Muitas empresas estão comentando sobre isso atualmente. Nós, da Continental Eagle, estamos fazendo mais do que comentários. Estamos comprovando nossa Qualidade. Somos o primeiro e único Fabricante de Descaroçadores a receber o certificado do Instituto de Administração de Qualidade. Organização essa, que nos ajudou a alcançar o padrão internacionalmente reconhecido ISO9001. Neste momento, a pergunta que fica é: O que isso significa para o cliente?... Significa que não podemos, simplesmente, pedir-lhe para confiar em nossa Qualidade. Temos de comprovar e documentar como a mantemos em nossa organização. ISO 9001 não é apenas uma certificação técnica, mas um processo, onde, Padrões de Excelência em Qualidade uma vez estabelecidos, são diariamente fiscalizados. Desta forma, todas as operações são antecipadamente planejadas e realizadas com consistência. Por isso, mantêm a Companhia em melhoria contínua seja dos projetos, ou da eficiência dos nossos produtos. Nosso ISO 9001, basicamente, garante-lhe que a Qualidade encontrada hoje na Continental Eagle será a mesma que você encontrará futuramente em nossos produtos. Investir na Qualidade é antes de tudo, uma necessidade. Porém, foi a forma que encontramos de provar a você, nossa dedicação.
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Ano III - Nº 31 - Agosto / 2001 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 58,00
Herbicidas em milho O correto uso de herbicidas pode evitar perdas significativas na cultura do milho
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 6,00
Hora da decisão
Diretor:
Newton Peter
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Editor geral:
Schubert Peter
Será que o plantio de transgênicos vale mesmo a pena? Saiba mais neste artigo
Especiais
Pablo Rodrigues João Pedro Lobo da Costa Design Gráfico e Diagramação:
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Fabiane Rittmann
Lagarta-dos-cafezais
Marketing:
Neri Ferreira
Essa praga é capaz de ocasionar sérios danos à cultura do café, se não houver o devido controle
Apoio de Arte:
Christian Pablo Costa Antunes Circulação:
Edson Luiz Krause Assinaturas:
Raquel Jardim
Inimigos do algodão
Ilustrações:
Rafael Sica Para maiores informações sobre nossos equipamentos de descaroçamento e processamento de sementes, ou algum tipo de melhoria em sua estrutura: Contate: Engenheiro Agrônomo Delano M.C. Gondim Gerente Nacional de Vendas - Fone: (65) 9981.0956 End.: Rua Marechal Antônio Aníbal da Motta, 479 Cep.: 78020-090 - Cuiabá / Mato Grosso Fone: (65) 322.3272 / 322.3277 - E-mail: coneagle@terra.com.br
Editoração Eletrônica:
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Index Produções Gráficas
Cuidados especiais com as pragas de solo garantem a sua lucratividade
Fotolitos e Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES:
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GERAL / ASSINATURAS: 272.2128
índice
227.7939 / 272.2105 / 222.1716
Diretas Herbicidas em milho Mofo-branco Rendimento de grãos do feijoeiro Manchas foliares no trigo Comércio internacional Cultivo de transgênicos Coluna da Aenda Lagarta-dos-cafezais Manchas foliares em café Pragas de solo no algodão Nova cultivar de algodão IAC-23 GLP em secadores de grãos Vacinas para as plantas Agronegócios Mercado Agrícola
REDAÇÃO : MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314
FAX:
272.1966
SUCURSAIS
Mato Grosso Gislaine Rabelo
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Bahia
José Claudio Oliveira
Rua Joana Angélica, 305 47800-000 / Barreiras Tel.: (77) 612.2509 ou 9971.1254
04 06 10 12 16 18 20 22 24 27 30 34 36 38 40 42
Nossa capa
Foto Capa - Paulo Rebelles Reis
Saiba como controlar a lagartados-cafezais que tem ocasionado grandes danos a essa cultura
R.R Rufino
diretas Agricultura de Precisão
Será realizado do dia 16 ao dia 18 outubro na Esalq/USP, em Piracicaba SP, o III Simpósio Sobre Agricultura de Precisão . O evento é voltado aos profissionais da área. Nele serão discutidos assuntos relacionados à Agricultura de Precisão, GPS e SIG. Mais informações com Fábio H. R. Baio - Comissão Organizadora, através do e-mail: ap@esalq.usp.br
Abag
Cultivares de trigo
Foi lançado pela Abag Associação Brasileira de Agribusiness, o livro intitulado: Complexo Agroindustrial Brasileiro Caracterização e Dimensionamento. Este trabalho é resultado de um estudo encomendado pela Associação a dois
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, lançou sexta-feira, dia 27 , duas cultivares de trigo aos produtores paranaenses: a BRS 193 e a BRS 208. Os novos produtos estarão disponíveis na próxima safra. As novas cultivares têm como principais características, a resistência a algumas doenças do trigo, alto potencial de rendimento, além de força de glúten, que confere volume e qualidade industrial para a produção de pão. Será lançada também a cultivar IPR 85, do IAPAR.
Syngenta Seeds
A Syngenta Seeds, empresa que cresceu mais de 50% no Brasil nos últimos anos, aposta na liberação dos produtos transgênicos para trazer ao País uma variedade de milho geneticamente modificado. A empresa acredita no crescimento dos negócios de sementes no País e na ampliação de sua participação neste mercado. O Brasil representa 6,5% das vendas de sementes do mundo. A Syngenta Seeds é a terceira companhia mundial no ramo de sementes. Seu faturamento mundial é de aproximadamente US$ 1 bilhão. Essa empresa atua com as marcas NK (para grandes culturas de milho, soja, sorgo, arroz e algodão), S&G, para flores, e Rogers, para hortaliças. A Syngenta dispõe de tecnologia de ponta para agregar valor às sementes. Na área de produção, nos últimos cinco anos foi feita uma modernização total dos equipamentos de processamento de sementes.
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Cultivar
LADDAN
Recentemente inaugurado, o Laboratório de Diagnóstico de Doenças Animais LADDAN - , da Embrapa Gado de Corte, localizado em Campo
Grande, MS, encontra-se totalmente equipado e em pleno funcionamento. O LADDAN está sob a responsabilidade técnica do médicoveterinário e pesquisador da Embrapa Gado de
Corte, Pedro Paulo Pires. Está estruturado com modernos equipamentos e mão-de-obra especializada com capacidade para atender 2000 pedidos de exames por dia.
I Concurso IRAC-BR
Esse concurso tem por objetivo incentivar novas pesquisas sobre Manejo de Resistência de Artrópodes a Agentes de Controle, bem como desenvolver novos pesquisadores trabalhando neste tema. O concurso está aberto a estudantes (graduação e pós-graduação) e profissionais da rede oficial ou privada. As inscrições ocorrerão até o dia 16 de fevereiro do próximo ano. Os trabalhos científicos devem ser enviados em cópia impressa e em disquete, em programa Word, juntamente com a ficha de inscrição para: IRAC-BR/Manejo de Resistência . Caixa Postal: 168. Cep: 13800-970. Mogi Mirim-SP. Mais informações podem ser obtidas no site: www.ciagri.usp.br/~seb/IRACBR.
Unimilho
Semeadoras
Saiu a circular técnica Dinâmica de Semeadoras Adubadoras Diretas em Primeiro de Maio (PR) , escrita por Ruy Casão Júnior, Rubens Siqueira, Augusto Guilherme de Araújo e Ricardo Ralisch. Mais informações podem ser obtidas no IAPAR, telefone (43) 376-2000. renomados técnicos da área, Eliseu Contini e Eduardo Pereira Nunes. Com base nas Contas Nacionais e na Matriz Insumo Produto do IBGE, os autores, a partir de conceitos rigorosos sobre agribusiness, procuraram estabelecer o exato
tamanho do Complexo Agroindustrial Brasileiro. Os interessados em adquirir a publicação podem fazê-lo através do e-mail: abag@cibernet.com.br ou pelo endereço da Abag: Av. Vieira de Carvalho, 172. 1º andar. Cep.: 01210010. São Paulo SP.
Du Pont
A Du Pont está assumindo uma postura mais agressiva diante do mercado de arroz. A recente contratação de Paulo Ernesto Fernandes para a Gerência Regional para Arroz e o lançamento do herbicida pós-emergente Gulliver vêm para comprovar essa nova postura da empresa.
Eventos Embrapa Trigo A Embrapa promove em agosto dois eventos voltados ao setor rural. Nos dias 7 e 8 acontece o Salão de Sementes e Mudas. O evento é destinado a produtores de sementes, engenheiros-agrônomos, técnicos e demais interessados e será realizado no Parque da Efrica, em Passo Fundo. Já de 13 a 15
de agosto é a vez do III Seminário Nacional sobre Plantas Daninhas Manejo e controle em Plantio Direto. O evento será realizado no auditório da Embrapa Trigo, em Passo Fundo. Informações adicionais podem ser conseguidas na Embrapa Trigo, pelo telefone (54) 311.3444.
Livro sobre transgênicos
A Unimilho e seus 25 associados ainda estão festejando os resultados da safra passada, já que nela perceberam um aumento em sua penetração no mercado, chegando a 16% da fatia total. Com o sorgo a participação das empresas associadas Unimilho é superior a 25%. Nesta safra a Unimilho iniciou com força total: elaboração de planos de marketing em conjunto com a Embrapa, lançamento de novas cultivares, convenção de vendas, novas empresas associadas, plano de comunicação institucional e adequação da estrutura comercial das empresas, aliado a um trabalho de prestação de serviço aos clientes.
Por iniciativa do Sindicato dos Jornalistas de Passo Fundo, da EMBRAPA Trigo e da Aldeia Sul Editora, o livro A reza, o espantalho e os transgênicos mitos, medo e ciência na agricultura , uma publicação em estilo de reportagem de autoria do jornalista Ivaldino Tasca,
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terá um pré-lançamento nesta sexta-feira, dia 3 de agosto, destinado aos profissionais da área de comunicação. O ato será realizado às 10 horas da manhã no auditório da EMBRAPA. Informações adicionais podem ser adquiridas junto à Embrapa Trigo pelo telefone (54) 3113444.
Agosto de 2001
Milho
Com o correto uso de herbicidas, pode-se aumentar a produtividade da lavoura
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em sido cada vez mais freqüente a utilização de herbicidas em milho. Atualmente, são 4 milhões de hectares tratados no Brasil, mas estima-se que poderá chegar em 6 milhões num prazo de 8 anos. O êxito no emprego deste insumo está diretamente relacionado a fatores técnicos, econômicos e climáticos. O principal fator de sucesso da utilização dos herbicidas está no conhecimento prévio dos objetivos do controle das plantas daninhas. Tendo em vista este objetivo, torna-se mais fácil selecionar um produto capaz de atingi-las. Os objetivos do controle de plantas daninhas no milho são três: Evitar perdas devido à competição com plantas daninhas: o milho, na ausência de controle de ervas daninhas, pode obter perdas de até 85,5 % na produção. Sem o controle dessas ervas até os 30 dias após o plantio, a redução poderá ser de 30,3 %, CRUZ & RAMALHO(1985). Beneficiar as condições de colheita, pois a presença de ervas na colheita, torna-se um problema para o produtor, 06
Cultivar
principalmente se a colheita for mecanizada. Plantas daninhas como a corda-de-viola (Ipomeia spp) e mata-pasto (Hyptis suaveolens Point.) tornam-se um problema, pois reduzem principalmente o rendimento das máquinas e, em alguns casos, inviabilizam a colheita mecânica. Evitar o aumento da infestação de ervas, tomando-se o cuidado de proteger o meio ambiente, pois herbicidas são substâncias químicas que possuem diferentes propriedades físico-químicas, com diferentes comportamentos no solo. Uma informação fundamental que se deve buscar obter antes da escolha do herbicida é a identificação da erva daninha existente na área. Além disso, as doses dos herbicidas devem ser baseadas no tipo de solo, grau de infestação, fase de desenvolvimento das plantas daninhas, textura do solo e condições climáticas vigentes. Vários fatores podem influenciar na eficiência dos herbicidas, podendo reduzi-la ou provocar a perda da seletividade da cultura. Dentre esses fatores, www.cultivar.inf.br
podemos citar chuvas pesadas após a aplicação de pré-emergentes, lixiviando os produtos, fazendo com que ocorra um acúmulo deste ingrediente ativo próximo da semente, intoxicando-a ou levando-a até a morte. Por outro lado, alguns produtos requerem substâncias protetoras (antídotos) como safener , mais conhecido como antídoto para o milho, que visa proteger o embrião da ação do herbicida. Em alguns produtos, o safener possui uma solubilidade diferente do ingrediente ativo, que em caso de condições desfavoráveis para o bom funcionamento do herbicida pode favorecer a absorção/ação do princípio ativo separadamente da solubilidade do safener , causando fitotoxidade à cultura.
CONTROLE EM PRÉ-EMERGÊNCIA
Os herbicidas pré-emergentes são aqueles aplicados logo após a semeadura do milho, porém antes da emergência do mesmo. Para um bom desempenho desses herbicidas, é necessário que o solo esteja úmido - que se irrigue ou chova 48 horas após a sua aplicação. Agosto de 2001
Agosto de 2001
Quadro 03. Efeito de diferentes doses de Nicosulfuron na produtividade de vários híbridos Pioneer, média de 4 locais, safra 98/99. Tratamento
Dosagem
Produtividade (sc/ha)
Produtividade Relativa
Testemunha Nicosulfuron + Atrazina Nicosulfuron + Atrazina Nicosulfuron
20 g/ha i.a.(0,5 l/ha p.c.) + Atrazina 1,0 kg/ha i.a. 30 g/ha i.a.(0,75 l/ha p.c.) + Atrazina 1,0 kg/ha i.a. 60 g/ha i.a.(1,5 l/ha p.c.)
122 126 123 114
100 103,3 100,8 93,4
efeito de herbicidas na população de plantas, o mesmo não está diretamente proporcional à redução de produtividade, devido principalmente a uma menor competição entre as plantas de milho na linha, capacidade do híbrido de compensar as falhas ou mesmo um desfavorecimento climático como um veranico, que beneficia as menores populações de plantas (compare o Gráfico 01 com o Gráfico 02). Verificamos, ainda, que alguns produtos que afetaram a população de plantas não afetaram nas mesmas proporções a produtividade relativa. Já outros produtos afetaram simplesmente a população inicial e tiveram uma boa produtividade, favorecidos por um número menor de plantas por hectare.
CONTROLE EM PÓS-EMERGÊNCIA INICIAL
Esta modalidade de aplicação geralmente está ligada à atrasos na aplicação de pré-emergente, quando as plantas daninhas já emergiram. Normalmente, esta aplicação é feita quando o milho apresenta de um a dois pares de folhas não verdadeiras e as plantas daninhas, menos de 4 cm (latifoliadas) e antes de perfilhar (gramíneas). Vários produtos recomendados para pré-emergência são aplicados em pós-inicial, principalmente misturas com atrazina. Alguns problemas são freqüentemente notados nesta modalidade de aplicação, tais como algumas fitos nas folhas do milho com atrazinas, que são amarelecimento das bordas e pontas das folhas, seguido de tonalidade marrom, na
...
