Cultivar 237 Na hora certa de controlar percevejos

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Destaques

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A importância do monitoramento para definir o melhor momento de aplicação de inseticidas contra percevejos

Melhor alternativa

Encontrar estratégias de controle mais eficientes e economicamente vantajosas se torna fundamental para enfrentar a buva

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Índice

Na hora certa

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Controle eficaz

Processo de evolução de produtividade e manejo de plantas

Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 237 Fevereiro 2019 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Daniela Pezzini/Phytus Club

Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

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Adubação do sistema de produção de grãos

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Controle da cigarrinha-do-milho

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Cuidados no cultivo da safrinha

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Plataforma Intacta 2 Xtend lançada no RS

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Misturas e manejo de ferrugem

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Arranjo de plantas e manejo de pragas

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Capa - Monitoramento de percevejos

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Alternativas de controle da buva

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Controle de daninhas em arroz

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Irrigação de mudas pré-brotadas de cana

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Manejo de Helicoverpa em algodão

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Coluna Agronegócios

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Coluna Mercado Agrícola

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Coluna ANPII

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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

daninhas na cultura do arroz

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300

Diretas

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo

• Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves Miriam Portugal

• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer

CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.


Diretas Gestão agrícola

A Syngenta apresentou seu portfólio completo no Dia de Campo da Cooperativa Agroindustrial C. Vale, realizado em Palotina, Paraná, em janeiro. Explorando o conceito “Experimente o Futuro com a Syngenta Hoje”, a empresa proporcionou ao visitante da feira uma imersão por seu portfólio em uma única plataforma, a Fazenda do Futuro. “Por meio de casos ficcionais – que exemplificam uma lavoura que não é tratada corretamente – a interação amplia conhecimentos a respeito de produtos e tecnologias voltados à gestão mais efetiva e sustentável das plantações”, explica Renata Moya, gerente de Comunicação Mercadológica da Syngenta.

Claiton Ribas

Percevejo

Renata Moya

A Bayer aproveitou sua participação no Showtec 2019, realizado em janeiro, em Maracaju (MS), para apresentar produtos e um amplo portfólio para atender às demandas dos produtores. A empresa levou para a feira, soluções que poderão ser personalizadas de acordo com as necessidades dos agricultores, com destaque para o Fox Xpro, fungicida para as principais doenças que causam danos à lavoura de soja. Já utilizado no estado de Mato Grosso do Sul, o Patrulha Percevejo, serviço de monitoramento contra o percevejo marrom, também foi demonstrado. "O serviço Patrulha tem ótima adesão e apenas na região de Mato Grosso do Sul, nesta safra, foram patrulhados 150 mil hectares contra o percevejo marrom”, explica o coordenador de Desenvolvimento de Mercado da Bayer na região, Claiton Ribas.

Aquisição

A Tradecorp adquiriu a empresa brasileira Microquímica. A ação permitiu a consolidação da área de nutrição especializada da Sapec Agro Business na América Latina, em particular no Brasil, representada pela Tradecorp. O portfólio especializado da Microquímica, especialmente os inoculantes e aminoácidos biológicos, vem reforçar o portfólio da Sapec Agro Business, proporcionando uma oferta mais completa aos agricultores. “Demos mais um passo para fortalecer a estratégia de nos tornarmos uma referência global na disponibilização de programas e serviços adaptados a todas as culturas e necessidades”, avaliou o CEO da Sapec Agro Business, Eric Van Innis.

Eric Van Innis

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Ferrugem

A Basf reforçou a relevância do manejo fitossanitário preventivo das lavouras de milho e soja durante o Dia de Campo organizado pela C. Vale Cooperativa Agroindustrial. Pela primeira vez no evento, a empresa apresentou seu portfólio completo de soluções para agricultura, que inclui sementes de soja Credenz e a marca de licenciamento Soy Tech. “Sabemos que se o manejo da ferrugem-asiática não for feito de maneira correta, a doença pode causar redução de até 80% na produtividade da soja. É essencial que o agricultor seja eficiente no controle das doenças e pragas da lavoura, realizando o monitoramento constante para elevar os índices de produtividade e garantir a longevidade do negócio”, observa Helio Cabral, gerente de Marketing Soja da Basf.

Helio Cabral


Nematicida

A Corteva Agriscience, Divisão Agrícola da DowDuPont, e a Stoller, acabam de fechar uma parceria comercial para a distribuição exclusiva do nematicida Rizotec, solução biológica que auxilia no manejo de nematoides e elimina uma grande quantidade de ovos e de fêmeas na cultura da cana-de-açúcar. Com a parceria, a Corteva Agriscience faz sua estreia global neste segmento. “A parceria marca o ingresso da Corteva no mercado de defensivos biológicos em nível mundial. Começaremos no Brasil e expandiremos nossa oferta para outras regiões à medida que avançamos neste setor. Nosso objetivo é oferecer as melhores soluções que contribuam para a produtividade dos agricultores, onde quer que eles estejam”, informou o líder global de Portfólio de Biológicos da Corteva Agriscience, Rowdy Smith.

Soluções

Aldenir Sgarbossa

Híbridos

A Forseed, nova marca da LongPing High-Tech, também esteve presente no Dia de Campo da C. Vale, em Palotina, Paraná, e apresentou seus recém-lançados híbridos de milho. Os participantes do evento puderam avaliar em áreas demonstrativas a performance do precoce FS500 e dos superprecoces 2B210 e FS450. “Sabemos da importância deste evento para a região e da sua representatividade para o setor agrícola. Queremos aproveitar a oportunidade para estarmos ainda mais próximos de produtores em busca de inovação e especificidade para alcançar produtividade aliada à estabilidade e à qualidade”, disse o líder de Marketing da Forseed, Aldenir Sgarbossa.

A UPL apresentou suas mais recentes soluções e o que oferece como suporte no dia a dia do campo no BelaSafra 2019, promovido pela Belagrícola, em Cambé, no Paraná. Para o evento, a UPL levou seu portfólio de fungicidas multissítios que conta com Triziman e Tridium, além do Unizeb Gold. O público pôde conhecer também o inseticida Sperto, de amplo espectro, para o manejo de percevejos e mosca-branca, com dois mecanismos de ação diferentes, e o Fascinate, herbicida que controla buva e amargoso. “A empresa buscou levar para o evento novas tecnologias e assim proporcionar resultados que maximizem a produtividade no campo”, explicou o gerente comercial da regional Paraná pela UPL, Paulo Calçavara.

Herbicidas

No final de janeiro, a Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cocari) promoveu no município paranaense de Mandaguari mais uma edição do seu Dia de Campo. A Nufarm marcou presença no encontro com agenda técnica focada nos herbicidas ZethaMaxx e Crucial, no inseticida para tratamento de sementes Inside FS e nos fungicidas Manfil e Rivax. Outro destaque da companhia foi o programa NufarmCare, voltado ao uso seguro e sustentável de defensivos agrícolas no Brasil. “O herbicida ZethaMaxx tem sido alvo de diversos estudos nas lavouras brasileiras de soja, sendo recomendado para controle de plantas daninhas como a buva e o capim-amargoso, na dessecação e no pré-plantio da oleaginosa, com amplo espectro de ação, favorecendo a preservação da molécula do glifosato”, opinou o gerente de Trade Marketing da Nufarm, Carlos Amadeu.

Paulo Calçavara

Revitalizada

Com a assinatura “Morgan. Invista na eficiência”, a marca premium de híbridos de milho ganhou nova identidade visual. “Temos uma forte atuação nos segmentos de alto e médio investimento que prezam por qualidade e agilidade em soluções para a rápida tomada de decisão. Nossa marca traduz isso”, opinou a líder de Marketing da Morgan, Diogênes Panchoni. O novo conceito foi idealizado pela Touch Branding.

Carlos Amadeu

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Nutrição

Nutrição planejada Fotos Embrapa

Pensar a adubação do sistema de produção de grãos e fibras como um todo e não apenas as culturas isoladamente, com o balanço de nutrientes ao longo dos cultivos que se sucedem na mesma área, favorece o equilíbrio nutricional e contribui para a redução de custos, aplicações racionais e melhor aproveitamento dos fertilizantes

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Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes no mundo, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos, o que representa 6% do consumo mundial. O mercado brasileiro movimentou 34,4 milhões de toneladas em 2017, e aproximadamente 76% dos fertilizantes utilizados internamente foram importados. A adubação representa 25% do custo total da produção nacional de algodão, sendo 9,7% com fertilizantes nitrogenados, 7,4% com fosfatados e 5,8% com potássicos, enquanto a média mundial da participação dos fertilizantes no custo de produção do algodão é 14%, praticamente metade do custo nacional. Portanto, é imprescindível o desenvolvimento de estratégias de manejo que tornem mais eficiente o uso de fertilizantes em sistemas de produção de grãos e fibra, principalmente se forem considerados a dependência externa de aquisição de fertilizantes, o risco ambiental das adubações mal manejadas e a competitividade do produtor brasileiro no mercado agrícola globalizado. Melhorias significativas da eficiência do uso dos fertilizantes podem ocorrer com mudanças nos sistemas de cultivo; com rotação de culturas e introdução de plantas de cobertura do solo; com o uso de variedades mais eficientes e produtivas; com a aplicação da dose e fonte apropriadas; em local e época corretos de aplicação; e com equilíbrio nas quantidades de nutrientes fornecidas, preconizando a adubação das culturas dentro do contexto de sistema produtivo. A adubação do sistema produtivo tem como premissa o balanço de nutrientes ao longo dos cultivos que se sucedem na mesma área e objetiva o sistema como um todo e não as culturas isoladamente. A adubação de sistema é uma prática de recomendação que, além dos resultados dos teores disponíveis da análise de solo, considera os créditos de nutrientes deixados pelos restos culturais anteriores, as expectativas de produtividade para cálculo da extração e exportação de nutrientes, os requerimentos nutricionais de cada cultura, a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes e a evolução da fertilidade do solo (reservas de cada nutriente aumentando ou diminuindo), conforme a Figura 1. A principal diferença deste modelo de recomendação reside no fato de considerar o efeito residual das adubações anteriores


Figura 1 - Fatores a considerar para o modelo de recomendação de adubação do sistema produtivo

sobre as culturas seguintes, ou seja, os créditos disponíveis no solo e aqueles derivados da ciclagem de nutrientes das palhadas. Desta forma, há maior flexibilidade nas alternativas de adubação, através de pré-planejamento integrado, aplicando os fertilizantes nas culturas com maior potencial de resposta, inclusive em quantidades acima das exigidas e minimizando ou eliminando a aplicação na cultura seguinte com menor resposta à adubação. Também é possível em alguns casos conciliar as formas e os momentos de aplicação de fertilizantes mais convenientes quanto à praticidade e ao rendimento operacional, considerando a logística da fazenda e a programação dos plantios. No entanto, este modelo de recomendação só é viável e sustentável quando as condições químicas, físicas e biológicas do solo são adequadas, em sistemas produtivos que envolvem rotação de culturas. Geralmente, maior probabilidade de sucesso está associada a áreas com alta fertilidade natural ou construída, mantida acima do nível crítico e com correção nas camadas mais profundas do perfil. Para nutrientes que estejam em oferta adequada, ou seja, com teores

acima dos níveis críticos, recomenda-se a adubação de manutenção, que é baseada nos valores extraídos, e para situações de disponibilidade alta (duas vezes superior ao nível crítico) recomenda-se a adubação de reposição, que é calculada com base nos valores exportados. O manejo de fósforo (P) e potássio

(K) na adubação de sistema deve oscilar entre manutenção e reposição, ou seja, a disponibilidade no solo nunca deve estar inferior ao nível crítico. No caso do nitrogênio (N), cuja oferta não é mensurada na análise de rotina, pode-se considerar uma estimativa em kg/ha com base na matéria orgânica do solo. O cálculo pode ser obtido multiplicando-se a porcentagem de matéria orgânica do solo por 20, ou seja, para cada 1%, estima-se que sejam disponibilizados 20kg/ha de N. Para um cálculo genérico da adubação nitrogenada, considera-se a extração da cultura menos a estimativa do N que virá do solo. É importante ter em mente que se a cultura antecessora for uma leguminosa, geralmente haverá mais créditos de N da ciclagem dos restos culturais que poderão ser abatidos da adubação nitrogenada da cultura seguinte. Já se os restos culturais forem de gramíneas com palhada de alta relação carbono/nitrogênio (C/N), poderá ser necessário aumentar a quantidade de N na cultura seguinte. É preciso ter cautela em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica e baixa capacidade de troca de cátions. Além desses solos apresentarem maior limitação em suprir nutrientes às plantas, as recomendações de adubação nitrogenada e potássica para o sistema produtivo devem prever o parcelamento das aplicações, pelo maior risco de perda de N e K nesse tipo de ambiente. Um sistema intensivo de produção viável é formado pela combinação de espécies de famílias botânicas distintas, com raízes de di-

O equilíbrio nutricional é elemento de grande importância no sucesso dos cultivos agrícolas

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Monitorar de modo frequente a evolução da fertilidade do solo e do balanço de nutrientes é fundamental para o aperfeiçoamento da adubação

ferentes arquiteturas e capacidade de exploração do perfil do solo. Com isso, melhora-se a ciclagem no sistema, pois raízes mais profundas podem absorver nutrientes que estariam fora da zona de absorção das plantas com raízes mais superficiais. Além disso, existe deposição de palhas com diferentes relações C/N, sendo as relações mais altas (gramíneas como milho, trigo e braquiária) responsáveis pela proteção do solo, por sua maior dificuldade de decomposição, enquanto as palhas de baixa relação C/N (leguminosas como soja, feijão e crotalária) conferem ciclagem mais rápida de nutrientes. A diversificação de espécies também beneficia o sistema ao promover melhoria das condições físico-hídricas (estruturação, retenção de umidade) e biológicas do solo (diversidade e atividade microbiana), o que também resulta em melhor aproveitamento dos nutrientes e, por consequência, maior eficiência de uso dos fertilizantes. Sistemas intensivos de produção exigem maior nível gerencial, inclusive em relação ao manejo de nutrientes, via adubação de sistema. Quanto maior a produtividade, maior será a exportação de nutrientes por hectare, em que diferentes culturas removem proporções distintas dos diversos nutrientes, trazendo implicações práticas importantes. O balanço de nutrientes, ou seja, a diferença entre as quantidades de nutrientes que entram e saem de um sistema definido no espaço e tempo, pode resultar em déficit ou acúmulo, principalmen10

te em função das adições e perdas. Esse balanço serve como um indicador da eficiência das adubações e de sustentabilidade do sistema produtivo. Balanços negativos são encontrados em situações em que as quantidades de nutrientes exportadas nos grãos são maiores que as adicionadas pela adubação. Outra distorção muito comum é o anseio por altas produtividades, com aumento das doses de adubo sem considerar critérios técnicos, o que pode resultar em desequilíbrio entre os nutrientes, desperdício de fertilizantes e maior propensão a perdas. Portanto, em solo de fertilidade construída, com os nutrientes acima do nível crítico, a adubação é determinada conhecendo-se as taxas de extração e exportação de cada cultura em função da expectativa de produtividade. Estimativas do potencial de crédito de nutrientes pelos restos culturais podem ser obtidas pela diferença entre as quantidades extraídas (o quanto de nutrientes a planta acumula na parte aérea para produzir) e exportadas (o quanto de nutrientes será retirado da lavoura pela colheita dos grãos/caroços/ fibra). Este cálculo deve ser realizado individualmente para cada nutriente. A título de exemplo, apresenta-se o dimensionamento de adubação NPK para um sistema intensivo de produção soja/milho/al-

