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Destaques
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Os riscos do biótipo Q da mosca branca, detectado em plantas ornamentais do Mato Grosso, para as lavouras comerciais do estado
Risco identificado
Como reagir à nova espécie de vírus Wheat stripe mosaic virus (WhSMV), associada ao mosaico do trigo
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Índice
Q da questão
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Hospedeiras alternativas
A problemática de plantas daninhas, que além de competir por recursos naturais, ainda servem de abrigo e alimento para insetos-praga Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 238 Março 2019 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Jacob Crossariol Neto
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas
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Nova espécie de vírus em trigo
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Lagarta-do-cartucho em milho
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Reguladores de crescimento em algodão
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Capa - Mosca branca biótipo Q
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Avaliação da qualidade das sementes
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Daninhas hospedeiras de pragas
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Desafios de produzir soja no Matopiba
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Adubação em café Conilon
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Alumínio em solos agrícolas
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
• Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves Miriam Portugal
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas Híbrido
A Morgan Sementes e Biotecnologia lançou no Show Rural Coopavel seu novo híbrido de milho MG545. Testado em todo o Brasil, além da adaptação, o material promete alta sanidade foliar e de colmo, e grande tolerância em situações de estresse hídrico e pressão de pragas. “O MG545 é um material completo que atende o agricultor em busca de produtividade com estabilidade. Aliado à tecnologia PowerCore Ultra, é um exemplo da evolução tecnológica do agronegócio brasileiro”, avalia a engenheira agrônoma Diogênes Panchoni, líder de Marketing da Morgan.
Marca
Pela primeira vez no Show Rural Coopavel, a Forseed, nova marca da LongPing High-Tech, lançou os híbridos de milho FS500PW, FS505PWU e FS715PWU. Os materiais puderam ser vistos de perto pelos produtores em parcelas demonstrativas durante o evento. “Aproveitamos a oportunidade para mostrar novas soluções e apoiar o produtor em suas escolhas. Estamos cientes de que certo é ser específico no campo, levando em consideração não só o material em si, mas como ele vai se comportar diante do microclima, o tipo de solo, a época de plantio e a pressão de pragas e doenças de cada região”, explicou o líder de Marketing da Forseed, Aldenir Sgarbossa.
Soja
No estande da TMG no 31º Show Rural, produtores e visitantes conheceram oito variedades de soja, que incluem quatro lançamentos e um pré-lançamento. Nas áreas de plantio, todas as cultivares foram semeadas em duas épocas, setembro e outubro, demonstrando o posicionamento adequado e o potencial de cada uma. Os lançamentos foram TMG 7061IPRO e TMG 7260IPRO, ambas cultivares Intacta RR2 PRO e Inox (resistência à ferrugem-asiática), TMG 1759RR, opção para refúgio, indicada para regiões acima de 600 metros de altitude, e TMG 7058IPRO, pré-lançamento precoce, resistente ao acamamento e também Inox.
Produtividade
Fungicida
A Helm do Brasil participou pela primeira vez do Show Rural Coopavel. De acordo com a gerente de Marketing, Nadege Saad, o destaque da marca foi o fungicida multissítio Previnil, de ação protetora, com aplicação foliar, indicado para o manejo de doenças da soja, principalmente a ferrugem-asiática. Também ocorreu o lançamento do SkyFLD, nova ferramenta de agricultura de precisão capaz de gerar um mapa de variabilidade do solo para auxiliar o agricultor no processo de tomada de decisão. 04
Nadege Saad
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A Donmario apresentou no Show Rural Coopavel suas cultivares de soja. Entre os destaques esteve a DM53I54, campeã brasileira em produtividade no concurso realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). “Material de alto potencial produtivo, que tem se destacado na região do Paraná pela produtividade”, avaliou o supervisor de Desenvolvimento de Mercado Donmario, Vinicius Bellé. As cultivares DM66I68, DM57I52 e DM5958 também estiveram em evidência no estande da marca.
Vinicius Bellé
Projeção
A Syngenta aproveitou a participação no Show Rural Coopavel para demonstrar os avanços da companhia na oferta de sementes, com a aquisição da Nidera. A aposta na tecnologia para controle de lagartas em milho Viptera, associada a um novo processo de melhoramento, equipe reforçada e lançamentos de cultivares, está entre os focos da empresa. Com um time reforçado por 130 profissionais dedicados exclusivamente ao negócio de sementes, a Syngenta trabalha com a meta de se transformar na melhor empresa de sementes da América Latina, segundo o líder do Negócio de Sementes para Brasil e Paraguai das marcas Syngenta e Nidera, André Franco.
Defensivos
A Nufarm participou do Show Rural Coopavel levando soluções completas para as culturas de soja, milho e trigo. De acordo com o gerente executivo de Trade da Nufarm, Jeander Costa, os destaques foram os herbicidas Zetha Maxx e Crucial, os fungicidas Manfil e Rivax e o inseticida para tratamento de sementes Inside FS. A empresa mostrou ainda o recém-lançado programa NufarmCare, centrado no uso seguro de defensivos agrícolas da marca.
Portfólio
A UPL apresentou no Show Rural Coopavel seu portfólio de fungicidas multissítio composto por Triziman, Tridium e Unizeb Gold. O diretor de Negócios Sul, Urias Piovan Costa, destacou ainda o inseticida Sperto, para o manejo de percevejos e mosca-branca, e também o herbicida Fascinate, que controla buva e amargoso. Para Costa, o momento é de celebrar. “Foi concluída a aquisição da Arysta transformando a UPL na quinta maior empresa de agroquímicos do mundo. O mercado está muito receptivo e existe uma sinergia entre a Arysta e a UPL, tanto nas culturas como no portfólio”, opinou Urias.
Cultivar
Recomendada para cultivo no Sul do Brasil, a Brasmax Zeus IPRO foi destaque da marca na Coopavel 2019. Entre os pontos altos apontados pela empresa estão precocidade e excelente adaptação em regiões de maior altitude. A cultivar ainda é resistente a cancro da haste e podridão radicular de Phytophthora, raças 1 e 3. “A Brasmax possui um variado portfólio de cultivares de soja, com produtividade e precocidade superiores, agregando maior rentabilidade ao negócio do agricultor”, destacou o supervisor comercial, Anderson Weissheimer.
Participação
Andreson Weissheimer
A Basf trouxe para o Show Rural Coopavel novidades para o manejo de plantas daninhas em soja e algodão, com o lançamento dos herbicidas Atectra (dicamba) e Amplexus (imazapique + imazapir). Segundo o gerente sênior de Marketing da Basf, Eduardo Gobbo, a participação da empresa no evento marca também o ingresso no mercado de sementes, já na safra 2018/19. Outro destaque da marca na feira ficou por conta do herbicida Finale (glufosinato de amônio).
Eduardo Gobbo
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Ação
A ação Cronnos Field foi destaque no estande da Adama, no Show Rural Coopavel. Com foco em soja e milho, a iniciativa percorre as principais áreas de produção do Brasil. “Diante de severas doenças da soja, e em especial a ferrugem-asiática, Cronnos Field é uma oportunidade singular de proporcionar conhecimento ao visitante do Show Rural sobre todos os benefícios de Cronnos T.O.V.”, avaliou o gerente de Produtos da Adama, Leandro Garcia.
Arroz
Márcio Ebling
Novidades
A Bayer participou do Show Rural Coopavel com novo portfólio de produtos em sementes, defensivos, agricultura digital e plataforma de serviços. O diretor de Operações da Bayer Brasil, Márcio Santos, destacou ainda a rede AgroServices e a plataforma de agricultura digital FieldView, que coleta e processa automaticamente dados de campo de forma simples e integrada, gerando mapas e relatórios em tempo real, o que auxilia no monitoramento e tomadas de decisões no campo.
Híbridos
Márcio Santos
Parceria
A RiceTec esteve presente na 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz juntamente com a Adama. Juntas, as marcas destacaram as tecnologias FullPage, uma nova geração de sementes com tolerância a herbicidas do grupo das imidazolinonas (IMI) para semente de arroz, e Max-Ace, desenvolvida para controlar o arroz vermelho. “Fizemos uma parceria global com a Adama, visando flexibilizar e melhorar o controle de plantas daninhas. Nós temos a genética e a Adama tem a tecnologia dos herbicidas”, explicou o responsável pelo Desenvolvimento de Mercado da RiceTec, Gustavo Karan. 06
A FMC destacou na 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz soluções para o manejo de plantas daninhas, com foco na tecnologia GP, além do herbicida Stone para soja. “Precisamos continuar mostrando o que o produtor pode agregar para fazer o manejo mais correto do ponto de vista de plantas daninhas”, salientou o responsável por Desenvolvimento de Mercado da FMC, Márcio Ebling. A marca apresentou, ainda, o inseticida Altacor para combate das principais pragas, o herbicida Ally para plantas infestantes de difícil controle e o bionematicida Quartzo para o manejo de nematoides.
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A Nidera Sementes apresentou no Show Rural Coopavel o portfólio da marca, com soluções para agricultores do Sul do Brasil. Em soja, a Nidera destacou a cultivar NS 6601 IPRO, cujas características incluem estabilidade produtiva e tolerância a estresse hídrico. Em milho, a principal novidade ficou por conta do híbrido NS 45 Vip3, desenvolvido para a safrinha. De acordo com o coordenador de Marketing e Comunicação da Nidera Sementes, Nélio Reis, trata-se de um material superprecoce, com elevado teto produtivo, que favorece o controle da lagarta da espiga e pode ser cultivado do Paraná ao Mato Grosso.
Nélio Reis
Lançamento
O grande destaque da Corteva na 29ª Abertura da Colheita do Arroz foi um herbicida sob nome técnico Rinskor, cuja marca comercial deve ser registrada em 2019. O produto auxilia no manejo de resistência não só em gramíneas, mas em folhas largas, folhas aquáticas e ciperáceas. “O produto chega para revolucionar a lavoura de arroz e a maneira como o produtor vem manejando a cultura, aliado para garantir e assegurar a produtividade e o controle das plantas daninhas, com mecanismo de ação novo”, avaliou o líder de Cultivo dos Portfólios de Arroz e Cana-de-açúcar da Corteva no Brasil, Ecli Ávila Filho. A expectativa é de que o herbicida esteja disponível na próxima safra pelos distribuidores autorizados da Corteva. Os herbicidas Rincher e Clincher também foram destaques da marca no evento.
Vitor Bernardes
Contra a pirataria
A Basf lançou, na 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, a segunda fase da campanha contra a pirataria de sementes. “As sementes salvas, ou piratas, não têm garantia de qualidade e pureza. O uso de sementes certificadas oferece uma série de vantagens, como uma lavoura uniforme e de maior potencial produtivo. Por isso, é importante o agricultor adquirir sementes provenientes de multiplicadores licenciados que atendem a todos os pré-requisitos do Ministério da Agricultura”, enfatizou o gerente de Marketing Arroz e Trigo da Basf, Vitor Bernardes. O selo Seed Solutions Arroz e o fungicida Seltima, em fase de registro contra a brusone, também estiveram entre os lançamentos da marca.
Demandas
A Bayer lançou, na 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, o fungicida Fox Xpro para o tratamento de doenças na soja e apresentou a Climate FieldView, plataforma que integra informações de solo, plantio, monitoramento, pulverização e colheita. A marca ainda destacou os benefícios do fungicida Nativo, que atua nas diferentes fases do ciclo de vida do fungo, e o herbicida Starice, para manejar problemas de resistência de gramíneas na cultura do arroz. “A Abertura da Colheita do Arroz é uma grande oportunidade para que a Bayer apresente todos os benefícios de variedades adaptadas às demandas do agricultor brasileiro com tecnologias e soluções personalizadas para o campo”, avaliou o coordenador de Desenvolvimento de Mercado da Bayer, Eduardo Goulart.
Soluções
Os produtores que visitaram a 31ª edição do Show Rural Coopavel tiveram a oportunidade de receber dicas sobre produção sustentável de alto desempenho em uma sala de projeção e conferir seu resultado a campo em uma área demonstrativa de milho e soja. Essas atrações estiveram no estande da Alltech. No espaço foram apresentadas tendências e novidades sobre o uso de soluções naturais no manejo de diversas culturas e espécies, por meio de vídeos, como a “Websérie Prosa de Mestre – Soluções naturais para todo o ciclo da soja” e o documentário “A extraordinária vida do Dr. Pearse Lyons”, fundador da empresa. Também foram realizadas palestras sobre temas que desafiam o produtor no seu dia a dia no campo. www.revistacultivar.com.br • Março 2019
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Circuito
No estande da Syngenta no Show Rural Coopavel o produtor pôde acompanhar um circuito completo sobre agricultura, com informações desde o tratamento de sementes, passando por manejos de pragas, doenças e plantas daninhas. Focada em uma proposta de eficiência com sustentabilidade econômica e ambiental, a empresa apresentou soluções que podem ser adotadas pelos mais diferentes perfis de produtores, com tecnologia para pequenos, médios e grandes agricultores. O diretor de Marketing Brasil da Syngenta, André Savino, destacou ainda as ofertas em agricultura digital, frutos da aquisição de empresas do setor pela Syngenta.
André Savino e Luciano Daher
Sementes
Tecnologia
A LongPing High-Tech, multinacional chinesa que começou suas atividades no Brasil em 2017, também esteve presente no Show Rural Coopavel. Atuante no mercado de sementes de milho, a empresa não trabalha com agroquímicos e pretende acessar outras culturas como sorgo e soja, de acordo com o diretor-geral para a América Latina da LongPing, Mozart Fogaça. Para o evento, a companhia trouxe a nova marca comercial Forseed e a tecnologia Power Core Ultra.
A Corteva apresentou durante o Show Rural Coopavel a variedade Enlist E3, tecnologia pautada na tolerância aos herbicidas glifosato, 2,4D e glufosinato, voltada para o controle de plantas daninhas sem causar danos ao cultivo da soja. O gerente de Marketing Enlist, Diego Rorrato, explicou que a marca focou ainda em soluções para o manejo de lagartas, que abrangem também a cultura do milho. As cultivares Conkesta E3 e Power Core Ultra Enlist, e dois herbicidas com tecnologia Colex D, foram lançados no evento.
Ruy Fachinni
Aniversario
Mozart Fogaça
A Brevant, nova marca de distribuição da Corteva Agriscience, comemorou durante o Show Rural Coopavel um ano de lançamento no Brasil. Segundo o líder de Marketing de Sementes Brevant, Ruy Fachinni, entre os destaques no estande da empresa estiveram os híbridos com tecnologia PowerCore Ultra, o Universo Brevant apresentado em sala de cinema e o sistema Enlist.
Tratamento
A Syngenta levou para a 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz seu portfólio para a cultura do grão, especialmente nos segmentos de fungicidas, inseticidas e tratamento de sementes. Os destaques da marca foram o inseticida Cruiser Opti, para tratamento de sementes e controle de pragas, além do fungicida Priori Top. 08
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Diego Rorrato
Novos rumos
A Adama terá, a partir de 1º de abril, Alexandre Pires, atual diretor de Negócios da Região Sul do Brasil, como diretor de Marketing da companhia, nolugar de Romeu Stanguerlin, que deixará o cargo para assumir como CEO da Adama Brasil. Formado em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás e MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Pires começou sua carreira na Adama em 1999. Desde então, desenvolveu estratégias e exerceu importante liderança no alcance dos resultados obtidos pela empresa ao longo dos anos.
