Cultivar Grandes Culturas • Ano XXII • Nº 276 • Maio 2022 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Expediente Fundadores Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
18
Vilões das sementes
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ: 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter
O papel da associação de
www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
inseticidas e de adjuvantes contra o efeito de percevejos no vigor e na germinação das plantas de soja
• Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer • Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues
Atividade prolongada Efeito carryover
15
Mudança de hábito As alterações no
de graminicidas e
comportamento das lagartas
pré-emergentes
da subfamília Plusiinae ao gerar
seletivos à soja
lesões em vagens de feijão
• Expedição Edson Krause
Índice
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
04
Controle de bicho-mineiro em café
07
Enfezamentos na cultura do milho
10
Efeito carryover em soja
15
Capa - Percevejos e danos às sementes
18
Fungos entomopatogênicos contra pragas
22
Mudança de hábitos de lagartas
25
Inseticidas seletivos em algodão
28
Doenças foliares em algodoeiro
32
Coluna Agronegócios
36
Coluna Mercado Agrícola
37
Coluna ANPII
38
www.revistacultivar.com.br www.instagram.com/revistacultivar www.facebook.com/revistacultivar www.youtube.com/revistacultivar www.twitter.com/revistacultivar
Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060
• Comercial: 3028.2065 3028.2066 3028.2067
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
25
Nossa Capa
Crédito: Laboratório de Entomologia da Unicruz
Diretas
Anna Malmskov
Carolina Cardoso
Bayer VAlora para milho Por meio do programa Bayer VAlora para milho, a empresa recomenda a densidade ideal de plantio em áreas escolhidas com o objetivo de aumentar a produtividade. No contexto, reparte alguns riscos com o produtor. Eventual indicação extra de sementes de milho pode ser reembolsada caso a estimativa de lucratividade não se concretize em razão da densidade. Anna Malmskov, diretora de Novos Modelos de Negócios da empresa para América Latina explica que "o produtor não fará investimento adicional em outros produtos para participar do programa - exceto sementes. O manejo que ele usar na recomendação Bayer e na faixa 'testemunha' deve ser exatamente o mesmo. A diferença do programa está em testar uma densidade populacional maior do que o padrão produtor, mas isso não implica aumento de uso de fertilizantes ou defensivos. A única variável na área será a diferença de densidade populacional de sementes (recomendação Bayer versus padrão produtor)".
E por que a grafia "VAlora"? Branding! É a explicação da gerente de Marketing Carolina Cardoso. Ela continua: "O 'VA' tem o mesmo peso. Ambos têm o formato de setas (para cima e para baixo). As setas proporcionais reforçam nosso compromisso de que o cliente não saia perdendo com o programa. Também se percebe que o destaque é sempre no 'A'a seta para cima -, que representa nosso objetivo de trazer ao produtor resultados cada vez mais positivos".
Novos rumos A Bayer Crop Science tem novo líder global de Estratégia de Controle de Insetos (“Global Insect Control Strategy Lead - MoA”). Julio Fatoretto acumula 17 anos de experiência no setor. Engenheiro agrônomo, mestre e doutor pela USP, possui também doutorado pela Ohio State University.
Julio Fatoretto
Marketing Camila Guimaraes
Serviço O serviço FarmTrak Distribution, oferecido pela Kynetec, está disponível na plataforma Orbia. Trata-se de aliado dos canais de distribuição e sementeiros que pretendem definir estratégias mais assertivas e tomada de decisão com base em números reais do mercado de atuação. O serviço traz informações sobre o mercado nas diferentes regiões produtoras do país. Mostra potencial, tendências e insights para auxiliar na melhor estratégia, explica Camila Guimaraes, líder Brasil de Estudos Sindicalizados. No FarmTrak Distribution são encontrados dados de participação de mercado com histórico de consumo por produtores rurais tanto em proteção de cultivos quanto sementes, cobrindo os principais cultivos do Brasil. 04
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
Armando Aratani
Armando Aratani é o novo gerente de Marketing de Acesso ao Mercado da Syngenta. O trabalho envolve liderar a estratégia de marketing de campo regional e garantir a implementação da estratégia de campanhas. Aratami é agrônomo (UEG). Obteve MBA em Engenharia de Produção e Logística (GAP Brasil) e MBA em marketing (FGV). Em cargos anteriores, atuou no desenvolvimento de produtos e de mercado nos segmentos de tratamento de sementes, proteção de cultivos, sementes de milho, sementes de soja e novas tecnologias.
Comando Renato Arantes é o novo CEO da Rizobacter no Brasil. Engenheiro agrônomo, formado pela Unesp, possui MBA em Desenvolvimento de Negócios e Liderança e Gestão Empresarial pela FGV; MBA em Gestão Empresarial pela UFRRJ; MBA em Marketing no Agronegócio pela ESPM; Especialização em Marketing pela Hult International Business School. O executivo se reporta a Ricardo Yapur, CEO da Rizobacter Global.
Renato Arantes
Sementes O presidente da Associação dos Produtores de Sementes do Matopiba (Aprosem), Idone Grolli, foi eleito o novo presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem). Como vice-presidente assume Paulo Pinto, da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem). Idone também faz parte da diretoria da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass).
Ronaldo Yugo Kaminagakura
Fungicidas
Paulo Pinto e Idone Grolli
O agrônomo Ronaldo Yugo Kaminagakura assumiu a diretoria de Gestão de Fungicidas da Bayer na América Latina ("Asset Management Fungicides Director Latam"). Kaminagakura é formado pela USP, especialista em nutrição de solos e de plantas pela mesma universidade, especialista em administração e mestre em agroenergia pela FGV.
Seeds América Latina A unidade de negócios de sementes da Syngenta anuncia a mudança do diretor geral Brasil e Paraguai, André Franco, para o cargo de diretor regional da América Latina. Com a troca, Suzeti Ferreira assume como diretora geral Brasil e Paraguai. O novo diretor regional da América Latina vai liderar a estratégia de Sementes para a região, em colaboração com as quatro unidades de negócios no Brasil & Paraguai, América Latina Sul, América Latina Norte e Licenciamento, com atuação alinhada à estratégia global de negócios de Sementes e da cultura com foco no agricultor.
André Franco www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
05
Seeds Brasil Suzeti Ferreira assume o cargo de diretora geral no Brasil e Paraguai da unidade de negócios de sementes da Syngenta. A nova diretora geral no Brasil é graduada em Farmácia e Biologia, com Mestrado Executivo pelo Insper e em Gestão Financeira pelo IBMEC. A executiva ingressou na Syngenta em 2020 e possui mais de 18 anos de experiência nas áreas de Marketing e Comercial em empresas do setor químico, saúde e agronegócios.
Suzeti Ferreira
Global Mike Frank assumiu os cargos de presidente e Chief Operating Officer (COO) global da UPL Crop Protection em abril. O executivo acumula conhecimento no setor e experiência adquirida em mais de 25 anos de carreira. Frank é formado em Engenharia Agrícola pela Universidade de Saskatchewan, do Canadá, e possui MBA pela Kellogg Graduate School of Management, vinculada à Universidade Northwestern, dos Estados Unidos.
Ana Helena Andrade
Financeiro
Presidente Após dois anos de mandato de Gregory Riordan, a ConectarAGRO tem uma nova presidente. Ana Helena Andrade assume a função depois de ocupar o posto de líder do Comitê Institucional. A gestão que toma posse tem como um dos principais objetivos intensificar a atuação junto aos governos Federal e estaduais em várias frentes, bem como demonstrar os benefícios da conectividade rural, por meio de fatos e dados.
Shahar Florence
Mike Frank
A Adama anuncia a nomeação de Shahar Florence como diretor Financeiro (CFO). Florence gerenciará e supervisionará os processos financeiros globais, políticas e estratégias, bem como trabalhará em estreita colaboração com o Grupo Syngenta em todos os aspectos financeiros do negócio. Da mesma forma, liderará todas as atividades de relações com investidores na Adama. Possui mais de 25 anos de experiência financeira e um histórico de líder tomador de decisões estratégicas.
Reconhecimento
Mariangela Hungria 06
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
A pesquisadora da Embrapa Soja Mariangela Hungria está na primeira posição brasileira e é a única da América do Sul no recém-lançado ranking dos 100 principais cientistas em Fitotecnica e Agronomia (Plant Science and Agronomy), publicado pelo Research.com, site que oferece dados sobre contribuições científicas em nível mundial. Mariangela conduz pesquisas voltadas para o desenvolvimento de inoculantes e é também uma das responsáveis pelo desenvolvimento das tecnologias de inoculação e coinoculação da soja. Em novembro de 2020 já havia sido reconhecida entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo, de acordo com estudo da Universidade de Stanford (EUA)
Café
Como manejar Optar por inseticidas sistêmicos e de ação translaminar, bem como fazer uso dos controles cultural e biológico, é boa alternativa para lidar com o bicho-mineiro nos períodos de pré-colheita e colheita do café
O
bicho-mineiro-do-cafeeiro é uma praga que tem causado inúmeros prejuízos no Cerrado mineiro. Esse inseto passa pelas fases de ovo, lagarta, pupa e adulto. É comum ao percorrer as regiões do Cerrado e observar 50% a 60% de folhas infestadas com minas contendo lagartas dessa praga vivas. O ataque e a agressividade dessa praga se devem principalmente às condições climáticas favoráveis, como clima seco e quente. Mas outras ações dos produtores têm causado transtornos, como as excessivas aplicações de inseticidas organofosforados. Os organofosfo-
rados, como clorpirifós, têm proporcionado inúmeros problemas e aumentado esta praga nas lavouras cafeeiras. No Laboratório de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa, Campus Rio Paranaíba, são desenvolvidas pesquisas que ajudam a elucidar tais ocorrências com bicho-mineiro nas propriedades. Um dos trabalhos mostra que oclorpirifós é um dos grupos de inseticidas mais antigos, sintetizado na década de 1940, e é derivado dos ésteres do ácido fosfórico. Este inseticida tem baixa eficácia de controle do bicho-mineiro, apresenta inúmeras falhas de controle pelo fato de a maioria das populações
do bicho-mineiro ser resistente a esse inseticida, apresenta alta nocividade a inimigos naturais e baixo residual no campo. Apesar de tantos problemas supracitados, ainda é comumente utilizado, principalmente pelo baixo custo e por falta de opção de controle. Aplicações constantes desse inseticida proporcionam aumento da praga no campo. Observou-se que em 80% das áreas onde se aplica clorpirifós tem-se aumento populacional do bicho-mineiro (Figura 1). Neste estudo foram realizadas cinco aplicações de clorpirifós, e ocorreu elevação da população da praga. No Cerrado, as populações desta praga crescem Flávio Lemes Fernandes
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
07
Fotos Flávio Lemes Fernandes
maior teor de água na planta. Plantas que apresentam déficit hídrico não absorvem ou translocam eficientemente os inseticidas para atingir as lagartas no interior da folha de café. Assim, restam estratégias não químicas, como a adoção de controle cultural por meio de trinchas e trituração das folhas de café com a presença de pupas e controle biológico.
CONTROLE CULTURAL
O controle cultural pode ser utilizado com auxílio de implementos como os sopradores e as trinchas (trituradoras). Essa técnica consiste em soprar as folhas secas que se encontram abaixo das plantas de café para o centro das ruas (entre linhas) do café, e em seguida passar a trincha triturando as folhas. Existem produtores que retornam estas folhas para a base do café e outros que não fazem. Na verdade, retornar as folhas trituradas traz um benefício de aumentar a umidade abaixo da planta e proteção das radicelas superficiais. Aumentando o vigor das plantas no período seco (junho a setembro). Assim, o produtor precisa optar por retornar ou não as folhas trituradas. Isso deve ser uma decisão particular de cada produtor, mas se não houver o retorno destas folhas, as plantas sofrerão com déficit hídrico e as folhas amarelam e caem, além de proporcionar maior suscetibilidade a ácaros, uma vez que uma planta sob estresse tem seu sistema de defesa comprometido.
CONTROLE BIOLÓGICO
Folha de cafeeiro com a presença de minas provocadas pelo ataque da praga
muito rápido, principalmente porque estudos realizados em laboratório provam que sob temperaturas de 26°C a 32°C, o ciclo de vida desta praga reduz de 40 dias para 14 dias. Isso quer dizer que a cada 14 dias há uma geração da praga. Em período de início das colheitas, as populações de bicho-mineiro estão altas, as condições climáticas ainda 08
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
estão favoráveis a esta praga e as formas de controle esgotadas. A maioria dos inseticidas apresenta períodos de carência superiores à colheita, e os inseticidas de maior eficiência ainda são os de ação sistêmica e de efeito translaminar. No entanto, estes inseticidas funcionam com maior eficiência em condições de umidade mais alta, e
Outra opção é o uso de controle biológico com auxílio de crisopídeos. Em especial, Chrysoperla externa. Este inseto passa pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto, e somente a fase larval é predadora. Esse predador tem sido muito utilizado na região, e na maioria das áreas em que ele é liberado tem se observado maior efetividade no controle do bicho-mineiro. As liberações são realizadas com auxílio de drones, com aplicações de ovos de forma uniforme. Em estudos realizados pelo grupo de pesquisas da UFV em Rio Paranaíba, tem-se observado
Ovos, larva e pupa de crisopídeos predador que na fase larval pode ser utilizado no controle biológico do bicho-mineiro
aumento das populações nas áreas de café em que se realizam a liberação e o aumento das taxas de emergência de larvas nos diferentes ambientes em que estes ovos caem no solo. As larvas se alimentam principalmente das lagartas e das pupas do bicho-mineiro. O sucesso no controle tem sido calculado e em áreas com intenso ataque do bicho-mineiro é observada redução populacional. Nos últimos cinco anos ocorreram estudos com crisopídeos em laboratório e nas condições de campo (lavouras de café). Os últimos resultados apontam que o crisopídeo oviposita com maior frequência no terço mediano da planta, ao lado do sol nascente, na região basal das folhas do 4º par dos ramos. Pode parecer complexo, mas é o mesmo local em que se faz monitoramento do bicho-mineiro. Também ficou evidente que a emergência dos ovos de crisopídeo comercializados pela Associação Mineira dos produtores de Algodão (Amipa) apresenta emergência maior que 80%. Independentemente de os ovos serem liberados sobre as plantas de café, em solo seco, sem cobertura, ou em solos úmidos. Assim, alternativa para o manejo do bicho-mineiro nesta época pré-co-
lheita até o fim da colheita, deve ser direcionado para controle cultural, uso de crisopídeos e não utilizar clorpirifós no manejo do bicho-mineiro. A sustentabilidade da cafeicultura precisa ser respeitada e aplicada com eficiência nos diversos sistemas de produção de C café no Cerrado mineiro.
