Cultivar 43

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Ano IV - Nº 43 Setembro / 2002 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00

Nova doença

Conheça a necrose da haste da soja e saiba como se prevenir dela

(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 8,00 Diretor:

Riscos ao ambiente

Newton Peter

Editor geral:

Especialista avalia os impactos ambientais causados por agroquímicos

Schubert Peter

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Redação

Pablo Rodrigues Charles Ricardo Echer Gilvan Dutra Quevedo

Design Gráfico e Diagramação:

Fabiane Rittmann

Marketing:

Neri Ferreira

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Apoio de Arte:

Carla Tuche de Armas

Gesso em soja

Circulação:

Saiba quais os benefícios de se usar o gesso agrícola em soja

Edson Luiz Krause Jociane Bitencourt

Assinaturas:

Simone Lopes

Ilustrações:

Rafael Sica

Revisão:

Carolina Fassbender

Milho com pragas

Editoração Eletrônica:

Index Produções Gráficas

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Fotolitos e Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES: (53) GERAL / ASSINATURAS: 272.2128 REDAÇÃO : 227.7939 / 272.2105 / 222.1716 MARKETING: 272.2257 / 272.1753 / 225.1499 / 225.3314 FAX: 272.1966 Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

O MIP é uma eficaz alternativa para minimizar os prejuízos na lavoura

índice

Nossa capa

Diretas

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Resistência a herbicidas

08

Necrose da haste

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Agroquímicos e ambiente

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Informe especial - Cooplantio

28

Aminoácidos na agricultura

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Uso do gesso na soja

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Coluna da Aenda

34

MIP em milho

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Agronegócios

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Mercado agrícola

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Foto Capa / Embrapa Clima Temperado Descarte impróprio de embalagens causa impactos ao ambiente



diretas Certificação

Alerta

A Aprossul trabalha para conquistar a certificação de qualidade na área de sementes. O presidente Carmélio Romano Ross lembra que o selo já existe em Mato Grosso e que a conquista representa perspectivas de ampliação na comercialização. Segundo Ross, a associação também aguarda a implantação do laboratório de patologias, cujo início de funcionamento está previsto para a próxima safra. O presidente destaca que a medida é uma exigência legal, encampada pela Abrasem junto às associadas de todo o país.

Ribas Vidal, professor da UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul -, diz que os agricultores devem esperar maior infestação de plantas daninhas para a próxima safra. Segundo Vidal, o aumento da sementeira no solo na safra passada e o estímulo à germinação propiciado pelo frio intenso criaram um ambiente favorável ao desenvolvimento das invasoras. Anualmente, as plantas daninhas custam 400 milhões de dólares à agricultura gaúcha.

Ribas Vidal

Carmélio Romano

Festival transgênico

Crise

O Brasil terá, na próxima safra, mais de 2,5 milhões de hectares plantados com soja transgênica, estimam os próprios produtores, com base em informações de beneficiadores de sementes. Nas safras recentes, a transgênica foi cultivada principalmente no Rio Grande do Sul, de onde passou a Santa Catarina e Paraná, chegando ao Mato Grosso. A novidade para este ano é que não se trata mais e apenas da soja maradona , contrabandeada da Argentina, mas de produto já desenvolvido no Brasil. Cultivares nacionais teriam recebido novos genes. Naturalmente ninguém é responsável. Os produtores dizem que a soja transgênica brasileira está sendo oferecida em qualquer quantidade no Centro-Oeste e até no oeste baiano e no Maranhão. Detalhe: a soja transgênica continua proibida no país pela Justiça.

Quem se encantou com a organização e infra-estrutura do Show Rural 2002 não pode imaginar o quanto a feira do próximo ano estará melhor. É o que afirma o coordenador geral do Evento, Rogério Rizzardi. Segundo o engenheiro agrônomo da Coopavel, a cooperativa está fazendo grandes investimentos para maximizar a área e a participação das empresas e ampliar ainda mais a qualidade do evento. Quem visitar a feira do ano que vem vai encontrar, entre outras novidades, ruas cobertas, avenida central com bancos em toda a sua extensão, área de lazer e um mirante com vista geral do parque. Não é falta de modéstia, mas estamos preparando algo para encantar não somente o Paraná, mas todo o Brasil e quem chegar de fora também , afirma.

Cultivar

Marcelo Gardel acaba de assumir a gerência de projetos de marketing agro/terceiros da Basf. O excelente trabalho desenvolvido na área de marketing, primeiro na FMC e mais recentemente na Agripec, rendeu o convite para o novo trabalho. Outra nova contratação da Basf é Luís César Siqueira e Silva, que assumiu a gerência de projetos de marketing. Luís vem da DuPont, empresa na qual trabalhou por oito anos na coordenação de projetos e análises de demanda.

Rogério Rizzardi

Sorgo e milho

Goiás Fibra

06

Carlos Maronezzi

Waschington Senhorelo

O diretor executivo da Pioneer Sementes, Daniel Glat, comemora o resultado obtido pela empresa na pesquisa realizada pela Hopman & Associados Market Research de São Paulo. Foram ouvidos 841 agricultores que opinaram sobre as principais empresas e produtos do setor agrícola. A Pioneer obteve destaque nos quesitos confiança, custos, assistência técnica, inovação tecnologia e admiração dos clientes.

Mudanças

Show Rural 2003

O diretor executivo da Fundação Goiás, Waschington Senhorelo, aguarda com expectativa a realização do seminário anual do algodão. O Goiás Fibra/2002 está agendado para os dias 27 e 28 de setembro, em Goiânia. O evento pretende reunir pesquisadores e produtores para a apresentação de resultados de pesquisas e discussão de prioridades da cadeia produtiva de algodão.

Pesquisa

O presidente da APA, Ângelo Carlos Maronezzi , estima que a próxima safra de arroz em Mato Grosso não deve exceder 867 mil toneladas, o que representa redução de 25% em relação ao ano passado. No que se refere ao período 99/2000, quando foram colhidas 1.800 toneladas, a queda sobe para 52%. Segundo as estatísticas da entidade, a produção 2002/2003 atingirá apenas 50% da capacidade de beneficiamento do parque industrial do Estado. A pressão exercida pelas culturas da soja e do algodão é apontada como uma das causas do problema. A cadeia produtiva do arroz vem buscando junto ao Ministério da Agricultura a liberação de contratos de opção para tentar reverter a situação.

Luis Cláudio Pereira, da sementes Dow Agroscience, está otimista com o lançamento de quatro novos híbridos comerciais. Na cultura de milho chega ao mercado o 2C577, tolerante à faeósferia e à mancha da cercóspora, além do 2C500 indicado para o plantio de verão e safrinha. Na área de sorgo, as novidades ficam por conta do IF305, resistente ao tombamento e o IP400, indicado para pastagens degradadas com disponibilidade para pastoreio 35 dias após a semeadura.

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Marcelo Gardel

Sementes de soja

O secretário Antonio Eduardo Loureiro da Silva, da Apassul, está preocupado com os problemas enfrentados na comercialização de semente de soja no Rio Grande do Sul. A concorrência ilegal de transgênicos é apontada como a principal dificuldade. O posicionamento da Apassul é favorável à pesquisa e ao uso da transgenia. O que não aceitamos é a entrada de sementes de outros países para serem processadas e comercializadas aqui de forma irregular como vem acontecendo , esclarece.

Eduardo Loureiro Setembro de 2002


Herbicidas

Q

Fotos Paulo Kurtz - Embrapa Trigo

Os registros apontam a existência de 253 biótipos resistentes de plantas daninhas no mundo, distribuídos entre 154 espécies. Os casos documentados de plantas daninhas resistentes são principalmente aos herbicidas inibidores da ALS, às triazinas e aos inibidores da ACCase

Contra a resistência

uando se utilizam os mesmos herbicidas ou herbicidas diferentes, mas com mesmo mecanismo de ação, de forma repetitiva, está se exercendo uma pressão de seleção. Essa pressão sobre uma população suscetível

seleciona constantemente os indivíduos com carga genética diferenciada, a qual impede a ação dos herbicidas em uso. Esses indivíduos sobreviventes constituem um biótipo resistente e, dependendo da herdabilidade, produzirão descendentes

Teste com herbicida para o controle de invasoras

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Cultivar

cultura é feito através da integração de diversos métodos, incluindo cultural, mecânico, físico e químico dentre outros. No entanto, nas últimas décadas a aplicação de herbicidas para o controle de plantas daninhas tem sido crescente. Diversas estratégias devem ser adotadas no manejo da resistência aos herbicidas, com atuação tanto na prevenção ao surgimento da resistência, quanto no manejo destas nas situações onde já existam plantas daninhas resistentes. Os princípios do manejo da resistência de plantas daninhas são similares, tanto na prevenção da resistência de uma população quanto na limitação da resistência após sua constatação.

com carga genética semelhante. Ao longo do tempo, o número de indivíduos resistentes torna-se significativamente maior que o de suscetíveis. Em outras palavras, a resistência marca uma mudança genética na população da espécie de planta daninha em resposta à seleção imposta pelos herbicidas usados nas doses recomendadas. A tolerância é resultado da capacidade inata da espécie em suportar aplicações de herbicidas, nas doses recomendadas, sem alterações marcantes em seu crescimento e desenvolvimento. Os fatores que contribuem para o aparecimento de biótipos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas são: Uso de herbicidas de alto grau de eficiência no controle da planta daninha; Sementes de plantas daninhas com baixa longevidade; Herbicidas de efeito residual prolongado e/ou utilizado freqüentemente; Uso repetitivo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação; Herbicidas aplicados em altas doses; A não utilizada mistura de herbicidas para controle de plantas daninhas em uma cultura e adaptabilidade ecológica.

SITUAÇÃO MUNDIAL E BRASILEIRA

Os registros apontam a existência de 253 biótipos resistentes de plantas daniwww.cultivar.inf.br

Setembro de 2002

OPÇÕES QUÍMICAS PARA PREVENÇÃO

As estratégias de manejo das plantas daninhas adotadas têm influência decisiva na velocidade de seleção do biótipo resistente e, portanto, o planejamento de escolha destas estratégias deve ser de forma criteriosa. O aspecto mais importante na prevenção e manejo da resistência é a recomendação de práticas e sistemas de produção em que a pressão de seleção de biótipos resistentes a determinado herbicida seja reduzida. As estratégias químicas podem ser utilizadas para reduzir essa pressão de seleção. nhas no mundo, distribuídos entre 154 espécies. Os casos documentados de plantas daninhas resistentes são principalmente aos herbicidas inibidores da ALS, às triazinas e aos inibidores da ACCase. Os casos mais freqüentes de resistência de plantas daninhas aos herbicidas que têm surgido no Brasil são aos herbicidas inibidores da ALS e ACCase. Entre as principais espécies resistentes detectadas no Brasil encontram-se: Bidens pilosa, Bidens subalternans, Euphorbia heterophylla, Sagittaria motevidensis e Cyperus difformis aos inibidores de ALS; Brachiaria plantaginea e Digitaria sp. aos inibidores de ACCase e Echinochloa sp. aos mimetizadores das auxinas. A extensão de áreas agrícolas atualmente detectada com presença de biótipos resistentes de plantas daninhas pode ser considerada de pequena escala, quando comparada com a área agrícola total, mas está aumentando em uma taxa elevada. Portanto, é importante que o assunto seja discutido, e que medidas de prevenção e manejo sejam adotadas para que o herbicida seja preservado para o controle eficaz e econômico na agricultura.

MANEJO E PREVENÇÃO DA INFESTAÇÃO

O manejo de plantas daninhas na agriSetembro de 2002

MANEJO DE HERBICIDAS

O manejo de herbicidas é fundamental para prevenir e manejar a resistência de plantas daninhas, sendo que as principais recomendações são: I) Utilizar herbicidas com pouca atividade residual no solo; II) Otimizar a dose, época e número de aplicações; III) Aplicar herbicidas somente quando necessário (nível de dano econômico - NDE); IV) Minimizar a aplicação de herbicidas específicos, evitando o uso contínuo, no mesmo campo, de herbicida ou herbicidas com mesmo mecanismo de ação, a não ser que integrado com outras práticas de controle; V) Acompanhar os resultados das aplicações dos herbicidas, deixando pequenas área testemunhas sem aplicação, a fim de detectar quaisquer tendências ou mudanças na densidade populacional das plantas daninhas presentes; VI) Evitar a utilização de herbicidas para o qual a resistência foi confirmada, a menos que em mistura com outro(s) herbicida(s) de diferente(s) mecanismo(s) de ação; VII) Rotação de herbicidas com mecanismos de ação diferenciados e/ou com diferentes mecanismos de detowww.cultivar.inf.br

... Cultivar

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Cultivar

múltipla (a planta resistente possui dois ou mais mecanismos de resistência distintos) a classificação perde validade.

MANEJO QUÍMICO NO BRASIL

...xificação, porém efetivos sobre o mesmo

espectro de plantas daninhas; VIII) Utilizar mistura de herbicidas (de tanque, formuladas ou aplicações seqüências), sendo que a mesma está baseada no fato de que os ingredientes ativos controlam eficientemente os dois biótipos da mesma espécie. Os componentes das misturas devem atender os critérios de: diferentes sítios de ação, espectro de controle e persistência semelhantes; IX) Manejar plantas daninhas na pré-colheita e/ou pós-colheita, utilizando herbicidas de amplo espectro de ação para a dessecação das plantas daninhas que impedirá a produção de sementes, reduzindo, ao longo do tempo, o banco de sementes no solo. Estas recomendações reduzem a pressão de seleção, diminuindo os riscos de resistência e mantendo a diversidade de biótipos no banco de sementes do solo. É de fundamental importância o conhecimento da classificação dos herbicidas quanto ao seu mecanismo de ação para que possa planejar adequadamente a rotação ou mistura de herbicidas e de culturas visando evitar e retardar o aumento da freqüência do biótipo resistente na área. Quando a resistência é cruzada (biótipos de plantas daninhas são resistentes a dois ou mais herbicidas devido à presença de um único mecanismo de resistência) ou

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Cultivar

OPÇÕES NÃO QUÍMICAS PARA PREVENÇÃO

As estratégias não químicas afetam a dinâmica das populações suscetíveis e resistentes de plantas daninhas porque provocam elevada mortalidade de plantas e a pressão de seleção permanece sem alteração. Algumas dessas técnicas estão descritas.