Alexandre Pires
Microbiológicos
O Grupo Vittia apresentou no 31º Show Rural Coopavel o programa Vit Integra e o lançamento dos produtos microbiológicos Tricho-Turbo (fungicida microbiológico) e No-Nema (nematicida microbiológico). “Estamos muito animados em participar deste evento, receber nossos clientes no estande do Grupo e, principalmente, apresentar o Vit Integra para o mercado agrícola do Sul do País”, relatou o gerente comercial do Grupo Vittia para os estados do Paraná e Santa Catarina, Mário Alves Monferdini. O estande da marca foi dividido em quatro estações tecnológicas, onde foram ministradas palestras e feitas demonstrações com as linhas de produtos especiais como inoculantes, biofertilizantes, adjuvantes, suspensões concentradas e controle biológico.
Herbicidas
A Arysta LifeScience apresentou novidades para a cultura do milho aos agricultores da região Sul do País, durante a Coopavel. Os destaques foram os herbicidas SelectOne Pack e Kennox, focados no combate a plantas daninhas mais resistentes. “Para a Arysta, oferecer as melhores tecnologias ao produtor para o manejo eficiente é poder fazer parte da sua evolução e proporcionar que suas expectativas sejam atendidas, o que nos aproxima cada vez mais.”, disse o gerente de Marketing da Região Sul, Ricardo Dias.
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Trigo
Risco identificado Uma nova espécie de vírus, denominada Wheat stripe mosaic virus (WhSMV), associada ao mosaico do trigo, foi identificada através do uso de técnicas avançadas de sequenciamento genético. A identificação correta é essencial para apoiar os programas de melhoramento genético e a recomendação de medidas eficazes de manejo
M
Douglas Lau (Embrapa Trigo)
osaico em trigo causado por vírus, cuja transmissão está ligada ao solo, ocorre em várias regiões produtoras do mundo. No Brasil, se dá principalmente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Sul do Paraná. Estudos de caracterização de cultivares de trigo, indicadas para a região onde predomina essa virose, revelam que, em áreas afetadas, a redução do potencial produtivo das cultivares suscetíveis está ao redor de 50%. Embora não devidamente quantificada, há uma
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percepção de aumento de áreas com mosaico e, consequentemente, de seu impacto no rendimento do trigo. Além da vulnerabilidade das cultivares, tem sido questionado se as práticas atuais nos sistemas de produção com uso de cereais de inverno têm levado ao aumento da incidência de mosaico-comum. É possível que a compactação do solo, associada ao plantio direto em sistema de sucessão trigo-soja, contribua para a expansão de áreas com danos à produtividade devido a essa virose. No Brasil, a observação de sintomas de mosaico em trigo tem mais de 40 anos. Conforme relatado por Caetano e colaboradores em 1978, em estudo pioneiro que descreve a etiologia da doença no Brasil: “A preocupação dos triticultores com uma doença representada por sintomas de mosaico nas folhas e cuja disseminação estaria associada ao solo, data dos fins dos anos 60”. No final da década de 1970, a distribuição da doença já era considerada generalizada nos trigais do Rio Grande do Sul. Àquela época, os pesquisadores, utilizando as tecnologias disponíveis, concluíram que a disseminação natural pelo solo, associada ao “fungo não verdadeiro” Polymyxa graminis Led, à transmissão mecânica, às propriedades físicas in vitro do agente etiológico, bem como à morfologia de partículas virais em forma de bastonetes associadas à infecção e à ultraestrutura dos tecidos afetados, sugeria que esta anomalia era causada pelo vírus do mosaico do trigo, transmitido pelo solo (Soil-borne wheat mosaic virus - Furovirus) e descrito em Illinois e Indiana nos Estados Unidos em 1923 por McKinney. Além desse vírus, também se citou, posteriormente, o Wheat Spindle Streak Mosaic Virus (WSSMV), outro vírus transmitido por P. graminis e, possivelmente, associado aos sintomas de mosaico em trigo no Brasil. Ao longo destes 40 anos de história, com o surgimento de tecnologias mais precisas para a identificação de vírus, como os testes sorológicos e moleculares, foram realizadas várias tentativas de implementá-las para melhorar o diagnóstico da doença no Brasil e para desenvolver conhecimento sobre o vírus e sua interação com a planta. Porém, de forma intrigante, todas as tentativas de detecção baseadas na pressuposição de que SBWMV ou WSSMV seriam os agentes causais da doença em trigo no Brasil se mostraram sem sucesso. A interação vírus-planta também alimentava o enigma. Embora no Brasil seja feita caracterização de cultivares, seleção de genótipos resistentes em campos com mosaico e estudos gené-
Elliot Watanabe Kitajima
Partícula viral na forma de bastonete rígido frequentemente encontrada em amostras de trigo com sintomas de mosaico-comum do trigo
ticos de herança da resistência e herdabilidade, como o caso da cultivar brasileira de trigo Embrapa 16 (descrita como resistente ao SBWMV), a falta de ferramentas de diagnóstico preciso (antissoros e sequências virais para detecção molecular) dificultava o entendimento dos mecanismos de resistência. Testes recentes no Brasil, com a cultivar americana Karl 92 (que contém um QTL de maior efeito para resistência ao SBWMV, no braço longo do cromossomo 5D), demonstraram ser esta cultivar suscetível ao vírus do mosaico-comum no Brasil. Reação contraditória também foi observada para outras cultivares tidas como resistentes ao SBWMV e/ou WSSMV. Estes fatos, associados a informações discrepantes de reação de cultivares entre locais e anos de cultivo, reforçavam a necessidade de se obter informações precisas sobre a identidade e a variabilidade da população viral associada ao mosaico-comum no Brasil. Uma das hipóteses era de que mesmo pertencendo às espécies de vírus descritas, a população viral no Brasil era tão divergente que interagia de forma distinta com as fontes de resistência, e não reagia com os antissoros e “primers” produzidos a partir de isolados virais de outras regiões. Outra hipótese era de que outra espécie de vírus estava associada ao mosaico do trigo. Entre o conjunto de espécies candidatadas estavam mais de 20 espécies de vírus pertencentes a cinco
gêneros, Benyvirus, Furovirus, Pecluvirus, Pomovirus e Bymovirus, que são conhecidas por serem transmitidas por plasmodiophoromycetos, como P. graminis, para diversas culturas. A partir dos anos 2000, novas tecnologias de sequenciamento, denominadas de tecnologias de sequenciamento de nova geração (Next Generation Sequencing ou NGS), começaram a ser utilizadas comercialmente e evoluíram rapidamente. Todas essas tecnologias promovem o sequenciamento de DNA em plataformas capazes de gerar informação sobre milhões de pares de bases em um único procedimento. Assim, genomas pequenos, como os de bactérias e de alguns eucariotos, podem ser montados com facilidade. A caracterização molecular de diferentes espécies virais tem se tornado mais acessível com o sequenciamento de nova geração, permitindo o desenvolvimento de ferramentas específicas e seguras para o diagnóstico de tais vírus. O fato de realizar sequenciamento de maneira não direcionada permite explorar toda a gama de vírus que possa estar associada a uma patologia. Assim foi descoberto o Wheat Stripe
Mosaic Virus (WhSMV). Primeiramente, foram coletadas amostras de oito cultivares de trigo com sintomas típicos de mosaico-comum. A área onde essas plantas foram coletadas tem longo histórico da doença. Nas raízes das plantas com mosaico frequentemente se encontra o vetor P. graminis, e a análise ao microscópio eletrônico revelou a presença de partículas em forma de bastonete rígido. Até então, todos os descritores estavam coerentes com a presença de um furovírus como o SBWMV. Além disso, o extrato obtido dessas plantas quando inoculado em Chenopodium amaranticolor (uma planta indicadora de vírus) produz reações locais, o que é esperado para um furovírus como o SBWMV. Na busca pelo material genético viral, das plantas coletadas, foi extraído o ácido ribonucleico (RNA). O genoma da grande maioria dos vírus de planta é constituído de RNA (diferentemente de bactérias e organismos eucariotos como o ser humano, cujo genoma é de DNA – ácido desoxirribonucleico). Na célula das plantas hospedeiras onde os vírus se multiplicam, existem vários tipos de RNA. Nessa pesquisa foi utilizado um método para extração de RNA total (todos os tipos de RNA) seguido de uma etapa que enriqueceu a amostra para RNA de dupla fita (double stranded RNA- dsRNA). Como os vírus em sua fase
Análises de bioinformática após sequenciamento de nova geração para obtenção de sequências virais
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Representação diagramática do genoma e das estratégias de tradução das regiões codificadoras do WhSMV. O círculo preto representa a estrutura de CAP na extremidade 5’ e A(n) da cauda poliadenilada na extremidade 3’. Replicase, CP e RTD estão associadas a replicação, formação da capa proteica e transmissão, respectivamente. A partir dos RNAs subgenômicos podem ser produzidas as três proteínas associadas ao movimento (TGB 1, 2 e 3) e a proteína hipotética (sem função conhecida) (Adaptado de Valente et al, 2019)
replicativa na célula hospedeira utilizam seu próprio RNA como molde, ocorre a formação de RNA dupla fita, assim, o enriquecimento da amostra para dsRNA amplia as chances de se encontrar sequências gênicas virais. Após análise de qualidade e quantidade do RNA extraído, o mesmo foi submetido ao sequenciamento. Primeiramente, o RNA foi convertido em DNA para constituir uma “biblioteca” de fragmentos a serem sequenciados. De cada uma das amostras que foram sequenciadas, foram geradas aproximadamente 30 milhões de pequenas sequências de 100 pares de bases. A etapa seguinte foi a análise de bioinformática. Análises de bioinformática são usadas para juntar (por complementariedade) esses fragmentos, permitindo a montagem do genoma viral. O genoma obtido foi então comparado com genomas virais disponíveis em bancos internacionais de sequências (bancos que reúnem as sequências nucleotídicas obtidas por laboratórios de todo o mundo, ou seja, nesse caso que contêm as sequências dos vírus atualmente conhecidos pela comunidade científica). Essa comparação revelou que a identidade de sequências de nucleotídeos com vírus relacionados já conhecidos é de, aproximadamente, 50%. Ou seja, o vírus encontrado nas amostras é uma nova espécie até então desconhecida. Esse vírus tem dois RNAs genômicos e suas sequências e organização genômica indicaram que o vírus se enquadra em um grupo distinto do que era hipotetizado originalmente. Ao invés 12
de um furovírus, o vírus do mosaico do trigo se assemelha mais aos membros da família Benyviridae. Atualmente, apenas o gênero Benyvirus compõe essa família, na qual, Beet Necrotic Yellow Vein Virus (BNYVV) é a espécie tipo. Nesse gênero também estão classificados Beet Soil-Borne Mosaic Virus (BSBMV), Burdock Mottle Virus (BdMV) e Rice Stripe Necrosis Virus (RSNV). BNYVV e BSBMV são encontrados naturalmente infectando espécies de plantas da família Amaranthaceae, especialmente Beta Vulgaris. BNYVV é responsável por causar a doença conhecida como rizomania, uma das doenças de maior importância econômica na cultura da beterraba açucareira no mundo, enquanto BSBMV causa o mosaico da beterraba e é restrito a algumas regiões dos Estados Unidos. O RSNV ocorre na África e nas américas do Sul e Central, infectando poáceas, originalmente o arroz. BdMV foi descrito no Japão, infectando uma espécie de bardana comestível. No Brasil, os benyvírus BNYVV e RSNV foram reportados recentemente. Para confirmar que o mosaico do trigo está associado ao WhSMV, foram desenhados primers, pequenas sequências de nucleotídeos que se ligam especificamente a sequências complementares. Por meio da reação em cadeia da polimerase (conhecida como PCR), é
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possível amplificar fragmentos que correspondem a regiões do genoma do alvo para os quais se desenharam os primers. Usando essa estratégia foi possível demonstrar que o WhSMV está presente em amostras de trigo com sintomas de mosaico-comum coletadas em regiões do Rio Grande do Sul e Paraná. Estes resultados não excluem a possibilidade de que outros vírus estejam associados aos sintomas de mosaico em trigo no Brasil. No entanto, WhSMV tem sido consistentemente encontrado nas amostras com sintomas típicos dessa patologia. Novos estudos ainda serão necessários para esclarecer dúvidas sobre a origem do novo vírus, sua distribuição geográfica, sua variabilidade genética e como afeta a resistência das plantas. Fato curioso é que a história do vírus do mosaico do trigo no Brasil se assemelha, em parte, à história do Rice Stripe Necrosis Virus (RSNV). Esse vírus foi descrito em arroz (Oryza sativa) em 1977, na Costa do Marfim (Oeste da África). No continente americano foi relatado primeiramente na Colômbia, depois no Equador, Panamá e Brasil e, mais recentemente, na Argentina. RSNV também é transmitido por P. graminis e tem partículas na forma de bastonete rígido, e achava-se que era um Furovirus. Porém, o sequenciamento do seu genoma evidenciou que se trata de um Benyvirus. Teriam o WhSMV e RSNV alguma história evolutiva em comum?
ETAPAS FUTURAS
A identificação correta dos vírus é essencial para apoiar os programas de melhoramento genético do trigo e a recomendação de medidas eficazes de manejo. Por ser uma doença de difícil controle, a resistência genética ao mosaico do trigo tem sido a principal estratégia utilizada, desta forma esta doença é um dos principais focos dos programas de melhoramento de trigo no Brasil. Sem o conhecimento do agente causal, gastavam-se muito tempo e espaço tentando achar locais apropriados para seleção de materiais através da fenotipagem das linhagens, uma vez que o uso de marcadores moleculares definidos no exterior apresenta resultados inconsistentes. Com a descoberta deste novo vírus será possível mapear os genes de resistência
Matriz representando o percentual de identidade dos isolados de WhSMV em relação a outros vírus da família Benyviridae para RNA 1, RNA 2 e todas as regiões codificadoras (Open Reading Frames - ORFs), exceto a ORF 6. Fonte: extraído de Plant Pathology (Valente et al, 2019)
e desenvolver marcadores moleculares confiáveis para auxiliar na seleção de genótipos resistentes. Com isso, os programas de melhoramento genético ganham eficiência e agilidade, e os produtores mais segurança para o cultivo do trigo nas regiões onde esta doença ocorre.
REDE DE PESQUISA MOSAICO-COMUM DO TRIGO
Biotrigo Genética
A identificação de uma nova espécie viral associada ao mosaico do trigo é o primeiro resultado divulgado pelo projeto “Análise da população viral e estratégias de manejo para o mosaico comum em trigo no Brasil”. Além de identificar com maior precisão os diferentes vírus que causam o mosaico do trigo, o projeto também avalia a eficiência de estratégias genéticas, químicas e culturais no controle da doença. O projeto foi estruturado de forma multi-institucional, combinando universidades e empresas de pesquisa públicas e privadas. Etapas do sequenciamento e análise da variabilidade da população viral estão sendo realizadas na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), com apoio da Embrapa Uva e Vinho e da Embrapa Informática Agropecuária. A caracterização fenotípica, a análise da população viral e a avaliação das práticas de manejo estão sendo executadas em rede de ensaios de campo nas regiões tritícolas do Sul do Brasil e conduzidas pela Biotrigo Genética, CCGL Tecnologia, Embrapa Trigo, Fundação ABC e OR Melhoramento de Sementes. No total, serão quatro anos de
pesquisa, com experimentos em sete municípios do Rio Grande do Sul e do Paraná. Como resultados, objetiva-se determinar a variabilidade genética da população viral e a eficiência de estratégias genéticas, químicas e culturais para o adequado manejo C do mosaico-comum do trigo.
