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Destaques
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O que aprender com os experimentos em rede para o melhor manejo de resistência da ferrugem
Manejo específico
As demandas singulares do algodoeiro para o combate correto de plantas daninhas
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@RevistaCultivar
Índice
Teste de fogo
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Ameaça oculta
Os desafios do Carlavirus, causado por mosca-branca, problema que nem sempre é percebido nas lavouras Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 243 Agosto 2019 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: André Shimohiro Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas
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Cigarrinha Dalbulus maidis em milho
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Controle de Spodoptera frugiperda
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Manejo específico de daninhas em algodão
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Mosca-branca vetora de Carlavirus
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Capa - Teste de fungicidas contra a ferrugem
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Irrigação em soja
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Manejo de plantas daninhas
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IV Seminário Phytus
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Podridão abacaxi em cana
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Meiosi e Sphenophorus levis em cana
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Empresas - Kimberlit
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó Miriam Portugal
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Revisão Rogério Nascente Aline Partzsch de Almeida
• Assinaturas Natália Rodrigues Clarissa Cardoso
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Expedição Edson Krause
Diretas Digital
A Basf levou para o IV Seminário Phytus, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o conceito de Agricultura Digital. No estande da marca foi possível ver de perto o Monitoramento Digital Basf, primeiro serviço comercializado pela companhia a partir do programa AgroStart. A tecnologia é oriunda da união de duas empresas parceiras, participantes do programa que promove soluções digitais para o campo.
Fungicida
A Bayer esteve presente no IV Seminário Phytus, que ocorreu no início de julho, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A empresa destacou o fungicida Fox Xpro que pode ser utilizado para o cultivo de soja, algodão, cevada, girassol, milho e trigo. O produto possui três modos de ação e três ingredientes ativos para potencializar a sustentabilidade do manejo fitossanitário. Além disso, a marca destacou a tecnologia Climate Field View, uma ferramenta que após coletar automaticamente dados do campo de forma integrada, gera mapas e relatórios em tempo real. As informações podem ser acessadas por qualquer dispositivo móvel e auxilia produtores na tomada de decisão da lavoura.
Soja
A Corteva Agriscience apresentou durante o IV Seminário Phytus, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sua linha de fungicidas para o controle de doenças na cultura da soja. Entre os produtos estiveram o Vessarya, que combina Picoxistrobina e Benzovindiflupir, formulação que possibilita melhor absorção e performance sem o uso de óleo; e o Aproach Prima, indicado para o combate da ferrugem-asiática.
Manejo
A Syngenta mostrou durante o IV Seminário Phytus o programa Manejo Consciente da Soja. A empresa destacou os dez princípios que podem garantir a proteção dos fungicidas e o futuro das culturas. Entre as recomendações para melhorar o controle das doenças na oleaginosa, a marca destacou o uso de tecnologias no momento correto, respeitando as características de cada modo de ação.
Marca
A UPL contou com estande no IV Seminário Phytus, onde evidenciou seu novo conceito como marca, com objetivo de criar uma rede aberta para o crescimento sustentável da produção de alimentos para todos. Com o propósito OpenAg, a empresa destacou o desejo de tornar a produção de alimentos sustentável em todo o planeta. A companhia também apresentou aos participantes do seminário todo seu portfólio que abrange herbicidas, fungicidas, inseticidas, tratamento de sementes e nutrição.
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Novos rumos
A Corteva Agriscience anunciou que Claudia Pohlmann, atual vice-presidente de Recursos Humanos para a empresa na América Latina, assumiu também a liderança de Recursos Humanos para o Brasil. O país é o segundo mercado mais importante para a Corteva em vendas, atrás apenas dos Estados Unidos. Formada em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a executiva iniciou sua carreira em 1990 na DuPont do Brasil S/A, quando ingressou no Departamento Financeiro. Em 1999, Claudia aceitou o convite para integrar o time de Recursos Humanos na área de Remuneração Brasil e, anos mais tarde, liderou as atividades para a América Latina e projetos globais. Com a formação da Corteva Agriscience, Claudia foi convidada a liderar as atividades de Recursos Humanos para a América Latina, função que exerce atualmente – juntamente com as responsabilidades para a área no Brasil.
Claudia Pohlmann
Amplo espectro
Mauro Alberton
A Bayer lançou, no começo de julho, o fungicida Fox Xpro para a safra 2019/20. O produto conta com três ingredientes ativos, trifloxistrobina, protioconazol e bixafem, a nova carboxamida da empresa, que possibilitam ação tríplice nas principais doenças que atingem a cultura da soja. Na safra 2018/2019 a empesa realizou venda assistida para 2.829 áreas de clientes e obteve média de acréscimo de produtividade de três sacas/ha na colheita. Inicialmente utilizado no controle da ferrugem asiática e mancha-alvo, também teve o uso recentemente aprovado para combater antracnose, mofo branco, oídio, mancha-parda e cercosporiose. "É um produto que simplifica a tomada de decisão do agricultor, trazendo uma proteção superior em relação ao complexo de doenças da soja", explicou o diretor de Portfólio de Proteção de Cultivos da Bayer para América Latina, Mauro Alberton.
Participação
A UPL apresentou na Feira de Agronegócios Coopercitrus (Feacoop), em Bebedouro, São Paulo, novidades em defensivos, produtos de biossoluções e nutrição. “O Programa Pronutiva integra o uso de soluções para proteção de cultivos com as mais modernas tecnologias de biossoluções e incluem produtos biológicos e de nutrição inovadora, além de fisioativadores que estimulam as plantas a se desenvolverem com mais vigor, produtividade e qualidade. Nossa proposta é cuidar de todo o ciclo de cultivo de forma integrada”, explicou o gerente de Marketing de HF e Perenes da UPL Brasil, João Mancine. A empresa aproveitou o evento também para mostrar sua linha completa de herbicidas, inseticidas, acaricidas, fungicidas, bactericidas e produtos de biossoluções. “Para a cana, por exemplo, temos um portfólio 'peso pesado' de soluções eficientes para o combate às plantas daninhas mais resistentes. Outras tecnologias são fisioativadores Raizal e Biozyme, para sulco de plantio e corte de soqueira, além do maturador Centurion, que potencializa os níveis de sacarose e otimiza a rentabilidade”, detalhou o gerente de cana e pastagem, Carlos Peres.
Cana
A FMC participou, em agosto, da Megacana Tech Show, em Campo Florido, Minas Gerais. A companhia apresentou seu portfólio completo para a cultura da cana-de-açúcar, entre herbicidas, nematicidas, fungicidas, biológicos e inseticidas. “Nosso intuito é maximizar o potencial produtivo dos canaviais, oferecendo soluções personalizadas à realidade dos produtores”, explicou o coordenador de Marketing da FMC, João Claudio Mansur. Para promover controle de folhas largas e estreitas com residualidade, foram apresentados os herbicidas Boral e Reator 360 CS. Outro importante produto é o nematicida químico Marshal Star na modalidade corte de soqueira. O inseticida Altacor para combate à broca da cana e que conta com registro para Sphenophorus levis, cupins e broca gigante, e o bionematicida Quartzo, produto biológico para controle de nematoides, também foram destaques da marca na feira. www.revistacultivar.com.br • Agosto 2019
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Milho
Pequena destruidora Responsável por danos diretos por conta da sucção da seiva das plantas e também indiretos pela transmissão de doenças, a cigarrinha Dalbulus maidis se constitui em mais uma grave ameaça às lavouras de milho. Seu controle exige medidas integradas de manejo para minimizar os riscos do alto potencial destrutivo do inseto
A
No caso do milho, há dois tipos de danos, um direto pela sucção da seiva para alimentação do inseto, e outro indireto que é a transmissão de importantes doenças, como molicutes: o espiroplasma Spiroplasma kunkelii (enfezamento pálido- Corn Stunt Spiroplasma - CSS), o fitoplasma (enfezamento vermelho - Maize Bushy Stunt Phytoplasma - MBSP) e o vírus do rayado fino (maize rayado fino Marafivirus - MRFV). Segundo Oliveira et al. (2003), as ci-
Nilton Cezar Bellizzi
cigarrinha do milho (Dalbulus maidis DeLong & Wolcott) é um inseto da Ordem Hemiptera, Família: Cicadellidae, cujos principais hospedeiros são Zea mays (milho), Tripsacum sp (capim guatemala) e Euchlaena sp. Atualmente novas Poaceas têm sido utilizadas pela praga como hospedeiras secundárias, como algumas espécies de Brachiarias. O ataque ocorre principalmente em folhas, mas também em ramos e caule.
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garrinhas ao se alimentar do floema de plantas de milho infectadas adquirem o fitoplasma juntamente com a seiva. Após um período latente de três a quatro semanas, o fitoplasma multiplica-se nesse inseto, passando a transmiti-lo diretamente para o floema de plantas sadias, ao se alimentar dessas plantas. Conforme Waquil (2004), o espiroplasma do enfezamento pálido é um procarionte móvel, espiralado e sem parede celular. Plantas doentes com este
Figura 1 - Flutuação populacional de cigarrinhas do milho (Dalbulus maidis) no milho doce e no milho para grãos. Palmeiras de Goiás, GO. 2013
espiroplasma apresentam, inicialmente, largas listras descoloridas, amareladas ou verde limão na base das folhas infectadas. As novas folhas emitidas pelas plantas apresentam o mesmo sintoma, sendo que as mais velhas mostram coloração amarelada ou mesmo com tons vermelhos Essas doenças podem ocorrer em 100% das plantas na lavoura, causando perda total da produção. A incidência do enfezamento vermelho tem aumentado principalmente em função do plantio do milho em mais de uma época no ano. Este tipo de transmissão de micro-organismos por um inseto-vetor é denominado de “persistente e propagativa”. Sendo assim, uma vez que a cigarrinha adquire os molicutes, se torna transmissora por toda sua vida.
Figura 2 - Resultados da análise da situação da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) em fazendas do oeste da Bahia. Posse, GO. 2017
RECONHECIMENTO DA PRAGA
Os ovos de Dalbulus maidis são translúcidos, de forma alongada como uma banana, medem menos de 1mm x 0,2mm e podem ser observados internamente na folha do milho (postura endofítica) quando colocadas contra a luz. Ao eclodirem, as ninfas possuem coloração palha, com manchas escuras no abdômen e olhos negros. A cigarrinha do milho possui cinco instares ninfais altamente influenciadas pela temperatura e umidade. Não há eclosão das ninfas em temperatura abaixo de 20°C; em temperatura entre 26°C e 35°C, a eclosão das ninfas se dá em nove dias e levam 15 dias para completar seu desenvolvimento, com a emergência dos adultos. As fêmeas depositam aproximadamente 14 ovos/dia, podendo colocar mais de 600 ovos durante os seus 45 dias de vida (Cruz et al., 2014)
Figura 3 - Controle biológico da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) na Fazenda Escola da UEG em Palmeiras de Goiás. Palmeiras de Goiás, GO. 2016
POR QUE ESTA PRAGA SE TORNOU IMPORTANTE?
A cigarrinha tem se tornado importante na cultura do milho por alguns motivos 1º) Redução de aplicação de inseticidas em plantas transgênicas Com o uso das plantas transgênicas com Bacillus thuringiensis ocorreram a diminuição dos defensivos e a substituição de inseticidas genéricos (que matam insetos indiscriminadamente) para inseticidas específicos para determinadas ordens de insetos, como lagartas e percevejos. Em experimento realizado por Mesquita e Bellizzi (2013), avaliando a presença de insetos-pragas e inimigos naturais na cultura do milho doce e Bt em áreas de pivô central do município de Palmeiras de Goiás, concluíram que a população permanece alta mesmo com a aplicação de inseticidas O gráfico da Figura 1 mostra seis aplicações de inseticidas. A primeira foi realizada aos 15 dias após a emergência do milho com o inseticida espinosade, na dose de 100ml/ ha. A segunda aplicação foi aos 30 dias com flubendiamida, na dose de 150 ml/ há; a terceira e a quarta foram feitas com bifentrina+carbossulfano, na dose de 400ml/ ha aos 50 dias e 60 dias após a germinação. Na fase do enchimento de grãos foram aplicadas mais duas baterias de inseticidas com flubendiamida e bifentrina+carbossulfano, principalmente pela presença de percevejos que poderiam afetar diretamente a produção do milho. Os inseticidas aplicados não eram registrados para cigarrinha do milho, portanto a população sofre uma redução momentâ-
Figura 4 - Controle biológico da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) na Fazenda Escola da UEG em Posse. Posse, GO. 2017
nea, mas volta a crescer assim que o efeito de choque passar. Em 2019, bifentrina+carbossulfano foi registrado para o controle da cigarrinha do milho. 2º) Alta taxa de transmissão de doenças pela cigarrinha do milho
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A população de cigarrinha do milho que não é afetada pelos inseticidas pode transmitir as doenças relacionadas e reduzir a produtividade do milho. Na Tabela 1 são observados os reultados da pesquisa realizada por Toffanelli e Bedendo (2001). Apresentam que a partir de uma cigarrinha do milho infectada pode causar redução de quase 35% na produção de grãos (g/pl) e que a partir de seis insetos infectados até a altura do milho é reduzida em cerca de 37%. Além disto, ocorreu a redução na germinação para 93% e 83,5%, com seis e nove insetos infectados, contra 100% de germinação na testemunha. Os enfezamentos debilitam a planta e quando começa o processo de transferência de fotoassimilados da folha para o colmo e do colmo para o grão, se torna extremamente sensível a doenças como fusário (Fusarium monilliforme), diplodia (Stenocarpela spp.), Phytium (Phytium sp), e inclusive podridão bacteriana (Erwinia sp.). Em pesquisa realizada por Silva e Santos (2017), no Oeste da Bahia, com mais de 20 propriedades, observou-se que 100% dos entrevistados registraram a presença da cigarrinha do milho, 80% das lavouras apresentaram a incidência de enfezamentos, causando prejuízos em 50% das lavouras. Além de que 100% dos entrevistados realizavam controle químico e 20% controle biológico com fungos entomopatógenos. 3º) Seleção de cigarrinhas resistentes A seleção de cigarrinhas resistentes se dá por três formas: a) Sucessão de milho (Poaceae) sobre outras poaceas (sorgo, mi-
lheto etc); b) Permanência da tiguera na lavoura e c) Aplicação de inseticidas quando a população de cigarrinhas já está alta. O agricultor não deve deixar na área plantas de milho voluntárias (tiguera), que podem servir de reservatórios do inseto e dos enfezamentos para os cultivos de milho subsequentes.
CONTROLE DA CIGARRINHA DO MILHO
A cigarrinha do milho, como todas as demais pragas, deve estar incluída em um programa de manejo de pragas, iniciando pela avaliação do histórico da área e as ocorrências de pragas durante as lavouras anteriores. O controle químico deve ser um dos componentes do programa, mas não deve ser a ferramenta principal, com o risco de selecionar cigarrinhas do milho resistentes aos inseticidas. O monitoramento (ou amostragem) deve ser feito com uma periodicidade semanal desde antes da emergência da cultura, procurando as pragas de raízes, colmo e folhas durante todo o ciclo do milho. 1º) Controle químico O controle químico exclusivo para esta praga é bastante incomum entre os produtores. Normalmente é realizado junto com as aplicações para outras pragas, contudo a principal forma de controle se dá no tratamento de sementes. Segundo a Agrofit (2019), apenas 21 produtos estão registrados para o controle de cigarrinha do milho. Destes, 12 são registrados para o tratamento de sementes (Tabela 2). Dos inseticidas químicos registrados, apenas bifentrina - Piretroide + carbosulfano - Metilcarbamato de Benzofuranila, que obteve em 2019 o registro para o controle da cigarrinha do milho, possui ingredientes ativos diferentes dos Neonicotinoides. Os Neonicotinoides possuem como característica afetar as ninfas no momento da sucção, porém os adultos têm apresentado resultados variados em relação à época de chegada do adulto no que se refere ao desenvolvimento da planta. Em experimento desenvolvido por Oliveira et al. (2007), com a aplicação de Neonicotinoides no tratamento de sementes e liberação de cigarrinhas infectadas com fitoplasma, espiroplasma ou sadias em idades definidas no milho, observaram que nas cigarrinhas que chegaram às plantas a partir de 16 dias depois do tratamento de sementes com os produtos (16 dias de germinação das plantas), a eficiência da mortalidade dos insetos começou a diminuir. Quando a planta está com 30 dias, aproximadamente, 40% das cigarrinhas sobrevivem ao controle (Tabela 3). Como consequência desta diminuição na eficiência do controle, as plantas apresentaram altos índices de infecção das doenças e reflexos diretos na produção dos grãos, reduzindo aproximadamente 50% ou mais na produção do milho, conforme pode ser visto na Tabela 4.
Tabela 1 - Consequência da incidência de enfezamento vermelho na altura e produção de grãos causadas por cigarrinhas do milho (Dalbulus maidis). Fonte: Toffanelli e Bedendo (2001) Tratamento Plantas não infestadas 1 Inseto sadio 3 insetos sadios 6 insetos sadios 9 insetos sadios 1 inseto infetivo 3 insetos infetivos 6 insetos infetivos 9 insetos infetivos CV %
Incidência 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 1/6 2/6 5/6 6/6
Altura (m)2 2,33 a 2,33 a 2,25 a 2,45 a 2,15 a 2,03 a 2,14 a 1,48 b 1,30 b 12,57
Produção de grãosa (g/pl) 109,03 a 92,19 ab 99,44 ab 80,70 abc 92,52 ab 70,92 bc 50,51 cd 37,42 de 9,47 e 23,84
Valores médios de seis plantas por tratamento. Médias seguidas pelas mesmas letras na coluna não diferem entre si pelo teste de Turkey, ao nível de 5% de probabilidade.
