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Ano III - Nº 27 - Abril / 2001 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 58,00
Maturando dá
A redução do número de frutos verdes de café na hora da colheita aumenta o lucro. Veja como usar maturadores
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 6,00
Cuidado no final
O falso oídio ou ramulária está crescendo. Nessa edição as formas corretas para controle
Diretor:
Newton Peter
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Editor geral:
Schubert Peter Reportagens Especiais:
João Pedro Lobo da Costa Pablo Rodrigues Design gráfico e Diagramação:
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Fabiane Rittmann
Soja prá valer
Marketing:
Andrea González Neri Ferreira
O estado do Mato Grosso quer ter a maior produção e produtividade de soja. Veja qual a estratégia programada
Circulação:
Edson Luiz Krause Assinaturas:
Simone Lopes Ilustrações:
Mais feijão
Rafael Sica Editoração Eletrônica:
Index Produções Gráficas
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Fotolitos e Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES:
Como a pesquisa nos últimos anos tem aumentado a produtividade de feijão
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GERAL / ASSINATURAS: 272.2128
REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716
índice Diretas
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272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314
Correto uso de maturadores
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272.1966
Mercado Agrícola
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Bicheira-da-raiz no arroz
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SUCURSAIS
Oídio na reta final
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Mato Grosso
Reduzindo o neps no algodão
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A soja do Mato Grosso
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Trigo no Brasil Central
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Pirataria e zoneamento de sementes
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MARKETING: FAX:
Gislaine Rabelo
Rua dos Crisântemos, 60 78850-000 / Primavera do Leste Tel.: (65) 497.1019 ou 9954.1894
Bahia
José Claudio Oliveira
Rua Joana Angélica, 305 47800-000 / Barreiras Tel.: (77) 612.2509 ou 9971.1254
Aproveitando-se da planta daninha
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Reduzindo a concorrência em agroquímicos
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Mais produtividade para o feijão
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Agronegócios
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Última página: a Europa divaga
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Nossa capa
Foto Capa - Embrapa Arroz e Feijão
Plantio consorciado proporciona mais rentabilidade no campo
diretas Indonésia
Estradas
O embaixador da Indonésia, Sutadi Djajakusuma, liderou uma equipe de diplomatas que participou de cerimônia de lançamento do programa de aumento da produtividade da soja em Mato Grosso. No evento, na fazenda da Sementes Adriana, o embaixador explicou que seu gesto era fruto da visita feita à Indonésia pelo presidente Fernando Henrique para estreitar as relações
O senador e produtor rural Blairo Maggi bateu duro no governador Dante de Oliveira, em dia de campo na Fazenda Adriana, em Alto Garças. Pediu atenção imediata e especial para as estradas, bastante deterioradas, que impedem o fluxo normal para o escoamento da produção do estado. Dante respondeu que vai arrumar.
Blairo
Mudou
O especialista em biotecnologia Goran Jezovsek trocou de
Bayer
Enquanto fechava esta edição circulavam rumores dando como certa a compra, pela Bayer, da divisão de agroquímicos da Aventis. A empresa, em convenção, não se manifestou. As informações eram de que o anúncio formal sobre a compra seria feito no início de abril. No ano passado o diretor da Bayer, Pierre Longueteau, disse que a empresa estava com a caixa alta e estudava a possibilidade de ir às compras .
emprego. Conhecido pelas atividades desenvolvidas na Monsanto, Go-
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Organização
Alexandre Possebon, diretor executivo da Unisoja, foi um dos responsáveis pelo de campo organizado na Fazenda Adriana, em Alto Garças, que contou com o apoio e presença em massa de produtores de todo o Centro Oeste e até Maranhão. Além de autoridades de diversos escalões, como o próprio governador do estado.
Dow
A Dow Chemical comprou a divisão agrícola da Rohm and Haas por um valor próximo a um bilhão de dólares. A compra torna a Dow muito mais forte no setor de fungicidas, onde pouco atuava. No Brasil a transação envolve a fábrica de Jacareí, em São Paulo. O segmento de fungicidas movimenta no Brasil cerca de US$ 2,5 milhões anualmente.
Novidade
Alexandre
Máquinas
A Sementes Adriana apresentou em seu dia de campo, em Alto Garças, a nova bateria de 19 colhedoras adquiridas. As máquinas foram retiradas por um momento da colheita e devolvidas ao campo após o evento.
Odílio Balbinotti, proprietário da Sementes Adriana, informando sobre a remodelação de sua unidade beneficiadora de sementes, que passa a usar três peneiras em lugar de duas. A alteração, com um custo de R$ 2 milhões, vai proporcionar mais alto padrão à semente, resultando em ganho de produtividade para o produtor. A UBS tem capacidade para beneficiar 500 mil sacas de soja em cada safra, contra os 400 mil do ano passado.
Cultivar
comerciais. A Indonésia, disse, está interessada em aumentar as compras de soja em grão do Brasil, pois em matéria de óleo prefere o de palma. Os indonésios usam a soja para consumo humano, na forma de tofu, molhos e tempe.
ran passou para a Pioneer e muda em breve para os Estados Unidos.
Balbinotti
Odílio
Sutadi
NIM
A Embrapa e o Sindicato Rural do Distrito Federal promoveram um seminário sobre Nim, árvore originária da Índia, muito usada no controle de insetos, fungos, bactérias, nematóides, carrapatos e piolhos; na fabricação de creme dental, sabonetes cosméticos, paisagismo e na medicina humana e animal. O evento, com várias palestras, fez parte Projeto Neem /Brasil.
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Um novo logotipo vem sendo encontrado com freqüência no CentroOeste, despertando a atenção geral. A indústria agroquímica Cheminova, de origem dinamarquesa, vê crescer rapidamente sua participação no mercado de defensivos, em especial na soja e algodão. Marcelo Almeida, representante técnico de vendas na região, comandando interessante ofensiva. A Cheminova começa a aparecer as estatísticas, também.
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Cultivar
Café
so de floração, que por sua vez reflete diretamente na maturação, é possível na cafeicultura irrigada, com um manejo adequado do sistema, obter floradas abundantes e mais uniformes, quando comparadas com o sistema tradicional.
Correto uso de maturadores
CULTIVARES USADAS
Outro fator importante que reflete diretamente no processo de maturação é a cultivar utilizada, uma vez que podem apresentar uma maturação precoce, intermediária ou tardia. Além da época, a característica uniformidade de maturação também é desejável nas cultivares, pois apresenta relação direta com a qualidade do produto, como é o caso da Rubi e Topázio. Dentro de um contexto mais amplo, torna-se claro que a maturação é um fator de qualidade e que, associado a esta, é importante durante o crescimento e desenvolvimento dos frutos realizar corretamente os tratos culturais com adubações equilibradas e na época correta, fazer o controle eficiente de pragas e doenças, ter boa disponibilidade de água durante o crescimento dos frutos, principalmente nas fases de expansão e granação, além de realizar um manejo correto durante a secagem e o beneficiamento. Esse conjunto de fatores é que irá conferir e proporcionar ao produto final uma melhor qualidade. Portanto, se o cafeicultor realizou corretamente os tratos culturais, mas em função das várias floradas, a maturação não se apresentou uniforme, pode-se então fazer uso de produtos químicos precursores de etileno, como alternativa para antecipar e uniformizar a maturação dos frutos. Várias substâncias são capazes de liberar etileno ( hormônio maturador ) através de alguma reação química. Dentre as opções disponíveis, a mais utilizada e efetiva é o ácido 2-cloroetil-fosfônico, conhecido como Ethrel, Ethefon ou CEPA. Este produto quando aplicado na planta é absorvido pelos tecidos e através de simples reações base-catalizada, ou seja, não envolvendo nenhuma atividade enzimática das plantas tratadas libera o etileno. O uso de Ethefon na cultura do cafeeiro também vem despertando o interesse dos cafeicultores por : Possibilitar um planejamento da colheita, com melhor utilização da mão de obra e equipamentos devido
A
colheita de café processase em curto período de tempo, inicio em abril ou maio e prolonga-se até agosto ou setembro, dependendo da região produtora. A quantidade de café existente na planta, a quantidade caída no chão e o tempo de duração da safra são fatores a serem considerados para o início da colheita. Sabe-se que o fruto ideal para ser colhido é aquele que tenha completado seu estádio de maturação fisiológica, que na prática corresponde ao denominado fruto cereja . Por isso, a quantidade ideal de frutos verdes encontrada na planta para se iniciar a colheita é de no máximo 5%, sendo toleráveis quantidades de até 20%. Essa porcentagem, no entanto, traz prejuízos no rendimento e qualidade no produto final. Entretanto, existem casos em que devido a uma maturação desuniforme, a condição ideal para se iniciar a colheita dificilmente é alcançada, fazendo com que o produtor tenha que colher o seu café com uma grande porcentagem de frutos verdes ou com grande porcentagem de frutos secos. Essa variação que ocorre na maturação de frutos nas lavouras cafeeiras tem como principal causa a ocorrência de várias florações, em intervalos que vão geralmente de setembro a novembro, dependendo das condições climáticas, com destaque para o início do período chuvoso, uma vez que o estímulo para a quebra da dormência e a retomada do crescimento dos botões florais está diretamente relacionado com a disponibilidade de água para a planta. Sendo a água um dos principais fatores desencadeadores do proces06
Cultivar
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à antecipação da maturação dos frutos; Promover maior eficiência na derriça mecânica, e conseqüentemente redução no repasse manual; Proporcionar maior rendimento da colhedora devido ao fácil despreendimento do fruto; Liberar a planta mais cedo para a retomada dos tratos culturais do ano agrícola seguinte Porém, para que todos os benefícios sejam alcançados, é necessário que a lavoura ou o talhão, no qual o produto será aplicado, apresente as características agronômicas desejáveis, com carga pendente variando de média a alta e com os frutos completamente granados. É devido a isso que a aplicação somente deverá ser realizada mediante a avaliação detalhada do talhão. Na avaliação de granação e maturação é necessário a realização de duas coletas de frutos, sendo a primeira no terço inferior da planta, determinando a porcentagem de frutos granados, e a segunda, englobando o terço superior, médio e inferior, determinando a porcentagem de fruto cereja . Na avaliação de granação os frutos colhidos deverão ser cortados no sentido transversal e avaliados, enquanto que na avaliação de maturação, determina-se apenas a porcentagem de frutos maduros.
APLICAÇÃO DO PRODUTO
Quanto à aplicação do produto, devem ser seguidas as recomendações técnicas do fabricante, a qual deverá ser feita quando 90% dos frutos do terço inferior da planta estiverem completamente granados, o que na prática coincide com 96 % de frutos granados em todo o cafeeiro. Determinada esta fase, a aplicação do produto deverá ser realizada com equipamentos que permitam uma vazão em torno de 500 a 750 litros/ha, obtendo-se assim boa uniformidade e cobertura dos frutos e utilizando-se uma dosagem de 130 ml do produto comercial/100 litros de água. Deve-se ressaltar mais uma vez, a importância da correta aplicação deste produto para se obter bons resultados, e fazer com que o produtor possa contar com mais este aliado para um bom . manejo de sua lavoura cafeeira. Gladston Rodrigues, Epamig Cultivar
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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting
Colheita concentrada em abril Os produtores de soja neste ano terão a colheita da safra concentrada em abril. Com isso já estamos sentindo os reflexos do processo, que faz aumentar o volume de produto a transportar num período curto e aumentar os custos dos fretes. Os avanços dos fretes para esta safra já estavam previstos, porque tivemos aumento da produção de milho em cerca de 8 milhões de Toneladas na safra de verão e também deveremos fechar a soja com crescimento de 3 milhões. Somando 11 milhões de toneladas de produtos a mais que no ano passado para serem transportados, aumentando o custo entre 50 e 70%. Mais de 70% da soja deverá ser colhida entre o final de março e o meio de abril. Espaço curto para uma grande entrada. Os portos também devem enfrentar grandes filas para descargas, já que neste ano temos bons volumes de exportação de milho saindo na mesma época que a soja. Não será um bom momento para a comercialização dos produtores.
MILHO
Muita oferta e poucos compradores As últimas semanas têm sido de pouco movimento com o milho, já que os grandes compradores receberam grandes volumes do cereal diretamente no balcão, sem a necessidade de compras no mercado de lotes. Dessa forma, chegamos ao fundo do poço com as cotações em março e agora em abril deveremos andar em cima de uma estabilidade com poucas chances de grandes avanços. Ainda teremos boas ofertas e compradores abastecidos. Os negócios devem ficar por conta dos pequenos consumidores que levam das mãos para a boca. Para os produtores, tende a trabalhar entre os R$ 7,00 e R$ 8,00.
SOJA
Indefinições de demanda seguram o mercado O mercado da soja vem sofrendo grande pressão internacional dos compradores que no momento usam de seus argumentos para tentar baixar as cotações. Com o avanço da febre aftosa na Europa e já tomando outros paises, o mercado fica com temor de queda no consumo e não em avanço. Lembrando que nos últimos 3 meses já foram eliminadas quase 1 milhão de cabeças de bovinos e ovelhas em toda a Europa na tentativa de conter os problemas sanitários. E como animais mortos não comem, a teoria de não ter avanço na demanda tomou força em março e assim deveremos ter um abril em cima de fracas chances de avanços. Porém de agora em diante os olhos devem se voltar para o plantio americano, que também poderá trazer novidades.
ARROZ
Parou de cair A colheita da safra de arroz andou forte no último mês e agora em abril chegará acima dos 90%, com isso as ofertas
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cresceram, e as cotações foram para baixo, chegando a negociar abaixo dos R$ 11,50 para o produto novo no Rio Grande do Sul. Mas no final de março o quadro já era de maior pressão de compra e indicativos em leve crescimento. Aparentemente bateu no fundo do poço e agora poderá ter pequenas correções positivas. Mostrou os R$ 11,70 e até os R$ 12,00 para este começo de abril. Mas ainda não deveremos ter grandes avanços no setor. Para o ano o mercado será ajustado em cima de uma safra menor que no ano passado e uma tendência de avanço na demanda.
FEIJÃO
Bons indicativos e produtores plantando O mercado do feijão passou o mês de
Vlamir Brandalizze
março com cotações altas e assim serviu de apoio para o novo plantio que estava em andamento e deverá continuar em abril, principalmente do produto irrigado, que tem custos de produção maiores, necessitando de maiores garantias para o seu cultivo. Os negócios realizados variaram de R$ 55,00 a mais de R$ 70,00 por saca aos produtores pelo carioca de ponta. Com indicativos de entrada das primeiras áreas do arroz da segunda safra agora em abril e assim poder segurar um pouco o avanço e até derrubar os indicativos em alguns momentos. Se o clima colaborar com a colheita o mercado será de aumento das ofertas e pequena pressão de queda. Mas com boas cotações aos produtores. A melhor alternativa para não atrapalhar o mercado é colher e ir vendendo.
