Cultivar 44

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Ano IV - Nº 44 Outubro / 2002 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00

Culturas em rotação A sucessão de culturas em arroz e milho aumenta a produtividade

(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 8,00 Diretor:

Newton Peter

Tratar ou não

Editor Geral:

S.K. Peter

Vale a pena tratar as sementes com fungicidas em soja, milho e algodão?

Editor Assistente:

Charles Ricardo Echer

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Redação

Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo

Design Gráfico

Fabiane Rittmann

Marketing:

Neri Ferreira

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Diagramação

Fabiane Rittmann Carla Tuche de Armas

Nematóides em soja Existem várias maneiras para dificultar a entrada do nematóide-de-cisto

Circulação:

Edson Luiz Krause Jociane Bitencourt

Assinaturas:

Simone Lopes

Ilustrações:

Rafael Sica

Revisão:

Carolina Fassbender

Nossa capa

Editoração Eletrônica:

Index Produções Gráficas

Fotolitos e Impressão:

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Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES: (53) GERAL / ASSINATURAS: 3028.4008 / 272.2128 ATENDIMENTO AO ASSINANTE: 3028.4006 REDAÇÃO : 3028.4001 / 3028.4002 / 3028.4003 MARKETING: 3028.4004 / 3028.4005 EDITORAÇÃO: 3028.4007 FAX: 3028.4001 / 272.1966

Especialistas abordam a evolução e o manejo das pragas de solo em soja nas últimas décadas

índice

Nossa capa

Diretas

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Rotação de culturas em arroz e milho

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Quanto custa tratar sementes

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

Nematóide-de-cisto em soja

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Pragas de solo: evolução e manejo

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Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Consumo de feijão

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Medicamento das plantas

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Safra com mais invasoras

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Aenda

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Informe técnico - Cooplantio

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Agronegócios

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Mercado agrícola

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Plantas daninhas: confusão na identificação 23

Foto Capa / Dirceu Gassen Atualmente, os corós são considerados como principais pragas de solo da sojicultura


diretas Novos Rumos

Palestra

Milton Guerra

O professor Milton de Souza Guerra esteve palestrando durante reunião do Fórum Nacional de Secretários de Agricultura, realizada em setembro, em Salvador, na Bahia. O evento serviu para buscar alternativas contra os danos causados ao meio-ambiente através da destinação incorreta de embalagens vazias de defensivos agrícolas.

O engenheiro agrônomo José Edinir dos Santos Júnior está à frente da gerência de marketing da soja para o Brasil Central, na Dupont. Santos, que atuava anteriormente na Basf, contabiliza larga experiência no setor.

Workshop

Milho

O pesquisador Décio Gazzoni acaba de coordenar workshop no Instituto de Estudos Ambientais da Universidade de Vrije, na Holanda. O evento reuniu 50 cientistas da Europa, Estados Unidos e Brasil, que debateram a sustentabilidade da produção comercial da energia proveniente da biomassa. Gazzoni abordou os aspectos científicos da produção energética.

Décio Gazzoni

Pirataria

O gerente executivo da Pioneer, Daniel Glat, manifesta preocupação com a ocorrência de pirataria na comercialização de sementes de milho. Os principais focos detectados até o momento estão localizados no Oeste catarinense e Sudoeste paranaense. Prática de Daniel Glat preços abaixo de mercado e falta de uniformidade no tamanho dos grãos são algumas das características dos produtos pirateados. A Pioneer alerta que revende sementes apenas através de representantes e cooperativas autorizadas.

O diretor-executivo da Unimilho, Ademir Vieira da Silva, disse que durante o XXIV Congresso Brasileiro de Milho e Sorgo, em Florianópolis (SC), houve intensa discussão sobre o abastecimento de milho frente à provável redução de área plantada neste verão, devido aos bons preços do mercado da soja. Entretanto, nas áreas em que não é possível o desenvolvimento da cultura da soja, o plantio de milho poderá ser ampliado, garantindo-se como excelente opção de cultivo. Outra oportunidade, segundo o diretorexecutivo, será o sorgo granífero na safrinha, pois se trata de planta tolerante à seca e de alternativa viável como grão complementar.

Soja

O secretário Eugênio Bohatch, da Apasem, comemora os resultados da comercialização de sementes de soja. A estimativa é de que 90% do produto disponível para a safra já esteja nas mãos dos produtores. Segundo Bohatch, a boa cotação apresentada pela cultura fez com que os agricultores antecipassem as compras. Em anos anteriores o pico das aquisições costumava ocorrer a partir da segunda quinzena de outubro.

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Cultivar

Alerta

O Ministério Público investigará as informações publicadas em reportagem da revista Galileu - edição de agosto na qual há indícios de que o uso de agrotóxicos organofosforados e ditiocarbamatos pode causar doenças neurocomportamentais, depressão e levar os agricultores ao suicídio. A reportagem mostrou que cidades como Santa Cruz do Sul (RS), considerada a capital do fumo, Ipiúna e Estiva (MG), plantadoras de batata e morango, respectivamente, apresentam taxas de suicídio, entre agricultores, maiores do que as médias nacionais. Em Santa Cruz, por exemplo, houve no ano passado 21 suicídios entre 100 mil habitantes - a média nacional é de 4 para 100 mil.

Opinião O chefe da unidade da Embrapa em Passo Fundo, Benami Bacaltchuk, considera insignificante o volume de trigo transgênico comercializado ilegalmente no Brasil. Na avaliação do pesquisador existe uma espécie de mito quanto ao produto proveniente

da Argentina, quando na verdade o grande vilão é o trigo contrabandeado da França, que possui menor qualidade e concorre de forma desleal com a produção brasileira.

Saldo

A Embrapa Algodão contabiliza os resultados da participação no Goiás Fibra deste ano. Segundo o chefe Eleusio Curvelo Freire, o evento serviu para apresentar os trabalhos de pesquisa realizados no estado em 2002. A Embrapa aproveitou também para revelar os dados do levantamento que apontou o grau de satisfação dos produtores com as cultivares lançadas pela unidade na última safra.

Eleusio Freire

Central de denúncias

Produtores de sementes de gramíneas e forrageiras buscam junto ao Ministério da Agricultura

a criação de uma central de denúncias contra a pirataria. De acordo com o secretário Cássio Luis de

Consulta Popular Uma consulta popular revela que 94% dos agricultores do oeste baiano apontam o veranico prolongado como um dos principais problemas enfrentados pelo setor. Fitotoxidade de herbicidas aparece em segundo lugar com 22%, seguido pelo

controle de pragas (16,7%) e pelo plantio fora de época (11%). A Embrapa Algodão e a Fundação Bahia, responsáveis pela consulta, passam a nortear as ações para a próxima safra com base nas demandas apresentadas pelos produtores.

Novo Comando

Eugênio Bohatch

Benami Becaltchuk

A Aprosesc tem nova diretoria, empossada em 29 de agosto. Luis Alberto Benso é o presidente, Gilson Zabudoski vice-presidente, Júlio César Pias Silva diretor administrativo, Satoru Ogawa diretor adjunto e Leoberto Weinert tesoureiro.

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Camargo, da APPS, 50% da comercialização de sementes das duas culturas ocorre ilegalmente.

Parceria

Em reunião realizada no começo de setembro a Fundação Centro-Oeste renovou parcerias para a safra 2002/2003. O acordo engloba a participação da Unidade de Execução da Embrapa (UEP) Cuiabá, além de três unidades da embrapa: soja, algodão e agropecuária.

Nossos telefones mudaram:

Luis Alberto Benso

GERAL / ASSINATURAS: 3028.4008 / 272.2128 ATENDIMENTO AO ASSINANTE: 3028.4006 REDAÇÃO : 3028.4001 / 3028.4002 / 3028.4003 MARKETING: 3028.4004 / 3028.4005 EDITORAÇÃO: 3028.4007 FAX: 3028.4001 / 272.1966

Outubro de 2002



Embrapa

Sucessão de culturas

Roda da fortuna O

manejo racional do solo é primordial para aperfeiçoamento da exploração agrícola, pois para a obtenção de elevados índices de produtividade e maior rentabilidade, fundamentalmente tem de se fazer manutenção de sua capacidade produtiva. No Estado de São Paulo, o processo de degradação do solo é acentuado, particularmente pela utilização e manejo inadequados. Entende-se por sistema de manejo a associação de práticas agrícolas (conservação do solo e água, calagem, rotação de culturas e adubação verde, dentre outras) que podem ser utilizadas para fins de aumento e de manutenção da capacidade produtiva. Aproximadamente 20% dos solos de São Paulo são do tipo podzólicos vermelho-amarelos, de textura arenosa/média, com ocorrência principalmente na região Noroeste do Estado. Nessa região prevalecem pequenas propriedades, com áreas de 5 a 100 hectares, que foram cultivadas com o cafeeiro no período de 1950 a 1970. Devido à degradação do solo, à baixa produtividade ocasionada pela intensa incidência de nematóides e falta de recursos financeiros e, também ao baixo preço do café auferido nos anos 70, o cafeeiro foi erradicado, iniciando-se o plantio de algodão, maracujá e citros, dentre outras culturas, com as quais não se obteve sucesso. Nessa região, o cultivo da videira Itália e Rubi tem sido intensivo nos últimos anos, porém são necessárias outras opções de culturas. Os solos podzólicos apresentam boa fertilidade natural, mas com sua utilização continuada em monocultivo, a produtividade tem sido acentuadamente reduzida devido à erosão, em conseqüência do relevo ondulado e do gradiente textural entre os horizontes A e B. Com a utilização crescente desses solos, o problema vem se acentuando e, muitas vezes, é inviabilizado o seu uso para fins agrícolas. Em ensaios conduzidos na Estação Experimental de Agronomia de Pindorama do Instituto Agronômico, em Pindorama, SP, durante três anos agrícolas consecutivos (1991/92, 1992/93 e 1993/94), em solo Podzólico Ver08

Cultivar

A rotação de culturas aumenta a produtividade nas lavouras de arroz e milho

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Outubro de 2002

Outubro de 2002

melho Amarelo de textura arenosa, avaliaram-se os efeitos de diferentes sucessões de milho, soja e arroz, sem e com cultivo da Crotalaria juncea L., no outono-inverno, sobre os rendimentos daquelas graníferas. Foram avaliadas cultivares de graníferas de ciclo curto e tolerante à acidez de solo, ou seja, o arroz IAC-165 , o milho C-701 e a soja IAC-Foscarin 31 . Como adubo verde, utilizou-se a crotalária júncea IAC-1 . A soja foi inoculada com Bradyrhizobium japonicum, imediatamente antes de sua semeadura. A crotalária foi cultivada sempre no outono-inverno, após a colheita de verão. Antes do primeiro cultivo, aplicaramse em toda a área do experimento 2,5 t/ha de calcário dolomítico, visando à elevação do índice de saturação por bases (V) para 60-70%. Anualmente, foram aplicados 400 kg/ha da fórmula 4-20-20 (N-P2O5K2O) em todas as culturas, e 40 e 80 kg/ha de nitrogênio (N), na forma de uréia, em

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cobertura 35 dias após a emergência, respectivamente para arroz e milho. Constam de tabela as características químicas do solo no início da experimentação (safra de 1991/92) e após a colheita no 3º ano (1993/94), podendo observar-se um pequeno aumento no valor de V, de 34% para 39%, e significativo aumento dos teores de fósforo (P) e cálcio (Ca). Embora a dose da adubação potássica tenha sido sempre adequada, não houve variação do teor de potássio (K), o que pode ser atribuído à absorção pelas plantas e exportação nos grãos, além de provável lixiviação no perfil do solo, pois o potássio é cátion monovalente, de menor energia de absorção em solo arenoso e com baixa capacidade de troca catiônica (CTC). Entretanto, resultados de análises foliares para macronutrientes se enquadraram dentro dos limites normais para todas as culturas, tanto no início da experimentação, como no 3º ano agrícola.