1º) Eliminar toda e qualquer tiguera da lavoura e nas bordas das estradas 2º) Utilizar cultivares que apresentem indícios de tolerância 3º) Realizar um excelente tratamento de sementes 4º) Treinar os monitores para encontrar os ovos e as primeiras ninfas 5º) Realizar o controle logo após as primeiras visualizações das ninfas e adultos
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Divulgação
Estratégias de manejo da cigarrinha Dalbulus maidis
Nilton Cezar, Sabath, Jhenniffer, Bellizzi, Netto e Borges abordam manejo da cigarrinha
O tratamento de semente deve ser realizado com muita atenção pelos produtores, pois garante ao milho um maior período de proteção contra a praga e a infecção das doenças. 2º) Controle biológico O controle da cigarrinha com produtos biológicos tem sido uma alternativa, principalmente a partir dos dez dias de germinação do milho. Em trabalho desenvolvido por Alves Netto e Bellizzi (2016) com inseticidas biológicos Bacillus thuringiensis, biofertilizante com Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana, biofertilizante com Beauveria bassiana, biofertilizante com Bacillus thuringiensis e Bacillus thuringiensis em relação a uma testemunha (sem controle), nas doses recomendadas pelos fabricantes, obteve-se os resultados observados na Figura 3. A aplicação ocorreu em 13/2, após dez dias da planta germinada. Os produtos biológicos reduziram a população de cigarrinhas em 50% em relação à testemunha, chegando aos 15 dias depois da aplicação, com uma cigarrinha por planta. Em outro experimento desenvolvido por Bellizzi et al. (2017), utilizando Beauveria bassiana, Beauveria bassiana WP PL 63 e Metarhizium anisopliae em relação à testemunha, conforme Figura 4, a aplicação foi realizada em 12/3/2017 e foram avaliadas a infestação dos insetos 24, 72 e 144 horas após a aplicação. O controle biológico reduziu a população de 5,5 insetos por planta na testemunha para 1,5 inseto por planta nos tratamentos até uma semana após a aplicação. Outro detalhe importante em relação aos tratamentos biológicos reside no fato de que podem ser utilizados em associação a outros métodos de controle, desde que respeitando a especificidade de cada produto. Pode ser realizado um tratamento químico com biológico associado, para maior eficiência de controle da cigarrinha do milho transmissora das principais doC enças da cultura. Nilton Cezar Bellizzi, Mateus Gomes de Franca Sabath, Jhenniffer Rodrigues dos Santos, Luiz Felipe Morais Bellizzi, Alírio Felipe Alves Netto e Thiago Santos Borges, UEG
Tabela 2 - Inseticidas registrados para o controle cigarrinhas do milho (Dalbulus maidis). Fonte: Agrofit (2019) Ingrediente Ativo (Grupo Químico) Tiametoxam (Neonicotinoide) Beauveria bassiana (Biológico) Beauveria bassiana (Biológico) Beauveria bassiana (Biológico) Beta-ciflutrina (Piretróide) + Imidacloprido (Neonicotinóide) Imidacloprido (Neonicotinóide) + Tiodicarb (Metilcarbamato de Oxima) Lambda-cialotrina (Piretróide) + Tiametoxam (Neonicotinóide) Tiametoxam (Neonicotinóide) Tiametoxam (Neonicotinóide) Beauveria bassiana (Biológico) Imidacloprido (Neonicotinóide) Beauveria bassiana (Biológico) Imidacloprido (Neonicotinóide) Clotianidina (Neonicotinóide) Imidacloprido (Neonicotinóide) Imidacloprido (Neonicotinóide) Clotianidina (Neonicotinóide) Imidacloprido (Neonicotinóide) Imidacloprido (Neonicotinóide) Imidacloprido (Neonicotinóide) Bifentrina (Piretróide) + Carbosulfano (Metilcarbamato de Benzofuranila)
Formulação FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes WP - Pó Molhável WP - Pó Molhável WP - Pó Molhável SC - Suspensão Concentrada SC - Suspensão Concentrada FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes WP - Pó Molhável FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes WP - Pó Molhável SC - Suspensão Concentrada FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes FS – Susp, Concent. p/ Trat. de Sementes EC – Concentrado Emulsionável
Tabela 3 - Eficiência média (%de mortalidade) dos inseticidas utilizados no tratamento de sementes no controle de Dalbulus maidis em função da idade das plantas(1) Idade(2) 2 9 16 23 30
Fitoplasma(3) 100 100 97 81 52
Imidacloprid Espiroplasma(4) Sadia(5) 100 96 100 100 100 93 79 78 51 60
Média 99aA 100aA 97aA 79aB 54aC
Fitoplasma 100 98 84 75 59
Thiamethoxan Espiroplasma Sadia 98 100 100 95 88 85 70 71 55 53
Média 99aA 98aA 86bB 72aC 56aD
Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas linhas e maiúscula nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade. (2)Idade das plantas (dias após a emergência) no momento em que foram submetidas às cigarrinhas. (3)Cigarrinha adultas de D. maidis infectantes com fitoplasma. (4)Cigarrinhas adultas de D. maidis infectantes com espiroplasma. (5)Cigarrinhas adultas de D. maidis sadias. (1)
Tabela 4 - Porcentagem média de plantas que apresentaram sintomas foliares de enfezamento (100 dias após emergência), altura média (m) e produção média de grãos (g por planta) de plantas de milho pipoca submetidas ou não ao tratamento com inseticidas nas sementes Idade(2)
2 9 16 23 30
Imidacloprid Thiamethoxan Fitoplasma(3) Espiroplasma(4) Sadia(5) Fitoplasma Espiroplasma Sadia Porcentagem de plantas com sintomas 10aAA 60cAB 0aAA 10aAA 0aAA 30bBA 60bBA 100bBB 0aAA 70bBA 0aAA 100bCB 100bCA 100bBA 0aAA 90bCA 0aAA 100bCA 70bBA 100bBA 0aAA 100cCA 0aAA 80bCA 10aAA 100bBA 0aAA 70bBA 0aAA 0aAA Altura de plantas
2 9 16 23 30
1,52aBA 1,66aBA 1,69aBA 1,64aBA 1,89aAA
1,54aAA 1,25bBA 1,35bBA 1,63aAA 1,74aAA
1,66aAA 1,74aAA 1,89aAA 1,76aAA 1,82aAA
2 9 16 23 30
13,90aAA 16,25aAA 9,18aBA 8,46aBA 14,24aAB
10,81aAA 5,10bBA 0,46bBA 1,84aBA 8,74bAB
14,87aAB 18,70aAA 12,62aAB 11,09aAB 14,61aAB
1,04bCB 1,57aBA 0,75cDB 1,38bCB 1,09cCB 1,59bBA 1,38bBB 1,66aBA 1,75aAA 1,93aAA Produção de grãos 5,47aAA 8,54aBA 0,02cAA 7,39bBB 1,41bAA 6,53bBA 2,02bAA 8,83aBA 19,34aAA 6,49bAA
Semente não tratada Fitoplasma Espiroplasma Sadia 100bBB 100bBB 100bBA 80bBA 0aAA
100bAC 100bAB 100bAA 100bAA 80bAA
0aAA 0aAA 0aAA 0aAA 0aAA
1,64aAA 1,74aAA 1,86aAA 1,80aAA 1,86aAA
1,22bCA 1,25bCB 1,68aBA 1,70aBA 1,94aAA
0,59cDC 0,64cDB 1,18bCB 1,43bBB 1,66bAA
1,74aAA 1,59aAA 1,76aAA 1,70aAA 1,80aAA
11,57aAB 16,16aAA 15,80aAB 13,17aAB 15,65aAB
1,84bBB 2,89bBB 8,16bBA 6,31bBA 21,95aAA
0,01bBB 0,02bBA 0,01cBA 1,37bBA 7,32bAA
25,75aAA 17,28aBA 21,37aAA 17,67aBA 24,17aAA
Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas linhas e maiúscula nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade. (2)Idade das plantas (dias após a emergência) no momento em que foram submetidas às cigarrinhas. (3)Cigarrinha adultas de D. maidis infectantes com fitoplasma. (4)Cigarrinhas adultas de D. maidis infectantes com espiroplasma. (5)Cigarrinhas adultas de D. maidis sadias. (1)
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Milho
Para
Cresce o emprego da espécie Telenomus remus para parasitar ovos da lagarta-docartucho (Spodoptera frugiperda) e auxiliar no manejo integrado desta praga, responsável por diversos prejuízos nas culturas de milho e soja
O
complexo de espécies do gênero Spodoptera são lepidópteros-praga que ocasionam danos e consecutivas perdas econômicas em cultivos de importância para o agronegócio. Destaca-se Spodoptera frugiperda (J. E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), conhecida popularmente como lagarta-do-cartucho, por ser uma praga polífaga amplamente distribuída no mundo, alimentando-se de mais de 80 espécies de plantas de interesse agronômico, tendo como principais hospedeiros o milho e a soja. Em milho os ataques começam desde o estágio vegetativo, acarretam danos às folhas e no cartucho, podendo também causar morte das plântulas, e, no estádio reprodutivo, afeta o pendão, as espigas e os grãos. Em soja, os danos estão associados ao período de aparecimento das vagens. Em outras culturas, de forma geral, o ataque desta praga acarreta redução da área foliar, danos às vagens, diminuição da qualidade dos grãos e redução de produtividade. A principal estratégia de manejo adotada para o controle de S. frugiperda em diversos cultivos é baseada na utilização de produtos fitossanitários, por exemplo, inseticidas dos grupos químicos piretroides e organofosforados, empregados,
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asitoide aliado principalmente, devido ao efeito imediato destes produtos, à fácil aquisição e, em alguns casos, à falta de conhecimento dos produtores sobre outras estratégias de controle. No entanto, a utilização de controle químico tem se tornado menos eficaz, decorrente do mau posicionamento e uso demasiado destes produtos e, mais recentemente, ao aparecimento de pragas resistentes a inseticidas e a plantas geneticamente modificadas. Devido a esses fatores, tem-se bus-
cado fazer a utilização conjunta de estratégias de controle que atuem de maneira compatível, atendendo os conceitos preconizados pelo Manejo Integrado de Pragas (MIP). Das opções de táticas de manejo aceitas pelos produtores, o controle biológico tem sido visto como promissor para o controle de lepidópteros-praga, podendo ser utilizado de forma isolada ou aliada a produtos fitossanitários seletivos. A liberação de parasitoides de ovos
Fotos Regiane Bueno
A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugipera) é uma praga polífaga
Parasitoide de ovos Telenomus remus
como agente de controle biológico, a fim de reduzir a população de insetos-praga em níveis inferiores ao de dano econômico, tornou-se uma prática com crescimento significativo e é atualmente uma ferramenta importante e indispensável para o MIP, nos quais as liberações inundativas exercem efeito rápido sobre o inseto-praga. Existem aproximadamente 230 espécies de inimigos naturais, predadores e parasitoides, disponíveis para comercialização e utilização em programas de controle biológico em todo o mundo, principalmente no que diz respeito ao emprego de parasitoides de ovos, por serem eficazes no controle do inseto-praga ainda em fase de desenvolvimento, quando ainda não causa danos à cultura. O gênero Trichogramma é o grupo de parasitoides mais utilizados no mundo, destacando-se pela facilidade de criação, capacidade de parasitismo e por as espécies desse gênero terem preferência em parasitar ovos de insetos da ordem Lepidoptera. Para o controle de S. frugiperda as duas espécies de parasitoides de ovos comumente utilizadas são Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera: richogrammatidae) e Telenomusremus Nixon (Hymenoptera: Platygastridae). OTrichogramma pretiosum é um dos parasitoides mais estudados mundialmente e utilizado no manejo de S. frugiperda e em vários outros programas de controle biológico. Por ser uma espécie generalista é associado a diversos hospedeiros e ocorre em várias partes do mundo. Essa espécie de parasitoide de ovos é considerada de grande eficácia no parasitismo de diversas espécies de lepidópteros em diferentes cultivos, porém, apesar dos resultados promissores, um dos limitantes do gênero Trichogramma refere-se à capacidade de ultrapassar as camadas internas das massas de ovos do hospedeiro. Esse fator exerce influência
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comercialmente. O principal problema envolve a criação em laboratório, uma vez que no Brasil o hospedeiro utilizado é S. frugiperda e esta espécie possui comportamento de canibalismo larval. Tal característica faz com que a criação em larga escala onere os custos de produção e demande muita mão de obra na execução dos procedimentos de criação, tornando-se uma atividade que dificulta ou até mesmo inviabiliza a multiplicação massal desse parasitoide com finalidade de comercialização. Para sanar esse problema, procura-se desenvolver criações de T. remus em hospedeiros alternativos que sejam de fácil criação e permitam a diminuição de custos - e aumentem a oferta em larga escala de parasitoides para uso em liberações inundativas. A literatura relata que ovos de algumas espécies das famílias Pyralidae e Arctiidae podem ser parasitados, possibilitando a utilização como hospedeiros alternativos. Dentre essas famílias, a espécie Corcyra cephalonica (Stainton) (Lepidoptera: Pyralidae), através de estudos das características biológicas e capacidade de parasitismo e dispersão, mostrou-se como potencial hospedeiro de multiplicação de T. remus por sucessivas gerações, sem comprometer a capacidade de parasitismo e a busca do hospedeiro natural em campo, tendo em vista o objetivo de controlar S. frugiperda. Outra espécie potencial é Anticarsia gemmatalis (Hübner) (Lepidoptera: Erebidae), que, apesar de não ser o alvo preferencial de T. remus, pode ser utilizado como hospedeiro alternativo para a criação em laboratório. O T. remus pode ser liberado de forma
isolada ou através de combinações de uso com outros parasitoides. Tendo em vista que T. pretiosum é um agente de controle eficaz, com baixo custo de produção e maior oferta de indivíduos, mas quando liberado sozinho possui menor capacidade de parasitismo em comparação a T. remus, a liberação combinada desses agentes de controle biológico é uma estratégia de manejo que tende a maximizar a taxa de parasitismo e a otimização de controle de S. frugiperda. Estudos mostram que ambas as espécies de parasitoides interagem de forma positiva quando associados à liberação conjunta. Estes parasitoides, mesmo sendo de famílias distintas, conseguem reconhecer os ovos do hospedeiro parasitados previamente pela outra espécie. Além disso, supõe-se que a utilização de T. remus combinado com T. pretiosum auxilie no controle de outros lepidopteros-praga, tendo em vista que T. pretiosum é uma espécie com ampla gama de hospedeiros. Gera pouco impacto ambiental pela minimização do uso de agroquímicos e contribui ecologicamente para persistência das espécies que não causam danos econômicos na área. Considerando todas as características de T. remus, a possibilidade de utilização desta espécie em programas de controle biológico tende a aumentar significativamente a ação de combate a S. frugiperda, de forma a contribuir para o ganho de produtividade e melhor utilização das táticas de controle enfaC tizadas pelo MIP. Thaís Carolina Silva Cirino, Carolane da Silva e Silva e Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno, Unesp
Regiane Bueno
na utilização desta espécie no manejo de S. frugiperda, devido às características naturais deste hospedeiro. O adulto fêmea de S. frugiperda deposita aproximadamente oito massas de ovos por dia, em até quatro camadas sobrepostas, cada massa de ovos contendo centenas de ovos, e como este parasitoide consegue parasitar apenas a camada superficial das massas de ovos, mesmo em posturas superficialmente parasitadas pode ocorrer eclosão de lagartas das camadas internas. O parasitoide de ovos Telenomus remus tem se destacado como uma espécie promissora para o uso em programas de controle biológico de lepidópteros-praga da família Noctuidae, principalmente espécies do gênero Spodoptera, devido a ter capacidade de ultrapassar as barreiras de escamas depositadas sobre os ovos e parasitar as camadas internas de forma efetiva. É um inseto caracterizado pela coloração preto brilhante, com 0,5m-0,6m de tamanho, com dimorfismo sexual. As fêmeas têm quatro segmentos antenais com clava, fêmur e tíbias escuras e os machos não possuem clava na antena e o fêmur e tíbias são de cor marrom pálido. Originário de Sarawak e Nova Guiné, com eficiência comprovada e utilização em liberações inundativas em vários países, como México, Venezuela e diversos países da América Latina. No Brasil foi introduzido no ano de 1986 com objetivo de controle de S. frugiperda, em que apresenta alta taxa de parasitismo. As fêmeas produzem aproximadamente 270 parasitoides nos primeiros cinco dias de emergência, possui alta taxa de reprodução e capacidade de dispersão, e realiza busca do hospedeiro em diferentes estágios de desenvolvimento na cultura do milho e da soja. Detém alto potencial biótico e crescimento populacional em diferentes faixas térmicas, o que possibilita que consiga se estabelecer em campo em todas as épocas do ano. Apesar da eficácia de parasitismo, T. remus por muitos anos foi utilizado de forma restrita, apenas em escala experimental. Devido à produção em larga escala ser um dos principais entraves para a incorporação deste agente em programas de controle biológico, essa espécie ainda não se encontra disponível
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A lagarta-do-cartucho tem como principais hospedeiros o milho e a soja
Algodão
Manejo específico O algodoeiro é uma das culturas que demandam cuidados com daninhas ao longo de todas as etapas produtivas. De crescimento inicial lento e fechamento pouco intenso, o algodão necessita permanecer no limpo até o final do ciclo biológico, o que exige medidas adequadas para esse tipo de lavoura
A
s tecnologias de manejo de plantas daninhas na cultura de algodão têm passado por transformações profundas nas últimas décadas, resultante da interação entre os fatores (Figura 1): (I) tecnologia de variedades transgênicas; (II) herbicidas disponíveis e suas misturas; (III) seleção de plantas daninhas resistentes e de difícil controle pelos herbicidas; e (IV) sistema de produção utilizado na propriedade.