CURTAS E BOAS TRIGO - falta de sementes para o plantio em pontos do Paraná. Os produtores apontavam para um avanço de 300 mil hectares sobre o ano passado, mas a disponibilidade de sementes é pequena e assim temos visto boa disputa pelo produto no RS, onde os compradores paranaenses têm atuado. Com indicativos que os novos preços mínimos para o trigo de alta qualidade vá para os R$ 225,00 por T. SAFRINHA - o plantio chegou ao final e mostrou grande queda na área, com cerca de 6509 mil hectares no Paraná contra quase 1 milhão do ano passado. E também tivemos boa parte das áreas plantadas em março, contra o período ideal que vai até 20 de fevereiro. O MT e MS também reduziram o plantio da safrinha, que esta estimada em 3,5 milhões de T.
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SORGO - continuamos vendo bom avanço nesta cultura no país. Tem menor risco de clima e poderá ter safra superior a 1,7 milhões de T, contra as expectativas de fevereiro que apontavam para 1,5 milhões de T. No RS as lavouras já estão com o grão formado. E no Centro-Oeste estão em crescimento e floração. ALGODÃO - queda internacional das cotações não assusta os produtores do Brasil, que já tem cerca de 50% da safra negociada antecipada, e alguns apontam que 65% do que irão colher está negociado e com boa rentabilidade. As exportações poderão chegar a marca das 160 mil T, contra expectativas de 120 de fevereiro e das 90 mil exportadas no ano passado.
Cultivar
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Bicho na Raiz Principal praga do arroz irrigado, o Oryzophagus oryzae pode ser bem manejado, desde que o agricultor fique atento às características da praga
A
lavoura de arroz no Rio Grande do Sul sofreu nos três últimos períodos agrícolas (98/99, 99/2000 e 2000/2001) as maiores infestações de bicheira-daraiz. Esse coleóptero é a praga de maior importância, devido ao aumento da área atacada, aos danos causados e à disseminação generalizada. Trata-se de um Coleóptero pertencente à família Curculionidae, da espécie Oryzophagus oryzae, cujas larvas causam os maiores danos. Além dessa, outras espécies de gorgulhos aquáticos foram encontradas atacando o arroz: Lissorhoptrus tibialis e Ochetina sp. A bicheira-da-raiz tem causado prejuízos à cultura, nas regiões da Campanha, Depressão Central e Litoral Sul. Esse gorgulho aquático ataca 25% da área de arroz irrigado, reduzindo em 10% a produção. Em levantamentos realizados pelo IRGA nas safras 98/99 e 99/2000 cerca de 35 e 45% respectivamente, das áreas semeadas, foram atacadas por gorgulhos aquáticos. A região do Litoral Norte, onde a incidência era reduzida (15%), nas duas últimas safras (99/2000 e 2000/2001), ocorreu um elevado ataque às lavouras (40%).
DESCRIÇÃO DA PRAGA
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Cultivar
Os adultos da espécie Oryzophagus oryzae são coleópteros com 3,0 a 3,5 mm de comprimento por 1,0 a 1,5 mm de largura. Possuem cor cinza escura, corpo achatado lateralmente e franjas nas tíbias do segundo par de patas. As fêmeas são maiores do que os machos. Seus ovos são de cor branca, levemente curvos, com as extremidades arredondadas. As larvas são brancas no primeiro estágio, tornando-se brancoamareladas. Nos demais são ápodas. Possuem na parte dorsal seis pares de espiráculos, para extrair o oxigênio das raízes. Após passarem por 5 estágios larvais, completam o seu crescimento, podendo atingir 9 mm de comprimento. As larvas após passam à fase de pupa, que é de cor branca. A pupa encontra-se dentro de um casulo que fica aderido às raízes jovens, o qual mede 4,0 mm de comprimento por 2,75 mm de diâmetro. Os adultos dirigem-se para as lavouras com a elevação da temperatura, fotoperíodo e com a inundação das áreas, pela água de irrigação ou por chuvas. Até esse período eles estavam hibernando ou em diapausa, pois as condições ambientais eram desfavoráveis ao crescimento. No RS a hibernação vai www.cultivar.inf.br
até o mês de julho, sendo que em agosto os insetos adultos abandonam os sítios hibernantes. Porém nesta safra, devido o longo período com baixas temperaturas, a hibernação estendeuse até setembro. Em geral o período de maior entrada dos adultos na lavoura ocorre nos meses de outubro a dezembro. A partir de janeiro, não saem mais do abrigo e em geral 10% da população permanece hibernando, visando a preservação da espécie. Os adultos, após entrar na lavoura, localizam-se de preferência nos locais onde a lâmina de água é mais profunda. Após inicia-se o acasalamento, e as fêmeas realizam a postura nas partes submersas das bainhas das folhas, sendo os ovos dispostos individualmente. O período de incubação varia de 5 a 9 dias, após eclodem as larvas que, durante o primeiro ínstar alimentam-se do tecido vegetal próximo ao local da postura. Também podem sobreviver por um período de 2 dias sem alimentar-se ou sem obter oxigênio das plantas. No segundo ínstar, migram para as raízes permanecendo a uma profundidade de 5 a 7 cm. No sistema pré-germinado, devido ao adulto Abril de 2001
O estado larval dura em média quatro semanas. Após este estágio as larvas passam à fase de pupa formando um casulo impermeável, confeccionado com solo e material vegetal. O estágio de pupa dura em média 10 dias. Posteriormente surge os insetos adultos, completando o ciclo. A partir da segunda quinzena de fevereiro até o final de março, ocorre a entrada dos adultos no sítio de hibernação, com o objetivo de assegurar a sobrevivência da espécie num período adverso. Os insetos adultos hibernam na resteva, em touceiras de gramíneas nas taipas, ruas e canais. Também na vegetação nativa, em matas, bambus, eucaliptos, localizados próximos as lavouras. Os adultos ficam abrigados na região próximo ao colo das plantas. Em partes da lavoura que ocorrem alagamento constantes, não foram encontrados adultos em hibernação. Em estudos realizados pelo IRGA, na Estação Experimental do Arroz em Cachoeirinha, verificou-se que 60% da população de adultos permanece em diapausa na vegetação existente próxima à lavoura, e 40% permanece dentro da lavoura, na resteva, taipas, ruas e canais. As coletas de insetos foram realizadas praticamente nos mesmos locais. Estas informações estão de acordo com estudos realizados em São Paulo, onde foi verificado que a maior parte de uma população de gorgulhos aquáticos, vive circunscrita a um mesmo local, completando o seu ciclo ano após ano. Também os adultos podem ser dispersos a grandes distâncias, levado pelo vento por meios de transportes, ou pela água de irrigação.
OCORRÊNCIA, SINTOMAS E DANOS
Os insetos alimentam-se do parênquima das folhas no sentido longitudinal, deixando cicatrizes brancas com 1 mm de largura. Os adultos atacam
as folhas, geralmente acima da lâmina de água. No sistema pré-germinado, os insetos adultos atacam o coleóptilo e a radícula sob a água, causando redução no estande inicial. Os maiores danos são causados pelas larvas que ao cortarem as raízes em todas as direções provocam um desequilíbrio entre a parte aérea e o sistema radicular, além de diminuir o aproveitamento de nutrientes pela planta. As larvas podem cortar inteiramente as raízes, destruindo até 80% das mesmas. As plantas danificadas apresentam estatura reduzida, folhas amareladas com as pontas secas além de serem facilmente arrancadas. Quando esses sintomas são observados o sistema radicular encontra-se bastante danificado e os maiores prejuízos já ocorreram. Ocorrem em geral duas gerações larvais durante o ciclo da cultura. A primeira infestação acontece nos meses de novembro a janeiro, dependendo da época de semeadura. O pico de maior incidência de larvas ocorre dos 25 aos 40 dias, após a irrigação. Na segunda infestação, as plantas apresentam um porte maior, porém o sistema radicular está bastante danificado. Como as larvas preferem atacar as raízes novas, estas que servem para absorção de nutrientes são cortadas. Em relação ao sistema radicular, muitas vezes arrancamos as plantas e após a retirada do solo, observa-se que as raízes parecem pouco danificadas. Porém abrindo as mesmas, verifica-se que a parte central está totalmente cortada. Nas duas últimas safras, foram encontradas, larvas na soca, até o mês de maio, obtendo-se mais de 10 larvas em algumas amostras, demonstrando que este gorgulho aquático existente dentro da lavoura continua se reproduzindo. Os sintomas provocados pela bicheira-da-raiz são diferentes dos cau-
Adulto de Oryzophagus oryzae Abril de 2001
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IRGA
Fotos Jaime V. de Oliveira
Arroz
Jaime informa como o produtor pode evitar ou combater os ataques da bicheira-da-raiz
sados pela toxidez de ferro, pois no primeiro caso as plantas apresentem uma coloração amarelada nas folhas superiores, e na toxidez de ferro ocorre um alaranjado em toda a planta. Quando for encontrado em média 2 a 3 larvas por amostra, pode ocorrer prejuízos. Pois a cada larva encontrada, é esperada uma redução média de 1,3%.
ADULTOS E LARVAS
Como os adultos entram na lavoura pelos canais de irrigação é importante observar, após três dias, adultos sobre as folhas, tanto machos como fêmeas e geralmente em cópula. A partir do quinto dia, as fêmeas descem para realizarem a postura. As maiores quantidades de lesões causadas pelos adultos aparecem após uma semana da irrigação, período em que a fêmea já realizou as posturas. Para determinar o número de larvas, a partir de 10 dias após a irrigação, deve-se avaliar as partes da lavoura onde a lâmina de água é mais profunda, no mínimo em 10 pontos. As amostras são coletadas pelo emprego de um cano plástico com 10 cm de diâmetro por 15 a 20 cm de altura. Após arrancar as plantas, agitar as mesmas num balde com água, então as larvas serão liberadas, e será feita a contagem. Cultivar
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Algodão
CONTROLE DA PRAGA
competição com plantas daninhas. Também a retirada da água é mais demorada nas partes baixas da lavoura, onde ocorre maior concentração do inseto além da ocorrência de chuvas que favorece a sobrevivência das larvas. Pode-se também aplicar inseticidas nas taipas, ruas e canais. Essa alternativa de controle é viável se for determinado que esses locais são os principais pontos de hibernação do inseto. Caso contrário, o produto aplicado, além de não eliminar os adultos, vai afetar os inimigos naturais. Para o controle químico deste inseto existem produtos registrados, com alta eficiência. No tratamento das sementes: Standak 250 FS, Cruiser 700 WS; No controle de adultos: Klap 200 SC; Para o controle das larvas: Furadan . 100 G; Ralzer 50 G; Laser 100 G.
Ramulária pode atacar o algodão no final do ciclo e causar grandes perdas
Jaime Vargas de Oliveira, IRGA
Fabiane Rittmann
Os adultos entram em hibernação para fugir das condições adversas, portanto a destruição dos refúgios vai dar
condições desfavoráveis aos insetos, reduzindo a população. Após a colheita nas partes da lavoura que permanecem com água pode continuar o ciclo dos adultos existentes, portanto a drenagem dos quadros vai eliminar a possibilidade de novos adultos para a próxima safra. Aplainar o solo é outra medida importante. Com uma lâmina de água superficial, a população de adultos vai espalharse por toda a área, podendo ocorrer uma baixa densidade de larvas por área, não causando danos. A rotação com outras culturas como soja, e sorgo, evita o aumento populacional do inseto, pois em geral os insetos que atacam o arroz não ocorrem nestas culturas. Embora alguns agricultores façam drenagem da área atacada, essa prática traz mais desvantagens do que benefícios, pois a planta além de sofrer com o ataque das larvas, vai sofrer com a falta de água e a
CNPA
No sistema pré-germinado, devido ao adulto encontrar-se na lavoura antes da semeadura, a incidência de larvas vai ocorrer a partir de 10 dias após a irrigação. Já no sistema convencional, cultivo mínimo ou direto, as larvas podem ocorrer 15 dias após a irrigação. Também nas plantas daninhas conhecidas como aguapé, Sagittaria montevidensis, ocorre o gorgulho aquático Hypselus ater. O adulto é maior que o da espécie O. oryzae, apresentando uma coloração preta. No sistema de cultivo pré-germinado, no período de preparo do solo com água, pela ação do vento é comum encontrar bulbos concentrados nas bordas dos quadros, contendo larvas do H. ater. Esta espécie não causa danos as plantas de arroz.
Atenção no final O
ATENÇÃO Este produto é perigoso à saúde humana, animal e ao meio ambiente. Leia e siga as instruções contidas no rótulo, bula, folheto ou receita, ou façaos para quem não souber ler. Utilize sempre os equipamentos de proteção individual. Nunca permita a utilização do produtos por menores de idade. Consulte sempre um engenheiro agrônomo. Venda sob receituário agronômico.
Falso Oídio ou Mancha de Ramularia foi reportada inicialmente nos Estados Unidos por volta de 1890 e tem sido registrada seguidamente na maioria dos países produtores de algodão. Embora seja amplamente dispersa, a doença sempre foi considerada de pouca importância econômica, embora esteja associada à perdas importantes em algumas regiões da Índia, Oeste da África e Madagascar. No Brasil, sua ocorrência nas regiões tradicionalmente produtoras de algodão sempre foi verificada em final de ciclo induzindo a desfolha, sem ocasionar danos à produção. No cerrado, a mancha de Ramularia tem sido considerada uma doença emergente uma vez que vem apresentando surtos severos e precoces, ocasionando desfolha no terço inferior das plantas e comprometendo a produção, fato que tem exigido do produtor o estabelecimento de estratégias de manejo visando o seu controle. Abril de 2001
SINTOMAS DA DOENÇA
A doença tem um padrão ascendente, incidindo no princípio, nas folhas do baixeiro, onde lesões com dimensões de 3 a 4mm são delimitadas pelas nervuras secundárias fato que lhes confere um aspecto anguloso. A área do tecido lesionada apresenta coloração verde-brilhante ou verde -amarelado, porém a intensa esporulação do patógeno sobre as lesões, sobretudo na face da folha inferior, torna-as brancas com uma característica pulverulenta semelhante a alguns tipos de míldios ou oídios, daí a origem do nome Falso Oídio. Sob condições de alta umidade as lesões tornam-se brancas também na face superior, podendo haver coalescência de lesões e toda a folha ficar tomada pela massa branca constituída por esporos do fungo. Nestas condições, a folha amarelece e cai. Sintomas nos cotilédones não são comuns, powww.cultivar.inf.br
rém, quando ocorrem, diferem daqueles verificados nas folhas. Normalmente surgem manchas circulares úmidas e deprimidas que se tornam cloróticas e pardo-avermelhadas. Infecção severa pode comprometer os cotilédones, embora, aparentemente, não tenha sido verificada esporulação do fungo sobre estes.
