Destaques
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Índice
Teste de eficiência
Como foi o desempenho dos fungicidas testados nos ensaios da safra 2017/2018 e de que modo podem contribuir para manejar melhor a ferrugem
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Minador manejado
Como a integração de diversas estratégias pode resultar no combate mais eficiente do bicho-mineiro
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Teias de proteção
A importância de preservar as aranhas nas áreas de cultivo de arroz irrigado, inimigas naturais que se alimentam de pragas como outros artrópodes Cultivar Grandes Culturas • Ano XIX • Nº 233 Outubro 2018 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: André Shimohiro
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas
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Manejo de capim-pé-de-galinha
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Informe - Avanços no manejo da soja
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Amostragem e monitoramento de pragas
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Capa - Fungicidas contra a ferrugem
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Estresse hídrico em soja
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Integração lavoura-pecuária
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Empresas - Power Core Ultra
31
Manejo do bicho-mineiro em café
32
Empresas - Plataforma Intacta 2Xtend
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Aranhas em arroz irrigado
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Programa Empreendedores Sem Fronteiras
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
• Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso
• Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Expedição Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas Inseticida
A Nufarm lançou durante o 27º Congresso Brasileiro de Entomologia o inseticida Carnadine, para controle da mosca-branca. O produto é recomendado para as culturas de soja, milho, algodão, batata, feijão, melão, melancia, tomate e trigo. A empresa também destacou no evento um conjunto de soluções tecnológicas voltado ao manejo de lagartas, percevejos e ao tratamento de sementes. De acordo com o gerente de Produtos da Nufarm, Alexandre Manzini, Carnadine trata-se atualmente do único inseticida do mercado à base do ingrediente ativo acetamiprido, comercializado na formulação líquida. “Carnadine age no controle de adultos e complementa o portfólio de soluções da empresa para o manejo da mosca-branca, que já contava com o inseticida Epingle, altamente eficiente no controle de ovos e ninfas da praga”, disse.
Jose Geraldo Martins dos Santos
Especialistas
A Syngenta proporcionou durante o XXXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas minipalestras ministradas por especialistas. O líder em Herbicidas Brasil, Jose Geraldo Martins dos Santos, elogiou a organização do evento. “Este tipo de encontro proporciona uma forte interação com a comunidade científica, setor em franca expansão”, avaliou. Santos enfatizou, ainda, o herbicida seletivo Dual Gold, indicado para o controle pré-emergente de plantas infestantes. Que pode ser utilizado nas culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, feijão, algodão, girassol e canola.
Congresso
Entre os dias 27 e 30 de agosto ocorreu na cidade do Rio de Janeiro o XXXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. O evento, com tema central “Desafios e sustentabilidade no manejo de plantas daninhas”, foi promovido pela Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas e coordenado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “O tema foi escolhido pensando no atual cenário, onde somos cobrados pelo sistema produtivo para entregar a cada safra soluções inovadoras e pela sociedade para fazer uma agricultura sustentável e com menor impacto para o ambiente”, explicou a presidente do evento, professora Camila Pinho. Participaram do evento 802 congressistas, com 72 apresentações orais e 548 pôsteres.
Soluções
Marcello Cunha
Tecnologia
Durante o XXXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas também foi possível conhecer a tecnologia Enlist, que possibilita o uso do 2,4-D sobre as culturas de soja Enlist e milho Enlist. Os visitantes tiveram acesso a especialistas e pesquisadores e puderam esclarecer dúvidas sobre os benefícios da tecnologia. “Atualmente estamos trabalhando nas estratégias de acesso ao mercado, assim, quando a tecnologia for aprovada, o agricultor terá ainda mais vantagens e poderá acessá-la via as marcas Pioneer e Brevant ou através das marcas de nossos parceiros licenciados”, explicou o Líder de Enlist no Brasil, Marcello Cunha.
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Camila Pinho
A Syngenta participou do 27º Congresso Brasileiro de Entomologia e do 10º Congresso Latino-Americano de Entomologia, em agosto, em Gramado, no Rio Grande do Sul. A empresa reuniu pesquisadores e equipe técnica para realizar minipalestras sobre o manejo adequado de insetos, como percevejos e lagartas. Entre as soluções apresentadas pela marca, esteve o Engeo Pleno S, que traz uma evolução no controle de percevejos, com a segunda geração da tecnologia Zeon. Outro destaque foi a apresentação do Proclaim contra lagartas de difícil controle, como Helicoverpa armigera e Chrysodeixis includens. “O conhecimento técnico-científico é o principal aliado quando falamos sobre controle de insetos e por isso buscamos explorá-lo e disseminá-lo em eventos tão importantes como este”, avaliou o gerente de Inseticidas da Syngenta Brasil, Roberto Dib.
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Operação comercial
A australiana AgBiTech oficializou no Congresso Brasileiro de Entomologia, em Gramado, no Rio Grande do Sul, o início da operação comercial da empresa no País. A companhia mostrou no evento quatro lagarticidas à base de baculovírus, para uso nos principais sistemas de produção brasileiros. As marcas Surtivo Soja, Armigen, Cartugen e Chrysogen chegam aos produtores após dois anos de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e ensaios a campo realizados na fronteira agrícola. De acordo com o diretor para a América Latina, Adriano Vilas Boas, a AgBiTech ingressou no País há cinco anos, ao licenciar um inseticida biológico para o Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro (CCAB), no auge de uma infestação de Helicoverpa armigera.
Presença
A Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont, esteve presente no XXVII Congresso Brasileiro e do X Congresso Latino-Americano de Entomologia. “É uma excelente oportunidade para que a Corteva apresente a força de seu portfólio completo, resultado da fusão entre Dow e DuPont. Por isso, além de mostrar todas as soluções para o manejo de pragas, apresentamos também estudos sobre as novidades que estão para chegar ao Brasil muito em breve, como o Isoclast, inseticida extremamente aguardado para o controle de mosca-branca e pulgão, e a soja Conkesta Enlist E3, que oferece um amplo espectro de controle de pragas”, explicou o líder de Inseticidas da Corteva Agriscience no Brasil, Thomas Scott.
Herbicidas
A Corteva Agriscience apresentou soluções para o controle de plantas daninhas durante o XXXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas (CBCPD), em agosto, no Rio de Janeiro. Um dos destaques foi o herbicida Verdict Max. “Aproveitamos a realização deste evento que reúne toda a cadeia do setor agrícola para apresentar uma ferramenta que vai facilitar a vida dos produtores rurais. Isto porque o novo herbicida Verdict Max é o graminicida que controla o capim-amargoso, o milho voluntário e outras gramíneas com a menor dose de produto comercial do mercado, trazendo mais proteção na lavoura, atrelado ao ganho de eficiência logística pelo menor uso de embalagens”, explica o líder de Herbicidas Seletivos da Corteva Agriscience no Brasil, Rodrigo Takegawa.
Lançamento
Durante o 31º Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, a Basf apresentou dois novos herbicidas. Atectra é indicado para o controle da buva e o Amplexus para o manejo do capim-amargoso. “Na soja, as perdas de produtividade podem superar 80%, principalmente se essas duas plantas daninhas ocorrerem no estágio inicial do desenvolvimento da cultura. É importante que os agricultores pensem no sistema produtivo como um todo e utilizem todas as ferramentas que envolvam boas práticas agrícolas durante o ano todo. Dessa forma, terão um manejo eficiente sem perder produtividade e qualidade”, opinou o gerente sênior de Desenvolvimento Técnico da Basf, Sérgio Zambon.
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Produtos
Durante o 31º Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, a Nufarm destacou o herbicida Zetha Maxx. De acordo com a empresa, o modo de ação do produto favorece a preservação da molécula do glifosato, sendo recomendado no controle de ervas-problemas da soja, como a buva e o capim-amargoso, no pré-plantio. O gerente de Herbicidas da Nufarm, Mario Drehmer, também destacou a tecnologia “glifosato com duplo sal”, principal característica do produto de marca Crucial. Drehmer salienta ainda que desde o lançamento de Crucial, há aproximadamente cinco anos, o produto já foi utilizado em mais de 75 milhões de hectares de lavouras. “A reputação de liderança do produto está associada à sua rapidez de ação nos períodos chuvosos”, resume Drehmer. Para o setor sucroenergético, a Nufarm levou ao congresso informações sobre o herbicida Tractor.
Controle
A UPL destacou no 31º Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas o herbicida Fascinate. Registrado para as culturas de soja, milho, algodão e feijão, o produto é um herbicida de contato. “Nas culturas de algodão, milho e soja, o produto pode ser aplicado no pré-plantio da cultura. No feijão e na soja é indicado também para a dessecação pré-colheita", explicou o gerente de Marketing Herbicidas da UPL, Wagner Seara. Essa é mais uma ferramenta para auxiliar o produtor no manejo de plantas daninhas resistentes no momento pré-plantio e melhorar a qualidade da colheita. O Fascinate tem se mostrado eficaz no controle de duas das principais ervas daninhas que atualmente são resistentes ao glifosato, à buva (Conyza bonariensis) e ao capim-amargoso (Digitaria insularis).
Manejo
A Arysta LifeScience lançou soluções para o manejo de plantas daninhas no 31º Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. Entre os lançamentos estiveram os herbicidas Kennox, Kroll, Sanson Evo e Triclon para soja e arroz, além do herbicida Zonic para cana-de-açúcar. “A Arysta LifeScience é líder no segmento de graminicidas no Brasil com mais de 40% da área de soja com problemas tratados com os produtos já consagrados do nosso portfólio”, explica Ricardo Dias, gerente de Produtos e Mercados Centro-Sul da Arysta LifeScience.
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Dois inseticidas
A UPL destacou dois inseticidas durante o 27º Congresso Brasileiro de Entomologia e o 10º Congresso Latino-Americano de Entomologia. Sperto possui dois modos de ação, o que de acordo com o fabricante facilita o combate a percevejo e ajuda o agricultor a ter um melhor manejo de resistência de pragas na propriedade. “É importante realizar as boas práticas do manejo de resistência, pois os danos que sugadores causam na soja podem levar a uma perda na produtividade de 30% a 35% em regiões que têm grande população da praga”, explicou o gerente de Marketing da UPL, Fernando Arantes. Já o Perito, inseticida com ação de choque, possui amplo espectro de ação. “É eficiente no manejo de percevejos, pulgões e lagartas, recomendado para o manejo de resistência das pragas já na primeira aplicação”, detalhou.
Participação
No 31º Congresso de Plantas Daninhas, a FMC Agricultural Solutions lançou o Stone, herbicida para o controle de plantas invasoras na cultura da soja. A solução possui efeito em folhas largas e estreitas, com ação sobre as principais plantas resistentes e de difícil controle, como buva, capim-amargoso, trapoeraba, capim-colchão, capim-pé-de-galinha e amendoim-bravo. “As plantas daninhas são responsáveis por perdas significativas na cultura da soja. Geralmente, apresentam crescimento rápido, facilidade de disseminação, produzem grande número de sementes e crescem em condições adversas. Para realizar o manejo integrado de plantas daninhas, os produtores devem adotar um conjunto de medidas para prevenir e controlar essas espécies”, observou o gerente de Produto da FMC, Christian Mengatti.
Entomologia
A Bayer participou do XXVII Congresso Brasileiro de Entomologia e divulgou a extensão de uso do inseticida Sivanto para outras culturas e alvos. Anteriormente voltado apenas aos cultivos de café, citros, tabaco e couve, o produto obteve registro para ser usado em alface, algodão, batata, feijão, melão, pepino, pimentão, tomate e uva. “Levamos ao conhecimento dos agricultores e participantes do Congresso a importância sobre o uso correto de nossas soluções, que contam com diversos produtos, entre eles o Sivanto, que possui alta tecnologia e performance no manejo de pragas, sempre respeitando o ambiente”, explicou o gerente de Desenvolvimento Inseticidas da Bayer, Felipe Sulzbach. O serviço Patrulha Percevejo também esteve entre os destaques da empresa no evento.
Algodão
A Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont, anunciou que o Comitê Técnico Nacional de Biossegurança (CTNBio) emitiu parecer técnico positivo autorizando o cultivo e a comercialização do algodão WideStrike 3 no Brasil. Esta tecnologia estará disponível no País para comercialização a partir da safra de 2019. “Os produtores brasileiros precisam ter acesso às tecnologias avançadas com desempenho aprimorado para aumentar os rendimentos e estender a longevidade da tecnologia”, avaliou o líder global de Portfólio da Corteva Agriscience, Larry Robertson.
Participação
A Biogrow Brasil, empresa do grupo Biogrow, apresentou durante o VIII congresso Andav sua linha de produtos nos mercados de frutas, legumes, grandes culturas e produtos para o tratamento de sementes. Larry Robertson
Biológico
Presente no XXVII Congresso Brasileiro de Entomologia, em Gramado, no Rio Grande do Sul, a Simbiose apresentou o inseticida biológico VirControl Sf. A tecnologia desenvolvida em parceria com a Embrapa utiliza o baculovírus Spodoptera frugiperda multiple núcleo polyhedro virus (SfMNPV) para o controle da lagarta-do-cartucho, principal praga da cultura do milho. Além do controle específico da praga, o produto é seletivo a inimigos naturais. www.revistacultivar.com.br • Outubro 2018
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Plantas daninhas Fotos Núbia Maria Correia
Contra o tempo O capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) figura entre as plantas daninhas de difícil controle, com registro de resistência à aplicação de herbicidas no Brasil. Sua presença na lavoura e a demora na detecção tendem a agravar os riscos. Por isso, identificar este tipo de problema no início é fundamental para que medidas de manejo sejam adotadas a tempo de prevenir prejuízos maiores
A
resistência de plantas daninhas a herbicidas é definida como a capacidade inerente e herdável de alguns biótipos, dentro de uma determinada população, de sobreviver e se reproduzir após a exposição a dosagens de um herbicida, que normalmente seriam letais a uma população normal (sus-
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cetível) da mesma espécie (Christoffoleti e López-Ovejero, 2008). A resistência é um fenômeno natural que ocorre espontaneamente nas populações, não sendo, portanto, o herbicida o agente causador, mas, sim, selecionador dos indivíduos resistentes que se encontram em baixa frequência inicial (Christoffoleti et al, 1994).
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Assim, o uso exclusivo e frequente de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação contribuiu para o aumento da pressão de seleção de biótipos resistentes de uma determinada espécie. Nesse caso, mesmo aumentando-se a dosagem do herbicida ou pulverizando-o em plantas menores, o controle é ineficaz.
