Cultivar 41

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Ano IV - Nº 41 Julho / 2002 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00

Pela água

Inseticidas aplicados via água de irrigação por aspersão podem tornar-se mais eficientes

(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 8,00

Informe Cooplantio

Diretor:

Newton Peter

Editor geral:

Schubert Peter

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Redação

Dirceu Gassen atenta para a necessidade de se melhorar a qualidade da semeadura

Pablo Rodrigues Charles Ricardo Echer Gilvan Dutra Quevedo

Design Gráfico e Diagramação:

Fabiane Rittmann

Marketing:

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Neri Ferreira

Momento certo

Circulação:

Edson Luiz Krause

Especialista detecta as condições ideais para o ataque da giberela em cereais de inverno

Assinaturas:

Simone Lopes

Ilustrações:

Rafael Sica

Revisão:

Carolina Fassbender

Editoração Eletrônica:

Invasoras resistentes

Index Produções Gráficas

Fotolitos e Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES: (53) GERAL / ASSINATURAS: 272.2128 REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716 MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314 FAX: 272.1966 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

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A resistência de plantas daninhas a herbicidas é um mal a ser superado pelas agroquímicas

índice

Nossa capa

Diretas

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Inseticidas via irrigação

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Controle da lagarta-do-cartucho

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Algodão em campo - Goiás e Bahia

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Plantio direto

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Congresso Brasileiro de Plantas Daninhas

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Coluna da Aenda

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Ferrugem da soja

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Melhoramento para controle da ferrugem

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Giberela: no momento do ataque

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Resistência de invasoras a herbicidas

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Indústria de sementes

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Agronegócios

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Mercado agrícola

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Foto Capa / Paulo Kurtz - Embrapa Trigo Folha com sintomas da ferrugem da soja


diretas Justa homenagem

O Dr. Romeu Afonso de Souza Kiihl foi homenageado durante o II Congresso Brasileiro de Soja, em Foz do Iguaçu (PR). Segundo Décio Gazzoni, presidente do Congresso, coube a um gênio, o Dr. Romeu, e à sua equipe, o mérito de romper as comportas tecnológicas e permitir que o Cerrado se inundasse de soja .

Gazzoni e Kiihl

Contrabando

David, Maurício e Roberto

Mérito Fitossanitário

A BASF foi laureada na edição 2001 do Prêmio Mérito Fitossanitário promovido pela ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal). Na categoria Indústria, conquistou o primeiro lugar e, na categoria Profissional da Indústria, ficou em segundo, em função do desempenho do colaborador Omar Gustavo Bin. O prêmio reveste-se de importância social, pois reconhece as iniciativas das empresas e de seus profissionais relacionadas à educação e ao treinamento do homem do campo no que diz respeito ao uso correto de produtos fitossanitários. Na foto, da esquerda para a direita, David Tassara gerente de marketing, Maurício Marques novo diretor de negócios e Roberto Araújo gerente de segurança de produto.

O presidente da Cooplantio, Daltro Benvenutti, disse no seminário da entidade que a demora na liberação do plantio de soja transgênica no Brasil gerou situação semelhante à da reserva de mercado na informática, quando a falta de computadores nacionais obrigava os usuários a buscar contrabando no Paraguai. Hoje ,os produtores estão contrabandeando sementes de soja da Argentina. Se persistir a proibição, vai crescer a demanda da soja Maradona e acabar quebrando a já combalida indústria nacional de sementes, ponderou.

Bonifácio, Elêusio e Maeda

Algodão transgênico

Durante dia de campo de algodão, realizado pela Embrapa Algodão e pela Fundação Goiás, em Santa Helena (GO), Jorge Maeda, presidente da Abrapa Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, foi firme ao dizer que a única maneira de a cotonicultura brasileira conseguir mais competitividade no mercado externo é com a liberação do algodão transgênico no país. Segundo Elêusio Curvelo Freire, chefe do Cnpa, a Embrapa Algodão será parceira dos produtores na luta pelo algodão geneticamente modificado no Brasil.

Braspov

Cláudio de Miranda Peixoto, gerente de marketing da Pioneer Sementes, é o novo presidente da Braspov Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais. Cláudio dará continuidade ao trabalho de combater a chamada bolsa branca comércio ilegal de sementes de cultivares protegidas.

Seminário

Boa pedida

A Cooplantio, Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto, promoveu seu 17º Seminário de 12 a 14 de junho, em Gramado, RS, reunindo mais de 600 produtores da Região Sul. Durante três dias os participantes ouviram palestras de grande interesse em diversas áreas, proferidas por especialistas. Sucesso total.

Foi lançada a publicação As Plantas Daninhas e a Semeadura Direta , em um a parceria entre a Embrapa Soja, a Universidade Estadual de Londrina e a Emater (PR). O livro procura contribuir com informações para orientação e capacitação no manejo integrado de Plantas Daninhas.O texto foi escrito pelos pesquisadores Dionísio Gazziero, Fernando Adegas, Cássio Cavenaghi Prete, Ricardo Ralisch e Maria Fátima Guimarães.

Bayer

Liderado por Sergio Zambon, gerente de desenvolvimento de inseticidas, e por Luiz Weber, coordenador técnico da Região Sul, o grupo da Bayer Cropscience fez sua primeira aparição em evento no Congresso de Soja, em Foz do Iguaçu, como integrantes da nova empresa, resultante da fusão Bayer-Aventis.

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Cultivar

www.cultivar.inf.br

Mudanças Pioneer

Carlos Walter Hentschke assumiu a Gerência Nacional do Departamento de Tecnologia da Pioneer Sementes. Carlos, engenheiro agrônomo formado pela UFSM Universidade Federal de Santa Maria, iniciou na Pioneer em 1991 atuando como agrônomo de campo na produção de sementes, trabalhando principalmente nas áreas irrigadas da região de Cruz Alta.

Carlos W. Hentschke Julho de 2002


Milho

O controle da lagarta-do-cartucho com inseticidas aplicados via água de irrigação por aspersão, em diversas condições, torna-se muito eficiente

Salvação pela água D

efine-se como insetigação, a aplicação de inseticidas via irrigação. Na insetigação o sistema de irrigação por aspersão tem sido o método mais utilizado para a aplicação dos inseticidas. A técnica iniciou-se na América do Norte na década de 60, visando o controle de pragas foliares com a utilização dos inseticidas azinphos methyl e carbaryl. Na década seguinte, foram desenvolvidos uma série de testes em sistema por aspersão, obtendo excelente controle da primeira e segunda geração da broca européia (Ostrinia nubilalis) e da broca grande da cana-de-açúcar (Diatraea grandiosella) atacando a cultura do milho. No Brasil, a insetigação começou a ser utilizada na década de 80, havendo uma grande escassez de informações técnicas para as nossas condições. Atualmente, com a expansão de áreas agrícolas irrigadas, tem-se utilizado aplicações de inseticidas via irrigação por aspersão, muita das vezes, sem se conhecer parâmetros técnicos necessários para se obter a melhor eficiência e redução de riscos oriundos de qualquer utilização de defensivos agrícolas. 06

Cultivar

As doses dos inseticidas aplicados na insetigação são, na maioria das vezes, as mesmas utilizadas em pulverizações pelos métodos convencionais (tratorizada ou costal). Observando a evolução da insetigação, verifica-se que as primeiras avaliações de inseticidas para esse emprego basearam-se nos princípios ativos que apresentavam eficiência comprovada através de pulverização para o controle de determinada praga. Vários parâmetros são relevantes para se obter uma boa eficiência na insetigação e evitar riscos, destacando-se as condições ambientais (velocidade do vento, umidade relativa, precipitação pluviométrica), tipo e umidade do solo, seleção de inseticidas (solubilidade em água, dose), volume, qualidade e velocidade do fluxo de água e compatibilidade de produtos na quimigação. A insetigação tem sido utilizada com sucesso para o controle de diversas pragas em várias culturas, entretanto, existem exemplos de insucessos, indicando que o método não se aplica para todas as condições. A cultura do milho é onde o emprego www.cultivar.inf.br

do método tem alcançado os melhores resultados. A principal praga da cultura, a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), tem sido eficientemente controlada com inseticidas aplicados via água de irrigação

Quadro. Inseticidas com melhores performances via irrigação por aspersão para o controle da lagarta-do-cartucho atacando o milho Inseticida (i.a.)

Dose (i.a./ha)

chlorpyrifos fenvalerate carbaryl diazinon lambdacyalothrin spinosad

288 200 1105 480 10 48

por aspersão. Nesse caso, o controle da praga é favorecido pela arquitetura da planta do milho, que apresenta o formato de um cálice, favorecendo a deposição da calda do inseticida no interior do cartucho da planta, onde se localiza a lagarta. As perdas devido ao ataque da lagartado-cartucho no milho podem atingir até 34% da produção. A planta é atacada desde a fase de plântula até o pendoamento e espigamento. No início do desenvolvimento do milho, as lagartas pequenas raspam as folhas deixando áreas transparentes; a lagarta crescida localiza-se no cartucho da planta, destruindo-o. A lagarta também pode ocorrer na espiga, causando perfuração na região central. Em alguns casos, apresenta o hábito de ficar localizada no solo, assemelhando-se a lagarta-rosca, causando perfuração no colmo de plântulas, contribuindo para a redução de estande na lavoura. A lagarta totalmente desenvolvida mede aproximadamente 40 mm, apresenta coloração variável de pardo-escura, verFotos Embrapa Milho e Sorgo

Folhas apresentando severo ataque da lagarta-do-cartucho

Julho de 2002

Julho de 2002

de até quase preta e possui um Y invertido na parte frontal da cabeça. O estádio de desenvolvimento da planta de milho mais sensível ao ataque da lagarta é o de 8 a 10 folhas e o controle mais utilizado é com inseticidas. Recomendase que o controle seja realizado quando 17% das plantas estiverem com o sintoma de folhas raspadas, indicando nesse ponto que as lagartas presentes ainda não causaram danos econômicos para a lavoura. Atualmente, há vários inseticidas recomendados para o controle da lagarta. Existem os inseticidas considerados de última geração, como por exemplo, os fisiológicos (lufenuron, triflumuron), que atuam no crescimento do inseto e os de origem biológica (spinosad), com baixa toxicidade para os organismos benéficos, homem e animais. Também há os inseticidas tradicionais, principalmente dos grupos de piretróides, organofosforados e carbamatos, que diferem entre si em eficiência, seletividade para os inimigos naturais e toxicidade para o homem e animais. Os inseticidas são usualmente aplicados com pulverizadores costal ou tratorizado. Porém, alguns são eficientes para o controle da lagarta em aplicação via irrigação por aspersão. Os inseticidas selecionados na Embrapa Milho e Sorgo com melhor eficiência, empregando esse método de aplicação, são mostrados no Quadro. Os inseticidas mostrados no Quadro podem ser aplicados utilizando equipamentos convencionais de irrigação (tipo lateral portátil) ou através de pivô. Para o equipamento convencional, a calda inseticida pode ser injetada no sistema de irrigação através de bomba dosadora ou de um equipamento portátil de injeção desenvolvido na Embrapa Milho e Sorgo, denominado vaquinha . Para o pivô central, utiliza-se a bomba dosadora. Para qualquer situação, a calda pode ser aplicada em um lâmina de 6 mm, o que corresponde, um volume de 60.000 litros por hectare. Independentewww.cultivar.inf.br

mente do método de injeção adotado, a qualidade dos resultados obtidos na aplicação depende do cálculo correto de variáveis como taxa de injeção, quantidade do inseticida a ser injetada, volume do tanque de injeção e dose do inseticida a ser aplicada na área irrigada. A solubilidade do inseticida em água é um aspecto preponderante relacionado com o sucesso no controle de pragas que atacam

Sistema de irrigação através do qual é feita a insetigação

a parte aérea das plantas. Geralmente, os inseticidas insolúveis em água têm apresentado melhor eficiência no controle da lagarta-do-cartucho no milho. A explicação é que esses inseticidas são mantidos em gotículas encapsuladas sem perder a sua identidade na água dentro do sistema de irrigação. Na aplicação, aderem às partes aéreas das plantas e ao corpo (cutícula) do inseto, aumentando a sua eficiência. Já os inseticidas solúveis em água são lavados da folhagem durante a irrigação e caem no solo, reduzindo a sua eficiência. Uma prática que pode ser utilizada, visando melhorar esta característica, é a mistura de óleo vegetal bruto (proporção 1:1). O óleo reduz a lavagem do inseticida da planta. Entretanto, para inseticidas que devido à natureza química, têm baixa solubilidade em água, como os piretróides e chlorpyrifos, a adição de . óleo não se faz necessária. Paulo Afonso Viana, Embrapa Milho e Sorgo Cultivar

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Milho

Formas adultas de Spodoptera frugiperda

A

lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797), (Lepidoptera: Noctuidae) pode ser encontrada desde o México até a América do Sul, de acordo com Metcalf & Flint (1965). Sua presença foi registrada em várias regiões da França por Mertel et al. (1980) e Malausa & Marival (1981). No Brasil, foi descrita por Silva et al. (1968) como sendo praga polífaga. Leiderman & Sauer (1953) citam que o ataque na cultura do milho concentrase nas folhas, raspando-as durante os 1os e 2os ínstares larvais. A partir do 3o ínstar, penetra no cartucho do milho, perfurando-as. Os prejuízos podem chegar a 34% no período reprodutivo (florescimento) e são relatados por vários autores (Carvalho, 1970; Cruz & Turpin, 1982; Valicente & Cruz, 1991; Cruz, 1995; Gassen, 1996; Ávila et al., 1997). A S. frugiperda é uma praga de difícil controle, sendo este realizado basicamente através de inseticidas químicos, e a resistência é uma das principais causas que levam ao fracasso do controle químico (Omoto, 1999). Os mecanismos de resistência desenvolvidos pela S. frugiperda a inseticidas de diferentes modos de ação (reguladores de crescimento, piretróides, organoforforados, entre outros) se devem basicamente a dois fatores: 1. uso freqüente de inseticidas de 08

