herbicidas (revisão de literatura)
o primeiro caso de resistência cruzada do capim-amargoso aos herbicidas fenoxaprope e haloxifope-p-metílico, ambos pertencentes ao mecanismo de ação ACCase. No entanto, a resistência a graminicidas ainda é pontual e, nas áreas onde não ocorre, estes herbicidas são efetivos para o controle do capim-amargoso quando aplicados de forma correta. Portanto, a alternativa química mais eficaz para controle de capim-amargoso resistente ao glifosato é a utilização de herbicidas inibidores da enzima ACCase. O problema se agrava quando há infestações de capim-amargoso em conjunto com plantas de folhas largas resistentes/tolerantes ao glifosato, como a buva, o caruru e a trapoeraba, na mesma área de produção. Estudo realizado pela Embrapa no último ano avaliou que em lavouras de soja com infestações de buva e capim-amargoso resistentes a herbicidas, os custos de produção podem sofrer um aumento médio de até 222%. Por se tratar de gramíneas e folhas largas, o controle químico deve ser específico para cada espécie, necessitando utilizar mistura ou sequencial de herbicidas para controle de ambas as plantas resistentes. No entanto, embora a mistura ou sequencial de herbicidas seja uma prática comum de manejo, diversos cuidados devem ser tomados para que não ocorram interações desfavoráveis entre os produtos utilizados, o que pode interferir negativamente no controle das plantas daninhas.
INTERAÇÕES ENTRE HERBICIDAS
A associação ou mistura de herbicidas baseia-se na utilização simultânea ou sequencial de dois ou mais produtos aplicados sobre a mesma área ou cultura. Atualmente, a mistura em tanque não é uma prática proibida, mas é de responsabilidade dos agricultores e não pode ser prescrita em receita agronômica pelo profissional habilitado. Contudo, a liberação da mistura em tanque está tramitando sob a portaria de número 148 no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o que, se aprovada, permitirá ao profissional recomendar este tipo de atividade.
Interações Antagônicas Espécie Azevém (Lolium spp.)
Capim-amargoso (Digitaria insularis) Capim-arroz (Echinochloa crus-galli)
Capim-colchão (Digitaria sanguinalis) Capim-massambará (Sorghun halepense) Caruru-palmeri (Amaranthus palmeri L.) Corda-de-viola (Ipomoea hederacea) Falsa-erva-de-santa-maria (Chenopodium álbum) Pastinho-de-inverno (Poa annua) Pé-de-galinha(Eleusine indica)
Trigo (Triticum aestivum)
Herbicidas clodinafope e 2,4-D clodinafope + metsulfurom-metílico 2,4-D e diclofope-metílico 2,4-D + haloxifope-p-metílico 2,4-D + cloransulam-metílico fenoxaprope-etílico+imazetapir+imazapique fenoxaprope- etílico+bispiribaque-sódico sulfentrazona + glifosato quizalofope-p-etílico+ 2,4-D 2,4-D + haloxifope-metílico sulfentrazona + glifosato sulfentrazona + glifosato glifosato+glufosinato cloransulam-metílico + herbicidas do grupo ariloxifenoxipropionato glifosato+glufosinato de amônio sulfentrazone + glifosato cletodim + imazapique 2,4-D + quizalofope-p-etilíco ou cletodim
Tabela 2 - Contextualização das interações sinérgicas (revisão de literatura) Interações Sinérgicas Espécie Ambrosia (Ambrosia trifida) Buva (Conyza spp.)
Herbicidas glifosato + 2,4-D clorimurom-etílico + glifosato cloransulam+haloxifope-p-metílico 2,4-D+ haloxifope-p-metílico Capim-amargoso (Digitaria insularis) glifosato+ setoxidim glifosato+ haloxifope-metil glifosato+ fluazifope-p-butil glifosato+ cletodim glifosato+ tepraloxidim Capim-arroz (Echinochloa crus-galli e Echinochloa colona) fenoxaprope-etílico+ etoxissulfurom Caruru-palmeri (Amaranthus palmeri) quizalofope-p-etílico+ 2,4-D Corda-de-viola (Ipomoea grandifolia) glifosato +saflufenacil Corda-de-viola (Ipomoea hederifolia) carfentrazona-etílica+ glifosato carfentrazona-etílica + saflufenacil + glifosato Guanxuma (Sida rhombifolia) glifosato +saflufenacil Juta-da-China (Abutilon theophrasti) glifosato + 2,4-D Poaia-branca (Richardia brasilienses) glifosato +saflufenacil
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A
B
A) Vista frontal das plantas de capim-amargoso aos 35 dias após a aplicação dos herbicidas. Tratamentos da esquerda para direita: Testemunha; 2,4-D e haloxifope-p-metílico com intervalos de 3, 6 e 12 dias entre aplicação, respectivamente; B) Aos 35 dias após a aplicação dos herbicidas. Tratamentos da esquerda para direita: Testemunha; cloransulam e haloxifope-p-metílico com intervalos de 3, 6 e 12 dias entre aplicação, respectivamente; C) Aos 35 dias após a aplicação dos herbicidas. Tratamentos da esquerda para direita: Testemunha; haloxifope-p-metílico e 2,4-D com intervalos de 3, 6 e 12 dias entre aplicação, respectivamente; D) Aos 35 dias após a aplicação dos herbicidas. Tratamentos da esquerda para direita: Testemunha; haloxifope-p-metílico e cloransulam com intervalos de 3, 6 e 12 dias entre aplicação, respectivamente. Seropédica-RJ, 2018
Além do uso de misturas em tanque, a aplicação de herbicidas na modalidade sequencial vem se mostrando uma alternativa interessante para o controle de plantas daninhas. Esta prática amplia a eficiência do controle, além de ser uma oportunidade de eliminar diversos fluxos de emergência, reduzindo a densidade das plantas daninhas. Interações devido a misturas/sequencial de herbicidas podem ocorrer antes, durante ou após a aplicação. Os herbicidas têm capacidade de interagir física ou quimicamente na solução de pulverização (calda) ou biologicamente na planta. Estas interações podem gerar incompatibilidade na calda e/ou efeito sinérgico, aditivo ou antagônico na planta em relação ao efeito de cada herbicida utilizado isoladamente. Antes da aplicação, a interação física está associada aos ingredientes inertes presentes nos produtos comerciais, enquanto a interação química está associada à molécula do herbicida. As incompatibilidades físicas podem ocorrer nas misturas em tanque, mediante a formação de precipitados ou grumos, que podem levar ao entupimento das pontas e dos filtros. Já a incompatibilidade química ocorre quando a mistura em tanque altera a eficiência dos ingredientes ativos misturados, podendo gerar aumento da fitotoxicidade, causando danos à cultura de interesse econômico. Neste sentido, quando as informações sobre a mistura são desconhecidas, recomenda-se uma pré-mistura (teste de jarra) para verificar reações físico-químicas indesejáveis. Caso isso ocorra, devem-se buscar meios para substituir os produtos incompatíveis ou realizar a aplicação de forma isolada. No entanto, vale destacar que incompatibilidades biológicas não são reveladas por estes testes. Após a aplicação, quando o efeito da mistura/sequencial nas plantas daninhas é maior que oefeito esperado para herbicidas utilizados separadamente, a mistura é sinérgica. Quando é menor que o esperado, é antagônica. Já os aditivos ocorrem quando o efeito dos herbicidas em mistura é igual à soma dos seus efeitos quando aplicados separados.
