Cultivar 26

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Muitas empresas estão comentando sobre isso atualmente. Nós, da Continental Eagle, estamos fazendo mais do que comentários. Estamos comprovando nossa Qualidade. Somos o primeiro e único Fabricante de Descaroçadores a receber o certificado do Instituto de Administração de Qualidade. Organização essa, que nos ajudou a alcançar o padrão internacionalmente reconhecido ISO9001. Neste momento, a pergunta que fica é: O que isso significa para o cliente?... Significa que não podemos, simplesmente, pedir-lhe para confiar em nossa Qualidade. Temos de comprovar e documentar como a mantemos em nossa organização. ISO 9001 não é apenas uma certificação técnica, mas um processo, onde, Padrões de Excelência em Qualidade uma vez estabelecidos, são diariamente fiscalizados. Desta forma, todas as operações são antecipadamente planejadas e realizadas com consistência. Por isso, mantêm a Companhia em melhoria contínua seja dos projetos, ou da eficiência dos nossos produtos. Nosso ISO 9001, basicamente, garante-lhe que a Qualidade encontrada hoje na Continental Eagle será a mesma que você encontrará futuramente em nossos produtos. Investir na Qualidade é antes de tudo, uma necessidade. Porém, foi a forma que encontramos de provar a você, nossa dedicação.

destaques

índice 06

Mega Show Tecnologia destaca o Show Rural dos demais eventos encanta milhares de produtores

Qualidade no grão

Diretas e Cartas

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Diretas

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Show Rural

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Perspectivas para o trigo

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Avanço na semente

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Tecnologia na soja

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Pragas iniciais do safrinha

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Barriga-verde no milho

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Dicas sobre inseticidas

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Arroz e soja, a nova dupla

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Algodão para exportação

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Coluna da Aenda

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Café para o gado

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Agronegócios

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Última página

Anúncios

Saiba como produzir uma soja com boa aceitação pela indústria de óleo

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Barriga-verde

Para maiores informações sobre nossos equipamentos de descaroçamento e processamento de sementes, ou algum tipo de melhoria em sua estrutura: Contate: Engenheiro Agrônomo Delano M.C. Gondim Gerente Nacional de Vendas - Fone: (65) 9981.0956 End.: Rua Marechal Antônio Aníbal da Motta, 479 Cep.: 78020-090 - Cuiabá / Mato Grosso Fone: (65) 322.3272 / 322.3277 - E-mail: coneagle@terra.com.br

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Percevejo torna-se um problema considerável para o milho safrinha

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Continental Eagle

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Dow AgroSciences

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Unimilho

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Congresso de Sementes

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Coodetec

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Gehaka

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Rafain

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Sementes Dow

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Sementes Dow

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Aventis

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Agripec

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Congresso de Algodão

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Bayer

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Cheminova

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Cultivar

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Para exportar

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Especialista mostra como ter um algodão com padrão internacional

Nossa capa Foto Capa - Cultivar

O melhor grão vale mais. Saiba quais as necessidades da indústria de soja e como conduzir a lavoura visando maior rentabilidade


diretas Ano III - Nº 26 - Março / 2001 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 58,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 6,00 Diretor:

Newton Peter

Editor geral:

Schubert Peter

Reportagens Especiais:

João Pedro Lobo da Costa Pablo Rodrigues

Design gráfico e Diagramação:

Fabiane Rittmann

Marketing:

Andrea González Neri Ferreira

Circulação:

Edson Luiz Krause

Assinaturas:

Simone Lopes

Ilustrações:

Rafael Sica

Editoração Eletrônica:

Escola no Campo

Lançamento

Um dos projetos que contava com o empenho pessoal do presidente da Zeneca e atual presidente da Syngenta, Josef Sherman, chamado Escola no Campo completou o primeiro ciclo com 2050 crianças paranaenses recebendo informações sobre uso de produtos agroquímicos, saúde e preservação ambiental. O ato solene de encerramento ocorreu no Show Rural de Cascavel, em festa com direito a discursos, Hino Nacional e soltura de milhares de balões.

O diretor da Bayer para a América Latina, Jean Pierre Longeteau, ao visitar o Show Rural da Coopavel, revelou que o inseticida Calypso é um sucesso de vendas e de desempenho em algodão e hortifrutigranjeiros. O Calypso completa a linha de produtos Bayer no algodão, um dos mercados mais fechados. A linha começa com o Gaucho para tratamento de sementes. Longeteau Longeteau anunciou também o relançamento do Antracol, um fungicida de contato retirado do mercado. A Bayer aguarda o registro do produto, um ditiocarbamato, para reiniciar as vendas, usando como força de argumentação o seu alto teor de zinco, que o torna ponta de lança em sua linha de hortifrutigranjeiros. Aliás, Longeteau disse que a Bayer terá mais novidades nessa área este ano, mas não adiantou detalhes.

Equipe Técnica

pela Fundação MT sobre as cultivares de soja desenvolvidos Desde janeiro a para a região. O Unisoja conta com trabalho é uma equipe técnica atuando em todas as fundamental para que o agricultor regiões de Soja de tenha cada vez mais Mato Grosso. São ganhos na atividade, seis agrônomos conforme explica trabalhando na Alexandre Possebon, orientação e acompanhamento dos da Unisoja. Maiores informações pelo eagricultores, mail : levando toda a unisoja@unisoja.com.br tecnologia gerada

Contrabando

O contrabando de produtos fitossanitários está escancarado no Paraná, tendo como fonte o Paraguai. Os produtos mais falsificados são o Classic, Ally e Select, distribuídos através de uma central de contrabando em Juçara para as regiões de Londrina e Maringá. Ninguém fala em nomes, mas um agrônomo confirmou que todo o mundo sabe quem anda falsificando . Vê-se o mesmo problema na região Centro-Oeste e, imagina-se, na região Sul, onde há contrabando de variedades de soja geneticamente modificadas. Alguns produtos fitossanitáeios vendidos têm princípio ativo, em menores quantidades; outros são puro pó. Seu preço fica pela metade daquele cobrado pelo original. O Classic, por exemplo, custa certa de R$ 500,00 o quilo e só existe em embalagens de 300 gramas. O falsificado é vendido em embalagens de 2,5 quilos.

Index Produções Gráficas

Fotolitos e Impressão:

Congresso

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES:

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GERAL / ASSINATURAS: 272.2128

REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716

MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314

FAX: 272.1966

Lúcia

Expovárzea

Sob o tema A Engenharia Agrícola no desenvolvimento da agroindústria em face à globalização , será realizado de 31 de julho a 03 de agosto, e,m Foz do Iguaçu, no Mabu Hotel, o XXX Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola o CONBEA 2001. O evento é uma promoção da Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola com o curso de Engenharia Agrícola da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná, a Unioeste. O congresso tem a professora Lúcia Helena Pereira Nóbrega como presidente, que está trabalhando forte na divulgação. Lúcia estabeleceu importante parceria na área com a revista Cultivar Máquinas, através do editor técnico, professor Arno Dallmeyer, em visita ao estande da empresa no Show Rural de Cascavel. Informações pelo telefone (45) 523.6162.

SUCURSAIS

Transgênicos

O governo do RS vai atuar na preparação de amostras de produtos para testes de transgenia. Um termo de cooperação técnica firmado ontem com a empresa norteamericana Genetic ID garante a execução desse serviço, realizado pelo laboratório de classificação da Emater/ RS, aos agricultores e empresas de todo o país, interessados em verificar se seus produtos são transgênicos ou não.

A Expovárzea acontecerá na Estação Experimental de Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS), entre os dias 5 e 7 de abril de 2001. Os organizadores pretendem apresentar os mais recentes resultados de pesquisas e debater temas da atualidade do agronegócio brasileiro. A idéia é criar um ambiente que permita a análise dos fatores críticos dos sistemas agropecuários e industrial de culturas e criações localizados nestas áreas de solos hidromórficos, onde o principal cultivo é o do arroz irrigado. A Expovárzea busca estimular a adoção de novos processos e produtos que ampliem a rentabilidade e diminuam o impacto ambiental negativo das atividades de produção de alimentos , salienta o pesquisador Luiz Clovis Belarmino, Coordenador da exposição.

Glifosato

A Hokko também terá glifosato em sua linha de herbicidas, provavelmente a partir deste ano. A marca já está pronta. O produto será chamado de Pilasato.

Mato Grosso

Gislaine Rabelo Rua dos Crisântemos, 60 78850-000 / Primavera do Leste Tel.: (65) 497.1019 ou 9954.1894

Bahia

José Claudio Oliveira Rua Joana Angélica, 305 47800-000 / Barreiras Tel.: (77) 612.2509 ou 9971.1254

Sou aluno de agronomia e tive a oportunidade de ler os artigos publicados em sua edição de nº1 Cultivar Máquinas e gostaria de comprar esta edição.

Parabéns pelos bons trabalhos realizados na revista Cultivar. Suas edições enriquecem o acervo de nossa biblioteca, auxiliando na educação dos nossos alunos.

Tenho acompanhado com orgulho a Cultivar, que continua sendo uma excelente fonte de matérias do nosso setor!

Já sou assinante da revista cultivar e gostaria assinar também a nova cultivar Máquinas.

Nivaldo Penteado Bautz npbautz@uol.com.br

José J. R. de Souza Escola Agrotécnica de Urutaí

Georlei Haddad Dow AgroSciences

Wellington A. Nascimento wan99@uol.com.br

Sementes Brejeiro

Antônio Zem

Copello

Mudanças

Mudanças na estrutura da FMC. Antônio Zem, brasileiro que estava no México, é o novo presidente da empresa. Geraldo Copello é o novo diretor para a América Latina. Já Vicente Gôngora assumiu diretoria na área da suprimentos e o novo gerente de marketing é Luis Fernando Felli. Já o ex-gerente de mercado de soja e milho, Ronaldo Pereira, é agora gerente de marketing no México.

Nutrição

A Empresa, em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), desenvolveu uma farinha mista de milho com soja, que traz a vantagem

de possuir uma qualidade de proteína tão boa quanto a de alimentos como a carne, o leite ou o ovo. Para se ter uma idéia, o cuscuz nordestino possui 6,5% de proteínas. Se for cozido

Dia 16 de fevereiro, o Grupo Brejeiro, através de sua divisão de sementes de soja, realizou pelo sétimo ano consecutivo o seu dia de campo. O evento aconteceu no Centro Experimental Gilberto Define em Morro Agudo (SP). Com a orientação de pesquisadores, agrônomos e técnicos, os visitantes puderam conhecer os painéis de cultivares de soja da Fundação Meridional, Convênio Goiás, Coodetec e IAC. Houve, nos 7,5 hectares do Centro Experimental, a demonstração de 46 cultivares exploradas comercialmente no Brasil. Estiveram presentes ao evento além das empresas de pesquisa e melhoramento genético da cultura da soja, as empresas ligadas à agricultura: Jumil, Manah, Banco do Brasil, Campagro, Aventis, Zeneca e Ubyfol. O Grupo Brejeiro realizou ainda dias de campo em Guaíra (SP) e em Conceição das Alagoas (MG), nos dias 02 e 09 de fevereiro respectivamente. Em Guaíra foram lançadas as cultivares de soja CD 208 e BRS/ GO 204, ambas com ciclo precoce e resistentes ao nematóide-de-galhas. com a mistura, a quantidade proteica aumenta para 14%. A pesquisa visa melhorar nutricionalmente os alimentos de milho précozidos do Nordeste. Como

o novo produto possui um alto valor nutricional, basta ingerir 300 gramas da mistura para que as necessidades diárias de proteínas de um adulto sejam supridas.

SYNGENTA

O início das operações da Syngenta, a grande empresa agroquímica resultante da fusão da Novartis com a Zeneca, está sendo mercado pela cautela, por se tratar de um processo delicado em múltiplos aspectos. A Syngenta existe oficialmente desde fevereiro passado, embora, por questões legais, a fusão tivesse sido anunciada muito antes. Inicialmente foi necessária a seleção do pessoal e agora todos passarão pelo processo de adaptação normal que significa a união de duas equipes. O presidente da empresa, Josef Sherman, vindo da Zeneca, está satisfeito e mostrou essa imagem no Show Rural da Coopavel, local da primeira aparição pública da Syngenta. Sherman prega uma política de pés no chão.

Sherman Este ano será um período de transição e o mais importante é a organização. Depois é que se pensará em estratégias novas de vendas, pois a união de dois portfólios de produtos exige cuidados especiais, salientou.


Show Rural

Um Show de tecnologia agrícola

consorciada dos herbicidas Flumysin + Classic, Flumysin + Pivot e Flumysin + Sept. E, em situações extremas, o Radiant + Classic + Cobra + óleo. Mostrou o inseticida Orthene para controle de sugadores e o inseticida fisiológico Atabron. Em milho, sua solução para maior produtividade é o uso do Flumysin + Roundup, juntamente com Orthene para controle de percevejos e tratamento de sementes com Atabron + Meothrin, um piretróide, por suas vantagens econômicas, dado o menor custo.

Mais uma vez, o Show Rural da Coopavel supera as expectativas e mostra como deve ser um evento voltado ao público rural

MILENIA

No setor de tratamento fitossanitário, a Milenia enfatizou a chamada Solução Integrada Milenia, com uma linha diversificada de produtos de acordo com a evolução das culturas. A empresa esteve mais voltada para a soja e o milho. Os destaques correram por conta dos novos RimOn e Orius. Esses produtos, lançados ano passado com sucesso, apareceram pela primeira vez no Show Rural, despertando curiosidade.

MBG

BASF

Com um dos grandes estandes do evento, a Basf, que adquiriu ano passado a Cyanamid, mostrou sua linha diversificada de produtos. Na cultura da soja destacou o herbicida Aramo, para pós-colheita, contra ervas de folha estreita. Além disso, enfatizou a ação do latifolicida Pivot, dos já bem conhecidos Basagran e Scepter (pré-emergência) e do Volt, novidade no Show Rural. Para a cultura da batata levou o fungicida Forum e o inseticida Granutox, também mostrado em consórcio com o Forum. Em milho a Basf apresentou, entre outras tecnologias, o OnDuty, herbicida para folhas largas e estabelecido em uma aplicação de pós-emergência. Também foi demonstrado o uso em materiais selecionados dentro da tecnologia Clearfield.

SEMENTES DOW

Contando com as presenças do seu diretor no Brasil, J. Manuel Arana, e do diretor internacional para milho, sorgo e soja, Tom Wiltrout (Dow AgroSciences), a Sementes Dow levou uma linha diver-

Fotos Cultivar

Uma das novidades do evento, apresentou a Milenia Biotecnologia e Genética, mostrando cultivares oriundas de bancos genéticos recentemente adquiridos e que constituem hoje o portifólio da empresa. É a chegada da Milenia ao mundo das sementes. A MBG, representada por Eberson Calvo, divulgou variedades como a soja

RB603, de alta produtividade e hiper-precoce, já consolidada no Paraná e em testes no Rio Grande do Sul. A MBG enfatizou a própria marca e oito variedades já prontas para comercialização. Calvo anunciou para dentro de dois anos o lançamento de uma linha completa de novas cultivares.

A

no passado dissemos que o Show Rural da Coopavel tornara-se o maior e melhor evento brasileiro para a divulgação de novas tecnolgias. Este ano, grata surpresa, além de confirmar as previsões mais otimistas em termos de qualidade, o evento contou com um aumento de 15% no público visitante, atingindo a marca de 110 mil pessoas interessadas não em uma simples feira para compras, mas em um verdadeiro evento de demonstrações de produtos. Talvez a maior novidade este ano tenha sido a presença crescente (e maciça) das grandes empresas de máquinas agrícolas. E isso tudo apesar da chuva torrencial que atingiu Cascavel. É uma realidade que, espera-se deverá balizar os outros eventos agrícolas com grande público. O evento impressionou de tal forma 06

Cultivar

que o diretor internacional da Dow AgroSciences para milho, sorgo e soja, Tom Wiltrout, chegou a qualificá-lo como o melhor do mundo, considerando-o mais bem organizado do que o famoso Farm Progress Show. Já para o coordenador geral do evento, Rogério Rizzardi, tudo se deve ao incansável trabalho dos profissionais que se dedicaram de corpo e alma ao projeto. Os principais destaques do setor de agroquímicos e sementes são a seguir relacionados.