Cultivar

...

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Sementes Milho C-701 Seqüência de rotação

Arroz IAC-165

Produção de grãos

1º ano 2º ano 3º ano S/C A/C M S A/C M S A M M M M

kg/ha 7470 7045 7595 5384

Seqüência de rotação

% 139 131 141 100

1º ano 2º ano 3º ano M S/C A M S A M S A A A A

*A = arroz IAC-165 , C = crotalária júncea IAC-1 , M = milho C-701 , S = soja IAC Foscarin-31

Nos dois primeiros anos houve severo ataque de pássaros na área experimental, sobretudo de maritaca (Aratinga aurea) em milho e de pássaro-preto (Gnorimopsar chopi) em arroz, causando prejuízos de tal ordem que não foi possível obter dados de produção. No terceiro ano, o problema foi resolvido, ensacando-se as espigas de milho e circundando-se o experimento com faixas de milho e girassol, para atração dos pássaros, evitandose, assim, danos às plantas do experimento. Os valores médios de rendimento em grãos do milho C-701 , do arroz IAC-165 e da soja IAC Foscarin-31 , no terceiro ano da experimentação estão apresentados em tabelas. Em relação a esses dados, não se observaram diferenças significativas entre os tratamentos de seqüências de culturas, mas apenas entre estes com o respectivo monocultivo de milho e arroz. Os índices relativos de produtividade são indicativos do desempenho bastante satisfatório das gramíneas (arroz e milho) em sucessão de culturas, enquanto que a soja pode ser con-

Produção de grãos kg/ha 2996 2746 2735 1901

% 158 144 144 100

*A = arroz IAC-165 , C = crotalária júncea IAC-1 , M = milho C-701 , S = soja IAC Foscarin-31

Características químicas do solo* Época do experimento

pH

V M.O. P K Ca Mg ( %) (g.dm-3) (mg.dm-3) (mmolcdm-3) (mmolcdm-3) (mmolcdm-3)

Início (1991)

4,0 34,0

10,0

11,0

0,7

Final** (1994)

4,5 39,0

9,0

42,1

0,6

3,7

2,0

7,3

2,3

*Podzólico vermelho amarelo, textura arenosa, da região de Pindarama, SP, com uso de calagem e adubação padrão (fórmula 4-20-20); **Ao término do 3º ano, após a colheita de grãos.

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Seqüência de rotação* 1º ano 2º ano 3º ano A/C M S A/C M S A M S S S S

Produção de grãos kg/ha 4610 4694 4029 4280

% 108 110 94 100

*A = arroz IAC-165 , C = crotalária júncea IAC-1 , M = milho C-701 , S = soja IAC Foscarin-31

siderada uma planta pouco responsiva nessa prática. Portanto, na ausência de nematóides, a soja pode ser cultivada em monocultivo sem diminuição de produtividade. A inclusão da crotalária nas seqüências não causou efeito positivo significativo no rendimento das três graníferas avaliadas. Contudo, foi observado que o milho cultivado após crotalária apresentou uma melhor qualidade de sementes. As informações aqui apresentadas são importantes para o manejo de solos podzólicos para culturas anuais no noroeste paulista, podendo permitir o estabelecimento de sistemas de produção agrícolas sustentáveis, com manutenção ou mesmo restauração da capacidade produtiva. Embora a acidez do solo na área experimental tenha permanecido muito alta nos três anos agrícolas, em todas as seqüências foi obtida produtividade bem acima das médias obtidas para todas as culturas no Estado de São Paulo. Isso pode ser atribuído à regularidade das chuvas registradas no período, e, sobretudo, à tolerância à acidez dos cultivares utilizados, o que deve ser considerado pelos agricultores numa situação agrícola seme. lhante à relatada acima.

Cultivar

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Oggi Graphic

Soja IAC Foscarin-31

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Hipólito A. A. Mascarenhas, Roberto T. Tanaka, Elaine B. Wutke, Sandra S. S. Nogueira, Antonio L. M. Martins, Emílio Sakai e Regina C. M. Pires, IAC Quirino A. C. Carmello, Esalq-USP Outubro de 2002

Vale a pena tratar O sucesso de uma cultura está diretamente relacionado à utilização de sementes de boa qualidade e aos cuidados que o produtor deve ter com ela. Você sabe quanto custa tratar sua semente com fungicidas?

A

s sementes, como principal insumo da produção agrícola, devem merecer a maior atenção, uma vez que determinados microorganismos associados a elas podem constituir-se em fator altamente negativo no estabelecimento inicial de uma lavoura. Vários são os exemplos que demonstram a relevância da utilização de sementes sadias e os riscos advindos do emprego de sementes portadoras de agentes patogênicos. Casos como o cancro da haste da soja, o mofo-branco do feijão e da soja, as fusarioses de um Outubro de 2002

grande número de espécies hospedeiras, a antracnose de inúmeras espécies de interesse econômico, as podridões do colmo em milho, a ramulose do algodoeiro, as bacterioses e as viroses de olerículas são suficientes para indicar a dimensão do risco que se corre pela omissão do controle da qualidade sanitária das sementes. Nos últimos anos, a agricultura vem experimentando grandes incrementos de produtividade, decorrentes da incorporação de novas tecnologias, sendo as mais recentes relacionadas à indústria de sementes, ao fitomelhoramento gewww.cultivar.inf.br

nético, às plantas transgênicas e à Lei de Proteção de Cultivares. Nesse contexto, uma tecnologia até então pouco utilizada, mas que vem ganhando cada vez mais adeptos em função das grandes vantagens que proporciona, é o tratamento de sementes com fungicidas. Essa prática é bastante eficiente para o controle de patógenos das sementes, bem como proteção contra aqueles presentes no solo, visando garantir uma população de plantas adequada, especialmente quando as condições de clima e solo são desfavoráveis à rápida germinação das sementes e emergência de Cultivar

... 11


...plântulas.

A semente é o começo de tudo e, como tal, deve ser sempre de excelente qualidade e tratada com fungicidas e doses eficientes. Ou seja, o sucesso de uma cultura está diretamente relacionado à utilização de sementes de boa qualidade e aos cuidados que o produtor deve ter com ela, visando garantir boa germinação e emergência. Diversos fatores podem comprome-

Sementes de soja tratadas com fungicidas

ter a boa germinação das sementes e a emergência de plântulas no campo, merecendo destaque o uso de sementes contaminadas com fungos, solo compactado, semeadura profunda, semeadura em solos com baixa disponibilidade hídrica, semeadura em solos com baixas temperaturas e alto teor de umidade, dentre outros. Na possibilidade de ocorrer qualquer um destes fatores, não vale a pena correr o risco de ter que fazer a ressemeadura, que sempre é muito cara. Portanto, recomenda-se sempre realizar o tratamento das sementes com fungicidas para reduzir os efeitos desses fatores. Ouve-se muito no ambiente agrícola que tratar sementes com fungicidas é caro. Será que esta premissa é verdadeira? Em qualquer processo produtivo, um dos pontos mais importantes que o produtor considera é o aspecto financeiro. De maneira geral, é lógico e com12

Cultivar

No caso da soja, o tratamento de sementes com fungicidas representa aproximadamente 0,6% do custo total de produção. Valores semelhantes foram obtidos pela Embrapa-Soja (0,5%), em Londrina, PR e na Agropastoril Jotabasso Ltda. em Ponta Porã, MS (0,47%). Para o milho, essa prática também é o componente que menos onera o custo de produção, participando com apenas 0,06% do custo total. No caso do algodão, Fotos Embrapa Soja não é diferente, uma vez que o custo dessa tecnologia representa apenas 0,17% do custo total com a cultura. Nem sempre a semeadura é realizada em condições ideais, o que resulta em sérios problemas de emergência caso o tratamento de sementes com fungicidas não seja realizado, havendo, muitas vezes, a necessidade da ressemeadura, o que acarreta enormes prejuízos ao produtor. No caso da soja, a ressemeadura no SC poderá re p re s e n t a r 1 1 , 4 3 % a mais no custo de produção. No SPD, em que a ressemeadura requer o uso de herbicidas, este prejuízo é maior, representando 17,93% a mais no custo de produção. Para o milho, estes val o re s re p re s e n t a m u m acréscimo no custo de 8,25% no SC e quando comparada com às demais. Na tabela, encontram-se os valores 13,36% no SPD. Na cultura do algodão no SC, a ressereferentes ao percentual de participação do tratamento de sementes com fungi- meadura onera o custo de produção em cidas e da ressemeadura no custo de 4.07%, e no SPD, em 5,13%. Por essa razão, o tratamento de seprodução de soja, milho e algodão, no Sistema Plantio Direto (SPD) e no Sis- mentes com fungicidas vem sendo utilizado por um número cada vez maior tema Convencional (SC). preensível que o agricultor pense dessa maneira, pois a sua atividade visa lucro. Partindo desse ponto de vista, torna-se fundamental que o agricultor saiba quanto ele vai gastar pela adoção de uma determinada prática agrícola na sua propriedade. Levando-se em conta todos os gastos necessários para a produção de 1ha de lavoura, o tratamento de sementes com fungicidas é a prática de menor custo,

Percentual de participação do tratamento de sementes com fungicidas e da ressemeadura no custo de produção de soja, milho e algodão, no Sistema Plantio Direto (SPD) e no Sistema Convencional (SC)

COMPONENTES DO CUSTO

SPD Tratamento de sementes com fungicidas Ressemeadura

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MILHO

SOJA SC

0,65 0,60 17,93 11,43

SPD

ALGODÃO SC

0,06 0,06 13,36 8,25

SPD SC 0,17 0,18 5,13 4,07 Outubro de 2002

Máquina utilizada para o tratamento de sementes em soja

de produtores, para garantir populações adequadas de plantas, principalmente quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são adversas, evitando gastos adicionais com a resseme-

adura e, em alguns casos, um ciclo de cultivo fora da época ideal, podendo resultar em queda de produtividade. Deve-se ressaltar que as sementes de soja, milho e algodão emergem rapida-

mente quando semeadas em solos com boa disponibilidade de água e temperaturas adequadas. Quando essas condições não são satisfeitas, as sementes permanecem no solo à espera de condições favoráveis para iniciar o processo de germinação. Durante esse tempo, ocorre um atraso nesse processo, proporcionando aos fungos presentes no solo e na própria semente maior oportunidade de ataque, podendo causar sua deterioração no solo ou a morte de plântulas. Portanto, nessas condições, torna-se necessária a utilização do tratamento das sementes com fungicidas, para evitar tais problemas. Essa tecnologia, em vista da baixa relação custo/benefício, proporciona inegáveis vantagens para o agricultor e para a economia do país. Assim, pode-se considerar que o tratamento de sementes com fungicidas é um seguro barato que o agricultor faz no início da implanta. ção de sua lavoura. Augusto César Pereira Goulart e Geraldo Augusto de Melo Filho, Embrapa Agropecuária Oeste


Fotos João Flávio Veloso

Soja

Saiba quais medidas podem ser adotadas para dificultar a entrada do nematóide de cisto da soja

O

Lavoura preservada

nematóide de cisto da soja (NCS), considerado a principal praga da soja nos Estados Unidos e no mundo (Hartman et al. 1999), foi primeiramente identificado no Brasil em 1992, nos municípios de Nova Ponte (MG), Chapadão do Sul (MS) e Campo Verde (MT). Desde então, a importância deste parasito vem aumentando consideravelmente, ocupando em 2002, mais de 100 municípios em dez Estados, quando em 1999 ocupava 70 municípios em oito Estados (Silva, 1999). Na safra 2001/02, o NCS foi pela primeira vez identificado na Bahia, em dois focos na localidade de Garganta, divisa com o Tocantins, causando grande preocupação entre os produtores e técnicos de todo o Oeste Baiano. O NCS é um verme altamente especializado e apresenta algumas características que o diferenciam bastante dos nematóides formadores de galhas e que devem ser consideradas quando do planejamento das estratégias de Prevenção e Controle: 1) O cisto, uma estrutura de resistência, responsável pela sobrevivência do ne14

