passa a causar danos importantes em lavouras de soja
Sínfilo Scutigerella Nossa Capa
www.revistacultivar.com.br www.instagram.com/revistacultivar www.facebook.com/revistacultivar www.youtube.com/revistacultivar www.twitter.com/revistacultivar
Cuidados a distância Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ: 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.revistacultivar.com.br contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Assinaturas 3028.2000 • Comercial e redação: 3028.2075
Doenças iniciais em soja Manejo da cigarrinha em milho Sanidade de sementes de milho Monitoramento de pragas em algodão Coluna Agronegócios Coluna Mercado Agrícola Coluna ANPII Doenças no Cerrado Crédito: Andy Murray
Diretas Perdas associadas a sementes Principais doenças da soja no Cerrado Solo fértil reduz nematoides Capa - Scutigerella immaculata em soja Saiba quais foram as principais doenças da soja nas safras 2021/22 na região do Cerrado
16 44
Cultivar Grandes Culturas • Ano XXII • Nº 282 • Novembro 2022 • ISSN - 1516-358X
04 08 16 22 26 32 36 40 44 48 49 50 Índice 26
immaculata
Nova praga Destaques
Estudo avalia o monitoramento remoto de pragas na cultura do algodão Expediente Fundadores Milton Sousa Guerra (in memoriam), Newton Peter e Schubert Peter REDAÇÃO • Editor Schubert Peter • Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer • Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues • Expedição Edson Krause
Digitalização
A Yara segue sua aposta em digitalização. “Integrar o nosso sistema de recomendação nutricional à plataforma de compras on-line é trazer uma resposta aos produtores que buscam por um atendimento personalizado", diz Chantal Ghannam, diretora de Soluções Digitais da empresa.
Novas moléculas
A Basf anunciou oito novas moléculas para o mercado brasileiro até o ano de 2030. A informação foi dada por Marcelo Ismael, diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da empresa. Uma delas é Revysol, lançada neste ano (nome comercial Belyan). A segunda, Axalion, ainda em fase de registro e destinada ao controle da cigarrinha no mi lho. As seis demais são herbicidas, inseticidas e fungicidas.
Sorgo
A LongPing High-Tech passa a vender sementes de sor go no mercado nacional. A nova cultura será comercializa da pelas marcas Morgan (MG2220) e Forseed (FS66SG). Na coordenação da divulgação estão Ana Paula Nascimento e Fabiano Romero.
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 04 Diretas
Marcelo Ismael
Fabiano Romero
Ana Paula Nascimento
Chantal Ghannam
ICL
A ICL lançou o Kelmax Dry, tecnologia com nova forma de aplicação de nutrientes e precursores hormonais. “Ava liações realizadas durante a safra 2021/22 mostram que a adição de Kelmax Dry nas sementes proporcionou excelentes resultados em performance”, explica Luciane Balzan, geren te de Produtos ICL.
Indigo
A Indigo anunciou Cristiano Pinchetti como novo CEO da companhia para a América Latina. Entre os desafios do executivo na nova posição está ampliar a base de clientes e o volume de hectares que faz uso dos produtos biológicos da empresa.
Albaugh
Daniel D’Andrea assumiu o posto de diretor de Marke ting e Desenvolvimento da Albaugh para os mercados do Brasil e do Paraguai. Engenheiro agrônomo pela Unesp, com especializações e MBA em Marketing e Administra ção, D’Andrea acumula mais de 25 anos de experiência no mercado de proteção de cultivos.
Corteva
A Corteva Agriscience lançou o inseticida microbiológi co Tezpetix Beauve. “Com uma cepa exclusiva e adaptada às condições brasileiras, é um produto natural e que chega aos produtores como uma ferramenta complementar no controle químico, com consistência e eficácia comprovada”, destaca Cristiane Delic, líder do portfólio de biológicos e ar roz da empresa para o Brasil e Paraguai.
Luciane Balzan
Daniel D'Andrea
Cristiano Pinchetti
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 06
Cristiane Delic
Quantificação de p
Estudo mostra quantidade de perdas associadas à incidência de patógenos em razão de ausência de tratamento de sementes
Fitopatógenos, agentes causais de doenças de plantas, po dem se associar a sementes e materiais de propagação vegetativa causando prejuízos à produ ção. Fungos, bactérias, vírus e nematoi des podem se estabelecer nas sementes na forma de infecção (internamente), contaminação (aderidas à superfície) e contaminação concomitante ou infes tação (acompanhando o lote). Esse ra mo da ciência, denominado Patologia de Sementes, resultado da união dos conhecimentos de Fitopatologia com a Tecnologia de Sementes, vem evoluindo no Brasil a partir da década de 1960. Os testes de sanidade de sementes e o tra tamento de sementes vêm sendo cada
vez mais utilizados no Brasil e no mundo, contribuindo, de maneira expressiva, pa ra o manejo integrado de doenças (MID).
A importância da associação patóge no-semente é evidenciada pela maior sobrevivência e manutenção da patoge nicidade dos patógenos, além da facili dade de disseminação desses agentes e seu papel importante como causas de infecções precoces. Existem relatos de sobrevivência de patógenos por mais de 30 anos quando associada a sementes. Esses patógenos podem ser detectados e identificados através de testes espe cíficos, onde se avalia sua incidência (% sementes portadoras de cada patógeno).
O “potencial ou nível de inóculo” (seve ridade ou quantidade de inóculo por se
mente) também pode ser mensurado.
A avaliação da qualidade sanitária das sementes ainda é muito restrita no Brasil, tanto para sementes certificadas como para sementes próprias/salvas. Assim, os tratamentos a que são sub metidas as sementes nem sempre são os mais adequados. É muito importante lembrar que o tratamento de sementes tem como objetivo o controle dos pató genos presentes tanto nas sementes co mo no solo e no armazenamento, além de conferir proteção na parte aérea de plantas jovens contra inóculo oriundo de outras fontes.
Uma linha importante de pesquisa em Patologia de Sementes que tem sido pouco explorada na prática é a medição
Sementes
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 08
erdas
dos danos causados pelos patógenos associados às sementes. Neste sentido, vale ressaltar os exemplos apresentados em recente publicação de autoria de Ra vindra em Kumar e Anuja Gupta, pela Springer em 2020, que traz relação de importantes patógenos associados a se mentes de 44 espécies cultivadas. A par te I dessa publicação trata dos “impactos de patógenos associados a sementes na agricultura e na sociedade”.
Na literatura nacional e internacional são encontradas diversas referências que dão a dimensão das perdas causadas por patógenos em associação com semen tes, as quais são variáveis e de natureza diversa. No Brasil há relatos de perdas de até 20% em soja (Goulart, 2018), po dendo este percentual ser maior em de terminadas circunstâncias. No Paquistão perdas de até 10% em olerícolas e 15 a 90% em sorgo são relatadas por Chohan (2017) e por Gebeyaw (2020). Rehman et al. (2021) citam que a redução do rendi mento em milho varia de 0% a 40% de vido a Colletotrichum graminicola, 10% a 30% devido a Aspergillus flavus, 20% a 30% devido a Macrophomina phaseoli na, 10% a 15% devido a Cercopora zeae -maydis, 10% devido a Ustilago maydis e 30% a 50% devido a Bipolaris maydis. Savary et al. (2000) citaram que, em ar
roz, Xanthomonas oryzae pv. oryzae as sociada a sementes pode causar redução de rendimento de até 0,6%, Rhizoctonia solani de 5% a 10%, Helminthosporium (Drechslera) oryzae de até 10%, Magna porthe oryzae de até 2,1% e Sarocladium oryzae, de 1,3% a 7,3%.
Um dos danos mais relevantes causa dos por patógenos associados a semen tes é a introdução de novas espécies ou genótipos em áreas livres destes agen tes. São patógenos quarentenários ou não quarentenários de alto risco que, uma vez estabelecidos em um ambiente, podem causar drásticas modificações no manejo dos cultivos afetados, incluindo a adoção de medidas de controle, alte
rações nos programas de melhoramento etc. No Brasil, embora seja difícil a com provação científica, existem diversos pa tógenos que devem ter sido introduzidos por sementes, como Heterodera glycines (nematoide do cesto da soja), Phomop sis phaseoli f. sp. meridionalis (cancro da haste de soja) e Bipolaris maydis raça T (helmintosporiose do milho).
Outro efeito prejudicial que os pató genos associados às sementes podem causar é a redução de estande, devido à não germinação (morte) da semente ou o tombamento/damping-off, tanto de pré como de pós-emergência, pela ação de patógenos como espécies de Asper gillus, Penicillium, Fusarium, Phomopsis,
Vista geral de ensaios de campo visando à avaliação de eficácia agronômica de tratamento de sementes de soja com fungicidas
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 09
Fotos José Otavio Machado Menten
A avaliação da qualidade sanitária das sementes ainda é muito restrita no Brasil, tanto para sementes certificadas como para sementes próprias/salvas
Macrophomina,
Esse efeito é bastante influenciado pelas condições desfavoráveis à germinação das sementes e emergência das plântu las, como temperatura, umidade, seme adura e preparo do solo inadequados. É sabido que a redução do número de plantas afeta o rendimento. No caso da soja, cada planta a menos por m² reduz em 6% o rendimento, o que significa que a redução de cada 3 – 3,5 pontos percen tuais no estande causa perda de três a quatro sacas na produção. Assim, cada 1 ponto percentual a menos no estande significa redução de rendimento da or
dem de 1,8%.
Existem patógenos e condições de ambiente que não provocam reduções diretas de estande, mas debilitam as plantas em pós-emergência, prejudi cando o seu vigor, tornando-as menos produtivas, mais vulneráveis a doenças e insetos e mais sensíveis a estresses abióticos. Nesse grupo de patógenos estão espécies de Phomopsis, Fusarium, Verticillium, Drechslera/Bipolaris, que causam podridões radiculares, lesões no colo e haste e infecções vasculares, diminuindo altura, peso, porte e inten sificando as deficiências nutricionais.
Problema frequente e de difícil
compreensão e mensuração se refere ao papel da semente como veículo do inóculo inicial de doenças epidêmicas. A semente é, sem dúvida, o agente mais eficiente de transporte e disseminação de patógenos a longas distâncias. Outros agentes, como vento, água, insetos-ve tores e equipamentos agrícolas são re levantes a distâncias mais curtas. Além disso, os patógenos ficam mais protegi dos nas sementes e são uniformemente distribuídos durante a semeadura. Um exemplo de caso emblemático relatado em literatura é o carvão do trigo, que só infecta uma planta se o agente, Ustilago tritici, estiver infectando o embrião da semente. Mas a maioria dos fungos, bac térias, vírus e alguns nematoides pode ser transmitida para as plântulas/plantas quando transportada por sementes. A transmissão semente-plântula é a ma neira de a doença se iniciar o mais pre coce possível no campo. E quanto mais cedo a doença surgir, maior a possibili dade da quantidade da doença atingir altos níveis nas fases críticas da cultura (estádio reprodutivo), causando maior redução no rendimento.
Os patógenos associados às semen tes ainda podem alterar o aspecto das sementes, depreciando o seu valor, co mo a mancha púrpura e a mancha café na soja, manchas de Colletrotrichum em sementes de feijão e alterações da colo ração normal de sementes de trigo, arroz e milho causadas pela ação de espécies de Bipolaris, Alternaria e Fusarium.
Para que o aspecto sanitário seja, portanto, devidamente considerado em programas de produção e contro le de qualidade de sementes torna se necessário que padrões ou referenciais
A transmissão semente-plântula é a maneira de a doença se iniciar precocemente no campo
Quanto mais cedo a doença surgir, maior a possibilidade de atingir altos níveis nas fases críticas da cultura (estádio reprodutivo), causando maior redução no rendimento
Rhizoctonia, Drechsle ra/Bipolaris, Colletotrichum e Alternaria.
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 10
Fotos José Otavio Machado Menten
de qualidade sanitária sejam estabelecidos. Nesse sentido é ne cessário que se estabeleçam incidências máximas aceitáveis de patógenos em lotes de sementes em cada hospedeiro. Desde a década de 1990 esse assunto vem sendo debatido no Brasil, mas ainda não atingiu um patamar de consenso sobre a aplicação ou a adoção prática de padrões pelos sistemas oficiais que têm essas incumbências no País. Padrões de qualidade não oficiais têm sido estabelecidos por algumas empresas de maneira particularizada para alguns patossistemas ligados às sementes.
Dentre alguns dos trabalhos conduzidos nas condições bra sileiras que evidenciam a relação direta de perdas de produção causadas por patógenos a partir de sementes portadoras desses agentes, vale focar os estudos recentemente realizados no La boratório de Patologia de Sementes da Universidade Federal de Lavras, em Lavras (MG), safra 2019/20, envolvendo alguns patos sistemas de importância na cultura da soja. Por esses estudos foi possível obter informações sobre o impacto da presença de alguns fungos fitopatogênicos à soja, como Colletotrichum truncatum (antracnose), Fusarium pallidoroseum (F. semitectum) (fusariose), Phomopsis sojae (seca da haste e da vagem) e Rhizoctonia solani (tombamento/ morte em roboleira) na produção de grãos com relativização da presença desses agentes e estandes finais. O de sempenho de sementes inoculadas artificialmente foi comparado ao de sementes sadias (não inoculadas) e de sementes inoculadas tratadas e não tratadas com fungicidas. Foram utilizadas as doses recomendadas de um produto comercial e de um produto ainda em fase experimental.
A Tabela 1 mostra que sementes de soja com 24% de incidên cia de Colletotrichum truncatum foram responsáveis pela redução de 17,7% do estande e 48,5% de redução no rendimento de grãos, comparando com o desempenho de plantas provenientes de se mentes livres do patógeno. O tratamento de sementes mostrou eficácia de 77%, reduzindo a incidência do patógeno de 24% para 5,5%. Sementes tratadas proporcionaram aumento do estande em cerca de 30% e recuperação de 95%-101% das perdas atri buídas à presença do patógeno em sementes infectadas e não tratadas com os fungicidas. Nesse caso, cada 1 ponto percentual de incidência de C. truncatum no lote de sementes foi capaz de causar redução de 84,1kg/ha e o tratamento possibilitou o au
Tabela 1 - Efeito da incidência de Colletotrichum truncatum em sementes de soja no estande da colheita, rendimento e efeito de cada 1 ponto percentual da incidência no rendimento
Sanidade sementes
Sem patógeno
Com patógeno
Com patógeno Fludioxonyl + Metalaxyl ETOX1
Incidência (%) 0 24 5,5 (-77%) 5,5 (-77%)
Estante Colheita (%) 78,6 64,7 (-17,7%) 84,8 (+31%) 83,5 (+29%)
¹Mistura de estrobilurina, triazol e Oomicida específico
Rendimento (kg/ha) 4163 2145 (-48,5%) 4180 (+95%) 4315 (+101%)
• Cada 1% de incidência redução de 2,0% no rendimento
Efeito (kg/ha) cada 1% de incidência
-84,1 +112,0
Machado, J. C. (Ufla)
• Cada 1% de redução de estande (colheita) redução de 2,7% no rendimento
Tabela 2 - Efeito da incidência de Fusarium pallidoroseum em sementes de soja no estande da colheita, rendimento e efeito de cada 1 ponto percentual da incidência no rendimento
Sem patógeno Com patógeno Com patógeno Fludioxonyl + Metalaxyl ETOX1
Incidência (%) 0 38 6,5 (-82,9%) 7,0 (-81,6%)
Estante Colheita (%) 88,8 74,2 (-16,4%) 89,6 (+19,9%) 81,7 (+10,1%)
¹Mistura de estrobilurina, triazol e Oomicida específico
Rendimento (kg/ha) 4638 2871 (-38,1%) 4234 (+47,5%) 4220 (+47,0%)
Efeito (kg/ha) cada 1% de incidência Sanidade sementes
-46,5 +43,4
Machado, J. C. (Ufla)
• Cada 1% de incidência redução de 1,0% no rendimento
• Cada 1% de redução de estande (colheita) redução de 2,3% no rendimento
Tabela 3 - Efeito da incidência de Phomopsis sojae em sementes de soja no estande da colheita, rendimento e efeito de cada 1 ponto percentual da incidência no rendimento de grãos
Sanidade sementes Sem patógeno Com patógeno Com patógeno Fludioxonyl + Metalaxyl ETOX1
Incidência (%) 0 24,5 2,5 (-83,3%) 2,0 (-91,3%)
Estante Colheita (%) 89,6 66,5 (-25,8%) 84,3 (+20,8%) 89,5 (+34,6%)
¹Mistura de estrobilurina, triazol e Oomicida específico
Rendimento (kg/ha) 4641 2572 (-44,6%) 3721 (+44,7%) 4315 (+67,8%)
• Cada 1% de incidência redução de 1,8% no rendimento
Efeito (kg/ha) cada 1% de incidência
-84,4 +65,0
Machado, J. C. (Ufla)
• Cada 1% de redução de estande (colheita) redução de 1,7% no rendimento
Tabela 4 - Efeito da incidência de Rhizoctomia solani em sementes de soja no estande da colheita, rendimento e efeito de cada 1 ponto percentual da incidência no rendimento
Incidência (%) 0 22,0
(-75,0%)
(-77,3%)
Estante Colheita (%) 97,0 84,0 (-13,4%) 98,5 (+17,3%) 95,0 (+13,1%) ¹Mistura de estrobilurina, triazol e Oomicida específico
Rendimento (kg/ha) 4773
(-38,6%)
(+54,3%)
Efeito (kg/ha) cada 1% de incidência Sanidade sementes Sem patógeno Com patógeno Com patógeno Fludioxonyl + Metalaxyl ETOX1
(+61,0%)
• Cada 1% de incidência redução de 1,8% no rendimento
-81,9 +102,2
Machado, J. C. (Ufla)
• Cada 1% de redução de estande (colheita) redução de 2,1% no rendimento
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 11
5,5
5,0
2932
4534
4722
Custo do tratamento
sementes e custo
soja, por
período de 2008/2009
Sul
Richetti (2008, 2010 a 2016); Richetti e Tanaka (2009); Richetti e Garcia (2017 e 2018)
Figura 1 -
de
total da
hectare, no
a 2018/2019, em Mato Grosso do
Fonte:
mento de 112kg/ha. Para esse patossis tema e ambiente de cultivo, a redução de cada 1 ponto percentual do estande na colheita corresponde a uma redução de 2,7% no rendimento. E cada 1 ponto percentual de incidência do patógeno na semente causou redução de 2% na produção.
A Tabela 2 mostra que a presença de Fusarium pallidoroseum em sementes de soja com a incidência de 38% provo cou uma redução de estande da ordem de 16,4% em comparação com sementes sadias e uma redução de rendimento de cerca de 38,1%. Assim, cada 1 ponto per centual de incidência do patógeno cau sou a redução de 46,5kg/ha. Sementes tratadas com fungicidas apresentaram uma redução da incidência do patógeno
de cerca de 83%, ou seja, uma diminuição de 38% para 6,5%-7%, proporcionando aumento no estande da ordem de 15% e do rendimento de grãos de 47%. Cada 1 ponto percentual de incidência de F. palli doroseum causou redução de 46,5kg/ha e o tratamento de semente proporcionou aumento de 43,4kg/ha na lavoura. Para esse patossistema, a redução de cada 1 ponto percentual no estande foi res ponsável pela redução de 2,3% no rendi mento. E cada 1 ponto percentual na in cidência do patógeno na semente causou redução de 1% no rendimento de grãos.
Em relação ao terceiro patógeno de soja abordado neste artigo, Phomopsis sojae, resultados na Tabela 3, verifica-se que a incidência de 24,5% desse fungo nas sementes de soja causou uma re
dução de estande da ordem de 25,8% em comparação com sementes sadias, havendo uma diminuição do rendimen to de cerca de 44,6%. Para cada 1 ponto percentual de incidência do patógeno nas sementes observou-se uma redução de 84,4kg/ha. Sementes tratadas com fun gicidas foram capazes de reduzir incidên cia de 24,5% para 2%-2,5% (eficiência de 91%), proporcionando aumento médio no estande de 30,7% e no rendimento, de 56%. Cada 1 ponto percentual de redução de P. sojae nas sementes corresponde a um aumento de 65kg/ha na produção. Para esse patossistema e condições em que este estudo foi realizado concluiu-se que cada 1 ponto percentual de redução no estande corresponde a uma redução de 1,7% no rendimento. E, cada 1 ponto percentual na incidência do patógeno nas sementes equivale a uma redução em 1,8% no rendimento de grãos.
À esquerda,
A Tabela 4, referente a outro patógeno importante em soja, Rhizoctonia solani, mostra que sementes de soja com 22% de incidência desse agente apresentou estande 13,4% inferior ao apresentado por sementes sadias e rendimento 38,6% a menos. Assim, cada 1 ponto percentu al de incidência de R. solani causou re dução de 81,9kg/ha. Sementes tratadas com fungicidas reduziram a incidência do fungo de 22% para 5%- 5,5% (eficiência média de 76%), proporcionando aumen to do estande de 15,2% e de 57,6% no rendimento. Cada 1 ponto percentual de redução na incidência do patógeno em sementes proporcionou aumento de 102,2kg/ha na produção. Para este pa tossistema, a redução de cada 1 ponto percentual no estande proporcionou re dução de 2,1% no rendimento. E cada 1
observamos plantas emergidas de sementes tratadas com fungicidas; à direita, plantas com sintomas de antracnose, emergidas de sementes não tratadas
Ensaios de avaliação do TS de soja com fungicidas em condições controladas, casa de vegetação e laboratório; na primeira foto observamos plantas com sementes não tratadas (esquerda) e sementes tratadas (direita); nas fotos de microscópio, frutificações de Colletotrichum truncatum, agente causal da antracnose em soja
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 12
Fotos José Otavio Machado Menten
ponto percentual na incidência do fungo nas sementes significou uma redução de 1,8% no rendimento.
