Cultivar 45

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Ano IV - Nº 45 Novembro / 2002 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00

Insetos mortais Doença do milho disseminadas por insetos vetores

(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 8,00 Diretor:

Newton Peter

Ferrugem Asiática no RS

Editor Geral:

S.K. Peter

A ferrugem da soja já chegou ao RS e é responsável por perdas na cultura

Editor Assistente:

Charles Ricardo Echer

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Redação

Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo

Design Gráfico

Fabiane Rittmann

Marketing:

Neri Ferreira Otávio Pereira

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Diagramação

Fabiane Rittmann Christian Pablo C. Antunes

Praga subestimada

Assinaturas:

Embora muitos desconheçam, o grilo é uma praga que pode comprometer lavouras de soja, milho e girassol

Jociane Bitencourt

Circulação:

Edson Luiz Krause

Secretária Geral:

Simone Lopes

Promoções:

Marilanda Holz

Ilustrações:

Rafael Sica

Perfil do sorgo

Revisão:

Carolina Fassbender

Editoração Eletrônica:

Index Produções Gráficas

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Fotolitos e Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES: (53) GERAL / ASSINATURAS: 3028.4008 / 272.2128 ATENDIMENTO AO ASSINANTE: 3028.4006 REDAÇÃO : 3028.4001 / 3028.4002 / 3028.4003 MARKETING: 3028.4004 / 3028.4005 EDITORAÇÃO: 3028.4007 PROMOÇÕES: 3025.4254 FAX: 3028.4001 / 272.1966

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Sorgo na safrinha pode garantir a colheita, mesmo com estiagem prolongada

índice

Nossa capa

Diretas

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Vetores de doenças em milho

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Estrutura produtiva do algodoeiro

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Ferrugem da soja

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Coluna da Aenda

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Grilos subterrâneos sob plantio direto

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Perfil econômico do sorgo

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Variedades tradicionais de arroz

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Mosca-das-frutas em café

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Agronegócios

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Mercado agrícola

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Foto Capa / Dirceu Gassen Grilo Marron pode comprometer lavouras de soja, milho e girassol


diretas Premiação

Negócio da China

O Chefe da Embrapa Algodão, Eleusio Curvelo Freire, acaba de retornar da China. Ele participou da missão que negociou os termos para exportação e cooperação técnico-científica entre o Brasil e aquele país. Foi acordada a troca de tecnologia através da Embrapa e a Academia de Ciência da China, nas áreas de algodão, arroz, soja, recursos genéticos e biotecnologia. O convênio para exportações abrange carne, trigo, citros e peixes. A formalização dos termos negociados ocorre ainda este mês.

Eleusio Curvelo

APPS

O secretário Cássio Luis de Camargo, da APPS, manifesta preocupação com a falta de produtos registrados no mercado para o tratamento de sementes. Entre as culturas que enfrentam dificuldades está o sorgo, com 95% da produção tratada com agroquímicos que não possuem autorização legal. A luta do setor para que o problema seja solucionado se arrasta há quase 20 anos. Durante esse período foram encaminhados diversos pleitos às indústrias de produtos quí-

micos, para que encaminhem o pedido de extensão de uso. O mesmo procedimento foi adotado junto aos ministérios da Agricultura, Meio-Ambiente e Saúde. Em nenhum dos casos houve êxito. Como resultado, as indústrias de sementes ficam expostas a autuações e contabilizam inúmeros prejuízos quanto às exportações que, em muitos casos, são impedidas pelo uso de produto não licenciado.

Chuva

Apesar de faltar 10 dias para terminar o mês de outubro, o Rio Grande do Sul já registra 490 ml de chuva em 20 dias, quase três vezes mais do que a média para o mês inteiro. A grande quantidade de chuva deixou os plantadores de arroz do sistema convencional desesperados. Entretanto, quem planta em sistema de pré-germinado aproveitou a água da chuva para realizar a operação de fangueio.

Aprosul

O presidente da Aprosul, Carmélio Romano Ross, estima que a área de sorgo, plantada em Mato Grosso do Sul, deverá dobrar na próxima safra. A estimativa é de que o cultivo salte de 40 para 80 mil hectares. O incremento é atribuído à previsão de incentivos do governo federal, através de recursos para custeio e contratos de opção de compra.

Alerta

O Ministério da Agricultura proibiu temporariamente as importações de trigo da Ucrânia. A medida foi adotada depois de ter sido detectado o fungo Alternaria Tritina em um carregamento recebido em Fortaleza. A praga, inexistente no Brasil, está classificada dentro do tipo A1, o que exige a destruição ou devolução ao país de origem.

Carmélio Romano

A Abrapa e o governo brasileiro estão mobilizados contra a política protecionista adotada pelos Estados Unidos em relação ao mercado de algodão. Segundo o diretor executivo da Associação, Hélio Tollini, os incentivos dados aos cotonicul-

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Pleito

tores norte-americanos estão criando excedentes de produção. Para desovar o estoque, o governo dos Estados Unidos vem subsidiando, também, as exportações. A medida tem retraído os preços e atingido paí-

ses que não contam com políticas de proteção ao mercado local. No Brasil, a baixa cotação diminuiu em 20% a área plantada em Mato Grosso, Estado responsável por 50% da produção nacional.

Novos tempos

O Sistema de Combinação de Híbridos da Pioneer Sementes acaba de ser premiado pelo DuPont Marketing Excelence Recognition. O concurso é realizado anualmente em nível mundial, com o objetivo de premiar estratégias de marketing. O sistema foi reconhecido como a melhor campanha apresentada pela Pioneer em todo o mundo. Em setembro, o gerente executivo, Daniel Glat e o gerente de produtos, Cláudio Peixoto, estiveram em Wilmington, nos Estados Unidos, para receber a premiação.

Flávio Danilo Haas

Cooplantio

O engenheiro agrônomo, Flávio Danilo Haas, está assumindo o cargo de supervisor técnico na área de arroz e pastagens da Cooplantio. Durante 11 anos, Flávio trabalhou na Manah, na área de fertilidade do solo e, nos últimos três anos, desenvolvia atividades na área de tecnologia da Monsanto do Brasil. Segundo o gerente técnico da Cooplantio, Dirceu Gassen, a contratação é uma grande aquisição para a cooperativa.

Cientistas da Dupont acabam de colher os resultados de uma experiência inédita: o cultivo de sementes de soja no espaço. A pesquisa foi concluída com o retorno do ônibus espacial Atlantis. Através de gravações de vídeo, os cientistas monitoraram os efeitos da gravidade e de outros elementos do espaço sobre o desenvolvimento da planta. Em uma nova etapa da pesquisa, as sementes devem ser replantadas para avaliar a possibilidade de manutenção das características adquiridas.

Quebra

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resultado será suficiente para atender a demanda do Estado, que consome em torno de 120 mil toneladas. Passado o período de geadas, a atenção dos produtores se volta agora para os riscos de enchentes. As lavouras do Centro-Sul e Sudoeste, ainda em fase de colheita, poderiam ser prejudicadas por excesso de chuvas.

O Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da USP/Esalq realiza nos dias sete e oito de novembro o Simpósio sobre Dinâmica de Defensivos Agrícolas no Solo. O enfoque estará centrado em aspectos práticos e ambientais. O evento ocorre no anfiteatro do Departamento de Ciências Florestais. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (19) - 3429-4393.

Seca

A estiagem que vem sendo registrada em Mato Grosso do Sul está atrapalhando o plantio de milho e soja, duas culturas que dependem de calor para o desenvolvimento. Segundo o presidente da Aprosul, Carmélio Romano Ross, o clima seco está dificultando o plantio direto e o escalonamento, podendo, ainda, comprometer a safrinha

Publicação

A Secretária Executiva da Apsemg, Maria Selma Carvalho, comemora os resultados obtidos com a comercialização de sementes de soja. A associação, a exemplo do que ocorreu em outros Estados, conseguiu negociar todo o volume produzido. A boa cotação da cultura provocou uma verdadeira corrida dos produtores que, nesta safra, iniciaram o plantio mais cedo. Segundo Selma, até o final de maio os contratos de venda já estavam sendo fechados, enquanto em anos anteriores, a procura pela semente se intensificava a partir de julho.

Novembro de 2002

A Embrapa lançou o livro Produção e Utilização de Silagem de Milho e Sorgo, que se constitui em fonte de informação para técnicos e produtores ligados à pecuária bovina. A obra expõe explicações que vão orientar o produtor no processo de trato cultural do milho e do sorgo no controle de plantas daninhas, de doenças e de pragas nas culturas. A publicação está à venda na Livraria Virtual da Embrapa.

Encontro

Sérgio Santos

Representação

A divisão agrícola da Spraying Systems tem novo representante. Sérgio dos Santos, já conhecido pela atuação em empresas de renome no setor, assumiu a representação da marca na Amé-

rica do Sul. Ele responde também pela TeeJet, líder em tecnologia de aplicação e componentes de pulverizadores, e a Mid Tech, que é composta por produtos para agricultura de precisão.

Campanha

Nos dias 27 e 28 de setembro, aconteceu o GoiásFibra Seminário de Algodão 2002. O evento, realizado em Goiânia (GO), contou com um circuito de palestras multi-temas e com a presença de pessoas envolvidas com a cadeia produtiva do algodão.

APSEMG

O secretário Eugênio Bohatch, da Apasem, considera que a quebra estimada na safra de sementes de trigo, no Paraná, não será suficiente para provocar problemas de abastecimento. A previsão da Apasem é de que sejam colhidas 135 mil toneladas, 10 mil a menos que a safra anterior. Segundo Bohatch, se confirmadas as perspectivas, o

A Abapa contabiliza o incremento na área de algodão plantada este ano na Bahia. Em relação à safra passada, o número saltou de 57 para 65 mil hectares. Segundo a secretária Késia Magdala de Macedo de Souza, o aumento se deve à presença de grandes produtores, que ampliaram os investimentos no setor. Inversamente ao que ocorreu com o tamanho das lavouras, houve diminuição no número de cotonicultores.

Simpósio

GoiásFibra

Maria Selma

Eugênio Bohatch

Crescimento

Bioprotetor

A Embrapa Trigo desenvolveu um bioprotetor, capaz de proteger o milho e o trigo de doenças fúngicas. Segundo o chefe da unidade, Benami Bacaltchuk, o produto biológico está sendo avaliado por uma multinacional para colocação no mercado. Bacaltchuk explica que o processo de comercialização é lento, devido à falta de interesse das empresas, que em sua grande maioria preferem sintéticos químicos.

Redução no milho

O secretário da APPS, Cássio Luis de Camargo, estima que a área de milho plantada no país este ano deve ser de 5% a 10% menor, em relação à safra passada. Somado à diminuição registrada em 2001, o percentual pode chegar a 30%. A migração de alguns produtores para o cultivo da soja é apontada como a principal causa da redução.

O Sindag e a Andav estão iniciando mais uma etapa da campanha nacional contra o contrabando de agrotóxicos. Com o tema Trabalho Perdido , as duas entidades procuram mostrar que além de prejuízos à lavoura (por mau funcionamento da aplicação), o agricultor ainda pode sofrer penalidades judiciais. Dados do Sindag e da Andav apontam que nos últimos três meses, somente no Paraná, duas dezenas de pessoas foram intimadas para prestar depoimentos. No Rio Grande do Sul e Mato Grosso, agricultores e comerciantes foram detidos e cerca de 100 quilos de agrotóxicos apreendidos. O enfoque principal da campanha está centrado no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Segundo levantamentos do Sindag e da Andav, os seis Estados lideram a lista de denúncias contra a pirataria. Para auxiliar o trabalho da polícia foi criado o Disque-Denúncias, que atende pelo 0800 940 7030

Trigo O chefe da Embrapa Trigo, Benami Bacaltchuk, estima que o Rio Grande do Sul colherá 1.300 toneladas do produto, com média de 1.900 quilos por hectare. Ele ressalta que a qualidade do trigo gaúcho é excelente, mas manifesta preocupação com o excesso de chuvas, que vem atrapalhando a co-

lheita e pode favorecer o aparecimento de pontas pretas. Segundo Bacaltchuk, os danos causados pelas geadas são inferiores a 10%. Na avaliação do chefe da unidade, as adversidades enfrentadas com o clima não devem comprometer a boa safra.

