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Ano IV - Nº 39 Maio / 2002 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00
Pulgões em trigo Especialista mostra como fazer o controle adequado de pulgões
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Criando problemas
Números atrasados: R$ 8,00 Diretor:
Newton Peter
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Editor geral:
Schubert Peter
Tokeshi fala sobre as doenças e pragas geradas e multiplicadas por agrotóxicos
Redação
Pablo Rodrigues Charles Ricardo Echer Design Gráfico e Diagramação:
Fabiane Rittmann
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Marketing:
Neri Ferreira
Sob controle
Circulação:
Armazenamento de feijão em atmosfera controlada e em atmosfera modificada é mais eficaz
Edson Luiz Krause Assinaturas:
Simone Lopes Ilustrações:
Rafael Sica Revisão:
Carolina Fassbender
Inseto no café
Editoração Eletrônica:
Index Produções Gráficas
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Fotolitos e Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Se não for controlado, o bicho-mineiro pode ocasionar sérios danos
Mascote:
Missy NOSSOS TELEFONES:
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GERAL / ASSINATURAS: 272.2128 REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716 MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314 FAX: 272.1966
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br
índice Diretas Congresso Brasileiro de Plantas Daninhas Cigarrinha-das-pastagens Efeito Estufa Mosca-branca em soja Inverno com pulgões Coluna da Aenda Transgênicos em xeque Agrotóxicos e desequilíbrio ambiental Acamamento de cereais Armazenamento de feijão Bicho-mineiro no café Mudanças na Cheminova Agronegócios Mercado agrícola
Nossa capa 04 05 06 09 10 12 15 16 17 25 28 30 34 36 38
Foto Capa / Hasime Tokeshi Morfologia das raízes e fitohormônios: raízes de milho reagindo ao solo com produção de deformações e raízes laterais
diretas
Congresso De 29 de julho a 1º de agosto será realizado, em Gramado (RS), o XXIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas; confira os destaques e a programação técnica desse evento
Tecnologia e produtividade
Sueli S. Martinez
NIM
A pesquisadora do IAPAR Sueli Souza Martinez lançou dia 30 de abril, em Londrina, o livro O Nim - Natureza, Usos Múltiplos e Produção . A publicação atende à demanda de agricultores interessados em produzir alimento saudável e livre de agrotóxicos, e de consumidores preocupados com riscos à saúde causados pelo alimento produzido convencionalmente.
Realizado na maior fronteira agrícola do mundo, o centro-oeste brasileiro, o Circuito Nacional de Tecnologia (CNT), desenvolvido pela Syngenta Proteção ao Cultivo, tem como principal objetivo apresentar novas tecnologias agrícolas aos produtores de toda a região, que visam uma maior produtividade e conseqüente aumento no retorno dos investimentos. Os eventos itinerantes cobrirão os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e contarão com campos demonstrativos onde serão priorizadas as doenças de final de ciclo e a dessecação da soja. As principais culturas que serão temas do CNT são: soja, milho, algodão, feijão e arroz. Maiores informações pelo telefone (11) 3044 4996 ou pelo e-mail Renato@xpressonline.com.br
Faturamento
A SLC Agrícola, uma das maiores produtoras brasileiras de grãos e de algodão, pretende faturar R$ 150 milhões este ano, um acréscimo de
11% em relação a 2001, ano em que colheu 252 mil toneladas de grãos, sobretudo soja e milho. Em 02/03 a SLC quer colher 312 mil toneladas.
Agromen
Vendas
A Syngenta, líder mundial em agroquímicos e terceira no segmento de sementes, revelou em Basiléia, Suíça, que vendeu menos 3,6% no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado. A empresa atribui a redução à instabilidade do euro e das moedas asiáticas. A Syngenta, que lançou novos fungicidas para cereais na Europa, teve um forte desempenho na Alemanha, o que compensou baixos resultados em outras áreas.
Quarta maior empresa do setor de sementes de milho do Brasil (market share), a Agromen Sementes de Orlândia (SP) foi, pelo segundo ano consecutivo, a única empresa produtora de sementes a participar do Agrishow, em Ribeirão Preto. Além do milho, que produz a partir de pesquisas próprias, a Agromen também é uma empresa de porte no pulverizado mercado de sementes de soja. Produz, além disso, sementes de sorgo, girassol, feijão e forrageiras.
Lançamento John Deere
A John Deere Brasil S.A. aproveitará a Agrishow 2002 para lançar mais uma série de produtos em apenas três meses do ano. A última novidade será exposta na feira de Ribeirão Preto e promete revolucionar, mais uma vez, a colheita de grãos no Brasil. É a colheitadeira John Deere 9650 STS, que vai complementar ainda mais a sua consagrada família de colheitadeiras. O projeto da geração STS de colheitadeiras John Deere foi nacionalizado, o que significa que essas máquinas chegam ao mercado cotadas em reais e com financiamento via FINAME, modalidade MODERFROTA.
Plantio Direto
Cultivar
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entistas nacionais e internacionais de grande experiência profissional, os quais poderão contribuir para tornar o controle de plantas daninhas mais moderno, eficiente e ambientalmente seguro. Pretende-se que o Congresso se constitua em um evento voltado aos interesses do Brasil, com intensa participação da comunidade científica nacional e de todos os setores envolvidos com . a atividade. Erivelton Scherer Roman
Presidente da Comissão Organizadora
Palestra de abertura: Novos paradigmas no manejo de plantas daninhas / Dr. João Baptista da Silva, Presidente SBCPD PAINEL I - RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AOS HERBICIDAS Bases de seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas / Dr. Bruce Maxwell - Montana State University - USA Resistência de plantas daninhas a herbicidas, a experiência Australiana / Dra Marta Monjardino - University of Western Australia - Austrália Manejo da resistência de plantas daninhas aos herbicidas / Dr. Pedro Christoffleti, ESALQ, Piracicaba, SP Moderador: Dr. Cláudio Purissímo / Coordenador do CBRPH/SBCPD, Univ. Est. Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR.
PAINEL II - CULTURAS RESISTENTES A HERBICIDAS
Embalagens
A 9ª edição da HORTITEC, a maior feira do mercado de hortifruti do País, acontece de 20 a 22 de junho, no Pavilhão de Exposições de Holambra, em Holambra (SP). Aclamada nacionalmente como a mais importante exposição do setor, a Hortitec é passagem obrigatória de produtores e profissionais de agrobusiness interessados em conhecer as tendências do mercado, trocar experiências, fazer e programar negócios. Cerca de 12 mil visitantes são esperados. No total, a feira vai ocupar 10 mil m² de área, distribuídos entre cinco grandes setores, agrupados de forma a facilitar a visitação. Os visitantes da Hortitec 2002 poderão fazer parte, também, do III Seminário Internacional , que acontece paralelamente à mostra, e tem como proposta discutir e apresentar alternativas para as principais demandas da Horticultura brasileira. Ao término do Seminário Internacional, no dia 22 (sábado), acontece o V Fórum de exportadores de flores e plantas ornamentais: resultados do programa Florabrasilis . Informações gerais sobre o evento, hospedagem e localização podem ser obtidas por meio do site do evento: www.hortitec.com.br
na área, com pesquisadores, extensionistas, representantes de empresas do setor e produtores rurais. O Congresso dará, também, a oportunidade de planejar ações para o futuro, através de palestras, mesas redondas, sessões técnicas e pôsteres. As palestras e painéis envolverão 4 tópicos importantes: Resistência de Plantas Daninhas a Herbicidas, Culturas resistentes a Herbicidas, Interação Herbicida e Meio Ambiente, e Manejo Integrado de Plantas Daninhas. Deveremos contar com a participação de ci-
PROGRAMAÇÃO TÉCNICA
O VI Encontro de Plantio Direto no Cerrado e o 2° Encontro de Plantio Direto do Oeste Baiano serão promovidos pela Associação de Plantio Direto no Cerrado APDC e pela Associação dos Engenheiros Agrônomos de Luís Eduardo Magalhães AGROLEM, de 04 a 07 de junho, em Luís Eduardo Magalhães (Ba). Os eventos têm como objetivos despertar o interesse nos agricultores da necessidade cada vez maior de preservar os recursos naturais e o meio ambiente, aprimorar as práticas e os conhecimentos relacionados à agropecuária da região dos cerrados. Maiores informações podem ser obtidas pelo telefone: (77) 9996 5219 ou pelo e-mail: sindprod@gol.inf.br
9ª HORTITEC
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Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas (SB CPD) tem o prazer de informar e convidar todos os interessados para participar de seu próximo congressso, que ocorrerá em Gramado, de 29 de Julho a 01 de Agosto do presente ano. Novos paradigmas no manejo de plantas daninhas é o tema central. O programa científico terá o foco em aspectos práticos e científicos importantes e recentes da Ciência das Plantas Daninhas, oferecendo a oportunidade para a discussão e a revisão dos avanços
Desde o dia 1º de maio o agricultor está obrigado por lei a preparar as embalagens vazias de agroquímicos mediante a tríplice lavagem - para devolvê-las nas unidades de recebimento das empresas vendedoras. Lavadas, as embalagens podem ser guardadas temporariamente na propriedade até serem transportadas, com as respectivas tampas, para as unidades. Cabe às empresas distribuidoras, por lei, informar os agricultores sobre os procedimentos necessários. As indústrias deverão recolher e reciclar ou destruir as embalagens, evitando que os resíduos prejudiquem o meio ambiente. A lei que trata do assunto é a nº 9974/00, para quem deseja mais detalhes.
Abril 2002
Métodos de seleção de culturas resistentes a herbicidas /Dr. Luiz Carlos Federizzi - Universidade Federal do Rio Grande do Sul Biotecnologia x manejo integrado de plantas daninhas / Dr. Stevan Knezevic - University of Nebraska - USA Análise de riscos de culturas GM / Dra. Linda Hall - University of Alberta - Canadá Manejo de Plantas Daninhas em Soja Transgênica no Canadá / Dr. Bill Deen - University of Guelph - Canadá Moderador: Dr. Robinson Pitelli - UNESP/São Paulo.
PAINEL III - INTERAÇÃO HERBICIDAS X AMBIENTE Monitoramento e Avaliação de Impactos de Herbicidas no Ambiente / Dr. Cláudio Spadotto, Embrapa Meio Ambiente, SP Destino dos herbicidas no ambiente / Dr. Ronald Turco, Purdue University, USA. e Dra. Jussara Regitano - CENA/USP - SP. Impacto dos herbicidas sobre organismos não alvo / Prof. Sérgio Machado, UFSM, Santa Maria, RS. Moderadora: Dra. Jussara B. Regitano - CENA/USP - São Paulo, SP
PAINEL IV- MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS Bases da competição de plantas daninhas - o exemplo do arroz / Dr. Albert Fisher, Davis, USA Ampliando o enfoque do manejo integrado de plantas daninhas/ Dr. Jerry Doll / University of Wisconsin - USA Enfoque ecofisiológico para o desenvolvimento de estratégias para o manejo integrado de plantas daninhas / Dr. Lammert Bastiaans - Wageningen - Holanda Moderador: Dr. Erivelton S. Roman, Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS Abril de 2002
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Cultivar
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Controle Integrado
Pasto limpo Fotos Herbert Vilela
Controle integrado das cigarrinhas das pastagens é o melhor método para deter estas pragas
O
s estudos relacionados às cigarrinhas das pastagens vêm sendo intensificados nos últimos anos. Uma solução realmente eficiente e econômica para seu controle ainda está sendo perseguida. Na realidade, o que se tem buscado é o controle integrado baseado no nível de dano causado. O controle integrado é uma estratégia constituída por várias medidas técnicas, entre as quais se destacam: o controle biológico, o controle cultural, o controle químico e o uso de espécies resistentes. Recorre-se aos produtos químicos somente em casos extremos, quando a população de
Inseto predador da cigarrinha
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Cultivar
Forma adulta de Manarva
ninfas da cigarrinha ultrafimbriolata proporcioando passa o número de 15 por danos às pastagens metro quadrado. Sabe-se que os danos são provocados pela ação das ninfas (formas jovens da cigarrinha) vegetação que constitui a pastagem é suque, principalmente, sugam a seiva das ficiente para controlar a erosão. Para as glebas com declividade entre plantas, tornando-as debilitadas. A forma adulta do inseto, além de sugar a sei- 8 e 20% recomenda-se a construção de va, também injeta, em maior quantida- cordões em contorno. As aplicações de calde, uma substância fitotóxica que pode cário e fósforo deverão ser feitas de acorcausar o bloqueio do sistema vascular (flo- do com os procedimentos tradicionais, ema e xilema), seguido de morte daque- juntamente com as operações de aração e les tecidos. Dependendo do nível popu- gradagem, três a quatro meses antes do lacional do inseto, pode ocorrer, como plantio, não se dispensando os resultados conseqüência, a morte dos rebentos emi- de análise de solo para o cálculo do corretivo e dos fertilizantes necessários. As aplitidos pelas gramíneas. cações de N e K deverão ser feitas após o plantio. FORMAÇÃO E RECUPERAÇÃO O preparo e as correções do solo, bem DECLIVES ENTRE 20 E 35% como a técnica de plantio, dependem Para a formação de pastagens em áreda declividade da gleba, a saber: áreas com declividade até 20% - Para as com declividade superior a 20% são exio preparo do solo nas áreas com gidos cuidados especiais e a declividade declividade até 20% pode-se re- máxima de 35% é o limite tecnicamente alizar, sem restrições, aradura e recomendado para a utilização de áreas gradagem do solo, precedidas pela em pastejo. Nas áreas com declividade destoca quando necessária. Até 8% de de- entre 20 e 35% a pastagem deverá ficar clividade não se fazem necessárias quais- restrita aos 2/3 inferiores da encosta. O quer medidas de conservação do solo. terço superior deverá permanecer proteConsidera-se, neste caso, que a própria gido contra a entrada de animais e reveswww.cultivar.inf.br
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Inimigo natural que auxilia no controle da cigarrinha
tido com vegetação arbórea, seja natural ou reflorestada. O povoamento artificial desse terço superior da encosta poderá ser feito com Leucena, com frutíferas silvestres ou mesmo com eucalipto. Na pastagem assim protegida, resultará um aumento de até 60% da capacidade de suporte, em decorrência da maior penetração da água de chuva, proporcionada pela vegetação arbórea do terço superior da encosta. O preparo do solo deve ser feito de modo especial. Para evitar riscos de erosão não se realiza a operação de ardura. Sobre o solo em seu estado natural e utilizando-se um arado de aiveca de tração animal, procede-se à abertura de sulcos em nível, distanciados de um metro, com cerca de 0,15 metro de profundidade. Depois de abertos, faz-se aplicação de calcário e de adubo fosfatado no fundo do sulco e plantio da gramínea. Aplicações de K serão feitas posteriormente em co-
Forma adulta de Zulia enteriana; potencial de danos é imenso
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bertura. Não é recomendável nas áreas com declividade acima de 20% a construção de terraços. Em tais condições, o patamar atinge altura excessiva podendo transformar-se em causa de acidentes com o gado. A escolha do capim depende da fertilidade do solo, da declividade da área e da ocorrência de cigarrinhas nas pastagens. Os capins mais atacados pelas cigarrinhas são as braquiárias, principalmente, Brachiaria decumbens, Brachiaria ruzizienses, e Brachiaria himidicola. Em relação às outras brachiarias, a Brachiaria decumbens apresenta a vantagem de tolerar solos fracos e com alto teor de alumínio. Portanto, para solos mais fracos e com declividade maior que 20%, poder-se-ia usar a Brachiaria decumbens. Entretanto, nunca se deve esquecer que ela não deve ultrapassar 60% da área em pastagens da propriedade. Convém aqui lembrar que o capim gordura é resistente à cigarrinha e tolera solos de baixa fertilidade, como o capim Andropogon e o capim B. brizantha cv MG 4, sendo que este último já foi testado com bons resultados em regiões com temperaturas médias mais elevadas. A área de 40%, plantada com plantas forrageiras resistentes, poderá suportar maior carga animal no período crítico (novembro a março), para que outra área de 60% das pastagens, caso seja formada por plantas sensíveis à cigarrinha, seja poupada. Para solos de média fertilidade e com menos de 20% de declividade, tem-se o capim Setaria, variedade Kazungula que, além de ser resistente à cigarrinha, ainda tolera inundação. Ainda para estes tipos de solo, tem-se o capim jaraguá, que é também resistente à cigarrinha. Para os solos de fertilidade média a alta, há uma série de capins: capim-colonião, capim-guiné (ou Coloninho), que são resistentes à cigarrinha; e os capins Makueni, Colonião folha larga e B. brizantha cv MG 4, que são capins resistentes à cigarrinha. Portanto, para solos de fertilidade média a alta pode-se recomendar esses capins, desde que a declividade seja menor do que 20%. Na situação de alta declividade e, ainda, de solos férteis, recomenda-se o capim B. brizantha cv MG4 e o Capim-Estrela Africana. Este www.cultivar.inf.br
último é extremamente exigente em fertilidade de solo. Caso não se consigam mudas, sugere-se o uso da Brachiaria humidicola ou brizantha cv MG4, nas áreas sujeitas à erosão.
