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Editorial hegamos ao final de um ano duro, exigente, marcado pela mais absoluta imprevisibilidade gerada pela pandemia de coronavírus que assolou o mundo e deixará suas marcas profundas por muito tempo. Foi preciso coragem, resiliência, reinventar-se. Sobrevivemos a 2020. Os novos tempos exigem muita criatividade, alterar o modo de se relacionar com os clientes e de executar o trabalho, adequar e repensar estratégias. Com o adiamento dos eventos agrícolas o contato direto e pessoal com os produtores ficou prejudicado. Ciente de sua responsabilidade, como veículo técnico, gerador de conteúdo qualificado ao campo, Cultivar esteve atenta e disponível para ajudar nesta comunicação e compartilhar conhecimento em um momento em que a informação idônea, confiável e responsável nunca foi tão necessária. Em 2020 o agronegócio mostrou, de modo ainda mais evidente, toda a sua força e imprescindibilidade, como um setor que não para, que alimenta e gera riqueza. Os negócios fluíram em ritmo frenético, com exportações recordes, ótimas cotações e esforços para atender à demanda crescente. A nova safra chega aos campos com desafios climáticos, cada vez mais presentes. Mas mesmo que o máximo potencial produtivo possa ser atrapalhado, o cenário de negócios se mostra favorável, onde a oferta menor que a demanda tende a refletir em boas cotações e alento aos produtores. As dificuldades impostas pela pandemia ajudaram a relembrar também o papel sempre indispensável da Ciência. Há de ser saudada a presença de 600 pesquisadores do Brasil no ranking dos 100 mil cientistas mais influentes do mundo, divulgada pelo Plos Biology, ao que se somam tantos outros brasileiros geradores de pesquisa e de conhecimento capazes de salvar vidas e de alavancar o progresso. Com a chegada de 2020 ao final é momento de apresentar nossa edição Especial. Como de praxe estivemos muito atentos aos desafios fitossanitários e em especial à informação técnica qualificada e útil ao produtor. Esperamos que apreciem. Muito obrigado pela companhia. Que 2021 seja repleto de esperança e de boas notícias. Ótima leitura, boas festas e excelente 2021!
Cultivar Grandes Culturas • Ano XXI • Nº 260 Janeiro 2021 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Montagem Cristiano Ceia
Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Índice
C
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Fungicidas contra a mancha-alvo
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Informe Bayer - Nova ferramenta
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Informe Bayer - Compatibilidade testada
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Desafios da tecnologia digital
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Tripes em soja
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Manejo do pulgão-do-algodoeiro
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Bicho-mineiro em café
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Percevejo barriga-verde em milho
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Informe Spraytec
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Caruru resistente a glifosato
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Escolha correta de fertilizantes
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Brusone em arroz
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Broca da cana-de-açúcar
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Teste de fungicidas em milho
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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Assinaturas Natália Rodrigues • Expedição Edson Krause
Soja
Fungicidas A ao alvo
Cláudia Vieira Godoy
A cada safra crescem os problemas com a incidência de mancha-alvo nas lavouras de soja no Brasil, com perdas de até 40% em cultivares suscetíveis. Monitorar a sensibilidade do fungo à aplicação de fungicidas e manejar resistência são ações fundamentais para a manutenção da produtividade e a preservação da eficiência de controle
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ocorrência de doenças na cultura da soja vem mudando nos últimos anos em razão das alterações no sistema produtivo. Embora a ferrugem-asiática ganhe destaque por ser a doença mais severa e por ocorrer na maioria das regiões produtoras, medidas de manejo como o vazio sanitário e a concentração das semeaduras no início da época recomendada com cultivares precoces têm feito com que a incidência dessa doença ocorra cada vez mais tarde nas regiões e lavouras, sendo um problema principalmente no final do ciclo ou nas semeaduras mais tardias pelo aumento do inóculo. A ferrugem-asiática, por sua severidade, quando presente na lavoura, causa a desfolha precoce, sendo difícil observar outras doenças foliares pela competição pelo tecido foliar. No entanto, cada vez mais, nas semeaduras logo após o final do vazio sanitário, outras doenças foliares têm predominado nas lavouras até o aparecimento da ferrugem-asiática. Destaca-se a mancha-alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola. A incidência dessa doença tem aumentado nas últimas safras. Embora a maioria dos programas de melhoramento não faça seleção para resistência a C. cassiicola, existe diferença de reação entre as cultivares. Perdas de até 40% podem ser observadas em cultivares suscetíveis. Outro fator que tem contribuído com a presença dessa doença no campo é a menor sensibilidade/ resistência do fungo aos fungicidas mais comumente utilizados na cultura da soja. Os sintomas da mancha-alvo nas folhas começam por pontuações pardas, com halo amarelado, evoluindo para manchas circulares, de coloração castanho-clara a castanho-escura. Normalmente, as manchas apresentam uma pontuação no centro e anéis concêntricos de coloração mais escura, advindo daí o nome de mancha-alvo. Dependendo da reação da cultivar, as lesões podem atingir até 2cm de diâmetro ou permanecer pequenas (1mm a 3mm), mas em maior número. Também podem ocorrer manchas nos pecíolos, hastes, nervuras das folhas e vagens, sendo muitas vezes confundidas com antracnose. Cultivares suscetíveis podem sofrer desfolha precoce. Algumas cultivares apresentam boa tolerância à desfolha e a presença da doença só é notada nas folhas inferiores. Além da soja, o fungo C. cassiicola infecta
Tabela 1 - Severidade da mancha-alvo (SEV), porcentagem de controle em relação à testemunha sem fungicida (%C), produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (%RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Média de 15 experimentos para severidade e 13 experimentos para produtividade. Safra 2019/2020 Tratamento: Ingrediente ativo (i.a.) 1. testemunha 2. bixafen + protioconazol + trifloxistrobina1 3. fluxapiroxade + protioconazol2,5 4. azoxistrobina + tebuconazol + mancozebe3,5 5. azoxistrobina + protioconazol + mancozebe3,5 6. protioconazol + fluindapir4,5
Dose g i.a. ha-1 62,5 + 87,5 + 75 60 + 84 94 + 112 + 1194 75 + 75 + 1050 84 + 84
SEV (%) 43 A 10,2 D 9,4 D 14,7 B 9,3 D 11,7 C
%C 76 78 66 78 73
PROD (kg ha-1) 3.498 C 4.167 AB 4.087 AB 4.071 B 4.229 A 4.110 AB
%RP 17,3 1,5 3,4 3,7 2,8
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).1Adicionado Áureo 0,25% v/v; 2Adicionado Assist 0,5 l ha-1; 3Adicionado Strides 0,25% v/v; 4Adicionado Lanzar 0,30%; 5Registro Especial Temporário (RET III).
mais de 400 espécies de plantas, que incluem importantes culturas utilizadas na rotação ou sucessão, como algodão e crotalária, além de diversas plantas daninhas. O fungo pode colonizar uma ampla gama de resíduos no solo e sobreviver em restos de cultura e sementes infectadas. Conhecer a reação da cultivar à mancha-alvo é importante na definição do programa de manejo com fungicidas. Nem todo fungicida apresenta boa eficiência no controle do fungo C. cassiicola. Desde a safra 2011/2012, experimentos em rede vêm sendo realizados, em diferentes regiões produtoras, para a comparação da eficiência de fungicidas registrados e em fase de registro para o controle da mancha-alvo na cultura da soja. O objetivo
dos experimentos em rede é a avaliação da eficiência de controle no alvo biológico. Para isso são utilizadas aplicações sequenciais de fungicidas. No entanto, isso não constitui uma recomendação de controle. As informações devem ser utilizadas dentro de um sistema de manejo, considerando a incidência de outras doenças e priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação para atrasar o aparecimento de resistência dos fungos aos fungicidas. Na safra 2019/2020 foram realizados 20 experimentos por 15 instituições de pesquisa, em estações experimentais no Mato Grosso do Sul, no
Mato Grosso, em Goiás, em Tocantins e na Bahia, onde a doença tem sido mais severa. Foram avaliados cinco fungicidas, além da testemunha sem tratamento (Tabela 1). O fungicida utilizado no tratamento 2 apresenta registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle da mancha-alvo em soja e os fungicidas dos tratamentos 3 a 6 apresentam Registro Especial Temporário III (RET III). As aplicações iniciaram-se no pré-fechamento das linhas de semeadura (45-50 dias após a germinação), repetidas com intervalos de 14 dias, totalizando três a quatro aplicações. Em todos os experimentos foram utilizadas cultivares consideradas suscetíveis à mancha-alvo, com base em observações a campo. As áreas para instalação dos experimentos foram semeadas no início da época recomendada, para reduzir a probabilidade de incidência da ferrugem-asiática. Na análise conjunta dos experimentos foram utilizados 15 locais para severidade e 13 para produtividade (Tabela 1). As menores severidades e as maiores porcentagens de controle foram observadas nos tratamentos com fluxapiroxade + protioconazol (T3 - 78%), azoxistrobina + protioconazol + manco-
Fotos Cláudia Vieira Godoy
Figura 1 - Porcentagem de controle da mancha-alvo nos experimentos cooperativos nas safras: 2011/2012 (6 experimentos), 2012/2013 (8 experimentos), 2013/2014 (13 experimentos), 2014/2015 (15 experimentos), 2015/2016 (8 experimentos), 2016/2017 (15 experimentos), 2017/2018 (16 experimentos), 2018/2019 (19 experimentos), 2019/2020 (15 experimentos) em diferentes regiões produtoras no Brasil. tfz+ptz - trifloxistrobina + protioconazol; pyr+epz+fluxa - piraclostrobina + epoxiconazole + fluxapirozade; pyr+flux - piraclostrobina + fluxapiroxade; bixaf+ptz+tfz bixafen + protioconazol + trifloxistrobina; fluxa+oxi de cobre – fluxapiroxade + oxicloreto de cobre . Fonte: Circulares Técnicas 94, 100, 104, 112, 120, 130, 139 e 149, Embrapa Soja.
Folha de soja atacada pelo fungo Corynespora cassiicola
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zebe (T5- 78%) e bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (T2 – 76%), seguido de protioconazol + fluindapir (T6 – 73%) (Tabela 1). As maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com azoxistrobina + protioconazol + mancozebe (T5 – 4.229kg ha-1), bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (T2 – 4.167kg ha-1), protioconazol + fluindapir (T6 – 4.110kg ha-1) e fluxapiroxade + protioconazol (T3 – 4.087kg ha-1) (Tabela 1). A média da redução de produtividade da testemunha sem fungicida em relação à maior produtividade (T5) foi de 17,3%. Como nos anos anteriores dos experimentos em rede, fungicidas contendo protioconazol têm mostrado as melhores eficiências de controle para mancha-alvo, assim como produtos contendo fluxapiroxade. Os fungicidas multissítios, como mancozebe, também ajudam no controle da mancha-alvo, sendo importantes principalmente nas regiões onde tem sido relatada menor sensibilidade do fungo a fungicidas sítio-específicos. Os resultados de produtos registrados, sítio-específicos e multissítios, em avaliações das safras anteriores, podem ser consultados nas circulares técnicas disponíveis em: https://www. embrapa.br/soja/publicacoes. Relatos de resistência do fungo C. cassiicola a fungicidas vêm aumentando. A baixa eficiência de controle da doença com carbendazim (metil benzimidazol carbamato) vem sendo observada nos ensaios em rede desde 2011/12 (Figura 1). Os fungicidas comerciais desse grupo atuam inibindo a montagem dos microtúbulos do fuso durante a divisão nuclear ligando-se à proteína β-tubulina. Populações resistentes podem apresentar mutações na proteína β-tubulina. As mutações de ponto E198A e F200Y no gene da β-tubulina, que conferem resistência completa, foram encontradas em isolados de C. cassiicola obtidos de folhas de soja de plantas coletadas no Mato Grosso, no Paraná e no Mato Grosso do Sul (Mello, 2009), o que pode explicar a baixa eficiência desse fungicida. A mutação G143A, que confere resistência completa a fungicidas ini06
bidores de quinona externa (estrobilurinas), foi detectada em número significativo de amostras no Brasil em 2015 e 2016 em isolados de C. cassiicola no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e no Paraná (Frac, 2019). Em 2017/2018 isolados com as mutações sdhB-H278Y e sdhC-N75S que conferem menor sensibilidade do fungo a fungicidas inibidores da succinato desidrogenase (carboxamidas) foram relatados pelo Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas (Frac), principalmente em áreas de soja em sucessão com algodão. Os relatos de resistência reforçam a necessidade da adoção de estratégias antirresistência, como limitar o número de aplicações de carboxamidas a duas aplicações por ciclo da cultura da soja, e adoção de todas as estratégias no manejo da doença, como a utilização de cultivares resistentes/tolerantes, o tratamento de sementes e a rotação/ sucessão de culturas com milho e/ou outras espécies de gramíneas. Conhecer a reação da cultivar à mancha-alvo é o primeiro passo na definição de um programa de manejo com fungicidas. Muitas cultivares apresentam boa tolerância/resistência a essa doença e não necessitam de controle e para aquelas que precisam, é necessário a escolha do fungicida adequado, uma vez que nem todos apresentam boa eficiência. C
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Cláudia Vieira Godoy, Maurício Conrado Meyer e Ivani de Oliveira N. Lopes, Embrapa Soja Carlos Mitinori Utiamada, Tagro Tecnologia Agropecuária Hercules Diniz Campos, UniRV/ Campos Pesquisa Agrícola Alfredo R. Dias, Fundação Chapadão José Nunes Junior e Cláudia Barbosa Pimenta, CTPA/ Emater – GO Diego Sichocki e Luís Antônio de Sousa Lima, Meta Consultoria Agrícola Eder Novaes Moreira, Fitolab Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola Tiago F. Konageski e Fabíola T. Konageski, Rural Técnica Experimentos Agronômicos Ltda. José Fernando J. Grigolli, Fundação MS Luana M. de R. Belufi, Fundação Rio Verde Luís Henrique Carregal, Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas Eireli Marcio Goussain Júnior, Assist Consultoria Moab Diany Dias, Universidade Federal do Tocantins Mônica Cagnin Martins, Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa Mônica A. Müller e Josiclea H. Arruda, Fundação MT Valtemir J. Carlin, Agrodinâmica Pesquisa e Consultoria Agropecuária
Sintoma da mancha-alvo nas nervuras de folhas de soja
Informe
Nova ferramenta Fotos Bayer
Nematicida Fluopiram mostra resultados sólidos no controle de diferentes espécies de nematoides-chave na cultura da soja. Produto se destaca também por demandar baixa dosagem e possuir perfil toxicológico favorável ao ambiente
O
manejo de nematoides em culturas de grande extensão no Brasil é um desafio que ganha mais importância a cada ano, devido ao aumento dos problemas causados por tais patógenos. Segundo informações da Sociedade Brasileira de Nematologia, os danos provocados por nematoides podem chegar a alarmantes R$ 35 bilhões por ano e, somente na cultura da soja, o prejuízo pode alcançar R$ 16 milhões. Atualmente, as principais espécies que ocorrem no País, causando expressivas perdas econômicas na cultura da soja, são os nematoides das galhas, Meloidogyne javanica e M. incognita, o nematoide das lesões, Pratylenchus brachyurus, o nematoide 08
de cisto da soja, Heterodera glycines, e o nematoide reniforme, Rotylenchulus reniformis, causando expressiva queda de produção nos locais onde ocorrem. Como principais opções para o manejo de nematoides na soja têm-se o uso de cultivares resistentes, a rotação de culturas com plantas não hospedeiras, além da utilização de produtos químicos e biológicos. O desenvolvimento de novos defensivos agrícolas como nematicidas passa por uma série de desafios, pois além de apresentar bons níveis de controle para o organismo-alvo, é importante que seja seletivo a orga-
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nismos benéficos presentes no solo, atendendo às exigências governamentais e da sociedade, que demandam produtos ambientalmente mais seguros, com menor persistência e que não deixem resíduos nas culturas em que são aplicados. Nesse contexto, moléculas inovadoras como o Fluopiram (Verango Prime) surgem como excelente alternativa no manejo de nematoides, levando aos agricultores uma opção de controle químico de nematoides altamente eficiente, de amplo espectro, com uso em baixa dosagem e com perfil toxicológico muito favorável ao meio ambiente e
operadores, contribuindo para maior produtividade e rentabilidade da lavoura. O nematicida Fluopiram é uma molécula inédita no Brasil, pertencente ao grupo químico das benzamidas piramidas, que age como inibidor da respiração mitocondrial em nematoides, levando a uma rápida e severa queda da energia celular do nematoide. Os primeiros sintomas já podem ser visualizados após 30 minutos de contato e a paralisação completa ocorre de uma hora a duas horas após o nematoide entrar em contato com o produto. No Brasil, o Fluopiram será comercializado com o nome comercial de Verango Prime 500 SC e, até o momento, está registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle de nematoides das galhas e nematoides das lesões nas culturas de batata, café, cana-de-açúcar e soja. O produto age por ingestão e contato e atua principalmente nas fases juvenis de segundo estádio por contato direto. Além disso, oferece controle para uma diversa gama de espécies de nematoides, como observado em ensaios de campo e em testes realizados em condições laboratoriais. O seu comportamento sistêmico permite aplicação no sulco de plantio, prática que vem crescendo nos últimos anos com objetivo de um melhor controle de nematoides devido à maior eficiência de controle e proteção de raízes. Ao longo dos últimos anos, diversos estudos foram realizados em condições de laboratório, casa de vegetação e campo para avaliar a eficácia e a segurança de Verango Prime no Brasil.
