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Ano IV - Nº 36 Fevereiro/2002 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00
Pragas no algodão Walter Jorge escreve sobre as pragas da família curculionidae e explica como fazer o controle
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Planta protegida
Números atrasados: R$ 8,00 Diretor:
Newton Peter
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Editor geral:
Os elicitores bióticos são capazes de ativar os mecanismos de defesa das plantas
Schubert Peter Redação
Pablo Rodrigues Charles Ricardo Echer
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Design Gráfico e Diagramação:
Sorgo doente
Fabiane Rittmann
Conheça como se desenvolve o míldio e também os métodos para controlá-lo
Marketing:
Neri Ferreira Circulação:
Edson Luiz Krause Assinaturas:
Simone Lopes
Transgênicos: Sim!
Ilustrações:
Rafael Sica Editoração Eletrônica:
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Index Produções Gráficas
Estudo realizado nos Estados Unidos prova que milho Bt não é o vilão da borboleta monarca
Fotolitos e Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES:
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GERAL / ASSINATURAS: 272.2128 REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716 MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314 FAX: 272.1966
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br
A Cultivar® é Marca Registrada da:
Ceres Empresa Jornalística
índice Diretas Mais um bicudo na soja Vespinhas controlam percevejos Leite contra o oídio na soja Bicudo e Brocas no algodão Coluna da Aenda Projeto águas - Bayer Elicitores: defesa natural Expansão do arroz Infecção no sorgo Transgênicos Adubar ou não a soja com Nitrogênio Tratamento de sementes de milho Agronegócios Mercado agrícola
Nossa capa 04 06 07 10 12 18 19 20 23 24 28 30 34 36 38
Foto Capa / Marcelo Maraschin
Especialista fala sobre os elicitores bióticos
diretas Caldo de cana
Marcel Ponce
Nova gerência
Ainda como parte das mudanças na Syngenta, Marcel Ponce assumiu como novo gerente de marketing HF & Feijão. Marcel é Engenheiro Agrônomo formado pela Unesp e já trabalhou em São Paulo, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. Ponce faz parte da B.U. Marketing Perenes e Vegetais.
Pesquisadores franceses do INRA desenvolveram uma técnica que abre novos horizontes para a cana-de-açúcar. Usada hoje basicamente para produzir açúcar e bebidas alcoólicas (rum e cachaça), seu suco somente pode ser consumido na forma natural logo após espremido, geralmente em beira de estrada. Três ou quatro horas após se torna indigesto. Graças a um processo de microfiltragem os pesquisadores conseguiram obter um líquido esterelisado, clarificado e conservando todas as qualidades de gosto. Uma empresa francesa já solicitou licença para a fabricação de refrigerantes e bebidas licorosas e doces naturais, tipo moscato.
União Européia e transgênicos A União Européia acaba de divulgar os resultados de um estudo, feito entre 1985 e 2000, que atesta que as plantas geneticamente modificadas não só são seguras para o consumo humano e o meio ambiente como podem ser ainda mais seguras que as convencionais. O relatório de biossegurança resume 81 projetos financiados pela União Européia ao
Mudanças na Syngenta
Leo Togashi, oriundo da Novartis, empresa que fundida à Zêneca originou a Syngenta proteção de cultivos, é o novo responsável pela comunicação na Bu Sul, com sede em Londrina. Para a comunicação destinada ao público do Cerrado, a responsável será Sandra Pires. A BU Cerrados tem sede em Uberlândia MG. As alterações também se processaram no Marketing. Leandro Amaral, que era da Unidade de Cuiabá, assume em Londrina sua nova função, Gerente de CRM.
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Cultivar
longo dos últimos 15 anos, a um custo total de US$ 64 milhões, sobre as plantas geneticamente modificadas e os produtos delas originados. O estudo revelou que não foi encontrado qualquer risco à saúde humana ou ao meio ambiente além dos já percebidos nas plantas convencionais . Além disso, o uso de tecnologia mais precisa e a maior rigidez dos pro-
cessos de regulamentação fazem das plantas e alimentos geneticamente modificados, provavelmente, produtos mais seguros que os convencionais , afirma o estudo. Para o superintendente de pesquisa da União Européia, Phillipe Busquin, o estudo mostra a preocupação da comunidade em ouvir uma quantidade respeitável de cientistas e
pesquisadores, durante um longo período de tempo, contribuindo para o acúmulo rápido de conhecimento e experiências nesse campo . Os resultados e detalhes do estudo estão disponíveis na página da União Européia na Internet, no endereço http://europa.eu.int/ comm/research/quality-of-life/gmo/ index.html
Manejo do Solo
O IAC confirmou, através de uma pesquisa de dissertação de mestrado da Pós-Graduação do Instituto, que duas cultivares de soja, já disponíveis no mercado, são resistentes à mosca branca. São elas a IAC 17 e a IAC 19, lançadas em meados da década de 90. A mosca branca é um inseto, que quando jovem se aloja na parte inferior das folhas da planta e suga sua seiva. Quando adulta, a mosca migra para outras plantas e se reproduz. As plantações de soja são ótimas criadoras da mosca branca , afirma o pesquisador entomologista André Luiz Lourenção, da Entomologia do IAC.
Colhedora de Algodão Case
A case, líder mundial em sistemas de mecanização de algodão, inicia 2002 com uma grande novidade: o lançamento da Cotton Express 2555 Versão Brasileira, a colhedora que traz uma série de melhorias técnicas desenvolvidas exclusivamente para as condições agrícolas brasileiras, o que vai melhorar a performance da colheita e a qualidade do algodão colhido. A nova versão da máquina é resultado de pesquisas tecnológicas realizadas nas principais regiões produtoras de algodão do País consumindo 1.500 horas de testes. Já testada e aprovada por grandes produtores brasileiros, a nova versão da Cotton Express 2555 é o primeiro lançamento de 2002 realizado no mercado nacional pela CNH Global - holding do Grupo Fiat para o setor agrícola e de construção e líder mundial na fabricação de tratores e colheitadeiras que está investindo US$ 100 milhões em toda América Latina até o final deste ano.
Prêmio MasterCana 2001
O IV Curso de Especialização em manejo do Solo será oferecido pelo Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da ESALQ/USP, em Piracicaba, a partir de 15/12/02. A duração completa será de 20 finais de semana alternados com aulas às sextas-feiras à noite e sábados. Informações adicionais podem ser obtidas através do site www.esalq.usp.br/lsn
O Programa Cana IAC recebeu o Prêmio MasterCana 2001, de distinção aos Melhores do Ano no Setor Sucroalcooleiro, na categoria Assessoria Técnica Área Agronômica . O IAC foi contemplado por
Marketing Syngenta Nilson Oliveira, profissional com 17 anos de experiência no mercado de defensivos, é o novo gerente de marketing para a cultura da soja na Syngenta. Anteriormente, Nilson estava na gerência de suporte técnico. As mudanças processadas na Syngenta como a regionalização das áreas de comunicação, têm o objetivo de aproximar a empresa dos clientes e afinar a comunicação a eles destinada.
Mosca-branca
sua ampla interação com os usuários do setor sucroalcooleiro, através da criação do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar, em 1992. O objetivo do Programa é socializar as pesquisas com as usinas e co-
operativas, através treinamentos, orientação sobre adubação, manejo das variedades, espaçamento da plantação , afirma o pesquisador científico e coordenador do Grupo, Marcos Landell.
Rastreabilidade
Nilson Oliveira www.cultivar.inf.br
A Embrapa foi anunciada como a primeira entidade certificadora do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov). O anúncio foi feito pelo ministro Marcus Vinícius Pratini de Moraes, em solenidade realizada em Brasília. Durante o evento, em que foi assinada a Instrução Normativa instituindo o Sisbov, Pratini de Moraes falou da importância da rastreabilidade para a conquista de novos mercados e para a oferta de produtos de melhor qualidade para os consumidores.
Fevereiro 2002
Soja
Soja
Mais um bicudo na soja N
são e preocupação quanto ao efeito dos seus danos no rendimento da cultura. Na safra passada, foi problema sério para produtores de alguns municípios do Norte do Paraná e do Sudoeste de São Paulo. As lavouras plantadas mais cedo tiveram um ataque maior, devido ao alto nível populacional da praga. Geralmente, o adulto do torrãozinho ini-
Fotos Divulgação / Embrapa Soja
as últimas safras, altas populações de Aracanthus sp. têm ocorrido em lavouras de soja dos Estados do Paraná, de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, embora o primeiro registro nesta cultura tenha ocorrido em Palmeira das Missões (RS), há quase 25 anos, na safra 1976/ 77. O inseto tem sido observado também em feijão, trigo e quiabo, além de atacar plantas daninhas como o amendoimbravo e a trapoeraba. Trata-se de um pequeno besouro marrom, com aproximadamente 4 mm de comprimento, pertencente a família Curculionidae a família dos insetos bicudos - bastante semelhante a um pequeno torrão de solo. Daí originou-se o nome popular que está recebendo por parte dos agricultores: torrãozinho . Poucas são as informações disponíveis a respeito da biologia desse inseto. Mas baseandose nos gêneros mais próximos que, segundo o Professor Germano Rosado Neto, da Universidade Federal do Paraná, são Naupactus e Pantomorus, o torrãozinho passa as suas fases imaturas (larva e pupa) no solo. Ainda, é possível, que o inseto tenha ciclo anual e que a fase larval seja longa, podendo durar até 11 meses. Na fase larval, os representantes desses gêneros alimentam-se de raízes secundárias das plantas hospedeiras.
NÍVEL POPULACIONAL
Até o momento, é considerada uma praga secundária da soja, porém, nos últimos anos, o nível populacional do inseto aumentou muito nas lavouras, a ponto de gerar apreen06
Cultivar
Danos causados pelos adultos do torrãozinho , Aracanthus sp., aos cotilédones da soja
cia seu ataque pelas bordas da lavoura, junto a estradas vicinais da propriedade ou a talhões de milho, próximos da soja, onde se verifica uma concentração maior do inseto. Os danos são mais graves quando seu ataque ocorre na fase inicial de desenvolvimento das plantas e caracterizam-se por pequenos orifícios e cortes nas margens das folhas e dos cotilédones, conferindo um aspecto serrilhado aos mesmos. Em áreas onde a população é elevada, o inseto também pode atacar a gema apical, que é a estrutura responsável pelo crescimento da soja, ou, até mesmo cortar o caule www.cultivar.inf.br
Em áreas onde a população é elevada, o “torrãozinho” também pode atacar a gema apical estrutura responsável pelo crescimento da soja - ou até mesmo cortar o caule da planta recémemergida, diminuindo o estande da lavoura e fazendo com que seja necessário replantar a soja da planta recém-emergida. Isso diminui o estande da lavoura, fazendo com que seja necessário replantar a soja. Não foram observados danos que possam ser atribuídos às larvas do torrãozinho , em soja. Mas, como provavelmente a fase larval seja longa, é necessário prestar atenção na cultura que a sucede, especialmente quando as formas jovens atingem os últimos instares, são maiores e podem eventualmente causar danos. Entretanto, não está descartada a possibilidade de as larvas se manterem e completarem o ciclo nas raízes secundárias da própria soja, que permanecem no solo. Dada a característica de ataque do inseto, iniciando pela bordadura da lavoura, na maioria dos casos, talvez o seu controle poderá ser feito com aplicação de inseticida somente nesta área, em faixas de 3050m de largura. Ainda não existe recomendação oficial de nível de ação nem, tampouco, de inseticidas para controle da praga. No entanto, o agricultor não deve deixar a desfolha ultrapassar 30%, obedecendo a recomendação geral para pragas desfolhadoras da soja. Pesquisadores da Embrapa Soja estão realizando testes com diferentes ingredientes ativos para verificar quais os mais eficientes, assim como para avaliar o nível de ação para o controle da . praga na cultura da soja. Ivan Carlos Corso, Clara Beatriz Hoffmann Campo, Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira, Embrapa Soja Fevereiro 2002
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tualmente, um grande desafio da agricultura é aumentar a produtividade da cultura e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade biológica (valor nutritivo), a sanidade dos alimentos (ausência de resíduos tóxicos) e, principalmente, conservar os recursos naturais (solo, água, ar e organismos) para as gerações futuras. Dentro dessa perspectiva, em programas de manejo integrado de pragas, o controle biológico dos percevejos através da utilização de inimigos naturais encontra suas melhores chances de ser bem sucedido e tem grandes possibilidades de ser amplamente utilizado em sistemas de agricultura orgânica. Os percevejos são considerados uma das pragas de maior importância para a cultura da soja no Brasil. Por se alimentarem diretamente dos grãos, causam problemas sérios à soja, afetando o rendimento dos grãos e a qualidade das sementes. Nesses ataques, os percevejos podem inutilizar a semente ou reduzir a sua viabilidade, originando plântulas com baixo vigor. Paralelamente ao complexo de sugadores que ocorrem na cultura da soja, representado principalmente pelas espécies Nezara viridula, Euschistus heros e Piezodorus guildinii, um grande número de inimigos naturais está normalmente presente em lavouras de soja, sendo responsáveis, muitas vezes, pela manutenção das populações dos percevejos em níveis reduzidos. Entretanto, para que esses agentes naturais sejam realmente eficientes, é preciso utilizar certas medidas que favoreçam a sua sobrevivência e permanência nas lavouras. O sistema de soja orgânica apresenta essas condições e proporciona que os inimigos naturais sejam preservados e possam melhor atuar no agroecossistema.
CONTROLE BIOLÓGICO NATURAL
No complexo de parasitóides que atacam as populações de percevejos presentes na cultura da soja, os parasitóides de ovos
Sem percevejos O uso de parasitóides tornou-se uma alternativa eficaz para o manejo de percevejos em cultivos de soja orgânica Adulto do parasitóide de ovos Trissolcus basalis
Trissolcus basalis e Telenomus podisi (Fig. 2), quando preservados, destacam-se pela sua eficiência, importância e abundância nas lavouras de soja, contribuindo significativamente na redução populacional dos percevejos pragas. Fotos Embrapa Soja
Fig. 03 - Adulto do percevejo verde (dir.) parasitado por Trichopoda nitens (esq.)
Fevereiro 2002
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Além do parasitismo em ovos, é comum, na cultura da soja, a ocorrência do parasitismo em adultos de percevejos, especialmente por moscas, como Trichopoda nitens (Fig. 3), parasitóide importante em adultos de N. viridula. Sua maior contribuição tem sido verificada na população de inverno, na qual chega a atingir índices de 95% de parasitismo. A larva de T. nitens se desenvolve no interior do hospedeiro, matando-o quando a larva emerge para empupar no solo. O microhimenóptero Hexacladia smithii (Fig. 4) é o principal parasitóide em adultos do percevejo marrom E. heros. Presente em populações elevadas no período de dezembro e janeiro, chegou a atingir 52% da população deste hospedeiro no Norte do Paraná, reduzindo drasticamente a capacidade reprodutiva das fêmeas do percevejo e, consequentemente, sua colonização na cultura da soja. É um endoparasitóide gregário, que se desenvolve no interior do hosCultivar
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do percevejo marrom E. heros, que são utilizados como hospedeiros na multiplicação de T. basalis e T. podisi, respectivamente. Os percevejos hospedeiros são criados em gaiolas de madeira, cobertas com tela de filó, alimentados com sementes secas de soja, amendoim, frutos de ligustro e água, utilizando-se uma planta de soja como substrato de oviposição. Para a multiplicação dos parasitóides, podem-se utilizar ovos de percevejos, frescos ou armazenados em baixas temperaturas (freezer ou nitrogênio líquido), os quais são expostos aos parasitóides em tubos de plástico transparente. Após o parasitismo, os ovos são colados em cartelas de papelão e enviados aos produtores para a sua liberação na lavoura.