MONSANTO

O estande da Monsanto focalizou a aplicação do herbicida Roundup Transorb quanto à sua absorção e translocação na erva daninha, concentrando-se nas raízes. Já o Roundup WG encara o manejo de pós-colheita, mantendo as áreas limpas no inverno e facilitando o www.cultivar.inf.br

plantio posterior pela redução de plantas daninhas perenizadas. A redução de embalagens para descarte consta entre as vantagens do produto, acondicionado em saquinhos plásticos. Em soja, a Monsanto mostrou seus lançamentos: a cultivar 5942, resistente a acamamento e hiper-precoce, indicada para quem deseja colher cedo e plantar outra cultura em safrinha, e a 7101, de alta tolerância a oídio e ao acamamento. Com ciclo normal.

DEKALB

Todos os produtos desenvolvidos pela Cargill e Braskalb, adquiridas pela Monsanto, trocaram de nome e são comercializados pela Dekalb. Por exemplo, a cultivar C-909, da Cargill, é agora a DKB909. Os da Braskalb são os atuais XL. A empresa demonstrou ao produtor as vanMarço de 2001

tagens dos híbridos DKB 911 precoce, DKB 770 - hiperprecoce e DKB-350 - precoce e bem-adaptado em termos de sanidade para plantio de milho sobre milho e silagem de planta inteira.

AGROCERES

A Agroceres, também parte do grupo Monsanto, manteve a denominação das suas cultivares. Destaques para a AG9050 (hiperprecoce, para safrinha), AG7575 (safrinha), AG-8080 (plantio de milho sobre milho). A AG-9010, já comercializada na safra atual, foi apresentada com redução de espaçamento, para aumentar a produtividade.

HOKKO

A Hokko, que vai entrar com tudo na produção de glifosato (vide Diretas), apresentou, para a cultura de soja, a ação Março de 2001

A Syngenta promoveu uma grande festa no encerramento e premiação do projeto de conscientização Escola no Campo

www.cultivar.inf.br

Cultivar

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Fotos Cultivar

cho e tripes. A empresa mostrou ainda, em pastagens, a ação dos herbicidas Tordon e Plenum e do Padron para evitar ervas lenhares e semi-lenhares.

DUPONT

O sistema desseque e plante , uma associação do Classic com glifosato, foi destaque da DuPont em Cascavel pelo segundo ano consecutivo, o que demonstra o interesse da empresa em promovêlo. Uma linha de tecnologia de aplicação foi apresentada em soja e milho, correndo a ênfase por conta do uso de Benlate, no início da granação, para controle de doenças de final de ciclo em soja. O objetivo é a proteção da planta até a colheita. Para milho o maior destaque foi reservado ao Gallaxy 100, um inseticida fisiológico para controle da lagarta-docartucho. Produto com alto grau de concentração, pode ser usado em doses menores, segundo a recomendação.

AVENTIS SEEDS

Os híbridos de milho indicados para a região do Paraná foram as estrelas do estande: A2288 (precoce), A2005 (superprecoce) e A2555 (semiprecoce). Como lançamento surgiu o milho A2345, um híbrido precoce. Foram mostrados ainda os híbridos que a Aventis Seeds tem em parceria com a Embrapa: BR 3123 (precoce), BRS 3060 (precoce) e BRS 2110 (precoce). A empresa mostrou também sua cultivar de soja e anunciou que na próxima safra trabalhará com algumas variedades recomendadas para a Região Sul.

AVENTIS CROPSCIENCE

Uma das mais diversificadas linhas de produtos apresentadas. Standak, inseticida, para controle de tamanduá-da-soja e controle da vaquinha e coleópteros em geral no feijão. O Finale foi mostrado para dessecação em feijão e soja. Também se anunciou produto à base de glu-

Estande da Milenia Biotecnologia Genética foi a primeira aparição da nova unidade da tradicional empresa

sificada de variedades de milho e sorgo. Lançou as cultivares de milho 8480, 8460 e 8550, destacando a 8330, já em vendas. O sorgo 741, novidade da empresa, foi apresentado ao público, que também pôde ver plantado o CE-03, ceroso, usado para fabricação de papel e amido, e as cultivares de milho doce, onde a Dow possui 97% do mercado.

DOW AGROSCIENCES

Em soja, para plantio convencional ou plantio direto, três tecnologias foram mostradas: Dessecação com Spider + DMA + Gliz, e controle da lagarta com Tracer; Dessecação com Gliz + DMA. Uso de Pacto em pós-emergência e Tracer em seguida; A eficácia de Pivot e Cobra para controle de leiteiro, alternados para evitar seleção de plantas resistentes, também mereceu comentários. Já em termos de milho, evidenciaram-se o Lorsban para tratamento no sulco e o Tracer contra lagarta-do-cartu08

Cultivar

A Aventis apresentou um dos mais diversificados portifólios de produtos. Sua equipe esteve em massa no evento

AGROESTE

Empresa com forte atuação em milho, a Agroeste apresentou sua linha completa de híbridos no Show. Desde as cultivares hiper-precoces às tardias, todos os materiais despertaram interesse. Foram mostradas: AS-1544 (superprecoce), AS-1545 (precoce), AS-1533 (precoce com ótimo desempenho na safrinha), AS-3601 (para primeira safra, com plantio nas primeiras épocas), AS-3466 (triplo com excelente comportamento na safrinha), AS-3477 (triplo com alta produtividade) e AS-32 (duplo precoce, recomendado para silagem). www.cultivar.inf.br

fosinato de amônia + etefon, ainda sem registro, mas certamente para uso na próxima safra. Os fungicidas Brestanid, para controle de antracnose em feijão, e Derosal também usado para controle de doenças de final de ciclo foram demonstrados. Contra o oídio, em soja e feijão, mostrou-se o Palisade, recomendado também contra ferrugem e mancha angular. A Aventis levou sua linha Wuxal de nutrientes foliares (macro e micronutrientes), com funções de espalhante adesivo, antievaporante, para uso com inseticidas, fungicidas e herbicidas, danMarço de 2001


Fotos Cultivar

FMC

Os novos herbicidas Aurora e Boral, lançados ano passado, mereceram o destaque para a cultura da soja e milho. Fury no milho, contra lagarta-do-cartucho, em aplicação aérea também teve bons resultados. E o trio Furazin + Vitavax + Thiran promete aumentar a sua participação no mercado de tratamento de sementes de milho. A empresa está passando por uma série de mudanças no seu quadro de colaboradores (vide matéria na seção Diretas).

IHARA

Estande e demonstrações da Coodetec foram uma atração à parte para os produtores que estiveram no evento

do maior qualidade de aplicação. Para o algodão a empresa mostrou o Temik, inseticida, acaricida granulado e com ação contra pragas iniciais e principais sugadores. O Deltaphos contra broca do ponteiro, Thiodan contra lagartado-cartucho, lagarta-da-maçã, lagarta rosada e bicudo. No milho a Aventis mostrou o Provence, aplicado sem mistura ou com Sansom ou Atrasinax. Deltaphos e Larvin contra lagarta-do-cartucho, Futur para tratamento de semente e o Regent aplicado em sulco para controle da vaquinha.

SYNGENTA SEEDS

O setor de sementes da nova empresa investiu forte da divulgação de cultivares de milho, como: Attack (simples, precoce, para verão e safrinha), Flash (hiperprecoce, indicado para verão e safrinha), Tork (precoce, com bom rendimento para silagem), Premium (o material mais produtivo da empresa, para verão e silagem de grão úmido), Avant (precoce, para verão e safrinha, sendo produto mais estável em produtividade da empresa), Dominium (superprecoce), Traktor (para silagem de planta inteira, com alta prolificidade), Master (precoce) e Exaler (a variedade mais vendida, resistente a acamamento).

SYNGENTA

Destacou o Cruiser em milho e feijão, com ênfase no efeito tônico sobre a planta, aumentando o seu desenvolvimento. Já a dupla Dual + Fusiflex tem 10

Cultivar

indicação para a soja, sendo o Dual um herbicida residual, complementado pelo Fusiflex em pós-emergência. O carro-chefe da antiga Zeneca, o SIC, permanece em evidência com o Zapp + Gramoxil, para evitar a seleção de plantas resistentes a herbicidas. Para a dessecação de soja visando antecipação da colheita, a empresa recomenda o Gramoxine e/ou Reglone. Para as doenças da soja vem Store e Priore. No controle de ervas em feijão o Robust seqüencial ou residual (Dual), complementado com Robust em pós-emergência forma as recomendações, juntamente com o Mertin e Amistar no controle de doenças. Ênfase especial mereceu o descarte adequado de embalagens, tríplice lavagem e correta tecnologia de aplicação. O projeto Escola no Campo, herança da Zeneca, recebeu elogios de diversas autoridades que acompanharam a cerimônia de encerramento.

Com três canteiros de soja, a Ihara demonstrou a eficiência do Sumisoya no plantio direto. O produto tem a vantagem de permitir plantio rápido após a aplicação. Seu funcionamento em pósemergência e ação residual foram ainda expostos. No tratamento de sementes e no controle de doenças de final de cilo, o fungicida Cercobin 500 SC apresentou bons resultados. Já contra a largarta-do-cartucho em milho, a empresa recomenda aplicação do Danimena, com forte ação de choque e seletividade a inimigos naturais. Na cultura do feijão, as estrelas foram o herbicida Pramato e os fungicidas Cerconil, Sacobre e Sumilex.

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BAYER

Tradicional empresa no evento, a Bayer levou um time duro contra as ameaças à produtividade. Seu diretor para a América Latina, Jean Pierre Longeteau, adiantou o relançamento do Antracol, um ditiocarbamato (vide matérias nas diretas). Em soja, tratamento de sementes com Euparen, controle de plantas daninhas com Sencor com ou sem a mistura de Scepter ou Scorpion. Valient, o inseticida fisiológico seletivo contra a lagarta-da-soja, marcou presença após duas boas safras desde o seu lançamento. Para o feijão, que tem uma safra iniciando, a recomendação em tratamento fica por conta dos fungicidas Euparen e Moncoren para as sementes e dos inseticidas Gaúcho e Calipso (este para a parte aérea). Folicur contra o Oídio e doenças de final de ciclo. Em milho, a Bayer recomenda o tratamento de sementes com o Gaúcho e o controle da largarta-do-cartucho com o Certero, que tem apresentado bons resultados na cultura do algodão. Por fim, a empresa apresentou um herbicida seletivo contra folha larga, recomendado para a cultura da mandioca.

Equipe Cultivar marcou presença com o lançamento da Cultivar Máquinas e apresentação da Cultivar e Cultivar HF

godão, surgiu a CD 405. Em milho, a CD 301 (precoce com bom arranque inicial), CD 302 (precoce com excelente arranque) e CD 303 (também precoce e com excelente arranque). Já para o trigo, as novas CD 105 e CD 106 devem ganhar espaço. O Coopervírus, inseticida à base de Baculovirus anticarsia recomendado contra a Anticarsia gemmatalis fez bastante sucesso também.

CULTIVAR

Por fim, a Empresa Jornalística Ceres apresentou sua nova revista ao público em geral. A Cultivar Máquinas foi muito saudada por agricultores e engenheiros agrícolas e agrônomos. Estiveram presentes também as revistas Cultivar e Cultivar Hortaliças e . Frutas.

PIONEER

Milho, Soja e Sorgo foi o lema da Pioneer durante o Show Rural. Além das tradicionais variedades para as três culturas, os lançamentos promoveram um espetáculo à parte. O híbrido simples precoce 30R07 (região sul), o também simples precoce 30F44 e o semiprecoce 30F88, com grande estabilidade, destacaram-se entre as cultivares de milho. Além disso, o agrônomo Luis Keplin apresentou várias palestras sobre silagem aos agricultores. No Brasil, já se faz 500 mil toneladas de silagem por ano. Na soja, a novidade ficou por conta da DM-309, recomendada para a região centro-oeste e norte em geral. A empresa espera aumentar a sua participação no mercado de soja na próxima safra. Em termos de sorgo, os híbridos 8419, 8118, 83G55 e 855F marcaram presença.

NORTOX

A aplicação de Gold (preemergente) com Spider, Scorpion e Scepter, para controle de folha larga em soja foi apresentada pela empresa. Contra invasoras de folha estreita e larga, Gold sem mistura também é opção. Em Milho, Gold com Atrazina Nortox. A vantagem neste caso é a dosagem menor para folha larga e mais produtivo, pois não precisa fazer aplicação de pósemergencial.

No algodão, cultura em que a empresa tem forte atuação, reforçada por parceria com a Basf, o herbicida Staple e o inseticida Mospilan monopolizaram as atenções.

COODETEC

Brusamarelo mostrou as novas tecnologias desenvolvidas pela Agroeste para implementar a produção

Março de 2001

Gente da terra, a Coodetec não poderia deixar de apresentar o que tem de melhor. E tiveram muitos lançamentos. Em soja, a CD 210 (precoce e com boa tolerância ao oídio) e a CD 211. Em alMarço de 2001

O sorgo 741 foi uma das novidades apresentadas pela Sementes Dow no Show Rural da Coopavel

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Cultivar

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CNPT

Trigo

E desta vez, vai? Parece que, finalmente, vamos ter um bom ano para o trigo no Brasil

O

trigo vem se tornando uma boa alternativa para o plantio de inverno, superando todos os seus concorrentes de época porque o mercado está cada vez mais interessado no produto nacional. Em anos anteriores, as variedades que tínhamos não eram bem vistas pelas indústrias, que sempre davam mais interesse ao produto importado. Como o câmbio está fortalecido e temos um mercado internacional forte há dificuldade de as indústrias ficarem dependentes do trigo importado. Nos últimos dois anos o mercado nacional está receptivo ao trigo nacional, que melhorou a qualidade e atende às exigências das indústrias.

ESTOQUES EM BAIXA

O mercado mundial neste ano está com estoques baixos, os menores dos últimos cinco anos. Assim, trabalha com cotações ajustadas e fará com que os custos finais de importação aumentem para as indústrias, fortalecendo o trigo nacional. Pelos dados da tabela de oferta e de12

Cultivar

passada e devem chegar a 600 mil neste ano. Mas, para atingirmos esses números, teremos que ter a liberação dos recursos para o custeio do governo, o que já foi prometido e, segundo fontes oficiais, neste ano sai a tempo do plantio. O crescimento do plantio neste ano já é dado como certo e, se os recursos oficiais apareceram no momento adequado, podem até mesmo superar as expectativas. O trigo está se tornando uma grande cultura de inverno, com boa rentabilidade aos produtores. Se tivermos a confirmação do plantio e o clima for favorável, os produtores deverão colher cerca de 1,8 milhões de T no Paraná e cerca de 1 milhão no Rio Grande do Sul. Podendo fechar a marca das 3 milhões de T no Brasil, revertendo assim a queda da safra passada, onde o Paraná colheu apenas 538 mil T, enquanto o Brasil não foi muito acima de 1,59 milhão de T. Também temos visto crescer a presença do trigo junto ao Brasil central, onde que as lavouras irrigadas dão aos produtores locais oportunidade de colher produtividade de mais de 4 mil kg por hectare e também de excelente qualidade. Como neste ano o milho não esta motivando os produtores, é provável que mostre avanço do trigo irrigado. Mesmo assim haverá grande necessidade de importação, porque os estoques que temos são baixos e o consumo poderá chegar a marca das 10,5 milhões de T. O mercado vem apontando que os

Brandalizze avalia as perspectivas da cultura do trigo na próxima safra; elas são excelentes

produtores novamente devem ter bons indicativos de preços para o trigo da safra nova. Lembrando que o trigo tem que ter . qualidade. Vlamir Brandalizze, Consultor

OFERTA E DEMANDA MUNDIAL DE TRIGO manda podemos ver que os números andam próximos e há indicativos de que a demanda mundial poderá ser maior do que o indicado. O último inverno foi muito rigoroso no Hemisfério Norte e provocou aumento no consumo do trigo, podendo extrapolar as previsões. Se confirmada essa tendência, teremos crescimento das cotações e aumento dos custos de importação pelos moinhos brasileiros. Essa é uma boa noticia para os produtores que se preparam para realizar o plantio da nova safra brasileira.