AVALIAÇÕES EM CASA DE VEGETAÇÃO
Desde 2013, ensaios vêm sendo conduzidos no Brasil em condições de casa de vegetação e campo para verificar a eficácia de Verango Prime no controle de nematoides em soja e outras culturas. Desde então, Verango Prime tem se mostrado como um produto altamente eficiente para redução populacional dos nematoides em soja, com performance muito superior aos produtos padrões de mercado utilizados. Os resultados no controle dos nematoides de galhas, M. incognita e M. javanica, espécies importantes para a soja no Brasil e sabidamente de difícil controle, devido ao grande número de ovos gerados a cada geração dos nematoides, são surpreendentes. Plantas de soja inoculadas com essas espécies de nematoides e tratadas com Verango Prime apresentaram população dos nematoides extremamente baixas, muito próximas de zero, em avaliações realizadas após 40 dias e 75 dias da inoculação dos nematoides (Tabela 1). Esse efeito prolongado é essencial para o estabelecimento e desenvolvimento das plantas no campo, protegendo o potencial produtivo. Além dos nematoides de galhas, Verango Prime se mostrou muito eficiente em condições de casa de vegetação para controle de Pratylenchus brachyurus, outra espécie de difícil controle nas condições do Cerrado brasileiro. Na Tabela 1, observa-se a elevada eficiência de Verango Prime na redução do fator de reprodução do nematoide das lesões aos 40 dias e 75 dias após a inoculação do nematoide, chegando a quase 100% em ambas as datas. Até mesmo para Heterodera glycines, nematoide pouco afetado pela aplicação de nematicidas,
em função da presença dos cistos, estruturas de resistência do nematoide que permanecem viáveis por até oito anos no solo, a redução populacional proporcionada por Verango Prime é notável em casa de vegetação. Além da redução populacional dos nematoides em soja, Verango Prime proporciona melhor desenvolvimento do sistema radicular quando comparado à testemunha (Figura 1 A, B) e melhor vigor vegetativo, maior sanidade e ausência de fitotoxicidade nas plantas tratadas (Figura 1 C, D), mesmo em condições de casa de vegetação e na presença de nematoides
AVALIAÇÕES EM CAMPO
Na safra 2019/20, após a aprovação do produto pelos órgãos governamentais, alguns ensaios foram conduzidos em áreas comerciais de soja, seguindo um protocolo rigoroso de avaliação. Para elucidar os principais achados, vamos focar em uma dessas áreas comerciais, detalhando a metodologia e os resultados encontrados. Com o objetivo de avaliar a eficácia e a aplicabilidade agronômica da aplicação de Verango Prime no sulco de plantio no campo foi realizado um experimento na região de São Gabriel do Oeste, Mato Grosso do Sul, comparando sua performance com o manejo do produtor. O experimento foi instalado em uma área de 130 hectares com a variedade de soja M6410IPRO, sob alta infestação de nematoides, no período de 8 a 10 de novembro de 2019. Os tratamentos utilizados foram o padrão da fazenda (Trichoderma harzianum 20g/ha e Paecilomyces lilacinus 50g/ha) e Verango Prime na dose de 0,3L/ ha, com três repetições cada, comparados a uma faixa testemunha sem aplicação de nematicida. Foram realizadas avaliações de fitotoxicidade aos sete dias após emergência (DAE), estande e altura de plantas aos 60 DAE e produtividade. Todas essas avaliações, assim como as análises da população de nematoides em solo e raiz, foram realizadas em 31 pontos (parcelas) no total, sendo que, para C
Figura 1 - Resultados de Verango Prime no desenvolvimento radicular e da parte aérea de plantas de soja inoculadas com 1.000 ovos de Pratylenchus brachyurus. A = testemunha; B, C e D = Verango Prime
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Tabela 1 - Resultados de Verango Prime na redução do fator de reprodução (barras) de M. javanica, M. incógnita, P. brachyurus e H. glycines em soja, em casa de vegetação. Avaliações realizadas aos 40 dias e 75 dias após a inoculação de 2.000 ovos de nematoides para o gênero Meloidogyne e 1.000 ovos para as demais espécies Espécie Dias Após Plantio Testemunha Verango Prime
M. javanica 40 DAP 75 DAP 3,24 8,33 0 0,04
M. incognita 40 DAP 75 DAP 4,31 4,91 0,04 0,01
P. brachyurus 40 DAP 75 DAP 6,37 44,21 0,18 0,84
P. brachyurus 40 DAP 75 DAP 6,37 44,21 0,18 0,84
Figura 2 - Mapeamento de zonas de risco de nematoides baseado nas imagens de satélite (Drop Agricultura), demarcação das faixas com os tratamentos e os pontos em amarelo demarcando os locais onde foram realizadas as avaliações
Tabela 2 - Resultados das avaliações de altura média de plantas, número de plantas por 10 metros e produtividade dos tratamentos Verango Prime (0,3L/ha), tratamento padrão (Trichoderma harzianum 20g/ha e Paecilomyces lilacinus 50g/ha) e testemunha
Padrão fazenda
Testemunha
Média altura (m) de 40 plantas Média número de plantas/10m Produtividade (sc/ha) Repetições 0,68 Rep1 (1-4) 18,10 86,85 0,57 Rep2 (15-19) 17,14 80,03 0,61 Rep3 (24-27) 17,13 82,82 0,62 Média 17,46 83,23 0,55 Rep1 (5-9) 16,50 59,70 0,63 Rep2 (20-23) 18,90 77,40 0,54 Rep3 (28-31) 18,02 80,10 0,57 Média 17,81 72,40 0,54 Rep1 (10-14) 16,96 62,84
análise de solo, cada ponto foi representado por nove subamostras, antes da instalação do experimento e aos 60 DAE. Ao final do experimento, foi realizada a análise de produtividade por meio da colheita de 3m2 de cada parcela (ponto). Imagens de satélite da área foram analisadas previamente com um algoritmo dedicado a encontrar áreas de soja com possíveis incidências de nematoides (Drop Agricultura). Ao utilizar imagens das safras anteriores de soja, o algoritmo indica áreas de maior e menor risco de nematoides (Figura 2). Análises de solo confirmaram a presença de espécies dos gêneros Pratylenchus spp., Meloidogyne spp., Heterodera spp. e Helicotylenchus spp. Não foi observado nenhum sintoma de fitotoxicidade aos 7 DAE para nenhum dos tratamentos. Foi possível observar um sistema radicular mais volumoso e, consequentemente, plântulas maiores e mais vigorosas no tratamento com Verango Prime. Aos 60 DAE, foi possível observar que o número médio de plantas por hectare foi superior para ambos os tratamentos em relação à testemunha. Em relação à altura de plantas, foi observada altura média de 0,54m para as plantas da testemunha, 0,58m para o tratamento padrão fazenda e 0,62m para o tratamento com Verango Prime (Tabela 2). Na Figura 3, é possível visualizar o maior enraizamento e desenvolvimento das plan-
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tas tratadas com Verango Prime comparadas com o padrão fazenda aos 60 DAE. Na avaliação de produtividade ficou nítida a superioridade de ambos os tratamentos em relação à testemunha, com destaque para Verango Prime, cuja produtividade média (83,23 sacas/ha) foi de mais de dez sacas em relação ao padrão fazenda. De maneira geral, Verango Prime se mostrou uma ferramenta muito eficiente no controle de diferentes espécies de nematoides-chave na cultura da soja, oferecendo um controle
efetivo em baixa dose por hectare, além de possuir um perfil toxicológico favorável para operadores e meio ambiente. Com isso, o produto não apenas protege o potencial produtivo das variedades de soja, mas também contribui para uma gestão agrícola mais sustentável e rentável para o proC dutor e para a sociedade.
Andressa Machado, Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Daniela Okuma, Felipe Sulzbach e Renato Carvalho, Bayer Crop Science
Bayer
Tratamento Verango Prime
Figura 3 - Plantas de soja 60 dias após emergência (60 DAE) coletadas na parcela do tratamento padrão (Trichoderma harzianum 20g/ha e Paecilomyces lilacinus 50g/ha) e na parcela tratada com Verango Prime 0,3L/ha
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Informe
Bayer
Compatibilidade testada
Produtos biológicos à base de Bacillus methylotrophicus, Bacillus subtilis, Trichoderma asperellum, Pochonia chlamydosporia, Metharizium anisopliae, Paecillomices lillacinus, Trichoderma harzianun, Bacillus subtilis + B. licheniformis e Beauveria bassiana se mostram compatíveis com o nematicida químico Fluopiram
M
ais de cem espécies de nematoides envolvendo aproximadamente 50 gêneros estão associadas à cultura da soja. No Brasil, as espécies que causam maiores danos são Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis. A importância dessas espécies para o País se deve a aspectos relevantes, como a presença endêmica em diversas regiões produtoras (M. javanica e M. incognita), elevada variabilidade genética (H. glycines) e risco potencial de dano com o incremento da área cultivada com espécies suscetíveis (P. brachyurus e R. reniformis). Os sintomas relacionados ao ataque desses fitoparasitas se assemelham muito. Em áreas com a presença de nematoide é comum encontrar reboleiras com plantas atrofiadas e cloróticas. Em casos extremos, com densidades populacionais elevadas, pode ocorrer a morte
de plantas. No entanto, esses indicativos não podem ser únicos para diagnosticar uma área com fitonematoides. A presença de reboleiras pode estar associada a manchas de calcário e a clorose com uma deficiência nutricional, déficit hídrico e compactação do solo. Dessa forma, realizar análises específicas para a identificação correta da espécie do nematoide presente na área é de extrema importância para o sucesso no seu manejo. Diversas estratégias podem ser empregadas no manejo de nematoides na cultura da soja, com destaque para aquelas baseadas na utilização de produtos químicos e biológicos. Esses produtos geralmente podem ser aplicados via tratamento de semente ou sulco de plantio e visam à redução populacional do patógeno e dos danos por ele ocasionados. A associação de nematicidas químicos
e biológicos em uma mesma aplicação tem sido bastante empregada nos dias atuais. No entanto, para que essa junção de ferramentas não prejudique a performance dos produtos, é de fundamental importância compreender a compatibilidade desses produtos. Com o objetivo de avaliar a compatibilidade de produtos biológicos registrados para o manejo de nematoides com o nematicida químico Verango Prime®, foram conduzidos dois ensaios em condições controladas no Laboratório de Manejo Integrado de Nematoides (Labmin) do IF Goiano – Campus Urutaí (GO) e na Agromax, em Primavera do Leste (MT). Foi avaliada a compatibilidade do produto químico Verango Prime com outros produtos biológicos disponíveis no mercado passíveis de serem aplicados em conjunto, em condições de laboratório.
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Tabela 1 - Resultados do teste de compatibilidade produtos biológicos com o nematicida químico Verango Prime, em condições controladas. Urutaí, Goiás e Primavera do Leste, Mato Grosso, 2020 Agente de biocontrole Testemunha Bacillus methylotrophicus Bacillus subtilis Bacillus subtilis Trichoderma asperellum Pochonia chlamydosporia Metharizium anisopliae Paecillomices lillacinus Trichoderma harzianun Bacillus subtilis + B. licheniformis Beauveria bassiana
Nome comercial --Onix Serenade Rizos Quality Rizotec Metarril Nemat Ecotrich Presence Boveril
Compatibilidade1 com Verango Prime --C C C C C C C C C C
Figura 4 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Quality (Trichoderma asperellum) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Figura 3 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Rizos (Bacillus subtilis) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Figura 5 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Rizotec (Pochonia chlamydosporia) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Fotos Bayer
Figura 2 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Serenade (Bacillus subtilis) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Os produtos avaliados nos ensaios foram: Bacillus methylotrophicus (Onix – Lab. Farroupilha / Lallemand); Bacillus subtilis (Serenade- Bayer); Bacillus subtilis (Rizos – Lab. Farroupilha / Lallemand); Trichoderma asperellum (Quality – Lab. Farroupilha / Lallemand); Pochonia chlamydosporia (Rizotec – Stoller); Metharizium anisopliae (Metarril – Koppert); Paecillomices lillacinus (Nemat – Ballagro); Trichoderma harzianun (Ecotrich – Ballagro); Bacillus subtilis + B. licheniformis (Presence | Quartzo – FMC) e Beauveria bassiana (Boveril – Koppert). Para os testes foram utilizadas as doses recomendadas pelos fabricantes dos respectivos produtos comerciais. Para a avaliação de compatibilidade dos produtos à base de fungos foi utilizado o meio de cultura Batata–Dextrose–Ágar (BDA) sem adição de antibiótico. Para os testes com os produtos à base de bactéria o meio utilizado também foi o BDA, com adição de 1.000 miligramas de antibiótico por litro de meio de cultura. Os produtos avaliados foram diluídos e colocados em placas de Petri, de 8cm de diâmetro, em formas de estrias com o auxílio da alça de Drigalsky. Foram utilizadas três placas de Petri para cada tratamento, sendo que duas placas receberam discos de papel de filtro embebido com Verango Prime e uma placa permaneceu como testemunha contendo apenas o produto biológico. Discos de papel de filtro de 1cm de diâmetro foram mergulhados na calda de Verango Prime e colocados em contato com a superfície do meio de cultura já inoculado com o respectivo agente de biocontrole, sendo cinco discos por placa. As placas foram colocadas em câmara de crescimento D.B.O a temperatura de 26°C, com 12 horas de luz e 12 horas com ausência de luz.
Figura 1 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Onix (Bacillus methylotrophicus) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
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Figura 6 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Metarril (Metharizium anisopliae) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Avaliou-se a presença do halo de inibição no crescimento das colônias ao redor dos discos. O produto que apresentou halo de inibição ao redor do disco de papel foi classificado como incompatível e o produto que não apresentou halo foi classificado como compatível (Silva et al., 2008). Para os produtos à base de bactéria, as avaliações de compatibilidade foram realizadas após 48 horas de incubação e para os produtos à base de fungo, sete dias após a incubação. O resultado de compatibilidade de cada produto biológico com o nematicida químico Verango Prime está expresso na Tabela 1. Ressalta-se que todos os produtos foram classificados como compatíveis, uma vez que não foi observado halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro (Figuras 1 a 11). Dessa forma, é possível concluir que os produtos à base de Bacillus methylotrophicus (Onix), Bacillus subtilis (Serenade), Bacillus subtilis (Rizos), Trichoderma asperellum (Quality), Pochonia chlamydosporia (Rizotec), Metharizium anisopliae (Metarril), Paecillomices lillacinus (Nemat), Trichoderma harzianun (Ecotrich), Bacillus subtilis + B. licheniformis (Presence), Beauveria bassiana (Boveril) são compatíveis com o nematicida químico Fluopiram (Verango Prime). C
Figura 8 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Ecotrich (Trichoderma harzianun) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Figura 9 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Presence (Bacillus subtilis + B. licheniformis) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Fernando Godinho de Araújo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano - Polo de Inovação Tatiane Zambiasi, Agromax Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola Adriana Figueiredo, Bayer Crop Science
Figura 10 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Boveril (Beauveria bassiana) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Figura 7 - Ausência de halo de inibição ao redor do disco de papel de filtro no teste de compatibilidade do Produto Nemat (Paecillomices lillacinus) com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando a compatibilidade entre os produtos
Figura 11 - Meio de cultura batata-dextrose-ágar (BDA) e com Verango Prime (Fluopiram), demonstrando ausência de contaminação
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Tecnologia
Desafios do digital A importância das tecnologias digitais no campo é inquestionável. Mas sua adoção enfrenta limites como a conectividade presente em apenas 40% das propriedades rurais e o conservadorismo do setor. Há que se ter em mente ainda o fato de que não existe solução mágica para todos os problemas, e que é necessário cuidado para não perder o foco diante de tantas ofertas e opções
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A
produção global de alimentos terá de aumentar em mais de 70% até 2050, para que seja possível alimentar uma população estimada em nove bilhões de pessoas, sendo mais de 95% concentrada em regiões urbanas. Atualmente é produzido alimento suficiente para 12 bilhões de pessoas, porém mais de 900 milhões ainda vivem em insegurança alimentar (FAO, 2013). São muitos os gargalos envolvidos nesse processo, como a restrição na oferta de água, as incertezas climáticas, as dificuldades no manejo agronômico, as limitações edáficas e as perdas observadas em todas as etapas, tanto da cadeia de produção como na distribuição dos alimentos. Se a produtividade média das principais culturas for mantida nos valores atuais, para produzir o alimento necessário para suprir a demanda será preciso Wenderson Araújo/Sistema CNA
mais que duplicar a área de produção. O aumento na eficiência genética das culturas, a manutenção do cenário atual de dano, causado por pragas e correções no processo de distribuição, estão entre algumas das medidas mais relevantes. Ao longo da história, diversas tecnologias foram agregadas à atividade agrícola, para o aumento na sua eficiência, e resultaram no notável incremento da produtividade observado atualmente. Alimentar pessoas é um processo desafiador, que se inicia antes da fazenda, passa pelo processo produtivo na propriedade e tem prosseguimento no mercado de distribuição (Tabela 1). Estes processos são complementares e necessitam ser parametrizados, passando pela simplificação na etapa produtiva, redução no consumo de água, menor utilização de fertilizantes e agroquímicos sintéticos, redução significativa do impacto dos sistemas de produção sobre os ecossistemas naturais, ausência de contaminação de rios e águas subterrâneas devido aos insumos químicos utilizados. Igualmente desafiador é o estabelecimento de um processo vertical de oferta de alimentos que inclui aumento na eficiência da cadeia de distribuição e adequações para atender ao regramento global de comercialização dos produtos agrícolas.
