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Destaques
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O aumento das doenças foliares em soja e a aplicação de fungicidas no estádio vegetativo para prevenir prejuízos na próxima safra
Manejo inteligente
Que medidas racionais adotadas desde a implantação do canavial são necessárias para o controle eficiente de plantas daninhas em cana
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Índice
Explosão de manchas
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Manchaanular
Como manejar esta doença causada por ácaro com alto potencial de
Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 242 Julho 2019 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Fernando Cezar Juliatti
Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Desafio Máxima Produtividade Cesb
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Manejo de ciperáceas em arroz
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Uso de herbicidas pré emergentes
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Seed Show 2019
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Capa - Manchas foliares em soja
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One Agro 2019
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Manejo de daninhas em cana
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Mancha-anular em café
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FieldView Experience 2019
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Produção diversificada de trigo
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Lançamento da marca Cordius
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
afetar a qualidade do café
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300
Diretas
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
• Vendas Sedeli Feijó José Luis Alves Miriam Portugal
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Rogério Nascente COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso • Expedição Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas Novos Rumos
Marcelo Magurno acaba de ser nomeado diretor de Negócios Brasil da FMC. Com 25 anos de experiência em proteção de culturas agrícolas, o executivo respondia anteriormente pela diretoria de negócios da Região Norte do país. Suas novas responsabilidades abrangem agora a supervisão de todos os recursos e estratégias comerciais no Brasil, incluindo vendas e marketing.
Realinhamento
Marcelo Magurno
A FMC Corporation (Nyse: FMC) anunciou o realinhamento da estrutura da liderança das regiões na América do Norte e América Latina. O presidente da FMC América Latina, Ronaldo Pereira, foi nomeado presidente da nova região das Américas, que abrange os Estados Unidos, o Canadá e as Américas Central e do Sul. Pereira continuará a se reportar a Mark Douglas, presidente e diretor de operações da FMC. Devido ao realinhamento da liderança, Amy O'Shea, vice-presidente e diretora de negócios para a América do Norte, deixa a organização.
Fungicida global
Michiel De Jongh
A Syngenta anunciou a introdução global do Vayantis, com um novo modo de ação de tratamento de sementes com fungicida para atender às necessidades dos produtores de milho, soja, canola e outros cereais. Os primeiros registros do produto são esperados nos Estados Unidos e no Canadá em 2020. O defensivo contém Picarbutrazox, um novo ingrediente ativo de uma nova classe química desenvolvida pela Nippon Soda, que age contra doenças como Pythium e Phytophthora para garantir a melhor germinação, estabelecimento de planta e maiores rendimentos. “O Vayantis será usado em combinação com o Apron para complementar a tolerância genética ou mesmo a resistência em culturas específicas. Vayantis é um exemplo de como a Syngenta está acelerando a inovação através do investimento em tecnologias que importam para trazer mudanças positivas e duradouras para uma agricultura mais sustentável ”, avaliou o diretor global da Syngenta Seedcare, Michiel De Jongh.
Centro
A Basf inaugurou seu novo Centro Global de Pesquisas em Aplicação de Agroquímicos no Research Triangle Park, Carolina do Norte, EUA. A instalação ajudará na otimização das diretrizes relacionadas às aplicações dirigidas das soluções de proteção de cultivos da companhia usadas em todo o mundo. A pesquisa conduzida no Centro também abordará o manejo adequado nas áreas de refúgio, bem como as combinações específicas de mistura em tanques. "O Centro de Pesquisa nos ajudará a trazer novas tecnologias para os agricultores que reduzem a deriva, usam as taxas e realizam os testes regulatórios necessários", explicou o vice-presidente sênior para a América do Norte da Divisão de Soluções Paul Rea para Agricultura da Basf, Paul Rea.
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Ronaldo Pereira
Plataforma digital
A plataforma de agricultura digital da Bayer, a Climate FieldView foi lançada comercialmente na Argentina para a próxima safra. Desenvolvida e entregue pela The Climate Corporation, uma subsidiária da Bayer e líder em inovação digital para a agricultura, a plataforma agrícola ajuda os agricultores a coletar e armazenar dados com facilidade, otimizar as decisões de gerenciamento de forma rápida e eficiente e ajudar a atingir seu potencial de rendimento, minimizando a aplicação de insumos agrícolas. "As tecnologias digitais estão ajudando mais agricultores de todo o mundo a obter uma compreensão mais profunda de seus campos por meio de ferramentas fáceis de usar que aprimoram suas operações", avaliou o diretor executivo da The Climate Corporation e chefe de agricultura digital da Bayer, Mike Stern.
Mike Stern
Foco agrícola
A Corteva anunciou em junho, em São Paulo, que concluiu a separação da holding DowDuPont para se tornar uma empresa independente, totalmente focada em agricultura. “Foi uma longa jornada, que serviu para nos unir. O sentimento é de estar criando algo para a história, o clima é de celebração e realização. Estamos entrando em um novo momento, e a tendência é só crescer e melhorar. Vamos cuidar e ter orgulho da nossa recém-nascida e forte Corteva Agriscience, que já esta entre as líderes do segmento”, destacou o presidente da Corteva no Brasil, Roberto Hun. Participaram do evento a diretora comercial da região Leste, Mariana Castanho, a diretora comercial da Região Sul do Brasil e Paraguai, Sheila Pereira Albuquerque, e o diretor de marketing da Corteva Brasil, Douglas Ribeiro.
Comunicação
A UPL reuniu, em Campinas, São Paulo, profissionais de comunicação de importantes cooperativas dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e Minas Gerais. A iniciativa faz parte do Programa CooperUP, que objetiva debater os caminhos para a inovação e a comunicação mais eficiente. Foram apresentados os pilares do programa, divididos em Conexão Brasil e Índia; Força do Portfólio; Geração de Demanda; e Inovar para Transformar. “Queremos andar juntos com as cooperativas. Sempre que possível visito cooperativas. Recentemente, estive com os presidentes de algumas delas na Índia. Queremos estar cada vez mais próximos de vocês. Contem conosco”, disse o presidente da UPL Brasil, Fábio Torretta. Participaram Coopermota, Lar, Cocari, Coagril, Minassul, Cotrijal, Coperdia, Copercampos, Comigo, Agropan, Copagril, Frísia, Cotrisal, Integrada, C. Vale, Agrária, Coopavel, Cotriel, Cocamar, Copercana e Nova Produtiva.
Evento
Máxima produtividade Produtor do Rio Grande do Sul vence Desafio do Cesb com 123,88 sacas de soja por hectare em área irrigada
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om a marca de 123,88 sacas por hectare, o produtor Maurício de Bortoli, de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, é o grande campeão do 11º Desafio Cesb de Máxima Produtividade de Soja, safra
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2018/19. O resultado supera em 132% a média nacional da oleaginosa, calculada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 53,4 sacas/hectare. Nesta edição, o Desafio Máxima Produtividade re-
Divulgação CESB
cebeu 4 mil inscrições, atingindo 11,5% das áreas plantadas de soja do Brasil, o que representa 4,14 milhões de hectares. No total, o país conta com aproximadamente
36 milhões de hectares cultivados com a oleaginosa. O Comitê também realizou um número recorde de auditorias, chegando a 863 neste ano, contra 597 em 2018. Ao todo, em dez anos, o Cesb efetuou mais de 3 mil auditorias. O anúncio dos vencedores ocorreu em junho, durante a realização do Fórum Nacional de Máxima Produtividade, organizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) em parceria com a Cooperativa Agroindustrial (Cocamar) e a Sociedade Rural do Paraná (SRP). “Auxiliamos para que a produtividade de soja cresça no país, sempre oferecendo aos sojicultores informações de como fazer com que suas áreas sejam mais produtivas e mais rentáveis”, avaliou o presidente do Cesb, Leonardo Sologuren. Esse é o primeiro ano com vencedor oriundo de área irrigada. Para
conseguir alta produtividade, Bortoli revela que investiu no manejo agronômico, com a escolha de uma cultivar com características genéticas e fisiológicas compatíveis com o solo e com o clima do local onde fez o plantio. “Como produtor, tive um cuidado e atenção no controle de pragas e doenças que pudessem impactar em redução da produtividade e da qualidade do produto final”, explicou. De descendência italiana, a família de Bortoli está na terceira geração e trabalha com soja desde 1977. Em Cruz Alta, possui nove fazendas, que fazem parte do Grupo Aurora. A oleaginosa ocupa 7.340 hectares, com produtividade média de 72,6 sacas/ hectare. A área utilizada para o concurso foi de 2,8 hectares. Para alcançar a produtividade de 123,88 sacas por hectare, o custo total alcançou R$
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3.270,00 por hectare, o que inclui gastos com irrigação, operação de máquinas e implementos, manutenção de benfeitorias, mão de obra, sementes, tratamento de sementes, fertilizantes, defensivos, beneficiamento, transporte externo e assistência técnica. O maior investimento ficou com fertilizantes e defensivos, sendo o primeiro responsável por 28,6% e o segundo por 30,4% das despesas. A análise econômica, apresentada pelo Cesb, mostra que para cada real investido o retorno foi de R$ 2,7. O consultor foi o irmão de Maurício, Eduardo de Bortoli. A alta produtividade é atribuída pelo produtor ao conhecimento adquirido ao longo dos anos, a boa genética da planta e o manejo correto. "Em síntese, foi conhecer o ambiente onde estou produzindo, aplicar muita capacidade técnica no manejo agronômico, a escolha de uma ótima cultivar com características genéticas e fisiológicas compatíveis, e, por fim, o clima adequado como
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aliado do processo produtivo", relatou Maurício. O produtor gaúcho relata que enfrentou dificuldades com o clima, com chuvas fortes entre outubro e novembro de 2018, o que causou prejuízos ao solo e atraso na semeadura. Logo após, veio a falta de chuvas em dezembro e em fevereiro, com a estiagem chegando até a 23 dias.
DEMAIS CAMPEÕES
O segundo lugar e o título de maior produtor em uma área não irrigada foram também para o Rio Grande do Sul. A propriedade da família Tolotti, da cidade de Erval Seco, conseguiu colher 123,50 sc/ ha, se consagrando ainda como a campeã da categoria sequeiro na Região Sul. Rafael Tolotti, da família vice-campeã, explica que seguiu todos os fatores que levam ao sucesso da produção, como cobertura do solo, semente de qualidade, semeadura na hora certa, boa plantabilida-
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de e manejo de doenças e pragas. “Quando apenas um dos fatores não sai como o planejado, há perdas significativas”, alerta.
CAMPEÕES REGIONAIS
Já o campeão da categoria sequeira na Região Sudeste, foi Matheus Grossi Terceiro, da cidade de Patrocínio, Minas Gerais, que colheu 110,45 sc/ha. Para chegar a esse patamar de produtividade, o produtor também teve de enfrentar desafios como a instabilidade do clima, que foi o grande vilão da safra 2018/2019 da soja. “No começo do ciclo houve períodos com grandes volumes de água e vários dias nublados, com baixa luminosidade, prejudicando o crescimento vegetativo da planta. No período da colheita ocorreram chuvas, que prejudicaram a qualidade (peso e sanidade) dos grãos”, relata. Na Região Centro-Oeste, categoria sequeiro, o grupo Fazenda Reunidas, de Rio Verde , Goiás, se consagrou campeão, com a produ-
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ção de 108,74 sc/ha. O CEO do grupo, Alexandre Baungart, revela que o preparo do solo fez a diferença para conquistar esse alto índice de produtividade. “Para reestruturar o solo e realizar o aporte de matéria orgânica foi plantado [capim] panicum nas últimas três safras e milho safrinha em 2018. Esse capim possibilitou a entrada de boi na sequência, aumentando a performance do uso da terra”, conta. O Estado da Bahia trouxe o campeão da categoria sequeiro na Região Norte-Nordeste. Com 96,86 sc/ ha, o destaque ficou com João Gorgen. O produtor costuma fazer as alternâncias de safras utilizando o milho Santa Fé a cada quatro safras e o milheto no período pós-soja. “Temos o algodão no sistema também, que favorece o aumento de fertilidade C dos nossos solos”, revela.
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Os vencedores Grande Campeão Nacional e Irrigado - Agricultor Maurício de Bortoli, consultor Eduardo de Bortoli Área total cultivada: 8.350 hectares Área destinada à soja: 7.340 hectares Área destinada ao concurso: 2,80 hectares
Henrique Campinha/Divulgação CESB
Campeão Sul - Agricultor Rafael Tolotti, consultor Maiquel Anese. Área total cultivada: 1.500 hectares Área destinada a soja: 1.200 hectares Área destinada ao concurso: 2,62 hectares. Campeão Sudeste - Agricultor Matheus Grossi Terceiro, consultor Pedro R. A. Lima Área total cultivada: 316 hectares Área destinada à soja: 285 hectares Área destinada ao concurso: 2,69 hectares Campeão Centro-Oeste - Agricultor Alexandre Baumgart, consultor João P. S. Queiroz Área total cultivada: 5.400 hectares Área destinada à soja: 5.200 hectares Área destinada ao concurso: 2,50 hectares
Maurício e Eduardo de Bortoli na entrega do prêmio do Cesb
Campeão Norte-Nordeste - Agricultor João Antônio Gorgen, consultor Edinei Antônio Fugalli Área total cultivada: 23 mil hectares Área destinada à soja: 13.800 hectares Área destinada ao concurso: 2,57 hectares www.revistacultivar.com.br • Julho 2019
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Plantas daninhas
Manejo de A ciperáceas
Kochemborger, 2018
Plantas daninhas da família Cyperaceae, como tiririca e junquinho, resistentes à aplicação de herbicidas, são um problema crescente em lavouras de arroz irrigado no Rio Grande do Sul. Para minimizar os prejuízos, é preciso associar estratégias além do controle químico - o que inclui a manutenção de lâmina de água para evitar novos fluxos de emergência e a realização de rotação de culturas
s plantas da família Cyperaceae, popularmente conhecidas como junquinho, tiririca, dentre outras, têm ganhado relevância em função do aumento de ocorrência em lavouras de arroz-irrigado no Rio Grande do Sul. Destacam-se as espécies Cyperus esculentus, C. difformis, C. ferax, C. iria e Fimbristylis miliacea, capazes de promover perdas de produtividade do arroz ao redor de 50% (Agostinetto et al., 2016). O uso exclusivo e excessivo do método químico selecionou plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da acetolactato sintase (ALS) em áreas de arroz irrigado do Brasil, sendo reconhecida a ocorrência da resistência de F. miliacea (L.) Vahl, C. difformis e C. iria. Com isso, a presença dessas plantas resistentes promove aumento dos custos de produção e, consequentemente, redução da rentabilidade da lavoura. Até o momento, poucas informações são conhecidas sobre o manejo de ciperáceas resistentes em arroz irrigado no Rio Grande do Sul (RS), bem como a área de abrangência desses casos. Além disso, frequentemente produtores apontam para altas infestações nas suas áreas e com baixa eficiência dos herbicidas alternativos utilizados, devendo-se atentar para esse problema. Ciperáceas resistentes no Rio Grande do Sul
Estudo sobre o mapeamento da ocorrência de ciperáceas no Rio Grande do Sul, realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), indicou que 40% das amostras testadas apresentaram resistência aos inibidores da ALS, principalmente C. iria (Ulguim et al., 2019) (Figura 1). Entre as seis regiões de cultivo de arroz no Estado gaúcho, somente na Zona Sul não foram observados casos de resistência, embora não seja possível afirmar a inexistência de biótipos resistentes nessa região de cultivo. As regiões com maior ocorrência de resistência são a Fronteira Oeste, Depressão Central e Planícies Costeira Interna e Externa (Ulguim et al., 2019), devendo os produtores dessas regiões atentarem
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para o manejo dessas espécies. Práticas de manejo que favorecem a ocorrência de ciperáceas resistentes
No estudo de mapeamento verificou-se que nas áreas com problemas de ciperáceas no Rio Grande do Sul, o cultivo consecutivo de arroz se dá por mais de seis anos, sendo que a maioria faz uso de cultivares tolerantes à imidazolinonas (Ulguim et al., 2019). Essas características indicam que existe alta pressão de seleção para a resistência de ciperáceas e outras espécies daninhas em arroz irrigado no Rio Grande do Sul, sobretudo C. iria. Nas áreas com ocorrência de problemas de ciperáceas no Rio Grande do Sul, observou-se que as principais práticas de manejo adotadas são a rotação de culturas, associação de outros herbicidas e rotação de herbicidas. Entretanto, percebeu-se que, nessas áreas, a frequência de rotação de culturas é baixa e/ ou realizada há pouco tempo, reforçando que o método químico é o mais usual (Ulguim et al., 2019). Ressalta-se que mesmo nas áreas onde os problemas de ciperáceas são frequentes, o arroz-daninho (Oryza sativa) e o capim-arroz (Echinochloa spp.) são citados como mais importantes (Ulguim et al., 2019). Nesse sentido, é importante a percepção dos produtores de que as estratégias de manejo adotadas também privilegiem as espécies ciperáceas, de modo que não sejam exclusivamente voltadas para o manejo das gramíneas citadas anteriormente. Assim, os métodos de manejo devem focar também no espectro de plantas daninhas ciperáceas presentes na área, para evitar aumento da infestação ao longo do tempo. Principais práticas de manejo de ciperáceas resistentes
Em áreas com problemas de ciperáceas resistentes, muitos produtores vêm lançando mão de herbicidas alternativos aos inibidores da ALS para o controle dessas espécies, sendo predominantemente utilizados herbicidas de contato em pós-emergência do arroz. O manejo dos biótipos resistentes com herbicidas de contato deve ser realizado quando as plantas daninhas estive-
Figura 1 - Controle de biótipos de Cyperus iria após 28 dias da aplicação da dose de registro de imazapyr+imazapic em biótipo suscetível (A) e resistente (B), e detalhe de rebrote em biótipo resistente com intensa injúria à parte aérea (C). Fonte: Silva, 2016
rem no máximo com 3-4 folhas, pois frequentemente tem-se verificado a ocorrência de rebrote após aplicações tardias desses herbicidas. Para tanto, havendo suspeita de resistência nessas áreas, as medidas de controle químico alternativas aos inibidores da ALS devem ser utilizadas em aplicações em pré-emergência e/ou ponto de agulha, bem como nas pulverizações antes da entrada da água, uma vez que aplicações tardias podem não surtir o efeito desejado (Tabela 1). A associação de herbicidas também é prática que aumenta o controle de espécies ciperáceas, desde que esteja prevista a associação com herbicidas diferentes dos inibidores da ALS. Além disso, essa prática pode ser importante para retardar o surgimento da resistência, devendo ser utilizada sempre que possível no manejo dessas plantas daninhas. A irrigação por inundação é um dos principais métodos de manejo de plantas daninhas no arroz irrigado, constituindo-se como barreira física à germinação das sementes da maioria das espécies daninhas que necessitam de oxigênio para finalizar esse processo. Assim, a entrada de
água precoce na lavoura constitui-se um método importante para manejar esses indivíduos. No caso de ciperáceas, observou-se que lâminas de água de 5cm ou mais foram suficientes para evitar a emergência de Cyperus iria resistente e suscetível aos inibidores da ALS. Além disso, a presença de lâmina de água baixa na superfície do solo (1cm-2cm) foi suficiente para atrasar a emergência dessa espécie, bem como o desenvolvimento das plântulas emergidas. Portanto, a inundação em áreas de arroz irrigado com ocorrência de ciperáceas resistentes aos inibidores de ALS pode auxiliar no manejo, evitando a reinfestação das áreas. Outro ponto importante a ser destacado é que, de forma geral, naquelas propriedades em que o manejo é realizado com estratégias adicionais à exclusiva aplicação de herbicidas, verifica-se que a infestação e ocorrência de ciperácias são substancialmente menores. Dentre as práticas de manejo de plantas daninhas resistentes, destaca-se como fundamental a rotação de culturas. Isso corrobora o fato de que na Zona Sul do Rio Grande do Sul não foram encontrados casos de resistência, provavelmente devido à área de rotação de culturas com soja observada nesta região. Assim, para o adequado manejo de ciperáceas em arroz,
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é fundamental associar estratégias além do controle químico, para que o problema seja minimizado. Áreas com métodos de manejo alternativos, como a rotação de culturas, têm limitado a ocorrência de biótipos resistentes de ciperáceas. Destaca-se que aplicações tardias de herbicidas alternativos aos inibidores de ALS não promovem controle adequado, verificando-se rebrote das plantas, sendo que as estratégias para o manejo dessas espécies envolvem aplicação de herbicidas pré-emergentes e pós-emergentes em plantas com até quatro folhas, seguida da irrigação e manutenção da lâmina de água- para evitar C novos fluxos de emergência.