Cultivar

PREVENÇÃO

matóide na entressafra, é formado pelo corpo da fêmea mumificada, podendo conter até 800 ovos. Essa estrutura é altamente resistente a fatores abióticos como, por exemplo, extremos de temperatura, o que é muito importante para a sobrevivência do NCS em condições temperadas. É menos resistente, porém, a fatores bióticos como o ataque de fungos e bactérias, facilitando o manejo em condições tropicais onde exista uma maior atividade biológica no solo. O cisto também é responsável pela disseminação do NCS que ocorre através do transporte de solo contaminado de uma área para a outra. O transporte de solo contendo cistos aderidos a máquinas e a implementos agrícolas é a principal forma de disseminação. Pode ocorrer também através de pequenos torrões junto às sementes, pelo vento e até através das fezes de pássaros. 2) O NCS é altamente dependente da soja, multiplicando-se em um número bastante restrito de hospedeiros alternativos. Essa característica facilita a rotação de culturas, um dos pilares do manejo do NCS. www.cultivar.inf.br

Esta dependência também ocorre entre cultivares de soja, onde algumas populações do verme são capazes de se reproduzir sobre um cultivar mas não sobre outro. Diante desta resposta preferencial, convencionou-se chamar de raças de NCS o comportamento diferencial destas populações; 3) O NCS apresenta reprodução obrigatoriamente sexuada, gerando populações geneticamente heterogêneas, o que, por sua vez, possibilita a mudança da raça do NCS e, conseqüentemente, a perda da resistência devido à utilização contínua de cultivares resistentes. Desta maneira, explorando o rápido declínio das populações de NCS em condições tropicais devido ao ataque de fungos e bactérias, considerando a dependência dessas populações às espécies suscetíveis e evitando a disseminação do NCS e a quebra da resistência (utilização alternada de cultivares resistentes e suscetíveis), pode-se afirmar que é possível reduzir as perdas. Assim, é possível conviver com o problema, de maneira a minimizar as perdas diretas e indiretas causadas pelo NCS através da adoção de medidas que, em muitos casos, contribuem para o aumento da produtividade e rentabilidade da propriedade como um todo. Didaticamente, estas medidas devem se apoiar em quatro pilares: prevenção, rotação de culturas, cultivares resistentes e manejo do solo.

Seleção de genótipos de soja com resistência a heterodera glycines em casa de vegetação

Outubro de 2002

Outubro de 2002

A prevenção visa evitar ao máximo a entrada do NCS na propriedade. Assim, todas as medidas que possam dificultar a entrada de solo proveniente de outras áreas devem ser tomadas: efetuar a limpeza de máquinas e implementos, retirando todo o solo aderido; disponibilizar apenas uma única entrada para a fazenda; evitar a entrada de enxurrada proveniente de estradas; proteger as margens dos caminhos que cortam a propriedade, deixando uma pequena faixa (2 m) com plantas não hospedeiras (ex.: braquiária), de modo a evitar que cistos possam cair de veículos que trafegam na estrada e contaminar os solos da propriedade; utilizar sementes de qualidade e originadas de produtores registrados, gramíneas, por exemplo, podem conter partículas de solo contaminadas. O Plantio Direto também deve ser considerado como uma forma de prevenção, pois evita a enxurrada e a erosão eólica, www.cultivar.inf.br

... Cultivar

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Fotos Embrapa Soja

Sistema radicular de planta apresentando danos causados pelo nematóide de cisto (NCS)

...impedindo a disseminação dos cistos para

novas áreas. Medidas já estão sendo tomadas pelos órgãos de defesa agropecuária e de extensão estaduais (ADAB e EBDA), com o apoio da AIBA (Associação dos Agricultores Irrigantes do Oeste da Bahia), Embrapa-Soja e Fundação BA que já montaram postos de orientação e fiscalização, visando evitar o transporte de solo da região de Garganta para as outras regiões.

ROTAÇÃO

Pelas características descritas acima, podemos dizer que a rotação para o manejo do NCS é bastante facilitada. Das espécies economicamente importantes, apenas o feijão, a ervilha, o tremoço , a Crotalaria juncea e algumas outras leguminosas são capazes de multiplicar o NCS (Garcia et al. 1999 e Ferraz et al. 1999). No Brasil, aparentemente as plantas daninhas representam um papel pouco importante na multiplicação do NCS, tanto no inverno quanto no verão (Ferraz et al. 1999). Assim, a rotação deve ser a que possibilite maior lucro para o agricultor. No Oeste da Bahia, o milho, o algodão e o arroz são espécies já utilizadas em rotação com a soja e são excelentes opções para a rotação de culturas. A pesquisa tem mostrado que um a dois anos de rotação são suficientes para reduzir a 16

Cultivar

ginados de cruzamentos envolvendo germoplasma resistente ao NCS, já se antecipando à entrada do patógeno na região. Estas linhagens estão sendo testadas pela Embrapa-Soja quanto à resistência ao NCS. Além disso, a Fundação BA pretende, para a próxima safra, iniciar um programa específico para a identificação de genótipos resistentes ao NCS, testando, na região de Garganta, cerca de 10.000 linhagens fornecidas pelo convênio realizado com a Embrapa-Soja. Devido à heterogeneidade existente dentro das populações de NCS, a utilização de cultivares resistentes deve ser SEMPRE inserida em um esquema de rotação de culturas, contando com espécies não hospedeiras, cultivares resistentes e cultivares suscetíveis, de maneira que a pressão de seleção sobre a população do NCS seja abrandada.

MANEJO DO SOLO

população de NCS a níveis que possibilitem novamente o plantio da soja sem prejuízos econômicos.

CULTIVARES RESISTENTES

A utilização de cultivares resistentes permite que a soja também seja utilizada no sistema de rotação de culturas, havendo, para tanto, apenas a necessidade do conhecimento da raça do NCS. A Fundação BA e a Embrapa-Soja já vêm testando, há alguns anos, genótipos ori-

No manejo do solo, deve-se explorar a falta de adaptação do NCS a condições ácidas e com alta atividade microbiana (presença de matéria orgânica). Assim, o Ph deve ser manejado em torno de 5,5 e o V% em torno de 50, de maneira a permitir um maior desenvolvimento da microfauna e uma maior disponibilidade dos micronutrientes metálicos, cuja deficiência rapidamente aparece pelo ataque do NCS. O solo deve ser manejado de maneira a permitir que a planta explore o maior volume de solo possível, eliminando-se quaisquer impedimentos físicos ou químicos, evitando, assim, tanto os sintomas de deficiência quanto os de estresse hídrico ocasionados pelo NCS. A adoção do sistema de Plantio Direto permite a utilização de valores de Ph e de V% adequados, propicia uma maior atividade biológica, dificulta a ocorrência de enxurradas e erosão eólica e impede o desenvolvimento da tigüera, sendo altamente recomendado.

CONCLUSÕES

Embora preocupante, a entrada do NCS é encarada pela Fundação BA como mais uma das muitas dificuldades encontradas e superadas pelos agricultores da região, como os freqüentes veranicos e os solos altamente arenosos. Através do profissionalismo e competência na adoção de novas tecnologias, característicos dos agricultores do Oeste Baiano, será possível . conviver também com o NCS. João Flávio explica como evitar o nematóide de cisto

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Fernando Toledo S. de Miranda, Fundação BA João Flávio Veloso Silva, Embrapa-Soja Outubro de 2002


Dirceu Gassen

Dirceu Gassen

Nossa capa

PRAGAS DE SOLO

Evolução e manejo

pode ser alterado pelo emprego de herbicidas químicos antes da semeadura, seja para controlar plantas daninhas, seja para dessecar plantas cultivadas para proteção do solo e produção de palha, uma vez que suprime o alimento de insetos e de outros herbívoros.

Atualmente, o tamamduá-dasoja é considerado uma das principais pragas de solo

PRINCIPAIS PRAGAS DE SOLO EM SOJA

Até a década de 1970, apenas a broca-

go.

Esses Esses insetos, insetos, devido devido aa vários vários fatores, fatores, adquiriram importância na sojicultura adquiriram importância na sojicultura nas nas últimas últimas três três décadas. décadas. Para Para minimizar minimizar os danos, é necessário conhecer os danos, é necessário conhecer os os limites e as perspectivas de manejo limites e as perspectivas de manejo

D

enominam-se pragas-de-solo insetos e outros pequenos animais que vivem subterraneamente ou na superfície do solo e que se alimentam de partes vegetais localizadas nesses ambientes, danificando economicamente plantas cultivadas. Em sentido mais amplo, há situações em que também são consideradas pragas de solo espécies que apresentam estreita relação com o solo, como, por exemplo, aquelas que aí vivem grande parte do ciclo biológico ou no período em que causam danos a plantas cultivadas.

EVOLUÇÃO DO PROBLEMA

Insetos e outros animais desempenham funções específicas na cadeia alimentar e, em ambientes naturais, tendem a viver em equilíbrio populacional. A agricultura, por substituir a vegetação natural e diversificada por uma ou poucas espécies, a expansão de áreas cultivadas e as práticas de manejo de culturas (rotações, sucessões etc.), de controle fitossanitário (aplicação de inseticidas, herbicidas etc.) e de manejo de solo são atividades que interferem no balanço das populações de animais associados. No Brasil, ao longo dos anos, as princi18

Cultivar

pais pragas da cultura de soja têm sido espécies associadas à parte aérea de plantas. Todavia, há cerca de duas décadas, pragas subterrâneas e associadas ao solo começaram a causar problemas mais frequentemente nos sistemas de produção de grãos. Ao se buscar a razão para o crescimento de problemas com pragas de solo em soja, impõe-se considerar, entre as possíveis causas, fatores como o avanço da cultura em áreas consideradas não tradicionais e alterações nos sistemas de produção, nos processos fitotécnicos e nos métodos de preparo de solo. O cultivo de soja no Brasil tem se caracterizado por elevadas taxas de expansão, inicialmente no Sul e, mais recentemente, no Centro-Oeste e no Norte. Grandes extensões de áreas cultivadas com uma única espécie vegetal, em substituição a outras espécies vegetais cultivadas ou não, exercem forte pressão de seleção na composição qualitativa e quantitativa das populações de animais que se alimentam de plantas. Restrições de acesso a fontes naturais de alimento aumentam as possibilidades de que organismos fitófagos se adaptem ao ambiente modificado, podendo até mesmo atingir níveis economicamente importantes. www.cultivar.inf.br

As pragas de solo são particularmente afetadas tanto pelo preparo convencional do solo (aração, gradagem etc.) como pelos chamados sistemas conservacionistas (plantio direto, cultivo mínimo etc). Admite-se que o plantio direto tem determinado alterações

Da mesma forma, a presença de palha na superfície do solo, uma das características do sistema plantio direto, interfere nas condições microclimáticas e, por conseguinte, na fauna associada. Nesse caso, espécies de superfície do solo são as mais atingidas, podendo o efeito da palha ser positivo ou negativo para elas. Outros processos muito comuns em plantio direto, como a rotação de culturas e a dessecação química, também exercem efeito sobre a fauna edafícola. Dependendo das culturas empregadas em rotações/sucessões e da habilidade das espécies animais em se alimentar de diferentes plantas hospedeiras, pode haver favorecimento ou desfavorecimento ao aparecimento de pragas. De modo geral, o plantio de safrinhas tem levado ao surgimento de problemas de pragas. O balanço da fauna também