Paulo Kurtz - Embrapa Trigo

Christoffoleti aborda o manejo da resitência de plantas daninhas a herbicidas

Embora os relatos existentes na literatura comprovem o aparecimento de biótipos resistentes de plantas daninhas aos herbicidas inibidores da ACCase e ALS no Brasil, até o momento poucas são as pesquisas publicadas que evidenciam formas alternativas de manejo das populações resistentes. Os casos de resistência de Brachiaria plantaginea a herbicidas inibidores da ACCase foram observados no Paraná, na região de Três Capões, Palmerinha (município de Guarapuava) e Covo (município de Manguerinha), onde o controle das gramíneas era feito na cultura da soja com esse tipo de herbicida sistematicamente. Sendo assim, com o decorrer dos anos foi observada redução de controle. Nos anos 97 e 98 foram testados os herbicidas nicosulfuron e imazethapyr (inibidores da ALS) que foram eficientes no controle dessa planta daninha. É importante destacar que nicosulfuron não tem registro para soja, mas seu uso foi possível porque o agrônomo responsável tinha conhecimento de que a cultivar de soja Coodetec 201 é tolerante às sulfoniluréias. O manejo dessa planta daninha também pode ser realizado com herbicidas de manejo com mecanismos de ação alternativos, podendo os herbicidas glyphosate, paraquat, sulfosate, paraquat + diuron, MSMA e glufosinate serem utilizados no período de entressafra das áreas com sistema de plantio direto, para manejo de populações

resistentes e suscetíveis. Casos de resistência da planta daninha amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla) aos herbicidas inibidores da enzima ALS foram relatados em lavouras de soja no Paraná e Rio Grande do Sul. Alguns experimentos mostraram que os biótipos apresentam diferentes níveis de resistência cruzada entre os herbicidas cloransulan, imazethapyr e o imazaquin. Os herbicidas sulfentrazone, lactofen, fomesafen (inibidores da protox) mostraram alto índice de controle de ambos os biótipos. Os inibidores de EPSPs (glyphosate), mimetizadores de auxina (2,4-D, dicamba), inibidores dos fotossistemas I e II (paraquat e atrazine) são outras alternativas interessantes para serem utilizados na entressafra ou rotação de cultura. Casos de resistência da planta daninha picão preto (constituída de uma mistura das espécies Bidens pilosa e Bidens subalternans) foram relatados nas áreas produtoras de soja da região central do Brasil. O uso intensivo e repetitivo de herbicidas inibidores da acetolactato sintase (ALS) nas áreas cultivadas com soja no município de São Gabriel do Oeste (MS) selecionou populações resistentes. Os herbicidas alternativos lactofen, fomesafen (inibidores da protox) e bentazon (inibidor do fotossistema II), aplicados isoladamente ou em mistura com cholorimuron-ethyl e imazethapyr, mostraram-se eficazes no controle dos biótipos resistentes.

Lavoura de soja com alta infestação de invasoras

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Fotos Paulo Kurtz - Embrapa Trigo

Plantas daninhas em meio ao lote de milho

...

ROTAÇÃO DE CULTURAS

A rotação de culturas, particularmente aquelas com diferentes ciclos de vida, reduz o sucesso intrínseco das plantas daninhas, que estão sincronizadas com a cultura, implicando na variação dos padrões de uso do solo e da interferência das plantas daninhas, e sua duração deve ser baseada no tamanho e taxa de declínio do banco de sementes de biótipos resistentes presentes no solo. As conseqüências da rotação de culturas são: I) algumas culturas não utilizam herbicidas diminuindo a pressão de seleção; II) a utilização de diferentes mecanismos de ação e III) os diferentes ciclos de vida das culturas e práticas de produção, que poderiam afetar a dinâmica da população de plantas daninhas.

ramentas para a eliminação dos focos de infestação, principalmente no caso das espécies de difícil controle como os biótipos resistentes.

MÉTODO CULTURAL

Este método consiste na utilização de medidas e procedimentos objetivando a prevenção de infestações e disseminação de plantas daninhas (biótipos resistentes), bem como o fortalecimento da capacidade

MÉTODOS MECÂNICOS

Práticas de cultivo mecânico, tais como enxada rotativa e cultivadores seletivos, reduzem a pressão de seleção na população de plantas daninhas pelos herbicidas. O cultivo primário de preparo do solo também reduz a pressão de seleção por causa do enterrio das sementes de plantas daninhas recém produzidas. O cultivo nas entrelinhas e o uso de herbicidas apenas na linha de cultura são métodos que podem ser bastante interessantes para evitar o aparecimento de resistência em uma determinada área, proporcionando menor pressão de seleção. As capinas, roçadas e arranquio são excelentes fer12

Cultivar

competitiva da cultura, representada pelo seu rápido estabelecimento e desenvolvimento. Práticas alternativas de manejo de plantas daninhas: I) Implementar culturas mais competitivas; II) Escolha de cultivares adaptadas à região junto com plantio na época, espaçamento e densidade adequadas; III) Ausência ou diminuição das épocas de pousio; IV) Uso de cobertura morta; V) Quando necessário, espaçamento adensado ou retardamento do plantio; VI) Utilizar sementes fiscalizadas (especialmente de soja e culturas de inverno), VII) Limpar equipamentos antes de deixar um campo infestado ou com suspeita de plantas daninhas resistentes, quarentena de animais e utilização de quebra ventos; VIII) Limpeza de beiras de estrada, carreadores e terraços existentes nas áreas; IX) Optar por culturas com maior produção de massa e de rápido crescimento inicial e em regiões que favorecem a rápida decomposição da palhada selecionar culturas com relação C/N altas; X) Considerar os efeitos alelopáticos positivos, na escolha das culturas em rotação. Esses são métodos não químicos de controle de plantas daninhas que podem, em algumas situações, constituir-se em alternativas viáveis juntamente com os herbicidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os biótipos resistentes podem restringir ou inviabilizar a utilização futura dos herbicidas, pois a eficácia de controle fica reduzida a níveis abaixo dos aceitáveis pelo agricultor. Quando ocorrem plantas daninhas resistentes aos herbicidas em uma área, com densidade suficiente para limitar a produção das culturas agrícolas, há necessidade de mudanças nas práticas de manejo utilizadas. O conhecimento das características das plantas daninhas, dos herbicidas e do sistema de produção, que favorecem o aparecimento de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas, é de fundamental importância para que técnicas de manejo sejam utilizadas para evitar ou retardar o aparecimento de plantas resistentes em uma área e, caso já esteja presente na área, evitar sua disseminação e reduzir sua presença na área. Desta forma, o controle de plantas daninhas em uma propriedade deve ser levado em consideração a longo prazo, através de um sistema integrado de controle em sistemas de produção que envolva métodos culturais, físicos, mecânicos, . químicos além de outros. Pedro Jacob Christoffoleti, Ramiro Fernando L. Ovejero e Patrícia Andrea Monquero, USP/ESALQ

Infestação de plantas daninhas reduzem em 20% a produção

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Soja

Fotos Álvaro Almeida

Prejuízo na lavoura

fragmentos das folhas infectadas foram retirados dessas plantas e fotos mostraram a presença de partículas falcadas, agrupadas na forma de feixes,características de infecção por vírus do grupo carlavírus. A partir dessa informação, procedeu-se a diagnose utilizando método molecular denominado RT-PCR. Primers , desenhados especificamente para carlavirus ( Badge etal., 1996 ) foram utilizados e permitiram a amplificação de uma pequena porção do RNA viral, com tamanho de 120 pb, a qual, após clonada e seqüenciada,foi alinhada e comparada com sequências armazenadas no GenBank. O resultado mostrou que o RNA do vírus causador da necrose da

As moscas foram mantidas em plantas de soja infectadas por 18-24h e depois transferidas para plantas sadias. Os sintomas apareceram nas folhas mais novas, cerca de 8-10 dias após a inoculação. Inicialmente, as folhas apresentavam clareamento de nervuras, seguindo-se aparecimento de mosaico, o qual tornava-se forte, com formação de bolhas no limbo foliar. Em outros casos, as folhas com mosaico apresentavam pequenas manchas necróticas, evoluindo para necrose apical e da haste. O broto da planta infectada normalmente se curva para baixo e necrosa. Plantas coletadas no campo podem exibir haste total ou parcialmente necrosada. Corte Elliot W. Kitajima

Estudo analisa nova virose da soja: a necrose da haste

P

lantas de soja da linhagem BABR26640, cultivadas sob irrigação e desenvolvidas para multiplicação de sementes no período de entre-safra ( agosto de 2001 ), em Barreiras, Estado da Bahia, apresentaram sintomas de necrose do pecíolo e, curvatura e necrose do broto. Algumas plantas apresentavam outros sintomas como nanismo e deformação do limbo foliar, com presença de bolhas. Essas plantas foram coletadas e transportadas para estudos na Embrapa Soja. Os brotos foram enxertados em soja cv. Sintomas de necrose apical, nas brotações novas. Na cultivar Coodetec 206 os sintomas caracterizaramse pela formação de um mosaico denominado mosqueado ( mottling ), com formação de bolhas no limbo foliar, normalmente sem necrose apical. A inoculação mecânica de plantas de soja sadias, com extrato de plantas infectadas e utilizando-se solução tampão apro-

priada causou o aparecimento dos sintomas em plantas de soja cv. Mirador, Coodetec 206 e BRS 153, cerca de 12 a 15 dias após a inoculação. O tipo de sintoma e a intensidade de dano à planta de soja variou com a cultivar. A cultivar Mirador foi mais severamente afetada do que as cultivares Coodetec 206 e brs 153. Especulou-se, à princípio, que as diferenças em sintomas poderiam ser características das cultivares, fato comprovado posteriormente.

DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO

broto em soja é um sintoma que apresenta diversas variações, de intensidade e de coloração, acompanhadas ou não por necrose da haste e de pecíolos, causada por diferentes vírus: Soybean mosaic virus-smv, Tobacco ringspot virus-TRSV, Tobacco Streak virus-TSV, Alfafa MOSAIC virus-AMV (Costa, 1979; Almeida, 1994 ). O sintoma de queima do broto causado por alguns desses vírus é influenciado pelo

Clareamento das nervuras da soja ocasionado pela necrose da haste

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Cultivar

Agrupamento típico de partículas de carlavírus

Os sintomas observados nas plantas, necrose da haste e de pecíolos, com aparecimento de queima do broto, são típicos de uma enfermidade descrita no Brasil em 1995, denominada queima do broto, causada por virus ( Tobacco Streak Virus ) e transmitida por trips ( Costa et al., 1955 ). É importante salientar que a queima do

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genótipo. Por exemplo, as cv. de soja Ogden e Buffalo, quando inoculadas com uma determinada estirpe de SMV, apresentam necrose da haste e queima do broto ( Almeida, 1983 ). Dessa forma, a diagnose no campo torna-se difícil e pode levar a erros na identificação do vírus. No caso das amostras oriundas de Barreiras, o estudo da estiologia foi iniciado, utilizando-se microscopia eletrônica. Pequenos Setembro de 2002

haste da soja apresentou 88,4% de similaridade com o Cowpea mild mosaic virus (CMMV), isolado M, código AF 024629, do GenBank. Inoculações mecânicas do vírus, em plantas de diferentes espécies botânicas, mostrou que o vírus possui estreita gama de plantas hospedeiras. Foi feito teste de transmissão por pulgões utilizando-se as espécies Uroleucon ambrosiae e Myzus persicae. Insetos aviruliferos, mantidos em telado, foram submetidos a jejum por 3h e a seguir, separados em dois grupos com acesso à folha de soja infectada, por 5 e 30 min. Os insetos, após o período de aquisição, foram transferidos para plantas de soja cv. Mirador . Cerca de 24h após, os insetos foram mortos com aplicação de inseticidas e as plantas mantidas em casa de vegetação. A avaliação visual de sintomas, feita 2 e 4 semanas após a inoculação, foi negativa. Moscas brancas da espécie Bemisia argentifolii, coletadas em plantas de feijão, mantidas em telados e sabidamente livres de vírus, foram utilizadas para testes de transmissão. www.cultivar.inf.br

longitudinal da haste pode mostrar a medula com pontos necróticos na junção do pecíolo necrosado ou escurecimento total da medula. Foi feito teste de transmissão por sementes utilizando-se duas mil sementes colhidas de plantas da cv. Mirador, previamente infectadas mecanicamente. As sementes colhidas foram semeadas em bandejas com solo esterelizado. Avaliações feitas aos 14 e 28 dias após semeadura não detectaram nenhuma planta sintomática. Testes com outros genótipos serão testados oportunamente.

LEVANTAMENTO E NOVAS OCORRÊNCIAS

Em fevereiro de 2002, atendeu-se a uma solicitação da Sementes Minari, sediada em Tupaciguara (MG), para diagnosticar morte de plantas de soja, especialmente na cv. UFV19. O problema era caracterizado por necrose das hastes e escurecimento de pecíolos e também presença de plantas de porte reduzido e forte clorose das folhas. Os sintomas eram similares àqueles observados em Barreiras, em 2001. A vista de outros campos de soja na região sudoeste de Goiás, especialmente nos Cultivar

... 15


...municípios de Quirinópolis, Acre-

TABELA 1. Reação de espécies botânicas infectadas pelo vírus da necrose da haste da soja. Família

Espécie

Amaranthaceae

Amaranthus sp. Gomphrena globosa

Chenopodiaceae

Chenopodium amaranticolor Chenopodium quinoa Chenopodium murale

Compositae

Helianthus annuus anuus Emília sonchifolia

Leguminosae

Glycine max Cultivar Santa Rosa Cultivar Davis Cultivar FT-10 Cultivar Mirador Cultivar FT-10 Cultivar CD 206 Cultivar Embrapa 133 Cultivar Tucano Cultivar UFV 19 Phaseolus vulgaris Cultivar Rosinha Cultivar Carioca Cultivar Jalo Cultivar Manteiga Cultivar Tibagi Lupinus albus Crotalaria striata C. mucronata C. spectabilis Vigna unguiculata Cultivar Blackeye

Solanaceae

Reação* LLN NS Mo/NS NS/Mo Mo Mo NS ML/E ML/E -

Lycopersicom esculentum Nicotiana tabacum Sansun NN N. glutinosa N. benthamiana N. debneyi Datura stramonium

-

Cucurbitaceae

Cucurbita pepo Cultivar Caserta

-

Compositae

Bidens pilosa

-

Labiatae

Ocimun basilicum

-

Graminiae

Zea mays

-

Pedaliaceae

Sesamun indicum

M

* NS = necrose sistêmica; Mo = mosqueado; M = mosaico; LLN = lesão local necrótica; E = encarquilhamento; - = sem sintoma.

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Cultivar

úna, Porteirão e Goiatuba (GO), permitiu observar os mesmos sintomas, na mesma cultivar. Apenas nos locais visitados, as áreas com perda total devido à virose atingiram mais de 300 ha. Na época da visita, a população de mosca branca era baixa. No entanto, os relatos dos produtores foi de que a população fora alta anteriormente. As amostras de plantas infectadas coletadas nesses locais foram utilizadas em testes biológicos e moleculares, permitindo associar a etiologia viral de carlavirus aos sintomas observados.