MANEJO DAS PASTAGENS
Há poucos anos, as pastagens do Brasil Central eram mais produtivas e mantinham os animais em boas condições durante todo o ano. A cada ano que passa, mais intensos se mostram os efeitos da seca sobre os animais, e as pastagens vão gradativamente diminuindo a capacidade de suporte. O inverno, com ausência Fotos Herbert Vilela
Espuma produzida pela larva da cigarrinha das pastagens
de calor e umidade, limita a produção forrageira pela paralisação parcial da atividade fisiológica. No crescimento das plantas perenes, passou-se a distinguir duas épocas bem definidas: a) Crescimento crítico ou período de translocação; b) Crescimento ativo. O crescimento crítico tem lugar dias após a germinação das sementes ou quando, na primavera, a planta rebrota através das reservas das raízes. No inverno, somente as partes subterrâneas das plantas (raízes e rizomas) estão ativas e na primavera, as primeiras rebrotas (folhas) são produzidas às expensas das reservas acumuladas nas partes subterrâneas durante o outono. Assim que as folhas aumentam em número e tamanho, começam a elaborar alimentos para sua própria manutenção e, mais tarde, o excesso é aproveitado para refazer as reservas esgotadas das raízes. Cultivar
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Conhecendo mais
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Nessa época, o crescimento ativo tem lugar, pois a parte aérea e a subterrânea crescem concomitantemente. No fim do ciclo evolutivo, as plantas mantêm-se verdes ainda por algum tempo e produzem alimento para ser acumulado nas raízes, voltando, assim, à fase de translocação. Dessa forma, o pastejo intenso, durante o crescimento crítico na primavera, impede as novas folhas de se desenvolverem, de elaborarem seu próprio alimento e refazerem as reservas das raízes. É uma condição prejudicial à planta, pois produz exaustão completa das raízes. Durante o verão, período de cres-
Planta suscetível e tolerante ao ataque das cigarrinhas
EFEITO ESTUFA
Calor concentrado Descoberto há mais de um século, o mecanismo de efeito de estufa é acelerado pelo homem. Resultado: a temperatura terrestre se eleva
Ataque certeiro: forma adulta da cigarrinha sugando na folha
sistentes, de modo a manter, nas pastagens sensíveis, o porte da vegetação nas alturas recomendadas no período de novembro a março. Poupar não significa vedar o pasto, mas manter uma carga animal que permita a manutenção das gramíneas sensíveis nas alturas recomendadas. A partir de março, quando a cigarrinha deixa de constituir problema sério, pode-se iniciar o rebaixamento gradativo dos pastos formados por plantas sensíveis, até o ponto mínimo, que deve acontecer . no mês de setembro.
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ue benefícios para nosso planeta traz o efeito estufa? É um fenômeno natural que permite manter nossa laranja azul na temperatura média de 15º. Por abuso de linguagem, a expressão efeito estufa é usada para lembrar o aquecimento climático. Este último é provocado por uma elevação da concentração de gás com efeito estufa nas camadas superiores da atmosfera. Os gases são, principalmente, vapor, gás carbônico (CO2), me-
tano (CH4), protóxido de nitrogênio (N2O) e ozônio (O3). O Sol emite energia luminosa que atravessa a atmosfera e é absorvida em dois terços pela superfície terrestre. Esta fração é devolvida pela Terra sob forma de raios infravermelhos. Estes, por sua vez, são interceptados em parte pelos gases com efeito de estufa, naturalmente presentes nas camadas altas da atmosfera. Esta absorção induz a formação de calor. E, pouco a pouco, a atmosfera e, depois, a superfície terrestre são aquecidas. As emissões de gás com efeito estufa provenientes de atividades humanas, especialmente industriais, contribuem para o aumento de suas concentrações na atmosfera. O mecanismo natural do efeito estufa é, então, ampliado; o aquecimento se acentua. O principal vilão é o gás carbônico, que contribui com cerca de 60% do efeito estufa. O CO2 aumentou 30% desde a era pré-in-
dustrial (Século XIX). A maior fonte de gás carbônico é a queima de combustíveis fósseis. Alguns outros gases, de origem estritamente industrial, absorvem de forma muito importante os raios infra-vermelhos. São os halocarbonetos e o hexafluoreto de enxofre (SF6), que permanecem até 50.000 anos na atmosfera. O metano é emitido pela decomposição de matéria orgânica e pelos ruminantes. Uma parte da emissão de N2O provém do uso de adubação com resíduos urbanos nitrogenados. Desde o Século XIX a Terra aqueceu de 0,3ºC a 0,6ºC e o nível dos oceanos subiu de 10 a 25 cm. Se daqui ao ano 2100, como prevê o grupo de especialistas intergovernamental sobre evolução do clima, da França, a temperatura se elevar de 1 a 3,5º C e o mar subir de 15 a 95 cm, o ciclo da água será modificado. Secas e inundações serão mais . severas e as chuvas mais abundantes.
Os gases com efeito estufa absorvem os raios infravermelhos provocando a elevação da temperatura terrestre
Herbert Vilela, Matsuda Genética
Deois schach adulta
Reflexão para a superfície
Absorção e emissão de calor pelos gases com efeito estufa ELEVAÇÃO DA TEMPERATURA
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Reemissão para a superfície terrestre em infravermelho
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Fotos Herbert Vilela
cimento ativo, o pastejo intenso não é prejudicial. Um pastejo intenso no outono, antes que as plantas tenham tem-
po para acumular reservas, determinará enfraquecimento das pastagens. Elas não resistirão ao inverno e não rebrotarão com vigor na primavera. As plantas estoloníferas resistem mais ao pastejo de primavera, visto que os animais não conseguem apreender as folhas, pois estas se acham protegidas pelos estolões e ainda estão muito rentes ao solo. Nas plantas cespitosas, cujo caule cresce ereto, as folhas estão bem distantes do solo e desprotegidas. Por isso, são as que mais sofrem devido à maior facilidade de serem apreendidas pelos animais. O ponto fundamental no manejo das pastagens, com vistas ao controle de cigarrinha, é a altura em que a planta deve ser mantida durante o período de novembro a março, no qual ocorre o ataque das cigarrinhas. Nessa época, os capins sensíveis ao ataque, como o capim-colonião comum e o capim-guiné, devem ser mantidos a uma altura de 0,40m a 0,45m e as braquiárias a uma altura de 0,25m a 0,30m. Essa medida faz com que haja um maior sombreamento nas áreas onde estão as espumas das cigarrinhas, evitando, assim, menor evaporação da espuma e, conseqüentemente, menos sucção de seiva da planta pelas cigarrinhas. Portanto, o que se recomenda é controlar o pastejo nos pastos sensíveis à cigarrinha, deslocando o excesso de animais para pastos formados com capins mais re-
Gá
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Gás com efeito estufa produzido pelas atividades humanas ABSORÇÃO PELA SUPERFÍCIE TERRESTRE
Forma adulta de Deois ocasionando injúrias atacando à folha
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Cultivar
Larva de cigarrinha causando danos na epiderme da folha
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Soja
Sem mosca-branca
de tempo. No setor de Entomologia do Instituto Agronômico (IAC), criações de mosca-branca para fins experimentais vêm sendo mantidas há mais de vinte anos, utilizando-se a soja como a principal hos-
Considerando-se as culturas de expressão econômica para o Brasil, IAC 17 e IAC 19 constituem-se nas duas primeiras cultivares com resistência à moscabranca - Bemisia tabaci biótipo B
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ambém conhecida como Bemisia argentifolii, a mosca-branca B. tabaci biótipo B foi introduzida no Brasil no início dos anos 90, no Estado de São Paulo. Surtos populacionais foram observados inicialmente na região de Holambra, com altíssimas infestações em ornamentais (crisântemo e bico-de-papagaio); logo a seguir, o inseto atacou hortaliças na região de Paulínia, com destaque para tomateiro, aboboreira, brócolos e berinjela. Ainda no Estado de São Paulo, surtos posteriores foram verificados em Guaíra-Miguelópolis, em hortaliças (repolho, couve e alface) e, principalmente, em soja e algodão. Após sua introdução e disseminação por várias regiões paulistas, o inseto se espalhou por quase todos os Estados brasileiros, principalmente através do transporte de material vegetal. Todos os grandes pólos agrícolas do país convivem hoje com essa nova praga.
POTENCIAL DE DANOS
RESISTÊNCIA VARIETAL
bém causa danos diretos às plantas devido a sua alimentação, sugando seiva e injetando substâncias tóxicas. Com isso, o biótipo B causa uma conseqüente redução do vigor da planta, induzindo anomalias fisiológicas e depositando grande quantidade de secreção açucarada, que prejudica os processos fisiológicos da folha e favorece a ocorrência de fumagina, fungo escuro que pode recobrir toda a folha. As anomalias fisiológicas referem-se principalmente à folha-prateada-da-aboboreira, desordem que, como o próprio nome diz, caracteriza-se pelo prateamento das folhas e também dos frutos, com queda na produção, e ao amadurecimento-irregular-dos-frutosdo-tomateiro, em que os frutos apresentam coloração irregular, desuniforme, tanto externa como internamente, o que deprecia comercialmente o produto, muitas vezes inviabilizando o processamento para polpa no caso específico da indústria. Outra característica muito importante do inseto é seu amplo círculo de plantas hospedeiras, ou seja, plantas favoráveis à sua reprodução. São registradas na literatura mais de 500 espécies vegetais em que Fotos IAC
O biótipo B de B. tabaci é muito mais nocivo à agricultura do que os outros biótipos (o que existia antes de sua introdu-
A cultura da soja é considerada uma das melhores hospedeiras de Bemisia tabaci
ção era conhecido como biótipo A) porque, além de sua atuação como vetor de diversos tipos de vírus em plantas cultivadas (feijoeiro, tomateiro entre outras), tam10
Cultivar
Mosca-branca (Bemisia tabaci) causando injúrias na soja
o inseto consegue se reproduzir, pertencentes a mais de 70 famílias botânicas diferentes. Até o momento, apenas em monocotiledôneas não foi observada sua reprowww.cultivar.inf.br
do, até o momento, prejuízos decorrentes da ação de algum tipo de vírus transmitido pela mosca-branca a essa cultura em nosso meio, altas populações do inseto podem, através de sua alimentação e injeção de substâncias tóxicas, causar danos à soja, conforme foi observado em Miguelópolis, em 1997/98, em várias lavouras da região.
dução. Dentre as plantas cultivadas, a soja pode ser considerada uma das melhores hospedeiras, permitindo ao inseto alcançar grandes populações em curto espaço Abril de 2002
pedeira. Em campo, a soja permite a multiplicação do inseto e sua conseqüente migração para outras culturas após o término de seu ciclo. Embora não seja registraAbril de 2002
A incorporação de fatores de resistência à mosca-branca em soja favoreceria essa cultura, diminuindo a população do inseto e, conseqüentemente, seu dano direto. Favoreceria também outras culturas, principalmente aquelas que são prejudicadas com vírus transmitidos pelo inseto. O IAC vem há mais de 25 anos desenvolvendo um programa de melhoramento de soja que visa obter cultivares com resistência às principais pragas e doenças, com o objetivo de diminuir ou mesmo eliminar a aplicação de defensivos em muitas situações. Como resultado desse programa, já foram liberadas as cultivares IAC 17, IAC 100 e, mais recentemente, IAC 23 e IAC 24, portadoras de graus variáveis de resistência a percevejos e desfolhadores, além da linhagem IAC 78-2318, com resistência múltipla e à disposição dos melhoristas para uso em programas com esse fim. Em visita de inspeção a lavouras de soja infestadas pela mosca-branca em Miguelópolis, em 1997/98, os pesquisadores do IAC, André Luiz Lourenção e Manoel Albino Coelho de Miranda, verificaram que as cultivares IAC 17 e IAC 19 eram muito menos infestadas que as outras cultivares plantadas nessa região; as colônias (ovos + formas jovens + adultos) eram bem menores na face inferior das folhas dessas duas cultivares, bem como havia muito menos fumagina, o que conferia tonalidade mais verde às folhas, em contraste com a aparência quase negra das folhas de outras cultivares. Essas observações indicavam fortemente que essas cultivares poderiam ter fatores de resistência ao inseto. Para confirmação dessa observação foi desenvolvido um estudo em condições controladas (casa de vegetação) no IAC, com infestações artificiais do inseto nessas duas e em mais 18 outros materiais, incluindose as cultivares mais plantadas em São Paulo, e linhagens com resistência a insetos www.cultivar.inf.br
utilizadas no programa de melhoramento do IAC. Essa pesquisa foi transformada numa dissertação de mestrado do Curso de Pós-graduação em Agricultura Tropical e Subtropical do IAC, conduzida pela Enga Agrônoma Giuliana Etore do Valle. Comprovou-se a resistência de IAC 17 e IAC 19, verificando-se que, nessas cultivares, a mosca-branca coloca menos ovos, a colonização do inseto é reduzida e há menor atração para os adultos, quando comparadas com as demais. IAC 17 é uma cultivar de ciclo precoce (110-120 dias), de crescimento determinado, com as plantas atingindo de 65 a 85 Bayer
Folha com alta infestação de mosca-branca
cm. Apresenta resistência a percevejos e a insetos desfolhadores. IAC 19 também tem hábito de crescimento determinado, ciclo de maturação médio e altura de plantas oscilando entre 80 e 90 cm.
CULTIVAR RESISTENTE
Assim, deve-se destacar a possibilidade de uso imediato dessas duas cultivares para as regiões e/ou épocas em que a mosca-branca torna-se um problema sério na produção de soja ou mesmo em propriedades em que outras plantas afetadas direta ou indiretamente (transmissão de vírus) pela mosca-branca, como feijoeiro, tomateiro, aboboreira, hortaliças, ornamentais, são cultivadas simultaneamente ou em seqüência a esta leguminosa. O plantio dessas cultivares, aliada a outras técnicas de controle, como o uso de inseticidas altamente seletivos, deverá diminuir de forma significativa as populações da mosca-branca, beneficiando a soja contra danos diretos e outras culturas que são afetadas tanto por danos diretos como pela . transmissão de vírus. André Luiz Lourenção
Instituto Agronômico de Campinas - IAC Cultivar
11
Doenças Dirceu Gassen
Inverno com pulgões Cerais de inverno correm sérios riscos quando o assunto são os pulgões. Especialista mostra como controlá-los
O
controle biológico é um fenômeno natural entre organismos vivos que forma cadeias de relações complexas entre vegetais (produtores) e as diversas castas de animais (consumidores), resultando em equilíbrio de populações e em comunidades estáveis. Com a introdução da agricultura e o cultivo de trigo, de cevada e de aveia em áreas extensivas, criaram-se condições favoráveis à ocorrência de espécies que poderiam tornar-se praga. Os pulgões, nativos da Ásia e da Europa, chegaram ao Brasil livres de seus inimigos naturais e encontraram clima favorável e áreas extensivas cultivadas com cereais, fatores que permitiram a explosão de populações do pulgão-dos-cereais, do pulgão-da-folha e do pulgão-da-espiga, além de espécies de ocorrência esporádica (Tabela 1). Durante a década de 70, os pulgões foram o principal problema fitossanitário em cereais de inverno. Os agricultores aplicavam inseticidas de três a cinco vezes, para controle da praga, durante o desenvolvimento das culturas. Na Embrapa Trigo, em 1978, sob coordenação do pesquisador Luiz A.B. de Salles e participação de Franco Luchini, iniciou-se o programa de controle biológico de pulgões de trigo. As ações receberam apoio da FAO, da Universidade da Califórnia, dos entomólogos Robert van den Bosch, Enrique Zuñiga, Paul A. Guttierez e de outros especialistas em controle biológico. Os pesquisadores F. Luchini e L.A.B. de Salles foram substituídos por Fernando J. Tambasco e Dirceu N. Gassen, respectivamente, que deram continui12
Cultivar
dade ao programa. Com base no método clássico de controle biológico, foram introduzidas 14 espécies de himenópteros parasitóides e duas espécies de joaninhas predadoras de pulgões (Tabela 2). Em insetários da Embrapa Trigo, foram criados 3,8 milhões de parasitóides, principalmente de oito espécies: Aphelinus asychis, Aphidius ervi, A. rhopalosiphi, A. uzbeckistanicus, Ephedrus plagiator, Praon gallicum, P. volucre e Lysiphlebus testaceipes. Esses parasitóides foram liberados nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil. Em 1981, foram enviadas matrizes de parasitóides à Argentina, onde foi iniwww.cultivar.inf.br
ciado o programa de controle biológico de pulgões. No Brasil, observou-se adaptação de Aphidius uzbeckistanicus sobre o pulgão S. avenae e de Aphidius rhopalosiphi e Praon volucre sobre os pulgões S. avenae e M. dirhodum. Foi verificada diapausa estival facultativa (dormência durante o verão) dos parasitóides A. uzbeckistanicus e A. rhopalosiphi, na fase de pupa, durante o verão, no Rio Grande do Sul. Essas características sugerem que os restos culturais não devem ser queimados ou incorporados, mas, sim, mantidos na superfície do solo para servirem de refúgio aos parasitóides Abril de 2002
...