As lesmas são consideradas pragas secundárias em soja

Dirceu Gassen

nas populações de animais nocivos e benéficos em sistemas de produção de grãos. O não revolvimento do solo pode favorecer o crescimento populacional de espécies tipicamente subterrâneas, que vivem na área, de mobilidade restrita e de ciclo de vida relativamente lonOutubro de 2002

As pragas de solo têm causado imensos danos à sojicultura

Outubro de 2002

na superfície do solo, como os percevejos-barriga-verde (Dichelops spp.); os grilos (Gryllus assimilis e Anurogryllus mutycus), lesmas (Deroceras sp., Limax sp., Phyllocaulis sp. e Sarasinula sp.); caracóis (Bulimulus sp.) e piolhosde-cobra (Julus sp. e Plusioporus sp.). Felizmente, a maioria dessas espécies, além de outras, como é o caso da lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), do cascudinho-da-soja (Myochrous armatus), das larvas-alfinete (Diabrotica speciosa e Cerotoma arcuata tingomariana), dos gorgulhos-do-solo (Pantomorus spp.), da larvaangorá (Astylus variegatus), das larvas-arame (Conoderus scalaris e C. stigmosus), do ligeirinho e da falsa-larva-arame (Blapstinus punctulatus), do torrãozinho (Aracanthus mourei) e da bicheira-da-semente (Delia platura), caracterizam-se pela eventualidade com que podem causar problemas à cultura de soja. O tamanduá-da-soja é, sem dúvida, um dos principais e mais antigos problemas de pragas associados ao solo, em soja. Embora não se enquadre como praga de

do-colo (Elasmopalpus lignosellus) era citada como praga de solo preocupante em soja. O bicudo ou tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus) e a cochonilha-da-raiz (Pseudococcus sp.) também eram citados, mas como pragas que ocorriam esporadicamente. Atualmente, mais de duas dezenas de espécies de pragas de solo (conceito amplo) são citadas em soja. Algumas caracterizam-se por serem pragas de fato ou pelo potencial de alcançarem, ocasional ou localizadamente, essa condição, como, por exemplo, o tamanduáda-soja (S. subsignatus); os percevejos castanhos (Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae); os corós (Phyllophaga cuyabana, Phyllophaga triticophaga, Diloboderus abderus, Liogenys sp., Plectris sp. e outras espécies ainda não identificadas); os percevejos que agem www.cultivar.inf.br

solo típica, uma vez que danifica a parte aérea de plantas, tem estreita relação com o solo, vivendo subterraneamente mais de seis meses, como larva madura hibernante e pupa, no Sul do Brasil. Apresenta ampla distribuição geográfica ocorrendo como praga de soja do Rio Grande do Sul à Bahia. A evolução dessa espécie como praga e, provavelmente, sua dispersão geográfica, estão relacionadas à expansão da soja em monocultivo e ao sistema plantio direto. O complexo de corós rizófagos associados à soja, com espécies já identificadas e outras ainda por identificar, constitui um problema mais recente. Os corós são larvas tipicamente subterrâneas e polífagas (alimentam-se de diferentes espécies vegetais). As Cultivar

... 19


...espécies de corós ocorrentes variam com a

região e se adaptaram à soja e a outras culturas que ocuparam o lugar de seus hospedeiros originais. Aliado a isso, o sistema plantio direto tem sido outro fator determinante para o crescimento populacional de certas espécies de corós em plantas de lavoura. O coró-da-soja (P. cuyabana), descrito originalmente a partir de exemplares Fotos Dirceu Gassen

O percevejo barriga-verde tem crescido em importância como praga

principalmente, e o coró-da-pastagem (D.abderus), destrutivas pragas em trigo e em outros cereais de inverno, podem causar danos em soja. Embora o crescimento populacional de corós seja favorecido pelo não revolvimento do solo, a incidência do coró-do-trigo independe do tipo de manejo de solo, enquanto o coró-da-pastagem está estreitamente relacionado ao sistema plantio. Outras espécies de corós ainda pouco estudadas têm causado danos em soja, desde o Sul do país até o Cerrado, como Liogenys sp. em Goiás, Plectris sp. no norte do Paraná e uma espécie ainda não identificada no Rio Grande do Sul. Os percevejos-castanhos-da-raiz, que causam danos à soja e a diversas outras culturas, como milho, algodão, arroz e pastagens, são insetos subterrâneos típicos, cujas ninfas e adultos sugam as raízes de plantas. S. castanea é uma espécie conhecida há mais tempo e de ampla distribuição geográfica, ao passo que A. brachiariae foi descrita mais recentemente. A ocorrência de danos econômicos causados por esses percevejos, em lavouras e em pastagens, cresceu nos anos 90. Em soja, em que a

espécie mais freqüente é S. castanea, constituem grande problema, podendo provocar perdas totais no rendimento, principalmente no Cerrado (GO, MG, MS, MT, SP e TO), sendo que focos isolados foram registrados no norte do Paraná. Têm ocorrido em soja, tanto em plantio direto como sob sistemas convencionais de preparo de solo. Percevejos-barriga-verde (Dichelops spp.), insetos de ocorrência secundária como pragas da parte aérea de soja, têm sido encontrados desde o Rio Grande do Sul até Mato Grosso, sugando plântulas de soja, de milho e de trigo, a partir da década de 1990. Problemas têm ocorrido mais em milho (PR e MS) e em trigo (PR) do que em soja. Não se caracterizam como pragas típicas de solo, uma vez que vivem na superfície deste, sob a palhada, e atacam o caule de plantas novas e cotilédones de soja. De acordo com estudos realizados na Embrapa Soja, por A. R. Panizzi e V. R. Chocorosqui, a presença de populações elevadas desses percevejos logo após a emergência das culturas pode ser considerada uma mudança de hábitos dos insetos, relacionada ao crescimento do cultivo de safrinhas e ao sistema plantio direto. As safrinhas disponibilizam alimento de forma permanente, desobrigando os insetos de buscarem outras plantas nativas na entressafra, e a palha gerada no sistema plantio direto é usada como abrigo para repouso hibernal e para sobrevivência. Os grilos são insetos onívoros, de ampla distribuição geográfica, considerados pragas de pequenas culturas, de plantas hortícolas e de plantas ornamentais. Em lavouras graníferas, apenas recentemente têm sido citados como pragas eventuais de superfície do solo, especialmente em soja e em milho, no Rio Grande do Sul. As espécies que ocorrem são o grilo-preto ou grilo-comum (G. assimilis), que vive em ambientes úmidos, sob restos culturais, e o grilo-marrom (A. muticus), que vive em galerias, no solo. Ambos têm hábitos noturnos e cortam plântulas ao nível do solo

coletados em Cuiabá - MT, é a espécie predominante no oeste e no centro-oeste do Paraná desde 1985. Também foi registrado, causando danos em soja, em Mato Grosso do Sul, por C. J. Ávila e S. A. Gomez (Embrapa Agropecuária Oeste). Sua incidência parece não estar relacionada ao manejo de solo, pois tem causado problemas tanto em sistemas convencionais de semeadura como em plantio direto. No Sul do país, o coró-do-trigo (P. triticophaga), 20

Cultivar

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e nas primeiras folhas, retardando o desenvolvimento vegetal. Os danos são mais críticos logo após a emergência de plantas, principalmente em períodos de estiagem e de altas temperaturas. O grilo-marrom é o mais comum em lavouras, e danos têm sido observados sob sistema plantio direto. Ninfas e adultos armazenam partes vegetais cortadas dentro de galerias. Provavelmente, a ocorrência em escala de praga no sistema plantio direto resulta não só do não revolvimento do solo, mas também da falta de alimento verde alternativo, em decorrência da eliminação de outros vegetais (dessecação química em pré-semeadura), prática muito comum no sistema. Além dos insetos, outras classes de animais têm ocorrido em lavouras de soja de maneira crescente nos últimos anos (década de 1990), como os diplópodes (piolhos-de-cobra ou milípodes) e os gastrópodes (lesmas e caracóis). Os piolhos-de-cobra alimentam-se, normalmente, de matéria vegetal morta e, ultimamente, têm sido encontrados em lavouras com abundância de palha e sem preparo de solo. A espécie Julus sp. tem sido muito freqüente, e a ocorrência de Plusioporus setifer foi constatada por N. L. Domiciano (IAPAR), causando danos em soja no norte do Paraná. Piolhos-de-cobra vivem enterrados no solo, principalmente no sulco de semeadura, ou sob a palha. Têm

hábitos noturnos e podem danificar sementes e parte vegetais subterrâneas ou próximas ao solo, podendo provocar murcha e morte de plântulas; os danos são maiores em períodos de estiagem. Lesmas e caracóis são moluscos que vivem em ambientes úmidos e de temperaturas amenas. Abrigam-se sob torrões, restos vegetais e outros materiais existentes na superfície do solo. Eventualmente, podem penetrar no solo, a pequena profun-

didade, através de aberturas naturais. Apresentam hábitos noturnos, mas também podem ser ativos em dias nublados. Atacam, normalmente, a parte aérea de plantas, mas é em vegetais recém-emergidos que apresentam maior potencial nocivo, reduzindo a população de plantas. A presença de lesmas e de caracóis em uma área é denunciada pelo rastro de muco que deixam ao se deslocarem no solo e sobre as plantas. São considerados pragas impor-

...


Plantas daninhas

...tantes em hortas, jardins e estufas, porém,

Dirceu Gassen

mais recentemente, têm ocorrido em lavouras extensivas, como soja, feijão, milho e trigo, em áreas sob plantio direto com abundância de palha na superfície do solo e em semeaduras após o cultivo de certas espécies, como, por exemplo, nabo-forrageiro. Danos severos em soja, causados

Fotos Dirceu Gassen

O coró encontra ambiente favorável ao seu crescimento no sistema de plantio direto

pela espécie Sarasinula linguaeformis, foram constatados no oeste de Santa Catarina, por J. M. Milanez e L. A. Chiaradia (Epagri - Chapecó), em 1995. Coró-da-pastagem (Diloboderus abderus)

Galerias verticais de corós

Coró-da-palha (Bothynus medon)

Coró (Cyclocephala flavipennis)

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Cultivar

LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS DE MANEJO

O manejo integrado de pragas (MIP) difere de medidas unilaterais de controle, por levar em consideração uma série de conhecimentos básicos, de natureza bioecológica, além de procurar a combinação de diferentes estratégias de controle disponíveis. A identificação de espécies e a geração de conhecimentos sobre biologia, flutuação populacional, níveis de dano e técnicas de amostragem de pragas são imprescindíveis para a prática do MIP. Exceto em algumas situações específicas em que a pesquisa está mais adiantada, como no caso de S. subsignatus, S. castanea, P. cuyabana, P. triticophaga e D. abderus, a falta de conhecimento constitui a principal limitação para o manejo de pragas de solo na cultura de soja. Nos últimos quinze anos, os recursos humanos e materiais investidos em pesquisa sobre pragas de solo aumentaram consideravelmente. A Reunião Sulbrasileira sobre Pragas de Solo, realizada em sua primeira edição, em 1988, pela Embrapa Trigo e em sua oitava edição, em 2001, pela Embrapa Soja, evoluiu expressivamente tanto em número como em qualidade dos trabalhos apresentados. Em fóruns não específicos, como o Congresso Brasileiro de Entomologia, seminários de plantio direto e reuniões de pesquisa ou congressos de soja, de trigo e de milho, o tema pragas de solo conquistou espaço definitivamente. Isso é pouco, porém, em relação à complexidade dos problemas já existentes e dos problemas emergentes. A diversidade de espécies de pragas reais e www.cultivar.inf.br

potenciais e a amplitude geográfica onde se cultiva a soja e se adota o sistema plantio direto no Brasil, bem como as dificuldades inerentes ao estudo e ao controle de pragas de solo, exigem especial racionalização de esforços e investimentos crescentes e regionalizados. Não apenas na cultura de soja, mas de modo geral sempre que houver problemas de praga de solo, e tanto ou mais do que para outros tipos de pragas, a busca de soluções deve ter enfoque multilateral, dentro dos preceitos de MIP. Um dos grande desafios, por exemplo, é resolver os problemas em plantio direto sem necessidade de abandonar o sistema, que tantos benefícios tem proporcionado em termos de meio ambiente e à agricultura como um todo. A prioridade é desenvolver conhecimentos que permitam o convívio com as novas situações problemáticas e métodos de controle compatíveis com sistemas de produção sustentáveis. Nesse particular, além do aperfeiçoamento dos métodos de controle existentes, com o uso de inseticidas e de meios de aplicação mais específicos e seletivos, abrem-se perspectivas quase que ilimitadas para o desenvolvimento de alternativas não convencionais, como plantas resistentes, fero. mônios e controle biológico.

