Cultivar 24

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destaques Prejuízos

Tombamento prejudica lavouras de soja no RS. Os prejuízos foram grandes

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Doce Amargo Caderno Especial mostra o que é e como evitar o temido algodão doce

Nota do editor

índice Diretas Diretas e Cartas Mercado Agrícola Nova empresa no algodão Reguladores de crescimento Marketing para o algodão Bactérias que atacam a soja Tombamento em soja Imposto para exportar? Controle da lagarta da soja Notícias da Abrasem Degradação de agroquímicos Cupins, a ameaça Mancha angular em feijão Coluna da Aenda Agronegócios Última Página

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Anúncios Coodetec Bayer Continental Eagle Agripec Aenda Cheminova Show Rural Gehaka Rafain Bayer Basf Agroanalysis Bayer Basf

Uma nova Cultivar Há cultivares de ciclo curto, médio e longo. A Revista Cultivar, após dois anos de circulação, encerrou seu primeiro ciclo. Eis a hora de aperfeiçoar a forma e o conteúdo. Nosso primeiro modelo criou escola no país, sendo copiado por revistas voltadas a todos os públicos inclusive aos produtores rurais. Confessamos que essa foi uma das nossas maiores satisfações ao longo do período. Poucos profissionais podem dizer que ensinaram seu ofício aos colegas. As principais mudanças que o Leitor encontrará nesta edição são o aumento das dimensões da revista (a melhor é agora a maior!), uma nova forma de apresentar as cores e a criação de um caderno técnico, colecionável, que trará mensalmente um grande artigo. Nesta edição, através de renomados pesquisadores da Embrapa Algodão, tratamos do problema e das soluções para o Algodão Doce. Foto - Euripedes B. Menezez - UFRRJ Outra novidade é o lançamento de uma nova revista, a Cultivar Neste número mostramos o aumento MÁQUINAS, que circulará no dia 19 de janeiro, trazendo todas as dos cupins em zonas rurais e urbanas, informações necessárias sobre engenharia agrícola. com elevados danos que o produtor Agradecemos a sua fiel companhia, amigo Leitor, e esperamos que geralmente desconhece continue apreciando o nosso trabalho. Você é a razão de todo o nosso esforço.

Nossa capa

02 09 11 13 15 17 19 21 27 29 33 35 39 40


diretas Ano III - Nº 24 - Janeiro / 2001 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (12 edições): R$ 58,00 Números atrasados: R$ 6,00 Diretor:

Newton Peter - RPJ/RS 3513

Associação Feijão

O famoso Carioquinha , o feijão mais consumido do Brasil e existente graças aos trabalhos de desenvolvimento do pesquisador do IAC, Luiz D Artagnan de Almeida, foi destaque no livro Mejoramiento Genético Del Frijol Legado de Variedades de América Latina 1930-1999 , de Oswaldo Voysest, do Centro Internacional de Agricultura em Cali Colômbia. O feijão Carioca foi citado como uma das variedades desenvolvidas na América Latina, entre 1930 e 1999, que se destaca por seu valor excepcional, o que o permite ultrapassar as fronteiras de seu País de origem e se manter na preferência dos agricultores.

Luiz Almeida

Editor geral:

Schubert Peter - NUJ 26693

Reportagens Especiais:

João Pedro Lobo da Costa

Design gráfico e Diagramação:

Fabiane Rittmann

Marketing:

Andrea González

Circulação:

Edson Luiz Krause

Assinaturas:

Simone Lopes

Ilustrações:

A MDM iniciou suas exportações. Foram comercializadas mil toneladas da semente DeltaOPal para a Bolívia e estão sendo fechados os negócios com a Argentina e Paraguai. Com 40% de participação no mercado brasileiro, a empresa prepara-se também para aumentar sua linha de produtos com o lançamento de duas novas cultivares convencionais. As duas variedades, em testes, possuem ciclo mais curto de plantio e resistência a doenças.

Ceará

Rafael Sica

Editoração Eletrônica:

Index Produções Gráficas

Fotolitos e Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES:

Exportações

O Ceará projeta para essa safra um aumento de 7% sobre o resultado de 1,047 milhões de toneladas da anterior, mantendo a área de 1,3 milhão de hectares. O acréscimo, por conta da elevação de produtividade, deixa o Ceará na segunda posição no Nordeste como produtor de grãos, abaixo apenas da Bahia.

Quero mais!

Durante a cerimônia de assinatura do convênio Embrapa-Fundação Meridional, em Londrina, o ministro Pratini de Moraes, da Agricultura, bateu duro: não é possível que um país como o Brasil colha apenas 5 milhões de toneladas de trigo. O país não pode mais gastar divisas na compra de um alimento estratégico como esse. Por isso a Fundação Meridional vai investir pesado na pesquisa e incentivo do plantio.

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Algodão colorido

A Embrapa distribuiu cerca de 120 toneladas de sementes de algodão colorido naturalmente para produtores rurais de nove municípios da Paraíba, dez do Rio Grande do Norte e nove do Ceará. O plantio será feito neste e no próximo mês, em 6 mil hectares, e os pesquisadores da empresa esperam a produção de 7,2 mil toneladas. A idéia é lançar no mercado, em 2002, cerca de 3,2 mil toneladas de plumas de algodão marrom.

Abrasoja

GERAL / ASSINATURAS:

O presidente da Abrasoja, José de Barros França Neto, está complementando os detalhes da base legal da entidade. França Neto pretende nos próximos meses ativar efetivamente os trabalhos da entidade tão logo a representação legal esteja definida.

272.2128

REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716

MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314

FAX: 272.1966

Com sede em Ribeirão Preto, foi criada a Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (Abag/RP), reunindo produtores rurais, cooperativas, agroindústrias e outros segmentos do setor. A entidade abrange 82 municípios das atuais regiões administrativas de Araraquara, Barretos, Franca, Ribeirão Preto e São Carlos, que formam a antiga 6ª Região Administrativa do Estado de São Paulo, com 2,7 milhões de habitantes e um PIB de 23 bilhões de dólares. A agrônoma Mônika Carneiro Meira Bergamaschi, diretora executiva da nova entidade, explica que o objetivo da Abag/RP é congregar os vários segmentos do agronegócio, principal atividade econômica da região, valorizando institucionalmente suas atividades e ampliando a participação do setor em projetos e iniciativas sociais e educacionais de interesse da população local .

Todos erram

Até os bons erram. O último foi o governador de Santa Catarina, Esperidião Amin. Conhecido e admirado por sua grande visão empresarial, equivocadamente Amin manifestou apoio a um decreto complementar à Lei 11.069, de dezembro de 1998, sobre extinção do uso de agrotóxicos no estado. Claramente mal-orientado por seus assessores, o governador declarou ao jornal Gazeta Mercantil, de Santa Catarina, que queremos abolir gradualmente o uso de agrotóxicos e vamos controlar as produções para consumirmos o que há de melhor . Só não explicou como é que uma população agrícola que representa menos de 20% dos brasileiros vai alimentar os demais sem usar tecnologia. Exportações, nem pensar.

Gente nova

A Semeali, de Birigui (SP) uma das poucas empresas brasileiras que possuem genética própria de milho, acaba de conseguir um grande reforço para sua equipe comercial. Trata-se do Eng. Agrônomo José Roberto Takahashi, novo gerente de marketing e vendas da empresa. José Roberto é um profissional de larga experiência, com mais de 20 anos no mercado de sementes híbridas, trabalhando em grandes empresas nacionais e multinacionais. Essa bagagem toda será fundamental nessa nova fase, em que a Semeali se estrutura para participar ativamente do mercado nacional de sementes híbridas de milho, sorgo e girassol. E, pelo que se comenta, a empresa tem novas e importantes contratações à vista.

José Takahashi

Segurança

Organizado pelo Ministério do Trabalho e Fundacentro, em São Paulo, nos dias 7 e 8 de dezembro, o Seminário sobre Segurança em Máquinas Agrícolas e Florestais abriu novas perspectivas para a discussão do tema. Foram destacadas as palestras de José Fernando Schlosser, da Universidade de Santa Maria, Hamilton Humberto Ramos, do IAC, José Prado Alves Filho, da Fundacentro, Ettore Gasparetto, da Universidade de Milão, e Rosa Yasuko Yamashita, da Fundacentro.

Conselho

Aqui não!

O governador do Pará, Almir Gabriel, sancionou norma que regulamenta a produção e consumo de transgênicos no estado. A Lei 6.328 proíbe o plantio e cultivo comercial, nos próximos dois anos, de organismos geneticamente modificados que tenham como finalidade a alimentação humana ou animal.

Dupont em Araraguaína

Florindo Dalberto

A diretoria do Iapar empossou seu novo Conselho Técnico Científico, colegiado eleito pelo corpo técnico do instituto. Os novos membros: Antonio C. Laurenti, Carlos Roberto Riede, Danuiel Perotto, Maria Lucia Crochemore, Onaur Ruano e Ricardo Peixoto. O presidente do Conselho é o presidente do Iapar, Florindo Dalberto, que durante a posse falou sobre as novas variedades de feijão, milho, algodão e trigo recémlançadas.

A experiência bemsucedida com o cultivo de soja na região de Araguaína, no Norte do Tocantins, desenvolvida ano passado, animou executivos da Dupont. Em recente reunião, o secretário de produção do estado, Jalbas Manduca, apresentou as potencialidades da região, considerada uma nova fronteira agrícola no estado. Além da viabilidade de plantio em terras mais arenosas, a proximidade com a Ferrovia Norte-Sul, cujo ramal ferroviário está a menos de 150 km da área produtora, estimula os investimentos.

Receita extra

As exportações do complexo soja devem gerar uma receita de US$ 4,5 bilhões, com crescimento de 7,1% em relação aos US$ 4,2 bilhões alcançados em 2000. A previsão é do presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Cezar Borges de Souza. O crescimento da receita do setor se deve em grande parte ao aumento das exportações de soja em grãos que nos últimos quatro anos passaram de 3,6 milhões de toneladas para as atuais 11 milhões de toneladas. O crescimento da exportação da matéria-prima é reflexo da Lei Kandir, que acabou com o regime de alíquotas diferenciadas de exportação existentes no setor: 13% para o grão, 11% para o farelo e 8% para o óleo.

Parcerias

Do presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal, empenhado em nova política de parceria com fundações privadas para manter a pesquisa nacional: é preciso que as instituições busquem o jogo na velocidade que o mercado exige . Portugal sintetiza assim a reação da Embrapa, aliada às empresas nacionais produtoras de sementes, à grande ofensiva das empresas transnacionais de sementes que compraram todos os bancos nacionais de germoplasma. A Embrapa, com poucos recursos para manter a pesquisa, supre suas necessidades no setor privado, alterando completamente sua postura anterior. Alberto Portugal

SUCURSAIS

Erramos

Mato Grosso

Gislaine Rabelo Rua dos Crisântemos, 60 78850-000 / Primavera do Leste Tel.: (65) 497.1019 ou 9954.1894

Bahia

José Claudio Oliveira Rua Joana Angélica, 305 47800-000 / Barreiras Tel.: (77) 612.2509 ou 9971.1254

Scylla Peixoto

Sementes

Já tem data e local definido para o XX Ciclo da Comissão Estadual de Sementes e Mudas do Paraná. Será de 6 a 11 de agosto de 2001, em Foz do Iguaçu, no Hotel Rafain. O diretor da CESM-PR, Scylla Cesar Peixoto, já está acertando os detalhes e divulgando o evento, um dos mais tradicionais do setor de sementes no Brasil. O evento de 2001 servirá também para comemorar os 30 anos de atividades da CESM-PR.

Na última edição publicamos errada a instituição a que pertence o renomado professor e pesquisador Erlei Melo Reis. Leia-se Universidade de Passo Fundo, ao invés do que publicamos. As fotos que ilustraram a matéria também são de sua autoria. Achou um erro na sua Cultivar? Então nos avise através do e-mail: schubert.peter@cultivar.inf.br

Apenas gostaria de parabenizar a revista pelas excelentes reportagens que tem publicado. Continuem assim que o sucesso de vocês será o resultado. Aproveito para pedir que publiquem alguma matéria sobre plantas alelopáticas.

Pesquisando na internet encontrei o site da Cultivar, no qual senti muita responsabilidade e profissionalismo.

Gostaria de ver uma matéria sobre Percevejo Castanho, com dicas sobre o seu controle.

Carlos Roberto Vilas

pereiradias@gratis1.com.br

Geronimo P. da Silva

carlosvilas@bol.com.br

Desejo assinar a nova revista Cultivar Máquinas.

Émerson Aquino

Milton Froeder Santa Rosa (RS)

nunesjiulio@bol.com.br

froeder@viabrazil.com.br

Quero parabenizá-los por esta excelente revista. O setor agrícola só tem a agradecer! Luiz Galleto noragro@ibiapaba.com.br

Quisiera saber si se puede suscribir a su revista desde Paraguay, y en caso que se pueda cual es el precio y las formas de pago. Muchas Gracias. Dr. Miguel Alborno portduke@telesurf.com.py

Seria possível publicar mais informações sobre doenças na cultura da soja? Tenho

muito interesse nesse material. Cleiton Becker cleitonbecker@setrem.com.br

Estava em dúvida sobre o potencial da cultura do sorgo. A reportagem que a Cultivar publicou fez com que eu decidisse investir na cultura também. José M. Natividade natividade@bol.com.br

A Cultivar agradece as cartas recebidas. Infelizmente, por questão de espaço, não poderemos publicar todas. Entretanto, informamos que as respostas aos pedidos de informações e de artigos já foram remetidas. Ficamos sensibilizados com as mensagens de incentivo e tentaremos corrigir os erros apontados por nossos leitores.


Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Algodão

Nova safra deixa produtores sem rumo E

Aposta na fibra

stamos começando o ano e a colheita das primeiras lavouras. Os produtores questionam para onde vão os preços e a rentabilidade. Tudo força para que o setor busque mais informações sobre o mercado, a realidade da safra, da demanda, das exportações e das importações. Ano passado tivemos um caso típico, onde muitos (principalmente cooperativas) seguraram grandes volumes de milho, apostando na alta. Não observaram que os consumidores estavam importando milho e, principalmente, grandes volumes de sorgo; junto usavam produtos nacionais substitutos. Houve também queda na demanda de julho a setembro. Assim, chegou o dezembro e os grandes consumidores estavam abastecidos, fazendo com que as cotações despencassem. Para evitar esses problemas, recomenda-se que os produtores acompanhem o mercado e não especulem com os produtos. O governo apontou para uma supersafra de mais de 91 milhões de toneladas. Será que ela se confirmará?

MILHO

Esperando pelas exportações O milho em janeiro tem como alternativa as exportações. O mercado mundial está comprando e tem dado facilidade para os negócios com o milho convencional. Temos, então, grandes chances de vendê-lo e criar uma sustentação nos indicativos, não ficando na dependência do governo. O governo apontou que irá comprar 2 milhões de toneladas para a recomposição dos estoques. Porém, temos que ficar com um pé atrás devido à escassez de recursos. Para pagar o salário mínimo de R$ 180,00, talvez seja necessário cortar recursos da Conab e da formação dos estoques. No final do ano, tivemos a suspensão da distribuição das cestas básicas. Neste mês muito milho novo deverá chegar ao mercado, fazendo com que as cotações caiam os se mantenham estabilizadas. Provavelmente, haverá mais oferta do que procura, sendo mau momento para a venda.

ARROZ

Alta no final de ano tenta se sustentar O mercado do arroz ajustou as posições do casca em dezembro, com avanço para R$ 13,50 a R$ 14,50. E até acima para fechamentos com prazo longo e produto de ponta. Deverá continuar firme em janeiro, com apontamentos que a safra neste ano chegará um pouco mais tarde e que os estoques livres somam cerca de 1 milhão de T. Assim, dependerá de leilão do governo, que tem nas mãos 2,1 milhões de T. As indústrias acenam que se conseguirem colocar ajustes no fardo pagarão pelo casca; caso contrário haverá grande disputa entre compra e venda. A colheita neste mês virá de pontos isolados. 06

Cultivar

FEIJÃO

Plantio comprometido e pouca oferta Agora e em fevereiro ocorre o segundo plantio do feijão. Novamente deveremos ver forte queda na área e na produção, justamente o que está ocorrendo com a primeira safra, em colheita no momento. Mesmo assim as chances de grande reação são pequenas. Estamos num momento de fraca demanda, mas aqueles que plantarem agora certamente deverão ver números satisfatórios na colheita. O quadro do feijão será de oferta e demanda apertada, com cotações favoráveis aos produtores a partir de fevereiro/março.

Empresa norte-americana investe no Brasil e chega trazendo o que de mais moderno há em termos de beneficiamento de algodão

A

SOJA

Mercado em busca de exportação O mercado da soja estará andando já que a colheita ficará restrita a poucos volumes em pontos isolados do Mato Grosso e do Paraná. Assim, tudo que chegar terá boa aceitação pelos esmagadores internos, devendo os preços ficarem firmes. Recomendamos acompanhar o mercado futuro, que poderá mostrar boas chances de fixação de cotação. Assim aquela soja que normalmente se fecha no momento da colheita poderá estar com as cotações garantidas já em janeiro. Deveremos ter um bom ano para a soja do Brasil.

CURTAS E BOAS TRIGO - continua sendo uma bom produto para os produtores que conseguiram colher qualidade. Mantendo indicativos de R$ 240,00 e até R$ 260,00 por T. MILHO - o mercado anda desconfiado da previsão da Conab, que apontou 38,5 milhões de T em dezembro. SOJA - segue com todo mercado trabalhando dentro de uma safra linear de 34,5 milhões de T, que poderá vir acima se o clima seguir favorável. ARROZ - com indicativos de safra apontando para os 10,5 a 10,8 milhões de T, contra os 10,7 do governo. Caindo 700 mil T. ALGODÃO - os mais otimistas apontam que a safra poderá passar da marca de 1,5 milhão de T contra 1,2 colhido na safra passada. FEIJÃO - governo continua otimista com a cultura e aponta 2,8 milhões para safra 00/01, mas no mercado há quem diga que não chegue a 2,5 milhões de T. Recomenda-se atenção, pois pode haver falta. SORGO - o governo não está acreditando na nova safra e mantém estimativa de 731 mil T. Mas pode ser muito acima dos 1,2 milhão de T, batendo até em 1,5 milhão.

Janeiro de 2001

postando no crescimento e no pro fissionalismo da cotonicultura bra sileira, chega ao Brasil a Continental Eagle Coporation, de Prattville, Alabama, Estados Unidos. A empresa, especializada no ramo de descaroçadoras de algodão, começou suas atividades em grande estilo, contratando o agrônomo Delano M. C. Gondim para gerenciar suas vendas no país. Seu principal diferencial no mercado é o foco em melhorias voltadas para a satisfação do cliente. Detentora de 65% do mercado mundial e única empresa do ramo com o certificado de qualidade ISO 9001, a Continental Eagle é a mais antiga e maior fabricante de descaroçadoras de algodão do mundo. Através da sua divisão Impco, acumula também posição de destaque entre as fabricantes de plantas de delineamento de sementes e máquinas de decorticação, remoção de línter e preparo da semente para processamento de óleo. Seu departamento de deslintamento de sementes via ácido sulfúrico é especializado em todo processo de acondicionamento da semente para o plantio. O Brasil foi escolhido para receber os novos investimentos da empresa por causa do potencial produtivo e pela tremenda necessidade de renovação no setor de beneficiamento , explica o diretor executivo da empresa, Joseph Fermon. Como primeiro classificador oficial estrangeiro da Bolsa de Mercadorias de São Paulo, com atuação entre 1954 e 1956, o executivo crê que o futuro do algodão esteja no país. Fermon explica também a decisão estratégica da empresa com base na necessidade de beneficiamento rápido da pluma. Hoje, os equipamentos em operação têm baixa capacidade, retardando o processo. Isso implica ainda na classificação abaixo das possibilidades do produto, resultado da falta de opções de equipamentos de limpeza. Prensas de alta densidade, diz, tornam o transporte mais efetivo e o sistema de umidificação auxilia na prevenção de danos na fibra. Janeiro de 2001

Sistema de descaroçamento de sementes, com capacidade para 60 fardos, produzido pela empresa

Preocupação com clientes

Já o vice-presidente de vendas internacionais da empresa, David Mrozinski, aponta como uma das estratégias no Brasil a constante preocupação com os clientes. Oferecemos aos nossos parceiros a certeza que os equipamentos irão funcionar da melhor maneira possível, trabalhando todas as partes do processo, desde as máquinas em si até o correto treinamento dos operadores. Para garantir qualidade aos clientes é que a Continental Eagle está inaugurando a base de operações no Brasil, que contará com escritório, depósito para fornecimento rápido de peças de reposição e estrutura para fabricação de componentes. A contratação do agrônomo Delano Gondim é parte do processo. Formado pela Universidade Federal da Paraíba em 1980, Gondim atua há 20 anos no setor agrícola, com destacado currículo na pesquisa do algodoeiro, tendo entre os destaques do seu currículo cursos de tecnologia da fibra na França e de melhoramento de plantas na Holanda. Acreditando também no potencial brasileiro para produção de algodão e acrescentando que nada se deve a outros grandes produtores mundiais em termos de tecnologia empregada, ele destaca a importância crescente do estado do Mato Grosso. Pecamos ainda no beneficiamento, não por sermos ruins, mas porque temos chance de melhorar , explica.

Delano Gondin comandará as atividades da empresa no Brasil, apostando no crescimento do algodão

Cultivar

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nismos e modos de ação semelhantes. De qualquer um dos produtos a dose total recomendada pelo fabricante é de 1,0 litro por hectare. Mistura de produtos - não se conhece ainda restrição à mistura de reguladores de crescimento com outros produtos, como por exemplo, com inseticidas. Entretanto, deve-se evitar misturas muito complexas como: inseticidas + fungicidas + adubo foliar + regulador de crescimento, pois nesta condição o efeito dos reguladores de crescimento pode ser comprometido. Pelo exposto, não fica dúvida de que a apli-

Cultivar

Napoleão

Algodão

Crescimento controlado Reguladores de crescimento auxiliam na produção de algodão de qualidade

Com reguladores de crescimento consegue-se reduzir a altura das plantas e o comprimento dos ramos

O

s reguladores de crescimento são substâncias sintéticas que interferem no balanço hormonal das plantas, inibindo a síntese e a movimentação do hormônio giberelina. Em algumas situações, tais como condições climáticas favoráveis e adequada disponibilidade de nutrientes, o algodoeiro pode ter crescimento vegetativo excessivo; nesta situação, o uso de reguladores de crescimento é indispensável. Com a utilização de reguladores de crescimento as plantas ficam mais compactas e, por conseguinte, mais eficientes do ponto de vista fisiológico. Por isso, uma das estratégias agronômicas para a manipulação da arquitetura das plantas e que pode contribuir para o aumento 08

Cultivar

da produtividade, é a utilização de reguladores de crescimento. As principais vantagens da utilização dos reguladores de crescimento na cultura do algodoeiro são: redução da altura das plantas, do comprimento dos ramos vegetativos e reprodutivos, maior retenção de frutos nas primeiras posições, menor número de folhas quando da colheita, uniformidade na abertura dos frutos, maior equilíbrio entre as partes vegetativas e reprodutivas, melhor controle de pragas, e menor número de frutos danificados. Diversos são os cuidados que devem ser observados na tomada de decisão sobre a aplicação dos reguladores de crescimento, podendo destacar-se: Cultivar utilizada - nas de porte alto a

cação dos reguladores de crescimento exige monitoramento freqüente das plantas, análise criteriosa de todos os fatores que interferem no crescimento e desenvolvimento das plantas. Sendo observados todos os cuidados mencionados neste artigo, com a dose recomendada pelo fabricante, é possível chegar ao final do ciclo da cultura, com as plantas tendo entre 1,20 a 1,30m de altura, o que é ideal, principalmente quando a colheita é mecanizada. Fernando Mendes Lamas Embrapa Agropecuária Oeste

Fernando Lamas fala sobre as vantagens do uso de reguladores de crescimento na cultura do algodoeiro

dose a ser utilizada e o momento do início das aplicações é diferente quando se compara com cultivares de porte baixo; Época de semeadura - quando a semeadura é realizada tardiamente, as plantas terão maior porte. Nesta situação o efeito dos reguladores é mais pronunciado, entretanto maiores devem ser os cuidados para se obter os resultados esperados com a aplicação destes produtos; Forma de aplicação - recomenda-se a aplicação parcelada (seqüencial). Desta forma o efeito dos reguladores de crescimento na redução da altura das plantas é maior; Época de aplicação grande parte do sucesso com a utilização de reguladores de crescimento se deve ao momento em que é feita a primeira aplicação. Para a tomada de decisão quanto ao momento correto, deve-se observar a taxa de crescimento das plantas, as condições climáticas, a disponibilidade de nutrientes, etc. É importante avaliar se as plantas estão sobre o efeito de algum estresse, como por exemplo o causado por aplicação de herbicidas. Alguns herbicidas, mesmo não causando injúrias severas, reduzem a taxa de crescimento das plantas. Assim, só devem ser aplicados os reguladores de crescimento após o desaparecimento de uma eventual injúria. Nunca aplicar regulador de crescimento quando as plantas estiverem sobre estresse de qualquer natureza.

PRIMEIRA APLICAÇÃO

De uma maneira geral, a primeira aplicação dos reguladores de crescimento deve ser Janeiro de 2001

feita entre o aparecimento dos primeiros botões florais e as primeiras flores. Como indicativo, se as plantas ainda não iniciaram o florescimento, mas estão com altura igual ou superior a 45 cm este seria o momento da primeira aplicação. Plantas que ainda não iniciaram o período de florescimento e estão com altura superior a 45 cm é um forte indicativo de que terão crescimento excessivo. As aplicações seguintes devem ser feitas quando da retomada do crescimento, o que pode ser avaliado medindo-se o comprimento dos cinco internódios do ápice da haste principal e a altura das plantas. Quando a aplicação é feita observando-se os cuidados mencionados, o esquema de parcelamento a ser adotado pode ser: 10 + 20 + 30 + 40% da dose total. Se por algum motivo a primeira aplicação foi atrasada sugere-se 20 + 30 +50% ou ainda 25 + 25 + 25 +25% da dose total. O intervalo entre uma aplicação e outra, se as condições são favoráveis para o crescimento das plantas, não deve ser superior a quatorze dias; em média entre uma aplicação e outra recomenda-se um intervalo entre sete a quatorze dias. É necessário o monitoramento freqüente das plantas; Dosagem no mercado brasileiro existem dois produtos que são utilizados como reguladores de crescimento registrados no Ministério da Agricultura e do Abastecimento para uso na cultura do algodoeiro, que são: cloreto de mepiquat, que é comercializado com a marca PIX, contendo 5% de ingrediente ativo, e o cloreto de chlormequat, que é o Tuval com 10% de ingrediente ativo. Estes produtos têm mecaJaneiro de 2001

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Algodão

Campanha para vender

Produtores e executivos da cadeia do algodão unem-se para criar estratégias de marketing que aumentem a demanda pela fibra

N

ão é possível achar que o algodão continuará se auto-sustentando apenas levando em conta que é natural e confortável. O algodão sofre uma competição ferrenha das fibras sintéticas e as indústrias químicas que as fabricam estão muito conscientes da necessidade e do poder da promoção. No Brasil há um grande programa de propaganda para promover a fibra sintética, que invade o domínio do algodão e é competitiva em preços. Esse, em síntese, o maior problema do algodão no mercado de tecidos, na opinião de Andrew MacDonald, diretor da Santista Têxtil do Brasil, que participou, com o presidente da Abrates, João Luiz Ribas Pessa (ABRAPA), Sérgio Nogueira, da ABRALG, e Aluisio Campos, adido da Embaixada do Brasil em Washington, da reunião em Cairns, na Austrália, com representantes de outros 29 países produtores de algodão, sobre os desafios mundiais que o produto enfrenta. O encontro foi promovido pelo International Cotton Advisory Commitee - ICAC, para discutir a necessidade de se adotar novas tecnologias de produção, enfrentar a competição das fibras sintéticas, praticar sistemas sustentáveis de produção e assegurar um nível competitivo de mercado com sustentabilidade. MacDonald mostrou que o poder da propaganda pode mudar os hábitos do consumidor e, por conseqüência, alterar as linhas industriais. É preciso, portanto, criar condições para que as tecelagens não se sintam atraídas pela fibra sintética. Como solução imediata acha que a cadeia têxtil, do produtor ao retalhista, deve investir em publicidade do algodão. E também desenvolver produtos com maior facilidade de manuseio, com idéias criativas para acabamentos e design com novas padronagens e usos. Projeta-se um aumento de 6% no consu10

Cultivar

Andrew Macdonald, da ABIT, Sérgio Nogueira, da ABRALG, Aloisio Campos, diplomata, e João Luiz Pessa, da ABRAPA, na plenária da ICAC, Austrália

mo de fibras de algodão, para 2005, e de 13% para as fibras sintéticas. O mesmo estudo prevê um declínio do algodão no mercado de fibras brasileiro, dos atuais 65%, para 46% em 2005, chegando a 41% em 2008. Uma alternativa, na sua opinião, seria a criação, via associações de produtores, de uma taxa para cada fardo de algodão vendido (como nos Estados Unidos). O produto da arrecadação seria investido em atividades promocionais. A expectativa de hoje é que o consumo brasileiro de algodão chegue em 2005 a 850 mil toneladas. Com promoção eficiente MacDonald acredita que possa se alterar o total para 1,1 milhão de toneladas.

