Cultivar 37

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Ano IV - Nº 37 Março/2002 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00

O retorno

Produtores devem ficar atentos a uma provável nova ocorrência do El Niño

(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Combate à resistência

Números atrasados: R$ 8,00 Diretor:

Newton Peter

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Editor geral:

Saiba como evitar a resistência da Spodoptera frugiperda a inseticidas

Schubert Peter Redação

Pablo Rodrigues Charles Ricardo Echer Design Gráfico e Diagramação:

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Fabiane Rittmann

Fungicida?

Marketing:

Neri Ferreira

Tire suas dúvidas sobre o uso combinado de inoculante e fungicida na semente

Circulação:

Edson Luiz Krause Assinaturas:

Simone Lopes Ilustrações:

Rafael Sica

Nova Bayer

Editoração Eletrônica:

Index Produções Gráficas

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Fotolitos e Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Compra da Aventis CropScience coloca a empresa alemã na disputa pelo primeiro lugar no mercado

Mascote:

Missy NOSSOS TELEFONES:

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GERAL / ASSINATURAS: 272.2128 REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716 MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314 FAX: 272.1966

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

A Cultivar® é Marca Registrada da:

Ceres Empresa Jornalística

índice Diretas Retorno do El Niño Deficiência de oxigênio em algodão Resistência de Spodoptera a inseticidas Produção de sementes de milho - Pioneer Coluna da Aenda Congresso de soja Produção de sementes de feijão Show Rural - Coopavel Soja: Fungicida com inoculante? Plantio direto de soja na palha de cana Manejo de plantas daninhas em cana Bayer em destaque Caminho para descomoditização de grãos Inimigos Naturais Agronegócios Mercado agrícola

Nossa capa 04/05 06 10 12 16 20 21 22 26 28 30 32 36 40 42 36 38

Foto Capa / Embrapa Milho e Sorgo

Danos causados por Spodoptera frugiperda em grãos secos


diretas

Rizzardi, Faiad e Grolli

Tamy Matumoto Pércio Meda

Bayer

A empresa que este ano comprou a Aventis Cropscience, apresentou o Gaúcho, produto para tratamento de sementes. Jedir Fiorelli, esteve à frente das apresentações. Percio Meda, chefe de produtos, adiantou sobre a premiação do Hoscar Festival, que acontecerá em março na cidade de Gramado, será a nossa entrega do Oscar , comentou ele, referindo-se à premiação dos envolvido com a campanha de Marketing e vendas.

Tamy Matumoto, comentou entusiasmada sobre a qualidade do público visitante. Entre os produtos apresentados mereceu destaque o Fertamin, pelo seu bom desempenho na cultura do milho.

Safra de inverno

Basf

Apresentação de Cinema para suas estrelas da linhagem F500, o Opera e o Comet. Vera Lucia Bianco, marketing, esteve à frente das apresentações.

Efrain Fischmann

Hokko do Brasil

Coriolano Xavier é diretor da MCA; agência que cuida da imagem da Hokko, está empenhado em novos projetos para a empresa.

Monsanto

Carlos Canal, gerente de marketing sul, deu ênfase ao controle do tamanduá da soja, através do Standak. Fabrícia Andrade apresentou sua linha de híbridos resistentes à cercospora.

Antônio Smith, gerente de Produtos Químicos para o Sul, está trabalhando forte a facilidade de descarte das embalagens no caso do Roundup WG.

Pioneer

Cultivar

Francisco Gimenez www.cultivar.inf.br

Coopavel promete

Ao receber elogios pela organização e sucesso do Show Rural Coopavel 2002, Rogério Rizzardi, engenheiro agrônomo e coordenador geral do evento, prometeu. Esperem até o ano que vem , disse ele, dando ar de que o evento surpreenderá a todos com mais novidades. Para o Presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, o Show Rural deste ano foi o maior e melhor de todas as edições já realizadas nestes 14 anos e destacou que o evento cresce cada vez mais porque o agricultor está consciente de que está na hora de modernizar o processo produtivo. A comissão organizadora do evento já está pensando e planejando a feira do ano que vem.

Luciano Galera José Perdomo

Dupont

José Perdomo, presidente da empresa, frisou a importância dos 200 anos da Dupont para o mercado. Apesar desta idade continuamos inovando e buscando novas soluções tecnológicas , afirma ele. A empresa estará lançando dois produtos para a agroindústria da cana e da laranja. Luciano Galera, Julio Lima e Julio Teschima apresentaram os produtos Lannate e Gallaxy.

Júlio Teschima e Júlio Lima

Plantabilidade

Daniel Labarda, gerente de Produtos Químicos para o Brasil, de nacionalidade Argentina, está no Brasil há cinco meses. Com larga experiência de campo, está empenhado em demonstrar os custos de produção de lavoura a partir da tecnologia de plantio direto.

Edeon Ferreira

Grupo de 22 agricultores da Unisoja, licenciados da Fundação Mato Grosso, estão colhendo com sistema de quatro peneiras e não mais com duas, como é feito no sistema convencional. Conforme o presidente da APROSMAT, Edeon Vaz Ferreira, as sementes colhidas nesse sistema reduzem o trabalho de regulagem na hora do plantio e possibilitam maior plantabilidade.

Stoller

A Stoller do Brasil contratou os serviços do Solon Cordeiro de Araújo, engenheiro agrônomo com ampla experiência em inoculantes. Solon, que já trabalhou em várias empresas, atuará como consultor na área de marketing junto a Stoller, somando forças com a forte equipe que hoje já atua na empresa.

João Sampaio Geraldo Davanzo

Sementes Dow

Geraldo Davanzo, gerente de Marketing, está empenhado em alavancar as culturas de milho e sorgo com ênfase no híbrido 8460.

Nova Diretoria

João de Almeida Sampaio Filho assumiu no dia 25 de fevereiro a presidência da Sociedade Rural Brasileira. O novo presidente tem 36 anos, é proprietário de uma usina de beneficiamento de látex, e produtor de borracha, laranja e cana-de-açúcar em propriedades nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Paraná. Sampaio foi indicado pelo presidente anterior, Luiz M. Suplicy Hafers, e eleito com ampla maioria dos votos.

Daniel Labarda Francisco Gimenes é o responsável pelo marketing das sementes na Monsanto, entende que o momento é de fortalecimento das marcas de sementes, explorando mais a imagem que o consumidor tem destas. Como é o caso da Agroceres, um nome consagrado no campo.

Alice Oliveira

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A Dow AgroSciences está realizando em fevereiro e março o Dia Dow no Campo , que é organizado periodicamente e reúne os principais produtores agrícolas do Brasil para um dia de aprimoramento técnico e apresentação de produtos. O evento acontece em Indianópolis (MG).

Responsável pelo Marketing da Monsanto, Maria Fernanda Britto, quer neste ano dar um enfoque maior às marcas de sementes comercializadas pela empresa, Dekalb, Agroceres, e Monsoy.

Antonio Smith

A empresa apresentou seus híbridos de qualidade. Alice Oliveira, debutante no Show Rural, explicou a amplitude do novo slogan - Tecnologias Integradas. Remete desde a pesquisa dos híbridos, passa pela produção da semente, beneficiamento, e vai até a combinação dos produtos a serem cultivados pelo produtor.

Dia de campo

O Presidente da Apassul, Efrain Fischmann, está apostando na safrinha de inverno, principalmente nas culturas de cevada e trigo no Rio Grande do Sul. Devido à seca que atingiu o estado e prejudicou fortemente a safra precoce de milho e soja, Efrain acredita que os produtores se empenhem e passem a investir nas culturas tardias. Na cultura de trigo, por exemplo, sugere que os produtores aproveitem a elasticidade do período de plantio, que pode ser feito de maio a julho, escalonando as culturas e aumentando as chances de uma boa colheita.

Aventis e Aventis Seeds

Coriolano Xavier

Será uma dália? Uma margarida? Um crisântemo? Não. É uma das novas cultivares de girassol colorido, apresentados pela Embrapa durante o Show Rural Coopavel 2002. As sementes estarão disponíveis para a próxima safra.

Divulgação SRP

Jedir Fiorelli

Colorido

Ihara

Micronutrientes

Nilson Oliveira

Syngenta

A empresa, mais uma vez, apresentou uma dinâmica surpreendente para atração do público. Os produtores que estiveram no estande foram brindados com sorteios de bolas, camisetas, cortes de cabelo, até cupons de descontos junto às revendas de seus produtos.

Fernanda Britto Março 2002

Março 2002

José C. Bacili Nilson Oliveira, gerente de marketing para a soja, salientou a preocupação da empresa de estar mais perto do mercado, por isso a regionalização das ações de marketing. Já o gerente de marketing para o milho e trigo, José Carlos Bacili, entende que quanto mais se conhece o mercado local melhor atendemos

Leandro Amaral suas necessidades . Leandro Amaral gerente de CRM, terá a missão de estratificar os diversos públicos `a quem a regional se destina, para que o veterano em comunicação, Leo Togashi, possa afinar as mensagens dirigidas aos diferentes segmento onde a Syngenta atuará este ano. www.cultivar.inf.br

A Rigran está iniciando a comercialização dos quelatos de ferro Geo Fe 6 e Geo Fe 11, em duas versões, e de MicroMix, coquetel de micro-nutrientes. Os produtos apresentam composição para atender os clientes de fertirrigação, foliar, solo e hidroponia. Geo Fe 6 e Geo Fe 11 apresentam os mais altos teores de ferro absorvível, garantindo o melhor custo x benefício. A composição de MicroMix, de elevada solubilidade, estábalanceada para atender os mercados de grãos, frutas, hortaliças, legumes e flores. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (51) 3341 3225 ou pelo e-mail: rigran@rigran.com.br

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Fotos Pablo Rodrigues / Cultivar

Fenômenos

Soaram os alarmes sobre um próximo El Niño para este ano; o produtor deve ficar atento e não se assustar, pois ainda é cedo para certezas

EL NIÑO, COMO AGIR

O tema é atual, pois já se começa a falar sobre a possibilidade de desenvolvimento de um novo evento El Niño em 2002. E se há uma coisa que não se pode negar é o valor dos alertas antecipados do surgimento de um evento El Niño e suas possíveis anomalias climáticas, para aquelas regiões do mundo vulneráveis ao fenômeno. É um tipo de informação, amplamente disseminada nos veículos de comunicação de massa, que, para ser de fato útil, necessita de uma correta interpretação por parte dos usuários, antes da tomada de qualquer decisão importante envolvendo a mesma. Diante da divulgação de um evento El Niño nos diversos segmentos de mídia (jornal, rádio, televisão e Internet, por exemplo), as pessoas reagem de forma diferente. Algumas reações, seguramente, podem ser consideradas corretas e outras totalmente erradas. Vejamos, qual a melhor forma de comportamento frente a uma previsão de El Niño, principalmente quando entra em jogo a agricultura brasileira.

A volta do El Niño O

timismo em excesso e frustração de expectativas são duas coisas que andam muito próximas, quando o assunto é o uso de previsões climáticas na agricultura. A bem da verdade, sintetizam dois momentos de algumas experiências que servem para ilustrar o quanto processos de comunicação deficientes e o mau uso de conhecimento útil podem trazer mais problemas do que benefícios para a sociedade. É inegável que as oscilações nos rendimentos das culturas, particularmente nos sistemas de produção de grãos, de uma safra para outra, são muito dependentes da variabilidade climática interanual. Portanto, parece ser correta, ou no mínimo razoavelmente lógica, a pressuposição de que uma previsão das condições climáticas futuras pode se constituir em valiosa informação estratégica para aplicações no setor agrícola. 06

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pode ter uma amostra da diferença em produzir e dimensionar seu sistema de produção em um ambiente de riscos climáticos conhecido. Muito diferente do obscurantismo de outros tempos, quando anos de bons rendimentos e de fracassos eram vistos como meras obras do acaso, sem qualquer possibilidade de previsibilidade. Quanto vale isto? Faça suas contas. Quanto ganhou, deixou de ganhar ou perder, considerando ou não estas informações.

O primeiro passo é começar entendendo que há dois tipos de previsão em meteorologia. As chamadas previsões de tempo e as previsões de clima. Cada uma com as suas peculiaridades e usos diferentes, quando voltadas para aplicações na agricultura. As previsões de tempo são aquelas que indicam, para um dado local e para um determinado dia a variabilidade das condições meteorológicas. Informam, por exemplo, se vai chover, se vai fazer frio, se vai haver formação de geadas, qual a amplitude de temperaturas (mínima e máxima), velocidade do vento esperada, umidade relativa e assim por diante. Este tipo de previsão é feita com um horizonte de tempo que, para fins operacionais e com boa confiabilidade, não vai além de cinco dias. Portanto, não é possível ainda, e talvez não seja nunca, saber se numa determinada data, com trinta dias de antecedência, www.cultivar.inf.br

vai chover ou vai fazer sol. As previsões climáticas, por sua vez, não informam a variabilidade diária dos elementos meteorológicos, em um determinado local. Não indicam quando vai chover ou quando vai fazer sol, só para ilustrar. Seus indicativos são feitos em escala estacional (três meses) e interanual. Tão somente informam como, no período considerado, deverão se comportar as variáveis meteorológicas em relação aos valores considerados normais. Ou seja, ficarão abaixo, ao redor ou acima dos mesmos.

PREVISÕES DE TEMPO

As previsões de tempo são indispensáveis para se fazer um manejo racional das práticas agrícolas. Os produtos hoje disponíveis podem aumentar, e muito, a eficiência de operações de semeadura, aplicação de Nitrogênio em cobertura, Março 2002

CERTO:

aplicações de produtos químicos (herbicidas, fungicidas, inseticidas etc.), fenação a campo, antecipação de colheita e muitas outras. Quanto vale este tipo de previsão? Calcule o custo destas operações, cuja falta ou ocorrência de chuva pode afetar a sua eficiência, e principalmente os reflexos que isto pode ter no resultado final da lavoura, por exemplo, que você passará a considerar informação meteorológica como mais uma das coisas que faz a diferença nos resultados obtidos na atividade agrícola. Quem acompanhou, nos últimos cinco anos, os alertas sobre prognósticos climáticos baseados nas fases do fenômeno El Niño-Oscilação do Sul (ENOS) pode comprovar a evolução das chamadas previsões climáticas para aquelas regiões do Globo onde existem sinais de variabilidade climática associados com El Niño e com La Niña. Especificamente Março 2002

para o sul do Brasil, chuvas acima do normal em anos de El Niño e chuvas ao redor ou abaixo do normal em anos de La Niña. Quem considerou, associado a estas informações, os estudos complementares de impactos da variabilidade climática associada com as fases do ENOS e seus impactos sobre o rendimento econômico das culturas, pode montar estratégias de manejo para reduzir riscos climáticos e melhorar o seu desempenho na atividade. Dois casos bem ilustrativos: os alertas do fenômeno El Niño de 1997 e do evento La Niña de 1999. Por exemplo, os alertas de que todos os sinais indicavam que as probabilidades de sucesso com a cultura de trigo eram altas em 1999, foram dados desde maio daquele ano. Quem ouviu e decidiu tendo a consciência que este tipo de informação é probabilístico e não absoluto www.cultivar.inf.br

procurar se informar sobre o que é o fenômeno El Niño; saber quando ele ocorreu nos últimos tempos; tomar conhecimento sobre os tipos de condições climáticas e eventos meteorológicos extremos que ocorreram na sua região durante os eventos El Niño anteriores; ter claro como foi afetado pelo último El Niño; discutir com amigos e colegas de profissão os possíveis impactos do El Niño nas diferentes estações (épocas) do ano; dominar alternativas de resposta para os possíveis impactos climáticos; identificar as alternativas de reação que pode fazer sozinho e com meios próprios; listar as alternativas de reação para as quais depende de auxílio de terceiros (privado ou governamental); Cultivar

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esperar, sempre, por atualizações futuras (algumas semanas) do progresso do El Niño. Se basear em informações do serviço meteorológico oficial. No caso do Brasil, ficar atento aos boletins do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE), que podem ser acessados via Internet nos endereços http://www.inmet.gov.br e http:/ /www.cptec.inpe.br; respectivamente.

Embrapa Trigo

...

ERRADO:

ignorar; entrar em pânico; vender a casa, a propriedade rural e se desfazer de todos os bens na região; acompanhar o monitoramento do El Niño, de forma quase neurótica, todos os dias; acreditar em tudo que ouve falar sobre El Niño.

EL NIÑO-2002

El Niño, ocorrendo sua fase madura vários meses depois. Conforme versão do boletim ENSO DIAGNOSTIC DISCUSSION, liberado pelo Climate Prediction Center (EUA) em 5 de fevereiro de 2002, as mais recentes previsões de modelos estatísticos e de acoplagem oceano-atmosfera mostram uma condição de normalidade a moderadamente quente, para as águas do OP, nos próximos três a seis meses. Além de que, esses modelos apresentam baixa capacidade preditiva durante as fases de transição do fenômeno El Niño-Oscilação do Sul. Embora a maioria das técnicas de previsão indique um episódio quente (El Pablo Rodrigues / Cultivar

Os veículos de comunicação já divulgaram e as instituições meteorológicas também sinalizam, nos seus boletins oficiais, a possível volta de um evento El Niño em 2002. O monitoramento da temperatura das águas do Oceano Pacífico tropical e do padrão de comportamento da circulação atmosférica naquela região indicam a possibilidade de desenvolvimento de um novo episódio El Niño, para os próximos meses. É importante destacar que o aquecimento observado nas águas do Oceano Pacífico (OP) representa somente o primeiro estágio de desenvolvimento de um

Gilberto comenta sobre a possível ocorrência do El niño neste ano

O El niño, caso ocorra, trará grandes impactos ao clima no Brasil

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Niño), há, no momento, uma considerável incerteza sobre a intensidade da sua força. Finalmente, cabe lembrar que os grandes impactos do El Niño sobre o clima no Brasil, particularmente no sul do Brasil (excesso de chuvas) e no norte da Região Nordeste/leste da Amazônia (secas), ocorreram em eventos de intensidade muito forte; como em 1982/1983 e 1997/1998.