Anderson Santi Embrapa Trigo Antônio Nhani Junior Embrapa Informática Agropecuária Caroline Wesp Guterres CCGL TEC Douglas Lau Embrapa Trigo Fabio Nascimento da Silva UDESC Fernando Sartori Pereira Udesc Genei Dalmago Embrapa Trigo Juliana Borba Valente Udesc Lucas Antônio Stempkowski Udesc Osmar Rodrigues Embrapa Trigo Paulo Kuhnem Biotrigo Genética Ricardo Trezzi Casa Udesc Sandra Maria Zoldan OR Sementes Senio José Napoli Prestes Fundação ABC Thor Vinícius Martins Fajardo Embrapa Uva e Vinho www.revistacultivar.com.br • Março 2019
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Milho
Cartuchos vulneráveis Principal praga na cultura do milho, Spodoptera frugiperda tem poder de fogo para reduzir severamente a produtividade se não manejada adequadamente. O controle biológico é uma das ferramentas para auxiliar no combate a este inseto
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área cultivada com milho no Brasil alcança aproximadamente 16 milhões de hectares, e o gasto anual com inseticidas químicos na cultura do milho permanece muito alto, mesmo com o uso de transgênicos. A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) ainda é a principal praga dessa cultura no Brasil. Há registro do ataque em mais de 100 culturas, incluindo sorgo, soja, algodão, arroz, feijão e até maçã, uva, goiaba etc. A incidência deste inseto pode reduzir a produção de grãos entre 34% e 50%, e em alguns casos o dano pode ser mais intenso. As larvas mais novas consomem tecidos de folha de um lado, deixando a epiderme oposta intacta. Neste ponto, é importante o monitoramento porque é difícil ver o dano na folha. Depois de segundo ou terceiro instar, as larvas começam a fazer buracos nas folhas, se alimentado em seguida do cartucho
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das plantas de milho, produzindo uma característica fileira de perfurações nas folhas. O ciclo de vida deste inseto é completado em 30 dias em condições de laboratório, e o número de ovos pode variar de 100 ovos a 200 ovos por postura/fêmea. No total, de 1.500 ovos a 2.000 ovos podem ser postos por uma única fêmea. Observa-se deste modo o potencial de dano que esta praga pode causar. A lagarta pode atingir 2,5cm e a fase de pupa ocorre no solo. Possui um “Y” invertido na cabeça. Os prejuízos que a lagarta pode causar são grandes porque vão desde as folhas até os grãos de milho. A praga ingressa pela base da espiga. O controle químico não pode ser descartado. Há vários produtos químicos que têm ação imediata no controle desta praga. Mas é importante seguir as recomendações do fabricante pa-
Fernando H. Valicente
Presença de um "Y" invertido na cabeça, característico da praga
Dano causado pela lagarta do cartucho em planta de milho
ra o uso correto desses defensivos. O uso de uma quantidade errada do agroquímico pode levar à resistência por parte da praga. E a cada ano o agricultor irá necessitar de uma quantidade maior de inseticida químico. O controle biológico é uma ferramenta importante dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP). O controle biológico deve começar assim que se fizer uma amostragem e verificar a presença da praga na cultura. No caso do milho, nas regiões com histórico de ataque, o controle pode ser iniciado no máximo dez dias após a germinação. Não se deve perder a primeira aplicação para o controle da lagarta-do-cartucho, caso contrário haverá uma sobreposição de tamanhos de lagartas, mariposas e ovos. Em milho, o controle pode ser iniciado com o uso do Bacillus thuringiensis (Bt), no máximo dez dias após a germinação das
sementes (dependendo do histórico da área). O número de aplicações depende do ataque e deve seguir o mesmo calendário dos produtos químicos. No caso de mais de uma aplicação, recomenda-se começar com o Baculovirus após a segunda aplicação (porque mata lagartas de até 1cm). Na fase de espiga, recomenda-se monitorar com armadilhas de feromônio para detectar a presença de lagartas e o controle com a vespa trichogramma. Se houver alguma condição adversa, deve-se observar em qual etapa do MIP ingressar com inseticida químico. O controle químico dever ser usado em casos de alto ataque da lagarta. Alguns produtos biológicos podem ser usados C em conjunto com químicos.
Phyttus Club
Arthur Torres
Fernando Hercos Valicente, Embrapa Milho e Sorgo
Recomendações para aplicação de biopesticidas Bt e Baculovirus - Aplicar o produto após as 16h. - Sempre usar espalhante adesivo. - Utilizar bico leque. - Medir e ajustar a vazão - Vazão compatível com a necessidade do micro-organismo e da cultura, e umidade relativa do ar (recomenda-se entre 100L/ha e 120L/ha). Se for empregar Ultra Baixo Volume (UBV), utilizar equipamento adequado para baixo volume. - É possível utilizar mistura com produto químico no mesmo tanque, porém o químico e o Baculovirus devem ser empregados em subdose. - Ambos os biopesticidas são eficientes a campo, mas é necessário seguir os procedimentos acima citados.
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Algodão Fotos Flávio Martins Garcia Blanco
Altura controlada Desde que aplicados na dose recomendada, reguladores de crescimento podem auxiliar a cultura do algodão a limitar efeitos nocivos como apodrecimento de maçãs, tombamento e dificuldades na pulverização causados pelo porte excessivo das plantas
E
m algodoeiro, ao final do ciclo, a altura das plantas pode afetar a produção da cultura por promover o sombreamento do baixeiro, favorecer o apodrecimento das maçãs no terço inferior das plantas, gerar carga concentrada no ponteiro, causando tombamento das plantas, dificuldade e ineficiência no controle de pragas, em função da calda de aplicação não atingir as partes mais baixas da planta, culminando, assim, com a perda de produtividade, tipo e qualidade do algodão (Gridd-Papp et al, 1992). O uso de reguladores de crescimento é indicado no manejo da cultura e quando convenientemente aplicados, li-
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mitam o porte das plantas, eliminando grande parte desses problemas, assegurando boa eficiência no controle de pragas, maximizando a produtividade e garantindo a eficiência da colheita mecânica (Gridd-Papp et al, 1992). Os reguladores vegetais, usualmente, são definidos como compostos orgânicos, não nutrientes, que afetam os processos fisiológicos do crescimento e do desenvolvimento quando aplicados em baixas concentrações (Albrecht et al, 2007). Em doses acima do recomendado, podem provocar abortamento de flores, efeito potencializado se a aplicação for realizada em altas temperaturas ambientes (acima de
32°C) (Souza, 2007). A utilização de produtos químicos, que modifiquem a arquitetura da planta, tem sido incrementada na cultura algodoeira durante anos (Carvalho et al, 1994; Mccarty; Hedin, 1994), particularmente nos países desenvolvidos (Azevedo et al, 2003). Um dos reguladores de crescimento mais utilizados nos últimos anos na cotonicultura é o biorregulador sistêmico cloreto de mepiquat (Chaves et al, 1990), sintetizado e testado na cultura do algodão em 1974 (Constable, 1994), atualmente utilizado em quase todos os países produtores, em especial a China e os Estados Unidos (Sousa et al, 2003) No mercado brasileiro, os produtos comerciais recomendados como reguladores de crescimento, na cultura de algodão, têm mecanismos e modos de ação semelhantes, interferindo na biossíntese do ácido giberélico, inibindo-a, resultando na redução do crescimento e em alterações fisiológicas da planta (Reddy et al, 1995; Marur, 1998). O manejo adequado de reguladores de crescimento, seja pela condição climática no momento da aplicação, dose ou mesmo do parcelamento, é fundamental para a manutenção das plantas do algodoeiro com porte baixo, sem reduzir a capacidade produtiva da cultura (Castaldo et al, 2015).
ram semeadas, por vaso, dez sementes de algodoeiro, cultivar FM 910. Após emergência e desbaste, foi mantida uma planta por vaso, que constituiu a parcela experimental. A umidade do solo foi mantida em 70% - 80% da capacidade de campo, por meio de irrigação diária. Foi avaliado o regulador de crescimento Aplic, em suspensão concentrada, contendo 88,2g + 22,1g dos ingredientes ativos cloreto de mepiquat + ciclanilida, por litro da solução e comparado com o padrão Pix HC - produto comercial, formulado como concentrado solúvel, contendo 250g do ingrediente ativo cloreto de mepiquat, por litro da solução. Os tratamentos foram: Aplic- 100ml/
ha e 200ml/ha em quatro aplicações a intervalo de dez dias; Aplic - 400ml/ha em uma única aplicação; Aplic- 100ml/ha e 200ml/ha e Pix HC - 100ml/ha em quatro aplicações a intervalo de 15 dias e mais uma testemunha. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado com duas repetições. O início da aplicação dos reguladores ocorreu quando o algodoeiro se encontrava no estádio fenológico B1 (Marur & Ruano, 2001), ou seja, quando o primeiro botão floral nas plantas do algodoeiro, apresentava de 3mm a 6mm. As avaliações foram realizadas em intervalos de 15 dias, para os seguintes parâmetros: número de ramos, botões florais, flores, maçãs e capulhos, altura da planta, comprimento do internódio e fitotoxicidade. Após a última avaliação, também foram determina-
RESULTADOS DE PESQUISA
Foi realizado um estudo no Instituto Biológico, em Campinas, São Paulo, para avaliar a eficiência do regulador de crescimento Aplic em plantas de algodoeiro. O ensaio foi conduzido em câmara de crescimento (Fitotron), marca Conviron, modelo PGV36, regulado para temperatura do ar 25ºC, umidade relativa do ar 70% - 80%, fotoperíodo de 12 horas e intensidade luminosa de 35.400lux, com irrigação diária. Em vasos com capacidade de dez litros, preenchidos com 7kg de substrato contendo solo, vermiculita e Plantmax Hortaliças na proporção 2:1:2, respectivamente, e 300g de adubo (4-14-8), fo-
Comparativo entre testemunha e a aplicação de regulador de crescimento na dose de 100mL a cada 15 dias
Tabela 1 - Resumo da análise da variância das regressões para cada tratamento, indicando o modelo e coeficiente de correlação (R2) Tratamentos Testemunha Aplic 4x100 mL a cada 10 dias Aplic 4x200 mL a cada 10 dias Aplic 1x400 mL Aplic 4x100mL a cada 15 dias Aplic 4x200mL a cada 15 dias Pix 4x100mL a cada 15 dias
Equação x = -264,40 + 16,85y - 0,28y2 + 0,002y3 - 5,5 x 10-6 y4 x = -133,45 + 9,52y - 0,15y2 + 0,0009y3 - 2,3 x 10-6 y4 x = 2082,93 - 121,66y + 2,66y2 - 0,02y3 + 8,96 x 10-5 y4 x = -91,49 + 7,19y - 0,10y2 + 0,0006y3 - 1,4 x 10-6 y4 x = -131,61 + 9,04y - 0,13y2 + 0,0008y3 - 2 x 10-6 y4 x = -51,13 + 4,63y - 0,04y2 + 0,0001y3 + 2,99 x 10-7 y4 x = -113,08 + 8,96y - 0,15y2 + 0,0012y3 - 3,4 x 10-6 y4
R2 0,99 0,99 0,99 0,99 0,99 0,99 0,99
** todos os modelos foram significativo a F(1%).
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Tabela 2 - Resumo da avaliação da hipótese de nulidade para os parâmetros tecnológicos da fibra que foram significativos t(10%). Dados médios
Figura 1 - Altura das plantas em relação a doses, dias após a emergência e testemunha
Tratamentos Uniformidade de comprimento (%) Comprimento (mm) Testemunha 86,25 30,05 Aplic 4x100 mL a cada 10 dias 87,25 31,55 Aplic 4x200 mL a cada 10 dias 87,45 31,8 Aplic 1x400 mL 87,6* 33,3* Aplic 4x100mL a cada 15 dias 87,05 30,9 Aplic 4x200mL a cada 15 dias 87,4* 32,2 Pix 4x100mL a cada 15 dias 86,6 31,15 * Rejeita-se a hipótese de nulidade em relação à testemunha.
das massa dos capulhos e massas fresca e seca das folhas. Para isso, foram retirados todos os capulhos e folhas das plantas. A massa seca das folhas foi obtida após sua manutenção, por quatro dias, em estufa com circulação de ar forçada a 60ºC. Amostras com 10g de fibra foram encaminhadas ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), para as análises tecnológicas das seguintes características: comprimento, uniformidade de comprimento, elongação de ruptura, micronaire, maturidade, reflectância, amarelecimento, previsão da fiabilidade do fio e tenacidade de ruptura. À exceção das análises tecnológicas, em que foi avaliada a hipótese de nulidade de forma individual da testemunha contra os tratamentos com reguladores (teste t 10%), os outros parâmetros foram avaliados pela análise da variância, F(1%) e na sua significância foi realizada a análise de regressão para o modelo polinomial de 4º grau. As análises da variância dos resultados não encontraram diferença estatística significativa pelo teste F(1%), para os seguintes parâmetros: número de ramos, botões florais, flores, maçãs, capulhos, comprimento do internódio e massas fresca e seca das folhas, e massa dos capulhos, indicando que os reguladores de crescimento tendem a não influenciar na produtividade do algodoeiro. A altura das plantas foi o único parâmetro significativo pela análise da variância e, desta forma, foi submetida à análise de regressão F(10%) (polinomial 4º), descrita na Tabela 1. Observa-se que, para todos, os modelos de regressão foram significativos com elevada correlação e se encontram representados. Os resultados de cada modelo comparados em relação ao seu intervalo de confiança (não indicando na figura) demonstraram que os tratamentos com reguladores diferiram da testemunha, de forma diferenciada, destacando três grupos, o mais eficiente na redução da altura das plantas foi Aplic- 200ml/ha em quatro aplicações a intervalos de dez dias, seguido por Aplic100ml/ha em quatro aplicações a cada dez dias; Aplic- 400ml/ha em uma única aplicação; Aplic- 200ml/ha em quatro aplicações a cada 15 dias e Pix HC- 100ml/ha em quatro aplicações a cada
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15 dias e o menos eficiente na redução da altura, Aplic- 100ml/ ha em quatro aplicações a cada 15 dias (Figura 1). Para a indústria têxtil, as características de fibra mais interessantes são: comprimento, uniformidade, resistência, índice micronaire e alongamento, para que o processo de fiação seja considerado produtivo e competitivo com relação às fibras sintéticas. A avaliação da hipótese de nulidade t(10%) foi rejeitada para duas variáveis, comprimento (COM) e uniformidade (UNI) (Tabela 2). Para o comprimento da fibra, o tratamento Aplic- 400ml/ há, em uma única aplicação, diferiu da testemunha, com valor maior. O efeito benéfico, na qualidade da fibra de algodão, com maior comprimento, após aplicação de cloreto de mepiquat e ciclanilida, foi anunciado por Collins; Vodraska (2013), onde a aplicação de uma mistura de cloreto de mepiquat e ciclanilida, em certas faixas e taxas de aplicação, produziu aumento inesperado no comprimento da fibra do algodão. Para a uniformidade da fibra, os tratamentos Aplic- 400ml/ ha em uma única aplicação e Aplic - 200ml/ha em quatro aplicações a intervalos de 15 dias, diferiram da testemunha, ambos com valores superiores. Em todo o período do ensaio não foram observados sintomas visuais de fitotoxicidade causada pelos tratamentos com reguladores, indicando que não causaram injúrias ao algodoeiro. Conclui-se que o regulador de crescimento Aplic apresenta efeito significativo na redução da altura das plantas, sem interferir na produtividade e na qualidade da fibra, não apresenta ação fitotóxica, sendo mais eficiente para a redução de crescimento da planta o tratamento de 200ml/ha, em quatro C aplicações a intervalos de dez dias.
