Cultivar 235

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Destaques

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Índice Diretas

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Processamento pós-colheita em café

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Projeto Bayer Forward Farming no Brasil

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Controle de plantas daninhas resistentes

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Plantas daninhas em milho

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Boas práticas agrícolas

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Tecnologia de aplicação x doenças

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Como reagir à ferrugem-asiática em uma safra

Investimento na qualidade de sementes

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em que a doença surgiu mais cedo e encontra

Capa - Safra pressionada pela ferrugem

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Ocorrências de ferrugem-asiática

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Por que respeitar a dose do inseticida

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Podridão radicular de fitóftora

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Daninhas em cana-de-açúcar

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Os parâmetros para a tomada de decisão

Informe - Florescimento da soja

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quanto ao volume de calda por hectare na

Rede contra a ramulária

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Pragas iniciais em algodão

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Coluna Agronegócios

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Coluna Mercado Agrícola

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Coluna ANPII

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Sob pressão

condições favoráveis ao ataque

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Risco calculado

aplicação de fungicidas em soja

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Pragas iniciais

As estratégias para proteger o começo do cultivo de algodão do ataque de insetos em um período em que as plantas estão mais vulneráveis Cultivar Grandes Culturas • Ano XIX • Nº 235 Dez 2018 / Jan 2019 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Andre Shimoiro

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo

• Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves

• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi

CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes

• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia

• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

• Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer

• Expedição Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas Transparência

A Bayer inclui em dezembro resumos de estudo de segurança do glifosato em sua plataforma dedicada à transparência. “Reconhecemos que as pessoas em todo o mundo querem mais informações sobre o glifosato e estamos ansiosos para oferecer acesso aos nossos dados de segurança relacionados ao glifosato em nossa plataforma dedicada à transparência. Esta plataforma estabeleceu novos padrões de responsabilidade no setor. Nos comprometemos em usá-la para continuar a compartilhar informações científicas com o público”, explicou o membro do Conselho Administrativo da Bayer AG e presidente da Divisão Crop Science, Liam Condon. Jerry Duff e AJ Ornellas

Consultoria

Liam Condon

Café

Chega ao Brasil a AgriThority, consultoria agrícola independente, com foco principal em acelerar o acesso de produtos a novos mercados em todo o mundo. Fundada em 2008, tem prestado serviço a diversas empresas em diferentes mercados, desde startups até grandes multinacionais. As principais áreas de atuação são proteção de culturas, sementes e tecnologias de sementes, nutrição de plantas, nutrição e saúde animal e agricultura de precisão. “Nosso objetivo é o desenvolvimento e gerenciamento de negócios no Brasil e na América Latina, para nossos clientes de outras partes do mundo, bem como auxiliar os novos clientes do Brasil e da América Latina a expandirem seus negócios para outras partes do globo”, ressalta AJ Ornellas, gerente de Contas da AgriThority para América Latina. “Temos muitos clientes interessados em entrar no Brasil e na América Latina e com certeza ajudaremos muitos clientes brasileiros a acessarem outros mercados ao redor do mundo”, projeta Jerry Duff, sócio-fundador da AgriThority.

A edição de 2018 da Semana Internacional do Café (SIC), em novembro, em Belo Horizonte, Minas Gerais, teve entre seus destaques a Plataforma Nucofee, da Syngenta, que atua em toda a cadeia da cultura, promovendo a integração entre produtores, cooperativas e torrefadores, além de buscar conexão com o mercado externo que procura cafés de qualidade diferenciada. O estande da companhia contou com espaço exclusivo para minipalestras e reuniões, além de oferecer buffet de café gourmet. Além disso, a Syngenta contou com a presença de dois pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (Ufla) que apresentaram projetos que compõem a iniciativa Café do Futuro – Inovações na Pós-colheita. A professora Rosane Freitas Schwan falou sobre Fermentação Controlada e o professor Flávio Meira Borém a respeito do Café Nutracêutico. Também fez parte da programação o lançamento do livro infantil “Cafezinho”, produzido pela Editora Cora com o patrocínio da Syngenta.

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Manejo da ferrugem

A Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont, reuniu em Tupanciretã e em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, produtores rurais interessados em diminuir os prejuízos trazidos às lavouras por doenças como a ferrugem da soja. Durante o encontro, foi realizada uma rodada de discussão entre especialistas da agroindústria, sojicultores e com a pesquisadora Mônica Debortoli, do Instituto Phytus. O objetivo foi de levar aos produtores informações sobre os benefícios do manejo correto. “Apesar do difícil controle do problema, queremos mostrar aos sojicultores que é possível fazer um manejo adequado. Costumamos chamar de manejo campeão, porque ao respeitar o vazio sanitário, diversificar nas estratégias de controle, utilizar cultivares com tolerância à ferrugem e, de preferência, com variedades de ciclo curto, é possível criar estratégias eficientes para o controle de doenças. Mas, para isso, é preciso que os sojicultores estejam atentos à importância do uso correto de equipamentos e às condições adequadas de aplicação. E também que saibam que é fundamental fazer as aplicações, de forma preventiva e não curativa. Nestes encontros, queremos reforçar também que o Manejo Campeão é aquele que respeita a bula e que faz a rotação de fungicidas”, explicou o líder de fungicidas da Corteva Marcus Fiorini Agriscience, Marcus Fiorini.

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Café

Segurança e qualidade Tony Oliveira Sistema - CNA

A importância da aplicação dos princípios do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) no processamento de póscolheita em propriedades cafeeiras

A

segurança alimentar é assunto de importância global. Os tópicos relacionados com a saúde pública podem ter uma influência considerável sobre o negócio. A legislação na maioria dos países exige que as empresas do setor alimentício programem normas de Hazard Analysisand Critical Points (HACCP) ou, no Brasil, a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), inclusive aplicadas em propriedades

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cafeeiras no processamento de pós-colheita. O conceito da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) é uma abordagem sistemática para garantir a segurança do alimento. O método é baseado em vários princípios diferentes de detecção direta ou indireta de contaminação. Este documento descreve no processo do café quais os tipos de contaminação em cada processo, o seu grau de risco e os tipos de peri-

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Fotos Fundação Carmelitana Mario Palmerio

Pequena propriedade com 13 hectares de café (propriedade A)

gos. Os contaminantes do grão são amostrados por meio da aplicação dos princípios do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) da colheita ao beneficiamento dos cafés provenientes de região do Cerrado Mineiro do estado de Minas Gerais. As empresas desse setor (propriedades agrícolas) devem garantir que a totalidade das etapas, pelas quais são responsáveis, seja realizada de forma higiênica e em conformidade com disposições constantes nos regulamentos e aplicar procedimentos exigidos na normativa. Os principais benefícios de sua implantação são cumprimento de regulamentos e leis aplicáveis; método preventivo; minimização e eliminação de riscos para a saúde dos consumidores; redução de custos; aumento da motivação de todos os colaboradores; melhorias na imagem corporativa. Programas e procedimentos de pré-requisitos, como as Boas Práticas, podem controlar riscos de contaminação biológica, química ou física, que geram os Pontos Críticos (PC) na produção, que são fatores que causam impacto à saúde pública. Os riscos podem ser classificados em físicos, químicos e biológicos, e sua ocorrência na linha de produção gera contaminações que resultam em doenças e agravos endêmicos ou epidêmicos que afetam a saúde da população. Falhas na oferta, no pa-

Grande propriedade com 452 hectares de café (propriedade B)

drão microbiológico e no consumo dos alimentos determinam o momento crítico. Controles sistemáticos que garantam, permanentemente, a segurança sanitária desejável, assim como a aplicação e a execução do sistema APPCC, são a única ferramenta que trabalha no caminho da prevenção dos altos índices de ocorrência de surtos de toxinfecção alimentar. O objetivo deste trabalho foi identificar os perigos potenciais, de-

finir níveis de severidade e risco, desvios relacionados com o plano APPCC, que podem ocorrer no processo de pós-colheita do café em propriedades com diferentes níveis de estruturas de fazendas certificadas dos municípios de Monte Carmelo e Patrocínio, Minas Gerais. Foram analisados os perigos de produção nas etapas realizadas dentro das propriedades cafeeiras certificadas, sendo uma propriedade considerada pequena a que possui 13 hectares de café (denominada propriedade A), contendo apenas

Figura 1 - Fluxograma de etapas das propriedades A e propriedade B. Fonte: Ribeiro, M. P. (2014)

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Fotos Fundação Carmelitana Mario Palmerio

Estrutura de processamento pós-colheita, da propriedade B

terreiro de terra como estrutura de beneficiamento de café (não possui lavador - o beneficiamento do café é realizado com máquina ambulante); e outra propriedade considerada grande, com 452 hectares de café (denominada propriedade B), possuindo lavador e despolpador de café, terreiro de asfalto, secadores mecânicos, tulhas de descanso e beneficiamento próprio da propriedade. Foram avaliados os perigos nas etapas de pós-colheita (físico, químico e biológico), qual o grau de severidade (baixa, média e alta) e a probabilidade (baixa, média e alta) que possa ocorrer, através dos fluxogramas das propriedades A e B (Figura 1). Identificando todo o processo que demonstra os caminhos da colheita do produto até a chegada ao seu destino, foram levantados os possíveis pontos de contaminações de acordo com as etapas do processamento. Após todas as etapas definidas, foram inseridas em uma tabela, que proporciona a identificação de seus perigos de contaminação (química, física e biológica), a sua severidade e a probabilidade (baixo, médio e alto), conforme Tabela 1 e Tabela 2. Em continuidade ao processo de elaboração de um APPCC foi cons-

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truída uma árvore que determina os Pontos Críticos de Controle (PCC), importante para que se determine ou não um PCC e são avaliadas as etapas e os perigos apontados naquela etapa do processo. Não apresentando um PCC, o programa APPCC está terminado. Ao contrário, deve-se continuar apresentando o PCC identificado e propor medidas para minimizar a probabilidade do perigo. O estudo realizado nas propriedades revela que não há um maior número de contaminação, por essas propriedades apresentarem áreas distintas. Os contaminantes apresentados em ambas as propriedades fazem com que o produtor venha a ter um maior cuidado em todas as etapas que venham a se desenvolver, pois os contaminantes de grau de severidade grande podem causar maior dano à saúde humana. Possui maior risco de probabilidade a propriedade B, pois apresenta maior estrutura de beneficiamento e maior número de funcionários. Já na propriedade A, apesar de possuir um terreiro de terra que no período de safra é coberto com uma lona plástica, menores são as chances de contaminação, até mesmo pela finalidade de uso da lona ser de evitar o contato direto do produto (café) com

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o terreiro de terra. A UTZ Certifield, uma certificação agrícola voltada à cultura do café, vem cobrando em seu protocolo essa melhoria contínua que compreende os procedimentos e a implantação do APPCC, sendo bastante exigente no aspecto de segurança alimentar. Na comercialização de seus produtos, as empresas têm investido na qualificação de seus departamentos de controle e garantia da qualidade, fornecendo produtos sem colocar em risco a saúde da população e, ainda, a obrigatoriedade consequente de recall (recolhimento). Atualmente, o APPCC é o sistema que mais gera confiança dentro das indústrias, apesar de dispensar certo trabalho e investimento inerente a qualquer programa de qualidade, não só em relação à segurança do produto ou minimização de perdas, mas pela certeza de atender exigências da fiscalização e dos mercados nacional e internacional. Dentre as principais dificuldades enfrentadas para a implementação do sistema estão a capacitação técnica e os investimentos em infraestrutura Em grandes empresas, o APPCC está sendo muito bem disseminado, apresentando resultados satisfatórios. Porém, faz-se ainda necessária maior atuação das autoridades



Tabela 1 - Tabela de identificação de Perigos, Severidade e Probabilidade – Propriedade A: ETAPA Colheita Manual

Colheita Mecânica

Terreiro

Máquina de beneficio

Transporte / Armazenamento

PERIGOS Q.- Não respeito à Carência do produto na lavoura. F.- Derivados dos safristas (pano, plásticos). B.- Contaminação de bactérias pela colheita através dos safristas. Q.- Não respeito à carência do produto na lavoura. F.- Quebra de peças do maquinário (varetas, parafusos...). B.- Falta de higienização do maquinário. Q.- Não há. F.- Presença de corpos estranhos (> que 7 mm, pedras, pau...). B.- Presença de Escherichia coli, Salmonella passada por animais domésticos que circulam no terreiro. B.- Desenvolvimento da micotoxinas na secagem do produto. Ex. (OTA) Q.- Contaminação por lubrificantes no equipamento (graxa e óleo). F.-presença de corpos estranhos maiores que 7 mm (parafusos, peças...). B. Falta de higienização do equipamento de benefício. Q.- Não há F.- Não há B.- A elevação da umidade (>12%) causando a fermentação do produto; causado por chuva ou orvalho.

SEVERIDADE - Alta - Média - Alta - Alta - Média - Alta - Média - Alta - Alta - Alta - Média - Alta - Alta

PROBABILIDADE - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Média - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa

Fonte: Ribeiro, M. P. (2014).

Tabela 2 - Tabela de identificação de Perigos, Severidade e Probabilidade – Propriedade B: ETAPA Colheita Manual

Colheita Mecânica

Lavador de Café

Despolpador

Terreiro

Secador

Tulha

Máquina de beneficio

Transporte / Armazenamento

PERIGOS Q.- Não respeito à Carência do produto na lavoura. F.- Derivados dos safristas (pano, plásticos). B.- Contaminação de bactérias pela colheita através dos safristas. Q.- Não respeito à carência do produto na lavoura. Q.- Contaminação por graxas, óleos ou lubrificantes. F.- Quebra de peças do maquinário (varetas, parafusos...). B.- Falta de higienização do maquinário. Q.- Não há. F.- Não contendo todo o resíduo gerado no processo (pau, pedra, folha...). B.- Contaminação por meio da água utilizada no processo. Q.- Não há. F. Presença de corpos estranhos > 7mm (pedras, paus...). B.- Contaminação por meio da água utilizada no processo. Q.- Não há. F.- Presença de corpos estranhos (> que 7mm, pedras, pau...). B.- Presença de Escherichia coli, Salmonella passada por animais domésticos que circulam no terreiro. B.- Desenvolvimento da micotoxinas na secagem do produto. Ex. (OTA) Q.-Não há. F.-Presença de corpos estranhos (> que 7mm, pedras, pau...). B.-Não há. Q.- Não há. F.- Não há. B.- Não há. Q.- Contaminação por lubrificantes no equipamento (graxa e óleo). F.-presença de corpos estranhos maiores que 7mm (parafusos, peças...). B. Falta de higienização do equipamento de benefício. Q.- Não há F.- Não há B.- A elevação da umidade (>12%) causando a fermentação do produto; causado por chuva ou orvalho.

SEVERIDADE - Alta - Alta - Alta - Alta - Alta - Alta - Alta - Média - Alta - Média - Alta - Média - Alta - Alta - Média - Alta - Alta - Alta - Alta

PROBABILIDADE - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Média - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa - Baixa

Fonte: Ribeiro, M. P. (2014).

competentes no sentido de dar subsídios e esclarecimentos para implantações do plano em todos os segmentos empresariais, principalmente na sua validação e no controle preventivo ao longo do processo produtivo. O sucesso de implantação dessa ferramenta depende de

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condições básicas, de treinamento e comprometimento de todos os envolvidos na produção, principalmente da alta administração. Quando associado às Boas Práticas de Fabricação, torna-se mais viável, pois existe uma complementação de esforços para controlar os pontos que

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oferecem perigos de contaminação C do produto. Marcos Paulo Ribeiro Francielle Aparecida de Sousa Geraldo Aloise Matos Cássio Resende de Morais Fundação Carmelitana Mario Palmerio


Empresas

Fazenda do futuro Certificada há um ano, a única fazenda Bayer Forward Farming no Brasil agrega tecnologias avançadas a estratégias de manejo na busca por alcançar produtividade com sustentabilidade

nitora e faz um levantamento de espécies para garantir a manutenção e a coexistência dos polinizadores com a atividade agrícola. Além disso, a fazenda conta com áreas de preservação permanente registradas, que foram reflorestadas com flora nativa. Em março de 2018, a propriedade conquistou a certificação RTRS, como reconhecimento ao investimento em sustentabilidade econômica, social e ambiental.

P

rimeira no Brasil certificada pelo Bayer Forward Farming (BFF), a Fazenda Nossa Senhora de Aparecida, em Águas Frias de Goiás, integra o projeto da Bayer desde 2017. Essa é a 11ª fazenda referência no mundo que produz com base em guidelines estabelecidas pela iniciativa, onde produtores rurais e especialistas da Bayer trabalham em conjunto para demonstrar uma abordagem integrada para uma agricultura sustentável. Com uma visão de longo prazo, o BFF objetiva o sucesso econômico, aliado à sustentabilidade do ambiente e ao melhor aproveitamento de recursos. O produtor rural, Oli Fiorese, que gerencia a fazenda com os dois filhos – Henrique e Kaio –, confirmou o resultado: na última safra, um incremento de 10% de produtividade em comparação ao ano anterior à entrada no programa. Segundo Oli, a decisão de participar do BFF se deu por pensar no futuro e na prosperidade da área para a geração atual, e para as futuras. “Assumimos um compromisso de responsabilidade; a gente usufrui e aplica o conhecimento e a tecnologia, e fecha parcerias com quem sabe o que há de melhor. Além disso, temos a oportunidade de mostrar que o agricultor não é o vilão do meio ambiente, através da aplicação de tecnologias para a maior preservação de recursos naturais”, explicou. O produtor também comentou sobre o orgu-

O PROJETO

lho de ter a propriedade escolhida como fazenda referência dentro do projeto. A fazenda possui 2.700 hectares de área, e lavouras de soja, soja semente, milho, feijão e sorgo. Kaio Fiorese, que é engenheiro agrônomo por formação, explicou as principais mudanças na rotina da produção. “A assessoria agronômica, o tratamento de sementes industrial, o manejo mais técnico do solo, a aplicação de estações meteorológicas, o auxílio do mapeamento de pragas e insetos com a Patrulha Percevejo, o gerenciamento de irrigação e, principalmente, as diversas capacitações das equipes de trabalho”, ressaltou. Para Henrique Fiorese, os destaques estão na informatização dos dados coletados a campo e na agilidade da parte operacional e de tomada de decisão. “Temos um banco de dados de toda a produção, e isso para a tomada de decisão, e para visualizar como foram as safras passadas, é muito importante. Assim, a gente consegue ver a saúde do nosso negócio”, relatou. Dentro das iniciativas sustentáveis que o programa agrega, o projeto União dos Agrônomos Independentes (UAI) fomenta uma rede de informações de agricultores, onde o objetivo é o manejo diferenciado – neste caso, focado na correção ideal do solo para alavancar a produtividade, ao mesmo tempo em que previne erosão. Outra ferramenta, o Bayer Bee Care, mo-

Segundo a diretora de Políticas Agrícolas e Relacionamento com Stakeholders da Bayer, Alessandra Fajardo, diversificar a quantidade de fazendas e cultivos é o ideal para a longevidade do projeto e a consistência de resultados. Com um plano de futuro previsto até 2026, o Bayer Forward Farming tem como base três pilares: soluções integradas personalizadas (com sementes e produtos de proteção de cultivos de alta precisão para garantir o rendimento e a qualidade das commodities), ações de boas práticas agrícolas (com auxílio na segurança do produto, para proteger a saúde humana e preservar o ambiente) e parcerias (para melhorar a qualidade de vida dos produtores e da sociedade em geral que se integram na fazenda). “Com o Bayer Forward Farming iniciamos um diálogo sobre a transferência de tecnologia, envolvendo toda a cadeia de produção, e voltados para o mesmo objetivo: rentabilidade e sustentabiliC dade, juntas”, finalizou.

