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Ano IV - Nº 40 Junho / 2002 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00
Daninha na lavoura O manejo integrado é um dos métodos eficazes para o controle de tiririca em milho e feijão
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 8,00
Inseticida biológico
Diretor:
Newton Peter
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Editor geral:
Schubert Peter
Flávio Moscardi explica o que são os vírus de insetos utilizados como inseticidas
Redação
Pablo Rodrigues Charles Ricardo Echer Design Gráfico e Diagramação:
Fabiane Rittmann
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Marketing:
Neri Ferreira
Adjuvante em soja
Circulação:
Especialista avalia a eficácia de óleo adjuvante vegetal
Edson Luiz Krause Assinaturas:
Simone Lopes Ilustrações:
Rafael Sica Revisão:
Carolina Fassbender
Ataque ao algodão
Editoração Eletrônica:
Index Produções Gráficas
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Fotolitos e Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Mofo-branco é capaz de causar sérios danos ao algodão; saiba como controlá-lo
Mascote:
Missy NOSSOS TELEFONES:
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GERAL / ASSINATURAS: 272.2128 REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716 MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314 FAX: 272.1966
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br
índice
Nossa capa
Diretas
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Ferrugem da folha no trigo
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Agronegócios
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Tiririca em milho e feijão
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Inseto como inseticida?
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Daninhas em cana
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Adjuvantes em soja
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Coluna da Aenda
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Mofo-branco do algodoeiro
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Manejo de pragas do algodão
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Mercado agrícola
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Foto Capa / Arquivo Embrapa Trigo Lagarta-da-soja atacando a folha
diretas Novo diretor
Maurício Marques é o novo diretor de negócios da unidade Agro da BASF. O executivo é formado em Agronomia e atuou durante 21 anos nas empresas do Grupo Hoescht, por último foi diretor de negócios da Griffin LLC, empresa do Grupo DuPont ambas voltadas para o mercado de produtos de proteção para a agricultura. A unidade Agro da BASF é a terceira no ranking mundial, com vendas totais de 543 milhões de euros na América do Sul.
Maurício Marques
Consultoria
Laureados
visa orientar agricultores de todo o Brasil para a utilização correta e segura dos defensivos agrícolas. O foco da campanha está no incentivo ao uso dos Equipamentos de
Wilson Cologni desligou-se da Bayer S.A, empresa na qual atuou durante 20 anos, sendo chefe Regional de Vendas em Ijuí RS, Belo Horizonte MG, Ribeirão Preto SP; atuou ainda no Marketing em São Paulo no último ano. Wilson pode ser contatado pelos telefones (19) 3834 4073 e (19) 9604 0348, ou pelo e-mail: colgniw@terra.com.br
Cultivar
A Associação Brasileira de Produtores de Algodão Abrapa tem nova direção, empossada no dia 14 de maio, em Brasília, presidida por Jorge Maeda. Adilton Sachett, João Carlos Jacobsen e Eduardo Logeman são os vicepresidentes, Kenjiro Mine e Carlos Yoshio Murate secretários, e Valter Morinaga e Cornélio Sanders tesoureiros.
Jorge Maeda
Mudanças
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Abrapa
A Fundação MT e Unisoja promoveram o II Encontro Técnico do SAS Serviços Agregados à Semente, no qual cerca de 300 engenheiros agrônomos têm as suas informações técnicas recicladas e niveladas, o que é de fundamental importância para que o Estado continue sendo referência para a agricultura nacional e mundial, e para que MT atinja a fantástica marca de 70 scs/ha. O encontro foi realizado no Hotel Águas Quentes, na serra de São Vicente do dia 15 a 18 de maio.
Segurança e Saúde no Campo
Wilson Cologni
Livro inédito sobre o novo sistema de aplicação aérea que carrega eletricamente as gotas pulverizadas, reduzindo o volume de calda e perdas de agroquímicos é lançado pelo engenheiro agrônomo Eugênio Passos Schröder. Dirigido para agricultores, agrônomos, técnicos agrícolas e pilotos, pode ser adquirido (R$ 16,00 mais despesas postais) pelo e-mail schrodep@terra.com.br ou por carta para Rua Zola Amaro 55, Pelotas, RS, CEP 96055-830.
Evento
O Dr. Gerbi Luiz de Lucas em virtude de sua aposentadoria está deixando a Agro Norte Pesquisa e Sementes Ltda, onde atuou por quatro anos como consultor técnicoagronômico e Coordenador de Pesquisas. Dr. Gerbi está atuando como consultor independente na área de genética de plantas, patologia, nutrição e fertilidade de solos, além de acompanhamento, assessoria e resolução de entraves e problemas agronômicos junto ao Ministério da Agricultura, Secretaria da Agricultura, Banco do Brasil e órgãos afins.
A DuPont Produtos Agrícolas anuncia nos próximos dias o lançamento de sua campanha Segurança e Saúde no Campo, etapa 2002. Trata-se de um projeto que
Pulverização Eletrostática Aérea
Proteção Individual (EPI s), durante o tratamento fitossanitário de lavouras. A iniciativa da empresa teve início há dois anos e já atingiu cerca de 12 mil agricultores.
Bahia
O Grupo Maeda, um dos maiores conglomerados agrícolas do país, decidiu instalar-se no oeste baiano. Na segunda quinzena de maio arrendou 12.000 hectares na região de Roda Velha, próxima de Barreiras, onde pretende plantar inicialmente uma área de 3.000 a 6.000 de algodão, dependendo do resultado de análises de solo. No restante plantará principalmente soja, mas passando gradativamente para o algodão.
Os estudantes de Agronomia Rafael Odebrecht Massaro e Jacques Clock Marodin, da Universidade Federal do Paraná, obtiveram excepcional destaque na disciplina Manejo Integrado de Pragas, na avaliação do professor Lino B Monteiro. Além das notas altas, os alunos foram premiados com assinaturas anuais da revista Cultivar.
Óleo
A Bunge Alimentos lançou no mercado o primeiro óleo de algodão em embalagem pet de 900ml. Esse óleo vem para aumentar a família Salada e oferecerá aos consumidores qualidades particulares. Segundo Amélia Salete Wehmuth, engenheira química da Bunge, o óleo de algodão não sofre grandes alterações de temperatura, perde pouca caloria, o ponto de aquecimento se mantém estável, além de conferir mais sabor e preservar o gosto peculiar de cada alimeto .
Sinon do Brasil
A Sinon está há mais de 45 anos no mercado atuando na síntese de herbicidas, fungicidas, inseticidas e acaricidas. Há dois anos no Brasil, a empresa tem como Diretor o Sr. Alberto Massanori Koshiyama e como Gerente de Marketing e Vendas o experiente Joelson P. Mäder. Joelson diz que no decorrer dos próximos anos a Sinon do Brasil deverá introduzir uma vasta linha de produtos no mercado brasileiro.
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Junho de 2002
Embrapa Agropecuária Oeste
Trigo
Esta doença contribui para limitar a produtividade e, por conseqüência, o lucro do triticultor da lavoura
Ferrugem na folha O
trigo é atacado por um grande número de doenças, sendo que estas estão entre os fatores que mais têm contribuído para a limitação de produtividade da cultura, sendo favorecidas pelo excesso de chuvas (com períodos longos e freqüentes de molhamento foliar o que também pode ser proporcionado pela irrigação) e por temperaturas elevadas. Uma das principais doenças que atacam o trigo no Brasil é a ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia recondita f. sp. tritici. O fungo ataca principalmente as folhas, manifestando-se através de pústulas de formato arredondado, coloração amarelo-alaranjada, dispostas sem ordenação na folha, preferencialmente na face ventral. A temperatura ideal para o desenvolvimento da doença é de 15 a 22oC, requerendo um molhamento foliar (água livre) de 6-10h para o desenvolvimento do patógeno. Este patógeno é um parasita obrigatório, perpetuando-se na cultura do trigo e em plantas voluntárias desta gramínea. Esta doença é do tipo policíclica, sendo que o patógeno completa o seu ciclo em, aproximadamente, 10 a 14 dias. Os propágulos do patógeno são disseminados pelo vento a longa distâncias, sendo que a distribuição da doença ocorre de forma generalizada na lavoura. O controle se dá atra-
06
Cultivar
vés da utilização de variedades resistentes, pulverização com fungicidas e tratamento de sementes com fungicidas sistêmicos, principalmente aqueles do grupo dos triazóis. A ferrugem da folha provoca redução na área fotossintética da planta, no desenvolvimento de suas raízes e na qualidade dos grãos. Normalmente, as plantas infectadas produzem menor número de perfilhos e formam por espiga menor quantidade de grãos, que ainda são de menor tamanho, chochos, de baixa qualidade industrial e de valor alimentar reduzido. Devido ao seu potencial destrutivo, algumas cultivares que apresentavam alta suscetibilidade deixaram de ser plantadas. Perdas de 29% e 55%, devido à ferrugem da folha, foram observadas nos EUA; 58% no Canadá; 42% no Paraná e 50% no Rio Grande do Sul. As medidas mais utilizadas como parte das estratégias de controle das doenças do trigo envolvem a integração das seguintes práticas: rotação de culturas, resistência genética, tratamento químico de sementes, uso de sementes sadias, emprego de fungicidas, eliminação de plantas voluntárias e de hospedeiros secundários. No caso da ferrugem da folha, as seguintes medidas são recomendadas: O tratamento químico de sementes de www.cultivar.inf.br
trigo com fungicidas, do ponto de vista de manejo integrado de doenças, é um dos métodos mais simples, de custo relativamente baixo e resulta em reflexos altamente positivos para o aumento da produtividade da cultura. Quando se analisa a questão ambiental, apresenta a vantagem ainda de não alterar a biologia do solo, pois a quantidade por hectare é mínima, sendo rapidamente diluída e degradada no solo. Além disso, dentre os demais defensivos, os fungicidas são os que apresentam o menor impacto negativo no ambiente. Este tipo de prática visa não só o controle de patógenos presentes nas sementes, como também a proteção das plantas contra doenças da parte aérea que atacam a cultura nos estádios iniciais de desenvolvimento, como, por exemplo, ferrugem da folha. Com o advento dos fungicidas sistêmicos, principalmente aqueles pertencentes ao grupo dos triazóis, a ferrugem da folha, quando ocorre mais cedo (início do perfilhamento), tem seu controle viabilizado pela adoção desta tecnologia Este controle tornou-se viável e eficiente pelo fato de esses produtos possuírem características de penetração, translocação e efeito residual prolongado nas plantas. Deve-se salientar que essa proteção das plantas de trigo contra esta doença, nos Junho de 2002
...
