Cultivar 46

Page 1


08

Ano IV - Nº 46 Dezembro 2002 - Janeiro / 2003 ISSN - 1518-3157 Empresa Jornalística Ceres Ltda CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 7º andar Pelotas RS 96015 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 76,00

Defesa química Especialista aborda os aspectos químicos dos metabólitos secundários de plantas

(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 8,00 Diretor:

Newton Peter

Trigo encharcado

Editor Geral:

S.K. Peter

Devido ao excesso de chuva, a mancha aquosa volta a atacar os trigais gaúchos

Editor Assistente:

Charles Ricardo Echer

16

Redação

Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo

Design Gráfico

Fabiane Rittmann

Marketing:

Neri Ferreira Otávio Pereira

19

Diagramação

Fabiane Rittmann Christian Pablo C. Antunes

Basta aos nematóides

Assinaturas:

A rotação de culturas é forte aliada na guerra contra esses parasitas

Jociane Bitencourt

Circulação:

Edson Luiz Krause

Secretária Geral:

Simone Lopes

Promoções:

Marilanda Holz

Ilustrações:

Rafael Sica

Bloqueio ao bicudo

Revisão:

Carolina Fassbender

Editoração Eletrônica:

Index Produções Gráficas

24

Fotolitos e Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES: (53) GERAL / ASSINATURAS: 3028.4008 ATENDIMENTO AO ASSINANTE: 3028.4006 REDAÇÃO : 3028.4001 / 3028.4002 / 3028.4003 MARKETING: 3028.4004 / 3028.4005 EDITORAÇÃO: 3028.4007 PROMOÇÕES: 3025.4254 FAX: 3028.4001

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Goiás se une para tentar acabar com o bicudo do algodoeiro

índice

Nossa capa

Diretas

04/05

Defesa vegetal

06

Manejo de mofo-branco

10

Mancha aquosa em trigo

16

Coluna da Aenda

18

Rotação de culturas e nematóides

19

Doenças infecciosas do cafeeiro

23

Combate ao bicudo

25

Algodão colorido

28

Adubação na safrinha

30

Informe técnico - Cooplantio

34

Agronegócios

36

Mercado agrícola

38

Foto Capa / Dirceu Gassen Os nematóides do gênero Meloidogyne são os causadores das maiores perdas econômicas


diretas Rotulagem

Homenagem

A rotulagem de milho transgênico deixou de ser uma exigência do governo japonês para as importações. Indústrias de refrigerantes, cervejas e de produção de alimentos já foram comunicadas da decisão. O setor consome anualmente quatro milhões de toneladas de milho. A maior parte do produto vem dos Estados Unidos, onde o processo de transgenia é utilizado em 34% das lavouras.

Ademir Vieira da Silva acaba de ser laureado com o título de cidadão emérito de Uberlândia. O engenheiro agrônomo tem se destacado pela atuação como diretor executivo da Unimilho, que congregra 25 empresas de atuação nacional e atende cerca de 250 mil pequenos produtores rurais.

Ademir V. da Silva

Estimativa

Crise no milho Imediatistas e intempestivas . Essas foram as classificações dadas pelo secretário da APPS, Cássio Luis de Camargo, às propostas de diminuir a alíquota de importação de milho e de taxar as exportações. Consideradas de caráter emergencial, as medidas são defendidas pelos compradores e endossadas pelo Ministério da Agricultura como alternativa para amenizar os problemas de abastecimento. Camargo recorda que desde maio as

associações de sementeiros vêm alertando para a diminuição da área plantada. É uma tragédia anunciada. Propostas de contratos antecipados de compra para evitar a crise foram simplesmente ignoradas pelos consumidores , lamentou. O secretário acredita que se as medidas forem colocadas em prática podem agravar a situação, desestimulando ainda mais os agricultores, que conseqüentemente passarão a plantar cada vez menos.

Safrinha

Selma Carvalho

A secretária da APSEMG, Maria Selma Carvalho, admite que o atraso no plantio da soja, motivado pela falta de chuva, pode comprometer a safrinha do próximo ano. Ela considera, no entanto, que ainda é cedo para estimativas quanto à extensão dos reflexos. Precipitações registradas em Minas Gerais durante a primeira quinzena de novembro reanimaram as esperanças dos produtores.

O secretário executivo da Agrosem, Siguê Matsuoka, está otimista com a estimativa de colheita de grãos em Goiás. Dados divulgados pelo Grupo de Coordenação e Estatísticas Agropecuárias (GCEA) apontam que a safra 2002/2003 pode chegar a 10,3 milhões de toneladas, o que representa incremento de mais de 5% em relação à colheita anterior. O mesmo levantamento indica aumento na cultura da soja e retração na área plantada com milho.

Projeto Educativo

Pesquisa

ISO 14001 A Bunge Fertilizantes comemora a certificação ISO 14001 recebida por duas unidades industriais instaladas em Cubatão, São Paulo. Durante o período de preparação para obter o certificado, a empresa implantou e aperfeiçoou projetos ambientais, entre eles o de adequação da destinação de resíduos industriais, o de atualização de planos diretores ambientais e o de aumento de rendimento dos sistemas de tratamento de efluentes

Projeto

identificação inédita nos últimos 150 anos. Com apenas duas espécies de coleópteros a nova família de insetos possui um escaravelho encontrado na África do Sul, denominado Aspidytes niobe e o Aspidytes wrasei, descoberto há quatro anos na China.

Polímero

A Rigran acaba de lançar o PolySeed 70, indicado para o uso em tratamento de sementes de grãos. A principal vantagem do polímero está em fixar as substâncias sobre a superfície da semente, eliminando a perda de material no manuseio até o plantio. O produto também pode ser usado na peliculização ou para agregar os materiais aplicados na peletização de sementes de hortaliças, legumes, flores e fumo.

A Basf AG acaba de adquirir operações de inseticidas e fungicidas da Bayer AG. O valor da compra está estimado em U$$ 1,16 bilhão. Entre os produtos que integram a transação está o Finopril, inseticida indicado para lavouras de algodão e arroz. A venda por parte da Bayer é uma exigência de autoridades antitruste da União Européia, após a fusão da empresa com a Aventis S.A.

O Ministério da Agricultura liberou no começo de novembro as importações de trigo da Ucrânia e dos Estados Unidos. A compra de produto dos dois países havia sido suspensa depois que foram detectados carregamentos com pragas que oferecem riscos às lavouras brasileiras. Uma carga de trigo americano estava contaminada com a Cirsium arvence, capaz de infectar, além do trigo, culturas como a soja. Junto com a mercadoria ucraniana havia sido encontrada a Alternaria Triticina, uma espécie de fungo inexistente no Brasil.

Nova sede

A equipe da Bio Controle comemora a inauguração da nova sede da empresa, localizada na rua João Anes, número 117, no bairro da Lapa, em São Paulo. Em abril de 1997 as atividades tiveram início na residência de um dos sócios. O primeiro escritório foi inagurado em agosto de 1998. Com o crescimento comercial e desenvolvimento de novas parcerias a Bio Controle volta a mudar de instalações, desta vez para ocupar um espaço mais amplo e moderno.

Ervilha

As unidades da Embrapa Trigo e Hortaliças acabam de selecionar a nova cultivar de ervilha BRS Forrageira. A espécie é indicada para adubação verde e cobertura do solo durante o inverno. O rápido crescimento inicial e a uniformidade transformam a BRS em uma alternativa vantajosa para cultivo no sul do País. Diminuir a de-

pendência das culturas subseqüentes quanto ao uso de fertilizantes e a boa produção de biomassa também são características da nova cultivar, que pode ser aproveitada, ainda, na formulação de ração animal. O pesquisador Gilberto Tomm, que participou do projeto, acrescenta que a BRS se constitui em excelente palhada.

A Polícia Civil do Paraná investiga o envolvimento de várias pessoas com o crime de pirataria e contrabando de agrotóxicos. Segundo dados da Andav e do Sindag, de julho a novembro de 2002, 17 cidades foram alvo de ação policial com a convocação de agricultores e comerciantes para esclarecimentos. De acordo com o mesmo levantamento, o maior número de casos concentra-se nas regiões Oeste e Centro-Oeste. Em Corbélia, a Polícia Militar apreendeu mais de 600 quilos de herbicidas contrabandeados. As autoridades tomaram conhecimento do problema através de informações repassadas ao Disque-Denúncia, que atende pelo número 0800-9407030.