André da Rosa Ulguim e Cassiano Salin Pigatto, Universidade Federal de Santa Maria Dirceu Agostinetto e Renan Ricardo Zandoná, Universidade Federal de Pelotas
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Influência da lâmina de água na superfície do solo (0, 1, 2, 5, 7 ou 10cm de água na superfície do solo) na emergência e crescimento de Cyperus iria resistente e suscetível aos inibidores de ALS. Fonte: Pigatto, 2019
Tabela 1 - Controle (%) de biótipos de Cyperus difformis e Cyperus iria resistentes e suscetíveis em função de diferentes tratamentos herbicidas, avaliado aos 28 dias após aplicação Tratamentos Testemunha Azimsulfuron Bentazon Bispyribac-sodium Carfentrazone-ethyl Ethoxysulfuron Glyphosate Penoxsulam Propanil Pyrazosulfuron-ethyl
Controle aos 28 DAT3 Cyperus iria2 Cyperus difformis1 Resistente Suscetível Resistente Suscetível 0 0 0 0 88 80 100 99 100 100 100 100 30 100 100 88 0 100 45 87 100 100 0 100 5 100 100 100 88 99 15 37 20 100
Fonte: Adaptado de AGOSTINETTO et al., 20111 e CHIAPINOTTO et al., 20172; 3 Dias após a aplicação dos tratamentos
Herbicidas
Quando usar
Por competirem com os cultivos agrícolas por recursos naturais como água e luminosidade, as plantas daninhas constituem sério desafio nas lavouras de soja. Em determinadas situações, o uso de herbicidas pré-emergentes pode ser uma alternativa para ajudar no manejo deste grave problema
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Fernando Rezende Corrêa
entre os manejos, o de daninhas se destaca, pois a interferência provocada por essas plantas reduz drasticamente o potencial produtivo das culturas. Para se desenvolverem as plantas voluntárias, competem com as cultivadas por recursos como nutrientes minerais, água e luz (Radosevich et al., 2007). O período mais crítico da interferência de plantas daninhas com a cultura vai da semeadura até o estabelecimento das plantas, onde as linhas de semeadura se fecham encontrando o dossel de uma com a outra, diminuindo a irradiação solar (fonte de energia luminosa) nas entrelinhas de cultivo, o que desfavorece o crescimento e desenvolvimentos das plantas daninhas. A utilização do Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) tende a ser o mais efetivo. Destacam-se a associação do manejo preventivo, como seleção de sementes de qualidade certificadas, livres da presença de sementes de plantas daninhas, adubação de semeadura em quantidades necessárias para o desenvolvimento e estabelecimento da cultura e o manejo químico, que vem sendo uma das principais ferramentas para o controle das plantas invasoras. O manejo químico consiste na utilização de herbicidas para eliminar plantas daninhas existentes na área (aplicados na parte aérea em pós-emergência das daninhas) e novos fluxos germinativos do banco de sementes existente no solo (aplicados ao solo em pré-emergência das infestantes). Os herbicidas pré-emergentes, em geral, são aplicados ao solo, onde tendem a permanecer ativos por um período de tempo, podendo ser ab14
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sorvidos por plantas já emergidas ou por sementes após germinação. Este efeito de permanência do herbicida ativo no solo é conhecido como carryover que pode ser influenciado pelo sistema de produção, pelas condições ambientais, pelo regime pluviométrico após a aplicação e pelos atributos físicos e químicos do solo. Os teores de argila e matéria orgânica (M.O) do solo podem favorecer a persistência ou Dessecação da área total do ensaio com 3L/ha-1 de ainda resultar em efeitos como a sorção do Área de ensaio localizada na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Paraquat. Rio Verde (GO), safra 2017-18 herbicida aos coloides do solo e até mesmo Extensão (Fepe) do IESRiver. Rio Verde (GO), safra 2017-18 a degradação da molécula. A sorção ocorre quando o herbicida fica adsorvido aos coloides do solo (argila e M.O), o que o torna 17/11/2017, com espaçamento de 0,5m entre linha e uma indisponível para absorção pelas raízes das plantas. O propopulação de 16 plantas por metro linear. O delineamento duto será absorvido na grande maioria das vezes quando experimental foi o de blocos ao acaso, com oito tratamenestiver na solução do solo. tos e quatro repetições. Os tratamentos foram compostos por controle (sem aplicação de herbicida), controle capinaESTUDO da (sem aplicação de herbicida) e controle mecânico (por Um estudo com o objetivo de avaliar o fluxo de emercapina manual), Clorimuron Etílico (0,08L/ha), Imazetaphyr gência de plantas daninhas após a aplicação de herbici+ Flumioxazin – mistura comercial (0,5L/ha), Diclosulan das com persistência no solo, no sistema plante aplique (0,03kg/ha), Sulfentrazone + Imazetaphyr – mistura de (aplicação logo após a semeadura em área de primeiro tanque (0,4 + 1,0L/ha), S-Metolacloro (1,75L/ha) e Metriano de cultivo da soja) foi realizado na Fazenda de Enbuzin (0,75L/ha). As doses foram de produto comercial. sino Pesquisa e Extensão (Fepe), do Instituto de Ensino Não houve aplicação de herbicidas pós-emergentes para Superior de Rio Verde (IESRiver), no município de Rio nenhum dos tratamentos. Verde, Goiás. No local onde ocorreu o ensaio, anteriormente havia uma Utilizou-se a cultivar Nidera 7490RR, semeada em área de pastagem. O solo foi revolvido e realizou-se a aplicação de calcário conforme a necessidade, de acordo com os resultados da análise de solo. Por este motivo, caracterizou-se como primeiro ano de cultivo de grãos. Após as operações de preparo do solo, ocorreu, antes da semeadura, a dessecação Agricultura e aumento da área, com a aplicação de 3,0L/ha do herbicida paraquat, populacional com pulverizador costal motorizado, provido de barra de pulverização, contendo seis pontas espaçadas com 0,50m, s Nações Unidas estimou que a população mundial no ano jato duplo tipo leque ADIA-110.02, sob pressão de 2kgf/cm2 de 2017 era de aproximadamente 7,5 bilhões de habitantes, , com volume de calda proporcional a 150L/ha. Posterior a tendendo a aumentar para 9,73 bilhões de habitantes até 2050 e por isso, realizou-se a semeadura e logo após ocorreu a aplicação volta de 11,2 bilhões de pessoas para o ano de 2100 (United Nations - UN, 2017). Além do aumento gradativo da população mundial, os Figura 1 - Configuração do controle de fluxo de emergência de plantas daninhas humanos estão vivendo por mais tempo em relação à década de 1960, pelos herbicidas pré-emergentes aplicados logo após semeadura das sementes mesmo com o índice de natalidade reduzido. de soja. Rio Verde - GO, safra 2017-18 Essas informações são de suma importância para o setor agrícola mundial, pois os países produtores necessitam aumentar esporadicamente sua produção de alimentos, aliando tecnologia e manejo adequado para explorar o potencial produtivo das principais culturas cultivadas. A cultura da soja (Glycine max L.) é a oleaginosa mais cultivada no mundo, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - Usda (2019). Os Estados Unidos e o Brasil são os maiores produtores e exportadores da oleaginosa, que é utilizada tanto na alimentação humana quanto animal pelos países importadores. A utilização de sementes certificadas, com elevado teor germinativo e vigor, aliada ao manejo adequado de plantas daninhas, pragas, doenças e manejo nutricional, proporciona condições para que os agricultores atinjam elevadas produções em suas áreas.
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Tabela 1 - Emergência de plantas daninhas em área de primeiro ano de cultivo de soja após aplicação de herbicidas pré-emergentes. Rio Verde (GO), safra 2017-18
dos herbicidas. A aplicação dos herbicidas pré-emergentes que compunham os tratamentos foi realizada com pulverizador costal pressurizado a CO2, provido de barra de pulverização, contendo seis pontas espaçadas com 0,50m, jato duplo tipo leque ADIA-110.02, sob pressão de 2kgf/cm-2, com volume de calda proporcional a 150L/ha. As avaliações foram aos sete, 14, 21, 28, 35, 42, 49 e 119 dias após aplicação (DAA). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste de F (p<0,05) e em casos de significância comparados pelo teste de médias de Tukey (p<0,05), utilizando o software SASM – Agri (Canteri et al., 2001).
Tratamento
Dose Kg/L p.c2 ha-1 1 Controle sem herbicida 2 Controle capinada 3 ClorimuronEtilico 0,08 4 Imazetaphyr + Flumioxazin3 0,5 5 Diclosulan 0,03 6 Sulfentrazone + Imazetaphyr 0,4 + 1,0 7 S-Metolacloro 1,75 8 Metribuzim 0,75 CV% CV%
7 12,5 a 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 0,0 b 146,06
Fluxo de Emergência das Plantas Daninhas (DAA)1 35 42 49 14 21 28 33,8 a 52,5 a 81,2 a 87,5 a 93,8 a 97,5 a 0,0 b 0,0 c 0,0 d 0,0 c 0,0 c 0,0 d 7,5 b 13,75 b 22,5 b 35,0 b 40,0 b 45,0 b 1,5 b 4,0 c 5,0 d 7,5 c 10,0 c 10,0 cd 3,0 b 6,5 bc 11,2 c 11,2 c 13,0 c 14,8 cd 0,0 b 4,5 c 10,0 c 10,0 c 11,2 c 11,2 cd 1,2 b 5,2 c 9,5 c 11,2 c 13,0 c 13,8 cd 2,8 b 5,5 c 9,5 c 16,2 bc 18,8 c 23,8 c 76,29 27,77 24,74 36,18 33,30 26,14
119 100,0 a 0,0 e 51,2 b 12,5 cd 15,5 c 13,0 cd 13,8 cd 23,8 c 21,90
1 Dias após aplicação dos herbicidas; 2 Produto comercial; 3 Mistura comercial; Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 0,05 de significância.
Tabela 2 - Fotos representativas das avaliações aos 28, 35 e 49 dias após aplicação dos herbicidas pré-emergentes. Rio Verde (GO), safra 2017-18
RESULTADOS
Na Tabela 1, observam-se os resultados de emergência de plantas daninhas em área de primeiro ano de cultivo de soja após aplicação de herbicidas pré-emergentes. Percebe-se que a mistura comercial de Imazetaphyr e Flumioxazin possuiu a menor média de emergência de plantas de todo o ensaio. A utilização dos herbicidas pré-emergentes proporcionou a diminuição da emergência de plantas daninhas do banco de sementes do solo. O herbicida Clorimuron etílico, na dose de 0,08 kg/ha, foi o que menos controlou os novos fluxos de plantas durante todo o acompanhamento do trabalho. Os outros herbicidas utilizados não diferiram estatisticamente entre si. Na Figura 1 observa-se um gráfico que representa o controle de fluxo de emergência de plantas daninhas pelos herbicidas pré-emergentes aplicados logo após semeadura de soja, em comparação com os dois tratamentos controle, tanto sem capina quanto com capina manual. Os herbicidas Diclosulan na dose comercial de 0,03kg/ha, a mistura em tanque de Sulfentrazone na dose de 0,4L/ha e Imazetaphyr na dose de 1L/ ha, o herbicida S-Metolacloro na dose comercial de 1,75L/ha e Metribuzim na dose de 0,75L/ha se mostram como uma opção para aplicação logo após
a semeadura da soja para controlar o novo fluxo do banco de sementes do solo. Na Tabela 2, observam-se fotos representativas das avaliações aos 28, 35 e 49 dias após aplicação dos herbicidas pré-emergentes, comparando a evolução da infestação de plantas daC ninhas do banco de sementes.
Fernando Rezende Corrêa, IESRiver/Corrêa Weed Science Estevão Rodrigues, IESRiver/MRE Agropesquisa Nelmício Furtado da Silva, IESRiver/AgirTec Daniele Ferreira Ribeiro, Wendson Soares da Silva Cavalcante e Bruna Guimarães da Silva, IESRiver
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Empresas
Show de sementes
Basf apresenta novidades para sementeiros, distribuidores, representantes e produtores rurais, em evento no Paraná, um ano após realizar aquisições e investimentos no setor
O
SeedShow, realizado em Foz do Iguaçu, no Paraná, foi o local escolhido pela Basf para apresentar pela primeira vez o portfólio de sementes da marca. No evento, que ocorreu em junho, mais de 150 profissionais do mercado, in-
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cluindo representantes da empresa, sementeiros e agricultores, puderam conhecer o novo negócio da companhia, que completará um ano no dia 1º de agosto. Além disso, uma demonstração de tratamentos de sementes industriais mostrou a importância
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dessa tecnologia para incrementar o potencial de germinação e vigor das sementes. Durante o evento, o gerente de Acesso ao Mercado da Basf, Gustavo Bastos, informou que a marca investe globalmente 900 milhões de euros anuais em pesquisa e desenvolvimento de produtos na divisão de Soluções para Agricultura. Atualmente, a empresa possui 20 centros de pesquisa no Brasil. “Inovação e tecnologia andam de mãos dadas com maiores produtividades e rentabilidades. O valor gerado é redistribuído na cadeia do agro”, opinou. A empresa, que possui a marca FiberMax em algodão e o Sistema Clearfield em arroz, apresentou a plataforma de negócios adquirida mundialmente em 2018, com sementes e biotecnologias em soja, algodão, canola, frutas e vegetais. A Basf também investe no desenvolvimento do negó-
Fotos Basf
Abatti destacou novidades para manejo de nematoides e ferrugem asiática em soja
Bastos lembrou investimento da companhia em pesquisa e desenvolvimento de produtos
Borsari enfatizou, além da soja, as potencialidades da cultura do trigo para o mercado brasileiro
cio de trigo que, segundo o diretor de Sementes para o Brasil, Hugo Borsari, é extremamente promissor no mercado brasileiro. O executivo também explicou que a companhia está dedicando um investimento massivo no desenvolvimento da cultura da soja. “Esse é o cultivo em que queremos nos tornar referência, não só no Brasil, mas no mundo todo. Não mediremos esforços em questão de investimentos para nos tornarmos extremamente relevantes no mercado brasileiro”, projetou Borsari, que também destacou a parceria com a marca Biotrigo para o desenvolvimento de biotecnologia nessa cultura. A Basf aborda o mercado de sementes de soja através da marca própria Credenze da Soytech, que licencia o direito de uso de variedades da empresa e que os produtores de sementes multiplicam e vendem. “Por ser um negócio novo, ainda temos alguns desafios na consolidação do portfólio para o Brasil inteiro. Queremos fortalecer nossas parcerias, desde a criação dos produtos, até a forma que acessamos o mercado. No caso da Soytech, nossos grandes parceiros são os produtores de sementes licenciados, que levam a tecnologia até o produtor. No caso de Credenz, são os distribuidores da marca. A forma como nos conectamos com o agricultor segue caminhos distintos”, explicou Borsari. O executivo apontou, também, que o objetivo é apresentar uma gama de soluções ao produtor, com dados integrados, e decisões conectadas à ciência produzi-
da pela companhia. Durante o evento, Borsari enfatizou a abertura da marca para receber o input de parceiros, e a necessidade de fortalecimento dessas parcerias para o crescimento no mercado de sementes.
safra, chegamos ao mercado com 11 novas cultivares de soja com tecnologia Intacta, que serão ofertadas na próxima safra pela Soytech e Credenz do Rio Grande do Sul ao Maranhão”, lembrou. Abatti afirmou que, para 2024, a equipe de melhoramento em soja almeja a posição número um no marketshare da cultura. A Basf está investindo, ainda, em pesquisas em controle biológico para tratamento de sementes, e deve trazer o nematicida Votivo dentro da plataforma de lançamentos que será apresentada em 2020. O Sistema de Arroz Provisia em até três safras e a divulgação do Sistema Clearfield para trigo também foram destaques durante o SeedShow 2019, bem como as novidades da marca Nunhems, em sementes de frutas e hortaliças, e a plataforma C xarvio de agricultura digital.
NOVA PLATAFORMA PARA A SOJA
Segundo o gerente nacional de Melhoramento em Soja da Basf, Claudiomir Abatti, a empresa está desenvolvendo uma nova plataforma para a soja voltada para o manejo de nematoides e ferrugem asiática. Os eventos estão sendo produzidos nos Estados Unidos, e já há testes a campo. O lançamento deve ocorrer entre 2028 e 2030. “Para lançar uma variedade, ela tem que ser produtiva e estável. Nossa estratégia é ser ágil no desenvolvimento de cultivares. Nessa
A importância do tratamento industrial de sementes também foi enfocada pela companhia durante o evento
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Soja
Explosão de manchas Fotos Fernando Cezar Juliatti
Favorabilidade térmica, presença de inóculo em restos culturais e ausência de resistência nos genótipos cultivados estão entre os fatores que ajudam a explicar o aumento de doenças foliares em soja nas últimas safras no Brasil. Começar a aplicação de fungicidas ainda no estádio vegetativo, quando o Índice de Área Foliar (IAF) permitir a deposição em menores volumes de caldas, é uma das principais recomendações para prevenir prejuízos na próxima safra
O
manejo de doenças em soja tem sido baseado no uso de cultivares resistentes, controle biológico, emprego de manejo cultural e fungicidas via sementes e na parte aérea. Na última década, a principal tática de controle adotada reside no emprego de fungicidas multissítios, associados ou não aos fungicidas sítios específicos, notadamente com foco na ferrugem da soja e mancha-alvo. Pouca ou nenhuma ênfase tem sido dada às doenças iniciais ou de finais de ciclo da soja, como a mancha-parda ou septoriose. Com o avanço das cultivares de ciclo indeterminado e precoces essa doença tem aumentado a sua importância. Na realidade o patógeno incide nos cultivos desde a fase inicial (V1) até a fase final (R6). Uma pergunta deve passar na cabeça dos agricultores e sojicultores: por que as manchas foliares
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estão em evolução na cultura da soja e a cada ano aumentando seus danos? Na realidade o sojicultor fica sempre atento e preocupado com a ferrugem da soja e seus danos, que tem se acumulado nos últimos 17 anos, desde a ressurgência, em 2002, no Paraguai e nos Campos Gerais do Paraná, e nos anos seguintes se disseminou por todo o Brasil. Houve episódios consecutivos no Paraná, Mato Grosso do Sul, Sudoeste Baiano e Mato Grosso (Primavera do Leste e Rondonópolis) e em seguida no Triângulo Mineiro e Rio Grande do Sul. De lá para cá, observou-se a queda na eficácia dos fungicidas triazóis em 2006, das estrobilurinas em 2011, dos triazóis e estrobilurinas (estrobimix) no mesmo ano, e em 2016 das carboxamidas. Consequentemente, aumentou-se a demanda dos multissítios (mancozeb, clorotalonil e cúpricos) de forma isolada ou
em associação nos programas de controle da ferrugem e outras doenças (septoriose ou mancha-parda, mancha-alvo, crestamento de cercóspora, antracnose, seca da haste e da vagem, podridão e macrofomina e o mofo branco da soja). Sabe-se que a perda da sensibilidade aos fungicidas ocorreu para o agente etiológico da mancha-alvo (Corynespora cassiicola), principalmente para benzimidazóis em 2012 (carbendazim e tiofanato metílico) e em 2018 para as carboxamidas (fluxapiroxade). Mutações vão se acumulando no genoma, sejam de natureza qualitativa ou quantitativa ou ainda cruzada (dentro do mesmo grupo) ou múltipla (grupos químicos diferentes). Também é conhecida a perda da sensibilidade de isolados de Cercospora kikuchii em relação às estrobilurinas, como o fungicida azoxistrobina. Os danos das principais doenças da soja desde a fase de sementes e final do enchimento de grãos podem ser visualizados na Figura 1 e na Tabela 1. Assim, o Brasil vai acumulando os gastos nos controles de doenças em soja, com perdas diretas e indiretas acumuladas em mais de 25 bilhões de dólares desde 2002, somando-se o que deixa de ser colhido e o gasto com fungicidas, per si. O número de aplicações tem aumentado ano a ano, saindo de duas em 2002, a partir de R1, para aproximadamente 3,5, em média, na safra 2018-2019. Pela inexistência de inovação com novos grupos químicos no mercado, a tendência será aumentar o uso de multissítios nos programas de pulverização de base, além de associar os sítios específicos (triazóis, estrobilurinas, carboxamidas e morfolinas). Não se pode descartar o uso de fungicidas de ação biológica e metabólitos de micro-organismos que contribuirão, juntamente com extratos de plantas ou óleos essenciais derivados de plantas, no manejo das doenças da soja e outros cultivos. Na realidade, houve uma redução na eficácia dos fungicidas que perderam a eficiência de 80%90% para 20%-30% de controle, notadamente em alguns
Figura 1 - Regressão linear entre produtividade de soja e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) para mancha-parda
patossistemas como ferrugem e mancha-alvo. Na Tabela 1, os valores em negativo apresentam quanto cada doença impactou na redução da produtividade, ou seja, menor o valor negativo maior o impacto da doença e do patógeno em reduzir o potencial de produção. Os maiores impactos nas variedades Msoy 7739 IPRO em Uberlândia-MG e BMX Bônus em Querência-MT foram septoriose (-0,61) em MG e mancha-alvo (-0,65) em Querência-MT. Nota-se que a ferrugem na última safra impactou menos nos dois locais por ocorrer tardiamente ou no final do ciclo (-0,26). A Tabela 2 mostra perda da eficiência para os diferentes alvos na cultura da soja. Nota-se que pela Tabela 2 o nível de controle varia conforme o patógeno (*) ou doença. Alguns patógenos começam seu ciclo das relações patógeno-hospedeiro via semente ou restos culturais (solo, palhada etc.). Por exemplo, Macrophomina phaseolina, Diaporthe phaseolorum e Colletotrichum dematium truncata que, devido ao longo período de latência, após a infecção inicial os sintomas demoram para evoluir (por exemplo: Macropho-
Tabela 1 - Correlação entre doenças da soja e produtividade na safra 20182019 em Uberlândia - MG e Querência MT AACPD Septoria x produtividade AACPD Mancha Alvo x produtividade AACPD Ferrugem x produtividade AACPD Rhizoctonia x produtividade AACPD Colletotrichum x produtividade AACPD Míldio x produtividade Produtividade Uberlândia x Produtividade em Querência (MT) AACPD Mato Grosso Septoria x AACPD Uberlandia Septoria
-0,64 -0,65 -0,26 -0,25 -0,11 -0,14 0,49 0,90
Figura 2 - Principais manchas foliares na cultura da soja na safra-2018-2019. (A - Septoriose ou mancha-parda e alvo, B - Mancha abiótica ou mancha aureolada, C - Manchas circulares por Corynespora cassiicola, D - Manchas iniciais por Corynespora cassiicola e seguida colonizadas por Cercospora kikuchii, E - Lesões nas nervuras pelo fungo da antracnose (Colletotrichum dematium truncata), F - manchas necróticas na folha unifoliada por Septoria glycines e G - Lesões por crestamento de Cercospora kikuchii)
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Tabela 2 - Perda da eficácia de fungicidas sistêmicos e específicos no controle de doenças na cultura da soja Doença Ferrugem Septoriose Oídio Míldio Antracnose Crestamento Olho de rã Canco da haste Mela Podridão de carvão Mofo branco
Patógeno Phakosora pachyrhizi Septoria Erysiphe Peronospora Colletotrichum C. kikuchii C.sojina D. phaseolorum Rhizoctoniaou Tanattephorus Macophomina phaseolina Sclerotinia sclerotiorum
Benzimidazóis* 20-30 % 40-60% 50-70% 10-20% 50-80% 40-50% 30-40% 20-40% 30-50% 20-30% 40-60%
Triazois* 30-40% 40-50% 50-60% 10-20% 40-60% 40-50% 40-50% 20-30% 30-40% 20-30% 20-30%
Estrobilurinas* 20-30% 20-30% 20-50% 20-30% 30-50% 20-40% 40-50% 10-20% 50-70% 10-20% 10-40%
Carboxamidas* 40-60% 40-60% 50-80% 20-30% 40-60% 50-60% 30-40% 20-40% 40-60% 20-30% 10-50%
Multissítios* 40-60% 30-40% 30-50% 40-60% 20-40% 30-60% 30-40% 10% 30-40% 10-20%
Tática de Controle Resistência genética e fungicida1 Fungicida1 Fungicida1.2 Resistência e fungicida1 Tratamento de sementes e fungicida1,2 Fungicida1 Resistência e fungicida1 Resistência e fungicida1 Resistência e fungicida1,2 Tratamento de sementes e fungicida1 químico e biológico3 Tratamento de sementes e fungicida2 e manejo com palhada e produto biológico3,4
1 Fungicida em pulverização no vegetativo de V3 a Vn; 2 Fungicida pulverizado no reprodutivo de R1 a R6; 3 Produtos à base de Trichoderma spp e Bacillus spp no tratamento de sementes e na pulverização no estádio V1 ou V2, no máximo em V3. Podem ser aplicados no estádio no estádio V2 e V3 produtos a base de Fosfitos e silicatos foliares visando a indução de resistência .