Fig. 02 - Telenomus podisi parasitando ovos de Euschistus heros
... pedeiro. Os adultos medem 1,5 a 2 mm e apresentam coloração preta. Após 35 dias de parasitismo, os parasitóides completam o desenvolvimento emergindo, como adultos, através de orifícios feitos no lado ventral ou dorsal do abdome, reduzindo naturalmente as populações de percevejos presentes na cultura da soja.
CONTROLE BIOLÓGICO APLICADO
O controle biológico dos percevejos da soja, através da utilização dos parasitóides de ovos, tem como principal objetivo restaurar o equilíbrio entre as pragas e seus inimigos naturais, buscando um controle mais estável pelo aumento populacional desses agentes benéficos e da sua preservação nas lavouras de soja. O controle biológico dos percevejos da soja é feito através da utilização dos parasitóides de ovos T. basalis e T. podisi. Microhimenópteros, de cor preta, de 1 mm de comprimento, os adultos têm vida livre e depositam seus ovos no interior dos ovos dos percevejos, matando o embrião. Parasitam ovos de diferentes espécies de percevejos sendo comum em N. viridula, P. guildinii e E. heros. Destaca-se, entretanto, a associação preferencial de T. basalis com ovos do percevejo verde e de T. podisi com ovos do percevejo marrom. Esses parasitóides são liberados a campo, com o objetivo de incrementar as populações naturais já existentes nas lavouras, buscando sua maior eficiência no combate aos percevejos, que são mantidos em níveis reduzidos, sem causar danos à cultura. Podem ser liberados como adultos (5000 vespinhas/ha) ou como ovos parasitados em cartelas de papelão (3 cartelas/ha). Recomenda-se a liberação desses parasitóides nas bordas da lavoura, quando a soja estiver no final do florescimento, possibilitando a sua multiplicação no próprio campo e a disper08
Cultivar
cresceu, chegando a ser ausente, no início de fevereiro, com soja em fase de enchimento de grãos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
PRESERVAÇÃO NO AGROECOSSISTEMA
são, à medida que ocorre a migração dos percevejos hospedeiros para o interior da lavoura. As cartelas de papelão contendo os ovos parasitados são enviadas aos produtores pelo correio e colocadas no campo um ou dois dias antes da emergência das vespinhas, sendo amarradas na parte mediana da planta de soja (Fig. 5). As fêmeas, ao emergirem, são copuladas e saem em busca de novas massas de ovos de percevejos para depositar seus ovos, reiniciando o ciclo. Os ovos dos percevejos, quando parasitados, mudam de coloração, tornando-se bem escuros próximo à emergência dos adultos. Cerca de 10 dias depois, cada ovo parasitado dará origem a um novo parasitóide, ao invés de originar um percevejo. Cada fêmea do parasitóide coloca em média 200 ovos. Como os parasitóides se desenvolvem dentro dos ovos dos percevejos, sua multiplicação é feita em laboratório utilizando colônias do percevejo verde N. viridula ou
Em áreas de soja orgânica, onde o uso de inseticidas químicos para o controle das pragas é nenhum, a contribuição desses parasitóides na mortalidade dos ovos de percevejos é elevada. Para preservar esses agentes biológicos que já ocorrem naturalmente nas lavouras, sendo algumas vezes suas populações incrementadas através de liberações inoculativas, é muito importante que algumas medidas sejam obedecidas, como: monitorar a população dos percevejos através de amostragens periódicas na lavoura, com o método do pano-de-batida; preservar ou implantar áreas de refúgios naturais, como matas, capoeiras, entre outras; utilizar produtos biológicos quando outras pragas atingirem o nível de dano e houver necessidade de controle; diversificar as culturas no tempo (rotação) e no espaço (policulturas); e considerar o agroecossistema como um todo, adotando medidas que busquem o equilíbrio, também após a cultura da soja.
Fotos Embrapa Soja
Fig. 04 - Adulto do percevejo marrom parasitado por Hexacladia smithii
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Fig. 05 - Cartela de papelão com ovos de percevejo parasitado
ESTUDO DE CASO
Resultados do controle biológico em lavoura de soja orgânica foram obtidos na safra 2000/01 no Norte do Paraná, onde se comparou o crescimento populacional dos percevejos em áreas com e sem a liberação de parasitóides (Fig. 6). Nessa lavoura, os parasitóides T. basalis e T. podisi foram liberados no florescimento da soja e, semanalmente, acompanhados (parasitóides e hospedeiros) até o final do ciclo da cultura. Constatou-se que, mesmo na área testemunha, a incidência natural desses parasitóides foi alta, mas o acréscimo liberado na área de soltura reduziu a população dos percevejos, que se manteve baixa e em índices inferiores ao do nível de dano econômico durante todo o período crítico de ataque (desenvolvimento de vagens ao enchimento de grãos), enquanto que, na área testemunha (sem liberação), a população dos percevejos foi sempre mais elevada durante todo o período reprodutivo da cultura. Nas duas áreas a população de percevejos atingiu o pico próximo à colheita, em função, possivelmente, da migração de percevejos de áreas vizinhas. Quanto à incidência dos parasitóides de ovos, constatou-se, nas duas áreas, um nível elevado de parasitismo no período inicial do desenvolvimento da cultura (40%50%). Este foi mantido até o inicio da maturação na área que recebeu os parasitóides liberados, enquanto que na área sem liberação (controle natural) este nível deFevereiro 2002
Hoje a demanda por alternativas de controle biológico é grande e tende a aumentar, considerando as exigências, cada vez maiores, por alimentos e ambientes mais limpos. Os parasitóides constituem uma importante e eficiente tática de controle no manejo dos percevejos que atacam a soja, tanto em cultivos orgânicos, quanto em convencionais. No entanto, há necessidade de crescimento no setor de multiplicação desses agentes biológicos, para que um número maior de sojicultores possa dispor dessa tecnologia com facilidade. Em função dessa limitação, o programa de controle biológico dos percevejos caminha para o estabelecimento de laboratórios comunitários de produção de parasitóides para liberações em diferentes áreas, envolvendo grupos de produtores organizados e comprometidos com as táticas recomendadas pelo manejo integrado de pragas. Dessa forma, a longo prazo, teremos áreas de soja ecologicamente mais equilibradas e comunidades de produtores buscando ambientes rurais produtivos e de melhor qualidade. .
Aspirina no algodão
Será possível dispor no futuro de um processo não poluente para defender o algodoeiro contra as doenças? Uma equipe de pesquisadores franceses aposta que sim, após descobrir um mecanismo pelo qual a planta combate naturalmente uma virulenta bactéria: a xanthomonas. Os cientistas identificaram o papel protetor desempenhado por dois hormônios produzidos pelo algodoeiro, os ácidos jarmônico e salicílico que, sintetizados logo após as infecções, ativam os sistemas defensivos vegetais. A partir do trabalho da equipe do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (sigla IRD, em
Beatriz S. Corrêa-Ferreira, Embrapa Soja Wilsimar A. A. Peres, UFPR Maria Clarice Nunes, UFPR
Fig. 06 - Crescimento populacional de percevejos em área com e sem a liberação de parasitóides em lavoura de soja orgânica no município de Assaí, PR Safra 2000/01
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francês) baseada em Montpellier, espera-se conceber um novo meio de luta biológica contra essa doença. A Xanthomonas é, após os insetos, o principal inimigo do maior têxtil vegetal mundial em muitos países, nas regiões do Oriente Médio e África do Norte, por exemplo, onde a bactéria devasta plantações inteiras. Dessecando as folhas e caules, provoca a morte rápida da planta. Todavia, antes disso, o algodoeiro reage. A partir da área onde se manifesta o ataque, a planta tenta limitar a extensão da doença, usando uma estratégia de defesa liderada pelos dois hormônios, um dos quais, o ácido salicílico, é o princípio ativo da aspirina. Simulando artificialmente sua produção, os biólogos pretendem aumentar a resistência da planta. A experiência é acompanhada por interesse na Europa em razão do seu caráter ecológico.
Cultivar
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Manejo - Soja semanalmente com água. As aplicações foram realizadas com um compressor de ar a 10 lb/pol2. A severidade da doença foi determinada por avaliações visuais da porcentagem de área foliar lesionada por folíolo, semanalmente, em toda a planta. Para facilitar as avaliações utilizou-se uma escala diagramática onde nota 0=folíolo sem lesão e nota 8=folíolo com 75 a 100% da área lesionada.
Leite cru de vaca constitui-se em forma de controle alternativo para o Oídio da soja
Tab. 01 Efeito do leite cru de vaca sobre a severidade* do Oídio da soja Tratamento Testemunha (Água) Leite 10% Leite 20% Leite 30% Leite 40% Leite 50% Fungicida Leite 50%
A severidade do Oídio foi alta para as três variedades no tratamento testemunha, comprovando a susceptibilidade das variedades selecionadas e indicando que foram adequadas para os estudos. O efeito do leite de vaca cru no controle da doença pode ser observado na tabela 1 e nas figuras que mostram a existência de uma correlação negativa entre a porcentagem de área foliar lesionada por folha e a concentração de leite pulverizada. Isto é, quanto maior a concentração de leite, menor a severidade da doença. Entretanto, o controle foi praticamente total em concentrações superiores a 20% de leite. Isso é devido ao alto potencial de inóculo existente na casa-de-vegetação, não sendo essa a realidade do campo. Possivelmente, nas condições de cultivo em campo, como ocorre com o Oídio da abobrinha, a concentração de leite cru entre 5 e 10% apresente eficiência semelhante ao fungicida . O fungicida fenarimol controlou to-
Leite contra o Oídio O
Oídio da soja é causado pelo fungo Microsphaera diffusa e se desenvolve em toda a parte aérea da soja (Sartorato & Yorinori, 2001). O sintoma mais evidente da doença é o desenvolvimento de estruturas do fungo na parte aérea da planta (crescimento branco e pulverulento), mas dependendo da cultivar os sintomas podem variar de clorose, ilhas verdes, manchas ferruginosas, desfolha acentuada ou a combinação deles. Yorinori & Hiromoto (1998) e Silva & Seganfredo (1999) estimaram que, em média, o Oídio resultou em perdas entre 15 e 20% na produção de soja, na safra 96/97. Sartorato & Yorinori (2001) discutem diversos aspectos relacionados ao uso de variedades resistentes e de fungicidas para o controle do Oídio da soja. O uso de fungicidas tem afetado a população de Nomurea rileyi, patógeno da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), sendo que Sosa-Gomez et al. (2000) observaram maior população 10
Cultivar
de lagartas em áreas tratadas com fungicidas. Assim, é fundamental considerar o momento adequado da aplicação dos fungicidas para minimizar esse problema. Além disso, o uso contínuo de fungicidas poderá causar outros desequilíbrios, como o surgimento de resistência ao produto, com conseqüências negativas à rentabilidade da cultura. Dessa forma, são necessários, além da seleção de variedades resistentes, estudos sobre o controle alternativo da doença. Bettiol & Stadnik (2001) descrevem diversos produtos alternativos para o controle alternativo de Oídios. Entre esses produtos, Bettiol et al. (1999) demonstraram a efetividade do leite de vaca cru no controle do Oídio (Sphaerotheca fuliginea) da abobrinha e do pepino. O leite vem sendo utilizado por numerosos agricultores, tanto orgânicos, quanto convencionais, para o controle de Oídios de diversas culturas (Bettiol & Stadnik, 2001). www.cultivar.inf.br
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FT EStrela 4,3 1,2 0 0 0 0 0 0
Efeito do leite cru de vaca no controle do oídio da soja
ESTUDO
Esse estudo teve por objetivo avaliar o efeito do leite de vaca cru no controle do Oídio da soja em condições controladas para três variedades de soja susceptíveis (IAC Foscarin, BR 16 e FT Estrela). Sementes de soja dessas variedades foram semeadas em vasos de cinco litros contendo solo oxisol e esterco bovino compostado (3:1), adubados com 10 g de fertilizante da fórmula 4.14.8. Após a emergência, foram mantidas três plantas por vaso, dentro de uma casa de vegetação com alto potencial de inóculo do fungo Microsphaera diffusa, obtido com a presença de plantas com Oídio próximas de ventiladores. As plantas, a partir de duas folhas verdadeiras, foram pulverizadas semanalmente com leite de vaca cru a 5, 10, 20, 30, 40 e 50% (volume em água), sendo utilizado o fungicida fenarimol (0,1 ml/l) semanalmente como padrão. As plantas testemunhas foram pulverizadas
BR 16 4,4 1,3 0,2 0 0 0 0 0
Fotos Eliana Lima
RESULTADOS
IAC Foscarin 4,4 1,2 0,2 0 0 0 0 0
talmente a doença e apresentou efetividade semelhante ao leite na concentração acima de 20%. *A severidade foi avaliada com auxílio de escala diagramática onde nota 0=folíolo sem lesão; 1=0 a 2,5%; 2=2,5 a 5%; 3=5 a 10%; 4=10-15%; 5=15 a 25%; 6=25-50%; 7=50 a 75%; e 8=75 a 100% da área foliar da soja lesionada.
USO PRÁTICO DO LEITE
O leite pode atuar na soja por mais de um modo de ação
Apesar de ter sido demonstrada a eficiência do leite no controle do Oídio da soja, ainda não existe uma recomendação prática de uso, pois depende da realização de experimentos em condições de cultivo comercial.
NOVAS PESQUISAS
Estão em andamento pesquisas em Fevereiro 2002
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condições de campo para estabelecer a eficiência do leite e também para realizar a avaliação de custos. Entretanto, os primeiros resultados obtidos são animadores.
AÇÃO DO LEITE
Bettiol et al. (1999) afirmam que o leite pode agir por mais do que um modo de ação: efeito direto sobre o patógeno devido às propriedades germicidas; presença de sais e indução de resistência do hospedeiro; ou potencial estímulo de antagonistas existentes na superfície foliar. Nesse sentido, Stadnik & Bettiol (2001) verificaram que o leite estimulou a microbiota . nativa do filoplano do pepino. Wagner Bettiol, Embrapa Meio Ambiente Cultivar
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Walter Jorge
Algodão
Bicudo, Bicudo, Brocas Brocas da da raiz raiz ee do do ponteiro, ponteiro, representantes representantes da da família família curculionidae, curculionidae, são são consideradas consideradas pragas pragas perigosíssimas perigosíssimas aa esta esta cultura cultura
Pragas atacam o algodão D
iversos besouros estão presentes na lavoura de algodão oferecendo benefícios como os predadores, e outros ocasionando danos. Entre outros coleópteros que causam prejuízos, o bicudo, e as brocas da raiz e do ponteiro, representantes da família curculionidae, são considerados pragas importantes do algodoeiro.