Fotos Pioneer
Campo limpo
Em preparo de solo convencional, é de extrema importância que o solo esteja bem destorroado. Esses herbicidas têm por função controlar as plantas daninhas no estágio mais inicial, ou seja, quando as sementes estão germinando e as plântulas de milho ainda não emergiram. Como conseqüência, o milho nasce no limpo e assim permanece até que o efeito residual termine. É desejado que estes herbicidas pré-emergentes possuam um residual suficiente para manter as plantas daninhas controladas até o fechamento da cultura. A seletividade é sempre desejável. No entanto, a utilização de novos herbicidas deve ser avaliada, pois em alguns casos, sua seletividade perante a cultura do milho não é observada, apresentando toxidade que é favorecida pelas condições climáticas, tipos de produtos e diferentes reações dos genótipos utilizados, causando por exemplo redução de população, Gráfico 01. Além da redução de população das plantas, outros efeitos indesejáveis podem aparecer e são conhecidos como fitotoxidade, provocando plântulas mal formadas ou mortas, bem como sementes que não nascem e, em alguns casos, formam plantas debilitadas que são dominadas durante o desenvolvimento da cultura. No caso de Alachlor e Metalachlor os sintomas são: plântulas mal formadas, folhas torcidas e não abertas totalmente (chicote), plantas amareladas e sem emergência, ficando deformadas abaixo do solo. Praticamente os mesmos sintomas são notados no Acetochlor. Já no Isoxaflutole as plantas que nascem com problemas apresentam folhagem amarelada ou branca (albina). Dependendo do grau de fitotoxidade, a coloração das plantas poderá evoluir para o marrom e continuar o ciclo. Além disso, essas plantas podem, ainda, serem dominadas pelas plantas vizinhas com desenvolvimento anormal, ou morrerem. Em áreas com saturação de bases alta e/ou áreas recém-calcareadas verifica-se com mais freqüência problemas de fitotoxidade com este princípio ativo. Ultimamente tem sido observada com maior freqüência uma fitotoxidade que vulgarmente chamamos de fito oculta . Nesse caso, os sintomas visuais de toxidade pelo herbicida não são observados pelos produtores, fazendo com que por ocasião da colheita ocorram redução na produtividade sem um motivo aparente. (Gráfico 02). Normalmente, quando se avalia o
Sintomas de fitoxidade causada por herbicidas pré-emergentes típicos de aplicação de alachlor/metalachlor/acetochlor
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Cultivar
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Gráfico 01. Efeito dos herbicidas na população de plantas - safras 98/99 e 99/2000 (solo textura argilosa)
... maioria dos casos não comprometendo a cultura. É importante que se verifique com os fabricantes qual a modalidade que o herbicida se enquadra, assegurandose dos possíveis problemas que uma aplicação inadequada pode ocasionar.
CONTROLE EM PÓS-EMERGÊNCIA
Gráfico 02. Efeito de herbicidas na produtividade dos híbridos - safras 98/99 e 99/2000 (solo textura argilosa)
Gráfico 03. Efeito do herbicida Nicosulfuron em 2 doses distintas, em mistura com Atrasina (2,5 l/ha do p. c.), em 4 híbridos Pioneer no estádio V4 - safras 98/99 e 99/2000
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Cultivar
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Os produtos recomendados para esta modalidade de aplicação devem possuir certas características importantes, como uma alta seletividade à cultura e rápida ação no controle da planta daninha, para parar imediatamente o processo de competição. O 2,4D, herbicida hormonal, utilizado como pós-emergente em área total, é muito difundido, principalmente, pelo seu baixo custo. No entanto, este poderá facilmente causar fitotoxidade, verificada através das seguintes características: presença de colmo torcido e curvado (epistasia); folhas que não se abrem (encharutadas); as raízes de fixação curtas e fundidas; raízes que crescem para cima e, ainda, falhas na granação, AGRIGROWTH (1996). Sua aplicação deverá ser realizada até o estágio 3 a 4 folhas, antes da formação do cartucho , isoladamente ou em mistura com atrazine. Aplicações após esta época poderão causar deformações na planta e tornar os colmos quebradiç o s , R O D R I G U E S & A L M E I DA (1998). Outro produto bastante utilizado é o nicosulfuron. Sua seletividade consiste na capacidade dos híbridos em metabolizar o nicosulfuron em compostos não ativos. Devido à diversidade genética existente ser extremamente ampla e dinâmica, diferentes reações ao produto poderão ser encontradas. Em vários híbridos Pioneer e outros comerciais testados, mencionamos que a utilização da dosagem cheia de 1,5 litros/ha do produto comercial apresenta uma certa redução na produtividade, nas condições que foram realizadas os ensaios, Quadro 03. A época recomendada para a aplicação do nicosulfuron deverá ser quando o milho estiver com 2 a 4 folhas verdadeiras (folha com a presença da lígula - V2 a V4). Deve-se sempre tomar o cuidado com a matocompetição, pois como foi visto nos objetivos do controle de plantas daninhas, o milho é sensivelmente prejudicado quando sofre competição por ervas daninhas nos estágios iniciais da cultura.
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CONTROLE EM JATO DIRIGIDO
Em áreas onde se atrasou a aplicação ou as condições de seca ou chuvas que não possibilitaram um bom controle dos pré emergentes, alguns produtores fazem uso da aplicação de jato dirigido. São aplicados através de jato dirigido na entre linha do milho, geralmente com um produto não seletivo à cultura, de forma que atinja as plantas daninhas e somente as folhas baixeiras do milho. O milho deverá estar no estágio de 4 folhas ou mais, com uma altura mínima de 40 a 50 cm, para não atingir folhas importantes da cultura.
SUGESTÕES:
1) Herbicidas pré-emergentes São produtos com ótimo controle de ervas, com efeito residual prolongado, porém a utilização destes produtos requer boas condições climáticas após a aplicação, pois são produtos bastante propensos a interferirem no processo de germinação. Deve-se, sempre que possível, utilizar na maior parte da propriedade produtos tradicionais, deixando para experimentar novos produtos em áreas menores.
A maioria dos problemas com o uso de pré-emergentes ocorre devido à mudança de produto por parte dos produtores agrícolas que mudam de produto simplesmente devido às reduções de custos, sem ainda tê-lo testado, abandonando produtos tradicionais sem motivo técnico aparente. Esta decisão passa a ser muito grave, pois estes novos produtos/ tecnologias são adotadas em toda a área mesmo sem um teste anterior em uma área menor 2) Utilização de Nicosulfuron No caso do nicosulfuron, deve-se respeitar o intervalo de aplicação de nicosulfuron, devendo-se esperar em média 7 dias antes e 7 dias após a aplicação deste herbicida para se utilizar inseticidas organofosforados e/ou adubos nitrogenados. Como a seletividade do produto está em função da metabolização do nitrogênio, alguns fatores poderão interferir grandemente no favorecimento da fitotoxidade no híbrido causado pelo nicosulfurom, dentre eles destacam-se: a fonte de nitrogênio utilizada, uma vez que a uréia, por exemplo, se solubiliza rápido enquanto que o sulfato de amônio e ni-
trato de amônio possuem uma solubilização mais lenta, proporcionando uma absorção mais demorada pela planta, propiciando um agravamento dos danos causados pelo herbicida, necessitando, neste caso, de períodos maiores de espera para aplicação do mesmo. Em locais de baixas temperaturas, como é o que ocorre no sul do Brasil, existe uma demora por parte da planta em metabolizar este nutriente, favorecendo grandemente a fitotoxidade causada pelo nicossulfuron. É importante que técnicos e produtores, ao recomendarem ou usarem produtos à base de nicosulfuron, peçam às empresas uma lista atualizada de sensibilidade dos híbridos a essa molécula. A utilização das doses integrais de 1,5 litros/ha do produto comercial à base de nicosulfuron, apresentou reduções nas produtividades médias de vários híbridos comerciais; Nos híbridos 3021, 30R07, 30F80 e 30F33, a dosagem deste produto a ser utilizada é de 0,5 litros /ha, associados ou . não a atrazina; André Aguirre Ramos, Pioneer
Fungos
Podridão branca A podridão-deesclerotínea ou mofo-branco, é uma doença causada pelo patógeno Sclerotinia sclerotiorum, agente resposável por perdas de até 70%
O
fungo Sclerotinia sclerotiorum é o patógeno causador da podridão-de-esclerotínea ou mofo branco, que ataca 408 espécies de plantas de todo o mundo, entre elas o feijoeiro, soja, ervilha, alface, girassol, canola, algodão, tomate, cenoura, guandu, quinoa, amaranto, nabo forrageiro, alfafa, estilosantes, amendoim, Arachis pintoi, níger, mucuna, crotalária, batata, tremoço, fumo, erva quente, fazendeiro, caruru, amendoim bravo, corda-de-viola, picão preto, e joá-de-capote. As perdas ocasionadas por esse fungo na região do Cerrado podem chegar a 30% em soja e feijão, no período chuvoso. No inverno, sob irrigação, o feijão e o tomate irrigados podem sofrer perdas de até 70%.
DISSEMINAÇÃO DO FUNGO
Até 1976, o fungo era relatado principalmente em hortaliças. A partir da safra 1976-1977, também foi detectado em lavouras de soja, no centro-sul do Paraná. Na safra 1982-1983, o mofobranco atacou a soja na região do Alto 10
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Paranaíba (MG) e disseminou-se no Distrito Federal e entorno nos cultivos de verão (soja) e de inverno (feijão), sob pivô central, a partir de 1985. Com a expansão da fronteira agrícola na região do Cerrado, essa doença tem se destacado na cultura do feijoeiro, onde o patógeno encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento: temperaturas amenas e alta umidade do solo. A forma de disseminação mais comum tem sido a presença micélio (o corpo do fungo) e escleródios (estrutura de resistência do fungo) presentes nas sementes utilizadas pelos agricultores. Os escleródios permanecem no solo por mais de cinco anos e germinam quando as condições são favoráveis, produzindo o apotécio (local onde os esporos células reprodutoras do fungo - são formados) e micélio. Os apotécios liberam uma grande quantidade de esporos, que são facilmente transportados por correntes de ar e depositados sobre as plantas, principalmente nas flores. Esses esporos, ao germinar, atacam as plantas, causam infecção e perdas nas culturas. No final www.cultivar.inf.br
do ciclo, são produzidos novos escleródios, a partir do micélio, que darão início a um novo ciclo . A severidade da doença tem se agravado com o monocultivo, principalmente do feijão.
COMBATE À DOENÇA
Atualmente não existem variedades
resistentes dentre as espécies atacadas. Para o controle dessa doença, em áreas altamente infestadas, o uso de fungicidas tem se mostrado pouco eficiente, pois, normalmente não impede a formação dos escleródios. A rotação ou sucessão de culturas, como forma de diminuir o impacto negativo do monocultivo no solo, não é boa sob o ponto de vista fitossanitário, pois inclui espécies suscetíveis ao mofo branco, entre elas o nabo forrageiro. Em amostras de sementes de outras regiões, constatou-se a presença de escleródios, muito menores dos que ocorrem em feijão e difíceis de serem constatados nos lotes de sementes de nabo. Isso contribui para inviabilizar áreas agricultáveis e disseminar a doença por toda a região. Nas áreas altamente infestadas, nas quais podem ocorrer até seiscentos mil escleródios/ha, nem mesmo fogo os do solo. Algumas medidas que podem ser utilizadas para o manejo da doença são: Uso adequado da água da irrigação; Rotação com espécies não suscetíveis: milho, sorgo, milheto, arroz e algumas gramíneas utilizadas como pastagem; Sementes livres de micélio e/ou escleródios; Tratamento de sementes e pulverizações das partes aéreas das plantas com fungicidas registrados no Ministério da Agricultura e recomendados pela pesquisa; Integração lavoura-pastagem; Diversificação de cultivos.
AVANÇOS DA PESQUISA
Dada à importância e complexidade da doença, é de fundamental importância o trabalho cooperativo entre as instituições. Vários trabalhos têm sido conduzidos envolvendo a Embrapa/Cerrados, Embrapa/Hortaliças, Universidade de Brasília, Universidade Federal de Lavras e ESALQ/Universidade de São Paulo. Dos resultados destacam-se: 1) Cobertura morta O uso de cobertura morta tem mostrado que os escleródios presentes no solo são mais rapidamente destruídos sob os resíduos de gramíneas e ainda de novas espécies, tais como quinoa e amaAgosto de 2001
Agosto de 2001
Vagem de feijão atacada pelo Mofo branco e vagem sadia. Note-se a diferença
ranto. Os resíduos dessas culturas deixam o ambiente com baixa luminosidade, o que afeta a viabilidade dos escleródios, pois impedem a formação do apotécio. Além disso, provocam o desenvolvimento de microorganismos antagonistas e liberam nutrientes e outras substâncias que destroem os escleródios. Esses resultados fortalecem a recomendação do plantio direto, que tem como pré-requisito a cobertura da superfície do solo. 2) Sistema de Plantio A utilização de plantio direto em sistemas irrigados mostrou ser mais eficiente no controle da esclerotínea do que o plantio convencional. 3) Detecção do fungo em meio de cultura Neon Neon é um novo método, rápido e eficiente, de detecção de esclerotínea em sementes. Ao colocar as sementes em placas contendo meio de cultura, é possível identificar a presença ou ausência do fungo em apenas sete dias 4) Solarização Solarização é uma técnica de cobertura do solo com resíduos de culturas e plástico, podendo ser útil em pequenas
Mofo branco, ou podridão-deesclerotínea, em Meio da detecção NEON
áreas de cultivo intensivo. O seu uso pode destruir os escleródios em até 90 dias, dispensando a utilização do brometo de metila (fumigante). 5) Arquitetura da Planta e Espaçamento Na utilização de variedades de feijão com porte mais ereto e espaçamentos maiores, constatou-se diminuição na incidência e a severidade da doença em cultivos irrigados. 6) Lâmina d água Menores lâminas d água resultaram www.cultivar.inf.br
em menor incidência e severidade da doença em feijoeiro irrigado. 7) Herbicidas A escolha do herbicida pode ter impacto na sobrevivência dos escleródios no solo, estimulando ou inibindo a sua germinação. Os princípios ativos fomesafen, imazaquin e trifluralina podem ser indi. cados para combater o fungo. Luiz Carlos Bhering Nasser e Carlos Roberto Spehar, Embrapa Cerrados Cultivar
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Mais qualidade
Embrapa Arroz e Feijão
Feijão
Pesquisadores explicam os paradigmas do melhoramento do feijoeiro
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aumento na produtividade, não só do feijoeiro, mas de todas as plantas cultivadas em geral, envolve dois aspectos básicos em que o homem pode intervir. Em primeiro lugar, é possível melhorar o genótipo da planta para
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Cultivar
que ela possa utilizar melhor os recursos do ambiente, e em segundo lugar, utilizar adequadamente o ambiente no sentido de reduzir ou minimizar o efeito de estresses diversos. Em geral, a produtividade potencial de um determinado genótipo, depende em mais de 50% do ambiente em que a planta se desenvolve. Isto significa que somente será possível atingir o limite de produtividade de um cultivar quando for maximizada a utilização dos recursos de ambiente, tais como a disponibilidade de luz, a temperatura, os recursos hídricos, o solo e o fotoperíodo. Assim, pouco adiantará a utilização de genótipos altamente produtivos, um controle fitossanitário rigoroso ou mesmo preventivo, uma adubação adequada ou até mesmo a irrigação, se a comunidade de plantas na lavoura não conseguir explorar adequadamente fatores como temperatura, luminosidade e em alguns casos o fotoperíodo. Evidentemente que é possível e devese adequar a comunidade de plantas para que www.cultivar.inf.br
ela consiga explorar satisfatoriamente o ambiente disponível, no sentido de fazer com que as plantas alcancem o rendimento máximo naquela situação, naquele sistema de cultivo, de modo que a produtividade seja máxima naquela situação específica. A exploração máxima dos recursos de ambiente requer, em primeiro lugar, a potencialização da capacidade fotossintética da planta. Nesse sentido, torna-se necessário que as plantas consigam captar o máximo possível da radiação solar disponível e produzir o máximo de biomassa por unidade de radiação solar interceptada. Além disso, essa biomassa deve ser eficientemente transformada em grãos, que é o produto econômico final no caso do feijoeiro. Dessa maneira, como manejar a cultura do feijão para que ela consiga interceptar e transformar o máximo de energia luminosa em biomassa e, conseqüentemente, em grãos? Obviamente que sendo as folhas as responsáveis principais pela captação e a transformação da energia luminosa em biomassa, é preciso fazer coincidir a máxima área foliar da cultura com as épocas do ano em que a disponibilidade de radiação solar seja maior. Do ponto de vista prático, quando as plantas de feijão estiverem no início de formação das vagens, deve chegar muito pouca ou nenhuma radiação solar na superfície do solo, o que significa que toda a radiação solar disponível Agosto de 2001
...
