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Destaques
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@RevistaCultivar
Índice
Distribuição intraplanta
Como o percevejo marrom ataca as diferentes partes das planta de soja e por que é importante conhecer este comportamento
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Rápida necrose
O que considerar diante deste sintoma atípico do biótipo de buva com resistência múltipla no
Diretas
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Pulverização aérea em arroz
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Comunicado técnico - Teste de canteiro
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Rápida necrose em buva
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Manejo da mancha-alvo
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Mofo-branco em soja
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Capa - Percevejo-marrom
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Expansão da "safrinha" de milho
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Mancha de phoma em café
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Capim-braquiária e capim-colonião em cana
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Nova divisão da Kimberlit
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Brasil, quando submetido à aplicação de 2,4-D
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Lesões múltiplas
Quando integrar estratégias para o manejo da mancha de phoma, doença que ataca folhas, flores, frutos e ramos do cafeeiro Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 240 Maio 2019 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Laboratório de Entomologia da Universidade de Cruz Alta Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
• Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves Miriam Portugal
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Rogério Nascente COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas Inseticidas
Maurício Garcia
Comercial
O engenheiro agrônomo Maurício Garcia passou a fazer parte da equipe da Tropical Melhoramento & Genética (TMG). O executivo assumiu a recém-criada Diretoria Comercial da empresa. Com mais de 20 anos de experiência no mercado, nas culturas de soja, milho e algodão e com licenciamento de traits, Garcia está à frente da interlocução entre a TMG e a sua rede de licenciados de sementes em todo o Brasil.
Durante a Estação de Novas Tecnologias Syngenta, realizada em março, em Holambra, São Paulo, o líder de Inseticida no Brasil, Roberto Dib, destacou os desafios no combate a lagartas de difícil controle. Com este foco, a Syngenta já conta com o inseticida Proclaim, formulado a partir do benzoato de emamectina, e também submeteu a registro uma nova tecnologia, que deverá estar disponível em breve, batizada de Proclaim Fit. “Isso mostra o quanto a Syngenta se preocupa em continuar sempre inovando. O Proclaim Fit traz algumas melhorias, permite que tenhamos uma proteção para essa molécula. Essa nova tecnologia de formulação permite otimizar as doses de produtos, tornando-a ainda mais sustentável”, explicou.
Produtos
Durante a Expoagro Afubra, a Alltech Crop Science apresentou quatro linhas de produtos. A linha Solo é um conjunto de soluções naturais voltadas especificamente para essa fase do cultivo. A linha Performance inclui ativadores de plantas e fertilizantes. A linha global de Nutrição utiliza a natureza inerente da complexação de aminoácidos para prover uma fonte equilibrada de nutrientes de forma biodisponível. As soluções da linha Proteção oferecem elementos nutricionais que auxiliam os mecanismos de resistência natural dos cultivos. “Isso faz com que a planta tenha melhores condições de se defender diante das adversidades ambientais”, explicou o Gerente de Vendas, Ary César Borges.
Estação
Francisco Grzesiuk
EPIs
A Vest Segura participou, mais uma vez, da Expoagro Afubra. A empresa atua desde 2005, como fabricante de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para a agricultura. “Nosso objetivo é oferecer proteção máxima, com o maior conforto, utilizando tecnologia de ponta e matéria-prima de qualidade. Aliado a isso, temos uma vasta experiência no mercado de trabalho com foco nas reais necessidades do homem do campo”, relatou o diretor da empresa, Francisco Grzesiuk. Os EPIs Vest Segura contam com Certificado de Autorização (CA) e seguem rigorosamente a Norma Regulamentadora Número 6 (NR6), do Ministério do Trabalho e Emprego. 04
Roberto Dib
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José Santos
Durante a Estação Novas Tecnologias, evento promovido pela Syngenta, em Holambra, São Paulo, foi lançado o herbicida Calaris. “Trata-se de uma formulação inovadora, com princípio ativo que possui diferentes e sinérgicos mecanismos de ação. O herbicida atende a uma demanda latente do campo, aumentando significativamente o espectro de controle das plantas daninhas na cultura do milho”, explicou o líder de Portfólio de Herbicidas da Syngenta, José Santos. A nova ferramenta torna-se uma aliada dos produtores no controle de daninhas como capim-amargoso e outras folhas largas.
Presença
A KWS Sementes esteve presente na 19ª Expoagro Afubra, em março, em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Entre os produtos apresentados na feira, a empresa destacou a variedade de soja RK5519RR, semente com precocidade e um bom potencial produtivo, e o híbrido de milho K9606VIP3, que é a nova referência de semente com estabilidade e produtividade no mercado brasileiro.
Participação
A UPL esteve presente na Expoagro Afubra, em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. De acordo com o representante técnico de Vendas, Gustavo Borgmann, os destaques da marca na feira foram o inseticida de amplo espectro Sperto e os fungicidas multissítios compostos por Tridium, Triziman e Unizeb Gold, para o manejo da resistência das doenças de final de ciclo.
Milho
A Morgan Sementes e Biotecnologia, marca da LongPing High-Tech, levou para a Expoagro Afubra seus híbridos de milho. O destaque foi para o MG 300, híbrido superprecoce, indicado para médios e altos investimentos. Além das parcelas demonstrativas, especialistas apresentaram características e resultados da tecnologia PowerCore no controle e na supressão das principais pragas que afetam a cultura e no manejo de herbicidas. Vantagens do tratamento de sementes industrial para a produtividade da lavoura também foram enfocadas pela marca.
Sementes
A Brevant Sementes, nova marca de distribuição da Corteva Agriscience, destacou, durante a Expoagro Afubra, híbridos de milho com tecnologia PowerCore Ultra, que auxiliam no controle das principais pragas da cultura. “Também mostramos nosso portfolio de cultivares de soja, de alto potencial produtivo, adaptadas à Região Sul”, informou o representante Comercial, Jonas Morari.
Ação
Jonas Morari (direita)
A Adama participou da 19ª edição da Expoagro Afubra, em março, em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. A empresa apresentou parte de seu portfólio, para diversas culturas, como o bioestimulante ExpertGrow e os inseticidas Galil e Voraz, além do fungicida Cronnos T.O.V., para combater doenças em soja. Como forma de apresentar o fungicida, a companhia levou para o evento a estrutura do Cronnos Field, uma ação para difundir a atuação e a eficácia do produto.
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Licenciadas
A Nidera Sementes levou para a Expoagro Afubra as cultivares de soja licenciadas para o Rio Grande do Sul. O portfólio da marca, com soluções para agricultores do Sul do Brasil, esteve exposto no estande da empresa. Foram destacadas as cultivares NS 6909, NS 5445 e NS 6601. A NS 6601 conta com estabilidade produtiva e arquitetura favorável ao manejo fitossanitário, e a NS 5258 tem como característica a precocidade, o alto potencial produtivo e a tolerância ao déficit hídrico. Em milho, a principal novidade ficou por conta do híbrido NS 45 Vip3, desenvolvido para a safrinha. “Trata-se de um material superprecoce, que combina altíssima performance produtiva e estabilidade”, explicou o engenheiro agrônomo da empresa, Fábio Dotto.
Aniversário
No ano em que comemora 15 anos, a Ballagro reuniu a equipe para a sua Convenção Anual de Vendas. O tema escolhido foi Evoluindo naturalmente, que representa o trabalho que a empresa tem feito durante todos esses anos. A marca está entre as maiores no ramo de soluções biológicas no mercado brasileiro de proteção de plantas.
Expoagro
A Syngenta esteve presente na Expoagro Afubra. Na cultura da soja, o destaque foi para o Fortenza Duo, para o tratamento de sementes. Os fungicidas Elatus, Cypress e Bravonil, que fazem parte do programa Manejo Consciente, também estiveram em destaque. O inseticida Proclaim, para controle de lagartas em todos os estágios, e o Engeo S também foram expostos. A grande novidade ficou por conta do herbicida Calaris, uma evolução das atrazinas, com uma formulação diferenciada. “O Calaris amplia o espectro de controle das plantas daninhas na cultura do milho”, opinou o representante técnico de Vendas, Gustavo Freitas.
Fertilizantes
A Mosaic Fertilizantes também esteve presente na Expoagro Afubra, com seu portfólio de produtos premium - os fertilizantes K-Mag, Microessentials e Aspire. Uma trincheira instalada no estande da empresa foi um dos principais destaques da marca no evento, por mostrar na prática os resultados da aplicação.
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Arroz
Gota eficiente
Divulgação
Por suas peculiaridades, que incluem dificuldades de entrada de máquinas terrestres na lavoura no momento necessário ao manejo de doenças, a cultura do arroz irrigado é uma das que mais demandam o emprego da pulverização aérea. Sua utilização, contudo, precisa fazer bom uso da tecnologia de aplicação, tanto para proporcionar resultados satisfatórios como para evitar desperdício e preservar a segurança do homem e do ambiente
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tecnologia de aplicação busca a colocação do agroquímico em quantidades adequadas no alvo, com o mínimo desperdício e máxima segurança ao homem e ao ambiente. Assim, aplicação aérea é uma ferramenta valiosa na agricultura, quando usada com critérios técnicos bem definidos. A pulverização aérea na cultura do arroz é necessária em função da dificuldade de transição de máquinas terrestres, pois permite a aplicação no momento correto e em condições climáticas mais favoráveis. Assim, foram avaliados diferentes sistemas e volumes de aplicação por via aérea em arroz irrigado. O ensaio foi instalado em área comercial no município de Camaquã, no
Rio Grande do Sul. A área experimental foi de 50,4 hectares, divididos em seis talhões de 210m x 400m. Cada talhão recebeu 14 aplicações com faixa de 15 metros de largura. A cultivar de arroz (Oryza sativa) utilizada foi a Puitá Inta CL, com espaçamento de 0,20m entre fileiras e densidade de 65 sementes por metro linear. A aplicação foi realizada entre o emborrachamento e a saída da panícula. A mistura de fungicidas continha Azoxistrobina 250g + Difenoconazol 250g, comercializado com o nome de Priori + Scorena dose de 0,4L/ha + 0,15L/há mais o adjuvante Nimbus 0,5 L/ha, sendo adicionado óleo vegetal Agróleo na quantidade de 0,5L/ha quando utilizado o atomizador rotativo de discos, pois o sistema de B.V.O. (baixo
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Fotos Tânia Bayer
O ensaio foi instalado em área comercial no município de Camaquã, no Rio Grande do Sul
volume oleoso) requeria somente calda com adição de óleo. Os equipamentos avaliados foram: bico defletor marca Stol, 20L/ha (BL 20) e 30L/ha (BL 30); bico cônico marca Travicar, com volume de 20L/ha (BC 20) e 30L/ha (BC 30) e atomizador rotativo de discos, marca Turboaero, com volumes de 10L/ha (ATM 10) e 15L/ha (ATM 15). Utilizou-se a aeronave Cessna ag truck, modelo A188B. A avaliação da deposição e da penetração de gotas no dossel foi realizada com uso de papel sensível à água, disposto em estacas de um metro de altura divididas em três níveis de 30 centímetros. A densidade de gotas foi medida a partir da captura de imagem
dos cartões com “scanner”, em superfícies de 1cm2, com posterior análise da imagem digitalizada através do software Agroscan. A penetração foi calculada com base na densidade de gotas obtida no terço superior da planta, de modo que representou 100%. Assim, a penetração de gotas representa a relação entre a densidade de gotas dos terços médio e inferior, comparados ao terço superior. As amostras para análise cromatográfica foram coletadas de forma aleatória dentro dos talhões, sendo as plantas cortadas ao meio, constituindo, desta maneira, as partes superior e inferior. As amostras foram devidamente embaladas, preservadas com
A avaliação da deposição, preservação e penetração de gotas no dossel foi realizada com uso de papel sensível à água, disposto em estacas de um metro de altura
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gelo seco e transportadas ao Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas (Larp) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde foram mantidas a -18°C. A área foliar foi determinada coletando-se, de maneira aleatória, 16 plantas representativas dentro da área experimental. As plantas foram cortadas ao meio, resultando em partes superior e inferior. Mediu-se a área foliar de 10g de ambas as partes, de acordo com o procedimento adotado na análise cromatográfica das amostras. Os resultados da tabela 1 confirmaram a relação entre o aumento do volume de calda e a densidade de gotas. A maior quantidade de gotas na parte superior foi conseguida com equipamentos que produziram gotas diferentes entre si e maior volume de aplicação. Todos os tratamentos com volume de aplicação a partir de 20L/ ha proporcionaram a densidade mínima estabelecida para tratamento com fungicidas, situando-se próximo a 50 gotas por cm-2. A análise cromatográfica mostrou as quantidades das deposições de produtos sem os obstáculos conhecidos para cartões sensíveis. A diferença encontrada entre os dois fungicidas é explicada em função da dose de Azoxistrobina ser aproximadamente 2,66 vezes maior. Por isso,
Atomizadores geram gotas menores e aumentam a cobertura e a penetração no dossel
Tabela 1 - Densidade de gotas por cm2 e porcentagem de penetração de gotas em plantas de arroz irrigado da cultivar Puitá Inta CL
analisaram-se os dois independentemente, para medir a quantidade de produto e evidenciar a qualidade da análise. Todos os tratamentos, menos o bico defletor leque 30L/ha, proporcionaram maior depósito de difenoconazol na parte inferior das plantas. As maiores quantidades de azoxistrobina foram obtidas com bico defletor e bico hidráulico. A análise cromatográfica mostrou pequena quantidade de produto no estrato inferior (Tabela 2), não condizente com a densidade de gotas coletadas nos cartões hidrossensíveis (Tabela 1). Isso porque, as amostras foram processadas de acordo com a metodologia QuErChEr modificada, que é baseada na extração de 10g de amostra. Com este peso, as amostras tiveram a área média de 1055,78cm2 no estrato superior e 165,01cm2 no estrato inferior. Dentro deste contexto, verificou-se que a parte superior possui área 6,4 vezes maior, sendo então realizada a correção (Tabela 3). Desta forma, para obtenção da equivalência de área foliar é necessário utilizar 6,4 vezes mais peso da parte inferior para a cultivar Puitá Inta CL, ou seja, 64g.
A análise entre a proporção, o depósito de gotas e a quantidade de fungicida encontrado nos dois níveis do dossel mostra que a média se aproxima do valor da razão entre os dois estratos, revelando coerência com os resultados cromatográficos e a densidade de gotas (Tabela 4). Apesar de o papel sensível registrar o volume de calda e a análise cromatográfica do ingrediente ativo, ambas as avaliações tiveram resultados parecidos. Os papéis sensíveis indicaram que houve, em média, 26% de penetração no estrato médio e 23% no inferior (Tabela 1). A porcentagem entre ambos os compostos químicos nos estratos superior e inferior corrigidos foi, em média, de 26%, resultados que confirmam os obtidos com papel hidrossensível e cromatografia. Atomizadores geram gotas menores e aumentam a cobertura e a penetração no dossel, porém, bico defletor e bico cônico reduzem a deriva, devido ao tamanho maior das gotas. Assim, em todos os tratamentos, não houve diferença para penetração de gotas, indicando que a escolha do bico para pulverização em arroz irrigado pode ficar C a critério do produtor.
Trat.
Densidade de gotas Superior Média Inferior 54,34 bc* 15,66 a 13,93 a 74,78 ab 12,87 a 12,81 a 76,12 ab 21,58 a 7,17 a 93,74 a 16,25 a 13,79 a 32,52 c 10,13 a 9,71 a 45,32 bc 12,21 a 14,79 a 6,53** 2,05ns 0,69ns
BL 20 BL 30 BC 20 BC 30 ATM10 ATM 15 Valor F
Penetração1 Média Inferior 32,53 a 31,38 a 17,33 a 18,40 a 28,24 a 9,35 a 18,66 a 15,98 a 33,58 a 31,70 a 27,14 a 29,08 a 1,8ns 2,18 ns
*Médias com letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). 1 Valor da densidade do terço superior como 100% para base do cálculo da penetração no terço médio e inferior. ns- valores não significativos para o teste F. ** valores significativos para o teste F.