Assim, uma recomendação de manejo de plantas daninhas deve considerar todos estes fatores de manejo, para obtenção de resultados satisfatórios de eficácia e praticabilidade agronômica desta recomendação. Portanto, vamos descrever neste artigo alguns aspectos importantes destas interações nas diversas etapas do processo produtivo da cultura de algodão no Brasil. Iniciando pela dessecação da área para o cultivo do algodão
Fotos Pedro Jacob Christoffoleti
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safra, ou mesmo para a implantação da cultura de soja, que antecede a cultura do algodão, chamado de “algodão safrinha”. Agronomicamente, o ideal é que esta área esteja ocupada por uma cultura de cobertura, como capim-braquiária ou milheto, por exemplo, para, assim, não apenas aproveitar os benefícios agronômicos desta prática, mas também reduzir o potencial de infestação de plantas daninhas de difícil controle ou resistentes a herbicidas no período invernal/entressafra. Nesta situação, é realizada uma operação de dessecação, utilizando o glifosato, em torno de 15 dias a 20 dias antes da semeadura de soja ou algodão. Após a dessecação da cultura de cobertura, e antes da semeadura da cultura de safra, é recomendável que seja feita uma segunda dessecação, sequencial, para eliminar eventuais emergências de plantas daninhas, através de um herbicida de contato, associado a um herbicida residual. Esta prática tem como vantagens proporcionar o estabelecimento da cultura “no limpo”, e uma dianteira competitiva para a cultura, em relação às plantas daninhas de emergência precoce, além de uniformizar os fluxos de plantas daninhas posteriores, facilitando seu controle em pós-emergência. Dentre os herbicidas residuais utilizados na segunda dessecação, destacam-se para a cultura do algodão o clomazone, o diuron, a prometrina, o S-metolachlor e a trifluralina. Já para a soja, despontam o metribuzin, o flumioxazin, o imazethapyr, o diclosulan, o sulfentrazone, dentre outros. Para a eficácia destes herbicidas é necessário que sejam correlacionadas as suas características físico-químicas com os atributos do solo e as condições hídricas dele no momento da aplicação. Para um bom funcionamento de um herbicida residual, este produto deve ser ativado pela umidade do solo, portanto, fica na dependência de chuva ou irrigação, que determina sua eficácia e seletividade. Um destaque para o herbicida S-metolachlor, que preferencialmente é aplicado em pós-emergência, no estádio chamado de “orelha de onça” para o algodão, apresentando seletividade à
Figura 1 - Fatores que afetam o manejo de plantas daninhas na cultura de algodão
cultura nesta fase. Após a implantação da cultura, herbicidas aplicados em condições de pós-emergência são necessários, sendo que, para o algodão, a escolha do herbicida depende da tecnologia presente na variedade semeada. Para o algodão de variedade convencional, sem nenhuma tecnologia de resistência a herbicida, o uso de trifloxisulfuron e/ou piritiobaque é empregado, isolados ou em misturas. No entanto, a seletividade vai depender do momento de aplicação, da dose e da tolerância varietal. Na tecnologia “wide strike” (WS), resistente ao herbicida glufosinato sal de amônio, suporta normalmente uma aplicação deste herbicida, sendo o controle complementado por aplicação dirigida de herbicida na entrelinha da cultura. Já para a tecnologia “Liberty Link” (LL), duas aplicações sequenciais de glufosinato sal de amônio são recomendadas, pois a tolerância do algodão ao herbicida é maior. Para o algodão resistente ao glifosato e glufosinato sal de amônio (GLT) é recomendável uma aplicação inicial de glufosinato sal de amônio em sequencial com glifosato. Finalmente, para as tecnologias Bollgard com resistência ao glifosato, duas aplicações de glifosato em sequência são indicadas. Para esta situação, pode haver necessidade de associação com herbicidas alternativos ao glifosato, quando na área houver infestação de plantas daninhas resistentes ao produto, como o capim-
Desfolha e abertura dos capulhos com produtos à base de tidiazuron + diuron e etefon
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Fotos Pedro Jacob Christoffoleti
Fitotoxicidade do óleo presente no glufosinato sal de amônio em algodão WS
-amargoso e a buva. Também recentemente, tem sido encontrada no campo a planta daninha capim-pé-de-galinha, resistente ao glifosato, o que exige o uso de herbicidas à base de inibidores da ACCase, embora também já existam populações de plantas resistentes a este mecanismo de ação. Para que a cultura do algodão seja colhida “no limpo”, fato essencial para a boa qualidade da fibra, é necessária a realização de uma dessecação/desfolha da cultura, e das eventuais infestações tardias de plantas daninhas. Para isso, são usados produtos à base de tidiazuron + diuron, com o objetivo de desfolha e, consequentemente, acelerar a maturação do fruto e a abertura dos capulhos, facilitando assim
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a operação de colheita, aplicado quando acima de 80% das maçãs estiverem abertas. Também nesta fase pode ser utilizado o produto à base de etefon, com os objetivos de antecipação, uniformização da maturação e abertura de maçãs, sendo aplicado quando acima de 90% das maçãs do algodoeiro apresentarem maturidade fisiológica. Quando a infestação de plantas daninhas nesta fase do ciclo estiver muito intensa, é possível recomendar também um herbicida dessecante, como o diquat, o paraquat e outros utilizados para dessecação pré-colheita. A última etapa do processo produtivo da cultura é a destruição de
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soqueiras para eliminar as plantas de algodão após a colheita, com o objetivo específico de interromper o ciclo biológico de pragas e doenças. A destruição das soqueiras pode ser realizada por vários meios, desde o arranquio manual das plantas, que são amontoadas e queimadas, após secagem ao sol, até o emprego de máquinas ou herbicidas. Dentre os herbicidas mais utilizados, destacamse o 2,4-D e o glifosato, sendo que este último não funciona para culturas de algodão resistente ao glifosato. No caso do 2,4-D, o mais recomendado é aplicar logo após a roçagem da cultura (máximo uma hora após), para que haja absorção do produto pelo caule, e uma segunda aplicação em torno de 30 dias depois da primeira, antes do plantio da soja. Assim, o manejo de plantas daninhas na cultura de algodão é realizado em todas as etapas produtivas do ciclo do algodoeiro. Dentre as principais razões, destacam-se o ciclo biológico inicial lento logo após sua implantação, aliado ao “fechamento” pouco intenso, o que proporciona uma baixa competitividade para a cultura, necessitando de medidas efetivas de manejo. Também, a necessidade do algodão permanecer no limpo até o final do ciclo biológico, demanda várias aplicações de herbicidas, tornando esta uma operação oneC rosa e de alto custo. Pedro Jacob Christoffoleti, Esalq/USP e Agrocon Higor Augusto Seraphim Pimpinato, Agrônomo
Christoffoleti e Pimpinato lembram necessidade de manejo específico de daninhas em algodão
Soja
Ameaça oculta Felipe Barreto da Silva
Com grande capacidade de transmissão de diversos vírus, a mosca-branca é vetora do Carlavirus, um desafio que pode escapar aos olhos e cuja presença pode ir da necrose à ausência de sintomas. Atenção à sanidade das sementes, manejo adequado de plantas daninhas e controle do inseto transmissor estão entre as medidas para prevenir a disseminação da doença
A
cultura da soja é de grande importância mundial para a produção de óleo vegetal e como fonte de proteína. O Brasil é o segundo maior produtor dessa oleaginosa no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. No Brasil, a área produzida de
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soja alcançou 35,1 milhões de hectares, chegando a produzir de 119,23 milhões de toneladas na safra 2018/2019. Com esse aumento no cultivo, várias pragas e doenças se destacaram como agentes preocupantes na produção de soja, incluindo a mosca-branca Bemisia
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tabaci Gennadius (Hemiptera: Aleyrodidae). É uma das espécies mais invasivas e disseminadas globalmente, causando grandes prejuízos para diversas espécies vegetais. Por sua capacidade de colonizar várias espécies de plantas, cultivadas ou não, pode estar presente durante o ano todo nos campos brasileiros. Composta por um complexo de até 43 espécies crípticas morfologicamente indistinguíveis, B. tabaci pode ser diferenciada apenas pelo uso da tecnologia molecular, baseando-se em uma parte do genoma mitocondrial, denominado de mitochondrial cytochrome oxidase I (mtCOI). Dentre as espécies crípticas, as que ganham maior destaque são as denominadas Middle East-Asia Minor 1 (MEAM1 ou biótipo B) e Mediterranean (MED ou biótipo Q). No Brasil, a espécie MEAM1 (biótipo B) foi relatada pela primeira vez no início da década de 1990, em São Paulo, associada a plantas ornamentais. A espécie MED, por sua vez, foi identificada em 2014 no estado do Rio Grande do Sul em pimentão e, posteriormente, nos estados de São Paulo e Paraná associada a plantas ornamentais. A espécie MEAM1 é a predominante no País inteiro, de Norte a Sul, enquanto a espécie MED é restrita a algumas áreas e culturas nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Espírito Santo. Além da preocupação com a disseminação do inseto, é importante lembrar que a mosca-branca não causa apenas danos diretos nas culturas pela sucção de seiva do floema. Na verdade, o grande destaque dessa praga está na capacidade de transmissão de diversos vírus em culturas variadas, especialmente nas solanáceas e nas fabáceas. Esse vetor é capaz de transmitir vírus dos gêneros Begomovirus, Carlavirus, Crinivirus, Ipomovirus e Torradovirus. Dos vírus transmitidos por mosca-branca, destaca-se no feijoeiro o Bean golden mosaic
Fotos Felipe Barreto da Silva
Sintomas observados em cultivares de soja inoculadas com Cowpea mild mottle virus (CPMMV). A. BRS 132. B. MM 6410 IPRO. C. TMG 7062 IPRO. D. cv. não identificada coletada em Mori Mirim. E. M 8808 IPRO. F. MM 8349 IPRO. G. M 7739 IPRO. H. M 9144 RR I. M 9144 RR. J. M 9144 RR. K. M 8372 IPRO. L. BMX PORTÊNCIA RR
virus – BGMV, Begomovirus, causador do mosaico dourado do feijoeiro, podendo provocar perdas de 100% nas lavouras de feijão. Os sintomas ocasionados pelo BGMV no feijoeiro incluem forte amarelecimento e redução do crescimento da planta. Outro vírus que vem merecendo destaque nestes últimos anos é o Cowpea mild mottle virus (CPMMV), também transmitido por mosca-branca. O CPMMV pertence ao gênero Carlavirus, família Betaflexiviridae. O CPMMV foi descrito pela primeira
vez no País no final da década de 1970, sendo denominado causador da doença da mancha angular do feijoeiro “Jalo”. O CPMMV também infecta a soja, cultura em que essa doença foi relatada no Brasil apenas na safra de 2000/01 na região Centro-Oeste, quando produtores do estado de Goiás observaram plantas com sintomas de nanismo, queima do broto e necrose da haste e até mesmo morte das plantas. Nas safras seguintes,
a doença foi constatada em diversas regiões produtoras do País, como Tocantins, Pernambuco, Maranhão, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Através do melhoramento da soja, a doença da necrose da haste causada pelo CPMMV teve sua importância reduzida, uma vez que os genótipos que respondiam com a necrose sistêmica foram substituídos por outros em que este sintoma não era mais desencadeado. Nos últimos anos, porém, sintomas diversificados de vírus em cultivares de soja começaram a surgir nas principais regiões produtoras. Após análises moleculares, foi observada detecção do CPMMV em diversas regiões do Brasil, ocasionando sintomas muito diferentes daqueles relatados na literatura no passado. O Grupo de Pesquisa em Mosca-Branca (GPMB) da Faculdade de Ciências Agronômicas – Unesp, campus de Botucatu, em conjunto com a Fundação MT, o Instituto Phytus, a Universidade Estadual da Bahia e a Corteva Agrisciences, tem trabalhado com o CPMMV em soja e sinaliza: o CPMMV pode provocar perdas significativas para a cultura da soja. Neste estudo, diversos genótipos comerciais bastante utilizados nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Bahia foram avaliados quanto à resposta quando há infecção pelo CPMMV e geraram informações importantes para a identificação e o entendimento dessa ameaça no campo. Pôde-se verificar sintomas de mosqueado, clorose, redução do crescimento da planta, diminuição do número de vagens e redução da massa de grãos, sintomas esses que vão influenciar diretamente na produtividade. As respostas das cultivares não seguiram um padrão definido, e algumas cultivares de soja não mostraram sintomas claros da infecção viral, ou seja, foram assintomáticas. Também foi verificado que plantas podem mostrar os sintomas de clorose e mosaico nas fases vegetativas e no início da reprodutiva, e os sintomas desaparecerem na fase reprodutiva, podendo facilmente serem confundidos com fitotoxicidade de produtos aplicados. Além disso, as condi-
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Figura 1 - Mapa de distribuição de Bemisia tabaci no Brasil
ções ambientais, estirpes de vírus e infecções mistas com outros vírus implicam variações dos sintomas causados pelo CPMMV, dificultando assim sua correta identificação. É interessante ressaltar que a ausência de sintomas visíveis do CPMMV nas folhas de soja não garante ausência de perdas de produção. Estudos realizados com inoculação do vírus em condições de campo demonstraram perdas de até 11 sacas por hectare em uma das cultivares, em outra não havia sintomas visíveis, demonstrando que essa pode ser uma doença “silenciosa”. Essas informações remetem à reflexão de que o produtor pode enfrentar dificuldade em identificar a presença da doença e entender possíveis perdas, uma vez que a “necrose da haste” observada nos estudos com cultivares da época, atualmente não é o principal sintoma apresentado nas cultivares atuais. O aumento da ocorrência do CPMMV no campo possivelmente está relacionado ao aumento populacional de mosca-branca, devido, principalmente, às grandes áreas de sucessão das safras de soja e feijão, e vice-versa, em diferentes regiões do País. Durante o ciclo da cultura, veranicos podem, também, favorecer a explosão populacional da praga. Além disso, ambas as culturas são excelentes hospedeiras do inseto, além de serem hospedeiras do vírus. Dessa forma, as populações de mosca-branca e do vírus podem ser mantidas no campo durante todo o ano em soja e feijão. A transmissão do CPMMV pela mosca-branca é do tipo não persistente, ou seja, curtos períodos de alimentação do inseto em uma planta infectada já possibilitam a aquisição do vírus, bem como a inoculação em plantas sadias. Portanto, tudo pode ocorrer muito rápido no campo. Além da soja e do feijão, o CPMMV infecta o amendoim (Arachis hypogea) e diversas plantas daninhas, dentre elas guanxuma (Sida sp.), Macropitilium spp., fedegoso (Senna spp.), carrapicho beiço-de-boi (Desmodium glabrum), feijãozinho-bravo (Rhynchosia mínima), maravilha (Mirabilis jalapa), mussambe (Cleome affinis) e erva-palha (Blainville arhomboidea), que podem servir de reservatório para o vírus no campo. Além destas espécies, o CPMMV infecta, experimentalmente, outros hospedeiros, como: quinoa (Chenopodium quinoa), C. amaranthicolor, fumo (Nicotiniana spp.), chícharo (Lathyrus sativum), ervilha (Pisum sativum) e tremoço (Lupinus albus). Esse cenário de abundância de hospedeiros para o vírus e também para o inseto remete à importância do manejo adequado da lavoura, levando em consideração as demais disciplinas além de entomologia. Além da transmissão pela mosca-branca, o CPMMV pode ser transmitido por sementes de soja, como já relatado em Ghana e na Índia. Estudos realizados pelo grupo demonstraram que para pelo menos uma cultivar avaliada foi verificada transmissão via semente de soja do CPMMV, o que agrava a epidemiologia, já que a infecção primária da lavoura pode ser via semente. O percentual foi baixo, mas merece esforços para melhor entendimento, e devido a isso, novos estudos incluindo um número maior de cultivares e novos parâmetros fisiológicos envolvidos estão em fase de execução. Por fim, esse conjunto de componentes - inseto vetor, vírus, hospedeiros suscetíveis à doença, ambiente climático favorável para a presença do inseto e dos hospedeiros – compõe um pa-
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(Fonte: https://www.fca.unesp.br/#!/pesquisa/gpmb/mapas/)
tossistema que requer uma abordagem interdisciplinar para que propostas de manejo sejam efetivas. O controle de sanidade das sementes é um critério fundamental para evitar a infecção primária no início do ciclo, aliado, é claro, a cultivares mais tolerantes. As medidas adotadas no cultivo já estabelecido partem do manejo adequado de plantas daninhas para reduzir a fonte de inóculo do vírus, bem como a abundância de hospedeiros alternativos que promovam um aumento exponencial do vetor. Além disso, o controle do vetor se torna fundamental para a redução da disseminação da doença. Embora a detecção do patógeno ainda seja possível somente com emprego de ferramentas moleculares, o grupo está desenhando um mapeamento de ocorrência da doença em diferentes regiões e trabalha para ofertar informações sobre o histórico de inóculo. O manejo desse patossistema envolve integração de conhecimento e de áreas de atuação, e esse novo desafio para a sojicultura pode promover um entendimento mais conectado de conhecimento e profissionais, desde a academia até a extensão, C para contribuir de maneira efetiva com os produtores. Felipe Barreto da Silva, Luís Fernando Maranho Watanabe, Vinicius Henrique Bello, Eduardo Vicentin, Bruno Rossitto De Marchi, Marcelo Agenor Pavan e Renate Krause Sakate, Unesp – Botucatu Cristiane Muller, Corteva Agrisciences Lucia Madalena Vivan, Fundação MT Juliano Ricardo Farias, URI – Univ. Reg. Integrada de Santo Ângelo Marco Antonio Tamai, Universidade Estadual da Bahia
Soja
Teste de fogo
Apesar da trégua temporária da ferrugem-asiática observada nas últimas safras, muitas regiões brasileiras ainda possuem ampla janela de semeadura, favorecendo que esporos do fungo das primeiras lavouras se disseminem para as áreas semeadas mais tarde e gerem necessidade de intensificar o manejo químico. É exatamente nessas situações, em semeaduras de novembro a dezembro, que os experimentos em rede para avaliação de eficiência de fungicidas são realizados. Resultados servem para determinar programas de controle
A
ferrugem-asiática da soja, uma das doenças mais severas da cultura, tem dado uma trégua para muitos produtores nos últimos anos. Isso se deve ao conjunto de estratégias adotadas para o seu controle e a mudanças no sistema produtivo da soja. A adoção do vazio sanitário, período mínimo de 60 dias sem semeadura de soja e com a eliminação de plantas de soja voluntárias no campo, associado à semeadura de cultivares precoces, tem feito com que o escape da doença seja a principal estratégia de controle em várias regiões. Embora
a semeadura precoce seja uma recomendação para o manejo da doença, ganhou força com o aumento da semeadura do milho e do algodão (no Mato Grosso e em Goiás) em sucessão à soja. Essa prática se intensificou com a redução do ciclo das cultivares de soja, principalmente após 2005, onde os grupos de maturação passaram de 6.8 a 9.4 para 4.5 a 8.2, do Sul ao Norte do País, respectivamente. Nesse cenário de semeadura precoce, em grande porcentagem das áreas semeadas no Brasil, a ferrugem-asiática aparece somente a partir do enchimento de grãos, no final do ciclo
Andre Shimohiro
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Phytus Club
nas lavouras, quando surge. No entanto, o País apresenta grande diversidade de condições climáticas e muitas regiões ainda possuem ampla janela de semeadura, que faz com que esporos do fungo que se multiplicam nas primeiras lavouras se disseminem para as áreas semeadas mais tarde. Nessas situações, o produtor não consegue escapar da doença e o controle químico tem de ser intensificado, pois a ferrugem pode incidir precocemente, com grande potencial de dano. Os experimentos em rede, para avaliação da eficiência de fungicidas para controle da ferrugem-asiática, são realizados exatamente nessas situações, em semeaduras de novembro e dezembro. Essa é a estratégia utilizada porque há maior probabilidade de ocorrência da doença. Os experimentos em rede não são uma recomendação de controle, uma vez que os fungicidas são avaliados utilizando aplicações sequenciais. Aplicações sequenciais favorecem a seleção de populações de fungos menos sensíveis aos fungicidas. Essas informações devem ser utilizadas na determinação de programas de controle, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação e adequando os programas à época de semeadura. Na safra 2018/19, para avaliar o controle da ferrugem-asiática, foram conduzidos experimentos com fungicidas sítio-específicos registrados, em fase de registro, multissítios isolados, multissítios em mistura com um fungicida sítio-específico e a avaliação de ingredientes ativos isolados para acompanhar as mudanças de sensibilidade do fungo nas diferentes regiões. Os principais fungicidas sítio-específicos avaliados nos experimentos pertencem aos grupos dos inibidores da desmetilação (IDM, triazóis), dos inibidores da quinona externa (IQe, estrobilurinas) e dos inibidores da succinato desidrogenase (ISDH, carboxamidas). Entre os fungicidas multissítios, mancozebe, clorotalonil e fungicidas cúpricos foram avaliados isolados e associados ao fungicida sítio-específico metominostrobina + tebuconazol 79,7 + 119,62g i.a/ ha. Para os fungicidas registrados, foram realizados 31 experimentos e avaliados 13 fungicidas registrados (Tabela 1). Foram realizadas aplicações sequenciais dos
A severidade da ferrugem-asiática apresenta modificações de acordo com diversas variáveis
fungicidas, iniciando aos 45-50 dias após a germinação das plantas, com reaplicação em intervalos médios de 14 dias. Nos experimentos são efetuadas aplicações calendarizadas para reduzir a variação entre os locais e permitir a sumarização conjunta. A calendarização das aplicações não é uma recomendação de controle e sim um método adotado que permite agrupar os dados para a análise. Na análise estatística dos dados, foram eliminados experimentos onde a primeira aplicação foi realizada com sintomas de ferrugem, experimentos sem ocorrência ou com baixa severidade de ferrugem e experimentos com alta variabilidade de controle em relação aos demais locais, tendo sido utilizados 19 experimentos para a análise final. Todos os tratamentos apresentaram severidade significativamente inferior à testemunha sem fungicida (T1) (Tabela 1). A porcentagem de controle dos produtos registrados variou de 50% a 79%. As menores severidades e maiores porcentagens de controle foram observadas para os tratamentos com mancozebe + picoxistrobina + tebuconazol (T14- 79%) seguido de bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (T13 - 76%). As menores eficiências de controle foram observadas para os tratamentos com carbendazim + tebuconazol + cresoxim-metílico (T8 50%), picoxistrobina + ciproconazol (T3 - 51%) e trifloxistrobina + tebuconazol (T5- 52%). As maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com mancozebe + picoxistrobina + tebuco-
nazol (T14 – 3.471kg/ha) e bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (T13 – 3.485kg/ha), seguidos de trifloxistrobina + protioconazol (T9 – 3.204kg/ha), mancozebe + azoxistrobina + ciproconazol (T12 – 3.233kg/ha), picoxistrobina + benzovindiflupir (T10 – 3.220kg/ha) e piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade (T11 – 3.246kg/ha) (Tabela 1). As produtividades dos tratamentos com metominostrobina + tebuconazol (T6 – 2.934kg/ha), trifloxistrobina + ciproconazol (T4 – 2.872kg/ha), trifloxistrobina + tebuconazol (T5 – 2.874kg/ha), picoxistrobina + ciproconazol (T3 – 2.861kg/ha) e carbendazim + tebuconazol + cresoxim-metílico (T8 – 2.873kg/ha) foram semelhantes e superiores à testemunha sem fungicida. A redução de produtividade do tratamento sem fungicida (T1 – 2.115kg/ ha) em relação ao tratamento com a maior produtividade (T13) foi de 39%. A correlação entre as variáveis severidade e produtividade foi de r=-0,97. No experimento com fungicidas em fase de registro, foram utilizados três fungicidas registrados para comparação (T2 a T4) (Tabela 2). Os fungicidas pertencem aos mesmos grupos dos já registrados em utilização no campo e os dois novos ingredientes ativos que aparecem em misturas, impirfluxam (T6 e T7) e fluindapir (T11 a T13), são novas carboxamidas (ISDH). A metodologia nesse experimento foi a mesma utilizada para os fungicidas registrados, porém com menor número de experimentos em função da necessidade de áreas credenciadas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
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Tabela 1 - Severidade da ferrugem-asiática, porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtividade e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Média de 19 experimentos, safra 2018/19 TRATAMENTOS
DOSES L - kg p.c./ ha 2,5 0,3 0,2 0,5 0,725 0,5 1,25 0,4 0,6 0,8 2 0,5 2,5
1.Testemunha 2. tebuconazol + clorotalonil1 3. picoxistrobina + ciproconazol2 4. trifloxistrobina + ciproconazol3 5. trifloxistrobina + tebuconazol3 6. metominostrobina + tebuconazol4 7. picoxistrobina + tebuconazol5 8. carbendazim + tebuconazol + cresoxim-metílico6 9. trifloxistrobina + protioconazol3 10. picoxistrobina + benzovindiflupir 11. piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade6 12. mancozebe + azoxistrobina + ciproconazol3 13. bixafen + protioconazol + trifloxistrobina 3 14. mancozebe+ picoxistrobina + tebuconazol5
g i.a. /ha 125 + 1125 60 + 24 75 + 32 50 + 100 79,75 + 119,63 60 + 100 250 + 125 + 156,25 60 + 70 60 + 30 65 + 40 + 40 1350 + 90 + 60 62,5 + 87,5 + 75 1000 + 66,5 + 83,33
Severidade (%) 74,1 A 30,4 E 36,1 BC 33,9 CD 35,4 BC 31,7 DE 25,8 F 37,3 B 22,5 G 24,5 F 24,8 F 24,1 FG 18,0 H 15,8 I
C (%) 0 59 51 54 52 57 65 50 70 67 67 67 76 79
Produtividade (kg/ ha) 2115 E 3020 C 2861 D 2872 D 2874 D 2934 CD 3052 C 2873 D 3204 B 3220 B 3246 B 3233 B 3485 A 3471 A
RP (%) 39 13 18 18 18 16 12 18 8 8 7 7 -
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).1Adicionado Agril Super 50 mL/ ha; 2Adicionado Nimbus 0,75 L/ ha;3Adicionado Áureo 0,25% v/v; 4Adicionado Iharol Gold 0,25% v/v; 5Adicionado Rumba 0,5 L/ ha; 6Adicionado Assist 0,5 L/ ha.
