Cultivar 33

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Ano III - Nº 33 - Outubro / 2001 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 58,00

Sarna no feijão Pesquisadores descobrem o agente causal dessa terrível doença que ataca o feijoeiro

(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 6,00

Mais nutrientes

Diretor:

Newton Peter Editor geral:

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Schubert Peter

Molibdênio e Cobalto são nutrientes fundamentais para que uma planta se torne sadia

Reportagens especiais

Pablo Rodrigues João Pedro Lobo da Costa Design Gráfico e Diagramação:

Fabiane Rittmann

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Marketing:

De olho nos nematóides

Neri Ferreira Apoio de Arte:

Com o auxílio do espectroradiômetro é possível detectar e mapear áreas infestadas com fitonematóides

Christian P. Costa Antunes Circulação:

Edson Luiz Krause Assinaturas:

Raquel Jardim Simone Lopes Ilustrações:

Nutrição no algodão

Rafael Sica Editoração Eletrônica:

Index Produções Gráficas

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Fotolitos e Impressão:

O nitrogênio, quando aplicado no momento e na dosagem correta, traz mais rentabilidade à lavoura

Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES:

(53)

GERAL / ASSINATURAS: 272.2128 REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716 MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314 FAX: 272.1966

SUCURSAIS

Bahia

José Claudio Oliveira

Rua Joana Angélica, 305 47800-000 / Barreiras Tel.: (77) 612.2509 ou 9971.1254

Goiânia

Rosivaldo Illipronti Jr.

Caixa Postal 12.821 CEP. 74.675-830 E-mail: revistacultivar@terra.com.br

Ceres Empresa Jornalística

índice Diretas Sarna do feijoeiro: identidade revelada Giberela ataca o trigo Molibdênio e Cobalto na soja Nova cultivar de soja Tecnologia para o controle de nematóides Adubação nitrogenada beneficia o algodão Coluna da Aenda Controle do tombamento do algodoeiro Transferência de tecnologia no algodão Algodão transgênico no Brasil? China e Austrália aprovam algodão OGM Aflatoxina no amendoim Agronegócios Mercado agrícola

Nossa capa 04 06 10 12 15 16 18 22 23 27 28 29 30 32 34

Foto Capa Jefferson Costa / Embrapa Arroz e Feijão Identificado o agente causador da sarna do feijoeiro: colletotrichum dematium f. truncata


diretas Compra

Terror ecológico

Ecologistas extremistas franceses, que costumam destruir plantações de variedades transgênicas se deram mal ao atacar uma área de pesquisa de milho na região de Drome. O milho destruído é capaz de produzir uma lípase gástrica para tratar de pancreatite e distúrbios digestivos que atingem crianças portadoras de mucoviscidose, que raramente ultrapassam os 12 anos de idade. Desta vez o grupo de Jose Bové passou a ser criticado em todo o país. A França está adiantada também na pesquisa de tabaco produtor de colágeno, substância usada no tratamento da pele, especialmente em grandes queimaduras.

Aconteceu, afinal, o que se esperava há dois anos: a Camil Holding LLC assumiu o controle da gaúcha Josapar (Joaquim Oliveira SA Participações), tornando-se uma gigante dona de quase 20% do mercado nacional de arroz. Camil beneficia anualmente 520 mil sacas de arroz com casca e a Josapar 440 mil. No ano passado a Josapar inaugurou uma nova indústria, ao custo de R$ 76,7 milhões, capaz de beneficiar 71 toneladas por hora. Não se revelou o montante da operação.

Tabela de nutrientes

A Embrapa Hortaliças lançou a primeira tabela nacional a reunir informações sobre a composição nutricional das hortaliças. A tabela apresenta os dados para as várias partes das hortaliças, nas diversas formas em que podem ser consumidas (cruas, cozidas, sem casca, com casca, inteiras ou frescas). São 53 espécies reunidas, desde a abóbora até a vagem, tomando por base de cálculo a quantidade de 100 g do alimento. A tabela custa R$ 2,50 e pode ser adquirida pelo telefone: (61) 385 9110 ou pelo e-mail: sac.hortalicas@embrapa.br

Justiça

A Bayer France contestou na justiça e requer indenização por perdas e danos a alegação dos apicultores franceses de que seu produto indicado para tratamento de sementes, o imidaclopride, estaria afetando as abelhas. Embora tenham sido encontrados traços residuais do produto no solo, não foi estabelecida relação de causa e efeito entre a molécula e os problemas das abelhas.

Híbridos de milho

A Embrapa Milho e Sorgo está lançando quatro cultivares de milho no mercado. Os lançamentos fazem parte do programa de melhoramento genético da empresa. Os híbridos BRS 1001, BRS 2223, BRS 3143 e BRS 3151 são adaptados às mesmas regiões: Centro-Oeste e Sudeste, norte do Paraná, Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins.

Marketing Agripec

Marcelo Gardel 04

Cultivar

Marcelo Gardel, gerente do departamento de Marketing e Negócios da Agripec, disse que a empresa tem como prioridade a satisfação de seus clientes através da qualidade posta em todos os produtos que a eles oferece. Marcelo, que já passou por diversas empresas do ramo, foi contratado pela Agripec em outubro de 2000 para estruturar o departamento de Marketing e Negócios, trabalhando ao lado de Nivaldo Carlucci, diretor do mesmo departamento.

Adeus geada

Certos peixes, como a moréia e o linguado, dispõem de uma glicoproteína anticongelante chamada AFGP, que lhes permite sobreviver nas águas polares e impede a formação de cristais de gelo no organismo. A

proteína é conhecida há muito tempo, mas somente agora uma equipe norte-americana conseguiu, pela primeira vez, encontrar um meio de sintetizá-la de forma econômica em grande escala. Uma de suas principais aplicações será na

agricultura, para impedir as plantas de congelar. Será a solução para as geadas no café, por exemplo, mas poderá modificar drasticamente o zoneamento agrícola, permitindo melhor uso para áreas sujeitas a baixas temperaturas.

DuPont

Alta eficiência no controle de plantas daninhas ciperáceas na cultura do arroz irrigado é o que promete a DuPont com o lançamento do herbicida Gulliver. Este é um produto seletivo, aplicado em pós-emergência das plantas daninhas e com ação sistêmica, além de ser rapidamente absorvido através de folhas e raízes, com translocação por toda a planta.

Novo herbicida

Aventis Seeds

O gerente de produção da regional Sul para cultura do arroz da Aventis Seeds, Douglas Cabral, disse que a empresa está com altos investimentos em pesquisas para a cultura orizícola. São pacotes tecnológicos dentro de um grão , afirmou Douglas.

Douglas Cabral

Fertilizante foliar

Monitor PM é um fertilizante foliar solúvel em água, composto por Enxofre e micronutrientes que proporcionam maior produção de aminoácidos, proteínas e óleos. Também aumenta a resistência das plantas contra baixas temperaturas e ao ataque de ácaros e fungos. A embalagem contém 6 sacos de 5Kg embalados separadamente. Produzido e distribuído pela Produquímica. Mais informações pelo telefone (11) 4745-3000 ou pelo e-mail comercial@produquimica.com.br

Híbridos Agroceres

Para facilitar a vida dos produtores, a Agroceres agrupou seus híbridos de milho em quatro famílias. São elas a Família Max, que oferece híbrido com máxima produtividade; a Família Forte, com sementes de altíssima tolerância a doenças; a Família Rápida, que tem o diferencial de superprecocidade; e Família Flex, que garante ao agricultor maior amplitude de plantio e flexibilidade de uso para o produto final.

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Malandragem

Escândalo na Europa: aumenta o tráfico de produtos agrícolas convencionais vendidos como orgânicos, por preços até três vezes maiores do que o normal. A crescente demanda de consumo alimenta a contravenção. Calcula-se que no ano passado cerca de 50.000 toneladas de produtos falsificados circularam. Penas de prisão de até 18 meses não desestimularam os fraudadores.

Presente em mais de 100 países, a Syngenta escolheu o Brasil para o lançamento mundial de Krismat, seu novo herbicida. Desenvolvido especialmente para uso em cana-de-açúcar, Krismat controla as plantas daninhas que infestam a cultura e são responsáveis por drásticas reduções de produção. O produto tem ação sobre um grande espectro de ervas (as mais importantes espécies de gramíneas, além do caruru, carrapicho carneiro, picão preto, corda-de-viola, burra leiteira, entre outras) e apresenta boa supressão da tiririca já no primeiro ano de aplicação, impedindo que ela se torne um grave problema com altas infestações e promovendo uma valorização comercial da área de cultivo.

Nova associação

Revendedores de defensivos agrícolas criaram, em Pindamonhangaba, a Associação de Revendas de Defensivos Agrícolas do Vale do Paraíba (ARDAV). A intenção é fazer cumprir a lei 9.947/2000, que torna obrigatória a devolução de embalagens vazias de agrotóxicos e também discutir a responsabilidade das revendas na construção e gerenciamento de um posto de coleta. Outubro de 2001


Quem causa sarna

Pesquisadores identificam o agente causador da Sarna do Feijoeiro

Isolado 10

E

m 1998 foram encontradas, no Estado de Goiás, plantas do feijoeiro com sintomas diferentes daqueles das doenças mais conhecidas, consistindo em manchas vermelhas ou pretas com bordos avermelhados localizadas nos talos e internódios comprometendo o enchimento das vagens. As folhas e as vagens por sua vez, apresentavam pequenas lesões avermelhadas lembrando uma sarna razão pela qual a doença foi assim denominada. A doença foi inicialmente registrada na cultivar Pérola em áreas cultivadas como feijoeiro em plantio direto e em rotações com o milho e o sorgo. Em análise realizada em laboratório na Embrapa Arroz e Feijão, constatou-se a presença de conídios semelhantes aos do fungo Colletotrichum graminicola e devido ao sistema de rotação onde foi encontrada, muitos assumiram prematuramente ser este o agente causal da doença. Entretanto, estudos posteriores mostraram que estes conídios hialinos, falciformes, não septados tem dimensões menores (13,5-27,0 x 2,7-5,4µ) do que os de C. graminicola (Arx, J.A. von. Phytopath. Z. 29:413-468, 1957). Os apressórios obtidos em meio de cultura apresentamse esféricos, piriformes e de forma irregular, medindo 16,2-54,0 x 13,5-40,8µ, dimensões que foram superiores às de Colletotrichum graminicola (Sutton, B.C. Can. J.Bot, 26:873-876, 1968). 06

Cultivar

Isolado 23

Essas características morfológicas possuem ainda semelhança a outras espécies de Colletotrichum dentre elas C. truncatum. Por este motivo a técnica de RAPD (Random Amplified Polimorphism DNA) foi utilizada para comparar isolados deste novo patógeno com culturas tipo de C. graminicola, C. truncatum e C. lindemuntianum. Os produtos gerados desta análise de DNA revelaram a verdadeira identidade deste Colletotrichum isolado do feijoeiro que apresentou 100% de similaridade genética com a cultura-tipo de Colletotrichum truncatum (Schw.) Andrus & Moore

Milho híbrido

Isolado 10

Feijão cv. Pérola

(ATCC Nº 1720), posteriormente reclassificado como C. dematium f. truncata (Schw.) v. Arx. Estas análises revelaram que este novo patógeno é também geneticamente distante de C. graminicola e de C. lindemuthianum.

CULTURAS SUSCETÍVEIS

Ao se realizar testes de patogenicidade com os isolados do C. dematium f. truncata e isolados de C. graminicola provenientes do sorgo e do milho constatou-se que esse novo patógeno é extremamente agressivo, sendo patogênico às 3 culturas enquanto

Fotos Jefferson Costa

Nossa capa

Isolado 23

que os isolados de C. graminicola não se mostraram aptos a causar sintomas no feijoeiro. Além desses, outros testes de patogenicidade foram realizados, inoculando o fungo em plantas da cultivar Pérola de 40 dias de idade. Os sintomas foram avaliados após 12 dias de incubação e o fungo foi re-isolado, completando-se os postulados de Koch, uma exigência científica para associar um patógeno a uma determinada doença. Testes efetuados em milho doce, cultivar Vivi e nos híbridos 95 HT 90 QPM, HD 9548, HD 9563 e HD 9536 e em sorgo TAM 428 e TX 430 confirmaram a capacidade do fungo em induzir sintomas nestas duas espécies.

CONTROLE DA DOENÇA

A aplicação de fungicidas na cultura do feijoeiro comum, quando efetuada por produtores de diversas regiões, objetivando o controle desta nova doença, revelouse ineficiente. Considerando que o patógeno possa estar sendo disseminado para todo o Brasil, investigou-se e comprovou-

se a alta transmissibilidade deste organismo por sementes. Foi avaliada a eficiência de diferentes fungicidas no tratamento de sementes para o controle da sarna e redução desta taxa de transmissão nas cultivares Feb 163, Xamego e Pérola, artificialmente inoculadas por imersão a vácuo com C. dematium f. truncata. Nesses testes, o fungicida PCNB 750 PM foi o mais eficiente no controle desta nova doença, pois reduziu o índice de doença em mais de 60%, quando comparado com a testemunha (Tabela 2). Entretanto, nenhum dos tratamentos foi eficiente em erradicar Colletotrichum dematium f. truncata das sementes do feijoeiro comum.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sarna do feijoeiro causada por Colletotrichum dematium f. truncata é uma doença extremamente severa no feijoeiro, já disseminada

...