AGENTE CAUSAL
O agente causal do Falso Oídio ou Mancha de Ramularia é o fungo Ramularia areola (Atk.), que apresenta uma fase sexuada conhecida como Mycosphaerella areola Ehrlich & Wolf e desenvolve três fases distintas durante o seu ciclo de vida. A fase conidial ou assexuada, desenvolvese sobre o tecido vivo, sobretudo na face inferior das folhas quando estas ainda estão presas à planta e por um curto período de tempo após sua queda. A fase espermogonial ocorre sobre as folhas caídas ao solo e é seguida pela fase ascógena ou Cultivar
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Algodão sexuada. Nesta, são produzidos os ascosporos também sobre folhas caídas e soqueiras e, juntamente com os conídios produzidos sobre os restos de cultura constituem o inóculo primário. O fungo é favorecido por condições de alta umidade e ambiente sombreado. Ele sobrevive, em geral, sobre lesões em restos de cultura e os esporos ali produzidos constituem o inóculo primário. A ocorrência das três fases confere versatilidade ao fungo para sobreviver de uma safra para outra, sobretudo na presença de restos de cultura. Os conídios, que são os esporos da fase assexuada e os ascosporos que são os esporos da fase sexuada, podem germinar sob uma faixa ampla de temperatura que varia de 16 a 34 0C, com ótimo variando entre 25 e 300. Os conídios emitem um tubo germinativo que penetra através da abertura dos estômatos e, embora exijam água li-
vre sobre a superfície da folha para infectarem, a penetração no tecido é mais intensa quando ocorrem ciclos de noites úmidas seguidas de dias secos. O tubo germinativo pode sobreviver durante vários ciclos de 16 horas sob umidade relativa entre 20 e 60%. Este fato explica em parte a ocorrência de surtos de Falso Oídio, mesmo em períodos de veranico ou quando os índices pluviométricos estão baixos. Os conídios são formados, principalmente sob condições de alta umidade e são disseminados pelo vento, água da chuva ou de irrigação e pessoas e máquinas que transitam no interior do plantio. Em função do papel importante dos restos de cultura, sobretudo folhas, na sobrevivência e ciclo de vida do patógeno, para manejar a doença é fundamental a remoção ou destruição destes restos, que constituem a principal fonte de inóculo primário.
É recomendável reduzir a densidade de plantio e controlar o uso de regulador de crescimento para evitar que o desenvolvimento vegetativo induza maior sombreamento no dossel foliar, fator amplamente favorável à incidência do patógeno. O uso de cultivares com maior resistência ou tolerância deve ser priorizado. O controle químico, quando necessário, apresenta resultados satisfatórios. Tendo em vista a emergência da doença na maioria dos estados produtores de algodão no Cerrado, causando danos precocemente, a aplicação de fungicidas é recomendável quando são plantadas cultivares suscetíveis e as condições do ambiente são favoráveis, devendo as pulverizações começar entre 35 e 40 dias, com o objetivo de evitar a queda de folhas no bai. xeiro.
Cultivar
Reduzindo o Neps Para exportar, precisa-se diminuir a quantidade de neps no algodão
Alderi Emídio de Araújo, CNPA
O
algodão produzido no cerrado do centro oeste brasileiro tem apresentado alto número de neps por grama. Nas primeiras partidas de exportação de algodão do cerrado do Mato Grosso para a Europa em 1999, os importadores reclamaram do elevado número de neps medido nas fibras, apesar da excelente qualidade do produto. Existe a perspectiva de, na safra 2002/2003, o Brasil atingir a auto-suficiência no abastecimento interno de algodão, passando a exportar volumes elevados do produto. Para exportar produtos de alta qualidade, os produtores do cerrado demandaram informações sobre as causas e soluções para o problema do alto número de neps no algodão oriundo do cerrado. Foram levantadas dúvidas sobre qual a etapa do sistema de produção ou da cadeia produtiva, que estaria provocando a elevação do número de neps. Análises efetuadas pela Fundação Blumenauense de Estudos Têxteis com algodões importados comprovaram neps elevados nos algodões procedentes da Bolívia (393 neps/g), Israel, Espanha e Argentina, todos com valores acima de 306 neps/g. Os Abril de 2001
algodões importados de valores de neps mais baixos foram encontrados nos algodões procedentes do Egito (150 neps/g) e África (182 neps/g). Entre os algodões produzidos no Brasil os de neps mais elevados foram os oriundos dos Estados de Goiás (280 neps/ g), São Paulo (268 neps/g), Minas Gerais (264 neps/g), Mato Grosso do Sul (249 neps/ g) e Mato Grosso (222 neps/g). Os Estados da Bahia e Paraná apresentaram valores mais baixos com 218 neps/g. Considerando que os algodões procedentes dos Estados Unidos apresentaram 255 neps/g em média, os algodões brasileiros em sua maioria apresentam valores bastante aproximados.
BUSCANDO A SOLUÇÃO
Para identificar as etapas do sistema de produção e da cadeia onde ocorria elevação do número de neps foram programados uma série de ensaios, onde procurou-se avaliar os efeitos sobre os neps dos seguintes fatores: Cultivares foram avaliadas as cultivares CNPA ITA 90, BRS Antares, BRS ITA 96, CS 50, Acala SM 3, BRS 197 e Goianinha; Desfolhamento vs. sem desfolha em
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Para exportar, precisa-se diminuir a quantidade de neps no algodão
várias partes da planta (baixeiro, meio e ponteiro); Tipos de colheita avaliou-se colheita manual, colheitadeiras Case e Jonh Deere e algodão transportado a granel e em fardões prensados; Processos de descaroçamento avaliou-se o descaroçamento em máquinas de rolo, descaroçadores de 90 serras e de 142 serras, com e sem uso de umidificadores e com e sem uso de limpa plumas (Costelation); Combinações dos fatores cultivares, tipos de colheitas e processos de descaroçamento sobre o aumento dos números de neps. Verificou-se que todas as cultivares, quando colhidas manualmente e beneficiadas em descaroçadores de rolo, tinham baixos números de neps, variando de 74 na BRS 197 a 165 na Acala SM 3. O beneficiamento em descaroçadores de serras em média duplicou o número de neps, quando comparado com o beneficiamento em descaroçadores de rolo. O uso de limpa plumas do tipo costelation provocou aumento no número de neps, especialmente no algodão beneficiado sem umidificação.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Todas as cultivares avaliadas apresentaram baixo número de neps, quando colhidas manualmente e descaroçadas em máquina de rolo; O modelo de colheitadeira utilizada não elevou o número de neps; O processo de desfolha do algodão não afetou o numero de neps; O processo de descaroçamento em máquinas de serras elevou o número de neps; O uso de limpa-plumas (costelation) elevou em até 42% o número de neps; O processo de umidificação do algodão, durante o descaroçamento reduziu a formação dos neps; Existem diferenças marcantes entre as algodoeiras, quanto aos valores de . neps obtidos. Eleusio Curvêlo Freire, Francisco José Correia Farias, Embrapa Algodão Paulo Hugo Aguiar, Fundação MT Cultivar
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Mato Grosso em campo
Fotos Cultivar
SOJA
para valer
PRESTÍGIO NO MEIO
Que o projeto conta com apoio dos produtores mostrou o dia de campo em que mais de 2 mil deles visitaram a Fazenda Adriana, em Alto Garças, para ver as novas variedades ouvir uma explanação sobre o tema e algumas palestras técnicas e receber do próprio governador do estado a promessa de apoio e esforços para melhoria, especialmente das vias de escoamento da produção. Hoje as estradas da região estão bastante danificadas. Uma das principais conseqüências, junto com o natural atraso e desgaste de veículos, é o aumento das perdas da colheita já na estrada. As exposições foram sobre os novos desafios e conquistas, por Menotti Matoso Jr, da Unisoja; certificação de sementes (Fátima Zorato, da Aprosmat), Análise de mercados (Fernando Muraro, consultor), Biotecnologia na agricultura brasileira (Eberson Calvo, da Milenia), agricultura de precisão ( José Paulo Molin, da Esalq), manejo da fertilidade de solos (Leandro Zancano, da FMC), Manejo e controle de pragas e doenças (Tiago Vieira de Carvalho, da Fundação MT). E o próprio Dario Hiromoto falou sobre cada uma das novas variedades de soja lançadas.
Mato Grosso quer alcançar a produtividade média de 70 sacas por hectare, a maior do mundo
R
ecordista de produtividade no Brasil, com a média de 3022 kg de soja /ha na última safra, esperando colher 3050 na atual, o estado do Mato Grosso não está satisfeito e lançou uma campanha para produzir 3.5 mil na próxima safra. O esforço para colher 70 sacas/ha compreende um conjunto de medidas, a primeira das quais se concretiza com o lançamento de sete novas variedades, criadas pela Fundação Mato Grosso e sementes multiplicadas pelas empresas filiadas à Unisoja. A campanha, com a primeira mostra das novas cultivares, foi lançada pelo governador Dante de Oliveira no dia 24 de março, em Alto Garças, na Fazenda Adriana, com a chancela de mais de 2 mil produtores rurais presentes. Mais, ainda, o Mato Grosso quer ser o campeão da produção e medidas como melhoria das estradas, e a agilização de uma hidrovia para escoamento, além de pesquisa intensiva e apoio governamental serão acionadas. A maior média mundial é a do estado de Ohio, Estados Unidos, com 3.220. No início da década de 90 a produtividade estadual era em média de 2.006 kg, o que mostra um crescimento de 50% em apenas uma década. E alguns produtores, isolados, já estão obtendo médias superiores a 4 mil kg. Mas as estrelas do projeto são as novas variedades desenvolvidas pela Fundação MT. E a equipe de agrônomos, dividida por regiões, organizada pela Unisoja para levar aos produtores à tecnologia de produção adequada a cada local. Os produtores passarão a receber análises dos níveis de fertilidade do solo em cada propriedade que, confrontados com as informações do banco de 16
Cultivar
dados da Fundação, proporcionarão a recomendação de adubação correta. Também a Unisoja identificará fatores limitantes de produção, como a existência de nematóide-de -cisto e outras doenças no local, indicará a cultivar correta para plantio em cada região e época de plantio, proporcionará o emprego de novas e modernas técnicas de agricultura de precisão, além de dispor de agrônomos e consultores para discussão de eventuais dúvidas. Para o futuro já se planejou oferecer assistência no setor de biotecnologia. Foi para prestar essa assistência que se criou a Unisoja, presidida por Gilberto Goellner, hoje congregando 22 produtores de sementes desenvolvidas pela Fundação MT. O programa, por suas características, é inédito no mundo e deverá apresentar altos resultados a curto prazo. Para dar suporte aos melhoramentos, a Fundação está construindo um novo grande centro de pesquisa em Londrina, PR, que dobrará a capacidade de teste e aumentará a velocidade na obtenção de novas variedades de soja e algodão para regiões tropicais e temperadas. Serão 5 mil metros quadrados de área construída, dos quais 2 mil já estão prontos. Dario Hiromoto, superintendente da Fundação MT, não deixa por pouco. Diz que está contratando mais pessoal especializawww.cultivar.inf.br
do chegou à região, em 1979, a produtividade não passava de 19 sacos. Este ano ele alcança em seus cerca de 45 mil hectares média superior a 60. Resultado promissor para tão breve período.
do e que logo contará com o melhor time de soja e algodão do país. O projeto global vai absorver cerca de R$ 10 milhões. O melhoramento genético é a arma principal neste projeto. O foco está centrado para levar ao produtor o que se conseguir de mais Abril de 2001
barato obtendo os melhores resultados. Trabalhando em convênio com a Embrapa a separação ocorreu no ano passado a média de ensaios era de 100 por ano. E de lá para cá subiu para 2.5 mil. Blairo Maggi, presidente da Fundação, lembra que quanAbril de 2001
AS NOVAS VARIEDADES
As novidades são as seguintes, com suas características: FMT Jaú resistente ao nematóide-de-cisto, com ciclo semitardio. Produtividade média de 3.618 kg/ha (60,30 sacas). FMT Kaiabi Resistente a doenças de final de ciclo, com ciclo média. Produtividade média alcançada experimentalmente de 59,98 sacas/ha. O máximo ocorreu na Serra da Petrovina, com 72,05 sacas. FMT Mutum Resistente a doenças de final de ciclo, ciclo semitardio. Produtividade média de 58,2 sacos/ha, testada em 24 locais, com máximo de 76,05 em Nova Mutum. FMT Perdiz Ciclo tardio, resistente ao nematóide-de-galha. Produtividade média de 60,53 sacas/ha, com máximo de 75,72 em Primavera do Leste. FMT Nambu Tardia, resistente ao cancro-da-haste, pústula bacteriana, cercóspora. Média de 63,60 sacas/ha com o máximo de 75,98 em Primavera do Leste, também. FMT Sabiá Ciclo tardio. Produtividade média de 57,5 sacas/ha, com máximo de 72,40 em Campo Novo do Parecis. FMT Saíra Ciclo tardio. Média de 59,52 sacas/ha, com máximo de 72,43. .
A multidão de produtores dividida em grupos examina os resultados das novas variedades
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CNPT
Trigo neladas de trigo de excelente qualidade, destinado para qualquer setor da indústria moageira nacional. No entanto, a área cultivada com trigo no Cerrado Brasileiro não conseguiu superar a faixa de 25 mil hectares, enquanto o feijão passava a ocupar mais de um terço de suas áreas equipadas com irrigação, além de tornar-se a cultura cash da agricultura irrigada da região.