mina). A infecção inicial se dá via sementes ou plântulas e a observação de sintomas no campo ocorrerá somente no enchimento de grãos (R5 até R6). A antracnose da soja também pode ser associada à presença do fungo na semente ou, ainda, nos restos culturais, e a infecção principal é na plântula na fase inicial ou, ainda, nas vagens, por meio de entradas ou ferimentos realizados por percevejos. Em outros patógenos, o foco do controle é o tratamento de sementes. Certos fitopatógenos precisam de molhamento foliar contínuo para evoluir no cultivo, como o fungo da ferrugem e das manchas foliares. Nesse caso, a melhor forma de combate é a proteção das camadas da planta ou o lançamento de folhas, com fungicidas via foliar, com intervalos regulares. Em outros casos, como não se dispõe de variedades resistentes, a melhor forma de controle é o manejo cultural de plantas não hospedeiras, como no caso dos nematoides (cisto, galhas, lesões e outros). A explosão de manchas observadas na última safra, 2018-2019, se deve a precipitação pluviométrica contínua, favorabilidade térmica, presença de inóculo
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Vagens de soja com sintomas da antracnose (Colletotrichum dematium truncata)
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em restos culturais e ausência de resistência nos genótipos cultivados. A exemplo disso, muitos genótipos sem resistência aos fungos necrotróficos, como Septoria glycines e Corynespora cassiiola, agentes da mancha-alvo explodiram em cultivos como BMXDesafio, MSOy7739 Ipro, BMX Bônus, BMX Flecha, entre outros. Não adianta a precocidade do genótipo, se o mesmo é suscetível ao fitopatógenos. Ensaios realizados pela empresa Juliagro, em Minas Gerais e Mato Grosso (Querência -MT), apresentaram incidência e severidade de manchas nas áreas experimentais e de agricultores, justificando o controle no vegetativo. A mancha-parda é uma doença necrotrófica, cujo patógeno pode ser transmitido ou disseminado via sementes e em muitas situações sobrevive em restos culturais de soja de um ano para outro. No passado, no Brasil foi preconizado e recomentado o uso de Flutriafol e Fluquinconazol, via tratamento de sementes, para o controle da doença. Com essa estratégia de manejo para a redução do inóculo inicial (Xo), reduzia-se a severidade da doença no baixeiro das plantas de soja e a taxa de evolução da doença (r), promovendo a melhor sanidade das plantas e a manutenção do Índice de Área Foliar (IAF). O patógeno (Septoria glycines) apresenta uma latência longa (20-30 dias), bem diferente da Phakopsora pachyrhizi (10-20 dias). Não se conhece, ainda, um bom método de detecção do patógeno da septoriose ou mancha-parda em sementes ou metodologia para os testes de sanidade de sementes atuais. O teste de Blotter é deficiente. Também não se conhece os danos representativos da doença no Brasil. As informações existentes são apenas por observações empíricas ou constatações visuais. Estimava-se que os danos da doença podem atingir até 20% do potencial produtivo da soja, independentemente da cultivar. Mas, pelo modelo apresentado (Figura 1), os danos podem ser maiores, se o controle no vegetativo não for realizado. Também se conhece muito pouco da resistência de cultivares. Os primeiros trabalhos de pesquisa devem focar em quantificar os efeitos ou danos das doenças sobre o rendimento de grãos. Vários modelos podem ser utilizados para estimar danos de doenças em plantas, sendo um deles o de ponto crítico. Segundo Nutter e Jenco, 1992, Ber-
Fotos Fernando Cezar Juliatti
gamin Filho, Amorim, 1996, Reis et al., 2002, e Bordin et al., 2016, o modelo de ponto crítico se caracteriza quando, em determinado estádio fenológico da planta, a intensidade da doença se correlaciona com o dano futuro. Esse modelo, por ser simples, tem aplicação prática para estimar os danos que uma doença causa no hospedeiro em função do estádio de desenvolvimento fenológico, da intensidade (severidade e incidência) e da AACPD (Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença). Foi ajustado um modelo de danos e perdas para a septoriose, baseado em duas localidades, como Uberlândia, Minas Gerais, e Querência, Mato Grosso (Figura 1). Em Minas Gerais, os dados de severidade da doença foram observados para septoriose (nível máximo de 80% em R5.5), enquanto em Querência também para septoria (> 50% severidade na última observação) e para outras doenças em menor intensidade (< 10% última observação). O modelo do ponto crítico foi desenvolvido com base em danos gerados em tratamentos padrões de fungicidas (diferentes doses e compostos), onde a AACPD observada para septoria sobressaiu-se em relação aos demais valores dos outros patossistemas (menos expressivos). Os objetivos foram buscar maior representatividade dos danos na produtividade em diferentes níveis da doença e isolar os seus efeitos em Uberlândia, Minas Gerais, e Querência, Mato Grosso. Enquanto em outras doenças realizou-se a análise de correlação simples de Pearson para comprovar o menor impacto em relação à septoriose. Para alcançar os objetivos propostos, procurou-se gerar o gradiente da intensidade da mancha-parda por meio do uso dos fungicidas no estádio vegetativo, em diferentes doses (Sah e MacKenzie, 1987). Desse modo, utilizou-se diferentes fungicidas (Rede-Embrapa vegetativo,safra 2018-2019). A patometria foi realizada nos estádios fenológicos entre V5 e R3 - 21 dias de avaliação. Os dados de rendimento de grãos e de severidade foram subme-
A explosão de manchas observadas na última safra, 20182019, se deve à precipitação pluviométrica contínua
tidos à análise de regressão (modelagem através de equações lineares). Para estabelecimento do modelo foi utilizada a metodologia de Nutter e Jenco (1992). Em relação ao rendimento de grãos houve uma relação negativa com a severidade. Coeficiente de determinação (R2) foi de 73.29. Esse coeficiente de dano pode ser utilizado na fórmula de Munford e Norton (1984) para o cálculo do limiar de dano econômico. Na continuidade desse trabalho, estudos devem ser conduzidos para testar o modelo obtido com cultivares com diferentes reações à septoriose ou mancha-parda. Foi observado que a correlação para mancha-alvo também foi alta para AACPD e produtividade. O que corrobora seu impacto na produção, porém os dados usados na análise do ponto crítico (regressão). Na Figura 2 são apresentados sintomas e ilustrações de importantes doenças na cultura da soja envolvendo fungos necrotróficos e suas manchas e danos no dossel da cultura. A - Septoriose ou mancha-parda e alvo; B - Mancha abiótica ou mancha aureolada; C - Manchas circulares por Corynespora cassiicola; D - Manchas
iniciais por Corynespora cassiicola, em seguida colonizadas por Cercospora kikuchii; E - Lesões nas nervuras pelo fungo da antracnose (Colletotrichum dematium truncata); F - Manchas necróticas na folha unifoliada por Septoria glycines; e G - Lesões por crestamento de Cercospora kikuchii. Como orientação para a próxima safra, fica a observação para que o controle das manchas foliares via fungicidas comece ainda no estádio vegetativo, quando o Índice de Área Foliar (IAF) permitir a deposição dos fungicidas em menores volumes de caldas. Uma atenção especial deve ser dada às áreas de cultivo de algodão-soja e vice-versa, pois o inóculo presente no solo e restos de cultura aumenta a intensidade de mancha-alvo no cultivo seguinte, diferente C do milho.
Fernando Cezar Juliatti, UFU / JuliAgro Breno Cezar Marinho Juliatti e Fernanda Cristina Juliatti, JuliAgro
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Empresas
Compromisso assumido Syngenta realiza evento One Agro para discutir desafios, oportunidades e fortalecimento do agronegócio
A
Syngenta realizou em junho, em Campinas, São Paulo, o One Agro Grandes Líderes por um Grande Agro. O evento reuniu mais de 1,1 mil pessoas entre produtores, representantes de cooperativas, distribuidores, pesquisadores, parceiros, consultores, autoridades e líderes do setor. Ao longo de dois dias foram discutidos temas como a sustentabilidade na agricultura, o uso de novas tecnologias e formas de financiamento. O diretor de marketing da Syngenta, André Savino, destacou que o objetivo do One Agro é discutir os desafios e oportunidades junto a todos que contribuem para que o agronegócio seja forte. “Agri-
cultura é o nosso DNA, a máquina que move a economia brasileira, e nada mais justo que estarmos aqui discutindo com todos os elos do agronegócio o futuro e o que precisamos fazer para levá-las a patamares jamais vistos.” O diretor regional para a América Latina, Valdemar Fischer, destacou que a Syngenta é uma empresa de inovação, não só de produtos. “Temos serviços, tocamos praticamente toda a cadeia produtiva da agroindústria, desde a produção, logística, serviços financeiros e comercialização”, lembrou. “Percebemos que tocando toda a cadeia de valor teríamos a oportunidade de trazer para um só fórum as principais
lideranças para discutir como enfrentar os desafios que se apresentam e como aproveitar as oportunidades. Ao final deste evento não queremos sair daqui apenas com mais informação, precisamos sair unidos e com um compromisso que garantirá um futuro promissor para a atividade econômica mais importante do país. Todos em busca de um objetivo comum e único, um agronegócio mais forte”, acrescentou Fischer. Durante o One Agro, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, destacou a importância do agronegócio para a economia brasileira, afirmando que o Brasil é uma potência mundial e que “a sustentabilidade pode Fotos Syngenta
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Compromisso One Agro • Nós, líderes do agronegócio - representantes de empresas privadas, públicas, de pesquisa e extensão, e extensão, de universidades, de associações, sindicatos, cooperativas, distribuidores, revendas, entre outras organizações - escolhemos o Brasil que dá certo. • Respeitamos e valorizamos nossa história e tudo o que fizemos até aqui, mas estamos em um novo momento: enxergamos o negócio de forma profissional como empreendedores e empresários agrícolas, de todas as dimensões (pequenos, médios e grandes). Continuaremos trabalhando juntos, contribuindo para o crescimento do Brasil. • Apoiamos a aprovação das reformas estruturantes (previdência, tributária, transporte, trabalho, entre outros) fundamentais para o retorno da confiança, dos investimentos e a redução desemprego. Apoiamos também as reformas microeconômicas que facilitem o ambiente de negócios, arejando e estimulando o setor privado. • Acreditamos que a modernização do marco regulatório é fundamental para acelerar a entrada de inovação no mercado agrícola. • Continuaremos trabalhando para expandir a produção brasileira de forma sustentável, extraindo mais valor das imensas áreas hoje utilizadas de forma incompleta, para, assim, abastecer com alimentos de alta qualidade e preço competitivo a população de todo o mundo, bem como com etanol, biodiesel, bioeletricidade e outros. • E por isso construiremos pontes alimentares de mão dupla com a China, abrindo mais os mercados para o Brasil e atraindo investimentos chineses para todas as etapas do agronegócio brasileiro. • Extrairemos da ciência e da tecnologia seu melhor, buscando na agricultura de precisão e na genética de ponta soluções efetivas para a preservação ambiental e a produção sustentável. Para isso, precisaremos, cada vez mais, fortalecer nosso sistema de pesquisa e inovação , tanto público como privado. • Nosso compromisso com a educação é total. Temos o desafio dedesenvolver o talento das novas gerações. • Buscaremos uma maior integração com o sistema financeiro, visando
andar com a produtividade”. “O agro produziu, nos últimos 40 anos, quando o Brasil era mero importador de alimentos, 346% mais, com apenas 33% de aumento da sua área. Isso é produzir de maneira eficiente e inovadora”, opinou a ministra. “A imagem distorcida e equivocada de que o Brasil entrega produtos de má qualidade, como se isso fosse verdade, não deve ser tolerada”, defendeu Tereza Cristina ao parabenizar a realização do One Agro, apresentando suas expectativas para que, do evento, saiam diretrizes para o trabalho conjunto. “O Ministério da Agricultura é parceiro nessa cruzada de melhorar a imagem do agronegócio perante a sociedade brasileira e perante o mundo.”
negociações justas, com especial atenção ao desenvolvimento e à diversificação dos mercados de crédito e à evolução dos mecanismos de seguro da produção. • Buscaremos o merecido posicionamento de potência agroambiental, considerando que temos hoje um dos mais rigorosos códigos florestais do mundo e a matriz energética mais limpa do planeta. • Por meio de uma comunicação transparente e efetiva, construiremos uma nova narrativa para o agronegócio, mostrando à população que trazemos soluções, não geramos problemas. • Buscaremos fortalecer a economia circular, com interligação das cadeias produtivas (subprodutos de uma com o insumo de outra) e a integração de lavoura, pecuária e floresta. • Fortaleceremos a economia do compartilhamento, que vem trazendo grandes revoluções - com destaque para o papel das cooperativas, revendas e associações , que proporcionam acesso e soluções tecnológicas aos pequenos produtores, otimizando o uso de ativos produtivos. • Ocuparemos mais e mais espaços, inclusive exportando produtos com altíssimo valor agregado e fazendo ligações entre os consumidores finais e quem produz, reforçando cada vez mais a imagem de fornecedor mundial de alimentos e energias renováveis. • Esse é o nosso compromisso. Cada um dos mais de mil presentes aqui tem a intenção verdadeira de fazer o seu melhor e realizar todo o seu potencial para contribuir por um agro mais forte e sustentável. • Continuaremos, incansavelmente, trabalhando pelo crescimento do setor de modo responsável e contribuindo para a geração e a distribuição de alimentos e bioenergia ao mundo, respeitando o meio ambiente e criando oportunidades às pessoas • Somos protagonistas desse Brasil que dá certo. Somos mais fortes, somos um só agro. Campinas, 11 de junho de 2019
VISÃO AGRO GLOBAL
Visão Agro Global foi o tema abordado pelo CEO global da Syngenta, Erik Fyrwald. O executivo destacou a importância da agricultura brasileira e seus altos níveis de produtividade, dando ao país um destaque mundial como produtor de alimentos. “Por isso, o Brasil é um mercado prioritário para companhia”, disse. Fyrwald destacou que o propósito da indústria de agroquímicos tem sido de criar soluções cada vez mais sustentáveis, preservando o ambiente. “A Syngenta tem ampliado sua capacidade de investimentos, especialmente no Brasil, que compõe 20% de nosso negócio. Venho no Brasil há 30 anos e não há lugar no mundo que tenha feito mais progresso na agricultura sustentável que aqui. O
país terá papel fundamental na produção mundial de alimentos nos próximos 30 C anos”, projetou Fyrwald.