PREVISÕES PARA MARÇO-ABRIL-MAIO

Com base no boletim Infoclima, do CPTEC/INPE, ano 9, número 2, de 18 de fevereiro de 2002, tem-se: Região Sul - chuvas normais a ligeiramente abaixo da média histórica (previsão com média confiabilidade). Região Sudeste - chuvas dentro da média histórica (previsão com baixa confiabilidade). Região Centro-Oeste - chuvas dentro da média histórica (previsão com baixa confiabilidade). Região Nordeste- chuvas de normais a ligeiramente acima da média histórica no noroeste, no restante da região (semiárido) normal a ligeiramente abaixo da média (previsão com média confiabilidade). Região Norte - chuvas normais a ligeiramente acima da média no norte e normalidade no restante da região (previsão com média-alta confiabilidade). A previsão é de temperaturas normais a ligeiramente acima da média em prati. camente todo o país. Gilberto R. Cunha Embrapa Trigo

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Março 2002


Algodão

Deficiência de oxigênio no solo e excesso de umidade na colheita são prejudiciais às lavouras de algodão

ANOXIA

Sem ar O

algodoeiro herbáceo (Gossypium hirsutum L. r. latifolium Hutch.) planta resistente à seca, e xerófila, pode produzir razoavelmente bem, com excelente qualidade intrínseca da fibra em ambientes xéricos, como o semiárido do Nordeste do Brasil. Por outro lado, é considerada espécie altamente sensível à deficiência de oxigênio no solo, seja por excesso de água ou por impedimento físico, com solos com baixa drenagem e renovação da atmosfera edáfica. Sendo que a produtividade é reduzida significativamente, dependendo da duração do estresse anoxítico (deficiência ou falta de oxigênio), estádio de desenvolvimento das plantas e de fatores ambientais, do solo e da atmosfera. Mesmo em regiões áridas e semi-áridas, como a sub-região semi-árida do Nordeste brasileiro, onde a seca e a deficiência de umidade são eventos comuns, podem ocorrer períodos de saturação hídrica do solo, originando conseqüências fatais para a cultura do algodoeiro, seja reduzindo o crescimento, o desenvolvimento ou a produtividade, seja alterando a qualidade do produto final, com a redução da qualidade da fibra e das sementes, pois a abertura dos frutos do algodoeiro envolve mecanismos endógenos (hormônio etileno) e exógenos, via radiação solar. 10

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CONSIDERAÇÕES GERAIS

O algodoeiro herbáceo desde a fase inicial da germinação das sementes é extremamente sensível a baixos níveis de oxigênio da atmosfera do solo, que nas condições consideradas normais apresenta 20% de oxigênio, 79% de nitrogênio e menos de 1% de dióxido de carbono (CO2) a uma profundidade de até 15cm, porém pode variar muito, os teores de oxigênio e CO2 dependendo do tipo do solo, condições atmosféricas em especial quantidade e intensidade das chuvas e do manejo do ambiente edáfico incluindo seu preparo e medidas de conservação. O algodoeiro responde, via raízes, às variações na composição do ar do solo, sendo pouco sensível às variações no teor de CO2, diferente de outras culturas, porém é muito sensível à variação no teor do oxigênio. A elongação da raiz principal do algodoeiro é bastante reduzida quando exposta a níveis de oxigênio abaixo de 10%, e para, quando colocada em atmosfera sem oxigênio, por um período superior a três horas, sendo que, a partir dos 30 minutos sem oxigênio, já é iniciado o processo de deterioração das raízes, especialmente das mais novas. Solos com problemas físicos, naturais ou induzidos (mau uso) com zonas compactadas, em geral apresentam impasses sérios para o algodoeiro, pois a limiwww.cultivar.inf.br

tação no teor de oxigênio do solo acarreta, por si , sérios problemas no metabolismo das plantas, além de interagir com outros fatores, como o crescimento da densidade aparente do solo. Nos solos com drenagem interna, impedida por camada impermeável ou por lençol d água superficial, a fase gasosa fica quase ausente e, assim, não suporta a cultura do algodão. Deve-se preferir solos de drenagem média a rápida. Na Figura 1 pode ser visualizado uma cultura de algodão em solo Vértico, com argila de elevada atividade e saturado d água, com as plantas com 70 dias de idade, como se estivessem com menos de 15 dias da emergência. Às vezes em áreas irrigadas pode ocorrer anoxia devido ao deficitário uso da água e as plantas sofrem com o excesso de água temporário e a falta de oxigênio nas raízes. O preparo do solo é vital para a performance da cultura do algodão, pois não suporta compactação, sendo que a densidade aparente do solo deve ser baixa, de preferência menor do que 1,5 g/cm3 para permitir o pleno crescimento e desenvolvimento das raízes e assim da parte aérea, de onde vem a produção da planta, fibras e sementes. O algodoeiro herbáceo possui crescimento alométrico quase que perfeito, tendo uma elevada proporcionalidade nas taxas de crescimento entre a parte aérea e as Março 2002

raízes que correspondem de 20 a 25% da biomassa da planta, sendo drenos de elevada atividade. Na Figura pode ser observado raízes desta malvácea com deformação, ângulo de 900, devido à compactação do meio edáfico, o que leva a redução proporcional na parte aérea, ampliando o shedding das estruturas de reprodução e assim redução da produtividade e qualidade da produção. O ideal é mexer o mínimo possível no solo, utilizando-se técnicas do plantio direto ou cultivo mínimo para evitar alterações no espaço poroso do solo e manter a sua capacidade produtiva.

EFEITOS DA ANOXIA

A deficiência ou falta mesmo temporária, de oxigênio no solo (anoxia), promove alterações em praticamente todo o metabolismo do algodoeiro, especialmente a respiração celular oxidativa, que dele necessita, fotossíntese, metabolismo dos açúcares e metabolismo das proteínas, especialmente as funcionais (enzimas) e, desta forma, o crescimento e o desenvolvimento das plantas, que ficam comprometidos. A deficiência de oxigênio no meio edáfico, induzida pelo alto teor de umidade, que pode estar relacionado ao aumento da densidade aparente do solo, devido ao mau uso ou a elevadas precipitações pluviais com redução da demanda evaporativa do ar, em virtude do aumento da umidade relativa e também do potencial hídrico do ar, dependendo da duração do estresse, pode promover aumento na percentagem da queda dos botões florais e o shedding dos frutos jovens. Por exemplo, com apenas 120 horas de Fotos Napoleão E. de M. Beltrão

Raízes com deformação devido à compactação do meio edáfico

Março 2002

falta de oxigênio no solo, na fase de botão floral (início) independente das cultivares CNPA Precoce 1 e CNPA 3H, que apresentam ciclo biológico diferente, com pelo menos 20 dias, 2), foram verificadas reduções significativas na área foliar (30%), na fitomassa epígea (36%), na produção de algodão em caroço (38%) e na produção de fibra (41%) com relação às testemunhas, sem estresse anoxítico; além disso, a precocidade da planta foi reduzida em pelo menos 27%. Em trabalho com a cultivar CNPA Acala 1, híbrido sintético complexo com genes de pelo menos duas espécies de algodão (G. hirsutum e G. barbadense), de ciclo médio, produtora de fibra extra-longa e recomendada para cultivo irrigado no Nordeste, foi constatado que o estresse anoxítico reduziu em até 40% a produção da planta, bem como o número de capulhos e o peso de tais estruturas, dois importantes componentes da produção, principalmente quando o estresse ocorre no início do crescimento e do desenvolvimento das plantas, estádio de duas a quatro folhas verdadeiras. Considerando a cultivar CNPA 7H, atualmente a mais plantada no Nordeste brasileiro, no tocante aos pequenos e médios produtores, que representam a maioria, foi verificado que, com 72 horas de anoxia radicular, a fotossíntese foi reduzida em 87% e a respiração, medida nas folhas, em 60%.

EFEITOS DO EXCESSO DE ÁGUA

Um dos momentos críticos da cultura do algodão é a colheita, que requer tempo seco e com sol, para não prejudicar a qualidade das fibras nem das sementes, pois com umidade excessiva no ambiente a produção e sua qualidade ficam comprometidas. No período de crescimento, a deficiência em luminosidade promove o shedding das estruturas de reprodução da planta do algodão e a deiscência dos frutos que, botanicamente, são cápsulas loculicidas que dependem da luminosidade e do restante da radiação solar e do hormônio etileno. As sementes também amadurecem junto com o amadurecimento dos frutos, ocorrendo na espécie G. hirsutum, com 45 a 50 dias da antese (fertilização das flores). Em geral, recomenda-se iniciar a colheita quando cerca de 50 a 60% dos frutos estiverem abertos, na colheita manual, ou depois do desfolhamento químico ou natural, dependendo do ambiente, no caso da colheita mecânica. Caso ocorram precipitações pluviais freqüentes no período de maturação dos frutos, com muita newww.cultivar.inf.br

Cultivar

Napoleão fala sobre a anoxia no algodão

bulosidade e queda de temperatura ambiente, os frutos demorarão a abrir ou, mesmo, não se abrem, apodrecendo na planta ou, em caso de abertos, as sementes podem germinar, prejudicando enormemente a qualidade, e até comprometer, parcial ou totalmente, a produção. Na Figura 6 pode-se ter um fruto da cultivar CNPA 7H, plantada em Campina Grande, PB, no ano de 2000, que não abriu e apodreceu devido ao excesso de chuvas, deficiência de luminosidade e posterior ataque de fungos; neste estado, o fruto não abre mais e as fibras e sementes ficam totalmente comprometidas.

CONCLUINDO, TEM-SE:

A anoxia, causada por impedimentos físicos do solo ou excesso de água, ou os dois, dependendo da duração do estresse e do estádio de desenvolvimento das plantas, prejudica a planta do algodoeiro, reduzindo a produção. Próximo a colheita, precipitações pluviais freqüentes, elevada nebulosidade e elevada umidade relativa do ar, podem comprometer totalmente a produção, reduzindo a qualidade a zero. Desta forma, recomenda-se ao produtor que proceda um bom preparo do solo, evitando fatores de compactação e de erosão e atenda ao Calendário agrícola no tocante ao zoneamento, semeando no período correto para que a planta aproveite ao máximo todo substrato ecológico, incluindo a água e que na colheita, haja luminosidade e elevada temperatura para que os frutos abram totalmente, pois caso contrário, dependendo da duração deste estresse, poderá haver comprometimento total da produção em termos quantitativos e qualitativos, devido às alterações no conteúdo de ceras da fibra (importantes na industrialização, pois são os lubrificantes naturais da fibra), e de outros componentes, além de . incidência de fungos e bactérias. NAPOLEÃO E. DE M. BELTRÃO Embrapa Algodão Cultivar

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Nossa capa

Olho na resistência Formas adultas de Spodoptera frugiperda

mas tais táticas não têm dado resultados práticos no manejo da resistência, embora muito se tenha aprendido nos últimos 40 anos em relação aos mecanismos, herança e base molecular da resistência (Georghiou & Saito, 1983; Corbett et al., 1984; Scott, 1990, 1995; Soderlund & Bloomquist, 1990). Ainda tem sido muito difícil manejar a resistência, uma vez que já ocorra naturalmente na popula-

Ivan Cruz mostra quais são as formas adequadas para se fazer o manejo da resistência de Spodoptera frugiperda a inseticidas

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podoptera frugiperda é a principal praga da cultura de milho no Brasil, causando severos prejuízos para a economia do país. Em função do seu controle ser dependente quase que exclusivamente de inseticidas químicos, o inseto tem desenvolvido, ao longo do tempo, resistência às principais classes de inseticidas. Segundo Yu (1991, 1992), o grau de resistência encontrado para piretróides pode variar de 2 a 200 vezes, quando se compara uma raça suscetível com uma resistente. Para os organofosforados essa variação foi de 11 a 517 vezes, sendo o maior grau de resistência observado para o metil paration. Para os carbamatos, entre 10 a 507 vezes, sendo o maior valor encontrado para o carbaril. Leibee & Capinera (1995) encontraram na Florida, EUA, populações de S. frugiperda resistentes ao malathion, carbaril, metil paration, diazinon, triclorfon, fluvalinate, fifentrin e tralometrin. Yu & Nguyen (1994), baseados em 12

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estudos bioquímicos, concluíram que o amplo espectro da resistência observado em raças de campo foi causado por mecanismos múltiplos, incluindo aumento da taxa de desintoxicação desses inseticidas por enzimas diversas e por insensibilidade da acetilcolinesterase. No Brasil, o problema da resistência da S. frugiperda a inseticidas, embora com poucos dados oficialmente documentados, pode ser visto em várias regiões produtoras de milho, onde o número de aplicações de inseticidas pode chegar a dez durante uma única safra (Cruz et al. 1999b). Estudos de laboratório mostraram que a herança da resistência dessa espécie à lambdacialotrina é autossomal e incompletamente recessiva, sendo determinada por um gene principal, sob a influência de alguns genes secundários (Diez-Rodriguez, 2000).

cidas o que é concordado por vários pesquisadores (Croft, 1990 a; Tabashnik, 1990; Leeper et al., 1986). Os produtores rurais e os agentes de extensão rural e até mesmo os técnicos de revendas de produtos químicos devem se conscientizar que não se pode depender apenas dos inseticidas químicos como prática principal de manejo. Deve-se também considerar o aumento das pressões sociais, econômicas e ecológicas, visando a redução do uso

1. Utilização de controle cultural. 2. Utilização de controle biológico.

Fotos Embrapa Milho e Sorgo

3. Utilização de genótipos resistentes. 4. Utilização de controle bio-racional. 5. Utilização de inseticidas químicos compatíveis com agentes de controle biológico. 6. Utilização de monitoramento da praga para reduzir aplicações e doses desnecessárias de produtos químicos. 7. Ação conjunta entre empresas de insumos, produtores, extensionistas e pesquisadores. 8. Informações adicionais nos rótulos dos produtos especialmente em relação a seletividade a inimigos naturais. Spodoptera frugiperda causando danos na base da planta de milho

TÁTICAS DE MANEJO

Segundo Hoy (1995), táticas de manejo têm sido amplamente discutidas, www.cultivar.inf.br

ção da praga entre 5 e 10% de indivíduos resistentes (Hoy, 1995). Segundo o autor, pode-se assumir que o desenvolvimento de resistência é quase um problema inevitável e não se deve pensar se a resistência irá aparecer. Na verdade o pensamento correto é quando ela aparecerá. Considerando essa situação, geralmente o melhor que se pode fazer é retardar, em alguns anos, o desenvolvimento de altos níveis de resistência, através do uso menos freqüente de produtos químicos (Hoy, 1992). De qualquer maneira, uma estratégia mais eficiente para o manejo da resistência deverá combinar uma variedade de táticas de manejo de pragas juntamente com a redução no número e doses dos inseticidas aplicados. Em função dessa premissa, as táticas de manejo de resistência propostas por Hoy (1995) parecem apropriadas para diferentes pragas, incluindo S. frugiperda, tanto na cultura de milho, quanto em outros hospedeiros, quais sejam:

Março 2002

Março 2002

Hoy (1995) salientou que o melhor paradigma para o manejo da resistência em Arthropoda deve envolver uma mudança no padrão de utilização de insetiwww.cultivar.inf.br

Danos ocasionados por Spodoptera à planta de milho

de inseticidas químicos. Com isso fatalmente deve-se pensar no aumento do uso de táticas de controle que não envolvam os inseticidas químicos e em especial para a S. frugiperda como salientado por Cruz (1995 ab, 1997 a, 2000 abc). A utilização de agentes de controle biológico já Cultivar

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CONCLUSÕES

Infestação de larvas de Spodoptera frugiperda

Em resumo, para que se alcance sucesso no manejo da resistência de insetos a inseticidas deve-se pensar na introdução efetiva das táticas de manejo integrado das pragas. Não se pode considerar o manejo da resistência como um programa separado do manejo integrado. Apesar da consciência de que o problema da resistência das pragas aos inseticidas é mundial, e que precisamos diminuir o uso de tais químicos, não se deve esquecer que tais produtos ainda são muito úteis em programas de manejo integrado, pois são altamente eficientes, de ação rápida, adaptáveis em muitas situações e relativamente econômicos. No entanto, deve-se reconhecer que para um manejo efetivo da resistência, deve-se mudar a filosofia de uso dos produtos, dando lugar crescente ao uso de outras táticas de manejo, especialmente envolvendo o uso de controle biológico e de genótipos resistentes as pragas. Sempre deve-se manter o pensamento de que produtos químicos só poderão ser utilizados de maneira precisa

Ivan fala sobre o manejo da resistência de Spodoptera a inseticidas

(dose, época, etc.) e seletiva (sem romper o equilíbrio com os inimigos natu. rais). Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo

... vem sendo avaliada há alguns anos no

Brasil, para o controle da praga (Cruz et al., 1997ab, 1999a; Figueiredo et al., 1999). A compatibilidade de inseticidas com esses agentes de controle biológico e mesmo com outras táticas de controle é um ponto crítico não só para a melhoria dos programas de manejo integrado e da qualidade ambiental como também para o manejo da resistência (Tabashnik & Croft, 1985; Croft, 1990 b). Embora a determinação da seletividade dos inseticidas em relação aos inimigos naturais das pragas seja um assunto complexo (Croft 1990 b; Hoy 1985 a, 1990), alguns resultados obtidos para a S. frugiperda podem ajudar na escolha dos produtos (Cruz, 1995a, 1997 a; Simões et al. 1998). Segundo Hoy (1985 b, 1992), muitas vezes um inseticida químico não é tóxico para alguns inimigos naturais importantes de pragas agrícolas, quando utilizados em doses que seriam suficientes para controlar uma determinada praga. No entanto, a dose recomendada no rótulo é muito mais alta. Tal dose rompe o equilíbrio biológico, que poderia estar sendo efetivo no controle da praga, gerando, como conseqüência, aplicações adicionais do produto, que leva, sem necessidade, a uma seleção para resistência. Recomendações de doses de acordo com a situação deveriam constar no rótulo do produto.