... estádios iniciais de desenvolvimento da cul-
tura, poderá trazer benefícios no sentido de retardar o desenvolvimento de uma epidemia pela redução do nível de inóculo do fungo na lavoura. Conseqüentemente, pelo menos uma aplicação foliar de fungicidas poderá ser evitada, gerando economia para os agricultores. Assim, o tratamento de sementes de trigo com fungicida promove benefícios adicionais no controle de epidemias da ferrugem da folha, quando integrado ao tratamento químico da parte aérea, permitindo, dessa forma, o seu uso nos programas de manejo integrado de doenças. A utilização de fungicidas para o controle das doenças dos órgãos aéreos do trigo tem sido um fator de estabilização de rendimento em níveis econômicos. A aplicação de fungicidas é uma prática que exige planejamento. A sua adoção, bem como os produtos a serem utilizados, deve ser decidida anteriormente ao surgimento da doença (com base no histórico de ocorrência das doenças em anos anteriores) e associada a outras técnicas que asseguram um potencial elevado de rendimento da lavoura A ferrugem da folha deve ser controlada quando a sua incidência for de 10 a 15%, a partir do final do perfilhamento. Assim, quando as plantas amostradas alcançarem
este índice, recomenda-se a pulverização com fungicidas. A reaplicação, quando necessária, deverá ser realizada quando ocorrer reincidência. Não fazer aplicações após o estádio de grão leitoso. Normalmente esta doença ocorre no estádio de emissão da folha bandeira, porém, em anos em que ocorre mais cedo, ou seja, nos estádios iniciais de desenvolvimento do trigo (início do perfilhamento), se a prática do tratamento químico de sementes foi adotada, os efeitos da epidemia da ferrugem da folha serão minimizados, contribuindo para reduzir o número de pulverizações. Uma vez que as maiores reduções de rendimento do trigo causado por esta doença ocorrem justamente nesta fase, esta integração de táticas de controle torna-se de suma importância para maximizar o seu controle e dar maior sustentabilidade à cultura. Dentre as medidas de controle das doenças do trigo, o uso de cultivares resistentes é a preferencial por ser o método mais barato, mais fácil, mais eficaz e mais seguro de controle de doenças do trigo. Entretanto, não se dispõe de cultivares resistentes a todas as enfermidades, justificando a adoção de outras medidas de controle que auxiliem na redução do inóculo dos patógenos, conforme comentado anteriormente. O surgimento constante de novas raças
de patógenos, com conseqüente quebra de resistência de algumas cultivares a determinadas doenças, tem limitado a utilização desses materiais por um período mais longo no campo, uma vez que os mesmos apresentam resistência baseada em poucos genes (resistência específica). No caso da ferrugem da folha, por exemplo, a vida útil dessas variedades tem durado aproximadamente de 2 a 3 anos devido à variabilidade do patógeno. Programas de melhoramento, visando a obtenção de cultivares de trigo resistentes à ferrugem vêm sendo desenvolvidos, cujos objetivos são a incorporação de resistência em material adaptado e a criação de fontes de resistência adaptadas. Assim, com base nestas informações, considera-se como medida preferencial ao controle desta doença o uso de variedades resistentes, pois este patógeno não é controlável pela rotação de culturas, uma vez que o mesmo exerce o parasitismo somente em plantas vivas e apresenta alto grau de especificidade. Desse modo, a principal oportunidade de sobrevivência desse grupo de patógenos é em plantas . de trigo voluntárias. Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste
Agronegócios
Mais do que uma filosofia ou um conceito, a agricultura orgânica é um ótimo negócio a ser explorado
Agricultura Orgânica E
mbora a participação da agricultura orgânica, tanto no volume quanto no valor da produção e do comércio agrícola internacional, ainda esteja em patamares muito baixos, chama a atenção os elevados índices anuais de crescimento deste segmento de mercado. Para um país, como o Brasil, que reúne condições de liderar o agronegócio mundial, e que busca pautar sua produção em boas práticas agrícolas, conferindo-lhe sustentabilidade, o nicho da agricultura orgânica deve merecer atenção especial das autoridades, das lideranças públicas, dos cientistas e dos produtores. Mais que uma filosofia ou um conceito, a agricultura orgânica é um negócio florescente, que vem merecendo a atenção das entidades reguladoras. A Instrução Normativa 7/99 do MAPA estatui: sistema orgânico de produção agropecuária e industrial é aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso dos recursos naturais e sócio-econômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto-sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não-renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os mesmos, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a 10
Cultivar
transparência em todos os estágios da produção e da transformação.
BASES E OBJETIVOS
A agricultura orgânica é um sistema de produção que exclui o uso de insumos químicos como fertilizantes sintéticos de alta solubilidade, agrotóxicos, reguladores de crescimento e outros compostos sintéticos. Os adeptos da agricultura orgânica conferem importância fundamental à matéria orgânica e à vida microbiana do solo. Sua filosofia se lastreia em métodos naturais, anteriores à agricultura comercial de larga escala, busca manter a estrutura e produtividade do solo, bem como o equilíbrio ecológico em harmonia com a natureza.
A AGRICULTURA ORGÂNICA OBJETIVA:
1. a oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes, que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente; 2. a preservação e a ampliação da biodiversidade dos ecossistemas, naturais ou transformados, em que se insere o sistema produtivo; 3. a conservação das condições físicas, químicas e biológicas, do solo, da água e do ar; e 4. o fomento da integração efetiva entre o agricultor e o consumidor final de produtos orgânicos e o incentivo à regionalizawww.cultivar.inf.br
ção da produção desses produtos orgânicos para o mercado local. Idealmente, a agricultura orgânica deveria ser implementada em áreas virgens, não submetidas a um processo agrícola anterior. Entretanto, esta premissa conflita com a filosofia de preservação dos recursos naturais, razão pela qual foi desenvolvido o conceito de conversão. Por conversão entenda-se a mudança da forma de manejo do solo, que tem por objetivo desintoxicar o local, através da eliminação de resíduos de fertilizantes e agrotóxicos químicos, promovendo a adoção de métodos naturais para a nutrição das plantas e para o controle de pragas. O processo é promovido com o auxilio da microfauna do solo, com a decomposição da matéria orgânica e pode demorar entre um e três anos.
O MERCADO DE PRODUTOS ORGÂNICOS
O Centro Internacional de Comércio, vinculado à OMC, refere um movimento de US$13 bilhões em produtos orgânicos, no ano de 1998, estimando este valor em US$20 bilhões no ano 2000. Números extra-oficiais apontam para um mercado global próximo aos US$30 bilhões para o ano em curso. O crescimento acelerado do mercado (20-25% a.a.) se deve à crescente preocupação do cidadão com a conservação da Natureza e do consumidor com a contaminação dos alimentos por agrotóxicos. O mercado ganhou impulso com a perda de confiabilidade dos órgãos europeus de defesa sanitária, após os surtos de febre aftosa, vaca louca, ração com dioxina, sangue contaminado com HIV, etc. A agricultura orgânica também representa um contraponto ao uso de OGMs, tornando-se o abrigo seguro de produtores e consumidores que rejeitam a nova tecnologia. Em termos de produção, o Reino Unido possui grande peso específico na pecuária com manejo orgânico, com média de 142 ha por propriedade. A Espanha exporta 75% de sua produção para outros países da Europa, enquanto a Itália e a Dinamarca exportam 67% da produção. Outros grandes exportadores dentro da UE são a Áustria e Portugal. Os EUA absorvem integralmente a sua produção, sendo o maior comprador dos produtos provenientes do Canadá e do México.
A PRODUÇÃO ORGÂNICA
As estatísticas disponíveis sobre agricultura orgânica ainda são precárias e de difícil acesso, devendo-se analisar os números com reservas. Em termos mundiais, os principais produtos da agricultura orgânica são hortifruti-granjeiros; entretanto outros produtos como café, soja ou cereais vêm apresentando crescimento sustentado nos últimos anos. De acordo com estudo recente do BNDES, o maior número de produtores orgânicos encontra-se na Europa (125 mil), representando 1,83% do total de propriedades, ocupando uma área de três milhões de hecJunho de 2002
CERTIFICAÇÃO
tares (2,68% da área total). Seguem-se os países do NAFTA, com 34 mil propriedades ocupando 2 milhões de hectares. No Brasil temos 7 mil propriedades orgânicas, ocupando 270 mil hectares, equivalendo a 0,14% das propriedades e 0,08% da área. Em nosso país a área média de uma propriedade orgânica é de 38 ha, contrastando com 72 ha das propriedades convencionais.
Junho de 2002
Individualmente, a Europa reúne o maior contingente de consumidores, movimentando mais de 50% do mercado mundial. A maior participação dentro do continente europeu é a da Dinamarca, onde os produtos orgânicos abocanham 2,5% do mercado total de alimentos. Entretanto, o maior volume de vendas ocorre na Alemanha (US$1,8 bilhões). Os EUA detêm quase 40% do mercado, seguido do Japão com 10%. O Brasil e a Argentina representam cerca de 1% do mercado mundial.
O MERCADO BRASILEIRO
Se os dados mundiais são examinados com reservas, aqueles provenientes do Brasil não fogem à regra. O Instituto Biodinâmico estima o valor da produção brasileira de 1997 em US$ 90 milhões, tendo sido de US$150 milhões em 1998. Desse total, cerca de 20% foi comercializado no mercado interno. A Tabela 1 apresenta dados referentes à área e ao número de propriedades com agricultura orgânica no Brasil. Verifica-se que a soja tem o maior número de produtores, cujo principal mercado se encontra na Europa e no Japão, embora a maior área esteja concentrada em frutas, cana e palmito, que ocupa um terço do total. As hortaliças representam o grupo de cultivos que melhor se adapta a este processo. No total são 549 produtores orgânicos no Brasil, número que deve crescer intensamente nos próximos anos. Face ao alto valor unitário das hortaliças, provavelmente este seja o mercado de maior expressão monetária dentro do conjunto da agricultura orgânica. O mercado está longe da estabilização, sendo difícil quantificar os prêmios pagos pela produção orgânica. Informações empíricas dão conta de um prêmio médio de 30%. Entretanto, existem referencias de prêmios variando de 50 até 200% sobre o mesmo produto cultivado pelo sistema convencional. Tomando-se o mercado europeu como comparador, tem-se um prêmio médio de 15 50%, havendo referencias de picos de prêmios de 90% na Suécia. www.cultivar.inf.br
Por ser um produto diferenciado, para que possa ser comercializado com a rotulagem de orgânico, há necessidade de certificar-se a produção e o processamento de todo o produto orgânico. O aspecto exterior como cor ou forma, o perfume, o sabor e a textura de produtos orgânicos em nada diferem dos convencionais. A diferença situa-se no sistema de produção, em especial a ausência de insumos químicos sintéticos. Para que o consumidor possa assegurar-se de que está adquirindo um produto com as características desejadas, existem as instituições certificadoras, que atestam a origem e a conformidade da produção orgânica. No Brasil, a agricultura orgânica é regida pela Instrução Normativa 7/1999 (17/5/ 99), sendo o órgão fiscalizador no âmbito federal a Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA, que se assessora do Colegiado Nacional de Agricultura Orgânica, composto por dez representantes, com paridade entre Governo e entes não governamentais. Com-
Número de produtores e área de cultivo com agricultura orgânica Produto Número de Produtores Soja 593 Hortaliças 549 Café 419 Frutas 273 Palmito 40 Cana-de-Açúcar 18 Milho 6 Processados 127 Outros + Pasto 5.038 Total 7.063
% 8,40 7,77 5,93 3,87 0,57 0,25 0,08 1,80 71,33 100,00
Área 12.516 2.989 13.005 30.364 20.816 30.193 264
% 4,64 1,11 4,82 11,26 7,72 11,19 0,10
159.571 269.718
59,16 100,00
Fonte: BNDES (Elaborado a partir das certificadoras)
pete ao Colegiado o credenciamento das instituições certificadoras, a coordenação e a supervisão e fiscalização das atividades dos colegiados estaduais. Estes têm como missão assessorar os órgãos de fiscalização estaduais. Existem atualmente no Brasil 19 certificadoras credenciadas, que ainda necessitam cumprir a etapa de regularização junto aos colegiados. Diversas universidades e institutos dedicam-se à pesquisa em agricultura orgânica. Os centros de pesquisa da Embrapa têm desenvolvido pesquisas sobre agricultura orgânica, sob a coordenação da Embrapa Agrobiologia, localizada no Rio de Janeiro. . Décio Luiz Gazzoni
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agropolis.hpg.com.br
Cultivar
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Milho & Feijão manecendo no solo com diferentes graus de dormência por longos períodos, o que causa emergência irregular, contribuindo para a persistência desta espécie daninha no solo. Quanto às características fisiológicas, a tiririca apresenta uma rota fotossintética altamente eficiente na conversão de energia luminosa em ATP e NADPH, que serão utilizados na conversão do CO2 em carboidrato; todavia, é necessário elevada temperatura e intensidade de luz para que ela realize a fotossíntese com grande eficiência. Quando desenvolvendo em condições de baixa temperatura e intensidade luminosa, torna-se uma espécie pouco competitiva. A temperatura do solo também influencia a brotação dos tubérculos. Estudos têm mostrado que a temperatura ótima para a brotação dos tubérculos está entre 25 e 35ºC, e que a taxa de brotação aumenta linearmente nessa faixa de temperatura; no entanto, a brotação total destes somente é observada com alternância de temperatura (alta e baixa). Apenas pequeno tempo de exposição dos tubérculos a temperaturas de 35ºC, seguidas de temperatura amena (20 a 250C), é suficiente para quebrar a sua dormência. Dessa forma, aumentos graduais na temperatura que ocorrem no solo, principalmente em solos descobertos (plantio convencional) e resfriamento durante a noite servem de estímulo à brotação dos tubérculos no solo, promovendo a rápida infestação da área. Outro fator que influencia a produção de tubérculos e a eficiência de herbicidas para seu controle é a umidade do solo. De forma geral, plantas de tiririca sob deficiência hídrica desenvolvem mecanismos de adaptação, como aumento