O tratamento de sementes com fungi cidas vem sendo amplamente adotado no Brasil, na medida do aumento da ativida de agrícola mais tecnificada. Consideran do as três últimas safras (19/20, 20/21 e 21/22), 73% a 81% das sementes de soja foram tratadas com fungicidas e 94% a 97% com fungicidas + inseticidas; 96% a 100% das sementes de milho, primeira e segunda safras, foram tratadas, algo dão: 96%-99%; trigo: 73%-74%; feijão: 75%-84%; arroz: 40%-45%; amendoim: 93%-98%. O tratamento de sementes com fungicidas na fazenda (on farm)/pro priedade rural corresponde a 37%-48% e o tratamento industrial corresponde a 54%-63%. Enquanto o tratamento de sementes industrial com fungicidas pre valece para milho (84% a 97%) e algodão (77% a 91%), o tratamento na fazenda prevalece para feijão (89% a 99%), soja (60% a 71%) e amendoim (51% a 66%). Trigo e arroz têm 39% a 62% das sementes tratadas com fungicidas na fazenda. Nas últimas safras, o custo do tratamento de sementes com fungicidas foi da ordem de US$ 1,3/ha (milho) e US$ 1,9/ha (soja) a US$ 7,2/ha (amendoim), o que equivale a 0,5%-1,5% do custo total da produção das lavouras.
Considerando-se que sementes de so ja não tratadas com fungicidas têm apre sentado incidências médias de 0,5% de C. truncatum, 2,5% de F. pallidoroseum, 2,5% de P. sojae e 0,1% de R. solani, pode -se estimar que a redução da produção em lavouras de soja conduzidas com se mentes não tratadas seja da ordem de 8,2%, e com sementes tratadas de 0,9%.
Fica evidente que a utilização de se mentes tratadas com fungicidas adequa dos (eficazes) se torne uma medida de extrema relevância para a redução dos danos diretos produzidos pelos patóge nos em associação com as sementes. Nesse contexto, torna-se inegável que a avaliação da qualidade do tratamento de sementes com fungicidas constitui um procedimento de grande importância. Sugere-se o monitoramento da sanidade de sementes, tanto não tratadas como tratadas (industrial e na fazenda) para, se necessário, propor aprimoramento no
procedimento.
Finalmente, vale ressaltar que a pro dução de grãos no Brasil, estimada em 271,2 milhões de toneladas na safra 2021/22, poderia alcançar, na realidade, cerca de 300 milhões de toneladas, con siderando-se que 10% da produção es timada seria recuperada pela utilização de sementes sadias ou adequadamente tratadas. Essa escassez de conhecimen tos mais sólidos no âmbito de sanidade de sementes no Brasil deixa clara a ne
cessidade de mais pesquisas nessa área. Os benefícios nessa direção poderão ser percebidos tanto na forma de ganhos econômicos para os produtores como de garantia de sustentabilidade das ativida des agrícolas em geral no País.
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 14
José Otavio Machado Menten, USP/Esalq José da Cruz Machado e Carolina da Silva Siqueira, Ufla
Ensaio TS de soja com fungicidas - Efeitos no vigor; fotos acima mostram sementes não tratadas e abaixo sementes tratadas com fungicidas
C C
Fotos superior e inferior à esquerda: plantas de soja oriundas de sementes não tratadas; à direita: plantas de soja oriundas de sementes tratadas com fungicidas. Sementes de soja infectadas pelo agente causal da antracnose
A escolha dos fungicidas pode fazer toda a diferença na produtividade da soja
Resultados apontam efetividade superior de OnmiraTM active
OBrasil tem um papel de protagonis mo no cultivo mundial de alimen tos, e a cultura da soja é, sem dú vida, o carro-chefe do agronegócio brasileiro. Com uma produção estimada em 122 milhões de toneladas e área cultivada que ultrapassa a casa dos 40 milhões de hectares, é natural que o cuidado com a sanidade das lavouras constitua um tema central que mobiliza os esforços dos produtores e pesquisadores do País inteiro, sobretudo diante dos impactos que a ocorrência de doenças costuma causar para o setor.
Entre os patógenos que podem reduzir o potencial produtivo da cultura da soja, a fer rugem-asiática representa uma das principais ameaças. Causada pelo fungo Phakopsora pa chyrhizi, a doença, que se dissemina facilmen te, pode ser encontrada em todas as regiões produtoras de soja do Brasil, e a dimensão dos seus danos pode comprometer até 90% do vo lume do cultivo.
Outras patogenias frequentes incluem a mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e o crestamento foliar de cercospora (CFC), cau sado por fungos do gênero Cercospora. O aumento que se tem observado na ocorrên cia desses casos está relacionado a fatores diversos, como o fato de serem transmitidos também por sementes, sobreviverem em restos culturais e, em alguns casos, afetarem culturas que fazem parte do sistema de pro dução, como o algodão.
Muitas são as estratégias empregadas pelos produtores para manter a lavoura a salvo das doenças e preservar suas altas taxas de renta bilidade. Exemplos são o vazio sanitário, a ro tação de culturas, a busca por cultivares mais resistentes e a utilização de produtos para au xiliar na proteção dos cultivos. Nesse quesito, o critério na seleção do fungicida mais eficaz pode ser o fator decisivo para obter uma safra sadia e produtiva. Isso foi o que revelou uma pesquisa que analisou a importância das estro bilurinas (fungicidas foliares de largo espectro) no controle das doenças da soja.
SUPERIORIDADE DE ONMIRA TM ACTIVE
Para mensurar a efetividade dos principais fungicidas utilizados pelos sojicultores, pes quisadores da Corteva Agriscience e de outras instituições conduziram um estudo que contou com a instalação de 26 experimentos na safra 2021/22, observando a ocorrência de man chas foliares (Cercospora spp. e Corynespora cassiicola) e da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), e como os fungicidas atuavam no controle das patogenias.
Após efetuar o levantamento e a análise dos dados, a conclusão dos pesquisadores não surpreendeu: OnmiraTM active foi identificado como um dos dois fungicidas mais eficazes no manejo das doenças, com um nível de controle da ordem de 51,1%. Dentre o grupo das estrobi lurinas, OnmiraTM active apresentou efetividade substancialmente superior a todos os outros fungicidas, com um manejo não comparável por nenhum outro produto.
Resultados equivalentes a esse foram di vulgados em ensaios de rede publicados pela Embrapa, demonstrando, mais uma vez, a supe rioridade de OnmiraTM active nas safras mais re centes diante de todas as outras estrobilurinas.
Mais do que validar uma prática que já é recorrente entre os grandes sojicultores do Brasil, pesquisas como essas ajudam a disseminar a efetividade de OnmiraTM active como uma ferramenta indispensável para o controle da ferrugem-asiática e da mancha -alvo, auxiliando a desenvolver a cultura da soja e a promover maiores índices de produ tividade no País inteiro.
Publieditorial
Doenças no Cerrado
Veja as principais doenças ocorridas na cultura da soja na safra 2021/2022 nas regiões do Cerrado e os resultados de ensaios de campo com o uso de fungicidas
No estado de Mato Grosso, dois sistemas de pro dução agrícola têm maior representatividade: soja-milho e soja-algodão. Ambos com particu laridades quanto a planejamento, nível tecno lógico, input de insumos agrícolas e desafios fitossanitários. É necessário entender quais são essas particularidades de cada sistema para tomar a melhor decisão quanto aos temas acima descritos, pois no caso de soja-algodão, por exemplo, algumas doenças podem ocorrer nas duas culturas, o que possibilita o aumento da quantidade da doença nas plantas e inóculo do patógeno constante no sistema.
Este artigo destaca as principais doenças ocorridas na cul tura da soja na safra 2021/2022 nas regiões do Cerrado e tam bém os resultados de ensaios de campo com o uso de fungici das, entre outras importantes estratégias de manejo que são utilizadas na prática para um eficiente controle das doenças.
As condições de clima tropical do Estado favorecem o de senvolvimento da maioria das doenças incidentes na cultura da soja. Médias de temperaturas variando entre 25°C e 30°C e umidade relativa do ar acima de 70% são comuns durante o período da safra, condições que são favoráveis ao desen volvimento do patógeno e à evolução da doença no campo. Nesse aspecto, a combinação entre patógeno virulento, am biente favorável e cultivar sensível resulta em doença, tendo sua intensidade dependente dos níveis de interação dos fa tores acima citados.
Em condições naturais de cultivo, diversos fatores bióticos podem dificultar a expressão do potencial produtivo das culti vares de soja, expondo-as a inúmeras condições de estresse. A incidência de doenças de origem biótica pode ser respon sável por severos danos à produção de grãos, acarretando consideráveis perdas econômicas ao produtor, decorrentes do aumento do custo de produção e da redução da produtivida de de grãos e, ainda, impactando a qualidade do grão final.
A Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) desenvolve pesquisas aplicadas nas principais culturas agrícolas e nas principais regiões produto ras de Mato Grosso, entre elas a cultura da soja. As estações de pesquisa estão em locais estratégicos do Estado, como Sa pezal, Sorriso, Nova Mutum, Pedra Preta, Primavera do Leste, Campo Verde e Itiquira. Tal capilaridade é crucial para estudar
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 16 Soja
o comportamento das epidemias nessas regiões.
As principais doenças bióticas são: a) mancha-alvo (Corynespora cassiicola), doenças de final de ciclo [crestamento foliar de cercospora (Cercospora spp.) e mancha parda (Septoria glycines)] e fer rugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi).
Para o manejo das doenças da soja, os desafios da safra são grandes, comple xos e, muitas vezes, imprevisíveis. Para lidar com esse cenário, existem diversas ferramentas disponíveis que integradas fazem parte do manejo das doenças da soja. As mais frequentemente utilizadas são o escape de semeadura, o vazio sa nitário, a cultivar resistente/tolerante, o ciclo de maturação, os agentes de con trole biológico, o controle químico com fungicidas de sítio-específico e multissí tios, os indutores de resistência das plan tas, a rotação de culturas, dentre outros.
MANCHA-ALVO
A mancha-alvo da cultura da soja, causada pelo fungo Corynespora cassii cola, tem despertado preocupação de produtores, agrônomos e pesquisadores do agronegócio. A doença tem ocorrido cada vez mais cedo no ciclo da soja, e com incrementos na intensidade de do ença nas plantas. A doença possui distri buição generalizada nas áreas produto ras de soja, principalmente aquelas com clima quente e úmido durante a safra. O inóculo inicial do patógeno origina -se de natureza variada. Por ser necrotró fico, o fungo sobrevive em restos cultu rais infectados durante o período de en tressafra ou pode ser introduzido via se mentes infectadas, importante meio de dispersão do patógeno. Estando na área desde o início do ciclo, o patógeno pode infectar a soja assim que as condições de umidade e temperatura o favorecerem, podendo levar à infecção precoce da soja. Dependendo da sensibilidade da cultivar, a doença pode se desenvolver rapidamente, produzindo inóculo para novas infecções ou acelerando a desfo lha das plantas precocemente.
Os sintomas da mancha-alvo são caracterizados por lesões necróticas cir culares, geralmente apresentando halo clorótico ao redor da lesão e um ponto escurecido no centro do tecido necrosa
do. Como característica marcante, à me dida que a lesão aumenta de tamanho, formam-se camadas circulares no seu centro, dando-a aspecto de “alvo” (Figu ra 1). No campo, pode gerar dúvidas de diagnose com a mancha de mirotécio, no entanto, diferencia-se desta pela ausência de estruturas do patógeno no centro da lesão, denominados de esporodóquios.
DOENÇAS DE FINAL DE CICLO (DFC)
As doenças de final de ciclo (DFC) en globam um complexo de patógenos ca racterizados por causarem doença mais no final do ciclo da soja. As DFC são carac terizadas por duas doenças, o crestamen to foliar de cercospora e a mancha parda, causadas pelos fungos Cercospora spp. e
Septoria glycines, respectivamente.
Ambos os patógenos são favorecidos por clima quente e úmido, comum em temperaturas médias em torno de 25°C e umidade acima de 70%, podendo in fectar e causar doenças em diferentes estádios fenológicos e partes da soja. Pela natureza necrotrófica, podem so breviver em restos culturais infectados no período de entressafra da soja.
Os sintomas do crestamento foliar de cercospora aparecem inicialmente nas folhas como pontuações de coloração escura, que evoluem para lesões bronze adas de coloração vermelho-arroxeada (Figura 2), resultado da produção da to xina cercosporina, que leva à morte ce lular das folhas. Além do alto potencial de causar desfolha nas plantas, o fungo
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 17
Figura 2 - Sintomas do crestamento foliar de cercospora na cultura da soja
Figura 1 - Sintomas de mancha-alvo na cultura da soja
Fotos Fundação MT
Cercospora spp. pode infectar sementes, causando a doença conhecida popular mente por “mancha púrpura" da soja. Por esse motivo, a semente é conside rada um excelente veículo de dispersão do patógeno.
A mancha parda pode ter incidência ainda nos estádios iniciais das plantas de soja, dependendo da cultivar e das con dições meteorológicas. A doença geral mente se inicia nas folhas do baixeiro das plantas, caracterizada por pontuações pardas, com centro angular, delimita do pelas nervuras secundárias da folha (Figura 3). É comum apresentar cloro se ao redor das lesões, e essas podem coalescer e cobrir parte do tecido foliar, causando desfolha precoce das plantas. No campo, será comum encontrar folhas com lesões de múltiplas doenças de senvolvendo junto, como mancha-alvo, mancha parda e crestamento foliar de cercospora.
FERRUGEM-ASIÁTICA
DA SOJA
Diferentemente dos patógenos que vimos até o momento, a ferrugem-asiá tica da soja é causada pelo fungo biotró fico Phakopsora pachyrhizi, ou seja, pre cisa da planta viva para se desenvolver no ambiente, não sendo reportada até o momento sua sobrevivência em restos culturais infectados de soja.
No passado, a doença foi um sério problema para o cultivo da soja, visto que as condições climáticas de alta umidade (>70%) e temperatura média em torno
de 25°C favorecem o desenvolvimento do patógeno e a evolução da doença.
Atualmente, com o uso de cultivares resistentes/tolerantes, o plantio no início da janela de semeadura e a aplicação de fungicidas, os primeiros sintomas geral mente são verificados mais no final do ciclo da cultura, não causando grandes danos na produtividade de grãos e/ou perdas econômicas.
Os primeiros sintomas geralmente são verificados nas folhas do terço in ferior da planta, onde as condições de microclima favorecem o patógeno. Na superfície da folha a infecção resulta em manchas castanhas a marrom-escuras com halo clorótico. Na face inferior, ocor re a formação de pequenas saliências no tecido foliar, estruturas essas deno minadas de urédias/pústulas, onde são produzidos os uredósporos/esporos do fungo (Figura 4). É uma doença policíclica com alto potencial de causar danos nas plantas, ou seja, o fungo completa vários ciclos em um único ciclo da soja.
MANEJO DAS DOENÇAS
Alguns sistemas de produção agríco la geralmente são mais intensificados, portanto, é comum haver diferenças na exposição de populações dos patógenos aos métodos de controle das doenças utilizados com frequência. O manejo integrado das doenças tem fundamen tal importância nesse cenário. Trata-se da adoção de diferentes estratégias de controle das doenças, dentro dos méto dos cultural, genético, químico, biológi
co, indutor de resistência, dentre outros.
A semeadura da soja logo no início da janela de plantio é uma importante estratégia de escape de doenças comu mente incidentes no final do ciclo da soja, a exemplo da ferrugem-asiática. O uso de cultivar de ciclo curto também favorece essa tática de controle, além de permitir uma janela de semeadura mais segura na safrinha. A ideia principal é reduzir o tempo de exposição da cultura no campo a fatores de estresse biótico e abiótico.
O histórico de ocorrência de doenças da região ou propriedade auxilia na esco lha da cultivar, insumo genético impor tantíssimo para a obtenção de altas pro dutividades. Existe disponível uma gama de cultivares de soja com variados níveis de sensibilidade às doenças de plantas. Portanto, é importante selecionar uma que tenha teto produtivo, mas também que seja menos sensível às doenças in cidentes na região.
O controle biológico de doenças de plantas tem se tornado cada vez mais frequente e presente nos programas de manejo do produtor. Trata-se da utili zação de micro-organismos benéficos, representados por bactérias, fungos e/ ou vírus, para combater outros micro -organismos que causam doenças na cultura. Como a ideia principal é traba lhar a integração de estratégia de mane jo, o uso do controle biológico junto aos fungicidas químicos tem apresentado resultados promissores no controle das doenças de plantas.
Ao utilizar os produtos biológicos,
Figura 3 - Sintomas de mancha parda (esquerda) e infecções múltiplas (direita) na cultura da soja
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 18 Fotos Fundação MT
Tabela 1 - Relação dos tratamentos (TRAT), programa de fungicidas, dose e data da aplicação em dias após a semeadura (DAE) da soja. Ensaio conduzido nas estações de pesquisa da Fundação MT, safra 2021/22
Programa de fungicidas
Testemunha
Fox Xpro¹_ Ativum²_ Aproach Power
Fox Xpro ¹_ Ativum²_ Aproach Power
Fox Xpro ¹_ Ativum²_ Aproach Power
Fox Xpro + Unizeb Gold²_ Ativum + Unizeb Gold¹_ Aproach Power + Unizeb Gold
Fox Xpro + Previnil²_ Ativum + PrevInil¹_ Aproach Power + PrevInil
Ativum¹_ Fox Xpro ²_ Aproach Power
Ativum¹_ Fox Xpro²_ Aproach Power
Ativum¹_ Fox Xpro ²_ Aproach Power
Ativum + Unizeb Gold¹_ Fox Xpro + Unizeb Gold²_ Aproach Power + Unizeb Gold
Ativum + Previnil¹_ Fox Xpro + Previnil²_ Aproach Power + Previnil
Adicionado: ¹Aureo (0,25% v/v); ²Assist (0,25% v/v)
é importante ficar atento às recomen dações técnicas de armazenamento e aplicação desses produtos. Para a efeti vidade do manejo integrado "biológico x fungicidas químicos", sempre verificar as tabelas de compatibilidade do produ to biológico com os fungicidas químicos, e assim evitar perda de efetividade no controle.
O controle químico com fungicidas é uma das principais estratégias de contro le das doenças de plantas. Os principais fungicidas de sítio-específicos aplicados pertencem aos grupos químicos de es trobilurinas, triazóis, carboxamidas, mor folinas e benzimidazóis. Entre os multis sítios, têm-se os grupos ditiocarbamato, isoftalonitrila e inorgânicos.
Os fungicidas apresentam variação na performance de controle para deter minadas doenças e em razão do posicio namento desses nos programas de fungi cidas. Objetivando entender as diferen ças no controle de doenças da soja, em função do posicionamento de fungicidas sítio-específicos e da adição de multissí tios, foram conduzidos dois ensaios nos Centro de Aprendizagem e Difusão (CAD) da Fundação MT, um na região Norte (Sorriso) e outro no Sul (Campo Verde) do estado de Mato Grosso.
Em Campo Verde, a semeadura da cultivar M8210 IPRO foi realizada no dia 16/11/2021, tendo foco nas avaliações de ferrugem-asiática e DFC. Em Sor riso, a semeadura foi realizada no dia 30/10/2021, utilizando a cultivar HO Maracaí IPRO, material posicionado com foco na avaliação da mancha-alvo e DFC.
Os experimentos foram conduzidos em delineamento de blocos casualiza dos, contendo 11 tratamentos e quatro repetições, conforme descrito na Tabela 1. As parcelas experimentais foram cons
dose X - X
0,5_ 0,8_ 0,6 0,5_ 0,8_ 0,6 0,5_ 0,8_ 0,6 0,5+1,5_ 0,8+ 1,5_ 0,6+1,5 0,5+1,5_ 0,8+ 1,5_ 0,6+1,5 0,8_ 0,5_ 0,6 0,8_ 0,5_ 0,6 0,8_ 0,5_ 0,6 0,8+ 1,5_ 0,5+1,5_ 0,6+1,5 0,5+1,5_ 0,8+ 1,5_ 0,6+1,5
tituídas de seis linhas de 6m de com primento com espaçamento de 0,45m entre linhas. A área útil de cada parcela foi composta por três linhas centrais de 5m de comprimento. Foi realizado um manejo de fungicida com três aplicações e intervalos de 14 dias entre cada aplica ção. A aplicação dos tratamentos foi rea lizada utilizando equipamento de pulve rização costal pressurizado com CO2, com volume de calda ajustado para 120L/ha.
A avaliação das doenças foi realizada an tes de cada aplicação de fungicidas, de pois com intervalos de sete dias. Com os dados de severidade, foi calculada a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD). Foi determinada a eficácia de controle dos tratamentos em relação à testemunha absoluta (sem aplicação de fungicidas).
Os resultados dos ensaios apontaram variação na expressão de doenças nas duas regiões. Em Campo Verde, houve incidência de mancha-alvo e ferrugem -asiática, sendo a última a mais impor tante. No ensaio conduzido em Sorriso,
40_54_68 47_61_75 54_68_82 40_54_68 40_54_68 40_54_68 47_61_75 54_68_82 40_54_68 40_54_68
a mancha-alvo foi a doença de maior impacto, apesar de ser observada tam bém a ocorrência das DFCs. Consideran do tal variação na pressão de doenças, o posicionamento dos fungicidas também variou no controle, assim como a adição dos multissítios.
Ficou evidente que para o controle da mancha-alvo, regiões Norte e Sul do MT (Gráfico 1 B e D), a aplicação do fun gicida com protioconazol + mancozeb na primeira aplicação, realizada no pré -fechamento das entre linhas (40 DAE) da soja, resultou em maior controle da doença, e em função da maior proteção das folhas do baixeiro da planta. Mesmo sendo o melhor tratamento, a eficácia de controle variou no comparativo entre as duas regiões, possivelmente devido à quantidade de doença e à exposição da população do patógeno aos fungicidas.