Virgílio Vicino

Orizicultura NOSSOS TELEFONES MUDARAM: GERAL / ASSINATURAS: 3028.4008 ATENDIMENTO AO ASSINANTE: 3028.4006 REDAÇÃO: 3028.4001 3028.4002 3028.4003

04

Cultivar

(53)

MARKETING: 3028.4004 / 3028.4005 EDITORAÇÃO: 3028.4007 PROMOÇÕES: 3025.4254 FAX: 3028.4001

Lançamento

A Dow AgroSciences coloca no mercado dois novos híbridos. Na cultura do milho, o 2C 599 é recomendado para áreas tropicais e de transição, localizadas em altitudes abaixo de 700 metros. Já o IP 400 é resultado do cruzamento de sorgo e capim sudão, sendo indicado para o cultivo em pastagens degradadas. Tolerante às principais doenças que atacam a cultura, o novo híbrido apresenta ainda resistência ao pisoteio e capacidade de pastoreio 35 dias após a semeadura.

Diogênes Panchoni

Novos Rumos

Além de uma política especial para o setor, o governador eleito do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, prometeu à Revista Cultivar buscar junto ao governo federal formas para que a orizicultura gaúcha possa definitivamente crescer sem sofrer com a competição predatória através da importação de arroz do Vietnã, sempre que a safra de produto no Estado passa pelo momento da colheita . Temos que dar condições de melhorar a produtividade de nossos produtores para que possam competir de forma igual com a produção de fora , afirmou.

www.cultivar.inf.br

A Syngenta contabiliza os resultados do projeto Escola no Campo, cujos objetivos principais são orientar para que, antes de completar 18 anos, nenhum jovem ou criança manuseie agrotóxicos, sensibilizar pais e a comunidade em geral sobre o uso correto de defensivos e demonstrar a importância da preservação do meio ambiente e do uso da tecnologia para produção de alimentos saudáveis. Criado em 1991, o Escola no Campo já atingiu mais de 270 mil crianças em todo o País. Em 2001, 27 mil alunos participaram do projeto e em 2002 a adesão já supera os 32 mil.

Contrabando

Liberado

A Universidade de Passo Fundo (UPF), em parceria com a iniciativa privada, desenvolve projeto de seleção e multiplicação de sementes de alcachofra, linho, aveia e trigo. As sementes são fornecidas pela iniciativa privada e o trabalho de análise realizado pelos pesquisadores da UPF. O projeto tem como objetivo, também, encontrar alternativas de cultivo para a região.

Aquisição

atmosféricos. O reconhecimento do trabalho partiu da Fundação Carlos Alberto Vanzolini, uma das mais importantes instituições certificadoras do mundo. O certificado foi entregue pelo diretor Airton Gonzáles ao gerente industrial do complexo de Cubatão, Sérvio Túlio Antunes, que esteve acompanhado pelo chefe de seção de meio-ambiente e segurança no trabalho José Carlos Lopes e pelo diretor de logística Paulo Reis.

Acaba de ser divulgada na Alemanha a descoberta de uma nova família de coleópteros vorazes, denominada Aspíditos. Uma equipe de pesquisadores internacionais, coordenada por Rolf Beutel, de Jena, é responsável pela

Evento

Gilberto Tomm

Endereço

A Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas (Aenda) está com novo email: aenda@aenda.org.br. Já a página na internet pode ser acessada pelo endereço www.aenda.org.br.

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

O Centro de Eventos da UPF, em Passo Fundo, foi palco da segunda edição do Salão de Sementes, Mudas e Novas Tecnologias. Durante dois dias foram apresentados os mecanismos tecnológicos disponíveis para tratamento, produção e conservação de sementes. O evento foi promovido através de parceria entre o Ministério da Agricultura, Apassul, UPF, Embrapa Trigo e Fundação Pró-Sementes de Apoio à Pesquisa.

www.cultivar.inf.br

O time da Dow AgroSciences está com nova formação. Virgílio Vicino assumiu a gerencia de marketing, enquanto Diogênes Panchoni passa a ocupar o cargo de especialista de produtos, com enfoque centrado na cultura do milho. Paulo Salvador também assume como especialista de produtos, ficando responsável pelas áreas de sorgo e milhos especiais.

Paulo Salvador Cultivar

05


Fabiane Rittmann

Biotecnologia Os metabólitos secundários ou produtos naturais são produzidos pelas principiais rotas metabólicas: 1) Rota Acetato leva à formação, por exemplo, da azadiractina produzida em várias partes da planta nim (Azadirachta indica) e das piretrinas extraídas das flores do Crisantemum cinerariaefolium, planta da família Compositae. 2) Rota Chiquimatoonde são produzidos os ácidos cinâmicos, destacando-se o ácido ferúlico, o qual vem sendo estudado como fonte de resistência a insetos e doenças. 3) Rota Aminoácidos - leva a um grupo de substâncias denominadas alcalóides ,como a nicotina produzida nas folhas do fumo (Nicotiana tabacum).

PRODUTO NATURAL

Defesa natural A

evolução bem sucedida da planta engloba por necessidade uma defesa química contra seus predadores e parasitas. Essa defesa é conhecida desde a antigüidade, mas o uso deste conhecimento para o combate a insetos ainda está na sua infância. Ultimamente, com o desenvolvimento do conhecimento da química das plantas, vários mecanismos químicos foram elucidados estimulando o avanço de pesquisa nessa área. A química das plantas tem sido seriamente estudada há aproximadamente 150 anos, mas estudos da sua biossíntese são um esforço recente, o qual tem sido facilitado com o advento de técnicas modernas de identificação como a Ressonância Magnética Nuclear (RMN), cristalografia por R-X e a disponibilidade de precursores isotopicamente marcados. Nas últimas décadas, o controle de pragas na agricultura tem sido feito basicamente através de inseticidas sintéticos, que além de gerarem altos custos e riscos ambientais, vêm apresentando sinais de resistência em deter06

Cultivar

minadas espécies de pragas. A busca de sucedâneos para esses inseticidas tem nos produtos naturais provenientes de plantas, através de seus extratos ou componentes ativos, uma alternativa de interesse econômico e ecológico para o controle integrado de pragas. O objetivo deste trabalho consiste em apresentar alguns aspectos químicos relacionando a evolução dos produtos naturais, vistos originalmente como estruturalmente interessantes, mas inúteis do ponto de vista metabólico. Esses produtos experimentaram sua importância voltada para o uso medicinal com contribuições para a indústria farmacêutica. E, mais recentemente, aparecem como mediadores em interações ecológicas importantes para o controle de pragas, constituindo nova área de conhecimento denominada Ecologia Química.

METABOLISMO PRIMÁRIO X SECUNDÁRIO

Nos organismos vivos, compostos químicos são sintetizados e degradados através de uma série de reações químicas mediadas por www.cultivar.inf.br

Especialista aborda os aspectos químicos dos metabólitos secundários de plantas

enzimas em processos conhecidos como metabolismo. Através de rotas metabólicas similares os organismos sintetizam e utilizam certas espécies químicas essenciais: açúcares, aminoácidos, nucleotídeos e seus polímeros derivados (polissacarídeos, proteínas, lipídios, DNA). Este é o metabolismo primário e seus compostos, denominados metabólitos primários, que são essenciais para a sobrevivência desses organismos. A maioria dos organismos utilizam ainda outras rotas metabólicas produzindo compostos sem aparente utilidade. Estes produtos são metabólitos secundários, os quais são também denominados produtos naturais , e a rota através da qual são produzidos constituem o metabolismo secundário. Estas rotas são constituintes dos organismos, assim como o metabolismo primário, e presume-se serem ativadas durante determinados estágios do crescimento e desenvolvimento, ou durante períodos de stress causados por limitação nutricional ou ataque microbial. Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