BROCAS DO ALGODOEIRO Broca da raiz: Eutinobothrus brasiliensis O adulto é um pequeno besouro, medindo entre 3 a 5 mm de comprimento com 1,5 a 2,0 mm de largura, apresentando coloração escura, quase negra, com suas pernas e ventre do corpo de cor pardo avermelhado. A postura é realizada no coleto das plantas, os ovos são colocados isolados em pequenas cavidades das cascas, com forma elíptica. As larvas de cor branco-ama12
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reladas, tomando a forma encurvada, são ápodas, iniciam sua alimentação através da casca, construindo galerias na região do cambio. As larvas desenvolvidas atingem cerca de 6 mm de comprimento, entram no estado pupal, passando esta fase em câmaras de repouso, previamente construídas, transformando-se em adultos que saem para o exterior. Da colocação dos ovos à emergência dos adultos decorrem entre 40 e 50 dias, nos meses de verão. Além do algodoeiro, outras espécies vegetais são hospedeiras da praga, como: quiabeiro, guanxuma, mimo de vênus, etc. As atividades das larvas se restringem geralmente a região intermediária entre a raiz e o caule, construindo galerias, podendo ocasionar a morte de plantas jovens. A broca inicia a ovoposição em plantas com aproximadamente 10 dias de idade, incrementando essa atividade após as plantas atingirem 25 dias. As plantas atacadas caracterizam-se por apresentar, primeiramente folhas bronzeadas, com www.cultivar.inf.br
perda da turgescência nas horas mais quentes do dia e, posteriormente, secamento. As plantas mais desenvolvidas que sofreram ataque apresentam nodulações, hipertrofias e fendas na região do coleto. Nos anos com precipitações mais expressivas durante o outono e inverno o ataque da broca geralmente é maior a partir do início da primavera do ano subsequente. A broca na fase adulta atravessa o período de entressafra abrigada sob capins, matos, restos culturais, entulhos de pedras, ou ocultando-se nas fendas do terreno, sempre nas proximidades de alimento alternativo e umidade. Essa população hibernante representa o potencial de infestação para a safra entrante. Os adultos sobreviventes de entressafra iniciam a infestação durante o período de estabelecimento da cultura, concentrando o ataque em reboleiras de tamanho variável. Devido o prolongado período de oviposição, seguido de três gerações que ocorrem durante o Fevereiro 2002
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Walter Jorge
... ciclo vegetativo do algodoeiro, a maioria das
plantas no final do ciclo, apresentam sintomas de ataque da broca. O ataque da broca é expressivamente mais intenso nas áreas ou talhões de cultivo próximas a bosques e grotas com vegetação permanente, evidenciando-se muito mais quando existem rios ou cursos de água nas proximidades. Levantamentos de ocorrência tem indicado que a presença de plantas atacadas nas bordaduras dos talhões é 9,5 vezes maior do que no restante da área cultivada. Dos 30 aos 120 dias o número de plantas atacadas poderá crescer de 10 a 90%, respectivamente, em áreas de média infestação. A redução do estande em 40%, devido a morte de plantas, poderá afetar diretamente a produção com diminuição de até 30%. Broca do ponteiro: Conotrachelus denieri Os adultos são pequenos besouros que medem entre 3 a 5 mm de comprimento, apresentando uma coloração ocre, com manchas claro-cinza sobre os élitros. Os adultos se alimentam perfurando as partes tenras e brotações das plantas, fazem orifícios na casca ao redor da parte terminal do caule, onde colocam os ovos. Nas maçãs perfuram a epiderme para depositar os ovos recobrindo-os com uma espécie de cera. De um modo geral os ovos são colocados na base das maçãs e entre os espaços intercapelares, podendo-se encontrar de 3 a 4 larvas por estrutura. Os ovos são de cor branca e inseridos nas cascas do caule, ramos, botões florais e maçãs. As larvas de cor branco-cremosa são ápodas, apresentando entre 5 a 7 mm de comprimento quando desenvolvidas. Após a eclosão as larvas penetram no interior do caule, e a partir do ápice constróem galerias através da medula no sentido descendente. As larvas passam por 4 estádios de crescimento, a seguir caem e penetram no solo onde se transformam em pupa de cor branco-amarelada. Nas condições de verão, o ciclo da espécie pode durar cerca de 25 a 30 dias. As três primeiras gerações ocorrem no caule e ramos e, geralmente a 4ª e 5ª gerações, no interior das maçãs. Nas ausência do algodoeiro outras plantas hospedeiras suprem as necessidades alimentares e de reprodução da espécie. A partir das áreas de refúgio os adultos penetram nas lavouras logo após à emergência das plantas. Inicialmente as infestações concentram-se nas bordaduras, com os adultos destruindo, plantas recém-nascidas. As plantas com mais de 15 dias de idade podem sobreviver, permanecendo com o crescimento temporariamente paralisado, apresentando entre-
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Sintoma de ataque da broca do ponteiro no algodoeiro
com inseticidas sistêmicos aplicados nas sementes e ou solo, que oferecem uma proteção entre 30 a 70% de controle das brocas dependendo do produto a ser utilizado e das condições de umidade do solo. Mas a eficiência de controle das brocas é complementado com a aplicação aérea de inseticidas a partir da emergência até os 30 dias de idade das plantas. O inseticida mais tradicionalmente aplicado para o controle da broca da raiz tem sido o paratiommetil, mas outros produtos como: clorpirifós, triazophós, monocrotofós e cloridrato são também recomendados para o controle da praga. Todas as técnicas indicadas para o manejo da broca da raiz deverão ser também recomendadas para o controle da broca do ponteiro. Contudo deve-se considerar que a partir dos 80 dias a Conotrachelus denieri ataca as maçãs, quando deve-se aplicar medidas de controle semelhantes àquelas designadas para o bicudo.
ros adultos, como os olhos e o bico. No período de frutificação, quando as densidades populacionais são altas e havendo escassez de botões florais, as maçãs são atacadas. Os adultos originários das maçãs são geralmente mais aptos para sobreviver durante a entressafra. O ciclo de vida de ovo a adulto se completa em aproximadamente 20 dias, podendo ocorrer de 4 a 6 gerações durante a safra. Após a colheita e destruição das soquei-
ras, os adultos migram para áreas adjacentes permanentemente vegetadas, e nestes locais de refúgio, os insetos permanecem com seu metabolismo fisiológico reduzido, alimentando-se esporadicamente de grãos de pólen de diferentes espécies vegetais. Durante a entressafra grande parte dos adultos é destruído pela ação de agentes naturais de mortalidade, mas o número de sobreviventes será suficiente para infestar as próximas safras.
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BICUDO DO ALGODOEIRO nós curtos e superbrotamento. A ocorrência de grandes pressões populacionais reduzem significamente o estande, necessitando na maioria das vezes o replantio parcial ou total dos talhões. Nas fase de frutificação as maçãs são atacadas determinando prejuízos na produção.
MONITORAMENTO E CONTROLE Em função das dificuldades de se realizar estimativas, mesmo que aproximadas, de possíveis ataques das brocas, todas as medidas adotadas para o controle destas pragas deverão ser sempre preventivas. O histórico da região ou da área a ser cultivada, será o melhor indicador sobre o potencial de infestação das brocas. O controle cultural é básico para um manejo efetivo destas brocas. A destruição adequada das soqueiras, e em tempo hábil, é o fator mais importante para o controle das brocas. A antecipação das operações de preparo do solo em pelo menos 40 dias, eliminando refúgios e desalojando os adultos das brocas, favorecem o manejo das mesmas. A identificação dos locais de abrigo e o mapeamento dos pontos iniciais de ataque destes insetos nas propriedades favorecem a localização das faixas de plantio isca, como também determinam os focos de infestação. Os adultos das brocas sobreviventes de entressafra são fortemente atraídos pelas primeiras plantas que emergem nas áreas de cultivo, assim sendo será uma boa eswww.cultivar.inf.br
tratégia a instalação do plantio isca para atração e combate das brocas. As faixas de plantio isca com aproximadamente 500 m2 , deverão ser instaladas nas bordaduras e proximidades de áreas permanentemente vegetadas que abrigam as brocas, antecedendo entre 10 a 15 dias ao estabelecimento definitivo da lavoura. As sementes utilizadas nestas faixas iscas deverão ser tratadas com inseticidas e fungicidas. A partir da emergência das plantas, entre 3 a 5 dias, deve-se iniciar as aplicações de inseticidas, com reaplicação a cada 7 ou 10 dias, até os 40 dias de idade das plantas. As faixas de plantio isca são indicadoras da ocorrência e sinalizam o potencial de infestação de brocas para as lavouras. As plantas com entrenós curtos, sintoma do ataque da broca do ponteiro, deverão ser arrancadas e destruídas, evitando-se a formação da segunda geração da praga na cultura. A instalação de faixas iscas em diferentes pontos da área toma maior importância no sistema de plantio direto do algodoeiro, pois as plantas iscas estabelecidas nas periferias dos talhões, indicariam a ocorrência e atrairiam as brocas para fora da área cultivada. O uso de inseticidas na época da dessecação, tornase imprescindível para redução populacional das brocas no interior da área. O plantio deverá ser realizado dentro da época recomendada para cada região. A semeadura antecipada é desaconselhável pois normalmente propiciará maiores infestações. As lavouras deverão ser implantadas Fevereiro 2002
Anthonomus grandis O adulto do bicudo é um besouro com um comprimento médio de 7 mm, com variação de 3 a 9 mm, entre a ponta do bico e a extremidade do abdômen, e uma largura equivalente a um terço do comprimento. O corpo é coberto de finos pelos de cor cremosa, tomando a coloração cinzenta ou castanha, dependendo da idade, alimentação e condições climáticas. Os olhos e o bico com aproximadamente 2,5 mm de comprimento são escuros, e as patas dianteiras apresentam duas aristas (espinhos), uma maior que a outra. Os fêmures das patas medianas e posteriores, só possuem uma arista. Os ovos, larvas e pupas se desenvolvem no interior dos botões florais e maçãs. As fêmeas depositam os ovos nos botões florais e maçãs, recobrindo o orifício de postura com uma cera (rolha de bicudo). Após 2 dias da postura as brácteas tornam-se amareladas, se abrem, e cerca de 5 dias depois, o botão floral atacado cai ao solo. Neste local e no interior dos botões florais, as larvas terminam seu desenvolvimento, empupam, transformando-se em um novo adulto. As larvas são brancas, ápodas, permanecem encurvadas, e quando desenvolvidas apresentam entre 5 a 7 mm de comprimento. As pupas são brancas, podendo-se observar os vestígios dos diferentes membros do corpo dos futuFevereiro 2002
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Os adultos do bicudo sobreviventes de entressafra, iniciam o ataque a partir das bordaduras mais próximas das áreas de refúgio. Na ausência de botões florais, os adultos se alimentam do pecíolo das folhas e da parte terminal do caule das plantas jovens. Até os 70 dias da emergência das plantas o inseto pouco se movimenta, permanecendo em reboleiras concentradas nas bordaduras, mas a partir desta fase inicia o processo de dispersão por toda a lavoura e áreas vizinhas.
MONITORAMENTO E CONTROLE
Walter Jorge
O bicudo é uma praga muito importante para o algodoeiro, devido sua grande capacidade reprodutiva, com ocorrência de gerações múltiplas, podendo ocasionar elevados prejuízos à produção. A convivência com o bicudo geralmente determina maiores riscos à produção, ao ambiente e até
tir dos 120 DAE. A instalação de armadilhas com feromônio grandlure , 20 dias antes da semeadura e permanecendo até 60 dias após a emergência das plantas, poderão registrar a presença de adultos na área cultivada. A captura de 1 ou mais adultos por armadilha e por semana determinará a necessidade de aplicação de inseticidas nas faixas ou talhões atacadas. O bicudo deve ser considerado como praga-chave no planejamento e controle dos insetos nocivos ao algodoeiro. Para convivência econômica com o bicudo diversas medidas de controle deverão ser observadas, como por exemplo: destruição de soqueiras; preparo antecipado do solo em aproximadamente 40 dias, para provocar um efeito desalojador dos adultos remanescentes de entressafra na área cultivada; utilização de cultivares precoces; semeadura na época recomendada para cada região e simultânea entre talhões vizinhos;
Injúrias causadas pela broca do ponteiro à planta de algodão
mesmo de intoxicação humana, pois o uso efetivo dos inseticidas se constitui na principal arma de combate à praga. Nas amostragens deve-se observar a presença de botões florais com a presença de danos provocados pelo bicudo, sendo mais comum encontrar os orifícios de alimentação, e em menor proporção orifícios para reprodução. Nas inspeções de campo deve-se tomar amostras nas bordaduras em separado do restante da área cultivada. Para tomada de decisão de controle pode-se adotar os seguintes níveis de ação: 5% de botões florais atacados até os 70 DAE, principalmente nas bordaduras; 10% de botões florais atacados dos 70 aos 120 DAE; 15% de botões florais atacados a par16
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instalação de plantio-isca nas áreas tradicionalmente infestadas; aplicações de inseticidas nas bordaduras ou área total, a partir da fase inicial da emissão dos primórdios dos botões florais já atacados pela praga; catação e destruição de botões florais danificados e caídos sobre o solo aos 55 e 75 dias. (preferencialmente nas bordaduras); utilização de produtos redutores de crescimento de plantas para aumentar a eficiência dos inseticidas; aplicação simultânea de desfolhantes e inseticidas para reduzir danos e a densidade populacional da praga; estabelecimento de soqueiras-iscas vegetadas para atração e combate aos bicudos emigrantes no final da safra; instalação de Tubos Mata Bicudo (TMB), principalmente em pré-semeaduwww.cultivar.inf.br
ra e também na fase de colheita e pós destruição das soqueiras para redução populacional do inseto. O adulto do bicudo é a única fase de vida da espécie que está exposta a ação dos inseticidas, e as aplicações deverão estar baseadas em dados de amostragens. A intensidade das infestações e os riscos determinarão a freqüência das pulverizações. Para se obter regionalmente uma significativa redução, populacional do bicudo, deve-se aplicar inseticidas sobre os adultos que estão chegando, isto é, entre 20 e 50 dias, e sobre os que estão saindo durante o período de pré-colheita. No manejo dos inseticidas para o controle do bicudo, recomenda-se até os 8090 dias de idade das plantas o uso de produtos como: endosulfan, paratiom metilico, metidation, malathion e fenitrotion. No Brasil, o endosulfan tem sido o produto mais aplicado até os 80 dias. Nos Estados Unidos o malathion é o principal inseticida para o controle da praga, e principalmente no programa bem sucedido de erradicação do bicudo nas diversas regiões cotonicultoras daquele país. A partir dos 80-90 dias pode-se aplicar piretróides que são mais efetivos nas formulações suspensão concentrada e ultra baixo volume. Contudo a alternância entre grupos químicos é aconselhável para um manejo adequado do uso dos inseticidas, evitando-se desequilíbrios ambientais, ressurgimento e resistência de pragas. Nestes últimos anos a cultura do algodão está migrando das áreas tradicionais para o cerrado brasileiro. As características ambientais do cerrado, principalmente no período de entressafra, com baixa umidade relativa, ptemperatura elevada, com escassez de refúgios e de alimentos alternativos, são fatores que desfavorecem a sobrevivência dos adultos. Considerando o ecossistema do cerrado e a biologia do bicudo pode-se afirmar que ainda é possível evitar a expansão do bicudo no cerrado. Para que isso ocorra haverá necessidade do engajamento de todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva do algodoeiro. Há profissionais habilitados para estabelecer programas de bloqueio populacional do bicudo, evitando sua expansão regional. A disponibilização de recursos legais e operacionais, mais a persistência e continuidade de programas de controle, poderão transformar o bicudo em praga secundária no cerrado brasileiro, antes que possa surgir um possível super bicudo adaptado as condições . ambientais do cerrado. Walter Jorge dos Santos, IAPAR Fevereiro 2002
AENDA
Defensivos Genéricos
Revirando resíduos sólidos O que fazer com o lixo sólido urbano?