Parece, mas não é Kurt Kissmann desfaz a confusão estabelecida por causa de identificações erradas de invasoras

N

abo, nabiça ou rabanete representam plantas infestantes de importância em culturas anuais como de trigo ou soja. Muitos trabalhos de avaliação sobre competitividade ou controle têm sido publicados ou mesmo usados para o registro de herbicidas. Quase sempre esses trabalhos mencionam a planta Raphanus raphanistrum. Acontece que essa planta tem uma ocorrência pouco significativa, em termos gerais, e o que se encontra quase sempre é Raphanus sativus. Certamente existe muita confusão, por identificação errada. O aspecto vegetativo dessas infestantes é muito parecido e não é adequado para Fotos Kurt Kissmann

José R. Salvadori, Embrapa Trigo Lenita J. Oliveira, Embrapa Soja Gabriela L. Tonet, Embrapa Trigo Os interessados em obter as referências bibliográficas utilizadas pelos autores deste artigo podem solicitálas à redação através do e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

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a separação. Também no estádio de plântulas a separação é muito difícil. O importante é a parte reprodutiva. Raphanus raphanistrum L. tem flores sempre amarelas. O fruto é uma síliqua lomantácea linear-alongada, com 2,5-8,0cm de comprimento por 2,0-3,5 (-8,0) mm de espessura, de ápice com rostro longo-acuminado e porção valvar oca. Os frutos não são inflados e não têm deiscência longitudinal. A partir do início da maturação, observase com mais evidência uma forte constrição entre os alojamentos das sementes, que ficam envoltas num tecido esponjoso. Esses segmentos podem se separar, mantendo as sementes inclusas. Muitas vezes esses segmentos acompanham as sementes de cereais e, no caso, podem ser juntamente semeados. O resultado então será uma nova infestação, mais intensa nas linhas de plantio. Raphanus sativus L. é uma espécie polimorfa, o que se manifesta especialmente na parte subterrânea, que não é considerada pelos taxonomistas para a separação de espécies, definindo apenas variedades, entre as quais temos:

Raphanus sativus

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Raphanus sativus var. sativus = rabanete de salada www.cultivar.inf.br

Raphanus raphanistrum

Raphanus sativus var. niger = nabo comestível Raphanus sativus var. oleiferus = nabo forrageiro Plantas cujas raízes não são adequadas ao consumo são consideradas silvestres. Entre elas estão as plantas infestantes, no Brasil. Como não há uma definição taxonômica mais detalhada, essas plantas são identificadas apenas pela espécie: Raphanus sativus L. Suas flores têm inicialmente uma coloração violácea ou purpúrea, desbotando com o envelhecimento, chegando a brancacentas. Os frutos são síliquas lomantáceas cilíndrico-cônicas, com 3,5-5,0 (-8,0) cm de comprimento por 5-9 (-10) mm de espessura, infladas, afilando gradativamente para o ápice, com o rostro largo-cônico, sem constrições transversais ou às vezes levemente contraídas mas não separando em segmentos na maturação. São naturalmente indeiscentes, mas podem ser abertas mecanicamente, liberando as se. mentes, que aparecem nuas. Kurt Kissmann BASF Cultivar

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A discussão sobre o consumo de feijão no Brasil é um tema complexo devido às diferentes preferências do mercado

Fotos Fabiane Rittmann

Feijão

Feijão nosso de cada dia D

iscutir consumo de feijão no Brasil é complexo em virtude das diferentes exigências e preferências por diversos tipos de feijão comum e, ainda, pelo grande consumo de outras espécies, com destaque para o caupi, nas regiões Norte e Nordeste. Estima-se que no Brasil o mercado consumidor de caupi seja de 29 milhões de pessoas. Tratar desse tema fica mais difícil frente à persistente redução do consumo desta leguminosa, que analistas mais afoitos associam às questões de competitividade da cultura em relação a outras e à sua baixa capacidade de participação em mercados internacionais, lembrando que esses são fortes paradigmas da famigerada globalização. Outras pessoas ainda dizem que no mundo moderno somente alimentos industrializados sobreviverão, por isso mesmo é melhor ir se preocupando com a substituição do feijão por outros alimentos . 24

Cultivar

Na análise do seu consumo no Brasil, primeiramente deve-se ressaltar que, apesar de importante, o feijão tem merecido pouca atenção por parte daqueles que estudam a oferta e a demanda de alimentos. Desta forma, há muitos questionamentos, sendo que alguns pontos são de consenso, por exemplo: sabe-se que o consumo de feijão varia conforme a região, local de moradia, condição financeira do consumidor, o tipo e cor de grãos, entre outros aspectos. De uma forma simplificada pode-se dizer que o consumo médio per capita de feijão na década de 60 foi de 23 kg/habitante/ano, enquanto que nas décadas de 70, 80 e 90 foi, respectivamente, de 20, 16 e 17 kg/habitante/ano. Por outro lado, enquanto no período de 1974 a 1975 o consumo metropolitano per capita foi de 16,5 kg/ano, o consumo rural foi de quase o dobro, 32 kg/ano. Os dados conjunturais não permitem www.cultivar.inf.br

separar o consumo per capita de caupi e de feijão comum, entretanto os levantamentos feitos nos períodos de 1987 a 1988 e de 1995 a 1996, em quatro capitais das regiões Norte e Nordeste, apontam que ocorreu um aumento de consumo de caupi em Belém (820%) e Recife (338%), enquanto Fortaleza, capital de maior consumo (10 kg/hab/ ano), e Salvador, mostraram um decréscimo de 12% e 11%, respectivamente. No mesmo estudo, considerando outras sete metrópoles de outras regiões, o consumo de caupi aumentou 10%. Embora não se disponha de dados recentes, sabe-se que na década de 60 cerca de 40% do consumo total era de produto não comprado, obtido, principalmente, de produção própria, além de doações dos produtores para familiares ou de escambo por outros tipos de mercadorias com membros da comunidade local. Esse fenômeno denomiOutubro de 2002

nado de auto consumo ainda representa expressiva participação no consumo total, sendo típico de áreas rurais, e também contribui para dificultar o conhecimento do real consumo de feijão no Brasil. O consumo per capita médio mensal de feijão nas capitais dos Estados da região Centro-Oeste é cerca de 34% maior nas classes de renda mais baixa quando comparado às classes de renda acima de 10 salários mínimos. Em termos absolutos, isto significa redução de 400 gramas por mês. Nestes locais, o depoimento de 85% dos consumidores foi de que manteriam o consumo de feijão mesmo se ocorresse um aumento do preço do produto. Alguns estudos mostram que o processo de urbanização explica mais da metade da redução no consumo, no período compreendido entre meados da década de 70 e final dos anos 80. De acordo com o censo 2000, cerca de 81% da população brasileira está concentrada nas cidades, que abrigam 137 milhões de pessoas. Entre outros fatores, esta rápida urbanização associada à acentuada inserção da mulher no mercado de trabalho provocaram um efeito acentuado nas mudanças do hábito alimentar da população e originaram novas demandas quanto à qualidade, apresentação, facilidade e menor tem-

Em alguns locais, 85% dos consumidores manteriam o consumo de feijão mesmo com um aumento de preços

po de preparo dos alimentos. Outros estudam indicam que no período de 1974 a 1988 a redução no consumo de feijão foi devido à mudança no hábito alimentar e não ao fator preço, afirmando que a renda per capita explica apenas pequena parcela da variação. Comparando estes resultados, concluise que no período de 1974 a 1988 o decréscimo do consumo de feijão foi menor nas metrópoles do que a média geral no país. O consumo per capita de feijão ao longo dos últimos 40 anos apresenta uma tendência decrescente da ordem de 1% ao ano. Porém, o decréscimo não ocorre de forma contínua, existindo oscilações entre os anos. Na década de 60, estudos mostram a queda de consumo associada a questões de clima, pragas e doenças e de outros problemas agronômicos, mais os de política agrícola, que afetam a oferta do produto e preços, que eram consi-

...


Fotos Fabiane Rittmann

O estudo das tendências do consumo de feijão é relevante pelos seus aspectos econômicos, sociais e culturais

...derados altos. Portanto, não se relacionou a

mudanças nos hábitos alimentares da população. Já naquela época, se faziam previsões de que o feijão era uma cultura sem futuro e que sua produção seria restrita aos agricultores de subsistência. Os trabalhos são todos unânimes em comprovar a queda do consumo per capita de feijão no Brasil, entretanto sua magnitude não está bem dimensionada, não havendo consenso sobre as causas. A opinião de que as variáveis preço e renda não são as principais influenciadoras no comportamento dos consumidores, tem sido referida por quase a totalidade dos pesquisadores. Uma situação que requer atenção referese ao fato de que no início do Plano Real, em junho de 1994, o consumo de feijão aumentou de 16 kg/habitante/ano, índice observado no período de 1990 a 1993, para 18 kg/ habitante/ano, mantendo-se nesse patamar pelos dois anos seguintes. No final da década de 90, contudo, o consumo per capita voltou a cair para 16 kg. Esse fato induz a conjeturas sobre por que, após a implantação Plano Real, o aumento verificado não se manteve, como aconteceu para outros produtos. O balanço de três anos do Plano Real feito pelo Ministério da Agricultura mostrou que o consumo per capita de carnes aumentou de 57 para 65 quilos e o de leite de 111 para 138 litros por ano, com aumento nas vendas de iogurtes (98%), cereais matinais (223%), leite longa vida (148%) e o consumo de bebidas esportivas (757%). Há argumentos tradicionais utilizados para justificar a redução do consumo de feijão. Os economistas afirmam que o produto tem elasticidade renda negativa, ou seja, à medida que a renda do consumidor aumen-