Como extratos brutos com finalidade farmacológica, os produtos naturais são conhecidos desde os tempos medievais (1517), originando substâncias como: medicamentos; venenos; narcóticos e alucinógenos; estimulantes; perfumes e temperos. Por outro lado, extratos brutos do tronco, folhas e sementes de plantas são historicamente fonte dos nossos cafés, chás e colas. Entre 1815 e 1860 mais de vinte desses princípios ativos, entre eles a morfina estriquinina, cafeína, nicotina, cânfora e cocaína, foram isolados. Apenas em 1835 análises mais precisas puderam ser feitas, sendo que a morfina, por apresentar estrutura complexa, apenas foi caracterizada em 1952. Na agricultura, dentre os produtos naturais que têm se mostrado úteis ao controle de pragas, pode-se citar a nicotina extraída das folhas do fumo (Nicotiana tabacum), que é utilizada no combate de pulgões de árvores frutíferas. A rotenona extraída das raízes do timbó (Derris elliptica) foi muito utilizada pelos índios brasileiros na pesca, devido ao seu efeito paralisante sobre peixes, e na agricultura, é utilizada no combate a pulgões, lagartas e alguns tipos de ácaros. Destaque, no entanto, deve ser dado à piretrina, extraída da planta Chrysantemum cinerariaefolium, a qual teve seu uso como inseticida iniciado em 1850. A importância do uso da piretrina deve-se ao seu efeito rápido contra insetos voadores, combinado com sua baixa toxicidade em mamíferos. A instabilidade da piretrina na presença de ar e luz levou ao desenvolvimento de novos inseticidas derivados conhecidos como piretróides sintéticos (Fig.1). Ao contrário das pragas e doenças que aparecem eventualmente, a infestação de plantas daninhas está sempre presente na área de cultivo e é causada por diversas espécies. O controle de plantas daninhas fortemente apoiado em herbicidas tem trazido sérios problemas ao meio ambiente. Aqui, também, a proteção de culturas tem nos produtos naturais uma alternativa ecológica promissora. O exemplo clássico desse tipo de interação é o efeito Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

alelopático observado na nogueira (Juglans sp), onde há um envenenamento das plantas que crescem sob a sua copa, provocado pela juglona armazenada nas folhas verdes. A juglona é produzida após as folhas caírem ao chão. O conhecimento das estruturas químicas dos produtos naturais, bem como de suas funções nas interações das plantas com os organismos vizinhos, possibilita uma melhor compreensão dos mecanismos bioquímicos envolvidos nessas interações, tornando possível o desenvolvimento de novos agentes biocidas.

Fig. 1

ECOLOGIA QUÍMICA

A Ecologia Química é a ciência que trata das interações dos organismos entre si e com o seu ambiente através de substâncias químicas que produzem ou recebem. As substâncias responsáveis por essas mensagens são denominadas semioquímicos (sinais químicos). Os semioquímicos por sua vez podem ser divididos em duas subclasses de acordo com sua base funcional: os feromônios, substâncias mensageiras intraespecíficas, isto é, são liberadas por um membro de uma espécie que

www.cultivar.inf.br

provoca resposta de comportamento em outros membros da mesma espécie. Entre os mais estudados, estão os feromônios sexuais, de alarme, de trilha e agregação. Os aleloquímicos, definidos como substâncias mensagei-

Cultivar

...

07


tabela 1

Subclasses de semioquímicos, conforme sua base funcional

Aleloquímico Organismo Emissor

Alomônio Cairomônio Sinomônio Antimônio

Fig. 2

Fig. 3

Favorecido Receptor

+ + -

+ + -

Fonte: Vendramin, J.D. 2002

tabela 2

Avaliação da eficiência1 de mortalidade do óleo essencial de Eucalyptus camaldulensis, contra pragas de grãos armazenados no teste por contato.

DOSE

Sitophilus zeamais

10 + 0 8+2 6+4 4+6 2+8 1+9 *

98,5 90,0 65,0 26,5 3,5 0 0

2

INSETO Sitophilus Ryzopertha oryzae dominica 100,0 100,0 96,5 93,4 35,6 30,4 0

Tribolium castaneum

100,0 100,0 100,0 100,0 90,0 0 0

100,0 90,0 20,0 20,0 0 0 0

Conforme a fórmula de Abbott; 2 Em gotas; *Testemunha com acetona. Fonte: Prates, H.T. e Santos, J.P., 2002

1

tabela 3

Grãos de milho colhidos com umidade de 19,5 % e armazenados por 30 dias. Tratamentos E. citriodora O.E.2 E. globulus O.E. Laranja O.E. Limoneno Nim Thiabendazole3 Controle CV %

Dose

Grãos mofados(%)1

1 1 1 1 1 3 -

0,12 2,62 4,05 0,37 2,55 0,42 3,20 24,70

Dados transformados P1/2 Óleo essencial - % (v/p) 3 g a.i /100 kg grão - Fonte: Pinto, N.F.J.A. e Prates,H.T., 2000 1

tabela 4

2

Valores médios da altura (AL), número de espigas/parcela (NES), altura da primeira espiga (ALE), e produção de grãos por hectare (PG), avaliados na época da colheita. Tratamentos

Características Avaliadas

AL (m) Leucena 40 t ha 2,10 a Leucena 20+20 t ha 2,04 a Sombrite 60% Luz 1,93 a Test. Capinada 1,93 a Test. sem capina 1,98 a CV (%) 5,19

NES (cm) 33 a 32 ab 29 ab 34 a 28 b 5,02

ALE (m) 1,11 a 1,02 a 0,93 a 0,91 a 0,99 a 13,94

PG (kg/ha) 8892 a 7599 abc 6253 bc 7940 ab 5519 c 10,60

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste Tukey a 5% de probabilidade

... ras interespecíficas (entre espécies), os quais

são freqüentemente usados para defesa. Estes se subdividem em cairomônios, alomônios, sinomônios e apneumônios. Os cairomônios são mensagens químicas que oferecem vantagem de adaptação ao organismo que a recebe. Assim, a substância 13 metilentriacotano - direciona o parasita Microplilis croceipes para a larva da borboleta do milho (Heliothis zea). Os alomônios são mensagens químicas com vantagem para quem as

08

Cultivar

produz. Exemplo típico são as interações alelopáticas das plantas. Algumas plantas produzem herbicidas para manter outras plantas afastadas da água e dos nutrientes disponíveis, impedindo assim seu crescimento. Os sinomônios beneficiam ambas as espécies, e têm como exemplo a polinização das plantas pelas abelhas. As flores da alfafa (Medicago sativa), contêm quatro terpenos simples: oximeno, mirceno, limoneno e linalol. Estas substâncias são utilizadas pelas abelhas na localização das flores de alfafa (Tabela. 1). Os apneumônios são substâncias provenientes de plantas mortas que beneficiam o receptor (ex.: saprófitas). Considerando-se que, nesse caso, o agente emissor não é um organismo vivo, muitos pesquisadores preferem não agrupar esse tipo de substância entre os aleloquímicos (Vendramin, 2002).

RESULTADOS DE PESQUISA

Nesse sentido, vários trabalhos encontram-se em desenvolvimento na Embrapa Milho e Sorgo. O programa de pesquisa iniciou-se com um screening de monoterpenos já descritos na literatura como contendo atividade inseticida em que foram testados (fumigação, contato e ingestão) contra pragas de grãos armazenados Sitophilus zeamais, Sitophilus oryzae, Rhyzopertha dominica e Tribolium castaneum. Após escolha dos monoterpenos mais ativos, especialmente cineol, óleos essenciais de diferentes espécies de eucalipto, contendo majoritariamente este monoterpeno, foram selecionados e testados apresentando atividade contra essas mesmas pragas (Prates et al., 2000, Prates, 2002), conforme exemplificado na Tabela 2. Por outro lado, grãos de milho armazenados em condições ambientais de laboratório e avaliados 30 dias após, em termos da porcentagem dos grãos mofados, evidenciaram que o tratamento com óleo essencial de Eucalyptus citriodora e limoneno também protege durante o armazenamento contra o ataque www.cultivar.inf.br

de Aspergillus flavus (Pinto et al., 2000) (Tabela 3). O teste em laboratório com extrato bruto de plantas com atividade inseticida revelou que o extrato aquoso do nim (Azadirachta indica) a uma concentração de 10 mg mL apresenta atividade de 100 %, quando incorporado à dieta de larvas de lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) (Prates et al, 1999). O carboidrato cianogênico, durina, metabolizado no grão de sorgo foi como responsável pela tolerância a pássaros em algumas variedades de sorgo sem tanino (Prates et al., 1998) (Figuras 2 e 3). A adição da leucena (Leucaena leucocephala) em cobertura na quantidade de 40 t/ha apresentou melhor controle das plantas daninhas, mostrando uma média de produção de grão de milho semelhante à testemunha capinada (Tabela 4). O uso da leucena em cobertura do solo não provocou efeito fitotóxico sobre o desenvolvimento do milho, favorecendo Fig. 4 uma maior produção do milho nos tratamentos com a adição da leucena. Os resultados observados mostram que a leucena em cobertura apresenta, além do efeito físico, um efeito alelopático, que é atribuido à mimosina (Fig. 4) presente na parte aérea da leucena, podendo desempenhar papel ecológico importante com possibilidades de uso na agricultura para o controle de plantas daninhas. Estudos de ecologia química mostram, portanto, que muitas das relações planta-inseto e planta-planta são mediadas por substâncias químicas, produtos naturais, que se constituem em verdadeiros sinais químicos. Esses estudos podem também orientar a triagem de substâncias do metabolismo secundário de interesse ecológico e econômico para . o controle integrado de pragas. Hélio Teixeira Prates, Embrapa Milho e Sorgo Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003


