Estria bacteriana

Page 1



Destaques

32

Índice

Estria bacteriana

A luta contra a nova doença causada por Xanthomonas vasicola que provoca sintomas semelhantes aos de outras enfermidades em milho

24

Efeitos da temperatura

Como o frio pode reduzir a eficácia dos herbicidas e causar maior injúria em determinadas culturas

38

Manejo conjunto

A importância de envolver os produtores regionalmente na padronização de estratégias contra o bicudo, praga-chave em algodoeiro Cultivar Grandes Culturas • Ano XIX • Nº 232 Setembro 2018 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: CPA Copacol

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Diretas

04

Plantas daninhas em café

09

Cigarrinha-das-raízes em cana

16

TS com inseticidas em soja

20

Efeitos da temperatura em herbicidas

24

Informe - Grãos protegidos

29

Capa - Estria bacteriana em milho

32

Bicudo em algodão

38

Empresas - DNA Nidera

41

Matocompetição em milho

42

Nitrogênio em milho

46

Empresas - Albaugh lança novo fungicida

52

Empresas - UPL adquire Arysta

54

Coluna Agronegócios

56

Coluna Mercado Agrícola

57

Coluna ANPII

58

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo

• Vendas Sedeli Feijó Rithieli Barcelos José Luis Alves

• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer

CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas Soluções

A Alltech Crop Science levou para o VIII Congresso Andav soluções naturais para os desafios da agricultura. “Temos a premissa de quanto mais natural, melhor. Para isso, procuramos maximizar os recursos naturais disponíveis. Os resultados no campo são melhores quanto menos interferimos no meio. E quando há a necessidade da interferência, é necessário ser extremamente efetiva. Hoje ‘menos é mais’”, opinou o gerente técnico nacional da Alltech Crop Science, Leonardo Porpino.

Dirceu Gassen

Luto

A pesquisa brasileira perdeu em setembro o pesquisador Dirceu Gassen, um dos mais entusiasmados e dinâmicos profissionais da agricultura. Extremamente qualificado e com grande capacidade de comunicação, era um entusiasta da atividade para a qual contribuía de modo generoso, com seu conhecimento e experiência. Com enorme talento para a fotografia, tinha habilidades e sensibilidade ímpares para flagrar insetos e plantas. Colaborador assíduo e um dos mais antigos de Cultivar, suas imagens ilustraram diversas capas e artigos publicados ao longo dos anos. De trato fácil, alegre e sempre disposto a compartilhar, deixa uma lacuna enorme por sua importância pessoal e profissional.

Distribuição

A Santa Clara participou pela quarta vez do Congresso da Andav. Nesta edição, o principal objetivo foi de reforçar a imagem e a marca da empresa para agricultores e canais de distribuição de todo o Brasil. "Estamos focados em conhecer todos os canais de distribuição que ainda não temos contato, realizar ações de alinhamento de estratégia e reforço no relacionamento com os canais de distribuição que já estamos trabalhando e onde já contribuímos com o pacote de soluções, e também receber em nosso estande os potenciais fornecedores que podem nos ajudar no processo de evolução constante", detalhou o diretor técnico de Marketing, Marcelo Rolim.

Sementes

Durante o VIII Congresso Andav, a Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont, reforçou a chegada da marca de distribuição Brevant Sementes, junto da marca Pioneer. O distribuidor pode conhecer de perto as tecnologias e o portfólio da plataforma de proteção de cultivos da empresa. “Participar do Congresso da Andav é uma honra para nós, pois trata-se de uma oportunidade de interagir e poder apresentar o posicionamento e também o portfólio da plataforma de Proteção de Cultivos e das marcas de sementes da Corteva Agriscience”, avaliou o diretor de marketing da Corteva Agriscience no Brasil e no Paraguai, Douglas Ribeiro.

04

Parcerias

Douglas Ribeiro

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

Com o objetivo de fortalecer o relacionamento com seus parceiros e se reunir com revendas de diferentes regiões e mercados de atuação, participaram do Congresso da Andav o presidente da UPL Brasil, Rogério Castro, e parte de sua diretoria. “A UPL é uma empresa jovem, uma das empresas que mais cresceram no segmento de agroquímicos nos últimos anos, conta com fábricas em diversos países, incluindo o Brasil. Possui um amplo portfólio, capaz de completar a oferta de produtos para os principais cultivos, o que a coloca como um fornecedor estratégico para as principais revendas de todo o País”, avalia o gerente de Acesso ao Mercado da UPL, Marco Polo.



Relacionamento

A Basf lançou, durante o Congresso da Andav, o programa Agrega, plataforma que oferece soluções e serviços com o objetivo de contribuir com o legado do agricultor. “Como lançamento do Agrega, reiteramos nosso compromisso de oferecer soluções adequadas às necessidades dos agricultores, contribuindo cada vez mais para o incremento de produtividade, lucratividade e perenidade de seus negócios”, avalia o gerente sênior de Acesso ao Mercado e Gestão de Clientes da Basf, Mario Lavacca.

Portfólio

A FMC apresentou no Congresso Andav a ampliação de seu portfólio de inseticidas e herbicidas, além de destacar o novo Centro de Inovação em Paulínia, São Paulo, e a unidade fabril em Barra Mansa, no Rio de Janeiro. Segundo o vice-presidente FMC para a América Latina, Ronaldo Pereira, o Congresso foi uma excelente oportunidade para apresentar esse novo momento da companhia para os principais distribuidores do país. “A Andav realiza um trabalho essencial para garantir a profissionalização e a união do setor. Durante o Congresso, fortalecemos nosso relacionamento com os participantes, além de trocar experiências e aprendizados com o intuito de garantir o avanço do agronegócio nacional”, avaliou.

Nutrição

Os visitantes do Congresso Andav tiveram a oportunidade conferir a apresentação dos herbicidas Kennox, Kroll, Sanson Evo e Triclon para soja e arroz, e da Linha Poliquel, em nutrição, da Arysta. “Atenta às necessidades dos agricultores brasileiros, a Arysta amplia o seu arsenal de herbicidas para ervas resistentes, complementando o já importante portfólio nessa área, e aposta na alta produtividade, com investimento na família Poliquel. Indicado para os principais cultivos, Poliquel é uma linha de produtos nutricionais para aplicação foliar e tratamento de sementes, com recomendações customizadas ao longo do ciclo, com zinco, boro, cobre, manganês, max, nicomo e cálcio”, explica o diretor de Marketing da Arysta LifeScience no Brasil, Marcelo Zanchi.

Adjuvante

A Brandt do Brasil, lançou no VIII Congresso Andav o adjuvante TriTek. Trata-se de um óleo com baixos índices de aromáticos, indicado para altas temperaturas e que pode ser utilizado em diversas culturas agrícolas, agindo na nutrição e no fortalecimento das plantas. “Nosso foco é fortalecer as parcerias que construímos ao longo desses três anos de presença no Brasil, além de apresentar as nossas tecnologias e os resultados que refletem a parceria com os produtores. Ao longo desses anos, dobramos nossa equipe e a linha de produtos, que já conta com mais de 50 itens”, explica o coordenador de Marketing da Brandt do Brasil, Cesar Murad.

06

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

Polímeros

Em seu terceiro ano como expositor no Congresso da Andav, a Laborsan teve como objetivo fortalecer a marca e se aproximar ainda mais dos parceiros. “O congresso da Andav é uma ótima oportunidade para divulgar nossas linhas de polímeros Labfix, LabChrom e LabChrom Top. Durante o evento, estamos realizando testes em sementes com esses produtos", informou o responsável por Estratégia de Mercado, Leonardo Ribeiro.



Herbicida

A Nufarm destacou durante o VIII Congresso da Andav o herbicida Zetha Maxx. De acordo com o engenheiro agrônomo Jeander Silva Costa, trata-se de uma excelente ferramenta para o manejo de plantas daninhas resistentes ao glifosato, altamente seletivo à soja e que fornece vantagem competitiva para a cultura. “O herbicida pré-emergente foi desenvolvido através da combinação de dois mecanismos de ação, que fornecem amplo espectro de controle em ervas daninhas de folhas largas e estreitas. Eficaz no controle do banco de sementes, reduz a emergência de invasoras e facilita o manejo em pós-emergência”, explicou.

Intercâmbio

A Syngenta participou do VIII Congresso Andav. “O evento reúne toda a cadeia do agronegócio, apresentando tendências e promovendo o intercâmbio de informações, visando o desafio de crescimento do agronegócio nos próximos anos, reunindo a indústria e distribuidores de todo o Brasil”, avaliou o diretor de Marketing da Syngenta Brasil, André Savino. O executivo comemorou as aquisições da Strider (startup brasileira de soluções de gerenciamento digital para lavouras) e também da Nidera, importante player no mercado de sementes da América Latina.

Prêmio

A professora Carolina Deuner, docente do curso de Agronomia e do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade de Passo Fundo (PPGAgro/UPF), foi uma das agraciadas com o Prêmio Mulher 2018. A premiação ocorre há mais de duas décadas e é especialmente dedicada a mulheres que fazem a diferença em suas profissões nas diferentes regiões do Rio Grande do Sul. “Sou muito feliz e realizada em ser engenheira agrônoma e professora, e por contribuir para o desenvolvimento da agricultura, setor que tem mantido a economia do Brasil”, avaliou Carolina.

Carolina Deuner

Gramíneas

Durante o VIII Congresso Andav, a Alta destacou o herbicida Cartago, produto à base de Cletodim, indicado contra diversas gramíneas anuais e perenes em uma variedade de culturas como soja, algodão, café e feijão. Em conjunto com o Venture (Haloxifope), a Alta oferece dupla força para amplo espectro de ação no controle de folhas estreitas. “Estamos atentos e atualizando nosso portfólio na busca por oferecer formulações inovadoras, eficientes, de qualidade para o mercado de proteção de plantas e adequadas à realidade do agronegócio”, informou o gerente de Marketing e Supply Chain da Alta, Ernesto Bellotto.

Lançamento

Durante o Congresso da Andav, a Kimberlit Agrociências fez o prélançamento do CA$H. O novo produto é capaz de induzir os genes de resistência das plantas, agindo como imunoestimulante, além da sua atuação fisiológica. “O CA$H, promove maior atividade fisiológica e auxilia na indução de resistência das culturas afetadas por pragas e doenças”, explica o pesquisador da empresa, Juscelio Ramos de Souza. Além do pré-lançamento, a Kimberlit reforça a atuação do Hulk, indutor de resistência com ação de translocação nas plantas, aplicado via folha, que consegue agir até o sistema radicular.

08

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br


Café

A pressão de seleção, aliada a uma série de práticas equivocadas, tem resultado em aumento da quantidade de biótipos resistentes de plantas daninhas à aplicação de herbicidas em café. O manejo integrado, através da associação de diversos métodos de controle, continua indispensável para deter o agravamento deste problema

Giovani Voltolini

Avanço da resistência

A

recorrência de plantas daninhas resistentes na agricultura é um problema que preocupa agricultores, profissionais da área e pesquisadores. De difícil controle, impactam em maior custo de produção e resultam em redução da produtividade das áreas. Em plantas de cafeeiro já é notória a interferência de plantas daninhas no crescimento e desenvolvimento da cultura. Em situação de competição por fatores essenciais ao desenvolvimento, como água, luz, espaço e nutrientes, chegam a causar aproximadamente 77% de perdas às plantas. Além da competição, o cafeicultor tem lidado com um problema ainda mais sério, que é a resistência de alguns biótipos de espécies de plantas daninhas aos principais herbicidas utilizados, dificultando bastante o manejo nas áreas de cultivo. A pressão de seleção aliada a uma série de manejos e práticas errôneas vem culminando em um aumento da quantidade destes biótipos www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

09


Figura 1 - Esquema de pressão de seleção de plantas daninhas. Fonte: Monsanto

Figura 2 - Casos de aparecimento de populações resistentes no Brasil. Fonte: Bayer Ano 1992 1993 1996 1997 1999 1999 1999 2000 2001 2001 2002 2003 2003 2004 2004 2005 2005 2005 2006 2006 2006 2005 2008 2009

Modo de ação Inibidor de ALS Inibidor de ALS Inibidor de ALS Inibidor de ACCase Auxina Sintética Auxina Sintética Inibidor de ALS Inibidor de ALS Inibidor de ALS Inibidor de ALS Inibidor de ACCase Inibidor de ACCase Glifosato Inibidor de ALS / Inibidor PPO Inibidor de ALS Glifosato Glifosato Glifosato Inibidor de ALS / Inibidor de Fotossistema II Inibidor de ALS Inibidor de ALS/Glifosato Inibidor de ALS Glifosato Inibidor de ALS / Auxina Sintética

Giovani Voltolini

Gênero/Espécie Nome comum Euphorbia heterophylla Leiteiro Bidens pilosa Picão-preto Bidens auballemans Picão-preto Brachiaria plantaginea Capim-marmelada Echinochloa crus-galli Capim-arroz Echiochloa crus-pavonis Capim-arroz Sagittaria montevidensis Aguapé Cyperus difformis Junquinho Fimbristylis miliacea Junquinho Rapharus sativus Nabiça Digitaria ciliaris Capim-colchão Eleusine indica Capim-pé-de-galinha Lollum multifibrum Azevém Euphorbia heterophylla (Resistência múltipla) Leiteiro Partherium hysterophorus Losna-branca Conyza bonariensis Buva Conyza bonariensis Buva Conyza canadensis Buva Bidens suballernans (Resistência múltipla) Picão-preto Euphorbia heterophylla Leiteiro Euphorbia heterophylla (Resistência múltipla) Leiteiro Oryza sativa Arroz-vermelho Digitaria insularis Capim-colchão Echinochloa crus-galli (Resistência múltipla) Capim-arroz

Figura 3 - Controle físico das PD por meio de impedimento físico

10

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

resistentes, onerando assim o cultivo e consequentemente reduzindo a lucratividade do cafeicultor. Estas práticas incorretas se baseiam, principalmente, na recorrência de um mesmo mecanismo de ação de herbicidas, a não alternância de métodos de manejo, e também a não utilização de formas de cultivos alternativos, como a adoção de plantas de cobertura como a braquiária, ou cultivos intercalares à cultura, como leguminosas ou frutíferas. Na cafeicultura, sabe-se que o herbicida à base do ingrediente ativo glifosato é o mais utilizado, desde seu lançamento em 1974. A grande adoção se deu principalmente pelo seu amplo espectro de controle, por controlar uma grande gama de plantas daninhas, com eficiência elevada, além da acessibilidade de aquisição e custo-benefício aos cafeicultores. Contudo, pelo uso recorrente e inadequado deste herbicida, biótipos de plantas daninhas vêm sendo selecionados e têm causado sérios problemas à cultura.

O PROBLEMA

Dentre as plantas daninhas resistentes é possível citar algumas de maior importância como Bidens pilosa (picão-preto), as do gênero Amaranthus (carurus), Euphorbia heterophylla (leiteiro), Eleusine indica (capim-pé-de-galinha) e com maior problema as espécies do gênero Conyza (buvas) e a Digitaria insularis (capim-amargoso). Uma característica comum à maioria destas espécies resistentes reside na grande habilidade propagativa, pois produzem grandes quantidades de sementes por planta, variando de 100 mil sementes no caso das Poáceas e até um milhão nas Amaranthaceas. Aliado a isto, o tamanho das sementes e também a característica de possuir sementes aladas, como o capim-amargoso, implicam grande facilidade de dispersão nos ambientes de cultivo, fazendo com que, nestes casos de resistência, a ocorrência em reboleiras rapidamente tomem


O QUE FAZER?

Agroadvisor

Infestação de capim-amargoso Hudson Takano

conta de toda a área cultivada. O surgimento de biótipos resistentes era pouco observado no século passado. Contudo, a partir de 2000, o surgimento passou a ser frequente, e ano a ano novos biótipos são encontrados com resistência aos mais diversos mecanismos de ação, inclusive com resistência múltipla e resistência cruzada, ou seja, a diversos herbicidas dentro do mesmo mecanismo de ação e a mecanismos de ação diferentes. Há relatos, inclusive, de uma “superplanta” de azevém (L. multiflorum) na Austrália, resistente a sete mecanismos de ação.

Capim-amargoso (Digitaria insularis)

O capim-amargoso passou a ser problema na cafeicultura recentemente, visto que a maioria dos biótipos se tornou resistente pela pressão de seleção nos ambientes de cultivo. A resistência desta espécie está ligada exclusivamente ao herbicida glifosato, que atua inibindo a enzima EPSPs. Desta forma, o herbicida mais utilizado em áreas de cafeeiro não pode mais ser empregado, havendo a necessidade de se adotar outros métodos de manejo para a planta daninha. Preconiza-se como melhor estratégia a adoção do manejo integrado, associando diversos métodos de controle. Tem-se como o melhor manejo a realização do controle mecânico, por meio de roçadas ou pela utilização da trincha. Aliado a isto, o manejo cultural pela adoção de plantas de cobertura que atuam suprimindo as de capim-amargoso, e também o controle químico por meio da adoção de herbicidas, principalmente os inibidores da ACCase. Mostram-se como estratégias eficientes de controle as roçadas periódicas, o cultivo de capim-braquiária nas entre linhas da cultura e a utilização dos herbicidas, principalmente fluazifop, quizalofop, haloxyfop, clethodim e sethoxydim. Estes herbicidas possuem seletividade média a acentuada às plantas de cafeeiro.

Teste de resistência de biótipos de capim-pé-de-galinha ao glifosato

Alternativas como os herbicidas paraquat, carfentrazone e saflufenacil, que são de contato e não seletivos (o que causa maiores problemas em caso de deriva no café) também surgem como opção. Salienta-se que para maior efetividade no controle de daninhas a aplicação deve ser realizada até 35 DAE, visto que a planta nesta fase perfilhou pouco e não formou rizoma no solo, de forma que a absorção do herbicida pela planta é elevada pela ausência de tecidos lignificados. Associado a isto, quando em aplicações tardias, ocorre o chamado efeito “guarda-chuva”, onde o grande número de perfilho impede o “molhamento” total da planta. Em lavouras novas, comumente são aplicadas associações de haloxyfop + clorimuron para o controle de uma gama maior de plantas daninhas, além da resistente, de forma seletiva, ou seja, sem causar danos à cultura. Na Figura 3 é possível observar a eficiência do controle físico, ou seja, pela presença de restos culturais da

própria cultura do café há um impedimento à germinação das sementes pela ausência de luz. Este fato também pode estar ligado à alelopatia, ou seja, compostos do metabolismo secundário que são exsudados no solo pela decomposição destes restos vegetais, como a cafeína, por exemplo, que pode atuar inibindo a germinação de algumas plantas daninhas. Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)

O capim-pé-de-galinha é o mais recente dos casos de resistência de plantas daninhas em áreas agricultáveis no Brasil. Refere-se à resistência ao herbicida glifosato, de forma que alguns biótipos no estado do Paraná foram identificados como não suscetíveis ao herbicida. Mesmo que o caso seja isolado no estado do Paraná, e em região não produtora de café, a provável pressão de seleção imposta à planta daninha tende a fazer com que este problema seja crescente e logo alcance as lavouras cafeeiras.