Cultivar

após a primeira aplicação (plantas de milho e sorgo com 11 folhas estendidas) dos inseticidas (lufenuron, novaluron, spinosad, clorpirifós, e lambdacialotrina), com volume de calda de 200 L.ha, por exemplo, os percentuais médios de ataque, independentemente do princípio ativo utilizado no milho e no sorgo, foi de 16 e 5%, respectivamente. Claramente, pode-se constatar que a população de S. frugiperda em milho, mesmo após a primeira aplicação, continuou acima do nível de dano, enquanto que na cultura do sorgo foi mantido abaixo deste nível, que segundo as Indicações (2001) é de 10% de folhas raspadas em fase vegetativa e 20% em fase reprodutiva. O menor ataque no sorgo pode ter ocorrido em função desta espécie apresentar resistência à S. frugiperda, provavelmente devido à presença de algum composto na folha, podendo efetar a preferência (antixenose) e/ou a biologia do inseto (antibiose), pois resultados de pesquisa indicam que ocorre maior peso de lagartas quando criadas sobre milho do que sobre sorgo (Portillo et al. 1998). Existe a hipótese de que o menor ataque de S. frugiperda em sorgo se deve à presença de tanino na folha, en-

O controle de Spodoptera frugiperda é difícil. Porém, diversas medidas podem ser adotadas para minimizar os prejuízos causados por essa praga

Árdua Árdua tarefa tarefa mesmo grupo químico e 2. aumento da dosagem dos produtos. Os novos inseticidas apresentados no mercado, denominados fisiológicos , estão com sérios problemas de manter a população de S. frugiperda abaixo do nível de dano econômico. Resultados preliminares de pesquisas realizadas na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa (ETB), pela equipe de pesquisadores de Entomologia do Departamento de Fitossanidade da UFPel, obtidos de áreas experimentais de milho e sorgo no agroecossistema de várzea na safra agrícola 2001/2002 demonstram que altas pressões populacionais de S. frugiperda não foram satisfatoriamente controladas por inseticidas de diferentes grupos químicos (lufenuron, novaluron, spinosad, clorpiriwww.cultivar.inf.br

fós, e lambdacialotrina), aplicados em diferentes volumes de calda (0 L.ha, 100 L.ha, 200 L.ha, 250 L.ha e 300 L.ha), nas dosagens recomendadas, mantendo a população da praga acima do nível de dano. De maneira geral, a ineficiência dos inseticidas testados pode ter ocorrido provavelmente em função da pressão de seleção dos indivíduos resistentes sobre os suscetíveis ou, ainda, da existência de diferentes raças de S. frugiperda, das quais apresenta menor suscetibilidade ao controle químico, principalmente quando estas se originam de áreas de arroz irrigado. Um outro importante aspecto observado foi que em parcelas não tratadas com inseticidas químicos os percentuais médios de ataque em milho e sorgo foram, respectivamente, de 56 e 38%. Aos 5 dias Julho de 2002

tretanto, sabe-se que o tanino em sorgo concentra-se somente nos grãos. Tal hipótese não se confirma na América Central, por exemplo, principalmente em Honduras em que, segundo relatos de inúmeros autores (Pitre, 1986; Pitre, 1988; Portillo et al., 1994; Pitre et al. 1997; Portillo et al., 1997; Ching oma & Pitre, 1999), a lagarta-do-cartucho é responsável por sérios prejuízos às culturas do sorgo e do milho, podendo causar danos econômicos em vários estádios de desenvolvimento das plantas. Em sorgo (Ching oma & pitre, 1999), dependendo do estádio de maturação, a larva de S. frugiperda pode influir no nível de dano da planta. Quanto à presença de predadores no experimento realizado na ETB, ressalta-se três principais (Eriops conexa, Cicloneda sanguinea e Doru sp.) cuja população observada em sorgo estava muito acima daquela encontrada no milho, quando ambas as culturas encontravam-se com 11 folhas estendidas. Em parcelas não tratadas, por exemplo, observou-se em milho e sorgo números médios totais de 1 e 16 predadores, respectivamente. Este fato, provavelmente, também contribuiu para o efetivo controle da praga na cultura do sorgo, tendo em vista que este representa um agroecossistema fechado, propiciando abrigo devido ao maior perfilhamento e fechamento das plantas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As táticas do manejo integrado de praFotos Embrapa Milho e Sorgo

Ovos de Spodoptera frugiperda em folhas de milho

Julho de 2002

gas (MIP) no controle da lagarta-do-cartucho devem ser cuidadosamente observadas

Infestação de larvas de Spodoptera frugiperda

a fim permitir entre outros o desenvolvimento dos organismos benéficos que farão o controle natural. No que diz respeito às diferentes formas de controle, segundo o MIP, pode-se citar a rotação de culturas. A cultura do sorgo é uma das alternativas na região sul do Rio Grande do Sul, principalmente em áreas com o cultivo do arroz irrigado, visando-se também a redução do arroz vermelho, considerada uma importante planta daninha da cultura (Porto et al., 1998). Segundo Crocomo & Parra (1985), a cultura do sorgo apresenta menor preferência pela S. frugiperda em relação à do milho, tornando-se desta maneira uma alternativa viável na rotação de culturas. O uso de inseticidas químicos deve ser de forma racional e com finalidades específicas de se preservar os inimigos naturais, combater a resistência e, sobretudo, minimizar ao máximo os riscos oferecidos ao homem e a natureza de um modo geral. A conscientização é o único instrumento capaz de mudar os hábitos e, até mesmo, a forma de como são encarados os problemas resultantes da ação de pragas em cul. turas no Brasil e no mundo. Marcus Antônio Gonçalves Costa, FAEM/UFPel

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Cultivar

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Algodão tencial produtivo das cultivares. No mês de maio foi realizado um grande dia-de-campo na Fazenda Independência onde os produtores viram as novas tecnologias para a cultura do algodão no cerrado baiano e debateram com técnicos, pesquisadores e consultores. E também trocaram experiências sobre o desempenho do algodoeiro na atual safra e suas perspectivas futuras. A depender do esforço dos produtores da Bahia o algodão se tornará um elemento importante para o desenvolvimento do agronegócio baiano e se firmará como um grande gerador de emprego e renda no Oeste da Bahia. O advento do FUNDEAGRO representa um marco neste processo e será um fator determinante para a consolidação da cotonicultura baiana. A partir dos recursos do PROALBA, as respostas às grandes questões que envolvem o algodão naquela região poderão ser obtidas em menor espaço de tempo pela parceria Embrapa/EBDA/Fundação Bahia.

Força no algodão Bahia e Goiás investem pesado no algodão. A pesquisa corre por conta da Fundação Bahia e da Fundação Goiás

O

algodão no Oeste baiano encontra-se em franca expansão. A exemplo do que vem ocorrendo em relação ao algodão brasileiro, cuja produção vem migrando sistematicamente das áreas de cultivo tradicionais para as áreas de fronteira agrícola, sobretudo do cerrado, o algodão da Bahia tem hoje sua produção concentrada na região Oeste, polarizada pelos municípios de Barreiras e Luis Eduardo Magalhães, onde a cultura é utilizada em rotação ou sucessão com a soja, em sistema de produção baseado no emprego de alta tecnologia, totalmente mecanizado e com uso intensivo de insumos modernos, como fertilizantes, corretivos, reguladores de crescimento, desfolhantes, herbicidas, fungicidas e inseticidas. Este modelo de produção elevou a produtividade do algodão da Bahia de 950 kg/ ha na safra 1998/99 para 2.900 kg/ha na sa10

Cultivar

fra 2000/2001. Estima-se que na atual safra tenham sido plantados cerca de 60.000 hectares de algodão na Bahia com uma previsão de colheita de 78.300 toneladas de pluma, posicionando o Estado como terceiro produtor brasileiro de algodão, atrás apenas de Mato Grosso e Goiás. Enquanto se espera uma redução geral de área plantada nos demais Estados produtores, a Bahia deverá aumentar a sua área de algodão para cerca de 70.000 hectares, na previsão dos presidentes da Abapa, João Carlos Rodrigues, e da Fundação Bahia, Walter Horita. Embora cresça a área, reduz o número de produtores, permanecendo no algodão os maiores, em condições de suportar os rigores das estiagens como a deste ano. O Grupo Maeda se instala na região de Barreiras em 12.000 hectares arrendados para plantar algodão e soja. Visando gerar e transferir tecnologias para atender a demanda dos produtores daquela região, a Embrapa, a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e a Fundação Bahia firmaram uma parceria na qual vêm sendo desenvolvidos programas de melhoramento genético, manejo cultural e manejo integrado de pragas na cultura do algodoeiro. Os produtores estão organizados na Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA) e, mais recentemente, foi criado o Fundo de Desenvolvimento do Agronegócio do Alwww.cultivar.inf.br

GOIÁS

godão (FUNDEAGRO) e o Programa de Incentivo à Cultura do Algodão do Estado da Bahia (PROALBA), baseados nos modelos bem sucedidos dos Estados de Mato Grosso e Goiás. Deste modo, foram criadas as condições para o financiamento de projetos de pesquisa e transferência de tecnologia para os produtores. Os resultados do programa de pesquisa & desenvolvimento da cotonicultura baiana, fruto desta parceria, já se fazem notar. Nesta safra já foi colhida a primeira produção de pluma da cultivar BRS Sucupira lançada pela parceria no ano passado para plantio na safra 2001/2002, tendo sido alcançados resultados expressivos em termos de produtividade, atingindo cerca de 215 @/ha, com desempenho superior às cultivares em uso. Esta cultivar apresenta uma vantagem diferencial em relação àquelas atualmente plantadas em função de sua resistência à virose, o que resulta em menor número de pulverizações para controle do pulgão. Neste sentido, o programa com manejo integrado de pragas também alcançou resultados importantes no sentido de se cultivar o algodoeiro com menor número de pulverizações em relação ao manejo atual, permitindo uma redução no custo de produção. Os resultados do manejo cultural também já permitem o melhor uso do espaçamento e reguladores de crescimento maximizando o poJulho de 2002

Um grande evento realizado no dia 29 de maio marcou o lançamen-to de duas cultivares de algodão para o Estado de Goiás. Estas cultivares são as primeiras surgidas como resultado da parceria entre Embrapa e Fundação Goiás e apresentam a grande vantagem de terem sido desenvolvidas a partir de ensaios de melhoramento genético realizados em diferentes regiões do Estado e, por isso, são plenamente adaptadas às condições edafocliFotos Cultivar

Walter Horita da Fundação Bahia e João Carlos Rodrigues, da Abapa

Julho de 2002

máticas de Goiás. A cultivar BRS Ipê é descendente da CNPA ITA 90, cultivar mais plantada no Brasil atualmente. Apresenta alta produtividade, tendo atingido até 310 arrobas/ha de algodão em caroço na última safra. Possui também alto rendimento de fibra, em torno de 38% e tolerância a doenças importantes para o cerrado como Ramulose, bacteriose e as manchas de Alternária e Ramulária. As características de fibra são de excelente qualidade e atendem às exigências do mercado nacional e internacional. Tem ciclo de 170 a 180 dias e exige níveis de adubação compatíveis com a Ita 90. Uma característica que deve ser levada em consideração pelos produtores em relação a esta variedade é a sua suscetibilidade à virose, tal como se verifica com a Ita 90. Neste caso, deve-se manter a população de pulgões em nível abaixo de 10% e realizar o controle dos 5 aos 110 dias. Tendo em vista a ocorrência da mancha de Ramulária em diferentes regiões do Estado de Goiás, recomenda-se também o controle desta doença. Portanto, é uma cultivar para ser manejada com alto nível de insumos, porém com garantia de resposta, tendo em vista sua alta produtividade e rendimento de fibras. A Cultivar BRS Aroeira apresenta maior rusticidade, ciclo de 160 a 170 dias, alta produtividade, tendo atingido até 290 arrobas/ ha na última safra. O rendimento e características tecnológicas de fibra são compatíveis com as exigências do mercado nacional e internacional. Exige um nível de insumos mais baixo, sendo os níveis de adubação inferiores em torno de 20% àqueles exigidos pela CNPA ITA 90. Também o uso de inseticidas para controle do pulgão é menor, tendo em vista sua resistência à doença azul, principal virose que afeta a cultura do algodoeiro em Goiás e demais regiões do cerrado. Uma característica importante que deve ser ressaltada é sua tolerância ao complexo Fusarium-Nematóide, doença importante para o Estado de Goiás cuja incidência vem aumentando nas últimas safras. Portanto, Goiás dispõe hoje de duas cultivares de algodoeiro desenvolvidas nas condições do Estado e com adaptabilidade às diferentes regiões produtoras e níveis diferenciados de utilização de insumos, representando alternativas diferenciadas para produtores que empregam diferentes níveis de tecnologia no manejo da cultura. O programa de pesquisa e desenvolvimento da cultura do algodoeiro em Goiás envolve ainda um programa de manejo cultural do algodoeiro que já vem apresentando resultados importantes, os quais também foram apresentados aos produtores durante o dia-de-campo. Grande parte deles já encontra-se disponível em documentos da Embrapa Algodão e Fundação GO. Entre estes podem ser destacados a definição de dose máxima econômica de Nitrogênio www.cultivar.inf.br

para a cultura do algodoeiro, associada a doses de reguladores de crescimento no Estado de Goiás; a definição de modelos matemáticos de resposta à adubação NPK; o estabelecimento da curva de resposta à aplicação de calcário para solos do Estado de Goiás; a identificação de problemas de degradação de solo e propostas para recuperação e a definição de misturas de herbicidas para controle de ervas daninhas na cultura do algodoeiro.