Tabela 2 - Severidade da ferrugem-asiática, porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtividade e porcentagem de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Média de 18 experimentos, safra 2018/19 TRATAMENTOS
DOSES L - kg p.c. ha-1 0,8 0,6 0,5 1,3 0,35 0,5 1,2 0,3 0,75 0,3 0,8 0,6 0,6
1.Testemunha 2. piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade1 3. picoxistrobina + benzovindiflupir 4. bixafen + protioconazol+ trifloxistrobina2 5. azoxistrobina + clorotalonil8, Pilarquim 6. protioconazol + impirfluxam2,8 7. impirfluxam + tebuconazol3,9 8. fluxapiroxade + oxicloreto de cobre4,8 9. fluxapiroxade + protioconazol1,8 10. benzovindiflupir + ciproconazol + difenoconazol5,8 11. fluindapir + protioconazol + ciproconazol6,9 12. fluindapir + tetraconazol7,9 13. fluindapir + protioconazol6,9 14. picoxistrobina + protioconazol8
g i.a. ha-1 65 + 40 + 40 60 + 30 62,5 + 87,5 + 75 130 + 650 84 + 42 30 + 100 60 + 504 60 + 84 45 + 67,5 + 112,5 70 + 70 + 70 85,04 + 82,48 84 + 84 60 + 70,02
Severidade (%) 73,5 A 26,8 CD 27,1 C 21,9 F 36,8 B 15,5 I 14,9 I 21,7 F 20,0 G 17,6 H 21,7 F 25,0 DE 23,2 EF 28,0 C
C (%) 64 63 70 50 79 80 71 73 76 71 66 68 62
Produtividade (kg/ ha) 2270 G 3275 DE 3308 DE 3509 BC 2980 F 3597 AB 3679 A 3496 BC 3472 BC 3534 AB 3373 CD 3269 DE 3374 CD 3150 E
RP (%) 38 11 10 5 19 2 0 5 6 4 8 11 8 14
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05). 1Adicionado Assist 0,5 L ha-1; 2Adicionado Áureo 0,25% v/v; 3Adicionado Nimbus 0,5%v/v; 4Adicionado óleo mineral Orix 0,5% v/v; 5Adicionado Ochima 0,25 L ha-1; 6Adicionado Lanzar 0,3% v/v; 7Adicionado Nimbus 0,6%v/v; 8RET III; 9RET II.
Abastecimento (Mapa). Foram realizados 25 experimentos e utilizados 18 para a análise estatística. Todos os tratamentos apresentaram severidade significativamente inferior à testemunha sem fungicida (T1) (Tabela 2). De forma semelhante aos fungicidas registrados, a porcentagem de controle dos produtos em fase de registro variou de 50% a 80%. As menores severidades e as maiores porcentagens de controle foram observadas para os tratamentos com impirfluxam + tebuconazol (T7- 80%) e protioconazol + impirfluxam (T6- 79%) seguidos do tratamento benzovindiflupir + ciproconazol + difenoconazol (T10 - 76%). A menor eficiência de controle
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foi observada para o tratamento com azoxistrobina + clorotalonil (T5 – 50%). As maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com impirfluxam + tebuconazol (T7 – 3.679kg/ ha), protioconazol + impirfluxam (T6 – 3.597kg/ha) e benzovindiflupir + ciproconazol + difenoconazol (T10 – 3.534kg/ ha). A menor produtividade foi observada para o tratamento com azoxistrobina + clorotalonil (T5 – 2.980kg/ha), sendo superior à testemunha sem fungicida. A redução de produtividade do tratamento sem fungicida (T1 – 2.270kg/ha) em relação ao tratamento com a maior produtividade (T7) foi de 38%. A correlação entre as variáveis severidade e produtividade
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foi de r=-0,98. O número de fungicidas com alta eficiência de controle é limitado. E se somente esses produtos forem utilizados, irão selecionar populações mais resistentes ou menos sensíveis e nas próximas safras sua eficiência poderá ser menor. Todos os fungicidas devem ser empregados em programas de manejo com a rotação dos ingredientes ativos, incluindo os fungicidas multissítios no programa e adequando a época de semeadura. Nos experimentos com fungicidas multissítios, o intervalo entre as aplicações foi de 14 dias nos dois experimentos, para os multissítios isolados e em combinação com o fungicida sítio-específico.
No protocolo com fungicidas multissítios isolados, foram realizadas quatro aplicações na maioria dos experimentos, com início aos 45-50 dias. Aplicados de forma isolada, a eficiência variou de 27% a 44% para os diferentes multissítios. A menor eficiência quando comparado com os resultados da safra 2017/18 ocorreu em razão do maior intervalo. Na safra 2017/18, foram realizadas cinco aplicações com intervalo de dez dias e a eficiência dos fungicidas variou de 44% a 67%. O intervalo entre aplicações foi aumentado para 14 dias, uma vez que é a situação em que o produtor vem utilizando o fungicida na mistura com os sítio-específicos. Nesse intervalo, o fungicida não deve ser adotado de forma isolada para controle de ferrugem, em razão da baixa eficiência. Fungicidas multissítios têm residual limitado, uma vez que não penetram nas plantas e podem sofrer degradação química, física ou biológica do ingrediente ativo, sendo que a precipitação tem o maior efeito sobre sua atividade residual. A ocorrência de chuvas pode afetar a estrutura e a atividade dos depósitos sobre a folha, por sua diluição, redistribuição, remoção e extração física a partir dos tecidos das plantas. Nos experimentos onde os fungicidas multissítios foram associados ao fungicida metominostrobina + tebuconazol 79,7 + 119,62g i.a./há, todas as combinações aumentaram significativamente a eficiência de controle, passando de 49% de controle com o produto isolado para 52% a 72% nas associações. Incrementos significativos de produtividade também foram observados em todas as associações, comparadas ao fungicida metominostrobina + tebuconazol 79,7 + 119,62g i.a./ha isolado. A dose dos fungicidas multissítios é importante para obter os resultados observados nos experimentos em rede. Os fungicidas multissítios devem ter o registro no Mapa para a sua utilização em programas de manejo da ferrugem-asiática da soja. A redução da eficiência dos fungicidas sítio-específicos observada a cada safra reforça a importância do uso de todas as estratégias de manejo, e essas devem ser empregadas de forma conjunta para atrasar a seleção de resistência às novas moléculas, que pertencem aos mesmos
grupos das atuais, e manter os patamares de produtividade de soja, uma vez que a ferrugem-asiática é uma doença que pode impactar todas as regiões produtoras. O manejo integrado da ferrugem-asiática envolve a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário; a utilização de cultivares de ciclo precoce semeadas no início da época recomendada; a utilização de cultivares com gene(s) de resistência; o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura, acompanhando as ocorrências da doença no site ou no aplicativo do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net) e as condições climáticas que favorecem o desenvolvimento da doença; a utilização de fungicidas preventivamente com base no monitoramento e a redução de janelas de semeadura para diminuir o número de aplicações de fungicida ao longo da safra e atrasar a seleção de isolados resistentes. As cultivares com gene(s) de resistência apresentam lesões que produzem menor quantidade de esporos e não dispensam a utilização de fungicidas. São ferramentas importantes de manejo e podem ajudar a reduzir a pressão de seleção sobre os fungicidas, mas, como as cultivares apresentam um ou dois genes de resistência, o fungo pode vencer essa resistência, por seleção natural, de forma semelhante ao que ocorre com os fungicidas. Apesar da trégua observada nos últimos anos, o produtor deve estar sempre alerta com a ferrugem em função do seu potencial de dano. Um inverno menos rigoroso, com maior sobra de plantas de soja voluntárias com inóculo e um começo de safra com chuvas irregulares, que ampliem a janela de semeadura, já podem fazer com que a doença volte de forma severa. As condições climáticas da entressafra e da safra são determinantes no desenvolvimento da doença, reforçando a necessidade do monitoramento constante. Os resultados dos experimentos cooperativos só foram possíveis em razão do trabalho conjunto de diversas instituições de pesquisa e empresas, que integram a C rede de ensaios.
Cláudia V. Godoy, Maurício C. Meyer e Ivani de O. N. Lopes, Embrapa Soja Carlos M. Utiamada e Luiz Nobuo Sato, Tagro Hercules D. Campos, UniRV/Campos Pesquisa Agrícola Ltda Alfredo R. Dias, Fundação Chapadão Edson R. de Andrade Junior, Instituto Mato-Grossense do Algodão Ivan Pedro Araújo Júnior e Fabiano V. Siqueri, Fundação Mato Grosso Fernanda C. Juliatti e Fernando C. Juliatti, JuliAgro Universidade Federal de Uberlândia Tiago Madalosso, Fernando Favero e João Mauricio Trentini Roy, Centro de Pesquisa Agrícola Copacol José Fernando J. Grigolli, Fundação MS p/Pesq. e Difusão de Tecn. Agropec. Cláudia B. Pimenta e José Nunes Junior, Emater-GO; Centro Tecn. p/Pesq. Agropec – CTPA Lucas Navarini, Planta Conhecimento/ha Marina Senger e Eloir Moresco, 3M Experimentação Agrícola Marcelo G. Canteri, Universidade Estadual de Londrina Ione Chaves, Santagro Luana M. de R. Belufi, Fundação de Pesq. e Desenv. Tecn. Rio Verde Luís Henrique Carregal, Agro Carregal Pesq. e Proteção de Plantas Eireli Marcio Goussain, Assist Consultoria e Experi. Agronômica Ltda. Ricardo S. Balardin, Mônica Paula Debortoli e Nédio Rodrigo Tormen, Instituto Phytus Mônica C. Martins, Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa Valtemir J. Carlin, Agrodinâmica Wilson S. Venancio, CWR Pesquisa Agrícola Ltda.
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Soja
Fotos Ricardo Gava
Lavoura irrigada
Desafios climáticos têm extrema importância quando o assunto é produtividade agrícola e não podem ser negligenciados no planejamento do produtor. Em tempos de investimentos cada vez mais frequentes em tecnologia, a irrigação racional precisa ser encarada como indispensável
O
s produtores brasileiros estão cada vez mais antenados sobre as novas tecnologias. Não se poupa investimentos quando um novo manejo ou produto promete entregar duas, cinco ou até dez sacas a mais por hectare (“mesmo que o custo para isso seja o próprio investimento”). Fato é que se faltar chuva, nenhum produto resolve, e o investimento muitas vezes é perdido. Mesmo em regiões com altos índices pluviométricos, ainda assim podem ocorrer os veranicos. As chuvas são muito variáveis e a ocorrência de veranico pode ocorrer em uma determinada lavoura e na área vizinha não. Com isso, o produtor fica refém do clima. Isso afeta todo o planejamento, visto que a falta de chuva pode atrasar a semeadura e prejudicar a janela de plantio, ou ainda, intervalos sem chuva logo no início podem levar o produtor a ter que refazer o plantio, resultando em mais custos e atrasos. Mas o maior problema é quando o veranico vem na floração
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e no enchimento de grãos. De maneira geral, a cultura da soja tem bastante oferta de chuvas, porém, pequenos intervalos sem precipitações justamente no enchimento de grãos representam perdas de produtividade significativas. Períodos de dez a 15 dias sem chuva no enchimento de grãos da soja já refletem em perdas do potencial produtivo, que podem chegar a índices significativos. Isso porque em anos em que a soja recebe muita chuva nas fases iniciais é comum o sistema radicular não se aprofundar muito. Outro agravante reside no fato de que com muita chuva há muitas nuvens, logo, menos radiação solar atingindo as plantas. Em anos em que a soja atravessa todo o ciclo vegetativo com “sombra e água fresca”, e justamente na fase de enchimento de grãos, que é quando mais necessita de hidratação, vem o veranico, as perdas podem chegar a 60%. Em praticamente todas as safras, falta chuva em algum momento do ciclo, e a magnitude dos prejuízos depende de em qual
estádio fenológico isso ocorre, devendo-se ainda considerar as características de cada cultivar, bem como o manejo adotado. O uso de cobertura com gramíneas como a braquiária, por exemplo, ajuda, mas sozinho não faz milagres. Com relação à adoção de práticas com palhadas na redução de perdas de água do solo, a matéria seca na superfície é apenas a “ponta do iceberg”. Principalmente quando se fala em uso de braquiária, seus efeitos são muito maiores na reestruturação do perfil do solo, no controle de compactação e na adição de matéria orgânica, graças às características de seu sistema radicular, do que ao material orgânico sobre o solo em si. Porém, dependendo do tipo de solo, se faltar água no sistema, as perdas ainda assim são grandes. Em 2014 (safra com El Niño) iniciou-se uma parceria entre a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Chapadão do Sul, e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão (Fundação Chapadão). O objetivo foi avaliar a viabilidade econômica da implantação de manejos utilizando a irrigação. Foram testadas, nesses cinco anos de pesquisa, 19 cultivares comerciais de diferentes ciclos e tecnologias como as RR e IPRO (tolerantes à glifosato e à lagarta). Os resultados mostram que os diferentes materiais genéticos (cultivares) têm respostas diferentes aos manejos de irrigação. Observa-se uma vantagem média de 23 sc/ha para as áreas irrigadas, na média das cinco últimas safras. Porém é importante observar que a diferença foi bem maior nas safras 2014/15, 2016/17 e 2018/19. A Figura 2 apresenta o Balanço Hídrico das cinco safras monitoradas. Colunas azuis marcam excesso de água pelas chuvas e colunas vermelhas, o déficit hídrico ocorrido. Assim é possível observar que embora não se tenha acumulado um déficit hídrico expressivo na safra 2014/15, houve três intervalos entre as chuvas, que combinados a alto estresse térmico gerado pela radiação solar provocaram estresses nas plantas. Já na safra 2015/16, o déficit hídrico
Figura 1 - Comparação entre o sequeiro e o irrigado nas últimas cinco safras
Safra 2014/15
Safra 2015/16
Safra 2016/17
Safra 2017/18
Safra 2018/19
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Figura 2 - Balanço hídrico das últimas cinco safras
ocorreu logo após a semeadura, tendo causado problemas de estande de plantas. Nas safras 2016/17 e 2017/18, o déficit ocorreu na fase vegetativa. Na safra 2018/19 houve um déficit severo na fase de enchimento de grãos. É importante compreender que os estresses pelos quais as plantas podem passar são muitos e podem atuar de maneira combinada. Assim, os estresses chamados bióticos (patógenos, insetos-praga, plantas daninhas etc) e abióticos (temperatura, fotoperíodo, nutrientes etc) estão intimamente ligados à disponibilidade de água do solo. Buscou-se analisar a radiação solar acumulada por período de 30 dias após a semeadura em cada safra, destacando os momentos em que ficou fora da média. A Tabela 2 apresenta o comportamento da radiação solar de cada safra em relação à média normal. Observou-se que a radiação ficou abaixo da média em praticamente todo o ciclo na safra 2014/15. Com isso, os cultivares de ciclo mais longo passaram a receber radiação muito elevada justamente no período de enchimento de grãos, e esse estresse combinado com a baixa oferta de água no solo gerou perdas de produtividade nas áreas não irrigadas. Já na safra 2015/16, as diferenças foram pouco expressivas entre o irrigado e o sequeiro, explicadas pela ausência de veranico. A alta radiação solar desde a semeadura até o início do enchimento de grãos possibilitou uma aclimatação das plantas, levando-as a não sofrerem grandes problemas. Frente aos desafios de produzir mais e melhor, a irrigação se apresenta como uma ferramenta que traz segurança ao produtor. Muito mais que aumento de produção e qualidade, garante a produtividade potencial dos cultivares em cada safra, permitindo assim que o produtor se organize com relação aos seus cronogra-
Tabela 1 - Ocorrência de déficit hídrico nos diferentes estádios fenológicos da soja Safra
Sequeiro
Irrigado
2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 Média
63 104 88 96 62 83
103 111 122 105 93 107
Variação sc/ha 39 6 28 9 33 23
Défice Hídrico
Estádio
Severo Moderado Severo Severo Severo
Enchimento Semeadura Floração Vegetativo Enchimento
Tabela 2 - Radiação acumulada em cada período de 30 dias após a semeadura, abaixo ou acima da média normal Safras 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19
Data de Semeadura 15 de out. 15 de out. 19 de out. 15 de set. 25 de set.
Radiação acumulada nos subperíodos DAS 30 60 90 120 Abaixo Abaixo Abaixo Acima Acima Acima Acima Abaixo Acima Acima Abaixo Abaixo Abaixo Acima Acima Abaixo Acima Abaixo Acima Acima
Produtividade sc/ha Sequeiro Irrigado 63 103 104 111 88 122 96 105 62 93
*Os custos médios de energia com a irrigação nas cinco safras ficaram na faixa de 5sc/ha por safra.
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DESAFIOS
O maior problema da agricultura irrigada no Brasil não é a disponibilidade de água, mas sim a falta de fornecimento de energia elétrica. Os governos precisam melhorar e ampliar a distribuição de energia, ou até mesmo facilitar o acesso à energia fotovoltaica às propriedades rurais para que os agricultores possam desenvolver C ainda mais a agricultura do país.
Tabela 3 - Produtividade de soja Irrigada nas últimas cinco safras SAFRAS Cultivar NA 5909 RR Desafio RR M 7739 IPRO Power IPRO P 98Y30 RR AS 3680 IPRO CD 2728 IPRO CD 2737 RR DM 5958 IPRO Anta 82 RR M 7110 IPRO ST 620 IPRO BRS 1074 IPRO BRS 7380 IPRO NA 7337 RR M 8372 IPRO TMG 7067 IPRO Bônus IPRO BRS 1003 IPRO
2014/15 Sequeiro Irrigado 78 63 64 70 63 72 -
83 103 92 82 88 82 -
2015/16 Sequeiro Irrigado 84 104 97 95 103 69 -
97 111 107 103 *99 85 -
2016/17 Sequeiro Irrigado Sacas por hectare 81 97 86 111 93 103 95 109 85 98 88 122 -
2017/18 Sequeiro Irrigado 72 85 89 96 81 88 69 91 75 67 101 -
82 100 96 105 87 96 76 93 88 72 103 -
2018/19 Sequeiro Irrigado 57 52 62 44 62 43
70 71 88 70 93 69
*Os custos médios de energia com a irrigação nas cinco safras ficaram na faixa de 5sc/ha por safra. Fotos Divulgação
mas e planeje melhor seus investimentos sem risco. Sempre que se faz um investimento é preciso quantificar os riscos inerentes a ele. Se o custo do risco for muito alto e algo der errado durante a safra, o produtor pode até “quebrar”. É possível controlar pragas, doenças, pois existem excelentes produtos no mercado, e, com uma boa assessoria técnica, dificilmente o produtor terá surpresas desagradáveis. Porém, falta de chuvas ninguém controla, e se faltar, todo o investimento é jogado fora naquela safra.