A adição dos multissítios clorotalonil e mancozeb demonstrou significativa importância no controle das doenças (Gráfico 1 A e C). Os dois multissítios testados (clorotalonil e mancozeb) fo
Figura 4 - Sintomas de ferrugem-asiática da soja (esquerda) e urédias/pústulas do patógeno na face abaxial da folha (direita) na cultura da soja
Trat. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
DAE
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 19
ram eficientes no controle de ferrugem-asiática, mancha-alvo e DFC. Apesar de ambos serem eficazes, para a maioria dos ensaios conduzidos a campo nas safras 2020/21 e 2021/2022 os multis sítios à base de clorotalonil se destacaram no controle das DFC e de ferrugem-asiática da soja, enquanto o mancozeb se destacou no controle de mancha-alvo. Isso reforça a importância da utili zação dos diferentes multissítios no manejo, sabendo que várias doenças acometem a cultura na mesma safra.
As doenças bióticas podem causar sérios danos à cultura da so ja, levando a perdas econômicas. No entanto, a aplicação de fun gicidas de forma assertiva, ou seja, optando pelo fungicida mais indicado para o controle da doença e este aplicado no momento correto, leva a incrementos de produtividade de ± 24%. Vale res saltar que essa margem de incremento da produção é variável conforme a região, as condições meteorológicas da safra, o teto produtivo da cultivar, as estratégias de manejo, o aporte tecno lógico e os insumos agrícolas utilizados no sistema de produção.
Safra após safra o produtor enfrenta desafios no controle das doenças da soja. A Fundação MT dedica seus esforços para realizar pesquisas aplicadas nas principais regiões produtoras do Mato Grosso, visando entender os problemas para trazer solu ções técnicas eficientes ao produtor. É de comum acordo entre o time de pesquisadores do setor de Fitopatologia e Biológicos, que o manejo integrado das doenças é uma importante estratégia visando o controle das doenças da soja. Portanto, a semeadura dentro da melhor janela recomendada para a região, optando por cultivares menos sensíveis às principais doenças, já é um começo
de safra com bons indicativos de sucesso.
No que diz respeito à proteção da lavoura, é importante a integração das diferentes táticas de controle disponíveis, como os produtos indutores de resistência das plantas contra os pató genos. O controle biológico é uma opção que tem demonstrado resultados promissores de controle das doenças da soja, poden do este ser integrado com a aplicação de fungicidas químicos, de sítio-específico e multissítios. Seguindo essa lógica de manejo, espera-se obter maior rentabilidade do sistema de cultivo, com maior controle das doenças das plantas e incrementos de pro dutividade de grãos da soja.
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 20
Gráfico 1 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) calculada a partir da severidade de ferrugem-asiática da soja, mancha-alvo e doenças de final de ciclo (DFC), de ensaios conduzidos em Campo Verde - MT e Sorriso - MT. *Médias seguidas pela mesma não diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Scott-Knott, com 5% de probabilidade. Letras e valores plantados no gráfico indicam o rankeamento das médias e a porcentagem de controle da doença, respectivamente
Autores falam das principais doenças ocorridas em soja nas safras 2021/2022 no Cerrado
João Paulo Ascari Karla Kudlawiec e Mônica Müller, Fundação MT
C
Solo fértil reduz nematoides
A melhoria das fertilidades química, física e biológica do solo proporciona um ambiente supressivo aos fitonematoides
Além de aumentar a tolerân cia das plantas aos danos dos principais nematoides que atacam a raiz da soja, o correto manejo do solo, focado na melhoria contínua de sua fertilidade, contribui para a formação de um am biente desfavorável (supressivo) a esses parasitas, diminuindo suas populações ao longo do tempo.
O ambiente solo pode se tornar su pressivo aos nematoides por meio da al teração de atributos relacionados à bio logia (fatores bióticos) e/ou à química e à física (fatores abióticos). No primeiro ca so, tem-se o controle biológico conserva tivo, definido como sendo a modificação do ambiente ou das práticas de manejo adotadas de forma a proteger e a favo recer organismos com efeito antagônico para reduzir a densidade populacional dos nematoides e, dessa forma, seus da nos. Os agentes de controle biológico fa vorecidos pela melhoria do ambiente ou das práticas de manejo adotadas podem ser introduzidos/aplicados ou presentes naturalmente na área.
A melhoria do ambiente solo visando otimizar o controle biológico conservati vo de nematoides é fundamentada nos princípios que regem o sistema plantio direto (SPD), ou seja, no aporte contínuo de material orgânico via palha e raízes, na diversidade de espécies vegetais, na co bertura permanente e no mínimo revol vimento. A adição de material orgânico ao solo, sobretudo via raízes e palha das plantas que compõem os sistemas de produção, fornece energia e nutrientes necessários à biota do solo. Esse aporte deve ser contínuo ao longo do tempo, pois o estímulo à biota do solo e, con sequentemente, os efeitos na supres
são dos fitonematoides, ocorrem mais intensamente durante as fases iniciais de decomposição do material orgânico fresco adicionado. Ressalta-se também a importância da presença de raízes vivas e bem distribuídas na área pelo maior período de tempo possível, pois libera ção contínua de compostos orgânicos e outros nutrientes pelo sistema radicular (exsudatos) estimula a atividade biológi ca em uma fina camada de solo ao redor das raízes (rizosfera).
Além dos compostos orgânicos e nutrientes fornecidos pela biomassa ve getal, o aumento da atividade biológica envolve a formação de um ambiente fí sico e químico compatível com a vida do solo. Não se pode esperar que qualquer organismo do solo, nativo ou introduzi do/aplicado, seja eficiente na supressão de nematoides em um ambiente solo perturbado mecanicamente, com altas temperaturas, baixa umidade e exces sivamente ácido. Portanto, a cobertura permanente, o mínimo revolvimento do solo e a correção da acidez de acordo, como preconizado pela pesquisa, são condições básicas para a supressão bio lógica de fitonematoides, proporcionan do condições químicas, abrigo, umidade e temperatura favoráveis à biota do solo.
Por fim, quanto maior for a diversi dade da biota do solo, maior é a proba bilidade de existir algum organismo com efeito antagônico aos nematoides. Como cada espécie vegetal favorece determi nadas classes e espécies de organismos do solo, principalmente na rizosfera, o aumento da diversidade de culturas no sistema de produção reflete diretamente na diversidade da biota do solo e, assim, no efeito supressivo desse sobre os fito nematoides.
Soja
Paulo Santos
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 22
Um exemplo de como o manejo adequado da fertilidade do solo favo rece o controle biológico conservativo de nematoides é mostrado na Figura 1, elaborada a partir do trabalho de Stirling et al. (2011). Tal trabalho foi realizado em áreas de cana-de-açúcar (colheita da planta verde, com a manutenção dos restos culturais na superfície do solo), conduzidas sobre Latossolos argilosos na Austrália. A camada mais superficial do solo, com maior teor de carbono orgânico total (COT) e, sobretudo, da fração lábil (CL, correspondente à fra ção orgânica mais acessível à biota do solo), apresentou maiores atividades microbianas e população de fungos, o que, por sua vez, refletiu-se em maior densidade de nematoides não parasitas de plantas, incluindo os predadores de outros nematoides (carnívoros). Como resultado da maior atividade microbia na, e das maiores populações de fungos e nematoides predadores, a densidade populacional de nematoides parasitas de plantas foi cerca de três vezes menor na camada superficial, com a consequente redução em 90%, da porcentagem de plantas parasitadas e aumento da nota de sanidade radicular.
Em resumo, a adição de material orgânico na superfície do solo propor
cionou alterações na estrutura da co munidade de organismos do solo, com favorecimento de inimigos naturais dos nematoides parasitas de plantas, for mando assim um ambiente supressivo aos nematoides na camada superficial do solo.
Na Figura 2, são apresentados os re sultados de levantamento de populações de fitonematoides realizado pela Em brapa Soja e pela Cocamar em lavouras comerciais de soja na região Norte do Paraná, manejadas sob sistemas de pro dução com diferentes níveis de diversifi cação de culturas, na safra 2019/2020. Embora as densidades populacionais das quatro principais espécies de nema
toides diagnosticadas tenham sido em geral baixas, observa-se que os valores foram de 1,8 a 18,7 vezes menores nas áreas que adotam sistemas de produção aprimorados, com maior diversidade de espécies vegetais e produção de palha e raízes, em comparação com as que ado tam o sistema padrão, baseado nas su cessões soja/milho ou soja/trigo.
Ressalta-se que a maioria das cultu ras componentes dos sistemas aprimora dos é considerada suscetível aos fitone matoides diagnosticados, evidenciando que o principal efeito benéfico desses sistemas foi a formação de um ambiente biologicamente supressivo.
Outra estratégia para formar um
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 23
Figura 1 - Esquema mostrando o efeito do carbono orgânico total (COT) e lábil (CL) em diferentes grupos componentes da biota do solo, e nos danos ocasionados por fitonematoides às raízes de cana-de-açúcar, em um Latossolo muito argiloso da Austrália. Elaborado a partir dos dados de Stirling et al. (2011)
(1) Atividade microbiana estimada pelo método da hidrólise de diacetato de fluoresceína (FDA).
Figura 2 - Densidade populacional de Pratylenchusspp., Scutellonemabrachyurus, Rotylenchulusreniformise Helicotylenchusdihysteraem amostras de solo e raízes de soja, coletadas na safra 2019/2020 em lavouras comerciais pertencentes a cooperados da Cocamar na região Norte do Paraná, que adotam sistemas de produção padrão (sete propriedades) ou aprimorados (seis propriedades)
Sistema padrão: sucessões soja/milho e soja/trigo Sistema aprimorado: sistemas com diversificação de culturas na 2ª safra, envolvendo milho, trigo e plantas de cobertura (solteiras ou em consórcio) como braquiária ruziziensis, milheto, nabo forrageiro e aveias.
O ambiente solo pode se tornar supressivo aos nematoides por meio da alteração de atributos relacionados à biologia (fatores bióticos) e/ou à química e à física (fatores abióticos)
Marcelo Madalosso
município de Ipiranga do Norte/ MT, sobre solo muito argiloso (68% de argila)
dos, com baixos teores de bases trocá veis, de forma que a correção da acidez gera um ambiente quimicamente su pressivo ao nematoide. Além disso, o aumento do pH e dos teores de cálcio pode ter contribuído para aumentar a resistência das raízes ao parasitismo de P. brachyurus, dificultando sua re produção.
Por outro lado, a resposta do ne matoide-de-cisto da soja (Heterodera glycines) à acidez do solo é diferen te da apresentada por P. brachyurus, conforme mostrado na Figura 4. En quanto P. brachyurus foi favorecido na testemunha sem calagem, a densidade populacional de H. glycines foi cerca de quatro vezes menor nessa mesma área. Ressalta-se que os valores mé dios de pH em CaCl2 e V na camada de 0cm-20cm foram, respectivamente, de 4,83% e 35% para a testemunha sem calagem e de 5,17% e 47% com aplica ção de calcário em setembro de 2014.
(1) Avaliação feita em raízes de soja coletadas diretamente no campo, quando a cultura se encontrava no estádio R5.4.
(2) Avaliação feita por bioensaio, em plantas de soja de cultivar suscetível cultivadas por 30 dias em vasos contendo solo coletado na área expe rimental após a colheita da cultura.
ambiente supressivo envolve a mo dificação de características químicas e/ou físicas do solo, para valores fora da faixa favorável à sobrevivência, à reprodução e aos danos dos nematoi des. Essa estratégia é exemplificada na Figura 3, que mostra a relação entre a densidade populacional de P. brachyu rus e a acidez do solo.
Para esse estudo, foi conduzido um experimento em casa de vegeta ção na Embrapa Soja, em Londrina/ PR, utilizando solos com texturas con trastantes provenientes de áreas sob mata natural (sem presença de P. bra chyurus) localizadas na região Médio -Norte do MT. Após a correção com diferentes doses de calcário, o solo foi acondicionado em vasos de 1L e culti
vado com plantas de soja, inoculadas com uma população inicial de 500 in divíduos de P. brachyurus por planta. Após 65 dias da semeadura, o sistema radicular de cada planta foi coletado e a densidade populacional de nematoi des determinada.
Os resultados mostraram que o fator de reprodução (FR, que corres ponde à população final dividida pela população inicial de nematoides em cada planta) diminuiu com o aumento do pH em CaCl2 (Figura 3a) e a satura ção por bases - V (Figura 3b), indepen dentemente da textura. Nesse sentido, o FR decresceu de 14 para oito, com o aumento do valor de V de 40% para 60%. Provavelmente, P. brachyurus é um nematoide adaptado a solos áci
Assim, ao contrário de P. brachyu rus, H. glycines é mais adaptado a solos com pH elevado e altos teores de cálcio e magnésio. É importante salientar que o manejo da acidez do solo para mais ou para menos, visando à formação de um ambiente supressor a H. glycines ou P. brachyurus, deve levar em consi deração os requerimentos mínimos da soja, para que o potencial de produtivi dade da cultura não seja diretamente prejudicado por valores muito altos ou baixos de pH.
Diante do exposto anteriormente, fica claro que a melhoria das fertilida des química, física e, sobretudo, bio lógica do solo, por meio da adoção de práticas de manejo em consonância com os fundamentos do SPD, propor ciona um ambiente supressivo aos fi tonematoides, mantendo suas popula ções em níveis baixos e sem ocasionar danos
Henrique Debiasi
Julio Cezar Franchini
Waldir Pereira Dias
Edison Ulisses Ramos Jr. e
Alvadi A. Balbinot Jr., Embrapa Soja
à cultura da soja.
Figura 3 - Relação entre o fator de reprodução (FR) do nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchusbrachyu rus) e o pH em CaCl2 (a) e a saturação por bases (V%) (b) em solos com diferentes teores de argila, determinado nas raízes da soja após 65 dias de cultivo sob condições de casa de vegetação. Embrapa Soja, Londrina/PR
Figura 4 - Mapas de variabilidade espacial da densidade populacional do nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchusbrachyurus) (a) e do nematoide-de-cisto (Heteroderaglycines) (b), em função da aplicação de calcário ou não em setembro/2014, em experimento conduzido no
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 24
C
É praga, mas não inseto
Scutigerella immaculata, considerada exótica, tem causado problemas em lavouras de soja
Scutigerella immaculata per tence à classe Symphyla, que agrupa artrópodes com 12 pares de patas, quando adultos. Por isso, é mais semelhante a lacraias e piolhos-de-cobra do que aos insetos (classe Insecta), com apenas três pares de patas. Essa espécie possui origem europeia, com registros de ata que no Brasil desde a década de 1980. Com distribuição cosmopolita, Scutige rella immaculata já foi registrada como herbívoro associado a plantas de im portância econômica como beterraba, milho, arroz, batata, abacaxi e, mais re centemente, em soja. No Brasil é tratada como uma praga exótica e tem causado danos radiculares em plantas recém-ger minadas de soja na região do Mapitopa (Maranhão-Piauí-Tocantins-Pará): uma das últimas fronteiras agrícolas no Brasil.
IMPORTÂNCIA E ASPECTOS BIOLÓGICOS
Cerca de 80% das espécies de seres vivos descritas pela ciência (incluindo plantas e animais) é de artrópodes, o que demonstra sua grande diversidade.
Artrópodes são representantes de um filo de invertebrados com corpo seg mentado, patas articuladas em número par, exoesqueleto quitinoso e que pas sam por metamorfose das suas fases imaturas para a adulta. Insetos e ácaros são os mais lembrados quando consi deramos os artrópodes causadores de prejuízos em plantas agrícolas no Brasil e no mundo. Porém, outras espécies, menos conhecidas de artrópodes, tam bém podem atingir níveis populacionais equivalentes ao de dano econômico (apesar de isso acontecer de forma menos comum), definindo-os como pragas, sob condições de campo. Como exemplo, temos o Symphyla Scutigerella immaculata com 12 pares de patas, que tem provocado danos em lavouras de soja cultivadas no Pará e no Maranhão, pelo menos, nas últimas quatro safras. E, de acordo com alguns consultores, espalhando-se pelo território brasileiro, como no Centro-Oeste e Sudeste. Essa praga se desloca rapidamente e os tergitos extras dão ao corpo uma grande mobilidade, dispersão e flexibi lidade. Dispersa-se apenas por via ter
restre, pois não possui asas. Facilmente se contorce e se esconde rapidamente por entre as partículas do solo. Sob con dições naturais, suas fêmeas costumam depositar seus ovos em grupos de oito a 12 fixados a musgos, algas e líquens, que servem como alimentação. Porém, em grandes populações alimentam-se de sementes e raízes das plantas. Esse comportamento alimentar tem gerado problema em áreas de produção de so ja. Scutigerella immaculata não é total mente desconhecida dos brasileiros e existem casos registrados de ataque a plantas agrícolas na literatura em diver sos países. Na França, foi forte motivo de preocupação em 2010, com ataques de vastadores a lavouras de milho, especial mente após a proibição do uso de alguns produtos no tratamento de sementes, como imidacloprido e fipronil, além do banimento dos organofosforados. No Brasil, Loureiro & Galvão (1970) obser varam pela primeira vez os sínfilos do gênero Hanseniella sp. (Scutigerellidae) como pragas de culturas, atacando co leóptilos e radículas de arroz, em Minas Gerais. Cerca de 160 espécies de sínfilos
Capa
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 26
já foram descritas em todo o mundo.
Em plantas de importância agrícola esses organismos são bastante preju diciais por atacarem raízes, o que gera nanismo e perda de stand no campo e, em ataques severos, morte das plantas. O seu ataque em reboleiras os confun de inicialmente com os danos provoca dos por nematoides. Um fato biológico preocupante, que destoa dos insetos, é o período de duração do seu ciclo de vida. Perdura por dois a três meses (sob temperatura de 27oC) entre as fases de ovo e adulto. E, por isso, tem grande po tencial destrutivo nos períodos de safra, bem como entressafra.
RESULTADOS DE CAMPO
Em 2021, o aluno Adilson Moraes Santos defendeu sua dissertação de Mestrado Profissional em Proteção de Plantas (PPGPP), pelo Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí, avaliando so luções para o manejo dessa praga em condições de campo, com base no tra tamento de sementes (TS). Sob orienta ção do Prof. Dr. Alexandre Igor (Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí).
Os protocolos experimentais foram inicialmente adaptados pelo ineditismo dessa praga e conduzidos na fazenda
Itamarati, no município de Açailândia, estado do Maranhão, Brasil. O procedi mento para o tratamento das sementes ocorreu através de sacos plásticos (de três litros cada) e a quantidade foi de 100kg de sementes de soja certificadas por tratamento. Para a instalação do plantio sob condições de campo, um delineamento experimental do tipo DIC, com nove tratamentos e quatro repeti ções, foi adotado.
Os tratamentos foram T1 (teste munha absoluta), T2 (100ml de pirazol para 100kg de sementes), T3 (500ml
Figura 1 - Vigor (%) (linha contínua superior) e fitotoxidade (linha pontilhada inferior) de plântulas de soja, Glycinemax L. (Fabaceae), cujas sementes foram previamente tratadas (TS) por T1 (testemunha absoluta), T2 (pirazol), T3 (imidacloprido + neo nicotinóide), T4 (neonicotinóide), T5 (Bacillusamyloliquefaciens), T6 (neonicotinóide + pirazol), T7 (neonicotinóide + lambdacialotrina), T8 (neonicotinóide + pirazol + B. amyloliquefaciens) e T9 (antranilamida + lambdacialotrina + avermectina), em áreas de campo infestadas por Scutigerellaimmaculata (Symphyla: Scutigerellidae). Açailândia, estado do Maranhão, Brasil. Adaptado de Santos (2021)
de imidacloprido + neonicotinoide para 100kg de sementes), T4 (150ml de ne onicotinoide para 100kg de sementes), T5 (80ml de Bacillus amyloliquefaciens para 100kg de sementes), T6 (150ml de neonicotinoide + 100ml de pirazol para 100kg de sementes), T7 (150ml de neo nicotinoide + 250ml de lambdacialotri na para 100kg de sementes), T8 (100ml de neonicotinoide + 100ml de pirazol + 80ml de B. amyloliquefaciens para 100kg de sementes) e T9 (100ml de antrani lamida + 300ml de lambdacialotrina + 100ml de avermectina para 100kg de
Figura 2. Germinação (%) das sementes de soja, Glycine max L. (Fabaceae), submetidas previamente ao plantio com diferentes tratamentos TS constituídos por T1 (testemunha absoluta), T2 (pirazol), T3 (imidacloprido + neonicotinóide), T4 (neonicotinóide), T5 (Bacillus amyloliquefaciens), T6 (neonicotinóide + pirazol), T7 (neonicotinóide + lambdacialotrina), T8 (neonicotinóide + pirazol + B.amyloliquefaciens) e T9 (antranilamida + lambdacialotrina + avermectina), em áreas de campo infestadas por Scutigerella immaculata (Symphyla: Scutige rellidae). Açailândia, estado do Maranhão, Brasil. Adaptado de Santos (2021)
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 27
O Symphyla Scutigerella immaculata com 12 pares de patas tem provocado danos em lavouras de soja cultivadas no Pará e no Maranhão, nas últimas quatro safras
Andy Murray
Fotos
Isca com tubérculos de batata para amostragem de Scutigerella immaculata
sementes). Portanto, as misturas entre produtos compreenderam misturas sim ples, binárias ou terciárias de caldas para tratamento de sementes.
As amostragens para Scutigerella im maculata deram-se através de iscas (com tubérculos de batata) ou então arranquio das plântulas de soja, incluindo o solo próximo à zona radicular (amostragem destrutiva).
VIGOR E FITOTOXIDADE
O vigor das plantas de soja não variou em função dos tratamentos avaliados e representou valores de 100%, indepen dentemente dos tratamentos (Figura 1). Não houve sintomas de fitotoxidez, in dependentemente de qualquer um dos tratamentos aplicados nas sementes de soja no pré-plantio (Figura 1).
GERMINAÇÃO
Com relação à germinação das semen tes de soja, os tratamentos T7 (neonicoti noide + lambdacialotrina) e T9 (antranila mida + lambdacialotrina + avermectina) proporcionaram germinação superior a 98% e 96%, respectivamente (Figura 2). Os tratamentos T2, T3, T4, T5, T6 e T8 apresentaram valores de germinação in termediários, ou seja, maiores que 90% e menores que 94%, enquanto na testemu nha os valores de germinação observados não ultrapassaram os 88% (Figura 2).