Estágio 1

Estágio 5

Estágio 2

Sorgo cv. TAM 428 Estágio 4

Isolado 10 www.cultivar.inf.br

Estágio 3

Sarna do Feijoeiro (Colletotrichum truncatum)

Isolado 23 Outubro de 2001

Outubro de 2001

www.cultivar.inf.br

Cultivar

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... pelos estados de Goiás, Minas Gerais, São

Paulo, Paraná e Bahia. Pouco se conhece sobre sua epidemiologia e os métodos de controle ainda são extremamente incipientes. É uma doença que desde seu surgimento tem sido limitante ao sistema produtivo do feijoeiro. Portanto o produtor deve estar alerta tanto quanto a qualidade das sementes bem como na observação de sintomas no campo. Principalmente no plantio de inverno a doença surge com uma lesão esbranquiçada no talo da planta em geral no nível do solo. Em poucos dias pontos necróticos avermelhados surgem dentro desta lesão. Quando totalmente necrosada, a lesão evolui afetando o talo e causando a morte prematura da planta. Na Embrapa, estudos de métodos para

a avaliação de germoplasma resistente encontram-se em andamento. Testes de fungicidas para o controle via pulverizações tornam-se urgentes. Os testes preliminares tem sinalizado uma eficiência relativa de produtos estanhados e de algumas estrobirulinas. Entretanto, ambos grupos químicos encontram como principal limitante à sua eficácia, a tecnologia de aplicação, devido a enorme dificuldade de fazer os fungicidas chegarem ao talo da planta, onde a doença inicia na . maioria das vezes. Jefferson Luis da Silva Costa, Keith Caetano Chaves, Carlos Augustin Rava, Virgínia Carla de Oliveira,

Embrapa Arroz e Feijão, Goiânia-GO

Patogenicidade de espécies de Colletotrichum no feijoeiro Patogenicidade

Tabela 01

Tabela 02

Espécie

Origem

Milho

Sorgo

Feijão

C. graminicola C. graminicola C. lindemuthianum C. dematium f. truncata

Sorgo Milho Feijão Feijão

+ +

+ +

+ +

Efeito de fungicidas aplicados no tratamento de sementes para o controle da sarna em três cultivares do feijoeiro Índice de doenças Doses em g ou ml p.c para 100kg de Sementes

Tratamentos

Benomyl 500 TS Difenoconazole 150 FS Fludioxinil M 50 WS Captan 500 PM Pencycuron PM Carboxin + Thiram 200 SC PCNB 750 PM + Carbendazin 500SC PCNB 750 PM + Benomyl 500 TS Captan 750 TS Captan 750 TS + Benomyl 500 TS Captan 500 PM + Benomyl 500 TS Captan 750 TS + Carbendazin 500SC Captan 500 PM + Carbendazin 500SC Carbendazin 500 SC PCNB 750 PM Testemunha 08

Cultivar

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100 330 150 300 300 500 200 + 100 200 + 100 200 200 + 100 300 + 100 200 + 100 300 + 100 100 300 -

Feb 163

Pérola

Xamego

0,55 0,58 0,57 0,65 0,72 0,65 0,46 0,47 0,42 0,48 0,69 0,69 0,66 0,68 0,30 0,74

0,57 0,56 0,53 0,64 0,66 0,44 0,46 0,33 0,58 0,50 0,67 0,55 0,52 0,57 0,33 0,74

0,56 0,58 0,62 0,68 0,71 0,62 0,46 0,47 0,61 0,57 0,69 0,63 0,65 0,67 0,29 0,73

Outubro de 2001


Fotos Embrapa Trigo

Trigo

Atenção durante o manejo e escolha de técnicas adequadas de cultivo podem reduzir a incidência da doença

Menos giberela A

doença giberela, incitada por Gibberela zeae [(Schwein.) Petch; Sn. G. saubinetti], forma assexuada Fusarium graminearum Schwabe, ocorre principalmente em espigas de cereais de inverno, como o trigo, a cevada e o triticale. Os grãos afetados apresentam-se chochos, enrugados, de coloração branco-rosada a pardoclara. Além de reduzir diretamente o rendimento, os grãos infectados e seus derivados podem ser tóxicos devido à presença de micotoxinas. Apesar dessa doença ser referenciada no Brasil, desde 1947, em trigo (Veranópolis, RS), foi relatada, até recentemente, causando prejuízos esporádicos às culturas de trigo e de cevada. Nos últimos anos, passou a ocorrer em níveis epidêmicos e tornou-se um problema de importância maior nas safras de trigo no Sul do Brasil, principalmente no estado do Rio Grande do Sul. Os prejuízos econômicos aos agricultores, pela redução do rendimento e da qualidade dos grãos produzidos, estão fazendo parte das reclamações nas últimas safras. 10

Cultivar

Esses prejuízos, freqüentemente, são subestimados, pois, quando o patógeno afeta as espigas no início da formação de grãos, estes são leves, sendo eliminados na colheita, no processo de trilha, juntamente com a palha. A giberela é influenciada por condições de umidade e de temperatura. Precipitação pluvial de, no mínimo, 48 horas consecutivas e temperatura entre 20 e 25 oC são favoráveis ao patógeno. As epidemias mais recentes no Rio Grande do Sul ocorreram em 1997, 1998 e 2000, anos de elevada precipitação pluvial na fase reprodutiva de cereais de inverno. Em anos mais secos, a giberela não constitui problema sério.

MAIOR INTENSIDADE

A mudança do sistema de preparo convencional do solo, caracterizado por revolvimento do solo e incorporação de grande parte dos restos culturais, pelo sistema de manejo conservacionista, na região sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul, provavelmente seja um fator www.cultivar.inf.br

importante no aumento da intensidade dos surtos epidêmicos de giberela. O sistema de manejo conservacionista do solo, inegavelmente, é eficaz no controle de erosão, seu objetivo principal. Esse sistema de manejo também é peça fundamental na sustentabilidade da agricultura na região. No entanto, a adoção do sistema de manejo conservacionista, cujos restos vegetais das culturas anteriores são mantidos na superfície do solo, dificultando a erosão, em substituição ao sistema convencional, como era de se esperar poderia causar alterações que implicariam o aparecimento de outros problemas, principalmente em relação a doenças. Provavelmente a giberela seja uma doença favorecida pelo sistema conservacionista de manejo de solo. Esse sistema parece atuar do lado do patógeno, favorecendo a sobrevivência e a disseminação deste. Os grãos afetados precocemente são mais leves, permanecendo grande parte no campo junto com a palha, na superfície do solo, no processo de trilha. O número de plantas hospedeiras como milho, plantas daninhas, bem como a capacidade de sobrevivência do patógeno em restos culturais na superfície do solo, garante inóculo do patógeno em abundância. A manutenção de restos culturais na superfície do solo também facilita a disseminação das unidades infectivas (ascosporos) de G. zeae. Atualmente, a giberela é considerada um dos grandes problemas fitossanitários enfrentados pelos agricultores da região sul do país e desafio para a pesquisa. Medidas de controle, como rotação de culturas, parecem pouco eficazes, devido aos ascosporos do patógeno serem disseminados a grandes distâncias, ao grande número de plantas hospedeiras e à capacidade de sobrevivência do patógeno em restos culturais na superfície do solo. O controle de giberela através de cultivares resistentes, até o momento, não é suficiente, embora existam cultivares com melhor performance em relação à doença. O controle químico isoladamente também não constitui medida eficiente de controle, pois os fungicidas e as técnicas de aplicação disponíveis no momento possuem eficiência máxima de 70%.

siderada pelos agricultores. Essa prática de controle cultural da doença é indicada com o intuito de pelo menos parte da lavoura escapar da giberela. O escape ocorre quando a fase reprodutiva dos cereais de inverno não coincide com as condições ambientais de precipitação pluvial e temperaturas favoráveis à doença. Avaliando a giberela em cultivares de trigo semeadas em três épocas em Passo Fundo, RS, observou-se por três anos que, em uma mesma safra, pelo menos uma das três épocas de semeadura não foi favorável à doença, colhendo-se grãos com baixa incidência de giberela. Assim sendo, o escalonamento da se-

meadura, dentro do período recomendado, pode ser uma tática cultural de controle a ser usada para minimizar os prejuízos por giberela, pelo escape à doença. O escape também pode ser proporcionado mediante o cultivo de pelo menos duas cultivares que possuam ciclos diferentes, em que a fase reprodutiva entre elas ocorra em períodos distintos. Atualmente, a integração de um maior número possível de táticas de controle é a melhor saída para minimizar os prejuízos por giberela em cereais . de inverno. Maria I. P. Moreira Lima, Embrapa Trigo

CULTIVARES RESISTENTES

Para minimizar a giberela em cereais de inverno, além da associação do uso de cultivares com melhor performance quanto à resistência genética e do controle químico, o escalonamento da semeadura deve ser uma prática con-

Maria Imaculada fala sobre o controle da giberela

Outubro de 2001

Outubro de 2001

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Fotos Cultivar

Soja

Molibdênio e Cobalto são nutrientes essenciais à nutrição da soja. Porém, vários fatores devem ser considerados em função da real necessidade de aplicação

Bem nutrida O

efeito benéfico do molibdênio (Mo) na produtividade de leguminosas é conhecido desde 1930. Sua principal atuação está no processo de fixação simbiótica do nitrogênio e em outros processos fisiológicos das plantas superiores. O Mo participa ativamente como cofator integrante nas enzimas nitrogenase, redutase do nitrato e oxidase do sulfato, e está intensamente rela12

Cultivar

cionado com o transporte de elétrons durante as reações bioquímicas. A falta de Mo no solo irá ocasionar menor síntese da enzima nitrogenase, com conseqüente redução da fixação biológica do nitrogênio (N2). O teor de Mo total no solos encontrase na faixa de 0,5 a 5,0 ppm, onde ocorre nas seguintes fases: solúvel na solução do solo, adsorvido na fração coloidal, retido na rede cristalina dos minerais primários e www.cultivar.inf.br

quelado à matéria orgânica. Em condições de pH extremamente baixo, o Mo existente na solução do solo encontra-se predominantemente em forma não dissociada de ácido molíbdico (H2MoO4). Com o aumento do pH, o H2MoO4 se dissocia em (HMoO4-) e, posteriormente, a molibdato (MoO42-), o qual se torna a forma predominante em solos de pH neutro e alcalino. O suprimento Outubro de 2001

para as plantas é feito principalmente na forma de MoO42-, presente na solução do solo, via fluxo de massa. O Mo é facilmente liberado dos minerais primários pela intemperização. Comparado com os outros micronutrientes, ele permanece relativamente móvel como molibdatos potencialmente solúveis. Entretanto, esses molibdatos são adsorvidos nas superfícies de minerais primários e da fração coloidal, fazendo com que a disponibilidade do Mo no solo seja dependente do pH. A correção do pH dos solos ácidos, através da calagem, aumenta a disponibilidade de molibdênio, justificando-se esta ocorrência com o mecanismo de troca dos ânions de molibdato (MoO42-) por hidroxila (OH-). Muitos trabalhos de pesquisa indicam que o uso do calcário em solos ácidos elimina a possibilidade de resposta à fertilização com o Mo. A deficiência de Mo na soja pode ser percebida na coloração (amarelada pálida) das folhas mais velhas, semelhante a deficiência de nitrogênio. Nas situações de deficiência, o íon Mo se desloca das folhas mais velhas para as mais novas. As formas de Mo, mais utilizadas em adubações, são os molibdatos de sódio e de amônio e o trióxido de molibdênio, sendo ainda utilizado o ácido molibídico e fertilizantes compostos contendo o Mo em sua composição como as fritas (fritted trace elements). Estas formas podem ser supridas às plantas como adubo de solo, aspersão foliar (exceto o FTE) ou aderido com as sementes. Como as quantidades requeridas pela soja são pequenas, a aplicação de 12 a 30 g Mo/ha junto com as sementes, são suficientes para o estabelecimento do processo de fixação biológica do nitrogênio e como conseqüência alta produtividade de soja. A aplicação de Mo nas sementes de soja na forma de molibdato pode ocasionar sérios problemas de sobrevivência do Bradyrhizobium, bem como prejuízos à nodulação e à fixação do N2. É necessário que o processo de inoculação das sementes de soja seja efetuado levando-se em conta todos os cuidados recomendados, como plantio das sementes logo após a inoculação, quantidade e qualidade do inoculante, e boas condições de umidade do solo para garantir rápida germinação, reduzindo os danos causados pela aplicação de Mo junto com o Bradyrhizobium. Aplicação de Mo via foliar, antes do início da floração da soja e na mesma concentração recomendada para as sementes, é uma alternativa para a nutrição da soja com esse micronutriente. O Cobalto (Co) é um elemento essenOutubro de 2001

cial aos microorganismos fixadores de N2, mediante a participação na composição da vitamina B12 e da coezima cobamida, também conhecida como Dacobalamina. A cobamida funciona como ativadora de enzimas importantes que catalisam reações bioquímicas em culturas de bactérias fixadoras de N2, entre as quais o Bradyrhizobium japonicum e seus bacteróides presentes nos nódulos das leguminosas. Vários trabalhos de pesquisa atribuem à ausência do Co, a diminuição da fixação do N2 para a soja com repercussão negativa para a produtividade. A deficiência de Co na soja se apresenta sempre nas folhas mais novas, sendo essa uma característica de sintomas produzidos por elementos de baixa mobilidade nas plantas. A necessidade de Co para a soja é muito pequena, perto de 300 vezes menos do que a necessidade de Mo. Nos casos de deficiência deste nutriente, a aplicação de 1 a 2 kg/ha de sulfato de cobalto (21%de Co) no solo ou até 3,0 g de Co/ ha junto com as sementes de soja, são suficientes. As aplicações de Co via foliar apresenta menos eficiência que a aplicação do Mo, devido à baixa translocação deste nutriente na planta, entretanto trabalhos de pesquisa têm mostrado que a aplicação do Co junto com o Mo via foliar promovem aumento, da fixação biológica do nitrogênio e da produtividade da soja. A toxicidade de Co em soja, quando aplicada via semente, além da dose máxima recomendada (3,0 g de Co/ha), é percebida alguns dias após a germinação. A planta apresentam uma clorose generalizada, que dependendo do grau de toxidez pode desaparecer após alguns dias ou comprometer toda a lavoura ha-

Lavoura de soja sem deficiência de nutrientes, em pleno desenvolvimento

...

