Cultivar Grandes Culturas 234

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Destaques

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@RevistaCultivar

Índice

Diferenças no manejo

Como reagir à presença de lagartas na cultura da soja e que aspectos considerar em ambientes Bt e em cultivos convencionais

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Larvaalfinete

Que cuidados adotar em relação à

Diretas

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Broca do cafeeiro

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Controle do capim-amargoso

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Índice de Área Foliar em soja

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Capa - Manejo de lagartas de difícil controle

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Larva-alfinete em milho

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Manejo de lagartas em milho

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Controle do bicudo em algodoeiro

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Empresas - Programa Prospera

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Coluna Agronegócios

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Coluna Mercado Agrícola

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Coluna ANPII

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Diabrotica speciosa, praga responsável por infestar as raízes de milho

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Como combater

Ações conjuntas são fundamentais para o produtor conviver com o

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

bicudo e prevenir prejuízos Cultivar Grandes Culturas • Ano XIX • Nº 234 Novembro 2018 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Andre Katsuo Shimohiro

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo

• Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves

• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi

CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes

• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia

• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

• Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer

• Expedição Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas Inseticida

A Nufarm prepara para a safra 2018/19 o lançamento do inseticida Carnadine, com registro nas culturas de soja, milho, algodão, batata, feijão, melão, melancia, tomate e trigo. Com ingrediente ativo acetamiprido, o produto é comercializado em formulação líquida. “Trata-se de uma tecnologia indicada principalmente ao controle de insetos adultos da mosca-branca”, explicou Alexandre Manzini, gerente de Produtos da Nufarm. O defensivo age também no combate a outras pragas, como o pulgão do algodoeiro.

Reconhecimento

Realizado pela Bayer, com apoio da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), o 1º Prêmio Mulheres do Agro foi entregue em outubro, em cerimônia durante o 3º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. Na categoria Pequena Propriedade o 1º lugar coube a Ana Regina Majzoub, da Café Iranita, de Porciúncula, Rio de Janeiro. A segunda colocada foi Sônia Aparecida Bonato, da Fazenda Palmeiras, em Ipameri, Goiás. A 3ª posição ficou com Benedita do Nascimento, do Sítio da Bena, Moju/Pará. Na Categoria Média Propriedade venceram Laura Junqueira Mendes de Barros, da Café Condado, Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais; Marisa Helena Oliveira de Souza Contreras, da Fazenda Capoeira Coffee, em Aredo, Minas Gerais, e Jania Katia Barbon Grando, da Estância da Mata, São Miguel do Iguaçu, Paraná. Na categoria Grande Propriedade foram premiadas Celi Webber Mattei, da Sementes Webber, de Passo Fundo, Rio Grande do Sul; Dulce Ciochetta, do Grupo Morena, Tangará da Serra, Mato Grosso, e Márcia Piati Bordignon, da Fazenda 4 Filhas, em Céu Azul, Paraná.

Embrapa

Alexandre Manzini

Daninhas

O pesquisador Sebastião Barbosa assumiu em outubro a presidência da Embrapa, em substituição a Maurício Antônio Lopes, que ocupava a função desde 2012. Barbosa é engenheiro agrônomo, especialista em Entomologia e foi contratado pela Embrapa em 1976, atuando em programas de controle e erradicação de pragas. Por 17 anos, trabalhou na Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO), no Serviço de Proteção de Plantas, em Roma, Itália; e no escritório para a América Latina e o Caribe, em Santiago, Chile. Nesse período manteve-se licenciado sem receber rendimentos da empresa. Coordenou a cooperação internacional da Embrapa e foi chefe-geral da Embrapa Algodão.

Donizeti Fornarolli e Daniel Fornarolli, do Grupo Fornarolli, estiveram presentes no XXXI Congresso Brasileiro de Plantas Daninhas, no final de agosto, no Rio de Janeiro. O grupo atualmente engloba as empresas de pesquisa e experimentação Fornarolli Ciência Agrícola (Brasil) e Fornarolli Santos (Paraguai), além da Agrohaste - Equipamentos para Pesquisa e Fazenda Escola - Educação Agrícola a Distância.

Sebastião Barbosa

Daniel Fornarolli e Donizeti Fornarolli www.revistacultivar.com.br • Novembro 2018

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Café Alexandre José Ferreira Diniz

Broqueadora de lucros A broca-do-café Hypothenemus hampei tem se mostrado um problema constante para o cafeicultor, por atacar diretamente o produto comercializado, que acaba depreciado tanto na quantidade como em qualidade. Época de controle coincide com o “trânsito” do inseto, que ocorre de outubro a dezembro

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broca-do-café, Hypothenemus hampei (Coleoptera: Curculionidae), é originária da África e foi registrada no Brasil em 1922. Desde então, passou a causar preocupação ao cafeicultor, pois é uma

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praga que ataca diretamente o produto a ser comercializado, não somente destruindo os grãos, mas também levando à perda de peso, à queda de grãos e prejudicando a qualidade da bebida, pois seu ataque permite a en-


trada, no grão, de fungos que podem alterar as características de aroma e sabor do café. Atualmente, quando tanto se fala de controle biológico, é conveniente salientar que a broca foi um dos primeiros insetos introduzidos para a qual se aventou a possibilidade de utilização daquele tipo de controle. Em 1929, pesquisadores de São Paulo foram à África, origem da broca, para coletar e trazer para o Brasil um inimigo natural nativo, no caso, a vespa-de-Uganda, Prorops nasuta Waterston, 1923 (Hymenoptera: Bethylidae). Existem, ainda, muitos outros inimigos naturais, mas sem utilização prática. Na época, a Entomologia era ainda incipiente e não existiam técnicas de criação de inimigos naturais em larga escala como atualmente. Como consequência, a introdução e liberação em pequena escala do inimigo natural não levou aos resultados esperados. Por muito tempo, o controle foi

Tabela 1 - Tempo de desenvolvimento em dias (ovo-adulto) e porcentagem de sobrevivência (ovo-adulto) da broca-do-café (Hypothenemus hampei) em diferentes temperaturas Temperatura média (ºC) Tempo de desenvolvimento (ovo-adulto)* Porcentagem de sobrevivência (ovo-adulto)* 18 72,0 ± 0,10 a 72 ab 20 55,9 ± 0,08 b 81 a 22 38,7 ± 0,10 c 83 a 25 23,1 ± 0,07 e 81 a 28 23,2 ± 0,07 e 83 a 30 25,1 ± 0,06 d 62 b 32 37,2 ± 0,07 c 37 c 35 * médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0.05), para temperatura de 35ºC não foi verificado desenvolvimento total dos insetos. K = 299 GD, Tb = 13,9ºC.

difícil, até que, na década de 1940, com a utilização dos clorados como o BHC, o problema foi de certa forma reduzido. Neste mesmo período avolumaram-se os estudos bioecológicos da praga, especialmente pelo pesquisador Jacob Bergamin, entomologista da Esalq. As condições que favorecem a praga são aquelas com presença de alta umidade relativa, sendo mais frequente em cafezais adensados, sombreados ou irrigados. Assim, ainda no

século passado, em 1970, foi registrada no Brasil a ferrugem-do-café, Hemileia vastatrix, e com esta doença um novo problema muito mais sério. Esse fato levou à mudança da forma de condução da cultura para que houvesse redução da umidade do cafezal, uma vez que essa condição é essencial para o fungo causador da enfermidade. Embora já existissem algumas variedades resistentes à doença, desenvolvidas no Instituto Agronômico pela equipe do pesquisador Alcides Carvalho, o número de plantas por cova foi reduzido, o adensa-


Fotos Alexandre José Ferreira Diniz

Dano interno, orifício na coroa em frutos maduro e verde

mento e o sombreamento passaram a ser evitados. Assim, a partir dessa época a broca, de certa forma, se tornou menos importante e o bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Méneville, 1842) (Leptidoptera: Lyonetiidae), assumiu o papel de praga mais relevante da cultura, pois é favorecido por condições mais secas e ventiladas (cafezais mais abertos) que passaram a predominar a partir da ocorrência da ferrugem. A broca continuou a ocorrer especialmente em regiões ou condições mais úmidas, mas eficientemente controlada por meio da utilização do produto endossulfan. Entretanto, nos últimos anos, especialmente a partir de 2013, com a retirada deste inseticida do mercado, os problemas têm aumentado e surgiu a necessidade de novas opções para o controle da praga. Como antes, os problemas surgiram em plantios mais adensados, locais com colheitas mal feitas e áreas com irrigação. Cafezais mais espaçados são menos adequados para a ferrugem e para a broca.

CONTROLE ATUAL DA PRAGA

A época de controle da broca ocorre quando há o “trânsito” da praga, ou seja, mais ou menos de outubro a dezembro, quando os insetos provenientes da própria planta ou de frutos caídos no solo migram para o

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“chumbinho” (frutos novos) da produção da próxima safra. É neste momento que tem de ser realizado o levantamento populacional da praga, coletando-se de 50 plantas por talhão, aleatoriamente, 100 frutos, 25 por face da planta (N, S, L, O); esses frutos são avaliados quanto à presença de ataque (frutos broqueados, com orifício de entrada da broca na região da coroa), e desse modo determinar a porcentagem de infestação. Em frutos aquosos (>80% de umidade) não são colocados ovos pela broca. Quando alcançado o nível de 3% a 5% de frutos atacados recomenda-se o uso de alguma medida de controle, seja aplicação de produtos químicos ou biológicos devidamente registrados. No caso de produtos químicos, faz-se uma aplicação, quando atingido o nível de controle, repetindo-se de 20 dias a 30 dias depois, e caso necessário, é realizada uma terceira aplicação. O nível de dano para o cafeeiro é de 7% – 10% de frutos atacados. Existem outros trabalhos que mostram que o momento de controle pode ser determinado por meio do uso de armadilhas atrativas de etanol:metanol (3:1) na base de uma armadilha para cada quatro hectares, utilizadas no período do “trânsito” e o controle é indicado quando os primeiros adultos comecem a ser capturados. A renovação destas armadilhas

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deve ser efetuada a cada 15 dias. Uma medida que muitos deixaram de lado, mas que deve ser realizada com muito rigor, é o repasse, ou seja, a coleta de frutos caídos no solo ou que permaneceram na planta da safra anterior. Esta medida cultural reduz sensivelmente a população da praga, sendo que também recomenda-se que a colheita seja iniciada pelo local de maior ataque da praga. Existem, em substituição ao endossulfan, 24 produtos atualmente registrados, como ciantaniliprole, clorpirifós e espinosade que vêm sendo utilizados como alternativa de controle. Excelentes resultados tem sido observados com produtos comerciais à base do fungo Beauveria bassiana, que por ser um patógeno, se desenvolve muito bem em locais que favorecem a broca-do-café, ou seja, com altas umidades. Trata-se de uma nova formulação que vem sendo empregada em Minas Gerais e em Franca, São Paulo, na base de 0,5kg/ha com três a cinco aplicações em intervalos mensais na época do “trânsito” da broca. Pesquisas recentes indicam que, no futuro, poderão ser utilizadas novas armadilhas com atraentes à base de produtos químicos com voláteis extraídos do cafeeiro para indicação do momento de controle da praga. O conhecimento dos mecanismos de interação da praga com a planta é de grande importância para traçar



estratégias de manejo da broca. Em estudo recente foi verificado que as fêmeas têm preferência por frutos que ainda não foram atacados por outras brocas, um comportamento que reduz a competição entre os insetos, mas que, por outro lado, favorece o aumento da infestação da praga na lavoura (Michereff et al, 2018). Embora a broca apresente ocorrência mais frequente em condições microclimáticas de umidade relativa alta, em condições macroclimáticas também tem preferência por regiões mais úmidas e com temperaturas mais elevadas, pois nestes locais a possibilidade de ocorrência de um maior número de gerações é visível. O mapeamento das condições favoráveis para a praga, em escalas macro ou microclimáticas, é outra estratégia que pode ser utilizada para fins de planejamento da implantação de novos cafezais, bem como na priorização de outras formas de controle dentro de um plantio já instalado. Estes estudos levam em consideração que o tempo de desenvolvimento da praga é diretamente afetado pela temperatura ambiental, sendo que, quanto maior a temperatura, mais rápido é o desenvolvimento (Tabela 1). Utilizando-se esses dados com as temperaturas médias de diferentes locais, são produzidos mapas de probabilidade de ocorrência da praga. [com base nas exigências térmicas (K) de 299 graus dias (GD), no limite térmico inferior de desenvolvimento (Tb) de 13,9ºC] Este tipo de mapeamento foi realizado para o estado de São Paulo ao longo dos meses do ano (Giraldo-Jaramillo et al, 2018) indicando os locais e épocas com ocorrência de maior numero de gerações da praga e, portanto, com maior risco de infestações (Figura 1). A grande quantidade de informações da praga e os seus métodos de controle atualmente disponíveis permitem traçar estratégias que se adaptam aos preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP) em que devem ser levados em conta o tipo

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Figura 1 - Mapas do número de gerações da broca-do-café (Hypothenemus hampei) previstos para cada município do estado de São Paulo ao longo dos 12 meses do ano, de acordo dos dados de biologia da praga (Giraldo-Jaramilo et al, 2018)

de condução da cultura, a fenologia da planta e as formas de controle da praga em função da sua infestação em campo, de modo a racionalizar o manejo, buscando-se a sustentabiliC dade do cultivo.