Como as tecnologias digitais podem auxiliar na produtividade das culturas e na distribuição dos alimentos
A agenda da nova agricultura considera que o mercado vai ser o regulador do processo de oferta de alimento e que o sistema de produção deverá se ajustar constantemente a estas demandas (Figura 1). O desafio de alimentar o planeta de forma sustentável não é simples. No cenário atual não basta apenas produzir mais e com menor custo. É necessário considerar as mudanças no perfil do consumidor, as alterações na urbanização e na estrutura da sociedade, além das constantes alterações nas demandas regulatórias globais. Torna-se vital a parametrização de todas as fases do processo de oferta de alimentos para o aumento da eficiência e da rastreabilidade em cada etapa. Deste modo, os dados coletados passam a ser utilizados de forma a retroalimentar o sistema, sugerindo
Tabela 1 - Tecnologias envolvidas na cadeia de produção
Tecnologias e incremento de produtividade ● Implementos movidos por tração animal - século 19 ● Máquinas a combustão - anos 40 ● Agroquímicos sintéticos orgânicos ou inorgânicos - anos 60 ● Revolução Verde - anos 70 ● Plantio Direto - anos 80 ● Biotecnologia - anos 90 ● Agricultura de Precisão - anos 90 ● GPS (global positioning system) - anos 90 ● Veículos terrestres autônomos - anos 2000 ● Veículos aéreos não tripulados (Vants) - anos 2010 ● Sistemas de coleta e gestão de dados - anos 2010 ● Digital Farming (agricultura 4.0) - anos 2010 ● Data banking, conectividade, robótica (agricultura 5.0) - anos 2020
Figura 1 - Cadeia envolvida na disponibilidade de alimentos para o consumidor
as alterações que o mercado consumidor exige. Machinelearning, inteligência artificial e Internet das coisas (IoT) são ferramentas fundamentais neste processo. Deve ser considerado que o conservadorismo do meio rural pode reduzir a velocidade inicial de adoção das novas
tecnologias. Outro agravante é a precariedade de infraestrutura observada na maioria das áreas rurais do Brasil, e em diversos países da América Latina e América do Norte. Estudo realizado entre 2017 e 2019 junto a cooperativas, consultores e indústria nos Estados Unidos (Tabela 2)
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Tabela 2 - Taxa de utilização de tecnologias de precisão nos Estados Unidos em cultivos extensivos
Figura 2 - Tecnologias utilizadas no Brasil e a dimensão do mercado
escala (Figura 2). No Brasil, é estimado que o mercado de tecnologias digitais apresente uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 12% até 2025, com base em um mercado avaliado em R$ 1 bilhão em 2018 (Céleres, 2019). Houve um momento em que a estratégia macro para solucionar os problemas de oferta de alimentos foi baseada tão somente no aumento de produtividade. A implantação de tecnologias digitais disruptivas na agricultura é o caminho para transformá-la em uma indústria altamente tecnológica. Os próximos passos irão muito além do segmento produtivo, terão de considerar as preferências do consumidor, a construção de bancos de dados robustos, a completa parametrização dos processos e uma constante reinvenção de todo o processo. As tecnologias já disponíveis podem ser agrupadas em função dos produtos ou atividades (Krishnan, 2017), conforme ilustrado na Figura 3 e relacionado a seguir:
Plataformas de gerenciamento de propriedades Agricultura de precisão e análise preditiva
• Sistemas de monitoramento, informação ou predição que reduzem os riscos de perdas com eventos climáticos, pragas e desastres naturais; • Sistemas automatizados de irrigação (Smart irrigations) que reduzem o desperdício de água; Revenda
apresenta um aumento lento na adoção das tecnologias digitais totalmente ligadas à produção, destacando-se equipamentos orientados por GPS e/ou utilização de imagens para diagnóstico do status das lavouras (Erickson et al., 2019). Estudos indicam que algumas tecnologias apresentam adoção preferencial, tais como direção automática de equipamentos automotores, barras de luz
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auxiliares para aplicação de insumos líquidos e sistemas providos de GPS. Vants providos de sensores capazes de avaliar condições de solo, necessidade de irrigação, mapas de colheita, softwares para monitoramento das condições sanitárias do cultivo, plataformas para análise de grandes volumes de dados são outras tecnologias adotadas, mas ainda em menor
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• Alteração na preferência alimentar do consumidor; • Diversificação dos alimentos disponíveis; • Cadeia de distribuição viabilizando maior rapidez na distribuição dos alimentos; Robótica e Vant
• Equipamentos embarcados em máquinas agrícolas podem indicar desde a necessidade da manutenção até parâmetros específicos de desempenho; • Automação das máquinas agrícolas agregando precisão às operações; • Colhedoras providas de inúmeros
dispositivos embarcados que fornecem informações em tempo real sobre o desempenho produtivo da cultura; • Equipamentos instalados em silos podem indicar as condições de estocagem evitando perdas no armazenamento; • GPS (global positioning system) para automação de diversas operações no segmento da produção e da distribuição; • Equipamentos embarcados nas diversas máquinas, e que facilitam a comunicação entre produtor, operadores, administradores, agrônomos, através do uso de celulares e/ou ferramentas de internet;
• Aumento da produtividade por unidade de área resultando em redução no uso de terra por unidade de alimento produzido; • Completa automação das fazendas com o apoio de robótica; • Alimentos cultivados em laboratório, de origem animal ou vegetal, com maior eficiência, em menor período de tempo e sem todos os insumos
exigidos pelas fazendas;
Como não perder o foco diante de tantas ofertas e opções?
A importância das tecnologias digitais no meio rural é inquestionável. Contudo, é fundamental que os avanços buscados na produção de alimentos não sejam apenas baseados na aquisição de
Figura 3 - Agrupamento das empresas de acordo com as tecnologias desenvolvidas
Sensoriamento
• Sensores associados ao solo podem coletar dados indicativos de umidade ou do balanço hídrico, levando à indicação da necessidade de irrigação; • Imagens de plantas, capturadas por sensores térmicos ou hiperespectrais, podem acelerar a detecção de pragas permitindo a aplicação de defensivos específicos, na quantidade e no momento corretos; • Parametrização na utilização de luz, umidade, energia e água, permitindo que os alimentos sejam produzidos apenas com a quantidade necessária destes recursos naturais; Genética de animais e plantas
• Dados sobre desempenho, sanidade e vigor em animais (Animal data); • O sistema Crispr (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) e a edição de genes possibilitam que os alimentos apresentem características que especificamente atendam a demanda do mercado; Fazendas da próxima geração
• Computação em nuvem com armazenamento de grandes volumes de dados, possibilitando rastreabilidade do alimento na produção, armazenamento e consumo final; • Análises de dados para orientação de mercado e logística; • Dispositivos móveis e redes sociais para monitorar o mercado;
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Figura 4 - Barreiras para adoção das tecnologias nos Estados Unidos em cultivos extensivos
tecnologias digitais. Não existe solução mágica para problemas de tal complexidade cujos gargalos podem estar ligados a uma gama enorme de condicionantes, incluindo desde limitações técnicas, culturais, até de infraestrutura. As tecnologias oferecidas somente serão impactantes se condições mínimas forem disponibilizadas. Alguns questionamentos são comumente formulados, tais como qual tecnologia é a mais apropriada para resolver determinado problema, como utilizá-la e quais resultados podem ser obtidos. O processo de adoção de uma nova tecnologia digital deve contemplar quatro etapas: 1ª etapa: avaliação das condições onde a tecnologia vai ser empregada, os problemas que se propõe a resolver, as limitações de infraestrutura que podem interferir no seu desempenho, nas dificuldades técnicas que possam dificultar a sua utilização. 2ª etapa: escolha de tecnologias que melhor atendam a demanda, sendo identificados benefícios, restrições, demandas técnicas, suporte técnico disponível, compatibilidade com equipamentos já existentes e vantagens econômicas. 3ª etapa: teste piloto da tecnologia escolhida para avaliar sua adequação às condições onde será implantada, capacidade para solução do problema identificado e mensurar as vantagens 18
financeiras agregadas. 4ª etapa: implantação da tecnologia considerando os resultados obtidos a partir dos testes pilotos, os ajustes necessários, adequação à infraestrutura existente, treinamento da equipe e avaliação dos resultados técnicos e econômicos. A adoção de novas tecnologias pode encontrar barreiras significativas (Figura 3), listadas de forma simplificada a seguir: ● Equipamentos inadequados e/ ou conectividade limitada. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% das propriedades rurais possuem conectividade. Este fator é o mais restritivo ao uso das tecnologias digitais. ● Potencial de entrega da tecnologia no contexto da propriedade define o grau de adequação e das necessidades de ajuste do sistema para otimização da entrega da mesma. ● Capacitação do pessoal técnico para explorar as potencialidades da tecnologia, é crítico e limitante se não houver possibilidade de treinamento. ● Capacidade de investimento por parte do produtor, restringe as possibilidades de busca por tecnologias digitais. ● Suporte deficiente por parte do fabricante. ● Incompatibilidade entre equipamentos e tecnologias já existentes.
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● Insegurança no compartilhamento das informações com as empresas. ● Softwares e aplicativos têm alto potencial de crescimento, mas enfrentam uma falta de conhecimento além das limitações de conectividade. Céleres (2019) calcula que 6% da área agrícola total foi monitorada através de softwares no Brasil em 2018, sendo uma forte tendência nos próximos anos. A adoção de tecnologias digitais vai mudar radicalmente a agricultura, transformando-a em uma indústria altamente tecnológica. O papel gerencial e operacional do produtor em sua propriedade cederá lugar ao gerencial-estratégico considerando o mercado. O conhecimento de todas as etapas do processo produtivo por parte do produtor será decisivo para que seja avaliado o ganho tecnológico ao seu negócio, permitindo avaliação da sua capacidade competitiva para o atendimento das demandas do mercado. Evidente que, para tanto, é importante compreender a inversão na cadeia de valor. O consumidor será o definidor de todo o processo, e o sistema de produção, até então proeminente, deverá se ajustar tanto à demanda do consumidor como aos sistemas vertiC cais de distribuição. Ricardo Balardin Phytus Group
Balardin aponta potencialidades e desafios da tecnologia
Soja
Lucro raspado Como se dá a distribuição dos danos ocasionados por tripes nas plantas de soja e de que modo realizar o manejo destes insetos diminutos que possuem aparelho bucal do tipo raspador e cuja incidência explodiu nas lavouras durante a última safra Mauricio Pasini
A
cultura da soja todos os anos é submetida a um amplo espectro de insetos-praga, que ocasionam danos diretos e indiretos, reduzindo a produtividade das cultivares comercializadas na hora do plantio. Na safra atual, em função das variáveis climáticas, principalmente da estiagem recente, alguns grupos de insetos tiveram seu
desenvolvimento favorecido, agravando assim seus danos para cultura. Entre os insetos-praga que mais causaram dor de cabeça a produtores e técnicos nesta safra estão tripes, insetos diminutos com alto potencial biótico e de ciclo curto (em torno de 15 dias), sendo que uma das fases iniciais se dá no solo e o restante na planta (Figura 1). O adul-
to pode viver até 45 dias, o que corresponde a uma sobreposição de gerações, agravando ainda mais o problema para a cultura infestada. O dano característico deste grupo de insetos relaciona-se com seu aparelho bucal, do tipo raspador, especialmente de folhas, pois ao alimentarem-se, acabam promovendo o rompimento das
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Figura 1 - Fases de desenvolvimento de tripes. Fonte: https://www.ipmlabs.com/thrips-damage
células, o que provoca sintomas de raspagem, deixando o limbo foliar com aspecto “prateado”. Trabalhos realizados anteriormente demonstram queda de 45% na fotossíntese, 36% na condução estomática e 30% na transpiração em uma densidade populacional de 73 tripes/folíolo posicionados no estrato superior de plantas de soja em estádio R5. Além do dano causado pelo comportamento alimentar, tripes podem também causar danos indiretos (esses menos recorrentes) através da transmissão de viroses, como o vírus da queima-do-broto-da-soja. Ainda merecem destaque as relações entre C. brasiliensis e plantas daninhas localizadas em áreas adjacentes a lavouras, fato determinante para a sobrevivência destes indivíduos durante períodos desfavoráveis (entressafras). Danos por C. brasiliensis variam entre 10% e 25% de queda na produtividade final. Trabalhos envolvendo este grupo de insetos denotam linhagens resistentes a inseticidas à base de espinosade, elevando ainda mais sua importância econômica. Tabela 1 - Cultivares de soja avaliados. Ibirubá, Safra 2018/2019 Cultivar BRS 5601(1) NA 5909(2) NS 5445(3) SYN 1561(4)
Grupo de Maturação 5.6 6.2 5.4 6.1
Tecnologia RR RG RR2 IPRO RR2 IPRO
(1) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. (2), (3) Nidera Sementes Ltda. (4) Syngenta Seeds.
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Figura 2 - Esquema da partição de plantas e folíolos de soja em diferentes estratos (superior, médio e inferior) para avaliação dos danos de tripes em diferentes cultivares
EXPERIMENTO
Para melhor compreender como se distribuem os danos deste grupo de insetos na cultura da soja, foram avaliadas no município de Ibirubá, no Rio Grande do Sul, quatro cultivares (Tabela 1) durante a safra 2018/2019, todas conduzidas conforme as recomendações técnicas e em um tamanho de parcela de 100 metros quadrados para cada cultivar. Para cada cultivar, foram selecionadas de maneira aleatória dez plantas de soja, sendo cada planta dividida em três partes (estratos: inferior, médio e superior) e retirados 30 folíolos por estrato de planta, totalizando 90 folíolos por cultivar avaliada (Figura 2). Todas as cultivares avaliadas estavam em estádio R5. Desta forma, os dados foram analisados primeiramente entre estratos das cultivares avaliadas. Posteriormente os folíolos avaliados foram divididos em três partes iguais (estratos: superior, médio e inferior) para avaliar a concentração dos danos em folíolo. Os dados foram analisados estatisticamente a um nível de 5% de probabilidade de erro.
RESULTADOS
Houve diferenças significativas para concentração dos danos de tripes entre os estratos de todas as cultivares avaliadas. Em todas as cultivares foi observada maior concentração dos danos para os estratos médio e superior, sendo que nas cultivares BRS5601 e NA5909 o estrato superior foi o
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que apresentou maior concentração dos danos. Para NS5445 e SYN 1562 o estrato médio apresentou maior concentração dos danos (Figura 3). A distribuição de tripes entre os estratos das plantas de soja relaciona-se com sua preferência por ambientes com umidade relativa e radiação solar adequadas para sua sobrevivência. Desta forma, populações de tripes posicionam-se nos estratos médio e superior, onde irão encontrar tais condições mencionadas. Entretanto, vale ressaltar que uma parte do desenvolvimento deste inseto se dá no solo (Figura 1), sendo assim, novas infestações iniciam-se no estrato inferior. Desta forma, tecnologias que atinjam o chamado “baixeiro” da soja, além de reduzirem com eficiência populações já estabelecidas, contêm de forma eficiente novos fluxos populacionais desta praga. Na análise dos folíolos, observou-se que em todas as cultivares avaliadas os danos concentraram-se principalmente no estrato inferior, seguido pelo médio e o superior (Figura 4). Esta distribuição dos danos está relacionada diretamente com a posição do inseto no folíolo, em que procura as partes com maior fluxo de seiva na planta, desta forma gasta menos energia ao se alimentar e obtém maior quantia de nutrientes, o que facilita a manutenção das populações e do seu alto potencial biótico. De maneira geral, os resultados de-
monstram que plantas em estádio R5 apresentaram maior concentração dos danos nos estratos médio e superior. Entretanto, deve-se tomar cuidado quanto às populações iniciais, pois começam no estrato inferior, esgotando os recursos ali disponíveis, passando a sobrar maior quantidade de recursos para novas populações nos estratos médio e superior. Outra situação a ser observada é a relação direta entre área foliar existente nos estratos médio e superior em comparação ao estrato inferior. Por ser maior nos estratos médio e superior, a população pode tender a concentrar-se nestas áreas, causando maior quantidade de danos. Sendo assim, além de variações microclimáticas, a quantidade de recurso disponível e a época de infestação impactam na distribuição destes insetos ao longo da planta. É preciso esclarecer que não há intenção em comparar qual cultivar apresentou maior severidade, pois para tal deve ser avaliado um número de cultivares próximo ou igual ao que se tem disponível no mercado. Desta forma, busca-se somente conhecer em que parte da planta e do folíolo se concentram os danos de tripes na cultura da soja, focando em um manejo com base no comportamento do indivíduo.
ESTRATÉGIAS DE MANEJO
No manejo fitossanitário de tripes, o pressuposto monitoramento deve ser considerado não somente na cultura da soja, mas também na antecessora. Havendo densidades populacionais, as
medidas de supressão podem ser tomadas a partir da dessecação. Outra oportunidade reside no tratamento de sementes. Com o estabelecimento da cultura da soja, ações de monitoramento devem ser realizadas a partir das folhas cotiledonares. Havendo densidades populacionais (um a dois tripes por planta) recomenda-se efetuar a ação de supressão populacional. Destaca-se que o início de ações de supressão a partir da fase reprodutiva é temerário, muito em função das populações de tripes estarem distribuídas nos diferentes terços das plantas. Nessa fase, embora sejam executadas ações de supressão, as populações remanescentes, concentradas principalmente nas partes mediana e inferior, reinfestam a parte superior do dossel vegetativo, gerando uma falsa impressão de manejo. Diante disso, havendo densidades, recomenda-se estabelecer as estratégias de supressão já na fase vegetativa. Embora inicial, estima-se que este inseto tem potencial de gerar perdas C significativas que perfazem os 15%.