CONHECIMENTO DO VÍRUS

Carlavirus foram assim denominados por Harrison et al. (1971), indicando como membro o tipo Carnation latent mosaic virus. Os vírus pertencentes ao grupo carlavirus caracterizam- se por apresentar cerca de 6% de RNA fita simples, com sub-unidades do capsidio pesando 30 Kda e densidade do vírion em cloreto de césio de 1,33 g/cm. As partículas alongadas, flexíveis, medem 1015 mm de diâmetro e 650-700 mm de comprimento (Iwaki et al., 1982) A maioria dos carlavírus é transmitida por pulgões de maneira não persistente e também por mosca-branca. A inclusão do CMMV, isolado na tailândia, em 1979, era similar àquelas descritas para os vírus desse grupo. No entanto, uma grande diferença foi apresentada pelos autores, ao constatarem que o isolado da Tailândia, sorologicamente relacionado com o CMMV descrito na África (Brunt & Kenten, 1973), era transmitido por mosca-branca (Bemesia tabaci), um fato novo e considerado de extrema importância na disseminação do viírus. Neste estudo , a indentificação da espécie de mosca-branca utilizada foi determinada segundo Martinez et al.(2000), a partir de reação de RAPD, utilizando primer OP H-16 ( DE BARRO & DRIVER,1997). As amplificações submetidas à eletroforese comprovaram a presença de bandas especifícas da espécie B. argentifolii. Uma segunda e forte eviwww.cultivar.inf.br

TABELA 2. Reação de cultivares de soja à infecção pelo vírus da necrose da haste da soja. R = resistente; S = suscetível; D = população desuniforme quanto ià resistência ( < 15% plantas suscetíveis). Cultivares recomendadas para o Estado do Mato Grosso - safra 2000/2001 MG BR 46 (CONQUISTA) BR EMGOPA 314 (GARÇA BRANCA) BR IAC 21 BRS ANHUMAS BRS APIAKÁS BRS BORORÓ BRS CELESTE BRS GRALHA BRS MILENA BRS MT PINTADO BRS MT UIRAPURU BRS GO 204 (GOIÂNIA) BRS GO BELA VISTA BRS GO SANTA CRUZ BRS MG 68 BRS MG GARANTIA BRS MG LIDERANÇA BRS MG SEGURANÇA EMBRAPA 20 (DOKO-RC) MT BR 52 CURIÓ MT BR 45 (PAIAGUÁS) MT BR 47 (CANÁRIO) MT BR 50 (PARECÍS) MT BR 51 (XINGÚ) MT BR 53 (TUCANO)

Cultivares recomendadas para o Estado de Mato Grosso do Sul - safra 2000/2001 S D R S S D D S D R D S S D S D S S S D D D D S S

dência de que o CMMV era um carlavirus partiu do trabalho de Badge et al.(1996), ao constatarem que além de algumas das propriedades fisico-químicas desse vírus serem similares àquelas do grupo carlavirus, havia também uma evidência molecular. Os autores seqüenciaram parte do RNA viral, constatando que uma porção da região terminal 3 com 958 nucleotídios continha sequência similiar àquelas mencionadas para carlavirus. A primeira constatação do CMMV em soja foi feita por Brunet & Phillips (1977), citado por Iwaki et al. (1982). Um fato importante para a sojicultura brasileira, com relação a esse vírus, foi descrito por Thouvenel et al.(1982) ao determinarem que o CMMV foi transmitido por sementes de soja das cultivares Santa Rosa e Júpiter, coletadas em plantas infectadas. CMMV é capaz de infectar 46 espécies botânicas, pertencentes a 10 famílias. Nessas famílias, 19 espécies são leguminosas (Edwardson & Christie, 1986). Setembro de 2002

BR 6 (NOVA BRAGG) BR 9 (SAVANA) BR 37 BR EMGOPA 314 (GARÇA BRANCA) BRS 65 BRS 133 BRS 134 BRS 181 BRS 206 BRS MS ACARÁ BRS MS APAIARÍ BRS MS BACURÍ BRS MS CARANDA BRS MS LAMBARI BRS MS MANDÍ BRS MS PIAPARA BRS MS PIRACANJUBA (C. GDE) BRS MS PIRAPUTANGA BRS MS SAUÁ BRS MS SURUBÍ BRS MS TAQUARÍ BRS MS TUIUIÚ EMBRAPA 4 (BR 4RC) EMBRAPA 20 (DOKO-RC) EMBRAPA 48 EMBRAPA 64 (PONTA PORÃ) MS BR 19 (PEQUÍ) MS BR 34 (EMPAER 10) MT BR 45 (PAIAGUÁS)

HISTÓRICO DE VIROSES SIMILAR

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Em 1979, Costa et al.(1980) isolaram um vírus do feijoeiro jalo, o qual foi transmitido por mosca-branca e causava nesse feijoeiro um sintoma denominado mosaico angular. O vírus apresentava partículas alongadas de 650 mm, ocorrendo no citoplasma de células do parênquima foliar. Alguns anos mais tarde, Costa et al. (1983) observaram que isolados coletados em Capão Bonito(SP) e Londrina ( PR) infectavam outras leguminosas, inclusive a soja, sendo a virose denominada mosaico angular do feijoeiro (Bean angular mosaic vírus-BAMV) Estudos de relacionamento sorológico (Gaspar et al., 1985) mostraram que o BAVM foi idêntico ao vírus do mosqueado fraco do caupi (Cowpea mild mottle vírus-ccmv) descrito em soja e outras esSetembro de 2002

pécies vegetais em Gana ( Brunt & Kenten, 1973), Nigéria (Brunt & Phillips, 1981), Tailândia ( Iwaki et al., 1982) e Costa do Marfim ( Thouvenel et al., 1982). A fim de se identificar possíveis cultivares resistentes ao vírus, inocularam-se diversos genótipos produzidos pela Embrapa Soja. Os resultados de dois testes permitiram identificar as cultivares resistentes e suscetíveis à necrose da haste da soja, para as diferentes regiões geográficas onde essa cultura é cultivada. A anomalia descrita neste trabalho também foi constatada na safra 2000/01 pelos Eng. Agrônomos Marcos N. Matsumoto e João L. Alberini, em Morrinhos (GO) e Goiatuba (GO), respectivamente. Os resultados das pesquisas conduzidas na Embrapa Soja mostraram que: 1- O vírus coletado na região de Barreiras (BA) e na região Sudoeste de Goiás é um carlavírus, transmitido mecanicamente e similar ao CMMV e ao BAMV; 2- Parte do genoma foi amplificado, utilizando-se primers desenhados para carlavírus e obtendo-se fragmento com peso molecular semelhante àquele citado para carlavírus; 3- A sequência de nucleotídeos encontrada foi similiar àquela descrita com o CMMV, apresentando 88,4% de similaridade e, 4- Fotomicrografias em microscópio eletrônico mostraram a presença de partículas falcadas, em feixes, no citoplasma.

Cultivares recomendadas para o Estado do São Paulo - safra 2000/2001 BRS 4 BRS MG CONFIANÇA BRS MG LIDERANÇA BRS MG VIRTUOSA BRS MS ACARÁ BRS MS SAUÁ BRS MS CURIMBATÁ EMBRAPA 1 (IAS 05 RC) EMBRAPA 4 (BR 4 RC) BR 16 BR 37 MG BR 46 (CONQUISTA) EMBRAPA 46 EMBRAPA 47 EMBRAPA 48 EMBRAPA 58 EMBRAPA 59 EMBRAPA 60 BRS MG 68 BRS 132 BRS 133 BRS 134 BRS 206

S S S S S R D R S R D R S S D S R S S S R R D

A presença desse vírus em soja, no Brasil, é preocupante por vários aspectos: 1- o vírus em questão causou sérios prejuízos nas lavouras onde foi encontrado, provocando tanto a redução drástica do crescimento como a morte das plantas; 2- desde o aparecimento, nas regiões vi-

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Cultivares recomendadas para o Estado do Paraná - safra 2000/2001 BRS 132 BR 4 EMBRAPA 1 (IAS 05 RC) BR 16 BR 30 BR 36 BR 37 EMBRAPA 48 EMBRAPA 58 EMBRAPA 59 EMBRAPA 60 EMBRAPA 61 BRS 133 BRS 134 BRS 135 BRS 136 BRS 155 BRS 156 BRS 157

www.cultivar.inf.br

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Cultivares recomendadas para o Estado de Tocantins - safra 2000/2001 MG BR 46 (CONQUISTA) BR EMGOPA 314 (GARÇA BRANCA) BR IAC 21 BRS 219 BOA VISTA BRS BABAÇU BRS CELESTE BRS JUÇARA BRS MILENA BRS TRACAJÁ BRS GO BELA VISTA BRS GO JATAÍ BRS MA PARNAIBA BRS MA PATI BRS SAMBAÍBA EMBRAPA 20 (DOKO-RC) EMBRAPA 63 (MIRADOR)

R D R R D D S D D S D D D D S S

Cultivar

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Cultivares recomendadas para o Estado de Goiás e o Distrito Federal - safra 2000/2001

BR 4 BRS CARLA BRS CELESTE BRS 217 FLORA BRS MILENA BRS NOVA SAVANA BRS PÉTALA BRS GO BELA VISTA BRS GO CATALÃO BRS GO GOIATUBA BRS GO SANTA CRUZ BRS MG GARANTIA BRS MG LIDERANÇA EMBRAPA 1 (IAS 05 RC) EMBRAPA 4 (BR 4 RC) BR 9 (SAVANA) EMBRAPA 20 (DOKO-RC) BR IAC 21 MG BR 46 (CONQUISTA) MG BR 48 (GARIMPO-RCH) BRS MG 68 BRS GO 204 (GOIANIA) BRS 218 NINA BR EMGOPA 314 (GARÇA BRANCA)

S D D R D S S S R D D D S R S S S R R R S S S D

Cultivares recomendadas para o Estado da Bahia - safra 2000/2001

BRS CARLA BRS CELESTE BRS GO SANTA CRUZ BRS GO JATAÍ BRS MG GARANTIA BRS MG LIDERANÇA BRS MG SEGURANÇA BRS MT CRIXÁS BRS MT UIRAPURU BRS SAMBAIBA MT BR 53 CURIÓ EMBRAPA 20 (DOKO-RC) MG BR 46 (CONQUISTA0 MT BR 50 (PARECÍS) MT BR 51 (XINGÚ) MT BR 53 (TUCANO) EMBRAPA 63 (MIRADOR) BRS MG 68 BRS GO 204 (GIOÂNIA) BR EMGOPA 314 (GARÇA BRANCA)

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Cultivar

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Cultivares recomendadas para o Estado de Minas Gerais - safra 2000/2001

BRS MG CONFIANÇA BR 9 (SAVANA) BR 16 BR IAC 21 BRS CARLA BRS CELESTE BRS MT CRIXÁS BRS MILENA BRS GO 204 (GOIÂNIA) BRS GO JATAÍ BRS MG 68 BRS MG GARANTIA BRS MG LIDERANÇA BRS MG RENASCENÇA BRS MG SEGURANÇA BRS MG VIRTUOSA EMBRAPA 20 (DOKO-RC) MG BR 46 (CONQUISTA) MG BR 48 (GARIMPO-RCH) MT BR 45 (PAIAGUÁS)

S S R R D D R D S D S D S S S S S R R D

...sitadas, a virose tornou-se endêmica;

3- vírus similar, identificado anteriormente em feijão (Costa et al., 1983) não causou perdas severas em soja, indicando que provavelmente este novo isolado é potencialmente mais prejudicial à soja; 4-o vírus, à semelhança do relato de Costa et al. (1983), é transmitido por moscabranca, isento de ocorrência generalizada em lavouras de soja e outras espécies vegetais e cujo controle químico é difícil. Além disso, a maneira de transmissão não persistente ( Muniyappa & Reddy, 1983) favorece a disseminação nos campos de soja; 5- ainda não foi avaliada a possível interação desse vírus com outros vírus, de ocorrência comum, em relação a uma possível ação sinergística; 6- diferentemente do trabalho de Thouvenel et al. (1982), não se observou transmissão do vírus por sementes da cv Mirador. Outras cultivares serão testadas; 7- os estudos conduzidos, permitiram avaliar a reação da maioria das cultivares de soja da Embrapa Soja recomendadas para as diversas regiões do país. Os resultados aqui apresentados permitem ao produtor escolher as cultivares resistente, adequadas à sua região, onde o problema já se manifestou. Estudos adicionais estão sendo conduzidos para caracterizar o vírus, obtendo-se www.cultivar.inf.br

Cultivares recomendadas para as Regiões Norte e Nordeste do Brasil - safra 2000/2001

EMBRAPA 63 (MIRADOR) BRS BABAÇU BRS JUÇARA BRS TRACAJÁ BRS MA PARNAIBA BRS MA PATI BRS MG NOVA FRONTEIRA BRS SAMBAÍBA EMBRAPA 9 (BAYS) EMBRAPA 20 (DOKO-RC) BR 28 (SERIDÓ) EMBRAPA 30 (VALE DO RIO DOCE) MG BR 46 (CONQUISTA) BRS 219 BOA VISTA BR EMGOPA 314 (GARÇA BRANCA)

S D S D D D S D D S D S R R D

Cultivares recomendadas para o Estado de Rondônia - safra 2000/2001 EMBRAPA 20 (DOKO-RC) BRS AURORA BRS PIRARARA BRS SELETA BRS MT UIRAPURU MG BR 46 (CONQUISTA) MT BR 47 (CANARIO) MT BR 50 (PARECÍS) MT BR 51 (XINGÚ) MT BR 52 CURIÓ MT BR 53 (TUCANO) MR EMGOPA 314 (GARÇA BRANCA)

S S S S D S D D S D S D

antissoro para identificação das espécies botânicas que funcionam como hospedeiras intermediárias do vírus nas diferentes regi. ões onde o mesmo foi detectado. Álvaro M. R. Almeida, Silvana R. Marin, Nilson Valentin, Eliseu Bittneck, Alexandre L. Nepomuceno, Luis C. Benato, Embrapa Soja Harry Van der Vliet, Fundação Mato Grosso Elliot W. Kitajima, Esalq Fernanda F. Piuga, Unopar Setembro de 2002


Embrapa

Nossa capa

Especialista avalia os impactos ambientais causados pelo uso incorreto de agroquímicos

AGROQUÍMICOS AGROTÓXICOS

Ambiente em perigo O

desenvolvimento da química orgânica de síntese durante a Segunda Guerra Mundial e a consolidação do padrão tecnológico da agricultura chamada moderna tiveram importância fundamental no desenvolvimento da indústria mundial de agroquímicos. A descoberta das propriedades inseticidas do organoclorado DDT, em 1939, é tida como um marco de transição nas técnicas de controle fitossanitário das culturas agrícolas. A introdução de agroquímicos organossintéticos no Brasil teve início em 1943, quando chegaram as primeiras amostras do inseticida DDT. O padrão agrícola estabelecido no 20