Oli, Kaio e Henrique Fiorese comandam a fazenda Nossa Senhora Aparecida

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Plantas daninhas

Por cobertura Culturas de cobertura e herbicidas podem, quando integrados, vencer o desafio de manejo das plantas daninhas resistentes a herbicidas

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s herbicidas orgânicos foram descobertos a partir da década de 1940 e, desde então, se tornaram a principal ferramenta de manejo de plantas daninhas na área de grãos. Durante todo este período houve uma evolução muito grande na área de descobertas destes produtos, bem como em suas práticas de aplicação e recomendação. No entanto, ainda há perdas significativas de produtividade nas culturas agrícolas decorrentes da interferência de plantas daninhas, mesmo com

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os atuais métodos de controle. Estima-se que, em média, geram ainda perdas da ordem de 34% em muitos sistemas de produção. As razões destas perdas ainda elevadas (o que para a manutenção de uma agricultura sustentável é inadmissível) estão fundamentadas em vários fatores. Destacam-se a seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas e a falta de integração do uso dos herbicidas com boas práticas agrícolas. Poucos são os sistemas de produção atuais que procuram integrar práticas agrícolas culturais

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Fotos Pedro Jacob Christoffoleti

Uma cultura de cobertura bem estabelecida impede a germinação/emergência de daninhas

com a recomendação do herbicida de forma complementar, aliando o manejo da planta daninha com melhoria dos ambientes de produção, gerando assim sustentabilidade ambiental e econômica dos sistemas. Uma destas práticas consiste em associar o controle químico de plantas daninhas com práticas de culturas de cobertura, para de forma integrada alcançar o controle de plantas daninhas e benefícios agronômicos de tal prática. Existem vários exemplos práticos nos sistemas atuais de produção, em que comprovadamente planejar um sistema de produção envolvendo culturas de cobertura, e herbicidas recomendados no momento certo, representa alternativa para o combate de plantas daninhas de difícil controle pelos herbicidas, além de proporcionar ao sistema de produção benefícios agronômicos que refletem positivamente na produtividade final. O destaque para esta prática reside na utilização de culturas de cobertura do tipo gramíneas, no período de pousio entre a segunda safra (safrinha) e a semeadura de verão (cultura principal do sistema). Há inúmeros casos de sucesso de produtores que estabelecem o capim-braquiária ou

o sorgo-sudanense ou o milheto como cultura de cobertura e obtêm maiores produtividades da soja implantada a seguir. As razões para este incremento de produtividade estão devidamente descritas na literatura, destacando-se a questão das melhorias nas propriedades físico-químicas do ambiente de produção, além da descompactação natural dos solos, dentre outras. No entanto, destacase também que esta prática ajuda no manejo de plantas daninhas. Uma cultura de cobertura bem estabelecida impede a germinação/ emergência do banco de sementes de plantas daninhas, impedindo a incidência de luz diretamente ao solo, evitando assim o estabelecimento das plantas daninhas cuja quebra de dormência se dá pela luz solar. Outra explicação da menor incidência de plantas daninhas em uma área com cultura de cobertura está relacionada com a alelopatia que estas culturas podem impor sobre as plantas daninhas, além do fato de ocuparem os espaços que seriam das plantas daninhas caso a área fosse deixada em pousio. É notório no campo, em uma área com o bom estabelecimento de uma cultura de cobertura, que a presença de

plantas daninhas resistentes ao glifosato, como a buva e o capim-amargoso, praticamente fica zerada. Isso facilita o manejo com herbicidas na cultura de soja estabelecida a seguir. Também se observa que depois de dois a quatro anos de estabelecimento desta prática na área, o banco de sementes destas plantas daninhas é reduzido drasticamente. No entanto, o estabelecimento de um sistema de produção com culturas de cobertura exige conhecimento técnico do produtor e, principalmente, planejamento agrícola. Assim, a prática de uso de culturas de cobertura nos sistemas agrícolas com gramíneas é com certeza uma forma integrada de manejar as plantas daninhas pautadas na sustentabilidade ambiental e econômica, ajudando assim o herbicida na difícil tarefa de manejo das plantas daninhas resistentes. O futuro da agricultura deve estar fundamentado em práticas que associam as tecnologias químicas de manejo dos fatores redutores de produtividade, porém devem ser planejadas dentro de um sistema agronômico complexo e que objetivam altas produtividades com menos recursos externos e valorização de práticas agronômicas para sustentabilidade, onde a cultura de cobertura é com certeza uma prática desejável. C

Pedro Jacob Christoffoleti Esalq/USP

Christoffoleti aborda associação de culturas de cobertura com o controle químico

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Milho Nilton Pires

Avanços no controle

Plantas daninhas representam importante desafio no cultivo de milho, por isso merecem especial atenção. Diante da diversidade do cenário da produção deste grão no território brasileiro, o produtor deve buscar constante atualização para fazer uso adequado e consciente da tecnologia disponível

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O

particularidades de cada região em função do clima, do solo e de aspectos culturais, e às perspectivas de comercialização dos produtos. As culturas instaladas em rotação variam desde culturas anuais (soja, milho, arroz, sorgo, algodão, feijão e girassol) até nabo forrageiro, aveia, culturas anuais e pastagem, entre outras. A rotação soja/milho apresenta resultados expressivos, trazendo benefícios sustentáveis para ambas; inibindo a germinação de plantas daninhas, pela palhada deixada pelo milho, e contribuindo com o controle químico da comunidade infestante pela disponibilidade de um número maior de herbicidas, com diferentes mecanismos de ação. As culturas de soja e milho são muito utilizadas em sucessão; a oleaginosa ocupa o solo no verão, seguida pela gramínea; o cultivo de soja é antecipado para o plantio de milho entre o final das chuvas de verão e a primeira do outono, já que as plantas necessitam de manejos que proporcionem quantidade de água suficiente em safrinha, além da vantagem que o plantio direto lhe oferece pela palhada no solo. Essa é uma importante alternativa para intensificar o uso da terra, aumentando a renda do produtor. No entanto, o sistema vem sendo adotado de forma contínua e a prática não proporciona cobertura satisfatória sobre o solo. O sistema de consórcio milho-braquiária vem ganhando cada vez mais admiração. Por meio desta técnica, o milho produz safrinha e a braquiária contribui com o fornecimento de fitomassas favoráveis na entressafra. Após a colheita, a palhada remanescente pode servir como base para o plantio de algodão. No caso de propriedades sob o sistema integração lavoura-pecuária (ILP), a braquiária serve como planta forrageira, justamente no período de maior escassez nas pastagens. Sistemas integrados de produção, como a Integração LavouraPecuária, podem maximizar a produtividade e aumentar a lucratividade, mas demandam conhecimento técnico por parte do agricultor. Sistemas produtivos que englobam diversificação, rotação, consórcio e sucessão das atividades agrícolas e pecuárias. As vantagens agronômicas são: uso e manejo racional do solo, melhor dinâmica da água no solo, conservação do meio ambiente, plantio direto facilmente viabilizado, entre outras. O milho se torna

Sistemas de produção como a integração lavoura-pecuária podem maximizar a produtividade e aumentar a lucratividade

Controlar plantas daninhas de modo eficiente é um dos grandes desafios

Alexandre Ferreira da Silva

Wilson Tavares da Silva

milho é uma cultura de grande importância mundial, se destacando por ser o grão mais produzido e consumido. Cultivado tanto por grandes quanto por médios e pequenos produtores, o milho possui diversas finalidades, desde a utilização dos grãos na alimentação, até seu uso em indústrias e no setor energético. A crescente demanda mundial por alimentos causa uma constante pressão sobre as áreas agrícolas e os recursos naturais. Contudo, é necessário, através do conhecimento, buscar o estabelecimento de um sistema de produção eficiente que aumente a produtividade e que reduza os impactos ambientais. Os sistemas de produção podem ser entendidos como um conjunto de atividades e procedimentos pelos quais os insumos serão transformados em um produto final. Estas atividades podem ser convencionais ou conservacionistas, com o objetivo inicial de deixar a área em boas condições de plantio, para que a cultura se estabeleça em um ambiente adequado. O sistema convencional se utiliza de práticas como aração e gradagens para o preparo do solo, fornecendo condições ideais para germinação, emergência e estabelecimento das plântulas, além de contribuir com o controle da população inicial de plantas daninhas. Outro sistema é o plantio direto, muito utilizado e aceito entre os produtores, apresenta vantagens como redução dos impactos sobre solo por meio do cultivo mínimo; manutenção da palhada na superfície do solo, aumentando a capacidade de retenção de água, reduzindo a amplitude térmica e evitando o processo de erosão, além de reduzir a incidência de pragas, doenças e plantas daninhas. Em regiões onde a agricultura é mais intensiva, buscase garantir sustentabilidade, sendo essencial um manejo conservacionista. Uma atividade a ser adotada em sistema de plantio direto é a rotação de culturas, que implantada e conduzida adequadamente, melhora o solo, em longo prazo; repõe a matéria orgânica e protege o solo da ação da chuva e do vento, pela manutenção de certa quantidade de palhada superficial no solo; contribui com o controle de pragas, doenças e plantas daninhas; e aumenta a produtividade. O planejamento do esquema de rotação deve atender às

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Figura 2 - Número de cultivares registradas no Registro Nacional de Cultivares entre os anos de 2014 e 2018, relacionados aos eventos aprovados pela CTNBio

uma excelente alternativa de utilização no sistema, possibilitando diferentes espaçamentos. Se reduzido, melhora a utilização de luz, água e nutrientes; e formação de um pasto bem estabelecido quando as sementes da forrageira são depositadas somente na linha de plantio do milho. Nos sistemas de produção de milho podem surgir problemas causados pela interferência de plantas daninhas, que competem por recursos do meio, e causam perdas em produtividade da cultura. O manejo é realizado, na maioria das vezes, pelo uso de agroquímicos registrados para a cultura no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Figura 1).

O controle químico no milho é realizado basicamente com atrazina em pó-emergência, que controla principalmente plantas de folhas largas, podendo estar associado a graminicidas como o nicosulfuron, o mesotrione e o tembotrione, ou com glifosato quando em cultivares tolerantes a este herbicida. Além do uso de glifosato nas cultivares geneticamente modificadas. Muitos herbicidas são encontrados no mercado para o controle de diversas plantas daninhas, porém, as descobertas de novos mecanismos de ação cessaram (Tabela 1), e o uso constante do mesmo mecanismo tem causado efeitos negativos, reduzindo a eficiência no controle, dificultando o manejo e, principalmente, selecionando biótipos resistentes. Outro fator que merece atenção é o efeito residual dos herbicidas que pode permanecer ativo mesmo após certo tempo de sua aplicação, prejudicando a cultura plantada em sucessão. Por isso, é essencial realizar o manejo dos agroquímicos de forma correta e adequada. Com o surgimento de biótipos resistentes, a utilização de outros herbicidas no manejo da cultura da soja se torna essencial, sendo alguns herbicidas pré ou pós-emergentes com efeito residual, que podem causar problemas na cultura subsequente, como o milho. Há relatos que o milho deve ser semeado com intervalo mínimo de 60 dias após a aplicação de chlorimuron-ethy, evitando causar fitotoxicidade à cultura. O diclosulam possui meia-vida de 65 dias em média, em solos argilosos é necessário intervalo de 140 dias para que não haja interferência na cultura em sucessão, e em solos de textura média a persistência tende a aumentar, podendo comprometer o milho. Com alta persistência no solo, o imazaquin é utilizado no controle de folhas largas na soja em pré-emergência, observando-se meia-vida de até 180 dias, sendo recomendado que se respeite um intervalo de 300 dias para o plantio de milho. A biotecnologia gera novas oportunidades para o manejo integrado de plantas daninhas, tornando as plantas tolerantes aos herbicidas, além de evitar a seleção de plantas resistentes.

Wilson Tavares da Silva

Figura 1 - Quantidade de produtos comerciais registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a cultura do milho de acordo com os respectivos grupos químicos

Pantas daninhas competem por recursos do meio e causam perdas em produtividade da cultura

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A liberação do uso comercial de “eventos” geneticamente modificados, no Brasil, é uma importante ferramenta no sistema agrícola (Tabela 2). O uso desta biotecnologia vem aumentando significativamente, contribuindo com a melhoria das lavouras, o aumento da produção e reduzindo os custos com defensivos. As opções de cultivares tolerantes a herbicidas são oriundas de eventos tolerantes a glufosinato de amônio, glifosato, 2,4-D, haloxofop-5 e aquelas derivadas da sua combinação. A utilização pelos produtores traz vantagens às culturas como redução ou ausência de fitotoxicidade. Facilidade no manejo das plantas daninhas; adoção de técnicas de manejo integrado, quando o controle cultural ou mecânico não é eficiente; entre outras, evitando perdas causadas por fatores do meio. Entretanto, o uso inadequado destas tecnologias pode acarretar na seleção de plantas daninhas resistentes de forma mais rápida, devido ao intenso uso do herbicida ao qual a cultivar é tolerante. O glifosato é um exemplo de herbicida muito utilizado e de grande eficiência no controle da comunidade infestante, sendo solução nos sistemas de produção de milho transgênico, porém com o uso indiscriminado passa a ser um problema, não controlando mais as espécies, agora

resistentes. De 2014 até 2018 foram registradas 396 cultivares originadas de 12 eventos liberados pela CTNBio, como mostra a Figura 2. Considerando a diversidade do cenário da produção de milho, no território brasileiro, para alcançar sucesso, o produtor deve buscar informações de melhoria para seus sistemas de produção, utilizar da tecnologia disponível de forma

adequada e consciente com o objetivo de boas práticas agrícolas para obtenção de boa produtividade, com controle C eficiente de plantas daninhas.

Isabela Goulart Custódio Universidade Federal de São João Del-Rei Décio Karam Alexandre Ferreira da Silva Embrapa Milho e Sorgo

Tabela 1 - Mecanismos de ação de herbicidas introduzidos nos respectivos anos Mecanismo de Ação Mimetizadores de auxina (auxinas) Inibidores da fotossíntese no Fotossístema II (uréias, amidas) Inibidores da fotossíntese no fotossistema II (triazinas) Inibidores da síntese de lipídios diferentes de inibidores da ACCase - tiocarbamatos Inibidores da síntese de carotenoides (alvo desconhecido) – tiazoles (FSII) Inibidores da divisão celular – cloroacetamidas (FSII) Inibidores da mitose – carbamatos Inibidores da formação de microtúbulos - dinitroanilidas Inibidores da fotossíntese no fotossistema I - bipiridiliuns Inibidores da fotossíntese no fotossistema II – nitrilas, benzotiadiazinonas Inibidores da enzima protoporfirinogênio oxidase (Protox) Inibidores da enzima enol-piruvil-shikimato-fosfato sintase (EPSPs) Inibidores da enzima acetil-coenzima A Carboxilase (ACCase) Inibidores da síntese de carotenoides na fiteno desaturase (PDS) - priridazinonas Inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS) Inibidores da enzima glutamina sintetase (glutamina) Inibidores do transporte de auxinas Descoplador de fosforilação oxidativa (disruptores de membrana) Inibidores da DHP (dihidropteroato síntese) Inibidores da síntese de celulose (parede celular) Inibidores da enzima 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase (HPPD) - tricetonas

Ano de introdução no mercado 1946 1952 1953 1954 1955 1956 1959 1960 1962 1964 1966 1971 1975 1976 1980 1981 1955 1930 1975 1962 1984

Tabela 2 - Eventos transgênicos de milho aprovados pela CTNBio para comercialização no Brasil Nome Comercial

Evento

Característica

Nome Comercial

Evento

Característica

Liberty Link (Bayer/2007)

T25

TG

Agrisure Duracade 5222 (Syngenta/2015)

Bt11 x MIR162 x MIR604 x TC1507 x 5307 x GA21

RI, TG, TGA

TL (Syngenta/2007)

Bt11

RI, TGA

Agrisure Viptera 2100 (Syngenta/2015)

Bt11 x MIR162

RI,TG

Herculex (DuPont e DowAgroscience/2008)

TC1507

RI, TGA

ND (DowAgroscience/ 2016)

MON89034 x TC1507 x NK603 x DAS40278-9

RI,TD, TG, TGA

Yield Gard VT (Monsanto/2010)

MON88017

RI, TG

Genuity SmartStax (DowAgroscience/ 2016)

MON8934 x MON88017 x TC1507 x DAS-59122-7

RI, TG, TGA

Herculex XTRA™ maize (DuPont e Dow AgroScience/2013)

TC1507 x DAS-59122-7 (2013)

RI, TGA

ND (Monsanto/ 2016)

MON87411

RI, TG

Viptera 4 (Syngenta/2014)

Bt11 x MIR162 x MIR604 x GA21/2014

RI, TG, TGA

Roudup Ready Maize (Monsanto/ 2016)

MON87427

TG

Enlist Maize (DowAgroscience/2015)

DAS-40278-9/2015

TD

ND (Syngenta/2017)

Bt11 x MIR162 x MON89034 x GA21

RI, TG, TGA

ND (Monsanto/2015)

NK603 x T25

TG, TGA

ND (Syngenta/2017)

Bt11 x MIR162 x MON 89034

RI, TG, TGA

ND (DuPont/ 2015)

TC1507 x MIR162 x NK603

RI, TG, TGA

ND (DowAgroscience/ 2017)

MON89034 x TC1507 x NK603 x MIR162

RI, TG, TGA

ND (DuPont/ 2015)

TC1507 x MIR162

RI, TGA

ND (Syngenta/2018)

MZIR098

RI, TGA

ND (DuPont/ 2015)

MIR162 x NK603

RI, TG

ND (DowAgroscience/2018)

ND (DowAgroscience/2015)

DAS-40278-9 x NK603

TD, TG

ND (Monsanto/2018)

MON89034 x TC1507 x MIR162 x NK603 x DAS-40278-9 RI, TG, TGA, TD, TH MON87427 x MON89034 x MIR162 x MON87411

RI, TG

Possuem cultivares registradas no Registro Nacional de Cultivares Roundup Ready 2 (Monsanto/2008)

NK603

TG

Power Core PW/Dow (Monsanto & Dow AgroScience/2010)

MON89034 x TC1507 x NK603

RI, TG, TGA

TG (Syngenta/2008)

GA21

TG

Optimum Intrasect (DuPont/2011)

MON810 x TC1507 x NK603

RI, TG, TGA

YR Yield Gard/RR2 (Monsanto/2009)

NK603 & MON810

RI, TG

TC1507 x MON810 (DuPont/ 2011)

TC1507 x MON810

RI, TGA

TL/TG (Syngenta/2009)

Bt11 & GA21

RI, TG, TGA

MON89034 x MON88017 (Monsanto/2011)

MON89034 x MON88017

RI, TG

HR Herculex/RR2 (DuPont/2009)

TC1507 & NK603

RI, TG, TGA

ND (DuPont/2015)

TC1507 x MON810 x MIR162

RI, TGA

TL/TG Viptera (Syngenta/2010)

Bt11 & MIR162 & GA21

RI, TG, TGA

ND (DuPont/2015)

TC1507 x MON810 x MIR162 x NK603

RI, TG, TGA

PRO2 (Monsanto/2010)

MON89034 & NK603

RI, TG

TG: Tolerante ao Glifosato; TGA: Tolerante ao glufosinato de amônio; TD: Tolerante ao 2,4-D; TH: Tolerante ao haloxifop-R; RI: Resistência a Insetos; ND: Não Disponível. Fonte: CTNBio, 2018.