Evento

Eduardo Loureiro Novembro de 2002

O secretário da Apassul, Antonio Eduardo Loureiro da Silva, aguarda com expectativa a realização do Salão de Sementes, Mudas e Novas Teconolgias. O evento, que ocorre de cinco a sete de novembro na

Universidade Federal de Passo Fundo (UPF), deve reunir em torno de três mil produtores. A estimativa é de que durante os três dias mais de 30 mil pessoas passem pelo Centro de Eventos da UPF.

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A Dow AgroSciences realizou em setembro, em São Paulo, o primeiro encontro com representantes da pecuária de todo o Brasil. O evento ocorreu em comemoração ao primeiro ano do Programa Sinal Verde, cujo objetivo principal é manter a fidelidade de pecuaristas e revendedores quanto ao uso de produtos destinados a pastagens. A Dow AgroSciences, além de trabalhar com o desenvolvimento de novos produtos para o campo, também funciona como prestadora de serviços. A empresa oferece, gratuitamente, o empréstimo de equipamentos para clientes e conta com trabalho de assistência técnica às propriedades.

Café

Cultivo Orgânico do Café Recomendações Técnicas é a publicação lançada pela Embrapa que reúne informações sobre manejo e práticas culturais do produto, de acordo com as normas técnicas da Agricultura Orgânica, uma atividade com base em princípios agroecológicos e de conservação dos recursos naturais. Os interessados em obter o livro podem fazê-lo pelo telefone: (61) 448 42 36, ou pelo site: www.sct.embrapa.br Cultivar

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Fotos Embrapa Milho e Sorgo

Milho

Plantas sob ataque Doenças do milho disseminadas por insetos vetores limitam drasticamente a produção

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o Brasil, são conhecidas cinco doenças do milho causadas por patógenos transmitidos por insetos: o Enfezamento Vermelho e o Enfezamento Pálido, causadas por microorganismos da classe Mollicutes e as viroses denominadas Risca ou Rayado Fino, Mosaico Comum e Faixa Clorótica das Nervuras. Atualmente, os Enfezamentos destacam-se entre as doenças mais importantes para a cultura, devido à alta incidência e aos prejuízos que causam na produção das plantas infectadas. O Enfezamento Pálido (Corn Stunt Spiroplasma) é causado por Spiroplasma Kunkelii Whitcomb et al. (Mollicutes-Spi08

Cultivar

roplasmataceae). Esse microorganismo infecta apenas as células do floema das plantas de milho. As plantas infectadas, apresentam, tipicamente, encurtamento de internódios e, nas folhas, faixas esbranquiçadas ou amareladas, estendendo-se da base em direção ao ápice e, algumas vezes, avermelhamento das folhas superiores, dependendo da cultivar e da idade em que as plantas foram infectadas. Plantas infectadas nos estágios iniciais de desenvolvimento, em geral, apresentam drástica redução no crescimento e/ou no enchimento dos grãos, chegando a ser improdutivas. O Enfezamento Vermelho (Maize Bushy Stunt Phytoplasma) é causado por www.cultivar.inf.br

fitoplasma (Classe Mollicutes), que também infecta apenas as células do floema das plantas. Os sintomas dessa doença diferem daqueles do Enfezamento Pálido por incluírem intenso avermelhamento foliar e, freqüentemente, acentuada proliferação de espigas. Porém, comumente, é difícil fazer a distinção precisa entre os sintomas do Enfezamento Vermelho e do Enfezamento Pálido, sob condições de campo. Embora as plantas de milho sejam geralmente infectadas nos estádios iniciais de desenvolvimento, os sintomas dos Enfezamentos manifestam-se tipicamente apenas na época do enchimento de grãos. A produção de grãos pode ser afetada em grau Novembro de 2002

variável, dependendo da idade em que a planta foi infectada. Estimativas feitas no Brasil mostraram que os Enfezamentos, em geral, reduzem, em média, cerca de 50% na produção de grãos de cultivares comerciais susceptíveis. Plantas de milho com a virose Maize Rayado Fino Virus ou Risca apresentam pequenos pontos cloróticos ao longo das nervuras secundárias das folhas, que coalescem, assumindo o aspecto de riscas finas. Geralmente, esses sintomas manifestam-se cerca de duas semanas após a infecção das plântulas e permanecem claramente visíveis nas plantas adultas. A cigarrinha Dalbulus maidis, que no Novembro de 2002

Brasil é o único inseto vetor do espiroplasma, do fitoplasma e do vírus da Risca, adquire esses patógenos ao se alimentar em plantas infectadas. Após o período latente necessário para multiplicação desses patógenos na cigarrinha, esta passa a transmiti-los cada vez que se alimenta em plantas sadias, até o final de sua vida. A cigarrinha D. maidis alimenta-se preferencialmente no cartucho de plantas jovens de milho e, por isso, migra de lavouras em fase de produção, para lavouras jovens, levando essas doenças de plantas adultas infectadas para as plantas jovens sadias. O milho é o único hospedeiro do fitoplasma, do espiroplasma, do vírus da Risca e da cigarrinha D. maidis. Assim, as sobreposições de ciclos dessa cultura, proporcionadas pela variação nas datas de plantio das lavouras, seja na Safrinha ou na Safra de Verão, destacam-se como fator principal que tem contribuído para o aumento na incidência dessas doenças. A presença contínua de milho no campo, durante o ano todo, beneficia a sobrevivência tanto dos patógenos quanto do seu inseto vetor. Outros fatores que contribuem para a alta incidência dos Enfezamentos são a alta umidade relativa do ar e a susceptibilidade de cultivares de milho. Alguns aspectos referentes à durabilidade da resistência de cultivares de milho aos Enfezamentos, bem como à possível existência de raças desses patógenos e ao possível comportamento diferenciado de cultivares de milho em diferentes locais, são ainda pouco conhecidos, havendo carência de pesquisa. Dessa forma, a diversificação no plantio de cultivares de milho em um mesmo local constitui uma prática desejável para evitar ou para minimizar perdas que possam ser causadas pelos Enfezamentos.

Sintomas de enfezamento pálido em planta de milho

A cigarrinha D. maidis é sensível a inseticidas como imidacloprid e thiamethoxan. Experimentos realizados em vasos mostraram que o tratamento de sementes de milho com esses produtos resultou na morte de cerca de 70% das cigarrinhas que se alimentaram nas plantas provenientes dessas sementes, até 30 dias após a emergência. Contudo, deve-se observar que, em experimentos semelhantes, utilizando-se cigarrinhas infectivas com espiroplasma ou com fitoplasma, houve efetiva transmissão desses patógenos para as plantas de milho, antes da morte das cigarrinhas pelo efeito dos inseti-

...

Danos às espigas causados pelos enfezamentos

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Fotos Embrapa Milho e Sorgo

lidade do verde observado em folhas sadias, em padrão de mosaico. Muitas espécies gramíneas, que são plantas daninhas comuns em lavouras de milho, como o capim marmelada, são espécies hospedeiras desse vírus. Esse vírus é transmitido de maneira não persistente, por diversas espécies de pulgões, destacando-se a espécie Rhopalosiphum maidis, o pulgãodo-milho. Esses pulgões realizam picadas de prova em diversas espécies gramíneas e, assim, adquirem o vírus ao se alimentar em plantas infectadas e então passam a transmiti-lo ao se alimentar em plantas de milho sadias, durante várias horas. Em geral, essa virose tem sido encontrada ocorrendo de forma localizada, em alguns municípios produtores de milho, particularmente na região sudoeste de Goiás e no Estado de São Paulo, observando-se comumente nesses locais a presença de capim marmelada também infectado. Aparentemente, o capim marmelada é a principal fonte de inóculo para infecção do milho nesses locais. O controle do Mosaico Comum pode ser realizado de forma efetiva através da eliminação de fontes de inóculo nas imediações da área, antes da realização do plantio do milho. Na literatura sobre essa virose há informações sobre a ineficiência do controle químico do pulgão para controle da doença. Em alguns casos, dados ex-

Planta de milho com sintoma de enfezamento vermelho

... cidas. Esses resultados evidenciam que, em-

bora o controle químico da cigarrinha possa também ser uma alternativa para redução na incidência dos Enfezamentos, há necessidade ainda de mais pesquisa para avaliar a efetividade do tratamento inseticida de sementes, associado ou não a pulverizações, para controle da cigarrinha e, conseqüentemente dos Enfezamentos. Nesse sentido, estão ainda sendo conduzidos experimentos em campo. Há necessidade também de avaliações da relação custo-benefício para esse tipo de tratamento, bem como do desenvolvimento de alternativas de manejo dessas doenças, incluindo o uso de métodos para previsão de sua ocorrência e conseqüente adoção de medidas de controle precisas e localizadas. O Mosaico Comum do milho é causado por Potyvirus. No Brasil, o Maize Dwarf Mosaic Virus, estirpe B (MDMV-B), foi identificado predominando em amostras de folhas infectadas, coletadas em diferentes localidades nos Estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais. Os sintomas dessa virose são visíveis particularmente em folhas jovens, como manchas cloróticas entremeadas por manchas verdes, com mesma tona-

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perimentais evidenciaram aumento na incidência da virose, em decorrência da pulverização com inseticidas, o que foi atribuído à irritabilidade dos insetos que, movimentando-se mais, infectaram mais plantas de milho A Faixa Clorótica das Nervuras é causada pelo Rhabdovirus Maize Mosaic. As plantas infectadas por esse vírus apresentam acentuado nanismo, epinastia e finas faixas cloróticas com cerca de 2 ou 3 cm de comprimento, descontínuas ao longo das nervuras secundárias das folhas. Esse vírus é transmitido de maneira persistente pela cigarrinha Peregrinus maidis. Resultados de levantamentos evidenciam que sua ocorrência tem sido rara nas principais regiões produtoras de milho no Centro-Sul do Brasil. Todas essas doenças estão relatadas no Brasil desde a década de 70 e embora possam limitar drasticamente a produção de grãos das plantas de milho infectadas, foram desde então consideradas de pouca importância para a cultura, devido a sua baixa freqüência de ocorrência. Porém, atualmente, principalmente os Enfezamentos constituem fator de preocupação, visto que têm ocorrido em alta frequência, causando perdas significativas na produção de sementes e grãos de milho. Aparentemente, essa mudança de cenário é devido, principalmente, à intensificação do plantio de milho de segunda época, a Safrinha, e à grande variação nas datas de plantio desse cereal, seja nos plantios da Safrinha ou da Safra de Verão. O desenvolvimento de alternativas efetivas para seu controle poderá contribuir para aumentos significativos na produtivi. dade do milho no Brasil. Elizabeth de Oliveira Sabato, Charles Martins de Oliveira e Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo

Sintoma foliar da Virose da Risca do milho

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Novembro de 2002


Algodão mente, eventos climáticos, ou mesmo ataque de pragas e/ou doenças, não permitiram o desenvolvimento adequado da planta, diminuindo seu potencial produtivo. Foram particularmente prejudicadas as posições dos nós 8,9,10 e 13, que apresentaram menos capulhos na posição 1. Houve sim, recuperação da planta, produzindo maior quantidade de algodão no ponteiro. Porém, este algodão será de menor rendimento de beneficiamento e pior qualidade, além de haver um aumento no ciclo da planta que se observa nesta situação. O alongamento do ciclo, em paralelo com o aumento no custo de produção, faz com que parte da produção se desenvolva em época menos favorável, contribuindo para a obtenção de menor produtividade e pior qualidade do produto colhido. Com relação ao peso individual do capulho, não houve desvio do que seria esperado, ou seja, os frutos tiveram desenvolvimento normal. Considerando-se os resultados obtidos de amostragens feitas no terço médio e no terço superior das plantas, combinados com

Mais produtividade

Fotos Pablo Rodrigues

Para obter bons resultados é necessário entendimento profundo do funcionamento da planta e, em função disso, desenvolver uma tecnologia de produção que permita o melhor aproveitamento possível da energia incidente

Para se ter alta produtividade, é necessário que a planta produza capulhos na primeira, segunda e terceira posições