Eduardo Engel Esalq/USP Intagro Pesquisa e Desenvolvimento Mauricio P. B. Pasini Unicruz Intagro Pesquisa e Desenvolvimento
Figura 3 - Concentração dos danos de tripes em função do estrato da planta em diferentes cultivares de soja avaliadas. Ibirubá, RS, safra 2018/2019
C
Figura 4 - Distribuição dos danos de tripes em função do estrato do folíolo em diferentes cultivares de soja. Ibirubá, RS, safra 2018/2019
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Algodão
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Vilão da qualidade
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Vetor de viroses, capaz de se alimentar e sobreviver em plantas daninhas e diversos cultivos, o pulgão-do-algodoeiro é uma séria ameaça à produtividade e à qualidade da fibra. Modificações na dinâmica populacional do inseto e no sistema de produção fazem com que o manejo integrado de pragas (MIP) necessite ser tratado de forma mais estratégica em função das multiculturas hospedeiras
Germison Tomquelski
O
Brasil a cada ano se destaca na produção de algodão mundialmente. Entre os fatores que proporcionam essa posição está a qualidade de fibra, que permite ao País aumentar as vendas para os mais diversos mercados. A região do Cerrado proporciona condições intrínsecas para que a cultura tenha um bom desenvolvimento e, ao final, uma boa colheita. As estratégias de manejo, aliadas ao outono e inverno secos por ocasião da colheita, proporcionam condições ideais para a qualidade da fibra em relação a comprimento, refletância, micronaire, entre outros parâmetros. Ao mesmo tempo, o agroecossistema no Centro-Oeste promove um ambiente favorável à multiplicação de pragas, pois prevalece um sistema de produção com grandes extensões de áreas, com as culturas muitas vezes semeadas em janelas extensas, propiciando que as pragas migrem entre talhões próximos. Aliado a isto, outros fatores como condições climáticas favoráveis, altas temperaturas no verão, e inverno ameno, tornam-se ideais para a multiplicação dos insetos. A planta de algodoeiro é atacada por um grande número de pragas, que durante o ciclo da cultura são capazes de causar redução na produção e na qualidade do produto, resultando em prejuízos consideráveis. A cultura chega a alcançar, em determinadas cultivares e regiões, 220 dias no campo, levando a grandes desafios, uma vez que pode compreender várias gerações de espécies pragas Entre as pragas, o pulgão Aphis gossypii é uma das primeiras que aparecem na cultura, colonizando plantas pequenas, já no início do ciclo. Nessa fase pode causar danos que impactem e até limitem a produtividade. No passado, com a utilização de cultivares sensíveis à doença azul (mosaico das nervuras), o pulgão do algodoeiro foi alvo de 80% das pulverizações realizadas para o controle de pragas (Papa, 2001). Atualmente, na região dos Chapadões (Chapadão do Sul, Costa Rica/ Mato Grosso do Sul e Chapadão do Céu/Goiás) o cotonicultor tem realizado em média de três a seis intervenções para o seu manejo ao longo do ciclo da cultura. Os pulgões são insetos de tamanho pequeno, coloração variável de amarelo-claro a verde-escuro. Vivem sob as folhas e brotos novos das plantas, sugando a seiva. Os adultos apresentam tamanho em torno de 1,5mm, sendo o ciclo médio de oito dias. É uma praga em que a fêmea pode gerar de 25 a 50 indivíduos, sendo a longevidade média dos indivíduos de 20 dias. A capacidade de reprodução destes insetos
é enorme, favorecida por temperaturas elevadas e condições normais de umidade relativa. Entretanto, em condições de umidade baixa e estiagem, a situação pode se agravar (Degrande, 1998). No clima brasileiro ocorre exclusivamente por partenogênese telítoca, isto é, sem a presença do macho, sendo tanto as formas aladas quanto as ápteras, constituídas de fêmeas larvíparas. No início da colonização, os indivíduos são ápteros, tanto ninfas quanto adultos reprodutivos na colônia não possuem asas. Existem diferenças fisiológicas e morfológicas entre formas ápteras e formas aladas, uma vez que cada uma delas tem uma função biológica. As formas ápteras permanecem na planta e têm a função de multiplicar e perpetuar a espécie, logo são altamente reprodutivas, por outro lado possuem corpo menos esclerotizado, menos robusto. Quando a população aumenta na colônia, o contato tátil entre os pulgões, principalmente entre antenas, serve como estímulo – sinal para que formas aladas sejam desenvolvidas. Fatores químicos podem exercer papel secundário nessa indução. Já as formas aladas são desenvolvidas para a função de migração, então são mais robustos, corpo mais rígido, possuem boa capacidade de voo e podem suportar maiores períodos sem se alimentar, além de possuir capacidade sensorial elevada devido às antenas mais longas e aos olhos bem desenvolvidos, o que permite localizar o novo hospedeiro, que pode ser outra planta de algodão ou outra espécie vegetal (Braendle et al., 2006). A dispersão dos indivíduos pode ocorrer, ainda, por correntes de ar que os levam a grandes distâncias e dispersam por toda lavoura. O pulgão suga a seiva das plantas, reduzindo o crescimento e desenvolvimento, provoca encarquilhamento das folhas e deformação dos brotos. Ao sugarem as plantas, os pulgões secretam o honey-dew, líquido que apresenta altos teores de açúcares provenientes da seiva da planta, que cai nas folhas e favorece o desenvolvimento de fungos oportunistas como o fumagina (Capnodium spp.) que dificulta a respiração e a fotossíntese da planta, contribuindo, também, para o seu enfraquecimento (Gallo et al., 2002). Os pulgões podem ser transmissores de vírus causadores de doenças como o
Gráfico 1 - Frequência relativa de insetos em plantas de trapoeraba (Commelina benghalensis) na região de Chapadão do Sul/MS, na cultura do algodoeiro. Fundação Chapadão – Maio 2012. safra 2011/2012
vermelhão do algodoeiro e a doença azul (mosaico das nervuras – “forma Ribeirão Bonito”), que provocam sérios danos à cultura (Santos, 2001). Nas últimas safras, em função da adoção de cultivares com maior tolerância/resistência a essas duas viroses, outra doença tem se pronunciado e chamado a atenção de produtores, a virose atípica. Os sintomas dessa doença são palidez das nervuras e enrugamento das bordas, e com sua progressão as folhas ganham coloração avermelhada-arroxeada. Seus prejuízos têm sido comumente observados nas mais diversas localidades brasileiras, sendo comum os técnicos relatarem prejuízos da ordem de 10% na produtividade, mesmo sendo realizado o controle da praga.
MANEJO
Em cultivares suscetíveis, o nível de controle usual era de 5% de plantas atacadas/infestadas (Degrande, 1998). Em variedades resistentes ao vermelhão e à doença azul, o nível de controle usual é de até 10% de plantas, com a presença de colônias, considerando o risco de transmissão da doença atípica, ocorrendo tardiamente. A amostragem deve ser constante em virtude da presença de plantas no campo o ano todo. Os pulgões são pragas polífagas, sendo encontrados em diversas espécies de plantas cultivadas ou daninhas, podendo desta forma servir de refúgio para os indivíduos.
As equipes técnicas necessitam treinamento e aperfeiçoamento, a fim de possibilitar o melhor entendimento das informações sobre a dinâmica populacional desses insetos, aliados a observações de progresso das doenças. Por exemplo, o fato de formas aladas se desenvolverem a partir de uma colônia já formada indica que a infestação pode iniciar de forma mais pontual, o que permite o tratamento apenas de talhões com a presença do inseto, evitando a dispersão para o restante da área e diminuindo a necessidade de aplicação em área total. Entre os fatores que têm levado ao aumento populacional da praga pode ser apontada a intensa utilização de inseticidas para o controle do bicudo-do-algodoeiro, que resultou em diminuição importante de inimigos naturais de várias famílias de predadores e parasitoides, principalmente Coccinelidae (joaninhas predadoras) Cycloneda sanguinea, Eriopis connexa, Scymnus sp., Hypodammia convergens, entre outras; e a família Aphidiidae, onde está inserido o parasitoide Lysiphlebus testaceipes, encontrado em determinadas localidades. Outro fator apontado nas últimas safras que contribui para o aumento populacional, reside na utilização de adubo nitrogenado em maior quantidade na cultura, sendo muito comum aplicações tardias (em torno dos 75-90 dias), a fim de promover maior produtividade. Plantas bem nutridas e com alto teor de nitrogênio na seiva representam uma fonte atrativa de alimento e desenvolvimento rápido de colônias. Os pulgões são pragas polífagas, sendo encontrados em diversas espécies de plantas cul-
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tivadas ou daninhas, podendo desta forma servir de refúgio para os indivíduos. Dessa forma, um outro fator que dificulta o manejo da praga é a ocorrência de determinadas plantas daninhas como trapoeraba (Commelina benghalensis), caruru (Amaranthus sp.), entre outras, pois fazem com que o inseto se abrigue, propiciando a reinfestação da cultura (Gráfico 1). Estas modificações na dinâmica do inseto e no sistema de produção fazem com que o manejo integrado de pragas (MIP) necessite ser tratado de forma mais estratégica em função das multiculturas hospedeiras. O conhecimento da praga, assim como da lavoura, pelo “produtor-técnico” é fundamental para o bom manejo. A prática da destruição de soqueiras é uma alternativa no manejo da praga, diminuindo as populações, para a safra seguinte, o que pode interferir principalmente na dinâmica das doenças (viroses). Essas plantas remanescentes são local de refúgio e desenvolvimento de colônias que migraram de locais próximos, e podem servir como fonte de inóculo e fornecer insetos infectivos para novos cultivos. Esta prática leva o cotonicultor a retirar totalmente a cultura do campo em um determinado período de tempo, proposto pelas associações de produtores e órgãos de defesa agropecuária, também chamado de vazio sanitário. Além de contribuir para o manejo do bicudo, também representa uma importante ferramenta de manejo epidemiológico de doenças, como as viroses transmitidas por pulgões, uma vez que reduz tanto a população de insetos quanto a fonte de inóculo na área. Pensando na implantação da lavoura, a primeira ferramenta utilizada pelo produtor é o tratamento de sementes, para propiciar bom desenvolvimento inicial das plantas. Diversos ingredientes ativos se encontram registrados para o controle da praga, com destaque para os neonicotinoides thiametoxan, clotianidim, imidacloprid e acetamiprid. Outra medida complementar e a mais adotada pelos produtores consiste em pulverizações, que em determinadas fases são muito importantes, principalmente nas janelas de adubações nitrogenadas, em função da maior presença da praga.
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Diversos inseticidas estão registrados para o manejo da praga, como carbosulfan, acetamiprid, thiametoxan, imidacloprid, tiacloprid, flonicamid, pimetrozina, diafentiuron, ciantraniliprole, acefato, além das novas moléculas sulfoxaflor e flupiradifurone com alta efetividade no controle. Altas populações, aliadas a condições favoráveis, têm demandado a necessidade de reaplicações. O intervalo é dependente do monitoramento, sendo que algumas alternativas têm proporcionado intervalos superiores a 14 dias, e outras intervalos de cinco a sete dias. Vários fatores técnicos podem e devem ser levados em conta na escolha dos produtos a serem utilizados. Além da efetividade de controle, a seletividade a inimigos naturais é importante para que esses organismos que ajudam a manter populações de diversos insetos-praga não sejam impactados negativamente já no início da cultura. Além disso, produtos que não afetem o equilíbrio entre ácaros predadores e fitófagos protegem o produtor de favorecer a ocorrência de outro problema na sua lavoura, o ataque de ácaros. Por fim, considerando que essa é uma praga que não possui reprodução sexuada, ou seja, as ninfas são clones da mãe, é importantíssimo respeitar a rotação de mecanismo de ação, considerando os produtos incluídos desde o tratamento de sementes. Essa é uma prática importante para evitar/retardar a seleção de populações resistentes em campo e preservar a efetividade dos produtos disponíveis para seu manejo. De modo geral, os pulgões são um desafio constante para o produtor em função dos diversos pontos já expostos: viroses, plantas daninhas, vazio sanitário, período da cultura no campo e manejo para altas rentabilidades- qualidade. Somente uma boa base e estratégias integradas podem fazer C a diferença na qualidade final desta importante cultura. Germison Tomquelski e Yasmin Milken, Fundação Chapadão
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Figura 1 - (A) Fêmea alada - início de colonização em nova planta; (B) colônia de indivíduos ápteros já estabelecida
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Café
Pequeno desfolhador O bicho-mineiro-do-café (Leucoptera coffeella) é um microlepidóptero, minúsculo no tamanho, mas capaz de provocar sérios prejuízos. Os sintomas mais intensos da praga são observados na parte superior das plantas, onde provoca intensa desfolha em situações de alta infestação. Seu controle exige monitoramento e integração de medidas
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bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucoptera coffeella) é um microlepidóptero pertencente à família Lyonetiidae. Sua origem é africana, detectado no Brasil somente em 1851, devido à presença de mudas infestadas trazidas da Ilha de Bourbon e das Antilhas. Esse inseto possui tamanho aproximado de 6,5mm e coloração branca-prateada, sendo as asas anteriores constituídas de escamas escuras, com aspecto manchado na parte final. As fêmeas ovipositam aproximadamente 60 ovos durante seu ciclo de vida, principalmente no período da noite, onde depositam seus ovos (0,3mm de comprimento) na parte superior das folhas presentes geralmente no terço superior do cafeeiro. O período embrionário dura cerca de seis dias a oito dias, podendo haver variações de acordo com as condições climáticas, principalmente a temperatura. As lagartas abandonam os ovos e perfuram diretamente as folhas, se alojando no mesofilo foliar onde se desenvolvem, destruindo o parênquima e posteriormente dão origem às “minas”. Quando as lagartas se desenvolvem totalmente (nove dias - 40 dias), atingem ao redor de 3,5mm de comprimento e tecem um fio de seda por onde se deslocam para folhas do terço inferior da planta. Geralmente, na parte inferior das folhas as lagartas tecem casulos de coloração branca e com formato característico de “X”, onde passam para a fase de pupa com duração de cinco dias a 26 dias. Após esse período, emergem as micromariposas na proporção de um macho para uma fêmea, cuja longevidade média é de 15 dias. O ciclo biológico pode variar de 19 dias a 87 dias e, em condições favoráveis, podem ocorrer oito gerações/ ano a 12 gerações/ano. Os sintomas causados por esses insetos são mais visíveis na parte superior da planta, ocorrendo intenso desfolhamento em casos de alta infestação. Pesquisas conduzidas no Sul de Minas Gerais demonstraram que o ataque do bicho-mineiro, na época de floração do cafeeiro, pode causar redução de mais de 50% na produção devido à desfolha. Devido ao fato de a lagarta romper o córion do ovo pela parte inferior e penetrar diretamente no mesofilo foliar, e não ter contato com o meio externo, é preciso se atentar quanto à utilização de produtos para o seu controle, visto que o inseticida deverá alcançar a lagarta nesse local.
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Fotos Karolina Gomes de Figueiredo e Laís Sousa Resende
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Figura 1 - A) Minas com lagartas; B) Casulo em forma de “X” (crisálida); C) Adulto
AMOSTRAGEM E MONITORAMENTO
Existem duas formas de amostragem do bicho-mineiro, a comum e a sequencial. Na amostragem comum, recomenda-se dividir a lavoura em talhões de aproximadamente 5ha a 10ha, homogêneos, de acordo com tipo de solo, relevo e número de plantas. Deve-se começar as amostragens da praga no início do período de seca. O caminhamento deve ser feito em zigue-zague na lavoura e escolher 20 plantas ao acaso, de onde devem ser avaliadas três folhas no 3º par do ramo e 4º par do ramo, presentes no terço médio da planta. Ao final serão 60 folhas observadas quanto à presença de pelo menos uma mina intacta por folha, ou seja, sem perfurações. Esses dados são anotados em uma planilha de campo simples e o cálculo da infestação é feito multiplicando-se o total de folhas com minas pelo valor fixo de 1,67 (Tabela 1). O nível de controle do bicho-mineiro no Sul de Minas Gerais é de 30% de folhas com pelo menos uma mina intacta. Já no Cerrado esse nível pode ser menor em função das condições ambientais mais favoráveis ao seu crescimento populacional. Caso o nível de controle não seja atingido, deve-se realizar novas amostragens após 15 dias a 30 dias. A amostragem deve ser repetida durante todo o período seco do ano. Outro tipo de amostragem é a sequencial, onde também é realizada a divisão dos talhões homogêneos, porém o caminhamento é realizado em espiral de fora para dentro do talhão. A escolha da folha é semelhante à amostragem comum. Contudo, na amostragem sequencial a amostra consiste em apenas uma folha/planta. Dessa forma, deve-se considerar que, por vezes, uma ou mais folhas do 3º par e do 4º par possam ter caído e para evitar uma amostragem tendenciosa, recomenda-se observar primeiramente as folhas do 4º par, e na falta dessas, observar as folhas do 3o par. Se no ramo a ser amostrado não houver folhas nos 4o e 3o pares, realizar a amostragem em outro ramo do terço mediano da planta. Na amostragem sequencial adota-se a “nota acumulada” para medida do nível de infestação. Dessa forma, é atribuída a nota 0 para folha que possuir pelo menos uma mina intacta e nota 1 para folha que não possuir mina intacta. Essas notas deverão ser somadas de forma cumulativa e anotadas em uma
planilha de campo (Tabela 2) Exemplo: na Tabela 2 observa-se que a folha amostrada na primeira planta não estava minada e recebeu nota 1; a segunda estava minada e recebeu nota 0; portanto, o valor acumulado é igual a 1 (nota da 1ª planta + nota da 2ª planta); a terceira não estava minada e, assim, obteve-se o valor acumulado de 2 (nota acumulada + nota da 3ª planta); a 4ª estava minada e recebeu nota 0, permanecendo a nota acumulada igual a 2; a 5ª e a 6ª folhas, não estando minadas receberam nota 1, perfazendo notas acumuladas iguais a 3 e 4, respectivamente; a 7ª folha, estando minada, originou um valor acumulado igual a 4 (nota acumulada + nota da 7ª planta), e assim sucessivamente. A partir da 10ª folha amostrada, continua-se a amostragem até que uma das alternativas abaixo seja verdadeira: 1ª - Quando a nota acumulada for menor que a do limite inferior da tabela, interrompe-se a amostragem e recomenda-se o controle do bicho-mineiro. 2ª- Quando a nota acumulada for igual ou maior que a do limite superior, interrompe-se a amostragem e não se recomenda nenhum controle. A amostragem sequencial dessa forma permite que a decisão seja tomada com antecedência, tornando a amostragem mais rápida e menos trabalhosa.