Tabela 2 - Análise da concentração cromatográfica para difenoconazol e azoxistrobina, nos estratos inferior e superior Trat.
Estrato superior (mg/ kg) Difenoconazol Azoxistrobina BL 20 25,76 a* 78,94 a BL 30 15,82 a 44,30 a BC 20 17,62 a 77,26 a BC 30 31,98 a 90,68 a ATM10 13,84 a 38,12 a ATM 15 8,76 a 23,38 a Valor F 2,49 2,55
Estrato inferior (mg/ kg) Difenoconazol Azoxistrobina 1,42 a 4,02 a 0,48 b 1,36 ab 0,64 ab 1,38 ab 1,20 ab 2,36 ab 0,76 ab 1,34 b 0,60 ab 0,78 b 3,7 3,99
*Médias com letras iguais na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey (p<0,05). ns- valores não significativos para o teste F. ** valores significativos para o teste F.
Tabela 3 - Quantidade de ingrediente ativo de azoxistrobina e difenoconazol recuperado pela análise cromatográfica no terço inferior e superior da planta obtido de 10g de amostra e os valores corrigidos para equivalência de área foliar Fungicida
N° de Inferior Média ppm Superior Penetração amostras Obtida Corrigida (6,4x) Média ppm % Azoxistrobina 28 1,89 12,20 51,13 24 Difenoconazol 30 0,85 5,44 18,96 28 *Médias com letras iguais na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey (p<0,05). ns- valores não significativos para o teste F. ** valores significativos para o teste F.
Tabela 4 - Proporções entre densidade de gotas e quantidade de Azoxistrobina e Difenoconazol no estrato superior e inferior de plantas de arroz Parâmetro Azoxistrobina superior vs inferior Difenoconazol superior vs inferior Densidade de Gotas superior vs inferior Azoxistrobina sup. vs Azoxistrobina inf. corrigido1 Difenoconazol sup. vs Difenoconazol inf. corrigido1 F>p
n Média Erro padrão 28 28,33 a* 7,12 30 23,01 a 7,07 30 5,59 b 2,87 28 4,42 b 1,11 30 3,59 b 1,10 3,5x10-10
Valor resultante da divisão do valor original por 6,4 (média da proporção entre a área foliar superior e a inferior). * Médias com letras iguais na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey p<0,05. 1
Tânia Bayer, Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem/RS) Milton Fernando Cabezas Guerrero, Universidad Tecnica Estatal de Quevedo/Ecuador As amostras para análise cromatográfica foram coletadas de forma aleatória dentro dos talhões
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Comunicado Técnico
Teste de canteiro
Como usar de modo correto esta ferramenta e que fatores considerar antes de atribuir equivocadamente às sementes problemas com estandes fora dos padrões de uniformidade na cultura da soja
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abemos que em anos chuvosos tem sido observado em áreas cultivadas com soja um alto índice de mortalidade de plântulas, principalmente quando as fases de germinação e de emergência de plântulas coincidem com intensas chuvas que provocam encharcamento do solo, originando assim estande fora dos padrões de uniformidade. Temos observado, nas últimas safras agrícolas, um aumento no número de agricultores que realizam essa prática do teste de canteiro antes da semeadura a campo, o que nos oferece grandes oportunidades. Também observamos que quando estes não são supervisionados e orientados, podem surgir casos de reclamações não procedentes. A orientação aos agricultores é de que realizem o teste de canteiro antes da operação de plantio da cultura da soja, no entanto, sugerimos que, diante do exposto nos próximos parágrafos, algumas medidas sejam tomadas, principalmente o controle da umidade do so-
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lo, que não deverá ultrapassar em 60% a capacidade de retenção, pois o teste de canteiro deve reproduzir, na sua essência, os processos de germinação de campo. Este fato gera grandes preocupações, pois obriga os agricultores, na maioria das vezes, a realizarem nova semeadura, aumentando com isso o custo de produção, devido à aquisição de sementes, novas operações de cultivo, além da redução na produtividade por causa do atraso na semeadura (Torres et al., 2004). Para germinação das sementes é necessário que ocorra um conjunto de condições favoráveis para que esta se realize de forma satisfatória. Neste processo, a primeira etapa na sequência de eventos que culminam com a retomada do crescimento do embrião (emissão da radícula) é a embebição (Bewley & Black, 1994). A absorção de água dá início a uma série de processos físicos, fisiológicos e
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bioquímicos no interior da semente viva, que, na ausência de outro fator limitante, resultam na emergência da plântula (Popinigis, 1985). As membranas das sementes podem ser alteradas pelo processo de embebição. Quando sementes secas são embebidas rapidamente, injúrias de membrana podem ocorrer, principalmente quando o conteúdo de água dessas sementes for inferior a 12%. Parrish & Leopold (1977) observaram que os primeiros cinco minutos de embebição são críticos para a entrada de água, podendo ocorrer danos ou injúrias às membranas, caso esta embebição seja muito rápida. O mecanismo de dano por embebição e/ou a baixa temperatura tem sido considerado como injúria física às membranas, bloqueio ao sistema metabólico e, ainda, como uma combinação de injúrias metabólica e física, possivelmente ao nível molecular (Pollock, 1969). A rápida embebição em sementes com baixo grau de umidade pode causar uma hidratação diferencial nas proteínas componentes dos tecidos, resultando em pressões e até quebras nos cotilédones. A combinação de baixas temperaturas e rápida hidratação das proteínas pode resultar em aumento na exsudação e, possivelmente, ruptura das estruturas das membranas envolvendo funções metabólicas C (Obendorf & Hobbs, 1970). Marcelo Oliveira Pereira, Engenheiro Agrônomo e Mestre em Produção e Tecnologia de Sementes - UFU
Plantas daninhas
Rápida necrose
Sintoma atípico apresentado por biótipo de buva com resistência múltipla no Brasil, quando submetido à aplicação de 2,4-D, pode ser um alerta no campo para diagnosticar mais rapidamente plantas resistentes ao herbicida. O diagnóstico precoce e a adoção de medidas preventivas são essenciais em um programa de manejo para evitar a seleção de novos biótipos resistentes
O
controle químico é crucial no manejo de plantas daninhas, possibilitando o controle eficiente e econômico. No entanto, a utilização repetida de herbicidas pertencentes ao mesmo mecanismo de ação aumenta a pressão de seleção, podendo levar ao surgimento de biótipos de plantas daninhas resistentes. A resistência pode ser conceituada como a capacidade adquirida por uma planta de sobreviver e se multiplicar após ser exposta a determinada dose de um herbicida que, em condições normais, controlaria os demais integrantes da população. Após diagnosticada, a resistência deve ser confirmada. Para isso, é necessário seguir alguns critérios preestabelecidos. A confirmação científica da resistência de plantas daninhas a herbicidas pode ser realizada por meio de ensaios de campo, casa de vegetação e laboratório, sendo o método mais comum a condução de curvas de dose-resposta. Atualmente no mundo, há 499 casos de resistência a herbicidas, incluindo 255 espécies, sendo 148 eudicotiledôneas e 107 monocotiledôneas. No Brasil, são registrados 50 casos de biótipos resistentes e, desses, 16 apresentam resistência múltipla a dois ou mais mecanismos de ação herbicida, sendo o caso mais alarmante o da buva resistente a cinco herbicidas de diferentes mecanismos de ação. Como a resistência de plantas daninhas é um processo evolutivo, é possível que nos primeiros anos não seja possível diagnosticá-la. Estima-se que o fenômeno
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Fotos Camila Pinho
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Figura 1 - Sintomas decorrentes da aplicação de 2,4-D em plantas de buva suscetíveis aos (A) 2 dias após a aplicação (DAA); e aos (B) 21 dias após a aplicação (DAA). Seropédica/RJ - 2019
se torna perceptível quando 20% da população de plantas possui a característica de resistência. Isso pode ocasionar consequências drásticas, como o aumento no banco de sementes e a proliferação do biótipo resistente, dificultando a solução do problema no campo. A demora no tempo de constatação da resistência e, consequentemente, na execução de medidas de controle consistentes, é o principal entrave no manejo de plantas daninhas resistentes, sendo necessário monitoramento constante das áreas para diagnóstico precoce.
BUVA
A buva (Conyza spp.) vem causando grandes problemas no sistema de produção agrícola, principalmente devido ao fato de sua boa adaptabi-
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lidade ao sistema de plantio direto. É uma planta daninha de folha larga, ciclo anual e disseminada globalmente. Possui propagação unicamente através de semente, produzindo em torno de 300 mil sementes por planta, que possuem estruturas que facilitam sua disseminação pelo vento. Por isso, as recomendações de manejo de áreas infestadas com buva têm por objetivo o rápido controle, de modo a evitar a produção de sementes e a disseminação nas áreas vizinhas. A emergência dessa planta daninha concentra-se na época do final do outono e início da primavera, que coincide com o período de pousio ou plantio de inverno - o que favorece o estabelecimento dessa planta em áreas produtivas, quando não há manejo na entressafra.
C
Atualmente, no Brasil, a buva é uma das principais plantas daninhas nos sistemas de produção, podendo reduzir a produtividade da soja em até 48%, dependendo da densidade de plantas por metro quadrado. O cenário é agravado com o aparecimento de biótipos de buva resistentes a herbicidas. Até o momento, foi relatada resistência única ao glifosato, clorimurom, paraquat e saflufenacil; resistência múltipla aos herbicidas glifosato+clorimurom e clorimurom+glifosato+paraquat; e resistência múltipla a cinco herbicidas de diferentes mecanismos de ação: glifosato, paraquat, diuron, saflufenacil e 2,4-D, em um biótipo de Assis Chateaubriand/ Paraná, elucidada pelo grupo de pesquisa Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente - PDPA/UFRRJ.
CONTROLE DE BUVA
Em áreas infestadas com buva resistente ao glifosato, o manejo é comumente feito com uso de herbicidas inibidores da acetolactato sintase (ALS) (cloransulam e clorimurom), mimetizadores de auxina (2,4-D, dicamba, triclopir e fluroxipir), herbicidas de contato, como saflufenacil (Protox), paraquat (FSI) e paraquat+diuron (PSI+PSII); dentre outros aplicados isoladamente ou em mistura/sequencial com glifosato. Dentre estes herbicidas, os mais utilizados são os auxínicos, com destaque para o 2,4-D, principalmente no manejo de dessecação de áreas pré-semeadura. Os herbicidas auxínicos, em plantas eudicotiledôneas sensíveis, induzem mudanças metabólicas e bioquímicas, levando-as à morte. Os sintomas são bem característicos a partir de um dia após a aplicação
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Figura 2- Sintomas decorrentes da aplicação de 2,4-D em plantas de buva resistentes: (A) 0,5 hora após a aplicação (HAA); (B) 2 horas após a aplicação (HAA); (C) 4 horas após a aplicação (HAA); (D) 8 horas após a aplicação (HAA). Seropédica/RJ - 2019
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Fotos Camila Pinho
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a aplicação do herbicida glifosato. O aparecimento de rápida necrose pode ser um alerta no campo, para diagnosticar mais rapidamente plantas resistentes ao 2,4-D.
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CARACTERIZAÇÃO DOS SINTOMAS
Figura 3 - (A) Planta com rápida necrose apenas nas folhas que receberam aplicação de 2,4-D (demais folhas cobertas no momento da aplicação) e (B) Folhas de buva com sintomas de necrose após aplicação do herbicida 2,4-D, demostrando que não há translocação do herbicida da folha tratada para as demais. Seropédica/RJ - 2019
(DAA), sendo observados epinastia das folhas (encarquilhamento) e retorcimento do caule e de ramos, devido ao aumento da plasticidade celular (Figura 1-A; Tabela 1). Em seguida, se dá o crescimento celular acelerado e desordenado, havendo obstrução do floema; dessa forma, a planta cessa o crescimento e ocorrem engrossamento do caule, clorose, necrose das folhas e, aos 21 DAA, morte das plantas (Figura 1-B). Os herbicidas auxínicos são altamente eficientes no controle de plantas daninhas de folhas largas, como a buva. Contudo, os casos de escape desta planta daninha, sob aplicação destes herbicidas, vêm preocupando
os produtores. Até o momento, já foram reportadas 39 espécies resistentes aos mimetizadores de auxinas e 23 resistentes ao 2,4-D no mundo, sendo, no Brasil, o relato do primeiro caso de Conyza sumatrensis resistente ao 2,4-D (PDPA/UFRRJ). Entretanto, o biótipo de buva com resistência múltipla diagnosticado no Brasil apresenta sintoma atípico, quando submetido à aplicação de 2,4-D, denominado de “rápida necrose”- característica potencialmente associada ao mecanismo de resistência de buva ao 2,4-D. Comportamento semelhante foi observado nos Estados Unidos em biótipo resistente de Ambrosia trifida, após receber
Os sintomas de necrose nas plantas de buva resistente podem ser facilmente observados logo após a aplicação do herbicida 2,4-D, assemelhando-se a uma resposta de hipersensibilidade da planta ao herbicida. Após 30 minutos da aplicação do 2,4-D, já são observados, nas folhas que receberam o herbicida, pontuações de coloração marrom, típicas de extravasamento celular, devido ao rompimento das membranas celulares. As necroses nas folhas tratadas com o herbicida evoluem rapidamente e após duas horas da aplicação já é possível observar a maioria das folhas com sintomas necróticos. A partir das quatro horas após a aplicação, as folhas estão totalmente necrosadas nas áreas que receberam o herbicida (Figura 2A-2D). Vale ressaltar que, apesar do 2,4-D ser um herbicida sistêmico, a necrose decorrente do extravasamento celular somente é observada
Gráfico 1 - Evolução dos sintomas em plantas de buva resistente e suscetível após a aplicação de 2,4-D. PDPA/UFRRJ - Seropédica/RJ - 2019
A buva (Conyza spp.) vem causando grandes problemas no sistema de produção agrícola
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Tabela 1 - Relação entre percentual de controle e sintomas observados em biótipos de buva resistente e suscetível sob aplicação do herbicida 2,4-D. PDPA/UFRRJ - Seropédica/RJ - 2019 Controle (%) 15 25 60-70 100
Descrição dos sintomas Resistente Suscetível Pontuações de coloração marrom Início da epinastia Sintomas necróticos Epinastia das folhas e retorcimento do caule e ramos Folhas estão totalmente necrosadas Engrossamento do caule, clorose, necrose das folhas Não aplicável* Morte das plantas
*As plantas resistentes demostraram restabelecimento do crescimento pela gema apical e brotações axilares, não apresentando controle de 100%.
nas folhas que receberam a aplicação do herbicida, sugerindo que não há translocação entre a folha que recebeu aplicação para as demais folhas da planta (Figura 3A-3B). As folhas tratadas secam, enquanto que não são observados sintomas necróticos nos primórdios foliares, o que permite o restabelecimento do crescimento da planta pela gema apical e brotações axilares a partir dos 21 dias após a aplicação (Figura 4). O diagnóstico precoce da resistência e a adoção de medidas preventivas que têm por objetivo evitar a seleção de novos biótipos resistentes são medidas essenciais que devem estar contidas em um programa de manejo. Diante de um caso de rápida necrose em plantas de buva após aplicação do herbicida 2,4-D, recomenda-se ao produtor comunicar a engenheiro agrônomo ou entidade de pesquisa habilitada para comprovação da resistência. Pesquisas estão sendo realizadas pelo grupo PDPA-UFRRJ, a fim de monitorar a existência de resistência cruzada a outros herbicidas auxínicos, no entanto, até o presente momento, apenas foi observada rápida necrose em buva para o herbicida 2,4-D.