MILHO PERDE PARA O TRIGO

Trigo é uma alternativa aos produtores do milho safrinha por suas chances de bom retorno econômico. Parte dos produtores do Paraná tiveram problemas com a soja, comprometendo o plantio da safrinha, que não pôde ser realizado no período recomendado. Dessa forma, aponta-se que pelo menos 200 mil hectares que tinham milho no ano passado devem receber trigo este ano. Também haverá produtores do www.cultivar.inf.br

Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina deixando o milho safrinha pelo trigo, podendo sua soma atingir os 300 mil hectares de novas áreas com trigo. O quadro de oferta e demanda interno do trigo mostra novamente que as importações devem superar a marca das 8 milhões de T, contra os 8,4 milhões no último ano. O consumo previsto supera as 10,2 milhões de T e a produção da nova safra, novamente, começa estimada em cerca de 3 milhões de T. Com o crescimento das cotações dos alimentos básicos, como arroz e feijão, veremos crescer o espaço do setor das massas e assim confirmar grande demanda de trigo. Como podemos observar no quadro de oferta de demanda de trigo no Brasil, temos estoques de passagem baixos o que dá fôlego para os produtores que entrarem nesta safra para colher um bom trigo. Os indicativos devem andar levemente acima do que se recebeu no ano passado, devendo girar entre os R$ 225,00 e R$ 270,00 por tonelada, sendo que no pico da colheiMarço de 2001

ta não será interessante para os produtores fechar posição. Também teremos alternativas de fechamentos antecipados para entrega e recebimento futuro, que dará aos produtores boas condições para que se possa cobrir os custos de produção. Esse vem sendo um bom meio de comercialização para que não se corra o risco de ter que vender no momento da colheita e pressionar para baixo as cotações.

ÁREA EM CRESCIMENTO

A nova safra promete avanço no plantio, com os produtores motivados pelos bons indicativos que o trigo vem conseguindo no mercado - atrelado ao alto custo das importações. O novo plantio poderá superar a marca de 1,7 milhões de hectares, contra os 1,4 da safra passada. O maior avanço deverá ocorrer no Paraná que no ano passado plantou 780 mil hectares e agora aponta que chegará à marca de 1 milhão de ha. Enquanto isso, há otimismo entre os produtores do Rio Grande do Sul, que plantaram 533mil hectares na safra Março de 2001

SAFRA

Estoque Inicial

Produção

Importação

Consumo

Exportação

Estoque Final

99/00 00/01*

136,8 126,0

587,9 579,5

131,2 126,1

598,7 596,6

135,0 126,9

126,0 108,9

Fonte: USDA

OFERTA E DEMANDA DO BRASIL DE TRIGO SAFRA

Estoque Inicial

Produção

Importação

Oferta

Consumo

Estoque Final

99/00 00/01*

845,4 931,7

2.403,0 1.594,6

7.733,3 8.400,0

10.981,7 10.926,3

10.050,0 10.250,0

931,7 676,3

Fonte: Conab

ÁREA PLANTADA COM TRIGO E EXPECTATIVA DA SAFRA NOVA DO BRASIL(1000HA) Safra

RS

SC

PR

SP

MS

BR

99/00 00/01*

533 600

34 50

780 1000

19 28

65 90

1.445 1.790

Fonte: CONAB, Brandalizze Consulting

www.cultivar.inf.br

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Sementes

Sorgo, milho e biotecnologia Dow AgroSciences faz suas apostas no Brasil nos setores de sorgo, considerado referência mundial, e milho e acredita em uma virada na bioteclogia

Tom Wiltrout e J. Manoel Arana apresentam os resultados e os novos projetos em sementes da Dow no Brasil

A

Dow AgroSciences vê o Brasil como segundo ponto de apoio no mercado mundial de milho e, certamente, o primeiro para o desenvolvimento de cultivares de sorgo, disse o diretor internacional da empresa para milho, sorgo e soja, Tom Wiltrout. O foco principal permanece nos Estados Unidos e as pesquisas em biotecnologia, setor que deve ter novos horizontes em dois ou três anos, estão adiantadas. 14

Cultivar

O Brasil mostrou resultados que excederam as mais otimistas previsões da gigante Dow, que reforça por isso sua atuação no país. O que encanta o diretor norte-americano é a capacidade competitiva demonstrada pelos produtores brasileiros de milho, que nada devem em tecnologia e dedicação a outros. E a participação brasileira deve aumentar muito em função do crescimento da suinoculotura e avicultura no país. Não se www.cultivar.inf.br

pode prever se o Brasil chegará a ser um grande exportador de milho, mas certamente já é uma expressão mundial nas vendas de carnes suínas e de aves, o que demonstra o potencial de consumo de grãos. Essa posição estimula a Dow a incrementar suas pesquisas para o lançamento de híbridos com maior potencial nutricional para suínos, com altos teores de óleos e proteínas. No sorgo o Brasil certamente desponta como pólo de alta tecnologia. E a Dow prevê o desenvolvimento de variedades para silagem e de grãos para alimentação animal, usando o potencial genético nacional altamente competitivo, que ultrapassa o dos Estados Unidos, por exemplo. Não se trata de caso semelhante ao da soja, produto que se desenvolveu no Brasil a partir de variedades americanas. No sorgo o Brasil já avançou e as variedades americanas, suscetíveis a outras doenças e pragas, nada têm a fazer aqui. Mas a Dow vê tanto o Brasil quanto a Argentina com excepcionais condições de desenvolver o mercado doméstico Março de 2001

antes de tratar de exportações. Isso não significa que a empresa deixe de pensar nisso. Na medida em que a estratégia estiver consolidada no mercado interno, a Dow pretende exportar os produtos, de início para os vizinhos da América Latina, subindo até o México.

BIOTECNOLOGIA EM DESTAQUE

A Dow investe na área principalmente pesquisando cultivares resistentes à pragas e com altos teores nutricionais, com passagem pela saúde animal. A curto prazo, por exemplo, pretende lançar milho resistente à lagarta-do-cartucho. Há outras pesquisas voltadas para controle de insetos, destacando-se os trabalhos na área do algodão. Com relação aos aspectos nutricionais, Wiltrout destaca produtos com mais proteínas e aminoácidos. E logo, disse, haverá novidades em produtos voltados para a saúde animal. A pesquisa está adiantada na área de produtos que carregam vacinas que protejam animais, estimulando a criação de anticorpos contra algumas doenças. Wiltrout tem posição interessante em relação à reação de consumidores contra produtos transgênicos. Ele não acha que esteja aumentando a reação contrária. Apenas vê um crescimento constante do nível de informação e de interesse por parte dos consumidores em

relação aos produtos, o que considera muito bom. De início, explicou, o consumidor dos Estados Unidos, por exemplo, aceitou os transgênicos sem discutir. Com o questionamento surgido entre consumidores europeus, os americanos também buscaram informações. Mas tanto a produção quanto o consumo não sofreram alterações. É claro que toda tecnologia nova demanda cuidados especiais, mas o americano acha que o conhecimento compartilhado entre cientistas, consumidores e organizações de diversos matizes, tende a aumentar a segurança e o discernimento geral. Já há muitas informações disponíveis que antes nem se pensou que fossem necessárias, pois não havia discussão. Em todo o mundo se fazem perguntas e começam a se generalizar as respostas. Nos países em desenvolvimento, onde a tecnologia transgênica começa a entrar, a própria imprensa deu guarida a opiniões não-científicas que desinformaram e atrasaram o processo, pois um artigo negativo publicado sempre tem efeito maior do que um positivo. Isso nos dá a impressão errônea de que a reação contrária à tecnologia aumenta. Mas a realidade não é essa, explica. A comunidade tecnológica e os próprios governos não estavam prontos para lidar com essa tecnologia e isso se refle-

tiu no modo como trataram os consumidores, a quem não informaram devidamente. Daí a perda de tempo na aceitação da biotecnologia. Agora não há mais como recuar e está em marcha o processo evolutivo que inclui a difusão de informações disponíveis para esclarecer os consumidores. No máximo em dois ou três anos esse processo estará completo e a aceitação dos benefícios será normal em todos os mercados. Mas há coisas que atrasam a evolução. O caso da vaca louca, por exemplo, que estremeceu consumidores em todo o mundo. Esse é mais um exemplo da pouca divulgação que se dá a determinados casos e a reação dos consumidores é muito forte. Certamente a vaca louca prejudicará os transgênicos, embora nada tenha a ver com ele. Mas hoje é preciso entender que qualquer problema, em qualquer elo da cadeia alimentar, prejudica a corrente toda, criando uma crise. Coisas como a vaca louca, ou um incidente com produto da biotecnologia, geram desconfiança do consumidor para com os governos e as entidades regulamentadoras, que antes contavam com a aprovação geral. De tudo isso, salienta, se aprende que é preciso manter a confiança do consumidor através de informa. ções precisas e na hora certa.


Nossa Capa Marcos A. de Freitas

O que a indústria quer da soja? Um bom cuidado com a lavoura, principalmente no que se refere à escolha de cultivares e controle de percevejos resulta em soja com melhor aproveitamento pela indústria de refino de óleo

A

Soja (Glycine max. Merrill), por suas qualidades nutricionais, pela facilidade de adaptação, por sua alta produtividade e pela facilidade de cultivo pode ser considerada um dos alimentos básicos para populações do futuro, por ser uma grande fonte de proteína de baixo custo e de alto valor nutritivo que se conhece para a alimentação animal e principalmente humana. A soja domina o mercado mundial tanto de proteína, como de óleo comestível. No Brasil, a soja é a principal espécie cultivada , contribuindo com aproximadamente US$ 3,8 bilhões em exportações sob a forma de soja triturada, farelo de soja, óleo de soja bruto e óleo refinado. Antes de ser processada na indústria a soja pode ser armazenada por até 10 meses. Nessa etapa crítica, a matéria-prima pode sofrer deteriorações irreversíveis para a produção de óleo, dependendo dos cuidados a qual foi submetida no processo de produção inicial, que consiste na condução da lavoura e colheita de forma adequada. Grãos de soja adquiridos de produtores que têm suas lavouras mal conduzidas, ou seja, sem controle adequado de plantas daninhas e principalmente sem um controle eficiente de insetos, propiciam à massa de grãos uma série de alterações fisiológicas e químicas tais como 16

Cultivar

Soja atacada por percevejos. Essa ação, além de diminuir a produtividade, reduz a qualidade dos grãos de soja

o crescimento de fungos, em especial a Aspergillus glaucus Link e Aspergillus flavus Link. Eles provocam aumento na respiração, incremento no teor de ácidos graxos livres e elevação da temperatura na massa de grãos de soja armazenada, conseqüentemente, elevam o custo de produção de óleo pela indústria.

TEOR DE UMIDADE

Outro fator que pode alterar a qualidade de grãos de soja armazenados é o teor de umidade. Estudos realizados por Napoleão (1997) em grãos de soja armazenados com diferentes graus de umidade, mostraram que houve um aumento acentuado no teor de peróxido em todos os graus de umidade. Isso indica que ocorreu deterioração oxidativa de lipídiwww.cultivar.inf.br

os, que pode ter sido provocada pela presença de Aspergillus ssp. Essa autora avaliou a presença de fungos nos grãos e encontrou melhor correlação entre crescimento fúngico na massa de grãos e o teor de ergosterol contido na amostra. O teor de aflatoxina em soja aumenta de acordo com o aumenta da umidade em grãos armazenados. As cultivares de soja com nível de ácido fítico mais elevado, produziram menos aflatoxina, em relação a cultivares com menor teor desse ácido, porém sem afetar o crescimento micelial de Aspergillus flavus na massa de grãos. Outros fatores que podem influenciar na queda da qualidade de grãos para industria é a deterioração do produto na fase de produção da soja, devido ao ataMarço de 2001

que de insetos sugadores, tais como percevejo verde (Nezara viridula), percevejo marrom (Euschistus heros), percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii) e excesso ou falta de chuvas nas fases de enchimento e maturação dos grãos. O ataque de percevejo, em lavouras de soja, pode significar redução no tamanho das sementes, tornando-as enrugadas, chochas e de coloração mais escura que as normais, conseqüentemente, acarreta perda na produção. Os danos à soja são causados principalmente por ninfas de terceiro a quinto instar e por adultos. A introdução do aparelho bucal do percevejo, na semente danifica o tecido e serve de vetor para doenças fúngicas, em especial para a levedura NematospoMarço de 2001

ra coryli Piglion. Essa levedura é cosmopolita e pode infectar frutos e sementes de várias plantas em condições tropicais e subtropicais. Dentre as hospedeiras de grande importância podemos citar frutos de tomate, laranja, capulho de algodão, sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.), soja, algodão (Gossypium hirsutum), feijão fava (Phaseolus lunatus L.), e, ainda, sementes de invasoras tais como algumas espécies do gênero Cassia spp. conhecidas como fedegoso. As pesquisas realizadas para determinar o nível de dano de percevejo na cultura da soja, se limitam em avaliar o grau de resistência de cultivares de soja ao percevejo, nível de danos que o percevejo realiza diretamente em sementes de soja. www.cultivar.inf.br

A QUESTÃO DA CLOROFILA

Atualmente a tendência da maioria das indústrias para embalar o óleo de soja refinado para comercialização é a embalagem tipo PET (polyethylene terephtalate). Esse tipo de embalagem expõe o óleo a rancidez oxidativa, chamada de autooxidação. A reação de rancidez oxidativa produz peróxidos e hidroperóxidos. Esses dois compostos por uma série de reações paralelas produzem os compostos voláteis, aldeídos e cetonas que dão o odor a ranço ao óleo. A rotas de formação dos peróxidos e hidroperóxidos podem ocorrer por radicais livres, fotoxidação e enzimas-lipooxigenases. Essas reações são favorecidas por pigmentos vegetais tais como clorofila e caroteno, dentre estes compostos, a clorofila pode estar presente nos grãos de soja, causando o escurecimento do óleo de soja nas gôndolas de supermercados. A eliminação desses fatores indesejáveis na produção de óleo de soja pode ser realizada utilizando-se terras ou montimorilonitas, para efetuar o clareamento do óleo. Estudos mostram que, para qualquer óleo, tanto a redução no valor de peróxido e o incremento no tempo de indução são proporcionais à eficiência de clareamento da terra utilizada. As terras mais efetivas reduzem os valores de peróxido, a cor do óleo e incrementam os tempos de indução. Para se obter o mesmo resultado pode se utilizar doses menores de terra. Então, esta etapa de clareamento do óleo elimina os peróxidos e restauram a estabilidade da oxidação. A decomposição dos pigmentos de clorofila, outro fator indesejável para a qualidade do óleo, não é alcançada rapidamente durante a desodorização. Podese reduzir o teor de clorofila, de óleo contendo alto teor desse pigmento, a níveis aceitáveis, empregando-se maior quantidade de terra ou utilizando-se terra para clareamento mais seletivas. Esse estudo teve como objetivos identificar cultivares de soja mais tolerantes ao percevejo da soja e que apresentem produção de grãos com baixo teor de clorofila (grãos verdes), correlacionar qualidade dos grãos de soja com qualidade do óleo produzido e a influência de grãos danificados com os custos de produção na indústria.