O biótipo resistente, por outro lado, também pode ser introduzido na área agrícola pela sua disseminação natural (sementes facilmente levadas pelo vento, por exemplo) ou por máquinas, em especial, as colhedoras. No processo de colheita das culturas, esses equipamentos ficam sujos com resíduos vegetais de plantas daninhas, entre eles frutos e sementes. Se a máquina não for devidamente limpa, esses resíduos serão disseminados para outras áreas, seja dentro da mesma fazenda ou de uma fazenda para outra. Até o ano de 2018, 495 casos de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas já foram registrados no mundo, para 255 espécies (148 dicotiledôneas e 107 monocotiledôneas), distribuídos em 92 culturas em 70 países (Heap, 2018). No Brasil, 50 casos de resistência foram relatados até o momento, para 29 espécies de plantas daninhas, sobretudo nas culturas de soja, milho, algodão e trigo (Heap, 2018). Entre as espécies com casos de resistência no Brasil está o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), uma gramínea importante nas áreas agrícolas, principalmente naquelas irrigadas por pivô central no Cerrado brasileiro. Trata-se de uma planta anual ou perene, propagada por sementes e entouceirada (Kissmann, 1997). O primeiro relato de resistência dessa espécie no Brasil foi em 2003, aos herbicidas inibidores da Acetil-CoAcarboxilase (ACCase). Esses herbicidas pertencem aos grupos químicos ariloxifenoxiproprionato (exemplo: fluazifop-p-butyl, haloxifop-methyl e quizalofop-ptefuryl) e ciclohexanodiona (exemplo: clethodim), controlam unicamente gramíneas em pós-emergência e são registrados para diferentes culturas, como algodão, feijão, soja e hortaliças, dependendo do produto comercial (Rodrigues e Almeida, 2011). Posteriormente, em 2016, foi relatada a resistência de capim-pé-galinha ao herbicida glifosato. Este pertence ao grupo químico glicina, substituída, inibe a enzima enol-piruvilshiquimato-fosfato sintase (EPSPs), possui amplo espectro de controle de espécies e, no Brasil, é registrado para uso em diversas culturas agrícolas e áreas não agrícolas. No ano seguinte, em 2017, houve o primeiro relato de resistência múltipla no Brasil do capim-pé-de-galinha aos herbicidas glifosato e inibidores da ACCase (fenoxaprop-p-ethyl e haloxyfop-methyl) (Figura 1). Acredita-se que o mecanismo de resistência da planta daninha a esses herbicidas ocorra por metabolização, ou seja, as plantas adquiriram a habilidade de se desintoxicar da ação dos produtos. Resistência múltipla é a capacidade do indivíduo de sobreviver à aplicação de herbicidas com dois ou mais mecanismos de ação diferentes. A pressão de seleção é maior à medida que o uso desses herbicidas aumenta nas áreas agrícolas, até a seleção do biótipo com resistência múltipla na população. Os prejuízos para a agricultura são imensos, pois a dificuldade de manejo é maior e mais cara. O controle em pós-emergência do capim-pé-de-galinha resistente fica muito comprometido com a perda da ação dos inibidores da EPSPs e ACCase, em decorrência da ausência de outros herbicidas eficazes para plantas com até quatro perfilhos. O amônio-glufosinato é uma opção de manejo em pós-emergência, seletivo para algodão e milho transgênicos
tolerantes a esse herbicida, e também na pré-semeadura de culturas (dessecação). Mas o amônio-glufosinato é eficaz para plantas pequenas (sem perfilhar ou no máximo com um perfilho), na dosagem indicada de bula e adicionando adjuvante à calda. As estratégias de manejo de capim-pé-galinha resistente nas áreas deverão ser integradas. Para tal, o controle químico terá que ser complementado com práticas culturais ou mecânicas, sobretudo no período de outono-inverno, que incluem o cultivo de culturas de cobertura ou de segunda safra (safrinha) ou operações de aração e gradagem, no caso do preparo convencional. Objetiva-se, com isto, evitar o pleno desenvolvimento das plantas de capim-pé-galinha, o que beneficiará o seu controle antes da instalação da cultura de verão. Se nenhum manejo for adotado na entressafra, a dessecação no plantio direto (pré-semeadura das culturas) deverá ser realizada com duas ou três aplicações para o manejo de indivíduos resistentes ao glifosato e/ou inibidores da ACCase. Nesse caso, a primeira dessecação será efetuada com herbicidas sistêmicos (exemplo glifosato “usado para o controle de outras espécies e efeito supressor do capim-pé-de-galinha resistente”, clethodim, quizalofop-p-tefuryl), seguida de complementação com herbicidas imóveis (de contato) (exemplo: paraquat, paraquat + diuron ou amônio-glufosinato), todas antes da semeadura, que poderão
Área de cutivo de soja com intensa infestação de capim-pé-de-galinha
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estar associadas à outra aplicação após a instalação da cultura com herbicidas seletivos. Já no preparo convencional, o controle das plantas adultas, antes da semeadura, será realizado de forma mecânica, com aração ou gradagem, combinado ao controle químico após a instalação da cultura. Seja no plantio direto ou no preparo convencional, é importante retomar o uso de herbicidas graminicidas em pré-emergência, os residuais, como clomazone, isoxaflutole, s-metolachlor, trifluralin etc; escolhidos em função da seletividade para as culturas e efetividade para o capim-pé-de-galinha. De forma geral, as principais culturas de grãos (soja, milho e feijão), fibras (algodão) e energia (cana-de-açúcar) possuem pelo menos um graminicida residual seletivo e eficaz para o capim-pé-de-galinha (Tabela 1). O banco de sementes do solo também deve ser manejado e a melhor forma de fazê-lo consiste em evitar que as plantas daninhas produzam sementes, para impedir a adição de novos diásporos ao solo. Embora o capim-pé-de-galinha
comporte-se como planta anual nas condições brasileiras, é importante que o manejo tenha como propósito não apenas evitar a interferência da planta daninha com a cultura, mas, também, impedir que as plantas produzam sementes e ocorra aumento do banco de sementes resistentes no solo. Nas áreas irrigadas, o maior problema se dá na cultura de milho para sementes (milho semente). Isto se deve à sensibilidade das linhagens e ao crescimento/ fechamento desuniforme das plantas, especialmente das linhagens masculinas (em alguns casos). As linhagens de milho para produção de sementes híbridas são mais sensíveis a herbicidas, restando apenas o herbicida atrazine para a maioria delas. Atrazine é eficaz para o capim-pé-de-galinha, mas em pré-emergência e dependendo da dosagem aplicada. Somado a esse fato, tem-se o crescimento das plantas que não favorece o pleno fechamento do dossel (controle cultural). Logo, não ocorre o sombreamento e o capim-pé-de-galinha cresce e se multiplica com facilidade nos locais, aumentando
o banco de sementes. Estudo realizado pela Embrapa, em Brasília, sobre o monitoramento da resistência de capim-pé-de-galinha aos herbicidas glifosato, clethodim e haloxyfop-methyl nas regiões agrícolas do Distrito Federal, Leste de Goiás e Noroeste de Minas Gerais, que reuniu 21 populações com suspeita de resistência comparadas a uma população sensível (de São Paulo), mostrou que 76% das populações (16 delas) foram sensíveis aos herbicidas e apenas 24% tiveram problema de resistência (um resistente ao clethodimehaloxyfop-methyl e quatro resistentes ao glifosato). Nenhuma registrou resistência múltipla. Embora o problema de resistência de capim-pé-de-galinha faça parte da realidade brasileira, nem toda planta sobrevivente é resistente. Muitas falhas de controle observadas no campo são decorrentes da aplicação no estágio errado da planta, dosagem insuficiente (para aquela situação) e ausência de óleo mineral, para os produtos comerciais que necessitam da adição de óleo mineral à calda.
Figura 1 - Plantas dos biótipos suscetível (São Paulo) e resistente (Mato Grosso) de capim-pé-de-galinha aos 40 dias após a aplicação dos herbicidas clethodim (p.c. Select 240 EC) + 0,5% de Lanzar, haloxyfop-methyl (p.c. Verdict R) + 0,5% de Joint, quizalofop-p-tefuryl (p.c. Panther) + 0,5% de Lanzar, fenoxaprop-p-ethyl (p.c. Podium EW) e glifosato (p.c. Zapp QI 620) em plantas com 3 a 4 perfilhos, além da testemunha sem herbicida
BIÓTIPO SUSCETÍVEL
BIÓTIPO RESISTENTE
Clethodim (108 g/ha)
10
Haloxyfop-methyl (60 g e.a./ha)
Quizalofop-tefuryl (72 g/ha)
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Fenoxaprop-ethyl (110 g/ha)
glyphosate (1,0 kg e.a./ha)
Testemunha
Tabela 1 - Herbicidas registrados para o controle de capim-pé-galinha, assim como exemplos de culturas que podem ser usadas, época de aplicação, grupo químico e mecanismo de ação de cada um deles Herbicidas Ametryn Amicarbazone Atrazine Clomazone Isoxaflutole Metribuzin Pendimethalin S-metolachlor Sulfentrazone Tebuthiuron Trifluralin Amônio-glufosinato Clethodim Fenoxaprop-p-ethyl Fluazifop-p-butyl Glyphosate Haloxyfop-methyl Nicosulfuron Paraquat Quizalofop-p-tefuryl
Culturas (exemplos) Cana-de-açúcar, milho Cana-de-açúcar, milho Cana-de-açúcar, milho, sorgo Algodão, arroz, cana-de-açúcar Cana-de-açúcar, milho Cana-de-açúcar, soja Algodão, cana-de-açúcar, feijão, soja Algodão, cana-de-açúcar, feijão, milho, soja Cana-de-açúcar, soja Cana-de-açúcar Algodão, cana-de-açúcar, feijão, soja Dessecação(1), Algodão e Milho tolerantes Algodão, feijão, soja Feijão, soja Algodão, feijão, soja Dessecação(1), soja, milho e algodão tolerantes Algodão, feijão, soja Milho Dessecação(1) Algodão, feijão, soja
Época de aplicação PRÉ PRÉ PRÉ PRÉ PRÉ PRÉ PPI/PRÉ PRÉ PRÉ PRÉ PPI/PRÉ PÓS (s/ perf.) PÓS (até 4 perf.) PÓS (até 4 perf.) PÓS (até 4 perf.) PÓS (até 4 perf.) PÓS (até 4 perf.) PÓS (s/ perf.) PÓS (s/ perf.) PÓS (até 4 perf.)
Grupo químico Triazinas Triazolinonas Triazinas Isoxazolidinona Isoxazoles Triazinonas Dinitroanilinas Cloroacetamidas Triazolinones Ureias substituídas Dinitroanilinas Ácidos fosfínicos Ciclohexanodionas Ariloxifenoxiproprionatos Ariloxifenoxiproprionatos Derivados da glicina Ariloxifenoxiproprionatos Sulfonilureias Bipiridílios Ariloxifenoxiproprionatos
Mecanismo de ação Inibe ofotossistema II Inibe o fotossistema II Inibe o fotossistema II Inibe a síntese de carotenóides Inibe a síntese de carotenóides Inibe o fotossistema II Inibe a polimerização da tubulina Inibe a divisão celular Inibe a PPO Inibe o fotossistema II Inibe a polimerização da tubulina Inibe a glutamina sintetase Inibe a ACCase Inibe a ACCase Inibe a ACCase Inibe a EPSPs Inibe a ACCase Inibe a ALS Inibe o fotossistema I Inibe a ACCase
(1) Aplicação no sistema de plantio direto, antes da semeadura das culturas (exemplo algodão, feijão, milho e soja). (2)s/perf.- sem perfilhos. Fonte: Rodrigues & Almeida (2011)
dos biótipos resistentes. Para aqueles que são adeptos do uso dos inibidores da ACCase, como os produtores de feijão e hortaliças, ressalta-se que rotacionar os grupos químicos “ciclohexanodionas - dim” e “ariloxifenoxiproprionatos- fop” pode ser uma boa estratégia para minimizar ou retardar a seleção de indivíduos resistentes a esses herbicidas, comparado ao uso exclusivo do mesmo grupo químico. Mas, o correto é diversificar, seja em relação a produtos C ou a práticas e estratégias de manejo.
Núbia Maria Correia Embrapa Cerrados
Fotos Núbia Maria Correia
O óleo mineral, em alguns casos, é substituído por outros produtos que, além de não beneficiar, podem interferir negativamente na ação do herbicida. Plantas adultas de capim-pé-de-galinha já florescidas não são controladas com efetividade pelos herbicidas glifosatoe inibidores da ACCase em uma única aplicação. Nessa condição, deve-se fazer aplicação sequencial. As plantas resistentes são de difícil controle e exigem mudanças não apenas na escolha de herbicidas, mas no manejo da área a médio e longo prazo. Por isso, o problema da resistência deve ser identificado no início, para que outras estratégias de manejo sejam adotadas. Nas áreas agrícolas sem o registro de resistência, o setor produtivo (produtor rural, agrônomos, técnicos etc) poderá agir de forma proativa e, com isto, prevenir a introdução ou a seleção
O capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) é uma gramínea importante nas áreas agrícolas
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Informe
Avanço biológico
O
Fotos Microquímica
As mudanças no manejo da cultura da soja por conta de ferramentas como micro-organismos que promovem o crescimento e a nutrição das plantas e dos protetores biológicos para inoculantes
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Brasil tem vivenciado nos últimos anos uma mudança no manejo da soja. É possível observar esse movimento através da introdução de novas técnicas de controle biológico, como nos fungicidas e nematicidas contendo bactérias do gênero Bacillus e fungos Trichoderma. Essas ferramentas mudam a forma de manejar os defensivos, pois exigem a adoção de práticas integradas e muita tecnologia na aplicação para preservar os micro-organismos e obter a eficiência necessária para o controle de doenças ou pragas. Os micro-organismos que promovem o crescimento e a nutrição da soja também acompanham a evolução, através do uso da tecnologia de coinoculação, que consiste na aplicação de bactérias do gênero Bradyrhizobium e Azospirillum em conjunto. Esta prática se iniciou em 2014, com a recomendação da Embrapa, e para a safra 2018/19 estima-se que o seu uso ultrapasse os dez milhões de hectares na soja. Outra tecnologia que recentemente foi ofertada ao mercado é a de protetores biológicos para inoculantes, que além de resultarem em uma maior flexibilidade (antecipação do tratamento), podem proporcionar também incremento de produtividade. A produção de grãos na cultura da soja é fortemente ligada à equilibrada nutrição nitrogenada, tendo em vista que o elemento é componente de aminoácidos e, em consequência, das proteínas abundantes no produto final. Por sua vez, o nitrogênio na cultura é dependente da boa fixação biológica, de modo que tecnologias que possam incrementar a fixação e minimizar as deficiências observadas no campo (visíveis ou não) são fundamentais no aumento da produtividade. A coinoculação, por exemplo, promove uma melhor nutrição nitrogenada para a cultura, além de melhorar e ampliar o sistema radicular, tornando a planta mais resistente a estresses bióticos e abióticos, como o ataque de patógenos e a deficiência hídrica. Os protetores para inoculantes, por sua vez, que são adicionados ao tratamento ou introduzidos nas formulações de inoculantes, promovem uma maior
sobrevivência das bactérias, em especial ao ressecamento e ao contato com defensivos e fertilizantes. Com o aumento da quantidade de bactérias vivas por semente é possível o tratamento antecipado com inoculante. Produtos registrados no Mapa garantem de dois dias a 60 dias de antecipação, sendo que alguns são específicos para tratamento industrial e outros também para tratamento “onfarm”. No entanto, um aspecto relevante observado mais recentemente é o benefício do uso da tecnologia no momento do plantio, que tem apresentado resultados surpreendentes e pode ser mais uma ferramenta para melhorar os resultados na soja.