João Pereira Matos, presidente da Fundação Goiás

Os resultados até aqui obtidos com o programa de pesquisa e desenvolvimento da cultura do algodoeiro em Goiás resulta do esforço conjunto dos produtores que se organizaram em torno da Fundação GO, da Embrapa Algodão, que mantém uma equipe de pesquisadores atuando no Estado de Goiás com a cultura do algodão em diferentes especialidades, tais como melhoramento genético, manejo cultural, fertilidade de solos, entomologia e fitopatologia, bem como da criação do PROALGO pelo governo do Estado que resultou no FIALGO, que é o fundo de incentivo à cultura do algodão de Goiás, o qual financia os programas de pesquisa e transferência de tecnologia para a cultura do algodoeiro. Este esforço fez o Estado de Goiás voltar a ter confiança no potencial do algodão para o desenvolvimento do seu agronegócio e significou ganhos expressivos de produtividade e melhoria da qualidade da sua fibra, hoje em condições de competir com o algodão produzido em qualquer região pro. dutora do mundo. Cultivar

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Informe especial

Não há regra geral ou equipamento de semeadura que atenda todas as situações de estrutura de solos, de cobertura vegetal, de umidade ou de necessidades das sementes

A

Um bom começo

preparação do sulco de semeadura é um dos fatores importantes para facilitar a germinação de sementes, garantir ambiente para o crescimento das raízes e ajudar a planta a ex-

A plântula é nutrida pelas reservas das sementes nos primeiros quinze dias

pressar o potencial genético de produção. As sementes necessitam de água para a germinação e de oxigênio para o desenvolvimento de raízes. O contato próximo da semente com o solo é importante para garantir a absorção contínua de água e desenvolver o processo de germinação. A plântula, até 15 dias após a semeadura, é nutrida pelas reservas da semente. Depois, a planta necessita, além da água, oxigenação para pleno crescimento de raízes, extração equilibrada de nutrientes e vigor para defesa contra patógenos. O visual de germinação é aparentemente melhor quando feito com semeadoras equipadas com duplo disco, sem sulcadores e com menor revolvimento de solo. Porém, a semeadura superficial, o selamento (compactação) das paredes laterais e a deposição de fertilizantes com elevado teor salino no fundo do sulco resultam em estresse para a planta e impedimento para o crescimento de raízes. A semeadura com solos muito úmi-

dos e selamento das paredes direciona o crescimento das raízes no sulco e sobre o fertilizante. Nessas condições, a semente germina, a instalação inicial das plantas é satisfatória, porém ocorrem estresses na fase crescimento vegetativo, em períodos de estiagens ou de chuvas em excesso. O dano causado por nutrientes com elevado índice salino pode resultar em injúrias nas raízes e facilitar a penetração de patógenos, característicos de tombamento. Alguns fertilizantes apresentam índice salino elevado, como o cloreto de potássio (116), o nitrato de amônio (102), a uréia (73) e o sulfato de amônio (69). Quanto maior o índice salino, maior será a injúria na planta, demonstrada com a elevada fitotoxidade do nitrato de amônio comparada com a uréia, aplicados em milho. O cloreto de potássio apresenta o índice salino mais elevado entre os fertili-

Fertilizante com alto teor salino no sulco pode causar estresse na planta zantes usados na lavoura e pode causar injúrias severas, quando concentrado na base do sulco de semeadura, especialmente nas culturas com maior espaçamento Dirceu Gassen

A planta dispende grande energia para germinar e emergir do solo

entre fileiras e com semeadoras equipadas com duplo disco. A fertilização de solos deve ser feita no sistema de produção, aumentando o volume de palha e de raízes, combinado com a preparação adequada do sulco para pleno desenvolvimento de plantas. A maioria dos agricultores que adotam o plantio direto, ainda faz a semeadura com velocidade e com equipamentos de preparação de sulco usados na semeadura convencional, com solos totalmente desetruturados. O plantio direto exige velocidade menor e sulcadores para romper a camada adensada de solo nas culturas com maior espaçamento entre fileiras como o milho, o algodão e a soja. A elevada velocidade de semeadura prejudica a preparação do sulco, a deposição adequada de sementes, a germinação e o desenvolvimento inicial das plantas. A abertura exagerada do sulco de semeadura resulta na exposição do solo à radiação solar, desidratação, ambiente favorável para a germinação de plantas daninhas e risco de acúmulo de herbicidas residuais depois de chuvas. A velocidade ideal de semeadura é aquela que prepara o sulco para contato adequado do solo com a semente, profundidade para garantir o desenvolvimento de raízes e a drenagem em períodos de chuvas. O sulco de semeadura aberto e com a formação de leivas jogadas à distância é característica de velocidade elevada. A velocidade ideal de semeadura para máquinas equipadas com sulcador é de 4 a 5 km/hora. O sulcador é um equipamento muito importante para a preparação do sulco de semeadura, especialmente em áreas com pastejo bovino, com colheita anterior sob condições adversas de excesso de umidade no solo e áreas com pouca palha. A abundância de palha na superfície e

de raízes no solo é fundamental para melhorar a estrutura física do solo e o equilíbrio químico e biológico do ambiente. Lavouras manejadas com rotação de culturas e abundância de vegetação resultam em melhor condição física de solos para a semeadura.

Dirceu Gassen explica como obter melhor rendimento na operação de semeadura

O desgaste rápido das ponteiras e dos discos em solos com maior abrasividade é outro aspecto que gera insatisfação na semeadura. Na Austrália, as ponteiras de sulcadores de semeadoras possuem, nas partes com maior desgaste, cobertura de lâminas ou solda de tungstênio. É uma necessidade tornar os equipamentos de preparação de sulco de semeadura mais resistentes ao desgaste, para garantir uniformidade na semeadura. A qualificação e o treinamento constante de recursos humanos (tratorista semeador), combinado com equipamentos para o posicionamento de sementes e para a preparação e cobertura do sulco é muito importante para melhorar a qualidade de semeadura, ajudando a semente e a planta a expressar pleno potencial de produção. Não há regra geral ou equipamento de semeadura que atenda todas as situações de estrutura de solos, de cobertura vegetal, de umidade ou de necessidades das sementes. Para iniciar a lavoura, dando condições plenas para a germinação uniforme de sementes e pleno desenvolvimento de raízes, é necessário melhorar a qualidade de se. meadura. Dirceu Gassen, Ger. técnico - Cooplantio

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AENDA

Defensivos Genéricos

Evento

O tesouro dos felinos

De 29 de julho a 1º de agosto será realizado, em Gramado (RS), o XXIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas; confira os destaques e a programação técnica desse evento

A

Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas (SB CPD) tem o prazer de informar e convidar todos os interessados para participar de seu próximo congressso, que ocorrerá em Gramado, de 29 de Julho a 01 de Agosto do presente ano. Novos paradigmas no manejo de plantas daninhas é o tema central. O programa científico terá o foco em aspectos práticos e científicos importantes e recentes da Ciência das Plantas Daninhas, oferecendo a oportunidade para a discussão e a revisão dos avanços

na área, com pesquisadores, extensionistas, representantes de empresas do setor e produtores rurais. O Congresso dará, também, a oportunidade de planejar ações para o futuro, através de palestras, mesas redondas, sessões técnicas e pôsteres. As palestras e painéis envolverão 4 tópicos importantes: Resistência de Plantas Daninhas a Herbicidas, Culturas resistentes a Herbicidas, Interação Herbicida e Meio Ambiente, e Manejo Integrado de Plantas Daninhas. Deveremos contar com a participação de ci-

entistas nacionais e internacionais de grande experiência profissional, os quais poderão contribuir para tornar o controle de plantas daninhas mais moderno, eficiente e ambientalmente seguro. Pretende-se que o Congresso se constitua em um evento voltado aos interesses do Brasil, com intensa participação da comunidade científica nacional e de todos os setores envolvidos com . a atividade. Erivelton Scherer Roman

Presidente da Comissão Organizadora

PROGRAMAÇÃO TÉCNICA Palestra de abertura: Novos paradigmas no manejo de plantas daninhas / Dr. João Baptista da Silva, Presidente SBCPD PAINEL I - RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AOS HERBICIDAS Bases de seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas / Dr. Bruce Maxwell - Montana State University - USA Resistência de plantas daninhas a herbicidas, a experiência Australiana / Dra Marta Monjardino - University of Western Australia - Austrália Manejo da resistência de plantas daninhas aos herbicidas / Dr. Pedro Christoffleti, ESALQ, Piracicaba, SP Moderador: Dr. Cláudio Purissímo / Coordenador do CBRPH/SBCPD, Univ. Est. Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR.

PAINEL II - CULTURAS RESISTENTES A HERBICIDAS Métodos de seleção de culturas resistentes a herbicidas /Dr. Luiz Carlos Federizzi - Universidade Federal do Rio Grande do Sul Biotecnologia x manejo integrado de plantas daninhas / Dr. Stevan Knezevic - University of Nebraska - USA Análise de riscos de culturas GM / Dra. Linda Hall - University of Alberta - Canadá Manejo de Plantas Daninhas em Soja Transgênica no Canadá / Dr. Bill Deen - University of Guelph - Canadá Moderador: Dr. Robinson Pitelli - UNESP/São Paulo.

PAINEL III - INTERAÇÃO HERBICIDAS X AMBIENTE Monitoramento e Avaliação de Impactos de Herbicidas no Ambiente / Dr. Cláudio Spadotto, Embrapa Meio Ambiente, SP Destino dos herbicidas no ambiente / Dr. Ronald Turco, Purdue University, USA. e Dra. Jussara Regitano - CENA/USP - SP. Impacto dos herbicidas sobre organismos não alvo / Prof. Sérgio Machado, UFSM, Santa Maria, RS. Moderadora: Dra. Jussara B. Regitano - CENA/USP - São Paulo, SP

PAINEL IV- MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS Bases da competição de plantas daninhas - o exemplo do arroz / Dr. Albert Fisher, Davis, USA Ampliando o enfoque do manejo integrado de plantas daninhas/ Dr. Jerry Doll / University of Wisconsin - USA Enfoque ecofisiológico para o desenvolvimento de estratégias para o manejo integrado de plantas daninhas / Dr. Lammert Bastiaans - Wageningen - Holanda Moderador: Dr. Erivelton S. Roman, Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS 14

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Julho de 2002

Reforma Tributária é fundamental para o crescimento econômico e distribuição de riqueza do país

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carga de impostos no Brasil é uma das mais pesadas do mundo. ICMS, PIS, COFINS, IPI, CPMF, IPTU, IPVA, RENDA e outras siglas se amontoam, criando ruído na fluidez e desenvoltura da economia. Os impostos foram criados para distribuir serviços à bem do coletivo, obviamente retirando mais de quem mais podia; porém, mercê de uma má condução da máquina estatal ao longo dos tempos, a finalidade precípua foi substituída pela necessidade do pagar contas. Com isso, o direcionamento e o equilíbrio tenderam ao desordenamento. Hoje, a massa desses tributos pesa mais nos produtos que vão a consumo do que na riqueza individual e não está atrelada a um plano macro que funcione como indutor e corretivo das forças mercadológicas. A dose excessiva confisca recursos da economia produtiva e o desequilíbrio vetorial prejudica a busca por uma melhor distribuição da riqueza do país. Urge um entendimento entre Estados e União para viabilizar a prometida reforma dos leões. Para burlar a crescente insatisfação da sociedade com a multiplicação dos impostos, os governos federais, estaduais e municipais passaram a construir outras fontes de arrecadação. Surgiram, então, as taxas. Elas substituem parte do orçamento dos órgãos estatais, via cobrança de um valor em contrapartida a um serviço prestado. Junto com as taxas, vieram as multas, pois sem coação o cidadão custa a cumprir com civilidade esses contratos impositivos. Por sinal, na fotografia dessa onça coletora a cauda aparece maior que o corpo. Lamentavelmente, o espaço só permite abordar, mal e pouco, as taxas incidentes sobre os produtos fitossanitários e sobre os produtos domissanitários desinfestantes. A Lei 9.960/00 desfila a favor do IBAMA (Autarquia do Meio Ambiente) taxas para avaliação dos registros dos praguicidas, dentre outras: conferência da documentação (sic!) R$ 319,00; avaliação para pesquisa, em fases R$

532,00 a R$ 4.260,00; periculosidade ambiental para produto grau técnico R$ 22.363,00; periculosidade ambiental para produto formulado R$ 11.714,00; avaliação da eficiência para fins de registro R$ 2.130,00; manutenção da periculosidade ambiental (sic!) R$ 3.195,00 a R$ 7.454,00. A Lei 9.989/00, que criou a ANVISA (Agência da Saúde), taxa os estabelecimentos e os produtos domissanitários nos seguintes aspectos: autorização de funcionamento para cada uma dessas atividades: industrialização, armazenagem, importação, exportação, transporte, embalagem, fracionamento e distribuição R$ 6.000,00; renovação da autorização de funcionamento para cada atividade R$ 6.000,00; cada uma dessas alterações na autorização de funcionamento: localização, ampliação da atividade, ampliação da classe, CNPJ, razão social, responsável técnico e legal R$ 4.000,00; certificação de boas práticas de fabricação para cada tipo de atividade e para cada linha de produção ou comercialização. R$ 15.000,00; registro de produto R$ 8.000,00; revalidação de registro de produto. R$ 7.200,00; cada uma dessas alterações no registro: titularidade, classe de risco, rotulagem, nova tonalidade, nova embalagem, prazo de validade, fórmula, marca e fabricante R$ 1.800,00. A ANVISA concede descontos conforme o porte da empresa. Um critério de discutida legalidade porquanto o serviço prestado é o mesmo. Os Órgãos Estaduais e mesmo Municipais, para dar suporte ao serviço de cadastramento desses produtos também exercitam o poder de taxar. Só para exemplificar: para cadastrar um defensivo agrícola em todos os Estados da Federação, gasta-se cerca de R$ 20.000,00.

Quem vai sobreviver à sanha desses felinos? Todas essas taxas tratam igualmente produtos desiguais quanto ao lucro, a mola mestra do sistema econômico vigente. Neste contexto, o mercado é caracterizado em dois tipos de produtos. Uns, sob-patente, que normalmente tendem a auferir o mais alto lucro possível, seja para ressarcir rapidamente o inventor em suas inversões na pesquisa tecnológica e na preparação de dossiês toxicológicos e ambientais, seja para premiá-lo pela mais valia que colocou à disposição dos usuários. Outros, em domínio público e com oferta diversificada, os chamados genéricos, que não tendem para baixos lucros, eles ganham pouco mesmo, pela própria natureza concorrente. Ora, as taxas estão fundamentadas no chamado poder de polícia, que coloca o interesse público acima do particular, tanto na segurança pública quanto na fiscalização da saúde, educação, trabalho, previdência, meio ambiente e outras áreas. Toda taxa, porém, deve ser discutida no Legislativo antes de aplicada pelo Executivo; não pode ser criada a partir de meras ordens regimentais dos órgãos públicos, como portarias ou resoluções. Todavia, o Executivo tem poder discricionário se a lei deixar margem para tal, visto ser difícil ao legislador prever todas as possibilidades. Ao Executivo, nestes casos, cabe graduar as taxas e sanções aplicáveis, claro que dentro dos limites do razoável, sem abuso ou desvios de poder. Cabe a pergunta: é de interesse público cobrar taxas iguais para produtos inovadores de oferta exclusiva e para produtos genéricos de oferta diversificada? Acreditamos que não. De primo, os genéricos são cópias equivalentes dos produtos originais e seus efeitos, portanto, são os mesmos já avaliados; em outras palavras, o serviço de avaliação deve ser bem menor. Segundo, ajudam a espalhar vertical e horizontalmente as tecnologias, promovem empregos e diminuem o custo da cesta de compras dos usuários. VIDA LONGA E TAXAS MENORES . PARA ELES.