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Para que se aumente o rendimento final de grãos do feijoeiro é necessário otimizar a utilização dos recursos do ambiente
mente as superiores, ou seja, que não haja autossombreamento. É preciso também que essas folhas, ou pelo menos o maior número delas, estejam verdes e completamente desenvolvidas (maduras), de modo que elas consigam produzir fotoassimilados excedentes (além do necessário para consumo próprio) e disponibilizá-los para o vingamento de flores, formação de vagens e de grãos. As folhas em expansão, geralmente as mais jovens, consomem mais biomassa do que produzem, enquanto as folhas em início de senescência, produzem somente aquilo que consomem, ou são deficitárias. Tecnicamente, para que haja o máximo de eficiência na captação e transformação da luz em biomassa, o índice de área foliar máximo por ocasião do máximo crescimento vegetativo (fase fenológica correspondente à floração plena), deve ficar em torno de 3 a 4 (m2 de folha/m2 de área de solo). Isto significa que numa população de 250 mil plantas por hectare, cada planta deve ter 0,12 m2 de folha, ou seja, cobrir uma superfície de 0,40x0,30m com folhas para que o IAF seja 3. É por esse motivo que se deve manejar adequadamente o espaçamento entre linhas e dentro da linha, de maneira que o autossombreamento seja o menor possível e que
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ao mesmo tempo não haja desperdício de radiação solar. Evidentemente que somente será obtido um IAF adequado quando o ambiente de crescimento e desenvolvimento das plantas for o mais próximo possível do ótimo, portanto com condições adequadas de adubação, água, temperatura, sanidade, e uniformidade das plantas. Adubação, sanidade, água, plantio adequado, e características varietais mais adequadas, são fatores plenamente controláveis, enquanto a radiação solar e a temperatura não o são. Nesse sentido, mesmo que todos
Figura 01
Além disto, é preciso que to... édasinterceptada. as folhas verdes recebam luz, e não so-
os demais fatores sejam otimizados, é preciso que a etapa de desenvolvimento vegetativo e a fase de floração sejam coincidentes com temperaturas amenas, para evitar uma de flores queda além do normal, reduzido vingamento de vagens, além de má formação das vagens restantes. A incidência de altas temperaturas, superiores a 20oC durante a noite e a 35oC durante o dia, de 10 a 12 dias antes da floração, até o início da formação das vagens (vagens com até 3 cm), mesmo que por somente 3 a 4 dias, pode ser extremamente drástica, reduzindo bastante a produtividade da cultura (Tabela 1). Nestas condições, ocorre o abortamento total da florada inicial, justamente a que normalmente proporciona a maior percentagem de vingamento de vagens, podendo ocorrer algum vingamento de vagens nas floradas sucessivas. Essas vagens tardias e com poucos grãos, produzem grãos menores e chochos além de uma desuniformidade grande na maturação, o que prejudica bastante a colheita e a qualidade final dos grãos (Figura 1). No caso em que a cultivar utilizada apresenta um tempo curto de florada, e a incidência de alta temperatura coincidir com a fase de pré-floração até o início da floração, pode ocorrer até o abortamento total das flores e das vagens menores do que 1 cm. Vale ressaltar que esses sintomas que são reflexo direto do efeito da temperatura alta, podem ser ainda mais graves quando não há suplementação hídrica, pois geralmente há combinação de altas temperaturas com deficiência hídrica. Em regiões com probabilidade de altas temperaturas, pode-se esperar crescimento vegetativo exuberante do feijoeiro, grande expansão foliar e, conseqüentemente um aumento do índice de área foliar, resultando em baixa eficiência de captação de energia luminosa. Recomenda-se nessas situações, a diminuição do número de plantas por unidade de área, manejando-se adequadamente o espaçamento entre linhas e também o número de plantas na linha, além da época de
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plantio. Sempre que possível, a semeadura deve ser efetuada na época em que até a floração, seja esperada a incidência de temperaturas amenas. Em termos gerais, porém, sempre será esperado um menor rendimento potencial do feijoeiro em regiões de clima quente, em comparação com regiões de clima mais ameno. A diminuição do número de vagens por planta e do número de grãos por vagem, provocada por altas temperaturas, ou outros fatores, irá se refletir na diminuição do número de grãos por unidade de área, que é o principal componente que determina o rendimento de grãos do feijoeiro (Figura.2). Para aumentar o número de grãos por unidade de área pode-se aumentar o número de plantas por área, o número de vagens por planta, ou o número de grãos por vagem. Cada um desses componentes pode ser manejado separadamente ou em conjunto para que o resultado final seja maximizado. Se a distribuição de plantas por área não for a adequada para aquele ambiente, poderá ocorrer deficiência de carboidratos para o vigamento de vagens e grãos, ou poderá por outro lado, ocorrer um vingamento de vagens em maior quantidade do que a planta poderá suportar. O resultado disso será um baixo número de vagens por planta, e o abortamento das vagens excedentes quando o
Tabela 1. Efeito da aplicação de choque térmico de 5 dias à temperatura noturna de 27 oC e temperatura diurna de 37 oC, com fotoperíodo de 12/12 horas, no vingamento de vagens e grãos de feijão.
Choque térmico
Vingamento de vagem (%)
Vingamento de grão (%)
10/12 dias antes da floração
0
7 dias antes da floração
2,2
1,3
1 dia antes da floração
55,7
36,0
Vagens com 1 cm
84,0
56,5
-
(Adaptado de Gross e Kigel, 1994. Field Crops Res.,36:201-212)
vingamento for superior ao adequado. Em uma situação onde ocorre um crescimento vegetativo exuberante provocado por excesso de água, de nutrientes, ou temperaturas elevadas, normalmente poderá ocorrer uma deficiência momentânea de carboidratos, para o vingamento de vagens e grãos. Para tanto, pode-se reduzir a disponibilidade de água durante a fase vegetativa, de modo a evitar o excesso de área foliar e o consequente autossombreamento. Havendo deficiência de carboidratos, a utilização de nutrientes, principalmente nitrogênio, torna-se ineficiente. A adequação da quantidade de flores que se transformam em vagens e a quantidade de vagens abortadas, são conseqüência da
disponibilidade de alimento que a planta consegue alocar para o vingamento de flores, e o pegamento das vagens e grãos. Disso resulta, que a planta regula a quantidade de vagens e de grãos por vagem, de acordo com a capacidade que possui de alimentar essas vagens e esses grãos. Assim, um manejo adequado da cultura que maximize a utilização dos insumos disponíveis (água, luz, temperatura, nutrientes e etc.), se refletirá no máximo número de grãos por unidade de área, e conseqüentemente o ren. dimento também será máximo. Agostinho Dirceu Didonet e José Geraldo Di Stefano, Embrapa Arroz e Feijão
Fotos UPF
Trigo
Ataque às folhas As manchas manchas foliares, foliares, As causadas por por fungos, fungos, causadas ocasionam redução redução ocasionam do rendimento rendimento de de do grãos, pois pois afetam afetam aa grãos, eficiência do do eficiência processo de processo fotossíntese das das fotossíntese plantas plantas
A
cultura do trigo pode ter sua produção afetada pela ocorrência e pela intensidade de diversas doenças. As manchas foliares causadas por fungos, como por exemplo, as helmintosporioses e septorioses, podem causar redução do rendimento de grãos por afetar a eficiência do processo de fotossíntese das plantas. Na cultura do trigo, após o incremento do plantio direto, o fungo D. tritici-repentis (Died.) Shoem. (teleomorfo P. tritici-repentis (Died.) Drechsler), causador 16
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da mancha amarela da folha, passou a ser a principal mancha foliar do cereal sendo relatada com freqüência e alta intensidade. A helmintosporiose ou mancha marrom, causada por Bipolaris sorokiniana Sacc. in Sorok., tem sido relatada principalmente nas regiões de clima mais ameno, como nas missões do Rio Grande do Sul e no Norte-Nordeste do Paraná. Outra mancha foliar comum no trigo, nos invernos chuvosos e quentes, tem sido a septoriose, causada pelo fungo Septoria nodorum (Berk.) Berk. (teleomorfo Lepwww.cultivar.inf.br
tosphaeria nodorum Müller). Os fungos B. sorokiniana, D. tritici-repentis e S. nodorum podem sobreviver nas sementes, nos restos culturais infectados, em plantas voluntárias e em plantas guachas. O fungo B. sorokiniana também pode sobreviver como conídios dormentes no solo. As principais estratégias recomendadas para o controle destes patógenos são: aquisição de semente fiscalizada e sadia, tratamento das sementes com fungicidas em doses eficientes, rotação de culturas, pulverização de fungicidas nos órgãos aéreos e eliminação na área de cultivo de plantas voluntárias e de hospedeiros secundários. O controle químico, via pulverização dos órgãos aéreos, deve ser realizado no momento em que a intensidade da doença cause dano no rendimento de grãos igual ao custo do seu controle. O critério utilizado neste caso baseia-se no limiar de dano econômico (LDE). O LDE deve ser calculado anualmente em função do preço do produto colhido (trigo, por exemplo), do preço do fungicida e do custo da aplicação, do potencial de rendimento da lavoura e da eficiência do fungicida a ser usado. Também, deve-se levar em consideração, nos casos da ferrugem da folha e do oídio, a reação diferenciada de resistência do cultivar. O critério para aplicação de fungicida
Folha de trigo com manchas foliares decorrentes do ataque da septoriose
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com base no LDE, hoje recomendado pela pesquisa, foi desenvolvido em experimentos conduzidos na FAMV - Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, desde 1993, em diferentes cultivares de trigo e com metodologia própria, onde, relacionou-se o efeito da incidência das manchas foliares com o rendimento de grãos, obtendo equações de função de dano das doenças e respectivo coeficiente de dano empregado para o cálculo do LDE visando ao controle das manchas foliares.
COMO CALCULAR O LDE ?
O cálculo do LDE para as manchas foliares do trigo pode ser feito utilizando-se a equação de Munford & Norton (1984), modificada e aplicada para doenças: ID = (Cc/ Pp x Cd) x Ec na qual, ID = intensidade da doença, Cc = custo do controle, Pp = preço da tonelada do trigo, Cd = coeficiente de dano (fornecido pela recomendação da pesquisa) e Ec = eficiência de controle do fungicida utilizado. O Cc pode ser tomado como US$ 30.00/ha. O Pp, por exemplo, considerado em US$ 105.00/t, enquanto que a Ec pode ser considerada para manchas foliares em aproximadamente de 80 % (0,8). A função de dano para o cálculo do Cd para manchas foliares é: R = 1.000 5,7 I. Nesse caso, cada 1 % de incidência foliar corresponde a um dano de 5,7 Kg de grãos numa produção de 1.000 Kg de grãos. Sabendo-se o rendimento médio do trigo ou o rendimento potencial de uma lavoura, por exemplo, 2.700 Kg/ha, através de uma regra de três, onde 1.000 está para 5,7 e 2.700 estará para X, obtêm-se X = 15,39 Kg/ha ou o correspondente Cd = 0,01539 t. Substituindo-se os valores na fórmula tem-se: ID= (30/105 x 0,01539) x 0,8 = 14,9% Nesse caso o LDE corresponde a uma incidência de manchas foliares de 14,9 %. Isto significa que essa incidência foliar causa uma perda de US$ 30,00/ha. O princípio de controle baseado no LDE sugere que a aplicação do fungicida seja realizada no Limiar de Ação (LA), ou seja, a medida de controle deve ser implementada de modo a evitar que a doença ultrapasse o LDE. Neste caso, sugere-se um LA 5 % inferior ao LDE, sendo assim de 10 a 15 % de incidência. A reaplicação do fungicida poderá ser feita quando o limiar for Agosto de 2001
novamente alcançado. Por outro lado, se o limiar não for atingido não se deve efetuar o controle químico. Nesse caso economizamse aproximadamente US$ 30.00/ha. Alguns autores apontam que é incerta a relação entre intensidade de uma doença e os danos causados. Discutem que a falta de relação se deve principalmente a ocorrência da desfolha no hospedeiro. Isso porque as folhas caídas não são consideradas nas avaliações futuras da severidade. Entretanto deve-se considerar que no caso de cereais de inverno as doenças quando muito severas podem determinar a morte de folhas inferiores e não a desfolha. No caso da incidência, mesmo sendo elevada, a proporção de tecido sadio/doente é elevada, não levando a morte de todo o limbo foliar e muito menos causando desfolha.