Flávio Lemes Fernandes, Universidade Federal de Viçosa José Lusimar Eugênio e Lício Pena Sairre, Assoc. Mineira dos Prod. de Algodão (Amipa) Monique Fróis Malaquias, Daniel Costa Nogueira e Adalberto Filipe Macedo, Universidade Federal de Viçosa
Figura 1 - Infestação de bicho-mineiro do cafeeiro em áreas com aplicações de clorpirifós e sem aplicação de clorpirifós
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
09
Milho
Presença detectada De que forma a identificação prévia dos principais agentes causadores de enfezamentos na cultura do milho representa vantagem e aumento de chances de se obter sucesso no manejo
N
os últimos anos o cultivo de milho tem aumentado expressivamente no Brasil, principalmente o de safrinha. A possibilidade de cultivar o milho em sucessão à soja contribui para este aumento de área, fazendo com que o Brasil seja o terceiro maior produtor mundial da cultura. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 19,9 milhões de hectares foram destinados ao plantio do milho na safra 2020/21, um aumento correspondente a mais de 70% da área cultivada há 45 anos. No entanto, nas últimas safras os produtores têm enfrentado um grande desafio: o aumento na incidência do “complexo de enfezamentos no milho”, denominação utilizada para definir três doenças sistêmicas causadas por agentes patogênicos distintos. O enfezamento vermelho, o enfezamento pálido e a risca do milho: Candidatus Phytoplasma, Spiroplasma kunkelii e Mayze rayado fino virus, respectivamente. Os danos decorrentes de enfezamentos podem chegar a até 100% em híbridos suscetíveis. A transmissão ocorre através da cigarrinha Dalbulus maidis, inseto-vetor
10
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
das pragas. O milho é a única cultura hospedeira da cigarrinha e, por isso, a perpetuação ocorre a partir da migração de insetos entre lavouras de milho, mesmo a longas distâncias. No entanto, Sabato et al. (2018) relatam que D. maidis pode utilizar plântulas de sorgo, de braquiária e de milheto para abrigo e alimentação, sobrevivendo no sorgo e na braquiária por até três semanas e no milheto por até cinco semanas. Este comportamento permite que outras espécies de Poaceae sejam utilizadas como abrigo até que novas lavouras de milho possam emergir ou que os insetos encontrem plantas de milho tiguera, onde completarão seu ciclo de vida. Mesmo com a possibilidade de sobrevivência em outras espécies de gramíneas, a aquisição dos agentes do enfezamento ocorre somente através da alimentação da cigarrinha em plantas doentes de milho, sendo que mais de um agente pode estar presente na mesma cigarrinha. Em função das condições climáticas, a maior incidência de cigarrinhas ocorre durante a safrinha (Oliveira et al., 2004; 2013). Os sintomas geralmente surgem a partir do florescimento da cultura, na fase de enchimento de grãos. Dois tipos de sintomas podem ser descritos. O enfezamento pálido é causado por S. kunkelii e tem como sintomas característicos a ocorrência de estrias cloróticas delimitadas, que se iniciam na base das folhas, o encurtamento de entrenós e, por consequência, menor porte de plantas, brotos nas axilas foliares e cor avermelhada nas folhas. Pode ocorrer enfraquecimento dos colmos com favorecimento às infecções fúngicas que causam tombamento e proliferação de espigas. Já o enfezamento vermelho é causado por fitoplasma e tem como sintomas o amarelecimento e/ou avermelhamento das folhas, com início a partir das bordas. Há ocorrência de perfilhamento e
proliferação de espigas (Sabato et al., 2014). O vírus da risca do milho (MRFV) pertence ao gênero Marafivirus, família Tymoviridae e é uma das mais importantes viroses da cultura. Os sintomas se caracterizam pela presença de pontos de clorose nas folhas, que podem coalescer formando grandes riscas cloróticas. A ocorrência do vírus da risca geralmente está associada aos agentes de enfezamentos (Gonçalves et al., 2007). Os sintomas expressos a campo podem ser facilmente confundidos com padrões de deficiência nutricional do milho. Por esta razão, a diagnose deve ser precisa. O diagnóstico molecular, realizado a partir de técnicas de PCR (Reação em Cadeia Polimerase) em plantas e/ ou cigarrinhas é mais ágil, preciso e confiável que o diagnóstico baseado apenas em sintomas. Entre os anos de 2020 e 2021, o Laboratório Agronômica recebeu e analisou 1.435 amostras de milho para a presença de agentes do complexo de enfezamentos, constando de folhas, colmos e cigarrinhas de diferentes regiões do País. Grande parte das amostras (94%) constou de folhas e colmos, enquanto 6% corresponderam ao envio de insetos. Quarenta e nove por cento das amostras apresentaram resultado positivo, sendo que 14% das amostras do agente transmissor foram positivas em comparação a 51% das amostras do hospedeiro (Figura 1). Os agentes mais frequentes foram fitoplasma e espiroplasma, presentes em 41% (n=202) das amostras analisadas em 2020, e 53% (n=498) das amostras analisadas em 2021. O MRFV foi detectado entre 3% (n=16) e 5% (n=51) das amostras, respectivamente (Tabela 1).
Fotos Suellen Polyana da Silva Cunha Mendes
Sintomas do complexo de enfezamento do milho
Das 498 amostras analisadas em 2020, 17 (3,4%) corresponderam à análise da cigarrinha D. maidis e 481 (96,6%) à análise de plantas. Apenas quatro (23,5%) amostras provenientes da matriz insetos foram positivas, enquanto 198 (41%), das 481 amostras de plantas, foram positivas (Figura 2). Das quatro amostras positivas da matriz insetos, 50% apresentaram a presença de espiroplasma e 50% apresentaram a presença concomitante de espiroplasma e fitoplasma. Das 198 amostras positivas da matriz plantas, 57% (n=112) apresentaram a presença de fitoplasma, 19% (n=37) de espiroplasma e 25% (n=49) a presença concomitante dos dois agentes (Figura 3). Em 2021, das 937 amostras recebidas, 69 (7,4%) corresponderam à análise de D. maidis e 868 (92,6%) à análise de plantas. Apenas oito (11,6%), das amostras analisadas de cigarrinhas, foram positivas, em comparação a 490 (56,4%) das amostras de plantas (Figura 4). Das oito
Tabela 1 - Número de amostras de milho recebidas no Laboratório Agronômica para avaliação dos agentes do Complexo do Enfezamento do Milho nos anos de 2020 e 2021. Porto Alegre, RS. 2022 Agente Fitoplasma/Espiroplasma MRFV
N° de Amostras 498 199
2020 N° de Amostras positivas 202 16
N° de Amostras 937 652
2021 N° de Amostras positivas 498 51
amostras positivas provenientes de insetos, 13% (n=1) apresentaram a presença de espiroplasma e 88% (n=7) de fitoplasma. Já nas amostras positivas da matriz planta, 29% (n=144) apresentaram a presença de fitoplasma, 30% (n=147) de espiroplasma e 41% (n=199) a presença concomitante dos dois agentes (Figura 5). Após o levantamento de dados das amostras recebidas nos últimos dois anos, 363 amostras oriundas da matriz plantas foram agrupadas por estados e municípios, a fim de identificar os principais agentes envolvidos em cada região. Nesta análise, foram estratificadas 11 amostras recebidas do estado de Goiás (provenientes de três municípios), 36 de Minas Gerais (quatro municípios), sete de Mato Grosso (dois municípios), 148 do Paraná (33 municípios), 59 do Rio Grande do Sul (24 municípios), 86 de Santa Catarina (20 municípios) e 16 de São Paulo (cinco municípios) (Figura 6). Destas 363 amostras provenientes de folhas, 64% (n=231) foram positivas para agentes do complexo de enfezamentos, enquanto 36% apresentaram resultado negativo. Cerca de 50% (n=182) das amostras apresentaram a presença de fitoplasma, 40% (n=145) de espiroplasma, 14% www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
11
Figura 1 - Distribuição de matrizes recebidas para análise de agentes do Complexo de Enfezamento do milho e percentual de amostras positivas identificadas no Laboratório Agronômica nos anos de 2020 e 2021. Porto Alegre, RS. 2022
(n=52) de vírus da risca e 8% (n=28) a presença concomitante dos três agentes (Figura 7). A porcentagem de amostras positivas entre os estados variou de 47% (Paraná) a 91% (Goiás). No Rio Grande do Sul, 69% das amostras foram positivas, enquanto em Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina os percentuais foram de 71%, 75%, 75% e 78%, respectivamente (Figura 8). Das amostras do estado de Goiás, 82% (n=9) foram positivas para fitoplasma, 18% (n=2) para espiroplasma, 9% (n=1) para MRFV, 18% (n=2) para presença concomitante de fitoplasma e espiroplasma e 9% não detectaram os agentes de enfezamentos (Figura 9). Em Minas Gerais, 61% (n=22) das amostras foram positivas para fitoplasma, 58% (n=21) para espiroplasma e
11% (n=4) para MRFV. Houve detecção concomitante de fitoplasma e espiroplasma em 8% das amostras. A presença dos três agentes (fitoplasma, espiroplasma e MRFV) também foi observada em 8% (n=3) das amostras, sendo que em 25% não houve detecção (Figura 9). Das sete amostras estratificadas do Mato Grosso, 71% (n=5) indicaram a presença de fitoplasma e 57% (n=4) de espiroplasma. Não foi detectada a presença de MRFV em nenhuma das amostras e 57% (n=4) das amostras apresentaram a presença concomitante de fitoplasma e espiroplasma. Em 29% das amostras não houve detecção (Figura 9). O Paraná foi o estado com o maior número de amostras estratificadas (n=148). Destas, 47% (n=69%) foram positivas, sendo que 34% (n=50) apresentaram a pre-
Figura 3 - Distribuição de agentes do Complexo de Enfezamento do milho por matriz, Laboratório Agronômica em 2020. Porto Alegre, RS. 2022
12
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
Figura 2 - Número de amostras positivas para agentes do Complexo de Enfezamento do milho identificadas no Laboratório Agronômica em 2020. Porto Alegre, RS. 2022
sença de fitoplasma, 22% (n=33) de espiroplasma e 11% (n=16) do MRFV. Em 18% (n=26) das amostras houve a presença concomitante de fitoplasma e espiroplasma e em 2% (n=3), dos três principais agentes do enfezamento. Em 53% (n=79) das amostras analisadas não se detectou a presença de agentes de enfezamento (Figura 9). No Rio Grande do Sul, fitoplasma foi detectado em 51% (n=30) das amostras, espiroplasma em 46% (n=27) e MRFV em 3% (n=2). A presença concomitante de fitoplasma e espiroplasma foi verificada em 27% (n=16) e dos três agentes em 2% (n=1) das amostras. Em 31% das amostras não se detectou a presença de agentes de enfezamento (Figura 9). Em Santa Catarina, 78% (n=67) das amostras foram positivas, sendo 64% (n=55) com a pre-
Figura 4 - Número de amostras positivas para agentes do Complexo de Enfezamento do milho identificadas no Laboratório Agronômica em 2021. Porto Alegre, RS. 2022
Figura 5 - Distribuição de agentes do Complexo de Enfezamento do milho por matriz, Laboratório Agronômica em 2021. Porto Alegre, RS. 2022
sença de fitoplasma, 58% (n=50) de espiroplasma e 34% (n=29) de MRFV. Em 45% (n=39) das amostras foi detectada a presença de fitoplasma e espiroplasma e em 24% (n=21) a presença dos três agentes. Em 22% das amostras não se detectou a presença de agentes de enfezamento (Figura 11). Das amostras de São Paulo, 69% (n=11) apresentaram a presença de fitoplasma e 50% (n=8) de espiroplasma. Não foi detectada a presença de MRFV e a presença de fitoplasma e espiroplasma concomitantemente foi detectada em 44% (n=7) das 16 amostras analisadas, sendo que 25% foram negativas (Figura 9).
Figura 7 - Detecção de agentes de enfezamentos do milho em amostras de folhas recebidas no Laboratório Agronômica entre 2020 e 2021, oriundas de diversos Estados (n=363). Legenda: F - Fitoplasma; E - Espiroplasma; MRFV - vírus da risca do milho; ND - não detectado. Porto Alegre, RS. 2022.
O agente fitoplasma predominou em todos os estados, sendo a ocorrência mais expressiva em relação aos demais agentes em Goiás (82%), Mato Grosso (71%), Paraná (34%) e São Paulo (69%). Em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina a detecção de fitoplasma e espiroplasma foi similar, com variações entre três e seis pontos percentuais. O MRFV foi o agente menos detectado, estando presente em 34% das amostras de Santa Catarina, 11% do Paraná, 9% de Goiás e 3% no Rio Grande do Sul. Nos demais estados considerados nesta análise não foi detectada a presença de MRFV. Mato Grosso, Santa Catarina e São Paulo foram os estados com
Figura 6 - Estratificação de amostras recebidas no Laboratório Agronômica entre 2020 e 2021 por Estado e município (n=363) para análise de agentes do Complexo do Enfezamento do Milho. Porto Alegre, RS. 2022
maior detecção de fitoplasma e espiroplasma de forma concomitante, estando presentes em 57%, 45% e 44% das amostras, respectivamente. A presença dos três agentes na mesma amostra foi encontrada em maior proporção em Santa Catarina (24%), onde a porcentagem de detecção de MRFV (34%) também foi superior aos demais estados (Figura 9). A análise de dados de todas as amostras recebidas nos últimos dois anos evidenciou que nas safras de milho 2020 e 2021 houve a predominância dos agentes fitoplasma e espiroplasma em relação ao MRFV. De todas as amostras recebidas, apenas 49% foram positivas, sendo 51% destas provenientes de plantas e apenas 14% de insetos. Os dados indicam que a identificação a partir de plantas é mais precisa, já que as plantas amostradas, em sua maioria, apresentavam o desenvolvimento de sintomas. A análise a partir de cigarrinhas se faz importante em situações em que não são observados sintomas nas plantas, mas há presença de insetos no campo. Sendo assim, é importante monitorar a presença de cigarrinhas especialmente entre as fases VE (emergência) e V8 (oitava folha) do milho, a fim de aplicar inseticidas específicos para controle dos níveis populacionais. O fato de 49% das amostras analisadas terem sido negativas para a presença de agentes do Complexo de Enfezamentos deixa a dúvida: que outros problemas estão ocorrendo no campo e não estão sendo www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
13
Figura 8 - Porcentagem de amostras positivas para agentes de enfezamentos do milho em distintos Estados, recebidas no Laboratório Agronômica entre 2020 e 2021 (n=363). Porto Alegre, RS. 2022
diagnosticados? Seriam problemas de origem nutricional ou em decorrência de outros patógenos? No ano de 2020 houve a predominância de fitoplasma (51% das amostras positivas). Para espiroplasma, 19% das amostras foram positivas e 25% apresentaram a presença de espiroplasma e fitoplasma de forma concomitante. Em 2021 os resultados positivos foram similares entre fitoplasma (29%) e espiroplasma (30%), com incremento na detecção concomitante dos dois agentes (41%). Nas análises provenientes de folhas de milho e estratificadas por estado, 64% das amostras foram positivas, sendo que 50% foram positivas para fitoplasma, 40% para espiroplasma e 14% para MRFV. Os três agentes foram encontrados em apenas 8% das amostras positivas. A predominância de positivos para fitoplasma também foi maior nas análises de insetos realizadas em 2021, que correspondeu a 88% dos
14
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
positivos encontrados. Não existem medidas curativas para o controle dos molicutes e do vírus após a infecção. Para o manejo e redução dos danos provocados pelo complexo de enfezamentos do milho são necessárias medidas integradas e preventivas, tais como: eliminação de plantas voluntárias de milho, inspeção prévia de espécies gramíneas presentes próximas de
lavouras recém-colhidas, rotação de culturas, evitando cultivo sucessivo de milho ou semeaduras muito tardias, controle biológico por meio de parasitoides ou fungos, como Isaria fumosorosea e Beauveria bassiana, tratamento químico com inseticidas para controle da cigarrinha, tanto em sementes como em parte aérea, e a adoção de híbridos de milho tolerantes. A detecção precoce dos agentes de enfezamentos, bem como a correta identificação, realizada através de análises moleculares, é imprescindível na tomada de decisões de manejo de forma assertiva. No caso de detecções positivas, o controle populacional de cigarrinhas se faz necessário a fim de reduzir a sobrevivência e multiplicação dos agentes causais dos enfezamentos. Ainda, a identificação de quais agentes predominam nas diferentes regiões é ferramenta útil ao melhoramento genético para o desenvolvimento de híbridos de milho resistentes. De acordo com o levantamento realizado pelo Agronômica, a prioridade deve ser a obtenção de híbridos com resistência especialmente aos C molicutes. Caroline Wesp Guterres e Marisa Dalbosco, Agronômica Laboratório de Diagnóstico Fitossanitário e Consultoria Wagner Vicente Pereira, SLC Agrícola