CONSUMO NO MUNDO

O secretário do ICAC, Carlos Valderrama, destacou que o consumo mundial de algodão aumentou 1,6% em 1999, chegando a 19,4 milhões de T. Há expectativa de crescimento de 2,7% esse ano e de mais 2% em 2001, chegando-se às 20,3 milhões de T. Mas as vendas de fibras sintéticas crescem muito mais. Em 98 o algodão representava 41,4% do mercado, desceu para 40,9% em 99 e deve estar agora em 40,7%. Os preços também caíram 5% em 98 e 8% em 99. Mas nem tudo são más notícias. Apesar de

tudo, mesmo perdendo participação de mercado, o consumo vem tendo um crescimento percentual mais elevado do que há 10 anos. Em 2010 o consumo deve chegar a 22 milhões de T, contra 37,5 milhões de sintéticos. Curioso é que o aumento do consumo no mercado de varejo cresce nos países industrializados, enquanto o consumo do algodão nas fiações aumenta nos países pobres. A importação de tecidos e produtos acabados nos países ricos passou, de 5,4milhões de T em 1998 para 5,9 milhões em 99. Naquele ano os países ricos tiveram 76% do consumo em fiações e 43% em produtos acabados. Usaram ainda 20% de algodão em pluma e 50% na forma de tecidos e roupas. Andrian J de Young, diretor do Rabobank International, acredita que o consumo de fibras está menos atrelado à variação de preços como se supõe, pois a demanda das fibras sintéticas não teve alteração com o aumento do petróleo. Já como exemplo de trabalho a favor do consumo do algodão citou o realizado pelo Cotton Incorporated, dos Estados Unidos, que merece ser seguido pelos demais países produtores. Na sua opinião a China continua sendo a chave mestra do mercado internacional de algodão, com 24% do parque industrial e 21% da produção mundial, e sua política de comprar, produzir e vender, vem a alterar todo o mercado. Janeiro de 2001


Bactérias Bactérias atacam a soja

Léo Ferreira

Sintomas de Crestamento Bacteriano, doença comum em folhas de soja e que pode causar consideráveis prejuízos

D

oenças causadas por bactérias são comuns em todos os lugares onde se cultiva soja. As perdas decorrentes da sua ação não costumam ser altas, geralmente agregadas aos 20% de perdas causadas por um grupo de doenças, mas se recomenda que não se perca de vista a possibilidade de problemas na lavoura.

CRESTAMENTO BACTERIANO

O Crestamento Bacteriano (Pseudomonas savastanoi pv glycinea ) é uma doença comum em folhas, mas pode ser encontrada atacando outros órgãos da planta, como hastes, pecíolos e vagens. Os sintomas nas folhas surgem como pequenas manchas, de aparência translúcida (anasarca), circundadas por um halo de coloração amarelada. Essas manchas, mais tarde, necrosam, com contornos aproximadamente angulares, e podem aglutinar-se, formando extensas áreas de tecido morto, dispostas entre as nervuras secundárias. Freqüentemente, apresentam halos amarelados circundando as áreas necrosadas. A maior ou menor largura do halo está diretamente ligada à temperatura ambiente; largo sob temperaturas amenas ou estreito ou quase inexistente sob temperaturas mais altas. A observação das manchas pela face inferior da folha (face abaxial) permite fazer deter12

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minações geralmente exatas da presença desta bactéria; as manchas são de coloração quase negra e apresentam, nas horas úmidas da manhã, uma película brilhante que é formada pelo exudato da bactéria. Infecções severas, nos estádios jovens da planta, conferem aparência enrugada às folhas, como se houvessem sido infectadas por vírus. A diferença é que as lesões são aquosas, semi-transparentes e apresentam exudato (superfície brilhante) na face inferior da folha.

A bactéria penetra na planta pelos estômatos ou através de ferimentos. A infecção primária pode ter origem em duas fontes; sementes infectadas e restos da cultura da soja anterior. No primeiro caso, as sementes não apresentam sintomas aparentes da presença da bactéria; os cotilédones provenientes dessas sementes podem apresentar lesões necrosadas, a partir das bordas, logo após a emergência. A infecção evolui através das folhas unifolioladas para as trifolioladas. No segundo caso, os restos de cultura servem como fonte inicial do inóculo, que pode passar para as folhas unifolioladas (primárias) e destas para as demais ou diretamente para as primeiras trifolioladas; neste caso, os cotilédones apresentam-se sadios. Durante o ciclo da cultura podem ocorrer infecções e disseminações secundárias, que são favorecidas pela ocorrência de alta umidade, principalmente chuvas em dias ventosos e temperaturas médias amenas (20o a 26oC). Dias secos permitem que finas escamas dos exudatos da bactéria se disseminem dentro da lavoura, das plantas infectadas para as sadias. Mas para haver infecção o organismo necessita de um filme de água na superfície da folha, o que ocorre em manhãs orvalhadas ou durante períodos chuvosos. Os métodos de controle mais indicados são o uso de cultivares resistentes, um bom preparo do solo, ou seja, aração profunda para cobrir os restos da cultura anterior logo após a colheita e o uso de semente proveniente de lavoura indene. Com base na série diferenciadora (Acme, Chippewa, Flambeau, Harosoy, Lindarin, Merit e Norchief), nos Estados Unidos, foram descritas oito raças fisiológicas (1 a 8); no Canadá foi descrita a raça 9 ; e no Brasil, foram descritas oito raças; cinco similares às raças 2, 3, 4, 6 e 7 descritas nos Estados Unidos e três raças novas (10,11 e 12). Raças adicionais, mas não numeradas, foram descritas na Colômbia. A herança da resistência foi estudada, indicando que a resistência à raça 1 da bactéria é devida a um gene dominante das cultivares Harosoy e Norchief e na linhagem PI 132207, enquanto a resistência à raça 2 aparentemente envolvia mais do que um gene. No Brasil, foi determinado que a herança da resistência, para o cruzamento de dois pais resistentes (Chippewa x BR 80 19913), é devida a dois pares de alelos recessivos e, para o cruzamento de um pai resistente e um pai suscetível (Chippewa x Cristalina), é devida a um par de alelos recessivos e que basta a presença de um par homozigoto recessivo para que a resistência seja evidenciada.

PÚSTULA BACTERIANA

Já a Pústula Bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines) é típica de folhas, mas pode atacar outros órgãos da planta, como pecíolos, hastes e vagens; nestes os sintomas são menos evidentes. Os sintomas da pústula bacteriana são Janeiro de 2001

semelhantes aos do crestamento, podendo causar confusão nas pessoas menos treinadas. Inicia-se por pequenas manchas, nunca de aparência translúcida, de coloração verde-amarelada e com centro elevado de cor amarelo-palha, que se tornam necróticas em pouco tempo, geralmente com estreito halo amarelo circundante, que pode alargar-se nas lesões mais velhas. As manchas, dispostas irregularmente na superfície da folha, aumentam de tamanho com a evolução da doença. Em ataques intensos desta bacteriose pode ocorrer grande número de lesões que coalescem, tornando a superfície da folha quase totalmente necrosada. Nos estádios iniciais é possível diferenciar sintomatologicamente a pústula do crestamento pela existência de uma pequena elevação de cor esbranquiçada (pústula), no centro da mancha, na face abaxial da folha (face das nervuras salientes); a pústula pode estar presente também na face superior da lesão. A coloração das lesões necróticas da pústula bacteriana é parda, contornos arredondados e não apresenta brilho, enquanto que a lesão necrótica do crestamento bacteriano é de contornos angulares, de coloração pardo-escura a negra, com brilho na face inferior. Em estádios mais avançados, com base apenas nos sintomas, as duas doenças podem ser confundidas.

O patógeno é transmitido pelas sementes, as quais não apresentam diferença visível entre as sadias e as infectadas. Os restos de cultura também são fonte de transmissão dos propágulos para as plantas jovens sadias. Esses dois processos dão origem às infecções primárias. A bactéria penetra na planta pelas aberturas naturais e por ferimentos. As infecções secundárias são favorecidas por chuva e vento, que transportam a bactéria das plantas doentes para as sadias. Essa condição é favorecida pela ocorrência de umidade de ar elevada e temperatura ambiental alta (normal de verão). Nas condições climáticas da região sul do Brasil, o patógeno pode sobreviver em plantas invasoras comuns nas lavouras. Quando a infecção é intensa, a coalescência das lesões causa rupturas no limbo foliar e queda prematura de folíolos. O uso de cultivares resistentes é o principal método de controle desta doença. Hoje, no Brasil, a quase totalidade das cultivares recomendadas para cultivo são resistentes à pústula bacteriana. Essa resistência foi descoberta na cultivar CNS, sendo governada por um gene recessivo. Informes de Taiwan (AVRDC 1987, 1990 e 1990) demonstram que algumas linhagens AGS da Asian Vegetable Research and Development Center apresentam mais alto grau de resistência do que CNS, o qual, em Taiwan, é considerado

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Soja

Léo Ferreira explica quais as principais doenças causadas ´por bactérias em soja e como evitá-las

apenas como moderadamente resistente. Isto pode indicar alguma variabilidade nesta bactéria, mas embora haja, nos Estados Unidos e no Brasil, uma forte pressão de seleção sobre o patógeno, até o momento não há citação da existência de raças fisiológicas nesta bactéria. Léo Pires Ferreira, Embrapa Soja


Quando tomba a lavoura

Lavoura com plântulas afetadas por tombamento devido ao excesso de umidade no solo

E

ntre os problemas que podem ocorrer na fase inicial de desenvol vimento de plantas de soja, um é o tombamento causado por Pitium ou por Fitóftora. Vários agricultores do Rio Grande do Sul, que semearam suas lavouras no início de novembro de 2000, observaram, após emergência normal, definhamento e morte de plântulas, causando falhas completas de estande e levando ao replantio de parte da lavoura ou mesmo de toda a área. Esse problema foi identificado, no Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Trigo, em amostras de plântulas de soja provenientes dos seguintes municípios: Passo Fundo, Cruz Alta, Fortaleza dos Valos, São Gabriel, São Borja, Gaurama, Caçapava do Sul, Ernestina, Tapejara e Catuípe. Essa doença pode ser encontrada em todas as regiões produtoras de soja do mundo. Somente pelos sintomas observados em plântulas não é possível diferenciar o agente causal, pois os dois fungos causam o mesmo tipo de sintoma, na fase de plântula. Somente testes mais sofisticados, em laboratório, poderão diferenciar o agente causal. Esses fungos, cujos nomes científicos são Pythium spp. e Phytophthora sojae, são habitantes normais 14

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IDENTIFICANDO A DOENÇA

Sintomas de tombamento: raízes, cotilédones e hipocótilo podres; folhas murchas e secas

do solo e sobrevivem por muitos anos em restos de plantas de soja ou em solo, porque formam estruturas de resistência, chamadas oósporos. Em condições propícias, como temperaturas amenas e solos com excesso de umidade durante a semeadura e a emergência de soja, esses fungos podem ocasionar apodrecimento tanto de sementes como de raízes, de cotilédones e de hipocótilo em plântulas, em pós-emergência.