GRÃOS ARDIDOS, PERCEVEJOS E ACIDEZ DO ÓLEO

A qualidade dos grãos de soja foi determinada pela porcentagem de grãos picados por percevejos e ardidos contidos na amostra, pelo teste do tetrazólio, Cultivar

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Fig. 01 Relação entre grãos picados por percevejos (%) e grãos ardidos (%), safra 1999/2000

Fig. 02 Influência da qualidade de grãos de soja, na porcentagem de grãos ardidos e na acidez do óleo

Fig. 03 Porcentagem de grãos verdes, porcentagem de grãos picados por percevejos e porcentagem de grãos ardidos, em cultivares de soja do ciclo de maturação precoce (A) e médio (B)

A

B

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Cultivar

de acordo com metodologia descrita por França Neto et al. (1998). Para determinar a qualidade do óleo de soja contendo diferentes proporções de grãos de soja de má qualidade, foram utilizadas amostras de soja contendo diferentes quantidades de grãos picados por percevejos e danificados no processo de secagem, adicionadas à diferentes proporções de soja tipo semente, de alta qualidade, da cultivar Msoy-8411. Dessas misturas, avaliou-se a porcentagem de grãos ardidos, realizada por seleção manual dos grãos e determinouse a porcentagem de acidez do óleo. Foram criadas 3 classes para a variável grãos ardidos: Classe 1 - de 0 a 3,9 % de grãos ardidos; Classe 2 - de 4,0 a 7,9 % de grãos ardidos; Classe 3 - acima de 8,0 % de grãos ardidos. Observou-se que à medida em que a porcentagem de grãos de soja picados por percevejos aumenta, a porcentagem de grãos ardidos também cresce, conforme figura 1. A correlação entre picadas de percevejo x grãos ardidos é de 0,92. Esses resultados podem variar de acordo com a cultivar, idade fenológica da planta na qual ocorre o ataque de percevejos e condições climáticas. Existem cultivares de soja que mesmo apresentando uma elevada porcentagem de grãos picados por percevejo, a porcentagem de grãos ardidos é baixa, por exemplo, EMGOPA-315 e Msoy9001. Os resultados da relação entre porcentagem de grãos ardidos e acidez do óleo de soja evidenciaram que a acidez do óleo aumenta, proporcionalmente, em função do incremento de grãos de má qualidade na amostra de sementes, figura 2. Ensaios que possibilitam encontrar cultivares de soja que além de alta produtividade apresentem baixa porcentagem de grãos ardidos, sobretudo baixa porcentagem de grãos verdes e alta tolerância a percevejos, características de grande importância para a agroindústria de processamento de soja. Pois a utilização dessas cultivares é de fundamental importância para produção de óleo de excelente qualidade, redução de custos e aumento da competitividade da agroindústria brasileira. Nas figuras 3 e 4 encontram-se as avaliações feitas em porcentagem de grãos verdes, porcentagem de grãos picados por percevejos e porcentagem de grãos ardidos em cultivares de soja do ciclo de maturação precoce. Nessa avaliação preliminar, visando www.cultivar.inf.br

obter cultivares precoces com excelente qualidade de grãos, todas obtiveram sucesso, figura 3A. Mas as cultivares Msoy6101, FT-2000 e UFV-19 apresentaram uma tendência a produzir grãos verdes. Problema esse que pode ser solucionado com o controle adequado de percevejos. Dentre todas a cultivares precoces, a cultivar Msoy-7901, apresentou a menor porcentagem de grãos picados por percevejo. Além disso, apresentam também alta produtividade (3107,6 kg/ha), mas o aspecto que se deve levar em consideração nessa cultivar é a altura de plantas. Por ser de hábito determinado, cresce pouco em semeadura no mês de dezembro. Entretanto, essa deficiência pode ser contornada pelo aumento da população de plantas e semeadura realizada em época mais adequada e em solos de maior fertilidade. Nas cultivares de ciclo médio, figura 3B, destaca-se a cultivar Msoy-8001, por ter tido baixa preferência pelos percevejos e por apresentar produtividade acima de 3.000 kg/ha. A cultivar EMGOPA-315 também se destacou, apesar de ter tido alta preferência pelos percevejos, apresentou baixa porcentagem de grãos ardidos e, principalmente, baixa porcentagem de grãos verdes. As cultivares Msoy-8400, Msoy-8411, Conquista e Suprema apresentaram qualidade de grãos semelhantes. Mas essas cultivares se destacam por apresentar maior produtividade. Ao analisar os resultados da qualidade de grãos das cultivares do ciclo tardio, figura 4, observa-se que as cultivares que obtiveram maior produtividade e grãos de melhor qualidade, foram as cultivares Msoy-8757, Msoy-8800 e Msoy-9001. Deve-se salientar que esses resultados são preliminares. Mas que essas informações são inéditas e de grande importância para a continuidade de ensaios visando à escolha de cultivares de soja com boas qualidades agronômicas: ciclo, altura de plantas, peso de 100 sementes, produtividade e principalmente, baixa preferência por percevejos, baixa porcentagem de grãos verdes e grãos ardidos, proporcionando assim matéria-prima de melhor qualidade para a indústria.

CUSTO DE PRODUÇÃO DO ÓLEO

Custo de terra (argila) - A terra tem com função básica eliminar alguns fatores indesejáveis no óleo, tais como pigmentos de clorofila e peróxidos e restaurar a estabilidade de oxidação. Sem a eliminação completa desses fatores, o óleo não será envasado em PET, perdendo importante participação no mercado por Março de 2001


Fig. 04 Porcentagem de grãos verdes, porcentagem de grãos picados por percevejos e porcentagem de grãos ardidos em cultivares de soja do ciclo de maturação tardio

Fig. 05 Custo de terra para clarificação do óleo envasado em latas e em PET, considerando uma planta industrial com capacidade de produção de 50.000 t./ano

Fig. 06 Custo de NaOH para neutralizar o óleo de soja produzido durante 12 meses, considerando a acidez do óleo constante (0,2 %) e variável (0,2 % a 1,0 %). Produção mensal de 10.000 t de óleo e o custo NaOH= R$ 0,29/kg

Fig. 07 Tempo (h) a mais, necessário para substituir 48 % da produção de óleo em latas para óleo PET (%), considerando a capacidade total de 250000 t de grãos esmagados, a capacidade de esmagamento de soja para produzir óleo envasado em lata de 15,0 t/h e óleo em PET de 11,0 t/h

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Cultivar

passar para uma faixa de classificação inferior. O custo de terra para clarificação do óleo de soja envasado em lata e em PET, está representado na figura 5. Observase que o custo anual para produção do óleo envasado em PET cresce à medida que se substitui o tipo de embalagem de latas para PET. Esse incremento óbvio no custo de produção ocorre em decorrência da maior quantidade de argila necessária para clarear o óleo envasado em PET. Neste caso, se a soja processada fosse toda tipo semente , o custo do óleo PET seria aproximadamente igual ao custo do óleo lata. Custo de hidróxido de sódio (NaOH) - O custo direto do NaOH para neutralizar a acidez do óleo de soja é relativamente baixo. Se considerarmos uma agroindústria que adquira grãos de soja tipo semente , a acidez do óleo bruto produzido, ao longo da safra, seria praticamente constante 0,2%. Mas quando se consideram regiões onde os produtores adotam baixa tecnologia, a qualidade de grãos é muito heterogênea e a acidez do óleo bruto pode variar ao longo da safra devido à má qualidade da soja recebida, conforme a figura 6. Portanto, o custo de produção anual pode ser três vezes maior. A alteração na qualidade da matéria-prima, como já discutimos, é muito variável e depende do nível tecnológico do produtor, das condições climáticas, da cultivar e das perspectivas de preços da soja. Perda na capacidade de produção A capacidade de produção, ou seja, quantidade de soja que se processa em um determinado tempo (t./h), é uma qualidade intrínseca do equipamento utilizado no processo de industrialização da soja, desde a preparação dos grãos, da extração do óleo, até o refinamento e envasamento. A quantidade de soja que se processa na linha de produção também depende do tipo de óleo que se está produzindo. Ao se produzir óleo para ser envasado em PET a velocidade do processo é mais lenta do que quando este é produzido para ser envasado o óleo em latas. Considerando uma planta industrial que tenha capacidade para esmagar 15,0 t. de grãos/h para óleo envasado em lata, esta mesma planta processa aproximadamente 11,0 t de grãos/hora, quando este óleo é produzido para ser envasado em PET, correspondendo a 36,0 % de redução na capacidade de produção. Os resultados da quantidade de horas necessárias e o custo do tempo para substituir, paulatinamente, 48% da produção do óleo tipo lata em óleo tipo PET, estão www.cultivar.inf.br

representados na figura 7. A velocidade de processamento depende, também, da qualidade de matéria-prima disponível para o processamento. Portanto, à medida que a qualidade dos grãos de soja diminui, a velocidade de processamento também é reduzida e o custo do tempo se eleva. Então, o aproveitamento máximo dos equipamentos só acontece quando se tem matéria-prima tipo semente na linha de produção. Perda de óleo por arraste - Estudos mostram que as perdas de óleo devido à acidez atingem o dobro do índice de acidez. Isso significa que, para cada 0,1% de acidez, ocorre uma perda de óleo de 0,2%. No presente trabalho foram consideradas perdas de 0,18% por arraste de óleo. Foram calculadas as perdas de óleo à medida que se aumentava a porcentagem de óleo de má qualidade. Verificouse que com aumento da porcentagem de óleo de má qualidade na linha de refinamento, a quantidade de arraste de óleo nos solvente durante o refinamento do óleo de soja também aumenta. A perda direta também depende da qualidade da matéria-prima e pode atingir até R$ 19.440,00/ano - figura 8. O valor pode ser considerado irrisório, mas se deve lembrar que este é apenas um dos itens que compõem o custo de produção do óleo de soja. Perda devido a grãos verdes - As perdas, em valores, que ocorrem devido à presença de grãos verdes, são pouco conhecidas. Sabe-se que o óleo extraído de uma massa com alta porcentagem de grãos verdes terá em sua composição um alto índice de clorofila. E que o excesso de clorofila no óleo promove o desenvolvimento de oxidações indesejáveis. A extração desse pigmento no óleo é realizada com argila. E quanto maior a quantidade de clorofila no óleo, maior a quantidade de argila necessária para a redução do índice desse pigmento no óleo. Conseqüentemente, eleva o custo de produção. As análises cromatográficas do óleo extraídas de diferentes amostras de soja, contendo diferentes proporções de grãos ardidos, figura 9, indicam que: à medida que aumenta a porcentagem de grãos ardidos na amostra, o índice de clorofila no óleo também aumenta. A variação da cor do óleo, em unidade vermelho, analisado em cromatógrafo, com a variação de grãos ardidos, mostram que à medida que se aumenta a proporção de grãos ardidos na amostra, o valor da unidade vermelho aumenta, figura 10. O menor índice de coloração do óleo em unidade vermelho é igual a 2. Óleo Março de 2001

Fig. 08 Perda de óleo (t.) por arraste durante o refinamento pelo aumento da proporção de óleo de má qualidade. Considerando a produção de 50.000 t. de óleo/ano

Fig. 09 Índice de clorofila, com o aumento de grãos ardidos contidos na amostra de grãos (clorofila < 200 ppb teor baixo, clorofila próximo de 500 ppb alto valor)

Fig. 10 Variação da cor do óleo em unidade vermelho, de acordo com o aumento da porcentagem de grãos ardidos

de soja com valor próximo a esse é considerado de boa qualidade. O óleo de baixa qualidade é considerado aquele que apresenta um índice de unidade vermelho de valores próximos ou iguais a 10 unidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Houve correlação positiva entre picada de percevejos, grãos ardidos e acidez do óleo, isso mostra a importância do controle de percevejos nas lavouras de soja. A redução dos danos por percevejo proporcionará melhor qualidade nos grãos de soja recebidos pela indústria, que conseqüentemente produzirá óleo Março de 2001

de melhor qualidade com menor custo. Apesar da correlação positiva existente entre picada de percevejos e grãos ardidos foi possível identificar cultivares de soja que mesmo sob ataque de percevejos apresentaram baixa porcentagem de grãos ardidos e menor porcentagem de grãos verdes. Observou-se também uma grande variabilidade dessas características nas cultivares de soja utilizadas no ensaio. As informações obtidas com esse trabalho servirão para direcionar os negócios de sementes de soja e direcionar as empresas de pesquisa obtentoras de cultivares no planejamento de estratégias de mercado para seus cultivares. E também direcionar o programa de melhoramento no sentido de obter cultivares que apresentem, além de alta produtividade e resistência à doenças, possua alto teor de proteína e óleo, alta tolerância a percevejos, baixa produção de grãos verdes e boa qualidade de grãos. Esses resultados também podem contribuir para que as industrias processadoras desenvolvam programas de incentivos a produção de grãos. Programas que permitam aos produtores a utilização adequada das novas tecnologias disponíveis na condução de suas lavouras de soja. Essa estratégia possibilitará aos produtores uma melhor condição de competição, conseqüentemente, melhoria na sua condição social e de sua comunidade. Assim a indústria receberá grãos de melhor qualidade, o custo de produção será reduzido e esta cumpre sua responsabilidade social. Atualmente a demanda por produtos de melhor qualidade e notória em todo mundo. E a indústria tem consciência que um excelente produto, com preço competitivo e um ótimo serviço é uma obrigação. Sabemos que a qualidade da matéria-prima atualmente não é definida pela indústria, a indústria escolhe a matéria-prima e compra. E muitas vezes adquire matéria-prima de péssima qualidade. Estando a matéria-prima no armazém o custo de produção está praticamente definido. Se esta for de má qualidade, a tendência é de www.cultivar.inf.br

aumentar o custo de produção durante armazenamento. A definição de qualidade da matériaprima é realizada pelo produtor, quando: esse adquire sementes de cultivares de soja mais adaptada para a sua região; cultivares resistentes à doenças; efetua controle de plantas daninhas, de insetos e doenças; efetua adubação de acordo com a recomendação técnica; colhe na época certa; ou seja, perfil do produtor de semente. É aquele que aceita e possui uma ótima assistência técnica. Esse produtor terá grande chance de oferecer uma matéria-prima de excelente qualidade para a indústria. A mão invisível, como diria Adam Smith, está transformando o conceito de boa cidadania corporativa e/ou de responsabilidade social, numa questão estratégica e de sobrevivência das empresas, a longo prazo, no mundo dos negócios. Analisando todos estes pontos acima, fica a questão: Por que a indústria de processamento não participa diretamente na definição da qualidade da matéria. prima? Marcos Augusto de Freitas João Luiz Gilioli Marcos Antônio Borges de Melo Marciel Martins Borges

Cultivar

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Milho Carlos Medeiros

Milho Safrinha

Pragas do Centro Oeste

nha, os corós que já estão mais desenvolvidos e, conseqüentemente, mais vorazes, podem reduzir acentuadamente o stand da cultura. As larvas alimentam-se das raízes do milho, causando inicialmente um murchamento, seguido por amarelecimento e morte da planta. O dano é mais acentuado quando o ataque ocorre na fase inicial de desenvolvimento da cultura.

e nutrientes, tornando-as menos produtivas, bem como ficam mais suscetíveis à doenças e ao tombamento, o que intensifica os prejuízos durante a colheita. As plantas caídas ficam com um aspecto recurvado, caracterizando o sintoma conhecido como pescoço de ganso . O controle químico de larvas de vaquinha deve ser preventivo. O tratamento de se-

O revolvimento do solo com implementos de discos tem proporcionado um controle médio de cerca de 50% das larvas do coró, todavia esta medida somente é recomendável em áreas de plantio convencional. O controle químico, através do tratamento de sementes ou pulverização do sulco de plantio por ocasião da semeadura, tem-se caracterizado como alternativa promissora, especialmente nos sistemas conservacionistas como é o caso do SPD.

mentes tem-se mostrado, de modo geral, ineficiente para proteger o sistema radicular do ataque do inseto. Todavia, alguns inseticidas, quando aplicados na forma granulada ou em pulverização no sulco de plantio do milho, são eficazes no controle das larvas-de-vaquinha.