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

11


Giovani Voltolini

Biótipos de buva após aplicação do herbicida glifosato

Por se tratar de uma planta daninha de crescimento entouceirado, e com sistema radicular muito agressivo, o controle se torna muito difícil, com condições que favorecem esta planta frente àquelas cultivadas. Aliado a isto, o manejo mecânico por meio de roçadas também se torna dispendioso, pois além de ser mais demorado, pode resultar em rebrotas desta planta e, consequentemente, dificultar o controle. Como estratégia de controle preconiza-se também o manejo integrado, de forma que dois ou mais métodos sejam adotados no local. Roçadas, aliadas ao controle físico, por meio da palhada, além do controle químico, se mostram como as melhores opções de manejo concomitante em cafeeiros. O controle químico se dá principalmente com os inibidores de ACCase, com preferência para o clethodim ou fluazifop, também pela utilização do glufosinato de amônio e clomazona ou inibidores da Protox, como o carfentrazone, flumioxazin ou saflufenacil. Buva (Conyza sp.)

A buva tem sido um dos grandes entraves no manejo de plantas daninhas na cafeicultura. Não somente por afetar o desenvolvimento da planta, mas também pelo seu difícil controle, visto que a quase totalidade dos biótipos apresenta resistência

12

ao herbicida glifosato. Por isso, recomenda–se a utilização de outros métodos de manejo. No caso do controle mecânico, tem-se como a melhor opção a realização de roçadas ou a utilização de trincha. Enquanto o cultural, que consiste na utilização de plantas de cobertura que agem suprimindo as de buva e impedindo que se tornem dominantes em determinada área, também se mostra eficiente. Neste sentindo, restos culturais de possíveis plantas intercalares ao café, como trigo e aveia-preta, apresentam efeito supressor sobre a população de C. bonariensis. Isso se deve à liberação de compostos alelopáticos e a efeitos físicos. Aliado aos métodos mecânico e cultural há o manejo químico, que possui grande eficiência no controle desta planta daninha. É utilizado para plantas em estádios iniciais de crescimento o controle pela associação dos herbicidas glifosato, bromacil e diuron ou também pela associação de 2,4-D e metsulfuron-metílico ao glifosato. Na planta adulta, a aplicação se torna mais complicada e menos eficiente, por meio da utilização dos herbicidas glufosinato de amônio, metsulfuron, carfentrazone, saflufenacil e paraquat. Aplicações sequenciais de glifosato ou 2,4- D, com o devido cuidado e

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

atenção à deriva, e uma segunda com um herbicida de contato, como o diquat ou amônio glufosinato, surgem como opção de controle. Contudo, a grande dificuldade em relação a essa aplicação sequencial reside no tempo de espera entre as aplicações. Estudos recentes apontam para o surgimento de uma “superplanta” de buva, ou seja, um biótipo com resistência múltipla, aos inibidores de Protox, FS I, FS II, mimetizadores de auxinas e EPSPs. Portanto, é necessária atenção redobrada para que esta planta não seja disseminada, devido ao risco para a alimentação mundial. A melhor estratégia de controle para estas plantas daninhas reside no manejo integrado, associando um ou mais métodos de controle, de maneira que a produção ocorra de forma economicamente viável e com maior sustentabilidade. Leiteiro (Euphorbia heterophyla) e picão-preto (Bidens pilosa)

Plantas como o leiteiro e o picão-preto também já possuem resistência comprovada aos inibidores da ALS. E como são muito frequentes em cultivos de café, demandam muito cuidado para que não ocasionem danos nos locais de cultivo, e para que seu controle seja efetuado de maneira eficiente. O controle químico por meio do herbicida glifosato se mostra eficaz, controlando com grande eficiência estas plantas daninhas, reduzindo assim a competição e suas consequentes perdas. A roçada também é uma alternativa em locais onde a utilização de herbicidas é restrita, além de possíveis efeitos alelopáticos de outras plantas, de forma que as daninhas tenham seu crescimento e desenvolvimento afetados. O controle químico deve ser realizado sempre que as daninhas estiverem em desenvolvimento inicial, quando possuem tecido mais tenro, com maior translocação e absorção da planta e consequentemente maior facilidade para o controle. Diante da grande problemática em torno de plantas daninhas resistentes


Fotos Ufra

Leiteiro e picão-preto resistentes a inibidores de ALS

a herbicidas nas áreas de cultivo, cabe muita atenção por parte dos cafeicultores para que esses problemas não sejam cada vez mais recorrentes. As estratégias de controle devem ser amparadas no manejo integrado de

plantas daninhas, associando diversos métodos de controle, aliados à rotação nos mecanismos de ação dos herbicidas e aplicações em condições corretas, tornando assim a atividade C mais sustentável.

Giovani Belutti Voltolini Joana Caroline D’arc de Oliveira João Pedro de Miranda Silvestre Larissa Cocato da Silva Ademilson de Oliveira Alecrim Ufla




Cana

Controle desafiador Praga importante na cultura da cana-de-açúcar, a cigarrinha-das-raízes Manaharva fimbriolata demanda bastante critério e atenção. A escolha adequada do inseticida e da modalidade de aplicação pode fazer a diferença no manejo integrado deste inseto

E

ntre as pragas predominantes que impactam em grau de dificuldade e custo no manejo integrado de cana-de-açúcar está a cigarrinha-das-raízes (Manaharva fimbriolata). As principais manifestações, como registros severos, ocorrem nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, reduzindo a produtividade e a qualidade da matéria-prima. Os problemas com a praga têm se intensificado tanto em áreas de expansão da cultura, em antigas pastagens, quanto em locais de reforma ou de segundo a quinto corte da cana, sendo seu impacto

16

maior ainda em cultivares precoces de cana-de-açúcar. A ocorrência não está somente associada ao histórico da área, à presença de palha ou não e ao cultivo de variedades mais sensíveis, mas, sim, a todo o sistema produtivo, desde práticas de manejo, clima e época do ano até inseticidas, doses aplicadas e, principalmente, tecnologia de aplicação. A colheita mecanizada aumenta a quantidade de palha que fica sobre o solo, preservando a umidade, favorecendo o crescimento populacional das cigarrinhas. Os machos de M. fimbriolata são de

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

cor avermelhada e as fêmeas possuem cores mais escuras, marrom-avermelhado e asas com faixas quase pretas (Williams et al, 1969). As fêmeas ovipositam na palhada e, principalmente, na subsuperfície do solo, na maior parte próximo ao colmo da planta. No período seco do ano, os ovos entram em diapausa, permanecendo assim até que as condições de umidade do solo sejam novamente favoráveis. Em condições de temperatura e umidade elevadas, as ninfas emergem dos ovos cerca de 15 dias a 20 dias após a postura, e dirigem-se às raízes, onde se alimentam na base do colmo sugando a seiva da planta durante 30 dias a 40 dias. Durante esse período, estão sempre envolvidas por uma espuma branca densa, bastante característica, cuja função principal é proteger as ninfas da dessecação. O ciclo total desse inseto dura de 65 dias a 80 dias, sendo comum a ocorrência de três gerações anuais em período chuvoso. Os danos à cana-de-açúcar são causados principalmente pelas formas jovens da cigarrinha-das-raízes, que extraem grande quantidade de água e nutrientes das raízes. Os adultos também provocam danos às plantas, pois, ao sugarem a seiva das folhas, injetam saliva nos estomas, local onde são armazenadas a água e as substâncias que se transformarão em nutrientes para a planta, durante a fotossíntese. A saliva liberada, tanto pelas ninfas como pelos adultos, é


Figura 1 - Biologia da cigarrinha-das-raízes e possíveis recomendações de manejo integrado com inseticidas como imidacloprid

Figura 2 - Eficácia de inseticidas quando aplicados com cortador de soqueira de cana, pingente ou via aérea no manejo de cigarrinha-das-raízes em cana. 2015-2016

rica em enzimas e aminoácidos e auxilia o inseto no processo de ingestão do alimento. No entanto, são tóxicas para a planta, causando necrose nos tecidos foliares e radiculares (Williams et al, 1969). Como consequência disso, os colmos se tornam finos e os entrenós encurtados. Já nos ataques mais severos a planta pode apresentar deficiência nutricional e desidratar-se inteira e secar (Dinardo-Miranda et al, 2003). As quebras de produtividade podem chegar a 60%, em culturas colhidas em final de safra. Em áreas colhidas em começo de safra, as perdas são menores, embora, muitas vezes as populações

encontradas nessas áreas sejam mais elevadas em relação às demais. Isso revela que a cultura colhida no início de safra suporta melhor o ataque da praga, provavelmente porque as plantas estão mais desenvolvidas, com vários entrenós. Além disso, a cultura passa por um curto período de estresse hídrico, entre o final da época de ocorrência da cigarrinha e a colheita. Os campos colhidos no final da safra sofrem maior dano, pois suas plantas estão pouco desenvolvidas e após o ataque do inseto, o longo período de estresse hídrico até a colheita não favorece a recuperação das plantas, fazendo com que os danos provocados pe-

Michel Fernandes

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

17


Michel Fernandes

Figura 3 - Eficiência no controle de número de ninfas de cigarrinhas-das-raízes por metro com diferentes inseticidas quando aplicados com cortador de soqueira em cana-de-açúcar, 2016. Fonte: Michel Fernandes, 2016

Cigarrinha-das-raízes em folha de cana-de-açúcar

2016, com o inseticida imidacloprid, aplicado via cortadores de soqueira e com pingentes, os resultados em eficiência superaram em aproximadamente 40% (número de ninfas por metro) quando comparados aos outros produtos testados na modalidade via corte de soqueira. O percentual ressalta a importância do ativo e a modalidade de aplicação para o bom manejo integrado da cigarrinha-das-raízes. Os resultados corroboram com Dinardo-Miranda et al, 2009, que concluíram que os inseticidas imidacloprid e tiametoxam apresentaram maior eficiência no controle da cigarrinha, quando aplicados em infestações iniciais C mais baixas. Roberto Estêvão Bragion de Toledo, Ourofino Agrociência Michel Fernandes, Usina Cerradão Ana Paula da Silva Martins Bonilha e Marco Antonio Drebes da Cunha, Ourofino Agrociência

Ana Paula Bonilha

domínio das primeiras gerações da praga com o objetivo de reduzir os danos nos canaviais. Na região do Triângulo Mineiro, mais especificamente nas áreas próximas ou ao redor de Frutal, Minas Gerais, a cigarrinha-das-raízes é um grande desafio para a produção de cana-de-açúcar, ainda mais quando associada a doenças como podridão-vermelha e ferrugem-alaranjada, que elevam significativamente o custo de produção. Estudos realizados por Michel Fernandes, da Usina Cerradão, revelam que o controle de cigarrinha na região de Frutal, Minas Gerais, se mostrou insatisfatório, provavelmente pela associação inadequada do sistema de manejo da praga aos inseticidas e doses, bem como pela baixa qualidade de aplicação. Nas pesquisas, diferentes inseticidas foram aplicados com pulverizadores tratorizados e com aplicação via aérea, simulando a realidade dos diferentes sistemas de manejo. Em uma nova análise, realizada em

Helvio Campoy Costa Junior

las cigarrinhas sejam acentuados nestas condições (Dinardo-Miranda et al, 2001). Visto que o ataque da cigarrinha resulta em colmos menores, mais finos e secos, chegando muitas vezes à morte, ocorrem também alterações na qualidade da cana-de-açúcar, geralmente com redução nos valores de pol e aumento nos de fibra, como visto em Dinardo-Miranda et al, 2000. Para ser bem-sucedido o manejo de áreas com problemas de cigarrinhas deve englobar todas as ferramentas disponíveis, pois, para cada situação de cultivo, uma delas se mostra mais adequada. O controle químico é uma ferramenta bastante valiosa no programa de manejo da cigarrinha, especialmente em canaviais colhidos a partir de agosto (meio para final de safra), que sofrem maiores danos devido ao ataque da praga, e naqueles severamente infestados (Dinardo-Miranda et al, 2000). Para reduzir os níveis de infestação presentes nas áreas é fundamental o

Primeira ninfa com a presença de espuma branca densa característica

18

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

Raízes de cana-de-açúcar infestadas pelo ataque da cigarrinha



Soja Arquivo Embrapa

Estratégia preferencial

Menor impacto ambiental e baixo custo estão entre as vantagens do tratamento de sementes com inseticidas para o manejo de pragas iniciais e de solo na cultura da soja. Mas para que sua adoção produza bons resultados é importante entender a dinâmica de cada grupo de insetos e como esta ferramenta pode ser integrada a outras estratégias de monitoramento e controle

O

s cuidados com o manejo de pragas em soja começam desde a semeadura da cultura. O tratamento de sementes com inseticidas é uma estratégia que tem se consolidado entre os produtores de soja brasileiros. No Paraná, a utilização do tratamento de sementes com inseticidas,

20

nas últimas quatro safras, tem oscilado entre 75% e 82% das lavouras, conforme levantamento da Emater/Paraná. Possivelmente um dos fatores para a elevada taxa de utilização de inseticidas em semente de soja seja a maior oferta de tratamento de sementes industrial, que proporciona ao agricultor um tra-

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

tamento de melhor qualidade e uniformidade, com melhores resultados de controle, além da praticidade e de menor risco de contaminação humana. No entanto, o agricultor precisa considerar que para a escolha do inseticida mais adequado, um engenheiro agrônomo deverá ser consultado. Este profissional


irá considerar as particularidades de cada lavoura, as espécies de pragas detectadas nas amostragens e as condições do solo, clima, histórico de uso da área e da ocorrência de pragas. A soja é uma cultura que apresenta boa flexibilidade em relação à população de plantas, ou seja, é capaz de compensar a perda de algumas plantas pelo ataque de pragas, sem redução da produtividade da lavoura. No entanto, essa capacidade de compensação é reduzida quando a lavoura é estabelecida com baixa densidade inicial de plantas e com sementes de baixa qualidade e vigor, bem como quando as condições ambientais forem desfavoráveis, como na falta ou com o excesso de chuvas, ocorrência de baixas temperaturas, solo ácido e com deficiência nutricional. Nessas condições, o tratamento de sementes apresenta maior contribuição para garantir a população adequada de plantas na lavoura. Devido ao seu menor impacto ambiental, o tratamento de sementes deve ser a estratégia preferencial para o manejo de pragas iniciais e de solo em relação à pulverização de inseticidas em área total. Porém, em alguns casos o tratamento de sementes como única tática de controle pode não proporcionar proteção suficiente da lavoura na fase inicial de seu estabelecimento. É importante entender um pouco sobre cada grupo de praga e como o tratamento de sementes com inseticidas pode ser integrado a outras estratégias de monitoramento e controle das pragas.

mento de sementes e pulverização de inseticidas direcionados à base das plantas. A lagarta-elasmo pode estar presente na lavoura desde antes da semeadura, porém é difícil de ser detectada. Para a tomada de decisão sobre a necessidade de controle, por meio do tratamento de sementes, é importante levar em conta o histórico de ataque e a ocorrência de fatores ambientais favoráveis.

CORÓS

A lagarta-elasmo consiste em uma pequena lagarta que broqueia o interior da haste, a partir da sua base, ao nível do solo, causando murcha, tombamento e morte da planta. Junto ao orifício de entrada na haste da planta, a lagarta produz um casulo de seda revestido externamente por partículas de solo. Comumente seu ataque está associado a solos pouco argilosos e períodos secos, pois a manutenção de umidade constante no solo prejudica a sua sobrevivência na fase inicial de desenvolvimento. O controle pode ser realizado combinando-se diferentes estratégias: uso de soja Bt, evitar o revolvimento do solo e a queima da palha, trata-

Corós vivem no solo e podem atacar as raízes de plantas de soja, reduzindo a produtividade da lavoura. Existe uma grande diversidade de corós que vivem no solo. Muitos são benéficos, sendo que apenas 1% das espécies pode atacar as plantas, por isso é importante a sua correta identificação. Os corós-praga provocam sintomas como plantas de porte reduzido, amareladas, que murcham nos horários mais quentes do dia. Em ataques intensos podem ocorrer reboleiras de plantas mortas e com crescimento irregular. A primeira medida para o manejo de corós é a amostragem realizada antes da semeadura, escavando-se o solo até 30cm de profundidade para constatação da presença e identificação dos insetos. Se a praga for constatada em nível crítico, medidas de escape e aumento da tolerância das plantas, e de controle populacional da praga devem ser adotadas. São medidas de escape e aumento da tolerância das plantas: escolha de cultivares regionalmente adaptadas; uso de inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio; correção da compactação, acidez e fertilidade do solo. As áreas infestadas com corós pequenos devem ser semeadas primeiro, permitindo um rápido estabelecimento das plantas, o que aumenta a sua tolerância ao ataque da praga, devido ao fato de a soja ser mais sensível ao ataque de corós no primeiro mês após a emergência. No Paraná, o coró-da-soja é encontrado no solo na forma ativa, de novembro a abril. Assim, a soja semeada precocemente no final de setembro e início de outubro tende a sofrer menos com o ataque da praga. Porém, no Mato Grosso do Sul o ciclo desse coró tende a ser antecipado em relação ao que ocorre no Paraná. E no Rio Grande do Sul, outra espécie, o coró-das-

O tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus) é uma praga que apresenta ataque localizado e importância regional

Danos provocados pelo ataque da lagarta-elasmo

Lúcia Vivan

Juliano Farias Phytus Club

LAGARTA-ELASMO

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

21


Arquivo Embrapa

O tratamento de sementes com inseticidas é uma estratégia que tem se consolidado entre os produtores de soja brasileiros

-pastagens, tem maior potencial de danos de maio a setembro, coincidindo com o cultivo de cereais de inverno e milho “do cedo”. Além disso, medidas de controle populacional devem ser adotadas, como fazer a rotação de culturas com plantas não hospedeiras como Crotalaria spectabilis; evitar cultivos de safrinha em áreas muito atacadas, deixar a área em pousio pode ser uma medida necessária e também o uso de inseticidas no sulco ou em tratamento de sementes na cultura que está sendo instalada em uma área infestada.

PERCEVEJOCASTANHO-DA-RAIZ

O percevejo-castanho-da-raiz vive no solo e suga a seiva das raízes, enfraquecendo a planta. Em altas infestações podem ocorrer reboleiras de plantas amareladas e pequenas, e morte de plantas. O ataque desta praga tem poder para causar perdas de produtividade de 20% a 80%. Perdas significativas têm sido observadas a partir de densidades de 25 percevejos/metro de fileira a 40 percevejos/metro de fileira. Este percevejo é uma praga de difícil controle. Os melhores produtos controlam apenas 30% a 50% da população, e não há evidências de ganhos de rendimento com sua utilização. Também não têm sido eficientes estratégias como o revolvimento do solo, o uso de nitrogênio e enxofre. No entanto, medidas que favoreçam o bom crescimento das raízes, como um solo descompactado, corrigido, com níveis de fertilidade adequados, cultivar de soja e época de semeadura adequadas, e condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das plantas, contribuem

22

para aumentar a tolerância da soja ao ataque da praga. Alguns sistemas de rotação de culturas e uso de pousio podem contribuir para a redução da densidade populacional da praga. Estudos mostram que soja cultivada após capim-xaraés apresenta menor ataque do inseto em relação à utilização de Brachiaria ruziziensis e capim-marandu.