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Empresas

União de esforços

Fotos Alltech

Fotos Cultivar

Corteva e Embrapa participam de iniciativa conjunta em Brasília para difundir boas práticas agrícolas

A

Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont, e a Embrapa participaram em dezembro de uma iniciativa conjunta para colocar em pauta boas práticas agrícolas, tema que tem por objetivos a sustentabilidade do agronegócio, a preservação do ambiente e o aumento da produtividade do setor. A passagem do projeto itinerante “Expedição da Agricultura para a Vida” por Brasília foi uma oportunidade de unir esforços. “A Corteva e a Embrapa têm programas de boas práticas similares e que se complementam. Discutir esse tema em

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conjunto com técnicos e pesquisadores da Embrapa é uma chance de aprimorar ainda mais as ações que podemos oferecer para toda a cadeia. Todos ganham, o agricultor, a indústria e o consumidor final”, explica Jair Maggioni, coordenador do programa de Boas Práticas Agrícolas da Corteva Agriscience. A líder de Regulamentação de Sementes e Stewaerdship da Corteva Agriscience, Ana Cristina Pinheiro, explicou que a ação é um investimento para levar conhecimento, treinamento e capacitação para to-

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da a cadeia produtiva, embasada em quatro pilares: Manejo de Plantas Daninhas, Manejo Integrado de Pragas, Tecnologia de Aplicação e Segurança do Trabalhador.

MANEJO INTEGRADO PLANTAS DANINHAS

O objetivo da estação foi de apresentar as estratégias para um manejo integrado, auxiliando o produtor a identificar as plantas daninhas presentes na lavoura, contando com a ajuda de um herbário e sementário, além de diferentes recomendações


para controle. O professor da Universidade de Passo Fundo e especialista em Manejo de Plantas Daninhas, Mauro Rizzardi, foi o responsável pelo conteúdo.

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

Coordenada pela pesquisadora Simone Vieira, da Corteva Agriscience, a estação mostrou, através de uma apresentação teórica e reforçada com diferentes experiências interativas, estratégias que devem ser adotadas no manejo integrado de pragas

TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO

Sob coordenação do pesquisador Alisson Mota, da Corteva Agriscience, a estação focou na qualidade das aplicações como forma de obter melhor eficácia de defensivos agrícolas e reduzir o risco de deriva.

PROGRAMA EXPEDIÇÃO DA AGRICULTURA PARA A VIDA

O caminhão itinerante tem sete metros de comprimento e 3,5 metros de largura, com baú adaptado e dividido em ambientes visualmente atrativos. Os treinamentos são aplicados por acadêmicos e pesquisadores.

BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS NA CORTEVA AGRISCIENCE

Além do caminhão itinerante, a Corteva Agriscience mantém o Programa de Aplicação Responsável (PAR), que tem os objetivos de treinar agricultores e ressaltar a importância das boas práticas agrícolas na aplicação de defensivos agrícolas. No programa, realizado em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, os agricultores participam de Dia de Campo em que são abordados conceitos de aplicação responsável de forma teórica e por meio de simulações práticas.

Também fazem parte do programa de Boas Práticas os projetos sociais Corteva Escola, Corteva Mulheres no Campo e Corteva Natureza.

BIBLIOTECA DIGITAL DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS

A Corteva Agriscience também dispõe de biblioteca digital voltada para o tema. A ideia é levar ao público conhecimento e informações de qualidade sobre os principais pilares que permeiam todo o processo do cultivo. Conteúdos específicos sobre Manejo de Plantas Daninhas, Manejo Integrado de Pragas, Tecnologia de Aplicação e Segurança do Trabalhador são oferecidos em ferramentas diversas, como webinars, e-books, artigos, vídeos, entre outros, possibilitando a conectividade e a interação de maneira rápida e acessível.

BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS NA EMBRAPA

Os participantes do evento ainda puderam acompanhar informações sobre os programas desenvolvidos na Embrapa na área de manejo integrado de pragas nos estados do Paraná, Mato Grosso e Goiás. O pesquisador Edson Hirose explicou que o objetivo das ações é de diminuir custos, mantendo a sustentabilidade e a qualidaC de de produção.

C

Maggioni e Ana Cristina, da Corteva, destacaram importância da iniciativa

Edson Hirose, da Embrapa, explicou objetivos das ações

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Soja

Risco calculado A escolha do volume de calda/hectare para fungicida é dependente da arquitetura da planta e da área foliar, índices muito complexos para estabelecer um indicador fixo. No entanto, vazões muito baixas tornam a operação mais arriscada, com perdas de controle e produtividade final. Assim, o produtor que desejar trabalhar com esses níveis precisa adotar controles de perdas muito rigorosos e assumir o risco da atividade

A

elevação dos custos de produção tem pressionado os produtores rurais e técnicos a encontrarem formas de melhorar a rentabilidade da lavoura. Como os tetos produtivos não são facilmente superados e a necessidade de insumos cresce linearmente, algumas técnicas agronômicas buscam ser alteradas. No entanto, os níveis de risco precisam ser avaliados, pois vão a patamares que podem comprometer a atividade técnica, por não imprimirem a eficácia de controle em alguns problemas fitossanitários. A Tecnologia de Aplicação (TA) ganha espaço neste particular, pois muitas estratégias têm sido norteadas para reduzir o volume de calda/ha. O grande objetivo seria reduzir os custos com a operação e tentar manter o mesmo controle de enfermidades na lavoura, ou seja, decisão extremamente logística, com foco secundário no agronômico. Outra justificativa seria aproximar o volume aplicado pelo pulverizador terrestre ao do avião. Entretanto, são tecnologias totalmente distintas, embora a aplicação aérea até possa permitir tais flexibilizações. Diversos trabalhos têm justificado que o ganho logístico terrestre fica em torno de 20% a 25%. Isso se a água puder ser levada até o pulverizador no talhão, caso contrário esse número é menor. Assim, desde a envergadura do equipamento até as características topográficas do terreno e seus obstáculos físicos irão acabar limitando a velocidade da operação, ajudando a entender que as porcentagens citadas anteriormente estão dentro dos resultados possíveis. Inúmeros são os trabalhos científicos que solidificam o risco da redução do volume de calda/ha. Existe uma combinação de critérios que deixam a operação arriscada, que vão desde a mis-

tura na calda até a formação de gotas e sua duração no ambiente. Sumarizando diversos ensaios dos últimos anos, realizados nas áreas experimentais do Instituto Phytus, da URI Campus Santiago e em San Alberto/Paraguai, realizados com CO² e tratorizados, os números apresentados impressionam. A Figura 1 mostra que a redução da água compromete o controle da ferrugem e limita a expressão da produtividade. Logicamente que a água não é fungicida, mas ela é o veículo que irá solubilizar e transportar o princípio ativo até o alvo, visto que a sistemicidade do fungicida é limitada. Esse resultado foi observado em mais de uma cultivar, apontando que a área foliar e a arquitetura de planta têm papel fundamental na escolha do volume adequado, indicando a assertividade do raciocínio de Courshee (1967). A regressão mostra que a redução na vazão/ha também reduz o controle, permitindo o aumento da doença, causando desfolha precoce. A Figura 1 demonstra ainda que para cada litro reduzido na vazão/ha, ocorreu uma perda de 2,71kg de soja/ha a 3,10kg de soja/ha, dependendo da cultivar. Esse fato se deve ao alto risco de baixar a vazão/ha, visto que com o nível de perda das gotas mais concentradas com fungicida, o controle torna-se nulo. É só compreender o raciocínio, se há um exemplo de uma vazão de 100L/ ha, onde quatro gotas seriam 100%, então cada gota teria 25% da concentração. Já uma vazão de 25L/ha, uma gota teria 100% da concentração e não as quatro juntas, como anteriormente. Com base nisso, é possível imaginar o nível de perda da atividade no campo. Na vazão de 100L/ha, ainda haverá três gotas atingindo o alvo (75% da concentração). Já na vazão de 25L/ha, a perda de uma gota representa o comprometimento total do controle. Os resultados do experimento no Rio Grande do Sul corroboPaulo Lanzetta

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Figura 1

Santiago, no Rio Grande do Sul, porém com outras combinações. O trifatorial ganhou forma com três cultivares e três densidades de plantio, avaliando a consequência do controle de doenças nos componentes da produtividade (gramas/ terço/planta) (Figuras 3, 3.1 e 3.2). Assim, os resultados das três cultivares indicaram tendências semelhantes, mostrando que, para estas cultivares, talvez não

sejam necessários volumes de 150L/ha, porém a redução excessiva prejudicou o controle em todas. Além disso, a maior densidade em todas as cultivares prejudicou a deposição de produto no baixeiro e, consequentemente, favoreceu o avanço de doenças pela formação do microclima. Portanto, a técnica de aumento na densidade de plantas para incremento de produtividade, em climas tropicais e

Figura 3

ram com os encontrados no Paraná, onde Teston, R. et al (2017) ressaltaram a importância de procurar um volume/ha ajustado para cada cultivar, chegando em uma vazão adequada de 157,65L/ha (Figura 2). Os autores ainda encontraram um nível de perda parecido com o experimento gaúcho, onde a redução de 1L/ ha comprometeu 2,96kg/ha de soja. Os mesmos volumes de calda/ha foram trabalhados em outro ensaio na safra 17/18, em

Figura 2

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Figura 3.1

Figura 4 Horário de aplicação 05:00

09:00

13:00

17:00

21:00

Taxas de Espectros de gotas aplicação (L.ha-1) Fino Efic. (%)* Médio Efic. (%)* 60 386,24 dBγ 71,00 347,91 cAγ 73,88 100 284,74 cBβ 78,62 249,13 dAβ 81,29 140 226,65 dBα 82,98 211,68 bAα 84,10 60 239,79 aBγ 81,99 218,69 aAβ 83,58 100 189,01 aBβ 85,81 169,46 aAα 87,28 140 150,71 aBα 88,68 162,29 aBα 87,81 60 274,84 cBγ 79,36 255,16 bAγ 80,84 100 204,49 bBβ 84,64 183,24 bAβ 86,24 140 226,65 bBα 87,54 169,58 aAα 87,27 60 250,95 bBγ 81,16 225,27 aAβ 83,08 100 198,71 abBβ 85,08 175,93 abAα 86,79 140 158,85 abAα 88,07 168,05 aBα 87,38 60 244,65 abAγ 81,63 250,39 bAγ 81,20 100 207,69 bAα 84,40 217,44 cBα 83,67 140 201,79 cAα 84,85 214,15 bBα 83,92

Testemunha

Figura 3.2

1331,74

C.V. Horários de aplicação (%) = 2,67 C.V. Espec. de gotas e taxas (%) = 2,77 ¹Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). Letras minúsculas comparam as médias na coluna (horário de aplicação em cada taxa de aplicação e espectro de gotas); letras maiúsculas comparam as médias na linha (espectros de gotas em cada taxa e horário de aplicação); letras gregas comparam as médias na coluna (taxas de aplicação em cada horário de aplicação e espectro de gotas). *=eficácia dos tratamentos testados utilizando a média da AACPF da testemunha. Cadore, P. (2017)

Figura 5

subtropicais, é de alto risco fitossanitário. O teto produtivo das três cultivares já foi atingido no volume de 120L/ha. Vale ressaltar que a aplicação foi tratorizada e as quatro entradas na área só levaram produtos sítio-específicos. Cadore, P. (2017) analisou o controle da ferrugem-asiática da soja através da Área Abaixo da Curva de Progresso da Ferrugem (AACPF) e sua relação fatorial com três vazões/ha, horários de aplicação e espectro de gotas (Figura 4). Cadore observou que mesmo em aplicações em horários noturnos, a vazão de 60L/ha apresentou os maiores valores de AACPD, mostrando a deficiência no controle. Estes valores de controle aumentaram à medida que subiu a vazão para 140L/ha, tanto de dia como à noite. Na safra passada (2017-18), Valesi, V. et al (2018) trabalharam com volumes de 100L/ha, 80L/ha, 50L/ha e 30L/ha em San Alberto/Py. Os autores observaram que à medida que reduziram a vazão/ha, o controle da ferrugem foi diminuindo, acelerando a desfolha e, consequentemente, depreciando a produtividade (Figura 5). Além do risco prático no campo, a Tecnologia de Aplicação (TA) tem vertentes pouco estudadas que estão localizadas antes do processo de formação de gotas, pela ponta de pulverização. Nestes casos, a referência se dá na qualidade da mistura na calda e no conhecimento preciso do pulverizador que irá trabalhar. Misturas em tanque tendem a ser impraticáveis com baixas vazões/ha e formulações complexas, visto a relação soluto-solvente. Portanto, como foi visto nos diversos estudos, não há regra. A escolha do volume de calda/ha para fungicida é dependente da arquitetura da planta e da área foliar, índices muito complexos 22

para estabelecer um indicador fixo. No entanto, foi possível saber que vazões muito baixas elevam o risco da operação, com perdas de controle e produtividade final. Assim, o produtor que desejar trabalhar com esta TA, precisar ter os controles de perdas muito C rigorosos e assumir o risco da atividade.

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Marcelo Gripa Madalosso Filipe Dalenogare Mateus Dorneles Gabriel Róos Cristiano Bonato Vitor Tadielo URI/Santiago e Madalosso Pesquisa Leandro Almeida SA Tec Consultoria Victor Valesi Matrisoja/Paraguai



Empresas Fotos Cultivar

Investimento que compensa Sementes de soja com alta qualidade, vigor e germinação são fundamentais para garantir a sanidade das lavouras, aumentar o potencial produtivo e maximizar o lucro dos produtores

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P

roduzir mais, esse é o desejo de cada sojicultor brasileiro. Nos últimos três anos, a área de soja cresceu mais de 6% no Brasil. As condições de solo e clima são fatores muito favoráveis para alavancar esse crescimento, atrelado à eficiência do agricultor e da indústria em suprir, cada vez mais, o mercado com cultivares de soja mais adaptadas e com maior potencial produtivo. (Fonte: Companhia Nacional Abastecimento - Conab). Para aumentar a rentabilidade do agricultor, a demanda por sementes de alta produtividade é crescente e necessária, o agricultor não está satisfeito em produzir 56 sc/ha, que é a média nacional atual, sendo necessário aumentar a produtividade para melhorar a lucratividade da lavoura. Fonte: Companhia Nacional Abastecimento - Conab). As empresas obtentoras, nos últimos 3 anos, disponibilizaram no mercado mais de 190 cultivares de soja, com diferenciais importantes através da genética, da biotecnologia, e com alto potencial produtivo para as diversas macrorregiões sojícolas do Brasil. A Nidera contribuiu com mais de 30 cultivares nos últimos 3 anos, que se destacam por produtividade, e ciclo favorável ao plantio de safrinha. (Fonte: Spark Inteligência Estratégica). A indústria de soja também tem ampliado seus investimentos em câmaras frias com o objetivo de preservar por mais tempo o padrão de qualidade das sementes. A Nidera, por exemplo, já possui mais de 80% do volume nacional armazenado em câmaras frias, fruto de um investimento que ultrapassa 3 milhões de dólares, para garantir o mais elevado padrão de qualidade de germinação e vigor de suas sementes até o momento da entrega para o agricultor. Em um cenário de alta volatilidade cambial, aumento nos custos de produção de sementes e crescimento da pirataria, a Nidera segue acreditando na agricultura brasileira e, por isso, investiu no Brasil, nos últimos 3 anos, mais de 200 milhões de dólares, investimentos estes direcionados à construção de câmaras frias para melhor acondicionamento das sementes, ampliação e

modernização do laboratório de fitopatologia e nematologia, ampliação das áreas destinadas à pesquisa, sistemas (TI), máquinas agrícolas para implantação e condução de ensaios com alta qualidade e, para o grande fator que é insubstituível: pessoas. E o reflexo dos investimentos estão no campo, com cultivares de alta performance produtiva, sanidade e precocidade. Atualmente, a Nidera já oferta no mercado cultivares que expressam potencial produtivo superior a 100 sc/ ha em áreas comerciais comprovadas, resultados obtidos na safra 2017/18, por 7 agricultores, o que garante mais segurança e rentabilidade. As empresas têm investido em melhoria da qualidade das sementes que, cada vez mais, é demandada no campo. É comprovado que alto vigor e germinação aumentam o potencial produtivo, uma vez que pesquisas demostram que sementes de alto vigor incrementam em até 24,2% a produtividade média em condições de stress hídrico, por exemplo. (Fonte: França Neto et al., 1983). A germinação mínima exigida pela legislação brasileira é de 80% para soja e, já na safra 18/19, a Nidera entregou mais de 60% de sementes com germinação acima de 95% e com vigor acima de 90%, o que demonstra compromisso da empresa com a qualidade das sementes que aumentam a rentabilidade para o Agricultor. Todo investimento, porém, precisa ser sustentável. Quando falamos em

Franco destaca o papel de sementes de qualidade

agricultura a visão é sempre de longo prazo. Por esse motivo, por todos os investimentos realizados para assegurar agora e no longo prazo a melhor qualidade e o maior potencial produtivo para o agricultor, a Nidera ajustou os preços das sementes para a safra 2019. Com o cenário favorável, os negócios para a safra de soja 2019 já estão aquecidos para o estado do Mato Grosso. A Nidera Sementes, inclusive já lançou sua campanha comercial e aumentou os preços das sementes. A nova tabela de preços vale para os negócios que começam a acontecer a partir de Dezembro de 2018 no estado C do Mato Grosso. André Franco Nidera Sementes

Histórico de produtividade da cultura da soja no Brasil

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Capa

Sob pressão Presente mais cedo na safra 2018/19, a ferrugem-asiática volta a tirar o sossego dos produtores brasileiros nas diversas regiões de cultivo de soja. Não há como prever quais mutações estarão presentes nas populações do fungo, por isso é preciso estar ainda mais atento à segurança do manejo, com cuidados quanto à eficiência de fungicidas e sua rotação, além da associação com multissítios Andre Shimohiro