Veja quais as principais pragas iniciais da cultura e como as controlar, economicamente, visando uma boa produtividade

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afrinha é o cultivo de uma espécie vegetal fora da sua época normal, como acontece com o milho, implantado após a colheita da soja precoce. O cultivo de milho safrinha começou a ter expressão na década de 80, ocupando áreas onde as culturas de verão eram colhidas em janeiro e fevereiro. Com a redução da área cultivada com trigo na região Centro-Sul, especialmente nos estados do PR, SP e MS, durante a década de 90, o milho safrinha sedimentou-se como atividade agrícola economicamente importante. Com a expansão do sistema plantio direto (SPD) na região dos Cerrados, aliado ao incentivo da criação intensiva de animais na região e à melhoria do preço do produto nas últimas safras, a cultura do milho (verão ou de safrinha) assumiu papel importante no planejamento da propriedade agrícola, seja como atividade econômica ou como alternativa para rotação de culturas, princípio básico preconizado pelo SPD. Coincidentemente, o complexo de pragas que ocorre no milho safrinha vem aumentando em diversidade e abundância, quando compara22

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do à época normal de cultivo (verão), especialmente com relação àquelas que atacam a cultura durante sua fase inicial de desenvolvimento (até os 30-40 dias). A seguir, será feita uma abordagem das principais pragas iniciais do milho safrinha que ocorrem na Região Oeste do Brasil, bem como algumas das alternativas disponíveis para manejá-las.

CORÓS OU PÃO-DE-GALINHA

Liogenys sp. (Coleoptera: Melolonthidae): As larvas desse besouro são de coloração branco-leitosa, medem cerca de 25 mm de comprimento, no seu máximo desenvolvimento e posicionam-se em forma de U , quando em repouso. Os adultos, que são de coloração marron-escuro brilhante, fazem revoada em outubro/novembro, ocasião em que são facilmente encontrados durante a noite em faróis de veículos ou lâmpadas elétricas, devido à forte atração do inseto pela luz. Após o acasalamento, efetuam a postura no solo do cultivo de verão, onde se desenvolvem os primeiros ínstares larvais. Por ocasião do plantio do milho safri-

LARVA-DE-VAQUINHA OU LARVA-ALFINETE

Diabrotica speciosa: (Coleoptera: Chrysomelidae): À semelhança do coró, as larvas deste inseto alimentam-se das raízes do milho. São de coloração esbranquiçada, têm a região anterior do corpo mais afilada do que a posterior e apresentam, na placa anal, uma mancha escura. Em ataques precoces podem broquear o caulículo das plântulas, causando o secamento e morte das folhas centrais. Em plantas mais desenvolvidas, alimentam-se das raízes adventícias do milho. A perda dessas raízes reduz a capacidade da planta em absorver água

Danos causados por ataque de lagarta-do-cartucho, a maior praga do milho no Brasil

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Março de 2001

Março de 2001

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PERCEVEJO-CASTANHO

Atarsocoris brachiariae e Scaptocoris castanea (Hemiptera: Cydnidae): Essas duas espécies são semelhantes e caracterizam-se por apresentarem o corpo de coloração castanha e as pernas anteriores escavatórias. São insetos fáceis de serem identificados em áreas de plantio convencional, pois durante a operação de gradagem do solo, liberam um odor característico de percevejos fede-fede , manifestandose em grandes reboleiras. Ninfas e adultos movimentamse no perfil do solo em função da umidade; ficam dispostos mais na superfície em condições de alta umidade e aprofundam-se em condições de estiagem. Tanto adultos quanto ninfas sugam continuamente as raízes do milho, levando as plantas a um amarelecimento e subdesenCultivar

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Fotos CPAC

Cupins ocorrem em todo Brasil e atacam as sementes de milho causando falhas no estande da cultura

volvimento, o que pode ser confundido com deficiência mineral. Em condições de altas infestações, pode ocorrer a morte da planta. Em trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste, verificou-se que vários produtos utilizados via sementes ou no sulco de plantio (em pulverização ou na forma granulada) não proporcionaram controle satisfatório de A. brachiariae. A escassez de dados sobre a bioecologia desses insetos é, provavelmente, uma das razões que contribui para o insucesso das medidas de controle até então avaliadas.

LAGARTA-ELASMO

Elasmopalpus lignosellus (Lepidoptera: Pyralidae): O adulto (mariposa) faz a postura sobre o limbo foliar, bainha, colmo do milho ou em restos culturais presentes no solo. Daí eclodem as pequenas larvas que inicialmente raspam o tecido e depois migram para o colo das plantas, onde penetram e constróem uma galeria ascendente. No orifício de entrada da galeria, abaixo da superfície do solo, o inseto constrói um abrigo constituído de uma mistura de partículas de terra, teia, restos culturais e excrementos. Conforme a lagarta vai se desenvolvendo, a gema apical da plântula pode ser destruída. Como conseqüência dessa injúria, surge o sintoma denominado de coração morto , caracterizado pelo murchamento das folhas centrais, as quais se destacam facilmente quando puxadas. Nesses casos, pode ocorrer o perfilhamento, o que torna a planta improdutiva. O controle da lagarta-elasmo pode ser realizado através do tratamento de sementes do milho com inseticidas. Inseticidas granulados sistêmicos também podem ser utilizados no sulco, por ocasião do plantio do milho, todavia essa prática é reco24

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mendada somente em áreas onde a probabilidade de ocorrência do inseto é alta. Em lavouras não tratadas preventivamente com inseticidas e que tenham a presença da praga, sugere-se efetuar uma pulverização em alto volume (> 300 litros/ha) dirigindo-se, o máximo possível, o jato de calda para a região do colo das plantas. Mesmo nessas condições, o máximo de controle obtido experimentalmente não tem sido superior a 40-60%. Chuvas bem distribuídas, durante a fase inicial de desenvolvimento da cultura, praticamente previnem a lavoura da infestação de elasmo. A irrigação, quando possível, pode também constituir um fator de controle. Em áreas de plantio direto, a incidência da praga tem sido menor do que em lavouras instaladas no sistema de plantio convencional.

PERCEVEJO-BARRIGA-VERDE

venientes das punções que o inseto fez quando se alimentou na base da planta ainda jovem. Algumas folhas do cartucho não conseguem se desenrolarem, as quais formam um aspecto de encharutamento . Existem também evidências de que o inseto, ao se alimentar, injeta saliva para facilitar a penetração do estilete no tecido foliar e, conseqüentemente, extrair o alimento. O controle do percevejo pode ser realizado preventivamente, empregando-se inseticida via semente ou em pulverizações. Antes de efetuar o plantio do milho, recomenda-se fazer uma inspeção na área em que a soja foi colhida visando constatar a presença do percevejo, para avaliar a necessidade de se tratar as sementes, ou até mesmo efetuar uma pulverização da palhada onde o inseto se encontra. O maior cuidado com o percevejo deve ser durante a fase inicial de desenvolvimento da cultura, quando a planta é mais suscetível ao ataque. Trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste têm evidenciado que, de modo geral, os inseticidas recomendados para o complexo de percevejos fitófagos da soja são normalmente eficientes no controle do percevejo barriga-verde, em milho.

Dichelops melacanthus e D. furcatus (Heteroptera: Pentatomidae): Essas duas espécies de percevejos são relatadas como constituintes do complexo de pragas secundárias da soja em várias regiões do Brasil. Todavia, em 1993 foi relatada pela primeira vez a ocorrência de D. melacanthus causando danos em plântulas de milho no município de Rio Brilhante (MS). LAGARTA-DO-CARTUCHO Desde então, as espécies D. melacanthus Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: e D. furcatus, em ocorrência simultânea ou não, têm sido mencionadas em lavou- Noctuidae): A lagarta-do-cartucho é conras de milho na Região Centro-Sul do Bra- siderada a praga mais importante do misil (ver artigo na página 28 desta edição). O inseto apresenta a parte dorsal marrom e a ventral verde, daí o nome barriga-verde. Os ovos de coloração verde-azulada são colocados sobre as folhas do milho ou até mesmo de plantas daninhas. Durante a alimentação, esses percevejos posicionam-se, normalmente, no sentido longitudinal da planta, com a cabeça orientada para a região do colo da mesma. Nos locais de alimentação são observadas pontuações escuras Lagarta-rosca pode ser encontrada em nas folhas novas do interior todo o Brasil durante o ano todo; para o controle deve-se observar o nível do dano do cartucho. Se, no processo de alimentação, o meristema apical for danificado, as folhas centrais da plântula murcham e secam, manifestando o sintoma lho no Brasil. O seu ataque pode ocorrer denominado coração morto , podendo desde a fase de plântulas até o espigamentambém ocorrer o perfilhamento da plan- to da cultura. O adulto (mariposa) faz a ta. Quando o meristema apical não é da- postura em massas, contendo cerca de 150 nificado, as primeiras folhas que se de- ovos. As lagartas recém-eclodidas alimensenrolam do cartucho apresentam estrias tam-se primeiramente da própria casca do esbranquiçadas transversais, muitas vezes ovo e depois das partes tenras das folhas com perfurações de halo amarelado, pro- do milho, deixando apenas a parte memwww.cultivar.inf.br

Março de 2001

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Formigas são alguns dos insetos que podem prejudicar a boa implantação das lavouras de milho

branosa do tecido foliar, proporcionando o sintoma conhecido como folhas raspadas . Com o desenvolvimento, a lagarta começa a fazer orifícios cada vez maiores nas folhas, podendo causar severos danos nas plantas. Ocasionalmente, em condições de elevada densidade populacional, a lagarta pode perfurar o colo de plantas jovens, semelhante ao ataque da lagartarosca, e provocar a morte ou perfilhamento da planta. Esse comportamento é também constatado quando a lavoura de milho é instalada em semeadura direta sobre áreas de pastagens, milheto ou outra gramínea previamente dessecadas com herbicidas. Na ausência de alimento, as lagartas remanescentes na área podem destruir totalmente a lavoura de milho ou mesmo outra cultura que seja implantada na área. No controle da lagarta-do-cartucho, deve-se considerar os fatores climáticos e biológicos que atuam no agroecossistema. Períodos chuvosos na fase inicial de desenvolvimento da cultura tendem a minimizar os problemas causados pelo inseto, seja pela derrubada de ovos da planta

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ou pelo afogamento de lagartas pequenas. Períodos relativamente prolongados de estiagem favorecem o estabelecimento de altos níveis populacionais da praga. Diversos inimigos naturais (predadores, parasitóides e patógenos) são relatados na literatura como importantes agentes que atuam no controle biológico de S. frugiperda. Trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste evidenciaram que 64% das lagartas coletadas em milho, no município de Ponta Porã (MS), estavam parasitadas, sendo também encontrado um grande número de predadores no campo experimental. Esses resultados ratificam a importância dos inimigos naturais como agentes reguladores da população de S. frugiperda, bem como enfatiza a importância de se utilizar produtos de baixa toxicidade para esses agentes benéficos, quando houver necessidade da aplicação de inseticidas nas lavouras de milho. O uso de produtos químicos não seletivos pode provocar desequilíbrio ecológico no agroecossistema, devido à eliminação dos inimigos naturais. Com a criação desse deserto biológico podem ocor-

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rer fenômenos indesejáveis com ressurgência, surtos de pragas secundárias, bem como contribuir para o desenvolvimento de resistência da praga a inseticidas. O sucesso do controle da lagarta do cartucho do milho está diretamente relacionado com o método de aplicação utilizado. Inseticidas aplicados via sementes, ou na forma granulada no sulco de plantio, não têm apresentado bom controle do inseto. A aplicação de inseticidas via líquida (pulverizações com trator) deve ser feita utilizando-se bicos tipo leque, um volume de calda mínimo de 200L/ha e, sempre que possível, dirigir o jato para o cartucho da planta. Existe também a possibilidade de fazer a aplicação de inseticida via água de irrigação (pivô central).

OUTRAS PRAGAS

Outras pragas, como os cupins, largarta-rosca, larva-arame, formigas, tripes, cigarrinhas, gafanhotos e caracóis, podem ocorrer na fase de estabelecimento do milho safrinha e serem enquadradas como pragas iniciais. Todavia, são de importância secundária, pois surgem esporadicamente nas lavouras. Um inseto que tem preocupado os produtores nos últimos anos é a cigarrinha-do-milho, Daubulus maidis. A importância da cigarrinha não é pela injúria que ela causa na planta, mas sim por atuar como vetor de fitopatógenos (molicutes) que causam a doença denominada de enfezamento do milho, cuja incidência tem aumentado sensivelmente nos últimos anos, em lavouras de mi. lho safrinha. Crébio José Ávila, Sérgio Arce Gomez, Embrapa Agropecuária Oeste; Paulo Eduardo Degrande, UFMS

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Milho jovem. Os mesmos sintomas podem ser esporadicamente encontrados em plantas do gênero Brachiaria. A distribuição espacial do inseto no campo aparentemente é influenciada pela vegetação e temperatura ambientes, apresentando maior atividade ao cair da tarde. Dados coletados na região de Dourados também apontam nesse sentido. A tabela 1 indica que ninfas e adultos de D. melacanthus preferem ambientes de temperaturas amenas, como os proporcionados pelas sombras das ervas daninhas que não foram controladas pelos herbicidas. Com isso o ataque do inseto ao milho não é tão intenso durante as horas mais quentes do dia, mas pode acentuar-se ao entardecer e, provavelmente, à noite. Logo nos primeiros dias após a germinação do milho já é possível ver adultos e ninfas caminhando sobre o solo. Posicionam-se com a cabeça voltada para baixo, na base do colmo do milho, quando estão alimentando-se. É conveniente que antes da semeadura do milho, o técnico avalie se as ervas daninhas não estão servindo de abrigo para o barriga-verde. Em caso positivo, deve promover o melhor controle

Barriga-verde na safrinha Antes uma praga secundária, percevejos unem-se ao grupo de insetos que reduz a produtividade da segunda safra de milho

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introdução de uma nova espécie vegetal, de uma variedade ou, mesmo, a adoção de alguma mudança importante nas práticas culturais, pode propiciar que insetos considerados historicamente como de importância secundária adquiram a categoria de pragas primárias. Parece ser este o caso protagonizado pelo percevejo barriga-verde, pelo sistema plantio direto (SPD) e pelo milho cultivado fora de época (safrinha). O percevejo barriga-verde (ou catarina) é considerado praga secundária da soja na região Centro-Sul do Brasil, com registros das espécies Dichelops furcatus (Fabricius) e D. melacanthus (Dallas). A distribuição geográfica dos percevejos do gênero Dichelops envolve os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além da Região Sudeste do estado de São Paulo. A encontrada em milho safrinha, no Estado de Mato Grosso do Sul, foi identificada como Dichelops (Neodichelops) melacanthus (Dallas). O milho nos estádios iniciais de crescimento é mais sensível ao ataque do percevejo. O inseto pratica injúria pela 28

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introdução do estilete e sucção dos conteúdos da planta, com provável injeção de toxinas no sítio de alimentação. Dependendo da intensidade do ataque, ocorre a murcha e morte do milho. Nos locais em que o inseto alimentou-se podem ser vistos pontos escuros nas folhas novas do interior do cartucho. Ataques severos à região de crescimento da planta promovem a emissão de perfilhos, diminuindo drasticamente a produção. As que resistem aos danos, mais tarde, apresentam folhas desenroladas com vários orifícios arredondados. Estes se posicionam em linha reta no sentido transversal da lâmina foliar e, às vezes, rompemse ao coalescerem, principalmente sob ações dos ventos. Em outros casos há formação de orifícios, também enfileirados em linha reta no sentido da largura da folha, mas expandidos no sentido do comprimento da mesma, sendo aproximadamente retangulares. Há também ocasiões em que ocorre o encharutamento das folhas.