A
atitude da sociedade sobre a destinação dos lixos gerados tem sofrido radicais transformações nos últimos anos. A crítica situação dos recursos hídricos força uma administração mais técnica e rigorosa para evitar a continuidade da poluição do essencial líquido para a sobrevivência dos seres vivos. As fontes geradoras de lixo são difusas e ao mesmo tempo individuais, porquanto consistem em residências, condomínios, fábricas, fazendas etc., espalhadas aleatoriamente em um determinado território. Essas fontes geradoras, grosso modo, podem ser classificadas, de acordo com a natureza dos materiais, da seguinte forma: (a) materiais orgânicos (especialmente restos alimentares), (b) materiais inertes recicláveis (materiais recuperáveis para processamento, como latas de alumínio e de aço, papéis, garrafas de PET e plástico em geral, embalagens de agrotóxicos, pedregulhos etc.) e (c) rejeitos inservíveis (materiais inaproveitáveis das residências, construção civil e fábricas). Existe, ainda, um quarto grupo, que por suas peculiares características é estudado e trabalhado à parte, tratase dos materiais e substâncias perigosas (lixo de hospital, rejeitos nucleares, amianto, ascarel, metais pesados, pilhas e baterias, embalagens contaminadas etc.). Este artigo não trata do lixo de natureza líquida, como águas usadas e outras substâncias incorporadas que são direcionadas para os esgotos ou fossas. O primeiro grupo é direcionado para aterros sanitários. Devido ao alto custo ambiental há um esforço para transformar o lixo orgânico em adubo, via o processo da compostagem. O segundo grupo está sendo tratado responsavelmente da seguinte forma: é coletado em uma logística reversa e reaproveitado como matéria prima na confecção de novos artefatos úteis, gerando toda uma cadeia econômica ligada à reciclagem. O terceiro grupo é simplesmente depositado em aterros controlados. O grupo dos materiais e substâncias perigosas, de acordo com cada particularidade, pode ser incinerado de forma controlada ou recolhido em aterros especiais, monitorados.
O cenário acima está sendo desenhado com celeridade nos países desenvolvidos, que administram seus lixos na premissa do conceito poluidor-pagador , ou seja, quem polui mais paga mais. De maneira que toda uma sistemática de gestão dos resíduos foi revista, para possibilitar a mensuração do lixo individual e a taxação mais justa. No Brasil, o quadro ainda é desolador. Os lixos destinados a aterros adequados atingem menos de 30% do total produzido pela população brasileira, sendo o restante depositado mais em lixões do que em aterros tecnicamente construídos, implicando em grave desconforto social causado pelos chorumes, mau cheiros, infestações de moscas e proliferações de ratos. A compostagem ainda engatinha e a reciclagem avança com lentidão. Veja no quadro uma estimativa das quantidades envolvidas no lixo urbano brasileiro, envolvendo os três primeiros grupos: (informação cedida pelo consultor ambiental Cícero Bley, da Ecoltec). A tributação aqui, também, não é diferen-
cia em legislar, vem disciplinando tecnicamente a matéria. Dentro do setor de Defensivos Agrícolas, cabe ressaltar, o exemplo dos Fabricantes deste insumo que, de maneira pró-ativa, através de suas entidades representativas, desenvolvem um programa de destinação das embalagens usadas dos seus produtos, desde o início da década de 90. O programa envolve construção de unidades de recebimento em parceria com cada comunidade, educação continuada do agricultor visando à mudança de hábito e pesquisa de destinos corretos para cada tipo de embalagem, privilegiando a reciclagem. A seriedade do programa, reconhecido como o mais técnico e amplo programa neste setor em todo o mundo, despertou o interesse das autoridades que, em 2000, promulgaram uma lei, tornando a tarefa um dever social, estabelecendo obrigações e direitos para as partes envolvidas: agricultores, comerciantes, fabricantes e o próprio governo. O sistema ainda esbarra em obstáculos culturais e estruturais. A falta de conscientização da população e até dos agentes diretamente envolvidos, e a Participação dos tipos de lixo sólido urbano no Brasil lentidão dos licenciamentos ambientais (por falta de um protocoorgânico 23.725.000 ton/ano 50 % lo para projetos de mínimos imrejeitos inservíveis 18.031.000 ton/ano 38 % pactos), geram uma certa resistênrecicláveis 5.694.000 ton/ano 12 % cia ao novo sistema e atrasam a sua implantação. Existe, também, total 47.450.000 ton/ano 100 % tributação reincidente de diversos impostos em todas as etapas do ciada. Em geral o IPTU representa a taxação ciclo. A sucata das embalagens ao ser vendida que o poder público arrecada pelo serviço, com para empresas recicladoras é tributada com critérios que não especificam os volumes indi- ICMS, na operação interestadual, tanto no providuais do lixo produzido. Raros são os Esta- duto como no transporte. A recicladora, por dos ou Municípios que iniciaram programas sua vez, paga novamente IPI, ICMS, PIS, COde coleta seletiva e implantaram legislações mais FINS, CPMF, etc., em todas as etapas da promodernas. Na Câmara Federal existe uma co- dução e comercialização. Não há o amparo lemissão de parlamentares analisando uma meia gislativo para incentivar esse novo tipo de recentena de projetos de lei, espelhados nas le- cuperação do lixo, por isso o setor de reciclagislações estrangeiras, o que nos acena para uma gem cresce tão vagarosamente entre nós. Inverdadeira reviravolta na condução técnica e clusive, não se fomenta a criação de pólos de administrativa do nosso lixo. A conclusão des- reciclagem, onde, certamente, os custos serise trabalho do Parlamento é muito aguardada, am diminuídos pela escala, a adoção de tecnoaté para dar consistência às iniciativas do CO- logias modernas seria mais fácil e a pesquisa NAMA, que, embora sem a estrita competên- geraria novas soluções.
Bayer
Projeto Águas disponibilizará aos agricultores informações sobre adequação ambiental
Protegendo o ambiente H
á seis anos, quando a BayerS.A. - Área Proteção das Plantas lançou o Programa Agrovida, além de agregar informações técnicas e novas tecnologias para os agricultores e sua família, buscou projetos que são apresentados de forma diferenciada e criativa. Já se transformou ônibus em sala de aula, realizou-se peças teatrais infantis, lançou-se um produto que é aplicado diretamente no tronco de plantas cítricas, sem necessidade de preparar calda, foi desenvolvido um aplicador de granulados no sistema fechado, que evita o contato do aplicador com o produto, bem como lançou-se uma campanha em nível nacional onde os participantes adquiriam o Equipamento de Proteção Individual praticamente ao preço de custo. Neste momento está sendo lançado mais um projeto Agrovida, totalmente pioneiro, dentro do conceito de agricultura sustentável. É o Projeto Águas , que vai disponibilizar ao agricultor informações sobre a proteção dos corpos d água, recuperação de áreas degradadas, revegetação dessas áreas com espécies nativas e frutíferas, além da conservação das áreas de preservação permanente. Este programa, inédito para uma empresa de defensivos agrícolas, é resultado de uma parceria com o Departamento de Ciências Biológicas da Esalq, de Piracicaba, e trata-se de um projeto piloto que a Bayer pretende realizar futuramente em outras regiões agrícolas, bem como incentivar os agricultores a desenvolvê-lo em suas propriedades. O projeto-piloto já está em andamento no Estado de São Paulo. Uma propriedade Fevereiro 2002
agrícola foi escolhida e nela iniciou-se o projeto de adequação ambiental, que visa a recuperação de uma área da fazenda que possui uma fonte de água. Num primeiro momento realizou-se o levantamento florístico para identificação das espécies presentes no entorno. Após isso, foi realizada a fotointerpretação (através da foto aérea) e o zoneamento ambiental, com o objetivo de mapear as áreas de diferentes formações florestais bem como determinar os locais de ocupação irregular em área de preservação permanente e assim poder determinar a solução mais adequada para a recuperação da área em questão. O planejamento adequado permite que ocorra a perpetuação da floresta, isto é, que após o manejo inicial, ela seja auto-suficiente no seu desenvolvimento, onde algumas plantas mais velhas vão morrendo e outras
novas vão nascendo, numa substituição natural ao longo do tempo. Nos próximos dias serão retiradas algumas plantas cítricas, que atualmente se encontram em local inadequado e em desacordo com o Código Florestal, que exige a necessidade de se respeitar determinadas distâncias mínimas ao redor de alguma fonte d água, seja natural ou artificial. Por último, no mês de Janeiro/Fevereiro serão plantadas espécies nativas e frutíferas, que servirão para reconstituir o local. Será disponibilizado um manual com informações úteis a quem deseje elaborar um projeto desse tipo, que inclui também uma cartilha orientando como construir um viveiro para produção de plantas nativas. A expectativa é que este projeto de adequação ambiental possa ser adotado na prá. tica pela maioria dos agricultores.
Fotos Bayer
Proteção dos corpos d água faz parte do Projeto Águas, criado pela Bayer
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Nossa Capa
ELICITORES BIÓTICOS
expressão bastante específico, conferindo resistência à Fusarium oxysporum - raça 2. Os elicitores não-específicos, por sua vez, desencadeiam uma série de respostas de defesa vegetal, como por exemplo a síntese de compostos denominados fitoalexinas, os quais são tóxicos ao(s) patógeno(s). A síntese de fitoalexinas parece ser um dos fenômenos mais estudados no que se refere às respostas de defesa de plantas ao ataque de patógenos. A exposição de células vegetais a estresses de natureza biótica ou abiótica pode resultar em um aumento transiente da produção e/ou do acúmulo de metabólitos secundários específicos para
Proteção natural
Os elicitores bióticos têm a capacidade de desencadear uma série de alterações no metabolismo celular vegetal, as quais, em seu conjunto, concorrem para a formação de uma rede de defesa da planta ao ataque do patógeno
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bívoros. O princípio da elicitação tem sido aplicado em estudos da associação plantamicorriza, na elucidação de vias biossintéticas de fitoalexinas e como estratégia para aumentos de produtividade de metabólitos secundários de interesse farmacológico em culturas de células vegetais. Esta última abordagem tem sido ampliada e mais intensamente estudada nos últimos anos, por ser um modelo adequado à elucidação de mecanismos regulatórios, a nível bioquímico e molecular, dos processos biossintéticos e de acúmulo de fitocompostos de alto valor agregado em culturas de células. Os compostos com ação elicitora envolvem enzimas (celulases, hemicelulases e pectinases, e.g.) que determinam a formação de fragmentos de parede celular (oligossacarinas), os quais atuam como elicitores, peptídeos elicitina e criptogeína, glicopeptídeos, lipídios ou derivados de ácidos graxos e metabólitos secundários (ergosterol e salicilato de metila). De forma similar, o ácido jasmônico e seu derivado metil-éster atuam como compostos envolvidos na via de transdução de sinais ativada por efeito de agentes elicitores, mimetizando a ação destes últimos. Mais recentemente, devido à importância biológica dos compostos elicitores, a determinação de sua estrutura química, aliada à elucidação dos mecanismos moleculares de percepção destes compostos pelo sistema planta-patógeno, tem sido considerada uma abordagem de interesse tecnológico para o desenvolvimento de novas estratégias de controle de moléstias em plantas. As respostas de defesa do vegetal poderão ser induzidas por elicitores específicos ou não- específicos. No primeiro caso, os elicitores são produtos de genes de avirulência do patógeno, sendo reconhecidos pelo correspondente produto do gene de resistência específica à raça do patógeno. Como exemplo disto, menciona-se o gene I-2 do tomateiro que exibe um padrão de www.cultivar.inf.br
Fotos M. Maraschin
O
rganismos vegetais encontramse continuamente expostos à ação de fungos, bactérias, vírus ou nematóides patogênicos, havendo espécies suscetíveis e resistentes ao ataque de patógenos, sendo esta última condição a regra. Alguns microorganismos patogênicos apresentam um alto nível de especialização quanto ao hospedeiro, podendo atacar uma espécie apenas, enquanto outros mostram uma ampla gama de hospedeiros. As plantas possuem mecanismos próprios de defesa em resposta ao ataque de patógenos, os quais incluem, do ponto de vista bioquímico, uma ampla gama de metabólitos primários e secundários. A ativação dos mecanismos de defesa pelos vegetais é um processo iniciado com a percepção do estímulo agressor do patógeno. De fato, os vegetais são capazes de reconhecer a presença de microorganismos patogênicos por meio da detecção de compostos secretados por estes e que interagem, por exemplo, com constituintes da superfície celular vegetal. Tais compostos, produtos do metabolismo primário ou secundário do patógeno, denominam-se elicitores bióticos e têm a propriedade de desencadear uma série de alterações no metabolismo celular vegetal (elicitação), as quais, em seu conjunto, concorrem para a formação de uma rede de mecanismos de defesa da planta ao ataque do patógeno. Como exemplo disto, pode-se mencionar o aumento da síntese de compostos em momentos anteriores (fitoanticipinas constitutivas) ou posteriores ao ataque (fitoalexinas), constituindo uma resposta de defesa química do vegetal à perturbação, cuja natureza é bastante complexa e apresenta peculiaridades para cada combinação planta-patógeno. Do ponto de vista histórico, os primeiros estudos sobre elicitação foram realizados com o objetivo de elucidar os mecanismos envolvidos nas respostas de defesa de plantas em relação a patógenos ou her-
Lesões clorótico-necróticas estreitas em fase de desenvolvimento
Fevereiro 2002
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cada espécie vegetal. Assim, por exemplo, as videiras e a alfafa sintetizam a fitoalexina resveratrol e oligômeros deste polifenol estilbênico quando atacadas por patógenos fúngicos . Cada espécie vegetal provavelmente sintetiza ao menos uma classe de metabólitos quando submetida à elicitação, os quais não são observados na ausência deste estímulo. No entanto, diversos compostos secundários de interesse na bioquímica fitopatológica são constitutivamente produzidos pelos vegetais, não sendo, portanto sensíveis à indução via elicitação. Nos últimos anos, uma série de trabalhos tem enfocado o isolamento e a análise da estrutura química de fitoalexinas produzidas por diversas espécies vegetais. Os resultados sugerem que, em princípio, é possível considerar que todas as plantas apresentam potencial de síntese destes metabólitos secundários. Adicionalmente, tem sido observado que fitoalexinas produzidas por diferentes membros de uma família botânica, embora raramente idênticas, são estruturalmente relacionadas. Em função disto, a determinação quantitativa de fitoalexinas tem sido sugerida como uma estratégia para avaliação comparativa dos níveis de resistências entre populações vegetais distintas, submetidas à ação de um mesmo patógeno. Neste sentido, as fitoalexinas poderiam ser consideradas como marcadores bioquímicos, atuando como indicadores quantitativos da expressão de resistência de populações vegetais. Como exemplos disto, menciona-se a avaliação da síntese e a distribuição tissular de fenilpropanóides em linhagens de milho resistentes e suscetíveis a Helminthosporium maydis ou a Exserohilum turcicum. No primeiro caso, os resultados demonstraram níveis superiores de síntese e acúmulo do derivado glicosilado do ácido cafeico (cafeoil-glucose) nas linhagens resistentes, logo após a infecção fúngica (13). De forma similar, análises do conteúdo de alcalóides indólicos monoterpenoídicos em tecido seminíferos de Cinchona ledgeriana por cromatografia em camada delgada e cromatografia líquida de alta eficiência, ao longo do período de germinação, indicaram a existência de uma relação inversa entre as concentrações de alcalóides e o consumo de tecidos das sementes por prewww.cultivar.inf.br