Fischer enfatizou investimentos em inovação
Savino destacou a soma de esforços pelo agronegócio
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Cana
Manejo inteligente
Para o controle eficiente de plantas daninhas em cana-de-açúcar são necessárias medidas racionais em todas as etapas do processo produtivo da cultura, adotadas desde a implantação do canavial
A
expressão do potencial produtivo de uma lavoura de cana em um ambiente específico de produção tem necessariamente que passar pelo manejo inteligente das plantas daninhas. Este manejo envolve medidas em todas as etapas do processo produtivo, desde a implantação do canavial e durante os sucessivos cortes. Desta forma, algumas práticas são fundamentais em cada uma destas etapas do processo produtivo. A primeira etapa é a dessecação da vegetação, em área
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de expansão, e/ou a destruição da soqueira em áreas de reforma. Para isso, é necessário escolher uma formulação adequada de glifosato, aplicada no estádio correto de desenvolvimento da cana, observando as condições climáticas no momento da aplicação. É comum nesta operação utilizar a associação com herbicidas residuais graminicidas, ou latifolicidas para o processo de desinfestação. No entanto, estes herbicidas residuais são usados apenas em área onde não é feita a rotação de culturas. Dentre as gramíneas de
Fotos Pedro Jacob Christoffoleti
Área com capim-colchão onde a dessecação com herbicida residual com graminicida é indicada
maior destaque para controle nesta etapa estão as gramíneas forrageiras, como o capim-braquiária e capim-colonião, que em elevado banco de sementes pode constituir-se em um grande problema no período de pousio. Para isso são utilizados herbicidas graminicidas com os ingredientes ativos isoxaflutole, clomazone, imazapyr, dentre outros. Para as folhas largas é comum o uso de herbicidas como o amicarbazone, sulfentrazone, imazapic, dentre outros. Em áreas em que no período de reforma do canavial é feita a rotação de culturas, em especial através da prática chamada de meiosi, as culturas de soja, amendoim e adubos verdes são utilizadas. Para isso, o produtor deve estar atento à questão da seletividade dos herbicidas para a soja e a problemas eventuais de deriva para a linha mãe da cana, que será usada no desdobramento no plantio da cana, principalmente quando a variedade de soja é transgênica, e o principal herbicida utilizado é o glifosato. Para o plantio da linha mãe é comum serem utilizadas mudas de cana pré-brotadas, que tem como principal vantagem ser sadia e de pureza varietal, dentre outras. Devido à maior sensibilidade destas mudas aos herbicidas, as opções de aplicações são reduzidas, destacando os herbicidas ametrina, atrazina, diuron, flumioxazina, metribuzin, sulfentrazone, saflufenacil e tebuthiuron, desde que aplicados em pré-transplantio da muda pré-brotada. Já para a aplicação após o plantio,
Área de meiosi, com a cultura da soja intercalar
as opções ainda são mais limitadas, destacando-se os herbicidas tebuthiuron, picloran, 2,4-D, mesotrione, saflufenacil e ethoxysulfuron. É comum, imediatamente antes do plantio de cana, a utilização de herbicidas residuais chamados de herbicidas de pré-plantio. Esta prática é feita com o intuito de reduzir o banco de sementes para o pós-plantio, bem como viabilizar o uso de herbicidas de menor seletividade em canaplanta. Nesta modalidade de aplicação, destaca-se o uso de trifluralina ou de graminicidas como o clomazone ou o sulfentrazone, sendo este último para o controle da tiririca. Quando a aplicação é feita
imediatamente antes do plantio, ou de trifluralina, formulação de alta volatilidade, a incorporação do herbicida com grade é necessária, porém se aplicada em solo com umidade adequada e um período entre dez e 15 dias antes do plantio, a incorporação pode ser desnecessária. Nas áreas onde a rotação de culturas é praticada com soja, é recomendável que o produtor utilize herbicidas residuais no plantio da oleaginosa, para assim evitar repetidas aplicações de glifosato na soja (soja transgênica resistente ao glifosato), com risco de deriva para a linha mãe de cana. Dentre os residuais mais utilizados na soja, destaca-se o flumioxazin, diclosulan, S-metolachlor, trifluralina, imazethapyr, dentre
Cana soca e a palhada, que afeta a eficácia do herbicida no período seco
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Fotos Pedro Jacob Christoffoleti
Operador fazendo repasse
outros. Uma prática comum é também realizar a dessecação com diquat ou glufosinato de amônio, para que a área permaneça no limpo e a colheita seja antecipada para o plantio da cana. Na cana planta, devido ao seu longo período crítico de controle, bem como a necessidade da operação de sistematização do solo, conhecida popularmente como “quebra lombo”, há necessidade de duas aplicações sequenciais de herbicidas. A primeira logo após o plantio, em pré-emergência, utilizando herbicidas residuais, como a associação do clomazone com sulfentrazone, e a segunda imediatamente depois da operação de quebra lombo, em jato dirigido. Geralmente a aplicação de herbicida nesta segunda etapa é realizada com um mesmo
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equipamento que conjuga o cultivo e a aplicação do herbicida. Nas soqueiras, a aplicação de herbicidas deve ser recomendada de acordo com a época do ano em que está sendo cortada. Na região Centro-Sul do Brasil, que compreende os cerrados e as regiões Sudeste e Sul do Brasil, excetuando-se o Nordeste, onde o regime climático de chuvas é diferenciado, a época seca, que corresponde aos meses de junho a setembro, exige herbicidas diferenciados nos períodos de outubro a novembro. Os herbicidas aplicados na época seca devem ter características físico-químicas, formulações e doses adequadas para este período do ano. Também é importante que, no sistema de produção, o produtor de ca-
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na tenha alternativa para controle de eventuais “escapes” de plantas daninhas, tanto nas soqueiras quanto em cana planta. Para isso, é necessário um sistema de controle de folhas largas trepadeiras, envolvendo na maioria das vezes aplicações aéreas com avião agrícola, helicópteros ou drones. Já no caso das gramíneas perenes, o controle é manual, através da operação chamada de “catação”, em que touceira da gramínea perenizada é diretamente pulverizada pelo operador, no período seco, utilizando herbicidas de absorção pelo solo ou a associação de herbicidas foliares e de absorção radicular para o período chuvoso. Finalmente, é prática obrigatória nas usinas o controle de plantas daninhas em carreadores e canais de vinhaça. Nos carreadores, com o canavial já desenvolvido, é aplicada a associação de glifosato com herbicidas específicos pós-emergentes que têm sinergismo. Porém, é também prática aplicar herbicidas de “reforço” das bordaduras, junto com o herbicida residual aplicado no talhão. Desta forma, o manejo inteligente de plantas daninhas em uma propriedade agrícola é somente obtido se o produtor estiver atento em todas as etapas do processo produtivo, desde a dessecação para o plantio até a colheita das soqueiras. Sendo assim, é possível proteger a cultura das possíveis perdas de produtividade pela interferência de plantas C daninhas. Pedro Jacob Christoffoleti, Esalq/USP Agrocon Assessoria Agronômica
Café
Mancha-anular O
ácaro vetor do vírus causador da doença mancha anular em cafeeiro (Coffea spp., Rubiaceae), é conhecido no Brasil como Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Acari: Tenuipalpidae), porém seu nome específico está sendo alterado em função de trabalhos taxonômicos e de sistemática molecular, que foram e estão sendo realizados. Com equipamentos de microscopia avançados, foram observados novos caracteres morfológicos do gênero Brevipalpus que estão sendo utilizados para separar espécies muito parecidas entre si. Segundo pesquisas, a espécie B. phoenicis, no sentido específico (stricto sensu), não ocorre ou é pouco encontrada no Brasil, e em cafeeiro ocorre um complexo de espécies do gênero Brevipalpus, com quatro ou mais espécies, e com predominância de Brevipalpus papayensis (Baker, 1949), todas associadas à mancha-anular do cafeeiro. Alguns autores consideram que B. phoenicis no Brasil trata-se de um complexo de três espécies, B. phoenicis, B. papayensis e Brevipalpus yothersi (Baker, 1949). Ainda, B. papayensis e B. yothersi são consideradas como sinonímias de B. phoenicis, daí a razão do uso do nome específico B. phoenicis, no sentido amplo (lato sensu), para o ácaro vetor do vírus da mancha-anular em cafeeiro no Brasil. Essas duas sinonímias foram revistas e redescritas e passaram a fazer parte do que foi chamado de complexo lato sensu do ácaro B. phoenicis no Brasil. Apesar disso, manteve-se neste trabalho o nome do ácaro vetor ainda como sendo B. phoenicis. Esse complexo de espécies também ocorre em citros (Citrus spp., Rutaceae), porém é considerado que a espécie predominante e principal vetora do vírus da leprose-dos-citros (Citrus Leprosis Virus- CiLV) no Brasil seja a B. yothersi. Em condições de campo não é possível a diferenciação entre essas espécies, pois geralmente são verificadas diferenças morfológicas na espermateca, nas placas genital e ventral e setas dos palpos das fêmeas, que são características microscópicas, estruturas somente visíveis após montagem dos ácaros em lâminas e observação sob microscópio. Esta informação e a diferenciação de espécies têm caráter exclusivamente científico, pois no manejo prático do ácaro em campo nenhuma atualização foi realizada após a publi-
Fotos Paulo Rebelles Reis
Doença causada por ácaro tem alto poder de afetar a qualidade do café. Manejo da enfermidade deve integrar medidas de controle biológico, cultural e químico. Quando necessário o uso de defensivos, a recomendação é priorizar produtos seletivos a predadores naturais do vetor
Adultos e ovos do ácaro da mancha-anular do cafeeiro, Brevipalpus phoenicis
Folha de cafeeiro exibindo sintomas da mancha-anular
Frutos de café no estágio de cereja exibindo sintomas da mancha-anular
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Figura 1 - Número médio de ovos e de ácaros Brevipalpus phoenicis em todas as fases do desenvolvimento, por folha (esquerda) e fruto (direita) de cafeeiro, em relação às partes da planta onde foram coletados. Fonte: Paulo Rebelles Reis
A broca possui uma bioecologia peculiar, em que a maior parte do ciclo de vida ocorre no interior do fruto
cação dessas alterações taxonômicas. A espécie B. phoenicis foi relatada pela primeira vez na Holanda, em 1939, atacando a palmeira Phoenix dactylifera L. (Arecales: Arecaceae), tamareira, em casa-de-vegetação. Atualmente, sabe-se que é de distribuição cosmopolita e polífaga, infestando diversas espécies vegetais de importância econômica, incluindo o cafeeiro e os citros. As fêmeas medem de 0,30mm de comprimento e 0,17mm de largura, apresentam manchas escuras no dorso e reticulações ou auréolas na porção médio-lateral. Os machos são semelhantes às fêmeas, porém não mostram as manchas escuras sobre o corpo. Os machos são relativamente raros em condições de campo. A reprodução pode ou
não ser sexuada, sendo mais comum a partenogênese deuterótoca, onde os ovos não fecundados dão origem tanto a fêmeas como a machos. A maior população do ácaro é encontrada no período mais seco do ano e com temperaturas amenas, época que vai de fevereiro-março a outubro-novembro.
A DOENÇA MANCHAANULAR DO CAFEEIRO
A mancha-anular, Coffee Ring Spot Virus - CoRSV, ocorre naturalmente em cafeeiro, não sendo conhecido outro hospedeiro natural do vírus. Os sintomas da doença aparecem nas folhas, nos ramos e frutos do cafeeiro, e em geral caracte-
rizam-se por manchas cloróticas, de contorno quase sempre bem delimitado, às vezes com um ponto necrótico central. Nas folhas, as manchas apresentam a forma de anel, podendo coalescer, envolvendo grande parte do limbo ou se estender ao longo das nervuras. Nos frutos, as manchas também aparecem na forma de anéis ou ainda podem coalescer, formando manchas maiores.
SINTOMATOLOGIA DA DOENÇA
Duas hipóteses podem ser estabelecidas para explicar a sintomatologia do ataque, ou seja, as lesões da mancha-anular seriam causadas por uma toxina injetada pelo ácaro no tecido das plantas ou pelo vírus (CoRSV) veiculado pelo ácaro durante o processo de alimentação. A transmissão da mancha-anular em cafeeiro também se dá pela enxertia ou mecanicamente, assim como a leprose em citros. Pesquisas reforçam a hipótese de que a doença em cafeeiro é causada por um fitopatógeno, porém não descartam a primeira, ou seja, causada por uma toxina, ou podem ocorrer as duas simultaneamente. A característica não sistêmica atribuída ao vírus, que é encontrado somente nas áreas atacadas pelo ácaro e não nas adjacentes sadias, ressalta a importância do vetor B. phoenicis na epidemiologia da doença, ou seja, a presença do ácaro é condição essencial, sem a qual não ocorre a disseminação do vírus. A transmissão
Frutos em estágio avançado de maturação (cereja) exibindo sintomas da virose mancha-anular e a presença de fungos nas lesões já deprimidas
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Ácaro predador Amblyseius herbicolus (esquerda) e Iphiseiodes zuluagai (direita) (Phytoseiidae), predando o ácaro da mancha-anular do cafeeiro Brevipalpus phoenicis
transovariana, ou de uma geração para outra, não foi constatada para esse vírus, somente a transestadial, ou seja, de uma fase do ciclo de vida para outra. Uma vez infectado, em qualquer fase, o ácaro não perde mais a capacidade de transmissão do vírus, o que ocorre somente durante o ato da alimentação do ácaro.
LOCAIS DE ATAQUE DO ÁCARO
Em cafeeiro é constatada a presença de B. phoenicis nas folhas, nos ramos e frutos. Nas folhas, os ácaros localizam-se principalmente na superfície inferior, próximo das nervuras, especialmente a central. Nos frutos, ácaros e ovos são encontrados preferencialmente na coroa e no pedúnculo, e também em fendas ou lesões com aspecto de cortiça na casca dos frutos. Nos ramos, são localizados em fendas existentes na casca. O maior número de ovos e ácaros é encontrado no terço inferior das plantas, tanto nas folhas quanto nos ramos e frutos. Nas folhas, o maior número de ovos e ácaros é visualizado naquelas do terço inferior e posição interna da planta, e em menor número nas folhas do terço superior e posição externa da planta. Nos frutos, o maior número de ácaros é encontrado também naqueles do terço inferior, sendo maior o número de ovos que o de ácaros. Já nos ramos, o maior número de ovos e ácaros é encontrado na parte distal, que é a parte verde dos ramos, onde estão as folhas, e o menor número na parte do ramo que não apresenta folhas, ou do interior das plantas. De modo geral, é sempre verificado um maior número de ovos que de ácaros nas outras fases (Figura 1). Os ramos apresentam o menor número de ovos e ácaros, quando comparados às folhas e frutos. Na época de frutificação foi observado que os ácaros preferem os frutos de café para oviposição.
DANO CAUSADO
A infestação de B. phoenicis e da infecção da mancha-anular têm sido relatadas causando intensa desfolha em cafeeiros nas diferentes regiões produtoras de café do Brasil, tanto em cafeeiro arábica, Coffea arabica L., quanto em canéfora, Coffea canephora Pierre & Froehner, principalmente nas épocas mais secas do ano. Ferimentos causados pelo ácaro, pelo ato de sua alimentação, se constituem em portas de entrada para fungos fitopatogênicos, como a cercosporiose, que também causa queda de folhas, má-formação, maturação precoce e queda dos frutos.
Após o ataque do ácaro, devido aos ferimentos às células para alimentação, os frutos ficam predispostos à penetração de micro-organismos, como é o caso dos fungos dos gêneros Fusarium, Penicillium, Cladosporium e Aspergillus, correlacionados com a má qualidade de bebida de café. Resultados de pesquisas mostram menores valores da atividade da polifenoloxidase e maior porcentagem de fenólicos totais nos grãos de café provenientes de frutos que exibem o sintoma da mancha-anular. Com base na atividade da polifenoloxidase, obtida em análise laboratorial, pode-se inferir que o café sofre alteração na qualidade de bebida, demonstrando que o ataque do ácaro, e consequentemente da mancha-anular, é um fator que prejudica a qualidade de bebida do café, também constatado em provas de xícara.
CONTROLE BIOLÓGICO
Em associação com o ácaro B. phoenicis já foi constatada a ocorrência de inimigos naturais, principalmente de ácaros predadores pertencentes à família Phytoseiidae e as espécies variam de acordo com a região cafeeira.
Tabela 1 - Produtos indicados e registrados para uso no controle do ácaro da mancha-anular em cafeeiro no Brasil. (Volume de calda de 800 litros/ha) Nome Comercial Ingrediente ativo Abadin 72 EC Abamectina Boreal Abamectina Danimen 300 EC Fenpropathrin Envidor Spirodiclofen Epimec Abamectina Fujimite 50 SC Fenpiroximate Meothrin 300 Fenpropathrin Okay Cyflumetofen Omite 720 EC Propargite Ortus 50 SC Fenpyroximate Sanmite EW Pyridaben Talento Hexythiazox Vertimec 18 EC Abamectina
Dose/ha
Formulação
100 mL 400 mL 100 mL 300 mL 400 mL 1.500 mL 400 mL 800 mL 150 mL 2.000 mL 500 mL 12 g 400 mL
EC EC EC SC EC SC EC SC EC SC EW WP EC
Classe Grupo Químico Toxic.1 Selet.2 Avermectina I MS Avermectina I MS Piretroide I NS Cetoenol III S Avermectina III MS Pirazol II NS Piretroide I NS III S Benzoylacetonitrile Organosulfite I NS Pirazol II NS Pyridazinone III NS Carboxamide II S Avermectina III MS
1 Classe Toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamente tóxico; IV - Pouco tóxico. 2 Seletividade fisiológica aos ácaros predadores Phytoseiidae: S - Seletivo; MS - Medianamente seletivo; NS - Não seletivo. Fonte: Agrofit (junho 2019), em parte.
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Fotos Rodrigo Luz da Cunha
O ácaro vetor da mancha-anular do cafeeiro é mais predado pelos ácaros fitoseídeos quando ainda se encontra na fase de larva, seguido pela de ovo e ninfa, sendo que em geral o ácaro adulto é o menos predado. Os ácaros predadores pertencentes à família Phytoseiidae são de grande importância para a cultura do cafeeiro, pois demonstram alto potencial para predação de B. phoenicis, devendo ser preservados, inicialmente pelo método da conservação, com o uso de produtos fitossanitários seletivos, quando for necessário o controle químico do ácaro da mancha-anular, preservando assim os ácaros-predadores.
CONTROLE CULTURAL
Fotos Paulo Rebelles Reis
Cafeeiros recepados (acima) e cafeeiros esqueletados e decotados (abaixo)
A presença do ácaro é condição essencial, sem a qual não ocorre a disseminação do vírus e tal característica permite que as podas periódicas, como a recepa, o decote e o esqueletamento, normalmente feitas em cafeeiros, reduzam o inóculo, ou mesmo o eliminem dependendo da severidade da poda. Após a operação de esqueletamento e decote, apesar da redução do inóculo, deve ser realizada a pulverização de acaricidas para eliminar possíveis ácaros nos ramos e folhas remanescentes, que poderão se multiplicar posteriormente na nova vegetação do cafeeiro.