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ANTAGONISMO E SINERGISMO
Interações antagônicas entre herbicidas frequentemente causam ineficiência no controle de plantas daninhas. As interações negativas entre herbicidas em mistura/sequencial podem ser atribuídas a alterações na quantidade de um herbicida que atinge seu sítio de ação através de mudanças na absorção, na translocação ou no metabolismo, causadas pela presença do outro herbicida. A interação entre os herbicidas pode vir a afetar sua ligação no local de ação, reduzindo seu efeito. Aproximadamente 80% das interações antagônicas ocorrem em espécies da família Poaceae (gramíneas). Em contrapartida, interações sinérgicas podem auxiliar o manejo de plantas daninhas, aumentando o espectro de controle e reduzindo custos. Na maioria das vezes, o sinergismo ocorre devido à ação dos constituintes da formulação de um herbicida sobre o outro, melhorando sua absorção e/ou translocação. A associação entre herbicidas em mistura ou em sequencial é dependente das doses utilizadas, das espécies vegetais, da época de aplicação, do estádio de desenvolvimento da planta e da compatibilidade bioquímica entre os mecanismos de ação dos herbicidas (Tabelas 1 e 2). Considerando que o capim-amargoso e a buva estão entre as daninhas de maior preocupação nas áreas de produção de grãos do Brasil, o Grupo de Pesquisa Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente (PDPA/UFRRJ) vem realizando pesquisas que demonstram ter a mistura de graminicidas (ACCase) com latifolicidas (2,4-D ou ALS) efeito antagônico no controle do capim-amargoso e efeito aditivo no combate à buva. Porém, o intervalo entre aplicações pode anular o antagonismo entre herbicidas no controle de capim-amargoso. Nesses casos, a recomendação fica restrita em função do antagonismo para capim-amargoso. Quando o latifolicida (2,4-D ou cloransulam) foi aplicado no mesmo dia que o graminicida (haloxifope-p-metílico), ou quando o latifolicida foi aplicado antes do graminicida, independentemente do intervalo entre aplicações, a interação entre os herbicidas foi an-
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Fotos Camila Ferreira de Pinho
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tagônica e não ocorreu controle eficiente das plantas (controle inferior a 80%). Contudo, a aplicação em sequencial de haloxifope-p-metílico seguida do latifolicida (2,4-D ou cloransulam), com intervalo mínimo de seis dias entre aplicações, apresentou interação aditiva no controle de capim-amargoso, anulando o efeito antagônico observado anteriormente. Em outro ensaio foi observado que em aplicação sequencial de glifosato + haloxifope-p-metílico (primeira e segunda aplicação com 21 dias de intervalo) o controle das plantas de capim-amargoso foi superior a 95%. Entretanto, quando foi adicionado 2,4-D na primeira aplicação, o controle passou a ser de aproximadamente 70%, evidenciando o antagonismo entre os herbicidas. Portanto, em áreas infestadas com plantas de capim-amargoso e plantas de folha larga resistentes/tolerantes ao glifosato, a recomendação é aplicar o graminicida pelo menos seis dias antes do latifolicida. Deve-se preconizar o controle de ambas as plantas em estádio inicial de desenvolvimento, visto a dificuldade de C controle em estádios avançados. Camila Ferreira de Pinho, Ana Claudia Langaro, Jéssica Ferreira Lourenço Leal, Amanda dos Santos Souza, Gabriella Francisco P. Borges de Oliveira, Gabriela de Souza da Silva e Rúbia de Moura Carneiro, UFRRJ
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Avaliação de controle de capim-amargoso com mistura de herbicidas (A) Plantas antes da aplicação; (B) Plantas 14 dias após aplicação (glifosato+haloxifope+2,4-D) com sintomas características de graminicidas; (C) Plantas 21 dias após a aplicação do sequencial – controle aproximado de 70% (1ª aplicação: glifosato+haloxifope+2,4-D; 2ª aplicação: glifosato+haloxifope – 21 dias de intervalo entre as aplicações); (D) Detalhe do rebrote das plantas do tratamento anterior; (E) Plantas 21 dias após a aplicação do sequencial, sem latifolicida na mistura - controle aproximado de 95% (1ª aplicação: glifosato+haloxifope; 2ª aplicação: glifosato+haloxifope – 21 dias de intervalo entre as aplicações)
Recomendações práticas • Utilizar herbicidas pré-emergentes, a fim de reduzir o banco de sementes e a competição inicial do capim-amargoso com a cultura de interesse. • Realizar o controle do capim-amargoso nos estádios iniciais de desenvolvimento, evitando que as plantas formem touceiras. • Quando presentes na mesma área, capim-amargoso e plantas de folha larga resistentes/tolerantes, realizar a aplicação em sequencial de graminicida + latifolicida, com intervalo mínimo de seis dias. • Rotacionar os mecanismos de ação, a fim de evitar a seleção de biótipos de capim-amargoso resistentes a herbicidas. • Manter boa cobertura do solo (incluindo o consórcio) nas áreas de produção, para suprimir a germinação de plantas daninhas.
Camila, Ana Claudia, Jéssica, Amanda, Gabriella, Gabriela e Rúbia abordam a interação de herbicidas www.revistacultivar.com.br • Julho 2018
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Herbicidas
Antigo aliado
O retorno dos herbicidas pré-emergentes, que se repopularizaram devido à importância como ferramentas no manejo de plantas daninhas resistentes
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os últimos anos, o aparecimento de populações de plantas daninhas resistentes a alguns herbicidas, principalmente ao glifosato, tem impulsionado o retorno ao uso de herbicidas com ação em pré-emergência, que dão à cultura a dianteira competitiva em relação às invasoras e possibilitam o manejo de plantas daninhas resistentes. Além disso, alguns pré-emergentes possuem mecanismos de ação distintos em relação aos pós-emergentes, permitindo a rotação de mecanismos e diminuindo as chances de seleção de populações resistentes. Contudo, várias peculiaridades fazem com que seu uso seja dependente de grande conhecimento técnico, pois entre os possíveis problemas está a possibilidade
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de dano (fitotoxicidade) à cultura principal devido ao erro na escolha de doses, ou ainda dano a culturas subsequentes pela longa persistência no solo (carry over). Assim, a correta utilização de herbicidas pré-emergentes passa obrigatoriamente pela análise de diversos fatores determinantes para a escolha dos produtos e doses a serem utilizados em cada situação, como eficácia sobre as plantas daninhas-alvo, características do solo, presença de cobertura morta durante a aplicação (diretamente afetada pelo sistema de cultivo), intervalo entre aplicação e semeadura da cultura, condições climáticas e rotação de culturas realizada, com o objetivo de maximizar sua eficácia e obter máximo período residual de controle.
Fotos Phytus Club
Herbicidas são moléculas capazes de matar plantas ao interferirem, por tempo suficiente, em processos metabólicos essenciais ao funcionamento do organismo vegetal. Dentre as diversas categorias de herbicidas destaca-se sua classificação em relação ao momento de aplicação em pré ou pós-emergentes. Pós-emergentes são, por definição, herbicidas que são aplicados após a emergência da planta-alvo. Como exemplos de ingredientes ativos com ação exclusiva em pós-emergência tem-se o glifosato e o paraquate. Herbicidas pré-emergentes ou residuais, por outro lado, são aplicados ao solo antes da emergência das plantas daninhas e devem persistir por tempo e concentração suficientes na camada mais superficial do solo, na qual se concentram as sementes de plantas daninhas em germinação.
CARACTERIZAÇÃO DE MOLÉCULAS PRÉ-EMERGENTES
Pré-emergentes possuem características químicas que permitem a estas moléculas persistir no solo, de onde são absorvidos pela radícula de sementes em germinação ou outras estruturas de elongação como mesocótilos, epicótilos ou hipocótilos. Sua seletividade a culturas dá-se por diversas vias, como metabolização do herbicida em moléculas menos tóxicas, ou ainda seletividade por posição no solo (Figura 1). Uma vez no solo, as moléculas do herbicida estão sujeitas à ação de diversos processos que causam diminuição gradual da sua concentração, como absorção por sementes em germinação e plantas já estabelecidas, adsorção à matéria orgânica e argila, degradação por atividade microbiana, e ainda perdas por lixiviação, erosão, volatilização e fotólise. A definição de como o pré-emergente será afetado por estes fatores pode ser obtida através do estudo de alguns coeficientes específicos para cada molécula, como seu pKa, Kow (ou log Kow), PV, Koc, dentre outros (Tabela 1). O índice Koc é obtido dividindo-se o índice Kd (coeficiente de partição sólido-líquido) pela quantidade de carbono orgânico. Este se correlaciona diretamente
Visão geral de experimento visando definir período de controle residual de plantas daninhas por pré-emergentes, 28 dias após a aplicação dos tratamentos. Formigueiro, RS/2018
ao potencial de lixiviação de um herbicida. Assim, moléculas como dicamba, bentazona, metribuzin, nicossulfuron e imidazolinonas (Koc< 100) possuem alta mobilidade no solo; outras como s-metolacloro, glufosinato, clomazona, quizalofope, diuron e muitas triazinas (Koc entre 200 e 300) são classificadas como possuindo mobilidade intermediária no solo. Por fim, trifluralina, diclofope, fluazifope, glifosato e pendimetalina (Koc> 1000) possuem baixa mobilidade no solo, e assim são menos sujeitos à lixiviação. Quanto menos adsorvido for o herbicida, maior será sua mobilidade e potencial de lixiviação. Para reduzir perdas por lixiviação, pode-se lançar mão de técnicas como aplicações sequenciais do herbicida, além de adequação das doses às características do solo e uso de formulações de liberação lenta, como no caso da clomazona. O pKa de uma molécula indica se esta é capaz de se dissociar ou ionizar, adquirindo carga (negativa ou positiva), de acordo com o pH do solo e do meio. Herbicidas chamados de ácidos fracos adquirem carga negativa sob condições de pH mais elevado do solo (básico), adquirindo forma aniônica; incluem-se nesta categoria o piritiobaque-sódico e o trifloxissulfurom-sódico (usados na cultura do algodão). Já ametrina e
prometrina são exemplos de herbicidas básicos, que formam cátions (carga positiva) sob pH mais baixo (ácido). Por outro lado, muitas moléculas pré-emergentes não se dissociam sob condições normais de acidez e pH encontrados nos solos, como o s-metolacloro, trifluralin, pendimetalina e diuron que permanecem em forma não iônica, mais apolar e com maior afinidade por matéria orgânica, e por conseguinte menor solubilidade em água. O potencial de volatilização (passagem de estado líquido para o gasoso) de uma molécula é determinado por suas características bioquímicas e refletido pela sua pressão de vapor (PV, Tabela 1). Temperaturas mais elevadas alteram este valor e tendem a ocasionar uma maior perda por volatilização. Como indicado na Tabela 1, valores mais próximos de 0 indicam maiores chances de volatilização. Trifluralina, 2,4-D éster e clomazona possuem valores de PV iguais ou maiores que 10-4mmHg, sendo, portanto, suscetíveis à volatilização. Outros herbicidas pré-emergentes como o s-metolacloro (PV = 10-5mmHg), pendimetalina e oxyfluorfen (PV = 10-6mmHg) e diuron (PV = 10-8mmHg) possuem chances de perda por volatilização pequenas ou nulas. A diminuição da volatilização
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Figura 1 - Seletividade de herbicidas pré-emergentes por posição, a qual se baseia na diferença de profundidade entre sementes de plantas daninhas e da cultura no solo. Herbicidas pré-emergentes tendem a se concentrar nas camadas mais superficiais do solo (faixa tratada), onde se encontra grande parte das sementes de plantas daninhas capazes de germinação, que são controladas após absorverem os produtos durante este processo
pode ser alcançada através de incorporação com gradagem leve, aplicação em solo mais seco e frio, ou por variáveis relacionadas à formulação do produto. O coeficiente Kow indica a afinidade de uma molécula por um solvente apolar (como octanol e ácidos graxos) ou por solventes polares, como a água. Herbicidas que se dissociam melhor em ácidos graxos e óleos (numerador na equação do índice Kow) terão valores mais elevados deste coeficiente. Valores mais elevados indicam maior lipofilicidade (atração por gordura e solventes apolares), já valores mais baixos indicam moléculas mais hidrofílicas, mais solúveis em água. Caso a molécula em questão seja capaz de dissociação (ionizando-se de acordo com o pH do meio), este coeficiente também sofre alteração de acordo com o pH da calda e do solo. Como é um valor geralmente expressado em logaritmo, este pode inclusive assumir valores negativos no caso de moléculas altamente polares e hidrofílicas, como o glifosato e o diclosulam – este último possui valor de log Kow igual a -0,4 em pH 9, ou 1,4 em pH 5 (Yoder et al, 2000). Este coeficiente também indica a afinidade do herbicida pré-emergente pela matéria orgânica e retenção pela palhada. Como exemplo de herbicidas com alta retenção pela palhada citam-se a pendimetalina e a trifluralina, cujos valores de log Kow estão acima de 5 (ou seja, são altamente lipofílicos). Já o diuron (log Kow = 2,77), a clomazona (log Kow = 2,54) e a flumioxazina (log Kow = 2,55) são menos retidos e penetram mais facilmente pela palhada devido à menor lipofilicidade.