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N

a safra 2018/2019, observou-se o aparecimento precoce do fungo da ferrugem-asiática da soja em lavouras comerciais, com o primeiro relato no site do Consórcio Antiferrugem em Porto Mendes (Marechal Cândido Rondon), Paraná, em 31 de novembro, cadastrado pelas cooperativas Copagril e Copacol. As ocorrências de ferrugem-asiática na safra podem ser verificadas no mapa do site do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net), também disponível em aplicativos nas plataformas iOS e Android (Figura 1). O principal objetivo do mapa é informar as primeiras ocorrências para alertar o produtor sobre a chegada da doença na região. Como o fungo da ferrugem se dissemina facilmente pelo vento, com o alerta o produtor pode proteger sua lavoura, evitando perdas de produtividade. O Consórcio Antiferrugem é uma parceria público-privada e as informações no site são inseridas por pesquisadores e pela assistência técnica, mas não há 100% de cobertura em todas as regiões produtoras. É importante ressaltar que são priorizadas as primeiras ocorrências para o alerta, e o número no site é sempre inferior à situação real de campo, uma vez que nem sempre se faz mais de um cadastro no mesmo município. Os produtores que instalam o aplicativo no celular recebem o alerta das primeiras ocorrências nas regiões produtoras. Na safra atual de soja, as chuvas favoreceram a implantação

das lavouras logo após o término dos períodos de vazio sanitário. A semeadura cedo, associada às plantas de soja voluntárias (guaxas) com ferrugem que sobraram do vazio sanitário e as condições favoráveis, com chuvas bem distribuídas, fez com que as primeiras ocorrências fossem antecipadas em até um mês em relação à safra 2017/2018, com a maioria dos relatos em lavouras após o florescimento. As primeiras ocorrências relatadas foram todas em semeaduras de setembro. Até 26 de novembro, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul já tinham relatado ocorrências em lavouras comerciais, porém a tendência é de que os relatos comecem a ocorrer no Centro-Oeste a partir do final de novembro e início de dezembro. A região Oeste do estado do Paraná caracteriza-se pelo sistema de produção com soja na primavera/verão e milho segunda safra no outono/inverno. Para viabilizar a cultura do milho, os produtores têm antecipado a semeadura da soja, sendo o vazio sanitário o marco limite para o início desta operação. Por essa razão, as perdas pela ferrugem-asiática normalmente são menores que em outras regiões produtoras de soja do Sul do Brasil. Isso se deve ao melhor aproveitamento do vazio sanitário e ao escape da doença. Normalmente, quando o inóculo da ferrugem aumenta, as lavouras já estão em estádios de desenvolvimento avançado. Por este motivo, muitas vezes os produtores não têm dado a devida atenção ao manejo desta doença. Na safra 2017/2018, um surto epidêmico

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Figura 1 - Mapa do Consórcio Antiferrugem em 26/11/2018 no site www.consorcioantiferrugem.net e aplicativo para celular com alertas de ocorrências de ferrugem de soja

de ferrugem-asiática alterou este cenário de baixa pressão das últimas safras. Para a safra atual, houve uma antecipação significativa da semeadura, com aproximadamente 50% das lavouras de soja da região Oeste do Paraná implantadas até o dia 17 de setembro. No final de novembro, essas lavouras encontravam-se nos estádios de desenvolvimento R3 (início de desenvolvimento de vagens) ou R4 (formação de vagens). As condições ambientais na região estão bastante favoráveis para o desenvolvimento da cultura da soja e também para o fungo da ferrugem, com chuvas bem distribuídas e temperaturas amenas. Por este motivo, até 26 de novembro, das 27 ocorrências registradas no Brasil no site do Consórcio, 11 foram no oeste do estado do Paraná. No Centro de Pesquisa Agrícola da Copacol, em área comercial, houve uma antecipação de 40 dias na identificação da ferrugem nessa safra (16/11/18) em relação à safra 2017/2018 (26/12/17). Os produtores da região vêm realizando as aplicações de fungicidas nas lavouras, sendo que, nas primeiras áreas semeadas, está sendo efetuada a segunda pulverização no final de novembro. A adoção de fungicidas multissítios e a redução dos intervalos de aplicação estão sendo estratégias utilizadas por boa parte dos produtores da região, para mitigar os riscos de perdas de produtividade pela ferrugem-asiática. Apesar do plantio cedo em algumas regiões no Paraná, houve um escalonamento do plantio em função do excesso de chuvas de outubro, ampliando a janela de semeadura. O estado do Paraná apresentou mais de 95% das lavouras implantadas até o final de novembro, mas é possível encontrar desde soja em desenvolvimento de grãos até germinando, semeada após 15 de novembro. Se não houver um bom manejo da ferrugem nas primeiras áreas, as semeaduras tardias podem ter maior problema no controle da ferrugem. Tradicionalmente, a ferrugem incide mais cedo nas semeaduras de novembro porque essas áreas recebem inóculo das primeiras áreas que começam a ser colhidas e onde pode ocorrer perda de atividade residual de fungicidas. Nesse ano, espera-se 28

pressão maior de ferrugem também em áreas semeadas em outubro no Paraná, em razão da antecipação das primeiras ocorrências. O estado do Rio Grande do Sul não adota o vazio sanitário e, apesar do zoneamento agroclimático orientar para o início da semeadura na segunda metade de outubro, alguns agricultores têm antecipado esta operação para setembro. Nessa safra, as chuvas frequentes e em altos volumes atrasaram os plantios e fizeram com que, em algumas áreas, ocorressem replantios devido à morte de plântulas, causada pela podridão radicular de fitóftora. Até 26 de novembro, não havia relato de ferrugem em lavouras comerciais, diferentemente do que ocorreu na safra 2017/2018, quando o primeiro registro em lavoura comercial se deu em 16 de novembro. Há relatos de ferrugem em plantas voluntárias de soja que sobreviveram ao inverno em várias regiões, no site do Consórcio, indicando a presença de esporos do fungo. No Mato Grosso do Sul, as lavouras estão praticamente todas instaladas, com mais de 90% da área cultivada. Houve basicamente duas grandes épocas de semeadura, a primeira no início de outubro e a segunda no começo de novembro, em função do excesso de chuvas, com bom desenvolvimento das plantas. Há indicativo de menor pressão de doenças foliares que na safra anterior. Entretanto, já há um caso confirmado de ferrugem-asiática, alertando que os agricultores devem estar atentos às aplicações. A agressividade do patógeno, aliada à baixa eficiência dos fungicidas e à janela de semeadura bastante ampliada, alerta para ações fundamentais de manejo da doença, como o cuidado com o monitoramento das áreas e a escolha dos fungicidas a serem utilizados, bem como o intervalo entre as aplicações. No Mato Grosso, não se confirmou nenhum relato de ferrugem em soja comercial até 25 de novembro. A semeadura foi impulsionada pelo regime de chuvas favorável à cultura, com 81,2% das áreas semeadas até o fechamento de outubro, o que deve favorecer o escape e a incidência tardia de ferrugem nessas áreas. As

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chuvas permanecem frequentes, comprometendo a qualidade das aplicações que utilizam baixo volume para conseguir cobrir grandes áreas. No momento, a ocorrência maior é de mancha-alvo em cultivares suscetíveis, com maior incidência em áreas semeadas após crotalária ou resteva de algodão. As condições climáticas estão favoráveis ao desenvolvimento da ferrugem-asiática, que deve aparecer nas próximas semanas. As lavouras estão bem implantadas, em fase de florescimento e enchimento de grãos e com alto potencial produtivo. Os produtores devem ficar alertas para as próximas aplicações, pois as chuvas frequentes podem comprometer o momento ideal das aplicações e os fungicidas atuais têm baixa eficiência curativa. As lavouras devem permanecer protegidas para evitar prejuízos com a ferrugem, uma vez que o clima ideal para a soja também é favorável à ferrugem-asiática e, durante a entressafra, foi registrada no site a presença de plantas de soja voluntárias com esporos de ferrugem, inóculo que sobrou no vazio sanitário. Em Goiás, a semeadura começou a partir de 1o de outubro, logo após o fim do vazio sanitário. A umidade no solo favoreceu a implantação das lavouras. Houve relato em soja perene em Caiapônia, próximo à divisa de Rio Verde, em 22 de novembro, espécie também hospedeira do fungo P. pachyrhizi, indicando a presença de esporos na região. As condições climáticas estão favoráveis ao desenvolvimento da doença nessa safra. Várias instituições (universidades, sindicatos, agrodefesa, consultorias técnicas, cooperativas, entre outras) estão empenhadas no monitoramento das lavouras, junto aos produtores. Em Rio Verde, nos últimos dez anos, o sindicato rural, em parceria com a Universidade de Rio Verde, tem oferecido laboratório específico para auxílio na identificação da doença. Na Bahia, ainda sem relatos de ferrugem em áreas comerciais, a chuva favoreceu a instalação das lavouras, com 95% das áreas semeadas e entre 30 e 40 dias após a emergência, no final de novembro. A região Oeste da Bahia possui uma estrutura de monitoramento da ferrugem, que envolve várias instituições dentro do programa fitossanitário “De

Olho na Ferrugem”, com laboratórios na Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e na Fundação Bahia à disposição dos produtores. De forma geral, observa-se que a semeadura em todas as regiões se iniciou logo após o término do período do vazio sanitário, em função das condições climáticas favoráveis. O Paraná, primeiro a finalizar o vazio sanitário em 10 de setembro, foi o primeiro a relatar ocorrências de ferrugem no site do Consórcio. Os relatos precoces em relação à safra anterior estão relacionados à sobrevivência de inóculo em plantas de soja voluntárias, às condições climáticas favoráveis e às semeaduras logo após o término do vazio sanitário. A janela de semeadura foi estendida em alguns estados pelo excesso de chuvas, porém houve uma grande concentração de semeaduras, o que pode favorecer o escape da ferrugem. No entanto, o produtor não deve descuidar do controle no final do ciclo, porque pode produzir inóculo para as áreas semeadas mais tarde. O início das ocorrências na safra atual está semelhante à safra 2015/2016 (Figura 2), onde houve sobrevivência de plantas de soja voluntárias com ferrugem do inverno e influência do fenômeno El Niño na safra. As previsões apontam para uma tendência de chuvas acima da média para a Região Sul, dentro da faixa normal ou acima na maioria dos estados das regiões Centro-Oeste e Sudeste, o que favorece a cultura e tam-

bém a ferrugem. O produtor deve estar atento à eficiência dos fungicidas, que vem sendo reduzida ao longo dos anos em razão da seleção de populações do fungo menos sensíveis, e fazer a associação com fungicidas multissítios, principalmente para aqueles que estão com a eficiência conhecidamente reduzida. Não há como prever quais mutações estarão presentes nas populações do fungo nas diferentes regiões brasileiras, por isso se recomenda que o produtor trabalhe com segurança nos programas de controle, adotando fungicidas multissítios nas suas estratégias de manejo. Deve-se sempre fazer a rotação de fungicidas e evitar a aplicação de carboxamidas após a doença instalada, C uma vez que não possui ação curativa.

Cláudia V. Godoy Maurício C. Meyer Embrapa Soja Leila Maria Costamilan Embrapa Trigo José Fernando J. Grigolli Fundação MS Hercules D. Campos Universidade de Rio Verde – UniRV Tiago Madalosso Fernando Favero João Maurício Trentini Roy Centro de Pesquisa Agrícola Copacol Mônica C. Martins Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa Ivan Pedro A. Júnior Fundação Mato Grosso

Figura 2 - Evolução do número de ocorrências da ferrugem-asiática da soja relatadas no site do Consórcio Antiferrugem, nas safras 2015/2016 até a safra 2018/2019

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Soja

Explosão de ocorrências

Marcelo Madalosso

Nos primeiros dias de dezembro o número de relatos da ferrugem-asiática já chegava a 69 em seis estados brasileiros. Paraná lidera ocorrências com 38 casos

A

presença antecipada da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) em lavouras comerciais na safra 2018/19 tem preocupado produtores e pesquisadores no Brasil. Até 11 de dezembro foram contabilizados 69 relatos no site do Consórcio Antiferrugem contra apenas 17 no mesmo período do ano passado. Paraná é o estado que lidera o número de casos, com 38 ocorrências. O plantio antecipado da safra, com lavouras implantadas logo após o término do vazio sanitário, está entre as explicações para a explosão de ocorrências no Brasil. A presença de plantas voluntárias com ferrugem e o clima favorável à doença também compõem o quadro de incidência precoce e maior pressão. Além do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo estão entre os estados com ocorrência de ferrugem-asiática em lavouras comerciais. “As pri-

meiras ocorrências foram antecipadas em até um mês em relação à safra 2017/2018”, relata a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy. A dificuldade para manejar a doença será ainda mais complexa nos estados em que a semeadura foi mais tardia, a exemplo do Rio Grande do Sul. Nessa safra, a pesquisadora da Embrapa Trigo, Leila Costamilan, explica que as chuvas frequentes e em altos volumes, em outubro, atrasaram os plantios. “Também fizeram com que, em algumas áreas, ocorressem replantios devido à morte de soja, causada pela doença podridão radicular de fitóftora”, relata. Mesmo assim, nesta safra a ferrugem foi observada dez dias mais tarde em relação a 2017/2018. Além disso, no Rio Grande do Sul existe o agravante de não haver a adoção do vazio sanitário. Leila lembra que há relatos de ferrugem em plantas voluntárias de soja, que sobreviveram

Ferrugem por Estado x Mês da Ocorrência UF MG MS PR RS SC SP

Jun-18 -

Jul-18 -

Ago-18 -

Set-18 -

Out-18 1 -

Nov-18 2 1 30 10 6 5

Dez-18 1 2 7 5 1 1

Jan-19 -

Fonte: Consórcio Antiferrugem

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Fev-19 -

Mar-19 -

Abr-19 -

Mai-19 -

Total 3 3 38 15 7 6


Ocorrências detalhadas por Estados

Fonte: Consórcio Antiferrugem

ao inverno em várias regiões, e em kudzu, indicando a presença de esporos do fungo. Até 11 de dezembro havia 15 relatos de focos da doença em áreas comerciais. "Alguns produtores conseguiram semear cedo, o que ocasionou uma grande janela de semeadura. As primeiras áreas semeadas irão produzir inóculo para as áreas que semearam mais tarde", explica. Relatos do agrônomo Laercio Hoffmann, da Syngenta, reforçam a ocorrência de ferrugem da soja em kudzu, uma planta que é hospedeira da doença, e também em soja voluntária, que nasceu espontaneamente e não faz parte das lavouras semeadas. “A ferrugem está chegando muito cedo nas lavouras comerciais e as condições climáticas são favoráveis para a doença”, aponta. A pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, enfatiza a necessidade de se intensificar o monitoramento da doença e também de manejar adequadamente a ferrugem. A especialista orienta os produtores a consultarem os resultados de eficiência dos fungicidas para o controle da ferrugem e utilizar multissítios para aumentar a eficiência de controle.

FERRUGEM NA SAFRA 2018/2019

O primeiro relato no site do Consórcio Antiferrugem ocorreu em Porto Mendes, Marechal Cândido Rondon, no Paraná, em 31 de outubro, cadastrado pelas cooperativas Copagril e Copacol. As ocorrências de ferrugem-asiática na safra podem ser verificadas no mapa do site do Consórcio Antiferrugem. De acordo com a pesquisadora Cláudia Godoy o principal objetivo do Consórcio é informar as ocorrências regionais para alertar o produtor sobre a chegada da doença. “Como o fungo da ferrugem se dissemina facilmente pelo vento, com o alerta, o produtor pode proteger sua lavoura, evitando perdas de C produtividade.”

BAHIA Luís Eduardo Magalhães - Ferrugem em soja voluntária São Desidério - Ferrugem em soja voluntária GOIÁS Bela Vista de Goiás - Ferrugem em soja voluntária Caiapônia - Unidade de alerta Formosa - Ferrugem em soja voluntária Goiânia - Ferrugem em soja voluntária Itumbiara - Ferrugem em soja voluntária MATO GROSSO Alto Araguaia - Ferrugem em soja voluntária Alto Garças - Ferrugem em soja voluntária Alto Taquari - Ferrugem em soja voluntária Campo Novo do Parecis - Ferrugem em soja voluntária Campos de Júlio - Ferrugem em soja voluntária Campo Verde - Ferrugem em soja voluntária Diamantino - Ferrugem em soja voluntária Juscimeira - Ferrugem em soja voluntária Lucas do Rio Verde - Ferrugem em soja voluntária Nova Mutum - Ferrugem em soja voluntária Primavera do Leste - Ferrugem em soja voluntária Rondonópolis - Ferrugem em soja voluntária Santo Antônio do Leverger - Ferrugem em soja voluntária Sapezal - Ferrugem em soja voluntária Sinop - Ferrugem em soja voluntária Sorriso - Ferrugem em soja voluntária MATO GROSSO DO SUL - 3 ocorrências Caarapó - 1 ocorrência Campo Grande - Ferrugem em soja voluntária Chapadão do Sul - Ferrugem em soja voluntária Dourados - 1 ocorrência Maracaju - 1 ocorrência São Gabriel do Oeste - Ferrugem em soja voluntária MINAS GERAIS - 3 ocorrências Conceição das Alagoas - 1 ocorrência Machado - Unidade de alerta Paracatu - Ferrugem em soja voluntária Patos de Minas - Ferrugem em soja voluntária Patrocínio - Ferrugem em soja voluntária Uberlândia - 2 ocorrências Unaí - Ferrugem em soja voluntária PARANÁ - 38 ocorrências Bela Vista do Paraíso - Unidade de alerta Braganey - 1 ocorrência Cafelândia - 4 ocorrências Campo Mourão - 1 ocorrência Cândido de Abreu - 1 ocorrência Cascavel - 1 ocorrência Corbélia - 2 ocorrências Cornélio Procópio - Ferrugem em soja voluntária Coronel Vivida - 1 ocorrência Francisco Beltrão - Ferrugem em soja voluntária Guarapuava - Ferrugem em soja voluntária Ipiranga - 1 ocorrência Ivaiporã - Ferrugem em soja voluntária Jaguariaíva - 1 ocorrência Juranda - 1 ocorrência Londrina - 1 ocorrência Lupionópolis - 1 ocorrência Mangueirinha - 1 ocorrência Marechal Cândido Rondon - 1 ocorrência Mariópolis - 1 ocorrência Nova Aurora - Ferrugem em soja voluntária

Nova Cantu - 1 ocorrência Nova Santa Rosa - 1 ocorrência Palotina - 1 ocorrência Peabiru - 1 ocorrência Piraí do Sul - 1 ocorrência Pitanga - Ferrugem em soja voluntária Ponta Grossa - 1 ocorrência Quarto Centenário - 1 ocorrência Rancho Alegre do Oeste - 1 ocorrência Reserva - 1 ocorrência Santa Terezinha de Itaipu - Ferrugem em soja voluntária São João do Ivaí - 1 ocorrência São Pedro do Iguaçu - 1 ocorrência Teixeira Soares - 1 ocorrência Terra Roxa - 1 ocorrência Tibagi - 2 ocorrências Toledo - 2 ocorrências Ubiratã - 1 ocorrência Ventania - 1 ocorrência RIO GRANDE DO SUL - 15 ocorrências Barra do Guarita - 1 ocorrência Boa Vista do Cadeado - Ferrugem em soja voluntária Cachoeira do Sul - Ferrugem em soja voluntária Carazinho - Ferrugem em soja voluntária Caseiros - Ferrugem em soja voluntária Coronel Barros - 1 ocorrência Cruz Alta - 1 ocorrência Derrubadas - Ferrugem em soja voluntária Dom Pedrito - Ferrugem em soja voluntária Giruá - 1 ocorrência Ibirubá - 1 ocorrência Joia - 1 ocorrência Júlio de Castilhos - 1 ocorrência Não-Me-Toque - Ferrugem em soja voluntária Nonoai - 3 ocorrências Passo Fundo - 1 ocorrência Rodeio Bonito - Ferrugem em soja voluntária Ronda Alta - 1 ocorrência Roque Gonzales - 1 ocorrência Santa Maria - Ferrugem em soja voluntária Santa Rosa - 1 ocorrência Santiago - Ferrugem em soja voluntária Sarandi - Ferrugem em soja voluntária Tenente Portela - 1 ocorrência SANTA CATARINA - 7 ocorrências Campos Novos - Ferrugem em soja voluntária Chapecó - 1 ocorrência Coronel Freitas - 1 ocorrência Ipuaçu - 1 ocorrência Irineópolis - 1 ocorrência Quilombo - 1 ocorrência São Domingos - 1 ocorrência Xanxerê - 1 ocorrência SÃO PAULO - 6 ocorrências Artur Nogueira - 1 ocorrência Itaberá - 1 ocorrência Itapetininga - 1 ocorrência Itapeva - 1 ocorrência São João da Boa Vista - Unidade de alerta São Miguel Arcanjo - 1 ocorrência Taquarivaí - 1 ocorrência TOCANTINS Gurupi - Unidade de alerta