Ricardo Gava, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Edson Pereira Borges, Jefferson Luis Anselmo e Bartolomeu Geraldo Melo Andrade, Fundação Chapadão Gava, Borges, Anselmo e Andrade avaliam desafios climáticos e irrigação
Plantas daninhas
Conhecimento eficiente Conhecer o comportamento de plantas daninhas, a cultura, o herbicida a ser utilizado, o ambiente em que será aplicado o produto, além de fazer uso adequado da tecnologia de aplicação é o caminho mais seguro para alcançar bons resultados com o controle químico
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controle químico de plantas daninhas é o mais amplamente utilizado por parte dos produtores. Esse método de controle apresenta como características positivas a facilidade de manejo, o baixo custo, o amplo espectro de controle, seletividade a algumas culturas, rápida janela de controle, entre outros benefícios. Como entrave à ampla utilização, há o impacto ambiental gerado pelas incorretas intervenções, o nível técnico do produtor/operador, que deve ser mais tecnificado, e a seleção de indivíduos de plantas daninhas resistentes a um ou alguns mecanismos de ação amplamente utilizados. O segredo de uma correta adoção do controle químico é conhecer a planta daninha, a cultura, o produto a ser utilizado, o
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ambiente em que se utilizará este produto e se cercar de várias técnicas para a maior eficácia do produto a ser aplicado.
CONHECER A PLANTA DANINHA
O primeiro passo para uma adoção de manejo químico eficiente é conhecer a flora infestante presente na área. Quais as plantas daninhas presentes em maior abundância? Como está composto o banco de sementes de plantas daninhas da sua área? Qual o estádio vegetativo das plantas daninhas presentes na área? Qual o nível de estresse? Estas e outras perguntas devem ser respondidas, antes da escolha do herbicida, da dose e da tecnologia de aplicação que será empregada.
Fotos Emerson Trogello
Massa vegetal de plantas de cobertura a ser controlada para plantio de soja
Por vezes, para responder a essas perguntas, é necessário inicialmente buscar o histórico de sua área. Quais as culturas antecessoras ao seu novo ciclo de semeadura? Quais os mecanismos de ação de herbicidas utilizados nos ciclos anteriores? Qual a eficiência de controle dos manejos anteriores? As culturas anteriores tendem a privilegiar determinada espécie de plantas daninhas, já predizendo um maior cuidado. Exemplo: a cultura do tomate industrial favorece uma maior infestação de plantas daninhas como joá-de-capote (Nicandra physaloides) e maria-pretinha (Solanum americanum), logo, a cultura sucessora e consequentemente seu manejo de herbicidas devem ter uma maior atenção nestas espécies. O uso de um mesmo mecanismo de ação de herbicida também favorece determinadas plantas daninhas em detrimento a outras. Ainda, um manejo incorreto e o consequente ineficiente controle de determinada planta daninha ocasionam em autossemeadura da planta, o que abastece o banco de sementes viáveis no solo e tende a favorecer uma reinfestação da área em curto período de tempo. Conhecer o estádio fenológico da planta-alvo é imprescindível. Plantas em seu estádio de desenvolvimento inicial são mais facilmente controladas, principalmente, pelo fato de possuírem uma menor limitação à absorção do herbicida, bem como uma maior cobertura por parte do produto. Já as plantas em estádios desenvolvidos e amplamente
Efeito de residual de defensivos em tanque de pulverização
distribuídas na área exigem geralmente maior volume de calda e maior atenção no processo de pulverização. É importante, ainda, conhecer como a planta daninha está distribuída na área alvo de pulverização. As plantas daninhas mais próximas à cultura tendem a exercer uma maior competição pelos recursos do meio. Por vezes, ainda, podem ocorrer plantas daninhas localizadas no terreno, para as quais não é economicamente viável uma aplicação em área total, mas sim, focar em uma aplicação localizada, caso da tiririca (Cyperus rotundus), que tende a se disseminar de forma mais lenta e sendo sua distribuição mais concentrada em determinados locais. Conhecer quais as plantas daninhas da área é de suma importância. Se prevalecem as de folhas estreitas, pode ser o caso de demandar uma maior atenção na utilização de graminicidas. Caso as plantas daninhas sejam de hábitos mais perenes e de propagação vegetativa, demanda maior atenção na utilização de herbicidas e mecanismos de ação que sejam sistêmicos e que transloquem na planta por inteiro, favorecendo o seu controle. Além de conhecer quais as plantas daninhas presentes na área, como estão distribuídas e o seu estádio de desenvolvimento, é necessário que, em sua maioria, estejam em pleno vigor. Quando se utiliza herbicidas que apresentam translocação sistêmica, é necessário que a planta esteja com seu metabolismo em plena atividade. Desta forma, pode-se
translocar para todas as partes das plantas e exercer sua máxima eficiência. Plantas daninhas que estejam estressadas apresentam baixa translocação e tendem a não ser controladas em sua totalidade por herbicidas sistêmicos.
CONHECER A CULTURA
A tecnologia de aplicação a ser empregada no uso de herbicidas relaciona-se também com fatores relacionados à cultura. Conhecer a cultura e lançar mão de manejos que a favoreçam, é aumentar sua capacidade competitiva frente às plantas daninhas, o que influencia na tecnologia de aplicação a ser empregada. Todo o manejo realizado na cultura deve ter por objetivo favorecer o controle das plantas daninhas. Desta forma, a escolha de uma correta cultivar para determinada área e época de plantio é importante. Um correto manejo nutricional favorece a cultura, e uma planta bem nutrida tem maior capacidade de suporte frente às adversidades, sejam elas de característica abiótica ou biótica, como o caso da competição com plantas daninhas. Um adequado manejo fitossanitário predispõe a cultura ao menor ataque de pragas e doenças, proporcionando maior capacidade competitiva contra as plantas daninhas.
CONHECER OS HERBICIDAS
Cada herbicida apresenta características próprias relacionadas às espécies de plantas daninhas que exerce controle, a como se comporta no ambiente, bem como, a qual tecnologia de aplicação a ser utilizada. Estas características, em sua maioria, são influenciadas pelas propriedades físico-químicas de cada herbicida.
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Pressão de vapor: a pressão de vapor estimula uma tendência de volatilização do herbicida no seu estado normal e a uma temperatura constante. Herbicidas que apresentam alta pressão de vapor, caso do 2,4-D à base de éster, tendem a ter melhor absorção, porém apresentam maior potencial de volatilização. Cabe, nestes casos, redobrar o cuidado com a tecnologia de aplicação. As pulverizações devem ser realizadas em condições de ambiente ideal (velocidade de vento entre 3km/h e 7km/h, UR maior que 60%), devendo-se priorizar gotas de tamanhos grandes e maiores volumes de calda, utilização de adjuvantes, entre outros. Deve-se, ainda, no caso de herbicidas que atuam em baixa concentração, tomar amplo cuidado com culturas adjacentes à sua área alvo. Já os herbicidas com baixa pressão de vapor em geral, apresentam a necessidade de adjuvantes para facilitar a sua absorção junto ao alvo. Solubilidade em água: assim como a pressão de vapor, a solubilidade em água está diretamente relacionada ao potencial de volatilização do produto no momento da aplicação. Esta propriedade física do herbicida indica a máxima quantidade de uma molécula que se dissolve em água pura a uma determinada temperatura. Seu valor é expresso em miligramas do herbicida por litro de água (normalmente, a 25oC). Quanto menos o herbicida é dissociado ao componente água, mais exposto à superfície da Tabela 1 - Controle (%) de biótipos de Cyperus difformis e Cyperus iria resistentes e suscetíveis em função de diferentes tratamentos herbicidas, avaliado aos 28 dias após aplicação Herbicidas 2,4-D Atrazina Bentazon Carfentrazone Chlorimuron Clethodim Clomazone Cloransulan Diclosulan Fluazifop Flumioxazin Fomesafen Glifosato Glufosinato Haloxyfop Imazaquin Imazethapyr Iodosulfuron Isoxaflutole Lactofen Mesotrione Metribuzin Metsulfuron Nicosulfuron Paraquat Saflufenacil S-metolachlor Sulfentrazone Tembotrione
Intervalo entre aplicação e semeadura (em dias) Milho Trigo Soja Feijão 0 0 7 10 0 90 90 90 0 0 0 0 0 0 0 0 60 60 0 60 7 7 0 0 150 150 0 150 30 30 0 90 90 0 90 14 a 21 14 a 21 0 0 0 0 0 0 150 150 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 20 0 0 300 120 0 90 100 120 0 90 90 0 90 90 0 70 70 70 0 0 0 0 0 90 90 90 90 90 0 120 70 0 60 70 0 60 30 30 0 0 0 0 0 0 0* 30 a 42 0 60 0 0 90 90 0 90 0 65 65 30
Fonte: Fundação ABC
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água ou do solo se encontra, e maior é a tendência à volatilização. Constante de Henry: de forma mais prática, esta constante é importante para se estimar a probabilidade de trocas gasosas de um determinado composto diluído em água e a atmosfera. Quanto maior o valor da constante, tende-se a ter maior valor de pressão de vapor e menor valor de solubilidade em água, o que culmina em maior potencial de volatilização. Coeficiente de partição octanol-água: refere-se à medida da intensidade da afinidade da molécula pelas fases polar (representada pela água) e apolar (representada pelo 1-octanol). É uma medida da lipofilicidade da molécula. Valores de Kow são adimensionais, sendo expressos normalmente na forma logarítmica (logKow) e são constantes para uma certa molécula a uma dada temperatura. Tempo de meia vida: o tempo de meia vida do herbicida se relaciona ao intervalo para que 50% da molécula do herbicida adicionado ao meio seja degradada. Esta propriedade dos herbicidas não pode ser confundida com residual de cada produto. Isso pelo fato de alguns herbicidas apresentarem elevado tempo de meia vida e baixo residual, caso do Paraquat (inibidor do FSI). Este herbicida tende a ficar altamente retido aos coloides do solo, não sendo liberado na solução, não estando apto a exercer seu efeito residual, bem como não ficando sujeito a ser degradado, elevando seu tempo de meia vida. Quando se utiliza herbicidas que tenham por alvo o solo e, consequentemente, seu residual para o fluxo de emergência de daninhas, tem-se que adotar algumas táticas importantes. A primeira delas é conhecer o alvo, no caso o solo, por meio de perguntas como: qual a textura do solo? Qual a porcentagem de matéria orgânica? Qual a quantidade de palha depositada sobre o solo no momento da pulverização? Qual a umidade do solo? Qual o potencial de volatilização e fotodegradação do herbicida a ser utilizado? Geralmente, esses herbicidas têm sua dose variando em função da textura do solo. Solos mais pesados tendem a necessitar de maiores doses, bem como os solos com maior porcentagem de matéria orgânica. Ainda, a camada de palha pode ser um impeditivo à correta adoção desses herbicidas. Além disso, caso apresente alto potencial de volatilização e fotodegradação, pode ser necessária a sua incorporação nas camadas superficiais do solo, o que vai na contramão do sistema de plantio direto. Desta forma, é de suma importância relacionar o herbicida utilizado com seu residual no solo e com os cuidados com a cultura posterior. A Tabela 1 apresenta alguns grupos de herbicidas utilizados e os cuidados que se deve ter com o seu residual.
CONHECER O AMBIENTE
Vento: é um dos principais fatores de ambiente que interferem no modo de aplicação e na tecnologia a ser empregada. É conhecido o fato de que uma alta velocidade de vento é desfavorável à pulverização, assim como sua nulidade. Altas velocidades de vento (acima de 10km/h) favorecem o processo de deriva e implicam redução da concentração do produto no alvo desejado. Quando se trabalha com herbicidas que atuam em baixa dosagem, a atenção deve ser redobrada,
Figura 1 - Efeito de se trabalhar com gotas finas na distribuição do produto fitossanitário. Fonte: Jacto
caso de alguns inibidores da ALS, como o Metsulfuron-methyl, que tem por recomendação de três gramas a seis gramas do produto comercial por hectare. Qualquer deriva existente devido à condição de vento, tende a ser altamente prejudicial a culturas vizinhas e sensíveis. Por vezes, no entanto, o produtor rural opta por trabalhar mesmo em condições de vento que não sejam as ideais, muito em função da janela de controle de plantas daninhas e da capacidade operacional de seu maquinário. Deve-se trabalhar, assim, com maior volume de calda e gotas maiores, bem como usar redutores de deriva e definir a altura ideal da barra em relação ao seu alvo. No entanto, a velocidade do vento situada na faixa de 0km/h a 2km/h acarreta a inversão térmica, sendo que o “véu de noiva”, oriundo da pulverização, pode ser carreado para longas distâncias, sem deposição no alvo (Santos, 2005). Nessas situações, o peso da gota pode ser dimensionado para que desça no sentido vertical, atingindo o alvo. Umidade relativa do ar :a umidade relativa do ar influencia tanto na condição das plantas daninhas como na tecnologia de aplicação. Uma baixa UR do ar tende a dificultar a absorção de herbicidas pela planta, tornando a cutícula mais difícil de ser transpassada. Devido à sua desidratação, o herbicida pode ser cristalizado sob a mesma antes mesmo da absorção. Da mesma forma, esta baixa UR tende a favorecer o processo de volatilização dos herbicidas. Umidade relativa acima de 95% é indicativo de alta probabilidade de chuvas, o que pode ser extremamente danoso ao processo de pulverização. Tem-se como ideal que a pulverização seja realizada entre um intervalo de 60% a 95% de UR. Em UR próxima ao mínimo, deve-se atentar para se elevar o volume de calda, aumentar o tamanho de gota e usar adjuvantes ante deriva e volatilização. Temperatura: temperaturas próximas a um limite de 35°C tendem a favorecer o processo de volatilização da gota de pulverização. Temperaturas se aproximando do limite de 10°C tendem a reduzir o metabolismo da planta daninha, o que diminui a ação de herbicidas, principalmente
os sistêmicos. Quando se trabalha com temperaturas mais elevadas, mais uma vez, são necessários o manejo de gotas maiores e maior volume de calda, visando desfavorecer o processo de volatilização.
FATORES RELACIONADOS À PULVERIZAÇÃO
Volume de calda: o uso de equipamentos adequados propicia melhor controle na distribuição do produto fitossanitário, com populações de gotas adequadas a cada ambiente e produto empregado nos tratamentos. O equipamento responsável pela pulverização de herbicidas deve assegurar que a pulverização (ato de fracionar a calda em gotas menores) seja uniforme, que o transporte das gotas até o alvo seja efetivo e a distribuição das gotas seja uniforme. Atualmente, ainda busca-se utilizar menor volume de líquido possível, para uma maior capacidade operacional e, consequentemente, menor custo. Consegue-se atualmente trabalhar com volume ultrabaixo de calda, principalmente reduzindo as dimensões das gotas e melhorando as técnicas de transporte. Esta redução de volume, no entanto, deve ser embasada em análise técnica e não pode ser tomada como padrão em todas as intervenções de herbicidas. Pulverizar plantas daninhas em estádios de desenvolvimento inicial é diferente de aplicar em plantas daninhas em estádios de desenvolvimento avançados, assim como ter o solo como alvo de sua pulverização é diferente de ter a planta daninha como alvo, bem como, usar herbicidas de contato é diferente de pulverizar herbicidas que tenham ação sistêmica. Cada escolha de herbicida, alvo e condição de ambiente, exige um determinado volume de calda.
Quando o alvo é o solo, deve-se priorizar o residual do herbicida e tem-se a necessidade de utilizar maiores volumes de calda ou priorizar que o solo esteja úmido no momento da pulverização. Já para a eficiência de herbicidas de contato, é necessário que seja distribuído a todas as partes da planta-alvo, sendo assim, a utilização de volumes de calda mais elevados pode facilitar o processo. Da mesma forma, se a planta daninha está em avançado estádio de desenvolvimento e em alta massa, é necessário que o volume de calda seja mais elevado para facilitar o controle, Tamanho e homogeneidade de gotas: dividindo uma gota grande de 400µm de diâmetro, em gotas de 200µm, se obtém oito gotas com a mesma quantidade de água. Se dividir essa mesma gota de 400µm em gotas de 50µm, é possível obter 512 gotas. Isso demonstra que é possível obter maior cobertura e maior eficácia em atingir o objetivo, mesmo trabalhando com pequenos volumes de calda (Figura 1). Gotas menores tendem a se distribuir de forma mais uniforme quando trabalhado com mesmo volume de calda, gerando, assim, uma maior cobertura do alvo. Inúmeros outros cuidados devem ser levados em conta, indo, desde a simples limpeza do equipamento de pulverização pós-utilização, ao manejo correto de misturas de defensivos agrícolas em tanque. Sabe-se, no entanto, que cada vez mais a utilização de defensivos agrícolas eleva os custos de plantio. Deve-se atentar aos mínimos detalhes para tornar o manejo químico mais eficiente e C economicamente viável. Emerson Trogello, UFV e IFGoiano Lucas Luis Faustino, Uenf e IFGoiano Ana Caroline de Araújo, IFGoiano Alcir José Modolo, UFV e UTFPR
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Eventos Fotos Cultivar
Futuro construído IV Seminário Phytus realizado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mostra que é preciso ser protagonista da nova agricultura
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Nova Agricultura foi tema do IV Seminário Phytus, que ocorreu no início de julho, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Durante os três dias de evento, foram apresentadas palestras e debates sobre fitossanidade e resultados de pesquisas conduzidas pelos pesquisadores Phytus do Sul e do Cerrado. Aproximadamente 400 pessoas, entre pesquisadores, produtores e consultores acompanharam discussões sobre a percepção da Nova Agricultura desde várias regiões do
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mundo. Para isso, foram convidados palestrantes de universidades e instituições de pesquisa de quatro países: França, Estados Unidos, Canadá e Porto Rico. Entre apresentações de dados de pesquisas, palestras com pesquisadores e mesas-redondas, o seminário proporcionou discussões sobre táticas de manejo, importância da água, nutrição e genética da planta. O pesquisador e diretor do Phytus Group, Ricardo Balardin, abriu o primeiro dia do ciclo de
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palestras abordando os desafios para a agricultura do futuro. O especialista propôs reavaliar a forma como se está fazendo a agricultura no país, e pensar sobre que tipo de agricultura é possível construir. “A importância do 4º Seminário para o Phytus é muito grande porque é a consolidação de uma ideia. Nós temos que começar a discutir o futuro da agricultura, mesmo que seja de forma polêmica. Quando começamos a observar as opções de mercado, nós começamos analisar as tendências. O nosso objetivo
enquanto Phytus é ser alguém que ajude o sistema e o segmento a crescer. Para isso, trouxemos palestras e palestrantes com diferentes visões: da indústria, do mercado, da academia e sobre sustentabilidade”, explicou. Balardin também destacou durante o evento a tendência por uma agricultura mais verde, para o que o agronegócio no país e no mundo está cada vez mais inclinado na opinião do pesquisador. “Durante o seminário foram ditas verdades absolutas. O mundo vai buscar uma agricultura mais verde. Eu sei que isso soa até estranho quando a gente tem tanta empresa multinacional de defensivos agrícolas patrocinando o seminário. Mas elas próprias sabem disso, tanto que todas possuem segmentos biológicos e estão procurando produtos alternativos de manejo”, lembrou. O Seminário Phytus 2019 foi uma oportunidade para que participantes pudessem trocar experiências com grandes influenciadores do agronegócio do Brasil e do mundo, além de traçar perspectivas para colocar em prática um novo modo de pensar e fazer agricultura. Com diferentes visões do cenário e da pesquisa, o público pôde traçar expectativas para o setor e conhecer
Nova Agricultura foi tema do evento realizado no Rio Grande do Sul
possíveis soluções para que a produtividade e a sustentabilidade assegurem a produção agrícola.
ELEVAGRO EXPERIENCE
A grande novidade do IV Seminário Phytus foi o Elevagro Experience, evento que ocorreu junto ao Seminário e apresentou perspectivas mundiais do agronegócio com o objetivo de debater soluções para
transformar o agro. O evento propiciou o lançamento do Elevagro, onde realizam-se treinamentos, enquanto que no Phytus Group se estabelecem as pesquisas. A nova configuração começou em março deste ano através de plataforma on-line com cursos e conteúdos que podem ser acessados pelos produtores, estudantes e C pesquisadores.