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Cultivar

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os últimos anos, a produtividade média de algodão no Brasil tem crescido, em função da utilização de cultivares mais produtivos e com maior rendimento de beneficiamento, mais o emprego de tecnologias avançadas. Entretanto, ainda há espaço para que se obtenha, nas condições brasileiras, produtividades médias acima das que se vem obtendo. Até 1995, as médias brasileiras eram da ordem de 1.200 a 1.300 kg /ha. A partir de 1995, com desenvolvimento da cultura em novas áreas, com nova tecnologia, a produtividade média brasileira aumentou significativamente, até a estimativa do IBGE em torno de 2800 kg/ha na safra 2000/2001. Bons agricultores, em regiões mais favoráveis do País, têm conseguido produtividades da ordem de 5300 kg/ha. Na Austrália, em locais mais adequados à obtenção de alta produtividade, a média encontra-se em torno de 4000 kg/ ha. No campo, há notícias de se ter conseguido produtiviwww.cultivar.inf.br

dade da ordem de 9000 kg/ha. Em vista das diferentes produtividades que se consegue e do recente desenvolvimento da cultura em novas regiões no Brasil, algumas questões se colocam: 1. O que limita a produtividade em cada situação? 2. Até onde é possível chegar com a tecnologia e variedades atuais? 3. Dentro de cada região brasileira, qual seria o potencial? O algodoeiro é uma planta tida como relativamente ineficiente na conversão da energia incidente em produtividade (Beltrão e Azevedo, 1993), e aspectos fundamentais da fisiologia da planta são difíceis de serem modificados. Assim, há necessidade de um entendimento profundo do funcionamento da planta e, em função disso, desenvolver uma tecnologia de produção que permita o melhor aproveitamento possível da energia incidente e, ao mesmo tempo, reduzir as perdas de produtividade. O aproveitamento do maior número de flores, com uma boa distribuição dos frutos na planta tem sido fundamental na obtenção de alta produtividade. No presente traNovembro de 2002

parâmetros obtidos da literatura, foi estimada a produção por posição na planta. De modo geral, à medida que os capulhos estão mais altos na planta e em posi-ções mais afastadas da haste principal, nota-se menor peso médio do capulho e menor rendimento de beneficiamento. Além disso, há piora na qualidade da fibra, que não foi considerada neste trabalho. Pode-se afirmar que os problemas notados na fixação dos frutos acabaram por se refletir na produção de algodão em caroço e, mais acentuadamente, na produção de fibra. Kerby et al (1987) observaram, em algodão com produtividade de 3630 kg/ha, que 66 % da produção estava na primeira posição, 28% na segunda e 6% na terceira posição a partir da haste principal. No Brasil, para a variedade Coodetec 401, produzindo 3580 kg/ha, 73% da produção encontrava-se na 1ª posição, 24% na 2ª e apenas 3% na 3ª posição. No caso presente, 67% da produção, e do valor da produção, encontravam-se na primeira posição, 28% na segunda e 5% na terceira ou maior, mesmo com produtividade bem superior (5405 kg/ha)

...

balho é feita uma análise da distribuição da produção dentro da planta de algodão, inferindo-se possíveis técnicas de manejo que possam aumentar a produtividade, com as variedades atuais e dentro das condições de clima prevalecentes no Brasil.

DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO

Com base em resultados de um experimento conduzido na safra 1999/2000, no Município de Pederneiras,SP, com a variedade ITA 90 no espaçamento de 0,90 m entre linhas e 88.000 plantas ha, foram feitas as estimativas e cálculos dos componentes da produção. A produtividade média do experimento foi de 5405 kg/ha, ou próximo de 360 ha. Com relação à retenção de frutos, os resultados não se distanciam dos observados em geral na literatura, mostrando 65 % dos capulhos na posição um; 28 % na posição dois e 7 % na posição três ou maior. Entretanto, a distribuição dos frutos em relação à altura da planta foi diferente da que seria esperada, representada por uma linha tracejada. Seria esperada maior produção nas posições mais baixas na planta. Assim, fica claro que, provavelNovembro de 2002

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Cultivar

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Soja

esta estrutura de produção se mantém relativamente constante, mantendo certa independência da produtividade. Ela seria muito modificada em função da população (Kerby e Hake, s.d.), que não está sendo considerada neste trabalho. O valor do primeiro e do último ramo reprodutivo são menores em relação aos demais. Isso ocorre, nos ponteiros, em função do menor tamanho dos capulhos e menor rendimento de benefício em função do menor grau de maturidade da fibra nestas posições.

POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

Considerando-se que a distribuição da produção não foi adequada no exemplo discutido, é possível se fazer algumas simulações, admitindo-se que tais desvios não tivessem ocorrido. Tomando-se os resultados do experimento, com 11 nós reprodutivos, com produtividade de 360 ha e admitindo-se melhor distribuição dos capulhos na planta, tem-se as seguintes situações: 1. Em planta com capulhos apenas na primeira posição, com 11 nós reprodutivos, a produtividade seria de 5124 kg/ha (342 ha). 2. Em planta com capulhos apenas na primeira posição, com 12 nós reprodutivos: a produtividade seria de 5583 kg/ha (372 ha). 3. Em planta com capulhos na primeira posição, como as anteriores, mais os capulhos de segunda e terceira posições observados no experimento, a produtividade seria de 7365 kg/ha (491 ha). Deste exercício algumas inferências podem ser feitas: 1. É possível, com a tecnologia e variedades atuais, obter-se produtividades da ordem de 7500 kg/ha(500 ha) , desde que condições de clima e/ou pragas e doenças não provoquem vazios na planta, com posições sem produção. 2. Para produtividades desta ordem, é fundamental a participação das posições 2, e mesmo 3, uma vez que, para que toda a produção viesse da posição 1, seria necessária uma planta muito alta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O alongamento do ciclo aumenta o custo na produção, ocasionando menor produtividade e pior qualidade do produto

Ainda resta a grande questão: Como fazer? É muito claro, na literatura e no exercício feito , que a produtividade é uma função direta do número de capulhos produzidos. O aumento no tamanho do capulho produziria au14

Cultivar

mentos marginais na produtividade. Como aumentar o número de capulhos por hectare? Existe uma relação direta do número de capulhos produzidos por área com a densidade populacional, até populações da ordem de 140.000 plantas/ha (kerby e Hake, s.d.), no Estado da Califórnia. Entretanto, é necessário observar que naquelas condições não há chuvas e a umidade relativa do ar é muito baixa. No Brasil, principalmente em áreas mais úmidas, esta não seria uma solução, uma vez que maiores populações implicariam em menor circulação de ar e maior umidade da cultura, provocando maiores perdas por podridão de maçãs. Plantas mais altas poderiam produzir mais maçãs, mas o auto-sombreamento seria um problema, uma vez que foi demonstrado que

só na primeira posição, mas também na segunda e talvez terceira posições. Considerando-se as limitações da planta (Beltrao e Azevedo, 1993), algumas hipóteses/recomendações podem ser consideradas na obtenção de produtividade da ordem de 7500 kg/ha: 1. Eliminação de limitações do ponto de vista químico e físico do solo e de controle fitossanitário; 2. Semeadura na época correta, procurando adequar as épocas de maior exigência da planta à disponibilidade da região; 3. Emprego de sementes de alta qualidade e vigor, com tratamento contra insetos e fungos, distribuídas por máquinas de boa qualidade; 4. Irrigações, em regiões com histórico de veranico e regiões mais secas; 5. Espaçamento e população. Com menores populações é diminuída a participação da primeira posição na produção, e se consegue melhores condições de trocas do ambiente na cultura com o ambiente exterior. Assim, a população deverá ser ajustada às condições de pluviosidade e umidade relativa da região, procurando-se diminuir as perdas por podridão de maçãs. Conseqüentemente, cada região terá um potencial de produtividade diferente; 6. Altura da planta. Plantas com maior número de nós poderia ser uma solução, mas, com as variedades atuais, isso significaria maior altura, o que não é desejável. O regulador, além de diminuir a altura das plantas, diminui também o número de nós; 7. Uniformidade da cultura. Tem sido muito comum a distribuição irregular de sementes e/ou sementes colocadas a profundidades diferentes, o que implica em plantas de diferentes tamanhos na mesma linha, causando competição e perda de produtividade. Além disso, tem ocorrido desuniformidade na aplicação de corretivos e, principalmente, na aplicação de N, estabelecendo-se regiões com falta e regiões com excesso do . nutriente no mesmo talhão.

Ferrugem à moda gaúcha A ferrugem da soja, uma das doenças mais destrutivas dessa cultura, já chegou a todas as lavouras do Rio Grande do Sul

Pablo Rodrigues

...às dos casos anteriores. Assim, infere-se que

a altura da planta não deve ultrapassar em muito 1,5 vez o espaçamento (Lamas). Assim, na maioria das regiões produtoras de algodão do Brasil, alta produtividade de algodão implica em se produzir capulhos não www.cultivar.inf.br

Ciro A. Rosolem UNESP - Botucatu / SP Novembro de 2002

Leila Costamilan

A

ferrugem asiática da soja é uma das doenças mais destru tivas dessa cultura, no mundo. No Brasil, foi detectada na safra 2000/2001, no Paraná e, na safra seguinte, encontrava-se disseminada nas principais regiões produtoras, causando reduções médias de rendimento estimadas entre 30% e 70%. No Rio Grande do Sul, a doença foi registrada nos municípios de Ciríaco, Condor, Coxilha, Cruz Alta, Ijuí, Passo Fundo, Pontão, São Miguel das Missões, Sertão e Vacaria, o que não significa que não tenha ocorrido em outras localidades. Os agricultores, e mesmo os técnicos, não estavam preparados para recoNovembro de 2002

nhecê-la. Fatores como clima seco e uso de fungicidas para controle de oídio ou de doenças de fim de ciclo da soja dificultaram o pleno estabelecimento da ferrugem e sua identificação. Entretanto, pelas características de rápida disseminação, rápida instalação, agressividade e falta de resistência genética das cultivares de soja mais usadas, pode-se afirmar que houve ferrugem em praticamente todas as lavouras do Estado. Em 2002, no Rio Grande do Sul, a doença tornou-se evidente no mês de abril, afetando principalmente cultivares de ciclo médio ou tardio semeadas em dezembro de 2001. Esse fato está relacionado com um período prolongado de seca www.cultivar.inf.br

nos meses de janeiro e de fevereiro de 2002, quando choveu 67% e 52% abaixo da média normal, respectivamente, o que prejudicou o estabelecimento de ferrugem. Já em março e abril, a precipitação pluvial foi acima da média histórica, o que favoreceu a doença. No município de Ciríaco, distante cerca de 30 km de Passo Fundo na direção de Vacaria, a ferrugem asiática foi detectada no dia 23 de abril de 2002, nas cultivares BRS 154 e BRS 153, semeadas em 15 de dezembro de 2001. Essas cultivares são indicadas para cultivo na região, apresentam alto potencial produtivo e resistência a várias doenças foliares, sendo que BRS 153 tem bom comporta Cultivar

... 15


Leila Costamilan

Folhas da cultivar BRS 154 com severo ataque da ferrugem

... mento ao complexo de doenças de fim

tra, corrigidos pela umidade média. Como resultados, observou-se que o rendimento médio de grãos da cultivar BRS 153, por parcela com ferrugem, foi de 2.337 kg/ha, enquanto que nas parcelas tratadas com fungicida, o rendimento médio de grãos foi de 3.022 kg/ha, representando perda relativa de 23% em função da doença, sendo que o peso de

Leila Maria Costamilan e Paulo Fernando Bertagnolli, Embrapa Trigo José Tadashi Yorinori Embrapa Soja

Paulo Bertagnolli

de ciclo. Além disso, as condições climáticas da região não são favoráveis ao desenvolvimento de doenças de fim de ciclo. Por essas características, não estava programada aplicação de fungicida na parte aérea, nessa lavoura. Entretanto, experimentalmente, foi aplicado fungicida em uma faixa de 60 m de largura, atingindo as duas cultivares, no dia 8 de março de 2002, quando as plantas encontravam-se, aproximadamente, no final do desenvolvimento das vagens e início de formação de grãos, com mistura de tanque dos ingredientes ativos pyraclostrobin (133 g/l) e epoxiconazole (50 g/l), em aplicação terrestre. Após 40 dias, aproximadamente, observou-se grande diferença entre a faixa tratada e o restante da lavoura, em termos de sanidade foliar, com queda prematura de folhas em plantas ainda com vagens e hastes verdes. No Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Trigo, foi detectada a presença de pústulas de ferrugem, confirmando a causa do problema. Na maturação fisiológica, foram colhidas e trilhadas todas as plantas de dez amostras de 4 m2 cada, por cultivar, com e sem tratamento. Registrou-se peso de grãos e de mil grãos por amos-

mil grãos foi reduzido em 12%. Quanto à cultivar BRS 154, a perda relativa foi de 46%, pois as parcelas tratadas renderam 3.015 kg/ha e as parcelas com doença renderam 1.632 kg/ha. Nesse caso, o peso de mil grãos foi reduzido em 22%. Com esses dados, podemos verificar o grande potencial destrutivo da ferrugem asiática. Na lavoura analisada, o principal efeito no rendimento causado pela doença foi a diminuição do tamanho de grãos resultante de desfolha precoce. A cultivar BRS 153 pode ter sido menos afetada por apresentar ciclo mais precoce que o de BRS 154. Segundo análises de especialistas, a expectativa é de que essa doença venha a se tornar importante em regiões de clima ameno e com umidade alta, já que temperatura acima de 30ºC e pouca umidade são desfavoráveis ao seu desenvolvimento. Com a previsão de ocorrência do fenômeno El Niño na safra de verão de 2002/2003, significando incidência de precipitação pluvial acima do normal, e com a facilidade de disseminação da ferrugem, é conveniente que técnicos e agricultores estejam alertas para a possível ocorrência da doença, para sua rápida identificação na lavoura e para toma. da de medidas de controle.