CONTROLE QUÍMICO
Exemplos de turbo-atomizadores para aplicação de produtos fitossanitários em cafeeiros, para o controle de pragas e doenças da parte aérea
Reis aborda estratégias de controle do ácaro causador da mancha-anular
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O controle químico do ácaro da mancha-anular deve ser realizado em função da incidência da doença, por ocasião da colheita do café,e não do número de ácaros presentes. É preciso lembrar que se trata de uma fitovirose transmitida pelo ácaro, sendo a doença que causa dano (o ácaro sem estar infectado pelo vírus não causa prejuízo). Caso seja constatada a incidência da doença na colheita da safra de café do ano em curso, recomenda-se o controle do ácaro somente na safra seguinte, por meio de duas aplicações de acaricidas, de preferência com produto seletivo aos ácaros predadores (Tabela 1). A primeira aplicação de acaricidas deve ser realizada após a colheita dos frutos, chamada de aplicação pós-colheita,
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época em que os cafeeiros ficam mais desfolhados, o que facilita a penetração dos produtos nas partes mais internas das plantas. Ainda, tal aplicação deve ser efetuada logo no início do novo enfolhamento. A segunda pulverização deve ser adotada logo após o aparecimento dos primeiros frutos no estágio de chumbinho, pois os ácaros nessa época se dirigem aos frutos para se alimentar e colocar ovos na região da coroa, ficando assim mais expostos aos produtos aplicados. As amostragens da incidência da mancha-anular, para uso no controle do ácaro, serão mais representativas se forem realizadas nos frutos e nas folhas mais internas do terço inferior das plantas, com base na distribuição dos ácaros nas plantas (Figura 1), partes que devem ser alvo dos acaricidas, ou seja, o equipamento a ser utilizado deve proporcionar um depósito dos produtos nas partes interiores das plantas, principalmente dos terços inferior e médio. O volume de água a ser utilizado não pode ser menor que 800 litros por hectare e deve ser aplicado com turbo-atomizadores, pelo motivo de ser um ácaro que habita mais o interior dos cafeeiros, de difícil alcance. É altamente recomendável a rotação no uso dos acaricidas, com base no grupo químico e modo de ação, a fim de retardar e mesmo evitar o aparecimento de populações de ácaros resistentes. Devido à maior quantidade de ovos presentes, nos ramos e frutos, em relação às demais fases do desenvolvimento do ácaro, o uso de produtos fitossanitários com ação ovicida aumenta a eficiência de controle do ácaro B. phoenicis, p.ex. spirodiclofen, hexythiazox etc. Como a presença de ácaros predadores é significativa, o uso de produtos seletivos aos inimigos naturais (Tabela 1) é uma das estratégias que contribuem para o manejo do ácaro da C mancha-anular. Paulo Rebelles Reis EPAMI SUL - EcoCentro
Empresas
Experiência di Realizado em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, o primeiro FieldView Experience 2019 apresentou a evolução e as novidades da Climate FieldView, plataforma de agricultura digital da Bayer
E
m um momento pautado por inovação constante, em que Big Data e Internet das Coisas fazem parte do cotidiano, o montante de dados gerados no campo se torna aliado do produtor na adoção de tecnologia e na tomada de decisões. Para fazer a organização e interpretação desses dados, ferramentas de agricultura digital ganham espaço no dia a dia dos agricultores. Para apresentar o braço de agricultura digital da Bayer, o FieldView Experience levou aos agricultores da região de Passo Fundo, no
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Rio Grande do Sul, em junho, uma experiência interativa e completamente digital para demonstrar as novidades e a evolução da plataforma Climate FieldView. Historicamente realizado pela Bayer em São Paulo, o objetivo da descentralização do evento foi ampliar o alcance da ferramenta. Esse foi o primeiro de 37 encontros que serão realizados por todo Brasil. “Resolvemos expandir o evento para o Brasil inteiro, para estarmos mais próximos dos nossos clientes, distribuidores e parceiros
Fotos Bayer
igital comerciais. Assim, também conseguimos usar as experiências dos nossos agricultores parceiros para falar sobre a Climate”, explicou o diretor Comercial Climate FieldView para o Brasil, Alexandre Barioni. Lançada em 2015 nos Estados Unidos, a plataforma passou por um ano de estudos no Brasil para avaliação de viabilidade e possibilidade de tropicalização. Esse projeto-piloto ocorreu através dos Líderes FieldView- cem agricultores que testaram a ferramenta em Goiás, Bahia e Mato Grosso. Em 2017, a Climate foi lançada no Brasil inteiro. Através de um drive, a Climate consegue se conectar com máquinas do plantio à colheita. “Não precisa ser uma máquina nova, nem de última tecnologia, desde que sejam compatíveis. Conseguimos pegar as informações que essas máquinas estão gerando e transferimos os dados coletados por bluetooth ao iPad”, explicou Barioni. Os dados armazenados no iPad, quando conectado ao WiFi ou ao 3G, são enviados diretamente para a nuvem. Se o produtor tiver mais de uma máquina operando ao mesmo tempo, todos os dados coletados serão enviados para a Climate. “Conseguimos reunir todos os dados em um lugar só, o que permite a tomada de decisões em tempo real. O agricultor também pode importar mapas de fertilidade, marcações georreferenciadas, fazer telas lado a lado, e comparar produtividades de uma safra com a outra. Isso demonstra o quanto o processo todo é simples e intuitivo”, ressaltou Barioni. Através de um leque de startups parceiras de plataforma, a Climate também expande as possibilidades de uso e de informações agregadas. Segundo o gerente de Produto Climate FieldView para a América Latina, Guilherme Belardo, através de APIs (conexão nuvem-nuvem), e com a permissão do produtor- seja ele cliente de ambas empresas - é possível fazer a conexão das informações coleta-
Através de um drive, a plataforma Climate consegue se conectar com máquinas do plantio à colheita
das no parceiro e transferi-las à Climate - e vice-versa. Um exemplo é a Aegri, software de gestão agrícola, que consegue relacionar informações financeiras com dados agronômicos, para a tomada de decisões baseada na segurança financeira da lavoura. A compatibilidade com a FieldView garante que as informações relevantes sejam compartilhadas em ambos softwares, facilitando o acesso por parte do produtor rural. “A gente tem o compromisso de trabalhar com parceiros de plataforma, que complementam a experiência do nosso cliente“, relatou Belardo. Atualmente, o drive FieldView é compatível com as marcas Case IH, Massey Ferguson, New Holland, Valtra, John Deere e, mais recentemente, Stara. “A compatilibilidade com os principais equipamentos de plantio e pulverização da Stara era uma demanda antiga do nosso cliente”, contou Barioni. Além disso, ou-
tras compatilibilidades com empresas nacionais também foram desenvolvidas nos últimos dois anos, como Tatu/Marchesan, Baldan, KF, Pro Solus e Jumil. No evento, além da exposição de diversas startups parceiras, agricultores da região apresentaram suas experiências de aplicabilidade e as soluções alcançadas com a plataforma. Além disso, uma maquete 3D com interatividade holográfica mostrou as funcionalidades do software, e uma mesa interativa possibilitou a geração de relatórios e demonstrou informações em diferentes momentos da safra - plantio, pulverização, colheita e uma área de realidade aumentada. Em dois anos do lançamento, a Climate FieldView está presente em seis milhões de hectares pagos no Brasil, o que abrange o país inteiro, desde pequenos agricultores a produtores de larga escala. Mundialmente alcança 24 milhões de hectares, que incluem as áreas do Brasil, dos Estados Unidos, do Canadá e da Europa. C
Barioni destacou compatibilidade da plataforma com diversas máquinas
Belardo lembrou da capacidade de conexão das informações coletadas
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Trigo
É preciso A diversificar Os caminhos da produção sustentável de trigo no Brasil passam pela diversificação das opções de cultivo e comercialização. Nos últimos anos, novos modelos de negócios estão sendo estabelecidos pela geração de cultivares apropriadas e por ajustes de manejo necessários para cada oportunidade
realidade de produção de trigo, especialmente no Sul do Brasil, é marcada pela grande oferta de área no inverno, pela tradição no cultivo e pelo encaixe perfeito da cultura nos sistemas de produção utilizados. Por outro lado, dependendo da realidade de produção, há falta de identidade do trigo, ou seja, ocorre mistura de grãos com diferentes características - o que geralmente deprecia o produto no mercado. As causas para isso são variadas, como a falta de planejamento de comercialização ainda no preparo da lavoura, deficiência na estrutura para segregação de lotes, interação com o clima/manejo que dificulta a obtenção da qualidade descrita para a cultivar, instabilidade de política agrícola para o setor, entre outros.
Fotos Divulgação
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Figura 1 - Oportunidades para diversificação da produção de trigo no Sul do Brasil
A BRS Pastoreio é uma das ofertas da Embrapa para produção de pasto, feno, silagem e grãos
Entretanto, a mudança dessa realidade é possível e as bases para isso estão disponíveis, quer seja no tocante à tecnologia de produção, quanto nas políticas públicas para proteção do investimento (zoneamento agrícola de época de semeadura e seguro agrícola). Atualmente estão disponíveis modelos de negócio envolvendo fatores ligados a produção, beneficiamento e comercialização específicos, voltados ao uso do trigo na produção animal e para a produção de grãos destinados à alimentação humana (Figura 1). Dentre as possibilidades de utilização em sistemas de produção envolvendo animais estão os usos para pastejo, para silagem e para o chamado duplo propósito (“trigo flex”), através do qual, em uma mesma área, com manejo e cultivares específicas, é possível utilizar o trigo para pastejo e, após a retirada dos animais (seguindo critérios técnicos), fazer a colheita de grãos. Na produção de grãos também é possível encontrar alternativas para diversificação. A produção dos trigos Melhorador e Pão pode bonificar o produtor, pois são bastante demandados pela indústria nacional. Apesar da maior dificuldade em manter a regularidade de produção desses trigos em alguns ambientes no Sul do Brasil, alguns modelos de negócio envolvendo essas opções têm gerado resultados interessantes. Alternativa já experimentada por algumas cooperativas em Santa Catarina e no Paraná é a produção de trigo com características específicas para a confecção de biscoitos. Programas com cultivares selecionadas para esse uso também permitem bonificar o produtor participante do projeto. Neste contexto, a escolha correta do material genético é fundamental para o sucesso de cada modelo de produção. A Embrapa tem oferecido cultivares para cada opção de uso. Cada cultivar foi desenvolvida pensando em características
específicas que podem atender aos diferentes modelos de diversificação. Por exemplo, a BRS Reponte agrega rusticidade (sanidade e baixa exigência em insumos) e elevado potencial produtivo de grãos, quesitos fundamentais em sistemas para exportação e fabricação de ração, que necessitam menor custo de produção em relação aos demais. Já a BRS Pastoreio apresenta resistência ao pisoteio, alta capacidade de rebrote e ciclo longo para permitir pastejo, além da quase ausência de aristas, fator muito importante para aumentar a palatabilidade do material no caso de uso para silagem. A cultivar, entretanto, não pode ser considerada a única tecnologia necessária para o sucesso das alternativas de produção. Em muitas situações, para a exploração do máximo potencial da tecnologia, é necessário o ajuste do manejo para obter o maior rendimento (de grãos ou forragem), a redução de riscos associados ao clima ou a doenças e pragas, e a melhor relação custo/benefício da opção escolhida para uso. Por exemplo, trigos de duplo propósito utilizados para pastejo e grãos precisam ser semeados de 20 dias a 50 dias (dependendo da cultivar) antes da época indicada para trigos precoces, com objetivo de permitir o aproveitamento do diferencial de ciclo e produção de forragem. Também, a retirada dos animais da lavoura precisa ser realizada em momento adequado, para não comprometer a produção de grãos. Outros exemplos, no caso de produção de grãos, são: o ajuste da adubação nitrogenada de acordo com a resposta da cultivar, aplicando somente o necessário para a melhor relação custo/benefício; o uso de redutores de crescimento no caso de cultivo em situações de elevado risco de acamamento; e a colheita antecipada para evitar perdas da qualidade tecnológica pela exposição desnecessária às intempéries no final do ciclo. Essas e outras informações podem ser obtidas nos
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é interessante para regiões (ambientes e/ou tecnologias) onde há dificuldade de produção de trigo com força de glúten elevada (compatível com as classes Melhorador e Pão), em função do mercado externo, principalmente de Ásia e África, ser menos exigente neste quesito e ter como parâmetro principal o conteúdo de proteína, que seria mais facilmente obtido. Acredita-se que todas as oportunidades são possíveis e não concorrentes, desde que encaradas com profissionalismo, por meio da busca de conhecimento, de assistência técnica e do desenvolvimento de modelos de negócio que permitam maior chance de sucesso nas diferentes linhas de uso do trigo. Há muito espaço para crescimento da cultura do trigo no Sul do Brasil e isso passa, sem dúvida, por novas alternativas de produção.
Na produção de grãos é possível encontrar alternativas para diversificação
canais de comunicação da Embrapa e de parceiros comerciais. Essas opções tecnológicas estão resultando em projetos especiais em cooperativas ou de produtores individuais, com especialização, agregação de valor e/ou liquidez na produção do cereal. Por exemplo, na Cotricampo, em Campo Novo, Rio Grande do Sul, onde foi implementado um projeto com trigo branqueador, parte da produção é organizada, apoiada e segregada para este uso, com a valorização do produto chegando a 20% de bonificação. Na integração lavoura-pecuária, a Fazenda Librelotto, em Boa Vista das Missões, também no Estado gaúcho, conseguiu melhorar a sustentabilidade e a rentabilidade do sistema de produção com uso do trigo para pastagem e produção de grãos. Algumas das possibilidades de diversificação como as citadas anteriormente já são empregadas no Sul do Brasil. Outras ainda estão em fase inicial de pesquisa ou articulação de produção e do modelo de negócio. Destaca-se o uso do grão de trigo para alimentação animal, na formulação de ração, e também para exportação. No caso da ração, a redução da área cultivada com milho no Sul e a dificuldade de importar o cereal de outros estados a valores competitivos têm levado à busca de alternativas produzidas na região capazes de
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atender à demanda. O trigo tem sido apontado como uma das possibilidades, com estudos indicando boa compatibilidade para uso em rações. No caso de exportação, a oportunidade
João Leonardo F. Pires, Eduardo Caierão, e Ricardo Lima de Castro, Embrapa Trigo
Caierão, Pires e Castro defendem a diversificação na cultura do trigo
Posicionamento de cultivares de trigo ofertadas pela Embrapa - BRS Pastoreio: produção de pasto, feno, silagem e grãos - BRS Tarumã: produção de pasto e grãos - BRS Parrudo: produção de grãos com qualidade da classe trigo Melhorador - BRS Marcante: produção de grãos com qualidade da classe trigo Pão - BRS 374: produção de grãos para uso na produção de biscoitos - BRS 327: produção de grãos para uso na produção de farinha branqueadora - BRS Reponte: produção de grãos para exportação (Ásia e África)
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Empresas
Para licenciamento
Corteva Agriscience lança a marca Cordius, linha que atenderá parceiros selecionados pela companhia para atuar na multiplicação e comercialização de sementes nas diversas regiões produtoras de soja do Brasil
Fotos Corteva
doença que atinge principalmente a produção do Rio Grande do Sul. Já os outros oito, são para a região Norte do país, com destaque para o CD2700IPRO, com consolidação de mercado, e o CD2737, que apresenta rusticidade, adaptabilidade e estabilidade. Ainda em 2019, a Corteva projeta lançar as cultivares C2811IPRO e C2834IPRO, para a região do Cerrado, e C2530RR e C2626IPRO, para região Sul do país. Em até cinco anos de atividade com a marca Cordius, a companhia planeja atingir 10% de participação no mercado, com fidelidade ao novo modelo de licenciamento de sementes.
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Corteva Agriscience lançou oficialmente em junho, em Indaiatuba, São Paulo, a marca Cordius, linha de licenciamento de sementes de soja da companhia. Com o novo modelo, criado por meio de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a empresa estará associada à entrega de soluções em biotecnologia Enlist e em Tratamento de Sementes. “A Cordius chega para complementar a estratégia de atuação em sementes de soja da Corteva, com a oferta de variedades no modelo de licenciamento de germoplasma com genética de alta performance”, explicou o presidente da Corteva Agriscience para o Brasil e o Paraguai, Roberto Hun. O objetivo com a nova marca da companhia é que parceiros selecionados multipliquem e comercializem os produtos Cordius. A marca, que do hebraico significa “feito com o coração”, pretende ser reconhecida por agregar valor em participação e rentabilidade, construindo uma base de parceiros. “Idealizamos um modelo que além de atingir os objetivos e estratégias da companhia, fosse útil para valorização e rentabilidade da cadeia de multiplicadores”, detalhou o Líder de Marketing de Sementes da Corteva Agriscience, Frederico Barreto.
Segundo Barreto, a Corteva pretende levar ao agricultor e seus multiplicadores o que há de mais moderno em termos de produto e processos, valorizando a cadeia de multiplicadores que são responsáveis pela entrega de 80% das sementes de soja do Brasil.
SOMOS MULTIPLICADORES
PIONEER E BREVANT
A companhia já trabalha com Pioneer e Brevant, duas marcas próprias de sementes. A primeira atua no desenvolvimento e fornecimento de genética avançada de plantas e desenvolve sementes de alta tecnologia, além de ser conhecida por realizar um trabalho de acompanhamento junto ao produtor. A Brevant, lançada em 2018, conta com produtos voltados a fornecer estabilidade e rendimento, com sementes adaptadas para diferentes regiões do país e idealizada para os agricultores que preferem adquirir insumos C em distribuidores e cooperativas.
A empresa pretende colocar em prática o programa Somos Multiplicadores, pensado para os parceiros que investem em grandes volumes de multiplicação e produção das sementes Cordius. Com a iniciativa, a Corteva planeja beneficiar os agricultores com descontos em royalties, como forma de incentivo de crescimento da marca em diferentes regiões. A companhia já conta com 12 produtos da marca Cordius. Quatro são recomendados para a região Sul, sendo o C2570RR com resistênBarreto destacou a valorização da cia à podridão radicular, cadeia de multiplicadores
Hun lembrou que a marca vai complementar estratégia de atuação em sementes
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Coluna Agronegócios
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Agricultura, serviços e desserviços ecossistêmicos
motivação para escrever este artigo é a constatação de que os conceitos de serviços e desserviços ecossistêmicos, e de sua relevância para a agricultura, ainda são obscuros para a maioria da população. Sem os serviços, não teríamos agricultura tal e qual a conhecemos, e os desserviços podem ser evitados por atitudes, políticas públicas e tecnologias adequadas. Os serviços ecossistêmicos mais conhecidos são polinização, controle biológico de pragas, manutenção da estrutura e fertilidade do solo, ciclagem de nutrientes e serviços hidrológicos. Há outros, como regulação da qualidade do solo e da água, sequestro de carbono, manutenção da biodiversidade e regulação climática. As avaliações econômicas indicam que, a cada ano, o valor dos serviços ecossistêmicos para a Humanidade atingem cifras de trilhões de dólares. Os agroecossistemas são tanto provedores quanto consumidores de serviços ecossistêmicos. A agricultura se beneficia desses serviços, porém, dependendo das práticas de manejo, também pode ser fonte de desserviços, incluindo perda do habitat da vida selvagem, lixiviação de nutrientes, sedimentação de cursos de água, emissões de gases de efeito estufa e contaminação por uso inadequado de agroquímicos. Em todos os cenários, as práticas adequadas de manejo agrícola são essenciais para a obtenção dos benefícios dos serviços ecossistêmicos e a redução dos desserviços.
TIPOS DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
Os serviços de provisão produzem bens tangíveis e são mais facilmente percebidos. Exemplos: o fornecimento de seiva (borracha), frutos, raízes ou mel; a extração de carvão ou lenha para energia; os recursos bioquímicos e genéticos; e as plantas medicinais e ornamentais, presentes em formações nativas. Alguns autores enquadram a caça e a pesca nessa categoria. Em comunidades extrativistas, esses serviços são altamente valorizados, pois deles depende a sobrevivência da própria comunidade. Os serviços culturais podem incluir beleza cênica, paisagem, educação, recreação e turismo, entre outros. Os agroecossistemas dependem dos serviços de regulação (controle do clima, purificação do ar, purificação e regulação dos ciclos das águas, controle de erosão e enchentes, e controle biológico de pragas e doenças); e de suporte (formação e estrutura do solo, fertilidade do solo, ciclagem de nutrientes, e armazenamento e fornecimento de água). Polinização e controle biológico podem ser prestados por organismos que se movem da vegetação nativa para os agroecossistemas.
SERVIÇOS E DESSERVIÇOS DOS AGROECOSSISTEMAS
A agricultura ocupa quase 40% da superfície terrestre. Os ecossistemas agrícolas apresentam ampla variação na estrutura e função, envolvendo diversas culturas sob diferentes condições socioeconômicas, regimes climáticos e geografias. Não apenas os ambientes naturais, também os ecossistemas podem fornecer serviços regulatórios e culturais para comunidades humanas, além de prover serviços de apoio. Os serviços prestados pela agricultura podem incluir controle de enchentes, controle da qualidade da água, armazenamento de carbono e regulação do clima por meio da redução de emissões de gases do efeito estufa e regulação de pragas. Um ambiente agrícola adequado pode aumentar o fornecimento de serviços de polinização, que beneficiam outros cultivos ou vegetação nativa das proximidades.
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As práticas de manejo, que podem fornecer serviços, também influenciam o potencial de desserviços da agricultura, incluindo a perda de habitat para conservação da biodiversidade, o escoamento ou lixiviação de nutrientes, a sedimentação de cursos d'água, e o impacto negativo de agroquímico sem espécies não visadas ou a contaminação de solo e cursos de água. É no desserviço que reside o perigo, pois, como as práticas agrícolas podem prejudicar a biodiversidade, a agricultura é frequentemente considerada um anátema para a conservação. No entanto, a observância de boas práticas agrícolas pode mitigar ou eliminar muitos dos impactos negativos da agricultura, mantendo em grande parte os serviços de provisionamento. Aí reside a importância capital da Agronomia e dos engenheiros agrônomos. Os agroecossistemas incluem monoculturas (pomares, pastagens cultivadas, cereais e outros grãos); ou sistemas diversificados como culturas mistas, sistemas intercalares (usuais em cultivos de dendê, café, cacau), sistemas agroflorestais e produção hortícola com espécies diversificadas. Essa plêiade de sistemas agrícolas resulta em um sortimento e quantidade altamente variáveis de serviços ecossistêmicos. Assim como os serviços de provisão e os produtos derivados desses agroecossistemas variam, os de apoio, reguladores e culturais também diferem, resultando em grande variação no valor que fornecem, dentro e fora do agroecossistema.
EQUILÍBRIO E MELHORIA
Introduzir a agricultura em um determinado ambiente significa que haverá perdas e ganhos em relação aos serviços ecossistêmicos. O importante é evitar desequilíbrios, utilizando práticas amigáveis. Ao maximizar o valor dos serviços de fornecimento de produtos agrícolas, as atividades no setor provavelmente modificarão ou diminuirão os serviços fornecidos pelos ecossistemas terrestres, mas sistemas de produção adequados podem melhorar a capacidade dos agroecossistemas de fornecer uma ampla gama de serviços ecossistêmicos. Em conclusão, a conversão de ecossistemas naturais não perturbados para a agricultura pode ter fortes impactos na capacidade do sistema de produzir importantes serviços ecossistêmicos, mas também pode ser fonte de serviços ou desserviços. O uso da terra agrícola pode ser considerado um estágio intermediário em um continuum de antropização entre a natureza selvagem e os ecossistemas urbanos. Assim como a conversão dos ecossistemas naturais para a agricultura pode reduzir o fluxo de certos serviços ecossistêmicos, a intensificação da agricultura ou a conversão de agroecossistemas em áreas urbanas pode degradar a provisão de serviços benéficos. Para evitar prejuízos aos serviços ecossistêmicos - e até incrementá-los - e minimizar ou eliminar os desserviços, é importante dispor de sistemas de produção que levem em consideração estes objetivos, agricultores conscientes destes fatos, políticas públicas adequadas e um permanente desenvolvimento tecnológico para melhoria dos sistemas de produção, tornando-os mais amigáveis aos serviços C ecossistêmicos.