Nossa capa Paulo Kurtz - Embrapa Trigo

Saiba como identificar e controlar a ferrugem da soja, doença recém-chegada ao Brasil e que já causou imensos danos em diversos países

Peste vermelha A

ferrugem da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, foi identificada pela primeira vez no continente Americano, no dia 5 de março de 2001 (W. M. Paiva), na localidade de Pirapó (Itapúa), Paraguai. Verificouse, posteriormente, ao final dessa safra, que a doença já estava amplamente disseminada no Paraguai e no Estado do Paraná. Na safra 2001/02, a doença atingiu todas as regiões produtoras de soja do Paraguai. Porém, em virtude da forte estiagem que atingiu o país, não houve perdas econômicas. No Brasil, a doença foi constatada nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso. Os municípios mais atingidos foram: Passo Fundo, Cruz Alta, Cruzaltinha (RS); Ortigueira, Ponta Grossa, Guarapuava (PR); Chapadão do Sul, Costa Rica, São Gabriel D Oeste (MS); Chapadão do Céu, Rio Verde, Jatai, Mineiros, Portelândia, Santa Rita do Araguai (GO); e Alto Taquari, Alto Araguai, Alto Garças (MT). Perdas de rendimento para a lavoura, variando de 30% a 70%, foram registradas em Chapadão do Sul, Chapadão do Céu, Costa Rica, Alto Taquari e Cruzaltinha. Somente nos municípios de Chapadão do Sul, Costa Rica (MS) e Chapadão do Céu, que representam cerca de 16

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220.000 ha de soja, estima-se perdas de 30% da produção (cerca de 59.281,4 t, a 50 sacos / ha) ou o equivalente a US$13,00 milhões (US$220,50/T). Lavouras mais atingidas perderam até 70% (colhidos 840-900 kg/ha). José Tadashi Yorinori

A ferrugem da soja limita drasticamente a produtividade da lavoura

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SINTOMAS DA FERRUGEM

Os primeiros sintomas da ferrugem são caracterizados por minúsculos pontos (no máximo 1mm de diâmetro) mais escuros do que o tecido sadio da folha, de uma coloração esverdeada a cinza-esverdeada. Para melhor visualização, deve-se tomar uma folha suspeita e observá-la, pela página superior, contra um fundo claro (o céu, por exemplo). Uma vez localizado o ponto suspeito, confirmar com uma lupa de 10x a 30x de aumento, ou sob um microscópio estereoscópio, desta vez, observando pelo verso da folha. No local correspondente ao ponto, observa-se, inicialmente, uma minúscula protuberância, semelhante a uma ferida (bolha) por escaldadura, sendo esta o início da formação da estrutura de frutificação do fungo, a urédia. Para facilitar a visualização das urédias (sob a lupa ou microscópio), fazer com que a luz incida com a máxima inclinação sobre a superfície da folha (vista pela face inferior), de modo a formar sombra de um dos lados das urédias. Esse procedimento permitira a observação das urédias, a campo, mesmo sem o auxílio de uma lupa de bolso (a olho-nú ). Progressivamente, a protuberância adquire coloração castanho-clara a castanho-escura, abre-se em um minúsculo poro, expelindo daí, os uresdoporos. Os uredosporos, inicial-

...

Julho de 2002


MODO DE DISSEMINAÇÃO José Tadashi Yorinori

Os uredosporos são facilmente dissemi-

Folhas de soja atacadas pela ferrugem

nados através do vento, para lavouras próximas ou a longas distâncias, porém, não são transmitidos pela semente. Supõe-se que esporos do fungo tenham atravessado o Oceano Atlântico, vindo dos países do sul da África (Zimbabwe, Zâmbia e África do Sul), onde a doença vem causando severas perdas nos últimos quatro anos.

EFEITO DA FERRUGEM

A queda prematura das folhas evita a plena formação dos grãos. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, conseqüentemente, 18

Cultivar

O controle da ferrugem da soja é abordado por Tadashi

maior a perda de rendimento e de qualidade (sementes verdes).Em casos severos, quando a doença atinge a soja na fase de formação das vagens ou início da granação, pode causar o aborto e queda das vagens. Perdas de 80% e 90% de rendimento foram registradas na Austrália e na Índia, respectivamente (J.B. Sinclair & G.L. Hartman (eds.), Soybean Rust Workshop, Univ. lllinois, Urbana, IL. 1996 ). Em Taiwan foram registradas perdas de 7080% (K.R Bromfield, Soybean Rust. APS Press, St. Paul, MN. 1984). Na primeira ocorrência no Paraguai (2000/02), foram registradas perdas acima de 1.100 kg/ha. Em 2001/02, a seca severa na segunda metade do ciclo evitou maiores perdas pela doença no Paraguai. No Brasil (2001/02), as maiores perdas de rendimento pela doença (30-70%) na lavoura, foram registradas em Chapadão do Sul, Costa Rica, Chapadão do Céu, Alto Taquari e Cruzaltinha.

MEDIDAS DE CONTROLE

O controle da ferrugem da soja exige a combinação de várias táticas, principalmente a rotação de culturas, a fim de evitar perdas com a soja. Além de ser uma doença nova e de grande impacto sobre o rendimento, não há recomendação específica de controle quíwww.cultivar.inf.br

mico eficiente relativa aos fungicidas atualmente recomendados para doenças de final de ciclo e par oídio e, também, quanto ao número e freqüência de aplicações. Diversos estudos estão em andamento, buscando informações sobre resistência genética das cultivares atualmente em uso, e em vias de lançamento, e sobre a eficiência relativa dos fungicidas. Espera-se que até os meses de setembro/outubro de 2002, seja possível fornecer dados mais concretos sobre as medidas de controle a serem adotadas, principalmente quanto ao controle químico. Portanto, é fundamental que técnicos e produtores estejam atentos ao problema e busquem informações junto aos órgãos de pesquisa em cada Estado. No momento, não são recomendadas medidas específicas de controle, porém, como medidas de segurança, algumas estratégias poderão ser adotadas para a próxima safra (2002/2003): 1. nos Estados e municípios onde já foi constatada a ferrugem na safra 2001/02, sugere-se semear, preferencialmente, cultivares mais precoces e no início da época recomendada para a região; 2. evitar o prolongamento do período de semeadura, pois a soja semeada mais tardiamente (ou de cilco longo ) irá sofrer mais dano devido à multiplicação do fungo nos primeiros plantios; 3. nas regiões onde não foi constatada a ferrugem, fora dos Estados e municípios citados, além dos procedimentos mencionados acima (1 e 2), deve-se iniciar a vistoria da lavoura desde o início da safra e, principalmente, quando a soja estiver próxima da floração; ao primeiro sinal da doença e, havendo condições favoráveis (chuva e/ou abundante formação de orvalho), poderá haver a necessidade de aplicação de fungicida; neste caso, buscar orientação específica junto aos órgãos de pesquisa e/ ou assistência técnica.

Estratégias de melhoramento para o controle da ferrugem da soja podem ser alternativas importantes na guerra contra essa terrível doença

José Tadashi Yorinori

nam-se bege e acumulam-se ao redor dos poros ou são carregados pelo vento. O número de urédias (ou pústulas), por ponto, pode variar de uma a seis. À medida que prossegue a esporulação, o tecido da folha ao redor das primeiras uréias adquire coloração castanho-clara (lesão do tipo TAN) a castanho-avermelhada (lesão do tipo RB), formado as lesões que são facilmente visíveis em ambas as faces da folha. As urédias que deixaram de esporular apresentam as pústulas, nitidamente, com os poros abertos, o que permite distinguir da pústula bacteriana, causa freqüente de confusão. A ferrugem pode também ser facilmente confundida com as lesões iniciais de mancha parda (septoria glycines). Esta forma um halo amarelo ao redor da lesão necrótica, que é angular e castanho-avermelhado. Em ambos os casos, as folhas infectadas amarelam, secam e caem prematuramente. A semelhança do aspecto visual de lavouras afetadas por mancha parda e ferrugem e o uso de fungicidas para contole de doença de final de ciclo, podem ter feito com que a ferrugem não fosse identificada em muitas lavouras e regiões onde não foi registrada na safra 2001/02.

Controle na cultivar A

ferrugem da soja é causada por Phakopsora pachyrhizi Sido (Ásia, Austrália e Hawai) e Phakopsora meibomiae Arthur (América Latina), é uma importante doença que tem sido verificada nos hemisférios oriental e ocidental, incluindo a África, representando uma grande ameaça para os países do continente americano. No entanto, causa perdas de produtividade somente em Taiwan, Tailândia,

Indonésia, Filipinas e Vietnã, e em partes da China, Japão, Austrália, Coréia e Índia (Bromfield & Ynag, 1976 ; Sinclair, 1982, Wrather et al ., 1997). A espécie P. meibomiae tem sido menos agressiva que a espécie P. pachyhizi. Os sintomas mais comuns da ferrugem da soja são lesões de cor palha (TAN) a marron-escura ou marrom-avermelhada (RB), ou manchas com uma a muitas urédias (pús-

tulas), que encerran os uredósporos. Com o desenvolvimento da doença, as lesões adquirem forma poligonal, delimitadas pelas nervuras secundárias, podendo alcançar um tamanho de 2 a 3 mm. As lesões podem aparecer nos pecíolos, vagens e hastes, mas são mais abundantes nas folhas, principalmente na face abaxial. O impacto da entrada destes novos patógenos da soja, nos Estados Unidos (Con-

OBSERVAÇÃO

... Fotos Paulo Kurtz - Embrapa Trigo

...mente de coloração hialina (cristalina), tor-

Pablo Rodrigues

Nossa capa

A expectativa é de que a ferrugem da soja venha a ser uma doença mais severa e permanente, nas regiões altas dos Cerrados, onde há abundante formação de orvalho no verão. Ao longo dos anos, deverá ocorrer variações na intensidade da doença, porém por medida de segurança, é conveniente que o problema seja visto com a maior seriedade. Portanto, recomenda-se especial atenção aos técnicos e produtores dessas regiões. Períodos quentes (acima de 30ºC) e de pouca umidade, são desfavoráveis ao desenvolvimento da ferrugem, porém, todo cuidado é pouco, até que se adquira mais conhecimento so. bre essa doença. José Tadashi Yorinori, Embrapa Soja Wilfrido Morel Paiva, Cria/Paraguai Julho de 2002

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Paulo Kurtz - Embrapa Trigo

Danos ocasionados pela ferrugem da soja; produtividade ameaçada

...tinental) e no Brasil, é uma preocupação

atual da pesquisa relacionada ao controle de doenças, já que áreas severamente atacadas com ferrugem foram observadas no Paraguai durante as safras de 2000/01 e 2001/02. Há fortes indícios de que se trata de P. pachyrhizi, sendo ainda necessário averiguar a espécie e o nível de perdas provocadas nesses locais. Kuchler et al. (1984) realizaram uma análise das conseqüências econômicas, caso uma raça virulenta de P. pachyrhizi se estabelecesse nos Estados Unidos. De acordo com estimativas, as perdas para a economia americana excederiam 7,2 bilhões de dólares por ano. No Brasil, ainda não existem estudos relacionados às perdas econômicas, caso haja uma epidemia de ferrugem.

GENES E FONTES DE RESISTÊNCIA

Quatro genes dominantes para resistência vertical, denominados genes Rpp1 e Rpp4, foram identificados em introduções de plantas (pl s) e cultivares. De acordo com Bromfiel (1976), as introduções Pl 200499 e Pl 200492 (Rpp1), são resistentes à ferrugem da soja e foram utilizadas como fontes de resistência em programas de melhoramento em Taiwan e na Autrália. Singh et al. (1974) descreveram como resistentes as introduções Pl 200465, Pl 200466, Pl 200477, Pl 200490, Pl 200492 (Rpp1)e 200468. Sinclair (1975) considerou três fontes de resistência vertical: Pl 20490 e Pl 200492 (Rpp1), Pi 230970 (Rpp2), além da cultivar Ankur (Pl 432312, Rpp3), proveniente da Índia. Bernard et al. (1991) liberaram três isolinhas de william 82, com resistência à ferrugem, para a pesquisa: L85-2378 (Rpp1), L86-1752 (Rpp2) e L870482 (Rpp4). Hartwig (1996) identificou como fonte de resistência a linhagem D8622

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8286 (Pl 518772) e, uma segunda linhagem, que teve como doadora do gene Rpp4, a Pl 459025. Shanmugasundaram, citado por Bromfield (1976), ao inocular diversas cultivares, selecionou como resistentes para programas de melhoramento as seguintes: HS-1, KS-535, R-10, 66-G-3, Pl220492, ks-482, Hardee, Tainung-4, Yagi-1, Shiro Daizu, Higo Daizu, Shing-2 Aochi, Shakkin Nashi, Kairyon Shimore, Bansei e Kuro Daizu. No Brasil, para a espécie P. Meibomiae, Zambolim et al.(1983) relataram que as cultivares de soja Mineira, Vila Rica, FT-1, Ivaí, IAC-4, BR-4 e União são resistentes, sendo as cultivares Santa Rosa, Viçoja e Hardee, consideradas moderadamente resistentes. Com relação às espécies perenes de soja, que são fontes riquíssimas de alelos de interesse agronômico, não mais presentes nas espécies cultivadas, existem estudos de identificação de fontes de resistência que comprovam que quatro espécies do gênero Glycine, nativas da Austrália, apresentam resitência à ferrugem: G. canescens, G. clandestina, G. tabacina e G. tomentella (Burdon & Marshall, 1981; Tschanz,1991; Burdon 1987; Burdon, 1988). Um único gene para resistência à P. pachyrhizi foi identificado em G. argyrea (Jarosz & Burdon, 1990). Tschanz (1991) relata que os genótipos resistentes Pl 239871 A e Pl 239871 B (G. Soja ), Pl 230971, Pl 459024, Taita Kaoshinung-5,Tainung-4 (Pl 368039) e Waire, são utilizados como diferenciadores de raças de Phakopsora pachyrhizi.