AMOSTRAGEM
DA PRAGA
A quantidade de Scutigerella imma culata coletada apresentou diferenças nas coletas através das armadilhas em
Saco plástico preto para visualização e coleta de Scutigerella immaculata em campo
comparação à contagem direta nas raízes das plantas de soja (Figura 3). Na testemu nha absoluta (sem nenhuma aplicação de TS) foram observados os maiores valores para a coleta de indivíduos de Scutige rella immaculata, independentemente se com armadilha ou coleta direta pelas raízes (Figura 3 A e B, respectivamente). O tratamento com menor quantidade de indivíduos de Scutigerella immaculata, através da coleta de indivíduos coleta dos pela raiz, foi o T7 (neonicotinoide + lambdacialotrina), em comparação aos demais avaliados (Figura 3B). Enquanto
para as coletas através de armadilhas, os T3, T4, T5, T6 e T7 foram aqueles onde nenhum indivíduo da praga avaliada foi verificado como presente (Figura 3A). O comportamento de crescimento popu lacional da praga, através de regressão polinomial quadrática, ao longo dos dias de coleta através de contagem direta nas raízes das plantas de soja, é apresentado na Figura 4.
MASSA FRESCA DA RAIZ E PARTE AÉREA
A massa fresca da raiz das plantas de soja, previamente submetidas através de TS, mensurada aos 20, 45 e 60 DAP, dife riu entre tratamentos, para cada intervalo de tempo quantificado (Figura 5A, 5C e 5E, respectivamente). A massa fresca da parte aérea das plantas de soja também apresentou diferenças significativas, en tre tratamentos, para cada intervalo de tempo avaliado, sendo aos 20, 45 e 60 DAP (Figura 5B, 5D e 5F, respectivamen te). Aos 20 DAP, a massa fresca da raiz foi menor no T5 (Figura 5A), enquanto aos 45 DAP os tratamentos que resultaram em uma menor massa fresca da raiz foram os T9, T4, T2 e T1 (Figura 5C).
Aos 60 DAP o tratamento que apre
Figura 3 - Número de indivíduos (média ± EP1) de Scutigerella immaculata (Symphyla: Scutigerellidae) amostrados em lavouras de soja, Glycine max L. (Fabaceae), através de armadilhas (Figura 3A, direita) ou contagem direta nas raízes (Figura 3B, esquerda) cujas sementes foram previamente tratadas (TS) por T1 (testemunha absoluta), T2 (pirazol), T3 (imidacloprido + neonicotinóide), T4 (neonicotinóide), T5 (Bacillus amyloliquefaciens), T6 (neonicotinóide + pirazol), T7 (neonicotinóide + lambdacialotrina), T8 (neonicotinóide + pirazol + B. amyloliquefaciens) e T9 (antranilamida + lambdacialotrina + aver mectina). Açailândia, estado do Maranhão, Brasil. 1Médias seguidas pela mesma letra, para cada DAP, não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Tukey. Adaptado de Santos (2021)
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 28
Alysson Risso e Carlos Santos
Carlos Santos
Figura 4 - Modelagem matemática, através de análise de regressão, para o número de indivíduos de Scutigerellaimmaculata(Symphyla: Scutigerellidae), amostrados através de contagem direta nas raízes de plantas de soja, Glycine max L. (Fabaceae), aos 20, 30, 45, 60 e 90 dias após o plantio (DAP), cujas sementes foram previamente tratadas (TS) por T1 (testemunha absoluta), T2 (pirazol), T3 (imidacloprido + neo nicotinóide), T4 (neonicotinóide), T5 (Bacillusamyloliquefaciens), T6 (neonicotinóide + pirazol), T7 (neonicotinóide + lambdacialotrina), T8 (neonicotinóide + pirazol + B. amyloliquefaciens) e T9 (antranilamida + lambdacialotrina + avermectina). Açailândia, estado do Maranhão, Brasil. Adaptado de Santos (2021)
sentou menor valor de massa fresca da raiz foi a testemunha absoluta, ou seja, o T1 (Figura 5E). Para as médias observadas da massa fresca da parte aérea das plantas de soja, observamos que aos 20 DAP, o T5 influenciou em menores médias em comparação aos demais tratamentos (Figura 5B). Aos 45 DAP os tratamentos T7 e T1 apresentaram menores valores para esse parâmetro (Fi gura 5D), enquanto aos 60 DAP os tratamentos que originaram as maiores e menores massas frescas nas plantas de soja foram o T7 e o T1, respectivamente (Figura 5F).
PRODUTIVIDADE
A produtividade das plantas de soja não diferiu entre os trata mentos de proteção contra o ataque de Scutigerella immaculata e, portanto, utilizados na presente pesquisa (Figura 6).
RECOMENDAÇÕES SOBRE
A AMOSTRAGEM DA PRAGA
As amostragens de Scutigerella immaculata, através de contagem direta nas raízes das plantas, apesar de ser um tipo de amostragem ativa e destrutiva, aparentam ter sido aquelas que melhor detectaram a presença da praga em comparação com as armadilhas oriundas de iscas com batatas no solo. Ou tras pragas na soja que provocam danos semelhantes também são amostradas através de análises destrutivas (Bortolotto et al., 2015).
A amostragem de pragas no solo não é uma tarefa tão simples, como aquelas oriundas de parte aérea. Portanto, sugerimos que programas de amostragem da Scutigerella immaculata devam fazer uso de ambas as formas de amostragem para ocorrer com plementação. Isso serve para que as deficiências da amostragem de um dado método possam ser suprimidas pela complementa ção do outro. E isso é pertinente para exemplificar o fato de que não necessariamente onde ocorreu a ausência da praga através de iscas de batata equivalha ao efeito dos melhores tratamentos,
como verificado nos tratamentos T3, T4, T5, T6 e T7. Isso pode ter ocorrido devido à deficiência inerente da isca para atrair in divíduos de Scutigerella immaculata.
MELHOR CONTROLE DA PRAGA
Na contagem direta das raízes das plantas de soja, o T7 (neo nicotinoide + lambdacialotrina) foi aquele tratamento com me nor incidência da praga. Inseticidas neonicotinoides e piretroides são importantes aliados contra herbívoros na soja (Joseph et al., 2017). Contudo, não devemos apontar a falta de eficiência dos demais tratamentos contra o ataque de Scutigerella immaculata sob condições de campo. Mesmo porque, todos os tratamen tos TS, sem exceção, obtiveram respostas no controle da praga superiores em comparação à testemunha.
Sugerimos, mesmo assim, que o desenvolvimento de futu ros protocolos de ação contra Scutigerella immaculata devam perpetuar a ideia de se utilizar misturas binárias e com os pro dutos à base de inseticidas neonicotinoides e piretroides, como foi composto o T7 pela sua relativa eficácia, como aqui compro vado. Outro argumento para confirmar tal afirmação foi o fato de que esse tratamento proporcionou respostas favoráveis para o desenvolvimento da planta em termos de formação de massa seca e fresca, o que auxilia no seu estabelecimento da cultura da soja, pelo menos, de forma inicial.
PRODUTIVIDADE
Pragas com hábitos iniciais em plantios de soja, apesar de precocemente causarem danos com perdas perceptíveis nas lavouras, também podem levar à redução na sua produtividade (Abudulai et al., 2012, Sentelhas et al., 2015). Todavia, isso não foi observado, mesmo considerando os tratamentos que tiveram baixo controle de Scutigerella immaculata nas fases iniciais de cultivo. Uma pista para justificar a ausência do efeito significati vo entre tratamentos pode ter sido a própria boa produtividade
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 29
Raízes de soja danificadas por Scutigerella immaculata
Hugo Alvez
Figura 5 - Massa fresca da raiz (g) (média ± EP1) (à esquerda) aos 20 (Fig. 5A), 45 (Fig. 5C) e 60 (Fig. 5E) dias após o plantio e da parte aérea (g) (média ± EP1) (à direita) aos 20 (Fig. 5B), 45 (Fig. 5D) e 60 (Fig. 5F) dias após o plantio de plantas de soja, Glycine max L. (Fabaceae), cujas sementes foram previamente tratadas (TS) por T1 (testemunha absoluta), T2 (pirazol), T3 (imidacloprido + neonicotinóide), T4 (neonicotinóide), T5 (Bacillus amyloliquefaciens), T6 (neonicotinóide + pirazol), T7 (neonicotinóide + lambdacialotrina), T8 (neonicotinóide + pirazol + B.amyloliquefaciens) e T9 (antranilamida + lambdacia lotrina + avermectina), em áreas de plantio de campo infestadas por Scutigerella immaculata (Symphyla: Scutigerellidae). Açailândia, estado do Maranhão, Brasil. 1Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Tukey. Adaptado de Santos (2021)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As amostragens através de avaliações nas raízes das plantas para contagem da praga Scutigerella immaculata representa ram maior número de indivíduos em com paração às iscas sob condições de campo. Para a amostragem através da contagem direta nas raízes, o tratamento de semen tes equivalente ao T7 (neonicotinoide + piretroide) foi aquele que proporcionou menor número médio de indivíduos de Scutigerella immaculata. O aumento po pulacional da praga Scutigerella immacu lata foi mais pronunciado a partir do inter valo entre os 60 e os 90 DAP (dias após o plantio), em comparação às amostragens realizadas aos 20, 30 e 45 DAP.
Alexandre Igor Azevedo Pereira, Instituto Federal Goiano Adilson Moraes Santos Isaias Assunção Bertanha e Christian Thoröe Scherb, Sumitomo Chemical Latin America Luiz Leonardo Ferreira, Unifimes
da região, implicando que outros fatores, como adubação adequada, condições climáticas e manejo adequado da la voura de soja, possam ter sobrepujado o impacto negativo da presença da praga.
Salientamos que dentro da temáti ca de tratamento de sementes da so ja contra pragas iniciais, o próprio TS não pode ser entendido como única
forma para eliminar por completo a população de Scutigerella immacula ta no solo. O histórico de infestação dessa praga, e formas de manejo como época de semeadura, rotação de culturas e manejo do solo no pré -plantio, também favorece o controle de pragas com hábito de ataque ini cial do ciclo da soja.
Figura 6 - Produtividade (sacas/ha) (média ± EP1) de plantas de soja, GlycinemaxL. (Fabaceae), cujas sementes foram previamente tratadas (TS) por T1 (testemunha absoluta), T2 (pirazol), T3 (imidaclo prido + neonicotinóide), T4 (neonicotinóide), T5 (Bacillus amyloliquefaciens), T6 (neonicotinóide + pirazol), T7 (neonicotinóide + lambdacialotrina), T8 (neonicotinóide + pirazol + B.amyloliquefaciens) e T9 (antranilamida + lambdacialotrina + avermec tina), em áreas de plantio de campo infestadas por Scutigerellaimmaculata(Symphyla: Scutigerellidae). Açailândia, estado do Maranhão, Brasil. 1Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Tukey. Linha vermelha na horizontal representa a média atual em produtividade da soja no Brasil (56 sacas/ha) fonte: www.embrapa.br. Adaptado de Santos (2021)
Áreas de soja em Açailândia, Maranhão, safra 2017/2018, com danos por Scutigerella immaculata
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 30
Nanismo provocado pela perda do sistema radicular em plantas de soja
Adilson Santos
Anderson Martinelli
C
Acompanhamento desde o princípio
Doenças iniciais da soja - como mancha parda, mancha-alvo e oídio - devem receber
atenção desde cedo
Acultura da soja é uma das mais importantes no cená rio agrícola brasileiro. E por apresentar uma grande quantidade de doenças, principalmente de origem fúngica, o produtor rural deve estar atento na iden tificação e no monitoramento de tais doenças para efetuar o controle químico quando necessário.
Embora a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) seja a principal doença foliar da soja em função de sua agressividade e ampla distribuição no território brasileiro, existem outras doenças que podem interferir no desenvolvimento inicial das plantas, com destaque para mancha parda ou septoriose (Septoria glycines), mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e oídio (Erysiphe diffusa). Essas doenças podem reduzir a área foliar sadia e consequente mente a fotossíntese, além de promover outros estresses fisioló gicos, ocasionando perdas de produtividade da cultura.
No caso da mancha-alvo e da mancha parda, os sintomas ini ciais são difíceis de distinguir a olho nu. Os primeiros sintomas da septoriose se configuram em pequenas pontuações ou manchas de contornos irregulares, de coloração castanho-avermelhadas. No caso da mancha-alvo, os primeiros sintomas podem surgir em decorrência de situações de sucessão de culturas com espécies hospedeiras, como é o caso do algodoeiro, principalmente em cultivares de soja suscetíveis. Por terem a capacidade de sobre viver em restos culturais, a septoriose e a mancha-alvo podem se manifestar desde a emergência das plantas. No entanto, a rotação de culturas e a presença de palhada quando da semeadura da soja reduzem a infecção de propágulos oriundos dos restos culturais e do solo a partir dos respingos de chuva. Para a septoriose, por exemplo, é comum verificar sintomas da doença nas primeiras folhas em linhas de semeadura com baixa quantidade de palhada
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 32
Soja
no seu entorno, o que não é percebido em linhas de semeadura em que exista maior quantidade de palhada.
Considerando esses aspectos, apli cações de fungicidas têm sido feitas próximas a 30 dias após a emergência da cultura, até mesmo associadas a her bicidas, a fim de proporcionar o controle de tais doenças na fase inicial da cultura. Porém, tem-se um questionamento so bre o retorno econômico dessas aplica ções quando se analisa a produtividade da cultura.
A Embrapa Soja (Circular Técnica 162) publicou resultados de experimen tações, em formato de rede, realizadas com diferentes fungicidas nas safras 2016/2017, 2018/2019 e 2019/2020, demonstrando que aplicações de fun gicidas realizadas aos 30 dias após a emergência da soja, independentemen te do fungicida utilizado, apresentaram maiores produtividades na maioria dos casos. Contudo, análises estatísticas não evidenciaram tais diferenças na maio ria dos casos. Denota-se, portanto, que existem influência dos locais onde foram feitas as experimentações e suas respec tivas condições ambientais, pressão de inóculo, cultivares, entre outros fatores.
O oídio, por sua vez, apresenta carac terísticas diferentes da septoriose e da mancha-alvo, pois o fungo causador da doença é considerado um parasita bio trófico, ou seja, depende de hospedeiros vivos para sua sobrevivência e dissemi nação. Sua ocorrência se dá principal mente sob condições meteorológicas de baixa precipitação pluviométrica e temperaturas do ar consideradas ame nas (~ 20°C). Embora existam relatos que sua ocorrência se dê principalmente em
locais de altitude elevada, esse fato pro vavelmente decorra das menores tem peraturas do ar nestes locais, o que não impede que a doença ocorra em lavouras de menor altitude.
O fungo, agente causal do oídio da soja, tem a capacidade de se manifestar em qualquer estádio de desenvolvimen to da cultura, ao desenvolver seu micélio e esporos de coloração esbranquiçada na superfície de folhas, pecíolos, hastes e vagens, a fim de absorver nutrientes.
Em função dessa característica (cresci
mento fora do tecido vegetal), o oídio tem um impacto menor na redução da fotos síntese das folhas quando comparado a outras manchas foliares. Dependendo do estádio fenológico da planta em que ini cia a infecção, reduções de produtividade podem ser verificadas, devido à restrição no crescimento das plantas adicionando ainda a perda de água dos tecidos ve getais. Em um estudo em condições de ambiente protegido, foi possível verificar que as perdas de produtividade podem variar de 26,1% a 49,2% em função do estádio fenológico que a doença iniciou seu desenvolvimento, chegando a 50,1% quando não foi realizada aplicação de fun gicida (Tabela 1).
Em determinadas regiões do estado do Paraná, é comum o surgimento do oídio em plantas jovens, principalmen te nas lavouras implantadas no início do calendário de semeadura, em função das menores temperaturas do ar asso ciadas ao menor regime hídrico. Nessas condições, não necessariamente podem ocorrer danos à cultura, desde que chuvas ocorram na sequência, a fim de favorecer
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 33
Sintomas de oídio (Erysiphe diffusa) em soja
Sintomas de septoriose (Septoria glycines) em soja
Fotos Gustavo Migliorini de Oliveira
Sintomas de mancha-alvo (Corynespora cassiicola) em soja
Figura 1 - Porcentagem de Unidades de Referência (URs) e de lavouras não assis tidas pelo Programa MID-Soja, em relação ao número de dias entre a emergência (DAE) da soja e a primeira aplicação de fungicida. Paraná, safra 2019/2020
Figura 2 - Porcentagem de Unidades de Referência (URs) e em lavouras não assis tidas pelo Programa MID-Soja, em relação ao número de dias entre a emergência (DAE) da soja e a primeira aplicação de fungicida. Paraná, safra 2020/2021
o crescimento das plantas.
Porém, se o período seco perdurar, sem previsão de ocorrência de chu vas, aplicações de fungicida podem ser necessárias para controlar a evolução epidêmica da doença, uma vez que as plantas tenderão a ter seu crescimento estagnado enquanto a doença evolui.
Ou seja, apenas com o monitoramen to a campo, de forma periódica, pode se ter a percepção de quem está se desen volvendo melhor: a soja ou o oídio.
A presença de chuvas regulares é fa vorável para o crescimento das plantas de soja e desfavorável para o oídio. Po rém, nessas condições, outras doenças podem se tornar importantes, como é o caso da ferrugem-asiática da soja, desde que haja a presença de inóculo no ambiente. Neste âmbito, vem sendo conduzido pelo Instituto de Desenvol vimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), pela Embrapa Soja e outros parceiros no estado do Paraná, o programa deno minado MID-Soja, que tem por objetivo manejar de forma integrada as doenças da cultura em unidades de referência (URs), associado ao monitoramento periódico das lavouras e à flutuação de esporos P. pachyrhizi.
Ao adotar o MID-Soja, é possível ma nejar as doenças da cultura de forma ra cional, possibilitando que as aplicações de fungicida sejam realizadas quando estritamente necessário e em momento adequado, sem reduzir a produtividade das culturas. Em linhas gerais, nesses casos, um menor número de aplicações
tem sido realizado em comparação a la vouras que não adotaram o MID-Soja.
Por exemplo, na safra 2019/2020 as URs que adotaram o MID-Soja fizeram em média 1,7 aplicação de fungicidas, enquanto as lavouras não assistidas fize ram 2,6 aplicações. Na safra 2020/2021, foram 1,9 e três aplicações em média, respectivamente. Pelas Figuras 5 e 6 po de ser observada a porcentagem de Uni dades de Referência (URs) e de lavouras não assistidas pelo Programa MID-Soja, em relação ao número de dias entre a emergência (DAE) da soja e a primeira aplicação de fungicida.
Em linhas gerais, é possível verificar que quando se adotam critérios técnicos de manejo (MID-Soja), ligados à correta identificação das doenças, inspeções pe riódicas das lavouras e monitoramento da flutuação de esporos, as aplicações de fungicidas são efetuadas normalmente em momento posterior.
Atualmente, estamos vivenciando um crescente aumento no uso de bioin
sumos na agricultura, com destaque para os agentes biológicos de controle. Nesse sentido, a adoção do manejo integrado de pragas e doenças passa ser a base de todo o processo, tornando-se necessá rio reavaliar determinadas práticas de manejo, pois poderão afetar a utilização desses agentes biológicos. Um exemplo claro é o controle natural de lagartas, a partir do fungo entomopatogênico No muraea, que é prejudicado pelo uso de fungicidas.
Por fim, o conhecimento acerca da forma que se comportam as principais doenças sobre a cultura da soja, em cada talhão, associado ao seu monitoramen to desde a implantação da lavoura, é de grande importância para um manejo eficiente e racional, possibilitando que o agricultor obtenha sucesso na condução de sua lavoura. Tabela 1 - Altura de
Produtividade (kg/ha) 1167,1 C 2337,2 A 1186,6 C 1309,5 C 1574,2 B 1727,8 B 14,22%
Perdas % 50,10% 49,20% 44,10% 32,60% 26,10%
Título do trabalho: Danos causados pela infecção de oídio em diferentes estádios fenológicos da soja. Arquivos do Instituto Biológico, v. 77, n.2, pp. 245-250, 2010.
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 34
planta e produtividade (kg/ha) obtidas no experimento. Londrina, PR Tratamentos Test. sem controle Test. totalmente controlada Infecção iniciada em R1-R2 Infecção iniciada em R3-R4 Infecção iniciada em R5.1-2 Infecção iniciada em R5.3-4 Coeficiente de variação (%) Altura (cm) 43,54 C 51,22 A 48,05 B 48,34 B 46,83 B 47,94 B 7,31% Vagens/planta 26,27 C 40,56 A 33,66 B 32,53 B 31,00 B 32,07 B
plantas (cm), número de vagens por
21,72% *
C
Gustavo Migliorini de Oliveira e Edivan José Possamai, IDR – Paraná
Cigarrinha sob análise
Com o passar das aplicações, bem como com o avanço do estádio fenológico da cultura, a performance dos tratamentos tende a aumentar
Ocontrole da cigarrinha, Dalbulus maidis, transmissora dos patóge nos responsáveis pelo complexo dos enfezamentos, continua sendo o principal desafio da cultura do milho no Brasil. Estudos de monitoramento realizados nas últimas safras evidenciaram a presença de altas popula ções de cigarrinhas infectadas pelos patógenos, refletindo na alta incidência dos enfezamentos, o que prejudicou significativamente a produtividade das principais regiões produtoras do grão no País. O manejo da cigarrinha do milho e do complexo dos enfezamentos deve ser realizado levando-se em consideração uma série de aspectos relevantes, como, por exemplo, histórico de ocorrência da pra ga e das doenças associadas a ela na região, época de cultivo, condições ambientais e características bioecológicas da praga, híbridos de milho, nível tecnológico, capacidade operacional e conversa ção adotada entre produtores, para a tomada de decisão conjunta, visando ao sucesso do manejo de uma região.