AENDA
Defensivos Genéricos
...durante o verão.
A espécie P. volucre passou a hospedar outros afídeos em plantas ornamentais, em alfafa, em ervilha e em gramíneas nativas. Os pulgões dos gêneros Rhopalosiphum e Schizaphis são parasitados com maior freqüência por Aphidius colemani e por Diaeretiella rapae. Com menor intensidade, observou-se parasitismo por Ephedrus plagiator, por Aphelinus sp. e por Praon gallicum. Os parasitóides da família Aphidiidae apresentam aspecto geral do corpo semelhante e têm aproximadamente dois milímetros de comprimento. Para diferenciação dos gêneros de adultos, usam-se desenhos das nervuras das asas anteriores. Os parasitóides fazem a postura no interior do corpo de pulgões, onde eclodem as larvas. Aproximadamente sete dias após, os parasitóides causam morte dos pulgões, passando à fase de pupa no interior do corpo do hospedeiro. O pulgão morto pelas vespas é denominado múmia, dentro da qual desenvolve-se a pupa, que dá origem a uma vespa. Os pulgões mortos por parasitóides dos gêneros Ephedrus e Aphelinus tornam-se pretos na fase de múmia. Os parasitóides do gênero Praon tecem um casulo na parte inferior do pulgão morto, onde passam à fase de pupa. As espécies do gênero Aphidius, Diaeretiella e Lysiphlebus causam morte de pulgões, conferindo-lhes coloração pardo-clara, aparentando pulgão seco, e
Espécies de pulgões citados em trigo no Brasil Nome comum
Nome científico
Pulgão-dos-cereais Pulgão-da-folha Pulgão-da-raiz Pulgão-da-espiga Pulgão-da-aveia Pulgão-do-milho Pulgão-amarelo
Schizaphis graminum Metopolophium dirhodum Rhopalosiphum rufiabdominale Sitobion avenae Rhopalosiphum padi Rhopalosiphum maidis Sipha flava
mantendo formas normais do hospedeiro. A meta inicial do programa de controle biológico foi contribuir com 10 a 15 % de mortalidade dos pulgões de trigo. Essa meta foi amplamente ultrapassada. Após introdução e adaptação dos parasitóides, houve acentuada redução das populações médias de pulgões que se mantiveram abaixo dos níveis de dano econômico. Levantamentos realizados em cooperativas e em propriedades agrícolas evidenciaram redução de 95 % de uso de inseticida para controle da praga em trigo. O impacto econômico do controle biológico de pulgões, durante a década de 80, foi calculado em 20 milhões de dólares anuais, somente na redução de custos diretos de inseticidas e de aplicações. Parasitóides secundários (hiperparasitos) hospedam pulgões com parasitóides primários, interrompendo a cadeia de controle biológico da praga. Os principais parasitóides secundários encontrados no Bra-
Parasitóides e predadores de pulgões introduzidos no Brasil para controle biológico de pulgões de trigo, hospedeiros de parasitóides e países de origem Espécie
Hospedeiro *
Origem
Hymenoptera - Aphelinidae (parasitóides) Hymenoptera - Aphelinidae (parasitóides) Hymenoptera - Aphelinidae (parasitóides) Md Aphelinus abdominalis Chile Aphelinus asychis França Md, As Aphelinus flavipes França Sg Aphelinus varipes França, Hungria Md, Sg Hymenoptera - Aphidiidae (parasitóides) Aphidius colemani** Aphidius ervi Aphidius picipes Aphidius rhopalosiphi Aphidius uzbekistanicus Ephedrus plagiator Lysiphlebus testaceipes** Praon gallicum Praon volucre
Md, As Ak, Ap, Md, Sg Sg Md, As, Sg Md, As Md, As Sg Md Md
França, Israel Checoslováquia, França Checoslováquia, Hungria, Itália Checoslováquia, Chile, França Itália Checoslováquia, França Chile França Checoslováquia, Espanha, França
Pulgões e outros insetos Pulgões e outros insetos
Israel Estados Unidos
Coleoptera - Coccinellidae (predadores) Coccinella septempunctata Hyppodamia quinquensignata
* Hospedeiros dos parasitóides nos países de origem. Ak = Acyrtosiphon kondoi; Ap = Acyrtosiphon pisum; Md = Metopolophium dirhodum; Sa = Sitobion avenae e Sg = Schizaphis graminum. ** Espécies já citadas no Brasil antes de iniciar o programa
14
Cultivar
www.cultivar.inf.br
sil foram: Alloxysta sp. (Hym., Cynipidae), Aphidencyrtus sp. (Hym., Encyrtidae), Tetrastichus sp. (Hym., Eulophidae), Asaphes sp. e Pachineuron sp. (Hym., Pteromalidae). Os pulgões em trigo também podem ser infectados pelos fungos Conidiobolus obscuros, Entomophthora planchiniana, Erynia neoaphidis e Zoophthora radicans. As joaninhas (Col., Coccinellidae), de tonalidade brilhante, são predadoras de pulgões de ocorrência freqüente nas lavouras. Cada indivíduo pode consumir mais de 20 mg de pulgões diariamente. O peso médio de pulgões adultos, em trigo, varia de 0,5 a 1,5 mg/pulgão nas espécies S. graminum e M. dirhodum, respectivamente. Entre espécies observadas com maior freqüência em trigo, destacam-se: Coccinellina ancoralis, C. pulchella, Coleomegilla quadrifasciata, Cycloneda sanguinea, Eriopis connexa, Hippodamia convergens, Hyperaspis sp., Olla v-nigrum, Scymmus sp. e outras encontradas esporadicamente. As espécies Coccinella septempunctata e Hippodamia quinquesignata, introduzidas no Brasil, não foram mais recoletadas e, possivelmente, não se adaptaram ao novo ambiente. As larvas de moscas da família Syrphidae são predadoras de pulgões, introduzindo o aparelho bucal no interior do corpo da presa, da qual extraem substâncias líquidas. Os adultos alimentam-se de néctar, de pólen e de substâncias adocicadas. Entre os sirfídeos citados em trigo, destacam-se Allograpta spp., principalmente A. exotica; Pseudodorus clavatus e Toxomerus spp. O controle químico de pulgões, através de inseticidas de ação rápida, de baixo preço e de fácil aplicação, ainda é o método preferido por muitos agricultores. Atualmente, há preocupação quanto à escolha de métodos mais permanentes e menos agressivos ao ambiente, destacandose as práticas culturais, que facilitem a sobrevivência dos inimigos naturais. Quando o uso de inseticidas for necessário, deve-se dar preferência a produtos seletivos a predadores e a parasitóides. Os pulgões passaram da condição de principal problema fitossanitário em trigo, na década de 70, com intenso uso de inseticidas, para a condição de inseto secundário após a introdução, criação massal e liberação dos agentes de controle biológico. A introdução de parasitóides para controle natural de pulgões de trigo, no Brasil, é um dos exemplos clássicos de maior sucesso prático de controle biológico de . pragas já estabelecidos no mundo. Dirceu Gassen, Cooplantio Abril de 2002
Sopro novo na Receita Agronômica Apresentação obrigatória da receita no ato da compra de produtos que trazem riscos à saúde humana e ao ambiente constitui-se em um grande avanço
C
onvenhamos, a relação de amor que o agricultor tem com sua lavoura não é a mesma que dedica a si próprio, entes queridos, amigos ou mesmo animais de estimação. Apesar de gostar da lavoura, sua relação tem mais apelo econômico do que sentimental. Quando a lavoura está sendo atacada por algum agente estranho e danoso, ele não corre a chamar um técnico para diagnosticar e receitar, ele, na maioria das vezes, simplesmente, lança mão de sua experiência acumulada. Por isso mesmo que revendas e cooperativas colocam técnicos à disposição no balcão para traduzir em receita aquilo que o agricultor já sabe. A receita, em que pese seu propalado contexto educativo, não pode ser confundida com o ato completo de uma assistência técnica. Ela se resume a um documento final do estudo técnico de uma ocorrência fitossanitária prejudicial ao bom andamento de uma lavoura, sendo obrigatória somente se for indicado um produto químico de risco à saúde humana e ao meio ambiente. Portanto, conforme posta pela Lei 7802/89, é uma forma de controle maior sobre a venda dos produtos fitossanitários. O serviço assistencial do técnico é bem mais amplo que a simples expedição de uma receita. Requer conhecimento profundo da cultura, da região e uma responsabilidade profissional que não se restringe só a resolver de imediato eventual problema agronômico do consulente, mas passa também por visão econômica e de saúde pública dos meios utilizados para obter os bons resultados esperados. O Decreto 4074/02 oferece um avanço ao descortinar a possibilidade de definir critérios sobre os produtos de risco à saúde humana e ao meio ambiente, de impacto tal, que exijam a apresentação obrigatória da receita no ato da compra. Tal qual se faz na aquisição de medicamentos com efeitos colaterais de relevante risco. É, verdadeiramente, um sopro novo na meio apagada fo-
gueira da receita agronômica. Esse direcionamento certamente terá reflexos na oferta de produtos por parte das empresas. Pois, sob pressão da sociedade a favor de produtos menos agressivos, a corrida para a apresentação de linha de produtos pertencentes, por exemplo, às classes toxicológica e ambiental III e IV poderá ser acelerada. É claro que a limitação da eficácia dos produtos é o entrave natural, ou seja, para determinadas ocorrências fitossanitárias, a ciência só nos oferta produtos das classes I e II. Mas, cônscios de seu papel moderador, os construtores do Decreto, na verdade, apostam nessa corrida pró-segurança para diminuir os casos de intoxicação no campo. As empresas vêm desenvolvendo mudanças nas formulações, atendendo a essas modernas perspectivas e cobranças do usuário; mas o Decreto anterior não permitia a alteração da composição da fórmula e o fabricante tinha o desgastante caminho de registrar um novo produto, o que desestimulava muitos. Este novo Decreto permite a alteração técnica e com prioridade, se for para tornar o produto menos agressivo. Além disso, a receita, antes específica para cada problema fitossanitário e em 5 vias, agora pode ser alargada para cada cultura assistida e em apenas 2 vias, uma para o usuário e outra para ser entregue ao estabelecimento comercial que a manterá a disposição dos órgãos fiscalizadores. Também as recomendações obrigatórias foram diminuídas, eliminando-se as extensas transcrições dos primeiros socorros em caso de acidentes, as advertências rela-
cionadas à proteção do meio ambiente e as instruções para disposição de sobras e embalagens. Entendemos que mais poderia ter sido eliminado, pois os rótulos e bulas trazem todas as recomendações em foco na receita. A receita deveria resumir-se ao produto e dosagens e alguma recomendação específica para o bom uso agronômico do produto. Pena que foi perdida a oportunidade para suprimir o dispositivo que obriga ao técnico receitar unicamente as recomendações expressas nos rótulos e bulas. Mas, ainda há tempo para corrigir nas normas complementares que deverão ser trazidas a público em 180 dias. Basta ampliar para recomendações dos rótulos, bulas e em monografias técnicas publicadas em Diário Oficial da União, com base em estudos do meio científico. Isso poderia cobrir a grave lacuna que temos em relação às culturas agrícolas de menor expressão econômica para o PIB da Nação, mas de capital importância para os agricultores que se dedicam a elas e para os usuários que as consomem. A responsabilidade dos fabricantes só haveria a partir do momento que eles incorporassem, de forma espontânea, aos rótulos e bulas essas recomendações não patrocinadas por eles. O importante é que os técnicos tenham mais fonte de informação séria e legalizada para trabalhar junto aos agricultores das pequenas culturas. Por fim, o Decreto determina que se aponte na receita as marcas comerciais presentes na região dos produtos equivalentes àqueles que foi indicado como referência para controlar a praga. Com isso, promovem-se os produtos genéricos, a bem da sociedade.
Nossa Capa
Sob suspeita
Hasime Tokeshi demonstra a importância de se ter uma visão da agricultura como um todo
Pesquisadores mostram que a soja transgênica plantada em Estados do Sul tem menor produtividade do que as variedades convencionais
O
s adversários dos produtos transgênicos no Brasil marcaram um ponto muito importante no mês de abril com a divulgação de resultados de pesquisa mostrando que a soja transgênica plantada nos Estados do Sul tem menor produtividade do que as variedades convencionais. A diferença apontada chega a nove sacas por hectare, algo em torno de 30% a menos do que se poderia obter com o produto tradicional. A pesquisa não deixa dúvidas: os agricultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná que optaram por usar sementes contrabandeadas da Argentina de soja geneticamente modificada, vão perder muito dinheiro, que alguns opositores da tecnologia ousam calcular em mais de US$ 200 milhões. Além da baixa produtividade obtida, de 17 a 20 sacas por hectare nos mesmos locais em que a soja convencional produziu de 28 a 30 sacas, a soja Maradona, como é chamado o produto introduzido ilegalmente no país, apresentou ainda rachaduras no caule e especial suscetibilidade a pragas. Mais do que isso, sofreu ataques de insetos como o burrinho, que não costuma atacar soja (só a batatinha) e até mesmo não mostrou os resultados esperados em relação às plantas daninhas, já que os agricultores usaram mais herbicidas do que o normal para controlá-las. Com isso, perderam os ganhos que pensavam obter com a economia de herbicidas. Embora a pesquisa tenha sido encomendada pelos Movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA), dos Atingidos por Barragens (MAB), dos Sem-Terra (MST) e da organização Via Campesina, tradicionais e abertos inimigos da nova tecnologia, sua lisura não está em dúvida. Foi realizada pelo professor Rubens Onofre Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina, e pelo pesquisador Deonísio Destro, que trabalha com soja há 22 anos. A divulgação dos resultados foi motivo de celebração pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul, inimigo declarado dos transgênicos, embora não tenha conseguido sustar 16
Cultivar
Hasime Tokeshi
Transgênicos
Morfologia das raízes e fitohormônios: raízes de milho reagindo ao solo com produção de deformações e raízes laterais
Doenças e pragas agrícolas geradas e multiplicadas pelos agrotóxicos o plantio em mais de um milhão de hectares. Não se conhece nenhuma manifestação contra o trabalho, além de uma nota explicativa divulgada pelo ex-presidente da Associação Brasileira de Sementes (Abrasem), Ywao Miyamoto, mostrando que as sementes de soja geneticamente modificada plantadas no Sul são contrabandeadas e de variedades próprias para as condições edafo-climáticas argentinas e não para o Brasil. Nada se ouviu dos defensores dos organismos geneticamente modificados, ao que parece cansados da luta para sua liberação ou sem vontade de polemizar no momento em que a questão se encontra em discussão na Justiça Federal e no Congresso Nacional.