NOVOS VENTOS
No Brasil Central também dá trigo O
trigo, um dos cereais mais produzidos no mundo, e graças ao seu aprimoramento genético, possui atualmente uma ampla adaptação edafoclimática, sendo cultivado desde regiões com clima desértico, em alguns países do Oriente Médio, até em regiões com alta precipitação pluvial, como é o caso da China e Índia. No Brasil, pode ser cultivado com sucesso desde a Região Sul do país até a Região de Cerrados, no Brasil Central. Nessa região, com abrangência nos estados de Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais, a triticultura mostrou seus primeiros resultados no final da década de 60 e no início dos anos 70, em experimentos conduzidos em várzeas em Minas Gerais, onde, sob irrigação, foram atingidas produtividades de até 5 mil kg/ ha. Entretanto, a consolidação técnica e o apoio necessário à expansão da cultura atra18
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vés do governo e dos órgãos de crédito somente começou a ganhar corpo em meados da década de 70, quando resultados de pesquisas demonstraram, de forma definitiva, a viabilidade da cultura de trigo na região. Motivados por esses resultados, diversos trabalhos sobre o cultivo de trigo irrigado e em regime de sequeiro foram conduzidos em outros pontos do Brasil Central, com a participação da Embrapa e de outras Instituições de pesquisa na região. Mas foi somente em 1982, com a criação do programa de financiamento da triticultura irrigada (PROFIR), que se iniciou a melhor fase da triticultura nesta região. Como conseqüência desse programa, ao mesmo tempo em que as lavouras eram equipadas com irrigação por aspersão, surgiram novas cultivares de porte mais www.cultivar.inf.br
baixo e mais tolerantes às doenças, desenvolvidas pela rede pública de pesquisa. Paralelamente, novas práticas culturais foram incorporadas aos sistemas de produção. Com isso, a produtividade da lavoura irrigada já alcançava o patamar dos 6 mil kg/ha em MG e DF. Ao mesmo tempo, nos campos experimentais da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), a produtividade rompia a barreira dos 8 mil kg/ha sob irrigação com pivô central. Nessa mesma década, em 1987, o país produziu mais de 6 milhões de toneladas, chegando próximo da auto-suficiência de trigo, sendo um produto de interesse nacional, subsidiado e com o mercado totalmente controlado pelo Governo Federal. O preço médio de trigo pago aos produtores, nessa época variava em torno de US$ 210 a 215/tonelada, e vendido aos Abril de 2001
moinhos a uma média de US$ 90/tonelada, enquanto no mercado internacional o produto era comercializado na faixa de US$ 142/tonelada. Na mesma proporção, a indústria aumentava sua capacidade de moagem e a pesquisa criava cultivares adaptadas à região com prioridades concentradas no rendimento de grãos, sem maior preocupação com o mercado, formado por um único comprador, o Governo Federal. Nessa época a região passava a contar com mais de 250 mil hectares de áreas irrigadas, tornando-se potencialmente um gigante na produção de grãos. A região tornou-se uma espécie de terra prometida, com estabilidade climática e com uma estação seca, a agricultura irrigada com os elevados tetos de rendimento de grãos obtidos poderia produzir mais de 1,5 milhão de toAbril de 2001
Com a globalização da economia a partir do início dos anos 90, e com a formação de blocos econômicos, o mercado de trigo no Brasil sofreu mudanças radicais. Extinguiram-se os subsídios da cultura, que, de repente, ficou à mercê do livre comércio. Essas mudanças rápidas desestruturaram o setor tritícola, que poderia ser mais bem preparado pelo governo brasileiro para entrar na guerra da globalização. Alguns resultados dessa situação colocaram o Brasil, atualmente, como o maior importador mundial de trigo, desbancando a populosa China. Setor mais fraco da cadeia, a lavoura de trigo no país entrou em colapso, havendo uma redução drástica na área plantada nos últimos anos. Nos Cerrados não foi diferente, a área média plantada com trigo, no período de 92 a 98, despencou, não passando da faixa de 10 a 15 mil hectares. Frente ao novo cenário, a indústria da região passou a operar com ociosidade e, ao mesmo tempo, exigir melhor qualidade industrial do trigo nacional, na medida em que o acesso ao Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e ao mercado internacional encontrava produto com qualquer especificação industrial e com preços convidativos, muitas vezes até subsidiados na origem. Diante da situação, a cadeia produtiva de trigo vem tentando reestruturar-se, da porteira aos moinhos, buscando competitividade e sustentabilidade. A pesquisa redirecionou seus objetivos, na tentativa de atender as demandas da indústria moageira local, e a Embrapa colocou no mercado cultivares com qualidade industrial excelente para a panificação, nos mesmos padrões de qualidade daquelas importadas da Argentina. No entanto, o trigo não tem conseguido ocupar um lugar de destaque no sistema agropecuário da região, deixando de explorar o grande potencial que a cultura teria, através de mais de 20 anos de pesquisas. Se pensarmos que o trigo poderia www.cultivar.inf.br
ocupar um lugar em sucessão à cultura de feijão, irrigado por pivô central, a região produziria rapidamente mais de 500 mil toneladas de trigo anualmente, e colhidos em uma época de escassez de trigo no mercado em agosto-setembro, quando os preços de mercado geralmente estão com os valores máximos. A grande vantagem dessa produção é a estabilidade em termos de quantidade, pois nas condições irrigadas, as variações de rendimento de grãos são pequenas, e a região poderia funcionar como reguladora de estoques. O Governo poderia ter ações de política agrícola para o desenvolvimento da cultura na região, explorando seu potencial. Fundamentalmente, a região do Brasil Central (Cerrados) é um oásis nacional para trigo, transformado em terra prometida, que com segurança e estabilidade poderia produzir uma parcela significativa do trigo consumido no país, com qualquer especificação de qualidade industrial, desejada pela indústria moageira nacional.
PARCERIA É O FUTURO
Na década de 80, entidades de pesquisa, de extensão e cooperativas formaram a Comissão Centro-Brasileira de Pesquisa de Trigo, que, lideradas pela Embrapa, através do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo) e do Centro Nacional de Pesquisa dos Cerrados (Embrapa Cerrados), desenvolveram tecnologias para produção de trigo na região do cerrado brasileiro, nos estados de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e uma pequena parte ao sul de Mato Grosso, sob condições de sequeiro e irrigado. Desse trabalho conjunto de várias Instituições, Centros de Pesquisa da Embrapa, Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO), pesquisa estadual (Emgopa hoje extinta, Epamig, Emater), Universidades e Cooperativas foram geradas as tecnologias básicas (recomendações) para produção de trigo na região. Nessa época, a contribuição e intercâmbio com o CIMMYT (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo), situado no México, foi de grande importância, na medida em que seu germoplasma de trigo era e ainda é aproveitado diretamente pelas Instituições de pesquisa na Região, que após selecionado, era repassado aos agricultores, na forma de cultivares. Cultivar
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Relação de cultivares indicadas para o Brasil Central, com os respectivos estados de indicação, tipo de cultivo, e a classificação quanto ao ciclo, altura, reação ao acamamento e à classe industrial 1/. Cultivar
Estado
Cultivo
Ciclo
Altura
Acamamento
Classe Industrial
Ágata Aliança BR 26-São Gotardo BR 33- Guará BRS 207 EMBRAPA 21 EMBRAPA 22 IVI 931009 2/ EMBRAPA 42 IAC-24 Tucuruí IAC 289 Marruá IAC-350 Goiapá
MG MG,GO,DF,MT MG GO,DF MG,GO,DF MG,GO,DF MG,GO,DF MG MG,GO,DF MG,GO,DF MG,GO,DF MG,GO,DF
Irrigado Sequeiro Irrigado- Sequeiro Irrigado Irrigado Sequeiro Irrigado Irrigado Irrigado Irrigado Irrigado Sequeiro
Médio Precoce Médio Médio Médio Precoce Precoce Precoce Precoce Médio Médio Médio
Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa
Mod. Resistente Mod. Resistente Resistente Resistente Resistente Resistente Mod. Resistente Resistente Resistente Mod. Resistente Resistente Mod. Resistente
Triticum Durum Pão Brando Brando Pão Brando Pão Pão Melhorador Pão Pão Pão
Fonte: Comissão Centro Brasileira de Pesquisa de Trigo 1999-2000. 2/ Linhagem indicada para cultivo em dezembro de 2000, pela Universidade de Viçosa. 1/
Hoje, vinte anos depois, a Embrapa Trigo junto com as Unidades de Pesquisa da Embrapa da região, Embrapa Cerrados e Embrapa Arroz e Feijão, sentiram a necessidade de adequar essas parcerias às novas demandas de trigo no Brasil Central, redirecionando o foco da pesquisa para o mercado local. Foram conclamados vários setores da cadeia produtiva de trigo da região, Órgãos Estaduais de Pesquisa, Universidades, Cooperativas, Associações de Produtores, indústria de insumos e indústria moageira que de certa forma estão avalizando a importância da cultura de trigo. Dentre as tecnologias geradas nesse período e as demandas futuras, destacamse algumas, que resumimos a seguir e que julgamos de maior importância para o cultivo de trigo no Brasil Central.
DUAS OPÇÕES DE CULTIVO
A região dispõe de duas opções de cultivo para trigo, dependendo da época em que será semeado: o cultivo de sequeiro e o cultivo irrigado. É importante no planejamento da lavoura, o agricultor definir a opção de cultivo, pois dela dependerá toda a seqüência de tecnologias a serem usadas, desde a região de melhor adaptação até a cultivar adotada. Esse privilégio passa despercebido, se olharmos as áreas semeadas com trigo na região, tanto em culti20
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vo de sequeiro como irrigado, as quais não passaram de 15 mil hectares na safra de 2000. O cultivo de trigo de sequeiro é indicado em áreas com altitude acima de 800 metros, visando temperaturas médias não superiores a 25ºC, durante o desenvolvimento da cultura. Em altitudes menores os riscos aumentam, na medida em que as temperaturas médias também aumentam, exigindo da cultura maior tolerância ao calor e às manchas foliares. A pesquisa vem trabalhando no sentido de ampliar o horizonte da cultura de trigo para áreas de menores altitudes, desenvolvendo cultivares mais tolerantes a esses estresses, característicos do cultivo de sequeiro. Nesse tipo de cultivo, o potencial de rendimento da cultura está associado à quantidade de chuvas que ocorrerão durante o ciclo da mesma, sem considerar a cultivar adotada. O plantio direto vem crescendo na região, sendo adotado mais no cultivo de trigo de sequeiro em que a retenção de água no solo é importantíssima, além do trigo ser uma cultura com razoável produção de palha para o sistema. Numa expectativa de poucos anos, talvez o trigo se torne a locomotiva do plantio direto no sequeiro na região, pelas suas características intrínsecas e, ao mesmo tempo, promovendo sustenwww.cultivar.inf.br
tabilidade para o sistema agrícola do cerrado.
TRIGO IRRIGADO
No caso do cultivo de trigo irrigado por pivô central, é indicado usar áreas acima de 400 metros de altitude. Esse tipo de cultivo poderia ser uma rotina no sistema de rotação de culturas sob pivô central usado na região, uma vez que o trigo quebraria o ciclo das chamadas cash crops , como é o caso do feijão e de algumas olerícolas, tais como alho, cenoura, cebola, batata. A vantagem do cultivo irrigado é de que os riscos são mínimos, desde que o agricultor use a tecnologia disponível para trigo. O potencial de rendimento de grãos é elevado, sendo um determinante importante para a lucratividade da lavoura de trigo irrigado. Normalmente os agricultores experientes têm obtido produtividade acima 5 mil kg/ha com as cultivares disponíveis no mercado atualmente. Depoimentos desses agricultores se resumem em excelente lucratividade com a lavoura de trigo irrigado no Brasil Central, muitas vezes maiores do que com a lavoura de feijão irrigado. Além desses dois sistemas de cultivo, existem variantes dos mesmos, adotados pelos próprios agricultores de acordo com a sucessão de culturas usada na propriedade, época de semeadura alternativa àquelas indicadas pela Abril de 2001
pesquisa, e que de certa forma tem tido bons resultados, pelo uso da irrigação racionalizada como garantia de colheita de trigo. O manejo da água no cultivo de trigo irrigado exige acompanhamento criterioso da assistência técnica ou de profissional especializado, uma vez que representa fator importante no custo de produção e também pelo tipo de solos predominantes na região de Cerrados, os quais apresentam baixa retenção de água.
CULTIVARES DISPONÍVEIS
As cultivares de trigo indicadas para a região do Brasil Central estão apresentadas na Tabela 1, conforme estado, tipo de solo e tipo de cultivo (sequeiro ou irrigado), além de algumas características agronômicas, enquanto na Tabela 2 são informadas as reações a presença de alumínio tóxico no solo e à algumas doenças fungicas. Um dos problemas enfrentados pelos agricultores na região Central do Brasil, é quanto à disponibilidade de sementes das cultivares indicadas. Para muitas não há disponibilidade de semente no mercado, por diversas razões. Entre elas, referimos a falta de confiança do produtor de semente da região na comercialização da próxima safra, entregando muitas vezes a totalidade de sua produção de trigo para a indústria. O preço da semente
em geral é caro, R$ 100 a 130/ha, comparado com outras regiões do país. A falta de informações sobre as cultivares constitui outro fator de desestímulo, associado à falta de planejamento da lavoura de trigo, levando em conta o destino da mesma para a indústria moageira. A região é grande e abrangente em termos geográficos, necessitando incentivos do governo federal. A conjuntura atual da cadeia produtiva de trigo exige, do setor como um todo, maior integração desde a porteira até a indústria moageira. A Embrapa vem trabalhando no sentido de atuar mais intensamente com a cadeia produtiva de trigo na região, melhorar as relações entre seus integrantes, que na maioria das ocasiões não se conhecem. Ao mesmo tempo, a pesquisa vem procurando ajustar a criação de cultivares à nova realidade de mercado, com maior competitividade e melhor regionalizadas. Entre as cultivares com semente disponível no mercado e, portanto, que podem ser adquiridas pelos agricultores da região, temos para cultivo de sequeiro: BR 26 (São Gotardo) e IAC 350 (Goiapá), que podem ser encontradas na região de São Gotardo (MG), com a Coopadap. A cultivar Embrapa 21 pode ser adquirida na Embrapa através do Serviço de Negócios Tecnológicos, na unidade de Brasília (DF). Na região do Sudoeste Goi-
ano, entraram cultivares para cultivo de sequeiro de outras regiões do país, do Mato Grosso do Sul e Norte do Paraná, que não foram indicadas pela pesquisa, pois havia falta de resultados de testes das mesmas nessa região, mas por outro lado tinham a garantia de comercialização com a indústria moageira local. No caso do cultivo irrigado, há disponibilidade de semente de cultivares como EMBRAPA 22, que pode ser encontrada na Embrapa e na região de Unaí e Paracatu, em Minas Gerais, e BR 26 São Gotardo e IAC 289 Marruá na Coopadap, em São Gotardo, MG. A cultivar EMBRAPA 42 está polarizada no eixo Distrito Federal e sudoeste Goiano, podendo ser encontrada também na Embrapa e na COOPADF, Cooperativa localizada no Plano de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, na BR 251.
ÉPOCA DE SEMEADURA
Constitui-se ferramenta de extrema importância para o sucesso da lavoura de trigo na região do Brasil Central. As indicações de época de semeadura são baseadas nas características de cada região e no regime de cultivo de sequeiro ou irrigado. Para trigo de sequeiro, em que se indica a semeadura em altitudes superiores a 800 metros, para MG, DF,
Relação de cultivares indicadas para o Brasil Central, com as respectivas reações ao alumínio tóxico no solo, e às doenças fúngicas 1/. Cultivar
Reação Alumínio no solo
Oídio
Ferrugem da Folha
Manchas Foliares
Ágata Aliança BR 26-São Gotardo BR 33- Guará BRS 207 EMBRAPA 21 EMBRAPA 22 IVI 931009 2/ EMBRAPA 42 IAC-24 Tucuruí IAC 289 Marruá IAC-350 Goiapá
Suscetível Resistente Mod. Suscetível Mod. Resistente Mod. Suscetível Mod. Resistente Mod. Suscetível Mod. Suscetível Resistente Mod. Resistente Mod. Resistente
Suscetível Mod. Suscetível Suscetível Resistente Altam. Suscetível Suscetível Mod. Suscetível Mod. Suscetível Suscetível
Suscetível Suscetível Mod. Resistente Suscetível Mod. Suscetível Mod. Suscetível Suscetível Mod. Suscetível Mod. Suscetível Mod. Suscetível
Suscetível Mod. Suscetível Suscetível Mod. Suscetível Mod. Suscetível Mod. Resistente Suscetível Suscetível Suscetível Mod. Resistente Suscetível
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Fonte: Comissão Centro Brasileira de Pesquisa de Trigo 1999-2000 e Embrapa Trigo (Ferrugem da Folha). Linhagem indicada para cultivo em dezembro de 2000, pela Universidade de Viçosa.