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godão, iniciando-se com o levantamento das quantidades extraídas e exportadas de cada nutriente pelas culturas, conforme esquema da Figura 2. Considerando o sistema de rotação soja/milho/algodão, após a colheita da soja haveria 86kg de N, 18kg de P2O5 e 129kg de K2O na palha. Após a colheita do milho, 85kg de N, 13kg de P2O5 e 86kg de K2O, e, após o algodão, 157kg de N, 27kg de P2O5 e 184kg de K2O. Os créditos potenciais de nutrientes só são ofertados ao longo do tempo, quando ocorrer a decomposição e mineralização da palha pelos micro-organismos, a depender da relação C/N dos restos culturais, da temperatura e da umidade. Também deve-se considerar que uma parte desses nutrientes pode ser perdida, dependendo das características do solo. De todo modo, as palhas representam significativos estoques temporários de nutrientes e sua contribuição no suprimento às culturas subsequentes e na manutenção da fertilidade do solo não deve ser desprezada. Os nutrientes contidos nos restos culturais não são ciclados da mesma forma e na mesma velocidade. O K é mais rapidamente disponibilizado para a cultura seguinte, sendo liberado da palha por simples lavagem pela água de chuva ou irrigação. Já o N e o P são ofertados gradualmente, à medida que ocorre a decomposição microbiológica dos resíduos orgânicos. No caso de gramíneas, que formam palhas de alta relação C/N, a ciclagem de nutrientes (exceto o K) é bem mais lenta comparativamente às leguminosas. Pode ser necessário inclusive a aplicação de maior quantidade de N na adubação, para minimizar a imobilização (processo em que os micro-organismos competem com as plantas pelo N disponível no sistema) e evitar possíveis deficiências na cultura que será estabelecida. Comparando as diferenças de extração e exportação pela soja, o milho e o algodão (Figura 2), observa-se que o algodão é a cultura que acumula quantidades mais elevadas de N, P e K nas plantas, cujos restos culturais apresentam os maiores créditos dos três nutrientes para o sistema produtivo, o que possibilita uma estratégia de manejo diferenciado da adubação da cultura seguinte. Por se tratar de uma


espécie mais responsiva à adubação, pode-se aplicar fertilizantes em maiores doses no algodoeiro, enquanto a soja semeada na sequência não precisaria ser adubada, pois é capaz de produzir aproveitando os nutrientes disponíveis a partir do efeito residual deixado pelo algodão. Este é um exemplo de como o programa de adubação de sistema pode ser planejado de acordo com o conhecimento das características inerentes às culturas que compõem o esquema de rotação. Assim, dada a particularidade de o algodoeiro exportar pequena proporção do K absorvido durante o ciclo e, ainda, da absorção pelas plantas aumentar com a quantidade fornecida, até determinado limite, tem-se buscado aproveitar o efeito residual/ciclagem do nutriente proveniente da adubação no algodoeiro para a cultura menos responsiva que vier em seguida no esquema de rotação, normalmente a soja. De modo geral, pode-se considerar que a cultura do algodão tem a vantagem de aumentar o aporte de nutrientes no ambiente de produção. Como premissa básica, no planejamento da adubação de sistema, deveriam ser previstas doses maiores nas culturas mais responsivas e apenas adubações de “arranque” nas culturas menos responsivas. Para evitar o esgotamento nutricional do solo, é importante não esquecer o balanço de entradas e saídas de nutrientes, considerando as quantidades de nutrientes adicionadas e o desempenho produtivo das culturas componentes do esquema de rotação. Outro ponto interessante reside no fato que a proporção requerida de nutrientes no sistema se modifica ao longo do tempo. Em muitas lavouras, a situação atual quanto à necessidade de reposição de nutrientes mostra-se mais flexível para o P, cujas reservas disponíveis no solo tendem a aumentar com o tempo de cultivo, e mais sensível para o N e o K, que têm sido exportados com maior intensidade nas colheitas de alto rendimento. Ou seja, as recomendações de adubação nesses casos deveriam considerar a menor necessidade de fornecimento de P, mas com concomitante aumento da proporção de N e K. Em determinadas condições, tem ocorrido balanço negativo de N no sistema, que começa a ser o limitante para altas produtividades. Isso ocorre quando as quantidades adicionadas nas adubações são mais baixas que as exportadas nos grãos. Tal fato é comumente encontrado nas áreas onde se cultiva milho segunda safra, em que, apesar da menor produtividade esperada em função do risco climático, as colheitas podem superar as expectativas nos anos com boas chuvas, gerando um déficit no balanço de nutrientes decorrente da maior exportação. Desta forma, deve-se aplicar nas adubações, no mínimo, as quantidades de nutrientes exportadas pelas culturas, com o intuito de manter o potencial produtivo de sistemas intensivos. O aperfeiçoamento é sempre possível, desde que haja monitoramento frequente e informações sobre a evolução da fertilidade do solo e do balanço de nutrientes. Certamente, a abordagem de adubação de sistema é mais eficiente, pois objetiva o equilíbrio nutricional tendo como premissa o balanço de nutrientes e créditos de ciclagem, considerando as especificidades das culturas no contexto da rotação, o que contribui para a redução de custos, aplicações racionais e melhor aproveitaC mento dos fertilizantes, com menores riscos ao ambiente.

Figura 2 - Quantidades equivalentes de N, P2O5 e K2O extraídas, exportadas e remanescentes nos restos culturais de soja, milho e algodão, considerando produtividades próximas das médias nacionais. Fonte: dados experimentais da Embrapa

Ana Luiza, Resende e Ferreira abordam importância de pensar a adubação de modo amplo

Ana Luiza Dias Coelho Borin, Embrapa Algodão Álvaro Vilela de Resende, Embrapa Milho e Sorgo Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira, Embrapa Algodão

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Milho

Vetor de doenças Manejo de plantas tigueras, tratamento de sementes com inseticidas e plantio de cultivares resistentes e/ou tolerantes estão entre as principais medidas de controle contra a cigarrinha-do-milho, praga transmissora de enfezamentos e vírus da risca

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Fotos Elizabeth Sabato


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os últimos anos, mudanças significativas têm ocorrido no cenário da produção de milho no Brasil (IBGE, 2018). Duas das principais alterações residem no uso da transgenia Bt para o controle de lagartas e a afirmação da safrinha (segunda safra) como a principal para a cultura do milho na maior parte das regiões produtoras. Estas mudanças trouxeram efeitos diretos e indiretos sobre a ocorrência e o manejo dos principais insetos-pragas para a cultura. Como a principal praga era e continua sendo a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, as cultivares de milho Bt funcionaram muito bem para o seu controle. Os produtores se viram em uma situação favorável em que não havia a necessidade de preocuparem-se com aplicações de inseticidas para o controle de pragas na cultura do milho. No entanto, o milho Bt representa tecnologia que controla lagartas, mas e o controle das outras pragas que também podem ocorrer na lavoura durante o ciclo da cultura? À primeira vista, não se mostraram tão importantes, por isso eram chamadas de secundárias. Isso não quer dizer que já não existissem, somente não causavam prejuízos tão significativos quanto a lagarta-do-cartucho. Há, aqui, um fator importante que foi desconsiderado. Quando se pulverizavam inseticidas para o controle de S. frugiperda, indiretamente, outras pragas também eram controladas. Contudo pragas não controladas pelas tecnologias Bt, naturalmente, foram beneficiadas e ganharam espaço para se desenvolverem na cultura do milho. Ao mesmo tempo em que o milho Bt se firmava como a principal tecnologia de sementes para plantio, ocorreu a transição de maior área cultivada com milho da primeira para a segunda safra. Desta forma, observou-se um novo ambiente temporal, com características distintas daquelas que normalmente ocorriam durante a primeira safra. Nas regiões mais centralizadas do Brasil, principalmente naquelas em que o Cerrado deu lugar a novas fronteiras agrícolas, uma praga, em especial, ganhou destaque: a cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae). Trata-se de um pequenino inseto que adulto mede cerca de 4mm de comprimento por menos de 1mm de largura. Sua coloração predominante é palha, e no abdômen observam-se manchas negras, que podem ser maiores nos indivíduos desenvolvidos em climas com temperaturas amenas (Waquil, 2007). É uma praga que até o presente momento tem como principal hospedeiro o milho. A sua densidade populacional é mais alta nos períodos do ano que coincidem com a época da segunda safra, quando as plantas de milho se encontram em pleno desenvolvimento vegetativo. Por serem insetos voadores, rapidamente mudam de uma planta para outra e podem se dispersar em pouco tempo para toda a área plantada com milho. Os efeitos provocados por estes insetos, pela sucção da seiva, podem até ser imperceptíveis e não afetar significativamente a produção de grãos. O problema se concentra então no fato de que estas cigarrinhas são potenciais vetores de doenças que causam prejuízos na exploração do milho. A redução na produção em plantas doentes pode ser superior a 70%, sendo tanto maior quanto mais jovem a plântula de milho é infectada (Sabato, 2018). As doenças transmitidas são o enfezamento-vermelho e o enfezamento-pálido, causados por molicutes, fitoplasma (maize bushy stunt phytoplasma) e Spiroplasma kunkelii, respectivamente. Tratam-se de organismos restritos ao floema das plantas infectadas, que são adquiridos pelas cigarrinhas no momento da sucção. D. maidis também transmite o vírus da risca-do-milho (maize rayado fino virus – MRFV), uma virose com potencial para causar prejuízos.

COMO MANEJAR

O manejo deve ser tratado prioritariamente com foco nas doenças

e não no simples combate ao inseto-vetor. O primeiro passo, e também o mais importante, está na escolha da cultivar, ou cultivares, de milho a ser plantada, independentemente de qual safra. Dentre as mais diferentes cultivares oferecidas a cada safra, podem ser obtidas informações do grau de resistência e/ou tolerância que cada uma apresenta em relação à ocorrência de doenças. Preferencialmente, a opção de escolha deve começar por aquelas que apresentem alta resistência em detrimento das demais. Em segundo lugar, pode-se optar por aquelas que apresentem uma média resistência em detrimento daquelas que são, sabidamente, suscetíveis. É preciso acompanhar sistematicamente a lavoura de milho, em especial na fase de pré-pendoamento, para verificar se há ou não plantas com sintomas, para saber se a resistência se confirma a cada safra. Nos períodos de entressafra de milho, é importante realizar vistorias para observar se há germinação e desenvolvimento de plantas espontâneas de milho, chamadas “tigueras”. São muito comuns em áreas anteriormente plantadas com milho RR, ou seja, com tolerância ao herbicida glifosato. Como D. maidis tem o milho como hospedeiro essencial, estas plantas tiguera são ideais para sua sobrevivência e permanência nas áreas de cultivo, pois contribuem para que haja alimento e abrigo a qualquer tempo. Se estas cigarrinhas estiverem contaminadas com os patógenos, pode ser que todas as plantas tigueras também se tornem doentes, pois o número reduzido de plantas por área aumenta a concentração destes insetos. Não é raro encontrar mais de 20 cigarrinhas em uma única planta de milho tiguera. Mesmo aquelas que aparentemente não têm sintomas visíveis de enfezamentos podem ser potenciais hospedeiras dos patógenos. A tolerância não implica que não contenham as doenças, mas consiste em não expressar os sintomas. As cigarrinhas, ao alimentarem-se nestas plantas doentes, podem se tornar infectadas. Ao encontrarem uma nova lavoura de milho, rapidamente transmitirão os patógenos às plantas. A planta de milho com enfezamento forma menos raízes que a planta sadia, apresenta internódios mais curtos, pode tornar-se pequena e improdutiva, com espigas pequenas e falhas na granação, além de secar precocemente. Os sintomas foliares dos enfezamentos são descoloração nas margens e na parte apical das folhas e, em seguida, secamento ou avermelhamento, especialmente nas folhas superiores da planta, o que pode variar em diferentes cultivares de milho. Já a virose risca caracteriza-se pela presença de numerosos pontos cloróticos paralelos às nervuras

Comparativo de espigas para demonstrar o dano causado por enfezamento

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Marina Torres

Fotos Elizabeth Sabato

Sintomas foliares dos enfezamentos são descoloração nas margens e na parte apical das folhas e, em seguida, secamento ou avermelhamento

Inseto pequeno, quando adulta a cigarrinha mede aproximadamente 4mm de comprimento por menos de 1mm de largura

secundárias da folha, e pode ser visualizada nas folhas de plântulas ou plantas adultas de milho (Sabato, 2018). Ao considerar que a presença das cigarrinhas ocorre na fase inicial de desenvolvimento e que os sintomas só serão percebidos mais tarde, no pré-pendoamento, o parâmetro para se decidir pelo controle não pode ser a partir da percepção visual desses sintomas, mas precisa ser antecipado. Se a opção for controlar a cigarrinha-do-milho, esbarra-se em algumas dificuldades: como controlar um inseto voador que fica pouco tempo em cada planta e que se move a qualquer percepção de movimento próximo? Muitas vezes, até o movimento de pessoas ou de trator é suficiente para que a cigarrinha levante voo e vá para outros locais. Qual o momento mais adequado para se ingressar com uma medida de controle na lavoura e como impedir que cigarrinhas de outros locais cheguem, novamente e rapidamente, às áreas que já foram tratadas? Isso porque, apesar de tentativas, ainda não se tem um nível de controle (NC) para cigarrinhas. Se houvesse esse nível, seria possível saber quando o inseto começaria realmente a causar prejuízos, pois a sua simples presença não significa que há a necessidade de controle. Diante das dificuldades, o que fazer? Pulverizar ou não com algum inseticida? No cenário atual, não aplicar seria o mais correto. Ainda não há inseticidas químicos registrados para o controle de D. maidis. Mas o produtor precisa ter disponível uma alternativa que pelo menos minimize os efeitos do problema. Sendo assim, há o registro de inseticidas biológicos, à base de Beauveria bassiana. É importante seguir as recomendações técnicas para que se alcancem os efeitos de controle (Agrofit, 2018). Para o tratamento químico de sementes há bons produtos registrados para o controle de cigarrinha-do-milho, e estudos validaram sua eficiência no controle da praga nos primeiros dias após a implantação da cultura. Há algumas dificuldades no entendimento de quantos dias a planta fica realmente protegida. Na maioria das vezes, tem-se uma recomendação de que a proteção perdure até 30 dias, mas, na prática, observa-se que os produtores esperam apenas a metade deste tempo e entram com pulverizações. De qualquer forma, em observações particulares (dados ainda não publicados), infere-se que pulverizações após os estádios ve-

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Oliveira aborda potencial transmissor de doenças da praga e alternativas de manejo

getativos V6/V7 não surtem mais efeitos na diminuição dos sintomas. Há um consenso de que o manejo de plantas tigueras, o tratamento de sementes com inseticidas específicos registrados para o controle de D. maidis e o plantio de cultivares resistentes e/ou tolerantes continuam sendo eficazes para evitar ou minimizar a ocorrência de enfezamentos e vírus da risca, ao atuarem sobre seu vetor, D. maidis. Mas como podemos melhorar os efeitos de cada uma destas medidas? Adotando estratégias até certo ponto simples, como cuidar da eficiência da colheita para que não sobrem grãos de milho no campo e planejar o plantio para que não haja muitas lavouras de milho com diferentes idades em locais próximos. Outra estratégia está na utilização de cultivares de milho que não tenham incorporada a tecnologia RR de tolerância ao herbicida glifosato, o que facilitaria a operação de dessecação e eliminaria plantas indesejáveis de milho antes da safra. O uso de sistemas integrados que permitem a pastagem por animais também é fator positivo no manejo de plantas tigueras. Antes do plantio, uma roçagem mecanizada pode completar o trabalho. As empresas produtoras de sementes têm papel importante no manejo destas doenças, pois podem posicionar, a cada safra, cultivares que sejam mais tolerantes e/ou resistentes às doenças transmitidas pela cigarrinha-do-milho. E assim, aquelas mais suscetíveis vão sendo retiradas do mercado. Cabe aos agricultores cobrarem das revendas a oferta destas cultivares e de informações referentes a elas. Tais dados podem ser obtidos a partir das próprias empresas ou de publicações técnicas que reúnam informações fornecidas pelas empresas a respeito do comportamento das cultivares frente às principais doenças. Por fim, cada produtor deve buscar, dentro de sua região, informações sobre o clima, pois os problemas com enfezamentos se agravam em locais onde a primeira parte do ciclo da cultura do milho se dá sob forte estresse hídrico e com temperaturas altas. Situações essas que faC vorecem a multiplicação dos patógenos e do inseto-vetor.

Ivênio Rubens de Oliveira, Embrapa Milho e Sorgo


Milho

Safrinha maiúscula

Cultivar

Semear de modo adequado e na época correta, controlar pragas como percevejos e lagarta-do-cartucho, ajustar a adubação, manejar doenças e plantas daninhas estão entre os principais aspectos a serem observados para alcançar sucesso no cultivo de milho de segunda safra

O

milho é o cereal de maior volume de produção no mundo, estando o Brasil entre os principais produtores e exportadores mundiais. Por ser uma planta C4, possui um dos maiores potenciais de produção de grãos por área. Esta característica, aliada às suas propriedades bromatológicas, faz do milho a principal fonte de energia para a produção das rações utilizadas na alimentação de animais. A produção brasileira de milho tem aumentado nos últimos anos, principalmente pela ampliação das áreas de cultivo e incremento de produtividade na segunda safra, também conhecida como safrinha. A partir da safra 2011/12, a produção de milho de segunda safra superou a primeira safra. Atualmente, cerca de 2/3 da produção total de milho do Brasil é realizada na segunda safra. O cultivo do milho na segunda safra tem alguns benefícios, como possibilidade de realização de duas ou mais safras por ano, redução do custo da adubação pelo aproveitamento dos nutrientes oferecidos pela soja (principalmente N), aproveitamento de máquinas da propriedade, diluindo os custos fixos, rentabilidade quando comparada com outras culturas de inverno e garantia de comercialização da produção. Porém, esse sistema de cultivo também apresenta desvantagens. A monocultura do milho, aliada ao ambiente favorável, promove aumento de doenças necrotróficas, causando lesões em folhas, podridões em espigas e colmos. Pragas de difícil controle, como o percevejo barriga-verde (Dichelops sp.), tem se adaptado ao sistema, causando redução na produtividade e aumento do custo de produção. Devido à curta janela para implantação, normalmente as operações de semeadura têm sido realizadas com excessiva velocidade, levando a problemas de plantabilidade e estabelecimento desuniforme da cultura. O principal componente da produção do milho é o número de espigas por área. Para a grande maioria dos materiais genéticos disponíveis para comercialização, esse componente é definido pelo número de plantas

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Rendimento de grãos de dois híbridos de milho em função da época de semeadura

Rendimento de grãos de milho segunda safra em função do uso de diferentes doses de N em cobertura

por área. Realizar uma semeadura com qualidade é fundamental para garantir o estande adequado para cada híbrido, além de uma distribuição uniforme. Em média, uma lavoura de milho segunda safra implementa 80% de seu custo total no momento da semeadura. Esse é mais um fator pelo qual se justificam os cuidados durante essa operação. Pela época que o milho segunda safra é cultivado, ocorre a diminuição gradativa da temperatura e do comprimento do dia no decorrer do ciclo da cultura. Diante disso, na medida em que avança a semeadura ao longo da janela, ocorre também a diminuição do potencial produtivo da cultura, pois os fatores ambientais, principalmente soma térmica e comprimento do dia, limitam a expressão genética da produtividade dos híbridos. Experimentos realizados pelo Centro de Pesquisa Agrícola (CPA) revelam que a cada dia de atraso na semeadura ocorre a diminuição de 154,12 kg/ha na produção do milho. Fica evidente que um dos principais fatores para a obtenção de elevadas produtividades no milho segunda safra é a época de semeadura. Tentando capturar o máximo potencial da cultura do milho, os produtores têm antecipado a semeadura da soja nas regiões produtoras de milho segunda safra. Sendo a época de semeadura um fator importante na definição do potencial de produção da lavoura de milho segunda safra, alguns ajustes devem ocorrer em função disso. O primeiro ponto é a definição da população de plantas de cada híbrido. Nas primeiras semeaduras deve-se trabalhar com a população recomendada de acordo com as características de cada material. À medida que se avança na janela de semeadura, deve-se reduzir gradativamente a população recomendada. Dependendo do híbrido, no fechamento da semeadura pode ser reduzida em até 20% a quantidade de sementes utilizadas. A redução da população de plantas tem por objetivo diminuir os problemas de acamamento. Este problema ocorre pelo menor enraizamento e estiolamento das plantas de milho em função da menor luminosidade disponível para a cultura nas semeaduras tardias. Além disso, as baixas respostas em produtividade não compensam o risco de utilizar elevada população de plantas no final da janela. A adubação também deve ser ajustada de acordo com a época de semeadura. A probabilidade de reposta em rendimento de grãos e extração de nutrientes é maior no início da janela de plantio. O atraso na semeadura diminui a demanda nutricional. Em determinadas situações, pode ocorrer a diminuição da produtividade em função do excesso de adubação (principalmente N), que pode favorecer o acamamento das plantas.