Tendências para o futuro
Balardin enfatizou necessidade de enfrentar temas polêmicos na agricultura
Na América Latina, a resistência a plantas daninhas, doenças e insetos aos defensivos crescerá expressivamente • Para enfrentar os problemas de resistência será necessário mudanças significativas no sistema de produção • Em 2030, na América Latina, o segmento de produtos biológicos representará 20% do mercado de defensivos • Haverá um aumento expressivo do consumo de fertilizantes especiais • Futuras máquinas agrícolas serão completamente integradas e os big data irão orientar as atividades da semeadura à colheita • A conectividade 5G será imprescindível no campo • Será fundamental a busca por soluções para problemas climáticos sendo amenizados seus efeitos • A redução de investimentos em pesquisa poderá representar um obstáculo para o crescimento do setor
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Cana
Podridão abacaxi
Doença causada pelo fungo Ceratocystis paradoxa é responsável pela fermentação dos rebolos atacados, além de afetar o processo de brotação da cana. Em plantios de inverno o uso de fungicidas e a adoção de irrigação estão entre as principais medidas para reduzir os danos
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Brasil é maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com 620 milhões de toneladas processadas na safra 2018/19, em uma área de 8,59 milhões de hectares. São Paulo foi o maior estado produtor, com 52% do total de cana industrializada no país, seguido de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná. A produção de açúcar atingiu 29 milhões de toneladas e a de etanol 33,14 bilhões de litros, sendo 9,56 bilhões de litros de etanol anidro, que é utilizado na mistura com a gasolina, mais 23,58 bilhões de litros de etanol hidratado. A produtividade média foi de 72,2 toneladas por hectare, com açúcar total recuperável (ATR) médio de 140,6 quilos por tonelada de cana, dos quais 34,9% foram destinados para a produção de açúcar e 65,1% para a produção de etanol. Nas duas últimas décadas houve um grande avanço da mecanização do plantio e da colheita na cultura da cana-de-açúcar no Brasil. Com isso, vem se estabelecendo um novo cenário sobre a ocorrência de algumas pragas e doenças na cultura, exigindo a adoção de estratégias de manejo que reduzam os impactos na produtividade. A evolução do plantio mecanizado pode ser justificada por diversos fatores, dentre os quais a menor oferta de mão de obra, o aumento das áreas de plantio e a redução dos custos operacionais. Por outro lado, a mecanização do plantio tem sido responsável pelo aumento dos danos mecânicos nos rebolos, que são pedaços de colmos utilizados no plantio, cada um possuindo de três a quatro gemas. Esses danos podem ocorrer tanto na colheita mecanizada dos rebolos, como na descarga na caçamba das plantadoras. Dessa forma, aumentam-se as portas de entrada para alguns fungos de solo, que causam podridões nos rebolos e afetam o processo de brotação da cana. Na região Centro-Sul, grande parte do plantio de cana-de-açúcar é realizada de setembro a março, quando predominam condições de altas temperaturas e maiores volumes de chuvas, que favorecem o processo de brotação. Entretanto, vem crescendo o número de produtores que fazem o “plantio de inverno”, realizado entre
Fotos Roberto Giacomini Chapola
abril e agosto. Dentre suas vantagens, está a possibilidade de se diluir o plantio ao longo do ano; assim, racionaliza-se o uso de maquinários, com ganho em eficiência e redução na quantidade de equipamentos necessários para fazer todo o plantio. Além disso, o plantio de inverno proporciona bons níveis de produtividade e um retorno mais rápido do investimento. Em contrapartida, o plantio de inverno apresenta algumas desvantagens, relacionadas às condições de baixas temperaturas e aos menores volumes de chuvas durante o período, que prejudicam a brotação da cana. Assim, os rebolos ficam mais tempo expostos a algumas espécies de fungos presentes no solo, que podem causar podridões nos mesmos.
A PODRIDÃO ABACAXI DA CANA-DE-AÇÚCAR E SEUS EFEITOS
Dentre os fungos que podem atacar os rebolos de cana-de-açúcar após o plantio, destaca-se a espécie Ceratocystis paradoxa, que causa a doença conhecida como podridão abacaxi. Essa espécie ocorre em praticamente todas as regiões de cultivo de cana-de-açúcar e pode causar doenças em outras culturas, como bananeira, palmeira, coqueiro e abacaxizeiro. Nos canaviais brasileiros, o fungo é encontrado, na maioria das vezes, na sua for-
Fase inicial de ataque da podridão abacaxi em cana-de-açúcar
ma assexuada, Thielaviopsis paradoxa. Dos fatores ambientais que influenciam a brotação da cana-de-açúcar, a temperatura é o mais importante. De um modo geral, pode-se afirmar que abaixo de 21°C o desenvolvimento das gemas é bastante lento e, acima de 21°C, a velocidade de brotação aumenta progressivamente, atingindo o
ápice entre 31°C e 36°C. A umidade do solo, quando em falta ou em excesso, pode prejudicar a brotação e favorecer a podridão abacaxi. Outros fatores que aumentam os riscos de prejuízos causados pela doença são uso de mudas de má qualidade, cobertura muito profunda dos rebolos e plantios em solos mal preparados.
Roberto Giacomini Chapola
Fase final de ataque da podridão abacaxi em cana-de-açúcar
Em geral, considera-se que um período de 15 dias com condições favoráveis de temperatura e de umidade no solo seja suficiente para a brotação inicial da cana-de-açúcar. Porém, quando predominam condições de baixas temperaturas e de umidade inadequada no solo, há atraso na brotação e, com isso, esporos de C. paradoxa presentes no solo germinam e penetram pelas extremidades ou por qualquer ferimento existente nos rebolos. Por outro lado, o fungo não causa danos quando as condições são favoráveis à brotação, pois as plantas conseguem escapar da doença assim que emergem do solo e começam os processos fotossintéticos. Portanto, trata-se de uma corrida contra o tempo entre a gema em crescimento e o fungo causador da doença. A podridão abacaxi inibe ou retarda a brotação da cana. Após o apodrecimento dos rebolos atacados, esporos do fungo são liberados no solo, servindo como fonte de inóculo para os próximos plantios. O patógeno pode sobreviver no solo por períodos superiores a 15 meses. O sintoma típico da doença é a fermentação dos rebo-
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los atacados, que passam a exalar um odor característico de abacaxi. Áreas que sofrem com o ataque da doença apresentam falhas de brotação, o que dá ao canavial um aspecto irregular. Em talhões muito afetados, haverá prejuízos em todos os cortes, caso não se faça o replantio nos pontos falhados; entretanto, essa é uma prática bastante onerosa. Como os ferimentos existentes nos rebolos são portas de entrada para o fungo, a mecanização do plantio aumenta os riscos de prejuízos associados à podridão abacaxi, que não se resumem às falhas, mas também ao menor desenvolvimento das plantas que conseguem emergir do solo. Com isso, são observadas quedas de produtividade e, consequentemente, a rentabilidade do produtor é afetada.
COMO REDUZIR OS DANOS CAUSADOS PELA PODRIDÃO ABACAXI?
Qualquer medida que estimule a brotação da cana-de-açúcar reduz os danos causados pela podridão abacaxi. A forma mais simples e eficaz de controle é concentrar o plantio nos
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períodos mais quentes e chuvosos do ano. Canaviais plantados entre janeiro e março, na região Centro-Sul, têm um melhor aproveitamento das condições climáticas para o crescimento, o desenvolvimento e a maturação e, por isso, apresentam maiores produtividades. Caso o plantio de inverno seja necessário, duas medidas de controle são fundamentais: o uso de fungicidas e a irrigação. A aplicação de fungicidas nos rebolos objetiva proteger suas extremidades e ferimentos contra a penetração do fungo causador da podridão abacaxi. Cabe ressaltar que o fungicida deve ser registrado para esse fim, e sua recomendação realizada por um engenheiro agrônomo habilitado. Já a irrigação tem como objetivo reduzir os impactos negativos da baixa oferta hídrica no solo durante o processo de brotação. Outras medidas que auxiliam no manejo da podridão abacaxi são uso de variedades com rápida brotação; plantio de gemas mais novas, que tendem a brotar mais rapidamente; maior cuidado no manuseio dos rebolos; plantios em densidades maiores, compensando possíveis falhas; preparo adequado do solo, reduzindo sua compactação e eliminando os torrões; e plantio em profundidades adequadas. O corte dos colmos em rebolos maiores, ou mesmo o plantio de colmos inteiros, também reduz o impacto da doença, pois há uma diminuição na quantidade de ferimentos nos rebolos. Portanto, diante da nova realidade que se estabelece com o plantio mecanizado e com o avanço dos plantios em épocas menos favoráveis à brotação da cana-de-açúcar, espera-se um aumento dos danos causados pela podridão abacaxi. Porém, os prejuízos poderão ser diminuídos significativamente, dependendo do nível de adoção das recomendações aqui apresentadas. Ademais, para que o controle da doença se faça de maneira sustentável, o ideal é associar os diferentes métodos de manejo relatados, evitando-se C o uso de medidas isoladas. Roberto Giacomini Chapola, PMGCA/UFSCar/Ridesa
Cana Leila Luci Dinardo-Miranda
M Relação complicada Apesar das vantagens trazidas pelo sistema de meiosi em cana-de-açúcar, em áreas com a presença de Sphenophorus levis é preciso cuidado redobrado por este método favorecer a manutenção de adultos vivos da praga. A boa destruição mecânica da soqueira infestada e a proteção das linhas-mães com inseticidas aplicados no sulco de plantio estão entre as medidas recomendadas para prevenir e minimizar prejuízos 42
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uitas usinas no Centro Sul do Brasil têm optado por fazer meiosi (método interrotacional ocorrendo simultaneamente) em áreas de reforma ou expansão. Essa técnica consiste no plantio de linhas de cana-de-açúcar, geralmente entre agosto e outubro, após a destruição da soqueira velha, na proporção de uma linha plantada (linha-mãe) para cada oito, dez, 12 ou até 14 linhas, que serão cultivadas entre fevereiro a abril do ano seguinte, em uma operação conhecida como desdobra, quando são utilizados como muda para plantio os colmos obtidos na linha-mãe. Na área representada por oito a 14 sulcos, chamada de “pista”, geralmente é conduzida uma cultura intercalar, principalmente soja e amendoim, que fornecerão renda extra ao produtor, ou mesmo crotalárias, que promoverão uma série de melhorias no solo.
Touceiras com perfilhos mortos devido ao ataque de Sphenophorus levis
Dano causado por Sphenophorus levis
O sistema de meiosi traz muitas vantagens ao produtor, além da obtenção de renda extra pelo cultivo da cultura intercalar, destacando-se a economia no transporte de mudas de cana-de-açúcar, já que estão no local, quando do plantio da pista; o uso de menor quantidade de mudas, uma vez que são de melhor qualidade (mais jovens e com poucas gemas danificadas etc.); e a possibilidade de empregar material de plantio de melhor qualidade sanitária, principalmente quando se utilizam, no plantio da linha-mãe, mudas pré-brotadas (MPB). Se o uso de MPB na implantação das linhas-mães tem o grande benefício de não disseminar doenças e pragas, especialmente Sphenophorus levis, já que, supõe-se, foram adequadamente conduzidas, a presença da cana-de-açúcar no campo (linhas-mães), por outro lado, contribui para manter vivos muitos adultos dessa praga. E esse é o grande inconveniente da meiosi, em áreas infestadas por S. levis. S. levis é um besouro Curculionidae, cujas larvas vivem no interior dos rizomas (parte subterrênea dos colmos), provocando grande destruição de perfilhos, devido às galerias que fazem durante a alimentação. Geralmente permanecem com uma fina serragem, característica do ataque (Fotos acima). Os danos provocados por S. levis são significativos, estando, de acordo com trabalhos desenvolvidos pelo IAC, ao redor de 1t/ha para cada 1% de rizomas afetados, levando à necessidade de renovação precoce do canavial, algumas vezes após três cortes. Infelizmente, os inseticidas químicos e biológicos não são muito eficientes na redução populacional de S. levis, uma vez que nas fases de ovo, larva e pupa, os insetos ficam protegidos no interior dos rizomas. Em consequência, a medida mais efetiva na redução populacional é a destruição mecânica da soqueira velha e infestada, principalmente na época seca do ano. Nesse período, a maior parte da população está nas fases de larva e pupa, no interior dos rizomas, e é afetada pela destruição mecânica das soqueiras, tanto pelos danos mecânicos que a operação pode ocasionar, como pela exposição
dos insetos à ação do sol e dos inimigos naturais. Se a destruição mecânica da soqueira infestada puder ser associada ao vazio sanitário de quatro meses a seis meses, a redução populacional é muito mais significativa e, muitas vezes, o novo ciclo de cana-de-açúcar pode ser implantado sem a necessidade de aplicar inseticidas no sulco de plantio, se tais medidas forem corretamente executadas (destruição mecânica da soqueira + vazio sanitário de quatro a seis meses). Vazio sanitário é um período em que a área infestada é mantida sem hospedeiros da praga e isso, pelo menos teoricamente, é fácil de ser realizado em cana-de-açúcar, uma vez que S. levis tem pequena gama de hospedeiros conhecidos: além da cana-de-açúcar, S. levis sobrevive em milho e, possivelmente, em outras gramíneas, como sorgo. Assim, se tais culturas não forem cultivadas em campo, as populações de S. levis se reduzem drasticamente, pois os adultos não encontram abrigo ou hospedeiros para se alimentar. Isso foi demonstrado em diversos ensaios conduzidos pelo IAC. Entretanto, quando o produtor adere à meiosi, mesmo após uma boa destruição da soqueira infestada, a redução populacional de S. levis não atinge índices máximos, pois parte da população sobrevive na cana-de-açúcar cultivada nas linhas-mães. Em área com meiosi na região de Ribeirão Preto, onde a pista (área intercalar) foi mantida no limpo, sem qualquer cultura, com as plantas daninhas sendo dessecadas com herbicidas, a colocação de iscas (pedaços de toletes de aproximadamente 40cm, rachados ao meio longitudinalmente) mostrou que pouquíssimos adultos são encontrados na pista (0,01 a 0,02 adultos por isca), mas dez vezes mais adultos são localizados junto às linhas-mães (0,1 a 0,2 adultos por isca). Na desdobra do canavial, a análise das touceiras de cana da linha-mãe também mostrou muitos rizomas atacados, confirmando a sobrevivência e manutenção das populações de S. levis. O plantio de cultura intercalar na pista, seja soja, amendoim ou crotalária, favorece um pouco mais os adultos que
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Fotos Leila Luci Dinardo-Miranda
Meiosi, com pista cultivada com crotalária
a manutenção da pista no limpo, sem qualquer cultura. Em áreas de meiosi, com ou sem cultura intercalar na região de Ribeirão Preto, adultos foram recuperados em iscas com muito mais frequência em áreas com cultura intercalar que naquelas mantidas no limpo. Embora os adultos de S. levis não se alimentem em soja, amendoim ou crotalárias, aparentemente essas culturas fornecem o abrigo necessário para uma maior longevidade dos adultos, que podem se dirigir às linhas-mães para alimentação e postura. Desta forma, embora as culturas intercalares agreguem muitos benefícios aos produtores, apresentam o inconveniente de favorecer a sobrevivência de adultos de S. levis. A importância da sobrevivência de adultos de S. levis em áreas com culturas intercalares ganha relevância quando se considera que os inseticidas utilizados no controle de pragas dessas culturas, especialmente de soja e amendoim, têm pouca ou nenhuma interferência nas populações de S. levis. Estudos conduzidos pelo IAC, em casa de vegetação e laboratório, revelaram
que a mortalidade de S. levis em decorrência da aplicação de diversos inseticidas empregados na cultura da soja é próxima de zero, ou seja, é ilusória a ideia de que os inseticidas utilizados na soja e no amendoim podem reduzir as populações de adultos de S. levis. A prática tem mostrado que a meiosi é um sistema muito interessante para o produtor de cana-de-açúcar e é justamente por isso que seu uso tem sido crescente em todas as regiões de cultivo. Entretanto, a presença de S. levis na área exige muitos cuidados por parte do produtor, pois é necessário implantar a nova cultura sob condições de baixas infestações da praga, caso contrário os prejuízos podem ser devastadores. Por isso, a boa destruição mecânica da soqueira infestada e a proteção das linhas-mães com inseticidas aplicados no sulco de plantio parecem ser medidas impresC cindíveis para o sucesso. Leila Luci Dinardo-Miranda, Centro de Cana – Instituto Agronômico Higor Domingos Silvério da Silva, DMLab Serviços Agrícolas www.revistacultivar.com.br • Agosto 2019
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Empresas
Aliados na defesa
Fotos Divulgação
A utilização dos indutores de resistência no cultivo, associada ao uso de defensivos biológicos, tem se mostrado uma estratégia sustentável e que pode resultar em ganhos em produtividade de 15% a 25%
C
omo bem recomenda a sabedoria popular prevenir é melhor que remediar. E no que se refere ao tratamento de patologias em plantas, essa máxima também é válida. Quando se fala em prevenção de doenças, automaticamente se pensa em vacina. Há uma série de estratégias para o controle de enfermidades em plantas, como o manejo genético, cultural, físico, químico, biológico. A indução de resistência também é uma alternativa e um método inovador que vem sendo bastante difundido para o aumento da capacidade da planta em evitar ou atrasar a entrada e/ou atividade subsequente de patógenos (fungos, bactérias, vírus e nematoides); equivale a uma vacina em seres humanos ou animais. Naturalmente, quando as plantas reconhecem um patógeno, emitem sinais mensageiros que ativam a produção de enzimas e proteínas de defesa resistentes à patogenicidade. Quando há um aumento no nível dessas proteínas na planta, começam a produzir as verdadeiras substâncias de defesa. São elas: quitinas, ligninas e enzimas específicas, como peroxidases, catalases e polifenóis. Induzir a resistência, ou a tolerância das plantas aos patógenos, nada mais é que levar as plantas a produzirem essas substâncias. Esses processos são resultado de uma série de reações bioquímicas de defesa desencadeados na planta a partir do reconhecimento de sinalizadores. Diversos compostos podem estar envolvidos na resistência sistêmica induzida, como por exemplos salicilatos e derivados, jasmonatos e derivados, ácidos graxos, hormônio vegetais e outros. 46
A etapa seguinte à sinalização é a manifestação da resposta de defesa. Em resposta a estes sinalizadores, as plantas podem expressar barreiras bioquímicas como mecanismo de resistência a fitopatógenos; algumas destas são a produção de fenóis, fitoalexinas; proteínas-PR, a produção de radicais livres (estresse oxidativo) ou promoção de barreiras estruturais por meio da síntese de géis e gomas, exopolissacarídeos, deposição de parede celular, lignificação e calose. Além disto, os indutores de resistência podem promover a síntese de toxinas, enzimas de degradação da parede celular, produção de hormônios vegetais, e outros.
IMPORTÂNCIA DA APLICABILIDADE
A utilização dos indutores de resistência no cultivo, aliada ao uso de defensivos biológicos – porque ainda assim as plantas estão sujeitas às ações dos patógenos- tem se mostrado uma estratégia sustentável e que traz ganhos consideráveis à lavoura – de 15% a 25% a mais em produtividade. A recomendação é que se faça a aplicação desses produtos, aliada aos defensivos, em todas as fases do desenvolvimento da planta. Desde o tratamento de sementes, tratamento do solo ou sulco de plantio onde será inserida a semente ou a muda. Nesse estágio as plantas absorverão o produto que funcionará como sinalizador para que comecem a desenvolver as suas defesas. O uso dos indutores criará um ambiente propício para boa formação radicular e minimizará a perda de plantas em início de formação, o que resultará estandes mais uniformes.