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GO e MT, recomenda-se a semeadura de 15 de janeiro até o final de fevereiro, prolongando-se esta época até 10 de março para o Alto Paranaíba (MG). Para a região do Projeto de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), São Gotardo, MG, a data de plantio poderá se estender até 25 de março. Para cultivo de trigo irrigado e trigo irrigado em várzeas pode-se indicar a semeadura de 10 de abril a 31 de maio, em altitudes acima de 400 metros, nos estados de Minas Gerais e Bahia; acima de 500 metros para Goiás e Distrito Federal; e acima de 600 metros para Mato Grosso. Na Bahia, na região de Barreiras, dentro do Projeto de Irrigação São Desidério, indica-se o plantio a partir de 10 de abril a 31 de maio. Para cultivo de trigo irrigado em
áreas de várzeas, deve-se obedecer as seguintes condições: altitude mínima de 400 m, para MG e BA, de 500 m para GO e DF e de 600 m para MT; várzeas com boa drenagem; adubação com Boro, de acordo com a recomendação; utilização das demais recomendações técnicas para trigo irrigado; exclusão das várzeas com solos orgânicos ou turfosos e das regiões com ocorrência de geadas freqüentes. Nessas áreas, indica-se a semeadura de 15 de janeiro até final de fevereiro, prolongando-se até 10 de março para o Alto Paranaíba (MG). Para a região do Projeto de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), São Gotardo, MG, a data de plantio poderá se estender até 25 de março. Sugere-se atenção quando do planejamento da lavoura de trigo quanto às épocas de semeadura indicadas, tan-
to no sequeiro como no irrigado, pois quanto mais cedo for estabelecida a lavoura dentro da época indicada, maior o potencial de rendimento de grãos.
DENSIDADE DE SEMEADURA
A densidade recomendada para trigo de sequeiro é de 350 a 450 sementes aptas por metro quadrado. Em solos de adequada fertilidade, sem alumínio trocável, deve-se usar 350 sementes aptas por metro quadrado. O espaçamento recomendado para trigo de sequeiro é de 12 a 18 cm, entre linhas, dando-se preferência aos espaçamentos menores dentro desse intervalo. A profundidade de semeadura não deve ultrapassar 5 cm. Deve-se dar preferencia à semeadura em linha, pela melhor uniformidade na distribuição de sementes e pela melhor eficiência no aproveitamento do fertilizante pelas plântulas. Muitos agricultores têm semeado trigo com espaçamentos maiores que os indicados, pela falta de semeadoras apropriadas. Nessas condições, o trigo levaria mais tempo para cobrir o solo, que em cultivo de sequeiro as perdas de água do solo seriam maiores.
ROTAÇÃO DE CULTURAS
A monocultura contínua, com o passar dos anos, provoca queda de produtividade, não só por alterar características do solo, como também por proporcionar condições mais favoráveis ao desenvolvimento de doenças e à ocorrência de pragas e de plantas invasoras. Em áreas de monocultivo de tomate, feijão, e outras leguminosas, a incidência de doenças como a Esclerotínia, Rizoctoniose e Fusariose, tem provocado queda significativa na produtividade dessas culturas e aumento em seus custos de produção. O trigo, por não ser hospedeiro dessas doenças, constitui-se, no momento, na principal alternativa para a rotação de culturas, no período de inverno, com o tomate, com o feijão e com outras leguminosas.
CALAGEM E ADUBAÇÃO
O cálculo da quantidade de calcário a ser aplicada varia em função do pH do solo e de outros fatores, como, por exemplo, do teor de argila. Assim, em solos com teor de argila acima de 20%, o cálculo é baseado nos teores de Cálcio (Ca), de Magnésio (Mg) e de Alumínio (AI) trocáveis do solo. Do ponto de vista econômico, a calagem deve ser considerada como investimen22
Cultivar
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Abril de 2001
to. Assim, no cálculo de sua economicidade, devem ser considerados períodos de amortização ao redor de 5 a 6 anos. Essa prática corresponde entre 12 a 15% do custo global do investimento para construção da fertilidade do solo. Por esta razão, essa operação deve ser efetuada corretamente, seguindose todas as recomendações. Deve-se ter em mente que o uso de doses inferiores das recomendadas podem resultar na queda da produtividade, requerendo reaplicações mais freqüentes. Para obtenção de elevada produtividade com a cultura de trigo na região de Cerrados, é imprescindível proceder-se a uma adubação equilibrada. Como os solos dessa região são pobres em fósforo e em potássio, torna-se necessária a aplicação de grandes quantidades destes nutrientes. Para se fazer uma recomendação criteriosa de adubação fosfatada, deve-se conhecer o plano de utilização da propriedade, incluindo a seqüência de culturas, o prazo de utilização das áreas e a expectativa de produção, devendo-se consultar um engenheiro agrônomo. A adubação nitrogenada deve ser feita em duas etapas: no plantio e no início do estádio de perfilhamento, quando ocorre o processo de diferenciação da espiga. Este estádio ocorre cerca de 14 dias após a emergência das plântulas. Tanto para trigo de sequeiro quanto para trigo irrigado, recomenda-se a aplicação de 20 kg de nitrogênio por hectare, por ocasião da semeadura. Para o trigo de sequeiro, cujo potencial de rendimento é menor que o irrigado, recomenda-se a aplicação de 20 kg/ha, em cobertura, no perfilhamento, exceto para a cultivar BR 26, cuja dose deve ser de 40 kg/ha. Para trigo irrigado, cujo potencial de produção é mais elevado, recomenda-se doses maiores em cobertura, respeitando-se as características de cada cultivar em relação ao acamamento, ao manejo da água de irrigação e aos cultivos anteriores. Após a cultura de soja, a adubação de nitrogênio para algumas cultivares indicadas na Tabela 1 deve ser de: 60 kg/ha para EMBRAPA 22, EMBRAPA 42 e BR 26 São Gotardo; e 100 kg/ha para BR 33 Guará. Quando trigo é plantado após a cultura de milho, sugere-se que a adubação em cobertura seja acrescida em 30%. Chama-se a atenção sobre os solos da região que são pobres em boro, podendo causar o chamado chochamento em trigo, pela esterilidade masculina ou do pólen. Esse problema pode ser evitado pela aplicação de boro via Abril de 2001
adubação, incorporando-o no adubo por ocasião da semeadura, na dose de 0.65 a 1.3 kg/ha de boro, devendo-se considerar o efeito residual do boro que é de 2 a 3 anos, dependendo da fonte usada.
PRAGAS E DOENÇAS
As doenças mais comuns da cultura de trigo em cultivo de sequeiro e irrigado na região do Brasil Central são oídio, ferrugem da folha e manchas foliares. Podem ocorrer outras doenças, evidentemente, dependendo das condições de solo, ano e sistema de produção usado. É importante o tratamento de sementes, devendo ser realizado tanto no cultivo de sequeiro quanto no irrigado. Em aplicações na parte aérea deve-se seguir um monitoramento criterioso da lavoura, devendo-se ter acompanhamento da assistência técnica, pois o custo de cada aplicação situa-se em torno de R$ 30/ha. No cultivo de sequeiro as manchas foliares são doenças mais importantes. A mancha marrom e a bronzeada podem prevalecer. No cultivo irrigado pode ocorrer oídio e ferrugem da folha. Já em termos de pragas, podem aparecer pulgões na fase de emergência até o emborrachamento do trigo. As lagartas podem aparecer durante o ciclo da cultura. Na emergência, prejudicam o estabelecimento da cultura; no espigamento e final de ciclo, prejudicam a área foliar e as espigas, dependendo do tipo de lagarta ocorrente. O controle de pragas deve ser acompanhado pela assistência técnica.
NOVOS DESAFIOS
Superados os desafios inciais no passado, quando a pesquisa desenvolveu o pacote tecnológico para produção de trigo em regiões não tradicionais, como o Brasil Central, predominando o Cerrado, enfrenta-se hoje uma nova realidade. A indústria moageira apresenta demanda de trigo predominantemente com qualidade industrial para panificação. As cultivares de trigo atualmente usadas na região atendem parte da demanda da indústria, havendo necessidade de criação de novas cultivares. Com isso, a terceira onda de desafios estabelece, de forma clara, como prioridade para a pesquisa, obtenção de cultivares com alto padrão qualitativo para o fim industrial a que se destinam e um menor tempo e eficiência para atingir estes objetivos. Nesse sentido, a Embrapa vem colocando em execução um projeto inovador em termos de pesquisa, em que www.cultivar.inf.br
técnicas de avaliação de parâmetros de qualidade através de marcadores bioquímicos e a técnica de produção de linhagens duplohaplóides estão sendo usadas, resultando na maior eficiência e rapidez de obtenção de novas cultivares de trigo. No melhoramento genético de trigo, essas técnicas permitem acelerar o processo de criação varietal, com conseqüente ganho de tempo, aumento na eficiência da seleção e economia de recursos físicos, humanos e financeiros. Além disso, permite antecipar ganhos econômicos no lançamento de cultivares mais produtivas. Na Embrapa Trigo, estas metodologias (haplodiploidização e marcadores protéicos) são inteiramente dominadas, fazendo parte, e com sucesso, da rotina dos diferentes projetos de melhoramento desta unidade de pesquisa. Nessa expectativa, a Embrapa pretende atender melhor o sistema de produção de trigo do Brasil Central nesse inicio do novo milênio, disponibilizando ao agricultor e às indústrias, cultivares de trigo com características superi. ores àquelas do trigo importado. Márcio Só e Silva, Embrapa Trigo; José Maria Vilela de Andrade, Embrapa Cerrados; Julio Cesar Albrecht, Embrapa Arroz e Feijão; Joaquim Soares Sobrinho, Embrapa Trigo; Abelardo Canovas, Embrapa Arroz e Feijão
RECOMENDAÇÕES Sugerimos a consulta de um engenheiro agrônomo ou os respectivos autores para o detalhamento de qualquer recomendação para trigo no Brasil Central, uma vez que as informações acima são de caracter geral e resumidas. As recomendações da Comissão Centro Brasileira de Pesquisa de Trigo para os anos de 1999/2000 podem ser solicitadas à EPAMIG: E-mail : epamigcttp@mednet.com.br Fone (34) 333-6699.
Cultivar
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Braspov
Sementes
Pirataria e zoneamento agrícola O
setor de sementes no Brasil está organizado em diversas associações que contemplam segmentos específicos. As empresas de pesquisa em melhoramento de plantas, que geram variedades e híbridos, estão representadas pela Associação Brasileira de Obtentores Vegetais BRASPOV. Fundada em 16 de Dezembro de 1997, seus objetivos são: defender os direitos e interesses dos obtentores vegetais; zelar pela aplicação e aperfeiçoamento da legislação e prestar assessoria técnica, jurídica e administrativa aos associados, diante de órgãos oficiais e privados. É composta por 22 empresas públicas e privadas e tem sua sede em Brasília. Outro segmento importante no setor sementeiro do Brasil é a Associação Brasileira de Produtores de Sementes ABRASEM. Fundada em 1972, é constituída por 8 Associações Estaduais que somadas reúnem 937 unidades operacionais, 1.180 unidades de armazenagem com capacidade de 4,3 mi toneladas, 222 laboratórios, 2.118 técnicos e 42.300 agricultores cooperantes. É sem dúvidas uma grande força estratégica nacional para o setor agrícola pela importância que re24
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presenta para o fornecimento de sementes de qualidade, em quantidade adequada, no momento e local certo. Nos últimos cinco anos da década de 90, ocorreu uma significativa mudança no marco legal do setor sementeiro do Brasil. Foram editadas e regulamentadas três novas leis e uma quarta está sendo discutida no Congresso neste momento. São as leis de Biossegurança (8974 03/01/95) de Patentes (9729 de 14/05/96) e de Proteção de Cultivares (9456 de 25/04/97), além da Lei de Sementes que está em análise. A Lei de Proteção de Cultivares assegura a propriedade intelectual ao melhoramento genético de plantas, dando direito ao obtentor da cultivar de reproduzir e explorar comercialmente, cria o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares - SNPC, e estabelece maior responsabilidade para o obtentor sobre os produtos que lança no mercado. A LPC representa para o país maior investimento em pesquisa, aumento na competição entre as empresas e a incorporação de novas tecnologias de forma mais rápida. Significa também um salto na qualidade e na prowww.cultivar.inf.br
dutividade das culturas, possibilitando o atendimento a nichos de mercado de forma mais objetiva. Após a edição desta lei se percebeu um aumento significativo no desenvolvimento de parcerias, praticamente obrigando a uma readequação das empresas de sementes, para se ajustarem a este novo ambiente de mercado. Os obtentores se organizaram em uma associação para a defesa de seus interesses e a manutenção de uma postura ética. A maior concorrência entre os programas de pesquisa tem proporcionado um aumento na opção de cultivares para o agricultor e cultivares diferenciadas por características de maior adaptação edafoclimática e resistência a pragas.
CULTIVARES REGISTRADAS
Com a criação do Registro Nacional de Cultivares (RNC) e o estabelecimento das normas de Valor de Cultivo e Uso, o sistema se tornou mais flexível e atribuiu maior responsabilidade para o obtentor, eliminando a chancela do Estado nas recomendações de cultivares. Observa-se neste novo sistema um aumento significaAbril de 2001
tivo no volume de testes realizados já que cada empresa acaba desenvolvendo uma rede de experimentos própria, além das parcelas demonstrativas também em grande número, já que o marketing se tornou muito mais intenso, proporcionando muito mais informação para o produtor. As empresas passaram a ter maior cuidado com o controle de qualidade de suas sementes, e o acompanhamento pós-venda tem se intensificado de um modo geral, pela preocupação maior das empresas com o aumento da responsabilidade sobre suas recomendações, em função das freqüentes aplicações do Código do Consumidor na agricultura. Até o final de 2000 foram mais de 230 certificados de proteção de cultivares concedidos. Desde a entrada em vigor da Lei de Proteção de Cultivares no Brasil, houve um crescimento rápido no volume ofertado de sementes de soja de cultivares protegidas, tendo sido de 14% em 1997/98, 37,5% em 1998/99 e 58,5% em 1999/2000, o que demonstra uma rápida adoção de novas variedades por parte dos agricultores. Para as outras espécies não
mesmo produtores de sementes inescrupulosos que, na tentativa de redução de custo ou de exploração ilegal de mercado, estão pondo em risco toda a atividade e, até mesmo, a qualidade de muitos produtos e a grande massa de agricultores e consumidores. O percentual de uso de semente ilegal por estado, comparado com a produtividade média dos mesmos estados em soja, pode ilustrar bem esta afirmativa. Existe uma correlação inversa, ou seja, o estado com maior índice de uso de semente ilegal é o detentor da menor produtividade média. Obviamente que, vinculado a esta constatação, existem uma série de fatores prejudiciais que reduzem a segurança da atividade diretamente para quem usa deste subterfúgio, mas afeta também aqueles que estão em sua volta e utilizam corretamente sementes de boa origem, mas que estarão expostos à introdução de plantas daninhas e doenças na região pela semente ilegal . O crédito rural e o seguro da atividade agropecuária ao longo da história de nossa agricultura sempre foram, e continuam sendo, um precioso instrumento de políti-
Atualmente os cuidados principais estão concentrados na aplicação correta das tecnologias disponíveis e num zoneamento agroclimático integrando todas as fontes de informação de clima e tecnologia agrícola disponíveis no pais. É importante, contudo, se agregar a esse esforço outros segmentos como o de sementes por exemplo, que pode contribuir em muito com os avanços já conseguidos na busca de maior segurança e estabilidade na produção. Tão importante quanto o plantio dentro de um adequado zoneamento agroclimático e na melhor época definida pela pesquisa, é a utilização de uma semente de origem conhecida e recomendada para as condições de cultivo. Esta premissa é básica para se garantir menor risco para a atividade em conjunto com os demais fatores já considerados na política de seguro atualmente adotada. É portanto fundamental a padronização de tabelas e datas de fornecimento dos dados e a publicação em datas compatíveis com o planejamento de plantio de cada região, assim como a exigência do uso de semente legal para implantação das lavouras a serem seguradas. Estender os benefícios do Zoneamento aos demais agentes financeiros e seguradoras. E finalmen-
foi diferente. Quanto ao número de cultivares ofertadas também houve um crescimento expressivo, saindo de um patamar anual de 20 nos anos anteriores à lei, para 50 novas cultivares por ano já no segundo ano após a LPC.
ca agrícola e uma poderosa via na adoção de novas e comprovadas tecnologias, com expressão inconteste de benefícios generalizados para o país. O Zoneamento Agrícola que vem sendo aplicado e aprimorado nos últimos anos demonstra claramente esta afirmativa, tendo reduzido significativamente o risco da atividade, permitindo custos bem menores para o seguro das lavouras. Até o setor privado de seguros está se sentindo mais estimulado a crescer também na agricultura.
te, para compatibilizar o zoneamento com a pesquisa de variedades, unificar junto ao SNPC, a definição das regiões homogêneas para a realização dos ensaios de VCU. A Braspov estará sempre a disposição do Ministério da Agricultura para trazer sua contribuição nas iniciativas de política agrícola que envolvam o insumo tecnológico Se. mente em seus objetivos.