Cultivar

pós-guerra tem sua base tecnológica assentada no uso de agroquímicos (agrotóxicos, fertilizantes e corretivos), mecanização, cultivares de alto potencial de rendimento e técnicas de irrigação, visando a elevação dos índices de produtividade. Existe, portanto, uma estreita relação entre a agricultura moderna intensiva e a utilização de agroquímicos. A partir da década de 1960, tal modelo agrícola foi difundido para as regiões do Terceiro Mundo, num processo conhecido como Revolução Verde. No Brasil, a adoção dos termos defensivos agrícolas, produtos fitossanitários, pesticidas, biocidas e agroquímicos tem sido marcada por controvérsias há www.cultivar.inf.br

nômicas; a biota e a qualidade dos recursos ambientais. Esta definição exclui o aspecto significância, já que considera como impacto ambiental qualquer alteração... , independente de ser ou não significativa. Avaliação de impactos ambientais é um instrumento de política ambiental, formado por um conjunto de procedimentos, capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta e de suas alternativas. Esta definição evidencia que a avaliação de impactos ambientais subsidia o processo de tomada de decisão, já que se atém às ações propostas políticas, planos, programas, novas tecnologias. No entanto, não contempla o que é o desafio dos técnicos sobre o assunto, ou seja, a avaliação de impactos ambientais de ações repetitivas ou contínuas, já em transcurso, como as atividades da agricultura. Assim, a avaliação de impactos ambientais pode ocorrer em dois momentos: antes da ação potencialmente impactante avaliação ex-ante , e depois dela ex-post . A avaliação ex-ante de impactos ambientais de agroquímicos é feita quando do processo de registro de um novo produto, enquanto a avaliação expost pode ser feita depois da liberação do seu uso. Os métodos de avaliação de impactos ambientais são instrumentos utilizados para coletar, analisar, avaliar, comparar e organizar informações qualitativas e quantitativas sobre os impactos ambientais originados de uma determinada atividade modificadora do meio am-

biente. A avaliação de impactos ambientais não deve ser considerada apenas como uma técnica, mas como uma dimensão política de gerenciamento, educação da sociedade e coordenação de ações impactantes. Por vezes temos contato com os termos análise de risco e periculosidade ambiental. Existem controvérsias quanto ao significado desses termos. Na análise de risco o princípio básico consiste em estimar a provável concentração ambiental, por exemplo de um agroquímico, e compará-la com a concentração que não causa efeitos adversos aos organismos vivos. Quanto à classificação de periculosidade ambiental, o seu princípio consiste em definir índices qualitativos ou quantitativos que possibilitam estimar e comparar o potencial relativo, por exemplo, de vários agroquímicos, em produzir impactos. Normalmente, essa classificação considera fatores como toxicidade, bioacumulação, mobilidade, persistência, dentre outros. Os testes ecotoxicológicos são fundamentais para a definição da periculosidade ambiental, porém a avaliação de impactos ambiental não se restringe a eles. Magnitude e importância constituem os atributos principais dos impactos ambientais, uma vez que informam sobre a significância dos mesmos. A magnitude é a grandeza de um impacto em termos absolutos, podendo ser definida como a medida de alteração no valor de um indicador (fator ou parâmetro) ambiental, em termos quantitativos ou qualitativos. Para o cálculo da magnitude deve ser considerado o grau de intensidade, a periculosidade, a amplitude temporal e a

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Claudio Spadotto

anos. A legislação brasileira adotou e definiu o termo agroquímico (Lei 7.802/ 89 e Decreto 98.816/90). O termo agroquímico é utilizado neste trabalho englobando as diferentes categorias de uso: inseticidas/acaricidas, fungicidas, herbicidas e nematicidas. Segundo dados da FAO, as perdas na produção agrícola mundial provocadas por problemas fitossanitários estão em torno de 35%. Os assim chamados agroquímicos, além de cumprirem o papel de proteger as culturas agrícolas das pragas, doenças e plantas invasoras, podem oferecer riscos à saúde humana e ao ambiente. O uso freqüente de agroquímicos oferece riscos como contamiSetembro de 2002

nação dos solos agrícolas, águas superficiais, águas subterrâneas, alimentos e intoxicação de trabalhadores rurais.

CLASSIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

Um ponto de estrangulamento nos estudos sobre monitoramento e avaliação de impactos ambientais é a falta de nivelamento conceitual. Impacto ambiental pode ser definido como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causado por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e ecoSetembro de 2002

A contaminação da água por agroquímicos é um grande problema a ser resolvido

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Cultivar

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...amplitude espacial do impacto. A impor-

tância é a ponderação do grau de significância de um impacto em relação ao fator ambiental afetado e a outros impactos. Pode ocorrer que um certo impacto, embora de magnitude elevada, não seja importante quando comparado com outros, no contexto de uma dada avaliação de impacto ambiental. Os impactos ambientais podem ser classificados qualitativamente segundo seis critérios: valor, ordem, espaço, tempo, dinâmica e plástica. Assim, o uso de agroquímico pode causar impactos diretos e indiretos; locais, regionais e/ou globais; imediatos, de médio ou longo prazo; temporários, cíclicos ou permanentes; reversíveis ou irreversíveis. Em áreas agrícolas, os impactos podem ainda ser de fonte difusa, causados pela contaminação proveniente da aplicação regular, ou pontual, quando ocorre descarga (acidental ou não) durante o transporte e manuseio dos agroquímicos. Os impactos podem ocorrer nos meios físico-químico (abiótico), biótico e sócio-econômico, portanto a avaliação de impactos ambientais dos agroquímicos deve contemplar, sempre que possível, os aspectos ecológicos, sociais e econômicos mantendo estreita relação com o conceito de sustentabilidade agrícola. Os impactos, na dimensão ecológica, podem ser classificados segundo o compartimento afetado: solo, água, planta e atmosfera. No que diz respeito à classificação quantitativa dos impactos, é importante compreender que a mesma é feita para se ter uma visão da magnitude

do impacto, ou seja, do grau de alteração no valor de um atributo ambiental, em termos quantitativos. Além da qualificação dos impactos pela apresentação de informações exclusivamente numéricas, as avaliações de impactos ambientais podem apresentar informações que possibilitam a visão de magnitude. Assim sendo, esses impactos podem ser classificados em inexistente, desprezível, pequeno, médio, alto, muito alto. Os impactos ambientais provocados pelo uso de agroquímicos podem ser intrínsecos e extrínsecos. Como exemplo de impacto intrínseco negativo pode ser citado o problema de residual prolongando no solo comprometendo a sucessão de culturas agrícolas. Quanto aos impactos extrínsecos, pode ser citada, como exemplo, a contaminação de águas superficiais e subterrâneas usadas para abastecimento populações urbanas. O potencial de impacto ambiental proveniente do uso de um agroquímico depende da sua toxicidade ao ser humano e da sua ecotoxicidade (a outros organismos), assim como, das suas concentrações atingidas nos diferentes compartimentos ambientais (solo, água, planta e atmosfera). As concentrações, por sua vez, dependem da carga contaminante e do comportamento e destino do agroquímico no meio ambiente. Antes de se executar um plano de monitoramento e avaliação dos impactos ambientais de agroquímicos é necessário que sejam definidos os objetivos e

O descarte impróprio de embalagens favorece à contaminação ambiental

Cultivar

USO DE HERBICIDAS NO BRASIL

O uso incorreto de agroquímicos pode trazer sérios danos ambientais

POTENCIAL DE IMPACTO AMBIENTAL

Embrapa

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atributos e indicadores ambientais de alteração e de impacto sejam conhecidos para que a avaliação seja possível. Por exemplo, os resultados analíticos de um monitoramento de resíduos de agroquímicos em um copo d´água podem não dar uma idéia de sua significância sem os indicadores de impacto ambiental.

Claudio Spadotto

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a abrangência e escala do trabalho que, já no seu início, deve ter os compartimentos ambientais mais expostos identificados e os atributos e indicadores estabelecidos. Os objetivos do trabalho precisam ser claramente definidos. É de fundamental importância definir qual, ou quais os compartimentos ambientais ou recursos naturais de interesse, e alguns questionamentos são necessários como, por exemplo, se pretende-se estudar a contaminação de corpos d´água superficiais com respeito a potabilidade e/ou toxicidade a organismos aquáticos. A abrangência, tanto geográfica como temporal, e as respectivas unidades básicas, precisam ser previamente definidas, assim como, a escala de trabalho. Outra necessidade é a definição da freqüência de coleta de dados e/ou informação. Por exemplo, um monitoramento anual feito abrangendo toda uma grande bacia hidrográfica em escala 1:100.000 não terá o mesmo detalhamento de um trabalho de freqüência mensal feito em uma microbacia em escala 1:10.000. A identificação inicial dos compartimentos ambientais e dos locais naturalmente mais vulneráveis e mais expostos à contaminação pelo uso real ou potencial de cada agroquímico de interesse precisa ser feita. Para tanto, o levantamento das propriedades e condições do meio (solo, geologia, clima etc), assim como a estimativa da carga potencialmente conSetembro de 2002

taminante, e o conhecimento de suas propriedades físico-químicas, ambientais, toxicológicas e ecotoxicológicas são fundamentais. Também logo no início do trabalho de monitoramento é imprescindível que os

O consumo de herbicidas no Brasil foi de cerca de 174 mil toneladas de produtos formulados (comerciais) em 2000. Expresso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), representa mais de 81 mil toneladas. O consumo desses produtos difere nas várias regiões do país, onde se misturam atividades agrícolas intensivas e tradicionais, estas últimas que não incorporaram o uso intensivo de produtos químicos. Os herbicidas têm sido mais usados nas regiões Sul (38,9% em 2000), Centro-Oeste (29,9%) e Sudeste (22,8% em 2000). O consumo de herbicidas na região Norte é, comparativamente, muito pequeno (2,0%), enquanto na região Nordeste (6,3%) o uso está principalmente concentrado nas áreas de agricultura irrigada e de cana-de-açúcar. O consumo desses produtos na região Centro-Oeste aumentou nas décadas de 70 e 80 devido à ocupação dos Cerrados e continua crescendo pelo aumento da

área plantada de soja e algodão naquela região. Destacam-se quanto à utilização d e herbicidas o s E s t a d o s : Pa r a n á (18,5%), Rio Grande do Sul (16,8), São Paulo (14,1%), Mato Grosso (12,7%), Goiás (10,1%) Minas Gerais (7,4%), e Mato Grosso do Sul (7,0%). Quanto ao consumo de herbicidas por unidade de área cultivada, a média geral no Brasil foi de 3,8 kg p.c./ha, em 2000. Em termos de quantidade total de ingredientes-ativos, as culturas agrícolas brasileiras nas quais mais se utiliza herbicidas são: soja, milho, cana-de-açúcar, café e arroz irrigado. Pela elevada quantidade total desses produtos usados, algumas culturas merecem atenção por ocuparem extensas áreas no Brasil, como é o caso da soja, do milho e da cana-de-açúcar que foram cultivadas, respectivamente, em 13,6; 11,6 e 4,9 milhões de hectares em 2000. Essas culturas apresentam-se como fontes potenciais de contaminação pelo uso de herbicidas com uma grande amplitude espacial. Visando utilizar o receituário agronômico como fonte básica de informação sobre o uso de herbicidas, a Embrapa e o Crea-SP estabeleceram um convênio em 1993, que resultou em uma base de dados. Hoje essa base permite essencialmente a emissão de relatórios sobre totais de produtos utilizados por municí-

...


Consumo de agroquímicos em algumas culturas agrícolas no Brasil, em quantidade de ingredientes-ativos, 2000. Quantidade (toneladas)

Participação (%)

Soja Milho Cana-de-Açúcar Café Arroz Irrigado Algodão Pastagem Citros Trigo Feijão

32.625 19.231 10.597 3.579 3.061 2.834 2.811 1.449 1.396 994

39,8 23,5 12,9 4,4 3,7 3,5 3,4 1,8 1,7 1,2

Total

81.862

Consumo de agroquímicos por unidade de área em algumas culturas agrícolas no Brasil, em quantidade de ingredientes-ativos, 2000.

Fonte: SINDAG.

...pios e por culturas agrícolas no Estado

de São Paulo. Além disso, a Embrapa, através de seus projetos, vem realizando levantamentos do uso de herbicidas nas diferentes regiões brasileiras em nível local (propriedade, microbacia etc.). Outras iniciativas vêm sendo tomadas no sentido de caracterizar o uso de herbicidas como, por exemplo, pela Embrapa Pantanal na Bacia do Alto Taquari, Mato Grosso de Sul, e pelo IBGE em uma região do Estado do Paraná e nos municípios de Teresópolis e Paty de Alferes, Rio de Janeiro.

COMPORTAMENTO E DESTINO AMBIENTAL

Depois da aplicação de um agroquímico, vários processos físicos, químicos,

físico-químicos e biológicos determinam seu comportamento. O destino de agroquímicos no ambiente é governado por processos de retenção (adsorção, absorção), de transformação (decomposição, degradação) e de transporte (deriva, volatilização, lixiviação, escoamento superficial), e por interações desses processos. Além da variedade de processos envolvidos na determinação do destino ambiental de agroquímicos, diferenças nas estruturas e propriedades das substâncias químicas, e nas características e condições ambientais, podem afetar esses processos. Condições meteorológicas, composição das populações de microorganismos no solo, presença ou ausência de plantas, localização do solo na topo-

Embrapa

Área na qual é utilizado o modelo matemático para o monitoramento

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Cultivar

grafia, e práticas de manejo dos solos podem também afetar o destino de agroquímicos no ambiente. Além disso, a taxa e a quantidade de água movendo na superfície e através do perfil do solo têm um grande impacto no movimento do produto. Um entendimento dos processos de retenção, transformação e transporte de agroquímicos no ambiente, particularmente em condições brasileiras, é essencial para direcionar trabalhos de monitoramento e avaliação de impactos ambientais (avaliação ex-post ), nos quais é imprescindível que os atributos e indicadores ambientais de alteração e de impacto sejam conhecidos para que a ava-

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Quantidade (kg/ha) Algodão Soja Cana-de-Açúcar Citros Café

3,5 2,4 2,2 1,7 1,6

Geral

1,8

Fontes dos dados básicos: SINDAG e IBGE.

liação seja possível. A variedade de agroquímicos usados representa muitas diferentes classes de substâncias químicas orgânicas. Os tipos de interações desses compostos com diferentes componentes do ambiente são enormes. Considerando os processos de transporte entre compartimentos ambientais, com os quais os agroquímicos estão relacionados depois de aplicados em áreas agrícolas, a lixiviação e o escoamento superficial merecem destaque. O escoamento superficial favorece a contaminação das águas superficiais, com o produto químico sendo carreado e absorvido às partículas do solo erodido ou em solução. A lixiviação dos agroquímicos através do solo tende a resultar em contaminação das águas subterrâneas e, neste caso, as substâncias químicas são carreadas em solução juntamente com a água que alimenta os aqüíferos. A permanência dos agroquímicos no solo agrícola é inversamente dependente da taxa de ocorrência dos processos de transporte. Vários métodos têm sido desenvolvidos para o estudo e a previsão do comSetembro de 2002

portamento e destino ambiental de agroquímicos, e particularmente de herbicidas, que vão desde o uso de parâmetros pré-estabelecidos até modelos matemáticos. O uso de parâmetros, índices e modelos orientam tanto os trabalhos a campo como as análises laboratoriais. Parâmetros são valores para propriedades físico-químicas e de comportamento ambiental, tais como, solubilidade em água, pressão de vapor, coeficientes de distribuição entre compartimentos e tempo de meia-vida de degradação ou dissipação. O uso de índices tem sido também muito difundido para se estimar, por exemplo, o potencial de perdas de agroquímicos por lixiviação e por escoamento superficial. Modelos matemáticos para monitoramento são modelos funcionais que incorporam tratamento simplificado do fluxo de água e do transporte de solutos. Um modelo é uma representação de um sistema real que leva em consideração um ou vários processos. Um modelo matemático tem algum nível de simplificação e abstração, e o uso de modelos em trabalhos de monitoramento tem muitos passos. Inicialmente o propósito do monitoramento condicionará o uso de modelos e é necessário explicitamente definir o problema e os objetivos, assim como as escalas espacial e temporal. A informação requerida tem que ser especificada, e um levantamento inicial de modelos existentes é fortemente recomendado. Se nenhum modelo existente é adequado para o propósito do monitoramento, um trabalho de modelagem tem que ser conduzido. Há uma variedade de diferentes modelos para pesticidas. Por exemplo, CRE-

Padrões de potabilidade de água para consumo humano para alguns agroquímicos. Valor Máximo Permitido (mg/L) Atrazina 2,4-D Endosulfan Glifosato Permetrina Trifluralina

2 30 20 500 20 20

Valor máximo permitido para cada agrotóxico segundo a Portaria 1469/2000 do Ministério da Saúde.