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Na fase vegetativa, o uso dessas substâncias promoverá um pico maior de indução de defesa. A indicação é que se façam aplicações sequenciais, a cada 20 dias ou 30 dias, dependendo da cultura, para potencialização da defesa natural da planta. Em resposta, as plantas aumentarão a espessura da cutícula da folha, as estruturas que vão proteger a parede celular contra os patógenos e as enzimas de defesas. Plantas mais resistentes, ou tolerantes, aumentam o seu potencial fisiológico – maior atividade fotossintética-, proporcionando maior engalhamento lateral; se há mais galhos haverá mais gemas, mais flores e por consequência, mais frutos. Na fase reprodutiva, que começa a partir do florescimento, a aplicação resulta em plantas mais tolerantes às doenças de final de ciclo. Na senescência ou envelhecimento, as plantas necessitam de maior resistência para potencializar a remobilização de fotoassimilados (açúcar), gerando grãos e frutos pesados e uniformes. Com o uso dessa estratégia de defesa contra as enfermidades há uma minimização na perda das folhas, processo natural durante essa fase do ciclo. Plantas mais tolerantes conseguem retardar a senescência e expressar o seu C máximo potencial. Juscelio Ramos de Souza, Kimberlit
Souza aborda uso de indutores de resistência das plantas associado a defensivos biológicos
Coluna Agronegócios
Um olhar analítico sobre a China
A
China importa centenas de bilhões de dólares em produtos agrícolas, valor que continuará crescendo a cada ano, nas próximas décadas. Em 2018, o Brasil respondeu por um quarto das importações agrícolas chinesas, seguido dos EUA (11,5%). A China (1,4 bilhão de habitantes) ocupa o posto de país mais populoso do mundo, o qual deve perder para a Índia na primeira metade da próxima década. Em 2019, a China possui o segundo maior PIB (US$ 15 trilhões) mundial, 61% do PIB dos EUA. Ocorre que, há sete anos a China registrava menos de 50% do PIB americano. Pela diferença de crescimento anual, em duas décadas a China terá o maior PIB do mundo. Como a taxa de crescimento populacional é muito inferiorà do PIB, a renda per capita cresce aceleradamente na China e, a cada ano, dezenas de milhões de pessoas são guindadas da pobreza para a classe média, o que impacta diretamente os gastos com alimentação. Pelo menos até a década de 2050, a estimativa é de que a taxa de crescimento do consumo de produtos agrícolas da China seja superior à média mundial, consolidando-se como o grande motor dos negócios agrícolas internacionais. Do ponto de vista político, a China há muito deixou de ser um país comunista, passando a ser um país com um governo autoritário, que adota um capitalismo de estado. O planejamento é central e dirigido, com fortes políticas públicas para implantação das prioridades definidas pelo Estado, convivendo com uma progressiva liberação do mercado, inclusive o agrícola.
PRODUÇÃO NA CHINA
A agropecuária representa apenas 10% do PIB chinês, e sua participação deve reduzir-se inexoravelmente ao longo dos próximos anos. Apesar da baixa participação, o setor responde, no momento, por mais de um terço dos empregos- a parcela pobre da população, próximo a 500 milhões de pessoas. Anualmente, hordas de chineses deixam o campo, atraídos por melhores oportunidades financeiras e melhor qualidade de vida na cidade- tal e qual ocorre em todo o mundo. Por conta desse cenário (aumento da renda e do consumo de alimentos; êxodo rural), o governo chinês foca fortemente na contribuição da produção local para garantir o abastecimento e precaver-se de choques de ofertas, em âmbito mundial, causados por eventos como a atual guerra tarifária com os EUA. O setor tanto recebe fortes subsídios à produção agrícola, quanto é estimulado por medidas claramente capitalistas. Quem diria, hoje o agricultor pode comprar, vender ou arrendar terras, outrora um crime! Também o mercado de compra e venda de produtos agrícolas está sendo progressivamente liberado. Porém, dois fatores merecem análise especial: defesa agropecuária e tecnologia. No caso da segurança dos alimentos, a China ainda tem um longo caminho a trilhar, o que pode ser comprovado pela sucessão de problemas sanitários enfrentados pelo país, nos últimos anos. No momento, a China sofre uma grave epidemia de peste suína, que impacta não apenas as cadeias de carnes como as de grãos. A questão sanitária é agravada pela pulverização agrária na China, com milhões de minifúndios, dificultando a tomada de medidas para melhoria do status sanitário. Do ponto de vista tecnológico, as notícias são alvissareiras. A
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China aposta claramente na forte modernização dos sistemas de produção. Mecanização e automação (para compensar o forte êxodo rural); novas variedades (para aumentar a produtividade); defensivos modernos e biotecnologia (para controle de estresses bióticos) são parte de um ambicioso plano para modernizar a produção agrícola chinesa. A aquisição da Adama e da Syngenta pela ChemChina inserem-se na estratégia de dispor de tecnologia moderna em material genético e defensivos agrícolas.
IMPORTAÇÕES
Com uma população que equivale a sete Brasis, porém sem as vantagens de solo e clima que aqui existem, a China continuará dependente de importações de produtos agrícolas. O país precisará importar frutas, hortaliças, grãos e carnes, além de produtos madeireiros. Ciente desta condição, o planejamento central chinês atenta para ações ativas, como a “Onebelt, oneroad”, que agrega cerca de 70 países, que podem suprir produtos agrícolas. Em meio a este contexto, o Brasil continuará tendo uma posição de destaque, pela sua capacidade de produzir grandes volumes a baixos custos, especialmente nas cadeias de carnes, grãos e madeira. Assim, China e Brasil serão grandes protagonistas do mercado, ao menos nos próximos 30 anos. A China é o maior consumidor de carne suína do mundo (mais de 50 milhões de t/ano), e a atual epidemia de peste suína abre as portas da importação do produto, ao menos por cinco anos, criando uma importante oportunidade de mercado para o Brasil. Não obstante o consumo de carne bovina ser bastante inferior (pouco mais de oito milhões de toneladas), a China é o maior importador mundial do produto, que continuará sendo importante para as exportações brasileiras. Assim, vislumbra-se um contexto bastante favorável para o comércio de proteína animal do Brasil para a China. A importação de frango para a China não representa uma opção promissora de mercado para o Brasil, pois o país asiático é quase autossuficiente. Porém, para atender à demanda por ração animal, a China necessita importar milho e, sobretudo, soja. Adicionalmente, a aquacultura é um negócio em franca expansão na China, e pode atender grande parte do futuro mercado de carnes. A modernização da cadeia, em especial no tocante ao aspecto nutricional, também pressionará o aumento da demanda de grãos como soja e milho, o que pode representar um impulso enorme nas importações destes produtos. No que tange ao mercado de produtos agrícolas, Brasil e China têm um longo caminho a percorrer em conjunto, que se desdobrará para outros negócios e investimentos em outros setores da economia. É importante analisar de forma holística a relação entre os dois países que, seguramente, redundará em um processo de C ganha-ganha nas próximas décadas.
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Brasil avança forte na exportação do agronegócio e lidera balança comercial
O
setor agrícola brasileiro segue com faturamento forte nas exportações, recorde de embarque de soja no primeiro semestre, crescimento acelerado em milho e carnes e até mesmo o arroz mostrou avanços frente às importações nos primeiros seis meses do ano.
MILHO
fechamentos também na faixa de R$ safra de verão chegará ao Sul e Sudeste. 22,00 a R$ 27,00, com boa margem de ganhos aos produtores que já garantiram ARROZ Arroz passou fraqueza no A safrinha está em colheita e agora grande parte dos insumos que vão ser primeiro semestre e agora ganha ritmo, com mais de 25% colhidos usados entre janeiro e fevereiro. espera avanços neste segundo até o final de junho. Mesmo assim é o SOJA O mercado do arroz teve um primeiro menor nível já observado, porque neste Comercialização da safra semestre de calmaria e poucas alteraano houve chuvas até o final do ciclo das avançando acima dos 75% ções nas cotações. Agora há expectativa plantas, o que gerou altas produtividades Os produtores já negociaram mais de de um segundo semestre mais ajustado frente a anos anteriores em que parte das lavouras morria antes de fechar o 75% da safra e agora o que resta está sen- e crescimento das cotações, com apoio ciclo ou do enchimento total dos grãos. do usado como ativo financeiro, comer- na demanda a partir de agosto, quanCenário que não se repetiu neste ano. Há cializado a conta-gotas. O setor espera do normalmente cresce o consumo de algumas reclamações dos produtores de obter mais pelo grão e permanece atento alimentos básicos. A safra é muito meque a alta umidade até fez aparecer mui- a prováveis problemas sobre a safra dos nor do que o consumo, mas a oferta foi maior que a demanda no primeiro setos casos de grãos ardidos, mas, no geral, EUA nos próximos meses. mestre. Assim, agora a tendência é de a safra veio cheia e agora já mostra fôleFEIJÃO melhorar o quadro de cotações para os go de passar de 75 milhões de toneladas, Feijão mostrando indicativos produtores, principalmente a partir de com concentração de colheita em julho. firmes com apoio das geadas setembro, quando as ofertas devem ser Muitos negócios fluem na exportação, na C O feijão mostrou indicativos firmes, limitadas. faixa de R$ 40,00 a R$ 42,00 a saca nos portos e entre R$ 22,00 e R$ 27,00 a saca com o carioca entre R$ 140,00 e R$ no Mato Grosso, maior estado produtor. 200,00 a saca. Há boas expectativas pela Os produtores do Mato Grosso estão ani- frente, porque as geadas do mês de julho mados com o milho, pois já negociaram trouxeram perdas e limitaram a oferta, Vlamir Brandalizze grandes volumes da nova safrinha para o que gera chances de indicativos posiTwitter @brandalizzecons entrega a partir da metade do ano, com tivos até o mês de novembro, quando a www.brandalizzeconsulting.com.br
Safrinha em colheita e boa rentabilidade aos produtores
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo melhorou em julho com as geadas que atingiram as lavouras do Paraná, limitando o potencial da safra. Junto a isso, o mercado internacional segue firme e, com os problemas na safra dos EUA, tende a deixar este restante de ano com indicativos melhores. A expectativa é de operar entre R$ 850,00 e R$ 950,00 a tonelada ou até acima deste patamar em regiões como o Sudeste. EUA - Os produtores apontam que este é um dos piores anos (em mais de 30 avaliados) para a qualidade das lavouras norte-americanas. É unânime que há problemas graves na produção de grãos do país. O plantio se deu com o maior atraso já visto, com lavouras plantadas na segunda quinzena de julho. Dessa forma, estará em fase de enchimento de grãos em dezembro e o inverno com geadas po-
de ser o fator que irá atuar forte nas cotações a partir de setembro. Há perdas em soja, milho, trigo e arroz. CHINA - A China volta às compras nos EUA, o que deve dar fôlego aos indicativos em Chicago. Há boas expectativas de demanda para este segundo semestre, porque o país está abastecido até o final de setembro e depois terá que repor estoques para seguir consumindo em ritmo forte, como registrado nos últimos anos. A crise de suínos local tem afetado pouco o quadro de consumo de ração e agora com o verão o problema deve ser minimizado. ARGENTINA - A safra dos argentinos registra soja com 56 milhões de toneladas e milho com 48 milhões de toneladas. Há expectativa de crescimento nas exportações. Em trigo, o país aguarda por maior demanda do Brasil, devido a possível redução da safra brasileira neste ano.
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Coluna ANPII
Sintonia indispensável Por que pesquisa, empresas e setor regulatório precisam dialogar de modo constante em busca de uma legislação que promova o incremento da tecnologia e não lhe cause entraves desnecessários
E
m artigo anterior, ao citar os fatores favoráveis à am- haja ações conjuntas entre a pesquisa, gerando conhecimentos; pla aceitação do inoculante pelo agricultor brasileiro, as empresas, desenvolvendo a área industrial; e produção em mencionamos a existência de uma legislação moderna escala compatível com as necessidades do mercado e a área como um dos mais importantes pontos para que a tecnologia regulatória, registrando em curto espaço de tempo as novas da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) se firmasse no hori- opções que venham a ser oferecidas ao mercado. zonte agrícola brasileiro. No que se refere aos inoculantes, existe uma legislação basSe em anos anteriores a evolução tecnológica se dava em tante atualizada, plenamente de acordo com as necessidades um ritmo de décadas, passando depois para poucos anos e atu- do mercado brasileiro. Temos ressaltado isto em diversos fóalmente quase que medida em meses, a legislação, ou melhor, runs, enfatizando o diálogo que existe entre pesquisa-empreo mecanismo de atualização da legislação, em todos os setores sas-ente regulatório. Entretanto, novos desafios se avizinham, do controlado ambiente de negócios do Brasil, necessita tam- trazendo riscos de que demorem demasiadamente a entrar bém acompanhar a velocidade das mudanças tecnológicas. no mercado por uma eventual não preparação do setor reguSe a legislação vier a se desligar dos avanços que ocorrem latório em se atualizar na mesma velocidade da pesquisa e do com frequência cada vez maior, há risco de se tornar obsoleta desenvolvimento empresarial. com grande rapidez e, mais do que isto, As metodologias de análise oficial de poderá ser um fator inibidor do avanço produtos, muito bem descritas nas atuais As metodologias das tecnologias. normas, talvez nem sempre possam ser Um novo produto que surja e que ainaplicadas, ipsis litteris, aos novos produde análise oficial da não esteja previsto na legislação terá tos que estão em fase de gestação em de produtos, muito sua entrada no mercado muito retardada, projetos conjuntos entre instituições de podendo até tornar-se defasado antes de pesquisa e empresas. bem descritas nas ser registrado e entrar no mercado. Com O consórcio de micro-organismos é atuais normas, isto, o consumidor poderá ficar sempre uma tendência mundial. Na Argentina e utilizando produtos obsoletos frente ao em outros países já existem inoculantes talvez nem que ocorre em países que tenham uma mistos, compostos por mais de um gênesempre possam legislação mais dinâmica, acompanhando ro de micro-organismo, como Bradyrhizoser aplicadas, os avanços das diversas tecnologias. bium e Pseudomonas ou Bacillus. Existirão É importante que o setor público métodos de análise para estes produtos ipsis litteris, aos mantenha seus radares voltados para os com mais de um micro-organismo? Se novos produtos avanços da tecnologia que ocorrem na sonão houver processos bem estruturados, ciedade, procurando atualizar-se com as já testados e validados, poderá ocorrer que estão em fase tendências, e que as empresas também demora excessiva no processo de registro, de gestação em se antecipem e procurem informar as deixando o país sem ferramentas moderprojetos conjuntos prospecções e instigar o setor regulatório nas, sustentáveis, para trazer maior prooficial a se prevenir para regulamentar os dutividade aos agricultores brasileiros. entre instituições procedimentos necessários para o registro Felizmente a mentalidade de que os de pesquisa e e a fiscalização de novos produtos, permiprodutos biológicos eram de baixa perfortindo ao consumidor utilizar permanenmance, usados apenas em agricultura de empresas temente produtos atualizados. tecnologia rudimentar, migra rapidamenÉ importante também que haja um te para seu uso massivo na agricultura de diálogo entre as entidades de pesquisa e o setor regulató- todos os tamanhos e tende a crescer de forma acentuada nos rio. Uma vez identificada uma nova tecnologia potencial, um próximos anos. alerta ao setor regulatório, para que este não seja tomado Portanto, é importante que os três pilares, pesquisa, emde surpresa com o pedido de registro de um produto até presas e setor regulatório, conversem entre si para, juntos, então desconhecido, facilitaria o caminho para que este se aplainarem caminhos para os novos produtos que, em breve, C preparasse com relação ao registro e aos métodos de análise poderão vir a pedir registro no mercado brasileiro. à fiscalização. Solon Araujo, Para que uma economia se mantenha em ritmo dinâmico, Consultor da ANPII em sintonia com o que ocorre no mundo todo, é necessário que
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Soja • Agosto 2019
Foco no vegetativo Marcelo Madalosso
Começar cedo o manejo de doenças em soja tende a fazer a diferença nos resultados de controle e consequentemente na produtividade da cultura. Contudo, é preciso considerar que a contribuição de aplicações de fungicidas na fase vegetativa da soja varia conforme o histórico de cada lavoura, em função de região, época de semeadura, condição de ambiente e prevalência das enfermidades
V
árias doenças afetam a soja no Brasil, causando prejuízos ao rendimento e à qualidade de grãos. A ferrugem-asiática é a mais importante, e responde por mais de 80% da demanda em aplicações de fungicida na cultura. O complexo de manchas foliares e a antracnose compõem o segundo grupo em importância, seguidos pelo mofo-branco e pelo oídio. Essa ordem de relevância varia conforme a região considerada, a época de semeadura e as condições ambientais de cada safra. As manchas foliares e a antracnose (Figura 1) são causadas por fungos necrotróficos, os quais, na entressafra, permanecem nas sementes e nos restos culturais na lavoura. Por este motivo, são as primeiras doenças presentes na cultura, logo na fase 02
vegetativa, assim que se esgota a proteção pelo tratamento de sementes. Quanto mais jovens as plantas, maior a sua suscetibilidade a estes fungos, que também podem infectar e colonizar as plantas sem produzir sintomas em todas elas. Em termos práticos, na fase vegetativa da cultura da soja, há muito mais infecções presentes em relação àquelas que a quantificação por sintomas pode determinar. A importância, a necessidade, o benefício e, consequentemente, a decisão de aplicar fungicidas na fase vegetativa da cultura da soja dependem de vários fatores. O cultivo contínuo de soja nas mesmas áreas assegura a presença das manchas foliares e da antracnose todos os anos. O que varia é a sua intensidade, proporcional à temperatura e à frequência de chuvas na fase inicial
da cultura. Nas regiões com temperaturas mais amenas, pode haver menor pressão inicial destas doenças, porém o oídio e, também, a ferrugem (assintomática) se fazem presentes, como ocorre no Sul do Brasil, em vários locais. Portanto, sempre há presença de doenças a serem controladas na fase vegetativa da soja. O que muda são a prevalência de umas sobre as outras e a sua intensidade. Por isso, o benefício da aplicação de fungicidas é também variável. A viabilidade da aplicação de fungicidas na fase vegetativa da soja tem sido estudada em alguns cenários de cultivo da soja. Em nossos experimentos, o objetivo tem sido avaliar a contribuição do tratamento em dois momentos específicos: pré-fechamento das entre linhas (assegurar a deposição do fungicida no terço inferior da planta) e
Soja • Agosto 2019
T.
Época de aplicação (dias após emergência) Rend.grãos Diferença
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
30 A A G G -
40 B B B B G G G G -
55 C C C C C G G G G G
70 D D D D D G G G G G
85 E E E E E G G G G G
95 F F G G -
(kg/ha) 2868 5784 5610 5418 4902 4512 5652 5556 5484 5058 4434
Mancha-parda
Mancha-alvo Fotos Carlos Alberto Forcelini
Tabela 1 - Severidade final de doença e rendimento de grãos em função do número de aplicações de fungicida1. Cultivar com grupo de maturação 5.9. Passo Fundo, RS, 2019 (kg/ha)
-174 -366 -882 -1272 -96 -168 -594 -1218
T2 a T6 incluem diferentes fungicidas (A, B, C, E, E, F); T7 a T11 incluem um único fungicida (G). 1
alguns dias antes, na carona de aplicação de herbicida. Crestamento foliar Antracnose Nos últimos 12 anos de pesquisa, a maior parte deles ainda como professor e pesquisador junto à Universidade de Passo Fundo, comparando experimentos com e sem aplicação no vegetativo (pré-fechamento das entre linhas), observamos que a diferença média foi de 360kg/ha. Na safra de soja 2018-19, com maior presença de doenças, inclusive a ferrugem, em cultivos estabelecidos em novembro, essa diferença atingiu até 654kg/ha. A falta da aplicação no pré-fechamento reduziu o controle das manchas foliares de 63,4% para 31,7%, e da ferrugem de 69,6% para 40,8%. Figura 1 - Principais doenças causadas por fungos necrotróficos Nesta mesma safra 2018/19, dois expejá presentes na fase vegetativa da cultura da soja rimentos foram conduzidos em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, com cultivar de soja de grupo de maturação 5.9, com número variável de aplicações de Tabela 2 - Variações na severidade das doenças de final de ciclo da ferrugem-asiática, fungicida. Era objetivo avaliar a contribuição de aplicações iniciais e no rendimento de grãos associadas ao fungicida utilizado na primeira aplicação em V51. Cultivar com grupo de maturação 6.2. Passo Fundo, RS, 2018-19 e finais no rendimento de grãos da cultura. Os resultados constam Fungicida e dose (g i.a./ha) Severidade Severidade Rendimento grãos na Tabela 1, com algumas fotos na Figura 2. Nos tratamentos T2 na aplicação em V5 (kg/ha) DFC (%) ferrugem (%) a T6 foram utilizados diferentes fungicidas, entre T7 e T11 um Sem fungicida 3528 d2 18,2 a2 22,3 a2 único produto. Nota-se grande variação na produtividade com Carbendazim 250 3606 d 12,2 b 20,8 a a subtração das aplicações na fase vegetativa (30 dias e 40 dias). Carbendazim 300 + flutriafol 50,4 3642 d 9,8 c 21,5 a Difenoconazol 50 3744 c 7,3 d 22,5 a Variações na contribuição das aplicações de fungicida são absoDifenoconazol 37,5 + propiconazol 37,5 3756 c 6,6 d 22,1 a lutamente normais, por isso devem ser avaliadas regionalmente, e Difenoconazol 75 + ciproconazol 45 4146 b 9,1 c 13,8 c em diferentes safras. Em 2017-18, em cultivos na primeira metade Difenoc. 37,5 + propic. 37,5 + clorotalonil 500 4068 b 7,9 d 15,6 b da janela de semeadura, os tratamentos realizados no estádio V5 Tetraconazol 50 3792 c 15,7 b 17,4 b proporcionaram diferenças de 222kg/ha. No outro extremo, na Tebuconazol 100 3930 b 11,6 c 12,8 c Tebuconazol 100 + trifloxistrobina 50 4476 a 10,4 c 12,2 c safra 2018-19, em semeaduras na segunda metade da janela de Tebuconazol 100 + picoxistrobina 60 4404 a 12,7 b 13,7 c plantio, a contribuição chegou a 948kg/ha. A realização desta Tebuconazol 100 + clorotalonil 900 4434 a 13,3 b 9,0 d aplicação passa a ser uma alternativa, por várias razões: controla Ciproconazol 32 + trifloxistrobina 75 4332 a 15,3 b 11,4 c infecções recém-instaladas e previne a ocorrência de outras, se Ciproconazol 24 + picoxistrobina 60 4308 a 14,1 b 12,6 c realizada com fungicidas compatíveis com herbicidas permite sua Epoxiconazol 48 + piraclostrobina 78 3858 c 13,1 b 20,5 a utilização conjunta e flexibiliza o operacional da próxima aplicação. C.V. (%) 2,6 5,1 4,3 A escolha dos fungicidas que serão aplicados depende das Segunda aplicação (13 dias após) realizada em toda a área com benzovindiflupir 30g + azoxistrobina 60g + mancozebe 1125g, terceira doenças a serem controladas. Em áreas de monocultura de soja, (15 dias) com protioconazol 70g + trifloxistrobina 60g + mancozebe 1125g, quarta (15 dias) e quinta (15 dias) com ciproconazol 24g + 1
picoxistrobina 60g + mancozebe 1125g. 2Médias com a mesma letra não diferem pelo teste de Skott-Knot a 5% de probabilidade de erro.