A tiririca é considerada a planta daninha mais disseminada e nociva do mundo; saiba como fazer o manejo adequado
Prejuízo à vista A
tiririca (Cyperus rotundus L.) é considerada a planta daninha mais disseminada e nociva do mundo, em razão das reduções quantitativas e qualitativas impostas por ela na produção mundial das principais culturas. Quando em condições ambientais favoráveis, o estabelecimento da tiririca é rápido devido ao intenso crescimento vegetativo e à produção de tubérculos, sendo estes os motivos da sua vantagem competitiva com as culturas. Sua grande capacidade de sobrevivência no agroecossistema se deve a um eficiente sistema reprodutivo, constituído de rizomas, bulbos basais, tubérculos e sementes. As sementes são estruturas de reprodução que garantem maior diversidade genética da espécie no agroecossistema; entretanto, no caso específico da Cyperus rotundus L., o índice de germi12
Cultivar
são usados todos os conhecimentos e ferramentas disponíveis para a produção das culturas livres de danos econômicos da vegetação competitiva , pode reduzir a dependência do uso de herbicidas e atrasar ou prevenir o aumento de espécies perenes geralmente associadas a sistemas de cultivo. Considerando as condições brasileiras, fica evidente, que para culturas anuais, as quais possuem seu ciclo ou parte dele na época das águas, os métodos culturais se apresentam como os mais adequados para integração com o controle químico, visando à redução do número de propágulos da tiririca em áreas agrícolas, evitando assim sua disseminação e seu rápido crescimento. Como exemplo dessa integração de práticas de controle, está sendo conduzida uma pesquisa na Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, desde 1998, com o objetivo de avaliar os efeitos do sistema de plantio direto nas culturas de milho e feijão em sucessão e os reflexos desse manejo na dinâmica populacional de tiririca. A pesquisa está sendo desen-
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Fotos UFV
nação desta espécie em condições brasileiras é baixo (1 a 5%). Os rizomas produzidos pelas plantas de tiririca podem se desenvolver paralelamente à superfície do solo, ou se distribuírem no perfil. O crescimento e o desenvolvimento dos rizomas estão extremamente ligados às condições do ambiente, podendo se diferenciar em tubérculos ou bulbos basais. Os tubérculos formam-se nas extremidades dos rizomas e, à medida que amadurecem, retardam seu crescimento e acumulam altas concentrações de substâncias de reserva, geralmente amido. O bulbo basal é formado a partir do ápice dos rizomas, de maneira similar à do tubérculo, exceto pelo fato de que o primórdio foliar produzirá a parte aérea da planta. Os tubérculos da tiririca atuam como as principais unidades de dispersão, perwww.cultivar.inf.br
na espessura e na densidade da cutícula, e, por conseguinte, reduzem a absorção, a translocação e o metabolismo de herbicidas, o que as torna mais tolerantes a esses produtos. A interferência da tiririca em diversas culturas resulta em perdas de produção. Resultados de pesquisa mostram perdas da ordem de 89% para alho, 81% para feijão e 79% para a cultura do milho, entre outras. Para eliminar esses danos às culturas de milho e feijão, é necessário manter estas culturas livres da interferência desta planta daninha nos primeiros 45 e 30 dias após a emergência. No entanto, a aplicação de métodos isolados de controle, seja mecânico ou químico, não tem tido sucesso no controle desta espécie. A integração de diversos métodos de controle dentro do sistema de produção pode dificultar o crescimento e desenvolvimento de populações de espécies daninhas de difícil controle. Desse modo, o manejo integrado de plantas daninhas, que consiste em um sistema ambiental do campo onde
Brotação de tubérculos de tiririca, coletados em área de plantio convencional (esq.) e plantio direto
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Cultivar
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...volvida em uma área altamente infesta-
da com tiririca (1.000 plantas/m²) e contrasta os sistemas de plantios direto e convencional (aração e gradagem), e as finalidades de uso da cultura do milho (grão e silagem). Quando a finalidade de uso é para milho grão, toda a palhada da cultura permanece na área à superfície, no plantio direto, ou incorporada ao solo, no plantio convencional. Ao contrário, no milho para silagem toda palhada da cultura anterior é retirada da área. No plantio direto, com uso de herbicidas sistêmicos usados como dessecantes, aliado ao fato de não revolver o solo, independentemente se para produzir milho para grão ou para silagem, têmse observado excelentes resultados no manejo desta planta daninha. A partir do segundo ano de condução do ensaio, observou-se redução nos níveis populacionais da tiririca a favor do plantio direto, em relação ao plantio convencional, tanto para a cultura do milho quanto para o feijoeiro, da ordem de 90 a 95%. Os maiores benefícios do sistema de plantio direto no manejo integrado da tiririca são obtidos devido à integração do controle químico proporcionado pelo uso do herbicida sistêmico para dessecação da vegetação em pré-plantio, ao controle cultural exercido pela falta de revolvimento do solo e conseqüente ausência de fragmentação das estruturas vegetativas da tiririca e à adoção de culturas altamente competitivas, principalmente por luminosidade, como a cultura do milho e feijão. Dessa forma, os níveis populacionais da tiririca podem ser diminuídos, principalmente no período de desenvolvimento das culturas sensível à
Brotação de tubérculos de tiririca, coletados no campo; milho para silagem
interferência das plantas daninhas, ou seja, 45 dias após a emergência, a ponto de não acarretar reduções de produção das culturas infestadas Figura 1. A eficiência do sistema de plantio direto no manejo da tiririca fica comprovada quando se analisa o banco de tubérculos no solo após três anos de adoção do manejo integrado: foram observadas reduções de 77 e 84% no número de tubérculos onde se adotou o plantio direto, em relação ao plantio convencional, respectivamente para milho cultivado para silagem e para grão (Figura 2). Outro fato extremamente positivo observado a favor da adoção do manejo integrado foi confirmado quando se avaliou a capacidade de brotação dos tubérculos de tiririca coletados no solo. Estes, quando oriundos da área de plantio direto e
plantados em vasos em condições ótimas de brotação, permaneceram dormentes, ao contrário daqueles originários de área de plantio convencional, que apresentaram brotação total e uniforme. A maior brotação dos tubérculos no plantio direto proveniente de milho para silagem, comparado ao milho para grão, provavelmente deveu-se ao efeito da ausência de palhada, que permitiu variação significativa entre a temperatura diurna e noturna e, conseqüentemente, a brotação dos tubérculos. É importante salientar que a parte aérea da tiririca freqüentemente desaparece sob sombreamento exercido pelas culturas, porém os tubérculos permanecem viáveis no solo e reinfestam à medida que o sombreamento é removido. Esse fenômeno pode ser uma resposta ao aumen-
Fotos UFV
População de tiririca em milho no sistema de plantio convencional
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Cultivar
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Junho de 2002
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Nossa capa
... to e às oscilações da temperatura do solo
quando a parte aérea da cultura é removida e, por conseguinte, favorece a brotação dos tubérculos. A presença de palhada na superfície do solo, além de reduzir a incidência dos raios solares, também evita a alternância de temperatura do solo; na ausência de palhada, o aumento na flutuação da temperatura é maior próximo à superfície e decresce em profundidade. Assim, surge a hipótese de que a dormência existente nos tubérculos encontrados no solo no plantio direto proveniente de milho para grão pode ser causada pela presença de tubérculos mais velhos neste sistema de manejo. Também a idade dos tubérculos pode ser outro fator determinante da dormência dos tubérculos de tiririca, e a proporção de tubérculos dormentes dentro da população aumenta com a idade. A sobrevivência dos tubérculos sob baixas densidades no solo depende da probabilidade de morte destes, a qual é esperada aumentar com a idade, devido à perda gradual da integridade fisiológica. Outra hipótese pode ser atribuída à translocação de subdoses do herbicida sistêmico, utilizado para eliminar a vegetação remascente da cultura anterior, até os tubérculos, o qual poderá induzir a dormência destes, principalmente os mais distantes na cadeia subterrânea. Em síntese, no plantio direto, a manutenção da população de tubérculos se reduz a nível baixo dentro do limite aceito no
Embrapa Soja
Fig. 01 População de tiririca nas culturas de milho e feijão, nos sistemas de plantios convencional e direto aos 30 DAP: fotos feitas no segundo ano do manejo. Viçosa-MG, 2001
Especialista mostra as características mais importantes de vírus de insetos como inseticidas biológicos
Fig. 02 Número de tubérculos de tiririca/m2 considerando três profundidades do solo, nos sistemas de plantios direto e convencional cultivados com milho para grão e silagem: avaliações do terceiro ano de manejo. Viçosa-MG, 2001.
UFV
População de tiririca em feijão no sistema de plantio direto
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manejo integrado de plantas daninhas, pois evita multiplicação de seus propágulos em razão da ausência de distúrbios no solo. Aliado a isso, o uso de cultivos sucessivos e de práticas culturais que permitem o manejo da luminosidade, como adoção de cultivares de crescimento inicial rápido e com altos índices de área foliar, é fator essencial para os resultados obtidos. É importante salientar que a aplicação do herbicida sistêmico (glyphosate ou sulfosate) deve ser feita quando as plantas de tiririca apresentam ótimo desenvolvimento vegetativo e alta atividade metabólica, porém antes do florescimento, para que estes herbicidas sejam translocados com eficiência www.cultivar.inf.br
por todas as partes da planta, principalmente para a subterrânea. Com base nesta pesquisa, conclui-se que com a adoção do sistema de plantio direto, utilizando herbicidas sistêmicos para dessecação, aplicados no momento correto, aliado ao controle cultural, consegue-se ótimo manejo integrado da tiririca, transformando esta espécie daninha extremamente problemática em uma espécie . comum. Antônio Alberto da Silva, A.Jakelaitis e L.R. Ferreira, UFV Junho de 2002
E
Inseto como inseticida?
xistem atualmente 16 famílias de vírus patogênicos a artrópodes, principalmente a insetos (Murphy et al. 1995, Ribeiro et al. 1998). Três famílias (Baculoviridae, Poxviridae e Reoviridae) possuem uma importante característica em comum: o fato de as partículas virais estarem inseridas em corpos protéicos, denominadas de corpos protéicos de inclusão (CPI). Dentre as famílias associadas a insetos, a Baculoviridae, presentemente dividida em dois gêneros, os Nucleopolyhedrovirus (vírus de poliedrose nuclear VPN) e os Granulovirus (vírus de granulose VG), tem sido a mais estudada e desenvolvida como inseticidas microbianos (Moscardi 1999). Esse fato é Junho de 2002
devido aos atributos dos baculovírus, que normalmente tornam esses agentes mais adequados para uso como inseticidas microbianos que os demais vírus associados a insetos. Por outro lado, o grupo dos baculovírus e outros vírus associados a insetos apresentam diferenças importantes em relação aos outros grupos de entomopatógenos (fungos, bactérias, protozoários e nematóides), que tornam as estratégias para seu uso em programas de manejo integrado de pragas bastante distintos em vários aspectos. Os baculovírus e os outros vírus de insetos, diferentemente dos fungos e nematóides, geralmente, não têm a cutícula do inseto como a rota principal para penewww.cultivar.inf.br
tração e infecção do hospedeiro. Entretanto, os baculovírus agem preferencialmente por ingestão, a exemplo dos protozoários (principalmente Microsporídia) e bactérias. Também, os vírus de insetos não produzem toxinas, como a bactéria Bacillus thuringiensis. Além disso, não possuem a capacidade de busca do hospedeiro, como vários nematóides e alguns poucos fungos. Embora o enfoque deste trabalho seja voltado aos atributos desejáveis de vírus de insetos, principalmente dos baculovírus, como inseticidas biológicos, é importante discutir este aspecto em relação a outras estratégias disponíveis para o emprego de vírus no controle de pragas, uma vez que os atributos de cada grupo de vírus (viruCultivar
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... lência, rapidez para provocar mortalidade,
espectro de hospedeiros, persistência, suscetibilidade a fatores abióticos, modo de infecção, forma de transmissão e disseminação, distribuição e densidade populacional etc), que combinados com as características da população do inseto hospedeiro, do agroecossistema considerado (anual, perene etc.), bem como outras práticas de controle utilizadas (cultural, química etc.), devem auxiliar na determinação da estratégia mais adequada para seu uso.