LAGARTAS

Comumente a lagarta-rosca é referida com a espécie Agrotis ipsilon, porém existem diversas espécies de lagartas que podem adotar o mesmo hábito da lagarta-rosca, com espécies dos gêneros Spodoptera (lagarta-do-cartucho do milho, lagartas das vagens da soja), Pseudaletia (lagarta-da-aveia), Mocis (lagarta-dos-capinzais), Chloridea e Helicoverpa (Heliothinae). Tais lagartas desenvolvem-se em plantas cultivadas ou plantas daninhas e podem estar presentes na lavoura no momento da semeadura da soja, já na forma de lagartas grandes, comumente abrigadas em plantas hospedeiras ou sob a palhada. Seu ataque consiste no corte das plântulas de soja próximo do nível do solo, causando tombamento. Algumas espécies de lagartas também podem atacar os cotilédones. Para o correto manejo destas lagartas o agricultor deve monitorar a lavoura, realizando vistoria das plantas e de restos culturais cerca de 30 dias antes da semeadura da soja, realizando amostragem em diferentes pontos espalhados ao longo de toda a

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

lavoura. Se for constatada infestação com lagartas, é indicada, sempre que possível, a dessecação na área com antecedência de três a quatro semanas em relação à semeadura da soja. Assim, sem alimento, a maior parte das lagartas morre ou migra para outras áreas. Comumente esse procedimento é suficiente para a redução significativa da densidade de lagartas presentes na lavoura. O tratamento de sementes com inseticidas químicos específicos pode oferecer alguma contribuição para o manejo de lagartas residentes, porém não tem garantido total proteção da lavoura no caso de alta infestação com lagartas grandes.

TAMANDUÁ-DA-SOJA

O tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus) é uma praga que apresenta ataque localizado e importância regional. O adulto é um besouro (bicudo) de coloração escura e com riscas amareladas, que ataca a haste onde deposita seus ovos, enquanto que a sua larva se desenvolve no interior da haste formando uma galha, que com o tempo pode provocar quebra da planta. Após o estádio V6 da soja, a planta se torna mais tolerante e o ataque se restringe ao corte de pecíolos e brotos apicais. Como os adultos emergem do solo comumente em novembro-dezembro, semear a soja precocemente contribui para aumentar a tolerância das plantas ao ataque da praga, reduzindo o risco de perdas de rendimento. Em área altamente infestada, a rotação de culturas com milho, girassol, milheto e crotalária, cultivadas no verão, é uma técnica muito eficiente para o seu controle. Sendo necessário, o controle químico pode ser realizado por meio do tratamento de sementes ou pulverização foliar. O histórico de ocorrência da praga na área é um dos critérios para definir sobre a necessidade de se realizar tratamento de sementes. A pulverização foliar é necessária quando o nível populacional atingir um adulto por metro linear, até o estádio V3 e dois adultos por metro linear entre C os estádios V4 e V6. Samuel Roggia, Embrapa Soja



Plantas daninhas

Efeitos da temperatura

Joanei Cechin

Controlar adequadamente as plantas daninhas é um grande desafio para técnicos e agricultores que buscam otimizar o manejo e evitar prejuízos. Em diversas áreas, a ocorrência de falhas no controle quase sempre levanta a suspeita de resistência. Mas alguns detalhes simples como estádio das plantas para aplicação e efeitos da temperatura não podem ser desprezados, pois podem reduzir a eficácia dos herbicidas e causar maior injúria em determinadas culturas

24

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

A

presença de plantas daninhas em diversas áreas de cultivo, aliada à elevada capacidade de dano que podem causar sobre uma cultura, deve ser vista com grande atenção. Diversos estudos reportam que as perdas na produtividade podem chegar a 100% dependendo da densidade populacional e da espécie infestante. Além disso, os efeitos da interferência das plantas daninhas podem ser considerados irreversíveis ao desenvolvimento, causando redução da produtividade mesmo após sua retirada. O bom manejo de plantas daninhas na dessecação e nos estádios iniciais de desenvolvimento das culturas é essencial para garantir elevadas produtividades. Outra janela importante para o manejo de plantas daninhas ocorre durante a entressafra de verão-inverno, onde a assistência técnica, juntamente com os produtores, deve olhar com atenção as principais plantas infestantes, a fim de evitar a proliferação e a dispersão, para


Figura 1 - Interação planta-herbicida (A) e barreiras do tecido foliar que afetam a absorção e translocação (B). Adaptado de Taiz e Zeiger (2013)

manter a área limpa nos cultivos subsequentes. Na regiãodo Sul do Brasil, o período de entressafra de verão-inverno para manejo outonal de plantas daninhas é caracterizado por diversas mudanças ambientais, como a redução da radiação solar incidente (menos horas de luz durante o dia) e maiores amplitudes térmicas diárias, especialmente durante os meses de abril a agosto, em que é frequente a ocorrência de dias nublados e com temperaturas inferiores a 10°C ou até mesmo a ocorrência de geadas. Os efeitos da temperatura sobre a eficácia dos herbicidas dependem da molécula herbicida e da espécie, porém, tendem a afetar a absorção, translocação e degradação metabólica dos herbicidas. Em baixas temperaturas (inferiores a 15°C) e baixa radiação solar, o aparato fotossintético é menos estimulado a realizar os processos da fotossíntese, acarretando redução do fluxo transpiratório (estômatos fechados por mais tempo) e da fotossíntese (menor produção de carboidratos), além de afetar os demais processos fisiológicos. A baixa temperatura acarreta menor translocação de água e solutos, o que afeta diretamente na absorção e translocação dos herbicidas. Resultados reportam que a eficácia do herbicida clethodim para controle de azevém é maior para pulverizações realizadas em temperaturas superiores a 20°C. Outro fator importante que deve ser observado refere-se às modificações na

Figura 2 - Sequência de etapas para ação dos herbicidas em plantas. Adaptado de Dèyle et al., (2013)

composição e espessura da cutícula em decorrência de baixas temperaturas. Sob estas condições, a composição de lipídeos que formam a cutícula é alterada, afetando sua fluidez e, consequentemente, a porcentagem de herbicida interceptada que será absorvida pela superfície foliar (Figura 1). Com base nas informações de literatura, baixas temperaturas afetam: - a difusão através da cutícula e da membrana celular; - a espessura, a composição química e a viscosidade da cutícula; - a abertura estomática (diminui), podendo afetar a absorção; - a taxa de metabolismo, principalmente com açúcares e aminoácidos, devido à redução da fotossíntese. As interações e barreiras que afetam o herbicida após sua pulverização até atingir o local alvo de ação dependem da temperatura devido ao seu envolvimento em diversos processos, podendo resultar em menor controle e causar aumento de fitotoxicidade à cultura (Figura 2). Cabe ressaltar, ainda, que a aplicação de herbicidas sob condições inadequadas contribui para a ocorrência de falhas de controle mesmo em populações suscetíveis e, especialmente, quando os herbicidas são aplicados em faixas de temperatura não favoráveis e em plantas com estádio de desenvolvimento avançado. Além disso, a eficácia e a seletividade de determinados herbicidas podem variar em função das características físico-químicas de cada molécula e tendem a ser ótimas para uma determinada faixa de temperatura. Na literatura são reportados que a faixa ideal para pulverização da maioria das moléculas herbicidas varia de 20°C a 30°C devido ao favorecimento da absorção e da sua fluidez nas membranas. Ao comparar a faixa de temperatura ideal e a taxa de fotossíntese, nota-se que os valores estão em escala muito www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

25


Figura 3 - Eficiência dos herbicidas glifosato e saflufenacil em Conyza sp. (buva) sensível (S) e resistente (R) ao glifosato (A) e eficácia dos herbicidas glufosinato, mesotrione e gramoxone para controle de gramíneas (B) em diferentes temperaturas. Adaptado de Dennis et al., (2016) e Godar et al., (2015)

próxima, visto que a atividade da enzima Rubisco (Ribulose 1,5 bifosfatocarboxilaseoxigenase), responsável pela fixação de carbono na planta, é ótima para temperaturas na faixa de 20°C a 32°C, favorecendo, dessa forma, absorção, translocação e metabolismo na planta. A redução na taxa de crescimento e a menor fluidez da membrana podem dificultar a absorção e translocação, resultando em controle mais lento e reduzido de plantas daninhas. Para os herbicidas inibidores da enzima 5-enolpiruvilchiquimato-3-fosfato sintase (EPSPs) como o glifosato, a absorção e a translocação da molécula em gramíneas podem ser duas vezes maior em aplicações realizadas com temperaturas próximas a 28°C quando comparadas às pulverizações a 17°C, indicando elevado potencial em causar injúria. Para buva resistente ao glifosato, o controle sob baixas temperaturas (8°C - 10°C) é maior comparado à aplicação realizada em temperatura superior a 20°C- 30°C, podendo reverter a resistência ao herbicida desde que observados o estádio da planta e a dose. As

razões para maior suscetibilidade são a menor compartimentalização do herbicida no vacúolo em resposta ao frio e a maior oferta do herbicida em permanecer no citosol e causar a morte da planta. Para herbicidas inibidores da protoporfirinogênio oxidase (PPO), a eficácia no controle também é favorecida com o aumento de temperatura. O resultado no controle de Ipomea sp. (corda-de-viola ou corriola) e Amaranthus retroflexus (caruru-gigante) foi duas vezes maior para aplicações realizadas com temperaturas próximas a 26°C comparadas com pulverizações a 18°C. De maneira similar, ocorre com os herbicidas inibidores da acetolactatosintase (ALS), onde o controle de Lolium perene (azevém) com o herbicida flucarbazone-sódico foi menor para temperaturas entre 10°C e 20°C comparados aos efeitos observados na temperatura de 30°C. Em outro exemplo, avaliando o efeito da interação entre herbicida e temperatura foi evidenciado que o uso

de flumetsulam e metsulam no controle de Raphanus raphanistrum (nabo) foi maior sob temperaturas mais elevadas. Em contraste, melhores níveis de controle para Lolium rigidum (azevém) foram encontrados para pulverizações de glufosinato de amônio, um inibidor da glutamina sintetase (GS), realizadas em temperaturas mais baixas onde o efeito de temperatura é menos importante devido à menor translocação da molécula na planta. Já para herbicidas inibidores do fotossistema II e I (FSII e FSI) como o bentazon e o paraquat, pode ocorrer menor controle de plantas daninhas sem que haja aumento da injúria em culturas sob temperaturas mais baixas. Para o herbicida 2,4-D, a morte das plantas para pulverizações realizadas em temperaturas mais baixas pode ser similar, onde o aparecimento dos sintomas ocorre de forma mais lenta quando comparado às aplicações em temperaturas um pouco mais elevadas. Todavia, cuidados devem ser tomados para aplicações em temperaturas superiores a 25°C, onde o uso dos herbicidas 2,4-D e dicamba tende a apresentar maior potencial de volatilização, reduzir o controle de plantas daninhas e aumentar o risco de injúria em áreas adjacentes. A redução na absorção e translocação sob temperaturas amenas pode atrasar o aparecimento e aumentar o tempo de duração dos sintomas de fitotoxicidade. Na cultura do trigo, a aplicação de clodinafop-propargil em temperaturas abaixo de 5°C causou elevada injúria com sintomas visíveis por mais de quatro semanas, ocasionando redução na produtividade.

Figura 4 - Metabolismo do herbicida glufosinato de amônio (formação de metabólito acetil-glufosinato) e sintomas de fitotoxicidade em soja Liberty Link em diferentes temperaturas (Pline et al., 1999)

26

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br



Figura 5 - Atividade microbiana e persistência de herbicidas de solo aplicados sob condição normal e baixa temperatura. Adaptado de Gavrilescu (2005)

Baixas temperaturas podem influenciar negativamente na degradação de herbicidas pelo metabolismo que, sob esta condição, tende a ser menor e causar maior fitotoxicidade. Essa situação foi evidenciada na cultura do trigo submetida à aplicação de sulfosufuron em pós-emergência, onde houve maior fitotoxicidade para temperaturas inferiores a 20°C. De maneira similar, a aplicação de diclofop-metil em cultivares de cevada sob temperaturas inferiores a 15°C ocasionou maior fitotoxicidade quando comparada a pulverizações realizadas a 25°C, devido à redução nas taxas de hidrólise da molécula e sua conjugação com açúcares. Em milho, o efeito da temperatura na detoxificação foi observado para o herbicida rimsulfurom, que foi altamente seletivo para a cultura em temperaturas de 25°C - 30°C e reduzida a 10°C. Resultados similares foram encontrados para o herbicida iodosulfuron-metil aplicado em aveia na dose de 20g ia./ha, onde a tolerância foi maior e diretamente proporcional ao aumento de temperatura. Para herbicidas aplicados na pré-emergência, a temperatura é um fator que contribui de forma significativa para dois possíveis efeitos: 1) aumento na persistência da molécula no solo devido à menor atividade microbiana e; 2) maior controle de plantas pelo menor metabolismo na fase de plântula. A velocidade das reações bioquímicas e enzimáticas de micro-organismos envolvidas na degradação de herbicida ocorre em uma faixa ideal de temperatura que varia de 25°C a 35°C, onde a clivagem (quebra) das ligações de carbono tende a ser maior (Figura 5). Resultados reportam que o tempo de meia-vida (t1/2) do herbicida mesosulfurom-metil foi superior a 110 dias e considerado três vezes maior quando comparado com as aplicações realizadas em temperaturas próximas a 10°C. Outros resultados evidenciaram ainda que, para os herbicidas atrazina e s-metalachlor, a meia-vida foi reduzida em mais de 50%, quando a aplicação foi realizada para temperaturas superiores a 25°C. Situação similar foi constatada em plantas submetidas ao herbicida metribuzin, onde a fitotoxicidade aos sete dias após a aplicação foi menor na 28

temperatura de 16°C comparada a 30°C. Todavia, não houve redução na injúria e a persistência foi maior na temperatura menor devido à redução no metabolismo microbiano. Outra característica importante que deve ser considerada é a temperatura da água para aplicação de herbicidas. Trabalhos de pesquisa têm demonstrado que a eficácia de diversos herbicidas no controle de plantas daninhas é prejudicada quando se utiliza água em temperaturas baixas. Por exemplo, o controle de buva, caruru e corda-de-viola com os herbicidas glufosinato de amônia, mesotrione, glifosato e 2,4-D colina foi menor quando a temperatura da água foi de 5°C comparado à temperatura de 22°C. Resultados similares foram encontrados para os herbicidas diquat e para a pré-mistura de glifosato com dicamba, onde o controle foi 10% menor, dependendo da espécie. A principal razão para o menor desempenho dos herbicidas está relacionada à menor dissolução em tanque, visto que a solubilidade em água dos herbicidas pós-emergentes é maior para temperaturas próximas a 25°C. Além disso, a temperatura exerce efeitos sobre a germinação de sementes, emergência e crescimento de plântulas, com maior suscetibilidade de plantas em condições de baixa temperatura devido à limitação de metabolismo. Este efeito foi evidenciado para sulfosulfurom, herbicida usado em pré-emergência do trigo, que apresentou aumento da eficácia em baixas temperaturas. Após revisão de literatura, alguns pontos podem ser mencionados quanto ao controle de plantas daninhas e ao potencial de herbicidas em causar fitotoxicidade em função da aplicação em baixa temperatura:

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

• Herbicidas pré-emergentes: aumento na eficácia de controle e no potencial de injúrias em culturas. Outro efeito esperado é o aumento da persistência no solo devido à redução da atividade biológica em baixa temperatura. • Herbicidas pós-emergentes de contato: redução no controle de plantas daninhas pouco significativa, visto que sua absorção é limitada, e efeito na fitotoxicidade em culturas similares às aplicações realizadas na faixa ideal. • Herbicidas pós-emergentes sistêmicos: redução na eficácia de controle de plantas daninhas devido à menor absorção e translocação até os pontos de crescimento. Em culturas, há uma tendência de ocorrer maior fitotoxicidade devido à redução da capacidade de metabolização de moléculas. É importante ressaltar, ainda, que os efeitos da temperatura no controle de plantas daninhas ficam menos evidentes quando ocorre o aumento da dose, porque a quantidade de herbicida que chega ao local de ação pode ser grande o suficiente para causar dano. Este comportamento foi verificado para aplicações de glufosinato de amônio e glifosato, onde doses altas causam elevado controle de plantas suscetíveis independentemente da aplicação ser realizada em baixa ou alta temperatura. Dessa forma, recomenda-se observar as condições de temperatura e radiação solar adversas nessa época do ano para potencializar a performance da molécula herbicida sobre as plantas daninhas e minimiC zar seus efeitos em culturas. Joanei Cechin Maicon Fernando Schmitz Cristiano Piasecki Jonas Rodrigo Henckes Dirceu Agostinetto Leandro Vargas Embrapa Trigo


Informe

Grãos protegidos

Fotos Nidera

Como a escolha correta de híbridos de milho, associada a outras estratégias de manejo, pode auxiliar na prevenção de prejuízos ocasionados pela podridão da espiga

A

agricultura é feita de desafios. Do plantio à colheita, as lavouras em geral estão sujeitas a intempéries, tanto de origem biótica como abiótica. Períodos de veranico, ventos fortes, geada, granizo e temperaturas muito elevadas são alguns exemplos de estresses abióticos sofridos pelas plantas cultivadas. Por outro lado, os estresses bióticos apresentam ampla gama de possibilidades, abrangendo desde danos causados por nematoides, insetos e fungos até aves e animais de pequeno e médio portes. Na cultura do milho, especificamente, é necessário permanecer atento a uma questão muito importante que impacta diretamente nos grãos: a podridão da espiga. Tendo como agentes causais alguns tipos específicos de fungos, esta doença é responsável pela elevação da incidência de grãos avariados por conta da ação direta destes organismos nos grãos de milho, provocando sua podridão. Este tipo de dano é comumente conhecido como “grãos ardidos” e pode causar perdas tanto quantitativas como qualitativas. As perdas quantitativas estão associadas aos descontos empregados nos armazéns por ocasião da entrega dos grãos. Estes descontos são praticados em cargas de grãos de milho com incidência acima de 5% a 6% de grãos ardidos, dependendo do local de entrega. Já as perdas qualitativas estão relacionadas à produção de toxinas (micotoxinas) por alguns tipos específicos de fungos, causando sérios prejuízos na alimentação animal, especialmente suínos. Segundo a literatura, existem algumas características em híbridos de milho que contribuem para a redução da incidência de grãos ardidos, como o bom empalhamento das espigas, rápida perda de umidade dos grãos (“drydown”), espigas decumbentes

e tolerância genética a fungos causadores de podridão de espigas Dentre os híbridos de milho existentes no mercado que apresentam estas características, é possível destacar, por exemplo, o NS50 da Nidera Sementes, que se encontra disponível nas versões PRO, PRO2 e RR2. Este produto se destaca em ambientes favoráveis à ocorrência de grãos ardidos, mostrando-se altamente tolerante a este problema. Este híbrido representa a perfeita associação entre qualidade e rendimento, uma vez que, além de apresentar o diferencial com relação à qualidade de grãos, tem comprovado seu excelente teto produtivo por meio das entregas realizadas no campo, safra após safra, colocando em evidência outro ponto forte deste produto: a estabilidade, cujo principal beC nefício é proporcionar segurança ao produtor.