RESULTADOS DE PESQUISAS RECENTES
Foi realizado um estudo no Instituto Federal Goiano (IFGO), no campo experimental de Rio Verde/Goiás, para avaliar a eficiência da coinoculação de Bradyrhizobium japonicum e Azospirillum brasilense na cultura da soja, em três safras agrícolas, 2015/16, 2016/17 e 2017/18. Os ensaios foram instalados em delineamento em blocos ao acaso, sendo os tratamentos apresentados na Tabela 1. Em todos os tratamentos as sementes receberam aplicação de fungicidas, inseticidas e micronutrientes, anteriormente à inoculação. Além da produtividade, foram avaliadas variáveis como padrão de nodulação e nitrogênio total da parte aérea. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey (5%). O tratamento de inoculação padrão (reinoculação) apresentou uma produtividade de 3.544kg/ha, superior estatisticamente à testemunha (3.003kg/ha), incremento de 541kg/ha, superior aos dados médios apresentados pela Embrapa, de 8% de acréscimo com uso anual de inoculante. Com coinoculação no tratamento de sementes e sulco de plantio, a produtividade foi de 4.072kg/ ha e 4.149kg/ha, um acréscimo de 528kg/ha e 605kg/ha,
respectivamente, em relação à inoculação padrão. Também foram conduzidos ensaios nas safras 2016/17 e 2017/18, para avaliação da eficiência do tratamento antecipado com um protetor biológico e inoculante Bradyrhizobium na cultura da soja. Com o uso do protetor, dez dias antes do plantio, se obteve uma produtividade de 3.731kg/ha, estatisticamente superior à testemunha (3.218kg/ha) e igual à inoculação padrão (3.676kg/ha). Com a aplicação do protetor, no momento do plantio, se obteve uma produção por área de 4.242kg/ha, superior à testemunha e à inoculação padrão, com acréscimo de 1.024kg/ ha e 566kg/ha, respectivamente. Os resultados de produtividade de ambos os trabalhos foram correlacionados positivamente com uma melhor nodulação das plantas e com o nitrogênio total da parte aérea, sendo os maiores valores encontrados com uso de coinoculação e protetor biológico, o que indica a contribuição das tecnologias na melhoria da fixação biológica de nitrogênio. Tendo em vista o custo atual de inoculantes e protetores para os produtores, é possível afirmar que estas tecnologias são das mais vantajosas economicamente na cultura da soja, chegando a atingir um retorno de 20 vezes a 30 vezes sobre o investimento realizado. O uso destas novas biotecnologias para controle de pragas, de doenças e para a nutrição da soja, é fundamental dentro de uma nova plataforma de manejo, onde seja possível combinar ferramentas químicas e biológicas para agregar sustentabilidade, com o uso racional dos insumos disponíveis ao produtor rural brasileiro. Essa sinergia aproxima o Brasil do objetivo de ter, cada vez mais, plantas fortes pela natureza e tecnologias desenvolvidas C para a agricultura brasileira. Fernando Bonafé Sei, Microquímica
Sei aborda o avanço das tecnologias e as mudanças no manejo da soja
Tabela 1 - Resultado de ensaios para avaliar a eficiência da coinoculação Tratamento Modo de Aplicação Dose Sem inoculação Inoculação = Brasyrhizobium Tratamento de sementes 100ml/ha Coiniculação = Brasyrhizobium + Azospirillum Tratamento de sementes 100 + 100ml/ha Coiniculação = Brasyrhizobium + Azospirillum Trat. de Sem. + Sulco de plantio 100 + 200ml/ha
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Milho e Soja
Ação planejada
Como o uso de diferentes métodos de amostragem pode ajudar o técnico responsável e o produtor de culturas como soja e milho a obter os dados presenciais, quantitativos e a localização precisa dos insetos-praga dentro da área manejada para escolher com mais segurança a melhor forma de controle
U
m dos principais problemas que resultam no baixo nível de produção em lavouras de milho e soja reside nos danos causados por insetos-praga. Esses artrópodes atacam diferentes partes do vegetal, desde seu sistema radicular até a parte aérea, em que podem acarretar desfolha total da planta, chegando a reduzir em até 100% a produção final. Os dados recentes demonstram que esses artrópodes causam um prejuízo anual em média de 7,7% na produção agrícola no Brasil. O fomento no mercado de produtos químicos para prevenção de insetos-praga e patógenos transmissores de doenças ocorre devido à necessidade do controle rápido e em larga escala. O uso desses produtos acarreta aproximadamente seis a oito aplicações por safra. O mau uso gera resistência de insetos-praga, diminui a população de inimigos naturais e faz com que pragas secundárias passem a ser rotineiras na cultura. Além disso, ocorre a elevação dos gastos com aplicações muitas vezes desnecessárias em determinadas áreas. A agricultura moderna não pode ficar restrita apenas ao controle químico (em muitos casos eficiente), mas também integrar outros métodos. Na busca por minimizar essa variável, o homem desenvolveu uma filosofia de controle, onde ocorre a integração de diferentes técnicas de manejo da cultura, para controlar qualquer organismo que está causando danos econômicos, sendo tais conhecimentos a base para o chamado Manejo Integrado de Pragas (MIP). O trabalho se inicia com a identificação das pragas e dos inimigos naturais na área, através do monitoramento. Quando ocorre o aparecimento de determinado inseto durante o desenvolvimento da cultura, com flutuação populacional, mas sem ocasionar danos às plantas, caracteriza-se o nível de equilíbrio (NE). Jáo nível de controle (NC) é a faixa onde a área se depara com um alto número de amostragens da praga, em que medidas de redução populacional do artrópode devem ser adotadas, a fim de evitar que o nível de dano eco-
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Tabela 1 - Níveis de controle adotados durante o monitoramento das principais pragas amostradas por ponto das culturas de soja e milho Lagartas
Níveis de Controle (NC) Maior que 1,5* Menor que 1,5* Chrisodeixis sp. 10 5 Spodoptera sp. 10 5 Helicoverpa armigera 6 4 Percevejos Adultos Ninfas Euschistus heros 4 5 Piezodorus guildinii 4 5 *Lagartas pequenas (menor ou igual a 1,5cm de comprimento) e grandes (maior que 1,5cm).
Figura 1 - Cigarrinhas amostradas em avaliação visual e fotográfica na soja (esquerda) e amostragem com pano de batida na soja (direita)
nômico (NDE) seja atingido. Com as amostragens realizadas, o inspetor de campo tem os números de flutuação de cada inseto encontrado (deve haver treinamento para identificar os principais artrópodes da cultura). Esses dados irão servir como base para a tomada de decisão e caracterizar o inseto como praga. Após a análise e interpretação dos dados amostrais ocorre a escolha do melhor método de controle para a ocasião e praga em incidência, sendo os controles culturais, comportamental, mecânico, físico, químico e biológico. Nesse sentido, os pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás, da Faculdade Montes Belos e do Instituto Federal Goiano realizaram o monitoramento na Fazenda Bom Sucesso, imóvel Buriti, que se localiza no município de Palmeiras de Goiás e possui as culturas de soja em pivô central (18,53ha) e milho na área adjacente (21,97ha), totalizando uma área de 40,5ha. Os métodos utilizados para as amostragens dos insetos foram visual e fotográfico, pano de batida, armadilha luminosa e armadilha de feromônios atraentes. Foi utilizado um GPS de navegação modelo Garmin Etrex (georreferenciamento) para demarcação do perímetro da propriedade, dividindo uma grade amostral de 50m x 50m com o auxílio do programa Sulfer9, gerando um total de 162 pontos em campo. As amostragens ocorreram apenas em 15 pontos na área de pivô central e dez pontos na área adjacente, sendo demarcados por aparelho de navegação e estacas de identificação. As avaliações para todos os métodos foram realizadas semanalmente. As amostragens de insetos na soja ocorreram de acordo com o desenvolvimento da cultura, sendo da emergência até o estágio de plantas com segundo trifólio aberto (V3), realizadas avaliações visuais e fotográficas, buscando o aparecimento de insetos nas plantas, palhadas e na superfície do solo, em função do baixo porte das plantas (Figura 1a). Já no estágio V4 até a maturação das plantas (R8) foram realizadas amostragens com pano de batida, onde as plantas são cuidadosamente sacudidas para a queda dos insetos (Figura 1c). Foi utilizado para batida um pano branco, tendo nas bordas uma bainha onde são inseridos cabos de sustentação, com dimensões de 1m de comprimento por 1m de altura. Foram realizadas
quatro batidas de pano por ponto, totalizando 1,8m2 de área amostrada. As amostragens ocorriam sempre no período da manhã (9h) e os insetos que caíam no pano de batida eram identificados pelo inspetor de campo e contabilizados, a fim de comparar com os níveis de controle da praga em questão. O levantamento das pragas da parte aérea do milho também era realizado nos mesmos horários da soja, pelo método visual e fotográfico, avaliando-se os pontos já predefinidos, observando cinco plantas (Figura 1b). Os dados de cada ponto amostrado eram registrados em planilhas de monitoramento, que continham as identificações dos artrópodes e dos pontos amostrais. As armadilhas luminosas eram do modelo Intral, compostas por uma lâmpada fluorescente ultravioleta de 15 watts F15 TB/
Figura 2 - Montagem da armadilha luminosa em pontos demarcados por GPS Garmin Etrex (esquerda); Armadilha luminosa instalada (direita)
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BL, que atraía insetos alados, carregada por bateria automotiva instalada na base da armadilha. Esses insetos, após baterem nas hastes laterais da armadilha, caíam em um saco plástico com formol e papel corrugado localizado na parte inferior da armadilha (Figura 2a e 2b). A armadilha foi posta a uma altura entre 1,5 metro do solo, ligada durante o período da noite e montada semanalmente em um mesmo ponto. Coletando insetos-praga, inimigos naturais e visitantes que voavam durante a noite, em um raio aproximado de 175 metros. A armadilha luminosa teve como foco avaliar as pragas da parte aérea das duas culturas. Eram ligadas na parte da tarde e desligadas na manhã do dia seguinte, quando se coletavam os insetos para a identificação. As avaliações ocorriam em um total de quatro armadilhas instaladas aleatoriamente em pontos predefinidos por GPS em toda a área. As armadilhas de feromônios foram empregadas desde a instalação das culturas, definidas para avaliar a correlação entre o número de mariposas e lagartas a serem encontradas na área. Foram montadas aproximadamente 60 armadilhas do modelo Delta com feromônios colocados no centro do piso adesivo em toda a propriedade, em pontos diferentes, podendo atrair quatro espécies de mariposas: lagarta militar (Spodoptera frugiperda), lagarta das vagens (Spodoptera eridania), lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens), lagarta da maçã (Heliothis virescens) e (Helicoverpa armigera), sendo que cada armadilha continha uma cápsula com o determinado feromônio, específicos para a espécie (Figura 3a e 3b). As armadilhas de feromônios tinham como base uma substância química que é responsável pela comunicação entre indivíduos de uma mesma espécie. Seu uso
A
Figura 3 - Piso da armadilha de feromônio com adultos de lagartas falsa-medideira capturados (A); Armadilha instalada (B)
foi de extrema importância para a identificação dos insetos no início do ciclo da cultura, capturando os adultos e prevendo as possíveis lagartas que poderiam se instalar na área. Os pisos das armadilhas eram quinzenalmente trocados e as flutuações dos insetos coletadas e anotadas para tomada de decisão. As pragas da parte aérea amostradas em soja foram lagarta falsa-medideira (Chrisodeixis includens), lagarta Helicoverpa armigera e lagarta das vagens (Spodoptera sp.), sendo também capturadas na fase adulta (mariposas). Os percevejos sugadores de grãos foram o percevejo verde (Nezara viridula), o percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo marrom (Euschistus heros). Já no milho foi encontrada a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) na fase jovem e adulta e o percevejo formigão (Neomegalotomus parvus). Os principais inimigos naturais encontrados em ambas as culturas foram as joaninhas e as tesourinhas. A tomada de decisão para o combate das principais pragas amostradas por ponto nas duas culturas ocorreu baseada nos parâmetros de níveis de equilíbrio (NE) e controle (NC), descritos na
França, Bellizzi, Camargo, Thamara e Luiz Felipe destacam a importância do monitoramento de pragas
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Tabela 1. Nas amostragens com armadilha de feromônios foram detectados sinais de incidência quando capturadas acima de 15 mariposas por ponto. Com a utlização dos diferentes métodos de amostragens, houve a melhor identificação dos níveis de flutuação populacional e a localização (focos de maior incidência) de todos os insetos benéficos e insetos-praga em toda a área trabalhada, diminuindo a quantidade de aplicações (maior precisão), com produtos de menor valor comercial e toxidade (inseticidas fisiológicos), devido à identificação e ao combate às pragas ainda em fase inicial, mantendo a produção em alta e C diminuindo gastos.