Lesões necróticas sem delimitação e com a extremidade das folhas murchas e secas
dadores daquela espécie, revelando o efeito destes metabólitos secundários como moduladores de processos de interação ecológica. Além da síntese de fitoalexinas, outras respostas bioquímicas parecem estar envolvidas na elicitação de células, incluindo o efluxo de eletrólitos através da ativação de um sistema de troca de íons K+/H+ a nível de membrana plasmática, alteração do potencial de membrana e ativação do sistema de oxi-redução da membrana plasmática, gerando espécies reativas de oxigênio. Recentemente, evidências da ocorrência de ligação de elicitores a proteínas de membrana (receptores) tem sido relatadas, bem como a síntese de proteínas relacionadas à patogênese (pathogenesis related (PR) proteins) que constituem um grupo de macromoléculas cujo acúmulo é induzido pelo ataque de patógenos, ou por agentes estressores abióticos (radiação ultravioleta, extremos de temperatura, pH, ácido 12oxo-fitodienóico, ou íons de metais tóxicos Al, Cd, Ga, In e La - 17, 18). Algumas destas proteínas apresentam atividade catalítica (b-1,3-glucanases, PR-2 e quitinases PR-3), ou de transporte de membrana (PR-5), porém as funções da maioria das PR permanecem não elucidadas. É sabido, contudo, que estas proteínas interagem com diversos compostos do metabolismo secundário (etileno, ácido Cultivar
... 21
O lesões necróticas sem halo clorótico e delimitadas com borda escura na periferia
... jasmônico, ácido salicílico, e.g.), constitu-
indo um ponto de interseção de diversas vias do metabolismo envolvidas na resposta de defesa vegetal ao ataque de fungos patogênicos, por exemplo. No contexto biotecnológico, os primeiros trabalhos de pesquisa de elicitação em sistemas de culturas de células vegetais utilizavam patógenos em diversos sistemas de co-cultivo. Esta abordagem não se mostrou viável e, posteriormente, foi demonstrado que homogenatos de microorganismos tais como fungos (Phytophthora megasperma, e.g.) e bactérias (Pseudomonas aeruginosa, e.g.) eram igualmente efetivos como elicitores, passando a ser utilizados em substituição ao patógeno intacto. Diversos relatos na literatura demonstram o sucesso desta estratégia no aumento da produção de compostos bioativos de interesse farmacológico em culturas de células e tecidos vegetais. Os sistemas de cultivo in vitro têm demonstrado que respostas diferenciais em termos quantitativos e qualitativos podem ser encontradas, quando culturas de célu-
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Cultivar
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identificados/elucidados, viabilizando um aumento no número de genes clonados. Este quadro tem contribuído decisivamente para expandir as possibilidades de aplicação da engenharia do metabolismo como uma ferramenta de grande potencial em processos de obtenção de variedades resistentes ao ataque de microorganismos patogênicos, por exemplo. A utilização de técnicas biotecnológicas acopladas a métodos clássicos de melhoramento genético vegetal é uma abordagem de interesse, quando se busca a otimização de sistemas de cultivo com base no desenvolvimento de variedades resistentes a patógenos, pragas, ou ainda tolerantes à ação de herbicidas. Neste contexto, uma série de esforços têm sido feitos com o intuito de otimizar a resposta de espécies vegetais ao ataque de microorganismos patogênicos, utilizando diversas estratégias da engenharia genética. Como exemplo disto, a clonagem de genes que conferem resistência ao hospedeiro, ou induzem/intensificam a expressão de vias de expressão de mecanismos de defesa pré-existentes neste, tem sido adotada. Esta abordagem considera, portanto, a identificação de características de interesse em um dado sistema planta-patógeno e sua posterior transferência para outro sistema, permitindo que o hospedeiro transgênico defenda-se com sucesso do ataque de um patógeno anteriormente letal. Contudo, o desenvolvimento de variedades resistentes sob este enfoque tem encontrado algumas dificuldades, na medida em que a expressão dos genes de resistência pode não ocorrer no hospedeiro, ou se dar de forma transiente. Uma possível causa para isto poderá ser a não funcionalidade da via metabólica envolvida na resposta de defesa da planta ao patógeno. De qualquer modo, tais obstáculos advêm do pequeno conhecimento que se tem sobre os fenômenos que regem a interação patógeno-hospedeiro, notadamente no que se refere às vias metabólicas envolvidas. Neste contexto, estudos de respostas in vitro e ex vitro de plantas a elicitores têm contribuído para o descobrimento e elucidação das interações a nível molecular entre plantas e microorganismos patogênicos - indução de receptores de superfície celular e mecanismos de transdução de sinais, por exemplo. O entendimento destes fenômenos em bases bioquímicas e genéticas contribuirá, em alguma extensão, para otimizar os processos de desenvolvimento de variedades resistentes à estresses ambientais, através do uso de abordagens metodológicas mais eficientes. . Marcelo Maraschin, UFSC Robert Verpoorte, Leiden University / Holanda Fevereiro 2002
Futuro do Arroz O Brasil é o país com maior potencial para expansão da cultura, que renderá com o aumento das exportações para a Ásia
cia para suprir a demanda da área plantada. Toda esta condição ambiental favorável no entanto não nos elevará à condição de grande exportador se também não forem superadas algumas barreiras, como política consistente de estímulo à produção, redução da carga tributária, estímulo à utilização de novas tecnologias, fortalecimento do Mercosul, com estratégias definidas de produção, e busca de mercados cativos para exportação. O avanço tecnológico no Brasil é observado ano a ano. A produtividade vem aumentando por unidade de área, devido a grandes investimentos em pesquisa por parte dos setores públicos e privados, que investiram em novas tecnologias de cultivo, variedades mais produtivas e com melhor qualidade de grão, máquinas e equipamentos que reduzem as perdas, defensivos agrícolas mais eficientes e a profissionalização do produtor que está aprendendo a gerenciar a lavoura se aproximando mais da pesquisa e das novas tecnologias que vêm surgindo, elevando o nível produtivo e a rentabilidade da lavoura. Esta evolução é apenas o começo de um longo caminho a ser trilhado na busca do aumento de produtividade, qualidade, rentabilidade da lavoura. Observa-se nesse cenário a necessidade de definição de política agrícola de longo prazo, e definição de metas de produção para os países de Mercosul, evitando o canibalismo entre estes. Vislumbra-se um horizonte bastante promissor para o Brasil, desde que todos os envolvidos na Cadeia do Arroz façam . a sua parte. Douglas B. Cabral, Aventis Seeds Cultivar
M. Maraschin
las vegetais são elicitadas com um patógeno específico. Estes resultados sugerem que a eficácia do tratamento com um dado elicitor depende de uma série de fatores e que a resposta de indução é restrita a determinadas vias biossintéticas. Assim, a escolha correta do agente de elicitação é de fundamental importância, não havendo regras que possam indicar qual a melhor combinação elicitor/espécie vegetal que deverá ser utilizada. Além disto, a concentração do elicitor, a idade das culturas, o momento de adição do elicitor ao cultivo, o período de contato entre as células/plantas e o elicitor e as condições nutricionais são fatores que precisam ser considerados quando se busca delinear um estudo neste contexto. Adicionalmente, a interpretação de resultados de trabalhos de investigação deverá considerar o efeito de cada um dos fatores acima mencionados, diminuindo a possibilidade de geração de conclusões errôneas, principalmente quando baseadas em extrapolações de resultados obtidos em sistemas de cultura in vitro para condições de cultivo ex vitro. Em função do exposto, o emprego de agentes elicitores como ferramenta tecnológica objetivando reduzir ou evitar a utilização de agrotóxicos nas práticas fitossanitárias parece ser, na maioria das vezes, uma possibilidade que depende do aprofundamento do conhecimento das relações planta-patógeno para sua concretização. No entanto, ao longo dos últimos anos, os estudos de elucidação dos mecanismos envolvidos na interação patógeno-hospedeiro têm alcançado resultados promissores, notadamente devido aos avanços nas áreas do conhecimento da bioquímica e da biologia molecular. Os progressos alcançados nestas áreas do conhecimento fundamental têm contribuído de forma decisiva para a redução do tempo necessário à elucidação e identificação de etapas limitantes de vias metabólicas primárias e secundárias envolvidas em processos de defesa de plantas ao ataque de patógenos. Como resultado disto, um crescente número de genes de resistência e seus mecanismos de regulação têm sido
Aventis Seeds
Arroz
O
arroz é um dos alimentos mais antigos e mais consumidos do mundo. No aspecto nutricional, é um dos alimentos melhores balanceados. A cultura do arroz apresenta características particulares, onde os maiores países produtores do cereal são também os maiores consumidores, tendo poucos países que se destinam a produção com o propósito de suprir a própria demanda como também a externa. Há poucos países importadores, que movimentam quantidades pouco significativas no volume total produzido no mundo (ao redor de 4%). O Continente Asiático consome cerca de 90% do arroz produzido no mundo. Fevereiro 2002
O crescimento da população dos países da Ásia é vertiginoso. Logo, o aumento de áreas cultivadas e aumento de produtividade são fatores fundamentais. Sabe-se que o crescimento de áreas cultivadas nos países asiáticos é muito pequeno, pois os recursos de terra e água são limitados, juntando-se a isto o grave problema de erosão nos solos da China, oriundos de uma política que incentivava o aumento de áreas, não dando a devida importância a práticas conservacionistas do meio ambiente. Baseado nestes dados, vislumbra-se aí a oportunidade de o Mercosul se tornar o grande fornecedor de alimento para estes países. O Brasil, principalmente, pois somente o nosso País apresenta 12% das áreas agrícolas do globo e água em abundânwww.cultivar.inf.br
Douglas comenta sobre o potencial da cultura do arroz no Brasil
Cultivar
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Sorgo Fotos Embrapa Milho e Sorgo
Infecção no sorgo
estômatos e medem de 180 - 300mm de comprimento. Os conídios medem de 15 a 29mm de comprimento por 15 a 27mm de largura, são hialinos, ovalados e germinam formando tubos germinativos; são produzidos em esterigmas, hialinos, ovalados, sem papilas e desprovidos de poros. Os oosporos são produzidos no mesófilo entre os feixes fibrovasculares, apresentam a forma esférica, com diâmetro de 25 - 42mm, são hialinos a amarelos e são envolvidos pelas paredes do oogônio com espessura irregular.
Conheça como se desenvolve o míldio, causado pelo patógeno Peronosclerospora sorghi, e as maneiras para controlá-lo
CICLO DA DOENÇA E EPIDEMIOLOGIA
Folha clorótica coberta por uma camada branca de Peronosclerospora sorghi
O
míldio do sorgo é uma doença com uma ampla faixa de adaptação climática, sendo encontrada na África, Ásia, América do Norte e América do Sul. A doença pode causar perdas significativas à produção de sorgo em áreas favoráveis à sua ocorrência e em cultivares de alta suscetibilidade. No Brasil, o míldio, antes restrito aos estados da Região Sul, encontra-se atualmente distribuído em praticamente todas as áreas de plantio da cultura.
umidade o patógeno produz uma grande quantidade de conídios nas lesões que adquirem o mesmo crescimento algodonoso e branco observado na infecção sistêmica. As lesões são retangulares e medem aproximadamente 1 4 x 5 15 mm. As lesões localizadas podem se desenvolver em 7 dias após a infecção e se tornarem sistêmicas se o pa-
SINTOMAS
O míldio do sorgo ocorre como infecção sistêmica e localizada. A forma sistêmica é induzida quando o patógeno ataca os tecidos meristemáticos foliares; plantas jovens com infecção sistêmica apresentam-se cloróticas e com enfezamento e podem morrer prematuramente. Normalmente, a primeira folha infectada apresenta sintomas de clorose apenas na sua porção inferior. As folhas que são infectadas posteriormente mostram sintomas progressivamente mais intensos de cloroses. Sob condições de temperaturas amenas e de alta umidade relativa as folhas cloróticas apresentam-se cobertas, na superfície inferior, por uma camada branca que consiste de conídios e conidióforos de Peronosclerospora sorghi . Em fases mais avançadas da doença, as folhas que emergem do cartucho apresentam faixas paralelas de tecidos verdes e cloróticos. Em estádios mais avançados as áreas de tecidos entre as nervuras morrem e as folhas ficam rasgadas pela ação do vento. A forma localizada da doença resulta de infecção das folhas por conídios, após a emergência. Infecções causadas por conídios causam lesões necróticas e sob condições de alta 24
Cultivar
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Fevereiro 2002
tógeno progride das folhas atacadas para os tecidos meristemáticos da gema.
ORGANISMO CAUSAL
O míldio é causado pelo patógeno Peronosclerospora sorghi (Weston & Uppal) C. G. Shaw. Os conidióforos são eretos, hialinos com ramificações dicotômicas, emergem dos
Os oosporos presentes no solo germinam por um tubo germinativo e invadem as raízes das plântulas de sorgo. O micélio do patógeno avança para a parte superior da planta, coloniza o tecido meristemático e induz a clorose foliar. Os oosporos são formados nas folhas de plantas com infecção sistêmica e são liberados no solo quando as folhas de sorgo são rasgadas pela ação do vento ou em restos culturais e funcionam como esporos de resistência na ausência do hospedeiro. Os oosporos podem sobreviver por vários anos no solo e constituem, provavelmente, a fonte primária do inóculo. A infecção pelos oosporos não ocorrerá se as plântulas de sorgo estiverem em solos com temperatura baixa. Os conídios são produzidos nas folhas cloróticas e são dissemina-
...