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Clima desfavorável atrasa safra dos EUA e abre grande janela para o Brasil em 2020
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clima neste ano foi muito duro com os produtores norte-americanos. Primeiramente, houve o inverno longo, com neve, granizo, e geadas até o mês de maio. Depois, vieram as chuvas que causaram grandes inundações. O plantio de soja e milho foi empurrado para junho, fechando em parte das áreas no começo de julho. As lavouras começaram o ciclo com problemas e perda de potencial produtivo já neste inicio de temporada.
MILHO
Safrinha em colheita e boa rentabilidade aos produtores
A safrinha está em colheita, com mais de 25% colhidos até o final de junho. O ritmo atual é o menor já visto, porque neste ano houve chuvas até o final do ciclo das plantas, trazendo altas produtividades, frente a anos anteriores, nos quais parte das lavouras morria antes de fechar o ciclo ou do enchimento total dos grãos. Neste ano, alguns produtores reclamam que a alta umidade até fez aparecer muitos casos de grãos ardidos. Mas, no geral, a safra tem fôlego para passar das 75 milhões de toneladas, com chances de concentração de colheita neste mês de julho. Muitos negócios estão fluindo na exportação, na faixa de R$ 40,00 a R$ 42,00 a saca nos portos, e mostrando fechamentos entre R$ 22,00 e R$ 27,00 pela saca no Mato Grosso, maior estado produtor. Os produtores do Mato Grosso estão animados com o milho que já negociaram, criando boa margem de ganhos e garantia de grande parte dos insumos que vão ser usados entre janeiro e fevereiro.
No começo de junho, já havia algo próximo de 65% negociados e em julho o nível deve chegar a 70%, restando pouco para ser comercializado no segundo semestre. Nota-se que agora a soja restante está nas mãos de produtores capitalizados e que dão sinais de que usarão este grão como ativo financeiro, esperando que venham novas altas em cima da demanda chinesa e dos problemas da safra dos EUA. Assim, esperam muito mais do que os R$ 85,00 a saca nos portos para as posições mais curtas de julho e agosto. A demanda interna deve seguir forte e a exportação puxando grandes volumes, para enxugar o mercado interno e manter os níveis firmes.
FEIJÃO
Feijão está mostrando a segunda safra avançando para o final
As cotações do feijão estiveram calmas nas últimas semanas, em função da segunda safra que neste ano teve área maior. Mas, como o clima mostrou irregularidades, com chuvas em excesso em alguns locais e frio em outros, houve comprometimento da produtividade, o que acaba por limitar a grande safra estimada. O final da colheita da segunda safra mostra que este restante de ano terá como ponto de abasSOJA tecimento a terceira safra (irrigada), que já está Comercialização da safra nos campos e que não deve passar de 700 mil caminhando para os 70% Os negócios com a soja têm fluido e os pro- toneladas. O quadro de baixa deve passar nesdutores aproveitam os momentos de alta para te mês de julho e apresentar pressão positiva fechamentos e realizar boas médias para o ano. novamente a partir de agosto.
ARROZ
Arroz teve um mês de junho calmo e espera um segundo semestre melhor
O mercado do arroz mostrou avanços nos indicativos na primeira quinzena de maio, com valores de R$ 45,00 a saca do arroz em casca da Fronteira Oeste e níveis maiores, de R$ 50,00, para as cultivares nobres rodando no Sul, e R$ 60,00 para a saca de 60 quilos dos estados centrais, com apelo altista naquele momento. Porém, as indústrias encontraram dificuldade para emplacar os ajustes em cima do beneficiado. Desta forma, houve calmaria na cotação do casca em junho, com recuo de R$ 3,00 nos indicativos, voltando para R$ 42,00 a R$ 43,00 na Fronteira Oeste. Até mesmo o sequeiro do Brasil Central registrou calmaria. Enquanto isso, as indústrias seguiam forçando ajustes, mas, como algumas estavam mantendo descontos, isso limitou avanços e segurou o casca. Em um ano de safra na casa das 10,5 milhões de toneladas e consumo estimado acima de 11,5 milhões de toneladas, sem estoque inicial do governo e com exportações em dobro, há tudo para que neste segundo semestre o mercado retome o ritmo do crescimento e traga ajustes positivos, com potencial de R$ 50,00 a saca para o produto comercial da C Fronteira Oeste, no Rio Grande do Sul.
Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo ficou mais otimista para a safra, porque os indicativos internacionais melhoraram e os produtores já perceberam que o trigo importado não chega ao país abaixo de R$ 1.000,00 por tonelada. Isso abre espaço para o grão nacional alcançar remuneração entre R$ 850,00 e R$ 950,00 a tonelada, com bons ganhos aos produtores. EUA - O plantio já está fechado e agora as atenções se voltam para as lavouras que começaram muito mal. Especula-se em soja volume de 100 milhões de toneladas a 105 milhões de toneladas e milho de 330 milhões de toneladas a 340 milhões de toneladas. Para a soja havia estimativa
inicial de 112,9 milhões de toneladas e para o milho 381,9 milhões de toneladas. CHINA - A China seguirá comprando forte no Brasil. A disputa comercial com os EUA não se encerrará no curto prazo e, assim, abre espaço para mais importações, não só de soja do Brasil como também de milho e muita carne. ARGENTINA - A safra dos argentinos se encaminha para o fechamento, com bons resultados neste ano. Apontam que a soja tenha ficado na faixa de 56 milhões de toneladas e o milho em 48 milhões de toneladas (ainda com a colheita em andamento).
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Coluna ANPII
Em crescimento Aumento de 293% nas vendas de inoculantes foi registrado na agricultura brasileira ao longo dos últimos dez anos
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Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) vem se a técnica da coinoculação do Azospirillum com o Rhizoconsolidando, ano após ano, como uma das biumtropici também resulta em expressivos aumentos na técnicas que mais crescem no Brasil, firmando produtividade do feijoeiro. a posição de país líder no uso do nitrogênio biológico no Assim, o crescimento no uso de inoculantes para gramundo. Acompanhando a evolução do plantio de soja, o míneas deveu-se, em grande parte, à aderência do agriuso de inoculante cresce a taxas maiores que o aumento cultor ao uso conjunto dos dois inoculantes. Mais uma da área plantada, o que demonstra que o agricultor brasi- demonstração da disposição do agricultor brasileiro em leiro tem cada vez mais confiança no uso dos inoculantes. adotar as boas práticas da inoculação e usar prontamente Em artigos anteriores foram analisados os fatores que as novas tecnologias geradas pela pesquisa e implantadas contribuíram e contribuem para manter em alta o uso de pelas indústrias de inoculantes. inoculantes como fonte de nitrogênio para as leguminoAs empresas associadas à ANPII se preparam para sas. De forma resumida: estrutura de seleção de estirpes, atender às novas demandas, seja do ponto de vista do fornecendo material genético de alta qualidade; política aumento da produção de inoculantes, seja no que se rede melhoramento da soja com o uso da FBN como fonte fere à qualidade. Continuam em seu franco crescimento de N, o que agora se estende ao feijosintonizadas com as necessidades da eiro; engajamento da pesquisa e exagricultura brasileira. tensão no aperfeiçoamento e difusão Produzindo inoculantes à base de da técnica; empresas oferecendo inoRhizobium, Bradyrhizobium e Azospiculantes cada vez mais qualificados, rillum, as empresas associadas oferecom enorme potencial para atingir cem ao mercado um amplo leque de Assim, o elevadas produtividades; e agricultoprodutos, em variadas formulações. res francamente propensos ao uso de crescimento no uso modernas tecnologias. IN MEMORIAM de inoculantes para Amparado por esta retaguarda, No dia 19 de junho faleceu o eno uso de inoculantes no Brasil vem genheiro agrônomo Jerry Stoller, fungramíneas crescendo a taxas expressivas, como dador do Grupo Stoller. A empresa do deveu-se, em se pode ver no gráfico (inoculantes Grupo no país, a Stoller do Brasil, é asgrande parte, vendidos pelas empresas associadas sociada da ANPII. Stoller fundou a emà ANPII) presa nos Estados Unidos e a espalhou à aderência do Nos últimos dez anos a venda de pelos cinco continentes, sempre com agricultor ao uso inoculantes cresceu quase 60 milhões tecnologias inovadoras, desenvolvidas de doses, ou seja, 293%. na própria empresa em convênio com conjunto dos dois Nos últimos três anos, de 2016 a universidades e centros de pesquisa. inoculantes 2018, aumentou 22 milhões de doses, A ANPII apresenta seus sentimenou seja, acima de 44%. tos ao Grupo Stoller, pela perda de C Por tipo de inoculante, essa tecseu fundador. nologia para soja cresceu quase nove Solon Araujo, milhões de doses, ou seja 16%. Consultor da ANPII Percentualmente, o maior crescimento nos últimos três anos foi o de inoculante para gramíneas: pulou de 4.532.317 doses para 9.125.995 doses, ou seja, um crescimento de 101%. Aqui aparece mais um caso de sucesso na área da fixação biológica do nitrogênio: a pesquisa, através da Embrapa Soja, demonstrou a viabilidade da co inoculação, ou seja, a inoculação conjunta do Bradyrhizobium com o Azospirillum (presente no inoculante para gramíneas) em soja, com aumentos médios de 16% na produtividade. Em paralelo, a Embrapa Arroz e Feijão demonstrou que
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Tecnologia • Julho 2019
Desenvolvimento sustentável Wenderson Arajuo CNA
Perspectivas da Nova Agricultura - O papel da pesquisa na União Europeia
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agricultura deve atender às mudanças nas necessidades da sociedade, não somente em termos de consumo, mas também nas questões ambientais relacionadas à produção agrícola, e assegurar produtividade. Garantir a sustentabilidade ambiental da agricultura é o foco das políticas e medidas europeias . Isto faz parte de uma visão de longo prazo sobre pesquisa e inovação implementada na União Europeia (UE) por meio do programa de pesquisa Horizon 2020 (H2020). O objetivo é conduzir a pesquisa agrícola em estreita conexão com o contexto e os desafios sociais em sentido amplo. Isto está reunido em cinco prioridades estratégicas (Figura 1). Este contexto será particularmente favorável ao apoio de práticas agroecológicas e à agricultura orgânica, reforçando simultaneamente a proteção
do ambiente, em especial, promovendo ações de combate e adaptação às alterações climáticas. Colocando a nova visão de agricultura em ação
Nas próximas décadas, mudanças profundas na agricultura devem ser implementadas para promover a proteção da biodiversidade e amenizar os riscos associados ao uso de pesticidas químicos convencionais. Também está claro que a agricultura está altamente exposta às mudanças climáticas atuais, já que as atividades agrícolas dependem diretamente dessas condições. São também necessárias medidas para suavizar os efeitos das alterações climáticas. Estas tendências apontam a necessidade de mais pesquisas sobre sistemas agroecológicos funcionais, incluindo os de produção de plantas sem agroquímicos e inovação agrícola.
Redução de pesticidas comprometida na Europa
A redução de pesticidas na agricultura está no centro da legislação recentemente adotada pela União Europeia. A Diretiva 2009/128/EC do Parlamento Europeu prevê uma série de ações para alcançar a utilização sustentável dos pesticidas, reduzindo os riscos e os efeitos à saúde humana e ao ambiente. Já estão em curso, medidas tanto em nível da União Europeia como nacionais, incentivando a utilização do manejo integrado de pragas e uso de estratégias não químicas. Estas medidas são apoiadas pelas Políticas de Pesquisa Europeia, por meio do programa H20202, e por medidas nacionais. Como exemplo, na França, os esforços concentram-se principalmente no Plano Ecophyto, que já evidencia uma redução de 20% a 30% no uso de pesticidas alcançados por alguns agricultores. A generalização desses resultados para toda 03
Tecnologia • Julho 2019 Figura 1
(nova geração de ferramentas sustentáveis para o controle de ácaros-praga emergentes favorecidos por mudança climática) , financiada pela União Europeia, aborda algumas dessas questões, conforme resumido no box abaixo.
A DIMENSÃO GLOBAL DA AGRICULTURA
a agricultura é a prioridade das políticas atuais. É também uma resposta à sociedade, porque os produtos para proteção de plantas são frequentemente considerados pelos cidadãos como prejudiciais à saúde humana e ao ambiente. Alavancas da Agroecologia como ponto central
Como disciplina científica, a Agroecologia foi construída pelo cruzamento entre a Agronomia e as Ciências Ecológicas, mas também mobiliza as Ciências Sociais em apoio a concepção e gestão de agroecossistemas sustentáveis. Um de seus princípios básicos é buscar maior biodiversidade funcional para melhorar o equilíbrio biológico. A Agroecologia não se baseia na abordagem de substituição dos pesticidas, mas na otimização do equilíbrio biológico de forma a reduzir o desenvolvimento de pragas. A tendência da política da União Europeia é estimular a inovação e apoiar a pesquisa, para dar suporte à produção agrícola ecológica e à agricultura orgânica .
Tendo em conta a política científica da União Europeia, a nova agricultura será mais sustentável, com práticas que levem em conta as ânsias sociais pela saúde humana e pela proteção ao ambiente. Fica claro que esses objetivos de desenvolvimento sustentável, embora enquadrados por políticas da União Europeia, têm implicações e correlações em nível global. A sustentabilidade é claramente diferente nos principais países produtores de commodities agrícolas, devido a diversos fatores, como as diferentes formas de utilização das áreas, clima, contexto político
etc. Com a globalização, o mundo está interconectado, os mercados mudam, as exigências de importações mudam. Colocar essa nova visão da agricultura em ação, não se baseia em uma única solução, mas em um equilíbrio de soluções para alcançar a sustentabilidade. Esta é uma tarefa desafiadora, mas realista. Requer novas abordagens nas quais os atores do sistema alimentar devem colaborar para desenvolver soluções adaptadas localmente. Prioridades são reforçadas para algumas culturas pela inserção de novas tecnologias digitais, com potencial disruptivo da atual agricultura. Este conceito inovador está sendo desenvolvido atualmente por meio de várias iniciativas e projetos-pilotos. Um exemplo é a vinícola Mediterrânea C em Montpellier, na França . Maria Navajas, Institut National de la Recherche Agronomique (INRA)
Efeito cascata do impacto da mudança climática na distribuição de pragas agrícolas
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rever o potencial de pragas invasivas sob cenários de mudanças climáticas é necessário. Como exemplo, o ácaro vermelho do tomate, Tetranychys evansi, nativo da América do Sul, tem emergido como nova praga danosa em áreas mais temperadas do planeta, como na Europa. Há provas que diferentes genótipos de T. evansi estão respondendo ao clima de diversas formas, e isso tem permitido às populações adaptarem-se e tornarem-se invasivas (Migeon et al., 2015). Modelos de distribuição de nichos ajudam a predizer a influência das mudanças climáticas sobre essas transições em um futuro próximo (Meynard et al., 2013). Os processos de expansão e adaptação de pragas e também de inimigos naturais são fundamentais para entender o impacto que pragas importantes de cultivos agrícolas têm ou terão nas populações, comunidades e ecossistemas sob novas condições climáticas.
Pesquisa em mudanças climáticas: predição e amenizaçãodos efeitos
Novas condições ambientais geradas pela mudança climática global afetarão os sistemas de cultivo de várias maneiras. Não só as culturas e cultivares terão de se adaptar a temperaturas mais altas e episódios de seca, mas sabe-se que muitas pragas artrópodes poderão ser favorecidas por essas condições. Este é o caso de muitos insetos e ácaros para os quais as previsões dizem que seu impacto aumentará. Como exemplo, a ação internacional Genomite 04
Projeção de T. evansi (a) em 2050 (Scenario CSIRO MK 3.0) na bacia mediterranea (b: Migeon et al., 2009). Manejando o agroecossistema, incluindo a introdução de ácaros exóticos predadores Phytoseiulus longipes (c) na área invadida, são métodos em estudo para controle destas pragas destrutivas em solanáceas (d: plantas de tomate cobertas de teias de ácaros).