grande sucesso foi a trifluralina, com uso em larga escala na década de 1970 principalmente na cultura da soja para controle de importantes espécies de plantas daninhas mono e dicotiledôneas. Mesmo no início da década de 1990, ainda se comercializavam nove milhões de litros de trifluralina por ano (Giracca et al, 1991). Atualmente, produtores possuem ao seu dispor mais de 40 pré-emergentes registrados para uso nas culturas da soja e milho (Agrofit, 2018). Praticamente todas as culturas com suporte fitossanitário possuem pré-emergentes disponíveis para aplicação. Apesar de alguma dificuldade em se obter dados mais precisos em relação ao volume de herbicidas pré-
UTILIZAÇÃO DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES NO BRASIL
O primeiro herbicida pré-emergente de
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-emergentes comercializados todo o ano no Brasil, uma consulta à literatura indica aumento no uso nos últimos anos, frente a um cenário mais desafiador para o manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato. Segundo Penckowski (2016), o emprego de herbicidas pré-emergentes por agricultores no estado do Paraná estava em 0% no ano 2005; somente dois anos mais tarde, esta adoção chegou a 62% do número total de agricultores cooperados. No ano de 2009, 92% destes utilizavam herbicidas pré-emergentes em seu manejo, valor que decaiu levemente a 68% em 2015. Em culturas como o arroz e a cana-de-açúcar, os pré-emergentes nunca deixaram de ser empregados como excelentes opções. No arroz, a principal planta daninha é o arroz vermelho, classificado como mesma espécie (Oryza sativa) da cultura, o que dificulta muito seu controle com herbicidas. Antes do advento do sistema Clearfield (arroz mutante resistente a herbicidas do grupo químico das imidazolinonas), o qual possibilitou controle em pós-emergência na cultura, uma das poucas formas de controle do arroz vermelho era pelo uso do herbicida Phytus Club
Área com infestação de capim-amargoso (Digitaria insularis)
clomazona. Interessantemente, o clomazona não é naturalmente seletivo ao arroz, porém com a utilização do safener dietholate no tratamento de sementes, seu uso em pré-emergência foi habilitado, possibilitando a dianteira competitiva para a cultura e o manejo de arroz vermelho, ou mesmo do próprio arroz remanescente do ano anterior. Já o longo ciclo de cultivo da cana-de-açúcar leva a uma maior preferência pelo uso de herbicidas com um longo período residual, assim o manejo torna-se eficiente para todos os ciclos de cultivo e para a redução do banco de sementes. Na cultura do algodoeiro, devido ao seu lento estabelecimento inicial, é muito comum a utilização de herbicidas pré-emergentes para controle de plantas daninhas de difícil controle. Porém, seguindo a prática moderna após a concepção das cultivares geneticamente modificadas, o uso de pré-emergentes foi reduzido, somente retornando após a seleção de
Figura 2 - Fatores relevantes para definição de qual ou quais herbicidas pré-emergentes utilizar, além da dosagem correta
espécies resistentes. A adoção de pré-emergentes em soja e milho tem se repopularizado com problemas de resistência de
plantas daninhas a herbicidas. Para as culturas do milho e da soja, os pré-emergentes deixaram de ser apenas uma opção contra poáceas para se tornarem uma
Tabela 1 - Parâmetros importantes relacionados à persistência e ao comportamento de herbicidas no solo. Fontes: Zimdahl, 1999; Kogan e Bayer 1996; Rossi et al, 1994 Coeficientes Koc: índice de adsorção ao solo logKow: partição octanol/água, indica hidrofobicidade pKa: pH no qual o herbicida está em relação 50:50 para forma ionizada e não-ionizada PV, pressão de vapor: medida de potencial de volatilização (em mmHg a 25 °C)
importante faceta do manejo integrado de plantas daninhas contra a resistência. Herbicidas de amplo espectro, como diclosulam, imazetapir, flumioxazina e isoxaflutole, dentre muitos outros, começaram a ser mais utilizados isolados ou em associação, provendo assim melhor controle inicial. Na soja, tecnologias recém-lançadas como o sistema Cultivance (similar ao sistema Clearfield), além de outras que ainda não foram lançadas como o Balance GT (soja tolerante ao herbicida isoxaflutole), preconizam um maior controle em pré-emergência, evidenciando sua consolidação como práticas de manejo integrado de plantas daninhas.
USO ASSERTIVO DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES
Uma das dificuldades para o uso de pré-emergentes está na escolha do melhor produto e dosagem para cada situação, de acordo com variáveis como alvos existentes, presença de cobertura sobre o solo, tipo de solo e fatores relacionados à sua seletividade a cultura e culturas subsequentes (Figura 2).