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Cultivar

13


ma de clorose generalizada, é característica de deficiência de ferro, promovida pelo excesso de Co.

MOLIBDÊNIO E PH

Embrapa Soja

Trabalhos de pesquisa indicam que o uso do calcário em solos ácidos elimina a necessidade de fertilização com Mo. A influência do pH do solo na disponibilidade de Mo para as culturas pode ser entendida conforme revelou Lindsay (1972), que estimando solubilidade do MoO42- a partir da reação: MoO42- + solo solo + 2OHe encontrou a relação (MoO42-) = 10-20,5/ (H+)2 mostrado que a concentração de molibdato aumenta cem vezes para cada unidade de aumento do pH. Trabalhos realizados pela Embrapa Soja no Estado do Paraná, com objeti-

vos de determinar a produtividade da soja em função do Mo, em diferentes níveis de pH do solo alterados pela ação de calagem, revelaram a grande influência do pH na resposta da soja a aplicação do Mo. (Tabela 1) Em Campo Mourão a soja, cultivar Paraná, respondeu de forma mais acentuada à calagem, quando não se utilizou o Mo, apresentando diferença de 755 kg/ha entre os tratamentos 0 e 4t/ ha de calcário; com a utilização de Mo, essa diferença foi de 465kg/ha. Esse fato evidencia que o Mo, nessa condição de Cultivar

...vendo necessidade de replantio. O sinto-

Lavoura de soja com deficiência de molibdênio; perda de rendimento

Rendimento de grãos de soja em função de doses de calcário e molibdênio em duas localidades paranaenses, Campo Mourão cultivar Paraná, e Ponta Grossa cultivar FT-2. Embrapa Soja. 1989

Campo Mourão ( 1 ) Calcário t/ha 0 2 4 6 8 10

0 PH 4,5 4,7 5,1 5,3 5,5 5,8

kg/ha 2340 dB (4) 2595 cB 3095 bA 3185 abA 3275 abA 3400 aA

Ponta Grossa ( 2 ) Dose de Mo ( 3 ) g/ha 30 Calcário 2710 bA 2890 bA 3175 abA 3280 aA 3295 aA 3290 aA

t/ha 0 3 6 9 12 15

pH 4,4 4,9 5,2 5,6 5,8 6,0

0

30

1625 bB 2424 aA 2509 aA 2538 aA 2618 aA 2623 aA

kg/ha 2102 bA 2529 aA 2556 aA 2586 aA 2619 aA 2600 aA

(1) Cultivar Paraná. (2) Cultivar FT-2. (3) Molibdênio via semente na dose de 30 g/há de Mo na forma de molibdato de sódio. (4) Médias seguidas de mesma letra minúscula (nas colunas) e maiúsculas (nas linhas) não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. (2) pH medido em CaCl2. - Fonte: LANTMANN, 1989.

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Cultivar

A decisão de aplicar Mo e Co na lavoura deve ser criteriosa, segundo Aureo

solo, seria um elemento pouco disponível para a soja até determinado nível de calagem. A partir da dose de 2,0 t/ha de calcário, o Mo do solo já se encontraria em forma disponível para cultura, sendo sua disponibilidade afetada pela condição de acidez natural do solo. Entretanto, é fundamental salientar que, na ausência de calagem, na dose 0 de Mo, a produção de soja foi de apenas de 2340kg/ha, enquanto que, com aplicação do Mo, o rendimento partiu de 2710kg/ha, ou seja, um aumento significativo de cerca de 400 kg/ha de grãos. Em Ponta Grossa, a soja respondeu de forma menos acentuada à calagem, tanto na ausência como na presença de Mo. Apenas até a dose equivalente a 3t/ ha de calcário foram observados acréscimos significativos de rendimento em relação ao tratamento testemunha. Resposta significativa na produção de grãos ao Mo, dentro de um mesmo nível de calagem, só ocorreu no tratamento correspondente a 0 t/ha de calcário, com diferença de 477 kg/ha. A utilização do cultivar FT-2, considerado como tolerante à acidez do solo, pode justificar esse comportamento, ou seja, a menor resposta da soja ao Mo pode estar associada à menor sensibilidade à acidez. Tanto o Mo como Co são nutrientes essenciais à nutrição da soja. A decisão quanto sua aplicação como fertilizante, deve ser criteriosa. Quantidade, forma de aplicação, condições do solo e fontes dos nutrientes são fatores que devem ser considerados e aliados a um diagnóstico da real necessidade de aplicação, em função de análises de solo e folha e histórico de área com observações sobre sintomas de . deficiência desses nutrientes. Aureo Francisco Lantmann. Embrapa Soja

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Outubro de 2001

Nova cultivar A

liberação de cultivares para atender demandas regionais especificas é um dos objetivos do programa de melhoramento genético de soja da Embrapa Trigo. Para atender as necessidades dos sojicultores de parte da região das Missões do Rio Grande do Sul, onde o nematóide de galhas das espécies Meloidogyne ingognita e M. javanica são limitantes para a obtenção de altos rendimentos de grãos, foi lançada, neste ano, a cultivar BRS 211. A nova cultivar de soja originou-se do cruzamento Tracy-M x Bragg, feito em Passo Fundo, RS, pela Embrapa Trigo, em 1990/91. As seleções foram feitas nas safras de 1991/ 96. A linhagem PP 96 1056, formada em 1996, foi avaliada para rendimento de grãos, nos anos de 1996/97 a 2000/01. A nova cultivar é de tipo de crescimento determinado e de ciclo precoce, com duração média de 130 dias da emergência à maturação, quando semeada em meados de novembro no Rio Grande do Sul (Tabela 1). Possui flor branca, pubescência marrom, altura média de planta de 89 cm, altura de inserção de vagens inferiores de 12 cm (Tabela 2), tegumento da semente amarelo, com brilho intermediário, semente com hilo de cor preta e peso médio de 100 grãos de 17,3 g. Tem boa resistência ao acabamento e ao desgrane natural. A cultivar apresentou, nos testes realizados nos anos agrícolas de 1998/99 a 2000/01 em 24 ambientes no Rio Grande do Sul, rendimento médio de grãos 2% superior ao da cultivar IAS 5 e 9 % superior ao de Ocepar 14 (Tabela 2). Em Santa Rosa, em áreas livres de nematóides, o rendimento médio de grãos da BRS 211, nos anos agrícolas de 1997/98, 1999/ 00 e 2000/01, foi de 3.437 kg/ha, enquanto Outubro de 2001

BRS 211 surge como alternativa para a região das Missões do Rio Grande do Sul devido à sua tolerância aos nematóides-de-galha

Embrapa Trigo

Soja

que o de IAS 5 FOI DE 3.352 kg/ha (Tabela de Setembro, Três de Maio, Ubiretama, . 3) Sendo a BRS 211 resistente aos nematói- Unistalda e Vitória das Missões. des formadores de galhas, o seu rendimento destaca-se mais do das demais cultivares quan- Emídio Rizzo Bonato do for cultivada em áreas infestadas. A vanta- Embrapa Trigo gem comparativa da nova cultivar é devida à tolerância que apresenta aos Tab.01 - Número de dias da emergência à floração e da emergência à maturação, em nematóides de galhas das espécies 23 ambientes, da cultivar de soja BRS 211, em comparação com as testemunhas, no Rio Grande do Sul, nos anos de 1998/99 a 2000/01 M javonica e M. ingognita. É também, resistente ao cancro da haste Anos agrícolas (Diaporthe phaseolorum f. sp meridi2000/01 Média Cultivar 1998/99 1999/00 onalis) e ao oídio (Microsphaera diponderada ffusa). BRS 211 53 - 136 53 - 126 55 - 131 54 - 130 Em razão de suas característi58 - 128 IAS 5 59 - 134 53 - 126 56 - 129 60 - 127 Ocepar 14 62 - 131 56 - 125 62 - 127 cas de tolerância aos nematóides de N de locais 5 8 10 23 galhas e de suscetibilidade à podriDados obtidos pela Rede Soja Sul dão parda da haste (Phialophora gregata), a cultivar BRS 211 é indicada Tab.02 - Rendimento médio de grãos (kg/ha) da cultivar de soja BRS 211, em compara a parte da região das Missões paração com as testemunhas, nos anos agrícolas de 1998/99 a 2000/01, em 24 do Rio Grande do Sul, onde a inciambientes no Rio Grande do Sul dência desses nematóides e onde a Anos agrícolas temperatura inibe a ocorrência do fungo causador da podridão parda Cultivar 1998/99 1999/00 2000/01 Média ponderada da haste. BRS 211 2,635 2,449 3,034 2,739 Especificamente, é indicada IAS 5 2,569 2,319 3,071 2,695 para a região formada pelos municíOcepar 2,193 2,242 2,016 2,511 pios de: Alegria, Boa Vista do BuriN de locais 6 8 10 24 cá, Bossoroca, Caibaté, Campo Dados obtidos pela Rede Soja Sul Novo, Catuípe, Cerro Largo, Chiapeta, Coronel Bicaco, Entre-Ijuis, Tab.03 - Rendimento médio de grãos (kg/ha) da cultivar de soja BRS 211, em comEugenio de Castro, Giruá, Guarani paração com as testemunhas, em áreas livres de nematóides, nos anos agrícolas de 1997/98, 1999/00 e 2000/01. Em Santa Rosa, Rio Grande do Sul das Missões, Independência, InhaAnos agrícolas corá, Itacurubi, Salvador das Missões, Santa Rosa, Santo Ângelo, 1997/98 1999/00 2000/01 Média Cultivar ponderada Santo Augusto, São Jose do Inha3,408 3,934 2,970 BRS 211 3,437 corá, São Luiz Gonzaga, São Mar3,183 3,021 3,851 3,352 IAS 5 tinho, São Miguel das Missões, 3,342 3,946 3,128 3,472 Ocepar 14 São Pedro do Butiá, São Valério do Dados obtidos pela Rede Soja Sul Sul, Senador Salgado Filho, Sete www.cultivar.inf.br

Cultivar

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Fotos Unesp/FCAV

Nematóides

Os olhos do Céu Nova tecnologia detecta e mapea áreas infestadas com fitonematóides

O

s nematóides são vermes que em geral não são visíveis a olho nu. Vivem no solo, alimentando-se dos nutrientes nas raízes das plantas. As principais culturas exploradas comercialmente no país sofrem parasitismo por parte de uma ou mais espécies de nematóides. De fato, esses organismos são considerados como uma das pragas de maior importância para cultura da soja no Brasil e no mundo. Os nematóides-de-galha causam prejuízos anuais estimados em 50 milhões de dólares para cultura da soja no País. Uma outra espécie de fitonematóide, o nematóide de cisto da soja (NCS), Heterodera glycines, constitui um dos principais problemas fitossanitários para a cultura dessa oleaginosa. Desde sua detecção na safra 1991/92, até a safra 1999/ 00, já causou prejuízo de cerca de 200 milhões de dólares. Rotylenchulus reniformis e Meloidogyne incognita são nematóides chave para cultura do 16

Cultivar

Medidas de radiância em uma lavoura de algodão infestada por Meloidogyne incognita

de máquinas agrícolas, dessa forma o próprio produtor torna-se o instrumento de contaminação de seus campos quando executa as operações de preparo de solo, plantio e colheita. Nesse sentido, o conhecimento da distribuição espacial dos nematóides e o mapeamento das áreas infestadas, é uma ferramenta muito importante no manejo das doenças causadas por eles. O método utilizado atualmente para detecção dos nematóides, consiste em retirar amostras de solo no meio da lavoura com auxílio um enxadão e enviá-las para análise em laboratório. Esse método é muito impreciso, porque é praticamente impossível amostrar toda a área para se obter confiabilidade nos resultados. O maior problema em retirar amostras aleatoriamente, é que a praga não está distribuída de modo uniforme na lavoura. Se

algodão, as perdas estimadas com o ataque de fitonematóides para essa cultura são de 10,7%. Na safra 2001 o Brasil colheu cerca de 800 mil toneladas de pluma, o que pelas estimativas de perda representam um prejuízo de 85 mil toneladas, causado pelo ataque de fitonematóides, cerca de 120 milhões de dólares.