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Cultivar

Lavoura de soja apresentando danos ocasionados pela

www.cultivar.inf.br

Novembro de 2002


AENDA

Defensivos Genéricos

Nossa capa

GLIFOSATO

Dirceu Gassen

Preço em perigo O principal herbicida do País corre sério risco de ter seu preço elevado, devido a um provável monopólio industrial

O

principal herbicida do País, que sozinho representa 30% de todo o volume de defensivos usados na agricultura, corre sério risco de subir de preço em breve. E não é por causa da escalada do dólar em relação ao real ou por inflação do curso atual da economia brasileira. O motivo é bem mais perturbador: MONSANTO e NORTOX, as duas empresas que detêm o duopólio do fornecimento da matéria-prima principal para a fabricação do GLIFOSATO, pretendem simplesmente eliminar a pouca concorrência que existe. Em denúncia apresentada em 2001 ao DECOM Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento, através de provas artificialmente engendradas querem que o governo imponha taxação alta às importações da matéria-prima proveniente da China, último reduto do planeta que não conseguiram dominar. Dizem que os chineses vendem para o Brasil mais barato que vendem lá e que isto provocou prejuízo irreparável à indústria nacional. A importação da China se situa em torno de 6% do mercado nacional deste insumo, mas é um farol no mercado a sinalizar e segurar o preço do produto no baixo patamar que hoje se encontra. Aliás, esse preço baixo foi provocado antes da chegada dos chineses ao país e todos no campo sabem que foi derivado da guerra travada entre MONSANTO e NORTOX quando a segunda quebrou o monopólio da primeira. Agora, que já mitigaram as feridas das batalhas, fazem aliança para enfrentar novos contendores que ameaçam o du-

opólio estabelecido. Esqueceram. Se auto proclamaram de únicas indústrias brasileiras que fabricam o produto. Não informaram que as outras empresas nacionais que importam a matéria-prima também fazem uma reação química e todo o processo de formulação antes de comercializar ao mercado. Esqueceram. Não apresentaram o preço vendido na China, alegando que lá não é uma economia de mercado. Ora, se não é, por que as multinacionais estão construindo fábricas lá? Encontraram um país análogo , a Índia e, a partir do preço comprado pelos pequenos agricultores daquele país (a agricultura da Índia é toda constituída de minifúndios), engenheiraram o custo da matéria-prima através de parâmetros absolutamente passíveis de manipulação. Não informaram que a Índia consome pouco herbicida (em minifúndios é mais razoável fazer capina manual), daí o preço do produto final ser mais elevado que no Brasil, ou seja, não há volume em escala que justifique diminuir o preço. Esqueceram. Reportaram grandes prejuízos em seus negócios por conta do baixo preço. PORTANTO, IRÃO AUMENTAR O PREÇO TÃO LOGO A CONCORRÊNCIA DESAPAREÇA, é o que se pode deduzir. Mas, o fato é que mais uma vez esqueceram de informar a presença de outros produtos em suas linhas comerciais. Ora, é fácil alocar-se custos na medida dos interesses entre os produtos. Uma boa e séria auditoria analisando os resultados dessas empresas desnudaria a verdade oculta. O governo, atônito, está entre Deus e o Diabo, pois sabe que a demanda das denunci-

antes deixa no ar um aumento de preço do produto e sabe também que as provas não são consistentes; mas, como desagradar à poderosa multinacional MONSANTO que acaba de construir uma grande fábrica de GLIFOSATO na Bahia, com capacidade para atender toda a América Latina? É economia de divisa pela diminuição da conta da importação e ainda alguns trocados a mais na conta da exportação, afora os empregos da nova fábrica e o poder político que tais fatos proporcionam. O que faria você, leitor? Vou lhe dar uma pista. Se o preço do GLIFOSATO dobrar, por exemplo, todos esses benefícios da fábrica desaparecem em um passe de mágica, os custos do plantador de soja, laranja, cana-de-açúcar, milho, café, feijão etc. subirão, e o que ocorrerá com o fruto das colheitas? Vou lhe dizer: nas culturas de consumo doméstico haverá uma pressão para transferência desses custos para a dona-de-casa nas visitas ao supermercado e, nas culturas de exportação, as margens de lucro do agricultor tenderão a sumir pelo ralo para sustentar a competitividade internacional. O pessoal da fábrica sairá ileso, talvez com algum sorriso debochado. É isso o que acontecerá. E a sociedade que pague tudo. Até quando assistiremos calados? Eu estou fazendo a minha parte, alertando-o; cabe a você, leitor, fazer a sua. Escreva ao seu Secretário da Agricultura, à sua Federação da Agricultura, ao seu Sindicato, ao Presidente de sua Cooperativa, ao seu Deputado Estadual e Federal. Exerça seu direito de cidadania. Não deixe essa iminente ameaça ao seu bolso e a . de seu País tomar forma.

Praga subestimada Na China é animal de estimação. No Brasil muitos acham que ele dá sorte. No entanto, embora se desconheça seu poder de destruição, o grilo é uma praga que pode devastar lavouras de soja, milho e girassol

O

s grilos são insetos que vivem em ambientes com vegetação rasteira, em campos nativos ou em lavouras com deficiente cobertura vegetal. São mais freqüentes em áreas de pastagens e em lavouras de pousio, sem cultivo de cobertura nos meses de inverno. Na Austrália e na Nova Zelândia o grilo Teleogryllus commodus é importante praga em áreas de pastagens. Estudos determinaram que cada inseto consome de 30 a 130 mg de matéria seca por dia em pastagens. Populações de um grilo/m² podem consumir o equivalente a 0,3 a 1,3 kg de matéria seca/hectare/dia. No Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai os grilos causam danos mais severos em áreas de lavouras sob plantio direto cultivadas sobre pastagens e sobre áreas Novembro de 2002

de pousio de inverno com pouca vegetação. Os grilos ocorrem em todas as regiões de agricultura do Brasil. O grilo-preto (Gryllus assimilis) é a espécie mais citada na bibliografia brasileira. Durante o dia, pode ser encontrado na superfície do solo, sob restos culturais. Quando ocorre qualquer distúrbio no ambiente em que se encontra, desloca-se caminhando ou saltando. Ocorre como praga em hortas e jardins. Em lavouras extensivas, raramente atinge o nível de dano. O grilo-marrom (Anurogryllus muticus) era pouco conhecido em lavouras. É habitante nativo de ambientes com pastagens. Durante o dia, permanece dentro de galerias e passa despercebido pelo agricultor. Durante a noite, corta plântuwww.cultivar.inf.br

las, com sintomas que são atribuídos à lagarta-rosca, formigas e besouros. Caracteriza-se por cavar galerias com 20 a 30 cm de profundidade no solo e consumir as plantas ao redor da galeria onde vive. O grilo-marrom ocorre em todas as regiões de agricultura do Brasil e tem importância econômica maior do que os corós e outras pragas subterrâneas.

CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS

O ciclo biológico do grilo-marrom completa-se em um ano. A postura ocorre nos meses de outubro a dezembro. Os ovos e as ninfas podem ser encontradas em dezenas, nas galerias cavadas pelos adultos. Nas áreas infestadas, percebe-se a presença de ninfas pequenas com até 5 mm de comprimento, no início do verão. Cultivar

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... Com o desenvolvimento das ninfas, ocor-

re o abandono da galeria cavada pelos grilos adultos e a construção de galerias individuais. No outono, com o início de períodos de frio no sul do Brasil ou de estiagem nos cerrados, as ninfas aprofundam as galeri-

as, depositando montículos de terra na superfície do solo. Cada fêmea deposita aproximadamente 80 ovos no fundo da galeria onde vive. As ninfas nascem nesse ambiente e são alimentadas pelos grilos adultos. O grilo-marrom permanece no interi-

nação das culturas de verão. Durante períodos de estiagem e de temperaturas noturnas elevadas, os grilos consomem mais plantas e as mesmas reduzem o crescimento, resultando em maior intensidade de danos. Períodos de chuvas e temperaturas baixas determinam a redução na atividade dos grilos e permitem o crescimento das plantas, reduzindo a intensidade de injúrias às plantas. Os grilos consomem as plântulas ao redor da abertura da galeria. As características de danos do grilo-marrom são de pequenas manchas sem plantas. Em cereais de inverno aparecem manchas com 30 cm de diâmetro sem plantas. Em milho e girassol consomem as plantas de 1 m de fileira. Em soja e feijão, os danos caracterizam o desaparecimento de plantas em 0,5 m de fileiras. Na primavera, os danos na germinação de milho e soja são causados pelo corte de plântulas durante a noite. Os grilos causam danos mais severos em períodos de seca e de temperaturas noturnas elevadas, quando são mais vorazes. Chuvas e temperaturas baixas determinam a redução na atividade dos grilos e permitem o crescimento das plantas, tolerando eventuais injúrias.

Fotos Dirceu Gassen

Antes mesmo de brotar, a semente de soja serve de alimento ao inseto

CONTROLE

Plântula cortada: sintoma atribuído à ataque de formigas e lagartas. Na verdade foi alvo de grilo marron

or da galeria subterrânea durante o dia, bloqueando a entrada com terra. Depois de chuvas, os grilos escavam o solo, aprofundando as galerias e depositando montículos de terra sobre a entrada, na superfície do solo. Esses montículos caracterizam a presença da praga na lavoura. A galeria do grilo é construída com inclinação de 45o no perfil do solo. Na superfície, apresenta duas aberturas na forma de Y . Uma abertura de entrada e saída de material e outra abertura camuflada para fuga em caso de ataque de predadores. No período entre abril e maio, a contagem de montículos de terra sobre a abertura de entrada da galeria do grilo permite determinar a população e a distribuição do inseto nas lavouras. Em cada galeria com montículo de terra vive um grilo adulto até a oviposição e o nascimento das ninfas (outubro a janeiro), causando danos nos meses de inverno e com maior intensidade na germinação das culturas de milho, de soja e de feijão.

portam para dentro das galerias, onde também armazenam palha e sementes. Os danos são causados pelo consumo de sementes, antes da germinação e, principalmente, pelo corte de plântulas. Os períodos de dano ocorrem no ouFotos Dirceu Gassen

DANOS

Galerias com duas aberturas: uma para entrada e saída e outra para fuga, em caso de ataque de predadores

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Cultivar

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Os danos de grilos são confundidos com os causados pelas lagartas cortadoras de plântulas, de formigas e de besouros. Os grilos cortam as plântulas e as transNovembro de 2002

A aranha, lacrais, reduvídeos e carabídeos são predadores naturais do grilo

tono (abril e maio), quando as ninfas cavam o solo aprofundando as galerias. E com maior intensidade na fase de nascimento das ninfas, quando os grilos adultos nutrem a prole. Esse período (setembro a dezembro) coincide com a germi-

O controle de grilos em lavouras extensivas é considerado difícil pelo hábito que a praga tem de proteger-se e armazenar alimento nas galerias. Os agentes de controle biológico natural mantêm as populações de grilos em equilíbrio.

...


Fotos Dirceu Gassen

Falhas características do ataque de grilos em lavoura de soja

...