Para a correta identificação da doença é importante conhecer alguns detalhes dos sintomas. Antes da germinação, pode ocorrer apodrecimento mole de sementes, ficando partículas de solo aderidas a elas. Se a infecção ocorrer logo após a germinação as plântulas podem não emergir, apresentando a radícula curta e apodrecida, flácida, de cor marrom. As plântulas que conseguirem emergir do solo podem, também, apresentar apodrecimento flácido, de cor marrom, na extremidade da raiz principal. Algumas vezes, ocorrem lesões em hipocótilos e em cotilédones, seguidas por apodrecimento marrom, de aspecto amolecido, e, poucos dias após, as plântulas começam a secar e morrem. A região menos afetada é o colo da plântula, próximo à linha do solo, que permanece com diâmetro normal, enquanto raiz e hipocótilo, próximo aos cotilédones, apodrecem e secam. Em plantas de estádios mais avançados, algumas vezes, o apodrecimento atinge, apenas, a extremidade da raiz principal e há desenvolvimento de várias raízes secundárias superficiais, que pode gerar plantas mais fracas e menos resistentes a períoJaneiro de 2001

dos de deficiência hídrica. Analisando as condições das lavouras que apresentaram tombamento nesse início de safra, constataram-se alguns fatores coincidentes, como: semeadura em início de novembro, em solos com excesso de umidade e precipitação pluvial entre 80 mm e 120 mm no período entre semeadura e emergência. Como a elevada umidade de solo é fator predisponente, plântulas de soja com sintomas foram mais comuns em locais na lavoura em que ocorreu maior acúmulo de água. O manejo dessa doença não é fácil. No caso de Pitium, não existem cultivares de soja resistentes. Para Fitóftora, são resistentes as cultivares Ocepar 14, FT-Abyara e BRS 66. Se houver necessidade de replantio de soja, os sintomas podem voltar a ocorrer, caso as condições climáticas continuem a ser favoráveis ao desenvolvimento do tombamento. O sistema plantio direto, por manter o solo mais úmido durante mais tempo, pode contribuir para aumentar a severidade da doença. A drenagem de áreas com problemas pode auxiliar no controle do tombamento, já que a presença de água livre no solo é essencial para a ocorrência da infecção. Da mesma forma, a existência de camada compactada de solo irá favorecer o acúmulo de umidade na região de raízes de plântulas. Nesse caso, o rompimento da camada compactada pode auxiliar a

amenizar o problema. Além de sobreviverem no solo por muitos anos, algumas espécies de Pythium têm grande número de hospedeiros, entre esses o milho, o que dificulta o controle por rotação de culturas. O controle químico do tombamento por Pitium e por Fitóftora, em soja, pode ser obtido com aplicação de metalaxil nas sementes, mas esse fungicida ainda não é recomendado para tratamento de sementes de soja no País, necessitando ser registrado nas condições brasileiras. Provavelmente, o tombamento tanto por Pitium como por Fitóftora não originará novos problemas fitossanitários rotineiros no período de emergência de lavouras de soja, devido às exigências de alta umidade. É comum, nas condições do Rio Grande do Sul, a ocorrência de períodos de deficiência hídrica, os chamados veranicos , nos meses de novembro e de dezembro, quando se concentra a semeadura de soja. Porém, em monocultura, principalmente no sistema plantio direto, e em condições de excesso de precipitação pluvial, convém que o agricultor e a assistência técnica fiquem atentos para a ocorrência dos sintomas descritos. Leila Maria Costamilan Embrapa Trigo

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Fotos Leila Costamilan

Soja

Leila explica as causas do tombamento na soja e o que o produtor pode fazer para evitá-lo


Mercado

ICMS barra exportação Governo do MT, para tentar arrecadar mais, burocratiza o processo de exportação

Wilson Chiminácio, Elói Brunetta e Divadir de Pieri criticam a decisão do Governo do Estado do Mato Grosso

O

s produtores de algodão do Mato Grosso estão em polvorosa com a Portaria nº 75/200 da Secretaria da Fazenda do Estado, que estabelece procedimentos no processo de exportação abrigado pela nãoincidência ou pela suspensão do ICMS. As modificações, que o Estado explica como medidas contra a evasão fiscal, não foram bem recebidas, especialmente as que preconizam, para se beneficiar da isenção do ICMS na exportação (Lei Kandir) que o produtor não pode ser arrendatário e não possuir débito fiscal decorrente de notificação até mesmo contra empresa de que participe. O diretor administrativo da Unicotton, por exemplo, Divadir de Pieri, diz que a burocratiza-

ção é sinônimo de entrave para o desenvolvimento e não apenas normatização, pois a portaria estabelece exigências ausentes na Lei. Em Primavera do Leste há cerca de 10 exportadores e dois deles esperaram mais de 90 dias pela autorização do cadastramento. Os demais exportaram via mandado de segurança judicial. A exigência de que não haja débito fiscal decorrente de notificação ou pendência de pagamento é tida como violência, pois o auto de infração não caracteriza ninguém como devedor. De Pieri critica seriamente também a obrigação, que a portaria estabelece, de ser o exportador pontual no pagamento dos impostos. Não há critério definido sobre o conceito de pontualidade, por exemplo, diz, criticando outros ítens da nor-

ma, que ao invés de produzir benefícios ao Mato Grosso está resultando em cargas paradas nas fronteiras do Estado, atraso na entrega do produto e sobrecarga nos tribunais. Estamos sendo obrigados a buscar na Justiça o que a própria Lei já nos assegura . O presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão Abrapa, João Luiz Pessa, é outro insatisfeito e não vê como incentivar a exportação, uma das grandes metas do setor, se não houver isenção de ICMs. É preciso, acha, sair da área técnica e ver a questão sob uma ótica política. As exportações trariam benefícios ao Estado, gerariam concorrência no mercado interno, produzindo mais demanda e oferta. Além, é claro, de mais empregos, diretos e indiretos, aumentando o capital do Estado. Esse também é o ponto de vista do presidente da Unicotton, Elói Brunetta, que vai se reunir com o governador do Estado, Dante Oliveira, para tratar da questão. Na safra passada houve prejuízos na exportação devido à burocracia. Nosso produto é bom, mas acabamos vendendo abaixo dos preços por conta dessas medidas , diz Brunetta, que no entanto acredita em uma solução política.

Tecnologia à disposição O

Baculovirus anticarsia já está sendo utilizado em 1,4 milhão de hectares cultivados com soja no Brasil, proporcionando ao País uma economia anual estimada em R$ 13 milhões, dispensando a aplicação de 1,2 milhão de litros de inseticidas. A Embrapa Soja desenvolveu a tecnologia de formulação do produto em pó, o que tem facilitado sua aplicação. O Baculovirus também pode ser produzido na propriedade, através da coleta e armazenamento de lagartas mortas pelo vírus. Usado também na Argentina, Paraguai e Bolívia, o produto biológico já é produzido por empresas privadas e tem um rigoroso 16

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Hilário Molina, sobre o Baculovirus: Os efeitos permanecem de uma safra para outra controle de qualidade supervisionado pela Embrapa Soja. Entre estas empresas está a Coodetec. O Representante Regional da Coodetec em Mato Grosso, Eduardo Rodrigues, diz que o produto é indicado principalmente para re-

gião Centro Oeste, de clima quente e úmido. Ecologicamente correto, o inseticida biológico se destaca pela eficiência e custo, mais baixo do que outros produtos paralelos encontrados no mercado. O responsável pela difusão de tecnologia, Hilário Molina, elogia o largo efeito residual do Baculovirus. Os efeitos permanecem de uma safra para outra . Quando aplicado, o princípio ativo adere às folhas da planta, sendo ingerido pelas lagartas quando elas se alimentam. Dentro da lagarta o vírus se multiplica rapidamente, paralisando a sua alimentação a partir do quarto dia de ingestão e produzindo a morte a partir do sétimo dia. Janeiro de 2001


Vírus contra a lagarta

CNPSo

Inseticidas

Baculovirus é alternativa barata e segura para controlar a lagarta da soja

Lagarta da soja, um dos principais problemas da cultura pode ser controlada com o uso do inseticida natural

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Bráulio Santos Universidade Federal do Paraná po, mas isto não é suficiente para um controle efetivo quando a praga aparece em grandes populações nas lavouras de soja. Desta forma, o vírus precisa de uma ajuda do homem, que o multiplica nas próprias lavouras e no laboratório prepara o inseticida biológico que será utilizado posteriormente. O Baculovirus anticarsia só atua na lagarta quando é ingerido, o que ocorre quando elas alimentam-se das folhas sobre as quais estão os poliedros. Quando chegam no intestino da lagarta os poliedros são dissolvidos, liberando então as partículas chamadas de vírions que irão penetrar pela membrana da parede intestinal e atingirão a hemolinfa do inseto. Posteriormente, replicam-se no núcleo celular de diferentes tecidos como o gorduroso e epiderme. Desde a infecção até a morte da lagarta decorrem cerca de 6 a 8 dias. A partir do quarto dia a lagarta reduz drasticamente sua capacidade de alimenta-

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O

maior programa de controle bi ológico com utilização de vírus entomopatogênico, em nível mundial, está aqui no Brasil. Trata-se do uso do Baculovirus anticarsia, um vírus de poliedrose nuclear usado para o controle da lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis. A abrangência deste programa é de aproximadamente 1,2 milhão de hectares por ano. A tecnologia para sua utilização foi desenvolvida pela Embrapa Soja, em Londrina (PR) e repassada à iniciativa privada para a produção massal e comercialização em todas as regiões onde a soja é cultivada no Brasil. Com 14 anos de experiência neste mercado, a Coodetec produz o Coopervirus PM para pulverização de aproximadamente 500 mil hectares de lavoura anualmente. Sediada em Cascavel, Paraná, é a líder nesta área no Brasil. Este vírus tem ocorrência natural no cam-

ção ou não se alimenta mais, desloca-se para o terço apical da planta onde morre pendurada pelas falsas pernas do abdome. Após a morte, o corpo da lagarta rompe-se e os poliedros do vírus se espalham pelas plantas, servindo de fonte de inóculo para o controle natural de outras lagartas presentes na lavoura. Parte dos poliedros permanece na superfície do solo favorecendo então novas infecções na safra do ano seguinte. Este vírus é específico e atua somente sobre a fase larval de A. gemmatalis. O melhor efeito do vírus é sobre as lagartas pequenas, com até 1,5 cm de comprimento, daí a importância da realização periódica de amostragens na lavoura com utilização do pano-de-batida, para acompanhar o desenvolvimento das mesmas. A aplicação deve ser feita quando o número médio de lagartas pequenas (até 1,5 cm) não for superior a 30 por pano-de-batida e o número de lagartas grandes (maiores que 1,5 cm) não for superior a 10. A dose recomendada para utilização dos produtos formulados em Pó Molhável é de 20 g/ha. O Coopervirus PM tem o seu controle de qualidade realizado pela Embrapa Soja, assegurando assim a qualidade e eficiência do produto que o agricultor vai aplicar em sua lavoura. Além do controle efetivo destas lagartas desfolhadoras da soja, o Baculovirus anticarsia tem como grande vantagem não interferir sobre os inimigos naturais das demais pragas desta cultura. Não intoxica o agricultor, o meio ambiente e os demais seres vivos. Também é o tratamento mais barato para o controle desta praga. Oferecese, portanto, ao agricultor brasileiro, uma importante tecnologia para uma produção agrícola ecologicamente correta.

Bráulio, entusiasta do controle natural, recomenda o uso do vírus contra a lagarta da soja

Janeiro de 2001


Sementes

Apasem deve fortalecer reuniões

Eugênio Bohatch

Ano normal em Minas Gerais

O ano de 2000 foi normal na área atendida pela Apsemg, que teve algumas dificuldades apenas no início da comercialização de sementes de soja, em virtude de expressivo número de agricultores ter optado pelo milho, cujos preços de mercado estavam mais atraentes. Na região, lembra o presidente da Associação, Eder Luiz Bolson, os agricultores podem alternar entre uma cultura e outra. Os que podem optar escolhem entre milho ou soja, por exemplo, enquanto outros fazem rotação de culturas por não terem alternativa.

Estabilidade e forrageiras em Goiás

Nem muito bom nem muito ruim. O ano de 2000 foi razoável para a Apasem e o clima é apontado pelo secretário executivo da entidade, Eugênio Bohatch, como um dos principais responsáveis pela situação. Já os planos para o próximo biênio, 2001 a 2003, vão depender do resultado de assembléia em março, quando a Associação elegerá sua nova diretoria. Só aí será estabelecido um plano oficial de trabalho. No entanto, diz Bohatch, pelo que se observa nos próximos dirigentes, a entidade deverá dar dinamismo maior às suas reuniões e interiorizá-las. Hoje, existem cinco núcleos no Paraná. A diretoria que está saindo fez algumas reuniões no interior, mas a que vai assumir tende a fortalecer ainda mais o trabalho, para fazer o associado sentir mais a sua associação, levando-a para perto dele. É uma tendência, pois oficialmente as metas serão definidas em março , lembra.

Aprosmat cria comitê

Cultivar

O setor sementeiro do Brasil está passando por uma fase de transição e tentando se reorganizar com o apoio da Embrapa, através da formação de fundações e agora amparado pela Lei de Proteção de Cultivares. Criticada por demorar a dar resultados, a legislação regulamentada este ano funciona no Mato Grosso do Sul, onde muitos produtores irregulares de sementes recebem notificações e multas. É o começo, e a adaptação à nova realidade é a melhor maneira de resolver inúmeros problemas do setor, sugere o presidente da Aprosul, Waldir Francisco Guerra. No dia 22 de dezembro, o presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal esteve no MS para reconduzir o novo chefe do CPAO Ubirajara Fontoura ao cargo e, também, para finalmente assinar o contrato de parceria para pesquisa das novas variedades de soja . Sobre o ano agrícola, de um modo geral, Guerra disse que foi negativo. O endividamento dos produtores do Centro-Oeste e, principalmente os do Sul do País, junto com a falta de soluções por parte do governo respaldam a crítica e a cobrança de providências. Uma delas: um programa voltado para a produção agrícola, que pode ser elaborado nestes dois anos que ainda faltam para o governo FHC.

A Aprosmat passa a trabalhar com quatro comitês de sementes: soja, milho, forrageiras e arroz. O objetivo é individualizar os assuntos para que se possa tratar com maior profundidade em cada um deles. A forma de atuação, acredita o presidente da entidade, Edeon Vaz Ferreira, vai propiciar aos associados uma evolução maior nestes assuntos. Os segmentos de arroz e forrageiras exigirão mais atenção, por não serem culturalmente muito trabalhados. A entidade vai implementar também a área de patologia de sementes, através de convênio com o Fundo da Cultura do Algodão do MT, com previsão para inicio das atividades do novo laboratório em maio.

O ano de 2000 não deu os resultados esperados, mas também não foi ruim na região abrangida pela Agrosem, onde o pessoal está começando a adequar o volume de produção ao de procura. Aí reside o motivo de não ocorrer o crescimento desejado no setor. Há muita coisa à base de troca e a prazo, com custo financeiro embutido. O mercado de semente de soja, por exemplo, está se tornando basicamente a prazo e exige uma adequação - difícil -, observa o vice-presidente da Associação, Ronaldo Maranhão Sá. Estes problemas sempre ocorrerão, mas quem não apostou demais e produziu volumes de acordo com a realidade de cada um, conseguiu vender. Houve alguma sobra, principalmente de cultivar precoce. Quanto aos projetos para este ano, tudo vai depender basicamente do volume desta safra. Sem isso não será possível projetar para mais ou menos a quantidade de determinada cultura. As forrageiras é que estão em fase de expansão, porque sofrem atraso de dez anos e o objetivo é colocá-las em nível de produção semelhante ao das outras culturas, disse o secretário executivo da entidade, Siguê Matsuoka. 20

Proteção de cultivares no Mato Grosso do Sul

Aprosesc vai definir metas

Bom ano para o algodão

A exemplo de outras associações de produtores de sementes a Aprosesc realizará reunião, provavelmente no início deste ano, para definir projetos que deverão ser postos em prática na seqüência. Sobre o desempenho do setor em Santa Catarina em 2000, o diretor administrativo da Associação, Renato José Yassuda, disse que ficou abaixo da expectativa em relação a outros anos.