DIFICULDADE NO CONTROLE

Uma das maiores dificuldades enfrentadas por produtores e pesquisadores no controle dessa praga é o tamanho grande das áreas plantadas com soja e algodão. Não se sabe exatamente em que pontos da lavoura existem nematóides. Na verdade, a grande produção de soja nos anos 90 passou a concentrar-se em propriedades cuja área está acima de 200 ha (65%) e a tendência é dessa produção se concentrar cada vez mais em propriedades acima dos 500 ha, o algodão segue o mesmo caminho. O principal meio de disseminação desses fitonematóides é pelo tráfego www.cultivar.inf.br

Planta com sintomas severos de ataque de Meloidogyne incognita (seta) e uma planta da mesma lavoura com sintomas

Outubro de 2001

o resultado da análise de uma amostra retirada de um ponto qualquer, informar que a área está isenta da presença de nematóides, esse mesmo resultado poderia revelar uma alta população dessa praga, na hipótese da amostragem ser realizada a apenas um metro de distância desse local. Ainda não existem produtos nematicidas registrados para cultura da soja, mas algumas empresas fabricantes de defensivos agrícolas, já têm se mobilizado nesse sentido. Para algodão existem princípios ativos registrados para o controle de fitonematóides. Um forte obstáculo para o uso desse tipo de medida de controle, no caso dessas culturas, são os altos custos do tratamento, tanto econômicos quanto ecológicos, se for realizado na totalidade da área. Porém, se forem conhecidos com precisão os pontos onde está ocorrendo o ataque, o controle racional pode ser realizado com eficiência.

MAPEAMENTO DA ÁREA

Imagens de satélite há muitos anos são utilizadas, principalmente nos Estados Unidos, para identificar e estimar o tamanho das áreas ocupadas pelas culturas, monitorar pragas, doenças e previsão de safras. No Brasil, o emprego dessas imagens tem sido principalmente no dimensionamento de áreas desmatadas, bem como identificação do tipo de cobertura vegetal, se floresta nativa, reflorestamento, solos expostos ou tipo de cultura. Recentemente, a disponibilização de imagens de satélite com alta resolução espacial, ou seja, satélites que captam níveis maiores de detalhes, como o IKONOS II, tem possibilitado a utilização desses recursos com maiores aplicações para agricultura. Já existem no Brasil, várias empresas que vendem imagens do IKONOS II, com o preço em torno de R$ 0,05 por hectare (encomenda mínima de 10 mil hectares). Se considerarmos que o custo da análise de solo pelo método convencional é de R$ 20,00 por amostra, e que para cada hectare seriam necessários um número muito grande de amostras, para se obter uma noção ainda imprecisa da real localização dos pontos com nematóides, já teríamos uma boa justificativa para adotar o uso das imagens. O que acontece atualmente é que o satélite mencionado tem uma resolução temporal muito baixa, isto é, demora muito para passar Outubro de 2001

sobre um mesmo ponto mais de uma vez, se no dia em que forem tomadas as imagens o céu estiver encoberto por nuvens, será necessária uma nova tentativa para aquisição da imagem. O número de tentativas para executar essa tarefa está limitado ao ciclo da cultura no campo. Com os novos lançamentos de satélite previstos a curto prazo, além desse problema ser provavelmente contornado, os custos serão reduzidos.

SOLUÇÃO ALTERNATIVA

Utilizando um equipamento chamado espectroradiômetro, calibrado para as bandas espectrais correspondentes a um sensor do satélite Landsat, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP/FCAV) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP), testaram com sucesso, a utilização de medida da energia refletida pelas plantas no comprimento de onda no visível e infravermelho próximo, para detectar o ataque de nematóides em lavouras de soja e algodão. O sol é a principal fonte de energia para a terra. A radiação solar se propaga no vácuo e incide sobre a terra, em diversos comprimentos de onda, que constituem o espectro eletromagnético. Ao incidir sobre as plantas, parte dessa radiação é transmitida através das plantas chegando ao solo, uma outra alíquota dessa radiação é absorvida pelas plantas e utilizada na manutenção dos processos fisiológicos, como a fotossíntese, existe ainda, outra parte da radiação que incide nas plantas e é refletida de volta para atmosfera. O espectroradiômetro mede a porção da energia que é refletida pelas plantas, os pesquisadores constataram que plantas atacadas pelos nematóides refletem mais energia no comprimento de onda na faixa do vermelho (porção visível do espectro eletromagnético) do que as sadias, e menos no infravermelho próximo (tipo de radiação que costuma estar presente em quantidades bastante significativas no flu-

Renato fala sobre os benefícios que esta técnica traz ao agricultor

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Ivo diz que em pouco tempo o sistema de coleta de amostra de solo será substituído por imagens de satélite

xo de radiação solar direta). Esse fato acontece, porque plantas atacadas por nematóides possuem porte reduzido, folhas amareladas e em menor número. Com o auxílio de um receptor de GPS, foi determinada a localização geográfica (latitude e longitude) dos pontos onde foram encontra-

Nematóide Nematóide de de cisto cisto da da soja soja com com muitos muitos ovos ovos no no seu seu interior interior

dos nematóides, possibilitando aos pesquisadores, voltar a esses pontos no momento que for necessário. Essa técnica está sendo testada também para utilização na cultura do algodão. O equipamento na verdade simulou o que os satélites de última geração, que vem sendo lançados na órbita terrestre poderão fazer em grandes áreas. Não é especulação dizer que em alguns anos a rotina de coleta de amostras de solo no campo, com enxadão e processamento em laboratório, deverá ser substituída por imagens de satélite recebidas até por Internet. O produtor vai deixar de aplicar os químicos em 100% da área, restringindo as aplicações aos pontos onde está o nematóide realmente, 5, 10, 15% da área, seja como for, somente o . necessário. Renato F. dos Santos Junior, Ivo Aurélio Marchiorato, Jaime Maia dos Santos, UNESP/FCAV Bernardo Theodor Friedrich Rudorff, INPE Cultivar

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AENDA

Algodão

Defensivos Genéricos

Operação nutrição

Equilibrando as contas O

agricultor está sempre reclamando do preço dos insumos utilizados para otimizar suas produções agrícolas. Via de regra, o desequilíbrio das contas está mais para a queda do preço do próprio produto agrícola. Veja no gráfico um exemplo de relação de troca. Para maiores informações, acesse o site www.aenda.org.br. Pressionado por essas recidivas quedas nos preços agrícolas, o agricultor esbraveja para todos os lados, tentando encontrar motivos para os desalinhos. A grande verdade é que o produto alimentar tende a ser suportado por políticas protecionistas, pois é a base maior do bem estar de um povo. Assim, os países desenvolvidos preferem subsidiar seus agricultores, das mais diversas formas, do que ajustar os preços de venda dos alimentos para uma realidade meramente contábil; e, os vasos comunicantes do comércio internacional promovem uma contaminação imediata dessa política nos preços da agricultura. O Brasil deve adotar a mesma estratégia e ações concretas, pois a agricultura é sem dúvida a atividade com o mais alto risco para quem aposta aí suas fichas. O imprevisível risco climático somado ao imponderável risco mercadológico consome muita energia e recursos do agricultor. Há que se buscar a globalização dos instrumentos de equilíbrio produtivo e comercial, na mão e na contramão. De nada adiantam as medidas imediatistas, como por exemplo, a abertura total e indiscriminada para importações de insumos. Isso só desestabiliza o parque produtivo aqui instalado e não enfrenta o problema em suas raízes. A propósito, é interessante lembrar que o país esteve próximo de uma auto-suficiência na oferta nacional dos defensivos agrícolas nos anos 70, quando o perfil de produtos era pre-

ponderantemente de substâncias organocloradas. Naquele período existia uma política industrial de incentivo à produção local, com altas alíquotas de importação, necessária, porquanto o país não tinha tradição neste setor industrial. Nos anos 80, os organoclorados foram banidos e, conseqüentemente, as fábricas fechadas. Nos anos 90, ocorreu um rápido desgravamento das alíquotas de importação, contribuindo para encerramento de outras fábricas ou de operações fabris e, ainda, para a postergação ou

Doses de nitrogênio quando aplicadas no momento certo, trazem mais rentabilidade à lavoura

a importar mais ainda do que já se importa é destruir completamente o parque fabril existente e ficar sem opção para as futuras oscilações da conjuntura internacional. Se hoje, o preço do defensivo brasileiro é um pouco mais caro que o de algumas procedências (referindo-se a produtos com patente expirada), não é por incompetência tecnológica ou ganância do empresário tupiniquim; muito mais pelo momento histórico da economia brasileira, com seu alto custo do dinheiro, sua carga de impostos e algumas outras ineficiências estru-

N

cancelamento de investimentos no Brasil. Hoje, o panorama está invertido. O valor das importações (matérias primas + produtos técnicos + produtos formulados) supera a somatória das vendas internas, como se observa no gráfico abaixo, com dados do SINDAG, em bilhões de dólares. O mercado brasileiro de pesticidas já é o 3º do mundo e tende a expandir com o crescimento horizontal e vertical da nossa agricultura. Sem sonhar com o mundo de amanhã e suas soluções limpas , passando inclusive pelas biotecnológicas, o agricultor vive a realidade de hoje e precisa muito ainda dos agroquímicos para preservar suas colheitas. Passar

Item

Unidade

Jan/2000

Abr/2000

Ago/2000

Out/2000

Jan/2001

Abr/2001

Preços recebidos de milho Preço do Gesaprim 500 Relação de troca Índice

60 Kg 5 litros

15,41 41,77 2,71 100

11,71 39,26 3,35 124

13,17 41,02 3,11 115

12,34 42,23 3,42 126

9,99 41,11 4,12 100

8,57 40,03 4,67 114

turais do país. Mas, quem mira ao menos para o médio prazo percebe que o Brasil está paulatinamente (com erros e acertos) ajustando seu rumo. Não é sensato aniquilar um setor industrial na vã tentativa de diminuir alguns trocados na cesta de compra dos insumos agrícolas. Mais inteligente é incentivar a oferta de produtos genéricos, alterando o sistema de registro vigente, o que em pouco tempo acirrará a concorrência. Nesta direção, o governo está prestes a incorporar o sistema de equivalência química no processo de registro dos produtos genéricos, alinhando-se às regras internacionais e dando força à competição. Quanto às alíquotas de importação, estas já foram reduzidas para níveis adequados, bastando agora um monitoramento, para ajustes pontuais, produto a produto, de acordo com cada situação: produção interna e pleno abastecimento do mercado ou não, sem esquecer da observação continuada das tendências monopolistas.

os últimos anos a cotonicultura migrou para novas regiões brasileiras, que apresentam, em geral, melhores condições climáticas para a cultura, embora a maioria dos solos sejam marginais, principalmente do ponto de vista de fertilidade. Com a mudança para regiões não tradicionais e o emprego de alta tecnologia, as produtividades médias brasileiras tem aumentado significativamente. As produtividades mais altas, as condições marginais de solo e o emprego de novas cultivares levaram a dúvidas com relação ao programa de correção do solo e adubação para a cultura. Por sua vez, a falta de informação local implicou na solução empírica do problema, contestando-se muitos dos conceitos e práticas desenvolvidas nas regiões mais tradicionais de cultivo do algodoeiro. Dentre os problemas na recomendação de adubos, a adubação nitrogenada, feita com base no histórico da gleba, experiência local e expectativa de produtividade tem sido uma das mais discutidas. Um complicador é a falta de um critério objetivo, baseado em análise de solo, que permita uma recomendação segura.

Algodão sem deficiência de nitrogênio apresenta boa produtividade

...