EUROPA E USA
E não foi só no Brasil que surgiram más notícias sobre transgênicos: a Índia e a China adotaram medidas de maior controle na importação de soja geneticamente modificada, e na França uma comissão de notáveis, designada pelo governo para estudar o assunto, www.cultivar.inf.br
concluiu pela necessidade de rigorosa cautela. Os sábios franceses consideram que pesquisas em laboratório são muito diferentes dos ensaios de campo e insuficientes para comprovar a ausência de efeitos danosos ao ambiente. Já uma pesquisa junto ao público consumidor francês mostrou que 55% das pessoas acreditam que os OGMs representam uma promessa para o futuro, contra 40% que os condenam, simplesmente. Porém, 70% dos franceses se consideram mal informados sobre a tecnologia e 90% desconfiados. Já os Estados Unidos estão aumentando a área plantada de transgênicos e alardeando ganhos importantes com seu uso, especialmente em economia de produtos fito-sanitários. A Monsanto, fabricante do herbicida líder de vendas, Roundup, anunciou crescimento de 56% em seus lucros no primeiro trimestre do ano. Teve redução de 6,5% nas vendas do herbicida (US$ 1,31 bilhão para US$ 1,22 Bilhão), porém um aumento de 17% nas vendas de sementes, neutralizou a queda e ainda . proporcionou crescimento no lucro. Abril de 2002
G
rande tem sido o progresso das ciências agronômicas, bem como a especialização dos seus profissionais, principalmente dentro das universidades e centros de pesquisa estatais e privados. Como ocorre em outras áreas, a agronomia também está gerando super especialistas, principalmente dentro das universidades, formando profissionais incapazes de analisar os problemas agrícolas como um todo . O produtor tem que plantar e cultivar qualquer planta e, simultaneamente, resolver todos os problemas de nutrição, adubação, correção de solo, manejo de solo e culturas, controle de doenças e pragas, comercialização, crédito e assistência técnica. Professores e pesquisadores ganharam excelência em conhecimentos somente na sua área de pesquisa, perdendo a visão global do problema enfrentado pelos agricultores. Como conseqüência, estamos formando agrônomos incapazes de identificar doenças e pragas corriqueiras e responder com acerto a consulta do produtor. É preciso pensar que além dos objetivos profissionais do agrônomo, de orientar o controle dos problemas do produtor, deve existir a preocupação com o meio ambiente. O uso indiscriminado de fungicidas, inseticidas e adubações desequilibradas estão causando desvios metabólicos nas plantas, reduzindo a bioAbril de 2002
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diversidade do ecossistema como um todo. O uso inadequado dos agrotóxicos advém do desconhecimento dos seguintes pontos: a) Os artrópodos (insetos e ácaros) são fitófagos que não têm enzimas proteolíticas. Eles se alimentam de aminoácidos livres fornecidos pelas plantas ou por microrganismos simbiontes do aparelho digestivo dos artrópodos Panizzi e Parra (1991). b) Todos os desequilíbrios nutricionais das plantas levam, direta ou indiretamente, ao acúmulo de açúcares e aminoácidos livres e isso as tornam suscetíveis às doenças e pragas. O desconhecimento dos efeitos colaterais dos agrotóxicos, corretivos e fertilizantes estão gerando nas culturas maior necessidade de agrotóxicos, criando um círculo vicioso, o qual é necessário romper e corrigir para que a nave espacial Terra seja capaz de sobreviver ao ataque da terrível praga Homem, que a dominou e a trata como se fosse sua dona, considerando-se superior aos demais seres vivos do planeta. O homem só é capaz de enxergar as causas do ponto de vista humano e esquece que ele faz parte do ecossistema e que qualquer ser vivo é importante neste ecossistema. O que o homem chama de pragas e doenças, para a mãe natureza nada mais é que a polícia sanitária responsável pela eliminação dos indivíduos doentes ou em desequilíbrio. Para ter Cultivar
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A importância da micorrizas para as plantas advém da sua ampla distribuição, pois 83% das dicotiledôneas, 79% das monocotiledôneas e 100% das gimnospermas possui pelo menos uma micorriza. A micorriza vesicular arbuscular (MVA) é a que predomina nas plantas tropicais. A sua importância cresce nos solos pobres da Amazônia e Cerrado, onde o nível de fósforo e
Fig. 01
Fósforo solúvel em água extraído nas raízes (R), hifas (H) e solo bruto (BS) em trevo branco micorrizado. Adaptado de Römheld (1998)
Colonização de raízes
Fig. 02 micronutrientes são fatores limitantes para o crescimento dos vegetais. Nos solos tropicais úmidos, o crescimento das plantas originárias deste ecossistema é praticamente dependente das micorrizas para crescerem nas condições naturais, sem adubos solúveis.
ABSORÇÃO DE FÓSFORO
No caso da mandioca , o exemplo da Figura 1 se adapta perfeitamente para explicar a ação da micorriza vesicular arbuscular ( MVA ). Nesta planta, a ação da micorriza é responsável pela sua capacidade de crescer em solo com 1 ppm de fósforo disponível nos solos do Cerrados e da Bacia Amazônica. Na Figura 1 o trevo branco cresceu em vasos com e sem MVA e o fósforo disponível foi quantificado antes e depois do cultivo. O controle do fósforo foi feito junto às raízes, isoladas, com tela de 30 mm que impede os pêlos absorventes de passarem por ela. À distancia de 20 mm das raízes foi colocada uma segunda tela de 0,45 18
Cultivar
P
+
NH4
Zn
Cu
+
NH 4
-
NO3
K R-COOH
Pi
Pi MnOx Pi Porg
www.cultivar.inf.br
MO
Mn 2+
Abril de 2002
%
m raízes colonizadas p/planta
Caule
Raízes
de fósforo (mg/planta)
Ganho %
Controle (-MVA) G. macrocarpus G. intraradices G. fasciculatum
0 58 27 28
0 189,5 7,1 19,2
0,46 5,27 0,45 1,10
0,25 5,77 0,32 0,87
0,29 5,86 0,30 0,74
0 1.920 3 155
MICROFLORA EPÍFITA E DA RIZOSFERA E SUA IMPORTÂNCIA NA NUTRIÇÃO E CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS O controle biológico de doenças e pragas é um fenômenos extremamente corriqueiro nos centros de origem das plantas cultivadas. O exame do problema nesses centros indica que as plantas coevoluíram com os microorganismos, por associação em simbiose mutualística, simbiose neutra ou associativa. Neste sistema, as plantas excretam sais minerais, aminoácidos, ácidos orgânicos e açúcares para favorecer o crescimento de microorganismos epífitos ou da rizosfera. Esta associação constante gerou a interdependência entre microorganismos e plantas superiores. Os estudos da fixação associativa de nitrogênio em gramíneas mostram que os elementos essenciais à planta não podem ser isolados das necessidades da microflora associativa, se quisermos manter as condições ótimas de produção e controle biológico de pragas e doenças, Tokeshi (1991). Se admitirmos que a ocorrência de doenças e pragas são resultados do desequilíbro ecológico, microbiológico e nutricional da planta, fica evidente que nos centros de origem das plantas, as doenças e pragas não são devastadoras porque o referido equilíbrio é mantido. Quando domesticamos a planta e a cultivamos em condições diferentes, em monocultura, adubação química e agrotóxicos, estamos destruindo o ecossistema original, a microflora e fauna benéfica que protegia a planta. A destruição do ecossistema original en-
ABSORÇÃO DE ZINCO, COBRE, AMÔNIA E POTÁSSIO
RM = Feixe de hifas MO = Matéria orgânico R = Radical orgânico C-COOH = Ácido orgânico
[RM]
Espécie de MVA Glomus
ciência de absorção de fósforo. Os estudos gerais de MVA já determinaram que a extensão das hifas no solo varia de 1 cm a 1 metro e o diâmetro de 1 a 12 mm. A eficiência de absorção de fósforo decresce à medida que a hifa se afasta das raízes. As MVA possuem capacidade de disponibilizar fósforo orgânico quelatizado na matéria orgânica por meio de enzima fosfatase ácida. A atividade da fosfatase ácida de Glomulus manihotis é maior entre 1 a 2 cm das raízes e decresce após esta distância Tarafdar e Marschener (1994). Adubações elevadas de fertilizantes fosfatados anulam ou inibem esta atividade de MVA.
Nprot R-NH2
Concentração
Adaptado de Römheld (1998)
Esquema da dinâmica de absorção de nutrientes na planta das hifas de micorrizas (MVA) e outros componentes de raízes ectomicorrizadas. Adaptado de Marschner (1995) MnO3 = Óxido de Manganês Nprot = Nitrogênio proteico Pi = Fósforo mineral Porg = Fósforo orgânico
Peso seco (grama por planta)
As MVA são ainda responsáveis pela absorção de outros nutrientes como potássio, zinco, cobre, amônia e, possivelmente, nitrato, manganês, cálcio, magnésio e sulfato. No esquema da Figura 2 verificamos que os elementos dentro dos círculos são seguramente absorvidos diretamente pelas hifas da MVA. Os elementos com absorção com dados ainda incompletos foram omitidos. Os dados disponíveis não permitem ainda quantificar em condições de campo os efeitos da MVA na absorção, devido às mudanças morfológicas e fisiológicas causadas pela própria MVA nas raízes micorrizadas. Na Tabela 2 são apresentados os efeitos de Glomus mossae em milho crescendo em solo calcário. Verifica-se que a MVA aumenta os teores de fósforo, zinco e cobre. Há redução nos teores de potássio, cálcio, manganês, ferro e boro. A presença de MVA controlou o excesso de cálcio, manganês, ferro e boro, resultando em aumento de produtividade, devido ao equilíbrio nutricional gerado na planta. Plantas micorrizadas têm a tendência de ter sistema radicular menos desenvolvido e profundo, podendo por isso sofrer mais estresse de falta de água nos períodos de seca. O mais freqüente, porém, é que com a morte das micorrizas o crescimento seja retardado e aumente a suscetibilidade a pragas e doenças, devido ao desequilíbrio nutricional e ao acúmulo de aminoácidos livres na planta. O uso de agrotóxicos como herbicidas hormonais (glifosato), fungicidas e inseticidas matam freqüentemente as micorrizas ou causam desbalanço nutricional o que leva à suscetibilidade a pragas e doenças. Este ponto será enfatizado, pois a falta de micronutrientes que atuam como cofatores de enzimas leva ao acúmulo de aminoácidos e açúcares livres na planta e aumento de suscetibilidade a pragas e doenças. Abril de 2002
Concentração de nutrientes em milho com e sem micorriza Glomus mossae em solo calcário Tab. 02
IMPORTÂNCIA DAS MICORRIZAS NO EQUILÍBRIO NUTRICIONAL DAS PLANTAS
Efeito da espécie de micorriza vesicular arbuscular ( MVA ) na colonização das raízes, peso seco e fósforo absorvido em Sorgo bicolor ( sorgo ) durante 48 dias a 25oC
mm, impedindo a passagem das hifas da MVA. Após o crescimento da planta, analisou-se o fósforo disponível restante no solo dos vasos com e sem MVA. Em presença de MVA, 80 % do fósforo da região H (hifa), distante 20 mm das raízes, havia sido absorvido. Como as hifas pararam na tela colocada a 20 mm das raízes, após este ponto o solo manteve 80 % do fósforo disponível sem ser absorvido. Na ausência de MVA, as raízes foram incapazes de absorver o fósforo disponível e 80 a 90 % se manteve no solo na região H (hifa), distante 20 mm das raízes. Após a segunda tela (região BS), o fósforo disponível foi igual ao do vaso com MVA, pois esta também não atuou após a segunda tela. Outros experimentos feitos com este sistema demonstraram que as hifas MVA foram capazes de absorver fósforo a 11 cm de distância das raízes, aumentando muito o volume de solo explorado pela planta e seu simbionte. Liet et al (1991), Römheld (1998). A eficiência e eficácia das hifas MVA se deve ao seu pequeno diâmetro e ramificação no solo, aumentando a superfície de absorção do fósforo e, indiretamente, das raízes. Alguns pesquisadores citam aumento da superfície das raízes em 700 %. As hifas MVA são capazes de excretar ácidos orgânicos que solubilizam cristais de fosfato de ferro, alumínio e cálcio. Possuem sistema de vacúolos que armazenam polifosfatos que participam da geração de ATP e transporte de fósforo e carboidratos, em fluxos opostos nas raízes e hifas. A eficiência de MVA depende da espécie, planta e ambiente, como pode ser observado na Tabela 1 obtido de Römheld (1998). Nesta tabela verificamos que a simples colonização das raízes não correlaciona com a efi-
Tab. 01
mos uma idéia mais completa sobre o exposto, procuraremos dar uma visão de como a planta interage com o solo e a biodiversidade aí existente.
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Nutrientes minerais Concentração no peso seco dos caules Glomus mossae
mg por grama
mg por grama
Sem
K 17
P Mg Ca 2,1 4,0 9,0
Zn Cu Mn Fe 10 5,6 139 88
B 46
Com
12
3,7 4,1 5,3
36 7,1 95
55
58
Adaptado de Römheld (1998)
Cultivar
19
Luz
Peso seco (mg)
Rh
(mEM-2S-1)
Caule
MVA
Raiz
Comprimento de raízes (m planta)
-
-
390 190
506 248
306 105
31,7 11,3
+ +
+ +
390 190
592 326
168 73
17,7 6,4
Adaptado de Marschner (1995)
volveu a microflora epífita e a rizosfera, criando, assim, condições para o surgimento de grandes epidemias de doenças e pragas da atualidade. Na natureza, a luta para sobrevivência das espécies tem por base o melhor aproveitamento da energia. Como as plantas alimentam as micorrizas, fornecendo de 20 a 50% dos produtos da fotosíntese, isto significa que esta simbiose é benéfica para sobrevivência das espécies associadas. O nível de interdependência mencionado abrange micorrizas, rizobactérias promotoras de crescimento e bactérias fixadoras de nitrogênio, de acordo com Döbereiner, J. (1979), Li e Liu ( 1986 ) e Ruschel (1979 ).
CONSIDERAÇÕES GERAIS
O sistema radicular é muito variável com as espécies de plantas e se caracteriza pela ampla adaptabilidade que as raiz apresentam em resposta à interação com o ambiente externo e interno da planta. Como o solo é extremamente variável nas características físico-químicas , as raízes têm que apresentar esta plasticidade para se adaptar a estas mudanças do solo. Os estudos de localização de adubos mostram muito bem a adaptação das raízes na presença de nutrientes. As mudanças da concentração de fitohormônios são respostas que as raízes produzem para superar as barreiras físico-químicas impostas pelo solo. Veremos alguns exemplos de resposta das plantas ao ambiente interno e externo.
Fig. 03
EFEITO DE FATORES INTERNOS E EXTERNOS NO CRESCIMENTO DA PLANTA
Esquema da ponta das raízes. IAA = ácido indolacético; CIT = citoquininas; X = sensor não identificado possivelmente (ABA) IAA
CIT
RAÍZES LATERAIS
PÊLOS ABSORVENTES ZONA DE CRESCIMENTO ZONA MERISTEMÁTICA
As plantas fornecem diariamente ao sistema radicular de 25 a 50 % dos produtos da fotossíntese para o seu crescimento e manutenção. Cerca de 50% dos carboidratos enviados para as raízes são usados somente para a respiração e produção de energia (ATP). Qualquer fator que interfira na fotossíntese, como baixa luminosidade e o uso de agrotóxicos, afeta mais o cresciCultivar
Nitrogênio aplicado kg/ha 0 150
Peso seco por planta (gramas) Caule 186 352
Grão 54 138
Raízes por planta Comprimento (m) 2.189 2.521
Peso seco raízes /
Peso seco (g) 42 38
caule 0,23 0,11
Adaptado de Anderson (1988) e Marschner (1995)
X COIFA
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Abril de 2002
MORFOLOGIA DAS RAÍZES E FITOHORMÔNIOS
Plantas que têm seu centro de origem em solos ricos em cálcio, no geral são muito sensíveis a pH ácidos. É por esta razão que a alfafa, lentilha, grão de bico, melão, ervilha e algodoeiro são plantas que requerem solos neutros ou alcalinos para crescerem adequadamente. Devido a seleção e domesticação , algumas variedades destas plantas são mais tolerantes a solos ácidos, mas sempre crescem melhor em solos neutros ou alcalinos. Plantas intolerantes a solos ácidos, no geral, não toleram alumínio e, por isso, tem o alongamento das raízes inibido por este elemento. O cálcio protege as raízes do alumínio tóxico. O nível de proteção varia com a espécie e variedade da planta, dependendo da concentração de outros cátions do solo. Dessa forma, o nível de cálcio não é constante para controlar toxidez de alumínio no solo, ele é dinâmico variando com o pH do solo. Por exemplo, no algodoeiro de pH 5,6, o nível de cálcio de 1 mM na solução do solo permite o máximo de crescimento radicular. No pH 4,5, o nível de cálcio requerido é de 50 mM para dar o mesmo efeito. No geral, a relação cálcio dividido pelo soma de cátions da solução do solo (total de cátions) deve ser de 0,15, para se obter crescimento radicular máximo. Nos solos tropicais ácidos, onde o pH é muito baixo, a simples calagem superficial não corrige o problema no subsolo, devido à pouca mobilidade do cálcio na ausência do gesso como ele-
Na Figura 2 podemos verificar que a resposta imediata das raízes às mudanças físico-químicas do solo são resultantes do fluxo e produção dos fitohormônios. A coifa das raízes, além de atuar como lubrificante para o crescimento radicular, é o sensor que detecta a resistência do solo à penetração e determina maior ou menor alongamento das raízes. A coifa controla, ainda, a emissão de sinais para a síntese e efluvio de fitohormônios para produção de raízes secundárias, pêlos absorventes, maior ou menor liberação de moléculas de baixo peso molecular e o crescimento da microflora externa. Há, portanto, similaridade das funções da ponta dos dedos e suas funções com a ponta das raízes. De acordo com o esquema das raízes, a sua ponta é produtora do estímulo da sua resposta ao ambiente externo. Assim, se aplicarmos um fungicida sistêmico como benomil, fossetil alumínio ou abamectina, interferimos na capacidade de resposta das raízes gerando mudanças no suprimento de carboidrato, fitohormônios, micronutrientes ou exsudatos de raízes, aumentando a sua suscetibilidade a pragas e doenças da parte aérea ou raízes.
MACRONUTRIENTES (N, P, K)
Os estudos sobre a influência dos macronutrientes (N, P, K) no crescimento das raízes, feitos em condições de campo, são numerosos e mostram claramente que são elementos essenciais para o crescimento do sistema radicular e do caule. A localização do adubo em diferentes profundidades e quantidades, muda a quantidade e superfície total das raízes. Esta resposta é nítida para o nitrogênio e fósforo na maioria das plantas. No caso do potássio, a resposta não foi significativa, provavelmente devido à extrema solubilidade do elemento e mobilidade no perfil do solo. Na Tabela 4 são apresentadas as respostas em se tratando de, nitrogênio em milho, no campo, em relação ao crescimento de caule e raízes. Nas gramíneas, as raízes crescem mais nas regiões onde o nitrogênio e fósforo foram aplicados, mostrando a adaptabilidade das raízes à mudança de fertilidade e a sua sensibilidade às mudanças do ambiente solo. Se o elemento está uniformemente distribuído no solo, o enraizamento é uniforAbril de 2002
me, se estiver concentrado lateralmente, as raízes laterais vão predominar na profundidade onde o elemento estiver concentrado. O uso de adubos minerais solúveis e agrotóxicos, na agricultura moderna, causa a destruição agregada do solo e, como conseqüência, teremos a formação de pé de grade ou arado. O encharcamento e anaerobiose existentes nesta área interferem no crescimento das raízes, que gastam muito mais energia para ultrapassar esta barreira físico-química e se tornam mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças.