Pirataria em alta

A exemplo do que ocorreu em 1999 e 2000, o volume de vendas correspondeu e os preços praticados foram remuneradores na área atendida pela APPS. Foram dois bons anos em termos de mercado apesar de o preço do milho ter reduzido no mês de dezembro. Aflige o setor, entretanto, a pirataria no mercado de sementes protegidas. Ela atinge todas as empresas, inclusive a própria Embrapa e no ano passado o problema agravouse. Segundo o secretário executivo da Associação, Cássio Luiz C. de Camargo, há estimativas de que em alguns estados, entre eles o Rio Grande do Sul, a produção de sementes piratas chega perto de 50%. Isso não compromete só a empresa de melhoramento. Todo o sistema de franquia, produtores que fazem sementes franqueadas, e até os próprios produtores que não produzem sementes são atingidos.

Adilton Sachetti

O ano de 2000 foi bom para o algodão, embora o produto não tenha obtido preços remuneradores. Os valores chegaram a ser bastante baixos. Mas o grande mérito foi a produtividade, particularmente no Mato Grosso, o que animou muito o pessoal, constatou o presidente da Ampa, Adilton Domingos Sachetti. O quadro positivo permite prever uma grande safra neste ano. Pensando nisso, a entidade atua constantemente junto aos produtores num trabalho educativo, orientativo e participativo em todas regiões abrangidas. A Associação dará andamento ao projeto Semana da Qualidade, implantado por grupos regionais com palestras de cunho técnico, visando especificamente à promoção da qualidade. Ao mesmo tempo, a Ampa desenvolve ações como Certificação do Futuro, Classificação por HVI, Padronização de Embalagens e a campanha contra o bicudo.

Expansão com sorgo

A Agromen festeja o encerramento do ano, que foi considerado excelente. Motivos é que não faltam. Entre eles as novas unidades de beneficiamento em Capinópolis (MG) e Rio Verde (GO), com as quais a empresa ampliou a sua capacidade de produção. A safra está indo bem e há muito otimismo para a colheita 2000/2001. Alem disso, o primeiro sorgo granífero desenvolvido pela empresa, o AGN 8050, começa a ser vendido para a próxima safra.

Cadastro na Abrapa

Gilberto Vasconcelos

Nova gramínea

Uma nova gramínea adaptada aos cerrados e várzeas, regiões de solos úmidos e encharcados, é o capim pojuca (Paspalum atratum cv. Pojuca). Entre outras qualidades desta gramínea estão a grande produção de forragem, a tolerância ao fogo, capacidade de rebrota, boa resistência ao pastejo, a doenças e pragas, além de ser bem aceita por bovinos e eqüinos. Segundo Gilberto Vasconcelos, da Sementes Fértil, o capim tem baixa exigência em fertilidade de solos. Janeiro de 2001

A direção da Abrapa está em fase final de elaboração do cadastro nacional de produtores de Algodão. A expectativa é abranger 80% dos produtores, responsáveis por igual porcentagem de produção. O banco de dados servirá para auxiliar na geração de informações sobre plantio, condições de lavouras e afins. É intenção da entidade, segundo o presidente João Luiz Ribas Pessa, consolidar o Brasil como exportador de algodão. Se o Governo der o apoio necessário às medidas propostas pela Associação, o volume exportado poderá atingir 200 mil toneladas. É um avanço muito significativo em relação aos últimos anos. Outra boa perspectiva para 2001 é consolidar as sete associações estaduais formadas. Neste ano, todas já deverão ter seus escritórios e executivos contratados numa integração total . Os projetos da Abrapa passam igualmente pelo marketing do algodão e mudança no sistema de classificação do produto brasileiro, adequando-o às normas de classificação de âmbito internacional.

Janeiro de 2001

Cultivar

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Arroz

A

Bactérias ajudam a degradar resíduos de pesticidas utilizados em lavoura de arroz irrigado e a manter o meio ambiente descontaminado

Resíduos biodegradados 22

Cultivar

Janeiro de 2001

diversidade de microrganismos no solo é muito grande. Bactérias são os organismos mais abundantes, com uma população que varia de 106 a 109 organismos g-1 solo. Os fungos são em menor número, 104 a 106 g-1 solo. O número total de actinomicetos no solo é cerca de 107 g-1 solo. A população microbiana existe em equilíbrio dinâmico, formado pelas interações dos fatores bióticos e abióticos que podem ser alterados pelas modificações do meio ambiente. Os microrganismos são capazes de degradar uma grande variedade de compostos, desde simples polissacarídeos, aminoácidos, proteínas, lipídeos, aos materiais mais complexos, como resíduos de plantas, ceras e borrachas (látex). Também são capazes de degradar compostos químicos sintetizados pelo homem, como os pesticidas. A capacidade para metabolizar compostos aromáticos e usá-los como fonte de carbono e energia para o crescimento é exibida por muitos microrganismos, sendo alguns mais ou menos versáteis do que outros nas opções de enzimas e rotas bioquímicas que possuem à sua disposição. A biodegradação dos pesticidas, sob condições aeróbias, resulta na mineralização destes compostos orgânicos a CO2 e H2O, se os compostos contiverem nitrogênio (N), enxofre (S), fósforo (P) ou cloro (Cl), e se ocorrer a perda de amônia (ou nitrato), sulfato, fosfato, ou cloro, estes nutrientes podem então entrar em ciclos geoquímicos bem estabelecidos. Sob condições anaeróbias, metano pode ser formado em adição a CO2, e sulfato pode ser reduzido a sulfito. Em lavouras de arroz irrigado predomina a condição anaeróbia, ou seja, solos saturados. Mas, mesmo em solos bem aerados, existem microambientes com pouco ou nenhum oxigênio. Em todos estes ambientes, anaerobiose ocorre quando a taxa de consumo de oxigênio pelos microrganismos é maior do que a taxa de difusão através do ar ou da água. Na ausência de oxigênio, compostos orgânicos podem ser mineralizados através da respiração anaeróbia. A ocorrência e a abundância de microrganismos em um ambiente são determinados pela disponibilidade de nutrientes, bem como por vários fatores físicoquímicos como pH, potencial redox, temperatura, textura e umidade do solo. Uma limitação imposta por alguns destes fatores pode inibir a biodegradação e, conseqüentemente, causar a persistência de um pesticida no ambiente. A disponibilidade de oxigênio, conteúdo de matéria orgânica, disponibilidade de nitrogênio, e biodisponibilidade são fatores Janeiro de 2001

particularmente significantes no controle da biodegradação de pesticidas. Em ecossistemas terrestres, existem três locais principais onde a contaminação pode ocorrer: superfície dos solos, a zona não saturada (movimento não espontâneo da água), e a zona saturada (movimento espontâneo da água). As disponibilidades de oxigênio e de matéria orgânica variam consideravelmente, nestas zonas, diminuindo com a profundidade. A atividade de biodegradação também diminui com a profundidade. A demonstração direta da biodegradação de um pesticida é realizada pelo isolamento de microrganismos do solo que possuam a capacidade de degradá-los em culturas puras ou consórcios microbianos. Em diversos países, os principais gêneros de bactérias isolados de áreas cultivadas com arroz são: Arthrobacter, Baccillus, Clostridium, Flavobacterium, Micrococcus, Mycobacterium e Pseudomonas. No Brasil, em áreas cultivadas com arroz irrigado, no Sul do Rio Grande do Sul, algumas espécies de bactérias degradadoras de herbicidas já foram identificados como: Pseudomonas fluoresecens, cepa CLZG1, Bacillus megaterium, cepas B2 e B3 , e membro da família Enterobacteriaceae, cepa B1. Espécies de fungos degradadores também foram identificadas: Nigrospora sphaerica, Cochliolobus heterostrophus, Fusarium anthophilum e Micelia sterilia. Na coleção de culturas de bactérias degradadoras, da Embrapa Clima Temperado, podem ser encontradas 40 cepas que mos-

Fungos degradadores do herbicida glifosate. Nigrospora sphaerica (A), Cochliolobus heterostrophus (B), Fusarium anthophilum (C) e Micelia sterilia (D).

Maria Laura mostra como agem os fungos que degradam produtos fitossanitários em lavouras de arroz irrigado

tram eficácia na degradação de resíduos de seis herbicidas (clomazone, glifosate, quinclorac e pirazolsufuron-etil) e dois inseticidas (carbofuran e carbosulfan). Estes microrganismos podem ser usados para remediar solos e recursos hídricos contaminados por resíduos de pesticidas, bem como indicadores da presença de resíduos-traços em matrizes ambientais e da sustentabilidade dos sistemas agrícolas. A diversidade microbiana presente nos solos de lavouras de arroz irrigado, contribui efetivamente para que este sistema de produção não contamine os recursos solo e água. Na rizosfera das plantas de arroz irrigado existem microrganismos (bactérias, fungos e actinomicetos) que através de seus exsudatos, formam biofilmes que funcionam como um filtro onde os resíduos de pesticidas são degradados. Esta condição, associada com a flora e fauna aquática estabelecida neste ecossistema, reduz os impactos ambientais decorrentes do uso de pesticidas nessas lavouras. Maria Laura T. Mattos Embrapa Clima Temperado Cultivar

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Nossa Capa

OPERÁRIOS E SOLDADOS

Em todos os lugares Cupins estão atacando diversas casas em fazendas de café em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro

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uatrocentos e dez milhões de anos atrás os insetos já faziam parte da fauna do nosso planeta e, entre eles, lá estava o cupim. Ao contrário do que muitos pensam, a grande maioria das espécies de cupins não causa quaisquer tipos de prejuízos ao homem. Ao contrário, devem ser considerados excelentes agentes da degradação da madeira e de compostos celulósicos em geral. Entretanto, após o surgimento do homem na face da terra, o ecossistema natural estável foi e está sendo drasticamente modificado. O homem, lentamente, foi deixando de ser nômade, alimentar-se da caça e da pesca e, aos poucos, tornou-se sedentário. Assim sendo, em busca do seu próprio sustento teve que construir moradias e plantar. Este procedimento, ao longo do tempo, transformou áreas preservadas em áreas degradadas; isto é, o ecossistema natural estável, aos poucos se tornou ecossistema artificial instável. Assim, tais como outros insetos, fatalmente algumas espécies de cupins tornaram-se uma ameaça para o 24

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Sem alarde, cupins ganham espaço no campo e nas cidades e já são uma das principais causas de prejuízos ao Homem

homem. Os térmitas ou cupins são insetos que vivem socialmente em colônias tremendamente populosas, representadas por castas de indivíduos ápteros e aladas. A convivência em sociedade é constituída por um número significativo de indivíduos, que se encontram abrigados em ninhos conhecidos como Cupinzeiros ou Termiteiros. Tal como os demais insetos paurometabólicos, tem-se as formas jovens (ninfas) e os adultos. Existem duas categorias de indivíduos reprodutores. Trata-se dos machos e das fêmeas, que são sexuados e alados. A missão de ambos é a perpetuação da espécie. Eles propagarão as novas gerações, fora do cupinzeiro, em que se originaram. Popularmente, são conhecidos como siriris , aleluias ou formigas de asas . Dentro da colônia, isto é, no interior do termiteiro, encontra-se o casal real, representado pelo Rei e pela Rainha, que têm a função de aumentar a população, no interior da casa (cupinzeiro).

Operários-cupins com atuação urbana atacando madeira seca; note-se sua agressividade

No caso da falta do casal real, a sobrevivência da colônia se faz à custa de indivíduos que, embora sejam formas jovens, são sexualmente ativos. Trata-se de reis e rainhas de substituição, originários de indivíduos especiais que possuJaneiro de 2001

A segunda categoria de indivíduos é constituída de formas ápteras, de ambos os sexos. Esses indivíduos são estéreis, isto é, seus órgãos reprodutivos não se desenvolvem completamente; e são conhecidos como operárias e soldados. A operária, em geral, é de coloração branca, cor amarelo-pálida, áptera e desprovida de olhos e ocelos. Representa a maior parte da população da colônia e desempenha todas as funções da mesma, à exceção da reprodução. O soldado, semelhante à operária (ou obreira), é um indivíduo áptero e cego; e se diferencia daquela por ter a cabeça bem maior e ser de coloração marrom-amarelada. Tem as mandíbulas (peça bucal) mais desenvolvidas e robustas; todavia, inúteis para a mastigação. A função do soldado é a defesa do termiteiro, porém colabora com as operárias em seu trabalho. Em espécies mais evoluídas não existe a casta dos soldados; de modo que a função de proteção fica a cargo das operárias e de adultos que possuem mandíbulas longas. Entretanto, é possível encontrar espécies tão primitivas que possuem apenas os indivíduos sexuados e os soldados. Neste caso, a função de manutenção da colônia (trabalho das operárias) fica a cargo das formas jovens (ninfas). Por meio da revoada ( enxamagem ), há propagação das diferentes espécies. Assim, anualmente os indivíduos alados ( siriris ) deixam os cupinzeiros, aos milhares, em proporções iguais de machos e fêmeas. Nessa época, as operárias abrem galerias para o exterior, com o objetivo de permitir as revoadas das formas aladas. Para evitar a entrada de inimigos no interior do cupinzeiro, as aberturas são protegidas pelos soldados. Finda a revoada, as aberturas são fechadas pelas operárias. O período de revoada é muito variável; entretanto, tem maior ocorrência de agosto a outubro. Ao contrário das abelhas e formigas, por ocasião deste fenômeno, os cupins ainda são sexualmente imaturos. Após a enxamagem, os indivíduos que não foram devorados por seus inimigos naturais (predadores), como aves e morcegos, perdem as asas e se reúnem em pares, formando o casal real. Este procedimento de atração sexual ocorre quando a fêmea, ainda virgem, libera feromônios sexuais específicos. É importante frisar que nesta fase de acasalamento ocorre uma seleção natural; os machos que foram incapazes de localizar a fêmea em ação e, ao mesmo tempo, seguí-la em busca da construção de um novo ninho, morrem. O novo casal (antes da copulação), busca um local apropriado para a construção da câmara nupcial. Desse modo, somente após construir o lar é que