Para tal, realizou-se no município de Chapa dão do Sul, durante a primeira e na segunda Safra 2021/2022, estudos Cooperativos Visando ao Ma nejo da Cigarrinha do Milho, buscando-se a eficiên cia de inseticidas, químicos e biológicos, utilizados de forma intercalada ou associados, adjuvantes com efeito desalojante e/ou repelente, bem co mo os indutores ou bioativadores de defesa, ou seja, produtos que ativam na planta a produção de compostos ligados à defesa vegetal, buscando maior eficácia no controle da cigarrinha e mitigação dos efeitos negativos dos enfezamentos na cultura.
INSTALAÇÃO
DOS ENSAIOS
Na primeira safra, realizou-se no dia 22/11/2021 o plantio do híbrido 3845 VYHR Aquamax, com o objetivo de realizar o controle da cigarrinha do mi lho. Vale ressaltar que na safra a sua ocorrência é observada tardiamente na região dos Chapadões. No entanto, nesse momento sua presença em altas populações favorece a proliferação de fumagina na superfície das folhas, em detrimento da sua alimentação e secreção de honeydew, portanto requer medidas de controle para evitar perdas de produtividade.
Em uma das áreas (Área 1), realizou-se o mane jo de D. maidis, com três pulverizações dos mesmos inseticidas químicos (CQ), utilizando-se para todos os tratamentos (T) (com exceção da testemunha), os produtos comerciais e suas respectivas doses (g ou ml) por hectare (p.c./ha): Perito, 1.000g p.c./ ha; Lannate, 1.000ml p.c./ha e Talismã, 700ml p.c./
Milho
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 36
Fotos Suélen Cristina da Silva Moreira
Tabela 1 - Descrição dos tratamentos (T), produto comercial (p.c.) e dose por hectare (mL ou g/ha). Eficiência de controle (%EC) pela fórmula de Abbott (1925)1, aos 7 e 14 dias após cada aplicação (DAA). Plantas enfezadas (nPE) e severidade dos sintomas de enfezamento, (notas de 1 a 6), segundo escala de Mckinney (1828)2, apresentados nos tratamentos aplicados no milho. Chapadão do Sul-MS. Primeira Safra 2021.2022
Tratamentos
Protocolo ASI_012
T1 - Testemunha
T2 - Controle Químico (CQ) (ABC)
T3 - CQ (ABC) + Bovenat, 100g (BC) + ADbio Fungi, 200mL (BC) + Blend, 50mL (BC)
T4 - CQ (ABC) + Bovenat, 100g (BC) + ADbio Fungi, 200mL (BC) + Blend, 50mL (BC) + (Cash, 300mL em V3 e V6)
T5 - CQ (ABC) + Octane, 500mL (BC)
T6 - CQ (ABC) + Granada, 250g (BC) + Helper Neutrum, 50mL (BC)
T7 - CQ (ABC) + Ballvéria, 200g (BC) + Routen, 150mL (BC)
T8 - CQ (ABC) + Codificado, 300mL (BC) + Codificado, 800mL (BC)
T9 - CQ (ABC) + Bovéria-Turbo, 500mL (BC) + Naft, 50mL (BC)
T10 - CQ (ABC) + Bovéria-Turbo, 500mL (BC) + Naft, 50mL (BC) + (Bioenergy, 250mL em V4 e V8)
T11 - CQ (ABC) + Auin CE, 500mL (BC) + Helper Neutrum, 50mL (BC)
T12 - CQ (ABC) + (HG Classic, 70mL (VE) + HG Classic, 70mL + HG Humin, 100mL (V6) + HG Classic, 70mL + HG Fluisan, 40mL (V8) + HG Classic, 70mL (VT)
T13 - CQ (ABC) + Codificado, 500mL (BC)
T14 - CQ (ABC) + Oro-Solve, 1000mL (BC) + Wetcit, 150mL (BC)
T15 - CQ (ABC) + Prima fert, 1000mL (BC)
T16 – CQ (ABC) + Codificado, 250mL (BC)
ha, nos estádios fenológicos V8 (aplica ção A), V12 (B) e no pré-pendoamento (VT) (C), respectivamente, ou seja, in tervaladas em 15 dias. O T2 foi tratado exclusivamente com os produtos quími cos. Nos demais tratamentos, realizou -se, a partir da segunda aplicação (B), a associação de ferramentas de controle. Os tratamentos do protocolo ASI_012 foram descritos na Tabela 1.
Já na Área 2, o T2 levou quatro pul verizações de inseticidas exclusivamente químicos: Perito, 1.000g p.c./ha; Lanna te, 1.000ml p.c./ha; Sperto, 250ml p.c./ ha e Lannate, 1.000ml p.c./ha, em V4 (A), V8 (B), V12 (C) e VT (D), respectiva mente, intervaladas também em 15 dias. Nos demais (T3 ao T15), as aplicações C e D foram substituídas por ferramentas de controle biológico. Os tratamentos do protocolo ASI_013 foram descritos na Tabela 2.
Na segunda safra, realizou-se no dia 15/2/2022 o plantio do híbrido DKB 335 VT PRO3, com o objetivo de realizar o controle da cigarrinha do milho imedia tamente após a emergência da cultura, ou seja, no período crítico, onde a cultura é mais suscetível à infeção pelos patóge nos. Lembrando que o cenário se agrava em regiões onde se faz a primeira safra de milho, pois a população da cigarrinha migra de áreas de milho verão para área de milho safrinha, e chega rapidamente a essas áreas, dada sua preferência por plantas mais jovens. Somadas a elas, as cigarrinhas das plantas tigueras de milho presentes na cultura da soja.
PRÉVIA 8 a 10 a 6 a 6 a 9 a 7 a 4 a 7 a 6 a 6 a 7 a 8 a 5 a 9 a 9 a 9 a
7DAA 0 a 48 ab 67 b 76 b 48 ab 57 b 45 ab 50 ab 52 ab 67 b 43 ab 60 b 67 b 43 ab 52 ab 60 b
Na segunda safra, novamente os En saios Cooperativos visando ao Manejo da Cigarrinha do Milho foram instalados em duas áreas, onde realizou-se o con trole de D. maidis, com quatro pulveri zações (CQ). Tanto na Área 3 quanto na Área 4, o T2, foi tratado com os mesmos inseticidas químicos, utilizando-se: Pe rito, 1.000g p.c./ha; Lannate, 1.000ml p.c./ha; Talismã, 700ml p.c./ha e Cur bix, 750ml p.c./ha, em V2 (A), V4 (B) V6 (C) e V8 (D), respectivamente, ou seja, intervaladas a cada sete dias.
Na Área 3, esses inseticidas foram pulverizados em todos os tratamentos (com exceção da testemunha), porém as aplicações B, C e D receberam asso ciação de ferramentas complementares. Os tratamentos do protocolo ASI_014 foram descritos na Tabela 3.
Já na Área 4, objetivou-se a adoção de diferentes ferramentas de forma in
Período de avaliação (%EC)1
14 DAA 0 a 68 b 56 b 56 b 66 b 64 b 53 b 56 b 61 b 58 b 70 b 70 b 56 b 61 b 63 b 66 b
7DAA 0 a 48 ab 67 b 76 b 48 ab 57 b 45 ab 50 ab 52 ab 67 b 43 ab 60 b 67 b 43 ab 52 ab 60 b
14 DAA 0 a 68 b 56 b 56 b 66 b 64 b 53 b 56 b 61 b 58 b 70 b 70 b 56 b 61 b 63 b 66 b
7DAA 0 a 48 ab 67 b 76 b 48 ab 57 b 45 ab 50 ab 52 ab 67 b 43 ab 60 b 67 b 43 ab 52 ab 60 b
14 DAA 0 a 68 b 56 b 56 b 66 b 64 b 53 b 56 b 61 b 58 b 70 b 70 b 56 b 61 b 63 b 66 b
Enfezamentos
nPE 22 a 11 ab 11 ab 9 ab 9 ab 10 ab 9 ab 6 b 9 ab 8 ab 8 ab 6 b 9 ab 9 ab 5 b 7 b
Escala 1-62 3 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a 2 a
tercalada, ou seja, nas aplicações A e C, realizou-se o controle químico em V2 e V6, enquanto nas aplicações B e D, realizaram-se pulverizações exclusiva mente com inseticidas biológicos em V4 e V8 (com exceção do T1 - sem controle e T2 - exclusivamente químico). Os tra tamentos do protocolo ASI_015 foram descritos na Tabela 4.
Avaliou-se o número de cigarrinhas vivas, em 20 plantas, para calcular a efi ciência de controle (%EC) pela fórmula de Abbott (1925), aos sete e 14 dias após cada aplicação (DAA) na safra, enquan to nos ensaios da safrinha, avaliou-se aos três e 7 DAA. Também se realizou a contagem de plantas com sintomas de enfezamento (nPE), em 20 plantas consecutivas, bem como a avaliação em R4 da nota de dano de 1 a 6, segundo a escala de Mckinney (1828). Realizou -se a colheita de duas linhas de 3m, das
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 37
Estudos de monitoramento realizados nas últimas safras evidenciaram a presença de altas populações de cigarrinhas infectadas pelos patógenos, refletindo na alta incidência dos enfezamentos
Tabela 2 - Descrição dos tratamentos (T), produto comercial (p.c.) e dose por hectare (mL ou g ha-1) complementares ao Controle Químico (CQ). Eficiência de controle (%EC) pela fórmula de Abbott (1925)1, aos 7 e 14 dias após cada aplicação (DAA). Plantas enfezadas (nPE) e severidade dos sintomas de enfezamen to, notas de 1 a 6, segundo escala de Mckinney (1828)2, apresentados nos tratamentos aplicados no milho. Chapadão do Sul-MS. Primeira Safra 2021.2022
Tratamentos Protocolo ASI_013
T1 - Testemunha
T2 - Controle Químico (CQ) (ABC)
T3 - CQ (AB) + Bovenat, 200g (CD) + ADbio Fungi, 400mL (CD) + Blend, 50mL (CD)
T4 - CQ (AB) + Bovenat, 200g (CD) + ADbio Fungi, 400mL (CD) + Blend, 50mL (CD) + (Cash, 300mL em V3 e V6)
T5 - CQ (AB) + Octane, 500mL (CD)
T6 - CQ (AB) + Granada, 250g (CD) + Helper Neutrum, 50mL (CD)
T7 - CQ (AB) + Ballvéria, 200g (CD) + Routen, 150mL (CD)
T8 - CQ (AB) + Codificado, 300mL (CD) + Codificado, 800mL (CD)
T9 - CQ (AB) + Bovéria-Turbo, 500mL (CD) + Naft, 50mL (CD)
T10 - CQ (AB) + Bovéria-Turbo, 500mL (CD) + Naft, 50mL (CD) + (Bioenergy, 250mL em V4 e V8)
T11 - CQ (AB) + Bovenat, 200g (CD) + ADbio fungi, 400mL (CD) + Blend, 50mL (CD) + (HG Classic, 70mL (VE) + HG Classic, 70mL + HG Humin, 100mL (V6) + HG Classic, 70mL + HG Fluisan, 40mL (V8) + HG Classic, 70mL (VT)
T12 - CQ (AB) + Codificado, 500mL (CD)
T13 - CQ (ABCD) + Oro-Solve, 1000mL (ABCD) + Wetcit, 150mL (ABCD)
T14 - CQ (AB) + Prima Fert, 1000mL (CD)
T15 - CQ (AB) + Codificado (CD)
Período de avaliação (Prévia e %EC)1 Enfezamentos 7DAA 0,0 a 71 b 66 b 75 b 71 b 72 b 64 b 69 b 66 b 67 b 64 b 71 b 72 b 72 b 66 b
14 DAA 0,0 a 52 b 55 bc 57 bc 59 bc 60 bc 59 bc 66 c 59 bc 60 bc 57bc 60 bc 61 bc 59 bc 65 bc
Tabela 3 - Descrição dos tratamentos (T), produto comercial (p.c.) e dose por hectare (mL ou g/ha) complementares ao Controle Químico (CQ). Eficiência de controle (%EC) pela fórmula de Abbott1 (1925), aos 3 e 7 dias após cada aplicação (DAA). Plantas enfezadas (nPE) e severidade dos sintomas de enfezamento, notas de 1 a 6, segundo escala de Mckinney (1828)2, apresentados nos tratamentos aplicados no milho. Chapadão do Sul-MS. Segunda Safra 2021.2022
Tratamentos
Protocolo ASI_014
T1 - Testemunha
T2 - Controle Químico (CQ) (ABCD)
T3 - CQ (ABCD) + Bovenat, 100g (BCD) + ADbio Fungi, 200mL (BCD) + Blend, 50mL (BCD)
T4 - CQ (ABCD) + Bovenat, 100g (BCD) + ADbio Fungi, 200mL (BCD) + Blend, 50mL (BCD) + Cash, 300mL (BCD)
T5 - CQ (ABCD) + Octane, 500mL (BCD)
T6 - CQ (ABCD) + Granada, 250g (BCD) + Helper Neutrum, 50mL (BCD)
T7 - CQ (ABCD) + Ballvéria, 200g (BCD) + Routen, 150mL (BCD)
T8 - CQ (ABCD) + Ballvéria, 200g (BCD) + Routen, 150mL (BCD) Energy, 500mL (BCD) + Stein, 100mL (BCD)
T9 - CQ (ABCD) + Codificado, 300mL (BCD) + Codificado, 800mL (BCD)
10- CQ (ABCD) + Bovéria-Turbo, 500mL (BCD) + Naft, 50mL (BCD)
T11 - CQ (ABCD) + Bovéria-Turbo, 500mL (BCD) + Naft, 50mL (BCD) + (Bioenergy, 250mL (BCD)
T12 - CQ (ABCD) + Auin CE, (BCD) + Helper Neutrum ,50mL (BCD)
T13 - CQ (ABCD) + (HG Classic, 70mL (VE) + HG Classic, 70mL + HG Humin, 100mL (V6) + HG Classic, 70mL + HG Fluisan, 40mL (V8) + HG Classic, 70mL (VT)
T14 - CQ (ABCD) + Codificado, 500mL (BCD)
T15 - CQ (ABCD) + Codificado, 500mL (BCD) + Routen, 150mL (BCD)
T16 - CQ (ABCD) + codificado (BCD) + Routen, 150mL (BCD) + Energy, 500mL (BCD) + Stein, 100mL (BCD)
T17 - CQ (ABCD) + Prima Fert (BCD)
áreas para avaliação da produtividade, corrigindo-se o valor obtido em sacas por hectare a 13% de umidade. As médias foram comparadas através do teste de Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS OBTIDOS
Os estudos realizados na primeira safra evidenciaram que a utilização de ferramentas adicionais ao controle quí mico aumentaram o percentual e a esta bilidade da eficiência de controle (%EC), quando inseridas no programa de ma nejo integrado, o que foi verificado aos sete e 14 dias após aplicações B e C, na Área 1. Já na avaliação da contagem de plantas enfezadas (nPE), nota-se redução significativa nos tratamentos T8, T12, T15
PRÉVIA
11 a 12 a 9 a 11 a 15 a 13 a 11 a 15 a 17 a 16 a 13 a 18 a 16 a 14 a 10 a 10 a 10 a
3 DAA
0,0 a 18,5 a 31,9 a 28,9 a 41,5 a 36,3 a 34,1 a 26,7 a 30,4 a 31,9 a 10,4 a 32,6 a 20,0 a 34,8 a 33,3 a 28,1 a 22,2 a
Período de avaliação (Prévia e %EC)1 Enfezamentos
7 DAA 0,0 a 28,7 a 11,6 a 31,0 a 21,7 a 19,4 a 17,8 a 34,9 a 34,9 a 7,0 a 30,2 a 37,2 a 27,9 a 13,2 a 26,4 a 17,8 a 30,2 a
e T16, ou seja, onde se associaram ao con trole químico as ferramentas de controle biológico (T8, T16), bem como ativadores de defesa (T12) e outros (T15) (protocolo ASI_012) (Tabela 1).
Ainda na primeira safra, verificou-se que a utilização de ferramentas de con trole biológico utilizadas em substituição ao controle químico nas aplicações C e D apresentou performance de eficiência de controle (%EC) superior à testemunha e semelhante ao tratamento padrão (T2) (protocolo ASI_013) (Tabela 2). Na ava liação da contagem de plantas enfezadas (nPE), nota-se redução significativa na maioria dos tratamentos.
Porém, nos tratamentos T8, T11 e T14, onde se associaram ferramentas de
3 DAA 0,0 a 8,9 a 16,6 a 28,4 a 18,3 a 41,4 a 18,9 a 18,9 a 12,4 a 27,2 a 36,7 a 18,9 a 24,3 a 12,4 a 29,0 a 29,0 a 30,8 a
7 DAA 0,0 a 17,3 a 42,7 a 56,4 a 41,8 a 42,7 a 41,8 a 47,3 a 40,0 a 47,3 a 56,4 a 30,9 a 50,0 a 40,0 a 29,1 a 32,7 a 35,5 a
3 DAA 0,0 a 27,3 ab 47,5 ab 56,6 ab 63,6 b 53,5 ab 46,5 ab 51,5 ab 41,4 ab 40,4 ab 57,6 ab 39,4 ab 43,4 ab 52,5 ab 41,4 ab 50,5 ab 36,4 ab
37DAA 0,0 a 43,4ab 50,9ab 71,7 b 52,8ab 52,8ab 62,3ab 64,2ab 79,2 b 54,7ab 66,0ab 69,8 b 62,3ab 69,8 b 64,2 b 69,8 b 60,4ab
3 DAA
0,0 a 62,7 b 67,8 b 76,3 b 76,3 b 67,8 b 74,6 b 79,7 b 74,6 b 72,9 b 67,8 b 76,3 b 71,2 b 74,6 b 71,2 b 76,3 b 72,9 b
7 DAA 0,0 a 49,1 b 64,2 b 66,0 b 60,4 b 62,3 b 66,0 b 58,5 b 66,0 b 54,7 b 58,5 b 52,8 b 64,2 b 56,6 b 41,5 b 60,4 b 50,9 b
nPE 14 a 8 ab 6 ab 4 b 8 ab 5 ab 5 ab 5 ab 3 b 6 ab 6 ab 4 b 5 ab 7ab 5 ab 3 b 4 b
Escala 1-62 3 a 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b
controle biológico (T8), bem como ativa dores de defesa (T11) e outros (T14) (pro tocolo ASI_013) (Tabela 2), observou-se que a adoção dos inseticidas químicos associados às ferramentas utilizadas nesses tratamentos foi mais vantajosa, o que pode ser observado quando compa ramos os resultados dos respectivos tra tamentos no estudo da Área 1 (Tabela 1).
De modo geral, esses resultados evi denciam que a utilização de bioinsetici das isoladamente também é viável. No caso dos fungos entomopatogênicos, por exemplo, que constituem a grande maioria das ferramentas de controle bio lógico utilizada nesse estudo (Beauveria bassiana e Isaria fumosorosea), a viabili dade se dá pela possibilidade de persistir
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 38
PRÉVIA 9 a 10 a 8 a 11 a 13 a 12 a 6 a 2 a 3 a 7 a 8 a 10 a 9
11
9
7DAA 0,0
48
62
43
62
52
48
43
38
43
62
57
67
38
48
14 DAA 0,0
49 b 53 b 64
62
49
51
59
54
62
67
62
61
56
62
nPE 26 a 7 b 7 b 5 b 7 b 7 b 6
11
8
7
11
6
9
5
3
2
2
2
2
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
b
b
b
b
b
b
b
b
b
b
b
b
b
ab
b
b
ab
b 4 b
ab
b Escala 1-62
a 2 ab
ab
b 2 ab
ab
b 2ab 2 ab 2 ab 3 ab 2 ab 2 b 2 b 2 b 7DAA 0,0 a 57 ab 50 ab 63 ab 60 ab 53 ab 53 ab 67 b 63 ab 67 ab 67 b 67 b 57 ab 63 ab 57 ab 14 DAA 0,0 a 48 b 52 b 60 b 57 b 60 b 40 ab 40 b 45 b 40 b 47 b 50 b 52 b 45 b 40 ab 7DAA 0,0 a 52 b 71 b 68 b 64 b 66 b 61 b 50 b 55 b 59 b 64 b 61 b 68 b 64 b 61 b 14 DAA 0,0 a 60 b 61 b 67 b 60 b 60 b 61 b 68 b 67 b 63 b 60 b 68 b 56 b 56 b 54 b
Tabela 4 - Descrição dos tratamentos (T), produto comercial (p.c.) e dose por hectare (ml ou g/ha) complementares ao Controle Químico (CQ). Eficiência de controle (%EC) pela fórmula de Abbott (1925)1, aos três e sete dias após cada aplicação (DAA). Plantas enfezadas (nPE) e severidade dos sintomas de enfeza mento, notas de 1 a 6, segundo escala de Mckinney (1828)2, apresentadas nos tratamentos aplicados no milho. Chapadão do Sul-MS. Primeira Safra 2021.2022
Tratamentos
Protocolo ASI_015
T1 - Testemunha
T2 - Controle Químico (CQ) (ABCD)
T3 - CQ (AC) + Bovenat, 200g (BD) + ADbio fungi, 400mL (BD) + Blend, 50mL (BD)
T4 - CQ (AC) + Bovenat, 200g (BD) + ADbio fungi, 400mL (BD) + Blend, 50mL (BD) + Cash, 300mL (BD)
T5 - CQ (AC) + Octane, 500mL (BD)
T6 - CQ (AC) + Granada, 250g (BD) + Helper Neutrum, 50mL (BD)
T7 - CQ (AC) + Ballvéria, 200g (BD) + Routen, 150mL (BD)
T8 - CQ (AC) + Ballvéria, 200g (BD) + Routen, 150mL (BD) + Energy, 500mL + Stein, 100mL (BD)
T9 - CQ (AC) + Codificado, 300mL (BD) + Codificado, 800mL (BD)
10- CQ (AC) + Bovéria-Turbo, 500mL (BD) + Naft, 50mL (BD)
T11 - CQ (AC) + Bovéria-Turbo, 500mL (BD) + Naft, 50mL (BD)
T12 - CQ (AC) + Bovéria-Turbo, 500mL (BD) + Naft, 50mL (BD) + Bioenergy, 250mL (BD)
T13 - CQ (AC) + Bovenat, 200g (BD) + ADbio fungi, 400mL (BD) + Blend, 50mL +(HG Classic, 70mL (VE) + HG Classic, 70mL + HG Humin, 100mL (V6) + HG Classic, 70mL + HG Fluisan, 40mL (V8) + HG Classic, 70mL (VT)
T14 - CQ (AC) + Codificado (BD) + Routen, 150mL (BD)
T15 - CQ (AC) + codificado (BD) + Routen, 150mL (BD) + Energy, 500mL (BD) + Stein, 100mL (BD)
T16 - CQ (AC) + codificado (BD)
T17 - CQ (AC) + Prima Fert (BCD)
mortalidade
no ambiente, através da sua propagação e consequentemente colonização de outros insetos, ampliando-se as janelas entre as aplicações, reduzindo-se assim o custo operacional, por exemplo.