Principais estratégias de manejo para enfrentar a podridão de espigas • Rotação de culturas • Uso de sementes com boa qualidade sanitária • Tratamento de sementes com fungicidas • Aplicação de fungicidas de forma preventiva em prépendoamento • Escolha de híbridos com histórico de baixa incidência de grãos ardidos Fonte: Desenvolvimento de Produtos Nidera Sementes

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

29




Capa

Estria bacteriana CPA Copacol

Causada pela bactéria Xanthomonas vasicola pv. vasculorum, nova doença foliar teve suspeitas de 2016 confirmadas na safra de 2018 com explosão de casos em lavouras de milho do Paraná. Com sintomas semelhantes aos provocados por outras enfermidades que afetam a cultura, o primeiro passo para a adoção do manejo adequado consiste na sua correta identificação

32

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

A

estria bacteriana do milho causada pela bactéria Xanthomonas vasicola pv. vasculorum é uma doença foliar de ocorrência recente no Brasil, mas já tem despertado preocupações para produtores e técnicos envolvidos com a cultura. A enfermidade foi reportada pela primeira vez em milho, na África do Sul, em 1949. Em 2016 foi constatada na região do Meio-Oeste dos Estados Unidos e em 2017 na Argentina. Recentemente, a doença foi detectada no estado do Paraná, Brasil. As primeiras suspeitas da doença foram observadas no ano de 2016, com rápido aumento do problema na safra de 2018. Até o momento já foi constatada a presença da doença em 15 municípios das regiões Oeste, Centro-Oeste e Norte do Paraná, apresentando diferentes níveis de severidade. Inicialmente, a doença se apresenta na forma de pequenas pontuações (2mm-3mm) nas folhas. Quando observadas com pouca luminosidade fica evidente o sintoma de anasarca, lesão encharcada (Figura 1A), característica de doenças bacterianas. Ao serem exposta à luminosidade, as lesões apresentam intensa clorose (Figura 1B). Com o desenvolvimento, as lesões crescem de forma estreita nos tecidos foliares entre as nervuras, sendo circundadas por halo de coloração amarelo intenso (Figura 1C). As lesões se estendem ao longo do tecido foliar e são normalmente delimitadas pelas nervuras principais e podem ser de coloração marrom ou amarelo alaranjado. Em híbridos de milho altamente suscetíveis, as lesões da estria bacteriana têm poder para destruir grande parte da área foliar (Figura 1D). Em casos mais severos, as lesões conseguem tomar toda a área foliar e coalescer, formando uma grande


Fotos CPA Copacol

Figura 1 - Lesões iniciais de estria bacteriana no formato de pequenas pontuações em tecido foliar de milho sob duas perspectivas de luminosidade (A e B). As lesões se desenvolvem de forma alongada e estreita no tecido foliar (C)

área necrótica (Figura 1D). Além disso, as lesões de estria bacteriana podem se desenvolver também nas brácteas das espigas da planta de milho. Os sintomas de estria bacteriana podem ser observados mesmo em plantas jovens, no estádio V7. Nas lavouras, a doença pode se apresentar distribuída em reboleiras (Figura 2A), indicando a origem da fonte do inóculo primário. Nas plantas, pode ocorrer distribuição descendente dos sintomas, com maior severidade nas folhas superiores (Figura 2B), assemelhando-se a estresses abióticos, por exemplo o causado por geada. A correta identificação da doença é importante. Um diagnóstico errôneo pode levar à aplicação de produtos químicos inefetivos,

gerando aumento dos custos de produção sem correspondente retorno econômico. As bordas das lesões da estria bacteriana são irregulares, geralmente onduladas, sendo essa uma característica importante para diferenciar dos sintomas da doença fúngica cercosporiose causada por Cercospora spp. que apresenta lesões com bordas lineares (Figura 3). Nos estágios mais avançados da estria bacteriana, as lesões podem ser confundidas com as de helmintosporiose comum (Helminsthosporium turcicum). A estria bacteriana tem como característica a presença de halo amarelado, porém dependendo da reação do híbrido de milho, o halo pode ser castanho. Para

Figura 2 - Distribuição em reboleira da doença em lavoura de milho (A) e plantas de híbrido altamente suscetível severamente afetadas (B)

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

33


alguns híbridos, as lesões de helmitosporiose também podem apresentar halo amarelado, não sendo, portanto, essa a melhor característica para diferenciar as duas doenças. Por outro lado, a distribuição dos sintomas da doença na planta de milho pode ser utilizada para diferenciar a helmintosporiose da estria bacteriana. Os primeiros sintomas da helmintosporiose comum ocorrem normalmente nas folhas inferiores. Assim, se os sintomas ocorrerem primeiro nas folhas superiores existe grande probabilidade da doença ser a estria bacteriana. Outro aspecto importante para a diferenciação das duas doenças é o formato das lesões. As lesões de helmintosporiose normalmente são elípticas (Figura 4A), enquanto as da estria bacteriana são mais alongadas e onduladas no sentido das nervuras (Figura 4B). Outra característica para a diferenciação é a presença de um ponto de infecção no local de penetração do fungo na lesão de helmintosporiose (Figura 4C). Isto já não ocorre nas lesões de estria bacteriana. É importante salientar que a interação entre o patógeno e o hospedeiro pode resultar em sintomatologias distintas. Alguns híbridos de milho apresentam elevadas quantidades de lesões pequenas, enquanto outros mostram lesões grandes, que cobrem grande parte da área foliar. Ainda pode ocorrer variações na coloração das lesões, que vão do castanho ao amarelo, e do halo, que pode ser clorótico intenso ou castanho-escuro

Figura 3 - Diferenciação de lesões da estria bacteriana das lesões de cercosporiose, setas azuis representam a estria bacteriana e seta vermelha a cercosporiose

(Figura 5). Para identificação da estria bacteriana pode também ser realizado o teste de exsudação, um procedimento simples com o objetivo de diferenciar lesões desta doença bacteriana daquelas de origem fúngica. Basta cortar um pequeno pedaço da folha de milho contendo lesões suspeitas e submergi-los em água. Caso ocorra exsudação, há maior segurança de que a lesão em questão está associada a um patógeno de origem bacteriana.

Entretanto, é importante realizar o teste de exsudação com várias amostras, preferencialmente utilizando lesões com halo clorótico. Muitas vezes, a exsudação bacteriana ocorre rapidamente (15 minutos- 20 minutos), porém em alguns casos pode demorar um pouco mais. Assim, é importante acompanhar o teste por um período mais longo, quando necessário, para evitar falso negativo. As informações sobre a estria bacteriana do milho são relativamente limitadas devido à doença ocorrer em poucas regiões produtoras de milho e somente em anos recentes se apresentar de forma epidêmica. Entretanto, a bactéria pode sobreviver em restos de cultura infectados e possivelmente também em ervas daninhas. Embora ainda não haja estudos detalhados da importância da transmissão por sementes, existem evidências de que pode ser essa uma via de disseminação. Por outro lado, exsudados bacterianos na superfície de folhas infectadas (Figura 6) podem servir como inóculo secundário para o desenvolvimento da doença durante o ciclo da cultura. A bactéria tem poder de se disseminar pelo vento, a água de chuva e possivelmente por água de irrigação. Penetra nos tecidos das folhas de milho através de aberturas naturais, como os estômatos, e também por ferimentos. Com base na sintomatologia da doença, a colonização do tecido foliar é normalmente limitada pelas nervuras principais. Em híbridos de milho de alta suscetibilidade à estria bacteriana foi observada, na safra 2018, a ocorrência da “morte do topo da planta” (Figura 7A). Com a abertura dos colmos foi possível evidenciar a obstrução dos vasos xilemá-

Figura 4 - Diferenciação das lesões de estria bacteriana (A) e de helminstosporiose comum (B). Ponto de infecção do fungo Helminsthosporium turcicum (C)

34

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br


Fotos CPA Copacol

Figura 5 - Desenvolvimento das lesões de estria bacteriana em folhas de milho

ticos (Figura 7B). Efetuando o teste da corrida bacteriana nestes colmos foi possível observar a presença de exsudação (Figura 7C), o que sugere a invasão sistêmica pela bactéria em híbridos altamente suscetíveis. Danos econômicos causados pela estria bacteriana ainda não foram determinados. Em regiões dos Estados Unidos onde a doença alcançou proporções epidêmicas, os níveis de severidade superaram 50% em híbridos de milho altamente suscetíveis. Em ensaios conduzidos no Centro de Pesquisa Agrícola (CPA) da Copacol, em Cafelândia, Paraná, híbridos com elevada sensibilidade à doença apresentaram níveis de severidade foliar no estádio R4 superiores a 70%, o que teoricamente poderia reduzir a produtividade em mais de 50%. Existem poucas informações sobre medidas de prevenção e decontrole da estria bacteriana do milho. Assim, as recomendações sugeridas são baseadas nas medidas gerais de controle de doenças de plantas causadas por bactérias (Quadro 1).

MANEJO QUÍMICO

O manejo químico para esta doença bacteriana do milho aparentemente é ineficiente com os produtos comumente utilizados contra doenças fúngicas. Em ensaios com o objetivo de avaliar inicialmente a eficiência de produtos

químicos para controlar a mancha branca do milho, houve ocorrência natural de estria bacteriana. Nestes ensaios foram testados 22 princípios ativos de fungicidas sítio específico e multissítio, além de três indutores de resistência, gerando mais de 70 diferentes combinações. A princípio não houve efetividade no controle da estria bacteriana em nenhum dos tratamentos testados. Apesar disso, novos estudos precisam ser conduzidos para obter resultados mais conclusivos. Fungicidas que contêm cobre na formulação poderiam apresentar efeito contra doenças bacterianas, sendo assim uma provável opção para o manejo químico da estria bacteriana. Entretanto, a cultura do milho é extremamente sensível ao cobre, apresentando elevada fitotoxicidade. Desta maneira, a tolerância ou resistência genética parece ser a principal medida a ser adotada pelos agricultores para mitigar o problema da estria bacteriana em milho (Figura 8). No CPA da Copacol houve ocorrência natural da estria bacteriana em ensaio de avaliação de 50 híbridos de milho na segunda safra de 2018. Neste ensaio, foi observada alta variabilidade de suscetibilidade à estria bacteriana

e a severidade foliar final atigiu níveis superiores a 70% em híbridos altamente suscetíveis. Entre os 50 híbridos avaliados, 39 apresentaram níveis de severidade inferiores a 15%, sete mostraram níveis entre 15% e 40%, e apenas quatro tiveram níveis de severidade superiores a 40%. Os híbridos com menor suscetibilidade apresentaram níveis de severidade da doença de 1,3% e rendimento de grãos acima de 7.558kg/ha. Por outro lado, o híbrido mais suscetível apresentou severidade de 76,7% e rendimento de 3.909,8kg/ ha. Ainda que possa existir efeito genético em relação à produtividade, os híbridos de milho com os maiores níveis de severidade da doença (>40%) foram os que apresentaram os menores rendimentos de grãos. Com base nesses dados foi realizada análise de correlação entre severidade foliar da estria bacteriana e rendimento de

Figura 6 - Presença de exsudação bacteriana nas lesões da estria bacteriana do milho no campo servindo de fonte de inóculo para os ciclos secundários da doença

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

35


Fotos Iapar

grãos. Embora tenha sido observada baixa correlação (R2= 0,34) entre esses dois parâmetros, possivelmente em função da variabilidade genética dos híbridos, foram estimadas reduções de 42,8kg/ha de milho para cada ponto percentual de incremento na severidade da estria bacteriana (Figura 9). Esse resultado foi muito semelhante às reduções de produtividade determinadas para outras doenças foliares na cultura do milho, como a cercosporiose e a mancha branca. O milho tem fundamental importância para diversos sistemas agropecuários brasileiros e a estria bacteriana se apresenta como uma ameaça para a cultura no Brasil. Poucas são as informações disponíveis sobre a doença e o seu efetivo controle. Trabalhos de pesquisa em patologia de milho devem ser conduzidos rapidamente sobre diversos aspectos da estria bacteriana e de seu patógeno, a Xanthomonas vasicola pv. vasculorum. A correta identificação do problema e maiores conhecimentos sobre adoença e do seu agente causal possibilitarão a tomada das medidas e decisões mais apropriadas pelos diferentes segmentos do setor agrícola para o enfrentamento deste novo desafio para a cultura do miC lho no Brasil. Tiago Madalosso, Fernando Fávero e João Maurício Roy, Centro de Pesquisa Agrícola Copacol Adriano Custódio e Rui Leite Jr, Instituto agronômico do Paraná

A

B

C

Figura 7 - Morte do topo de plantas de híbridos de milho altamente suscetíveis à estria bacteriana (A). Corte transversal de colmos de plantas de milho, demonstrando a obstrução dos vasos xilemáticos (B) e presença de exsudação bacteriana (C)

Recomendações gerais sugeridas contra a estria bacteriana do milho • Rotação de cultura e a destruição de restos culturais; • Controle de potenciais plantas hospedeiras alternativas, incluindo plantas daninhas, outras plantas cultivadas e plantas de milho voluntárias na entressafra; • Utilizar apenas moléculas químicas com comprovada ação específica para esta

doença bacteriana; • Utilização de híbridos de milho com comprovada resistência e/ou tolerância à doença; • Desinfestar equipamentos entre lavouras para prevenir a disseminação do patógeno; • Utilizar sementes de milho sadias para evitar a possível disseminação do patógeno.

Figura 9 - Relação entre severidade (%) de estria bacteriana e rendimento (kg/ha) de grãos para 50 híbridos de milho avaliados sob condições naturais de ocorrência da doença na segunda safra de 2018

Figura 8 - Comparativo de milho híbrido resistente (esquerda) e milho altamente suscetível (direita) à estria bacteriana, sob as mesmas condições de manejo

36

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br



Algodão

Manejo conjunto Lutar contra o bicudo, praga-chave na cultura do algodoeiro, exige ações que vão além do monitoramento e das aplicações de inseticidas. É preciso envolver toda a cadeia produtiva de uma região, pois a padronização das estratégias será essencial para atingir o sucesso no combate a Anthonomus grandis, um dos piores tormentos dos cotonicultores

A

cotonicultura brasileira, em quase sua totalidade, é desenvolvida em grandes faixas de terra, sob clima tropical, e tais condições favorecem o desenvolvimento e a multiplicação de diversas pragas que prejudicam a cultura, o que demanda constantemente medidas de controle para manter a população abaixo do nível de dano econômico. Neste contexto, o bicudo-do-algodoeiro Anthonomus grandis Boh. destaca-se como praga-chave por se alimentar e se reproduzir principalmente no algodoeiro, e por apresentar alta capacidade de causar danos diretos e dificuldade de controle. Essas características da praga elevaram

38

os custos de produção em aproximadamente 360 milhões de dólares na safra 2015/2016, em que 185 milhões de dólares foram gastos com adoção de técnicas para seu controle (Belot et al, 2016). O bicudo-do-algodoeiro é muito dependente do clima e especialmente do manejo adotado. Por isso, condições ambientais favoráveis como maior umidade/pluviosidade e manejo inadequado contribuem para o aumento populacional da praga. Segundo o Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), em Mato Grosso a captura do inseto nas armadilhas aumentou 8% em relação à última safra e chegou a 50% em algumas regiões.

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

O bicudo possui metamorfose completa (ovo, larva, pupa e adulto) (Figura 1). Este inseto, tanto na fase jovem quanto na adulta, é considerado praga-chave do algodoeiro, devido ao seu comportamento de alimentação e reprodução, que ocorre nas estruturas reprodutivas (botão floral e maçã) do algodão, causando dano direto por destruir a parte de interesse econômico. As fases jovens permanecem protegidas no interior das estruturas reprodutivas e, desta forma, somente os adultos são expostos a pulverizações. O adulto é facilmente identificado por ser um besouro da família Curculionidae, podendo ter de quatro a dez milímetros de comprimento, apresenta um rostro (aparelho bucal) longo e curvo, que normalmente mede a metade do comprimento do seu corpo, e sua coloração pode variar de marrom claro, pardo acinzentado a marrom escuro. Para a detecção e o monitoramento do adulto de bicudo-do-algodoeiro, fase importantíssima para a tomada de decisão no Manejo Integrado de Pragas (MIP), encontram-se disponíveis no mercado as armadilhas desenvolvidas e amplamente utilizadas na erradicação da praga nos Estados Unidos. Além do uso dessas armadilhas, a visualização de estruturas reprodutivas atacadas, realizada pelo monitoramento dos técnicos agrícolas em campo, é de suma importância. O monitoramento, de uma forma geral, é atividade crucial para tomada de decisão correta no controle do bicudo. As armadilhas são de cor verde-limão, iscadas com feromônio glandlure e devem ser instaladas na entressafra,


Fotos Guilherme Gomes Rolim

Figura 1 - Desenvolvimento do bicudo-do-algodoeiro

bem como durante a safra. O espaçamento adotado dessas armadilhas está entre 150m e 200m. Estudos recentes, realizados com armadilhas distribuídas por áreas nas regiões Sul e Centro-oeste de Mato Grosso, demonstraram que indivíduos são capturados a mais de 200 metros de distância da bordadura (do interior do talhão), desde a fase vegetativa do algodão, mesmo que em pequena quantidade, com aumento gradativo de acordo com a fenologia do algodão, mostrando o poder das armadilhas com feromônio no monitoramento. A fase inicial de emissão de botões florais (B1) é o período mais crítico e que demanda maior atenção quanto ao bicudo-do-algodoeiro. Estudos realizados na década de 1960 demonstram que machos de bicudo, ao se alimentarem de botões florais emitem feromônios, atraindo as fêmeas para o acasalamento; uma vez acasaladas, as fêmeas podem ovipositar cerca de 200 ovos. Desta forma, o monitoramento e o controle eficiente nesta fase inicial (a partir de B1) são de grande importância para a redução populacional e a boa convivência com a praga até o fim do ciclo da cultura.

MANEJO COMPLEXO

O manejo do bicudo-do-algodoeiro é muito mais complexo e envolve várias outras atividades, que vão além do monitoramento e de aplicações de inseticidas. Inclui, por exemplo, a destruição de

soqueira, limpeza de rodovias e compartilhamento de informações. Deve-se pontuar que todas estas ações precisam ser adotadas de forma conjunta, envolvendo toda cadeia produtiva do algodão de uma região, pois a padronização das ações de manejo é essencial para atingir o sucesso. Como um bom exemplo de trabalho em conjunto para o manejo eficiente do bicudo, é possível citar os Grupos Técnicos do Algodão (GTA) do Mato Grosso, que são coordenados pelo IMAmt e pela cadeia produtiva do algodão de cada região. Os GTAs têm como finalidade promover o diálogo entre os integrantes dessa cadeia produtiva e, com isso, realizar troca de informações, padronização de ações, entre outras iniciativas que contribuem para o sucesso do manejo do bicudo e de outras pragas e doenças. É importante salientar que quanto mais unido for o grupo local, melhor são os resultados, fato observado nos diferentes GTAs em Mato Grosso. Um dos exemplos reside no GTA de Sapezal: antes da formação do grupo neste local, a população de bicudo estava aumentando, resultando em grandes perdas e, felizmente, após a formação do GTA nesta região (a partir de 2016), por meio de forte trabalho em conjunto das propriedades, houve uma redução do índi-

Pontos importantes para a tomada de decisão para o controle da praga 1) Monitoramento: realizar o monitoramento durante todo ciclo da cultura, inclusive na fase final, e se necessário realizar aplicações de inseticidas na fase final, com objetivo de redução populacional da praga para o período de entressafra. 2) Escolha do inseticida: o inseticida a ser utilizado deve ter alta eficiência e ser registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O produtor deve rotacionar os ingredientes ativos/inseticidas. Produtos à base de organofosforados, carbamatos, neonicotinoides e misturas prontas de neonicotinoides + piretroides e organofosforados + piretroides têm sido boas opções por apresentarem eficiência

no controle. 3) Pulverizações sequenciais: o controle eficaz do bicudo é quase que exclusivamente dependente da aplicação de inseticidas, e estudos comprovam que a melhor opção é a realização de aplicações sequenciais, sendo no mínimo três com intervalo máximo de cinco dias. Isso garante o controle de gerações que se sobrepõem (fluxos de emergência), bem como controla os indivíduos que escapam das pulverizações anteriores. 4) Tecnologia de aplicação: o produtor deve adotar as boas práticas de aplicação tanto aérea como terrestre (respeitar temperatura, umidade, inversão térmica, misturas etc).