Bromfield, 1983; McLean & Byth, 1980). A resistência vertical foi introduzida por melhoramento convencional em várias linhagens de soja em Taiwan, utilizando os quatro genes principais de resistência, mas, no período de uma safra, a resistência conferida por estes genes foi quebrada, ou seja, o patógeno produziu raças virulentas. Portanto, a resistência vertical não é uma forma estável de resistência, pois é quebrada quando ocorrem mutações no patógeno. Uma estratégia dinâmica para aproveitamento dos genes principais de resistência, envolve o desenvolvimento de multilinhas. Uma multilinha é formada por uma mistura de sementes de isolinhas (ou quase-isolinhas). Cada uma delas contendo dois genes de resistência. As isolinhas são comumente obtidas através de retrocruzamentos, utilizando-se uma cultivar elite como parental recorrente e as diferentes fontes de genes de resistência como parentais doadores. O monitoramento constante da população do patógeno pode orientar a reconstituição da multilinha (número e freqüência relativa das isolinhas nas multilinhas), sempre que necessário.

RESISTÊNCIA PARCIAL

Linhagens de soja com resistência parcial à ferrugem foram identificadas e caracterizadas com base no período latente e no número de pústulas por lesão, ou através de linhagens que apresentavam desenvolvimento tardio da doença (Hartman et al., 1991; Tschanz et al., 1980; Zambolim et al., 1983). De acordo com Harman et al. (1997), o que dificulta o desenvolvimento de genótipos que apresentam evolução lenta da doença é como realizar a avaliação de linhagens de populações segregantes, ou de acessos que possuem diferentes períodos de maturação. O

autor afirma que além das diferenças fisiológicas, há diferenças nas condições ambientais, pois as plantas amadurecem em diferentes períodos. Uma proposta para solução desse problema utiliza o tempo relativo de vida (RLT) para corrigir, parcial ou completamente, as diferenças nas taxas de desenvolvimento da ferrugem em função da variação no período de maturação dos genótipos de soja (Tschaz et al., 1982).

TOLERÂNCIA E SELEÇÃO RECORRENTE

Tolerância é definida como a habilidade relativa de produção de plantas sob estresse, ou seja, infectadas pelo patógeno (Politowski & Browning, 1978). As dificuldades associadas com a identificação específica fazem com que seja necessário avaliar também os genótipos de soja para tolerância à ferrugem (Tschanz & Tsai, 1983). Para avaliar a produtividade relativa são realizadas comparações entre o mesmo genótipo em parcelas pulverizadas com fungicida e em parcelas não pulverizadas. Geralmente, a tolerância é avaliada apenas uma vez durante o ciclo, a menos que se queira obter dados para curvas de progresso da doença, desfolha e contagens de pústulas para identificação de genótipos com taxas reduzidas de infecção. Um esquema de melhoramento para incorporar tolerância à ferrugem envolve avanço das gerações iniciais pelos métodos da população (bulk) ou SSD ( Single Seed Descent ), realizando-se seleção apenas para genótipos com caracteristísticas agronômicas desejavéis; avanço das gerações intermediárias para seleção de genótipos tolerantes à ferrugem, com sementes colhidas dentro das famílias; e avanço das gerações finais para seleção de genótipos com taxas reduzidas de infecção, tolerância e características agronômicas (Tschanz et al., 1986).

Paulo Bertagnolli - Embrapa Trigo

RESISTÊNCIA VERTICAL E MULTILINHAS

Há varios trabalhos relatando a existência de resistência vertical à ferrugem da soja (Bromfield& Hartwig,1980; Bromfield &Melching, 1982; Hartwig, 1986; Hartwig & www.cultivar.inf.br

Lavoura de soja com sintomas da presença da ferrugem

Julho de 2002

Julho de 2002

Utilizando este procedimento de seleção, linhagens de soja foram avaliadas e selecionadas em experimentos para avaliação de tolerância à ferrugem, em Taiwan e na Tailândia (Nuntapunt et al. 1984; Tschanz et al., 1985). Considerando que a tolerância à ferrugem seja condicionada por poligenes com efeitos pequenos e cumulativos, portanto, uma situação de resistência horizontal, uma estratégia de melhoramento a médio e longo prazo, seria o uso da seleção recorrente. Entre os diferentes sistemas de seleção recorrente, pode-se considerar as seguintes etapas em cada ciclo: A) Seleção de vários (três ou mais) parentais para tolerância à ferrugem, para alta produtividade de grãos e para caracteres adaptativos; B) Três gerações de recombinação, com cruzamentos entre os parentais e, após, entre plantas F1, obtendo-se cruzamentos múltiplos; C) Avanço das gerações de endogamia até a geração F4, através dos métodos SSD (Single Descent), SHDT (Single Hill Descent Thinned ) ou amostra (bulk) dentro de famílias (pure-line family); D) Testes e seleção de linhagens para tolerância à ferrugem, para altas produtividades e, para caracteres adaptativos. O uso de seleção recorrente é recomendado devido: estabelecer diferentes combinações entre alelos múltiplos, aumentando a variância genética epistática do tipo aditivo x aditivo; acumular procresos genéticos em ciclos sucessivos de seleção recorrente, em conseqüência dos incrementos nas variâncias genéticas aditiva e epistática nas populações de soja.

MARCADORES MOLECULARES

É desejável localizar marcadores moleculares fortemente ligados a locos que governam a resistência e a tolerância à ferrugem, principalmente quando se trabalha com resistência horizontal. Esses marcadores ligados podem facilitar a transferência de genes de acessos primitivos (incluindo espécies perenes) para a soja cultivada, além de contribuir para redução de custos e, para uma avaliação mais segura do ponto de vista fitossanitário, pois a ferrugem da soja ainda não foi identificada em plantios comerciais no Brasil, havendo a necessidade de se avaliar genótipos em condições isoladas para evitar a disseminação do patógeno. Além disso, com o entendimento da genética molecular da resistência da soja à ferrugem, a habilidade de controlar e minimizar as perdas na produtividade seria muito maior. Marcadores moleculares para resistência a doença vêm sendo utilizados em várias culturas, para o monitoramento de genes em programas de melhoramento e, para introduzilos eficientemente em novas cultivares. Em soja, já foi identificado um marcador RAPD, www.cultivar.inf.br

localizado próximo ao gene Rpp1 de resistência à ferrugem (Vodkin,1996). A curto prazo, as técnicas moleculares seriam muito úteis nos programas de melhoramento visando resistência, pois auxiliariam na identificação de genes de resistência nos genótipos, para direcionar os esquemas de cruzamentos, principalmente nas gerações de recombinação da cada ciclo de seleção recorrente. A longo prazo, um dos objetivos seria a utilização da engenharia genética para desenvolver genótipos de soja resistentes ou tolerantes à ferrugem. Cultivar

Natal fala sobre o melhoramento genético no combate à ferrugem

PERPECTIVAS FUTURAS

A incorporação, na soja cultivada, de genes de resistência à ferrugem, presente s em espécies perenes, tem sido feita através de hibridação artificial, resgate de embrião e seleção para ser aprimorado por meio de isolamento dos genes de resistência através do uso de técnicas de biologia molecular, para utilização no processo de transformação de plantas. Técnicas de biologia molecular também poderão contribuir para a caracterização de espécies de ferrugem e, principalmente, das diferentes raças do patógeno existentes em cada espécie. Uma caracterização eficiente de espécies e raças é fundamental para o monitoramento da população de pátogenos e, consequentemente, para o bom andamento dos . programas de melhoramento. Natal Antônio Vello, Esalq Cultivar

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No momento do ataque A

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Cultivar

ma em cereais de inverno. O mesmo não ocorreu em anos de El niño, como 2000, cujas condições climáticas de temperatura e precipitação pluvial acima da média foram extremamente favoráveis à ocorrência da doença. Como giberela ocorre na fase reprodutiva (a partir do espigamento/florescimento) e esta, na região sul, ocorre na estação da primavera, pode-se dizer que anos de primavera mais chuvosa, com temperatura mais elevada, são anos de epidemia de giberela e anos de primavera fria e mais seca são anos de pouca ocorrência de giberela. A Embrapa Trigo, empresa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, nos últimos anos www.cultivar.inf.br

Embrapa Trigo

Especialista detecta as condições ideais para o desenvolvimento da doença no “Viveiro de giberela”

Giberela

giberela ou fusariose [Gibberella zeae (Schwein) Petch, forma assexuada Fusarium graminearum Schwabe], afeta espigas de cereais de inverno, como trigo, cevada e triticale. As espiguetas afetadas são despigmentadas, de coloração esbranquiçada ou cor de palha. Pode haver abortamento de flores e os grãos que se formam são chochos, enrugados, de coloração branco-rosada a pardo-clara. A enfermidade é influenciada por condições ambiente. Precipitação pluvial de no mínimo 48 horas consecutivas e temperatura entre 20 e 25 oC são condições ideais para desenvolvimento da doença. Em anos mais secos, como 1999, ano de La niña na região sul do Brasil, giberela não foi proble-

tem intensificado pesquisas na área de resistência genética à giberela, desenvolvendo método de amostragem, em campo e definindo método de avaliação da doença. A seleção para resistência à giberela exige precisão nos testes fenotípicos e inúmeras medições da doença têm de ser feitas, porque existem vários tipos de resistência. Como já relatado, a ocorrência de giberela é dependente principalmente de temperatura mais elevada e precipitação pluvial na fase reprodutiva de cereais de inverno. Se essas condições não forem prevalecentes, a epidemia da doença não ocorre, prejudicando a seleção de linhagens em campo. Com o objetivo de evitar escape da doença, a Embrapa Trigo está adotando um método para criar situação em campo que favoreça a ocorrência de epidemia de giberela, visando mais eficiência na obtenção de resultados, uma vez que avaliações para giberela realizada em anos desfavoráveis, certamente comprometeriam os resultados. O método adotado na Embrapa Trigo visa criar condições favoráveis à ocorrência de giberela em campo, cuja área experimental é denominada de Viveiro de Giberela . Cada genótipo é semeado em parcela única de 5,00 m x 0,60 m, constituída de três linhas espaçadas 0,20 m entre si. O espaçamento entre duas parcelas consecutivas é de 0,40 m, e a cada conjunto de duas parcelas, de 0,80 m. O controle de enfermidades nas folhas é realizado até o estádio de

Imaculada comenta sobre as condições de desenvolvimento de giberela

Julho de 2002

desenvolvimento 10 (emborrachamento) da escala modificada de Feekes & Large. Grãos de trigo com peritécios de G. zeae são produzidos artificialmente e distribuídos na linha externa de semeadura, a cada duas parcelas, por ocasião do início do espigamento. Ao início do espigamento de cevada e florescimento de trigo e de triticale, a área experimental é submetida a molhamento de espigas com formação de neblina, por cinco minutos consecutivos, a intervalos de 25 a 30 minutos, em dias sem precipitação pluvial. A presença de água livre nas espigas (condição essencial para ocorrência da doença) é obtida através de sistema de irrigação constituído de: reservatório de água, moto- bomba com potência de 5 cv, canos de 75 mm de diâmetro e mangueiras flexíveis com microporos para irrigação. O sistema de irrigação é instalado na superfície do solo. Ao cano de 75 mm, usado para distribuição de água, é conectada, a cada dois metros, uma mangueira de irrigação, ou seja, a cada duas parcelas ou seis linhas de semeadura. Esse método usado a campo, com sistema artificial de molhamento de espigas, permite desenvolver a doença e avaliar genótipos de cereais de inverno em anos em que as condições climáticas são adversas à giberela, além de permitir avaliar maior número de genótipos no ano. O cruzamento entre genótipos apresentando diferentes tipos de resistência, deverá levar à seleção

Fotos Maria Imaculada P. M. Lima

Trigo

Área experimental apresentando sintomas de giberela

de cultivares mais resistentes à giberela a serem recomendadas ao produtor. As cultivares de trigo BRS 177 e BRS 179, geradas pela Embrapa Trigo, têm se destacado com . melhor resistência à giberela. Maria Imaculada P. M. Lima, Embrapa Trigo


Informe Especial MANEJO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA

Tecnologia por excelência Aumento Aumento da da produtividade produtividade na na cultura cultura do do milho milho foi foi oo principal principal enfoque enfoque do do 1º 1º Encontro Encontro de de Difusores Difusores de de Tecnologia Tecnologia da da Pioneer Pioneer

M

uito tem sido dito e escrito sobre a produção brasileira de grãos, inclusive que o problema do produtor brasileiro não está da porteira para dentro da propriedade e sim da porteira para fora. Ou seja, que a questão de atingir maiores patamares de produtividade por hectare cultivado está dominada. Uma visão simplista de quem olha apenas para os números totais da produção brasileira. Verificando mais atentamente, no campo, vamos encontrar produtores colhendo 30 por cento mais que seu vizinho, com as mesmas condições de clima, solo etc. A Pioneer, atenta a estas diferenças de produtividade, e por entender que elas podem ser melhoradas, realizou de 04 a 06 de junho, em Passo Fundo, RS, o I Encontro de Difusores de Tecnologia. Nesse encontro, que reuniu mais de 400 participantes dos Estados de SC e RS, foram abordadas questões limitantes para a maior produtividade da cultura do milho. Sete foram os temas tratados no evento: Estabelecimento da cultura do milho; Manejo da adubação nitrogenada; Manejo de herbicidas; Fisiologia da planta do mi26

Cultivar

lho; Fisiologia de insetos e mecanismos de ação de inseticidas; uso de software na gestão de propriedades rurais; e Uso de software de adubação e calagem. Em cada apresentação, a preocupação maior de cada palestrante foi a de transmitir dados e conceitos práticos e de uso efetivo para a otimização da produtividade na lavoura de milho. Na abertura, Daniel Glatt, diretor executivo da Pioneer, apresentou brevemente um panorama geral do mercado de milho. Mostrou um balanço da disponibilidade de milho na safra atual, 33 milhões de toneladas, em relação à safra passada, 41 milhões de toneladas, e o reflexo desta redução na agroindústria suína e avícola. Também fez uma análise da situação em relação ao plantio da soja versus milho para a próxima safra, na qual o atual preço da soja, motivado pelo dólar, poderá novamente manter e até mesmo reduzir mais uma vez a área de plantio do milho, mesmo estando a relação de preço milho/soja favorável ao milho. Isso agravará ainda mais a situação das indústrias de aves e suínos para próxima safra em decorrência dos elevados preços praticados para o milho. www.cultivar.inf.br

ESTABELECIMENTO DA CULTURA

Dividido em três etapas, o estabelecimento da cultura pressupõe qualidade de plantio, populações de plantas e espaçamento de plantas. Quanto à qualidade no plantio foram mostrados aspectos relacionados ao recebimento das sementes, condições de armazenagem na propriedade, regulagens e planejamento de plantio. Em relação à população, foi abordado a importância do estabelecimento do stand de plantas, levando-se em consideração as características do híbrido quanto aos componentes do rendimento (número de espigas por planta, número de grãos por espiga e peso de grãos), a fertilidade do solo, as condições climáticas, nível de adubação, época de plantio e os níveis de resposta de rendimento com o aumento do número de plantas por hectare. No painel sobre redução do espaçamento entre plantas, assunto muito aguardado, foram apresentadas as vantagens desse modo de cultivo, destacando-se a possibilidade de acréscimo de produtividade. Entretanto, sem esquecer as necessárias adaptações de equipamentos, principalmente colhedoras, como também de outros fatores, manejo da adubação e prévia seleção de híbridos. Julho de 2002

No painel sobre manejo do nitrogênio foram destacadas as respostas ao aumento de doses, época, parcelamento, fonte e forma de aplicação. Foram debatidas, também, as variações desses manejos quando as coberturas vegetais que antecederam o cultivo do milho são aveia, ervilhaca, azevém ou nabo forrageiro. Bastante ênfase foi dada a questões relativas às perdas do nitrogênio por volatilização e lixiviação, mostrando dados relativos a essas perdas em função das doses, mas principalmente da época, da fonte e forma de aplicação do nitrogênio.