Fonte: Consórcio Antiferrugem

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Soja Fotos Raphael Silvestre Rodrigues Bittencourt

Respeite a dose

Crença equivocada de que utilizar superdoses de inseticidas pode proporcionar maior controle de pragas iniciais e aumento do período residual do produto tem levado a práticas inadequadas, que resultam em prejuízos como elevação de custos e riscos ambientais

D

entre as pragas que prejudicam a lavoura de soja nos estádios iniciais é possível citar a lagartaelasmo (Elasmopalpus lignosellus), o bicudo-da-soja (Sternechus subsignatus), a vaquinha (Diabrotica speciosa) além de algumas espécies de corós ou bico-bolo. Acometem as plântulas de soja de forma a prejudicar irreversivelmente o rendimento, de acordo com o sistema de produção e o nível de dano destas pragas. Assim, torna-se indispensável o manejo integrado, incluindo o tratamento de sementes. O tratamento de sementes de soja com thiametoxam (inseticida sistêmico da classe dos neonicotinoides), por exemplo, pode proporcionar, além de um controle efetivo dessas pragas iniciais de solo e parte aérea, maior qualidade fisiológica das sementes e desenvolvimento radicular das plântulas, além de promover maior uniformidade de estande e rendimento. O ideal é que as sementes sejam tratadas o mais próximo possível da semeadura, pois o tratamento antecipado pode ocasionar fitotoxidez às sementes devido a longos períodos de armazenamento. A dose recomendada do produto para tratar sementes de soja pode variar de acordo com o produto comercial e o tipo de praga predominante na área. Contudo, alguns produtores, questionam a viabilidade das “baixas” doses recomendadas pelos fabricantes, e em muitos casos, aplicam superdoses na crença de que, quanto maior a dose, maior o controle das pragas iniciais ou maior o período residual do produto. Contudo, superdoses de produtos fitossanitários podem, além de causar problemas de fitotoxidez para as sementes e as plântulas, provocar problemas de contaminação ambiental no solo, desde a morte de animais benéficos como minhocas ou micro-organismos, até a perda do produto no perfil do solo após grandes quantidades de chuvas ou irrigação e

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Tabela 1 - Porcentagem de plântulas de soja emergidas aos cinco, seis, sete, oito e nove dias após a semeadura (DAS) em função da aplicação de diferentes doses de thiametoxam no tratamento de sementes de soja Porcentagem de Emergência (%)² Doses (mL por 100 kg sementes) 5 DAS¹ 0 56,67 a 250 43,33 a 450 26,66 a 650 50,00 a 850 33,33 a CV 51,21% S-W 0,961 (0,330)+ F 0,920 (0,463) ++

6 DAS 76,67 a 73,33 a 60,00 a 70,00 a 56,67 a 33,30% 0,986 (0,953) + 0,841 (0,513) ++

7 DAS 8 DAS 9 DAS 76,67 a 80,00 a 83,33 a 73,33 a 90,00 a 90,00 a 63,33 a 73,33 a 73,33 a 70,00 a 80,00 a 80,00 a 63,33 a 73,33 a 73,33 a 27,57% 21,09% 20,16% 0,980 (0,826)+ 0,964 (0,400)+ 0,960 (0,312)+ 0,934 (0,460) ++ 2,289 (0,088) ++ 2,873(0,440) ++

¹DAS: dias após a semeadura. ²Médias não diferiram entre si pelo teste de Tukey a 0,05 de significância. CV: coeficiente de variação; S-W: valores do teste de normalidade dos resíduos de Shapiro Wilk; F: valores do teste de homogeneidade das variâncias de Levene. Valores seguidos por + e ++ indicam resíduos com distribuição normal e variâncias homogêneas pelos testes de Shapiro Wilk e Levene a 0,05 de significância respectivamente.

consequentemente contaminação de corpos d’água. Além disso, tende a ocorrer elevação do custo da operação de tratamento de sementes quando se aplicam doses acima do recomendado pelo fabricante, já que a quantidade de produto a ser comprada é muito maior. Na busca por elucidar algumas dessas dúvidas dos produtores rurais da região foi realizado um trabalho com o objetivo de avaliar o efeito da superdosagem do inseticida thiametoxam no tratamento de sementes de soja. O experimento foi conduzido no município de Araguari, Minas Gerais, em delineamento experimental de blocos casualizados com cinco tratamentos e seis repetições. Os tratamentos foram equivalentes a diferentes doses de thiametoxam no tratamento de sementes de soja, sendo: T1: testemunha sem aplicação; T2: 250ml; T3: 450ml; T4: 650ml e T5: 850ml de produto comercial por 100kg de sementes. Foi utilizada a cultivar Syn 13610, com 89% de germinação e peneira de 6,5mm. Antes da semeadura, para cada tratamento (dose) foram tratadas 100 gramas de sementes. O tratamento foi realizado em sacos plásticos de 1kg devidamente identificados. A semeadura foi realizada em vasos plásticos com capacidade de 3kg, preenchidos com três partes de areia e uma parte de substrato (umidade: 56%, pH 6). Foram semeadas cinco sementes

Pesagem em balança de precisão

por vaso, simulando uma condição de campo com estande de 280 mil plantas/ha. As plântulas foram desbastadas aos 15 DAE (dias após a emergência), mantendo apenas três plantas por vaso. Os vasos foram irrigados semanalmente com a finalidade de manter o solo próximo à capacidade de campo, até o final da condução do experimento (30 DAE). Foi analisada a porcentagem de plantas emergidas aos cinco, seis, sete, oito, e nove dias após a semeadura. Aos 30 dias após a emergência (DAE) avaliaram-se o comprimento de raiz e de parte aérea das plantas de soja e o peso úmido e seco da raiz e da parte aérea. Para a avaliação de comprimento, as plantas foram retiradas dos vasos, o excesso de solo lavado e as medições realizadas com régua graduada, em centímetros. Após as medições foram separadas a raiz e a parte aérea e pesadas individualmente. Após a pesagem da massa verde, foram acondicionadas em uma estufa de circulação de ar com temperatura de 65°C, por 36 horas, para secagem. As medidas de massa seca foram coletadas na sequência também por meio de pesagem em balança de precisão. Os dados foram submetidos à análise das pressuposições: normalidade dos erros e homogeneidade das variâncias, pelos testes de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente, a 0,05 de significância, com o auxílio do programa SPSS 20. Em seguida, procedeu-se a análise de variância (Anova) e foi aplicado o teste

Tabela 2 - Médias de comprimento de raiz e parte aérea em função da aplicação de diferentes doses de thiametoxam no tratamento de sementes de soja Doses (ml por 100 kg sementes) ¹Comprimento de Raiz (cm) ¹Comprimento de Parte Aérea (cm) 0 52,11 a 17,66 a 250 49,55 a 17,94 a 450 52,83 a 18,89 a 650 50,50 a 17,44 a 850 48,55 a 16,89 a CV 15,93% 8,25% S-W 0,985 (0,934) + 0,958 (0,268) + F 1,138 (0,362) ++ 0,554 (0,698) ++

Avaliou-se o comprimento de raiz e de parte aérea das plantas de soja

¹Médias não diferiram entre si pelo teste de Tukey a 0,05 de significância. CV: coeficiente de variação; S-W: valores do teste de normalidade dos resíduos de Shapiro Wilk; F: valores do teste de homogeneidade das variâncias de Levene. Valores seguidos por + e ++ indicam resíduos com distribuição normal e variâncias homogêneas pelos testes de Shapiro Wilk e Levene a 0,05 de significância respectivamente.

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A soja

O

Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja. Na safra 2016/2017 a cultura ocupou cerca de 34 milhões de hectares, e produziu aproximadamente 114 milhões de toneladas de grãos, com uma produtividade média de 3.362kg/ha de acordo com o 10º Levantamento da Safra Brasileira de Grãos

de Tukey a 0,05 de significância, com o auxílio do programa Sisvar. Com relação à porcentagem de emergência das plântulas de soja, aos cinco, seis, sete, oito e nove dias após a semeadura, verificou-se que as diferentes doses do produto aplicadas no tratamento de sementes não interferiram na porcentagem de plantas emergidas (Tabela 1). Não foram realizadas avaliações de fitotoxicidade, apenas uma avaliação visual dos vasos em que não foram detectados sintomas de fitointoxicação ou manchas cloróticas nas folhas. Não houve diferença significativa para o comprimento de raiz e parte aérea em função da aplicação de diferentes doses de thiametoxam no tratamento de sementes de soja (Tabela 2). Um experimento similar também afirmou que o uso de thiametoxam não alterou o desenvolvimento inicial das cultivares de soja (germinação, comprimento de parte aérea e raiz e massa seca da parte aérea

da Conab do mês de julho. Alcançar grandes produções e altas produtividades só é possível desde que a cultura esteja livre de pragas, doenças e plantas infestantes desde os estádios iniciais de desenvolvimento, para que assim o produtor obtenha o rendimento e a lucratividade esperados.

e raiz) a partir do ensaio com tratamento na dose 200ml para 100kg de sementes (Tavares et al, 2014). As médias de peso úmido de parte aérea e peso seco de raiz e parte aérea não apresentaram alterações em função da dose aplicada (Tabela 3). Observa-se que a dose 250ml de produto comercial por 100kg de sementes de soja apresentou o maior peso úmido de raiz, seguida pelas doses de 650ml e 450ml por 100kg de sementes. Diferentemente dos resultados encontrados neste trabalho, Santos et al (2014), em ensaio conduzido em casa de vegetação, verificaram que a utilização de thiametoxam no tratamento de sementes, nas doses de 0, 50, 100, 200 e 300ml/100kg de sementes de soja, promoveu incremento em alguns atributos agronômicos como os teores de matéria seca de parte aérea e raiz aos 37 DAS, sendo o incremento máximo obtido com a dose de 200ml/100kg de sementes. Para esses autores, esses

resultados demonstram o efeito bioativador do produto thiametoxam aplicado via tratamento de sementes e do incremento significativo da matéria seca (raízes, folhas e caules mais densos), comprovando o seu desempenho para a manutenção de boas produtividades na cultura da soja. Contudo, essa informação deve ser utilizada com cautela, uma vez que nesse mesmo trabalho, o aumento das doses de thiametoxam não alterou outras características vegetativas como a altura de planta e o comprimento radicular, semelhante aos resultados apresentados na Tabela 2. É possível concluir que o uso de superdosagens de thiametoxam no tratamento de sementes de soja não deve ser uma prática recomendada, pois as superdoses aplicadas neste estudo não provocaram alterações nas características vegetativas e na emergência das plântulas. Acréscimo no peso úmido das raízes foi obtido quando se utilizou a dose de 250ml de produto comercial por 100kg de sementes, o que se enquadra no intervalo de doses recomendadas pelo fabricante do produto químico para a cultura da soja. O uso de superdoses também aumenta o custo com a aquisição de produtos e da operação de tratamento das sementes, o que pode tornar a operação inviável para C o produtor.

Raphael Silvestre Rodrigues Bittencourt, Mariana Rodrigues Bueno, Karine Bittencourt e Prado Silvestre e Mateus Aparecido Vitorino Gonçalves de Oliveira, Unitri/Uberlândia

Raphael Silvestre Rodrigues Bittencourt

Tabela 3 - Médias de peso úmido de raiz e parte aérea, peso seco de raiz e parte aérea em função da aplicação de diferentes doses de thiametoxam no tratamento de sementes de soja Doses (ml por 100kg sementes) ¹Peso úmido de Raiz (g) ²Peso úmido de Parte Aérea (g) 0 4,51 b 2,98 a 250 5,77 a 3,37 a 450 4,90ab 3,25 a 650 4,94ab 3,01 a 850 4,43 b 3,02 a CV 14,85% 12,44% S-W 0,960 (0,312)+ 0,972 (0,606) + F 1,239 (0,320) ++ 1,459 (0,244) ++

Medições foram realizadas com régua graduada em centímetros

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²Peso seco de Raiz (g) ²Peso seco de parte Aérea (g) 0,41 a 0,60 a 0,47 a 0,73 a 0,49 a 0,67 a 0,45 a 0,61 a 0,38 a 0,65 a 18,29% 15,06% 0,866 (0,001)ns 0,935 (0,065) + 1,624 (0,199) ++ 1,390 (0,266) ++

¹Médias seguidas por letras distintas na coluna diferente entre si pelo teste de Tukey a 0,05 de significância. ²Médias não diferiram entre si pelo teste de Tukey a 0,05 de significância. CV: coeficiente de variação; S-W: valores do teste de normalidade dos resíduos de Shapiro Wilk; F: valores do teste de homogeneidade das variâncias de Levene. Valores seguidos por + e ++ indicam resíduos com distribuição normal e variâncias homogêneas pelos testes de Shapiro Wilk e Levene a 0,05 de significância respectivamente. nsnão significativo.

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Soja

Começou cedo

Fotos Rafael Soares

A safra de soja 2018/19 mal teve início e já se multiplicam os relatos de suspeitas e casos comprovados de morte de plântulas devido à podridão radicular de fitóftora (PRF) no Brasil. Quando a enfermidade ocorre durante a germinação das sementes e a emergência, ainda resta a alternativa da ressemeadura, mas após a ocorrência em soja adulta, não há o que possa ser feito para o controle

A

podridão radicular de fitóftora (PRF), também chamada de podridão da raiz e da haste de fitóftora, causada por Phytophthora sojae, foi identificada pela primeira vez no Brasil no Rio Grande do Sul, na safra 1994/95, mas perdas significativas

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ocorreram apenas na safra 2005/06, em lavouras do Rio Grande do Sul e do Paraná. Nos Estados Unidos, a PRF é uma das principais doenças da soja, sendo mais importante que a ferrugem-asiática devido aos prejuízos econômicos

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que já causou. Nesse país, a doença foi observada em soja pela primeira vez em 1948, no estado de Indiana, causando prejuízos severos em 1951 (Costamilan et al, Embrapa Trigo, Documentos On-line 79, 2007), em Ohio, e entre os anos de 1996 e 2002, foi a segunda doença que mais causou prejuízo na soja, com perda total acima de cinco milhões de toneladas. Na América do Sul, a doença foi primeiramente descrita na Argentina em 1970 (Barreto et al, Plant Dis., v. 79, 1995.) e tem causado perdas econômicas principalmente na região sojícola mais ao Sul do País. No Brasil, além do Rio Grande do Sul e do Paraná, plantas com sintomas da doença já foram encontradas nos estados de Santa Catarina, do Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais, de Goiás, do Mato Grosso, de Tocantins e de São Paulo. Os relatos da ocorrência da doença têm sido cada vez mais frequentes. Na região Sul de Mato Grosso do Sul, por exemplo, tem sido observada em todas as safras desde 2012, em vários municípios, ocorrendo em manchas na lavoura (grupos de plantas com sintomas característicos, normalmente na mesma linha), e mais frequentemente nas bordas das áreas de cultivo, em solo argiloso e com sinais de compactação (Roese et al, Embrapa Agropecuária Oeste, Comunicado Técnico 235, 2018). No Brasil, a safra de soja 2018/19 ainda está sendo semeada, sendo que em 11 de outubro a consultoria AgRural divulgou que a semeadura atingiu 20% da área total estimada para o país. Já no início da safra, têm ocorrido sus-


adultas, a incidência ao apodrecimento da raiz principal e, ocasiocostuma ser menor, nalmente, ocorrem lesões longas, lineares, lecausando diminuição vemente aprofundadas e de cor marrom, em no desenvolvimento apenas um dos lados da haste, muito parecidas e morte de plantas, com lesões de cancro da haste. que podem ocorrer Os esporos de resistência (oósporos) do lado a lado com plan- patógeno, formados nas raízes e hastes de soja tas sadias, que esca- infectada, podem sobreviver no solo por muiparam da infecção. tos anos na ausência do hospedeiro, não germiNesse caso, a morte nando todos ao mesmo tempo. A transmissão ocorre lentamente, e a disseminação do patógeno não ocorrem com as folhas ficando por sementes, sendo o solo e os restos cultuamarelas até a mur- rais de soja contaminados as principais fontes cha completa e seca de inóculo. Na Figura 2 está ilustrado o ciclo de dos tecidos, perma- vida da doença, que mostra como o patógeno necendo presas às sobrevive e causa a doença ano após ano. Figura 1 - Plântulas de soja na safra 2018/19 com sintomas da podridão radicular plantas, voltadas pade fitóftora e oósporos visualizados no interior da raiz, com aumento de 100x ra baixo. Há destruiMANEJO DA DOENÇA: FOCO ção quase completa NA RESISTÊNCIA GENÉTICA peitas e casos comprovados de morte de raízes secundárias e apodrecimento Apesar de existirem produtos químicos com de plântulas devido à PRF. É o caso, por da raiz principal, que adquire coloração algum efeito contra o patógeno, recomendaexemplo, da identificação da doença no marrom-escura. O sintoma característico dos para tratamento de sementes em outros dia 18 de outubro de 2018 em amostras é o aparecimento, no exterior da haste, países, não existe nenhum produto químico rede plântulas provenientes do município de lesão de coloração marrom-escura, gistrado para o tratamento de sementes contra de Maracaí, na microrregião de Assis, circundando-a desde o solo e que, fre- esta doença no Brasil. São Paulo. Conforme mostrado na Figu- quentemente, progride ao longo desta O bom manejo do solo para evitar as conra 1, plântulas ao redor de 20 dias após e das hastes laterais em direção ao topo dições favoráveis à doença, descritas antea semeadura começaram a murchar e da planta. Em plantas adultas de cultiva- riormente, é uma das principais medidas de morrer, apresentando escurecimento res de soja que apresentam menor sus- controle. Para isso, é importante promover a e podridão na raiz e ao longo da haste. cetibilidade, os sintomas ficam restritos descompactação e a drenagem do solo, bem Examinando-se o interior de pedaços da radícula das plantas em microscópio com aumento de 100 vezes, pôde-se visualizar Figura 2 - Ciclo da podridão radicular de fitóftora em soja (Fonte: Costamilan et al, 2010) as estruturas circulares de parede dupla do patógeno, denominadas oósporos. Para a ocorrência da PRF no campo é preciso que, além da presença da planta suscetível e do solo contaminado com o patógeno, haja condições de excesso de umidade no solo. Temperatura igual ou superior a 25°C também favorece a doença. Solos compactados, cultivo mínimo do solo e/ou plantio direto em monocultura de soja e aplicação de altas doses de fertilizantes orgânicos ou com potássio, imediatamente antes da semeadura, podem tornar a doença mais severa. Uma característica que aumenta a preocupação com a doença reside no fato de que esta enfermidade pode ocorrer em qualquer fase de desenvolvimento das plantas. Quando causa apodrecimento de sementes e morte de plântulas, pode levar à necessidade de replantio de áreas afetadas. Em plantas