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Cultivar

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Acúmulo de nutrientes em variedades de algodão (parte aérea), em condições de campo, por diversos autores, nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso

Variedade/Autor/Estado IAC 22 / Furlani Jr et al (2000)/MS ITA 90 / Fundação MT (1997)/MT ITA 90 / Staut (1996)/MS Média de exportação (%)

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NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO NITROGENADA

Quando se analisa a exigência do algodoeiro em N, nota-se que é difícil se chegar a um consenso, pois as quantidades absorvidas são muito dependentes das condições climáticas, da cultivar e talvez do local onde o estudo é realizado (Tabela 1). As quantidades de N absorvido variaram de 48 a 69 kg ha (Tabela 1). Entretanto, quando se analisa a proporção do N que é exportado com o produto, os resultados são menos variáveis, chegandose a uma média de 43 % do absorvido. Assim, quando não há queima dos restos culturais, a maior parte do nutriente acumulado nas plantas volta ao solo, diminuindo o esgotamento. A cultivar ITA 90, a mais utilizada

Acúmulo de N por 1000 kg de produto 69 48 85 43 no País, mostra um padrão bem definido de acumulação de N (Figura 1). A intensidade de absorção é muito baixa nos primeiros 40-45 dias, até o aparecimento dos botões florais. A partir deste ponto a intensidade de absorção aumenta muito, até atingir valores da ordem de 5,5 kg ha dia, por volta dos 75-80 dias após a emergência, declinando a seguir. Assim, de pouca valia será a aplicação tardia de N, por exemplo, após os 80 dias da emergência das plantas. Rosolen e Mikkelsen (1989) demonstraram que o N absorvido após os 90 dias da emergência é acumulado principalmente nas folhas da parte mediana e do ponteiro da planta. Em plantas bem nutridas, menos de 30 % do N absorvido nesta época será destinado aos frutos.

Assim essa aplicação tardia provocará crescimento vegetativo, com pouco aproveitamento na produção. Muitos agricultores têm realizado 3 ou 4 coberturas nitrogenadas, até 90-110 dias após a emergência, embora a experimentação em regiões mais tradicionais não recomendassem essa prática (Silva 1999). Recentemente foram divulgados resultados que comprovam que não é aconselhável a realização de mais que 2 coberturas na cultura do algodão (Fundação MT, 2001), sendo até contraproducente a aplicação de N aos 80 ou 100 dias após a emergência da cultura (Figura 2). Por outro lado, há muito foi demonstrado que uma deficiência de N antes do aparecimento do primeiro botão floral tem como efeito um atraso significativo no ciclo da cultura (Malik et al, 1978), o que aumenta o custo de produção. Assim, de acordo com a marcha de absorção de nitrogênio, e também de acordo com demonstração experimental, a adubação nitrogenada em cobertura deve ser realizada até os 55-60 dias após a emergência das plantas, divididas em, no máximo, duas aplicações. Aplicações mais tardias, além de não resultarem em maior produtividade, podem induzir maior crescimento vegetativo e alongar o ciclo da planta (Rosolem, 1999). Tendo como conseqüência maior custo, maior queda de estruturas reprodutivas, havendo então maior porcentagem de carimãs ou capulhos apodrecidos na parte mais baixa da planta. Outra dúvida que se tem colocado é quanto ao teor de N que seria suficiente para a obtenção de alta produtividade. Há muito o teor tido como adequado varia de 35 a 43 g kg de N nas folhas (5 folha do ápice, no pleno florescimento), de acordo com Silva (1999). Experimento recente (Fundação MT, 2001), no Mato Grosso, mostrou que as maiores produtividades foram obtidas quando as folhas mostravam, na diagnose foliar, teores de 40 a 45 g kg, uma faixa compatível com a que vinha sendo utilizada nas regiões mais tradicionais (Figura 3). Com relação a respostas a doses de N, Rosolem (2000) relatou que dificilmente doses acima de 100-120 kg ha seriam econômicas, baseado principalmente em resultados obtidos em regiões tradicionais de cultivo no Brasil. Silva et al.(1993), concluiu que doses acima de 70 kg ha não seriam econômicas no Estado de São Paulo. Por outro lado, um excesso de adubação nitrogenada faz com que seja aumentado o tamanho dos frutos na parte superior da planta, com um aparente aumento na produtividade. No

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Algodão

tos da parte superior da planta são aumentados, o excesso do nutriente faz com que o tamanho dos frutos da parte de baixo e da parte mediana da planta seja diminuído, sem efeito significativo na produção (Boquet et al.,1994). Um experimento conduzido no MT

Fig. 01 - Intensidade de absorção de N pelo algodoeiro, cv. ITA 90, em função da idade da planta

Fig. 03 - Produção de algodão em função dos teores de N nas 5as folhas do algodoeiro, colhidas em pleno florescimento. Dados adaptados de Fundação MT (2001)

levou aos resultados apresentados na figura 4. Tanto Pedra Preta como Itiquira são regiões de alto potencial produtivo, entretanto, a resposta a N foi diferente nos dois locais. Em Itiquira a resposta foi pequena (da ordem de 300-400 kg ha, ou pouco mais de 10 %), até 100 kg ha. Considerando-se a uréia a USS 220,00 t e o

Fig. 02 - Produção de algodão em função de doses e do parcelamento da adubação nitrogenada. Dados adaptados de Fundação MT

Fig. 04 - Resposta do algodoeiro a nitrogênio em dois locais do Mato Grosso. Dados modificados de Fundação MT

Fig. 05 - Resistência do solo à penetração em diversos pontos amostrados em culturas de algodão em Pedra Preta e Itiquira, em função da profundidade. Dados originais da Fundação MT 22

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algodão a USS 0,50 USS 1b , esta resposta seria econômica, nos níveis de produtividade obtidos. Em Pedra Preta o algodão respondeu a 170 kg ha de N, passando de 3.100 kg ha a aproximadamente 5 mil kg ha. Por que teria ocorrido essa diferença de resposta? A resposta encontra-se na figura 5. Em Itiquira o solo encontra-se em melhores condições físicas, permitindo melhor exploração das reservas pelas raízes. É evidente, neste caso, o efeito vaso, ou seja, com as chuvas o nitrogênio aplicado pode ter sido lixiviado para uma região do solo pobre em raízes, prejudicando o aproveitamento do fertilizante aplicado. Rosolem et al. (1998) demonstraram que o algodoeiro é muito sensível à compactação do solo. Um aumento da resistência do solo à penetração até 20 kgf cm2 reduz o crescimento radicular do algodoeiro a menos de 5 % do crescimento que ocorreria se não houvesse limitação. É importante ressaltar ainda que, neste caso, o N lixiviado não sendo aproveitado pela planta pode ser levado para zonas mais profundas do perfil, aumentando o problema de acidificação do perfil pela perda de nitrato. Outro problema que tem ocorrido com freqüência é a desuniformidade de aplicação do fertilizante em cobertura. A utilização de máquinas para distribuição a lanço deve ser cercada de cuidados para que a deposição seja uniforme, de modo a evitar falta de adubo em algumas faixas e excesso em outras. Há que se considerar ainda que a uréia aplicada a lanço, dependendo das condições, pode levar a perdas consideráveis do N aplicado, por volatilização. Dos resultados discutidos pode-se inferir que é possível, desde que consideradas as diferenças no potencial produtivo, extrapolar-se resultados de outras regiões do País para as novas regiões de cultivo do algodoeiro, pelo menos para o nitrogênio. Não existe justificativa para que se efetue parcelamento da cobertura nitrogenada além dos 55-60 dias após a emergência das plantas, ocorrendo, neste caso, perigo de se provocar crescimento vegetativo excessivo, com alongamento do ciclo da planta, sem ganhos significativos em produção. Ao contrario, é fundamental que não ocorra deficiência do nutriente antes do aparecimento do primeiro botão floral. É importante ressaltar ainda que respostas a doses muito altas de fertilizantes podem ser um indicador de que as condi. ções físicas do solo não estão boas. Ciro Rosolem Unesp Outubro de 2001

Fungos no algodão O tombamento, doença causada por um complexo de fungos do solo e da semente, é capaz de levar à ressemeadura, processo que onera os custos de produção

D

e todas as doenças que atacam o algodoeiro, o tombamento - também conhecido como doença inicial do algodoeiro - é considerado uma das principais, podendo causar grandes prejuízos, relacionados principalmente a falhas no estande, o que pode levar à ressemeadura, que sempre é muito cara.

A DOENÇA

O tombamento é uma doença que ocorre na fase de plântula (tombamento de pós-emergência) e as sementes por ocasião da germinação (tombamento de préemergência). Essa doença é causada por um complexo de fungos do solo e da semente, cujas espécies podem variar grandemente de um lugar para outro. São elas: R solani, C. gossypii, C. gossypii var. cephalosporioides, Fusarium spp., Pythium spp, Botriodiplodia theobromae e Macrophomina phaseolina. Alguns poucos relatos da ocorrência de tombamento causado por C. gossypii, C. gossypii var. cephalosporioides e Outubro de 2001

Fusarium spp. foram registrados, porém numa freqüência muito baixa. Nas condições do Brasil, principalmente em se tratando do algodão do cerrado, o principal agente causal do tombamento de plântulas é R. solani, pela freqüência que ocorre (mais de 95% dos casos) e pelos danos que causa na fase inicial de estabelecimento da lavoura.

Fotos Embrapa Agropecuária Oeste

... entanto, ao mesmo tempo em que os fru-

O FUNGO

Rhizoctonia solani é um fungo polífago, pois ataca um grande número de espécies vegetais. Esse patógeno é habitante natural do solo. Pode ser transmitido pelas sementes, porém raramente isso ocorre, motivo pelo qual a semente não é considerada a principal fonte de inóculo desse patógeno. É considerado, dentre os componentes do complexo de fungos que causam o tombamento , o mais prejudicial, www.cultivar.inf.br

...

Murchamento das folhas; sintoma inicial do tombamento

Cultivar

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Fotos Embrapa Agropecuária Oeste

Lesões deprimidas e marromavermelhadas no colo e raízes das plântulas

... por causar, em maior intensidade o tom-

bamento de pré-emergência, além daquele de pós-emergência. O ataque desse patógeno freqüentemente reduz o estande da lavoura, levando, muitas vezes à ressemeadura. Os sintomas caracterizam-se inicialmente pelo murchamento das folhas com posterior tombamento das plântulas. Esse fungo provoca lesões deprimidas e de coloração marrom-avermelhada no colo e nas raízes das plântulas de algodão.

maior quantidade de açúcares e amoniácidos, o que é extremamente favorável ao ataque do patógeno. Essas condições atrasam a germinação ou tornam mais lento o processo de emergência, mantendo a plântula num estágio suscetível por um período mais longo. Assim, a necessidade de ado-

considerado, até o momento, a principal medida a ser adotada e a opção mais segura e econômica para minimizar os efeitos negativos dessa doença. Trata-se de prática indispensável quando se reduz a quantidade de sementes na semeadura, com vistas a eliminar a operação de desbaste, sendo reconhecida em todo o mundo como uma medida das mais eficazes e convenientes, tornando-se cada vez mais difundida e adotada em esquemas de controle integrado de doenças do algodoeiro. A cada ano, um grande número de fungicidas é testado com o objetivo de verificar sua eficiência no controle do tombamento. A performance desses produtos depende da população desses fungos no solo, ou seja, é influenciada pela pressão de inóculo do patógeno no solo e também pelas interações com outros fungos, o que pode evidenciar um controle biológico. Igualmente, a suscetibilidade das cultivares também poderá influenciar nos benefícios do tratamento de sementes com fungicidas. Por outro lado, os benefícios do tratamento de sementes de algodão com fungicidas são menos evidentes em áreas onde a densidade de inóculo do patógeno é relativamente baixa ou quando as condições de umidade e temperatura do solo são ideais a uma rá-

AS PERDAS

Para se ter uma idéia da importância que essa doença assume nesse contexto, alguns dados levantados sobre perdas devido à sua ocorrência assustam, como pode ser observado a seguir. Na Califórnia, segundo dados oficiais, foram perdidos anualmente, no período de 1991 a 1993, em torno de 12.733 toneladas de algodão, devido ao tombamento. Nos EUA, em 1995, estimou-se uma redução na produtividade do algodoeiro devido às doenças iniciais da ordem de 180 mil toneladas. Na Califórnia, nesse mesmo ano, essas perdas foram estimadas em 17,85 mil toneladas, maiores do que aquelas registradas em anos anteriores. Nos últimos 10 anos, nos EUA, estimativas de perdas têm revelado valores médios de 2,8% por ano. Até o momento, não foram levantados dados dessa natureza no Brasil.

ÉPOCA ADEQUADA DE SEMEADURA

Em função de baixas temperaturas favorecerem a severidade e a incidência do tombamento causado por R. solani, recomenda-se evitar semeaduras anteriores a meados de outubro. Sob baixas temperaturas, sementes de algodoeiro exsudam 24

Cultivar

Combinação de fungicidas sistêmicos com protetores proporciona melhor emergência de plântulas e melhores índices de controle do tombamento

ção de medidas de controle, tais como o tratamento de sementes com fungicidas, tem sido claramente demonstrada sob condições de solo com temperaturas baixas.

TRATAMENTO QUÍMICO DAS SEMENTES

De todas as práticas recomendadas para o controle do tombamento, o tratamento das sementes com fungicidas eficientes assume um importante papel, sendo www.cultivar.inf.br

pida germinação e emergência. Entretanto, deve-se considerar que, até o momento, não se têm evidências de que o uso de fungicidas em tratamento de sementes com ação específica contra R. solani possa ser dispensado em áreas com histórico de ocorrência desse patógeno. Deve-se ressaltar que o efeito principal do tratamento de sementes de algodão com fungicidas é observado na fase inicial do desenvolviOutubro de 2001

...