PRÉ-EMERGENTES PARA O MANEJO DA RESISTÊNCIA
A resistência das plantas daninhas aos herbicidas constitui um dos principais problemas enfrentados por agricultores no Brasil e no restante do mundo. Até o momento, já foram confirmados mais de 500 casos de resistência a herbicidas, sendo 50 casos no Brasil (Heap 2018). O rápido avanço e disseminação de populações resistentes têm levado produtores em diversas regiões a incluírem novas ferramentas para o manejo de plantas daninhas, como a aplicação de herbicidas pré-emergentes, a fim de rotacionar mecanismos de ação nas áreas. Em locais já infestados e com problemas com biótipos resistentes, a utilização de herbicidas pré-emergentes pode atrasar a emergência destes biótipos, facilitar o controle de plantas daninhas de difícil controle e diminuir os custos da aplicação em pós-emergência (Lopez-Ovejero et al, 2013). No Brasil, 93% da área plantada de milho, soja e algodão no Brasil é ocupada por organismos geneticamente modificados
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Baixa ou fraca 0,5 a 99 <1 Sem valor (não se ionizam) <10-6
Interpretação dos valores Intermediária 100 e 599 1e4 Entre 1,8 e 7 (ácidos fracos) 10-6 a 10-5
Alta ou forte > 600 >4 Abaixo de 1,8 (ácidos fortes) 10-4 a 10-2
(OGMs), em geral englobando somente um mecanismo de ação, os inibidores da EPSPs (enol-piruvilshiquimato fosfato sintase), o qual é representado apenas pelo herbicida glifosato. Em culturas como soja e milho o manejo geral não apresenta geralmente mais do que três mecanismos de ação (inibidores das enzimas ALS e ACCase, além do fotossistema II). A utilização dos pré-emergentes é uma excelente maneira para incluir mais mecanismos nesta equação, como os inibidores da síntese de carotenoides (clomazona, isoxaflutole, entre outros), inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa (s-metolacloro, alacloro, entre outros) e inibidores da divisão celular (trifluralina e pendimetalina), assim diminuindo a pressão de seleção de poucos herbicidas em pós-emergência e facilitando o manejo tanto a curto quanto a longo prazo. Por fim, é importante ressaltar que, atualmente, herbicidas pré-emergentes como s-metolacloro, diclosulam, flumioxazina e clomazona são parte fundamental de programas de manejo para importantes plantas daninhas como o capim-amargoso (Digitaria insularis (L.) Fedde) resistente ao glifosato. A principal vantagem da inclusão destes produtos no manejo reside no fato de que diminuem a infestação de plantas de capim-amargoso para herbicidas pós-emergentes ao manejar eficientemente populações resistentes. O capim-amargoso tem sido manejado basicamente através da aplicação de herbicidas graminicidas (inibidores da enzima ACCase), havendo, portanto, grande pressão de seleção de populações resistentes por serem as ferramentas únicas de controle. Até o momento foi confirmada a presença de capim-amargoso resistente a graminicidas no Brasil, porém esta população em questão é ainda suscetível ao glifosato (de Melo et al, 2017). Neste cenário, a inclusão de herbicidas pré-emergentes (possuidores de mecanismos de ação distintos aos graminicidas) adiciona robustez ao sistema de manejo de capim-amargoso e de diversas outras espécies importantes de plantas daninhas, diminuindo a pressão de seleção para a evolução de resistência, e devem ser vistos não como gastos desnecessários, mas como uma forma inteligente e eficaz de tornar o sistema de manejo mais robusto e sustentável C a médio e curto prazo. Rafael M. Pedroso e Roberto Ávila Neto, Instituto Phytus
Eventos
Campeões de produtividade
Fotos Cesb
Produtores gaúchos conquistam o primeiro e o segundo lugar do Desafio Nacional de Máxima Produtividade do Cesb, com as marcas de 127,01 sc/ha e 113,04 sc/ha
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Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) aproveitou a participação no VIII Congresso Brasileiro de Soja (CBSoja), em junho, em Goiânia, Goiás, para divulgar os vencedores do Desafio Nacional de Máxima Produtividade da safra 2017/18. O novo campeão é o produtor gaúcho Gabriel Bonato, do município de Sarandi, no Rio Grande do Sul, com a marca de 127,01 sacas de soja por hectare. Participante pela primeira vez do Desafio do Cesb, Bonato cultiva soja, milho, trigo e aveia. Investe há oito anos no aumento de produtividade em 116 hectares, no Norte do Rio Grande do Sul. Deste total, 2,57 hectares foram destinados ao concurso. A produtividade média da soja no restante da área é de 87 sacas
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por hectare. Clima, posicionamento genético, qualidade de semente e semeadura, além da correção química e física do solo, estão entre as razões apontadas para o desempenho obtido pelo produtor gaúcho, que alcançou números que representam mais que o dobro da média nacional de produção de soja em lavouras comerciais. O segundo colocado no Desafio do Cesb também é do Rio Grande do Sul. Vitor Alexandre Ceolin colheu, em área irrigada, 113,04 sacas de soja por hectare, no município gaúcho de Pinhal Grande. O produtor cultiva soja, milho, trigo, aveia, cevada e canola, em uma propriedade de 730 hectares, com produtividade média de soja de 70 sacas/hectare.
Fotos Cesb
Campeões da safra 2017/18 foram conhecidos durante o VIII Congresso de Soja
A área destinada ao Desafio foi de 3,71 hectares. Neste caso, clima, posicionamento genético, arranjo espacial e qualidade das práticas agrícolas foram os fatores apontados como principais responsáveis por fazer a diferença na produtividade obtida por Ceolin. Na região Sudeste, o prêmio coube à família Guimarães, da cidade de Serra do Salitre, Minas Gerais, que colheu 108,96
Os campeões CAMPEÃO – SUL E NACIONAL – SAFRA 2017/18 SUL e NACIONAL – Sarandi – RS Gabriel Bonato – Produtor Gilmar Antônio Luzzi – Consultor Produtividade: 127,01 sc/ha
sacas por hectare. A propriedade conta com 2.370 hectares. Desse total, 1.670 hectares são destinados à produção de grãos (soja, milho, feijão, algodão, trigo e sorgo), com produtividade média de soja de 92 sacas por hectare. A área do Desafio totalizou 2,97 hectares. Nas regiões Norte e Nordeste, o vencedor do Desafio foi Marcelino Flores de Oliveira, da cidade de São Desidério, na Bahia. A família produz e comercializa soja, milho e algodão, em uma propriedade de 9.200 hectares, dos quais 7.188 hectares são destinados à produção de grãos, com produtividade média de soja de 86 sacas por hectare. A área do Desafio foi de 2,92 hectares. Clima, adubação e correção do solo, além de genética e qualidade de sementes, estão entre os fatores atribuídos ao sucesso na produtividade. No Centro-Oeste, a produtora Dilma Aparecida Brito Baron foi a campeã, com a marca de 100,44 sacas/hectare na cidade de Cabeceiras, Goiás. A propriedade conta com 374 hectares, sendo 232 hectares destinados à cultura da soja, cuja produtividade média alcança 92 sacas por hectare. O restante é cultivado com milho, feijão e aveia. A área utilizada para o Desafio foi de 2,72 hectares. Também neste caso, o clima, a qualidade das práticas agrícolas, o posicionamento genético e o arranjo espacial foram elencados como fatores que influenciaram na obtenção de 100,44 sacas/hectare. A 10ª edição do Desafio do Cesb recebeu mais de 5,5 mil inscrições. O estado com maior participação foi o Rio Grande do Sul, com 1.808 produtores inscritos. Desde a sua criação, o Desafio Nacional de Máxima Produtividade, já recebeu mais de 20 mil inscrições de produtores rurais de todo o País. Em 2018, agricultores de 956 municípios C participaram do evento.
CAMPEÃO – CENTRO OESTE – SAFRA 2017/18 CENTRO-OESTE – Cabeceiras – GO Dilma Aparecida Brito Baron – Produtora Eduardo Brito Baron – Consultor Produtividade: 100,44 sc/ha CAMPEÃO – NORTE/NORDESTE – SAFRA 2017/18 NORTE/NORDESTE – São Desidério – BA Marcelino Flores de Oliveira – Produtor Ricardo Kyoshi Atarassi – Consultor Produtividade 104,4 sc/ha CAMPEÃO – SUDESTE – SAFRA 2017/18 SUDESTE – Serra do Salitre – MG Família A. Guimarães – Produtor Pedro Rogério de Araújo Lima – Consultor Produtividade: 108,96 sc/ha CAMPEÃO – IRRIGADO – SAFRA 2017/18 Categoria IRRIGADO – Pinhal Grande – RS Vitor Alexandre Ceolin – Produtor Tiago Lasch – Consultor Produtividade: 113,04 sc/ha
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Bonato colheu 127,01 sacas por hectare
Milho
Cultura intrusa A presença de milho voluntário em áreas de soja tem transformado este grão rentável e de enorme importância econômica em vilão, equiparado à daninha de controle complexo, cujo combate exige critério e atenção dos produtores brasileiros
O
produtor rural, cada vez mais, enxerga a importância da adoção de culturas transgênicas (OGM), ainda que o preço das
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sementes geneticamente modificadas seja superior ao das convencionais. A decisão pela adoção no cultivo de OGM é reflexo do aumento de produtividade, da
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redução no custo de produção e da facilidade em manejar as plantas infestantes. A cultura da soja lidera a adoção de OGMs, com mais de 32 milhões de hec-
Fornarolli
Mauro Rizzardi
tares, enquanto o milho totaliza aproximadamente oito milhões de hectares. Este número elevado de cultivos GM tem trazido preocupações e discussões técnicas e científicas com relação à seleção de plantas daninhas resistentes, especialmente o azevém na região Sul e o capim-amargoso e a buva distribuídos em várias regiões. A resistência é um problema real e crescente. É preciso manejar adequadamente para retardar ao máximo o aparecimento de novos biótipos resistentes ou resistências múltiplas, assim como para a manutenção das moléculas de herbicidas existentes, visto não haver previsão de lançamentos para os próximos anos de produtos com novos mecanismos de ação. Mas, além do problema da resistência, os agricultores atualmente se deparam com a presença do milho RR voluntário ou tiguera, que pode infestar a lavoura de soja subsequente, com aumento do custo de controle e redução de produtividade imposta pela interferência dessas plantas voluntárias. Existem estratégias de controle e manejo para azevém, buva, capim-amargoso e também para o problema do milho RR volun-