AMS é um modelo geral e flexível para avaliar efeitos relativos de práticas de manejo sobre qualidade de água. O modelo GLEAMS avalia efeitos de sistemas de manejo agrícola sobre o movimento de

compostos químicos na e através da zona de raiz do solo. A finalidade do modelo OPUS é estudar efeitos de condições meteorológicas e práticas de manejo no movimento de água e contaminantes em pequenas bacias hidrográficas. PRZM é um modelo dinâmico para simular movimento de compostos químicos na zona vadosa do solo. O modelo LEACHM simula transporte e destino de substâncias químicas em condições de campo, assim como em colunas de laboratório, que tem uma sub-rotina (LEACHP) que estima o transporte de pesticidas. CMLS é um modelo que estima o movimento de compostos químicos em resposta à percolação da água no solo, e também estima a degradação e a quantidade remanescente no perfil do solo.

INDICADORES DE IMPACTOS AMBIENTAIS

Depois que os compartimentos ambientais de interesse e seus atributos fo-

...

Padrões de potabilidade de água para consumo humano para alguns herbicidas. Valor Máximo Permitido (mg/L) Alaclor Atrazina Bentazona 2,4-D Glifosato Metolacloro Molinato Pendimetalina Propanil Simazina Trifluralina

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20 2 300 30 500 10 6 20 20 2 20

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Cultivar

25


... rem conheci-

dos, é necessária a definição dos indicadores de alterações e de impactos ambientais. Por exemplo, se a água superficial é escolhida como o compartimento de estudo e a ocorrência de agroquímicos como seu atributo, os níveis desse produto na água podem ser considerados como indicadores de alteração e de impacto. Para distinguir entre indicadores de alteração e indicadores de impacto é necessário se estabelecer padrões ou limites para cada agroquímico em cada compartimento ambiental segundo o objetivo do monitoramento e baseados em dados toxicológicos e/ou ecotoxicológicos. Assim, por exemplo, se o interesse é monitorar a potabilidade de água para

consumo humano, o indicador de impacto pode ser o valor máximo permitido para cada agroquímico segundo o Ministério da Saúde. Por outro lado, se o interesse é monitorar a qualidade da água para organismos aquáticos pode-se usar padrões químicos para esse fim como os propostos pela FWR Foundation (UK), que propôs, por exemplo, valores de 0,1 e 1,0 mg/L como padrões provisórios para trifluralin com respeito à toxicidade crônica e aguda, respectivamente. O padrão provisório de qualidade ambiental (PpQA) de cada agrotóxico é proposto

baseado na aplicação de um fator de segurança à concentração de não-efeito para uma espécie aquática sensível com dados ecotoxicológicos disponíveis para aquela substância química. O fator de segurança é arbitrário e leva em consideração a possível maior sensibilidade de outros organismos aquáticos. Os valores de PpQA podem ser expressos como concentrações médias anuais, baseadas em dados de toxicidade crônica, e como concentrações máximas para proteger contra eventos de pico de concentração, baseadas em dados de toxicidade aguda. Dados ambientais ainda insuficientes estão disponíveis para confirmar os padrões provisórios apresentados, e os limites analíticos de detecção que podem ser atualmente atingidos são inadequados para monitorar alguns agrotóxicos. Indicadores biológicos também podem ser usados em trabalhos de monitoramento e avaliação de impacto ambiental de agroquímicos. Assim, por exemplo, organismos aquáticos como crustáceos e peixes podem ser selecionados como bio-indicadores de alteração e de impacto, e suas populações podem ser monitoradas a campo. No entanto, cuidado especial deve ser tomado pois mudanças nas populações desses organismos podem ser causadas por outros contaminantes e por diversos fatores ambientais como temperatura e pH da água, disponibilidade de alimento e outros. Na prática, a combinação de indicadores químicos e biológicos é sempre recomendável em programas de monitoramento e avaliação e na formação de um sistema de informação de impactos ambientais de herbici. das e demais agroquímicos. Claudio A. Spadotto, Embrapa Meio Ambiente

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Cultivar

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Setembro de 2002


Informe especial Fotos Flávio Gassen

Boa para aplicação

Pulverização feita através de um pulverizador de arrasto

Ferro (Fe+++) e Alumínio (Al+++) Cálcio (Ca++) e Zinco (Zn++) Magnésio (Mg++) Potássio (K+) e Sódio (Na+)

O conhecimento da qualidade da água usada nas caldas de produtos fitossanitários pode baixar os custos de produção e diminuir a contaminação de recursos naturais

A

água pode ser classificada de acordo com os teores de sais dissolvidos em: água mole, média ou dura, sendo que teores elevados de sais resultam em água dura (salobra). Deve-se ressaltar que em período de seca o volume de águas subterrâneas geralmente diminui, causando conseqüente aumento da concentração de sais (aumento da dureza da água). A dureza total está relacionada aos teores de bicarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos de Ca e Mg. O determinante da dureza, quase sempre, é o teor de cálcio na forma de carbonato de cálcio (CaCO3) sendo chamado de dureza cálcica. Quando são determinados outros componentes além do Ca, como os demais íons alcalino-terrosos, é determinada a dureza total da água. Para ser considerada água potável são aceitos até 550 ppm de sólidos totais dissolvidos. Em solução, certo teor de substâncias solúveis é dissociado em íons. Eles estão livres para combinar-se com outros íons presentes na solução. Por exemplo, íons do

ingrediente ativo 2,4-D podem combinarse com íons de Ca e Mg, provocando a aglutinação de partículas e formando precipitados no fundo do tanque, obstruindo filtros e bicos, reduzindo a quantidade de ingrediente ativo disponível e aumentando a possibilidade de fitotoxicidade na cultura ou de ineficiência do produto. O herbicida glifosato, ao ser acrescentado à água no tanque de pulverização, é dissociado em íons de carga positiva (cátion) e negativa (anion), sendo sua resultante elétrica determinada pelo pH da água. A carga iônica será de -1 quando o pH variar de 2,3 a 4, de -2 em pH de 4 a 8 e de -3 em pH de 8 a 12. O somatório de cargas citado indica a disposição do glifosato a reagir com os componentes positivos (cátions) da água, sendo que do pH 8 a 12 a possibilidade de inativação do produto é muito elevada. Conhecendo a dureza da água e o pH podese calcular o índice aproximado da reação do produto (inativação) com os íons de cálcio presentes na solução.

Vol (ha) X dureza (Ca) X 0,00047 = % inativado Dose de glifosato (kg/ha) Ex:

Dose = 1kg/ha Volume = 100 l/ha Dureza Ca = 400 ppm 100 X 400 X 0,00047 = 18,8 % 1 Com base nesse cálculo, aproximadamente 18,8 % do glifosato será inativado e a dose deveria ser aumentada nesta proporção para manter a mesma quantidade de ingrediente ativo e o nível de controle desejado. Na fórmula, nota-se que quanto menor o volume de água, menor é a possibilidade de reação do produto (se o volume de calda/ha fosse 50 litros, a inativação cairia para 9,4%). Como no espectro de variação do pH de 2 a 12 o resultante elétrico varia de -1 a -3, sendo sempre negativa, bastam elementos com carga positiva na água (cátions), para que o glifosato reaja com os mesmos até atingir o equilíbrio elétrico, causando proporcional re-

dução na disponibilidade do produto com ação herbicida. Os cátions com maior efeito desativador para o glifosato são os seguintes:

Flávio Gassen comenta sobre a qualidade da água para a agricultura

= ação muito forte = ação forte = ação moderada = ação desprezível

O ferro e o alumínio apresentam elevada reatividade com o glifosato. Em lavouras é comum armazenar água em tanques de ferro (aço não inoxidável) que é oxidado produzindo óxido de ferro, podendo desativar parte do ingrediente ativo. Como há aumento da resultante elétrica negativa da molécula do glifosato com o aumento do pH da água (solução), é evidente que se o pH for mantido próximo a 4, será menor a possibilidade da reação com os demais componentes da água. No entanto, salienta-se que o fator predominante da manutenção da ação herbicida do glifosato é a baixa dureza da água (admissível até 150 ppm de dureza total). A simples redução do pH não elimina a possibilidade de reações. Mesmo com pH baixo poderá haver inativação de

parte do ingrediente ativo. De acordo com o exposto, conclui-se pela necessidade de usar água da melhor qualidade possível, evitando volumes elevados de calda e limitando a mistura de produtos de origem desconhecida. A adição de adjuvantes na calda para reduzir o pH, desconhecendo a composição e a reatividade com o ingrediente ativo do produto fitossanitário, pode ser temerário. Alguns produtos formulados apresentam componentes que alteram o pH da calda até os níveis apropriados para cada ingrediente ativo. Esses componentes químicos, determinados pelo fabricante do produto, apresentam ação tamponante para o pH ideal. A função tamponante garante que o pH seja mantido estável em águas consideradas normais. No entanto, em águas de alta dureza e com misturas inapropriadas de calda, a ação tamponante pode ser eliminada. Trabalhos recentes mostram que 1% a 2 % de sulfato de amônio adicionado à água, antes de colocar o produto fitossanitário, resulta no aumento da eficácia de ingredientes ativos. Os resultados positivos no desempenho de produtos, também está relacionado ao amônio (NH4) e ao enxofre, que favorecem a absorção pela planta. Esta prática é adotada, juntamente com surfactantes (óleo mineral), porém, deve-se tomar cuidado com a incompatibilidade de alguns produtos fitossanitários com o sulfato de amônio. O conhecimento sobre a influência da qualidade da água na estabilidade e na eficácia de produtos fitossanitários, pode resultar na redução de doses de inseticidas, de herbicidas e de fungicidas, baixando custos de produção e diminuindo a con. taminação de recursos naturais. Flávio R. Gassen, Cooplantio


Complemento na adubação

Cultivar

Informe especial - Ajinomoto

Produtores descobrem os benefícios que o uso de aminoácidos pode trazer às suas lavouras

E

m busca de maior produtividade nas lavouras, os agricultores estão utilizando alternativas para complementar a adubação. Dentre elas, destaca-se o uso de produtos contendo aminoácidos (Box). Nas práticas culturais, a utilização dessas moléculas vem sendo considerada cada vez mais importante, seja como ativadoras de importantes fases de desenvolvimento da planta, como reativadoras de crescimento vegetativo, diante de condições adversas, ou como complemento dos tratamentos com elementos minerais para melhor assimilação. O produtor e consultor Celito Eduardo Breda realizou, na Fazenda Paraíso III (Círculo Verde), no município de Luís Eduardo Magalhães (BA), testes com Amino-Plus, organo mineral foliar da Ajinomoto, em lavoura de algodão, na safra 2001/2002.

RESULTADOS

Os resultados nos 3 hectares de área testemunha colhida apresentaram produção de 9,81 mil kg, ou seja, produtividade de 218@ por hectare. No entanto, a área tratada com Amino-Plus, de igual tamanho à anterior, apresentou, mesmo sofrendo com a chuva de granizo, produção de 10,56 mil kg, ou seja, produtividade de 234@ por hectare. Portanto, nesse caso, ficou claro o expressivo ganho de produtividade 16.66@ por hectare - ocasionado pela utilização de aminoácidos como com-

30

Cultivar

plemento na adubação. Segundo Celito, o uso de aminoácidos em condições desfavoráveis como a de estresse hídrico, por exemplo, pode aumentar o rendimento da lavoura de algodão irrigado em até 26@ por hectare, pois essas moléculas contribuem para a rápida recuperação das plantas injuriadas. É importante salientar que os aminoácidos devem ser usados como complemento, não podendo ser usados isoladamente. Muito pouco eles adiantariam em uma planta com má nutrição , diz Celito. Bruno Zotion, produtor de algodão em São Desidério (BA), diz que usou aminoácidos pela primeira vez na última safra e que, devido aos resultados obtidos, não pretende deixar de utilizar esse complemento. A praticidade de uso de um aminoácido foliar contribui para que o agricultor fique satisfeito com o produto que utiliza. Planto 200 ha de algodão e no lote em que usei aminoácidos, diferentemente dos outros lotes da lavoura, as plantas se apresentaram ótimas do ponteiro ao baixeiro , finali. za Bruno. PR Alternativa Agrícola é a distribuidora dos produtos Ajinomoto. Mais informações: info@alternativaagricola.com.br Rua Moji-Mirim - SP Cep.: 13.800-440 Tel.: (19) 38067460

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O QUE SÃO OS AMINOÁCIDOS?

Os aminoácidos são moléculas orgânicas básicas que, quando combinadas entre si, formam as proteínas, através de ligações peptídicas de seus radicais amino (-NH2) e carboxílico (-COOH). Por terem baixo peso molecular, os aminoácidos são facilmente assimilados, tanto via foliar como radicular. Assim sendo, são absorvidos diretamente e incorporados no metabolismo das plantas sem gastos de energia.

BENEFÍCIOS

Os aminoácidos potencializam a resistência da planta, ativando os mecanismos naturais de defesa, aumentando sua tolerância e incrementando a velocidade de resposta a qualquer tipo de adubação e tratamento . Como também em situações adversas, como o estresse hídrico e as geadas.

ONDE ATUA A AJINOMOTO?

Quem ouve falar em Ajinomoto logo associa a marca ao tradicional produto que leva o mesmo nome da empresa, o glutamato monossódico, utilizado em todo o mundo para realçar o sabor dos alimentos. O que poucos sabem, no entanto, é que a Ajinomoto também atua no segmento agrícola com sua linha de fertilizantes à base de aminoácidos. Três produtos compõem a linha de fertilizantes: o AMIORGAN24; fertilizante farelado organo-mineral de fórmula 17-00-07, com alta concentração de Matéria Orgânica, totalmente solúvel, muito utilizado para a fertirrigação; o AJIFOL, empregado em diversas culturas , combina macro e microelementos essenciais as funções básicas das plantas; e o AMINO-PLUS, contendo aminoácidos da mais alta qualidade e tecnologia , traduzindo em um produto nobre, ideal para todo ciclo fisilógico da planta. Mesmo antes de comercializar os fertilizantes diretamente para o agricultor, a Ajinomoto já atuava indiretamente no segmento agrícola sendo a principal fornecedora de matéria-prima para os fabricantes desses produtos.