SEMENTES PIRATAS
Outra preocupação do setor tem sido o aumento no uso de grão comercial para plantio ou a comercialização clandestina de sementes piratas por parte de alguns agricultores ou até Abril de 2001
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Ivo Marcos Carraro, Braspov Cultivar
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Nossa capa
Aproveitando-se da planta daninha Fotos CNPAF
so frete seja um dos mais caros do mundo. Isso tudo obriga ao aprimoramento de processos de produção, com maior produtividade e menor custo. E o cerrado já deu inúmeros exemplos de recordes de produtividade. Na área de fitossanidade, os defensivos agrícolas têm promovido importante papel, entretanto, observa-se um exagero no seu uso. Um alto custo energético está sendo gasto, muitas vezes sem necessidade, talvez por falta de informações ou pela idéia de eliminar os riscos inexistentes e garantir a produção agrícola. Isso tem promovido um aumento dos custos de produção, principalmente na cultura do feijoeiro, que, em alguns casos, pode chegar a mais de R$ 1,2 mil/ha. Manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas tornam-se importantes para reduzir estes gastos, além de preservar o ambiente.
PLANTAS DANINHAS
Sistema Santa Fé, desenvolvido pela Embrapa, permite utilizar características da planta daninha para auxiliar no desenvolvimento da cultura principal 26
Cultivar
O
setor agropecuário brasileiro está passando por um processo de transição sócio-econômico e agro-ambiental e, apesar de lento e silencioso, observase a expansão do plantio direto, a consorciação de lavouras e forrageiras, a preocupação de utilização racional da água e de agroquímicos e a necessidade de maior competitividade e sustentabilidade. Essas alternativas visam a redução nos custos de produção, uma vez que tanto a recuperação da produtividade de áreas de agricultura como sob pastagem, pelos métowww.cultivar.inf.br
dos tradicionais, tem acarretado grandes dispêndios com insumos químicos. A competitividade e a sustentabilidade são requisitos essenciais em tempos de globalização da economia. No Brasil, entretanto, os produtores e técnicos enfrentam grandes desafios, às vezes desleais, como as barreiras comerciais aos produtos, o oligopólio dos fornecedores de insumos, os subsídios dos produtos nos países concorrentes e a grandiosa extensão geográfica, aliado ainda à falta de alternativas de transporte que faz com que nosAbril de 2001
Por que, então, não manter plantas daninhas com baixo poder competitivo inicial com as culturas, desde que não sejam hospedeiras de doenças e pragas, e que ainda nos tragam benefícios como a reciclagem de nutrientes, proteção e melhoria das propriedades físicas do solo, inibição do crescimento de fungos patogênicos no solo, servindo ainda como alimento para o gado após a colheita da cultura? Isso já é possível. O Sistema Santa Fé, desenvolvido pela Embrapa Arroz e Feijão, contempla todos esses aspectos com grande praticabilidade econômica para pequenos, médios e grandes produtores. E redefine o conceito de planta daninha, ou seja, ela deixa de ser daninha para ser companheira . O Sistema Santa Fé, implantado anualmente, consiste no cultivo consorciado de culturas anuais, graníferas ou forrageiras-milho, sorgo, milheto, arroz de terras altas e soja, com espécies forrageiras, principalmente as braquiárias, em áreas agrícolas, em solos parcial ou devidamente corrigidos. As práticas que compõem o sistema minimizam a competição precoce da forrageira, evitando redução do rendimento das culturas anuais e permitindo, após a colheita destas, uma produção forrageira abundante e de alta qualidade que poderá abrigar par-
No manejo de plantas daninhas, o controle total das invasoras parece ser uma unanimidade entre a maioria dos produtores e técnicos. Entretanto, existe realmente a necessidade de se eliminar todas as invasoras? A resposta de um humilde, porém experiente agricultor de café no Sul de Minas: Não, não há necessidade de controlar todo o mato, devemos tirar proveito da presença do mato sem que ele prejudique a roça . Essa idéia é simples numa primeira impressão, mas extremamente complexa, pois depende do domínio de conhecimentos da competição interespecífica, em diferentes estádios fisiológicos das culturas e densidades de invasoras, das interações de doenças e pragas com as plantas daninhas, das estratégias de colheita e outras. Entretanto, a resposta do experiente agricultor já está saindo da teoria para a prática. Alguns técnicos utilizam sistemas em que a presença de plantas daninhas (gramíneas), por exemplo, na cultura do milho, promove benefícios no controle de fungos de Resultados da implantação do sistema mostraram o quanto a produtividade solo para a cultura subsetem aumentado qüente do feijoeiro em plantio direto. Abril de 2001
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te representativa do rebanho bovino no período seco, inclusive para a produção de novilho precoce a pasto. Com essa técnica consegue-se uma produção de forragem na entressafra em áreas hoje ociosas no período da seca. No cerrado são cultivadas, no verão, mais de 10 milhões de hectares com as principais culturas anuais (soja, arroz, feijão, sorgo e milho) e na seca somente cerca de 1 milhão de hectares sãos utilizados para cultivo (safrinha ou áreas irrigadas).
QUALIDADE NOS GRÃOS
No Sistema Santa Fé, no verão, produz-se grãos em quantidades equivalentes ao sistema solteiro, já que a técnica preconiza minimizar a competição da braquiária com a cultura anual, seja com uso de subdoses de herbicidas, seja através de prática cultural com o plantio da forrageira em pósemergência da cultura. Outros fatores como culturas mais competitivas (Ex: Milho), número correto de braquiárias/m2 (4 a 6 plantas/m2 - suficiente para formação de pasto em solos férteis) e desenvolvimento inicial vigoroso das culturas, ajudam a igualar as produtividades atingidas pelo sistema solteiro. A planta do milho é uma grande competidora com as braquiárias (Figura 1).
Cultivar
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Tab.01 - Rendimentos de milho (Kg/ha) nos Sistemas Santa Fé e Solteiro. CNPAF
Em consórcio com a Brachiaria brizantha, vinte e cinco dias após emergência (DAE), a taxa de acúmulo de matéria seca do milho é bem superior ao da braquiária, principalmente devido ao fato de que neste sistema toda adubação nitrogenada de cobertura é feita 20 DAE. A braquiária, em sistema solteiro, apresenta um aumento da taxa de acumulo de matéria seca ( arranque da planta ) a partir dos 45 DAE. Entretanto, no sistema consorciado com o milho o arranque da planta não acontece devido ao sombreamento exercido pela cultura do milho. A aplicação de sub-doses de herbicidas ou o plantio da braquiária em pós- emergência da cultura aumentam a diferença do acumulo de matéria seca entre as espécies, diminuindo ainda mais a competição da braquiária. O consórcio milho e braquiária vêm sendo estudado há 3 anos pela Embrapa e é altamente viável como mostram os resultados apresentados
LOCAIS
Cultivar
Milho + B. brizantha
Milho + B. brizantha
Milho + B. brizantha
(nicosulfuron 20g i.a./ ha
(atrazina 1000 g i.a./ha)
(nicosulfuron 8 g i.a./ha +
(nicosulfuron 12 g i.a./ha)+
atrazina 1000 g i.a./ha)
atrazina 1000 g i.a./ha)
+ atrazina 1000 g i.a./ha)
SANTA HELENA GO 98/99 SANTA HELENA GO 99/00 MIMOSO BA 99/00 LUZIÂNIA GO 99/00 CAMPOS NOVOS PARECIS MT 99/00 SANTO ANTÔNIO DE GOIÁS GO 00/01
7735 7686 7823 5023 5857 5945
8236 7600 8507 4859 4840 5252
7365 5438 6099
6854 5298 5844
Tab.02 - Efeito de diferentes fontes de resíduos para cobertura morta sobre o rendimento de grãos e incidência do mofo branco no feijoeiro no sistema de plantio direto Fonte de resíduo
Testes de laboratório também foram utilizados para comprovar a eficiência do método
na Tabela 1. Em algumas localidades, a presença da braquiária não afetou a produtividade do milho (comparação com o sistema solteiro). Em outras localidades foi necessário o uso de nicosulfuron, na dose de 8 g i.a./ha, (30% da dose cheia), para reduzir o crescimento da braquiária e conseqüentemente não afetar o rendimento do milho. O consórcio entre soja e braquiária ainda está em estudo, e apresenta alguns desafios devido ao menor poder competitivo da cultura com a braquiária (Figura 2) e dificuldades na colheita. Entretanto manejos de aplicação de herbicidas ou plantio de braquiária em pós-emergência da soja, uso de variedades de porte médio a alto e precoces e com maior altura de inserção da primeira vagem deverão viabilizar o sistema. Para a cultura do arroz, os estudos estão no início, porém com muita chance de sucesso.
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Milho Solteiro
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Num futuro próximo procurar-seá viabilizar este consórcio também com a cultura do feijoeiro de inverno e algodão.
PRODUÇÃO DE PALHADA
O plantio direto, devido às suas prerrogativas produtivas e conservacionistas, está sendo largamente adotado pelos produtores nas regiões de clima temperado, subtropical e no cerrado. No cerrado já somam mais de quatro milhões de hectares com este sistema. No entanto, sua evolução qualitativa dependerá de fontes eficientes de cobertura morta, capazes de proteger plenamente a superfície do solo e ter longevidade adequada. A palhada de braquiária tem atendido a estes dois quesitos, produzindo mais de 15t/ha de matéria seca, quando corretamente manejada, e persistindo por mais de seis meses na superfície do solo. Além disto, sua palhada reduz a intensidade de ataque de algumas doenças causadas por fungos habitantes do solo na cultura do feijoeiro, como o mofo branco e podridões radiculares causadas por Rhizoctonia solani e Fusarium solani f. sp. phaseoli. Melhores rendimentos de grãos de feijão
Abril de 2001
1
Rendimento (kg/ha)
Incidência de mofo branco1
Soja
3606
5
Milho
3577
5
Arroz
3787
3
Milho+B. brizantha
3641
1
Milho+B. ruziziensis
3899
1
Escore: 1=sem sintomas a 9=100% das plantas infestadas. Fonte: Embrapa Arroz e Feijão. 2000.
(Tabela 2) e soja (Figuras 3 e 4) em palhada de braquiária também já foram registrados. No plantio do feijão, a maior quantidade de cobertura morta proveniente do Sistema Santa Fé (Figura 5) contribuiu para a menor emergência de plantas daninhas na cultura do feijoeiro no inverno (Figuras 6 e 7). Ao que tudo indica quebra o ciclo das plantas daninhas, diminuindo a sua incidência.