Além da adubação de base, a complementação com N em cobertura é fundamental para o incremento da produção de grãos do milho. A cultura é beneficiada pelo N residual oriundo dos restos culturais da soja, o que favorece seu desenvolvimento e diminui os custos de produção. Mesmo assim, há a necessidade de complementação. Experimentos conduzidos pelo CPA demonstram que doses de 40kg/ha a 60kg/ha de N apresentam respostas consistentes em produtividade. Doses maiores também refletem positivamente na produtividade em determinadas situações. Porém, a probabilidade de resposta econômica diminui gradativamente com o aumento da dose do N. A adubação de N em cobertura também deve ser determinada de acordo com a época de semeadura, como mencionado para a adubação de base. Com o potencial produtivo estabelecido, passa-se a tratar dos detratores da produtividade. O percevejo barriga-verde é a principal praga da cultura do milho segunda safra. Normalmente pela sua dinâmica, as primeiras áreas de milho semeadas sofrem menos danos. Quando a soja é colhida nessas áreas, ocorre migração da praga para lavouras adjacentes que ainda não estão prontas para colheita. Assim, as semeaduras mais tardias de milho apresentam mais danos da praga, principalmente pelo efeito da concentração dos insetos. O período mais crítico para o ataque da praga culmina com a concentração das operações de dessecações e colheita de soja, semeadura e aplicações iniciais no milho, o que leva muitas vezes à negligência no controle. Seus principais danos estão relacionados à sucção de fotoassimilados e injeção de toxinas nas plantas. Dependendo do estádio em que acontece o ataque, as plantas de milho podem ser inviabilizadas, levando redução no estande e comprometimento severo da produtividade. Alguns trabalhos foram realizados pelo CPA para avaliar o potencial de redução do rendimento pelos danos de percevejos. Para este trabalho, os danos foram classificados em quatro classes: sem dano (plantas sem nenhuma injúria do percevejo), dano leve (somente perfurações nas folhas), dano moderado (perfurações nas folhas e redução da estatura das plantas) e dano severo (plantas totalmente atrofiadas, com drástica redução do porte, plantas perfilhas, encharutas e dominadas). Foram marcadas plantas em lavouras de milho, separando-as conforme a classe de dano. Ao final do cultivo, as plantas foram colhidas separadamente e os dados de produtividade extrapolados. Os dados de colheita demonstram que na média de diferentes híbridos, plantas com danos leves tiveram uma redução no potencial de 12%. Essa redução

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Além dos percevejos, outra praga que tem voltado a causar problemas é a lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda). A adoção de híbridos de milho com biotecnologias Bt por muito tempo resolveu os problemas com esta praga. Porém, devido à má utilização, principalmente pela não implantação das áreas de refúgio, essas tecnologias têm diminuído sua eficácia no controle destas lagartas. A matocompetição também é um fator

que provoca reduções significativas de produtividade. Existem algumas biotecnologias para manejo de plantas daninhas em milho, sendo a resistência ao glifosato a mais utilizada. Seu uso pode favorecer o controle de algumas plantas daninhas, porém aumenta a pressão de seleção de plantas daninhas resistentes ao glifosato. As principais plantas daninhas do milho são a soja voluntária RR, a trapoeraba (Commelina spp), o capim-amargoso (Digitaria insularis) e o picão-preto (Bidens

Marina Copacol

Sem dano

Classes de danos de percevejos em plantas de milho

Dano severo Dano moderado Dano leve

foi de 32% para plantas com danos médios e 69% para plantas com danos severos. As principais medidas de controle para o percevejo barriga-verde são tratamento de sementes (TS), aplicações aéreas de inseticidas e manejos culturais. O TS é uma prática imprescindível no combate a essa praga. Porém, na maioria das vezes, devido à elevada pressão, um bom TS não é suficiente para resolver o problema. Para que haja a contaminação da praga e a morte pelo inseticida, o percevejo deve realizar a picada de prova. Se a pressão for elevada, mesmo que ocorra a mortalidade dos percevejos, irão acontecer danos nas lavouras. Nestas situações é fundamental realizar complementações do controle químico com aplicações aéreas de inseticidas. Os principais produtos utilizados para o controle de percevejos são formulações contendo neonicotinoides + piretroides ou produtos à base de acefato. Alguns agricultores têm tentado intensificar as aplicações no final do ciclo da soja como medida para reduzir a população da praga para a cultura seguinte (milho). Porém trabalhos realizados no CPA têm demonstrado que os melhores resultados de aplicações de inseticidas têm se dado durante o período crítico da cultura, estádio V1 até o colmo atingir 15mm a 20mm na base do solo. Devido ao hábito de o percevejo barriga-verde permanecer próximo ao solo, as aplicações na cultura da soja normalmente não conseguem ser efetivas para a redução da população desta praga. Outras práticas têm demonstrado efetividade para auxiliar no combate do percevejo. Uma delas é o adequado controle das plantas daninhas, que servem como abrigo para os percevejos e dificultam que a praga seja atingida pelos inseticidas no momento da aplicação. Assim, lavouras com um bom manejo de plantas daninhas normalmente apresentam menores problemas com danos de percevejos. Outros manejos como a adubação nitrogenada têm se apresentado como práticas complementares para o manejo da praga. A nutrição das plantas pelo nitrogênio auxilia na recuperação dos danos, mas principalmente acelera o escape das plantas do período crítico ao ataque das pragas. Também tem se observado a variabilidade genética quanto aos danos ocasionados por percevejos. Para este ponto, ainda não estão elucidados os mecanismos, mas a princípio parece estar relacionado ao “arranque” das plantas, ou seja, a velocidade com que passam pelo período crítico de ataque da praga.

Demonstrativo do efeito das diferentes classes de danos de percevejos em dez plantas de milho

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Rendimento de grãos de milho em função da severidade de mancha branca, médias geradas a partir de 256 parcelas experimentais com mesmo híbrido (Formula Vip), alterando-se os programas de manejo com fungicidas

foliares, que acometem a cultura do milho no Brasil, a mancha branca já é considerada a principal, podendo ocasionar reduções no rendimento de até 60%. Ensaios conduzidos no Centro de Pesquisa Agrícola da Copacol demonstram que o aumento de um ponto percentual na severidade da doença avaliada no estádio R4, reduz o rendimento de grãos de milho em 44kg/ha. Existe variabilidade genética que confere a resistência/tolerância à mancha branca, sendo essa uma estratégia de manejo altamente eficiente que pode ser adotada. Porém, muitos híbridos que apresentam essa característica não possuem o potencial produtivo e/ou a precocidade desejada pelos produtores. Assim, o manejo químico, quando semeados híbridos sensíveis, torna-se uma importante estratégia de manejo. O manejo químico com o uso de fungicidas é uma das estratégias que devem ser

Marina Copacol

spp), entre outras. Os herbicidas mais utilizados no milho são a atrazina e o glifosato (milho RR). Porém, plantas daninhas tolerantes e resistentes ao glifosato, como a trapoeraba e o amargoso, demandam a associação de herbicidas diferentes à base de mesotrione e tembotrione para melhorar o controle. Estes herbicidas apresentam excelente controle de plantas daninhas em pré-emergência, sendo fundamentais na diminuição do banco de sementes e da matocompetição inicial, rotação de ingredientes ativos e menor pressão de seleção aos herbicidas. Outro ponto importante, quando se fala de milho segunda safra, é o adequado manejo das doenças da cultura. O sistema de produção de milho no Brasil tem migrado para a monocultura de inverno (segunda safra ou safrinha), onde as condições ambientais são mais favoráveis para surtos epidêmicos de doenças necrotróficas. Dentre as doenças

utilizadas para minimizar as perdas de produtividade, qualidade de grãos e problemas com acamamento. É preciso cuidado, pois muitos dos fungicidas que possuem registro para controle de mancha branca não apresentam boa performance. Os produtos com a presença do ativo fluxapiroxade, pertencente ao grupo das carboxamidas (SDHI), são os mais eficientes para o controle desta doença. Existe ainda melhoria de controle e incremento no rendimento de grãos com a adição do fungicida multissítio mancozebe às misturas tradicionais de triazóis + estrobilurinas. Normalmente a taxa de progresso da mancha branca é maior após o florescimento da cultura. Nos ensaios, respostas constantes às aplicações no estádio reprodutivo da cultura têm sido observadas. Os dados demonstram que uma aplicação no estádio R2 apresenta maior resposta que uma aplicação no estádio V10. A pulverização no estádio de pré-floração (VT) é a mais importante para o manejo químico da mancha branca. Quanto ao número de aplicações, a resposta é variável dependendo do ambiente e da sensibilidade do híbrido semeado. Além da mancha branca, outras doenças como as ferrugens (Puccinia polysora e P. sorghi), helmintosporiose (Exserohilum turcicum) e cercosporiose (Cercosporazeae-maydis) podem causar danos nas lavouras. Assim como para mancha branca, existe variabilidade genética que confere tolerância para estas doenças, e normalmente o manejo químico para estes patógenos apresenta maior efetividade do que para a mancha branca. Recentemente foi relatada a ocorrência de uma nova doença, a estria bacteriana do milho, que tem como agente causal a bactéria Xanthomonas vasicola pv. vasculorum. As

Híbrido resistente/tolerante à esquerda e híbrido sensível à direita sob condições de manejo idênticas, Cafelândia PR, safra 2017

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Comparativo de híbrido com alta sensibilidade à direita da bandeira com híbrido tolerante à esquerda sob as mesmas condições de manejo

informações sobre a estria bacteriana do milho são relativamente limitadas. Entretanto, a bactéria pode sobreviver em restos de cultura infectados e possivelmente também em ervas daninhas. Penetra nos tecidos das folhas de milho através de aberturas naturais, como os estômatos, e também por ferimentos. Danos econômicos causados pela estria bacteriana ainda não foram determinados. O manejo químico para esta doença parece ser ineficiente com os produtos comumente utilizados para o manejo de doenças fúngicas na cultura do milho. Neste primeiro momento, a tolerância genética parece ser uma das principais medidas a serem adotadas pelos produtores para mitigar o problema. Práticas de manejo para diminuição do inóculo inicial das lavouras, como a rotação de culturas, podem ajudar a reduzir o problema. Garantir o máximo potencial produtivo de uma lavoura de milho é fundamental para obter rentabilidade com o cultivo. Porém, obter alta produtividade não garante lucratividade para o produtor. A qualidade dos grãos de milho impacta no preço, podendo reduzir em até 40% o valor comercial do produto. O milho é utilizado tanto na alimentação animal, quanto na alimentação humana. A presença de grãos avariados aumenta as chances da presença de micotoxinas nos grãos. A produção de micotoxinas pelo fungo depende das condições climáticas enfrentadas durante a colonização dos grãos. Quando ocorrem, as micotoxinas não podem ser eliminadas, por processos industriais, recorrendo à utilização de adsorventes que aumentam o custo das rações. As principais micotoxinas presentes em grãos de milho são aflatoxinas (Aspergillus flavus), fumonisinas, micotoxina T-2 e zeralenona (Fusarium spp.). Quando ingeridas pelos animais, ocorrem redução de ganho de peso, diarreia, problemas hepáticos, problemas reprodutivos e aumento da conversão alimentar, resultando em diminuição dos índices produtivos e perdas econômicas. A escolha do híbrido adequado para a condição de clima da região e época de semeadura, o ajuste populacional, o manejo de pragas, a escolha dos fungicidas, as épocas e o número de aplicações são alguns dos fatores que podem contribuir significativamente para a melhoria da qualidade dos grãos do milho cultivado na segunda safra. O sistema de produção soja-milho segunda safra está consolidado e apresenta viabilidade econômica para os produtores. Além disso, ga-

Diferença de grãos avariados em dois híbridos conduzidos sob as mesmas condições de manejo (efeito genético)

rante o suprimento de matéria-prima para a produção de rações nas agroindústrias. Atualmente, a produção de milho nesse sistema de cultivo representa 2/3 da produção total. Ajustes nesse sistema devem ser constantes, bem como as pesquisas para solução dos problemas técnicos enfrentados nas áreas de cultivo. Embora seu cultivo ocorra no período de outono/inverno, as respostas em produtividade em função da adoção da tecnologia são consistentes, o que demanda que seu manejo seja realizado de maneira técnica e assertiva. O custo de produção aumenta a cada safra e a maneira de se obter maior rentabilidade com esse cultivo é otimizar os insumos utilizados para produção. C

Tiago Madalosso, João Mauricio Trentini Roy e Fernando Fávero, Copacol

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Empresas

Gigantes da soja Fotos Bayer

Bayer lança Plataforma Intacta 2 Xtend para produtores gaúchos. Novidade tem previsão de chegar comercialmente ao Brasil na safra 2021/2022

P

rodutores gaúchos conheceram em janeiro, em primeira mão, a Intacta 2 Xtend, nova tecnologia de soja da Bayer apresentada em um Dia de Campo interativo e exclusivo aos Gigantes da cultura no estado. O evento ocorreu em Passo Fundo, no Norte do Rio Grande do Sul, em um campo de teste pertencente à Cotrijal, e recebeu 350 produtores da Região Sul. Esse lançamento marca a terceira geração de soja da Bayer apresentada no Brasil, que traz novas especialidades para o manejo de plantas daninhas e lagartas. De acordo com o líder de lançamento para a Intacta 2 Xtend da Bayer, Fábio Passos, os eventos Gigantes da Soja, que ocorreram as principais áreas produtoras do Brasil, são imperativos na disseminação de informações de manejo. “Com esse formato de evento, a Bayer traz o produto para uma realidade local, e especifica as vantagens da nova solução e a maneira correta de preservar a biotecnologia de acordo com

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as dificuldades de cada regionalidade”, disse. Tolerante ao herbicida glifosato, a plataforma trará também uma nova ferramenta: tolerância ao herbicida dicamba, que oferece um controle diferenciado de plantas daninhas de folhas largas, como a buva (um dos principais desafios do produtor no manejo de resistência, em especial nas lavouras do Rio Grande do Sul), o caruru, a corda-de-viola e o picão-preto. Segundo o consultor técnico comercial da Bayer, Carlos Henrique Dalmazzo, o amplo espectro de ação contra plantas daninhas propiciado pela adição do novo mecanismo favorece - além do custo-benefício ao produtor- o ambiente, devido à minimização do número de aplicações de herbicidas e à diminuição do consumo de combustível gasto nessa aplicação. Outro benefício, segundo Dalmazzo, é a sustentação das moléculas e proteção das tecnologias. Além disso, a ferramenta possibilita uma consistência de resultados, devido à flexibili-


Tolerante ao glifosato, a plataforma trará também uma nova ferramenta com tolerância ao herbicida dicamba

dade que o dicamba oferece em sua possibilidade de manejo pré-plantio. Segundo Marlon Denez, líder de Treinamento da Plataforma para o Brasil, a tolerância ao dicamba precisa ser trabalhada complementarmente à tolerância ao glifosato. “Uma tecnologia não substitui a outra, somente utilizando-as complementarmente é possível otimizar o manejo de resistência de forma a prolongar ao máximo a vida útil da biotecnologia”, afirma. Já no manejo de pragas, a Bayer afirma que a Intacta 2 Xtend é a única biotecnologia do mercado que agrega três proteínas com três diferentes modos de ação para o controle de lagartas. A Plataforma ampliará a proteção contra as quatro pragas-alvo da Intacta RR2 PRO (lagarta da soja, lagarta falsa-medideira, broca das axilas e lagarta das maçãs), contando com proteção adicional contra Helicoverpa armigera e Spodoptera cosmioides. “A Plataforma Intacta 2 Xtend oferece ao sojicultor mais ferramentas para que ele possa manejar pragas em sua lavoura. Somado a isso, e para garantir que a soja com essa tecnologia se adapte às particularidades de clima e solo existentes no Brasil e aumente sua performance, utilizamos novos métodos de melhoramento genético para aumentar o alcance dos testes. Esses aspectos objetivam elevar o patamar de produtividade do agricultor”,

Produtores gaúchos conheceram em janeiro nova tecnologia da empresa na cultura da soja

explicou Passos. Com a compreensão das necessidades regionais, a Bayer consegue adaptar as cultivares de acordo com essas especificidades e, em conjunto com o programa Manejo Inteligente, oferecer auxílio no manejo correto dos defensivos e sementes da marca. Depois desse primeiro contato com os produtores, a empresa estima começar, na próxima safra (2019/2020),

pesquisas de produtividade com produtores parceiros, incluindo alguns dos Gigantes da Soja que estiveram presentes nos eventos – a previsão é de 300 a 400 áreas de teste espalhadas pelo Brasil. Com previsão para lançamento comercial na safra de 2021/2022, a biotecnologia ainda depende de aprovações na China para tornar viáveis a produção e a exportação no Brasil. C

Terceira geração de soja da Bayer apresentada no Brasil, tecnologia deve estar disponível comercialmente na safra 2021/2022

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Soja

Combinação compatível Juliana Leite

Prática que se popularizou por permitir a redução do número de aplicações na lavoura e diminuir o custo final de produção, a associação de fungicidas com nutrientes ou indutores de resistência demanda a correta avaliação de compatibilidade física e química entre os produtos. Aprofundar o conhecimento sobre esse tema pode auxiliar a otimizar o manejo de doenças importantes, como a ferrugem-asiática da soja