Em relação aos estudos da “safrinha”, notou-se, na Área 3, que mesmo em es tádios iniciais da cultura, a associação das ferramentas de controle biológico é eficaz e incrementa a performance de controle (%EC) dos tratamentos, o que pode ser observado após as aplicações B, C e D, quando comparados ao T2 (protocolo ASI_014) (Tabela 3). Enquan to na avaliação da contagem de plantas enfezadas (nPE), observa-se redução no número de plantas com sintomas, nos tratamentos T4, T9, T12, T16 e T17 (pro tocolo ASI_014) (Tabela 3). Além disso, os tratamentos mitigaram os sintomas dos enfezamentos, principalmente quando se analisa a severidade, que se mostra em menos de 15% das folhas que recebe ram os tratamentos (nota 2) (protocolo ASI_014) (Tabela 3).
A estratégia de controle da cigarrinha no milho, empregada na Área 4, mostra que a adoção de ferramentas de forma isolada, sejam elas de controle químico ou biológico, é semelhante nas avalia ções de %EC. Observa-se que tanto na aplicação realizada aos 3DAA-C quanto aos 7DAA-D, verificou-se eficiência de controle acima de 80% nos tratamentos T11 e T12, após intervenção exclusiva mente com inseticidas químicos, bem
Período de avaliação Prévia e (%EC)1
Enfezamentos
PRÉVIA 14 a1 13 a 12 a 11 a 20 a 18 a 12 a 14 a 14 a 15 a 15 a 15 a 14 a 20 a 15 a 10 a 10 a
3 DAA 0,0 a 48,9 ab 42,6 ab 62,8 b 44,7 ab 58,5 ab 57,4 b 64,9 b 42,6 ab 53,2 ab 57,4 ab 52,1 ab 58,5 ab 52,1 ab 37,2 ab 50,0 ab 35,1 ab
7 DAA 0,0 a 30,3ab 32,8ab 37,8ab 32,8ab 31,1ab 31,1ab 51,3 b 31,9ab 36,1ab 31,1ab 44,5ab 45,4ab 35,3ab 30,3ab 42,9ab 35,3ab
3DAB 0,0 a 47,0bc 63,4cd 68,3 e 57,4bc 62,8bc 61,2bc 61,2bc 45,9 b 45,4 b 45,4 b 50,8bc 66,1de 59,6bc 52,5bc 53,0bc 57,4bc
7 DAB 0,0 a 38,6ab 42,1ab 54,4 b 49,1 b 38,6ab 43,9 b 49,1 b 49,1 b 47,4 b 47,4 b 38,6ab 47,4 b 54,4 b 57,9 b 36,8ab 43,9 b
3 DAC 0,0 a 41,0 ab 57,4 ab 68,9 bc 77,0 bc 68,9 bc 47,5abc 63,9 bc 65,6 bc 75,4 bc 80,3 c 82,0 c 75,4 bc 67,2 bc 55,7 bc 77,0 bc 63,9 bc
7DAC 0,0 a 40,0ab 62,9bc 68,6bc 77,1 c 65,7bc 48,6bc 51,4bc 45,7bc 57,1bc 65,7bc 68,6bc 60,0bc 57,1bc 54,3bc 57,1bc 60,0bc
7 DAD 0,0 a 48,4 b 54,8 b 64,5bc 71,0bc 80,6 c 71,0bc 74,2bc 58,1bc 54,8 b 58,1bc 67,7bc 80,6 c 54,8 b 58,1bc 54,8 b 54,5 b
nPE 17 a 9 ab 7 b 5 b 4 b 5 b 6 b 5 b 5 b 6 b 5 b 4 b 4 b 5 b 6 b 5 b 7 b
Escala 1-62 2 a 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b 2 b
Tabela 5 - Produtividade do milho em sacas por hectare (sc/ha)/Tratamento, nos experimentos realizados durante a primeira (ASI_012 e ASI_013) e segunda (ASI_014 e ASI_015) Safra 2021.2022. Chapadão do Sul-MS
Tratamentos
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 T13 T14 T15 T16 T17
Nas avaliações de produtividade, ve rificou-se, nos estudos realizados na pri meira safra, incremento significativo nas áreas tratadas em relação à testemunha absoluta. Já em relação aos ensaios da safrinha, nota-se que o incremento mí nimo em relação à testemunha variou de 19,77 sacas/ha, na Área 3 (ASH_014) até 25,14 sacas de milho/ha na Área 4 (ASH_015) (Tabela 5).
Assim, com base nos resultados obtidos e considerando a ocorrência de alta infestação da praga, recomen da-se fortemente a associação das
Produtividade do milho (sacas/ha)
ASI_012 146,37 b 167,06 a 172,16 a 172,49 a 172,87 a 171,30 a 169,58 a 172,71 a 173,48 a 172,22 a 173,63 a 171,20 a 169,95 a 172,02 a 170,20 a 171,66 a
ASI_013 155,40 b 171,05 a 173,00 a 173,21 a 170,11 a 170,00 a 173,59 a 174,86 a 173,03 a 174,31 a 175,09 a 171,68 a 173,31 a 173,18 a 173,22 a
ASI_014 80,95 a 100,72 a 107,48 a 108,89 a 107,49 a 107,13 a 104,24 a 106,40 a 109,23 a 106,34 a 106,91 a 106,21 a 105,49 a 105,35 a 108,36 a 109,18 a 109,40 a
ASI_015 89,43 a 112,37 a 113,94 a 112,56 a 112,45 a 112,88 a 112,41 a 113,41 a 112,40 a 112,87 a 113,55 a 113,38 a 114,57 a 112,76 a 113,77 a 112,31 a 113,33 a
ferramentas de controle seguindo as premissas do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
C
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 39
0 a 50 % de
50
80 %
3 DAD 0,0 a 55,6 b 61,1 b 64,8 b 61,1 b 68,5 b 61,1 b 64,8 b 50,0 b 51,9 b 66,7 b 57,4 b 68,5 b 68,5b 66,7 b 68,5 b 54,8 b 80
a
de mortalidade
a 100 % de mortalidade
como no T6 e T13, após tratamento exclusivamente biológico, respectiva mente (protocolo ASI_015) (Tabela 4). Nota-se no estudo que, com o passar das aplicações, bem como com o avan ço do estádio fenológico da cultura, a performance dos tratamentos, ou seja, a %EC, tende a aumentar. A hipótese é que isso pode se dar em função da preferência da praga por plantas mais jovens, então elas tendem a migrar pa ra outras áreas. No entanto, verificou -se nesses ensaios experimentais que o número de cigarrinhas do tratamento testemunha aumentou em relação à avaliação prévia. Portanto, outra hipó tese para tal observação é que a per formance dos inseticidas melhora em função do aumento do contato da pra ga com o tratamento que se dá com o aumento da área foliar, e consequente mente maior deposição do inseticida.
1Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (<0,05).
Suélen Cristina da Silva Moreira, Difusão Agrícola Consult. e Pesq. Agropecuária Vinícius de Oliveira Barbosa Claudemir Marcos Theodoro e Cristieli Oliveira Vanzo, Fundação de Apoio a Pesq. Agrop. de Chapadão Moacir de Souza da Silva e Ana Beatriz Pires da Silva, Instituto Federal de Mato Grosso do Sul
Nitrogênio afeta a
Omilho (Zea mays L.) é produzido em quase to dos os continentes do mundo e sua importância econômica está nas diversas formas de utilização, que vão desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia (Paes, 2006). A produção do milho pode ser afetada negativamente pela ação de agentes causadores de doenças, com prometendo diretamente seu potencial de rendimento no campo. Nisso, sabe-se que a qualidade das sementes constitui -se como principal fator responsável pela determinação da condição sanitária da lavoura. E, de maneira geral, os patóge nos associados a elas são transportados
via infecção dos tecidos da semente ou por infestação (contaminação) do tegu mento (Sá et al., 2011), além de serem facilmente disseminados pelo vento, água e insetos. Esta associação entre patógeno e semente tem sido aponta da como uma das principais causas da perda da qualidade de grãos e semen tes, durante o plantio e a colheita, bem como no armazenamento. Neste contexto, o trabalho teve o intuito de avaliar a sanidade de semen tes de híbridos de milho produzidas sob dose alta e baixa de nitrogênio, deter minando a incidência de fungos, a pa togenicidade desses micro-organismos às plantas e, ainda, quantificar a taxa de
transmissão de fungos patogênicos via semente-planta.
Os testes foram conduzidos no Labo ratório de Fitopatologia da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Gurupi – TO. As sementes utilizadas nos testes foram provenientes de quatro híbridos de mi lho produzidos na região de Cerrado, sendo 30F53YH, 3H482, VT PROMAX e 2B710, manejados sob doses alta (180kg de N/ha) e baixa (40kg de N/ha) de nitrogênio. Para a determinação da qualidade sanitária das sementes foram conduzidos os seguintes testes: 1 - Sa nidade (blotter test), onde as sementes foram analisadas individualmente com auxílio de microscópio estereoscópico
Milho Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 40
Constatou-se que houve transmissibilidade via semente-planta dos fungos Bipolaris sp., Curvularia sp. e Fusarium sp. para alguns híbridos de milho submetidos a alta e baixa adubação nitrogenada
sanidade?
2012), muitas vezes relacionada ao mau armazenamento e condicionamento das sementes. Observa-se que ocorreram também, em menor incidência a presen ça dos fungos Bipolaris sp. e Curvularia sp., fungos potencialmente causadores de manchas foliares, ocasionando perda de área fotossintética das plantas e bai xas produtividades.
As sementes analisadas apresenta ram incidência de Fusarium sp. em 100% das amostras, demonstrando uma ten dência superior em relação aos demais gêneros. Essa alta incidência de Fusarium sp. nas sementes pode causar problemas na germinação e normalmente está as sociada a sementes que sofreram atraso na colheita ou deterioração por umida de. Ressaltando, desta forma, que a diag nose preventiva de fungos associados a sementes, assim como o tratamento quí mico de sementes, é medida que auxilia no combate a doenças ocasionadas por espécies de Fusarium sp.
Na Tabela 1, independentemente do nível de adubação nitrogenada utili zada nas plantas de milho, a incidência de Aspergillus sp. nas sementes produ zidas não mostrou efeito significativo entre os híbridos analisados, resultando em incidência média de 3,75% entre as amostras. O gênero Cladosporium sp.
foi encontrado nas sementes com inci dência média de 9,75% das amostras. O híbrido 30F53YH com alto nível de nitrogênio apresentou a maior ocorrên cia de Cladosporium sp., com incidência em 34,67% das amostras, o que diferiu significativamente dos demais híbridos.
Apesar de não ter sido verificado efeito significativo quanto à presença de Bipolaris sp. entre as amostras, hou ve incidência apenas nas sementes dos híbridos 3H482, VT PROMAX e 2B710 produzidas com alta adubação nitroge nada, sendo 1,33%, 2% e 1,33%, respec tivamente.
O gênero Curvularia, de forma geral, ocorreu em baixa incidência e foi encon trado apenas no híbrido 3H482 (6%) e 2B710 (0,67%), com baixa adubação nitrogenada. Poucos trabalhos relatam a incidência de Curvularia sp. em se mentes de milho, como o de Nerbass et al. (2008), sendo considerado ainda um patógeno de importância secundária para a cultura. Entretanto, esse cenário vem mudando em relação à mancha de curvularia, mesmo com relatos de da nos sendo poucos ou de difícil acesso no meio científico, é possível observar um aumento da ocorrência dessa doença na região Sul do estado do Tocantins nos últimos anos (Vaz de Melo et al., 2010).
Houve alta incidência média de Fusarium sp. (100%) e Penicillium sp. (46,83%) nas sementes, independente mente do nível de adubação nitrogenada utilizada e do híbrido. Resultados seme
e óptico, visualizando as características morfológicas das estruturas fúngicas. 2 - A patogenicidade dos fungos oriundos das sementes foi avaliada por meio de inoculações na parte aérea de plantas de milho. 3 - Transmissão de fungos via semente-planta.
Foi observada a incidência pre dominante dos fungos Fusarium sp., Penicillium sp., Cladosporium sp. e As pergillus sp. nas sementes de milho submetidas a alta e baixa adubação ni trogenada (Figura 1). A incidência desses gêneros fúngicos também foi observada em diversos outros trabalhos realizados com sementes de milho (Marques et al., 2009; Barros e Juliatti, 2012; Bento et al.,
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 41
Disposição das sementes de milho em caixas gerbox (blotter test)
Wenderson Araujo
CNA
Tabela 1 - Incidência de fungos em sementes de híbridos de milho produzidas sob alta e baixa adubação nitrogenada
Híbridos
30F53YH
3H482
VT PROMAX 2B710
30F53YH
3H482
VT PROMAX 2B710
Níveis N
ALTO
180 kg ha-1
BAIXO 40 kg ha-1
As 10,67 a 2,00 a 8,67 a 2,00 a 5,84 a 0,67 a 0,00 a 1,33 a 4,67 a 1,67 b
Bi 0,00 a 1,33 a 2,00 a 1,33 a 1,17 a 0,00 a 0,00 a 0,00 a 0,00 a 0,00 a
Incidência de fungos (%)
Cl 34,67 a 8,67 b 13,33 b 13,33 b 17,50 a 0,00 b 5,33 b 2,00 b 0,67 b 2,00 b
As 10,67 a 2,00 a 8,67 a 2,00 a 5,84 a 0,67 a 0,00 a 1,33 a 4,67 a 1,67 b
Bi 0,00 a 1,33 a 2,00 a 1,33 a 1,17 a 0,00 a 0,00 a 0,00 a 0,00 a 0,00 a
Cl 34,67 a 8,67 b 13,33 b 13,33 b 17,50 a 0,00 b 5,33 b 2,00 b 0,67 b 2,00 b
dência acima de 60% para as amostras de sementes de milho produzidas com nível baixo de nitrogênio. Já as sementes que receberam nível alto de nitrogênio apresentaram incidência máxima de 36% de Penicillium sp. nas amostras.
As sementes de milho podem ser danificadas por fungos em condições de pré-colheita e em pós-colheita durante o beneficiamento, o armazenamento e o transporte. Dentre os vários fungos responsáveis pela deterioração de sementes destacam-se os dos gêneros Fusarium sp., Aspergillus sp. e Pe nicillium sp. Entre os prejuízos causados pelos fungos estão o emboloramento visível, a descoloração, o odor desagradável, a perda de matéria seca, o aquecimento, as mudanças quími cas e nutricionais, além da produção de micotoxinas (Bento et al., 2012), sendo que essa contaminação pode tornar as sementes impróprias para utilização, resultando em grandes perdas econômicas. Borém et al. (2006) também relatam que a ocorrência de Aspergillus sp. e Penicillium sp. estão rela cionados na maioria das vezes às condições inadequadas de armazenagem, ocorrendo geralmente após a colheita ou du rante o armazenamento das sementes. Segundo Duarte et al. (2009), a utilização de populações elevadas de plantas, aliada ao desequilíbrio nutricional e à suscetibilidade dos genótipos, contribui para o aumento da incidência das podridões de es pigas e de grãos ardidos.
Em relação ao suprimento de nitrogênio nas plantas com nível baixo e alto, 40kg e 180kg de N/ha, respectivamente, a análise estatística da incidência de fungos não demonstrou exclusivamente uma diferença quanto à ocorrência nos dois níveis de adubação, entretanto, revelou diferença quanto à ocorrência de fungos entre os híbridos analisados. Para Huber e Thompson (2007), a influência de N em doenças de plantas deve-se à alteração fisiológica nas plantas. Ela afeta o cresci mento ou a virulência do patógeno, modificando o ambien te biótico e abiótico, especialmente a rizosfera. Marschner (1995), estudando o efeito isolado de nitrogênio, relata que o maior suprimento deste nutriente aumenta a suscetibilidade das plantas aos patógenos biotróficos, mas reduz aos patóge nos necrotróficos, que são semissaprófitas e preferem tecidos em senescência ou liberam toxinas para danificar ou matar as células da planta hospedeira.
De acordo com a análise sanitária das sementes, os fungos transportados e posteriormente comprovados sendo agentes patogênicos às plantas de milho foram Bipolaris sp., Curvularia sp. e Fusarium sp. (Tabela 2).
lhantes foram relatados por Ramos et al. (2008), que observaram a predominância desses dois gêneros fúngicos nas amostras de sementes estudadas. A alta incidência de Fusarium sp. em híbridos de milho tem sido uma grande preocupação nas regiões produ toras, pois além do dano na espiga e no grão, ocorre a produção de toxinas, como, por exemplo, as fumonisinas. Orsi et al. (2000), ressaltam que o gênero Fusarium é o mais frequentemente asso ciado ao milho, seguido por Penicillium, Aspergillus e Cladosporium. Na análise de sementes, o gênero Penicillium ocorreu em inci
Espécies do complexo Bipolaris, normalmente, podem cau sar lesões foliares necróticas, provocando a morte dos tecidos em várias gramíneas da mesma família, como, por exemplo, a mancha de bipolaris, importante doença foliar da cultura do milho (Trigiano et al., 2010). A mancha de curvularia ainda é pouco relatada em trabalhos científicos no Brasil, porém, tem-se notado o desenvolvimento de estudos apontando o aumento na frequência dessa doença na cultura do milho na China (GAO et al., 2012) e no Sul do estado do Tocantins (Vaz de Melo et al., 2010). Baseado nos dados obtidos neste tra balho para o gênero Fusarium e levando-se em consideração as características morfológicas desse fungo, observou-se cres
As: Aspergillus sp.; Bi: Bipolaris sp.; Cl: Cladosporium sp.; Cu: Curvularia sp.; Fu: Fusarium sp.; Pe: Penicillium sp. Médias seguidas por mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Média Média
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 42
Semente de milho vista em lupa com presença de Aspergillus sp
Figura 1 - Percentual de fungos identificados em sementes de híbridos de milho produzidas sob alta e baixa adubação nitrogenada
cimento cotonoso de coloração branca, constituído de micélio e esporos do pa tógeno, que sob condições favoráveis, o fungo pode infectar as raízes e os colmos diretamente ou invadindo a planta por ferimentos, além disso, pode ser trans mitido pelas sementes e produz grande quantidade de fumonisinas.
Não houve efeito significativo entre os híbridos de milho quanto à porcenta gem de emergência de plântulas. Após sete dias da semeadura foi encontrada a porcentagem média de 89,63% de emergência de plântulas para os híbri dos de milho com alta e baixa adubação nitrogenada.
Dentre os fungos fitopatogênicos identificados no teste de sanidade, constatou-se que houve transmissibi lidade via semente-planta dos fungos Bipolaris sp., Curvularia sp. e Fusarium sp. para alguns híbridos de milho sub metidos a alta e baixa adubação nitroge nada (Tabela 3). Com relação à eficácia da transmissão, sabe-se que a presença do patógeno no embrião da semente é a maneira mais eficiente de se garantir a infecção da plântula que dela será ori ginada (Menten, 1991).
A transmissão de Bipolaris sp. foi de tectada a partir da observação de lesões alongadas, orientadas pelas nervuras com margens castanhas e com forma e tamanho variáveis. Já os sintomas de Curvularia sp. apresentaram-se como pequenas manchas necróticas elípticas a ligeiramente ovaladas de bordos aver melhados e centro pardo-claro.
Em relação ao Fusarium sp. é sabi do que esse patógeno causa doenças diversas como podridão radicular, mor te de plântulas, podridão de espiga e do colmo, podendo levar a reduções na produtividade e qualidade de grãos (Munkvold, 2003), e que apesar de não terem sido observados esses sintomas nas plantas de milho, a análise da trans missibilidade de fungos pode compro var sua transmissão via semente-planta a partir do isolamento de fragmentos das plantas.
É sabido que variações na ocorrência de fungos entre diferentes híbridos são esperadas. Entretanto, é importante res saltar a interação do material genético
com a zona climática onde esse híbrido foi cultivado, uma vez que o fator climá tico é um dos principais determinantes na ocorrência de fungos em sementes (Ramos et al., 2010). A transmissão do patógeno da semente para a plântula quando não detectada e quantificada faz com que muitos imaginem que o inóculo vem de fontes externas, próxi mas e abundantes, como hospedeiros secundários (Reis e Casa, 2005). Dessa forma, estudar a quantificação da taxa de transmissão é de fundamental im portância para esclarecer o potencial epidemiológico das sementes.
CONCLUSÕES
Foram identificados e quantificados nas sementes de milho fungos respon sáveis por causar depreciações de se mentes e grãos e fungos fitopatogênicos causadores de manchas foliares impor tantes para a cultura, como Bipolaris sp.
Os fungos Bipolaris sp. e Curvularia sp. e Fusarium sp. são transmitidos das sementes para plantas de milho inde pendentemente do nível de adubação nitrogenada utilizado.
Esses dados contribuem para a ado ção de medidas e tecnologias ao setor de produção de sementes. Incluindo a necessidade da adoção de práticas que mitiguem ou excluam a incidência de
Tabela 2 - Teste de patogenicidade com inoculação de fungos em plantas de milho
Fungos
Bipolaris sp. Curvularia sp. Fusarium sp. Controle
Planta de milho + + + (+) Fungo fitopatogênico.