Figura 9 - Detecção de agentes de enfezamentos do milho em amostras recebidas de distintos estados no Laboratório Agronômica entre 2020 e 2021, (n=363). Legenda: F - Fitoplasma; E - Espiroplasma; MRFV - vírus da risca do milho; ND - não detectado. Porto Alegre, RS. 2022
Plantas daninhas
Atividade prolongada Efeito carryover de graminicidas associados a herbicidas pré-emergentes seletivos à cultura da soja usados para o manejo do milho tiguera
A
s culturas do milho (Zea mays L.) e da soja (Glycine max (L,) Merril) geralmente são cultivadas em sucessão/rotação. O cultivo de milho em sucessão à soja, vulgarmente chamado safrinha, aumentou abruptamente nos últimos anos. Com a adoção da tecnologia RR, ou seja, após a inserção do evento que confere às plantas de milho resistência ao herbicida glifosato, evento presente anteriormente na soja, o
controle de plantas de milho tiguera no cultivo da safra subsequente tornou-se restrito aos chamados graminicidas. As plantas de milho tiguera são oriundas das sementes e das espigas que, eventualmente, são perdidas na colheita da safra anterior, seja por má regulagem dos equipamentos ou mesmo por causas naturais, como tombamentos de plantas em detrimento da ocorrência de patógenos ou pela ação do vento, por
exemplo. Após o período seco, com a regularidade das chuvas, no início de uma nova safra, aquelas sementes que foram perdidas na colheita começam a germinar, muitas vezes escalonadamente, e vários fluxos de plantas de milho podem ocorrer dentro da cultura da soja, que está se estabelecendo concomitantemente. Quando as espigas inteiras são perdidas na colheita o problema se intensifica ainda mais, pois vários fluxos de germinação podem ocorrer demandando mais de uma aplicação de herbicidas graminicidas, para evitar a matocompetição. Além disso, nem sempre se consegue realizar a intervenção com o herbicida no tempo ideal, seja por condições técnicas, climáticas ou operacionais, sendo, muitas vezes, necessário utilizar doses mais elevadas, aumentando-se assim os custos de produção, bem como os riscos de escape de controle. Suélen Cristina da Silva Moreira
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
15
Fotos Suélen Cristina da Silva Moreira
Figura 1 - Eficiência de herbicidas pré-emergentes associados a graminicidas, no controle de plantas de milho tiguera, na cultura da soja. Fundação Chapadão, Chapadão do Sul, MS. Safra 2021/2022
C
Foram realizados 11 tratamentos diferentes e avaliados os efeitos
16
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
As plantas de milho tiguera podem comprometer a produtividade da soja, causando prejuízos econômicos, já que competem por água e nutrientes, reduzindo, assim, a produtividade. Além disso, as plantas de milho tiguera podem ser fonte de inócuo de doenças e abrigar insetos-pragas na chamada ponte verde. Dentre as principais pragas que podem ser favorecidas pela sucessão do cultivo soja-milho safrinha é possível citar o percevejo barriga-verde, Diceraeus melacanthus, a lagarta do cartucho, Spodoptera frugiperda, a vaquinha verde amarela, Diabrotica speciosa e a cigarrinha do milho, Dalbulus maidis, sendo esse último inseto vetor do vírus e dos molicutes, agentes causais dos chamados enfezamentos. Assim, a utilização de herbicidas se faz essencial no sistema de produção. Os herbicidas, de modo geral, podem ter atividade residual no solo. Esses herbicidas têm como vantagem, o controle de plantas daninhas por um período longo, podendo reduzir o número de aplicações e consequentemente os custos com operações. Porém, em muitos casos, podem ocasionar efeitos negativos, comprometendo o desenvolvimento do cultivo de uma determinada cultura, quando ela é sensível, ou seja, quando se utilizam herbicidas não seletivos ou quando não se respeita o período de carência para implan-
tação na sucessão. O efeito desse período residual pode durar mais de 100 dias no solo, o que muitas vezes pode inviabilizar essa produção ou mesmo comprometer a produtividade da cultura subsequente, quando não se realiza o correto gerenciamento dos herbicidas na propriedade. Nesse caso pode ocorrer o chamado efeito carryover, ou seja, o efeito negativo causado a uma cultura sucessora, após aplicação de um herbicida. Assim, desenvolveu-se na Fundação Chapadão um trabalho, com o objetivo de avaliar o efeito carryover de graminicidas associados a herbicidas pré-emergentes seletivos à cultura da soja, para o manejo do milho tiguera. O ensaio foi conduzido na área experimental da Fundação Chapadão, Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, constituído por 11 tratamentos e quatro repetições. Realizou-se uma aplicação dos tratamentos no dia 9 de novembro de 2021 (plante e aplique). Utilizou-se, para tal, a cultivar Brasmax Foco IPRO. Os tratamentos e suas respectivas doses do produto comercial por hectare (p.c. ha-1 em litros) utilizados foram: T1 - Testemunha; T2 - Clorimurom-etílico + Cletodim + OM (Óleo Mineral), dose, 0,080g + 0,5L+ 5%; T3 - Clorimurom-etílio +
Cletodim + OM, dose 0,080g + 0,7L + 5%; T4 - Flumioxazina + Cletodim + OM, dose 0,080g + 0,5L + 5%; T5 Flumioxazina + Cletodim + OM, dose 0,080g + 0,7L + 5%; T6 - Clorimurom-etílico + Haloxifope-P-metílico + OM, dose 0,080g + 0,15L+ 5%; T7 - Clorimurom-etílico + Haloxifope-P-metílico + OM, dose 0,080g + 0,23L + 5%; T8 - S-metolacloro + Haloxifope-P-metílico + OM, dose 1,5L + 0,15 L+ 5%; T9 - S-metolacloro + Haloxifope-P-metílico + OM, dose 1,5L + 0,23L + 5%; T10 - S-metolacloro Cletodim + OM, dose 5L + 0,5L + 5%; T11 - S-metolacloro + Cletodim + OM, dose 5L + 0,5L + 5%. Realizou-se avaliação de eficiência de controle segundo a escala visual de Alam, (1974), aos sete, 14 e 21 DAA (dias após aplicação). Aos sete DAA, a eficiência de controle das plantas de milho tiguera, verificada nos tratamentos, foi satisfatória, acima de 87,5% em todos os tratamentos, com exceção da testemunha (Figura 1). Já aos 14 DAA, verificou-se um leve decréscimo no percentual de controle da maioria dos tratamentos, porém todos se mantiveram satisfatórios, com eficiência de controle acima de 80%, até os 21 DAA. Vale lembrar que o efeito carryover dos graminicidas associados aos pré-emergentes pode ser comprova-
do nos tratamentos 8 (S-metolacloro + Haloxifope-P-metílico + OM, dose 1,5L + 0,15L + 5%), 9 (S-metolacloro + Haloxifope-P-metílico + OM, dose 1,5L + 0,23L + 5%), 10 (S-metolacloro Cletodim + OM, dose 5L + 0,5L + 5%; T11 - S-metolacloro + Cletodim + OM, dose 5L + 0,5L + 5%), sendo que nesses tratamentos o ingrediente ativo S-metolacloro é seletivo e tem recomendação para a cultura do milho. A produtividade média da soja nos tratamentos foi superior à testemunha nos tratamentos que receberam aplicação dos herbicidas no dia do plantio, e variou de 92,22 sacas/ ha no tratamento 6 (Clorimurom-etílico + Haloxifope-P-metílico + OM, dose 0,080g + 0,15L + 5%) até 94,31 sacas/ha no tratamento 11 (S-metolacloro + Cletodim + OM, dose 5L + 0,5L + 5%), Figura 2. É possível concluir, portanto, que a eficiência no controle das plantas de milho tiguera nesses tratamentos se deu em função dos graminicidas utilizados C nessa associação.
Claudemir Marcos Theodoro, Suélen Cristina da Silva Moreira, Vinícius de Oliveira Barbosa e Cristieli Vanzo, Fundação Chapadão
Figura 2 - Produtividade média da soja, em sacas por hectare. Fundação Chapadão, Chapadão do Sul, MS. Safra 2021/2022
Trabalho objetivou avaliar efeito carryover de graminicidas associados a pré-emergentes seletivos à soja
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
17
Capa
Vilões das sementes Entre os danos causados por percevejos em soja estão os provocados às sementes com impactos negativos no vigor e na viabilidade de germinação. A associação de inseticidas a adjuvantes pode ajudar a reduzir os prejuízos
18
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
A
cultura da soja tem importante papel, sendo uma das principais responsáveis pela introdução do conceito de agronegócio no País, não só pelo volume físico e pela movimentação financeira, mas também pela necessidade de gerenciamento empresarial da atividade por parte de todos os envolvidos com produção e comercialização. O estabelecimento das lavouras é uma etapa importante de todo o processo de produção de soja. Para que esta fase inicial ocorra de forma satisfatória é importante o uso de sementes com alto potencial fisiológico. A garantia de de-
sempenho elevado de uma cultura está associada à utilização de sementes de qualidade, caracterizada principalmente por germinação e vigor. Percevejos como Euschistus heros, Nezara viridula e Piezodorus guildinii são pragas agressivas na cultura da soja e ocorrem principalmente na fase reprodutiva das plantas. Durante a alimentação em sementes de soja, percevejos inoculam a levedura Nematospora coryli Peglion e enzimas digestivas, que colonizam e alteram a atividade fisiológica e bioquímica dos tecidos das sementes, deteriorando-os. O resultado são intensas reduções no vigor e na viabilidade Cecilia Czepak
Cláudia S. dos Reis,
Tabela 1 - Tratamentos utilizados no experimento para controle de percevejos em sementes de soja Tratamentos AA + OM AA + NP AA + NB ZB + OM ZB + NP ZB + NB Testemunha (H2O)
Doses 0,3 L ha-1 + 0,5% v.v. (500 mL/100 L) 0,3 L ha-1 + 0,05% v.v. (50 mL/100 L) 0,3 L ha-1 + 0,15% v.v. (150 mL/100 L) 0,2 L ha-1 + 0,5% v.v. (500 mL/100 L) 0,2 L ha-1 + 0,05% v.v. (50 mL/100 L) 0,2 L ha-1 + 0,15% v.v. (150 mL/100 L) ---
das sementes. Atualmente o controle químico é a principal estratégia de controle de percevejos. Existem vários inseticidas recomendados para o combate de percevejos na cultura da soja. Em média, aproximadamente 40% das aplicações realizadas na cultura são para o controle de percevejos, sendo, até então, considerado um método eficaz. No entanto, seja na pulverização terrestre ou na aérea, o sucesso do tratamento fitossanitário depende não somente de produtos de ação comprovada, mas também da qualidade da aplicação. Nas aplicações de produtos químicos como os inseticidas podem ser adicionados na calda de pulverização produtos como adjuvantes. De acordo com o decreto N° 4.074, de 4 de janeiro de 2002, são utilizados em mistura com outros produtos fitossanitários formulados para melhorar a qualidade das aplicações. São classificados em modificadores das propriedades de superfície dos líquidos, conhecidos também como surfactantes (espalhantes, umectantes, detergentes, aderentes e dispersantes) e em substâncias que afetam a absorção do agroquímico devido à ação direta sobre a cutícula, conhecidos como aditivos (óleo mineral e vegetal, sulfato de amônio e ureia). De acordo com dados de pesquisa, a adição de adjuvantes nas caldas fitossanitárias pode alterar algumas propriedades físico-químicas da solução, tais como o espectro de gotas, a tensão superficial e o ângulo de contato das gotas produzidas.
O EXPERIMENTO
A semeadura da soja foi realizada no sistema de plantio direto, utilizando-se
A garantia de desempenho elevado de uma cultura está associada à utilização de sementes de qualidade, caracterizada principalmente por germinação e vigor
o espaçamento de 0,5m entre linhas, densidade de 18 sementes por metro de sulco e estande final de 220 mil plantas de soja por hectare. Os tratamentos foram representados pela combinação de dois inseticidas: um deles de ingrediente ativo acetamiprido + alfa-cipermetrina (AA), e o outro zeta-cipermetrina + bifentrina (ZB); combinados com três adjuvantes: sendo o primeiro o óleo mineral (OM), o segundo adjuvante composto por N e P2O5 solúveis em água (NP) e o terceiro adjuvante composto por N e B solúveis em água (NB). As doses das formulações comerciais estão descritas na Tabela 1. Foi utilizado também um tratamento testemunha em que foram aplicados somente água e marcador (Testemunha). Nas aplicações, utilizou-se um pulverizador pressurizado a CO2, com barra de pulverização, equipado com quatro bicos espaçados de 0,50m, e modelo de ponta de pulverização JTT 110015. A vazão e a pressão das pontas utilizadas foram ajustadas para se obter o volume de 200L/ ha. As condições atmosféricas observadas na aplicação dos tratamentos foram
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
19
Cláudia S. dos Reis,
Tabela 2 - Qualidade fisiológica de sementes de soja (Primeira contagem de germinação - PC; Germinação - G; Índice de Velocidade de Germinação - IVG; Condutividade elétrica - CE; Envelhecimento acelerado - EA; Germinação em areia - GA) submetidas à aplicação de inseticidas e adjuvantes visando o controle de percevejos Tratamentos (Inseticidas e Adjuvantes) AA ZB OM NP NB Testemunha Tratamentos CV (%)
PC 94,7 a* 96,0 a 96,0 a 93,7 a 96,2 a 94,5 a 95,3 a 3,79
G % 95,7 a 95,7 a 96,0 a 96,5 a 94,5 a 95,5 a 95,7 a 2,44
IVG 11,5 b 11,8 a 11,9 a 11,6 b 11,3 b 11,7 a 11,6 a 2,17
CE μS cm-1 g-1 60,7 a 57,7 a 56,1 a 57,1 ab 64,2 b 65,9 a 59,2 a 10,33
GA
EA % 91,7 a 89,8 a 91,0 a 92,0 a 89,2 a 93,0 a 90,7 a 4,08
89,8 b 94,3 a 93,5 ab 88,0 b 94,7 a 95,5 a 92,1 a 5,35
Percevejos afetam sobremaneira a qualidade fisiológica e a viabilidade das sementes
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
36,4°C e 39,3°C, sendo mínima e máxima temperatura do ar, variação da umidade relativa do ar de 28% a 35% e velocidade do vento de 3,8km/h a 7,5km/h. No final do ciclo da cultura realizou-se a colheita e debulha manual da soja. Nesta etapa foram realizadas avaliações a partir das amostras de sementes obtidas em campo experimental. Cada tratamento correspondeu a um lote de sementes e com eles foram realizados os testes de qualidade fisiológica: primeira contagem (PC), germinação (G), índice de velocidade de germinação (IVG), condutividade elétrica (CE), envelhecimento acelerado (EA), germinação em areia (GA) e tetrazólio (TZ), avaliando a viabilidade e o vigor por meio deste teste. O inseticida com o ingrediente ativo zeta cipermetrina + bifentrina (ZB) proporcionou maior IVG nas sementes do que o uso do inseticida com o ingrediente ativo acetamiprido + alfa-cipermetrina (AA) e, para a mesma variável, o uso do adjuvante com óleo mineral (OM) foi superior aos adjuvantes contendo N e P2O5 solúveis em água (NP) e contendo N e B solúveis em água (NB) (Tabela 2). Em relação ao efeito simples dos inseticidas, os resultados de GA foram semelhantes aos de IVG, em que a aplicação do inseticida ZB foi superior a AA. A melhor qualidade fisiológica das sementes produzidas após a aplicação do inseticida ZB pode estar relacionada às características das moléculas no controle dos percevejos. Este inseticida é um produto químico de contato e ingestão 20
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
do grupo químico dos piretroides. Além disso, fatores relacionados à eficiência da aplicação podem ter favorecido o inseticida, pois como foi evidenciado por Costa et al. (2017), a calda de pulverização com zeta-cipermetrina + bifentrina proporciona maior redução da tensão superficial, melhorando a molhabilidade. O teste de IVG foi um parâmetro sensível para detectar diferenças na qualidade fisiológica das sementes, observada ao avaliar o efeito isolado dos inseticidas e também dos adjuvantes. Isso pode ser explicado, pois a primeira manifestação fisiológica da deterioração das sementes é a redução da velocidade de germinação. Dessa forma, o teste de IVG é uma alternativa para avaliar o início do processo de deterioração das sementes, que pode ser iniciada a partir de danos causados por insetos-praga que atacam a cultura no campo.