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Cultivar

Fotos Embrapa Milho e Sorgo

Ovos de Spodoptera frugiperda em folha de milho

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Março 2002


Pioneer DESPENDOAMENTO

A Pioneer possui um processo de produção de sementes no qual o cuidado com a qualidade é fator fundamental e indispensável

O

sistema de produção de sementes de milho pode parecer simples. Triste engano. Para que se possa produzir sementes de milho com alta qualidade, é necessário um processo meticuloso e complexo. Desde a lavoura até o ensacamento da semente, o cuidado em todas as etapas mostra-se fator primordial para que a qualidade final seja atingida. Jorge Nicolodi, produtor de Cruz Alta (RS), confessa que já achou caro um saco de semente, mas reconhece que, pela tecnologia empregada, a semente é barata . A Pioneer, empresa produtora de sementes de milho, está à frente de um projeto que tem mudado o panorama da região do Alto Jacuí no Rio Grande do Sul. Através de parcerias com produtores, empresas e instituições de pesquisa, a Pioneer tem demonstrado as vantagens advindas das tecnologias integradas. Híbridos de qualidade, lavoura irrigada, energia elétrica, conhecimento acadêmico posto em prática, estrada boa, e mão-de-obra qualificada são elementos sinérgicos.

IRRIGAÇÃO MECANIZADA

Segundo Nicolodi - parceiro da Pioneer que planta cerca de 3 mil hectares entre milho, soja e feijão - o uso de pivôs centrais para a irrigação garante três vezes mais produtividade do que em sequeiro. Jorge possui em sua propriedade 220 hectares de milho irrigado, nos quais a média de colheita é de 200 sacos 16

Cultivar

Assim se faz semente por hectare. Em 10 anos, sem a irrigação, se colhe uma boa safra. Mas, com ela, a boa produção é certa todos os anos . As vantagens da irrigação não ficam somente na qualidade e na quantidade da produção. O uso de maquinário agrícola é reduzido, pois a colheita é escalonada. Há sete anos o produtor Ivan Carlos Bohrz também parceiro da Pioneer - aumentou o número de hectares cultivados. De 1300 passou para 2000 ha. Não há novidade nisso, afinal, diversos produtores expandem a área cultivada todos os anos. Porém, o impressionante é que, devido à irrigação, Ivan não precisou ampliar sua frota de máquinas. Bohrz é o chamado produtor altamente tecnificado. Em sua propriedade ele possui 8 pivôs centrais e uma estação meteorológica que mede umidade relativa do ar, temperatura do ar e do solo, pressão atmosférica, radiação solar, direção e velocidade do vento, e evapotranspiração. Esses dados, depois de serem medidos, são enviados ao computador de seu escritório, que possui um programa desenvolvido pelo professor Reimar Carlesso, da UFSM, que analisa e interpreta os dados indicando a quantidade de água de que necessita a lavoura. O resultado não poderia ser outro: ganho de produtividade e redução de custos na produção. Devido ao incentivo da Pioneer, a região do Alto Jacuí tornou-se conhecida como Berço da Irrigação Mecanizada no Rio Grande www.cultivar.inf.br

do Sul. A influência dos pivôs nesta região é tanta que em algumas propriedades as divisas agrícolas foram alteradas para que o uso dos pivôs fosse otimizado. Porque quanto maior for o tamanho do pivô, menor será o seu custo e, portanto, mais rapidamente o produtor terá o retorno financeiro. Aliás, os bancos já oferecem linhas de créditos especiais aos produtores que desejam irrigar, pois sabem que há a certeza do pagamento. Através desse sistema de parcerias entre a Pioneer e produtores, foi possível até mesmo a construção de uma ponte rodoviária com capacidade para suportar 100 toneladas, o que torna mais eficaz o escoamento da produção e o trânsito entre as propriedades. Fotos Pablo Rodrigues / Cultivar

Trabalho no laboratório de análise de sementes

Março 2002

A planta de milho, por possuir flor masculina e feminina - respectivamente conhecidos por pendão e boneca - tem a característica de auto-fecundação. Esse fator é limitante para a produção de sementes híbridas, já que para obtê-las é preciso necessariamente o cruzamento de duas linhagens. A determinação de qual linhagem vai ser o polinizador - ou planta-macho - e qual vai ser a planta receptora do pólen fêmea - é outra das dificuldades para a obtenção do híbrido, pois o ideal para a fecundação é que a planta-macho tenha boa produção de pólen e porte superior ao da planta-fêmea, e que esta por sua vez seja produtiva, porque após o cruzamento apenas a fêmea será colhida, o que determina o rendimento de uma lavoura de sementes, fator altamente relacionado com o custo final da mesma. Por isso, há a necessidade de ensaios denominados de Parent Test´s. Esses experimentos, além de outros objetivos, determinam a capacidade da planta de ser macho e fêmea bem como determinam como plantála. A Pioneer possui em Cruz Alta um campo experimental de 19 hectares, irrigados por pivô, onde realiza esses e outros testes, como os efeitos fitotóxicos de herbicidas sobre a cultura do milho. Além de Cruz Alta, ainda existem mais dois pivôs, um em Santa Rosa-RS e outro em Morrinhos-GO, todos voltados para pesquisa destinada para a produção de semente. A planta-fêmea exige um cuidado muito especial. Para que receba o pólen apenas da planta macho, faz-se a retirada de sua flor masculina. Esse processo é chamado de despendoamento. Dito assim parece algo simples, mas essa operação demanda mão-de-obra qualificada e um investimento em maquinaria realmente dispendioso, basta-se imaginar que em um hectare tem-se algo ao redor de 60.000 pendões para serem retirados. A empresa chega a empregar 600 trabalhadores nessa fase da produção de sementes. Normalmente, pessoas como Terezinha de Matos, que é pequena agricultora local. Dessa forma, ela, que há mais de dez anos trabalha nesta função, tem a possibilidade de aumento de sua renda familiar. Um trator de rodado alto para não prejudicar as plantas transporta uma plataforma que abrange um total de seis linhas do milharal e desloca-se ao longo do plantio. Os trabalhadores sustentados pela plataforma vão arrancando o pendão da planta fêmea. A fase em que é feita a operação é muito restrita, pois deve-se ter retirado no mínimo 99,5% dos pendões das plantas fêmea quando estas atingirem 5% de estigma receptivo (cabelo da espiga). Esse padrão é rigorosamente medido pela empresa de auditoria externa PeterMarço 2002

mann e Cia. Sua representante, a agrônoma Alexandra Vicente Silva, revisa diariamente cada lavoura onde foi realizada a operação de despendoamento. Segundo ela, raras são as vezes em que é preciso retornar para fazer repasses. Mas se for preciso, eu faço eles voltarem , assegura. O último trato cultural é feito no que tange a fecundação, no qual as plantas-macho, após cumprirem seu papel reprodutivo, são cortadas por roçadeiras. Dessa forma, na colheita teremos apenas as espigas da plantafêmea.

COLHEITA

A Pioneer foi a primeira empresa do mercado agrícola a colher sua semente em espiga. Esse método lhe rendeu bons frutos. É claro que para isso teve que importar as máquinas do EUA. Uma colhedora destas chega custar U$ 300 mil. As carretas graneleiras também são diferentes, pois possuem um dispositivo hidráulico que permite a elevação total de seu depósito para descarga nos caminhões. O milho colhido em espiga com 32% de umidade, logo após sua maturação fisiológica, possui as vantagens de se colher a semente no seu mais alto vigor, permitir seleção de espigas, reduzir infestação de doenças e insetos e diminuir drasticamente o dano mecânico. Se colher com alta umidade pode gerar um problema, fermentação, mas na empresa tudo é planejado, e a carroceria dos caminhões que transportam as espigas até a unidade de beneficiamento de semente tem suas especificidades. É toda gradeada, permitindo a passagem do ar. Mantendo a temperatura na massa de grãos baixa.

SECAGEM DAS SEMENTES

O processo de secagem das sementes Pioneer tem por princípio preservar as características fisiológicas da semente. Os grãos são secos na espiga, dessa forma fica protegido o embrião que se localiza na extremidade da semente. Também por estar em espiga, dentro da câmara de secagem, o ar quente circula melhor, facilitando o processo e permitindo trabalhar-se com temperaturas relativamente baixas (35º). O ar quente utilizado na secagem, resultado da queima de sabugos de milho, é um subproduto da Pioneer. Para evitar entrada de fuligem e cheiro no secador, o ar aquecido nas fornalhas apenas é utilizado para aquecer uma rede de canos que funcionam com um radiador, no qual o ar aquecido nas fornalhas passa dentro destes canos e o ar limpo passa entre os canos, que é então aquecido por troca de calor e entra no secador, aquecido e limpo (não existe mistura de ar). Depois da debulha, que é feita com 12% de umidade, a semente passa por um rigoroso processo de classificação, sendo analisadas largura e comprimento, para garantir uma ótima adaptação aos diferentes tipos de plantawww.cultivar.inf.br

Bohrz possui oito pivôs em sua propriedade, em um total de 540 ha irrigados

deiras brasileiras. As peneiras selecionadoras são regularmente inspecionadas, pois sua calibragem determina a uniformidade do lote de sementes. Testes de plantabilidade num simulador de semeadeiras é feito em cada lote de semente. O que dá a certeza ao produtor, durante o plantio, de estar colocando cinco sementes por metro linear, garantindo um estande uniforme. As embalagens comercializadas por número de sementes - com 60 mil - foram introduzidas no mercado brasileiro pela Pioneer, no intuito de facilitar ao agricultor o correto planejamento da área a ser plantada, evitando, desta maneira, sobras ou faltas de sementes, pois um saco com 60.000 sementes rende, aproximadamente, 1 hectare de área plantada.

TESTES DE LABORATÓRIO

Antes de o lote de semente ir para o mercado, o laboratório de análises da semente testa a germinação, pureza física, vigor e infestação. De acordo com Maria Lucia Hermes, agrônoma responsável pelos laboratórios da empresa, o teste de germinação é um dos testes feitos diariamente. Enquanto os padrões oficiais exigem 85%, a semente Pioneer tem por padrão 90% de poder germinativo. Nesse aspecto, vale lembrar que a metodologia dos testes obedece a padrões internacionais de qualidade. O teste de vigor, que não é exigido pelos órgãos oficiais, informa a capacidade da semente de tornar-se uma planta normal, sob condições de stress. Esse é o teste que determina a qualidade da semente e é a base para a comercialização de qualquer lote de sementes Pioneer. O teste de vigor padronizado pela Pioneer é o Teste Frio (Cold Test), nele as sementes ficam em uma bandeja Cultivar

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do de sete dias, sob uma temperatura de dez graus centígrados. Logo após vão para uma temperatura de 25º centígrados, na qual permanecem três dias. Então, faz-se a contagem das sementes que conseguiram emitir um sistema radicular e aéreo bem desenvolvido. Outros parâmetros de vigor medidos pelo laboratório são determinados através do Teste de Envelhecimento Precoce das Sementes e do Teste de Embebição. Nesses testes as sementes têm acelerado seu processo fisiológico através da alta temperatura e umidade e/ou pela submersão em água na ausência de oxigênio. Todo o trabalho de laboratório é registrado, o que possibilita a rastreabilidade de cada lote de semente produzida. A partir desse controle de qualidade, temos a certeza de que não teremos problemas no campo com nossa semente , diz Maria Lucia. A qualidade genética também é checada. Se não bastassem os inspetores de despendoamento avaliando este trabalho, todas as lavouras são amostradas e estas amostras são plantadas em um experimento denominado de Grow Out ou Eletroforese, no qual se avalia a existência de plantas não desejadas. Para a Pioneer, o produtor não é cobaia , afirma Cláudio Peixoto, gerente de marketing e tecnologias, referindo-se à qualidade dos híbridos de milho da empresa. Nossos produtos são tão bem desenvolvidos que chegam a ficar 14 anos no mercado , complementa. Segundo Peixoto, o negócio principal da empresa é o desenvolvimento genético; tecnologia que consumiu um investimento de U$ 2 milhões no último ano.

QUALIDADE ISO 9002

A preocupação da Pioneer com a qualidade pode ser verificada em todos os processos da produção de sementes de milho da empresa. Do servente ao presidente, a lógica de que a Pioneer é sinônimo de qualidade está incorporada de forma natural ao dia a dia. Em 1993, a empresa criou os Times de

Qualidade , através dos quais cada setor administrava o funcionamento e o bom cumprimento das tarefas que lhe eram atribuídas. Esse foi o primeiro passo para que em 1995 fosse implantado o programa ISO 9002; um atestado de qualidade. Escreva o que você diz; faça o que você escreve; e prove! , segundo Ênio José Durante, Mesa de gravidade Auditor Líder da Pioneque separa os grãos er, esse é o método de por peso funcionamento do ISO 9002. Não basta apenas gritar a todos os ventos o que supostamente se faz, é preciso provar que realmente se faz. Por isso que os processos na empresa são registrados, pois os registros funcionam como provas de que o que se fala é apenas aquilo que está sendo feito. A Pioneer se destaca por ouvir os clientes, respondendo suas dúvidas e prestando auxílio em suas dificuldades. Parte fundamental da política de qualidade da empresa é não apenas se preocupar em vender aos clientes, mas sim em satisfazê-los em todo o processo produtivo.Ênio salienta que o sucesso na implementação do ISO 9002, através do qual a marca Pioneer passou a ser reconhecida como sinônimo de qualidade, só foi possível devido ao apoio incondicional manifestado pela alta direção da empresa. Fotos Pablo Rodrigues / Cultivar

... apropriada numa câmara fria por um perío-

ACIDENTES: A META É ZERO

Depois de várias cenas cômicas de filmes mostrando acidentes no trabalho, a frase é disparada: Acidentes no trabalho são divertidos apenas no cinema! . Assim é o início do vídeo sobre segurança no trabalho apresentado a novos funcionários da Pioneer. E é esse espírito de seriedade que impera na empresa quanto aos acidentes. A atenção para com a segurança é perceptível logo na entrada da Pioneer. Pois to-

Cruzamento de linhagens para obtenção de novos híbridos

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Cultivar

www.cultivar.inf.br

dos os carros são estacionados de ré. Motivo: para que no momento de algum imprevisto não haja atrasos no socorro. Cada setor possui regras próprias de segurança. Com um olhar mais atento, percebe-se sinalização em todas as áreas da empresa e também o uso de equipamentos de proteção individual em áreas obrigatórias. O programa SHE - Safety, Health and Environment , ou seja, Segurança, Saúde e Meio-Ambiente, foi implantado para que a empresa atinja a meta a que se propõe: acidentes zero. E, pelo que tudo indica, a iniciativa vem dando certo. Luiz Henrique Dreyer, técnico em segurança do trabalho e responsável pelo SHE , diz que os mais valiosos recursos de uma empresa são as pessoas e que elas devem ser protegidas a todo custo. Todo novo contratado da Pioneer, safrista ou não, recebe, indispensavelmente, treinamento de segurança. Dentre os dez princípios de segurança da Pioneer, o terceiro salienta que: Segurança é uma condição de emprego e prioridade número um . A julgar pela seriedade com que os funcionários da empresa encaram o trabalho, o terceiro princípio já é realidade.

CULTURA EMPRESARIAL E MODÉSTIA

Cultura empresarial é uma coisa muito difícil de ser criada , afirma Daniel Glat, presidente da Pioneer no Brasil. Entretanto, o que mais se nota nas pessoas que compõem a empresa é o espírito do jeito Pioneer de fazer as coisas. Simplificado por Glat como um arroz com feijão bem feito . A empresa é a única no setor agrícola a possuir laboratório quarentenário licenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento. Trabalhamos durante muito tempo nesta idéia , comenta Daniel. Com essa estratégia, a Pioneer poderá transferir de sua matriz para o Brasil, com o máximo de segurança, seu banco de germoplasma para a produção de futuros híbridos. PR & NF . Março 2002


AENDA

Congresso

Defensivos Genéricos

Soja em destaque

4074:Rumo ao registro Global

O

Devido ao decreto 4074, a agricultura brasileira deverá colher bons frutos com o aumento da concorrência responsável

A

legislação federal brasileira sobre praguicidas é reconheci da como uma das mais avançadas do mundo. Desde 1989, com a edição da Lei 7802, o processo escritural dos registros desses produtos vem sendo aperfeiçoado. Agora, com a revisão do Decreto 98.816/90, coordenada pela Casa Civil, chegou-se a um regulamento ainda mais próximo daqueles adotados pelas principais nações do mundo. O novo Decreto datado do quarto dia deste ano e numerado de 4074 entrará para a história como um marco neste setor, porquanto instala o registro por equivalência química, também conhecida por similaridade, aprofundando o rigor na qualificação química e racionalizando as exigências de estudos toxicológicos e ambientais. Procura, ainda, dar maior velocidade na avaliação dos produtos, tanto quanto permita a complexidade inerente à natureza química e os efeitos de cada composto. Apesar de o planeta terra ainda se debater em escaramuças étnicas, religiosas, expansionistas ou em desequilíbrios na segurança pública, é possível distinguir claramente a reação positiva da civilização ao buscar a formação de blocos continentais de nações. Essa tendência

vem sendo percebida, tendo como pano de fundo a evolução do conhecimento, traduzido pela propagação das tecnologias nas áreas da informática, dos transportes, das formas de energia e da conscientização da interação homem-natureza. Descortina-se ainda um mundo novo com o avanço da ciência biomolecular e da física quântica. Com isso, os laços comerciais passam a ser de natureza global e no setor de praguicidas, eminentemente dominado por empresas multinacionais, é esperado que esse contexto se instale mais rapidamente.