O momento da aplicação e o tamanho das plantas são fatores que demandam observação atenta
tário. Incluem o momento da aplicação, o produto escolhido, a combinação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, o tamanho da planta no momento da aplicação e a rotação de culturas. Fatores determinantes para o sucesso do controle e a manutenção de altas produtividades aliados à sustentabilidade dos sistemas de produção. A presença de milho RR voluntário em lavouras de soja tem crescido, tornando-se uma planta daninha muito agressiva na lavoura de soja. Além da interferência na produtividade é preciso considerar a dificuldade de controle e que sua presença resulta em aumento nos custos de produção. Esta é uma situação complexa e típica do Brasil, pois nos Estados Unidos, devido à neve, o milho não nasce na soja. Já na Argentina, por exemplo, não há milho safrinha. A infestação pode aparecer em reboleira ou em área total, dependendo principalmente das perdas na colheita, sendo que uma planta de milho/m2 pode reduzir a produtividade da soja em 30% ou ultrapassar 60% no caso da presença de três ou mais plantas. O controle do milho voluntário não é simples, pois apresenta vários fluxos de germinação. Se a colheita for malfeita ou sobrar muito milho, de semente ou espiga, as chances de afetar a próxima cultura reduzindo a produtividade são grandes. Um alerta aos agricultores é de que quanto mais esse milho crescer, mais difícil será o controle e mais intensa a competição. O problema de resistência, assim como a infestação com milho RR voluntário, se resolve com aplicações em plantas ainda pequenas (com até quatro folhas ou cinco folhas), época em que é possível obter controle eficiente, com índices de até 100%. Na lavoura de soja convencional (sem a tecnologia Roundup Ready) o controle do milho tiguera e das plantas daninhas de folhas estreitas sempre foi realizado com herbicida de ação graminicida (inibidores da ACCase). Com a tecnologia RR o milho voluntário não é controlado com o glifosato, por isso a associação com outros herbicidas, especificamente os graminicidas (DIM e Fops), em manejo de dessecação ou em pós-emergência na soja, www.revistacultivar.com.br • Julho 2018
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Controle de milho voluntário aos 48 DAA – Aplicação nos Estádio V5/V7 Fornarolli & Fornarolli, 2015
Resultados do controle do milho voluntário nos estádios de V6/V7, aos 42DAA (Lopes & Fornarolli, 2014) TRATAMENTOS Testemunha Fenoxaprop Fenoxaprop +2,4D Fenoxaprop +2,4D Cletodim Cletodim+2,4D Cletodim+2,4D Quizalofop-P-Tefuril Quizalofop-P Tefuril+2,4D Quizalofop-P Tefuril+2,4D C.V.(%)
Dose L ha-1 0,5 0,5+1,0 1,0+1,0 0,5 0,5+1,0 1,0+1,0 0,5 0,5+1,0 1,0+1,0
42DAA 0e 99a 40d 99a 90b 92b 99a 99a 70c 99a 3,3
é necessária para evitar a interferência na cultura principal. Acredita-se que com a aplicação de dois mecanismos de ação diferentes atuando no controle de folhas estreitas o aparecimento de plantas daninhas resistentes ao glifosato na área é retardado. É comum a utilização, no manejo das plantas daninhas na dessecação, da mistura do graminicida com 2,4D, o que pode provocar antagonismo e dependendo do graminicida o controle do milho RR voluntário pode sofrer redução
entre 5% e 70%. Antes da semeadura da cultura, caso ocorra na área a presença de plantas daninhas de folhas largas que requerem o uso de herbicidas à base de 2,4-D, é preciso levar em consideração o que as pesquisas têm mostrado, de que a maioria dos herbicidas inibidores da ACCases sofre antagonismos, reduzindo o controle em até 70%. A interferência vai depender da dose e do estádio da planta. Cletodim e haloxyfop foram os produtos menos afetados nesse quesito, comparados aos herbicidas à base de quizalofop,
fenoxaprop, propaquizafop e fluazifop É importante que se observem alguns pontos no controle de milho voluntário RR. Primeiro é preciso estar atento ao momento em que a aplicação será realizada, podendo ocorrer na modalidade dessecação de manejo em pré-semeadura ou após a emergência da cultura a ser implantada. Também é preciso considerar o estádio da planta do milho e, ao mesmo tempo, observar se as plantas estão germinando das sementes que se desprenderam das espigas ou das
Fotos Fornarolli
Cletodim+O.M. 0,45+ 0,5% , cletodim+2,4D+O.M.O 0,45+1+05%, Haloxyfop+O.M. 0,40+0,5% e Haloxyfop+2,4D+O.M.0+1+05%
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Fenopxaprop 0,5, fenopxaprop+2,4D 0,5+1, Sethoxydin+O.M 1,25+0,5% e Sethoxydin+2,4D O.M. 1,25+1+05%
Resultados do controle do milho voluntário nos estádios de V5/V7, aos 48DAA. Fornarolli & Fornarolli, 2015
que ainda se mantêm nas espigas, comum nas aplicações após a emergência dos cultivos. O controle de plantas voluntárias de milho também pode ser realizado com vários produtos contendo o paraquat na formulação ou herbicidas à base de glufosinato antes da semeadura, desde que as plantas estejam no estádio máximo de três folhas, para evitar rebrotes. Ao se realizar o diagnóstico de uma área é comum encontrar diferentes cenários quanto à composição florística, podendo existir espécies controladas comumente com o herbicida glifosato isolado ou associado a outros herbicidas, ou ainda a presença de plantas daninhas tolerantes e as resistentes como capim-amargoso, buva ou azevém, além do milho voluntário. A presença de um
engenheiro agrônomo para analisar a situação do campo antes da recomendação dos métodos de controle, dos produtos e das doses mais adequados é importante não só para atender aos requisitos legais, mas também para planejar o uso dos herbicidas C com diferentes mecanismos de ação.
Quizalofop P Tefuril+O.M 0,4, quizalofop tefuril+2,4D O.M.0,4+1+0,5%, quizalofop P Etílico+O.M. 08, quizalofop P Etílico+2,4D O.M. 0,8+1+0,5%
Propaquizafop+O.M. 0,4, propaquizafop+2,4D+O.M. 0,4+1+0,5%, fluazifop 0,5 e fluazifop+2,4D 0,5+1
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Donizeti Aparecido Fornarolli, Unifil Londrina Dionisio Luiz Pisa Gazziero, Embrapa-Soja Leandro Vargas, Embrapa Trigo
Trigo
Momento de decisão
Com a chegada da semeadura das culturas de inverno é preciso conhecer melhor as cultivares de trigo disponíveis para a safra, de modo a garantir bons resultados na lavoura
C
om a chegada do momento de semeadura das culturas de inverno o produtor deve decidir de modo correto qual cultivar semear, sendo esse um dos principais pilares para garantir o sucesso da lavoura. No Brasil, a principal cultura de inverno semeada é a do trigo (Triticum aestivum). Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa, 2018) estão registradas 270 cultivares de trigo adaptadas às mais diversas condições edafoclimáticas. Devido a isso, há necessidade de estudos voltados à avaliação das cultivares em distintas condições ambientais com o intuito de identificar o genótipo mais adaptado para cada situação.
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De modo a auxiliar os produtores na tomada de decisão a respeito da cultivar de trigo a ser semeada em suas áreas na próxima safra, o Grupo de Pesquisa em Manejo de Grandes Culturas de Coxilha (www.facebook.com/coxilhaufsm) realizou, no ano de 2017, um experimento de cultivares de trigo, conduzido na área experimental do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Rurais, localizada no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Foram utilizadas 17 cultivares de trigo (Tabela 1), com delineamento experimental de blocos ao acaso e quatro repetições. A semeadura foi realizada em 22 de junho de 2017 com densidade de
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semeadura ajustada para obtenção de 350 plantas m-2 e espaçamento entre fileiras de 0,20m. Os macronutrientes N, P2O5 e K2O foram fornecidos no sulco de semeadura a partir do resultado da análise química do solo, sendo a dose recomendada de 350kg/ha da fórmula 05-20-20. A adubação nitrogenada de cobertura foi realizada com aplicação de ureia, parcelando a dose total (120kg de N/ha) em três aplicações. O manejo de insetos, doenças e plantas daninhas foi realizado conforme Informações Técnicas para Trigo e Triticale, Safra 2017 (Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, 2017). Quando as plantas atingiram o estádio fenológico 11.4 (ponto de colheita), foi colhida a área útil de cada unidade experimental e avaliadas a massa de hectolitro (MH), a massa de mil grãos (MMG) e a produtividade de grãos (PG). A massa de hectolitro é um parâmetro que indiretamente mensura a qualidade do trigo produzido, e consequentemente a capacidade de extração de farinha dos grãos de trigo. Por meio da MH o trigo é classificado em tipos, em que o tipo 1 é aquele que possui uma MH de no mínimo 78kg/hl, tipo 2 no mínimo 75kg/hl e tipo 3 no mínimo 72kg/hl (Instrução Normativa 38 de 30 de novembro de 2010 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Sendo a remuneração pelo produto dependente do tipo em
Figura 1 - Massa de hectolitro de 17 cultivares de trigo, indicadas para o estado do Rio Grande do Sul pelo Zoneamento Agrícola do Mapa, conduzidas na safra 2017. Santa Maria (RS)
Figura 2 - Produtividade de grãos e massa de mil grãos de 17 cultivares de trigo, indicadas para o Rio Grande do Sul pelo Zoneamento Agrícola do Mapa, conduzidas na safra 2017. Santa Maria (RS)
que o trigo é classificado, ou seja, a sua MH. Os valores de MH estão diretamente relacionados a grãos malformados e impurezas (Mundstock, 1998). De acordo com Guariente (1996), as alterações também estão ligadas com o teor de proteína presente no grão, fator que é resposta da interação entre genótipo e ambiente. Sendo a ocorrência de precipitação nos momentos que antecedem a colheita o fator ambiental que mais contribui na redução da MH. No presente experimento observou-se que a MH apresentou valores inferiores (média de 66kg/hl) ao desejado, sendo todos os genótipos classificados como Fora de Tipo (MH menor que 72kg/hl), indicando indiretamente a baixa qualidade do trigo produzido. A redução na qualidade está relacionada às condições meteorológicas desfavoráveis que ocorreram durante o ciclo da cultura como geadas em setembro, estiagem entre julho e setembro, e principalmente as precipitações intensas em outubro e novembro. Contudo, destacaram-se com valores superiores