Sementes de soja após a coloração do teste de tetrazólio, dano por percevejo sendo evidenciado
O teste de GA também foi eficiente para detectar diferenças nas sementes submetidas à aplicação com os inseticidas e adjuvantes. Isso se deve ao fato de o substrato areia ser responsável por minimizar possíveis efeitos fitotóxicos durante a condução do teste, o que possibilita distinção das plântulas normais. Em relação ao teste de CE, o adjuvante OM foi superior no que se refere à qualidade fisiológica das sementes formadas em comparação com os demais, diferindo do adjuvante NB. Este adjuvante já havia se mostrado promissor quando se avaliou o vigor das sementes pelo teste de IVG. A melhoria na qualidade das pulverizações, proporcionada pelo uso de adjuvantes, em especial o adjuvante composto por óleo, é devido provavelmente ao maior depósito de gotas sobre a superfície foliar. Os adjuvantes compostos por óleo mineral melhoram a cobertura foliar realizada pela calda, aumentam a absorção dos produtos através da cutícula cerosa da folha e do exoesqueleto dos insetos, além de reduzirem a volatilidade e a fotodegradação, fatores que levam à melhoria na retenção e na qualidade das aplicações fitossanitárias. O teste de CE foi um parâmetro que identificou diferenças no vigor das sementes quando se avaliou o efeito simples dos adjuvantes. Neste experimento verificou-se menor liberação de metabólitos no tratamento com o adjuvante OM, o que pode estar relacionado à maior integridade das membranas das
sementes neste tratamento, provavelmente em função do menor percentual de danos às sementes como os causados por insetos como os percevejos. O efeito isolado dos adjuvantes avaliado pelo teste de GA se mostrou diferente do obtido nos testes de IVG e CE, sendo que o adjuvante NB foi superior e o NP inferior para qualidade fisiológica das sementes de soja. Para os testes de germinação (G e GA) e vigor (PC, IVG, CE e EA) não foram detectadas diferenças na qualidade fisiológica das sementes colhidas das parcelas que receberam aplicações com inseticidas e adjuvantes (tratamentos) em comparação àquelas que não receberam nenhum tratamento (testemunha). Na Tabela 4 constam os resultados da qualidade fisiológica de sementes de soja pelo teste de tetrazólio. Tanto para a viabilidade no teste de TZ como para vigor no mesmo teste, os inseticidas avaliados foram semelhantes entre si. Para o efeito dos adjuvantes, o OM proporcionou viabilidade e vigor superiores em relação à NB. Resultados semelhantes já tinham sido relatados para os testes de IVG e CE, confirmando que o adjuvante OM proporcionou melhor qualidade das aplicações dos inseticidas e como con-
sequência na qualidade fisiológica das sementes de soja. Houve diferenças significativas entre a testemunha e as parcelas que receberam os tratamentos na avaliação do vigor pelo teste de tetrazólio. As parcelas que contaram com algum inseticida associado a um adjuvante apresentaram maior vigor que aquelas sem nenhum produto fitossanitário. Destaca-se a importância de se evitar danos causados por percevejos nas sementes, visto que danos sobre a região do eixo embrionário podem inviabilizar a germinação, uma vez que essa região contém estruturas de crescimento como a plúmula e a radícula, que darão origem à nova plântula. Além disso, várias lesões nos cotilédones reduzem o vigor, a sanidade e a emergência. Para o dano por percevejo total, avaliado no teste de tetrazólio (Perc 1-8), observou-se que a testemunha teve percentuais de danos superiores às sementes que receberam o tratamento inseticida (Figura 1). Da mesma forma pelo teste vigor do TZ, as parcelas que tiveram alguma das combinações de inseticida e adjuvante proporcionaram sementes de maior vigor que aquelas sem nenhum tratamento. Quando comparados os
Figura 1 - Intervalos de 95% confiança para a comparação do efeito dos inseticidas e da testemunha no dano por percevejo total (1-8), em percentual, em sementes de soja avaliado pelo teste de tetrazólio
inseticidas AA e ZB verificou-se que não diferiram entre si, demonstrado pela sobreposição das bandas de confiança. Ao avaliar o efeito dos adjuvantes e da testemunha no Perc 1-8, observa-se também que a testemunha apresentou significativo maior percentual de danos que os tratamentos (Figura 2). O adjuvante OM foi superior ao NB, uma vez que as bandas de confiança não se sobrepõem. A eficiência do OM em relação ao NB já havia sido observada para IVG, CE, Viabilidade Tz e Vigor Tz.
CONCLUSÃO
A utilização de inseticidas à base zeta-cipermetrina + bifentrina e adjuvantes à base de óleo mineral resultam em sementes de melhor qualidade fisiológica. O uso de inseticidas associados aos adjuvantes na cultura da soja reduz os danos causados por percevejos nas seC mentes. Cláudia S. dos Reis, Lara B. da S. Ferreira, Felipe de O. Bonifácio, Wilhan V. dos Santos, Lilian L. Costa e Érica F. Leão-Araújo, Instituto Federal Goiano
Figura 2 - Intervalos de 95% confiança para a comparação do efeito dos adjuvantes e da testemunha no dano por percevejo total (1-8), em percentual, em sementes de soja avaliado pelo teste de tetrazólio
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
21
Pragas
Contribuição cres Como tem se consolidado o papel de fungos entomopatogênicos no manejo de pragas agrícolas e quais obstáculos ainda precisam ser vencidos para otimizar os resultados e alavancar seu uso nas lavouras
O
s fungos são altamente abundantes e possuem várias identidades. São conhecidos pela capacidade de infectar e matar muitos artrópodes diferentes, mas existem espécies que também são saprófitas, colonizadoras da rizosfera e endófitas de raízes, promovendo inúmeros benefícios para a planta. Destaca-se a diminuição do ataque de insetos herbívoros. Assim, a maioria dos fungos possui a capacidade de alternar entre todos esses diferentes estilos de vida (Bamisile et al., 2018; Wakil et al., 2020; Bamisile et al., 2021). Os que causam doença em insetos estão em uso há aproximadamente 200 anos, sendo os mais populares os gêneros Beauveria, Metarhizium, Cordyceps, Hirsutella e Lecanicillium (GAO et al., 2017). Além de desempenhar um papel crucial no ecossistema, esses fungos são responsáveis por uma grande proporção do controle biológico natural, causando epizootias em diversas espécies de insetos-pragas, como a lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens). Tal espécie, por muitos anos, foi considerada praga secundária da soja, graças a populações de fungos entomopatogênicos que realizavam o controle natural nas lagartas dessa espécie. Infelizmente, com a chegada da ferrugem-asiática na soja, aplicou-se muito fungicida localmente para contro-
22
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
lar a doença, afetando a população dos fungos que realizavam o controle natural da praga, diminuindo-os, o que acarretou elevada população das lagartas C. includens, mudando o status para praga primária, como é conhecida atualmente (Bueno et al., 2007). Historicamente, pesquisas científicas têm focado no desenvolvimento de produtos à base de fungos entomopatogênicos, pois são particularmente adequados para o manejo sustentável de pragas. Como a população mundial deverá aumentar em aproximadamente nove bilhões até 2050 (LIU et al., 2017), os esforços estão sendo feitos para uma agricultura sustentável, com menos dependência do uso excessivo de moléculas sintéticas, que provocam mudanças climáticas, má gestão do solo e afetam os inimigos naturais, que são insetos benéficos para o ambiente como um todo (West; Gwinn, 1993). Apesar de ainda existirem algumas limitações para o uso de fungos entomopatogênicos em sis-
temas agrícolas, tais micro-organismos têm mostrado ser uma alternativa segura e efetiva no manejo integrado de pragas (Thomas; Read, 2007; Moscardi; Pauli, 2010).
O PROCESSO DA DOENÇA
Diferentes de outros agentes do controle microbiano, como vírus e bactérias, que requerem ingestão para sua ação, os fungos possuem um modo único de infectar várias espécies de insetos e ácaros. Em uma visão geral, os fungos invadem seus hospedeiros por contato direto na cutícula e, ao aderirem ao corpo dos insetos, produzem uma série de enzimas que degradam as epicutículas e permitem a entrada das unidades infectivas, causando infecção generalizada e
cente
levando os insetos à morte. Todo esse processo de infecção torna esses micro-organismos diferenciados e com alto grau de virulência, principalmente por serem patógenos que colonizam os estágios de desenvolvimento dos insetos, ou seja, larvas, pupas, ninfas e adultos (Alves, 1998). Geralmente são de fácil reconhecimento os sintomas nos insetos mortos por fungos, pois há a extrusão do patógeno por todo o corpo, dando aos seus hospedeiros um aspecto aveludado, processo chamado de mumificação (Figura 1). Tal evento proporciona a dispersão dos conídios por fatores abióticos (vento e chuva), ocasionando outro processo de contaminação em novos insetos. Dependendo da espécie hospedeira e do fungo, todo processo infectivo pode ocorrer entre quatro e dez dias (Alves, 1998).
ERA BIOLÓGICA
Grandes empresas estão investindo
Figura 1 - Insetos infectados e mortos por fungos entomopatogênicos. (A) Chrysodeixis includens infectada pelo fungo Metarhizium (Nomuraea) rileyi. (B) Euschistus heros infectado pelo fungo Metarhizium anisopliae. Fonte: Tamires D. Souza (2022)
no mercado biológico e a utilização de bioprodutos está cada vez mais recorrente. Os fungos são geralmente aplicados por meio de uma abordagem inundativa, que envolve aplicações diretas dos esporos ou conídios nas culturas. Tal abordagem para aplicação expõe os fungos a condições desfavoráveis de umidade, temperatura e radiação solar. Esses fatores abióticos reduzem a persistência e eficácia desses fungos patogênicos de
insetos (Jaronski, 2010). Apesar dessas limitações, vários isolados foram formulados como biopesticidas e estão disponíveis para uso comercial, sendo registrados aproximadamente 149 produtos que possuem principalmente os fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana como ingredientes ativos para diversas espé-
Joane Cella Turcatto /Elevagro
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
23
Elevagro
Figura 2 - Número de registros por ano, de produtos à base de fungos entomopatogênicos. Fonte: adaptado do Agrofit – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2022)
Figura 3 - Cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata)
cies de pragas (Agrofit, 2022). O fungo Cordyceps fumosorosea, conhecido anteriormente como Isaria, também é um dos fungos utilizados para formulação de produtos, tendo seu alvo principal no controle do psilídeo-dos-citros (Diaphorina citri) e da mosca-branca (Bemisia argentifolii e B. tabaci) (GAO et al., 2017). Os registros de produtos à base de fungos entomopatogênicos deram um salto nos últimos cinco anos e em 2020 bateram recorde, com aproximadamente 27,5% (Figura 2) (Mapa, 2022). O aumento no número de registros de produtos à base de fungos entomopatogênicos reafirma a prioridade e o compromisso com uma agricultura sustentável e a eficiência desses micro-organismos no controle de pragas. Os produtos registrados já foram relatados na eficácia em insetos de diferentes hábitos alimentares, como pulgões, tripés e besouros, a exemplo da broca-do-café (Hypothenemus hampei) e o moleque-da-bananeira (Cosmopolites sordidus), várias larvas de mariposas de importância agrícola, tais quais a lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) (Figura 1A), a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), a lagarta da maçã do algodoeiro (Helicoverpa armigera) (Souza et al., 2020), a broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), a lagarta-militar (Spodoptera), (Kaur et al., 2011), a cigarrinha das pastagens e da cana-de-açúcar (Mahanarva fimbriolata), a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis), o percevejo-marrom da soja (Euschistus heros) (Figura 1B), dentre outras espécies. Também já foi relatada a eficácia para ácaros (Goettel et al., 2010; Zambiazzi, 2011; 24
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
Lacey, 2017). A esse respeito, vale ressaltar que os fungos entomopatogênicos têm destaque positivo em canaviais, onde são utilizados em 400 mil hectares para controlar a cigarrinha da raiz da cana (Mahanarva fimbriolata) (Figura 3), com eficiência de 70% desde a década de 1990, permitindo que os produtores de cana-de-açúcar possam conviver com a praga sem lhes causar danos econômicos (Almeida, 2020). No Brasil, áreas tratadas com esses entomopatôgenicos em canaviais chegam a dois milhões de hectares, tanto para o controle da cigarrinha quanto para o controle do bicudo-da-cana (Sphenophorus levis), importantes pragas no estado de São Paulo que, se não controladas, podem levar a perdas de até 30 toneladas de cana/ha/ano. Os fungos utilizados para controle de tais espécies são Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana, respectivamente (Almeida, 2020). Além do controle efetivo contra pragas, tais espécies de fungos apresentam seletividade, possibilitando a união dos métodos de controle biológico, como parasitoides, muito utilizados para o controle da broca da cana-de-açúcar (Rezende et al., 2015; Santos et al., 2022). A forma inoculativa para introdução dos fungos nas lavouras é a mais usual, Divulgação
Tamires de Souza alerta para a necessidade de um novo paradigma na aplicação de biopesticidas
entretanto, existe outra forma que está aliada ao Manejo Integrado de Pragas (MIP) (Bueno et al., 2012). Dentro dos programas de manejo, os fungos, embora muitas vezes passem despercebidos, são importantes inimigos naturais das pragas. Vários eventos de epizootias são relatados quando há um manejo adequado, com a diminuição de defensivos agrícolas e/ou aplicações de defensivos compatíveis com os entomopatogênicos (Botelho; Monteiro, 2011). O fungo Metarhizium (Nomuraea) rileyi, apesar de ser um patógeno muito eficiente, ainda não possui produto comercial disponível no Brasil e só é possível “contar” com ele com adequações de práticas de manejo. Esse fungo é responsável por diminuições de populações de várias espécies de lagartas desfolhadoras, com muitos eventos epizoóticos relatados em soja e algodão (Sosa-Gómez et al., 2001; Moscardi et al., 2012). Assim, com o crescente interesse para o manejo sustentável e considerando os atributos dos fungos entomopatogênicos, a possibilidade de tornar-se um sucessor adequado para produtos químicos inorgânicos está rapidamente se tornando uma realidade. Mas para aumentar a adoção desses biopesticidas também é importante desenvolver um “novo paradigma” de aplicação desses entomopatogênicos, em oposição ao “velho paradigma” de aplicação de maneira semelhante aos seus homólogos C químicos sintéticos. Tamires Doroteo de Souza, UFPR em parceria com Elevagro
Feijão
Mauricio Paulo Batistella Pasini
Mudança de hábito Por que é preciso atenção ao comportamento dos insetospragas que atacam plantas de feijão, identificar as semelhanças de sua incidência em soja e então ajustar o monitoramento e o manejo. Lagartas da subfamília Plusiinae têm se destacado por passarem a gerar lesões em vagens, com perfurações que afetam o rendimento da cultura
N
a cultura do feijão o ataque de insetos-praga se assemelha muito com as ocorrências vinculadas à soja. Mas, quando submetidos à tomada de decisão, entre plantas de ambas as culturas, tendem a escolher feijão, que apresenta melhor palatabilidade e digestibilidade, além da conversão alimentar ser mais eficiente e apresentar menor resistência em ações de corte e perfuração realizadas por insetos de aparelho bucal mastigador e sugador, respectivamente. Alguns insetos associados à cultura da soja também têm chamado a atenção na cultura do feijão, como os dos gêneros Frankliniella e Caliothrips, conhecidos comumente por tripes. Têm gerado impactos significativos, principalmente devido às condições em que a cultura do feijão passa a se estabelecer, em geral na sucessão de culturas como soja ou milho, que servem de hospedeiros para ambas as espécies, nas quais se multiplicam, chegando à cultura em altas densidades. A primeira passa a afetar tecidos meristemáticos, seja na diferenciação das folhas, onde promove lesões que se expandem e provocam deformações morfológicas, seja nas flores, www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
25
Fotos Mauricio Paulo Batistella Pasini
Indivíduos do gênero Frankliniella em flor de feijão
onde causa abortamentos. Já Caliothrips está mais atrelada a tecidos desenvolvidos, concentrando-se na superfície inferior das folhas, afetando a área fotossinteticamente ativa e por consequência de altas densidades populacionais, causando o abortamento de folhas e a antecipação da senescência. Seus sintomas de danos na maioria das vezes são mascarados por outros organismos oportunistas como fungos e bactérias ou até insetos que apresentam comportamento saprófito. Cabe ressaltar, ainda, Diabrotica speciosa para algumas regiões do Brasil. Para outras, Cerotoma tem chamado a atenção em função de seus danos vinculados a larvas já
Diabrotica speciosa em feijão e respectivo processo alimentar
26
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
Sintomas de danos vinculados a Diabrotica speciosa em feijão
na emergência da cultura, em que larvas-alfinete têm passado a se alimentar de plântulas e cotilédones, afetando já no estabelecimento dos ambientes com a cultura do feijão. Superada essa fase, esses insetos passam a se direcionar para folhas e flores, e havendo a presença de legumes, começam a gerar lesões na inserção da vagem com a planta e nas próprias vagens, passando a afetar diretamente os componentes de rendimento, número de vagens por planta, grãos por vagem e peso de grãos, além de reduzir a qualidade dos grãos e sementes.