Flávio Martins Garcia Blanco e Dalva Gabriel, Instituto Biológico Matheus Pinheiro Garcia Blanco, USP - São Carlos
Capa
Q da questão
Phytus Club
Pela primeira vez no estado de Mato Grosso análises moleculares confirmaram a presença do biótipo Q de mosca branca em plantas ornamentais. Boas práticas agrícolas como o Manejo Integrado de Pragas podem evitar que esta espécie mais tolerante a inseticidas se torne um problema em lavouras de soja e algodão
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mosca branca, Bemisia tabaci (Gennadius) (Hemiptera: Aleyrodidae), é na verdade um complexo composto de pelo menos 36 espécies. Por serem morfologicamente idênticas, é comum denominar essas espécies como biótipos ou raças de B. tabaci; entretanto, existem diferenças bioquímicas, fisiológicas e reprodutivas que podem afetar sua fenologia, preferência por plantas hospedeiras e capacidade de transmissão de vírus. B. tabaci é um dos insetos-praga mais importantes para a agricultura mundial por causar danos diretos a cultivos alimentícios e ornamentais devido à sua alimentação, e indiretos pela excreção de honeydew e transmissão de vírus de plantas como Begomovírus, Crinivírus, Ipomovírus, Carlavírus, que são responsáveis por perdas significativas de produtividade das culturas. Dentro do complexo de espécies de B. tabaci, Middle East-Asia Minor 1 (Meio Leste-Ásia Menor 1) e Mediterranean (Mediterrâneo), conhecidas respectivamente como biótipo B e biótipo Q, são as mais invasoras e amplamente distribuídas no planeta. A introdução do biótipo B nas Américas ocorreu na década de 1980 e atualmente está distribuída em todos os países do continente. Na América do Sul, o primeiro registro do biótipo Q ocorreu em 2011, na Argentina e no Uruguai, e devido à proximidade entre esses países e o Brasil, em 2013 foi confirmada a presença do biótipo Q no Rio Grande do Sul. Posteriormente, uma segunda introdução da praga ocorreu nos estados de São Paulo e Paraná. Diferenças genéticas entre as populações coletadas nesses estados e a população do Rio Grande do Sul suportaram tal afirmação. Desde então, novos registros têm confirmado que a praga continua se dispersando pelo país (Figura 1). A presença do biótipo Q no Brasil gera preocupação aos produtores rurais e profissionais ligados ao manejo fitossanitário, pois se trata de uma praga com maior habilidade invasora e capacidade de sobrevivência sob baixas e altas temperaturas, quando comparada ao biótipo B. Tais características conferem maior competitividade ao biótipo Q na disputa por plantas
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Fotos Jacob Crossariol Neto
Além da maior tolerância às moléculas importantes para o manejo da mosca branca em relação ao biótipo B, existem registros, em outros países, de populações do biótipo Q resistentes a inseticidas mais recentes
hospedeiras, permitindo que haja o deslocamento/desaparecimento de outros biótipos da mosca branca. Em plantas como pimenta doce e algumas plantas daninhas, o biótipo Q predomina sobre o biótipo B devido à sua melhor adaptação a esses hospedeiros. Entretanto, existem estudos de competição entre esses dois biótipos em algodão, por exemplo, demonstrando que o biótipo B torna-se a população predominante e exclui o biótipo Q. Porém, quando há pulverizações de inseticidas, o biótipo Q excluiu o biótipo B por ser mais tolerante a uma gama de grupos químicos. Além da maior tolerância às moléculas importantes para o manejo da mosca branca como piriproxyfen, em relação ao biótipo B, existem também registros, em outros países, de populações do biótipo Q resistentes a inseticidas mais recentes como sulfuxaflor, cyantraniliprole, espiromesifeno e espirotetramato. Diante da preocupação da presença da praga no estado de Mato Grosso, foram realizadas coletas em plantas ornamentais em Sinop, Mato Grosso, e as amostras foram enviadas ao Grupo de Pesquisa em Mosca Branca da Unesp de Botucatu, que confirmou por análises moleculares que alguns dos indivíduos coletados em plantas de lantana (Lantana spp.) pertenciam ao
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biótipo Q. Provavelmente esses indivíduos foram introduzidos no estado devido a flores importadas de São Paulo. Na literatura, existem casos que demonstram a importância da comercialização de plantas ornamentais na dispersão da mosca branca. Apesar da confirmação recente da praga em Mato Grosso, coletas realizadas pelo Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt) em cultivos de algodão com queixas dos produtores sobre a dificuldade de controle químico da mosca branca não detectaram a presença do inseto no campo. Isso sugere que a praga ainda não está presente nas lavouras; entretanto, pulverizações excessivas de inseticidas poderão favorecer a predominância do biótipo Q em campo, impactando em maiores dificuldades de manejo. Independentemente da presença do Quadro 1 - Recomendação de controle de mosca branca em culturas anuais Soja 10 ninfas por folíolo Algodão 20% de plantas com adultos, ninfas e/ou sinais de mela Feijão Em áreas com alta incidência do mosaico-dourado e elevadas popula-ções do inseto, se houver presença da mosca, o controle deve ser feito do plantio (tratamento de semente) até o estágio de florescimento (pulverizações semanais, alternando os grupos químicos).
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biótipo Q nas lavouras, é importante que o produtor não realize pulverizações preventivas desnecessárias de inseticidas, pois podem ocorrer casos de resistência do próprio biótipo B a essas moléculas. Estudos no Brasil comprovam a existência de populações do biótipo B resistentes a diversas moléculas inseticidas. É possível citar populações do biótipo B resistentes a inseticidas como esperomesifeno, diafentiurom e até mesmo óleo de nim (Azadirachta indica). É importante ressaltar que esses resultados não podem ser extrapolados para todas as populações da praga e ações para o manejo da resistência podem ser realizadas para mitigar ou reverter o quadro de resistência. Além do problema da intensificação do processo de seleção de populações resistentes aos inseticidas, a prática de pulverizar inseticidas preventivamente acarreta impactos negativos às comunidades de inimigos naturais, e surtos de pragas, até mesmo outros grupos de insetos, podem ocorrer. Pode-se citar, como exemplo, o uso exacerbado de inseticidas para controle de Helicoverpa armigera quando a praga foi recém-introduzida no Brasil. Nesse período, houve um dos maiores surtos de Chrysodeixis includes no Mato Grosso, pois provavelmente o uso excessivo de inseticidas, logo nas primeiras semanas de emergência das plantas de soja, impactou drasticamente na comunidade de inimigos naturais e quando as infestações de C. includens normalmente ocorrem (dezembro), a mortalidade da praga pelo ataque desses inimigos naturais é reduzida. Uma estratégia importante para evitar/ mitigar o problema de resistência, independentemente de qual biótipo, é o uso dos níveis de controle da praga para cada cultura (Quadro 1), pois ao se respeitar os níveis de controle, naturalmente o número de pulverizações com inseticidas se torna menor quando comparado ao controle preventivo de pragas com inseticidas. Consequentemente, os insetos permanecem um menor período em contato com os inseticidas e, portanto, sofrem menor pressão de seleção. Aliados ao nível de controle, o emprego de técnicas integradas como plantas resistentes à praga e às viroses transmitidas, o uso do controle biológico como o entomopatógeno Beauveria bassiana, registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para mosca branca, e a rotação dos ingredientes ativos dos inseticidas promovem o controle C satisfatório de B. tabaci.
Figura 1 - Mapa de distribuição de Bemisia tabaci biótipo B e Q no Brasil. Círculos azuis correspondem ao biótipo B e círculos vermelhos correspondem ao biótipo Q. Fonte: http://www.fca.unesp.br/#!/pesquisa/gpmb/mapas/
Rafael Major Pitta, Embrapa Agrossilvipastoril Jacob Crosariol Netto Instituto Mato-Grossense do Algodão Eduardo Moreira Barros Instituto Goiano de Agricultura Gabriel Wiest, Mateus Emanuel Schoffen, Victor Hugo Zanetti, Universidade Federal de Mato Grosso
Apesar da confirmação recente da praga em Mato Grosso, coletas realizadas em cultivos de algodão não detectaram a presença do inseto no campo
R. R. Rufino
Soja
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Radiografia das sementes
Projeto conduzido pela Embrapa avalia aspectos como qualidade fisiológica, germinação, vigor, viabilidade, índices de danos mecânicos, deterioração por umidade, prejuízos provocados por percevejos, genética e sanidade das sementes de soja produzidas no Brasil
A
Embrapa Soja vem conduzindo o Projeto “Caracterização da qualidade de sementes e grãos de soja no Brasil”, no qual já foram avaliadas as três últimas safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17. Nesse período, foram coletadas e avaliadas 1.847 amostras de sementes provenientes de 72 municípios de 12 estados brasileiros. A amostragem desse material não seria possível, não fosse o apoio de mais de 55 instituições, compostas por cooperativas, universidades, empresas e associações de produtores de sementes e empresas estaduais de pesquisa. Em relação às sementes de soja foram avaliados 23 parâmetros de qualidade, dos quais foram selecionados alguns referentes à qualidade fisiológica, como germinação, vigor, viabilidade, índices de danos mecânicos, de deterioração
Figura 1 - Índice de vigor (%) determinado pelo teste de tetrazólio em sementes de soja produzidas em diferentes microrregiões dos estados do Brasil, na safra 2016/17. As cores representam a intensidade da característica nas diferentes microrregiões brasileiras
por umidade e dos danos causados por percevejos, além da qualidade genética e sanitária. Os resultados médios para cada um desses parâmetros são apresentados, agrupando os 72 municípios de coletas das amostras em 53 microrregiões, conforme definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Todas as amostras avaliadas foram coletadas de produtores de sementes de soja, após terem passado por pelo menos cinco meses de armazenagem. Esses resultados serão relatados com base principalmente na safra 2016/17, comparando-se aos obtidos nas duas safras anteriores. Nesse sentido, constatou-se um aspecto extremamente positivo em relação à qualidade fisiológica das sementes. Houve evolução do vigor das sementes, conforme determi-
Figura 2 - Germinação (%) de sementes de soja produzidas em diferentes microrregiões nos estados do Brasil, na safra 2016/17. As cores representam a intensidade da característica nas diferentes microrregiões brasileiras
Figura 3 - Índice de danos mecânicos (% - nível 6-8) determinado pelo teste de tetrazólio em sementes de soja produzidas em diferentes microrregiões do Brasil, na safra 2016/17. As cores representam a intensidade da característica nas diferentes microrregiões brasileiras
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Figura 4 - Sementes de soja com sintomas de danos mecânicos após a coloração com a solução do sal de tetrazólio; A) dano mecânico imediato nos cotilédones; B) dano mecânico imediato na radícula; C) dano mecânico latente na região de inserção do eixo embrionário e hipocótilo; D) dano mecânico latente no eixo radícula-hipocótilo
Figura 5 - Índice de deterioração por umidade (% - nível 6-8) determinado pelo teste de tetrazólio em sementes de soja produzidas em diferentes microrregiões dos estados do Brasil, na safra 2016/17. As cores representam a intensidade da característica nas diferentes microrregiões brasileiras
Figura 6 - Sementes de soja com sintomas de deterioração por umidade, após a coloração com a solução do sal de tetrazólio; notar a simetria dos danos em ambos os cotilédones. A e B) lesões recentes; C e D) lesões mais severas, após evolução na armazenagem
Figura 7 - Índice de danos causados por percevejos (% - nível 6-8) determinado pelo teste de tetrazólio em sementes de soja produzidas em diferentes microrregiões dos estados do Brasil, na safra 2016/17. As cores representam a intensidade da característica nas diferentes microrregiões brasileiras
Figura 8 - Sementes de soja com lesões típicas de danos causados por percevejos após coloração com a solução do sal de tetrazólio. A e B) lesões circulares, típicas desse dano; C) duas picadas na mesma semente, uma em cada cotilédone; D) diferentes tipos de lesões
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Tony Oliveira/CNA
nado pelo teste de tetrazólio: o índice médio nacional desse parâmetro evoluiu de 77,6% na safra 2014/15, para 81% em 2015/16, culminando com o valor médio de 82% para a safra 2016/17. Ainda, em relação ao vigor das sementes (Figura 1), os maiores índices foram observados para as sementes produzidas na Bahia, em São Paulo e no Mato Grosso, com valores de 86,4%, 86,3% e 84,7%, respectivamente. Os menores para os estados de Santa Catarina e Paraná, com valores de 75,8% e 79,5%, respectivamente. Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás apresentaram valores próximos à média nacional de 82%. Os índices médios de germinação e de viabilidade, determinados pelo teste de tetrazólio, na média nacional, foram de 91,1% e 91,4% (Figura 2), respectivamente, ou seja, muito semelhantes entre si. Assim como nas safras de 2014/15 e de 2015/16, o dano mecânico, conforme determinado pelo teste de tetrazólio, mostrou-se como o fator que mais afetou a qualidade da semente produzida na safra 2016/17, com uma média nacional de 4,9% (Figuras 3 e 4). Esse valor foi inferior aos 6,8% observados na safra 2014/15 e aos 5,8% na safra 2015/16. Isso denota uma constante melhora no manejo da colheita, com objetivo de redução da ocorrência desse tipo de dano nessa operação, fruto de intensos treinamentos oferecidos por diversas associações estaduais de produtores de sementes. Entretanto, elevados índices de danos mecânicos foram constatados nos estados de Santa Catarina e Bahia. Os valores foram próximos à média brasileira no Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. São Paulo se destacou por apresentar os menores valores de danos mecânicos, seguido pelo Mato Grosso. Ainda em relação ao dano mecânico, a sua principal fonte de ocorrência se dá na operação de trilha, durante a colheita. Assim sendo, é de extrema importância e prioridade que os pro-
Levantamento mostrou evolução das sementes ao longo das últimas safras
dutores de sementes de soja invistam em treinamentos intensivos, para a redução da ocorrência desse tipo de problema durante a colheita, o que propiciará a produção de sementes com melhores índices de vigor, viabilidade e germinação. Em relação aos índices de danos mecânicos por microfissuras, conforme determinados pelo teste do hipoclorito, constatou-se que o seu valor médio nacional 2016/17 foi de 6,8%, índice abaixo do limite máximo desses danos tolerado para semente, que é de 10%. Nesta safra, nenhum dos estados amostrados apresentou valores médios acima do limite máximo. Os maiores índices de ocorrência foram observados nos estados de Tocantins com 9,8%, Piauí com 8,5% e Santa Catarina com 8,4%. É importante monitorar esse tipo de dano durante a operação de colheita, para verificar se os sistemas de trilhas estão bem ajustados. Além disso, esse teste, ao detectar as microfissuras nas sementes, serve também como importante ferramenta para predizer se o lote estará ou não mais
propenso a ter danos de embebição durante os processos de germinação e emergência e também no tratamento industrial das sementes; sementes com elevados índices de microfissura podem ter a germinação reduzida nessas operações. O dano de deterioração por umidade, que normalmente é resultado da ocorrência de chuvas em pré-colheita (Figuras 5 e 6), foi o segundo mais importante parâmetro que mais afetou a qualidade das sementes, com uma média nacional de 3,1%, valor bem próximo dos 3%, que foi a média brasileira constatada na safra 2014/15, e de 3,3% na safra 2015/16. Assim como ocorreu na safra de 2015/16, na média, o estado que apresentou os maiores desses índices foi o Tocantins, o que se justifica pelo fato de as sementes terem sido produzidas nas microrregiões do Rio Formoso e Bico do Papagaio, durante a safrinha, onde ocorrem condições propícias para esse tipo de dano às sementes. A seguir, destacaram-se Santa Catarina, Goiás e Rio Grande do Sul. Os menores índices desse pro-
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R. R. Rufino
Embrapa Soja trabalha na finalização dos dados sobre análise de sementes da safra 2017/18