às demais, as cultivares Tbio Sossego, Audaz, Mestre, Iguaçu, Energia, Sintonia, Marcante, LG Oro e OR Ametista (Figura 1). E segundo a Conab (2017), somente 15% do trigo produzido na safra 2017 apresentou boa qualidade para o consumo humano. A produtividade de grãos, diferentemente da safra anterior, apresentou redução significativa de 29,4% em decorrência das adversidades meteorológicas, as quais prejudicaram o crescimento e desenvolvimento da cultura (Conab, 2017). O período prolongado de estiagem entre julho e setembro dificultou o estabelecimento das plantas e culminou em uma quantidade de radiação solar maior quea média para o período, com uma umidade relativa do ar mais baixa, acelerando o ciclo de desenvolvimento da cultura, ou seja, reduzindo o período vegetativo das plantas. Além disso, as altas precipitações e temperaturas ocorridas no estádio fenológico de espigamento e enchimento dos grãos da cultura foram favoráveis à ocorrência de giberela, principal Thomas Martim
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Thomas Martim
Experimento com cultivares de trigo foi conduzido em área experimental da UFSM
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Cultivar TBIO SINUELO TBIO SOSSEGO TBIO AUDAZ TBIO SONIC TBIO MESTRE TBIO IGUAÇU TBIO ENERGIA TBIO SINTONIA LG ORO LG SUPRA BRS MARCANTE OR AMETISTA CD ESPORÃO BRS 331 TBIO TORUK BRS PARRUDO OR QUARTZO
Obtentor Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Biotrigo Limagrin do Brasil Limagrin do Brasil Embrapa OR Sementes Coodetec Embrapa Biotrigo Embrapa OR Sementes
Ciclo Tardio Médio Precoce Superprecoce Médio Médio Médio Precoce Tardio Médio Precoce Precoce Precoce Superprecoce Médio Precoce Médio
Classe Pão Pão Melhorador Melhorador Melhorador Pão Silagem Melhorador Melhorador Pão Pão Pão Pão Pão Melhorador Melhorador Pão
serem semeadas com trigo. Destaca-se que para o ano de 2017 houve problemas relacionados com a implantação de cultura, como excesso de chuvas fazendo com que o estabelecimento não tenha sido suficientemente adequado. Além disso, para o presente ano agrícola para a região de Santa Maria, verificou-se uma quantidade muito maior de dias nublados e temperatura média superior ao que é considerado ideal para o desenvolvimento da cultura. Porém, o trigo deve estar presente na forma de rotação, sendo importante C cultura antecessora da soja no sistema. Jessica Deolinda Leivas Stecca, Thomas Newton Martin, Giovani Mathias Burg, Raul Canabarro Maffini, Vitor Sauzem Rumpel, Evandro Deak, Glauber Monçon Fipke e Marlo Pinto, UFSM Evandro Deak
doença que afeta a cultura do trigo e que traz como principais prejuízos a formação de grãos chochos, enrugados, ásperos e com coloração rósea a esbranquiçada, os quais reduzem a PG e também a qualidade dos grãos (MH). Dentre as cultivares avaliadas, as que apresentaram produtividade mais elevada foram a Tbio Sossego (41sc/ha) e BRS Parrudo (45sc/ha), indicando uma maior adaptação às condições adversas enfrentadas (Figura 2). Quanto à MMG, observa-se que essa foi maior para a cultivar Tbio Sonic, porém a qualidade e a produtividade de seus grãos foram inferiores à maioria das cultivares avaliadas neste ensaio (Figura 2). Essa variável faz parte dos componentes de rendimento da cultura do trigo e é fortemente influenciada pela atividade fotossintética e o aporte de nitrogênio durante a fase de acúmulo e translocação de nutrientes e fotoassimilados. A MMG também está ligada à classificação dos grãos, pois quando possuem tamanho excessivo acarretam em dificuldades na hora da regulagem dos equipamentos de limpeza e moagem. Em contrapartida, grãos muito pequenos podem passar pelas peneiras de limpeza e causar perdas na produção de farinha (Gutkoski et al, 2007). Dentre as cultivares avaliadas neste ensaio, a cultivar Tbio Sossego foi a que melhor se adaptou às condições a que foi exposta, apresentando uma das maiores PG e, aliado a isso, seus grãos também obtiveram uma melhor qualidade (MH) e MMG. Contudo, salienta-se que para a obtenção de altas produtividades, a escolha da cultivar adequada deve estar aliada à utilização de sementes de qualidade, que vão ser importantes na definição do estande de plantas, que é um dos componentes de rendimento da cultura. Além disso, os manejos de solo e fitossanitário são de extrema importância para manter o crescimento e desenvolvimento das plantas. E em conformidade, a cultivar deve possuir genótipo adequado a enfrentar os fatores ambientais como temperatura e precipitação do local/região onde será semeada a cultura. Também é de fundamental importância observar o zoneamento e o ciclo para cada cultivar para que sejam adaptadas às exigências, às necessidades e às potencialidades das áreas a
Tabela 1 - Cultivar, obtentor, ciclo e classe das cultivares avaliadas no ensaio de competição de cultivares de trigo. Safra 2017, Santa Maria (RS)
Foram utilizadas 17 cultivares de trigo com delineamento exeperimental de blocos ao acaso
Café
Sensível a infestantes
O cafeeiro é uma cultura perene bastante predisposta à competição de daninhas, o que pode resultar em prejuízos diretos pela redução de crescimento e produtividade, bem como indiretos, por estas plantas dificultarem o manejo e servirem de hospedeiras para patógenos ou vetores de importantes doenças. Seu controle, apesar de necessário, exige muito critério para preservar a lucratividade de modo sustentável
C
exemplo, algumas peculiaridades que favorecem a infestação de plantas daninhas e/ou tornam a cultura sensível aos efeitos prejudiciais da comunidade infestante. Inicialmente, é preciso lembrar que o cafeeiro é uma planta perene. Isso quer dizer que seu ciclo de vida supera dois anos.
Cláudio Ronchi
ada cultura agrícola apresenta um nível diferenciado de sensibilidade à presença de plantas daninhas, que depende, principalmente, das características intrínsecas de cada espécie de planta cultivada e do seu sistema de cultivo. A planta de café e sua forma de cultivo apresentam, por
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Frutos de café podem deixar de ser colhidos devido à presença de plantas daninhas
Na verdade, o cafeeiro é uma planta que vive muitos anos, podendo sua vida produtiva estender-se por mais de 30 anos. Como a maioria das plantas perenes, o crescimento inicial do cafeeiro é lento, comparado àquele de plantas anuais. Assim, a formação da sua copa ocorre lentamente após o transplantio. Consequentemente, não há uma boa cobertura do solo durante a fase de formação da lavoura, período que se estende por 18 meses a 24 meses após o transplantio. Essa Rubiácea (família botânica à qual o cafeeiro pertence) é tradicionalmente cultivada em linhas de plantio paralelas, distanciadas umas das outras em 3m a 4m. O espaçamento entre uma planta e outra dentro da linha de plantio varia geralmente de 0,5m a 1m, dependendo da cultivar e do sistema de cultivo. Logo, o amplo espaçamento de cultivo, associado ao crescimento relativamente lento da copa (cujo diâmetro na fase adulta praticamente não ultrapassa os 2m), deixa uma grande área de solo exposta na lavoura, sobretudo nas fases iniciais de cultivo, permitindo, assim, forte infestação e crescimento de plantas daninhas. Logo após o transplantio, as mudas de café, sejam provenientes de sacolinhas (mudas de torrão) ou de tubetes, apresentam sistema radicular incipiente e
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superficial, com uma capacidade limitada de absorção de nutrientes diante dos sistemas radiculares agressivos de plantas daninhas, principalmente daquelas de ciclo anual de crescimento rápido. O plantio do cafeeiro no campo, sobretudo nas áreas de sequeiro, é realizado geralmente no final da primavera, portanto no início da estação chuvosa (novembro), época em que há maior oferta hídrica. Da mesma forma, nesse período ocorrem temperaturas relativamente altas. Todos esses fatores contribuem para estimular a germinação das sementes de plantas daninhas e, principalmente, para seu crescimento rápido, o que agrava os efeitos prejudiciais dessas plantas sobre o cafeeiro. Seu plantio ocorre em covas ou sulcos devidamente preparados para esse fim. Adiciona-se matéria orgânica (que muitas vezes é a fonte principal de sementes de plantas daninhas), fertilizantes e corretivos que, juntamente ao grande revolvimento do solo para as operações de plantio, estimulam ou potencializam a infestação das plantas daninhas, muito proximamente ao caule do cafeeiro, agravando o processo competitivo. Durante a fase adulta, as lavouras em produção comumente passam por dois processos necessários à colheita, que são
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Lavoura de café arábica recém-implantada e ainda livre da presença de infestantes
a arruação (na pré-colheita) e a esparramação do “cisco” (após a colheita). Essas práticas consistem, respectivamente, em retirar e retornar os resíduos vegetais existentes debaixo da copa do cafeeiro, para permitir o recolhimento dos grãos de café que caem (naturalmente ou durante a colheita) ao chão. Ao mesmo tempo em que são práticas que acabam por fazer um controle mecânico direto de eventuais plantas daninhas existentes, sobretudo sob a copa do cafeeiro, também espalham sementes de plantas daninhas pela lavoura, podendo potencializar a reinfestação da área, logo que se inicie a próxima estação chuvosa. Tomadas em conjunto, essas características da cafeicultura e da própria planta de café permitem que as plantas daninhas infestem as lavouras, prejudicando seu crescimento e a produtividade. Isso ocorre basicamente pela competição direta por recursos, como água, luz e nutrientes minerais, reduzindo sua oferta ao cafeeiro, sobretudo nas fases iniciais de cultivo, como demonstrado em diversos trabalhos científicos. Mas os prejuízos não residem apenas nisso. As plantas daninhas podem comprometer o manejo da cultura, por exemplo, reduzindo a eficiência da distribuição de adubos e corretivos, da aplicação de defensivos para
Fotos Cláudio Ronchi
A operação de varrição pode ser dificultada pela presença de daninhas (direita); à esquerda é possível observar lavoura de café arábica severamente infestada