PH DO SOLO, RELAÇÃO CÁLCIO E TOTAL DE CÁTIONS DA SOLUÇÃO DO SOLO
FATORES QUÍMICOS DO SOLO
FORNECIMENTO DE CARBOIDRATOS
20
Efeito do suprimento de nitrato de amônia (NH4NO3) no caule e raízes do milho durante 15 semanas de crescimento no campo
Ação dos ácidos fenólicos no peso fresco de raízes de ervilha crescendo em soluções com níveis distintos de nitrogênio Tab. 05
Simbionte
mento radicular do que a parte aérea. As plantas micorrizadas e com Rhizobium usam de 15 a 50 % do carboidrato para alimentar os microorganismos simbiontes. Desta forma, como 83 % das dicotiledôneas, 79 % das monocotiledômneas e 100 % da gimnospermas têm micorriza, o custo da manutenção das micorrizas representa pelo menos 15 a 30 % dos carboidratos fotossintetizados pela planta. Como a natureza não perdoa desperdício, deve haver uma razão muito forte para que esta simbiose mutualística seja mantida e coevoluido com as plantas. Na Tabela 3 verificaremos que em ervilhas crescendo com pouca luz a presença de Rhizobium (Rh) e micorriza (MVA) é prejudicial à planta pela competição pelos carboidratos e isto reflete no crescimento de caules e raízes. Sendo os Rhizobium e micorrizas fundamentais na absorção de nutrientes essenciais, verificamos que qualquer produto ou manejo que reduza a fotossíntese é prejudicial às plantas ou a seus simbiontes associados. O uso de fungicidas sistêmicos como o benomil, que tem ação erradicante sobre as micorrizas, prejudica, portanto, a planta por impedir a absorção de micronutriente zinco e cobre, essenciais no sistema de defesa e crescimento das raízes. A simples aplicação de fungicidas e inseticidas à base de carbamatos aumenta a suscetibilidade da planta aos ácaros e oídios, devido a mudanças fisiológicas no vegetal, que o torna mais palatável e nutritivo a estes agentes (pragas e doenças) refletindo diretamente no crescimento radicular via fitohormônios nas raízes e exsudatos.
Tab. 04
Tab. 03
Crescimento do caule e raízes de ervilha durante 35 dias com luminosidade alta e baixa em presença e ausência de Rhizobium (Rh) e micorriza (MVA)
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Ácidos fenólicos Nenhum (controle)
Peso fresco (grama por planta) Nitrogênio Alto (15 mM) Baixo (1,5 mM) 0,52 0,39
Percentagem de inibição (baixo nitrogênio) 0
Ferúlico
0,56
0,14
64
Vanílico
0,54
0,22
44
p-Cumárico
0,54
0,11
72
p-Hidroxibenzólico
0,54
0,33
15
Adaptado de Marschner (1995)
Cultivar
21
Ácido graxo 1 mM (100g)-1 de solo Nenhum (controle) Ácido acético (C2) Propiônico (C3) Butírico (C4) Valérico (C5)
Peso seco de raízes em grama por planta
Percentagens de inibição sobre o controle
1,70 1,40 1,00 0,90 0,29
0 18 41 47 83
Adaptado de Marschner (1995)
RIZODEPOSIÇÃO E EXSUDATOS DE RAÍZES Como já foi mencionado anteriormente, 30 a 60 % dos produtos da fotossíntese são consumidos pelas raízes. Deste consumo, a respiração da planta e micorrizas usam 16 a 76% e a rizodeposição no solo de 4 a 70%, totalizando 42 a 90% na maioria das espécies de plantas, Lynch e Whipps (1990). A quantidade de carbono depositado no solo aumenta em plantas sob estresse de solo compactado, anaerobiose, seca, deficiência mineral, microflora da rizosfera e efeitos colaterais de agrotóxicos.
Modelo de fluxo de carbono na rizosfera com exsudação de moléculas de baixo peso molecular ( MBPM ) e ciclagem interna por catabolismo nos microrganismos Fig. 04
mento transportador do cálcio em profundidade. Isso porque o cálcio não é transportado pelo floema para a extremidade das raízes, onde o ocorre o seu alongamento. Esse fato nos obriga a aplicar sempre calcário e gesso simultaneamente para obter mudança de pH no subsolo e, assim, ter adequada relação cálcio/cátion total na solução do solo. Quando o solo está compactado e encharcado, a respiração das raízes e microorganismos gera gás etileno que permanece junto às raízes, inibindo o seu crescimento e aumentando o crescimento dos pêlos absorventes. Todas estas respostas estão associadas a fitohormônios induzidos pelo receptor junto a coifa das raízes (Figura 3). O papel do cálcio neste sistema ainda não está totalmente esclarecido, mas é um elemento participante do metabolismo radicular.
pé de grade ou arado que, em poucas horas de encharcamento, produz as MBPM, inibindo o crescimento das raízes. Um exemplo da ação inibidora pelo ácido fenólico é apresentado na Tabela 5, onde a inibição se torna bastante evidente comparada com o controle. Na Tabela 6 são mostrados exemplos de ácidos graxos na inibição radicular, adaptado de Marschner (1995).
A região apical das raízes , em particular, está constantemente coberta por uma camada mucilaginosa produzida pela raízes, formada basicamente por polissacarídeos (20 a 50 %) formados por cadeias de ácido poliurônico. A quantidade de polissacarídeo produzida é proporcional à velocidade de crescimento da extremidade das raízes. No solo, os polissacarídeos são alimentos para bactérias e fungos que degradam os polissacarídeos. Estes, em combinação com microorganismos e seus polissacarídeos e partículas do solo, formam o mucigel. São os mucigeis que dão estabilidade aos agregados do solo e geram, ao final, os macroporos. Os agregados do solo podem conter até 40 % de mucigel ou mucilagens. A presença das mucilagens nas raízes é extremamente importante em solos contaminados por metais pesados como chumbo, mercúrio, cobre e cádmio porque formam complexos com os metais e impedem a sua absorção pelas raízes. Em solos ácidos com alumínio tóxico, as mucilagens atuam da mesma forma, tirando da solução do solo o alumínio e permitindo que as raízes cresçam sem a toxidez do metal. Um ponto crítico da fisiologia das raízes pode ser observado quando as plantas crescem em solos deficientes em nutrientes como fósforo, zinco, ferro e manganês. Nestas condições, as plantas mu-
Moléculas de alto peso molecular resultante do húmus como ácido fúlvico, fitohormônios (IAA) e proteínas, no geral , estimulam o crescimento radicular. Fenômeno oposto ocorre com moléculas de baixo peso molecular (MBPM), como álcool etílico, etileno, ácido butírico, ácido valérico, ácido acético, ácido málico, ácido oxálico, ácidos graxos de cadeia curta e ácidos fenólicos. As MBPM surgem durante a fermentação dos exsudatos das raízes e matéria orgânica em decomposição anaeróbica, em solos encharcados ou compactados. Quando aplicamos fertilizantes, herbicidas e fungicidas que matam os microorganismos benéficos e plantas invasoras, são criadas as condições para a fermentação anaeróbica dos exsudatos das raízes, dispersão de argila e perda de agregação de partículas do solo. A conseqüência deste fato é a formação de Cultivar
MICROORGANISMOS DA RIZOSFERA NÃO PATOGÊNICOS
Como vimos anteriormente , 25 a 50 % dos produtos da fotossíntese são translocados e usados nas raízes. A maioria dos fotossintetizados acaba no solo pelos exsudatos radiculares, mucilagens, escamação e morte de células dos pêlos absorventes. Este conjunto de matéria orgânica recebe o nome de rizodeposição (Figura 4). Esta matéria orgânica representa energia que é usada por organismos do solo. Isto pode ser facilmente demonstrado contando o número de microorganismos no solo e no rizoplano, e a proporção encontrada é de 1 : 5 a 1 : 50, dependendo da idade, espécie e condições de crescimento do vegetal. Como regra geral, de 75 a 80 % do carbono orgânico provém das raízes. A população de microorganismos é limitada principalmente pelo nível de nitrogênio da rizodeposição. As leguminosas e gramíneas que fixam nitrogênio atmosférico têm maior número de microorganismos por exsudarem mais aminoácidos que as não fixadoras. Quando adubamos as plantas com excesso de nitrogênio em cobertura ou fazemos aplicações de agroquímicos que impedem a síntese de proteínas, os aminoácidos acumulam nas folhas e raízes, aumentando a exsudação de aminoácidos e açúcares no solo. Estes exsudatos atuam como estímulo químico e induzem a germinação de esporos de fungos patogênicos (Fusarium, Pythium, Phytophthora e Rhizoctonia) e bactérias fitopatogênicas (Pseudomonas solanacearum e Pseudomonas spp). O aumento do número de patógenos no rizoplano rompe a resistência natural da planta e surge o processo patogênico (doença ) nas raízes do vegetal. Muitas bactérias benéficas do rizoplano que fixam nitrogênio de forma associativa e as micorrizas, em presença de excesso de nitrogênio amôniacal, nítrico e aminoácidos, usam este nitrogênio, passando a atuar como parasita da planta simbionte. Com os simbiontes atuando como parasitas e maior consumo de produtos da fotossíntese e o aumento
MUCILAGEM E MUCIGEL
MOLÉCULAS DE BAIXO PESO MOLECULAR (MBPM)
22
dam os exsudatos das raízes e tornam disponível os elementos em falta por meio de ácidos orgânicos que quelatizam os minerais, tornando-os disponíveis. Isto já foi demonstrado em várias plantas, e na Tabela 7 são apresentados os dados de Marschner (1995), onde várias leguminosas usam ácidos distintos para obter a liberação do fósforo insolúvel do solo.
Os principais componentes da rizodeposição são: a) exsudatos de MBPM (ácidos orgânicos, aminoácidos, açúcares e álcoois), b) gomas ou mucilagens associados à coifa e c) escamação dos tecidos e células radiculares, devido à morte dos pêlos absorventes e suberificação das raízes. Na Figura 4 são apresentados de forma esquemática os componentes da rizodeposição e os produtos secundários resultantes da sua degradação, absorção por microorganismos, até a sua liberação como CO2 para a atmosfera e formação de novas MBPM, como matéria orgânica no solo. Quando a microflora é diversificada, o período de residência dos fotossintetizados no solo é maior, devido a sua ciclagem na forma de novos microorganismos até a sua liberação final como CO2 e MBPM no solo. Os exsudatos de raízes abrangem as MBPM liberadas ou secretadas pelas raízes. No entretanto, são as mucilagens, exoenzimas e fitosideróforos que exercem grande influência na fisiologia das raízes e que são responsáveis pela agregação de partículas do solo e formação dos macroporos. Devido à ação sensorial da ponta das raízes é esta que comanda a quantidade e qualidade dos fitohormônios produzidos, bem como o tipo de exsudato liberado (Figura 3). Quando o solo está compactado, passando de 1,2 g cm3 para 1,6 g cm3, o alongamento radicular é drasticamente reduzido, mas o consumo de produtos da fotossíntese dobra com mais exsudação de MBPM e a formação de agregados aumenta na periferia das raízes. Os exsudatos radiculares mudam sob a ação de fatores internos e externos da planta, estado nutricional e dinâmica dos nutrientes do rizoplano e rizosfera. A grande compactação do solo e aeração dele resultante muda drasticamente os exsudatos radiculares e aumenta as podridões radiculares na maioria das plantas.
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Abril de 2002
Abril de 2002
Ácidos orgânicos exsudados das raízes crescendo em solo deficiente em fósforo
Tab. 06
Tab. 06
Efeito de ácidos graxos voláteis nas raízes de arroz 28 dias após o transplante
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Exsudatos de raízes frescas avaliadas em mMg -1 em 24 horas
Espécies de leguminosas
Ácidos orgânicos totais
Malônico
Fumárico
Málico
Cítrico
Soja
2,83
0
1,03
0,78
1,02
Grão de bico
66,54
7,04
6,87
12,67
35,63
Amendoim
47,21
0
24,44
12,84
9,17
Feijão de porco
6,17
0,34
0,73
4,31
0,79
Adaptado de Marschner (1995)
Cultivar
23
Fig. 04
pelos herbicidas em sub substancial da exsudação Processos biológicos e bioquímicos que levam aos desvios dose. de açúcares e aminoácimetabólicos, ataque de artrópodos e doenças Recentemente , os surdos, o sistema radicular se tos de Cancro Cítrico torna mais vulnerável aos (Xanthomonas axonopodis) patógenos das raízes e da nos pomares na região norparte aérea. Como consete do Estado de S. Paulo qüência final, aumentaestão associados aos pomamos a suscetibilidade da res com ataque da Clorose planta a pragas, doenças Variegada dos Citros (Xyle ácaros devido a maior lela fastidiosa). Para conexcreção de aminoácidos trolar a cigarrinha vetora e carboidratos livres. Se lidesta última doença emgarmos os fatos acima pregou-se o herbicida glicom os efeitos colaterais fosato na vegetação das da aplicação de inseticiáreas periféricas dos pomadas, fungicidas, acaricires cítricos. A deriva dos das, nematicidas e adubos produtos pode ter causaquímicos de alta solubilido bloqueio do sistema de dade, verificamos que os defesa da planta causando efeitos colaterais resultam a explosão do Cancro Cíno acúmulo de aminoátrico na região. Este é um cidos e açúcares livres nas exemplo típico de medida folhas e extremidades das de controle com visão parraízes. Com isto, fica evicial e unilateral do probledente que a ocorrência de ma. doenças e insetos pragas Os resultados têm sido nas culturas nada mais é desastrosos, pois a própria que o resultado do deseClorose Variegada dos Ciquiliíbro nutricional da tros (Xyllela fastidiosa) é planta, refletindo nos exum reflexo do aumento de suscetibilidade da planta pelo uso exasudatos radiculares e foliares. Na Figura 5 apresentamos o esquema gerado e inadequado de agroquímicos. Com o abandono dos agrodos processos biológicos e bioquímicos que levam aos desvios metatóxicos convencionais e retorno do uso de Calda Sufocálcica e Calbólicos e à suscetibilidade a pragas e doenças. da Bordaleza, a Xyllela fastidiosa está deixando de ser problema em muitos pomares cítricos. CONCEITOS FINAIS O equilíbrio microbiológico gerado em pomares abandonados, nos quais os sintomas da Xyllela fastidiosa desapareceram, é uma O uso de adubos químicos extremamente solúveis, herbicidas, outra prova de que muitas doenças iatrogênicas (geradas pelos agroinseticidas, fungicidas, nematicidas, bactericidas e preparo do solo químicos) estão se agravando pelo uso inadequado de agrotóxicos com equipamentos pesados estão degradando o ambiente solo. As nas culturas. Há, portanto, necessidade dos professores, técnicos e derivas de herbicidas por quilômetros de distância submetem as produtores adotarem uma visão mais holística das causas e controplantas a sub doses 100 a 1000 vezes menores que as recomendadas le de pragas e doenças antes de simplificarem o problema, recomenpara as culturas. Estas sub doses não produzem sintomas de toxidando aplicação de agrotóxicos sem os devidos cuidados, pois muidez nas plantas acidentalmente atingidas, mas causam o bloqueio tas vezes ao invés de curar a planta, acabam gerando novas doenças do sistema de defesa. Os herbicidas hormonais, em particular o e pragas. É de suma importância ao recomendar o uso de agrotóxiglifosato, bloqueiam a síntese de fitoalexinas nas plantas e, por isso, cos, fertilizantes e corretivos pensar no ecossistema como um todo, transformam as plantas invasoras daninhas de altamente resistenincluindo o homem, o trabalhador rural, a saúde dos consumidores tes a suscetíveis a podridões de raízes por Fusarium, Pythium, Rhie pensar na responsabilidade nossa de deixarmos o solo sadio para zoctonia Phytophthora. As plantas cultivadas com doses de 0,1 a 0,001 os nossos descendentes. das doses recomendadas podem não mostrar sintomas de fitotoxiNão devemos esquecer que todos os seres da Terra são interdecidade, mas têm a síntese de fitoalexina bloqueada total ou parcialpendentes. Cada ser está vivendo da cooperação de outros seres. mente e por isso são atacadas por agentes patogênicos dos mais diversos. Portanto, o aumento de doenças bacterianas, fúngicas, Hasime Tokeshi, nematoides e ataque de insetos e ácaros podem ser ocasionados ESALQ-USP
Fotos Agricultura de las Américas
Cereais
24
Cultivar
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Abril de 2002
O acamamento de cereais ocasiona imensas perdas durante a colheita
Mantendo a postura E
m condições ideais, nas culturas de grãos, as plantas se manteriam totalmente erguidas até a maturação, para permitir que a colheita se execute com um mínimo de esforço e perdas. Infelizmente, amiúde os agricultores de todo o mundo se deparam com a necessidade de levantar suas culturas caídas (acamadas), com todas as dificuldades que isso representa. Agora, mais do que nunca, os produtores precisam elevar seus ganhos ao máximo e, por isso, devem levar a sério a ameaça do acamamento. As estatísticas da Inglaterra, por exemplo, onde ampla pesquisa a respeito foi realizada, indicam que em um ano de tombamento se pode perder em média 2,5 toneladas de grão por hectare em porção significativa da área cerealista. Certas experiências comprovaram que as perdas podem alcançar 4 ton/ha, segundo a etapa de desenvolvimento que a cultura alcançou no momento de tombar. Isso sucede exatamente quando a cultura está florescendo ou começa o enchimento dos grãos. Mesmo em um ano bom, de pouco tombamento, os produtores sofrem perdas capazes de afetar o balanço financeiAbril de 2002
Os cereais que se dobram podem germinar na espiga, o que reduz a qualidade do grão
... www.cultivar.inf.br
Cultivar
25
... ro das suas operações.