Deu branco

D

entre as principais espécies cultivadas no Brasil Central, podem-se destacar as culturas da soja (Glycines max Merril), do feijão (Phaseolus vulgaris L.), tanto irrigado quanto de sequeiro, e do algodoeiro (Gossypium hyrsutum L.) as quais são suscetíveis ao fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, causador da doença denominada mofo-branco. O mofo-branco é considerado um dos principais problemas em feijoeiro cultivado sob pivô central, durante o inverno. As perdas variam de 30 a 60%, mas podem atingir 100%, sendo o número de sementes por planta e o peso de sementes, os componentes de rendimento mais afetados. Sclerotinia sclerotiorum pode ser considerado um sério problema para as culturas da soja e algodão, cultivadas no verão, em áreas com histórico da doença e que apresentem uma grande quantidade de inóculo. Caso contrário, essa doença torna-se de importância secundária para essas culturas podendo, porém, ser problema para a cultura subseqüente, principalmente, se no planejamento anual da safra de inverno estiverem presentes culturas suscetíveis a esse fitopatógeno. Para que o controle do mofo-branco seja efetivo, o manejo da cultura, da água de irrigação, do solo, da cobertura morta e de herbicidas deve ser adotado de forma integrada. Além disso, a correta utilização de fungicidas na dosagem, época e formas adequadas de aplicação são práticas importantes na condução da cultura, pois as plantas de feijão devem estar protegidas, principalmente na época do florescimento, uma vez que as flores servem de fonte de energia para germinação dos ascósporos e, conseqüentemente, de infecções primárias. A utilização de herbicidas, prática comum no controle de plantas daninhas nas culturas de soja, feijão e algodão, também é um outro aspecto que deve ser considerado no manejo. O controle de plantas daninhas é justificado pela redução na competição por água, luz e nutrientes. Segundo Rodrigues & Almeida (Guia de herbicidas, 3 ed. Londrina, 1995), a intensidade dessa competição depende da espécie, densidade de semeadura, fertilidade do solo, disponibilidade de água e hábito de crescimento da planta. Reichard et al. (Plant Disease 81: 787-790, 1997) demonstraram que alguns herbicidas são capazes de suprimir e outros são capazes de potencializar a severidade da podridão do caule em plântulas de alfafa, causada por S. sclerotiorum. Na presença de atrazine, simazine ou metribuzim, escleródios de S. sclerotiorum raramente desenvolvem apotécios (estrutura reprodutiva de S. sclerotiorum) e quando desenvolve, esses são anormais e não produzem ascósporos (Casale & Hart, Phytopathology 76: 980-984, 1986; Radke & Grau, Plant Disease 70: 19-23, 1986). Segundo Altman & Camp-

As As perdas perdas de de produção produção podem podem chegar chegar aa 100% 100% se se oo mofo-branco mofo-branco não não for for controlado controlado adequadamente adequadamente

10

Cultivar

Dirceu Gassen

Doença

www.cultivar.inf.br

...

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003


... bell (Annual Review of Phytopathology

15:361-385.1977), a toxicidade direta do herbicida ao fitopatógeno ou a alteração do metabolismo da planta pelo herbicida pode resultar na diminuição da severidade da doença. No Brasil, Amaral et al. (Fitopatologia Brasileira 23: 221, 1998) utilizaram herbicidas para tratamento de escleródios. Esses autores verificaram que o herbicida paraquat inibiu em 100% o desenvolvimento de apotécios no solo. De forma contrária, a ação dos herbicidas glifosate, trifluralin e fomesafen estimulou a formação de apotécios. O manejo da palhada, a queima e/ou utilização de resíduos da cultura remanescente, utilizados pelos produtores, são também as-

pectos pouco abordados em estudos realizados para o controle do mofo-branco. Sabe-se que a manutenção da palhada sobre o solo reduz a germinação de escleródios, conseqüentemente, diminui a quantidade de apotécios de S. sclerotiorum nas lavouras. Nesta publicação procurou-se abordar alguns elementos que possam elucidar dúvidas, auxiliando os produtores no controle do mofobranco em lavouras de soja, feijão e algodão. As conclusões, no final, foram baseadas em resultados de pesquisas realizadas pelos autores.

EFEITO DA APLICAÇÃO DE FUNGICIDAS

Os fungicidas e as respectivas dosagens que constituíram os tratamentos empregados Dirceu Gassen

tabela 1

Fungicidas utilizados no ensaio (g/ha) ingrediente ativo procimidone fluazinan benomil procimidone + chlorothalonil procimidone + thiofanato metílico procimidone + benomil fluazinan + thiofanato metílico fluazinan + benomil

ingrediente ativo

1000 1000 2000 500 + 1000 500 + 500 500 + 500 500 + 500 500 + 500

500 500 1000 250 + 500 250 + 350 250 + 250 250 + 350 250 + 250

Herbicidas utilizados na pulverização de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum ingrediente ativo

Acetanilidas Sulfoniluréias Triazolopirimidina Difenil-éteres Sulfoniluréias Ftalimida Difenil-éteres Difenil-éteres + Aril oxi-finoxi-propionato 370 + 290 Triazinas + Acetanilidas 384 Tiodiazinas 960 Acetanilidas Imidazolinonas 80 184 Hidroxi-ciclo-hexeno (Ciclohexanodiona) Ciclohexanodiona 72 220 Fenoxiacéticos 720 Derivado de glicina

1200 1098 45 60 35,28 42 120 500 10 40 20 40 100 400 400 100 + 80

clethodim 2,4-D glyphosate

300 800 2000

12

Cultivar

Danos ocasionados pelo mofo-branco às plantas

Dosagem Dosagem grupo p.c. g/ha i.a. g/ha químico

s-metolachlor oxasulfuron diclosulam lactofen chlorimuron-ethyl flumioxazin fomesafen fomesafen + fluazifop-p-butyl atrazina + metolachlor bentazon metolachlor imazethapyr setoxydim

1000 800 1000 800 1000

Para avaliar o efeito de herbicidas na germinação carpogênica de escleródios de S. sclerotiorum foram realizados 2 ensaios: (PI) pulverização dos herbicidas no dia da incubação dos escleródios; e (PII) pulverização dos herbicidas aos 23 dias após a incubação dos escleródios, simulando a aplicação de herbicidas no campo. Foram utilizados 16 herbicidas (tabela 3), nas dosagens recomendadas pelo fabricante, com volume de calda de 200 l/ha e a testemunha pulverizada com água. Os herbicidas empregados no tratamento dos escleródios de S. sclerotiorum apresentaram efeitos distintos (Figura 2). A mistura comercial dos herbicidas atrazina + metolachlor inibiu completamente a formação de apotécios normais. Os herbicidas diclosulam e oxasulfuron inibiram parcialmente a formação de apotécios normais. Quando os escleródios foram tratados com os herbicidas fomesafen + fluazifop p- butyl, setoxydim e lactofen, houve uma tendência em produzir maior número de apotécios normais. Já o herbicida metolachlor apresentou grande variação quanto à indução à formação de apotécios normais.