Dentro de galerias de grilos, freqüentemente são encontradas aranhas, lacraias, reduvídeos e carabídeos predadores. Fungos que causam doenças em grilos se desenvolvem quando são cultivadas plantas com ampla cobertura do solo e vegetação exuberante, como o nabo forrageiro. A cobertura de solo, nos meses de outono e inverno, com plantas de vegetação abundante cria ambiente favorável aos fatores de controle biológico natural e desfavoráveis para a praga. Nas áreas em que se constata populações elevadas de gri-

los no período de colheita das culturas de verão (março a abril) sugere-se semear uma cultura de cobertura de solo, imediatamente depois da colheita, para desenvolver ambiente desfavorável ao desenvolvimento da pragas. A aplicação de inseticidas fosforados na parte aérea das plantas resulta em controle insatisfatório. A aplicação de inseticidas piretróides controla parte da população e mantém o restante dentro das galerias por alguns dias, protegendo a cultura contra a praga e permitindo o crescimento das plantas. O inseticida fipronil, em aplicação aérea, apresenta os melhores resultados no controle de grilos. O uso de iscas envenenadas é outra alternativa de controle da praga. Pode-se usar iscas contendo inseticida fosforado ou carbamato, farelo de sorgo, trigo ou milho, açúcar ou melaço e água. A isca pode ser distribuída na lavoura em doses de 3 a 5 kg/ha. Resultados melhores podem ser alcançados em períodos com pouca umidade no solo e de estiagem. A eficiência da isca é maior nas fases depois da colheita das culturas de verão ou depois da dessecação de inverno, quando não há alternativa de alimento para os grilos. Se a isca for aplicada após a germinação das plantas cultivadas, os grilos poderão optar pelo vegetal, evitando as . iscas envenenadas.

Dirceu Gassen, Diretor técnico - Cooplantio

Grilo tomado por fungo que se desenvolveu por causa da cobertura intensa do solo no período do outono

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Cultivar

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Novembro de 2002


Fotos Cultivar

Sorgo para 620 mil toneladas neste período (ANFAL, Perfil 2001). Sob a ótica do agricultor e considerando-se o aspecto dentro da porteira , observa-se para o sorgo que questões básicas como a transferência de tecnologia e, principalmente, a melhoria na rentabilidade desta cultura ainda permanecem crônicos, sendo apontados como deficientes em pesquisas de opinião realizadas junto a produtores rurais.

A QUEBRA DO PARADIGMA

Para que ocorram novos saltos na área plantada e na produção de sorgo no Brasil, é preciso trabalhar na melhoria da rentabilidade (leia-se atratividade) do sorgo frente às opções que existem para plantio na safrinha. Para isto, sugere-se que alguns aspectos técnicos, econômicos e políticos façam parte da agenda de discussões de agora em diante.

Sorgo na safrinha pode garantir bons resultados na colheita, mesmo com estiagens prolongadas

I - ASPECTOS TÉCNICOS

Novo perfil econômico A

história recente do setor agropecuário do nosso país tem dado inúmeros exemplos de evolução e adaptação ao novo cenário mundial de produção de grãos e de proteína animal. A cultura do Sorgo, que por muitos anos foi considerada como minor crops , também passou por profunda revisão de seu modelo de cultivo e utilização no Brasil. A história deste cereal pode ser contada em três momentos distintos. O período entre 1970 e 1990 foi marcado pela busca do correto posicionamento técnico e comercial de sorgo granífero e forrageiro. Naquela época também se deu a implantação dos bancos de germoplasma públicos e privados e o processo de aprendizagem de produção de sementes em qualidade e quantidade suficientes. A área plantada e produção ficaram por muitos anos es24

Cultivar

tagnadas ao redor de 180 mil hectares e 250 mil toneladas de grãos, respectivamente (Figura 1). Durante a década de 90, vários fatores técnicos, estruturais e setoriais propiciaram a alavancagem do agronegócio do sorgo, com o crescimento de área e produção principalmente no Brasil Central. Inicialmente recomendada para plantios de verão, a cultura passou a ser cultivada nos plantios de safrinha após soja ou milho, onde sua superioridade em relação à tolerância à seca poderia ser evidenciada. Assim, o sorgo granífero deixou de competir por área e rentabilidade com cultivos tradicionais de verão, como milho, soja e feijão. Além dos benefícios de rotação de cultura, a rebrota após a colheita propiciou boa produção de palhada, auxiliando o posicionamento desta cultura em áreas com adowww.cultivar.inf.br

frinha em plantios mais cedo deve ser revista e ajustada à expectativa de produção; d) Mais opções de cultivos de verão: Visto que 94% do sorgo granífero é cultivado na safrinha e em sucessão a culturas de verão, e que a antecipação do plantio pode melhorar em muito sua rentabilidade, notase a necessidade de mais pesquisas com cultivares de soja precoces cujo rendimento seja igual ou melhor que cultivares tradicionais. Assim, uma maior área estaria disponível para o plantio de safrinha dentro da época proposta. Na safra 2000/01, cerca de 71% da área plantada com soja foi com variedades de ciclo médio e tardio (Kleffmann, Pesquisa Amis Soja, 2001). A Figura 2 sintetiza os aspectos mencionados, ao mesmo tempo em que imprime uma interdependência entre eles. Na verdade, estes temas já são conhecidos de técnicos, pesquisadores e até de

ção de Plantio Direto. Também tiveram caráter decisivo as ações institucionais do grupo Pró-Sorgo/APPS junto às integrações de aves e de suínos e fábricas de ração, divulgando o potencial de utilização de sorgo granífero como mais uma opção de ingrediente energético para formulação de rações balanceadas para ruminantes e animais monogástricos. Resultado? Entre os anos de 1994 e 2000 a área cultivada com sorgo granífero pulou para 555 mil ha (com picos de 780 mil) e o forrageiro para 232 mil ha. A produção de grãos ultrapassou 1 milhão de toneladas (Figura 1). Quem viajou nos últimos anos durante o outono para as regiões do Norte de São Paulo, Triângulo Mineiro, Goiás, MS e MT notou mudanças na paisagem rural. Apesar do salto de patamar, infelizmente Novembro de 2002

a área e produção encontram-se novamente estagnadas há dois anos. Estamos, porém, diante de um novo desafio. O que impede a expansão da área plantada com este cereal? Onde estão os gargalos? Até onde pode-se chegar? Estas questões foram amplamente discutidas por ocasião do XXIV Congresso Nacional de Milho e Sorgo ocorrido na cidade de Florianópolis, em setembro último. Pelo lado do mercado, estamos assistindo crescente demanda por grãos por parte das integrações de aves e suínos e indústrias de ração para suportar o rápido avanço de produção e consumo de carnes. A fabricação de ração balanceada passou de 14,8 para 37,8 milhões de toneladas entre 1990 e 2001. O valor deste mercado chega a US$7 bilhões. O consumo de grãos de sorgo em rações, que era praticamente nulo, passou Novembro de 2002

a) Época de plantio: desde que foi posicionado para plantio na safrinha no Brasil Central, o sorgo acabou sendo semeado em meados de março ou até mesmo em início de abril, apostando-se em sua tolerância à seca. Isto tem limitado de forma significativa a produtividade da cultura e principalmente sua rentabilidade. Nota-se na prática que a produtividade média está em torno de 2,4 ton/ha em plantios de março/abril, quando diversos ensaios de épocas de plantio têm demonstrado que pode-se obter produtividades acima de 5 ton/ ha, simplesmente antecipandose o plantio para fevereiro ou início de março; b) Híbridos mais produtivos: atualmente encontram-se disponíveis no mercado híbridos tolerantes às doenças e com potencial genético elevado. Isto pode ser comprovado através dos resultados do Ensaio Nacional de Sorgo Granífero conduzido pela Embrapa Milho e Sorgo, ensaios em faixa conduzidos por companhias de sementes, bem como produtividades comerciais de agricultores que já estão adotando estes materiais; c) Adubação: Apesar de poucos trabalhos de pesquisa sobre resposta à adubação na cultura do sorgo, alguns dados mostram que a extração de nutrientes pela lavoura de sorgo por tonelada de grãos é muito próxima à extração de milho. Isto sugere que a adubação para o sorgo sawww.cultivar.inf.br

Mercado atual dispõe de híbridos mais produtivos, tolerantes a doenças e com potencial genético elevado

muitos agricultores. Estes últimos sentiram na prática que este é o caminho para aumentar a rentabilidade da cultura do sorgo granífero quando cultivado em plantios de sucessão na safrinha do Brasil Central. Cultivar

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Cultivar

estresses hídrico e de temperatura. Um novo fato, fruto de observação ao longo dos últimos anos, tem sido a ocorrência da safrinha normal e safrinha seca . As safrinhas de 1996, 1997, 1998 e 2001 foram exemplos de safrinhas normais . Já as safrinhas de 1999, 2000 e de 2002 são exemplos de períodos castigados pela seca, especialmente no Brasil Central. Nos Quadros 2 e 3 são apresentados duas simulações de plantio de safrinha com milho e sorgo. Considerou-se preços médios para o período de colheita, e manteve-se para o sorgo a relação de 77% do preço do milho. Ressalva-se que preços e produtividades variam de ano para ano, tendo o exemplo anexo apenas caráter ilustrativo do conceito. No Quadro 2 tem-se o manejo tradicional, com milho plantado em fevereiro e sorgo em meados de março, ou até início de abril. Caso ocorra um ano normal , o agricultor pode obter bons ganhos na lavoura de milho e ganhos menores na lavoura de sorgo. Porém, se ocorrer um ano com safrinha seca , este mesmo agricultor perderá a lavoura de milho porque não haverá umidade suficiente, e perderá a lavoura de sorgo, porque esta foi plantada muito tarde, e também não obteve umidade suficiente. Por outro lado, no Quadro 3 apresentase a situação onde tanto o milho quanto o sorgo foram plantados em fevereiro, dividindo a área disponível do agricultor. Nesta situação, se a safrinha for normal , pode-se obter bons ganhos tanto em milho quanto em sorgo. Caso ocorra uma safrinha seca ,

Híbridos modernos, com adubação adequada, toleram melhor o estresse hídrico em caso de estiagem prolongada

II ASPECTOS ECONÔMICOS

O custo operacional de produção e a expectativa de rentabilidade da lavoura de sorgo devem ser elaborados partindo-se da premissa que antecipando-se o plantio, a produtividade poderá ser elevada a patamares bem acima da média obtida atualmente. Do contrário, a cultura estará sempre em desvantagem em relação às outras opções de cultivo de safrinha, como o próprio milho, o girassol e o feijão. O Quadro 1 apresenta o custo de produção e rentabilidade por hectare comparativo entre milho e sorgo em Goiás, na safra 2002, cujo plantio de milho ocorreu na primeira quinzena de fevereiro e o de sorgo em meados de março, ou seja, o manejo utilizado atualmente. Nota-se clara vantagem de rentabilidade por hectare para a lavoura de milho, com a de sorgo apresentando baixa produtividade.

III ASPECTOS POLÍTICOS

A adoção de novas práticas de manejo envolvendo os aspectos técnicos e econômicos acima discutidos também depende de ações políticas que envolvem toda a cadeia produtiva de proteína animal, ou seja, antes, dentro e depois da porteira da fazenda. a) Órgãos de governo e políticas públicas: deve-se buscar uma política agrícola abrangente e similar às destinadas ao milho. Os mesmos mecanismos modernos de financiamento e comercialização da safra deverão ser observados. Cabe destacar o caráter estratégico do sorgo granífero, na medida em que sua maior produção e utilização por parte das indústrias podem por um lado amenizar problemas de abastecimento de milho em anos cuja oferta seja limitada ou afetada por estresses climáticos e, por outro, pode gerar excedentes exportáveis deste cereal ao longo dos anos; b) Empresas de pesquisa e produtores de sementes: mais atenção por parte das empresas deveria ser dada ao sorgo. Histori-

Figura 1

...

pode-se perder a lavoura de milho, mas ganha-se com a lavoura de sorgo, que com o plantio antecipado, híbridos modernos e com adubação recomendada consegue naturalmente tolerar melhor o estresse hídrico. Abandona-se assim o ciclo vicioso do perde-perde em anos cuja estiagem se prolonga. E caso a safrinha seja normal , obtém-se a situação de ganha-ganha, mantendo-se os lucros com milho e com aumento da rentabilidade do sorgo. O agricultor passa a diluir o risco agrícola. Além de aumentar a rentabilidade da cultura de sorgo, funciona como um tipo de seguro para a safrinha. É importante ressaltar que um maior número de pesquisas sobre o retorno econômico comparativo envolvendo épocas de plantio na safrinha versus cultivares, ciclo de maturação e adubação devem ser conduzidas em diversos locais, com objetivo de prover maior sustentação técnica.