uma delas, reduzindo a população de 350 para 100 por metro quadrado, uma variedade mostrou um incremento em seis vezes da fixação radicular. Assim como a semeadura excessivamente densa, a semeadura precoce também incrementa o acamamento. Isto ocorre de duas maneiras: primeiro, a semeadura precoce significa maior tempo entre a germinação e a produção do grão, o que aumenta a distância dos entrenós e o número de folhas, proporcionando, às vezes, mais altura à planta. Sabemos que as culturas altas exercem um esforço de alavanca maior sobre as raízes, aumentando o risco de tombamento. Em segundo lugar, as culturas semeadas cedo produzem mais brotação na coroa por unidade de superfície, quando começa a engrossar o talo. Como resultado disso, menos luz penetra por entre a folhagem e as plantas se estiram, buscando luminosidade. Produz-se talos mais compridos, finos e débeis. Examinemos agora a influência do nitrogênio e da fertilidade geral do solo. Os níveis elevados de nitrogênio residual (ou de nitrogênio aplicado antes de que o talo comece a se alongar) promovem uma folhagem densa e reduzem a quantidade de luz que chega às partes baixas. Os entrenós inferiores se tornam compridos e débeis, trazendo as inevitáveis conseqüências. Especialistas aconselham esperar até que os talos comecem a se estender para aplicar nitrogênio em uma cultura densa. O emprego de reguladores de crescimento pode combater o efeito dos entrenós inferiores frágeis. Enquanto isso, vale a pena considerar o histórico da variedade em relação ao tombamento. É um fato a existência de diferenças entre as variedades, com algumas delas suscetíveis ao tombamento radicular, pois enraízam com deficiência, enquanto outras possuem talos débeis e acamam por isso. E algumas variedades podem apresentar uma catastrófica combinação das duas tendências.
As estatísticas inglesas mostram que um mau ano no país traz consigo perdas diretas de US$ 60 milhões em queda de grãos e outros US$ 60 milhões devido à redução da qualidade do grão obtido pela contaminação com terra ou podridão ou, ainda, pela germinação espontânea nas espigas. A isto ainda se acrescenta o custo da colheita mais lenta e ineficiente, que às vezes demanda o dobro do tempo necessário a uma ação em condições normais. E não nos esqueçamos do custo maior de secagem e o desgaste adicional das máquinas. Se o cálculo for estendido ao mundo inteiro chegaremos a cifras realmente descomunais.
MAIOR FREQÜÊNCIA
Na Europa, registrou-se acamamento de cereais a cada quatro anos. Em 1992, um ano ruim, observações aéreas mostraram que em média de 15% a 17% da área de trigo se acamou. O estudo mostrou que em certas propriedades o acamamento chegava a 30%. Agora, a freqüência do tombamento parece estar crescendo, já que em 1997 e nos dois anos seguintes se notou acamamento em quantidades importantes. A moral é clara: os agricultores britânicos e seus colegas de todo o mundo precisam tomar medidas para evitar e controlar o processo. Mais adiante vamos examinar maneiras de identificar as situações de risco iminente que precedem o dano. Antes, porém, estudemos os antecedentes do tombamento e as duas condições principais em que pode ocorrer. Tombamento radicular Esse tipo ocorre quando o peso dos ramos fora da direção vertical é suficiente para vencer a sujeição das raízes ao solo, arrancando a planta da raiz. A fixação das raízes originadas na coroa depende de seu número, profundidade e extensão no solo. Tombamento do caule A situação ocorre quando as forças de alavanca que atuam sobre o caule fazem com que ele se dobre. O caule (palha) de um cereal é como um tubo e sua capacidade para permanecer em posição vertical é determinada por seu diâmetro, espessura das paredes e a resistência de seu material. O tombamento radicular tende a ocorrer no início da temporada, enquanto o dobramento do caule se dá mais tarde, quando começa a maturação. Uma série de fatores agronômicos contribui para o tombamento, tais como: o tipo e a estrutura do solo; densidade de semeadura e população; profundidade de semeadura; dosagem de nitrogênio; e fertilidade geral do solo. Vale recordar que a variedade da planta pode desempenhar um papel importante no tombamento, aumentando-o ou 26
Cultivar
Variedades de cereais com talos mais fortes resistem melhor ao acamamento
reduzindo-o, segundo suas características. Vejamos agora os vários fatores e as situações capazes de precipitar a diferença entre uma cultura erguida e pronta para a colheita e outra que está caída. Ao considerar o efeito do tipo e estrutura do solo, tomemos em conta que as raízes estruturais produzidas pela coroa da gramínea encerram um cone de solo. A fricção deste cone com o solo que o circunda permite que a planta se mantenha erguida. Se chover muito, o solo estará menos firme. Já que os solos leves são mais fracos, serão afetados por uma quantidade menor de chuva, mas as áreas argilosas são mais resistentes e causarão menos tombamento do que os solos arenosos. Não se pode deixar de examinar o papel da chuva, fator chave em muitas regiões. Torna-se ainda mais crítico nas áreas que recebem chuvas copiosas acompanhadas de ventos fortes e/ou de granizo. Não devemos nos surpreender com provas, desenhadas para determinar a força necessária para arrancar uma planta sob condições normais, que tenham mostrado que esta força se reduz à metade em solo saturado. Além disso, a chuva aumenta em 20% o peso das partes aéreas da planta, colocando mais tensão sobre as raízes. E, para aumentar o problema, os modelos computadorizados mostram que neste caso o peso de toda a planta deposita o esforço sobre somente duas ou três raízes. É óbvio que o agricultor não possui grandes opções sobre o tipo e a estrutura do solo, mas pode alterar a densidade de semeadura e a população da lavoura. Semeando uma quantidade maior do que a recomendada, aumenta-se o risco de tombamento. A aglomeração das plantas, resultante do excesso de sementes, causa tombawww.cultivar.inf.br
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IDENTIFICAÇÃO DA VARIEDADE
O cultivo acamado é colhido mais lentamente e pode perder qualidade
mento radicular, pois não lhes permite desenvolver um sistema radicular amplo. Experiências mostram que é possível reduzir a população de plantas sem afetar o rendimento final, porém reduzindo o acamamento. Em Abril de 2002
Uma universidade inglesa realizou experiências para analisar as características das raízes e dos talos de muitas variedades e determinar se as causas do tombamento estavam nelas. Descobriu-se que, em geral, as variedades de trigo tendem a formar melhores sistemas radiculares e talos mais fortes do que as variedades de cevada. Esta última tem talos mais altos e flexíveis, o que a torna mais suscetível ao acamamento radicular e do caule. As experiências, patrocinadas por uma indústria de agroquímicos, também mostraram que as distintas variedades diferiam na forma de Abril de 2002
tombamento e em sua resposta aos reguladores de crescimento. Graças a esse trabalho, o desenvolvimento dos reguladores de crescimento permitirá aos produtores obterem resultados mais econômicos e eficazes. Uma das formas mais eficientes de tratar o problema de debilidade varietal é o emprego de um regulador de boa qualidade. O objetivo é reduzir a estrutura da planta, incrementar a resistência do talo e melhorar a fixação das raízes. Resultados positivos foram obtidos com um produto capaz de bloquear a síntese do ácido giberélico, o fitohormônio, responsável pelo alongamento dos entrenós e com efeitos benéficos sobre a raiz, causados pelas mudanças no equilíbrio entre o ácido giberélico e a auxina, outro fitohormônio. Experiências detalhadas mostraram que o uso de reguladores com esta propriedade permite aos produtores agrícolas projetar seus programas de aplicação de forma exata, considerando as deficiências conhecidas das variedades mais usadas comercialmente. Não obstante, sempre há agricultores que preferem planos diferentes e, para esses, existem programas básicos recomendados, aplicáveis a todas as variedades. É digno de menção o fato de que, experimentalmente, o regulador aumenta o rendimento do cereal, mesmo sem necessidade de controlar o acamamento. Além disso, quase sempre produz melhoria na produção de raízes, regulagem dos brotos da coroa e um incremento em espigas homogêneas. A chave está em prevenir em vez de procurar remediar. No pior dos casos, um regulador bem aplicado deverá cobrir seus custos e, na maioria das vezes, produzir lucros que podem variar de modestos, em um ano de tombamento moderado, até substanciais, nos anos de tombamento realmente acentuado. Entrelaçado com o tombamento nos cereais aparece outro fator de preocupação: a incidência de doenças da base e do talo, que reduzem a integridade do caule e causam o acamamento. Na realidade, hoje se sabe muito sobre as causas do tombamento dos cereais. Pesquisou-se em detalhes os pontos fortes e fracos das diferentes cultivares, de modo que os fitopatologistas já se aproximam da criação de um sistema de prognóstico, com o qual será possível identificar as lavouras que correm maior risco e adotar medidas preventivas no momento certo. No passado, era possível compensar com bons preços as perdas causadas pelo tombamento, mas hoje existem enormes pressões que mantêm baixos os preços dos grãos, de modo que a prevenção e o controle do tombamento se tornam mais importantes. O agricultor que . não se preparar corre imensos riscos. Paul Lees, Agricultura de las Americas www.cultivar.inf.br
Cultivar
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Feijão
UFSM
Para durar Técnica de armazenamento através de atmosfera controlada e atmosfera modificada trazem mais benefícios aos produtores
O
feijão possui uma importância notável no Brasil, devido ao seu alto valor nutritivo e por fazer parte, junto ao arroz, da dieta diária da maioria da população. O Brasil, maior produtor de feijão do mundo, devido ao seu consumo per capita muito alto, consome todo o feijão aqui produzido. Apesar da importância do feijão para o país, não se conseguiu estabelecer um estoque regulador de preços eficiente, pois o feijão é um produto bastante perecível e sujeito a grandes perdas em períodos relativamente curtos de conservação, no sistema tradicional de armazenamento em sacas ou silos. No armazenamento de feijão deve-se levar em conta que as células do grão ou da semente continuam vivas, mesmo após o período de colheita. Portanto, estas continuam desempenhando suas funções vitais normais, realizando seus processos metabólicos. Dentre os problemas que podem surgir durante o armazenamento, pode-se citar a rachadura da casca (tegu28
Cultivar
mento), ocasionada por uma baixa umidade do ambiente; a ocorrência de pragas e fungos, que contaminam o feijão, tornando-o impróprio para o consumo humano; o aumento no tempo de cozimento, devido a um excessivo endurecimento do grão; a diminuição da germinação; o escurecimento da casca, que altera a cor característica, principalmente das cultivares mais claras e a perda de peso. No Brasil, a forma mais usada no armazenamento de grãos e sementes é através do abaixamento de sua umidade. Porém, esse procedimento não consegue, isoladamente, manter a qualidade satisfatória durante longos períodos de conservação. A utilização de técnicas, como a refrigeração, a atmosfera modificada ou a controlada, aliadas à baixa umidade do grão, podem diminuir muito mais as perdas ocorridas durante o armazenamento. O armazenamento refrigerado é um eficiente método de conservação, todavia, essa técnica torna-se bastante onerosa, www.cultivar.inf.br
principalmente nas regiões tropicais do país e, também, nas estações quentes das regiões sub-tropicais. A atmosfera modificada (AM) e a atmosfera controlada (AC), também chamada de atmosfera inerte, técnicas já utilizadas em países como Austrália e Israel, baseiam-se no princípio da redução da concentração de O2 e no aumento da concentração de CO2, o que provoca uma redução nos processos metabólicos e na respiração dos grãos armazenados. Na atmosfera controlada, a redução do O2 é feita através da varredura desse gás pela injeção de nitrogênio no ambiente. Na atmosfera modificada, as concentrações de oxigênio vão sendo reduzidas pela própria respiração do grão. Tanto para a AC, quanto para a AM, é importante que haja uma vedação quase hermética do ambiente, para que a eficiência dessas técnicas seja alcançada, pois a entrada excessiva de O2 pela parede dos silos ou armazéns mantém a concentração desse gás muito alta. Abril de 2002
Para estudar a eficácia do emprego de AC no armazenamento de feijões, foram realizados dois trabalhos no Núcleo de Pesquisa em Pós-colheita da Universidade Federal de Santa Maria. No primeiro trabalho, verificou-se que o uso de AC com fluxo contínuo de nitrogênio e armazenamento em baixo oxigênio (sem fluxo de N2) manteve a qualidade do feijão do grupo carioca FT Bonito por um período de 14 meses (Veja foto). Resultados semelhantes foram obtidos com armazenamento refrigerado a 0°C, porém, por um custo mais elevado. Já no segundo trabalho, foram avaliados feijões do grupo carioca, cultivares Pérola e Carioca e também a linhagem M91-012, que permaneceram armazenados por 19 meses. Após esse período, verificou-se que a cor clara da casca foi mantida, o potencial de germinação permaneceu alto e o tempo de cozimento manteve-se baixo (Veja Tabela). Além disso, o armazenamento em AC com fluxo contínuo de N2 possibilitou um controle total de insetos. Esse procedimento pode ser utilizado tanto para o armazenamento de grãos quanto para o de sementes, até mesmo, para períodos superiores a 2 anos. Para consolidar-se o uso do armazenamento em AC e AM, de maneira satisfatória, em silos ou armazéns já construídos, há necessidade de vedação das paredes e
Qualidade do feijão cv. Carioca após 19 meses de armazenamento, Santa Maria, RS, 2000 Forma de Armazenamento
Cor CIE L*
Tempo de cozimento (min)
Grãos danificados por insetos (%)
Germinação (%)
Convencional Frio Atmosfera Controlada
42,7# 48,0 54,0
80 38 35
95 0 0
20,0 56,5 59,5
#
Quanto maior o valor L* mais clara é a cor.
piso destes. A utilização do fluxo contínuo de N2 auxilia na eliminação e manutenção de uma baixa concentração de O2 dentro do ambiente de armazenamento, pois todo o sistema vai estar sob uma pressão superior a da atmosfera externa, impedindo a entrada de O2. O nitrogênio necessário pode ser gerado no local a partir do ar atmosférico com um gerador que usa o princípio PSA ( Pressure Swing Adsorption ), já fabricado no Brasil. Outra alternativa pode ser o uso de si-
los plásticos móveis, já utilizados em outros países. Estes podem ser utilizados em grandes ou pequenas propriedades. O Núcleo de Pesquisa em Pós-colheita da UFSM está se empenhando para viabilizar o uso comercial do armazenamento em AC e AM, procurando parcerias com fa. bricantes de silos e armazéns. Auri Brackmann e Daniel Alexandre Neuwald, UFSM
Café
Fotos Paulo Rebelles
Epamig
Insetos na folha O bicho-mineiro já é considerado por alguns pesquisadores a pior praga do cafeeiro na atualidade; saiba como fazer o controle adequado
O
bicho-mineiro ou minador das folhas do cafeeiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é talvez a principal praga do cafeeiro (Coffea spp.) na atualidade, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e de maior déficit hídrico. É uma praga exótica, que tem como região de origem o continente africano. Foi constatada no Brasil a partir de 1851, vindo provavelmente em mudas atacadas provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon. É considerada praga monófaga, atacando somente cafeeiros. À semelhança do que ocorreu com a broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae), o surgimento da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 70, é também um marco para o bichomineiro. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia ao controle da ferrugem propiciam melhores condições para o ataque do bicho-mineiro que, ao contrário da broca-do-café, se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar. O adulto do bicho-mineiro é um microlepidóptero cuja mariposinha mede 6,5 mm de envergadura, tem coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso, as asas anteriores cobrem as posteriores (Figura 1). Coloca os ovos na su-
O controle do bicho-mineiro é abordado por Paulo Rebelles Reis
Fig. 08 - Insetos capturados por armadilha adesiva de cor amarela em cafezal, sendo a maioria vespas predadoras do bicho-mineiro
perfície superior das folhas e a lagartinha, ao eclodir, penetra diretamente para o interior da mesma, sem entrar em contato com a parte externa. As lagartinhas vivem dentro de lesões ou minas foliares por elas mesmas construídas e, quando completamente desenvolvidas, medem cerca de 3,5 mm de comprimento (Figura 2). Após completo desenvolvimento, abandonam as folhas pela parte supe-
rior das minas e, com o auxílio de um fio de seda, por elas mesmas produzido, descem até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos com fios de seda no formato da letra X (Figura 3). As lesões são inconfundíveis, apresentando o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções. O contorno, em geral, tende para o formato arredondado. A epiderme superior da folha, no
local da lesão, destaca-se com facilidade (Figura 4). De modo geral e, principalmente, nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do topo das plantas (terço superior). O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 e 87 dias, sendo menor em temperaturas mais elevadas, e a fase de lagarta, que é a que causa danos, leva de 9 a 40 dias, passan-
do por pelo menos três ecdises, e em média podem ocorrer 8 gerações por ano, podendo chegar a 12. A ocorrência do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores: (1) climáticos temperatura e chuva, principalmente; (2) condições da lavoura - lavouras mais arejadas têm maior probabilidade de serem atacadas; e (3) presença ou ausência de inimigos naturais parasitóides, predadores e entomopatógenos. As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, com início de junho a agosto e acme em outubro, sendo menor antes e após esses meses. Há casos em que a população aumenta em março-abril, em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como ocorreu em 1990, na região Sul de Minas Gerais e como freqüentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro. As condições do tempo que influenciam negativamente a população da praga são a precipitação pluvial e a umidade relativa, ao contrário da temperatura, que exerce influência positiva. As pulverizações de oxicloreto de cobre, para o controle da ferrugem, já foram também correlacionadas com o aumento da po-
Fig. 09 - Rasgaduras produzidas por vespas para retirada da lagarta bichomineiro Fig. 03 - Casulo do bichomineiro construído por fios de seda no formato de X
Fig. 09 30
Cultivar
Fig. 03
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Fig. 02 Abril de 2002
Abril de 2002
Fig. 02 - Lagartas de bichomineiro no interior da mina, tendo sido retirada a epiderme superior da folha na lesão
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pulação do bicho-mineiro, porém as causas não foram determinadas.