Apesar de o planeta terra ainda se debater em escaramuças étnicas, religiosas, expansionistas ou em desequilíbrios na segurança pública, é possível distinguir claramente a reação positiva da civilização ao buscar a formação de blocos continentais de nações A agricultura e o país deverão colher bons frutos com o aumento da concorrência responsável que será possível ser plantada sob esse novo modelo apresentado pelo Decreto 4074. É bem verdade que alguns detalhes da peça regulamentadora precisam ainda ser corrigidos e destacamos

aqui a transitoriedade. A transição de um sistema para o outro não precisa ser traumática. Mantendo-se os usos e costumes de registro em voga e, paulatinamente, implementando-se as novas regras, o serviço de registro terá a fluidez que o mercado exige. A tarefa para operacionalização das novas regras de equivalência será hercúlea, e os conseqüentes ajustes administrativos nos órgãos registrantes, bem como o desenvolvimento de procedimentos e exigências aos interessados, deverão ser estabelecidos com cautela. É recomendável a coexistência operacional do sistema atual pelo período que for necessário. A sociedade já percebe que o segmento dos praguicidas está mudando para melhor. Os produtos lançados ao longo das últimas duas décadas são bem menos agressivos à saúde humana e ao meio ambiente, a indústria e o governo resolveram limpar o campo das embalagens vazias e restos indesejáveis, o monitoramento dos resíduos nas culturas alimentares tem um plano que começa a ser implementado e a ação preventiva às intoxicações no manuseio e aplicação dos produtos via treinamento obrigatório dos trabalhadores rurais passa a ser a prioridade, além da busca por ações de defesa sanitária alternativas com menos emprego da química. O Decreto 4074 vem coroar todo esse esforço aqui em plagas brasileiras. Aplausos merecidos ao MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, ANVISA, IBAMA e CASA CIVIL.

II Congresso Brasileiro de Soja, que será realizado conjuntamente com o Mercosoja 2002, terá como tema central Perspectivas do agronegócio da soja . Uma das conferências do Congresso tem como objetivo enfocar a rentabilidade na agricultura e as duas grandes vertentes do momento: rentabilidade via subsídios ou através do profissionalismo. Essa abordagem será efetuada pelo Dr. Polan Lacki, engenheiro agrônomo que já militou na Emater-PR e que atualmente pertence ao quadro da FAO, em Roma. O tema é momentoso e remete para a recente reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio realizada no Qatar, onde essa questão foi um dos ápices da discussão e, especialmente, da dissensão entre os países ricos e aqueles países que tem na agropecuária a sua principal vocação. Serve como pano de fundo para discutir o futuro da ALCA frente à resistência americana em retirar os subsídios que concede à soja, passando pela reclamação brasileira junto à OMC contra esses mesmos subsídios. É consenso entre os atores da agropecuária nacional que o protecionismo conferido à agropecuária pelos EUA, União Européia, Japão e outros países é extremamente punitivo para países pobres, que só podem competir valendo-se da pujança da sua efi-

ciência técnica e econômica. Porém, caso o cenário de protecionismo venha a estenderse por um longo período, qual deve ser a postura a ser adotada? Como devem agir nossas lideranças? Que alternativas possui o produtor? O caminho da profissionalização é suficiente para romper as barreiras de mercados altamente protegidos? Uma das mesas redondas do congresso tratará da agricultura de precisão. Os temas que serão abordados são: Perspectivas de crescimento da agricultura de precisão em soja, que terá como palestrista o Dr. Ariovaldo Luchiari, pesquisador da Embrapa atualmente lotado na Universidade de Arkansas, nos EUA. A participação do Dr. Luchiari é fundamental, pois ele está em um ótimo ponto de observação, e poderá trazer, ao final da safra de verão americana, notícias sobre o atual estado da agricultura de precisão. A segunda alocução tratará dos Fatores restritivos à adoção da Agricultura de Precisão, e será desenvolvida pelo Dr. José Paulo Molin. Finalmente, o Dr. Arci Mendes tratará do Estado da arte de equipamentos agrícolas usados em agricultura de precisão. A Dra. Mariângela Hungria presidirá a Mesa Redonda sobre Associações microbianas em sistemas agrícolas com a soja. Os temas a serem desenvolvidos serão: Potencial de microrganismos endofíticos e asso-

ciativos como biofertilizantes, Atividade microbiana e enzimática em solos com diferentes sistemas de cultivo e Aspectos básicos e aplicados da fixação simbiótica do nitrogênio. A sustentabilidade da agricultura, em especial a sustentabilidade ambiental, é um dos pontos chaves da competitividade de um país. O Dr. João Flavio Veloso Silva coordenará a mesa redonda que tratará do Impacto da produção agrícola e o desafio à sustentabilidade ambiental. Teremos como palestrantes o Dr. Clayton Campagnoli, Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente que introduzirá o tema abordando os Aspectos Gerais da sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola; o Dr. José Felipe Ribeiro, que discorrerá sobre Impacto da soja no cerrado: desafios à sustentabilidade. Finalmente, o Dr. Marco Antonio Gomes apresentará resultados referentes ao Uso agrícola de áreas de afloramento do Aqüífero Guarani e implicações na qualidade da água. O II Congresso Brasileiro de Soja e o II Mercosoja são promovidos em parceria pela Embrapa Soja e pela Aprosoja. Os eventos acontecerão em Foz do Iguaçu-PR, de 3 a 6 de junho de 2002. Visite a pagina do congresso em www.pjeventos.com.br/cbsoja para maiores informações e para efetuar a . inscrição no congresso.


Cultivar

Feijão

Produzir Produzir sementes sementes de de feijão é alternativa feijão é alternativa viável viável aa pequenos pequenos produtores produtores devido devido ao ao custo reduzido custo reduzido

SEMENTES

Produção própria O

uso de sementes de boa qualidade representa um dos principais elementos que contribuem para o sucesso de uma lavoura de feijão. Todo trabalho dispendido pelo produtor para o cultivo de uma lavoura, desde o preparo do solo até a colheita, poderá ser infrutífero se não forem utilizadas sementes sadias e de boa qualidade. Resultados de pesquisa mostram que podem ser obtidos aumentos em torno de 25% na produ22

Cultivar

ção de grãos somente com a utilização de sementes sadias. Segundo dados do IBGE, apenas 20% dos produtores de feijão usam sementes fiscalizadas, sendo que a maior parte desses são grandes produtores que utilizam o cultivo irrigado. A grande maioria dos pequenos produtores usam sementes comuns, com misturas de variedades diferentes, desuniformes e contaminadas por doenças. O ideal seria usar, em todas as lawww.cultivar.inf.br

vouras, sementes fiscalizadas, recomendadas pela pesquisa, com boa qualidade, produtividade e bom valor de mercado. Uma dica para o produtor que não tem recursos para comprar semente fiscalizada todo ano é procurar adquiri-la em intervalos regulares de alguns anos (3 ou 4) e, a partir dessas, produzir a sua própria semente. Aos produtores sem condições de adquirir sementes de qualidade, devido ao preço ou à dificuldade de encontrá-las no Março 2002

...


Embrapa Cerrados

Após ter observado a sequência dos passos citados, a colheita é a próxima etapa. Nessa fase, pode-se colher as vagens individuais, bem formadas e limpas ou as plantas individuais sadias, ou, ainda, colher separadamente a melhor área da lavoura, após a eliminação das plantas atípicas. Na ocasião, deve-se excluir as vagens que estão tocando o solo, para evitar contaminação de doenças posteriormente. Após a colheita, deve-se deixar as plantas ou vagens ao sol, por um dia, para secarem, até atingirem 13-14% de umidade. Com esta umidade, devese proceder à debulha, bateção ou trilha. O passo seguinte é a catação manual das sementes, operação bastante simples e pouco onerosa, considerada um fator importante para melhorar a qualidade da semente e para o sucesso do próximo cultivo. Essa prática visa eliminar as sementes mal formadas, defeituosas, danificadas, manchadas ou contaminadas. A catação manual reduzirá o inóculo de doenças transmitidas por sementes e contribuirá para uma germinação mais uniforme.

Lavoura de feijão apresentando bom aspecto; qualidade inicia com boa semente

... mercado, ou ainda, que não seja receptivo à troca de sua variedade por desconhecer as vantagens da semente selecionada, a produção de sua própria semente é uma prática recomendável.

PRODUZINDO A PRÓPRIA SEMENTE

O primeiro passo para produzir uma boa semente é a escolha da melhor área cultivada com feijão na propriedade. O passo seguinte é a eliminação de plantas fora de tipo, mal-formadas e com doenças. Essa prática deve ser feita na floração, na maturação e antes da colheita. A seguir deve ser observado o ponto de colheita, importante para manter o potencial máximo de vigor e germinação da semente. Nessa ocasião, os grãos devem estar com cerca de 18% de umidade. Essa fase ocorre quando as plantas estão quase, ou totalmente, sem folhas e as vagens, maduras. Se a colheita for feita antes do ponto, os grãos que ainda não estão maduros ficam enrugados ou chochos. Se a colheita for atrasada, o percentual de sementes infectadas por doenças e atacadas por insetos aumentará, provocando uma diminuição da germinação e vigor, além da debulha natural.

O PROCESSO DE SECAGEM

Após a catação, é necessária uma nova secagem das sementes. A secagem é de fundamental importância para a sua conservação, pois, quando armazenadas com teores elevados de umidade, estarão sujeitas ao processo de deterioração, causado por diversos microorganismos, além da perda da qualidade. A secagem Embrapa Cerrados

Semente de qualidade é fundamental para se obter uma boa lavoura

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Cultivar

pode ser feita espalhando as sementes no terreiro, sob lona, numa camada de 5 cm, e deixando-as ao sol por um dia ou dois, revolvendo seguidamente, para uma secagem uniforme, até 11 a 12% de umidade. Com essa umidade, a semente poderá ser armazenada num ambiente seco e com temperaturas amenas, para manter o poder germinativo e o vigor. Cultivar

Plantas do feijoeiro com folhas sadias em detalhe

Para evitar ataques de carunchos, que podem vir da lavoura ou já estar no paiol, esta pequena quantidade de sementes produzida - um ou dois sacos - poderá ser guardada misturada a um óleo vegetal qualquer, sendo mais indicado o óleo de soja, na proporção de 300 ml de óleo para 100 kg de sementes, ou mesmo utilizando cinza de qualquer tipo de madeira, na base de 100 gramas de cinza para 100 kg de sementes. A mistura pode ser feita na própria lona de secagem ou no tambor descentralizado, usado para fazer inoculação, se houver na propriedade. O seguimento de todos os passos citados propiciará, àquele produtor que não usa semente fiscalizada, a obtenção de sementes de boa qualidade. Além disso, permitirá que ele mantenha essa qualidade por vários anos, assegurando, com isso, um aumento na produtividade de sua lavoura, contribuindo, sobremaneira, para au. mentar sua renda. Wellington Pereira de Carvalho, Embrapa Cerrados

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Março 2002


Fotos Cultivar

Show Rural

Show de agricultura U

m dos maiores eventos agrícolas do Brasil o primeiro em qualidade o Show Rural, de Cascavel, promovido pela Coopavel, que recebeu 118.000 visitantes em cinco dias, foi dominado este ano, pela primeira vez, pelo setor de máquinas. Reflexo claro das vantagens que o financiamento farto proporciona, as máquinas agrícolas atingiram em cheio o principal reduto de amostragem das empresas agroquímicas e das sementeiras. Tanto no espaço ocupado quanto nas dinâmicas de demonstração de equipamentos, os fabricantes de máquinas mostraram o grau de disputa pelo atrativo mercado do Sul do país. Foram 143 empresas de máquinas do total de 204 (62 empresas de máquinas agrícolas, 31 outras empresas de máquinas e utensílios para propriedades rurais, e 52 empresas de má-

quinas e produtos veterinários - aves, suínos, bovinos e outros animais). Já as empresas agroquímicas e de sementes mantiveram a forma tradicional, demonstrando o efeito de produtos em pequenos canteiros, comparando-os com testemunhas. Os produtos novos na área foram raros, como o Opera e Comet, fungicidas da Basf. As sementeiras trouxeram novidades, observadas com interesse pelos produtores. Mas a esperada estrela do espetáculo novamente não compareceu: as cultivares transgênicas, vistas no Show Rural de 1999, outra vez não puderam ser mostradas, frustrando os agricultores. A Coodetec, interpretando o espírito geral, deixou parte de seu estande vazio, com uma placa informando que o espaço estava reservado para os produtos geneticamente modificados que os agricultores bra-

Soja tratada com novo fungicida foi atração mostrada pela BASF

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Cultivar

Sistemas integrados de plantio ganharam destaque nas apresentações

trina para seus produtos, com a comercialização ocorrendo mais tarde. O que se viu agora foi um alto volume de negócios, cujo montante ninguém revelou, sendo fechados.

FORÇA NA SEMENTE

sileiros estão exigindo (e plantando no Sul). Destacada atuação teve o sistema Clearfield, da Basf, apregoado por esta e por diversas outras empresas da área, confirmando sua aceitação pelo mercado. E a Dupont apostou forte no sistema próprio, Tecnologias Integradas , desenvolvido para seus produtos e com foco nas cultivares da Pioneer, sua controlada. A falta de destaque das empresas agroquímicas, este ano, deve-se em parte à substancial redução do seu número, conseqüência da onda de fusões e compras dos últimos anos. Todas as grandes resultantes das fusões/incorporações estavam lá, porém o espaço ocupado caiu bastante em relação aos eventos anteriores. Inovação na área foram as vendas que começaram este ano a se avolumar. Até aqui as empresas buscavam mais uma vi-

O setor sementeiro continuou apostando forte no Show Rural. As principais empresas da área, as grandes proprietárias de bancos de germoplasma, lá estiveram. Sensíveis aos meandros do mercado, pouco sorgo tiveram para mostrar, preferindo jogar pesado no milho. Cultivares novas e de grande apelo visual foram a regra. Milho com espigas longas, como da Dekalb, e com sabugo de largo diâmetro, da Agromen, se destacaram entre o excelente material das demais. As cultivares de soja mostradas, ainda que de boa qualidade, em pouco diferem das tradicionais. Uma ou outra característica foi acentuada, sem no

tores. Não mais Sementes Monsanto, mas Dekalb e Agroceres eram as marcas dos estandes. A Monsoy estrategicamente não foi exibida, por sua reconhecida ligação com a soja transgênica, o que a Monsanto não se interessa no momento em lembrar. A persistir tal tendência, que apenas reflete o grau de fidelidade do produtor às marcas tradicionais, no próximo ano poderão retornar outras antigas e tradicionais, que cederam espaço às dos compradores. Como sempre a Coopavel, organizadora do evento, demonstrou condições excepcionais para lidar com o público. Preocupada com o estado do campo todo gramado que se transformou em lamaçal em 2001 devido às chuvas, este ano a Coopavel calçou todas as avenidas, numa precaução elogiada. Nada ocorreu fora das previsões, em ambiente de limpeza e higiene não alcançados por outros eventos, mesmo os tradicionais. Com 118.000 visitantes em cinco dias, o local do evento nunca registrou aglomerações excessivas as caravanas foram organizadas em dias certos -, não houve filas nos banheiros sempre muito limpos, e a alimentação foi correta e servida sem . qualquer atropelo.

Espigas mais largas (Agromen, esq.) e mais compridas (Dekalb, dir.)

Março 2002

Protesto pela falta de transgênicos, da Coodetec, foi visto pelo ministro Pratini

ORGANIZAÇÃO EXEMPLAR

Cultura com tratamento de sementes, tradicional ponto forte da Bayer

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entanto se constituir em inovação revolucionária. Os produtores visitantes viram a soja exposta sem emoção. Queriam e diziam claramente, ver as cultivares geneticamente modificadas, que já estão no campo e ninguém mostra . A Aventis Seeds levou uma curiosidade: mostrou uma cultivar de algodão, cultura pouco conhecida no Sul. Se a área sementeira foi alvo também nos anos recentes de grandes mudanças, com as grandes empresas transnacionais comprando as menores (cujas marcas sumiram), o Show Rural 2002 mostrou um fato que poderá se repetir, demonstrando tendência mercadológica. A Sementes Monsanto, que em 2001 ocupou a área com essa marca, levando apenas as siglas das cultivares oriundas das incorporadas Dekalb e Agroceres, e da filiada Monsoy, este ano esqueceu sua marca e voltou a usar as das velhas conhecidas dos produ-

Março 2002

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Cultivar

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Soja

Fungicida com inoculante? U

Entretanto, mesmo naquela época já existia a preocupação de se avaliar os efeitos tóxicos daqueles produtos sobre a FBN (Fixação Simbiótica do N2 ). Trabalhos de 1985 e 86 mostram que os fungicidas à base de metais pesados, como zinco, cobre e chumbo, são pouco compatíveis com a inoculação. Os fungicidas orgânicos, embora em menor intensidade que os metais pesados, também são tóxicos, podendo afetar a sobrevivência da bactéria na semente ou, ainda, se a bactéria permanecer viva, perder a capacidade de infectar as raízes e formar nódulos. Atualmente, dizem, a expansão da cultura da soja e a falta de cuidados fitossanitários ocasiona aumento na incidência de patógenos para todas as áreas cultivadas. Conseqüentemente, há um aumento no núme-

do plantio. Com as alterações ocorridas nas formulações dos fungicidas e pelo uso da mistura de fungicidas, os efeitos tóxicos destes no processo de FBN tornaram-se muito mais significativos. Outras dúvidas: a combinação dos fungicidas estaria afetando a eficiência da fixação simbiótica do N2? Quais as combinações mais tóxicas ao Bradyrhizopbium? E qual o efeito da adição de micronutrientes aos fungicidas? Mariângela e Rubens admitem que até o momento as informações nesse sentido são escassas. Citam pesquisa de 1986 que comparou os efeitos da aplicação de fungicidas sistêmicos com os de contato em sementes de soja, verificando que os sistêmicos foram menos tóxicos ao Bradyrhizopbium. Entretanto, informações técnicas com a mistuFotos Embrapa Soja

ma acirrada discussão divide fitopatologistas e pesquisadores da área de solos sobre um possível papel limitante exercido sobre fungicidas na nodulação e eficiência da fixação simbiótica de nitrogênio (N2) em soja, e em que grau estaria ocorrendo. Assunto delicado, envolvendo de um lado os que preconizam o uso dos produtos para controle de doenças e de outro os que o criticam ou denunciam sua permanência residual e nociva no solo, o tema agora é objeto de um cuidadoso trabalho dos pesquisadores da Embrapa Soja Rubens José Campos e Mariângela Hungria que, embora se abstenham de uma postura conclusa contra ou a favor, esclarecem vários pontos importantes. E levantam muitas dúvidas.

centemente realizados pela Embrapa Soja para avaliação de seus efeitos na nodulação, fixação simbiótica do N2 e produtividade de grãos (*). Agora, de que forma os fungicidas podem agir na eficiência de fixação simbiótica do N2? Os dois pesquisadores da Embrapa Soja se atêm aos efeitos diretamente na sobrevivência do Bradyrhizopbium e na nodulação. No primeiro caso, citam diversos trabalhos que demonstraram o efeito dos fungicidas na redução da sobrevivência da bactéria nas sementes, alertando, contudo, sobre a necessidade de realização de estudos adicionais para se determinar as causas da mortalidade da bactéria pelos fungicidas. Presumem, a propósito, que além do princípio ativo e do pH, os solventes usados nas formulações dos produtos comerciais estejam entre os responsáveis por essa mortalidade. Já os efeitos redutores da nodulação da soja em função da aplicação dos fungicidas ocorre, afirmam, devido à redução do número de células viáveis na semente, causada pelo contato direto dos fungicidas com a bactéria e pela ação na formação dos nódulos. A presença dos fungicidas na rizosfera da soja altera os exudatos das raízes e, como conseqüência, a emissão dos sinais moleculares e os estágios iniciais da infecção radicular, diminuindo a nodulação e, em conseqüência, a FBN.