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Soja • Agosto 2019
Testemunha sem fungicida
R1 + 15 + 15 dias
V7 + 15 + 15 + 15 dias
V5 + 10 + 15 + 15 + 15 dias
Fotos Carlos Alberto Forcelini
o foco principal são os fungos necrotróficos causadores das manchas foliares e da antracnose. Dependendo da região e da época de semeadura, também o oídio e a ferrugem-asiática. A contribuição dos fungicidas benzimidazóis é, atualmente, muito pequena, em função da resistência já desenvolvida por vários fungos. Triazóis como o difenoconazol têm sido bastante úteis. Em experimento conduzido na safra 2018-19, em Passo Fundo, com cultivar de soja superprecoce, uma aplicação de difenoconazol + propiconazol aos 30 dias proporcionou diferenças de 378kg/ha a 576kg/ha. Semeaduras mais tardias, sujeitas à presença da ferrugem-asiática, requerem combinações mais robustas, como mesclas de triazóis, triazóis + multissítios, ou triazóis + estrobilurinas, como exemplificado na Tabela 2. Neste experimento, apenas a primeira aplicação variou, enquanto as demais foram realizadas com o mesmo tratamento, em cada época de aplicação, em toda a área. Houve diferenças de 78kg/ha a 948kg/ha conforme o fungicida utilizado, com maior contribuição das misturas de triazóis + estrobilurinas, ou triazóis + multissítios, por conta do melhor controle da ferrugem-asiática. O próximo momento importante na aplicação é aquele do pré-fechamento das entre linhas, que objetiva o controle de manchas foliares, antracnose, oídio e ferrugem. Este já requer a utilização de opções mais completas, incluindo reforços, que podem ser com triazóis ou multissítios (mancozebe, clorotalonil ou cúpricos). A
Figura 2 - Parcelas de soja com número variável de aplicações de fungicida. Passo Fundo, RS, 2018-19
escolha dos fungicidas e dos reforços irá depender das doenças predominantes na lavoura, em função da época de semeadura e da condição ambiental. A Tabela 3 apresenta o resultado médio de dois experimentos semelhantes, conduzidos
Tabela 3 - Variações na severidade das doenças de final de ciclo da ferrugem-asiática, e no rendimento de grãos associadas ao fungicida aplicado em V71. Médias de dois locais, Passo Fundo-RS e Condor-RS, e duas cultivares com grupo de maturação 5.6. Safra 2018-19 Fungicida e dose (g i.a./ha) na aplicação em V7 Sem fungicida Protioconazol 70 + trifloxistrobina 60 Protioconazol 70 + trifloxistrobina 60 + mancozebe 1125 Protioconazol 70 + trifloxistrobina 60 + clorotalonil 720 Protioconazol 87,5 + trifloxistrobina 72,5 Piraclostrobina 99,9 + fluxapiroxade 50,1 + mancozebe 1125 Piraclostrobina 99,9 + fluxapiroxade 50,1 + ciproconazol 45 + difenoconazol 75 Piraclostrobina 64 + fluxapiroxade 40 + epoxiconazol 40 + mancozebe 1125 Benzovindiflupir 30 + azoxistrobina 60 + ciproconazol 45 + difenoconazol 75 Tebuconazol 98 + azoxistrobina 82,2 + mancozebe 1044,7 C.V. (%)
Severidade DFC (%) 13,5 a2 7,1 b 7,0 b 5,4 b 5,0 b 5,6 b 4,9 b 7,2 b 5,7 b 7,2 b 6,7
Severidade ferrugem (%) 46,7 a2 38,2 b 28,4 c 29,9 c 29,2 c 44,3 a 30,4 c 32,5 c 31,4 c 30,2 c 4,5
Rendimento grãos (kg/ha) 5145 b2 5454 a 5604 a 5592 a 5631 a 5472 a 5523 a 5634 a 5673 a 5667 a 2,6
Segunda aplicação (15 dias após) realizada em toda a área com protioconazol 70g + trifloxistrobina 60g + mancozebe 1125g, terceira (15 dias) com ciproconazol 45g + difenoconazol 75g + mancozebe 1125g e quarta (15 dias) com fempropemorfe 225g + mancozebe 1125g. 2Médias com a mesma letra não diferem pelo teste de Skott-Knot a 5% de probabilidade de erro. 1
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em dois locais (Passo Fundo, Rio Grande do Sul, e Cotripal Condor-Rio Grande do Sul) e duas cultivares. A aplicação em V7 reduziu a severidade das doenças de final de ciclo de 13,5% para 4,9% a 7,2%. Sobre a ferrugem, a redução foi de 46,7% para 28,4% a 38,2%. O reflexo na produtividade de grãos variou de 306kg/ ha a 525kg/ha. Como comentado anteriormente, a contribuição de aplicações de fungicida na fase vegetativa da soja varia conforme o histórico de cada lavoura, em função da região, da época de semeadura, da condição de ambiente e da prevalência de doenças. Por isso, as indicações de manejo devem ser regionalizadas e ajustadas às condições de C cada cultivo de soja. Carlos A. Forcelini, Eng.Agr. Doutor em Fitopatologia Rafael Roehrig, Eng.Agr. Mestre em Fitopatologia
Soja • Agosto 2019
Mais que essencial Ayrton Berger Neto
Com a diminuição da sensibilidade de fungicidas sitio específicos observada ao longo dos últimos anos o emprego de multissítios ganha cada vez mais importância dentro do conjunto de medidas antirresistência para preservar a manutenção da eficácia do controle químico, tecnologia indispensável para o cultivo da soja no Brasil
A
cultura da soja (Glycine max) se constitui atualmente como a mais importante para a agricultura brasileira, com uma área cultivada próxima a 35,8 milhões de hectares na safra 2018/19, representando 57% da área destinada à produção de grãos (Conab, 2019). Dentre os vários limitantes para se atingir o potencial máximo de produtividade da cultura da soja estão as doenças. No Brasil, já foram identificadas mais de 40 enfermidades causadas por fungos, bactérias, nematoides e vírus (Embrapa Soja, 2013). Anteriormente à safra 2001/02, o sojicultor realizava, em geral, de uma a duas aplicações de fungicidas para controle de doenças foliares, que consistiam principalmente de oídio (Erysiphe diffusa) e DFCs (doenças de final de ciclo - Septoria glycines e Cercospora kikuchii). Em maio de 2001, foi detectada pela primeira vez a ocorrência de ferrugem-asiática da soja
(Phakopsora pachyrhizi) no Brasil (Jaccoud Filho et al, 2001, e Yorinori, 2001), o que alterou drasticamente o cultivo e o manejo da soja no território brasileiro. Devido ao alto potencial de redução de produtividade deste patossistema e por produzir esporos em alta quantidade, que são disseminados pelo vento, fez-se e faz-se necessária a adoção de diferentes métodos de controle de forma conjunta em todo o país e em países vizinhos. Dentre estes métodos estão o vazio sanitário, para se evitar presença de soja durante o inverno, reduzindo inóculo para a safra seguinte, a calendarização de semeadura, a utilização de variedades precoces semeadas no início do período ideal à cultura da soja, o uso de variedades com genes de resistência e o controle químico. Triazóis ou inibidores da demetilação (IDM) foram os primeiros fungicidas a serem utilizados no controle desta doença.
Estes se ligam e inibem especificamente a atividade de uma única enzima (citocromo P450 14α-desmetilase - cyp51), que é necessária na rota de biossíntese de ergosterol em fungos, o qual desempenha funções essenciais para a organização e a estrutura da membrana celular do fungo. Por se tratarem de fungicidas com sítio-específico de ação (apenas uma enzima em uma única rota metabólica), menor sensibilidade de P. pachyrhizi aos produtos IDM foi oficialmente relatada em 2008 no Brasil, sendo confirmado que esta redução de sensibilidade é devido à presença de seis mutações no gene da enzima cyp51 (F120L, Y131F/H, K142R, I145F e I475T), além de uma superexpressão da enzima-alvo (Schmitz et al, 2013). Estas mutações, quando presentes na população do fungo, têm um custo adaptativo, ou seja, a população com mutação tende a ter desvantagens em relação à po05
Soja • Agosto 2019 Ayrton Berger Neto
A ferrugem asiática, causada por P. pachyrhizi, tem registrado menor sensibilidade a fungicidas sítio-específicos
pulação do fungo sem as mutações (Klosowski et al, 2016). Com isso, quanto maior o período de não utilização de fungicidas à base de triazóis durante o ano (vazio sanitário e calendarização de semeadura), menor será o aumento dessa frequência de mutações. O segundo grupo de fungicidas a ser utilizado para controle de ferrugem-asiática foi o de Inibidores da Quinona externa (IQe), ou estrobilurinas. Estes produtos, através da ligação em um único site (Qe site do citocromo b), inibem a respiração mitocondrial do fungo, o que impede a produção de energia para o desenvolvimento do patógeno. Estrobilurinas também apresentam sítio-específico de ação e, após dez anos de uso destes ingredientes ativos, isoladamente ou em misturas com triazóis que já apresentavam redução de eficácia, foi reportado menor sensibilidade de P. pachyrhizi a este grupo de fungicidas (Frac, 2014). Em estudo, publicado em 2015, foi comprovada a presença da mutação F129L no gene do citocromo b (Klosowski et al, 2015). Para essa mutação não há custo adaptativo, de acordo com Klosowski et al (2016), onde a população com a presença da mutação F129L no gene do citocromo b se desenvolveu igualmente à população sem a presença da mutação. Mais recentemente, a partir de 2013, quando o Brasil já passava de 30 milhões de hectares cultivados de soja, foram lançados os primeiros fungicidas à base de carboxamida, ou Inibidor da Succinato Desidrogenase (ISDH). Estes fungicidas também agem na inibição da respiração, porém atuam no complexo II, se ligando à enzima succinato desidrogenase, interrompendo o processo. Estes ingredientes ativos do grupo ISDH foram lançados no mercado primeiramente em mistura com estrobilurinas. Como já abordado, desde 2014, populações de P. pachyrhizi apresentavam menor sensibilidade a estrobilurinas, o que levou a uma pressão de seleção muito grande nas carboxamidas, acarretando, em apenas três anos de uso, o aparecimento de populações de ferrugem-asiática com menor sensibilidade a estes ingredientes ativos, com uma mutação na subunidade C da enzima (C-I86F) (Frac, 2017). Além da ferrugem-asiática, outras doenças têm recebido destaque, principalmente as que sobrevivem em restos culturais e 06
sementes de uma safra a outra. Com a intensificação da agricultura brasileira, com ao menos duas safras ao ano em grande parte das áreas agrícolas do Brasil, a rotação de culturas tem diminuído progressivamente, beneficiando os fungos necrotróficos, como Septoria glycines (mancha parda), Corynespora cassiicola (mancha alvo), Colletotrichum dematium var. truncata (antracnose), dentre outros. De acordo com dados publicados por diferentes instituições de pesquisa, para áreas com sintomas iniciais ou histórico de doenças necrotróficas, a pulverização de fungicidas no vegetativo tem mostrado vantagem. Como o terço inferior é responsável por ao menos 30% da produção de cada planta de soja nas variedades atuais, a conservação e a proteção destas folhas antes do fechamento das entre linhas são de extrema importância para a manutenção de altas produtividades. Dentre as doenças foliares causadas por fungos necrotróficos, a mancha alvo vem ganhando destaque. Esta doença atualmente está inserida nos cultivos de soja no Centro-Oeste brasileiro, principalmente no estado do Mato Grosso. É de difícil controle químico, pois apenas alguns ingredientes ativos dentro do grupo dos triazóis e das carboxamidas apresentam um bom controle, visto que para estrobilurinas e MBCs ou benzimidazóis (carbendazin) já foram relatadas perdas de sensibilidade deste patógeno (mutação G143A no gene do citocromo b para estrobilurinas e mutações E198A e F200Y no gene da β-tubulina para benzimidazóis - Frac 2016). Uma das únicas carboxamidas que promoviam um bom controle de mancha alvo em soja, também é amplamente utilizada em algodão para controle de Ramularia areola. Como a mancha alvo incide na soja e no algodão, o mesmo ingrediente ativo está sendo utilizado em soja e algodão em cinco ou mais aplicações durante o ano todo, promovendo uma pressão de seleção de populações resistentes de C. cassiicola. Devido a este intenso uso, em 2018, o Frac comunicou a detecção de duas mutações (B-H278Y e C-N75S) no gene da enzima succinato desidrogenase, levando à redução de sensibilidade do fungo às carboxamidas. Desta forma, nota-se que para a ferrugem-asiática, todos os grupos de fungicidas sítios-específicos registrados até julho de 2019 já têm redução de eficiência no controle da doença, com exceção das morfolinas. Para a mancha alvo, o fungo já apresenta perda de sensibilidade a estrobilurinas, benzimidazóis (carbendazin) e carboxamidas, restando somente triazóis como fungicidas eficazes de sítio-específico registrados até julho 2019, de acordo com a Tabela 1. Devido ao fato de haver uma extensa área com a cultura da soja nas últimas safras e uso de pelo menos duas pulverizações de fungicidas sítio-específicos em toda área, foram selecionadas populações de fungos resistentes a fungicidas. De acordo com as doenças ocorrentes em cada região, diferentes fungicidas foram utilizados em maior escala. Isto culminou na seleção de populações resistentes, com diferentes porcentagens de frequência de mutação em cada região do País, principalmente para o caso de P. pachyrhizi. Com isso, o uso de um mesmo programa de aplicações de fungicidas, mesmo que alternando diferentes modos de ação de sítio-específico, mostrou diferentes resultados de controle em diversas regiões do País, de acordo com Figura 1A. O uso de fungicidas multissítios, uma das medidas antirresistência, se mostra atualmente mais que essencial. A associação de
Soja • Agosto 2019
mancozebe (Unizeb Gold), um fungicida multissítio, com fungicidas sítio-específicos traz maior segurança no resultado final de controle de ferrugem-asiática (Figura 1B) e outras doenças. Com o cenário atual de resistência e a dificuldade de se prever qual será a resposta de cada fungicida sítio-específico nas safras seguintes, o uso de fungicidas multissítios ajuda a garantir patamares mais altos de controle, garantindo a manutenção de altas produtividades. Com projeções publicadas em 2019 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a cultura da soja continuará a crescer em área e produção nos próximos dez anos, atingindo 45 milhões de hectares na safra 2028/29. Com uma área tão ampla, em ambiente tropical e em um cenário de resistência de fungos a fungicidas, recomenda-se que todo sojicultor siga a rigor as recomendações do Fungicide Resistance Action Committee (Frac), para que os riscos de perdas de produtividade por doenças possam ser reduzidos ao máximo e para que também se preserve a manutenção da eficácia dos fungicidas, uma tecnologia indispensável para o cultivo da soja no Brasil. Com a predominância dos materiais de ciclo curto plantados em 76% da área de soja no Brasil (fonte: Bip Spark Soja Safra 2018/19) e as aplicações de fungicidas sendo antecipadas, é necessário prestar atenção não apenas à ferrugem, mas sobretudo ao complexo de doenças que atacam a soja, podendo reduzir a produtividade em algumas situações entre seis sacas/hectare e dez sacas/hectare, sem que o agricultor perceba. A UPL inova mais uma vez, através de uma plataforma de manejo inteligente, composta por Tridium no pré-fechamento das entre linhas, seguido de duas aplicações sequenciais de Unizeb Gold, junto ao fungicida de sítio-específico escolhido pelo agricultor em R1 e R1 Tabela 1 - Sensibilidade de diferentes patossitemas da cultura da soja no Brasil em relação aos grupos de fungicidas utilizados para controle químico, de acordo com dados de literatura
Ferrugem Asiática Phakopsora pachyrhizi IDM (triazois) Menor sensibilidadea IQe (estrobilurinas) Menor sensibilidadeb ISDH (carboxamidas) Menor sensibilidadec Multissítios Sensibilidade normal
Mancha Alvo Corynespora cassiicola Sensibilidade normal Menor sensibilidaded Menor sensibilidadee Sensibilidade normal
Figura 1 - Controle de ferrugem asiática da soja com o uso de diferentes programas de pulverização de fungicidas em diferentes locais sem a associação de um fungicida multissitio (A) ou com associação de um fungicida multissítio, Unizeb Gold (mancozeb), em todas as aplicaçãoes (B). Dose de fungicidas específicos utilizadas de acordo com bula e dose de Unizeb Gold 1,5kg/ha. Fonte: Dados internos UPL
+ 15 dias. Desta maneira, o produtor começa sua jornada de proteção desde o início, com manejo de resistência adequado, assegurando altas produtividades C no momento de colheita. Ayrton Berger Neto Coord. da Estação Experimental UPL
Encarte Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 243 • Agosto 2019 • Capa - Marcelo Madalosso/Instituto Phytus Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
www.revistacultivar.com.br
Recomendações do Frac para o manejo de doenças em soja • Esteja atento ao monitoramento constante das doenças da soja, especialmente a ferrugem, e realize as aplicações em intervalos adequados seguindo as recomendações do fabricante. • Realize a aplicação dos fungicidas de forma preventiva, sempre em associação com fungicidas multissítios. • Utilizar sempre misturas comerciais formadas por dois ou mais fungicidas com mecanismos de ação distintos. • Rotacione fungicidas com diferentes mecanismos de ação (triazóis, estrobilurinas, carboxamidas, morfolinas e multissítios). • Não ultrapasse o número máximo de duas aplicações de fungicidas de mecanismo de ação específico no mesmo ciclo de cultivo. • Utilize tecnologia de aplicação adequada. • Não plante soja “safrinha”. • Respeite o vazio sanitário e elimine as plantas voluntárias remanescentes em lavou as e beiras de estrada (guaxas). • Procure realizar o plantio na época recomendada, utilizando variedades de ciclo mais curto e, se possível, com tolerância genética frente à doença. • Realize a rotação de culturas.
a, b, c, d, e – Fungicide Resistance Action Committee (FRAC), 2019.
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