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Pelo exposto, portanto a intensidade da doença não tem sido subestimada pelo uso da incidência. Exemplos de recomendações baseadas na incidência foram encontradas na literatura. O sistema EPIPRE, na Holanda, também utiliza a incidência foliar como critério indicador para a aplicação de fungicida visando ao controle da septoriose. O uso da incidência foliar como critério do LDE também é recomendado e utilizado no sul do Brasil nos patossistemas trigo-oídio e trigo-ferrugem . da folha. Erlei Melo Reis, Ricardo Trezzi Casa, Laércio Luiz Hoffmann e Cristiano Mendes, Universidade de Passo Fundo
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Sementes
Vigor no Congresso Cientistas pedem no encontro da ISTA a normatização dos testes de vigor em sementes; produtores discordam
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ais de 600 participantes, originários de 75 países, reunidos em Angers, França, no 26º congresso da International Seeds Testing Association ISTA não chegaram a uma conclusão sobre a inclusão, nas regras da entidade, de um teste de vigor. A resistência principal partiu dos produtores, embora os pesquisadores o aprovem. A principal atividade da ISTA é fornecer métodos para testar a qualidade das sementes destinadas ao mercado mundial. Mas a introdução de um teste de vigor, obrigatoriamente, no produto comercializado, não foi bem aceito pelos produtores e a discussão, ameaçando dividir a cadeia produtiva, foi adiada. O teste de vigor dos lotes de sementes deve mesmo ser incluído nas regras da ISTA? A principal pergunta apresentada ao Comitê de Vigor da entidade, no 26º Congresso, em Angers, de 14 a 22 de junho, provocou a maior confusão. A noção de vigor surgiu em 1950, ano em que também foi criado o comitê específico para o estudo deste critério. De acordo com o americano Dennis Tekrony, presidente do comitê, o vigor é a soma das propriedades que determinam a atividade e a performance das sementes em uma larga gama de situações. Se o vigor estiver muito associado à viabilidade e à germinação, ela é mais complexa do que essas duas noções, explica o cientista. Não existe resposta à questão de como produzir sementes de alto vi18
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gor, afirma de sua parte o neo-zeolandês John Hampton. Chegar a produzir sementes de alto vigor depende mais da sorte do que de técnica. A pesquisa tem ainda fatores a aperfeiçoar nesse sentido. O objetivo da introdução de um teste de vigor nas regras da ISTA é harmonizar os métodos, a fim de fornecer ao usuário uma informação quanto ao valor da semente e de estocagem em diferentes condições climáticas e ambientais. Atualmente os sementeiros utilizam testes de vigor que não estão normatizados e harmonizados entre si. E a maioria nem imagina o que eles sejam, explicou Pierre-Louis Lefort, vice-presidente da ISTA. As informações concernentes ao vigor são conservadas internamente e por vezes usadas para selecionar os lotes de acordo com os mercados e condições de sementes conhecidas. Preconiza John Hampton que é preciso ir mais longe e o teste de vigor deve ser usado como instrumento de marketing. Para isso, porém, a informação deve ser confiável. E então, explica Dennis Tekrony, mudanças importantes podem intervir no vigor após alterações, ainda que mínimas, nos padrões ambientais, como de temperatura e umidade, por exemplo. A precisão de um teste de vigor em laboratório depende de tecnologia que avalie esses parâmetros, além da qualidade do equipamento dos laboratórios. É a etapa prévia para a normatização do teste. www.cultivar.inf.br
NÃO ECONOMIZAR A VERDADE
Na sua apresentação da indústria sementeira francesa, François Desprez, presidente da Association Internacionale des Sélectionneurs Assincel e presidente da empresa Florimond Desprez, frisou que os sementeiros franceses sustentam a posição da Fédération Internacionale du John Hampton Commerce de Semences FISde não introduzir a obrigatoriedade do teste de vigor nas regras da ISTA. De sua parte, os pesquisadores dedicam muitos esforços ao tema, posto que 25% dos resultados das pesquisas apresentadas no congresso relacionavam-se ao vigor. Um dos argumentos em favor do teste, manifestado pelo escocês Stan Matthews, é a necessidade de transparência e de não economizar a verdade . Na realidade, o comitê votou favoravelmente, por larga maioria. Mas ainda falta discutir as questões técnicas e submeter a proposta em conjunto aos mem. bros da associação. Agosto de 2001
Fotos Cultivar
Soja e a comunidade política ruralista, o que permitiu uma interação com a sociedade, possibilitando orientar melhor o consumidor. Portanto, a posição do ministro Pratini de Moraes de abrir o Brasil para produtos transgênicos está calçada em rigorosas avaliações. E não compromete a capacidade de exportação do Brasil. Porque, paralelamente, será criado um sistema de certificação de soja não-transgênica que diferenciará os produtos convencionais daqueles modificados geneticamente. A soja transgênica deverá se estabelecer como comodity, permitindo que os grãos convencionais tenham um valor agregado no mercado internacional.
NOVA CULTURA
Especialista em sementes mostra as vantagens e desvantagens da liberação do plantio de OGMs para o agricultor
Cuidados com a transgênica Soja transgênica, pela única vez, apresentada ao público em fevereiro de 1999 no Show Rural em Cascavel-PR
C
om a abertura do Brasil para o cultivo de transgênicos, começando pela soja, conforme está para ser oficializado pelo Ministério da Agricultura, o agronegócio nacional inicia uma importante fase de mudanças e de desenvolvimento. E espera-se que, assim como fizeram os órgãos federais para introduzir esta biotecnologia, o produtor tenha o máximo cuidado antes de cultivar sementes modificadas geneticamente. O Brasil foi extremamente criterioso até que decidisse se abrir para os transgênicos. O tema passou pelos crivos técnicos da Justiça e de organismos oficiais do se20
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tor. Foi objeto de estudo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que reúne alguns dos maiores especialistas no assunto, representando os Ministérios da Agricultura e Meio Ambiente, da Saúde, da Ciência e Tecnologia, da Justiça, e das Relações Exteriores. E concluiu-se que o Brasil deve se abrir para a transgenia, a exemplo do que acontece com países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Holanda, Dinamarca e Japão, que já estão produzindo e consumindo transgênicos. No Brasil, a transgenia também foi objeto de debate com grupos ambientalistas www.cultivar.inf.br
No entanto, é preciso que o agricultor esteja consciente de que a soja transgênica deve ser tratada como uma nova cultura. Diferente da soja convencional, pois exige tecnologia diferenciada. O gene introduzido modifica o manejo da planta e, portanto, parte do seu processo de cultivo. Por isso será preciso, antes de empregá-la em lavouras particulares, aguardar os primeiros resultados desta nova ciência no Brasil, que serão apresentados através de unidades comerciais demonstrativas entre os meses de outubro deste ano e maio de 2002. Essas unidades serão acompanhadas pelo Ministério da Agricultura e organismos do setor, que vão avaliar o desenvolvimento de 50 mil hectares de soja modificada geneticamente. Serão instaladas entre 100 e 150 lavouras de até 500 hectares cada, com quatro variedades adaptadas para o Brasil. Estes cultivares são recomendados para as regiões Sul, Centro Sul e Sudoeste. As unidades serão monitoradas pela Associação Brasileira de Sementes - Abrasem, Confederação Nacional da Agricultura - CNA, Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB, e o próprio Ministério da Agricultura. As variedades que agora entram no Brasil são capazes de tolerar a ação do princípio ativo de um herbicida específico, característica que facilita o manejo das lavouras. E contêm tecnologia adaptada para as condições ambientais brasileiras. Estas sementes foram cedidas pela Monsanto, multinacional americana que detém o gene RR (Roundup Ready). Com ela, o produtor poderá substituir todos os outros herbicidas por apenas um, o que facilita o manejo e a administração da lavoura. Inicialmente, a tecnologia da Monsanto será utilizada com finalidade comercial pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias - Embrapa, pela Cooperativa Central Agropecuária de DesenvolvimenAgosto de 2001
Miyamoto comenta sobre o cultivo de transgênicos no país
to Tecnológico e Econômico Coodetec, e pela Monsoy (subsidiária da Monsanto). Neste ano agrícola, as três empresas produzirão cerca de 9 mil hectares de lavouras de sementes básicas de soja transgênica. E devem lançar 400 mil sacas de sementes para o produtores no ano que vem, com cerca de 10 cultivares experimentadas e aprovadas para o Brasil. A tecnologia a ser adotada em breve deverá se estender também para outras empresas de pesquisa, sem qualquer relação de exclusividade. No entanto, neste ano de 2001, o plantio comercial de soja transgênica no Brasil ainda não está autorizado para os agricultores em geral. Estes poderão verificar as variedades expostas nas unidades demonstrativas, que têm a única finalidade de prestar orientação ao produtor. As sementes transgênicas, aprovadas e testadas para o Brasil, só estarão disponíveis no mercado nacional a partir de 2002.
CONTRABANDO NO SUL
Apesar disso há registros de cultivo de soja transgênica no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul. São sementes contrabandeadas da Argentina e que já estão sendo cultivadas em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás. Essas lavouras clandestinas oferecem riscos técnicos para a produção porque pouco se conhece sobre sua origem e dificilmente o agricultor contará com uma assistência técnica que o oriente. Em nenhum dos casos de sementes contrabandeadas a biotecnologia é adaptada para o Brasil, podendo inclusive trazer para o país doenças já controladas e até erradicadas. As sementes contrabandeadas não asseguram a sanidade da semente (em relação a doenças e pragas), não garantem a adaptação de cultivar (o que compromete Agosto de 2001
a produtividade) e não oferecem garantias de germinação, vigor e pureza. Mas os danos provocados por sementes contrabandeadas não param por aí, podendo ocorrer outros prejuízos para o agricultor. O cultivo ilegal de transgênicos acarreta multa para a propriedade, destruição da lavoura e processo criminal. E poderá trazer problemas posteriores, na hora da comercialização, prejudicando toda a cadeia produtiva. Há também que se ressaltar o retrocesso que o plantio clandestino de transgênicos provoca para a pesquisa e a geração de variedades nacionais. Com as sementes contrabandeadas não se recolhem os royalties do detentor, e a pesquisa no Brasil fica severamente prejudicada. Só quem ganha são os contrabandistas. A julgar pelo crescimento das lavouras clandestinas, dentro de dois anos a soja brasileira terá metade de suas áreas produzindo transgênicos. Estima-se, inclusive, que 60% do próximo plantio de soja no Rio Grande do Sul esteja irregular, com variedades modificadas geneticamente. Por isto é imperativo que o agricultor brasileiro tenha o cuidado de aguardar que os organismos credenciados liberem o cultivo da soja transgênica adaptada para o Brasil, o que deverá estar plenamente estabelecido até a safra de 2004.
OUTRA GERAÇÃO
Estamos rumando para um tempo em que as sementes vão incorporar substâncias ainda mais saudáveis para o consumo humano, com aumento de qualidade nutricional. E ainda agindo como vacinas naturais, com substâncias terapêuticas que auxiliarão no tratamento de doenças. Não há dúvida de que num futuro próximo poderemos usufruir de todos estes avanços gerados pelo melhoramento genético de vegetais. Mas por hora o produtor brasileiro deve aguardar cada fase desta nova tecnologia para usufruir devidamente dos benefícios que ela poderá gerar. É preciso respeitar as condições impostas pelo Ministério da Agricultura e as recomendações técnicas. O Brasil não terá como ficar de fora dos avanços da biotecnologia, pois este processo já se iniciou e é irreversível. Mas deverá escolher entre dois caminhos: ou continua convivendo com a ilegalidade das lavouras clandestinas ou assume uma posição para proteger o agricultor, legalizando o plantio de transgênicos. Com certeza os brasileiros não demorarão a compreender e admirar a decisão do governo brasileiro, que coloca o país em igualdade tecnológica com o pri. meiro mundo. Ywao Miyamoto, Abrasem www.cultivar.inf.br
Abrasem apóia OGMs A Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (Abrasem), aprova as declarações do ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, sobre a emissão de certificado para a soja convencional e do registro das cultivares geneticamente modificadas para a comercialização no Brasil. João Lenine Bonifácio e Souza, presidente da entidade, informa que se a soja transgênica não for liberada rapidamente, em três anos haverá 60% da área plantada com soja transgênica ilegal no Brasil. Segundo ele, cerca de dois terços da área plantada no Rio Grande do Sul na próxima safra não serão mais cultivados com sementes certificadas e fiscalizadas. Os agricultores preferem plantar soja geneticamente modificada produzida ilegalmente no Brasil , diz. A expectativa da entidade para esta safra é de 2 milhões de hectares de soja transgênica cultivada ilegalmente no Rio Grande do Sul, 300 mil hectares no Paraná e 200 mil hectares no Centro-Oeste. Na opinião do presidente da Abrasem, a liberação das plantas geneticamente modificadas, além de trazer grandes vantagens para os produtores, é um avanço da agricultura brasileira. Essa tecnologia já deu mostras suficientes de sua eficácia como redução do uso de agroquímicos nas lavouras e otimização dos custos de produção por parte dos agricultores . A Abrasem também apóia o decreto do governo que define as regras para a rotulagem de alimentos embalados com organismos geneticamente modificados. O decreto, que foi assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em julho, define que o rótulo deverá apresentar uma das seguintes expressões: (tipo do produto) geneticamente modificado ou contém (tipo de ingrediente) geneticamente modificado . A norma vigorará a partir de 31 de dezembro de 2001. Com a rotulagem, o consumidor poderá decidir se quer ou não consumir esse tipo de alimento. Isso é um direito do cidadão , finaliza Lenine. PR
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Aenda - Defensivos Genéricos
As amarras da concorrência O
mercado de pesticidas agrícolas tem duas forças antagônicas a modelá-lo. São o agrupamento dos produtos sob patente e o dos produtos genéricos. Veja na figura a situação global em 1997 e a estimada para 2007. Em geral, os produtos sob-patentes exigem boa densidade de capital, para suportar os investimentos em pesquisa, tecnologia, dados toxicológicos e busca de posicionamento no mercado. Recebem o benefício de uma exclusividade mercadológica por 20 anos, instituído pelo sistema internacional de patentes. Os produtos genéricos (cópias dos produtos originais) herdam um mercado aberto pela companhia inventora, evitando uma série de investimentos, mas encontram uma situação um tanto quanto de desgaste e ainda promovem uma exacerbada competição, pois sabem que o obsoletismo do produto em questão pode estar perto. Desse conflito tira proveito o agricultor, que fica de olho na queda dos preços com o ingresso de mais competidores de um mesmo ingrediente ativo. Tanto assim, que sua cesta de compra contempla muito mais os produtos genéricos, como observamos na figura. No Brasil, o quadro tem um agravante: maior concentração de competidores. Aqui, um mercado de US$ 2,5 bilhões no ano de 2000 é abocanhado em 50% por apenas 4 empresas, em 70% por 7 empresas e em 85% por 10 empresas. No site da AENDA, podemos ver claramente na página CONCORRÊNCIA: dos 396 ingredientes ativos (sendo 91 misturas de ing. ativos) apresentados, 290 têm 1 só ofertante, ou seja, 73%. Com 2 ofertantes, 51 ativos. E, com 3 ou mais ofertantes, apenas 55 ativos, cerca de 14%.