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

39


Fotos Arquivo IMAmt Fotos Eduardo M Barros

Fotos Aldair Kossmann

Adulto do bicudo-do-algodoeiro (A) e detalhes das injúrias de alimentação (B) e oviposição (C)

Eliminação de plantas: destruição de plantas de algodão em beira de rodovias

Medidas de manejo recomendadas quando a cultura estiver bem desenvolvida 1) Ações conjuntas entre produtores para organizar aplicações de inseticidas entre propriedades vizinhas (datas, horários e produtos), concentração nas atividades de manejo e trocas de informações, para a padronização dessas ações. 2) Aplicações de inseticida em final de ciclo, a fim de manter as pulverizações sequenciais focadas para o bicudo-do-algodoeiro mesmo após a abertura dos primeiros capulhos. Também realizar aplicação de inseticida juntamente com desfolha, para a redução populacional no final de safra. 3) Priorização das técnicas recomendadas pela Tecnologia de Aplicação, realização de aplicações dos inseticidas com equipamentos ideais e calibrados, seja em bicos hidráulicos ou rotativos, pulverizações com condições ambientais adequadas (por exemplo vento, inversão térmica, umidade relativa, temperatura), e atenção às misturas de tanque. 4) Instalação de Tubos Mata-Bicudo (TMB) inicialmente na pré-colheita e manter até 30 dias antes do próximo plantio da safra seguinte de algodão. Recomenda-se instalar em todo perímetro do plantio do algodão ou, no mínimo, nas áreas consideradas locais de entrada e saída (refúgios) dos insetos.

40

5- Carregamento e transporte adequado de fardos, rolos e/ou caroço de algodão com o objetivo de evitar a propagação de plantas às margens das rodovias, estradas vicinais, algodoeira etc. Plantas que nascem e se desenvolvem (tigueras) nestes locais abrigam inúmeras pragas (especialmente o bicudo), e como não há manejo nestas plantas, os insetos fitófagos se mantêm e se multiplicam, migrando para as lavouras comerciais posteriormente. 6) Destruição eficiente de soqueira e bom manejo de plantas tigueras: alguns dos principais fatores que têm contribuído para o aumento populacional do bicudo são a rebrota de plantas soqueira e a presença de plantas tiguera nos talhões/áreas de plantio. Pelo fato de a praga se desenvolver e reproduzir-se apenas em algodão, eliminar as plantas na entressafra, reduz a chance da praga se manter no sistema. 7) Colheita rápida e bem-feita, pois quanto mais concentrada em curto período, maior será o intervalo para destruição dos restos culturais nas propriedades. 8) Cumprimento de vazio sanitário, previsto por normativa, em que não é permitido o cultivo e/ou presença de plantas de risco fitossanitário nas áreas.

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

Larvas do bicudo-do-algodoeiro no interior da maçã de algodão no final da safra. Observar o grande número de indivíduos capazes de se desenvolver em uma maçã

ce Bicudo/Armadilha/Semana (BAS) de aproximadamente 80%. A cotonicultura brasileira vem se tornando cada vez mais dinâmica e tecnificada, e isso contribui para a elevação na produção e a consolidação do Brasil no cenário mundial como grande produtor. Porém, todo esse dinamismo vem acompanhado da elevada complexidade de cultivar em grandes extensões, o que muitas vezes dificulta a realização de algumas ações primordiais para o manejo do bicudo, como monitoramento, aplicações em curtos intervalos de tempo (com o máximo de cinco dias entre cada aplicação) e destruição dos restos culturais. Desta forma, a união de todos os envolvidos na cadeia produtiva do algodão é de suma importância para a realização de um controle efetivo da praga, através da cooperação e trocas de informações, e principalmente assegurar a adoção de estratégias de manejo C de forma rígida e uniforme. Eduardo Moreira Barros, Syngenta Proteção de Cultivos LTDA Guilherme Gomes Rolim, IMAmt Lucas Souza Arruda, UFRPE Jacob Crosariol Netto, IMAmt


Empresa

DNA Nidera Evento realizado em Palmas, Tocantins, reuniu agricultores, licenciados, consultores e distribuidores além de servir para o lançamento da cultivar de soja NS 8399 IPRO

Marketing e Comunicação, Brasil e Paraguai da Nidera Sementes, Nélio Reis. O evento foi marcado por diver-sas palestras. Geliandro Rigo, Desenvolvi-

Fotos Nidera

A

Nidera Sementes realizou no início de Agosto, em Palmas, Tocantins, o evento DNA Nidera. O objetivo do programa é destacar novos produtos da companhia e seus resultados. Na primeira edição foi lançada a cultivar de soja NS 8399 IPRO que estará disponível para comercialização na campanha de 2019. O evento reuniu em torno de 100 pessoas, entre agricultores, licenciados, consultores e distribuidores da região. “O DNA Nidera é um novo programa para lançamentos de cultivares de soja e híbridos de milho desenvolvidos pela nossa empresa. Esse programa é um dos pilares para apoiar e dar suporte para que possamos chegar ao nosso objetivo que é de ser a maior e a melhor empresa de sementes da América Latina. Tudo isso sem perder a nossa essência que é olhar o campo através dos olhos dos agricultores, entendendo suas necessidades e desenvolvendo produtos que agregam no seu negócio”, explicou o coordenador de

mento de Produto, Arthur Torres, Marketing e Acesso ao Mercado e Leonardo Sologuren, da Clarivi Consultoria de Assessoria e Inteligência de Mercado abordaram temas como atual posicionamento da marca Nidera Sementes, portfólio e a cultivar de soja NS 8399 IPRO, principal novidade para as próximas safras. O portfólio da Nidera Sementes engloba cultivares de soja e milho adaptáveis para todo Brasil. “Este lançamento agregou maior valor ao nosso portfólio. Os principais pontos fortes da NS 8399 IPRO são resistência a nematoides de cisto 3 e ser moderadamente resistente à raça 6, hábito de crescimento indeterminado, amplitude da semeadura, arquitetura de planta favorável ao manejo fitossanitário e presença no grupo de maturação 8.3”, detalhou Rigo. "Estamos focando em sermos assertivos no nosso posicionamento e temos como objetivo compartilhar nossos resultados e a experiência dos agricultores com o novo portfólio da Nidera. Nossos multiplicadores estão preparados para atender os agricultores das regiões norte e nordeste”, informou Torres. Ao final do evento os agricultores puderam C sanar dúvidas com os palestrantes.

Equipe da Nidera esteve disponível para debater e esclarecer dúvidas dos produtores

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

41


Milho

Período crítico

Fotos Unir

Quando a matocompetição afeta de modo mais intenso as características agronômicas da cultura de milho, em relação à altura da planta e ao diâmetro do colmo

A

produtividade da cultura do milho é dependente de vários fatores genéticos, de manejo e ambientais. As plantas daninhas são um dos mais importantes fatores que afetam a economia agrícola, pois competem por água, luz e nutrientes, e, conforme a agressividade, podem suprimir as de importância agrícola, podendo levá-las à morte (Kuva et al, 2003). De todos esses fatores, o maior agravante na produção reside no período em que a planta daninha e a cultivada estão disputando os recursos do meio, chamado Período Crítico de Prevenção da Interferência (PCPI), onde o controle da vegetação infestante é fundamental. (Pitelli, 1985; Kozlowski, L.A. 2002; Palhares, 2003). Com o objetivo de analisar os efeitos de períodos de convivência de plantas daninhas na expressão de características agronômicas da cultura do milho (altura da planta e diâmetro do colmo), realizou-se um experimento na Fazenda Experimental da Unir – Campus Rolim de Moura, com os sete períodos de convivência: testemunha (controle durante todo o ciclo), do 5° DAE em diante, 10° DAE em diante, 20° DAE em diante, 30° DAE em diante, 40°

42

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

DAE em diante, 50° DAE em diante e testemunha (sem o controle durante todo o ciclo). Vale ressaltar que todos os controles foram efetuados com a capina manual. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com três repetições, totalizando 21 unidades experimentais, e realizada Análise de Regressão. Os tratamentos utilizados estão demonstrados na Tabela 1. Cada parcela foi demarcada com uma área de 4,5 metros de largura por três metros de comprimento, utilizando um espaçamento de 0,90m entre linhas e 0,45m entre plantas. O controle de plantas daninhas ocorreu mediante capinas manuais de acordo com os tratamentos a serem estudados, iniciando essas capinas no período determinado de cadastratamento. Na semeadura do milho, cultivar Al Bandeirante, utilizou-se adubação com 500kg/ha do formulado 08-28-16 e aos 40 DAE com 100kg/ha de ureia e 100kg/ha de KCl. Com 30 DAE foi necessária uma aplicação do inseticida teflubenzurom (benzoilureia) 150, em virtude das condições propícias do local de implantação do expe-


Cada parcela foi demarcada com uma área de 4,5 metros de largura por três metros de comprimento, utilizando um espaçamento de 0,90m entre linhas e 0,45m entre plantas

rimento, e a suscetibilidade da cultura ao ataque de insetos-praga. Para avaliação dos tratamentos e a verificação à interferência da competição entre a cultura e as plantas daninhas, foram observados altura da planta e diâmetro do colmo. Dentro das parcelas foram descartadas linhas de bordadura em todos os quatro lados, permitindo que fatores externos não tenham influência dentro do experimento.

A altura das plantas foi mensurada com uma fita da base da planta, rente ao solo, até a inserção da última folha. Já o diâmetro do colmo foi obtido através de um paquímetro milimetrado, posicionado na porção média da planta. A altura de planta é um dos fatores mais afetados pela convivência com plantas daninhas (Duarte, 2002). O período crítico de competição para o milho se dá no

intervalo de 20 dias aos 60 dias após a emergência da planta, onde ocorre maior interferência nas suas características agronômicas (Vagas, et al, 2006). De acordo com a Figura 1, observa-se que até os 20 dias após a emergência (DAE), não houve interferência significativa na altura de planta (observa-se uma diminuição, mas não intensa).

Já aos 33 DAE na presença das plantas infestantes ocorreu uma maior limitação na altura da planta, em conformidade com o estudo de Rossi et al (1996). Aos 35 DAE houve uma maior limitação na altura da planta,com redução de 25% do comprimento comparado com o tratamento sempre limpo. Melhorança Filho (2005) também testou a matocompetição e observou uma redução na altura média da planta entre 24 dias e 42 dias de convivência com as plantas daninhas.

O diâmetro do colmo é uma das características agronômicas do milho mais afetadas pela convivência de plantas daninhas. Verificou-se que houve diferença significativa entre os tratamentos, constatando-se que a testemunha, que permaneceu com 55 DAE de convivência com as plantas daninhas, foi a que apresentou o menor diâmetro do colmo. Essa discrepância representou aproximadamente 20% de redução, em vista do tratamento em que todo o período de estudo houve a capina do local, e está em conformidade com o estudo de Duarte et al (2002), que constatou uma diminuição de 14% do diâmetro do colmo. O diâmetro do colmo em virtude do período de convivência com as plantas daninhas, está apresentado na Figura 2. Seu valor decai linearmente, indiretamente proporcional ao aumento da quantidade de dias em convivência com as infestantes. Esse resultado pode ser explicado devido à supressão da cultura do milho pela presença de plantas daninhas, visto Tabela 1 - Tratamentos utilizados no experimento de matocompetição

Experimento analisou os efeitos de períodos de convivência de plantas daninhas na expressão de características agronômicas do milho

Nº 01 02 03 04 05 06 07

Período sem competição Testemunha com capina em todo o ciclo Do 5º DAE até o final do ciclo Do 10º DAE até o final do ciclo Do 20º DAE até o final do ciclo Do 30º DAE até o final do ciclo Do 45º DAE até o final do ciclo Testemunha sem capina em todo o ciclo

Fonte: Elaborado pelos autores

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

43


Figura 1 - Efeito dos períodos de convivência de plantas daninhas sobre a altura Figura 2 - Efeito dos períodos de convivência de plantas daninhas sobre o diâmetro do milho do colmo do milho

Fonte: elaborado pelos autores

Fonte: elaborado pelos autores

que são altamente competitivas por água, luz e nutrientes. Assim, o milho cultivado teve o seu espaço de crescimento e desenvolvimento limitado, alterando a sua arquitetura, a localização das folhas, o diâmetro do colmo etc. Segundo Karam e Melhorança (2007), qualquer mudança na arquitetura da planta reflete em perdas quantitativas na produção final. O tratamento testemunha, onde a capina das daninhas foi realizada durante todo o período de condução do experimento, apresentou maiores valores tanto em altura da planta quanto em diâmetro do colmo. Foi observado que o período crítico, isto é, onde ocorre a maior interferência das plantas daninhas na cultura do milho cultivado, corresponde dos 20 DAE aos 60 DAE. C

Equipe conduziu experimento na Fazenda Experimental da Unir, no Campus Rolim de Moura

Fotos Unir

Renan Marré Biazatti Lucas Vinicius de Oliveira Albuquerque Pablo Rogério Ciechorski Ramaiany Lohanny Sousa Cremer Luciana Soares da Cruz Unir

Período crítico de competição para o milho se dá no intervalo dos 20 dias aos 60 dias após a emergência

44

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

Foram avaliados aspectos como altura da planta e diâmetro do colmo



Milho

Menos perdas Cultivar

Essencial para a produtividade do milho, o nitrogênio é também o nutriente mais complexo de ser administrado. Sua oferta está relacionada a diversos processos, que incluem mineralização/imobilização, volatilização, desnitrificação e lixiviação. Por isso a importância de se estabelecer estratégias que melhorem sua eficiência agronômica e minimizem as perdas

O

milho é uma das culturas mais exigentes em fertilizantes, especialmente os nitrogenados. O suprimento inadequado desse nutriente é um dos principais fatores limitantes ao seu potencial produtivo, principalmente no estádio reprodutivo (Kappes et al, 2009). Diferentemente do que se observa com outros nutrientes, como o fósforo e o potássio, a quantidade de nitrogênio (N) disponível no sistema solo-planta pode sofrer variações significativas em função de alterações na adição e na perda do nutriente no solo. Assim, a oferta de N está relacionada a diversos processos, tais como mineralização/imobilização, volatilização, desnitrificação e lixiviação. Esses processos afetam a eficiência de uso do N que, normalmente, não ultrapassa 50% do que é aplicado no solo, quando a fonte utilizada é a ureia (Saiz-Fernandez et al, 2015). Entre os principais mecanismos de perdas de N, destacam-se a lixiviação e a volatilização. A lixiviação consiste na movimentação do N mineral (nitrato e amônio) disponível no solo para camadas mais profundas, por ação da água que infiltra (Peng et al, 2015). Desta forma, o nutriente não é absorvido pelas raízes das plantas, além de ser uma fonte de contaminação de águas superficiais e subterrâneas (Cerri et al, 2009). Por sua vez, a volatilização envolve a perda de nitrogênio na forma gasosa (amônia- NH3). A volatilização de NH3 é a principal reação que diminui a eficiência de utilização pelas plantas do N proveniente da ureia, quando aplicada sobre a superfície do solo (Tasca et al, 2011). A quantidade de N volatilizado após a aplicação superficial de ureia ao solo é muito variável e depende de inúmeros fatores, incluindo condições ambientais e atributos relacionados ao solo. Esse fenômeno pode ser pouco relevante, totalizando de 1% a 15%, ou atingir valores expressivos, maiores que 50% do N aplicado (Sangoi et al, 2016). Nesse sentido, estratégias de manejo que minimizem perdas e otimizem o uso de N devem ser consideradas. Dessa forma, com objetivo de diminuir essas perdas, tem sido estudada a eficiência do uso de fertilizantes estabilizados com compostos que reduzem as reações de perdas de N no solo. O correto manejo da adubação nitrogenada deve suprir a demanda das plantas nos períodos críticos, maximizar a eficiência agronômica do N e minimizar o impacto ambiental, pela redução de perdas.

FONTES ESTABILIZADAS DE N EM MILHO

As fontes estabilizadas de N utilizam inibidores da atividade de

46

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br


enzimas, como da urease e/ou da nitrificação do amônio, junto ao grânulo. Possuem menores taxas de liberação do nutriente em relação aos fertilizantes convencionais. O uso de fontes estabilizadas pode aumentar a eficiência da adubação nitrogenada, com obtenção de maiores produtividades de grãos de milho.

Figura 1 - Porcentagem de perda do N aplicado na forma de ureia comum (U) e ureia com inibidor de urease (UI), nas doses de 100 e 200 kg ha-1 de N, em três manejos da irrigação em milho, na época de semeadura antecipada (agosto/setembro), em dois anos agrícolas. Eldorado do Sul (RS). Após a adubação (A e D); antes da adubação (B e E) e somente aos sete dias após adubação (C e F). Fonte: Menezes (2015)

INIBIDORES DA UREASE

Atualmente, o uso de inibidores da enzima urease é o mais difundido. A adição desses compostos à ureia comum tem a finalidade de diminuir a atividade da enzima urease e, em consequência, a hidrólise da ureia. Quando se utiliza a ureia comum, o pico de perdas de amônia por volatilização ocorre 48 horas após sua aplicação em solo seco (Viero et al, 2012; Menezes, 2015), conforme pode-se observar na Figura 1. A utilização da ureia com inibidor da urease retarda os picos de volatilização de amônia em relação à ureia comum (Menezes, 2015), diminuindo as perdas por volatilização de amônia e aumentando o aproveitamento de N pelas plantas. Os compostos que apresentam estrutura análoga à da ureia, como o NBPT ((N-(n-butil) tiofosfórico triamida), possuem boa eficiência, por apresentarem características de solubilidade e difusividade similares às da ureia. O NBPT precisa ser convertido ao seu análogo de oxigênio NBPTO (fosfato de N-n-butiltriamida), que ocupa o mesmo sítio de ligação, inativando a enzima urease. A velocidade de

Nonononononononononono

conversão de NBPT em NBPTO depende da oferta de O2 e pode levar apenas minutos ou horas em solos bem arejados. Os inibidores de urease inibem a ação da enzima por um período em que ocorrem as maiores perdas, principalmente nos primeiros 15 dias, ocorrendo o pico de perdas aos dois dias após a sua aplicação. O intervalo da efetiva inibição depende, principalmente, da temperatura e da umidade do solo, pois o NBPT é degradado por micro-organismos. Em solos de textura mais arenosa, como os Argissolos, há maior resposta à aplicação de ureia com inibidor da urea-

se e, consequentemente, maior eficiência de uso do N (Tabela 1). Nesse solo, a aplicação de 120kg/ha de N na forma de ureia com inibidor da urease aumentou 20% a produtividade de grãos do milho, em relação ao uso da ureia comum (Tabela 4). Já em outro estudo, realizado em solo com característica textural mais argilosa, como o Nitossolo, não houve resposta à aplicação da ureia com inibidor da urease e ao uso de outras fontes de N no estado de Santa Catarina em relação à ureia comum, com quatro doses de N (Figura 2) (Mota et al, 2015). Em 15 experimentos conduzidos nos solos de textura média a argilosa no estado do Paraná, a utilização da ureia com inibidor da ure-

Figura 2 - Produtividade de grãos de milho em função da aplicação de doses de nitrogênio em cobertura, na média de quatro fontes de N, em dois anos agrícolas. Lages (SC). Fonte: Mota et al (2015)

Figura 3 - A utilização da ureia com inibidor da urease (IU+IN) reduz as perdas de N por volatilização de amônia e, em consequência, a senescência foliar em relação à ureia comum (UC). Fonte: Caio Borges, 2015

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

47


Tabela 1 - Produtividade de grãos de milho e eficiência agronômica de uso do nitrogênio (EAN) em função de fontes e doses de adubo nitrogenado, na média de manejos da irrigação em relação à época de aplicação dos adubos nitrogenados, na época de semeadura antecipada (agosto/setembro), em dois anos agrícolas. Eldorado do Sul-RS

Produtividade de grãos (Mg ha-1) (4) EAN (kg kg-1) Produtividade de grãos (Mg ha-1) EAN (kg kg-1)

Dose de N - kg ha-1 100 200 Fonte de adubo nitrogenado U (1) UI (2) U UI Ano agrícola 2012/13 9,82 b* 10,79 b 10,31 b 12,25 a 48 a 58 a 27 b 36 b Ano agrícola 2013/14 9,97 c* 11,46 ab 10,64 bc 12,50 a 19 b 25 a 13 b 22 a

CV(3)(%)

11,1 21,2 11 43,1

(1) Ureia comum; (2) Ureia com inibidor da urease; (3) Coeficiente de variação; (4) EAN: kg de grãos produzidos/kg de N aplicado; * Médias seguidas pela mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05). Fonte: Menezes, 2015.