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José Roberto Postali Parra Marisol Giraldo-Jaramillo Adriano Gomes Garcia Alexandre José Ferreira Diniz USP/Esalq Cenicafé



Plantas daninhas Fotos Alexandre Ferreira da Silva

Manejo proativo De difícil controle, principalmente quando entouceirado, o capim-amargoso se mostra ainda mais grave por conta da seleção de biótipos resistentes ao glifosato. A integração de diferentes alternativas de combate, assim como a prevenção da sua entrada ou disseminação para novas áreas, é atitude importante para o adequado manejo desta planta daninha 14

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O

manejo do capim-amargoso (Digitaria insularis) vem ocasionando preocupação aos produtores, principalmente aqueles localizados no Cerrado. Esta espécie se caracteriza pela adaptabilidade a diferentes condições de solo e clima, e por ser uma planta de difícil controle, principalmente quando entouceirada. Após a formação dos rizomas, o capim-amargoso apresenta rápido crescimento e pode ocasionar perdas significativas de rendimento. O uso de estratégias de manejo inadequadas promoveu a seleção de biótipos resistentes ao glifosato. O primeiro relato ocorreu no ano de 2008 na região Oeste do Paraná e, desde então, tem se observado a dispersão deste problema para as principais regiões produtoras de grãos do Brasil. Este fato tem ocasionado mudanças nas estratégias de controle de plantas daninhas, principalmen-


te nas culturas resistentes ao glifosato (GR). O controle de plantas daninhas no milho GR que, usualmente, é realizado através do uso de glifosato associado ou não a atrazine, deixa de ser eficiente contra biótipos de capim-amargoso resistente. Desta forma, tem sido comum observar falhas de controle e questionamentos por parte dos produtores sobre qual a melhor estratégia de manejo desta planta daninha na cultura do milho. Diante deste cenário, para a adequada elaboração de estratégia de manejo deve-se conhecer a biologia da planta daninha-alvo e a partir deste ponto, estabelecer um conjunto de medidas de acordo com a realidade específica de cada localidade.

ASPECTOS RELACIONADOS À BIOLOGIA DA PLANTA

O capim-amargoso se caracteriza por ser uma espécie perene, rizomatosa, capaz de formar grandes touceiras e produzir sementes durante, praticamente, todo o ano. As suas sementes são pequenas, revestidas por muitos pelos, que auxiliam na dispersão a longas distâncias. Esta espécie apresenta capacidade de germinar em amplo espectro de temperatura e luminosidade. Este fato contribui para que esteja presente praticamente durante todo o ano nas áreas de produção. De maneira geral, em ambientes favoráveis, apresenta lento crescimento inicial até o período de formação dos rizomas, que ocorre, aproximadamente, aos 40 dias após a emergência (DAE). A partir deste período, até por volta dos 100 DAE o seu crescimento tende a ser acelerado, apresentando grande acúmulo de matéria seca. Durante o período de lento crescimento, as plantas são facilmente controladas por herbicidas. Contudo, após formar os rizomas, seu controle é dificultado.

FALHAS DE CONTROLE

O uso de glifosato para o controle de plantas entouceiradas de capim-amargoso tende a ser ineficiente. Acredita-se que o alto teor de amido presente nos rizomas promova a redução da translocação do herbicida para os pontos de crescimento da planta. Isto implica que mesmo as plantas adultas não resistentes a glifosato são difíceis de serem controladas. Dessa forma, o maior risco está em se tentar controlar as plantas já desenvolvidas, pois requerem altas doses e aplicações sequenciais. As rebrotas podem apresentar

maior velocidade de crescimento que as plantas jovens, oriundas de sementes, e, consequentemente, ocasionar maiores perdas de produtividade.

ESTRATÉGIAS DE CONTROLE

É importante que a cultura do milho comece o seu desenvolvimento livre da interferência desta planta daninha. Por isso é preciso atenção especial ao manejo realizado durante a entressafra, pois nesse período é possível reduzir a densidade do banco de sementes do solo e diminuir a pressão de infestação para a cultura que será semeada em sequência, bem como reduzir a interferência precoce. Para o controle de capim-amargoso, na entressafra, em regiões onde é realizado o cultivo somente de uma safra, produtores podem fazer uso de herbicidas não seletivos associados com outras moléculas que apresentem efeito residual no solo. No entanto, devem ficar atentos ao período de atividade residual, que dependerá do herbicida, da dose utilizada, das características físico-químicas do solo e das condições climáticas após a aplicação. A baixa oferta de água no solo tende a reduzir a eficácia do herbicida, sendo possível, dependendo da molécula, a sua liberação na solução do solo mediante o restabelecimento da umidade. Neste cenário, caso a cultura semeada em sequência não seja tolerante ao herbicida residual, mesmo tendo respeitado o intervalo de aplicação, pode haver intoxicação e perdas de produtividade.

DESSECAÇÃO EM PRÉ-SEMEADURA

Para o controle de plantas pequenas, antes da formação de rizomas, o uso de herbicidas de ação de contato demonstra ser eficiente. Entretanto, plantas perenizadas requerem o uso de herbicidas sistêmicos, seguido por aplicação de produtos de contato, como paraquat (inibidor do fotossistema I) e glufosinato de amônio (inibidor da glutamina sintetase). Neste caso, o intervalo entre as aplicações ocorre de dez a 21 dias. Os principais herbicidas sistêmicos utilizados para o controle de plantas entouceiras de capim-amargoso resistente a glifosato são os inibidores da enzima acetil coenzima A-carboxilase (ACCase). Estes produtos são de ação graminicida e podem ser divididos em três grupos químicos: ariloxifenoxipropionatos (FOPs), ciclohexanodionas (DIMs) e fenilpira-

Área infestada com capim-amargoso na entressafra (esquerda) e entorno de lavoura com a presença intensa da planta daninha

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Fotos Alexandre Ferreira da Silva

Sementes de capim-amargoso têm capacidade de dispersão a longas distâncias

zolinas (DENs). É importante salientar que os herbicidas pertencentes a este mecanismo de ação podem apresentar efeito residual no solo (zero a 14 dias), de acordo com o ingrediente ativo, da dose e das condições edafoclimáticas de cada local. Devido à curta janela de plantio do milho safrinha, a melhor estratégia para evitar o capim-amargoso no milho é combatê-lo na soja. Durante o processo de colheita da soja, as plantas entouceiradas que escaparam do controle têm suas folhas cortadas pelas colheitadeiras, o que prejudica a ação dos herbicidas sistêmicos na dessecação de pré-semeadura do milho safrinha. Por esta razão, a utilização de herbicidas de contato pode ser uma alternativa interessante, pois apesar de não ocasionar a morte destas plantas, poderão retardar o seu desenvolvimento inicial, contribuindo para a redução na interferência da cultura do milho.

IMPORTÂNCIA DO USO DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES

O uso de pré-emergentes se destaca como uma interessante alternativa para contribuir no manejo do capim-amargoso, pois possibilita a maior diversificação de princípios ativos, reduzindo a pressão de seleção por biótipos resistentes, e contribui para o crescimento inicial da cultura livre da interferência de plantas daninhas. Atualmente há cinco pré-emergentes seletivos registrados para o controle de capim-amargoso na cultura do milho, sendo dois inibidores da formação de microtúbulos (pendimethalin e trifluralin) e três da divisão celular (alachlor, acetochlor, s-metlachlor). Estes herbicidas podem ser aplicados no mesmo momento da dessecação de pré-semeadura.

CONTROLE NA PÓS-EMERGÊNCIA

Para o controle em pós-emergência há

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três ingredientes ativos seletivos registrados: mesotrione e topyralate (inibidores da biossíntese de carotenoides), e glifosato (inibidor da EPSP sintase), que é passível de ser utilizado somente em milho GR (Agrofit, 2018). Entretanto, pesquisas demonstram que outros herbicidas de reconhecida ação graminicida, como nicosulfuron (inibidor da acetolactato-sintase) e tembotrione (inibidor da biossíntese de carotenoides) também podem suprimir o crescimento desta infestante (Silva et al, 2017; Timossi, 2008). É importante salientar que os herbicidas devem ser aplicados, preferencialmente no início do desenvolvimento do capim-amargoso, antes da formação dos rizomas, que é o período de maior sensibilidade desta planta. O controle de touceiras tende a ser ineficiente, pois, normalmente, promove a morte da parte aérea, e posteriormente ocorre o rebrote. Nesta situação, práticas culturais que favoreçam o rápido sombreamento da entre linha da cultura, como o uso de espaçamento reduzido e maior população de plantas, tendem a inibir o crescimento da planta e reduzir o seu potencial de interferência.

NOVA OPÇÃO DE CONTROLE

Há perspectiva da oferta no mercado de sementes do milho Enlist, resistente a glifosato, glufosinato de amônio e haloxyfop-p-methyl e 2,4D. Dentre estes princípios ativos, glufosinato de amônio e haloxyfop são eficientes no controle de biótipos de capim-amargoso resistentes a glifosato. Entretanto, é importante salientar que o uso destas moléculas deve ser realizado de maneira criteriosa. É recomendado que se alterne os ingredientes ativos entre as culturas semeadas na mesma área, pois o uso repetitivo ao longo do tempo pode favorecer a rápida seleção de biótipos resistentes.

ESTRATÉGIAS DE MANEJO

A estratégia de manejo adotada pela maioria dos produtores consis-

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te no manejo reativo. Trata-se de uma alternativa eficaz em um primeiro momento, mas que se adotada por muito tempo, perde a sua eficácia. O uso de glifosato como única ferramenta de controle do capim-amargoso pode ser citado como um exemplo desta estratégia de manejo. O uso contínuo e indiscriminado deste herbicida favoreceu a seleção de biótipos resistentes, ocasionando a sua perda de eficácia. Após este fato, o controle, atualmente, está concentrado, principalmente no uso de inibidores da ACCase. Desta forma, é possível prever que, caso esta alternativa de controle não seja utilizada de maneira adequada, poderá perder a sua eficácia ao longo do tempo. O uso contínuo de um mesmo ingrediente ativo em populações resistentes a glifosato favorecerá a seleção de biótipos com resistência múltipla a glifosato e a um inibidor da ACCase. Em vez de adotar medidas reativas no controle do capim-amargoso, produtores deveriam utilizar estratégias de manejo proativas, que objetivam preservar as alternativas disponíveis, através da diversificação das medidas de controle. Dentre as medidas eficazes para o manejo do capim-amargoso é possível citar uso de plantas de cobertura, rotação de culturas, práticas culturais, catação mecânica, limpeza de máquinas e implementos, entre outras.

USO DE PLANTAS DE COBERTURA

Empregar plantas que promovam a rápida cobertura do solo, situação que pode suprimir o crescimento e reduzir o fluxo de emergência do capim-amargoso. Após a dessecação, a cobertura morta forma uma barreira física na camada superficial do solo, diminuindo a oscilação de temperatura e a intensidade luminosa, além de liberar substâncias alelopáticas que podem prejudicar a germinação e a emergência da infestante. Entretanto, é importante que a semeadura das plantas de cobertura ocorra no limpo, para que possam suprimir adequadamente o crescimento do capim-amargoso. O consórcio milho-braquiária demonstra ser uma


interessante alternativa, por proporcionar rápida cobertura do propriedades onde o problema ocorre de maneira localizada, solo, reduzir o período de pousio e promover o incremento de recomenda-se iniciar a colheita nos talhões que não possuem palhada no sistema. problemas e posteriormente passar para as áreas infestadas.

ROTAÇÃO DE CULTURAS

É prática importante, porém negligenciada pela maioria dos produtores. A sucessão de culturas GR tem favorecido o aumento da infestação de espécies tolerantes e biótipos resistentes ao glifosato. A escolha das espécies para compor o sistema de rotação deve recair sobre plantas com hábitos de crescimento e características bem contrastantes, que possibilite a alternância das moléculas herbicidas utilizadas.

PRÁTICAS CULTURAIS

CONTROLE NAS BORDAS DAS ÁREAS DE CULTIVO

É um detalhe em que muitos produtores deixam a desejar. O controle inadequado destas plantas favorece a disseminação para dentro das áreas de cultivo. Desta forma, por mais que o manejo seja adequado, o produtor poderá ter dificuldades em erradicar esta espécie, pois as sementes podem se dispersar para dentro dos talhões.