USO DE VÍRUS DE INSETOS
Não se deve esperar que um determinado entomopatógeno tenha desempenho excelente como um inseticida microbiano, se suas características naturais intrínsecas e extrínsecas não evoluíram para tal. Portanto, as informações referentes a cada entomopatógeno devem ser obtidas em detalhe, com relação as suas características e aos fatores que determinam sua prevalência em um determinado inseto hospedeiro e como um determinado entomopatógeno se encaixa em uma ou mais estratégias para seu uso no controle de pragas. Basicamente, há quatro estratégias para o uso de vírus de insetos e outros entomopatógenos: 1. Introdução e Colonização (controle biológico clássico); 2. Manipulação do Ambiente (visando conservar ou aumentar a ocorrência natural); 3. Aumento Inoculativo (aplicação visando multiplicação posterior de um determinado vívus na população do inseto visado); e 4. Aumento Inundativo Inseticida Microbiano (aplicação realizada conforme a necessidade para manter a população da praga abaixo do nível de dano econômico). Estudos de modelagem indicam que os entomopatógenos mais adequados para
introdução e colonização devem apresentar virulência moderada ao hospedeiro, boa transmissão (horizontal e vertical), alta produção de propágulos infectivos e boa persistência no ambiente. Encaixam-se nesse grupo vários baculovírus, os reoviridae e os poxviridae. Por possuírem corpos de inclusão protéico, que conferem maior proteção às partículas virais contra fatores abióticos e bióticos que os vírus de partículas livres, esses vírus tendem a apresentar maior persistência no ambiente, principalmente no solo. Persistência, alta produção de propágulos e boa disseminação são também importantes para técnicas que visem a manipulação do ambiente para manter ou aumentar a ocorrência natural de vírus ou o aumento através de liberações inoculativas. Os vírus de poliedrose citoplasmática (Reoviridae), os entomopoxvírus (Poxviridae) e a maioria dos vírus de partículas livres causam, geralmente, infecções crônicas em insetos e, portanto, não se enquadram para uso como inseticidas microbianos, mas sim em uma das outras estratégias. Por outro lado, vírus destinados a serem aplicados como inseticidas microbianos devem ser altamente virulentos ao hospedeiro, visando manter sua população abaixo do nível de dano econômico, sendo que uma elevada taxa de multiplicação (reciclagem) e transmissão (horizontal e vertical) não tem a mesma importância que no caso das outras estratégias de uso (Fuxa 1987). Entretanto, se um baculovírus além de ser eficiente para reduzir a população do inseto hospedeiro também apresenta boa capacidade de reciclagem (produção e disseminação), esse atributo será importante, pois ele deve resultar em um menor número de aplicações contra o inseto visado, quando comparado com inseticidas Fotos Embrapa Soja
dução seja baixo, a quantidade produzida cada ano pode variar bastante em função do nível populacional do hospedeiro e influência de fatores climáticos e bióticos (ocorrência de outros inimigos naturais etc.). Dessa forma, a possibilidade de poder produzir um baculovírus massalmente em laboratório a custo competitivo, através de métodos mais eficientes é uma necessidade, uma vez que a produção comercial desses agentes in vitro, em bioreatores utilizando-se células de insetos, ainda esbarra em problemas técnicos e econômicos, apesar do avanço que se tem obtido recentemente nessa área.
CARACTERÍSTICAS
Vírus de insetos podem ser usados como inseticidas
químicos (Moscardi 1999). Os baculovírus têm sido o grupo que mais se adapta ao uso como inseticidas microbianos, devido a sua alta virulência, embora a sua alta especificidade e ação relativamente lenta sobre o hospedeiro sejam considerados fatores que têm limitado o uso desses agentes. Por isso, várias iniciativas de engenharia genética têm sido realizadas visando desenvolver produtos a base de baculovírus (principalmente VPNs), com o objetivo de matar o hospedeiro mais rapidamente (através da ação de toxinas expressas por vírus modificados geneticamente), fazendo, também, com que a capacidade alimentar do inseto seja reduzida. No entanto, ao se resolver os problemas mencionados através da engenharia genética, certamente o baculovírus resultante será aplicado mais vezes contra o inseto hospedeiro que o vírus selvagem, numa determinada safra, pois sua capacidade de reciclagem no ambiente é consideravelmente reduzida (menor número de poliedros produzido por larva infectada) (ver revisões de Bonning & Hammock 1996 e Moscardi 1999).
OUTROS ATRIBUTOS
A alta especificidade, um atributo importante dos baculovírus, considerando seu uso em programas de manejo integrado de pragas, pode ser também um fator que limita seu uso em culturas com diferentes insetos importantes ocorrendo simultaneamente. A possibilidade de produção econômica, em escala comercial, tem sido possível apenas in vivo, tanto em insetos criados em dieta artificial em laboratório como em condições de campo (ex. baculovírus da lagarta-da-soja, Anticarsia
Há diversas estratégias para o uso de vírus de insetos como inseticidas
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gemmatalis VPNAg). No entanto, no primeiro caso a produção de diferentes baculovírus é onerosa, pelo custo de ingredientes de dieta, equipamentos, mão-de-obra etc. Já em campo, embora o custo de pro-
Os atributos de um determinado vírus para uso como inseticida microbiano ou para uso de acordo com as outras estratégias já mencionadas deve ser analisado, também, no contexto das características do hospedeiro e do agroecossistema considerado. Insetos com crescimento populacional do tipo r são controlados, geralmente, por entomopatógenos cuja ação é rápida (devido ao efeito de toxinas ex. B. thuringiensis). Alguns baculovírus, embora de ação menos rápida que B. thuringiensis,
podem ser utilizados contra pragas do tipo r (crescimento populacional rápido e várias gerações), se o nível de dano econômico estabelecido para a praga for alto, aliado à aplicação numa fase inicial do crescimento populacional do inseto, para evitar dano econômico pelo hospedeiro. Por outro lado, as estratégias de aumento inoculativo e de introdução geralmente são mais apropriadas para o controle de pragas do tipo K (crescimento populacional lento e uma ou poucadas gerações) e um vírus do tipo K (lento, de infecção crônica, mas com persistência na população do hospedeiro boa transmissão vertical e horizontal etc., como VPCs, EPVs, etc.). Também, as pragas com crescimento populacional do tipo intermediário (r baixo), são as mais adequadas para controle com vírus de ação intermediária (lenta), incluindo vários baculovírus. Entretanto, um determinado vírus pode ser utilizado nas quatro estratégias mencionadas, com base em cada caso e nas características da praga e do ecossistema onde o patógeno será introduzido ou aplicado. Outros fatores importantes relacionados ao hospedeiro que devem ser considerados vis a vis com os atributos de cada vírus são: a) Composição populacional; b) Densidade e
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Cana-de-açúcar
...distribuição; e c) Comportamento (caniba-
lismo, hábito gregário ou não, alimentação em locais protegidos etc.) (Fuxa 1987). Em relação às características do ecossistema (culturas anuais e perenes, florestas), que mais afetam o sucesso do uso de um determinado vírus, considerando o patógeno e o hospedeiro, estas estão relacionadas com: a) Fatores ambientais, como os abióticos (temperatura, umidade, precipitação, radiação solar, tipo de solo, pH do substrato, substâncias antimicrobianas etc.), e os bióticos (população do hospedeiro, planta atacada pelo inseto alvo, predadores e parasitóides, pássaros, outros microrganismos etc.). Os primeiros afetam, principalmente, a suscetibilidade do hospedeiro, persistência do vírus, transmissão, disseminação e produção de propágulos e, os segundos, afetam o ciclo, disseminação, transmissão e persistência do patógeno. Esses fatores podem ser manipulados para favorecer uma maior eficiência do patógeno
to (Moscardi 1999); c) Complexos de pragas e inimigos naturais. Como já discutido, embora a alta especificidade de baculovírus seja um fator importante em programas de MIP, essa característica se torna desfavorável em uma cultura onde haja um complexo de pragas importantes ocorrendo simultaneamente. Nesse caso, deve-se procurar utilizar a estratégia de introdução e colonização, para que o vírus introduzido possa contribuir com mortalidade adicional àquela já proporcionada por outros inimigos naturais no sistema; d) Tipos de ecossistemas. Em florestas e pastagens, consideradas mais estáveis, as estratégias de introdução, colonização e a de aumento inoculativo são consideradas as mais adequadas, sendo que, em alguns casos, as de aumento inundativo (inseticida microbiano) e de manipulação ambiental podem também ser utilizadas nesses sistemas. Já em sistemas instáveis, como é o caso de culturas anuais, geralmente apenas os vírus de ação mais rápida, como alguns baculovírus utilizados como in-
2. Esse vírus apresenta boa transmissão horizontal na população do hospedeiro por fatores abióticos (ex. precipitação) e bióticos (parasitóides e predadores); 3. Sua persistência no solo de uma safra para outra é muito boa, principalmente em sistemas de plantio direto de soja; 4. A lagarta-da-soja, como desfolhador, é exposta continuamente após a aplicação do VPNAg, ingerindo rapidamente uma dose letal do patógeno, contrariamente a insetos de hábitos cripticos (minadores, brocas, etc.) mais difíceis de controlar por produtos virais, os quais devem ser ingeridos para provocar mortalidade; 5. A lagarta-da-soja, na maioria das regiões de cultivo de soja no Brasil, é o principal inseto desfolhador de soja, não havendo outras pragas de ocorrência simultânea que demandem controle. Neste caso, um produto tão específico como o VPNAg pode ser empregado durante a sua ocorrência na cultura, pois, na maioria das regiões, é a praga que de-
IAC
Roberto Arevalo defende que é preciso haver uma visão holística do manejo, sustentável de matospécies em cana
Invasoras na cana
Embrapa Trigo
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Mariposa que se transformará em lagarta-da-soja
ou para aumentá-lo no meio ambiente (ex. protetores em formulações contra a desativação por raios UV, aplicação ao entardecer, uso de substâncias que potencializam a atividade viral etc.); b) Disponilidade de níveis de ação para a praga visada na cultura hospedeira. Os níveis de ação (com base em níveis populacionais e de dano do inseto, em relação à redução potencial da produtividade da planta hospedeira) para a aplicação de inseticidas não se aplicam, geralmente, para patógenos de ação relativamente lenta, como é o caso dos baculovírus, utilizados como inseticidas microbianos. Um exemplo é o programa de uso do VPN da lagarta da soja no Brasil, que recomenda um nível de ação para sua aplicação diferente daquele utilizado para o uso de inseticidas químicos, para o controle desse inse20
Cultivar
seticidas microbianos, podem competir com os inseticidas químicos.