blema foram constatados nos estados de São Paulo, Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso. Elevados índices de deterioração por umidade estão relacionados com o manejo da época de semeadura dos campos de sementes, bem como com o atraso do início de colheita e/ou com o retardamento do início de secagem, ou armazenamento de sementes com graus de umidade elevados (acima de 13% de água). Esses aspectos devem receber atenção especial, para a produção de sementes com menores índices de deterioração por umidade. O valor médio nacional de dano causado por percevejo (Figuras 7 e 8) foi de 0,7%, um pouco inferior a 1,3% observado na safra 2014/15 e a 0,8% na safra 2015/16. Os maiores valores foram detectados em sementes provenientes dos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina e os menores índices em sementes produzidas na Bahia, no Mato Grosso, em Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo. Índices abaixo da média nacional foram constatados nas sementes produzidas no Maranhão, Tocantins e Piauí. Esses valores podem ser considerados baixos e são resultados da constante dedicação dos produtores de sementes em relação ao manejo integrado para o controle dos percevejos sugadores. De maneira geral, em relação à qualidade das sementes de soja produzidas nos estados do Maranhão, Tocantins e Piauí, apesar das condições climáticas tropicais dominantes, observou-se que é possível produzir sementes com elevada qualidade nessas regiões. Alguns fatos extremamente positivos devem ser destacados na safra 2016/17: nas microrregiões de Alto Araguaia (Mato Grosso), Itapeva (São Paulo) e Sudoeste de Goiás (Goiás) algumas amostras de sementes apresentaram 100% de viabilidade determinada pelo teste de tetrazólio; em 24 amostras de sementes produzidas nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,
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Goiás, Bahia e Tocantins, a ocorrência de danos mecânicos (nível 6-8) foi de 0%; índices mínimos de 0% de deterioração por umidade (nível 6-8) foram detectados em 204 amostras de sementes produzidas em todos os estados avaliados, com exceção de Maranhão e Tocantins; e índices mínimos de 0% de danos causados por percevejos (nível 6-8) foram detectados em 389 amostras produzidas em todos os estados avaliados. Isso demonstra que com a implementação de tecnologias apropriadas em todas as etapas do sistema de produção de sementes de soja, seja no campo, na colheita, na secagem, no beneficiamento e na armazenagem, é possível elevar o patamar da qualidade dessas sementes em todas as regiões avaliadas neste estudo. Quanto à qualidade sanitária da semente produzida na safra 2016/17, de maneira geral foi muito boa. O fungo de armazenagem, Aspergillus flavus, teve ocorrência bastante baixa, com índice médio de 0,6%. Ficou evidenciado que o patógeno de maior frequência de ocorrência em lotes de sementes de soja no Brasil é Cercospora kikuchii, o agente causal da mancha púrpura da semente, sendo detectado nas amostras de todas as microrregiões. Esse fungo sobrevive nos restos culturais, infectando as plantas e, juntamente com Septoria glycines, pode ocasionar as chamadas DFCs (doenças de final de ciclo). Na semente, todavia, o fungo não causa problemas e é facilmente controlado pelos fungicidas comumente utilizados no tratamento de sementes. Colletotrichum truncatum, agente causal da antracnose, ao qual tem sido atribuída grande parte dos problemas fitossanitários ocorridos nas lavouras, é de pouca importância na semente, devido à sua baixa ocorrência, nesta safra a média foi de 0,1%; os índices mais altos de infecção das sementes por esse fungo variaram de 2% a 3%. Phomopsis sp., o principal patógeno de sementes de soja, apresentou incidência bastante baixa, com média de 0,13%, sendo a maior incidência de 4,5% no Sudoeste de Goiás e Anápolis. Fusarium pallidoroseum (syn. semitectum) tem comportamento similar ao phomopsis da seca da haste e da vagem e podridão de semente, em relação a afetar a germinação das sementes, quando realizada em substrato rolo de papel. Apenas uma amostra de Alto Araguaia, Mato Grosso, apresentou 21,5% de infecção. Finalmente, a exemplo das duas safras anteriores, a ocorrência de bactérias consideradas saprófitas, normalmente associadas com sementes já deterioradas fisiologicamente, foi bastante alta em alguns lotes em todos os estados. Porém, a média nacional de ocorrência nas sementes foi de apenas 3,1%, em função da elevada qualidade da maioria dos lotes de sementes. Em relação à qualidade genética, ou pureza varietal, é por meio desse parâmetro que o agricultor tem a garantia de que o estabelecimento da lavoura começará com a cultivar para ele recomendada. Entretanto, em 2013, a legislação brasileira eliminou a necessidade da realização do teste de verificação de presença de sementes de outras cultivares (mistura varietal) durante a execução da análise de pureza de sementes de soja (IN 45, setembro de 2013).
Desde então, o controle da identidade genética da cultivar comercializada vem sendo garantido apenas nas vistorias de campo, de acordo com metodologias e padrões estabelecidos pela legislação. Por meio das análises de pureza varietal realizadas no projeto, verificou-se que esse parâmetro de qualidade genética merece preocupação e deve ser tratado de maneira séria e com normas e padrões a serem novamente estabelecidos e normatizados. Constatou-se que em todos os estados, em alguma safra, foram encontrados níveis preocupantes de contaminação genética, representada pelo número de sementes atípicas em cada amostra, o que evidenciou a necessidade de implementação de ferramentas adicionais para o controle de qualidade referente à pureza genética dos materiais. Nesse sentido, vislumbra-se a adoção de análises que complementem as avaliações morfológicas
(descritores morfológicos), incluindo também análises moleculares, com o uso de marcadores moleculares. Para isto, muito ainda precisa ser discutido e acertado, mas é essencial para o setor a oferta e o acesso a estas ferramentas. Quanto aos insetos-praga de armazenagem, foram encontradas algumas espécies nas amostras das sementes, como Ephestia sp., Sitophilus sp., Cryptolestes ferrugineus, Rhyzopertha dominica e Liposcelides bostrychophila. Também localizaram-se partes de insetos em várias amostras, indicando que ocorreu uma infestação de pragas na semente. A maioria das amostras de sementes (81%) não apresentou nenhum inseto-praga, o que indica um bom controle de pragas no armazenamento. A Embrapa Soja está realizando as análises da qualidade das sementes produzidas na safra 2017/18 e em breve esses resultados serão relata-
dos. Informações mais detalhadas sobre esse levantamento de qualidade das sementes de soja produzidas são encontradas nas publicações “Qualidade de sementes e grãos comerciais de soja no Brasil”, safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17, que podem ser acessadas diretamente no site da Embrapa Soja (www.embrapa.br/soja), nos tópicos “Publicações” e “TecnoC logia de Sementes”. José de Barros França-Neto, Irineu Lorini, Francisco Carlos Krzyzanowski, Ademir Assis Henning e Fernando Augusto Henning, Embrapa Soja Gilda Pizzolante de Pádua, Embrapa/Epamig-Oeste José Marcos Gontijo Mandarino, Marcelo Álvares de Oliveira, Marcelo Hirosi Hirakuri e Vera de Toledo Benassi, Embrapa Soja
Tony Oliveira/CNA
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Soja
Hospedeiras alternativas Ao mesmo tempo em que competem com os cultivos agrícolas por recursos naturais, plantas daninhas podem também servir de abrigo e alimento para insetos-praga. Por isso é preciso planejar seu manejo de modo amplo, com atenção a tudo o que ocorre dentro e ao redor da lavoura
A
produtividade das culturas de interesse agrícola é modulada por diversos fatores ambientais e fitossanitários. Dentre os fatores fitossanitários, encontram-se as plantas daninhas, que reduzem a produtividade das culturas de maneira direta através da competição e, de forma indireta, quando atuam como hospedeiras alternativas para insetos-praga e doenças. Plantas daninhas são todas as espécies de plantas que impactam negativamente, de alguma forma, sobre a produtividade das culturas agrícolas. De modo geral, produzem sementes em abundância e com a capacidade de permanecer viáveis no solo por longos períodos de tempo, formando os chamados bancos de sementes. Além disso, suas sementes podem apresentar diversas formas de dispersão no ambiente, com capacidade de alcançar longas distâncias de acordo com a espécie. Em uma lavoura, as plantas encontram-se em um ambiente com recursos essenciais limitados para o seu crescimento e desenvolvimento. Estes recursos podem ser água, radiação, gás carbônico e nutrientes minerais. A limitação é agravada ainda mais quan-
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do ocorre a competição com plantas daninhas, que evolutivamente desenvolveram a capacidade de se adaptar facilmente às condições ambientais das lavouras e de competir com maior eficiência por recursos essenciais como nutrientes, água, entre outros. A competição é o principal impacto direto gerado pela presença de plantas daninhas nas lavouras e, por consequência, está entre uma das principais áreas de estudo na fitossanidade. Entretanto, os danos causados pelas plantas daninhas também podem ser indiretos, como por exemplo, a possibilidade de atuarem como hospedeiros alternativos para insetos-praga, que podem simultaneamente ou futuramente causar danos à cultura de interesse. Baseando-se nos preceitos da competição, não é recomendada a realização do controle de plantas daninhas durante todo o ciclo de desenvolvimento das culturas. Deve ser realizado apenas em determinados momentos, considerados “períodos críticos” para a competição e responsáveis por ocasionar reduções significativas na produtividade das culturas. Para o manejo de plantas daninhas em uma lavoura, entretanto, tam-
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bém devem ser considerados os impactos indiretos que podem ocorrer em algumas situações. Insetos-praga presentes em plantas daninhas tendem a atacar as culturas de interesse agrícola. Além disso, a presença de plantas daninhas próximas das lavouras pode dificultar o controle de insetos-praga, pelas chances de permanecerem nestas plantas durante as aplicações de inseticidas e posteriormente retornarem à cultura. Plantas daninhas atuando como hospedeiros alternativos de insetos-praga proporcionam condições ideais para que completem o seu ciclo de vida e/ou aumentem a sua população de maneira mais rápida, potencializando os danos às culturas agrícolas. A ocorrência de plantas daninhas em lavouras e em áreas marginais durante o ciclo de desenvolvimento das culturas ou no período da entressafra representa um dos principais repositórios de insetos-praga. Diversas espécies podem atuar como hospedeiros alternativos de importantes insetos-praga, como os gêneros Ipomoea spp.
Gerarda Beatriz Pinto da Silva
(Figura 1), Conyza spp. (Figura 2), Echinochloa spp. (Figura 3), Sida spp. (Figura 4), Solanum spp. (Figura 5), entre outros. Os tripes, Frankliniella schultzei ou Caliothrips brasiliensis, são insetos diminutos, com comprimento variando de 1mm a 1,5mm. Podem se desenvolver em plantas daninhas dos gêneros Amaranthus spp., Solanum spp., Sida spp., Desmodium sp., Brachiaria spp., Emilia spp., Digitaria spp. (Figura 6), entre outros. Na fase jovem, os insetos apresentam coloração clara, enquanto adultos possuem coloração escura
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Fotos Gerarda Beatriz Pinto da Silva
Figura 1 - Planta daninha pertencente ao gênero Ipomoea spp. (corda-de-viola) atuando como hospedeira de tripes
da ao redor do ponto de início da colonização. Os danos causados por este inseto-praga ocorrem devido à sua alimentação através da sucção de seiva da planta. Além disso, o pulgão pode atuar como vetor de diversas viroses que acometem diferentes culturas agrícolas, como Soybean Mosaic Virus, Bean Yellow Mosaic Virus, Cucumber Mosaic Virus, Millet Red Leaf Virus, Peanut Stripe Virus e Sugarcane Mosaic Virus. Outra espécie de pulgão bastante conhecida é o chamado pulgão das folhas (Metopolophium dirhodum; Sinônimo: Acyrthosiphum dirhodum). Ocorre principalmente em cereais de inverno como aveia, centeio, cevada, trigo e triticale. Os danos causados pelo pulgão das folhas se dão devido à sua alimentação através da sucção da seiva da planta, reduzindo o número de grãos por espiga, o tamanho do grão, o peso de grãos e o poder germinativo das sementes. A transmissão de viroses nos cereais de inverno também pode ocorrer através de pulgões. Acredita-se que aproximadamente 21 diferentes espécies de pulgões podem atuar como vetores, principalmente do
Dirceu Gassen
(Figura 4). Contam com aparelho bucal do tipo raspador-sugador e para se alimentar realizam a raspagem dos tecidos da folha da planta, descolorindo-os (bronzeamento). Em condições de ataque intenso, as folhas da planta podem inclusive cair. Na cultura da soja, por exemplo, os tripés tornam-se um problema, principalmente em períodos de baixa precipitação, que favorecem a sua reprodução de forma massiva. Além do dano direto ocasionado pela sua alimentação, os tripés podem atuar como vetor do vírus responsável por causar a "queima dos brotos da soja" (Brazilian Bud Blight). O pulgão da soja (Aphis glycines) pode permanecer e se desenvolver em plantas de Desmodium intortum, Phaseolus coccineus, Pueraria spp., Rhamnus spp., entre outros. Temperaturas entre 20ºC e 24ºC são favoráveis ao inseto, enquanto as acima de 28ºC são prejudiciais para o seu desenvolvimento. A colonização nas lavouras ocorre nas bordas dos talhões, geralmente no início da primavera. A sua distribuição se dá de maneira agrega-
Figura 2 - Folhas de planta daninha pertencente ao gênero Conyza spp. (buva) atuando como hospedeiras de tripes
Figura 3 - Folhas de planta daninha pertencente ao gênero Echinochloa spp. (capim-arroz) atuando como hospedeiras de pulgões
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Figura 4 - Planta daninha pertencente ao gênero Sida spp. (guanxuma) atuando como hospedeira de tripes. No detalhe, percebem-se insetos em diferentes estágios de desenvolvimento
conhecido Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada – Vnac (Barley Yellow Dwarf Virus – BYDV). No Rio Grande do Sul, as espécies mais frequentes são Schizaphis graminum, Sitobion avenae e Rhopalosiphum padi. O manejo de plantas daninhas em áreas de produção agrícola deve ser realizado com base em uma visão sistêmica, pois evitar que plantas daninhas atuem como hospedeiros alternativos para insetos-praga é um importante componente do manejo integrado. O frequente uso de um ou poucos ingredientes ativos de herbicidas para o controle de plantas daninhas propiciou condições para a evolução de casos de resistência em diversas espécies, dificultando o seu controle. Eventos de resistência são caracterizados pela habilidade de um biótipo (planta daninha neste caso) em sobreviver e se reproduzir mesmo após a aplicação de herbicidas. Atualmente, já foram identificadas mais de 27 espécies vegetais de diversas famílias com eventos de resistência a diferentes herbicidas no Brasil. Com o surgimento da resistência de plantas daninhas aos herbicidas, elevou-se ainda mais o nível de dificuldade para a realização do manejo adequado, principalmente em áreas agrícolas de grande extensão. Devido à emergente falta de eficiência das medidas de controle, determinadas espécies de plantas daninhas permanecem nas lavouras ou em áreas próximas, tornando-se importantes “fontes de inóculo” de insetos-praga de elevada importância agrícola. Portanto, recomenda-se realizar o controle de plantas daninhas que atuem como hospedeiros alternativos de insetos-praga de plantas cultivadas sempre que possível. Os fatores fitossanitários compõem organismos biológicos, mais ou menos complexos, responsáveis pela redução da produtividade e o aumento do custo de produção das culturas agrícolas. Muitas vezes, além de causar danos de maneira isolada os componentes dos fatores fitossanitários podem ocasio-
nar prejuízos através da sua interação. Por exemplo, uma planta daninha que compete por água e nutrientes com a cultura na lavoura pode também atuar como hospedeiro alternativo para um inseto-praga que, posteriormente, irá causar danos à cultura através da sua alimentação e/ou transmissão de doenças para as plantas cultivadas, como é o caso das viroses. Percebe-se a importância da utilização de uma visão sistêmica no gerenciamento das áreas de produção agrícola. O produtor rural deve estar atento ao que ocorre dentro e em áreas próximas da sua lavoura, sempre tentando evitar que se eleve o custo de produção sem diminuir a produtiC vidade das culturas.