MÉTODOS DE CONTROLE DO BICHO-MINEIRO CULTURAL
Plantas de cafeeiro cultivadas de forma mais adensada inibem o desenvolvimento e a multiplicação do bicho-mineiro, visto que maior umidade e menor penetração de luz e de ventos no interior da lavoura são condições contrárias às preferências dessa praga. Correntes de ar (vento), muitas das vezes, são as responsáveis pelo transporte de insetos adultos até a lavoura. Desta forma, a utilização de cerca viva ou quebra vento com plantas de grevilha, bananeira, leucena ou sansão-do-campo impede que o vento chegue até os cafeeiros levando o bicho-mineiro. www.revistacultivar.com.br • Janeiro 2021
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Tabela 1 - Ficha de campo para a amostragem comum do bicho-mineiro. Conta-se o número de folhas minadas no 3º e no 4º pares do ramo, num total de três folhas por planta Planilha de campo Data: Número do talhão: Assinatura:
Folhas com minas intactas (1 a 3)
1 2 3 4 5 6 7 Planta amostrada 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Nível de infestação (%) = Total x 1,67
Além disso, as superfícies das folhas ficarão mais úmidas, o que é desfavorável à oviposição do bicho-mineiro. Foi constatada menor porcentagem de folhas com minas intactas em cafeeiros protegidos por leucena quando comparado a outras três espécies de leguminosas como guandu, bracatinga e acácia (Reis, 2017), mostrando a importância da implantação dessa estratégia no manejo do bicho-mineiro. O manejo do mato em lavouras cafeeiras deve ser realizado por meio de capinas nas linhas e roçagem nas entre linhas, mantendo essa vegetação na altura do joelho para a proteção do solo e servir como plantas hospedeiras para a manutenção de inimigos naturais. A preferência no uso da adubação orgânica pode ser levada em consideração, pois melhora a absorção de nutrientes e aumenta a condutividade hidráulica, além de que uma planta de café bem nutrida fica mais tolerante ao ataque de pragas.
CONTROLE BIOLÓGICO
No mercado ainda não são encontrados predadores e parasitoides em grandes
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Fotos Karolina Gomes de Figueiredo e Laís Sousa Resende
As lagartas se alojam no mesofilo foliar onde se desenvolvem, destroem o parênquima e posteriormente dão origem às "minas"
quantidades para serem adquiridos e liberados em lavouras cafeeiras para o controle do bicho-mineiro. Porém, existem algumas espécies que são encontradas naturalmente associadas a essa praga, destacando-se alguns parasitoides himenópteros das famílias Braconidae, como Colastes letifer, Eubadizon punctatus e Mirax sp., e Eulophidae, como Neochrysocharis coffeae, Tetratichus sp. e Horisnemus sp. Os parasitoides dessas duas famílias podem promover 16% a 30% de controle do bicho-mineiro, enquanto os predadores da família Vespidae podem causar reduções populacionais dessa praga de 33% a 69%. Isto demonstra a importância da manutenção desses organismos em lavouras cafeeiras com o objetivo de regulação do crescimento populacional do bicho-mineiro.
COMPORTAMENTAL
Ocorre por meio do uso de armadilhas tipo delta com feromônio sexual sintético acoplado a uma base adesiva. Esse tipo de armadilha vem sendo uti-
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lizado para o monitoramento populacional do bicho-mineiro para determinar o momento mais adequado para a tomada de decisão quanto ao seu controle. É recomendada a instalação de uma armadilha por hectare a cerca de um metro da superfície do solo. A inspeção das armadilhas deve ser realizada a cada três dias, sendo que o liberador de feromônio geralmente é trocado a cada 30 dias.
QUÍMICO
Os inseticidas podem ser aplicados no período seco do ano, de junho a meados de setembro, caso a densidade populacional da praga alcance o nível de controle. Pode-se realizar pulverizações com produtos de contato com ação de profundidade como organofosforados, que em geral possuem curto período residual (20 dias a 35 dias), associados a um piretroide que possui maior poder residual, além de que as pulverizações devem ocorrer na parte da manhã ou no final da tarde para evitar a evaporação do produto no ambiente e fitotoxicidade
às plantas. Existem 138 produtos comerciais registrados para o controle do bicho-mineiro do cafeeiro (Mapa, 2020), pertencentes aos grupos químicos dos organofosforados (clorpirifós e tebufós), carbamatos (cloridrato de cartape), piretroides (lambda-cialotrina, cipermetrina, deltametrina, fenpropatrina e beta-cipermetrina), avermectinas (abamectina), neonicotinoides (tiametoxam e imidacloprido), diamidas antranílicas (clorantraniliprole), espinosinas (espinozade), tetranortriterpenoide (azadiracthina) e benzoilureias (teflubenzurom, lufenurom e novalurom). Salienta-se que o uso dos adjuvantes óleo mineral ou vegetal nas doses de 0,25% a 0,5% na calda química auxilia na fixação do inseticida junto ao tecido foliar, bem como contribui para menor deriva.
Aplicação de inseticidas sistêmicos como tiametoxam e imidacloprido via solo também pode ser realizada, seja via “drench” (esguicho) na região do colo da planta ou em filete próximo ao tronco. Esse tipo de aplicação é recomendado para o manejo preventivo em regiões com altas incidências dessa praga, e geralmente é realizada no período chuvoso, para que os produtos possam ser absorvidos pelas raízes da planta e levados para a parte aérea via xilema, onde irão proporcionar em torno de 50 dias a 100 dias de proteção. Vale ressaltar que o preparo da calda química deve ser realizado com uso de água com pH de 5 a 6,5 e nunca alcalino.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Muitas pesquisas têm sido desen-
Tabela 2 - Exemplificação de uma tabela de amostragem sequencial. Limite inferior indica o nível de ação, quando deve-se realizar o controle da praga. O limite superior indica o nível de não ação Planta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Propriedade: Data:
Bicho-mineiro-do-cafeeiro Limite inferior Nota acumulada 1 1 2 2 3 4 4 5 6 5 7 5 8 6 9 7 10 7 11 8 12 9 13 9 14 10 10 11 12 12 13 14 14 15 16 16 17 (18) Talhão N°:
Limite superior 10 10 11 12 12 13 14 14 15 16 16 17 18 18 19 20 20 21 22 22 (23) Estádio fenológico: Ação:
volvidas na área do manejo integrado do bicho-mineiro-do-café buscando formas alternativas de controle como estudo de parasitoides para atuar no controle biológico, novas armadilhas utilizando feromônios para monitoramento, além de pesquisas com novas cultivares que objetivam a resistência C genética contra essa praga.
Os sintomas causados por esses insetos são mais visíveis na parte superior da planta
Karolina Gomes de Figueiredo, Nathan Jhon Lopes, Gabriel Tadeu de Paiva Silva, Lara Sales, Geraldo Andrade Carvalho e Adriana de Paula Mendonça, Universidade Federal de Lavras – Ufla Lavras, Minas Gerais www.revistacultivar.com.br • Janeiro 2021
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Milho Ivan Cruz
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Quanto danifica O percevejo barriga-verde é um inseto com alto potencial de prejuízos à cultura do milho, sobretudo nos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas. Determinar o nível de dano dessa praga é fundamental para orientar a adequada tomada de decisão para a implementação de táticas de controle
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região Centro-Oeste é responsável por grande parte da produção de milho no Brasil. A intensificação do cultivo de segunda época (safrinha), bem como a rotação e sucessão de culturas têm modificado significativamente os sistemas de produção e o manejo fitossanitário na cultura do milho, proporcionando alterações na composição e abundância das espécies de insetos que nela ocorrem. A utilização do sistema plantio direto tem também favorecido o desenvolvimento e a sobrevivência de algumas pragas, como é o caso dos percevejos fitófagos que podem causar prejuízos na cultura do milho safrinha, caso não sejam controlados. Os percevejos fitófagos da família Pentatomidae são insetos sugadores que apresentam como principal característica o hábito de introduzir seus estiletes no substrato de alimentação, atacando várias estruturas das plantas, embora as sementes e os frutos sejam os locais preferenciais para sua alimentação. Na região Centro-Oeste, o milho safrinha é cultivado após a colheita da soja, condição que favorece a sobrevivência e a multiplicação do percevejo barriga-verde, Dichelops melacanthus, cuja população pode causar danos significativos na cultura, especialmente nos seus estádios iniciais de desenvolvimento. Todavia, a relação entre os danos na planta de milho e a presença do percevejo barriga-verde, bem como o seu nível de dano econômico na cultura, têm sido pouco estudados no Brasil. Essas informações, quando identificadas, podem fornecer subsídios para o manejo integrado desta praga na cultura do milho, orientando sobre o momento ideal da utilização de medidas de controle.
EXPERIMENTO DE DANOS DO BARRIGA-VERDE NO MILHO
Conduziu-se, na Embrapa Agropecuária Oeste, uma pesquisa para avaliar o comportamento produtivo do milho safrinha na presença do percevejo barriga-verde em diferentes estádios de desenvolvimento da planta, bem como analisar o efeito de diferentes níveis populacionais desta praga na cultura, para estimar o seu nível de dano econômico. Esse experimento foi conduzido em casa de vegetação, utilizando-se a cultivar Exceller, que foi semeada em vasos plásticos com capacidade de 13L contendo solo, conduzindo-se duas plantas de milho/vaso. As plantas foram infestadas com quatro adultos do percevejo barriga-verde em cinco diferentes estádios de desenvolvimento: V1 (uma folha); V2 (duas folhas); V3 (três fo-
lhas); V4 (quatro folhas) e V5 (cinco folhas). Sobre as plantas de cada vaso foi colocada uma armação de ferro revestida com tecido do tipo filó, para contenção dos insetos durante o período de infestação (dez dias). Os vasos foram vistoriados diariamente para reposição de eventuais percevejos mortos no interior das gaiolas. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com seis tratamentos (cinco estádios com infestação e uma testemunha sem insetos) em sete repetições (vasos com duas plantas). As plantas de milho foram conduzidas até a colheita para a determinação da massa seca da parte aérea e o rendimento de grãos. Todas as plantas de milho receberam os tratos agrícolas necessários como também a irrigação, quando necessário. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância.
EXPERIMENTO DE NÍVEL DE DANO DE D. MELACANTHUS
O experimento foi realizado na área da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, Mato Grosso do Sul. A semeadura foi realizada no mês de fevereiro, seguindo as recomendações técnicas de adubação para a cultura. A unidade experimental consistiu de uma gaiola em armação de ferro com 1m de comprimento por 0,90m de largura e 0,90m de altura revestida com tela de nylon, que abrangia cinco plantas de milho e uma área útil da parcela de 0,90m2. Quando as plantas se encontravam no estádio V1 (uma folha), foram infestadas com diferen-
tes níveis populacionais de adultos de D. melacanthus (zero, dois, quatro, seis e oito percevejos/gaiola) por um período de dez dias. As gaiolas foram vistoriadas diariamente para reposição de eventuais percevejos mortos em seu interior. O experimento foi conduzido em delineamento de blocos casualizados com cinco tratamentos (níveis de infestação) e cinco repetições (gaiolas). Após o período de infestação, os percevejos e as gaiolas foram retirados das unidades experimentais e as plantas de milho pulverizadas periodicamente com inseticidas, para eliminar possíveis infestações de percevejos ou de outras pragas. O ensaio foi conduzido até a colheita para determinação do peso das espigas, o peso de 100 sementes e o rendimento de grãos. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância. Para determinação do nível de dano, os dados foram submetidos à análise de regressão, sendo o rendimento de grãos, a variável dependente e as densidades populacionais do percevejo a variável independente. Para o cálculo do nível de dano econômico (D) utilizou-se a fórmula sugerida por Nakano et al. (1981), %D = 100 x Ct/V, sendo Ct o custo de controle e V o valor da cultura. Considerou-se o custo de controle do percevejo para a cultura do milho equivalente a R$ 84,08 por hectare, correspondendo a uma aplicação dos inseticidas imidacloprido + thiodicarbe (45 + 135 g/ha) nas sementes e uma
pulverização com imidacloprido + betaciflutrina (75 + 9,4 g/ha) sobre as plantas.
RESULTADOS DE DANOS
Em todos os estádios de desenvolvimento em que as plantas de milho foram infestadas com o percevejo barriga-verde foram observados menores valores de massa seca da parte aérea, quando comparado à massa seca das plantas que não foram infestadas com o percevejo. Esse efeito foi significativamente mais deletério nas plantas que apresentavam apenas uma folha (Figura 1) e evidenciam que a injúria causada pelo percevejo no milho afetou o acúmulo de matéria seca pela planta. O percevejo barriga-verde reduziu também o rendimento de grãos do milho para as infestações realizadas em plantas dos estádios V1, V2 e V3, quando comparado às plantas não infestadas no tratamento testemunha (Figura 2). Nas plantas dos estádios V4 e V5 não foram constatadas reduções significativas no rendimento de grãos, embora os níveis de produtividades nestes tratamentos fossem inferiores mais que duas vezes à produção observada nas plantas não infestadas (sem infestação). Nas espigas que a planta de milho eventualmente irá produzir, os grãos são geralmente formados até o estádio V3/ V4. Com isso, o número máximo de grãos ou a produção potencial desta cultura estará sendo definido até esses estádios de desenvolvimento. Dessa forma, o ataque
Figura 1- Massa seca média (g) da parte aérea do milho quando infestado com adultos de D. melacanthus, em diferentes estádios de desenvolvimento das plantas. Dourados, MS
Figura 2 - Rendimento médio de grãos de milho (g/vaso) em plantas infestadas com adultos de D. melacanthus, em diferentes estádios de desenvolvimento. Dourados, MS
Nas colunas seguidas da mesma letra, as médias não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05).
Nas colunas seguidas da mesma letra, as médias não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05).
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Crébio José Ávila
Figura 3 - Relação entre o rendimento de grãos (Kg/ha) do milho e as densidades populacionais de adultos do percevejo barriga-verde, D. melacanthus, infestado nas gaiolas. Dourados, MS
Danos provocados pelo percevejo barriga-verde em folhas de milho
do percevejo nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho interferiu negativamente no desenvolvimento fisiológico das plantas e, consequentemente, afetou o seu potencial de rendimento de grãos.
RESULTADOS DO NÍVEL DE DANO
O peso de 100 grãos do milho não foi influenciado pelas densidades populacionais do percevejo utilizadas nas gaiolas. No entanto, nas duas densidades populacionais mais elevadas testadas do percevejo (seis e oito percevejos/gaiola), o peso das espigas produzidas por gaiola foi significativamente reduzido, quando comparado às plantas não infestadas, embora essas não diferissem estatisticamente das densidades de dois e quatro percevejos/gaiola (Tabela 1). Na fase de enchimento de grãos, a planta começa a transformação dos açúcares em amido, contribuindo assim para o seu incremento de peso seco. Tal incremento ocorre devido à translocação dos fotoassimilados produzidos nas folhas para as espigas e os grãos que estão em formação. Com base nos resultados obtidos pode-se inferir que a produtividade do milho foi possivelmente afetada pelo ataque do percevejo nos estádios iniciais de Tabela 1 - Peso médio de 100 grãos (± EP1) do milho e das espigas (± EP) de plantas infestadas com diferentes densidades de adultos de D. melacanthus. Dourados, MS Percevejos/gaiola Peso de 100 grãos Peso das espigas (g/vaso) 0 34,00 ± 1,17 a 797,24 ± 50,92 a 2 34,40 ± 2,51 a 625,36 ± 79,9 ab 4 32,70 ± 0,75 a 620,56 ± 29,71 ab 6 34,00 ± 1,17 a 460,60 ± 82,63 b 8 30,60 ± 1,18 a 429,52 ± 92,75 b Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p< 0,05). 1Erro Padrão da média.
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desenvolvimento da planta (V1), quando ocorreu redução no desenvolvimento e na formação de grãos na espiga. O rendimento de grãos de milho apresentou relação negativa e significativa com os níveis de infestação do percevejo nas plantas, uma vez que o aumento da densidade populacional do percevejo barriga-verde reduziu o rendimento de grãos da cultura, sendo essa relação significativamente ajustada ao modelo linear de regressão (Figura 3). Através dos valores de produção estimados de milho, para as diferentes densidades populacionais do percevejo no intervalo de dois a oito insetos/gaiola, foi possível estimar o rendimento de grãos por hectare. Esses valores de rendimento de grãos, quando comparado com aquele observado na testemunha (plantas não infestadas), possibilitaram obter o cálculo do percentual de perdas para cada densidade populacional estudada do percevejo. A equação que relacionou as densidades populacionais do percevejo e os rendimentos de grãos apontou redução de 5,98% na produção de milho para cada percevejo acrescentado na gaiola. Transformando os dados das perdas para cada inseto/m2, estimou-se que um percevejo/m2 causaria uma redução de, aproximadamente, 5,38% na produção de grãos de milho. Utilizando-se a fórmula sugerida por Nakano et al. (1981), determinou-se o percentual de dano (% D) no milho, que equivale ao nível de dano econômico correspondente a 3,12% da produção.