DANO
As lesões, causadas pelas lagartas do bicho-mineiro nas folhas, reduzem a capacidade de fotossíntese em função da redução da área foliar e, se o ataque for intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo, devido à distribuição da praga. Em geral, as plantas que sofrem intenso ataque do bicho-mineiro apresentam, principalmente, o topo completamente desfolhado podendo, no entanto, sofrer desfolha total. Em conseqüência da desfolha, há redução da produção e da longevidade dos cafeeiros. Lavouras intensamente desfolhadas pela praga podem levar até dois anos para se recuperar. No Sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52%, devido a uma desfolha de 67% no mês de outubro, em conseqüência do ataque do bicho-mineiro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993, também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada uma redução na produção entre 34,3 e 41,5% (Vide Cultivar v.2, n.22, p.1416, nov. 2000). Maior prejuízo, de aproximadamente 72 % de redução na produção, foi observado na cafeicultura do cerrado mineiro, em 1998, região quente e favorável à praga.
CONTROLE
Além do controle químico convencional, serão discutidas algumas formas de controle natural ou aplicado, que podem auxiliar na redução da praga, porém nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos. Controle Cultural - A utilização de queCultivar
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Fotos Paulo Rebelles
Fig. 04 - Lesões ou minas produzidas pelas lagartas do bicho-mineiro
...bra-ventos, ou arborização, com plantas apro-
priadas para tal fim, e devidamente planejados, auxiliam na redução do ataque da praga, que tem preferência por locais mais secos e arejados. São indicadas a seringueira, macadâmia, abacateiro, cajueiro, ingazeiro, grevílea robusta, bananeira entre outras. A arborização pode ser um componente importante no equilíbrio ecológico do cafezal, também devido ao abrigo que oferece aos inimigos naturais de pragas. Faixas de vegetação, denominadas de corredores biológicos , entre talhões, que têm auxiliado no controle natural de pragas em diversas culturas, certamente o farão também em cafezais. Resistência Genética - Embora hajam espécies de cafeeiro que apresentam resistência genética ao bicho-mineiro, como Coffea stenophylla G. Don. e Coffea racemosa Lour., entre outras, as fontes de resistência ainda não estão presentes nos cultivares comerciais, como já existem naqueles resistentes à ferrugem-docafeeiro, talvez a forma ideal de resolver o problema da praga, com menor custo de produção e nenhum impacto ambiental. Controle por Comportamento - Já é conhecido o feromônio sexual do bicho-mineiro, o qual pode ser utilizado para monitoramento da praga e mesmo na captura de machos adultos, em armadilhas de feromônio e cola, reduzindo a possibilidade de acasalamento e, conseqüentemente, a população da praga. Controle Biológico - O controle biológico do bicho-mineiro é feito por predadores, parasitóides e entomopatógenos. Controle Biológico por Predadores - Em Minas Gerais, o predatismo das lagartas do bicho-mineiro, feito principalmente pelas ves-
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Cultivar
pas Protonectarina sylverae, Brachygastra lecheguana, Synoeca surinama cyanea, Polybia scutellaris e Eumenes sp. (Hymenoptera: Vespidae) (Figuras 7 e 8), está em torno de 70% de eficiência. Os vespeiros formados nos cafeeiros, apesar de poucos, via de regra são destruídos pelos trabalhadores rurais, pois as vespas são agressivas e podem causar acidentes. Resta, portanto, a preservação de matas remanescentes, e o reflorestamento com espécies nativas da região, o que contribuirá para a preservação e aumento das vespas predadoras que nelas se abrigam (Tabela 1). Em condições de laboratório, já foi verificado que larvas do predador Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) conseguem predar as fases de pré-pupa e pupa do bicho-mineiro, mas não conseguem predar as fases de ovo e lagarta, esta última por estar protegida dentro das lesões, constituindo-se, assim, em mais um agente de controle biológico da praga. Controle Biológico por Parasitóides - O parasitismo natural das lagartas de bicho-mineiro apresenta cerca de 18% de eficiência no controle da praga, feito principalmente pelos microhimenópteros Colastes letifer, Mirax sp. (Hymenoptera: Braconidae), Closterocerus coffeella, Horismenus sp. (Hymenoptera: Eulophidae) e Proacrias sp. (Hymenoptera: Entedontidae). Outras espécies também já foram constatadas parasitando lagartas de bicho-mineiro no Brasil (Tabela 2). Controle Biológico por Entomopatógenos Dos agentes de controle biológico do bichomineiro, os patógenos ou microorganismos entomopatogênicos são os menos conhecidos, passando até mesmo despercebidos, embora possam causar epizootias quando as condições lhes são favoráveis. Sabe-se, entretanto, de sua existência e do potencial que possuem para o controle da praga. Já foram relatadas as presenças de bactérias e fungos em lagartas agonizantes ou mortas (Tabela 3). As bactérias Erwinia herbicola (Enterobacteriaceae) e Pseudomonas aeruginosa (Pseudomonadaceae)
Fig. 07 - Vespas predadoras: Synoeca cyanea, Polybia ignobilis, P. fostidiosuscula, Brachygastra lecheguana, P. scutellaris e Protonectarina sylverae
são apontadas como os microorganismos mais eficientes até agora conhecidos em epizootias de lagartas de bicho-mineiro, com ocorrência de 65 e 90 %, respectivamente. Controle por Extratos Vegetais - Uma das espécies vegetais cujo extrato mais tem sido pesquisado é a Azadirachta indica A. Juss. (Meliaceae), conhecida como nim . A azadiractina, encontrada principalmente nas sementes, e em menor quantidade na casca e na folhas do nim, é o principal composto responsável pelos efeitos tóxicos aos insetos. Resultados promissores foram obtidos na redução da postura e da sobrevivência de ovos do bicho-mineiro com a utilização de extrato de nim. Outros extratos de plantas têm mostrado também resultados promissores no controle do bicho-mineiro, como o extrato de folhas de chagas (T. majus) e do mentrasto (A. conyzoides). Controle por Biofertilizantes e Caldas Fitoprotetoras - O uso de biofertilizantes e de caldas fitoprotetoras tem se difundido, principalmente, em sistemas agrícolas familiares. O super-magro , um biofertilizante fermentado e enriquecido, empregado em pulverização como adubação complementar no cafeeiro, tem sido utilizado por agricultores com o objetivo de controlar o bicho-mineiro e o ácaro-vermelho do cafeeiro. Semelhantemente,
Fig. 01 - Adulto do bicho-mineiro pousado sobre uma folha de cafeeiro
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Abril de 2002
o uso de caldas fitoprotetoras, como a calda viçosa e a calda sulfocálcica, tem sido propagado como eficiente para o controle do bichomineiro. Apesar da difusão desses compostos como um método alternativo ao tratamento fitossanitário convencional, pouco se sabe a respeito de suas eficiências como inseticidas/acaricidas. Além disso, em alguns casos pode haver problemas de fitotoxicidade, como é o caso da calda sulfocálcica em algumas culturas, dependendo da dosagem. É necessário, portanto, mais pesquisas no assunto que comprovem ou não a ação inseticida/acaricida desses compostos. Controle Químico Convencional - Embora não se saiba exatamente qual a população do bicho-mineiro capaz de causar dano econômico, os trabalhos de pesquisa realizados pela EPAMIG em Minas Gerais, desde 1973, mostram que quando ocorrer 30% de folhas minadas, sem apresentarem rasgaduras provocadas por vespas predadoras (Figura 9), nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco), há necessidade de ser efetuado o controle químico. Caso não seja feito, e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro forem favoráveis à praga, os prejuízos serão consideráveis. A pulverização de inseticidas, somente quando a população atingir o nível de controle, deve influir pouco sobre o equilíbrio biológico, pois se a praga apresentar um aumento populacional significa que os inimigos naturais não estão sendo eficientes e que as condições para aumento da praga estão mais favoráveis do que para aumento dos inimigos naturais. Tal fato justifica a adoção de medidas de controle para abaixar a população do bicho-mineiro, restabelecendo o equilíbrio entre a praga e os inimigos naturais. A amostragem de folhas, para ser conhecida a população do bicho-mineiro, deve ser feita nos terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do inseto nas mesmas. Deve-se evitar a coleta de folhas apicais dos ramos ou do interior das plantas; recoAbril de 2002
menda-se folhas do 3º ao 5º par, Tab. 01 - Predadores do bicho-mineiro relatados no Brasil, a partir do ápice do ramo. pertencentes à ordem Hymenoptera e família Vespidae Caso não seja constatado o nível de controle (30%), não é ESPÉCIES SUPERFÍCIE DA FOLHA DILACERADA recomendável o controle químico, pois somente o controle naApoica pallens Fabricius tural, através do parasitismo e Brachygastra augusti St. Hill. Inferior predatismo, está sendo suficienBrachygastra lecheguana (Latreille, 1824) Inferior te para manter baixa a populaEumenes sp. Superior ção da praga. Esse nível de conPolistes versicolor (Olivier, 1791) trole não se aplica a cafeeiros Polybia paulista Ihering novos, de até três anos de idade, Polybia scutellaris (White, 1841) Inferior onde a desfolha, mesmo em baiProtonectarina sylverae Saussure, 1854 Superior xos níveis, é prejudicial à sua forProtopolybia exigua Saussure mação. O controle químico Synoeca surinama cyanea (Fabricius, 1775) Inferior quando realizado com produtos recomendados, e com base no Tab. 02 - Parasitóides (Hymenoptera) do nível de controle da praga, não bicho-mineiro encontrados no Brasil afeta de maneira significativa os inimigos naturais do bicho-miESPÉCIES FAMÍLIAS neiro. As lavouras devem ser insCentistidea striata (Rohwer, 1914) Braconidae pecionadas constantemente na Cirrospilus sp. Eulophidae época crítica de ataque da praClosterocerus coffeelae Ihering, 1913 Eulophidae ga, principalmente as muito exColastes letifer (Mann, 1872) Braconidae postas a ventos constantes. Na Eubadizon punctatus Redolfi Braconidae maioria das vezes, o controle é Eulophus cemiostomastis Mann, 1872 Eulophidae necessário somente em alguns Horismenus aenicollis Ashmead, 1904 Eulophidae talhões do cafezal, e as inspeções Horismenus sp. Eulophidae devem continuar até que comeMirax sp. Braconidae cem as chuvas mais freqüentes Neochrysocaris coffeae (Ihering, 1913 (=Proacrias coffeae) Eulophidae e haja início de novas brotações Orgillus niger (Haliday, 1833) Braconidae nas plantas. Proacrias coffeae Ihering, 1913 Eulophidae Uma segunda pulverização, Stiropius reticulatus (Cameron, 1911) Braconidae nos talhões já pulverizados, soTetrastichus sp. Eulophidae mente deve ser feita após 20-30 dias, se nas amostragens forem constatadas lagartas vivas do inTab. 03 - Microorganismos entomopatogênicos seto dentro das minas. encontrados causando mortalidade em bicho-mineiro no Brasil Caso hajam condições extremamente favoráveis ao bichoMICROORGANISMOS mineiro nos meses de janeiro e ESPÉCIES GRUPOS fevereiro (veranico), pode ocorrer um pico nos meses de abril e Cladosporium sp. Fungo maio, que também deve ser conErwinia herbicola (Lonis) Dye Bactéria trolado, muito comum na região Pseudomonas aeruginosa (Schroeter) Migula Bactéria dos cerrados de Minas Gerais. Pseudomonas sp. Bactéria Esse pico não ocorre quando são usados inseticidas sistêmicos granulados na época das chuvas (aldicarb, di- cho-mineiro nas regiões onde sua incidência sulfoton, phorate, imidacloprid e thiametho- não é freqüente, fica restrito ao uso de pulvexam), porém o efeito residual dos granulados rizações quando for constatado o nível de 30% nem sempre é suficiente para manter baixa a de folhas minadas, sem a presença de rasgapopulação do inseto até junho, havendo ne- duras produzidas pelas vespas predadoras. Nas cessidade de complementar o controle com regiões onde o inseto freqüentemente se conspulverizações foliares. Diversos produtos, ou titui em praga, o controle deve ser feito com mistura de produtos, em pulverização, apre- inseticidas sistêmicos granulados aplicados do sentam eficiência no controle do bicho-mi- solo, na época recomendada pelos fabricanneiro, tais como os fosforados chlorpyrifos, tes, e complementado com pulverização (enethion, fenthion, triazophos etc., o carbama- tre junho e outubro) caso seja constatado 30% to cartap e diversos piretróides, sendo que es- de folhas minadas sem sinais de predação. . tes últimos, pelo amplo espectro de ação que possuem, são mais prejudiciais aos parasitói- Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, des e predadores da praga. Em resumo, o manejo integrado do bi- EPAMIG/EcoCentro www.cultivar.inf.br
Cultivar
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Cheminova
Mudanças na Cheminova N
o Brasil desde 1998, a Chemi nova, empresa dinamarquesa pertencente à Universidade de Aarhus, anuncia mudança na diretoria e no portfolio de produtos. Desde o dia 01 de abril, Manuel Costa, o pioneiro na implantação da companhia no Brasil, entregou o posto de numero um ao seu sucessor. O recém nomeado diretor da empresa é Jorge Moura, prata da casa e ex-Bayer. Moura, 41 anos, natural de Porto Alegre (RS), começou na Bayer em 1983 no suporte de vendas e passou por vários postos na empresa alemã, onde ficou até 1999, quando saiu para assumir a gerência de marketing e vendas da Cheminova. Os resultados da nova companhia mostram o crescimento decorrente da estratégia de investimentos em novos registros e profissionais experientes. Em 1998 as vendas foram de US$ 1,3 milhão; em 2001 ultrapassaram os US$ 30 milhões. A filosofia da empresa está alicerçada em dois grandes valores, sendo o primeiro seus colaboradores, que hoje totalizam 36 pessoas, reunindo jovens promissores aliados à experiência de alguns outros em postos-chave, tanto no escritório central quanto no campo. Do total de funcionários, 10 são representantes de vendas, sediados em Rondonópolis (MT), Lucas do Rio Verde (MT), Campo Grande (MS), Rio Verde (GO), Catanduva (SP), São João da 34
Cultivar
Boa Vista (SP), Londrina (PR), Pato Branco (PR), Santo Ângelo (RS) e Espumoso (RS). O foco nos colaboradores mostra a grande importância que profissionais com conhecimento e contatos regionais assumiram no mercado de produtos fitossanitários. Os seus registros de produtos são o segundo patrimônio. O valor dos registros está na definição dos mercados-alvo, na escolha dos produtos certos e, por fim, o principal , na geração de dados internacionais e também locais que atendam completamente às exigências da legislação brasileira. Dada a dificuldade e o elevado custo, o registro de um produto se tornou um ativo muito importante nas empresas.