MANEJO DE HERBICIDAS

Sobre manejo de herbicidas para a cultura do milho, dois principais temas foram abordados: residual de herbicidas utilizados em culturas antecessoras e o controle de plantas daninhas no milho. No tema, residual de herbicidas em culturas antecessoras, toda a apresentação foi direcionada para os cuidados que o produtor deve ter antes de plantar o milho já que herbicidas utilizados em culturas anteriores podem causar fitotoxidade à lavoura. No tópico sobre controle de plantas daninhas no milho a apresentação mostrou as opções de controle atualmente existentes em pré-emergência, pós-emergência inicial e pré-emergência tardia. Também foram mostrados cuidados com relação a doses, textura do solo, época de aplicação, diferenças entre os híbridos e até mesmo com relação ao prazo de carência no uso de inseticidas e/ou fertilizantes junto com herbicidas em pós-emergência.

FISIOLOGIA

Fisiologia da cultura do milho e fisiologia de insetos e mecanismos de ação de in-

Mais de 400 pessoas participaram do encontro em Passo Fundo, RS

seticidas também foram abordados no encontro. Na apresentação sobre a fisiologia do milho, o foco principal foi mostrar como uma planta cresce e se desenvolve. O ciclo foi dividido em fases, foi mostrada a interferência de aspectos de manejo e ambiente responsáveis pela definição do potencial de produção, número de fileiras, tamanho das espigas e peso de grãos. Sobre a fisiologia de insetos e mecanismos de ação de inseticidas, foram abordados os grupos de inseticidas diferenciados entre si por mecanismo de ação e como eles agem nos insetos, enfatizando a importância do uso de princípios ativos com diferentes mecanismos de ação evitando, assim, a resistência dos insetos.

Fotos Charles Echer

Sete palestras abordaram o cultivo do milho em todos os seus aspectos

Julho de 2002

www.cultivar.inf.br

INFORMÁTICA NA AGRICULTURA

O encontro mostrou também, através de duas palestras, o quanto a informatização pode auxiliar e facilitar o processo produtivo, proporcionando ao agricultor maiores chances de colher os resultados programados. A primeira palestra, sobre software de gestão de propriedades rurais, abordou a importância da administração rural como forma de assegurar o controle de ganhos, gastos e lucratividade. Além disso, foi mostrada a importância da informação e do conhecimento aprofundado da realidade e da situação do negócio (técnica, econômica e comercial) como peça chave para o sucesso do agronegócio. A última abordagem do encontro foi sobre o software de adubação e calagem, desenvolvido pela Pionner, para auxiliar no uso de corretivos e fertilizantes nas propriedades de seus clientes. O software permite a entrada dos dados de análise de solos de uma propriedade, divididas por talhões, profundidades e diversas outras formas, proporcionando ao técnico criar um banco com informações que facilitarão o trabalho no planejamento do plantio. Um dos aspectos mais interessantes deste programa é que ele permite interpretar análises de macro e micro nutrientes, considerando também saldos positivos ou negativos das culturas anteriores, além de possibilitar alterar formulações e seus respectivos custos e estabelecer, com base no histórico de fertilidade de cada lavoura da propriedade, a melhor e mais econômica adubação. No encerramento do evento, cada participante recebeu o software de adubação e calagem para ser aplicado nas propriedades onde . atendem. CE e NF Cultivar

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Plantas Daninhas

Sem efeito

Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc.

capim-marmelada, marmelada, papuã, capim-são-paulo

A

indústria química que pesquisa, produz e vende defensivos agrícolas tem hoje uma enorme preocupação com o problema do desenvolvimento de resistências. Também a FAO (Organização para Agricultura e Alimentação, das Nações Unidas) considera o problema da resistência de pragas, doenças e ervas daninhas uma das grandes preocupações para a defesa sanitária vegetal. Particularmente com herbicidas, problemas agudos surgiram, a partir dos anos 80, com o desenvolvimento de produtos altamente eficientes e seletivos, porém sensíveis ao problema da resistência, como os inibidores da ACCase e da ALS. A pesquisa e o desenvolvimento de um novo herbicida exige investimentos vultuosos, algo como US$ 100 a 150 milhões. A decisão

Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc. Código: BRAPL (Família Gramineae)

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Cultivar

Euphorbia heterophylla L.

amendoim-bravo, leiteira, flor-de-poetas, café-do-diabo

sobre um tal investimento só pode ser tomada se existe um potencial efetivo de mercado para que, além de cobrir os gastos, possa gerar lucros compensatórios. Um estudo de mercado é bastante complexo. Tradicionalmente se faziam as seguintes perguntas: Que problemas precisam ser resolvidos, em quais culturas? Qual o tamanho teórico, em nível mundial, desse mercado? Que outras soluções, inclusive outros produtos existem? Que outros produtos estão sendo desenvolvidos, pela empresa e por concorrentes? Que limitações poderão ocorrer, como restrições por questões ambientais ou toxicológicas, tanto no momento como a médio prazo? Que alternativas tecnológicas poderiam, a curto e médio prazo, substituir o uso dos herbicidas? Qual o retorno financeiro esperado, e em quanto tempo?

Euphorbia heterophylla L.

A visão da indústria quanto à resistência de plantas daninhas a inseticidas é abordada por Kurt Kissmann

Bidens pilosa L.

picão-preto, picão, pico-pico, fura-capa, piolho-de-padre

Hoje, novas perguntas foram acrescentadas: Qual o potencial de desenvolvimento de uma resistência a produtos com o mecanismo de ação do produto candidato? Qual a perspectiva de, pela engenharia genética, serem desenvolvidas plantas transgênicas resistentes a determinados herbicidas não seletivos? Há uma década uma grande empresa química testava, em média, 10.000 moléculas por ano e entre 20.000 testadas apenas uma chegava a formar um defensivo agrícola comercial. Enormes avanços tecnológicos aconteceram. Hoje, essa mesma empresa testa cerca de 100.000 moléculas por ano, mas a proporção de êxitos ficou menor talvez 30 ou 40 mil moléculas testadas para um êxito. O tempo de desenvolvimento, entretanto, tem diminuído, havendo casos de se desenvolver um

Bidens pilosa L.

Código: EPHHL (Família Euphorbiaceae)

ESTRATÉGIAS DE MERCADO

Considerando que o período de proteção por patentes é limitado, e que após expiradas podem surgir produtos genéricos que não tiveram gastos elevados para seu desenvolvimento e, por isso, podem ser vendidos a pre-

Bidens subalternans DC.

Sagittaria montevidensis Cham. & Schltdl

cula, dentro de um mesmo grupo, pode ser beneficiada se já existe uma unidade de produção industrial para o grupo químico, dispensando grandes investimentos na construção de uma nova fábrica.

ço menor, a estratégia das empresas, até recentemente, era de faturar o máximo possível durante a vigência das patentes. O problema da resistência alterou esse quadro, pois um uso intensivo de produtos com mecanismo de ação semelhante pode levar a resistências, encurtando a vida útil de todo um grupo. Por isso, hoje a estratégia das empresas é de limitar o uso, para resguardar ao máximo a eficiência.

picão-preto, pico-pico, picão, piolho-de-padre

ESTRATÉGIAS DA PESQUISA

Grande esforço está sendo feito para encontrar moléculas ativas com mecanismo de ação diferente dos produtos já existentes. Atualmente, os processos de análise e síntese química estão extremamente sofisticados, assim como estudos da bioquímica, o que vem permitindo avanços científicos fabulosos. Estudos profundos estão sendo feitos para desvendar todo o mecanismo bioquímico dos vegetais e encontrar sítios numa cadeia de eventos onde um bloqueio impeça uma reação essencial, levando a planta à morte.

Código: BIDSU (Família Compositae)

Julho de 2002

2) A firma não tem alternativas próprias. Nesse caso, é muito importante que a assistência técnica conheça e recomende as melhores alternativas. A cooperação dos agricultores é um fator muito importante, mas nem sempre ela acontece como desejado.

OCORRÊNCIA NO BRASIL

Bidens subalternans DC.

Código: BIDPI (Família Compositae) www.cultivar.inf.br

produto novo em 5 anos. É sempre mais fácil desenhar uma nova molécula dentro de um grupo químico que já tem apresentado moléculas ativas. Essa molécula terá que apresentar vantagens significativas sobre outras já existentes e ainda não estar coberta por patente. Uma nova molé-

Fotos Harri Lorenzi

HERBICIDAS

Julho de 2002

sagitária, aguapé-de-flecha, flecha

SITUAÇÕES COM RESISTÊNCIAS

Alertadas sobre o problema, as empresas que vendem os produtos tendem a reagir de formas distintas: 1) A firma tem herbicidas alternativos próprios. Nesse caso, procura dirigir a orientação técnica, que leva a vendas, para essa alternativa;

Sagittaria montevidensis Cham. & Schltdl

Resistência de Brachiaria plantaginea a inibidores de ACCase, em soja Os primeiros casos surgiram na região dos Campos Gerais, no Paraná. Como solução efetuou-se recomendação de uso de herbicidas alternativos. Os agricultores não seguiram a orientação, porque só haviam no mercado graminicidas de pré-emergência, que eram menos práticos, impedindo o plantio direto e eram menos eficientes. O problema foi se alastrando de ano para ano. Com a introdução de Nicosulfuron, passou-se a recomendar a troca da cultura de soja pela de milho, permitindo o uso desse produto. Do ponto de vista técnico, foi uma ótima solução. Na prática, a receptividade pelos agricultores foi limitada, porque a soja dava maior retorno financeiro que o milho. A preocupação com a rentabilidade imediata foi, em muitos casos, maior que a preocupação com a resistência. Houveram tentativas de substituição de um inibidor de ACCase por outro do mesmo grupo. Os resultados foram mistos: em alguns casos o produto funcionou bem e não houve resistência cruzada; em outros casos o mesmo produto alternativo não funcionou. Hoje já existe pelo menos um inibidor de ACCase que não tem mostrado ser afetado por resistência cruzada. Isso mostra que, embora produtos com mecanismo de ação semelhante tendem a apresentar resistência cruzada, isso nem sempre acontece. Resistência de Euphorbia heterophylla a inibidores da ALS, em soja Herbicidas inibidores da ALS se estabeleceram como os de maior uso, na cultura de soja, sendo um dos motivos o excelente controle do amendoim bravo , especialmente por Imidazolinonas. Esse uso, repetido por diversos anos, acabou permitindo o desenvolvimento de biótipos resistentes. Como solução foi recomendada uma associação do inibidor da ALS com um produto com mecanismo de ação distinto, o que geralmente funciona. Quando houver a liberação do plantio de soja transgênica, resistente ao herbicida Glifosato, espera-se que haja um grande uso desse produto, que controla a invasora em questão e após algum tempo deve praticamente eliminar as infestações pela Euphorbia, limpando as lavouras. Na soja, Glifosato deve deslocar os outros herbicidas. Se o mercado da soja vai ser muito afetado, o fato de ser eliminada a Euphorbia

...

Código: SAGMO (Família Alismataceae)

www.cultivar.inf.br

Cultivar

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Fotos Harri Lorenzi

Echinochloa colonum (L.) Link

capim-arroz, capim-coloninho, capim-jaú, capituva

... abre um novo potencial para herbicidas tradi-

cionais, nessas áreas, para o plantio de culturas não transgênicas, como o milho, o feijão, o algodão etc... Resistência de Bidens pilosa e Bidens subalternans a inibidores da ALS Biótipos resistentes têm surgido em algumas regiões. A solução é fácil, pois existem muitos produtos alternativos que dão bom controle, em diversas culturas. Resistência de Echinochloa spp. a Quinchlorac, em arroz irrigado Após anos de intenso uso de Quinchlorac, um produto mimetisador de auxinas, surgiram alguns casos de resistência. Com a introdução de Clefoxydim, que é um inibidor da ACCase, encontrou-se uma solução, pois o mecanismo de ação é distinto e não há uma resistência cruzada. Resistência de Sagittaria montevidensis a inibidores de ALS, em arroz irrigado: No litoral de Santa Catarina surgiu uma resistência dessa invasora aquática a herbicidas inibidores de ALS. Como alternativa, foi indicado, pela pesquisa oficial, o Bentazon, com amplo sucesso.

Echinochloa crus-pavonis (Kunth) Schult.

ge o mercado para produtos a serem incorporados ou usados em pré-emergência. Essa modalidade de cultivo, de extraordinária importância, só se tornou possível com a introdução de herbicidas seletivos de pós-emergência.

porém tais produtos precisam agora procurar nichos específicos.

capim-arroz, jervão, capituva, capim-capivara

BIOTECNOLOGIA

A tecnologia de selecionamento ou de incorporação de resistência a herbicidas, em plantas cultivadas, tem evoluído grandemente. Exemplo de solução com plantas não transgênicas é o sistema Clearfield, combinando sementes de milho selecionado e um herbicida específico.

ENGENHARIA GENÉTICA:

Novas técnicas de cultivo podem alterar o potencial de certos produtos. Por exemplo, o plantio direto na palha restrin-

Uma nova realidade veio a ser criada com a engenharia genética que, criando plantas transgênicas resistentes a certos herbicidas, veio restringir fortemente mercados para herbicidas tradicionais. O exemplo mais dramático é a soja transgênica, tolerante ao herbicida Glifosato. Muitos projetos de novos herbicidas tradicionais tiveram que ser cancelados. Por outro lado, diversas empresas estão desenvolvendo plantas transgênicas resistentes a outros tipos de herbicidas. Serão essas tecnologias o fim dos herbicidas tradicionais? Certamente não,

Echinochloa colonum (L.) Link

Echinochloa crusgalli var. crusgalli (L.) P. Beauv.