Tecnologia • Julho 2019 Wenderson Arajuo CNA
Mundo de possibilidades Desafios e oportunidades na agricultura na América Central e na Bacia do Caribe
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ma rápida revisão sobre a agricultura na região, suas deficiências, vantagens competitivas e o caso particular de Porto Rico serão discutidos em relação às pressões e oportunidades geradas a partir de uma nova e complexa era tecnológica. Historicamente, várias culturas agrícolas importantes, tais como milho, cacau, feijão, batata e abóbora, foram originadas e selecionadas
ao longo do tempo na América Central e no Caribe. Apesar das limitações em área e da diminuição da contribuição ao Produto Interno Bruto (PIB), a agricultura é crucial para essa região que abriga uma população de aproximadamente 80 milhões de pessoas, entre 27 nações insulares e sete países da América Central. As principais culturas, que ocupam grandes áreas na região, costumam ser cana-de-açúcar, banana,
coco, café, arroz e tabaco. Os vegetais, como tomates, pimentas, cucurbitáceas e raízes, são cultivados principalmente para o consumo local ou como cultura de rápido investimento. A agricultura regional é severamente impactada pela globalização e as mudanças climáticas. Localizada entre as latitudes de 13°10’N de Barbados e 25°1’N das Bahamas, várias safras podem ser colhidas, e, geralmente, 05
Tecnologia • Julho 2019 Igo Estrela CNA
Diferentes desenvolvimentos agrícolas têm reformulado os métodos de produção em todo o planeta
condições climáticas amenas prevalecem ao longo do ano. As variações de precipitação geográfica e a interação com a altitude geram uma ampla gama de microclimas regionais. Além disso, solos altamente diversificados permitem e ajudam a explicar a rica biodiversidade natural observada na região. As vulnerabilidades à segurança alimentar e nutricional na região, impulsionadas por condições climáticas abruptas e eventos extremos, como furacões e secas, contribuiu para um aumento dos processos migratórios. Como esperado, novas ondas de globalização são percebidas, de forma diferente entre os diferentes atores das regiões. Portanto, a preparação e a capacidade de responder a novos desafios e buscar novas oportunidades variam muito na região. Diferentes desenvolvimentos agrícolas têm reformulado os métodos de produção de alimentos e bens em todo o planeta. O aumento e a sustentabilidade das safras têm permitido a ocupação de diferentes regiões, uma melhor nutrição e a oferta de mão de obra para exploração de novos empreendimentos e áreas. A expansão das monoculturas, a crescente escala de produção e 06
as redes logísticas multinacionais de produção em cadeia têm impactado a produção de alimentos globalmente, aumentando a dependência local na importação de alimentos básicos. Considerando a estética das paisagens caribenhas e que a estética é um valor universal aceito por todos os indivíduos, as recentes e crescentes ligações entre agricultura e turismo, criaram um importante fluxo de receita, além da agricultura local. Vários países da região estão integrando a indústria da hospitalidade e a agricultura. Porto Rico é o único no Caribe que segue o Sistema Regulatório Federal e Estadual dos EUA, para detectar pragas que entram na ilha e aplicar a regulamentação necessária. Essas vantagens comparativas iniciais, clima adequado durante todo o ano, disponibilidade de mão de obra qualificada, associadas a um ambiente de negócios, apoiaram o estabelecimento e a expansão de uma das maiores operações de biotecnologia agrícola nos Estados Unidos. Porto Rico é um importante centro de pesquisa e desenvolvimento de inovações da indústria. As estimativas da própria indústria mostram que aproximadamente 85% de todas as sementes
mundiais das principais culturas, de empresas que operam na ilha, passam por suas instalações locais de pesquisa e desenvolvimento. Com base em dados de 2016, cerca de 3.500 hectares de terra, tanto próprios quanto arrendados, são usados pela PR Agbiotech - e aproximadamente 4.700 pessoas são direta e indiretamente empregadas em trabalhos locais, o que gera mais de US$ 130 milhões anualmente para a economia da região. Recentemente, com exigências crescentes de rastreabilidade de processos, necessidade rigorosa de controle da segurança alimentar e restrições fitossanitárias à introdução de pragas e doenças nocivas, novas tecnologias e processos têm ganhado espaço. A chamada Agricultura 4.0, sociedade da informação, trouxe o uso mais amplo do Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS), incluindo, por exemplo, o GPS, Glonass, Galileo, Beidou e outros, estabelecendo a agricultura de precisão. A crescente conscientização e o uso na agricultura de sensores, inteligência artificial, Machine Learning, Internet of Things(IoT), robótica e automação, Big Data e Analysis, sistemas de triagem de alto rendimento (HTS), entre outros, são uma realidade. Existe uma nova proposta de sociedade 5.0, tendo o humano no centro da tomada de decisões e integrando os espaços cibernéticos (virtuais) e físicos. Este novo passo tem por objetivo equilibrar o avanço econômico com a resolução de problemas sociais e ambientais. Cenários futuros estarão evoluindo constantemente em complexidade e exigindo empreendedores com visão estratégica, altos padrões éticos e conhecimento, planejamento efetivo para a implementação de avanços e treinamento contínuo para uma força de trabalho altamente motivada C e qualificada. Jose Carlos Verle Rodrigues Center for Excellence in Quarantine & Invasive Species University of Puerto Rico
Tecnologia • Julho 2019
Desafios de desmistificar Charles Echer
A importância de entender mal-entendidos: visões societárias e inovação agrícola
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xistem muitos desafios a serem enfrentados quando se gera soluções biotecnológicas para problemas agrícolas. Pegando como exemplo os eventos de biotecnologia para controle de pragas, surpreendentemente, para alguns, os desafios mais difíceis não são de ordem biológica ou de natureza agrícola, mas sim sociais. Sem o envolvimento ativo e bem financiado dos cientistas sociais, a implementação da Biotecnologia moderna na agricultura será seriamente atrasada ou interrompida por completo. O caso dos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) na agricultura é um bom exemplo que ajuda a entender como as visões da sociedade podem afetar a regulamentação, as políticas e os mercados globais. Muitas vezes, cientistas e acadêmicos descartam a percepção pública e as questões sociais, considerando-as pouco importantes, irrelevantes ou tangenciais para a implementação de soluções biotecnológicas na agricultura. A história dos OGMs mostrou que, sem a compreensão e aceitação do público, até mesmo as abordagens mais sólidas da Biotecnologia para o controle de pragas podem ser interrompidas. Pesquisas realizadas por cientistas
sociais revelaram que fatores, tais como a percepção pública de risco, diferenças nas visões de mundo e pensamento grupal ou tribal, podem efetivamente explicar a opinião pública sobre Biotecnologia na agricultura, de forma mais convincente do que simplesmente considerar o público como analfabetos científicos. As estratégias que os cientistas utilizaram para obter aceitação pública da Biotecnologia, tradicionalmente, consistiu em transferir informações. Vários anos de ativismo anti-OGM demonstram que reverter a rejeição da Biotecnologia apenas fornecendo informações, não funcionou. Surpreendentemente, cientistas sociais mostraram que fornecer mais informações para pessoas fortemente opostas à Biotecnologia, aumenta a sua oposição. As razões que explicam esse achado são complexas e envolvem visões políticas, experiências passadas, fatores psicológicos e sociais, bem como sistemas de governança e confiança das pessoas nas instituições. Os cientistas naturais e agrícolas estão mal equipados para estudar essas questões e, consequentemente, são ineficazes na mudança da percepção pública das aplicações da biotecnologia na agricultura. Diversos setores de Biotecnologia
aprenderam com seus erros e, atualmente, é comum concordar que o envolvimento da comunidade é necessário, antes de qualquer lançamento de soluções biotecnológicas para problemas de pragas locais, regionais ou globais. Essa compreensão, entretanto, não torna o conflito entre a percepção pública e a Biotecnologia menos desafiador. Só recentemente se começou a entender como as percepções do público são formadas, o quanto elas são difíceis de mudar e como a informação factual é irrelevante na formação do pensamento grupal. É preciso que as agências governamentais que financiam a pesquisa em Biotecnologia incluam parte de seus subsídios para estudos envolvendo aspectos sociais. Devido aos vários desafios urgentes que o nosso planeta enfrenta, entender a percepção e a persuasão pública é mais crucial do que nunca. As estratégias atuais e futuras para lidar com os efeitos das mudanças climáticas na segurança alimentar, na saúde humana e animal e na conservação da biodiversidade, exigirão políticas inovadoras e eficazes. Se a Biotecnologia fizer parte da solução para esses problemas, os órgãos reguladores locais e globais precisarão desenrolar rapidamente. A velocidade requerida para que uma mudança efetiva ocorra, exigirá aceitação pública. Sem as Ciências Sociais trabalhando lado a lado com as Ciências Naturais, será impossível alcançar uma mudança social global na velocidade necessária. As Nações Unidas têm declarado que quando se trata de alcançar seus objetivos globais de desenvolvimento sustentável, os negócios, como de costume, não são uma opção. Não é possível mais ignorar as consequências das externalidades na agricultura. As soluções mais promissoras para evitar atingir pontos de inflexão perigosos são fornecidas pela Biotecnologia. É crucial poder implementar políticas revolucionárias baseadas na ciência de forma rápida. Mas será que conseguiremos fazer isso ou estaremos presos em nossos sistemas de C governança? Raul F. Medina Department of Entomology at Texas A&M University 07
Tecnologia • Julho 2019
Correção de curso Agricultura industrial na América do Norte: por que o agronegócio e a ilusão de alimentar o mundo estão nos conduzindo na direção errada
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EUA, supostamente destinadas a garantir a segurança alimentar local e proporcionar estabilidade econômica aos agricultores, tiveram exatamente o efeito oposto. A dívida agrícola está em níveis recordes, o agricultor médio norte-americano tem agora 58 anos e está envelhecendo, e o retorno do investimento para terras agrícolas atualmente é de apenas 1% a 2% ao ano. Os custos dos insumos agrícolas aumentaram ao longo dos últimos 30 anos, mas os preços dos grãos permaneceram praticamente inalterados durante esse período. Uma grande fração da receita agrícola é agora absorvida pelas corporações do agronegócio, embora essas empresas não compartilhem nenhum risco. A grande maioria dos subsídios governamentais, diretos e indiretos, vai para três culturas de grãos: milho, soja e trigo. Isso garante um suprimento constante de matéria-prima de baixo custo para a indústria de fast food, para a qual a maioria dos norte-americanos já terceirizou a responsabilidade por sua nutrição pessoal. Os produtores de carne bovina, suína e de frango se tornaram vítimas do poder de monopsônio de algumas grandes corporações de carnes que controlam a demanda e o acesso ao mercado e, portanto, o preço dessas commodities. O modelo corporativo de criação de gado em confinamento nos EUA (Cafos) tem encorajado os produtores a expandir instalações e assumir dívidas em troca de contratos para fornecer para os gigantes corporativos, que podem ditar não apenas preços, mas práticas de produção. Os produtores têm sido reduzidos a funcionários contratados em suas próprias terras; as empresas efetivamente possuem os animais, enquanto os agricultores ficam com o lixo animal, sem a capacidade de descartá-lo. Um fator-chave nas decisões de plantio de fazendeiros é a disponibilidade de seguro
agrícola. Oitenta por cento do custo dos prêmios de seguro das colheitas é pago pelo público contribuinte e, no entanto, o seguro está disponível apenas para as culturas básicas de cereais que já são superprodutivas, e não para as frutas e os vegetais frescos, cujo consumo deve ser encorajado. Uma política nacional de destino da produção excedente das fazendas norte-americanas na forma de ajuda internacional, “doação”, prejudicou economias agrícolas em desenvolvimento pelo mundo, ao tornar a produção local antieconômica. Não é difícil prever quais os efeitos da exportação de práticas agrícolas industriais para os países em desenvolvimento. As fazendas ficarão cada vez menores, a qualidade dos alimentos diminuirá e a população ficará cada vez mais desconectada de seu fornecedor de alimentos. Se quisermos “renaturalizar” a agricultura, devemos reduzir o uso de insumos externos, frear o poder das empresas do agronegócio, tornar as pequenas e diversificadas produções agrícolas rentáveis novamente. A agricultura industrial deve começar a pagar por suas externalidades ambientais e parar de perseguir incessantemente a maximização da produtividade à custa da qualidade de alimentos e impactos C ambientais. Jean P. Michaud, Kansas State University Charles Echer
P
ossivelmente, o adjetivo mais usado na Agronomia atualmente é a palavra “sustentável”. Porém, quase nada que atualmente fazemos na agricultura norte-americana em escala industrial é verdadeiramente sustentável. A agricultura altamente mecanizada de hoje é baseada em combustíveis fósseis baratos. Os combustíveis fósseis também são matérias-primas fundamentais para a produção de agroquímicos e fertilizantes inorgânicos, que, por sua vez, são derivados da mineração de reservas finitas de fosfato e potássio. O aumento de produtividade é passado aos agricultores como uma maneira de melhorar sua lucratividade, mas tem tido resultados exatamente opostos. Atualmente, os EUA produzem o dobro de grãos de que necessitam, a enormes custos ambientais, o que torna os agricultores dependentes da exportação de excedentes, com os preços de exportação sujeitos aos caprichos do mercado internacional, bem como à volatilidade de preços produzida pelos especuladores de commodities. As externalidades associadas à agricultura industrial são enormes - a agricultura responde por 40% de todas as emissões de gases de efeito estufa e é o maior contribuinte para a poluição da água doce - e nenhum desses custos é suportado pelos produtores ou pelas indústrias que os apoiam. As empresas do agronegócio não estão interessadas em uma agricultura verdadeiramente sustentável, porque seus lucros dependem de um modelo de agricultura baseado em insumos. O impacto da agricultura corporativa na saúde da sociedadetem sido negativo. Alimentos de baixo custo em detrimento de uma correta alimentação, que é cara, contribuem para doenças relacionadas a alimentos, como diabetes e obesidade. As políticas agrícolas nacionais nos
Atualmente os EUA produzem o dobro de grãos que o país necessita
Tecnologia • Julho 2019 Wenderson Arajuo CNA
Equilíbrio nutricional Desafios da nutrição de plantas no contexto da nova agricultura
A
agricultura no transcurso da sua história experimentou transformações que apresentaram características disruptivas, as quais suportaram o crescimento populacional global. Assim, no transcurso do século 20 a população mundial quase que quadriplicou (Smil, 1997), demandando da agricultura o incremento de área e de produtividade das principais
culturas. Entre as inovações tecnológicas no século passado que possibilitaram o incremento da produção de alimentos, destaca-se a síntese da amônia através do processo industrial desenvolvido por Harber-Bosh, que combinou os gases nitrogênio e hidrogênio sob elevada temperatura e pressão. Porém, o uso em larga escala da síntese da amônia evolui lentamente, devido aos elevados custos
envolvidos na sua fabricação industrial. Somente a partir da década de 1960 que importantes inovações permitiram uma economia de até 90% da energia elétrica consumida, aliadas a simplificações no processo industrial que resultaram em uma produção em larga escala, viabilizando o consumo de nitrogênio por culturas como milho, arroz e trigo que suportaram o vertiginoso crescimento populacional (Figura 1). Em síntese, além da descoberta de uma inovação tecnológica, para que ela resulte em um incremento abrupto na produção de alimentos, faz-se necessário que seja adotada pela grande maioria dos agricultores, em diferentes partes do mundo. Os desafios do século 21 para a agricultura ainda são maiores que os enfrentados até então. De acordo com a FAO, para responder à demanda de 9,6 bilhões de habitantes no planeta em 2050, será necessário um incremento acelerado na produção de alimentos e na eficiência no uso da água e da terra. Como estes recursos são finitos, 09
Tecnologia • Julho 2019 Figura 1 - Crescimento populacional no transcurso do século 20 e o uso de Figura 2 - Produtividade média das culturas da soja, trigo e milho no Brasil e nos estabelenitrogênio na agricultura a partir da síntese industrial de amônia (Harber-Bosh). cimentos agrícolas mais produtivos. Fonte: adaptado de MarkEsalq artigo de Eduardo Spers Fonte: Smil (1997) e Caetano Haberli
o incremento da produção de alimentos deverá ser obtido principalmente pelo aumento da produtividade dos cultivos. Com isto, prevê-se que a agricultura deverá ser uma área de muita inovação tecnológica durante o corrente século. A sintonia fina entre o melhoramento genético e o manejo de solo, com objetivo de nutrição, vigor e sanidade das plantas, é essencial para sustentar elevadas produtividades em diferentes ecossistemas. Este objetivo fica comprometido quando se constata que aproximadamente 30% dos solos em nível mundial encontram-se com algum nível de degradação, que compromete em parte a eficiência das inovações tecnológicas e seu impacto no aumento da produtividade. A degradação física do solo, representada pela compactação, reduz a sua taxa de infiltração, agrava os problemas com erosão e compromete a eficiência do uso da água, com reflexos negativos na estabilidade temporal da produção de alimentos. A degradação biológica do solo está associada à reduzida diversificação dos agroecossistemas, que ocasiona a perda de aproximadamente 50% do estoque original de matéria orgânica, da atividade e diversidade da comunidade microbiana, agravando a pressão de patógenos e demandando pesados investimentos em proteção de plantas. Juntas, a degradação física e a biológica comprometem a eficiência dos fertilizantes aportados e de outros insumos utilizados no processo produtivo. Com isto, estima-se que atualmente estamos sendo eficientes em explorar apenas 30% a 40% do poten10
cial produtivo das modernas cultivares. Acrescem-se a este complexo cenário as mudanças climáticas que exigem sistemas resilientes a eventos extremos, como déficits hídricos prolongados, elevadas temperaturas e chuvas intensas. Existe o risco de que as novas tecnologias possam falhar em entregar o incremento de produtividade projetado se forem implementadas em um solo degradado, sem vida e com baixo teor de matéria orgânica. Portanto, a nova agricultura do século 21 deverá ter na sua agenda a revitalização dos solos com base físico-biológica, para incrementar a eficiência dos insumos e a rentabilidade (Montegomery, 2017). Interessante, que com as mesmas tecnologias disponíveis, o seleto grupo de agricultores mais produtivos tem obtido produtividades que são de 90% a 175% superiores à média brasileira (Figura 2) (Mark Esalq, 2018). Este fato, pode ser um importante sinalizador de que as atuais e futuras tecnologias podem ter um desempenho muito superior se forem aplicados em um ambiente desenhado para elevada eficiência. As novas tecnologias representadas pela agricultura digital irão trazer maior assertividade às tradicionais práticas agrícolas, por permitirem diagnóstico com elevada resolução espacial, alta frequência de coleta de dados, rastreabilidade, e análise acurada da eficiência dos insumos e do desempenho das modernas cultivares, permitindo que a cada safra a interpretação dos resultados seja mais eficiente e resulte em maior rentabilidade. Uma nova agricultura deverá emergir desta constante avaliação e reava-
liação de processos, tecnologias e insumos. O desafio de reunir as diferentes vertentes da agricultura, como agricultura conservacionista, agricultura de precisão, agricultura sustentável, agricultura com intensificação e agricultura adaptada às mudanças climáticas, em uma única base, será um dos principais produtos da agricultura digital. Para tanto, deverá estar acessível a todos os estratos de produtores. A aproximação do produtor rural ao consumidor urbano, através da oferta da rastreabilidade e de outras ferramentas digitais, poderá demandar ajustes nos sistemas produtivos, que transcendem a busca pela produtividade, mas que incluam a qualidade, o valor nutricional e o baixo risco à saúde por contaminantes. Plantas nutridas equilibradamente, produzidas em solos que mantêm sua qualidade preservada, são bases para a nova agricultura que emergirá com a adoção da C agricultura digital. Telmo Amado, Universidade Federal de Santa Maria Encarte Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 242 • Julho 2019 • Capa - Charles Echer Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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Soja • Julho 2019
Manejo estratégico Andre Shimohiro
Entenda a importância de um manejo correto de doenças na cultura da soja, que tome por referência as últimas safras em distintas regiões brasileiras como Rio Grande do Sul, Cerrado e Mato Grosso. Os inúmeros desafios exigem mais técnica, atualização e conhecimento por parte dos produtores e técnicos, para explorar ao máximo o potencial produtivo das culturas
D
evido à grande diversidade de doenças na cultura da soja, os manejos são dependentes de estratégias operacionais e técnicas. Além disso, cada vez mais se faz necessário reunir diversas ferramentas para aumentar a eficiência, tornando o manejo integrado uma estratégia obrigatória para um controle efetivo e sustentável. Nas safras de soja anteriores, os produtores do Rio Grande do Sul se depararam com um cenário ameno de pressão de ferrugem asiática na soja, que teve uma ocorrência mais tardia, influenciada, principalmente, por condições de clima. Entretanto, na safra 2018/19, em virtude
da combinação de alguns fatores, a pressão da doença foi alta, superior às safras anteriores, causando danos mais severos em lavouras de todo o Estado. A maior severidade da ferrugem asiática pode estar relacionada à manutenção de plantas voluntárias de soja no campo, no período de inverno de 2018, o que pode ter contribuído para a sobrevivência e multiplicação de inóculo de Phakopsora pachyrhizi, já nos meses de setembro e outubro. Além disso, a janela de semeadura da soja se estendeu por 60 dias, em virtude de altos volumes acumulados de chuva que afetaram o estabelecimento de plantas e levaram diversos produtores a ter que ressemear suas
áreas. Esse longo período de semeadura dificultou o manejo no campo. Quanto ao clima, esse foi favorável, com chuvas frequentes, elevada umidade e temperaturas mínimas em média 1,0ºC maiores que as da safra 2017/18 (Figura 1). Nesse cenário favorável às doenças, além da ferrugem asiática, foi observada no campo a ocorrência de manchas foliares (Septoria glycines e Cercospora kikuchii) e de antracnose (Colletotrichum truncatum) em todas as regiões do Estado. São doenças comumente presentes, e que, dependendo das condições de ambiente, podem apresentar maiores severidades, como, por exemplo, safras mais chuvosas. Além
Soja • Julho 2019 Figura 1 - Comparativo da temperatura mínima média (ºC) e chuva acumulada (mm) nos meses de novembro a março, das safras 2017/18 e 2018/19
na produtividade da soja tenha sido influenciada, dentre diversos fatores, pela maior severidade das doenças, principalmente a ferrugem. A safra 16/17 foi de baixa pressão de ferrugem asiática, enquanto na de 18/19, a ferrugem começou mais cedo e atingiu maiores níveis de severidade, explicando em parte esse resultado. Notadamente, essa maior pressão de doenças nessa última safra, em áreas comerciais, desafiou os produtores quanto ao manejo e teve influência direta na sua rentabilidade. Além disso, deixa claro que as doenças são resultado da interação planta x patógeno x ambiente e que não se pode esperar que seu comportamento seja o mesmo em todas as safras. Em relação ao uso de fungicidas no controle da ferrugem nessa safra,
Nedio Tormen
dessas doenças foliares, foram verificados, em muitas áreas, problemas radiculares causados por fungos de solo, predominantemente Phytophthora sojae, que podem ocorrer desde o estabelecimento da lavoura e também atacar plantas adultas, causando seca da haste e consequentemente morte de plantas em reboleiras. O dano das doenças foi maior na safra 2018/19, comparadamente ao ocorrido nas safras anteriores. Isso pode ser observado na Figura 2, que apresenta a produtividade de parcelas testemunhas (sem tratamento fungicida) da cultivar M5947 Ipro, semeada na mesma área e no mesmo período nas últimas três safras. A produtividade obtida na safra 2018/19 foi 16 sc/ha menor que na 2016/17. É provável que essa redução
A mancha-alvo está entre as doenças da parte aérea cuja importância cresce a cada ano
percebeu-se que, em muitas áreas, o sucesso foi determinado pelo momento em que o programa foi iniciado. A Figura 3 mostra o incremento de produtividade referente ao manejo de doenças com três aplicações posicionadas a partir do estádio reprodutivo, e o incremento do programa fungicida com quatro aplicações, iniciado no vegetativo. A época de semeadura do ensaio foi em 30 de outubro, período considerado cedo para o Rio Grande do Sul. Os dados indicam que a primeira aplicação iniciada no vegetativo foi responsável por 55,5% do incremento produtivo proporcionado pelo programa fungicida. De forma geral, na safra 2018/19, na grande maioria dos programas fungicidas avaliados, a primeira aplicação foi determinante para o sucesso do controle das doenças e para a proteção do potencial produtivo da soja. Em lavouras do Rio Grande do Sul, os produtores enfrentaram algumas dificuldades operacionais por terem lavouras em diferentes estádios de manejo e janelas de aplicação um tanto curtas, devido às condições de clima, principalmente os longos períodos de chuva. Em muitos casos houve atraso nas aplicações, devido à impossibilidade de entrar nas áreas, refletindo em intervalos de aplicação muito longos. Dados de diversos experimentos conduzidos no Instituto Phytus evidenciam que, a partir do reprodutivo, intervalos de 15 dias entre aplicações se mostram
Soja • Julho 2019 Figura 2 - Produtividade média das parcelas sem tratamento fungicida da cultivar de Figura 3 - Produtividade da soja (BMX Tornado RR) semeada em 30/10/2018, em função soja Monsoy 5847 Ipro, ao longo de três safras, sempre semeada na primeira semana da aplicação de fungicida iniciado na fase vegetativa e reprodutiva, comparada ao tratado mês de dezembro, em Itaara/RS mento testemunha, em experimento conduzido durante a safra 2018/19 em Itaara/RS
fitossanitários é fundamental a adoção de diversas estratégias dentro de um programa integrado de manejo. Especificamente no caso de ferrugem, é importante realizar semeaduras no início da época recomendada para cada região, utilizando cultivares mais precoces, com um bom arranjo de plantas e adequados níveis nutricionais. Em relação ao uso dos fungicidas, é essencial o posicionamento assertivo, principalmente do início das aplicações, que deve se dar de forma preventiva, preferencialmente no estágio vegetativo, possibilitando maior deposição de gotas no terço inferior da planta, e conferindo não apenas proteção contra a ferrugem, mas também a todo o complexo de Monica De Bortoli
adequados para maior consistência na proteção, e o ideal é que esse intervalo não ultrapasse 18 dias, considerando uma margem por dificuldades de aplicação. Outro resultado bastante relevante da safra 2018/19, que reitera os obtidos em safras anteriores, é a necessidade do reforço das aplicações com fungicidas multissítios protetores ou fungicidas sistêmicos (morfolina ou triazóis). A adição de multissítios resultou em incrementos de 15% a 20% na eficácia de controle da ferrugem asiática. Ainda, em relação ao reforço com multissítios, notou-se incrementos variando de 0,4sch/ha a 10,5sc/ha na produtividade. Além dos benefícios no incremento de controle e produtividade, a adoção de multissítios tem sido fundamental como estratégia de manejo da resistência, tanto em casos já existentes como na tentativa de prevenir novos casos. Essa contribuição dos multissítios em relação à resistência é importante para todos os envolvidos na cadeia produtiva, inclusive para os produtores. Os reforços reduzem os riscos de falhas de controle, que são um risco iminente aos produtores, pois podem resultar em grandes prejuízos econômicos. Historicamente, há relatos de casos de falhas de controle em que foram notados aumentos de custos, não só pela necessidade de novas aplicações, mas essencialmente pela produção perdida para a doença. Frente à evolução dos problemas
doenças, incluindo oídio, manchas e antracnose. Somado às práticas anteriores, é importante manter ajustados os intervalos entre aplicações, diversificar e rotacionar fungicidas de diferentes mecanismos de ação, utilizar produtos de reforço, principalmente os fungicidas multissítios, e adotar uma boa tecnologia de aplicação. Fica evidente ao longo das safras, que muitas vezes pequenos ajustes são responsáveis por importantes ganhos em produção, que não apenas podem pagar os custos de controle, mas também trazer mais C rentabilidade ao produtor. Mônica P. Debortoli, Phytus Group
Madalosso
Soja • Julho 2019
Via dupla Ao mesmo tempo em que a soja experimenta rápido crescimento do teto produtivo no Brasil, desafios fitossanitários crescem em velocidade proporcional. É o caso do aumento da pressão de doenças foliares em regiões produtoras como o sudoeste do Mato Grosso
A
ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi) está presente no Mato Grosso desde a safra 2002/2003. Nestas 17 safras, houve muitos aprendizados. Fatores como grandes extensões de soja como hospedeiro preferencial, ambiente tropical com alta umidade e molhamento foliar prolongado; temperatura adequada, períodos chuvosos dificultando
Soja • Julho 2019 Figura 1 - Percentagem de controle de ferrugem da soja, com diferentes intervalos entre aplicações de Mancozebe. Estação Experimental Agrodinâmica, Campo Novo do Parecis, 2018/2019
Tabela 1 - Severidade de ferrugem-asiática em soja, AACPD, percentagem de controle e produtividade de soja, cultivar Msoy 8372 IPRO semeada em 9/11/18, com aplicações de fungicidas sistêmicos e multissítios. Estação Experimental Agrodinâmica, Campo Novo do Parecis - MT, 2018/2019 Tratamentos* 01 - Testemunha 02 - Piraclostrobina + fluxapiroxade 03 - Piraclostrobina + fluxapiroxade + mancozebe 04 - Piraclostrobina + fluxapiroxade + oxicloreto de cobre 05 - Piraclostrobina + fluxapiroxade + clorotalonil 06 - Trifloxistrobina + protioconazol 07 - Trifloxistrobina + protioconazol + mancozebe 08 - Trifloxistrobina + protioconazol + oxicloreto de cobre 09 - Trifloxistrobina + protioconazol + clorotalonil 10 - Azoxistrobina + benzovindiflupir 11 - Azoxistrobina + benzovindiflupir + mancozebe 12 - Azoxistrobina + benzovindiflupir + oxicloreto de cobre 10 - Azoxistrobina + benzovindiflupir + clorotalonil c.v. (%)
Sever. R5.5 91,0a 71,1c 52,3f 35,9g 17,1k 34,5h 22,5j 18,0k 8,6l 86,6b 68,5d 62,8e 31,6i 1,7
AACPD
% Contr. 1114,6a 0,0 696,8c 37,5 443,6e 60,2 315,4f 71,7 153,7i 86,2 303,9g 72,7 191,2h 82,8 158,2i 85,8 83,8j 92,5 952,2b 14,6 497,0d 55,4 494,0d 55,7 300,0g 73,1 2,0
Produtividade Increm. kg/ha Sc/ha Sc/ha 1563,3e 26,1 0,0 2292,8d 38,2 12,2 2646,1c 44,1 18,0 2632,6c 43,9 17,8 2971,0b 49,5 23,5 2625,5c 43,8 17,7 2866,7b 47,8 21,7 3174,2a 52,9 26,8 3146,0a 52,4 26,4 2104,2d 35,1 9,0 2428,3c 40,5 14,4 2491,4c 41,5 15,5 2627,7c 43,8 17,7 6,7
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. * Quatro aplicações iniciando em R1, com intervalo de 15 dias.