ROTAÇÃO DE INGREDIENTES ATIVOS

Práticas que favoreçam o rápido crescimento da cultura e somPara o controle do capim-amargoso, a rotação de ingredientes breamento da entre linha podem contribuir para a supressão do ativos é prática importante para retardar a seleção de biótipos resiscrescimento do capim-amargoso. Dentre estas práticas culturais, tentes. O uso contínuo do mesmo princípio ativo aumenta a pressão destacam-se semeadura do milho em espaçamento reduzido e de seleção, favorecendo o estabelecimento de biótipos resistentes. na época recomendada, adubação balanceada e população de plantas adequada. CONSIDERAÇÕES FINAIS O capim-amargoso é uma planta daninha que merece atenCATAÇÃO MECÂNICA OU QUÍMICA ção por parte dos agricultores e técnicos, pois se trata de uma Deve ser adotada para evitar a dispersão em área total. espécie que pode ocasionar elevadas perdas de produtividade Usualmente, este método é utilizado para aquelas plantas que e aumento dos custos de produção. escapam do controle. A catação deve ser realizada antes da O cenário atual demonstra que o manejo reativo não é produção de sementes. Como o capim-amargoso apresenta uma estratégia sustentável. A integração de diferentes alterpropagação vegetativa, ao realizar o controle mecânico da es- nativas de controle, assim como a prevenção da entrada ou pécie deve-se tomar cuidado para não fragmentar os rizomas disseminação para novas áreas, é atitude importante para o C das plantas para evitar a sua propagação na área. As plantas adequado manejo do capim-amargoso. capinadas devem ser levadas para fora da área cultivada para serem descartadas. Plantas arrancadas e deixadas na superfície do solo poderão se restabelecer e produzir sementes viáveis. Alexandre Ferreira da Silva Décio Karam Embrapa Milho e Sorgo LIMPEZA RIGOROSA DE MÁQUINAS Dionísio Luiz Pisa Gazziero E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS Fernando Storniolo Adegas É prática importante para evitar a entrada e dispersão da Embrapa Soja espécie em novas áreas. O trânsito de colheitadeiras tem sido Leandro Vargas considerado uma das principais vias de disseminação de biótiEmbrapa Trigo pos de plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil. Em

Touceiras de capim-amargoso podem dar origem a diversas plantas

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Patricio Orozco-Contreras

Soja

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Produzir mais

Para atender ao desafio da crescente demanda por alimentos e energia é preciso encontrar alternativas viáveis para aumentar a produtividade. Entender a relação de fatores como o índice de área foliar (IAF) e manejálo de modo adequado à realidade da área de cultivo é uma das maneiras de otimizar os resultados e ficar mais próximo de atingir este objetivo

FATORES MODIFICANTES DO IAF

A data de semeadura é um dos fatores que podem limitar a produtividade de uma lavoura, por isso, deve ser adequada de acordo com a cultivar desejada para que o IAF não limite a produtividade. Pode-se observar na Figura 1, que cultivares com GMR baixo (GMR < 5.4) possuem menor IAFmáx em semeaduras antecipadas e tardias, atingindo o maior IAFmáx em semeaduras realizadas em novembro. Cultivares com GMR alto (GMR > 7.0) e médio (5.5 < GMR > 6.9), atingem o maior IAFmáx em semeaduras realizadas em setembro, diminuindo à medida que ocorre atraso na semeadura. Esses resultados foram encontrados em cultivares modernas de soja, tendo redução no IAFmáx com o atraso da época de semeadura, exceto para cultivares com GMR menor que 5.5, que apresentam o IAFmáx em semeaduras realizadas em novembro. Nas recomendações para a cultura da soja no Brasil e nos EUA, são aceitas perdas de no máximo 30% de IAF durante a fase vegetativa e de 15% a 20% na fase reprodutiva. Entretanto, levando em consideração a tendência apresentada na Figura 1, é necessário ajustar as recomendações, levando em consideração a época de semeadura e o GMR, pois em áreas

onde ocorre o atraso da semeadura e/ou a cultivar semeada apresenta GMR curto, o IAF será menor, e o manejo fitossanitário deve ser ajustado para essa nova situação. É possível inferir que o refinamento do manejo fitossanitário de acordo com o IAF, a época de semeadura e o GMR sejam uma forte demanda para pesquisas no futuro.

IAF PARA ATINGIR ALTAS PRODUTIVIDADES

A relação direta do IAF versus produtividade de grãos, através de uma função limite, possibilita que sejam quantificados os valores de IAF necessários durante os estágios de desenvolvimento críticos da cultura da soja para atingir produtividades próximas a 6mg/ha. Para altas produtividades, foram encontrados os valores 6,5, 6 e 6,3 de IAF ótimo, para cultivares determinadas, cultivares indeterminadas e para ambas as cultivares, respectivamente, através da função limite entre a produtividade e o IAFmáx (Figura 2). Quando esses valores são atingidos, o potencial de produtividade não aumenta com o incremento de IAF e, se houver aumento excessivo do IAF, a tendência é que ocorra redução na produtividade de grãos, devido ao maior sombreamento entre as plantas e à menor interceptação de radiação solar pela parte inferior do dossel, formando um microclima favorável à proliferação de doenças fúngicas e ao ataque de insetos-praga, além de reduzir a eficiência do manejo fitossanitário. Equipe SimulArroz

P

ensar em incrementos de rendimento requer uma abordagem compatível com o conceito de agricultura de processos, em que se busca entender a relação dos fatores de manejo com os fatores ecofisiológicos, e a resposta sobre o potencial produtivo nas lavouras. Entre os fatores ecofisiológicos chave na formação do potencial produtivo destaca-se o índice de área foliar (IAF) ao longo do ciclo de desenvolvimento. Existem outras informações sobre o IAF e, principalmente, sobre a resposta do IAF em locais onde são semeadas cultivares com uma ampla faixa de grupos de maturidade relativa (GMR) e em uma extensa janela de semeadura (de setembro a fevereiro, em torno de 150 dias), como a que ocorre no Sul do Brasil. Para preencher essa lacuna de informação sobre o IAF necessário para atingir o potencial de produtividade, a equipe SimulArroz coordenou a condução de mais de 20 experimentos, durante quatro estações de crescimento (2011–2015), em Água Santa, Cachoeirinha, Júlio de Castilhos, Restinga Seca, Santa Maria e Tupanciretã, em instituições de pesquisa e lavouras comerciais de soja no Rio Grande do Sul. Os resultados obtidos ao longo da execução desses experimentos foram fundamentais para avançar na compreensão da relação entre IAF e produtividade de grãos.

Experimento em lavoura comercial de alto potencial produtivo

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Figura 1 - Relação entre o índice de área foliar máximo (IAFmáx) e a data de semeadura (expresso como dias após 20 de setembro), para diferentes grupos de maturação relativa (GMR). Linha sólida preta mostra a função de 2 graus ajustada para os GMR < 5.4, linha sólida azul mostra a função de 1 grau ajustada para os GMR entre 5.5 e 6.9 e linha sólida vermelha mostra a função de 1 grau ajustada para os GMR > 7. A linha tracejada preta representa o IAF ótimo, no qual acima dele o ganho de produtividade é menor que 0,5%

Figura 2 - Relação entre produtividade e índice de área foliar máximo (IAFmáx) para cultivares cultivadas no Sul do Brasil durante quatro anos agrícolas. A linha sólida preta representa a função limite para todas as cultivares, a linha sólida azul, a função limite para as cultivares indeterminadas e a linha sólida vermelha representa a função limite para as cultivares determinadas

Estudos prévios relatam valores de IAFmáx (3,5 a 4,5) para atingir elevadas produtividades de soja, que muitas vezes não tem validação a campo e/ou foram realizados utilizando cultivares antigas, com menor potencial de produtividade (3,5mg/ ha a 4mg/ha). Com o avanço genético das cultivares, as produtividades em experimentos e lavouras de alto nível tecnológico chegam a 6mg/ha e, para atingir essas produtividades, valores de IAF menores que 6 passam a ser um fator limitante. Nesse novo contexto, é necessário um manejo mais rigoroso em relação à perda de área foliar por pragas, doenças e competição com plantas daninhas, para manter as folhas mais velhas como reserva de fotoassimilados e principalmente de nitrogênio para translocação e enchimento de grãos. A hipótese é de que os valores ótimos de IAFmáx estão entre 6 e 6,5 para as cultivares modernas de soja, possibilitando assim atingir o potencial de produtividade para as cultivares

indeterminadas e determinadas, respectivamente.

IAF EM FUNÇÃO DE NÍVEIS DE PRODUTIVIDADE

Patricio Orozco-Contreras

Equipe SimulArroz

A relação entre o potencial de produtividade e o IAF em lavouras de diferentes níveis tecnológicos aponta que nem sempre aumentar o IAF resulta em aumento de produtividade, ou seja, o nível de manejo utilizado pelo produtor altera essa resposta. A Figura 3 ilustra cenários com alta perspectiva de produtividade, acima de 4,5mg/ha (Figuras 3A e 3B), média perspectiva de produtividade, entre 3mg/ha e 4,5mg/ha (Figuras 3C e 3D) e baixa perspectiva de produtividade, abaixo de 3mg/ha (Figuras 3E e 3F). Áreas com alta perspectiva de produtividade e, portanto, com alto potencial produtivo, apresentam uma relação de aumento da produtividade que varia entre 410kg/ha e 470kg/

Épocas de semeadura com diferentes cultivares na área experimental da UFSM

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Estágio R5, quando a maioria das cultivares atinge o IAF máximo


Patricio Orozco-Contreras

Figura 3 - Relação entre potencial de produtividade e IAF: alta produtividade (A), média produtividade (C) e baixa produtividade (E) versus índice de área foliar em R1, e alta produtividade (B), média produtividade (D) e baixa produtividade (F) versus índice de área foliar máximo. Círculos amarelos: cultivares não irrigadas; círculos azuis: cultivares irrigadas

Detalhe de folha de soja

devem ser melhorados antes de se pensar em atingir o IAFmáx de 6. Diante destes dados é possível concluir que: a) há alta relação do IAFmáx com a produtividade de grãos em lavouras com potencial maior que 4,5mg/ha; b) há relação do IAFmáx com a produtividade de grãos em lavouras com potencial entre 3mg/ha e 4,5mg/ha; e c) não há relação do IAFmáx com a produtividade de grãos em lavouras com potencial menor que C 3mg/ha.

Eduardo Lago Tagliapietra, Nereu Augusto Streck, Thiago Schmitz Marques da Rocha, Gean Leonardo Richter, Michel Rocha da Silva, Patric Scolari Weber, Kelin Pribs Bexaira, Alexandre Ferigolo Alves, Eduardo Daniel Friedrich, Moises de Freitas do Nascimento, Alencar Junior Zanon, UFSM Jossana Ceolin Cera, Irga

Equipe SimulArroz

ha para cada 1 de aumento em IAFR1 e IAFmáx, expressos pelo coeficiente angular das equações das Figuras 3A e 3B. Isso significa que os fatores de manejo datam de semeadura e grupo de maturidade podem ser definidos para atingir um IAFmáx próximo de 6 e, consequentemente, produtividades próximas a 6mg/ha. Para lavouras com produtividade menor que 4,5mg/ha, a relação de aumento de produtividade é menor. Em lavouras com média perspectiva de produtividade essa relação ficou entre 190kg/ha e 260kg/ha para cada aumento de 1 no IAFR1 e no IAFmáx, respectivamente. Já para lavouras com baixa perspectiva de produtividade, não há relação direta do aumento do IAFR1 e do IAFmáx com a produtividade, indicando que existem outros fatores de manejo limitando o aumento de produtividade, sejam fatores bióticos e/ou abióticos, que

Membros da equipe SimulArroz responsáveis pelos experimentos

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Capa

A

s lagartas são velhas conhecidas do sojicultor e sempre foram motivo de preocupação no Manejo Integrado de Pragas (MIP). Entretanto, atualmente a maioria da soja cultivada é Bt, tecnologia desenvolvida justamente para o controle das espécies mais importantes deste grupo de pragas. Neste novo cenário agrícola existem alguns questionamentos que usualmente “assombram” a mente do sojicultor. Nessa nova realidade, as lagartas ainda são importantes? Como deve ser o manejo dessas pragas nesse novo cenário de cultivo de soja Bt? Spodoptera spp. é um grupo de lagartas não controladas pela soja Bt atualmente disponível. Sendo assim, esse grupo de pragas constitui uma ameaça aos cultivos brasileiros? Necessita ser controlada? É muito importante para a sustentabilidade da produção agrícola que se faça a adequada distinção entre “atenção” e “exageros” nas decisões tomadas em campo, que devem ser sempre técnicas e respeitar

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Diferenças no manejo Como reagir à presença de lagartas na cultura da soja e que aspectos considerar em ambientes Bt e em cultivos convencionais. Medidas de controle devem ser adotadas sempre que necessárias, de modo racional as boas práticas agrícolas existentes. Durante a safra de 2013/14 o sojicultor utilizou em média três a quatro pulverizações de inseticidas para o manejo do complexo de lagartas presentes em

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talhões de soja não Bt no Brasil. Historicamente, grande parte destas pulverizações em soja não Bt era direcionada para o manejo de duas pragas, a lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens)


Fotos Adeney Bueno

e a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis). A partir desta mesma safra (2013/14) foi iniciada uma mudança no manejo de lagartas com o início da comercialização de variedades de soja Bt em todo o país. Apesar de o plantio ter sido limitado nas duas primeiras safras, principalmente em virtude da pouca oferta de variedades e de volume de sementes, a partir da safra 2016/17 a adoção dessa tecnologia na cultura da soja passou a predominar na maior parte das áreas cultivadas. Essa primeira geração de soja Bt (que expressa a proteína Cry1Ac) se constitui em uma medida de controle das principais lagartas que atacam a soja, como a lagarta-da-soja, a lagarta falsa-medideira, a lagarta-da-maçã do algodoeiro (Chloridea virescens), a broca-das-axilas (Crocidosema aporema) e até a lagarta helicoverpa (Helicoverpa armigera). No entanto, é importante entender que espécies do complexo Spodoptera e a lagarta da espiga (Helicoverpa zea) não são controladas por essa tecnologia, além das demais pragas da cultura como os insetos sugadores (percevejos). Diante deste cenário com adoção mais intensa da tecnologia da soja Bt, como deve ser o manejo de lagartas? O primeiro passo a destacar é a necessidade de separar o manejo de lagartas em soja não Bt, que é ainda cultivada em uma área expressiva, e o manejo de lagartas em soja Bt, que apresenta controle das principais espécies de lagartas, mas não controla 100% das espécies.