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A

plicação de mistura de fungicidas e fertilizantes é uma prática bastante utilizada no controle de doenças e correção de deficiência nutricional na cultura da soja. Porém, pouco se conhece sobre o uso combinado dos nutrientes e fungicidas. Este tipo de estudo é importante para conhecer a compatibilidade do emprego destes produtos em única operação e fornecer informações para a melhoria nos métodos de controle de determinadas doenças. É o caso da ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), pela sua importância. A compatibilidade física e química entre os produtos deve ser observada quando houver associação à calda de pulverização. A compatibilidade física corresponde à decantação e à formação de grânulos que ocasionam entupimento dos bicos de pulverizações e à perda de eficácia dos produtos. Já quanto à compatibilidade química é importante saber que em reações alcalinas para pH acima de 7 nas caldas de pulverizações pode ocorrer decomposição dos produtos, comprometendo a eficácia do tratamento. A principal vantagem do uso associado dos produtos está na possibilidade de reduzir o número de pulverizações na lavoura, pois em uma única aplicação pode ser realizado tanto o controle de doenças ou pragas quanto o fornecimento de nutrientes essenciais para a soja e com isso reduzir o custo final de produção. Nesse sentido, o uso de misturas deve ser considerado e analisado para que não resulte em danos à lavoura. Dentro do laboratório de Fitopatologia do Instituto Biológico, uma das linhas de pesquisa integrada consiste no estudo de compatibilidade entre diferentes produtos utilizados no manejo de doenças. Como destaque, um dos objetivos foi verificar nos últimos anos a compatibilidade de alguns fungicidas importantes no controle da ferrugem da soja com fertilizantes e indutores de resistência. Em um dos ensaios adotou-se a metodologia de folha destacada desenvolvida por Scherb e Mehl (2006) e recomendada pelo Frac (Fungicide Resistange Actin Committe), ilustrada na Figura 1. Os fungicidas na concentração de 2ppm i.a. e os fertilizantes na concentração de 20ppm p.c. (valores previamente avaliados em


Figura 1 - Ilustração da metodologia de folhas destacadas aprovada pelo FRAC. Fonte: (Scherb e Mehl, 2006)

testes para se adequarem à metodologia) foram utilizados de acordo com os tratamentos estabelecidos e expressos na Tabela 1. Para cada tratamento foi medido o pH das caldas contendo cada produto isolado e suas misturas. O delineamento foi inteiramente casualizado, com 28 tratamentos e três repetições, cada uma representada por uma placa de Petri contendo quatro folíolos de soja (cultivar BMX potência RR). Após o tratamento dos folíolos (por imersão) nas diferentes caldas, durante cinco segundos, foram inoculados com uma suspensão de 105 uredósporos + 0,1% de Tween 20, acondicionados em sacos plásticos e mantidos em câmara de crescimento com fotoperíodo de 12 horas e temperatura de 22ºC ± 2ºC, por 14 dias. Avaliou-se a porcentagem da severidade da doença em cada folíolo com o auxílio da escala diagramática proposta por Godoy et al (2006). Todos os tratamentos apresentaram ação inibitória da doença, com porcentagens de severidade inferiores à testemunha absoluta (T1- 76,11%). Entre os tratamentos com os produtos isolados, as menores severidades ou maiores porcentagens de controle foram observadas com trifloxistrobina + protioconazol (T9- 77,87%). Mas quando utilizados em misturas com os nutrientes/ indutores de resistência, o controle foi incrementado, principalmente em associação com silicato de potássio (T15 - 87,36%). Todas as misturas testadas dos fungicidas com os fertilizantes ou indutores mostraram-se compatíveis entre si, visto que as porcentagens de inibição foram equivalentes ou superiores àquelas apresentadas pelos fungicidas isolados, o que indica o potencial de uso associado. Pode-se mencionar que a alteração do pH da calda das misturas não afetou a eficiência dos fungicidas nas combinações testadas. Como não é possível generalizar a compatibilidade dos nutrientes e indutores de resistência com outros fungicidas não estudados, é importante avaliar demais misturas com diferentes fungicidas e formulações recomendados para o C controle da ferrugem-asiática da soja no Brasil. Juliana Aparecida Borelli Pereira Leite, Silvânia Helena Furlan e Glauber Henrique Pereira Leite, Instituto Biológico

Severidade dos sintomas da ferrugem nos folíolos de soja aos 14 dias da inoculação dos uredósporos de Phakopsora pachyrhizi, incubados em condições controladas. Metodologia de folhas destacadas

Juliana, Silvânia e Leite avaliaram compatibilidade na combinação dos produtos

Tabela 1 - Média da severidade e porcentagem de controle da ferrugem asiática da soja nos diferentes tratamentos, avaliada pelo método de folhas destacadas. Tratamentos Ingrediente ativo (i.a.)/Fertilizantes 1 – Testemunha absoluta 2 - piraclostrobina + epoxiconazol 3 - piraclostrobina + epoxiconazol + Phytogard K 4 - piraclostrobina + epoxiconazol + Phytogard Mn 5 - piraclostrobina + epoxiconazol + Phytogard Neutro 6 - piraclostrobina + epoxiconazol + SETT 7 - piraclostrobina + epoxiconazol + Starter 8 – piraclostrobina + epoxiconazol + Silicato de Potássio 9 - trifloxistrobina + protioconazol 10 - trifloxistrobina + protioconazol + Phytogard K 11 - trifloxistrobina + protioconazol + Phytogard Mn 12 - trifloxistrobina + protioconazol + Phytogard Neutro 13 - trifloxistrobina + protioconazol + SETT 14 - trifloxistrobina + protioconazol + Starter 15 - trifloxistrobina + protioconazol + Silicato de Potássio 16 - azoxistrobina + ciproconazol 17 - azoxistrobina + ciproconazol + Phytogard k 18 - azoxistrobina + ciproconazol + Phytogard Mn 19 - azoxistrobina + ciproconazol + Phytogard Neutro 20 - azoxistrobina + ciproconazol + SETT 21 - azoxistrobina + ciproconazol + Starter 22 - azoxistrobina + ciproconazol + Silicato de Potássio 23 - Phytogard k 24 - Phytogard Mn 25 - Phytogard Neutro 26 - SETT 27 - Starter 28 - Silicato de Potássio C.V.

Concentração (ppm) 0 2 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 2 + 20 20 20 20 20 20 20

pH da calda 6,4 7,2 5,6 4,2 6,2 6,7 6,4 6,5 6,7 5,5 4,3 6,2 6,7 6,1 6,5 6,8 5,4 4,5 6,4 6,4 6,4 6,8 5,6 4,0 6,8 6,1 5,7 6,8

Severidade (%)(1) 71,22a 17,8e 11,33f 11,66f 11,66f 12,33f 12,22f 11,11f 15,76e 11,11f 11,55f 11,33f 12,24f 12,33f 9g 15,78e 11,11f 11,89f 11,68f 12,33f 12,33f 10,11f 45,56b 42,22b 46,67b 52,22c 54,67c 38,89d 20,97%

C (%) 75,0 84,09 83,62 83,62 82,62 82,68 84,40 77,87 84,40 83,81 84,09 82,81 82,68 87,36 77,84 84,40 83,30 83,60 82,68 82,68 85,80 36,02 40,71 34,47 26,67 23,23 45,39

(1)Médias seguidas pela mesma letra minúscula, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p = 0,05)

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Soja

Arranjo lucrativo Fotos Avaldi Balbinot/Embrapa Soja

A influência de diferentes arranjos de plantas sobre a ocorrência de insetos como lagartas e percevejos na cultura da soja

A

cultura da soja tem grande destaque no cenário agrícola mundial, sendo no Brasil a principal commodity de exportação. Sua produção agrícola nacional, que era de 52 milhões de toneladas na safra 2004/2005, passou para aproximadamente 117 milhões de toneladas na safra 2017/2018, incremento decorrente do aumento da área cultivada e de produtividade. Com o objetivo de aumento da produtividade nas lavouras de soja, novos

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arranjos de plantas na cultura têm sido propostos, para melhorar sua distribuição na área e, consequentemente, assegurar melhor aproveitamento dos recursos e insumos disponíveis para a cultura. As pesquisas sobre os arranjos de plantas de soja dividem-se em duas vertentes: a) aumento da população de plantas mantendo-se o mesmo espaçamento na entre linha e b) alteração dos espaçamentos na entre linha, com uma mesma população de plantas na área.

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Estes arranjos de plantas representam uma alternativa às mudanças apenas da população de plantas, uma vez que a soja apresenta, normalmente, alta capacidade de compensação, ou seja, quando a população de plantas é alterada na linha de plantio, as estruturas de ramos e folhas se adaptam conforme a necessidade. Em razão disso, em muitas situações não há diferenças de produtividade da cultura, dentro de determinada faixa de alteração na densidade populacional


A semeadura cruzada (esquerda) está entre os diferentes arranjos de plantas utilizados na cultura da soja

de plantas. Por exemplo, pode-se obter uma mesma produtividade com redução na população de 400 mil plantas de soja por hectare para 300 mil plantas de soja por hectare, em condições adequadas de umidade e fertilidade do solo. Mesmo em condições ótimas em relação aos fatores que interferem nas respostas às variações na população de plantas, como local, clima, época de semeadura, cultivar, fertilidade e ocorrência de pragas e de doenças, as variações nas populações de plantas de soja pouco têm influenciado nos rendimentos de grãos da cultura. Além disto, os estudos com arranjos de plantas de soja disponíveis na literatura são quase em sua totalidade com cultivares de soja antigas, que apresentavam elevado índice de área foliar, maior ramificação e tipo de crescimento determinado (pouco crescimento vegetativo após o início do florescimento), diferente das novas cultivares, que apresentam arquitetura considerada mais compacta.

Outro fator que impulsiona mais estudos por diferentes arranjos de plantas é a busca pela compatibilidade das máquinas semeadoras disponíveis no mercado, uma vez que muitas propriedades com equipamentos especializados em plantios de menor espaçamento que os convencionalmente utilizados para a cultura da soja poderiam passar a utilizar também nessa cultura. Dentre os arranjos de plantas que estão sendo estudados, destacam-se a semeadura cruzada, que consiste em semear a soja no sentido transversal à semeadura convencional em um ângulo de 90°; a semeadura em fileira dupla, que consiste em semear duas linhas no espaçamento de 0,20m uma da outra, espaçadas de 0,40m a 0,80m da próxima fileira dupla e a semeadura com espaçamento reduzido (adensado), que tem espaçamento normalmente de 0,20m entre linhas. De maneira geral, toda a modernização nos sistemas de produção de soja traz novos desafios e questionamentos quanto ao

Figura 1 - Flutuação populacional de lepidópteros desfolhadores em plantas de soja (cultivar BRS 359 RR), implantado em diferentes arranjos de plantas (reduzido – 20cm; convencional – 45cm; fileiras duplas – 20x60cm; cruzado – 45cm) na safra 2013/2014. Dourados, MS

Figura 2 - Flutuação populacional de lepidópteros desfolhadores em plantas de soja (cultivar BRS 359 RR), implantado em diferentes arranjos de plantas (reduzido – 20cm; convencional – 45cm; fileiras duplas – 20x60cm; cruzado – 45cm) na safra 2014/2015. Dourados, MS

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Figura 3 - Flutuação populacional de percevejos em plantas de soja (cultivar BRS 359 RR), implantado em diferentes arranjos de plantas (reduzido – 20cm; convencional – 45cm; fileiras duplas – 20x60cm; cruzado – 45cm) na safra 2013/2014. Dourados, MS

Figura 4 - Flutuação populacional de percevejos em plantas de soja (cultivar BRS 359 RR), implantado em diferentes arranjos de plantas (reduzido – 20cm; convencional – 45cm; fileiras duplas – 20x60cm; cruzado – 45cm) na safra 2014/2015. Dourados, MS

manejo fitossanitário das lavouras, especialmente com relação ao complexo de lagartas e de percevejos, que normalmente causam consideráveis prejuízos na cultura. Para o controle de pragas na cultura da soja, independentemente do arranjo de plantas, o produtor rural deve sempre contar com o manejo integrado de pragas (MIP), seguindo diferentes etapas, como o monitoramento, a diagnose e a tomada de decisão, podendo assim optar pelo controle ou não do inseto-alvo. Considerando a importância dos insetos-praga em lavouras de soja, pesquisas foram realizadas em duas safras consecutivas com o objetivo de avaliar a influência dos diferentes arranjos de plantas sobre as densidades populacionais de pragas presentes na cultura.

lagartas grandes (>1,5cm) por metro ou quando a desfolha ultrapassou 30% na fase vegetativa e 15% na fase reprodutiva e para percevejos, de dois insetos (adultos + ninfas grandes) por metro de fileira de plantas. No final do ciclo da cultura foi realizada a colheita nas quatro fileiras centrais das parcelas e determinada a produtividade (sacas/ ha) nos diferentes tratamentos. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias de cada tratamento comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

IMPLANTAÇÃO DA CULTURA E AVALIAÇÕES REALIZADAS

As pesquisas foram desenvolvidas a campo no município de Dourados, Mato Grosso do Sul, durante as safras 2013/2014 e 2014/2015. O delineamento experimental foi em blocos casualisados em quatro repetições, sendo os tratamentos representados por quatro arranjos de plantas, como seguem: convencional (espaçamento de 0,45m); fileira dupla de 20cm espaçada de 0,60m; cruzado no espaçamento de 0,45m e reduzido (0,20m), todos semeados com a cultivar BRS 359 RR (tipo de crescimento indeterminado) com uma densidade de 310 mil plantas por hectare. A soja foi instalada na área experimental seguindo as recomendações técnicas para a cultura na região. O monitoramento de insetos-praga na soja teve início no estádio fenológico vegetativo V3, empregando-se o método da batida de pano, realizando-se uma amostragem por parcela. A amostragem foi efetuada em um ponto por parcela, que consistia de oito fileiras de soja por 7m de comprimento (25,2m2). O controle de pragas na área experimental ocorreu quando foi atingido o nível recomendado para cada espécie, considerando-se a fase de desenvolvimento da planta. O nível de controle utilizado foi de 20

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FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE LEPIDÓPTEROS DESFOLHADORES

As espécies de lepidópteros desfolhadores com ocorrência nos experimentos foram predominantemente Chrysodeixis includens (Walker, 1857) (Lepidoptera: Noctuidae) e Anticarsia gemmatalis (Hübner, 1818) (Lepidoptera: Erebidae). Na primeira safra, a população de lepidópteros desfolhadores teve dois picos, sendo um no estádio fenológico V6 e outro em R2, porém o nível populacional manteve-se abaixo de oito lagartas/m durante todo o ciclo da cultura (Figura 1), não atingindo, portanto, o nível de controle. No pico em V6, houve diferença estatística na densidade populacional entre os diferentes arranjos de plantas, sendo este maior no espaçamento reduzido, enquanto no pico em R2 não se observou diferença entre os espaçamentos avaliados (Figura 1). Na safra 2014/2015, o pico populacional de lagartas foi observado apenas no estádio reprodutivo R2 (Figura 2), quando foi atingido o nível de controle (NC) e assim realizada a aplicação de inseticida para o controle. Todavia, entre os arranjos de plantas avaliados, o espaçamento reduzido foi o único em que a população de lagartas não atingiu o nível de controle (NC). Após a realização do controle químico, a população de lagartas reduziu em todos os tratamentos e manteve-se próxima a zero até o final do ciclo da cultura. Supõe-se que a diferença na ocorrência de lepidópteros des-


FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE PERCEVEJOS FITÓFAGOS

As espécies de percevejos com ocorrência nos experimentos foram Euschistus heros (Fabricius, 1794) (Hemiptera: Pentatomidae), Nezara viridula (Linnaeus, 1758) (Hemiptera: Pentatomidae) e Piezodorus guildinii (Westwood, 1837) (Hemiptera: Pentatomidae). No experimento conduzido na safra 2013/2014, os primeiros percevejos surgiram no estádio vegetativo V8 e atingiram o pico populacional entre R2 e R4 (Figura 3). Todavia, as densidades populacionais de percevejos não apresentaram diferença estatística entre os diferentes arranjos testados. Já na safra 2014/2015, os percevejos começaram a colonização no estádio R2, com o NC sendo atingido em R4 no arranjo de plantas convencional e em R5 no espaçamento de fileira dupla (Figura 4). Contudo, com o arranjo reduzido e cruzado, não foi atingido o NC, assim como ocorreu com a população de lepidópteros desfolhadores (Figura 1). O controle químico da população de percevejos foi realizado em todos os tratamentos, quando o NC foi atingido em pelo menos um dos arranjos. Mesmo com a ausência de diferença estatística entre os tratamentos, o fato do tratamento reduzido não ter atingido o NC

para o percevejo constitui uma importante informação ao produtor, pois caso seja realizado o monitoramento destes insetos-praga, será possível determinar o momento certo para utilizar ou não o controle da praga e assim economizar tanto com inseticida, quanto com a operação do pulverizador e mão de obra, reduzindo desta forma os custos de produção da lavoura para o produtor.