RAZÕES DO SUCESSO DO USO DO VPN
Em função do que foi exposto acima sobre os atributos desejáveis de vírus de insetos, considerando as características do inseto hospedeiro e do ecossistema em questão, é importante mencionar a conjunção favorável desses fatores para que o uso do VPN de Anticarsia gemmatalis (VPNAg) da lagarta-dasoja no Brasil se constitua, há vários anos, no maior programa mundial de uso de um vírus de inseto e também de uso de um entomopatógeno para o controle de uma espécie de praga em uma única cultura (Moscardi 1999): 1. O VPNAg é altamente virulento a larvas de A. gemmatalis; www.cultivar.inf.br
manda medidas de controle; 6. A soja tolera altos níveis de lagartas e de desfolha (30 a 40%) alto nível de ação, sem perda de rendimento de grãos (kg/ha), o que favorece o uso de um produto biológico como o VPNAg. O mesmo não ocorre quando uma baixa população de insetos em uma determinada cultura causa dano econômico (baixo nível de ação), desfavorecendo o uso de inseticidas virais como inseticidas microbianos; 7. Outros fatores relativos ao sucesso do uso do VPNAg no Brasil, não inerentes às características do vírus, do hospedeiro e do agroecossistema, são discutidos por Moscardi (1999). Flávio Moscardi, Embrapa Soja Junho de 2002
o mundo, a cana-de-açúcar é cultivada em 19.904.000 ha (FAO, 1998). Isto representa uma enorme monocultura, onde não existe biodiversidade, por isso ocorre uma grande instabilidade ambiental, que exige constante intervenção humana com mecanização, fertilizantes defensivos e fogo, para manter a produtividade (AREVALO & BERTONCINI, 1999). A monocultura extingue a biodiversidade, desertizando a vida e concretizando o silêncio da alvorada da primavera de CARSON (1962). Como conseqüência, aumentam os rendimentos, embora se contamine o ambiente com resíduos de defensivos, fertilizantes, resíduos industriais e com gases, que contribuem para o E.E.- Efeito Estufa, e destruição da Camada de Ozônio, com alteração do clima da Terra. Por outra parte, se soma a poluição ambiental gerada pelas emissões de gases para a atmosfera, resultantes das queimadas de flora, material vegetativo de plantas cultivadas e outro organismos associados. A agricultura mundial é uma imensa área Junho de 2002
de mais de 1.500 milhões de ha, onde se cultivam apenas umas 70 espécies de plantas. Isto representa um verdadeiro desastre ecológico. Ao redor de 65% da área cultivada com cana-de-açúcar é mundialmente queimada. A queima de material orgânico, praticamente contribui com todos os gases que provocam E.E., com aquecimento global da atmosfera da Terra. Isto derruba o argumento de que o CO2 emitido nas queimadas da cana é imediatamente absorvido pela cultura e, pelo tanto, não prejudica a atmosfera. E os outros gases emitidos nas queimadas, para onde vão? É importante mencionar aqui, que o CO2 é responsável por 50% dos gases que provocam E.E. As queimadas da cana, suma-se as queimadas de combustíveis fósseis pelos motores de explosão dos veículos, maquinarias e industrias, que contribuem com 5 dos 6 gases que causam E.E. Também a combustão do álcool contribui com CO2 atmosférico. Embora, o álcool é 5 vezes menos poluente que os combustíveis fósseis. Além de ser energia solar acumulada e renovável na fotossíntese. As matospecies são as únicas pragas conswww.cultivar.inf.br
tantes da agricultura. Na América Latina costumam erradamente denominar pragas somente quando se trata de insetos, que atacam as culturas. Quando o termo praga, é clássico puro, do Latim, plaga . Praga é tudo o que prejudica os interesses do homem. Isto criou nas universidades e institutos de pesquisas a disciplina de departamento de doenças e pragas, como se fossem coisas diferentes. É um erro intolerável, especialmente quando se trata da elite do conhecimento. A matoconvivência com a lavoura ocasiona perdas no rendimento potencial da cultura da cana superior às outras pragas juntas (insetos, nematoides, organismos fitopagênicos, roedores, etc). As perdas no rendimento potencial da cultura são de aproximadamente 10% nos países desenvolvidos e mais de 30% em países de economia emergente. Assim, para solucionar o problema da matoinfestação, tem sido recomendado o uso de herbicidas, que foram intensificados de sobre maneiras, durante a chamada Revolução Verde dos anos 70 e 80. Quando houve aumento exagerado no uso do matocontrole Cultivar
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Efeitos da preparação do solo sobre densidades de plantas de ROOEX, em número de plantas . m-2, durante 1993-1999. Valores médios de 6 repetições e de 6 anos(AREVALO et al.,2000)
...químico, em detrimento dos outros métodos
de manejo de matospecies, como é ecologicamente desejável. O solo totalmente livre de matoinfestação era um orgulho para o agricultor canavieiro (AREVALO & BERTONCINI, 1998, p. 23). Embora a remoção total de matospecies infestantes do campo não trás resultados econômicos no rendimento da cultura (VEGA, 1982). Os ilústres Mestres ROBBINS et al.,(1969) recomendavam deixar no campo entre 10 e 20% da matoinfestação para manter os hospedeiros de outras pragas, evitar que ataquem a cultura e permitir manter de alguma maneira a biodiversidade. Não obstante da ganância do rendimento alcançado, um novo paradigma global está surgindo no mundo, frente aos sérios problemas ambientais que estão ocor- IAC rendo. Uma vez que este não pode garantir a sustetabilidade da própria atividade (AMARAL & AREVALO, 1999). Os resíduos de defensivos encontrados em alimentos agrícolas e pecuários, águas subterrâneas, onde os riscos superam os benefícios (ZIMDAHL, 1995), estão preocupando seriamente os ecologistas (ODUM, 1988). PIÑEIRO (1992) diz ...la tecnologia y el crecimiento habían ofrecido al hombre posibilidades tan inmensas de desarrollo y progreso. Nunca antes esa misma tecnología y dinámica de crecimiento habían llevado a la humanidad tan al borde de la destrucción de su ambiente natural . Atualmente vem sendo recomendada a utilização do manejo sustentável, para a manutenção de um ambiente ecologicamente limpo, preservado e produtivo para as presentes e futuras gerações. O presente trabalho é uma visão
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Cultivar
holística do manejo sustentável de matospecies, que infestam a cultura da cana-de-açúcar.
MANEJO DE MATOSPECIES
O conceito de manejo envolve uma série de técnicas e atividades coordenadas que, em conjunto, têm maior efetividade que qualquer dos componentes utilizados isoladamente (UNITED STATES, NATIONAL ACADEMY OF SCIENCE, 1980). O Manejo Sustentável pode ser definido como: a integração de tecnologias que atenuam o impacto ambiental e permitem um ambiente limpo, produtivo , economicamente viável para solucionar os problemas sociais, para as presentes e futuras gerações (AREVALO, 2000, inédito).
O uso de herbicidas na cana é capaz de proteger esta cultura das piores plantas daninhas
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O conceito de Manejo Sustentável de matospecies da cana-de-açúcar envolve conhecimentos básicos de Matobiologia (Dinâmicas de matopopulações; limiar econômico de danos, etc.) e dos cultivares de cana relacionados com o manejo (brotação e crescimento rápido; fechamento rápido; denso sombreamento; alta produção de resíduos de colheita; colheita mecanizada de cana crua e aplicação de herbicidas de precisão, etc.(AREVALO, 1992; AREVALO, 1999a; AMARAL & AREVALO, 1999). Na maioria dos países de economia emergente, se conhecem parcialmente, ou se desconhecem totalmente, os temas básicos necessários para o Manejo Sustentável de matopecies da cana-de-açúcar (AREVALO, 1999 a ; 1999b). Durante os 10.000 anos de história da agricultura da cana-de-açúcar, tem-se utilizado combinações de métodos de matocontrole, sendo muitas vezes até empíricos, para salvar o rendimento potencial da cultura dos efeitos deletérios desta praga constante que infesta esta cultura no mundo (AREVALO, 1992; 1999a). O Manejo sustentável de Matospecies é dinâmico e deve estar sujeito a reavaliações periódicas para aplicar novas tecnologias cada vez mais econômicas, mais eficientes e de menor impacto ambiental. O Manejo Sustentável de matospecies da cana-de-açúcar deve também estar regulamentado pela lei de plantas daninhas e leis que tratem de tecnologia de aplicação de herbicidas de precisão. É importante destacar que no Brasil ainda não existe lei de Plantas Daninhas.
MANEJO SUSTENTÁVEL DE MATOSPECIES
Em termos gerais, a sustentabilidade deve envolver: 1) Ambiente higiênico; 2) Produção econômica e 3) Solução dos problemas sociais. Ambiente, economia e sociedade são a base fundamental da sustentabilidade, porque a pobreza degrada o ambiente. Atualmente são raros os trabalhos científicos que tenham tratado adequadamente o manejo de matospecies que não seja por meio de herbicidas (AMARAL & AREVALO, 1999; DE LA CRUZ, 1992). Existem aspectos ecológicos, econômicos e sociais, que exigem o conhecimento de outra alternativas do manejo de plantas daninhas. Os objetivos do Manejo Sustentável de matospecies em cana-de-açúcar poderá englobar as seguintes práticas: Aspectos culturais da cana: Adequado equilíbrio ecológico (adaptados ao ambiente e livres de pragas); Nutrição apropriada da cultura; Preferência de plantio de verão ou outono; Cultivares de brotação rápida (-10 dias), crescimento e fechamento rápido (-40 dias), com perfilhamento rápido (-40 dias) Denso e rápido sombreamento (-30% de transmisividade de luz e 40 dias); Colheita mecanizada de cana crua, com 15-20 t.ha de fitomassa Junho de 2002
seca de resíduos; Tolerantes aos resíduos de colheita (brotação e crescimento), com + 13 colmos colheitáveis por m. linear; Cultivares matoalelopáticos; Tolerância de cultivares à matoinfestação; Tolerância ou resistência de cvs de cana a herbicidas; Aspectos de matospecies infestantes: Periodicidade de germinação e emergência de plântulas; Dinâmica de matopopulações; Determinação de dinâmica de matopopulações; Determinações de limiares de danos; Suscetibilidade ao sombreamento; Suscetibilidade à cobertura com resíduos de colheita; Conhecimentos de limiares de danos e Período crítico de matocompetição; Suscetibilidade a herbicidas; Rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. Suscetibilidade ao sombreamento: As matospecies podem ser suscetíveis, tolerantes e resistentes ao sobreamento das plantas de cana-de-açúcar. São sucetíveis, quando morrem. Suscetibilidade aos resíduos de colheita: A seletividade de matospecies aos resíduos de colheita podem também classificar-se em suscetíveis, tolerantes e resistentes. São suscetíveis, quando morrem. A cobertura dos resíduos de colheita também inibe a germinação dos disseminulos porque reduz a amplitude térmica. Pois as variações bruscas de temperatura quebram a dormência e estimulam a germinação dos disseminulos. Os resultados mostram que mais de 50%
das matospecies que infestam a cultura são controladas com resíduos de colheita entre 10 e 20 t.ha de fitomassa seca (AREVALO & BERTONCINI, 1999). Já, REYNOSO (1862, p. 333) tem observado em Cuba este fato. Textualmente diz Los resíduos impiden, hasta cierto punto, que se desarrollen entre las cañas, plantas extrañas capaces de absorber las materias que aquellas pueden y necesitan extraer de la tierra. Suscetibidade a herbicidas: As matospecies são suscetíveis a herbicidas, quando morrem pelos tratamentos. São tolerantes, quando sofrem injúrias e se recuperam e são resistentes, quando não são afetadas pelos herbicidas. Dinâmicas de emergência de plântulas: Os conhecimentos de dinâmica de emergência de matopopulações permitem escapar delas, realizando o plantio quando estas se encontram no mínimo. A máxima produção de população de ROOEX aconteceu no período de setembrooutubro e logo declinou a partir de novembro, atingindo o mínimo em julho. Deste estudo se infere que o plantio de cana -de-açúcar para facilitar o manejo de ROOEX deverá ser realizado quando as populações estão em declínio. Se as condiões ambientais permitem, o ideal seria plantar cana quando existe mínima matopopulação. Limiar de danos: O Limiar de danos define a densidade que prejudica a cultura. Acima da qual o rendimento da cultura é preju-
dicado se não se tomam medidas urgentes de manejo. É muito importante estudar este aspecto para as 10 piores matospecies que infestam a cultura.