Maike Lovatto e Gerarda Beatriz Pinto da Silva, UFRGS Ritieli Baptista Mambrin, Cesurg
Figura 5 - Folhas de planta daninha pertencente ao gênero Solanum spp. (maria pretinha) atuando como hospedeira de pulgões
Figura 6 - Planta daninha pertencente ao gênero Digitaria spp. (capim-amargoso) atuando como hospedeira de pulgões. No detalhe, percebem-se insetos em diferentes estágios de desenvolvimento
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Soja
Novas fronteiras
Fotos Leonardo José Motta Campos
Com atrativos por conta de aspectos como valor das terras e grande potencial para expansão, a região formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Matopiba) ainda convive com desafios impostos pelo solo e clima para melhorar o desempenho das lavouras de soja
O
aumento da produtividade agropecuária e a incorporação de novas áreas de produção agrícola ao processo produtivo podem ser a garantia de um futuro viável e sustentável para o agronegócio do Brasil e do mundo. No Brasil, a fronteira entre os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, designada como o Matopiba, passou a ser estratégica para o agronegócio brasileiro, particularmente para a cultura da soja, cuja expansão movimenta a economia e eleva a qualidade de vida nesta região. Com uma topografia plana, solos profundos,
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alta luminosidade e uma estação chuvosa bem definida, o Matopiba vem atraindo a atenção de sojicultores em busca de terras mais baratas, em comparação àquelas do Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil. Atualmente, a região contribui com, aproximadamente, 11% da produção total de soja do País (Conab, 2018), com grande potencial para aumento de produção, decorrente da possibilidade de inclusão de áreas de cerrados remanescentes e áreas de pastagens degradadas. Considerando as projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a
área de cultivo de soja será elevada em 9,3 milhões de hectares nos próximos nove anos, chegando a 43,2 milhões de hectares em 2027 (Mapa, 2017). Neste cenário, grande parte destes 9,3 milhões de hectares a serem incorporados tem como procedência terras da região do Matopiba. As produtividades destes estados são bastante instáveis, com índices de rendimento entre 2.000kg/ha e 3.000kg/ha, em média, na maioria das vezes, abaixo da produtividade média nacional (Figura 1). Entretanto, não são raras as produtividades entre 3.900kg/ha e 4.500kg/ha. Apesar dos prognósticos positivos e de boas produtividades encontradas em algumas áreas, muitos desafios ainda precisam ser superados para garantir a estabilidade e a viabilidade da sojicultura, através de incrementos nos níveis de rendimento. Os fatores ambientais como oferta de água, temperatura e radiação solar são colocados como alguns dos principais responsáveis pelo rendimento e a estabilidade da produção de soja. Na maioria das vezes, as plantas estão expostas a um determinado grau de estresse, provocado pela ausência de condições ideais de um ou mais fatores ambientais, o que pode resultar em redução da produtividade em até 50%. Danos causados pela combinação de fatores de estresse podem ser ainda maiores. Como exemplo, os prejuízos causados pela combinação de estresse por seca e calor podem ser até seis vezes maiores que os prejuízos causados pela seca isoladamente (Mittler, 2006).
Dentre os estresses ambientais, ou abióticos, a restrição hídrica e as altas temperaturas são os mais comuns no Matopiba. Relacionando-se estes estresses aos tipos de solo da região, com diferentes capacidades de armazenamento de água, estes fatores se constituem em um dos principais desafios à produção agrícola. A restrição na oferta de água afeta o desenvolvimento da soja desde a germinação e o florescimento até o enchimento de grãos. A redução da disponibilidade hídrica durante o ciclo é a principal limitação da produtividade, especialmente durante a fase reprodutiva (floração e enchimento de grãos). No Matopiba, as estações de seca (abril a setembro) e chuva (outubro a março) são bem definidas, garantindo certa segurança à produção agrícola. Plantios normalmente ocorrem nos meses de novembro e dezembro, embora o
zoneamento agrícola de risco climático da soja, elaborado com uso de séries históricas de chuva dos últimos 20 anos a 30 anos, recomende semeaduras a partir de 21 de outubro (Evangelista, 2017). As instabilidades climáticas alteram o início do período chuvoso. Muitas vezes, a janela de plantio é reduzida da segunda quinzena de novembro para aprimeira quinzena de dezembro, impondo restrições à implantação da segunda safra. O atraso no plantio da soja acarreta em demora no plantio da segunda safra. Em estudos com milho em sucessão à soja no Tocantins foram verificadas perdas de produtividade variando entre 13% e 39%, dependendo do atraso na época de semeadura (Costa et al, 2017). A instabilidade climática, com alterações na distribuição (ocorrência de veranicos) e na intensidade da precipitação (chuvas extremas e com maior frequência de ocorrência), tem influenciado fortemente a produtividade de grãos no Matopiba. Em anos de ocorrência de El Niño, como na safra de 2015/2016, houve
Figura 1 - Produtividade da soja no Tocantins (TO), Maranhão (MA), Piauí (PI) e Bahia (BA), comparada à produtividade do Brasil (Conab, 2018)
Efeito da alta temperatura da superfície do solo na bota de proteção e sintomas de escaldadura por calor em Tocantins
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Leonardo José Motta Campos
Plintossolo em Pedro Afonso, Tocantins
redução acentuada na produtividade em toda a região (Figura 1). Além do efeito da perda de água decorrente do processo de evapotranspiração, a temperatura está, também, relacionada à taxa de crescimento da cultura, influenciando a duração do ciclo da soja. A alta temperatura, comum na região do Matopiba, reduz o período de enchimento de grãos, aumenta a respiração das plantas e o consumo de produtos da fotossíntese, diminuindo a produção de massa verde e, consequentemente, a produtividade. As baixas altitudes encontradas na região também contribuem para a elevação da temperatura noturna, o que aumenta a respiração das plantas. Além disso, o calor provoca elevação na temperatura das folhas, o que influencia o fechamento estomático e o abortamento de flores e vagens. Os efeitos negativos das altas temperaturas são difíceis de serem evitados e têm influenciado negativamente a produtividade da soja. No Matopiba, temperaturas superiores a 60°C são observadas normalmente na superfície do solo, afetando negativamente a inoculação, a manutenção da matéria orgânica no solo e o crescimento e desenvolvimento das plantas. No Tocantins foram observadas lavouras de soja com mais de 95% das plantas com sintomas de escaldadura por calor. No Matopiba, as áreas de maior altitude e com predomínio de Latossolos foram preferencialmente ocupadas. Atualmente, observa-se o aumento pronunciado do cultivo da soja em áreas de Neossolos e Plintossolos, que juntamente com o clima da região, constitui um
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grande desafio para a produção vegetal. Plintossolos são solos que apresentam horizonte plíntico, litoplíntico ou concrecionário e são divididos em: háplicos; argilúvicos (solos com plintita, comuns em áreas de planícies inundáveis) e pétricos, que apresentam petroplintita (cascalhos), comuns em terras altas, nos quais o cultivo da soja expande, enquanto os Neossolos são definidos como solos novos, sem horizonte B, e são divididos em litólicos; regolíticos; fluvicos e quartzarênicos. Neste último, onde as áreas de produção de soja expandem no Matopiba. Por suas características físicas, os Plintossolos pétricos e Neossolos quartzarênicos tendem a reter menos quantidade de água e nutrientes que os Latossolos, necessitando, portanto, de maior atenção em relação ao manejo da matéria orgânica do solo e proteção da superfície. Outro ponto importante a ser observado nos cultivos em áreas de Plintossolos e Neossolos é a qualidade da inoculação. Devido à baixa retenção de água no solo e às altas temperaturas alcançadas, são maiores as dificuldade na manutenção da viabilidade das populações de rizóbios no solo. Com isso, a formação de nódulos pode ser prejudicada, principalmente em áreas de primeiro ano de cultivo. Em decorrência das características climáticas, torna-se quase obrigatório o uso do sistema de plantio direto ou
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integração lavoura-pecuária nas áreas de produção de grãos do Matopiba. Este manejo propicia a formação de uma camada de resíduos vegetais na superfície (palhada) e dentro do solo (raízes remanescentes), que reduz a temperatura e contribui para a retenção de água no solo, o que minimiza os ricos de perdas na produção e aumenta a tolerância aos períodos de estiagem e altas temperaturas. As altas temperaturas, a ausência das chuvas na entressafra e a baixa fertilidade do solo impõem limites à formação de uma biomassa vegetal, resultando em solos expostos no período de plantio da safra de verão. Em muitos casos, devido à falta de chuvas no final do ciclo da soja, não é possível estabelecer uma cultura de cobertura. As altas temperaturas também influenciam a velocidade de degradação da matéria orgânica, dificultando a formação de palhada para a cobertura do solo e a manutenção da matéria orgânica no sistema de produção. Outras tecnologias que aumentem o crescimento radicular (como manejo de nutrientes voltado à construção de um perfil do solo), a seleção de cultivares adaptados ao local (testes de Valor de Cultivo e Uso – VCU, teste de cultivares) e que também aumentem a matéria orgânica no solo e na superfície (consórcios entre plantas, rotação de culturas, integração lavoura pecuária e outras) devem ser utilizadas para amenizar os efeitos negativos decorrentes das condições climáticas na região. Estresses abióticos, como pragas e doenças, também se constituem em desafios a serem superados. Muitos estudos têm sido desenvolvidos pela Embrapa, por universidades e por outras instituições públicas e privadas para trazer soluções e alternativas para os desafios encontrados no Matopiba. Espera-se, em breve, que novas tecnologias possam ser oferecidas de modo a viabilizar e aumentar a sustentabilidade do agroneC gócio na região.
Leonardo José Motta Campos, Embrapa Soja Rodrigo Estevam Munhoz de Almeida e Balbino Antonio Evangelista, Embrapa Pesca e Aquicultura Rodrigo Veras da Costa, Embrapa Milho e Sorgo
Café
Demanda parcelada Como atender de modo equilibrado às necessidades nutricionais do café Conilon/Robusta nas regiões produtoras de Espírito Santo, Bahia e Rondônia
O
gênero Coffea é composto por pelo menos 124 espécies, destacando-se, com relevância comercial, as espécies C. arabica (café Arábica) e C. canephora (café Conilon ou Robusta). Produtividades recordes são cada vez mais frequentes nas lavouras de café Conilon, principalmente com a adoção genótipos altamente produtivos. Alguns desses genótipos distinguem-se entre si pela época de maturação dos frutos, sendo precoce, médio, tardio e supertardio. Os genótipos de café Conilon apresentam um alto potencial produtivo, dessa forma apresentam alta exigência nutricional e acumulam grande quantidade de nutrientes em seus tecidos. As quantidades de nutrientes acumulados pelo cafeeiro variam de acordo com o local de plantio, a época do ano, o ciclo de maturação e até mesmo o manejo. Os nutrientes absorvidos pelas plantas são acumulados nos
órgãos do vegetal, sendo alocados no crescimento e na reprodução (vegetação e reprodução). Obtendo-se o conhecimento das taxas de crescimento e acúmulo dos nutrientes, é possível identificar a exigência nutricional em cada período do ano. Portanto, pode auxiliar de forma prática no programa de adubação da lavoura, ajustando-se a quantidade e a frequência do uso de fertilizantes, conforme a necessidade do nutriente pela planta ao longo do ano, aperfeiçoar o emprego do insumo, com dosagens adequadas em cada período, tendo redução de perdas por volatilização, fixação e lixiviação, por exemplo. Ensaios de campo têm mostrado que a taxa do crescimento vegetativo e do acúmulo de nutrientes no fruto variam conforme genótipos, sistema de manejo e região de cultivo. A seguir, serão apresentadas propostas de parcelamento de adubação para três regiões produtoras de café Conilon/Robusta do Brasil Fábio Luiz Partelli
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Fotos Fábio Luiz Partelli
reiro e maiores demandas nos meses seguintes, comparado aos outros dois genótipos, que também apresentam diferenças entre eles. Esse comportamento foi observado para todos os nutrientes (Tabela 1), confirmando que a exigência nutricional varia de acordo com a época de maturação dos diferentes genótipos de café. Portanto, o parcelamento deve ser diferenciado, sendo maiores doses iniciais para genótipos de maturação mais precoce/média, comparado aos tardios e supertardios, que por sua vez demandam maiores quantidades nos meses seguintes (Tabela 1). Os genótipos de café Conilon apresentam alto potencial produtivo
(Espírito Santo, Bahia e Rondônia), com suas particularidades. Para as propostas de demanda de nutrientes mensais de cada nutriente foi considerada uma demanda de 50% para a taxa de crescimento e 50% para o acúmulo de nutrientes nos frutos, nas três regiões produtoras de Conilon/Robusta.