utilizam a tecnologia Bt. Portanto, a adoção correta da área de refúgio torna-se essencial no cultivo de soja Bt e é uma medida de manejo de lagartas indispensável para os agricultores que utilizam essa tecnologia. A área de refúgio consiste na semeadura de 20% da lavoura de soja realizada adjacente à área cultivada com a soja Bt, mas com cultivares não Bt. Essas cultivares devem ser preferencialmente de igual porte e mesmo ciclo da cultivar Bt, além de serem semeadas em datas próximas (Figura 1). Como a tecnologia de soja Bt está associada à resistência ao herbicida glifosato, o refúgio preferencialmente deve ser cultivado com soja RR, para não haver o risco de “queima” dessas plantas com a aplicação do herbicida. Para fins de manejo de pragas, essa área cultivada com a tecnologia Bt deve ser, então, dividida em no mínimo dois talhões, sendo um composto pelos 80% da área cultivada com a cultivar Bt e o outro com os 20% restantes da área de soja com a cultivar não Bt (área de refúgio). O cultivo de soja

Bt não pode ser adotado em 100% da área, o que infelizmente tem sido feito por alguns produtores. Se a não adoção do refúgio continuar alta, a eficiência da soja Bt vai ser rápida e drasticamente reduzida em poucos anos, trazendo grandes prejuízos financeiros para o agronegócio; prejuízos esses que serão amargados por todos, inclusive pelo próprio sojicultor. Por isso, é dever de todos preservar a eficiência dessa tecnologia com sua correta adoção. O manejo de lagartas a ser realizado no talhão de refúgio da área Bt deverá ser igual ao recomendado para áreas não Bt. Diferentemente, o manejo de lagartas no talhão de Bt, que ocupa 80% da área, deve ser ligeiramente diferenciado para as lagartas não controladas pela tecnologia Bt (como Spodoptera) apesar de muitas semelhanças na questão da amostragem, nível de ação e alguns outros pontos. Agricultores que cultivam a soja Bt já possuem na própria variedade a medida de controle necessária para o manejo das principais espécies de lagartas na cultura (exemplo: lagarta falsa-medideira e outras controladas pela soja Bt). Entretanto, a presença de lagartas do gênero Spodoptera em talhões de soja Bt tem

Figura 1 - Exemplo de disposição de refúgio e sua função no manejo de resistência

Fotos Maike Lovatto

MANEJO DE LAGARTAS EM ÁREAS DE SOJA BT

Para o sojicultor que optar por cultivar a soja Bt, é importante destacar que o manejo de lagartas deve começar no plantio, com a adoção de área de refúgio. Como a soja Bt controla algumas lagartas 24 horas por dia/sete dias da semana, a utilização dessa tecnologia traz grandes riscos de seleção de populações dessas lagartas resistentes à tecnologia Bt, a menos que as medidas cabíveis de manejo de resistência sejam corretamente adotadas. Neste cenário, o plantio da área de refúgio é parte fundamental das estratégias básicas de manejo de resistência de insetos-praga (MRI) em lavouras que

Figura 2 - Procedimento de amostragem com o uso do pano de batida e os principais grupos de lagartas que precisam ser anotadas separadamente na amostragem para a correta escolha do produto e sua dose

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Fotos Adeney Bueno

Tabela 1 - Biologia de Spodoptera eridania alimentada com diferentes partes da planta Alimentos avaliados Folha (estádio R3/R4) Folha + Vagem (estádio R3/R4) Vagem (estádio R3/R4) Folha (estádio R5.1) Folha + Vagem (estádio R5.1) Vagem (estádio R5.1) Folha (estádio R5.5) Folha +Vagem (estádio R5.5) Vagem (estádio R5.5)

Tempo de desenvolvimento em dias (larva-adulto) 36,6 c 38,2 bc 47,3 a 40,5 abc 41,6 abc 43,9 ab 43,3 abc -

Mortalidade (%) 56,7 b 53,4 b 48,5 b 43,6 b 47,9 b 100,0 a 21,1 b 30,9 b 100,0 a

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 5% de probabilidade).

Tabela 2 - Resultados observados em experimentos de injúria artificial na vagem (vagens perfuradas em diferentes intensidades no estádio R4) Danos nas vagens (R4) 5% 10 % 15 % 20 % 25 % 0 % (controle)

Estádio R4 de desenvolvimento da soja Número de vagens Número de vagens (12m de linha) furadas (12m de linha) 1394,4 a 69,8 b 1351,2 a 135,2 b 1701,4 a 255,2 a 1631,2 a 326,2 a 1554,0 a 388,6 a 1605,6 a 0,0 c

Colheita Produtividade (kg/ha) 4130,2 a 4888,3 a 4531,5 a 4062.0 a 4061,1 a 4567,2 a

Lagarta Spodoptera cosmioides em planta de soja

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si (Tukey a 5% de probabilidade).

levantado discussões acaloradas entre técnicos e produtores sobre o potencial de dano destas espécies, potenciais perdas econômicas e sobre a real necessidade de manejo desse grupo de pragas. Para responder a estas questões, alguns fatores-chave são importantes. Primeiramente, é necessário entender que espécies do gênero Spodoptera sempre estiveram presentes na cultura da soja, até mesmo antes da chegada das variedades Bt. No entanto, estas lagartas sempre foram tidas como pragas secundárias, ou seja, ocorrendo em baixas populações, raramente causando danos econômicos e, por isso, não costumavam exigir medidas de controle. Entretanto, como essas lagartas não são controladas pela soja Bt e como são conhecidas como lagartas das vagens, o medo do sojicultor de seu ataque, que teoricamente poderia estar concentrado nas vagens, tem feito crescer o número de aplicações de inseticidas para controle desta praga na soja Bt. É importante salientar que assim como ocorre com a desfolha ou outra injúria, a planta de soja consegue tolerar algum ataque nas vagens sem reduzir produtividade. Por isso é preciso diferenciar a “atenção” necessária no manejo da lagarta Spdoptera na soja Bt de certos “exageros” que vêm sendo cometidos no manejo destas espécies. Pagar pelo cultivo da soja Bt e depois desembolsar novamente para aplicar exageradamente inseticidas nesse cultivo para controle de lagartas que não resultam em perdas econômicas não faz qualquer sentido financeiro para o bolso do produtor, que acaba sendo o principal prejudicado nessa decisão equivocada em campo. No manejo de Spodoptera spp. em soja, é ainda necessário considerar que essa praga é preferencialmente uma desfolhadora, que eventualmente danifica as vagens. Estudos conduzidos pela Embrapa Soja e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) indicam que as folhas são o alimento principal da praga (observar o desenvolvimento mais rápido e maior sobre-

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vivência das lagartas alimentadas com folhas quando comparadas às lagartas que tiveram vagem em sua alimentação- Tabela 1). Além disso, a soja, principalmente a de hábito indeterminado, apresenta grande potencial de continuar emitindo novas vagens e, assim, se recuperar de danos ocorridos. Observe osresultados de experimentos em andamento (Tabela 2), pois mostram que mesmo com 25% de vagens furadas no estádio R4, não houve qualquer redução significativa de produtividade na colheita. Por isso é preciso ter “atenção” com as lagartas do gênero Spodoptera na soja Bt, pois não é controlada por essa tecnologia. Entretanto, aplicações abusivas de inseticidas devem ser evitadas, pois serão desperdício de dinheiro sem qualquer retorno financeiro em maior produtividade.

MANEJO DE LAGARTAS EM SOJA NÃO BT

O manejo de lagartas na soja necessita de um bom diagnóstico para definir o momento certo para controlar a praga. Para se ter um bom diagnóstico é necessário o exame da lavoura, o que éconhecido como amostragem. A amostragem de pragas na soja, realizada com armadilhas de feromônios, é bem prática e fácil de ser realizada. Entretanto, por não ter uma correlação precisa com o crescimento populacional das pragas, não substitui o pano de batida. O pano de batida, apesar de mais trabalhoso, traz a precisão necessária para aplicar o inseticida na hora certa. Para realizar a amostragem, a área precisa ser dividida em talhões homogêneos (área menor, com mesma época de semeadura, mesma cultivar, mesma condição edáfica etc). Recomenda-se a amostragem com o auxílio do pano de batida (1 metro/pano de batida) (Figura 2) com frequência mínima de uma vez por semana e em no mínimo um ponto para cada dez hectares. É importante que seja realizado


Tabela 3 - Principais níveis de ação para lagartas na cultura da soja Praga Lagartas (todas as espécies) Lagartas Heliothiinae (Helicoverpa + Chloridea) Lagartas do complexo Spodoptera

Quando controlar? Desfolha igual ou superior a 30% no estádio vegetativo Desfolha igual ou superior a 15% no estádio reprodutivo 4 ou mais lagartas/metro (pano de batida) durante o estádio vegetativo da cultura 2 ou mais lagartas/metro (pano de batida) durante o estádio reprodutivo da cultura 10 ou mais lagartas≥1,5cm/metro (pano de batida)

Observação Dar preferência para aplicação de produtos mais seletivos aos inimigos naturais Mais que 50% das lagartas menores que 1,5cm, dar preferência para aplicação de vírus, bactéria ou inseticida do grupo dos reguladores de crescimento de inseto. Mais que 50% das lagartas maiores que 1,5cm, dar preferência para aplicação de produtos com maior efeito de choque. Dar preferência para aplicação de produtos mais seletivos aos inimigos naturais

Tabela 4 - Resultados médios das últimas cinco safras no Paraná (safras 2013/14, 2014/15, 2015/16, 2016/17 e 2017/18)

desde a emergência da soja até, no mínimo, o início do estádio R7. No início, quando ainda não for possível utilizar o pano de batida, devido ao pequeno porte das plantas, a amostragem visual pode ser realizada utilizando-se o mesmo tamanho de área e o mesmo número de pontos por hectare. Em cada ponto da batida de pano é essencial o avaliador dar uma nota visual de desfolha que vai também definir o momento correto da aplicação de inseticidas. A partir de um diagnóstico bem realizado é possível quantificar o número de lagartas e especificar quais espécies estão presentes na lavoura e, então, aplicar os inseticidas apenas quando necessário, nos chamados níveis de ação (Tabela 3). Em geral, os inseticidas mais indicados para o controle de lagartas na soja são aqueles que conseguem ser eficientes contra as pragas e seletivos aos insetos benéficos. Os inseticidas do grupo dos reguladores de crescimento de insetos (os inseticidas popularmente conhecidos como “fisiológicos”) e alguns grupos de inseticidas como as diamidas e espinosinas são, usualmente, seletivos aos inimigos naturais e, por isso, mais indicados no controle de lagartas na soja. Para algumas espécies de lagartas existe ainda a possibilidade de uso de inseticidas biológicos como o baculovírus, que são produtos altamente seletivos aos insetos benéficos e seguros ao homem e ao meio ambiente. Além disso, é importante “rotacionar” a utilização de inseticidas com modos de ação diferenciados, o que irá reduzir a seleção de insetos resistentes aos inseticidas utilizados. Ainda, a prática de aplicações preventivas, “calendarizadas” ou de “carona” com outros agroquímicos como herbicidas e fungicidas, deve ser evitada, pois em longo prazo há intensificação do problema, principalmente decorrente da supressão dos inimigos naturais, da seleção de linhagens resistentes e do aumento das pragas não alvo. Quando são manejados corretamente os lepidópteros, é possível racionalizar os inseticidas com a mesma eficiência de controle. No estado do Paraná, o manejo integrado de pragas da soja (MIP-Soja) tem sido conduzido em diversos municípios em um programa de estado chamado “Plante seu Futuro”. Nessas unidades de referência (URs), onde os técnicos da Emater prestam assistência e introduzem o MIP-Soja aos produtores, já foi possível reduzir o uso de inseticidas em cerca de 50% além de aumentar o intervalo da primeira aplicação em aproximadamente o dobro (de 38 para 67 dias), permitindo maior preservação dos inimigos naturais e menos impacto da aplicação do inseticida químico. Como é possível observar no exemplo do estado do Paraná, MIP C na lavoura é dinheiro no bolso do produtor (Tabela 4).