... dos para folhas sadias de plantas adjacentes,
iniciando o ciclo secundário de infecção. O patógeno pode também sobreviver em plantas perenes atacadas, como as da espécie Sorghum halepense, que servem como fonte de inóculo na forma de conídios para a próxima cultura de sorgo. Os oosporos são produzidos com menor freqüência e com menor abundância em plantas de milho (Zea mays) do que em plantas de sorgo, enquanto as lesões localizadas induzidas por conídios aparecem com maior severidade em milho do que em sorgo. A disseminação da doença ocorre através dos oosporos produzidos em plantas com infecção sistêmica, que além de infestarem o solo, são também disseminados pelo vento. Existem relatos de altos níveis de infecção em lavouras de milho ou de sorgo onde a doença ainda não havia ocorrido, mas que estavam próximas a áreas de ocorrência da Embrapa Milho e Sorgo doença. Os oosporos, alojados nas glumas das sementes de sorgo e em restos culturais misturados à semente são as mais prováveis fontes de disseminação do patógeno. Agentes de disseminação são também os conídios, que apresentam um período de sobrevivência bastante curto (de apenas algumas horas sob condições ideais) e, provavelmente não têm grande importância na disseminação da doença a longas distâncias. Dentro da lavoura e entre plantas, contudo, estes esporos têm um importante papel na distribuição da doença, principalmente em cultivares suscetíveis. O micélio do patógeno pode estar presente na semente, mas é rapidamente inativado pela secagem e tem pouca importância na disseminação da doença. Hospedeiros de P.sorghi, incluem espécies dos gêneros Sorghum, Euchlaena, Panicum, Pennisetum e Zea. A temperatura mínima do solo para a ocorrência de infecção das plântulas de sorgo pelos oosporos é de 100C. Baixos níveis de umidade do solo favorecem a infecção pelos oosporos. A produção de conídios e a infecção são favorecidas por baixa umidade relativa e por baixas temperaturas, sendo 180C a temperatura ótima para a produção de conídios. Vários patótipos de P. sorghi foram já identificados nas diferentes regiões de plantio de sorgo no mundo. Há indicações da existência de 5 patótipos de P. sorghi no con-
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Cultivar
P. sorghi realizados com as linhagens SC41412E e QL-3, indicaram que a resistência na primeira linhagem é do tipo dominante e em QL-3 é condicionada por dois genes dominantes independentes e diferentes do gene de resistência identificado em SC414-12E. Em um trabalho realizado anteriormente na Índia concluiu-se que a resistência da cultivar QL-3 era condicionada por 6 genes. Tal diferença entre resultados pode ter sido determinada pelo menos em parte por raças diferentes do patógeno nos EUA e Índia. A resistência de QL-3 parece ser de alta durabilidade, como indicado por trabalhos RESISTÊNCIA GENÉTICA A utilização de cultivares resistentes é a realizados em diferentes partes do mundo maneira mais eficiente de se controlar o míl- onde ocorre a doença. Testes realizados no dio do sorgo. A resistência a P. sorghi atual- Brasil confirmam estes resultados, conforme mente utilizada em programas de melhora- indicado pela resistência deste genótipo a dimento expressa-se como uma incompatibi- ferentes isolados de P. sorghi, coletados de lidade fisiológica entre o hospedeiro e o pa- áreas de ocorrência da doença no país. Não há, contudo, relato de sucesso na transferência desta resistência para híbridos de sorgo que apresentem características agronômicas desejáveis. Uma outra possibilidade é a seleção de genótipos com níveis adequados de resistência quantitativa de natureza poligênica. Este tipo de resistência provavelmente existe no germoplasma de sorgo e é provavelmente o responsável por diferenças na incidência da Folhas rasgadas pelo vento doença entre cultivae com áreas de tecidos entre res de sorgo que não as nervuras mortas possuem nenhum tipo de resistência estógeno a qual impede a infecção. Este tipo pecífica a P. sorghi. Há, entretanto, que se conde resistência é, na maioria das vezes, de he- siderar a dificuldade de se identificar e aurança monogênica e foi utilizado após o apa- mentar a freqüência destes genes nos materecimento da doença no estado do Texas riais selecionados em programas de melho(EUA) em 1961. Híbridos resistentes à do- ramento. A identificação de genótipos resistentes ença foram rapidamente desenvolvidos e passaram a ser amplamente utilizados pelos ao míldio tem sido um dos principais objetiprodutores. Seis anos após a liberação destes vos do programa de melhoramento genético híbridos resistentes, houve o aparecimento de sorgo. Os híbridos desenvolvidos pela de um novo patótipo, virulento a algumas Embrapa Milho e Sorgo apresentam em sua dessas cultivares. Novos híbridos resistentes maioria boa resistência à doença. Híbridos foram gerados utilizando-se a linhagem experimentais e linhagens de sorgo são avaliTx430 como fonte de resistência. Dois anos ados quanto a sua reação à doença através mais tarde um novo patótipo de P. sorghi, de testes realizados em campo e em casa de . identificado como patótipo 3 foi identifica- vegetação. da como capaz de vencer a resistência de Tx430. Estes dados demonstram que a vari- Carlos R. Casela; abilidade apresentada por P. sorghi,representa Alexandre S. Ferreira, uma problema no desenvolvimento de hí- Embrapa Milho e Sorgo bridos de sorgo resistentes a este patógeno. Flávia Christiane Rufini Barbosa, Estudos sobre a herança da resistência a UFLA tinente americano, dos quais 3 foram identificados no Texas (EUA). Estes 5 patótipos representam, provavelmente, uma pequena parte da variabilidade total do patógeno na natureza. Em uma avaliação da virulência de uma coleção de 16 isolados de P. sorghi, representando a Ásia, África, América Central e América do Norte, verificou-se, através das reações diferenciais produzidas por 75 genótipos de sorgo, que os 16 isolados representavam 16 patótipos distintos de P. sorghi (Pawar).
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Fevereiro 2002
Biotecnologia
A monarca é a borboleta mais popular dos EUA
Alívio para as borboletas Golpe duro para os inimigos das plantas transgênicas: estudos realizados nos Estados Unidos mostram que seu principal argumento para combater as plantas geneticamente modificadas, o de que o milho Bt mata borboletas monarcas, caiu por terra. Agora se sabe que as borboletas monarcas nada devem temer do milho transgênico. Permanece a questão do nível de risco aceitável 28
Cultivar
U
m risco desprezível; é a conclusão de um vasto estudo sobre os efeitos do milho transgênico Bt sobre as larvas da borboleta monarca, uma espécie muito freqüente nas proximidades da cultura de milho e que goza de grande popularidade nos EUA. O resultado da pesquisa foi divulgado em nada menos do que seis artigos publicados na Proceedings oh the National Academy of Science (PNAS) concluindo 18 meses de pesquisas realizadas por mais de 30 cientistas americanos e canadenses. A importância dos meios empregados se explica pela controvérsia gerada em maio de 1999 após a publicação de um artigo na revista Nature assinado pelo entomologista John Losey, da Universidade de Cornell. Seus testes em laboratório teriam mostrado que após quatro dias de consumo de folhas de Asclepias Syriaca uma planta daninha comum nas plantações de milho dos Estados Unidos e Canadá e que se constitui no alimento quase exclusivo das larvas da monarca no seu meio natuwww.cultivar.inf.br
A mídia americana destacou o assunto e em algumas semanas o Greenpeace colocou as borboletas em destaque em sua luta anti-OGM. O artigo teve papel importante na moratória européia, ainda em vigor, sobre a autorização para novas culturas geneticamente modificadas. A agência americana de proteção ambiental reagiu energicamente e já em fevereiro de 2000 um comitê formado por universidades, industriais e protetores do ambiente lançou sérios estudos de risco, financiados na maior parte por fundos públicos. Os resultados desses estudos foram publicados no PNAS. Os cientistas entre os quais está Losey tiveram de responder a quatro questões fundamentais: qual o limite de toxidade para cada variedade? Ele é ultrapassado em condições reais, e em que proporções? Em que medida a emissão de pólen de milho coincide com a presença das larvas? Qual a percentagem das larvas que se alimentam com plantas portadoras do milho Bt? Os dois estudos consagrados ao limite de toxidade mostraram que é preciso distinguir entre os diversos milhos Bt presentes no mercado. As duas variedades mais comuns na América do Norte, a Mon 810 e Bt11, apresentaram os limites mais elevados: é preciso ultrapassar mil grãos de pólen por centímetro quadrado de folha da erva daninha do milho , como a Asclepias é conhecida, para observar seus efeitos. Outra variedade de lá, a 176 , tem limite bem menor, porém baixa representatividade no mercado e tende a desaparecer.
GRÃOS DE PÓLEN
O casulo da monarca não está exposto ao pólen do milho Bt
ral - salpicadas de pólen de milho transgênico Bt, 44% das larvas morriam. Apesar das críticas sobre a ausência de ensaios em condições naturais e da quantificação da dose de pólen administrado, o artigo foi um rude golpe contra as plantas transgênicas. Fevereiro 2002
Em que limite esses limites se encontram nos campos de milho? Para encontrar a resposta John Pleasants, da Universidade de Iowa, contou os grãos de pólen depositados sobre 5.000 folhas de Asclepias, colhidas em datas e distâncias diferentes do milho. Em média, durante a polinização, uma folha, situada em plena lavoura, apresenta uma densidade de 171 grãos por centímetro quadrado. Esta densidade cai para 14 grãos a dois metros do milho. Ao final, entre 0,1% e 0,7% das larvas nesta zona estão expostas a doses tóxicas do pólen Bt pelas duas variedades comuns. A cifra sobe para perto de 90% no caso da 176 . Mas que proporção de lavras entra realmente em contato com o pólen de milho? Resolver essa questão significa responder a duas questões: Primeiro, qual é a proporção dessas larvas presentes durante as duas curtas semanas que dura a polinização? Ou seja, o pico da eclosão das monarcas está próximo ou distante da polinizaFevereiro 2002
ção? Segundo, qual é a parte de monarcas vivendo nos habitats situados fora do alcance do pólen de milho? Karen Oberhauser, da Universidade de Minnesota, e seus colaboradores, contaram então semana após semana os ovos e as larvas presentes sobre centenas de pés da planta daninha situados em diferentes habitats (campos de milho, bordaduras, terras não agricultáveis) em quatro regiões distintas do continente americano. Constataram que somente uma fraca proporção de larvas estava presente durante a polinização nos es-
assinalam também certas falhas metodológicas de aproximação: apenas uma cultura foi estudada; falta de dados sobre todo o território e portanto necessidade de extrapolar resultados locais; e enfim não se obteve qualquer dado sobre os efeitos de exposição ao pólen durante toda a vida da borboleta, em particular no que concerne à longevidade e sua fecundidade. Mas à despeito dessas reservas menores, o risco das monarcas quanto ao milho Bt são muito pequenos. Este estudo pode ajudar a melhor es-
Durante a polinização do milho Bt, os grãos de pólen se depositam sobre plantas vizinhas, alimento dos insetos
tados produtores meridionais (15% em Iowa) mas que o número aumentava no norte (62% em Ontário). Calcular a proporção das monarcas oriundas das zonas do milho se revelou muito complexo. Os cientistas preferiram se concentrar sobre o estado de Iowa, líder na produção de milho, e obter o máximo de informações. Conclusão: em Iowa 56% das larvas provêm destas zonas, uma cifra considerável, estimada como o topo para o continente americano. Para os 14 outros estados do Cinturão do Milho, a percentagem foi reduzida na proporção da superfície de cada um ocupada com milho. Enfim, no artigo de síntese, os autores calcularam os riscos de acordo com o conjunto de dados: estabeleceram então que em Iowa as larvas da monarca correm um risco de 0,4% de sofrer efeitos imputáveis ao milho Bt. Para os outros estados, os valores obtidos por extrapolação são sempre inferiores a 0,28%. No artigo, os autores www.cultivar.inf.br
tudar, no futuro, os riscos em matéria de OGM? Os europeus, os mais preocupados em matéria de ecolologia, é que devem falar: Ele era necessário para esclarecer o caso monarca , diz Josette Chaufaux, especialista francesa em efeitos não intencionais sobre insetos por plantas transgênicas do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola. Mas ele não contribui para tirar os OGMs do impasse atual. Toda a dificuldade é de se estabelecer o nível de precisão requerido para quantificar os riscos. Uma das maneiras de resolver a questão é comparar os efeitos dos OGMs aos de outras práticas agrícolas, com as mesmas exigências . Um ponto de vista compartilhado por cientistas como Stefan Jansens, que dirige as pesquisas sobre milho resistente aos insetos na Aventis Crop Science em Gand, Bélgica: O mundo ideal onde as plantas dispensem tratamentos não existe. A única maneira de tomar decisões inteligentes em matéria de OGM é a de se pro. ceder de maneira comparativa . Cultivar
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Soja
NITROGÊNIO
Adubar ou não? Fotos Hipólito A.A. Mascarenhas
Especialista questiona sobre a eficência da adubação nitrogenada na soja
A
necessidade de N pelas plantas de soja, em condições de campo, é suprida pela simbiose e pelo elemento disponível no solo. A escassez deste pode ocorrer ocasionalmente quando o seu fornecimento ou a falta de umidade superficial do solo forem fatores limitantes. A liberação de N via atividade elétrica durante as chuvas de verão, em função de sua solubilidade, é necessária e determinante da resposta ao N do fertilizante. Thompson (1963) salientou que a alta produtividade obtida nos anos de cinqüenta foi justamente devida à ocorrência de chuvas em quantidades satisfatórias. Resultados obtidos com a adubação de N em soja no campo, nos E.U.A., foram extremamente variáveis (Allos & Bartholemeu 1959; Norman 1944; Norman & Kampritz, 1945 e Weber 1966b). Essa leguminosa pode utilizar rapidamente tanto o N simbiótico quanto o disponível no solo. Quando o suprimento se dá em quantidade excedente às necessidades para o crescimento das plantas, pode haver interferência do N na eficiência da fixação simbiótica 30
Cultivar
(Allos & Bartholemeu 1959 e Weber 1966a). As tentativas de utilização de grandes quantidades de fertilizantes nitrogenados, sem inibição do processo simbiótico, geralmente têm falhado. Hinson (1974) relatou que, respostas ocasionais a fertilizantes nitrogenados em soja, não devem ser consideradas como regra geral. Os dados desse autor sugerem que as respostas positivas não são freqüentes nem repetitivas sendo imprevisíveis e geralmente não econômicas, o que é também confirmado por Hardy (1959) e Arnold (1969). Em diversos estudos realizados nos EUA, aplicou-se nitrogênio em soja nodulada e não-nodulada, na premissa de que, naquelas genótipos não nodulados, haveria maior eficiência na utilização de N pela planta devido à economia na energia dispendida na manutenção de um sistema nodular. Entretanto, não se verificou produção superior nas plantas não noduladas em relação às noduladas, em nenhuma das doses de nitrogênio aplicadas (Wagner 1962 e Weber 1966ab). De fato, Weber (1966a) relatou que, em linhagens isogênicas noduladas, sempre houve maior produção de www.cultivar.inf.br
grãos do que nas não noduladas, utilizando-se a mesma quantidade de fertilizante. Sugeriu-se que o nitrogênio simbiótico seria uma fonte mais aproveitável de N do que aquele proveniente de fertilizante, ainda que a necessidade de energia para a simbiose e redução do N fixado fosse maior do que aquela requerida para a absorção de nitrato e sua subseqüente redução pela linhagem isogênica não nodulada. Também há controvérsia sobre a necessidade de suplementação de N em soja no período final da formação de suas sementes (R5, R6,ou R7), devido à diminuição da atividade simbiótica durante o enchimento das vagens. Tanner e Anderson (1964) avaliaram o contéudo de leghemoglobina e a taxa de fixação de N que são estreitamente correlacionados. Eles postularam que as bactérias são inativadas e que os nódulos se tornam verdes durante o enchimento das vagens quando o N ainda é requerido pela planta. Por outro lado, Hardy et al. (1968) avaliaram a fixação de N em termos de redução de C2H2 a C2H4 catalisada pela nitrogenase. A taxa máxima de fixação de N foi observada posteriormente, na formação Fevereiro 2002
das sementes, e a atividade de redução do C2H2 somente foi reduzida após o enchimento total das vagens. Nessas condições não se deve esperar deficiência significativa de N no fim do ciclo das plantas de soja. As condições sazonais são fatores importantes para o controle das respostas ao N e seu efeito não é tão simplesmente compreendido. Em estudos mais antigos, obtiveram-se respostas relativamente satisfatórias em condições de temperatura alta e estação seca, não havendo respostas quando as chuvas foram adequadas (Lyons & Early 1952). Na região do Meio Oeste dos EUA, na ocorrência de chuvas pesadas na primavera, White et al. (1958) constataram tendência de lixiviação dos nitratos procedentes de fertilizantes aplicados em milho a uma profundidade em que não há interferência na nodulação e em que ainda seriam disponíveis para a planta. Em trabalho não-publicado de deMooy (1968), mostrou-se que, com a aplicação de N nas profundidades de 30 e 60 cm, nas entrelinhas das plantas de soja, obteve-se aumento de 340 kg/ha na produtividade, em apenas dois locais. Nos estudos de Harper (1999), mostrou-se que com a fixação simbiótica do N as necessidades da planta de soja são supridas, sob ótimas condições de produção, onde outras limitações sejam removidas. Como exemplo, já se observou um aumento de 11,8% na produção de soja devido à aplicação do fertilizante nitrogenado suplementar no estádio R3 , quando as produções foram da ordem de 3.770 kg/ha ou superiores, sob irrigação. Nenhuma resposta à aplicação de N suplementar foi observada quando os níveis de produção foram de 3.360kg/ ha ou inferiores. Em certos solos dos EUA,
Hipólito questiona a eficiência do nitrogênio na soja
Israel & Burton (1997) concluíram ser possível a obtenção de uma resposta mais alta de rendimento à aplicação de nitrogênio. A despeito dessa conclusão, somente em duas, de um total de 59 combinações entre cultivar e local, verificou-se aumento de rendimento devido à aplicação de 150 kg/ha de N. Os resultados mais freqüentes na adubação da soja com N, nos EUA, têm sido a falta de resposta ou o aumento de produtividade não lucrativa. No Estado de São Paulo, Mascarenhas et al. (1967) não obtiveram respostas em soja, com a aplicação de 30 e 60 kg/ha de N na sua fase vegetativa, tanto na presença quanto na ausência de calagem. Com a calagem houve boa nodulação e as produções foram sempre superiores quando comparadas à aplicação de ambas as doses de N. Mascarenhas et al. (1968) também não ob-
...