Jéssica Ferreira Lourenço Leal, Amanda dos Santos Souza, Ana Claudia Langaro, Gabriella Francisco Pereira B. de Oliveira, Junior Borella, Aroldo Ferreira Lopes Machado e Camila Ferreira de Pinho, Grupo de Pesquisa Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente UFRRJ
Figura 4 - Restabelecimento do crescimento pela gema apical e brotações axilares após a utilização de 2,4-D em plantas de buva resistente aos 48 dias após aplicação (DAA)
RECOMENDAÇÕES DE MANEJO
• Utilização de herbicidas com diferentes mecanismos de ação • Realizar aplicações em mistura ou sequencial • Rotação de culturas • Utilizar cobertura de inverno • Rotação de métodos de controle • Utilizar sementes certificadas • Evitar que indivíduos resistentes C produzam sementes
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Doenças
Ameaça crescente Nedio Tormen - Phytus Club
A incidência da mancha-alvo tem aumentado nas últimas safras, por conta de fatores como o uso de cultivares suscetíveis e grande número de culturas hospedeiras. O manejo desta doença agressiva envolve uma série de medidas integradas, como a utilização de material genético resistente/ tolerante, sementes tratadas com fungicidas, rotação/sucessão de culturas com espécies de gramíneas e controle químico com fungicidas
A
mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, está entre as principais doenças que afetam o sistema de produção na região dos cerrados, sobretudo as culturas de soja e algodão. A incidência dessa doença tem aumentado nas últimas safras nas regiões produtoras de soja, em razão da utilização de cultivares suscetíveis e da menor sensibilidade/resistência do fungo
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aos fungicidas comumente utilizados nesta cultura. Outro fator que favoreceu esse aumento é o destacado número de culturas hospedeiras do fungo presentes no sistema de produção, o que confere ao patógeno grande habilidade de adaptação e permanência no sistema de cultivo, especialmente sob condições ideais de umidade e temperatura. Culturas de importância econômica, como o algodão e
Fotos Ivan Pedro de Araújo Junior
Figura 1 - Sintomas de mancha-alvo em soja, crotalária spectabilis e algodão. Ensaio TMG/Fundação MT, safra 2016/17
espécies utilizadas como coberturas, como, por exemplo, as crotalárias (spectabilis, breviflora, ochroleuca) e o feijão guandu, se destacam como hospedeiros do fungo, assim como diversas espécies de plantas daninhas. Além da sobrevivência em restos culturais (saprófita), o patógeno pode se multiplicar em sementes infectadas e em raízes de plantas. A Figura 1 mostra a sintomatologia da doença nas culturas de soja, crotalária spectabilis e algodão, caracterizando a patogenicidade cruzada que o fungo apresenta (ensaio TMG/Fundação MT, safra 2016/17). Apesar de o benefício agronômico propiciado pelas culturas de cobertura no sistema de produção (como a ciclagem de nutrientes, a incorporação de matéria orgânica e o manejo de fitonematoides), quando em processo de decomposição atuam como importantes hospedeiros do fungo, mantendo as fontes de inóculo ativas durante o ano todo. Nesse contexto, é de suma importância que no manejo da doença se leve em consideração as culturas utilizadas no sistema, bem como o histórico das culturas antecessoras dentro de cada talhão da fazenda, para o correto posicionamento de cultivares e programas de fungicidas. As perdas ocasionadas pela mancha-alvo na cultura da soja oscilam entre 15% e 35% em cultivares suscetíveis (ensaios Fundação MT, dados não publicados). Na literatura, existem casos relatados de até 40% em cultivares com suscetibilidade a
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este patógeno (Molina et al., 2019). Já os ensaios em rede conduzidos em diferentes regiões do Brasil, mostram uma redução de produtividade variando entre 10% e 20% (média de seis safras). Cultivares de soja com resistência genética a esta doença mantêm o potencial genético de produtividade, ao passo que cultivares suscetíveis em condições de elevada severidade da doença sofrem desfolha precoce no campo, com impacto direto na produtividade. A Figura 2 mostra a desfolha ocasionada por mancha-alvo em cultivar de soja suscetível. Já a Tabela 1 mostra um resumo das médias de severidade (%) de mancha-alvo em quatro cultivares de soja, com diferentes níveis de tolerância/resistência genética, cultivadas após diferentes culturas de coberturas na entressafra (Fundação MT, safra 2017/18). Notam-se diferenças significativas de severidade (%) da doença nas parcelas testemunhas (sem controle químico), em função das culturas antecessoras, sendo que as espécies de crotalárias, o feijão guandu e o milho se destacam por propiciarem um ambiente com maior potencial de inóculo. O manejo da mancha-alvo envolve uma série de medidas integradas, como utilização de cultivares resistentes/tolerantes, uso de sementes tratadas com fungicidas, rotação/ sucessão de culturas com espécies de gramíneas e controle químico com fungicidas. Este último está sob ameaça do fungo, em razão das constantes mutações que conferem a ele
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menor sensibilidade aos fungicidas utilizados em seu controle, o que na prática resulta em “falhas de controle” no campo e aumento do custo de produção. Existem na literatura casos relatados de resistência ou perda de sensibilidade do fungo Corpynespora cassiicola aos fungicidas do grupo metil benzimidazol carbamato (MBC), às estrobilurinas (mutação G143 A no citocromo b) e, em estudo mais recente (FRAC, 2018) aos fungicidas inibidores da succinato desidrogenase (ISDH), ou seja, carboxamidas, para populações coletadas na safra 2017/2018. A caracterização genética dessas populações detectou a presença de mutações nos sítios-alvo B-H278Y e C-N75S (FRAC, comunicado 2018). Nesse contexto, é de suma importância adotar estratégias de manejo para prolongar a vida útil das moléculas de ação sítio-específica, tendo em vista as poucas opções de produtos disponíveis no mercado. Uma destas estratégias, é a adoção de fungicidas de ação multissítio no manejo associado aos grupos químicos supracitados. Os fungicidas multissítios, também denominados protetores, representados principalmente pelos ditiocarbamatos (exemplo: mancozeb), isoftanitrilas (exemplo: clorotalonil) e cúpricos (exemplo: oxicloreto de cobre), assumem papel importante no manejo do complexo de doenças, com o benefício de controle e incremento produtivo, além de auxiliar no manejo de resistência. Por serem
Tabela 1 - Severidade (%) de mancha-alvo em diferentes cultivares de soja semeadas após diversos manejos de entressafra. Ensaio Fundação MT, safra 2017/18. Cobertura
TMG 1180 RR
Soja C. spectabilis C. ochroleuca C. breviflora Feijão guandu Algodão Pousio Milho Milheto Brachiaria
1 2 3 3 3 2 2 3 2 3
TMG 2181IPRO Msoy 7739 IPRO Msoy 8372 IPRO Severidade (%) 10 2 3 35 30 2 40 25 2 40 25 3 35 20 3 23 15 3 17 10 3 30 35 3 25 20 3 25 15 3
produtos que atuam em várias rotas metabólicas do fungo ao mesmo tempo, a probabilidade do patógeno adquirir resistência é muito baixa, comparado aos produtos de ação sítio-específica. Ensaios conduzidos pela Fundação MT, em três safras no Mato Grosso, evidenciam a importância destes ativos no manejo de doenças na cultura da soja, quer seja para a ferrugem asiática ou para o complexo de manchas (mancha-alvo, mancha parda e crestamento de cercospora). Fica evidente a necessidade de adoção destes produtos nos programas de controle em associação aos demais fungicidas sistêmicos, com o objetivo de aumentar a eficiência de controle e assegurar maiores potenciais produtivos das cultivares de soja. O manejo de doenças como a ferrugem asiática e a mancha-alvo em soja está cada vez mais complexo e muito influenciado por uma série de variáveis, como clima, época de semeadura, sistema de cultivo, sucessão/rotação de cul-
Figura 2 - Desfolha ocasionada por mancha-alvo em cultivar de soja suscetível
turas, cultivares com resistência genética variável, diferenças de raças e isolados dos fungos, tecnologia de aplicação de defensivos limitada e eficiência variável dos fungicidas. Nesse contexto, torna-se fundamental a adoção de estratégias que levem em consideração todas as ferramentas de manejo (químico, cultural, biológico), de forma integrada, respeitando os pilares da sustentabilidade e das boas práticas agrícolas. Concomitantemente, são fundamentais um esforço conjunto e uma conscientização sobre o uso correto das tecnologias e a necessidade de sua preservação, sejam genéticas ou químicas. Nessa agricultura pujante e dinâmica, o sucesso está baseado em informação, capricho nas operações e manejo sustentável do sistema de produção. C
Ivan Pedro de Araújo Júnior e Alana Tomen, Fundação MT
Soja
Mofo incessante Velho conhecido dos produtores de soja, o mofo-branco não dá trégua e a cada safra volta a provocar prejuízos. Com uma gama grande de hospedeiros, que inclui até plantas daninhas, trata-se de uma doença de difícil controle, que exige a integração de métodos biológicos, culturais, físicos, genéticos e químicos para a realização do manejo adequado Mônica Debortoli - Phytus Club
A
monocultura da soja, inevitável pelo atual sistema produtivo, ocasiona o incremento de lavouras com epidemias de doenças foliares, de haste e raiz. Destas, o mofo-branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Barry, está se tornando protagonista no Sul do país. O primeiro relato de mofo-branco em soja cultivada no Brasil ocorreu na década de 1970, no estado do Paraná. Atualmente, a doença encontra-se disseminada em áreas do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Estima-se que mais de 20% das lavouras brasileiras de soja estejam infestadas com o fungo S. sclerotiorum. Na região Nordeste gaúcha, a estimativa é de 256 mil hectares com a presença do
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patógeno. Os primeiros sintomas do mofo-branco surgem na base das folhas e nas ramificações da haste. Os sinais da presença do patógeno surgem como uma massa de micélio branco e cotonoso (lembrando o algodão) em hastes, ramos e vagens. As plantas atacadas murcham, apresentam escurecimento de ramos, pecíolos e folhas. Com a evolução da doença, podem surgir estruturas negras, rígidas e de forma variável, chamadas de escleródios. Os escleródios formados caem aleatoriamente no solo e, conforme ocorre a senescência da planta, uma parte é transportada e redistribuída na lavoura por ocasião da colheita e outra acompanha as sementes. Estas estruturas permane-
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cem viáveis por vários anos. As sementes podem ser infectadas pelo fungo e sua importância está relacionada à introdução da doença em áreas livres do mofo-branco. Os lotes de sementes infectadas normalmente apresentam baixa incidência de S. sclerotiorum. No entanto, não é recomendada a semeadura de lotes onde o fungo foi detectado. Caso seja necessário, utilizar fungicidas específicos em tratamento de sementes. As condições ideais para o desenvolvimento do fungo estão associadas a chuvas e longos períodos de molhamento do solo e da planta. Temperaturas entre 18ºC e 23ºC são as ideais para o desenvolvimento do fungo. A doença apresenta maior intensidade em áreas com mais de
José de Alencar Lemos Vieira Júnior e Otávio Ajala Fiorentin, Unoesc-SC Fabiano Paganella, Plantec/RS
1) Rotação com culturas não hospedeiras, principalmente o milho (verão) 2) Culturas de inverno que não sejam hospedeiras 3) Palhada em pré-semeadura da soja, preferencialmente de gramíneas 4) Cultivares de ciclo precoce, com período de florescimento curto e arquitetura piramidal 5) Escalonar a semeadura 6) Sementes sadias ou tratamento de sementes infectadas com fungicidas específicos 7) Evitar excesso de população de plantas 8) Micro-organismos para parasitismo de escleródios 9) Fungicidas para proteção da flor 10) Limpeza de maquinários após utilização em lavouras com histórico da doença
Fabiano Paganella
600m de altitude, por apresentarem com frequência estas condições ambientais. Os principais cultivos hospedeiros do fungo são o feijão (Phaseolus vulgaris L.), a canola (Brassica napus L. e Brassica rapa L.), o nabo (Raphanus spp.), o trigo mourisco (Fagopyrum esculentum), o girassol (Helianthus annuus L.), o tomate (Solanum lycopersicum L.) e a ervilha (Pisum sativum L.). Plantas daninhas também podem ser infectadas pelo patógeno, tais como: picão (Bidens spp.), caruru (Amaranthus spp.) e vassoura (Baccharis spp.). A dificuldade para controlar a doença resulta na necessidade da integração dos métodos de controle biológico, cultural, físico, genético e químico. Agentes de biocontrole, micro-organismos antagonistas, hiperparasitas e fungicidas microbiológicos são termos atualmente empregados aos micro-organismos utilizados para parasitar escleródios e, consequentemente, reduzir a viabilidade destas estruturas de resistências. Entre estes micro-organismos, destaca-se no Brasil o emprego de Trichoderma spp. e Bacilluss pp. O parasitismo de escleródios e o controle da doença apresentam grande variabilidade com este método de controle. A rotação de culturas, principalmente com milho, reduz a incidência do mofo-branco. O cultivo de Brachiaria spp. na entressafra produz palha capaz de reduzir a intensidade da doença, tanto pela barreira física à liberação dos esporos, como por diminuir indiretamente a viabilidade dos escleródios (pois proporciona microclima favorável ao parasitismo de escleródios por micro-organismos). A variabilidade de cultivares de soja quanto a sua reação ao mofo-branco já foi relatada na literatura. Cultivares resistentes não existem no Brasil, mas sim diferenças de susceptibilidades. No entanto, os resultados nem sempre são consistentes. A arquitetura, o ciclo e o período de floração interferem na severidade da doença, devendo então ser considerados na hora da escolha do cultivar. O período crítico da doença ocorre durante o florescimento das plantas em associação a molhamento foliar contínuo, seja por irrigação ou chuva. Portanto, o escalonamento da semeadura reduz a necessidade de aplicação em área total, pois nem todos os talhões estarão com floração. Prática que também facilita a logística com os pulverizadores. A densidade de escleródios depositados na superfície do solo pode interferir na intensidade da doença e no controle químico. A aplicação nos órgãos aéreos deve objetivar a deposição de fungicida sobre a flor em pré-infecção do fungo. Os ensaios cooperativos de controle do mofo-branco demonstram controles superiores com o uso de fluazinam, procimiC dona e a mistura de dimoxistrobina com boscalida.
As dez estratégias recomendadas para manejo integrado do mofo-branco
Mofo em final de ciclo de soja em áreas tratadas
A soja
A
soja (Glycine max (L.) Merrill) é a leguminosa de maior importância econômica e alimentícia do mundo. Aproximadamente 80% de toda a soja produzida são oriundos de três países: Argentina, Brasil e Estados Unidos. No Brasil, a produção de grãos de soja na safra 2018/19 deverá chegar a 113 mil toneladas, aproximadamente metade do total de grãos produzidos no país. Desta forma, o cultivo da soja é a principal atividade econômica desenvolvida por produtores brasileiros de grãos. A rentabilidade e a liquidez da soja têm resultado em aumento da área cultivada. Esta tendência é explicada por aberturas de áreas novas, mas também pela redução no cultivo de outras espécies, principalmente o milho. Atualmente, a soja representa 77% da área cultivada no verão gaúcho. www.revistacultivar.com.br • Maio 2019
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Capa
Distribuição intraplanta Danos causados por percevejo-marrom em três cultivares de soja se mostraram mais concentrados nos estratos médio e inferior das plantas. Esses resultados podem auxiliar na construção de planos de Manejo Integrado de Pragas com maior eficiência, através da definição de táticas de controle melhor dirigidas ao alvo
T
odos os anos, a cultura da soja é submetida, desde o seu plantio, a diversos fatores limitantes, tais como a qualidade da semeadura, o clima, a presença de plantas daninhas, insetos-praga e doenças. Dentro deste contexto, uma ampla gama de insetos nocivos ocorre durante o desenvolvimento da soja. Entre os principais, encontram-se os percevejos. Os percevejos, através do seu comportamento alimentar, causam redução significativa na produtividade. Por isso, figuram entre os principais problemas entomológicos enfrentados pela soja atualmente. Perdas por percevejos podem ser contabilizadas na colheita por grãos chochos, murchos e/ou sementes com menor qualidade fisiológica. Trabalhos de pesquisa indicam o período reprodutivo como fase crítica destas espécies para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Contudo, verifica-se a presença destes insetos desde as fases iniciais da cultura, onde se reproduzem continuamente, gerando alta densidade populacional durante a fase reprodutiva. Dentro do complexo de percevejos que atacam a cultura da soja, a principal espécie é Euschistus heros, conhecida popularmente como percevejo-marrom da soja. Possui ampla distribuição no País, com adaptação a diferentes climas e plantas hospedeiras alternativas, o que garante sua sobrevivência durante períodos desfavoráveis (entressafra). Métodos de controle para este inseto têm sido empregados em sua maioria com uso de produtos químicos. Contudo, diferentes estudos já relatam resistência adquirida a alguns princípios ativos disponíveis no mercado, muito em função da subdosagem e da má aplicação dos inseticidas. Falhas no controle destes organismos nocivos devem-se principalmente à falta de entendimento do seu comportamento. Estudos focados na variabilidade espacial em áreas de cultivo observam um comportamento relacionado à bordadura da área, em uma
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Fotos Laboratório de Entomologia da Universidade de Cruz Alta
relação direta com a presença de plantas hospedeiras durante a entressafra. Apesar do conhecimento do fluxo populacional dos percevejos pentatomídeos, ainda assim ocorrem falhas no seu controle, devido à falta de aplicações efetivas dos inseticidas disponíveis no mercado Para que se obtenha um controle otimizado, é necessário saber o local em que o organismo-alvo está agindo. Assim, torna-se possível uma pulverização direcionada com uso da tecnologia de aplicação para proteger o potencial produtivo da cultura.