Variáveis Áreas com MIP Média do Paraná No de aplicações de inseticidas 2,1 4,1 No de dias até a primeira aplicação de inseticida 67 38 Custo total das pulverizações de inseticidas (sacas/hectare) 2,0 4,3 Produtividade média da soja (sacas/hectare) 59 57 Fonte: Emater e Embrapa

Adeney de Freitas Bueno Embrapa Soja Claudia Maria Justus Amarildo Pasini Universidade Estadual de Londrina - UEL

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Milho Dirceu Gassen

Larva-alfinete Lavouras de milho estão entre os alvos principais de Diabrotica speciosa, espécie cujos adultos atacam a parte aérea das plantas e as larvas infestam as raízes. Feijão e batata são ótimos hospedeiros da praga, por isso áreas próximas a estes cultivos exigem atenção redobrada

O

gênero Diabrotica possui aproximadamente 340 espécies, sendo a maioria (em torno de 300 espécies) pertencente ao grupo neotropical fuca-

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ta. As demais espécies ocorrem em regiões temperadas e pertencem ao grupo virgifera. No Brasil, Diabrotica speciosa (Germar, 1824) (Coleoptera: Chrysome-

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lidae) é a espécie predominante, cujos adultos atacam a parte aérea de várias espécies de plantas cultivadas e as larvas, a parte subterrânea como raízes e


tubérculos. Os adultos de D. speciosa têm como denominações comuns vaquinha, brasileirinho e patriota, enquanto as larvas são vulgarmente denominadas de larva-alfinete, por possuírem o corpo alongado e fino. Esta espécie tem ampla distribuição geográfica, ocorrendo praticamente em toda a América do Sul, embora apresente uma tendência de maior concentração no Cone Sul, onde as condições edafoclimáticas são mais adequadas para o desenvolvimento da espécie. Essa ampla distribuição territorial existe, provavelmente em razão do caráter polífago e/ou da grande adaptação climática desse inseto nas diferentes regiões.

DESCRIÇÃO E BIOECOLOGIA

Os adultos de D. speciosa (Figura 1A) apresentam coloração esverdeada, antenas escuras, cabeça variando de pardo-avermelhada a negra, sendo os machos geralmente menores do que as fêmeas. Os ovos são de cor amarelada (Figura 1B), medem aproximadamente 0,36mm de largura por 0,65mm de comprimento. O período embrionário varia de acordo com a temperatura, de 19,6 dias a 5,7 dias, nas temperaturas de 18ºC e 32ºC, respectivamente. Em condições naturais, as fêmeas de D. speciosa realizam sua postura no solo, podendo suas propriedades químicas e físicas influenciar no comportamento de oviposição do inseto, sendo os solos escuros e úmidos preferidos para sua oviposição. As larvas de D. speciosa (Figura 1C e D) são esbranquiçadas e apresentam na cabeça e na placa anal uma mancha pardo-escura ou preta. O comprimento do corpo pode atingir até 12mm de comprimento, sendo a região anterior mais afilada que a posterior. A fase pupal ocorre naturalmente no solo, em câmaras construídas pela larva ao final do terceiro instar (Figura 1F). Esta fase apresenta uma duração de aproximadamente 12 dias, quando então emergem os adultos para reiniciar um novo ciclo. A longevidade dos adultos de D. speciosa e sua fecundidade dependem dos substratos de criação empregados na fase imatura e do tipo de alimento utilizado como dieta nas fases imatura e adulta. As larvas podem ser criadas eficientemente utilizando-se "seedlings" de milho ou tubérculos de batata, embora o inseto possa completar seu ciclo em outros hospedeiros como soja, fei-

jão, trigo e nabo.

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

No Brasil, o impacto econômico causado pelas larvas e adultos de D. speciosa na agricultura e o montante de recursos gastos para o seu controle não foram ainda estimados, embora seja aplicada, anualmente, expressiva quantidade de inseticidas para o controle dessa praga especialmente nas culturas da batata e do milho, notadamente nas regiões Sudeste e Sul do País. Os adultos alimentam-se de folhas, brotações novas, vagens e frutos de várias culturas, podendo causar redução na quantidade ou na qualidade da produção, seja pelo efeito direto através da injúria causada à planta, ou indiretamente, por atuarem como agente transmissor de fitopatógenos, especialmente de vírus. Já as larvas possuem um número mais restrito de hospedeiros, podendo atacar raízes, especialmente de gramíneas, bem como "seedlings" e tubérculos de outros grupos de plantas. Na cultura do milho as larvas alimentam-se especialmente de suas raízes adventícias (Figura 2A), afetando, assim, diretamente o rendimento de grãos. O consumo de raízes reduz a capacidade da planta em absorver água e nutrientes, tornando-a menos produtiva e mais suscetível às doenças radiculares. Como consequência do ataque à raiz, a parte aérea fica com o colmo curvado, originando o sintoma conhecido como pescoço-de-ganso (Figura 2B), o que compromete a arquitetura da planta e a sua eficiência para realizar a fotossíntese. Essas perdas podem ser intensificadas quando a colheita é realizada mecanicamente, não colhendo as espigas que estão em contato com o solo. Um fator que predispõe a cultura de milho a um dano diferenciado no sistema radicular é a oferta de plantas hospedeiras que servem como fonte alimentar aos adultos de D. speciosa. A planta de milho, embora seja adequada para o desenvolvimento da larva, é inadequada para o adulto, pois provoca baixa longevidade e fecundidade do inseto. Todavia, se no ambiente existir uma espécie de folha larga que seja nutricionalmente adequada ao adulto (exemplo feijão ou batata), o dano causado pelas larvas no sistema radicular de milho poderá ser intensificado pela maior

Fotos J.M. Milanez

A

B

D

F

E C

Figura 1 - Fases do ciclo biológico de Diabrotica speciosa: adulto (A), ovos (B), larva de primeiro instar (C), larva de terceiro instar (D), pré-pupa (E) e pupa (F)

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Fotos J.M. Milanez

A

B

Figura 2 - Danos causados por larvas de Diabrotica speciosa às raízes de milho (A) e reflexo na parte aérea das plantas (B)

longevidade e capacidade de oviposição que o inseto passa a apresentar. Com isso, pode-se inferir que nos locais onde o milho, o feijão ou a batata são cultivados, próximos um do outro ou em consorciação, os danos na cultura de milho tendem a ser maiores do que da gramínea em monocultivo. Além disto, os adultos podem também causar danos no milho, perfurando as folhas de plantas novas ou até mesmo prejudicando a fertilização ao se alimentarem do estilo-estigma (“cabelos” novos) da espiga durante o período de polinização. Na cultura da batata, as larvas de D. speciosa perfuram os tubérculos, o que reduz acentuadamente o seu valor comercial. Os adultos podem também se alimentar da folhagem desta cultura e, em condições de alta população, causar intensa desfolha e reduzir a produtividade. A batata constitui um hospedeiro ideal para a multiplicação da praga em condições de campo, uma vez que suas folhas são nutricionalmente adequadas para os adultos, proporcionando uma alta capacidade de postura. O mesmo ocorre para as larvas, que se desenvolvem muito bem nos tubérculos. Na cultura do feijoeiro, apenas os adultos se constituem em problema, podendo causar desfolha durante todo o ciclo da cultura. Entretanto, a fase crítica é durante as duas primeiras semanas de desenvolvimento da cultura, quando podem causar intensa desfolha, afetando o desenvolvimento da parte aérea. A intensa desfolha durante o período de florescimento pode também causar per-

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da econômica e antecipação da maturação das vagens. As raízes do feijão não são adequadas para o desenvolvimento larval de D. speciosa, embora o inseto possa completar seu ciclo biológico nesse hospedeiro na ausência de outro preferencial. Os adultos de D. speciosa podem, ocasionalmente, causar danos significativos em outras culturas como a soja, especialmente nos estádios iniciais de desenvolvimento ou até mesmo durante a floração, quando se alimentam de flores da cultura. Em hortaliças, como espécies de Cucurbitaceae (pepino, abóbora, melão e melancia) e de Cruciferae (couve-flor, rabanete e repolho), os adultos podem também causar desfolha ou destruição de flores, se o controle não for realizado. Em frutíferas, os adultos podem atacar folhas, flores ou frutos de nectarina, maracujá e cachos de uva no estádio de florescimento, podendo reduzir tanto a produtividade quanto a qualidade dos frutos produzidos.

MANEJO DE D. SPECIOSA

O controle de adultos e de larvas de D. speciosa é realizado quase que exclusivamente através do uso de inseticidas químicos. O nível de dano para essa praga tem sido muito pouco estudado, embora algumas tentativas para determinar esse parâmetro tenham sido realizadas com base no desfolhamento causado por adultos na cultura do feijão e ao dano provocado pelas larvas ao sistema radicular do milho.

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Com relação ao controle de adultos, muitas vezes há a necessidade de serem efetuadas várias aplicações de inseticidas para a obtenção de resultados satisfatórios, uma vez que o besouro, pela sua característica polífaga e habilidade de voo, migra com facilidade entre os cultivos, favorecendo a ocorrência de frequentes reinfestações do inseto. Iscas contendo inseticidas e aleloquímico cucurbitacina (cairomônio) podem ser utilizadas tanto como medida de controle como de monitoramento de adultos de D. speciosa em plantações em que essa praga causa danos. Inseticidas que interferem no desenvolvimento das formas imaturas de insetos (reguladores de crescimento de insetos) podem também causar efeito esterilizante. Como exemplo, adultos de D. speciosa que se alimentam de folhas de feijão tratadas com lufenurom apresentam redução significativa da fecundidade e da viabilidade dos ovos. Esse efeito deletério sobre a progênie de D. speciosa pode ser de grande significância em condições de campo, reduzindo seu potencial biótico, já que as larvas, devido ao seu hábito subterrâneo, são mais difíceis de serem controladas. O controle químico de larvas de D. speciosa, tanto na cultura do milho como na da batata, deve ser preventivo. Em milho, o tratamento de sementes com inseticidas tem se mostrado, de modo geral, ineficiente. Como as larvas causam danos durante o período de um a dois meses após a semeadura, os inseticidas utilizados na semente não apresentam persistência no solo suficiente para asse-


gurar proteção do sistema radicular até o período em que ocorre o ataque das larvas de D. speciosa. Aplicações de inseticidas granulados ou em pulverização no sulco de plantio são consideradas alternativas eficientes para o controle de larvas de D. speciosa em cultivos de milho e de batata. Entretanto, o emprego de inseticidas granulados no solo tem se deparado com limitações tecnológicas, como a escassez de máquinas adequadas para a aplicação dos grânulos, além de restrições de caráter ambiental e social, uma vez que a maior parte dos ingredientes ativos utilizados na forma granulada apresenta alta toxicidade. O uso de variedades resistentes é tática ideal para o controle de insetos-praga, por não ter custos para o produtor, não poluir o ambiente nem causar desequilíbrio biológico no agroecossistema, além de permitir uma perfeita integração com outras táticas de controle dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Trabalhos para avaliar a resistência de plantas aos ataques de D. speciosa evidenciaram que alguns genótipos de batata, de soja, de feijão e de abóbora comportam-se diferentemente na presença da praga. As plantas transgênicas que apresentam atividade inseticida constituem importante alternativa para o manejo de pragas nas lavouras de milho. O milho transgênico que possui atividade inseticida é mundialmente conhecido como milho Bt, por expressar uma toxina isolada da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), que pode ter ação específica para as larvas de Lepidoptera ou de Coleoptera. Durante a safra 2013/2014 foi colocada à disposição dos produtores especialmente da região Centro-Sul do Brasil uma nova proteína Bt voltada exclusivamente para o controle de larvas de D. speciosa. Essa variedade transgênica Bt denominada de VTPRO3 contém duas proteínas Bt para pragas da parte aérea (lagartas) e outra proteína específica (Cry3Bb1) para o controle de larvas de D. speciosa. Silva et al (2016) avaliou a eficiência da proteína Cry3Bb1 presente no milho AS1666 PRO3 no controle de larvas de D. speciosa constatando-se que este material protegeu as plantas de milho contra o ataque dessa praga em comparação ao material DKB240 PRO2, que não tem a proteína específica para a larva-

-alfinete. Gallo (2012) também avaliou a eficácia de genótipos de milho que expressam a proteína Cry3Bb1 no controle de larvas de D. speciosa, constatando-se que os genótipos AG7000RW e DKB330RW, que continham a toxina Cry3Bb1, foram eficazes na redução do dano na raiz do milho causado pela larva de D. speciosa em comparação a outros genótipos isentos desta toxina. Todavia, o cultivo do milho Bt em extensas áreas poderá condicionar a seleção de biótipos resistentes às toxinas dessas plantas. Dessa forma, é de suma importância a implementação das áreas de refúgios e de coexistência para que seja mantido o uso eficiente dos milhos híbridos com o gene Bt por mais tempo. Nas condições brasileiras, a área de refúgio consiste basicamente da semeadura de 5% a 10% da área cultivada com milho Bt, com híbridos não Bt, de porte e ciclo semelhantes ao primeiro. Outra estratégia seria o refúgio no saco (RIB), onde as sementes de milho Bt e não Bt são misturadas na mesma sacaria, proporcionando maior comodidade ao produtor que não precisa semear uma área específica de refúgio com milho não Bt. O refúgio representa o principal componente de manejo da resistência de insetos ao milho Bt, pois proporciona a manutenção de uma população de pragas-alvo da tecnologia Bt sem exposição a esta proteína. O controle biológico de pragas de solo tem se apresentado como tática promissora para ser utilizada no futuro. Vários inimigos naturais são descritos na literatura atacando adultos e larvas de D. speciosa. Todavia, poucos trabalhos foram desenvolvidos para o controle biológico dessa praga. O controle microbiano de larvas de D. speciosa, especialmente com fungos e nematoides entomopatogênicos, tem também grande potencial para ser utilizado em condições de campo, por ser o solo um ambiente relativamente estável com relação à temperatura e à umidade, especialmente C no sistema de plantio direto.