Tabela 2 - Severidade de mancha-alvo, AACPD, percentagem de controle e produtividade em soja, cultivar TMG 803 CV com aplicações de fungicidas sítio-específicos e multissítios. Estação Experimental Agrodinâmica, Deciolândia, Diamantino (MT), 2018/2019 Tratamentos* 01 - Testemunha 02 - Piraclostrobina + fluxapiroxade 03 - Piraclostrobina + fluxapiroxade + mancozebe 04 - Piraclostrobina + fluxapiroxade + oxicloreto de cobre 05 - Piraclostrobina + fluxapiroxade + clorotalonil 06 - Trifloxistrobina + protioconazol 07 - Trifloxistrobina + protioconazol + mancozebe 08 - Trifloxistrobina + protioconazol + oxicloreto de cobre 09 - Trifloxistrobina + protioconazol + clorotalonil 10 - Azoxistrobina + benzovindiflupir 11 - Azoxistrobina + benzovindiflupir + mancozebe 12 - Azoxistrobina + benzovindiflupir + oxicloreto de cobre 10 - Azoxistrobina + benzovindiflupir + clorotalonil c.v. (%)
Sever. % 32,0a 19,9d 10,1h 18,2e 12,9f 6,5i 3,5k 5,6i 4,6j 28,1b 11,4g 25,0c 13,8f 4,7
AACPD 214,9a 150,7d 61,1i 130,6e 99,6g 42,2j 19,1m 31,5k 26,4l 187,5b 68,6h 171,3c 108,2f 3,2
% Contr. 0,0 29,9 71,6 39,3 53,7 80,4 91,1 85,4 97,7 12,8 68,1 20,3 49,7
Produtividade Increm. kg/ha Sc/ha Sc/ha 1917,2d 32,0 0,0 2410,3b 40,2 8,2 2644,4a 44,1 12,1 2667,0a 44,5 12,5 2617,2a 43,6 11,7 2613,8a 43,6 11,6 2789,5a 46,5 14,5 2611,5a 43,5 11,6 2678,7a 44,6 12,7 2187,5c 36,5 4,5 2563,7a 42,7 10,8 2404,1b 40,1 8,1 2397,1b 40,0 8,0 5,9
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. * quatro aplicações iniciando em R1, com intervalo de 15 dias.
as aplicações de fungicidas e um patógeno que se multiplica a taxas explosivas fizeram com que a ferrugem encontrasse no Brasil um dos melhores locais do mundo para se propagar e causar grandes danos. Como se isso não bastasse, as ferramentas de manejo para essa doença se fundamentam basicamente no controle químico e no escape, visto que praticamente não há resistência genética e outras ferramentas de manejo efetivas. Por conta disso, a exposição dos poucos mecanismos de ação eficientes para controle da doença tem sido alta, favorecendo a adaptação do fungo aos fungicidas sítio-específicos atualmente utilizados, como no caso dos triazóis, estrobilurinas e carboxamidas. Os primeiros casos de resistência foram vistos em 2006/2007, apenas cinco safras após o início da exposição dos produtos, e confirmados na safra seguinte, para os triazóis. Atualmente, no Mato Grosso, há populações com resistência múltipla para os três mecanismos de ação anteriormente citados, e as observações de pesquisa mostram que o processo de seleção de populações resistentes do fungo aos fungicidas não está estabilizado, ou seja, as eficácias continuam caindo ano após ano. Os fungicidas multissítios têm trazido um grande conforto para o negócio da soja, contribuindo grandemente para o manejo de resistência e a melhora do controle de doenças (Tabela 1). Todavia, este grupo de produtos também tem suas limitações, principalmente pelo efeito residual curto (Figura 1) e pelo espectro de controle. Funcionam muito bem, desde que associados aos fungicidas sítio-específicos. E nesse contexto, para que a combinação sítio-específico + multissítio apresente bons resultados, é fundamental que os sítio-específicos continuem entregando eficácias satisfatórias, e assim, tenham uma ação complementar aos multissítios. Os grandes temores, principalmente das regiões onde a ferrugem da soja tem sido mais agressiva no Mato Grosso (Parecis, Sul e Leste do Estado), são de que a doença se manifeste mais cedo que o normal nos últimos anos ou que haja algum veranico forte por ocasião da semeadura, atrasando o plantio, atingindo assim a cultura em fases mais jovens. Caso isso ocorra, a pesquisa tem mostrado que o impacto poderá ser muito grande, pois a doença consegue gerar mais ciclos, causando mais danos e perdas. Além disso, muitos produtores têm dificuldade em entender o conceito dos multissítios, alegando não enxergar benefícios, dificuldade na aplicação e aumento constante do custo de produção. Por fim, o Mato
Soja • Julho 2019
Grosso tem ainda um sistema de semeadura fora da janela normal de plantio (dezembro ou fevereiro) para produção de sementes salvas, o que potencializa o processo de seleção de fungos resistentes. A mancha-alvo (Corynespora cassiicola), no Mato Grosso, começou a ter maior importância no final da década de 1990, com o lançamento de cultivares resistentes ao nematoide-do-cisto da soja que apresentavam alta suscetibilidade. Desde então, parte significativa dos materiais lançados no mercado tem apresentado suscetibilidade e demandado atenção ao manejo. Apesar de ser um patossistema menos agressivo que a ferrugem da soja, perdas significativas têm sido notadas em algumas cultivares, quando a mancha-alvo não é eficientemente controlada. A agressividade da doença parece ter aumentado nos últimos anos. Perdas em materiais suscetíveis, que até então eram de 5sc/ha a 8sc/ha, aumentaram para 10sc/ha a 15 sc/ha nas últimas safras, atingindo até 20sc/ha na safra 2018/19. O processo de seleção de populações de fungos menos sensíveis aos fungicidas também está presente para a mancha-alvo. Em 2009/2010 foi confirmada no campo a redução de eficiência para os fungicidas benzimidazóis frente à doença. Diferentemente da ferrugem, as opções atuais de controle químico para C. cassiicola são mais restritas. Dentre os fungicidas com maior eficácia, se destacam aqueles contendo protioconazol, fluxapiroxade e bixafem, ou seja, uma oferta muito limitada de princípios ativos, que precisam ser utilizados de maneira correta, a fim de manter a eficácia. Uma queda de performance para algumas carboxamidas no campo já foi observada (confirmado pelo Frac em dezembro/2018) e isso põe em alerta as questões de manejo. O fungo C. cassiicola pode hospedar-se em outras culturas importantes no estado do Mato Grosso. Uma delas é o algodão. São mais de 1 milhão de hectares cultivados na última safra,
Fotos Valtemir Carlin
Figura 2 - Parcela testemunha sem fungicida (A) e parcela com duas aplicações de clorotalonil (R3 e R5). Estação Experimental Agrodinâmica, 2015/2016
onde a soja, sob a resteva dessa cultura, apresenta maior severidade da doença e mais dificuldade de controle. Outra espécie é a Crotalaria spectabilis, muito importante no manejo de nematoides. Porém, se torna um problema no caso da mancha-alvo, pois, ao ser hospedeira, tem aumentado a severidade da doença na soja cultivada na sua resteva. Os fungicidas multissítios têm tido importante contribuição no controle dessa doença, especialmente o mancozebe. Mas, novamente, é preciso que os fungicidas sítio-específicos continuem tendo performance, para que os multissítios consigam complementar o controle. Considerando que a mancha-alvo tem aumentado sua severidade, que possui outros hospedeiros, que muitas cultivares de soja são suscetíveis e que as ferramentas químicas são limitadas, a sugestão é que o produtor empregue o máximo de ferramentas de maneira integrada, conhecendo o histórico da área, a escolha da genética, o monitoramento para definir o momento correto de controle, novas formulações de fungicidas, o uso dos multissítios e a rotação de mecanismos de ação. O crestamento foliar de cercóspora (Cercospora kikuchii) tem sido a Doença de Final de Ciclo (DFC) mais importante do Mato Grosso, e está presente desde os tempos em que começou a aplicação fungicida em soja (por volta
de 1996 a 1998). Essa doença inicialmente era controlada com fungicidas benzimidazóis no final do ciclo, porém, passou a não ser mais vista devido ao grande número de aplicações de triazóis e estrobilurinas após o surgimento da ferrugem da soja. O lançamento de cultivares mais suscetíveis e a redução da performance de alguns fungicidas têm trazido de volta essa moléstia, que tem estado presente nos últimos três anos a quatro anos, causando maturação acelerada de lavouras, encurtando o ciclo e reduzindo a produtividade entre 3sc/ha e 5sc/ha em algumas cultivares, em resultados preliminares. Identificar os materiais mais suscetíveis e tratá-los conforme a sua necessidade têm trazido respostas viáveis para esta doença (Figura 2). Enfim, a soja tem experimentado tetos produtivos nunca vistos antes. Entretanto, da mesma forma que tem sido rápido o aumento de produtividade, os desafios têm surgido em igual velocidade (doenças foliares, radiculares, nematoides, sensibilidade ao fotoperíodo, épocas de semeadura e outros) e fazem com que a cultura se torne cada vez mais técnica e exija mais conhecimento para se conseguir explorar o potencial produtivo e garanC tir rentabilidade ao produtor. Valtemir Carlin, Agrodinâmica, MT
Soja • Julho 2019 Andre Shimohiro
Cenário de desafios Nas últimas safras tem crescido a preocupação com o manejo de doenças na cultura da soja no Cerrado brasileiro. Aspectos básicos, tanto operacionais como de planejamento, estão entre as causas de falhas de controle observadas nas lavouras
A
ocorrência de doenças em soja sempre impactou diretamente no potencial produtivo das lavouras, especialmente após o surgimento da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) na safra 2001/02, no Brasil. Mais recentemente, os custos para o controle das doenças têm aumentado de maneira quase linear, evidenciando a preocupação dos produtores de soja com a maior severidade das doenças e, consequentemente, o impacto que apresentam sobre a produtividade das lavouras. Passados quase 20 anos da chegada da ferrugem da soja ao Brasil, a doença tem sido eficientemente controlada quando se consegue aliar o vazio sanitário, as semeaduras na abertura da janela 10
e concentradas em um período curto, a adoção de cultivares de ciclo precoce e a proteção das plantas com fungicidas. Entretanto, nos casos em que a semeadura é realizada de forma mais tardia ou com cultivares de ciclo mais longo, a doença tem causado sérios prejuízos e expõe a fragilidade do sistema, quando este se baseia apenas na proteção com fungicidas. Além da ferrugem, diversas outras doenças de parte aérea têm crescido em importância ano após ano no cerrado brasileiro, destacando-se a mancha-parda (Septoria glycines), cercosporiose (Cercospora kikuchii), a mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e antracnose (Colletotrichum sp.). Temos ainda a ocorrência de surtos de mofo-branco
(Sclerotinia sclerotiorum) e oídio (Microsphaera diffusa), além do aumento na ocorrência do míldio (Peronospora manshurica) em algumas cultivares. Independentemente da safra ou região onde se cultiva soja, invariavelmente há a presença de uma ou mais dessas doenças, causando danos à produtividade. Outro aspecto de grande relevância tem sido a ocorrência cada vez mais precoce dessas doenças, especialmente quando se trata de manchas foliares. Apesar de variações entre cultivares de soja, para a grande maioria do germoplasma disponível comercialmente, é muito comum a presença de sintomas de antracnose desde a fase cotiledonar da soja, mancha-parda e cercosporiose já nos primeiros trifólios, e mancha-alvo
Soja • Julho 2019
cenário, reitera- Figura 2 - Produtividade da soja (BMX Desafio RR) em função da aplicação de fungicida nas -se a importância fases vegetativa e reprodutiva, comparadas ao tratamento testemunha, em experimento das boas práticas conduzido durante a safra 2017/18, em Planaltina/DF de uso dos fungicidas, visando extrair dessas ferramentas o máximo de controle. Além da questão de posicionamento já comentada, outra importante prática para aumentar controle e, consequentemente, a produtividade da soja, reside com as populações de patógenos e os no reforço dos fungicidas sítio-específicos fungicidas aplicados em cada região com fungicidas multissítios. Essa prática poderia ser uma ferramenta poderosa tem sido cada vez mais utilizada, devido para auxiliar no planejamento da safra. aos resultados de campo serem claros e Adicionalmente, ampliar a oferta de consistentes, especialmente no controle germoplasma, que concilie resistência de ferrugem, antracnose e mancha-alvo. e teto produtivo alto, continua sendo Outro aspecto de grande impor- um grande desafio aos profissionais do tância e que certamente precisará ser melhoramento genético. melhor explorado está relacionado às Por fim, é indispensável ter em mencultivares de soja, tanto por suas ca- te que boa parte das falhas de controle racterísticas morfofisiológicas quanto de doenças com as quais nos deparamos genéticas. Apesar da grande oferta de no dia a dia ainda está relacionada com cultivares no mercado, pouco se conhe- aspectos básicos, tanto operacionais ce sobre a reação a doenças e resposta como de planejamento. Nesse sentido, à aplicação dos fungicidas em escala fatores como qualidade das sementes, regional e microrregional. O conheci- equilíbrio nutricional, qualidade física mento de como cada cultivar interage e biológica do solo, tecnologia de aplicação de defensivos, intervalo entre Figura 1 - Sintomas e estruturas reprodutivas de Cercospora kikuchii e Septoria glycines as aplicações de fungicidas, misturas (superior esquerdo), cotilédones atacados por antracnose (inferior esquerdo) e aspecto de de tanque e a capacidade operacional uma folha sadia e outra severamente atacada pela mancha-alvo (direito). Essas doenças são responsáveis por grande parte dos têm se manifestado de maneira cada vez mais precoce nas lavouras C problemas.
Nedio Tormen
Pricila Basso
a partir do fechamento das entrelinhas (Figura 1). Esse cenário tende a ser mais severo em áreas com monocultivo de soja. Experimentos conduzidos no Phytus Group, em Planaltina, Distrito Federal, evidenciam que o início das aplicações na fase vegetativa da soja tem significativa contribuição no controle do complexo de doenças, com reflexos no aumento de produtividade (Figura 2). O início assertivo não só possui efeito preventivo sobre a ferrugem, mas também contribui para a redução da evolução de outras doenças anteriormente citadas, como as manchas foliares e a antracnose. A ausência dessa proteção no estádio vegetativo dificulta que essas doenças sejam efetivamente controladas mais tarde, por uma série de fatores, incluindo a dificuldade de penetração de gotas e a menor performance dos fungicidas após muita doença estabelecida. Nas últimas safras é crescente também a preocupação com a redução de eficácia dos fungicidas e os riscos com falhas de controle. O produtor sabe que falha de controle é sinônimo de perdas econômicas. Há casos de redução de eficácia de triazóis, estrobilurinas e carboxamidas no controle de Phakopsora pachyrhizi, de benzimidazóis e carboxamidas no controle de Corynespora cassiicola e de estrobilurinas sobre Cercospora sp. Nesse
NédioTormen, Phytus Group, Planaltina-DF
Encarte Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 242 • Julho 2019 • Capa - Andre Shimohiro Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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