EFEITO DA QUEIMADA

Produtos alternativos utilizados para aplicação na água de irrigação* e como pó na superfície do solo** tipo de dosagem produto composto (Kg/ha) montmorilonita microton 1* 250 montmorilonita microton 2* 500 montmorilonita microton 3* 1000 composto bioativo bokashi 1** 250 composto bioativo bokashi 2** 500 composto bioativo bokashi 3** 1000

tabela 2 tabela 3

produto comercial

EFEITO DA APLICAÇÃO DE HERBICIDAS

nesse ensaio estão listados na Tabela 1 e, os produtos alternativos, na Tabela 2. Como testemunha, utilizou-se apenas água. Para a diluição e a aplicação desses produtos, simulouse a fungigação via pivô central e foi utilizada uma lâmina d água equivalente a 50.000 l/ha. Os tratamentos foram aplicados em duas épocas: no dia de incubação dos escleródios (PI) e aos 35 dias após a incubação (PII). Avaliouse a porcentagem de escleródios germinados aos 70 dias após a incubação. Os melhores tratamentos para inibição da germinação de escleródios foram: fluazinam + thiofanato metílico, fluazinam, benomil, fluazinam + benomil, procimidone e procimidone + benomil, aplicados via água de irrigação, 35 dias após a incubação dos escleródios (Figura 1). www.cultivar.inf.br

É recomendável queimar a palhada para a implantação de lavoura de feijão? Para respondermos essa questão, escleródios de S. sclerotiorum foram submetidos à queima, sob diferentes quantidades de palhada de Brachiaria sp., cujos escleródios estavam na superfície do solo ou enterrados a diferentes profundidades. Posteriormente, determinou-se a viabilidade desses escleródios em meio de cultura BDA (batata, dextrose, ágar). Observou-se que após a queima da palhada de capim brachiaria, quanto maior a quantidade de palha, maior foi a temperatura na superfície do solo. A temperatura média da cinza, imediatamente após a queima de 16 t/ha de palhada, foi de 230 oC e o tempo de retorno à temperatura ambiente, 35 oC, foi de 10 minutos. Verificou-se que, mesmo após os escleródios terem sido submetidos à queima por uma quantidade de palhada equivalente a 16 t/ha, ainda foram recuperados mais de 10,0% de escleródios viáveis (Figura 3). Portanto, queimar a palhada para eliminar os escleródios de S. sclerotiorum não é uma prática recomendável, pois além de não erradicar os escleródios da superfície do solo, não elimina escleródios que estão enterrados. Uma outra desvantagem ao eliminar a palhada remanescente pela queimada é a eliminação do anteparo natural da superfície do solo. Isso possibilita maior facilidade de dispersão dos ascósporos desse fitopatógeno, poDezembro de 2002 / Janeiro de 2003

...


...dendo levar à ocorrência de uma epidemia. Em conseqüência disso há aumento no custo de produção, devido ao maior número de aplicação de fungicidas para controlar a doença.

Fig 1

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados de pesquisa existentes, pode-se concluir que o controle efetivo de S. sclerotirorum só poderá ser realizado de forma efetiva se forem considerados aspectos globais na produção, combinados com aspectos pontuais, ou seja, um manejo integrado de todas as formas de controle utilizadas de maneira racional. Controle químico: Em áreas com alta infestação do solo por escleródios, deve ser realizada a fungigação, levando-se em consideração o produto a ser utilizado e observar com muito critério a lâmina d água, bem como o fungicida utilizado. Sempre deve-se utilizar o produto ou a combinação de produtos que vá garantir maior eficiência no controle do patógeno nas plantas doentes, produtos que impossibilitem a formação de apotécios e que apresentem um período residual maior. Manejo de herbicidas: Deve-se considerar alguns aspectos na escolha de herbicidas para serem utilizados, tais como a cultura a ser implantada, o histórico da área e, principalmente, o número de escleródios/m2. Caso haja escleródios presentes na área, a escolha do herbicida deve ser realizada com bastante critério, principalmente na cultura do feijoei-

Fig 2

Fig 3

Dirceu Gassen

Mofo-branco atacando a haste da soja

14

Cultivar

ro. Foi observado pelos autores que alguns herbicidas estimulam a germinação carpogênica dos escleródios de S. sclerotiorum e, conseqüentemente, o emprego do controle químico desse fitopatógeno com fungicidas será imprescindível. Manejo da cobertura morta e dos restos culturais: A queimada dos resíduos na superfície do solo não é recomendável. A manutenção de cobertura morta nas áreas de cultivo proporciona um microclima favorável para o desenvolvimento de microorganismos antagonistas que podem destruir os escleródios. Além de reduzir a luminosidade, o que afeta a viabilidade dos escleródios, os expõe por mais tempo à ação dos microorganismos antagonistas. Outro aspecto epidemiológico importante a considerar é que, mesmo que haja a formação de apotécio sob os restos culturais, a camada de palha formada dificultará a dispersão a lonwww.cultivar.inf.br

gas distâncias dos ascósporos produzidos, ou seja, a palhada na superfície do solo é mais uma barreira para evitar a disseminação do fitopatógeno na área. Deve-se evitar incluir na alimentação de bovinos os resíduos de culturas suscetíveis, produzidas em áreas com histórico da doença, pois os escleródios, ao passarem pelo trato digestivo desses animais, apesar de apresentarem uma grande redução na viabilidade, podem ser transportados para outros locais da propriedade, onde o problema ainda não ocorre. Lâmina d água: a incidência e severidade da doença em feijoeiro irrigado são menores quando se utiliza lâmina d água . menor. Marcos Augusto de Freitas, UFLA Luiz Carlos Bhering Nasser, Mapa Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003


Trigo Fotos Neri Ferreira

Por água abaixo

Fortes chuvas trazem de volta doença que há muito tempo não ocorria nas lavouras de trigo

D

evido ao excesso de chuvas ocorrido na safra de trigo 2002, algumas doenças fúngicas manifestaram-se com grande intensidade. Uma dessas moléstias, a Mancha Aquosa, ocorreu generalizadamente nas lavouras localizadas nos Planaltos do Rio Grande do Sul e do Paraná. De acordo com os pesquisadores da Universidade de Passo Fundo, Ricardo Trezzi Casa e Erlei Melo Reis, essa doença já havia sido detectada no Brasil a partir de 1994 em lavouras de cevada e de trigo. Entretanto, as condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento - excesso de chuva - determinaram a sua ocorrência. Esse ataque fúngico às folhas resultou no comprometimento do potencial fotossintético da planta de trigo. O patógeno ataca preferencialmente as folhas da planta, podendo causar lesões na bainha da folha bandeira no ponto de inserção da folha. As lesões foliares inicialmente apresentam aspecto encharcado ou de anasarca, de cor verde pálido, donde derivou o nome comum de mancha aquosa, tornando-se mais tarde de coloração palha. Apresenta forma oval alongada com aproximadamente 7,6 mm de largura (4,4 - 12,1 mm) e 21 mm de comprimento (14,3 - 42,6 mm). Sobre as lesões, em condições de alta umidade relativa do ar, pode-se verificar uma coloração rosa-alaranjada da esporulação do fungo. O fungo também pode comprometer a qualidade do grão, uma vez que o patógeno pode infectar as espigas. O fungo sobrevive nos restos cultu16

Cultivar

www.cultivar.inf.br

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

Planta de trigo atacada por brusone

rais e na semente. A temperatura ideal para o desenvolvimento do patógeno situa-se na faixa de 15 a 18 oC. No Brasil ainda não existem informações sobre seus danos, fontes de inóculo e controle. Existe pouco conhecimento sobre a doença tanto por parte de técnicos como de produtores.

De um modo geral, a diagnose de doenças não tem sido feita com precisão. Tradicionalmente, são feitas poucas vistorias nas lavouras para diagnosticar e quantificar as doenças do trigo. Desta maneira, o controle fitossanitário tem sido realizado quando as doenças já apresentam elevada intensidade, o que difi-

culta o controle. Além do trigo, a epidemia da mancha aquosa ocorreu em cevada e triticale. Com menor intensidade, a doença foi detectada em aveia branca. Devido também ao clima favorável nesta safra, ocorreram epidemias da giberela em trigo e da brusone em cevada e triticale. Neste momento em que o trigo dá mostras de melhora da sua remuneração, faz-se necessário, para obtenção de maiores produtividades, intensificar os cuidados. O potencial genético disponível das cultivares capacita a produção de até 4 toneladas por hectare, porém, por mais absurdo que pareça, produz-se apenas a metade desse valor. Pesquisa conduzida na UPF tem quantificado os danos causados por doenças em cereais de inverno. Como resultado dessa pesquisa tem sido recomendado como critério indicador do momento para controle de doenças da parte aérea, o Limiar de Dano Econômico (LDE). O LDE fundamenta-se em aplicar o fungicida quando as doenças causam um dano igual ao custo de controle com fungicida. Em relação à mancha aquosa, mostraramse promissores em seu controle fungicidas do grupos da estrubilurinas, isolados ou em mistura com triazóis. Os triazóis isoladamente não apresentaram controle . satisfatório. NF