Tabela 2 - Perdas acumuladas de N por volatilização de amônia em função de manejo de irrigação em relação à época de aplicação da adubação nitrogenada em cobertura, fontes e doses de adubo nitrogenado, na época de semeadura antecipada (agosto/setembro) de milho, em dois anos agrícolas. Eldorado do Sul-RS

Dose de N - kg ha-1 100 200 Fonte de adubo nitrogenado U (1) UI (2) U UI Ano agrícola 2012/13 Após a adubação A 8,9 b*) A 6,8 b A 23,9 a* A 11,9 ab Antes da adubação B 27,3 b B 13,5b A 52,0 a B 18,0 b Somente aos sete dias após adubação B 13,3 b B 7,9 b A 43,5 a B 22,2 b Ano agrícola 2013/14 Após a adubação B 3,9 a A 2,3 a A 4,2 a A 3,6 a Antes da adubação A 33,5 b B 14,3 b B 78,7 a B 48,1 b Somente aos sete dias após adubação A 40,9 b B 13,3 c B 97,4 a B 23,5 c (1) Ureia comum; (2) Ureia com inibidor da urease, *) Letra maiúscula na coluna compara média de doses e fontes de N no mesmo manejo da irrigação e letras minúsculas na linha comparam sistemas de irrigação, na mesma dose e fonte de N. *Letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey (p< 0,05). Fonte: Menezes (2015).

Tabela 3 - Produtividade de grãos de milho e eficiência agronômica de uso do nitrogênio (EAN) em função do manejo da irrigação em relação à época de aplicação do N, na média de fontes e doses de adubo nitrogenado em cobertura, na época de semeadura antecipada (agosto/setembro), em dois anos agrícolas. Eldorado do Sul-RS

Produtividade de grãos (Mg ha-1) (2) EAN (kg kg-1) Produtividade de grãos (Mg ha-1) EAN (kg kg-1)

Irrigação Após a Antes da Somente aos sete adubação(1) adubação dias após adubação Ano agrícola 2012/13 11,68 a* 10,60 b 10,10 b 49 a 40 b 38 b Ano agrícola 2013/14 11,68 a* 10,49 b 11,24 ab 24ns 18 22

(1)Aplicação da lâmina de 25 mm de água, no mesmo dia da realização da adubação; (2) EAN: kg de grãos produzidos/kg de N aplicado); (3) Coeficiente de variação; * Médias seguidas pela mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05); ns: não significativo, ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F. Fonte: Menezes, (2015).

48

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

ase não resultou em maior produtividade de grãos de milho em relação à ureia comum (Fontoura et al, 2015). No entanto, nesses estudos a volatilização de N reduziu de 20%, com o uso da ureia comum, para menos de 5% com a aplicação da ureia com inibidor da urease. A redução de 15% nas perdas de N por volatilização é similar à diferença de custo entre a ureia comum e a ureia com inibidor da urease. A magnitude de perdas de N por volatilização de amônia também depende das condições de precipitação pluvial que ocorrem imediatamente antes ou depois da aplicação da ureia. A incorporação do adubo nitrogenado, logo após sua aplicação, via irrigação e/ou precipitação pluvial (20 ou mais mm) por meios mecanizados, é uma alternativa eficiente para reduzir perdas de N (Menezes, 2015). Por outro lado, as perdas aumentam quando se aplica ureia comum em solo úmido (Tabela 2). As perdas de N da ureia comum por volatilização de amônia reduzem a disponibilidade de N para a planta, resultando em maior senescência foliar em relação ao uso da ureia com inibidor da urease (Figura 3). Em consequência dessa menor oferta de N, há redução da produtividade de grãos e da eficiência agronômica de uso do N (Tabela 3), resultando em prejuízos ao produtor e ao ambiente. Para se analisar as vantagens econômicas do uso da ureia com inibidor da urease deve-se considerar que seu custo é de 10% a 15% superior ao da ureia comum.

INIBIDORES DA NITRIFICAÇÃO

Outra fonte estabilizada de N é a ureia com os inibidores da nitrificação. Esses inibidores atuam desacelerando o processo de transformação de amônio (NH3) em nitrato. Com isso, o N permanece na forma amoniacal, que é menos suscetível à lixiviação, ficando preservado no solo por mais tempo (Trenkel, 2010). Atuam na primeira fase da nitrificação, diminuindo a atividade das bactérias do gênero Nitrosomonas. Com isto, retardam a oxidação do amônio a nitrito por algum tempo. Assim, a segunda fase da nitrificação não ocorre, pois falta nitrito para ser oxidado a nitrato. Desde os anos de 1970 tem-se dado ênfase à utilização de inibidores sintéticos da nitrificação. Dentre os disponíveis no mercado, destacam-se a nitrapirina. Na década de 1990, surgiu o dicianodiamida (DCD). Posteriormente, no início do presente século, foi desenvolvido o 3,4 dimetilpirazolfosfato (DMPP). Em trabalho desenvolvido pela UFRGS nos anos agrícolas 2015/16 e 2016/17 (Tabela 4) foi testado um produto lançado recentemente, que possui os dois inibidores juntos, o da urease e o da nitrificação, denominado de Neon Air, da empresa Inovar Ag/Viva Agro. A nitrapirina pertence ao grupo dos organoclorados (2-cloro-6-triclorometil-piridina). Quando aplicada em condição de temperaturas elevadas no solo, pode ser ativa por um período de seis a oito semanas. Entretanto, sua atividade de inibição é potencializada em solos com temperaturas baixas, podendo inibir o processo da nitrificação por até 30 semanas (Trenkel, 2010). Já o DCD é originado a partir de cianamida de cálcio. Apresenta alta solubilidade em água e rápida mineralização, quando comparado a outros inibidores, como a nitrapirina. Com isso, sua capacidade de inibição fica restrita a um período de quatro a dez semanas, dependendo das condições de temperatura e de ativi-


dade microbiana do solo (Trenkel, 2010). A partir dos anos 2000 foi desenvolvido o 3,4 dimetilpirazolfosfato (DMPP), originado do grupo dos pirazóis, que ocorre frequentemente na natureza. Apresenta liberação lenta e gradativa do N, conforme temperatura e oferta hídrica no solo, podendo inibir o processo de nitrificação durante um período de seis

a oito semanas. Além disso, o DMPP tem baixa solubilidade em água e não é fitotóxico às plantas (Trenkel, 2010). No entanto, a eficiência de uso dos inibidores da nitrificação está muito associada às condições edafoclimáticas. No Brasil, há poucos trabalhos sobre o comportamento dos diferentes compostos inibidores da nitrificação. Assim, não

se sabe se têm o mesmo efeito nas condições climáticas e nos solos do Brasil comparado às condições de clima temperado, onde foram muito estudados. Diversos fatores de solo, como teor de matéria orgânica, textura, temperatura, pH e umidade, influenciam diretamente a eficiência dos inibidores da nitrificação, devido ao fato destes fatores estarem diretamente relacionados ao

Figura 4 - Taxa de volatilização diária e porcentagem de perda do N aplicado na forma de ureia comum, ureia com inibidor de urease (UI), ureia com inibidor da nitrificação (IN) e inibidores associados (IU + IN) em milho, em três doses de N aplicado em cobertura. Eldorado do Sul (RS), 2016/17. Fonte: Silva et al, 2017

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

49


processo de nitrificação do solo. Maiores perdas de N por lixiviação ocorrem em solos arenosos, devido à maior infiltração de água no perfil. O uso de inibidores da nitrificação pode ser mais eficiente nessas condições. Em um solo arenoso, observou-se aumento da produtividade de grãos de milho à aplicação da ureia com inibidor da nitrificação somente quando associado ao uso do inibidor da urease e na dose mais alta de N aplicada (270kg/ha) (Tabela 4). A associação dos dois inibidores resultou em menor taxa de volatilização diária de amônia e, consequentemente menores perdas de N para a atmosfera (Figura 4). Já em solos com característica textural mais argilosa, como os Nitossolos, a aplicação de inibidores da nitrificação não resultou em aumento da produtividade de grãos (Figura 2) e da eficiência agronômica de uso do N no milho (Tabela 5) (Mota et al, 2015). Quanto maior o teor de argila, maior é a agregação do solo. Isto reduz a infiltração de água no perfil e a movimentação do N em profundidade. Assim, o N permanece no solo por mais tempo, minimizando o efeito inibidor da nitrificação. Além disso, a maior atividade microbiana encontrada em solos argilosos também pode reduzir o efeito do inibidor da nitrificação, devido à maior degradação do composto no solo pelos micro-organismos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentre as várias fontes nitrogenadas utilizadas na agricultura, a ureia comum é a mais difundida, devido à sua alta concentração de N (~45 %) e ao seu menor custo. Entretanto, a sua eficiência de uso é baixa, em virtude das inúmeras transformações a que o N está sujeito. Apenas parte do N aplicado é absorvida pelas plantas, o que pode provocar assincronia entre a oferta do nutriente no solo e a demanda da planta. Neste contexto, estratégias de manejo que otimizem o uso e minimizem as perdas de N devem ser enfatizadas. Dentre as alternativas que podem ser usadas para aumentar a eficiência de uso do N destacam-se: o desenvolvimento de plantas mais eficientes na absorção e uso desse nutriente, a utilização de práticas de ma-

nejo que possibilitem a obtenção de maior sincronia entre a época de aplicação de N e os estádios de maior demanda da planta e a aplicação de N sob condições ambientais que minimizem perdas e maximizem sua absorção. São fatores importantes para aumentar a eficiência de uso do N na cultura do milho: aplicar a maior parte do N entre os estádios V4 e V10, nos quais a planta está com o seu sistema radicular mais desenvolvido e a demanda pelo nutriente é maior; parcelar a dose, principalmente em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica, e/ou em situações com elevadas precipitações pluviais ou sob irrigação complementar durante a estação de crescimento do milho; aplicar o adubo nitrogenado antes de uma precipitação e/ou irrigação; utilizar fontes estabilizadas com inibidores da urease quando as condições ambientais são favoráveis a perdas por volatilização de amônia; utilizar fontes estabilizadas com inibidores da nitrificação quando as condições edafoclimáticas são favoráveis a perdas por lixiviação de nitrato. Nestas duas últimas situações, embora com custo um pouco mais alto em relação ao da ureia comum, há retorno econômico com a aplicação de fertilizantes nitrogenados estabilizados. O N é o nutriente mais complexo para manejo e recomendação na cultura do milho. Por isso, estratégias que aumentem a eficiência agronômica do seu uso e mitiguem perdas desse nutriente C devem ser analisadas.

Tabela 4 - Produtividade de grãos de milho em função de fontes e doses de N aplicado em cobertura, em dois anos agrícolas. Eldorado do Sul-RS (1) Fonte de N

UC UIU UIN UIU+UIN (2) CV (%) UC UIU UIN UIU+UIN (2) CV (%)

Dose de N (kg ha-1) 50 120 270 -------- Produtividade de grãos (Mg ha-1) -------Ano agrícola 2015/16 (3) A 9,20 b B 9,01 b B 11,06 a A 10,05 b A 10,86 ab AB 12,27 a A 9,54 b B 8,36 b B 11,53 a A 9,90 b AB 9,96 b A 13,74 a 8,56 Ano agrícola 2013/14 (3) A 13,78 b A 16,74 a B 16,80 a A 15,82 a A 16,27 a AB 17,82 a A 15,92 a A 16,66 a B 16,70 a A 15,83 b A 17,12 ab A 18,02 a 8,10

(1) UC: ureia comum; UIN: ureia com inibidor da nitrificação; UIU: ureia com inibidor da urease e UIU+ UIN: ureia com inibidor da urease e da nitrificação; (2) Coeficiente de variação. (3) Letras maiúsculas na coluna, compararam fontes de N dentro de cada dose e letras minúsculas na linha comparam doses de N dentro de cada fonte, pelo teste de Tukey (p<0,05.). Fontes: Miozzo, (2017) e Silva & Silva (2017) .

50

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

Natan Henrique Ferrari Pagliarini, Monsanto do Brasil Paulo Regis Ferreira da Silva, UFRGS Luis Sangoi, Udesc Fernando Viero, Instituto Federal de Farroupilha Cimélio Bayer e Bruno Tadashi Chiba da Silva, UFRGS Tabela 5 - Eficiência agronômica de uso do nitrogênio (EAN) pelo milho em função de doses e fontes de N em cobertura, em dois anos agrícolas. Lages-SC Dose de N kg ha-1 70 140 280 CV (%) (1) Fontes de N NA UC UIU UIN CV (%)

EAN 2011/2012 2012/2013 ------------kg kg-1-------------49 a 36ns 40 ab 39 30 b 27 42,9 42,9 38ns 42 41 39 19,6

36ns 35 35 30 16,9

(1) NA: Nitrato de amônio; UC: Ureia comum; UIU: Ureia com inibidor da urease e UIN: Ureia com inibidor da nitrificação. ns: não diferem significativamente pelo teste F (p<0,05); *significativo pelo teste F, a 5 % de probabilidade. Letras minúsculas comparam as fontes entre si, na coluna, pelo teste de Tukey (p<0,05). Fonte: Mota et al. (2015).



Empresa

Novo fungicida Albaugh Brasil lança o Reconil, fungicida bactericida formulado à base de cobre com ação preventiva contra Cercospora kikuchii

A

portfólio da Albaugh, Reginaldo Sene. Segundo Sene, a ação de Reconil transferiu ganhos de até 20% em relação à preservação de folhas verdes da soja, na comparação com outros fungicidas multissítios testados nos ensaios. Reconil está disponível para comercialização a partir de setembro. A recomendação do fabricante é de que o produtor comece o tratamento com o produto, mais tardar no período vegetativo da cultura, época em que geralmente ocorre a infecção de lavouras pelo patógeno de Cercospora kikuchii. “Esse fungo atua no final do ciclo da soja e tem potencial para provocar danos representativos ao produtor, principalmente se chegar à lavoura associado a outras doenças de final de ciclo”, lembra Sene. Além da soja, Reconil teve seu registro estendido às culturas de algodão, cebola e feijão. Para o diretor comercial e de marketing da Albaugh Brasil, Paulo Tiburcio, Reconil será o principal produto da empresa na safra 2018-19. Já para a safra 2019-20, a expectativa da companhia é de ter ampliado seu portfólio de fungicidas para soja, ante a perspectiva da concessão de registro a uma nova plataforma de produtos. “Planejamos entregar ao mercado a linha de fungicidas cúpricos mais eficaz do mercado, de nome Hibio, reforçada pela alta bioatividade do composto íon-cobre. Com lançamento de Reconil, a Albaugh entra forte no mercado de fungicidas multissítios para soja e mira na participação de 50% no segmento de fungicidas genéricos à base de cobre. Somos uma empresa produtora de agroquímicos genéricos, queremos nos tornar referência no setor, revolucionar os genéricos e trazer produtividade e rentabilidade C para o agricultor”, explicou Tiburcio.

Sedeli Feijó

Albaugh Brasil anunciou em São Paulo, em Agosto, o lançamento de Reconil. Trata-se de um fungicida bactericida formulado à base de cobre com ação preventiva, indicado para controle de Cercospora kikuchii na cultura da soja. “Somos uma empresa nova, que assume um compromisso gigantesco com o agricultor e o agronegócio brasileiros. Viemos ao Brasil para reinventar o mercado de genéricos e posicionar a marca Albaugh como sinônimo de produtos de alta tecnologia e custo acessível”, informou o gerente de Marketing, Daniel Friedlander. Presente há pouco mais de dois anos no Brasil, a empresa está entre as que mais crescem no setor de agroquímicos. Possui uma estrutura enxuta, com vendas através de distribuidores, custo operacional baixo, o que permite oferecer produtos com preço mais atrativo. “A Albaugh cresce rapidamente no mercado brasileiro porque lidera uma ‘revolução comercial’ no mercado de genéricos. O novo produto será protagonista dessa estratégia que a Albaugh consolidará nas próximas safras. Sustentaremos o crescimento da marca através da entrega de soluções inteligentes e de menor custo”, opinou. A etapa de desenvolvimento do fungicida Reconil na sojicultura foi conduzida em parceria com a consultoria Campo Verde Pesquisas Agronômicas. “O produto demonstrou eficácia e boa relação custo-benefício no controle da doença Cercospora kikuchii, superando o desempenho do chamado tratamento padrão do produtor em cerca de 70% dos testes realizados em 12 estados brasileiros”, informou o gerente de

Sene, Tiburcio, Friedlander e o coordenador de Marketing Guilherme Reis participaram do lançamento

52

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br



Empresa

Anúncio oficial UPL e Arysta reúnem executivos no Brasil para anunciar transação no valor de 4,2 bilhões de dólares

Peliccer, Shroff, Casanello e Castro anunciaram a aquisição

54

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

plantio até a colheita. O evento serviu também para comunicar a compra aos funcionários da companhia. A escolha do Brasil para realizar o anúncio oficial se justifica pela importância do País para o agronegócio mundial. O CEO da UPL Brasil, Rogerio Castro, também celebrou o marco da aquisição da Arysta. “Vai propiciar um portfólio mais efetivo. Com essa aquisição, a UPL consegue ter presença e time em todo Brasil. Estou extremamente motivado pela complementariedade e a sinergia entre a Arysta e a UPL, tanto nas culturas coC mo no portfólio”, avaliou.