VARIAÇÕES CLIMÁTICAS

A época chamada de safrinha por si só é um período marginal, de 26

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...


Quadro 1:

Comparação de custo de produção e rentabilidade por hectare de milho e sorgo plantados na safrinha de 2002 no Estado de Goiás. Manejo tradicional com a lavoura de milho plantada em fevereiro e a de sorgo plantada em meados de março. CUSTO OPERACIONAL DE MILHO E SORGO SAFRINHA - SAFRA 2002 MILHO SORGO I - INSUMOS 106,40 sementes 44,00 123,20 fertilizantes (somente plantio) 70,00 77,23 defensivos 28,65 II - SERVIÇOS 66,83 plantio, adub.,colheita 48,57 III- OUTROS DESEMBOLSOS 52,50 21,00 transp., secagem 18,48 seguridade social (2,20%) 6,34 444,64 CUSTO TOTAL 218,56 iv- RECEITA 840,00 milho 70 sc/ha x R$12,00/sc sorgo 30 sc/ha x R$9,60/sc 288,00 395,36 LUCRO/ PREJUÍZO 69,44 47,07 MARGEM BRUTAL OPERACIOAL (%) 24,11

Quadro 2:

...camente maiores esforços com recursos financeiSimulação de custo de produção e rentabilidade por hectare de lavouras de milho e sorgo, com a lavoura de milho plantada em fevereiro e de sorgo em meados de março. SAFRINHA milho (R$)

Quadro 3:

1 - RECEITA 1.1. sorgo: 50 sc x R$7,00/sc 1.2. milho: 90 sc x R$9,00/sc 810,00 1.3. sorgo: 30 sc x R$7,00/sc 1.4. milho: 65 sc x R$9,00/sc 2 - CUSTO OPERACIONAL 2.1. sorgo: 32 sc/ha 2.2. milho: 66 sc/ha 594,00 3 - LUCRO/PREJUÍZO 216,00 4- MARGEM BRUTA 26,67 OPERACIONAL %

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SAFRINHA SECA milho (R$) sorgo (R$)

350,00

220,00 130,00 37,10

585,00

210

594,00 -9,00 -1,54

220,00 -10,00 -4,76

Simulação de custo de produção e rentabilidade por hectare de lavouras de milho e sorgo, com a lavoura de milho e de sorgo plantadas em fevereiro.

1 - RECEITA 1.1. sorgo: 70 sc x R$7,00/ sc 1.2. milho: 90 sc x R$9,00/ sc 1.3. sorgo: 60 sc x R$7,00/ sc 1.4. milho: 65 sc x R$9,00/ sc 2 - CUSTO OPERACIONAL 2.1. sorgo: 40 sc/ha (100 kg/ha 8-28-16) 2.2. milho: 66 sc/ha 3 - LUCRO/PREJUÍZO 4- MARGEM BRUTA OPERACIONAL % 28

NORMAL sorgo (R%)

SAFRINHA milho (R$) 810,00

NORMAL sorgo (R%) 490,00

585,00 280,00

594,00 216,00 26,67

SAFRINHA SECA milho (R$) sorgo (R$)

210,00 42,86

594,00 -9,00 -1,54

420,00 280,00 140,00 33,33

ros, pessoal técnico e gerencial têm sido alocados para o business de sementes de milho; c) Indústria de rações e integrações: algumas integrações já começam a fazer o trabalho de fomento ao cultivo desta cultura, sinalização do volume e preço futuro de compra e, em alguns casos, até o pagamento antecipado pela produção. Além disso, existem regiões tradicionais de avicultura e suinocultura que ainda desconhecem a viabilidade de utilização do sorgo como ingrediente de rações, indicando que ainda pode-se ampliar o consumo deste cereal.

CONCLUSÃO

A agricultura evoluiu muito em tecnologia e produtividade, o que pode ser medido pelos atuais recordes de produção de grãos ao redor de 100 milhões de toneladas contra 60 no início da década de 90, sem aumento de área cultivada. Também contribuiu para este avanço a adoção de modernos mecanismos de financiamento e comercialização das safras. No setor de pecuária, o país detém tecnologia de ponta . Produz 15 milhões de toneladas de carnes de bovinos, aves e suínos, abastecendo o mercado interno e de exportação, sem falar em ovos e leite. O resultado de todo este esforço? Segundo projeções da CNA, a agropecuária deverá fechar o ano de 2002 com faturamento de R$ 104 bilhões. A cultura de sorgo granífero está diante de um novo desafio para aumentar sua área e produção de grãos, deixando de ter um caráter marginal. O aumento de área dependerá da renda (e da atratividade) que a cultura oferecer aos agricultores. Esta depende diretamente da produtividade obtida. O aumento da produção será conseqüência. E a crescente demanda por grãos energéticos pela indústria de carnes trará a . desejada sustentabilidade do negócio . Francisco José Mitidieri, Engenheiro Agrônomo

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Fotos Jaime Fonseca

Arroz

Coletar e preservar

variedades comerciais em uso no Brasil e futuros lançamentos. Assim, é importante a preservação desses materiais em bancos de germoplasma existentes. Na expedição de coleta, inicialmente, são feitos contatos prévios com Empresas Estaduais de Pesquisas, Cooperativas, Secretarias de Agricultura, Universidades, Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural e outros órgãos, no sentido de se obter informações a respeito da cultura no Estado de Goiás, principalmente com relação à época de colheita, aos municípios produtores e às áreas prioritárias para a coleta. Além das informações prestadas, normalmente, pesquisadores ou técnicos desses órgãos também participam das expedições.

ve suas sementes para consumo ou plantio. Neste caso, a amostra é coletada ao acaso, variando de poucas sementes até um máximo de 200g. Como elemento facilitador nas coletas, o sistema de troca de sementes também é utilizado, ou seja, ao resgatar o germoplasma do produtor, este recebe em troca uma variedade melhorada adaptada e recomendada para o Estado ou região. No momento da coleta, faz-se entrevista com os agricultores, anotando-se, em caderneta de campo, o local de coleta, os nomes do produtor e da propriedade, o nome comum da variedade, o município, o tamanho da lavoura, a origem e o tempo que cultiva a variedade, o sistema de cultivo e outros dados de importância.

A preservação das variedades tradicionais de arroz é importantíssima para o melhoramento genético

A

procura constante por maior produtividade e melhor qualidade dos produtos vegetais, bem como a expansão da área de plantio, colocam em constante perigo os recursos genéticos cultivados ou existentes na natureza. Essa ameaça ocorre com a espécie Oryza sativa L. pois, com o desenvolvimento tecnológico da cultura do arroz, a substituição das antigas variedades locais por novas variedades tornou-se uma prática comum nas regiões de cultivo e isso pode acarretar perda de genótipos com potencial de utilização nos programas de melhoramento.

Arroz selvagem coletado no município de Uruana (GO)

MODO DE COLETA

POTENCIAL DA VARIEDADE

As coletas são feitas preferencialmente a campo, quando a cultura está na fase de colheita. Neste caso, sementes de várias plantas (3 panículas por planta até um total de 50 plantas) são coletadas e embaladas juntas no intuito de formar uma amostra composta, que represente a variabilidade genética da população. Em alguns casos, sementes de plantas individuais também são coletadas em separado, quando se observa alguma característica específica desejável. As panículas são trilhadas preferivelmente no local ou em local mais apropriado. Eventualmente, as coletas podem ser efetuadas em feiras livres, armazéns, cooperativas, locais ou indústrias de beneficiamento (que realizam as operações de descasque e polimento dos grãos), paióis, ou em qualquer local onde o agricultor conser-

Ciente da importância da conservação desses recursos genéticos regionais e objetivando minimizar a perda crescente desse material, bem como visando a sua utilização na pesquisa a curto, médio ou longo prazo, a Embrapa Arroz e Feijão (CNPAF), sediada em Santo Antônio de Goiás, em cooperação com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN), sediada em Brasília-DF, vem desenvolvendo um amplo programa de coleta de germoplasma de variedades regionais de arroz em todo o Território Nacional. Essas variedades tradicionais, geralmente de ampla variabilidade genética e com potencial de adaptação às condições de cultivo brasileiro, representam uma fonte genética de inestimável valor ao melhoramento de plantas, em particular à melhoria das 30

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Na Embrapa Arroz e Feijão, o material coletado é desinfetado por fumigação à base de fosfina. Posteriormente, cada amostra é registrada no Banco Ativo de Germoplasma (BAG-Arroz), onde recebe um número de entrada (número de acesso), para facilitar a sua utilização. Na época de plantio da cultura, todo material é plantado nas dependências da unidade para multiplicação e caracterização multidisciplinar. O germoplasma portador de alguma característica de interesse é incluído no programa de melhoramento genético de arroz. Após as atividades de campo, cerca de 40% das sementes de cada amostra coletada é remetida à Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, para conservação a longo prazo em câmara de conservação com ambiente controlado. No Estado de Goiás, foram realizadas três expedições, cujos participantes foram

...

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31


da Embrapa Arroz e Feijão ... pesquisadores e técnicos da Extensão Rural. A primeira

Vista do interior da câmara de conservação do Banco Ativo de Germoplasma

Santa Helena de Goiás, Caçú, Cachoeira Alta, Jataí, Itarumã, Goiatuba, Pontalina, Piracanjuba, Hidrolândia, Chaveslândia (MG), Santa Vitória (MG), Gurinhatã (MG), Capinópolis (MG) e Ipiaçú (MG). A exemplo da expedição anterior, as propriedades visitadas eram de pequenos agricultores que cultivavam o arroz para consumo familiar e utilizavam as variedades tradicionais com ampla variabilidade no tipo de grão, altura de planta, ciclo cultural etc. Raramente compravam sementes e o sistema de cultivo predominante era o de terras altas. As variedades que apareceram no percurso percorrido foram: Pratinha Branco, Cachinho Miúdo, Amarelão, Brejeiro Branco, Carioquinha Amarelo, Agulhinha Ferrujo, Bico Preto, Ferrujão, Doidão, Agulha, 4 Meses Antigo, Guaíra Amarelo, Jaguary, 60 Dias ( variedade de grãos dourados e super precoce com ciclo cultural em torno de 90 dias), Arroz Preto, Beira CamFotos Jaime Fonseca

foi realizada no período de 07/04/86 a 12/ 04/86, tendo sido rodados cerca de 800Km. Na ocasião, foram percorridos 23 municípios pertencentes as mesoregiões Centro e Noroeste Goiano. São eles: Goiânia, Trindade, Santa Bárbara de Goiás, Anicuns, Itaberaí, Americano do Brasil, Goiás, Mossâmedes, São Luiz de Montes Belos, Muiporá, Jussara, Itapuranga, Carmo do Rio Verde, Ceres, Rialma, Nova Glória, Itapací, Rubiataba, Rianápolis, Jaraguá, São Francisco de Goiás e Petrolina de Goiás. Nas propriedades visitadas, foi encontrada uma ampla variabilidade genética de variedades tradicionais cultivadas em condições de terras altas (sequeiro). Geralmente, o produtor não comprava sementes, trocava com vizinhos ou guardava de ano para ano. Alguns nomes regionais fornecidos pelos produtores ao arroz coletado foram: Agulhinha, 4 Meses, 5 Meses Branco, Bico Ganga, Bico Preto, 100 Dias Amarelo, Cana Roxa, Guaíra, Amarelo Bico Preto, Agulhinha Amarelo, Agulhinha do Brejo, Bico Roxo, C-12, Guaíra Amarelo, Alvorada, Carioquinha, Iguape, Rendoso, Arroz Comum, 3 Meses, Douradão, Amarelão, Iguapão, Bico Branco, Sempre Verde, Pratinha, Quebra Coco e Arroz Preto. Segundo informações, essa variedade de glumelas (cascas) marrom escuras era cultivada há mais de 50 anos nos municípios de Itapuranga e Ceres. Ao todo, foram coletadas 138 amostras, das quais apenas três, denominadas de Agulhinha, são plantadas em várzeas ou áreas alagadas (brejo). A segunda expedição foi realizada no período de 06/05/87 a 12/05/87. Foram rodados 1.100Km e percorridas as mesoregiões Centro e Sul Goiano e, também, parte do triângulo mineiro. Ao todo, foram visitados 21 municípios: Guapó, Varjão, Indiara, Edéia, Jandaia, Paraúna, Rio Verde,