AENDA

Defensivos Genéricos

Café

Diversas medidas de controle podem ser utilizadas para evitar ou diminuir as perdas causadas pelas doenças infecciosas

Trocando o nome

Café em perigo

E

xiste uma legítima prática de estratégia comercial na qual uma empresa desdobra um determinado produto em marcas diferentes para atender características de nichos mercadológicos. A mais comum é duas empresas estabelecerem acordos de co-distribuição de produtos que preencham lacunas no portfólio de cada uma (vide os produtos classic e smart da DU PONT/MILENIA). Por vezes, ao perceber que determinado tipo de aplicação do produto será ressaltado se tiver uma marca que trabalhada distintamente possa se identificar melhor com um específico mercado, a empresa lança mão dessa tática (vide pix e driver da BASF). As fusões e incorporações de empresas trouxeram também marcas duplas de um mesmo produto para a responsabilidade das novas companhias por curtos períodos ou de forma permanente, dependendo das reações dos mercados regionais ou segmentados (vide clorpirifós 480 e curinga da MILÊNIA). Em observação mais atenta sobre as conseqüências desses produtos clonados ou vestidos de marca própria, é possível notar claramente que tanto as empresas quanto os agricultores saem ganhando. As empresas alargam as vendas do ingrediente ativo. No imediato, os usuários encontram uma oferta mais diversificada geográfica e numericamente, sentem uma melho-

ria na prestação de serviços com a concorrência se esmerando para ganhar suas preferências e, no médio prazo, por vezes constatam uma redução no preço do produto por conta do progressivo e quase imperceptível entrechoque das marcas. No caso dos Defensivos Agrícolas, essa prática tem uma faceta auto-estimulante. Trata-se das dificuldades para obtenção do certificado de registro, passaporte imprescindível para a comercialização. É um sistema que exige muitos testes agronômicos, químicos, ambientais e toxicológicos e, por isso mesmo, demorado e caro. No entanto, ao registrar um produto com outra marca, a empresa tem de qualquer forma que submeter às autoridades um pleito de registro. Porém, como se trata do mesmo produto, não é necessário desenvolver um segundo dossiê de eficácia e segurança. Basta substituir no processo todos os estudos por uma declaração confirmando a situação e aportando apenas testes específicos para usos distintos, se houverem. Tempo e dinheiro são economizados, sem que a legitimidade do registro seja maculada. É de todo importante mencionar que nessas situações o rótulo e a bula são peças exatamente idênticas, à exceção da marca comercial; não sendo permitida qualquer chamada promocional indutora de fantasias ao agricultor. Aliás, nunca é demais lembrar que os defensivos agrícolas não são bens de

consumo pessoal, como creme de barbear, batom, sabonete ou objetos que se exibam em prateleiras de supermercados, à disposição da escolha. Em verdade, esse insumo tem características de um bem de produção, adquirido para assegurar sanidade aos grãos, frutas, hortaliças, condimentos, madeiras, fibras ou outras utilidades produzidas em fábricas a céu aberto sobre o substrato solo, a que damos o nome de fazenda, estância, chácara, granja ou sítio. Ademais, esse mercado tem normas rigorosas de comercialização e uso. O comerciante só pode dar início à operação de venda com a apresentação de uma receita agronômica por parte do gestor da propriedade agrícola. A bula aqui é bem respeitada: usar dose diferente ou aplicar o produto próximo à colheita, desrespeitando suas instruções, pode resultar em pena de reclusão por dois a quatro anos. Esse estratagema de adotar marcas diversas para um mesmo produto não deve ser confundido com a multiplicidade de marcas dos produtos genéricos, já que neste caso são produtos pertencentes a empresas diferentes, embora também significativamente similares. Todavia, os benefícios ao público são da mesma dimensão, decorrentes do aumento da concorrência. É claro que a velocidade da queda de preços é acelerada . no caso dos genéricos.

I

ncidem sobre os cafeeiros diversas doenças infecciosas, a maioria delas causadas por fungos, mas também por bactérias e vírus. Entre as medidas de controle disponíveis, a mais utilizada é o controle químico, que quando utilizado de forma inadequada (produto, dose, época e tecnologia de aplicação), pode acarretar sérios danos à cultura, ao ambiente e aos aplicadores, além de acrescentar custos à produção. É crescente a tendência de adicionar valor ao produto final através da divulgação, sua origem, não só pela área geográfica onde é produzido mas também, quando possível, através da aplicação do conceito de rastreabilidade, permitindo-se ao comprador ou consumidor ter acesso à tecnologia utilizada nas

propriedades ao longo do processo produtivo. O controle integrado de doenças, onde essas são mantidas em baixos níveis através de um conjunto de medidas, permitindo a redução do número e dose de aplicações dos defensivos, ou mesmo dispensando a sua aplicação, torna-se pelos motivos anteriormente citados, de fundamental importância para a sustentação e valorização da atividade cafeeira. O controle integrado de doenças envolve vários princípios, entre eles a prevenção. A prevenção baseia-se no conhecimento do conjunto de condições que favorecem a ocorrência das doenças e uma vez conhecido este conjunto de condições, deve-se utilizar medidas preventivas para Fotos Vicente L. de Carvalho / EPAMIG

Quem sai ganhando com o mercado de produtos clonados?

Plântulas de café com sintomas de Rhizoctoniose

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

www.cultivar.inf.br

eliminá-las ou mesmo reduzi-las. Vamos considerar, por exemplo, os primeiros fatores que podem determinar a maior ou menor ocorrência de determinadas doenças, ou seja, as mudas utilizadas e o local selecionado para o plantio. Para o caso das mudas, devemos selecionar aquelas produzidas dentro dos padrões fitossanitários, evitando-se levar o inóculo de algumas doenças para o campo, como o caso dos fungos Rhizoctonia solani e Cercospora coffeicola, sendo que o primeiro pode estar presente em mudas que não apresentam sintomas nos viveiros e vir a manifestar sintomas tardiamente no campo. Além disso, mudas que apresentem-se pouco vigorosas e doentes dificilmente se estabelecerão bem no campo, dando origem a plantas com baixos potenciais vegetativo e produtivo. A variedade selecionada, por sua vez, deve ser adaptada às condições das regiões e, quando possível, dotada de características de resistência a doenças já registradas nas áreas de plantios, facilitando a condução das lavouras e dando origem a plantas sadias e vigorosas e, portanto, mais resistentes ao conjunto de doenças que normalmente incidirão ao longo do ciclo da cultura. Da mesma forma, o local de cultivo pode ser determinante da ocorrência de certas doenças. Inicialmente, deve-se respeitar os zoneamentos edafo-climáticos, implantando-se a cultura, sempre que possível, dentro das áreas aptas. Sendo uma imposição a implantação da cultura fora das áreas de aptidão, é requerido um exame cuidadoso das variações ambiCultivar

... 19


...entais dentro da área selecionada. Pode-

Considerando-se a estreita relação entre o clima e as doenças, é de se esperar que a ocorrência e severidade das doenças sofram variações proporcionais às variações climáticas, conforme tem-se observado nos últimos anos através de elevações das temperaturas médias, atrasos no início das chuvas e outras, promovendo conseqüentemente a redução ou agravamento de determinadas doenças. Deste fato advém a importância do conhecimento das condições climáticas e das relações de cada variável climática com as doenças, para que se defina e se aplique preventivamente estratégias de controle que impeçam a manifestação epidêmica dessas. Dessa forma, intervenções através das medidas de controle químico ficarão reduzidas em termos de número de aplicações necessárias para se complementar as demais medidas de controle. Sejam elas de natureza cultural, genética e outras com inúmeros benefícios para o produtor, para o meio ambiente, enfim, para toda a cadeia produtiva. Devemos ressaltar ainda a importância dos microorganismos, sobretudo os fungos, que podem atuar durante as fases de frutificação, colheita e pós-colheita, afetando a qualidade organoléptica e segurança do produto final. Sua ocorrência, desenvolvimento e produção de metabólitos indesejáveis devem ser prevenidos pela adoção de Boas Práticas de Cultivo, colheita e preparo, muitas delas já abordadas anteriormente no presente artigo. A presente abordagem do tema Doenças Infecciosas do Cafeeiro tem como finalidade proporcionar aos cafeicultores uma visão holística do problema e alertá-los para a necessidade de conhecer as principais doenças, as condições para a sua ocorrência e severidade e, na presença de condições favoráveis, o conjunto de medidas disponível para seu controle adequado. Caso necessário, os cafeicultores deverão recorrer aos técnicos das Instituições de Pesquisa ou Extensão mais próximos de sua região visando o estabelecimento de uma estratégia de controle fitossanitário das lavouras de acordo com as condições própri. as de cada propriedade. Sára M. Chalfoun

mos, por exemplo, evitar as faces sujeitas à incidência de ventos frios ou aquelas muito baixas e, portanto, sujeitas ao acúmulo de neblina, mais distantes de grandes massas de água e assim por diante. Adicionalmente em presença de um possível efeito local de favorecimento de uma ou de um conjunto de doenças deve se partir, desde a implantação da lavoura, para a adoção de medidas preventivas de controle, tais como implantação racional de quebra ventos, utilização de medidas adequadas de cultivo (preparo cuidadoso das áreas de plantio, espaçamento adequado, irrigação, arborização e outras). A fase de cultivo do cafeeiro pode ser dividida em duas etapas: a fase inicial de desenvolvimento das plantas e a fase produtiva. A partir da primeira produção, al-