Crébio José Ávila Embrapa Agropecuária Oeste Ivana Fernandes da Silva Universidade Federal da Grande Dourados


Milho

Lagartas em alta Simone Martins Mendes

A oferta abundante de comida proporcionada pelo modelo agrícola com safras consecutivas no Brasil dificultou sobremaneira o combate a pragas. É o caso de Spodoptera frugiperda, a popular lagarta-do-cartucho na cultura do milho. O uso equilibrado das estratégias de manejo integrado tem sido a melhor tática para conviver com insetos nos sistemas intensivos de produção

O

modelo de agricultura tropical brasileiro tem como diferencial permitir a produção por duas a três safras anuais consecutivas. Mas, se por um lado este tipo de exploração do solo permite maior rendimento por unidade de área; por outro, a sobreposição das safras dificulta o manejo de insetos-praga, sobretudo daqueles de hábito polífago, que são favorecidos pela formação da “ponte verde”, conectando as sucessivas safras primavera/verão/outono e inverno. Um importante grupo dos insetos polífagos pertence à ordem Lepidoptera, com destaque para lagarta-do-cartucho do milho, Spodoptera frugiperda, praga-chave na maioria das regiões do País em função da ampla distribuição geográfica, por ser endêmica nas Américas e estar adaptada a se alimentar o ano todo em culturas de importância agrícola (milho, sorgo, trigo, arroz, feijão, soja, algodão). Inclusive, destaca-se como uma das espécies-praga mais importante nos sistemas intensificados de plantio, tanto nas culturas comerciais como nas de cobertura, como as braquiárias Urochloa decumbens e Urochloa ruziziensis. Mas as lavouras de milho também são danificadas por outros importantes lepidópteros-praga polífagos, como Diatraea saccharalis, Helicoverpa zea, Elasmopalpus lignoselus, além da Helicoverpa armigera, que ocorre em lavouras de milho, sobretudo nas regiões onde predomina o cultivo do algodão.

IMPLICAÇÕES DO HÁBITO POLÍFAGO NO MANEJO

A polifagia é uma característica biológica de algumas espécies fitófagas para garantir sua sobrevivência, seu desempenho biológico e sua prevalência populacional ininterruptamente. Assim, muitos destes insetos conseguem manter-se em baixa densidade em diferentes plantas hospedeiras, até encontrarem um alimento adequado para expressarem todo seu potencial biótico. Spodoptera frugiperda é uma das espécies polífagas mais nocivas para as culturas anuais nas

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regiões tropicais das Américas. As lagartas podem causar perdas que variam de 17% a 38,7% na produção de milho e de sorgo, em função do ambiente, da cultivar e do estádio de desenvolvimento das plantas atacadas. Durante o verão, a soja é uma das culturas mais abundantes no agroecossistema e desempenha papel importante na sobrevivência de populações de S. frugiperda que acabam submetidas a uma monofagia funcional, devido à ausência dos hospedeiros preferidos como o milho e o sorgo, que geralmente são cultivados em sucessão à soja. Além disso, plantas daninhas como milheto, capim-pé-de-galinha e sorgo selvagem também podem manter suas populações na área. Mesmo quando se utilizam práticas conservacionistas e desejáveis aos sistemas de produção, como plantio direto e culturas de cobertura, deve ser considerada a questão da “ponte verde”. As braquiárias (U. decumbens e U. ruziziensis) são muito utilizadas como planta de cobertura por produzir grande quantidade de massa verde. No entanto, favorecem o desenvolvimento de S. frugiperda. Além disso, no sistema de plantio direto, como não há revolvimento do solo, ocorre maior sobrevivência das pupas que passam essa fase no solo. Por outro lado, a crotalária é uma das plantas de cobertura utilizadas em plantio direto que menos favorece a sobrevivência da espécie. Assim, é possível inferir que o plantio de crotalária em regiões onde a pressão de S. frugiperda é muito alta, pode ser uma ferramenta de supressão da população dessa praga. A habilidade de S. frugiperda em se

manter no ambiente com o uso de hospedeiros alternativos tem proporcionado a prevalência de injúrias em plantas recém-emergidas dos hospedeiros preferenciais, por meio da abertura de galeria na região do coleto, causando o sintoma conhecido como coração-morto e a consequente redução do estande em condições de intensificação de cultivo. Nesse caso, uma das estratégias principais para o manejo é a realização da dessecação 20 dias a 30 dias antes do plantio, com o intuito de reduzir ou eliminar a oferta de alimento para o inseto.

USO DE PLANTAS BT NO MANEJO DE LAGARTAS

O milho Bt tem sido utilizado em todas as regiões agrícolas do País, atingindo mais de 80% da área cultivada. Consiste em um milho geneticamente modificado, que expressa proteínas inseticidas, cujos genes foram clonados da bactéria Bacillus thuringiensis. Essas proteínas inseticidas produzidas pela própria planta possuem ação no intestino médio da lagarta, onde se ligam a receptores específicos formando poros que promovem a ruptura da parede intestinal. Nesse processo biológico ocorre a liberação do conteúdo da célula e o inseto paralisa sua alimentação, mesmo antes de sua morte. As proteínas inseticidas ou proteínas Bt, são expressas em todos os tecidos da planta, assim na lavoura todas as lagartas estão expostas às proteínas tóxicas. Dessa forma, como a lagarta é difícil de ser atingida dentro do cartucho do milho via pulverização, com a utilização do milho Bt o alvo é facilmente alcançado, sendo esta uma das vantagens desta tecnologia. Por

Quadro 1 - Tecnologias Bt disponíveis comercialmente no Brasil para o controle de insetos-praga nas culturas de algodão, milho e soja Bt (Fonte: CTNBio, Janeiro de 2018) Cultura Algodão

Milho

Soja

Proteína Bt Cry 1Ac Cry1Ac/CRY 1F Cry 1Ac/Cry2Ab2 Cry 1Ab/Cry2Ae Cry1Ab/Cry2Ae/Vip3Aa Cry 1 Ab Cry 1 F Cry1A.105/Cry2Ab2 Cry1Ab/Vip3Aa20 Cry1A.105/Cry2Ab2/Cry1F Cry1Ab/Cry1F Cry1A.105/Cry2Ab2/Cry3Bb1 Cry1Ab/Cry1F/Vip3Aa20 Cry1A.105/Cry2Ab2/Cry1F/Vip3Aa Cry1 Ac

outro lado, as principais desvantagens são a pressão de seleção e a velocidade com que esses insetos são selecionados para resistência a essas proteínas. Além disso, as mesmas proteínas Bt são expressas nas culturas que se sucedem algodão, soja e milho (Quadro 1). É importante considerar que dentre as tecnologias Bt disponíveis no milho cultivado no Brasil, há sete proteínas, sendo cinco com ação para lepidópteros e duas para coleóptero, larvas de Diabrotica speciosa. Destas cinco proteínas, duas (Cry1F e Cry1Ab), oficialmente, perderam a eficácia devido à quebra da resistência por S. frugiperda, a principal praga-alvo das tecnologias Bt no milho. Também vale lembrar que dados de pesquisa mostram que a presença de mais de uma proteína com sítios de ação diferentes (eventos piramidados), para a praga-alvo, pode retardar a evolução da resistência. Além disso, as proteínas inse-

(Fonte: Dias et al, 2016)

Paulo A. Viana

Figura 1 - Sobrevivência (%) de Spodoptera frugiperda em diferentes plantas de cobertura utilizadas em sistemas de plantio direto, avaliadas em casa de vegetação

Sintoma de coração morto causado pela lagarta de Spodoptera frugiperda

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Figura 2 - Inseticidas registrados junto ao Mapa para o controle de Spodoptera frugiperda, num programa de manejo integrado de pragas em lavouras de milho no Brasil – *extraído http://agrofit.agricultura.gov.br

ticidas expressas em alta dose, com 99% ou mais de eficiência de controle da população de insetos, são importantes para retardar a evolução da resistência, prolongando a vida útil da tecnologia. Dessa forma, eventos piramidados para o manejo de lagartas com tecnologias Bt são mais efetivos quando comparados às tecnologias com um único evento. Assim, o nível de controle obtido a campo pode ser afetado substancialmente dependendo da região, da população da praga, da tecnologia utilizada (proteínas presentes nas tecnologias), da expressão das proteínas em alta dose e das boas práticas agronômicas adotadas, sobretudo da área de refúgio.

A

B

Figura 3 - Piso da armadilha de feromônio com adultos de lagartas falsa-medideira capturados (A); Armadilha instalada (B)

A NECESSIDADE DA ÁREA DE REFÚGIO

O plantio de áreas de refúgio é um pré-requisito fundamental para o manejo da resistência de insetos às proteínas Bt e que combinado com o efeito da alta dose (mata os insetos heterozigotos) é essencial para prolongar a durabilidade da resistência das plantas de milho e retardar a evolução da resistência dos insetos-alvo a campo. Nesse sentido, as instituições públicas e as empresas detentoras das tecnologias Bt têm feito um enorme esforço em todo o País no sentido de conscientizar os produtores a respeito da aplicação das Boas Práticas Agronômicas em Culturas Bt para o Manejo da Resistência. Com base nisto, por meio da adoção dessas práticas a toda safra espera-se que a tecnologia Bt continue contribuindo para o manejo eficiente das principais pragas-alvo em cada cultura.

O USO DE INSETICIDAS

Somente para o controle de S. frugiperda no milho estão registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) 192 produtos. Desses, tem-se: um feromônio, dois B. thuringiensis, um baculovírus e um parasitoide, um extrato de planta – Azadiractina. Os demais produtos pertencem a 47 princípios ativos comercializados sozinhos ou combinados entre si. Existem várias alternativas para o controle de S. frugiperda em milho. No entanto, essa diversidade de produtos disponíveis não atende à demanda em qualidade e eficácia de controle nas principais regiões produtoras. Um levantamento realizado na região de Patos de Minas, Minas Gerais, em 2017 e no Mato Grosso, em 2018, mostrou que mesmo com essa variedade de produtos,

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muitos inseticidas sem registro vêm sendo utilizados para o controle de lagartas. A principal dificuldade no controle S. frugiperda no milho com inseticidas (químicos ou biológicos) está na janela de aplicação. Como ocorre superposição de gerações, o fluxo de larvas pequenas, médias e grandes se superpõe e a efetividade desses produtos fica extremamente reduzida quando a lagarta se protege dentro do cartucho da planta. Neste caso, as larvas maiores que 1,5cm se alimentam no palmito do milho, parte da planta em franco crescimento e totalmente protegida de agentes externos. Além disso, as fezes, eliminadas pela lagarta, obstruem a entrada da galeria por onde o inseto penetrou, o que dificulta ainda mais o acesso dos agentes de controle. No estado do Mato Grosso, nas lavouras de milho safrinha em 2018, S. frugiperda foi citada pelos produtores como a principal praga da cultura nos levantamentos realizados durante o Circuito Tecnológico Aprosoja/Embrapa. Nesse levantamento também se observou que os produtores têm realizado entre duas e três aplicações de inseticidas químicos mesmo com o plantio do milho Bt, e de três a quatro aplicações em milho não Bt. A eficiência do produto é citada pelos produtores como o fator mais importante na escolha, contudo, em muitos casos, a venda dos insumos aos produtores é fechada antes mesmo do plantio da safra

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e um calendário de aplicações ofertado. Entretanto, na adoção do MIP, tanto o monitoramento adequado como a tecnologia de aplicação dos agentes de controle são práticas ainda pouco dominadas pela maioria dos produtores. A logística para tornar possíveis os tratamentos fitossanitários (herbicida, fungicida, inseticida) tem sido um dos principais gargalos da não observação dos preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Nesse cenário, vale voltar às premissas básicas do MIP, que são o custo e o nível de controle. Aplicações calendarizadas são antieconômicas, pois inviabilizam o controle biológico natural e não consideram o nível de infestação da praga. Além disso, expõem a população das pragas-alvo aos inseticidas e aceleram a seleção precoce de populações resistentesaos produtos, pois mais de 90% das lagartas recém-eclodidas serão eliminadas naturalmente. O uso equilibrado das estratégias de manejo integrado potencializa sua eficácia e aumenta sua vida útil, evitando aplicações crescentes para o controle de lagartas nos sistemas C intensivos de produção. Simone Martins Mendes, Embrapa Milho e Sorgo Rosangela C. Marucci, Universidade Federal de Lavras José Magid Waquil, Universidade Federal de São João Del Rei



Algodão

Como combater

Praga agressiva, com alta capacidade de se reproduzir e de causar danos, o bicudo-do-algodoeiro é um dos principais desafios enfrentados pelos cotonicultores. A aplicação racional de inseticidas, a adesão às medidas de destruição de restos culturais e a adoção de ações conjuntas de manejo são fundamentais para o produtor conviver com o inseto sem prejuízos