COMO INICIAR
O Sistema Santa pode ser estabelecido de forma simultânea ou após a emergência da cultura anual. A dessecação da resteva ou o preparo do solo devem ser feitos seguindo-se as recomendações vigentes nos métodos convencionais. No sistema de plantio direto, a aplicação correta de herbicidas tanto de manejo (dessecante) como os pós-emergentes é de
CV %
DMS
9,6 4,9 13,7 8,6 8,2
1090 596 1002 686 592
primordial importância. É importante, na semeadura simultânea, que, até a completa emergência das plântulas das espécies consorciadas, ainda não tenham emergido muitas plantas daninhas. Para isto, deve-se realizar a semeadura imediatamente após a dessecação caso a área não apresente grande quantidade de cobertura viva, em número de plantas e volume de massa. Caso contrário, deve-se proceder a dessecação com herbicida sistêmico, aguardar o secamento das plantas e a emergência de novas plantas daninhas, realizar a semeadura, e em seguida, antes da emergência das espécies consorciadas, dessecar as plantas daninhas com herbicida de contato. Devem ser utilizados de 5 a 10 kg de semente de braquiária (B. brizantha, B. decumbens ou B. ruziziensis) por hectare com valor cultural (VC) igual a 30%. Caso o VC da semente seja diferente deste, ajustar a quantidade por hectare. Para os consórcios de milho e sorgo, utilizar 7 a 10 kg de semente e 5 kg para a soja. No caso do consórcio com o milheto, pode-se utilizar até 10 Kg de semente da braquiária
Aenda - Defensivos Genéricos
por hectare. São necessárias de quatro a seis plantas de braquiária por metro quadrado para o seu pleno estabelecimento. As sementes da forrageira devem ser misturadas ao adubo correspondente a um hectare. Não armazenar a mistura por mais de 48 e 24 horas, para adubos com médio teor de nitrogênio (N) e potássio (K), exemplo (5-3015) e ricos em N e K (exemplo 8-20-20), respectivamente. Na operação de semeadura, regular para que a mistura de adubo e semente da forrageira seja colocada mais profundamente (4 a 6 cm) do que as sementes da cultura anual. Nos solos com mais de 70% de argila ou areia, a adubação deve ser mais superficial, em torno de 2 a 3 cm abaixo das sementes da cultura anual. Para as culturas que exigem espaçamento entre linhas entre 30 e 70 cm, utilizar a plantadora de forma convencional, semeando a forrageira (misturada ao adubo) em todas as linhas da cultura anual. Para espaçamentos maiores que 70 cm, fileiras adicionais podem ser semeadas utilizando-se os carrinhos de sementes do entremeio, sendo as sementes da forrageira misturadas ao adubo ou puras, dosadas pelo disco recomendado para o sorgo. A adubação nitrogenada em cobertura deve ser antecipada, em relação ao convencional. Nos solos com mais de 30% de argila
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Cultivar
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aplicar todo o nitrogênio cerca de 10 dias após a emergência das plântulas. Nos solos com mais de 70% de areia, aplicar 50% aos 10 dias da emergência e o restante quando o milho, o sorgo ou o milheto apresentarem 6 a 7 folhas totalmente expandidas, e o arroz estiver no estádio de primórdio floral. No manejo de herbicidas em pós-emergência, no caso de consórcio entre gramíneas (exemplo: milho x braquiária), pode-se lançar mão de herbicidas específicos para plantas daninhas de folha larga, seguindo-se as recomendações convencionais. No caso do consórcio soja x forrageira, pode-se utilizar sub-doses de herbicida específico para a cultura, devendose manter estreito relacionamento com os autores desta tecnologia. Para os consórcios entre sorgo, arroz ou milho com forrageira, o procedimento de colheita é o convencional. Deve-se, contudo, evitar atrasos, já que a partir de senescência da cultura, as forrageiras tendem a crescer muito vigorosamente, podendo causar embuchamento ou reduzir a velocidade de operação da colhedora. No caso do consórcio com soja, dependendo do desenvolvimento e população da forrageira, pode-se necessitar de uma aplicação de dessecante de contato antes da colheita. A prática de semeadura em pós-emergência da cultura anual é particularmente recomendada para áreas muito infestadas por plantas daninhas, pois permite controlá-las em pós-emergência precoce e em seguida semear a espécie forrageira. Deve ser realizada entre 10 e 20 dias após a emergência da cultura anual. . Tarcísio Cobucci João Kluthcouski Homero Aidar, Embrapa Arroz e Feijão
Abril de 2001
Agroquímicos:
Reduzindo a concorrência E
m fevereiro do ano passado, abordando o tema do receitu ário, já advogávamos a tese da liberdade para receitar instruções que não constem nos rótulos ou bulas. Naquela ocasião, nosso artigo exemplificava com as informações relativas a controle integrado e à mistura em tanque, as quais estão em constante renovação e, obviamente, os rótulos não conseguem acompanhar. Desta feita queremos desenvolver outro importante aspecto pertinente ao tema, trata-se do desenvolvimento e oficialização de recomendações para culturas de menor expressão econômica. As empresas fabricantes de agrotóxicos pouco se interessam em testar seus produtos neste tipo de lavoura, porquanto as exigências para registro são muitas e o retorno econômico com as vendas futuras não compensa o esforço. Além do mais, são tantas as espécies vegetais cultivadas que nem caberiam nos rótulos ou mesmo nas bulas. Levantamento censitário da Secretaria da Agricultura de São Paulo, enumerou 196 cultivos no Estado. Há uma evidente necessidade de envolvimento de outros protagonistas no sistema e da edificação de um modelo mais prático nos procedimentos de registro e de cadastro que propicie ao usuário poder utilizar legalmente o produto, ainda que as instruções não estejam contidas no rótulo. As associações de produtores rurais, as universidades, as instituições de pesquisa e de ensino e fomento poderiam perfeitamente proceder aos testes de campo, visando a identificação de produtos eficien-
tes para cada alvo biológico nas culturas regionais de interesse da comunidade, bem como para estabelecer os níveis de resíduos aceitáveis e restrições relativas ao meio ambiente e cuidados específicos com a saúde do trabalhador rural. Essas entidades encaminhariam os laudos e resultados aos órgãos federais para avaliação (sem intermediação das empresas de agrotóxicos), e estes, em aprovando os trabalhos, incorporariam nas monografias respectivas. Após esse passo, os órgãos estaduais também seriam informados para ampliação de seus bancos de dados. O receituário, por sua vez, precisa libertar-se da amarra do rótulo ou bula. Torcemos para que isso ocorra nesta revisão em andamento do Decreto 98.816/90. O modelo aqui proposto é funcional, engajando também a base produtora, em especial o lavrador das chamadas pequenas culturas, justamente onde existe uma grande lacuna de uso indevido ou sem o respaldo de estudos apropriados. Aliás, este problema tem repercussão até internacional, pois os países importadores cada vez mais controlam melhor os resíduos e se não há base legal para uso de determinado ingrediente ativo ou um estabelecimento de resíduo consistente, estão devolvendo ou destruindo lotes de frutas tropicais, originadas do Brasil. O lavrador e os agrônomos consultores das pequenas lavouras teriam um enorme interesse em participar desta empreitada e, com certeza, as escolas de agronomia poderiam envolver formandos nestas
operações, bem condizentes com a preparação profissional. Entretanto, existe um problema que precisa ser desde já explicitado, qual seja o da responsabilidade pelo resultado obtido quando da aplicação futura dos produtos, adquiridos no comércio. Como os testes não foram desenvolvidos pela empresa fabricante ou registrante, qualquer percalço, como possível ineficácia ou acidentes na área da saúde ou do meio ambiente, circunscritos àquela cultura não contida no rótulo, ela não poderá ser argüida como responsável. A responsabilidade aí, no nosso entendimento, seria pública, ou seja, a culpabilidade seria imputada às entidades que desenvolveram os testes e aos órgãos públicos que aprovaram os mesmos, se provado fosse que as instruções técnicas teriam vícios fundamentados. Se o fato infrator for resultante apenas de imperícia do aplicador ou daquele que prescreveu a receita, as responsabilidades seriam mais facilmente identificadas. Outro aspecto, neste contexto das responsabilidades, é o direito que o sistema de patente concede à empresa detentora deste instrumento. Queremos crer, não ser possível efetivar qualquer teste, sem o prévio consentimento da empresa proprietária de produto com patente em vigor.Mas isso não inviabiliza o modelo, a maioria dos produtos está em domínio público, portanto há muita massa para trabalhar. A todos nós, falta arregaçar as mangas e ao governo, a disposição de liderar o processo, visto que necessita de reconfiguração de procedimentos instituídos.
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o sul do Brasil, a maioria dos campos de feijão quando manejados com níveis adequados de técnicas de condução permitem a obtenção de produtividades próximas a 40 sacas por hectare. As condições climáticas nas safras das águas e da seca são muito satisfatórias nas regiões abrangidas pelos estudos de zoneamento agroclimático para a cultura do feijão nos estados do sul. Para obtenção de altas produtividades alguns detalhes ganham importância e é exatamente nesses detalhes que se conquistam os avanços capazes de transformar um campo em altamente produtivo e lucrativo.
ÉPOCA DE SEMEADURA
Cultivar
Feijão
Técnicas permitem conseguir maior rendimento na cultura do feijão
TRATAMENTO DE SEMENTES
Produtividade na lavou ra
Embora hoje esteja disponível um grande elenco de fungicidas destinados ao tratamento de sementes de feijão nenhum deles ou mesmo as associações têm sido capazes de eliminar as infecções nas sementes. As respostas obtidas mesmo assim são altamente compensadoras na cultura do feijão, melhorando o estabelecimento das plantas, reduzindo a quantidade de doenças nos campos e aumentando a produtividade. Uma técnica que vem ganhando muito espaço com resultados altamente compensadores, principalmente nas safras da seca e de outono/inverno, é o tratamento de sementes com inseticidas apropriados. A população das principais pragas do feijoeiro têm seu auge nestas épocas de semeadura e para propriedades agrícolas cujos sistemas de produção contemplem as culturas de soja, milho safrinha e outras, esta é uma época de varias atividades com essas culturas, sobrecarregando de serviços e dificultando a aplicação de inseticidas no feijão. Alem disso, o controle preventivo das pragas através do tratamento das sementes além de ser mais eficiente agride menos o meio ambiente devido às baixas doses e à forma de utilização dos defensivos. Lavouras de feijão para alta produtividade não devem ser semeadas sem tratamento de sementes com fungicidas, pelo menos.
A obediência ao zoneamento para a cultura tem permitido sempre uma redução na ocorrência de doenças e pragas em relação aos plantios antecipados ou retardados, reduzindo os custos com aplicações de defensivos. Destaca-se também a grande freqüência de sucessos obtidos nos campos instalados em obediência às épocas recomendadas, principalmente em relação às condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento das plantas. Sem alteração de custos, a época ideal de semeadura é fator decisivo para alta produtividade.
ESCOLHA DA VARIEDADE
Para condições normais de cultivo pode-se dizer que os agricultores dispõem de variedades que atendem a quase todas as suas necessidades. A primeira escolha recai sobre o grupo de feijão que se pretende plantar: preto ou cores (recomenda-se uma boa análise dos preços e dos estoques, da produção da Argentina, das áreas semeadas nas varias regiões do Brasil, nas decisões do governo, no que se pensa na bolsinha do feijão em São Paulo etc.). Uma vez obedecidas as recomendações de cultivares dos principais centros de pesquisa, pode-se dizer que já se dispõe de variedades que suportam temperaturas mais elevadas durante o florescimento como por exem32
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A ROTAÇÃO DE CULTURAS
plo IAPAR 81, IPR UIRAPURU, FT NOBRE. Para lavouras não irrigadas, suportam períodos moderados de estiagem o IAPAR 57, IAPAR 81, IPR UIRAPURU, CARIOCA. Uma tolerância moderada a solos ácidos é encontrada em CAMPEÃO II, IAPAR 81, IAPAR 44, PEROLA, FT NOBRE. Para enfrentar as doenças, nenhuma variedade junta em si a resistência a todas elas, mas algumas apresentam tolerância ou pelo menos menor sensibilidade a algumas delas, por exemwww.cultivar.inf.br
plo: podridões radiculares de fusarium sp, usar PEROLA, IAPAR 81, IAPAR 44; para antracnose, usar IAPAR 44, IAPAR 81, IAC UNA, IAPAR 31, IAPAR 14; para mancha angular, usar PEROLA; para ferrugem, usar IAPAR 14, IAPAR 31, PEROLA, IPR UIRAPURU; para crestamento bacteriano comum usar IAPAR 14, IAPAR 31; para mosaico dourado usar IAPAR 57; IAPAR 72; IAPAR MD 841. Ainda não se dispõe de variedades tolerantes ao mofo branco e a curtobacterium sp. Abril de 2001
USO DE SEMENTES SADIAS
Pesquisas conduzidas nos últimos 22 anos têm mostrado consistentemente que o uso de sementes de qualidade pode aumentar o rendimento da cultura do feijão entre 8 e mais de l00%. O grande problema da cultura são as doenças e uma grande parte delas possui a capacidade de transmissão pelas sementes, justificando essa alta resposta ao uso de sementes sadias. Assim, as variedades mais sensíveis a essas doenças apresentam maiores Abril de 2001
respostas do que aquelas com tolerância, mas mesmo estas respondem também a sanidade das sementes. Trabalhos conduzidos pelo IAPAR mostram que o uso de sementes fiscalizadas ou certificadas resultam em acréscimos de 42% na media das produtividades no Paraná. No entanto as quantidades disponíveis de sementes melhoradas são insuficientes para o atendimento da necessidade fazendo com que os agricultores tenham que recorrer ao uso de grãos para semeadura. www.cultivar.inf.br
Essa pratica antiga da agricultura sustentável, produtiva e lucrativa nem sempre é adotada pelos agricultores, mesmo sem custar nada. Para uma cultura sensível a tantas doenças como o feijão onde a maioria delas tem capacidade de permanência no solo por longos períodos, a rotação de cultura é pratica obrigatória. Para obtenção de altas produtividades, a pratica é imprescindível. O acompanhamento de sistemas de produção, principalmente sob plantio direto, nos últimos 25 anos tem mostrado claramente que as condições de sanidade na cultura do feijão são muito superiores Cultivar
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Produtividade de campos de sementes básicas de feijão no Iapar sob plantio convencional (1976 a 1999) e direto (1980 a 2001) Ponta Grossa, Irati, Pato Branco e Londrina PR, 2001
quando o sistema contempla a rotação por períodos de dois anos ou mais. A antracnose, a mancha angular, a mancha parda, as podridões radiculares e outras doenças têm seu potencial de inóculo reduzido (e até eliminado) resultando em melhor sanidade e maiores produtividades. De maneira geral, a rotação com gramíneas (milho, trigo, aveia preta, aveia branca, milheto etc.) tem apresentado o melhor efeito devido ao reduzido numero de doenças comuns ao feijão; rotação com leguminosas como a soja, tremoços e outras, não têm sido tão eficientes principalmente quando há ocorrência de podridão radicular de Rhizoctonia solani, mofo branco, podridão de Macrophomina sp e nematóides. O uso de girassol, canola ou cobertura de inverno com nabo forrageiro só poderá constar do sistema na ausência de inóculo de mofo branco devido a alta sensibilidade dessas culturas a essa doença. Convém lembrar que mesmo plantas daninhas de folhas largas, sensíveis ao mofo branco, como nabiça, serralha, picão-preto, amendoim-bravo e muitas outras são eficientes multiplicadoras da doença e devem ser rigorosamente controladas dentro de sistemas que prevêem a rotação de culturas para a redução do inóculo. Deve-se considerar também para essa doença a quantidade residual de nitrogênio no solo para evitar altos teores nas folhas das culturas sensíveis e o excesso de desenvolvimento vegetativo. O fator isolado que mais atrapalha a rotação de culturas em sistemas agrícolas no Brasil é o preço dos produ34
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tos. Quando o feijão está caro planta-se até três vezes por ano em áreas irrigadas; quando o milho está barato , ele é eliminado do sistema e substituído por soja; o trigo, a aveia preta e o pousio fazem revezamento ditado pelos preços do primeiro. E assim vamos... É claro que a agricultura tem que ser lucrativa para que seja atrativa e permanente mas somente uma programação de médio prazo pode torná-la eficiente e sustentável.
POPULAÇÃO DE PLANTAS
A planta do feijoeiro possui uma grande capacidade de ocupação de espaços horizontais disponíveis, mas isso não a torna isenta da necessidade de adequação da população de plantas para obtenção de alta produtividade. Uma grande quantidade de estudos foram conduzidos no Paraná e em outras regiões e seus resultados mostraram que as melhores produtividades são obtidas quando a densidade de plantas na linha está acima de 10 e abaixo de l5 plantas por metro, apresentando um ótimo entre 10 e 12. Todas as variedades estudadas, nas safras das águas, da seca ou de outono apresentaram comportamento semelhante, identificando essa densidade de plantio como apropriada ao feijoeiro. Quanto ao espaçamento, os resultados mostraram que as mais altas produtividades foram obtidas nos espaçamentos onde o fechamento da entre linha ocorreu na fase final do botão floral. A medida em centímetros variou conforme a fertilidade do solo, adubação e a disponibilidade de www.cultivar.inf.br
água, sendo pouco afetada pela variedade ou época de semeadura. Para lavouras de alta produtividade essa condição é fundamental e tem norteado a instalação desses campos com sucesso. De maneira geral, os espaçamentos usados situam-se entre 35 e 60 cm. com maior concentração entre 40 e 50 cm. Para plantio direto ou convencional usa-se a mesma população de plantas. As baixas populações de plantas têm sido responsáveis por reduções na produtividade em varias regiões do Brasil. Essas perdas são decorrentes principalmente do mau uso da luminosidade, do aquecimento do solo na entre linha, da evaporação de água e da presença de ervas daninhas. Populações muito altas tem levado à competição intra-específica com perda de flores na parte basal das plantas, aumento significativo de algumas doenças (devido ao micro clima formado e a dificuldade de atingir as partes baixas das plantas com as pulverizações) e alguns casos com acamamento precoce.