ATAQUE DE LAGARTAS
Na cultura do feijão, o ataque
de lagartas vem ganhando destaque especial, muito em função de seu comportamento alimentar, que se direciona mais a legumes, em detrimento de folhas. Além de lagartas pretas de ocorrência comum na cultura, duas lagartas em especial chamam a atenção: Spodoptera frugiperda e lagarta falsa-medideira, aqui abordada como Plusiinae (Lepidoptera: Noctuidae), uma vez que duas espécies dessa subfamília têm apresentado comportamento alimentar similar: Chrysodeixis includens e Rachiplusia nu. Spodoptera frugiperda, após a deposição dos ovos pelos adultos em plantas de feijão, começa um processo de raspagem que evolui
Lagartas Plusiinae e Spodoptera frugiperda em feijão, respectivos sintomas de danos e reflexos do processo alimentar
Lagarta falsa-medideira - Plusiinae (Lepidoptera: Noctuidae): Chrysodeixis includens e Rachiplusia nu
para perfurações. Quando a planta está na fase reprodutiva, a lagarta direciona seu processo alimentar para os legumes, passando a perfurá-los, criando galerias, concentrando sua alimentação na parte interna e gerando a perda de vagens. Ressalta-se que para esse alvo é fundamental executar ações de manejo antes de a lagarta desenvolver galerias nos legumes, além de mitigar os representativos impactos econômicos. Para lagartas da subfamília Plusiinae chama a atenção uma mudança de hábito. Até então, havia registro de insetos com capacidade de desfolha, contudo, nessa safra, em diferentes regiões do Brasil com a presença de plantas de feijão na fase reprodutiva, identificou-se a presença da lagarta falsa-medideira gerando lesões em vagens, onde não constrói galerias, mas sim perfurações que se estendem até os grãos, inviabilizando as vagens. Ressalta-se que além dessa lesão, as lagartas concentram sua alimentação na inserção da vagem com a planta, o que pode intensificar ainda mais os impactos econômicos. Em estimativa básica em área com elevada infestação de lagartas falsa-medideira, um total de três plantas foram arrancadas, nas quais foram retiradas as vagens e classificadas em com lesões e sem lesões. Do total de vagens das plantas, 37% apresentaram lesões por falsa-medideira, o que comprometeria nessa proporção o potencial produtivo. Embora impactante, é preciso lembrar que se trata de uma lavoura com alta infestação. Contudo, essa situação reforça a importância e o cuidado maior com essas espécies, uma vez que estão em constante adaptação às condições impostas por manejos e cultivos. Como ferramenta imprescindível para o seu manejo, o monitoramento de larvas e de adultos no sistema é a base para mitigar os impactos vinculados a esses insetos. Embora as densidades populacionais até então sejam consideradas para a tomada de decisão quanto à falsa-medideira, a partir de agora é preciso entender que há um inseto que está afetando diretamente componentes de rendimento, C o que exige um olhar mais criterioso.
Plusiinae em feijão, respectivo processo alimentar e padrões morfológicos
Estimativa básica de sintomas de danos vinculados à lagarta falsa-medideira, Plusiinae. Município de Coxilha, RS. Consultor Everaldo Luiz Calgaroto
Mauricio Paulo Batistella Pasini Intagro Everaldo Luiz Calgaroto Ideau Samira Fredi e Viviane Lara, Unicruz
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
27
Algodão
Inseticidas seletivos
Por que é tão importante preservar os inimigos naturais e privilegiar a seletividade de inseticidas nas aplicações dentro do manejo integrado de pragas na cultura do algodoeiro
O
s agentes de controle biológico ou inimigos naturais (predadores, parasitoides e entomopatógenos) são capazes de reduzir populações de artrópodes-praga a níveis inferiores aos de dano econômico, mas sem ocasionar efeitos colaterais indesejáveis ao meio ambiente. Podem ser manejados de forma conservativa, em agroecosistemas estáveis ou criados em laboratórios (biofábricas),
28
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
para serem liberados, periodicamente, em grandes quantidades em lavouras comerciais (cultivos perenes ou anuais). Defensivos, principalmente os de largo espectro (não seletivos aos inimigos naturais), são a principal tática para o controle de insetos-praga, porém podem causar efeitos deletérios aos inimigos naturais. O problema é potencializado quando empregados sem critérios técnicos, desconsiderando os níveis de controle estabelecidos pela pesquisa para os principais artrópodes-praga das grandes culturas. A tomada de decisão de controle preconizada pelo Manejo Integrado de Pragas (MIP), baseada no limiar de dano econômico e avaliada por meio de monitoramento dos insetos
para detecção do nível populacional (nível de controle), indicando a real necessidade de controle, é, muitas vezes, desconsiderada por quem adota práticas mais fáceis de serem empregadas e/ou mais convenientes, a exemplo da aplicação calendarizada de defensivos químicos. A cultura do algodoeiro é reconhecida pelo grande número de insetos associados, e é também alvo de recordes de aplicação de agroquímcos. Isto tem sido motivado, principalmente, pela ocorrência do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis), além do complexo de lepidópteros-praga (Helicoverpa, Heliothis, Spodoptera etc.), insetos sugadores transmissores de viroses, a exemplo dos afídeos e moscas-brancas, entre outros. O bicudo é reconhecido como a principal praga-chave por ter alto potencial reprodutivo; ciclo biológico curto, que propicia o desenvolvimento de várias gerações durante o ciclo da cultura; adaptação às condições edafoclimáticas das áreas cultivadas;
hábito alimentar monofágico, e por causar dano direto aos órgãos de frutificação responsáveis pela produção do algodão, ocasionando elevados percentuais de danos e perdas econômicas. Além disso, é difícil de ser controlado quimicamente por causa do comportamento críptico de suas larvas que se desenvolvem no interior dos botões florais e pequenas maçãs, assim como dos insetos adultos, que permanecem protegidos da calda inseticida entre as brácteas dessas estruturas vegetais. Uma alternativa aos defensivos químicos é a utilização do controle biológico de pragas do algodoeiro, que não tem por objetivo eliminar os insetos-praga, porém manter o equilíbrio do agroecosistema, de forma que os níveis populacionais das pragas fiquem abaixo do nível de dano econômico. Entretanto, a ação inseticidas sobre os insetos-praga e inimigos naturais pode promover diferentes efeitos colaterais, a depender do produto (grupos químicos, modos de ação e formas aplicação,
doses etc.). Dentre os efeitos colaterais provenientes da ação dos inseticidas sobre os insetos fitófagos, três incrementam sua manutenção na lavoura, propiciando problemas para o cultivo do algodoeiro. O primeiro efeito diz respeito ao surgimento de pragas até então sem relevância devido ao baixo nível populacional na lavoura (pragas secundárias), provocado pela ação dos inseticidas ao reduzir a população de pragas-chave e inimigos naturais a patamares muito baixos, criando espaço para outros organismos não praga, agora sem competição por nicho alimentar; o segundo, ao retorno de insetos que perderam seu potencial como praga-chave (ressurgência de pragas), induzido pela redução populacional dos inimigos naturais, responsáveis por controlar os organismos-praga no início do estabelecimento na lavoura; e o terceiro, por causar a resistência dos insetos aos inseticidas (pragas resistentes), devido à pressão de seleção sobre os indivíduos de uma deterValdinei Sofiatti
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
29
Alexandre Cunha de Barcelos Ferreira
José Geraldo Di Stefano
As aplicações demandadas pela cultura exigem cada vez mais precisão e critérios que privilegiem a preservação e o incremento de insetos benéficos
minada população, em que parte desta apresenta características de resistência à ação das moléculas inseticidas, em contrapartida, a outra parte, mais numerosa, é afetada de forma deletéria por sua ação, remanescendo apenas os espécimes resistentes. Insetos-pragas com resistência aos inseticidas têm ocorrido com muito mais frequência nas últimas décadas, o que tem induzido ao aumento do número de aplicações. Para que problemas de resistência aos inseticidas não se desenvolvam, a rotação de inseticidas de diferentes grupos químicos/modos de ação é uma alternativa. Por outro lado, a utilização de inseticidas seletivos aos inimigos naturais possibilita o uso eficiente de agentes de controle biológico que devem, principalmente em grandes áreas cultivadas, ser uma ponte na introdução de parasitoides, predadores ou entomopatógenos no MIP. A seletividade de inseticidas aos inimigos naturais é amplamente reconhecida como um componente-chave do MIP. É uma combinação da toxicidade do inseticida (fisiológica) e a probabilidade de contato
30
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
(ecológica) e, portanto, pode variar significativamente entre os inimigos naturais e as pragas-alvo. As espécies testadas podem, também, diferir na suscetibilidade através da sensibilidade de local-alvo, penetração, desintoxicação, sequestro e excreção, resultando, assim, em toxicidade fisiológica diferencial. A utilização de inseticidas seletivos possibilita o uso eficiente de agentes de controle biológico em grandes áreas, sem causar desequilíbrios biológicos. Para o uso bem-sucedido de produtos seletivos é imprescindível a adoção de outras táticas de MIP compatíveis com o controle biológico, como o uso de plantas resistentes aos insetos, manejo cultural, legislativo, comportamental, físico, mecânico, entre outros. Essas práticas devem ser utilizadas mediante um conhecimento prévio da lavoura de algodão a ser manejada, respeitando-se os diferentes ecossistemas e o nível cultural do cotonicultor. Além disso, devem ser utilizadas de forma harmônica e com planejamento, tendo o monitoramento de insetos na lavoura como um dos princípios fundamentais do MIP.
A Embrapa Algodão, em cooperação com a Associação Mineira de Produtores de Algodão (Amipa), realiza pesquisas sobre a seletividade de inseticidas em relação a alguns inimigos naturais-chave da cultura do algodoeiro, como Trichogramma pretiosum (parasitoide de ovos de lepidópteros), Chrysoperla externa (predador generalista), Bracon vulgaris e Catolaccus grandis (parasitoides do bicudo) e Euborelia annulipes (predador generalista). A pesquisa em desenvolvimento tem por objetivo avaliar a seletividade fisiológica, que diz respeito à reação de destoxificação dos artrópodes-praga do algodoeiro e de seus principais inimigos naturais à ação direta dos princípios ativos. Este tipo de seletividade ocorre devido à menor absorção do inseticida pelo tegumento do inseto ou pela maior degradação da substância tóxica pelo sistema enzimático. Assim, procura-se a concentração em que o produto químico é inócuo aos predadores e parasitoides. Outra forma de seletividade de grande importância para o MIP, mas não alvo dos estudos da cooperação entre a Embrapa e a Amipa, é a sele-
tividade ecológica, que se baseia na forma de utilização dos inseticidas, ou seja, na estratégia de aplicação dos produtos na lavoura em função dos aspectos comportamentais dos insetos-praga. Neste caso, as aplicações de inseticidas são localizadas em áreas específicas da planta ou área de cultivo (espaço) ou em função do ritmo de atividade dos insetos (tempo). Os produtos não seletivos têm vários efeitos sobre os inimigos naturais. Destaca-se o aumento da duração do período embrionário, das fases imaturas e adultas e, consequentemente, sobre a viabilidade/ sobrevivência dessas fases. Esses produtos comprometem a capacidade de parasitismo e predação e, em casos severos, a morte dos inimigos naturais. Além disso, os agentes de controle biológico são mais suscetíveis aos inseticidas, visto que os insetos-praga apresentam uma maior capacidade de desintoxicação. O desconhecimento de causas indesejáveis devido ao uso intensivo de produtos de largo espectro, inten-
sificadas pela grande quantidade de misturas de produtos, sem a observância da compatibilidade das moléculas inseticidas, pode comprometer o uso eficiente dos inimigos naturais sobre os artrópodes-praga e afetar qualquer tentativa de implementação de programas de controle biológico, quer seja a curto, médio ou longo prazo. A falsa percepção de economia dos custos de aplicação de produtos com misturas em tanque, com diferentes ingredientes ativos e da eficiência que tal media pode trazer, tende a resultar em consequências irreparáveis para o controle das pragas e, consequentemente, para a condução da lavoura. Em áreas produtoras de algodão, a utilização de produtos seletivos deve ser uma prática recorrente para preservar a maior diversidade possível de inimigos naturais, especialmente aqueles que ocorrem nos primeiros dias de cultivo do algodoeiro. Ao evitar o uso de inseticidas químicos de largo espectro, altamente deletérios aos insetos benéficos, a aplicação
criteriosa dos produtos químicos irá promover o incremento de outros insetos benéficos, proporcionando uma ação efetiva dos parasitoides e predadores, que sejam de ocorrência natural ou dos organismos produzidos artificialmente e liberados nas áreas de produção de algodão. Na agricultura moderna, quer seja de alta precisão ou não, é imprescindível que a utilização de produtos químicos, quando todas as outras possibilidades forem esgotadas, privilegie o uso de produtos seletivos que auxiliem as outras medidas planejadas conjuntamente (MIP). Assim, o novo desafio para a pesquisa sobre seletividade de agroquímicos aos inimigos naturais é ir além da descrição dos efeitos letais e subletais desses produtos sobre esses organismos, considerando-se a complexidade ecoC lógica dos agroecossistemas. Raul Porfirio de Almeida e Carlos Alberto Domingues da Silva, Embrapa Algodão
Raul Porfirio de Almeida
Raul Porfirio de Almeida
José Geraldo Di Stefano
Carlos Alberto Domingues da Silva
Raul Porfirio de Almeida
A preservação de inimigos naturais é extremamente importante para a manutenção do equilíbrio e sustentabilidade na cultura do algodoeiro
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
31
Algodão
Folhas atingidas Como as doenças foliares se tornaram um grande problema no cultivo do algodoeiro e o que é preciso considerar para lidar de modo adequado com os problemas causados por ramulose, ramulária, mancha angular e mancha alvo na cotonicultura
A
s doenças foliares se tornaram, nos últimos anos, um dos problemas que mais preocupam os produtores de algodão do Brasil. Desde quando o algodão brasileiro ocupou as vastas áre-
32
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
as do nosso cerrado, as doenças surgiram como uma ameaça permanente, e têm sido responsáveis por danos expressivos à produção. Embora se tenha conhecimento da existência de patógenos habitantes do
solo, causadores de doenças importantes do algodoeiro, desde as iniciais, que causam tombamento de plântulas, até aquelas que provocam a morte da planta adulta, passando ainda pelos nematoides, são as doenças foliares as que predominam na cultura do algodão e, ainda, aquelas que mais prejuízos causam aos produtores. Dentre as doenças que afetam a parte aérea do algodoeiro, destacam-se a ramulose, causada pelo fungo Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, a mancha angular, causada pela bactéria Xanthomonas citri subsp. Malvacearum, a mancha de ramulária, causada pelos fungos Ramulariopsis gossypii e Ramulariopsis pseudoglycines e, mais recentemente, a macha alvo, provocada pelo fungo Corynespora cassicola, o mesmo agente causal da mancha alvo da soja. A Ramulose foi a primeira doença foliar de grande expressão na cultura do algodão no Cerrado. Foi responsável por perdas expressivas aos produtores
com maior resistência à doença fez predominar a mancha de ramulária e se intensificarem as aplicações de fungicidas direcionadas ao controle dessa doença. Assim, a ramulose foi desaparecendo do cenário da cultura do algodão no Cerrado, até que se tornou um evento raro e quase desconhecido de agrônomos e técnicos. Há aproximadamente três anos uma incidência mais intensa da doença ocorreu na região de Campo Verde, Mato Grosso, preocupando os técnicos que a conheciam e chamando a atenção daqueles que nunca a tinham visto. O seu ressurgimento deve ser uma preocupação a se ter em mente, uma vez que tem aumentado a área de plantio com cultivares resistentes à mancha de ramulária, e a consequente redução no número de aplicações de fungicidas poderá favorecer o agente causal da ramulose. Sendo assim, é importante que haja um monitoramento maior da lavoura plantada com cultivar resistente à mancha de ramulária, com o objetivo de identificar possível incidência de ramulose. A mancha angular ou bacteriose não tem sido mais identificada afetando o algodoeiro com severidade no Cerrado. As cultivares plantadas atualmente nas principais regiões produtoras do Brasil são resistentes à doença e essa deixou de ser um problema. Eventualmente a doença é observada afetando os frutos nos casos de apodrecimento de maçãs. Entretanto, trata-se de casos em que o nível de estresse não infeccioso,
causado pelo excesso de chuva, abre a possibilidade de infecções secundárias causadas por fungos de diferentes espécies e pela própria bactéria causadora da mancha angular. Quando a doença se manifesta primariamente nas folhas, os sintomas se caracterizam por manchas aquosas delimitadas pelas nervuras, que se tornam necróticas, podendo coalescer e atingir grande superfície do limbo foliar, reduzindo a área fotossintética e, por conseguinte, a produtividade da planta e da lavoura. As doenças foliares mais importantes que atualmente predominam no algodão brasileiro são a mancha de ramulária e a mancha alvo. A primeira é uma velha conhecida do algodão e sempre ocorreu nas diferentes regiões produtoras do Brasil. Entretanto, foi no Cerrado onde os agentes causais Ramulariopsis gossypii e Ramulariopsis pseudoglycines encontraram ambiente mais propício para infecção, disseminação e sobrevivência, fazendo com que a doença ocupasse vastas áreas de algodão plantado com cultivares suscetíveis e tornasse essa a doença mais importante da cultura. A mancha de ramulária ocorre em todas as regiões produtoras de algodão do mundo em maior ou menor intensidade, sendo mais comum na índia e no Brasil. Nas principais regiões produtoras de algodão do Brasil, plantas de algodoeiro afetadas precocemente pela doença podem ter a produtividade reduzida em, aproximadamente, 35%.