controle fitossanitário, assim como o recolhimento do café do chão durante a colheita. Não obstante, plantas daninhas podem hospedar patógenos ou vetores de importantes doenças do cafeeiro. Diante disso, o controle de plantas daninhas é uma prática comum durante todas as etapas de produção de café na fazenda. O controle começa cedo, ainda no momento da limpeza da área para a construção do viveiro e aquisição de terra e matéria orgânica (esterco) para a produção de mudas. No viveiro, as plantas daninhas que germinam junto às mudas de café devem ser eliminadas. A área na qual a lavoura será implantada deve ter a vegetação parcial (somente na linha de plantio) ou totalmente removida, dependendo do sistema de cultivo e região. Logo após o transplantio e nos primeiros 18 meses que se seguem, a lavoura passa por um período de alta sensibilidade competitiva, devendo ser adotado, portanto, um manejo integrado de plantas daninhas, apropriado para cada situação. Finalmente, nas lavouras em produção ou naquelas podadas, devem ser efetuadas práticas sustentáveis de manejo de plantas daninhas para mitigar a competição e garantir o crescimento e a produtividade da cultura ao longo dos anos, pois, afinal de contas, trata-se de uma cultura perene. É importante registrar, entretanto, que todas as práticas de controle empregadas na cafeicultura devem ser muito bem posicionadas pela adoção do manejo integrado para assegurar, dentre vários aspectos, os benefícios ambientais que as plantas daninhas podem agregar à lavoura. Percebe-se, portanto, que as práticas de controle de plantas daninhas são necessárias para garantir produtividades satisfatórias. Todavia, têm um custo associado. Logo, estão diretamente relacionadas à sustentabilidade econômica da produção de café. Isso, pois, dentre os diversos fatores que afetam a lucratividade da lavoura de café (e.g. preço de venda), o aumento da produtividade (medida em sacas de 60kg de café beneficiado por hectare) paralelamente à redução no custo de produção, tendem, em conjunto, a aumentar a lucratividade da atividade. Consequentemente, quando as plantas daninhas (e seu controle) são consideradas no sistema de produção,
podem comprometer a lucratividade da cafeicultura tanto por reduzir a produtividade em decorrência da competição, quanto por aumentar o custo de produção, pois o produtor precisará desembolsar recursos financeiros para o controle. Dessa forma, é possível deduzir que as práticas empregadas no controle de plantas daninhas na lavoura de café têm de ser apropriadamente balanceadas para reduzir ao mínimo a competição, para potencializar as produtividades, mas, simultaneamente, com o menor custo possível. É preciso, entretanto, cautela quando se pensa em redução de custo de controle de plantas no cafeeiro, pois isso pode ter reflexos muito negativos na produtividade. Para exemplificar, considere-se o custo das operações mecanizadas de controle em lavouras altamente mecanizáveis (e.g. lavouras no Cerrado Mineiro). Nessas áreas, o custo com mão de obra, herbicidas, óleo diesel ou manutenção de implementos como roçadoras, trinchas ou aplicadores de herbicidas é muito baixo. Todavia, não pode ser negligenciado, pois, caso contrário, as perdas de produtividade pela competição reduzirão significativamente a lucratividade da produção de café. É possível concluir que o manejo de plantas daninhas nas lavouras de café deve ser realizado com muito critério, sobretudo para compensar a grande sensibilidade do cafeeiro à presença de plantas daninhas. Infelizmente, apesar da grande importância econômica e social do cafeeiro no Brasil e no mundo, há certa carência de informações científicas sobre os diversos aspectos relativos a essa área de conhecimento, quando comparada a outras culturas também importantes. Isso ocorre tanto para o (Coffeea arabica) quanto para o (Coffea canephora), sendo que para este último (aqui no Brasil representado pela variedade Conilon) são ainda mais escassas. Não obstante, o café é produzido no Brasil em diferentes regiões, sob diversos sistemas de cultivo. Logo, os métodos de controle de plantas daninhas empregados pelos cafeicultores podem variar consideravelmente entre as lavouras, o que é necessário C para se adequar às realidades de cada uma. Cláudio Pagotto Ronchi, UFV www.revistacultivar.com.br • Julho 2018
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Coluna Agronegócios
“A saga da soja: de 1050 a.C. a 2050 d.C.”
N
o VIII Congresso Brasileiro de Soja (Goiânia, 11-14/6/18) foi lançado o livro com o título "A saga da soja: de 1050 a.C. a 2050 d.C.", editado pela Embrapa e patrocinado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). Trata-se de uma obra de fôlego, com seis capítulos distribuídos em 200 páginas, 156 figuras e 30 tabelas. É a obra mais completa sobre a cultura da soja em língua portuguesa e uma das mais atuais, em escala global. Retrata a longa caminhada da soja desde a Manchúria (Nordeste da China), seu centro de origem, aos dias atuais, em que figura como o quarto grão mais cultivado no mundo e o que cresce às mais altas taxas, comparativamente aos demais grãos. Atualmente, a soja responde por mais da metade da área cultivada com grãos no Brasil, por cerca de 15% das exportações brasileiras e de 40% da balança comercial do agronegócio e o valor de sua exportação equivale ao saldo da balança comercial brasileira.
na bolsa de Chicago. Uma análise destacada é efetuada para o Brasil, considerando a evolução histórica, as causas da expansão e a evolução comparada com os demais países do Mercosul. Também são analisados os impactos econômicos, sociais e ambientais da trajetória da soja no País.
O FUTURO DO MERCADO
Para estabelecer cenários futuros do mercado de soja foram considerados os fatores demográficos e econômicos, a desigualdade no acesso à alimentação, a melhoria dos índices nutricionais, os mercados primários de óleo e farelo e os secundários de carnes (bovina, suína, de aves, aquacultura e pequenos animais), além de outros produtos como ovos, leite e manteiga, que dependem da soja como matéria-prima para a sua produção. Os cenários de demanda da soja para o período 2020-2050 PRIMÓRDIOS, EVOLUÇÃO foram estabelecidos com base em modelos matemáticos, utilizando como variáveis diretrizes a população e sua renda per capita, a E CONSOLIDAÇÃO produção de carnes, além do uso direto na alimentação humana, O primeiro capítulo reconstitui as origens do cultivo e usos da para produção de energia (biodiesel) e química fina. Na média dos soja, considerando apenas os eventos que possuem sólido fundamento na literatura científica, razão pela qual diferentes modelos matemáticos, estima-se retrocede tão somente a 1050 a.C., embora que, em 2050, o mundo deverá produzir além existam menções de que a soja seria utilizada de 700 milhões de toneladas anuais de soja. O Atualmente, a há mais de cinco mil anos. Da China, a soja mesmo capítulo aborda o que deve ser a nova soja responde por expandiu-se para o restante do continente geografia da produção de soja no mundo, em asiático, posteriormente para a Europa (1712), mais da metade da função do grande aumento da produção. ingressando nos Estados Unidos em 1765 e área cultivada com aportando no Brasil em 1882. E O BRASIL? Enquanto na Ásia seu principal uso era a grãos no Brasil, O último capítulo faz uma análise aproalimentação humana, os primeiros cultivos nos fundada do papel do Brasil na nova geografia por cerca de 15% EUA e no Brasil tinham como objetivo produzir da soja, em função de suas vantagens comdas exportações pastagem, silagem, feno ou foi utilizada como parativas e da necessidade de transformá-las adubo verde. Apenas a partir da metade do em efetiva competitividade de mercado. São brasileiras e de século 20 o objetivo principal passou a ser a apresentadas projeções da produção de soja 40% da balança produção de grãos. O capítulo relativo à evono Brasil, que poderá alcançar 40% da produlução da soja mostra estatísticas completas da ção mundial. Paralelamente, é efetuada uma comercial do área, produção e produtividade das lavouras, análise das ameaças à expressão do potencial agronegócio bem como de óleo e farelo de soja, entre 1960 do Brasil, em função de restrições e entraves e 2018, para os maiores países produtores do que necessitam ser equacionados, mormente mundo. aqueles enquadrados no que se convenciona Os principais fatores associados à consolidação da soja como chamar de “Custo Brasil”. grande cultivo em escala mundial são de caráter demográfico e Em resumo, é uma obra destinada a ampliar o conhecimento econômico. Além do contingente populacional, o capítulo desseca sobre a evolução da produção, suas causas, impactos e perspectias suas taxas de crescimento, fertilidade, mortalidade, esperança de vas futuras da produção e do consumo, provocando uma reflexão vida, urbanização e estrutura etária. Do ponto de vista econômico sobre os seus rumos, em especial sobre as oportunidades que se são analisados aspectos relativos ao Produto Interno Bruto (PIB) descortinam para o Brasil. Como bem colocou o ministro Blairo C global e dos principais países consumidores de soja, as taxas de Maggi na apresentação do livro, “Boa leitura”. crescimento do PIB, a renda per capita e suas taxas de incremento. As estatísticas de produção e exportação até 2018 também comDecio Luiz Gazzoni, põem este capítulo, bem como as cotações do grão, óleo e farelo, O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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Coluna Mercado Agrícola
Briga de Trump com a China abre espaço para agronegócio brasileiro As brigas comerciais compradas nos últimos tempos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tendem a abrir lacunas no mercado que beneficiarão o agronegócio brasileiro. O quadro de taxações impostas pelo líder máximo norte-americano facilita ao Brasil estabelecer acordos de livre comércio com a Europa e a China. Por outro lado, o conflito tem feito commodities recuarem forte, um ponto negativo em momento de safra mundial de grãos menor que a demanda, o que deveria resultar em crescimento das cotações das principais bolsas. Mas a boa notícia é que para compensar essa queda, os Prêmios nos portos do Brasil registram forte crescimento, com 200 pontos acima de Chicago para a soja em junho (2,00 dólares a mais por bushel ou 4,40 dólares por saca a mais nos portos brasileiros).