Plantas de soja , cultivar Santa Rosa, com boa nodulação em condições de solo adequadamente corrigido e adubado com P, K, S e micronutrientes. Guaíra, SP 1974
Fevereiro 2002
www.cultivar.inf.br
Cultivar
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Fotos Hipólito A.A. Mascarenhas
Nodulação em raízes de soja, cultivar Hardee, em função da aplicação de 240, 120, 60, 30 e 0 Kg de N/ha, respectivamente da esq. para dir. (acima) e quantidades de nódulos coletados nesses mesmos tratamentos (abaixo)
... tiveram diferenças entre as produtividades
de soja obtidas quando compararam diferentes fontes de estirpes de Rhizobium e N, em dose única de 50 kg/ha de N, aplicado também na fase vegetativa, em cobertura. Novo et al. (1997 e 1999) relataram respostas à aplicação do N em soja, no inverno, devido ao fato de haver interferência negativa tanto na formação de nódulos quanto na fixação simbiótica, em condições de frio. O mesmo foi verificado por Mascarenhas (comunicação pessoal, 1978) porem sem aplicação de N e na ocorrência de chu-
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Cultivar
vas excessivas (encharcamento), quando se estabeleceram condições anaróbicas no solo, no início de desenvolvimento vegetativo da planta, sendo observados sintomas típicos de amarelecimento nas mesmas. Nessa situação específica a necessidade das plantas foi suprida com a aplicação de 60kg/ha de N, sendo retomada a coloração esverdeada na parte aérea e também, obtida alta produtividade. Em diversos experimentos desenvolvidos no país e, ao contrário do relatado em outros, Hungria et al. (1998) mostraram www.cultivar.inf.br
que com a reinoculação de soja, pode-se obter incremento significativo no rendimento, em solos com elevada nodulação estabelecida. Em Londrina e Ponta Grossa, PR, os incrementos obtidos em três safras de soja variaram de 3,2 a 14,5% no rendimento de grãos e de até 25%, no teor de proteína destes. Estes mesmos autores constataram também que, tanto com a aplicação de N em dose inicial quanto, em doses elevadas no florescimento ou no período de enchimento de grãos, não se obtem aumento considerável nos rendimentos. O nitrogênio deve ser utilizado para fins de incremento da proteína da soja e da qualidade fisiológica das sementes? Não é necessário o uso de fertilizante nitrogenado quando se objetiva o aumento do teor de proteína nos grãos de soja e da qualidade fisiológica das sementes porque essas características são decorrentes da maior densidade de grãos. Mascarenhas et al. (1990) obtiveram aumento de 3 a 9% no teor de proteína e também da qualidade fisiológica de sementes, aplicando-se calcário dolomítico, para redução da acidez e, utilizando adubação adequada em fósforo, potássio, enxofre e micronutrientes, quando necessário. Cabe ressaltar que o importante é a quantidade produzida de proteína e óleo (produção de sementes multiplicada pelo teor de proteína e óleo). Outra maneira de se obter aumento do teor de proteína seria o manejo de culturas. Com a utilização de adubos verdes, nas seqüências de culturas, como crotalária e mucuna-preta, além do controle de nematoides M. incognita e M. javanica pode-se obter até 200 kg/ha de N, com a incorporação de fitomassa (relatório da Coperçucar 1983/84). Isso é suficiente para o aumento da proteína de soja a níveis adequados (40 a 42%) e para a melhoria da qualidade fisiológica das sementes, naturalmente aliada com adubação mineral adequada. Diante do exposto, verifica-se a vantagem substancial que se pode obter na cultura da soja, unicamente com a substituição da adubação nitrogenada pela fixação simbiótica com bactérias e utilização de adubos verdes na rotação. Isso porque com a crise do petróleo certamente haverá aumento dos preços dos fertilizantes nitrogenados que são derivados dessa substância mineral e, com o seu uso, o custo de produção dessa leguminosa se. ria bastante elevado. (Bibliografia disponível: cultivar@cultivar.inf.br)
Hipólito A.A. Mascarenhas, Elaine B. Wutke, Nelson R. Braga, Roberto T Tanaka, Manoel A.C. Miranda, IAC - O Agronômico Fevereiro 2002
Sementes
Olho no tratamento Teste padrão de germinação
Tratamento de sementes é uma prática cada vez mais necessária e difundida, mas se precisa observar quais os melhores produtos
N
os últimos anos, a cultura do milho no Brasil vivenciou uma evolução tecnológica significativa, com reflexos no aumento da produtividade. Em contrapartida, tem sido também significativo, o aumento da incidência de pragas na cultura, ocasionado, provavelmente, por desequilíbrio ecológico provocado pelo uso indiscriminado de produtos fitossanitários. A ocorrência da lagarta-do-cartucho, que tem aumentado em todas as regiões produtoras de milho, tanto nos cultivos de verão, como nos de segunda safra, está obrigando o agricultor a intensificar a aplicação de inseticidas. O ataque de pragas subterrâneas e da lagarta-elasmo, que muitas vezes passava despercebido, tem ocorrido com maior freqüência, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. Corós do gênero Pyllophaga spp., por exemplo, passaram a ser, atualmente, um problema importante na região Sudoeste do Estado de Goiás. Insetos como tripes, cigarrinhas, pulgões e até alguns percevejos oriundos do cultivo da soja, que não se constituíam em problemas para a cultura, estão, na atualidade, atacando com severidade plântulas de milho. 34
Cultivar
Para minimizar as possíveis perdas causadas por esses insetos, que atacam as sementes e as plântulas, condicionando falhas no estande da cultura, tem-se como alternativa o uso preventivo de inseticidas no tratamento das sementes. Essa prática, pode conferir proteção às sementes e às plantas jovens, por um período de até duas a três semanas após a semeadura, possibilitando, em determinadas situações, reduzir o número de aplicações foliares que muitas vezes precisam ser iniciadas logo após a emergência. Além disso, apresenta, ainda, a vantagem da sua aplicação ser direcionada e em baixas quantidades, de forma que o ingrediente ativo fique limitado a uma zona estreita, ao redor da semente, causando menor impacto sobre o ambiente e insetos benéficos à cultura. Deve-se atentar, porém, que somente serão obtidos resultados positivos quando o tratamento das sementes for efetuado de maneira adequada. Por isso, as decisões quanto ao produto a ser utilizado doses e forma de aplicação às sementes, devem ser tomadas, sempre, com base em orientações obtidas junto a um agente de assistência técnica. www.cultivar.inf.br
GERMINAÇÃO
É preciso considerar, também, que sementes de milho quando tratadas com inseticidas podem apresentar problemas de germinação, especialmente, quando as condições de campo, por ocasião da semeadura e do estabelecimento das plântulas, não forem as mais favoráveis. Resultados de pesquisas (Oliveira & Cruz, 1986; Pereira, 1991; Nascimento et al., 1996; Bittencourt et al., 2000); têm demonstrado que o efeito dos insetici-
Teste de frio para avaliação do vigor de sementes
Fevereiro 2002
das na redução da germinação e vigor das sementes varia em função do produto utilizado, do genótipo e do tempo decorrido entre o tratamento e a semeadura. Sementes de milho de elevada qualidade fisiológica, oriundas de diferentes genótipos, apresentaram redução de germinação, variando de um a oito pontos percentuais, quando tratadas com inseticidas à base de carbofuran e colocadas para germinar logo após o tratamento. A queda da germinação intensificou-se com o armazenamento das sementes tratadas. Inseticidas à base de thiodicarb, furathiodicarb e thiamethoxan condicionaram redução na germinação das sementes de forma variável entre os híbridos. Em alguns genótipos, esse efeito ocorreu logo após o tratamento das sementes, enquanto que, em outros, houve queda de germinação somente quando as mesmas permaneceram armazenadas, após os tratamentos, por períodos variáveis de cinco a 30 dias. Para alguns dos híbridos avaliados, esses produtos não afetaram a germinação das sementes, mesmo quando estas permaneceram armazenadas por até trinta dias após os tratamentos. Essas avaliações, feitas em laboratório sob condições ótimas de ambiente, indicam que os inseticidas podem interferir no potencial das sementes em produzir plântula normal, mesmo quando as condições de campo forem favoráveis. Os resultados de testes de frio, de envelhecimento acelerado e de condutividade elétrica, que retratam o comportaFevereiro 2002
mento das sementes sob uma ampla faixa de condições ambientais, indicaram a ocorrência de queda significativa do vigor das sementes, logo após os tratamentos com os inseticidas carbofuran, thiodicarb, furathiodicarb e thiamethoxan, com reduções progressivas em função do tempo decorrido entre o tratamento das sementes e a semeadura. Essas informações precisam ser consideradas nas decisões referentes ao tratamento de sementes de milho com inseticidas. Não no sentido de abolir o seu uso, uma vez que são inúmeras as vantagens que o método pode trazer ao agricultor e ao meio ambiente. Mas sim, como base para se obter maior eficiência desses produtos. O uso de doses maiores do que as recomendadas pelos fabricantes, por exemplo, pode potencializar o efeito fitotóxico do inseticida, condicionando efeitos mais drásticos no estabelecimento do estande da cultura. Deve-se considerar, também, que os problemas de germinação decorrentes do efeito fitotóxico dos inseticidas, são significativamente maiores em sementes com baixo vigor. Portanto, o uso de inseticidas via tratamento de sementes é viável para agricultores que adotam boas práticas agrícolas, dentre elas, a utilização de sementes com alto e comprovado potencial fisiológico (germinação e vigor). Fator importante a ser destacado, ainda, refere-se a aplicação do inseticida às sementes o mais próximo possível ao momento da semeadura, pois, conforme exposto anteriormente, a redução do potencial fisiológico das sementes, condicionada pelos inseticidas, aumenta com o prolongamento do tempo decorrido entre o tratamento e . a semeadura. Sonia R. M. de Bittencourt e Roberval Daiton Vieira, UNESP www.cultivar.inf.br
Cultivar
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Agronegócios INTELIGÊNCIA QUARENTENÁRIA
MERCADOS
Globalização e o desafio sanitário Q
uase um quarto do PIB mundial é derivado do intercâmbio comercial, demonstrando sua importância para o desenvolvimento das nações, conforme pode ser observado na Tabela 1. Os países ricos investem em inovação tecnológica permanente, ao passo que países emergentes têm na produção agrícola sua peça de resistência no comércio internacional. Ao tempo em que países ricos podem contrapor o déficit na balança comercial através de outros mecanismos, os países periféricos dependem de juros altos e das divisas provenientes da exportação para sustentar o seu desenvolvimento. Países sem uma produção competitiva e sustentável permanecem à margem do mercado, com degradação de sua capacidade de troca.
BRASIL
O agronegócio brasileiro contribuiu com 21% na formação do PIB nacional, equivalendo a R$330 bilhões, de acordo com o estudo de Nunes & Contini, utilizando os dados do IBGE de 1996. Os produtos agropecuários contribuíram com 40% das exportações brasileiras, estimando-se um superávit comercial de 16 bilhões de dólares no ano fiscal de 2001, sendo o único componente consistentemente superavitário na balança comercial brasileira. Em 1996, o pessoal ocupado nos agronegócios somava 20 milhões de pessoas (23,3% da PEA), e cada pessoa ocupada na agricultura gerava um valor de produção de R$ 62.045,00. É no mundo do agronegócio que o número de empregos para cada milhão de mais investido e mais favorável como mostra a tabela 2. Uma das razões das baixas taxas de crescimento do Brasil é a sua tímida participação no comércio internacional. Historicamente ocupamos menos de 1% das exportações mundiais, apesar do potencial para deter 45% (Tabela 3). O índice exportações/PIB flutua entre 6 e 9% (Tabela 4), o que é pífio quando cotejado com a média mundial (23,4%). Necessitamos de uma saída nas contas externas a Deus ex-machina, sem o que será improvável qualquer projeto de crescimento contínuo e sustentado. 36
Cultivar
LIBERAÇÃO COMERCIAL
Pertencer à OMC significa um compromisso de tomar medidas positivas e efetivas para incrementar o comércio com outras nações. Significa reduzir as barreiras alfandegárias, as taxas e impostos de importação, além das barreiras técnicas e para-fiscais. Mas também significa compreender que a conformidade aos padrões sanitários passa a ser condição singular para o sucesso no mercado de produtos de origem agrícola. A lógica indica que a extinção das barreiras e a redução das tarifas reposicionam a questão sanitária no centro do palco do comércio internacional. Países que disputam posicionamento privilegiado na arena comercial inteligentemente elevaram a questão sanitária à prioridade máxima. O desafio das autoridades sanitárias tem sido o de adequar o seu sistema ao ambiente comercial do mercado globalizado, em função do aumento ponderável no volume de mercadorias transacionadas e da multiplicidade de origens e destinos.