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Conhecido esse percentual de dano, estabeleceu-se uma regra de três simples entre o percentual de dano causado pelas diferentes densidades populacionais do percevejo/gaiola e o percentual de dano obtido com a fórmula previamente citada. Dessa maneira, verificou-se que o número de percevejos que causa dano equivalente ao custo do seu controle (R$ 84,08), que representa o Nível de Dano Econômico da praga para a cultura do milho, foi de 0,58 percevejo/m2, considerando um rendimento médio de grãos da cultura de 6,568kg/ha. Os resultados obtidos neste trabalho evidenciaram um alto potencial de dano do percevejo barriga-verde na cultura do milho, sendo o nível de dano econômico encontrado para o controle dessa praga inferior a um percevejo/m². Convém salientar que os cálculos de nível de dano podem variar de ano para ano, dependendo do estádio da planta em que ocorre a infestação do percevejo, do nível de produtividade da cultura, do grau de suscetibilidade da cultivar, bem como do custo de controle utilizado para essa praga na cultura. As informações obtidas nesta pesquisa servirão para a orientação na tomada de decisão para a implementação de táticas de controle do percevejo C barriga-verde na cultura de milho. Crébio José Ávila Embrapa Agropecuária Oeste Paulo Henrique Ramos Fernandes Ivana Fernandes da Silva Universidade Federal da Grande Dourados
Rafael Soares
Informe
Importante aliado Complexo nutricional bioativador associado ao uso de fungicidas convencionais reduz em 43,3% a serveridade da Ferrugem Asiática e proporciona incremento de produtividade de 4,6 sacas por hectare de soja em relação ao tratamento padrão
A
utilização de Ultrazeb Inox, associado aos fungicidas convencionais, reduziu a severidade da Ferrugem Asiática em 43,3% e incremen-
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tou a produtividade em 4,6 sacas por hectare, em relação ao tratamento padrão. As perdas de produtividade, ocasionadas pelas doenças, aliadas
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a baixa eficiência dos principais grupos químicos de fungicidas utilizados atualmente, podem desacelerar a expansão da cultura da soja no Brasil. Desta forma, nos últimos anos tem crescido o interesse por métodos alternativos de manejo. Como todos os métodos apresentam limitações, é necessária a investigação do modo de ação dos complexos nutricionais bioativadores da defesa vegetal, para compor o manejo integrado de doenças. Nesse contexto, a Spraytec desenvolveu o Ultrazeb Inox, que oferece nutrição, maior defesa natural das plantas e melhor qualidade da aplicação. Formulação muito estável e solúvel, de alta tecnologia e biodegradável que atua nos processos fisiológicos das plantas, com reflexos positivos na produtividade. Uma característica diferencial do pro-
Figura 1 - Eficácia de Ultrazeb Inox na redução da severidade da Ferrugem Asiática da soja
duto está relacionada ao aumento da resistência das plantas à fatores bióticos. Em resposta à aplicação de Ultrazeb Inox, os mecanismos de defesa são ativados, induzindo a planta a sintetizar altas concentrações de metabólicos secundários, que atuam como verdadeiras barreiras físicas e químicas, dificultando a entrada e desenvolvimento de patógenos, como o fungo causador da Ferrugem Asiática. A utilização de cultivares de alto potencial genético associado ao desenvolvimento sustentável exige produtos inovadores e disruptivos como o Ultrazeb Inox.
Figura 2 - Eficácia de Ultrazeb Inox sobre a produtividade da soja
OBJETIVO
Avaliar a eficiência do complexo nutricional bioativador Ultrazeb Inox em associação com fungicidas convencionais no manejo de Ferrugem Asiática na cultura da soja.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em uma área comercial, na Fazenda Butiazinho, no município de Pinhão, PR. No ensaio foi utilizada a cultivar de soja K6221. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram em Testemunha (sem aplicação), Padrão FAPA (quatro aplicações de fungicidas) e Padrão FAPA + Spraytec (quatro aplicações de fungicidas associados ao Ultrazeb Inox 0,30 L ha-1). As aplicações foram realizadas quando a cultura estava nos estádios V6, R2, R5.1 e R5.3, respectivamente. O volume de calda utilizado foi de 150 L/ha. Foram realizadas avaliações da eficácia do produto sobre a severidade da doença e o rendimento da cultura. Os dados foram submetidos à análise de variância e ao teste de Tukey (p < 0,05), através do software SASM Agri (Canteri et al., 2001).
RESULTADOS
Ultrazeb Inox demonstrou alto sinergismo com os fungicidas, aumentando a eficácia no manejo da Ferrugem Asiática da soja. A associação de Ultrazeb Inox aos fungicidas reduziu a
severidade da doença. A severidade na testemunha foi de 85,5%, para o tratamento padrão foi de 17,3% e para o padrão associado ao Ultrazeb Inox foi de 9,8%, isto é, uma redução de 43,3% (Figura 1). O aumento na eficácia de controle da Ferrugem Asiática é de extrema importância para que não haja perda do potencial produtivo da cultura. Nesse contexto, com relação à produtividade, a colheita na testemunha foi de 38,8, no padrão de 73,6 e no padrão mais Ultrazeb Inox de 78,2 sacas por hectare. A associação de Ultrazeb Inox aos fungicidas promoveu um incremento médio de produtividade de 4,6 sacas por hectare em relação ao tratamento padrão (Figura 2). Como a maioria dos fungicidas químicos convencionais apresenta limitações no controle, a associação deles com Ultrazeb Inox demonstrou ser uma ferramenta eficaz para garantir melhor manejo da Ferrugem Asiática e consequentemente, promover maior produtividade da cultura da soja.
CONCLUSÃO
O Ultrazeb Inox, além de nutrir as plantas visando a máxima expressão de seu potencial produtivo, é uma alternativa promissora no manejo da Ferrugem Asiática da soja por induzir os mecanismos de defesa das plantas, apresentando alto sinergismo C com os fungicidas convencionais. Heraldo R. Feksa, Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa)
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Plantas daninhas
Cresce o número de lavouras com caruru resistente ao herbicida glifosato no Sul do Brasil. O primeiro passo para enfrentar o problema é identificar corretamente a espécie, através do monitoramento de plantas com falhas de controle
O
número crescente de lavouras com falhas de controle do caruru com o herbicida glifosato preocupa tanto os produtores como pesquisadores da área. Em 2015, no Mato Grosso, ocorreu o primeiro relato de caruru resistente ao glifosato no Brasil. Tratava-se da espécie Amaranthus palmeri, considerada planta exótica no Brasil e que exigiu medidas severas de controle, como o isolamento das áreas e vistorias periódicas para eliminação dessas plantas. Desde então, as falhas de controle do caruru foram tratadas com receio pelos produtores com “medo e preocupação” de que essas plantas fossem da espécie A. palmeri. Atualmente, A. palmeri é considerada uma praga quarentenária presente, isolada no estado do Mato Grosso. Em 2018 no Rio Grande do Sul ocorreu o segundo relato de caruru resistente ao glifosato, agora para outra espécie, o Amaranthus hybridus (Oliveira et al, 2019), espécie conside-
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rada nativa do Brasil. Em janeiro de 2019, na região dos Campos Gerais, no Paraná, o setor de Herbologia da Fundação ABC identificou plantas de A. hybridus com suspeita de resistência ao herbicida glifosato e aos inibidores da ALS. A partir de então, foi realizado um trabalho a campo pela Fundação ABC, que constatou que as doses do herbicida glifosato de 500 até 16 mil gramas de equivalente ácido por hectare não ocasionaram controle dessas plantas de caruru, mesmo na dose maior do herbicida (Figura 1). Amostras das plantas foram coletadas e encaminhadas para diferentes institutos e laboratórios do País, que as identificaram como sendo da espécie Amaranthus hybridus, que coincidentemente apresentavam as mesmas características dos biótipos de caruru inicialmente
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ESPÉCIES DE CARURU
O gênero Amaranthus possui aproximadamente 60 espécies no mundo, encontradas principalmente em regiões Fundação ABC
Alerta nas lavouras
encontrados no Rio Grande do Sul e dos existentes na Argentina. No Brasil, recentemente foram relatados 46 casos de plantas de caruru, da espécie A. hybridus, com suspeita de resistência aos herbicidas glifosato e inibidores da ALS (Figura 2). A maioria dos casos relatados está na região Sul do País, principalmente no Rio Grande do Sul, em que as sobras de caruru com as aplicações de glifosato em pós-emergência da soja começaram a ser mais frequentes nas últimas três safras. Na safra 2019/20 essas sobras chamaram mais a atenção devido à frequência maior que nas safras anteriores. Destaca-se que houve um período de estiagem de meados de novembro ao final de dezembro de 2019 que pode ter contribuído para o aumento das falhas observadas. As possíveis hipóteses para a introdução e disseminação das populações encontradas nessas áreas até o momento, são que sementes oriundas de regiões infestadas tenham entrado através de: comercialização de sementes de culturas de cobertura de inverno (principalmente azevém), aquisição de gado bovino em leilões, esterco animal, rações, pássaros e trânsito de máquinas agrícolas. Desde então, o número de casos com falhas de controle de A. hybridus ao herbicida glifosato vem aumentando nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Fotos Fundação ABC
Figura 1 - Plantas de Amaranthus hybridus aos 30 dias após a aplicação de doses dos herbicidas glifosato e clorimuron (aplicação realizada sobre plantas com até seis folhas)
tropicais e subtropicais. No Brasil, a espécie hybridus é encontrada praticamente em todos os estados. Amaranthus hybridus, conhecido como caruru-roxo, caruru-bravo ou simplesmente caruru, é uma planta anual, monoica, herbácea, com caule ereto, que apresenta grande variabilidade de cores, desde o verde até o vermelho-púrpura. As folhas são simples lanceoladas, dispostas de forma helicoidal, com inflorescências apresentando flores masculinas e femininas e a maturação ocorrendo com plantas de 20cm a até 2m de altura (Kissmann & Groth, 1999). Quanto ao hábito de crescimento, é uma infestante considerada agressiva, com ciclo fotossintético C4, que lhe proporciona grande capacidade de competição por água, luz e nutrientes, principalmente quando comparada com culturas C3, como a soja, o feijão e o algodão (Carvalho et al, 2015). Essa espécie de caruru tem capacidade de produzir de 200 mil sementes por planta a 600 mil sementes por planta, sendo a dispersão feita por meio de sementes, podendo ser disseminadas por máquinas agrícolas, canais de irrigação, insumos, esterco animal, pássaros, mamíferos, além de culturas de cobertura. A similaridade entre as espécies torna difícil sua identificação a campo, porém alguns aspectos podem ser levados em consideração na diferenciação das espécies de Amaranthus. Como no Brasil existem relatos de resistência do glifosato a duas espécies, o foco neste artigo será a diferenciação. A marca d’água em forma de “V” invertido pode estar presente em algumas plantas de Amaranthus hybridus (Figura 3), porém também é uma característica presente nas plantas de A. palmeri. O pecíolo maior que o limbo foliar (Figura 4), a presença de pelo na ponta das folhas (Figura 5) e o crescimento das folhas em “roseta” (Figura 6) também são características que podem ocorrer tanto nas plantas de A. hybridus como de A. palmeri. Então, a diferenciação das espécies ocorre quando as plantas estão no florescimento, pois A. palmeri é considerado uma planta dioica, com a presença de flores masculinas e flores femininas em plantas distintas, enquanto A. hybridus é uma planta monóica com a presença de flores masculina e feminina ocorrendo na mesma inflorescência (Figura 7).
Figura 2 - Levantamento realizado na safra 2019/20 pelas instituições de pesquisas: Fundação ABC, CCGL, Coamo, Embrapa, UEM, UFSM e UPF, que mostram a dispersão da espécie de caruru Amaranthus hybridus em áreas com suspeita de resistência aos herbicida glifosato e inibidores da ALS
MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO
Na Argentina existem casos de resistência dessa espécie ao herbicida glifosato desde 2013, e atualmente, há populações de A. hy-
Figura 3 - Marca d’água em forma de “V” invertido presente em plantas de Amaranthus hybridus
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Figura 4 - Pecíolo maior que o limbo foliar, outra característica presente nas plantas de Amaranthus hybridus
Figura 5 - Presença de pelo na ponta das folhas de Amaranthus hybridus
Figura 6 - Plantas de Amaranthus hybridus com crescimento das folhas em “roseta”
bridus que apresentam resistência múltipla aos herbicidas inibidores da EPSPS (glifosato), ALS (chlorimuron-ethyl) e Auxinas (2,4-D e dicamba) (Heap, 2020). Com isso, a aplicação de glifosato na pós-emergência da soja RR ou do milho RR se mostra ineficaz, sendo necessária a utilização de outros herbicidas, tanto na pré como na pós-emergência da cultura,
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onerando o custo de controle. Uma das características que facilitam a rápida infestação de Amaranthus na lavoura é a alta capacidade de produção de sementes (Figura 8), sendo que uma única planta pode produzir até 600 mil sementes. Essas sementes são pequenas, esféricas e não apresentam estrutura de dispersão pelo vento (Foto 9). A tempe-
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ratura média ideal para germinação dessas sementes é de 20°C e pode ocorrer mesmo na ausência de luz, com isso os meses de maio a julho podem apresentar baixos fluxos de germinação; o pico de emergência de Amaranthus hybridus ocorre nos meses de setembro-outubro, se estendendo com menores fluxos entre dezembro e fevereiro. Conhecer esse fluxo de emergência é uma ferramenta importante para definir as melhores estratégias de controle e, nesse caso, o uso de herbicidas residuais na pré-emergência da soja será a base de uma recomendação para controle dessa planta daninha. Outro ponto que deve ser considerado é que durante a safra irão ocorrer vários fluxos de emergência (Figura 10), de acordo com a oferta de água no campo. Com isso é possível ter plantas daninhas em diferentes estádios de desenvolvimento, desde planta adulta até plântulas, que apresentam crescimento rápido, de 2cm a 3cm por dia, e podem atingir até 3m de altura (Figura 11). Novamente com essas informações percebe-se que além do herbicida residual, é preciso realizar mais um controle na pós-emergência da cultura, e esse irá depender do estádio da planta daninha. E qual o impacto dessa planta daninha nas lavouras de soja? O caruru-de-macha, espécie Amaranthus viridis, é controlado facilmente com glifosato. Os biótipos suscetíveis de Amaranthus hybridus e de Amaranthus palmeri também eram manejados com glifosato. Já para os biótipos resistentes ao herbicida glifosato, o controle em pós-emergência ocorre apenas em plantas muito pequenas (duas folhas a seis folhas), o que irá dificultar e encarecer o custo de controle na soja RR. A presença dessa planta daninha nas culturas do milho e da soja pode reduzir o rendimento em até 80%, além de inviabilizar a colheita mecânica. Outra informação relevante é que as plantas possuem hibridação natural e, portanto, pode ocorrer transferência da resistência a herbicidas de A. hybridus para outras espécies de caruru. É importante ressaltar que nas áreas já infestadas se deve evitar a disseminação dessas sementes para áreas vizinhas, principalmente pelo trânsito
de máquinas e animais, e, sobretudo, para as áreas ainda não infestadas, que se realize o monitoramento permanente das lavouras, e caso sejam observadas plantas de caruru com falhas de controle ao herbicida glifosato, entrar em contato imediato com as áreas de pesquisa das instituições que elaboraram esse comunicado: Fundação ABC, CCGL, Coamo, Embrapa, C UEM, UFSM e UPF. Luis Henrique Penckowski, Evandro H. G. Maschietto e Eliana Fernandes Borsato, Fundação ABC Fernando S. Adegas, Embrapa Soja Lucas S. O. Moreira, Coamo Mario A. Bianchi, CCGL Mauro A. Rizzardi, UPF Rubem S. Oliveira Jr., UEM Sylvio H. B. Dornelles, UFSM Figura 7 - Flores masculina e feminina presentes na mesma inflorescência, característica que pode ser utilizada para diferenciar a espécie Amaranthus hybridus
Figura 9 - Sementes de Amaranthus hybridus
Figura 8 - As plantas de Amaranthus hybridus apresentam inflorescências longas, com mais de 30cm
Figura 10 - Plantas de Amaranthus hybridus podem atingir mais de 3m de altura em solos de alta fertilidade
Figura 11 - Dentro da lavoura podem ser observadas plantas de Amaranthus hybridus em diferentes estádios de desenvolvimento, devido à emergência ocorrer em vários fluxos
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Fertilizantes
Wenderson Araujo Sistema CNA
Acerte na escolha
O que levar em consideração na hora de escolher o fertilizante a ser aplicado em sua propriedade e como a qualidade do produto pode impactar em problemas como segregação, variação da dose e da fórmula no sulco
O
tema qualidade de fertilizante, apesar da importância, ainda é pouco abordado. Todo ano é comum produtores perguntarem pela qualidade de sementes, sobre quanto o material produziu, com o objetivo de realizar as compras do ano seguinte. Mas infelizmente o mesmo critério não é adotado em relação à qualidade de fertilizantes. No Brasil, boa parte das empresas de fertilizantes é apenas misturadora de grânulos, que elabora as formulações. A produção interna de matérias-primas tem sido insuficiente para atender à demanda, o que resulta no aumento das importações dos macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio, que constituem os três grupos de materiais de fertilizantes presentes na composição do enxofre, da amônia, da rocha fosfática e rocha potássica. De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em 2019 foram consumidos aproximadamente 36,3 milhões de toneladas de fertilizantes no Brasil, um aumento de 2,25% em relação ao ano de 2018. Você costuma dosar a quantidade de adubo com base na intepretação da análise de solos? Ou acaba comprando o mesmo adubo que o vizinho? Ou, ainda, o mais barato? Saiba que adubação em excesso ou insuficiente pode acarretar complicações. As adubações em excesso podem causar custos desnecessários, desenvolvimento anormal da planta, toxidez, salinidade, redução na absorção de outros nutrientes devido ao acúmulo de outro, crescimento excessivo, ou seja, acamamento, dificultando a colheita. Já as adubações insuficientes, bem como menores quantida40
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des dosadas, ocasionam falhas na germinação, desuniformidade de plantas, que ficam mais suscetíveis à entrada de doenças e pragas, plantas de porte menor, deficiências de nutrientes e, consequentemente, queda na produtividade.