Com paciência, podemos também verificar nessa longa tabela que o número de empresas registrantes e potencialmente ofertantes, se limita a 68. Inacreditável, para um país dessa dimensão e uma pujante agricultura. Também, na coluna de 3 ou mais ofertantes , aquela mais interessante do ponto de vista do usuário, verificamos um total de 448 marcas comerciais, sendo apenas 213 (47%) de empresas dedicadas unicamente a produtos genéricos. Isso indica que os genéricos, antes reduto das empresas nacionais e de outras es-
modificou absurdamente a regra do jogo da concorrência deste importante insumo: quem pode oferta a prazos de safra, 180 a 360 dias, quem não pode não joga ou se contenta em jogar em campos minados de inadimplência e outros riscos. Perdem terreno aceleradamente as empresas de capital nacional. Nestes últimos anos algumas já foram absorvidas por capitais ultramarinos, outras transformadas em fábricas unicamente prestadoras de serviço, diversas estagnaram ou encerraram a atividade. Poucas so-
trangeiras dedicadas a genéricos, estão cada vez mais sendo ofertados pelas grandes companhias que detêm também os produtos sobpatentes.
breviveram com a mesma identidade e com capacidade de desenvolvimento. Será isso considerado como concorrência desleal nos países ditos do primeiro mundo? Por aqui ninguém liga. Em tempos de competitividade o governo brasileiro precisa estar atento. Precisa reajustar o tabuleiro deste jogo, ser aliado do usuário no financiamento parelho com os concedidos aos agricultores dos países concorrentes e coibir situações inibidoras da oferta democrática, adotando uma política industrial condizente com os problemas da atualidade, antes que não mais precise.
MOTIVOS
As razões para tal concentração da oferta passam principalmente pelo hermético e discricionário sistema de registro dos produtos, que não leva em conta as regras internacionais de similaridade ou equivalência. Afora isso, temos o ainda alto juro bancário que, aliado à progressiva diminuição do custeio governamental ao agricultor,
Fotos Rebelles
Expandindo horizontes
Epamig- CTSM
Nossa capa
Lagarta-doscafezais começa a causar prejuízos no Brasil; seu controle é fácil e eficiente Rebelles explica como se pode controlar a lagartados-cafezais
de coloração violáceo-escura. As fêmeas são maiores, menos manchadas que os machos, e podem apresentar até 13,5 cm de envergadura (medida tomada da ponta de uma asa à outra quando abertas) sendo que os machos possuem cerca de 10 cm de envergadura.
CICLO EVOLUTIVO
Lagarta-dos-cafezais, Eacles imperialis magnifica
A
lagarta da espécie de mariposa Eacles imperialis magnifica Walker, 1856, ordem Lepidoptera, família Saturniidae, é conhecida vulgarmente como lagarta-dos-cafezais. Apesar de muito comum em cafeeiros de todas as regiões do Brasil, na maioria das vezes, não se constitui em praga, a não ser em casos de desequilíbrio biológico provocado pelo uso indiscriminado de produtos fitossanitários ou devido às condições climáticas. É considerada praga cíclica, porém seu ataque aos cafezais vem se acentuando nos últimos anos. Atualmente, essa espécie de lagarta, vem causando danos aos cafezais do cultivar Conilon (Coffea canephora Pierre et Froenher), no município de Cacoal, estado de Rondônia. Além do cafeeiro pode atacar também 24
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Fig. 01 - Mariposa fêmea de Eacles imperialis magnifica abacateiro, goiabeira, plátano, amendoeira-da-praia, amoreira, araçazeiro, aroeira, cajueiro, cedro, jaqueira, macieira, mamoneira, milho, pau-ferro, pereira, roseira, sarandi, tamarindeiro etc., senwww.cultivar.inf.br
do que nesses outros hospedeiros o ataque não é muito comum. As lagartas dessa espécie são grandes, medindo cerca de 10 a 12 cm de comprimento por até 2 cm de diâmetro, e Agosto de 2001
apresentam coloração variável entre o verde, o alaranjado e o marrom. Ao longo de todo o corpo apresentam pubescência e fios brancos, e no dorso do segundo e terceiro segmentos torácicos apresentam tubérculos e um processo dorsal no décimo segundo segmento do corpo. Não são urticantes, ao contrário de outras lagartas que também atacam cafeeiros, porém, devido ao seu grande tamanho e instinto de levantar a parte anterior do corpo, impõe medo aos trabalhadores nas lavouras de café. O inseto no estado de adulto é uma mariposa também considerada grande, de coloração amarela e pontos escuros nas asas, mais numerosos nos machos. Além das pontuações, apresentam também nas asas, anteriores e posteriores, uma faixa
Agosto de 2001
O ciclo evolutivo de ovo a adulto é em média 65 a 85 dias. Em geral ocorre somente uma geração por ano, ficando as crisálidas enterradas no solo até o ano seguinte, porém, em locais de temperaturas mais elevadas, sem inverno frio, pode ocorrer mais de uma geração ao ano como é o caso do ataque dessa lagarta em cafeeiros no município de Cacoal, e de outros, em Rondônia.
O acasalamento ocorre nas primeiras 12 a 24 horas de vida dos machos, que morrem após esse período. A mariposa fêmea, após acasalamento, coloca à noiDANO CAUSADO te cerca de 300 ovos durante os sete dias As lagartas alimentam-se de folhas e em que vive, em grupos e de preferência de brotos terminais, são vorazes e, se na página superior das folhas, e são de ocorrerem em grandes quantidades, pocoloração amarelada. O período de in- dem ser prejudiciais ao cafeeiro, princicubação é de cinco a sete dias, podendo palmente os mais novos e com menor núse estenmero de foder até Fig.02 - Mariposa macho de Eacles imperialis magnifica lhas. 12 dias Pe s q u i em mesas já realin o r e s zadas mostemperatraram que t u r a s , são necessárias quando eclo166 lagartas dem as lagartipara a destruição nhas. Após a de todas as folhas eclosão, as lagarde um cafeeiro tas passam os próadulto, cultivar ximos 30 a 37 dias se Mundo Novo, pois uma alimentando de folhas do cafeeilagarta consome 0,60 % da planta ro, até atingirem cerca de 12 cm de ou 0,30 m2 de folha de café. Em funcomprimento e 15 g de peso. No final ção da redução da área foliar ocorre a da fase de lagarta descem ao solo onde quebra da produção de grãos de café. empupam a 2 cm de profundidade. A fase Além dos prejuízos citados pode ocorrer de pupa ou crisálida dura em média 30 a a não aceitação das lavouras infestadas 40 dias, podendo ser mais longa em con- pela lagarta, por parte dos colhedores de dições menos favoráveis, após o que café , devido ao aspecto repugnante que emergem os insetos adultos (mariposas). as lagartas apresentam. Ainda, a intenwww.cultivar.inf.br
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Rebelles
Café dendo ser encontradas cerca de 150 delas por lagarta de eacles parasitada (Figura 4); Glypta sp (Ichneumonidae); Macrocentrus ancylivorus Rohwer, 1923, Meteorus sp., M. eaclidis Muesebeck, 1958 (Braconidae); Horismenus cockerelli Blanchard (Eulophidae); Spilochalcis sp. (Chalcididae) etc. Caso seja necessária a intervenção do homem para o controle da lagarta, é recomendável a utilização de pulverizações do inseticida biológico à base de uma bactéria, o Bacillus thuringiensis Berliner, na dosagem de 250 a 500 g/ ha, produto que não afeta o controle biológico natural realizado pelas moscas e microhimenópteros. Esse produto age por ingestão, principalmente quando as lagartas ainda são novas, e não as matam imediatamente como os inseticidas convencionais, porém ao ingerirem os bacilos param de se alimentar não causando mais danos. Em altas infestações aplicar a maior dosagem recomendada do B. thuringiensis. Por ocasião do controle da broca-docafé, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae), com o uso do inseticida endosulfan, é feito o controle simultâneo das lagartas, caso elas estejam presentes. Este produto também é considerado seletivo aos inimigos naturais. Embora eficiente, não é recomendável a utilização de inseticida de largo espectro de ação, como os piretróides, pondo em risco o equilíbrio biológico.
OUTRAS LAGARTAS
Lagarta-dos-cafezais parasitada e casulos do parasitóide Apanteles sp. pendurados por dios de seda
... sa desfolha causada pelas lagartas resul-
ta em ramos desnudos, com posterior secamento, inclusive dos frutos neles presentes, como resultado da incidência direta do sol e de temperaturas altas. Redução na produção de cafeeiros Mundo Novo , em conseqüência da di-
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Lagartas por planta
Redução na área foliar (%)
Redução da produção (%)
42 83 125
25 50 75
39,2 42,9 46,3
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minuição da área foliar, na fase construtiva, por lagartas Eacles imperialis magnifica.
CONTROLE
Em condições normais, lagartas de qualquer espécie, incluindo a eacles ou lagarta-dos-cafezais, não se constituem em pragas do cafeeiro devido ao grau de parasitismo natural que apresentam. Já foram encontradas, parasitando lagartas, larvas de moscas da família Tachinidae, com as espécies Belvosia bicincta Robineau-Desvoidy, 1830, Belvosia potens (Wideman, 1830) e Pararrhinactia parva Town, bem como larvas de microhimenópteros (Hymenoptera) (pequenas vespinhas) do gênero Apanteles, powww.cultivar.inf.br
Além da lagarta-dos-cafezais Eacles imperialis magnifica, outras lagartas não menos importantes também podem atacar e consumir folhas de cafeeiros, e entre elas destacam-se as que causam dermatite urticante como as tatoranas Automeris complicata (Walker, 1855), Automeris coresus (Boisduval, 1859), Automeris illustris (Walker, 1855) (Saturniidae); a lonomia Lonomia circunstans (Walker, 1855) (Saturniidae); a lagarta-cabeluda Megalopyge lanata (Stoll e Cramer, 1780) (Megalopigidae) e a tatorana-do-cafeeiro Podalia sp. (Megalopigidae). Entre as não urticantes, como a eacles, destacam-se as lagartas mede-palmo Glena sp. e Oxydia sp. (Geometridae). Havendo contato do homem com as urticantes, há necessidade de tratamento específico. O controle para estas lagartas é o mesmo recomen. dado para a lagarta-dos-cafezais.
Manchas no cafeeiro A ferrugem do cafeeiro provoca o desfolhamento da planta, gerando redução da produção. Essa doença, em alguns casos, chega a impedir totalmente o cultivo do café
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ecorridos 30 anos desde a primeira constatação da ferrugem do cafeeiro no Brasil, encontram-se à disposição dos cafeicultores várias opções que possibilitam o controle eficaz da doença. Apesar disso, atribui-se à doença uma redução média sobre a produção de 20%, uma vez que na maioria das vezes o controle da doença é realizado de forma inadequada considerando-se aspectos relativos à época, doses e técnicas de aplicação dos fungicidas. O conhecimento das condições ambientais e da planta que condicionam a ocorrência e severidade da doença são indispensáveis para o sucesso do controle, conseqüentemente permitindo que lavouras bem conduzidas atinjam patamares desejáveis de produtividade.
O QUE É A FERRUGEM
O agente causal da doença é o fungo Hemileia vastatrix Berk. & Br. Atualmente existem mais 40 raças fisiológicas de ferrugem que atacam o cafeeiro, sendo que no Brasil são encontradas cerca de oito raças virulentas. Entre estas, a raça II predomina nos cafezais brasileiros. A doença atinge as folhas dos cafeeiros causando o aparecimento de manchas que se apresentam, quando observada a face dorsal ou inferior das folhas, recobertas por uma massa pulverulenta amarelo alaranjada constituída de esporos do fungo. No estádio mais avançado de evolução da doença, algumas áreas do tecido foliar são destruídas e necrosadas observando-se ainda uma desfolha proporcional ao nível de incidência das lesões foliares.
Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, EPAMIG/EcoCentro Agosto de 2001
Agosto de 2001
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PREJUÍZOS CAUSADOS
Em outros países onde ocorreu, como no Sri-Lanka (antigo Ceilão), a doença chegou a impedir o cultivo do café. No Brasil, a doença causa uma redução média de 20% sobre a produção chegando em casos de ataques em anos sucessivos a provocar o depauperamento das plantas tornando as lavouras improdutivas e antieconômicas. O fungo agente causal da ferrugem incide sobre plantas bem enfolhadas e com cargas pendentes de média a elevada. Quando a doença incide, portanto, a produção daquele ano agrícola já se encontra definida e as conseqüências da desfolha causada pela ferrugem em determinado ano se fará sentir sobre a produção do ano agrícola posterior. Por outro lado, deve-se considerar que embora os cafeeiros apresentem a característica de bianualidade da produção levando os produtores a crerem que a baixa produção é devido a este caráter, se associada a elevados ataques de ferrugem no ano anterior, a produção que seria menor apresenta-se ainda mais reduzida. Outro aspecto a ser considerado é que após um ano de ataque intenso de ferrugem devido a intensa desfolha provocada, pode-se passar dois ou mesmo três anos até que o nível da doença se restabeleça na área levando o produtor a crer que a doença não é mais problema. No entanto, uma vez que a lavoura esteja recuperada e em presença de uma nova carga elevada a doença voltará a causar problemas de desfolha e redução na produção do ano seguinte, se não for controlada adequadamente. Cultivar
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Cafeeiro sem o ataque da ferrugem, que causa manchas nas folhas de café
... Visando orientar a tomada de decisões ao programar o esquema de controle da ferrugem, o cafeicultor deve utilizar uma técnica que permita conhecer a evolução da doença na lavoura, ou seja, o monitoramento ou acompanhamento da evolução da doença na lavoura como um todo ou nos diferentes talhões.
CONTROLE DA DOENÇA
O controle da ferrugem deve ser efetuado através da utilização de um ou da associação dos vários métodos disponíveis e que são descritos a seguir. Embora seja considerada a medida ideal de controle, o controle genético é um processo lento uma vez que depende de resultados de pesquisas desenvolvidas na área de melhoramento o que principalmente em se tratando de culturas perenes como o café exige vários anos de trabalho. Materiais genéticos são selecionados reunindo características de resistência ou tolerância à ferrugem às demais características desejáveis e que possam competir com as cultivares susceptíveis já implantadas, as quais, uma vez bem conduzidas, inclusive no que se refere ao controle da ferrugem, 28
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possibilitam a obtenção de bons índices de produtividade e elevada qualidade do produto final. Dessa forma o que se tem observado é uma introdução lenta e gradativa de materiais com características de tolerância ou resistência à ferrugem sob estrita observância dos pesquisadores, extensionistas e produtores em relação ao comportamento desses materiais quanto a aspectos tais como exigências nutricionais, arquitetura das plantas, resistência a outras doenças, pragas e outros aspectos. Podemos prever, portanto, que ainda um longo período de tempo será demandado para que se concretize uma substituição do parque cafeeiro o qual se compõe ainda, em quase a sua totalidade de cultivares susceptíveis à ferrugem.
CONTROLE NUTRICIONAL
Os nutrientes exercem funções específicas sobre o metabolismo vegetal, afetando desse medo o seu crescimento e a sua produção. Além disso, a nutrição mineral apresenta envolvimento secundário em termos das funções dos nutrientes no metabolismo vegetal, como alterações na morfologia (forma de crescimento), anatomia (paredes das células da epiderme mais grossas, lignificadas ou silificadas) e composição química (síntese de compostos tóxicos), as quais podem aumentar ou reduzir a resistência das plantas aos patógenos. O fato de que grande extensão da cafeicultura encontra-se hoje implantada em áreas de solos com baixa fertilidade natural como as áreas de cerrado, principalmente sob condições de déficit hídrico, pode ser responsável por desequilíbrios nutricionais, e conseqüente agravamento das doenças, entre elas a ferrugem. Sabe-se ainda que altos níveis de produção (carga pendente) promovem um desequilíbrio nutricional, tornando as plantas mais susceptíveis à ferrugem. Dessa forma o manejo adequado da adu-
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bação constitui-se em um instrumento fundamental no controle da doença através da melhoria das condições de resistência dos cafeeiros aos patógenos, entre eles o agente causal da ferrugem (Hemileia vastatrix Berk & Br.).