Frutos de cafeeiro atacados pela Cercosporiose

gumas doenças podem assumir uma maior importância devido aos frutos funcionarem como drenos de importantes nutrientes tornando as plantas mais susceptíveis à maioria das doenças. Este fato justifica a importância adicional de práticas de adubação, abastecimento de água e controle do mato, possibilitando às plantas permanecerem sadias e vigorosas e, portanto, mais resistentes às doenças. Nesta fase, as doenças assumirão uma importância relativa de acordo com a região de cultivo, sendo que a ferrugem (Hemileia vastatrix Berk & Br.) e cercosporiose (Cercospora coffeicola Cooke) assumem grande importância em todas as regiões. O sucesso do manejo dessas doenças dependerá sobretudo do conhecimento das condições que determinam sua ocorrência e severidade e da adoção de um conjunto de medidas que permitam mantêlas abaixo do nível de dano econômico. 20

Cultivar

www.cultivar.inf.br

Sára Maria Chalfoun, EPAMIG/EcoCentro Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

Dirceu Gassen

Nossa capa

Dos métodos culturais de controle dos nematóides, a rotação de culturas é o mais eficiente na maioria dos casos

Roda salvadora N

ematóides parasitas de plantas causam perdas estimadas em 12% na produção agrícola, representando cerca de 100 bilhões de dólares de prejuízo anual, em todo o mundo (Sasser e Freckman, 1987). No Brasil, vários gêneros de fitonematóides provocam reduções significativas na produção de diversas culturas, como Aphelenchoides bessey, causador da doença conhecida como ponta-branca-do-arroz, que em áreas com ataque intenso pode provocar perdas próximas de 30 a 50% (Freitas et al., 1999); Radopholus similis, atualmente disseminado em quase todas as áreas produtoras de banana, causa tombamento de plantas em fase de produção, devido às extensas necroses na raiz e no rizoma; Ditylenchus dipsaci,um dos principais problemas fitossanitários do alho, que embora não se saiba ao certo o nível de perdas causadas por este nematóide no País, são freqüentes os abandonos de áreas devido às altas infestações após três ou quatro ciclos da cultura. Contudo, os nematóides causadores de maior volume de perdas nas culturas econômicas são os pertencentes ao gênero Meloidogyne, pois estes têm uma ampla distribuição Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

geográfica, apresentam uma enorme gama de hospedeiros, parasitando quase todas as plantas cultivadas, existindo atualmente mais de 80 espécies nesse gênero. Estimam-se que as perdas causadas por esse nematóide podem chegar a 24% em café, tomate e soja (Freitas et al., 1999). Em geral, o controle de fitonematóides é uma tarefa difícil. O controle químico através de nematicidas apresenta diversos inconvenientes, pois esses produtos são caros, altamente tóxicos, persistentes, têm amplo espectro e podem contaminar águas subterrâneas, representando, dessa forma, um grande risco a outros organismos e ao ambiente. Por essas razões, os atuais nematicidas vêm sofrendo grandes restrições de uso em muitos países. O controle através da resistência genética é limitado pela escassez de cultivares resistentes na maioria das culturas, pois, em muitas, tais cultivares inexistem ou são de adaptação restrita, impedindo o seu emprego em larga escala. Embora bastante estudado, o controle biológico utilizando inimigos naturais dos nematóides, como fungos nematófagos e bactérias do gênero Pasteuria, ainda necessita de pesquisas www.cultivar.inf.br

para sua viabilização em nível de campo. Em vista de todos esses problemas, os métodos culturais de controle merecem destaque dentre as alternativas para eliminar a população dos fitonematóides presentes em uma área, ou mais provavelmente reduzir as populações desses patógenos abaixo do nível de dano econômico. Dos métodos culturais de controle de nematóides, a rotação de culturas é o mais eficiente na maioria dos casos. O parasitismo obrigatório dos fitonematóides é uma importante característica que pode ser utilizada nas táticas de manejo. A rotação de culturas, para reduzir a população e os danos causados por nematóides, é recomendada há vários anos (Nusbaum & Ferris, 1973). Trata-se alternar os cultivos de plantas suscetíveis com plantas más hospedeiras, não hospedeiras ou resistentes. É uma prática cultural comumente utilizada com o objetivo de reduzir a população de nematóides fitoparasitas no solo por escassez de alimento. O controle por rotação está na dependência de alguns fatores, tais como: 1) conhecer as espécies de fitonematóides presentes na área, pois, com o emprego da rotação, controla-se a densidade populacional da espécie de Cultivar

... 21


...impacto econômico, porém, pode-se favore-

cer a população de uma espécie não predominante e esta vir a causar danos expressivos à cultura; 2) o conhecimento da gama de hospedeiros da(s) espécie(s) e raça(s) de nematóides que ocorrem na área, inclusive plantas daninhas, pois fora da área submetida à rotação, certas plantas daninhas mantêm as populações desses fitonematóides que podem infestar as áreas onde estes organismos haviam sido erradicadas por esta prática; 3) é uma prática recomendada para culturas anuais. Quando se trata de culturas perenes, é praticamente inviável se pensar em rotação de culturas visando controlar nematóides, a não ser em caso de erradicação de lavouras infestadas bastante decadentes. Existem poucas culturas de importância econômica que não são hospedeiras, ou são hospedeiras pouco eficientes, ou ainda possuem cultivares resistentes que poderiam ser incluídos em um esquema de rotação. Nos Estados Unidos, os agricultores americanos têm colhido excelentes produções de soja,cultivadas em solos infestados com Heterodera glycines e M. incógnita, graças ao uso de milho e cultivares de soja resistentes a esses nematóides em rotações. Cultivares de trigo, aveia e cevada também reduziram as populações de Meloidogyne incognita e Pratilenchus neglectus presentes em área de cultivo de beterraba, na Califórnia. Moura (1991) estudou o plano de rotação de culturas, com duração de dois anos, numa área altamente infestada com Meloidogyne incognita raça 1 e M. javanica, cultivada por mais de cinco anos com cana-de-açúcar cv. CB 45-3. Foram utilizados, nos tratamentos, amendoim cv. Tatu Roxo, milho cv. Centralmex, capim sândalo (vetiveria zizanioides) e Crotolaria juncea. A testemunha foi cana cv CB 45-3 em parcelas tratadas com o nematicida carbofuran, à razão de 50 kg/ha, aplicado no sulco. Excetuando-se a cana, o capim-sândalo e a crotolária, os demais tratamentos foram constituídos por dois cultivos anuais. Os resultados obtidos demonstraram que os tratamentos com amendoim seguido de amendoim e milho seguido de amendoim foram os mais efetivos no controle dos fitonematóides, podendo ser indicados em planos de rotação de culturas para controle de meloidoginoses da cana-de-açúcar, desde que as espécies de nematóides sejam as avaliadas, pois amendoim é um bom hospedeiro para outras espécies de Meloidogyne, com M. arenaria. As culturas de cereais como trigo, aveia e cevada não são hospedeiros ou são resistentes a M. hapla. O resíduo das culturas de cereais pode melhorar também a coesão e a estrutura do solo, a retenção da água e reduzir a erosão em solos orgânicos (Bélair, 1992). Huang&Cares (1995) recomendam para controle de Meloydogine incognita e M. javanica em áreas cultivadas com cenoura, a rotação com

22

Cultivar

LEGUMINOSAS CROTALARIA SPP.