A SOLUÇÃO VIA SEMENTE
DIRETO OU CONVENCIONAL
A experiência tem mostrado que ambos os sistemas podem resultar em altas produtividades embora a freqüência de bons resultados com a cultura do feijão seja mais comum em plantio direto, especialmente para lavouras não irrigadas. Tem sido observado uma maior estabilidade na produção em plantio direto nas regiões mais quentes principalmente devido ao menor aquecimento do solo e manutenção da umidade. Do ponto de vista fitossanitário, o plantio direto é mais problemático apenas nos casos em que a rotação de culturas não é obedecida. Plantio direto pressupõe rotação como parte do sistema. Nesse caso, para o feijão, o uso de uma gramínea como cultura antecessora sempre dá melhores resultados, sob diferentes tipos de manejo. De maneira resumida, sem atender a particularidades e considerando a adubação como um capítulo à parte, esses detalhes comentados constituem a base para iniciar uma lavoura de . feijão para alta produtividade.
Sem Standak
Com Standak
uExcelente
O ATENÇÃ
humana, à saúde perigoso . Leia e siga as é to u d te Este pro o meio ambien lheto ou a , bula, fo animal e ntidas no rótulo ão souber ler. o n c m s e e instruçõ faça-os para qu ntos de proteção u e receita, o pre os equipam a utilização do m Utilize se l. Nunca permita e idade. individua s por menores d . grônomo produto nheiro a um enge gronômico. re p m e s a Consulte sob receituário Venda
controle para coleópteros (cascudos) uFeijão livre de vaquinhas e Sternechus subsignatus (bicudo)* uResidual
prolongado uFaixa verde (classe toxicológica IV) uBaixa dose/alto benefício * Produto em fase de licenciamento para controle desse inseto
Novas idéias para a agricultura.
Marco Antônio Lollato IAPAR Abril de 2001
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Agronegócios
Louca seria a vaca?
2003. A ajuda interna deveria cair 20%, o valor das subvenções 36% e o volume subsidiado 21%.
PRÁTICA
Apenas os países pobres, com exportações lastreadas na agricultura, cumpriram o acordo. Os países ricos (pasmem os senhores!) aumentaram o volume de subsídios, desdenhando da boa fé dos demais, demonstrando sua arrogância ao valer-se de dois pesos e duas medidas, desrespeitando as normas que impuseram ao mundo. O relatório de 1999 da OCDE demonstra que Japão, Noruega, Suíça e Coréia do Sul aumentaram os subsídios agrícolas para 65% do valor da produção agrícola, a União Européia para 50% e os EUA para 24%. Sobre uma base vergonhosa de subsídios de US$1 bilhão/dia, em 1994. Mais que o PIB da África pobre. E recusamse terminantemente a discutir o assunto, a ponto de inviabilizar a Rodada do Milênio iniciada em Seattle, não aceitando uma agenda prévia, embora o Acordo Agrícola obrigasse a rediscussão do assunto antes de 9 anos de sua vigência.
A VACA LOUCA
Deu na Agência Estado do dia 2 de março de 2001: Bush promete “linha dura” no comércio agrícola São Paulo - O presidente dos EUA, George Bush, afirmou que adotará uma política de “linha dura” no comércio de produtos agrícolas. Durante a cerimônia de posse da secretária da Agricultura, Ann Veneman, em Washington, Bush declarou: “Eu vou levar esta mensagem ao mundo: os mercados têm de ser abertos. Os EUA não vão tolerar favoritismo e subsídios injustos”. Bush disse que os EUA querem “competir num terreno neutro”. “A agricultura não mais será ignorada ou menosprezada quando nos sentarmos às mesas de negociação internacionais. Esta será uma prioridade máxima para nós”, afirmou. De acordo com o presidente, a agricultura representa 13% da economia norte-americana. Bush também prometeu agir rapidamente quando os agricultores dos EUA precisarem de ajuda financeira do governo. “Em tempos de emergência, eles conseguirão a assistência de que precisarem, quando precisarem”, acrescentou. 36
Cultivar
U
rge alertar o presidente Bush que os EUA subsidiam injustamente sua agricultura, impõem cotas, sobretaxas, barreiras diversas, incluindo sanitárias, sem o devido fundamento. Caso o presidente Bush aplicasse a prescrição em seu país, contribuiria para um mundo melhor. Além de ser contraditório pregar mercado aberto, demonstrar intolerância com subsídios injustos enquanto promete manter os subsídios americanos a produtos agrícolas, travestidos de assistência a qualquer preço.
REINO UNIDO
Ao invés de mea culpa, os fleumáticos britânicos pretendiam proibir as importações de carne brasileira, sob o pretexto de que os focos de febre aftosa em seus rebanhos teriam sido ocasionados por carne importada do Brasil. Os fatos não interessam, os países ricos impingem sua visão unilateral, valendo a versão que lhes for conveniente no momento, renegandoa no instante seguinte para prosseguir auferindo benefícios. Demonstrada sua incompetência ciwww.cultivar.inf.br
entífica, técnica, regulatória e operacional, não seria mais conveniente aos súditos de Sua Majestade solicitarem auxílio ao Brasil, onde os focos de febre aftosa comprovadamente escasseiam ano após ano? Onde nunca houve risco de vaca louca nos rebanhos e, seguramente, nunca haverá um caso?
TEORIA
A Organização Mundial de Comércio foi criada com o fito de liberalizar o comércio internacional, caracterizado pela ausência de dumpings, barreiras técnicas, preferências, altas taxas de importação, subsídios e outros artificialismos. Os países ricos impuseram os leoninos acordos da OMC para produtos industrializados, de alto valor agregado, com tecnologia de ponta por eles dominada. O tema mais polêmico foi o protecionismo agrícola e seus impactos negativos sobre o comércio. O acordo sobre agricultura fixou regras de conduta e procedimentos para solucionar disputas comerciais, teto para os subsídios agrícolas, e níveis mínimos de acesso aos mercados dos paises ricos. Os signatários se obrigavam a competir lealmente, e os subsídios dos países ricos à agricultura deveriam diminuir 36% (mínimo de 15% por produto), até Abril de 2001
Ridícula e estapafúrdia foi a justificativa canadense para a proibição de comercialização e consumo de carne brasileira, supostamente para proteger a sua população da BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina). A bíblia das questões sanitárias da OMC é o SPS (Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias). Transcrevo ipsis litteris excertos do SPS (http:// w w w. d i g e s a . s l d . p e / c o m e x t e r / normafit.html): Acuerdo sobre la aplicación de medidas sanitarias y fitosanitarias (Introducción) - Los Miembros, reafirmando que no debe impedirse a ningún Miembro adoptar ni aplicar las medidas necesarias para proteger la vida y la salud de las personas y los animales o para preservar los vegetales, a condición de que esas medidas no se apliquen de manera que constituya un medio de discriminación arbitrario o injustificable entre los Miembros en que prevalezcan las mismas condiciones, o una restricción encubierta del comercio internacional; (Art 2.) Los Miembros se asegurarán de que cualquier medida sanitaria o fitosanitaria sólo se aplique en cuanto sea necesaria para proteger la salud y la vida de las personas y de los animales o para preservar los vegetales, de que esté basada en principios científicos y de que no se mantenga sin testimonios científicos suficientes. O SPS determina que medidas sanitárias não devem ser adotadas para Abril de 2001
discriminar arbitrária ou injustificadamente outros países membros, que causem restrições disfarçadas ao comércio internacional, ou exaradas sem fundamentação científica.
DONO DA BOLA
No meu tempo de piá, a bola da pelada pertencia ao guri rico , via de regra um perna-de-pau. Na dúvida se foi falta, impedimento ou gol, o dono metia a bola embaixo do braço e anunciava sua decisão. Os demais acatavam-na sem restrições, ou a pelada acabava. No mundo adulto, não interessa o risco de BSE no Brasil (considerado pela OIE de menor risco que o Canadá), por ser questão adjetiva. Não importa se o Brasil subsidia via Proex a Embraer ou não os parcos recursos anuais para equalização de juros do Proex alcançam US$ 2 bilhões. Contraste com os subsídios à agricultura dos países ricos (US$ 400 bilhões) e dúvidas não restam sobre sua marginalidade. Importa que as regras impostas pelos países ricos devem ser obrigatoriamente cumpridas pelos pobres, porém não por quem as impôs. Se as regras prejudicam países ricos, então elas não são aplicáveis (aos ricos, claro!), ou devem ser mudadas. O Acordo de Agricultura determinou a redução gradual dos subsídios até 2002. Entre os países pobres quase não havia subsídio, e o que havia foi eliminado, ao contrário dos países ricos que aumentaram seu protecionismo.
da porta do Inferno (Livro 3 da Divina Comédia de Dante Alighieri) Lasciate ogni speranza voi ch entrate (vós que entrais deixai toda a esperança). Alguma semelhança com o affair vaca louca?
O QUE NOS RESTOU
A empulhação da vaca louca resume tudo inventa-se uma história sem fundamento, prejudica-se um país, e tudo fica por isso mesmo. Restou a raiva e a frustração do logro, apanhados no mais legítimo conto do vigário, ou do falso bilhete premiado. Passando por Londrina (PR), em dezembro passado, o Ministro Pratini de Morais, entre roxo de raiva e vermelho de frustração propugnou que a Rodada do Milênio seja mantida em banho-maria, até que os países ricos admitam discutir os subsídios agrícolas. Pouco resta além do jus sperniandi, em estreita articulação e sintonia fina com outros países prejudicados. Os países ricos subsidiam sua agricultura porque têm muito dinheiro para fazê-lo, a agricultura é uma fração do seu PIB, o lobby (dos ociosos) agrícola é organiza-
A QUESTÃO SUBSTANTIVA
O cerne da discussão é que um país fora do clube dos ricos levou bola preta, porque ousou desenvolver tecnologia aeronáutica altamente competitiva, a ponto de tornar-se um risco para o monopólio do comércio de aeronaves, dominado por indústrias de países ricos. Esse é o ponto, e final. A Embraer não é competitiva pelos subsídios retire-se os subsídios de ambas as partes, e a Embraer vencerá a maioria das concorrências transparentes, porque seu produto é de qualidade superior e melhor atende os anseios dos clientes. Como o script da OMC não prevê essa inversão de valores, qualquer país emergente que se meter a besta deve ser punido até recolher-se à sua insignificância. As regras atuais visam manter o status quo e aprofundar a injusta distribuição da riqueza mundial, não permitindo alpinismo comercial. Meu amigo Adauto Rodrigues, Chefe da Divisão de Assuntos Sanitários da OMC no MA, recorda haver ouvido do negociador canadense Randy Benoit ...la raison du plus fort est toujours la meilleure! (o argumento do mais forte é sempre o melhor). O diplomata só ia citar a inscrição www.cultivar.inf.br
do e poderoso, o desemprego urbano é alto, é mais barato prover infra-estrutura no campo, seus agricultores são viciados em subsídios e incapazes de competir em um livre mercado, de onde seriam alijados rapidamente. Altos estoques derrubaram o preço dos produtos agrícolas, obrigando os governos desses países a injetar mais subsídios, travestidos com um discurso que envolve questões ecológicas, qualidade de vida, segurança alimentar e multifuncionalidade da agricultura. Uma vaca de país rico ganha em subsídios mais de US$ 2.000/ano, acima da renda média da população humana mundial. Para nós sobrou pagar o salário da vaca rica e o mico . do conto do vigário.
Décio Luiz Gazzoni, Embrapa Soja Cultivar
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O alimento europeu Até que ponto vale a pena incentivar a produtividade agrícola na Europa, onde hoje se fazem fogueiras com milhares de animais preventivamente abatidos, e onde montanhas de produtos colhidos por um sistema fortemente subsidiado não encontram compradores. Algo incompreensível no Brasil, onde a produtividade é uma das bases de sustentação de nossa agricultura, o tema que centralizou os debates no Salão Internacional de Agricultura, em Paris, no fim de fevereiro, apenas acentua as disparidades continentais. Os europeus, literalmente pagos pelos governos para se manter na terra produzindo, esgotaram a capacidade do mercado, com a sofisticada tecnologia empregada e máquinas agrícolas que disputam em conforto com carros de luxo. No Salão de Agricultura o primeiro ministro francês Lionel Jospin foi recebido com uma chuvarada de ovos por se atrever a duvidar do sistema. E a ministra sueca da agricultura, Margareta Wimberg, bateu duro: para que produzir e destruir em seguida? , referindo-se à queima dos rebanhos ingleses. Certamente os europeus não estão em busca de mercados. Produzem para consumo e preferem adquirir matériaprima e vendê-la industrializada, como o café, por exemplo. E sabem que os maiores mercados potenciais, a África em primeiro, não têm dinheiro para comprar comida. Por isso, e porque estão assustados com a vaca louca, dioxina, aftosa e outros escândalos alimentares, estão em pânico. Também porque já contaminaram o solo com insumos químicos até um nível quase insuportável, descobriram agora a agricultura biológica. Vi-
raram paladinos da ecologia e querem comprar produtos livres de agrotóxicos. Enquanto isso estudam a poluição dos seus cursos d água, descobrindo por exemplo os franceses que comprometeram todos os seus mananciais. Um dos maiores vilões, o lodo de esgotos usado como fertilizante. E dizem temer os organismos geneticamente modificados por razões que criam a cada dia. A transformação, liderada por quem tem o mando, o mercado, já está em curso. O Salão de Paris reservou impressionante parcela do seu total de 22,5 hectares de área coberta para a agricultura bio. E 54% dos franceses, diz uma pesquisa, confiam em tais alimentos. Tanto que a produção própria não lhes basta e estão importando da Alemanha. Os alemães, que no plano interno são verdes até no governo, mas que no resto do mundo não se preocupam tanto, têm 2,6% de seus agricultores na
área bio . E querem chegar a 2010 com 20%. A França, com 1% (350 mil hectares) quer chegar a 2005 com 5%. O modelo produtivista, lançado no fim da Segunda Guerra, quando havia fome, e permitiu tornar a Europa auto-suficiente no plano alimentar, chegou aos limites no continente. Os especialistas da FAO sabem que a agricultura bio globalmente é uma utopia, pois não é possível produzir a quantidade de cereais necessários sem usar pesticidas químicos. Assim a Europa hoje é um exemplo de que se faz agricultura em duas velocidades, uma para os ricos e outra para os pobres. Os ricos aceitam pagar até 40% mais pela comida. Mesmo lá, contudo, há imigrantes e desempregados 5 milhões só na França - que não alcançam esses produtos. Acredita-se hoje que a qualidade organoléptica ou sanitária dos produtos com selo bio não é garantida. Na prática, estudos mostram que não são melhores do que os convencionais. No plano técnico, surgem críticas, como a do uso do cobre pelos biológicos para combater doenças, e que está contaminando o solo. Acredita-se que no futuro as duas agriculturas coexistirão pacificamente, uma incorporando práticas desenvolvidas pela outra, como a do uso de compostagem, hoje disseminada. Mas quem são os consumidores? Os puristas, oriundos dos movimentos ecológicos dos anos 70, com os vegetarianos liderando. Escolhem alimentos como nutrientes, apenas, sem atentar para sabor, por exemplo. Os básicos, seletivos ao extremo, desconfiam de alimentos sofisticados e comem arroz integral. E os mais recentes, que reagem às crises da cadeia . alimentar, os mais numerosos.