FUNGICIDAS INDISPENSÁVEIS?

Coloração normal (esq.) - receberam a inoculação - plantas amarelecidas (dir.) - tratadas com fungicidas e inoculadas

FATOR LIMITANTE

E afinal, os fungicidas têm esse fator limitante? Mariângela e Rubens explicam que no passado a prática do tratamento de sementes com fungicidas era pouco difundida e pequeno o número de produtos usados. 28

Cultivar

ro de princípios ativos recomendados. Além disso, para evitar problemas de emergência da soja, passou-se a recomendar as combinações de fungicidas sistêmico + contato. Estima-se que 80% da soja plantada no Brasil esteja sendo tratada com fungicidas antes www.cultivar.inf.br

ra de ambos na FBN são desconhecidas. A recomendação atual de fungicidas, pelas instituições brasileiras de pesquisa, contempla a aplicação do sistêmico mais contato, podendo, com restrições, serem adicionados micronutrientes. Estudos adicionais foram reMarço 2002

E a grande pergunta que ocorre: os fungicidas são indispensáveis no tratamento de sementes? Mariângela e Rubens lembram que diversos experimentos foram conduzidos, a campo, nos anos agrícolas 93/94 e 95/96 pela Embrapa Soja para avaliação do efeito do tratamento de sementes com fungicidas na emergência e na produtividade da soja. Em 83% deles, frisam, o tratamento da semente com fungicida aumentou significativamente a emergência a campo, em relação às parcelas não tratadas. Entretanto, dos experimentos favorecidos pelo tratamento, apenas 30% proporcionou também acréscimo no rendimento dos grãos. Tomando-se somente os experimentos com média de rendimentos superiores a 2500 kg/há (condições normais de produção), em apenas 20% deles houve resposta simultânea do tratamento de sementes em emergência e em rendimentos de grãos. E por que em 70 a 80% dos experimentos os fungicidas não favoreceram o rendimento em grãos? Os pesquisadores ainda não concluíram se seria porque a redução da população de plantas não foi suficiente para causar diferenças de produtividade, ou porque a aplicação desses fungicidas nas sementes afetou a nodulação e a FBN e limitou, por isso, a ocorrência de resposta para rendimenMarço 2002

to de grãos. Mariângela e Rubens lembram que os sucessivos incrementos na produtividade da soja aumentam a demanda do principal nutriente para essa cultura, o nitrogênio. A

Quais as causas dessa baixa eficiência de fixação simbiótica do N2? Eles destacam que a eficiência da FBN depende de uma série de fatores inerentes à bactéria, à planta e ao ambiente onde ocorre essa simbiose. Dentre

À esquerda sementes tratadas com fungicidas e, à direita, somente inoculadas

cada mil kg de soja produzidos são necessários aproximadamente 80 kg de N. Se o suprimento de N para a cultura se desse através de fertilizantes nitrogenados, essa necessidade dobraria, isto é, seria de 160 kg de N ou 355 kg de uréia (45% de N), porque a eficiência de utilização do N, provenientes de fertilizantes nitrogenados é em torno de 50%. Nessa situação, uma cultura de soja, para produzir hipotéticos 5.000 kg/ha necessitaria de aplicação de 800 kg de N, ou 1,8 ton. de uréia, tornando inviável seu cultivo. Felizmente a soja, por sua alta capacidade de obter o N que necessita pelo processo de fixação biológica do N2 (FBN) não exige qualquer outra fonte mineral de N. Todo o N de que necessita pode ser obtido apenas com a inoculação das sementes com bactérias específicas, dizem, citando trabalho de autor que constatou taxas de FBN de 450 kg de N/ha, superior, em 50kg de N, ao que seria necessário para produzir 5.000 kg de soja/ha.

A SONHADA PRODUTIVIDADE

Fala-se em produtividade de 5.000 kg/ ha (83 sacas/ha), mas isso só tem sido obtido no Brasil em trabalhos de pesquisa, comprovando a capacidade produtiva das cultivares disponíveis. Em lavouras comerciais raramente a soja ultrapassa a produtividade de 4.000 kg/ha (66 sacas). Sistematicamente, frisam os pesquisadores, tem-se observado que baixas produtividades de soja estão relacionadas com baixcos teores de N nos grãos, caracterizando, assim, m suprimento inadequado de N na FBN. www.cultivar.inf.br

esses, sabe-se que, aumentando a população de células viáveis da bactéria na semente, através da inoculação, independentemente da população existente no solo, aumenta-se a ocorrência de nódulos na coroa do sistema radicular da soja, os que possuem maior eficiência de FBN. Com uma maior população de células na semente aumenta-se, ainda, o número de nódulos, aumentando a eficiência da FBN e a quantidade de N fixado. E como se pode aumentar a população de células nas sementes de soja? Simples. Pelo aumento da quantidade e da qualidade do inoculante e pela melhor proteção dessa bactéria na semente. Por isso, busca-se junto às indústrias e Ministério da Agricultura melhorar a qualidade dos inoculantes. Como resultado, a legislação mudou e exige agora 108 células/g ou ml de inoculantes, em vez dos 107 células/g ou ml recomendados anteriormente. Além disso, a recomendação anterior da pesquisa, de 200 g de inoculante turfoso com população mínima de bactéria de 1 x 107 por 50 kg de semente, passou para 500 g de inoculante por 50 kg de semente, com população mínima de 1 x 108 células/g ou ml do produto. E também se sabe que de nada adianta aumentar a população da bactéria nas sementes se elas não estiverem protegidas das altas temperaturas, incidência direta dos raios solares, ou da presença de agentes tóxicos, como por exemplo os fungi. cidas nas sementes. Mais informações, gráficos e tabelas podem ser obtidos na publicação “ Compatibilidade de Uso de Inoculantes e Fungicidas no Tratamento de Sementes de Soja” - Embrapa Soja

Cultivar

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Soja APLICAÇÃO DE CALCÁRIO

Em superfície, utilizando preferencialmente meia dose um ano antes e a outra metade logo após a colheita da cana, com isso o V% (saturação de base) deve ficar por volta de 50%.

APLICAÇÃO DE GESSO

O plantio direto de soja na palha de cana-de-açúcar traz lucro, proteção ambiental e sustentabilidade à agricultura

Em solos arenosos não recomendamos, apenas em solos muito argilosos e compactados, com finalidade de corrigir a acidez na camada mais profunda, favorecer a cultura da cana-de-açúcar, após a cultura da soja.

EM ÁREAS DE CANA QUEIMADA

A aplicação de calcário deve ser logo após a colheita da cana a se optar por semear culturas para formação de palhada, pode-se fazer junto e incorporar de uma só vez, aproveitando o solo ainda com um pouco de umidade logo após a colheita da cana.

Soja na palha

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Cultivar

suas áreas de colheita. Decorrente a isso, o maior problema era como plantar soja nesta palhada (que chega em alguns lugares a até 20 cm de altura), com as plantadeiras que possuíamos no mercado. A resposta veio em forma de erros e acertos, enfrentando riscos, e estudando os erros e acertos dos outros produtores como Paulo Rodrigues, da Fazenda Santa Isabel e Luiz Fernando, da PROTEMA, estamos conseguindo aperfeiçoar o sistema de Plantio Direto de Soja na Palha de Cana Crua em Aramina e já há três safras estamos apresentando a nova tecnologia aos nossos produtores, cada ano com novas descobertas e obtendo melhores resultados.

É importante que seja feito logo após o corte da cana, para não prejudicar na dessecação.

DESSECAÇÃO

Recomendamos de 5 a 6 litros de Glyphosate ou Sulfosate, se a área for infestada com ervas daninhas de folha larga (trapoerba, corda de viola, etc.) acrescentar Classic ou Flumyzim, utilizar vazão de 200 I/Ha com pulverizador tratorizado normal, de 50 a 60 I/há com barra de arrasto e 40 I/Ha aplicação aérea.

Fotos Cultivar

P

lantio Direto na Palha é uma tecnologia de ponta que dá lucro, proteção ambiental, sustentabilidade à agricultura e segurança na produção de alimentos. No Estado de São Paulo houve uma expansão do Plantio Direto de 670% no ano de 97/98 para 98/99, isto é, passando de 45 mil hectares para 348 mil hectares, sendo que nesta safra 00/01, já acreditamos que estamos por volta de mais de 600 mil hectares, isto graças ao Programa Estadual de Plantio Direto na Palha no valor de até R$ 15 mil por produtor individual, com prazo de até 4 anos, inclusive com 1 ano de carência, com juros de 4% ao ano, ainda mais, treinou 36 técnicos da CATI e mais alguns técnicos interessados no programa de outros órgãos de pesquisas e do ensino de diferentes regiões do Estado. Nas regiões produtoras de cana-de-açúcar, como a do nosso município de Aramina, com o Decreto Estadual 41.719/97 e 42.056/97 do capítulo IV, artigo 16, em que se trata da redução gradativa do emprego de fogo na cultura da cana-de-açúcar, e ser considerada prática ilegal, a queimada dos restos de culturas. A colheita da cana crua mecanizada, em algumas usinas na região de Ribeirão Preto/SP, já passa de 50% das

CONTROLE DE FORMIGAS

OBSERVAÇÃO

Qualidade da água, pH, plantas empoeiradas, estressadas, recém-cortadas e riscos com chuva após aplicação, todos esses fatores afetam na ação dos herbicidas.

TRATAMENTO DE SEMENTES

É importante não só o tratamento com fungicidas para proteção de doenças das sementes, como também o tratamento com micronutrientes (Co e Mo).

VARIEDADES RECOMENDADAS

COLHEITA DA CANA CRUA

De preferência de junho até a 1º quinzena de setembro. E recomendamos que a colheita seja feita com a colhedora que direciona a esteira elevadora para os dois lados, porque deixa a palhada mais uniforme e não remonta esta. Com isso economizamos no herbicida pré ou pós-emergente na cultura de soja, obtendo também um desenvolvimento e maturação mais uniforme da cultura da soja e posteriormente da cana.

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Recomendamos o plantio das variedades de soja mais rústicas e precoces com ciclo de 100 a 120 dias para não atrapalhar o plantio da cana, e que possuem altura média de inserção das primeiras vagens em torno de 13 a 14 cm, facilitando a colheita e mostrando bons resultados. A colheita da cana crua deve ser feita de junho até a primeira quinzena de setembro

PLANTIO

O sucesso do Plantio Direto de Soja, na palha da cana, depende de uma boa Março 2002

Março 2002

regulagem do equipamento, ter de preferência caminhos desencontrados, disco de corte de pelo menos 20 e bem afiados (sem dentes), (no caso de palhada de cana), discos duplos desencontrados nos carrinhos do adubo e da semente. Na soqueira de cana queimada, utilizar botinhas no carrinho do adubo de preferência para a melhor penetração das raízes no solo.

Tratos Culturais APLICAÇÃO DE HERBICIDAS

Nas áreas de cana colhida crua não há necessidade da utilização de herbicidas de pré ou pós-emergência. Já nas áreas de colheita de cana manual e queimada, e se forem áreas com alta infestação de ervas daninhas, devem ser utilizados os herbicidas de pré-emergência ou em área não muito infestada, pode-se esperar o tipo de erva daninha que vai aparecer, e utilizar um herbicida de pós-emergência, direcionado para aquele tipo de erva daninha que aparecer depois.

ADUBAÇÃO DE COBERTURA

Só se a adubação de plantio foi insuficiente ou se o solo for muito arenoso, onde a lixiviação se torna rápida com excessos de chuva, daí então aconselhamos uma adubação de 150 a 200 Kg/há de 20-00-20, entre os 15 e 20 dias após a germinação da soja. De preferência com inseticidas biológicos (Bacillus Thuringiensis) ou inseticidas que não agridam o meio ambiente. Fazer acompanhamento do ataque da praga e entrar com o combate apenas quando atingirem o nível de dano econômico, ou seja, quatro percevejos por pano de batida. É utilizada para melhorar a qualidade de grãos ou no caso de o produtor dewww.cultivar.inf.br

sejar antecipar a colheita da soja ou se na lavoura não houve maturação uniforme devido a problemas causados por distúrbios fisiológicos, condições climáticas adversas, deficiência nutricional ou ainda se a lavoura estiver infestada por ervas daninhas. Para isso a soja deve estar no estádio R 7.0, ou seja, de 80 a 90% das vagens mudando de coloração, perdendo a coloração verde intensa, apresentando-se amareladas ou amarronzadas ou com umidade entre 50 e 60%.

COLHEITA

Antes de plantar a lavoura o produtor deve conhecer bem o ciclo de cada cultivar de soja, para planejar o plantio e a colheita de acordo com a maior ou menor precocidade do cultivar. O operador da máquina deve conhecer bem o funcionamento e manejo da máquina e ser capacitado. Observar em o momento certo de se fazer a colheita (maturação, umidade, horário de iniciar e parar de colher, para . que não haja perda na colheita. Oswaldo Siroshi Tanimoto, Cati Aramina

Cultivar

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Cana-de-açúcar Tab. 1 - Piores matospecies da cultura convencional da cana-de-açúcar*

OO uso uso de de herbicidas herbicidas na na cana cana éé capaz capaz de de proteger proteger esta esta cultura cultura das das piores piores plantas plantas daninhas daninhas

Fotos Roberto Arevalo

Boral 500 SC controla, além de CYPRO, mais de 65 matospécies da cana

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Cultivar

N

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MATOSPECIES Rottboellia exaltata L.f. Cynodon dactylon (L.) Pers. Panicum maximum Jacq. Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc. Digitaria horizontalis Willd Cyperus rotundus L.

SIGLAS ROOEX CYNDA PANMA BRAPL DIGHO CYPRO

AREVALO , R. A . , 2000.

Tab. 2 - Distribuição das 4 piores matospecies da cana-de-açúcar*

Contra as invasoras o Brasil, a cultura da cana-de-açúcar ocupa uma área de 4.900.000 ha (FAO, 1999). A área brasileira encontra-se ao redor dos 3 a 28ºLS. Nesta grande faixa onde se cultiva a cana-de-açúcar, existem os mais variados ambientes ecológicos (agroecossistemas). Como as plantas daninhas (matospecies) são o resultado do desequilíbrio ecológico criado pela derrubada de florestas para implantar as culturas, elas são as únicas pragas constantes da agricultura, que obriga a uma constante luta do agricultor para salvar o rendimento de açúcar, álcool, papel, etc. Nessa grande área canavieira, estima-se a presença de 1000 matospecies (Arevalo & Bertoncini, 1998). Embora existam ao redor de 12 que ocasionam os maiores problemas no mundo (Holm, et al., 1977). O uso de herbicidas é a tecnologia mais difundida para o manejo de matos, no campo comercial da cana-de-açúcar, pelas se-

NOMES VULGARES Capim-camalote Gama-seda Capim-colonião Capim-marmelada Capim-colchão Tiririca

SIGLAS ROOEX CYNDA PANMA CYPRO

PAISES 24 18 11 100

AUTORES AREVALO, 1997 HOLM et al ., 1977 HOLM et al ., 1977 HOLM et al ., 1977; AREV., 1996

* AREVALO, R. A . , 2000.

guintes razões: alta eficiência de matocontrole; mais econômicos que outros métodos de manejo; aproveitam as condições ambientais oportunamente. No Brasil, na cultura da cana-de-açúcar, foram registrados até o dia 31 de março de 2000, cerca de 74 formulações comerciais de herbicidas. Isso representa 27 formulações simples e 16 formulações compostas de ingredientes ativos, de 18 empresas nacionais e multinacionais (AREVALO, 2000). O presente trabalho objetiva informar sobre herbicidas para o manejo das piores matospecies que infestam a cultura da canade-açúcar.

PIORES MATOSPÉCIES

A matoconvivência com a cultura ocasiona as maiores perdas no rendimento potencial, seja porque competem pelos fatores ecofisiológicos essenciais como água, luz e nutrientes, quando estes se encontram escassos no ambiente ou porque hospedam outras pragas como nematóides, ratos , agentes fitopatogênicos (bactérias, fungos ou virus) que atacam a cultura. Março 2002

ESTADOS 5 22 22 22

AUTORES AREVALO, 1997 LORENZI, 2000 LORENZI, 1991 LORENZI, 2000

Tab. 4 - Perdas causadas por algumas das piores matospecies*

PERDAS (%) 44 53 45 90 30

AUTORES AREVALO et al., 1972, 1996 AREVALO et al., 1976a CERRIZUELA et al., 1985 AREVALO & BERTONCINI, 94 AREVALO et al., 1976b

* AREVALO, R. A. & BERTONCINI, E. I. , 1994 (adaptado).