Janeiro de 2001

esses indivíduos efetuarão a cópula. A partir dessa fase, tornam-se totalmente tigmotrópicos (estarão sempre em contato com a madeira ou com o solo). Efetuada a primeira cópula, a rainha inicia a postura e, após 30 dias, nascem as primeiras formas jovens (ninfas). Estas são cuidadosamente criadas pelo casal real, até que se tornem adultos. Findo este período, a função da rainha passa a ser apenas reprodutiva. O rei coabita com a rainha na câmara real e, com o auxílio das operárias, a fecunda de vez em quando. O casal real torna-se prisioneiro de seus próprios indivíduos porque as operárias e os soldados fecham a entrada da câmara real, deixando apenas uma abertura, que permite apenas a passagem dos mesmos. Deste modo, rei e a rainha têm somente a função de copular e procriar. O trabalho de alimentação de ambos, das ninfas e dos soldados é de inteira responsabilidade das operárias. À medida que os ovos vão sendo liberados pela rainha são transportados pelas operárias para outros locais, mais propícios, dentro do próprio termiteiro. A formação de uma nova colônia dáse pela revoada; entretanto, este processo pode ser diferente. Novos termiteiros podem surgir de uma pequena parte da colônia, através de reis e rainhas de substituição, ou por adoção de um casal real, oriundo de uma outra revoada. São conhecidos como termiteiros policálicos. A rainha, quando completamente desenvolvida, apresenta notável desenvolvimento abdominal, que pode atingir a 200 vezes o volume do resto do corpo. Isto é ocasionada pela pressão, exercida pelas bainhas ovarianas, que à medida que o tempo passa, ficam repletas de ovos. A este fenômeno dá-se o nome de fisiogastria.

CUPINS E POSTURA

A capacidade de postura da rainha é bastante variável, dependendo da espécie e da idade. Existem espécies primitivas, cujas rainhas colocam 12 ovos/dia; todavia, existem outras, que constroem grandes colônias, chegando a colocar 7.000 ovos/dia. Existe na África, uma espécie (Bellicositermes sp.) cuja rainha põe 1 ovo/ segundo, totalizando 80.000 ovos/dia (havendo um mínimo de 30.000 ovos diários). As rainhas verdadeiras têm uma vida média de 10 anos e as rainhas de substituição, 25 anos. O número de indivíduos da colônia é bastante variado. Certas espécies possuem poucos indivíduos, não mais do que 1.000 (Holotermes sp.); entretanto, outras possuem uma população colossal, chegando a casa de vários milhões. A alimentação pode ser de dois tipos: pela regurgitação e pelo aproveitamento das fezes de outros indivíduos, principalmente de outras operárias da mesma colônia. A alimentação estomodeica (ou alimento regurgitado) ocorre quando as operárias alimentam as formas jovens (ninfas), os soldados e o casal reprodutor. Nessa ocasião, ocorre a transferência de saliva. Quando necessário, esta se torna responsável pela transformação das formas jovens em indivíduos sexuados de substituição. Ocorre também, a transferência de protozoários, que são responsáveis pelo desdobramento da celulose no estômago de qualquer indivíduo do cupinzeiro. Alimentação proctodeica significa o aproveitamento de fezes (eliminadas por outros cupins da mesma colônia) porque não foram totalmente desdobradas pelos protozoários; isto é, ainda contém celulose. Quando o cupinzeiro começa a entrar em declínio, as operárias escarificam o

Fotos Euripedes Menezes

em tecas alares e não asas verdadeiras; e, portanto, incapazes de voarem. Esses indivíduos não atingem o desenvolvimento total (forma neotênica). Em tais circunstâncias, pode-se encontrar sempre, num único cupinzeiro, muitos reis e rainhas de substituição na ausência do rei e da rainha verdadeira .

Árvores da espécie corticeira com danos internos causados pela ação de cupins, que deixaram o exterior intacto

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Euripedes Menezes, autor deste artigo, mostra pedaço de cupinzeiro. Observe-se o tamanho da amostra

abdome da rainha, em busca de exsudatos, que saciam a fome dos indivíduos mais jovens. O canibalismo é muito freqüente entre os cupins. Dependendo do local onde se formam os ninhos, os cupins são agrupados: Cupins que vivem na madeira; Cupins que vivem no solo, subterraneamente; Cupins que vivem na superfície do solo, formando montículos; Cupins que vivem em árvores, são os arborícolas; Cupins que vivem numa câmara simples no subsolo, sendo praticamente imperceptíveis.

tica, de origem asiática, que foi constatada pela primeira vez em 1923; entretanto, ao que tudo indica, foi introduzida (acidentalmente) no início de 1900. Segundo eminentes cientistas como Ângelo Moreira da Costa Lima e Renato Lion de Araujo, esse cupim foi introduzido em nosso país, através de material originário da Ilha de Mauritius (próximo a Madagascar) ou vindo da Ilha de Barbados (América Central). Todavia, este fato é irrelevante diante dos prejuízos causados por C. havilandi, popularmente conhecido como: cupim de parede, de concreto, de azu-

lejo, de alvenaria, etc. A colônia, geralmente, está localizada debaixo das edificações. Os hábitos, estranhos e anadmissíveis, das empreiteiras de construção de enterrar os restos de madeira e entulhos por ocasião de suas obras residenciais, comerciais e grandes condomínios, favorecem drasticamente a proliferação maciça desse cupim, que está mais do que ambientado ao meio urbano, suburbano e rural em nosso país. Assim sendo, durante algum tempo, as novas colônias que são originadas depois da revoada, permanecem nas profundezas do subsolo embaixo das edificações, devorando o substrato (restos de madeira) que lhes foram propiciados pelo homem. Todavia, como esse tipo de alimento não é eterno, ao término do mesmo, as operárias saem em busca de outras fontes. Assim, constroem túneis, de acessos ascendentes, debaixo das casas e edifícios. Através dos conduítes, da rede hidráulica e outras passagens, constroem galerias (túneis), que são verdadeiras obras de engenharia, até atingirem seus objetivos. Todo e qualquer material, de origem vegetal, encontrado nas residências, serve de alimento aos cupins. Como se isso não bastasse, atacam também fios elétricos (baixa e alta tensão) e fios telefônicos em busca das fitas isoladoras, que são de origem vegetal. Um dos fatos que mais chama a atenção dos especialistas no assunto é que as autoridades brasileiras ainda não se sensibilizaram para a triste realidade, mesmo tendo conhecimento dos prejuízos que esta praga vem causando e se alastrando em proporções alarmantes! A bem da verdade, pouco ou nada se tem feito a respeito!

Euripedes Menezes

ATAQUES A ÁREAS URBANAS

Os cupins que vivem na madeira atacam portas, assoalhos, móveis, pianos, janela etc. São popularmente conhecidos como cupins de madeira seca ou cupins de grânulos ou serragem . A espécie mais conhecida é a Cryptotermes brevis; todavia, a família a que pertence essa praga, agrega em torno de 240 espécies. Poucos são aqueles que sabem que os materiais eliminados são as fezes, que no decorrer do tempo, vão sendo acumuladas e depois varridas quando se tornam inconvenientes, no interior das criptas. Esse tipo de cupim constrói galerias e câmaras à medida que vai destruindo o material do local onde a colônia foi estabelecida. Quanto aos cupins subterrâneos ou de solo, os ninhos são localizados no subsolo e esses cupins apresentam comportamento totalmente diferente daqueles. Suas colônias são construídas a certa profundidade, de modo que não se vê nada na superfície. De um modo geral, esses cupins são os que causam os maiores problemas em áreas urbanas, suburbanas e até mesmo rurais. Atualmente, a pior espécie nos grandes centros urbanos de nosso país é conhecida vulgarmente como: cupim de concreto , Coptotermes havilandi. Trata-se de uma espécie exó26

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Parte secundária de ninho de C. havilandi, encontrado dentro de pasta de arquivo em apartamento no RJ

Janeiro de 2001


Fotos Euripedes Menezes

viável, é fazer tratamento preventivo em toda e qualquer obra, principalmente, por ocasião do assentamento dos alicerces. Não se deve negar que os cupins subterrâneos constituem uma das piores pragas das áreas urbanas, suburbanas e rurais do nosso país. Os cupins subterrâneos serão ainda mais prejudiciais futuramente, uma vez que os produtos químicos de efeito residual longo (organoclorados) foram recentemente considerados inadequados em virtude do seu mau uso, por aplicadores inescrupulosos, que trabalham para empresas que não inspiram confiança. Levando-se em conta que os cupinicidas modernos não têm o mesmo efeito, a melhor maneira de se precaver contra tal praga é fazer o controle preventivo (barreira química) pelo menos uma vez por ano.

NOVO GÊNERO

Algumas espécies de cupins têm ninhos com milhares de operários trabalhando

Corte transversal em ninho secundário encontrado no oitavo andar de um prédio no Rio de Janeiro

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Os prejuízos causados por Coptotermes havilandi, nunca foram mensurados, sequer cogitados e muito menos avaliados. Mesmo que C. havilandi venha causando, há muito tempo, prejuízos vultosos nas grandes metrópoles, somente após o seu ataque e destruição de um cabo de alta tensão, em uma das galerias do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro em 1985, fez com que algumas autoridades do CEPEL (Centro de Pesquisas da Eletrobrás) entrassem em contato com pesquisadores da UFRRJ. A insistência, a teimosia e a tenacidade fazem com que as operárias (operários ou obreiros) dos cupins atinjam locais inacreditáveis em busca de alimentos para sobrevivência da colônia. Têm a capacidade de atravessar alvenaria e concreto armado. Possuem em suas salivas substâncias especiais que são capazes de destruir muitas coisas como: caixas de madeiras, espoletas de bombas, papelão, livros, e até mesmo, tornam imprestáveis os discos de vinil, cujas capas são de papelão. A simples eliminação dos pontos atingidos é apenas paliativa. O ideal seria localizar a colônia; todavia, isto é uma tarefa praticamente impossível. Portanto, a solução mais

Recentemente, foi detectado no Sul do país um novo gênero de cupim, cuja proliferação não requer revoada ou enxamagem. Trata-se de Recutillitermes lucifugus, cujas formas sexuadas (futuros reis e rainhas) não necessitam de revoada para formação de novas colônias. O que é mais grave, qualquer operária pode se transformar em forma sexuada, dependendo das necessidades da colônia. Como se isto não bastasse, a grande maioria das cidades históricas do país, estão sendo invadidas por cupins nativos, principalmente aqueles pertencentes aos gêneros Nasutitermes, Heterotermes e Microcerotermes. Tidos como cupins restritos às áreas rurais, suas presenças em áreas urbanas e suburbanas estão se tornando extremamente comuns. Esses cupins, que também têm hábitos subterrâneos, preferem madeira com mais de cem anos de idade, que fazem parte das edificações centenárias das cidades como: Vassouras (RJ), Valença (RJ), Barra do Pirai (RJ), Campos dos Goytacazes (RJ), Ouro Preto (MG), Viçosa (MG), Governador Valadares (MG), Congonhas (MG), Bananal (SP) etc. Até mesmo o madeiramento, utilizado na construção de sede de fazendas (época dos barões do café!), igrejas e casarões nos idos tempos de 1700 até a presente data já não apresenta a mesma resistência de outrora. Como se isso não fosse suficiente, diversas regiões e diferentes bairros de cidades como: Fortaleza (CE), Belém (PA), Vitória (ES), Uberlândia (MG), Uberaba (MG), Belo Horizonte (MG), Frutal (MG), Dourados (MS), Búzios (RJ), Angra dos Reis (RJ) etc. vêm sendo invadidos por esses cupins, que até pouco tempo eram freqüentes tão somente em pastos, eucaliptos e moirões de cercas. Essas observações vêm sendo feitas, há mais de dez anos, pela equipe do Prof. Euripedes B. Menezes do CIMPUR CRG da UFRRJ. Todavia, o mais difícil é convencer os responsáveis pela preservação do patrimônio público de que isto é um fato concreto. Para uma maior conscientização do povo e do governo, vale frisar que nada é imune ao cupim, tanto que a filosofia do Professor Euripedes é de que cupim e câncer Janeiro de 2001

andam juntos. Não existe nenhuma edificação que seja isenta do ataque do cupim, tanto que pode se afirmar que temos em qualquer parte do país dois tipos de edificações: a que já está infestada por cupins e a que vai ser infestada!