SANIDADE AGROPECUÁRIA
Todo o país importante no comércio internacional de agro-produtos dispõe de tecnologia avançada e de um eficiente sistema de defesa agropecuária, bases da competitividade e do sucesso no mercado global. Esse sistema se destina a proteger a saúde pública, o ambiente produtivo, evitando restrições à qualidade ou produtividade, garantindo a conformidade e a inocuidade dos alimentos. Estima-se que as pragas são responsáveis por perdas de 30% da produção agrícola mundial, sendo que o prejuízo concentra-se nos países mais pobres do mundo, onde subsiste um sistema de sanidade de baixa qualidade, com inúmeras referências de casos em que toda a produção agrícola é completamente perdida devido aos ataques de pragas. No Brasil, estimam-se perdas anuais variáveis entre 20-50% da produção agrícola, devido ao ataque de pragas, incluindo as perdas pós-colheita. O intenso movimento comercial do início da década aumenta os riscos de disseminação de pragas agropecuárias, exigindo dos sistemas www.cultivar.inf.br
de defesa a associação com uma sólida rede de apoio científico e tecnológico, que lhe dê suporte. Por essa razão, países líderes do comércio internacional de produtos agrícolas investem maciçamente no dueto sanidade e tecnologia, para garantir sua competitividade no mercado, conseqüentemente consolidar e ampliar a sua liderança.
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
As regras internacionais impõem que medidas sanitárias devem possuir um relevante fundamento científico, sendo passível de contestação por parte de outros membros da OMC caso faleça essa condição. Um país que não disponha de um cabedal de informações científicas e tecnológicas fica duplamente prejudicado, pela dificuldade de emissão de regras sanitárias fundamentadas, e por sua incapacidade de análise de medidas emitidas por outros países. A utilização de medidas sanitárias como barreira comercial está sempre presente, quer de forma acintosa, como ocorreu recentemente envolvendo a proibição de importação de carne brasileira por suspeita de risco de contaminação por BSE, ou através de fixação de normas e padrões que dificultam o acesso ao mercado. Essa ameaça exige que o país disponha de uma rede de Ciência e Tecnologia de apoio à Defesa Agropecuária, para permitir pronta resposta e rebater barreiras comerciais. A mesma análise aplica-se ao mercado interno, considerando-se que um dos postulados do Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) da OMC trata do princípio da não discriminação, ou seja, não se pode exigir de um parceiro comercial padrões mais rígidos que aqueles impostos ao mercado interno. Isso posto, o país que pretenda dominar o próprio mercado necessita produzir com alto padrão de qualidade e sanidade, para não ser excluído de um espaço negocial outrora cativo. Fevereiro 2002
Existem diversas pragas exóticas, que ainda não ingressaram no país, e que podem ser limitantes à produção brasileira. Por exemplo, a produção de 42 milhões de toneladas de soja previstas para esta safra, equivalendo a um valor bruto de produção dentro da porteira superior a R$15 bilhões, pode ser ameaçada, caso ingressem no país enfermidades como a ferrugem da soja, ou insetos como o pulgão da soja. Com o aumento do intercâmbio comercial, o risco de ingresso dessas pragas é muito alto, e o Brasil precisa estar preparado para evitar que o ingresso ocorra e, caso venha a suceder, é imperioso estar tecnologicamente preparado para continuar produzindo com o mesmo custo, mantendo a mesma produtividade e a mesma qualidade, sem prejuízo de sua competitividade. A associação entre órgãos de defesa agropecuária e instituições de C & T é crucial para a melhoria do status sanitário. Recentemente foram introduzidas no Brasil diversas pragas com elevado potencial de danos. Podemos referir o cancro da haste e o nematóide do cisto da soja, capazes de por em questão a competitividade da cultura no país, e que foram eficientemente manejadas através de tecnologias que haviam sido desenvolvidas antes que os problemas ingressassem e se dispersassem em nosso ambiente produtivo. Caso a Embrapa não houvesse atuado preventivamente, desenvolvendo tecnologia para que o produtor de soja pudesse conviver com os novos problemas, seguramente o Brasil estaria produzindo hoje menos da metade do volume de soja que tem colhido, redundando em perdas diretas, dentro da porteira da fazenda, superiores a R$10 bilhões, e estimando-se perdas de R$40 bilhões ao longo da cadeia da soja. O recente ingresso da sigatoka nega da bananeira está apresentando impacto reduzido em função de cultivares resistentes, desenvolvidos pela Embrapa, que permitem a rápida substituição da base genética.
PREJUÍZOS
Entre os exemplos negativos cite-se a vassoura de bruxa, que dizimou os cacaueiros, e que progrediu porque o Brasil não estava tecnologicamente preparado para debelar a praga ou com ela conviver. Nos anos 70 ingressou o bicudo do algodoeiro e a falta de tecnologia adequada para seu controle promoveu a erradicação do algodão dos estados do Sul e do Nordeste, gerando um surto de pobreza. O maior impacto ocorreu no Nordeste, onde seis milhões de agricultores perderam sua principal fonte de renda para aquisição de bens e insumos. Uma das motivações do surgimento do Movimento dos Sem Terra foi a busca de novas oportunidades de emprego e renda, perdidos com o desaparecimento de culturas como o cacau e o algodão, que extinguiu milhões de oportunidades após o ingresso dessas Fevereiro 2002
INVESTIMENTO
pragas. O algodão retorna ao cenário agrícola como cultura competitiva no Estado de Mato Grosso, valendo-se de um sistema de produção que incorpora modernas técnicas sanitárias.
Em conclusão, o país que não investir agressivamente na geração de informações e tecnologias em sanidade agropecuária, para produzir em um ambiente saneado, com competitividade e sustentabilidade, estará se autocondenando à exclusão do mercado globalizado. Caso esse país tenha um perfil marcadamente agrícola, estará abrindo mão de sua principal perspectiva de progresso e desenvolvimento econômico e social, com profundos impactos na produtividade e qualidade de seus produtos agrícolas, com reflexos na área ambiental e nos aspectos sociais da agricultura, conduzindo à deterioração progressiva nas contas cambiais, que acabam por tolher sua soberania e as suas perspectivas futuras. O Brasil está demonstrando cada vez mais que é altamente competitivo mesmo com regras que lhe são adversas e com o protecionismo exacerbado dos países ricos. Só há uma maneira de brecar nosso desenvolvimento, que é a imposição de barreiras sanitárias aos nossos produtos. Compete ao Brasil evitar que seja imposto esse freio ao seu desenvolvimento, atuando próativamente para fortalecer os setores de C & T . e de fiscalização agropecuária.
FEBRE AFTOSA E VACA LOUCA
No plano mundial, as crises recentes causadas pelas epidemias de BSE (vaca louca) e de febre aftosa, no Continente Europeu, dão uma idéia clara da importância da sanidade agropecuária para a formação da riqueza e para o intercâmbio comercial. Apenas na Inglaterra a epidemia de febre aftosa determinou o extermínio de mais de dois milhões de animais, com enormes prejuízos econômicos, impactos ambientais, como contaminação de águas subterrâneas, e sociais, com desmonte de negócios, que redundaram em um surto de suicídios entre os pecuaristas. Para o ano de 2001, o prejuízo causado pela febre aftosa é estimado em 9 bilhões de libras esterlinas, o equivalente a 1,1% do PIB britânico. Ambas epidemias foram causadas pelo descompasso no ritmo de investimentos na modernização, no aparelhamento e na geração de novas técnicas de controle sanitário em praticamente todos os países da União Européia, o que ocasionou um paradoxal fechamento do mercado interno e externo para seus produtos.
Décio Luiz Gazzoni
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agronomo.eng.br/agronegocios/
Tab.01 Comércio internacional e PIB mundial (%) 1850 5,1
1880 9,8
1913 11,9
1950 7,1
1973 11,7
1985 14,5
1993 17,1
2000 23,4
Tab.02 Número de empregos para cada milhão de reais investidos Indústria de Eletrodomésticos Indústria Automobilística Construção Civil Comércio Agronegócio
78 85 111 145 202
Tab.03 Relação percentual entre o valor das exportações brasileiras e o das mundiais Brasil/Mundo
1970 0,92
78 1,02
84 92 94 1,49 0,96 1,02
96 97 98 0,91 0,96 0,94
99 0,86
Tab.04 Relação percentual entre valor das exportações e o PIB Brasileiro Exp/PIB
1992 9,2 www.cultivar.inf.br
93 8,6
94 8,0
95 7,1
96 6,2
97 6,6
98 6,5
99 9,1
2000 9,6 Cultivar
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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting
Seca e excesso de chuvas podem complicar supersafra O mercado vinha trabalhando com uma expectativa de termos uma nova supersafra neste ano, mas, para complicar um pouco, estamos vivendo um período de estiagem no Sul e chuvas em excesso em parte do Centro-Oeste e Norte. Com isso, poderemos estar vendo os números finais ficarem abaixo das expectativas. Inicialmente se apontava uma produção de 100 a 102 milhões de T, mas agora com o Rio Grande do Sul perdendo algo ao redor das 3 milhões de T, que incluem cerca de 1,5 milhões de T de milho, 1 milhão de T de Soja o restante de feijão e arroz, fazendo com que as novas estimativas venham abaixo das 100 milhões de T. Além do Sul, temos excesso de chuvas em alguns pontos como em Tocantins, onde parte das lavouras de arroz irrigados estão comprometidas com enchentes e também muita chuva no Centro-Oeste, no qual os produtores podem ter problemas com doenças no final da safra e assim estarem comprometendo parte da produtividade. Tudo caminha para termos uma safra parecida com o ano passado entre as 95 e 98 milhões de T. Lembramos que o Trigo e a safrinha do milho poderão melhorar este quadro se o clima for favorável.
MILHO Chegada da safra forçando as cotações O mercado do milho está recebendo a nova safra desde janeiro, mas os volumes maiores devem entrar agora em fevereiro, e mesmo estando com uma colheita prevista menor que o ano passado, tudo indica que estaremos sendo bastante pressionados para baixo, com os indicativos devendo caminhar para queda de R$ 1,00 a R$ 2,00. Os produtores normalmente colhem o milho da safra de verão e vendem uma parte para fazer caixa e honrar compromissos com dívidas de insumos e assim devendo deixar os meses de fevereiro e parte de março com mais oferta que demanda. Só terá um quadro de alta se as indústrias se precipitarem e virem a campo para comprar mais cedo e formar estoques. As exportações devem continuar limitando a queda nos indicativos. A médio e longo prazo o milho tende a um mercado mais favorável que no ano passado.
SOJA Colheita chegando forte em fevereiro Os produtores da soja do Brasil terão neste ano grande parte das lavouras sendo colhidas em fevereiro e março, com isso a pressão de venda e o aumento de produto para ser transportado poderá forçar as cotações para baixo, principalmente em decorrência do avanço das cotações dos fretes que também estão sendo esperados. Como houve crescimento dos preços dos pedágios e neste ano a safra está concentrada entre 15 de fevereiro e 15 de março, a maior parte do produto será transportada em março e começo de abril, assim se espera crescimento dos custos dos fretes. A recomendação para os produtores é de vender somente em cima de necessidades de dívidas, ou tentar aguardar passar este momento mais pressionado que vem pela frente e poderá durar cerca de 60 a 70 dias.
ARROZ Safra chega e abastece o mercado O mercado do arroz está recebendo a safra nova e, mesmo com alguns problemas localizados de perdas, como a seca em pontos isolados no Rio Grande do Sul e a enchente em áreas do Tocantins, estaremos tendo mais ofertas que 38
Cultivar
demanda. Com isso se espera que as cotações que vinham sendo trabalhadas dos R$ 18,00 aos R$ 19,00 por saca percam entre R$ 2,00 e R$ 4,00 até o mês de março. É safra e as indústrias brasileiras não têm caixa para estar bancando grandes estoques. E como os produtores também têm necessidade de vender parte para fazer caixa e quitar dívidas, espera-se que isso force as posições para baixo. O quadro geral do ano é ajustado e com demanda maior que a oferta interna. Novamente necessitando de bons volumes importados da Argentina e Uruguai.
FEIJÃO
Seca e Chuvas seguram cotações
O mercado do feijão entrou o ano com indicativos estabilizados, trabalhou janeiro todo com mais procura que demanda pelo carioca de qualidade superior e teve queda nos indicativos do preto. O feijão Preto recuou dos R$ 80,00 ou acima para os R$ 50,00 e levemente abaixo para os produtores. Mas deverá trabalhar muito melhor que no ano passado quando foi abaixo dos R$ 30,00, frente ao mínimo esperado para este ano é na casa dos R$ 37,00/
40,00. O carioca deverá ter crescimento da procura em fevereiro, e como tem pouco produto previsto para chegar, poderá buscar novos ajustes positivos no período. Vem trabalhando dos R$ 45,00 ao R$ 55,00 por saca.
TRIGO
Produtor se prepara para crescer
Os produtores de Trigo, estavam comprando as sementes para o novo plantio neste mês de janeiro, e mesmo vendo as cotações do produto da Argentina ter enfrentado queda poucos mudaram de idéia de crescer. A safra passada que fechou cerca de 2,9 milhões de T, e se tudo correr dentro das expectativas do setor, poderemos nos aproximarmos de uma safra de 4 milhões de T. É bom os representantes do setor começarem a pressionar o governo para se preparar com recursos para auxiliar na nova comercialização, para que não cheguemos à colheita e os produtores fiquem na dependência de poucos compradores. O mercado segue favorável e a cultura sinaliza com boa rentabilidade, em cima de avanços na produtividade e qualidade do produto nacional.
CURTAS E BOAS ALGODÃO - as lavouras estão em bom desenvolvimento no Centro-Oeste, mas os produtores locais reclamam que este ano esta chovendo muito e, assim, temem que os custos de produção cresçam. Também há indicativos de termos uma safra de 25 a 30% menor que no ano passado em cima da redução da área. SUÍNOS - os dados da exportação de 2001 apontam que dobramos os embarques, das 127 mil T de 200 para mais de 250 mil em 2001. Com isso cresce a demanda interna de milho e farelo de soja. FRANGOS - também estão voando longe, aumentando as exportações das 880 mil T de 2000 para 1300 mil T em 2001. O crescimento deverá continuar forte em 2002. Também devendo ter muita procura pelo milho que teve a safra comprometida. MILHO - segue com os exportadores trabalhando nos portos, principalmente em Paranaguá onde muitos navios foram fechados neste ano. A safra fecha agora em fevereiro e os números devem ficar próximas das 6,2 milhões de T exportadas no ano safra de 2001/2002. TRIGO - a desvalorização cambial ocorrida na Argentina deixou o país vizinho fora do mercado por mais de um mês, só voltando a trabalhar no final de janeiro. Quando voltou a operar mostrava negócios levemente abaixo dos US$ 100,00 por T FOB, contra os US$ 120,00/125,00 praticados até dezembro. A queda veio em cima das indicações de que o produto estaria sendo negociado localmente entre os 130/140 Pesos, que no cambio novo fechava abaixo dos US$ 100,00. Devendo se ajustar nas próximas semanas porque o trigo tem cotação internacional em dólar e não em peso.
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Fevereiro 2002