EFEITOS NA PRODUTIVIDADE DA SOJA

No experimento conduzido na safra 2013/2014, as maiores produtividades foram obtidas nos arranjos convencional e de fileira dupla das plantas de soja, onde ambos produziram 67 sacas/ha e 66,8 sacas/ha, respectivamente. No arranjo cruzado foi observada a menor produtividade de soja, com uma produtividade de 57,8 sacas/ha (Tabela 1). Na safra 2014/2015 todos os tratamentos de arranjo de plantas apresentaram relativamente baixa produtividade em virtude de um veranico que ocorreu na região, quando foi observado um período de 19 dias de estiagem na fase de enchimento de grãos da soja. Todavia, mesmo com baixa produtividade, os tratamentos diferiram estatisticamente e novamente destacou-se o de fileira dupla, seguido pelo convencional e o cruzado, com 31,5 sacas/ha, 30,5 sacas/ ha e 29,8 sacas/ha, respectivamente, e a menor produtividade sendo observada

Tabela 1 - Produtividade (sacas ha-1) obtida com a cultivar de soja BRS 395 RR em diferentes arranjos de plantas (reduzido – 20cm; convencional – 45cm; fileiras duplas – 20x60cm; cruzado – 45cm), nas safras 2013/2014 e 2014/2015. Dourados, MS Safra

Tipos de arranjo de plantas Convencional Fileira dupla Cruzado Reduzido 2013/2014 67,0 a 66,8 a 57,8 b 62,5 ab 2014/2015 30,5 ab 31,5 a 29,8 ab 23,3 b Médias de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05)

no arranjo reduzido (Tabela 1).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando-se conjuntamente a ocorrência dos insetos-praga e a produtividade, nos diferentes arranjos de plantas de soja, pode-se inferir que os tratamentos com menores espaçamentos apresentam provavelmente mais regiões de competição intraespecífica e, consequentemente, uma menor preferência pelo complexo de pragas da cultura. Também apresentaram menores produtividades. Nos arranjos com maior produtividade, apesar de terem sido mais atacados e as pragas atingirem o nível de controle (NC) com maior frequência, verificou-se que os gastos com o custo de controle foram compensados, o que resultaria em C maior lucro para o produtor (Tabela 1). Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Marina Mouzinho Carvalho, Iesc Faculdade Guaraí Ivana Fernandes da Silva, Universidade Federal da Grande Dourados

Avaldi Balbinot/Embrapa Soja

folhadores entre os diferentes arranjos de plantas de soja possa ser explicada devido ao balanço dos índices fisiológicos nas plantas, tais como taxa de assimilação de CO2 (A, μmol m-2 s-1), condutância estomática (gs, mol m-2 s-1), taxa de transpiração (E, mmol m-2 s-1) e concentração interna de CO2 (Ci, μmol mol-1), que são maiores nas folhas de plantas de soja mantidas nos arranjos convencional e de fileira dupla, em comparação às semeadas nos arranjos cruzado e reduzido. De forma contrária, as plantas com piores condições fisiológicas tornam-se menos atrativas a esse grupo de insetos-praga. Essa dinâmica foi observada na segunda safra, em que as populações de lagartas foram menores no arranjo de plantas reduzido, condição em que a competição é maior, já que neste espaçamento o NC de lagartas não foi atingido.

Evolução da produtividade da soja veio acompanhada de propostas de novos arranjos de plantas ao longo das safras

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Capa

Fotos Avaldi Balbinot/Embrapa Soja

Fotos Jurema Rattes

Na hora certa Por que monitorar de modo correto as lavouras de soja é fundamental para definir o momento adequado de aplicação de inseticidas contra percevejos, insetos sugadores cuja incidência aumentou de modo substancial nos últimos anos

A

tualmente, o Brasil está com 36,1 milhões de hectares cultivados com soja (Conab, 2018) e segundo o IBGE (2018), 65% destas áreas são cultivadas com a soja Intacta (biotecnologia Bt). A adoção desta tecnologia proporcionou excelente controle nas principais espécies de lagartas desfolhadoras que atacam a cultura, exceto as lagartas do gênero Spodoptera. E neste novo cenário, observou-se uma redução no monitoramento das pragas na cultura da soja e diminuição do número de aplicações de inseticidas. Esta mudança tem favorecido um aumento substancial de insetos sugadores no sistema, como o complexo de percevejos (Euschistus heros, Piezodorus guildinii, Dichelops melacanthus, Edessa meditabunda, mosca branca (Bemisia tabaci, raça B), ácaros, tripes e coleópteros. Outro fator que tem afetado a população e o comportamento das pragas é a maior utilização do solo em algumas regiões do Brasil, onde é possível realizar até três cultivos por ano (safra, safrinha e cultivos irrigados). Associado à expansão do plantio direto no cerrado, estes insetos se adaptaram a diferentes hospedeiras alternativas e atualmente pertencem ao sistema, sobrevivendo e se reproduzindo em diversas culturas no verão, safrinha, plantas tigueras e espécies usadas em cobertura como milheto e crotalária. Dentre as pragas da cultura da soja, os percevejos fitófagos representam o grupo mais importante, devido a seus hábitos alimentares e à sua alimentação ocorrer diretamente nos grãos e vagens, causando diferentes tipos de danos e prejuízos ao produtor desde a formação das vagens, enchimento de grãos, até o momento da colheita. Várias são as espécies de percevejos fitófagos que ocorrem nessa cultura. As espécies de maior frequência e importância econômica são Euschistus heros (percevejo-marrom) e Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno).

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E. heros nas culturas de girassol (Helianthus annuus), feijão (Phaseolus vulgaris) e trigo (Triticum sp) cultivados na safrinha. Rio Verde (GO)

E. heros em milheto (Pennisetum glaucum), sorgo (Sorghum bicolor) e na planta daninha leiteiro (Euphorbia heterophylla) como hospedeiras alternativas. Rio Verde (GO)

É muito importante conhecer a bieoecologia dos percevejos, como seu comportamento, os hábitos nas diferentes fases de desenvolvimento (ninfas e adultos) do inseto, a dinâmica populacional e a preferência alimentar para as tomadas de decisões no manejo, para reduzir as populações nas culturas subsequentes, e nas próximas safras, assim como compreender o aumento substancial de suas populações nos últimos anos. No período de entressafra, estes insetos se protegem em áreas de reservas (refúgios) em plantas daninhas e hospedeiras alternativas, em busca de umidade para sobrevivência. Após a semeadura e emergência da soja, chegam à cultura, ainda na fase vegetativa, pelas bordaduras dos talhões. Dependendo desta população, justifica-se realizar o controle nestas áreas, utilizando inseticidas de choque, porque são insetos adultos, mais expostos e de fácil alvo, sendo mais fácil de serem controlados. Independentemente da necessidade de realizar este controle de bordadura, o produtor tem que ter consciência, que os talhões mais pró-

ximos às áreas de refúgios (mata, nascentes e cerrados) serão os que irão receber as primeiras populações de percevejos (colonizadores). Em geral, a presença dos percevejos na cultura da soja está diretamente relacionada a vagens nas plantas, cujo período entre o começo da frutificação e o ponto de acúmulo máximo de matéria seca no grão é o de maior sensibilidade da soja ao ataque desses insetos sugadores. Entretanto, atual-

mente, com o uso mais intensificado de cultivares de hábito indeterminado, em que a soja começa o período de florescimento próximo aos 30 dias de emergência, é notório verificar a presença destes percevejos mais cedo nas lavouras. Em populações elevadas podem ser observadas ainda no período vegetativo da cultura, fato que tem gerado muitas dúvidas aos produtores quanto à necessidade de se realizar o manejo ainda na fase vegetativa.

Cultura de soja próxima a áreas de refúgio de percevejos

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Dirceu Gassen

Ocorrência de percevejos no estádio vegetativo da soja

a reprodução na soja (R1), época em que as populações, principalmente de ninfas, começam a aumentar. Com o início da formação das vagens (R3) é que os danos de percevejos se tornam importantes, necessitando de vistorias constantes nas lavouras (com auxílio de pano de batida) por parte dos produtores até o momento de colheita. Ao final do desenvolvimento das vagens (R4) e início de enchimento de grãos (R5.1- 5.4) ocorre o período em que os percevejos causam os maiores danos, os denominados danos na produção, que passam despercebidos

Dirceu Gassen

Dados científicos demostram que na fase de desenvolvimento vegetativo até a floração, os percevejos não causam danos à cultura da soja. No entanto, frente às elevadas populações de percevejos observadas nas últimas safras no período vegetativo, merece atenção especial, principalmente por parte da pesquisa, a fim de acompanhar a evolução da praga na lavoura, neste pequeno espaço de tempo, nestes materiais de hábito indeterminado. No vegetativo, a colonização ocorre principalmente por percevejos velhos, em fase final de seu ciclo biológico e com baixa atividade alimentar e reprodutiva. Por falta de alimento preferencial (os grãos), as ninfas não conseguem chegar à fase adulta, pois geralmente morrem antes do período crítico, não causando danos à cultura.

pelo produtor, onde o grão chocho é colhido e descartado imediatamente pela colhedora Outro dano muito comum, denominado de dano na qualidade do grão, que na maioria das vezes ocorre após o estádio R6 (maturação fisiológica), é caracterizado pela falta de controle dos percevejos após os estádios R.5.5 e R6. Neste caso, o produtor acredita que o inseto não mais causa danos aos grãos, e isto é uma inverdade, porque o inseto continua se alimentando até quando seu aparelho bucal conseguir perfurar a casca da vagem. E nesta fase, as populações atingem picos máximos, principalmente por percevejos migratórios vindos de lavouras vizinhas em fase de colheita. O monitoramento dos percevejos na fase final do estádio reprodutivo, a partir do estádio R6-R7, é fundamental, visto que estes insetos podem provocar danos à cultura, principalmente aos produtores de sementes. Este monitoramento e controle das populações de percevejos na fase final do período reprodutivo da cultura da soja se torna ainda mais importante quando a área é destinada ao cultivo de milho safrinha, principalmente porque Dichelops sp., espécie de grande importância na cultura do milho, se reproduz também em soja. Os danos causados por esses insetos na cultura da soja vão desde o chochamento e a má-formação dos grãos até o abortamento das vagens. Além

DANOS DOS PERCEVEJOS

O maiores danos ocasionados pelos percevejos fitófagos na cultura da soja ocorrem na fase de enchimento de grãos (R5.1 a R5.4), podendo causar chochamento parcial ou total. No entanto, esses danos podem se estender até a fase de colheita. A partir do início da floração, os percevejos começam

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Danos de percevejos em diferentes estádios fenológicos da cultura da soja


Fotos Gilvane Jakoby

Qualidade de grãos de soja em função do manejo adotado para o controle de E. heros na cultura da soja até a fase de colheita. Safra 2015/16

da redução da qualidade, da viabilidade e do vigor, as sementes de soja danificadas por percevejos sofrem alterações nos teores de proteínas e de óleo, e aumento na porcentagem de ácidos graxos livres. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e com cor mais escura que o normal. Os danos dos percevejos ocorrem através da inserção de seus estiletes (aparelho bucal do inseto), onde injetam substâncias histolícas, extraindo porções líquidas e nutritivas para a alimentação. Os danos são observados ao cortar os grãos no sentido transversal ao cotilédone e no local da punctura. Na película do grão, são observadas desde manchas bem claras, até manchas escuras e estas podem se apresentar também em forma de depressões ou em relevos. Na polpa dos cotilédones, as manchas características mais comuns são as brancas, mas pode haver, ainda, colorações verdes e até pretas. No local da picada no grão pelo percevejo, provocada pela penetração do estilete, há uma ruptura do tegumento, que resta como uma porta de entrada para micro-organismos. O monitoramento dos percevejos através do uso do pano de batida é o método mais eficaz de amostragem e captura desses insetos. De forma alguma, a tomada de decisão quan-

to ao controle deve ser adotada com base na análise visual da praga na lavoura. No entanto, o monitoramento tem sido deixado de lado por parte de produtores e consultores, optando pela aplicação “calendarizada”, ou pulverização de carona junto a herbicidas e fungicidas, sem o conhecimento da população de percevejos presentes no campo. Muitas das vezes, as aplicações calendarizadas são realizadas sem a presença da praga ou em baixas populações, ou com índices populacionais muito altos, comprometendo a performance dos inseticidas aplicados. O monitoramento bem realizado, com o auxílio do pano de batida, proporciona ao produtor realizar as aplicações nos momentos certos, com presença do inseto na área e em populações controláveis através de inseticidas e também na escolha dos produtos. Os percevejos, na fase adulta, possuem hábitos de se locomoverem para o dossel superior das plantas no período da manhã, e no momento mais quente do dia se deslocam para o terço médio. Devido a este caminhamento, se torna um alvo mais fácil de ser controlado, porque é através da contaminação tarsal que muitos insetos se contaminam com a ação de choque existente nos inseticidas. Segundo especialistas

Grãos coletados no solo pós-colheita de soja em função do manejo adotado no controle de percevejos em dez amostras de um metro quadrado

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Jose Ronaldo Quirino

Sintomas de grãos atacados por percevejos e corte de identificação da picada de percevejo

em tecnologia de aplicação, 60% a 80% do volume de calda das aplicações fica concentrado no dossel superior da soja. Já as ninfas, por se locomoverem pouco, ficam preferencialmente entre as vagens, tornam-se de difícil alvo, recebendo menor ação de choque dos inseticidas, consequentemente necessitando de complemento à dose letal pela sistemicidade dos inseticidas, geralmente encontradas nos grupos dos neonicotinoides. Vários trabalhos tem sido realizados nas últimas safras na região do Sudoeste Goiano, em áreas de produtores, em parceria com a Rattes Consultoria e Pesquisa Agronômica ea Universidade de Rio Verde (UniRV), para comparar os manejos

adotados pelos produtores no controle de percevejos (geralmente aplicações calendarizadas), com os propostos através de amostragens e monitoramento, levando em consideração a população da praga, a fase de desenvolvimento dos insetos (ninfas e adultos), a escolha dos inseticidas e a importância da aplicação no final da fase reprodutiva (R6-R7), respeitando a carência dos inseticidas. O objetivo é mostrar ao produtor o quanto se perde em função da ocorrência de grãos chochos que são descartados durante o processo de colheita, além de grãos danificados, que podem ser descartados na pré-limpeza, e ainda o número de percevejos que permanecem na área se alimentando na fase final de desenvolvimento da cultura até o momento da colheita, e o número de percevejos presentes no momento da colheita e que vão migrar para os talhões mais novos e culturas subsequentes (safrinhas). Estes trabalhos consistem na colheita manual das plantas

Fotos Jurema Rattes

Adulto do percevejo-marrom (E. heros) se alimentando na cultura da soja em estádio R8

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Coleta de percevejos no solo após a colheita da soja (1m2)


Número médio de percevejos coletados no solo pós-colheita da soja em 15 amostras de um metro quadrado em função do manejo adotado no controle de percevejos

de soja para posterior debulha manual, a fim de se obter o rendimento e a qualidade dos grãos, a colheita mecanizada, a coleta de grãos no solo (pós-colheita), a coleta de percevejos no solo (pós-colheita) e a contagem do número de percevejos no momento da colheita. Insetos estes que migrarão para outras áreas a serem colhidas. Estes trabalhos conjuntos têm como principal objetivo a conscientização do produtor da necessidade de realizar o monitoramento para a tomada de decisão, na tentativa de desvincular um hábito dos sojicultores que, para otimizar o plano operacional das máquinas, realizam o controle dos percevejos associado às aplicações de fungicidas utilizadas no controle das doenças da soja. Estes resultados mostram a importância do monitoramento no manejo de percevejos na cultura da soja para a tomada de decisão, visto que a aplicação calendarizada ou associada às aplicações dos fungicidas em função do planejamento operacional pode ocorrer em momentos não adequados para a C tomada de decisão e população da praga.

Retirada de amostra no momento da colheita para verificar o número médio de percevejos coletados na descarga da colhedora, em função do manejo adotado

Figura 1 - Número médio de percevejos coletados na descarga da colheitadeira, em função do manejo adotado. Dados extrapolados para um rendimento médio de quatro mil quilos de soja ha-1. Safra 2015/2016

Jurema Fonseca Rattes UNI-RV – Universidade de Rio Verde Agro Rattes Gilvane Luis Jakoby Agro Rattes Figura 2 - Número médio de percevejos coletados na descarga da colheitadeira, em função do manejo adotado

Jurema e Jakoby alertam para o papel fundamental do monitoramento das lavouras

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Soja

Melhor alternativa Fotos Grupo de Pesquisa Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente - UFRRJ

Frequentemente associada a casos de resistência a herbicidas, a buva desponta entre as principais plantas daninhas a limitar cultivos agrícolas no Brasil. Encontrar estratégias de controle mais eficientes e economicamente vantajosas se torna fundamental para enfrentar este desafio

O

sucesso na dessecação é imprescindível para viabilizar o plantio da cultura sem interferência de plantas daninhas. Uma dessecação bem feita é aquela que é realizada antecipadamente, utilizando-se herbicidas de amplo espectro de controle e alta eficiência. A dessecação tem por objetivo a eliminação tanto das culturas de cobertura, quando existentes na área, como das plantas daninhas presentes no local. Além disso, uma boa dessecacão é fundamental para se estabelecer o sistema de plantio direto, permitindo que a semeadura seja realizada adequadamente e garantindo a emergência da cultura “no limpo”. Ao emergir sem a presença de plantas daninhas, a cultura possui maior vantagem competitiva, garantindo um desenvolvimento inicial rápido e vigoroso. O herbicida mais utilizado para esse fim é o glifosato, defensivo sistêmico que apresenta amplo espectro de controle. No entanto, diversas espécies são tolerantes a esse herbicida, como

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corda-de-viola, trapoeraba, leiteiro, entre outras. Essas espécies são de ocorrência comum em áreas de soja e bem adaptadas ao sistema de plantio direto. Além disso, devido ao uso repetido de glifosato, diversos biótipos de plantas daninhas resistentes têm sido selecionados, de espécies como buva, campim-amargoso, azevém, capim-pé-de-galinha e capim-branco. Para realizar o manejo dessas plantas daninhas de difícil controle, tem se utilizado glifosato associado a outros herbicidas em mistura e/ou sequencial. Dentre os herbicidas utilizados em mistura, destacam-se os mimetizadores de auxinas. Os herbicidas auxínicos são altamente eficientes no controle de plantas daninhas de folhas largas, apresentando-se como uma das principais alternativas para o controle de buva resistente ao glifosato. Além disso, o posicionamento de auxínicos na dessecação possibilita o uso de inibidores de ALS e Protox para o controle em pós-emergência, rotacionando o mecanismo de ação, evitando a pressão


de seleção e o aparecimento de novos biótipos resistentes. Nesse sentido, estratégias de manejo devem aliar o controle das plantas daninhas de forma eficiente e minimizar o surgimento de novos casos de resistência. Atualmente, as estratégias mais utilizadas encontram-se relacionadas à mistura e ao sequencial de herbicidas com diferentes mecanismos de ação.