Sedeli Feijó

A

UPL realizou, em agosto, o anúncio oficial da aquisição da Arysta. O evento reuniu executivos de ambas as empresas em Campinas, São Paulo. A compra, no valor de 4,2 bilhões de dólares, deve ser concluída entre o final de 2018 e o começo de 2019, após as aprovações regulatórias de praxe. “A Arysta possui uma posição diferenciada no mercado de produtos químicos agrícolas, devido ao seu foco em especialidades e soluções. Isso está de acordo com nossa visão de longo prazo de fornecer soluções inteligentes, acessíveis e lucrativas para a comunidade agrícola global com um forte foco em inovação, pesquisa e excelência”, avaliou o CEO Global da UPL, Jai Shroff. O CEO Integração e Inovação da UPL, Carlos Peliccer, será o responsável pela integração das duas empresas. “Éramos uma empresa de inovação, com foco em pós-patentes, agora, a nova UPL será uma empresa de patentes e pós-patente, com presença global muito mais efetiva, muito bem estruturada. Teremos uma relação com o agricultor de muita proximidade e também com um portfólio mais completo e robusto. Nosso objetivo é levar benefícios aos agricultores, melhorando ainda mais sua produtividade, com pesquisa e desenvolvimento em lugares que ainda não tínhamos presença, sempre adaptados à realidade de cada agricultor”, explicou. O CEO Global da Arysta, Diego Casanello, comemorou a transação. “Estamos muito empolgados em juntar forças com a UPL. São duas empresas vencedoras que têm uma potencialidade enorme, pois são focadas no cliente e são flexíveis. Existe muita sinergia nos modelos de negócios. Seremos mais competitivos”, destacou. Com a compra, a expectativa é de que a companhia se torne uma das maiores do mundo em proteção de cultivos, com soluções completas para várias culturas, compreendendo defensivos agrícolas, especialidades, biológicos e sementes, capazes de cobrir operações do



Coluna Agronegócios

União Europeia restringe o uso de neonicotinoides

A

União Europeia (UE) decidiu restringir o uso de neonicotinoides às estufas e aos ambientes controlados, afirmando que esses inseticidas seriam responsáveis pelo desaparecimento das abelhas na Europa – para não dizer do mundo. As abelhas são fundamentais para a polinização de inúmeras espécies de importância ambiental ou econômica- uma verdade indiscutível e inquestionável. A polêmica se estabelece ao analisar as causas da redução das populações de abelhas. De acordo com a base de dados da FAO, o número de colônias de abelhas domésticas (Apis melífera) manteve-se ou aumentou nos EUA (22 anos de alta-1996/2016) desde a adoção generalizada dos neonicotinoides nos anos 1990. As populações aumentaram na Europa, cresceram significativamente no Canadá e atingiram um recorde na Austrália e na Ásia e estão em alta em todo o mundo.

MÚLTIPLAS CAUSAS

Por ocasião do XXV Congresso Internacional de Entomologia (Orlando, FL, 2016), organizei um workshop para debater as causas de mortalidade de abelhas (domésticas e nativas), reunindo 15 renomados especialistas de todo o mundo. O relatório final listou inúmeras causas, como a redução do habitat, o manejo inadequado, a base genética estreita, o estresse nutricional, o estresse de transporte, a migração da população rural para as cidades, o desaparecimento de apicultores hobbistas, os problemas sanitários (ácaros, fungos, vírus, bactérias etc), as mudanças climáticas e, sem dúvida, o uso inadequado de inseticidas. De acordo com um relatório de março de 2018, da Agência de Proteção Ambiental (EPA) e do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), os neonicotinoides não são uma grande ameaça à saúde das abelhas. Estudos recentes das agências do Canadá e da Austrália, onde os neonicotinoides também são amplamente utilizados, chegaram às mesmas conclusões dos EUA, frontalmente contrárias à da União Europeia. De acordo com Michael Burgett, professor emérito de entomologia da Oregon State University e coautor do relatório do USDA, "as abelhas não estão, de forma alguma, em perigo". O relatório afirma que existem múltiplos fatores que contribuem para os problemas de saúde das abelhas, mas o ácaro Varroa destructore e os vírus são as causas mais preocupantes. O estresse nutricional é outro fator muito importante, especialmente pelas condições duras do inverno dos países do Hemisfério Norte. Embora não possam ser descartados como problema, os agroquímicos, incluindo neonicotinoides, se tornaram muito menos perigosos nas últimas décadas. "Se houver uma lista das dez principais causas do que está matando as colônias de abelhas, eu colocaria pesticidas no número 11", afirma Burgett.

DIVERGÊNCIA

Fica, assim, explícita a divergência de pontos de vista das agências de risco e reguladoras sobre a ameaça potencial aos polinizadores representada por inseticidas. Essa controvérsia também está presente entre cientistas, não há consenso sobre temas como a causa do

56

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br

Distúrbio do Colapso das Colônias ou da contribuição de cada causa para a redução da população de abelhas. A posição radicalmente oposta entre as agências da UE e dos EUA deve-se, em grande parte, ao forte ativismo existente na Europa, cujos focos principais são a eliminação de pesticidas e de OGMs. A França, refletindo sua hostilidade a muitos pesticidas, pressiona por uma proibição total dos neonicotinoides. Muitas culturas dependem do uso do neonicotinoides para o controle de pragas, uma alternativa considerada interessante por conta de sua eficácia e da baixa toxicidade para insetos benéficos, comparativamente a inseticidas de gerações anteriores, como os organofosforados. Ainda assim, a UE havia imposto uma proibição temporária (2013-2015) do uso de neonicotinoides em girassol, canola e milho, com base em avaliação preliminar da Autoridade Europeia para Proteção de Alimentos (EFSA). Agora, a proibição foi estendida para todas as culturas. Nenhuma proibição está sendo considerada nos principais mercados agrícolas em qualquer outro lugar do mundo, além da Europa.

COMPLEXIDADE

O relatório da EFSA foi amplamente divulgado pela imprensa e repetido ad nauseam por grupos de defesa do meio ambiente como a palavra final e definitiva sobre o impacto de neonicotinoides nas abelhas. Percebeu-se uma ação orquestrada, como a nota da Rede de Ação contra Pesticidas na Europa, chamando a atenção de que “Novos relatórios da EFSA confirmam o alto risco apresentado pelos neonicotinoides às abelhas”, veiculada poucas horas após o lançamento do estudo, em sintonia com manifestações imediatas de muitos legisladores da UE em apoio a uma proibição permanente. As manifestações leigas não atentaram para a complexidade envolvida e não geraram as mesmas críticas apostas por especialistas. De acordo com a EFSA, a agência avaliou oito modos de exposição em 17 culturas para três espécies de abelhas em três níveis diferentes: avaliações de rastreio de Nível I; Estudos de Nível II que estão parcialmente em campo e parcialmente em gaiolas; e estudos de campo completos de Nível III. Ocorre que apenas uma pequena fração dos 1.705 estudos analisados reflete avaliações de campo, parciais ou completas (Níveis II e III). A grande maioria baseia-se apenas nas avaliações preliminares, do Nível I, conduzidas em condições de laboratório, normalmente com doses de inseticidas muito acima das efetivamente usadas no campo. Os estudos de Nível I não são projetados para dar uma resposta final à segurança de um pesticida, servindo apenas para tomar a decisão se os estudos devem prosseguir ou não. Pelo exposto, entende-se a razão pela qual a decisão da UE recebeu tantas críticas de especialistas. De acordo com as informações disponíveis até o momento, não existe nenhum grupo novo de inseticidas no pipeline da indústria, que possa vir a substituir os neonicotinoides no futuro próximo, com a mesma eficiência agronômica e baixa toxicidade para animais de sangue quente. Logo, tal controvérsia ainda vai C continuar por muitos anos.

Decio Luiz Gazzoni, O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja


Coluna Mercado Agrícola

Brasil prepara-se para uma nova supersafra de grãos O Brasil começa o plantio da nova safra 2018/19, com motivação para ganhar novamente. Há indicativos de crescimento de área dos grãos, principalmente a soja, com as primeiras indicações acima de 36,4 milhões de hectares frente aos 34,7 milhões plantados nesta ultima safra. Se confirmados os números, será maior que a área dos EUA, que teve 36,2 milhões de hectares cultivados. Há áreas novas sendo usadas nos estados do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste. Lavouras de cana migraram para soja em São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Mato Grosso e existem áreas de arroz do Rio Grande do Sul que irão receber mais soja neste ano. Com apelo em boa tecnologia, tende a ocorrer bons números de produção. Os primeiros dados apontam para uma safra da oleaginosa ao redor de 121,8 milhões de toneladas frente aos 118,2 milhões de toneladas deste ano. O milho também mostra ótimo potencial de crescimento. O Brasil caminha para colher 241,8 milhões de toneladas de grãos, o que, se for confirmado, será recorde histórico e trará grandes divisas para a economia brasileira.

MILHO

Colheita fechada e negócios pontuais

O mercado do milho registra poucos negócios porque a safra foi colhida e já mostra mais de 60% dos 56,4 milhões de toneladas negociados. Restam para ser comercializadas, desta safrinha, aproximadamente 19 milhões de toneladas de milho para atender ao mercado interno e às exportações até janeiro, quando começará a chegar a safra nova de verão do Sul do País. Nos portos têm ocorrido boas chances de negócios, com remuneração acima de R$ 40,00/42,00 por saca no CIF para embarques de outubro e novembro. Mas as ofertas têm sido limitadas, pois os produtores esperam cotações maiores. O quadro de oferta e demanda fechará ajustado se o Brasil conseguir exportar 30 milhões de toneladas. Até o mês de agosto, tinham sido embarcados aproximadamente oito milhões de toneladas, o que demonstra que ainda falta muito embarque para deixar o mercado interno com quadro ajustado. Ainda há indicativos de algumas importações chegando aos consumidores do Sul do País. Com fôlego positivo, o cenário segue favorável para o milho nestes próximos meses.

SOJA

Comercialização avançada da safra velha e atrasada da safra nova

O mercado da soja do Brasil segue com a comercialização da safra velha na casa de 90%. Resta pouco para ser vendido nestes próximos meses e a safra nova está em ritmo lento. Até agosto havia apenas aproximadamente 15% do volume negociado, com o Mato Grosso na frente com escassos 22%, enquanto o normal para este período do ano seria mais de 40% do total comercializado e o Mato Grosso na faixa de 55% a 60%. O quadro deve seguir lento, porque os produtores esperam mais e o mercado mostra ajustes positivos, o que tem servido para os vendedores reterem as vendas. Os portos chegaram a oferecer R$ 87,00 a saca para maio e até acima deste patamar em alguns momentos. Os negócios com a safra velha têm fluído e os indicativos ficam dentro dos melhores níveis do ano, com apelo na faixa de R$ 93,00 a R$ 94,00 a saca em agosto.

ARROZ

Dólar alto limita avanço nas importações do arroz

Os compradores de arroz importado sentem a alta do dólar. Com isso, as exportações tem sido maiores que as importações e no acumulado de janeiro a julho havia 439 mil toneladas importadas e 996,3 mil toneladas exportadas. Se permanecer este cenário, a tendência do Brasil é de fechar o ano com menos de um milhão de toneladas importadas e aproximadamente 1,5 milhão de toneladas exportadas. Ainda há espaço para bons volumes serem embarcados devido à cotação do dólar que favorece as vendas e impede avanço nas compras. A boa notícia para o setor vem da Epagri, que desenvolveu uma nova cultivar de arroz tipo Arbóreo, lançada para competir com o Italiano, usado para os risotos, com valor agregado maior e espaço para crescer neste segmento. Os produtores gaúchos reclamam que o arroz deveria ter valores acima de R$ 50,00 a saca para C tornar viável o novo plantio.

Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br

Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo segue firme, com níveis acima de R$ 800,00 por tonelada para os produtores brasileiros. Já o produto importado continua cada dia mais caro, devido à alta no mercado internacional, que faz com que o grão chegue ao mercado brasileiro acima de R$ 1.000,00 por tonelada. Quadro permanece positivo para a safra que está nos campos. EUA - Os produtores americanos estão com a safra na reta final. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) está otimista e aponta para uma colheita de mais de 124 milhões de toneladas de soja e de volume superior a 370 milhões de toneladas de milho. As primeiras colheitas começam em algumas semanas e aí será possível observar se os números se concretizarão. CHINA - A China tem buscado negociações com os norte-

-americanos diante da necessidade do país comprar pelo menos dez milhões de toneladas de soja dos Estados Unidos nesta nova temporada. Com grande dependência da soja americana, os chineses buscam amenizar a crise comercial que Donald Trump criou. ARGENTINA - A próxima safra dos argentinos ainda está indefinida, porque o governo tem segurado as taxas de exportações ou retenciones altas. Essa medida limita os ganhos dos produtores e com isso há indicativos de que o novo plantio poderá recuar. O ano que está prestes a terminar foi muito ruim para o setor, devido à seca que atingiu as plantações e causou grandes perdas, trazendo uma safra pequena e insuficiente inclusive para pagar todas as contas. Com isso, os produtores argentinos prometem reduzir o novo plantio de praticamente todos os grãos.

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2018

57


Coluna ANPII

Boas práticas Alcançar o máximo desempenho da inoculação em leguminosas exige, além da escolha de produto de qualidade, uso correto e adequação às demais práticas da agricultura

É

fato conhecido que a inoculação das leguminosas, tio “no pó”) a mortalidade das bactérias será muito elevada, propiciando a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) prejudicando o aporte de nitrogênio. Solos muito compactos em altíssimos níveis, trata-se de técnica muito rentável também prejudicam a fixação, pois dificultam a penetração de para os agricultores. O uso dos inoculantes se firmou no Brasil, ar até os nódulos, reduzindo a quantidade de nitrogênio em tornando o país líder mundial no setor, com uma economia de torno das raízes. mais de 12 milhões de dólares anuais. Uma conjunção de fatoO solo coberto por palhada forma um ambiente de alta quares, unindo pesquisa, fiscalização e indústria, elevou a qualidade lidade para as bactérias, pois proporciona aumento da matéria do produto, oferecendo ao agricultor um insumo biológico de orgânica, mais umidade e temperaturas mais amenas. alta eficiência, com excelentes cepas de bactérias e inoculantes 5 – Alagamento e grandes períodos sem luz diminuem a ativicom elevadas concentrações. dade da nitrogenase, a enzima responsáEntretanto, somente isto não basta. O vel pela fixação do nitrogênio. Ocorrendo uso correto do produto e sua adequação um destes fenômenos, consulte um agrôàs demais práticas da agricultura são connomo ou a empresa que forneceu o inodições indispensáveis para o sucesso no culante para um diagnóstico correto e a O uso dos cultivo de leguminosas. Mas o que são as indicação das medidas agronômicas mais boas práticas de inoculação? adequadas para correções do problema. inoculantes se 1 – Começa pela escolha do produto, 6 – Defensivos químicos. Este é um firmou no Brasil, registro no Ministério da Agricultura, Peponto que requer o máximo de atentornando o país cuária e Abastecimento (Mapa), empresa ção. Os defensivos causam mortalidade produtora contando com boa reputação, das bactérias, em maior ou menor grau. líder mundial no agrônomos presentes no campo para asEntretanto, atualmente é impensável setor, com uma sistência técnica. Fujam dos inoculantes produzir inoculantes sem defensivos nas que têm como argumento apenas o preço sementes. Assim, deve-se administrar economia de mais baixo. Inoculante se compra por qualidade muito bem o uso dos diversos produtos, de 12 milhões de e não por preço. E reneguem totalmente os procurando sempre os que causem mepseudoinoculantes produzidos na fazenda, nores danos às bactérias, fazendo a semedólares anuais com kits fajutos que não produzem inocuadura o mais rápido possível (menos de lantes, mas sim uma água suja. Isto é uma 12 horas) após a inoculação. Mas a meenganação que vem prejudicando muitos lhor maneira de poder empregar as duas agricultores. tecnologias é usar o inoculante no sulco 2 – Solo bem corrigido, com o pH adede plantio, técnica que vem crescendo quado, seguindo a análise de solo e os deno País. Com a aplicação do inoculante mais nutrientes também na dosagem recomendada. A planta é no sulco, o contato das bactérias com os defensivos é mínimo, um todo, e se faltar algum nutriente, o inoculante não irá funciopreservando um grande número de bactérias viáveis. nar. Fósforo, potássio, cálcio, enxofre e magnésio são indispensáEntretanto, com relação à aplicação no sulco, é necessário veis para o funcionamento correto da fixação do nitrogênio. Os tomar todo o cuidado com as misturas no tanque. Muitas vezes, micronutrientes também são fundamentais, em especial molibna ânsia de aproveitar uma aplicação para aportar outros prodênio e cobalto, que atuam diretamente no processo da fixação, dutos, são feitas misturas indevidas, causando elevada mortalie o manganês, responsável por vários processos enzimáticos. dade das bactérias. É sempre prudente, antes de fazer qualquer 3 – Muito cuidado com o fertilizante nitrogenado. Na premistura, que se consulte o fabricante do inoculante, que deve sença de altas quantidades de N disponível, a planta vai absorverificar a compatibilidade da mistura pretendida. ver o N deste fertilizante, impedindo a formação de nódulos. No artigo do próximo mês, daremos sequência ao assunto, Quantidades acima de 20kg/ha, embora recomendadas por mencionando outros pontos que devem ser cuidados para que alguns consultores, prejudicam a nodulação e, por consequênse tenham ganhos expressivos na produtividade com o uso de C cia, a produtividade. inoculantes. 4 – Condições do solo. O inoculante é um produto com micro-organismos vivos. Como não existe organismo que viva Solon Araujo, sem água, se o inoculante for aplicado em solo muito seco (planConsultor da ANPII

58

Setembro 2018 • www.revistacultivar.com.br







Soja • Setembro 2018

Quando iniciar Marcelo Madalosso/Phytus Club

Entenda a importância de iniciar o programa de fungicidas no estádio vegetativo para o manejo da ferrugem-asiática e outras doenças da soja, protegendo o potencial produtivo da cultura

04


Soja • Setembro 2018

A

QUANDO INICIAR O PROGRAMA FUNGICIDA?

Fotos Phytus Club

V

ários aspectos impactam nas condições de campo e, consequentemente, na produtividade da lavoura de soja. Há fatores sobre os quais não se tem controle, como o clima, e outros que correspondem às técnicas de manejo. O manejo de doenças por meio do uso de fungicidas atualmente é indispensável para a produção da soja. Com o crescimento da cultura em área, também ocorre o aumento da pressão de doenças, o que pode reduzir significativamente a produtividade, com média de perdas entre 20% e 30%, podendo chegar a 100%. Os prejuízos financeiros causados pelas doenças podem variar de ano para ano, dependendo da região e das condições climáticas de cada safra. O complexo de doenças da cultura da soja é amplo e vai desde patógenos que se instalam nas sementes, no solo, parte aérea e os que sobrevivem em matéria morta (fungos necrotróficos). A pesquisa nesse segmento avançou muito nos últimos anos, de forma que atualmente o produtor pode proteger a sua lavoura desde a

Figura 1 - Sintoma de mancha-parda (Septoria glycines) nas folhas de soja

semeadura, através da utilização do tratamento de sementes, que confere proteção na fase inicial e auxilia na uniformidade do estande da lavoura, até o final do ciclo da cultura, com aplicações de fungicidas foliares que poderão evitar ou retardar o progresso de doenças.