BIOLOGIA DA PRAGA

Na extremidade anterior da cabeça do barriga-verde nota-se uma reentrânwww.cultivar.inf.br

cia longitudinal profunda, conferindo um aspecto bifurcado àquela região do corpo do inseto. O adulto mede cerca de 10mm de comprimento e apresenta prolongamentos laterais do pronoto, em forma de espinhos. As extremidades destes são escuras, no caso do D. melacanthus. Na base do escutelo há um ponto branco, pequeno, de difícil percepção a olho nu. Sob lupa verifica-se que é uma região terminal, quitinosa, brilhante, esbranquiçada, com a forma de ferradura. Na parte dorsal tem coloração marrom e na ventral, verde. Seus ovos são de coloração verde-azulada, podendo ser depositados sobre as folhas de milho, ou sobre as de invasoras, como o cordão-defrade, Leonotis nepetaefolia (L.) R. Br. As ninfas apresentam coloração verde. Ocorre normalmente em baixas populações na cultura da soja e, aparentemente, multiplica-se em hospedeiros intermediários, até que seja instalada a cultura do milho safrinha. É facilmente encontrado na planta daninha vassourinha (Sorghun spp.), onde são observados os furos característicos oriundos das punções que o inseto fez quando se alimentou na base do colmo da planta Março de 2001

Distribuição de adultos e ninfas de Dichelops melacanthus na cultura do milho safrinha cultivado no sistema plantio direto, Itaporã (MS).

Ambiente de amostragem Inseto

PS2+ID3

PS2+ID3+PDCFV4

Adulto Ninfa Total

4 0 4

127 52 179

Plantas de milho5

56 32 88

112 amostragens/ ambiente, entre 11:30 e 12:30 horas, com temperatura média do ar de 330C. Palha de soja+invasora dessecada; amostragem realizada em 0,25cm2. 4 Planta daninha com folhas verdes proporcionando sombra. 5 Em seis plantas. 1

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possível das invasoras e monitorar a população do percevejo já nos primeiros dias seguintes à germinação do milho. Pesquisas desenvolvidas na região de Dourados mostram que o D. melacanthus pode ser controlado eficientemente, em milho safrinha, com os seguintes inseticidas em gramas de ingrediente ativo por hectare: monocrotofós - 150; metamidofós - 300; paratiom metílico - 480. Os resultados anteriormente citados

foram obtidos nas seguintes condições: aplicações com pulverizador equipado com bico do tipo leque e regulado para liberar 300L ha-1, sob pressão de 40lb./ pol.2. Quando possível do ponto de vista prático é conveniente que as pulverizações sejam realizadas no fim da tarde e à . noite. Sérgio Arce Gomez, Crébio José Àvila, Embrapa Agropecuária Oeste


Aplicação

Aula Prática tindo a reinfestação de pragas cujos adultos voam e se deslocam a longas distâncias.

Pequenas e rápidas dicas sobre o uso de inseticidas em lavouras sob plantio direto podem economizar dinheiro e evitar dores de cabeça para o produtor

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sam a morte de insetos que se encontram acima da superfície do solo (lagartas, percevejos, besouros, moscas, pulgões, vespas etc.) com persistência inferior a uma semana. Não controlam pragas-de-solo e não substituem o tratamento de sementes. Deve-se evitar a aplicação de doses elevadas de produtos de amplo espectro de ação na parte aérea por causa do efeito negativo sobre inimigos naturais, permiwww.cultivar.inf.br

As formulações granuladas apresentam vantagens com a liberação lenta de ingrediente ativo e período de persistência (proteção) mais longo. O uso é limitado pelo preço, relativamente elevado, dessas formulações e pela necessidade de adaptar uma terceira caixa na semeadora para distribuição do produto. Esse método, nas doses normais, é eficiente para o controle de pragas que atacam as sementes, as plântulas ou partes subterrâneas até cinco a sete semanas após a semeadura.

INSETICIDAS VIA LÍQUIDA

TRATAMENTO DE SEMENTES

O tratamento de sementes as protege contra pragas (corós, cupins, larva-arame, lanudo etc.) até duas ou três semanas após a semeadura. É difícil alcançar persistência maior do que três semanas. Algumas vezes parece proteger por períodos maiores, porém, pode ser por causa da ausência da praga. O tratamento de sementes contra pragas que atacam plântulas apresenta resultados erráticos. Todas as formulações comerciais disponíveis no mercado protegem contra as pragas que atacam a semente. Alguns inseticidas protegem bem contra a lagarta-da-aveia (Pseudaletia spp.) outros contra pulgões. Para a lagarta-rosca (Agrotis sp.), brocas (Listronotus bonariensis, Elasmopalpus lignosellus), cigarrinhas (Deois spp. e outras), percevejos (Dichelops spp.), grilos (Anurogryllus spp.) e outras pragas iniciais, os resultados são instáveis e a persistência é curta. Quando ocorrem chuvas regulares e a umidade de solo é mantida em teores elevados, o controle é satisfatório. Em períodos de seca, a absorção de inseticida é reduzida, a planta não cresce e a temperatura do solo se eleva aumentando a capacidade de consumo da praga. Essa combinação de fatores resulta em menor eficácia de inseticidas aplicados na semente.

INSETICIDAS NO SULCO DE SEMEADURA

melhoria dos sistemas de produção e a pressão que as pragas exercem sobre as lavouras requerem que o agricultor tenha em mente alguns fatos ao aplicar inseticidas na lavoura. Pensando nisso, elaboramos algumas dicas rápidas para quem utiliza o sistema de plantio direto. Os inseticidas aplicados na parte aérea, ou mesclados com herbicidas, cau-

INSETICIDAS VIA SECA (GRANULADOS)

O uso de inseticidas no sulco de semeadura (granulados ou líquidos) apresenta a vantagem de aplicar maior quantidade de ingrediente ativo e de período mais longo de persistência do que o alcançado com o tratamento de sementes. As culturas com baixa população de plantas, como o milho e o girassol, com apenas 5 sementes/m², necessitam de proteção na semente ou no sulco contra o dano de pragas. Outras culturas como o trigo (330 sementes/m²) ou a soja (30 a 40 sementes/m²), não necessitam de proteção com inseticidas em condições normais de lavouras. Março de 2001

A aplicação de líquidos no sulco de semeadura apresenta a vantagem de formulações comerciais mais baratas, usadas para aplicação na parte aérea de plantas, e a experiência consagrada de agricultores na regulagem de pulverizadores. É necessário adquirir ou adaptar equipamento nas semeadoras para direcionar o jato de inseticida para dentro do sulco de semeadura. É importante regular a vazão para volumes baixos, em torno de 10 l/ha, optando por manômetro de baixa pressão, para permitir melhor regulagem, e por bico cone de baixa vazão e sem

difusor ou por bico leque com ângulo de abertura menor. Assim, dirigindo o jato na forma de esguicho, para dentro do sulco, sem molhar os discos da semeadora e o solo ou a palha exposta à radiação solar. Deve-se aplicar o inseticida dentro do sulco e cobrir com solo, usando a roda ou disco de fechamento (cobertura) da semeadura. A aplicação de inseticidas líquidos no sulco, durante a semeadura, é viável e eficiente para as pragas que atacam as sementes e as pragas-de-solo (corós, larvaarame, larva-alfinete) nas culturas com maior espaçamento entre fileiras, como milho, girassol e algodão. Essa forma de uso de inseticidas substitui o tratamento de sementes, o uso de granulados e controla algumas pragas de plântulas na superfície do solo. Nas culturas com espaçamento menor entre fileiras, como trigo, cevada, aveia e canola, é inviável usar inseticida líquido dirigido no sulco de semeadura. Nesses casos, é mais prático, eficiente e econômico fazer o tratamento de sementes com inseticidas.

INSETICIDAS VIA IRRIGAÇÃO

A quimigação, ou aplicação de inseticidas na água de irrigação, é adotada por

alguns agricultores para o controle da lagarta-do-cartucho, entretanto, se considerar o elevado volume de água aplicado na irrigação (5 mm: 50.000 l/ha) e a baixa capacidade da planta reter água (600 a 800 l/ha na superfície da parte aérea e no milho até 2000 l/ha no cartucho) o índice de aproveitamento de inseticida é inferior a 4%. Ou seja, 96% do inseticida aplicado cairá no solo com a água de irrigação. É um método inadequado e deve ser evitado pelo efeito negativo na morte de inimigos naturais de pragas e por favorecer a ressurgência das pragas cujos adultos são voadores, como as mariposas e os pulgões.

ALERTA FINAL

Antes de optar por métodos de aplicação ou pelo uso de inseticidas para pragas-de-solo, deve-se examinar a lavoura, amostrar o solo e determinar as populações das espécies que podem atingir o nível de praga e, então, definir a melhor estratégia econômica e prática de mane. jo ou de controle. Dirceu N. Gassen, Embrapa Trigo


Arroz tura da soja plantada em rotação após o arroz precoce em janeiro, os riscos de insuficiência das variáveis climáticas citadas estariam ausentes ou minimizados. Desse modo o plantio direto surge como alternativa à proteção do solo contra erosão, preservação da umidade e estrutura do solo e maior sustentabilidade ambiental e econômica da atividade agrícola. A virada do milênio desafia pesquisadores das ciências agrárias e produtores no sentido de aumentar a produção e produtividade das culturas sem riscos de degradação do meio ambiente. Na região de cerrado é imprescindível e indispensável que o solo possa ser utilizado no período de entressafra, e o plantio direto de soja em sucessão ao arroz precoce, devido às condições climáticas locais as quais somente viabilizam o plantio no mês de janeiro passa a ser uma alternativa possível no sistema de

plantio direto, e excelente opção no que diz respeito à rotação de cultura. O plantio direto de soja safrinha em sucessão ao arroz precoce tem sido objeto de trabalho científico da Agro Norte Pesquisas Ltda e surge como possibilidade a ser mostrada ao produtor como opção de safrinha ou cultura de outono / inverno no cerrado. É sabido que no cerrado o patrimônio solo fica exposto ao fator intempérie no outono / inverno o que sem dúvida o leva à degradação. Considere se, ainda, a ação mecânica de preparo do solo via gradagem após a colheita do arroz da safra de verão, que o expõe aos riscos da erosão, principal objetivo de controle dentro do sistema de plantio direto. A Agro Norte vem desenvolvendo um trabalho pioneiro no sentido de pesquisar a soja precoce como opção de safrinha no sistema de plantio direto em sucessão ao arroz precoce,

propiciando a cobertura permanente do solo por biomassas vivas ou mortas, rotação de culturas e ausência de operações mecânicas de preparo do solo. Outro enfoque de destaque no pioneirismo deste trabalho é o incremento da resistência à doenças dentro do sistema de plantio direto. Não se pode esquecer que o binômio plantio direto rotação de culturas maximiza a produção e produtividade da lavoura implantada na safra seguinte. É incontestável a realidade do sistema de plantio direto no cenário da agricultura brasileira e a Agro Norte oferece ao produtor o sistema de plantio direto da soja em rotação ao arroz precoce como forma de dinamizar e incrementar uma produção agrícola . sustentável. Angelo Carlos Maronezzi, Gerbi Luiz de Lucas, Agro Norte Pesquisas Ltda.

Arroz e Soja

Dupla promete fazer sucesso na safrinha do Mato Grosso

É

sabido que no cerrado mato-grossense o regime de chuvas é claramente delimitado iniciando se normalmente em outubro com fechamento drástico no final do mês de abril e início de maio. A partir daí a estação da seca ocupa espaço claro e definido com a ociosidade do solo até a estação chuvosa seguinte. Pelo exposto, a opção de safrinha e rotação de cultura esbarra em problemas de ordem técnico agronômica muitas vezes levando o produtor ao sistema de monocultura. Em relação à água, luminosidade e temperatura diurna e noturna praticamente inexiste variabilidade até o final do mês de maio. Partindo se da 32

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hipótese soja como opção de safrinha em sucessão ao arroz precoce, plantada tempestivamente em janeiro, as variáveis climáticas acima e a questão água estariam sob controle e elegendo se uma variedade de soja pouco sensível ou indiferente ao fator luminosidade em rotação com o arroz plantado em outubro o sucesso do plantio e colheita estariam preservados, afinal a fonte de energia da qual as plantas dependem é a luz. Além da utilização da luz no processo de fotossíntese e fototropismo ela tem um papel importante no crescimento das plantas. Assim, a germinação de sementes, o desenvolvimento da planta e a floração são alguns dos processos de desenvolwww.cultivar.inf.br

vimento controlados pela luz. A regulação do desenvolvimento em relação à luz ambiente é de suma importância para um organismo dependente da luz como fonte de energia. As respostas não dependem apenas de ausência ou presença de luz, mas também da variação em qualidade luminosa. O comprimento do dia é o fator ambiente que dá a indicação mais precisa da época do ano e as plantas respondem as diferenças de comprimento do dia com mudanças drásticas no seu desenvolvimento e o melhor exemplo aqui é a indução floral. No entanto, na região do cerrado na fase crítica de exigência de água, luminosidade e temperatura para a culMarço de 2001

Março de 2001

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Algodão Cultivar

Tecnologia para exportar

Com o aumento das vendas para o mercado externo, o produtor de algodão tem de seguir algumas medidas para colher um bom produto

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O

Brasil a partir da safra 1999/2000 está retomando as exportações de pluma de algodão, tendo conseguido exportar mais de 25mil t de plumas em 2000. As estimativas para 2001 apontam para a exportação de aproximadamente 100 mil t de algodão, enquanto que para a safra 2002/2003 poderemos chegar a exportar 200 mil t de pluma. Os grupos empresariais que pretendem participar deste mercado devem considerar uma série de informações e tecnologias de modo a estabelecer um padrão de qualidade do produto brasileiro a ser exportado, o qual estará diretamente relacionado com os preços a serem obtidos no mercado externo. De início, deve ser considerado que 3% do mercado de algodão é representado pelas fibras extra-longas (acima de 36 mm de comprimento). Os países que mais produzem as fibras longa e extra-longa são: Egito, Índia, Estados Unidos, China e Uzbequistão, sendo que mais de 50% da produção é obtida nos dois primeiros, com colheita manual e produção em áreas isentas do bicudo do algodoeiro. Assim, em curto prazo, estrategicamente é mais adequado para o Brasil participar do mercado de fibras médias, correspondente a 97% do consumo mundial. Outro aspecto a ser considerado é se o Brasil se firmará no mercado externo como produtor de fibras medias de baixa qualidade, a ser comercializada a preços em torno de US$ 0,40/lb peso ou como exportador de fibras médias de alta qualidade a ser comercializada a preços superiores a US$ 0,50/lb peso. O algodão de baixa qualidade se caracteriza por apresentar baixa resistência de fibras, fibras muito finas ou muito grossas, baixa maturidade e uniformidade, alto teor de neps e de açúcares, além de tipos elevados (tipos 6 a 8) resultantes de elevado grau de contaminantes externos, fibras manchadas decorrentes de fatores biótipos ou abióticos. Fica claro que o algodão brasileiro, destinado a exportação deverá ser de alta qualidade, produzido no cerrado do centro-oeste, sob condições de precipitação normal, ou no nordeste sob condições irrigadas, por proMarço de 2001