A BUVA

A buva é uma das principais plantas daninhas do Brasil. A planta apresenta folha larga e ciclo anual, propagando-se unicamente através de sementes. Sabe-se que a buva é altamente prolífera e uma única planta pode produzir até 300 mil sementes. Suas sementes não apresentam dormência e germinam prontamente quando em condições favoráveis de temperatura, luz e umidade. A emergência da buva ocorre no período entre o final do outono e o início da primavera, que coincide com o período de pousio ou plantio de inverno, favorecendo o estabelecimento dessa planta em áreas produtivas quando não há manejo na entressafra. A buva tem sido frequentemente associada a casos de resistência a herbicidas. Atualmente, existem mais de 100 casos de buva resistente a herbicidas no mundo. O Brasil apresenta nove casos reportados entre resistências isoladas e múltiplas. As resistências isoladas são referentes aos herbicidas glifosato, clorimuron, paraquat e saflufenacil e as múltiplas, aos herbicidas glifosato e clorimuron; glifosato, clorimuron e paraquat; e o caso mais alarmante, porém pontual, aos herbicidas glifosato, paraquat, saflufenacil, diuron e 2,4-D. Além da problemática de resistência, outra dificuldade associada ao controle satisfatório de buva refere-se ao estádio de desenvolvimento no momento da aplicação. Estudos demonstram que há maior dificuldade de controle quando a planta se encontra em estádio de desenvolvimento mais avançado em decorrência de diversos fatores, como a menor absorção e translocação do herbicida na planta, maior metabolização do herbicida e ocorrência de brotações laterais.

Controle de buva aos 50 dias após a aplicação de glifosato (plantas resistentes). Cafelândia/PR - 2018

ESTRATÉGIAS DE CONTROLE

Como principais alternativas para a realização do manejo adequado de buva, a fim de solucionar questões de resistência e estádio fenológico, pode-se citar as práticas de aplicação de herbicidas em mistura e sequencial. A mistura baseia-se na associação de herbicidas no tanque do equipamento, realizada imediatamente antes da aplicação. Enquanto a aplicação de herbicidas em sequencial corresponde à realização de mais de uma aplicação em determinados intervalos de tempo. Ambas as práticas apresentam o intuito de aumentar a eficiência do produto em comparação à sua utilização isolada. Quando se emprega a aplicação sequencial, deve-se considerar o custo de reentrada na lavoura, pois além do herbicida, existem os gastos com maquinário e mão de obra. Dessa forma, ao se avaliar qual a estratégia é mais vantajosa, deve-se considerar além da eficiência de controle, qual é mais econômica. Dentre as alternativas de controle, a mistura de herbicidas auxínicos é comumente utilizada em associação ao glifosato no manejo de plantas daninhas resistentes, como a buva. Diversos herbicidas auxínicos estão presentes no mercado agrícola, como 2,4-D, dicamba e triclopyr. Esses herbicidas agem de forma similar no controle de plantas daninhas, por possuírem o mesmo mecanismo de ação, e as diferenças observadas estão relacionadas geralmente à velocidade de controle. Além da mistura de herbicidas auxínicos ao glifosato, para o manejo

Plantas de buva com sintoma característico de herbicidas auxínicos (epinastia e encarquilhamento) 14 dias após a aplicação dos herbicidas. Cafelândia/PR - 2018

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Tabela 1 - Percentual de controle das plantas de buva aos 14 e 50 dias após a primeira aplicação (Dapa) dos herbicidas. Cafelândia/PR – 2018 Tratamento Testemunha Glifosato Glifosato + Dicamba1 Glifosato + Dicamba + Saflufenacil2 Glifosato + 2,4-D3 Glifosato + 2,4-D + Saflufenacil2 Glifosato + Triclopyr4 Glifosato + Triclopyr + Saflufenacil2

Dose (g ea ou ia/ha) 0 1200 1200 + 384 1200 + 384 + 35 1200 + 1005 1200 + 1005 + 35 1200 + 720 1200 + 720 + 35

14 DAPA 50 DAPA Sem Glufos. Com Glufos.* Sem Glufos. Com Glufos.* 0 0 0 0 3 15 28 41 32 73 92 97 81 -95 -35 75 65 97 71 -88 -35 75 90 99 91 -100 --

*A aplicação de glufosinato de amônio foi realizada em sequencial 8 dias após a primeira aplicação dos herbicidas, com a adição de Aureo 0,2% v/v. 1Adição de Aureo 0,25% v/v. 2Adição de Dash 1,0% v/v. 3Adição de Assist 0,25% v/v. 4Adição de Assist 0,5% v/v.

de buva resistente a glifosato e paraquat, pode-se adicionar à calda um herbicida de contato, como o saflufenacil, por exemplo. A presença de saflufenacil em mistura, além de resultar em controle mais rápido, aumenta o espectro de controle, auxiliando no manejo das plantas daninhas de folhas largas, inclusive as demais infestantes de difícil controle. Na aplicação sequencial, também se utilizam herbicidas com ação de contato. Nesse caso, o glufosinato de amônio apresenta-se como alternativa. As aplicações sequenciais são realizadas geralmente sete dias a dez dias após a aplicação inicial. A escolha do herbicida de contato utilizado em mistura é dependente da velocidade com que age. Esse é o motivo pelo qual não se recomenda a aplicação de paraquat ou glufosinato de amônio em mistura. Além disso, o herbicida glufosinato de amônio é muito dependente das condições climáticas, tendo sua velocidade de ação aumentada sob intensa luminosidade. Se aplicados em mistura, esses herbicidas rapidamente causariam necrose nas folhas, limitando a translocação dos demais herbicidas, como o glifosato e as auxinas. Por isso são alternativas para aplicação em sequencial. Por outro lado, o saflufenacil, mesmo sendo um herbicida de contato, possui ação mais lenta, permitindo seu uso em mistura.

realizado no Centro de Pesquisa Agrícola da Copacol, em Cafelândia, Paraná e a aplicação efetuada quando as plantas de buva estavam com 30cm a 40cm de altura. A pulverização foi realizada utilizando-se pulverizador costal pressurizado com CO2, calibrado para aplicar volume de calda de 200L/ha. Os tratamentos, doses e resultados estão dispostos na Tabela 1. Na primeira avaliação (14 Dapa), as auxinas apresentaram baixo controle das plantas de buva (aproximadamente 35%), porém a adição de saflufenacil e/ ou o sequencial de glufosinato de amônio incrementaram o controle para valores superiores a 70%. O rápido controle é importante principalmente quando a dessecação é realizada próxima à semeadura da soja, para evitar a matocompetição inicial das plantas daninhas com a cultura. Aos 50 Dapa foi observada diferença de controle entre as auxinas avaliadas, sendo os herbicidas dicamba e triclopyr os únicos que apresentaram controle su-

perior a 90% quando aplicados em mistura com glifosato. A mistura de saflufenacil e/ ou o sequencial de glufosinato de amônio incrementou o controle de buva em todos os tratamentos auxinícos avaliados. Para o herbicida 2,4-D, o sequencial com glufosinato de amônio se apresenta como a melhor alternativa, em virtude do maior controle de buva observado. Para os herbicidas triclopyr e dicamba, tanto a mistura de saflufenacil e/ ou o sequencial de glufosinato de amônio são alternativas altamente eficazes para o manejo de buva na dessecação. Para definir qual alternativa é mais vantajosa é necessário comparar o custo da aplicação de saflufenacil em mistura e/ou glufosinato de amônio em sequencial. Nas doses utilizadas neste ensaio, em média a aplicação de saflufenacil custa para o produtor R$ 50,00/ha, enquanto a de glufosinato de amônio, R$ 160,00/ha. Cabe ressaltar que nesse último caso deve-se adicionar ao preço do herbicida os gastos com a reentrada na área, que variam de R$ 20,00/ ha a R$ 25,00/ha. Sendo assim, a aplicação de saflufenacil em mistura aos herbicidas glifosato + auxínicos é economicamente mais vantajosa que a aplicação sequencial C de glufosinato de amônio. Camila Ferreira de Pinho, Ana Claudia Langaro, Jéssica Ferreira Lourenço Leal, Amanda dos Santos Souza, Fernando Ramos de Souza, Gabriella Francisco Pereira Borges de Oliveira e Gledson Soares de Carvalho, UFRRJ João Maurício Trentini Roy, Copacol

Fotos Grupo de Pesq. Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente - UFRRJ

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ENSAIO DESENVOLVIDO

A fim de comparar estratégias de controle envolvendo aplicações em mistura e/ou sequencial para o controle de buva resistente ao glifosato, um ensaio a campo foi desenvolvido, coordenado pelo grupo de pesquisa em Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PDPA-UFRRJ) em parceria com a Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol). O ensaio foi

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Controle de buva aos 50 dias após a aplicação de (A) glifosato+dicamba; (B) glifosato+dicamba+saflufenacil; (C) glifosato+dicamba e sequencial de glufosinato de amônio; (D) glifosato+2,4-D. Cafelândia/PR - 2018

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Arroz

Controle eficaz Cultivado há mais de 100 anos no Rio Grande do Sul, o arroz está em constante processo de evolução de produtividade e manejo. Enfrentar desafios atuais como o controle de plantas daninhas e o fantasma da resistência a herbicidas exige planejamento e esforço conjunto entre pesquisa/extensão rural e produtores

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s plantas daninhas sempre fizeram parte do cenário da lavoura arrozeira ao longo dos seus mais de 100 anos de presença no Rio Grande do Sul. Porém, com o passar dos anos o cultivo foi sendo, cada vez mais, intensificado e as plantas daninhas antes facilmente controladas pela lâmina de água ou por métodos manuais de controle, como capina e catação, começaram a se tornar mais persistentes no ambiente de cultivo, causando prejuízos à cultura. Com o advento da revolução verde, surgiram alternativas químicas para o controle destas plantas, que somadas ao avanço do melhoramento genético e à adubação mineral alavancaram a produção do cereal no Sul do Brasil e consolidaram a cultura do arroz como principal atividade econômica da Metade Sul do Rio Grande do Sul no que se refere às atividades agrícolas. A drástica redução no subsídio à agricultura determinou um novo paradigma aos orizicultores gaúchos, buscando-se “o aumento da produtividade de grãos com redução de custos”. Desta maneira, a pesquisa em arroz no Rio Grande do Sul, conduzida pela Embrapa e pelo o Instituto Riograndense do Arroz (Irga), buscou desenvolver cultivares adaptadas para o estado. Dos investimentos feitos nestas entidades, especialmente a partir do final da década de 1970, com o lançamento de cultivares, houve resultado altamente significativo no desenvolvimento do setor orizícola, pelo aumento do rendimento obtido por área plantada. Essa evolução pode ser vista ao comparar-se a produtividade média no Rio Grande em 1973/74, que era de 3,5t/ha, para a de 1998/99, que alcançou 5,4t/ha. Este acréscimo deve-se fundamentalmente à adoção de cultivares de porte baixo (com alta capacidade de perfilhamento, colmos robustos e curtos, e folhas eretas) como a BR-Irga 409 e a BR-Irga 410, lançadas em 1979 e 1980, respectivamente, primeiras cultivares do tipo “moderno” utilizadas no Brasil em uma parceria Embrapa/Irga. Em 1991, foram lançadas no mercado, pela Embrapa, as cultivares BRS 6 Chuí e BRS 7 Taim, que apresentavam como característica principal o alto teto produtivo, podendo chegar a 10t/ha, em lavouras bem conduzidas e sob ambiente favorável (luminosidade, temperatura e nutrientes). O Irga, nesta mesma época, havia lançado a cultivar Irga 417, com alto padrão produtivo e de qualidade de grão elevada para a indústria (grão premium). Passados os anos, no final da década de 1970 e anos 1980, uma estrutura alicerçada no sistema convencional de cultivo

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Fotos André Matos - Irga

estava consolidada. Eram realizadas várias operações de gradagens para o controle mecânico dos primeiros fluxos de emergência de plantas daninhas e posteriormente aplicados produtos como Molinate (Ordram), através do sistema pinga-pinga, como era conhecido na época, o que foi apresentando, com o passar dos anos, controle insatisfatório. Assim, começaram a aparecer os herbicidas de contato, como o Propanil e os pré-emergentes como o Herbadox (Pendimenthalin). O Propanil era aplicado com uma dosagem extremamente alta, oito litros por hectare, o que obrigava as aeronaves agrícolas a um maior número de decolagens pela elevada vazão, que na época eram utilizadas. Com o tempo, as plantas daninhas foram se tornando mais resistentes e surgiram outros produtos que passaram a utilizar menor dosagem, pela maior concentração dos princípios ativos, em suas moléculas, dos elementos químicos. Já nos anos 1990 surgiu o Quinclorac (Facet), herbicida altamente seletivo, com excelente controle de capim-arroz e angiquinho. Também com a utilização do herbicida glifosato e a adaptação das semeadoras, surgiram o plantio direto e o cultivo mínimo de arroz, sistemas que contribuíram para o controle de arroz daninho no período pré-Clearfield. Os conhecidos, tecnicamente, como inibidores da ALS, vieram em seguida com o Nominne e o Ricer, que também contribuíram e contribuem muito na árdua tarefa que é manejar plantas daninhas na lavoura de arroz. No final dos anos 1990 a orizicultura vivia tempos difíceis. A explosão da população de arroz daninho inviabilizava as áreas de produção, o sistema de cultivo pré-germinado, exitoso em algumas regiões de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, passou por uma expansão na tentativa de recuperar áreas tomadas por arroz daninho, porém esse sistema não se adaptou. Os ventos mais intensos em algumas regiões do estado e o elevado número de animais silvestres, como a marreca, o maçarico, dentre outras, que se aproveitavam dos grãos do arroz em estado inicial do processo de germinação para se alimentarem, tornaram esse

sistema de cultivo inviável para a maior parte do Rio Grande do Sul. No início dos anos 2000 uma verdadeira revolução tomou conta da lavoura arrozeira. O Sistema Clearfield surgiu e com ele o lançamento pelo Irga de uma cultivar tolerante a herbicidas, a Irga 422 CL, com mutação gênica capaz de tolerar os herbicidas do grupo químico das imidazolinonas e controlar de maneira eficaz o arroz daninho e outras plantas infestantes da lavoura. Concomitante a este evento, o Irga e seu Projeto 10, onde se apregoava práticas de manejo inovadoras para a época (adubação nitrogenada em solo seco, antecipação da época de semeadura, redução volume de sementes, irrigação com o arroz em V3 e controle sequencial e precoce de plantas daninhas) alavancaram a produtividade de arroz no Rio Grande do Sul, estabilizando a produção gaúcha em mais de 8 mi/ton/ano. Atualmente, através de monitoramentos realizados por equipe de técnicos, uma parceria entre extensão rural e pesquisa do Irga, constata-se a resistência de plantas daninhas, principalmente o arroz daninho e o capim-arroz, em níveis preocupantes, ocasionada pela falta de rotação de mecanismos de ação, visto que a utilização massiva dos inibidores de ALS vem tornando este mecanismo com maiores índices de resistência por estas plantas. Com este cenário, vislumbra-se uma mudança, com a necessidade de uma alteração de planejamento em muitas áreas produtivas e a rotação de culturas e a integração lavoura-pecuária como o novo paradigma para as áreas orizícolas do Rio Grande do Sul. Desta maneira, a introdução da soja possibilitará o uso de herbicidas de grupos diferentes, além de contribuir com outros ganhos técnicos. Também a pecuária e a cobertura de solo permanente, através das pastagens, serão muito importantes no manejo integrado das plantas daninhas. Somem-se a isso o plantio direto, o preparo antecipado, a assistência técnica qualificada, com um programa bem montado, onde se poderá utilizar um leque de opções para controle das plantas daninhas e se rotacionar os mecanismos de ação. Estas são algumas medidas extremamente efi-

Azevém resistente ao glifosato, um dos desafios no manejo da lavoura orizícola

Presença intensa de capim-arroz resistente aos herbicidas inibidores de ALS

Área de soja severamente infestada pela incidência de capim-arroz

cientes para combater essa ameaça que vem provocando prejuízos à lavoura arrozeira. Daqui para frente, não só é necessário ser eficientes, mas também eficazes no planejamento das lavouras. É preciso compreender-se ainda mais e buscar esse mesmo comprometimento dos colaboradores (M.O. Rural), porque novas tecnologias estão surgindo e continuarão a surgir. Mas se forem mal manejadas podem causar danos irreversíveis às áreas orizícolas. Não se pode negligenciar no combate e no controle eficaz das plantas daninhas, que são itens do manejo de elevado custo. Há muito a construir juntos, pesquisa/extensão rural/produtor, mas será preciso um grande sinergismo entre todos e a confiança no trabalho que cada um precisará executar para alcançar juntos os objetivos e as metas que todos buscam: “um controle eficaz das plantas daninhas na cultura do arroz no Rio C Grande do Sul”. André Barros Matos, Irga

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Cana

Mudas irrigadas Fotos Augusto Y. P. Ohashi

Como minimizar perdas de água e utilizar de modo eficiente as diferentes possibilidades de manejo de irrigação de mudas pré-brotadas (MPB) na cultura da cana-de-açúcar

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sistema de produção de Mudas Pré-Brotadas (MPB) consiste em tecnologia para a produção em tempo reduzido, com elevado padrão de sanidade, vigor e uniformidade e, consequentemente, reduzir falhas no plantio e diminuir a quantidade de colmos necessária para plantio mecanizado. Este sistema consiste em três fases de cultivo: brotação, aclimatação fase 1