CUPINS EM ÁREAS RURAIS

Até recentemente, havia uma grande tendência em subestimar os prejuízos causados por cupins subterrâneos em áreas rurais, notadamente em pastagens e culturas de subsistência. Entretanto, a experiência tem-nos mostrado que a realidade é outra. Sabe-se que uma das causas da intensa proliferação de cupins de montículos nas pastagens deve-se ao desmatamento desenfreado em quase todas as regiões do país. Estudos conduzidos em outros países têm demonstrado que os desmatamentos parciais ou totais de florestas e savanas provocam alterações qualitativas e quantitativas na fauna de cupins. Em nosso país, estudos conduzidos nas décadas de 70 e 80, relativos à distribuição e diversidade de cupins em áreas de floresta primária, capoeira e pastagem implantada na Amazônia Central, permitiram constatar maior número de ninhos de cupins em pastagens do que na floresta primária. O desmatamento intenso e desenfreado de florestas e cerrados tem contribuído indubitavelmente para o aumento de populações de cu-

Fios elétricos destruídos por cupins em Vitória, no Espírito Santo. Os cabos estavam enterrados

pins de montículos. As pastagens cultivadas dos cerrados brasileiros ocupam cerca de 45 milhões de hectares, dos quais estima-se que 80% encontram-se em algum estágio de degradação. A proliferação de montículos construídos por cupins é possível que seja um dos indicadores da degradação dos cerrados. Ainda que os cupins se constituam como importantes componentes da macrofauna edáfica, ao construírem seus ninhos epígeos, tornam-se problemáticos à circulação de maquinários e de animais. As verdadeiras causas da grande proliferação de cupins de montículos em pastos brasileiros ainda não estão bem evidenciadas. Todavia, algumas hipóteses podem ser apontadas, levando-se em conta principalmente a estratégia ecológica desse inseto e os fatores edáficos. A capacidade e facilidade dos cupins em digerir celulose e lignina favorecem o seu desenvolvimento biológico. Assim, a partir do momento em que a qualidade da pastagem é prejudicada, em virtude da qualidade do solo, a população de cupins acaba sendo favorecida. A quantidade de cupinzeiros em uma determinada área pode variar de 1 a mais de 1000/ha; nem todos os montículos estão em atividade ao mesmo tempo. A determinação da distribuição espacial de termiteiros em uma determinada área pode auxi-


Fotos Euripedes Menezes

eram encontrados somente em áreas urbanas, também estão ocorrendo com freqüência em áreas suburbanas e rurais! Além disso, o inverso também é verdadeiro! Assim, a constatação de Heterotermes tenuis, Nasutitermes macrocephalus, N. coniger e Syntermes molestus em áreas urbanas e suburbanas nas proximidades do grande Rio, têm sido uma constância. Todos, sem nenhuma exceção, estavam causando danos e prejuízos nos locais, onde foram constatados. A presença de C. havilandi e de C. brevis em propriedades rurais em diferentes municípios dos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo é cada vez mais freqüente e os prejuízos causados são incalculáveis porque os proprietários apenas se dão conta do ataque da praga depois que a infestação está além do tolerado.

Fotos Silvânia H. F. de Oliveira

Feijão

Controle Certo

IMPACTO ECONÔMICO

Amostras do cupim C. brevis, inseto que causa grandes e freqüentes danos em propriedades rurais

Livro escrito pelo presidente FHC corroído pela ação de cupim subterrâneo em João Pessoa (PB)

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liar a identificação de fatores que condicionam a proliferação dos ninhos, correlacionando variáveis ambientais e distribuição dos ninhos. Outro fato que não pode deixar de ser mencionado é que o desmatamento afugenta naturalmente os inimigos naturais dos cupins que têm suas populações favorecidas e aumentadas. Em nosso país, os ninhos de montículos são vulgarmente conhecidos por murundus . São formados por montículos de terra e saliva, de consistência pétrea. São diversas as espécies tidas como pragas de pastagens em nosso país. Entre elas podemos mencionar: Cornitermes cumulans, C. bequaerti, Proconitermes striatus, Syntermes insidians, S. molestus, S. obtusos, Nasutitermes globiceps, Anoplotermes spp. etc. Ainda que algumas autoridades no assunto acreditem que as presenças de cupinzeiros em áreas rurais não traga prejuízos reais, os trabalhos desenvolvidos demonstram exatamente o contrário. Determinados gêneros de cupins nativos, que até então jamais tinham sido mencionados como pragas em casas, galpões, celeiros e cercas têm sido mencionados como causadores de danos e prejuízos. Sedes de antigas fazendas de café, no Vale do Paraíba em São Paulo e Rio de Janeiro, estão sendo atacadas e destruídas por cupins subterrâneos nativos e por cupins de madeira seca (exóticos). As nossas observações permitem-nos afirmar, sem nenhuma dúvida, que os cupins que

Atualmente, nos países mais evoluídos, o impacto econômico dos danos e prejuízos provocados pelo ataque dos cupins vem sendo estudado exaustivamente. Por exemplo, estudos conduzidos nos Estados Unidos desde 1967 até 1986 demonstraram que os danos causados pelos mesmos e o seu controle está estimado com uma variação que oscila de 100 milhões a 3,4 bilhões de dólares, anualmente. Em média isto representa em torno de 2,5 bilhões por ano, somente naquele país! Em nosso país, ainda que os estudos sejam precários, constatou-se que depois de uma explosão populacional do cupim subterrâneo asiático C. havilandi, ocorrida em 1975/76 na cidade de São Paulo, o custo total para controlar cupins subterrâneos e cupins de madeira seca em 514 prédios de apartamentos foi de US$ 800 000 no período de 1974 a 1978. Para que se faça um trabalho de controle altamente eficiente contra cupins, deve-se adotar técnicas preventivas e curativas. Na execução do trabalho deve-se respeitar os seguintes procedimentos: Proceder uma inspeção criteriosa Estimar com precisão o orçamento Identificar o material coletado ou amostrado Realizar todas as etapas pré-estabelecidas Definir metas e estratégias de trabalho Proceder o monitoramento dentro do tempo previsto. Aplicar a metodologia mais adequada, uma vez que quando se trata de controle de cupins, cada caso é um novo caso! Jamais fazer uso de produtos químicos que não sejam permitidos pelos devidos órgãos. Euripedes Barsanulfo Menezes, UFRRJ Janeiro de 2001

Especialistas mostram quais as melhores opções de fungicidas para o controle da Mancha Angular em feijoeiro

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feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) é afetado por muitos fitopatógenos incluindo fungos, bactérias, vírus e nematóides. A incidência e os prejuízos causados pelas doenças variam significativamente entre as estações do ano e entre um ano e outro, dependendo da cultivar e das práticas utilizadas pelos produtores. Entre as enfermidades que mais freqüentemente reduzem os rendimentos, tanto no feijão da seca como no do outono-inverno, encontra-se a mancha angular, cujo agente causal é o fungo Phaeoisariopsis griseola (Sacc.) Ferr. As perdas no rendimento são Janeiro de 2001

Sintomas de mancha angular em folha primária de feijoeiro; com aspecto arredondado e cor castanho-escura

maiores quanto mais precoce for o aparecimento da doença na cultura. No Brasil, estas perdas variam de 7 a 70% dependendo da suscetibilidade das cultivares, das condições ambientais e da patogenicidade dos isolados. Dentre as principais práticas culturais para o controle da doença, podem ser citadas o preparo do solo, a data de semeadura, a utilização de sementes de boa qualidade sanitária e a rotação de culturas. O emprego de cultivares resistentes é, para o produtor, a forma mais prática e econômica de controle. Entretanto, a variabilidade patogênica apresentada pelo fungo, dificulta a ob-

tenção das mesmas pelos programas de melhoramento. Conseqüentemente, na maioria das vezes, a única alternativa do produtor é utilizar cultivares moderadamente resistentes ou mesmo suscetíveis, tornando imperativo o emprego de produtos químicos para o controle.

CONTROLE QUÍMICO

O controle químico da mancha angular pode ser realizado através do tratamento da semente e pela aplicação de fungicidas na parte aérea das plantas. O controle via tratamento de sementes é pouco efetivo devido à baixa transmissibilidade do patógeno pelas Cultivar

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Nome comercial, nome comum e dose dos fungicidas testados pela Embrapa Arroz e Feijão, aplicados pelo método convencional, no controle da mancha angular do feijoeiro comum e eficiência relativa de acordo com os resultados dos ensaios realizados em Unaí-MG (1994 e 1996) e Santo Antônio de Goiás-GO (1997 e 1999)

Nome comercial, nome comum e dose dos fungicidas testados pela Embrapa Arroz e Feijão, aplicados pelo método de fungigação, no controle da mancha angular do feijoeiro comum e eficiência relativa de acordo com os resultados dos ensaios realizados em Unai-MG (1994) e em Santo Antônio de Goiás-GO (1996 e 1999)

Sintomas em vagem; seu aspecto geral é avermelhado, superficial e quase circular

mesmas. O agente causal desta doença é transmitido de lavoura a lavoura, basicamente pelas correntes de ar que levam seus esporos de um local para outro. É importante lembrar que, no controle químico, as pulverizações devem ser iniciadas antes da manifestação dos primeiros sintomas ou imediatamente após a constatação dos mesmos. Os fungicidas testados pela Embrapa Arroz e Feijão e suas eficiências relativas, quando aplicados pelo método convencional, podem ser observados na Tabela 1. A eficiência de cada fungicida foi calculada em relação à testemunha e classificada como: Excelente (E), quando o tratamento apresentou eficiência de controle superior a 90%; Muito Bom (MB), quando o tratamento apresentou eficiência de controle entre 80 e 90%; Bom (B), quando o tratamento apresentou eficiência de controle entre 70 e 80% e, Regular (R) quando o tratamento apresentou eficiência de controle menor a 70%. Os resultados obtidos permitem concluir que a maioria dos fungicidas testados foi eficiente no controle da mancha angular. O tratamento mais eficiente resultou em uma re32

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dução média, na severidade da doença, superior a oito vezes. O Tilt e o Effect apresentaram sintomas evidentes de fitotoxicidade, com uma coloração verde-acinzentada e deformações no broto apical das plantas; entretanto, estes sintomas não refletiram no rendimento em grãos dos referidos tratamentos. O Amistar 500 WG, a mistura do Amistar 500 WG com o Effect, o Folicur 200 CE, o Effect e o Brestanid SC, nas doses utilizadas, foram altamente eficientes no controle da mancha angular do feijoeiro comum. Com o incremento do cultivo do feijoeiro no outono-inverno, irrigado por pivô central, os agricultores passaram a utilizar a água de irrigação como veículo de produtos químicos. Esta técnica, quando utiliza fungicidas é denominada de fungigação. Após alguns anos de pesquisa nesta área, já é possível recomendar a fungigação no controle da mancha angular. Os fungicidas testados pela Embrapa Arroz e Feijão e suas eficiências relativas, quando aplicados via fungigação, podem ser observados na Tabela 2. Os resultados obtidos permitem concluir

que o Brestanid SC e o Amistar + Effect foram altamente eficientes no controle da doença. O Folicur, na formulação CE, proporcionou um excelente controle da mancha angular quando aplicado pelo método convencional. Quando aplicado via água de irrigação, por pivô central, sua eficiência de controle foi boa para a formulação PM porém, relativamente baixa para a formulação CE. Ao se comparar os resultados obtidos quando os fungicidas foram aplicados via fungigação com aqueles aplicados via convencional, verificou-se uma maior redução na severidade da doença quando os produtos foram aplicados pelo método convencional. Entretanto, a aplicação de fungicidas via água de irrigação, além de apresentar redução dos custos de aplicação, torna-se uma excelente opção após o fechamento da cultura quando é praticamente impossível a utilização de máquinas sem afetar negativamente o feijoeiro. A. Sartorato C. A. Rava Embrapa Arroz e Feijão Janeiro de 2001


Aenda - Defensivos Genéricos

Agroquímicos:

Contravenções no comércio Tanto o contrabando de herbicidas com rótulo estrangeiro quanto a comercialização de iscas sem rótulo são fantasmas que povoam nosso mundo rural. Mas estes fantasmas existem de verdade, embora não creia a fiscalização, a se deduzir do pouco que faz para coibir tão graves contravenções. Um mínimo de coordenação entre a fiscalização federal e estadual, incluindo aí órgãos policiais e de receita fiscal conforme o caso, poderia reduzir rapidamente essas práticas criminosas. A fiscalização deve mudar seu modelo, não pode continuar sendo apenas cartorial, verificando se os rótulos têm as vírgulas no lugar correto ou se a receita agronômica foi expedida no balcão. É preciso ir a campo, fazer incertas em fazendas e reprimir exemplarmente os abusos que passam às margens dos comerciantes estabelecidos e dos fabricantes que tentam seguir as normas legais. É sabido que o contrabando é estimulado por diferenciais de preço de um mesmo produto nos dois lados da fronteira. Em primeiro lugar, é preciso entender que comparar preços entre economias distintas é uma tarefa de enorme complexidade, que pode facilmente levar a conclusões precipitadas, resvalando para assertivas errôneas e injustas. E, em segundo lugar, convenhamos, nada, absolutamente nada pode justificar tal operação. É crime, e, grave. Deve, sim, a classe dos agricultores, exigir correção e pulso firme do governo para a política de registro dos agrotóxicos. Deve exigir o estímulo à concorrência, pois é por

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isso que, basicamente, determinados produtos estão mais baratos nos parceiros do Mercosul do que aqui. A bem da verdade, essa mobilização já começou, visto que na Audiência Pública da Câmara Federal, de 13 de setembro último, João Bosco Umbelino, Vice-Presidente da Confederação Nacional dos Agricultores-CNA, assim como Valdir Colatto, Superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras-OCB defenderam o registro por Similaridade Química para os produtos genéricos e similares. A pressão para adoção do agrotóxico similar precisa se ampliar, para ampliar também a oferta diversificada de produ-

Fábricas clandestinas produzem sob encomenda o que bem entender o esforçado e insinuante vendedor de fazenda em fazenda ou de usina em usina tos. Está dando certo nos medicamentos, dará certo nos agrotóxicos também. Deve, a fiscalização, por seu turno e mister, notificar, multar, apreender mercadoria e anunciar na imprensa, expondo à execração pública os digressores. Um outro caso de polícia, acontece no comércio das iscas formicidas. Fábricas clandestinas produzem sob encomenda o que bem entender o esforçado e insinuante ven-

dedor de fazenda em fazenda ou de usina em usina. Atenção fiscal do comércio de agrotóxico: isso exige investigação além do balcão das revendas, chame o ministério público de sua cidade, envolva a polícia, cumpra seu papel na concepção plena que representa para a sociedade. Do Rio Grande do Sul nos chegam notícias de outra prática ilegal e irresponsável: tratase do incentivo de maus comerciantes ao manuseio de produtos mais concentrados contendo Fipronil (KLAP, REGENT), Acefato (ORTHENE) e Triclorfon (NEGUVON) para mistura com polpa cítrica, milho ou triguilho e, assim, baratear o combate às formigas. Um abuso que deve ser punido com o maior rigor, pois além de afrontar o comerciante honesto, a saúde dos usuários está sendo exposta a risco grave quando do manuseio e preparo destas pseudo-iscas. E este risco é multiplicado, na medida que os pequenos lavradores compram os inseticidas fracionados em embalagens de até 5 ml: é comum a utilização de recipientes dos filmes fotográficos para essa função. Atenção ANVISA, isto é muitíssimo mais urgente que perseguir iscas legalmente registradas e vendidas em saquinhos de 500 gramas, ao invés de 50 gramas, embora esta adequação deva ser exigida aos registrantes, pois é fato que houve modificação do critério anteriormente estabelecido na legislação. Atenção fiscais da comercialização dos agrotóxicos: se este artigo os sensibilizar, incluam também na agenda a venda de isca à base de dodecacloro, provavelmente advinda dos países fronteiriços. Obrigado, em nome da cidadania!