O

bicudo-do-algodoeiro apresenta grande importância econômica pelo seu elevado poder de destruição, a capacidade de ocasionar perdas superiores a 85% na produção de fibras, a grande mobilidade no agroecossistema e a alta carga reprodutiva capaz de chegar a sete gerações em uma única safra, cada uma em torno de 12 a 17 dias, dependendo das condições de umidade e temperatura, sendo uma das pragas mais dinâmicas de que se tem conhecimento. O inseto adulto migra para a cultura por ocasião do florescimento, atacando inicialmente os botões florais, as flores e as maçãs. Durante o seu ciclo, o bicudo-do-algodoeiro apresenta quatro fases de desenvolvimento: ovo, larva, pupa e adulto, sendo que as primeiras três fases ocorrem dentro do botão floral ou na maçã do algodoeiro. Nesse caso, as chances de se atingir o alvo é praticamente nula, devido à sua alta especialização em atacar algodoeiro. Este fica protegido no interior das estruturas de frutificação, da ação de inimigos naturais, das condições

desfavoráveis do ambiente e da ação dos inseticidas, estando suscetível somente na fase adulta. O ataque do bicudo-do-algodoeiro começa pelas bordaduras dos talhões, onde a praga perfura os botões florais para alimentar-se ou colocar seus ovos. As fêmeas ovipositam entre três e dez ovos por dia - durante 21 dias colocam em média 150 ovos - possuem preferência por botões florais com aproximadamente 0,6cm de diâmetro. A alimentação é realizada através da introdução do bico, que possui 50% do tamanho do inseto, no interior no botão floral em busca dos grãos de pólen, alimento essencial para que as fêmeas possam desenvolver seus ovos. Após a postura, a fêmea cobre o orifício com uma substância cerosa que permite a diferenciação dos orifícios de alimentação do inseto. Esta substância serve como barreira contra os inimigos naturais e também evita a desidratação do ovo. A biologia deste inseto dá a dimensão do potencial de destruição a uma lavoura de algodão. Diante deste fato, nas regiões Fernando Juchem

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Fotos Fernando Juchem

Larvas de bicudo dentro de maçã do algodoeiro

produtoras dos Estados Unidos tiveram início, há mais de 20 anos, vários programas de erradicação, muitos com sucesso. Atualmente, os controles são realizados apenas quando um foco for identificado durante o programa de manutenção da erradicação. Por outro lado, países como a Austrália mantêm medidas bastante austeras para evitar a introdução desta praga. Mesmo no Mato Grosso, enquanto providências de combate à proliferação do bicudo eram tomadas, conseguiu-se conter sua disseminação. Atualmente, em algumas regiões no estado em que se adotam boas práticas agronômicas o bicudo-do-algodoeiro é uma praga contida, que não causa danos expressivos à produção. Os custos com controle químico desta praga são elevados e podem facilmente chegar a mais de R$ 300,00 por hectare. Quando por qualquer motivo o controle não for eficiente, estes valores podem onerar ainda mais o custo de produção, chegando a aumentar duas vezes, e em situações em que outros gastos da operação forem adicionados, serão ainda mais elásticos. O período crítico da cultura vai dos 60 aos 110 dias após a emergência, pois é quando se define aproximadamente 80% da produção. Como as estruturas reprodutivas do algodão são as principais fontes de alimentação e reprodução do bicudo-do-algodoeiro, os prejuízos ocasionados pela praga são proporcionais

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à sua densidade populacional. O inseto acumula reservas de gordura, que lhe permitem sobreviver durante o período de entressafra, sendo que ao final do ciclo da cultura os adultos se deslocam para áreas marginais dos talhões, onde encontram abrigo sob restos vegetais, entram em diapausa ou hibernação, por períodos que variam de 150 a 180 dias, até um novo ciclo da cultura. As melhores formas de combate desta praga são conhecidas há mais de um século e se mantêm consagradas até hoje. Não envolvem o uso de produtos químicos sintéticos ou naturais, pois se trata de uma boa “higiene” na propriedade e em toda região de cultivo do algodoeiro, isto é, após a colheita do algodão é essencial que nenhuma planta voluntária permaneça viva durante a entressafra. Essa supressão é conhecida como método de controle cultural, determinante para que haja a redução populacional do bicudo-do-algodoeiro, pois esta é a forma mais efetiva de controle da praga, uma vez que a planta de algodão é hospedeiro obrigatório para sua reprodução. A destruição dos restos culturais do algodoeiro após a colheita é de fundamental importância como medida para reduzir a população de bicudo-do-algodoeiro, assim como outras pragas e doenças. A essencialidade dessa medida e a necessidade técnica de que seja adotada por todos os cotonicultores a tornaram obrigatória por lei no estado de Mato

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Grosso, com a criação do vazio sanitário do algodoeiro. No entanto, atualmente a destruição dos restos culturais tornou-se ainda mais complexa após a introdução no Brasil de variedades geneticamente modificadas com resistência a herbicidas como o glifosato e o glufosinato de amônio, uma vez que apresentam um desafio maior no controle das plantas tigueras de algodão, que se desenvolvem em meio aos talhões de soja e milho. Estes talhões, quando cultivados principalmente com soja após a safra de algodão, sendo resistentes a herbicida, dificultam a eliminação dos restos culturais do algodoeiro e comprometem seriamente a eficácia do vazio sanitário, pois as rebrotas das socas e das plantas tigueras nestas lavouras se transformam em ambientes altamente favoráveis para multiplicação de pragas. Isso ocorre principalmente com o bicudo-


Maçãs atacadas por bicudo (esquerda) e fases de desenvolvimento da praga (direita)

-do-algodoeiro, fonte de infestação para a próxima safra. Essa situação pode causar sérios danos econômicos e ambientais, uma vez que 87% da área de algodão no estado é de segunda safra e cultivada em sucessão à soja. As plantas tigueras encontradas às margens das rodovias, estradas vicinais próximas às algodoeiras e confinamentos também são fontes de

abrigo e alimentação do bicudo-do-algodoeiro e devem ser da mesma forma controladas. Os procedimentos para se conviver com o bicudo-do-algodoeiro sem exageros no uso de inseticidas não são distantes. Basta apenas a aplicação e a adesão total, sem ressalvas, das medidas de destruição dos restos culturais. A

falta de entendimento e de ações conjuntas de todos os cotonicultores acaba refletida no momento vivenciado nas lavouras de algodão C de todo o Brasil. Fernando Juchem, Maurício S. Stefanelo, Guilherme Almeida Ohl e Evaldo Kazushi Takizawa, Ceres Consultoria

O algodão

O

Brasil, nos últimos anos, figura entre os cinco maiores produtores e exportadores mundiais de algodão. Os principais estados produtores são Mato Grosso, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Maranhão. Sendo que Mato Grosso é o maior produtor nacional e responsável por aproximadamente 71% da pluma exportada pelo País. O bom rendimento obtido na safra passada motivou os cotonicultores brasileiros a aumentarem a área cultivada no estado em 18,9% em relação à safra passada, chegando a 746,5 mil hectares cultivados, segundo o último levantamento da safra realizado pela Conab, a produção deverá ultrapassar 1,2 milhão de toneladas de pluma, 21,1% superior ao da safra 2016/17. Apesar de todo esse potencial, o cultivo do algodão nos Cerrados brasileiros enfrenta grandes problemas fitossanitários, tanto de pragas como de doenças que dificultam seu crescimento, entre eles podemos destacar o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis BOH., 1843), inseto de maior incidência e com maior potencial de danos à cultura, é considerado a principal praga dos algodoeiros nas Américas, sendo encontrado em todas as regiões produtoras.

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Empresas

Tecnologia para pro Programa Prospera leva capacitação teórica e prática a pequenos agricultores para auxiliar no aumento da produtividade de milho no interior de Pernambuco

S

egundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média nacional de produtividade de milho na safra 2017 ficou em torno de 90 sacas/hectare. Porém, lavouras de alta produtividade chegam a atingir 250 sacas/ hectare na 1ª safra e até 190 sacas/hectare na safrinha. Para o estado de Pernambuco - apesar de grande consumidor do grão -, a média fica em apenas 7,6 sacas/hectare, o que torna o estado um grande importador da commodity. Motivada a incrementar o desenvolvimento da agricultura familiar dessa região, a Pioneer começou, em 2017, o Programa Prospera, que promove o acesso à tecnologia e a capacitação de produtores familiares do interior de Pernambuco. Desde a fusão da DowDupont, o programa segue como iniciativa Corteva, divisão agrícola da marca. Estabelecido nas cidades de Itambé e Passira, em 2017 o Prospera atendeu agricultores que cultivam até um hectare de área, e em seu primeiro ano capacitou 45 produtores em sala de aula e 30 agricultores a campo, em aulas práticas. Em 2018, 302 agricultores foram capacitados em sala de aula e 200, também, em aulas práticas. Além disso, o programa foi

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expandido para sete cidades, sendo uma delas na Paraíba. A iniciativa, que não tem viés comercial, promove a geração de renda e transformou a vida de pequenos agricultores. Lavouras que produziam de 15 sacas/hectare a 20 sacas/hectare, em 2017 chegaram a atingir até 80 sacas/hectare. “Cadastramos os produtores e os convidamos para as capacitações para aprender sobre milho híbrido, boas práticas agrícolas, manejo. Para os que participam de todas as etapas, a Corteva doa insumos e financia a mecanização necessária”, explicou o gestor do Programa Prospera, da Corteva AgriScience, Alexsandro Mastropaulo. Segundo o executivo, ocorre a substituição de trabalho braçal por trabalho intelectual na condução de uma lavoura de alta tecnologia – com apoio de técnicos da marca e monitoramento durante esse processo. Durante a execução das aulas de 2018, o Prospera também promoveu um módulo comercial, devido a uma demanda percebida na edição de 2017. A capacitação para a venda da produção foi identificada diante da dificuldade do produtor em formalizar o trabalho do campo. “Nosso trabalho também é reconhecer dificuldades, adaptar as aulas e conseguir soluções. Esse é um dos


Fotos Corteva

gredir principais benefícios indiretos do Prospera. No caso do módulo comercial, a partir do momento em que o produtor se

cadastra, emite nota e comercializa sua produção de maneira formal, ele é reconhecido pelo seu trabalho na indústria e na sociedade. Além disso, a comercialização formal é um comprovante que auxilia o produtor a se aposentar com base na atividade rural”, explicou Mastropaulo. Para o vice-presidente para a região Sudeste da Corteva, Mario Tenerelli, o ideal para a consolidação do programa é que o agricultor faça parte do Prospera por cinco anos. “O potencial de crescimento do Programa é imenso, mas daqui pra frente é necessário mais parcerias com o setor público”, afirmou o vice-presidente, que enfatizou a importância dessas parcerias para realizar contatos e atingir quem realmente precisa de tecnificação. O produtor de milho, cana e gado leiteiro Álvaro Borba, apesar de não se enquadrar nos parâmetros de apenas um hectare de terra, percebeu as mudanças acontecendo em sua região, e procurou o Programa para gerar valor à produção de milho. “Pernambuco é muito forte em produção leiteira e avícola, a gente tem muita necessidade do milho. Com a capacitação, minha lavoura, que atingia no máximo 30 sacas/ hectare, está produzindo uma média de 80 sacas/hectare, e ano que vem esperamos produzir ainda mais. Além disso, pretendemos começar com a silagem, para diminuirmos os custos da produção leiteira”, disse.

DIA DE CAMPO PROSPERA

A cada novo ano o Programa promove um Dia de Campo para atingir, além dos participantes do Prospera, outros agricul-

Borba procurou o programa para gerar valor à produção de milho

tores do Nordeste que se beneficiam do conhecimento técnico oferecido pela iniciativa. Em setembro, ocorreu a edição 2018, que recebeu produtores, técnicos da Corteva, professores e estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Um adicional desta edição do Dia de Campo ficou por conta dos treinamentos sobre Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e silagem, inéditos no evento. “Divulgar e fomentar o uso da tecnologia e as melhores práticas integradas de manejo no sistema de produção agrícola é algo muito importante para a Corteva. Por isso, a companhia faz questão de promover encontros como este Dia de Campo, nos quais produtores rurais, estudantes e profissionais do agro podem visitar campos demonstrativos para receber orientações sobre manejo e conhecer melhor o desempenho dos híbridos para a região, além de obter informações sobre o sistema de integração lavoura-pecuária e adubação”, ressaltou a líder técnica do Programa ProspeC ra, Claudete Baumgratz.

Tenerelli e Claudete conversaram com os produtores durante o Dia de Campo

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Coluna Agronegócios

Mais que uma heresia agronômica, um crime de lesa-pátria

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embro como se fosse hoje, mas lá se foram mais de 50 anos. Estava no primeiro ano do curso de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sedento por aprender, capturava tudo o que os mestres falavam. E um dos primeiros ensinamentos dos doutos para os jovens agrônomos era um dogma da Agronomia: a rotação de cultivos, nunca plantar a mesma cultura, no mesmo local, em sequência. E a justificativa era óbvia: o prolongamento do tempo de permanência do cultivo no campo agravava os problemas fitossanitários, com o aumento da população de pragas ou de seu inóculo. E os amados mestres salientavam haver três corolários associados a esse dogma: não se trata apenas de não cultivar a mesma espécie, exatamente na mesma área onde havia sido cultivada no ciclo imediatamente anterior, devia ser evitado o cultivo nas regiões próximas e circunvizinhas. O segundo corolário: espécies hospedeiras das mesmas pragas também não devem ser cultivadas em sucessão, afinal pertencem à mesma cadeia alimentar das pragas, significando aumento da sua pressão no campo. Além da temática fitossanitária, há também a questão de impacto nos solos, tanto na sua estrutura física quanto química ou biológica, que sempre se beneficia da alternância de cultivos. E o terceiro corolário: pragas importantes não podem depender exclusivamente de uma medida de controle. É necessário um conjunto delas para que sejam manejadas com sucesso. Evitar a presença de uma mesma espécie, em uma determinada microrregião, por longo período dentro do ano agrícola, é uma das medidas fitossanitárias mais importantes.