Campo de introdução onde o germoplasma é caracterizado e avaliado 32

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po, Ferrão Preto, Cana Roxa, Rabo de Carneiro, Bico Claro, Maranhão, Amarelo 60 Dias, Guapão, Fartura, Noventinha, Pratão Precoce e 4 Meses Bico Roxo. O número de amostras coletadas foi de 149, sendo apenas duas cultivadas em áreas de várzeas e as demais de terras altas. A terceira coleta teve a duração de quatro dias e foi realizada durante o mês de maio de 1988. Teve por objetivo coletar arroz silvestre, que é encontrado em veredas (áreas alagadas) de algumas regiões do Estado. Na ocasião, foi visitada a Fazenda Morro do Sapato, situada no distrito de Uruíta e pertencente ao município de Uruana. Também foram exploradas algumas regiões de várzeas, no município de Formoso do Araguaia (hoje pertencente ao Estado do Tocantins). Do arroz silvestre encontrado, foram coletadas várias plantas para constituir uma amostra com representatividade da área onde estava presente. Algumas características identificadas no germoplasma coletado foram: plantas altas com folhas fortemente pilosas, panículas com ramificações abertas constituídas de grãos finos com glumelas escuras e aristas pronunciadas, ciclo longo e degrane fácil da panícula. Estudos recentes mostram que o arroz silvestre dos Estados de Goiás e de Tocantins é da espécie Oryza glumaepatula. Para os próximos anos, pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão, ligados à área de Recursos Genéticos, pretendem fazer novas excursões nas regiões exploradas, para verificar se as variedades tradicionais de arroz ainda estão em poder dos agricultores, bem como avaliar o grau de Erosão Genética (perdas de . genes) sofrida pela cultura. Jaime Roberto Fonseca, Embrapa Arroz e Feijão

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Luiz Salles

Café

Mosca-da-fruta da espécie Ceratitis capitata ataca os cafezais brasileiros e compromete a qualidade das lavouras atacadas

Mosca no café A

mosca-das-frutas é considerada, hoje, uma das mais destrutivas pragas de culturas no mundo. E dentre as espécies conhecidas, sem dúvida, a Ceratitis capitata é a que mais se destaca e, coincidentemente, é a de maior população em cafeeiros no Brasil. Por causa da sua ampla distribuição no mundo, sua habilidade de tolerar climas mais frios do que a maioria das outras espécies de mosca-das-frutas e por seu grande número de hospedeiros primários e secundários, a C. capitata é considerada a maior causadora de danos econômicos entre as espécies de mosca-das-frutas. C. capitata é também conhecida como mosca-das-frutas do Mediterrâneo ou, simplesmente, Mosca-doMediterrâneo. No Brasil, além da Ceratitis, outros três gêneros são relatados com importância econômica. Trata-se de Anastrepha, Rhagoletis e Bactrocera. O gênero Ceratitis é apresentado somente por uma espécie, atacando cafezais, C. capitata, enquanto o gênero Anastrepha é representado por 94 espécies, sendo a espécie A. fraterculus a principal em ataques à cafeeiros. Os outros dois gêneros, Rhagoletis e Bactro34

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cera, ainda não foram detectados atacando significativamente cafeeiros. A mosca-das-frutas surge nos cafezais no início da fase de maturação dos grãos, atacando preferencialmente frutos maduros, onde deposita seus ovos, por orifícios abertos por ela na lateral do fruto atacado. A larva completa seu ciclo dentro do grão cereja, se alimentando da mucilagem do grão do café, causando uma fermentação

excessiva no fruto. Esta fermentação tanto pode gerar queda de frutos, que em algumas regiões do Brasil é bastante acentuada, como pode acelerar o processo de apodrecimento do fruto, o que faz com que o grão www.cultivar.inf.br

cereja passe rapidamente à fase de passa (ou bóia). Este efeito reduz significativamente a qualidade da bebida do café da lavoura atacada, fazendo com que o produtor não atinja seus padrões de qualidade e sofra redução de preços em seus lotes de café. Após completar seu ciclo, a mosca-dasfrutas sai do fruto em forma de pupa. Normalmente, há sempre mais do que uma larva, de incrível mobilidade, dentro do fruto atacado O controle químico da moscadas-frutas deve ser precedido de monitoramento de infestação na propriedade. Este monitoramento se dá com o uso de armadilhas. Comercialmente, dentre as armadilhas encontradas no mercado, destacam-se a Jackson, para controle da C. capitata e a McPhail, para controle da A. fraterculus. No caso de maior incidência de Ceratitis, deve-se utilizar a armadilha Jackson com algum atrativo alimentar conjugado com uma solução inseticida. No caso específico de Ceratitis, utiliza-se com maior eficiência a proteína hidrolisada diluída a 5% ou, ainda, isca de feromônio sexual Trimedilure. Já no caso da maior incidência ser de Anstrepha, deve-se utilizar a armadilha McPhail, com melaço de cana diluído a Novembro de 2002

10%, como atrativo em conjunto com uma solução inseticida. O ideal para monitoramento de populações da mosca-das-frutas é que se tenha uma armadilha por hectare mas, em áreas mais uniformes, admite-se a utilização de uma armadilha a cada 3 hectares. O nível de controle ideal é de 7 adultos/semana no caso de Anastrepha e de 14 adultos/semana para Ceratitis. Em citros, encontram-se diversos produtos registrados para o ataque de moscadas-frutas. Como este ataque é relativamente novo em cafeeiro, não se tem produtos registrados para café. Para o caso de C. capitata, temos: chlorpyrifos, deltamethrin, dimetoate, ethion, fenpropathrin, fenthion, malathion, parathionmetyl, phosmet e trichlorphon. Para A. fraterculus, temos: dimethoate, ethion, fenthion, malathion, phosmet e trichlorphon. Mesmo com o uso de inseticidas é interessante adicionar ao volume de calda algum atrativo alimentar (isca), pois as moscas-dasfrutas freqüentemente compartilham entre si alimento regurgitado, o que pode, seguramente, ser uma alternativa efetiva de maior controle da praga. Algumas técnicas novas, envolvendo macho-esterilidade, já têm dado resultados positivos, reduzindo a quantidade de inseticidas aplicados. Na Bahia, já existe uma biofábrica para controle da mosca-das-frutas. Essa técnica se baseia no fato de que a fêmea

copula uma única vez na vida, o que resultaria em uma quebra do ciclo de vida da mosca, uma vez que esta fosse copulada por um macho estéril. Nos trópicos, não se tem um saldo muito positivo de controle biológico de mosca-das-frutas. Porém, a ocorrência de um pequeno hymenóptero conhecido como Diachasmimorpha longicaudata (Ashmead), tem tido bons resultados. Trata-se de uma vespa endoparasítica braconídea que parasita as larvas das moscas. O adulto oviposita dentro das larvas da mosca. Esta vespa possui contra si o fato de não ser de fácil aclimatação, mas sua liberação massal expressa ótimos resultados. Existem outros inimigos naturais, um pouco menos efetivos, que são parasitóides dos gêneros: Doryctobracon, Opius e Utetes (Braconidae), além de Aganaspis, Odontosema, Tropideucoila, Dicerataspis e Lopheucoila (Figitidae). Os gráficos a seguir representam monitoramentos para controle populacional de mosca-das-frutas em cafeeiros na região oeste da Bahia. Estes dados revelam sua alta incidência durante a época de colheita de café e sua baixa infestação no decorrer do ano. Servindo de alerta para propriedades que possuem hospedeiros alternativos em grande escala, como é o caso na Bahia de mamão, citros, goiaba etc.

Nestes casos, se consolidam ainda mais o . manejo integrado de pragas. A. M. BAETA-NEVES , GPC/MAPA S. R. M. TOFANI, MAPA B. da S. GERALDO GPC/UFRRJ E. R. da SILVA GPC/UFRRJ


Agronegócios

Ameaça ou oportunidade? O desafio do próximo presidente frente à Alca será o de conseguir um acordo justo, equilibrado, que garanta o crescimento do País

E

m plebiscito realizado em setembro de 2002, dez milhões de brasileiros rejeitaram a participação do Brasil na ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), um acordo que abrange 34 países das Américas (exceto Cuba). O motivo da rejeição foi a percepção da população de que o Acordo compreende um conjunto de ameaças que sobrepuja as oportunidades. Contribuem para a percepção causas remotas, como os erros que cometemos nas negociações para a formação do Mercosul e para a criação da OMC; a crônica insistência dos países ricos em impor, unilateralmente, condições que lhes são amplamente favoráveis; e causas recentes como o acirramento do protecionismo norte-americano durante o Governo Bush; a edição da Farm Bill, uma antítese dos conceitos de livre mercado; e a proposta do Fast Track, aprovado pelo Congresso dos EUA. O Fast Track torna quase impossível uma negociação justa, ao impor enormes restrições à abertura do mercado americano a produtos estrangeiros, ao tempo em que ameaça com sanções os parceiros comerciais que tomarem a mesma atitude. Porém, há um fato do qual não há como escapar: o Governo Brasileiro terá que sentar-se à mesa de negociações. Espera-se que a atitude dos nossos governantes, estrategistas e negociadores reflita o desejo do povo brasileiro: justiça e equidade comercial.

talecimento da comunidade de democracias das Américas; promoção da prosperidade mediante a integração econômica e o livre comércio; erradicação da pobreza e da discriminação no nosso Hemisfério; e garantia de desenvolvimento sustentável e conservação do nosso meio natural para as futuras gerações. Na oportunidade, decidiu-se criar a ALCA, na qual serão eliminadas progressivamente as barreiras ao comércio e ao investimento e cujas negociações serão concluídas até o ano 2005, com compromisso de implantação efetiva do Acordo no mesmo ano. Após a Cúpula de Miami houve mais seis reuniões para o avanço das negociações, conduzidas através de grupos setoriais.

AS NEGOCIAÇÕES

No encerramento da 6ª Reunião Ministerial (Buenos Aires) e da 3ª Cúpula (Quebec), os Grupos de Negociação1 apresentaram a Minuta de Acordo da ALCA. Na realidade, trata-se de um texto extremamente preliminar, em que um esqueleto de capítulos contempla divergências conceituais, factuais e na forma de abordagem de cada um dos temas que é objeto do futuro Acordo. Trata-se de uma técnica de negocia-

OS ANTECEDENTES

Em dezembro de 1994, os Chefes de Estado e de Governo dos 34 países reunidos em Miami (Reunião de Cúpula das Américas) firmaram o Pacto para o Desenvolvimento e a Prosperidade: Democracia, Livre Comércio e Desenvolvimento Sustentável nas Américas. Esse documento de (supostas boas) intenções abrange os seguintes tópicos: preservação e for36

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ção em que o texto fixa os pontos acordados e mantém entre colchetes os controversos, buscando, através de rodadas sucessivas de negociação, um consenso para a elaboração de um texto aceitável por todas as partes. O estado atual da minuta do acordo pode ser visualizado em www.ftaa-alca.org/ftaadraft/ por/draft_p.asp. Para o agronegócio brasileiro, praticamente todos os temas tratados são relevantes, posto que é onde se concentram as principais vantagens comparativas e competitivas da economia brasileira e onde estão as melhores perspectivas e oportunidades. Como em toda a negociação bilateral ou multilateral, alguns setores são mais prejudicados, outros mais beneficiados, razão pela qual são incluídas cláusulas de salvaguarda ou compensatórias na busca de um equilíbrio entre as partes. Por definição, essas cláusulas deveriam proteger os países mais fracos em suas relações com os mais fortes.