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Cultivar

ta o consumo do produto diminui. Por sua vez, outros afirmam que ocorreu um crescimento do preço real do feijão em comparação a outros alimentos. Outros, ainda, apontam a dificuldade de preparo caseiro e o tempo de cocção que se contrapõem à necessidade de redução do tempo de trabalho doméstico. Além disso, há maior número de pessoas fazendo suas refeições fora do lar e a substituição do feijão por outras fontes de proteína. O estudo das tendências do consumo de feijão é relevante pelos seus aspectos econômicos, sociais e culturais, pois um país como o nosso, que tem sua identidade cultural mantida por este tipo alimentação tradicional, deve valorizar os benefícios que este alimento traz à saúde das pessoas. Este assunto sempre esteve no rol de temas prioritários dos planejadores de políticas e, mais recentemente, em virtude da maior preocupação com a saúde, uma parcela dos consumidores passaram a se interessar com mais veemência pelo tema. Este grupo demonstra interesse pelas qualidades nutricionais, pelo processo, tecnologias e ingredientes utilizados na fabricação e aspectos da comercialização dos alimentos. Por outro lado, uma parcela dos consumidores tem optado pela modernidade , representada pelas marcas globais e fast food. A questão é se, em nome dessa modernidade , devemos desprezar um alimento tão nosso e que não apresenta problemas colaterais. O cenário socioeconômico para a cadeia produtiva do feijão sugere que seus atores devem buscar alternativas mais adequadas às exigências do consumidor. Neste contexto, pode-se citar a agregação de valor via processamento, oferecendo produtos semi-prontos, www.cultivar.inf.br

como também a oferta de feijão orgânico. Outra alternativa em discussão, gira em torno da necessidade do país em aumentar suas exportações, onde o feijão aparece como um produto potencial para conquistar o mercado internacional, ainda bastante restrito. Vários outros fatores emergentes podem incentivar o consumo interno de feijão: a) os problemas sanitários atuais com os produtos de origem animal e a utilização do feijão como substituto protéico; b) importância dessa fonte de proteína para a população mais pobre; c) as características de efeito medicinal, protetor e terapêutico de doenças coronarianas e oncológicas apresentadas pelo feijão, decorrentes do baixo teor de gordura e alto teor de fibra. Apesar de todos os percalços, a população brasileira, seja por motivos culturais, econômicos ou nutricionais, continuará consumindo o feijão nosso de cada dia. A projeção até 2005 indica que, independentemente da taxa de crescimento da renda, o consumo per capita de feijão permanecerá em níveis elevados, comparado aos níveis de outros países, embora se observe que a tendência de redução do consumo, ainda lenta, será mantida. Assim, pode-se inferir que esta leguminosa continuará sendo importante na alimentação do brasileiro. Contudo, os atores dessa cadeia produtiva devem ficar atentos e acelerar a busca de formas alternativas de apresentação e consumo do produto, adequando-se às exigências dos consumidores e, sobretudo, empenhando-se em mostrar que comer feijão não é brega e sim chi. que , moderno e saudável. Carlos Magri Ferreira e Maria José Del Peloso, Embrapa Arroz e Feijão

Até 2005 o consumo de feijão permanecerá elevado

Outubro de 2002


Biotecnologia

Medicamento de planta Agricultores franceses estão cultivando milho que produz uma lipase para o tratamento de crianças com mucoviscidoses. Logo implantarão o tabaco ou a alfafa que produzirá hemoglobina humana. A produção de medicamentos nas plantas começa a surgir e oferece perspectivas muito encorajadoras tanto no campo puramente médico quanto no campo econômico

A

região de Clermont-Ferrand, no Centro da França (Maciço Central), é bem mais do que a pátria do pneu e da Michelin. As biotecnologias e as ciências de matérias vivas constituem também um dos florões da região. Nos laboratórios da Meristem Therapeutics, dirigidos por Bertrand Merot, o fundador da empresa, os pesquisadores conseguiram fazer com que as plantas produzissem medicamentos. Começamos os trabalhos com a produção de medicamentos nas plantas de tabaco em 1992 , explica Emmanuel Boures, responsável pela comunicação na Meristem. Logo depois, interessamo-nos pelo milho. Muitas pistas foram exploradas, das proteínas do sangue às vacinas ou aos medicamentos, passando pelos anticorpos. O maior avanço concerne à produção de uma lipase gástrica, destinada a curar crianças com mucoviscidoses, com milho . A equipe de pesquisadores franceses desenvolveu também programas para pro28

Cultivar

duzir colágeno (uma proteína presente na maioria dos tecidos humanos), lactoferrina (proteína de defesa natural do homem presente, sobretudo no leite materno) ou albumina (uma molécula muito útil para as cirurgias). Estamos muito orgulhosos por sermos os primeiros no mundo a produzir uma proteína recombinadora tão complexa quanto a hemoglobina humana , esclarece Emmanuel Boures.

A PRODUÇÃO DE LIPASE NO MILHO

O gene que fabrica a lipase foi isolado no laboratório da Meristem. Em seguida, introduzido no milho. A jovem empresa conseguiu depois dominar a regeneração das plantas de milho e sua produção no campo. Uma vez colhido o milho, o laboratório aperfeiçoou a fase de extração da proteína e de purificação. Hoje, a produção de lipase no milho funciona bem e a tecnologia está em fase de testes clínicos. É o grupo produtor de sementes Limagrain, cooperativa de agricultores implanwww.cultivar.inf.br

tada também em Clermont-Ferrand, que administra a produção de sementes e a produção de milho, confiada a seus associados. É preciso 240 hectares de milho para produzir uma tonelada de lipase. A Limagrain, primeira produtora européia de sementes, e quarta em nível mundial, investe muito em biotecnologias e possui 30% do capital da Meristem. Quando a produção de lipase obtiver todas as autorizações de colocação no mercado, a Meristem, que emprega atualmente 85 pessoas, tem a intenção de ir até a produção industrial da molécula. A empresa de biotecnologia francesa foi, aliás, a primeira do mundo a implantar uma unidade industrial de extração e de purificação de proteínas terapêuticas, a partir de plantas em 1998, e a produzir quantidades das mesmas, em quilos. Para a comercialização da lipase, a Meristem associou-se ao grupo Solvay Pharmaceutical, o número um mundial em extratos pancreáticos. A empresa francesa Outubro de 2002

assinou também com o grupo americano Eli Lilly, um acordo para o aperfeiçoamento da produção de um de seus medicamentos em uma planta. O mesmo se passou com o grupo japonês Mitsubishi Pharma. Para melhor desenvolver-se internacionalmente, a Meristem implantou campos de produção na Espanha, no Chile, nos Estados Unidos e acaba de criar uma filial na Flórida. Na região da Champagne (ao leste de Paris), a Viridis, filial do grupo Alfalis, especializado em cultura de alfafa, trabalha na fabricação de várias proteínas em alfafa, e particularmente na produção de hemoglobina humana. A alfafa é uma verdadeira fábrica de proteínas. É a planta que, no planeta, é capaz de produzir a maior quantidade de proteínas por hectare, muito à frente da soja, explica Damien Levesque, diretor-geral da Visridis. Ela produz 2500 kg/ha contra 800 a 1000 kg/ha da soja. É, portanto, perfeitamente natural que se busque produzir na alfafa proteínas de que os homens possam precisar em grandes quantidades . A Viridis, que se especializou em extração e purificação dos sucos de alfafa, na produção de proteínas e de pigmentos, obteve já várias patentes nesse campo. A particularidade da alfafa, observa Damien Levesque, é de estocar proteínas em suas folhas e não nas sementes, como fazem a soja ou as ervilhas. A extração se faz por pressão das partes verdes das plantas, de modo a recuperar as proteínas nos sucos de alfafa sem alterar sua qualidade. É uma operação delicada para a qual foi desenvolvida uma tecnologia específica de espremedura.

Quando começou a se interessar pelos medicamentos, a Viridis entrou logo em contato com a empresa de biotecnologia de Québec, a Medicago, da qual ela adquiriu 20% do capital. A Medicago, que tinha introduzido o gene de produção da hemoglobina nas plantas de alfafa, interessava-se, sobretudo, pelas competências da Viridis em extração e purificação das proteínas, pelo seu domínio do cultivo da alfafa e pela predileção das terras da Champagne por essa planta. Os primeiros testes mostram que uma proteína recombinada pode representar entre 0,2 e 2,0% da massa protéica da alfafa e que as taxas de extração são bastante elevadas, da ordem de 80%. A Viridis, que assinou contratos para a produção de uma dezena de outras moléculas, entre as quais o interferon beta ou a insulina, está pronta a passar à fase industrial, tão logo as moléculas sejam autorizadas. A Meristem, por sua vez, estabelece um prazo de quatro a cinco anos para a comercialização da lipase e a passagem para a fase industrial.

Fotos Ubifrance

As primeiras plantações de milho produtos de lipase gástrica foram feitas perto de Clermont-Ferrand

UMA SOLUÇÃO ECONÔMICA E SEGURA

As plantas estão aptas a produzir moléculas necessárias ao homem, como as proteínas. Os organismos vegetais são desprovidos de agentes patogênicos nocivos ao homem , explica Sofia Ben Tahar, pesquisadora em biotecnologia na Limagrain. Elas apresentam, conseqüentemente, uma garantia de segurança sanitária muito interessante para o homem, livrando-o de qualquer risco de transmissão de vírus existentes por hora, quando se trabalha com sangue humano. As plantas têm também uma capacidade de produção muito importante. Alguns milhares de hectares seriam suficientes para produzir albumina na medida das necessidades atuais do planeta. A produção do medicamento numa planta, a extração da molécula e sua purificação quando forem operacionais custarão bem menos que os medicamentos sintéticos ou as proteínas extraídas do plasma sanguíneo, quatro a cinco vezes mais . baratos para certas moléculas .

Os agricultores franceses deverão produzir em breve hemoglobina humana na alfafa

Outubro de 2002

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Cultivar

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UFV

Invasoras

Devido ao aumento da sementeira no solo na safra passada e ao estímulo à germinação propiciado pelo frio intenso, poderá haver maior invasão de plantas daninhas na próxima safra

Daninhas vêm aí P

lantas indesejadas custam para a agricultura gaúcha mais de 400 milhões de dólares por ano, devido aos custos de seu manejo, perda de produtividade e perda de qualidade dos produtos agrícolas colhidos. As plantas indesejadas, conhecidas popularmente por inço ou erva daninha, crescem junto com as plantas cultivadas e utilizam parte da água, nutrientes e luz. Assim, elas impedem o crescimento máximo das culturas e reduzem sua produtividade. O prejuízo causado pela vegetação indesejada ocorre desde o início do desenvolvimento da lavoura, mas a presença do inço até a colheita impede a maturação normal das culturas e favorece o estabelecimento de moléstias em frutos, folhas e grãos, reduzindo a qualidade e o preço dos produtos colhidos. Anualmente, o grupo de pesquisadores de Universidades, centros de Pesquisa e Cooperativas do Estado se reune para estudar propostas de manejo da vegetação. Esse ano, eles concluíram que o clima incerto na safra anterior prejudicou o controle do inço e aumentou o prejuízo destes sobre as culturas. Os agricultores podem esperar que na próxima safra haja maior infestação de plantas daninhas do que o usual, devido ao aumento da sementeira no solo na safra passada e do estímulo à germinação propiciado pelo frio intenso. A forma mais prática e rápida de controle do inço consiste na utilização de herbicidas. Mas, atualmente algumas plantas dani30

Cultivar

nhas estão resistentes a esses produtos. Resistência aos herbicidas é a capacidade herdada por algumas plantas daninhas de sobreviver à aplicação herbicida, para a qual a população original era suscetível. Este fenômeno tem sido observado desde os anos 70 em países da América do Norte, Europa e Oceania. Mais recentemente, foi constatada a presença de espécies resistentes em países da América Latina, como Argentina, Brasil e Colômbia. O desenvolvimento de resistência em plantas daninhas é um processo evolucionário que ocorre em resposta às aplicações

Provavelmente haverá maior infestação de plantas daninhas na próxima safra, diz Vidal

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repetidas de herbicidas que apresentam o mesmo funcionamento nas plantas. Entre as recomendações para prevenção e manejo da resistência, destaca-se o manejo integrado de plantas daninhas. O manejo integrado de plantas daninhas consiste no uso de métodos que evitem a disseminação destas plantas (uso de sementes limpas, limpeza de máquinas e equipamentos); métodos culturais (rotação de culturas, semeadura na época recomendada, densidade de plantas adequada); evitar o uso repetido de herbicidas com mesmo mecanismo de ação e empregar misturas de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. Quando possível, associar o uso de herbicidas com o uso de cultivadores. Recomenda-se que sejam feitas vistorias constantes nas lavouras para detectar mudanças do tipo de infestação presente e que sejam seguidas as instruções constantes no rótulo dos produtos, especialmente aquelas sobre dose e épocas de aplicação recomendadas e espécies de plantas daninhas controladas. Enfim, recomenda-se que os agricultores procurem assistência técnica especializada para poder manejar adequadamente as infestações que ocorrem na suas lavouras de forma . racional, segura e econômica. Ribas Vidal, UFRGS Outubro de 2002