Tab. 5 - Seis piores matospecies que infestam os resíduos de colheita da cana crua*

NOMES VULGARES Tiririca Grama -seda Capim-camalote Capim-amargoso Capim-branco Capim-braquiária

SIGLA CYPRO CYNDA ROOEX DIGIN CHRPO BRADC

MATOSPECIES Cyperus rotundus L. Cynodon dactylon (L.) Pers. Rottboellia exaltata L. f. Digitaria insularis (L.) Fedde Chloris polydactyla (L.) Sw. Brachiaria decumbens Stapf

* AREVALO, R. A . , 1998; AREVALO & BERTONCINI, 1999.

Março 2002

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As piores matospecies da cana-de-açúcar têm ampla distribuição mundial (Tabela 2); ocasionam perdas significativas na produção da cultura, são de custoso e oneroso manejo. ROOEX infesta 54 países e 24 países canavieiros. CYNDA infesta 80 países e 18 canavieiros. PANMA infesta 42 países sendo 11 canavieiros. CYPRO infesta 100 países canavieiros e 52 culturas.

PIORES MATOSPECIES NO BRASIL

EFEITOS DAS PIORES MATOSPECIES

* AREVALO, R. A . , 2000.

MATOSPECIES CYPRO SORHA CYNDA ROOEX MATOCOMUNIDADES

DISTRIBUIÇÃO DAS PIORES MATOSPECIES

No Brasil, estas matospecies também se encontram muito difundidas (Tabela 3). A matospecie ROOEX encontra-se em expansão, infestando algumas áreas do Mato Grosso do Sul; Paraná; São Paulo; Minas Gerais e Rio de Janeiro. CYNDA; PANMA e CYPRO infesta os 22 estados onde se cultiva cana-da-açúcar.

Tab. 3 - Distribuição das 4 piores matospecies da cana-de-açúcar*

SIGLAS ROOEX CYNDA PANMA CYPRO

Por outra parte, podem dificultar a colheita ou a industrialização de açúcar, álcool, papel, etc. Na tabela 1 são apresentadas as 6 piores matospecies que infestam a cultura convencional da cana-de-açúcar. Na cultura sustentável, quando se deixa na superfície do solo os resíduos de colheita de cana crua, algumas espécies predominantes podem ser diferentes.

As perdas causadas pela matoconvivência variam com a matospecie considerada e com os fatores ecofisiológicos críticos (Tabela 4). Sendo CYPRO e CYNDA as que causam as menores perdas e ROOEX a mais prejudicial para a cana. As perdas no rendimento potencial são para CYPRO, 28 para cultivares de cana tolerantes e de até 60 % em cultivares suscetíveis. Para ROOEX são de 80% em cana soca e 100% em cana planta. Esta matospecie afeta em cana planta a brotação e em cana soca o perfilhamento.

INFESTAÇÃO NOS RESÍDUOS

Recentemente foram identificadas 50 matospecies que infestam os resíduos de colheita de cana crua. As piores espécies se ilustram na tabela 5. Embora, os resíduos de colheita de cana crua controlam ao redor de 50% do mato que infestam a cultura convencional. Algumas espécies costumam emergir na superfície dos resíduos no período de 30 a 180 dias após a colheita da cana crua. Merecem citar-se as Cordas-de-viola, como PHBPU- Ipomoea purpurea (L.) Roth.; IPONI- Ipomoea nil (L.) Roth.; IAOGRIpomoea grandifolia (Dammer) O´Donell; IPOHF-Ipomoea heredifolia L. ; etc. As matospecies que infestam os resíduCultivar

... 33


ROOEX

A limpeza das máquinas evita a invasão de CYNDA em novas áreas

... os de colheita dependem (Arevalo, 2000;

Arevalo & Bertoncini, 1999) de: Banco de disseminulos do solo; Quantidade de colheita; Uniformidade de distribuição dos resíduos; Densidade dos resíduos; Adaptação de matospecies aos resíduos. É interessante notar que CYPRO emerge normalmente, independente da quantidades de resíduos uniespecíficos. Para as condições ambientais brasileiras a máxima quantidades de resíduos de colheita de cana crua é de ao redor de 20 t..ha1 de fitomassa seca ao sol.

HERBICIDAS PARA O MANEJO

Aqui serão descritos apenas os melhores tratamentos de herbicidas para o manejo das piores plantas daninhas acima citadas (Tabela 6).

controla alem de CYPRO, umas 65 piores matospecies da cana, e seletivo para a cultura e controla entre 60 a 80 % do banco de disseminulos do solo e aplicado antes que CYPRO prejudique a cultura. Por outra parte, pode ser aplicado na superfície dos resíduos de colheita em préemergência de CYPRO e as águas de chuvas transportam o produto para o solo infestado e fazem um eficiênte controle do problema.

CYPRO INTOXICADO COM BORAL

Os tratamentos de herbicidas requerem de umidade de solo. A melhor época para realizar os tratamentos é de setembro a março. Fotos Roberto Arevalo

CYPRO

Matospecie alelopática, pelo tanto a convivência com cultivares suscetíveis pode afetar desde a brotação das gemas da cultura ou pela competição de fatores ecofisiológicos como água ; luz e nutrientes quando estes se encontram escassos no ambiente. Por isso os tratamentos préemergentes são mais vantajosos que os pósemergentes. Mais muitas vezes por varia razões os tratamentos pós-emergentes são necessários. Os tratamentos de cana planta devem ter prioridade. Poaceae (Gramineae) associadas. O importante é controlar o banco de bulbos e tubérculos, para reduzir a infestação significativamente. O Boral tem a grande vantagem que 34

Cultivar

ROOEX; uma das piores matospécies da cana-de-açúcar

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O manejo de ROOEX em cana de açúcar é problemático e oneroso. Infesta área total da cultura. A maioria dos herbicidas que a controlam são fitotóxicos para a cultura. O manejo é oneroso porque requer entrar nos campos até 6 vezes para realizar tratamentos. Ela germina todo a ano. Com um bico de máxima população em setembro e logo cai abruptamente, com um mínimo em maio-junho. A evolução da produção de fitomassa seca a 70ºC a peso constante após 48 horas, nota-se a mesma tendência da evolução das populações de ROOEX. O fotoperiodo de 11,8 12,5 horas déu o máximo de matopopulação. Para facilitar o manejo de ROOEX, o ideal e plantar a cana no período de fevereiro-abril, com aplicações de herbicidas préemergentes e complementado com aplicações pós-emegentes. Os tratamentos préemergêntes devem ser realizados de 1 a 5 dias após o plantio da cana. Os tratamentos pós-emergêntes requerem de pressão de vapor (umidade relativa) superior a 60% . Os tratamentos pós-emergêntes deverão ser realizados em populações com plântula até 5 folhas.

Tab. 6 - Principais herbicidas para o manejo das piores matospecies* MATOSPECIES

HERBICIDAS

DOSES

APLICAÇÃO

CYPRO

BORAL 500SC SEMPRA 750 GRDA CONTAIN 250 AS SINERGE 500 CE GAMIT 500 CE GAMIT 360 CS VELPAR K + GAMIT SINERGE 500 CE VELPAR + GAMIT SINERGE 500 CE BORAL 500 SC COMBINE 500 SC VELPAR K GRDA SINERGE 500 CE BORAL 500 SC COMBINE 500 SC VELPAR K GRDA SINERGE 500 CE BORAL 500 SC COMBINE 500 SC VERPAR K GRDA

1-2 0,15 2 5-7 2,7 3,4 0,7 + 0,7% 6-8 0,6 + 0,6% 5-6 1-1,2 1,6-2 2-2,5 5-6 1-1,2 1,6-2 2-2,5 5-6 1-1,2 1,6-2 2-2,5

PRÉ; PÓS-I PÓS PRÉ; PÓS PRÉ; PÓS-I PRE-PÓS-I PRÉ; PÓS-I PÓS-I PRÉ PÓS-I

ROOEX CYNDA PANMA

BRAPL

DIGHO

Março 2002

PRÉ

MANEJO DE PANMA; BRAPL E DIGHO

PRÉ

Estas 3 matospecies reproduzem-se por sementes. PANMA se multiplica por divisão touceiras, (nos tratamentos mecânicos do solo); por rizomas e por semente apomítica, principalmente BRAPL. Todos os tratamentos de herbicidas realizam um eficiente matocontrole. Especialmente quando se trata de plantas de sementes ou sementes apomíticas. Já as plantas originadas de multiplicação vegetativas , o mais eficiente herbicida e o Verpar K GRDA, na doses de 1%. Os resultados foram superiores a Glifosato 3%.

* AREVALO, R. A ., 2000.

Tab. 7 - Manejo de CYNDA em cana-de-açúcar*

CYNDA

A presença de poliploides (+2n cromossomos) fazem o manejo de CYNDA também problemático e oneroso. Pois os poliploides são plantas de maior fitoagressividade, mais vigorosas e com sistema radicular mai profundo, que os diploides (2n cromossomos). Isto permite maior tolerância a herbicidas e a fatores ecológicos adversos (AREVALO, 1992 a). Os melhores herbicidas para CYNDA estão citados na tabela 6. Aplicar as maiores doses em solos com +35% de argila e as menores em solos com +15% de argila. En solos arenosos não se recomenda estes tratamentos. Os tratamentos de herbicidas são recomendados em cana planta . Bom sucesso é obtido em tratamentos pré-emergentes quando os rizomas e estolões de CYNDA são picados em pedaços de 10cm. Quando o pedaço são de + 10cm emergem as plantas de CYNDA. Nesse caso é necessario aplicar tratamentos pós emergêntes. Nos tratamentos pré-emergêntes de CYNDA, raras vezes a cultura mostram sintomas de fitointoxicação de albinismo provocado por Gamit. O uso de Gamit 360 CS, evita a presença de sintomas de albinismo. Embora o albinismo provocado por Gamit não afeta o rendimento da cultura. A seqüência de manejo de CYNDA em cana-de-açúcar estão sintetizados na tabela 7. O preparo do solo na seca ou na presença de geada mata 50% de rizomas e esto-

PRÉ

DIAS 0; 7; 14 e 21

MANEJO 1. Preparo de solo a) Seca b) Geadas 2. Limpezas de máquinas e veículos 3. Plantar mudas selecionadas 4.Plantar cultivares a) Brotação rápida b) fechamento rápido 4. Plantio de fevereiro-março 5. Aplicar herbicidas Pré 6. Aplicar herbicidas Pós

0; 7; 14 e 21 -

EFICIÊNCIA DE HERBICIDAS

10 30- 40 60 0 5 30 90

* AREVALO, R. A ., 2000; adaptado de AREVALO, R. A. , 1992a.

Tab. 8 - Produção de açúcar por parcela no cv RB 785148. Medias de 8 experimentos e 4 repetições* Tratamentos

Kg.ha-1

Ametrina+Diuron Sinerge Velpar K GRDA Gamit Diuron 500Norto. EPTC Herbadox 500 Boral 500 Boral 500 Trifluralina Capinado Com matos CV % r

3 7 2,1 2,2 6 8 3 1,6 2,0 4 6 0,0

CYPRO 14,4C 14,2C 14,0C 14,8C 14,0C 18,0B 13,8C 23,6A 24,2A 14,6C 19,2B 12,0C 13,68 0,81**

BRAPL 17,6E 26,2A 18,8CD 17,8E 18,0CDE 12,8F 18,0CDE 18,6BCD 21,0B 19,8BC 18,4CDE 10,8G 8,00 0,63**

CYNDA 11,8E 24,6A 12,2DE 16,6C 12,2DE 11,2E 12,2DE 13,0D 13,2D 12,4DE 18,6B 11,0E 9,80 0,77**

* AREVALO, R.A.et al . , 1997.

Março 2002

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DIGHO 19,8C 19,2C 19,6C 20,2C 20,0C 20,0C 19,0C 21,6B 23,0A 19,4C 19,0C 12,4D 5,94 ns

lões de CYNDA. A morte deste órgãos acontecem ao ser exposto na superfície do solo por 7 dias ou quando perdem 85% da água (AREVALO, 1992b). A limpeza de maquinarias e veículos ao sair dos campos infestados com CYNDA evitam a invasão de novas áreas. O plantio de cultivares de brotação e fechamento rápido levam vantagem sobre as plantas daninhas. O plantio de fevereiro-março, quando as matopopulações encontram-se em declinio de sua agressividade, favorece a cultura. As plantas de CYNDA que escapam dos tratamentos pré-emergêntes podem ser tratados com herbicicdas aplicados em pósemergencia. A aplicaçaõ de herbicidas de precisão é a tecnologia mais apropriada, que economiza herbicidas e evita o impacto ambiental dos mesmos.

PANMA 12,2E 24,0A 20,2BC 18,2D 12,2E 18,2D 18,4D 20,4B 20,4B 19,0CD 18,6D 10,6F 6,90 0,85**

A eficiência agronômica neste estudo se expresa em kg. parcela -1 de açúcar (Tabela 8). A máxima produção de açúcar foi obtida no controle de CYPRO e DIGHO com Boral; A máxima produção de açúcar foi obtida no controle de BRAPL; CYNDA e PANMA com Sinerge;

CONCLUSÕES

As piores plantas daninhas da cana de-açúcar são: ROOEX-Capim camalote; CYNDAGrama-seda; PANMA-Capim-colonião; BRAPL- Capim-marmelada; DIGHO- Capim - colchão e CYPRO- Tiririca.. Os melhores herbicidas para ROOEX são: Boral; Sempra e Contain; para CYNDA: Sinerge e Velpar K; para PANMA ;BRAPL e DIGHO Sinerge; Boral; Combine e Velpar K e para CYPRO Boral; Sempra e Contain. Plantas de PANMA originadas de rizomas, são eficazmente controladas com . Velpar K GRDA 1%. ROBERTO A . AREVALO, Centro de Cana-IAC Cultivar

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Mercado

A nova Bayer D

e olho nas mudanças do mercado agrícola, a Bayer inves te pesado nos setores de biotecnologia, herbicidas e sementes, todos até então pouco explorados pela empresa. A estratégia passa pela compra da Aventis CropScience, negociada por • 7,25 bilhões, incluindo dívidas. Assim que as autoridades antitruste autorizarem o acordo, o que deve acontecer até o final de abril, nascerá a Bayer CropScience, a segunda maior empresa do mundo do setor agrícola, atrás apenas - e não por muito tempo - da Syngenta. O atual presidente da divisão de Proteção Vegetal da Bayer e futuro presidente da Bayer CropScience, Jochen Wulff, explica que a nova situação do mercado, fortemente influenciado pela onda de fusões e aquisições dos últimos anos, força as empresas a observarem alguns pontos, como: Amplo portfolio de produtos, para atender a maior parte das necessidades dos consumidores; Presença forte nos países considerados mais importantes e nas maiores e mais rentáveis culturas; Custo competitivo, alcançado através de economia de escala na produção e distribuição; Necessidade permanente de inovação, em produtos, serviços e estratégias; Maior presença em mercados especializados, como jardinagem, tratamento de sementes e outras especialidades, que apresentam potencial para absorver produtos desenvolvidos inicialmente para a proteção de plantas tradicional; Importância crescente da biotecnologia, principalmente a verde , e da produção de sementes. Wulff projeta crescimento do mercado mundial de apenas 2% nos próximos anos, considerando câmbio constante. A meta da empresa, entretanto, é conseguir aumentar suas vendas em 4,5% por ano, chegando a 2005 com vendas no valor de • 8 bilhões e margem operacional de 20%. 36

Cultivar

Fotos Carmen Paula Locatelli / Cultivar

Compra da Aventis CropScience marca a nova estratégia da empresa que será a segunda maior do mundo; biotecnologia ocupará posição de destaque

Wulff explica como a Bayer enfrentará os desafios do mercado: inovações

SITUAÇÃO DA EMPRESA

Análise interna - realizada antes da compra da Aventis - mostrou que a Bayer tem a seu favor um bom portfolio de produtos nos segmentos de inseticidas e fungicidas, competência técnica, forte presença na Europa e nos mercados especiais (tratamento de sementes, jardinagem etc.), e alta lucratividade. Entretanto, existiam aspectos a ser melhorados, como a deficiência de herbicidas na linha de produtos, posição de mercado fraca na América, falta de acesso à biotecnologia e à produção de sementes, e grande distância em relação ao líder de mercado - Syngenta. A compra soluciona ou minimiza a maior parte das deficiências da empresa alemã. Ocupando a quarta posição no ranking das grandes, com • 4.03 bilhões em vendas, a Aventis agregará à nova companhia herbicidas (portfolio balanceado e rentável, além da tecnologia Safener) e inseticidas (Fipronil e Deltamethrin, por exemplo), maior presença em regiões e culturas consideradas importantes, pesquisa e negócios com biotecnologia e sementes e boa posição em ciências ambientais . Jochen Wulff explica que a meta da Bayer, no médio prazo, é conseguir a primeira colocação no setor de agroquímicos através da adoção de medidas para aumentar a competitividade. Além dos já conhecidos pacotes de produtos ou pacotes tecnológicos, a empresa apostará na inovação como forma de expandir seus negócios. Inovação significa maior valor agregado aos produtos e, conseqüentemente, maior rentabilidade na comercialização. Esse é um dos motivos pelos quais a Bayer apostou na compra da Aventis, seu portfolio de produtos e de pesquisa. No caso de produtos comuns, como os herbicidas, seria possível completar o portfolio iniciando a produção de genéricos, como glifosato. Wulff, entretanto,

Jochen Wulff, doutor em química, será o presidente mundial da Bayer CropScience

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Março 2002

Março 2002

argumenta que a rentabilidade dessa operação não atingiria as metas da empresa. Melhor, argumenta, é investir em pesquisa própria, uma das características da empresa, que aplica no setor cerca de 11 a 12% do capital conseguido através da venda de seus produtos. Se não houver pesquisa, não haverá soluções no futuro, explica Wulff. Outro ponto forte da Aventis era o seu potencial na biotecnologia, o segmento de mercado que mais crescerá nos próximos anos. De acordo com previsões da consultoria Phillips McDougall, o mercado de biotecnologia, incluindo sementes, deverá crescer 16,5% no período compreendido entre 2000 e 2005. A Bayer considera que o acesso à biotecnologia terá importância fundamental no futuro, principalmente no

ramo dos output traits , os produtos com benefícios diretos ao consumidor, e que, na visão do diretor da área de proteção de plantas para a América Latina, Jean-Pierre Longueteau, facilitará a aceitação da biotecnologia.