Setembro de 2002


Adubação

GESSO AGRÍCOLA

Resposta da soja

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Cultivar

Índices de pH (CaCI2) em três camadas do solo após o cultivo de soja, em função das aplicações de calcário e de gesso. Doses, t/ha Calcário 0 3 6 9 Gesso 0 2 4 6

Camada do solo (cm) 0-20 20-40 40-60 PH PH PH 4,7 5,3 4,4 5,4 4,9 5,4 6,2 4,9 5,3 6,4 4,9 5,5 5,4 5,4 5,4 5,4

4,9 4,9 4,8 4,8

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5,4 5,4 5,3 5,4

madas mais profundas, favorecendo o desenvolvimento em profundidade do sistema radicular e, a maior absorção de água e de nutrientes. Portanto, o gesso aplicado Tab. 2

o efeito da reação seja realizado em menor tempo. Em conseqüência, também ocorre maior lixiviação do sulfato e dos seus cátions (Ca, Mg, K) acompanhantes, complexando o Al trocável e da solução. Este fenômeno diminui a fitotoxicidade do Al e disponibiliza os nutrientes catiônicos nas caTab. 1

A

calagem do solo para os cultivos em geral tem a finalidade de diminuir a acidez, neutralizar o alumínio trocável, eliminar a toxidez de manganês, aumentar o teor disponível de molibdênio, e no caso das leguminosas, ainda promover ambiente favorável à atividade da fixação biológica do N2 e suprir cálcio e magnésio às plantas. A maioria dos resultados de pesquisa desenvolvida pela Seção de Leguminosas do IAC mostrou que em soja houve aumento na produtividade de grãos e no teor de proteína e redução no teor de óleo, quando o solo ácido foi adequadamente calcariado. O gesso agrícola é um subproduto da indústria de fertilizante fosfatado, de baixo custo para o agricultor se o transporte não encarecer demasiadamente. Sua composição química é sulfato de cálcio hidratado. Ele é um sal de caráter praticamente neutro e, dessa maneira, não tem efeito prático na mudança da acidez do solo, apesar de ter sido recomendado e aplicado com tal finalidade ao final dos anos 70 e início dos 80. O íon sulfato é muito mais solúvel do que o carbonato (calcário), permitindo que

Teores de nitrogênio, cálcio e enxofre nas folhas de soja, coletadas no estádio de pleno florescimento, devido à aplicação de doses de calcário e de gesso. Doses Calcário, t/ha 0 3 6 9 Gesso, t/ha 0 2 4 6

Teores nas folhas S Ca N % 2,61 3,48 3,79 3,59

0,90 0,88 0,87 0,87

0,18 0,21 0,22 0,21

3,45 3,39 3,27 3,35

0,84 0,83 0,89 0,95

0,19 0,21 0,20 0,21

Setembro de 2002

Produção de grãos de soja Gesso Calcário t/ha kg/ha % t/ha kg/ha 0 1.540 100 0 2.293 3 2.276 148 2 2.324 6 2.708 175 4 2.357 9 2.835 184 6 2.387

Teores de proteínas e de óleo nos grãos de soja e variações percentuais em relação à testemunha , devido à aplicação de calcário e de gesso. Calcário t/ha 0 3 6 9 Gesso, t/ha 0 2 4 6

% 100 101 102 104

pode diminuir determinado tipo de estresse químico do solo, principalmente relacionado à diminuição da saturação de alumínio e aumento da saturação de bases. Para verificar o efeito do gesso aplicado em comparação ao do calcário sobre o teor e a produtividade de proteína e de óleo da soja, foi efetuado este experimento em solo Latossolo Vermelho-Escuro de Mococa (SP). O calcário foi aplicado em canteiros nas doses de 0, 3, 6 e 9 t/ha combinado com o gesso aplicado nas doses de 0, 2, 4 e 6 t/ ha. Os dois insumos foram aplicados a lanço e a sua incorporação na camada de 0-20 cm foi feita por meio do arado e da grade de disco. A adubação básica constituiu-se de fósforo e de potássio em doses recomendadas pela técnica para obtenção de alta produtividade. Amostra composta de solo coletada por ocasião da escolha da área experimental apresentava os seguintes resultados de análises químicas: pH 4,4: matéria orgânica 29 g kg-1; P resina 14 mg dm-3; Ca 13; Mg 5; K 2,4; Al 3 e SO4 0,1, todos expressos em mmolcdm3 e saturação por base de 33%. Os efeitos dos tratamentos foram averiguados sobre a soja cultivar IAC-11 cujas sementes foram inoculadas com o rizóbio. Na Tabela 1 estão apresentados os índices de pH observados em três profundidades do perfil do solo, que aumentaram somente na profundidade de 0-20cm em função das doses aplicadas de calcário. O gesso mostrou-se ineficiente como corretivo da acidez em todas as camadas analisadas, concordando com a premissa de que ele é um sal com caráter neutro. Na Tabela 2 estão os dados indicadores dos efeitos dos tratamentos sobre o estado nutricional das plantas. A calagem deve ter proporcionado melhoria nas condições químicas do solo, inferido pelo aumento gradual nos teores de nitrogênio nas folhas de soja, em função das dosagens aplicadas do corretivo. Essas melhorias são atribuídas à correção da acidez do solo, maiores suprimentos de cálcio, magnésio, fósforo e moliSetembro de 2002

Tab. 4

Rendimento de grãos de soja a acréscimo percentual relativo a testemunha , em função da aplicação de doses de calcário e de gesso.

Proteína 36,61 38,06 39,51 40,95

%

100(1) 104,0 107,9 111,9

Óleo 22,71 22,19 21,67 21,15

100 98,7 95,4 93,1

38,99 100,0 21,93 100 38,85 99,6 21,93 100 38,72 99,3 21,93 100 38,58 99,9 21,93 100

Variação percentual relativo à testemunha sem insumo

bdênio e diminuição do alumínio trocável em nível não fitotóxico, condições que permitem maior atividade da simbiose bactéria-raiz para a fixação de nitrogênio atmosférico. O mesmo efeito não foi proporcionado pelo gesso, mesmo nas suas maiores doses; pode-se, portanto, inferir que esse insumo não proporcionou nesse solo, condições necessárias à maior atividade da simbiose para a obtenção de altas taxas de fixação do nitrogênio. Foram observados teores crescentes de cálcio nas folhas, somente com as doses de gesso agrícola, possivelmente devido à sua maior solubilidade. Outros trabalhos desenvolvidos pela Seção de Leguminosas do IAC têm mostrado que ocorre maior incremento no teor de magnésio do que de cálcio quando se aplicam doses crescentes de calcário dolomítico. De qualquer forma, os teores de cálcio observados com a aplicação de ambos corretivos estão dentro do nível de suficiência nas folhas de soja. Tab. 5

Tab. 3

Cultivar

Produtividade de proteína e de óleo da soja e variação percentual em relação à testemunha , devido à aplicação de calcário e de gesso. Doses Calcário t/ha 0 3 6 9 Gesso 0 2 4 6

Produtividade Proteína Óleo kg/ha 565 878 1.064 1.157

% 100 155 188 204

kg/ha 346 511 573 605

% 100 148 165 175

904 908 930 922

100 100,4 103 102

497 503 521 516

100 101 105 104

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As duas fontes em estudo proporcionaram acréscimos significativos nos teores foliares de enxofre. No tratamento com o gesso, foi devido ao mesmo conter o citado nutriente e, do calcário, devido à elevação do valor do pH, condição de maior atividade de mineralização da matéria orgânica do solo e conseqüente liberação do enxofre. Sabe-se que a matéria orgânica é uma das principais fontes do enxofre do solo. Em relação à produtividade de grãos, (Tabela 3), observa-se aumento crescente de 48 a 84%, conforme o nível de calcário aplicado. As variações obtidas com gesso foram bem menores, variando apenas de 1 a 4 por cento, geralmente não significativas. Os efeitos das doses de calcário e de gesso sobre os teores de proteína e de óleo nos grãos de soja estão relacionados na Tabela 4. Em conseqüência da maior absorção de nitrogênio (ver Tabela 2), houve um aumento relativo de 12% no teor de proteína com aplicação de maior dose de calcário; para o gesso não se observou esse efeito. Por outro lado, com a calagem houve diminuição do teor de óleo à medida que se aumentou a dose. Pelo metabolismo da síntese, e conhecida a relação inversa entre os teores de proteína e óleo nos grãos das leguminosas. Para o gesso novamente não se observou nenhum efeito. Os dados de produtividade de proteína e de óleo da soja (produto de rendimento de grãos e teores de proteína e óleo) estão apresentados na Tabela 5. Para ambos os fatores observaram-se significativos incrementos apenas com a aplicação de calcário. Apesar de o teor de óleo ter reduzido com a aplicação desse corretivo, houve um aumento do fator produtividade de óleo principalmente devido ao acréscimo compensatório no rendimento de grãos de soja. Com a aplicação de gesso não se observou o mesmo tipo de resposta, uma vez que a produtividade dos dois componentes dos fatores, produtividade de proteína e de óleo, não foram afetados pela aplicação desse insumo agrícola. Diante desses dados, pode-se concluir que o gesso agrícola, mesmo aplicado em solo ácido, não proporciona incremento no rendimento de grãos de soja e tampouco nos teores e produtividade de proteína e de óleo. Resultados positivos poderão ser obtidos apenas com a aplicação de calcário, em doses adequadas, conforme a análise química do solo. Pelos resultados obtidos espera-se que haja resposta da soja ao gesso quando aplicado em solo que apresentar na camada além da arável, deficiência de Ca e S e toxi. dez de Al. Roberto T. Tanaka, Hipólito A.A. Mascarenhas, IAC Cultivar

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AENDA

Defensivos Genéricos

Como ampliar a oferta Onda de fusões e incorporações tem feito com que haja concentração de oferta

U

ma onda de fusões e incorporações vem assolando os negócios em todo o mundo nos últimos anos. Essas megas-corporações têm lá seus motivos que passam pela necessidade de racionalizar o capital e suportar o papel de impulsionadoras de tecnologia, encargo que exige enormes investimentos nas ciências clássicas e nas de fronteira. Claro que, em conseqüência, se estabelece uma concentração ainda maior da oferta, em mercados oligopolizados como é o de defensivos agrícolas. No Brasil de 2001, as vendas do setor foram estimadas em 2,3 bilhões de dólares, considerando as empresas associadas ao SINDAG, ANDEF e AENDA, ou seja, não mais que 45 fabricantes/formuladores de produtos fitossanitários instalados nestas terras. Fora deste eixo, existem ainda pequeníssimas empresas, inexpressivas no cômputo geral do mercado. Pois bem, destes 45 concorrentes, apenas 4 deles abocanham 62% do mercado e 10 ocupam 93%. É um quadro que assusta, pois monopólios de produtos e de oferta por cultura agrícola passam a pressionar naturalmente os preços para cima. Só para exemplificar, recorremos a dados da CONFAEAB: (a) A oferta de fungicidas para cacau é quase absoluta de uma única empresa; (b) 99% dos acaricidas ofertados para tomate e 62% para algodão, agora, pertencem a uma só empresa; (c) Nos herbicidas é estimado que 98% dos usados em uva e 81% em maçã são oriundos de um mesmo fabricante e uma empresa domina 80% da base dos materiais para a produção do glifosato, de longe o mais importante produto do setor. Além disso, já é possível sentir a influência dessa conformação nas lojas redistribuidoras dos produtos. Cooperativas e Revendas já não elencam seus produtos com tanta liberdade para oferecer aos clientes opções variadas, tanto de ordem técnica quanto de valor. Agora, passam a atender as necessidades do seu principal fornecedor, de forma que os produtos dos demais fornecedores não sejam canibalizantes daqueles. Postos de trabalhos perdidos representam outra dramática conseqüência desta inquietante onda. Entretanto, esbravejar aos ventos contra esse processo sociológico cruel e culpar as multinacionais por esse estado de coisas são atitudes negativistas, vazias em si de razões e que só confundem

a opinião pública e afastam os governantes do vetorial correto que leva às soluções. O governo, este sim, não deve abdicar de sua missão de ajustar o mercado quando os desvios ultrapassam o equilíbrio e a razoabilidade, pondo em risco as regras pétreas da democracia e do direito de todos. E foi neste diapasão, cremos nós, que o governo editou o Decreto 4074 em janeiro último. As regras dispostas neste Decreto, se bem orquestradas, permitem reconstruir condições para o surgimento de novas empresas e de ampliação das pequenas e médias existentes e, acima de tudo, o alargamento da oferta de produtos em domínio público, de uma forma independente e em regime de plena concorrência por todas as empresas do setor. O registro por equivalência química, administrado com inteligência, direcionado com bom senso e responsabilidade, pode perfeitamente ampliar a base de oferta em pouco tempo. Em linhas gerais, o Decreto ensina a praticar aqui o

que já é usual em outros países, ou seja, tudo que disser respeito ao ingrediente ativo ou seu produto técnico candidato à equivalente deve ser comprovado tão somente por apresentação de um estudo químico qualitativo e quantitativo das substâncias presentes, seja o próprio ingrediente ativo sejam impurezas e solventes. Nada de estudos toxicológicos, comportamento no solo, laudos de resíduos etc., posto que seriam a repetição do dossiê entregue pelo produtor/registrante original. Quanto ao produto formulado é necessário um dossiê mínimo de dados toxicológicos e ambientais agudos para se aferir o não aumento de risco do produto candidato em relação ao produto formulado referência, uma vez que os demais ingredientes co-formulantes podem variar na composição dos dois produtos em comparação. Todavia, para que essa précondição iniciada seja utilizada em plenitude é imperioso acoplar um outro instrumento ao sistema, qual seja, o suporte financeiro a essas empresas com capacidade técnica de ampliar numericamente a oferta de forma mais independente, que são justamente os fabricantes exclusivamente de produtos genéricos. Elas necessitam de capital de giro para concorrer com relativa igualdade em um cenário de vendas a prazos longos como é o nosso. O conhecido prazo de safra generalizou-se: até as hortaliças com ciclo de 70/90 dias têm oferta de vendas de defensivos a prazo de 120 dias. Não dá para esperar que a economia volte a nos oferecer juros eqüitativos àqueles dos países exportadores destes produtos. Verifiquem o ocorrido na última década: hoje importamos mais do que produzimos aqui. Essa sangria é simplesmente inconseqüente, pois temos capacidade material e técnica para não deixá-la acontecer. Precisamos voltar a estimular a produção em território nacional. Mesmo porque, esse insumo agrícola pesa bastante no custo da agricultura, hoje, lastro do equilíbrio de nossas contas. É imperativo um colchão estratégico, instrumentalizando as empresas que irão ampliar a oferta de defensivos genéricos à jusante do . Decreto 4074.