AENDA

Defensivos Genéricos

Resíduos em revista S

O monitoramento dos limites máximos de resíduos de produtos fitossanitários é fundamental para a exportação

ob a coordenação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA está em curso o Programa de Monitoramento de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos PARA. Em 2001, o projeto abrangeu coleta de amostras provenientes das seguintes culturas: Alface, Banana, Batata, Cenoura, Laranja, Maçã, Mamão, Morango e Tomate. A maior parte das amostras foram coletadas em supermercados e ceasas, sempre que possível com anotações que permitissem a rastreabilidade da origem. As equipes foram treinadas para uma coleta em padrões homogêneos, com critérios pré-estabelecidos e acondicionamento adequado para suportar o transporte até os laboratórios. Foram 86 ingredientes ativos pesquisados nas amostras, através do sistema de multiresíduos. As análises foram efetivadas em quatro Estados: São Paulo (Instituto Adolfo Lutz - IAL), Minas Gerais (Instituto Otávio Magalhães IOM/FUNED), Paraná (Laboratório Central LACEN) e Pernambuco (Instituto Tecnológico ITEP). Em 2002, a partir de setembro, será iniciada a segunda série do Programa, já

ampliada para os Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Paraíba e Pará. O Programa tem caráter orientativo e não fiscalizatório e a partir das informações obtidas e detecção de problemas, será possível investir com racionalidade nas áreas rastreadas, implementando-se projetos educativos. Desta maneira, o governo deixa a postura estática voltada para a estupefação sempre a reboque das reclamações da sociedade para ações dinâmicas e concretas, buscando a identificação e início do mapeamento nacional dos problemas. Assim, teremos rapidamente condições de verificar com realismo em quais microregiões os produtos são usados de forma errônea, em dosagens acima das recomendadas ou sem respeitar o intervalo de segurança entre a última aplicação e a colheita, procedimentos que podem acarretar um nível de resíduo acima dos Limites Máximos de Resíduos LMR permitidos. Ou, anotaremos quais os produtos utilizados em culturas sem a devida legalização do seu uso, ou seja, sem estarem registrados junto ao governo federal com os dossiês de estudos de eficácia e de estabeleci-

mento dos respectivos Limites Máximos de Resíduos. Na Europa existe um levantamento idêntico e os dados disponíveis do ano de 2000 mostraram que na coleta de 45.213 amostras originadas em 18 países, apenas 1.956 apresentaram resíduos acima dos LMR, ou seja, 4,3%. A amplitude em torno desta média não foi grande, pois tivemos países como a Inglaterra e a Itália com percentuais de 1,71 e 1,88, respectivamente, até no máximo 10,96 (França), 10,83 (Holanda) e 11,15 (Portugal). Este Programa de Monitoramento de Resíduos juntamente com o Programa de Destinação Final das Embalagens Vazias colocam o Brasil na condição de nação plenamente consciente das suas responsabilidades e madura o suficiente para dar uma resposta à síndrome contra os agrotóxicos que grassa hoje e reabilitar essa ferramenta junto à população reconduzindo ao entendimento que se trata de insumo importante para a qualidade e quantidade do alimento em nossas mesas. As autoridades brasileiras merecem o aplauso, incentivo e apoio de todos os agentes envolvidos na cadeia alimentícia. .


Fotos Dirceu Gassen

A

geada é um dos elementos climáticos de risco que afeta o desenvolvimento de plantas. O mecanismo de ação de geadas se expressa com temperaturas abaixo do ponto de congelamento. A severidade de danos depende do estádio de desenvolvimento e do teor de umidade na planta, das características da cultivar, do tempo de duração da geada, da cobertura de solo, da exposição da lavoura, de correntes de ar e de outras variáveis. A severidade da geada varia a curtas distâncias na lavoura e é difícil de ser determinada.

Abaixo de zero

TEORES DE UMIDADE E DE SAIS NA PLANTA

O solo atua como reservatório de calor, estabilizando a temperatura. Os solos úmidos e compactos são melhores condutores de calor e transferem para a superfície o calor armazenado durante o dia. Por outro lado, solos secos e descompactados (aerados) são isolantes tér-

A formação de geada afeta diretamente o desenvolvimento de plantas

Terrenos com exposição leste sofrem maiores danos por causa do descongelamento rápido

Na fase de espigamento é difícil constatar danos e estimar as perdas, diz Gassen

micos e transferem com dificuldade para a superfície o calor armazenado, favorecendo a formação de geada. A concentração de sais nas plantas é importante fator para diminuir a severidade da geada. Solos com elevados teores de nutrientes e plantas bem nutridas tendem a sofrer menos de geada por causa de teores de sais mais elevados no conteúdo celular, reduzindo seu ponto de congelamento. Plantas com estresse hídrico apresentam menor teor de água e maior relação sais/água reduzindo seu ponto de congelamento. Em

algumas regiões sujeitas a geadas em culturas sensíveis, usa-se potássio para nutrir melhor as plantas e concentrar sais na seiva, para diminuir os danos.

COBERTURA DE SOLO E EXPOSIÇÃO

A exposição da lavoura para o oeste (sol poente) mantém a temperatura mais elevada na tarde anterior à geada, aquecendo o solo e reduzindo o risco de congelamento. Por outro lado, na manhã seguinte não haverá exposição direta de sol e o descongelamento será lento e gradativo. A exposição da lavoura

para o leste tende a apresentar danos mais severos de geadas. A exposição leste resulta na ausência de aquecimento do solo no entardecer e incidência de sol já nas primeiras horas da manhã, com descongelamento rápido e danos mais severos nas plantas. Os solos cobertos com palhas refletem os raios solares do dia anterior e resultam em danos mais severos. O solo nu absorve mais calor durante o dia anterior à geada. O gado bovino, nas noites frias se reúne em áreas de solo nu, pela temperatura amena.

MILHO

O dano visual de geadas nas plantas de milho, no primeiro dia, é de coloração verde-escuro. Nos dias seguintes, as partes danificadas tornam-se marronzeadas e claras em função do extravasamento do conteúdo das células provocado pelo rompimento da parede celu-

lar causado pelos cristais de gelo. Sintomas mais severos aparecem nas extremidades superiores e nas folhas jovens, com maior teor de água, menor de sais e mais distante da planta (menor reserva de calor). Alguns dados indicam que a planta jovem de milho tolera até 50 % de secamento de folhas por geada. Até a fase de seis folhas, o ponto de crescimento do milho está dentro do solo. A morte de plantas poderá ocorrer se o frio for prolongado e a temperatura de congelamento atingir o ponto de crescimento dentro do solo. Em milho, o dano aparece na extremidade das folhas jovens.

TRIGO E CEVADA

O trigo na fase vegetativa tolera frios e geadas. A cevada é mais sensível ao dano de geadas nas fases de crescimento vegetativo e,

Planta normal e outra 10 dias após ser atingida pela geada

principalmente, na fase reprodutiva. Os danos ocorrem a partir da fase de formação de espiga dentro da bainha da folha. A fase mais crítica é a de antese (fecundação) ou floração, quando a planta libera as anteras. Os sintomas aparecem na morte da espiga ou na formação do grão. Na fase de espigamento é difícil constatar os danos e estimar as perdas. As espigas e os grãos encontramse em diferentes fases de desenvolvimento, dificultando a avaliação a campo. A gluma (espigueta) do trigo e da cevada mantém a forma e a cor da espiga normais, mas alguns grãos podem não se desenvolver mais. Para estimar o dano de geadas, sugere-se determinar o tamanho dos grãos na espiga de trigo em vários pontos da lavoura. Uma semana depois, examinar as espigas dos mesmos locais e comprovar o crescimento normal ou a morte dos grãos. As espigas mortas pela geada, quando amassadas na mão, apresentam textura esponjosa e o desenvolvi. mento de grãos paralisado. Dirceu Gassen, Cooplantio


Agronegócios

Eleições 2002

Agronegócios e o próximo Presidente Dois aspectos realmente importam neste momento de discussão: a reflexão das prioridades de política agrícola do próximo presidente e os compromissos expressos nos programas de governo de cada candidato

B

reve elegeremos o Presidente da República, que comandará o país nos próximos 4 ou 8 anos. Todos sabemos que o pensamento, as idéias, as propostas e os princípios do Presidente possuem enorme influência nas políticas públicas e nos rumos que o país seguirá. O que se pode dizer da relação entre o Brasil e a agropecuária são chavões consolidados: a vocação brasileira é para o agronegócio, trata-se do maior negócio setorial do país, é através dele que o Brasil pode alavancar seu progresso e seu desenvolvimento, é o ramo da economia que pode responder com maior rapidez e segurança a qualquer política de renda e emprego etc. Dispensável desfilar os números da pujança agropecuária do país e do enorme potencial não explorado, que pode nos conduzir à liderança mundial dos agronegócios. O que realmente importa neste momento são dois aspectos: uma reflexão das prioridades de política agrícola para o mandato do próximo presidente; e os compromissos expressos nos programas de governo de cada candidato. Este dueto de reflexões, seguramente, auxiliará o eleitor a decidir quem melhor pode apoiar os agronegócios brasileiros a expressar a sua potencialidade, e quem entendeu que a vocação brasileira é o agronegócio. Vamos alinhavar alguns pontos a considerar:

PRIORIDADES DO AGRONEGÓCIO

É necessário melhorar consistentemente todos os aspectos ligados ao financiamento da produção. O setor precisa ser desvenci36

Cultivar

prioridade de atuação claramente definidos. A opção é para o segmento dos pequenos proprietários rurais, aqüicultores, pescadores artesanais e suas formas de associação e de organização. Neste segmento, além dos vários grupos de agricultores familiares, conforme hoje são classificados, estão englobados todos aqueles que não têm escala empresarial, que dependem da política de crédito rural e de outros mecanismos de apoio oficial, para prover sua sustentabilidade. Seu compromisso com a reforma agrária está explícito no texto ...o clamor por assentamento de milhões de trabalhadores rurais sem terra, exigindo que se defina e aplique uma verdadeira reforma agrária que em tempo hábil distribua terras em qualidade e quantidade suficiente e garanta condições produtivas que dêem sustentabilidade a estes novos agricultores familiares (sic). O candidato propõe cinco programas estruturantes: Recuperação da Infraestrutura do Agronegócio, Eletrificação Rural, Irrigação e Drenagem, Defesa Sanitária animal/vegetal e incentivos tributários e financeiros. Detalhes do programa do candidato para a agricultura podem ser analisados em w w w. g a ro t i n h o 4 0 . c o m . b r / s c r i p t s / detalheplanogoverno.asp?id=14

CIRO GOMES

lhado das amarras de uma legislação tributária arcaica, que penaliza o sistema produtivo. Particularmente, o produtor não consegue se beneficiar do principio da não cumulatividade dos tributos. É preciso melhorar a infra-estrutura de armazenagem, transporte e comercialização. Há necessidade de garantir a integridade patrimonial dos produtores. Deve-se evitar a expulsão de pequenos agricultores do campo e produzir uma reforma agrária justa e condigna. O Governo brasileiro terá de ser cada vez mais agressivo na luta contra o protecionismo agrícola, auxiliando o setor a expandir os seus mercados. Também depende do Governo a coordenação e a liderança tanto na geração de novas tecnologias agropecuárias, quanto na manutenção de um sistema de sanidade agropecuária que se situe entre os melhores do mundo. Estes quesitos, juntamente com sistemas modernos de certificação e rastreabilidade, serão poderosos incentivos à colocação dos produtos brasileiros no mercado internacional.