CONCLUSÕES
1)Os problemas ambientais criados pela agricultura convencional estão preocupando cientistas, políticos, organizações não-governamentais e a sociedade em geral; 2) Existe a necessidade sentida de criar novos paradigmas para a agricultura; 3) Existe a necessidade de repensar o manejo de agroecossistemas, com enfoque multidisciplinar; 4) Existe a necessidade de criar agroecossitemas ecologicamente mais estáveis, mais limpos, e garantir uma produtividade apropriada para alimentar uma população que cresce constantemente; 5) Existem deficiências de conhecimentos de Matobiologia para determinar modelos de manejo sustentável de matospecies; 6) O manejo sustentável de matospecies deverá integrar: a) utilização de cultivares de cana de brotação e fechamento rápido, b) alta produção de colmos colheitáveis, c) colheita mecanizada de cana crua, d) manutenção dos resíduos de colheita na superfíciedo solo, e) plantação de cultivares tolerantes a resíduos de colheita e f) aplicação de . herbicidas de precisão. ROBERTO A . AREVALO, Centro de Cana-IAC
Soja
Adjuvante em soja
Cultivar
Adição de adjuvante vegetal à calda de pulverização dos herbicidas garante a mesma eficácia agronômica que a adição de adjuvante mineral
C
que quando as plantas daninhas ocorrem com a cultura já desenvolvida. Revisão apresentada por Pitelli (1985) registra que o período crítico da soja se estende até 45-50 dias após a emergência das plantas. Obter máxima eficácia agronômica de programa de manejo pós-emergente de espécies daninhas no sistema de plantio direto envolve não somente estudos quanto épocas mais adequadas de aplicação, mas também a integração de herbicidas disponíveis com adjuvantes. A hipótese do presente trabalho é que a adição de óleo adjuvante vegetal à calda de pulverização dos herbicidas graminicidas de pós-emergência (pós-semeadura) pode garantir igual ou superior eficácia agronômica que a adição de óleo adjuvante mineral. Para testar essa hipótese, um experimento de campo foi instalado com os objetivos de (1) investigar a proporção mais adequada do adjuvante vegetal Natur l Óleo a ser adicionado às caldas, e o (2) impacto subseqüente na efetividade dos graminicidas Clethodim e Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, aplicados em pós-emergência, e no rendimento de grãos de soja. Fotos UEPG & CESCAGE
ontrole de plantas daninhas é freqüentemente citado como o principal desafio no sistema de plantio direto. O aumento na quantidade de palhada que permanece na superfície em plantio direto pode afetar a relação entre o crescimento e desenvolvimento de plantas daninhas e cultivadas. Controle deficiente em culturas sob plantio direto pode ser devido a plantas daninhas que (a) sobrevivem à exposição aos herbicidas de ação foliar, ou (b) emergem após a aplicação dos herbicidas pós-emergentes, ou após a dissipação dos herbicidas aplicados ao solo. Com o aumento da densidade de infestação experimentado no sistema de plantio direto, o atraso na aplicação dos herbicidas de pós-emergência pode resultar em redução no rendimento devido à interferência das invasoras antes do tratamento, mesmo se o controle for eficiente após a aplicação (Stahl et al., 1999). O período crítico de controle é influenciado pela densidade e época de emergência das invasoras em relação à cultura (Dieleman et al. 1995; Pitelli, 1985). No caso da soja, a competição no início do ciclo da cultura reduz mais a produção de grãos do
Área onde foi utilizado só herbicida
Porção de testemunha sem o uso de herbicidas
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Cultivar
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TRATAMENTOS
A efetividade de três proporções do adjuvante óleo vegetal Natur l Óleo foi comparada à do adjuvante óleo mineral Assist, quando em mistura em tanque com os herbicidas graminicidas Clethodim a 84 gia/ha e a mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl a 40 + 40 gia/ha. As combinações descritas, pulverizadas em pósemergência, totalizaram 11 tratamentos mais uma Testemunha Sem herbicidas, conforme sumarizado nas figuras 1 a 4.
CONDIÇÕES QUANDO DAS PULVERIZAÇÕES
Todas as pulverizações foram efetuadas em área total, em pós-semeadura e pósemergência, empregando equipamento pulverizador costal pressurizado a gás carbônico, provido de barra com seis pontas de jato plano XR110.02 VS, espaçadas entre si de 0,50 m, utilizando água como veículo solvente. O equipamento foi operado à pressão constante de 2,41 kg/cm2 (35 libras por polegada quadrada), na vazão de 203 L/ha. As pulverizações foram realizadas aos 35 DAS, com a soja no estádio de 3o trifólio totalmente expandido, 20 cm de altura. As
ÁREA EXPERIMENTAL
O estudo foi conduzido em área de soja localizada na Fazenda Escola Capão da Onça , da Universidade Estadual de Ponta Grossa, município de Ponta Grossa, PR, latitude 25o 05 S e longitude 50o 03 W. De relevo suave ondulado, o solo é um latossolo vermelho amarelo, originário da decomposição de materiais trabalhados da formação Ponta Grossa e Furnas. A análise física registrou composição de 30,9% de areia, 21,1% de silte e 48,0% de argila, enquanto a análise química do solo revelou pH(CaCl2) 4,3 , H+Al 10,45 cmol/ dm3, Al+++ 0,4 cmol/dm3, Ca++ + Mg++ 4,9 cmol/dm3, Ca++ 3,3 cmol/dm3, K+ 0,55 Junho de 2002
espécies gramíneas predominantes consistiram de Brachiaria plantaginea (Link) Hitch. com 12 cm altura, 1 a 4 perfilhos e 140 a 250 plantas/m2, Digitaria ciliaris (Retz) Koel. com 12 cm altura, até 5 perfilhos e 2 a 6 plantas/m2, e Triticum aestivum L. com 15 cm altura, 1 a 3 perfilhos e 18 a 26 plantas/ m2. Os herbicidas foram aplicados com tempo nublado, temperatura do ar de 25 o C e do solo de 26 oC, umidade relativa do ar de 58 %. Descrição dos adjuvantes e herbicidas Puríssimo, 1998, 1999; Retzinger & MallorySmith, 1997; Rodrigues & Almeida, 1998; Vidal, 1997, 2001; WSSA, 1994. O Natur l Óleo é um adjuvante formulado pela Stoller do Brasil Ltda, composto por 930 ml/L de ésteres de ácidos graxos com glicol, grupo químico éster óleo emulsionável. Não tem efeito herbicida. Assist é um adjuvante concentrado emulsionável do grupo dos hidrocarbonetos, formulado pela Basf S.A., composto por 756 g/l ou 75,6% m/v de óleo mineral parafínico, mais 97 g/l ou 9,7% m/v de ingredientes inertes. Ambos têm são classificados como pouco tóxicos.
...
cmol/dm3, PMehlich 7,7 mg/dm3, e C 34 g/ dm3.
CULTURA TESTE
A soja cultivar BRS-134 foi semeada diretamente sobre palhada de cultura de trigo, em 18/novembro/99, no espaçamento entre fileiras de 0,45 m e densidade de 18 a 20 sementes por metro. Pulverização de manejo foi realizada no dia seguinte ao da semeadura da soja, empregando-se Glifosate. Aos 27 dias após a semeadura (DAS) da soja, a mistura em tanque de Bentazon + Lactofen foi aplicada em pósemergência total, para o controle das invasoras latifoliadas. Junho de 2002
Demonstração onde aplicou-se herbicida adicionado ao óleo vegetal
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Cultivar
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Área onde foi utilizado o herbicida Podium S
O herbicida Clethodim está disponível no mercado como Select 240 CE, registrado e formulado pela Hokko do Brasil Indústria Química e Agro Pecuária Ltda, como concentrado emulsionável contendo 240 g/l de clethodim, (E,E)-(+/-)-2-[1-[[(3-chloro-2p ro p e n y l ) o x y ] i m i n o ] p ro p y l ] - 5 - [ 2 (ethylthio)propyl]-3-hydroxy-2-cyclohexen-1one, grupo químico cyclohexanedione. Classe toxicológica III - medianamente tóxico. Registrado e formulado pela Aventis, o Podium S consiste numa emulsão concentrada contendo 50 g/l de Clethodim, e 50 g/l (11% m/v) de Fenoxaprop-P-ethyl {D+-ethyl-2-[4[(6-chloro-2-benzoxazolyl)oxy)-phenoxy]propanoate}, grupo químico aryloxyphenoxypropionate. Ambos inibem a enzima acetyl CoA carboxilase (ACCase), enzima que cataliza a síntese de ácidos graxos ou lipídeos, bloqueando assim a produção de fosfolipídeos, os quais são essenciais à formação das novas membranas necessárias ao crescimento das células. Aplicado às folhas, transloca-se apossimplasticamente, acumulando-se nas regiões meristemáticas. Classe toxicológica II faixa amarela - altamente tóxico.
AVALIAÇÕES
O efeito dos herbicidas pós-emergentes sobre as gramíneas foi avaliado indiretamente, através da estimativa visual de controle aos 7, 14 e 28 dias após as pulverizações, DAT. Empregou-se escala percentual, equivalendo 0% a sem controle e 100% a controle total , comparados à Testemunha Sem Herbicidas . Por ocasião da colheita, foi determinado o efeito dos tratamentos herbicidas sobre o rendimento de grãos de soja.
tal de 21,0 m2 (3,5 m x 6,0 m). As médias foram comparadas empregando-se a teste múltiplo de Duncan ao nível Pr< 0.05 em SAS (Schlotzhauer & Littell, 1987).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Controle de Brachiaria plantaginea, BRAPL1 , Fig. 1. A eficácia de controle de BRAPL evoluiu com o tempo de avaliação, passando de moderado (71 a 81%) aos 7 DAT para muito bom (>90%) aos 28 DAT. Clethodim mostrou-se mais dependente dos adjuvantes que a mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl. Não foram observadas diferenças entre os adjuvantes mineral e vegetal nas avaliações realizadas. Também não foram encontradas diferenças significativas entre as três proporções de óleo vegetal testadas, embora aos 7 DAT tenha sido evidente a tendência a melhor eficácia na proporção 0,5% v/v, em ambos os herbicidas. Esta aparente melhoria na eficácia pode estar ligada a um possível aumento na velocidade de absorção dos herbicidas. Aplicado sóozinho, o óleo vegetal não teve qualquer efeito herbicida ou fitotóxico. Fotos UEPG & CESCAGE
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Controle de Digitaria ciliaris, DIGSP3, Fig. 2. DIGSP mostrou-se de mais difícil controle que BRPL, com resultados apenas bons (máx 85%) aos 28 DAT. Mais uma vez, Clethodim mostrou-se significativamente dependente dos adjuvantes, enquanto o mesmo não se verificou com a mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl. Com ambos graminicidas não foram detectadas diferenças significativas entre adjuvantes mineral e vegetal, nem entre as proporções de óleo vegetal. Quando ao Clethodim foi adicionado 0,5% v/v de óleo vegetal, a eficácia de controle superou significativamente o tratamento Clethodim sem adjuvante. Já nas misturas em tanque com Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, o aumento na proporção do óleo vegetal tendeu a não favorecer o controle, conforme evidente aos 28 DAT, quando na proporção 1% v/v a eficácia foi significativamente inferior à obtida pela mistura formulada sem adição de adjuvante. Como esperado, o adjuvante óleo vegetal pulverizado sozinho não teve qualquer efeito herbicida ou fitotóxico. Controle de Triticum aestivum, Fig. 3. Trigo procedente da cultura anterior, constituiu-se em importante infestante na área experimental. Clethodim mostrou-se mais eficiente no controle dessa invasora, diferindo significativamente da mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, na avaliação dos 28 DAT. Ambos herbicidas foram bastante dependentes da adição dos adjuvantes. Quando adicionados ao Clethodim, não foram observadas diferenças importantes entre os óleos mineral e vegetal, nem entre as proporções de óleo vegetal testadas. Já quando os adjuvantes foram adicionados à mistura formulada Clethodim + Fenoxaprop-Pethyl, as diferenças encontradas entre o óleo mineral e as proporções de óleo vegetal apontam para o fato de que a eficiência de controle do trigo aumentou quando empregada no mínimo 0,75% v/v do óleo vegetal. Como esperado, o adjuvante óleo vegetal aplicado sozinho não teve qualquer efeito herbicida ou fitotóxico.
PROCEDIMENTO ESTATÍSTICO
Foi adotado o delineamento experimental de blocos completos casualizados, com quatro repetições. Os 11 tratamentos mais uma Testemunha Sem Capina, foram dispostos em unidades experimentais com área to26
Cultivar
Área onde foi utilizado o herbicida Podium S e o óleo adjuvante vegetal
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Junho de 2002
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AENDA
Defensivos Genéricos
...Rendimento de grãos de soja, Fig. 4.
A ineficácia no controle das gramíneas proporcionada pelos tratamentos Testemunha Sem Herbicidas, Óleo vegetal 1% v/v sem herbicida, e Clethodim 84 gia/ha sem óleo adjuvante, com conseqüente aumento na interferência daquelas espécies sobre a soja, resultou em significativa redução no rendimento de grãos de soja (685 a 1454 kg/ha) significativamente inferiores ao dos demais tratamentos herbicidas (2104 a 2652 kg/ha). Não foram detectadas diferenças importantes entre os adjuvantes mineral ou vegetal adicionados aos herbicidas, nem entre as três proporções de adjuvante óleo vegetal testadas. Dessa forma, a proporção 0,50% v/v do adjuvante vegetal comercial Natur l Óleo, pareceu ser suficiente para garantir a eficácia de controle de herbicidas graminicidas pós-emergentes, em especial do Clethodim empregado na dose mínima de 84 gia/ha.