CONTROLE QUÍMICO
A medida de controle químico apesar do número relativamente grande de produtos químicos ofertados bem como as diferentes modalidades de aplicação, deve ser utilizada criteriosamente considerando-se que: o controle químico adiciona custos à produção e implica em riscos relativos à contaminação do ambiente, ao equilíbrio biológico, aos aplicadores (trabalhadores rurais) e aos consumidores. O controle químico exclusivamente preventivo da doença efetuado através da utilização de fungicidas protetores predominando aqueles à base de cobre, não oferece bons resultados se por ocasião das pulverizações já ocorrer a presença visível de manchas de ferrugem nas folhas. Em casos em que ferrugem subir mais cedo ou em que o cafeicultor foi impedido de iniciar as pulverizações de forma preventiva o sistema de controle mais indicado é o misto, ou seja, associando-se os fungicidas protetores aos fungicidas sistêmicos que apresentam ação curativa. Os fungicidas sistêmicos podem ser aplicados através de pulverizações foliares ou através do solo, apresentando-se nesse caso em formulações granuladas associadas ou não a inseticidas cuja conveniência de utilização deve ser julgada com relação à necessidade de controle de pragas do solo. O controle químico através de fungicidas sistêmicos sem associações com produtos à base de cobre deve ser considerado por tratarse de um esquema de controle específico para a ferrugem. Em regiões onde outras doenças ocorram simultaneamente, tais como a cercosporiose ( Cercospora coffeicola Berk. & Cook.) ou mancha aureolada (Pseudomonas syringae pv. garçae), torna-se necessária a utilização de produtos à base de cobre cujo espectro de ação possibilita o controle dessas doenças, além da ferrugem. Conclui-se, portanto, que a ferrugem do cafeeiro, uma vez não controlada ou controlada inadequadamente, constitui-se em um importante fator de redução da produtividade e longevidade dos cafezais. Por outro lado, o sucesso no controle da doença implica no conhecimento das principais características do agente causal, das formas de manifestação da doença e dos principais fatores ambientais e do hospedeiro que condicionam a sua ocor. rência e severidade. Sára Maria Chalfoun, ECOCENTRO/ EPAMIG Agosto de 2001
Fotos Degrande
Algodão
Perigo vem de baixo
O percevejo-castanho Atarsocoris brachiariae e Scaptocoris castanea), a broca-da-raiz (Eutinobothrusbrasiliensis), a lagarta-rosca (Agrotis ou a Spodoptera),e a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) são os principais problemas de pragas associadas ao solo em cultivos de algodão do Brasil
O
s percevejos castanhos da raiz, Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae, são espécies semelhantes que se caracterizam por apresentarem corpo de coloração geral castanha e pernas anteriores escavatórias. Ocorrem predominantemente em solos mais friáveis (arenosos e mistos), tanto nos sistemas de plantio direto como convencional. O ataque dessas pragas ocorre normalmente de forma irregular, podendo variar de reboleiras com poucos metros de diâmetro até vários hectares. Como são de hábitos subterrâneos, tanto ninfas como adultos alimentam-se sugando a seiva das raízes do algodoeiro. Os sintomas variam em função da intensidade e época de ataque, variando de murchamento e amarelecimento das folhas a subdesenvolvimento e secamento das mesmas. Nas últimas safras de algodão, especialmente na Região Centro-Oeste, foram constatadas severas infestações dos percevejos castanhos na cultura, especialmente nos sistemas de plantio direto, provavelmente em 30
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função de maior atenção da assistência técnica para com o problema e pela expansão do algodoeiro para áreas novas, especialmente em áreas de pastagens do cerrado. Informações insuficientes sobre alternativas eficazes para o controle do percevejo castanho, têm levado os cotonicultores a fazerem aplicações preventivas e curativas de inseticidas nas lavouras, sem resultados satisfatórios de controle. O principal obstáculo para o manejo efetivo dessa praga está relacionado com a escassez de estudos sobre sua bioecologia nos diferentes agroecossistemas, o que, provavelmente, explica o insucesso das medidas de controle até então realizadas. Focos da praga já foram encontrados em Rondonópolis-MT, Sapezal-MT, Diamantino-MT, Maracaju-MS, São Gabriel D oeste-MS, Chapadão do Sul-MS, Mineiros-GO e Morrinhos-GO, constituindo-se em problema sério. Apesar de grave e de difícil controle, normalmente o problema é localizado. Mesmo no estado do Mato Grosso, quando ocorrem grandes extensões de www.cultivar.inf.br
Lagarta Elasmo Agosto de 2001
ataque são verdadeiras reboleiras num contexto regional. O histórico da área, as revoadas de adulto e o odor de percevejo quando o solo é revolvido são indicativos da presença do inseto na área, eliminando, muitas vezes, a necessidade de tratamento em área total, pois o controle pode ser feito apenas para áreas infestadas. As revoadas de adultos são mais freqüentes no crepúsculo vespertino, e estes exalam um forte odor de percevejo através de aberturas das glândulas odoríferas; não suportam viver muito tempo fora ou sobre o solo. Adultos foram encontrados no perfil do solo, até a 1,5m de profundidade. Foram encontrados casais em cópula, ninfas jovens, ninfas maiores e adultos sob o solo, indicando não serem surtos de uma única geração os ataques, mas que os insetos se multiplicam naquele habitat. Como o custo de controle é muito elevado e os métodos de combate, até então, pouco satisfatórios, é importante diagnosticar os focos da praga para tomar atitudes localizadas. No passado os inseticidas clorados foram largamente utilizados para o controle do percevejo castanho, e devido à característica de longo poder residual e eficácia desses produtos, a praga era facilmente
Danos causados pela broca-da-raiz ao algodão
controlada. Entretanto, hoje estes produtos têm uso proibido.À luz dos conhecimentos atuais, os melhores resultados de controle são obtidos através das seguintes táticas de controle: 1) plantio antecipado nas áreas mais infestadas, visando coincidir o surto da praga, com plantas mais desenvolvidas; 2) pulverizações de inseticidas no sulco (ou ppi) funcionando como uma barreira química de proteção da raiz; 3) uso de uma boa adubação (N + Ca + P) na base para que as plantas tenham bom desenvolvimento inicial. Como fonte de N, preferir o uso de sulfato de amônio pois se acredita que o enxofre tenha efeito repelente sobre o inseto, o que não está comprovado experimentalmente; 4) aplicação de inseticidas granulados de ação sistêmica no solo, 5) adubações nitrogenadas em cober-
...
... tura visando promover um melhor desen-
volvimento inicial e/ou recuperação das plantas subdesenvolvidas. Em suma, os inseticidas no sulco dariam proteção na zona radicular; os fertilizantes melhorariam o enraizamento, dando maior vigor inicial às plantas e, conseqüentemente, maior capacidade de suporte ao ataque da praga; enquanto os inseticidas granulados atuariam sobre o inseto por efeito sistêmico/ingestão. Os inseticidas granulados exerceriam também ação de contato, pois se movimentam na água do solo devido à solubilidade que têm, já que o inseto também movimenta no perfil do solo em função da umidade. Na época chuvosa
tas áreas, os sintomas aparecem. Além das espécies cultivadas, diversas plantas daninhas, como a corda-de-viola, joá, leiteiro, guanxuma e o milheto-tiguera, têm sido observadas como hospedeiras do percevejo castanho.
BROCA-DA-RAIZ
Atualmente, a ocorrência da broca-daraiz é praticamente desprezível devido aos poucos danos observados. No passado, costumava ser um problema nas primeiras semeaduras de algodoeiro, especialmente em áreas tradicionais de cultivo do algodão e em regiões onde o calendário agrícola era muito longo. Seu ataque manifesta-se prinDegrande
gência das plantas, controla a praga em áreas sem a cultura-armadilha (ou planta-isca) e com histórico da praga. A constatação de adultos em moitas-iscas é uma forma de identificar a presença da praga na área.
LAGARTA-ROSCA
Os ataques da lagarta-rosca Agrotis spp. ou de Spodoptera sp. com o hábito da lagarta-rosca, têm sido menos freqüentes nos últimos anos, mesmo em solos ricos em matéria orgânica, como os de plantio direto e cultivo mínimo, pois essas pragas ficam se alimentando da palhada ou estão nas plantas da cobertura verde que é dessecada para a semeadura do algodão. Um problema que se têm verificado com estas pragas são equívocos de agricultores a campo que pulverizam inseticidas piretróides, carbamatos ou organofosforados na dessecação, antes da semeadura do algodão, para eliminar a lagarta-rosca da área sem certificar-se da real presença de espécies prejudiciais ao algodão. Muitas vezes são lagartas de Mocis latipes ou Pseudaletia spp. que estão na palhada, daí a importância de um bom diagnóstico antes da tomada de decisão de pulverizar.
LAGARTA-ELASMO
Lagarta rosca; um dos principais inimigos da cultura do algodão
sobem nas camadas mais superficiais do solo, e em condições de seca aprofundamse. Mesmo com a adoção destas diferentes táticas, a eficácia de controle não tem sido superior a 50-60%, ratificando a dificuldade de manejo da praga. Dentre as culturas atacadas pelos percevejos castanhos, o milho, o sorgo e a mamona parecem ser as menos prejudicadas, as quais têm sido indicadas como opção para convivência com a praga em áreas de sua ocorrência. Tratamse de culturas de relativamente baixo valor econômico, minimizando possíveis perdas (entretanto, também faltam estudos conclusivos para esta recomendação). O cultivo de algodão em áreas antigas de pastagem merece atenção redobrada, pois face ao baixo valor econômico das gramíneas forrageiras, as medidas de controle do percevejo-castanho não são adotadas, assim, seu danos, muitas vezes, não são percebidos, e quando o algodoeiro é cultivado nes32
Cultivar
cipalmente em reboleiras e mais intensamente nas bordaduras da lavoura. Suas larvas, ao alimentarem-se do sistema radicular causam galerias que promovem murchas nas plantas; quando atacam plantas novas chegam a matá-las. Nos últimos anos o problema com esta praga vem diminuindo, devido à migração da cultura para áreas menos infestadas, de agricultores mais tecnificados, encurtamento do calendário agrícola regional e a melhor destruição de soqueira, em relação às décadas passadas. Os agricultores mais tecnificados normalmente têm um calendário de plantio mais curto e a falta de algodão na entressafra reduz a população da praga. A utilização de culturas-armadilhas e plantas-iscas para o controle da broca-dahaste e do bicudo têm exercido um controle simultâneo e eficaz da broca-da-raiz nas áreas de sua ocorrência. Além disso, a prática do tratamento de sementes associado com duas pulverizações, logo após a emerwww.cultivar.inf.br
A lagarta-elasmo, caracteristicamente, tem sido ocorrente em períodos de estiagem prolongada, como aqueles freqüentemente manifestados nos meses de outubro, novembro e, às vezes, dezembro, como ocorreu na safra 1999/2000 na região CentroOeste. Sob condições de alta infestação, a redução do estande é agravada pela morte de plântulas pela estiagem, obrigando o agricultor a fazer nova semeadura. Trata-se de um inseto cujo controle preventivo não é feito normalmente, uma vez que o tratamento de sementes com inseticidas, em geral, é dirigido para sugadores (tripes e pulgão), e dentre os inseticidas atualmente registrados para tratamento de sementes, apenas carbofuran tem efeito sobre a praga.Pulverizações específicas para o controle da praga devem ser feitas dirigindo-se, o máximo possível, o jato da calda para o colo das plantas. Mesmo nessas condições, o máximo de eficiência de controle obtido experimentalmente não tem sido superior a 5060%, empregando-se clorpirifós, princípio ativo mais utilizado. Chuvas bem distribuídas, durante a fase inicial de desenvolvimento da cultura, praticamente previnem a lavoura da infestação de elasmo. A irrigação, quando possível, pode também constituir um im. portante fator de controle. Paulo E. Degrande, UFMS Crébio J. Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Agosto de 2001
to Agronômico de Campinas (IAC), de nova cultivar de algodoeiro registrado como IAC 23. Seu desempenho, em 25 experimentos do projeto Ensaio Nacional de Variedades de Algodoeiro Herbáceo, realizados na região Centro Sul de cultivo, no ano agrícola 2000/01, é mostrado nas tabelas 1 e 2. Da primeira constam resultados de produção e da segunda dados referentes ao comportamento diante de doenças, expressos em índices relativos à testemunha resistente, cujo valor é 1. Tanto para as doenças individualmente, como para a resistência múltipla e o coeficiente de segurança, quanto maior o índice, mais resistente se mostra a cultivar. Nas duas tabelas a IAC 23 é confrontada com quatro cultivares que se encontram entre as mais plantadas atualmente na região meridional de cultivo no Brasil (os detalhes desses experimentos serão divulgados em publicações e eventos científicos e se encontram disponíveis no IAC).
IAC-23 apresenta apresenta IAC-23 melhor desempenho, desempenho, melhor resistência ee resistência produtividade na na produtividade lavoura lavoura
Nova variedade O
termo árduo , no título da matéria, tem conotação científica e referese às dificuldades de natureza genética que os melhoristas enfrentam para reunir, em uma única cultivar de algodoeiro, resistência às diversas doenças que ocorrem em nosso meio. Na verdade, se o que está em debate é uma cotonicultura sustentável e competitiva no Brasil, seria mais apropriado falar-se do imprescindível caminho para conferir, às cultivares oferecidas aos produtores, resistência múltipla, pelo menos, aos patógenos mais destrutivos aqui presentes. De fato, doenças podem constituir fator limitante nessa atividade e cultivares suscetíveis a elas são, comprovadamente, causas de instabilidade produtiva e prejuízo ou decréscimo nos lucros. E o problema não se restringe a surtos e perdas 34
Cultivar
eventuais. Estende-se, gerando, em médio prazo, um processo acumulativo do qual decorrem: a) dispersão e agravamento das doenças, devido ao aumento do potencial de inóculo; b) desequilíbrio biológico e surgimento de variantes de patógenos e de raças de pragas vetores em decorrência do uso, tornado obrigatório com as cultivares suscetíveis, de pesticidas antes dispensáveis; c) aumento inevitável dos riscos e dos custos de produção. Felizmente para a cotonicultura nacional as entidades, quer públicas quer privadas, que realizam melhoramento genético dessa planta no País, vêm demonstrando consciência desse problema e cuidando para que as cultivares postas à disposição dos agricultores sejam o menos vulnerável possível a essas adversidades. Essas considerações vêm a propósito do lançamento, pelo Instituwww.cultivar.inf.br
RESISTÊNCIA E PRODUTIVIDADE
Os dados contidos nas tabelas são auto-explicativos. Vale ressaltar, contudo, que embora se destaque em condições adversas (doenças), a nova cultivar não é adaptada apenas a essas situações, mostrando-se responsiva, também, a condições de alta produtividade (no melhor experimento foi a vencedora, com 317 @/ ha). Com respeito a doenças, além das apontadas, a IAC 23 é moderadamente resistente à doença azul , murchamento avermelhado e Alternaria e moderadamente suscetível a Ramularia. Mostrou-se, porém, suscetível a Stemphylium. Com relação à fibra, apresenta qualidade equivalente ou levemente superior à da cultivar CNPA ITA 90. Comparativamente a essa cultivar, mostrou, nos mencionados experimentos, comprimento 26,9 (contra 26,5); uniformidade 47,0 (contra 45,9); fibras curtas 8,3 (contra 9,9); tenacidade 27,9 (contra 27,8) e micronaire 4,2 (contra 4,1).