MILHO
Colheita chegou e mercado foi aos portos
A safrinha deve registrar pico de colheita em julho. Mesmo com queda forte na produtividade devido à seca, houve área recorde de plantio e os números apontam que serão colhidos entre 55 milhões de toneladas e 60 milhões de toneladas, frente os 67 milhões da safra passada. Com isso, haveria fôlego positivo, mas como a demanda se encontra menor que as projeções devido à greve dos caminhoneiros, o milho foi empurrado para o nível que liquida na exportação nos portos, entre R$ 37,00 e R$ 38,00 em junho, limitando os níveis internos que tendem a seguir os patamares que os portos pagarão nos próximos dois meses. Ainda assim, continuará com níveis de R$ 10,00 acima do que foi pago no ano passado, mas abaixo daquilo que esperavam muitos produtores que deixaram de vender entre R$ 42,00 e R$ 45,00 a saca.
SOJA
Tabelamento dos fretes segurou os negócios
O mercado da soja do Brasil tem pouco mais de 75% da safra atual negociada e mais ou menos 15% da safra nova vendida. A comercialização poderia estar mais avançada se não fosse o tabelamento dos fretes que deixou o setor sem parâmetros de negócios para longo prazo. Nas últimas semanas os negócios pararam e somente houve fechamentos curtos e de negociantes que tinham caminhões ou trem para levar o grão aos portos. Os indicativos nos portos ficaram na faixa de R$ 83,00 a R$ 86,00 para as posições de julho e agosto. O Brasil se manteve como líder mundial na exportação de soja e nos dados de maio alcançou recorde histórico, superando 12,5 milhões de toneladas. No acumulado do ano, entre janeiro e junho, superou os 45 milhões de toneladas. A projeção do ano é de superar os 73 milhões de toneladas. Muito à frente dos 56,2 milhões de toneladas projetados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para os EUA exportarem neste ano. Haverá excelentes condições para os produtores plantarem e colherem uma grande safra em 2019, com a China com muita fome de soja.
ARROZ
Cotações devem continuar em alta neste segundo semestre
O arroz registrou até metade de junho os menores níveis em mais de dez anos. Mas houve reação e existe fôlego positivo neste segundo semestre, porque a safra é menor que a demanda. Há exportações crescentes que tendem a superar 1,5 milhão de toneladas e as importações foram dificultadas devido ao dólar cotado próximo aos R$ 4,00, encarecendo o produto que chega do Mercosul. As expectativas são boas também para 2019, porque os estoques estarão próximos de zero e o mercado externo aberto para novos negócios e favorável ao setor para o novo plantio. Os indicativos avançaram acima de R$ 40,00 a saca no Rio Grande do Sul e no segundo semestre este valor deve ultrapassar R$ 45,00 a saca, em C ano de forte demanda interna.
Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo, mesmo sofrendo queda em Chicago devido à briga comercial de Donald Trump, segue positivo no Brasil. Mesmo com indicativos na faixa dos R$ 850,00 aos R$ 950,00 a tonelada para o grão neste último mês, os compradores estão dispostos a pagar pelo trigo futuro acima de R$ 650,00 a tonelada, porque sabem de antemão que terão de importar com valores na faixa de R$ 900,00 a R$ 1.000,00 por tonelada se o dólar mantiver cotações fortes no final do ano. EUA- Os produtores americanos plantaram a safra e o clima se mostrou favorável até o final de junho. A soja tem potencial de chegar a 120 milhões de toneladas, mas o clima de julho até o começo de agosto será muito importante para a definição da produção. Enquanto isso, a demanda mundial segue em crescimento. CHINA - Mesmo com a briga comercial com os EUA, a China deve importar entre 100 milhões de toneladas e 105 milhões de
toneladas de soja neste novo ano comercial. E o Brasil caminha para ser o principal fornecedor. Os chineses irão importar mais de seis milhões de toneladas de milho e mais de sete milhões de toneladas de arroz. A disputa com os EUA abre espaço para novos fornecedores de DDG (ou para a compra de milho para fazer etanol e então produzir o DDG, que normalmente é importado dos norte-americanos). As importações de milho em 2019 poderão superar os dez milhões de toneladas, o que abre um grande novo mercado para o Brasil. ARGENTINA - A safra argentina registrou quebra em milho e na soja. Os números finais ficaram próximos de 36 milhões de toneladas de soja e 32 milhões de toneladas de milho. Haverá pouco para os argentinos exportarem neste ano agrícola, o que abre espaço para novos fornecedores. Novamente o Brasil deve crescer neste espaço para 2018 e 2019.
www.revistacultivar.com.br • Julho 2018
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Coluna ANPII
Participação efetiva ANPII acompanha de perto e contribui com as discussões técnicas do VIII Congresso Brasileiro de Soja, em Goiânia
O
VIII Congresso Brasileiro de Soja realizado em Goiânia, em junho, reuniu, como sempre ocorre nestes congressos, um grande número de pesquisadores, consultores, agricultores e empresas ligadas à cultura. Todos os aspectos referentes à soja foram abordados por profissionais que são referência em suas respectivas áreas. A Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) esteve presente no evento, como entidade e também através da participação individual das empresas associadas, que montaram seus estandes e levaram pessoal técnico para poder se manter atualizado com os mais recentes feitos da pesquisa na área. O presidente da ANPII, José Roberto Pereira de Castro, apresentou o trabalho “Levantamento do uso de inoculantes no Brasil”, em que mostra um panorama do emprego do insumo no País. Com a contratação de uma empresa de pesquisa especializada no ramo do agronegócio, a Spark, a ANPII conseguiu levantar desde o percentual de uso de inoculantes nas diversas regiões do País, os motivos que levam o agricultor a utilizá-los, as formas de uso e outras consistentes informações que permitem às empresas associadas e a
todos os que têm ligação com a cultura da soja traçarem suas estratégias de emprego e difusão dos inoculantes. O Gráfico 1, extraído da apresentação, mostra o crescimento da adoção do inoculante pelos agricultores brasileiros. Na área da pesquisa também houve apresentações como a do pesquisador da Embrapa Soja, Marco Antonio Nogueira, que mostrou as vantagens do uso de inoculantes à base de Azospirillum na cultura da soja, em conjunto com o uso do tradicional inoculante à base de Bradyrhizobium. Este uso conjunto dos dois tipos de inoculantes, chamado de coinoculação, tem apresentado resultados muito consistentes no aumento da produtividade, o que foi mais uma vez comprovado pelos resultados apresentados no trabalho de Nogueira. A pesquisadora Mariangela Hungria, também da Embrapa Soja, abordou “Micro-organismos e sustentabilidade do sistema de produção de soja”. Apontou as vantagens ambientais e econômicas do uso de inoculantes, mostrou recentes resultados de ensaios de campo e também algumas “armadilhas” que aparecem no horizonte, trazendo desinformações que podem vir a confundir agricultores menos informados. Entres estas ameaças, citou a pseudoprodução de inoculante na própria fazenda, com equipamentos e falsas técnicas que podem levar o agricultor a produzir menos. Em resumo, o congresso de soja mostrou, mais uma vez, a validade do uso dos inoculantes como ferramenta fundamental para a produção de soja, com todas suas vantagens para o agricultor e para a sociedade como um todo No congresso, a ANPII lançou o livro “Caminhos, Escolhas e Conquistas”, com um histórico da FBN no Brasil. O livro encontra-se à venda no site da C ANPII: www.anpii.org.br. Solon Araujo, Consultor da ANPII
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