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e aclimatação fase 2 (fase de rustificação). A aclimatação 1 é conduzida em cultivo protegido com o objetivo de permitir o rápido desenvolvimento das mudas. Na aclimatação 2, as mudas são expostas a pleno sol, para rustificação antes do transplantio no campo. A irrigação é prática necessária em todas as fases do sistema de produção de MPB. No entanto, conside-

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rando-se a crescente demanda pelo uso da água dos setores da sociedade, é necessário que o manejo da irrigação seja eficiente para produção de mudas com qualidade e com economia no uso da água. A quantidade de água a ser aplicada pelo sistema de irrigação depende de vários fatores: clima (temperatura, radiação, velocidade do vento, umidade relativa, chuva), cultura (cultivar, área foliar, estádio de desenvolvimento, práticas culturais),


Estação meteorológica automática instalada em ambiente protegido no Centro de Cana do IAC em Ribeirão Preto, SP

Exemplo de disposição de coletores para avaliação da taxa de aplicação de água do sistema de irrigação por barra móvel no ambiente protegido do Centro de Cana do IAC

ambiente de cultivo (substrato, características estruturais e ambientais do cultivo - protegido ou não), dentre outros fatores. Há grande diversidade e complexidade de sensores para monitoramento do clima, desde termômetros até estações meteorológicas automáticas com coleta de vários elementos do clima com oferta de dados em tempo real ou não. A estimativa da demanda hídrica da atmosfera pode ser feita com o uso de estações meteorológicas, que podem ser instaladas dentro ou fora do ambiente protegido. Além do monitoramento do clima, outras opções são possíveis, como estimativa do consumo de água das mudas por medidas de massa, pelo controle de volume aplicado e percolado e monitoramento da água no substrato. Na produção de MPB, em que as mudas são cultivadas em tubetes, uma das alternativas que podem ser adotadas para melho-

rar o manejo de irrigação consiste no monitoramento do volume de água percolado (perdido) após a irrigação. Para isto, é necessário conhecer a lâmina de irrigação aplicada e a lâmina percolada. A taxa de aplicação de água é dependente do sistema de irrigação utilizado. Quando o sistema é de aspersão fixa, é preciso conhecer a taxa de aplicação do sistema e com isto estima-se a lâmina aplicada baseando-se no tempo de funcionamento. Para conhecer a taxa de aplicação do sistema colocam-se coletores em nível e na mesma altura em que as mudas são dispostas no sistema de produção. Após isto, liga-se o sistema por tempo determinado e mede-se o volume de água dos coletores. Para estimativa do tempo de irrigação há necessidade de atenção ao período demandado para atingir o equilíbrio hidráulico e o tempo em que normalmente as irrigações são realizadas no ambiente de

Figura 1 - Exemplo de estimativa de velocidade de deslocamento da barra de irrigação móvel indicada no painel controlador (%) de acordo com a lâmina de irrigação desejada. Avaliação realizada no cultivo protegido do Núcleo de Produção de Mudas Pré-Brotadas do Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto, SP

Bandejas de MPBs com os coletores instalados para coleta e medição do volume drenado

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Tabela 1 - Relação entre lâmina de irrigação aplicada (mm) e porcentagem de perdas por drenagem em função do volume percolado no coletor Volume percolado (ml) 50 100 150 200 300

1 17 33 50 67 100

Lâmina de irrigação (mm) 1,5 2 Perda (%) 11 8 22 17 33 25 44 33 67 50

3 6 11 17 22 33

cultivo. Dividindo-se o volume (em litros) medido em cada coletor pela área (em m²) do coletor, tem-se a taxa de aplicação em milímetros para o tempo em que o sistema funcionou. Com a irrigação realizada por aspersão com barra móvel, a lâmina de irrigação aplicada depende da velocidade de deslocamento da barra. Assim, ao se coletar o volume em diferentes velocidades, obtém-se equação em que ao se inserir o valor de lâmina de irrigação desejada, obtém-se a velocidade de deslocamento da barra a ser utilizada (Figura 1). Neste tipo de sistema de cultivo para avaliação da taxa de aplicação de água do sistema e também para estimar a uniformidade de distribuição de água, os coletores podem ser dispostos de diferentes formas, considerando as posições das mudas no sistema de produção. A instalação de coletores que podem ser adaptados abaixo das bandejas de mudas possibilita avaliação da ocorrência ou não de percolação após irrigação e da lâmina de água drenada. Estes coletores podem ser confeccionados a partir de diferentes materiais e dimensões, mas é preciso atenção para que fiquem adequadamente fixados à bandeja na qual foram instalados e que não ocorram vazamentos. Conhecendo-se a água aplicada e a drenada, é possível realizar o balanço de entradas e saídas de água e com isto estimar o consumo de água em dado intervalo de tempo ou entre irrigações consecutivas. A visualização da ocorrência de volume drenado pode auxiliar o operador a verificar se após a irrigação o volume de água drenado foi elevado ou não, e com isto verificar se a lâmina

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de irrigação foi excessiva. Com isto, a tomada de decisão pode ser a aplicação de maior número de irrigações para dividir a lâmina aplicada ou ainda a redução do tempo de irrigação, seguida de posterior avaliação. Esse tipo de informação é relevante, pois devido ao cultivo em volume reduzido de substrato é comum ocorrer perda de água, já que o pequeno volume de substrato não possibilita a retenção de elevadas quantidades de água. É importante ressaltar que a solução drenada e armazenada no recipiente do coletor é composta por água de irrigação e nutrientes. Assim, a solução armazenada no recipiente do coletor possibilita o monitoramento do volume e também o monitoramento do pH e da condutividade elétrica (CE) da solução drenada. Estas informações também são relevantes para conhecer as condições químicas do meio de cultivo das mudas. Medidores portáteis de pH e CE podem ser utilizados para fazer esse monitoramento. Além de pH e CE, outros parâmetros também podem ser avaliados. Quanto maior a CE da solução, maior é a perda de nutrientes do substrato. Essa informação também pode ser utilizada para definir a necessidade de adubações das mudas e cuidados relacionados ao aporte de nutrientes no meio, que podem auxiliar na tomada de decisão do substrato e adubação, por exemplo. Como exemplo de estimativa e uso das avaliações, a Tabela 1 apresenta

informações relacionando o volume medido no coletor e o quanto esse volume representa de perda em cada lâmina de irrigação. Neste exemplo, a bandeja tem 0,63m de comprimento e 0,475m de largura, totalizando área de 0,3m². É importante lembrar que para relacionar a porcentagem de perda, é realizada a transformação do volume percolado considerando a área de captação de água possível que é a da bandeja adotada. Ainda uma alternativa para fins de manejo da irrigação consiste no monitoramento da água no substrato. Esta informação pode auxiliar o manejo da água com o uso de sensores nos tubetes, dentre estes, os tensiômetros a gás. Esse tipo de sensor pode fornecer em tempo real o potencial matricial da água no substrato, o que está relacionado à maior facilidade ou não para a muda retirar água do substrato. Quanto mais negativo o valor, conclui-se que a água está retida a maior tensão no substrato e com isto a demanda pode ocorrer em taxas mais elevadas que o meio consegue fornecer. O valor zero indica o espaço poroso totalmente preenchido com água e falta de aeração (Figura 2). O monitoramento ao longo do dia permite conhecer e conferir o horário das irrigações (picos na Figura 2), assim como avaliar o molhamento proporcionado pela irrigação. Na Figura 2, verifica-se que o Manejo 4, por exemplo, por aplicar menor lâmina de irrigação que os demais, não

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Aspecto visual da solução drenada após irrigação das mudas e equipamentos e acessórios necessários para monitoramento de volume, pH e condutividade elétrica

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possibilitou repor água em valores facilmente disponíveis às plantas, mesmo logo após as irrigações, o que indica que as mudas estavam sob déficit hídrico. De acordo com alguns experimentos conduzidos no Núcleo de Produção de Mudas de MPB no Centro de Cana do IAC, verificou-se que com a manutenção do potencial matricial no intervalo entre -1,0 e -2,0 kPa, resultou em mudas com maior matéria seca. Na Figura 2, estes valores ocorreram nos exemplos de Manejos 1 e 2. Esse tipo de informação mostra que, se por um lado a aplicação excessiva de água resulta em grandes perdas de água e nutrientes pela drenagem, a irrigação quando feita de forma ineficiente ou em volume menor que o necessário pode resultar em mudas com menor matéria seca. As diferentes possibilidades para manejo eficiente de irrigação das MPBs e produção de mudas com qualidade envolvem monitoramento, pois somente desta forma pode-se adequar e avançar no sistema de produção com minimização de perdas de água. Há possibilidades diversas, com custos e complexidades variáveis quanto aos possíveis equipamentos e todos, desde que devidamente utilizados, certamente contribuirão para o uso eficiente da C água no sistema MPB.

Figura 2 - Exemplo de monitoramento do potencial matricial da água no substrato em diferentes manejos de irrigação utilizando-se sensor Hidrosense Irrigas e controlador MRI. Os Manejos 1 e 2 resultaram água facilmente disponível para as plantas em comparação com os demais. Observa-se também a ocorrência das irrigações, indicadas pelos picos no gráfico, no qual verifica-se que a cada irrigação o potencial aproximou-se de zero

Exemplo de mudas pré-brotadas de cana, produzidas com manejo de irrigação com déficit hídrico (à esquerda) e sem déficit hídrico (à direita)

Augusto Yukitaka Pessinatti Ohashi, Regina Célia de Matos Pires, Mauro Alexandre Xavier, Cássia Morilha Lorenzato Sanches Ruy e Rômulo Henrique Petri, IAC

Ohashi, Regina e Xavier participam dos experimentos

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Algodão Divulgação

Efetividade preservada Monitorar a suscetibilidade de populações de campo da lagarta Helicoverpa armigera, para detectar o início da redução de sensibilidade dos insetos a cultivares de algodão que expressam proteínas Bt, é uma ação estratégica que permite evitar/retardar futuras falhas de controle dessas tecnologias

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cultivo de plantas transgênicas é um dos maiores exemplos de aplicação dos conhecimentos em biotecnologia. No Brasil, a primeira aprovação de um evento transgênico expressando uma proteína inseticida ocorreu em 2005. Tratava-se de plantas de algodão expressando um gene da bactéria Bacillus thuringiensis, que produz a proteína inseticida Cry1Ac. Desde então, a utilização de plantas Bt, expressando diversas proteínas inseticidas, foi adotada também nas culturas de milho, soja e cana-de-açúcar no País. Essa tática de controle promoveu a redução significativa do uso de inseticidas, gerando, consequentemente, benefícios como reduções nos custos de produção, ganhos ambientais, diminuição nos impactos em espécies não alvo desses produtos fitossanitários, como inimigos naturais e polinizadores, e nas pressões de seleção de populações resistentes a diversas moléculas inseticidas. Helicoverpa armigera (Hubner) (Lepidotera: Noctuidae) é uma espécie polífaga amplamente distribuída no planeta. Características como elevada mobilidade e fecundidade, alta capacidade de adaptação a diferentes cultivos e potencial destrutivo em diversas culturas tornam essa espécie uma praga de significativa relevância econômica. O uso de plantas transgênicas resistentes a lagartas tem sido uma importante ferramenta para o controle de H. armigera. Porém, como as plantas Bt produzem proteínas inseticidas durante todo seu ciclo, os insetos que se alimentam dessas plantas estão sob constante seleção de indivíduos mais tolerantes a tais proteínas. Considerando a importância dessa espécie como praga na cultura do algodoeiro e a significativa expansão dessa cultura no Brasil (1,2 milhão de hectares na safra 2017/18), cresce a preocupação em preservar a efetividade dessa tática de controle. Sendo assim, faz-se necessário o estabelecimento de um plano de monitoramento da suscetibilidade de populações de campo da praga a fim de detectar o início da redução de sensibilidade dos insetos às proteínas Bt. Portan-

to, trata-se de uma ação estratégica que permite evitar/retardar futuras falhas de controle das tecnologias. Em Mato Grosso, populações de H. armigera têm sido monitoradas quanto à eficiência dos traits transgênicos de algodão. Até a safra 2015/2016, não havia sido observada a ocorrência de lagartas dessa espécie em lavouras de algodão Bt, com as tecnologias WideStrike, Bollgard II e TwinLink, demonstrando que até então essa tática de controle era eficiente sobre essa espécie. Entretanto, na safra 2016/2017 foi constatada uma população de campo de H. armigera em Primavera do Leste, Mato Grosso, com sobrevivência de 40% de lagartas até o 4° instar em bioensaios com discos foliares de cultivares de algodoeiro WideStrike, que expressam as proteínas inseticidas Cry1Ac + Cry1F (Figura 1). Apesar de haver uma sobrevivência de 40% de lagartas durante os bioensaios, quando essas lagartas sobreviventes continuavam se alimentando de folhas do algodoeiro, nenhum indivíduo atingia a fase adulta, o que sugere que o processo evolutivo da resistência estava no início. Entretanto, na safra 2018, foi constatada a ocorrência de lagartas de H. armigera, em um talhão semeado com uma cultivar de algodoeiro transgênica com essa tecnologia, no município de Campo Verde, Mato Grosso. Em um bioensaio em labora-

tório com essa população, 25% dos indivíduos atingiram a fase adulta. Evidenciando então um possível processo de evolução de resistência. Adicionalmente, em entrevistas com produtores e consultores agronômicos (38 entrevistados), mais de 50% afirmaram ter detectado a presença de lagartas de Heliothinae causando danos em variedades de algodoeiro com a mesma tecnologia. Durante as safras de 2015 a 2017, lagartas de H. armigera têm sido coletadas em campos de algodão no estado de Mato Grosso e submetidas a ensaios com toxinas purificadas, para o monitoramento da evolução da resistência deste inseto às toxinas Cry (Tabela 1). Não houve diferenças significativas ao longo dos três anos monitorados, indicando que até 2017 não existia evidência de evolução da resistência em campo às proteínas de B. thuringiensis presentes nos eventos transgênicos. Para o ano de 2018, estes bioensaios ainda estão em fase de execução. Estudos com Spodoptera frugiperda comprovam que indivíduos resistentes à Cry1F podem apresentar corresistência às toxinas Cry1Aa, Cry1Ab e Cry1Ac. Considerando que a tecnologia Widestrike contém as proteínas Cry1Ac e Cry1F, é possível que ocorra a seleção simultânea de indivíduos resistentes às duas proteínas. Esta informação alerta para a possiblidade de que esse processo de seleção esteja ocorrendo para H. armigera, indicando que o manejo deste inseto baseado unicamente no uso de plantas Bt precisa ser revisto.

Figura 1 - Percentual de lagartas de H. armigera que atingiram o 4° instar de desenvolvimento alimentando-se de folhas coletadas em cultivares de algodoeiro com expressão de proteínas inseticidas

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Fotos Divulgação

A

B

C

Para auxiliar no monitoramento é recomendado o uso de armadilhas, que podem ser do tipo luminoso (A), contendo atrativo alimentar (B) ou do tipo Delta com feromônio sexual (C)

Como o controle químico é uma ferramenta importante e complementar para o controle dessa e de outras espécies-alvo da tecnologia Bt, uma parceria entre IMAmt, Embrapa e diversos colaboradores tem proporcionado o monitoramento da suscetibilidade de populações de H. armigera às principais moléculas inseticidas utilizadas, assim como proteínas Bt.

ORIENTAÇÕES PARA O SUCESSO NO CONTROLE DA PRAGA

O Estado de Mato Grosso é responsável por mais de 65% do algodão produzido no Brasil e aproximadamente 85% dessa produção é classificada como algodão de 2ª safra, ou seja, semeado após a colheita de soja. Considerando que 60% da soja cultivada em Mato Grosso expressa a proteína Cry1Ac, e as variedades de algodão cultivadas após a soja também expressam a mesma proteína, além de outras, uma quebra de resistência de H. armigera à tecnologia Widestrike proporcionaria infestações da praga em ambas as culturas. Diante da constatação da presença de H. armigera em talhões de algodão com expressão das proteínas Cry1Ac + Cry1F de forma conjunta, recomenda-se a adoção de medidas para reduzir os problemas ocasionados por esta espécie em cultivos Bt. Entre as medidas a serem adotadas, o monitoramento das lavouras é de extrema importância, pois servirá como base para se buscar ferramentas de controle mais adequadas para o melhor controle dessa importante praga. Para auxiliar no monitoramento, é recomendado o uso de armadilhas, que podem ser dos tipos luminoso, à base de atrativo alimentar ou de feromônio. A utilização de armadilhas não deve substituir a atuação dos monitores, ou seja, as armadilhas servem como uma ferramenta complementar com o objetivo de aumentar a capacidade operacional do monitoramento. Além disso, podem indicar as revoadas iniciais, o que possibilitaria a antecipação da detecção do problema. A adoção de técnicas de manejo da resistência, como o

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uso de cultivares que expressam mais de uma proteína com mecanismos de ação distintos e em altas doses e o uso de áreas de refúgio estruturado, é primordial para a permanência dessa tática de controle. O monitoramento de populações de lagartas-praga resistentes em culturas Bt é essencial, a fim de identificar se as espécies-alvo das tecnologias estão sobrevivendo. Isso permite o controle imediato dessas espécies para evitar que indivíduos resistentes às proteínas Bt sobrevivam e transmitam essas características genéticas para as próximas gerações. Ao atingir o nível de controle, recomenda-se a utilização de aplicações com inseticida, de preferência aqueles mais seletivos aos inimigos naturais. Além disso,é de extrema importância a utilização de inseticidas com mecanismos de ação distintos, evitando assim o processo de seleção de população resistente às moléculas inseticidas também. Importante ressaltar o papel das áreas de refúgio, para o manejo da resistência, por possibilitar o cruzamento de indivíduos ainda suscetíveis com resistentes, pois, normalmente, os indivíduos provenientes desses acasalamentos apresentam uma razão de resistência inferior ao progenitor resistente. Entretanto, isso não é uma regra. O uso do refúgio promove tal benefício quando adotado em âmbito regional, ou seja, em que todas as propriedades com cultivos de plantas Bt instalem suas próprias áreas de refúgio. Os produtores vizinhos podem estabelecer parcerias tanto para a escolha das plantas Bt que irão cultivar, quanto para a organização das áreas de refúgio, para a maximização do efeito nas diferentes propriedades estabelecidas na região. Nas cultivares de algodão das tecnologias Bollgard II e TwinLink não foram observadas ocorrência de lagartas de H. armigera até o presente momento. Sendo assim, as áreas de refúgio são de extrema importância, pois podem prolongar a vida útil destas tecnologias. Além da utilização das áreas de refúgio, devido às principais características do sistema produtivo, o ideal seria um plano de


Tabela 1 - Resultado da CL50 (concentração letal necessária para matar 50% da população testada) obtida com toxinas de B. thuringiensis purificadas contra H. armigera Toxinas Cry1Aa Cry1Ab Cry1Ac Cry1F

Ano 2015 6 (3 – 10) 27 (6-51) 8 (4-12) 49 (5-117)

CL50 (ng/cm2) Ano 2016 6,5 (2,8 – 10) 23 (5-49) 6 (4-11) 51 (5-123)

Ano 2017 8,5 (2 – 16) 15 (2-40) 10 (2-16) 55 (10-68)

Médias de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05)

sucessão de cultivos que evitem a utilização de cultivares que expressem as mesmas proteínas inseticidas. Dessa forma, pode-se reduzir a pressão de seleção sobre determinadas proteínas inseticidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estratégias de manejo da resistência, para plantas Bt e inseticidas, precisam ser implementadas a fim garantir a eficiência dessas táticas de controle. Adicionalmente, ações que promovam a adesão do Manejo Integrado de Pragas (MIP) são necessárias para racionalizar as ações de controle. Em locais com reconhecida expertise no manejo da resistência de pragas às plantas Bt como a Austrália, o manejo da resistência está intimamente ligado ao emprego do Manejo Integrado de Pragas, promovendo então um efeito supressor das pragas em escala regional que resultou no decréscimo do uso de inseticidas por área e manu-

tenção da eficácia dos eventos transgênicos resistentes às espécies-alvo das tecnologias. Importante salientar que o sucesso na sobrevivência das tecnologias transgênicas e a adoção do MIP em larga escala se deram pela união dos quatro elos da cadeia produtiva (pesquisa, extensão, indústria e proC dutor rural).