O DESEQUILÍBRIO

Grosso modo, as queixas do setor empresarial, do agronegócio ou de outros setores, fazem coro com a percepção empírica da população que votou contra a negociação da ALCA. Recente, estudo da FIESP mostrou que, imediatamente após a entrada em vigor do Acordo, a balança comercial brasileira passaria a registrar déficits superiores a US$ 1 bilhão2 . Na realidade, apenas um segmento minoritário da população se posicionaria contrariamente ao conceito de liberalização comercial. O busílis da questão concentra-se no desequilíbrio entre Novembro de 2002

as partes negociantes. Tome-se como ícone o bordão do Ministro da Agricultura que sempre reafirma: ...sem negociar a agricultura, não haverá ALCA! . Com isso ele quer tornar transparente a necessidade de equidade de tratamento. Não basta negociar taxas alfandegárias e outros dispositivos fiscais, tornando-os harmônicos entre todos os países. Será necessário resolver questões cruciais como o volume enorme de subsídios concedidos à produção e à exportação de produtos agrícolas norte-americanos, as sobretaxas, cotas e outras barreiras para-fiscais. A Farm Bill, em vigor desde 1/9/2002, tem vigência de oito anos. Estarão os EUA dispostos a derrogá-la, para equalizar os benefícios concedidos pelos outros 33 países ao agronegócio? Considere-se, também, a diferença de desenvolvimento, de solidez econômica, de poderio bélico, de persuasão, de capacidade negocial, de volume de recursos à disposição dos negociadores, a capacidade de implementar medidas negociadas e cobrar das outras partes a sua implementação, que é flagrantemente superior nos EUA e no Canadá, comparativamente aos demais constituintes da ALCA. Portanto, o desafio do próximo presidente da República e da iniciativa privada será o de conseguir o que pareceu impossível a 10 milhões de brasileiros: um acordo justo, equilibrado, com oportunidades iguais para todos.

AS AMEAÇAS

As ameaças decorrentes da implementação de acordo da ALCA estão focalizadas nos EUA e na enorme disparidade de condições de comNovembro de 2002

petição comercial em relação aos demais parceiros (exceto o Canadá). Para a quase totalidade dos produtos ou serviços que serão objeto de transação comercial, a competitividade natural americana é desproporcional àquela de qualquer um dos demais países. E, para os produtos onde a vantagem comercial se desloca para outros países, os EUA não abrem mão do protecionismo e das salvaguardas de seus produtores, restringindo seu mercado interno. Uma vez firmado o acordo, os signatários se obrigam a respeitar todas as suas cláusulas, incluindo reconhecimento de patentes, propriedade intelectual, remessa de juros e lucros, entre outras, em um ambiente de redução de alíquotas de importação, o que materializa a ameaça vislumbrada por empresários e pela população em geral. No entanto, os mesmos países que impõem aos demais as regras que lhe favorecem, são aqueles que as descumprem. Basta lembrar a cláusula de paz do Acordo da OMC, que permitia a países ricos reduzirem paulatinamente seus subsídios agrícolas, ao longo de décadas, enquanto as demais cláusulas tinham cronograma de implantação de curto prazo. Ao invés de redução, o que se observou na prática foi um acirramento do protecionismo dos países ricos, sendo a Farm Bill um ícone do desrespeito ao Acordo de Marrakesh. Traduzindo a ameaça em números, verifica-se que o agronegócio brasileiro exporta, anualmente, US$ 24 bilhões. Desse total, apenas US$ 1,5 bilhões se destinam aos EUA (maior economia do planeta) e US$ 150 milhões ao Canadá. Este fato deve-se exclusivamente ao protecionismo destes países, representado por picos tarifários e escalada tarifária e medidas protecionistas não tarifárias. Sem eliminar o protecionismo, que se afigura jurássico frente à proposta de livre comércio, não há como imaginar um acordo justo para a ALCA.

OPORTUNIDADES

É difícil vislumbrar outro cenário para o futuro previsível que não tenha como pano de fundo a liberalização comercial. Teoricamente, uma vez implementadas as facilidades comerciais, haveria benefícios para todas as partes. Posta uma solução satisfatória para os desbalanços citados anteriormente, o agronegócio brasileiro teria muito a se beneficiar com a implementação da ALCA. Dispomos de fatores de produção em abundância para ampliar nossa capacidade produtiva, ao tempo em que teríamos facilidade de acesso a um mercado de centenas de milhões de consumidores, englobando um PIB superior a US$ 10 trilhões. O Brasil, através de seu agronegócio, poderia dar início a um novo ciclo de prosperidade, solvendo problemas cruciais de desenvolvimento, www.cultivar.inf.br

emprego, renda global e sua distribuição, aporte de recursos tributários para programas sociais e de proteção ao meio ambiente. Escorado no mercado, haveria espaço para um salto qualitativo nos diferentes segmentos do agronegócio, focado na qualidade e na agregação de valor. Na qualidade, porque exigência dos consumidores, traduzida no Acordo através de cláusulas que contemplam sanidade agropecuária, inocuidade, classificação de produtos, certificação e rastreabilidade, atendimento a nichos mercadológicos, entre outros. Já a agregação de valor é uma tendência clara dos mercados para o futuro próximo. Uma das principais barreiras à colocação de produtos de valor agregado em mercados de terceiros países reside na disputa de cada um por agregar valor em seu território. Isso ocorre, por exemplo, com o café ou a soja do Brasil, cujas alíquotas de importação crescem desproporcionalmente ao valor agregado em nosso território, compelindo-nos a concentrar as exportações na matéria-prima. Um acordo justo deve prever a eliminação dessa forma de protecionismo, ou barreira comercial, permitindo que os países produtores da matéria-prima possam se beneficiar da etapa seguinte na escala agroindustrial, como forma de promover um desenvolvimento harmônico.

ESTRATÉGIA

O futuro presidente do Brasil deverá referendar a posição já manifestada pelo atual Governo de perseguir um acordo justo para a ALCA. Não podem constar da agenda atitudes como ceder a pressões ou efetuar concessões que comprometam o futuro do país. A iniciativa privada, que será a primeira linha do front comercial a ser afetada, deve participar intensamente das discussões, da formulação das políticas, das estratégias e das negociações. A população, através das entidades civis, associações, ONGs e similares deve debater em profundidade a questão, livre de passionalismos, enfocando a questão central: o acordo é justo para todas as partes? Um acordo de livre comércio para as Américas tem um potencial enorme para beneficiar todos os países envolvidos, no médio e no longo prazo, e nossa geração não pode passar para a História como aquela que abortou o futuro. Por outro lado, não poderemos carregar a pecha de haver comprometido esse mesmo futuro, através de uma negociação desequilibrada, que privilegiou quem estava melhor posicionado, em detrimento de países menos aquinhoados, acirrando as desigualdades regionais, na contra-mão do conceito que . norteou a propositura da ALCA. Décio Luiz Gazzoni

Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agropolis.hpg.com.br 1 Agricultura; Compras Governamentais; Investimentos; Acesso a Mercados; Subsídios; Antidumping e Direitos Compensatórios; Solução de Controvérsias; Serviços; Direitos de Propriedade; e Defesa da Concorrência. 2 A estimativa para 2002 prevê um superavit anual de US$10 bilhões.

Cultivar

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Atraso no plantio da safra compromete a safrinha do milho Os produtores estão contando com boa remuneração para quase todos os grãos produzidos neste ano e tudo caminha para que tenhamos a melhor safra da história em 2003, isso no quadro do desempenho econômico e ganho financeiro. Veremos os produtores se capitalizarem, fazendo com que haja um grande avanço tecnológico no setor, que busca avanços na produtividade e melhoria na qualidade do produto colhido. Mas temos de levar em consideração que o volume efetivo da safra poderá não crescer no mesmo ritmo dos ganhos econômicos, já que a safra de verão vem mostrando atraso no plantio, com o Centro-Oeste enfrentando atraso na chegada das chuvas que deveriam vir no começo de outubro, colocando em risco a expectativa de crescimento do plantio da safrinha do milho, da qual o Brasil estará altamente dependente em 2003. Com isso, já se aponta que o quadro geral de oferta e demanda estará apertado, devendo refletir em ganhos econômicos aos produtores. Até mesmo o arroz teve problemas com o plantio no Sul em função das chuvas em excesso, que poderão também comprometer a expectativa de crescimento da produção.

MILHO

Falta de ofertas

Os produtores continuam segurando o pouco de milho que lhes resta e apostando em avanços nos indicativos mais à frente. Outros apontam que o milho está com as cotações satisfatórias, mas preferem ficar com o produto a vendê-lo e aplicar os recursos no mercado financeiro. Outros, ainda, apontam que devem vender parte do que têm para quitar dívidas com insumos agora em novembro. Com isso, poderão aparecer algumas ofertas de produto livre. O mercado trabalhou entre R$ 20,00, chegando a indicar mais de R$ 24,00 pelo produto nas regiões consumidoras.

tividade e qualidade, dando suporte para as cotações que se mantêm firmes. As lavouras atingidas pelas geadas no Sul do país foram replantadas em outubro e algumas áreas foram para o milho e para a soja. O mercado do feijão seguirá com o quadro de oferta e demanda apertado.

ARROZ

Governo vende e importações chegam

O governo continuou jogando forte para abastecer o mercado, colocando à venda grande parte de seus estoques via leilão. Mesmo as-

sim, as cotações se mantiveram em alta, com avanço nas posições, e o produto chegou aos seus melhores níveis nos tempos de Real. Com o produto gaúcho superando a marca dos R$ 25,00 aos produtores, houve liquidação de importação do produto do Mercosul e também negócios com o arroz dos EUA, que chegará neste mês de novembro. As cotações deverão manter-se firmes, mas com pouco fôlego para avanços. Se o câmbio recuar neste mês, poderemos ver o preço do arroz também ser forçado para baixo. O arroz do Centro-Oeste continuará sendo uma alternativa para as indústrias.

CURTAS E BOAS

SOJA

Entressafra e poucos negócios

Os negócios com a soja estiveram restritos a poucos volumes, mostrando ajustes positivos e chegando novamente aos melhores momentos em tempos de Real, com valores de até R$ 50,00 pela soja em Paranaguá, dando chances de R$ 38,00 a R$ 45,00 aos produtores que ainda tinham produto para fechar. A soja está na entressafra e os valores seguem firmes, devendo continuar assim em novembro. O plantio da safra estava atrasado em outubro e deverá comprometer a chegada do produto em janeiro e fevereiro, devendo empurrar a colheita para março e abril. Os produtores continuam otimistas com a oleaginosa e investiram forte na tecnologia, o que deverá reverter em ganhos na produtividade.

FEIJÃO

Seca causa antecipação na colheita

O clima quente e seco de setembro e outubro junto às lavouras do Norte do Paraná e em São Paulo forçou a antecipação da colheita nas lavouras para o final de outubro, quando deveria chegar na segunda quinzena de novembro. Além disso, houve queda na produ-

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Cultivar

ARROZ - chuvas e enchentes atrasaram o plantio da safra gaúcha. Enquanto isso, em Santa Catarina o quadro andou em ritmo normal. Pelo lado do sequeiro do MT, a falta de chuvas segurou o plantio do cedo, e pouco produto novo entrará entre dezembro e janeiro, com a safra devendo chegar em março. USDA - em seu relatório de oferta e demanda mostrou uma safra de soja de 72,2 milhões de t, longe das expectativas que eram de 80 milhões no começo do ano. Também mostrou queda na safra de milho, que mostrava expectativa de 250 milhões de t para atender o consumo total e as exportações dos EUA, e está fechando a colheita com pouco mais de 225 milhões de t. Com isso, os estoques americanos do milho devem cair aos menores níveis dos últimos 15 anos, abaixo das 20 milhões de t, contra mais de 40 milhões da safra passada. ALGODÃO - com as cotações sendo ajustadas para cima no mercado internacional e com o câmbio favorecendo, espera-se um bom desempenho econômico das lavouras plantadas nesta próxima safra do Brasil. Por enquanto, não se espera por alterações na área plantada. A maior queda está sendo projetada nas lavouras da Austrália, terceiro maior exportador mundial, com 1,7 milhões de fardos, contra 3,07 milhões colhidos na safra passada. O espaço poderá ser ocupado pelo algodão do Brasil. TRIGO - moinhos terão de consumir o produto de baixa qualidade, com pH acima de 70, contra os 75 e 76 que eram apontados como mínimos em anos anteriores. As cotações tendem a se manter altas e as importações comprometidas devido à redução da oferta do produto no mercado mundial, sendo esta uma boa notícia para os produtores que tiveram problemas com geadas e chuvas na colheita.

www.cultivar.inf.br

Novembro de 2002



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