OS PROGRAMAS DE GOVERNO

Recomendamos ao (e)leitor que reflita sobre estas e outras prioridades do agronegócio brasileiro, cotejando-as com as propostas, os princípios e as intenções dos canwww.cultivar.inf.br

didatos a presidente, constantes de seus programas de governo. Aja da mesma forma com respeito aos candidatos aos demais cargos, aquilatando seu real vínculo com a agropecuária. Agindo desta forma, conscientemente, o eleitor estará contribuindo para que o nosso setor tenha representantes efetivamente comprometidos com as prioridades da agropecuária. Vamos resumir alguns tópicos relativos à agricultura, constante dos programas de governo dos candidatos a presidente da República (em ordem alfabética):

A proposta leva o título Política Agrícola e Reforma Agrária (www.ciro23.com. br/23/noticias/vernoticia.asp?id=300). O texto é curto, resumido e pouco elucidativo e refere como diretriz: Nosso compromisso central para a agricultura é a expressão na agricultura da democratização do mercado que queremos promover em todos os setores da economia. Na agricultura, esse compromisso significa lutar para superar pouco a pouco a divisão entre um setor de grandes agronegócios e um vasto mundo de pequenos lavradores, com ou sem terra, abandonados ao próprio destino e desprovidos das condições básicas para trabalhar. Define seis eixos principais de atuação: a) Desenvolver estoques estratégicos; b) Instituir rede de centros federais, especi-

ANTHONY GAROTINHO

O candidato reconhece o potencial da agropecuária brasileira e ressalta a importância da agricultura familiar. Embora reconheça a existência e a importância de uma agricultura empresarial, o programa refere Mas o Governo do PSB tem seu foco e sua Outubro de 2002

Outubro de 2002

alizados nos problemas de cada setor; c) Contribuir para a expansão de uma agricultura moderna; d) ampliar o crédito agrícola; e) Incentivar a piscicultura; f) Consolidar a posição mundial do Brasil como produtor de cereais e de carne.

JOSÉ INÁCIO LULA DA SILVA

Não há um capítulo específico do programa de governo dedicado à agricultura ou aos agronegócios. Referencias sobre o tema estão dispersas em outros títulos como o Programa de Combate à Fome, o Fortalecimento da Economia Nacional, a Política Externa para Integração Regional e Negociação Global em que são priorizados os temas da agroindustrialização e da agricultura familiar. Veja detalhes em w w w. l u l a . o r g . b r / o b r a s i l / programa.asp Talvez o parágrafo síntese do pensamento do candidato seja A ampliação da produção de alimentos por meio de uma política agrícola dirigida para o binômio agricultura familiar e agricultura organizada em bases empresariais. Essa política, que terá como base o fortalecimento da agricultura familiar através de políticas de crédito estáveis previstas nas leis orçamentárias da União, assistência técnica e políticas sociais, visa melhorar as condições de trabalho e renda das famílias exclusivamente agrícolas, que residem no campo e trabalham a terra por conta própria, e das famílias rurais cujos membros combinam atividades agrícolas e não-agrícolas . A Reforma Agrária é abordada em um capítulo separado, onde são explicitados detalhes de como a questão seria tratada em um eventual mandato do candidato.

JOSÉ SERRA

É o candidato que dedica o maior espaço à agricultura, com um documento de 20 páginas, profuso de detalhes de diagnóstico, propostas e instrumentos para sua implantação. A íntegra do documento está em www.joseserra.org.br/site/planogoverno/programaserraagropecuaria.pdf O candidato aborda diversos temas como a importância da agropecuária para o emprego e a renda nacionais, a interiorização do desenvolvimento, a estabilidade dos preços e a geração de divisas, reconhecendo no setor o grande motor da economia nacional. As principais propostas para o setor são a desoneração tributária; o acesso aos mercados mundiais mediante o combate ao protewww.cultivar.inf.br

cionismo, aos subsídios e às barreiras comerciais; o financiamento e seguro agrícola adequados; o apoio à agricultura familiar; a melhoria da infra-estrutura para a diminuição do Custo Brasil; a geração e difusão de tecnologias novas e adequadas; o estímulo à agricultura irrigada, principal-

mente no semi-árido nordestino; o apoio à agricultura familiar; o apoio ao cooperativismo rural; e a política tecnológica para a agropecuária. Neste particular destaca: A principal prioridade será fortalecer a Embrapa, instituição que tanto benefício trouxe para o progresso do país. Será ampliado o investimento em pesquisa e desenvolvimento, inclusive aquele voltado para agriculturas típicas de exploração familiar, recorrendo às parcerias entre os setores público e privado. O programa detalha políticas setoriais específicas para produtos (café, leite), programas (biomassa para produção de energia) ou políticas sociais e ambientais na agricultura, assumindo um compromisso explícito com a sustentabilidade dos processos agropecuários. A reforma agrária contempla quatro pontos principais: Consolidar os assentamentos implantados; implantação de novos assentamentos rurais; programas de crédito à aquisição de lotes e à montagem de infra-estrutura; e reforçar a atuação do Banco da Terra, elevando o teto de financiamento.

LEIA, REFLITA E VOTE

Caro leitor, não se restrinja ao exposto nesta coluna. Leia atentamente o programa de cada candidato e tire as suas conclusões. Esta será a única forma de aprimorarmos a democracia brasileira e contarmos com dirigentes efetivamente comprometidos com as grandes prioridades nacionais, em especial com os agronegócios, o caminho mais curto para um Brasil . melhor no futuro próximo. Décio Luiz Gazzoni

Engenheiro Agrônomo e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agropolis.hpg.com.br

Cultivar

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Brasil caminha para mais um recorde Os produtores brasileiros nestes últimos dois anos tiveram bom desempenho econômico com as lavouras. Para esta nova safra mais um recorde de produção e produtividade deverá ser atingido e, como conseqüência natural, maiores ganhos econômicos serão obtidos. A soja vem como carro chefe dos campos, com expectativas de chegarmos à marca histórica de 50 milhões de t, ou seja, quase 50% de tudo que deverá ser produzido, superando de longe a segunda cultura - não menos importante - que é o milho. Este deverá chegar à marca das 36 ou 37 milhões de t. Porém, para chegar a estes valores terá de ter um bom desempenho na safrinha, que tem como indicativos preliminares de 8 a 10 milhões de t. Enquanto isso, as culturas tradicionais como o arroz e o feijão, que são de consumo interno, devem se manter estabilizados com 11 a 12 milhões para o arroz e 2,8 a 3 milhões para o feijão, que já foi fortemente afetado pelas geadas nas últimas semanas. Os produtores devem ter o melhor desempenho comercial já registrado para o setor agrícola em 2003. Para isso, leva-se em consideração o grande volume de soja negociada antecipadamente, já garantindo cotações que proporcionam boa margem de lucros aos produtores e também já mostrando fechamentos futuros de milho e algodão, através de exportações e contratos de Opções. Tudo caminha para termos recorde de produtividade, em cima da boa capitalização e profissionalização do setor agrícola.

MILHO

Safrinha derruba cotações

O mercado do milho em setembro mostrou novo avanço positivo nas cotações, com grandes volumes de negócios em cima da exportação, que chegava a pagar acima dos R$ 20,50 na base de Paranaguá. Com isso, as cotações internas tiveram força para crescer - pela primeira vez na história do Real o cereal chegou aos R$ 20,00 junto aos granjeiros e indústrias. Com isso, pagava de R$ 16,00 a R$ 18,00 aos produtores. O mercado segue com pouco produto e como as exportações vêm enxugando o que aparece, manterá as cotações nos próximos meses. A geada ceifou o Triticale, que deveria vir para o setor de ração e, assim, o milho está sem concorrentes e tende a se manter firme.

a 120 mil hectares foram comprometidos com as fortes geadas ocorridas nos primeiros dias de setembro. Com isso, já se começa o ano comercial com comprometimento, porque mais de 15% da área total do Sul foi afetada. Além dessas lavouras, houve fortes danos às primeiras lavouras de São Paulo. Os indicativos do feijão se mantiveram entre os R$ 65,00 e os R$ 80,00 em setembro. Como a colheita na Bahia estava no final, e as perdas foram grandes, o mercado apontava para números crescentes para este mês de outubro.

ARROZ

Leilões acalmam o mercado O governo jogou duro com seus estoques em setembro, colocando grandes volumes do produto do Mato Grosso e do Rio Grande

do Sul à venda. Com isso, conseguiu segurar a pressão de alta que vinha apresentando em agosto e no começo de setembro. Fechando o mês de setembro com indicativos estabilizados. Do lado da indústria, seguese com medo de que o governo suspenda os pregões e, assim, o mercado poderá avançar novamente em novembro e dezembro, já que as primeiras lavouras plantadas tiveram problemas com o clima, onde o frio deverá atrasar as primeiras colheitas em pelo menos 15 dias. Assim, a colheita deverá chegar na segunda quinzena de dezembro em diante. O mercado mostrava posições de R$ 21,00/ 22,50 pelo casca irrigado no Sul, e falava dos R$ 19,00 aos R$ 23,50 pelo casca sequeiro, com indicativos maiores para o Primavera de ponta.

SOJA

Melhor momento da soja

O mercado da soja chegou ao seu melhor momento em setembro. Os valores ficaram próximos dos R$ 45,00 junto ao porto de Paranaguá enquanto se pagava R$ 42,00 pelo produto livre no Sul do País chegando a pagar melhor, e também mostrou indicativos de R$ 38,00/39,00 para a soja livre no Centro-0este, com indicativos de R$ 40,00/41,50 no Sudeste. Foi um período de grande movimentação da safra nova, onde se apontaram fechamentos de pelo menos 15% da safra futura, que somados aos outros 20%, pode-se dizer que o País já tenha negociado mais de 35% da safra nacional e mostra que os Estados do CentroOeste, onde esta prática é mais avançada, estariam com mais de 40%. Há regiões com cerca de 50% da safra negociada em municípios do Norte do Mato Grosso, onde os produtores aproveitaram as boas cotações para fechar futuro. O plantio está em andamento e deverá ter recorde de área.

FEIJÃO

Geadas ceifaram a safra do Sul

Os produtores perderam as primeiras lavouras plantadas no Sul do País; cerca de 100

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Cultivar

CURTAS E BOAS ARROZ - plantio deverá andar forte neste mês de outubro, já que em setembro as fortes chuvas no Sul e a falta delas no Centro-Oeste seguraram as máquinas. Com expectativas de manter as áreas, e com indicativos de colher entre 11 e 12 milhões de t, com produtividade em crescimento. OPÇÕES - os contratos de milho que o governo esteve colocando à venda não mostraram grande interesse pelos produtores, que vinham atuando na faixa dos 10% do volume ofertado e, assim, pouco mais de 200 mil t foram negociadas em setembro. E assim. Pouco mais de 1,3 milhões de t foram negociadas, contra as expectativas do governo, que apostavam em 5 milhões de t. EUA - a colheita da safra local está em andamento, e os primeiros números apontavam que a produtividade do milho e da soja estavam um pouco acima das expectativas. Assim, a soja estimada em 72,3 milhões de t e o milho em 224,7 milhões poderão ser ajustados para cima agora em outubro. SOJA - o mercado futuro da soja até agora negociou os maiores volumes antecipados, com mais de 35% já fechados, que resultam em mais de 17 milhões de t efetivadas. No ano passado, pouco mais de 11 milhões de t tinham sido negociadas. ALGODÃO - os produtores estão olhando com bons olhos para o novo plantio, porque o câmbio em alta e as propostas do novo presidente de estimular a produção interna e dificultar as importações devem beneficiar o setor. Há produtor apostando que esta será a safra do algodão.

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Outubro de 2002



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