ESPÍRITO SANTO
Esse trabalho foi realizado no município de Nova Venécia, Espírito Santo, avaliando-se o crescimento vegetativo e o acúmulo de nutrientes nos frutos em diferentes períodos para dois genótipos da cultivar Emcapa (02 e 153) e o genótipo Ipiranga 501. Portanto, verificaram-se diferenças entre os genótipos que apresentam ciclo de maturação distinta (de precoce/intermediário a supertardio). No mês de agosto, a demanda de nutrientes pelo cafeeiro Conilon é igual ou inferior a 4% (Tabela 1), devido ao período de repouso e senescência dos ramos, caracterizado por apresentar menor crescimento vegetativo. Após o período de repouso, ocorre intenso crescimento vegetativo dos ramos plagiotrópicos e ortotrópicos, e também o crescimento dos botões florais, até que ocorra a florada. Após a primeira florada (mês de agosto), verifica-se que a demanda de nutrientes começa a aumentar expressivamente. Levando em consideração os dois macronutrientes mais requeridos pelo
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cafeeiro Conilon, N e K, verificou-se que aproximadamente 80% de todo N e K requerido pelo genótipo 02 deve ser adicionado à lavoura até o mês de fevereiro (Tabela 1). Para o genótipo 153, até o mês de março também foi requerido 80% de todo o N exigido para o crescimento vegetativo e reprodutivo, e aproximadamente 90% de K. No genótipo Ipiranga, verificou-se apenas 61% de exigência de N e 64% para o K até o mês de feve-
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BAHIA E RONDÔNIA, E ESPÍRITO SANTO
Trabalhos realizados na Bahia e em Rondônia complementam a caracterização da demanda de nutrientes nas três principais regiões produtores de C. canephora no Brasil. Nos três trabalhos foram utilizados genótipos de maturação média, sendo dados do Espírito Santo apresentados na Tabela 1 e demais na Tabela 2, com informações obtidas em Itabela- Bahia por dois anos e em Rolim de Moura- Rondônia. Na Bahia, as menores demandas de nutrientes ocorrem nos meses de maio
Tabela 1 - Demanda de nutrientes pelo café Conilon/Robusta genótipos 02 (precoce/médio), 153 (tardio) e Ipiranga 501 (super-tardio), entre os meses de agosto e julho, em Nova Venécia - ES
e junho (Tabela 2), sendo este período caracterizado por baixo índice de crescimento vegetativo, onde as plantas estão se recuperando do estresse causado pela colheita dos frutos. Após a primeira florada (mês de agosto), verifica-se que a demanda de nutrientes aumenta expressivamente, sendo elevada até o mês de fevereiro, em razão das maiores taxas de crescimento vegetativo dos ramos e acúmulo de nutrientes nos frutos. Em Rondônia, as menores demandas ocorrem nos meses de julho e agosto, sendo sempre inferior a 2% (Tabela 2). As maiores demandas só ocorrem de outubro a maio. Logicamente esse comportamento está associado ao crescimento vegetativo e reprodutivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nota-se uma maior demanda inicial na Bahia, seguida pelo Espírito Santo e depois Rondônia (Tabelas 1 e 2). Por exemplo, ao se considerar quatro meses (julho, agosto, setembro e outubro), observa-se que na Bahia ocorre uma demanda de 31% de N e 30% de K, enquanto no mesmo período essa demanda é de 21% de N e 22% de K no Espírito Santo, e apenas 16% de N e 17% de K para o estado de Rondônia. As diferenças observadas nas tabelas evidenciam que a porcentagem da demanda é diferente e, consequentemente, a quantidade e a frequência devem ser diversas entre as regiões, para promover a otimização do uso do fertilizante. Essa mesma lógica deve ser usada para genótipos de maturação diferenciada (precoce/médio, C tardio e supertardio). Fábio Luiz Partelli, Ufes/Ceunes André Monzoli Covre e Danielly Dubberstein, Ufes/CCA Wellington Braida Marré, Incaper
N
P
K
Ca
Mg
S
Fe
Zn
Cu
Mn
B
Jan Fev Mar Abr Mai Jun 14 13 10 4 3 2 12 17 16 10 7 2 13 18 11 8 7 7 14 11 6 4 3 2 18 11 10 6 5 3 15 13 13 11 6 6 15 13 6 4 3 2 16 13 8 6 4 2 16 15 10 8 7 6 16 12 10 4 3 2 16 12 9 6 5 2 12 12 14 14 7 5 18 9 7 4 3 2 15 11 6 5 5 2 14 15 10 8 7 6 17 10 6 4 3 2 14 10 9 8 6 2 16 16 11 8 7 7 20 14 8 4 3 2 15 13 9 8 5 2 16 14 11 10 7 6 18 14 10 4 3 2 15 12 12 6 4 2 17 13 12 8 6 6 13 12 9 5 3 2 15 9 8 6 3 2 18 14 10 8 6 6 18 18 10 4 4 2 15 12 10 8 6 4 18 18 12 8 6 4 10 10 8 4 3 2 12 10 8 8 6 2 14 15 15 10 10 4
Jul 1 1 6 1 1 5 1 1 5 1 1 2 1 1 5 1 1 4 1 1 5 1 1 4 1 1 4 1 1 4 1 1 4
Baseado em: Partelli et al. (2013) Doi: 10.5539/jas.v5n8p108, Partelli et al. (2014) Doi: 10.1590/S010006832014000100021, Marré et al. (2015) Doi: 10.1590/01000683rbcs20140649.
Tabela 2 - Demanda de nutrientes pelo café Conilon/Robusta cultivados na Bahia e em Rondônia N P K Ca Mg S Fe Zn Cu Mn B
Alguns genótipos distinguem-se pela época de maturação dos frutos
Nutriente\Genótipo\Messes Ago Set Out Nov Dez 02 3 8 9 15 18 153 1 5 7 10 12 Ipiranga 501 1 3 5 10 11 02 3 8 11 17 20 153 3 6 8 14 15 Ipiranga 501 1 3 4 10 13 02 3 8 10 14 21 153 1 5 7 17 20 Ipiranga 501 1 3 4 10 15 02 4 10 11 12 15 153 1 9 9 14 16 Ipiranga 501 1 4 5 11 13 02 3 10 12 12 19 153 1 8 10 17 19 Ipiranga 501 1 3 5 12 14 02 3 8 9 16 21 153 1 7 8 16 18 Ipiranga 501 1 3 5 10 12 02 3 7 9 13 16 153 1 7 9 15 15 Ipiranga 501 1 3 4 10 13 02 4 8 9 12 15 153 2 8 10 13 15 Ipiranga 501 1 3 5 10 15 02 3 8 15 15 14 153 1 7 10 18 20 Ipiranga 501 1 3 5 11 14 02 3 7 9 10 14 153 1 6 8 12 17 Ipiranga 501 1 2 5 10 12 02 4 8 18 17 15 153 1 6 10 18 18 Ipiranga 501 1 3 4 10 10
Nutriente\Genótipo\Messes Ago Set Out Nov Dez Bahia 6 10 11 12 15 Rondônia 1 2 12 13 15 Bahia 6 9 11 12 15 Rondônia 1 2 10 14 15 Bahia 6 9 10 11 13 Rondônia 1 2 13 12 15 Bahia 6 9 12 14 16 Rondônia 1 3 14 16 16 Bahia 6 8 10 11 16 Rondônia 1 2 10 11 13 Bahia 6 9 11 12 15 Rondônia 1 2 8 9 10 Bahia 6 9 10 11 13 Rondônia 1 4 12 14 16 Bahia 6 9 11 12 18 Rondônia 2 4 11 13 11 Bahia 6 9 9 10 12 Rondônia 3 4 12 14 14 Bahia 6 9 11 12 15 Rondônia 1 5 14 15 16 Bahia 6 10 11 13 15
Jan Fev Mar Abr Mai Jun 15 10 7 5 2 3 15 13 10 8 7 3 16 11 7 4 2 3 15 15 12 8 5 2 15 11 9 6 2 3 13 17 8 8 8 2 14 8 7 5 2 3 15 12 10 6 4 2 18 11 7 4 2 3 16 12 12 12 8 2 16 11 7 4 2 3 12 14 13 13 12 5 16 12 9 6 2 2 16 14 14 4 2 2 19 9 5 3 2 2 14 14 16 8 4 2 16 12 10 7 2 3 16 12 12 8 2 2 15 10 8 5 3 2 15 11 10 6 4 2 14 10 7 5 3 2
Jul 4 1 4 1 5 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4
Baseado em: Covre et al. (2016) Doi: 10.4025/actasciagron.v38i4.30627, Covre et al. (2018a) Doi: 10.1590/S0100-204X2018000900006, Covre et al. (2018b) Doi: 10.1080/01904167.2018.1431665, Dubberstein et al. (2016a) Doi: 10.21475/ajcs.2016.10.05.p7424, Dubberstein et al. (2016b), Dubberstein et al. (2018).
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Cana
Correção necessária
Calcário e gesso estão entre as opções para corrigir e minimizar os efeitos tóxicos de elevados teores de alumínio nos solos agrícolas
A
atuação conjunta dos fatores (clima, relevo, organismos, material de origem, tempo e homem) e processos (transformação, translocação, adição e remoção) que regem o intemperismo faz com que os minerais primários em desequilíbrio termodinâmico tendam a se transformar em substâncias mais estáveis nas condições reinantes, principalmente devido à participação da água
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em reações de hidrólise e deoxidação. Dessa forma, certos elementos químicos são liberados para a solução do solo. A disponibilidade de Mn+2 na solução do solo, em função do pH, tem comportamento bem semelhante à oferta de AI+3. Em síntese, o aumento do pH implica redução da oferta. O pH necessário para neutralizar o Mn+2 tóxico é aproximada-
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mente 0,5 unidade maior que aquele exigido para o alumínio, portanto, em torno de 6,5. Obviamente, para o manganês, dada a sua essencialidade, a elevação do pH muito além desse valor é totalmente indesejável. A toxidez de manganês em solos ácidos é muito menos generalizada que a de alumínio, pois ocorre apenas em solos originários de material de origem ricos nesse nutriente. Por exemplo, em Latossolos originários de rochas básicas, a possibilidade de ocorrência de toxidez de manganês é muito maior que em solos originários de arenito. Esses últimos são mais predispostos à deficiência de manganês que à toxidez. O manganês, ao contrário do alumínio, não afeta as raízes diretamente, mas sim a parte aérea. Frequentemente, dada a interação do manganês com outros nutrientes, a sua toxidez pode manifestar-se no início como deficiência induzida de cálcio, magnésio e, em especial, de ferro, e posteriormente como toxidez propriamente dita. Esta se manifesta primeira-
Sandro Roberto Brancalião
mente nas folhas mais novas, através de pontuações de cor marrom ao longo das nervuras, devido ao acúmulo de óxidos de manganês, envoltas por zonas cloróticas. As folhas das dicotiledôneas, muito sensíveis à toxidez de manganês, se deformam, ficando encarquilhadas. Dentre as principais causas do pouco crescimento das plantas em solos ácidos está a toxidez causada pelo alumínio, que é o cátion mais abundante na crosta terrestre, com participação na estrutura de vários minerais primários e secundários. A liberação do alumínio da fase sólida, tanto por dissolução de óxidos hidratados quanto por substituição do alumínio do interior das camadas octaedrais dos minerais, está diretamente ligada ao processo de acidificação do solo, ou seja, à ação dos íons hidrogeniônicos. Assim, com a acidificação dos solos, o AI+3 tende a constituir um dos principais cátions na nuvem de contra-íons dos coloides do solo. O alumínio em solo ácido, dependendo do seu estágio de hidrólise, pode
Ciganinha (planta daninha) em pleno florescimento, com ocorrência em Latossolos cultivados com cana
apresentar-se na solução em diversas formas iônicas. Qualquer uma destas formas, por serem solúveis, pode atingir a superfície das raízes. Dos elementos químicos normalmente presentes no solo, o alumínio é o que apresenta maior potencial fitotóxico. Ainda não se conhece com exatidão as bases bioquímicas da fitotoxidez
de alumínio. O que se sabe é que sua ação é mais pronunciada no sistema radicular, o que torna as raízes, indistintamente, mais grossas e curtas. Como consequência da diminuição na proliferação de raízes, há redução na capacidade de exploração de água e de nutrientes presentes no perfil do solo, bem como redução na síntese de reguladores de crescimento nas partes novas das raízes, que, portanto,
Wenderson Araújo/Sistema CNA
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Figura 1 - A gessagem é uma forma de mitigar o alumínio tóxico no solo
Presença de ciganinha, planta indicadora de solo mesoálico
deixam de ser transportados para a parte aérea. Basicamente, essa alteração marcante no sistema radicular se deve ao efeito do alumínio no processo de divisão celular, ou seja, o alumínio ligado ao fosfato na molécula do DNA reduz a atividade de replicação e de transcrição. Em consequência do grande espectro de atuação do alumínio nos processos metabólicos das plantas, os sintomas de toxidez ocasionados por este elemento tendem a ser expressos de várias formas. Os primeiros sintomas aparecem nas raízes, que se tornam curtas, engrossadas, quebradiças e adquirem coloração escura. A extremidade fica amarronzada e o sistema radicular como um todo é desprovido de ramificações finas, além de apresentar aparência coraloide. A toxidez de alumínio na parte aérea é caracterizada por uma sensível redução no crescimento das plantas e por sintomas semelhantes àqueles da deficiência de nutrientes, notadamente fósforo e cálcio. O alumínio, além de reduzir drasticamente a oferta de fósforo na solução, devido à reação de precipitação, diminui sensivelmente sua aquisição por acentuar o papel da difusão, dado o menor crescimento das raízes. No caso do cálcio, sabe-se que sua absorção ocorre apenas nas partes novas das raízes, justamente a região afetada pelo alumínio. O teor de alumínio trocável tem sido usado como indicador do potencial fitotóxico do alumínio no solo. Todavia, considerando a variação de CTC entre solos, um melhor indicador tem sido a porcentagem de saturação de alumínio. Nesta avaliação, é preciso considerar que as espécies de plantas ou, até mesmo, cultivares dentro de uma mesma espécie têm demonstrado comportamento diferente quanto à suscetibilidade à toxidez ocasionada pelo alumínio. O Quadro 1 apresenta os níveis críticos da saturação de alumínio no solo para algumas espécies vegetais, 42
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em que se observa acentuada variação no comportamento de espécie para espécie. A matéria orgânica do solo (MOS) apresenta potencial para ser utilizada como indicador da qualidade do solo, pois além de sensível aos diferentes manejos do solo, é ainda fonte de nutrientes às plantas, influenciando a infiltração, a retenção de água e a suscetibilidade à erosão. Também atua na ciclagem de nutrientes e complexação de elementos tóxicos como alumínio. Em solos tropicais, altamente intemperizados, que apresentam a característica química de baixa CTC, tendo a MOS forte influência sobre este fator. O calcário é frequentemente utilizado com o intuito de reduzir a acidez do solo por promover elevação do pH, cálcio e magnésio trocáveis, além de diminuir o teor de alumínio tóxico, ferro e manganês, causando ainda maior capacidade de troca catiônica (CTC). Aumenta a oferta de nitrogênio, enxofre e boro, que resultam da mineralização da matéria orgânica, melhora o aproveitamento de adubos, fornece cálcio e magnésio e estimula a atividade microbiana. O primeiro sintoma da toxicidade do Al é a rápida inibição do crescimento radical, sobretudo em condições de déficit hídrico ou limitação de fósforo. O resultado dessa toxidez de Al é a baixa absorção de água e nutrientes minerais, em razão da redução da área superficial de exploração do sistema radical. Dada a demanda crescente dos mercados interno e externo por combustíveis renováveis, açúcar e bioenergia, a cana (Saccharum spp.) tem se tornado cada vez mais importante no cenário nacional (Unica, 2017). Constituindo atualmente, junto com seus derivados, a segunda maior fonte de energia primária na matriz energética brasileira. Em decorrência disso, nos últimos anos tem ocorrido grande expansão do cultivo da cana-de-açúcar no País. Com tal expan-
Fotos Sandro Roberto Brancalião
Sistema radicular inibido pelo alumínio tóxico; Grupo Bunge, Monte Verde (MS)
são, essa cultura avançou para as regiões do Oeste do estado de São Paulo e áreas de Cerrado brasileiro. Essas regiões são caracterizadas por solos ácidos, com elevados teores de elementos tóxicos como alumínio (Al), manganês (Mn) e deficiência generalizada de nutrientes. No caso da cultura da cana, as variedades mais produtivas e tolerantes a solos ácidos e capazes de emitir raízes no subsolo com elevados níveis de Al3+ podem ter relação com diversos fatores de cada genealogia da variedade (seus progenitores e parentais etc). Uma das formas de se trabalhar com a planta é realizar um screening destes materiais e selecionar cada material em curto período de tempo (60 dias), para que posteriormente sejam validados no campo, alocando os genótipos nos seus devidos e pertinentes ambientes da produção para cana-de-açúcar. A gessagem (Figura 1) é uma forma de mitigar o alumínio tóxico no solo, embora não tenha capacidade de neutralizar a acidez como o calcário o faz. A acidez e o alumínio presentes em grande parte dos solos tropicais brasileiros podem ser equacionados com o uso conjunto de calcário mais gesso, nesta ordem (primeiro aplicando-se o calcário e logo posteriormente o gesso agrícola).