EXPERIMENTO
Com o objetivo de avaliar a distribuição espacial intraplanta dos danos do percevejo-marrom em sementes de soja, um trabalho foi conduzido no município de Cruz Alta (Rio Grande do Sul), na Área Experimental da Universidade de Cruz Alta (Unicruz). O clima da área de estudo, de acordo com Koppen, é do tipo Cfa com temperatura média no mês mais frio, inferior a 18°C (mesotérmico). Já a temperatura média no mês mais quente fica acima de 22°C, com verões quentes, geadas pouco frequentes e tendência de concentração das chuvas nos meses de verão. Contudo, sem estação seca definida. Durante as safras 2016/2017 e 2017/2018, em uma área de três hectares foram estabelecidas três subáreas de um hectare. Em cada subárea, foi instalada uma cultivar de soja diferente (BMX Lança, BMX Garra e BMX Ativa). Cada cultivar foi conduzida de acordo com as recomendações técnicas para a cultura da soja, exceto para aplicações de inseticidas para o controle de percevejos pentatomídeos presentes, em que não houve aplicação. Durante o experimento, foi identificada infestação natural da espécie Euschistus heros F. (Hemiptera: Pentatomidae) em uma densidade populacional de 6,18 percevejos/m². Para cada cultivar foram colhidas quatro amostras independentes de um metro linear (correspondente a 12 plantas) por safra, totalizando ao final do experimento 96 plantas avaliadas por cultivar. Para quantificar os danos de percevejos nos diferentes estratos da planta de soja, ao final do ciclo de cada cultivar, cada planta foi subdivida em três partes iguais (estratos inferior, médio, superior). Cada estrato por cultivar foi submetido à trilha, do montante de sementes obtidas. Foram amostradas de forma aleatória 50 sementes/estrato/cultivar. Cada semente foi considerada uma unidade experimental, sendo os dados organizados em delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 3 x 3 (três estratos x três cultivares). Os dados obtidos foram submetidos à análise de homogeneidade das variâncias e normalidade dos dados pelos testes de Bartlett e Anderson-Darling, respectivamente. Os dados que não atenderam os pressupostos dos testes foram transformados pela função. Após normalizados, foram submetidos à análise de variância, e as médias do número de sementes com dano discriminadas pelo teste de Tukey. Todas as análises foram realizadas com auxílio do software Microsoft Excel ao nível de 1% de probabilidade de erro. De maneira geral, verificou-se maior número de sementes com danos de percevejos nos estratos inferiores das três cultivares avaliadas. Entre as cultivares, pode-se observar para a primeira safra (2016/2017) maior número de sementes com dano para
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Tabela 1 - Estatísticas descritivas de sementes com danos de percevejos para diferentes cultivares em diferentes estratos de planta. Área Experimental da Universidade de Cruz Alta, safras 2016/2017 e 2017/2018 2016/2017 Estatísticas*
Lança
Garra
Soma Mínimo Máximo Média Desvio padrão CV
52,00 8,00 20,00 13,00a 5,29 41%
30,00 5,00 10,00 7,50b 2,08 28%
Soma Mínimo Máximo Média Desvio padrão CV
66,00 14,00 18,00 16,50b 1,91 12%
73,00 15,00 22,00 18,25b 3,30 18%
Soma Mínimo Máximo Média Desvio padrão CV
69,00 13,00 24,00 17,25c 4,79 28%
107,00 14,00 35,00 26,75b 9,29 35%
Figura 2 - Porcentagem da amostra de sementes danificadas em cada estrato das cultivares avaliadas. Área Experimental da Universidade de Cruz Alta, safras 2016/2017 e 2017/2018
2017/2018 Ativa Superior 35,00 5,00 15,00 8,75b 4,35 50% Médio 91,00 14,00 30,00 22,75a 6,60 29% Inferior 120,00 23,00 36,00 30,00a 5,72 19%
Lança
Garra
Ativa
51,00 11,00 15,00 12,75b 1,71 13%
43,00 8,00 12,00 10,75b 1,89 18%
76,00 16,00 21,00 19,00a 2,16 11%
86,00 18,00 25,00 21,50b 2,89 13%
87,00 20,00 23,00 21,75b 1,26 6%
96,00 20,00 32,00 24,00a 5,48 23%
92,00 19,00 27,00 23,00b 3,37 15%
99,00 19,00 29,00 24,75a 4,19 17%
110,00 27,00 28,00 27,50a 0,58 2%
* Médias seguidas por letras diferentes na linha, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0.01). CV: Coeficiente de variação.
Dentro do complexo de percevejos que atacam a cultura da soja, a principal espécie é E. heros
cultivar BMX Lança. Contudo, para os estratos médio e inferior destacou-se a cultivar com maior número de sementes atacadas a BMX Ativa, sendo a cultivar BMX Garra a que apresentou menor número médio de sementes danificadas. Para a segunda safra (2017/2018), a cultivar BMX Ativa apresentou-se com maior número de sementes danificadas nos três estratos avaliados (superior, médio e inferior) (Tabela 1). Ao final do experimento, foi possível determinar a média do número de sementes danificadas para cada uma das três cultivares avaliadas, em cada estrato da planta. Desta maneira, foi possível identificar que para as três cultivares
avaliadas, os danos por percevejos concentraram-se no estrato médio e inferior das plantas durante as duas safras em que foi realizada a avaliação (Figura 1). Esses resultados podem ser atribuídos às características nutricionais da planta de soja em cada estrato avaliado. Lucini e Panizzi (2018), avaliando o comportamento alimentar de Dichelops melacanthus (Dallas) em plântulas de milho (Zea mays L.) identificaram que este percevejo se alimenta de cabeça para baixo, possivelmente em função da pressão de seiva que sobe para a planta. Isso indica seleção pelo inseto em função das características da planta, corroborando o status
Figura 1 - Número médio de sementes com dano de percevejos em diferentes estratos de planta. Área Experimental da Universidade de Cruz Alta, safras 2016/2017 e 2017/2018. *Letras diferentes diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,01) entre os estratos da planta
Figura 3 - Número médio de sementes danificadas por cultivar de soja avaliada. Letras diferentes divergem significativamente ao nível de p<0.01 pelo teste de Tukey. Área Experimental da Universidade de Cruz Alta, safras 2016/2017 e 2017/2018
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Fotos Laboratório de Entomologia da Universidade de Cruz Alta
de que percevejos apresentam poder de escolha entre diferentes estratos de plantas para se alimentarem. Entre os estratos de plantas para as três cultivares avaliadas, observou-se maior concentração dos danos ocasionados por percevejos no estrato inferior das plantas, sendo para a cultivar BMX Lança correspondente a mais de 55% da amostra obtida neste estrato, quando comparadas aos terços médio (entre 45% e 50%) e inferior (entre 25% e 30%). Mesmo padrão pode ser observado para as demais cultivares, ressaltando o comportamento alimentar destes insetos estar associado em sua maior parte nos terços médio e inferior para cultura da soja (Figura 2). Estes resultados diferiram dos demais encontrados na literatura. Avaliando as cultivares BR 37 e BRS 134, Corrêa-Ferreira (2005) encontrou maior severidade dos danos causados por percevejos na parte superior das plantas. Isso está relacionado às características intrínsecas da cultivar submetida ao ataque de percevejos, uma vez que podem diferir no ciclo, no tamanho e em outras características agronômicas. De maneira geral, a cultivar BMX Ativa apresentou maior número de sementes danificadas por percevejos, sendo que para as cultivares BMX Lança e BMX Garra não houve diferença estatística (Figura 3). Diferentes cultivares de soja podem selecionar espécies de insetos mais adaptadas através de suas característi-
Engel e Pasini avaliaram como o percevejomarrom se distribui nas plantas de soja
cas morfofisiológicas. Assim, através dos resultados obtidos, especula-se que os percevejos tiveram maior sucesso quando se alimentaram da cultivar BMX Ativa em relação às demais cultivares, o que explicaria o maior número de sementes danificadas para esta cultivar. Apesar de ocorrerem nos três estratos das plantas avaliadas, observou-se maior concentração dos danos nos estratos médio e inferior para as três cultivares avaliadas. Esses resultados podem auxiliar na construção de planos de Manejo Integrado de Pragas com maior eficiência, adotando-se metodologias de
amostragem que levem em consideração a variabilidade espacial intraplanta que os percevejos apresentam. Uma vez que seus danos se concentram nos terços médio e inferior, táticas de controle com foco nestas áreas da planta podem auxiliar na supressão populacional destes organismos de maneira mais eficiente. C
Eduardo Engel, Unicruz Mauricio Paulo Batistella Pasini, Unicruz e Intagro Pesquisa e Desenvolvimento
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Milho
Expansão D produtiva A cultura do milho safrinha se expandiu para a maioria das regiões produtoras de grãos no Brasil, graças ao aperfeiçoamento do sistema de produção da soja, que antecipou a liberação da área para sua implantação. A produtividade também aumentou, devido à semeadura mais cedo, ao emprego de cultivares melhor adaptadas e à proteção do potencial produtivo com tecnologias apropriadas de manejo de pragas, doenças e plantas daninhas 26
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enomina-se milho safrinha, o milho de sequeiro semeado de janeiro a abril, em sucessão à cultura de verão, quase sempre a soja. Apesar de ser um termo pejorativo, é consagrado pelo uso e caracteriza um sistema peculiar, excluindo parte da segunda safra, quando se trata de única cultura anual (exemplos: quase totalidade da Bahia e de Sergipe) ou área irrigada (parte de Minas Gerais, Goiás, e Distrito Federal). Depois da ocupação dos solos de cerrados do Brasil Central e da implantação do sistema de plantio direto, o amplo cultivo na mesma área de pelo menos duas safras por ano, sob sequeiro, é uma das principais inovações da produção de grãos no Brasil. A modernização do cultivo da soja contribuiu para que, a partir de 2012, a área e a produção de milho safrinha fos-
Aildson Duarte
mas de melhoramento atendessem à forte demanda do mercado, desenvolvendo cultivares de soja mais precoces e adaptadas às semeaduras adiantadas, e os agricultores antecipassem a semeadura da soja, sem a percepção de prejuízo econômico por perda de potencial produtivo. Consequentemente, se viabilizou a antecipação da semeadura do milho safrinha.
A EXPANSÃO PARA REGIÕES INIMAGINÁVEIS
sem maiores do que a de milho verão (Figura 1). O aparecimento da ferrugem asiática foi decisivo para que os progra-
O milho safrinha teve seu primeiro ciclo de expansão na década de 1990, nos estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, em substituição ao trigo. Depois, evoluiu para o Centro-Oeste e, mais recentemente, tem sido cultivado em regiões específicas de alguns estados do Norte e Nordeste brasileiro (Figura 2). Porém, devido à rapidez da expansão, parte da nova fronteira ainda não é registada nos levantamentos oficiais do milho safrinha pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Do ponto de vista agronômico, era inimaginável que esta modalidade de cultivo seria praticada desde o estado do Pará (Figura 3), onde as chuvas dificultam o sistema de sucessão com a soja, até Santa Catarina (Figura 4), com geadas frequentes no inverno. No Pará, o milho safrinha é cultivado
principalmente na região de Paragominas, em área de expansão da soja sobre pastagens degradadas, em baixas altitudes (130m a 300m) e com muita chuva durante o ano (1.800mm), em solos argilosos e com fertilidade muito variável. A soja é semeada principalmente em dezembro, quando as chuvas se estabilizam, e o milho safrinha em abril. Estima-se que menos de 5% área de soja (cerca de 300 mil hectares) é cultivada com milho safrinha (5 mil hectares a 10 mil hectares). Em Santa Catarina, aproximadamente 20 mil hectares de milho safrinha são cultivados na região Oeste, em solos com altos níveis de fertilidade construída, altitudes próximas de 500 metros, sem deficiência hídrica e com geadas a partir de maio (severas em junho). O milho safrinha é implantado em janeiro, depois da soja superprecoce, semeada em setembro, em substituição ao milho verão. O sucesso do milho safrinha se deve, em grande parte, aos ajustes realizados na cultura da soja. Isso foi possível graças à modernização do sistema de produção da soja, antecipando a sua semeadura para o início das chuvas, que é muito variável no país. Comparando as diferentes regiões produtoras, verifica-se que o Sudoeste e o Centro-Oeste do Paraná são as regiões que têm maior proporção da área de milho safrinha semeado em janeiro até o primeiro decêndio
Figura 1 - Evolução da área total e de modalidades de cultivo do milho (Fonte: Conab) Figura 2 - Evolução da área de milho safrinha por estado no Brasil (Fonte: adaptado do Banco de Dados da Conab)
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Figura 3 - Região de produção de milho safrinha entre Paragominas e Rondon do Pará, Figura 4 - Região de produção de milho safrinha no Oeste de Santa Catarina, próxima no estado do Pará ao Paraná, tomando como referência Francisco Beltrão
de fevereiro (Figura 5). Por outro lado, as regiões Sudoeste de São Paulo e Norte do Paraná têm o milho implantando mais tardiamente, com mais de 40% da área nos dois primeiros decêndios de março. A produtividade média nacional do milho safrinha aumentou de 2t/ha para 5t/ha nos últimos 25 anos. A melhoria no manejo da adubação se destaca entre as práticas que aumentam o potencial produtivo do milho safrinha, juntamente com os benefícios da antecipação de semeadura e do uso de híbridos mais adaptados. Nos estados de São Paulo e Paraná e em parte do Mato Grosso do Sul, onde se emprega a adubação no sulco de semeadura com fórmulas NPK concentradas em nitrogênio (exemplo: 12-15-15), aumentou a complementação deste nutriente em cobertura. Nos chapadões do Brasil Central (Norte do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás) e estados ao Norte (Rondônia, Mapito e Pará), onde predomina a adubação a lanço apenas em cobertura, depois da emergência das plantas, esta tem sido antecipada para o momento da semeadura, o que é denominado adubação de semeadura a lanço, complementada ou não com uma aplicação de nitrogênio a lanço até o estádio de cinco folhas. Ressalte-se que nessa região a adubação no sulco é utilizada preferencialmente nas áreas de ocupação mais recentes e/ou em solos mais arenosos.