Edgar Estevam de França, Nilton Cezar Bellizzi e José Neto Cassiano de Camargo, Universidade Estadual de Goiás – UEG Thamara Estevam de França Viana, Faculdade Montes Belos – FMB Luiz Felipe Morais Bellizzi, Instituto Federal Goiano – IFG
Capa
Teste de E eficiência O que dizem e de que modo podem contribuir para o manejo da ferrugem-asiática os ensaios em rede realizados com fungicidas na safra 2017/18. Informações não são recomendações de controle e devem ser utilizadas na determinação de programas que priorizem a rotação de produtos com diferentes modos de ação, adequados à época de semeadura
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nsaios em rede para comparação da eficiência de fungicidas para o controle de doenças na cultura da soja vêm sendo realizados desde a safra 2003/04. Para a ferrugem-asiática da soja, uma das doenças mais severas da cultura, onde há uma correlação direta entre o aumento do controle e o crescimento de produtividade, essas informações são de extrema importância no manejo da doença. Elevadas perdas de produtividade aconteceram nas primeiras safras com essa doença, por desconhecimento. No entanto, as informações dos ensaios em rede não se constituem em recomendações de controle, uma vez que nos ensaios são utilizadas aplicações sequenciais dos fungicidas para determinar a eficiência de controle. Aplicações sequenciais favorecem seleção de populações menos sensíveis de
fungos. Essas informações devem ser utilizadas na determinação de programas de controle, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação e adequando os programas à época de semeadura. Os ensaios em rede são realizados em semeaduras tardias, a maioria a partir de novembro, para evitar o escape da doença. O escape atualmente se constitui na principal estratégia de manejo da ferrugem-asiática da soja. Nos últimos dez anos houve uma mudança no desenvolvimento de cultivares com grande demanda por cultivares de soja precoce, na busca principalmente por tornar possível uma segunda safra com a cultura do milho. Nas cultivares precoces, semeadas logo após o final do vazio sanitário, os sintomas da doença tendem a aparecer somente no final do ciclo e, em algumas situações, nem aparecem. Além da eficiência, os ensaios têm permitido acompanhar as mudanças de sensibilidade do fungo aos diferentes fungicidas. Essas mudanças de sensibilidade são atribuídas à seleção de isolados do fungo menos sensíveis, em consequência do uso intensivo de fungicidas. Os principais modos de ação utilizados no controle da ferrugem-asiática são os fungicidas sítio-específicos inibidores da desmetilação (IDM, triazóis), os inibidores da quinona externa
(IQe, estrobilurinas) e os inibidores da succinatodesidrogenase (ISDH, carboxamidas). Desde 2014/15, fungicidas multissítios como mancozebe, clorotalonil e fungicidas cúpricos têm sido avaliados nos ensaios na rede de forma isolada ou associados a fungicidas sítio-específicos. Na safra 2017/18 foram realizados 39 ensaios com fungicidas sítio-específicos para o controle da ferrugem-asiática, e avaliados 21 fungicidas, sete ainda em fase de registro (T15 a T18 e T20 a T22) e os demais (T2 a T14 e T19) são misturas prontas registradas de fungicidas com diferentes modos de ação (Tabela 1). Nesses ensaios são realizadas aplicações sequenciais dos produtos, que começam aos 45-50 dias após a germinação das plantas e são reaplicados em intervalos de 14 dias. O intervalo entre as aplicações nos ensaios em rede foi reduzido em relação aos anos anteriores. Nos ensaios são realizadas aplicações calendarizadas para diminuir a variação entre os locais e permitir a sumarização conjunta. A calendarização não é uma recomendação de controle e sim uma metodologia adotada que permite juntar os dados para a análise. Na análise estatística dos dados foram eliminados os ensaios onde a primeira aplicação foi realizada com sintomas de ferrugem (três ensaios), ensaios com baixa severidade da doença (cinco ensaios) Hercules Campos
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Hercules Campos
A ferrugem-asiática é uma das doenças mais severas na cultura da soja
e outros nove ensaios por razões estatísticas. Apesar da alta variabilidade observada nos ensaios em decorrência da variabilidade do fungo Phakopsora pachyrhizi nas regiões, diferentemente da safra 2016/17, os resultados não foram separados na análise conjunta, sendo apresentada uma única tabela. De forma semelhante à safra 2016/17, a eficiência dos fungicidas contendo carboxamidas (ISDH) variou em razão da menor sensibilidade do fungo a esse modo de ação, porém, sem apresentar um padrão de distribuição regional. Nessa safra, as misturas de fungicidas contendo protioconazol (IDM) que vinham sendo avaliadas nos outros anos, também apresentaram redução de eficiência em alguns locais, porém sem apresentar padrões regionais que permitissem separação dos ensaios. Dessa forma, a média da análise apresentada na tabela de sumarização envolve todas as variações observadas nos ensaios nas diferentes regiões. Todos os tratamentos apresentaram severidade significativamente inferior à testemunha sem fungicida (T1) (Tabela 1). As menores severidades e maiores porcentagens de controle foram observadas para os tratamentos com impirfluxam + tebuconazol (T17, 80%), benzovindiflupir + ciproconazol + difenoconazol (T18, 77%), picoxistrobina + benzovindiflupir (T10, 73%), piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade (T11, 73%), bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (T14, 72%), fluxapiroxade + oxicloreto de cobre (T16, 72%) e mancozebe + picoxistrobina + tebuconazol (T19, 71%), sendo que os fungicidas dos tratamentos 16, 17 e 18 ainda estão em fase de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste20
cimento (Mapa). A menor eficiência de controle foi observada para o tratamento com azoxistrobina + ciproconazol (T2, 28%), sendo inferior aos demais tratamentos e superior à testemunha sem fungicida. Os demais fungicidas apresentaram eficiência igual ou superior a 49% de controle. Nas primeiras safras dos ensaios em rede havia diversos fungicidas com eficiência acima de 80%, principalmente triazóis (IDM) e misturas de triazóis e estrobilurinas (IDM + IQe), com duas aplicações e intervalos de 21 dias entre as aplicações. No entanto, atualmente, em razão das populações do fungo menos sensíveis aos dois grupos (IDM e IQe) estarem distribuídas na maioria das regiões, a eficiência desses fungicidas nos ensaios é menor, mesmo com maior número de aplicações e menor intervalo entre as aplicações. Todos os fungicidas registrados devem ser utilizados em programas de manejo, adequando a época de semeadura e incluindo os fungicidas multissítios. Se somente os fungicidas com maior eficiência forem utilizados no controle, a tendência é que favoreçam a pressão de seleção para populações menos sensíveis e, na safra seguinte, podem ter sua eficiência reduzida. As maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com impirfluxam + tebuconazol (T17 – 4.158kg/ ha), piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade (T11 – 4.034kg/ha), benzovindiflupir + ciproconazol + difenoconazol
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(T18 – 3.999kg/ha), picoxistrobina + benzovindiflupir (T10 – 3.990kg/ha), bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (T14 – 3.983kg/ha), piraclostrobina + fluxapiroxade (T8 – 3.921kg/ha), azoxistrobina + benzovindiflupir + difenoconazol (T20 – 3.917kg/ha), fluxapiroxade + oxicloreto de cobre (16 – 3.916kg/ha), mancozebe + picoxistrobina + tebuconazol (T19 – 3.908kg/ha), azoxistrobina + benzovindiflupir (T9 – 3.853kg/ha), trifloxistrobina + protioconazol (T5 – 3.814kg/ha), protioconazol + fluindapir (T22 – 3.813kg/ha), tetraconazol + fluindapir (T21 – 3.808kg/ ha), tebuconazol + clorotalonil (T13 – 3.782kg/ha) (Tabela 1). A menor produtividade foi observada para o tratamento testemunha (T1- 2.931kg/ha), que se diferenciou significativamente de todos os tratamentos com fungicidas, com 30% de redução de produtividade em relação ao tratamento 17. A correlação entre as variáveis severidade e produtividade foi de-0,97, o que indica uma estreita relação linear entre o aumento da severidade da doença e a queda na produtividade. O protocolo dos ensaios cooperativos determina aplicações sequenciais para comparação dos fungicidas. No entanto, para o manejo da doença devem ser seguidas as estratégias antirresistência que incluem não utilizar mais do que duas aplicações do mesmo produto em sequência e devem-se utilizar no máximo duas aplicações de produtos contendo ISDH por cultivo. Além dos ensaios com os fungicidas sítio-específicos (IDM, IQe e ISDH), experimentos com fungicidas multissítios vêm sendo realizados pela rede de ensaios para controle da ferrugem-asiática, isolados e em combinações com fungicidas sítio-específicos. Nos ensaios com fungicidas multissítios isolados são realizadas cinco aplicações, com início aos 45-50 dias e repetição com intervalo médio de dez dias entre as aplicações, para conhecer a eficiência individual de cada fungicida. Aplicados de forma isolada, a eficiência variou de 44% a 67% para os diferentes multissítios. Em um segundo ensaio os fungicidas multissítios foram associados ao fungicida trifloxistrobina + ciproconazol 75g i.a. ha + 32g i.a. ha e aplicados a partir dos 45-50 dias após a germinação, em intervalos de 14 dias. A associação
de fungicidas multissítios ao fungicida trifloxistrobina + ciproconazol aumentou o controle de 56% para 77%, na média (variando entre 67% e 82% em função do multissítio), com acréscimo médio de cinco sacos de soja/ha. A dose do fungicida multissítio é importante para obter os resultados observados nos ensaios em rede. Os fungicidas multissítios devem ter o registro no Mapa para a sua utilização em programas de manejo da ferrugem-asiática na soja. Com a redução da eficiência dos fungicidas sítio-específicos observada a cada safra, é cada vez mais importante que todas as estratégias de manejo sejam utilizadas de forma conjunta para atrasar a seleção de resistência às novas moléculas e manter os patamares de produtividade de soja, uma vez que a ferrugem-asiática é uma doença que pode impactar todas as regiões produtoras. O manejo integrado da ferrugem-asiática envolve a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário; a utilização de cultivares de ciclo precoce semeadas no início da época recomendada; o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura, acompanhando as ocorrências da doença no site ou no aplicativo do Consórcio Antiferrugem (www. consorcioantiferrugem.net); a utilização de fungicidas preventivamente, com base no monitoramento; e a utilização de cultivares com gene(s) de resistência. As cultivares com gene(s) de resistência apresentam lesões com menor quantidade de esporos e não dispensam a utilização de fungicidas. São ferramentas importantes de manejo e podem ajudar a reduzir a pressão de seleção sobre os fungicidas, mas, como apresentam um ou no máximo dois genes de resistência, o fungo pode vencer essa resistência, por seleção natural, de forma semelhante ao que ocorre com os fungicidas. A semeadura no início da época recomendada é uma das principais estratégias para escapar da doença, uma vez que o fungo aumenta sua multiplicação após o período do vazio sanitário. Os resultados apresentados só foram possíveis em razão do trabalho conjunto de diversas instituições de pesquisa e empresas, que integram a C rede de ensaios.
Cláudia V. Godoy, Maurício C. Meyer e Ivani de O. N. Lopes, Embrapa Soja Carlos M. Utiamada e Luiz Nobuo Sato, Tagro Hercules D. Campos , UniRV/Campos Pesquisa Agrícola Alfredo R. Dias e Edson P. Borges, Fundação Chapadão Carolina C. Deuner, Universidade de Passo Fundo David S. Jaccoud Filho e Wilson S. Venancio, Universidade Estadual de Ponta Grossa Eder N. Moreira , Fac. Centro Mato-grossense – Facem Edson R. de Andrade Junior, Instituto Mato-Grossense do Algodão Ivan Pedro Araújo Júnior e Fabiano V. Siqueri, Fundação Mato Grosso Fernanda C. Juliatti e Fernando C. Juliatti, JuliAgro/Univ. Federal de Uberlândia Tiago Madalosso e Fernando Favero, Centro de Pesquisa Agrícola Copacol Heraldo R. Feksa
Fundação Agrária de Pesq. Agropecuária José Fernando J. Grigolli, Fundação MS para Pesq. e Dif. de Tecn. Agropec. Cláudia B. Pimenta e José Nunes Junior, Emater-GO e Centro Tecnológico para Pesquisas Agropecuárias Luana M. de R. Belufi Fundação de Pesquisa e Desenv. Tecnol. Rio Verde Luciana C. Carneiro, Univ. Federal de Goiás Luís Henrique Carregal, Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas Eireli Marcelo G. Canteri, Universidade Estadual de Londrina Marcelo R. Volf. Dalcin Serviços Agropecuários Marcio Goussain, Assist Consultoria e Experimentação Agron. Ltda Moab D. Dias Universidade Federal do Tocantins Ricardo S. Balardin Mônica Paula Debortoli Instituto Phytus Mônica C. Martins Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa Silvânia H. Furlan Instituto Biológico Valtemir J. Carlin Agrodinâmica
Tabela 1 - Severidade da ferrugem-asiática, porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtividade e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Média de 23 ensaios para severidade e 22 ensaios para produtividade, safra 2017/18 Tratamento Dose Ingrediente ativo (i.a.) g i.a. ha-1 1 testemunha 2 azoxistrobina + ciproconazol1 60 + 24 3 picoxistrobina + ciproconazol2 60 + 24 4 trifloxistrobina + ciproconazol3 75 + 32 5 trifloxistrobina + protioconazol3 60 + 70 6 picoxistrobina + tebuconazol4 60 + 100 7 metominostrobina + tebuconazol5 79,75 + 119,63 8 piraclostrobina + fluxapiroxade6 116,55 + 58,45 9 azoxistrobina + benzovindiflupir1 60 + 30 10 picoxistrobina + benzovindiflupir 60 + 30 11 piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade6 65 + 40 + 40 12 mancozebe + azoxistrobina + ciproconazol3 1350 + 90 + 60 13 tebuconazol + clorotalonil7 125 + 1125 14 bixafen+ protioconazol+ trifloxistrobina3 62,5 + 87,5 + 75 15 picoxistrobina + ciproconazol11 90 + 40 16 fluxapiroxade + oxicloreto de cobre8,11 60 + 504 17 Impirfluxam+ tebuconazol9,12 30 + 100 18 benzovindiflupir + ciproconazol + difenoconazol1,11 30 + 45 + 75 19 mancozebe+ picoxistrobina+ tebuconazol4,11 1000 + 66,5 + 83,33 20 azoxistrobina + benzovindiflupir + difenoconazol1,11 63 + 31,5 + 78,75 21 tetraconazol + fluindapir1,12 85,04 + 82,48 22 protioconazol + fluindapir10,12 70 + 70
Severidade (%) 78,1 A 55,9 B 39,5 C 36,2 CD 28,8 EFGH 29,2 DEFG 34,2 CDE 26,0 FGHIJ 27,0 EFGHIJ 20,9 JKL 21,3 IJKL 32,4 CDEF 28,5 EFGHI 21,6 HIJKL 31,0 DEF 21,9 GHIJKL 15,6 L 18,1 KL 22,5 GHIJKL 27,2 EFGHIJ 25,4 FGHIJK 26,0 FGHIJ
C (%) 28 49 54 63 63 56 67 65 73 73 58 64 72 60 72 80 77 71 65 68 67
Produtividade (kg ha-1) 2931 G 3229 FG 3559 EF 3649 CDE 3814 ABCDE 3691 BCDE 3601 EF 3921 ABCDE 3853 ABCDE 3990 ABC 4034 AB 3631 CDE 3782 ABCDE 3983 ABCD 3606 DE 3916 ABCDE 4158 A 3999 ABC 3908 ABCDE 3917 ABCDE 3808 ABCDE 3813 ABCDE
(https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1094386/1/CT138ferrugemOL1.pdf)
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Soja
Estresse caro
Gerarda Beatriz Pinto da Silva
Diante das frequentes mudanças climáticas globais, as perdas provocadas por déficit hídrico ganham cada vez mais importância na cultura da soja. Na safra 2017/18 somente na metade Sul do Rio Grande do Sul o prejuízo estimado com a oferta escassa de água nas lavouras alcançou aproximadamente R$ 388 milhões. O melhoramento genético e a escolha adequada de cultivares estão entre as ferramentas para auxiliar o produtor a minimizar estes prejuízos
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soja (Glycine max (L.) Merr.) é, sem dúvida, uma das principais protagonistas do agronegócio brasileiro, sendo responsável por movimentar anualmente bilhões de dólares na economia do País. Ao longo das últimas décadas, o Brasil se tornou o segundo maior produtor mundial da commodity. Na safra 2017/18 foram produzidos aproximadamente 117 milhões de toneladas do grão em 35,1 milhões de hectares. O aumento na produtividade da soja observado nos últimos anos se deve a esforços realizados tanto para elevar os resultados como pa-
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ra reduzir as perdas relacionadas a problemas fitossanitários (fatores bióticos) e a estresses ambientais (fatores abióticos). Problemas relacionados à fitossanidade têm recebido maior atenção no meio científico, provavelmente pela frequência com que ocorrem. Entretanto, devido às alterações climáticas globais, estresses ambientais como o déficit hídrico se tornaram um problema grave e frequente para a produção de soja em áreas com ausência de irrigação, visto que nestas áreas a precipitação pluvial é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento
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e rendimento da cultura, seja pela variação anual total ou por sua distribuição durante o ciclo. A cultura da soja tem sofrido impactos negativos sobre o seu rendimento em diversas regiões produtoras. Exemplo recente de perdas relacionadas ao déficit hídrico ocorreu na metade Sul do estado do Rio Grande do Sul, na safra 2017/18, com prejuízo equivalente a aproximadamente R$ 388 milhões. Áreas agrícolas destinadas ao cultivo da soja no Brasil, em sua grande maioria, não possuem sistemas de irrigação. De acordo com um relatório publicado pela Agência
Nacional de Águas no ano de 2017, estima-se que a área agrícola irrigada com pivôs centrais no Brasil, em 2030, será de aproximadamente 2,8 milhões de hectares. Além disso, esta área não seria somente cultivada com soja, mas com outras culturas agrícolas. Sendo assim, mesmo que toda a área (2,8 milhões de hectares) fosse cultivada com soja, seria irrigado, apenas, aproximadamente 8% da área plantada atualmente. Diante disso, percebe-se a grande vulnerabilidade das áreas de produção de soja no Brasil à ocorrência de secas. O estresse por déficit hídrico causado pela seca ocorre quando a taxa de respiração das plantas excede a absorção de água pelas raízes. Isso pode ocorrer por duas maneiras. A primeira diz respeito à água presente no solo, onde a quantidade disponível para absorção se torna limitada e insuficiente. A segunda está relacionada com a evapotranspiração das plantas, onde mesmo com quantidade suficiente de água no solo o déficit hídrico ocorre pelo acentuado aumento da evapotranspiração, a ponto de superar o limite de absorção do sistema radicular da planta. Se tratando da quantidade de água disponível no solo, percebe-se que os danos ocorridos em consequência do déficit hídrico são mais expressivos na soja quando o conteúdo de água no solo é reduzido abaixo de 60% da capacidade de campo do solo (Figuras 1 e 2). Com efeitos ainda mais severos a partir do início da fase reprodutiva das plantas. O fechamento dos estômatos é a primeira reação da planta mais facilmente percebida e é considerado uma estratégia rápida e eficiente para evitar o estresse por déficit hídrico de curta duração, tendo como objetivo manter um equilíbrio entre a taxa de transpiração e de absorção de água do solo pelas raízes. Quando as condições de déficit hídrico persistem, mesmo com o fechamento dos estômatos, as plantas tendem a diminuir a perda de água pela acumulação de solutos