MANEJO ADEQUADO
Apontadas o que se julga serem virtudes, é necessário, a bem da verdade, fazê-lo também para o que é ou pode constituir defeito da nova
Cultivar IAC - 23 (esq.) ao lado da cultivar atacada pela ramulose
Agosto de 2001
Agosto de 2001
Fotos IAC
Algodão
Cultivar IAC-23 (dir.) ao lado de cultivar atacada por nematóides
cultivar. Assim, suas plantas são do tipo tradicional, altas, com tendência para emitir galhos vegetativos de comprimento médio, quando isoladas. Com isso torna-se essencial manter uma população e um manejo adequados, sobretudo com reguladores de crescimento, para adaptá-la à colheita mecânica. Idêntico cuidado se exige pelo fato de seus frutos grandes predisporem-na ao acamamento, principalmente em condições de alta produtividade e em sistemas de plantio que não proporcionem bom desenvolvimento radicular. Por último, o rendimento no beneficiamento, inferior ao de outras cultivares disponíveis, pode torná-la desinteressante para o maquinista/ comerciante tradicional. Embora apontado antes, é conveniente, ainda, ressaltar sua suscetibilidade a Stemphylium. Por fim, é útil salientar que, pelo comportamento em face de doenças e por não apresentar grandes exigências nutricionais, essa cultivar pode proporcionar resultados satisfatórios com custos de produção entre 700 e 800 dólares/ha, excluído o beneficiamento. Essas duas perspectivas, a de conter a ameaça crescente das doenças e a de manter custos de prowww.cultivar.inf.br
Tab. 01. Resultados de produção (@/ha) obtidos em 25 experimentos.
Variedades em cultivo (4) IAC 23 Produção média Condições favoráveis Condições adversas Porcentagem de fibra Produção de fibra
187 273 160 40,0 75
Média
Melhor delas
159 220 110 41,7 65
168 233 119 42,4 71
Tab. 02. Resistência a doenças (índices relativos*).
Variedades em cultivo (4) Mancha Angular Murcha de Fusarium Nematóides Ramulose Resistência Múltipla Índice de Segurança
IAC 23
Média
Melhor delas
0,91 1,25 0,96 1,00 1,02 0,93
0,86 0,43 0,52 0,56 0,54 0,23
1,09 0,89 0,73 0,63 0,82 0,52
Testemunha resistente = 1
dução competitivos, foram os fatores determinantes do lançamento . dessa cultivar. Milton Geraldo Fuzatto e Edivaldo Cia Instituto Agronômico (IAC) Cultivar
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Fotos Portella
Secagem de grãos
GLP é nova fonte de energia para secadores de leito fixo; ideal para pequenas propriedades
Gás na secagem A
secagem, processo físico de remoção da umidade de grãos, representa entre 10 e 15 % da energia total da etapa de pós-colheita. Estima-se que cerca de 20 % do total de grãos produzidos no Brasil são perdidos na colheita, no transporte e no armazenamento (Brasil, 1993). A secagem estacionária de grãos tem sido mais usada, em termos de pequena ou média propriedade, quando a finalidade é a produção de grãos (Carvalho, 1994). No tipo de secagem com secador de leito fixo, o material é colocado em uma câmara de secagem, onde ar aquecido por uma fonte energética passa pela massa de grãos, por meio de fundo falso formado por uma tela perfurada. Esse sistema é simples, de baixo custo e compatível com a faixa de investimento de expressivo número de produtores. Procurando atender a essa demanda, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o desempenho de secadores de leito fixo, adequados para a pequena propriedade rural, usando GLP (gás liquefeito de petróleo) como fonte energética. Trigo e milho cultivados na área experimental da Embrapa Trigo foram colhidos com três percentuais de teor de umidade de grãos 30, 20 e 15 % para trigo e 35, 25 e 18 % b.u. (base úmida), para milho, e secos em secador experimental de leito fixo. Para cada umidade de grãos foram usados três níveis de temperatura do ar de secagem (40, 70 e 100 0C), tota36
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lizando nove combinações de tratamentos experimentais para cada cultura. O secador experimental da marca Bergazzi, é constituído de uma câmara de secagem de 2,0 m de largura, 2,5 m de comprimento e 0,6 m de altura, com câmara de ar ( plenum ) de 0,5 m, situada na parte inferior, por onde flui o ar de secagem, acima da qual colocou-se uma tela perfurada de malha 2 mm x 2 mm, onde os grãos são depositados. O ar de secagem foi aquecido por queimador de gás da marca Stecri, abastecido via linha de distribuição ligada a um conjunto de reservatórios (três unidades P-190) de GLP AgipLiquigás, instalado próximo ao secador. A temperatura foi monitorada por meio de termopares ligados a um registrador de temperatura com painel digital, de 10 canais. O consumo de GLP foi determinado por medidor de vazão apropriado, com leituras registradas no início e no fim de cada período de secagem. Para cada teste, determinou-se o teor de umidade inicial, e a cada hora de secagem realizou-se nova leitura em oito pontos do secador. O fluxo médio do ar de secagem foi medido durante todos os testes, por meio de anemômetro de palhetas (Figura 4). O rendimento do secador foi estimado pela seguinte fórmula: Rendimento (%) = (Te Ts) / (Te Ta) x 100, onde: Ta = temperatura do ar ambienwww.cultivar.inf.br
15 m3min-1m-2. Segundo Biagi et al. (1992), a passagem do ar no material granuloso tornase possível porque o grão de milho não é produto compacto, cujo coeficiente de porosidade situa-se entre 40 e 45 %. Na secagem de grãos de milho, em termos médios, pode-se dizer que, à medida que aumentou a temperatura do ar de secagem, aumentou o rendimento do secador (83 % a 40 0C; 89 % a 70 0C; e 91 % a 100 0C). Também observou-se que o grão com teor de umidade de 25 %, em termos médios, determinou a menor performance do secador: 84 % de rendimento (89 % de rendimento com 35 % de umidade e 90 % de rendimento com 18 % de umidade). Para grãos de trigo o comportamento foi semelhante em relação à temperatura do ar de secagem. O rendimento do secador foi de 82 % a 40 0C, de 81 % a 70 0C e de 86 % a 100 0 C. Entretanto, inversamente ao que ocorreu em milho, os grãos de trigo com teor de umidade de 20 %, em termos médios, determinaram a melhor performance do secador: 90 % de rendimento (83 % de rendimento com 30 % de umidade e 76 % com 15 % de umidade).
CONSUMO DE GLP
Na Tabela 1, observa-se o desempenho do secador de leito fixo segundo o teor de umidade da massa de grãos de milho e o nível de temperatura de secagem. O consumo médio te; Te = temperatura do ar quente na entrada da câmara de secagem; e Ts = temperatura do ar na saída do secador. A temperatura (ambiente, dos grãos e do leito de secagem), a umidade dos grãos e o fluxo médio de ar foram determinados em intervalos de uma hora.
Para secagens a 40 °C o custo foi de R$ 1,38 por ponto percentual de umidade e R$ 1,20 por ponto percentual de umidade quando se aplicou o nível de 100 °C.
CONCLUSÕES
Para as condições do presente trabalho, pode-se concluir que: o rendimento do secador aumentou proporcionalmente ao aumento da temperatura de secagem; o consumo médio de GLP por hora aumentou segundo a temperatura do ar de secagem, independentemente da umidade inicial dos grãos; para milho, o menor custo em R$ por ponto percentual de umidade retirada foi registrado com a temperatura de 40 °C de secagem, enquanto, para trigo, o menor custo foi registrado com a temperatura de secagem a 70 °C; para milho, a secagem à temperatura de 40 °C, levando-se em conta a eficiência energética, foi 17 % mais econômica que a secagem a 70 °C, enquanto, para trigo, a secagem à temperatura de 70 °C, levando-se em conta a eficiência energética, foi 16 % mais econômica que a secagem a 40 °C. . José Antonio Portella, Embrapa Trigo Ricardo Ramos Martins, Emater
Tabela 1. Consumo horário de GLP para secar uma tonelada de milho em secador de leito fixo para três percentuais de teor de umidade inicial (35, 25 e 18 %) e três níveis de temperatura do ar de secagem (40, 70 e 100 0C)
Parâmetro de Secagem
TEOR DE UMIDADE DA MASSA DE GRÃOS
O teor de umidade dos grãos determinou a velocidade de secagem. Também definiu a quantidade de peso que foi deduzida da massa por conta da água retirada dos grãos. Foi observado que a retirada de umidade dos grãos foi mais intensa nas primeiras horas de secagem e proporcional à temperatura de secagem. Para os dois tratamentos de teor de umidade mais elevados, as primeiras duas horas de secagem, em cada teste realizado, apresentaram rápida retirada de água. O trigo apresentou, em média, retirada de água de 0,96, 1,72 e 2,27 pontos percentuais por hora. Em termos médios, para milho a retirada de umidade foi de 1,54, 2,13 e 3,72 pontos percentuais por hora, para os níveis de temperatura de secagem de 40, 70 e 100 0C, respectivamente.
Custo Pontos % de Consumo Total Consumo de kg de GLP / * R$/ponto % GLP/h % Umidade Umidade/h de GLP (kg) Umidade
35 % de Umidade
40 0C 70 0C 100 0C
1,62 2,69 3,38
17,7 15,1 13,6
1,48 2,54 3,43
0,92 0,94 1,02
1,01 1,04 1,12
25 % de Umidade
40 0C 70 0C 100 0C
1,75 2,07 4,13
10,4 12,9 12,2
1,50 2,59 4,10
0,85 1,25 0,99
0,94 1,38 1,09
18 % de Umidade
40 0C 70 0C 100 0C
1,25 1,62 3,65
6,0 8,9 10,1
1,22 2,24 4,08
0,98 1,39 1,12
1,08 1,53 1,24
Custo GLP = R$ 1,10/kg.
Tabela 2. Consumo horário de GLP para secar uma tonelada de trigo em secador de leito fixo para três percentuais de teor de umidade inicial (30, 20 e 15 %) e três níveis de temperatura do ar de secagem (40, 70 e 100 0C)
Parâmetro de Secagem
TEMPERATURA DO AR X RENDIMENTO
O secador de leito fixo agora pode ter como fonte de energia o gás liquefeito de petróleo
A secagem de grãos por aquecimento foi obtida por convecção forçada de ar quente através da massa de grãos mais ou menos espessa. O fluxo médio do ar de secagem foi de Agosto de 2001
de GLP por hora aumentou conforme a temperatura de secagem, independente da umidade inicial da massa de grãos. Para temperatura de secagem de 40 0C, a taxa de conversão foi de 1,09 ponto percentual de umidade para cada quilograma de GLP consumido; à temperatura de 70 0C, essa taxa é de 0,86 ponto, enquanto, na secagem a 100 0 C, a taxa de conversão é de 0,96 ponto por quilograma de GLP. Neste modelo de secador de leito fixo o menor custo médio para secagem correspondeu a R$ 1,01 por ponto percentual de umidade, obtido com secagens a 40 °C. Para secagens a 70 °C o custo foi de R$ 1,32 por ponto percentual de umidade e R$ 1,15 por ponto percentual de umidade quando se aplicou o nível de 100 °C. Na Tabela 2, observa-se o desempenho do secador de leito fixo para a cultura de trigo. O consumo médio de GLP por hora aumentou conforme a temperatura de secagem, independente da umidade inicial da massa de grãos. Para temperatura de secagem de 40 0C, a taxa de conversão foi de 0,80 ponto percentual de umidade para cada quilograma de GLP consumido; à temperatura de 70 0C, essa taxa é de 0,95 ponto, enquanto, na secagem a 100 0C, a taxa de conversão é de 0,92 ponto por kg de GLP. O menor custo médio de secagem correspondeu a R$ 1,16 por ponto percentual de umidade, obtido com secagens a 70 °C.
30 % de Umidade
40 0C 70 0C 100 0C
20 % de Umidade 15 % de Umidade
Custo Pontos % de Consumo Total Consumo de kg de GLP / * R$/ponto % GLP/h % Umidade Umidade/h de GLP (kg) Umidade 0,94 1,86 2,12
13,0 13,8 14,9
1,16 1,97 2,86
1,23 1,06 1,35
1,23 1,06 1,35
40 0C 70 0C 100 0C
0,83 1,62 2,49
8,0 8,5 7,7
1,07 1,70 2,20
1,29 1,05 0,88
1,29 1,05 0,88
40 0C 70 0C 100 0C
0,71 1,68 2,20
4,9 4,4 5,8
0,89 1,76 2,32
1,25 1,05 1,05
1,25 1,05 1,05
* Custo GLP = R$ 1,10/kg.
Agosto de 2001
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Cultivar
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Biotecnologia
Vacinação de plantas Molécula GL32 é capaz de ativar a defesa das plantas contra diversas doenças. A vacina deverá ser comercializada pela empresa francesa Goëmar, na safra de 2003, na Europa
D
entro de pouco tempo será possível vacinar as plantas, ativar suas defesas contra diversas doenças. A empresa francesa Goëmar anunciou que deverá comercializar já na safra de 2003, na Europa, uma vacina para as plantas, uma molécula que chamam de GL32, ainda sem nome comercial. Ela é encontrada nas algas escuras, capaz de ativar as defesas naturais da planta. O princípio é simples: a aplicação externa desse agente natural ativa a produção de antibióticos vegetais, de proteínas de defesas destinadas a multiplicar a resistência das paredes vegetais. Essas reações ocorrem sem a presença de patógenos e a planta se torna vacinada, capaz de responder em caso de ataque. Testes sobre a atividade biológica da vacina demonstraram a eficácia de pulverizações foliares em culturas anuais e perenes, como trigo, cevada, arroz, batatas, uvas e maçãs. Os testes demonstram que uma dose de 40g/ha é suficiente no caso do trigo. Além dessa quantidade, a eficácia da proteção diminui. O princípio da vacinação das culturas implica ação preventiva, com uma aplicação antes da presença de doenças protegendo a planta por até 6 ou 8 semanas. 38
Cultivar
Segundo os pesquisadores da empresa, a vacina constituirá uma nova alternativa para a agricultura em relação ao ambiente. O GL32 é uma molécula totalmente biodegradável, sem impacto sobre o ambiente e o aplicador. Introduzida num programa organizado, poderá reduzir o uso de fungicidas sintéticos com os mesmos efeitos em relação à proteção das plantas.
O QUE SÃO ELICITORES?