Figura 1. - Controle (%) de Brachiaria plantaginea aos 28 DAT
Resistência vem e vai Planejamento de médio prazo para a lavoura com aplicações de inseticidas, fungicidas e herbicidas pode ser a alternativa para evitar a resistência
Figura 2. - Controle (%) de Digitaria ciliaris aos 28 DAT
O
CONCLUSÕES
Clethodim mostrou-se mais dependente dos adjuvantes que a mistura formulada de Clethodim + Fenoxaprop-P-ethyl, no controle das gramíneas; Não foram observadas diferenças significativas entre os adjuvantes mineral e vegetal nas avaliações realizadas; Não foram encontradas diferenças significativas entre as três proporções de óleo vegetal testadas, exceto no controle de Triticum, quando a eficácia foi aumentada ao se empregar no mínimo 0,75% v/v do óleo vegetal; A aparente melhoria na eficácia de controle com a adição do óleo adjuvante, pode estar ligada a um possível aumento na velocidade de absorção dos herbicidas; Sozinho, o adjuvante óleo emulsionável vegetal não teve qualquer efeito herbicida ou fitotóxico; A ineficácia no controle das gramíneas nos tratamentos Testemunha Sem Herbicidas, Óleo vegetal 1% v/v sem herbicida, e Clethodim 84 gia/ha sem óleo adjuvante, resultou em aumento na interferência daquelas espécies sobre a soja, e em conseqüente redução na população final de plantas e rendimento de grãos de soja; a redução no rendimento de grãos na Testemunha Sem Herbicidas foi da ordem de 72%, em comparação ao Clethodim 84 gia/ha mais 0,50% v/v do adjuvante vegetal comercial Natur l Óleo; O adjuvante vegetal comercial Natur l Óleo, já a 0,50% v/v, garantiu a eficácia de controle de herbicidas graminicidas pósemergentes, em especial do Clethodim empregado na dose mínima de 84 gia/ha. .
s jornais estampam o desenvolvimento de resistência do mosquito Aedes aegypti a alguns ingredientes ativos utilizados no combate ao vetor dos flavivírus, gênero de arbovírus, causador da dengue. A SUCEN, Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo, trocou o inseticida cipermetrina pelo malathion, abolido em 1991 e, na baixada santista, investe no Bacillus thuringiensis var. israelensis em substituição ao larvicida temefós. No contexto natural, a resistência não é criada, ela advém de um fator genético pré-existente em alguns indivíduos. Assim, existe uma correlação direta com o controle em massa das populações de pragas. Os indivíduos sem o fator-resistência são eliminados e a propagação daquela população passa a ser, paulatinamente maior, por indivíduos sobreviventes, portadores do fator. É claro que ela pode surgir de mutações, que são fenômenos casuais na natureza ou até mesmo em decorrências das transposições genéticas de um organismo a outro de forma natural, embora ainda não totalmente comprovadas. A ciência não pode ainda determinar a previsibilidade do surgimento da resistência, mas um monitoramento cuidadoso pode observar essa pressão de seleção e construir curvas de tendências. Em campanhas de saúde pública a pressão de seleção é forte, posto o uso maciço de um ou dois ingredientes ativos por um período continuado que abarca algumas gerações do alvo biológico. As nebulizações em volume/tempo podem oscilar muito e a concentração errônea por área certamente acelera o processo da resistência. O treinamento sistemático dos aplicadores, a melhoria dos métodos e técnicas de aplicação e um controle de qualidade
Figura 3. - Controle (%) de Triticum aestivum aos 28 DAT
Figura 4. - Rendimento de grãos de soja (kg/ha)
Cláudio Puríssimo, UEPG & CESCAGE 1
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Código de identificação computadorizada adotado por Kissmann(1991) e WSSA
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dos produtos empregados devem ser cuidadosamente planejados e perseguidos. Da troca de produtos realizada pela SUCEN uma dedução interessante nos assalta: o fator-resistência nas populações dos mosquitos não tem manifesta perpetuação. Produto que vai é produto que vem anos depois, capaz de novamente controlar esses culicídeos. No caso da agricultura, a resistência se manifesta mais lentamente em razão da dispersão das aplicações e maior casualidade dos tipos de produtos utilizados. Para o agricultor, a resistência tem dramática importância, pois significa maior número de tratamentos e custos maiores ou, tanto pior, menor produtividade e abandono da cultura ou até mesmo da terra. Mas não é preciso ficar de braços cruzados à espera do inevitável. Faça um planejamento de médio prazo para sua lavoura de amplitude comercial, digamos, para três safras, com aplicações de inseticidas, fungicidas e herbicidas, levando em conta o arsenal de métodos e produtos à disposição para um manejo integrado das pragas. Lembre-se que existem diversos métodos de controle além do químico: culturais (uso de variedades resistentes, alteração da época do plantio etc.), mecânicos (uso de bar-
reiras, armadilhas, destruição dos restos de cultura etc.), físicos (calor, frio, som etc.), biológicos (introdução de parasitóides e predadores, preferência a produtos que afetam menos os inimigos naturais). Monitore sua lavoura, contando as pragas e só aplique produtos no limiar econômico dos custos de aplicação versus o prejuízo estimado; os institutos de pesquisa têm desenvolvido regionalmente esses indicadores. Outra coisa, dependendo da praga, verifique qual o estágio de vida mais susceptível ao controle dos produtos. Alterne os produtos que controlam a praga, de forma a realizar uma rotação entre ingredientes ativos e diferentes mecanismos de ação letal ao organismo da praga. Logicamente, o maquinário de aplicação deve estar bem vistoriado para não proporcionar cobertura desigual. Neste mister não esqueça que volume e pressão empregados devem ser previamente estudados. Como se vê, o controle de pragas é uma tarefa complexa. Utilize a assistência de um técnico experiente. Exija dele um quadro com todas as alternativas. Aplique custos nesses quadros. Não esqueça que existem produtos líderes e produtos genéricos similares ou, para empregar uma palavra mais moderna, equivalentes, contendo os mesmos ingredientes ativos. Decida você.
Algodão Fotos CTPA
soja, as perdas devido a ocorrência desse patógeno variaram de 11,5% a 61% durante a safra 2000/2001, na região sul do Paraná (Yorinori & Feksa, 2001). Além das culturas acima mencionadas, Sclerotinia sclerotiorum constitui-se em sério problema para outras culturas como girassol, ervilha e tomate. Sclerotinia sclerotiorum forma micélio e escleródios na fase assexual e ascas com ascoporos na fase sexual. O micélio é composto por hifas hialinas multicelulares, sendo o escleródio formado pela anastomose de um grande número de hifas em um corpo duro e compacto, de formato variável, podendo atingir vários centímetros de comprimento (Masirevic & Gulya, 1992). Temperaturas do ar favoráveis ao desenvolvimento da doença encontram-se na faixa de 10 a 25°C (Weiss, 1980). Duas formas de germinação podem ocorrer a partir do escleródio: uma miceliogênica, formando somente hifas e outra carpogênica, produzindo apotécios (Zimmer & Hoes, 1978). Os apotécios são estruturas de forma plana ou de taça, apresentando coloração marrom clara, com cerca de 4 a 10 mm de diâmetro, onde são produzidos os esporos sexuais (ascosporos) de S. sclerotiorum. Solos úmidos por um longo período são essenciais para a formação de apotécios. Weiss (1980) observou que as condições ótimas para a produção de
O algodão mofou... O mofo-branco do algodoeiro, quando encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento, causa danos irreversíveis à cultura
S
clerotinia sclerotiorum é um fungo polífago, tendo como hospedeiros plantas de 408 espécies. Sua ocorrência na cultura do algodão foi relatada pela primeira vez no Brasil no ano de 1999, em área cultivada sob pivô central. Durante a safra 2000/2001, foi constatada a ocorrência de Sclerotinia sclerotiorum no município de Coromandel-MG, em algodão cultivado em regime de sequeiro. À semelhança do que ocorre com a soja, feijão e girassol, a doença pode causar perdas intoleráveis em regiões que apresentem condições favoráveis ao seu desenvolvimento. O algodoeiro herbáceo ou anual (Gossypium hirsutum L. r. latifolium Hutch) é uma malvácea fibrosa-oleaginosa, podendo ser cultivado tanto em condições de sequeiro quanto em qualquer sistema de irrigação (Embrapa, 1994). Várias doenças afetam o algodoeiro no Brasil, com estimativas de perdas na produção na ordem de 17,55% para a região Centro Oeste, durante a safra 1998/99 (Neto & Machado, 2000). Algumas, como o mosaico comum do algodoeiro, a mancha angular (Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum), a ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides) e a fusariose (Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum) são causadoras de grandes prejuízos. Sclerotinia sclerotiorum é um fungo 30
Cultivar
polífago, tendo como hospedeiros plantas de 75 famílias, 278 gêneros, 408 espécies e 42 subespécies ou variedades. Com exceção de uma espécie da divisão Pteridophyta, todos os hospedeiros de S. sclerotiorum pertencem às classes Gymnospermae e Angiospermae, sendo a maioria pertencentes à subclasse Dycotiledonea, embora muitos sejam da subclasse Monocotyledonea (Boland & Hall, 1994). www.cultivar.inf.br
Essa doença encontra-se disseminada por todas as regiões de condições climáticas amenas (Região Sul do Brasil), bem como nas regiões dos cerrados com altitudes superiores a 800 metros (Embrapa, 2000). É um patógeno comumente associado a perdas significativas de rendimento em lavouras comerciais de feijão irrigadas sob pivô central no Distrito Federal (Charchar et al., 1994). Em Junho de 2002
Mofo-branco é extremamente prejudicial à cultura do algodão
apotécios são de 10 a 14 dias com potencial matricial da água no solo de -250 mb, e temperaturas entre 15 e 18°C. Durante a safra 2000/2001, foi constatada a ocorrência de Sclerotinia sclerotiorum em algodão cultivado em regime de sequeiro, no município de Coromandel-MG, em área de aproximadamente 100 ha, que previamente havia sido cultivada com soja. Anteriormente, Charchar et al. (1999) haviam identificado pela primeira vez no Brasil a ocorrência de Sclerotinia sclerotiorum na cultura do algodão irrigado sob pivô central. A ocorrência de Sclerotinia sclerotio-
Planta de algodão atacada pelo mofo-branco
Junho de 2002
rum na cultura do algodoeiro apresenta basicamente o mesmo padrão de interação que se conhece em outros hospedeiros. As lesões iniciais são de coloração marrom clara, de aspecto encharcado, evoluindo para marrom pardacento. Sob condições de umidade elevada, a lesão pode ser coberta por um micélio branco, de aspecto cotonoso. Escleródios do fungo são encontrados em grande intensidade no interior das maçãs de plantas atacadas, em mistura com as sementes (Charchar et al., 1999). A exemplo do que ocorre com outros hospedeiros, as sementes certamente são um importante meio de disseminação do fungo, uma vez que os escleródios nem sempre são removidos do lote por ocasião do beneficiamento. A prevenção do inóculo em sementes é uma das estratégias mais importantes no sentido de proteger áreas com potencial para a exploração do algodoeiro. A ocorrência de mofo-branco em áreas cultivadas com o algodoeiro é um fator dos mais limitantes para a continuidade desse cultivo e de outras espécies hospedeiras do patógeno, pois uma vez introduzido na área de plantio, o inóculo de Sclerotinia sclerotiorum é praticamente impossível de ser erradicado. Na ausência de hospedeiro suscetível, a persistência dos escleródios no solo pode atingir até 8 anos (Adams & Ayers, 1979). . José Nunes Júnior, Rodrigo Ayusso Guerzoni, CTPA
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De olho nas pragas Manejo integrado de pragas garante segurança e lucratividade ao produtor
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a condução do Manejo Integrado de Pragas do Algodoeiro não se justifica realizar aplicações preventivas. As medidas de redução populacional com inseticidas devem ser feitas quando a praga atingir o Nível de Controle. O controle de brocas e percevejo-castanho são exceções a esta regra. Com relação aos produtos fitossanitários: 1. só se permite o emprego de produtos fitossanitários oficialmente registrados para a cultura do algodão; 2. se restringe o emprego de produtos não seletivos, de longa persistência, alta volatilidade, lixiviáveis, ou outras características negativas (por exemplo, que levem a surtos de pragas secundárias); 3. deve-se destacar a importância das normas de segurança; 4. redução das doses ou da área tratada (quando possível); 5. deve-se manter refúgios ; 6. a calibração periódica do equipa32