Janeiro de 2001


Perspectivas

A missão de quem traça cenários está ficando progressivamente mais difícil, pela interdependência de setores e países, e pelo volume de informações que circula cotidianamente, forçando um reequilíbrio permanente das forças que atuam sobre a sociedade em geral e o sistema produtivo em particular. Verdades de hoje são utopias amanhã e vice-versa, levando ao paradoxo de ser mais fácil afirmar que após 2010 os subsídios agrícolas desaparecerão e as variedades transgênicas dominarão o mercado, que fazer qualquer previsão de movimentos mais restritos, no curto prazo

B

aseado na continuidade do foco da política econômica na estabilidade da moeda é possível traçar os contornos dos agronegócios brasileiros. Os efeitos do ajuste cambial de 1999 (quae sera tamen) já foram absorvidos. A maioria dos indicadores da conjuntura econômica interna é positiva crescimento econômico, redução do desemprego, aumento da renda per cápita, estabilização da taxa de juros. O equilíbrio da balança comercial pode se transformar em superávit, por decorrer de pressões de importações localizadas e pelas baixas cotações das commodities agrícolas. Medidas estruturais são exigidas no curto prazo, como ajustes nas legislações trabalhista e tributária e na política de financiamento, além de ampliação da infra-estrutura, para transformar nossas vantagens comparativas em competitividade. Apesar da taxa de formação de capital haver superado 20%, ainda é insuficiente para alavancar a meta de crescimen36

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Um cenário para 2001

to, o que mantém o país dependente do capital externo. As novas medidas de combate à sonegação aumentarão de imediato a arrecadação tributária, pelo maior risco da sonegação, seguindo-se outro aumento de médio prazo, conforme sonegadores forem sendo identificados no cruzamento da CPMF com tributos declaratórios. Esse fato, conjuminado com a Lei de Responsabilidade Fiscal, deverá solver o desequilíbrio fiscal do Governo. A melhoria da renda nas classes C, D e E e das contas governamentais terá reflexo imediato no mercado de alimentos, pressionando o complexo agro-industrial com maior demanda interna.

PREVISÃO DE SAFRA

A safra 1999/2000 ultrapassará 85 milhões de toneladas, com 93 projetados para 2000/2001. As adversidades climáticas estão sendo contrabalançadas pelo aporte de tecnologia apropriada nas

lavouras. Nos anos 90 a produtividade agrícola cresceu 57%, passando de 1,53 para 2,41 ton/ ha, apesar das perdas superiores a 20% entre a colheita e o consumo. O incremento da produtividade, largamente lastreado em melhor tecnologia, mostra que, apenas dentro da porteira, os agricultores apropriam-se de renda adicional superior a US$ 5 bilhões/ano, 15 vezes o orçamento da Embrapa para 2001. Espera-se uma leve recuperação de preços das principais commodities, aliviando o sufoco da rentabilidade, até agora mantida pelo aumento sustentável da produtividade. Problemas sanitários enfrentados pelos países europeus sinalizam para oportunidades de colocação de produtos cárneos e proteínas vegetais na UE, abrindo um mercado extremamente protegido, que também é nosso competidor em terceiros países. Maior produção de aves e suínos para exportação implica em demanda adicional Janeiro de 2001

de milho e soja, pressionando suas cotações. O alto preço do petróleo e a redução dos estoques de álcool devem conferir novo impulso à cana de açúcar, enquanto o desejo expresso do ministro da agricultura de reduzir as importações de trigo pressupõe medidas de apoio à sua produção em regiões não-tradicionais, porém menos suscetíveis às restrições que têm entravado a auto-suficiência.

TURBULÊNCIA NO MERCOSUL

Fortes turbulências são esperadas para o próximo ano. Enquanto bloco, o Mercosul estacionou; decorrência das crises brasileira e argentina. O Brasil ergueu-se puxando os próprios cabelos, enquanto o país vizinho afunda em uma crise estrutural sem precedentes, preso na arapuca cambial, que só tem três saídas: Livre flutuação cambial, com pesados ônus políticos e econômicos, forte recessão e desemprego, e as decorrentes crises sociais, restringindo o mercado para importações e contaminando os vizinhos; Dolarização definitiva da economia, perdendo a soberania de definir a política macroeconômica e de outros setores, seguindo a reboque de decisões tomadas alhures; Compensação da amarra cambial com modernização tecnológica e capacitação para obter ganhos de produtividade que compensem o gargalo cambial. As duas primeiras alternativas podem materializar-se em 2001, a terceira é um processo de médio a longo prazo. Em qualquer das situações, o Brasil sofrerá conseqüências pelas profundas ligações comerciais com o vizinho, e pela retração do mercado internacional que não distingue entre países do Terceiro Mundo. O Chile cansou de esperar a decolagem do Mercosul e decidiu iniciar conversações bilaterais para ingresso no NAFTA, bulindo perigosamente no cronograma da ALCA. Se o seu exemplo for seguido por outros países latino-americanos, o Brasil ficará isolado em sua posição de negociar a longo prazo a segunda onda da abertura da economia, exigindo o fim do entulho protecionista americano e perseguindo equalização competitiva com o irmão do Norte. Ao longo de 2001 essa questão será clareada.

PRIMO RICO

Deitado em berço esplêndido de um PIB de 8,5 trilhões de dólares, os EUA tornaram-se o motor e o leme da economia mundial. Fechamos 2000 discutindo o hard ou soft landing de sua economia, se o FED sinalizaria com viés de baixa em sua taxa de juros. Depois de crescer exuberantemente durante uma década, em que quase dobrou a renda per cápita, o Banco Central americano entendeu haver um risco de erupção inflacionária embutido no crescimento do país, freando-o à custa de sucessivos aumentos na taxa de juros. Os indicadores americanos apontam para o final de um ciclo de crescimento, o que significa mercado mais contraído para importação de

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outros países, e manutenção da drenagem da poupança mundial para suas fronteiras. Menor atividade na economia americana sinaliza para redução global do crescimento, pegando outras economias no contrapé como a brasileira. Já a redução da taxa de juros do FED, para auxiliar no soft landing, implica em redução do custo da dívida externa brasileira, e maior margem de manobra fiscal do Governo. Já a União Européia atravessa uma crise estrutural, pela resistência de países importantes, como Dinamarca e Reino Unido, em aderir à moeda única, e mesmo a harmonizar macro políticas sociais e econômicas, e pela apreciação do euro. Países ex-comunistas têm como meta de curto prazo aderir à UE, por estarem longe do modelo de eficiência produtiva, em especial no ramo dos agronegócios, herança do falido sistema que aboliu a propriedade privada e restringiu os ganhos de eficiência. Esses países vêem no subsídio à agricultura uma sobrevida, um paliativo aos seus problemas, e uma fonte adicional de recursos, que lhes permita migrar para um ponto futuro de maior competitividade. Obviamente que esse cenário não nos interessa, pois reforçaria a posição de países já pertencentes à UE em prol do subsídio agrícola, pressionados ferozmente por seus agricultores. Por outro lado, a falta de escala, os problemas climáticos e os contratempos sanitários devem frear a produção agropecuária na Europa, aliviando a pressão protecionista no curto prazo, e abrindo importantes espaços comerciais para países como o Brasil. Do ponto de vista econômico, o Japão patina há uma década, sem sinais de recuperação, o que permite antecipar que seu mercado continuará do mesmo tamanho.

ciente para balançar a confiança do mercado em países fora do eixo UE-EUA-Japão. Aliado à crise argentina, pode significar menor aporte de recursos de investimento ou de financiamento de déficit em conta corrente no Brasil, reduzindo sua disponibilidade para o fomento de atividades produtivas. A demanda por alimentos tem crescido sustentadamente em diversos países, em especial na Ásia, que têm restrições ao aumento da área plantada. A China é o país onde o Governo aprovou o maior número de variedades transgênicas (mais de 100), na busca de maior produtividade e estabilidade na produção de alimentos. A China é a 7a economia mundial (PIB de US$ 1 trilhão), com renda per cápita de US$ 800; seu crescimento econômico deve manter-se, pressionado por ampliação da importação de alimentos. Programas de ajuda humanitária têm estado à reboque de grandes comoções, logo de previsibilidade imponderável quanto a seu impacto na demanda. A proposta da ASA ao USDA, de utilizar os recursos do subsídio ao preço mínimo da soja para ampliar as doações de soja e seus produtos a países miseráveis pode reduzir estoques, aumentar as cotações e incentivar o plantio da safra seguinte. Por outro lado, Mike Moore, diretor geral da OMC, anunciou sua vontade de ir para a rua protestar contra as barreiras dos países ricos, que sufocam as economias lastreadas na agricultura. O futuro mostrará se a declaração esconde alguma sinalização séria, pois Mr. Moore é apenas o gerente da política da OMC, claramente delineada pelos países ricos. Os mesmos que doam em subsídios a seus agricultores mais do que o PIB de toda a África. O engate para valer da Rodada do Milênio ficou para 2001, com a agenda emperrada porque a UE não aceita colocar na mesa a discussão dos subsídios agrícolas, enquanto outros países não aceitam discutir outros temas desconectados do subsídio. O cenário mais provável será de imutabilidade no curto prazo, com posições inegociáveis de ambas as partes. Em conclusão, a combinação dos diferentes fatores acima é que determinará o rumo que tomarão os agronegócios brasileiros. Décio Luiz Gazzoni Embrapa Soja

VISÃO GERAL

Depois do Sudeste Asiático, Rússia e Brasil, o ataque especulativo chegou à Turquia. Foi sufiCultivar

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Última página

A hora das Fundações Para competir no disputado mercado de tecnologia de sementes empresas de médio e grande porte apostam na união

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m grupo de 61 empresas, que respondem por 37,5% da soja colhida no Brasil e 94% das sementes produzidas no Paraná, São Paulo e Santa Catarina, decidiu incrementar a pesquisa para melhorar o setor. Através da Fundação Meridional, da qual são instituidoras, firmaram um convênio com a Embrapa para fortalecer o desenvolvimento da soja, associando avançadas pesquisas com os recursos financeiros e profissionais técnicos da iniciativa privada. A assinatura do convênio, em Londrina (PR), pelos presidentes da Embrapa, Alberto Duque Portugal, e da Fundação Meridional, Geraldo Fróes, teve a participação do próprio ministro da Agricultura, Marcos Vinicius Pratini de Moraes. Pelo convênio a Fundação prevê aplicação de testes com 50 mil progênies e seleção de 6.000 linhagens de sementes. O trabalho também envolverá 132 profissionais, entre pesquisadores, agrônomos, técnicos agrícolas e operários rurais. Todo esse aparato de profissionais será fornecido pela Fundação e vai atender às necessidades da Embrapa, que poderá assim viabilizar a aplicação em campo de suas pesquisas com recursos humanos e orçamentários da iniciativa privada. Isso certamente vai possibilitar resultados mais efetivos do que os que vêm sendo gerados pela estrutura de pesquisa oficial do governo e seus limitados recursos, na opinião de Geraldo Fróes.

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O ministro Pratini e presidente da Meridional, Geraldo Fróes, explicaram os fundamentos do convênio

Na realidade, essa é a forma encontrada pelas empresas nacionais, de médio e grande porte, para enfrentar a poderosa investida das multinacionais no setor de sementes. Pressionadas, por um lado, pela ação das transnacionais de sementes, que compraram a totalidade das empresas privadas brasileiras geradoras de germoplasma, e de outro pela falta de recursos oficiais

Além do avanço genético das cultivares, pretende-se transferir aos agricultores a melhor tecnologia e manejo da produção para a Embrapa, os produtores de sementes decidiram criar uma alternativa para a obtenção de novas cultivares. Partiram para as fundações, como a Meridional, em que sua contribuição financeira será decisiva para reativar a pesquisa da Embrapa e equilibrar o mercado, elidindo a dependência total das empresas multinacionais. Pelo presente convênio, por exemplo, serão ampliadas as áreas de experimentação de sementes provenientes do Centro de Pesquisa de Soja da Embrapa, destacando-se 23 municípios nos três Estados, escolhidos estrategicamente pela variação ambiental e de solo. Esses locais servirão como vitrines de tecnologia, com pequenas la-

vouras para registro do avanço genético das variedades, as inovações tecnológicas do manejo fitossanitário, manejo de pragas e de plantas daninhas, da fertilidade do solo, do manejo cultural e dos equipamentos de plantio, pulverização e colheita. Parte das empresas instituidoras da fundação reproduziram, em safras recentes, sementes de empresas estrangeiras, pelo sistema de franquias. Agora investirão cerca de R$ 1,2 milhão por ano para manter a nova estrutura tecnológica. Pretendem, além do avanço genético das cultivares, transferir aos agricultores a melhor tecnologia e manejo da produção, na busca de rentabilidade e competitividade. Já as empresas mantenedoras estão interessadas no acesso direto ao maior mercado de soja e trigo do Brasil e à maior rede de ensaios das regiões Sul e Sudeste do País. A área de atuação da Fundação Meridional, onde se colhe 55% da soja nacional, abrange 3,6 milhões de hectares, onde são aplicados a cada ano 550 mil T de fertilizantes, 22 milhões de litros de herbicidas, 81 de inseticidas, 1,6 milhão de fungicidas e estão cadastrados 8.500 colhedoras automotrizes, 25 mil plantadeiras, 25 mil tratores, 18 mil pulverizadores. Cerca de 3,5 milhões de sacas de sementes são ali utilizadas anualmente, o que dá uma idéia do potencial.

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