Aenda - Defensivos Genéricos

dutores altamente tecnificados e mecanizados. Porém, mesmo estes produtores, considerados atualmente os melhores do país, em algumas situações produzem produtos de qualidade inferior, que não devem ser encaminhados para exportação. As causas identificadas na safra 1999/2000, que levaram à obtenção de algodão de baixa qualidade por produtores altamente tecnificados foram as seguintes: uso de adubação desequilibrada por excesso de adubação nitrogenada ou falta de potássio; plantio tardio ou fora da época ideal de semeadura; desfolhamento precoce resultando em fibras finas e imaturas, resultantes de fome de potássio, falta de umidade no final do ciclo, ataque de curuquerê ou aplicação prematura de desfolhantes; erros no manejo de pragas, especialmente no controle do pulgão, quando se utiliza cultivares susceptíveis a virose, resultando em algodão doce ou com altos teores de açucares depositados nas fibras; fibras desuniformes resultantes do beneficiamento de várias cultivares com características de fibras diferentes em uma mesma algodoei-

ra, sem separação de lotes; colheita de algodão com alto índice de infestação de ervas daninhas ou bastante enfolhado, resultando em tipos inferiores; colheita de algodão muito ressecado, resultante de grande demora na colheita após a abertura total dos capulhos; tentativa de melhoria dos tipos obtidos através do uso de limpa-plumas nas algodoeiras, resultando em elevação dos teores de neps. Com esse diagnóstico fica claro que o algodão de alta qualidade, destinado à exportação, deve ser obtido no campo, através do manejo correto da cultura e não se tentar corrigir os defeitos de erros de condução através de processos de limpeza nas algodoeiras. A seguir apresentaremos as tecnologias necessárias a correção desses erros de manejo, com o objetivo de se produzir algodão de alta qualidade destinado a exportação, separando em . dois pacotes de tecnologias. Eleusio Curvêlo Freire, Francisco José Correia de Farias, José da Cunha Medeiros, Embrapa Algodão

Tecnologias para produção de cultivares susceptíveis a viroses Cultivares: CNPA ITA 90, DP ACALA 90, CS 50, IAC 22; Adubação: Usar adubação equilibrada, preferivelmente com menos nitrogênio (produtores de Mato Grosso) e maior teor de potássio (produtores de Goiás); Época de plantio correta: Novembro em GO, MS, MG, BA e Dezembro no MT; Manejo Integrado de Pragas normal para todas as pragas, a exceção do pulgão, que deve ser controlada sempre que o nível de infestação atingir 10% das plantas com pulgões entre os 5 aos 130 dias da emergência e de 20% das plantas com colônias pequenas entre os 130 a 180 dias da emergência, para se evitar o problema do algodão doce ou açucarado; não permitir desfolhamento da lavoura por ataque de curuquerê, a não ser que 70 a 80% dos capulhos já estejam abertos naturalmente; Controle preventivo de ramulose e ramularia com uso de fungicidas, nas fases iniciais de surgimento das doenças (iniciar os controles aos 35-40 dias da emergência); Manter a lavoura no limpo até a fase da colheita, com aplicação de herbicidas em jato dirigido; Desfolhar a lavoura quando 70 a 80% dos capulhos estejam abertos com uso de desfolhantes ou maturadores, procedendo a colheita em seguida; No descaroçamento, utilizar umidificadores e não utilizar limpa-plumas ou costelation para obter algodão com baixo teor de neps. Caso seja descaroçada mais de uma cultivar na algodoeira, separar as cultivares em lotes diferentes; Analisar todos os fardos destinados à exportação em HVI; Destinar à exportação lotes colhidos e beneficiados do início ao meio da estação, visto que os lotes da fase final de colheita apresentam valores de finura muito baixos.

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Cultivar

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Tecnologias para produção de cultivares resistentes a viroses

Cultivares: BRS Antares, BRS ITA 96, Delta Opal, Cood 404; Adubação: Usar adubação equilibrada, preferivelmente com menos nitrogênio (produtores de Mato Grosso) e maior teor de potássio (produtores de Goiás); Época de plantio correta: Novembro em GO, MS, MG, BA e Dezembro no MT; Manejo Integrado de Pragas normal para todas as pragas, incluindo o pulgão, que deve ser controlada sempre que o nível de infestação atingir 60% das plantas com colônias grandes de pulgões entre os 15 aos 130 dias da emergência e de 20% das plantas com colônias pequenas entre os 130 a 180 dias da emergência, para se evitar o problema do algodão doce ou açucarado; não permitir desfolhamento da lavoura por ataque de curuquerê, a não ser que 70 a 80% dos capulhos já estejam abertos naturalmente; Controle preventivo da ramularia com uso de fungicidas, nas fases iniciais de surgimento da doença (iniciar os controles aos 35-40 dias da emergência); Manter a lavoura no limpo até a fase da colheita, com aplicação de herbicidas em jato dirigido; Desfolhar a lavoura quando 70 a 80% dos capulhos estejam abertos com uso de desfolhantes ou maturadores, procedendo a colheita em seguida; No descaroçamento utilizar umidificadores e não utilizar limpa-plumas ou costelation para obter algodão com baixo teor de neps. Caso seja descaroçada mais de uma cultivar na algodoeira, separar as cultivares em lotes diferentes; Analisar todos os fardos destinados à exportação em HVI; Destinar à exportação lotes colhidos e beneficiados do início ao meio da estação, visto que os lotes da fase final de colheita apresentam valores de finura muito baixos.

Março de 2001

Agroquímicos:

Reduzindo a concorrência No ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, cognominada ANVISA, estabeleceu novas regras para avaliar produtos agrotóxicos contendo ingredientes ativos já registrados. Os estudos elevavam o custo do dossiê, na área da Saúde, do patamar de R$ 85mil para R$ 1.600 milhão, inviabilizando o registro para produtos genéricos. Após muita pressão da sociedade e com a intervenção do Ministro José Serra, o assunto foi resolvido em agosto, com o restabelecimento das condições anteriores. Agora, no apagar do século 20, a ANVISA voltou a infligir pesado ônus para a indústria de agrotóxicos. Ao reeditar a Medida Provisória nº 2134-25, em 29.12.2000, multiplicou a taxa para concessão da avaliação toxicológica, que era de R$ 1.800,00 para R$ 80 mil ( produtos técnico com ingrediente ativo novo), R$ 40mil (produto técnico com ingrediente ativo já registrado no país), R$ 40mil (produto formulado), R$ 25mil (avaliação preliminar), R$ 25mil (para inclusão de cultura sic !), R$ 40 mil (componentes, ou seja, solventes, diluentes, etc., o Quantidade Suficiente Para ou q.s.p. dos medicamentos) e mais algumas que o espaço aqui já não permite. E, arremata, com a exigibilidade destas taxas a cada 5 anos, mesmo sendo o registro de agrotóxico atemporal. É certo que continuam os descontos por porte de empresa, mas os valores estipulados foram de tal monta que, novamente, as empresas do setor, em especial as dedicadas à produção de produtos em domínio público, ou seja, com patente vencida, não terão condição de registrar novos produtos. Para uma melhor compreensão sobre a carga que representa este novo tributo, fizemos um exercício, descrito a seguir:

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1. Simulação da taxa total para avaliação toxicológica de um agrotóxico contendo ingrediente ativo já registrado no país, de empresa considerada de porte médio, com desconto de 30%: 1.1 Avaliação preliminar do produto técnico = R$ 17mil 1.2 Avaliação final do produto técnico = R$ 28 mil 1.3 Avaliação preliminar do produto formulado = R$ 17.500,00 1.4 Avaliação final do produto formulado = R$ 28 mil 1.5 Avaliação dos componentes do produto formulado, considerando 5 componentes = R$ 140 mil TOTAL = R$ 231mil É certo que continuam os descontos por porte de empresa, mas os valores estipulados foram de tal monta que não terão condições de registrar novos produtos 2. Simulação do cálculo do valor das taxas, tomando por base o salário de um técnico e o número de horas trabalhadas: 2.1 Custo do homem/hora = R$ 16,66 Um funcionário público, ganha no máximo R$ 8 mil por mês (240 horas de trabalho). Considerando que a avaliação toxicológica seja feita por um técnico que ganhe R$ 4 mil por mês, o custo do homem/hora equivale a 4000 / 240 = R$ 16,66. 2.2 Nº de horas da avaliação total = 13.865 (1.733 dias, quase 5 anos) O resultado é obtido com a divisão do valor total das taxas (R$ 231 mil) pelo custo do homem/hora.

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Não sabemos como a ANVISA chegou aos valores destas taxas (o quadro 2 é apenas uma conjectura), mas sabemos, com certeza, que esses valores são inconcebíveis para o exame de substâncias genéricas. Ainda mais, quando se sabe que os dados toxicológicos já são de conhecimento da comunidade científica internacional e da própria ANVISA. Impressiona e causa espécie saber que o mesmo órgão tem uma postura bem mais flexível e razoável quando avalia os medicamentos genéricos / similares. Nos medicamentos a preocupação é com a qualidade química, com as boas práticas de fabricação e com a equivalência da biodisponibilidade. Por que a postura não é a mesma na área de pesticidas, afinal estes e aqueles não passam de substâncias químicas, onde o importante é saber se são bem fabricadas e se são eficazes ? Achamos que o assunto ainda não chegou até o Ministro José Serra, senão a postura seria a mesma dos medicamentos: pró genéricos. Agrotóxico mais barato diminui o custo dos alimentos. População melhor alimentada, com certeza tem mais saúde. Há algo de errado na fixação destas taxas, ou a ANVISA se transformou, queremos crer, inadvertidamente, em um braço governamental a impedir o desenvolvimento da indústria de agroquímicos genéricos. Será que esta importante Agência não compreende que a concorrência promovida pelos genéricos é feita com o sacrifício de margens de lucro e com a divisão da oferta entre diversos fabricantes, fato que retira o ganho por escala? Taxas podem até haver, caso o orçamento da Agência não alcance seus propósitos de controle, mas devem ser criteriosamente definidas e, sempre, considerando uma política maior que preserve a base de concorrência patrocinada pelos genéricos.

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CTSM

Café

A constante preocupação dos produtores com a queima de pastagens pela geada pode ser amenizada. O alívio resulta de um projeto desenvolvido pela Epamig, da Cooparaíso e UFLA. A conclusão foi de que a utilização da casca de café nas rações de novilhos confinados, em substituição ao MDPS (milho desintegrado com palha e sabugo), é viável em todos os níveis, tornando-se um alimento alternativo e de baixo custo para os pecuaristas, particularmente àqueles envolvidos na atividade de produção intensiva de bovinos de corte

Café para para oo boi boi Café U

m dos subprodutos da agricultura em maior abundância na região Sul de Minas Gerais é a casca de café. Na safra 1998/99 o Estado mineiro produziu 8,78 milhões de sacas do produto beneficiado, que gerou aproximadamente 530 mil toneladas de casca, a qual retorna às lavouras como composto orgânico, ou se perde por não ter outra forma de aproveitamento. Os pesquisadores estavam diante da solução para os fatores disponibilidade e preço dos ingredientes utilizados na alimentação de bovinos. E começaram o experimento que, inicialmente, visou estabelecer o nível de casca de café que pode ser incluído na ração concentrada, em substituição ao MDPS, para reduzir o custo da ração sem comprometer de forma significativa o ganho de peso dos animais. Para isso, os técnicos avaliaram a substituição do MDPS pela casca de café nos níveis de 20, 40 e 60% utilizando 200 novilhos, mestiços e/ou cruzados, oriundos de

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Cultivar

rebanhos leiteiros da região Sul de Minas Gerais, com idade entre 2 e 3,5 anos e peso vivo inicial médio de 385 quilos. O delineamento experimental utilizado foi de blocos causalisados, sendo cinco blocos (categoria de pesos) e quatro tratamentos (rações) com 50 animais por tratamento. O período total somou 98 dias, sendo 84 dias de experimentação e 14 dias de período pré-experimental, para que os animais se adaptassem ao regime de confinamento, à alimentação e ao manejo experimental. Na tabela são apresentados os tratamentos ou rações experimentais que foram fornecidas durante o período experimental. Os animais foram pesados a cada 28 dias em jejum de água de 12 horas e alimentação de 8 horas. Diariamente eram pesadas as rações concentradas e volumosas (silagem de milho) fornecidas. Também diariamente eram pesadas as sobras dos cochos, com o objetivo de medir o consumo de alimentos.

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Os resultados técnicos (ganho médio de peso diário) e econômico envolvendo o custo das rações e relação benefício/custo podem ser melhor observados na tabela 2. A utilização do subproduto nos níveis 20, 40 e 60% em substituição ao MDPS, proporcionou menor ganho médio de peso vivo dos animais comparados à ração testemunha, sem casca de café. O consumo de MS do concentrado, volumoso e total, não foi alterado pela inclusão da casca de café nas rações. No entanto a ração com 60% de casca de café proporcionou maior conversão alimentar em relação às demais rações. Por outro lado, estes resultados dependiam de análise econômica para mostrar quais deles são melhores economicamente - o que foi feito. Na tabela 3 são apresentados os custos por tonelada das rações experimentais. Como pode ser observado, a substituição do MDPS pela casca de café reduz o custo de produção da ração, chegando a 37% na

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ração com 60% do subproduto. Pelo resultado técnico, verifica-se que os animais ganharam menos peso com as rações contendo 20, 40 e 60% de casca de café. Restava, portanto, saber se a redução do custo da ração compensaria o ganho de peso menor dos animais, ou seja, se a relação benefício/ custo das rações com casca de café é maior que a ração sem casca. Observa-se que a ração com 60% de casca de café proporcionou um benefício/custo maior que as rações 0, 20 e 40%, mas o custo com a alimentação por boi/dia quando utilizou-se as rações 20, 40 e 60% foi inferior 9, 14 e 25% respectivamente em rela. ção à ração testemunha. Matéria extraída de artigo dos seguintes pesquisadores:

Adauto Ferreira Barcelos (1) Ivo Francisco de Andrade (2) Igor M. E. V. Von Tiesenhausen (2) Ricardo de Souza Sette (2) Carlos F. Hermeto Bueno (2) José Joaquim Ferreira (1) Reginaldo Amaral (1) Paulo César Aguiar Paiva (2) 1 - Pesquisador Epamig/CTSM 2 - Docentes da UFLA

Como utilizar A maneira prática para utilização da casca de café na alimentação de bovinos consiste em colocá-la diretamente no cocho, sem moer. Ela pode ser fornecida para todas as categorias de bovinos, principalmente na época seca, quando a falta de alimento volumoso é evidente, mas de forma restrita. A recomendação é de 600 gramas de casca de café para 100 quilos de peso vivo do animal. Significa que um animal de 100 quilos de peso vivo pode comer no máximo 600 gramas de casca por dia; um de 300 quilos pode comer no máximo 1,8 quilo diariamente. A casca de café pode ser fornecida para os bovinos, sozinha ou misturada ao volumoso. Caso seja usada no concentrado, utilizar no máximo o nível de 40%. Este nível é seguro para todas as categorias animais, como bezerros, novilhas, vaca em lactação e novilhos para engorda. Esta recomendação é somente para bovinos. A casca de café não deve ser empregada na alimentação de eqüinos. O produtor, portanto, deve ficar atento quando utilizá-la na alimentação de bovinos, não permitindo que os eqüinos comam. Informações adicionais ou detalhes podem ser obtidos com Adauto Ferreira Barcelos via e-mail: barcelos@ufla.br.