(ajustamento osmótico). Também pode ocorrer a redução do crescimento dos tecidos da planta (diminuição da multiplicação celular e alongamento), a senescência e a abscisão das folhas. A plasticidade das raízes é alterada em plantas de soja submetidas a déficit hídrico. Em condições de estresse, onde geralmente o crescimento é parcialmente ou totalmente interrompido, a planta busca manter o crescimento radicular em detrimento do aumento da parte aérea. Nestas condições, maior quantidade de fotoassimilados é alocada para as raízes. Assim, maior volume de solo é explorado e, com isso, obtém-se maior quantidade de água para suprir as necessidades fisiológicas. Entretanto, ainda é possível observar menor crescimento radicular em plantas sob déficit hídrico (Figura 4). Na cultura da soja, a diminuição do índice de área foliar (IAF) é mais rapidamente percebida devido à redução da expansão e da divisão celular, podendo ocorrer antes mesmo das alterações nos processos fotossintéticos da planta. A redução da área foliar diminui a taxa de crescimento, principalmente nos primeiros estágios de desenvolvimento, momento em que ainda não ocorreu a interceptação total da luz solar. Um dos principais impactos desse efeito é que pode se tornar permanente e, no caso de plantas de crescimento determinado ou semideterminado, não há estrutura suficiente para compensar a diminuição do IAF, que geralmente se dá pelo aumento do número de folhas. A fotossíntese é alterada durante o período de déficit hídrico, contudo, passada a fase do estresse, os processos fotossintéticos da planta tendem a estabilidade novamente. Porém, mesmo que a fotossíntese estabilize após o período de estresse, a menor área fotossintética levará, em última instância, à menor produção de biomassa e, consequentemente, menor produtividade. Portanto, Fotos Maike Lovatto
Figura 1 - Comparativo entre plantas de soja com e sem restrição hídrica
Figura 2 - Testemunha (esquerda) e planta afetada por estresse hídrico (direita)
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Fotos Maike Lovatto
Figura 3 - Comparativo entre plantas de soja com e sem restrição hídrica
quando o déficit hídrico ocorre no início do desenvolvimento das plantas tem-se uma redução na emissão de ramos novos, o que diminui o número potencial de nós que produziriam vagens (Figura 3). Diante desta situação, quando as condições hídricas estabilizam no período reprodutivo, ocorre maior emissão de flores e maior fixação de vagens como estratégias para superar esse impacto. Contudo, o enchimento de grãos fica comprometido. Quando o déficit hídrico ocorre na fase reprodutiva, se dá o abortamento de flores, óvulos e legumes, e a redução do enchimento de grãos. Diante deste cenário torna-se necessário o desenvolvimento de alternativas para mitigar os problemas ocasionados pela seca na cultura da soja. A adoção de cultivares precoces apresenta um risco maior para períodos curtos de estresse em estádios de desenvolvimento críticos, quando comparadas a cultivares de ciclo mais longo. Isso porque as cultivares de ciclo curto apresentam fases de desenvolvimento mais definidas e curtas em relação às de ciclo mais longo, permitindo que a planta se recupere melhor em uma situação de estresse de curta duração. Entretanto, as cultivares precoces apresentam a vantagem de permitir o planejamento da semeadura de modo que seja possível
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Figura 4 - Raízes de soja com e sem restrição hídrica (Testemunha – plantas sob condições ideais. Seca - planta com restrição hídrica com início no estádio V4)
aproveitar melhores épocas com ocorrência de precipitações suficientes para garantir oferta hídrica para a cultura. Em relação ao manejo do solo, o sistema de semeadura direta é de grande importância para diminuir os impactos causados pelo déficit hídrico. Pois o não revolvimento e a presença de palhada na superfície do solo permitem maior infiltração e armazenamento de água, pela melhoria das condições físicas do solo e menor perda de água por evaporação devido à reflexão da radiação solar pela palhada presente na superfície do solo. A busca por novas soluções e alternativas avança através do melhoramento genético, com a seleção de plantas mais tolerantes ao déficit hídrico. Na Argentina, por exemplo, foi desenvolvida a primeira cultivar de soja tolerante à seca com o uso de transgenia. A modificação genética foi alcançada pela introdução de um fator de transcrição oriundo do girassol (Helianthus annuus), o que permitiu melhor resposta da planta às condições de estresse por déficit hídrico. No Brasil, pesquisadores da Embrapa Soja, em parceria com a Japan International Research Center for Agricultural Sciences (Jircas), também têm buscado desenvolver cultivares com maior tolerância ao
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déficit hídrico. A partir desta parceria foi introduzido um gene, através de transgenia, que torna a planta de soja mais tolerante à seca. O gene, denominado de Y, ativa e potencializa o efeito de outros genes de proteção que ocorrem naturalmente. Resultados preliminares mostraram que plantas transgênicas portadoras deste gene tiveram um aumento de 13,5% na produtividade quando comparadas com as não transgênicas sob condições de limitação hídrica. Contudo, a cultivar ainda não está disponível no mercado. Além disso, estão sendo desenvolvidas pesquisas com o uso de outras bactérias em consórcio com Bradyrhizobium na inoculação de sementes para aumentar a tolerância ao déficit hídrico. A minimização dos prejuízos gerados pelo déficit hídrico na cultura da soja tem sido buscada nos últimos anos, entretanto, é uma tarefa complexa. Para isto, o melhoramento genético de plantas através de técnicas clássicas e de biologia molecular torna-se fundamental para a busca de novas cultivares que apresentem maior tolerância a C este estresse. Filipe Coelho Maike Lovatto Gerarda Beatriz Pinto da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Soja
Lavoura-pecuária Bento Viana/CNA Senar
Estratégia importante para otimizar as áreas de produção e driblar os problemas oriundos de sistemas pouco diversificados, a integração lavourapecuária possui modelos específicos para aumentar o cultivo de soja nas regiões subtropicais e tropicais do Brasil
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as últimas três décadas, a produtividade da soja aumentou significativamente no Brasil em razão, principalmente, do empreendedorismo dos produtores rurais e do avanço na geração e difusão de tecnologias. Atualmente, a produtividade brasileira de soja é similar à dos Estados Unidos e à da Argentina – próximo de 3,3t/ha. No entanto, ha registros de produtividades superiores a 7t/ha, demonstrando o elevado potencial produtivo da cultura. Além da evolução da produtividade de grãos, a soja experimentou aumentos expressivos de área cultivada no país. Isso ocorreu por influência de várias forças motrizes, sobretudo bons fundamentos de mercado, alta liquidez, cultivo altamente mecanizado, baixa necessidade de mão de obra e amplo portfólio de tecnologias disponíveis aos produtores. O desempenho produtivo da soja é dependente das características genéticas das plantas, do manejo, da oferta ambiental (natureza) e da interação entre esses fatores. Um dos aspectos que certamente vêm limitando o incremento da produtividade
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da soja no Brasil é a utilização de sistemas de produção pouco diversificados, como a sucessão de soja/milho segunda safra, por vários anos consecutivos. Por um lado, a simplificação dos modelos de produção facilita a rotina operacional nas propriedades rurais, mas, por outro, pode provocar e intensificar, em longo prazo, a degradação da qualidade do solo e o aumento de problemas fitossanitários, especialmente a infestação de plantas daninhas resistentes a herbicidas e o incremento de algumas doenças, nematoides e insetos-praga de difícil controle. Esse contexto, em muitas circunstâncias, tem prejudicado a sustentabilidade do Sistema Plantio Direto (SPD), aumentado os custos de produção e reduzido a rentabilidade do negócio. Uma das estratégias mais relevantes para incrementar a diversificação dos sistemas de produção que envolvem a soja é a integração da cultura com pastagens anuais ou perenes, através do sistema integração lavoura-pecuária (Silp). Certamente o Silp se constitui em uma importante estratégia para superar o grande
Fotos Alvadi Antonio Balbinot Junior
desafio contemporâneo da agricultura: usar a terra e os recursos ambientais correlatos para a produção econômica de alimentos, fibras e agroenergia, preservando a biodiversidade e melhorando a qualidade do solo, do ar e da água.
EM REGIÕES SUBTROPICAIS DO BRASIL
Em condições subtropicais (Sul do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), o modelo de Silp mais utilizado é o cultivo de espécies graníferas na primavera/verão, sobretudo soja, e no outono/ inverno, o cultivo de pastagens anuais, especialmente aveia-preta e azevém, destinadas à produção de carne ou leite. Esse modelo apresentou elevado incremento de uso nas últimas duas décadas, principalmente em função da baixa competitividade do trigo, fazendo com que muitos produtores optassem pelo cultivo de pastagens no período frio do ano. Nesse modelo de Silp, um dos principais problemas observados é a excessiva intensidade
Azevém emergido espontaneamente antes da colheita da soja, sem custo de implantação
de pastejo, o que causa baixa capacidade de rebrote, alta infestação de plantas daninhas, baixa cobertura do solo para a cultura subsequente e, por vezes, aumento da erosão. Ou seja, ainda há oportunidades para aprimorar o sistema, por meio de ajuste de lotação animal e fertilização da pastagem de inverno. O que tem facilitado muito esse modelo de integração é a emergência espontânea de
azevém antes ou logo após a colheita da soja. Nesse caso, há formação da pastagem sem que haja custos com sementes e operação de semeadura, contribuindo para a sustentabilidade do SPD. A Figura 1 ilustra o azevém emergido antes da colheita da soja. Nessa condição, o pastejo já pode ser iniciado aproximadamente 25 dias após a colheita da cultura.
Nesse modelo de Silp, que utiliza culturas de grãos no verão e pastagens de inverno, um questionamento frequente no meio técnico é o possível impacto negativo do pisoteio no inverno sobre a soja em sucessão. No entanto, há vários trabalhos desenvolvidos nos três estados da Região Sul que confirmam que a produtividade da soja é similar ou maior quando cultivada após pastagem de inverno, comparativamente à ausência de pastejo, desde que a pastagem seja manejada adequadamente. Nessa situação, também não se observou compactação significativa do solo em função do pisoteio bovino. Isso dá segurança ao produtor rural para adotar o Silp e fundamenta a expansão deste sistema de produção.
EM REGIÕES TROPICAIS DO BRASIL
Em condições tropicais há vários modelos de Silp, que devem ser adaptados de acordo com as condições edafoclimáticas da região, as características da propriedade rural, a oferta de mão de obra e outros meios de produção e foco da atividade econômica a ser exercida na propriedade. Em regiões quentes e com solos arenosos, a soja tem sido cultivada em integração com pastagens, especialmente formadas por espécies de braquiária. Um dos modelos de Silp mais utilizado nessa circunstância é o apresentado na Figura 2. Entre duas safras de soja, a área é cultivada com Brachiaria ruziziensis ou Brachiaria brizanta. As duas principais vantagens
da Brachiaria ruziziensis se referem ao menor custo das sementes e à maior facilidade para dessecação pré-semeadura da soja, comparativamente à Brachiaria brizanta. Nesse modelo de produção, metade da área total cultivada é ocupada com pastagens na primavera/verão e, no outono/inverno - época de menor produção forrageira - toda a área cultivada é ocupada com pastagens. No outono/ inverno a produção das pastagens cultivadas após a soja garante o fornecimento de forragem aos animais, uma vez que a pastagem é nova e apresenta elevada taxa de acúmulo de fitomassa, em razão do aproveitamento da melhoria nos atributos químicos decorrentes do cultivo da soja no verão. Com o modelo utilizado, há menores variações de produção forrageira entre as estações do ano. Ao fim de dois anos de uso da pastagem perene, a inserção da soja se justifica pelo decréscimo da produtividade de forragem após esse período. Por outro lado, a implantação de pastagem perene depois de duas safras de soja se justifica pela redução da qualidade física do solo após o segundo ano de cultivo de soja, quando observa-se decréscimo na produtividade da oleaginosa. Esse modelo de produção vem demonstrando vantagens operacionais, econômicas e ambientais, contribuindo para a sustentabilidade do negócio. Por isso, tem sido muito difundido por cooperativas e consultores técnicos. O cultivo de soja em solos arenosos pressupõe a cobertura total e permanen-
A integração da soja com pastagens, tanto anuais quanto perenes, é uma importante estratégia para a diversificação
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te destes, seja por plantas ou palha (Figura 3). A cobertura do solo reduz substancialmente as perdas de água por evaporação, o que é de fundamental importância em solos com baixa capacidade de armazenamento de água disponível às plantas. A redução dos picos de temperatura do solo nas horas mais quentes do dia é outro importante benefício da cobertura do solo, com reflexos positivos sobre a absorção de água e nutrientes pelas raízes, bem como sobre a eficiência de processos intermediados por micro-organismos, como a fixação biológica do nitrogênio. Nesse contexto, o Silp pode proporcionar elevada cobertura do solo durante a fase de pastagem e fornecer grande quantidade de palha para proteção do solo durante o ciclo da soja em sucessão. Isso também é muito importante para reduzir perdas de solo e água via erosão, viabilizando o SPD. O uso de sistemas de produção que integram a soja com pastagens, tanto anuais quanto perenes, é uma importante estratégia para diversificação e intensificação do emprego da terra e de insumos. Na região subtropical do Brasil, a modalidade preponderante e que tem possibilidade de aumento de área é o cultivo de soja na primavera/verão e pastagens no outono/inverno. Nas regiões tropicais e que apresentam solos arenosos há várias modalidades de integração, que são fundamentais para tornar viável o cultivo de soja nesse tipo de ambiente. C
Alvadi Antonio Balbinot Junior Julio Cezar Franchini Henrique Debiasi Embrapa Soja
Soja cultivada em Sistema Plantio Direto sobre palha abundante de pastagem de Brachiaria brizanta, safra 2017/18
Empresas
Quatro em um Corteva
Corteva AgriScience lança Power Core Ultra, biotecnologia de sementes de milho que apresenta quatro proteínas que auxiliam no controle das principais lagartas que atacam a cultura
A
Corteva, Divisão Agrícola DowDupont, lançou em setembro a tecnologia para sementes de milho Power Core Ultra. O novo material agrega quatro proteínas destinadas ao auxílio no controle das principais lagartas que atacam a cultura do milho, e duas proteínas que conferem tolerância aos herbicidas glifosato e glufosinato de amônio. O evento de lançamento ocorreu no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da marca em Palmas, Tocantins. A tecnologia é a única no Brasil a apresentar esse complexo de proteínas. “A solução traz mais benefícios para os produtores rurais porque oferece o mais amplo espectro para auxiliar no controle das principais pragas da cultura do milho, aliando, assim, maior segurança e flexibilidade no manejo. É uma tecnologia que traz rentabilidade à produção do milho”, opinou o líder de Marketing da Plataforma de Sementes da Corteva para Brasil e Paraguai, Frederico Barreto. As proteínas inseticidas presentes na
biotecnologia são Cry1F, Cry1A.105, Cry2Ab2 e Vip3Aa20. Barreto destacou, principalmente, a atuação da Power Core Ultra na supressão de pragas de solo. No geral, os insetos afetados pela tecnologia são broca-do-colmo (Diatraea saccharalis); lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea); lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus); lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), lagarta-preta-das-folhas (Spodoptera cosmioides) e – uma das mais devastadoras pragas que atacam a cultura – a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Segundo o líder de Projetos e Pesquisas da Corteva AgriScience, César Santos, a lagarta-do-cartucho pode causar até 40% de redução de produtividade, além de provocar vulnerabilidade da planta a doenças. Além da qualidade do híbrido, Santos enfatiza a necessidade de boas práticas agrícolas para potencializar a produtividade da lavoura. “Power Core Ultra é
somente uma das ferramentas a serem aplicadas. Uma boa dessecação, tratamento de sementes, implementação de áreas de refúgio para manutenção do potencial da biotecnologia, controle de plantas daninhas voluntárias e o monitoramento de pragas são algumas estratégias fundamentais para atingir o máximo potencial produtivo”, disse Santos. A tecnologia conta com a aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). O lançamento será oferecido ao produtor por meio dos portfólios de Pioneer e Brevant. Cada marca de sementes da Corteva atuará de acordo com a sua estratégia, seja via distribuição, revenda e cooperativa ou até mesmo com a realização da venda diretamente ao agricultor. “Com as duas marcas, conseguimos atingir o produtor por todas as vias e os meios que ele decide comprar. O nosso objetivo é que ele sempre tenha acesso à tecnologia de mais alta qualidade e ganhos com a sua produção de milho”, finalizou Frederico.
COMPROMISSO COM O AGRICULTOR
O diretor de Marketing da Corteva, Douglas Ribeiro, destacou que Power Core Ultra é apenas um dos diversos lançamentos realizados pela companhia em 2018. Segundo o executivo, os novos produtos demonstram todo foco da empresa para investimentos em tecnologia. Enfatizou ainda a importância do desenvolvimento de tecnologias voltadas exclusivamente ao clima do Brasil. “Nossa missão é trazer inovações que otimizem o trabalho do produtor rural e desenvolver tecnologias no Brasil que proporcionem soluções aos principais desafios enfrentados pelos agricultoC res”, disse.