NOVAS TECNOLOGIAS

Código: ECHCO (Família Gramineae)

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Echinochloa crusgalli var. crusgalli (L.) P. Beauv.

Cultivar

Código: ECHCG (Família Gramineae)

www.cultivar.inf.br

capim-arroz, capim-jaú, capituva, barbudinho, jervão

MECANISMO DE AÇÃO

Diversos critérios têm sido usados, o que tem gerado tabelas classificatórias. Nenhuma dessas tabelas é perfeita, pois analisam apenas a resistência pelos sítios bioquímicos a serem inibidos. Nenhuma tabela foi criada ainda considerando o desenvolvimento de resistência por aumento na capacidade de metabolização dos herbicidas pelas plantas. A classificação estabelecida pelo HRAC é a mais usada, no momento. Apesar de muito útil, ainda não é perfeita, pois mesmo que teoricamente todos os compostos dentro de um grupo possam desenvolver resistência cruzada, isso nem sempre acontece. Por exemplo, no grupo A (inibição da ACCase), produtos como Sethoxydim e Tepraloxydim não têm apresentado resistência cruzada. Assim, esse grupo deveria ser subdividido em A1 e A2. As tabelas também não contemplam formulações mistas, com dois herbicidas, sejam do mesmo mecanismo de ação ou . de mecanismos diferentes. Kurt G. Kissmann Eng.Agr.- Prof.H.C.

Echinochloa crus-pavonis (Kunth) Schult. Código: ECHCV (Família Gramineae)

Julho de 2002


Fotos Pablo Rodrigues

Sementes

E

m 1956, o Governo do Estado de São Paulo, através do Instituto Agronômico de Campinas e a Secretaria da Agricultura, criou o Serviço do Milho Híbrido. No ano seguinte, instituiu a certificação do mesmo no Estado e regulamentou as normas de produção, foi o início de um processo de estruturação, que motivou quase 10 anos depois, os Estados do Rio Grande do Sul, do Paraná, e Santa Catarina a criarem as Comissões Estaduais de Sementes de Trigo. Estes movimentos, quase sempre foram apoiados pelo Governo Federal, inclusive com intercâmbio entre as Universidades Americanas, tiveram seu reconhecimento com a edição da Lei.4.727 de 13.07.65 e do Decreto 57.061 de 10.10.65, que instituiu a fiscalização do comércio de sementes e mudas em todo o território nacional. Outra importante demonstração de reconhecimento da importância de setor sementeiro, foi a instituição, em 1967, do Plano Nacional de Sementes PLANASEM e do Programa de Apoio Governamental à Implantação do Planasem- Agiplan e, dez anos depois, em 1977, a atual Lei de Sementes, que hoje está em processo de reformulação no congresso Nacional. As diretrizes da época estavam baseadas na criação de condições favoráveis ao desenvolvimento da produção, comércio e fiscalização e, também, da própria indústria particular de sementes e mudas.

João Lenine acredita no desenvolvimento da indústria sementeira

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Cultivar

OO Agronegócio Agronegócio Sementes Sementes éé um um dos dos grandes grandes responsáveis responsáveis pelos pelos repetidos repetidos aumentos aumentos no no volume volume total total da da safra safra de de grãos grãos brasileira brasileira

Negócio em alta Aquela nova orientação da política do governo determinava, entre outras prioridades, que se promovesse e incentivasse, especialmente, a organização, dos agricultores em Entidades de Classe, para a produção. Foi neste período que surgiram as associações estaduais de produtores de sementes e mudas, as quais formam, hoje, o Sistema Brasileiro dos Produtores de Sementes ABRASEM, que congrega 07 Associações Estaduais ( Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e, mais recentemente, Bahia e Rio Grande do Norte). Esta estrutura reúne 458 Produtores de Sementes; 42.300 Agricultores Cooperantes; 937 Unidades Armazenadoras; 222 Laboratórios; 2.650 Profissionais de Nível Superior; 2.118 Técnicos envolvidos, 1.700 Vendedores. Gerando mais de 28.465 empregos diretos, e 179.000 empregos indiretos. Entretanto, na última década, o volume de sementes industrializadas foi www.cultivar.inf.br

reduzido quase à metade ( 1,3 milhões de ton. em 2001 ), bem como o número de Produtores de Sementes, do sistema ABRASEM, que chegou próximo aos 900 associados no final da década de 80, e tem hoje, apenas, 458. Numa primeira análise esta redução foi motivada pela mudança do comportamento do Governo Federal em relação ao setor, retirando alguns apoios, como por exemplo: Isenta a obrigatoriedade da aquisição de sementes certificadas para obtenção de crédito rural; Redução dos investimentos nas áreas de pesquisa, desenvolvimento para o melhoramento genético vegetal; Desestruturação do Sistema Brasileiro de Extensão Rural EMBRATER; Burocratização do processo de acesso ao crédito oficial para o beneficiamento e comércio de sementes de trigo, com o fim do CETRIN. Apesar disto, o Agronegócio Sementes, que apesar da aparente tímida participação no PIB Agrícola, é um dos grandes responJulho de 2002

sáveis pelos repetidos aumentos no volume total da safra de grãos, mais de 100 milhões de toneladas em 2001/02. Este importante papel está representado pelo exemplo da Soja, com um pouco mais de 700 mil toneladas de sementes, produz mais de 40 milhões de toneladas de grãos, algo em torno de R$ 13 bilhões. Tal proporcionalidade não seria possível sem o abnegado esforço dos melhores quadros técnico-científicos nas áreas de melhoramento vegetal do mundo, e que apesar das dificuldades e limitações político-administrativas, não se deixam abater. Assumida esta responsabilidade, que exige do setor alta competitividade e identidade, passaram a pensar e se comportar como industriais, ou melhor, agroindustriais , incorporando pontos de vista idênticos aos observadores nos produtores de medicamentos ou de automóveis. Neste cenário, com o aumento da demanda por mais quantidade e qualidade dos alimentos, o agricultor está obrigado a buscar melhores índices de produtiviJulho de 2002

dade e, com isso, se defronta com a necessidade de novas tecnologias, seja na área biológica, seja na logística, o que exige do governo uma política clara de investimentos e, da sociedade, um novo

comportamento de consumo. Vale ressaltar que a sociedade, representada pelo Congresso Nacional, já está dando sua parcela de contribuição debatendo a nova Lei de Proteção de cultivares, a Lei de sementes e a dos transgênicos, instrumentos necessários para assegurar os direitos destes abnegados empresários, cientista e profissionais que, ao longo dos últimos dez anos, acreditaram no reconhecimento dos seus esforços pessoais, financeiros e científicos, e disponibilizaram ao agribusiness brasileiro, dezenas de novos cultivares. Insumo, que no início dos anos noventa correspondia com mais de 12% do custo de produção, e hoje, quando muito, chega aos 8%. Entretanto, apesar dos avanços tecnológicos, políticos e operacionais ainda temos grandes barreiras à continuidade deste trabalho, visto que a pirataria, que também chegou a agricultura, tem colocado em xeque a elaboração dos planos de expansão agroindustrial ( logística, campos de produção e financiamentos ) das agroindústrias sementeiras; e levado o setor a se questionar sobre a necessidade de dispor de instrumentos administrativos, técnicos, legais e institucionais que defendam os interesses da classe produtora e, conseqüentemente, da sociedade brasileira. A ABRASEM, por sua vez, tem tentado combater e coibir esta ação ilegal, porém sem o apoio da classe produtora, que tanto se beneficia com os produtos certificados; dos profissionais que atuam no setor; e, por que não, da sociedade brasi. leira. Muito pouco podemos fazer. João Lenine Bonifácio E. Souza Presidente da ABRASEM

Comércio ilegal de sementes tem sido combatido pela ABRASEM

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Cultivar

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curtas Unimilho

A Unimilho alcançou a marca de atendimento a 250 mil pequenos produtores de média a baixa tecnologia. A entidade, que em junho completou 13 anos de atuação no mercado, conta atualmente com 25 empresas associadas. A Unimilho se prepara também para ingressar na alta tecnologia com híbridos simples de milho e sorgo da nova geração de produtos licenciados pela Embrapa. O diretor presidente Luiz Vicente Souza Queiroz Ferraz atribui o sucesso ao apoio de associados e parceiros.

Incentivo

Safra

A Abrapa comemora a aprovação de 16 projetos junto ao Programa de Incentivo da Cultura do Algodão da Bahia (Proalba). Coordenado pela Secretaria da Agricultura do Estado, o Proalba oferece incentivo de até 50% para a comercialização do produto. Segundo a secretária Késia Magdala de Macedo de Souza, a Abrapa vinha lutando há três anos pela concretização do programa.

Palestra

Bastante concorrida e elogiada a palestra sobre a incidência de ferrugem

Crise

A Apasem estima que o Paraná beneficiará nesta safra 4.200 milhões de sacas de semente de soja. De acordo com o secretário executivo Eugênio Bohatch, a quantidade é suficiente para atender à demanda interna e ainda deve permitir a exportação para outros Estados.

na soja, proferida em Londrina pelo fitopatologista da Embrapa Soja, José Tadashi Yorinori. O

Os produtores de algodão de Mato Grosso podem reduzir em curto prazo a área plantada. A medida é atribuída aos baixos preços recebidos pelo produto na última safra, quando o Estado atingiu a marca de 60% da produção nacional. A Ampa acena ainda com a possibilidade de migração de agricultores para outras culturas.

pesquisador é um dos principais expoentes na luta pela erradicação da doença.

Milho

A próxima safra de milho pode sofrer redução ou manter os mesmos índices do ano passado, quando a área plantada foi cerca de 20% menor. A avaliação é do secretário executivo da APPS, Cássio Luiz de Camargo, para quem as perspectivas iniciais apontam para possíveis problemas de abastecimento. Segundo Camargo, as dificuldades de comercialização devem levar alguns produtores a substituir parte das lavouras pela soja.

Meio-ambiente

A Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (AIBA) comemora os resultados obtidos através da Central Campo Limpo. Os dados apontam que a entidade é responsável pelo recolhimento de 20% das embalagens de agrotóxico de todo o país, enquanto a região responde por apenas 3% da produção nacional.

Redução de lucros

As previsões de lucro da Monsanto foram reduzidas em 20% até 2003. A medida é atribuída à desaceleração nas vendas do herbicida Roundup e à crise econômica na Argentina, cujos clientes não estão pagando as contas.

Prazo

A APPS está engajada também na luta pela modificação do prazo de germinação do milho. Segundo o secretário Cássio Luiz de Camargo, o pleito prevê o dilatamento do prazo de dez para 12 meses. Solicitação nesse sentido foi enviada pela Abrasem ao Ministério da Agricultura.

Pleito

A Abrasem solicitou ao Ministério da Agricultura (MA) a revisão da Instrução Normativa 034/2002 que estabelece os procedimentos para a importação de sementes. A entidade manifesta preocupação com o que considera falta de estrutura do MA para atender em tempo hábil à demanda de pedidos de importação de hortaliças e de sementes para teste e pesquisa.

Expectativa

O gerente de pesquisa e desenvolvimento da filial da Milênia Agro Ciências S.A. em Londrina, Donizeti Aparecido Fornarolli está otimista com a programação do XXIIIº Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, que ocorre de 29 de julho a 1º de agosto em Gramado. Para o engenheiro agrônomo o evento consiste também em uma ótima oportunidade para a empresa expor os produtos.

Barreira comercial

A Apassul estuda medida judicial contra a Instrução Normativa 023/2002 da Secretaria Estadual de Agricultura do Paraná, que proíbe a venda e trânsito de sementes de soja naquele Estado, sem o prévio exame de trânsgenia. Segundo Antonio Eduardo Loureiro da Silva, da Apassul, o preço cobrado pela análise de cada lote de semente chega a R$ 350,00.


Agronegócios

Farm Bill, a Farra dos Subsídios Décio comenta sobre as conseqüências da Farm Bill para a agricultura brasileira

A

vida dos produtores brasileiros, e de todos os países agrícolas do mundo, ficou muito mais difícil após 13 de maio de 2002. Paradoxalmente, quando se comemora a Lei Áurea, fomos vítimas do tacão da Casa Grande, digo, Casa Branca. Terá a vida dificultada quem não dispuser de US$170 bilhões (segundo a imprensa) ou de US$412 bilhões (segundo a CNA) para aplicar em subsídios e sustentar produtores ineficientes, que perderam o trem da história. Perderam também o trem da justiça, do livre mercado, das oportunidades iguais, da transparência, ou seja, do eterno discurso do Governo e das lideranças americanas, que afronta a prática comercial dos EUA. Até a embaixadora americana em Brasília, Donna Hrinak, não conseguiu defender a Farm Bill. Também ficou mais difícil a vida do Governo brasileiro, como pude depreender da reunião de discussão do Plano Safra, da qual participei, e onde pude constatar o denodo do Ministério da Agricultura em encontrar fórmulas que mitigassem a afronta da Lei Agrícola americana aos agricultores brasileiros. E, ao contrário dos EUA, preocupando-se em não violar os acordos internacionais.

POR QUE A FARM BILL?

Subsídio é exatamente igual a crack, cocaína ou qualquer droga pesada. No co36

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meço é enlevo, prazer, felicidade. Depois, uma dependência da qual não é possível livrar-se sem muito sofrimento, no mais das vezes levando à própria morte. Morte física dos viciados em droga, morte do negócio dos viciados em subsídios. A inteligentzia americana revoltou-se contra a quebra de contratos promovida pelo Executivo e pelo Congresso Americano e contra a violação de princípios caros à História americana, como o liberalismo econômico e comercial (veja o artigo The Terrible Farm Bill). Ocorre que países essencialmente agrícolas - dos quais o Brasil é um dos paradigmas - modernizaram-se, tornaram-se eficientes, dispõem de tecnologia de última geração, ganharam em competitividade, ocupando espaços de forma sustentável no mercado internacional. Incapazes de competir num ambiente de livre mercado, por seus altos custos, os retrógrados e incompetentes agricultores americanos pressionaram seu Governo (altamente suscetível em um ano eleitoral), arrancando de suas entranhas um festival de subsídios que permite a esse agricultor incompetente acomodar-se, tornar-se independente do mercado. Não importa o preço de mercado, o agricultor americano tem sua renda garantida, o que o torna um acomodado, um ineficiente. No meu entender a Farm Bill tem como objetivo econômico combater a alta competitividade do Brasil e outros países agrícolas. www.cultivar.inf.br

malfadada Lei americana. A margem de manobra é muito pequena. No melhor cenário, os produtores devem investir em uma dramática redução de custos, avanço tecnológico, ganhos de produtividade, melhor administração dos fatores de produção e de comercialização. Não se pode esperar muita ajuda do Governo, pois não há como países pobres competirem com os transatlânticos de dólares que o Governo americano vai despejar em sua ineficiente agricultura. Já no pior cenário, para não ser empurrado para fora do negócio, o agricultor se obrigará a adiar investimentos na conservação do meio ambiente, esquecer compromissos tributários, demitir ou aviltar sua mão-de obra, adiar investimentos para modernização do negócio, entre outros.