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Composição das rações experimentais utilizadas no experimento, valores expressos em porcentagem Rações Ingredientes

0%

20%

40%

60%

MDPS* Farelo de algodão Milho moído Casca de café moído Sal mineralizado Calcário calcítico

60 25 12 00 02 01 100

40 25 12 20 02 01 100

20 25 12 40 02 01 100

00 25 12 40 02 01 100

Total

* Milho desintegrado com palha e sabugo.

Consumo dos concentrados, volumoso e total, ganho de peso vivo e conversão alimentar segundo as rações experimentais, em 84 dias de confinamento Consumo de alimentos (1kg de MS/animal/dia) Rações

Concentrado

Volumoso

Total

Ganho de peso (kg/animal/dia)

Conversão alimentar

0% 20% 40% 60%

4,3 4,3 4,4 4,1

9,1 8,9 9,1 9,1

13,4 13,2 13,5 13,2

1,10 0,96 0,94 0,88

12,2 13,7 14,4 15,0

Custo das rações experimentais. Valores expressos em dólar comercial Custo por tonelada

Rações

0% 20% 40% 60%

Base 100

131.54 115.40 99.40 88.30

100 82 76 63

Benefício e custo por boi ao dia com alimentação e relação benefício/custo em função das rações experimentais Rações

Benefício/boi/dia (US$)

Custo/boi/dia (US$)

Benefício/custo

0% 20% 40% 60%

0.94 0.83 0.81 0.75

1.08 0.98 0.94 0.81

0.87 0.85 0.86 0.93

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Biotecnologia

Transgênicos

Riscos e benefícios Pesquisadores ainda divergem sobre as reais possibilidades e perigos apresentados pelas variedades transgênicas

A

nossa geração está presenciando uma das mais importantes quebras de paradigma da História. Mantidas as proporções, algo como o Renascimento para as Artes, o surgimento do motor a vapor para a indústria, o telégrafo, o rádio e o telefone para as comunicações, o cinema para o lazer. Para ficar no ramo agrícola, o surgimento dos agrotóxicos orgânicos, na década de 40 significou uma inovação que revolucionou o sistema agrícola. Agora estamos promovendo o câmbio do signo químico (ou bioquímico) para o biotecnológico. No conceito, não se trata de uma revolução, porque criar novas variedades vegetais ou raças animais, purificalas, selecioná-las e aprimorá-las constantemente, com a introdução de caracteres desejáveis, é um procedimento milenar, com raízes empíricas quando a Humanidade migrou do extrativismo para a agricultura e o pastoreio. O que inova é a técnica utilizada para transferir os genes desejados, incorporandoos à nova variedade. Com as técnicas de engenharia genética o conceito de variabilidade genética desprende-se dos grilhões do gênero e espécie para ser a própria biodiversidade, por vezes além dela, ao gerar mutantes de genes que não existiam na natureza. Computa-se como vantagem a redução significativa do tempo necessário para a obtenção do novo genoma e, futuramente, maior taxa de sucesso, menores custos e combinações cada vez mais complexas do pool genético, beirando a fantasia da variedade custom made .

A POLÊMICA

Não existe revolução indolor, assim como não existe mudança de paradigma que não esteja associada à polêmica, pela índole conservadora do Ser Humano, e pelo medo instintivo do Desconhecido, possivelmente uma das armas da Natureza para a preservação do indivíduo e da espécie. Não poderia ser diferente com a biotecnologia, que gerou uma polarização de pontos de vista entre pessoas ou organizações que se posicionam pró ou contra a pesquisa, de40

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mesmo benéfica, um grupo importante tornou-se flagelo que degrada o meio ambiente, alterando as funções e a estrutura dos ecossistemas. Calcula-se em US$137 bilhões anuais os danos diretos, indiretos e o custo de controle de organismos exóticos. Estudiosos consideram as espécies invasivas tão prejudiciais ao ambiente quanto o aquecimento global e o desaparecimento de habitats naturais. Em teoria, existe a possibilidade de um OGM tornar-se invasivo, pela incógnita que cerca todas as possíveis interações gênicas e de genótipo x ambiente, que podem fugir do controle dos cientistas. Entretanto, para que isso ocorra, algumas condições são exigidas, como maior capacidade competitiva, alta adaptabilidade, persistência, sobrevivência, capacidade de reprodução do organismo, entre outras. Ou seja, as mesmas habilidades exigidas de um organismo natural, o que facilita a implementação de um sistema eficiente de prevenção do perigo.

EFEITOS EM ORGANISMOS

Visão de Bacillus thuringiensis através de microscópio

senvolvimento e uso comercial de OGMs. Os favoráveis descartam qualquer cenário de médio prazo para a agricultura e a medicina que não seja a utilização cada vez mais intensa da engenharia genética para reduzir custos, melhorar a qualidade, superar adversidades ambientais, atender as demandas dos consumidores. Os que se posicionam em contrário brandem argumentos de defesa da saúde pública e do meio ambiente, visualizando no processo um mero instrumento de dominação tecnológica por parte de grandes corporações, merecendo apenas um vade www.cultivar.inf.br

retro Satanás! . Os fatos ainda são muito recentes e novos estudos são despejados cotidianamente na comunidade científica, o que levou dois renomados pesquisadores da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA a revisarem a literatura publicada em revistas altamente conceituadas, para avaliar a consistência das informações existentes relativas a riscos e benefícios de OGMs.

RISCO DE INVASÃO AMBIENTAL

Estima-se que 50.000 espécies tenham sido introduzidas nos EUA e, embora a maioria seja considerada como não-ativa, ou Março de 2001

Foi amplamente divulgado o teste de laboratório em que borboletas monarcas foram intoxicadas pela ingestão de pólen de milho Bt. No entanto, não há informações sobre o efeito a campo ou sobre a relação pólen ingerido x letalidade para permitir, por exemplo, uma comparação direta com a aplicação de Bacillus thuringiensis convencional, ou de um agrotóxico químico.Também foram relatadas alterações no ecossistema radicular de lavouras de genótipos transgênicos. Entretanto não existem estudos que demonstrem qual o significado prático das alterações verificados, especialmente seu impacto de longo prazo. É importante lembrar que fungicidas e inseticidas apresentam um forte impacto na microflora do solo, podendo, por exemplo, afetar a fixação simbiótica de nitrogênio. Da mesma forma, espécies úteis ou nativas, que necessitam de organismos (plantas ou animais) considerados nocivos ou daninhos ao processo agrícola, podem ser afetados pela sua supressão do ambiente, com o uso de plantas que expressem toxinas com efeito inseticida, ou que resistam a determinados herbicidas. Novamente, esse fenômeno também pode ser verificado com o uso excessivo de agrotóxicos, ou sem a observância de parâmetros técnicos. Do ponto de vista teórico, pode existir bioacumulação de proteínas tóxicas na cadeia alimentar, afetando organismos não visados. Entretanto, os poucos estudos disponíveis não esgotam a questão, ou mesmo demonstram em definitivo que esse seja um risco considerável, quando cotejado com moléculas relativamente mais estáveis, como é o caso de agrotóxicos. A bioatividade de proteínas produzidas por OGMs declina rapidamente com o tempo, sendo mais intensa em condições desMarço de 2001

favoráveis de temperatura e umidade. Especificamente em relação à variedades Bt foi verificado que microorganismos do solo degradam a toxina produzida, porém essa tem a propriedade de ligar-se a partículas do solo, reduzindo a taxa de biodegradação, conseqüentemente aumentando a persistência. Como esse fenômeno depende do teor de argila do solo, não há estudos cobrindo a diversidade de interações entre a composição do solo, a microfauna e microflora, o histórico de cultivo, as curvas de temperatura, entre outros fatores que afetam a degradação, para permitir resultados conclusivos.

VÍRUS PATOGÊNICOS

Observações empíricas demonstraram o potencial de desenvolvimento de vírus com novas características biológicas, através de infecção de plantas transgênicas resistentes a vírus, pela recombinação gênica ou heteroencapsulação. A recombinação pode ser induzida em laboratório, pela troca de material genético com strains aparentados. Entretanto, a literatura não registra estudos demonstrando a possibilidade de que esse processo ocorra em condições naturais. Da mesma forma, em laboratório existe a possibilidade de um vírus encapsular um aparentado, alterando a sua taxa de transmissibilidade e resistência a fatores adversos. Entretanto, o vírus modificado não produz as proteínas que o envolvem e protegem, por não ter havido troca de material gênico, o que praticamente anula a perspectiva de um perigo real em condições de campo. Contabilizado entre os benefícios, o uso de material genético resistente à pragas e

Gazzoni acredita que há grande potencial no uso de técnicas de transgenia, mas que se deve observar a vontade do consumidor

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doenças possui um potencial fantástico de substituição de agrotóxicos, a ponto de estrategistas de grandes corporações internacionais trabalharem com o cenário de obsolecência de plantas químicas nas próximas décadas. Embora as estatísticas registrem uma redução de 3,5% no volume de agrotóxicos aplicados na agricultura americana entre 1997 e 98, o benefício não pode ser creditado totalmente ao uso de variedades transgênicas, pelo uso ainda relativamente baixo de OGMs, e pela flutuação natural no uso de agrotóxicos, em função de outros fatores. Em culturas específicas, como o caso do milho Bt, o USDA credita à sua utilização uma redução de 5% no volume de agrotóxicos aplicados. Outros benefícios referidos são o aumento da produtividade, a estabilidade da produção, melhor qualidade, produção de substâncias farmacológicas, maior tempo de prateleira, adaptação a condições edafo-climáticas adversas, entre outras.

O QUE SE CONCLUI

Os pesquisadores do EPA concluem que ainda é cedo para qualquer conclusão! Chamam a atenção que tanto os estudos sobre perigos ou benefícios de OGMs ainda não possuem a abrangência que permita extrapolar suas conclusões, ou mesmo garantir a repetibilidade dos resultados, pela especificidade das condições em que foram conduzidos. Além da deficiência de conhecimento, os modelos matemáticos preditivos ainda são incipientes para promover a interação e extrapolação das condições experimentais para condições de lavoura, exigindo ainda muito fosfato e trabalho conjunto de agrônomos, biólogos e matemáticos. Além disso, a quantidade de material genético transferido é limitada à pequenas porções do genoma, permitindo controle do produto, o que deve ser alterado no futuro próximo com a incorporação de dezenas, quiçá centenas de segmentos de DNA, para produzir plantas com o conjunto de características determinados pelo mercado, quando a probabilidade de ocorrência de eventos não previstos deve ser maior. Considere-se também que o ferramental disponível para análise de risco deriva de moléculas simples, ou organismos conhecidos, e que sua utilização em um campo novo da ciência pode deixar a descoberta aspectos considerados irrrelevantes anteriormente, e que podem ser importantes em se tratando de OGMs. Em suma, o recado dos cientistas é de avançar sim, com o cuidado e o conservadorismo que o momento recomenda, pois nunca um processo nos aproximou tanto do poder do Criador quanto a biotecnologia. E o Homem pode se revelar menos sábio e menos competente que Deus no mo. mento da criação do Universo. Décio Luiz Gazzoni, Embrapa Soja Cultivar

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Trigo no Brasil Central Até a década de 1960, 90% do trigo nacional era produzido no Rio Grande do Sul. Hoje 62% do trigo nacional está sendo cultivado no estado do Paraná (800 mil hectares), 26% no estado do Rio Grande do Sul (550 mil hectares) e os 12% restantes estão, espalhados pelos estados de Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal (100 mil hectares). No Brasil Central, nas áreas de cerrado, o trigo não é uma cultura nova. Já foi cultivado há mais de dois séculos em Minas Gerais e Goiás. No entanto nunca se consolidou como uma cultura competitiva. Atualmente o trigo é cultivado em 20 mil hectares irrigados nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal. O cultivo sob irrigação pode ser praticado através de plantio em abril e maio, podendo viabilizar os cerca de 180 mil hectares existentes com sistema de pivô central identificados como disponíveis no Noroeste de São Paulo, no Sudoeste de Minas Gerais, no Centro Sul de Goiás e no Distrito Federal. Destes, 120 mil hectares já estão sendo usados para a produção de grãos, principalmente, milho, soja, feijão e arroz, além de tomate e ervilha. O cultivo do trigo em condições de sequeiro é mais restrita. Deve ser iniciada a partir do mês de fevereiro estendendo-se até o mês de março. Na região Sudoeste de Goiás, Sudeste de Mato Grosso e Nordeste do Mato Grosso do Sul concentram-se cerca de 900 mil hectares de

lavoura com cultivo de soja, arroz e milho, com viabilidade de cultivar também trigo em seqüência, o que poderia expandir, sem investimentos especiais, o cultivo em áreas superiores a 250 mil hectares. A decisão de viabilizar a ocupação imediata dessas áreas permitiria incrementar a produção nacional de trigo em aproximadamente 2 milhões de toneladas nos Cerrados. Isso viabilizaria, além do autoabastecimento regional, a exportação de produto com valor agregado para as demais regiões consumidoras, principalmente o Sudeste, a maior do país. Sem falar da renda bruta de R$ 4 milhões. A capacidade potencial de moagem desta região é de aproximadamente 1,5 milhões de toneladas, distribuídos em 14 unidades moageiras. Hoje são processados, pela indústria instalada, aproximadamente 1,14 milhões de toneladas, totalmente abastecidos por trigo importado da Argentina, do Paraná e do Rio Grande do Sul, predominantemente, que atendem à demanda da região. O esforço da pesquisa pública na região iniciou na década de 50, principalmente na região do Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Zona da Mata de Minas Gerais, tendo gerado significativo volume de informação nas décadas de 60 e 70. Os resultados de pesquisa com esse cereal indicaram a viabilidade de cultivo em Minais Gerais e em Goiás, sobretudo com o emprego da irrigação em alternância com as culturas de verão. O investimento com pesquisa, de forma geral, nos estados de Minas Gerais e Goiás, foram bastante

Benami analisa as possibilidades do cultivo de trigo nas regiões de cerrado no Brasil

irregulares. Esta realidade, não permitiu a formação de núcleos de competência permanente, que possibilitassem avançar sistematicamente em busca de soluções para os problemas da cultura do trigo. Em recente reunião ocorrida em Uberaba (MG), envolvendo pesquisadores da Embrapa e da Epamig, com associação e sindicatos de produtores, associação de técnicos e três indústrias moageiras da região ficou claro que as empresas querem adquirir o trigo produzido no cerrado. Quanto à infraestrutura para o seu cultivo, destaca-se a semeadora como o único equipamento que requer investimento, inicialmente adaptações para menor distância entre linhas, visto que os demais requisitos são os mesmos empregados para a cultura de soja. É importante frisar que todos os produtores da região dispõem de potencial, infra-estrutura e habilidade para conduzir, som sucesso,

lavouras com este cereal. A pesquisa, como um todo, deve se integrar objetivando geração, adaptação e difusão dos conhecimentos necessários para viabilizar esta cultura na região, a elaboração de um projeto integrado e multiinstitucional de pesquisa e desenvolvimento, objetivando viabilizar o cultivo de cereais de inverno e estabilizar o sistema plantio direto com vistas à sustentabilidade agrícola nas regiões sudoeste de Goiás, oeste de Minas Gerais e norte de São Paulo, passa a ser prioritário. As linhas de pesquisa que deveriam constituir este projeto devem envolver seleção de genótipos, desenvolvimento de cultivares, ajustes de sistemas de produção e transferência de tecnologias. A execução do projeto deverá ser concretizada mediante a formação de sólidas parcerias. . Benami Bacaltchuk Embrapa Trigo



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