Tabela 3 - Incidência de fungos transmitidos via semente-planta de milho produzidas sob alta e baixa adubação nitrogenada
Híbridos
30F53YH 3H482 VT PROMAX 2B710 30F53YH 3H482 VT PROMAX 2B710
Níveis N ALTO 180 kg ha-1 BAIXO 40 kg ha-1
Fungos (%)
Bipolaris sp. + + + +
Curvularia sp. + + +
Fusarium sp. + + + + + + (-) Não houve transmissão.
fungos em sementes, como exemplo, espécies dos gêneros Fusarium e Aspergillus, potencial mente produtores de micotoxinas nocivas aos seres vivos.
Detalhamento do teste de patogenicidade
Patrícia Resplandes Rocha dos Santos
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 43 C C
Pedro Raymundo Argüelles Osorio e Gil Rodrigues dos Santos, Universidade Federal do Tocantins
Cuidados a distância
Tecnologias para monitoramento remoto de pragas podem proporcionar maior eficiência e significativa redução no custo das lavouras
Embora de difícil previsi bilidade, antes de causa rem perdas econômicas, os surtos de pragas pre cisam ser detectados precocemen te nas áreas agrícolas. Em seguida, providências imediatas têm que ser tomadas para conter o aumento populacional da praga. A detecção precoce de surtos e o controle tem pestivo são ingredientes essenciais para o manejo eficaz das pragas. O monitoramento convencional é de morado e pode ser dificultado pe la falta de técnicas de amostragem confiáveis e representativas. Um im
portante desafio da pesquisa relacio nada à sustentabilidade do manejo de pragas é desenvolver e promover procedimentos mais aprimorados e com maior grau de acertos.
A recente evolução de tecnologias da agricultura digital e a automação de máquinas e equipamentos desti nados à aquisição de dados, tomada de decisão e realização de operações prometem ser o caminho. Sensores, drones, sistemas de georreferencia mento e uma infinidade de outras tec nologias têm facilitado a comunicação e o desenvolvimento de processos inerentes às atividades de produção
agrícola, facilitando a vida do produ tor rural.
No Brasil, a cultura do algodão tem se posicionado na vanguarda no emprego de tecnologias da informa ção voltadas ao aumento de produti vidade, sendo crescente a adoção de soluções digitais por parte dos produ tores. Tecnologias digitais já disponí veis para uso imediato têm potencial para contribuir com a redução de até 35% do custo de controle de pragas na cultura do algodoeiro. Sistemas autônomos e inteligentes de monito ramento remoto surgem para disponi bilizar informações georreferenciadas em tempo real sobre a ocorrência de pragas no campo de algodão.
O uso de sensores para monitora mento ambiental está em ascensão na agricultura. Sensores detectam fato res ambientais como dados relativos a temperatura, umidade relativa do ar, condições de irrigação, salinidade do solo, mas também sintomas ocasio nados por estresses hídricos e ocasio nados por pragas e doenças. Existem dispositivos com câmeras específicas que emitem raios ultravermelhos pa
Algodão Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 44
ra analisar a saúde da planta e obter informações sobre seu estádio de desenvolvimento. Sensores de altura podem avaliar a topografia da pro priedade e ajustando as barras de pulverização de autopropelidos ao longo da aplicação. O sensoriamento remoto é tecnologia da Agricultura 4.0 que vai contribuir decisivamente no Manejo Integrado de Pragas.
ARMADILHAS INTELIGENTES COM SENSORIAMENTO REMOTO
O monitoramento de pragas com armadilhas convencionais já é técnica
consolidada para prevenir, gerenciar e minimizar ocorrências de populações de insetos que possam comprometer a produtividade das culturas agríco las. No entanto, essa tarefa, quando executada manualmente, costuma ser laboriosa e pouco eficiente.
Na cultura do algodão, as armadi lhas convencionais para o bicudo-do -algodoeiro são dispositivos presentes em todas as áreas cultivadas no Bra sil. Entretanto, são utilizadas apenas na entressafra para obtenção de da dos que servirão de apoio a ações de tomada de decisão de controle do inseto na fase de florescimento da próxima safra.
A proposta das armadilhas inteli gentes, que incluem o sistema de sen soreamento remoto, é de ser utilizada também durante a safra, como apoio para a tomada de decisão em tempo hábil, através da detecção em tempo real dos adultos de bicudos que es tão colonizando a área de algodão. Uma vez detectado, esta informação é disponibilizada em tempo real para o produtor, que pode tomar medidas de controle localizado e conter essa população inicial, antes que ocorra a oviposição das fêmeas nos botões florais, evitando, assim, a geração seguinte do inseto, que cresceria de forma exponencial.
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 45
Fotos Bruna Mendes Tripode
Bicudo do algodoeiro nas fases adulta, larval e pupal
Germison Tomquelski
A Livefarm Tecnologia Agropecuária Ltda., em parceria com a Embrapa, a Embrapii, o IFGoiano e o IMAmt, desen volveu e está comercializando uma armadilha inteligente para monitoramento do bicudo-do-algodoeiro. As armadi lhas inteligentes coletam automaticamente os dados e os enviam a servidores nas fazendas, permitindo a gestão rá pida e tomadas de decisão seguras de controle, quando ne cessário. A precisão dos dados coletados pelas armadilhas automatizadas permite a economia de insumos e contribui para a minimização do impacto ambiental promovido pelo seu uso na agricultura.
COMO FUNCIONA A ARMADILHA
A armadilha inteligente consiste de uma base eletrônica que funciona remotamente fazendo toda a operação de iden tificação e contagem dos insetos capturados pela armadilha, adicionada de um sistema de comunicação remota que faz o envio das informações até a base, que encaminha os dados para o aplicativo ao qual o produtor vai ter acesso e receber
tais informações em tempo real.
Além disso, o sistema conta com uma base de recarga au tomática da bateria com placas solares, o que faz com que o equipamento tenha autonomia para funcionamento duran te todo o ano agrícola. Mesmo na ausência de sol, em dias nublados ou chuvosos, o equipamento consegue funcionar por até duas semanas. Desta forma, independentemente da condição climática, os dados serão sempre disponibilizados ao agricultor.
Quando as armadilhas automáticas, estrategicamente instaladas em pontos de amostragens georreferenciados, atraem os insetos-alvo, um circuito eletrônico aciona o sis tema de contagem e envia os dados para processamento em computador central, sendo gerado relatório ao usuário sobre a presença do inseto, a localização e o momento do relato.
O sistema completo inclui, além das armadilhas automa tizadas, um software e um aplicativo que permite ao produ tor acompanhar as detecções, através da geração de mapas de calor e da contagem direta dos insetos. Com os dados, é possível a determinação de períodos críticos de infestação, indicação de potenciais áreas de refúgios e substratos al ternativos de alimentação/multiplicação. A gradual adoção desta tecnologia otimizará o manejo integrado de pragas, reduzindo custos de controle, erros de detecção e uso de inseticidas químicos, contribuindo para o alcance de níveis potenciais de produtividade e para o manejo sustentável do agroecossistema.
O fornecimento de energia para esse sistema de hardwa re é autossustentável, através de miniplacas de captação de energia solar e pilhas de lítio recarregáveis, instalados juntos à armadilha. O software embarcado no circuito controlador dos sensores controla o envio e a recepção de mensagens via rádio ao computador central e comunica qualquer de feito eventual.
O acesso ao relatório se dá através de aplicativo (web e mobile). Como segundo passo, também será construído um software cuja finalidade é fazer com que o sistema aprenda a reconhecer um determinado inseto capturado. Para isso, será usada uma rede neural convolucional. Como diferencial está a possibilidade de sua adaptação para outros insetos -alvo, tornando assim o sistema multifuncional.
Em áreas extensas de produção de algodão, cenário co mum na região do Cerrado do Brasil, por exemplo, as arma dilhas inteligentes com sensoriamento remoto dispensam a necessidade de visitas frequentes, economizando mão de obra. Além disso, uma vez que as visitas nem sempre são feitas no momento exato ou no local exato em que a popu lação da praga chega, essas podem ser infrutíferas.
Por outro lado, as armadilhas com sensoriamento remoto, uma vez instaladas nos pontos conhecidos de dispersão da praga (áreas vizinhas a matas, cursos d’água, confinamen tos etc.), estarão aptas a detectar de forma mais assertiva a movimentação da praga. A detecção em tempo hábil de populações iniciais de bicudo permite o controle localizado e efetivo da população da praga.
Armadilha inteligente com sensoriamento remoto para detecção de bicudo do algodoeiro
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 46 Fotos Livefarm
Figura 1 - Comparação entre contagem de insetos em armadilhas convencio nais e com sensoriamento remoto (inteligente)
O QUE VEM
PELA FRENTE
As armadilhas automatizadas cobri rão extensas áreas de cultivo, gerando mapas de calor, determinação de perí odos críticos de infestação, indicação de potenciais áreas de refúgios e subs tratos alternativos de alimentação/ multiplicação. O sistema otimizará o manejo integrado de pragas, reduzindo custos de controle, erros de detecção e uso de inseticidas químicos, contri buindo para o alcance de níveis poten ciais de produtividade e para o manejo sustentável do agroecossistema.
A automação da coleta de dados populacionais de insetos-praga não se rá exclusividade do bicudo-do-algodo eiro. Pesquisas em andamento visam o desenvolvimento de armadilhas com sensoriamento remoto para detecção de outras pragas, como as lagartas Spodoptera frugiperda e Helicoverpa armígera, e o percevejo Euschistus he ros. Esses dispositivos automatizados permitirão a otimização das tomadas de decisão de controle em tempo há bil, que contribuirão significativamente para a redução das perdas ocasionadas por essas pragas e a minimização do custo de controle de pragas da cultura do algodoeiro.
Os percentuais de redução ainda não estão disponíveis, visto que tais tecnologias ainda estão em fase de desenvolvimento. Entretanto, consi derando apenas as pragas citadas, que são responsáveis por cerca de 30% do
custo de produção do algodoeiro, a efi ciência no monitoramento e o controle populacional destas pragas pode eco nomizar de R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 por hectare no custo de produção do algodoeiro. Dado o aumento da efici ência, pode implicar na economia de oito a 15 pulverizações de inseticidas por safra, o que significa uma redução considerável do impacto ambiental.
CONTROLE LOCALIZADO COM DRONE
Uma tecnologia digital que deverá complementar o monitoramento por sensoriamento remoto é a utilização de drones de atuação.
Aplicações localizadas de insetici das promovem a redução do volume de pesticidas necessários para o ma nejo fitossanitário. Com o advento da tecnologia digital, a aplicação localiza da pode ser feita por meio de drones e monitoramento remoto por meio
de armadilhas com sensores (Iost et al., 2020).
Aplicações localizadas para pra gas do algodoeiro e efetuadas logo no início da detecção das infestações podem dispensar aplicações em área total. Isso representa economia de dez a 12 aplicações de inseticidas em área total por safra. Um grande desa fio para o uso de drones no manejo de pragas de precisão são os altos custos iniciais do material: o próprio drone, os vários sensores ou as tecnologias de aplicação, equipamentos de mon tagem e software de análise. Além dis so, a utilização desses equipamentos somente é autorizada a profissionais capacitados, chamados “operadores aeroagrícolas remotos”. Como solu ção alternativa, várias empresas estão oferecendo serviços como aluguel de drones com equipamentos de senso riamento remoto.
O uso de tecnologia digital está cada vez mais auxiliando o monitora mento e o controle localizado de pra gas na cultura do algodão. Maior tem pestividade e assertividade no manejo de pragas levará à redução do uso de inseticidas e do custo de produção. A sustentabilidade da cultura do algodão passa por essa modernização.
José Ednilson Miranda e Bruna Mendes Tripode, Embrapa Algodão Marcelo Gonçalves Narciso, Embrapa Arroz e Feijão Joélcio Ervilha Carvalho, Livefarm Tecnologia Agropecuária Ltda.
Esquema de funcionamento do dispositivo LiveFarm® até a tomada de descisão após o recebimento de dados no app em smartphone
C C www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022 47
Drones de atuação em decolagem e vista aérea de drone de sensoreamento
Arte Livefarm
Fotos Augusto Souza Batista
Os múltiplos usos da soja
Asoja é conhecida pelos seus usos alimentares, seja na ali mentação humana – como ingrediente de alimentos, óleo de fritura ou tempero – quanto na formulação de rações para diversos ani mais. A composição química versátil da soja permite uma grande variedade de usos. Seu perfil de aminoácidos do farelo é ideal para a formulação de rações, en quanto seu óleo tem uma gama surpre endente de aplicações.
Nas últimas duas décadas, a soja tornou-se uma alternativa atraente às matérias-primas petroquímicas em uma ampla gama de produtos. Borrachas, fi bras, plásticos, revestimentos, solventes, lubrificantes, adesivos e milhares de pro dutos de consumo utilizam a soja como ingrediente. E a demanda vai aumentar muito, com o avanço da Química Verde, que busca sucedâneos do petróleo pa ra fornecer matéria-prima às indústrias químicas.
INSUMO INDUSTRIAL
A preferência crescente dos consumi dores por matérias-primas renováveis e sustentáveis é um ponto favorável à soja. Nos últimos anos, a soja tem se mostrado mais barata que os insumos petroquími cos. Conduzida em sistemas de produção sustentáveis, a soja apresenta emissões de gases de efeito estufa (GEE) inferio res ao petróleo, permitindo às empresas atingir mais facilmente suas metas de sus tentabilidade. O fato de fixar seu próprio nitrogênio da atmosfera, eliminando o uso de fertilizantes nitrogenados, cujo proces so é altamente emissor de GEE, é um dos pontos positivos. Estudos demonstram a possibilidade de expandir a produção de soja, para atender usos não alimentares em bases sustentáveis, especialmente pelo incremento da produtividade (ces brasil.org).
A soja é transformada em insumos industriais utilizando processos como epoxidação, alcoólise, transesterificação, acidulação, esterificação direta, metátese, isomerização, modificação de monôme ros e polimerização. Por meio deles po dem ser obtidos ao menos seis insumos industriais básicos: a) triglicerídeos; b) ésteres de ácidos graxos; c) epóxidos de
óleo de soja (ESBO); d) epóxidos de éste res de ácidos graxos (SEM); e) glicerina; f) aminoácidos.
Os ácidos graxos do óleo de soja po dem ser derivados em novas estruturas para fazer muitos tipos de revestimen tos, incluindo resinas, látex modificado, diluentes reativos, aditivos funcionais, di ácidos, dióis e dispersões de poliuretano.
QUÍMICA VERDE
Inovações tecnológicas facilitam o ingresso da soja no mercado de Quími ca Verde. A soja com alto teor de ácido oleico resulta em óleo, que permanece estável em altas temperaturas, fator es sencial para combustíveis e lubrificantes automotivos.
Os resultados desses esforços podem ser vistos em uma explosão de novas e inovadoras aplicações de soja. Quatro categorias principais dominam o mercado de usos não alimentícios hoje — reves timentos, adesivos, tintas e fibras. São inúmeros os produtos já disponíveis no mercado, que usam soja como insumo, com destaque para alguns deles, como o revestimento supressor de poeira (Epic E), que é muito útil para revestir estradas de cascalho, reduzindo a poeira. Além de evitar que as partículas de poeira po luam o ar, estabiliza o piso das estradas de cascalho, reduzindo a necessidade de manutenção.
Os adesivos de soja reduzem a libe ração de compostos orgânicos voláteis (COVs), como o formaldeído – um produto cancerígeno – como é o caso de um agen te aglutinante usado no isolamento em construções e outras aplicações. Existem inúmeros ligantes à base de soja. Um es tudo da Iowa State University, financiado pela Iowa Soybean Association, resultou em asfalto à base de soja. O produto com bina pavimento asfáltico 100% reciclado, misturado com um polímero derivado da soja, aumentando a durabilidade e a longevidade e reduzindo os custos de manutenção.
Por falar em rodovias, em 2021 a Goo dyear passou a produzir pneus com óleo de soja. Seu objetivo declarado é eliminar a dependência de petróleo até 2040, um bom indicador para a demanda futura de soja. Usando a mesma tecnologia, os tênis
de corrida Skechers são produzidos com óleo de soja.
Em outra linha, oligômeros produzi dos com óleo de soja não contêm bisfe nol, uma substância associada a diversos problemas de saúde. A tecnologia é facil mente escalável em fábricas existentes e está pronta para comercialização. Propor ciona excelente vida útil quando mistura do com resinas e reticulantes de amina e é facilmente formulado com solventes e reticulantes para substratos metálicos.
RAMPA DE LANÇAMENTO
Diversos usos não alimentares da soja estão sendo desenvolvidos. Um projeto financiado pelo United Soybean Board estuda um modificador de impacto à ba se de soja para melhorar a resistência de epóxis ao impacto. O uso da soja aumen ta o bioconteúdo das formulações epóxi, substituindo solventes fósseis. Uma for mulação de poliuretano à base de soja permite produzir vernizes e acrílicos para acabamentos de madeira para interiores/ exteriores, com resistência a umidade, chuvas e baixa emissão de COVs, a um custo mais baixo.
Um processo contínuo, já patenteado, sintetiza uma resina composta de farinha de soja, óleo de soja epoxidado e um polí mero transportador e reduz os tempos de reação em lotes convencionais de várias horas para alguns minutos. Um poliol de policarbonato de óleo de soja incorpora CO2 para revestimentos de poliuretano. Uma tecnologia alquídica produz revesti mentos e corantes de madeira com baixas emissões de VOCs.
Existem centenas de outros exemplos de produtos não alimentares produzidos com soja. Esses usos, além da ampliação das rações para o segmento de aquicultu ra, seguramente sustentarão e ampliarão a demanda da oleaginosa nos próximos anos. Uma oportunidade de ouro para o Brasil, se permanentemente comprovar mos ao mercado a sustentabilidade dos nossos sistemas de produção.
Décio Luiz Gazzoni, O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro fundador do Comitê Estratégico Soja Brasil e do Conselho Agro Sustentável
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 48
Coluna Agronegócios
C
Coluna Mercado Agrícola
Brasil batendo recorde de faturamento com o agro na exportação
E stamos chegando ao final de 2022 e a poucas se manas de fecharmos mais uma temporada. O Brasil segue se destacando como líder mundial na exportação de alimentos.
A soja deve superar os US$ 57 bilhões em divisas. O mi lho provavelmente ultrapasse os 40 milhões de toneladas (T). Temos, também: arroz crescendo e batendo recorde
MILHO
A safra de verão está em final do plantio. Tudo aponta para área me nor que no ano passado. Deve ser inferior a 4,3 milhões de hectares. Mesmo assim, seguindo o bem clima, teremos safra entre 26 e 30 milhões de toneladas. Isso porque os produ tores investiram em boa tecnologia.
SOJA
O plantio da safra de soja avan ça a passos largos. Sobrará pouco a ser plantado em novembro e de zembro. Temos indicativos de que fechará acima dos 43 milhões de hectares, frente aos 40,5 milhões
de exportação; aumento na exportação de trigo; carnes em ritmo forte.
Estamos entregando ao mundo grandes volumes de alimentos e trazendo junto bilhões de dólares para abas tecer a economia brasileira. Assim, criam-se e mantêm-se milhares de empregos. Tudo aponta que vamos para um ano ainda melhor!
da safra passada. Continuamos ven do fôlego para ir a 150 milhões de toneladas, frente aos 124 milhões deste neste ano.
FEIJÃO
O feijão está na primeira safra. Neste ano, sofreu com o excesso de chuvas no Paraná e em São Pau lo. E com temperaturas muito bai xas - e até geadas. Tudo isso causou perdas, que devem ser mensuradas na colheita, a partir de dezembro. Assim, teremos oferta menor. O mercado deve ajustar as cotações. Atualmente, valores oscilam de R$ 280,00 a R$ 330,00. Podem aumen
Curtas e boas
TRIGO - O mercado continua mostrando bom ritmo de vendas na exportação. Deve seguir assim porque temos uma grande safra chegando. Pode passar de dez milhões de tone ladas. Como não temos armazéns suficientes, e as indústrias não compram grandes volumes na colheita, a exportação se gue como grande alternativa de liquidez. Poderemos exportar mais de três milhões de toneladas neste ano. Recorde histórico.
EUA - Os produtores estão fechando a colheita da safra. A produção é bem menor que no ano passado. Os funda mentos seguem positivos para os grãos. E isso tende a dar folego às cotações nos próximos meses. Ou, pelo menos, dar suporte aos preços. Temos a soja na faixa de 117 milhões de toneladas e o milho na faixa de 353 milhões. Ou seja, queda de 31 milhões frente à safra passada. Isso favorece os demais exportadores, como o Brasil.
CHINA - A China teve a reeleição do presidente Xi Jin ping. Pode seguir a política de crescimento econômico. Is
tar neste restante de ano.
ARROZ
O mercado do arroz está com bom ritmo de exportação. Pode ul trapassar os dois milhões de tone ladas. Preços na faixa dos R$ 77,00, livres ao produtor na fronteira Oes te. Com isso, o mercado interno pas sa a pagar um pouco mais, algo em torno de R$ 78,00 a R$ 82,00. A ex portação deve seguir dando liquidez ao setor. O plantio está acelerado. Fechando a safra neste mês de no vembro. E confirmando queda perto dos 100 mil hectares no RS frente ao ano passado.
so ajuda o Brasil a manter exportações. A China é a nossa maior cliente na soja e nas carnes. Deve ser, no futuro, no milho também.
ARGENTINA - Os argentinos sofrem com o clima, que atra sou o plantio do milho. Assim, cortaram a área plantada. Pode complicar a soja. Há indicativos de que o milho comercial não deve passar dos 7,3 milhões de hectares (7,7 milhões na safra passada). Já na soja, o governo ainda acredita que o plantio pode ir aos 17 milhões de hectares, frente aos 16 milhões de hectares plantados no último ano. Ainda há dúvidas devido às condições dos produtores, descapitalizados e altamente tributados, além do clima desfavorável.
Vlamir Brandalizze Twitter@brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br Instagram BrandalizzeConsulting ou Vlamir Brandalizze
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2022
C 49
Avelocidade com a qual o conhecimento cresce atual mente no mundo exige uma atualização permanente. Foi-se a época de tirar um diploma e se atualizar através de um livro lançado após dez anos e cujos conhecimentos perma neceriam atualizados pelos próximos dez.