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Quadro 1 - Cultivares de soja resistentes (R) e moderadamente resistentes (MR) à podridão radicular de fitóftora, com as respectivas regiões edafoclimáticas de adaptação (REC) e grupo de maturidade relativa (GMR). Fonte: adaptado de Roese et al, 2018 Cultivar BRS 257 BRS 283 BRS 284 BRS 317 BRS 361 BRS 359 RR BRS 360 RR BRS 378 RR BRS 388 RR BRS 399 RR BRS 413 RR BRS 433 RR BRS 5112 BRS 1001 IPRO BRS 1003 IPRO BRS 1007 IPRO BRS 1010 IPRO BRS 1074 IPRO

Reação R MR MR1 MR1 R R R MR R MR MR R R1 MR1 R1 R1 R1 R1

GMR (REC) 6.7 (102, 103, 201, 202, 203) 6.5 (102, 103 e Macrorregião 2); 7.3 (301, 302, 303) 6.3 (102, 103 e Macrorregião 2); 7.1 (301, 302, 303) 6.6 (Macrorregião 2); 7.1 (301 e 302) 7.3 (301, 302, 303) 6.0 (Macrorregião 2); 6.8 (301 e 303) 6.2 (201, 202, 203, 204) 5.3 (102, 103) 6.4 (Macrorregião 2); 7.1 (301, 302 e 303) 6.0 (102, 103, 201, 203) 6.2 (102, 103, 201, 202, 203, 204) 5.8 (102, 103, 201) 6.4 (102, 103 e Macrorregião 2); 6.9 (301, 302) 6.2 (103, 201, 202, 203, 204); 6.9 (303) 6.3 (102, 103, 202, 203, 204, 301, 302) 6.0 (102, 103) 6.1 (103, 201, 203) 7.4 (301)

1Teste para resistência de campo. 2Resistente à ferrugem-asiática.

como realizar uma rotação de culturas adequadas que ajude a evitar o aumento de inóculo do patógeno, além de auxiliar na formação de palha, melhorar a estrutura do solo e favorecer micro-organismos antagônicos. O uso de cultivares com genes de resistência é o meio mais econômico e eficiente de controle da doença. Existem dois tipos de resistência à PRF que as plantas podem apresentar: a completa e a parcial. A resistência completa não permite o aparecimento de sintomas, mas por ser predominantemente governada por um gene maior específico (genes Rps) para cada raça (ou patótipo), pode ser “quebrada” pelo patógeno caso haja o uso intensivo da cultivar resistente. A resistência parcial, também conhecida como resistência de campo, é durável por ser governada por diversos genes menores sem especificidade por raça. Nesse caso, as cultivares de soja podem apresentar diferentes níveis de desenvolvimento de sintomas, geralmente restritos às raízes, mas que podem também prejudicar o pleno desenvolvimento das plantas (Figura 3). O termo “raça”, tradicionalmente utilizado para descrever os diferentes isolados do patógeno, passou a ser substituído por “patótipo”, que descreve com mais clareza os genes de resistência das plantas afetados pelo isolado. A variabilidade da população de P. sojae é o grande problema em relação à resistência das cultivares. A preocupação com essa doença aumenta à medida que novos patótipos têm sido encontrados causando doença em cultivares comerciais suscetíveis ou “quebrando” a resistência de materiais resistentes. Mais de 200 patótipos de P. sojae já foram descritos na literatura mundial (Stewart et al, Plant Dis., 98, 2014). Por tudo isso, o ideal é que se consiga desenvolver cultivares que tenham na sua genética os dois tipos de resistência, o que irá garantir uma maior estabilidade e segurança de cultivo em relação à ocorrência da PRF. Até o momento, já foram identificados 28 genes

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Rafael Soares

Figura 3 - Plantas com diferentes níveis de resistência parcial, comparadas com uma planta não inoculada (esquerda) e com uma suscetível (direita)

Rps, que podem ser introduzidos em cultivares de soja durante o melhoramento genético. No Quadro 1 estão descritas cultivares atualmente comercializadas pela Embrapa, que apresentam algum grau de resistência à PRF. Essas cultivares foram selecionadas com a inoculação do isolado com patótipo (1d, 2, 4, 5, 7), ou seja, esse isolado é capaz de causar doença em cultivares de soja que não contenham genes de resistência ou que contenham um ou mais dos genes Rps 1d, Rps 2, Rps 4, Rps 5 e Rps 7. Os materiais resistentes a esse isolado poderão conter um ou mais genes de resistência diferentes dos citados anteriormente. Assim, para o desenvolvimento de cultivares de soja com resistência completa, é importante conhecer a diversidade da população de P. sojae nas diferentes regiões para onde essas cultivares serão recomendadas, a fim de orientar programas de melhoramento e a seleção de fontes de resistência adequadas. No entanto, esse levantamento de diversidade da população é uma tarefa bastante árdua devido à grande extensão e à diversidade de ambientes de cultivos de soja no Brasil. Quando a PRF ocorre durante a germinação das sementes e a emergência das plântulas de soja, ainda sobra a alternativa da ressemeadura em situações que se julgue viável, mas após a ocorrência da doença em soja adulta, não há nada que possa ser feito para o seu controle. Resta ao agricultor, ao planejar o próximo cultivo de soja, verificar a situação da área quanto à compactação e ao acúmulo de água, atentando para terraços em curvas de nível, baixadas e locais com acúmulo excessivo de palha, além de escoC lher cultivares com genes de resistência.

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Rafael Moreira Soares Embrapa Soja Alexandre Dinnys Roese Augusto César Pereira Goulart Embrapa Agropecuária Oeste


Cana

Complexo ou inadequado? Medidas corretas de manejo, focadas na adequação e não apenas no custo, aliadas a práticas preventivas como a limpeza de colhedoras para evitar a disseminação do banco de sementes, são a chave para o sucesso no combate a plantas daninhas consideradas de difícil controle Marcelo Nicolai

Fotos L.L. Dinardo-Miranda

O

manejo de plantas daninhas consiste em atividade básica para o bom andamento do canavial, no tocante à produção, obviamente, e também em sua operacionalidade e longevidade. O surgimento e o aumento de plantas daninhas ditas de difícil controle complicaram essa atividade e encareceram o combate químico. Plantas daninhas como mucuna (Mucuna spp), mamona (Ricinus communis), melãozinho-de-são-caetano (Momordica charanthia), bucha (Luffa aegyptiaca), capim-camalote (Rottboellia

exaltata), capim-massambara (Sorghum halepense), capim-falso-massambara (Sorghum arundinaceum) e capim-amargoso (Digitaria insularis) passaram a se fazer presentes nos canaviais brasileiros, em maior ou menor intensidade. A forma como o responsável pelo controle químico do canavial encara esta presença é a chave do manejo destas plantas daninhas. Manter o canavial limpo, sem a presença de plantas daninhas, pode ser mais importante que outras atividades agrícolas, considerando-se o foco na produtividade,

mesmo nas soqueiras mais velhas, destacando-se que apenas o índice de Toneladas de Cana por Hectare (TCH) não é o único parâmetro de avaliação de qualidade de manejo, pois a colheitabilidade das áreas ganha importância tão grande quanto. Independentemente da situação, os velhos problemas continuam a demandar muita atenção nos canaviais brasileiros, como as plantas daninhas capim-braquiária (Brachiaria decumbens), capim-colonião (Panicum maximum), capim-colchão (Digitaria nuda), tiririca (Cyperus rotundus) e grama-seda (Cynodon dactylon), que

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muitas vezes são responsáveis pela reforma antecipada de muitos talhões. Estas plantas, associadas aos problemas de dessecação no pré-plantio, a falhas de plantio e ao arranquio de soqueiras na colheita, configuram os principais entraves observados nos canaviais, ainda que nada disso seja novidade. Após a chegada da colheita mecanizada e do término das queimadas em pré-colheita da cana-de-açúcar observa-se a explosão massiva de plantas daninhas que anteriormente ocupavam papel secundário no manejo. As folhas largas ou cipós, caracterizadas principalmente pelas espécies de corda-de-viola, Ipomoeas e Merremias, são as principais espécies de folhas largas constatadas em meio aos canaviais brasileiros, com destaque para as espécies Ipomoea hederifolia, Ipomoea triloba e Ipomoea quamoclit no estado de São Paulo e Merremia aegyptia nos estados do Nordeste. Outras espécies menos comuns, como a Ipomoea nil, a Ipomoea purpurea e a Merremia cissoides, completam esta classe de folhas largas, que gera grandes problemas pelo hábito trepador que chega a derrubar a cultura de cana (acamamento) e a impossibilitar a colheita, nas situações de altas infestações. Obviamente, observam-se todas estas espécies convivendo juntas em muitos talhões, uma vez que falhas no manejo químico, bem como a existência da palhada e a ausência do fogo selecionaram e tornaram as cordas-de-viola espécies de manejo tão contestado. Na mesma situação descrita anteriormente, outras espécies de hábito trepador como mucuna (Mucuna spp), melãozinho-de-são-caetano (Momordica charanthia) e bucha (Luffa aegyptiaca) trazem atualmente grandes problemas aos canaviais. O fato de produzirem sementes abundantes, muitas vezes com dormência de até três anos, resulta que uma vez estabelecidas nas áreas, estas plantas daninhas se tornam um problema para o manejo químico por vários anos no mesmo talhão. No momento da colheita dos talhões é muito comum que a colheitadeira, por meio do exaustor de palha, lance sementes a longas distâncias, espalhando estas estruturas tanto no sentido da linha, como de forma lateral. Dentro da colheitadeira, muitas sementes também permanecem e pelo fato de não se fazer adequadas lim-

pezas, o equipamento carrega para outros talhões tais sementes. Assim, a colheita mecanizada, também pela palha e sem o fogo, mas principalmente pela presença da colhedora, alterou drasticamente a necessidade de herbicidas. O uso de herbicidas em cana-de-açúcar, com atenção às associações capazes de controlar folhas largas e gramíneas, se caracteriza como a necessidade básica do manejo. Fundamental é considerar as épocas de aplicações em relação ao regime hídrico predominante nos locais aplicados durante os 100 dias que sucedem as aplicações, bem como as características de solo e de variedades das áreas a serem aplicadas para minimização dos problemas de fitotoxicidade. O herbicida amicarbazone é uma ferramenta essencial no manejo das plantas daninhas de folhas largas mencionadas anteriormente. Sua associação a moléculas como isoxaflutole, clomazone, s-metolachlor, indaziflam, flumioxazina ou tebuthiuron permitem o posicionamento seguro ao longo do ano, aumentando o número de plantas daninhas controladas, como gramíneas também. A utilização das misturas prontas deve se tornar uma realidade mais presente nos próximos anos, resolvendo a problemática das misturas em tanque, com produtos modernos e de amplo espectro para o manejo de plantas daninhas em cana-de-açúcar. Outro produto importante para o manejo de plantas daninhas de difícil controle é o sulfentrazone. Este herbicida, conhecido inicialmente apenas como Boral 500 SC, ganha nova e mais ampla atuação em cana-de-açúcar também pelo surgimento de misturas. Já é um defensivo consagrado no controle de importantes plantas daninhas como capim-colchão (Digitaria nuda), tiririca (Cyperus rotundus) e cordas-de-viola (Ipomoea hederifolia, Ipomoea triloba, Ipomoea quamoclit, Ipomoea nil, Ipomoea purpúrea, Merremia cissoides e Merremia aegyptia). Contudo, o aumento de dose observado atualmente deve levá-lo à opção viável de controle de outras plantas de difícil manejo. Inclusive, é possível que se observe a utilização da associação entre sulfentrazone e amicarbazone em um futuro próximo. O Coact (diclosulan) e as formulações envolvendo picloram também se mostram eficazes sobre plantas daninhas importantes como

É cada vez mais difícil encontrar um carreador limpo, sem a presença de daninhas

Áreas infestadas por gramíneas e controladas em pós-emergência pela associação entre mesotrione, óleo, ametrina e diurom

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Fotos Marcelo Nicolai

mamona (Ricinus communis) e as cordas-de-viola, desde que observados as épocas de aplicação mais úmidas e os parceiros adequados para auxílio em residual, bem como o aumento de dose nas situações de solos mais argilosos ou áreas de “bacia de vinhaça”, onde a matéria orgânica geralmente é mais alta. Plantas daninhas gramíneas como capim-camalote (Rottboellia exaltata), capim-massambara (Sorghum halepense), capim-falso-massambara (Sorghum arundinaceum) e capim-amargoso (Digitaria insularis) também têm sido um entrave ao manejo. Com o aumento das culturas de sucessão em cana-de-açúcar e o resgate do Método Inter-rotacional Ocorrendo Simultaneamente (Meiosi), voltou-se a utilizar muito sorgo, milheto e crotalárias nas áreas de reforma. Isso trouxe as plantas daninhas capim-massambara (Sorghum halepense) e capim-falso-massambara (Sorghum arundinaceum) às áreas de plantio, principalmente pelo uso de sementes de culturas de sucessão infestadas por tais plantas daninhas. O capim-camalote (Rottboellia exaltata), que já é velho conhecido do setor, por aparecer em áreas junto a estradas férreas, registrou aumento de importância pela falta de produtos eficazes sobre esta planta daninha, bem como pela ausência de boas dessecações e utilização da grade nas áreas de reforma (mesma razão pela qual a grama-seda (Cynodon dactylon) voltou a ser importante). Já o capim-amargoso (Digitaria insularis), planta marcante pela infestação de carreadores e bocas de ruas, é um problema novo e em expansão por ser resistente ao glifosato e oriundo de escapes da cultura da soja, o que o torna de maior importância para canaviais localizados em regiões em que a soja também é cultura de destaque. Tem comportamento e ocorrência muito similares aos do capim-branco (Chloris spp). A ocorrência de plantas daninhas como capim-amargoso (Digitaria insularis), capim-colchão (Digitaria nuda) e capim-branco (Chloris spp) em carreadores, bocas de ruas e aceiros eleva a produção de sementes. Para o controle destas gramíneas, produtos que normalmente se localizam e permanecem na superfície do solo são excelentes opções de manejo, como trifluralina, s-metolaclhor, pendimentalina, flumioxazina, clomazone e indaziflam. Este último, denominado Alion, é o que se mos-

Contaminação das estruturas de colheita com frutos da bucha (Luffa aegyptiaca)

tra mais eficaz sobre o complexo de ervas formado por capim-camalote (Rottboellia exaltata), capim-massambara (Sorghum halepense), capim-falso-massambara (Sorghum arundinaceum) e capim-amargoso (Digitaria insularis), sendo boa opção em pós-plantio, soqueiras secas ou úmidas, pós-quebra-lombo e nos carreadores. Deve-se evitar a aplicação em pós-emergência da cana-de-açúcar quando a cultura já possuir colmos formados. A utilização da associação entre mesotrione, atrazina ou ametrina, óleo e um herbicida residual, tem crescido muito em carreadores e aceiros e também dentro da cana-de-açúcar, que registra dificuldades com a escassez de chuvas e por isso tem chegado ao término do ano sem fechamento. Tal situação exige esta mistura que normalmente é muito seletiva e capaz de controlar folhas largas de difícil controle e a maioria das gramíneas em início de desen-

volvimento. Essa estratégia complementa o manejo. O manejo de plantas daninhas é uma operação diversificada e em constante atualização, seja pelas novas ferramentas herbicidas ou pelas mudanças no manejo da cultura da cana-de-açúcar que a cada dia surgem nas usinas. Para o controle, depende-se muito do conhecimento da infestação, que demanda o uso de produto focado. Muitas vezes este herbicida necessário é uma molécula nova e de maior custo, porém é a única opção para tal situação. É o setor que cria o termo planta daninha de “difícil controle” especialmente quando insiste no uso de produtos que já se sabe não serem eficazes sobre o alvo em questão, unicamente pelo fator custo ou disfarçado de receio de fitotoxicidades. A boa dessecação no momento da reforma e a utilização de herbicidas residuais no pré-plantio, as aplicações adequadas em pós-plantio muitas vezes utilizando-se misturas de herbicidas de longo efeito residual, a complementação da aplicação pós-quebra-lombo e a catação, se necessário, acabam com qualquer problema de mato. O uso correto do residual durante todo o ano nas soqueiras, bem como os reforços de carreadores e a catação, sempre que preciso, mantêm estas áreas livres da infestação foco, desde que utilizados os herbicidas adequados a despeito do preço, tornando possíveis cinco ou seis cortes de área limpa. A limpeza de colhedoras e a atenção a novas plantas daninhas nas áreas garantem um manejo com resultado, sem a “muleta” da planta daninha de C difícil controle.

Nicolai alerta para medidas preventivas e práticas corretas de manejo

Marcelo Nicolai, Agrocon Assessoria Agronômica

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Informe

Florescimento da soja Fotos Alltech

Importante fase na definição da produtividade, número de vagens é determinado pela produção de flores por planta

O

s principais componentes para medir a produtividade da cultura da soja são o número de vagens por unidade de área, o número de grãos por vagem e o peso médio dos grãos.

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O número de vagens é determinado pela produção de flores por planta e pela proporção que as mesmas se desenvolvem em vagens durante a fase reprodutiva. A soja produz um elevado número

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de flores em cada inflorescência, porém o número de flores que irão formar vagens é relativamente pequeno quando comparado ao número original de flores. Estima-se que o pegamento da florada da soja


esteja em cerca de 10% a 30% do total de flores emitidas pela planta, o que representa, portanto, um valor extremamente baixo. O mesmo não acontece com as vagens, fase em que a queda não é tão acentuada. Por isso, o pegamento das flores é decisivo para a construção de uma boa produtividade. A quantidade de flores fixadas na cultura da soja é definida em função de diversos fatores, tais como balanço hormonal, anatomia da variedade, aspectos nutricionais, condições climáticas, além da disponibilidade de fotoassimilados durante o período. De zero a três dias após a floração é o momento mais sensível para a fixação de flores de soja, quando os processos iniciais de divisão celular estão ocorrendo em seu máximo. Assim, a ocorrência de fatores que afetam o metabolismo e, consequentemente, a produção e a distribuição de fotoassimilados neste período podem resultar em aumento na quantidade de flores abortadas. Durante a fase na qual se define o abortamento ou a fixação das flores, o xilema destas está pouco desenvolvido, o que pode dificultar o movimento de nutrientes pouco móveis no floema, como o cálcio e o boro, favorecendo desta forma o abortamento de flores. Algumas estratégias têm sido adotadas por produtores mais tecnificados, resultando em maior pegamento de flores/vagens e refletindo em produtividade. Dentre estas estratégias estão as aplicações de nutrientes como cálcio, magnésio e boro, o uso de aminoácidos envolvidos no pegamento floral como leucina, isoleucina, treonina, arginina, alanina e lisina, além do uso de precursores hormonais inespecíficos, que vão dar condições para que a planta tenha um balanço hormonal adequado nesta fase.

CADA ELEMENTO É ESSENCIAL

e de outros micronutrientes. Já o magnésio participa diretamente da atividade fotossintética, constituindo a molécula de clorofila, participando da ativação de enzimas e da translocação de fotoassimilados. Outro elemento fundamental é o Boro, por auxiliar na translocação de açúcares e no metabolismo de carboidratos, além de desempenhar importante papel no florescimento e no tubo polínico. Os aminoácidos são essenciais por proporcionarem crescimento forte e equilibrado para a planta, além de reduzirem os estresses provocados pelo meio. Na fase de florescimento da soja, os precursores hormonais inespecíficos também entram na lista de elementos importantes por auxiliarem no crescimento e no desenvolvimento das plantas ao longo do seu ciclo de vida, deixando-as em condições mais equilibradas. Eles são considerados inespecíficos por estimularem a planta a produzir o hormônio certo, no momento necessário e na quantidade certa.