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Café Paulo Rebelles Reis
Minador manejado Como a integração de diversas estratégias pode resultar no combate mais eficiente do bicho-mineiro, praga principal nas lavouras de cafeeiro, principalmente nas regiões de clima mais quente e seco 32
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O
inseto adulto bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) é uma pequena mariposa com 6,5mm de envergadura, de coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso, as asas anteriores cobrem as posteriores. Coloca os ovos na superfície superior das folhas e a lagartinha, ao eclodir, penetra diretamente em seu interior, sem entrar em contato com a parte externa. Nessa fase a lagarta do bicho-mineiro vive dentro das lesões ou minas foliares que constrói. Quando completamente desenvolvida, a lagartinha mede aproximadamente 3,5mm de comprimento. Após completo desenvol-
Fotos Paulo Rebelles Reis
Figura 1 - Fases do ciclo do desenvolvimento do bicho-mineiro: ovos na superfície superior da folha; lagartas (passam por três fases ou instares); lagarta confeccionando crisálida em forma de X e casal na fase adulta
vimento a lagarta abandona a folha pela superfície superior da mina e com o auxílio de um fio de seda, que tece, desce até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos com fios de seda no formato da letra X, de onde emergem os insetos adultos (Figura 1). As lesões causadas pela praga apresentam o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções da lagarta. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade (Figura 2). De modo geral, e principalmente nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do terço superior das plantas, devido às lagartas lá encontrarem maior insolação, temperatura e vento que retira a umidade das folhas, o que lhes é favorável. O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 dias e 87 dias, sendo mais curto em temperaturas mais elevadas. A fase de lagarta é que causa danos, e dura de nove dias a 40 dias, passando por três
fases (ecdises), e podem ocorrer de oito gerações ao ano a 12 gerações ao ano.
CONDIÇÕES PROPÍCIAS
A presença desse minador está condicionada a diversos fatores: (1) climáticos- temperatura elevada e ausência de chuva, principalmente; (2) condições da lavoura- áreas mais arejadas têm maior probabilidade de serem atacadas e (3) presença ou ausência de inimigos naturais- parasitoides, predadores e entomopatógenos (fungos e bactérias) que mantêm a praga em equilíbrio. As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos e quentes do ano nas principais regiões cafeeiras, com início em junho e pico em outubro, sendo menor antes e após esses meses. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como frequentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro (Figura 3).
A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga. Ao contrário, a temperatura exerce influência positiva. Pulverizações de produtos cúpricos, para o controle da ferrugem, já foram também correlacionadas com o aumento da população do bicho-mineiro.
DANO E PREJUÍZO CAUSADOS PELO BICHO-MINEIRO
As lesões ou minas causadas pelas lagartas, nas folhas reduzem a capacidade de fotossíntese em função da redução da área foliar. Em ataque intenso também ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo devido à distribuição da praga ser maior nesta posição, e em consequência há redução da produção. Lavouras intensamente desfolhadas pela praga podem levar até dois anos para se recuperar. As pesquisas mostram que o nível de controle para L. coffeella encontra-se abaixo de 26% a 36% de área foliar
Figura 2 - Folhas de cafeeiro com lesões ou minas de bicho-mineiro
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lesionada, ou seja, redução da área foliar após o que começa a ocorrer prejuízos à produção de café. No Sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido a uma desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993 também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada uma redução na produção entre 34,3% e 41,5%.
Figura 3 - Flutuação populacional do bicho-mineiro do cafeeiro, Leucoptera coffeella, nas regiões cafeeiras do Alto Paranaíba e do Triângulo Mineiro (MG)
RESISTÊNCIA GENÉTICA
Embora haja espécies de cafeeiro que apresentam resistência genética ao bicho-mineiro, como Coffea stenophylla G. Don. e Coffea racemosa Lour., entre outras, as fontes de resistência ainda não estão presentes nas cultivares comerciais de cafeeiro, como já existem naquelas resistentes à ferrugem-do-cafeeiro. Talvez a resistência seja a forma ideal de resolver o problema da praga, com menor custo de produção e provável baixo impacto ambiental, principalmente nas regiões onde a praga é limitante para a cultura, como naquelas onde há déficit hídrico e altas temperaturas. Como se trata de uma cultura perene, cultivar comercial resistente ao bicho-mineiro só estará disponível aos cafeicultores em longo prazo, embora haja a procura de seleções naturais para encontrar a resistência ao bicho-mineiro.
CONTROLE CULTURAL
A utilização de quebra-ventos, ou arborização, com plantas apropriadas para tal fim auxilia na redução do ataque da praga, que tem preferência por locais mais secos e arejados, além de muitas plantas serem atrativas às vespas, devido às suas intensas produções de flores e néctar. São indicadas como quebra-ventos as fabáceas (leguminosas) leucena, Leucaena leucocephala (Lam.), o feijão-guandu, Cajanus cajan Mill sp. A grevílea, Grevillea robusta A. Cunn. (Proteácea), (Figura 4) também é muito utilizada.
CONTROLE POR COMPORTAMENTO
Já é conhecido o feromônio sexual do bicho-mineiro produ-
zido pela fêmea para atrair o macho, e que pode ser utilizado para monitoramento da praga por meio da captura de machos adultos em armadilhas de feromônio e cola. A possibilidade de redução de acasalamento, e consequentemente da população da praga, é o método conhecido como confusão sexual, utilizando apenas difusores do feromônio.
CONTROLE BIOLÓGICO POR PREDADORES
A predação das lagartas do bicho-mineiro, que é realizada principalmente por vespas (Hymenoptera: Vespidae) (Figuras 5 e 6), registra em torno de 70% de eficiência. É considerado o método natural mais eficiente de controle da praga, sendo, portanto, insetos benéficos e que devem ser preservados. Os ninhos das vespas ou vespeiros (Figura 7), por vezes construídos nos cafeeiros, apesar de poucos, em geral são destruídos pelos trabalhadores rurais, pois as vespas são agressivas e podem causar acidentes. Restam, portanto, a preservação das
Figura 4 - Quebra-ventos com grevíleas plantadas em curva de nível para não prejudicar a mecanização dos tratos culturais
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Figura 5 - Vespa Protonectarina sylveirae (Saussure, 1854) procurando lagarta do bicho-mineiro sob a lesão na superfície superior da folha
matas remanescentes e o reflorestamento com espécies nativas da região, o que contribuirá para a preservação e o aumento das vespas predadoras que nelas se abrigam, constroem seus ninhos e procriam.
CONTROLE BIOLÓGICO POR PARASITOIDES
O parasitismo natural das lagartas de bicho-mineiro apresenta aproximadamente 18% de eficiência no controle da praga, e é realizado principalmente por micro-himenópteros (Hymenoptera: Braconidae, Eulophidae, Entedontidae etc). Esse parasitismo provavelmente seria considerado maior se as vespas predadoras não afetassem também as lagartas já parasitadas.
CONTROLE BIOLÓGICO POR ENTOMOPATÓGENOS
Dos agentes de controle biológico do bicho-mineiro já conhecidos, os patógenos ou micro-organismos entomopatogênicos são os menos estudados, passando até mesmo despercebidos, embora possam causar epizootias naturais quando as condições lhes são favoráveis. Já foram relatadas as presenças de bactérias e fungos em lagartas agonizantes ou mortas do bicho-mineiro nas lesões foliares. Entre as bactérias, a Erwinia herbicola (Enterobacteriace36
ae) e Pseudomonas aeruginosa (Pseudomonadaceae) são apontadas como os micro-organismos mais eficientes até agora conhecidos em epizootias de lagartas de bicho-mineiro, causando mortalidade de 65% e 90%, respectivamente.
fato justifica a adoção de medidas de controle para diminuir a população do bicho-mineiro, restabelecendo o equilíbrio entre a praga e os inimigos naturais. A amostragem de folhas (monitoramento), para ser conhecida a porcentagem de folhas minadas, deve ser realizada no limite entre os terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do inseto que ocorre de cima para baixo. Deve-se evitar a coleta de folhas apicais ou novas dos ramos ou do interior das plantas; recomendam-se folhas do 3º para o 5º par, a partir do ápice do ramo. Caso não seja constatado o nível de controle (30%), não é recomendável o controle químico, pois somente o controle natural por meio do parasitismo e a predação, e também as condições climáticas, estão sendo suficientes para manter baixa a população da praga. Esse nível de controle (30%) não se aplica aos cafeeiros novos, com até três anos de idade, onde a desfolha, mesmo em baixos níveis, é prejudicial à sua formação. O controle químico, quando realizado com produtos recomendados para pulverização, e com base no nível de controle da praga, não afeta de ma-
CONTROLE QUÍMICO
Embora não se saiba exatamente qual a população do bicho-mineiro capaz de causar dano econômico, os trabalhos de pesquisa realizados pela EpamigSul/EcoCentro, em Minas Gerais, desde 1973, mostram que ao ocorrer 30% de folhas minadas com lesões sem apresentar rasgaduras provocadas por vespas predadoras (Figura 6), nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco do ano) há necessidade de ser efetuado o controle químico. Caso não seja realizado o controle, e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro forem favoráveis à praga, os prejuízos serão consideráveis. A pulverização de inseticidas somente quando a população atingir o nível de controle (30%) deve influir pouco sobre o equilíbrio biológico, pois se a praga apresenta um aumento populacional significa que as condições para seu aumento estão mais favoráveis que para crescimento dos inimigos naturais. Tal
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Figura 6 - Superfície inferior de folhas de cafeeiro exibindo lesões ou minas de bichomineiro com rasgaduras produzidas por vespa para predação das lagartas
Reis e Souza abordam alternativas para tornar mais eficiente o manejo do bicho-mineiro
Figura 7 - Vespeiros em planta de grevílea cultivada como quebra-vento
neira significativa os inimigos naturais do bicho-mineiro. As lavouras devem ser inspecionadas constantemente (monitoramento da praga) na época crítica de ataque do minador, principalmente as muito expostas a ventos constantes que propiciam condições ideais para a praga. Na maioria das vezes o controle é necessário somente em alguns talhões do cafezal, e as inspeções devem continuar até que comecem as chuvas mais frequentes e haja início de novas brotações. Uma segunda pulverização, nos talhões já pulverizados somente deve ser realizada após 20 dias a 30 dias e se nas amostragens mensais (monitoramento) forem constatadas lagartas vivas dentro das minas. Caso haja condições extremamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro e fevereiro (veranico), pode ocorrer um pico nos meses de abril e maio, que também deve ser controlado, fenômeno muito comum na região dos cerrados de Minas Gerais. Este pico pode não ocorrer quando são aplicados inseticidas sistêmicos via solo na época das chuvas, porém o efeito residual nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até maio-junho, ha-
vendo necessidade de complementar o controle com pulverizações foliares. Diversos produtos, ou mistura de produtos, aplicados em pulverização foliar ou no solo, apresentam eficiência no controle do bicho-mineiro, sendo que aqueles de amplo espectro de ação são os mais prejudiciais aos parasitoides e predadores da praga. Entre os grupos químicos mais eficientes estão avermectinas, neonicotinoides, diamidas antranílicas (antranilamidas), organofosforados, [bis(tiocarbamato)], piretroides, espinosinas, butenolidas e benzoilureias. Em resumo, o manejo integrado do bicho-mineiro nas regiões onde sua incidência não é frequente (baixa pressão da praga), como no Sul de Minas. Geralmente, somente o controle via solo na época das chuvas ou apenas
pulverizações, quando forem constatados níveis de 30% de folhas minadas, é suficiente para manter os cafezais livres da praga. Nas regiões de clima quente e seco, como no Cerrado mineiro, onde o inseto frequentemente se constitui em praga (alta pressão da praga), o controle deve ser efetuado com inseticidas sistêmicos aplicados via solo, na época recomendada pelos fabricantes, e complementado com pulverizações (entre junho e outubro) caso sejam constatados, no monitoramento, 30% de folhas minadas com as C lesões sem sinais de predação.
Paulo Rebelles Reis, Júlio César de Souza, Epamig Sul/EcoCentro
O bicho-mineiro
O
bicho-mineiro, Leucoptera coffeella, Guérin-Méneville, 1842 (Lepidoptera: Lyonetiidae) é a praga de maior importância para o cafeeiro (Coffea spp.) nas regiões de clima quente e mais seco, superando a broca-do-café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Curculionidae, Scolytinae). É uma praga exótica que tem como região de origem o continente africano, tendo sido introduzida no Brasil provavelmente em mudas de cafeeiros atacadas e provenientes das Antilhas e da Ilha de Bourbon, em 1851. É
considerada praga monófaga, atacando somente cafeeiro. O surgimento da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 1970, pode ser considerado um marco para colocar o bicho-mineiro no status de praga. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia, e a pleno sol, visando o controle da ferrugem propiciam ambientes favoráveis para a multiplicação do bicho-mineiro, que se desenvolve bem em condições de maior insolação, temperatura elevada e baixa umidade do ar.
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Empresa
Manejo inteligente A
infestação e a resistência de plantas daninhas a herbicidas são uma problemática que atinge diversas regiões produtoras do Brasil. No Sul, o azevém (Lolium multiflorum L.) e a buva (Conyza spp) são exemplos concretos do quanto este desafio pode tirar o sossego dos produtores, limitar a produtividade e resultar em prejuízos econômicos. Durante o XXXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, em agosto, no Rio de Janeiro, o gerente de Boas Práticas Agrícolas da plataforma Intacta 2Xtend para o Brasil, Ramiro Ovejero, lembrou que existem atualmente no país infestações mistas de plantas daninhas, ou seja, plantas de folhas largas e estreitas, resistentes a mais de um herbicida, causando problemas ao agricultor em uma mesma área. "Isso é um desafio não só para
Fotos Divulgação
Plataforma Intacta 2Xtend, com previsão de lançamento comercial em 2021, é apresentada durante o XXXI Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, no Rio de Janeiro
C
o agricultor, mas também para os pesquisadores que estudam estes casos e para a indústria que busca novas ferramentas para auxiliar o produtor a ter um bom resultado no controle", avaliou. O executivo lembrou que toda a cadeia produtiva acaba afetada pelo problema. "Entre as consequências da resistência podem-se citar a perda do herbicida como ferramenta de manejo, a perda de rendimento e de qualidade dos produtos agrícolas e o aumento dos custos para o controle. Por isso, é ideal que o agricultor tenha acesso a novas ferramentas que o ajudem nisso, como é o caso da nova tecnologia para a soja", destacou Ovejero. O lançamento comercial da Intacta 2Xtend está previsto para 2021, após aprovações internacionais. A nova tecnologia tem C como foco o manejo de plantas daninhas e de insetos.
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Arroz Daniel Hoerbe
Teias de proteção A importância de preservar as aranhas nas áreas de cultivo de arroz irrigado, inimigas naturais que se alimentam de pragas como ácaros, pulgões e outros artrópodes. Dar preferência a inseticidas seletivos e adotá-los com racionalidade, dentro de um conjunto de estratégias de manejo integrado, é fundamental para preservar o equilíbrio biológico e reduzir os custos de produção
O
s agroecossistemas sustentáveis objetivam alcançar características semelhantes às de ecossistemas naturais, assegurando a presença de inimigos naturais e outros organismos benéficos ao sistema. As lavouras de arroz irrigado e áreas próximas possuem grande diversidade de inimigos naturais, onde as aranhas desempenham papel importante sobre a regulação de populações de pragas, garantindo a produtividade com menores impactos ao ambiente e redução dos custos de manejo. Essas áreas proporcionam ambientes diversificados e dinâmicos, que abrigam uma diversidade biológica rica, mantida pela rápida colonização assim como pela rápida
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Fotos Daniel Hoerbe
reprodução e crescimento dos organismos. O uso indiscriminado de agroquímicos, como forma de controle populacional, contribui para o aumento da proliferação de pragas nas culturas, por eliminar seus inimigos naturais. Nesse contexto, torna-se difícil manter a diversidade biológica e as interações presa-predador em equilíbrio. Como forma de preservação destes artrópodes, recomenda-se o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que enfatiza abordagens ecológicas para estabelecer soluções permanentes para o problema das pragas, ao fornecer estrutura para o desenvolvimento de programas de manejo.