PROTEÇÃO DO POTENCIAL PRODUTIVO
Com o aumento da área do milho safrinha e do cultivo contínuo da sucessão com soja, sem rotação de culturas, agravou-se a ocorrência dos problemas fitossanitários. A melhoria do potencial produtivo também contribuiu para aumentar a necessidade de proteção das plantas da matocompetição e do ataque de pragas e doenças. As plantas daninhas com alto nível de infestação e distribuição generalizada nas lavouras de milho safrinha do Brasil são a milhã ou campim-colchão (Digitaria horizontalis), o capim-amargoso (Digita-
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ria insularis), a trapoeraba (Commelina spp) e o capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), seguido pela erva-quente (Spemarcoce latifolia), no Centro-Oeste e no Norte, e picão-preto (Bidens spp) e resteva de soja (Glycine max) em São Paulo e Paraná (Figura 6). O controle químico é feito sempre em pós-emergência, quase sempre com uma aplicação de Atrazine (2,5L/ha a 3L/ha) em associação com glifosato (2L/ha a 3 L/ha) ou herbicidas eficientes para o controle de folha estreita: nicossulfuron (Acsent - 25g/ha a 30g/ ha, Sanson- 0,3L/ha a 0,5L/ha), tebotrione (Soberan- 0,25L/ha) e mesotrione (Callisto- 0,25L/ha). O uso na mesma área de cultivares de soja e milho safrinha transgênicos resistentes ao glifosato tem aumentado a proporção de plantas resteva de milho, prolongando a ponte verde para pragas e patógenos desta gramínea e elevando
Figura 5 - Proporção de lavouras semeadas por decêndio, de janeiro a março, por região produtora nos estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso e Mapito (Maranhão Piauí e Tocantins), média 2016 e 2017. Fonte: adaptado de Ceccon et al., 2017 e Giachini et al. (2017)
o custo do manejo das plantas daninhas na soja. A ocorrência e a severidade de doenças foliares apresentam grande variabilidade entre regiões e anos agrícolas, por dependerem de ambiente favorável, que está diretamente relacionado ao clima e à época de semeadura. O uso de cultivares resistentes é a principal estratégia de manejo, complementando com a aplicação de fungicidas. De maneira geral, é realizada pelo menos uma aplicação em todas as regiões, e duas a três aplicações em ambientes muito favoráveis e/ou híbridos suscetíveis. A ausência de rotação de culturas é regra geral e, em algumas regiões onde se pratica a irrigação, o milho é cultivado o ano todo para produção de sementes e/ou comercialização de espigas verdes. Ocorrem de maneira generalizada a ferrugem polissora (Puccinia polysora), a mancha branca (Phaeosphaeria maydis), a mancha de turcicum (Exserohilum turcicum), a mancha de cercospora (Cercospora zeae-maydis) e, mais recentemente, os enfezamentos e as viroses. Já a mancha de diplodia (Stenocarpella macrospora) e a mancha de bipolaris (Bipolares maydis) ocorrem mais frequentemente em Goiás, Mato Grosso, com destaque para a mancha de diplodia também no Mapito (Figura 7). A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e os percevejos (Dichelops spp.) são as pragas mais frequentes, seguidas pelas lagartas-da-espiga (Helicoverpa zea e S. frugiperda) e o pulgão do milho (Rhopalosiphum maidis) (Figura 8). Os nematoides, especialmente o Pratylenchus brachyurus, são um dos principais problemas nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mapito. Recentemente, devido ao surto de enfezamento, a cigarrinha do milho também se tornou praga-chave do milho safrinha em São Paulo e Goiás. O advento e o amplo uso dos transgênicos trouxeram grandes benefícios no manejo das lagarta-do-cartucho e das lagartas-da-espiga. Mas, devido à quebra da resistência à lagarta-do-cartucho da maioria das tecnologias transgênicas, têm sido realizadas duas a quatro aplicações de inseticidas para lagartas e percevejos. Quase a totalidade das sementes é tratada com inseticidas, com vistas principalmente ao controle das pragas de solo e de percevejos da parte aérea. Conclui-se que a cultura do milho safrinha se expandiu para a maioria das regiões produtoras de grãos no Brasil, desde o paralelo 3 até o 27, graças ao aperfeiçoamento do sistema de produção da soja, que antecipou a liberação da área para sua implantação. A produtividade do milho safrinha também aumentou, devido principalmente à antecipação da semeadura, ao emprego de cultivares mais adaptadas, ao aumento da adubação e às melhorias nas práticas culturais. Ao mesmo tempo, intensificou-se a proteção do potencial produtivo com tecnologias apropriadas de manejo de pragas, doenças e planC tas daninhas.
Aildson Pereira Duarte, Instituto Agronômico (IAC)
Figura 6 - Representação esquemática das plantas daninhas predominantes no milho safrinha, por estado (média 2016 e 2017). Quanto mais escura a cor, maior a importância relativa da espécie Especies predominantes milhã/capim-colchão (Digitaria horizontalis) capim-amargoso (Digitaria insularis) trapoeraba (Commelina spp.) capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) erva-quente (Spemarcoce latifolia) corda-de-viola (Ipomoea spp.) picão-preto (Bidens spp.) soja (Glycine max) poia-branca (Richardia brasiliensis) capim-custódio (Pennisetum setosum) fedegoso (Senna obtusifolia) apaga-fogo (Alternanthera tenella) caruru (Amaranthus spp.) leiteiro (Euphorbia heterophylla) trapoerabinha (Murdania nudifiora) buva (Conyza spp.) sorgo vassoura (Sorghum sp.) capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) erva-de-santa-luzia (Chamaescy hirta) capim-papuã (Urochloa plantaginea) vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata)
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SP
MS
GO
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Figura 7 - Representação esquemática das doenças predominantes no milho safrinha, por estado (média 2016 e 2017). Quanto mais escura a cor, maior a importância relativa da doença Doenças predominantes ferrugem polissora (Puccinia polysora) mancha branca (Phaeosphoeria maydis) mancha de turcicum (Exserohilum turcicum) mancha cercospora (Cercospora zeae-maydis) mancha diplodia (Stenocarpella macrospora) enfezamento e viroses mancha de bipolaris (Bipolares maydis) ferrugem comum (Puccinia sorghi) bactéria Xanthomonas vasicola ferrugem branca (Physopella zeae) macha de curvulária (Culvularia spp.) Mancha ocular (Kabatiella zeae)
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SP
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MT MAPITO
Figura 8 - Representação esquemática das pragas predominantes no milho safrinha, por estado (Média 2016 e 2017). Quanto mais escura a cor, maior a importância relativa da praga Pragas predominantes PR Parte aérea lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) percevejos (Dichelops spp.) lagartas-da-espiga (Helicoverpa zea e S. frugiperda) pulgão do milho (Rhopalosiphum maidis) cigarrinha do milho (Dalbulus mayalis) Subterrâneas e de superfície nematóide Pratylenchus brachyurus percevejo castanho (Scaptoris castanea) lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) corós (Coleoptera: Melolonthidae) lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) larva alfinete (Diabrotica speciosa)
SP
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MT MAPITO
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Café
Lesões múltiplas Folhas, flores, frutos e ramos estão entre os alvos da mancha de phoma, doença que ganhou importância econômica nos últimos anos na cultura do café. A melhor estratégia para conter a enfermidade consiste na combinação de métodos de controle, como genético, cultural e químico
A
cafeicultura brasileira vive uma fase de grande evolução, o que tem gerado aumento significativo da sua produtividade. O mercado de cafés especiais tem crescido muito nos últimos anos, estimulando a expansão da cafeicultura para áreas de maior altitude, onde se obtém cafés finos e de boa qualidade. Contudo, nessas áreas, as condições climáticas são favoráveis para a ocorrência de algumas doenças, como é o caso da mancha de phoma. Ocorre na maioria das regiões produtoras de café do Brasil, especialmente em áreas situadas acima de 800m de altitude. Estudos indicam que, no Brasil, a mancha de phoma é causada, principalmente, pela espécie de fungo Phoma tarda. O fungo ataca folhas, flores, frutos e ramos, produzindo lesões bem características. Os sintomas da doença nas folhas são lesões necróticas escuras de tamanho
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variado e halo concêntrico. Quando ocorrem nos bordos das folhas, comumente provocam a sua curvatura. Nos ramos são profundas, podem envolver todo o diâmetro e causar o secamento da extremidade do ponteiro.
CONDIÇÕES FAVORÁVEIS
A incidência, a distribuição geográfica e a severidade de uma doença estão condicionadas à ação direta do ambiente sobre o patógeno e sobre a planta hospedeira. Na Figura 1 pode-se observar o triângulo da doença para a ocorrência da mancha de phoma.
MANEJO INTEGRADO DA DOENÇA
Uma série de práticas tem contribuído para o manejo eficiente de phoma, com reflexos positivos na manutenção de produtividades elevadas. A melhor estratégia é a
Fotos Marlon T. Stefanello
combinação de métodos de controle, como o genético, o cultural e o químico. No planejamento de novos plantios, em regiões com histórico da doença, deve-se levar em consideração a adoção de variedades com tolerância à mesma. Instalação do viveiro
Uma das primeiras medidas de manejo que o produtor deverá levar em consideração é a escolha de um ambiente adequado para a instalação do viveiro. Este ambiente deverá ser bem drenado e protegido contra a ação de ventos frios. O controle da irrigação é essencial para se evitar o excesso de umidade dentro do viveiro. Recomenda-se, também, aumentar o espaçamento das plantas no viveiro, para permitir maior arejamento, desfavorecendo um microclima para o desenvolvimento do fungo. Implantação da lavoura
A seleção de áreas de plantio é muito importante para o manejo da mancha de phoma. O produtor
Mancha de phoma em folhas de cafeeiro, na região de Franca, SP
poderá evitar a instalação de lavouras em áreas sujeitas à incidência constante de ventos fortes e frios. A implantação adequada de quebra-vento é uma opção para as áreas em formação, especialmente em lavouras que serão formadas em altitudes superiores a 900m. Outra medida cultural é a realização de uma adubação equilibra-
da. Plantas equilibradas nutricionalmente são mais tolerantes às doenças, devido ao seu maior vigor. Em lavouras com alto índice de área foliar e sujeitas à neblina, a redução da adubação nitrogenada contribui para reduzir a incidência e o desenvolvimento da mancha de phoma. Os níveis adequados de cálcio são extremamente importantes para
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desfavorecer a doença. O cálcio é constituinte fundamental da parede celular de células da planta, tendo função estrutural e de fortalecimento contra o ataque do patógeno.
CONTROLE QUÍMICO
Nas lavouras situadas em regiões altas e com inóculo do patógeno, o manejo da mancha de phoma pode ser realizado com aplicações de fungicidas recomendados para a doença, como os do grupo químico dos triazóis (tebuconazol, metconazol e difenoconazol), estrobilurinas (axozistrobina, piraclostrobina e trifloxistrobina), anilida (boscalida), benzimidazol (tiofanato metílico), dicarboximida (iprodiona), protetor orgânico (clorotalonil), protetor inorgânico (óxido cuproso e hidróxido de cobre), fosfonato (fosetil), nos meses de setembro e outubro. É importante associar os diferentes grupos químicos para evitar a sobrevivência de fungos com resistência e preservar a tecnologia. O intervalo entre as
Figura 1 -
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aplicações de fungicidas fica em torno de 30 dias. Esse período vai depender das recomendações do especialista de sua região, para maior proteção dos botões florais e dos frutos em formação. Em locais muito infestados, justifica-se também o controle químico nos meses de abril/maio, levando em consideração o período de carência dos fungicidas e/ou logo após a colheita. As aplicações de pós-colheita, pré e pós-florada, em regiões com alta pressão de phoma, são importantes para a obtenção de maiores produtividades. A eficiência do controle químico tem variado nas diferentes regiões produtoras de café. Dessa maneira, a escolha do ingrediente ativo ou sua mistura a ser utilizada na lavoura, depende da orientação e recomendação de um engenheiro agrônomo da sua região de cultivo. A adoção de medidas culturais associadas ao controle químico preventivo é a maneira mais eficaz de barrar este patógeno e proteger o potencial produtivo da cultura. A integração dessas medidas de manejo para o controle da doença é importante para que a atividade continue sustentável por longo período. Cabe ao produtor de café, juntamente com o responsável técnico, planejar racionalmente aquelas que sejam mais adequadas a sua realidade, levando em consideração sempre os aspectos econômicos, sociais e ecológicos com a preservação do ambiente. C
Marlon Tagliapietra Stefanello e Leandro Nascimento Marques, Phytus Club
Cana
Nocividade O medida Qual a interferência negativa da incidência de Poaceae Brachiaria decumbens (capim-braquiária) e Panicum maximum (capim-colonião) no perfilhamento, na altura dos perfilhos e na massa seca da parte aérea, durante o crescimento inicial de mudas meristemáticas de cana-de-açúcar
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plantio é a etapa mais crítica para o sucesso no estabelecimento de um canavial, uma vez que esta operação pode interferir em sua longevidade, produtividade e retorno econômico. É a prática que envolve muito conhecimento das relações solo-planta-atmosfera, além de influenciar diretamente na redução dos custos de produção. Empresas do setor trabalham no desenvolvimento de novas tecnologias para melhorar a qualidade do plantio, em que as mudas pré-brotadas já se consolidaram como ferramenta viável no estabelecimento de viveiros e áreas comerciais. Dentre as tecnologias de mudas pré-brotadas em larga escala, destacam-se as provenientes da técnica de cultivo in vitro de tecidos meristemáticos, onde a multiplicação da cana-de-açúcar é realizada em um laboratório, através de micropropagação, resultando na obtenção de mudas com alta qualidade varietal e fitossanitária. Um dos destaques dessa técnica é a rápida propagação para introdução de novas variedades. O potencial produtivo pode ser de até 75.000 brotações a partir de um único explante apical, em um período de cinco meses e meio. Por outro lado, a matocompetição ganha destaque entre os problemas enfrentados pelo produtor de cana-de-açúcar, uma vez que a redução na produtividade da cultura pode chegar a até 85%, dependendo das espécies, densidade de infestação, período de convivência com a cultura, dentre outros fatores. Espécies de capins do gênero Brachiaria e Panicum merecem atenção, são plantas daninhas perenes, caracterizadas por serem agressivas e com alta capacidade de adaptação a solos com baixa fertilidade, e apresentarem plasticidade fenotípica para adaptação. Diferentemente do plantio através de rebolos (toletes) de cana-de-açúcar, as mudas pré-brotadas podem apresentar vantagens em relação ao desenvolvimento inicial mais rápido, quando comparado ao sistema convencional. Dessa forma, a competição e a interferência exercida pelas plantas daninhas sobre
a cultura no sistema de plantio de mudas pré-brotadas podem ser diferentes dos estudos já conhecidos. Um estudo foi conduzido em vasos na FCAV/Unesp, Jaboticabal, São Paulo, com o objetivo de avaliar a interferência das espécies de plantas daninhas da família Poaceae Brachiaria decumbens (capim-braquiária) e Panicum maximum (capim-colonião) no sistema de plantio de mudas meristemáticas de cana-de-açúcar. A interferência de cada espécie de planta daninha sobre o crescimento inicial das mudas pré-brotadas foi avaliada em quatro densidades de infestação: 1, 2, 3 e 4 plantas daninhas por vaso, o que corresponde às densidades de 3,8 plantas m2; 7,7 plantas m2; 11,5 plantas m2 e 15,4 plantas m2. Essas densidades são frequentemente encontradas em áreas comerciais, principalmente em áreas de plantio onde não se tem a presença da palhada como um dificultador na germinação das plantas daninhas. As mudas de cana-de-açúcar foram transplantadas no centro dos vasos (uma muda por vaso) e as plantas daninhas semeadas a um raio de 0,15m do centro. Após as plantas daninhas iniciarem a emergência, foi realizado o desbaste para garantir a densidade exata em cada tratamento. O perfilhamento, a altura dos perfilhos e a massa seca da parte aérea acumu-
Fotos Herbae Consultoria e Projetos Agrícolas Ltda
Figura 1 - Mudas pré-brotadas provenientes de micropropagação (esquerda) e mudas pré-brotadas provenientes de minirrebolos (direita)