Milho Cultivar

Confira Confira novas novas dicas dicas de de técnicas técnicas para para oo Manejo Manejo Integrado Integrado de de Pragas Pragas

Atualização em MIP A

cultura do milho sofre ataque de pragas desde a semente por ocasião do plantio até próximo à colheita. Além das pragas tradicionais da cultura, em anos recentes, tem ocorrido também o ataque de pragas oriundas de outros cultivos como a soja, trigo e pastagens. Apesar do número relativamente alto de pragas, aquelas iniciais são consideradas as mais importantes em função da capacidade de matar a planta, diminuindo o número de plantas por unidade de área, ou seja, por afetar diretamente a produtividade. Portanto, para se ter pelo menos expectativa de bons rendimentos, o 36

Cultivar

desafio é fazer com que se tenha já logo após o plantio o número recomendado de plantas. Para se pensar em estabelecer de maneira correta um programa de manejo in-

Insetos-praga reduzem drasticamente a produção

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tegrado é necessário o conhecimento da bioecologia de cada praga bem como os fatores de mortalidade de cada espécie. O primeiro grupo de pragas que ataca a cultura do milho engloba os insetos de solo. Tais insetos podem ser Ivan Cruz divididos em três subgrupos, sendo o primeiro caraterizado pelos insetos subterrâneos, que atacam as sementes e raízes, como muitas larvas de Coleoptera (Elateridae e Escarabaedae), cupins e percevejos. O segundo subgrupo é caracterizado por insetos com atividades na superfície do solo atacando plântulas, como Elasmopalpus lignosellus e Agrotis ipsilon.O terceiro subSetembro de 2002

grupo é representado por insetos que atacam as raízes de plantas já estabelecidas, como as larvas de Diabrotica speciosa. Os dois primeiros subgrupos são os mais importantes pois causam redução do número de plantas por unidade de área. Além dos insetos de solo, outras espécies importantes também atacam a plântula de milho, podendo ser citados tripes, Frankliniella williansi, cigarrinhas das pastagens, Deois flavopicta, os percevejos, Nezara viridula e Dichelops furcatus, a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda e mais recentemente, a broca da cana-deaçúcar, Diatraea saccharalis. Esse grupo de insetos também dependendo das condições climáticas e do nível de infestação podem provocar danos severos, cujos sintomas vão desde o amarelecimento das folhas até sua morte. Pode também ser verificado o perfilhamento improdutivo da planta. O controle dessas pragas iniciais da cultura do milho não é tão simples em função da severidade e rapidez com que o ataque se verifica. Há necessidade de monitoramento constante para se detectar a presença das pragas ou o início de seus danos.

Os métodos de controle geralmente têm sido baseados em inseticidas químicos, aplicados logo após o aparecimento da praga. No entanto, tais métodos não têm sido eficientes. Por exemplo, para algumas pragas como a lagarta-elasmo, as pulverizações não são eficazes, mesmo quando a praga ou seus danos são identificados logo no início de ataque. Essa falta de eficácia é maior à medida que a área a ser controlada é muito grande, pois a limitação também fica por conta da falta de equipamentos em número suficiente para se realizar o controle em tempo hábil. A aplicação de inseticidas via água de irrigação e mesmo através de aplicações aéreas tem sido realizada em algumas situações. No entanto, para plantas ainda em desenvolvimento e, portanto, com pouca área foliar, a retenção de inseticidas é muito pequena, sendo que grande parte do produto cai sobre o solo, fora do alvo. Além disso, como é uma aplicação em cobertura total, os riscos de contaminações ambientais e o impacto sobre organismos não alvos é substancialmente maior. Além desses problemas apontados, ainda se tem o agravante de não se controlar

as pragas subterrâneas. Portanto, para as pragas iniciais da cultura do milho, temse buscado alternativas ao uso de inseticidas via pulverização. Uma dessas alternativas é o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos. Apesar de ser considerado um método preventivo, ainda assim tem sido mais eficaz do que as pulverizações convencionais. Infelizmente, pouco se tem feito de pesquisa em relação às pragas subterrâneas, especialmente em relação ao nível de dano e monitoramento. Tem-se usado como indicativo prático do potencial de ocorrência na lavoura de milho, o histórico da área e da região. Considera-se como nível de dano econômico das pragas de um modo geral aquele dano igual ou maior do que o custo de seu controle. O custo do tratamento de semente equivale aproximadamente a 100 kg de grãos, ou 2% da produção, para tetos de produtividade ao redor de 5.000 kg/ha, o que é sem dúvida bem inferior ao custo dos outros insumos como semente, herbicida e fertilizantes. Em termos percentuais, o custo de controle equivale a 0,5% de plantas atacadas. A probalidade de ocorrer danos iguais ou superiores a esse valor é alta

...


...no Brasil, considerando as pragas iniciais

Fotos Ivan Cruz

Tabela 1

Ovos da lagarta-docartucho em folha de milho

produtos químicos direcionados para o controle de outras pragas como a S. frugiperda vêm-se tornando problema em algumas regiões do Brasil, demandando aplicações de defensivos. A lagarta-militar, M. latipes, é um inseto que não tem no milho seu hospedeiro usual, sendo difícil prever sua ocorrência nessa cultura. No entanto, quando ocorre, tem a capacidade de destruir toda a área foliar, ocasionando como conseqüência prejuízos elevados à produção. A lagarta é muito sensível aos inseticidas químicos. No entanto, a eficiência não é alcançada devido aos ataques que ocorrem em plantas mais desenvolvidas, o que impede a entrada dentro da lavoura dos equipamentos convencionais de pulverização. Muitas vezes, a identificação e controle do foco inicial do ataque, geral-

Percentagem de plantas de milho atacadas por Spodoptera frugiperda (Nível de Controle - NC)1, acima do qual deve-se entrar com medidas de controle Valor da produção (US$) - VP

Custo de controle CT (US$)

(Produtividade (kg/ha)2 x preço do milho em US$3)

6 7 8 9 10 11

350 8,6 10,0 11,4 12,8 14,3 15,7

NC=(100CT)/0,20VP Produtividades de 3, 4, 5, 6 e 7 toneladas/hectare, respectivamente 3 Preço de 60 kg de milho = US$ 7,00

467 6,4 7,5 8,6 9,6 10,7 11,8

583 5,1 6,0 6,9 7,7 8,6 9,4

700 4,3 5,0 5,7 6,4 7,1 7,8

1 2

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Principais inimigos naturais de Spodoptera frugiperda

Tabela 2

do milho, o que tem sido evidenciado através dos resultados de pesquisa obtidos com o tratamento de sementes ao longo dos anos. As vantagens do uso do tratamento de semente são: a eficiência, o baixo custo do produto e da mão-de-obra para efetuar o tratamento, e a seletividade do processo, por ser uma aplicação localizada. Além disso, dispensa o trabalho de monitoramento e não utiliza água, essenciais e imitantes quando se faz pulverizações. O inseticida tanto atua diretamente sobre as pragas matando-as por ingestão e contato como também pode atuar por repelência. Como desvantagens do processo de tratamento de semente destacam-se a falta de eficiência para algumas pragas e o efeito fitotóxico, especialmente quando a semente tratada for de baixo vigor. Um outro grupo importante de pragas geralmente ocorre entre o estádio de 4-6 folhas até o pendoamento. Dentre esses insetos, destacam-se as cigarrinhas, Daubulus maidis, os pulgões, Rhopalosiphum maidis, a lagarta-militar, Mocis latipes, e a lagarta-do-cartucho, S. frugiperda. Em anos recentes tem-se verificado a presença de altas populações na cultura de milho das cigarrinhas, D. maidis, cuja preocupação não é pelos danos diretos provocados através da sucção de seiva, mas sim pela transmissão de doenças. Por serem insetos vetores de doenças, o seu controle muitas vezes não evita a transmissão das doenças. O controle mais eficiente tem sido obtido pelo uso de cultivares mais tolerantes às doenças. Os pulgões que antes eram mantidos sob controle pela presença de inimigos naturais, tais como o complexo de Coccinelidae, Syrphidae e Chrysopidae, muito provavelmente pelo uso inadequado de

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933 3,2 3,7 4,3 4,8 5,3 5,9

mente verificado em gramíneas nativas ou cultivadas nas proximidades, evita o dano na cultura do milho. A lagarta-do-cartucho, S. frugiperda, é sem dúvida a principal praga da cultura do milho, não só no Brasil, mas também em toda a América. Ataca a cultura do milho desde quando essa apresenta área foliar até a formação das espigas. Os danos por esse inseto estimados no Brasil ultrapassam a 400 milhões de dólares anuais, somente na cultura de milho. No entanto, o número de espécies hospedeira desse inseto é alto e diversificado, sendo em anos recentes, uma ameaça à cultura de algodão. Plantas recém-germinadas de milho são facilmente mortas pela praga a não ser que medidas de controle sejam utilizadas com certa rapidez. O tratamento de sementes tem-se mostrado eficiente no controle dessas populações iniciais da lagarta-do-cartucho. Após a fase de plântula, geralmente a praga não mata a planta. A lagarta recém-eclodida alimenta-se da planta, sem ocasionar furos na folha, acarretando o sintoma de danos conhecido como folhas raspadas . À medida que a larva cresce, ela dirige-se para o cartucho da planta, permanecendo nesse local, praticamente durante todo o seu período de desenvolvimento, ocasionando danos significativos, podendo destruir totalmente o cartucho da planta. Em média, plantas com esse sintoma de danos têm seu potencial produtivo reduzido em cerca de 20%, quando o ataque ocorre em milho de endosperma amarelo comum, sem nenhum tipo de resistência incorporada. Os danos são significativamente maiores quando o ataque é Setembro de 2002

Inimigo Natural Nome científico

Nome comum

Telenomus remus Trichogramma spp. Doru luteipes Chelonus insularis Chrysoperla externa Campoletis flavicincta Eiphosoma sp.

Vespinha Vespinha Tesourinha Vespa Crisopídeo Vespa Vespa

verificado em milhos especiais como o milho branco com alto teor de proteínas QPM (28%) ou milho doce (59%). Quando o milho cultivado é precoce, ou quando a praga ocorre em estágios mais avançados da planta, é comum verificar o ataque na inserção da espiga, no colmo, na parte basal ou mesmo ponta da espiga. Nessa, além do dano direto, pode-se verificar a incidência também de micotoxinas, favorecida pelo orifício de penetração da lagarta-do-cartucho. O ataque na espiga muitas vezes é confundido com aquele ocasionado pela Helicoverpa zea. No entanto, na maioria das vezes os danos dessa praga é confinado apenas na ponta da espiga. Essa menor importância da lagartada-espiga está relacionada com a alta incidência de inimigos naturais, notadamente as espécies de Trichogramma. O controle da lagarta-do-cartucho tem sido feito de maneira totalmente desordenada, sem critérios de escolha de produtos, doses, época de aplicação. Com isso, tem-se verificado um grande desequilíbrio biológico pela eliminação de seus principais inimigos naturais e pelo desenvolvimento de populações resistentes. Dessa maneira, o número de aplicações tem aumentado significativamente em algumas regiões, podendo chegar a 12 durante a safra de milho. Portanto, para se alcançar êxito no controle dessa praga, deve-se planejar o seu manejo de maneira correta. Dentro de um programa de manejo para todas as pragas de milho e, em especial, para a lagarta-do-cartucho, em função do desequilíbrio ecológico mencionado, as tendências atuais são a utilização de inseticidas de baixa toxicidade, produtos seletivos, controle biológico e uso mais intenso de métodos de monitoramento, especialmente através de feromônios sexuais. Setembro de 2002

Fase da Spodoptera frugiperda atacada pelo IN Ovo Ovo Ovo e larvas L1 Ovo-larva Ovo, larva L1 e L2 Larva L1, L2 e L3 Larva L2 e L3

Os ataques logo após a emergência da planta podem ser controlados através do tratamento de sementes. Para ataques posteriores é importante o monitoramento da praga. A tomada de decisão sobre o uso de medidas de controle (nível de controle) da lagarta-do-cartucho é dado pela comparação entre o valor obtido na Tabela 1 e o valor observado no campo. Esse valor sendo igual ou maior do que o valor da Tabela, indica a hora de entrar com as medidas de controle. Independente do estádio de crescimento da planta, a pulverização deve ser através de bico leque, preferencialmente com ângulo de 80 graus. O volume de água a ser utilizado pode variar de 80 litros (plantas mais jovens) a 300 litros. No entanto, a eficiência do controle nas aplicações tratorizadas cai significativamente à medida que a planta se desenvolve. Considerando esse fato e também o fato dela planta ser mais sensível ao ataque da praga no estádio de 8 a 10 folhas, essa é a época essencial para o controle da praga, visando evitar danos econômicos mais tarde, especialmente em relação ao ataque nas partes reprodutivas do milho. Também deve ser considerado o estádio de desenvolvimento da própria praga, pois a eficiência da aplicação vai ser menor à medida que se aplica os produtos sobre larvas mais desenvolvidas. Se a aplicação for necessária nesse caso, deve-se fazer o ajuste na dose do produto. A lagarta-do-cartucho tem como agentes de controle natural, vários inimigos naturais, distribuídos entre artrópodes (principalmente insetos), nematóides, fungos, bactérias e vírus. Entre os insetos, os mais importantes são aqueles que atacam os ovos (O) e as lagartas de primeiros instares (L1, L2 e L3). Especialmente para o parasitóide www.cultivar.inf.br

de ovos do gênero Trichogramma, já se tem no Brasil biofábricas com exploração comercial dos insetos. Novas biofábricas para esse e para outros inimigos naturais devem surgir nos próximos anos, uma vez que já existe tecnologia de produção. Considerando que esses inimigos naturais eliminam seu hospedeiro na fase de ovo ou até no início do terceira instar larval (Tabela 2), dentro de um programa de manejo, deve-se considerar esse aspecto, tanto da ponto de vista de controle total por parte desses inimigos naturais, como do ponto de vista de preservação, através da escolha e uso de produtos seletivos. A utilização de entomopatógenos tem se mostrado tão eficiente quanto o uso de inseticidas químicos especialmente em relação às viroses (Baculovírus). Potencial também existe para o uso de fungos, especialmente através de Beauveria bassiana e

Danos ocasionados pela lagarta-docartucho às folhas

Nomuraea rilyei. Plantas geneticamente modificadas com a introdução de toxinas de Baccilus thuringiensis devem modificar as estratégias de manejo integrado de pragas de milha no mundo, favorecendo em especial a integração dessa tecnologia com agentes de . controle natural. Ivan Cruz Embrapa Milho e Sorgo Cultivar

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Agronegócios vras de sábio. Juntando as peças deste quebra-cabeças, vemos que a resultante econômica e comercial da ciência é um poderoso indutor da velocidade de incorporação de novos conhecimentos e descobertas, que desembocam em novos processos, em tecnologias mais avançadas, em competitividade, em supremacia comercial. Que redundam em utilidades, símbolo da qualidade de vida. Que significam renda, emprego, progresso. Em decorrência, qualquer forma de controle social terá que levar em consideração a selvageria do relacionamento comercial entre as Nações, sob pena de perdermos o trem da História, comprometendo o desenvolvimento e a qualidade de vida da geração atual e das futuras.

A decisão necessária Qual caminho seguir diante das grandes discussões científicas?