Thomas Friedman, colunista do The New York Times, escreveu: “A Tecnologia está evoluindo mais rápido do que a ca pacidade humana”. De fato, se olharmos para o que vem ocorrendo nas últimas décadas, vemos o contingente humano que, por falta de oportunidades, não consegue acompanhar os fatos novos que vão, gradativa e irreversivelmente, se incorporando às mais comuns ativi dades humanas. Motoristas têm que se adaptar ao uso de aplicativos, de senso res, de mapas digitais; balconistas de lojas e pequenas mercearias precisam saber acessar e navegar por sistemas compu tadorizados. E isso ainda é pouco para o que está em andamento e virá nos exigir novas habilidades.
O meio agrícola não ficou infenso a esse progresso. A entrada da internet no campo e o desenvolvimento de drones e aplicativos para as mais diferentes finali dades, frutos de um enorme cabedal de novos conhecimentos, permitem uma fantástica digitalização de todos os pro cessos utilizados na agricultura. Isto exi ge que o agricultor também se capacite nas novas tecnologias, nos novos termos, modernos aparelhos e, mais importante, novos conceitos.
A pesquisa e a indústria de inocu lantes, sendo segmentos fortemente tecnificados, muito cedo assimilaram e incorporaram as novas tecnologias, que estão evoluindo em uma velocidade fan
Inovar é preciso
tástica. Os conceitos de biologia molecu lar, de genoma e, mais recentemente, de edição gênica, passam a fazer parte do cotidiano das empresas. O conhecimen to da microbiologia tradicional, embora ainda indispensável para a atividade, já não é suficiente. Os quadros técnicos das empresas têm, obrigatoriamente, de abranger todo o novo conhecimento, devendo não só o conhecer, mas saber aplicá-lo e tirar o máximo proveito em prol da competitividade da empresa. O pessoal tem que buscar se atualizar ou a empresa terá que agregar novos colabo radores capazes de internalizar as novas técnicas e dar o salto necessário para manter o nível competitivo, compatível com o atual, e o futuro, patamar cienti ficamente mais elevado.
Na área de produção, a automação dos processos produtivos, tudo regula do e monitorado digitalmente, já está incorporada nas modernas indústrias de inoculantes. O controle se faz em salas distantes da área de fermentação, em painéis que mostram o todo e permitem a análise de cada fator de produção, co mo temperatura, pH, nível de espuma, oxigênio dissolvido e tudo o mais que seja importante para a maior eficiência do processo produtivo.
Na avaliação da qualidade do produto, também há excelentes novidades. O uso de análises de micro-organismos pelo material genético, o DNA, permite um jul gamento muito mais seguro da qualidade de um inoculante. Em uma só operação, pode-se quantificar (número de bactérias por ml), bem como determinar eventuais contaminantes, a quantidade e a natureza desses. Além disso, a rapidez na obtenção de resultados se diferencia grandemente entre o método tradicional, de semeadu
ra e contagem em placas. Enquanto no tradicional o tempo se conta em dias, no método de biologia molecular o tempo é contado em horas. Há, também, uma significativa economia de mão de obra e uso de material de laboratório.
A adoção desta prática pelas empresas está em crescimento, esperando-se que a legislação também coloque esse mé todo de contagem entre os oficiais. Sem dúvida alguma, no momento em que for incorporado à rotina das empresas, trará grande economia, rapidez e segurança no controle de qualidade, passo fundamental para a oferta de inoculantes com credibi lidade ao mercado agrícola.
A entrada da análise microbiológica do solo, integrando as três características para qualificar um solo, atributos quími cos, físicos e microbiológicos, trará muito mais segurança na tomada de decisões do agricultor, permitindo corrigir todos os aspectos que possam vir a diminuir colheitas ou que representem risco para o futuro deste solo.
Enfim, mais do que nunca, é necessá ria uma permanente vigilância tecnológi ca para incorporar as novas ferramentas aos processos produtivos, seja nas áreas de plantio, como na área de produção de insumos, em especial nos produtos biológicos.
A ANPII vem proporcionando a seus associados acesso às novas tecnologias, através de contatos permanentes com as instituições de pesquisa e reforço de comunicação entre os departamentos de P&D das empresas. Tudo no sentido de oferecer produtos cada vez mais eficazes ao agricultor brasileiro.
C C
Novembro 2022 • www.revistacultivar.com.br 50
Solon Araujo, Consultor da ANPII
“Todas as pessoas precisarão se reinventar várias vezes na vida.”
Mathieu
Le Roux
Coluna ANPII
Estrobilurinas no controle
Fungicidas desse grupo químico são ferramentas indispensáveis no manejo da ferrugem da soja e da mancha-alvo; devem ser usados, conforme recomendações, em conjunto com os demais
Fotos shutterstock
02 Soja • Novembro 2022
Acultura da soja (Glycine max (L.) Merrill) é protagonista no agronegócio brasileiro. Com área cultivada superior a 40 milhões de hectares e uma produção de 122 milhões de toneladas (Conab, 2022), é cada vez maior a atenção para a sanidade das lavouras de soja e crescente o nível de investimento visando proteger seu potencial produtivo.
Quando se fala em doenças que aco metem a cultura, o primeiro pensamento que vem à tona é o prejuízo que pode resultar da sua presença na lavoura. Sabe -se que a capacidade em reduzir produti vidade é variável conforme o patógeno, e a ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, figura entre as doenças mais severas. Em função de sua fácil disseminação com o vento, pode ser encontrada em todas as regiões pro dutoras de soja do País (Nepomuceno et al., 2021) com danos que chegam a 90% (Yorinori et al., 2005).
Com tamanha facilidade de dissemina ção, não é surpresa que grande preocupa ção técnica seja direcionada à ferrugem. Entretanto, é crescente a importância de doenças como a mancha-alvo (Corynes pora cassiicola) e o crestamento foliar de cercospora (CFC) causado por fungos do gênero Cercospora. Alguns fatores contri buem para esse notório aumento, uma vez que podem ser transmitidos por semente, sobreviver em restos culturais e, em alguns casos, como para a Corynespora cassiicola, ser patogênicos a culturas que fazem parte do sistema de produção – o algodão.
Neste cenário de ameaça à produti vidade, várias medidas, como vazio sa nitário, escolha da cultivar considerando ciclo/suscetibilidade a doenças e rotação de culturas, são rotina nas tomadas de decisão. Além dessas estratégias, tendo ciência do risco que as doenças represen tam à rentabilidade, a escolha do fungicida a ser empregado faz toda a diferença no sucesso da lavoura.
Fungicidas que atuam em uma única enzima ou ponto específico da via meta bólica dos patógenos são os denominados sítio-específicos. Dentre os disponíveis no mercado para o controle de doenças foliares da soja, os principais mecanismos de ação (MOA) são: inibidores da desme tilação (IDM-triazóis), inibidores da succi
nato desidrogenase (ISDH-carboxamidas) e inibidores da quinona externa (IQe -estrobilurinas). As estrobilurinas interfe rem na respiração mitocondrial, afetando principalmente a germinação de esporos e o crescimento de hifas (Bartlett et al., 2002). Independentemente da cultura hospedeira ou do patógeno em questão, o uso frequente e em larga escala de fun gicidas com um único MOA pode acarretar gradual ou abrupto desenvolvimento de patógenos resistentes, já que uma única mutação no patógeno ou mesmo uma simples adaptação metabólica pode re sultar em queda significativa na eficácia do fungicida. Observando o histórico da ferrugem-asiática e da mancha-alvo no Brasil, podemos facilmente notar uma mudança gradual na efetividade dos fun gicidas adotados para seu controle devido à presença de indivíduos com mutações que acabaram por reduzir a efetividade de alguns ingredientes ativos.
Uma vez que são poucos os MOA disponíveis para controlar as doenças da soja, ainda que a maioria dos produtos comerciais combinem dois ou três ingre dientes ativos, é de enorme importância o entendimento da efetividade de cada ativo dentro de um MOA.
Assim, o presente trabalho teve por objetivo avaliar, em condições de campo, a eficácia de diferentes ingredientes ativos: azoxistrobina (IQe), piraclostrobina (IQe), trifloxistrobina (IQe), picoxistrobina (IQe),
benzovindiflupir (ISDH), fluxapiroxade (ISDH), bixafem (ISDH) e protioconazol (IDM) no controle de ferrugem-asiática, mancha-alvo e crestamento foliar de cercospora.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram instalados 26 experimentos na safra 2021/2022, conduzidos por pesqui sadores da Corteva Agriscience e de outras instituições (Tabela 1). O delineamento experimental foi de blocos casualizados com quatro repetições, sendo cada re petição constituída de parcelas com, no mínimo, quatro linhas de cinco metros. As avaliações foram definidas em protocolo único – permitindo sumarização conjun ta dos experimentos. Os tratamentos contemplam diferentes ingredientes ativos do grupo das estrobilurinas (IQe) e carboxamidas (ISDH), e um inibidor da desmetilação (IDM- protioconazol) como referência. Os tratamentos e as respec tivas dosagens aplicadas estão listados na Tabela 2. A época de semeadura de cada experimento se deu considerando o momento principal de ocorrência da doença-alvo e por região: plantios do cedo para os estudos onde manchas foliares (Cercospora spp e Corynespora cassiicola) eram o alvo e plantios tardios onde o alvo era a ferrugem-asiática. Cultivares sensí veis foram selecionadas conforme o alvo.
Foram incluídos na análise conjunta os experimentos cujas testemunhas apresen
Soja • Novembro 2022 03
Observando o histórico da mancha alvo no Brasil, podemos facilmente notar uma mudança gradual na efetividade dos fungicidas adotados para seu controle
Tabela 1 - Instituição, localidade, doença avaliada e severidade observada nos tratamentos sem aplicação de fungicida (testemunha) de cada experimento
Instituição
Instituto Phytus
EMBRAPA
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
Severidade
UPF
Instituto Planta
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
AgroCarregal
Instituto Phytus
Corteva
Cidade/Estado
Itaara-RS
Londrina-PR
Ponta Grossa-PR
Mogi Mirim-SP
Bandeirantes-MS Sinop-MT Diamantino-MT
Primavera do Leste-MT Luís E. Magalhães-BA Rio Verde-GO Indianópolis-MG
Passo Fundo-RS Coxilha-RS Tibagi-PR Mogi Mirim-SP Chapadão do Sul-MS Diamantino-MT
Doença
Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem
taram severidade acima de 15% de Cercospora spp., 15% de Corynespora cassiicola e 39% de Phakopsora pachyrhi zi. Os dados de controle estão expressos em porcentagem.
As aplicações iniciaram-se no pré-fechamento das linhas, aos 45 dias (± cinco dias). O intervalo entre as aplicações foi de 14 dias (± dois dias), totalizando quatro aplicações (com RET). Para a aplicação dos produtos foram utilizados costal pressurizado a CO2 e volume de aplicação de 150L/ha. Para a análise estatística conjunta foram utilizados os dados brutos das avaliações de severidade submetidos à análise de variância e as comparações das médias foram realizadas pelo Teste de Tukey (1953). Para a elaboração dos gráficos foram utilizados os dados de controle (Abbott, 1925), calculados com base nas avalia ções da severidade de doença estimadas com o auxílio de escalas diagramáticas para mancha-alvo (Soares et al., 2009), crestamento foliar de cercospora (Martins et al., 2004) e ferrugem-asiática (Godoy et al., 2006). Para o cálculo do controle de cercosporiose, foram consideradas as avaliações realizadas entre os estádios fenológicos R5 e R6 (Fehr; Cavinness, 1977), e para a mancha-alvo e a ferrugem-asiática, considerada a Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) (Campbell & Madden, 1990).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Corteva
Corteva
Corteva
Corteva
Proteplan
Primavera do Leste-MT Rio Verde-GO Brasília-DF Brasília-DF Mogi Mirim-SP Chapadão do Sul-MS Sinop-MT Primavera do Leste-MT Sorriso-MT
Cercospora Cercospora Cercospora Cercospora Cercospora Cercospora Cercospora Cercospora Cercospora Cercospora
Severidade média da Testemunha sem aplicação fungicida – 10 ensaios
Mancha-Alvo Mancha-Alvo Mancha-Alvo Mancha-Alvo Mancha-Alvo
Severidade média da Testemunha sem aplicação fungicida – 5 ensaios
Os dados de controle para a ferrugem-asiática da soja são apresentados na Figura 1. Nota-se que dentre os ati vos analisados, mais alto nível de controle foi alcançado pelo protioconazol (60%), seguido por Onmira (51,1%), fluxapiroxade (46,7%), benzovindiflupir (45,3%) e trifloxis trobina (45,2%), bixafem (37,4%), piraclostrobina (31,2%) e azoxistrobina (29,5%).
Percebe-se que dentre as estrobilurinas, os ativos fungicidas Onmira e trifloxistrobina apresentaram eficácia
04 Soja • Novembro 2022
média da Testemunha sem aplicação fungicida – 11 ensaios
Severidade na
(%) 39% 84%
45%
74% 63% 87% 71% 77% 22% 20% 30% 18% 33% 36% 26% 84% 56% 19% 35% 15% 34% 34% 54% 71% 34% 34% Tabela 2 - Tratamentos TRT # 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Legenda Testemunha Azoxy2 Pyra3 Onmira2 Trifloxy1 Benzo2 Fluxa3 Bixafen1 Prothio1 Ingrediente Ativo (i.a) Azoxistrobina Piraclostrobina Picoxistrobina Trifloxistrobina Benzovindiflupir Fluxapiroxade Bixafen Protioconazol Dose (g ai/ha) 80 90 60 70 30 50 60 70 Conc. (g ai/L) 250 250 250 500 100 300 125 250 1 – Adicionado éster metílico de óleo de soja (720g/L) na dose de 0,25% v/v; 2 – Adicionado alquil éster fosfatado (752 g/L) na dose de 250 mL/ha; 3 – Adicionado óleo mineral (756 g/L) na dose de 500 mL/ha. shutterstock
testemunha
85% 70%
91%
significativamente superior no controle da ferrugem-da-soja quando comparadas a piraclostrobina e azoxistrobina, conse quência da predominância de indivíduos com a mutação F129L nas populações do agente causal, Phakopsora pachyrhizi. A mutação F129L foi reportada pela primeira vez na safra 2014/15 em todas as regiões produtoras de soja do Brasil em baixas e altas frequências, variando de 0% a 100% (Klosowski et al., 2016a).
A Corteva, dentro do seu programa de monitoramento interno, verificou estabilidade da presença e frequência da mutação F129L desde a safra de 2014/15 (Figura 2), corroborando com os resultados de Klosowski et al., 2016b, que demonstrou baixo custo adaptativo desses mutantes. É fato também que as estrobilurinas foram impactadas diferen temente pela mutação F129L, que afetou todo o grupo das estrobilurinas (IQe), onde Onmira (picoxistrobina – 51% de controle) se apresenta como a menos afetada e com a melhor eficácia no controle da atual população do fungo que causa a ferrugem -da-soja, seguida pela trifloxistrobina (45% de controle) (Figura 2).
Já a piraclostrobina (31% de controle) e a azoxistrobina (29% de controle) foram as mais afetadas pela mutação F129L, como se observa desde a safra 2014/15 (Figura 2). Resultados semelhantes foram vistos nos ensaios de rede, cujos dados são anu almente publicados nas circulares técnicas ds Embrapa (Figura 3) (Godoy et al., 2022),
Figura 1 - % de Controle da ferrugem da soja (Phakopsora packirhizi) safra 2021/2022. Valores de controle de 11 ensaios distribuídos nos estados de RS, PR, SP, MT, MS e GO (% em relação à Testemunha sem aplicação fungicida = 71%). A severidade da doença em cada ensaio é apresentada na Tabela 1
Figura 2 - % de Controle da ferrugem da soja para as estrobilurinas (IQe) aplicadas isoladas e frequência (%) da população da Phakopsora pachyrhizi com a presença da mutação F129L. Entre parêntesis e com asterisco, o número de populações analisadas
Figura 3 - Média da porcentagem de controle da ferrugem da soja com os fungicidas tebuconazol (TBZ), ciproconazol (CPZ), tetraconazol (TTZ), protioconazol (PTZ), azoxistrobina (AZ), picoxistrobina (PCZ) e metominostrobina (MTM) nos experimentos cooperativos da safra 2003/2004 a 2021/2022, em diferentes regiões produtoras de soja no Brasil (Godoy et al., 2022)
Soja • Novembro 2022 05
onde Onmira (picoxistrobina), de maneira consistente, se mostra superior às demais estrobilurinas ao longo das últimas safras. Dentre as carboxamidas (ISDH) analisadas, benzovindiflupir (45%) e fluxapiroxade (46%) apresentaram controles similares para ferrugem-da-soja, com níveis de controle próximos da estrobilurina (IQe) de melhor performance (Onmira- 51%).
Quando comparados, os dados do presente artigo e os publicados na circular técnica da Embrapa (Godoy et al., 2022) (Figura 3) referente aos ensaios de monito ramento, fica claro que o nível de controle dos ativos isolados de maior eficácia vem se mantendo constante ao longo das últimas safras, sendo eles: protioconazol e Onmira (picoxistrobina).
Os dados de controle para a mancha -alvo estão apresentados na Figura 4. Para a mancha-alvo da soja, os fungicidas que apresentaram controles similares e supe riores foram o protioconazol (IDM_46%), fluxapiroxade (ISDH- 44%), trifloxistrobina e Onmira (IQe- 41% e 40%, respectivamen te) (Figura 4).
Estão no site do Frac os comunicados
06 Soja • Novembro 2022
Fotos Danilo Ferezin Azoxistrobina@80g Piraclostrobina@90g Onmira@60g Trifloxistrobina@70g Benzovindiflupir@30 Fluxapiroxade@60 Bixafem@60 Protioconazol@75 Testemunha 12 dias após 4° Aplicação. Rio Verde/GO Benzovindiflupir@30 Fluxapiroxade@60 Bixafem@60 Protioconazol@75 Testemunha Fotos Guilherme Hüller Azoxistrobina@80g Piraclostrobina@90g Onmira@60g Trifloxistrobina@70g Benzovindiflupir@30 Fluxapiroxade@60 Bixafem@60 Protioconazol@75 Testemunha 14 dias após 4° Aplicação. Ponta Grossa/PR Benzovindiflupir@30 Fluxapiroxade@60 Bixafem@60 Protioconazol@75 Testemunha Azoxistrobina@80g Piraclostrobina@90g Onmira@60g Trifloxistrobina@70g Benzovindiflupir@30 Fluxapiroxade@60 Bixafem@60 Protioconazol@75 Testemunha 14 dias após 4° Aplicação. Mogi Mirim/SP
Fotos Jaqueline B. de Campos
referentes à detecção das mutações no fungo causador da mancha-alvo (C. cassiicola) que afetaram a eficácia dos fungicidas do grupo químico das carbo xamidas (ISDH – B-H278Y e C-N75S) e das estrobilurinas (IQe – G143A). Apesar dessas mutações estarem presentes e amplamente distribuídas, ambos os grupos químicos (ISDH e IQe) apresenta ram eficácia satisfatória de controle da mancha-alvo da soja quando comparados ao protioconazol (IDM), que tem sido considerado o mais eficaz no controle dessa doença atualmente.
Os dados de controle para CFC (Cercospora spp.) estão apresentados na Figura 5. Para a cercospora da soja, novamente o fungicida que apresentou controle superior foi o protioconazol (IDM - 56%). Entre as carboxamidas, os fungicidas que apresentaram con troles similares e superiores foram o fluxapiroxade e o bixafem (ISDH - 52% e 51%, respectivamente) e entre as estrobilurinas foram a piraclostrobina e a Onmira (IQe - 50% e 48%, respecti vamente) (Figura 5).
Recentemente foram publicados re sultados de estudos em placas de Petri (in vitro), onde avaliou-se a inibição do crescimento micelial de Cercospora spp. (Sautua et al., 2020; Mello et al., 2021). Esses dados de inibição do crescimento micelial indicaram que o grupo químico das estrobilurinas (IQe) não apresentava boa efetividade no controle de diferen tes espécies de Cercospora, porém, os resultados apresentados na Figura 5 demonstram eficácia mediana para os três grupos químicos analisados (IDM, ISDH e IQe) no controle do CFC.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados apresen tados, fica evidente o papel das estro bilurinas (IQe) como ferramenta indis pensável no controle da ferrugem-da -soja e da mancha-alvo tanto quanto os
Figura 4 - % de Controle da mancha-alvo (Corynespora cassiicola) da soja, safra 2021/2022. Valores de controle de 5 ensaios distribuídos nos estados de SP, MS e MT (% em relação à Testemunha sem aplicação fungicida = 34%). A severidade da doença em cada ensaio é apresentada na Tabela 1
Figura 5 - % de Controle do crestamento foliar de cercospora (Cercospora spp), safra 2021/2022. Valores de 10 ensaios distribuídos nos estados de RS, PR, SP, GO, MS e MT (% em relação à Testemunha sem aplicação fungicida = 34%). A severidade da doença em cada ensaio é apresentada na Tabela 1
demais grupos químicos (IDM e ISDH). Dentre as estrobilurinas (IQe), Onmira se destaca por apresentar eficácia consistente não somente no controle da ferrugem-da-soja, mas também da mancha-alvo e por sua contribuição no manejo de CFC similar às carboxamidas (ISDH) aqui representadas. C C
Caderno Técnico
Circula encartado na revista
Cultivar Grandes Culturas nº 282 • Novembro 2022
Capa - shutterstock
Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2000 www.revistacultivar.com.br
Guilherme de C. Hüller
Jaqueline B. de Campos
Rogerio Rubin
Carolina Deuner
Claudia V. Godoy
Nédio Tormen
Luís H. Carregal
Lucas Navarini
Monica Debortoli
Fabricio Packer
Laís C. da Silva
Iara Dias
Danilo Ferezin
Mauro Peraro
Humberto O. Guimarães
Wagner Harter
Jaedino Rossetto
William Soares e Lucimara Koga
Soja • Novembro 2022 07