lada pelas mudas de cana-de-açúcar foram os parâmetros avaliados como uma forma de quantificar a interferência negativa exercida pelas plantas daninhas. Além disso, também foi determinada a massa seca da parte aérea acumulada pelas espécies de plantas daninhas. Com 60 dias após a emergência das plantas daninhas (DAE), a MPB onde não havia presença de plantas daninhas apresentou aproximadamente 6,5 perfilhos a mais que as mudas que continham 3,8 plantas/ m² e 15,4 plantas/m² de B. decumbens (Figura 2). Após 90 dias de convivência da MPB com B. decumbens na densidade de 15,4 plantas/m² houve redução de 40% no número de perfilhos em comparação à tes-
temunha sem competição com as plantas daninhas. A altura dos perfilhos das mudas de cana-de-açúcar foi afetada de forma menos severa quando comparado ao perfilhamento. No entanto, foi observada uma redução nas mudas com presença de plantas daninhas de B. decumbens em relação à testemunha (0 plantas/m²). A massa seca da parte aérea das mudas de cana-de-açúcar sob interferência de 3,8 plantas/m² foi reduzida em aproximadamente 43% em relação à testemunha (Figura 4). Nas maiores densidades de B. decumbens esta redução foi ainda mais drástica, sendo 55%, 57% e 63% nas densidades de 7,7 plantas/ m²; 11,5 plantas/m² e 15,4 plantas/
Presença de Panicum maximum (capim-colonião) em canavial adulto
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Figura 2 - Número de perfilhos obtidos em função das diferentes densidades de Brachiaria decumbens em convivência com as mudas de cana-de-açúcar
Figura 3 - Altura de perfilhos obtidos em função das diferentes densidades de Brachiaria decumbens em convivência com as mudas de cana-de-açúcar
Figura 4 - Acúmulo da massa seca da parte aérea das mudas de cana (barra) e de Brachiaria decumbens (linha laranja) obtido em função das diferentes densidades em convivência com as mudas de cana-de-açúcar
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m², respectivamente, em relação à testemunha. O acúmulo máximo de massa seca da cana é observado com a ausência da B. decumbens. A espécie B. decumbens possui grande capacidade de adaptação aos diferentes ambientes, mostrando-se muito agressiva aos agroecossistemas, uma vez que não apresenta queda drástica na produção de matéria seca, mesmo quando submetida ao sombreamento. O acúmulo de massa seca pela planta daninha foi progressivo com aumento da densidade em convivência com as mudas (Figura 4). Nas densidades de 3,8 plantas/m²; 7,7 plantas/m²; 11,5 plantas/m² e 15,4 plantas/m², a massa seca acumulada foi de 14,3g; 17,4g; 20,5g e 28,3g, respectivamente. A maior densidade de P. maximum por metro quadrado em convivência com a cana-de-açúcar, por 90 dias, reduziu em aproximadamente 50% o número de perfilhos (Figura 5). Nas densidades de 7,7 plantas/ m² e 11,5 plantas/m², o número de perfilhos foi reduzido em 4,5 e 5,5 em relação à muda que não sofreu interferência da planta daninha. Além disso, foi constatado que a altura dos perfilhos de cana-de-açúcar se mostrou ligeiramente reduzida na presença de 11,5 plantas/m² e 15,4 plantas/m² de P. maximum em relação à testemunha (0 plantas/m²) (Figura 6). A massa seca acumulada pela cana sob interferência de 3,8 plantas/ m² de P. maximum apresentou redução de 38%, apresentando-se mais agressiva quando comparada com a espécie B. decumbens (Figura 7). Pressupõe-se que, quando a competição ocorre entre plantas de espécies com maior semelhança entre si, ou seja, cana-de-açúcar e capim-colonião, que a interferência aconteça de forma mais agressiva, dada a necessidade de recursos ser bastante assemelhada. Nos tratamentos com densidades de 7,7 plantas/m²; 11,5 plantas/m² e 15,4 plantas/m², a redução da massa seca na cana-de-açúcar foi ainda mais expressiva. Após 90 dias de convivência, a cultura sob interferência destas densi-
dades apresentou redução de 47%, 58% e 70%, respectivamente. Outro aspecto que deve ser destacado, é o acúmulo de massa seca pelas plantas daninhas de P. maximum após 90 dias de convivência (Figura 7). Esta espécie apresentou menor acúmulo de massa seca nas mesmas densidades (plantas/m²) quando comparada à B. decumbens. Mesmo apresentando menor acúmulo de massa, a presença de P. maximum foi suficiente para interferir negativamente no crescimento/desenvolvimento inicial da cana-de-açúcar de maneira semelhante ou até mesmo mais agressiva que a B. decumbens nas mesmas condições de convivência. O menor acúmulo de massa seca pela planta daninha, associado a efeitos negativos mais severos para a cultura, é característica de maior agressividade da espécie de planta daninha. As espécies de plantas daninhas B. decumbens (capim-braquiária) e P. maximum (capim-colonião) ocasionaram perdas significativas no perfilhamento e desenvolvimento inicial das plantas de cana-de-açúcar provenientes do sistema de plantio de mudas meristemáticas. Além disso, a espécie P. maximum apresentou características que a classificam como mais agressiva/prejudicial que a B. decumbens no desenvolvimento inicial da cana-de-açúcar. Esses tipos de estudo não replicam de forma exata as condições encontradas em áreas comerciais de cana-de-açúcar, no entanto, servem como um parâmetro para identificar espécies que possam ser mais ou menos prejudiciais ao desenvolvimento da cana. Sendo assim, é fundamental adotar medidas efetivas de controle das gramíneas B. decumbens e P. maximum, principalmente em áreas de plantio, tendo em vista os efeitos negativos que estas espécies ocasionam quando coexistem com a cultura da cana-de-açúcar e outras características que as tornam mais agressivas em C relação a outras espécies.
Figura 5 - Número de perfilhos obtidos em função das diferentes densidades de Panicum maximum em convivência com as mudas de cana-de-açúcar
Figura 6 - Altura de perfilhos obtidos em função das diferentes densidades de Panicum maximum em convivência com as mudas de cana-de-açúcar
Figura 7 - Acúmulo da massa seca da parte aérea das mudas de cana (barras) e de Panicum maximum (linha laranja) obtido em função das diferentes densidades em convivência com as mudas de cana-de-açúcar
Ricardo Jardim de Paula, Herbae Consultoria e Projetos Agrícolas Ltda www.revistacultivar.com.br • Maio 2019
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Empresas
Soluções biológicas Fotos Kimberlit
Bionat, divisão da Kimberlit Agrociências, nasce com propósito de complementar portfólio e oferecer alternativas de controle aos produtores
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om a missão de “desenvolver, produzir e comercializar soluções biológicas inteligentes e eficientes, que agregam valor aos clientes” nasce a Bionat Soluções Biológicas, divisão da Kimberlit Agrociências, inaugurada no final de abril, em Olímpia, São Paulo. De acordo com o presidente da Kimberlit, Antônio Carlos de Gissi Júnior, a Bionat nasce com propósito muito claro na preocupação com a preservação ambiental, para a produção de alimentos e também na sinergia das empresas do Grupo. “O nosso objetivo é entregar produtos que complementam o portfólio da empresa, contribuam na produção de alimentos mais saudáveis e também preservem o meio ambiente, pois queremos entregá-lo melhor do que recebemos”, explica o executivo. Com um mercado que cresceu aproximadamente 80% no ano passado, a Bionat busca, também, levar biodefensivos a uma parcela de 57% dos produtores brasileiros, que, segundo o sócio e diretor industrial da Kimberlit, Luciano de Gissi, sequer conhecem esses produtos. Segundo de Gissi, o investimento total na fábrica será de R$ 25 milhões, dividido em três fases. Nesta primeira fase foram investidos R$ 6 milhões na estrutura da fábrica e na produção inicial dos fungos e bactérias. Em uma segunda etapa ocorrerá a ampliação produtiva e em um terceiro momento serão feitos investimentos para o lançamento de biotecnologias criadas em parceria. De Gissi afirmou, ainda, que o número de produtos biológicos disponíveis no país tem crescido muito nos últimos anos, como reflexo de uma preocupação cada vez mais presente entre os produtores que buscam o manejo integrado de pragas e doenças. “Em 2015 havia 107 produtos registrados e em 2019 já temos mais de 200 produtos com registro disponíveis no mercado”, completa o executivo. A fábrica está operando em fase de testes e, a partir do segundo semestre deste ano, deve começar a produzir em escala comercial. Os primeiros produtos serão dois defensivos biológicos- um para manejar cigarrinhas (Metarhizium anisopliae) e o
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outro para o controle da mosca-branca do biótipo B (Beauveria bassiana) - que devem estar no mercado a partir de agosto. O processo de registro está em fase de conclusão no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O Metarhizium anisopliae é um fungo utilizado no controle biológico de várias espécies de cigarrinhas que ocorrem na agricultura. É reproduzido em arroz, sob condição de excelente assepsia e rigoroso controle de qualidade, a fim de garantir a ausência de contaminantes e a eficiência na germinação. Já Beauveria bassiana é indicada para o controle de insetos e ácaros pragas nas mais diversas culturas, tais como a mosca-branca e o ácaro rajado, entre outros. Esse fungo contribui para o manejo da resistência de pragas a inseticidas, além de promover uma agricultura mais sustentável, pois reduz o número de aplicações de defensivos químicos. Até o final do próximo ano, a Bionat deverá solicitar o registro de outros fungos que funcionam como defensivos biológicos e, através de parcerias, desenvolver outros produtos. “O nosso propósito é, assim como o padrão Kimberlit de produção, nos tornarmos reconhecidos nacionalmente como a empresa de agentes biológicos que mais agrega valor aos clientes e potencializa a produção”, finaliza Luciano de Gissi. São parceiras do projeto, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), o Instituto Biológico de Campinas, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq/USP), através de convênio com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Com projeto arquitetônico e industrial aprovado em 2017, a primeira fase da unidade fabril da Bionat está distribuída em 400 metros quadrados de edificações, com capacidade de produção de bioprodutos para tratamento de até 350 mil hectares por ano e contará com oito Presidente da Kimberlit, C funcionários. Antônio Carlos de Gissi Júnior
Coluna Agronegócios
Até 2050 o mundo demandará produção agrícola 60% maior. Como fazê-lo?
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esposta - Pode ser por aumento de área, diminuição das perdas e desperdícios e crescimento da produtividade. E vamos conseguir. Aumentar a área apresenta limitações intransponíveis. Hoje são cultivados 1,8 bilhão de hectares no mundo. Até haveria mais para cultivar. Mas a sociedade global não vai permitir, pois, em termos mundiais, já avançamos além da capacidade de suporte do planeta. O Brasil, que cultiva apenas 7,6% de seu território (contra 55% dos europeus ou mais de 60% da Índia), também terá que pôr o pé no freio. Entendp que poderão ser incorporados uns 200M/ha, pouco mais, em todo o mundo. Etc’estfini!
MENOS PERDAS E DESPERDÍCIOS
Estudos apontam para perdas e desperdícios superiores a 30% do plantio à mesa. É preciso cortar este número pela metade. Diminuição de perdas significa melhorar muito o manejo dos solos, das culturas, das colheitas e do pós-colheita. Não perder mais solo por erosão. E, junto com o solo, a matéria orgânica, os nutrientes. Também não serão possíveis grandes perdas por secas ou inundações. Já dispomos de muita tecnologia para mitigar as secas, especialmente com o uso do plantio direto, com a melhoria do perfil do solo, de maneira que fique mais poroso, arejado, absorvendo e retendo mais água. A palhada na superfície evita a evaporação desnecessária. Dispomos de irrigação para as regiões mais vulneráveis e, brevemente, também teremos variedades tolerantes à seca, com produtividade adequada. Para completar, não podemos ter perdas na colheita. Quem fez tudo certo até a undécima hora, não pode perder parte da sua safra na hora de retirá-la do campo. Assim como não pode perder na armazenagem ou no transporte. Os desperdícios também ocorrem ao longo da cadeia de valor. Certificações excessivamente severas, consumidores que não aceitam uma única pinta na fruta ou furo na alface, armazenagem de frio inapropriada, baixo tempo de prateleira e, não menos importante, o desperdício no preparo e no consumo dos alimentos, aquela sobra de comida que vai para o lixo. Tudo isso terá que ser combatido e minimizado.
PRODUTIVIDADE, O GRANDE SEGREDO
Para a maioria das culturas já se dispõe de tecnologia capaz de mais do que dobrar a produtividade atual. Não se espera uma revolução, mas um processo gradativo. Mesmo considerando as limitações ambientais, é factível aumentar a produtividade em, no mínimo, 1% ao ano. Mas, a pesquisa agronômica está longe de esgotar as possibilidades. Além das tecnologias já disponíveis, ainda há muito para avançar. Analisemos, especificamente, o caso da melhoria do potencial genético dos cultivos, com aborda-
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gens não tradicionais, que tanto podem vir por engenharia genética tradicional quanto pelas novas ferramentas, como a edição gênica. As plantas usam a luz visível para obter energia e realizar a fotossíntese. A luz visível situa-se entre os comprimentos de onda de 400nm e 700nm, embora existam picos de radiação fotossinteticamente ativa dentro deste espectro (v. Figura).Quem gosta de mergulhar já observou que, no fundo dos rios, onde a luz visível quase não chega, existem vegetais que se desenvolvem muito bem, efetuando fotossíntese. Tal e qual o fazem seus similares que recebem diretamente a radiação solar. E se fosse possível ampliar a faixa de aproveitamento da radiação, melhorando a fotossíntese em condições de luminosidade adversa?
FOTOSSÍNTESE NA SOMBRA
A equipe do professor Dennis Nürnberg mostrou que as cianobactérias efetuam fotossíntese utilizando radiação infravermelha, com comprimento de onda que começa no final do espectro da luz visível (700nm), estendendo-se até 3 mm. Quando a luz visível é muito fraca, entra em ação a clorofila f, presente nas cianobactérias, que possui a capacidade de absorver a radiação nesta faixa de comprimento de onda. O artigo se encontra em Nürnberg, D. J.et al. Photochemistry beyond the red limit in chlorophyll f–containing photosystems. Science,v.360, n. 6394, p.1210-1213, 2018. Imagine uma planta de soja, que pode ter dez nós no caule, com uma folha trifoliolada presente em cada nó. Quando a planta é nova, com cerca de cinco nós, todas as folhas estão diretamente expostas à luz visível, em condições de absorver a radiação, por meio dos tipos convencionais de clorofila a e b. Entretanto, quando a planta atinge determinada altura, as folhas superiores sombreiam as inferiores. Dessa forma, a contribuição das folhas sombreadas para a formação de reservas de fotossintatos- que formarão o futuro grão de soja- é reduzida, podendo até ser negativa, ou seja, a folha fornece menos reservas do que necessita para sobreviver. Quando as folhas não são mais úteis à planta, acabam por fenecer e desprender-se da mesma. A radiação infravermelha, ao contrário da luz visível, possui capacidade de penetrar no interior da massa de folhas das plantas de um cultivo, porém não é aproveitada para fotossíntese, por estar fora da faixa de absorção dos tipos de clorofila atualmente encontrados nas plantas superiores. Mas, e se os pesquisadores inserirem no genoma das plantas cultivadas os genes responsáveis pela síntese de clorofila f? Abre-se uma nova perspectiva de aumentar a contribuição fotossintética das folhas que deixam de receber a luz visível, mas recebem a radiação infravermelha. Essa possibilidade ainda é futurística, porém lembremo-nos da velocidade com que a Ciência avança no século 21. E não é a única, uma vez que os cientistas já identificaram diversos caminhos que podem aumentar a eficiência fotossintética das plantas, logo, a produtividade dos cultivos. Por essas razões tenho confiança de que, a depender da Ciência e C dos agricultores, não faltará alimento em 2050.
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Brasil bate recorde de exportação de soja nos primeiros três meses de 2019 e é líder mundial
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s compradores continuaram ávidos pela soja brasileira neste primeiro trimestre de 2019. Dados da Secex mostram que os embarques já superam em muito o recorde histórico de 2018, com 17,2 milhões de toneladas acumuladas entre janeiro e março deste ano, contra 13,2 milhões de toneladas embarcadas no mesmo período do ano passado. Com apelo em vendas crescentes para os chineses que continuam em disputa forte com os EUA em sua guerra comercial e de taxas, a soja permanece sendo o maior produto da pauta de exportações do Brasil.