O PREÇO DA IRRESPONSABILIDADE

OS MALEFÍCIOS DA FARM BILL

O primeiro e mais importante malefício é que ela derruba o preço dos produtos agrícolas subsidiados, impedindo uma competição leal e justa no mercado, baseado em preço e qualidade. A violenta escalada de subsídios patrocinada pelo Governo americano, a partir de 1996, teve como uma das conseqüências a derrubada do preço da soja ao patamar médio de US$4,50/bu, ao longo dos últimos quatro anos, o que é o menor preço de todos os tempos. Ocorre que, enquanto o produtor brasileiro tem um custo de produção na faixa de US$ 6,50/saca, o produtor americano gasta US$11,20/saca. Com o preço de mercado a US$8,00/saca, o produtor brasileiro tem uma margem bruta de US$1,50/saca, fruto de sua competência e das leis do livre mercado. Já o produtor americano tem um subsídio de até 50% do preço de mercado para cobrir seus custos e auferir uma margem.

A edição casuística e eleitoreira da Farm Bill servirá, no curtíssimo prazo, para sustentar a renda de produtores americanos não competitivos. Transferirá para o irmão do Norte a renda e o emprego que pertencem por condição natural aos países de vocação agrícola, mais competitivos. Significará que esses países perderão oportunidades de desenvolvimento, aumentará o desemprego, a pobreza, a fome, a má distribuição de renda. A migração rumo ao Hemisfério Norte seguramente aumentará, agravando conflitos internos desses países, acirrará a discriminação, o ódio racial, recrudescerão os problemas de segurança pública nos dois hemisférios, será dado o mote para terroristas em geral justificarem as suas ações. Não será um preço muito alto para garantir alguns minguados votos de um restrito número de eleitores rurais, vis a vis o interesse dos pró. prios americanos e do mundo? Décio Luiz Gazzoni

Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agropolis.hpg.com.br

AS CONSEQÜÊNCIAS DA FARM BILL

Países agrícolas, o Brasil entre eles, não têm outra saída para o futuro que não investir nos agronegócios, para alavancar seu desenvolvimento e resolver seus problemas de emprego, geração e distribuição de renda e justiça social. Restam duas alternativas: ou esses países abdicam de seu futuro, em nome de manter a incompetência de parcela dos agricultores americanos, ou buscam fórmulas para fugir dos tentáculos da Julho de 2002

Julho de 2002

This Terrible Farm Bill (Artigo original em Inglês, publicado pelo Washington Post. By John Boehner and Cal Dooley. Thursday, May 2, 2002; Page A23. Trad.: D. L Gazzoni)

O

Congresso deu um passo histórico para eliminar os subsí dios agrícolas federais com o Freedom to Farm Act (Lei da Liberdade para Produzir). Produtores que plantam milho, arroz, trigo, algodão, soja, sorgo, cevada e centeio estavam supostamente livres da intervenção do governo federal, que estipulava o quanto eles poderiam produzir. Em contrapartida, os subsídios governamentais seriam gradualmente extintos, permitindo que a agricultura operasse em um sistema de livre mercado. Infelizmente, o futuro deste programa que representa o bom senso não parece promissor, porque o Congresso está em vias de retroceder em 50 anos o relógio da política agrícola. A Farm Bill vai alterar dramaticamente os programas agrícolas federais. Sob a nova legislação, os produtores terão liberdade para plantar o que quiserem, porém generosos subsídios agrícolas sustentarão a produção. Ao longo dos últimos anos, os presentes níveis de subsídios agrícolas conduziram a ofertas superiores à demanda, derrubando os preços agrícolas, e agora mais de 40% da renda líquida agrícola advém do governo federal. O aumento de subsídios governamentais somente perpetuará este ciclo vicioso. Sob a nova legislação, os subsídios existentes serão expandidos e novas comodities serão cobertas pelo programa. E o livre mercado será abandonado, tornando os agricultores completamente dependentes do Governo Federal. Estes novos programas e sua expansão representam 76% de aumento nos gastos com a agricultura. Este incremento dramático, durante um período de guerra e de escalada de déficit público não possui precedentes e é irresponsável. Estas estimativas têm como premissas aumentos de preços nos produtos agrícolas, com o que não concordam os economistas agrícolas independentes. Se as estimativas estiverem erradas o que parece ser o caso a nova Lei custará aos contribuintes entre US$10 e US$20 bilhões além do projetado. Além disso, a Farm Bill viola os nossos compromissos comerciais. Os acordos assinados pelos EUA limitam os subsídios agrícolas domésticos que distorcem a pro-

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dução e o comércio a não mais de US$19 bilhões por ano. Há pouca dúvida de que a Lei excederá estes limites. Considerando que 96% dos consumidores de produtos agrícolas vivem fora dos Estados Unidos, o comércio agrícola internacional é vital para os nossos produtores. Mas está lei seguramente provocará retaliações dos nossos concorrentes. Prova disso, observe como os nossos parceiros comerciais estão reagindo às novas sobretaxas do aço. Para muitos agricultores o Governo se tornou o principal suporte do agronegócio americano. Além disso, sem o Governo Federal, a maioria dos agricultores americanos que recebe subsídios seria banido de seu negócio. Entretanto, muitos produtores não sofreriam um impacto fatal com o declínio dos subsídios agrícolas, pois a agricultura continuaria seu curso mesmo sem este suporte. Mais ainda, a maioria das propriedades agrícolas sobrevive sem recursos federais. A Califórnia é o maior produtor agrícola, embora somente 9% de suas fazendas receba subsídios. Iowa, que concentra suas produção nos cultivos tradicionais, recebe o triplo do recurso. O cenário mais provável é que, em dois anos, nós estaremos soterrados por uma sobre-produção agrícola, baixos preços das comodities e excessivos gastos governamentais. Teremos perdido diversas contestações frente à OMC e os subsídios terão excedido os limites orçamentários. Nós seremos forçados a cortar benefícios e a reescrever a legislação. Alternativamente, nós poderemos enviar a proposta de volta ao Senado para ser redesenhada, em um ambiente muito menos volátil, em termos políticos, após as eleições de novembro. Enquanto isto, poderíamos aprovar uma legislação de emergencial com medidas suplementares para conferir paz de espírito e a segurança que eles precisam agora. A menos que tenhamos uma ação responsável, nós estaremos na mesma posição antes que se esgotem os seis anos de duração da Farm Bill , reescrevendo-a para escapar do profundo abismo que estamos cavando com esta Lei. O que nos espera será um aumento do déficit público, nossos aliados comerciais se tornarão hostis e o pior dos mundos o fosso entre os produtores mais pobres e mais ricos será aprofundado.

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Mercado mundial saindo do fundo do poço Nestes últimos anos estivemos vendo os principais produtos agrícolas chegarem ao fundo do poço, com as cotações não trazendo remuneração aos produtores, e forçando os países ditos do primeiro mundo a um aumento do volume de subsídios. Mesmo com este quadro, a produção dos principais produtos, como o milho, trigo e o arroz, que dominam a produção mundial de alimentos não foi estimulada. O consumo mundial de alimentos tem mostrado crescimento contínuo e existe grande parte da população mundial que se alimenta menos do que o mínimo necessário, além disso, o crescimento populacional aponta chegar à marca das 10 bilhões de pessoas até o ano de 2020, ou seja, em poucos anos teremos um aumento de 50% na população mundial que está tendo média de vida cada vez maior. Com isso, mais alimentos serão necessários para atender toda a demanda futura. Atualmente, estamos vendo os estoques dos principais produtos em queda, como é o caso do milho, que já teve mais de 140 milhões de t em estoque e agora caminha para baixo das 100 milhões. A produção prevista para esta nova safra deverá vir abaixo do consumo e novamente quedas nos estoques devem ocorrer. O mesmo está ocorrendo com o arroz e com o trigo, devendo reverter o quadro baixista das cotações que vinha ocorrendo nos últimos anos. A soja, que tem mostrado crescimento constante na produção, ao contrário do que ocorre com os cereais, tem um crescimento acentuado no consumo, projetam-se mais de 225 milhões de t em 2020. Isso irá forçar um aumento da produção nos principais países exportadores, e o Brasil, principalmente, se beneficiará com isso. Todo este quadro de demanda crescente e acima da produção esperada para estes próximos anos deverá reverter o quadro baixista do mercado, e passar a indicar crescimento nos indicativos pagos aos produtores.

MILHO

Safrinha derruba cotações

O mercado do milho está em pleno período da safrinha. Como estamos recebendo algo ao redor de 6,5 milhões de t, e a maior parte deste produto vem com destino aos armazéns dos principais consumidores, estes ficam forçados a segurar as compras dos lotes livres e o mercado é empurrado para baixo, como já se observou em junho, com queda de R$ 0,50 a R$ 1,00 nos valores. O mercado deverá continuar vendedor e com os compradores dominando os negócios em julho, mas deve mudar de quadro de agosto em diante. Continuaremos com o quadro apertado, onde a safra deverá ser menor que a demanda. Para quem pode segurar, este não é um bom mês para vender milho.

SOJA

Dólar dominando o mercado

O mercado da soja está sendo dominado pelo dólar que tem flutuado para cima e para baixo em ritmo forte, forçando, com isso, o mercado da soja a seguir na mesma linha. Como em junho o mercado também foi forçado para cima em Chicago, onde o clima e o plantio influenciavam as cotações, houve bons momentos para os produtores. Neste mês de julho ainda estaremos sendo influenciados pelo clima nos EUA, onde as lavouras estarão em floração e, assim, muito dependentes de boas condições climáticas. Mas o ponto mais importante continuará sendo o câmbio, que aponta continuar agitado, podendo dar vantagens aos produtores. Continua com boas expectativas.

ARROZ

Pouca demanda e mercado calmo

O mercado do arroz teve um mês calmo para o beneficiado e, também, lento para o casca, que apresentava fraca pressão de compra por parte dos varejistas. No começo de junho as cotações do casca avançaram no Centro-Oeste, mostrando, assim, poucos fechamentos e indicativos de R$ 18,00 a R$ 20,00 pelo Sequeiro de boa qualidade com 60 kg e de R$ 17,00 a R$ 18,00 pelo Irrigado de boa qualidade com 50 kg, no Sul do 38

Cultivar

país. Continuará com pouca pressão em julho, quando normalmente há fraca demanda no varejo.

FEIJÃO

Minas Gerais dominando os negócios

O mercado do feijão continuou mostrando as cotações firmes, com valores variando entre R$ 55,00 e R$ 60,00 pelo produto comercial e R$ 65,00 e R$ 70,00 pelo carioca de ponta novo, que estava chegando em Minas Gerais, Estado que estava dominando o mercado e deverá continuar controlando os negócios e abastecendo os atacadistas em julho. O plantio esteve em andamento no Nordeste, onde as chuvas em junho vinham beneficiando as lavouras, mas a colheita daquela região vem somente no final de agosto em diante.

TRIGO Boas expectativas para este ano As cotações internacionais estão em alta, dificultando, assim, a vida dos moinhos brasileiros, que estão tendo dificuldade para importar o produto. Reclamam que as cotações na Argentina estão na casa dos US$ 165,00 por t, muito acima das US$ 115,00 praticadas em janeiro. Com isso, terão de estimular os produtores por aqui, para não correr riscos de não ter produto para trabalhar nos próximos anos. O produto nacional que vinha sendo projetado em R$ 300,00 por t, agora está em R$ 350,00 e já há produtor esperando negociar em R$ 400,00. O mercado externo em alta e o câmbio instável e bem valorizado darão suporte aos produtores, que devem ter bom desempenho comercial neste ano.

CURTAS E BOAS EUA - o plantio da safra de soja e milho encerrou, e a soja ganhou área enquanto o milho perdeu mais de 500 mil hectares. As primeiras indicações de safra apontam que a soja deverá estar próxima das 78 milhões de t e o milho das 240 milhões de t, com poucas alterações em relação ao ano passado. CHINA - teve grandes problemas climáticos em junho, com enchentes em grande parte do sul do país, onde cerca de 30 milhões de agricultores foram prejudicados, e boa parte da safra de arroz e milho foi prejudicada. No norte do país a seca se alonga há quase 20 anos e também prejudica as lavouras. A soja e o milho também têm sido prejudicados. O país vem reduzindo os grandes estoques de alimentos que carregava. SOJA - os produtores brasileiros devem mostrar novo crescimento no plantio da safra deste segundo semestre. A soja já vem dando boas indicações futuras, com as cotações ficando próximas de US$ 8,00 no Centro-Oeste e de US$ 9,00 no Sul e Sudeste, para troca com insumos, onde já se negociou bons volumes de produto, mas esses valores estão ainda muito abaixo dos anos anteriores. Os produtores estão capitalizados e vêm diminuindo o endividamento antecipado e apostando na venda da soja na safra, que neste ano lhes remunerou melhor. ALGODÃO - mostrou problemas nas lavouras do Centro-Oeste, que tiveram chuvas tardias, prejudicando um pouco a qualidade do produto Mas como estamos com uma safra menor e o câmbio em alta, a vida dos importadores é dificultada, podendo os produtores internos serem beneficiados no segundo semestre, quando se espera pelo crescimento da pressão de compra e melhor valorização do produto livre. Ainda segue dependente do apoio comercial do governo para dar sustentação a ganhos mínimos aos produtores. FEIJÃO - deverá perder espaço no novo plantio que começa em agosto no Sul, principalmente em Santa Catarina, onde o governo local deverá estimular o plantio do milho, com distribuição de sementes e insumos, devendo, assim, limitar o plantio do feijão. Com isso, segue com boas perspectivas de cotações ao feijão nosso de cada dia.

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Julho de 2002



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