QUALIDADE DOS FERTILIZANTES
Infelizmente, alguns fertilizantes nacionais são de péssima qualidade. Basta olhar para o fertilizante e avaliar os tamanhos dos grânulos. Primeiramente, há diferentes nutrientes, cada um com tamanho e formato diverso (Box). A falta de padrão de tamanho pode acarretar problemas, como segregação, variação da dose e variação da fórmula no sulco. Segregação é a separação dos grãos, que em algumas unidades beneficiadoras pode ser feita pela mesa densimétrica, pelo movimento vibratório em uma mesa que tem cada canto de suas pontas em uma altura diferente. Dessa forma, irá separar os grãos por tamanho, pois cada um tem um peso, que na vibração tenderá a se separar. Isso irá ocorrer também na semeadora, claro que não na mesma intensidade de vibração do exemplo fornecido. Mas esta ação irá resultar na alteração da fórmula que está caindo no sulco, ou seja, se planejei e regulei 250kg/ha de dose, esta dosagem não estará com a quantidade de N-P-K que deveria ter. A variação da dose precisa levar em conta que os dosadores já variam acima de 20% no campo. Dependendo do modelo, alguns oscilam de 50% a até 75%. Fator que resta agravado por esta variação no tamanho dos grânulos e no seu formato. Para verificar
Formato de cada nutriente Potássio é achatado, cheio de ângulos nas suas faces
Fósforo é arredondado
Rosa, Girardi e Conte explicam características dos fertilizantes
zantes testados apresentou um índice de dispersão granulométrica considerado baixo, apenas os fertilizantes D e E demonstraram média segregação e uniformidade de aplicação. Já os demais apresentaram alta segregação. Isso significa que ocorrerá uma desuniformidade na aplicação de fertilizantes, devido à separação dos grânulos na própria “caixa de adubo na plantadeira”. Isso irá resultar na má distribuição dos nutrientes, ocasionando manchas com deficiências de alguns elementos na lavoura. A granulometria do elemento fósforo da fórmula 02-23-23 (Fertilizante D) apontou um coeficiente de variação de 58,60%. Se isso já ocorreu apenas com a presença do fósforo, quando forem adicionados o nitrogênio e o potássio, que também possuem uma granulometria diferenciada no seu tamanho, a tendência é de que haja ainda mais segregação quando juntar toda essa variação de granulometria na caixa da semeadora C ao dosar. David Peres da Rosa, Junior Girardi e Paulo Henrique Conte, IFRS Campus Sertão Nesma
Figura 1 - Índice de dispersão granulométrica ou de partículas (GSI)
Nitrogênio e cálcio são arredondados
Tabela 1 - Avaliação realizada pelo Nesma com cinco fertilizantes 1 2 3 4 5
03-21-21 – NPK no grão (A); 02-23-23 – mistura de grânulos (B); 05-20-20 – mistura de grânulos (C); 02-23-23 – mistura de grânulos (D); 05-20-20 – mistura de grânulos (E).
Figura 2 - Índice de dispersão de partícula (GSI) e coeficiente de variação (CV) da distribuição linear dos fertilizantes
Figura 3 - Adulto (A) e larva (B) de Phyllophaga capillata
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Fotos C. M. Oliveira
este exemplo na prática, basta ir até a semeadora com algumas sacolas e coletar fertilizante a cada 10m. Faça três coletas e após compare as amostras. Em função da segregação, esta separação dos grânulos irá repercutir na alteração da fórmula inicial, pois os grânulos mais pesados tenderão a ir para o fundo da caixa, assim, dosando mais um nutriente do que outro e resultando na variação da fórmula no sulco. Além disso, há inúmeras causas que afetam a dose do fertilizante, como densidade, umidade, dureza, dosagem, tipo de dosador, perfil e tamanho da rosca, inclinação do terreno e velocidade de deslocamento. Embora existam regulamentações a serem seguidas (Instrução Normativa n° 39, de 2018), o fertilizante não é avaliado, em virtude de uma grande infraestrutura governamental necessária e não disponível. Entretanto, há um parâmetro utilizado para controle de qualidade, o índice de dispersão granulométrica ou de partículas (GSI), que fornece quanto o fertilizante irá segregar, ou seja, a separação e acomodação seletiva das partículas por ordem de tamanho, com a movimentação e a trepidação do produto (separação dos grânulos). A baixa segregação irá resultar em alta uniformidade de aplicação. Já a média, em média uniformidade de aplicação, e a alta segregação fornecerá uma baixa uniformidade de aplicação. Um trabalho realizado no Nesma, com avaliação de cinco fertilizantes utilizados no Rio Grande do Sul, chegou aos resultados observados na Tabela 1 e na Figura 2. Conclui-se que nenhum dos fertili-
Arroz
Cultivares resistentes
A brusone é uma doença que se destaca na cultura do arroz pelo alto potencial de causar danos e de reduzir de modo drástico a produtividade. Em áreas irrigadas, o uso de material genético não suscetível associado a outras práticas de manejo integrado permite elevada eficiência no controle desta enfermidade
N
o Brasil, aproximadamente 75% da produção de arroz é proveniente do agroecossistema terras baixas do Rio Grande do Sul, onde predomina a orizicultura irrigada por inundação. Parte significativa desta produção pode ser atribuída à elevada capacidade e estabilidade produtiva, à qualidade de grãos das cultivares e à adoção de boas práticas agrícolas que ampliam o nível tecnológico das lavouras. O planejamento do manejo integrado das práticas agrícolas é feito de modo a atribuir maior chance de sucesso ao controle preventivo ou o escape das doenças do arroz, reduzindo os riscos de perda de produtividade. Portanto, se constitui em sistema de alta eficiência, flexível e dinâmico para o controle das doenças, incluindo estratégias que reduzem o inóculo inicial e a taxa de progressão no campo, integradas a outros métodos (biológico, cultural, químico, cultivares resistentes), que têm por objetivo manter a taxa de severidade abaixo do limiar de dano econômico, com o mínimo de efeito nocivo ao ambiente. Tal sistema, ao eliminar a interferência de interações de efeitos negativos aos arrozais, indiretamente, condiciona melhor expressão 42
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cultivar, maior a necessidade de haver planejamento das ações de controle, como semear mais cedo, pois o avanço das épocas de semeadura do arroz aumenta a severidade da brusone, e outras medidas, que aumentam a responsabilidade com o monitoramento da doença e do clima (umidade e temperatura) para estabelecer o limiar de ocorrência da brusone (risco de epidemia). Portanto, há necessidade de estabelecer um equilíbrio, todas as vezes que for tomada uma decisão de alterar, modificando este manejo, como nas escolhas das cultivares suscetíveis, no emprego de adubação pesada de cobertura, que aumenta o estresse no sistema. Portanto, há necessidade de compensar ou intensificar ação em outras medidas ou métodos que auxiliem no controle das doenças. A aplicação de fungicidas nas lavouras de arroz irrigado do Rio Grande do Sul, com base em diagnóstico da situação da brusone, utilizando doses registradas, em época correta, proporciona maior eficiência de controle, podendo resultar em menor número de pulverizações e maior economicidade. Entretanto, esse controle pode ser mais eficiente e econômico ainda se procedido por boas práticas de manejo da cultura. De modo geral, todos os fungicidas registrados para controle de brusone na cultura do arroz irrigado foram e são estudados quanto à sua eficiência, com duas aplicações, durante período reFotos Cley Donizeti Martins Nunes
do potencial produtivo das cultivares, que é de maior interesse dos orizicultores. Quando as doenças da cultura do arroz se manifestam, há risco de menor produtividade, da sanidade das sementes e da qualidade dos grãos. Entre as doenças do arroz, destaca-se a brusone (Pyricularia oryzae) devido ao alto potencial para danificar plantas de cultivares suscetíveis, reduzindo drasticamente a lucratividade. A brusone pode se estabelecer em distintas partes da planta de arroz, como folhas, colmos, bainhas e sementes, sendo o sintoma das manchas foliares o mais típico. Nas folhas, os sintomas iniciais consistem de pequenos pontos, de aproximadamente 1mm de diâmetro, cor castanho, passando a castanho-avermelhado, rodeados por um halo amarelado. Evoluem para uma lesão alongada, com bordos irregulares e de coloração marrom, com centro grisáceo, onde aparecem as frutificações do fungo (Figura 1). Em condições de alta umidade, na fase de floração, pode ocorrer infecção do primeiro nó, abaixo da panícula, esterilizando todas as espiguetas, que é a situação mais comum da brusone de panícula, conhecida como brusone de pescoço. A infecção do pescoço geralmente é considerada a condição mais deletéria da doença, devido aos danos nessa parte da planta reduzirem a formação de grãos em toda a panícula. Por isso, a produtividade de arroz é estreitamente relacionada à severidade da brusone de pescoço. Neste contexto, estudos demonstraram que a cada 1% de brusone de pescoço há uma perda de 0,5% de produtividade. Além disso, a infecção tardia da panícula na fase de grão leitoso pode causar gessamento e reduzir o rendimento de grãos inteiros. No Rio Grande do Sul, a epidemia de brusone tem sido maior nos últimos anos, devido à semeadura de grande escala de cultivares suscetíveis. Dentre dez cultivares mais usadas na safra 2014/2015, 70% são suscetíveis à doença, ocupando uma área de aproximadamente 800 mil hectares. Esta epidemia se intensifica quando são usadas elevadas doses de fertilizantes, principalmente de nitrogenados. Associado a esta situação, o número de aplicações de fungicidas aumentou aproximadamente 700%, em mais de 50% das lavouras do Rio Grande do Sul, o que perdura até o presente. Isso, provavelmente, induziu ao aumento de epidemia, associado ao surgimento de mais raças do fungo P. oryzae, o que reduz o período da resistência (vida útil) das cultivares.
COMO MANEJAR
Para manejar a brusone é recomendado um adequado preparo do solo, com eficiente incorporação de restos culturais, utilização de semente certificada, em épocas e densidades corretas de semeadura, adubação equilibrada, principalmente a nitrogenada, irrigação por inundação uniforme e controle eficaz de plantas daninhas. Este manejo é otimizado via uso de cultivares de arroz resistentes, um método agronomicamente eficiente, econômico e ambientalmente mais seguro para o controle da doença. Constata-se que a reação de resistência de cultivares à brusone é inversa à ação de controle por fungicida. Ou seja, quanto maior o grau de resistência da cultivar, menor é a contribuição do fungicida no controle da brusone, ocorrendo, consequentemente, maior ação de controle (interação fungicida/resistência), reduzindo o número de aplicações. Assim, quanto mais suscetível for a
Figura 1 - Sintomas de brusone em folha de arroz
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Tabela 1 - Severidade da brusone de panícula, com respectiva produtividade (Prod.) real da cultivar de arroz irrigado Guri Inta CL, quando tratada com fungicidas para o controle da doença em três estádios de desenvolvimento e simulação da produtividade para estimativa de lucratividade - Safra 2015/16 Aplicações Nº/épocas1 R2 R2+R4 R2+R4+R6 R4+R6 R6 Testemunha CV (%)
Situação real Severidade Prod. (%) (t/ha)2 1,5ab1 10,2 a 1,5ab 10,0 a 1,0a 10,5 a 2,5abc 9.8 a 3,5bc 9,0 a 4,0c 8,7 a 17,2 10,1
Prod. (t/ha)3 10,2 10,2 10,4 9,8 9,4 9,2 -
Figura 2 - Relação entre produtividade de arroz irrigado e severidade de brusone nas panículas da cultivar Guri Inta CL, com base na aplicação de fungicidas em três estádios de desenvolvimento - safra 2015/16. 1Notas (0 a 9) atribuídas às panículas aos dez dias após a aplicação
Simulação Diferença Lucratividade6 4 (%) (sacas) Sacas 81,1 21,2 17,2 62,3 21,2 13,2 52,8 25,4 13,4 37,0 12,7 4,7 4,8 4,2 0,2 -
R2= emborrachamento, R4= floração, R6= grão leitoso; 2Médias com letras iguais não diferem pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05); 3Baseada na relação entre produtividade real e severidade de brusone nas panículas; 4Estimativa do número de sacas (50 kg) produzidas a mais que o tratamento testemunha; 5Custo da aplicação (fungicidas + aeronave) expresso em número de sacas (uma aplicação= R$ 160,00); 6Estimativa do número de sacas produzido, excluindo o custo do tratamento, e a respectiva taxa de retorno econômico. 1
produtivo das plantas, sendo a primeira no emborrachamento tardio (até 5% de emissão de panículas) e a segunda 15 dias após, de acordo com poder residual e a dose recomendada pelo fabricante. Em situação de região que possua histórico de ocorrência de epidemia baixa, ou seja, baixa severidade de brusone, o que é frequente em lavoura de arroz do Sul do Rio Grande do Sul, os resultados evidenciaram que uma aplicação de fungicida, na fase fenológica de emborrachamento (R2), é suficiente para controlar a doença e assegurar a capacidade produtiva das cultivares, o que se equipara com duas e três aplicações, nos estádios de emborrachamento + floração e emborrachamento + floração + grão leitoso, respectivamente (Tabela 1). Aos benefícios agronômicos e econômicos de apenas uma aplicação de fungicidas, somam-se os ambientais e alimentares. As aplicações de fungicidas mais tardias são ineficientes no controle da doença, ao ponto de não impedirem que a doença atinja severidade semelhante à constatada em plantas não tratadas. Por outro lado, quando o controle da brusone é baseado em métodos por previsão, as plantas de arroz devem ser protegidas antes do surgimento nas panículas ou da ocorrência de condições climáticas favoráveis à doença por períodos superiores à duração do efeito residual dos fungicidas (dez-18 dias). Dependendo da situação da doença, deve-se decidir pela necessidade ou não de uma segunda aplicação. Em casos de dúvida, deve ser considerado que o período que abrange as fases de emborrachamento tardio e o início da emissão das panículas é aquele em que são obtidos melhores efeitos das aplicações de fungicidas (Tabela 1). Poderá também, ser adotada uma tática de aplicação mista, em áreas com histórico de ocorrência da brusone, realizando a primeira pulverização por calendário fixo, no final do emborrachamento, e a segunda por previsão empírica (sob a probabilidade de ser atingido o limiar de ocorrência da doença), de modo a impedir o estabelecimento de danos econômicos. Há fortes indicativos de correlação entre a produção de arroz irrigado e a severidade de brusone nas panículas, sendo atingida maior produtividade da cultura quando as plantas são tratadas com fungicidas (Tabela 1 e Figura 2).
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Com base nesse indicativo de correlação, foi estimada a viabilidade econômica (lucratividade) de um maior ou menor número de aplicações (Tabela 2), utilizando as seguintes informações: severidade de brusone nas panículas (Tabela 1); doses, custos da aplicação aérea e preço médio atual (litro ou quilo) das marcas comerciais de fungicidas contendo triciclazol (R$ 235,00) e trifloxistrobina + tebuconazol (R$ 70,00); preço atual da saca de arroz de 50kg (R$ 40,00). As maiores produtividades simuladas corresponderam a uma, duas e três aplicações dos fungicidas, em R2 (emborrachamento), R2 + R4 (emborrachamento + floração), e R2 + R4 + R6 (emborrachamento + floração + grão leitoso), respectivamente, superando em 1t/ha a produtividade associada ao tratamento testemunha. A indicação de que a aplicação única de fungicidas em R2 viabiliza uma produtividade igual à atribuída a duas e três pulverizações mais tardias, tem base na evidência de que tratamentos no estádio de emborrachamento e floração são mais efetivos no controle da brusone, assegurando níveis normais de produtividade. Portanto, dependendo da severidade da doença, que pode variar conforme a safra, a região orizícola, a cultivar utilizada e as práticas de manejo da cultura, dentre outros fatores, é possível reduzir o número de aplicações de fungicidas, com impacto positivo nos custos de produção e qualidade de recursos naturais, e menor risco de acúmulo de resíduos nos grãos. Portanto, considera-se que cultivares resistentes à brusone são relevantes para o manejo da doença em arrozais irrigados, associado ao fato de que em determinadas regiões orizícolas há histórico de baixa severidade. Assim, evidencia-se que, com base em monitoramentos, apenas uma aplicação de fungicida, no emborrachamento (R2), é suficiente para o controle da doença e manutenção da produtividade, aumentando o nível tecnológico C de arrozais irrigados. Cley Donizeti Martins Nunes e José Francisco da Silva Martins, Embrapa Clima Temperado
Cana
Manejo coletivo
A
pesar de todos os prognósticos positivos e como ocorre com as culturas de importância econômica, a cana-de-açúcar é atacada por inúmeras pragas, com destaque para a broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. Trata-se de uma praga extremamente nociva à cana-de-açúcar, capaz de dizimar canaviais inteiros se não tomadas as devidas medidas de controle. O aumento da infestação da praga nos canaviais está ligado a fatores climáticos, grandes áreas de expansão, plantio de variedades suscetíveis, aumento das áreas fertirrigadas e principalmente pela negligência aos detalhes que compõem o Manejo Integrado desta praga.