Comparativo de sistema radicular em cana ante a presença de cálcio e alumínio
de biomas diversificados, e ocupados ou não com a cultura da cana, encaixando-se no manejo de culturas anuais, semipereC nes e perenes. Sandro Roberto Brancalião, Marcos Guimarães de Andrade Landell e Márcio Aurélio Pitta Bidóia, Centro de Cana do Instituto Agronômico IAC/Apta/SAA
Quadro 1 - Níveis críticos da porcentagem de saturação por al (m%) no solo para algumas espécies vegetais Espécie vegetal m% (saturação de alumínio no solo) Alfafa 15 Soja 20 Feijão 20 Aveia 15 Trigo 30 Arroz 45 Milho 30
Mapa de fertilidade dos solos do Brasil
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espera-se que além da neutralização do alumínio tóxico e da acidez, a fosfatagem e a gessagem façam parte do dia a dia do produtor e da demanda de manejo da fertilidade de solos tanto do Cerrado como www.revistacultivar.com.br • Março 2019
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Coluna Agronegócios
Big Brother Bovino
C
otidianamente somos bombardeados com novos usos de satélites, capturando informações, que são processadas e transformadas em serviços, que atendem cidadãos (GPS, comunicações, fotografia, mapeamento) ou determinados estamentos, como militares ou corporações econômicas. No agronegócio já estamos acostumados a usar as imagens de satélite para inúmeras finalidades, como planejamento de lavouras ou para fiscalização do cumprimento de legislações, como a ambiental. Também não é novidade o uso de satélites para monitorar a produção agrícola, usando algoritmos que identificam o potencial produtivo de lavouras, permitindo antecipar previsão de safras e fazer ajustes finos nos preços das commodities agrícolas. Com a popularização dos satélites, e o barateamento dos custos de seus serviços, cresce o número de empresas que utilizam satélites menores e de mais baixo custo, porém com enorme capacidade de capturar dados. Somente em 2018 foram lançados pouco menos de mil novos satélites ao espaço, quase decuplicando o número de lançamentos de 2016. Em 2019 espera-se que a taxa de crescimento se mantenha ou cresça, tamanha é a demanda. Por meio deles, já é possível controlar desde grandes estacionamentos de automóveis até a intensidade da exploração de poços de petróleo. Essas informações, disponíveis em tempo real, permitem movimentos estratégicos de investidores nas bolsas de mercadorias. No nosso caso, é a agricultura digital ou 4.0 chegando!
NOVAS APLICAÇÕES
É possível utilizar como exemplo um case aplicado à pecuária, mas que ilustra bem a plêiade de novas aplicações, que se expande à velocidade de ficção científica. Isso posto, nada mais deveria nos surpreender, nem o fato de que já há interessados em rastrear o pum e o arroto das vacas. Tchê, rastrear o pum da vaca? Como isto é possível? E para quê? Pois bem, uma empresa da Califórnia desenvolveu tecnologia para detectar vazamentos ou emissões de metano, que é validada através de uma “assinatura” espectral característica da molécula. Emissões de metano tanto podem ocorrer em instalações de petróleo ou pântanos, como em pastagens, campos nativos ou instalações de cria de bovinos, em confinamento ou semiconfinamento. E para que serve esse aparente esdrúxulo comportamento de rastrear flatulências bovinas? A lógica está no fato de que as bactérias presentes nos estômagos dos ruminantes produzem metano, que é liberado para a atmosfera através de arrotos, flatulências ou esterco. Por meio de pesquisas específicas, pode-se estabelecer o volume de emissões de metano associado ao número de animais, em um determinado espaço e período de tempo.
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VALOR ECONÔMICO
Ao medir as emissões desses gases (mudança na sua concentração atmosférica), é possível estimar o tamanho dos rebanhos, inclusive aqueles localizados em abrigos cobertos, que não são acessíveis pelas imagens de satélite. De forma mais sofisticada, também podem ser avaliados, indiretamente, os alimentos oferecidos ao gado (pastagem ou rações). E qual a utilidade dessa informação? Vale ouro! Os dados oferecerão uma visão em tempo real do tamanho dos rebanhos e da idade dos bois, logo, do potencial de oferta do pecuarista para os frigoríficos. E isto pode ser realizado por amostragem em muitos países do mundo, ou em uma região específica. Os contratos futuros do gado são derivativos da pecuária, negociados em bolsa. Diariamente existem centenas de milhares de contratos em aberto na Bolsa de Chicago. O preço do contrato oscila ao sabor das estatísticas sobre a oferta e demanda de gado. A grande maioria dos investidores utiliza informações comuns, normalmente relatórios de governo. Um grupo mais restrito vale-se de consultorias privadas. Essas informações chegam com algum retardo aos investidores. Então imagine a diferença que fará para quem dispuser de uma informação valiosa, que chegue uma semana ou 15 dias antes das demais!
VALOR AMBIENTAL
Há outro uso possível para as informações, no tangente às emissões de gases de efeito estufa, in casu, do metano. Esse gás possui atividade muito mais intensa que o gás carbônico, no acirramento do efeito estufa. Os cientistas aceitam um fator entre 23 e 25 para o metano, ou seja, o aumento do efeito estufa causado por um quilo de metano equivale àquele ocasionado por 23kg - 25kg de gás carbônico. Dessa forma, saber onde ocorrem as emissões de metano, qual sua intensidade ou sazonalidade, passa a ser muito importante para a efetiva consecução de políticas públicas para mitigar as mudanças climáticas globais, e o cumprimento de metas de um país vinculadas aos acordos internacionais. No mesmo sentido, empresas privadas dispostas a alcançar o mesmo objetivo podem valer-se da informação para o planejamento de suas atividades ou para introduzir mudanças nos sistemas de produção, que tenham como objetivo reduzir as emissões de metano. Antes que eu esqueça, alvíssaras: este é um Big Brother C com valor e utilidade para a sociedade.
Decio Luiz Gazzoni, O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola MILHO
Safra de verão na reta final da colheita e mercado firme
A safra de verão do milho se encontra na reta final da colheita e registra perdas em relação ao ano passado, o que dá fôlego positivo para as cotações. Também força os consumidores às compras mais cedo, por temerem um vazio de oferta antes da chegada da safrinha (a partir do final de maio). Os indicativos de compra também se encontram aquecidos nos portos, com níveis acima de R$ 40,00 a saca. Continua escalonando as vendas e com previsão de alta no futuro, com espaço para crescer internamente. A safrinha deu a largada com boas condições de desenvolvimento, clima favorável e crescimento de área, com pouco interesse de venda por parte dos produtores.
SOJA
Exportações começaram o ano com pé no acelerado
O mercado da soja do Brasil começou o ano acelerado em relação às exportações. Até a terceira semana de fevereiro já tinham sido embarcados 4,5 milhões de toneladas. Com recorde de embarque mensal em janeiro (2,15 milhões de toneladas) e fevereiro com volume superior a quatro milhões de toneladas programadas. O país, que teve recorde de exportação de soja em 2018 (com 83,9 milhões de
toneladas do grão e um total de 102 milhões de toneladas do complexo, junto com farelo e óleo), mostra que vai seguir forte neste ano e obrigará as indústrias a correr atrás dos espaços e do grão disponível para não ficar sem matéria-prima para trabalhar. Há novamente no horizonte um bom ano para a soja brasileira.
FEIJÃO
Feijão continuou acelerado e passou dos R$ 400,00
Os indicativos, que em janeiro estavam na faixa de R$ 200,00 a saca para o feijão Carioca de boa qualidade, se fortaleceram em fevereiro e saltaram para níveis acima de R$ 400,00 a saca. Mesmo com a forte alta, havia boa demanda e pouca oferta. Os demais tipos também apresentavam boa demanda e cotações em alta. Mas o fôlego altista deve chegar ao final, com a dificuldade para comercializar no varejo com o quilo acima de R$ 15,00. Nesse nível, o produto perde demanda e encalha nas gôndolas. O grão tende a seguir com cotação forte, mas o espaço de alta agora é mínimo e pode até recuar um pouco para se adequar à demanda.
Sul trabalham na colheita da safra, que avança e agora mostra a realidade da produção. Depois de enfrentar o clima irregular, tudo aponta para 7,4 milhões de toneladas frente aos 8,4 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Para o Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou 10,7 milhões de toneladas frente aos 12 milhões de toneladas do ano passado. Enquanto isso, o mesmo levantamento aponta que o consumo será de 11,4 milhões de toneladas (com potencial para 12 milhões de toneladas). Com este cenário, nos estados do Norte o produto disponível é disputado pelas indústrias e mantém cotações entre R$ 55,00 e R$ 60,00 a saca de 60kg, frente a valores de R$ 40,00 a R$ 43,00 a saca no Rio Grande do Sul. O preço do grão C pode crescer forte neste ano.
ARROZ
Arroz em colheita forte no RS e perdas de um milhão de toneladas
Os produtores de arroz do Rio Grande do
Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo começa a mostrar maior demanda, porque o período de férias passou e isso serve de estímulo para o consumo, no Brasil, de massas, pães, além de biscoitos e outros derivados. Espera-se por pressão de alta nos indicativos nestas próximas semanas. O novo plantio por enquanto não mostra intenção de mudanças, mas há chances de crescer um pouco no Sul. EUA - O mercado de grãos começará a se movimentar mais a partir de março, porque até Março vinha travado em função da disputa comercial entre os EUA e a China. Agora, há expectativa de avanço nos negócios, principalmente da soja e de fôlego positivo para Chicago. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) realizou o Agricultural Outlook Forum no final de Março, de onde saíram as primeiras expectativas de plantio para a safra 19/20. Mostrou a soja com 34,4 milhões de hectares frente aos 36,2 milhões de hectares plantados na safra passada. O milho com 37,2 milhões de hectares frente a 36 milhões de hectares da safra passada e o trigo com leve queda, agora em 19 milhões de hectares frente aos 19,3 milhões de hectares do ano passado. O quadro é de cotações em alta, porque o crescimento do milho não deverá ser o suficiente para trazer excedente do cereal ao mercado. O mundo está consumindo pelo menos 30
milhões de toneladas a mais do que produz e o estoque americano do cereal cai de 54 milhões de toneladas para 44 milhões de toneladas. Este avanço na área pode somente equilibrar o quadro americano, mas não atenderá o mercado mundial que segue crescente. CHINA - A China volta às compras no mercado americano e deverá concentrar pressão também no Brasil porque sabe que o grão brasileiro estará mais escasso neste ano. No acordo com os EUA, a proposta da China é de comprar cerca de 30 bilhões de dólares em grãos e produtos agrícolas americanos nesta nova temporada. Desta forma, devem atuar forte porque no ano passado os estoques chineses recuaram muito e terão que ser repostos. ARGENTINA - A safra dos argentinos, que em 2018 foi de grandes perdas devido à seca, em 2019 se mostra melhor. Havia problemas em janeiro com inundações em parte do Norte, mas o quadro se normalizou e a safra da soja tem potencial para 53 milhões de toneladas, com avanço frente aos 37 milhões de toneladas do ano passado. O milho mostra potencial de 45 milhões de toneladas frente aos 31 milhões de toneladas anteriores. O quadro se mostrou normal nas últimas semanas para estes dois grãos. O arroz local terá perdas e o feijão, que está com área em crescimento, se encontra em início de desenvolvimento.
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Coluna ANPII
Tecnologia divulgada Prática reconhecida nas lavouras brasileiras, a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) ainda demanda maior difusão dos princípios técnico-científicos que a embasam
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Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN), através e Adubação de Plantas. do uso de inoculantes, já é uma prática agrícola Para ministrar esse curso, totalmente a distância, secolocada no rol das indispensáveis pelo agriculrão convidados como professores diversos pesquisadores tor brasileiro. Atualmente, mais de 85% dos plantadores que ministrarão aulas sobre os mais relevantes e atualide soja utilizam o inoculante em suas lavouras, seja em zados tópicos. Trarão não somente conhecimentos sobre mistura com as sementes, seja pela aplicação no sulco os temas técnico-científicos, mas também resultados de de plantio, uma técnica que se difunde cada vez mais. trabalhos de campo, demonstrações das melhores práMas na utilização de qualquer produto agrícola, não ticas, com vídeos demonstrativos de aplicação de inobasta usar às cegas, sem um maior culantes em condições de lavoura. conhecimento dos princípios técniTambém serão abordados tópicos co-científicos que o embasam, sem sobre o desenvolvimento do uso conhecer seu real potencial e sem de inoculantes no Brasil, a evolução entender como adaptá-lo a deteratravés dos anos, estatísticas regiominadas circunstâncias mutáveis, nalizadas etc. como ocorre constantemente na O curso terá a duração de quatro O SolloAgro é agricultura. meses, com aulas quinzenais e será Os órgãos de pesquisa brasileiros ao vivo e não gravado. O professor um programa têm trabalhado intensamente na ficará à disposição para responder de educação divulgação do uso dos inoculantes, on-line as dúvidas dos alunos, de mas também na divulgação dos comodo a gerar plena interatividade. continuada do nhecimentos referentes à tecnologia. Com toda a certeza o curso finDepartamento de A ANPII, juntando-se a esse esforço, cará um novo marco na divulgação Ciência do Solo da vem também, ao longo dos anos, exedos inoculantes no Brasil, consolicutando ações de grande amplitude dando cada vez mais o país como Esalq, que promove no sentido de colocar à disposição líder no uso da nutrição nitrogenada há 20 anos cursos, dos agricultores brasileiros um leque via biológica. de conhecimentos que proporcionem No âmbito de novas pesquisas, treinamentos melhor aproveitamento dos benefías empresas associadas da ANPII e eventos em cios da prática da inoculação. participaram de um workshop na Solos, Nutrição Através de palestras, artigos, Universidade Federal do Paraná, treinamentos e cursos a distância, coordenado pelos pesquisadores e Adubação de a associação vem contribuindo de Fábio Pedrosa e Emanuel Souza, Plantas maneira decisiva para um maior renpara uniformizar os conhecimentos dimento da FBN na agricultura brasidos técnicos de todas as empresas leira. No site da ANPII – www.anpii. no que se refere às características org.br - existe um curso sobre FBN, já e às peculiaridades das novas esacessado por mais de dois mil alunos tirpes de Azospirillum brasilense de diversos perfis profissionais. Esse com elevado potencial de fixação curso está em processo de atualizado nitrogênio. As pesquisas sobre ção, oferecendo os novos conceitos este novo material biológico serão e novas práticas no uso dos inoculantes no Brasil. executadas pelo consórcio de empresas associadas, sob Para aprofundar ainda mais a divulgação, a ANPII a coordenação da ANPII e em colaboração com o Deparestá em negociações com a Esalq-USP, através do tamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UniverC SolloAgro, para montar um curso muito mais aprosidade Federal do Paraná. fundado, abrangendo todos os aspectos da fixação biológica do nitrogênio. O SolloAgro é um programa de educação continuada do Departamento de Ciência do Solo da Esalq, que promove há 20 anos Solon Araujo, cursos, treinamentos e eventos em Solos, Nutrição Consultor da ANPII
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