Embrapa Agropecuária Oeste

12 a 15 dias após a emergência). Nesse período, ocorre uma eficiente proteção do algodoeiro, proporcionando a obtenção de populações adequadas de plantas com a adoção dessa prática. Deve-se ressaltar que o fungo R. solani não é controlável pela rotação de culturas, por apresentar habilidade de competição saprofítica, ou seja, é capaz de se manter viável quase que indefinidamente no solo, pois apresenta capacidade de trocar de substrato. Dessa maneira, qualquer espécie vegetal alternativa integrante do sistema de rotação, pode lhe servir de substrato. Apesar disso, a adoção desta prática deve ser implementada, uma vez que, quando usada eficientemente, pode promover uma alteração qualitativa na microflora do solo, favorecendo o crescimento e o estabelecimento de microorganismos antagônicos ao patógeno, induzindo assim níveis de supressividade a doenças.

Mais produtividade

trolado de forma variável o tombamento em condições de campo. Os fungicidas registrados para tratamento de sementes de algodão e atualmente disponíveis no mercado pertencem a dois grandes grupos os sistêmicos e os protetores. Os mais utilizados são aqueles à base de captan, thiram, carboxin, quintozene, benomil, carbendazin, tolylfluanid, pencycuron, tri-

FUNGICIDAS RECOMENDADOS

Estudos mais recentes, conduzidos em diferentes regiões do país, têm demonstrado que os fungicidas atualmente disponíveis para tratamento de sementes de algodoeiro (protetores ou sistêmicos) têm con-

Tab.01- Fungicidas registrados para tratamento de sementes de algodão no Brasil Nome Técnico

Produto Comercial

Modo de Ação

Captan 750 TS Captan Contato Rhodiauram 500 SC Thiram Contato Spectro Difenoconazole Sistêmico Euparen 50 WS Tolylfluanid Contato Monceren 50 PM Pencycuron Contato Kobutol/Brassicol Quintozene (PCNB) Contato Vitavax-thiram 200 SC Carboxin + Thiram Sistêmico e contato Benlate 500 Benomyl Sistêmico Derosal 500 SC Carbendazin Sistêmico Baytan FS Triadimenol Sistêmico Obs.: Doses recomendadas para sementes sem linter.

Dose (para 100 kg de sementes) Ingrediente Produto Ativo (i.a.) Comercial (P.C.) 120 g 280 ml 5 ml 75 g 150 g 300 g 100 + 100 ml 100 g 40 ml 30 ml

160 g 560 ml 33,4 ml 150 g 300 g 400 g 500 ml 200 g 80 ml 200 ml

Tab.02 - Efeito do tratamento de sementes de algodão com fungicidas no controle do tombamento de plântulas causado por Rhizoctonia solani

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Tratamento

Dose Emergência (g/100kg de sementes) Inicial (%)

Premis Premis+Rhodiauram Premis+Derosal Vitavax thiram (V-T) V-T+Benlate V-T+Derosal Euparen+Monceren+Baytan Rhodiauram+Tecto+Spectro Test. não Inoculada Test. inoculada

300 300+400 300+200 700 500+100 500+100 100+200+200 560+400+34 -

Cultivar

Respeitar a cadeia de transferência de tecnologia é fundamental para um rendimento satisfatório

Fungicidas sistêmicos proporcionam maior espectro de ação no controle dos fungos presentes no solo

35,0 68,5 72,5 87,0 65,0 75,0 90,0 63,5 89,0 29,5

Emergência Tombamento (%) Final (%) R. solani 31,0 60,0 65,5 81,5 51,5 64,5 88,5 39,5 89,0 9,5

11,4 12,4 9,6 6,3 20,8 14,0 1,7 37,8 0,0 67,8

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adimenol, triticonazole e difenoconazole (Tabela 1). A combinação de dois ou três fungicidas sistêmicos com protetores tem proporcionado um maior espectro de ação no controle dos fungos presentes no solo, em comparação ao uso isolado de um determinado fungicida, verificando-se melhores emergências de plântulas e melhores índices de controle do tombamento. Diversos trabalhos de pesquisa foram desenvolvidos na Embrapa Agropecuária Oeste nos últimos 5 anos, na área de tratamento de sementes de algodão com fungicidas, visando o controle do tombamento de plântulas causado pelo fungo R. solani. Os resultados de um desses trabalhos podem ser observados na Tabela 2.

CUSTO DO TRATAMENTO

Levando-se em conta todos os gastos necessários ao cotonicultor para a produção de 1ha de algodão, o tratamento de sementes com fungicidas é a prática de menor custo quando comparada com as demais. O tratamento de sementes de algodão com fungicidas representa apenas 0,17% do custo total com a cultura. Nem sempre a semeadura é realizada em condições ideais o que resulta em sérios problemas de emergência, havendo, muitas vezes a necessidade da ressemeadura, o que acarreta enormes prejuízos ao produtor. Assim, na cultura do algodão, essa prática onera o custo de produção em 4,07% no Sistema Convencional de Plantio e em 5,13% no Sistema Plantio Direto. Dessa maneira, em função do seu baixo custo e em vista dos benefícios que proporciona, busca-se, com este tipo de informação, estimular os cotonicultores a usar . essa tecnologia. Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste Outubro de 2001

N

o mundo atual a ansiedade gerada pela busca tecnológica é evidente em todos os setores, quando um agricultor se sente desinformado é tomado por um sentimento de angústia e inferioridade. Começa a atribuir todos os seus fracassos à falta da aplicação de práticas consideradas de alta tecnologia. O desenvolvimento tecnológico poderá ser equivocadamente conduzido quando as metodologias para geração dessa tecnologia não são corretas. Equivale dizer que todo aparato de alta tecnologia, como GPS (sistema de posicionamento geográfico pelos satélites), medidores de produtividade acoplados às colhedoras, programas de análise e interpretação de solo (DRIS, PASS) e programas de modelagem e manejo de plantas (PMAP, COMAX, WHIMS, COTTONLOGIC, GOSSYM, CALEX, COTTONPRO, CCM, CPM) estão utilizadas impropriamente por falta de uma experimentação comparativa aos métodos tradicionais e adequação para nossas condições de uso. Apesar de toda inovação contida nestas formas de avaliação pode ter um mau uso, principalmente porque esses programas são alimentados com informações geradas com exaustivo trabalho no campo. Quando não se respeita a cadeia de transferência de tecnologia e se implanta essa inovação por modismo o resultado nem sempre é satisfatório. Todo esse programa se propõe a desvendar os mistérios da agricultura e assim todos os problemas poderiam ser resolvidos e a produtividade garantida e cada vez maior. Seria algo como prever o futuro numa vidente e acreditar totalmente nesta previsão. Outubro de 2001

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

A cadeia de transferência de tecnologia poderia ser sintetizada da seguinte forma: formulação de hipótese, experimentação (pesquisa), validação (repetição da pesquisa), difusão e aplicação da tecnologia. Essa apesar de mais lenta é a forma mais segura de crer numa tecnologia nova. O objetivo do elo de ligação entre novos e antigos manejos é estabelecer com clareza o avanço ou não de uma mudança de tecnologia, assim evitar o risco de errar. Um exemplo claro ocorre no programa de melhoramento genético, nunca uma nova variedade é lançada sem antes compará-la às Cultivar

... mento da cultura (ou seja, até, no máximo

Cultivar

Algodão

Takisawa comenta sobre a transferência de tecnologia

www.cultivar.inf.br

variedades cultivadas comercialmente. Esse mesmo conceito deverá ser estendido para qualquer mudança que se deseje fazer. Quando alguém se propuser a desvendar todos os seus problemas de uma maneira ultramoderna sem estabelecimento de um vínculo com a sua forma de administração (elo de ligação) e não se alia às informações de seus colaboradores para auxiliá-lo, a confiabilidade pode ser colocada em discussão. Com o elo de ligação o aprimoramento ocorrerá de forma gradativa e seu grau de eficiência aumentará. A investigação em busca dos problemas partirá dos aspectos mais básicos, sempre tendo como parâmetro o procedimento usual. O procedimento usual não poderá conter erros tão graves quando os resultados do agricultor são satisfatórios, os ajustes mais finos serão norteados pela análise de todos os fatores de produção, nunca unicamente por apenas um fator de produção. Em síntese a conclusão é a relevância do trabalho alicerçado em pesquisa conduzido de forma competente sempre com um padrão comparativo. O resultado é a criação de um plano próprio que considere a particularidade de cada situação, não seja inflexível e imponha suas condições à planta, e sim, conheça-a melhor. Desconfiem de pessoas que propõe conhecer sua planta à distância. Lembre-se que a melhor forma para conhecer sua lavoura é viver seu dia-a-dia. O mais importante na atividade empresarial é o retorno sobre o . investimento. Evaldo Takisawa, Ceres Consultoria Cultivar

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Algodão

Cultivar

Walter Horita diz que plantará transgênicos, assim que liberados

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Cultivar

PODE VALER

Mas a Embrapa acredita que as espécies silvestres devem ser preservadas e, mais do que isso, usadas como em pesquisas de melhoramento, cruzadas com outras mais produtivas. De outra parte, há em muitas localidades campanhas para erradicação dessas Cultivar

B

astou o especialista em biotecnologia Odnei D. Fernandes, da Monsanto, informar que a empresa solicitará em novembro à CTNBio licença para realizar testes com os algodões Bollgard e Roundup Ready, geneticamente modificados, para tumultuar a questão. A comunicação, durante intervenção de rotina na reunião do Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas (sigla IRAC, em inglês) durante o Congresso Brasileiro do Algodão, em Campo Grande, foi reproduzida com alarde por jornalistas presentes, como ameaça ao algodão brasileiro. Na verdade, explicava Odnei, o algodão Bollgard, enriquecido com o gene Bt, seria uma alternativa para o crescente surgimento de casos de resistência de insetos a inseticidas comuns. Principalmente se aplicado com freqüência. Não há resistência possível ao gene Bt e os insetos morrem logo que afetados, causando danos insignificantes às plantas e economia aos produtores. A causa invocada para uma possível restrição às variedades que deram novo impulso à cotonicultura em países como Austrália, China e Estados Unidos, é a existência, no Brasil, de variedades selvagens, que os ecologistas temem ver contaminadas. Todas essas espécies se encontram em vias de extinção, como forma cultivada, sem condições de competir com as cultivares modernas, segundo boletim da Embrapa.

Odnei diz que a Monsanto pedirá à CNTBio licença para testar algodões transgênicos

cultivares selvagens, preservadas em pequenas lavouras de baixa tecnologia, jardins e praças públicas, como parte da estratégica de combate ao bicudo. As novas cultivares apresentam, além do ciclo precoce, altas produtividades e características de fibras mais valorizadas pelas indústrias. A extensão das lavouras modernas é que representa ameaça maior, portanto. Mas o risco maior de uma eventual contaminação transgênica aos selvagens é a de transferência, a esses últimos, de alguma vantagem ou desvantagem adaptativa, possibilitando que essas espécies silvestres se tornem super plantas invasoras ou que, em caso contrário, venham a se extinguir. No caso brasileiro, como explica o pesquisador Eleusio Freire Curvello, chefe da Embrapa Algodão, o fluxo gênico entre essas espécies, além de remota pelo isolamento da distribuição espacial prevista para os transgênicos, que deverão ser distribuídos nas lavouras de alta tecnologia do cerrado, áreas reconhecidamente isentas do tipo silvestre. E, caso isso ocorra, espera-se ligeira vantawww.cultivar.inf.br

PRODUTOR ESPERA

Os produtores de algodão só esperam as sementes para começar o plantio do algodão transgênico. O testemunho dos colegas australianos, americanos e chineses, durante o congresso de Campo Grande, apenas confirmou a tendência. Pressionados pelos crescentes custos de produção, de baixo para cima, e pela queda dos preços do algodão nos mercados internacionais, os agricultores estão espremidos numa faixa exígua de lucro que qualquer circunstância pode romper. Daí a espera ansiosa por uma solução que poderá ser o plantio de cultivares geneticamente modificadas. Os irmãos Walter e Wilson Horita, produtores na região de Barreiras, BA, nem discutem. Plantarão transgênicos, sem dúvida, assim que liberados. E isso que gastam menos do que seus colegas do Mato Grosso, onde a pressão de insetos é maior. Como frisa Carlos Vian, produtor de algodão de Primavera do Leste (MT), preocupado com os crescentes custos de aplicações de inseticidas, a introdução dos OGMs poderá significar o diferencial para se trabalhar com maior tran. qüilidade.