Elicitores bióticos, de acordo com o professor Marcelo Marachin, do Depar-
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tamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Catarina, são compostos que induzem respostas de defesa em células vegetais contra infecções microbianas, em particular a produção de fitoalexinas, ou ainda induzem aumentos no nível de fitoanticipinas construtivas. Fitoalexinas, por sua vez, são compostos com atividade antibiótica, de baixo peso molecular, formados e acumulados em células vegetais em resposta à infecções por microrganismos. Elicitores de natureza abiótica também têm sido usados nesse contexto. Este princípio tem sido aplicado em estudos de biossíntese de fitoalexinas, como também para aumentar a produtividade de metabólitos secundários em cultivos celulares vegetais. Marcelo, no estudo Engenharia do Metabolismo Secundário , informa que em geral a elicitação de uma cultura celular resulta na síntese de novo de compostos, algumas vezes não encontrados na planta intacta, ou no aumento da produção de metabólitos secundários nos . cultivos in vitro. Agosto de 2001
Agronegócios d. a agricultura orgânica ganha espaço junto aos consumidores, gerando a abertura de um mercado diferenciado junto aos países ricos; e. como parte do esforço global de combate à fome, cresce a demanda por técnicas de produção ajustadas à agricultura familiar e ao auto consumo; f. a biotecnologia e a agricultura de precisão dominarão o cenário da produção agrícola em larga escala, tornando competitivos os produtores que se utilizarem dessas tecnologias.
Oferta e demanda mundial de alimentos:
um cenário
O Brasil é um dos poucos países que podem mudar o cenário da oferta de alimentos em curto prazo
À
guisa de tributo ao grande empresário comandante Rolim Amaro, vale lembrar que decorreram menos de 40 anos entre o tempo em que ele trabalhava como flanelinha de avionetas e seu passamento já como um dos maiores empresários nacionais, provavelmente o de maior intuição, visão estratégica, ambição sadia e capacidade empreendedora. Permitisse o destino e a TAM seria uma das maiores empresas de aviação do mundo, já na próxima década. Mantidas as proporções, foi o mesmo tempo requerido para que a Alemanha e o Japão sacudissem os escombros da guerra ressurgindo como motores da economia mundial. Ou para Taiwan, Coréia e Singapura despontarem como ícones high tech. Nesse mesmo período duas gerações de brasileiros ouviram ad nauseam que o Brasil é o país do futuro, o celeiro do mundo. Deus foi generoso conosco, porém profecias auto-realizáveis ocorrem apenas com pesadelos, nunca com sonhos. A permanecer deitado eternamente em berço esplêndido jamais realizaremos nosso potencial de líder mundial dos agronegócios. 40
Cultivar
AÇÃO PRÓ-ATIVA
Novo milênio, vida nova, talvez seja a hora de resgatar velhos sonhos. E um bom ponto de partida pode ser uma participação maciça na Conferência 2020 Vision Sustainable Food Security for all in 2020 , patrocinada pelo IFPRI, um instituto de pesquisa do grupo CGIAR dedicado a identificar e analisar políticas sustentáveis para atender as necessidades mundiais de alimentos. A Conferência será realizada em Bonn (Alemanha) e sua agenda é feita sob medida para mexer com corações e mentes de lideranças públicas e privadas, tamanha a amplitude das propostas sociais e econômicas a serem discutidas. Na Comissão Organizadora e na Direção do Evento abundam presidentes, ministros, senadores e outras altas autoridades. No primeiro dia as apresentações propõem as seguintes reflexões: Insegurança alimentar, por que não resolvemos o problema? Quão comprometidos estamos com o fim da fome no mundo? Sucessos e Fracassos dos Objetivos Prowww.cultivar.inf.br
postos pelo Encontro Mundial sobre Alimentação; 800 milhões ainda passam fome: por que fizemos um progresso tão canhestro? É o momento de o Ministro Pratini de Moraes, a CNA, a SRB e as ONGs formarem uma sólida delegação brasileira para participar da formulação das políticas mundiais de combate à fome, e posicionar o Brasil no rumo de ser o efetivo celeiro do mundo, apesar da punica fides primeiro mundista. Alguém pode relembrar que fome não é mercado, e efetivamente não o é de per se. Entretanto, para os países ricos, a bomba subnutrônica é uma ameaça maior que a bomba atômica. Esses países possuem rígidas normas de imigração, privilegiando cérebros e empresários, refugando famintos e desabilitados. Ou se resolve o problema da fome crônica nos países periféricos, ou famintos de todos os cantos continuarão a arriscar tudo para ingressar nas fronteiras dos países de mesa farta, detonando suas políticas sociais, de emprego, de previdência, de segurança. Pragmaticamente, será mais barato investir na redução da fome nos locais onde ela existe, que lutar contra imigrantes ilegais dentro das próprias fronteiras.
VARIÁVEIS DIRETRIZES
Para encaminhar a análise do problema, primeiramente é importante enfocar o se-
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O TAMANHO DO DESAFIO
qüestro de cérebros por parte dos países ricos, através da oferta de remuneração adequada e condições de trabalho que permitem expressar o seu potencial criativo. Além de possuir os maiores índices de investimento em educação, ciência e tecnologia, esses países investem na atração de cientistas privilegiados para continuar detendo a primazia tecnológica no mundo. Conseqüentemente, as novas oportunidades sempre estarão mais próximas de quem vem investindo ativamente para adequar-se a qualquer novo cenário. Até o momento, o Brasil tem se mostrado insensível para a questão, o que desestimula os cientistas e impede que o país se beneficie de todo o seu potencial intelectual. A importância do domínio tecnológico fica caracterizada nas demais constatações: a. a ciência tem gerado um fluxo contínuo de novas informações nutricionais, em especial relativas à nutrição infantil, quebrando paradigmas e redirecionando as políticas públicas para o seu combate; b. o declínio dos preços das comodities agrícolas tem exigido novas técnicas de produção que reduzam custos e agreguem valor aos produtos, ao tempo em que abrem renovadas perspectivas para os países que possuem reserva de área para expansão horizontal; c. as negociações na OMC, e mesmo as bi-laterais, tenderão a suavizar os subsídios agrícolas dos países ricos, abrindo novas oportunidades comerciais para países que se encontravam sufocados pelo protecionismo primeiro mundista;
Agosto de 2001
É hora de pensar como Sílvio Santos e investir nos pobres, por vezes sem emprego e quase sem renda que, entretanto, compram tudo o que o comunicador põe à venda. Quando ofereceu computadores a preços equivalentes à concorrência, seu plano de negócios teve que ser redimensionado a maior, tamanha a procura. Da mesma forma, quem hoje tem fome e não tem renda, não está condenado ad aeternum ao inferno em vida. É interessante dissecar os números da indignidade famélica à cata de oportunidades, investindo nos pobres quando todos pensam apenas em vender para os ricos. De acordo com estudiosos, os países em desenvolvimento serão responsáveis por 85% do acréscimo da demanda até 2020. O consumo de cereais salta de 1.800 milhões de toneladas, em 2000, para 2.466 milhões em 2020. Apenas o acréscimo equivale a 6,6 vezes a próxima safra brasileira de grãos. Em relação às carnes, a demanda cresce de 198 para 313 milhões de toneladas. Neste último caso, o consumo de carne cresceu três vezes mais nos países pobres em relação aos ricos de 1970 até hoje, e dobrará até 2020 nos países pobres, sendo parcialmente responsável pelo aumento na demanda de cereais. Estima-se que a produção de milho será maior que a de arroz ou trigo em 2020, em virtude da demanda por ração animal. Embora a produção deva crescer especialmente nos países sub-desenvolvidos, a estimativa é que esses países deverão importar quase 200 milhões de toneladas, em 2020. A incredulidade com a capacidade brasileira de realizar o seu potencial é tamanha que os formuladores de estratégias de longo prazo arriscam que 60% das exportações serão efetuadas pelos EUA. Os demais 40% viriam preponderantemente do Leste Europeu e de países da ex-URSS, além da Europa e Austrália. Por conta dessa previsão de produção em países que não detêm as condições edafo-climáticas do Brasil, prevê-se crescimento lento da prowww.cultivar.inf.br
dutividade e uma desaceleração na queda de preços, comparativamente ao período 1980-2000. O cenário projetado prevê aumento de 9% no consumo per cápita de calorias, que atingiria 2800 kcal diárias no mundo subdesenvolvido. Prevê também uma redução de 15% na desnutrição infantil, que ainda afetaria 115 milhões de crianças com menos de cinco anos em 2020. Os bolsões persistentes de pobreza e fome estariam concentrados no Sul da Ásia e na África SubSaara, onde também se concentra outra indignidade humana representada pelas doenças tropicais e pela AIDS endêmica, que atinge percentuais elevados da população.
MUDANDO O CENÁRIO
Sem qualquer viés nacionalista, o Brasil é um dos raros países que podem mudar o cenário da oferta de alimentos no curto prazo, melhorando significativamente o cenário descrito acima. Estive recentemente tanto na Europa Ocidental quanto no Leste Europeu. Cada qual tem suas mazelas, o primeiro viciado em subsídios, o segundo destroçado pelo malfadado exParticipação percentual de países e regiões selecionadas, no aumento da demanda por cereais e carne até 2020
China Índia Restante da Ásia América Latina África Sub Saara Oeste Asiático e Norte da África Países desenvolvidos
Cereais 24,9 12,6 14,2 11,7 10,6 10,1 15,9
Carnes 40,5 4,3 12,8 16,4 5 5,6 15,4
Fonte: IFPRI - IMPACT
perimento comunista, enxergando nos subsídios europeus sua saída para o futuro. A Austrália é um enorme semi-árido, com pesados custos de produção, e os EUA estão chegando no seu limite territorial de expansão da área cultivada. Para o Brasil, produzir escassos 200 milhões de toneladas de grãos e 120 milhões de toneladas de carnes significaria incorporar 40% da área disponível apenas nos Cerrados do País. Para tanto, é necessário ter visão de futuro, capacidade empreendedora, investindo na geração de tecnologia própria, na assistência técnica, na infra-estrutura e em um sistema de sanidade agropecuária à prova de qualquer barreira que venha a ser contraposta por concorrentes que não detenham nossas condições naturais de com. petitividade. Décio Luiz Gazzoni, Embrapa Soja Cultivar
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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting
Supersafra e oferta e demanda apertada O mercado brasileiro está colhendo a maior safra de milho de sua história com números que variam das 40 até acima de 41 milhões de Toneladas, contra os melhores momentos que se chegou a 36 milhões de T. Agora com recorde histórico de safra, poderemos enfrentar um quadro de abastecimento apertado, já que as exportações contratadas neste ano começam a ser comentadas em mais de 3,5 milhões de T, e assim se confirmado este número, teríamos livre para o mercado interno entre 36,5 e 37,5 milhões de T. Mas se levarmos em consideração que o consumo está crescendo e poderá chegar a marca das 38 milhões de T, ou seja, mesmo com a supersafra teremos que ir aos estoques do governo para completar o quadro. O governo conta com 1,8 milhões de T, e assim fecharia o abastecimento, mas teríamos poucos estoques finais. Enquanto isso estamos andando em cima da colheita da safrinha e pouco movimento de compra e poucos vendedores em atividade.
Oferta e demanda brasileira do milho (mil T) Safra
Estoques
Produção Importação
00/01* 99/00
1.642 1.542
40.500 32.800
600 1.600
Oferta
Exportação
42.742 35.942
3500 -
Avicultura
Consumo
Estoque
12.300 10.800
41.650 34.300
1.092 1.642
Fonte: Brandalizze Consulting
MILHO Colhendo a safrinha e fraca presença dos consumidores
O mercado do milho vem mostrando a colheita da safrinha em andamento e fraca presença dos compradores internos, que não querem bancar os indicativos praticados pelos exportadores, que em julho conseguiram mais de R$ 11,00 por saca junto ao interior dos estados do Sul e chegou a pagar os R$ 8,00 para bons lotes no Mato Grosso. Enquanto isso os compradores internos andavam apontando até R$ 2,00 abaixo. Os negócios com o milho interno devem começar a andar melhor neste mês de agosto em diante.
SOJA
vos estabilizados e até queda nas posições em queda no Rio Grande do Sul, e leve avanço no Mato Grosso, onde o sequeiro esteve escasso. Agora em agosto deveremos ver crescer as reposições de varejo e assim aumento dos volumes negociados. Com chances de termos pressão de alta nos indicativo na segunda quinzena do mês, quando a indústria tiver que ir às compras do casca para recompor os estoques. Para quem tem arroz este não é um bom mês para vender.
FEIJÃO Mantém-se firme e aumenta demanda em agosto
O mercado do feijão esteve com pouca movimentação em julho, manteve os
ganhos de junho, mas pouco negociou. A demanda de julho normalmente é fraca, mas já se espera grande avanço na procura em agosto, com a volta das férias a entrada efetiva no segundo semestre deverá trazer os consumidores do feijão de volta. Outro ponto importante continua sendo os altos preços das carnes que dão ao feijão mais espaço para crescer. Poderemos ter pressão de alta neste mês. A seca continua prejudicando a safra do Nordeste e deveremos ter um final de ano bastante apertado para o feijão. As primeiras lavouras da safra nova começarão a ser plantadas agora em agosto, e certamente devem dar bom retorno econômico aos produtores.
Clima nos EUA beneficia nova safra do Brasil
O mercado interno da soja andou negociando grandes volumes de soja no mês de julho, onde boa parte dos produtores liquidou o que tinha segurado com cotações bastante vantajosas. Tivemos o dólar favorecendo com posições de até R$ 2,60 e também o clima desfavorável às lavouras nos EUA, onde fortaleceu os indicativos que passaram da marca dos US$ 5,26 por bushel, que é o preço minimo de garantia para os produtores locais. Assim por alguns momentos os produtores americanos não necessitaram de subsídios. Assim se espera que com os novos números da safra americana vindo abaixo das 80 milhões de T poderemos ter cotações médias melhores para a soja que resta.
ARROZ Volta do consumo em agosto
O mercado do arroz que passou o mês de julho em marcha lenta, com indicati-
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Cultivar
CURTAS E BOAS TRIGO - a safra tem mostrado boas condições e os indicativos de safra seguem apontando para as 2,8 as 3 milhões de T. Mesmo com grande avanço na produção, as cotações previstas para este ano são compensadoras. O dólar em alta complica a vida dos moinhos que tem que importar cerca de 7 milhões de T. ALGODÃO - o governo comemora a grande safra colhida neste ano, com quase 1,5 milhões de T contra 1,2 milhões da safra passada. O dólar em alta também favoreceu a vida dos exportadores, e vem dificultando as importações. ESTOQUES - em julho os estoques oficiais de milho cresceram para as 1,9 milhões de T enquanto o arroz recuou para 2, 1 milhões. SOJA - a safra nova deverá crescer entre 1,5 e 1,7 milhões de hectares, passando para mais de 15 milhões de ha a serem plantados no Brasil. Com isso deveremos passar a marca das 40 milhões de T, nossos primeiros números apontam para 40,5 milhões de T. MILHO - os produtores continuam olhando com cautela para o novo plantio, e apontam redução da área em favor da soja, com isso poderemos ver queda de 1 milhão de ha no novo plantio. Podendo ser um bom fator para se plantar.
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