COMPRA E ESTRUTURAÇÃO

Pode parecer estranho que uma empresa menor compre uma maior. Foi o que aconteceu. A Bayer era, em 2000, a sétima maior companhia do setor, com vendas de • 2.45 bilhões, e a Aventis CropScience a quarta, com • 4.03 bilhões. Entretanto, precisa-se considerar nesse raciocínio as estratégias de expansão de cada uma. A Aventis (76%) e a Scheering (24%), antigas proprietárias da Aventis CropScience (ACS), preferem focar seus negócios em outros ramos, enquanto a Bayer aposta no desenvolvimento e na rentabilidade do setor agrícola. Um ponto interessante da transação é que a Bayer espera lucrar com o negócio já no terceiro ano. Também foi acordado que eventuais ônus ou ressarcimentos derivados da tecnologia StarLink permanecerão a car. go da Aventis.

Investiremos no Algodão Bt

O Brasil é o terceiro maior mercado para a Bayer no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e França, e o único grande em expansão. Por isso, Jochen Wulff explica que a empresa dará grande atenção às operações no país, ainda com muitas terras aráveis para ocupar, clima propício e potencial de crescimento de pelo menos 100 milhões de hectares. Entre as estratégias, consta o aperfeiçoamento e desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas. No Brasil, Wulff prefere não arriscar data para liberação, mas crê que no máxiwww.cultivar.inf.br

mo em cinco anos Europa e Japão receberão bem a tecnologia. Tudo vai depender da capacidade das empresas de desenvolver produtos com valor agregado perceptível aos consumidores, como o Gold Rice ou batatas que não retenham óleo, uma das novidades que a Bayer CropScience lançará nos próximos anos. O Algodão Bt, geneticamente modificado para enfrentar a Spodoptera frugiperda, deve contar com boa aceitação em breve, arrisca Wulff. Isso porque o temor dos consumidores será pequeno, uma vez que não ingerirão o produto, como acontece com a soja.

AQUISIÇÕES

Sobre um dos grandes boatos do mercado, a compra da Monsanto pela Bayer, Wulff prefere não se manifestar. Diz apenas que o maior problema para a operação seria convencer as autoridades antitruste a permitir a efetivação do negócio. Não descarta a possibilidade, entretanto. Cultivar

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Bayer em números A Bayer em 2000 era a sétima maior empresa de produtos fitossanitários do mundo (tabela 1). Com a aquisição da Aventis CropScience, pulou para o segundo lugar, chegando ao primeiro em inseticidas e primeiro geral na União Européia (tabela 2). O portfolio de produtos também se aproxima da demanda mundial, com aumento da oferta de herbicidas (tabela 3).

Tabela 01

Tabela 01

NO COMANDO... Jochen C. Wulff, diretor mundial da área de Proteção das Plantas Nascido em 15 de agosto de 1939, em Halle/ Saale (Alemanha), Jochen Wulff é diretor mundial de Proteção de Plantas desde 1º de abril de 1993. Após obter o doutorado em química orgânica, em 1968, juntou-se ao departamento de pesquisa da antiga subsidiária da Bayer, Mobay Corp., nos Estados Unidos. Antes, ocupou posições na matriz da companhia em Leverkusen e na área de poliuretanos da Mobay. Em 1984, tornou-se gerente de produção de corantes em Leverkusen. Retornou para a Mobay em 1986, como vice-presidente executivo de produção e, a partir de 1990, passou a presidente e CEO. Após a reorganização das atividades da Bayer nos EUA, Wulff voltou a Alemanha, onde foi indicado como responsável pela divisão de proteção de plantas. Foi presidente da Federação Global de Proteção de Plantas de 1995 a 1998 e presidente da Associação de Proteção das Plantas da Alemanha de 1997 a 2001. É casado e tem dois filhos.

Jean-Pierre Longueteau, diretor da área de Proteção das Plantas (América Latina e Brasil)

Tabela 01

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Cultivar

Jean Pierre Longueteau, filho de pequenos agricultores, nasceu em 15 de março de 1947, na região agrícola do sudoeste da França. Após estudar Agronomia e Administração de Empresas, trabalhou em outras empresas do ramo de agronegócios antes de ingressar na área fitossanitária da Bayer - França em 1982, onde atuou até 1991. Iniciou então sua carreira internacional, passando por Portugal, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, sempre como diretor de divisão. Transferiu-se para o Brasil em 1995, como diretor de área de proteção das plantas e logo assumiu adicionalmente a direção para a América Latina. No Brasil, foi eleito presidente do Conselho Diretor da ANDEF por duas gestões (1998-200). Atualmente integra o conselho diretor da entidade. É membro do Conselho Consultivo do SINDAG. Casado com uma brasileira (mineira), tem um filho e uma neta.

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Fotos Cultivar

Grãos

Grãos com qualidade nutricional melhorada. Será esse o caminho para a “descomoditização”?

Comodities, futuro incerto A

gricultores fecharam 2001 com aumento de renda! Recordes de exportações de produtos agrícolas como açúcar, carnes e soja favorecem superávit comercial da agricultura! Safra 2002 poderá ultrapassar os 100 milhões de toneladas de grãos! Alguns anos atrás estas afirmações poderiam ser simples projeções. Ou manchetes sensacionalistas. Mas são pura realidade. Estamos vivendo um momento decisivo. A agricultura brasileira, contada há 500 anos em verso e prosa em se plantando tudo dá , e conhecida como a atividade do futuro, começa a transformar toda sua potencialidade em produção, empregos, geração de renda, qualidade de vida no interior do país e acima de tudo, conquista de novos mercados. Os fatores que contribuíram para estes bons resultados no ano de 2001 foram desde a relativa estabilidade da economia, passando pelo câmbio favorável às exportações, ganhos de produtividade e mercados ávidos pelos produtos brasileiros. O PIB agrícola soma de toda produção agropecuária interna bateu recorde de R$87,3 bilhões em 2001, crescimento de 1,5% sobre 2000, segundo cálculos preliminares do Ministério da Agricultura e CNA. O incremento foi de 1,34% para a 40

Cultivar

agricultura e de 1,73% para a pecuária. Além de tradicional exportador de farelo e grãos de soja, o Brasil enviou em 2001 mais de 4 milhões de toneladas de milho para novos clientes como países do leste europeu e China. A venda total de máquinas agrícolas cresceu 12% e as exportações saltaram 47,5%. Com relação ao complexo de carnes, o setor fechou o ano com US$2,5 bilhões em vendas externas. Destes, carne de frango representou US$1,3 bilhões, marca bastante festejada pelas indústrias do setor. A avicultura brasileira deu um show de competitividade técnica e comercialização. E não vai parar aí! Neste momento de boas notícias, uma tecnologia inovadora, ainda pouco conhecida, começa a fazer parte do cardápio de muitas granjas e integrações de aves e também de suínos. Estas atividades tornaram-se extremamente competitivas, e qualquer ganho representa muito. Então surge a pergunta: - É possível descomoditizar uma comodite agrícola ? Apesar de já existir um processo bem avançado de classificação de grãos utilizados nas indústrias de processamento de alimentos e rações, os padrões utilizados garantem a qualidade física e fiwww.cultivar.inf.br

tossanitária. Uma vez aprovados, são colocados em armazéns a granel, independente de sua origem. Afinal, do ponto de

Detalhe de planta repleta com grãos de sorgo

Março 2002

vista nutricional, milho é milho: é tudo igual, correto? ... Não, errado! Há 15 anos um frango de 1,8 kg vivo era abatido em 49 dias. Hoje o galináceo vai para a faca aos 42 dias. E dependendo do mercado a que se destina, em 32 dias. Estes ganhos de índices zootécnicos foram possíveis graças a genética que evoluiu muito e aos avanços na área de nutrição de monogástricos. Os nutricionistas perceberam então que o nutriente mais importante agora chama-se espaço. Isso mesmo..., não se trata de erro de digitação... Espaço nos grãos (e nas rações) para concentrar nutrientes. Em outras palavras, quanto mais proteínas e seus aminoácidos essenciais, carboidratos, óleo, vitaminas e minerais estiverem presentes por unidade de volume maior será a ingestão de alimentos, possibilitando ganhos de performance animal. Está dada a largada para a descomoditização das comodites agrícolas. Principalmente o milho, cereal energético cuja demanda estimada para a avicultura e suinocultura em 2001 foi de 13,8 e 6,9 milhões de toneladas, respectivamente, segundo boletim da Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais ANFAL . Além disso, existe variabilidade genética para a obtenção de cultivares de milho agronomicamente competitivos e que possuam maior concentra-

ção de nutrientes. Neste momento o setor de produção de carnes encontra-se maduro e apto a realizar os testes e ajustes técnicos necessários para a adoção destes supergrãos. Cabe destacar o importante trabalho desenvolvido por nutricionistas de agroindústrias e integrações, bem como o pioneirismo e liderança da EMBRAPA- Suínos e Aves de Concórdia-SC, na caracterização da qualidade nutricional de grãos de milho no País. Isso sem falar no empenho e suor dos agricultores integrados, cuja labuta diária está mudando o perfil da pauta de exportações brasileira. Avaliações de campo começam a ser realizados alimentando-se animais com rações elaboradas com milho de maior Energia Metabolizável. Outras características virão logo. Uma vez comprovada a adaptação dos cultivares, economia na fabricação de rações , e a melhor performance animal, estarão criadas as condições para a instalação de um processo de Identidade Preservada de grãos e até mesmo pagamento diferenciado. É a descomoditização do milho. No futuro, a produção poderá ser feita sob contrato, profissionalizando a atividade, regulando o abastecimento e preços e conseqüentemente diminuindo os riscos intrínsecos ao setor agrícola. Quando os ganhos de uma nova tecno-

Mitidieri fala sobre qualidade nutricional de grãos e descomoditização

logia são distribuídos a todos os elos da cadeia produtiva, aumenta-se sua chance de adoção e sucesso. Tudo indica que isto poderá acontecer neste negócio. Que em 2002 os jornais e revistas continuem a publicar manchetes tão positivas . quanto as que obtivemos em 2001. Francisco José Mitidieri, Consultor


Controle de pragas EPAMIG

Proteção efetiva Especialista mostra estratégias que aumentam a eficiência dos inimigos naturais liberados para o controle de pragas

P

redadores e parasitóides de insetos, nativos ou exóticos, podem ser multiplicados no laboratório e liberados no campo ou em casa de vegetação para controlar as pragas alvo das culturas. As liberações desses inimigos naturais criados massalmente podem ser de forma inundativa, quando os inimigos naturais são liberados em grande número visando a um controle imediato, ou de forma inoculativa, quando os inimigos naturais são liberados também em grande número mas visando, além do controle imediato, a formação de uma população de inimigos naturais capaz de controlar as gerações das pragas durante o período da cultura. A eficiência de predadores e parasitóides liberados em campo ou em casas de vegetação pode ser comprometida durante a criação massal pela falta de associação desses com as pragas-alvo, pois, na maioria das vezes, por razões práticas e econômicas, a criação é feita em presas ou hospedeiras alternativas. Essa falta de associação pode resultar na liberação de inimigos naturais que não sejam capazes de lo42

Cultivar

calizar eficientemente a presa ou o hospedeiro. Uma maneira prática de contornar esse problema é o condicionamento dos inimigos naturais nas pragas-alvo oferecidas e nas espécies de plantas-alvo, antes das liberações. O inimigo natural ao se alimentar ou parasitar a praga-alvo que está se alimentando da planta, aprenderá a reconhecer e associar os sinais específicos, olfatórios e visuais, relacionados à praga e a planta, aumentando assim a eficiência em localizá-la. Exemplos de sinais específicos que podem ser utilizados pelos inimigos naturais para localizar suas presas ou hospedeiros são os voláteis induzidos por herbivoria. Esses volateis são produzidos pelas plantas em resposta ao ataque de pragas e sinalizam aos inimigos naturais a presença de presas ou de hospedeiros, auxiliando-os nos processos de busca.

EFEITO DO CONDICIONAMENTO

Um exemplo do efeito do condicionamento na eficiência em localizar presas é o do predador Orius laevigatus, um percevejo liberado para o controle de tripes (Frankliniella occidentalis) em casas de vewww.cultivar.inf.br

pragas nos cultivos. A adição de pólen nas plantas, por exemplo, no início do ciclo da cultura, possibilitará o aumento e o estabelecimento da população dos predadores liberados antes que a praga ocorra na cultura. Resultados positivos foram obtidos com a utilização dessa técnica em casa de vegetação quando pólen foi adicionado semanalmente a plantas de pepino de variedades que não produzem pólen: houve um aumento populacional do ácaro predador Amblyseius degenerans, que afetou negativamente a população do tripes F. occidentalis. Também em pepino, a adição de pólen em época anterior a liberação de ácaros predadores possibilita um incremento na população destes, contribuindo significativamente para o controle da mosca branca Bemisia tabaci. Semelhantemente, a introdução de unidades abertas de criação de inimigos naturais ( banker plants ) nas casas de vegetação possibilita a formação de uma população de predadores ou de parasitóides antes do aparecimento e estabelecimento das pragas nos cultivos. Estas unidades podem ser potes com plantas que produzem pólen ou bandejas com plantas infestadas com um hospedeiro ou presa alternativos (que não ocorram nas plantas que estão sendo cultivadas) para os parasitóides ou predadores liberados. Na Holanda, cerca de 30% dos produtores de pepino, já utilizam esta estratégia para o controle do pulgão Aphis gossypii. Isto é feito através da introdução nas casas de vegetação de bandejas com plantas de trigo infestadas com o pulgão Rhopalosiphum padi, o qual não ataca as plantas de pepino, mas serve de hospedeiro alternativo para o parasitóide Aphidius colemani que irá posteriormente controlar a população de A. gossypii em pepino.

getação cujas plantas estejam infestadas por tripes e em muitas vezes por ácaro rajado. Na criação massal desse predador, a dieta normalmente utilizada no laboratório consiste de ovos da traça das farinhas Ephestia kuehniella. No entanto, quando este predador é alimentado antes da liberação com o ácaro rajado (Tetranychus urticae), oferecido em folhas de pepino atacadas, a percentagem de insetos recuperados em plantas atacadas por tripes e por ácaro rajado, em relação ou número total de insetos liberados, é significativamente maior do que quando os insetos são liberados diretamente da criação do laboratório. O fato do condicionamento em ácaro rajado ter aumentado também o número de predadores recuperados em plantas atacadas por tripes pode ser explicado pela emissão de compostos voláteis comuns pela planta de pepino quando atacada pelo ácaro rajado e pelo tripes. Outra estratégia que pode ser utilizada nos cultivos para promover o aumento da eficiência dos inimigos naturais é o fornecimento de alimentação suplementar antes da ocorrência de altas populações de Março 2002

ALIMENTAÇÃO SUPLEMENTAR

O fornecimento de alimentação suplementar e a introdução de unidades de criação de inimigos naturais nas casas de veMarço 2002

getação, são duas estratégias particularmente interessantes em culturas onde o nível de tolerância a pragas é muito baixo, como nas ornamentais, e portanto não se pode esperar para liberar os inimigos naturais quando for detectado a presença da praga. A utilização de variedades de plantas com características morfológicas favoráveis aos inimigos naturais é outra possibilidade para se incrementar o controle biológico. Essas características podem estar relacionadas ao fornecimento de proteção aos inimigos naturais ou à facilitação no encontro das presas ou hospedeiros pelos inimigos naturais. Exemplos de estruturas especializadas de algumas plantas e que servem de abrigo aos inimigos naturais são as domácias que ocorrem nas folhas de muitas espécies de plantas. Elas variam de simples tufos de pêlos a cavidades localizadas nas junções entre as nervuras principais e secundárias e são normalmente habitadas por predadores que utilizam-as para a proteção contra fatores ambientais adversos e contra hiperpredadores. Outras características morfológicas de algumas variedades de plantas, como a arquitetura e a presença ou a ausência de pêlos ou tricomas, podem influenciar significativamente na localização das presas ou dos hospedeiros pelo inimigos naturais. A utlilização de variedades com características que facilitam esta localização contribui para o aumento da eficiência do controle de pragas pelos inimigos naturais introduzidos nas culturas, como no caso do controle da moscabranca por parasitóides: a eficiência na capacidade de busca do parasitóide Encarsia formosa é maior em cultivares de pepino com pouco pêlos do que em variedades pilosas. Ainda, nestas variedades pilosas, há retenção do honeydew produzido pelas moscas brancas, o que aumenta a mortalidade dos parasitóides. Uma estratégia a ser utilizada no futuro, para o incremento do controle biológico, é o uso de variedades de plantas que produzem voláteis quando atacadas por herbívoros de maneira mais rápida e em baixas infestações de herbívoros. A composição dos voláteis induzidos por herbivoria varia consideravelmente com a espécie e a variedade da planta atacada. Portanto, a seleção de variedades que emitem voláteis que atraem os inimigos naturais é uma possibilidade promissora para o aumento da eficiência no contro. le biológico de pragas. Madelaine Venzon, EPAMIG/CTZM www.cultivar.inf.br

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Agronegócios

Desmentindo ou reafirmando Malthus? A solução para a fome passa pela busca de um mundo justo, ao qual se atrela a ampliação da produção e da produtividade

C

aetano Velloso disse Vocês não estão entendendo nada! . É o melhor comentário sobre a proposta da Focus on Sabbatical, ONG de apavorados agricultores canadenses e norte-americanos. Apavorados com a competitividade, produtividade e alta tecnologia da nossa agricultura. Apavorados com o remédio para combater nossa eficiência subsídio e protecionismo. Como todo o viciado, quanto mais subsídio recebe mais precisa e seu efeito é cada vez menor. Reafirmo que a agricultura de commodities dos países ricos não resiste a cinco anos de livre mercado. Impõe-se uma dialética sobre esse fato, iceberg de uma situação vergonhosa que grandes líderes globais não querem encarar: a produção agrícola tem como finalidade exclusiva manter o status quo da (injusta) distribuição de riquezas do mundo? Não deve servir para aplacar a fome? Ou como instrumento de eqüidade no concerto das nações? Não deveria também ser um dos instrumentos para esfriar os extremismos, caldo de cultura do terrorismo?