DESCRIÇÃO E BIOLOGIA
O ciclo biológico completo, de ovo a adulto, da broca da cana-de-açúcar D. saccharalis dura em torno de dois meses, existindo até seis gerações anuais, dependendo das condições climáticas. As fêmeas ovipositam nas folhas, de preferência na face dorsal. Cada postura pode conter de cinco a 50 ovos, agrupados de forma semelhante a escamas de peixes. A fecundidade média desta espécie é de aproximadamente 400 ovos. Inicialmente, os ovos são amarelos, com o desenvolvimento embrionário ficam alaranjados e, posteriormente, é visível a cápsula cefálica da lagarta ainda no
Praga extremamente nociva, com poder para dizimar canaviais, a broca da cana-deaçúcar, Diatraea saccharalis, exige muita atenção e planejamento. Integrar medidas de controle, realizar o monitoramento adequado e manejar de modo regionalizado estão entre as estratégias indispensáveis para se obter sucesso contra este inseto
interior do ovo. Seis dias após a postura, se os ovos estiverem fecundos, ocorre a eclosão das lagartas. As lagartas recém-eclodidas são de cor branca, tornando-se de coloração creme com o desenvolvimento, apresentando algumas manchas escuras espalhadas pelo corpo. Alimentam-se, no início, do parênquima foliar, no interior da bainha da folha; após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem galerias de baixo para cima. Essas galerias podem ser de duas formas: longitudinais, na maioria dos casos, e, às vezes, transversais. Passam por seis instares, durante um período médio de 28 dias, dependendo das condições climáticas. A lagarta prestes a se transformar em pupa cessa a alimentação, limpa e amplia a galeria onde se desenvolveu, abre um orifício para o exterior, fecha-o com fios de seda e serragem e transforma-se em crisálida. É de coloração castanha e tem a duração de oito dias, variando o tempo de acordo com as condições climáticas. Mede aproximadamente de 16mm a 20mm de comprimento. Os adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores, as asas posteriores são esbranquiçadas, medem aproximadamente 25mm de envergadura. Apresentam longevidade aproximada de oito dias, possuem hábito noturno e ficam escondidos durante o dia. A oviposição ocorre principalmente no início do anoitecer. www.revistacultivar.com.br • Janeiro 2021
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Fotos José Francisco Garcia
Lagartas após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem galerias de baixo para cima
FLUTUAÇÃO POPULACIONAL
Em geral, o ciclo de D. saccharalis inicia-se em setembro-outubro, normalmente, após a emergência de adultos provenientes da geração de inverno na região. Esses adultos, geralmente, procuram canas novas para efetuar suas posturas. A segunda geração verifica-se entre dezembro e fevereiro; a terceira entre fevereiro e abril, e em maio e junho se inicia a quarta geração, que pode se prolongar por alguns meses.
PREJUÍZOS
As lagartas causam prejuízos diretos, pela abertura de galerias, ocasionam perda de peso da cana e que podem levar a planta à morte, “coração morto”, especialmente em canas novas. Quando fazem galerias circulares (transversais), seccionam o colmo, provocando sua quebra pela ação de ventos. Enraizamento aéreo e brotações laterais também ocorrem devido ao seu ataque. Os prejuízos indiretos são consideráveis, uma vez que, através de orifícios e galerias, penetram fungos que causam a podridão-vermelha do colmo, podendo abranger toda a região compreendida entre as diversas galerias. Os fungos causadores da podridão-vermelha, Colletotrichum falcatum e Fusarium subglutinans, invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e o rendimento industrial no processo de produção de açúcar e/ou álcool. No caso da cana destinada apenas à produção de álcool, os micro-organismos que contaminam o caldo concorrem com as leveduras no processo de fermentação alcoólica, diminuindo o rendimento.
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Prestes a se tornar pupa o inseto mede aproximadamente de 16mm a 20mm de comprimento
Para cada 1% do Índice de Intensidade de Infestação Final ocasionado pela praga (número de entrenós atacados pelo complexo broca/podridão-vermelha), ocorrem prejuízos de 1,14% na produção de cana (TCH) e mais 0,42% na produção de açúcar ou 0,25% na produção de álcool.
AMOSTRAGEM VIA ARMADILHA
Atualmente, armadilha à base de feromônio, através da utilização de fêmeas virgens, tem sido a base em programas de detecção, monitoramento populacional e controle de D. saccharalis em todas as regiões produtoras de cana-de-açúcar. Quando se faz opção pelo uso dessa ferramenta, é fundamental conhecer os aspectos bioecológicos e comportamentais desta praga, pois, assim, será possível interpretar adequadamente as informações oriundas das avaliações, além de determinar como a população está distribuída na área. De acordo com o hábito de oviposição de D. saccharalis, estas armadilhas deve-
Através de orifícios e galerias penetram fungos que causam a podridão vermelha do colmo
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Adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores e as asas posteriores são esbranquiçadas
rão ser instaladas na região do dossel, dessa forma, estas acompanham a altura da planta ao longo do seu desenvolvimento. Através da junção das folhas das plantas paralelas, e posterior amarração, essa armadilha fica então posicionada na entre linha da cultura. Sabendo que 74% dos adultos voam 200 metros de raio, o que perfaz uma área de 12,5 hectares, recomenda-se dimensionar uma armadilha para até 50 hectares. O "atrativo sexual" é composto por três fêmeas virgens e mais três pupas fêmeas do mesmo lote, perfazendo assim um total de seis formas biológicas, as quais serão aprisionadas em gaiola tipo "bob" e este acondicionado dentro da armadilha. Em campo, no momento da instalação, a organização das armadilhas através de identificação nominal é fundamental, bem como a sua localização geográfica. Este planejamento é a base para o alto rendimento operacional que esta operação exige, bem como necessária para o mapeamento das informações coletadas. Essas armadilhas devem ser instaladas dentro da área a ser amostrada, na bordadura dos carreadores. A leitura das armadilhas deve ser realizada
Armadilha à base de feromônio para a amostragem da praga
três noites após a sua instalação, anotando-se o número de machos capturados em cada armadilha. O nível de controle determinado para esta praga é de ≥ seis machos/armadilha em 30% do total de armadilhas. A frequência amostral na época úmida é quinzenal, posicionando assim o controle químico e biológico (Cotesia flavipes). Na época seca, o monitoramento é mensal, posicionando apenas o controle biológico através da liberação de C. flavipes. Durante o período úmido utilizam-se os dois métodos de controle- químico e biológico (C. flavipes)- sendo que o controle químico deverá ser realizado seis dias após a constatação do nível de controle, e 14 dias após esta pulverização, liberam-se quatro copos de 1.500 vespas de C. flavipes por hectare. Fora desse período, para o mesmo nível de controle, liberam-se apenas quatro copos de 1.500 vespas de C. flavipes por hectare após 20 dias da avaliação destas armadilhas, tomando-se como base a mesma porcentagem (30% do total de armadilhas).
MÉTODOS DE CONTROLE
A estratégia de controle deve levar em conta a fenologia da planta, as variedades mais suscetíveis ao ataque, os viveiros, as áreas irrigadas e principalmente o potencial produtivo, para o futuro planejamento da tomada de decisão.
CONTROLE CULTURAL
No Manejo Integrado desta praga, o plantio de variedades resistentes, o corte da cana sem desponte, a moagem rápida, a eliminação de plantas hospedeiras das proximidades do canavial, principalmente milho, milheto e sorgo, após suas colheitas, são medidas eficazes para diminuir a população da praga.
CONTROLE BIOLÓGICO
Existem diversos inimigos naturais capazes de controlar a praga.
PREDADORES
São responsáveis- naturalmente- por eliminar uma expressiva parcela, principalmente, de ovos e de lagartas recém-eclodidas. As formigas, pertencentes a gêneros como Solenopsis sp., Pheidole sp., Camponotus sp., entre outras, formam o principal contingente, sendo complementado por coleópteros, neurópteros e dermápteros. Em alguns locais, mais de 90% da população inicial da praga é controlada por esse complexo de inimigos naturais.
ÍNDICE DE INTENSIDADE DE INFESTAÇÃO FINAL
A amostragem do Índice de Intensidade de Infestação Final (I.I.I. Final) é realizada coletando-se colmos de cana-de-açúcar no momento da colheita. Em campo, deve-se amostrar quatro pontos, ao acaso, sendo estes representados por cinco colmos cada, tomados aleatoriamente, totalizando 20 colmos avaliados. Para o cálculo da I.I.I. Final abre-se longitudinalmente cada um dos colmos coletados, contando-se o número de entrenós e aqueles que se encontram lesionados pelo complexo broca/podridão-vermelha. Os dados obtidos são aplicados à fórmula: I.I.I. Final =
n° de Internódios Broqueados n° Total de Internódios
Determinado o Índice de Intensidade de Infestação Final, têm-se diferentes graus de infestação, Aceitável (≤ 1,0); Baixo (1,1 a 3,0); Médio (3,1 a 6,0); Alto (6,1 a 9,0) e inaceitável (≥ 9,1), sendo esses valores expressos em porcentagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma vez que D. saccharalis é um inseto-praga capaz de causar enormes prejuízos à cultura da cana-de-açúcar, é preciso realizar um planejamento de manejo que integre diversas medidas de controle, como o etológico, o cultural, o biológico e o químico. Todas estas medidas de controle devem ser efetuadas durante todo o ano, de acordo com as condições climáticas adequadas a cada uma delas. A utilização de armadilhas com feromônio é uma ferramenta imprescindível na tomada de decisão, especialmente para a realização dos controles químico e biológico e, consequentemente, na redução dos danos causados por essa praga. Também é importante ressaltar que o manejo para o controle desta praga deve ser regionalizado e não pontual, exigindo ação conjunta de todos. O manejo coletivo é o ponto fundamental para o sucesso C no combate a D. saccharalis. José Francisco Garcia, Global Cana - Soluções Entomológicas
PARASITOIDE DE LAGARTAS
A vespinha C. flavipes foi introduzida no Brasil em 1974 e vem se destacando em diversos locais como extremamente eficiente no controle de D. saccharalis. Apresenta vantagens pela facilidade de multiplicação em laboratório em relação às moscas Lydella minense e Paratheresia claripalpis que foram utilizadas anteriormente.
CONTROLE QUÍMICO
Este método de controle deve ser visto como ferramenta prioritária a ser utilizada em situações que exigem resposta rápida e eficiente de controle, sob o risco de, não o tendo, agravar sobremaneira os prejuízos. Essa ferramenta deve ser analisada com muito critério, principalmente as características de cada molécula química e seu potencial de controle.
A vespinha C. flavipes vem se destacando no controle de D. saccharalis
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Milho Fotos Adriano Custódio e Lucas Simas
Teste de fungicidas Ensaios cooperativos avaliam desempenho de fungicidas no controle de doenças como a manchabranca em milho segunda safra no Paraná. Objetivo da iniciativa é fornecer informações científicas para produtores, técnicos e pesquisadores sobre o impacto produtivo e o uso racional dos produtos
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A
produção de milho vem crescendo no Brasil e no mundo nas últimas décadas. Nesse contexto, no Brasil, o milho segunda safra ou safrinha teve a área triplicada desde 2000, passando a ser responsável na última safra 2019 por aproximadamente 73% da produção total de milho brasileira. Esses números tendem a crescer ainda mais, visto os investimentos em tecnologia e pesquisas para o milho safrinha nos últimos anos. No mesmo sentido da produção, a ocorrência de doenças de foliares no Brasil também vem crescendo. Tanto é que, recentemente, pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em parceira com CPA-Copacol, identificaram uma nova doença bacteriana em lavouras comerciais (Leite et al, 2018). Entre as doenças foliares de maior importância em milho, a mancha-branca é a que mais ocorre no Paraná. O uso de fungicidas em milho tem sido cada vez maior. No entanto, a eficiência de controle de alguns produtos é questionável. Nesse contexto, pesquisadores do programa milho do Iapar, em parceria com Coamo Cooperativa Agroindustrial (Coamo), iniciaram em 2016 e 2017 um projeto-piloto para conhecer a influência de fungicidas para controlar a mancha-branca do milho. Este trabalho resultou em 2018 e 2019 no estabelecimento da rede de ensaios cooperativos de fungicidas em milho segunda safra, envolvendo uma parceria público-privada de várias Instituições formada por Iapar, Embrapa, universidades, cooperativas, empresas de experimentação e multinacionais fabricantes de agroquímicos. O objetivo desta rede será estudar programas de manejo de doenças do milho segunda safra, fornecendo informações científicas para produtores, técnicos e pesquisadores da eficiência de controle, impacto produtivo e uso racional de fungicidas.
CONDUÇÃO DOS ENSAIOS
Os ensaios do projeto-piloto foram
Tabela 1 - Programas de controle de mancha-branca do milho com aplicação de fungicidas ID Test 7 5 6 9 10 8 11 2 4 3 12
Houve redução de produtividade na área sem aplicação de fungicidas
conduzidos nos anos de 2016 e 2017 em Londrina e Campo Mourão, semeados em duas épocas em cada localidade. Parcelas experimentais de 3,6 x 6 metros, com espaçamento entre linhas de 0,9m e população variando de acordo com a recomendação do fabricante. O híbrido utilizado foi “Fórmula VIP3”. Os tratos culturais do campo experimental foram realizados conforme recomendações técnicas para a cultura. A adubação de cobertura ocorreu aos 15 dias e 30 dias após a emergência, com aplicação de 125kg/ha de ureia. Os fungicidas testados no controle de mancha-branca do milho foram compostos por moléculas isoladas e misturas duplas ou triplas (Tabela 1). Para conhecer a eficiência de controle, três aplicações foram realizadas nos estádios fenológicos de oito folhas (V8), pré-pendoamento e pós-pendoamento (R2), com pulverizador costal pressurizado e volume de calda de 200 litros/ ha. A severidade da doença foi aferida no estádio de grão pastoso (R4), avaliando-se a folha abaixo da espiga. Produtividade e severidade foram submetidas a análise conjunta.
Abreviação Ingrediente ativo Testemunha Tebuconazol Tebuconazol Piraclostrobina Piraclostrobina Tebuc+Triflox Tebuconazol + Trifloxistrobina Picox+Cipro Picoxistrobina + Ciproconazol Azox+Cipro Azoxistrobina + Ciproconazol Triflox+Proti Trifloxistrobina + Protioconazol Azox+Benz Azoxistrobina + Benzovindiflupir Pira+Fluxa Piraclostrobina + Fluxapiroxade Pira+Epox Piraclostrobina + Epoxiconazol Pira+Epox+Fluxa Piraclostrobina + Epoxiconazol + Fluxapiroxade Mancozebe Mancozebe
g.i.a. ha-1 200 250 200+100 200+80 200+80 150+175 300+150 333+167 260+160 81+50+50 750
Figura 1 - Severidade de mancha-branca do milho em programas de controle com aplicação de fungicidas. Campo Mourão-PR - Coamo. Segunda safra 2016 e 2017
Figura 2 - Produtividade (kg/ha) de milho em programas de controle de mancha-branca. Campo Mourão-PR - Coamo. Segunda safra 2016 e 2017
RESULTADOS
Nos ensaios conduzidos em Campo Mourão, a severidade média de mancha-branca em R4 do tratamento sem aplicação de fungicidas foi 28%. A aplicação de fungicidas reduziu a severidade da doença em relação ao tratamento testemunha, sem fungicida (Figura 1). Nas condições testadas, o controle da doença pela aplicação de fungicidas impactou na produtividade final da cultura. No tratamento testemunha, sem aplicação de fungicidas, a produtividade foi inferior aos tratamentos com fungicidas (Figura 3). Os ensaios conduzidos em Londrina, em geral, apresentaram severidade média na testemunha avaliada em R4 de 15%. A severidade foi superior nos ensaios conduzidos na segunda época de semeadura (Figura 4). O uso de fungicidas reduziu a severidade de mancha-branca em relação à
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Figura 3 - Severidade de mancha-branca do milho em programas de controle com aplicação de fungicidas. Londrina-PR – Iapar. Segunda safra 2016 e 2017
testemunha sem aplicação. Os tratamentos compostos por misturas duplas e triplas apresentaram maior eficiência de controle quando comparadas a moléculas isolados. Da mesma forma, a resposta em produtividade média foi observada para essas composições na safra 2017 (Figura 4). Em função da ocorrência de “fortes ventos”, a produtividade da safra 2016 não foi avaliada porque o ensaio foi perdido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 4 - Produtividade (kg ha-1) de milho em programas de controle de mancha-branca. Londrina-PR - Iapar. Segunda safra 2016
O posicionamento adequado de fungicidas com eficiência superior apresenta alta probabilidade de garantir maiores produtividades. Novas moléculas de fungicidas sítio-específicos ou multissítios com diferentes modos de ação ou novas combinações de formulações poderão ser oferecidas ao setor produtivo nos próximos anos. Por meio desta rede de ensaios cooperativos envolvendo várias instituições nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, será possível ofertar informações científicas ao setor produtivo sobre a eficiência, o impacto produtivo e o uso racional de fungicidas foliares para controlar doenças. C
Fotos Adriano Custódio e Lucas Simas
Lucas Henrique Fantin e Karla Braga, UEL Lucas Simas de Oliveira Moreira, Coamo Marcelo Giovanetti Canteri, UEL Adriano Augusto de Paiva Custódio, Iapar
O posicionamento adequado de fungicidas tende a garantir melhores produtividades
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Folha de milho com a presença de sintomas da mancha-branca
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