Eleusio propõe medidas para a preservação dos algodoeiros silvestres brasileiros

Outubro de 2001

O algodão geneticamente modificado está viabilizando a cultura em vários países

O

consultor australiano Bernie Bierhoff, que trabalha com algodão na província de Nova Gales do Sul, considera o produto brasileiro um competidor à altura do produto do seu país, até aqui o melhor do mundo, e admirou-se sobretudo da abundância de água, elemento raro e portanto precioso na sua terra. Nas suas lavouras 3.000 hectares dispõe de canais de quatro metros de profundidade e 15 de largura para levar água de um rio à lavoura. Impressionado com o padrão tecnológico do produtor brasileiro, o australiano visitou a Serra da Petrovina, Capo Verde e Diamantino, viu a imensa extensão dos algodoais brasileiros e salientou: só falta usar algodão transgênico, para reduzir custos de produção . Recomendou abertamente o uso das variedades resistentes a insetos, através do gene Bt, e das resistentes a herbicidas para os produtores que, no Congresso Brasileiro de Algodão, discutiram do primeiro ao último dia meios de baixar os custos de lavoura. Bierhoff recomendou o plantio de mais de uma cultivar em cada safra, além de implantação em períodos diferentes, em ciclos diversos. Assim se pode também colher em épocas distintas, podendo usufruir de melhor qualidade. Havendo só uma cultivar, e poucas máquinas, a demora pode significar a chegada das chuvas, por exemplo, e prejuízos na certa. Da mesma forma, aconselhou colher-se em separado algodão de qualidades diferentes, evitando a mistura, para se obter melhor preço. Aliás, uma de suas principais recomendações foi de evitar-se a mistura varietal, na mesma lavoura. Essa uma das grandes motivadoras de preços baixos, pois causa problemas no beneficiamento e posterior qualidade dos fios. Outubro de 2001

Cultivar

A salvação da lavoura William Deng, da Anhui Cotton Seed, falou sobre o algodão na China

Uma curiosidade: Bernie Bierhoff não entendeu como produtores tão qualificados tecnologicamente, como os brasileiros, ainda não acompanham mais de perto a regulagem de suas máquinas colhedoras. Ele viu máquinas raspando o caule das plantas e misturando esse material ao algodão, do que certamente resulta produto impuro.

CHINÊS

O chinês William Deng, diretor de tecnologia da Anhui Cotton Seed, contou a história do algodão no seu país, com lances trágicos até 1998, ano divisor da cotonicultura chinesa, quando chegaram as cultivares transgênicas. Na China, das 31 provínCultivar

A discussão sobre transgênicos que começou no Brasil sobre a soja vai se estender agora ao algodão

Cultivar

Transgênico à vista

gem adaptativa, representada pela resistência aos lepidópteros e aos herbicidas. Como esses algodoeiros silvestres são cultivados em pequenas áreas e capinados manualmente, a possibilidade de descontrole por herbicidas é remota. Eleusio propõe, para a preservação dos algodoeiros silvestres brasileiros, algumas medidas, como a intensificação das coletas dos tipos selvagens mais pressionados pela expansão dos modernos; delimitação das áreas de preservação dos tipos silvestres, onde não seria permitido o plantio dos transgênicos; e a delimitação das regiões liberadas para plantio de algodoeiros transgênicos, especialmente nas regiões de cerrado do Nordeste, Cenro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Bernie Bierhoff, consultor australiano, diz que o algodão brasileiro é um forte competidor

www.cultivar.inf.br

cias, 23 produzem, o que envolve 300 milhões de produtores e mais 200 milhões envolvidas no negócio de algodão. Colhem 4,5 milhões de toneladas e consomem 5 milhões. Em 1997 o país importou 399 mil toneladas, reduzidas para 73 mil em 1998 e só 3 mil em 1999 e 2000. Qual foi a mágica? A introdução de variedades transgênicas, apenas. A cada ano, até 97, os chineses realizavam de 15 a 20 aplicações de inseticidas para matar os lepidópteros que estavam inviabilizando a lavoura. O algodão Bt acabou o problema. De quebra, resolveu outro, o das permanentes intoxicações de agricultores por inseticidas. Somente em 1992, disse Deng, a China registrou 100.000 casos graves de envenenamento, dos quais mil fatais. Como os módulos agrícolas chineses não ultrapassam a 0,82 ha, por agricultor, e nesse terreno ainda se plantam outras culturas, usava-se pulverizadores manuais, expondo o aplicador ao agrotóxico, diretamente. O primeiro impacto do Bt na China ocorreu com a queda drástica dos custos de produção, resultando daí uma vantagem de US$ 572,4/ha. O segundo foi a melhor qualidade do produto e em terceiro plano verificou-se nítida melhoria na segurança. Enquanto ainda há países recalcitrantes quanto à liberação de plentas geneticamente modificadas, Deng salientou que o governo chinês adotou a política de regularizar e fiscalizar a cultura. De imediato verificou que o algodão passou a consumir algo entre 60 e 80% menos de inseticidas. Na sua província natal, Anhui, para plantar 10.000 hectares, Deng diz que um hospital mantinha em média 100 leitos ocupados com agricultores envenenados. Na safra passada toda a . ala reserva permaneceu vazia. Cultivar

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Fotos Carlos A. S. da Luz

Aflatoxina

Esse mal tem cura A

lgum tempo atrás foi amplamente divulgado que a grande maioria dos alimentos baseados no amendoim estavam contaminados com aflatoxina. Essa toxina é produzida por um fungo, o qual se desenvolve no amendoim armazenado, chamado Aspergillus flavus. Diversas formas de aflatoxinas são conhecidas, sendo que a aflatoxina B1, a mais tóxica, é conhecida como um dos mais potentes hepatocarcinogênicos conhecidos, causando lesões no fígado, um dos mais importantes órgãos do nosso corpo. Desde 1998, nos USA, o nível limite permitido de aflatoxinas presentes nos grãos de milho é de 20 partes por bilhão (ppb), no caso de comercialização de produtos para consumo humano. A França, mais rigorosa, permite a presença de 1 ppb de aflatoxina B1 em grãos para alimentos.

MAL RESISTENTE

A aflatoxina não é destruída pelas temperaturas normais de cozimento, ou mesmo às temperaturas usadas na indústria para o enlatamento. Além disso, a aflatoxina tem um efeito em cadeia, ou seja, caso a vaca leiteira se alimente com ração contaminada, vai produzir um leite com aflatoxina. Como os grãos são materiais higroscópicos, sua umidade varia em função da umidade relativa do ar e da temperatura. Quando o produto está armazenado em um ambiente fechado, a uma determinada temperatura, é a umidade dos grãos armazenados que vai estabelecer qual será a 30

Cultivar

A redução do nível de umidade dos grãos de 8% para 7% é capaz de não permitir que o fungo causador dessa toxina se desenvolva

umidade de relativa do ar intersticial (umidade relativa do ar entre os grãos). Os fungos são vegetais aclorofilados que possuem sementes chamadas de esporos. Esses esporos vão germinar quando a umidade relativa do ar intersticial estiver a um certo nível. Os esporos do Aspergillus flavus iniciam seu desenvolvimento quando a umidade relativa do ar intersticial é de 85%. Alguns outros fungos requerem menores níveis de umidade relativa do ar para seu desenvolvimento, como por exemplo, o Aspergillus halophilicus que necessita de 68%. À medida que os esporos se desenvolvem, eles começam a respirar. Essa respiração consome oxigênio e libera gás carbônico e água para os grãos. Essa água liberada, pela respiração dos fungos, vai aumentar a umidade dos grãos. Aumentando a umidade dos grãos, aumenta a umidade relativa do ar intersticial e com isso os esporos de outros fungos começam a se desenvolver, entre eles os do Aspergillus flavus. Por uma questão de segurança, devese manter a umidade relativa do ar intersticial abaixo de 65%, de forma que os eswww.cultivar.inf.br

Cultivar

Biotecnologia

Carlos comenta sobre o controle da aflatoxina em grãos de amendoim

para regiões mais quentes não pode ser a mesma do que aquela para regiões mais frias. Pela Fig. 01 é possível verificar que para uma umidade de comercialização do amendoim em casca de 10%, para temperaturas de 21oC e 32oC, as umidades relativas do ar intersticial correspondentes ficam em torno de 43% e 48%, respectivamente. Nesse caso, ficando a umidade relativa do ar intersticial bem abaixo do nível seguro que é de 65%.

Grãos de amendoim atacados pela aflatoxina, causada pelo fungo Aspergillus flavus

poros não se desenvolvam. As curvas de equilíbrio higrocópico do amendoim em casca e dos grãos de amendoim estão ilustradas nas figuras.

EVITANDO O PERIGO

Se é tão difícil destruir a aflatoxina, o que fazer para não se consumir alimentos com aflatoxina? A resposta é não permitir que o fungo Aspergillus flavus se desenvolva nos grãos. No caso do amendoim, a portaria no 147 (14/07/1987) do Ministério da Agricultura estabelece que o amendoim em casca pode ser comercializado com 10 % de umidade (teor de água) e os grãos de amendoim com 8%. O Brasil é um país continental, por isso tem-se regiões com média de temperatura anual em diferentes níveis. Isso quer dizer, a umidade ideal de armazenamento Outubro de 2001

No caso da Fig. 02, é possível verificar que para uma umidade de comercialização dos grãos de amendoim de 8%, para temperaturas de 21oC e 32oC, as umidades relativas do ar intersticial correspondentes ficam em torno de 72 % e 74 %, respectivamente. Neste caso, ficando a umidade relativa do ar intersticial bem acima do nível seguro que é de 65%. Aí está o problema de aflatoxina no amendoim brasileiro. A portaria no 147 (14/07/1987) do Ministério da Agricultura, tem de ser revista e deve reduzir o nível de umidade dos grãos para comercialização de 8% para 7%. Veja que 1% de redução de umidade não vai representar uma perda financeira significativa, pois o produto é comercializado em peso, mas será a fronteira entre um produto que pode causar dano à saúde pública e outro produto que além de não intoxicar quem o consome, terá níveis aceitáveis de aflatoxina para competir no mercado de . exportação. Carlos Alberto S. da Luz, UFPel

Fig.01- Equilíbrio higroscópico do amendoim em casca para 3 temperaturas (ºC)

Fig.02- Equilíbrio higroscópico dos grãos e sementes de amendoim para 3 temperaturas (ºC)


Agronegócios

Custo terrorismo Quais são os possíveis impactos dos atos terroristas nos EUA para o agronegócio brasileiro?

O

s quatro aviões seqüestrados por malucos fanáticos mataram e des truíram em Nova Iorque e Washington, mas seus estilhaços ainda estão no ar e podem atingir alvos inesperados. A pergunta que não quer calar, para a qual não há resposta no momento, é como será a nova era iniciada em 11 de setembro negro. Em nosso ramo, interessa saber como se comportará a economia em geral e os agronegócios em particular. Estamos todos com a respiração suspensa, pois não há elementos objetivos para traçar cenários claros, sendo possível, a partir dos mesmos elementos, efetuar prognósticos antípodas.

GUERRA, SIM OU NÃO?

As inquietudes para as quais não há resposta: Haverá conflito? Quem contra quem? Países produtores de petróleo? Que abrigam terroristas? Guerra com tropas ou só com aviões? Como será a contra-represália terrorista? Quantos países alinharão com os EUA? Qual a posição da China e da Rússia? E do Brasil? Que restrições e exigências imporão? Sem essas elucidações, há elevado grau de incerteza e terreno fértil para especuladores. Primeiro corolário: tudo o que for dito, até que o ambiente desanuvie, será fluido. Segundo corolário: não acredite nem em seu pai, ouça o maior número possível de analistas, para formar sua opinião. Lembre que, por enquanto, o impacto político foi maior que o econômico.

FINANÇAS

Já no dia 11 os bancos centrais agiram com racionalidade e sangue frio liberando cente32

Cultivar

nas de bilhões de dólares. O Fed e o BCE reduziram as taxas de juros. Os EUA operam com prime rate de 3% para uma inflação de 1%, o que gera um juro real de 2%, sonho platônico de todo o agricultor brasileiro. Especulações de primeira hora levaram o preço do petróleo a US$32/barril, as bolsas despencaram ao redor do mundo, o dólar desvalorizou frente ao iene e ao euro e o real frente às moedas fortes. Olhos postos na NYSE, o mundo aguardava o juízo final no dia 17, porém o recorde negativo de 7% do Dow Jones foi recebido com alívio, porque se esperava uma queda muito maior. Devido ao esforço de sustentação dos mercados, a Bovespa reagiu com alta de 5%, as principais bolsas européias e asiáticas fecharam em alta. No curto e médio prazo haverá restrições sérias ao afluxo de capitais a países emergentes, o que criará um problema para o fechamento das contas externas do Brasil e que poderá decretar a falência da Argentina.

ECONOMIA

O custo de transação do mercado atingiu novo patamar e dele não descerá. Transportar mercadorias ou passageiros ficou mais arriscado, logo passagens, fretes e seguros estão mais caros. O investimento institucional e empresarial em segurança passa a ser muito maior. É o custo terrorismo, a ser pago por todo o sistema. Como a riqueza ao redor do mundo ficou do mesmo tamanho, a apropriação de recursos por parte desse setor retira quase o equivalente do consumo de produtos. Movimentos de formação de estoques são normais em períodos de conflitos, em especial de www.cultivar.inf.br

produtos e materiais estratégicos como petróleo, alimentos e metais preciosos, levando ao seu encarecimento. A intensidade e a duração do ciclo de estocagem depende da resposta às perguntas acima: caso não haja um conflito militar, a bolha especulativa esvazia-se de imediato. Por outro lado, um conflito de proporções fará com que esses produtos sejam valorizados e a alta de preços sustentada. Nesse caso, todo o bem ou produto útil ao esforço de guerra terá seu valor elevado, em função da demanda. O fluxo de turismo será consideravelmente reduzido, haverá redução do faturamento de empresas aéreas, com graves riscos de falências. O desemprego no setor será recorde, e afetará a demanda de alimentos para esse segmento.