N

o advento do III Milênio a sociedade planetária convive com mais uma profunda reflexão sobre os seus rumos, como tantas vezes ocorreu no passado. A clonagem, ficção científica há três anos, brevemente pode ser um serviço solicitado por telefone, com atendimento domiciliar. É o que se depreende de um artigo da New Scientist (15/8), em que o cientista Gabor Vajtada descreve como clonar animais com equipamentos simples, abrigados em um trailer. Antinori, o médico italiano, jura que, em algum lugar do mundo, um embrião clonado está sendo embalado em um útero humano. A ser verdade, ao vir ao mundo, esta criança estará colocando potentes faróis e muito calor sobre uma nova etapa na discussão que cerca a mudança de paradigma tecnológico, os seus limites éticos, religiosos, culturais, suas ameaças e seus benefícios. O Brasil precisa descer do muro e com urgência. Impossível tapar o sol com peneira, pois estamos no limiar de um breakthrough tecnológico, pautado no uso intensivo da biotecnologia, que o mundo todo discute. Ele terá sobre a Humanidade o mesmo efeito da descoberta da eletricidade ou da energia atômica, mudando corações e mentes, culturas e economias. Minha perspectiva de um cenário futuro indica uma incorporação, em progressão geométrica, dos processos biotecnológicos em nosso dia-a-dia. Na agropecuária quero crer que, ao final do primeiro quarto deste século, não restará variedade de plantas cultivadas ou raças de animais explorados comercialmente, que não contenha características incorporadas através de transgênese. Meu único temor é estar sendo excessivamente conservador na perspectiva temporal, posta a velocidade com que o avanço científico de hoje torna obsoleta a 40

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BIOTECNOLOGIA E AGROPECUÁRIA

verdade de ontem e é ridicularizado pelas descobertas de amanhã. Portanto, urge uma definição da sociedade brasileira quanto ao rumo que pretende seguir em relação ao paradigma biotecnológico.

BIOTECNOLOGIA E CONTROLE SOCIAL

A transposição da fronteira da ciência é da essência do processo científico e da personalidade do cientista. A raison d être de um pesquisador é iluminar o desconhecido, descobrir as leis naturais, buscar novas utilidades em benefício da Humanidade. O acúmulo de informações e experiências significa um degrau a mais, que auxilia a romper novas fronteiras. Julgo importante lançar dois motes para a reflexão que se impõe sem querer esgotar a sua agenda. A primeira reflexão conduz ao controle social da ciência. Como cientista, meu impulso é avançar sempre, tornar o que parecia insondável hoje no paradigma de amanhã. Entretanto, enquanto cidadão, como pai e parte da consciência coletiva, pugno por um debate comprometido e aprofundado sobre a velocidade que se deve imprimir ao avanço da ciência, os seus limites e os parâmetros de segurança que devem ser observados. Escrevi recentemente que as novas ferramentas biotecnológicas podem conferir ao Homem um poder que era exclusivo de Deus. Terá o Homem a mesma inteligência, ponderação, clarividência, parcimônia e bom senso em seu uso? Esta frase sintetiza a essência do meu pensamento. www.cultivar.inf.br

BIOTECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO

O segundo mote para reflexão é o seguinte: Não importa o quão bom você era no paradigma anterior: a mudança de paradigma nivela os competidores na reta de largada . Recentemente, Jeffrey Sachs escreveu um brilhante ensaio, em que conclui: A ciência e a tecnologia foram cruciais no desenvolvimento dos países ricos. E elas serão vitais também na luta contra a pobreza . Parece pouco original, se lembrarmos que o grande Mahatma Gandhi, quando perguntado por que a Índia, um país dilacerado pela pobreza, com inúmeras demandas sociais, investia tanto em educação, ciência e tecnologia: Justamente porque somos pobres . Pala-

Emblema da aplicação comercial de descobertas científicas, a biotecnologia aplicada à agropecuária persegue objetivos aderentes às demandas de transporte, comercialização ou consumo, como aumento da eficiência da produção agrícola, redução de custos e riscos, aumento de produtividade ou simplificação de processos; e melhora da qualidade no produto. O impacto percola a cadeia agroprodutiva, atendendo exigências do mercado onde reina, soberano, o consumidor final. No Brasil, a discussão sobre biotecnologia agrícola tem um viés de origem, posto que centrada excessivamente na soja transgênica resistente ao herbicida glifosato. Precisamos ampliar a análise do impacto da biotecnologia no agronegócio brasileiro, pois bate à nossa porta o tomate e a pimenta com controle do amadurecimento na prateleira, a batata e o tomate com menos água, grãos como milho e soja com maior teor de aminoácidos essenciais e outros nutrientes, café com menor teor de cafeína, milho e ervilha mais doces, melhoria da qualidade do óleo em oleaginosas e produção de plásticos biodegradáveis a partir de soja e fibras de cana de-açúcar, até chegar às bio-fábricas, verda-

deiras usinas de medicamentos. Sobreviverá o agronegócio brasileiro à margem da corrente tecnológica dominante?

BIOTECNOLOGIA E CONSUMO

Esperança de compatibilizar oferta e demanda de alimentos e fibras no futuro próximo, a discussão sobre OGMs deve ser encarada sob uma ótica multi-facetada. Por um lado, existe um relógio que não pára, o da demanda por produtos agrícolas, com fulcro no crescimento demográfico (países pobres e em desenvolvimento) e no aumento da renda (países ricos). Deveremos produzir alimentos para 10 bilhões de pessoas em 2025, 70% delas vivendo em países que hoje não possuem perspectivas de oferecer alimentação digna a seus cidadãos. Além de alimentos básicos, é importante refletir que, no futuro mediato, o conjunto de plantas ornamentais e frutas representará o segmento de maior valor do mercado internacional. Este mercado será sustentado por consumidores de alto poder aquisitivo, refinados e exigentes, ávidos por novidades, porém sem qualquer concessão quanto à inocuidade, à proteção ao consumidor e ao ambiente. As pesquisas de opinião informam que europeus saciados rejeitam a idéia de alimentos transgênicos. Mais um mote para reflexão: alguém perguntou aos 70% de famintos se eles rejeitariam estes alimentos?

A BIOTECNOLOGIA E A SOCIEDADE

Toda a revolução de usos e costumes inclui um embate entre os cida-

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Setembro de 2002

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dãos, posto que a percepção do novo é diferenciada na tessitura social. Em um extremo situam-se os liberais, incentivando avanços e mudanças, apostando nas oportunidades; em contraponto há os conservadores ou reacionários, refratários às novidades, nas quais enxergam ameaças. Entre os extremos desdobra-se um gradiente de percepção, o que explica por que o debate é levado ao paroxismo. Pelo debate, a sociedade estabelece o aceitável e o inaceitável. A consciência política adveniente do debate permite formular o controle social, a avaliação e a administração dos riscos, in casu, através das normas de biossegurança. Decide pela aplicação de recursos tributários enquanto investimento em novas tecnologias, para obter ganhos sociais no futuro. Como a linha do tempo não admite moratória, e os nossos concorrentes diretos no agronegócio estão investindo pesadamente para liderar a corrida tecnológica, entendo que o investimento em C & T deve ser concomitante à discussão sobre biotecnologia, política já adotada pela Embrapa. Caso contrário, quando a sociedade encontrar seu rumo, nossos concorrentes estarão anos luz à nossa frente, por vezes uma vantagem irrecuperável, tanto científica quanto negocial.

BIOTECNOLOGIA E COMPETITIVIDADE

A Argentina, terceiro maior produtor de soja do mundo, tem toda a sua produção lastreada em cultivares transgênicas. Embora alardeado que os consumidores europeus rejeitam a soja transgênica, nos últimos cinco anos a Argentina aumentou sua exportação de grãos e quadruplicou a de farelo de soja para a Europa, sem entraves comerciais. Que também importa o produto dos EUA com as mesmas características. O prêmio por soja certificada como não OGM, insinuado no mercado, ou é inexistente ou não cobre os custos da segregação. A área coberta por variedades transgênicas já atinge dezenas de milhões de hectares nos EUA e outros milhões na Argentina, Canadá, México, Austrália e China, ocupados com soja, milho, algodão, canola, batata e tomate. O ganho obtido no mercado do agronegócio é apenas uma parcela do que pode ser apropriado no novo ciclo tecnológico. Dominar todas as etapas da tecnologia significa ganhos financeiros diretos mas, tão importante quanto, representa a vantagem competitiva da liderança na inovação tecnológica para a conquista e ampliação do mercado e seus decor. rentes benefícios sociais. Décio Luiz Gazzoni

Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agropolis.hpg.com.br

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

USDA apresenta relatório apontando redução na safra americana O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgou o seu relatório mensal de oferta e demanda de agosto, apontando forte redução da safra local de soja, milho, trigo e dos demais grãos, que neste ano estão sendo atingidos por problemas climáticos, como a falta de chuvas, deixando as lavouras em estado crítico. Com isso o mercado mundial já começou a dar sinais de que teremos bons indicativos de preços para a safra nova que ainda não começamos a plantar. Os exportadores brasileiros terão neste próximo ano boas oportunidades para fechar milho e soja na exportação, ganhando espaço que os americanos deverão deixar. O único problema que o Brasil enfrentará é o Trigo que continuará em alta, já que a safra americana vem comprometida em cerca de 14%, e assim deverá deixar o mercado internacional mais apertado. Isso manterá as cotações no Brasil altas e beneficiará os produtores locais, prejudicando os consumidores, que terão que arcar com custos maiores para o pão e derivados do Trigo. Para o setor agrícola tudo caminha para termos um bom ano para os grãos no Brasil. Mesmo com as chuvas ocorridas na segunda metade de agosto em diante nos EUA, que melhoraram as condições das lavouras, ainda assim não se espera que haja grande recuperação na produção local de grãos, que tende a colher números pequenos.

MILHO

FEIJÃO

ARROZ

O mercado do milho teve momentos de calmaria em junho, julho e começo de agosto, apontando avanço nos valores na segunda metade de agosto em diante, e sinalizando para se manter firme em setembro. Com as cotações internacionais em alta, superando a marca dos US$ 110,00 por t, fazendo com que o setor tenha indicativos remuneradores também em dólar. Como este está forte por aqui, resulta em bons preços para o cereal no Brasil, e para os consumidores a notícia não é boa, porque os próximos meses deverão vir com grande aperto no abastecimento e alta nos indicativos, que podem chegar à marca dos R$ 20,00 junto às granjas e os produtores recebendo dos R$ 15,00 aos R$ 1 7,00 nestes próximos meses de entressafra. O consumo normalmente aumenta entre setembro e novembro, quando cresce o alojamento de frangos e suínos que serão consumidos no final do ano, isso dará suporte para avanço nos valores do milho.

O mercado está vivendo um momento de boa demanda, mas também está sentindo crescer as ofertas de produto novo do Nordeste, principalmente da região de Ribeira do Pombal e Serrinha na Bahia, e alguma coisa de Sergipe, que tem abastecido os consumidores locais e tem conseguido segurar as cotações do Carioca. Com isso os vendedores do Irrigado de Minas que antes vinham sendo cortejados por consumidores do Brasil todo, agora devem ficar atrelados a vendas junto ao mercado paulista. Com menor pressão de alta nestes próximos 2 meses em cima da chegada de produto novo. O Feijão Preto que normalmente tem sua produção baseada no Paraná segue com poucas ofertas e cotações altas, e só deverá sofrer alterações no mês de novembro e dezembro, quando chegam as primeiras colheitas no Sul do Pais.

O mercado do arroz teve forte avanço nos indicativos em agosto, onde os indicativos praticados aos produtores passaram pela primeira vez desta safra a marca dos R$ 20,00 em praticamente todas as praças produtoras, e assim forçando para novos ajustes, porque passou uma barreira psicologia, e dando novo fôlego para novos avanços. Para atender os pedidos das indústrias, o governo colocou a leilão semana 20 mil t por pregão, com boa aceitação pelos compradores, que levaram todas as ofertas. Com isso deixando o mercado firme. Com os produtores apontando que tem pouco arroz e devem segurar o que resta em função das indústrias estarem trabalhando com pouco estoque e devendo ter aperto no abastecimento de agora em diante. Os produtores vão em busca dos R$ 23,00, neste mês de setembro.

Alta voltando

SOJA

Bons momentos para os produtores

Os produtores da soja estão vivendo bons momentos com a oleaginosa, e para aqueles que ainda não fecharam a safra, as cotações desta entressafra deverão ser bastante remuneradoras, dando boa margem de lucratividade. Como estaremos vendo oportunidade de fechamentos futuros, também veremos indicativos estimulantes para o setor fechar parte da safra nova agora, e assim garantir os gastos com os insumos e trabalhar cobertos contra qualquer alteração que possa ocorrer no mercado, demanda e principalmente nas cotações que irão ser praticadas em 2003. Por enquanto, tudo aponta que o mercado será bastante favorável ao setor produtivo, mas como a maior parte dos produtores trabalha com dívidas de custeio, estas devem ser garantidas com vendas antecipadas da soja. Este mês também deverá ser bom para os produtores fecharem o restante da safra que têm nas mãos. Mas poderemos não ter os excelentes valores praticados em agosto, onde se chegou a negociar acima dos R$ 41,00 por saca, junto aos portos.

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Safra do Nordeste chegando

Governo vende estoques

CURTAS E BOAS ARROZ - os produtores do Centro-Oeste estão derrubando fortemente o plantio do arroz em favor da soja. Até mesmo as áreas novas, que normalmente receberiam arroz primeiro, devem receber soja. Os produtores locais vêm apostando na soja e deixando de lado o arroz; já se fala que no MT, que normalmente colhe entre 1,3 e 1,5 milhões de t, venha ter menos de 800 mil t colhidas em 2003. OPÇÕES - o governo colocou em prática em agosto os pregões de Opções de milho, ofertando semanalmente 500 mil t, com o objetivo de vender um total de 5 milhões de t. Os primeiros 5 pregões tiveram desempenho abaixo das expectativas, vendendo cerca de 1,1 milhão de t das 2,5 milhões ofertadas. Os R$ 15,00 (base Sul e Sudeste, para as demais regiões recua conforme a distância) de liquidação para maio, não atraiu os produtores. Deverá continuar ofertando em setembro. Os produtores esperam por Opções de arroz, com base nos R$ 19,50 aos R$ 20,50 para o Mato Grosso, como alternativa para segurar a queda no plantio, que deverá passar de 25% da área. ARGENTINA - a crise local continuou em agosto e as vendas de produtos ao Brasil estiveram paradas em função do dólar alto por aqui. Os exportadores do Arroz foram os mais afetados, porque as indústrias brasileiras não queriam correr riscos. Ainda há mais de 150 mil t de arroz para ser negociado no País. SOJA - os negócios com a safra nova 2003 andaram em bom ritmo em agosto. O câmbio e Chicago deram boas oportunidades aos produtores, que fecharam praticamente 30% das 50 milhões de t que estão previstas para serem colhidas. ALGODÃO - também teve bons momentos de exportação em agosto, onde os produtores aproveitaram para fechar contratos e assim quebrar o ritmo lento que vinha trabalhando este mercado, que caminha para ter queda neste novo plantio.

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