PRODUTOS E NOVIDADES
A expansão da Cheminova no Brasil passa, necessariamente, pelo aumento do número de colaboradores regionais e pela oferta de novos produtos, embora ainda exista bom potencial de crescimento nos produtos já oferecidos. Sobre novas contratações, a empresa não comenta, preferindo apresentar as cinco novidades (em processo de registro), algumas delas previstas para este ano: Abamectin (Kraft inseticida e acaricida; citros); Acefato (Acefato Cheminova - inseticida sistêmico polivalente); Chlorimuron (Twister 250 WDG www.cultivar.inf.br
herbicida pós-emergente; soja); Fenoxaprop-P-ethyl (Rapsode - herbicida pós-emergente; arroz, soja, e feijão); Gammacyalothrin (inseticida piretróide, microencapsulado; milho, algodão, batata, citros e horti-fruti). Dentre os produtos mais conhecidos, merece especial destaque o Glifos , herbicida à base de glifosato e líder de vendas da empresa, uma das poucas no mundo a deter todo o processo de produção da molécula, tornando-se mais do que uma simples formuladora. Isso garante qualidade e boa competitividade em custos. Seu portfolio completa-se com Dinamaz, Malathion, Nufos, Paracap, Rigel, Novapir, Dimexion, Dinafós, Impact SC, Impact 1,5 G, Support e Cefanol, sendo os dois últimos uma parceria com a Sipcam.
HISTÓRIA
A Cheminova é uma companhia controlada pela AURIGA, a Holding, que controla também as empresas Skamol (química dedicada à mineração) e a Hardi International (fabricação de pulverizadores agrícolas, bastante conhecida na Europa). A Fundação de Pesquisa da Universidade de Aarhus (Dinamarca) recebeu a companhia como doação, em 1944, do seu fundador, . o químico Gunnar Andreasen. Abril de 2002
Agronegócios
Soja, a locomotiva do agronegócio De 3 a 6 de junho, Foz do Iguaçu sediará o II Congresso Brasileiro de Soja, uma promoção da Embrapa e da Aprosoja. É um evento imperdível para quem está no agronegócio da soja, um fórum que antecipará as oportunidades da soja no futuro próximo, quando se imagina o Brasil rumando firme para ser o primeiro produtor mundial
A
agricultura universal não registra outro casamento que deu tão certo quanto a soja e o Brasil. E não faltou sogra chata, cunhado perturbador, filhos mal-criados, dinheiro curto, coisas que acabam com um casamento promissor. Em 40 anos saímos do flerte tímido para uma prole de 42 milhões de toneladas, que não ultrapassaram 50 milhões à débito dos desacertos macro-econômicos, fiscais e financeiros do Brasil, especialmente entre 1985 e 1999. Tivera o produtor brasileiro tão somente as condições de produção do sojicultor americano e não me refiro a subsídios! - e hoje ostentaríamos uma colheita 20% superior, na hipótese pessimista. O verdadeiro caos financeiro em que se transformou o Brasil durante o Governo Sarney, com inflação estratosférica, juros similares, quebra de contratos e falta de investimento na infra-estrutura produtiva, criou turbulências no idílio entre Glycine max e Pindorama. Graças a Zeus e ao Cupido, outros fatores impulsionaram o romance à sua lua de mel atual. 36
Cultivar
Romeu Kiihl, aprimoraram os sistemas de produção da soja, permitindo a expressão de seu potencial. A tecnologia made in Brazil duplicou a produtividade brasileira nos últimos 40 anos, feito inédito no plano mundial. Durante o II CBSoja, renomados cientistas de todo o mundo esmiuçarão a planta e suas relações com o meio ambiente, desde o preparo do solo, o ambiente radicular, a fertilização, os microorganismos associados e como toda esta tecnologia não apenas aumenta como estabiliza a produtividade da soja. As tendências das novas cultivares e uma discussão definitiva sobre as cultivares transgênicas serão pontos fortes dos debates entre cientistas, produtores, importadores e exportadores de soja. A fitossanidade, pela importância capital que possui, terá uma temática privilegiada durante o II CBSoja. A tecnologia pós colheita também faz parte da pauta do Congresso. O Mundo investe, com intensidade cada vez maior, no desenvolvimento de novas alternativas energéticas, de base renovável, como o biodiesel, que tem na soja a principal fonte de óleo. Porém, a vedete do aproveitamento será o uso alimentar da soja, suas propriedades funcionais na medicina humana, como preventivo ou terapêutica de disfunções orgânicas e de tumores.
OS NÚMEROS DA SOJA
A soja é o principal componente do agronegócio brasileiro, com o maior valor de produção na fazenda e o maior valor agregado. Em 2002, a produção de 42 milhões de toneladas foi obtida em 14 mi-
ABRINDO AS COMPORTAS
A soja surgiu comercialmente no Brasil a partir do Norte e Noroeste do Rio Grande do Sul, uma parceria estratégica com o trigo para dividir os custos fixos da lavoura. De cultura secundária, a soja rapidamente estabeleceu-se como a principal alternativa econômica, impulsionada por picos de preços motivados pela falta de estabilidade da oferta de outras fontes de proteínas e por saltos na demanda mundial. O generoso pampa gaúcho, e logo o Sul do Brasil, ficaram pequenos para o grão gigante. Porém, uma muralha aparentemente instransponível parecia impedir seu plantio comercial nas latitudes mais baixas. Próximo do Equador, 200 milhões de hectares virgens aguardavam quem os fecundassem.
TRIBUTO A UM GÊNIO
A Europa pariu Beethoven, van Gogh, Dostoiewsky, Pasteur. Na Embrapa Soja, tivemos o supremo privilégio de conviver com um talento de mesmo quilate. Coube www.cultivar.inf.br
AS AMEAÇAS
lhões de hectares. A soja só não é cultivada na Amazônia, no Pantanal e no semiárido Nordestino. O valor intra-porteira da soja brasileira ultrapassa US$6 bilhões e a cadeia da oleaginosa supera US$20 bilhões. Cerca de 250 mil propriedades plantam soja, gerando emprego e renda para mais de 2 milhões de brasileiros, um universo familiar de 8 milhões de pessoas. O superávit da balança comercial brasileira é integralmente devido aos produtos do agronegócio, que geram um superávit de US$19 bilhões, grande parte derivado da exportação de soja.
SOJA, UM FATOR DESENVOLVIMENTISTA
Os cenários traçados a partir da visão de futuro antevêem para a cultura da soja um crescimento sustentado, rumo ao principal agronegócio do mundo. A produção de 170 milhões de toneladas caminha a passos largos para superar 200 milhões em breve lapso de tempo, com perspectivas de manter este crescimento até meados deste século. É uma oportunidade sob medida para o Brasil, que já demonstrou no passado ser capaz de acrescentar um milhão de toneladas por ano à sua produção. Plantando soja, os agricultores semearam cidades que floresceram no Centro Oeste brasileiro, transformando a paisagem e a economia de Estados como o Mato Grosso. Na
a um gênio, o Dr. Romeu Afonso de Souza Kiihl, e à sua equipe, o mérito de romper as comportas tecnológicas e permitir que o Cerrado se inundasse de soja. A genialidade criativa do Dr. Romeu pôs um fim à dependência genética que o florescimento da soja tinha em relação ao comprimento da noite. O carisma e a liderança do Dr. Romeu permitiram que ele implementasse uma rede de melhoramento de soja, responsável pela base genética das cultivares mais importantes em cultivo no Brasil e nos países vizinhos, o que o torna diretamente responsável pela explosão da soja no Brasil. O Dr. Romeu já conquistou seu lugar na História Mundial como a mente privilegiada que destrinchou o segredo da soja tropical, esperança de aplacar a fome e gerar emprego e renda para centenas de milhões de seres humanos.
BASE TECNOLÓGICA
Onde passa um boi, passa uma boiada. Aberta a porteira dos cerrados, os cientistas da Embrapa, liderados pelo Dr. Abril de 2002
esteira da soja, o milho, o algodão, as frutas, a agroindústria atraem não apenas brasileiros, mas também investidores de outros países, impulsionando o desenvolvimento.
Abril de 2002
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Há os espinhos. O II CBSoja chamará a atenção para as ameaças que pairam sobre a expansão acelerada da soja, justamente ocasionadas por este impulso, que provoca movimentos contrários dos competidores. Renomadas lideranças do agronegócio nacional e autoridades do Governo brasileiro estarão discutindo as mudanças necessárias no plano interno, como o redirecionamento da política agrícola, o financiamento da produção, o investimento em infra-estrutura, as reformas tributária e fiscal, a proposta indecente da ONG Focus on Sabbatical que gostaria de ver o Brasil fora do mercado, antes que a soja brasileira force os agricultores americanos a saírem dele. Discutir-se-ão também as barreiras para-fiscais e os subsídios dos países ricos, últimos mata-burros no caminho da liderança brasileira. A discussão é oportuna por ser 2002 um ano eleitoral, uma oportunidade exclusiva de colocar na agenda dos próximos governantes o compromisso com as mudanças para garantir a competitividade da soja nacional.
AS OPORTUNIDADES
O mercado expande-se pela ampliação da demanda vegetativa, associada ao crescimento populacional; devido ao incremento da renda global; pelo ingresso no mercado de países como a China, maior importador individual de soja do mundo, da Indonésia e de outros países com poder de alterar o equilíbrio do mercado; e pela expansão do uso da soja, com novas descobertas escapulindo da cornucópia dos cientistas a todo o instante. A diferenciação do mercado, como o dueto soja transgênica ou não transgênica, o nicho da soja orgânica, a especialização da soja destinada à produção de alimentos ou a busca de uma soja melhor adaptada à ração animal são alguns dos assuntos que constam na pauta do II CBSoja. Que, seguramente, será mais um marco na trajetória de sucesso da . soja em nosso país. Décio Luiz Gazzoni
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agropolis.hpg.com.br
Cultivar
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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting
Seca pega safrinha no Paraná e Mato Grosso do Sul Os produtores do Paraná e Mato Grosso do Sul tiveram grandes problemas com a estiagem sobre as lavouras da safrinha no mês de abril e, assim, já contam com perdas de 20 a 35% na produtividade, com lavouras isoladas sinalizando perdas superiores a 70%. Com isso, as expectativas da produção estão cada dia menores. Antes, apontavam para a marca de 9 milhões de toneladas, recuando depois para 8 milhões, já que muitas áreas foram deixadas para receber o trigo. No Mato Grosso do Sul, o milho foi fortemente atingido pela seca na região de Dourados e no Sul do Estado, causando grandes perdas em Maracajú. No Paraná, o Oeste e Norte foram fortemente atingidos, com lavouras da região de Guaíra mostrando perdas de mais de 50% e casos isolados de perda total. Agora, as projeções da safrinha estão sendo apontadas para números entre 5,5 e 6,5 milhões de t, ou seja, muito abaixo das projeções iniciais. O Mato Grosso conta com uma safrinha em boas condições e será o primeiro a entrar em colheita em junho. Com isso, a disputa pelo produto local já está se dando entre as grandes indústrias consumidoras. Nota-se que as lavouras da safrinha do Rio Grande do Sul também receberam bom volume de chuvas em abril e, assim, se mantinham em boas condições. A safrinha deverá vir para o mercado com grande aceitação e disputa entre os consumidores, tendo boa valorização comercial.
MILHO
Nas mãos dos Produtores Os produtores continuaram segurando o milho em abril e, com isso, conseguiram alavancar as cotações entre R$ 1,00 e R$ 1,50 por saca. Mesmo com a alta nas cotações, os produtores não apareceram para fixar balcão e poucos lotes estavam sendo negociados. Os agricultores, vendo a safrinha ser penalizada pela seca, seguravam o milho da safra de verão na expectativa de ganhos maiores com este e, assim, poder cobrir parte das perdas que vinham enfrentando com a seca. Os negócios continuaram das mãos para a boca, e os vendedores comandavam as cotações de fechamento. O mês foi dos produtores e deverá continuar nesta mesma linha no mês que entra.
SOJA
Cotações em alta e poucos negócios O mercado da soja começou a mostrar as cotações em alta, sinalizando uma recuperação da queda vista em março, resultando em bons ganhos no mês de abril. Mesmo assim, não houve pressão de venda, os produtores continuaram segurando a soja a espera de cotações maiores mais à frente. A melhor capitalização do setor neste ano, junto com um grau baixo de endividamento a curto prazo, deram ao setor produtivo o poder de decidir sobre a venda ou não da soja, onde a maior parte preferiu não vender, a espera de momentos melhores. Por enquanto, aqueles que estão segurando a soja vêm tendo vantagens econômicas sobre aqueles que negociaram em março. Tudo indica que esses continuarão tendo ganhos positivos, já que a crise que afunda a Argentina a cada dia que passa, também está forçando os produtores daquele país à retenção da soja e, com isso, diminui a pressão de venda no mercado mundial. O mercado esteve positivo e projeta um mês de maio com novas flutuações, que devem ser vantajosas para o setor.
ARROZ
Cotações estabilizadas e indústrias abastecidas O arroz passou pelo mês de abril com poucas alterações econômicas, mostrando os indicativos praticamente estabilizados em R$ 15,00 pelo produto novo e entre R$ 0,50 e R$ 1,00 acima desse valor pelo arroz em casca da safra passada. As indústrias receberam grandes volumes de arroz di38
Cultivar
retamente dos produtores, não forçando, assim, novos fechamentos, dessa forma o mercado se manteve calmo. O crescimento de março para abril foi de R$ 1,00 e já aponta que o pior momento do ano passou. O governo continuou realizando os leilões de Opções, que não despertavam grande interesse por parte dos produtores. A demanda do arroz beneficiado junto aos grandes centros de consumo esteve em crescimento, dando suporte às indústrias que mantiveram as cotações do fardo estabilizadas. A colheita da safra gaúcha esteve em andamento em abril e entra, em maio, para o seu fechamento, mostrando indicativos de 5,3 milhões de t para o Rio Grande do Sul e de 11,7 milhões para a safra nacional.
FEIJÃO
Irece encerra a colheita A colheita da safra do feijão da região do Irece encerrou neste último mês de abril. O mercado nacional continua mostrando estabilidade nas cotações, com indicativos variando entre R$ 50,00 e R$ 60,00 por saca, para o produto de boa qualidade. As primeiras lavouras de Rondônia come-
çaram a ser colhidas em abril, mas vinham a conta-gotas, não conseguindo derrubar as cotações. O mercado continuou com boa pressão de consumo e, assim, manteve as cotações. O feijão preto continuou na frente com R$ 5,00 a R$ 15,00 acima do carioca. A seca prejudicou as lavouras de Santa Catarina e do Paraná, com isso, a entrada de feijão deverá continuar abaixo das expectativas de demanda neste próximo mês.
TRIGO
Governo estimula o plantio O governo divulgou o novo preço mínimo de garantia para o trigo, passando de R$ 225,00 por tonelada para R$ 285,00. Com isso, está estimulando os produtores a investir na cultura, que nestes patamares já se torna rentável ao setor. A expectativa aponta para o crescimento da área, que deverá passar da marca de 1,8 milhões de hectares. A projeção da safra está acima de 3,5 milhões de t, contra 2,9 milhões colhidas no último ano. Os produtores estão otimistas com o produto e devem buscar recursos oficiais para o plantio.
CURTAS E BOAS ALGODÃO - Mesmo com a reação vista no mercado internacional em abril, por aqui pouco mudou. O algodão segue atrelado ao apoio do governo e tem baixa liquidez junto às indústrias. O setor industrial reclama que o inverno ameno do ano passado diminuiu o consumo de algodão, e aponta que as vendas deste ano continuam fracas, não podendo, assim, formar estoques desse produto. EUA - O plantio da safra americana começou em abril, com o milho largando na frente, mas tendo o ritmo abaixo da expectativas do setor, já que as chuvas e o excesso de umidade no solo americano impediam a entrada das máquinas nos campos. Com isso, corriam boatos de que, se houver atraso no milho, a soja poderá ter mais área do que o previsto. Mas neste ano os produtores estão preferindo o milho à soja, já que o primeiro tem preços e garantias melhores. ARROZ - O governo está voltando ao mercado via leilão de recompra dos contratos de Opções, tentando, assim, dar maior liquidez ao mercado do cereal e beneficiar os produtores. O governo aponta que irá entrar pagando R$ 16,30 pelos contratos, que tendem a rodar abaixo dos R$ 16,00. ARGENTINA - O quadro agrícola local é de insegurança. Os produtores realizaram manifestações contra a taxação em 20% nas exportações, que tira dos produtores os ganhos que poderiam ter com a desvalorização cambial. Outro ponto foi a falta de liquidez dos bancos que estiveram fechados boa parte de abril e, assim, impediram os negócios porque não haviam novos financiamentos para a exportação. Os produtores, temendo perdas com os Pesos, preferiram segurar a soja, milho e trigo nas mãos, suspendendo as vendas.
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Abril de 2002