MALTHUS

Retrocedamos dois séculos para dar contexto à análise, à época de Thomas Robert Malthus, que publicou Um Ensaio sobre o Princípio da População em 7 de junho de 44

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1798. No século XXI suas idéias ainda suscitam controvérsias, pois subsistem restrições ao acesso à alimentação. No Brasil, o Congresso Nacional devotou uma sessão exclusiva para discutir o tema, por propositura do Engenheiro Agrônomo e Senador pelo Paraná, Dr. Osmar Dias. A essência das premissas de Malthus eram O alimento é necessário para a existência do Homem e A paixão entre os sexos é necessária e permanecerá para sempre aproximadamente no status atual (sic do original). Concluiu: A capacidade de crescimento da população é infinitamente superior à capacidade da Terra em produzir alimentos. A população, na ausência de restrições, cresce de forma geométrica. O alimento cresce somente de forma aritmética . Malthus consolidou nesse ensaio suas contestações a William Godwin, que propugnava uma sociedade com justiça e igualdade e uma economia focada no fim da miséria. Isso há duzentos anos. O pensador inglês derivou sua tese assumindo as premissas como imutáveis. Os conflitos pelo espaço geográfico; a distribuição injusta do emprego e da renda; o aumento da esperança de vida; a melhoria das condições de saúde; o declínio das taxas de crescimento populacional; e os avanços tecnológicos não constavam do cenário malthusiano.

PARADA OBRIGATÓRIA PARA PENSAR

Repensemos Malthus sob a ótica do III milênio. A FAO estima que 800 milhões de pessoas passam fome; destes, 20 milhões são crianças que vão a óbito todo o ano, por fome www.cultivar.inf.br

ou desnutrição. Esse infanticídio equivale à derrubada de 11 torres gêmeas do WTC todo dia! O corolário dessa reflexão é que o mundo carece de justiça e solidariedade, o que poderia ser resgatado concedendo-se uma perspectiva de futuro aos povos que têm na agricultura sua única possibilidade de sobrevivência. A proteção do Tesouro dos países ricos à sua agricultura ineficiente re-escreve a Lei de Malthus: continua existindo um descompasso entre demanda e oferta de alimentos, destarte os avanços tecnológicos, por conta da injustiça global. A ciência tem desmentido Malthus destruindo suas premissas, permitindo a desaceleração das taxas de crescimento populacional e expandindo a produção de alimentos. Estamos no limiar de um break-through tecnológico, a revolução biotecnológica, com potencial para transformar-se no paradigma do novo século, ameaça futura à Lei de Malthus. Toda a Revolução é conflagrada e polêmica. O Renascimento nas artes, o motor a vapor na Era Industrial, o telefone para as comunicações, o cinema para o lazer, a vacina para a saúde tiveram que superar barreiras que pareciam intransponíveis, antes de imiscuir-se nos usos e costumes. Outras Revoluções foram abortadas pela incapacidade de seus defensores em sobrepor-se às contestações. Os avanços tecnológicos embutem ameaças e oportunidades, riscos e benefícios. A mecanização agrícola conferiu escala, amputou custos e alavancou a produção e a produtividade; entretanto a seu débito correm a concentração fundiária e o êxodo rural. Os agrotóxicos eliminaram pragas, todavia seus efeitos colaterais ameaçaram obnubilar seus benefícios. É sob essa ótica que devemos analisar o embate tecnologia x Malthus. Março 2002

REVISITANDO MALTHUS

O esgotamento das fronteiras agrícolas é uma das assunções de Malthus e se afigura cada dia mais correta. No entanto, a tecnologia é um poderoso meio de produção que minimiza a restrição da área horizontal pela expansão vertical da produtividade. No século passado vivenciamos três grandes revoluções tecnológicas: a mecanização das lavouras, a incorporação de fertilizantes e agrotóxicos e a oferta de material genético superior. O Brasil é um exemplo da anulação do cataclisma malthusiano pois, nos últimos 15 anos, o acréscimo de área agrícola foi marginal, ao passo que a produtividade cresceu acima de 60% para as culturas de algodão e arroz. Isso graças aos avanços tecnológicos propiciados pela Embrapa e demais institutos de pesquisa. Defrontado com a mudança de patamar tecnológico, o dilema é semelhante ao das Revoluções anteriores: devemos mudar o paradigma? Os benefícios superam os riscos? Vale a pena ingressar no buraco negro ? Dessa vez vamos até mais longe: pode o Homem fazer às vezes de Deus? Os produtores esperam que os OGMs sejam uma alavanca para que os termos da equação da demanda e da oferta de alimentos se equilibrem no ponto futuro mais próximo possível; e que a fome seja debelada do mundo, sob uma ótica com tempero social, sem a fria visão econométrica. Dos OGMs almejam melhorias qualitativas, nutricionais e no limite da ficção científica, permitir que plantas e animais se constituam em fábricas vivas. De onde seriam extraídas substâncias farmacologicamente ativas, como medicamentos, hormônios, vacinas, enzimas, etc. De outra parte, vade retro Satanás!, exorcizam ONGs, MSTs, Bové e assemelhados, vendo na nova tecnologia a encarnação de Belzebú e os sinais do Fim dos Tempos.

POLÊMICA

Em contraponto a Malthus, mas temperado com sua inspiração no ataque às idéias de Godwin, reitero a constatação de que Fome não é mercado . Abstraindo de sua tese a falta de renda, Malthus errou. Inserindo a cunha da falta de solidariedade na equação, Malthus atirou no que viu e acertou no que não viu. Admitindo essa análise, a solução para a fome passa pela busca de um mundo justo, a que se atrela a ampliação da produção e da produtividade. O que nos remete à segunda tese polêmica, que é a Função social da tecnologia . Mais que aumentar qualidade ou produtividade, que são decorrências, a tecnologia agropecuária tem como função primordial facilitar o acesso ao alimento de qualidade. Na transição entre a Era Contemporânea e a Era da competitividade , podemos criticar, assacar lamúrias, queixas e lamentações contra o livre mercado, a globalização, o FMI, Março 2002

o BIRD ou qualquer outro ícone, porém o mercado tem sua própria e cruel lógica. E competitividade tem uma de suas principais pilastras em tecnologia adequada, poupadora de custos e propulsora da produtividade. A ser verdadeira a premissa, ouso antever à Malthus que, na geração de nossos filhos, não haverá planta cultivada ou criação animal que não tenha sua exploração comercial baseada em cultivares, variedades ou raças geneticamente modificadas.

NOVO PARADIGMA?

O que nos remete à última das provocações, o Paradigma biotecnológico . Entendo difícil sustentar no futuro a argumentação difusa que tem caracterizado a discussão antiOGM, focalizada em eventuais riscos à saúde humana e ao ambiente. Resultados científicos irrefutáveis terão que conferir consistência aos argumentos. E esses pressupostos não têm resultado em evidências científicas incontestáveis. O último baque foram os estudos coordenados pela National Academy of Sciences que desmontou os resultados de um experimento de um cientista da Cornell University, o qual havia concluído ser o pólen de milho Bt tóxico para a mariposa monarca. Estudo esse que havia sido elevado à condição de oráculo, a prova suprema da malignidade biotecnológica. Na ausência de evidências irretorquíveis, o mercado será avassalador na busca de novas vantagens comparativas, para transformá-las em vantagens competitivas, em novas formas de redução de custos ou agregação de valor, em novos nichos ou mesmo novos mercados. É da lógica do Mercado proceder aut Caesar aut nihil - a inevitabilidade.

OPORTUNIDADE

O Brasil teve uma oportunidade única para refletir sobre seu ingresso na era da agricultura biotecnológica, posta a moratória oficial forçada pela decisão da Justiça de não permitir o cultivo de OGMs em nosso país, até o momento. Sem a pressão consumista, foi possível pesar os prós e os contras, andar no fio da navalha entre a pressão produtivista de quem busca aumentar sua competitividade (EUA, Argentina, China) e a reação negativa dos consumidores. Na Europa não faltam razões para o consumidor não acreditar que o Estado possa proteger sua saúde e o meio ambiente. Os sistemas de vigilância sanitária protagonizaram diversos escândalos sanitários (vaca louca, febre aftosa, ração com dioxina, sangue contaminado com AIDS, fungicida em refrigerantes) que minaram sua credibilidade. Entretanto, conforme a discussão evolui do plano difuso para o objetivo, a percepção de risco do consumidor migra para a linha do pragmatismo. É irrelevante para essa análise auscultar a reação de cidadãos de países onde comida é www.cultivar.inf.br

mercadoria escassa, pois é evidente a escolha do cidadão quando confrontado com as opções da fome ou de OGMs.

DOMÍNIO TECNOLÓGICO

Para desmentir Malthus, caso o cenário acima seja o predominante, o Brasil engatará seu vagão na composição majoritária do pensamento científico e tecnológico, imposição das demandas do mercado. Como exemplo da inexorabilidade das leis de mercado, basta referenciar o dilema vivido pelo Estado do Rio Grande do Sul, declarado por seu Governo como livre de transgênicos , e onde centenas de milhares de hectares seriam cultivados com soja modificada, contrabandeada da Argentina, a crer nas notícias veiculadas na imprensa. O rumo a seguir e a forma de segui-lo é uma decisão social, à vista do embate entre os riscos e benefícios, os prós e os contras do uso de OGMs. A sociedade deverá discernir para que possamos usufruir os benefícios da biotecnologia, sendo rigorosa com suas ameaças e perigos. A fim de cumprir sua missão no tecido social, nossos laboratórios necessitam manter-se pari passu com os competidores; nossos cientistas devem participar ativamente dos debates científicos; e os políticos e negociadores devem ter atuação próativa nos foros onde se estende a cabeça de ponte para o novo patamar tecnológico. Alternativamente, reafirmaremos Malthus se os subsídios dos países ricos continuarem artificializando o mercado internacional para manter elevada a renda dos seus agricultores e dificultando o acesso dos países pobres à produção e ao alimento. Como última provocação, relembro que o Sr. Luiz Inácio da Silva elogiou os subsídios da França aos seus agricultores, considerados os mais perversos do mundo. Ainda aguardo uma justificativa convincente de como essa afirmativa coaduna com a justiça social por ele pregada, pois a mim sua declaração é . uma das que reafirma Malthus. Décio Luiz Gazzoni

Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agronomo.eng.br/agronegocios/

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Chuvas seguram a colheita em fevereiro As chuvas foram constantes em fevereiro, segurando o ritmo da colheita das lavouras da soja, milho e feijão nos principais estados. As cotações não tiveram grande pressão de baixa. O milho e o feijão mantiveram-se firmes em plena safra, enquanto a soja sofreu ajustes negativos. A colheita da soja, que deveria estar em ritmo forte no Centro-Oeste e Paraná, enfrentou chuvas constantes. Houve perdas na produtividade. As lavouras da soja enfrentaram problemas com doenças e Mosca Branca (Brasil Central), com reflexos na produtividade. O clima para a soja nos estados centrais foi bastante favorável, enquanto no Rio Grande do Sul as chuvas não foram regulares e as perdas foram grandes junto ao Norte do estado. O milho segue mostrando grande pressão de compra e poucas ofertas. As chuvas seguram o ritmo da c o lheita, com isso a entrada vem a conta-gotas e beneficia os produtores. O mesmo ocorre com o feijão dos estados centrais, com colheita em momentos chuvosos, prejudicando um pouco a qualidade do produto colhido. Todavia, as mesmas chuvas serviram para segurar a queda nos indicativos que normalmente ocorrem nesta época do ano. Continua se apontando para uma grande safra de verão.

MILHO

Indústrias disputam espaço com os exportadores Pelos números que vêm aparecendo, pode-se confirmar números menores do que as previsões iniciais para o milho - abaixo das 28 milhões de T para a primeira safra. Os produtores valorizam o que têm, com as indústrias correndo atrás dos poucos lotes que aparecem, forçando indicativos maiores para dificultar a presença dos exportadores, que levaram alguns volumes em janeiro e fevereiro. Os embarques previstos variam das 2 a 3 milhões de T, mas isso é muito em uma ano de safra máximo de 37 milhões de T, com consumo superior. Ou seja, deve haver importações no segundo semestre. A safrinha está em plantio e parte das áreas só será concluída em março. O período ideal de plantio, contudo, encerrou no dia 20 de fevereiro. De agora em diante os riscos aumentam. O mercado tende a ficar firme neste ano.

SOJA

Mato Grosso segue como maior produtor O Mato Grosso colhe a safra desde janeiro. Em muitas regiões o trabalho terminou, como em Lucas do Rio Verde, onde os produtores já estão com o milho safrinha plantado e apostando em uma boa tecnologia para aproveitar do mercado favorável. As lavouras do restante do Brasil devem ter a colheita andando agora em março e o Brasil Central deverá colher a maior parte do final de março e abril. O Mato Grosso segue com indicativos de uma safra de 11/ 11,5 milhões de T. Poderia chegar às 12 milhões de T se não houvesse os problemas sanitários das lavouras. O mercado mostrou pressão de baixa nas cotações em fevereiro e deverá continuar negativo em março, com os piores momentos do ano devendo ocorrer nestas próximas semanas. Não é o momento para os produtores negociarem a soja.

ARROZ

Colheita avança e cotações recuam O mercado do arroz vê a safra chegar. Com ela, a pressão de baixa em cima das cotações do casca. Os produtores buscaram apoio junto ao governo para garantir as cotações do arroz irrigado na casa dos R$ 16,50 por saca, mas até o final de fevereiro nada tinha sido aprovado. E espera-se a volta dos leilões de opções para segurar a queda nos indicativos, que mostravam os R$ 15,00 por saca na base do casca novo, com chances de números melhores em cima do pro46

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duto velho. Enquanto isso o sequeiro, também em colheita, deverá atingir R$ 14,00 / 15,00 na base dos produtores no Mato Grosso. A safra deverá continuar em colheita agora em março e assim não terá suporte para grandes avanços ou para a manutenção dos indicativos nestas próximas duas ou três semanas. Para os produtores, a melhor opção de negócios vem em cima de EGF ou Opções para o segundo semestre.

safra passada e deverá atender a demanda crescente do Nordeste. O produto colhido no Irecê deverá ficar no mercado nordestino e não disputar os espaços no mercado e São Paulo. O feijão trabalhou dos R$ 40,00 aos R$ 45,00 pelo produto chuvado e chegou a negociar acima dos R$ 60,00 pelo produto de ponta que estava com poucas ofertas. Continuará em colheita agora em março, mas a demanda nacional esta bastante aquecida.

FEIJÃO

TRIGO

O mercado do feijão teve as cotações estabilizadas. Mostrou alta em plena colheita da safra do Brasil central, que teve muita chuva sobre as lavouras prontas e assim perdeu qualidade. Enquanto isso, no Nordeste se observava a colheita no Irecê Ba, principal região produtora, que no ano passado colheu uma safra de 42 mil T, com grandes perdas, e agora projeta chances de chegar a 150 mil T. Temos que alertar que parte das lavouras correm o risco de perdas porque passavam por tempo seco e assim devem comprometer os números finais. O certo é que cerca de 100 mil T já estão garantidas. Isso é muito acima da

O mercado esta de olho na nova safra de trigo do Brasil que neste ano poderá chegar a marca das 4 milhões de T contra as 2,9 colhidas no ano passado. Os produtores estão otimistas com a cultura e os novos preços mínimos próximos dos R$ 296 por T, vem a dar um novo estímulo ao setor. Muitos produtores deixaram de plantar o milho safrinha para entrar com o Trigo. No Brasil central também deveremos ter crescimento de área com o Trigo irrigado, onde os produtores devem diminuir o feijão, que esta com crescimento dos problemas sanitários e assim devem realizar rotação de cultura e o trigo entra como uma boa opção.

Nordeste colhendo e chuvas no Centro do País

Safra crescerá neste ano

CURTAS E BOAS ALGODÃO - as chuvas em excesso em fevereiro proporcionaram melhor condição de propagação das pragas e doenças e os produtores não acompanharam de perto as lavouras poderão ter perdas na produtividade, já que pelos comentários de campo este deverá ser um ano de grande incidência de pragas e doenças. O mercado segue com pouca movimentação e cotações fracas. A área recuou cerca de 35% sobre o ano passado. ARROZ - o presidente Bush esteve na China para pressionar o governo local a uma flexibilização da nova legislação dos transgênicos que entra em vigor agora em março. Pelo que se observou, os chineses continuam duros e apontam que a legislação entra em vigor agora em março e poderá complicar as vendas da soja dos americanos, que somaram mais de US$ 1 bilhão no ano passado. Poderemos ver parte deste mercado caminhado para o Brasil. SOJA - os produtores do Rio Grande do Sul andaram reclamando das importações de arroz do Mercosul que no último ano somaram mais de 1 milhão de T, e segundo os mesmos este volume é maior que a capacidade de exportação dos países vizinhos, que apontam indicativos que pode ter ocorrido triangulação de arroz da Ásia, que entra com custos menores e assim segura o mercado Brasileiro. O governo gaúcho aponta que endurecerá a fiscalização do produto que chegará neste ano. MILHO - a safrinha esta em crescimento neste ano, com indicativos de uma área de 2,4 milhões de T, contra os 1,9 milhões plantados no ano passado. Os produtores ainda têm cerca de 800 mil hectares para serem plantados em março. O clima tem sido favorável com chuvas regulares.

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Março 2002



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