Jacob Crosariol Netto, Guilherme Gomes Rolim, Leonardo Scoz e Erica Soares Martins, Instituto Mato-grossense do Algodão Rafael Major Pitta, Embrapa Agrossilvipastoril e Daniela de Lima Viana, Universidade de Cuiabá


Coluna Agronegócios

Os benefícios dos pesticidas para a humanidade e para o meio ambiente

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uem não prosseguisse na leitura deste artigo, em virtude de seu título, fá-lo-ia por convicção de que se trata de propaganda da indústria de agroquímicos. Entretanto, a pretensão é comentar uma revisão da literatura científica efetuada pelos cientistas Jerry Cooper e Hans Dobson (Natural Resources Institute, University of Greenwich, United Kingdom), publicada na revista CropProtection. As duas primeiras frases do artigo acima referido são: “A maioria dos artigos publicados sobre pesticidas foca nos seus atributos e nas suas externalidades negativas. Este fato provavelmente explica a percepção inacurada da sociedade no tocante ao efetivo perigo que eles representam e o baixo nível de reconhecimento dos benefícios que trazem”. Elas traduzem a motivação dos autores, que se autoimpõem o objetivo de “explorar e analisar os muitos benefícios do uso de pesticidas, de maneira a que a sociedade possa fazer uma análise mais equilibrada”. Segundo os autores, no total de artigos por eles revisados, foi constatada uma proporção de 40 com visão negativa para cada artigo com visão positiva sobre o uso de pesticidas. Liminarmente os autores analisam o risco percebido versus o risco real. Em um arrazoado comparativo, é mostrado que, nos EUA, 40 mil pessoas morrem atropeladas por carros a cada ano, apesar da rígida legislação americana. Contrapõem que a fome mata 15 milhões de crianças por ano, o que poderia ser evitado se pragas agrícolas fossem adequadamente controladas nos países assolados pela fome. Referem um estudo que classificou os 30 perigos que mais conduzem à morte nos EUA. Os pesticidas ficaram em 28º lugar, sendo menos perigosos que conservantes de alimentos (27º), eletrodomésticos (15º), natação (7º), fumo (2º) e bebidas alcoólicas (1º).

BENEFÍCIOS PRIMÁRIOS

Os autores listam 26 benefícios primários, diretos, como controle de pragas, e 31 benefícios secundários, que não são tão perceptíveis. Os benefícios primários são divididos em três categorias. A primeira delas trata do controle de pragas e vetores de doenças. Os principais benefícios elencados são: 1) aumento da produtividade e da qualidade dos produtos agrícolas; 2) redução da presença de micotoxinas nos alimentos; 3) aumento do “tempo de prateleira” dos alimentos; 4) redução da penosidade no controle de pragas, especialmente de plantas invasoras; 5) redução do uso de combustíveis fósseis no controle de plantas invasoras; 6) viabilização do plantio direto e menor necessidade de movimentação do solo; 7) redução da taxa de dispersão e de estabelecimento de pragas exóticas. A segunda categoria trata do controle de pragas e seus vetores, que afetam animais e a espécie humana. Nesse grupo são listados benefícios como: 1) redução de mortalidade humana; 2) redução do sofrimento de cidadãos por menor incidência de enfermidades; 3) redução dos incômodos impostos à sociedade por enfermidades; 4) aumento da produtividade do trabalho,

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por menor incidência de doenças que afastem pessoas do trabalho ou as inabilitem para tanto; 5) redução da mortalidade de rebanhos de animais de criação; 6) redução do sofrimento dos animais por menor incidência de enfermidades; 7) aumento da produtividade e da qualidade dos alimentos e produtos derivados de animais e; 8) contenção geográfica das enfermidades animais. Como terceira categoria são listados os benefícios pelo controle de pragas que afetam atividades humanas e estruturas físicas. Entre outros, são listados: 1) maior visibilidade nas estradas vicinais por controle de plantas nos acostamentos; 2) controle de pragas em vegetação nativa; 3) controle de pragas em parques e jardins; 4) proteção de estruturas de madeira.

BENEFÍCIOS INDIRETOS

O primeiro grupo é o de benefícios às comunidades, sendo elencados como principais: 1) o ingresso de recursos financeiros pela melhoria da atividade agrícola, favorecendo outros segmentos econômicos de uma comunidade; 2) melhoria do acesso à alimentação e maior segurança alimentar, pela maior oferta e menor custo; 3) segurança dos alimentos, pela multiplicidade e severidade das regras e controles legais; 4) maior diversidade de cultivos, viabilizados pela disponibilidade de controle de pragas; 5) liberação de mão de obra para outras atividades; 6) aumento da expectativa de vida; 7) redução de custos com medicamentos veterinários e humanos. A segunda categoria trata dos benefícios de uma nação, com os autores destacando: 1) maior peso da economia agrícola; 2) aumento das exportações; 3) aumento da produtividade da mão de obra; 4) redução da erosão e aumento da capacidade de armazenagem de água no solo; 5) redução da migração das áreas rurais para urbanas; 6) áreas de parques e jardins mais agradáveis. Finalmente, a terceira categoria trata dos benefícios globais, com destaque para: 1) segurança alimentar; 2) menor pressão de expansão da fronteira agrícola; 3) menor emissão de gases de efeito estufa; 4) menor pressão de introdução de pragas em novas áreas; 5) maior conservação da biodiversidade; 6) menor intensidade de epidemias em humanos, quando transmitidas por vetores. O espaço aqui disponível permite tão somente elencar as causas, sem poder analisá-las, fundamentá-las e discuti-las. Assim, o objetivo deste artigo é informar que existe uma análise aprofundada do tema, incentivando-se os interessados a ler o artigo original de Cooper e Dobson, para entendimento das justificativas de cada benefício em particular, disponível em www.sciencedirect.com/science/article/pii/ C S026121940700097X.

Decio Luiz Gazzoni, O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja


Coluna Mercado Agrícola MILHO

Safra de verão em colheita e perdas devido ao clima

A safra de verão do milho ou primeira safra está em colheita, com a confirmação de perdas na produtividade devido ao clima, sendo que neste começo de ano se observa a produção recuar (de mais de 26 milhões de toneladas colhidos na safra passada para algo entre 20 milhões de toneladas e 22 milhões de toneladas). Isso abre espaço para que a cotação do cereal seja melhor que em 2018. Esperam-se medias do grão no decorrer do ano, com patamares mais próximos de R$ 40,00 a saca junto aos portos e às indústrias frente aos R$ 37,00 a saca que foram praticados neste último ano. As exportações consumiram grandes volumes do cereal que estavam sobrando, com embarques próximos de 15 milhões de toneladas nestes últimos quatro meses, enxugando o excedente da safrinha passada e abrindo espaço para um ano de oferta e demanda mais ajustadas.

SOJA

Exportações perderam ritmo no final de janeiro por falta de soja

O mercado da soja do Brasil zerou os estoques do grão neste começo de 2019. É a primeira vez que se observa esse cenário em mais de 30 anos. A exportação de 2018 levou volume superior a 83,8 milhões de toneladas do grão

e foram mais de 102,1 milhões de toneladas do complexo soja, enquanto a produção não passou de 120 milhões de toneladas. Como o consumo interno é superior a 28 milhões de toneladas, acabou por consumir todo o estoque de passagem. Para atender exportações finais de virada de ano, o Brasil precisou embarcar soja da safra nova, que teve a colheita antecipada devido à seca e ao calor. Além disso, as indústrias já estão esmagando a soja de janeiro como se também fosse estoque da safra passada. Esse cenário tende a resultar em um ano em que haverá menos grãos para exportar, com um quadro mais ajustado devido à safra que deve ser menor por conta do clima, mesmo que o plantio tenha avançado forte neste último ano. Será um ano de cotações maiores para os produtores.

superou a marca de 1,8 milhão de toneladas embarcadas. A pressão de alta deve começar pelo Norte, que com poucas lavouras colhidas neste começo de temporada em Tocantins já registrou uma corrida para o arroz e disputa, na faixa dos R$ 59,00 a saca, muito acima do praticado em dezembro. O mercado ainda se mantém calmo no Rio Grande do Sul porque as indústrias continuavam na expectativa de receber arroz programado de contratos, de pagamento de dívidas, insumos e adiantamentos de capital aos produtores, para depois se poARROZ sicionarem. Como a safra brasileira não deve Ano começa com indicativos chegar a 11 milhões de toneladas e o consude alta no arroz mo passará de 12 milhões de toneladas, será Os produtores de arroz, que sofreram com necessário importar grandes volumes, dando o mercado fraco em 2018, neste começo de fôlego aos indicativos internos para crescerem C 2019 enfrentaram inundações e falta de lu- logo após a colheita. minosidade para as lavouras gaúchas. Como há perdas na safra e o Brasil caminha para um ano de consumo crescente, as cotações tendem a se fortalecer. Os estoques também Vlamir Brandalizze devem ser baixos, porque o País acabou exporTwitter @brandalizzecons tando mais que o esperado em 2018, quando www.brandalizzeconsulting.com.br

Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo segue forte no cenário internacional. O Brasil tem safra menor que a demanda, e como as demais commodities o trigo está em alta. Há fôlego positivo para os produtores brasileiros, que devem ter altas cotações já a partir de fevereiro. A tendência é de que o grão volte a girar novamente na faixa de R$ 1.000,00 por tonelada. EUA - O mercado de grãos americanos começou 2019 travado devido à disputa entre o presidente Donald Trump e o congresso, cujos membros resistiam em aprovar o orçamento e liberar 5,7 bilhões de dólares para construir o muro na fronteira com o México. Sem operações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e sem dados neste primeiro mês do ano, também permanecia o impasse com a China, favorecendo apelo para queda do novo plantio de soja. Os produtores norte-americanos seguiam sinalizando que iriam aumentar as áreas com algodão e milho, reduzindo a soja entre dois milhões de hectares e três milhões de hectares, trazendo a safra local para um potencial menor que 120 milhões de toneladas da oleaginosa para este novo ano. Clima favorável a ajustes positivos nas cotações em Chicago. CHINA - A China seguia em conflito comercial com os EUA e com isso reduziu as importações de soja em 2018, frente ao ano

anterior. Com 88,03 milhões de toneladas importadas, de acordo com os dados oficiais do governo chinês, houve queda de 7,9% frente ao ano anterior. Primeira queda de importação em muitos anos. O maior vendedor de soja aos chineses foi o Brasil, com 82% do volume total. Um avanço para o país que normalmente negociava em média 65% das compras chinesas. Para este novo ano, o Brasil não terá toda a soja que os chineses irão precisar e com ou sem briga os asiáticos terão de comprar dos EUA. Darão fôlego positivo a Chicago quando isso se confirmar. ARGENTINA - A safra dos argentinos, que em 2018 foi de grandes perdas devido à seca, em 2019 segue com problemas localizados com o excesso de chuvas. Com perdas, houve redução do plantio efetivo e não deverá chegar à safra recorde estimada anteriormente. Há prejuízos na soja, que teve a área reduzida para 17,5 milhões de hectares frente às expectativas iniciais de 18 milhões de hectares. Ficou pouco acima de 17,2 milhões de hectares plantados na safra passada. Os indícios são de que o país alcançará 50 milhões de toneladas e não mais 57,5 milhões de toneladas cogitadas no começo do plantio. Mesmo assim, ficará bem acima das 37,8 milhões de toneladas colhidas no ano passado.

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Coluna ANPII

Conhecimento difundido ANPI e Esalq somam esforços para oferecer curso a distância sobre fixação biológica de nitrogênio

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m dos fatores que contribuem decisivamente biológica de nitrogênio, para aprofundamento do tema. para o atual patamar de uso de inoculantes Serão convidados como professores os pesquisadores mais no Brasil é a sua forte difusão, pela pesquisa, renomados da área, de diversas instituições, que ministrapela extensão rural, pelas universidades e pelos órgãos rão aulas de duas horas cada, havendo grande interação de imprensa vinculados ao agronegócio, além, lógico, do on-line, com perguntas e respostas em tempo real. Haverá marketing das empresas e das campanhas da Associação também aulas a campo, para mostrar as melhores práticas Nacional dos Produtores de Inoculantes (ANPII). do uso de inoculantes. Ao final, os alunos aprovados no Desde a criação em 1990, a associação tem pautado teste final receberão um certificado da USP. como uma de suas principais atividades a difusão das vanA evolução da tecnologia agrícola, com a exigência de tagens econômicas e ambientais do uso maiores produtividades e mudanças dos inoculantes. Já na década de 1990, a no sistema de plantio, e as novas culANPII, juntamente com a Embrapa, exetivares que estão entrando constanUm dos fatores cutou um amplo plano de incremento do temente na rotina das lavouras, vêm que contribuem uso desse insumo biológico, com um série trazendo também novos desafios de mais de 20 palestras por todo o Brasil. para a indústria de inoculantes. As decisivamente para A ANPII organizou a parte logística das pamudanças climáticas, com condições o atual patamar de lestras e um grupo de pesquisadores, de de ambiente nem sempre favoráveis diversas unidades da Embrapa, realizava ao estabelecimento da simbiose enuso de inoculantes as palestras, reunindo um grande númetre planta e bactéria, também têm no Brasil é a sua ro de agricultores, técnicos agrícolas e exigido dos técnicos das empresas forte difusão, pela agrônomos. que produzem o inoculante um proOs resultados obtidos foram palpáduto que possa resistir, pelo menos pesquisa, pela veis, com um significativo aumento na parcialmente, a estas condições adextensão rural, taxa de adoção da tecnologia. Diversas versas, o que ainda pode ser alcancooperativas, em especial no Paraná, que çado pelo uso correto do produto pelas universidades tinham taxas de adoção de 30% de vendas no campo. e pelos órgãos de inoculantes em relação às vendas de Portanto, o domínio do conhede imprensa sementes, passaram rapidamente para cimento de toda a cadeia do inoníveis acima de 50% e atualmente checulante por parte dos agrônomos e vinculados ao gam a mais de 80%. Posteriormente, nos pelos agricultores se torna cada vez agronegócio anos 2000, foi realizada nova rodada de mais necessário, para que se possa palestras, abrangendo praticamente toda extrair todos os benefícios que a fixaa área de soja, também com grande aflução biológica de nitrogênio oferece ência de público. aos plantadores de soja e de outras leguminosas. E estes Mais recentemente, há cinco anos, a ANPII decursos e outras ações desenvolvidas pela associação têm senvolveu um curso a distância, com os recursos da por objetivo justamente isto: o desenvolvimento dos cointernet (www.anpii.org.br). No começo era pratinhecimentos teóricos e práticos sobre FBN, tornando essa camente uma apresentação em Power Point, tendo tecnologia, já utilizada por mais de 90% dos agricultores, evoluído para um curso EAD, com exposições mais cada vez mais uma ferramenta fundamental para as eledetalhadas e mais claras, constando de cinco móvadas produtividades necessárias ao aumento da renda dulos abrangendo a Fixação Biológica de Nitrogênio no campo e ao incremento da oferta de alimentos com (FBN) de uma maneira leve, mas bem completa. O sustentabilidade. curso já foi acessado por mais de dois mil alunos. A ANPII, que já congrega um leque de empresas com Atualmente passa por um processo de atualização alta expertise na produção de inoculantes, amplia seu e ampliação, que estará pronto no mês de março. trabalho na área de difusão, contribuindo, assim, para o Mas ampliando ainda mais o escopo da difusão, sucesso do agronegócio brasileiro. C a ANPII entrou em contato com a Escola de AgroSolon Araujo, nomia Luiz de Queiroz (Esalq), para, em conjunto, Consultor da ANPII desenvolverem um curso a distância sobre fixação

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