IMPORTÂNCIA DAS ARANHAS
Os inimigos naturais têm sido caracterizados como organismos especializados no controle biológico de pragas. Entre os principais artrópodes d e s t a c a m - s e a ra n h a s , l i b é l u l a s , tesourinhas, joaninhas, dípteros e himenópteros, que alimentam-se de insetos adultos, ovos, pupas, imaturos, ácaros, pulgões e outros artrópodes. São importantes devido à sua constante presença nas áreas, riqueza, diversidade, abundância relativa e capacidade de reduzir a densidade da população
de pragas e os danos, tornando suas interações relativamente estáveis. As aranhas representam um dos principais grupos da fauna de artrópodes dos sistemas agrícolas e, como predadores generalistas, podem alimentar-se de 40% a 50% da biomassa disponível de insetos, outras aranhas e pequenos vertebrados representando um papel importante no controle biológico de espécies causadoras de danos às culturas de importância econômica (Riechert, Lockley, 1984; Tarabaev, Shekin, 1990; Green, 1996; Vangsgaard, 1986). Dentre os diversos grupos de artrópodes, as aranhas se destacam nos agroecossistemas de arroz (Didonet et al, 2001). As famílias de aranhas comumente encontradas em arroz irrigado são Araneidae, Lycosidae, Tetragnathidae, Salticidae, Anyphaenidae e Oxyopidae (Beevi et al, 2005; Rodrigues et al, 2008 e 2013). Ocorrendo dominância de Tetragnatha nitens (46,8%) e Tetragnatha jaculator (14,8%), ambas da família Tetragnathidae, e Alpaida veniliae (34,2%), da família Araneidae, representando as três, 95,8% do total de espécies (Rodrigues et al, 2008 e 2013). Nas lavouras brasileiras a principal espécie é a Alfaida veniliae, representando 80% da população no
Teias tecidas por aranhas na parte superior das plantas, em área de cultivo de arroz
Estado. Um dos aspectos importantes dos aracnídeos, como agentes de controle biológico de insetos fitófagos, é a sua constante presença e a relativa abundância durante todas as fases de desenvolvimento do cultivo orizícola. Onde a população das aranhas aumenta conforme aumenta a oferta de presas, acompanhando o ciclo da cultura, do início da semeadura até o fim da colheita. Algumas espécies podem reduzir a população total de pragas em 22% por dia (Tahir et al, 2009). As aranhas têm hábitos noturnos. Durante o dia ficam abrigadas na parte inferior das plantas próximas ao solo e no final da tarde sobem para tecer as teias, permanecendo até parte da manhã. Nas lavouras de arroz, podem ser encontradas próximas ao solo entre as plantas ou na base das taipas (Sigsgaard et al, 2001; Saavedra et al, 2007).
EFEITO DE PRODUTOS QUÍMICOS
Aranhas desempenham papel importante sobre a regulação de populações de pragas
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O uso indiscriminado de pesticidas tem contribuído para o aumento da proliferação de pragas, pois desestabilizam as interações presa-predador ao eliminar também os inimigos naturais (Perfecto et al, 1997). A maioria dos inseticidas, comumente usados para controlar os insetos-praga nas culturas do arroz, apresenta baixa seletividade sobre as populações de insetos não alvo, como inimigos naturais, polinizadores (Petroski,
Stanley, 2009) e as aranhas (Rodrigues et al, 2013). Essa prática ameaça as densidades de aranhas das culturas agrícolas em todo o mundo, uma vez que são muito sensíveis a perturbações antrópicas, além de afetar o crescimento, a longevidade, a taxa reprodutiva, o comportamento defensivo e a sua mobilidade, reduzindo o seu potencial de biocontrole. Muitas vezes os inseticidas são aplicados sem o monitoramento e o conhecimento da praga-alvo, de forma sequencial ou calendarizada, deixando de lado os níveis de controle preconizados pelos órgãos de pesquisas. O uso inadequado de inseticidas tem contribuído para a baixa eficácia dos produtos, para o aumento nos custos de produção, resistência do produto ao alvo e para o agravamento dos efeitos indesejáveis ao ambiente e à saúde dos agricultores. Para minimizar esses efeitos e possibilitar que as aplicações sejam realizadas no momento correto, é importante, dentro do MIP, realizar o monitoramento contínuo da lavoura, no qual a utilização de pesticidas possa ser integrada a outras medidas de controle para a preservação do ambiente. Além disso, é importante conhecer o histórico de pragas na área, identificar os inimigos naturais, conhecer os estádios de desenvolvimento da planta e dos insetospragas, saber os níveis de ação ou de controle das pragas. Essas ações têm por objetivo auxiliar o produtor nas tomadas de decisões, de modo a evitar aplicações de inseticidas desnecessárias, calendarizadas, preventivas e na “carona” com fungicidas e/ou herbicidas, que favorecem o processo de seleção de populações resistentes de insetos aos inseticidas, depressão do controle biológico natural, ressurgência de pragas, aumento da população de pragas secundária, além de aumentar o custo de produção e causar danos ao homem e ao ambiente. No entanto, se a população de insetos atingir o nível de dano econômico, devese fazer uso do controle biológico ou do controle químico, com produtos registrados para o controle da praga-alvo na cultura do arroz irrigado. Sempre que for utilizado o controle químico, optar por produtos que apresentem menor toxicidade, menor impacto sobre organismos não-alvo e maior seletividade. Para prevenir o surgimento de resistência de insetos a inseticidas, evitar o uso contínuo de um mesmo princípio ativo ou produtos não recomendados para
Alpaida veniliae, Oxiopius salticus e Sphecozone ignigena
controlar a praga-alvo.
COMO MANEJAR CORRETAMENTE
Ecossistemas naturais indicam que os aracnídeos consomem quantidades significativas de pragas fitófagas (percevejos, cigarrinhas, lagartas, coleópteros, gafanhotos, dípteros), quando os distúrbios, causados pela atividade humana, são mínimos. E em certos agroecossistemas, como os sistemas orgânicos, plantio direto, culturas perenes e policultivos, a utilização de aranhas como controle biológico pode ser mais favorável. Cultivos que envolvem aração e gradagem do solo costumam promover perturbação contínua no habitat das aranhas, o que afetará a abundância e a efetividade destes animais no controle biológico. A diminuição da cobertura vegetal para práticas agrícolas também pode influenciar nos índices de invertebrados no solo, em virtude de alterações nas condições de temperatura e umidade do solo, que influenciam a dinâmica presa-predador (Embrapa, 2007). Quanto mais complexa for uma paisagem agrícola, maior será a riqueza de aranhas no local, visto que ambientes mais heterogêneos podem fornecer uma maior quantidade de micro-habitats para estes invertebrados. Para que sistemas agrícolas possam ser beneficiados pela dispersão de aranhas é necessário que a paisagem ao seu redor seja conservada, o que possibilitará uma maior diversificação de recursos e refúgios. A maior abundância de aranhas em agroecossistemas poderá garantir a predação de pragas que apresentam interesse agrícola (Embrapa, 2007). As áreas próximas aos agroecossistemas mantêm parte da fauna original e as aranhas apresentam a capacidade para dispersar
deste para outros ambientes. Alguns estudos demonstram que as aranhas apresentam maior diversidade nas áreas adjacentes que nas culturas (Oraze et al, 1988; Murata, 1995). Possivelmente, as áreas de entorno da lavoura servem como fonte de colonização para o agroecossistema. Dentro das áreas de arroz irrigado, as plantas hospedeiras secundárias, junto aos canais de irrigação, sobre as ruas e nas bordas da lavoura, podem ser dessecadas e/ou roçadas deixando os insetos-praga expostos no período da hibernação, quando as condições climáticas são desfavoráveis à sua sobrevivência. Porém, não devem ser eliminadas totalmente, para não afetar a presença dos inimigos naturais. Utilizar inseticidas na “carona” da dessecação apresenta baixa eficiência na busca por atingir o inseto-praga alvo durante a hibernação. No entanto, os inseticidas afetam a população de inimigos naturais que, ao serem eliminados, resultam na ressurgência de pragas com maior potencial de migração ou reprodução, com alta intensidade. Para a adoção de um manejo adequado de insetos-praga no arroz irrigado é necessário priorizar a utilização e a conservação dos inimigos naturais, imprescindíveis para estabelecer o equilíbrio biológico e reduzir os custos de produção. Além disso, estudo da biodiversidade associada aos agroecossistemas tem crescido em importância nos campos da ecologia e conservação, porque a manutenção da biodiversidade é essencial para a produtividade ecologicamente sustentável na agricultura. C
Marcia Yamada Jaime Vargas de Oliveira Neiva Knaak Irga
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Intercâmbio Fotos Charles Echer
Sem fronteiras
Programa Empreendedores Sem Fronteiras, promovido pela AgroBravo em parceria com a Iowa State University, leva jovens produtores brasileiros numa imersão sobre empreendedorismo rural nos Estados Unidos
A
segunda quinzena de julho foi especial para aproximadamente 40 jovens produtores rurais brasileiros que participaram do programa Empreendedores Sem Fronteiras, nos Estados Unidos. Promovido pela AgroBravo em parceria com a Iowa State University, o programa desenvolveu temas ligados à inovação, ao empreendedorismo rural e à formação de lideranças, sempre convergindo para a gestão da propriedade rural e sucessão familiar. Durante duas semanas, dois diferentes grupos participaram de etapas com programações distintas. O grupo que realizou a primeira etapa em julho de 2017 participou este ano da segunda etapa na semana de 23 a 28 de julho, na Califórnia, onde visitou empresas do Vale do Silício, São Francisco, Sonoma e Salinas Valley na costa central do estado. Já um novo grupo, formado em 2018, realizou a primeira etapa na semana de 16 a 20 de julho na Iowa State University, em Iowa, onde participou de programação técnica formada por palestras e visitas técnicas a grandes empresas agrícolas da região de Des Moines. Por trás de cada jovem produtor brasileiro que participa do programa existe a preocupação comum de garantir a continuidade dos negócios de suas empresas agrícolas e uma sucessão bem feita, com pouca turbulência e de forma mais natural possível. São histórias parecidas, com angústias e dúvidas semelhantes sobre a melhor forma, o momento mais apropriado para essa transição 42
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ocorrer e o resultado final de um processo que tende a ser longo e muitas vezes pode até ser exaustivo e traumático. Este é o ponto-chave do programa Empreendedores Sem Fronteiras. Todas as questões sobre gestão, inovação, desenvolvimento de lideranças e empreendedorismo abordadas nas palestras ajudam a preparar os novos profissionais para assumirem postos de comando em empresas que estão em plena atividade e precisam continuar crescendo e se adaptando a realidades cada vez mais competitivas. Para Bob Riley, presidente da Feed Energy Company e colaborador no programa, a sucessão não é uma tarefa simples, principalmente para quem é sucedido no negócio. “Para um empreendedor, abrir mão da liderança e passá-la a um sucessor é uma tarefa muito difícil e árdua. É preciso ter humildade e coragem para tomar essa decisão, embora, ao mesmo tempo, seja uma necessidade e não uma escolha para quem quer garantir a continuidade dos negócios”, explica. Para ele, quando a sucessão é feita de forma adequada, as ideias que fazem sentido ao negócio são preservadas e as chances de ocorrer um fracasso diminuem. Para isso, é necessário encontrar um substituto o mais cedo possível, preparando-o e capacitando-o adequadamente para dar continuidade aos negócios. “Empresas que conseguiram passar da quarta geração chegaram a isso porque treinaram muito, começaram bastante cedo o processo e prepararam incansavelmente os sucessores,
trabalhando, além de habilidades empresariais e qualificação com estudos, valores e ideais da empresa, de forma gradual e contínua, por um período relativamente longo”, explica. Mas essa transferência de comando certamente irá encontrar barreiras, problemas gerados por conflitos de gerações, explica Karen Kerns, CEO da Kerns & Associates, referência mundial em consultoria de gestão para propriedades rurais. Para ela, quem está no comando das empresas atualmente é bastante diferente da geração que a sucederá, principalmente na maneira como veem a relação com o negócio. “Pais e filhos têm visões diferentes sobre a forma de trabalhar e essas diferenças precisam ser entendidas e superadas para gerar uma relação de confiança, que possibilite a sucessão de forma mais natural e sem traumas”, explica.
CONHECER NOVAS REALIDADES
Um dos participantes do programa, o diretor executivo da concessionária John Deere Maqcampo, José Augusto Araújo, passa uma semana por ano em universidades americanas para se atualizar em diferentes assuntos ligados ao seu negócio e entende que todos os agricultores brasileiros deveriam fazer esta experiência pelo menos uma vez na vida. “Este programa é realmente muito importante porque seu formato, com palestras e visitas técnicas, possibilita que os participantes conheçam o mundo acadêmico e empresarial dos Estados Unidos. Aqui há uma integração muito grande entre o mundo acadêmico e as empresas, pois elas sabem que é das universidades que sairão seus futuros presidentes, executivos e trainees. Por isso, as empresas respiram o mundo acadêmico local”, avalia. De acordo com o chefe do Departamento de Empreendedorismo da Iowa State University, e um dos coordenadores do programa Empreendedores Sem Fronteira, Kevin Kimle, esta imersão leva os alunos a repensarem de forma profunda seus conceitos sobre os negócios. “A cada geração o negócio precisa renascer para sobreviver. Por isso, o que trabalhamos diariamente nesta imersão é a necessidade de os jovens adquirirem mentalidade e habilidade para serem empreendedores.
Queremos que cada um descubra o que os motiva e possibilitar que eles apliquem nos seus negócios”, garante. Essa experiência leva os participantes a avaliarem a forma como conduzem seus negócios, pois colocam frente a frente alunos e grandes empresários ligados à agricultura, que tem como principais características o empreendedorismo e a inovação. Eles abrem as portas de suas empresas e dividem suas experiências com os brasileiros, como é o caso de Bruce Rastetter, CEO da Summit Ag Group, e de Harry Stine, dono da Stine Seeds e considerado o homem mais rico do estado de Iowa. A Stine Seeds desenvolve pesquisa com sementes e é responsável pela genética existente em mais de 60% da soja plantada nos Estados Unidos. Já a Summit Ag Group, um fundo de investimentos, movimenta grandes fortunas em negócios ligados à agricultura e possui no Brasil fazendas no estado do Pará, uma planta de produção de etanol de milho em Lucas do Rio Verde (MT) e outra em fase de construção no município de Sorriso (MT), que juntas receberão um investimento de 2 bilhões de dólares. Para o economista e coordenador do programa Empreendedores Sem Fronteiras, Dave Krog, outros pontos-chave desta experiência são o relacionamento e a chance de conhecer pessoas influentes, que podem até mesmo se tornar parceiras em futuros negócios. “No final das contas, tudo se resume ao relacionamento entre as pessoas. O network é sem dúvida uma característica existente em pessoas bem-sucedidas e negócios de sucesso”, explica.
IMERSÃO NA SUCESSÃO
Para o diretor da AgroBravo, Julio Bravo, o tema da sucessão familiar é tão importante que merece atenção especial por parte de todos os envolvidos. “Preocupamos-nos com o equilíbrio dos negócios e com o desafio das próximas gerações para perpetuar as atividades familiares. Por isso procuramos parceiros importantes como a Universidade de Iowa, que nos ajudam a pensar neste tema de forma que sucedido e sucessor possam ganhar neste processo tão complexo”, explica. Para ele, apesar do grupo ser formado por sucessores, é extremamente importante que os sucedidos também busquem informações e conhecimento que os auxiliem na construção de uma transição equilibrada e segura. “Um dos principais valores da empresa é oferecer aos clientes mais do que viagens, mas principalmente oportunidade de acessar novos mercados e ideias, que possibilitem um crescimento pessoal e profissional de cada um para que possam voltar às suas origens estendendo essa experiência e inspirando seus funcionários, filhos e parceiros a serem melhores nos seus negócios”, garante.