Fotos Alderi E. Araújo
entre o final da década de 1990 até meados da década de 2000. Além das perdas causadas, o impacto da doença se faz sentir desde a característica dos sintomas que podem fazer a planta deixar de produzir e direcionar sua energia unicamente para o desenvolvimento vegetativo. O fungo C. gossypii var. cephalosporioides é transmitido via sementes e sobrevive em restos culturais no solo. Sua disseminação no campo ocorre por meio de respingos de chuva, que liberam os esporos do fungo de uma substância mucilaginosa que os mantêm agregados. Portanto, alta precipitação pluviométrica e alta umidade relativa são condições ambientais favoráveis à ocorrência da doença. Os sintomas se caracterizam pelo surgimento de lesões necróticas nas folhas como pontuações marrom-escuras. Com o crescimento das lesões, aquelas mais velhas secam e o tecido do seu centro se desprende, gerando perfurações em formato que lembra uma estrela. O fungo induz a morte do meristema apical da planta, o que estimula a brotação de ramos laterais e culmina com a formação de um aglomerado de ramos com entrenós curtos e entumecidos. O excesso de desenvolvimento vegetativo impede a planta de produzir frutos. O controle da doença se baseia no uso de cultivares resistentes e no controle químico. Uma particularidade dessa doença é que sempre ocorreu simultaneamente à mancha de ramulária. No entanto, o uso de cultivares
A ramulose foi a primeira doença foliar de grande expressão na cultura do algodão no cerrado
Sintomas de mancha angular, também conhecida como bacteriose, em folha de algodoeiro
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
33
Arquivo
A mancha alvo é uma das doenças mais importantes na cultura do algodão
Estudos realizados mais recentemente pela Embrapa e o IMAmt apontam para prejuízos da ordem de R$ 1,9 bilhão ao ano causados pela doença, considerando o custo de aplicação de fungicidas e as perdas efetivas relacionadas aos danos da doença no campo. A doença ocorre durante todo o ciclo da cultura do algodão, com a manifestação dos sintomas surgindo pouco antes dos 30 dias após a emergência em ambas as faces das folhas, predominando na face abaxial, inicialmente com a presença do micélio do fungo, de aspecto branco-azulado, sinal conhecido como mancha azul. Esse sinal decorre do início da penetração e colonização do patógeno no tecido foliar do algo34
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
doeiro e que, mais tarde, evolui para lesões de formato angular, delimitadas pelas nervuras. Uma visão geral das folhas mostra lesões típicas de coloração branca com aspecto pulverulento, caracterizado pela esporulação do fungo, sobretudo na face abaxial, com necrose abaixo da camada de esporos. A disseminação dos agentes causais da doença ocorre principalmente pela ação do vento, chuva e movimentação de máquinas e implementos agrícolas. Esses fatores podem levar esporos do fungo a longas distâncias, permitindo que ele possa infectar novas plantas e se disseminar por novas lavouras. O controle da doença vem sendo feito principalmente pelo uso de fun-
gicidas em programas que alternam diferentes modos de ação e de classes de produtos, de forma a manejar o possível efeito das aplicações na resistência dos agentes causais aos produtos. Para minimizar os danos e marchar para um programa de manejo eficiente da doença, foi criada uma rede de pesquisa para avaliar a eficiência do seu controle químico, a Rede Ramulária. Há quatro anos vêm sendo estabelecidos ensaios em diferentes regiões produtoras do Brasil para avaliar a performance de fungicidas sistêmicos e de ação multissítio para o controle da doença. Os resultados podem ser acessados no site www.rederamularia.com.br. Já existem cultivares de algodão com diferentes níveis de resistência à mancha de ramulária disponíveis no mercado e lançamentos vêm sendo prometidos pelas instituições e empresas que atuam no melhoramento genético do algodoeiro, como TMG, Basf, IMAmt, Embrapa, entre outras. O uso de cultivares resistentes é de fundamental importância no manejo integrado da doença, uma vez que pode resultar em maior eficiência do controle químico e na redução das aplicações de fungicidas. A mancha alvo, causada por Corynespora cassicola, vem sendo uma preocupação frequente de produtores de algodão, que, tal como a ramulose no início, se assustam com a severidade da doença. Foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1995, no estado do Mato Grosso. A princípio a ocorrência era esporádica, pouco expressiva e localizada. A partir de 2005, com o registro de um surto epidêmico na cultivar CNPA-ITA90, a doença passou a ser encontrada com maior frequência e a ser mais prevalente, estando hoje amplamente distribuída pelas regiões produtoras de algodão do Brasil. Os danos ocasionados à cultura do algodão ainda são controversos, não havendo estudos que determinem sua magnitude, nem as perdas ocasionadas. Um problema que vem limitando os estudos sobre o padrão da doença no campo é sua ocorrência simultânea com a mancha de ramulária e a indução da queda prematura de folhas. É
Alderi E. Araújo
A mancha de ramulária ocorre em todas as regiões produtoras de algodão do mundo em maior ou menor intensidade
sidade de plantio, que contribui para a redução dos índices de umidade relativa no dossel foliar. Não tem sido normalmente direcionado o controle químico para a mancha alvo em algodoeiro. Embora sua ocorrência seja simultânea com a mancha de ramulária, a prioridade tem sido aplicações para o controle desta última, pelas já conhecidas perdas ocasionadas às lavouras. Porém, as aplicações direcionadas ao controle da mancha de ramulária têm beneficiado indiretamente o controle da mancha alvo. Estudos sobre o efeito de fungicidas no controle da doença vêm sendo realizados pela Embrapa Algodão ainda sem resultados consistentes em campo. Durante duas safras, a Rede Ramulária avaliou a performance de fungicidas em relação à mancha alvo, sem resultados consistentes, sobretudo devido à distribuição irregular da doença em diferentes regiões e mesmo nos próprios ensaios, assim como a rápida queda de folhas, que impedia um período de avaliação que permitisse respostas adequadas baseadas na curva de progresso da doença. Estudos em casa de vegetação vêm sendo desenvolvidos na Embrapa Algodão para identificar moléculas com maior eficiência no controle da doença. C
Arquivo
comum, entretanto, identificar alta severidade da mancha alvo em ramos onde as posições de frutificação já se encontram formadas, o que gera dúvidas sobre seu nível de redução na produtividade da lavoura. Estudo realizado nos EUA aponta para uma redução de cerca de 450kg/ha de algodão em caroço. Os principais sintomas se caracterizam por pequenas lesões circulares nos cotilédones enquanto nas folhas essas pequenas Alderi Emídio de Araújo, lesões evoluem para outras circulares ou irregulares, concênEmbrapa Algodão tricas, com bordas cloróticas, com tamanhos que variam de José Otávio Machado Menten, USP 0,5cm a 2cm de diâmetro, circundadas por áreas cloróticas. As lesões podem coalescer, ocupando grande área do limbo foliar, causando a queda da folha. Essa queda pode ser observada em poucos dias, sobretudo pela rápida senescência causada pelo amarelecimento progressivo induzido a partir das lesões. Temperaturas abaixo de 30°C e longos períodos de molhamento foliar favorecem a ocorrência da mancha alvo. Essas condições são observadas em todas as regiões produtoras de algodão do Brasil e a doença tem sido constatada predominantemente em lavouras já desenvolvidas, onde a umidade relativa no dossel foliar é mais elevada. A doença, diferentemente da soja, ainda é pouco estudada no algodão e as medidas de controle não têm sido direcionadas especificamente para ela. O uso adequado de regulador de crescimento pode manter o nível de aeração no dossel foliar suficiente para reduzir os níveis de umidade relativa em seu interior e contribuir para menores intensidades da doença. O mesmo pode ser dito em relação ao uso de maior esA mancha alvo causada, por Corynespora cassicola, vem sendo uma preocupação frequente de produtores de algodão paçamento entre linhas e menor denwww.revistacultivar.com.br • Maio 2022
35
Coluna Agronegócios
P
A interdependência entre Brasil e China
aís algum se sente confortável quando depende política ou comercialmente de outros. Pode ser na área de energia, medicamentos ou alimentos. A China não é diferente, compreensivelmente incomoda-se com a alta dependência da soja brasileira. Assim como não é confortável nossa alta dependência da exportação agrícola para a China, porque pode nos trazer muitos problemas futuros. Portanto, é fundamental o Brasil diversificar em três frentes: a) exportar para mais países; b) exportar mais produtos; c) agregar valor e abrir novos mercados. Vamos analisar os riscos da alta dependência das exportações brasileiras para a China. A China tem 20% da população mundial, mas apenas 7% da área agricultável, de acordo com a FAO. Em 2000, a China era autossuficiente em alimentos; já em 2020 o índice de autossuficiência foi de 77%, com projeção de cair (ceterisparibus) para 65% em 2035. Assim, apesar de a preocupação já existir, foi durante a “guerra tarifária” entre EUA e China (2019) e com a ocorrência da pandemia de Covid-19 que a alimentação assumiu maior importância para as lideranças chinesas. As preocupações são múltiplas: a China talvez nunca volte a ser autossuficiente em alimentos, ao contrário, vem perdendo competitividade; a dificuldade política e cultural de comprar terras em outros países para manter um canal exclusivo de exportação; o dinamismo do cenário de alianças políticas e comerciais; as mudanças climáticas globais, que podem deprimir a sua produção agrícola e elevar preços. Por isso o governo chinês prepara um conjunto de políticas públicas e ações para assegurar o abastecimento de alimentos para a população chinesa, a ser submetida ao 20º Congresso Nacional do Povo, no segundo semestre de 2022. Uma das políticas- já implementada- é a redução do desperdício. Esse é um problema mundial, estima-se que um terço dos alimentos seja desperdiçado da lavoura à mesa, e não deve ter sido muito diferente na China. O presidente Xi Jinping envolveu-se pessoalmente na exortação ao desperdício mínimo. A capacidade de estocagem da China é de 910Mt e, em 2019, foram estimadas perdas de 35Mt apenas durante a estocagem.
36
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
DIFICULDADE DE PRODUÇÃO
A soja é originária da China. Mas, atualmente, a China importa mais de 80% da soja que consome. E o arco de fornecedores é estreito, com algumas querelas recentes da China com EUA e Brasil, os dois maiores exportadores. Alertado pela redução de 16% na produção chinesa (2021), seu governo estuda um pacote de incentivos para aumentar a produção de soja, que inclui subsídios financeiros, estímulo à conversão de áreas de arroz para soja, consórcios soja-milho e incorporação de áreas marginais. Para tanto, investirá em um ousado programa de P&D para desenvolver genética adaptada, com uso de biotecnologia. Uma nova legislação de regulação de OGMs está em estudo, podendo ser implantada ainda em 2022 e, até o momento, pouco se sabe sobre os seus pormenores além de ser mais favorável ao desenvolvimento e uso de OGMs. O avanço sobre áreas marginais ocorre pela perda progressiva de áreas férteis para a urbanização acelerada e avanço da infraestrutura viária e industrial. Áreas menos férteis implicam maiores custos de produção. A mera substituição de um cultivo por outro pode induzir novos desequilíbrios, não sendo uma solução permanente. Adende-se que as mudanças climáticas encolherão ainda mais a área disponível. Em linha com o exposto, o desenvolvimento de novas variedades, cultivares ou
O governo chinês prepara um conjunto de políticas públicas e ações para assegurar o abastecimento de alimentos para a população chinesa, a ser submetida ao 20º Congresso Nacional do Povo, no segundo semestre de 2022
híbridos é tido como essencial, o que significa a organização de toda a cadeia que garanta não apenas a criação de novos genótipos, mas seu acesso rápido pelos agricultores. Também haverá facilidade de acesso ao material genético do exterior, que se adapte às suas condições. Mas o problema vai além da soja. Em 2021 houve um aumento de 18% na importação de grãos pela China, atingindo um total de 165Mt. Os chineses se mostram muito preocupados com o fato de o mercado internacional de alimentos ser dominado pelo assim chamado ABCD (ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus). A China estuda fórmulas de influir decisivamente no mercado, criando mecanismos que lhe deem o controle de suas importações, especialmente de carne, leite, soja e milho.
GEOPOLÍTICA
A diversificação de fornecedores é o busílis da questão da política de segurança alimentar da China. Por essa ótica, alianças políticas terão um forte componente comercial. O estreitamento de laços entre China e Rússia vai nessa direção, com a Rússia podendo ser um grande fornecedor de alimentos. Se a China será prejudicada pelas mudanças climáticas, o inverso está previsto para a Rússia, com possibilidade de aumento de área e de janela de cultivo. Outros países vizinhos da China também passam a compor o arco de exportadores, devendo-se atentar para a inserção da Ucrânia pós-guerra nesta análise. A China já possui programas agressivos de produção de alimentos na África Subsaariana, um dos elementos do xadrez da sua segurança alimentar. Concluindo, assim como a China age estrategicamente, de forma holística, para solucionar seu problema, cabe ao Brasil envidar esforços para continuar sendo um protagonista no mercado internacional de alimentos à luz destas mudanças, para consolidar a pujança de seu agronegócio. O mesmo vale para nossa dependência de fertilizantes em relação a poucos países, porém este será C o tema de outra coluna. Décio Luiz Gazzoni, O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Brasil terá peso importante no abastecimento mundial de alimentos nesses próximos anos
O
Brasil crescerá muito em importância no abastecimento mundial de alimentos, no contexto do conflito entre Rússia e Ucrânia. A Rússia é a maior exportadora de trigo e a Ucrânia a terceira exportadora do cereal. Ao mesmo tempo, os EUA, segundo maior exportador deste alimento, neste ano enfrentam
MILHO
Tudo aponta que os 17,5 milhões de hectares plantados na safrinha devem resultar em algo entre 80 milhões de toneladas e 90 milhões de toneladas frente aos pouco mais de 60 milhões de toneladas colhidos no ano passado. Esta grande safra encontrará novamente uma carência de infraestrutura, como de armazenagem. Ainda há muita soja parada a ocupar espaços que serviriam para guardar o milho. São boas as expectativas para as exportações, que tendem a bater 35 milhões de toneladas neste ano.
grandes problemas com o clima e perdas importantes na safra. Há escassez de óleos vegetais no mercado global porque Rússia e Ucrânia dominam mais de 80% do óleo de girassol que é negociado no mundo. O Brasil deve crescer forte na importância global no abastecimento de alimentos.
safra. Agora, a colheita praticamente fechada resulta na faixa de 120 milhões de toneladas, muito abaixo dos 136,8 milhões de toneladas do ano passado. Com isso, as exportações brasileiras devem perder ritmo a partir do final de maio, com recuo frente aos bons números do ano passado. Mesmo assim, em faturamento haverá crescimento de divisas, que tendem a bater a marca de US$ 50 bilhões entre soja, farelo e óleo.
FEIJÃO
O feijão da segunda safra está em colheita e deve avançar para o final do semestre com boas expectativas de coSOJA Os produtores plantaram cerca de tações. Já opera na faixa de R$ 300,00 a 40,5 milhões de hectares de soja nesta saca e pode seguir assim no segundo se-
mestre porque há produção menor que a demanda e o Auxílio Brasil alavanca o consumo de alimentos básicos. O trigo em alta no mercado global traz apoio à demanda de outros produtos, como o arroz e o feijão.
ARROZ
Os produtores do Rio Grande do Sul colheram uma safra bem menor que no ano passado, algo perto de 7,5 milhões de toneladas frente a mais de oito milhões de toneladas anteriores. No restante do Brasil também houve queda de 11,8 milhões de toneladas para 10,5 milhões de toneladas. Será um ano ajustado, com chances de reação no segundo semestre.