Cultivar
mento por parte do agricultor é um requisito básico; 7. revisão exaustiva e periódica do equipamento (especialmente manômetros e bicos) em empresas autorizadas, no mínimo a cada 4 anos; 8. visando minimizar o impacto das pragas e os custos de controle, recomendase que os agricultores apliquem inseticidas apenas quando necessário, baseando-se num cuidadoso programa de monitoramento das populações de pragas e da expectativa de colheita; 9. antes da aplicação de qualquer defensivo agrícola, considerar a possibilidade de problemas de ressurgência, desequilíbrio de pragas secundárias e evolução à resistência. O uso generalizado de misturas de produtos inseticidas é passível de severas críticas, uma vez que eleva os custos de produção, aumenta desnecessariamente a quantidade de produtos aplicados no ambiente, www.cultivar.inf.br
pode acelerar a evolução das resistência das pragas, causa maiores desequilíbrios ecológicos, entre outros aspectos negativos. As misturas só seriam justificáveis se elas permitissem controlar simultaneamente duas ou mais pragas que tenham atingido o nível de controle e/ou se a mistura fosse sinérgica. Como estratégia de manejo da resistência, as misturas somente seriam recomendáveis se houvesse as seguintes condições: baixa freqüência de alelos resistentes, ausência de resistência cruzada entre os compostos da mistura, quando os componentes da mistura têm a mesma persistência, quando a resistência for recessiva para pelo menos um dos componentes, os genes que conferem resistência aos compostos não estiverem ligados e existência da presença de refúgios para os indivíduos suscetíveis. Todos os agricultores e profissionais que praticam o controle químico na cultura do algodão devem adotar estratégias para eviJunho de 2002
tar o desenvolvimento da resistência de pragas aos pesticidas. Estas medidas devem ser adotadas por todos e em todas as regiões algodoeiras onde a migração de espécies é possível. São medidas importantes para minimizar as possibilidades do desenvolvimento da resistência das pragas do algodoeiro aos inseticidas e acaricidas: 1. rotação, a longo prazo, de modos de ação de produtos (Tabela 1); 2. uso de doses efetivas de um componente individual, em mistura de tanque; 3. uso de dose cheia em mistura de frasco; 4. o controle não deve ser conduzido com uma só classe de ingrediente ativo (procure rotacionar 4 modos de ação por ciclo da cultura); 5. compostos de mesmo modo de ação não devem ser misturados; 6. esgote os métodos de controle cultural, físico e biológico; 7. use produtos seletivos; 8. evite subdose e superdose; 9. fique certo que foi obtida uma cobertura uniforme na pulverização; 10. se ocorrer redução da eficácia a campo, devido à resistência, trocar de modo de ação na replicação; 11. utilize sempre os níveis de controle mais elásticos recomendados pela pesquisa; 12. monitore as pragas, detectando os primeiros sinais de resistência; 13. controle as pragas no seu estágio mais suscetível; 14. leve em consideração o tratamento de culturas vizinhas; 15. uso de variedades transgênicas resistentes a pragas exige a manutenção de refúgios para populações suscetíveis; 16. destruir sempre os restos culturais de entressafra; e 17. cada Companhia deve identificar o parceiro para seu produto na mistura ou na rotação. Para evitar surtos de pragas secundárias, como ácaros, e viabilizar a rotação de modos de ação, o uso de inseticidas piretróides deve restringir-se de 80 a 130 dias após a emergência das plantas. Quanto às pulverizações, o ideal é fazê-las via terrestre até os 60 dias de idade da cultura, e deixar para depois desta época as aplicações aéreas. As principais causas de insucesso das pulverizações têm sido relacionadas com a qualidade das aplicações, como por exemplo: volumes de calda de aplicação inadequados, falta de infra-estrutura de máquinas e equipamentos de aplicação para atender a propriedade nos momentos de grande demanda, condições meteJunho de 2002
UFMGS
Algodão
Paulo fala sobre o manejo integrado de pragas no algodão
orológicas impróprias durante o trabalho, atraso nas aplicações, uso de subdoses ou misturas inadequadas, dentre outras. Apontados os principais problemas de qualidade de aplicação, as soluções estariam relacionadas com uma maior comunicação entre o operador e os responsáveis pela produção, treinamentos (inclusive para os pilotos agrícolas), dimensionar as máquinas e equipamentos para atender os momentos de picos de aplicações. Lembrar que no uso de defensivos agrícolas deve-se respeitar a legislação corrente e o rótulo/bula do produto. Antes de recomendar a aplicação de um defensivo, o profissional deve certificar previamente se o produto tem autorização de
uso para a cultura e praga-alvo. O produtor deve seguir as orientações da prescrição do receituário agronômico emitido pelo profissional legalmente habilitado, pois esta é uma das garantias que ele tem em caso de falhas de controle. O uso correto e adequado de produtos fitossanitários é vantajoso para todos, pois somente através do controle racional das pragas, as produções são viabilizadas de modo sustentado, serão minimizados os problemas, como as chamadas barreiras fitossanitárias estabelecidas pelos compradores dos nossos produtos agrícolas, e os custos de produção serão reduzidos. . Paulo E. Degrande,
Universidade Federal Mato Grosso do Sul
Sinopse dos principais modos de ação (sítios primários) dos inseticidas e acaricidas Principais grupos de inseticidas Análogos do DDT Éster do ácido sulfuroso (ciclodienos) Organofosforados Carbamatos Piretróides Uréias substituídas Tiouréias Nitroguanidinas/neonicotinóis/cloronicotinóis Naturalaites Fenil-pirazóis Avermectinas Juvenóides Ecdiosteróides Oxadiazinas Cartap Polioxinas Antijuvenis Triazinas Formamidinas Endotoxinas de Bt
Modo de ação Mantêm abertos os canais de íons Na+ do axônio Antagonistas de canais do íon Cl- mediados pelo GABA* Inibem a AchE** Inibem a AchE Afetam o fluxo de íons Na+ nos canais do axônio Inibem a biossíntese de quitina Inibe a ATPase mitocondrial e o metabolismo de energia (inibem o transporte de elétrons - sítio II) Simula a ação da Ach*** em receptores nicotínicos, competindo com seus receptores Simula o efeito da Ach em receptores não nicotínicos, abrindo canais iônicos Antagonistas de canais do íon Cl- mediados pelo GABA* Atuam nos íons Cl- controlados ou não pelo GABA, como ativadores dos canais Análogos do hormônio juvenil (neotenin) Agonísticos do hormônio da ecdise (ecdisônio) ligando-se a receptores Bloqueiam os canais de íons Na+ dos neurônios Antagonistas de Ach, competindo, inibindo condutância de íons Na+ Inibem a quitina-sintetase Agem no neotenin (hormônio juvenil) Inibem o crescimento e o metabolismo de ácidos nucléicos Atuam no receptor octopaminérgico Agem sobre receptores de protease do tubo digestivo
*GABA= ácido gama aminobutírico - **AchE = enzima actilcolinesterase - *** Ach = acetilcolina
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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting
Trigo entra como boa alternativa em junho Os produtores estão otimistas com o mercado do trigo, que estará em plantio neste mês de junho e, no caso gaúcho, até julho. As primeiras indicações mostram que poderemos ter uma safra de 3,7 milhões de t, sobre as cerca de 3 milhões colhidas no ano passado. O Brasil deverá importar entre 6,5 e 7 milhões de t neste ano, e como todo o trigo vem atrelado ao câmbio, que tem mostrado reação forte às flutuações políticas e deverá continuar bastante sensível nos próximos meses, os produtores certamente acabarão se favorecendo, já que os moinhos trabalharão com custos maiores para o produto importado - indicados em US$ 135,00/140,00 por t para o produto da Argentina - dando aos nacionais propensões de R$ 330,00 ou mais, como vem ocorrendo atualmente. Dessa forma, a cultura de trigo torna-se bastante atrativa economicamente para os produtores que não têm milho safrinha nos campos. O consumo de trigo, neste ano, deverá manter-se próximo de 10 milhões de t e, assim, deverão ser necessárias grandes importações, que terão origem na Argentina, que certamente continuará nos seus piores momentos econômicos, os quais não irão passar rapidamente.
MILHO Safrinha entrando em colheita
O milho continuou mostrando poucas ofertas e, mesmo com os indicativos sendo ajustados, forçando os compradores a bancar as correções, os produtores não fecharam grandes volumes no balcão. A safrinha teve chuvas sobre as lavouras do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, melhorando as condições das plantas que vinham sofrendo com a pouca disponibilidade de água do mês de abril. E para abastecer as necessidades dos grandes consumidores do Sul do país, começou a colheita da safrinha no Mato Grosso, com muitas áreas de Lucas em colheita no Norte do Estado.
res. Também houve avanço nos indicativos do arroz dos Estados centrais, que trabalharam com valores de até R$ 25,00 pela saca do irrigado, de Tocantins, com 60 kg. Nas regiões produtoras do Norte do MT, os valores ficaram entre R$16,00 e R$ 17,00, com os produtores forçando-os para cima. Os agricultores estão mais capitalizados, não havendo, assim, necessidade de grandes fechamentos, favorecendo as cotações com vendas escalonadas.
FEIJÃO Começa a colheita do irrigado
Os produtores de feijão de Minas Ge-
SOJA
CURTAS E BOAS
Produtores seguraram e ganharam
Os produtores que seguraram a soja para vender em maio ganharam, pelo menos, R$ 3,00 por saca a mais do que aqueles que negociaram logo após a colheita entre fevereiro e março. Os indicativos da soja tiveram forte pressão de alta em maio, em cima do câmbio que esteve ajustado e, principalmente, dos avanços vistos em Chicago. Por aqui, a retenção das vendas de balcão pelos produtores contribuiu para dar suporte aos avanços nos valores praticados. Mesmo com os avanços, pouca soja foi negociada em maio.
ARROZ Poucos vendedores e mercado firme
O mercado do arroz em casca mostrou poucos vendedores em atividade, e também sinalizou com a recompra dos contratos de Opções pelos produtores, que conseguiram fortalecer as cotações em pelo menos R$ 1,00 sobre os valores praticados em abril, mostrando R$ 16,00/16,50 para o casca gaúcho em maio. Os produtores continuaram segurando e tentando números melho34
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rais, das lavouras irrigadas de Unai e Paracatú, começaram a colheita da safra irrigada em maio e devem alongá-la até julho, já que houve colheita e também plantio. Com isso, a entrada de produto novo não será concentrada e manterá as cotações firmes, já que a demanda do feijão continua forte neste ano. O Carioca mostrou propensões entre R$ 60,00 e R$ 70,00 por saca. Enquanto isso, o Preto se manteve entre R$ 55,00 e R$ 65,00 por saca, devendo continuar trabalhando com as cotações firmes, porque a safra do Sul do país e de São Paulo já está encerrada.
EUA - O presidente Bush assinou a lei dos subsídios, ou Farm Bill, que distribui recursos aos produtores americanos, mas trouxe a redução do preço mínimo da soja: de US$ 5,26/bushel para US$ 5,00/bushel. Também aumentou o preço de garantia do milho de US$ 1,89 para US$ 1,98 por bushel, lembrando que o milho tem o bushel de 25,4 kg e a soja de 27,215 kg. CHINA - Divulgou uma tarifa nova sobre as importações da soja dos EUA - 24% - como retaliação ao aço que os EUA vêm dificultando a entrada. Com isso, poderão haver novos espaços para soja da América do Sul. SOJA - A safra encerrou a colheita e os números estão fechando ao redor de 41 milhões de t, enquanto na Argentina apontam fechar perto de 29 milhões de t. O crescimento aproximado nos dois países é de 7 milhões de t. MILHO - As indústrias catarinenses apontam que o Estado terá a necessidade de mais de 1,5 milhões de t para fechar o consumo, previsto em 4,7 milhões de t, deste ano. A safra foi fortemente comprometida pela seca e só resultou em 3,1 milhões de t. Enquanto isso, o Paraná, maior produtor nacional, que colheu 12,4 milhões de t no ano passado, agora só deverá contar com 9,8 milhões, tendo, assim, menos milho para vender, já que o consumo interno deverá chegar às 7,2 milhões de t, contra as 6,6 milhões em 2001. O quadro é de aperto. SUÍNO X MILHO - O setor de suínos do Sul do Brasil está tentando viabilizar a troca de 20 mil t de carne de suíno brasileiro por 200 mil t de milho argentino. Os portenhos diminuíram as compras de suínos do Brasil nos últimos meses em função da crise econômica e da dificuldade de conseguir créditos para importação. A troca seria, então, uma boa opção.
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Junho de 2002