MILHO
Safra de verão na reta final da colheita e mercado firme
se estabilizado nas últimas oito semanas, com indicativos nos portos girando entre R$ 77,00 e R$ 80,00 a saca, para o grão desta temporada. Com isso, os negócios seguiram dentro destes níveis e houve flutuações fortes em Chicago que registrou US$ 9,50/bushel e, nos piores momentos, até abaixo de US$ 8,80/bushel. O câmbio em alta, chegando a operar perto de R$ 4,00, ajudou a dar fluxo à soja, que avançou na comercialização e já supera os 60% negociados dos aproximadamente 115 milhões de toneladas colhidas. Com expectativa de que na sequência haverá pressão de alta pelo produto que restar.
A safrinha está na reta final. Nas últimas semanas, registrou problemas com pragas e doenças, o que tende a limitar a produtividade em decorrência de vírus e morte súbita. Mesmo assim, a safra será grande porque houve plantio com recorde histórico, na faixa de 12,5 milhões de hectares, e a produção, por enquanto, tende a ficar em torno de 70 milhões de toneladas. Com isso, abre espaço para que as exportações do Brasil avancem acima das 30 milhões de toneladas neste ano. Até a segunda semana de abril, o Brasil já contabilizava mais de 7,1 milhões de toneFEIJÃO ladas exportadas, frente a 4,9 milhões de toEnfrentando a segunda safra com neladas exportadas no mesmo período do ano calmaria e esperando alta na sequência passado. O formador das cotações do milho O feijão, que registrou no começo do ano no mercado brasileiro neste ano será o nível níveis acima de R$ 400,00 a saca, caiu para de exportação. valores até abaixo de R$ 200,00 a saca na base do carioca. Mas, mesmo em colheita, SOJA recuperou fôlego e, nos últimos dias, mostraDólar alto segura queda que va patamares mais próximos de R$ 250,00 a Chicago mostrou em abril O mercado da soja do Brasil esteve qua- saca para o produto de boa qualidade. Deve
ocorrer nova onda de alta assim que passar a colheita.
ARROZ
Com colheita fechando e cotações disparando para compensar perdas de anos anteriores
Os produtores de arroz do Rio Grande do Sul estão com a safra fechada. Nos próximos dias, a colheita do Brasil se encerra e junto virá nova onda de alta. Cenário que já começou no Norte, em março, e chegou em abril ao Rio Grande do Sul. Este será o ano do arroz com o feijão e há espaço para ambos os grãos se manterem com cotações fortes. O arroz tem potencial de chegar a R$ 50,00 a saca no mercado gaúcho neste ano. Isso porque a safra será muito menor que o consumo e o grão importado chega ao país C acima destes valores.
Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo opera em calmaria, mas o setor de moinhos registra queixas quanto ao dólar alto, que encarece o grão importado. Desta forma, há apelo para ajustes à frente e valorização do trigo nacional. O grão já está em plantio no Paraná e tudo aponta que a área deverá mudar pouco, porque o milho dominou o espaço e resta pouco lugar para plantar trigo. Já no Rio Grande do Sul, os produtores devem plantar a mesma área do ano anterior. EUA - Os produtores norte-americanos estão plantando a safra, mas o ritmo é de atraso e o inverno longo traz temor de problemas climáticos, porque o solo estava congelado até a metade de abril e somente a partir daí puderam começar a preparar efetivamente o cultivo. Mesmo assim, a soja deve ser plantada dentro do período normal, entre 15 de maio e começo de junho. Os indícios são de
forte queda na área de soja e leve avanço no milho. CHINA - A China continuou comprando pouco dos EUA e consumindo estoque. Com isso, tem levado centenas de navios carregados com soja brasileira, mantendo projeção de importar 90 milhões de toneladas neste ano. ARGENTINA - A safra dos argentinos está em colheita e deverá avançar em maio e junho, quando a maior parte estará concluída. Segue com expectativa de 46 milhões de toneladas de milho e 53 milhões de toneladas de soja, ambos em alta frente às 31 milhões de toneladas de milho e às 37 milhões de toneladas de soja colhidas no ano passado. Se confirmado, o resultado deve tirar o país do ranking de importadores. Em 2018 e começo de 2019, a Argentina importou quase dois milhões de toneladas de soja dos EUA.
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Coluna ANPII
Importância da cooperação O total da soma dos recursos públicos das instituições de pesquisa com os das empresas, aplicado em pesquisa e desenvolvimento, se apresenta como a mais produtiva e econômica forma de inovar, melhorar produtos e processos, além de gerar valor para a sociedade como um todo
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urante muitos anos e inúmeras tentativas de desenvolver pesquisas conjuntas entre empresas e universidades ou institutos de pesquisa, ouvimos muitas afirmações descabidas dos dois lados, como: “Estes pesquisadores só querem pesquisar ‘sexo dos anjos’”. “Não têm nenhuma noção da realidade, não têm compromisso com cronograma, com o tempo.” Eram as alegações mais comuns por parte de alguns empresários. Por parte de alguns pesquisadores se ouviam afirmações como: “Os empresários só querem explorar os conhecimentos das entidades de pesquisa, sem remuneração alguma”, “o papel da universidade é servir a sociedade e não a alguns empresários”... E por aí iam, de ambas as partes, afirmativas estereotipadas, fruto de julgamentos precipitados e sem análises. Somente quando se encontram em uma mesma mesa duas pessoas sensatas, realmente com vontade de buscar soluções e não problemas, se torna possível trilhar um dos mais produtivos esquemas de pesquisa e desenvolvimento, somando os conhecimentos científicos mais profundos do pesquisador com o conhecimento prático, de sistemas produtivos, de mercado, dos empresários. Em um país com parcos recursos financeiros, onde cada centavo tem que ser avaliado, a soma dos recursos públicos das instituições de pesquisa com os recursos das empresas aplicados em P&D, recursos não só financeiros, mas de pessoas, de equipamentos, de conhecimentos, se apresenta como a mais produtiva e econômica forma de inovar, de melhorar produtos e processos, gerando valor tanto para as entidades de pesquisa, como para as empresas e para a sociedade como um todo. Mas para se atingir um patamar de elevada eficiência nesta parceria, é indispensável haver, como premissa, mente aberta de ambos os lados, sem estereótipos, sem preconceito, sem amarras ideológicas. Claro que há todo um caminho legal e burocrático a ser trilhado. Já ocorreram casos em que depois de tudo acertado em termos de trabalho e de custos, a universidade não tinha mecanismos legais de como receber o dinheiro! Mas, atualmente, já existem fundações universitárias que viabilizam estes pagamentos, bem como possuem modelos de contrato para cada caso. Muitas vezes, quando se trata de negociações entre empresas e entidades sem experiência no assunto, pode-se recorrer a consultorias para intermediar as negociações, levando a um bom termo até a assinatura do contrato. Existem diversas formas de arranjos entre as duas partes, sendo impossível traçar um tipo de contrato comum para todos os casos. Por isto mesmo, cada caso requer uma grande negociação entre as duas partes, com discussões técnicas, repartição dos recursos para o projeto, propriedade intelectual, remuneração da entidade pública, cronograma de atividades, distribuição de trabalhos, pessoal que será envolvido etc. Após os trâmites legais, burocráticos, e a assinatura do contrato, inicia-se a fase realmente de trabalho, o que requer a interação
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entre as duas equipes. Esta é uma das fases mais complexas, a não ser que as equipes já tenham um relacionamento anterior, com trocas de informações e de ideias, o que não é raro, pois os profissionais se encontram em congressos, workshops e outros eventos. Existem diversas formas de arranjo, desde as mais tênues até as mais interativas. Pode-se simplesmente comprar uma tecnologia desenvolvida sob demanda, criar uma troca de ideias ocasional, em reuniões de avaliação, ou chegar a uma pesquisa que seja totalmente interativa, desenvolvida em conjunto, por uma equipe formada por profissionais das duas partes. Quanto mais forte for a interação, logicamente que haverá maior sinergia no projeto com uma vantagem marcadamente importante para a empresa: a internalização do conhecimento. Novas experiências, já existentes ou geradas na academia em função do projeto, serão levadas para dentro da empresa, aumentando o nível técnico-científico e permitindo novos voos para produtos ou processos. Uma nova base científica, um novo patamar, passará a reger a função P&D em uma empresa.
Para a implantação desta última forma, a da completa integração, é importante que seja criado um espaço comum, onde as duas equipes possam trabalhar em conjunto, discutir o projeto, dividir as fases que serão desenvolvidas em cada laboratório, integrar as ações, buscar a sinergia entre os conhecimentos dos dois grupos. Este espaço deverá ser de tal maneira interligado, que passe a ser encarado como um novo P&D, trabalhando, em projeto específico, quase que como um novo núcleo. Embora hierárquica e legalmente cada um permaneça em sua origem, nas atividades do projeto formarão uma nova equipe, um novo núcleo de pesquisa. A história do inoculante no Brasil é rica em exemplos de sucesso na integração da pesquisa oficial com a pesquisa empresarial. A primeira produção de inoculante comercial do Brasil foi estimulada e assessorada por órgão de pesquisa (Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul). Uma segunda fase, a partir de 1970, também teve sua origem em uma entidade de pesquisa oficial (IBPT, Paraná). Desde então, a interação vem se mantendo e se expandindo consistentemente. Temos certeza de que este é um dos fatores importantes para o sucesso da inoculação no Brasil, trazendo exC pressivos ganhos ao país. Solon Araujo, Consultor da ANPII
Tecnologia • Maio 2019
Agricultura 4.0 AgroSmart
De que modo soluções em tecnologia de informação, como plataformas digitais para manejo de doenças, geração de modelos agronômicos, detecção automatizada de pragas, otimização da aplicação de defensivos no campo, gerenciamento de fazendas e um novo modelo de comercialização de insumos, podem auxiliar o agronegócio a alcançar maior rendimento e sustentabilidade
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agronegócio brasileiro, que representa, aproximadamente, 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e 50% das exportações do país, vem se destacando no cenário internacional por ter uma série de fatores que fazem do Brasil um lugar propício para todos os negócios relacionados à agropecuária e a suas cadeias produtivas. Os 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, o clima diversificado, as chuvas regulares, a energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce do planeta tornam o Brasil um dos líderes
mundiais na produção e exportação agrícola. E esse cenário atual coloca o Brasil como potencialmente o maior país agrícola do mundo nos próximos dez anos. Atualmente, o agronegócio é a principal locomotiva da economia brasileira. Tanto por esses fatores anteriormente citados quanto pela elevada tecnologia utilizada no campo, que fazem dele um setor moderno, eficiente e competitivo em nível mundial. A internet, as redes sociais, os dispositivos móveis, entre tantas outras ferramentas de comunicação
instantânea, são indícios do quanto a tecnologia avançou nos últimos anos. E, cada vez mais, o uso dessas novas tecnologias se torna importante para o aumento da produtividade no campo e, em consequência, para a rentabilidade dos produtores agrícolas. O avanço das tecnologias, o acesso à internet e o progressivo uso de redes sociais pelos consumidores brasileiros são fatores que influenciam a utilização de tecnologia no setor, e estão mudando a forma como os players do mercado se relacionam. Segundo levantamento divulgado em 2017 pela Comissão Brasileira de Agricultura de 03
Tecnologia • Maio 2019
Precisão (CBAP), 67% das propriedades agrícolas no país já utilizam algum tipo de inovação tecnológica em seus processos produtivos, dentro ou fora do campo. E isso revela como, no atual cenário do nosso país, a transformação digital pode ser a resposta aos diversos desafios do agronegócio. No Brasil, há vários desafios a serem superados para que o agro possa crescer e ocupar novos patamares na era digital. Destacam-se a crescente demanda por alimentos, devido ao aumento da população mundial, que tem gerado uma corrida na busca pelo aumento da produção, e a busca pelo DNA perfeito na pecuária, por meio de estudos detalhados de genética do rebanho e das raças. De um lado, há a busca por melhoramento genético, que tem agitado o setor de pesquisas. Do outro, a procura por uma melhor gestão das atividades no campo, desde o plano de plantio até a gestão da produtividade por área plantada. E isso passa por investimentos em maquinários sofisticados, estudos de variabilidade do solo, qualificação profissional, dentre outros. Desafios como mudanças climáticas e restrições de recursos naturais, aumento
de produtividade agropecuária sem expansão da área de produção e introdução da agricultura familiar na era da tecnologia, também precisam ser levados em consideração nesta era de transformação digital. Pensando nesses desafios, diversos aplicativos e plataformas on-line surgiram para democratizar o agro no Brasil e no mundo. Estas ferramentas oferecem um espaço que agiliza a comercialização, aumenta a eficiência das empresas, melhora a tomada de decisão e diminui os seus custos. Na prática, o que está ocorrendo é uma enxurrada de inovações tecnológicas que possibilitam e promovem uma verdadeira revolução no mundo dos negócios e na vida das pessoas. Novas tecnologias são apresentadas a todo momento para o mundo do agronegócio, dentro e fora do campo, acompanhando as tendências de consumo e produção. A tecnologia aumenta o resultado das safras, pois gera praticidade, facilita a execução de tarefas na rotina diária do campo e também auxilia os produtores rurais na realização de um melhor planejamento, mensuração e utilização de informações
A Aegro foi desenvolvida com o objetivo de possibilitar uma gestão eficiente e eficaz nas fazendas
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e dados que otimizam a produção e reduzem as perdas. A atual junção das tecnologias físicas, digitais e biológicas vem ressignificando a forma como fazemos negócios, interagimos e, evidentemente, produzimos. E é nesse contexto que, impulsionado por recursos tecnológicos, como inteligência artificial, realidade aumentada e computação cognitiva, o agronegócio brasileiro vem adaptando sua estrutura no intuito de fortalecer sua competitividade no mercado internacional e tornar a produção mais sustentável. As novas tecnologias, que não só permitem ganhos de produtividade como também ajudam a reduzir o impacto ao meio ambiente, já são aplicadas em diversos cenários do agronegócio, tais como: planejamento da produção, manejo, colheita, acesso a mercado, comercialização e transporte. Tanto que, atualmente, existem diversas soluções no mercado para a gestão, com algoritmos desenvolvidos especificamente para atender às demandas do setor, favorecendo o agro na medida em que se consegue atingir objetivos operacionais, aumentar a produtividade nas propriedades, além
Tecnologia • Maio 2019
de diminuir os custos. A agricultura de precisão, prática na qual utiliza-se tecnologia de informação baseada no princípio da variabilidade do solo e clima, entrega mais eficiência ao campo e diminui as perdas. Os agricultores contam atualmente com soluções avançadas de controle das máquinas, com auxílio de GPS e sistemas de mapeamento da colheita, além de softwares de gestão de toda a cadeia produtiva, que oferecem suporte agronômico e maior assertividade nas informações, e também conseguem corrigir efeitos nutricionais do solo, utilizando mais ou menos quantidade de insumos. Seguindo essa ideia, vieram outras formas inovadoras, como a digitalização, com a possibilidade de monitoramento do clima e definição do melhor momento para realizar a plantação, otimizando a irrigação. A internet das coisas, que permite acessar informações geradas pelas máquinas e que ficam armazenadas na nuvem para poder acompanhar as condições de plantio e corrigir problemas durante a própria safra, sem ter que esperar o próximo ano. Os robôs, que substituem várias operações manuais por máquinas que são comandadas a distância, garantindo assim mais eficiência, menos uso de insumos e menos impacto ambiental. Além disso, também apareceram os drones, que são veículos aéreos não tripulados, com os quais é possível monitorar o desenvolvimento da plantação e agir mais rapidamente caso ocorra algum imprevisto. E a inteligência artificial (AI), que são máquinas e sistemas inteligentes capazes de raciocinar, aprender, tomar decisões e resolver problemas, programados para fazerem aplicações de insumos ou a irrigação sem a necessidade de um profissional disponível para isso. Ainda, nessa mesma linha de inovação, a mobilidade também aparece como um fator essencial para a evolução do agro, já que a utilização