O PROGRAMA
O programa Empreendedores Sem Fronteiras é desenvolvido em quatro etapas. Nas duas primeiras etapas, realizadas em 2017 e 2018, além de palestras técnicas com professores, pesquisadores e empresários, os grupos visitaram mais de 20 empresas, startups e fazendas de referência nos estados de Iowa e Califórnia. As duas etapas finais do programa ocorrerão em 2019 e 2020, com encontros no Brasil, na Europa e na China. Informações sobre o programa Empreendedores Sem Fronteiras e outras viagens técnicas podem ser obtidas no site www.agroC bravo.com.
Grupo de brasileiros que realizou a primeira etapa do Programa Empreendedores Sem Fronteiras, promovido pela AgroBravo e a Iowa State University www.revistacultivar.com.br • Outubro 2018
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Coluna Agronegócios
Incremento da produtividade, uma necessidade imperiosa
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studos prospectivos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estimam que haverá necessidade de expandir a produção mundial de alimentos em mais de 60%, entre a presente década e a de 2050. Porém, dificilmente, será possível incorporar, especificamente para a produção de alimentos, mais de 20% da área atual (cerca de 300 milhões de hectares adicionais). Isto porque, paralelamente, haverá pressão de demanda de área não apenas para obtenção de outros produtos agrícolas (não alimentares), como para outras atividades humanas (infraestrutura viária, indústria, lazer, habitação etc). O exposto é emoldurado pelo framework das restrições ao uso de recursos naturais, o que limitará cada vez mais a expansão de área agrícola, sob pena de imposição de barreiras comerciais aos países que expandirem sua produção agrícola de forma não sustentável. Para atender à demanda adicional de alimentos, mantendo a expansão de área cultivada no limite de 20%, impõem-se ganhos de produtividade globais superiores a 33% até 2050. Se esta meta não for alcançada, as consequências seriam a oferta de alimentos inferior à demanda ou os impactos ambientais indesejáveis do avanço da fronteira agrícola. O Brasil, pelas suas vantagens comparativas e pela expectativa de que venha a ser o grande provedor de alimentos do mundo, deverá elevar sua produtividade muito acima da estimativa de 33%, para compensar ganhos menores em países onde a produtividade já é muito alta ou onde esse incremento será menor.
O EXEMPLO DA SOJA
Especificamente na cultura de soja, a demanda estimada nos próximos 30 anos deverá superar os 700 milhões de toneladas anuais, mais do que dobrando a produção atual, o que significa um crescimento geométrico anual próximo a 2,5%. Gazzoni e Dall’Agnol, no livro A Saga da Soja (2018), comentam que o valor estimado é baseado em um cenário conservador e que, se novos negócios que utilizem a soja como insumo (química verde, bioenergia, aquacultura) se expandirem a taxas superiores àquelas verificadas na última década, a demanda poderá ser muito maior. Novamente, o Brasil surge como o grande protagonista futuro da produção e do comércio internacional de soja, por reunir as maiores vantagens comparativas entre todos os possíveis grandes produtores de soja atuais e potenciais. Entretanto, vantagem comparativa não significa, necessariamente, vantagem competitiva, é preciso agir proativamente, de forma estratégica, para que o nosso país se mantenha permanentemente competitivo no mercado internacional. A par de outras ações igualmente prioritárias e necessárias, uma delas é incrementar, de forma contínua e permanente, a produtividade sustentável da soja brasileira, com a finalidade precípua de atingir três objetivos principais: 1) evitar a expansão da fronteira agrícola, em detrimento de áreas de vegetação nativa, o que provocaria reações negativas na sociedade global, influenciando de forma adversa as exportações brasileiras; 2) reduzir o custo de produção de cada unidade de produto obtida; 3) aliviar a pressão por expansão da malha de infraestrutura e logística, que tem sido historicamente
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inferior à demanda.
DESAFIO DO CESB
O Conselho Estratégico Soja Brasil (Cesb) foi criado em 2008, com a visão estratégica expressa no parágrafo anterior. Suas ações têm como foco o estímulo ao incremento da produtividade de soja no Brasil, descortinando o potencial produtivo da soja do país. O Cesb incentiva os produtores a adotarem tecnologias e processos que incrementem a produtividade, sempre com aumento da sua rentabilidade e respeito ao ambiente. Há dez anos o Cesb promove o Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja, que tem congregado cerca de cinco mil produtores. Atualmente, a maior produtividade obtida pelos participantes do Desafio é de 8.946kg/ha. Na safra 2016/17, o vencedor do Desafio produziu 166% acima da produtividade média brasileira. Em 2011/12, a safra da grande seca, o vencedor produziu 147% acima da produtividade média, mostrando que os produtores que atingem altas produtividades adotam tecnologias e processos que reduzem o risco de frustração de safra por eventos climáticos adversos. Lembrando que no mês de outubro o produtor já pode fazer sua inscrição pelo site www.cesbrasil.org.br/desafio-da-soja/inscreva-se/. Os objetivos do Desafio incluem testar os limites da produtividade de soja, nas condições brasileiras, e entender quais são os fundamentos que permitem a expressão de altas produtividades. A análise do banco de dados do Cesb, em função das suas séries anuais e do elevado número de produtores participantes, permite verificar quais tecnologias e processos estão associados, de forma consistente, com o incremento da produtividade. Para tanto, o Cesb conta com o apoio de parceiros importantes, que incluem a Embrapa, universidades e instituições de pesquisa públicas e privadas.
PRODUTIVIDADE É PRIORIDADE
Produtividades mais altas são obtidas por produtores que utilizam tecnologias adequadas em seu sistema produtivo e, como tal, reduzem seus riscos de frustração de safra. Os resultados do Desafio demonstram que a produtividade cresce em taxas maiores que o custo de produção, logo o produtor de alta produtividade tem lucro maior. Externalidades positivas de ganhos sustentáveis de produtividade, como o menor risco para o agente financeiro do crédito agrícola e para as seguradoras, também devem ser considerados, assim como a maior estabilidade da produção entre as diferentes safras, evitando oscilações bruscas de produção, em função de intercorrências climáticas. Sem desconsiderar a importância de outras iniciativas, entendemos que tanto o governo brasileiro quanto as entidades privadas devem assumir a proposta do incremento da produtividade, em contraposição à expansão de área, como forma de garantir a competividade e conferir brilho ao portfólio de país, que se preocupa com a C conservação ambiental.
Decio Luiz Gazzoni, O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola MILHO
Safra de verão perdendo área
Os produtores já realizaram o plantio da maior parte das áreas de milho da primeira safra e o que se observa nos campos é a queda de área em favor da soja. A oleaginosa ganhou novamente espaço, indicativo de que haverá ofertas limitadas de milho no primeiro semestre de 2019, porque tudo aponta para crescimento da demanda, com forte procura pelo setor de carnes, exportação e pelo mercado interno. Assim, o milho tende a ser escasso e valorizado, porque a maior colheita vai se concentrar na safrinha, que normalmente ocorre a partir de junho. No momento o mercado está de olho nas exportações, que voltam a crescer e já mostram níveis superiores a dez milhões de toneladas embarcadas até setembro, com espaço para embarcar mais uns 15 milhões de toneladas até o fechamento do ano. Isso tende a dar liquidez ao grão, cuja negociação esteve lenta nos últimos três meses.
SOJA
Comercialização da safra velha na reta final e ainda atrasada da safra nova
O mercado da soja no Brasil segue com a comercialização da safra velha na casa de 93%. Resta pouco para ser negociado, e de agora em diante o produto deve ser
bem valorizado, o que gera expectativa de escassez na virada do ano. Já a safra nova mostra o plantio fluindo forte, o crescimento da área e da produção estimado em 125 milhões de toneladas neste novo ano. A negociação ainda segue com atraso, na faixa de 35% frente a mais de 50% em anos anteriores. Este cenário obriga que está em desenvolvimento, pode pasos produtores ao acompanhamento mais sar novamente dos R$ 200,00 a saca antes de perto do mercado, para não perder os de dezembro. bons momentos que devem surgir nestes próximos meses.
ARROZ
FEIJÃO
Feijão com forte queda no primeiro plantio
O mercado do feijão registrou nos últimos três meses uma fase de calmaria, porque veio de safra normal e houve ingresso de variedades que não escurecem ou que demoram para escurecer. A oferta maior limitou as cotações e trouxe como resultado a queda forte no plantio desta primeira safra (o que consequentemente resultará em oferta menor no final do ano). Isso abre espaço para novas correções positivas para o feijão e até mesmo para corrida altista se houver algum problema com a safra que está nos campos. O mercado do feijão Carioca registrou valores entre R$ 90,00 e R$ 120,00 pela saca nos últimos três meses e agora mostra fôlego para crescer. Dependendo do comportamento da safra
Dólar alto trazendo otimismo aos produtores
Os produtores de arroz estão otimistas com o cereal nesta reta final de ano, porque o dólar em alta tem servido de limitante de grandes compras no mercado internacional e favorecido novos negócios na exportação. Há espaço para alta nos indicativos, o que traz apoio aos produtores que estão plantando. A nova safra do Brasil deve ter área abaixo de 1,9 milhão de hectares frente a aproximadamente dois milhões de hectares plantados no ano passado. Isso pode gerar um ano mais ajustado entre a oferta e a demanda, com chances de cotações C maiores que as atuais.
Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo segue firme, com níveis acima de R$ 800,00 a tonelada. Mesmo com a chegada da safra, não se esperam grandes baixas nos indicativos porque os produtores poderão segurar o grão para negociar no começo do ano e obterem cotações maiores. O mercado internacional continua em alta e com grande déficit entre a produção e o consumo. Desta forma, há apoio ao grão brasileiro, que amarga vários anos de prejuízos. EUA - Os produtores norte-americanos estão colhendo a grande safra da história do país, com indicativos superiores a 127 milhões de toneladas de soja. Com silos cheios e bolsos vazios dos produtores que seguem reféns da guerra comercial entre o presidente Donald Trump e a China, maior importador mundial deste grão. CHINA - A China continua a atuar duramente na guerra comercial com os EUA, o que tem mantido os indicativos da soja e o faturamento do milho e de outros produtos da América do Sul mais competitivos para atender o mercado asiático. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostrou que os chineses vão importar 94 milhões de toneladas
de soja em 2019. O consumo do país caminha para 115 milhões de toneladas neste novo ano e a safra local não irá além de 15 milhões de toneladas, o que tende a gerar importações de 100 milhões de toneladas, pois se comprarem menos irão derrubar os estoques que servem de segurança em caso de problemas com a safra nos países exportadores. ARGENTINA - A safra dos argentinos foi uma das menores em mais de uma década, devido ao clima. Pouco mais de 37 milhões de toneladas de soja, enquanto a expectativa era de 57 milhões de toneladas. O milho resultou em aproximadamente 31 milhões de toneladas frente a projeções de 42 milhões de toneladas. E para piorar a situação dos produtores, veio a taxação da exportação dos produtos, com a soja elevada a 28% de Retenciones e o milho, que tinha alíquota zero, taxado em 10%. Começam a safra de 2019 com menor poder de investimento e chances reduzidas de lucros, ou seja, caminham para um aprofundamento na crise local. Nenhum lugar do mundo deu certo com governos que aumentaram os impostos daqueles que já pagavam altos tributos. Crise se resolve cortando gastos, estimulando a atividade econômica e o crescimento.
www.revistacultivar.com.br • Outubro 2018
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Coluna ANPII
Eventos técnicos Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) contabiliza a participação em diversos encontros do setor, voltados ao debate e ao aprimoramento da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN)
O
s meses de agosto e setembro foram pródigos em eventos sobre Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). E em todos, a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) teve participação destacada. De 26 a 28 de agosto ocorreu o XVI Symposium on Biological Nitrogen fixation with non Legumes, em conjunto com o IV Latin American Workshop of PGPR, em Foz do Iguaçu, no Paraná. Esses dois eventos, que tiveram a ANPII como patrocinador diamante, contaram com a participação de pesquisadores de vários países, que trouxeram inúmeras contribuições para o desenvolvimento de novas tecnologias na área de fixação do nitrogênio em não leguminosas. O presidente da ANPII, José Roberto Pereira de Castro, fez uma apresentação sobre o uso da coinoculação no Brasil, intitulada “Co-inoculationusing the PGPR species of Azospirillum brasilense – Brazilian case”. Mais uma vez foi demonstrada a liderança do país no uso de micro-organismos na agricultura. O uso da coinoculação, uma técnica nova, divulgada há pouco mais de três anos, já ocupa uma área considerável no país, mostrando a adesão do agricultor brasileiro às novas tecnologias que são oferecidas para melhorar a produtividade. Na Reunião da Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola (Relare), nos dias 30 e 31 de agosto, com a presença das empresas produtoras de inoculantes, dos pesquisadores da área e dos agrônomos do setor de fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram discutidos os principais aspectos da política de inoculantes no Brasil, com a apresentação de trabalhos pelos pesquisadores e discussão de estratégias para a difusão do uso correto de inoculantes. O uso da pseudoprodução de inoculantes na própria fazenda foi fortemente combatida por representar uma forma de enganar os agricultores menos informados. Os que utilizam esta forma de “fazer de conta” que produzem inoculantes, na ilusão de menores custos, em realidade estão deixando de obter os ganhos que a FBN proporciona. Na reunião da Relare, também patrocinada pela ANPII e presidida pelo então presidente Jerri Zilli, o presidente da associação apresentou o trabalho “Situação da aquisição, aplicação e preço dos inoculantes na última década”, traçando um panorama da inoculação no Brasil, mostrando o franco crescimento do uso desse insumo no país, sua distribuição por regiões e outros dados que foram obtidos pelas pesquisas contratadas pela associação. Nesta Relare também ocorreu a assinatura do convênio entre a ANPII e a Universidade Federal do Paraná, para a pesquisa
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Outubro 2018 • www.revistacultivar.com.br
de novas cepas de Azospirillum, com maior capacidade de fixar nitrogênio. As novas cepas, isoladas no Departamento de Bioquímica da Universidade serão testadas a campo pela associação, em conjunto com suas empresas associadas, em um modelo inédito: um consórcio de empresas fazendo a primeira fase da pesquisa em conjunto, na fase pré-competitiva. O inoculante terá seu desenvolvimento industrial, em larga escala, realizado por uma ou mais empresas associadas. A tecnologia gerada será repassada para todas as associadas e os testes de campo também serão realizados pela associação, dentro do protocolo exigido pelo Mapa para registro. Com esta pesquisa cooperativa os custos de desenvolvimento cairão significativamente.
PRESIDENTE DA ANPII FAZENDO SUA APRESENTAÇÃO NA RELARE
No mês de setembro, a ANPII também esteve presente em dois eventos no estado do Paraná. No dia 12, em Londrina, o consultor da associação, Solon de Araújo, ministrou a palestra “Uso agrícola da Fixação Biológica do Nitrogênio: presente e futuro”, no III Congresso Paranaense de Microbiologia. No dia 13 de setembro, a associação também esteve presente, através de seu consultor, na mesa-redonda do X Simpósio Grandes Culturas: feijão – organizado pelo grupo PET Agronomia da Universidade Estadual de Maringá, com apresentação da palestra “Importância da FBN para a cultura do feijão”. Por tudo isto, fica muito evidente a importância da FBN no contexto da agricultura brasileira e a consolidação da ANPII como legítima representante do setor e das empresas C associadas. Solon Araujo, Consultor da ANPII