Entre as principais doenças que preocupam os produtores de soja, os maiores esforços para ajuste dos programas fungicidas estão focados na ferrugem-asiática que, historicamente, tem apresentado o maior potencial de dano à cultura. Entretanto, nas últimas safras, devido a esse foco, outras doenças, como manchas foliares e antracnose, têm sido relegadas a segundo plano. O aumento do potencial de dano dessas doenças está relacionado diretamente ao monocultivo de soja, visto que seus agentes causais são fungos necrotróficos, no caso das manchas; ou hemibiotrófico, no caso da antracnose; características essas que permitem a sobrevivência das doenças em restos culturais, e transmissão via sementes. A rotação de culturas é a principal estratégia de manejo desses fungos, entretanto, é uma prática pouco adotada em nível de campo. Nesse sentido, o manejo desses patógenos está baseado no controle químico tanto via tratamen-

B

Figura 2 - (A) Sintoma de crestamento foliar de cercospora (Cercospora kikuchii) nas folhas e de (B) mancha púrpura nos grãos de soja

05


Soja • Setembro 2018

Figura 3 - Sintoma de mancha-alvo (Corynespora cassiicola) nas folhas de soja

to de sementes como em aplicações em parte aérea. As dificuldades no manejo de manchas foliares, antracnose e ferrugem-asiática, estão no ajuste de posicionamento do programa fungicida. O manejo de patógenos necrotróficos deve levar em consideração a oferta de inóculo, já que em áreas de monocultivo, obrigaA

toriamente, os agentes farão parte do sistema. Devido à disponibilidade de inóculo na palhada, e muitas vezes nas sementes, a infecção na planta pode ocorrer em estádios muito iniciais de desenvolvimento, principalmente quando o período vegetativo coincide com os de chuva e amplitude térmica – fatores que favorecem a infecção por esses

patógenos. Além disso, a chuva, pode atuar como agente dispersante, através dos respingos que carreiam o inóculo da palhada até a planta. Nesse cenário, o momento do contato do ingrediente ativo com a planta torna-se mais importante que propriamente a escolha do fungicida. A decisão do início do programa fungicida focado no manejo da ferrugem-asiática pode acarretar um atraso em relação ao momento correto de controle do complexo de doenças. Isso ocorre principalmente nas épocas de semeadura do cedo (setembro e outubro), onde o incremento de inóculo e o risco de ocorrência da ferrugem-asiática normalmente ocorrerão em estádio reprodutivo. Considerando que o residual do tratamento de sementes na plântula perdura por volta de dez dias a 15 dias, a partir desse período a planta não apresenta mais proteção, ficando exposta à infecção por Septoria glycines, Cercospora kikuchii, Corynespora cassiicola e Colletotrichum truncatum. Após a infecção, a capacidade de os tecidos absorverem os fungicidas fica limitada, podendo gerar uma exposição dos ingredientes ativos utilizados. Nesse sentido, a proteção da planta em estádios vegetativos torna-se essencial para proteger as fo-

B

Figura 4 - (A) Sintoma de antracnose (Colletotrichum truncatum) nos legumes da soja e (B) detalhe das estruturas reprodutivas (acérvulos) do fungo nos legumes da soja

06


Soja • Setembro 2018 Figura 5 - Produtividade da soja com programa fungicida padrão a partir de R1, diferindo apenas os tratamentos em estádio vegetativo, safra 2016/17. Itaara, RS

lhas do baixeiro e reduzir o potencial de inóculo para infecções na porção mediana da planta. Ensaios têm sido conduzidos para determinar a resposta em termos produtivos de aplicações antecipadas. Safra após safra, os resultados indicam a importância do início do programa fungicida em estádio vegetativo para a proteção de potencial produtivo da soja. Na safra 2016/17, na região Sul, foram obtidas respostas que variaram de 3 sc/ha a 4,7 sc/ha pela adoção de uma aplicação em estádio vegetativo (Figura 5). Na região Centro-oeste, na safra 2016/17, as respostas da aplicação em vegetativo variaram de 5,8 sc/ha a 11,3 sc/ha, e na safra 2017/18 variaram de 3,3 sc/ha a 3,6 sc/ha. O impacto dessa aplicação em termos produtivos variou de 5% a 13%, resultado que pode estar relacionado com a mudança do padrão das cultivares de soja. Com o uso predominantemente de cultivares de hábito indeterminado, onde a contribuição da porção média-baixeira é maior para a produtividade, as plantas podem ser afetadas com manchas foliares e antracnose. Observando a Figura 6, fica evidente que além da presença do inóculo nas áreas, o uso de cultivares indeterminadas acentua o impacto desses patógenos na produtividade. Isso ocorre devido à porção de folhas do baixeiro contribuírem para um percentual maior na massa de grãos

Figura 6 - Comparativo da distribuição da massa de grãos de cultivares determinadas e indeterminadas por terço da planta, safra 2016/17. Itaara, RS

dessas cultivares que nas cultivares determinadas. Além do controle, a aplicação de fungicidas contendo estrobilurinas nesses estádios prolonga a longevidade das folhas, resultando em maior translocação de fotoassimilados para os grãos da porção média-baixeira da planta. Na safra 2017/18, foi verificada a resposta das aplicações em estádio vegetativo em diferentes épocas de semeadura da soja. Essa safra teve menos precipitação em comparação à safra 2016/17, e era esperado que as respostas a essa aplicação ocorressem em magnitude menor em relação à safra anterior. Entretanto, as respostas produtivas à aplicação em estádio vegetativo em termos percentuais se mantiveram em torno

de 10%, independentemente da época de semeadura (Figura 7). Esses resultados reforçam que, além do controle, os fungicidas têm atuado na fisiologia da planta de modo a prolongar a longevidade dos tecidos, efeito que se destaca em anos com disponibilidade hídrica na média ou abaixo dela. Quanto à escolha dos fungicidas para controle de manchas foliares e antracnose, há necessidade de espectro de controle. Fungicidas do grupo dos triazóis e triazolinthione, estrobilurinas e carboxamidas de amplo espectro, além de multissítios, têm apresentado boa eficiência quando posicionados de C forma preventiva. Mônica Paula Debortoli e Ricardo Silveiro Balardin, Phytus Group

Figura 7 - Produtividade da soja com programa fungicida padrão a partir de R1, diferindo apenas com e sem aplicação em estádio vegetativo, em três épocas de semeadura, safra 2017/18. Itaara, RS

07


Soja • Setembro 2018

Posicionamento correto

Cláudia Godoy

Apesar dos registros de mutação F129L, as estrobilurinas continuam sendo uma ferramenta extremamente importante para o manejo de doenças na cultura da soja. Contudo, se torna cada vez mais necessário posicionar os fungicidas disponíveis de forma correta. A associação com multissítio ou reforços de outros grupos químicos é indispensável para preservar essas ferramentas para as próximas safras

08


Soja • Setembro 2018

A

ocorrência da ferrugem-asiática em larga escala no Brasil teve início no ano 2001 e, a partir de então, tornou-se um grande desafio à cadeia produtiva da soja. A utilização de fungicidas, que até então era limitada a poucas aplicações, aumentou consideravelmente e se tornou a principal prática empregada pelos produtores para o controle da doença. Atualmente, são realizadas de três a quatro aplicações de fungicidas durante o ciclo da soja, das quais a maioria tem como alvo a ferrugem-asiática.

As grandes perdas causadas pela doença e a consequente necessidade de medidas de combate, aliadas à escassez de informações sobre o manejo correto, resultaram em uma série de equívocos na escolha e no posicionamento dos fungicidas disponíveis nos primeiros anos de epidemia. Muitos fatores podem ser mencionados, mas a aplicação de fungicidas de modo curativo certamente está entre os que mais contribuíram para as baixas eficiências de controle obtidas. Os triazóis foram utilizados em maior escala inicialmente, dando

lugar a misturas de triazóis e estrobilurinas na sequência, os quais dominaram o mercado de fungicidas da soja até o lançamento comercial das carboxamidas. Esses três grupos químicos (triazóis, estrobilurinas e carboxamidas) são, atualmente, a base para o controle da ferrugem-asiática da soja e, juntamente com os multissítios e as morfolinas, dominam o mercado de fungicidas no Brasil. As estrobilurinas compõem uma importante classe de fungicidas, com amplo espectro de controle e longo efeito residual nos tecidos das plantas, conferindo proteção durável. Todas as estrobilurinas agem inibindo a respiração dos fungos por se ligar ao citocromo bc1 no complexo III da respiração mitocondrial. O bloqueio na respiração impede o fungo de produzir energia e em consequência causa sua morte (Figura 1). O mecanismo de ação específico e a alta exposição desse grupo químico aos sucessivos ciclos do fungo Phakopsora pachyrhizi tornam alto o risco de surgimento de resistência para as estrobilurinas. A partir da safra 2009/2010 foi observada redução na eficiência de controle de estrobilurinas sobre a ferrugem-asiática e, em 2013, houve a confirmação da existência de isolados menos sensíveis e da mutação responsável por essa queda (Figura 2). As mutações pontuais compõem o mecanismo de resistência mais importante para fungicidas do grupo das estrobilurinas. No caso específico de Phakopsora pachyrhizi, tem sido demonstrado que a mutação F129L é a principal responsável pela redução na eficiência de controle. Por essa mutação, ocorre a substituição do aminoácido fenilalanina por uma leucina, na posição 129. Ainda não há evidências de que haja custo adaptativo para o patógeno e, desse modo, os isolados resistentes são tão competitivos quanto os sensíveis. Os levantamentos realizados re09


Soja • Setembro 2018 Figura 1 - Representação das diferentes fases do processo de respiração em fungos. As estrobilurinas agem bloqueando esse processo no complexo III (C3)

centemente pela comunidade científica e pelas companhias demonstram que a mutação F129L ocorre com alta frequência e estabilidade nos isolados de Phakopsora pachyrhizi de boa parte das regiões produtoras de soja no Brasil. Embora ocorra resistência cruzada dentro do grupo das estrobilurinas, o que significa que todos os ingredientes ativos são afetados de alguma forma, os efeitos da mutação

sobre a eficiência têm sido variáveis sobre os diferentes ingredientes ativos disponíveis. Apesar de serem escassos os trabalhos que busquem explicar tais diferenças, em condições de campo os princípios ativos que foram menos expostos têm apresentado maior eficiência de controle mesmo na presença de populações menos sensíveis do fungo. Esse fato pode estar relacionado com a afinidade

diferencial que cada estrobilurina possui de se ligar ao sítio de ação, uma vez que a mutação no citocromo b, que confere resistência às estrobilurinas, tem como consequência redução na afinidade de ligação do fungicida a esse sítio. Estudos conduzidos para avaliar a eficiência de programas de controle sobre a ferrugem-asiática têm demonstrado que as estrobilurinas são importantes para a obtenção de alta eficiência,

Figura 2 - Histórico da evolução da resistência de Phakopsora pachyrhizi a diferentes grupos de fungicidas no Brasil

10


Soja • Setembro 2018 Figura 3 - Representação da infecção de uma folha de soja pelo fungo Phakopsora pachyrhizi e o respectivo momento de ação das estrobilurinas

especialmente nas primeiras aplicações. Nesse sentido, é fundamental respeitar o correto posicionamento desses fungicidas, que devem sempre ser aplicados de modo preventivo (Figura 3), onde a eficiência de controle é maximizada e a exposição ao desenvolvimento de resistência é minimizada. A aplicação de misturas contendo triazol + estrobilurina é uma opção interessante durante a fase vegetativa da soja, onde o foco principal é o manejo de manchas foliares e antracnose (Figura 4). Quando posicionadas desse modo, essas misturas têm contribuído para a manutenção das folhas dos primeiros nós das plantas, que nas cultivares de soja modernas representam parte significativa da produção. Além disso, a manutenção da sanidade nessas folhas é importante para permitir que os fungicidas utilizados nas aplicações seguintes possam ser absorvidos de maneira adequada. Misturas de triazol + estrobilurina também têm sido utilizadas na última aplicação de alguns programas de controle, onde a maior pressão é de ferrugem-asiática (Figura 5). Entretanto, nesses casos, torna-se necessária a associação com fungicidas multissítio ou reforços com fungicidas de outros grupos químicos, a fim de diminuir os riscos de desenvolvimento de resistência. Respeitadas essas condições, altos

níveis de eficiência podem ser obtidos. Considerando o cenário atual, onde a resistência de fungos a fungicidas triazóis, estrobilurinas e carboxamidas é uma realidade, torna-se cada vez mais importante posicionar os fungicidas disponíveis de forma correta. A associação com fungicidas multissítio ou reforços de outros grupos químicos é necessária para preservar essas ferramentas para as próximas safras. Dentro desse contexto, as estrobilurinas continuam sendo uma ferramenta extremamente importante para o manejo de doenças C na cultura da soja. Nédio Rodrigo Tormen, Instituto Phytus

Figura 4 - Produtividade da soja submetida à aplicação de um programa de controle padrão com e sem a aplicação de picoxistrobina + ciproconazol no estádio vegetativo da soja

Figura 5 - Produtividade da soja submetida à aplicação de um programa de controle padrão com e sem a aplicação de picoxistrobina + ciproconazol na última aplicação

11


Cultivar

Soja • Setembro 2018

Manejo de resistência

Além de acertar na escolha e no momento das aplicações de fungicidas, é preciso ter em mente que nenhuma prática isolada é eficaz no controle dos fitopatógenos. Por isso, se faz necessário utilizar ferramentas que combinadas ajudam a reduzir a fonte de inóculo inicial e colaboram com o manejo correto das doenças 12

P

ensando no manejo de doenças da cultura da soja, especificamente no controle químico, é fundamental a escolha de produtos que tenham eficiência de controle aprovada pelos órgãos de pesquisa do País, pois o controle químico continua sendo a principal ferramenta para combater a ferrugem-asiática e outras doenças da soja. A Corteva Agriscience, por exemplo, tem em seu portfólio fungicidas que possuem alta eficiência no complexo de doenças da cultura da soja, que foram atestados por instituições de pesquisa e comprovados através dos resultados das áreas comerciais.


Soja • Setembro 2018

Diogo Petla

Figura 2 - Incremento de 4,8 sc/ha na safra 2017/18, em Ipiranga/PR

Diogo Petla

Figura 1 - Incremento de 5,5 sc/ha na safra 2017/18, em Ipiranga/PR

Figura 3 - Incremento de 4,5 sc/ha na safra 2017/18, em Guamiranga/PR Kellen Serber

Para o sucesso no controle de doenças da cultura da soja, a Corteva Agriscience recomenda ao produtor um programa de fungicidas de três a quatro aplicações. Três aplicações são direcionadas para um cenário com baixa pressão de ferrugem, enquanto quatro aplicações são indicadas em locais com ocorrência de grande pressão da doença. O programa de fungicidas da Corteva Agriscience conta com dois produtos em seu portfólio: o Aproach ® Prima e o Vessarya ®. Tanto o produto Aproach® Prima como o Vessarya® contêm na sua formulação a estrobilurina picoxistrobina que, mesmo após o aparecimento da resistência F129L, é atualmente a mais eficiente do mercado. A picoxistrobina confere aos fungicidas alta sistemicidade e efeito translaminar, atingindo uma área foliar protegida maior, o que melhora a absorção do produto pela planta e gera um menor risco de lavagem pela chuva, além de controle eficaz e imediato. O Aproach® Prima é a associação da picoxistrobina com um triazol, o ciproconazol. Vessarya®, por sua vez, combina esta estrobilurina com uma carboxamida, o benzovindiviflupir. A associação da carboxamida com melhor performance com a estrobilurina mais sistêmica do mercado entrega para o produtor o melhor controle de ferrugem-asiática e também do complexo de doenças secundárias. O produto associa dois modos de ação diferentes, sendo ideal para aplicação em rotação (o que aumenta a sustentabilidade dos fungicidas). Sua formulação dispensa o uso de óleo, evitando erros por falta de adição da substância e melhorando a logística de embalagens na propriedade. Além da principal doença da soja (ferrugem-asiática), o programa de fungicidas da Corteva Agriscience também controla um grande espectro

Figura 4 - Incremento de 3,2 sc/ha na safra 2017/18 em Mineiros/Goiás

13


Soja • Setembro 2018 Figura 5 - Incremento de 4,1 sc/ha na safra 2017/18, em Jataí/GO

de doenças, tais como mancha-parda, crestamento foliar, oídio e mancha-alvo. Para que o programa obtenha a máxima eficiência é fundamental que as aplicações sejam realizadas de forma preventiva e que o intervalo seja de, no máximo, de 14 dias, sem deixar de lado a adoção de multissítios junto às aplicações de fungicidas.

PROGRAMA DE FUNGICIDAS DA CORTEVA AGRISCIENCE

Na safra 2017/18, foram realizados estudos em áreas comparativas onde foi utilizado o programa de fungicidas da Corteva Agriscience, composto por aplicações dos produtos Aproach ® Prima e Vessarya ®, e comparado ao padrão utilizado pelo produtor. Os resultados obtidos em 417 áreas obtiveram uma diferença média em produtividade de 2,6 sc/ha.

PRÁTICAS PARA A MANUTENÇÃO DA EFICÁCIA DOS FUNGICIDAS

A Corteva Agriscience participa

Encarte Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 232 • Setembro 2018 • Capa - Marcelo Madalosso/Phytus Club Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075

www.revistacultivar.com.br 14

Figura 6 - Incremento de 3,8 sc/ha na safra 2017/18, em Cristalina-GO

ativamente do Frac-Brasil (Fungicide Resistance Action Committee) e corrobora com as recomendações antirresistência listadas no Quadro 1. Nenhuma prática isolada é eficaz no controle dos fitopatógenos, por isso, existem diversas ações que combinadas ajudam a reduzir a

fonte de inóculo inicial, facilitando C o manejo das doenças. André Ferreira, Fábio Santos e Hudson Pereira,

Corteva Agriscience Divisão Agrícola da DowDuPont

Quadro 1 - Estratégias antirresistência a fungicidas • Incluir todos os métodos de controle dentro do programa de manejo integrado, como: cultivares tolerantes, rotação de culturas, época de plantio adequada, respeito ao vazio sanitário, manejo nutricional equilibrado etc. • Utilizar sempre misturas comerciais formadas por dois ou mais fungicidas com modo de ação distintos. • Aplicar o fungicida em doses e intervalos de aplicação recomendados em bula pelo fabricante. • Os fungicidas devem ser usados preventivamente, ou o mais cedo possível, considerando as condições favoráveis para o desenvolvimento da doença. Evitar aplicações em alta pressão de doença e de forma curativa. • Não utilizar mais que duas apli-

cações de produtos de mesmo modo de ação em sequência. • A associação de produtos com mecanismos de ação sem resistência cruzada deve ser sempre priorizada (sítio de ação específico/multissítio). • Eliminar plantas hospedeiras ou plantas de soja voluntárias é uma medida importante na redução do inóculo, assim como evitar o plantio de soja sobre soja. • Reduzir a janela de semeadura. • Respeitar o vazio sanitário. • Utilizar tecnologia de aplicação e volume de calda adequados para uma eficiente distribuição do produto sobre a planta. • Utilizar cultivares com genes de resistência.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.