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo traz boa oportunidade aos produtores neste ano porque há escassez do cereal no mundo. A nova safra sofre com problemas junto aos maiores exportadores mundiais, o que dará fôlego para o cereal avançar em Chicago e favorecer os produtores brasileiros no mercado interno ou na exportação. A temporada começa com expectativa de plantio recorde e cotações nos portos entre os R$ 1.900,00 e os R$ 2.000,00 a tonelada. O produto importado chega com valores acima dos R$ 2.200,00 por tonelada, em um cenário favorável aos produtores brasileiros. EUA - Os produtores começaram a safra com grande atraso no plantio e agora esperam que o clima se normalize e não ocorram problemas no final de junho e julho. Projetam uma safra de soja próxima de 130 milhões de toneladas e o milho na faixa de 370 milhões de toneladas. Mas temem que o ano de La Niña lhes ceife parte deste potencial. CHINA - A China começou a safra com clima desfavorável. O inverno foi longo, houve fechamentos no país, falta de insumos e custos crescentes. Com isso, deve continuar
como maior importadora mundial de quase tudo. A soja deve superar 90 milhões de toneladas, o milho na faixa de 30 milhões de toneladas, o trigo mais de dez milhões de toneladas e o arroz mais de sete milhões de toneladas. A boa notícia é que o país vai investir pesado na infraestrutura para diminuir o impacto da pandemia, o que aumenta a demanda por alimentos. Também seguirá como maior importadora mundial de carnes. ARGENTINA - Caminha para o fechamento de uma boa safra. O governo local segue consumindo o fôlego do setor produtivo e neste ano aumentaram as retenciones sobre o farelo e o óleo de soja de 31% para 33%. Os produtores plantaram uma das menores áreas de soja em quase duas décadas e podem recuar ainda mais neste novo ano devido C aos custos em alta. Vlamir Brandalizze Twitter@brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br Instagram BrandalizzeConsulting ou Vlamir Brandalizze
www.revistacultivar.com.br • Maio 2022
37
Coluna ANPII
A constante evolução da ANPII
F
Através de parcerias e de alianças estratégicas a associação tem extrapolado a mera representação e se firmado como protagonista em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
undada em 1990, a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), desde o início assumiu um posto de porta-voz do setor, sendo reconhecida como interlocutor por diversos segmentos do agronegócio. Sempre fortalecendo seus vínculos com as entidades oficiais, seja no regulatório, seja na pesquisa, a associação se capacitou, ano a ano, a se firmar como representante da área de inoculantes. Mais recentemente, há poucos anos e em diversas gestões, começou um novo ciclo, com uma primeira tentativa de desenvolver pesquisas conjuntas entre as empresas, formando um único departamento de P,D&I virtual, entrando no conceito de Aliança Estratégica em Tecnologia. Assim, em vez de apenas uma empresa firmar convênio com uma entidade de pesquisa, a associação assina este convênio, diluindo os custos de desenvolvimento entre todos os associados. O custo de desenvolvimento de um novo produto é muito elevado para os padrões das empresas de inoculantes. Tanto os custos de formulação como, principalmente, o dispêndio com os testes de campo para o registro de produtos significam uma aplicação de vulto, nem sempre ao alcance de uma empresa de pequeno porte. Através da aliança, os custos tornam-se viáveis para todo o tipo de empresa, permitindo acesso de todas aos processos de inovação que surge em grande velocidade. Uma primeira experiência foi realizada e está em fase final, esperando apenas o registro do produto no Mapa. Por meio de um contrato com a Universidade Federal do Paraná, Setor de Bioquímica e Biologia Molecular, a ANPII obteve o licenciamento para desenvolver um inoculante e testar em campo duas novas cepas de 38
Maio 2022 • www.revistacultivar.com.br
Azospirillum, com maior poder excretor de amônia. Embora já existam no mercado inoculantes com as duas cepas, AbV5 e AbV6, com ótimo desempenho, em um país com as dimensões continentais, com uma enorme diversidade de solo e clima, é necessário um maior espectro de produtos. A experiência foi exitosa e anima a associação a ampliar ainda mais os trabalhos conjuntos. Os departamentos de P&D e regulatórios das empresas se associaram muito bem, desenvolveram um produto base em conjunto, com trocas de ideias e de experiências, testaram o produto em campo, com um protocolo único, com divisão de trabalhos para manter os contatos e acompanhar os experimentos realizados por entidades de pesquisa em diversas regiões. Em paralelo, a diretoria mantinha um
constante contato com a área regulatória do Mapa, uma vez que os experimentos de campo serviriam a mais de uma empresa, fugindo do que até então havia sido feito. Mas o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), compreendendo o novo, o fora dos padrões até então vigentes, mas sempre dentro da lei, deu sinal verde para que o novo procedimento fosse em frente. O novo sistema, se consolidado como se espera, é o tipo de inovação na qual todos saem ganhando (Veja Box) A ANPII, através do trabalho de diversas diretorias, vem se firmando como uma entidade não só de representação, mas também de Pesquisa, Desenvolvimento C e Inovação. Solon Araujo, Consultor da ANPII
O que cada elo ganha com o novo sistema • As empresas, do ponto de vista econômico, obterão uma importante redução dos custos de desenvolvimento. • As universidades ganham com os royalties que passarão a receber quando se iniciar a venda dos novos produtos. • Os agricultores ao invés de dispor da oferta de apenas uma marca de inoculante, de uma empresa, terão à sua disposição nove marcas diferentes, uma grande oferta de produto, podendo escolher a marca de sua confiança ou aquela que apresentar
as melhores condições de comercialização. • Outro ganho importante, que será das empresas, mas se espalhará para todo o setor, é o da internalização de novos conhecimentos nas empresas. O efeito sinérgico de um grupo de profissionais trocando experiências e buscando, em conjunto, novas soluções, acrescenta maior capacitação, tanto no desenvolvimento como na produção, levando sempre inoculantes de alta qualidade, e com novos atributos, para os agricultores brasileiros.
Arroz • Maio 2022 Wenderson Araújo - Sistema CNA
Décadas de evolução
O que tem sido determinante para a consolidação de um Sistema Produtivo, que ao integrar tecnologias, rotacionar culturas e adotar conceitos modernos de produção, minimiza os riscos da atividade e potencializa a rentabilidade do negócio do Agricultor
A
lavoura de arroz, sobretudo do Rio Grande do Sul, que responde atualmente por 70% da produção nacional, apresentou grande evolução devido a descobertas científicas e a tecnologias aplicadas, que contribuíram para su-
perar entraves que se apresentavam. Os avanços tecnológicos revitalizaram a lavoura do arroz irrigado e foram decisivos para o reerguimento do setor em momentos diversos. Esses eventos foram sempre colocando a lavoura de arroz em novos patamares de produ-
tividade. Assim, a melhor compreensão de como chegamos até aqui e o entendimento das lições aprendidas deixam um legado e são ferramentas importantes para ultrapassar novos desafios que virão. 03
Arroz • Maio 2022 Fotos Wenderson Araújo - Sistema CNA
O aumento sustentável da produtividade do arroz foi construído ao longo dos anos
MARCOS FUNDAMENTAIS PARA EVOLUÇÃO Melhoramento genético
A partir da década de 1980, um evento marcante para a revitalização da lavoura de arroz foi o melhoramento genético, através de um novo tipo de planta com características morfofisiológicas que possibilitaram maior produtividade com qualidade de grãos, representado pelo lançamento da variedade BR IRGA 409. O porte de planta mais baixo, folhas eretas e boa capacidade de perfilhamento, em relação às variedades do grupo das tradicionais, foram aspectos morfofisiológicos diferenciais na linha de evolução de tipo de planta e na eficiência de utilização de fertilizantes, radiação solar e outras práticas de manejo. A interpretação do seu legado é de que os genótipos de arroz, para terem maior aceitação para o mercado consumidor, além do potencial produtivo, têm que contemplar aspectos físico-químicos dos grãos, não apenas na apresentação do produto, mas também na qualidade de “panela”.
Mecanização
Outro marco importante ocorreu devido a avanços em maquinários e implementos. Um exemplo disso é o conjunto entaipadora e semeadora que constrói taipas de base larga e perfil baixo desenvolvida para realizar semeadura sobre as taipas. Este conjunto tecnológico, que experimentou aperfeiçoamentos ao longo do período de uso, produto da criatividade e inovação de produtores e da indústria de 04
máquinas e implementos, possibilitou o uso do cultivo mínimo do arroz, utilizado hoje em cerca de dois terços da área de arroz do Rio Grande do Sul. Entre os benefícios deste sistema está a viabilização do preparo antecipado da área já deixando a área entaipada e pronta para semear na melhor época. Com isso, o preparo da área pode ser realizado no período da entressafra do arroz, podendo utilizar plantas de cobertura de solo e integração com pecuária, de acordo com a realidade do produtor. Isso se reflete na racionalização de uso de máquinas e recursos humanos, que se tornam mais bem distribuídos ao longo dos meses na propriedade, reduzindo custos. No aspecto técnico agronômico, tem-se a área preparada antecipadamente, com maior controle sobre a época de semeadura, fator primordial para elevado potencial de rendimento de grãos e rentabilidade. Em termos conservacionistas proporciona menor mobilização do solo, estimulando a semeadura direta do arroz. O manejo de plantas daninhas também é facilitado e se constitui em mais um benefício deste sistema.
Sistema Clearfield® e Projeto 10
Outro momento importante e que foi um “divisor de águas” para a lavoura de arroz deu-se pela inovação quanto ao controle químico de plantas daninhas e pelo uso integrado de práticas de manejo, impulsionado pelo Sistema Clearfield® da
BASF e pelo Projeto 10 do IRGA lançados nas safras 2002/03 e 2003/04, respectivamente. A lavoura de arroz apresentava altos índices de infestação de arroz vermelho, principal planta daninha do arroz, o que ocasionava grandes perdas de produtividade e qualidade industrial. Por outro lado, perdia-se muito potencial produtivo da lavoura por erros no manejo, como, por exemplo, o atraso na época de semeadura e na irrigação. O sistema Clearfield® viabilizou o controle de plantas daninhas, especialmente o arroz vermelho, nas lavouras de arroz. No entanto, sua elevada adoção e uso contínuo nesse momento nos impõem alguns desafios, embora seja uma tecnologia que continua e seguirá sendo essencial para o desempenho da lavoura arrozeira. Na mesma linha de importância, situam-se os benefícios obtidos com a implantação do Projeto 10 do IRGA e outros projetos com propostas semelhantes de outras Instituições. Este projeto, por meio do uso integrado de estratégias de manejo, possibilitou a “construção” de lavouras de alto teto produtivo. Práticas de manejo como a semeadura realizada dentro da época preferencial, o controle de plantas daninhas e a aplicação de nitrogênio, operações realizadas juntamente com o estabelecimento antecipado da irrigação definitiva, dentre outras práticas, proporcionaram incrementos de produtividade.
Diversificação
Com enorme influência, cabe destaque para introdução da soja em áreas de arroz a partir da safra 2009/10, que permitiu manejar plantas daninhas de difícil controle no Sistema Clearfield® a partir do uso do herbicida glifosato e de associações com herbicidas de outros grupos químicos. Mas a soja exigiu que se aprimorasse o controle sobre o fluxo das águas, para a redução de estresses, tanto por deficiência hídrica como por deficiência de oxigênio em decorrência do excesso hídrico. Drenagem tornou-se palavra-chave. Geotecnologias de nivelamento da superfície do solo, de drenagem e de irrigação, permitu que se atingisse altas produtividades com a cultura da soja. Com elas, viabilizam-se novos sistemas de implantação da cultura da soja e de outros cultivos ditos de sequeiro. A soja, além de reconversora de áreas ao processo produtivo, ou seja, possibilitou melhorar a performance da tecnologia Clearfield®, é cultura fundamental para a implementação e longevidade de novas tecnologias em arroz. O cultivo de arroz em resteva de soja responde com maior produtividade e redução de custos. Outro legado da soja foi a necessidade de melhorar a infraestrutura, especialmente de drenagem, e, ao mesmo tempo, de irrigação. E essa melhoria, exigida por este
Arroz • Maio 2022
cultivo, reflete-se em benefícios para a cultura do arroz, através de uma lavoura que pode ser semeada na melhor época, com maior controle da lâmina de água, facilitando o controle de plantas daninhas, com mais uniformidade da lavoura. Esse avanço na infraestrutura e organização das áreas serve como suporte à potencialização do uso das áreas de arroz com outros cultivos, tanto de verão como de inverno. Hoje, constata-se uma diferença muito grande de áreas cultivadas para grãos no verão em relação a áreas cultivadas com grãos no período do inverno. Ou seja, esta é outra possibilidade de ampliar o uso de áreas de arroz. Com a soja, viabiliza-se também a pecuária num patamar tecnológico mais elevado pela maior oferta de alimentação de qualidade, com ganhos para todo o sistema de ocupação da área, otimizando a utilização das áreas no período de inverno, agora também para a produção de carne. Em função do conhecimento gerado com a introdução da soja neste ambiente, está sendo viabilizada a ampliação na diversificação de cultivos como, por exemplo, o milho. Este cultivo vai encontrar áreas com infraestrutura de adequação já desenvolvidas para o cultivo da soja. Por isso, vai experimentar um caminho já trilhado parcialmente, uma vez que há que se entender e atender, através de
pesquisa e experimentação, as exigências específicas dessa espécie nesse ambiente de áreas de arroz.
NOVOS TEMPOS PARA A AGRICULTURA EM TERRAS BAIXAS
Estamos diante de mais um evento importante na evolução da lavoura de arroz que são os sistemas de produção com integração de tecnologias. Ou seja, as tecnologias devem ser desenvolvidas para estarem integradas e se beneficiarem entre si. Por exemplo, a tecnologia embarcada na semente semente (Traits), métodos de manejo de plantas daninhas, os herbicidas, correção do solo, fertilizantes, manejo de pragas, doenças, manejo da colheita, pós-colheita, implantação e manejo de cultivos de arroz, soja, milho, cultivos de inverno, dentre outros, devem ser pensados para os diferentes usos da área, em uma sequência planejada e constantemente avaliada. Aqui está posto um grande desafio do momento. Assim, novas tecnologias, como o Sistema Provisia, por exemplo, será importante para a sustentabilidade do sistema de produção em ambiente de terras baixas, porque viabiliza de se fazer rotação de tecnologias no arroz, associadas também à rotação com outras culturas.
Por isso, é fundamental a análise das lições aprendidas no transcorrer da evolução da lavoura, para cada vez mais se obter a potencialização do uso das áreas e não perder tecnologias geradas que, se utilizadas de forma integrada, proporcionarão maior produtividade, rentabilidade e sustentabilidade. Por fim, há que se trabalhar intensamente na qualificação permanente dos recursos humanos. Eles é que vão viabilizar que as operações sejam realizadas com qualidade, na hora certa, e para todos os cultivos. Aqui aparece a necessidade de trabalho em equipe, fundamental para que isso ocorra. Neste sentido, a necessidade do conhecimento técnico de diferentes sistemas na agricultura de terras baixas promoverá a evolução na rentabilidade. Por outro lado, a falta de conhecimento, e consequentemente a não adoção das técnicas recomendadas, pode comprometer a viabilidade da nova tecnologia. Exemplo disso, em áreas onde a adoção dos Sistema Clearfield não seguiu as recomendações preconizadas, era possível observar limitações para uso dessa tecnologia em três a quatro anos após seu lançamento, pois já se constatavam escapes de arroz vermelho. Os três principais pecados capitais no uso da tecnologia foram a
05
Arroz • Maio 2022
utilização de sementes contaminadas com grãos de arroz vermelho, o cultivo na mesma área de forma contínua e o não controle de escapes (plantas de arroz vermelho não controladas). Sendo que a pesquisa recomendava o uso de sementes certificadas e de boa qualidade, não cultivar de forma sistemática a mesma área e o controle de escapes para evitar o fluxo gênico das plantas CL para as plantas de arroz vermelho. Mas, nesse período de quase 20 anos do Sistema Clearfield®, há áreas conduzidas conforme as recomendações sugeridas pela pesquisa e que encontram-se livres dessa planta daninha. O que nos aponta um caminho: é possível manejar arroz-vermelho com as ferramentas que se tem no mercado. E que todo esforço feito para a longevidade da tecnologia Clerafield® vale a pena. Essa tecnologia hoje é adotada em 80% da área cultivada com arroz irrigado no País. Esse dado demonstra o quanto esta tecnologia foi e ainda é importante. E há que se dizer que há outro fator que contribuiu para a longevidade dessa tecnologia: o cultivo de soja em áreas semeadas com arroz. Segundo dados do IRGA, já são aproximadamente 400 mil hectares de soja nessas áreas, apenas no Rio Grande do Sul, que além de contribuir para o manejo de plantas daninhas no arroz é uma importante fonte de diversificação
de renda para os agricultores. No entanto, ao longo desse período, o cenário de manejo de plantas daninhas modificou-se. O uso de forma contínua de herbicidas inibidores da enzima ALS (Acetolactato Sintase) foi determinante para o surgimento de espécies resistentes a este mecanismo de ação, a família das Poaceae (gramíneas). Além de arroz vermelho resistente à ALS, há biótipos de capim arroz resistentes a este mecanismo de ação em todas as regiões arrozeiras. O que varia é a intensidade de resistência. Junto do arroz vermelho este é o maior problema de resistência na lavoura de arroz devido à sua variabilidade genética e à produção de grandes quantidades de sementes. Depois das gramíneas, as plantas do gênero Cyperus (C. iria, C. difformis e C. erythrorhizos) estão na lista das plantas daninhas resistentes a herbicidas do grupo da ALS. As plantas deste gênero, se não têm grandes variabilidades morfológicas aparentes como as do gênero Echinochloa, produzem grandes quantidades de sementes. Segundo dados do Instituto Internacional de pesquisa em arroz (IRRI), uma planta de C. iria pode produzir 75 mil sementes. A habilidade competitiva das ciperáceas é estar presente em grandes populações junto aos cultivos. Posto este problema, a principal estratégia de manejo de plantas daninhas em arroz irrigado passa por rotacionar
Com o uso de tecnologias e integração de sistemas de produção e rotação de culturas o teto produtivo e a rentabilidade ganharam impulso
06
as ferramentas de controle disponíveis. Esse conceito é importante para prevenir o surgimento de populações de plantas daninhas resistentes a herbicidas ou para aquelas áreas em que o problema já está instalado. Neste cenário, o cultivo de soja em rotação com arroz é necessário para manejar plantas daninhas em terras baixas. Isto permitirá o uso herbicidas com mecanismos de ação diferentes do grupo químico dos inibidores da ALS, tanto em aplicações em pré como em pós-emergência. Mas o benefício da rotação do cultivo de arroz com o de soja vai além de uma nova ferramenta para o manejo de plantas daninhas. Ela se constitui em uma estratégia para o agricultor obter uma nova fonte de receita, permitindo a gestão da propriedade de forma mais racional e sustentável. Entretanto, para que a rotação de arroz com soja seja efetiva como uma fonte de renda e uma ferramenta de manejo de plantas daninhas, ela tem que ser conduzida com muita disciplina e cuidado. Se não for assim, a rotação, em vez de solução, passa ser mais um problema.