RESULTADOS NO CAMPO

Um estudo desenvolvido no Centro de Pesquisa e Tecnologia do Oeste Baiano, Fundação Bahia, em Luís Eduardo Magalhães/BA, aplicou na cultivar MSOY 9144 RR o produto da Alltech Crop Science, Liqui-PlexCaMg+B, na fase em que a soja está em plena florada. A melhora na fixação das flores foi observada em um maior número de vagens e, consequentemente, houve maior produtividade, conforme os Gráficos 1 e 2.

LIQUI-PLEXCAMG+B

O cálcio é um elemento que atua na estrutura da planta compondo a parede celular, auxiliando na germinação do grão de pólen e atuando no crescimento do tubo polínico. Ele auxilia ainda na disponibilidade de molibdênio

O fertilizante foliar da Alltech Crop Science é enriquecido com aminoácidos e aditivos carreadores. Sua formulação conta com cálcio e magnésio em perfeita relação com o elemento boro, auxiliando na formação do tubo polínico e em maior pegamento floral, com comprovação científica C avalizada por diversos estudos de campo.

Gráfico 1

Gráfico 2

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Algodão

Rede de proteção Diante da gravidade da ramulária e da necessidade de oferecer resposta aos crescentes problemas enfrentados por cotonicultores foi criada uma rede de pesquisa para realizar experimentos de controle químico e estudar o comportamento do fungo quanto às práticas de manejo nas diferentes regiões produtoras

A

mancha de ramulária, causada pelo fungo Ramularia areola, há muito tornou-se a principal doença do algodoeiro no Brasil. Os danos causados às lavouras de algodão sob condições favoráveis à sua ocorrência podem alcançar níveis de até 35%, mesmo com o uso do controle químico. Isso se deve não apenas à grande capacidade de estabelecimento e disseminação,

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como também a possíveis descuidos na hora de ingressar com medidas de controle. A perda do período ideal para começar as aplicações de fungicidas pode significar a privação da capacidade de manter a doença sob controle ao longo do ciclo da cultura, resultando em elevação dos danos e, consequentemente, perdas na produção e na qualidade da fibra. Atualmente,

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Phytus Club

são realizadas em média nove pulverizações para controle da doença, variando de uma região para outra, mas alcançando, em algumas, a marca de 12 aplicações de fungicidas. O ideal para que se realize um manejo adequado da doença é o uso de cultivares com algum nível de resistência, associado com a aplicação de fungicidas e ainda a destruição adequada de restos culturais, para evitar que a rebrota possa servir como abrigo e sobrevivência para o fungo. Desde que começaram as ações de manejo da mancha de ramulária no Cerrado brasileiro, estão sendo implantados ensaios para avaliar a eficiência de fungicidas. Atualmente, há pelo menos 94 produtos comerciais registrados para o controle da doença, envolvendo pelo menos 27 diferentes ingredientes ativos. Não obstante, a resposta do patógeno à aplicação da maioria dos fungicidas tem sido por vezes insatisfatória, embora a doença se mantenha sob controle. Nas últimas safras tem aumentado a preocupação de técnicos e produtores com relação ao desempenho dos principais ingredientes ativos utilizados no controle da mancha de ramulária, inclusive havendo fortes indícios de que venha ocorrendo eventos de resistência do patógeno a alguns fungicidas utilizados no seu controle, dado o baixo desempenho crescente desses produtos. Considerada a gravidade do proble-

Luiz Gonzaga Chitarra

ma para a cotonicultura brasileira e a necessidade de dar resposta aos crescentes problemas enfrentados pelos produtores de algodão no manejo da doença, a Círculo Verde Assessoria Agronômica & Pesquisa, a Embrapa, a Abrapa, o IBA, o IMAmt e um grupo formado por outras empresas de consultoria e pesquisa agronômica, decidiram criar uma rede de pesquisa para realizar experimentos de controle químico e estudar o comportamento do fungo quanto às práticas de manejo de fungicidas nas diferentes regiões produtoras, sobretudo no que diz respeito a possível resistência do fungo a ingredientes ativos aplicados. A Rede de Pesquisa de Ramulária realizou sua primeira reunião de planejamento no final de outubro de 2017, na sede da Embrapa, em Brasília, onde foi formalizada a sua criação com a participação da Embrapa, da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), da Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa, da Fundação Bahia, da Fundação Mato Grosso, da Fundação Chapadão, da Ceres Consultoria Agronômica, da Agrodinâmica, da Assist Consultoria, da Agrocarregal, do Instituto Phytus e ainda de empresas de agroquímicos Adama, Arysta, Basf, Bayer, FMC, Syngenta, Helm, UPL, Oxiquímica, ISK e Sipcam. A equipe técnica é formada por Alderi Emídio de Araújo, que coordena a Rede, Luiz Gonzaga Chitarra e Fabiano José Peri-

Fabiano José Perina

Danos causados pela ramulária às lavouras de algodão sob condições favoráveis à sua ocorrência podem alcançar níveis de até 35% mesmo com o uso do controle químico

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Fotos Fabiano José Perina

recis pela Agrodinâmica Pesquisa e Consultoria Agropecuária, e em Sapezal, pelo Instituto Mato-grossense do Algodão. Na Bahia, em Luís Eduardo Magalhães e Roda Velha, pela Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa, e ainda em Luís Eduardo Magalhães pela Embrapa em parceria com a Fundação Bahia. Em Goiás, foram instalados ensaios em Formosa pelo Instituto Phytus e em Rio Verde pela Agrocarregal Pesquisa e Proteção de Plantas. Em Mato Grosso do Sul, foi instalado um ensaio pela Fundação Chapadão. Durante o mês de maio, o coordenador da Rede, Alderi Araújo, da Embrapa, percorreu todos os experimentos para verificar o andamento do programa, checar a qualidade dos ensaios, comparar resultados já obtidos e discutir possíveis ajustes. A Rede reuniu-se em Brasília na segunda quinzena de setembro, para uma reunião de apresentação de resultados e de programação para a safra 2019. A perspectiva é de que sejam identificados novos produtos com performance elevada que possam ser integrados aos programas de controle da mancha de ramulária, obedecendo um critério de alternância de ingredientes ativos, bem como de associação com produtos sistêmicos e de contato, para reduzir a probabilidade de ocorrência de resistência aos produtos. Fungicidas com melhor performance têm por objetivo também a redução do número de aplicações para controle da doença, na perspectiva de diminuição de custos C na lavoura e de um controle mais eficaz. A mancha de ramulária tornou-se a principal doença do algodoeiro no Brasil

Alderi Emídio de Araújo Fabiano Perina Luiz Gonzaga Chitarra Embrapa Algodão na, doutores em Fitopatologia da Embrapa Algodão, além de João Luís da Silva Filho, doutor em Genética e Melhoramento de Plantas da Embrapa Algodão, estatístico da Rede; Valtemir José Carlin, agrônomo e pesquisador da Agrodinâmica; Mônica Cagnin Martins, doutora em Fitopatologia e pesquisadora da Círculo Verde; Alfredo Ricieri Dias, mestre em Fitopatologia da Fundação Chapadão; Rafael Galbieri, doutor em Fitopatologia do IMAmt; Nédio Rodrigo Tormen, doutor em Fitopatologia do Instituto Phytus, Luís Henrique Carregal, mestre em Fitopatologia da Agrocarregal; Márcio Goussain, doutor em Agronomia da Assist; Maurício Stefanelo, mestre em Fitopatologia da Ceres; e Ivan Pedro de Araújo Júnior, agrônomo e pesquisador da Fundação MT. Participa, ainda, diretamente o agrônomo Celito Breda, da Círculo Verde. Nesta safra, foram instalados ensaios em 12 locais, compreendendo os maiores estados produtores de algodão, Mato Grosso, Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul. No Mato Grosso, foram instalados ensaios em Campo Verde pela Fundação Mato Grosso e Assist Consultoria; em Primavera do Leste pela Ceres Consultoria Agronômica; em Sorriso pela Embrapa em parceria com o IMAmt; em Campo Novo do Pa-

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Rede de pesquisa foi criada para estudar comportamento do fungo


AlgodĂŁo

Jorge B Torres

Pragas iniciais

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Período vulnerável, quando qualquer perda de plantas ou desenvolvimento pode resultar em comprometimento do potencial produtivo, o início da cultura do algodoeiro demanda muito cuidado em relação ao ataque de insetos. Ações preventivas, como destruição de soqueiras, manejo da palhada e tratamento de sementes, são cruciais. É importante também o monitoramento constante para identificar a necessidade de aplicações complementares de inseticidas

O

de pragas infestando lavouras na fase inicial podem ser recuperadas, enquanto outras, dependendo da espécie-praga, do tipo de injúria e da quantidade de injúria provocada, podem comprometer o estabelecimento das plantas, resultando em menores produtividades. Além disso, apesar de consideradas pragas da fase vegetativa inicial do algodoeiro, algumas espécies podem apresentar infestações durante toda a safra, como pulgões, moscas branca, tripes etc. Assim, um bom manejo dessas pragas pode resultar em redução de problemas futuros durante a safra. Desta forma, o monitoramento constante da área e a adoção de medidas de manejo pré-plantio e de início de desenvolvimento são fundamentais para um bom estabelecimento da cultura. Importante lembrar que em caso de necessidade do uso do con-

Daiane de Jesus

final de 2018 se aproxima, período em que os cotonicultores começam os investimentos para o cultivo do algodão para a safra 2018/19. Também, em breve começa 2019, com muitos cotonicultores na expectativa de colheita da soja e o plantio do algodão de segunda época. Contudo, os produtores de algodão safra ou de segunda época somente terão resultados dos seus investimentos e esforços em meados de 2019. Isto demonstra como a cultura deve ser planejada para o sucesso, pois caracteriza um investimento financeiro de longo prazo e de ocupação de suas terras. Independentemente do momento de plantio, se safra ou segunda época, o algodoeiro pode ser infestado por vários insetos-praga no período inicial da fase vegetativa. Por se tratar de uma cultura que requer longo período de desenvolvimento, as injúrias oriundas

Ataque de tripes em algodoeiro, folha coriácea e quebradiça

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trole químico, os produtos utilizados devem possuir registro para a cultura e ser adquiridos através de receita fornecida por agrônomo. Apesar de ser uma prática obrigatória de final de safra, a destruição da soqueira de algodão deve ser realizada nas propriedades e monitorada durante a entressafra, pois quando bem conduzida gera grande impacto na diversidade e intensidade de infestação de pragas na fase inicial da lavoura seguinte. Diversas espécies de insetos, nematoides e patógenos do algodoeiro são beneficiadas pela oferta contínua da planta em campo. Um bom exemplo reside na broca-da-raiz (Eutinobothrus brasiliensis). As recentes ocorrências estão relacionadas com a presença de soqueira viva nas áreas, lembrando que esta praga apresentava populações muito baixas e/ou não ocorrendo na maioria das áreas do Cerrado. A broca-da-raiz ataca as plantas na fase inicial, sendo o período mais crítico dos dez dias aos 40 dias após a emergência; fazem galerias nas raízes, região do coleto e/ou caule. Contudo, havendo oferta de plantas na entressafra, a broca pode desenvolver no caule das brotações. Novamente, a destruição de soqueiras tem papel importante para o manejo também da broca-da-raiz. O manejo é realizado através do uso de tratamentos de sementes com inseticidas. Em maiores infestações, pulverizações complementares são necessárias. Já com o hábito de se alimentar das raízes de plantas, incluindo o algodoeiro, os percevejos-castanhos (Scaptocoris castanea, S. carvalhoi e Atarsocoris brachiariae) são pragas


Guilherme Rolim

que podem ocorrer, na maioria das vezes, em áreas concentradas dentro da lavoura. São esporádicas, mas de difícil controle, por permanecer no solo. Ainda, não se sabe de algum hospedeiro que possa interromper completamente o seu desenvolvimento, mas o plantio de crotalária tem demonstrado efeito de redução populacional nas áreas com uso desta planta na entressafra, mas ainda assim, com baixa eficiência. Há limitado registro de inseticidas para recomendação contra os percevejos-castanhos. Por isso, é importante realizar o monitoramento sistemático, tendo assim um histórico de sua ocorrência nas áreas para focar no manejo das áreas infestadas. O manejo é realizado através do uso de inseticidas no tratamento de sementes ou aplicados via sulco de plantio. O uso de fungos entomopatogênicos (por exemplo Metarhizium anisopliae) aplicados no sulco de plantio tem sido uma opção, e há relatos de uma boa contribuição no manejo. Indiretamente, adubação e uso de produtos que estimulam o enraizamento vão contribuir para uma melhor resposta da planta de algodão ao ataque dos percevejos. A lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), também, é de ocorrência esporádica, apesar de ser favorecida por períodos de veranicos e por solos arenosos. A ocorrência se dá nas plântulas recém-emergidas e em áreas concentradas dentro da lavoura definida por uma mancha de solo mais arenoso e drenado, por exemplo. As lagartas recém-eclodidas abrem orifício na região do coleto da planta, por onde penetram no caule, e ao se alimentar formam galerias, podendo ocasionar redução do crescimento, murcha e até a morte das plantas. Usualmente, o seu manejo é realizado através do tratamento de sementes com inseticidas para plantio em áreas com histórico de infestação, embora também se adotem pulverizações de inseticidas. Neste caso, importante definir as áreas com infestação evitando pulverização de toda a lavoura. Plantas jovens de algodão, ainda, podem ser danificadas (corte das plantas) por diversas espécies de lagartas com o comportamento de cortar as plântulas rentes ao solo. A mais citada é a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon). Esta praga, nas fases de lagarta e pupa, vive no solo e as lagartas se alimentam de um grande número de espécies de plantas. Apesar de atacar raízes, caule e folhas, a principal injúria no algodoeiro ocorre quando a lagarta se alimenta do caule, na região do coleto. A injúria resulta no tombamento, ocasionando a morte de plântulas, consequentemente, reduzindo o número de plantas, visto ser comum o ataque de várias plantas em sequência. Embora A. ipsilon seja a lagarta mais citada com relação a este tipo de injúria, atualmente a lagarta-do-cartucho ou a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) tem ocorrido também nesta fase da lavoura de algodão, ocasionando o corte das plântulas de forma similar à lagarta-rosca, inclusive com maior ocorrência. O manejo é realizado através do tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, com eficácia em lagartas (por exemplo, diamidas) e através de pulverizações de inseticidas após a emergência das plântulas. Devido ao hábito noturno destas espécies de lagartas, aplicações ao

Borba procurou o programa para gerar valor à produção de milho

Infestação de pulgão-do-algodoeiro no ponteiro. Na seta A estão os pulgões sadios, e na seta B os pulgões parasitados, nota-se o pulgão mumificado devido ao parasitismo da vespa Lysiphlebus testaceipes

entardecer ou à noite têm sido mais eficientes. O manejo da palhada que antecede o plantio do algodão, com o uso de inseticidas na dessecação, também é importante, pois muitas espécies de lagartas se hospedam nesse tipo de material e após a emergência do algodão passam a cortar as plântulas. Várias espécies de insetos sugadores podem colonizar a lavoura de algodão na fase inicial. Destacam-se mosca-branca, pulgões e cigarrinhas. Contudo, a mosca branca (Bemisia tabaci raça B) e o pulgão-do-algodoeiro (Aphis gossypii) são as principais e demandam medidas de controle. Tanto a mosca branca quanto o pulgão-do-algodoeiro são favorecidos por períodos de veranicos, dias quentes e pelo uso indiscriminado de inseticidas não seletivos, visto que são usualmente controlados por várias espécies de predadores e parasitoides, em especial, o pulgão. Além disso, as adubações nitrogenadas favorecem a ocorrência dessas pragas, uma vez que esses insetos são beneficiados por altas concentrações de aminoácidos na seiva das plantas e consequentemente se tornam mais abundantes após adubações nitrogenadas combinadas com período de estiagem. A mosca branca pode ocorrer durante todo o desenvolvimento da planta de algodão. Ao se alimentar da

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Guilherme Rolim

Daiane de Jesus

Coleópteros desfolhadores na cultura do algodão. Imagem da direita (A) Chrysomelidae de ampla ocorrência, em processo de identificação da espécie. Imagem B, presença de altas populações de Astylus variegatus em algodoeiro

planta sugando a seiva, causa redução do crescimento da planta, amarelecimento e envelhecimento precoce das folhas. Além disso, a excreção de substância açucarada (mela) do excesso de seiva sugada e excretada sobre a planta favorece o desenvolvimento de fungos “fumagina”, reduzindo a fotossíntese. A produção de mela possui o agravante de manchar a fibra quando atinge os capulhos, além de resultar em fibra denominada de “algodão-doce”, que pode resultar em descontos no valor pago pela fibra ou em recusa pela usina de beneficiamento. Com potencial de ocasionar injúrias similares à mosca branca, o pulgão-do-algodoeiro também pode transmitir viroses (virose atípica, mosaico das nervuras, vermelhão) e em altas infestações causa o encarquilhamento das folhas. A infestação do pulgão pode ocorrer durante toda a fenologia da planta de algodão, mas com preferência para a fase inicial-intermediária (até os 70 dias), quando ocorrem maiores picos populacionais. O pulgão possui duas formas, áptera e alada, sendo os insetos alados capazes de se dispersarem para outras plantas dentro do talhão ou para plantas de talhões vizinhos. O manejo de ambas as pragas (mosca branca e pulgão) é bastante semelhante. O primeiro passo consiste no bom monitoramento para determinar o nível de infestação das pragas e a ação de inimigos naturais. Altos índices de parasitismo do pulgão podem indicar

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o não uso de inseticidas. Contudo, quando necessária a intervenção, deve ser realizada com produtos específicos, já que a mosca branca e o pulgão possuem um elevado número de inimigos naturais. Produtos biológicos (por exemplo, a base de Isaria fumosorosea e Beauveria bassiana) para o controle destas duas pragas já foram validados e passaram a ser uma boa opção para compor as estratégias de manejo. Outro grupo importante de insetos desta fase inicial são os tripes (Frankliniella sp. e Caliothrips spp.), a identificação da espécie em campo é difícil, entretanto suas injúrias são semelhantes. Os adultos diferem das ninfas por serem mais escuros e as fêmeas maiores que os machos. Como possuem aparelho bucaldo tipo raspador-sugador, estes insetos raspam a epiderme e sugam a seiva extravasada. Os tripes pode ocorrer durante todo o ciclo da cultura, inclusive observa-se em campo uma maior população colonizando as flores do algodoeiro, pois também se alimentam de pólen. Entretanto, os maiores danos são causados durante a fase inicial de desenvolvimento, dos dez aos 25 dias de idade, quando as plantas são mais suscetíveis. Após o ataque/injúria, o limbo foliar apresenta algumas manchas prateadas discretas, que podem evoluir para necrose ao longo das nervuras. O