Fotos Aegro
O produtor rural está conectado e atento às novas tecnologias
de dispositivos móveis integrados a plataformas tecnológicas possibilita um maior conhecimento do processo de gestão das propriedades rurais. As novas tecnologias digitais no campo vão ser determinantes para o aumento da produtividade em pastos e lavouras em todo o mundo. Uma publicação da Liga Ventures, divulgada em abril de 2019, apontou que o número de startups no Brasil ligadas ao agro já é de 307 empresas. Isso é reflexo de que o agronegócio tem impulsionado a economia e é natural que os atuais players do setor, assim como novas empresas da área de tecnologia (startups), estejam atentos a oportunidades no segmento, a fim de se destacarem nesse competitivo mercado. As chamadas “agritechs” ou “agtechs”, startups de tecnologia voltadas para o agronegócio, são responsáveis por uma parte relevante das conquistas da produção agrícola brasileira nos últimos anos. Elas promoveram uma revolução no campo, com ganhos de produtividade, qualidade e renda aos produtores. A integração e conexão das fa-
zendas através de softwares, sistemas e equipamentos tecnológicos se tornaram a solução para otimizar as produções do agro em todas as suas etapas. Essas fazendas, que produzem de forma inteligente, implementam tecnologias que permitem atuar com mínimos detalhes em cada semente, animal, insumos e micronutrientes vegetais e animais, e trabalham com a ideia de agricultura de precisão, são conhecidas como fazendas inteligentes. E a digitalização no campo é uma das etapas iniciais para a construção desse tipo de fazendas. A mudança é inevitável e necessária para a sobrevivência de qualquer negócio, e no agro não é diferente. A grande maioria dos produtores já enfrentou “choques de realidade” que fizeram com que parassem para repensar suas atividades com mais profissionalismo. Isso é evidenciado fortemente desde a aquisição de máquinas e equipamentos cada vez mais modernos e também na adoção de serviços e processos operacionais muito tecnificados. Aliás, um ponto de atenção que os 05
Tecnologia • Maio 2019 AgroSmart
Eficiência média de inseticidas (dose g mL/ ha)no controle de Helicoverpa armigera em soja. Fundação Chapadão. Safra 2017/2018. G.47
A Agrosmart é outra startup que surgiu com o intuito de monitorar e integrar dados da lavoura
produtores precisam ter ao tentarem tornar suas fazendas mais inteligentes é a implementação de sistemas de gestão digitalizada, que se dá pela interpretação de uma vasta quantidade de dados gerados a partir de Big Datas, captados por dispositivos loT, sensores, drones, entre outras tecnologias já citadas. Afinal, a tecnologia que chega hoje no campo não é a mesma que vimos há anos. Se antes a maior tec06
nologia estava em uma máquina mais potente e versátil ou dentro de uma semente geneticamente melhorada, atualmente vemos que as principais tecnologias capazes de mudar o agro são digitais. Softwares que analisam qual a condição ideal para a irrigação, agricultura de precisão mais assertiva e detalhada e, claro, os softwares de gestão agrícola. A Indústria 4.0 aplicada à agricultura está criando novas oportunidades que irão elevar
o patamar de eficiência produtiva. Neste contexto é possível citar algumas soluções que trazem praticidade para o agronegócio e que já se encontram disponíveis no mercado, tais como: DigiFarmz, Agrosmart, Tarvos, SprayX, Aegro e AgriHome. A DigiFarmz foi desenvolvida focada na cultura da soja, que já totaliza mais de 36 milhões de hectares cultivados por ano no Brasil, e mais de 127 milhões de hectares no mundo, e que continua sofrendo pela ocorrência de diversas doenças que comprometem a produção de grãos e geração de riqueza para toda a cadeia do agronegócio. Essas doenças da soja geram perdas de até 40% da produção do grão a cada ano, mesmo com a utilização de fungicidas. Dentre as principais doenças que impactam a cultura da soja estão a ferrugem, a antracnose, a cercospora, a mancha alvo e o oídio. Além das doenças, o manejo da soja é complexo, principalmente pelas muitas variáveis que estão relacionadas. Dentre estas variáveis, estão a genética das cultivares, o local, o histórico de controle e a presença de inóculo, o clima, a precipitação, e a época de semeadura. Diante disso, dois agrônomos do Rio Grande do Sul, estado com forte vocação agrícola e terceiro maior produtor de soja, criaram uma startup especializada em auxiliar produtores e técnicos no manejo de doenças do grão. Através da plataforma DigiFarmz, desenvolvida desde 2016 e lançada em 2018, o agricultor tem acesso a parâmetros em tempo real e recomendações técnicas para a cultura da soja. Essencialmente, a plataforma DigiFarmz utiliza algoritmos integrados a uma base de dados de mais de uma década de pesquisas, anualmente ampliadas e validadas, além de informações de cada fazenda e talhão. Ao todo, são 18 variáveis bióticas e abióticas que garantem precisão nos parâmetros da DigiFarmz e que permitem levar a revolução no manejo de doenças, a cada agrônomo, técnico e
Tecnologia • Maio 2019
produtor, no campo, fornecendo informações que os ajudem a planejar e decidir quais fungicidas utilizar, qual melhor data para cada pulverização, quantas pulverizações realizar, qual a melhor cultivar, dentre outra série de decisões que prometem auxiliar no manejo antirresistência e, principalmente, focar na otimização dos insumos e no aumento da produtividade. E tudo isso com a vantagem de ser uma ferramenta on-line simples de utilizar e que tem a viabilidade de ser utilizada sem sensores a campo, conseguindo assim trabalhar em diferentes áreas em todo o país, inclusive com áreas menores. Um ponto importante reside no fato de que, atualmente, ainda são realizadas recomendações de fungicidas e doses de forma generalista, sem considerar as especificidades e realidades das diferentes regiões e cultivares. É uma prática pouco efetiva quando se sabe que o Brasil é um país continental, com diversas condições e ambientes distintos. Além disto, é imperativo atentar para o efeito que cada aplicação possui no controle das doenças em todo o ciclo da cultura. Igualmente importante, é preciso considerar a ocorrência de resistência dos fungos (patógenos) aos fungicidas, gerados muitas vezes por equívocos nas decisões de manejo. Por esta razão, a DigiFarmz traz também um pilar de educação, através de alertas que apresentam informações relacionadas às melhores práticas agronômicas, com objetivo de maiores produtividades e menor pressão de resistência dos patógenos aos fungicidas. É notório que um dos maiores problemas do sistema produtivo está relacionado à falta de informação para tomada de decisão na agricultura, já que grande parte das decisões do produtor rural é tomada com base na intuição, resultando em desperdícios e altos custos. Com base nisso, a Agrosmart é outra startup que surgiu com o intuito de monitorar e integrar
AgroHome
dados da lavoura, criando modelos agronômicos com o objetivo de gerar recomendações e informações que auxiliem na tomada de decisões em relação a irrigação, pragas, doenças, plantio e colheita. Basicamente, apresenta soluções para otimização de processos de irrigação e geração de alertas contra riscos de pragas nas plantações e, dessa forma, o produtor consegue reduzir o consumo de água e o uso de defensivos, aumentando a eficiência da produção. E já que a agricultura moderna e sustentável está baseada no uso consciente de defensivos químicos e no uso alternativo de técnicas de proteção das lavouras, a alternância entre controle químico com inseticidas e controle biológico de insetos-praga
está se tornando, cada vez mais, uma maneira interessante para a proteção de cultivos, ao diminuir a pressão ao meio ambiente e melhorar a qualidade de vida dos produtores agrícolas. Com o monitoramento automatizado de insetos considerados pragas na agricultura é possível coletar dados que embasam a elaboração de práticas de controle destas espécies. Atualmente, os métodos tradicionais de monitoramento e acompanhamento destas populações nas lavouras demandam muito esforço laboral para inspecionar grandes áreas de produção. Assim, este acompanhamento de perto da produção é geralmente praticado apenas algumas vezes por semana, na melhor das hipóteses, ao contrário de tecnologias que empreAgroHome
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DigiFarmz
gam o monitoramento automatizado, que permitem o controle diário e até mesmo horário, de todas as áreas monitoradas da propriedade. As vantagens desta abordagem incluem o melhor manejo de pragas e doenças e o prolongamento da resistência das pragas e doenças às tecnologias empregadas em defensivos químicos. Permitem, ainda, menor exposição a esses produtos pelos trabalhadores, redução de resíduos químicos em produtos agropecuários e, consequentemente, colaboram com a proteção 08
do ecossistema natural da região. E essa é justamente a proposta da Tarvos, uma startup que busca entregar soluções de detecção de pragas de maneira totalmente automatizada, a partir de dados coletados de armadilhas inteligentes instaladas nas lavouras e conectadas à internet, oferecendo análises preditivas de ataques de pragas e doenças para as principais culturas agrícolas brasileiras. A plataforma do sistema é uma ferramenta que permite aos produtores avaliarem e responderem
às condições, pressão de insetos e doenças em tempo real. O sistema de monitoramento automatizado de pragas agrícolas fornece indicações de maneira diária da ocorrência de pragas na lavoura. A precisão fornecida pelos dados de monitoramento coletados diretamente do campo pelas armadilhas inteligentes, adicionada ao processamento de dados meteorológicos em escala microrregional, aumenta exponencialmente a qualidade e a viabilidade da tomada de decisão dos produtores. Outro problema do agro, identificado em Tecnologia de Aplicação, é a execução incorreta do que foi especificado pelos fabricantes, pelos consultores e pelos agrônomos. Pensando nisso, há a SprayX, startup que foca em garantir os processos de uma das atividades mais críticas na agricultura: a aplicação de defensivos agrícolas. Ensina e conduz o técnico agrícola no campo, passo a passo, auxiliando na execução correta das recomendações técnicas, tornando a aplicação de defensivos mais eficiente e segura. Faz isso através de um conjunto de hardware, software e exclusivos equipamentos interconectados que, automaticamente, coletam informações e interagem com o técnico de uma forma divertida e produtiva. A gestão da fazenda também sempre foi uma questão no campo, mesmo que os produtores não estivessem totalmente conscientes disso. Por exemplo, se o momento de fazer a aplicação para uma praga for errado, o erro pode ter ocorrido por falta ou falhas no monitoramento, atraso na entrega do produto ou condições climáticas. Mas todos esses contratempos podem ser resolvidos por uma gestão eficiente: o monitoramento deve ser estruturado e as informações guardadas em local seguro e de fácil interpretação; o estoque de produtos deve ser controlado adequadamente para não faltar nem sobrar e um cronograma flexível deve incluir contratempos de condições climáticas sem prejudicar o manejo. Ou seja, um
Tecnologia • Maio 2019 Tarvos
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simples erro envolve uma infinidade de informações, que passam por todos os processos da produção agrícola e do negócio rural. Por isso, a Aegro foi desenvolvida para possibilitar uma gestão eficiente e eficaz nas fazendas, auxiliando o produtor nas suas decisões e dando um panorama que antes não era possível visualizar. A startup busca resolver o problema de não saber ao certo o quanto se ganha, o quanto realmente foi gasto, quais são os gargalos da produção agrícola e do financeiro do negócio, o problema do controle de estoque e dos maquinários, além de muitos outros. Resumindo, o que a AgroSmart ajuda a esclarecer é a tomada de decisão do produtor e a felicidade dele no negócio. Outra dessas soluções diz respeito à necessidade do produtor rural de adquirir insumos agrícolas para cada ciclo produtivo. E por que não fazer isso por meio de uma compra on-line? Muitas pessoas já estão acostumadas - e até preferem - a comprar diversos produtos de forma on-line (internet), uma vez que não há a necessidade de deslocamento até uma loja física, o que demanda tempo, além de corre-
A SprayX busca tornar a aplicação de defensivos mais eficiente e segura
A Tarvos oferece análises preditivas de ataques de pragas e doenças para as principais culturas agrícolas brasileiras
rem o risco de não encontrar o produto que desejam ou mesmo receber um péssimo atendimento. Esse modelo de comercialização tem crescido muito nos últimos anos, com o avanço de ferramentas digitais, o que tem proporcionado maior comodidade, praticidade e opção de escolha para o consumidor. Foi assim que surgiu a AgriHome, uma startup criada com o objetivo de utilizar ferramentas digitais de forma a simplificar e agilizar a aquisição de insumos agrícolas com a implementação de um novo modelo de comercialização que está de acordo com a legislação vigente de agroquímicos. A AgriHome é pioneira ao oferecer uma plataforma on-line que reúne uma rede de consultores que são engenheiros agrônomos ou técnicos agrícolas e que tem autonomia, flexibilidade e segurança para realizar as suas recomendações de acordo com suas atribuições técnicas, de maneira a satisfazer as necessidades do produtor rural. Cada consultor cadastrado na plataforma AgriHome
pode recomendar um insumo agrícola de acordo com a necessidade do produtor rural. A partir disso, o consultor passa a ser responsável pela elaboração da receita agronômica com a qual o produtor poderá adquirir o produto via plataforma. E para cada recomendação técnica que é convertida em venda, o profissional recebe uma remuneração. Na atualidade, essas startups citadas se encontram em diversos estágios de comercialização. A Agrosmart monitora mais de 210 mil hectares no Brasil, em culturas como soja, milho, café, cana, frutas e outros. Dentre seus clientes, estão empresas como Café Orfeu, Obrigado, Junqueira Rodas e Raízen. A Aegro tem mais de 600 clientes por todo o país, especialmente na produção de grãos, e auxiliando na gestão de mais de um milhão de hectares. Por outro lado, a SprayX e a DigiFarmz, que, das citadas, são as mais recentes no mercado, já se encontram em um estágio de tração e estão comercializando suas primeiras unidades/safras e ampliando rapidamente uma base de clientes 09
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sólida. A DigiFarmz, inclusive, já está com demanda para a América Latina (Uruguai, Paraguai, Argentina e Bolívia) e em fase final de compilação dos dados para, em breve, realizar a ampliação para essas áreas. Já a Tarvos, se encontra em fase de finalização de testes-pilotos com produtores de algodão dos estados de Mato Grosso e Goiás, no monitoramento do bicudo-do-algodoeiro, e no estado de São Paulo, com usinas testando a solução no monitoramento da broca-da-cana. O lançamento oficial da solução para produtores de algodão ocorreu na Agrishow 2019 e a previsão de oferta em escala comercial para todo o Brasil está agendada para ocorrer a partir do mês de setembro deste ano. A AgriHome, por sua vez, está tracionando as vendas e aumentando a base de consultores e distribuidores.
DIGIFARMZ, SPRAYX E AGRIHOME ESTÃO SENDO ACELERADAS PELA ACE STARTUPS
O agro é um setor muito dinâmico e as mudanças estão ocorrendo de forma cada vez mais acelerada. O produtor rural está conectado, e atento às novas tecnologias. Esse cenário de mudanças e transformações, onde a informação estará mais acessível e terá papel de grande destaque, está permitindo tomadas de decisões mais precisas em todos os momentos da produção agrícola. Com isso, permitindo menor desperdício de insumos, de tempo, de energia e uma agricultura mais assertiva, eficiente e sustentável. E é diante de tantos dados, novos produtos e soluções que surgem diariamente com base na tecnologia, que se percebe como é fundamental encarar as inovações tecnológicas não mais como tendência, mas como realidade. Afinal, os ganhos de produção e produtividade têm condições de ser ainda melhores com o uso de tecnologias emergentes que podem ser incorporadas desde pequenas até C grandes propriedades. 10
DigiFarmz Smart Agriculture www.digifarmz.com Agrosmart Cultivo Inteligente www.agrosmart.com.br Tarvos www.tarvos.ag SprayX www.sprayx.com.br Aegro www.aegro.com.br AgriHome www.agrihome.com.br
Encarte Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 240 • Maio 2019 • Capa - AgroSmart Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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