NOVA ERA NA RIZICULTURA
Os agricultores que produzem em ambiente de terras baixas (várzea) ganham uma nova ferramenta para o manejo de plantas daninhas de difícil controle em suas lavouras: o Sistema Provisia. Esse Sistema, juntamente com o Sistema de Produção Clearfield® e a rotação de arroz com soja, entre outras culturas, se configura na melhor estratégia para superar o problema de plantas daninhas de difícil controle. Entre outros benefícios, contribuirá para aumentar a longevidade do Sistema Clearfield®, pois sua fortaleza será o controle de gramíneas anuais (arroz vermelho e capim arroz resistentes à ALS). Hoje a maior limitação para a excelência do Sistema Clearfield®. Ou seja, estas três tecnologias constituirão o tripé básico para a produção de arroz irrigado. Mas estas três partes não serão importantes apenas para o manejo de plantas daninhas. Elas serão fundamentais para o desenvolvimento da produtividade, a qualidade da produção de arroz e a rentabilidade dos produtores. Produzir mais com menos e com mais qualidade é o melhor caminho para os produtores. Neste contexto, a diversificação de culturas em áreas de arroz passa por consolidação e ajustes, mas existem razões para o produtor investir e perseguir este caminho:
Arroz • Maio 2022 Fotos Wenderson Araújo - Sistema CNA
Razões Razão 1 O consumo do arroz está em queda Um dos maiores mitos no mercado de arroz é que o grão trata-se de “comida de pobre”, que significa dizer que o consumo reduz quando a economia melhora e aumenta quando a economia piora. Em economia chamamos os produtos com essa característica de “Bens Inferiores”. Já aqueles cuja demanda cresce quando a economia vai bem e cai quando a economia vai mal chamamos de “Bens Normais”. Se são normais, nem precisa dizer que são mais comuns de encontrar, enquanto inferiores, superiores ou de giffen são mais raros. O arroz é um bem normal, cuja demanda cresce com a melhora da economia e vice-versa e essa conclusão pode ser provada matematicamente – por mei de cálculos de elasticidades - independentemente das nossas crenças. Nossa economia teve resultados de crescimento ruins nos últimos 15 anos, associados a períodos de picos inflacionários, o que, juntos, colaboraram para a redução da capacidade de consumo de arroz no País, sobretudo após o tombo entre 2014 e 2016, que causou grande empobrecimento e queda no consumo nos anos seguintes. Se o consumo não cresce, conforme observamos no Gráfico 1, a produção também não pode crescer, a menos que tenhamos uma vazão equivalente em exportações, o que nem sempre é o caso.
Razão 2 A produtividade crescente é ótima, mas com consumo estável pode virar problema A produtividade do arroz, por outro lado, não para de crescer e, pelo que tudo indica, continuará crescendo pelo incremento tecnológico e a melhoria dos processos e manejos produtivos. Se tomarmos o período entre 1999 e 2021 – já que em 2022 tivemos um ano de estiagem – a taxa de crescimento anual da produtividade foi de 1,80%, uma taxa bastante elevada em qualquer cenário ou circunstância comparada. Gráfico 2 - Rendimento Médio do Arroz no RS (kg/ha) Fonte: IBGE/LSPA (mar/22)
Gráfico 1 - Consumo Brasileiro de Arroz (em milhões de toneladas) - Fonte: USDA
Razão 3 Dada uma produtividade crescente e um consumo em queda, a área precisava ser ajustada A forma de ajuste foi, sem dúvida, na área, que apresentou queda média total no período de 0,1% ao ano. Entretanto, a inflexão ocorreu em 2015 e, desde então, a área cai 2,2% ao ano, de modo a acomodar a produtividade maior em uma área menor e equilibrar o balanço de oferta e demanda do cereal, após o setor ser continua... 07
Arroz • Maio 2022
...continuação
Gráfico 3 - Evolução da Área Plantada de Arroz no RS (em mil hectares) - Fonte: IBGE/LSPA (mar/22)
Wenderson Araújo - Sistema CNA
submetido a graves crises econômicas. Mas o que fazer na área que foi reduzida? Nada certamente não é resposta, pois há um custo fixo envolvido e níveis elevados de investimentos, e a decisão de um único indivíduo é incapaz de interferir nos resultados globais da produção, então apenas a entrada viável de outra produção e que tornasse o sistema mais rentável nas áreas reduzidas poderia trazer um melhor aproveitamento e possibilitar a redução da área de arroz. Foi exatamente esse trabalho que fez a soja.
Soluções Solução 1 A entrada da soja em áreas de arroz Conforme podemos observar no Gráfico 4, tomamos uma amostra dos dez maiores produtores de arroz em 1999 e olhamos seus resultados mais recentes. Enquanto a área de arroz decresceu 5%, a área de soja aumentou 534%, dando uma demonstração de que a oleaginosa não apenas impediu a expansão da área de arroz, como também tomou seu pousio e inclusive avançou sobre a sua área, o que viabilizou a redução da área plantada que foi determinante para um equilíbrio mínimo do mercado. Gráfico 4 - Evolução das Áreas Plantadas de Arroz e Soja, em Mil ha, nos dez municípios com maiores área de arroz em 1999. Fonte: PAM/IBGE
Solução 2 A entrada do milho em áreas de arroz. Sistema produtivo com três produtos O milho pode e deve também ser observado como uma alternativa para a produção de arroz, fechando com isso um sistema de produção mais diversificado e mais alinhado aos aumentos da produtividade do arroz. Na Tabela 1 observa-se o desempenho comparado entre as culturas de modo a demostrar as vantagens para a produção de milho. O milho tem preços comparativamente mais elevados, tendência que deve se manter até que haja uma queda mais substancial na produção de arroz. O milho brasileiro definitivamente entrou na rota das exportações desde que o Sudeste asiático não conseguiu mais produzir os níveis de consumo interno, situação que tende a se intensificar e tornar o milho um produto cada vez mais demandado no mercado Tabela 1 - Comparação entre as entradas, saídas e resultados de Milho e do Arroz em Março 2022. O que vale mais a pena? Item de comparação
Milho
Arroz
Vantagem do Milho (%)
Preço (R$/sc)
91,79
76,63
20%
Produtividade (sc/ha)
180
180
0%
Receita Bruta (R$/ha)
16.522,20
13.793,40
20%
Custo Operacional Efetivo (R$/ha)
9.036,32
12.149,37
-26%
Margem Bruta (R$/ha)
7.485,88
1.644,03
355%
Fonte: Farsul a partir dos levantamentos do Campo Futuro (CNA/Federações/Cepea)
08
Arroz • Maio 2022
internacional. Em termos de produtividade, ambos produzem quantidades semelhantes por hectare, mas a combinação de produtividades iguais com preços diferentes traz para a receita do milho uma vantagem significativa, atualmente em 20%. Mas essa produtividade semelhante se dá com custos também distintos, em que custa 26% menos para produzir um hectare de milho do que um hectare de arroz, logo, o milho também leva vantagem no custo de produção. Então, temos o milho com receita superior em 20% e um custo menor em 26%, entregando assim uma margem bruta 355% maior que a do arroz. Além das robustas evidências de vantagens para a produção do milho apresentadas, há outros ganhos de gestão que precisam ser levados em consideração quando estamos falando de um sistema de produção com as três culturas: arroz, soja e milho. 1) O avanço da soja e a adoção do milho em áreas de arroz diminuem, por óbvio, a área de arroz, equacionando com isso os aumentos de produtividade com a demanda do mercado, dando mais condições para esse produto operar com preços de mercado mais atraentes. 2) Melhor gestão do risco, pois a adoção de três culturas melhora o gerenciamento dos riscos climáticos e de preços. 3) Soja e milho possuem custos de produção menores do que o arroz, reduzindo a pressão sobre o caixa, diminuindo a alavancagem e a necessidade de capital de giro. 4) Redução de custos pela rotação de culturas. 5) Melhor gestão de caixa, pois a redução dos custos diminui a pressão das saídas e três produções permitem entradas com menos concentração, diminuindo o intervalo das entradas. Por fim, mesmo com vantagens evidentes, não significa que a análise possa ser aplicada em quaisquer condições para todos os produtores. Além do mais, questões agronômicas também devem ser observadas em cada caso. Mas, vencidas estas questões, faz sentido avançar nessa diversificação que começou com a entrada da soja e que, até esse momento, trouxe grandes melhorias para os produtores enquanto indivíduos e para o setor como um todo.
Figura 1 - Vista aérea de uma lavoura de arroz com a introdução do Sistema Provisia® (esquerda) livre de plantas daninhas
O objetivo é auxiliar os agricultores a continuar superando os principais desafios da atividade e manter seu legado na agricultura. Na prática, esse sistema vai viabiizar o manejo de plantas daninhas de díficil controle no Sistema Clearfield®, possibilitando ao agricultor rotacionar diferentes mecanismos de ação para superar a resistência já existente. Desta forma, o Sistema Provisia reduzirá a pressão de plantas daninhas resistentes aos inibidores de ALS, favorecendo assim o Sistema Clearfield® e o Sistema Produtivo como um todo (Figura 1). Embora o arroz vermelho seja considerado a principal planta daninha da cultura do arroz outras espécies também apresentam grande potencial em redução de produtividade, em função da competição interespecífica. Neste sentido, o herbicida Provisia 50 EC recomendando para o uso no Sistema Provisia apresenta alto índice de controle para as principais espécies de
Poaceae (gramíneas) que estão presentes nas lavouras de arroz, como capim arroz (Echinochloa spp.), milhã (Digitaria horizontalis), papuã (Urochloa plantaginea), pé de galinha (Eleusine indica), capim do banhado (Panicum dichotomiflorum), entre outros. Desta forma teremos mais uma ferramenta para superar as plantas daninhas de difícil controle. A tecnologia Provisia irá a campo, por meio das sementes de arroz Lidero e posteriormente em cultivares. A BASF entra no mercado de híbridos de arroz para oferecer sementes com alto potencial produtivo e qualidade de grão adequada à demanda do mercado, trazendo algumas vantagens sobre as cultivares convencionais. Os híbridos de arroz, em função da ampla base genética explorada na sua produção com características de materiais tradicionais até materiais com características modernas, permitem a maior expressão da Heterose ou “Vigor Híbrido”. Até a safra 2021/22 um híbrido vinha sendo ofertado pela empresa com
Figura 2 - Recomendação de uso para o Sistema Provisia
EVOLUÇÃO NO CONTROLE REVOLUÇÃO NO MANEJO
Uma nova realidade está se estabelecendo. A BASF comprometida com os resultados do setor e atenta as necessidades dos agricultores vai disponibilizar na safra 2022/23 o Sistema Provisia. 09
Arroz • Maio 2022
Figura 3 - Importância de duas aplicações de herbicida - fluxo de emergência do arroz vermelho, seta azul controle da primeira aplicação, círculo vermelho novo fluxo de emergência
Figura 4 - Controle de arroz-vermelho e capim arroz com duas aplicações de herbicida em pós emergência
a tecnologia Clearfield®, o LD522 CL, com arquitetura de planta moderna, altos índice de perfilhamento e vigor inicial. Outro ponto que merece destaque é a qualidade de grão do LD522 CL, adequado ao exigente mercado brasileiro. Resultados obtidos nas Safras 2020/21 e 2021/22 apontaram 25% de ganho médio de produtividade sobre a cultivar referência do Sul do País. Isso representa quase 50 sacos a mais por hectare. Para a safra 2022/23 o produtor terá acesso também ao LD132 PV, primeiro híbrido com a tecnologia Provisia. Dados de pesquisa indicam resultados semelhantes aos obtidos nas últimas safras com o híbrido CL. É importante o entendimento de que o Sistema Provisia vai passar a compor o sistema produtivo do agricultor (Figura 2). Para sua adoção será necessário planejamento antecipado, considerando que rotação de culturas, sistemas de produção (Clearfield® e Provisia) entre outras práticas de manejo devem ser adotadas de forma integrada e de acordo com uma sequência lógica recomendada, com o intuito de garantir a sustentabilidade, e 10
a evolução do sistema produtivo, bem como o desenvolvimento econômico dos produtores. Para o produtor que pretende implementar o Sistema Provisia na Safra 2022/23 é imprecindível que este seja implementado em uma área que passou por um cultivo de soja/milho ou pastagem ou preparo de verão no ano anterior. Precisa ficar clara a necessidade de se utilizar uma cultura alternativa ao arroz Clearfield® na safra de verão que antecede a entrada do Sistema Provisia. Portanto, não é recomendado o uso do Sistema Provisia no modelo de monocultura arroz Clearfield® x arroz Provisia. Importante também considerar e realizar intervenções na área no período de inverno, como drenagem da área, uniformização do terreno através do preparo do solo e calagem. Outro ponto importante é respeitar as doses recomendadas do herbicida Provisia 50 EC, bem como realizar duas aplicações em pós-emergência. Esta recomendação se justifica em virtude do fluxo de emergência desuniforme que o
arroz-vermelho apresenta. Além disso, as características químicas do herbicida recomendado permitem que ele seja absorvido apenas via foliar, não tendo efeito residual no solo. A Figura 3 demonstra a importância das duas aplicações em pós-emergência, onde as setas azuis demonstram o controle da primeira aplicação e os círculos vermelhos mostram o segundo fluxo de emergência do arroz vermelho, sendo a segunda aplicação em pós-emergência fundamental para complementar o controle (Figura 4). Além da recomendação das duas aplicações de herbicida é fundamental a utilização do adjuvante recomendado. É importante salientar a necessidade de cuidado na mistura de herbicidas, pois algumas misturas acarretam antagonismo, causando baixa performance de controle. As recomendações que estão sendo indicadas têm como objetivo alcançar o melhor controle das plantas daninhas, assim como proporcionar maior produtividade. Em caso de escape de arroz vermelho em função de dificuldade do manejo, falha na irrigação, novo fluxo de emergência ou efeito guarda-chuva da aplicação, realize uma intervenção com o objetivo de eliminar os escapes. Isto é importante para reduzir a probabilidade de ocorrer fluxo gênico entre o arroz cultivado e o arroz vermelho, tornando resistente ao herbicida. Seguindo-se as recomendações, o Sistema Provisia será uma ferramenta indispensável para o manejo de plantas daninhas de díficil controle na cultura do arroz e um aliado para impulsionar a produtividade e a rentabildiade do agricultor. Afinal, o fortalecimento e a longevidade da esfera produtiva de quem cultiva estão muito relacionados à estratégia de diversificação de culturas e integração C de práticas de manejo. Antônio da Luz, Farsul Enio Marchesan, UFSM Paulo Mazzoni, BASF Valmir Menezes, Oryza & Soy
Caderno Técnico
Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 276 • Maio 2022 Capa - Wenderson Araújo - Sistema CNA Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
www.revistacultivar.com.br