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limbo foliar tende a dobrar para cima, e as folhas atacadas ficam com aspecto coriáceo e quebradiço. O ataque inicial do tripes pode afetar o crescimento (travar a planta) ou quebrar a dominância apical, resultando em superbrotamento ou a formação de forquilha (dois galhos crescendo lado a lado), o que leva à redução da produtividade e prejudica a colheita. O manejo envolve tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos e pulverizações complementares. Alguns estudos com fungos entomopatogênicos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana para controle de tripes têm sido iniciados. A partir da infestação inicial, é importante um manejo adequado para que a população não persista para as fases seguintes da planta, pois pode reduzir a formação de botões florais de qualidade nas plantas com altas infestações. Nas últimas safras, tem-se observado um aumento da presença de coleópteros desfolhadores, especialmente Chrysomelidae, como as espécies Diabriotica speciosa, Costalimaita ferruginea, entre outras ainda não identificadas. Outras espécies de coleópteros também são de ocorrência comum (por exemplo, Lagria villosa e Astylus variegatus). A fase larval de algumas destas espécies é praga, como as larvas de D. speciosa, que consomem as raízes. A fase adulta é a mais visualizada e mais fácil de se controlar. Na fase adulta, esses coleópteros causam injúrias em folhas, botões florais, flores e frutos. São insetos de fácil controle na fase adulta, mas às vezes exigem aplicações sequenciais dependendo da população e do fluxo de emergência de adultos. Pulverizações realizadas à noite com inseticidas recomendados são mais eficazes, devido ao hábito noturno da maioria desses coleópteros. A ampla adoção de cultivares de algodão que expressam eventos transgênicos, resistentes a lagartas tem contribuído para o manejo do complexo destes insetos que atacam o algodoeiro. Entretanto, o manejo destas lagartas deve ser considera-


Jorge B Torres

do, já que há diferentes tipos de eventos disponíveis com eficiência variável, dependendo da suscetibilidade das espécies de lagartas que ocorrem simultaneamente nos sistemas agrícolas. As tecnologias disponíveis são: WideStrike (Cry1Ac + Cry1F), TwinLink (Cry1Ab + Cry2Ae), Bollgard II (Cry2Ab2 + Cry1Ac). Estas duas últimas ainda apresentam elevada eficiência e resultam em alta mortalidade para lagartas de Heliothinae (Chloridea virescens, Helicoverpa zea e Helicoverpa armigera) e de Chrysodeixis includens. O complexo Spodoptera (S. frugiperda, S. albula, S. cosmioides e S. erdania) tem sido bem controlado pelo TwinLinke Bollgard II, mas um decréscimo na eficiência de controle tem sido observado nas últimas safras. Atualmente, a sobrevivência de S. frugiperda, por exemplo, está em torno de 14%- 20% nestas tecnologias, sendo que há quatro anos a média era de 4%. A tecnologia WideStrike ainda tem contribuído para o manejo de lagartas, apesar da eficiência reduzida nas últimas safras para a subfamília Heliothinae e da ineficiência no controle de lagartas do complexo Spodoptera. As espécies Alabama argillacea e C. includens são bem controladas por esta tecnologia. A fase inicial do algodoeiro não é a preferencial da principal praga da cultura do algodão, o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), mas o monitoramento com armadilhas iscadas com feromônio (Grandlure) é de extrema importância. A instalação das armadilhas deve ser realizada nos perímetros dos talhões, aos 30 dias antes do plantio do algodão e deve ser mantida até os 60 diasapós a emergência. Esta prática auxilia as propriedades no monitoramento do bicudo na propriedade, facilitando identificar os pontos de elevada pressão, pontos de entrada e saída, além da situação da praga em toda propriedade. Com isso, o produtor consegue se programar para a adoção das melhores ferramentas de manejo.

Eduardo Moreira Barros, Instituto Goiano de Agricultura – IGA Guilherme Gomes Rolim Instituto Mato-grossense do Algodão – IMAmt Jorge Braz Torres Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE Jorge B Torres

Pulgão-do-algodoeiro alado (esquerda) e áptero (direito)

edafoclimáticas favoráveis e pelos cotonicultores sempre aptos a adotar as tecnologias disponíveis. Apesar dessas condições e do retorno econômico obtido com os produtos gerados, a expansão da cotonicultura tem sido limitada devido à diversidade de pragas que atacam a cultura durante todo o ciclo. Na fase inicial, o manejo das pragas deve ser cuidadosamente considerado devido à vulnerabilidade da cultura, uma vez que qualquer perda de plantas ou desenvolvimento pode resultar em comprometimento do potencial produtivo. Ações preventivas, como destruição de soqueira, manejo da palhada e tratamento de sementes, são cruciais para manejar populações de insetos-praga remanescentes de cultivos anteriores. É importante preconizar o levantamento populacional destas pragas e inimigos naturais, através do monitoramento constante, com a finalidade de auxiliar a tomada de decisão (aplicações complementares de inseticidas). Desta forma, ações para a proteção da fase vegetativa podem permitir o desenvolvimento normal da cultura e evitar o aumento das populações de pragas, que tendem a resultar em maiores infestações na fase reprodutiva e causar danos diretos à C produção.

CONSIDERAÇÕES

A cotonicultura brasileira se destaca graças às condições

Deformação de botões florais devido à infestação de tripes

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Coluna Agronegócios

Exportar é a vocação do agronegócio brasileiro

O

Brasil não tem problemas de abastecimento interno de produtos agrícolas. Se ainda há vulnerabilidade nutricional no País, a razão não está na oferta de alimentos, porém na falta de renda para adquiri-los. Por esta razão, exporta mais que o dobro do que consome internamente, fazendo do agronegócio a locomotiva da economia brasileira. Importante frisar que, no futuro mediato, não se vislumbra nenhum setor que possa, isoladamente, assumir o protagonismo atualmente desempenhado pelo agronegócio como gerador de empregos, renda e divisas, e como indutor de efeitos positivos em outros segmentos da economia brasileira. O mercado internacional é muito mais complexo do que transparece das informações superficiais que se recebe através da mídia não especializada. Apesar do enorme avanço dos últimos anos, ainda há muito a aprender e melhorar. Além disso, é necessário ficar atento à permanente dinâmica do mercado, do anseio dos consumidores e das exigências dos países exportadores.

OS PROBLEMAS

O agronegócio tem garantido o superávit da balança comercial brasileira há mais de duas décadas. Por isto, consolidou-se a visão sofismática de que exportar é bom e importar é ruim. Raciocinemos pelo absurdo: se todos os países do mundo assim agissem, todos quereriam exportar e ninguém importaria, o que configura uma inequação e uma situação de perde-perde. O fato é que, para exportar mais, o Brasil precisará importar mais, faz parte da lógica das negociações comerciais. Em 2017 o agronegócio faturou mais de 100 bilhões de dólares em divisas, antepostos a uma importação de 14 bilhões de dólares. O problema com os parceiros comerciais não está nos 100 bilhões de dólares, mas, por surpreendente que possa parecer, repousa nos 14 bilhões de dólares. Ou seja, há espaço no mundo para expandir as exportações brasileiras- atendidos diversos requisitos de competitividade e de geopolítica –, mas essa expansão será cada vez mais atrelada à abertura do mercado interno para quem importa. Por que a resistência a importar? Porque, ao longo das últimas décadas, foi criada uma mentalidade protecionista, fruto da pobreza e do déficit crônico na balança comercial, que perdurou até a década de 1990. Alguém aí lembra do bordão “Exportar é o que importa”. O trocadilho que soa mal foi lançado no governo João Baptista Figueiredo (1979-1985), baseado em uma ideia de 1964, de que "exportar é a solução". Até fazia sentido à época, com o Brasil soterrado na dívida externa, importador de petróleo e alimentos, com déficit crônico – e crescente- na balança comercial. Lembro que, qualquer brasileiro que fosse ao exterior, somente poderia comprar 1.000,00 dólares. Como esse valor nunca era suficiente, restava o recurso do “câmbio negro”, por conta e risco do viajante. Assim, quando qualquer país pede acesso ao mercado de produtos agrícolas brasileiro, em troca de abrir o seu próprio mercado aos produtos do País, o lobby refratário à importação é acionado para barrar qualquer iniciativa de acesso ao mercado interno.

em outros setores que não o agrícola ou de minérios. Então, o foco principal deve ser aumentar a competitividade dos setores deficitários. Não se trata de diminuir importações de máquinas ou relógios, mas de ser competitivo nas exportações desses setores, para equilibrar a balança setorial. Em segundo lugar, é preciso fortalecer o setor do agronegócio, para não temer competição com produtos produzidos alhures. O nosso consumidor prefere vinho francês, chileno ou argentino? Pois melhore-se o vinho brasileiro ao invés de sobretaxar importações desses países! Mas não basta apenas produzir mais e melhor, é necessário fazê-lo com sustentabilidade. Essa é uma das principais imposições da sociedade global, em especial dos países ricos, que mais importam e melhor pagam. Na esteira desse processo, também são necessários: 1) mudar a mentalidade xenófoba, achando que toda a importação é maléfica e prejudicial; 2) firmar acordos comerciais com o maior número possível de países e blocos; 3) investir em campanhas promocionais, de abertura e consolidação de mercado para produtos brasileiros; 4) garantir que o país disponha de todas as condições para assegurar a qualidade e a inocuidade de seus produtos. Pululam exemplos de como a agenda brasileira não está sendo cumprida: há quantos anos o acordo comercial Mercosul – União Europeia não sai das conversas preliminares? De quantos adidos agrícolas o Brasil dispõe? Por que o País não dispõe de uma agência brasileira que efetue análises e ofereça estudos estratégicos para ampliação da participação no mercado internacional? Não seria o momento de modernizar a legislação brasileira de defesa agropecuária, grande parte ainda baseada em um decreto de 1934?

ANTECIPAR O FUTURO

Não é possível apenas agir reativamente, sendo simplesmente comprados – é preciso vender. Urge atuar proativamente, antecipando-se aos fatos. O mercado internacional atravessa uma fase de grande dinamismo, com rápidas mudanças de posições e de preferências, não há como “deitar eternamente em berço esplêndido”. Enquanto se garante a exportação de hoje, é fundamental pavimentar o caminho da exportação da década de 2020. Cito um exemplo: no livro “A saga da soja” (disponível em cnpso. vendas@embrapa.br), é projetada uma demanda de soja superior a 700 milhões de toneladas, para 2050. Segundo os autores, que analisaram profundamente cada um dos possíveis produtores de soja no futuro mediato, o Brasil reúne as melhores condições comparativas para abocanhar a maior parcela deste mercado. Mas, vantagem comparativa não significa, necessariamente, competitividade. O último capítulo do livro constitui uma agendada tarefa de casa de governo e produtores, para que o Brasil assegure a maior parcela do fulgurante mercado de soja que se avizinha. Atender a cada uma das condições para assegurar o mercado é a tarefa que governo e produtores preciC sam iniciar já, para colher os louros no futuro.

ASPECTOS A MELHORAR

Como resolver os problemas? Atualmente ainda há um forte déficit

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Dezembro 2018 / Janeiro 2019 • www.revistacultivar.com.br

Decio Luiz Gazzoni, O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja


Coluna Mercado Agrícola MILHO

Safra de verão em excelentes condições

A safra de verão do milho ou primeira safra se encontra em excelentes condições de desenvolvimento. Foi plantada cedo, o que resultará nas primeiras colheitas na virada do ano e ao longo de janeiro. Nota-se que há muitos compradores interessados para o grão que chegará no começo do ano na exportação, e isso pode dar liquidez ao setor, que vem fechando o ano em ritmo lento de negócios. Os produtores esperam que até o começo de 2019 o Supremo Tribunal Federal (STF) defina o tabelamento de fretes como ilegal e assim deixe o setor trabalhar livre e abra espaço para que as negociações na exportação voltem a fluir forte. Já há movimento de compradores das indústrias de ração negociando antecipadamente a nova safrinha para receber o grão a partir de junho e julho, para não correr o risco de enfrentar dificuldade para o abastecimento em 2019. O novo ano dá sinais de que haverá forte exportação e demanda interna para o setor de carne, com frangos, suínos e bovinos, devendo fluir em alta e mais demanda que oferta, o que abre espaço positivo para o milho. Também há expectativa de que a exportação do milho em 2019 volte a crescer forte e avance mais de dez milhões de toneladas frente aos níveis de 2018, que foram abaixo do esperado.

SOJA

Fechando o ano comercial com estoques zerados

O mercado da soja do Brasil caminha para

o final e a comercialização se aproxima de 100% da produção, sendo o primeiro ano em que o País irá fechar a temporada com estoques zerados. Isso abre boas oportunidades para o primeiro grão colhido em janeiro, quando a safra deverá fluir em bom ritmo, já que houve plantio mais cedo. Os chineses seguem comprando grandes volumes do grão brasileiro, que deve fechar o ano com aproximadamente 80 milhões de toneladas importadas. Recorde histórico que supera inclusive os 68,2 milhões de toneladas do ano passado. O Brasil está à frente dos EUA, que normalmente tem exportado perto de 55 milhões de toneladas (média dos últimos anos), liderando o mercado mundial e atendendo o maior importador mundial que deverá levar mais de 90 milhões de toneladas do grão em 2019. Com expectativas de cotações entre 0,50 dólar a 1,00 dólar por bushel acima do praticado em 2018.

FEIJÃO

Feijão passando a fase de baixa com a volta da demanda

O mercado do feijão teve pouco movimento nos últimos meses. Sofreu com a greve dos caminhoneiros, depois com o tabelamento dos fretes em ano de demanda em queda. O cenário começou a mudar no final de novembro e deve começar 2019 com mais fôlego para crescer porque há tendência de queda no desemprego e isso afeta diretamente o consumo de arroz e feijão, que normalmente crescem em tempos de pleno emprego. Com isso, se esperam cotações mais atrativas para este novo ano, com níveis entre R$ 140,0

e R$ 180,00 a saca para o Carioca. Há boa expectativa ainda para o feijão Pérola e feijão Preto, porque o importado alcança níveis a partir de R$ 150,00 a saca, o que abre espaço para manter o produto nacional firme também. A demanda está voltando, mas dezembro e janeiro são meses de pouco consumo de feijão. Depois a comercialização volta a fluir bem.

ARROZ

Ano difícil para os arrozeiros que tiveram perdas em 2018

Os orizicultores vão fechando um ano difícil, que obrigou os produtores a rever o estilo de produção e tende a trazer nova onda de saída de agricultores do setor, com riscos de concentrar ainda mais a produção. Os indicativos aos produtores, entre R$ 38,00 e R$ 45,00 a saca, ainda devem ser praticados no começo da temporada. Mas o país caminha para um ano de demanda maior e economia em crescimento. Assim, o arroz tende a voltar ao ritmo normal, com mercado fraco na C safra e alta na entressafra.

Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br

Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo dá sinais de que 2019 será um ano de forte alta no preço do cereal. Houve queda de safra e será necessário importar produto mais caro. Haverá forte demanda no novo ano, o que abre boas expectativas para os produtores. EUA - Os produtores norte-americanos fecharam a safra com algumas perdas, mas com grande produção. Foram 125 milhões de toneladas de soja e 371 milhões de toneladas de milho, ambos abaixo do potencial esperado. O novo ano dá sinais de que haverá redução entre 2,5 milhões de hectares e três milhões de hectares em soja e aumento entre um milhão de hectares a 1,5 milhão de hectares em milho. Também deve ocorrer aumento em trigo e algodão, ambos em bom momento de mercado para 2019. CHINA - A China lidera as compras de soja no Brasil, com importação de mais de 70 milhões de toneladas em 2018.

Certamente o país seguirá comprando forte em 2019. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) corrigiu a produção de milho do país, que está na faixa de 250 milhões de toneladas, mas o consumo local alcança 280 milhões de toneladas, crescendo forte. O uso do milho para etanol em dois ou três anos alçará o país ao posto de maior comprador mundial de milho. ARGENTINA - A safra dos argentinos em 2018 foi fortemente prejudicada. Agora, o plantio flui e por enquanto há boas condições, mas os produtores temem novos problemas climáticos e perdas econômicas, porque o governo aumentou para 28% as retenciones em soja (quase um terço da produção vai para o governo). Aliado a isso, os demais grãos, que tinham alíquota zerada, passam a pagar 10%, o que subtrai ainda mais renda dos produtores que já estão em dificuldade econômica.

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Coluna ANPII

Novo formato Avanços na forma de fazer pesquisa ajudam a alavancar o crescimento da produtividade agrícola no país

A

pesquisa agrícola brasileira tem uma enorme (Mapa). Após esta etapa, cada empresa produzirá o história de sucesso, levando o Brasil de importador inoculante dentro de sua tecnologia, com seus métodos, de alimentos a um dos grandes exportadores de seus custos, sua precificação e sua estratégia de marketing. comida para o mundo todo. O sistema de desenvolvimento adotado trará diversos Essa virada de jogo se deu devido a inúmeros fatores, mas benefícios: haverá uma sensível redução dos custos, pois sem dúvida a pesquisa foi um dos fortes motores desta nova serão divididos entre as nove empresas e será aproveitado marcha que levou o país a ter no agronegócio um dos principais o grande potencial técnico científico de cada uma delas. Na pilares da economia. A criação de novas cultivares, novas prática, serão reunidas todas as competências de cada uma formas de cultivo, maior racionalidade no uso de fertilizantes, das empresas em um projeto conjunto. Como as empresas equipamentos de semeadura, colheita e filiadas à ANPII possuem quadros aplicação mais eficazes, juntamente com técnicos de excelente qualificação, a a decidida adesão do agricultor às novas chance de sucesso nesta empreitada tecnologias, colaborou de forma decisiva é muito grande. para o crescimento da produtividade O primeiro projeto neste formato “Insanidade é agrícola no país. será o desenvolvimento de um A produção de inoculantes, com um inoculante com novas cepas da fazer sempre a forte e decidido apoio da pesquisa, é um bactéria Azospirillum brasilense, um mesma coisa e dos fatores que contribuem de forma micro-organismo fixador de nitrogênio significativa para a competitividade da e promotor de crescimento das esperar resultados soja brasileira, trazendo ganhos para o plantas, que será desenvolvido em diferentes.” agricultor, para o país e para o ambiente. convênio com a Universidade Federal A trajetória de sucesso deste produto do Paraná. Essa Universidade, através biológico na agricultura é também um caso de seu Departamento de Bioquímica Albert Einstein emblemático, mostrando que a interação e Biologia Molecular, selecionou da pesquisa oficial com a pesquisa privada as cepas, com elevado potencial é o melhor caminho para a criação de para uso agrícola e a ANPII fará o tecnologia para a sociedade. desenvolvimento industrial. Ignorado o ranço de que a pesquisa Com isso, o agricultor passará oficial (universidades e institutos de pesquisa) não a ter um produto mais eficaz, as empresas aumentarão deve se relacionar com empresas privadas, o setor seu portfólio e a Universidade receberá royalties por seu de inoculantes juntou as novas áreas em pesquisas trabalho, permitindo mais investimentos em pesquisa. C conjuntas, em estratégias comuns, criando riquezas em uma verdadeira negociação ganha-ganha. Solon Araujo, Evoluindo ainda mais nesse campo, as empresas Consultor da ANPII filiadas à Associação Nacional de Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) começam um novo formato de pesquisa. Tradicionalmente, cada empresa fazia seus contratos com entidades oficiais e desenvolvia os trabalhos de pesquisa, de “scaleup” e de validação a campo dos produtos obtidos. Nesse caso, a associação está adotando o modelo de pesquisa cooperada na fase pré-comercial ou pré-competitiva. Juntando as competências técnicas existentes em cada uma das nove empresas associadas, em um C efeito sinérgico, as pesquisas na primeira fase serão desenvolvidas em conjunto, com um protocolo uniforme, seja na fase de laboratório, industrial e de testes de campo, até a obtenção de registro no Representantes da Universidade Federal do Paraná e da ANPII Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento participaram da assinatura do contrato

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