AGROPECUÁRIA

O impacto no curto prazo foi pífio, nada além do travamento do mercado e da paralisação de negócios por falta de referenciais. Enquanto fervilham as investigações e as ações diplomáticas para definir a forma de reação, os mercados permanecem em stand by, sem perder sua lógica, movidos pelas avaliações de safras, demanda e estoques. Sequer a dispoOutubro de 2001

nibilidade de dinheiro a juros baixos levou a movimentos especulativos. A explanação mais provável é que o mercado não vislumbrou a iminência de um conflito armado de proporções, que pudesse interferir na produção e transporte de agro-produtos. No médio prazo, pode-se esperar uma introversão das grandes potências, desacelerando ou fechando programas de ajuda alimentar a países miseráveis, inclusive os capitaneados pela FAO. Como fome somente se transforma em mercado quando há dinheiro para adquirir alimentos, menor solidariedade internacional com os famélicos diminuirá a demanda por alimentos, derrubando preços e acirrando o protecionismo. Um aumento do preço do petróleo significa incremento no custo da energia e dos

insumos (agrotóxicos e fertilizantes), já encarecidos por conta do custo terrorismo (fretes e seguros).

PROTECIONISMO E SANIDADE

No longo prazo, outros aspectos merecem atenção, independente de conflitos armados. O primeiro diz respeito ao protecionismo. A águia americana está ferida e seu governo necessitando juntar os cacos, unindo a sociedade em torno de sua proposta de combate ao terrorismo. Assim, pequenas (sob a ótica americana) concessões como a manutenção ou mesmo a elevação de subsídios e outras formas de protecionismo é perfeitamente factível. Não vislumbro entraves orçamentários que venham a reduzir recursos destinados aos subsídios agrícolas, em função do esforço de guerra ou do aumento de atividades de segurança. O orçamento fiscal dos EUA é superavitário e a opção pelo déficit significa menor custo político que abrir rachaduras na base de sustentação interna. Considere-se que alimento é uma questão estratégica. Em momentos de conflito os estrategistas recomendam independência de suprimento externo, a qualquer custo. O segundo aspecto é o endureciOutubro de 2001

mento das exigências sanitárias pois, por mais tétrico que isso pareça, terroristas poderiam contaminar alimentos, usando-os como arma, a exemplo do que fizeram com aviões civis. Esse expediente lúgubre já foi utilizado por outros monstros insanos e não é descartável. Para fazer frente às novas exigências, o Brasil teria que ampliar ainda mais seu esforço de pesquisa por parte da Embrapa e parceiros, e da fiscalização sanitária cometida ao MAPA.

RECUPERAÇÃO ECONÔMICA

O mundo estava em processo de desaceleração econômica, rumando para uma recessão global. Os três grandes motores da economia mundial (EUA, Europa e Japão) não respondiam à receita ortodoxa para reversão da curva de atividade econômica. O Japão, por problemas estruturais, que não consegue equacionar há uma década. E os dois restantes não conseguem recuperar-se das apostas super dimensionadas em empresas de alta tecnologia. Os economistas têm explicado o fenômeno pela falta de confiança dos consumidores na economia. Ou seja, apesar de reduzir juros, disponibilizar maior volume crédito, manter a inflação em baixa, conter o desemprego em níveis civilizados, os governos não estavam transmitindo segurança aos consumidores para que abrissem a guaiaca, dando a partida a um novo ciclo de desenvolvimento. O efeito terror pode atuar de duas formas completamente diferentes sobre os corações e mentes das pessoas: por um lado, pode acirrar o sentimento de insegurança, levando a um nível mais elevado de poupança, postergando o consumo e a conseqüente recuperação econômica. Esse é um dos componentes da recessão japonesa, que poderia contaminar o mundo. Por outro lado, a sociedade de brios feridos poderá ser oportunisticamente motivada, através de um viés nacionalista, a engajar-se em um esforço de recuperação econômica, para demonstrar pujança e liderança. Agregue-se o aumento dos dispêndios governamentais em segurança, comunicação e informação, que teriam um irônico efeito positivo sobre a economia. Qualquer dos dois cenários, inclusive os intermediários, é sustentável. Somente o tempo, senhor da razão, vai transparecer os sinais do rumo a tomar.

POSTURA BRASILEIRA

A diplomacia brasileira, tradicionalmente, não assume posturas de alinhamento automático. Atos terroristas são absolutamente condenáveis. Entretanto, é importante refletir sobre sua motivação, até como forma de eliminar ou prevenir a ação de terroristas. O Brasil é um país multi-racial por formação, aqui convivem cidadãos de múltiplas descendências. Não há conflitos étnicos no país e até os casos de racismo estão umbilicalmente associados à condição econômica. É importante que o Brasil assuma uma posição firme de www.cultivar.inf.br

repúdio a qualquer ato terrorista, porém é transcendental que se entenda que o Brasil tem mais a perder que a ganhar com seu envolvimento direto em qualquer conflito. O Brasil deve aproveitar essa oportunidade para propor uma agenda que auxilie a solver algumas das causas do terrorismo. Afora as disputas geográficas, a opressão econômica é um propulsor dos terroristas, a partir da falta de perspectivas pessoais e nacionais, sendo a religião usada como motivador para ações radicais, como o suicídio. Devemos iniciar propondo ações positivas para acabar com todo o tipo de racismo e discriminação, e negando apoio a ditadores sanguinários que vampirizam seu povo. É o momento de rever o fosso entre ricos e pobres, de implementar uma coordenação econômica mundial para evitar os ciclos recessivos de pobreza; de implantar a Tobin tax, domando capitais especulativos que arrasam países inteiros, criando o caos econômico e social. É hora de por um basta no protecionismo co-

mercial, na exploração de recursos naturais e na pirataria da biodiversidade, que tiram qualquer oportunidade de um país pobre almejar uma vida digna para os seus cidadãos. Precisamos de ações definitivas para dar sentido à vida aos 800 milhões de famélicos do mundo. Os EUA poderiam dar o exemplo de sensibilidade com os problemas globais e cumprir o Protocolo de Kyoto. Last but not least, ainda falta uma adesão plena ao Tratado de não Proliferação de Armas, as ações militaristas internacionais deveriam restringir-se ao absolutamente necessário para preservar vidas humanas ameaçadas, e as vendas de armas deveriam sofrer as mesmas restrições aplicadas ao tráfico de drogas. Embora condenável por qualquer ângulo que se analise, o holocausto de 11 de setembro pode passar para a História como o marco que deflagrou uma era: a era da globalização da justiça. Que beneficiará a todos e terá um efeito positivo sobre todos os cidadãos e empresas que atu. am na produção de alimentos. Décio Luiz Gazzoni, Engenheiro Agrônomo Cultivar

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

brandalizze@uol.com.br

Terror nos EUA beneficia a safra nova O mês de setembro ficou marcado para a eternidade pelo maior atentado terrorista ocorrido até hoje. Naquele dia não foram somente milhares de vítimas e as torres que desabaram que marcaram o Brasil. Houve uma nova onda de pressão sobre o câmbio, que resultará em indicativos maiores no médio e longo prazo. Até aquele dia, trabalhávamos com R$ 2,60 por US$ 1, com indicativos de sobre valorização de pelo menos R$ 0,40. Depois bateu recorde superando a marca dos R$ 2,74 e criou novos indicativos de base de sobre valorização, ou apontavam que o dólar real já não era mais os R$ 220,00 e agora passava para os R$ 2,50, e assim criando na mentalidade de muitos operadores a indicação dos R$ 3,00. Ou seja, o governo brasileiros fez tudo certo por aqui, mas o vendaval que veio de fora conseguiu empurrar a moeda para cima. A cada momento de risco, o porto seguro é o dólar e assim continuaremos andando em cima de uma moeda firme, com poucas chances de queda. Para o setor agrícola, esse é um fator favorável porque tudo caminha para termos crescimento nas exportações em 2002. Os produtores de soja que estão aumentando em mais de 1,5 milhões de hectares a área plantada, já tem como garantia o câmbio e para os setores de consumo interno, como arroz, milho, feijão, algodão, o que se pode prever é a queda ou a inexistência de importações. Apontando que teremos um bom desempenho econômico da safra que começou a ser plantada.

MILHO Cotações apertadas O mercado do milho avançou em setembro, com indicativos puxando as posições entre R$ 0,50 e R$ 1,00 por saca. Já sinaliza para a entressafra efetivamente. Dessa forma os vendedores mostravam pressão de alta e muitos não apareciam para fechar posições. Com isso as indústrias que consomem grandes volumes de milho terão que atuar forte neste mês de outubro, buscando se cobrir para o final do ano. Outro ponto importante que o setor tem que levar em consideração neste mês é o período da entressafra que será longo; irá até fevereiro. Assim poderemos ver os vendedores fazendo as cotações nos meses vindouros.

SOJA Entressafra chegou O mercado da soja no último mês entrou efetivamente na entressafra e puxou as cotações por aqui, seguindo a linha contrária ao que ocorria em Chicago, onde se aproximava da colheita e os indicativos recuavam. Os indicativos internos mostravam avanços de R$ 1,00 até R$ 2,00 por saca. Com os vendedores correndo atrás dos poucos lotes que ainda não foram negociados. Com isso houve cotações fechadas, no interior, muito acima do que estavam sendo praticadas nos portos para a exportação. A tendência é cotações locais maiores que o mercado externo, beneficiando os produtores que ainda tem um pouco de produto.

ARROZ Perdendo fôlego O mercado do arroz mostrou forte avanço nos indicativos em setembro, com os indicativos praticados junto ao mercado gaúcho dos R$ 18,00 a R$ 19,00, contra os R$ 15,50 a R$ 16,00 praticados em agosto. O quadro de oferta e demanda apertado para este ano e 34

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a dificuldade de importações fizeram com que os vendedores valorizassem o pouco que resta. Com isso, a pressão de alta continuará em outubro, mas as chances de grandes avanços são pequenas. O gargalo do setor esta no baixo poder aquisitivo da população que estrangula as indústrias, que não têm como repassar números muito altos nas gôndolas onde se observa queda no consumo quando os indicativos do pacote vão além dos R$ 5,00 por 5 kg. O governo deverá ser o maior vendedor de arroz neste mês.

FEIJÃO Entressafra continua O feijão passou o mês de setembro calmo. Indicativos praticados entre os R$ 45,00 aos R$ 60,00 por saca na base do carioca aos produtores, enquanto o Preto foi cotado entre os R$ 80,00 e R$ 100,00. A entrada de feijão neste mês estará restrita a poucos volu-

mes e localizados do irrigado de Goiás e Minas Gerais, e alguma coisa do Nordeste. Com isso continuaremos andando em cima de patamares muito parecidos com os anteriores. Mas se houverem perdas da safra nova, poderemos ter pressão de alta na boca da safra.

ALGODÃO Redução do plantio O mercado do algodão não mostrou o mesmo glamour do ano passado. Mesmo com o câmbio favorecendo o setor, as exportações não foram as previstas e muitos contratos foram quebrados pelos importadores, que pagaram as multas pequenas e deixaram parte dos produtores com algodão parado. Dessa forma, o setor reduz a expectativa de plantio porque não tem liquidez garantida. Os que vão plantar já estão se movimentando para fechar as posições e ter garantias maiores que as da safra passada.

CURTAS E BOAS TRIGO - no mês passado as geadas tardias pegaram algumas lavouras do Sul do Brasil e fizeram com que os produtores colhessem triguilho. Mesmo assim, para a maior parte do setor, o quadro foi favorável e a produção está chegando com cerca de 2,8 milhões de T. Os indicativos praticados têm variado dos R$ 290/310 por T. ARROZ - os negociantes brasileiros foram ao Irã em setembro e conseguiram fechar 30 mil T de arroz beneficiado para ser colocado naquele mercado. Com chances de avançarmos com volumes maiores. Poderemos estar criando uma nova alternativa de negócio a médio e longo prazo. SOJA - o USDA em seu relatório mensal de setembro trouxe a safra americana em 77,1 milhões de T, contra 76 esperadas pelo mercado. As empresas mais pessimistas apontavam números de 74 milhões de T, contra as 75,3 colhidas no ano passado. Os números devem cair neste mês de outubro e também em novembro, quando vêm os valores reais. MILHO - a geada ocorrida no dia 17 de setembro último no Sul do pais, promoveu perdas nas primeiras lavouras plantadas, devendo atrasar o início da colheita da safra nova e esticando a entressafra. A safrinha fechou próxima das 6,2 milhões de T. FEIJÃO - a geada causou grandes perdas a primeira safra, que foi fortemente atingida nos estados do Sul. Com isso deve reduzir a entrada de produto novo no mês de novembro e dezembro. O mercado ficará firme por mais tempo.

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Outubro de 2001

Setembro de 2001

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