A FERRUGEM DA SOJA

Há menos de 20 anos a ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, ingressou no Brasil, redundando em profundas alterações nos sistemas e no custo de produção de soja. Para manter a ferrugem-asiática sob controle, evitando perda de produção para os agricultores, três fundamentos são essenciais: as medidas legislativas, a resistência genética da soja e o controle químico. Nenhuma delas, isoladamente, garante o sucesso da empreitada. As três devem coexistir ao mesmo tempo. Duas são as medidas legislativas: o vazio sanitário e a calendarização da semeadura. Essas duas medidas fitossanitárias nada mais são que o tal dogma agronômico explicitado anteriormente, ou seja, é secular e pacífica a necessidade de evitar cultivos consecutivos da mesma espécie, dentro de determinada circunscrição geográfica.

CONTROLE DA FERRUGEM

São conhecidos sete genes que permitem à soja resistir ao ataque do fungo, porém apenas três deles ainda permanecem eficientes. A resistência não significa imunidade, razão pela qual o fato de utilizar uma cultivar com genes de resistência ao fungo não elimina a necessidade das medidas legislativas ou de controle químico.

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Finalmente, há o recurso ao uso de fungicidas. Que são caros. E que vem perdendo eficiência a cada ano, fruto da seleção de indivíduos do fungo resistentes aos fungicidas, cuja frequência tem aumentado nas lavouras. Essa perda de eficiência tem duas consequências. A primeira é o aumento do número de aplicações, com consequente maior custo de produção. A segunda é que, aumentando a pressão de seleção, com maior uso de fungicidas, acelera-se o processo de desenvolvimento da resistência do fungo aos fungicidas. O Consórcio Antiferrugem estima o custo de controle em 2,8 bilhões de dólares anuais, em média 80 dólares por hectare, valor equivalente a quatro-cinco sacos de soja. Este valor pode crescer ainda mais no curto prazo, com o avanço da perda de eficiência de fungicidas. Como não existe nenhum novo ingrediente ativo à vista, para ingresso no mercado nos próximos anos, que seja altamente eficiente no controle da ferrugem-asiática, corre-se o risco de, no limite, inviabilizar a produção de soja no Brasil. Portanto, aumentar ao máximo a vida útil dos fungicidas atualmente em uso é uma inexorabilidade indiscutível. Usamos o exemplo da ferrugem, porém o que foi exposto pode ser extrapolado para outras pragas, como mosca branca, percevejos ou nematoides que atacam a soja.

COMPETITIVIDADE DA SOJA

A soja representa 24% do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBP) e 31 bilhões de dólares de exportação anual. As cadeias de carnes de frango e suínos, além do leite, representam 26%, e agregam mais 10 bilhões de dólares em exportações. Os dois segmentos significam 50% do VPB agrícola e 40% das exportações do agronegócio. A soja é a locomotiva do agronegócio brasileiro, sem ela as cadeias pecuárias perdem competitividade. As cadeias de milho e algodão também têm seu destino entrelaçado à soja, por dividirem custos fixos e infraestrutura de armazenagem, transporte, energia, comunicação, assistência técnica etc, além da demanda associada, ou seja, diminuindo a demanda de soja decresce proporcionalmente a demanda de milho. Assim, se a soja perder competitividade, por aumento de custos de controle de pragas e por perdas de produção, o Brasil inteiro pagará o preço. Portanto, é dever de todo o brasileiro – em particular daqueles ligados ao agronegócio – pugnar para que a competitividade seja mantida. Em especial, devem lutar para o efetivo e integral cumprimento das medidas legislativas que representam uma barreira essencial para redução da intensidade do ataque de pragas na lavoura. Passados 50 anos, a vida me ensinou mais um dogma: o bemestar coletivo é mais importante que atender demandas pontuais de poucos cidadãos. É esse o conceito em torno do qual devemos nos unir, para preservar a renda, o emprego, as divisas, enfim, o patrimônio C dos brasileiros.

Decio Luiz Gazzoni, O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja


Coluna Mercado Agrícola MILHO

Safra de verão perdendo área

Os produtores já realizaram o plantio da safra de milho de verão (primeira safra), e o fechamento dos números mostra queda de área. Há diminuição do plantio em praticamente todos os estados produtores e tudo aponta para a menor área em mais de 20 anos. Mesmo assim, não se espera por uma redução grande na produção. Isso porque o clima tem sido favorável em todas as regiões produtoras e as plantações estão se desenvolvendo bem, o que tende a garantir uma safra superior a 25 milhões de toneladas frente a 26 milhões de toneladas colhidas na safra anterior. Em 2019, o mercado mostra melhores condições de ganhos aos produtores em relação ao ano anterior, porque existe aumento de demanda internacional, cotações em dólares maiores e espaço para negociar mais. Este cenário pode servir de apoio aos produtores da nova safrinha, que poderão ter bons indicativos nos portos, acima de R$ 40,00 por saca. O mercado se mostra mais favorável para a safra do novo ano que se aproxima.

SOJA

Comercialização da safra velha com negócios localizados

O mercado da soja do Brasil segue com a comercialização da safra velha na casa de 94%, restando pouco para ser negociado até a entrada da nova safra. Neste novo ano haverá colheita mais cedo porque o

plantio se deu antes e no período ideal, logo após o final do vazio sanitário. As chuvas se normalizaram rapidamente e assim a expectativa é de colheita intensa de soja já em fevereiro. Mas, no momento, os negócios futuros ainda estão lentos. O setor produtivo segue na expectativa do fim do tabelamento dos fretes para negociar abertamente os valores, criando condições jurídicas para fechamentos de fretes de longo prazo. A exportação brasileira continua em ritmo forte, com avanços em novembro e dezembro. O plantio da safra deste ano deve alcançar mais de 36 milhões de hectares frente a pouco mais de 34 milhões de hectares plantados neste último ano, com prognóstico de chegar à marca de 125 milhões de toneladas colhidas. Já houve recorde histórico de exportação e há fôlego para chegar a 78 milhões de toneladas do grão comercializadas frente a 68,1 milhões de toneladas do último ano.

FEIJÃO

Feijão tem colheita de novembro em diante, mas pontual

O mercado do feijão teve ano de calmaria. Com a entrada em plantio de cultivares que demoram para perder cor e com ciclo mais rápido, o mercado ficou quase sem fôlego para reagir. As cotações giraram entre R$ 90,00 e R$ 120,00 a saca e a colheita da primeira safra que se aproxima mostra forte queda na área plantada. Esse cenário pode ajudar a gerar reação dos indicativos em novembro, mesmo em meio

à colheita.

ARROZ

Dívidas dos produtores atrapalham o mercado

Os produtores de arroz sentiram pressão de baixa nos indicativos no Rio Grande do Sul em Novembro. Justamente porque ainda carregam alta carga de dívidas e tinham Empréstimos do Governo Federal (EGFs) a vencer em Novembro. Desta forma, há apelo negativo devido à pouca oferta de capital de giro em poder das indústrias. Houve queda de R$ 1,00 a R$ 3,00 nos indicativos gaúchos. Mas há apelo para - passada esta fase de vencimento das dívidas, somada à pouca oferta de arroz - ocorrer reversão desta onda de baixa e recuperação dos indicativos. A safra está com plantio atrasado e a entressafra será mais longa. As projeções desta nova safra apontam para uma colheita de 11 milhões de toneladas a 11,5 milhões de toneladas ante um consumo provável superior a 12 milhões de toneladas, com C estoques muito baixos.

Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br

Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo deverá seguir firme, porque as chuvas em excesso do mês de Novembro promoveram perdas grandes na qualidade da cultura e na produtividade. Assim, a safra ficou menor e haverá necessidade crescente de importações estimadas em seis milhões de toneladas em 2019. O produto externo chegará com valores altos, o que dará fôlego para que o mercado interno venha a trabalhar com níveis acima dos R$ 800,00 por tonelada para os produtores. Passada esta fase final da safra, o mercado tende a começar a reagir. EUA - Os produtores americanos fecham a temporada com a safra deste ano, com níveis de pouco mais de 127 milhões de toneladas. O novo plantio deverá ter queda superior a um milhão de hectares em decorrência dos prejuízos que os produtores estão carregando neste ano. A guerra comercial com a China tende a continuar, dificultando as vendas do grão americano para o país asiático. CHINA - A China continuou comprando forte no mercado

brasileiro. As exportações de soja já bateram recorde anual, ainda faltando três meses para fechar o ano. Os maiores compradores foram os chineses, com mais de 60 milhões de toneladas de soja. Outros volumes deverão seguir para aquele destino. As importações da China devem chegar à marca de 100 milhões de toneladas em 2019, o que, se não for confirmado, obrigará o país a consumir parte dos grandes estoques que acumula. ARGENTINA - A safra de 2018 foi afetada pelo clima e agora os produtores argentinos plantam com expectativa de que ele seja melhor. Mas o governo local acena que vai cobrar mais tributos, com aumento das taxas de retenciones. Em soja, o percentual cresce para 28% e no caso do milho, em que a alíquota era zero, deve ultrapassar 10%. A soja, que era beneficiada pela política de queda de 1% ao mês na alíquota, perdeu este incentivo. Com os argentinos vinculados às decisões do Fundo Monetário Internacional (FMI), porque o país foi à bancarrota, a saída encontrada consiste em esfolar os produtores, que terão pouco para investir nesta nova temporada.

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Coluna ANPII

Capacitação profissional A importância de capacitar quem atua nas indústrias de inoculantes

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produção de inoculantes é uma tarefa complexa, multidisciplinares e capacidade inovadora. com diversas fases que exigem elevada capaciAtualmente, as empresas de inoculantes associadas tação do pessoal envolvido na atividade. Mas à ANPII contam com um corpo técnico de alto gabarito. além do processo produtivo, que já exige especialização, Agrônomos, biólogos, bioquímicos, químicos, engenheio desenvolvimento contínuo de melhoria do produto e ros de processo e outros profissionais, dentro do moderde processos produtivos, e a obtenção de inoculantes no quadro de multidisciplinaridade que o mundo modiferenciados necessitam de equipes multidisciplinares, derno exige, formam os quadros técnicos das indústrias. com uma visão de pesquisa e desenvolvimento. Também Muitos têm realizado estágios nas melhores entidades a capacidade de relacionamento com as entidades de de pesquisa, participaram de cursos de especialização e pesquisa é fundamental. Há um trabalho outros tantos têm mestrado e doude cooperação muito estreito entre as torado em áreas afins. indústrias de inoculantes e os pesquisaAs empresas possuem profisdores de diversas instituições. sionais capazes de dialogar com os Mas conforme a Desta forma, é essencial que os promelhores pesquisadores, traçando cultura da soja foi fissionais das empresas tenham conhee executando projetos conjuntos, cimentos e habilidades de comunicação dentro do moderno conceito de se tornando mais para estabelecer e ampliar os contatos pesquisa cooperada. Realizam pae mais tecnificada, entre as duas áreas-chaves. É importanlestras em simpósios e congressos exigindo inoculante te, também, contar com profissionais nacionais e internacionais, redigem em comunicação, que tenham não só textos e trabalhos científicos. Estes de qualidade o conhecimento técnico como também conhecimentos são aplicados diasuperior, a saibam transmitir conceitos de fisiologia riamente nas empresas para ofevegetal, de microbiologia, de nutrição, recer aos agricultores o que há de indústria brasileira em uma linguagem “traduzida” para a melhor e mais produtivo em termos foi atendendo ao prática agrícola, contribuindo para a dide inoculantes, bem como abrindo chamado e se fusão do uso de inoculantes e as boas caminhos para outras aplicações da práticas para seu emprego correto. microbiologia agrícola, setor que aperfeiçoando no Para quem acompanha a indústria de cresce a passos largos em todo o desenvolvimento inoculantes desde seu princípio, é possímundo e está se tornando a tecnovel verificar a espetacular evolução que logia agrícola que mais impactará a de novos tipos ocorreu com a área técnica e de produagricultora nos próximos anos. de inoculante ção na indústria de inoculantes no Brasil. A Associação Nacional de ProduNos primórdios, as empresas contavam, tores e Importadores de Inoculane sempre quando muito, com um responsável tes (ANPII) coordena um projeto de aumentando a técnico, muitas vezes sem a qualificapesquisas conjunto entre todas as qualidade dos ção científica necessária para produzir empresas e com o Departamento de inoculantes de elevada qualidade, mesBioquímica da Universidade Federal produtos oferecidos mo porque a academia formava poucos do Paraná (UFPR), para o desenvolviprofissionais com as habilidades de mimento de um inoculante com novas crobiologia industrial especificamente cepas de Azospirillum brasilense com na área agrícola. maior capacidade de fixar nitrogênio. Tudo isto a serviço Mas conforme a cultura da soja foi se tornando mais dos agricultores brasileiros, com o objetivo de proporcionar e mais tecnificada, exigindo inoculante de qualidade sumaior produção de alimentos, de uma forma sustentável, C perior, a indústria brasileira foi atendendo ao chamado alinhada com a moderna agricultura. e se aperfeiçoando no desenvolvimento de novos tipos de inoculante e sempre aumentando a qualidade dos produtos oferecidos. E para isto, além de modernizar as Solon Araujo, instalações industriais, foi necessário buscar no mercado Consultor da ANPII profissionais cada vez mais qualificados, com habilidades

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