Nódulo de raiz aberto mostrando cistos causados por nematóides

Fotos Dirceu Gassen

Os nematóides do genêro Meloidogyne são os causadores das maiores perdas econômicas

www.cultivar.inf.br

tomate (cvs. IPA-3 e Nemadouro), batata-doce (cvs. Brazilândia, Rosada e Coquinho), cebola, amendoim, milho e cereais. As seqüências de cultivo podem ser variáveis, podendo ser adaptadas a diferentes ambientes e regiões. Segundo Campos (1995), algumas culturas de interesse econômico podem ser utilizadas em rotação nas áreas de cultivo com hortaliças infestadas por M. javanica e M. incognita. O morango não é ainda infectado por Meloidogyne no Brasil. O algodão é resistente à M. incognita (raça 1 e 2), M. javanica, M. arenaria e M. hapla. Como as raças 1 e 2 de M. incognita são as mais comuns em campos de hortaliças, o algodão constitui boa opção para o agriculDezembro de 2002 / Janeiro de 2003

Várias espécies do gênero Crotalária apresentam ação antagônica a nematóides, principalmente os do gênero Meloidogyne, embora também sejam eficientes no controle de outros gêneros. As espécies mais difundidas no Brasil são C. juncea, C. spectabilis e C. paulina. Além da ação antagônica a nematóides, as crotalárias apresentam a vantagem de produzirem grande quantidade de fitomassa que são incorporadas ao solo após o período de rotação, geralmente 120-150 dias depois do seu plantio, em plena floração, sendo também bastante eficiente na fixação de nitrogênio atmosférico, cerca de 450kg/ha/ano (Wutke, 1993). Crotalaria spectabilis em rotação com feijão e repolho pode reduzir as populações de Belonolaimus longicaudatus, Dolichodorus heterocephalus, M. incognita e T. christici, proporcionando, portanto, maiores produções dessas culturas. Crotalaria Paulínia e C. spectabilis também são promissoras como plantas antagonistas visando redução na população de Meloidogyne javanica. Huang et al. (1980) utilizaram Crotalaria spectabilis e tomateiro cv. Santa Cruz em um programa de rotação de culturas, durante oito meses, em uma área infestada por Meloidogyne incógnita, que posteriormente foi cultivada com duas cultivares de cenoura (Nacional e Nantes). A eficácia da Crotalária foi verificada através da produção de cenouras comercializáveis e peso total de raízes, Tabelas 01 e 02. Os resultados mostraram que as duas cultivares de cenoura, semeadas nas parcelas anteriormente plantadas com Crotalaria produziram não

tor, assim como o amendoim, que é resistente a todas as raças de M. incógnita, M. javanica e à raça 2 de M. arenaria. Plantas antagônicas são aquelas que afetam negativamente a população de fitonematóides, como plantas-armadilha (o nematóide penetra, mas não completa o seu desenvolvimento), hospedeiros ruins (há penetração, mas poucos nematóides se desenvolvem) e aquelas que contêm compostos nematicidas/nematostáticos em seus tecidos, que podem ser liberados no meio externo ou atuar apenas no interior das plantas. Também há plantas que apresentam substâncias nematicidas em suas folhas, flores, frutos, sementes, caule ou casca. Essas plantas antagônicas não prejudicam os inimigos naturais dos nematóides e podem fornecer resultados mais rápidos que as plantas simplesmente não-hospedeiras. Diversas plantas têm sido estudadas quanto às suas propriedades de antagonismo a nematóides. Dentre estas, destacam-se as leguminosas, compostas e gramíneas. Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

só mais raízes comercializáveis como também maior peso total de raízes.

MUCUNA SPP.

A mucuna-preta (Mucuna aterrima) têm sido a espécie mais plantada e estudada nesse gênero no Brasil, tendo se mostrado eficiente no controle de Meloidogyne spp. Em casa-de-vegetação, Mucuna spp. têm mostrado bons resultados no controle de M. incógnita, do qual são consideradas suscetíveis, porém com um grau de suscetibilidade inferior aos apresentados por hospedeiros mais favoráveis, como o quiabeiro. Em condições de campo, entretanto, tem-se verificado bom controle de M. javanica com Mucuna spp. Essa discrepância pode ser atribuída à incorporação da fitomassa produzida nos experimentos de campo. Além do efeito da matéria orgânica, nesse caso parece haver também o envolvimento de compostos nematicidas presentes na parte aérea de mucuna-preta, como a triacontil (Nogueira et al., 1994).

COMPOSTAS

As espécies de Tagetes (cravo-de-defunto) são as mais estudadas da família Compositae, sendo particularmente eficientes no controle de Pratylenchus app. e Meloidogyne spp., embora sejam eficientes também no controle de outros nematóides. A eficiência do controle depende da espécie e da cultivar de Tagetes empregada. Seu efeito sobre os nematóides é atribuído a compostos nematicidas encontrados nas raízes dessas plantas, como atertienil e b-tiessil.

...

A rotação de culturas, na maioria dos casos, é eficiente no controle de nematóides

www.cultivar.inf.br

Cultivar

23


Produção de cenoura cv. Nacional, em área infestada com Meloidogyne incognita, plantada em rotação como tomateiro cv. Santa Cruz ou com Crotalaria spectabilis. classificação da cenoura Raízes comercializáveis sem galhas1 Raízes comercializáveis com galhas 2 Raízes refugadas 3 Raízes digitadas 4 Total

Produção (Kg / 0,8 m2) Após Após Crotalaria Tomateiro (A) - (B)* 2,53 0,27 0,03 0,14 2,97

0,14 1,38 0,05 0,78 2,35

2,39* -1,11* -0,02 -0,64* 0,62*

HUANG et al. (1980). *Diferença significativa a 1% pelo teste de Students; 1= raízes com diâmetro maior que 2cm e comprimento superior a 9cm, sem galhas o outros defeitos; 2 = Raízes com tamanho semelhante ao anterior, mas com galhas; 3 = raízes com diâmetro menor que 2cm ou comprimento inferior a 9cm, não comercializáveis; e 4 = Raízes bifurcadas não aceitas para comercialização.

...

GRAMÍNEAS

Dirceu Gassen

Gramíneas forrageiras como Brachiaria spp., Digitaria decumbens cv. Pangola, Eragrostis curvula e Panicum maximum cv. Guiné tiveram o seu efeito antagônico a M. javanica confirmado por Brito & Ferraz (1987). O capimpangola foi bastante estudado por Haroon &

fera de nove culturas em rotação de cultivo com cafeeiro infestado recém-erradicado. Os tratamentos foram: arroz cv. ParanaProdução (Kg / 0,8 m2) íba, milho cv. Cargill 111, sorgo classificação da cenoura Após Após forrageiro cv. BR-12, feijão cv. Crotalaria Tomateiro (A) - (B)* Carioca, Panicum maximum cv. Raízes comercializáveis sem galhas1 0,02 2,93* Makueniw, soja cv. Doko, Crota2,95 Raízes comercializáveis com galhas 2 0,56 1,77 -1,21* laria spectabilis, mucuna-preta e Raízes refugadas 3 0,19 -0,14* 0,05 café cv. Mundo Novo como tes4 Raízes digitadas 0,45 0,05 0,50 temunha. A população foi moTotal 2,43 1,63* 4,06 nitorada por 23 meses, quando HUANG et al. (1980). então mudas de café foram plan*Diferença significativa a 1% pelo teste de Students; 1= raízes com diâmetro maior que 2cm e comprimento superior a 9cm, sem galhas o outros defeitos; 2 = Raízes com tamatadas para se verificar a possível nho semelhante ao anterior, mas com galhas; 3 = raízes com diâmetro menor que 2cm erradicação do patógeno. Pratiou comprimento inferior a 9cm, não comercializáveis; e 4 = Raízes bifurcadas não aceicamente não se encontraram lartas para comercialização. vas de segundo estádio do nematóide nas parcelas de todas as culSmart Jr. (1983), mostrando-se eficiente no turas avaliadas após 6 meses de cultivo, com controle de Meloidogyne spp. Os mesmos au- exceção do milho onde isso ocorreu aos 9 tores encontraram compostos nematicidas e meses. A não ocorrência de M. exígua nas raobservaram inibição no desenvolvimento des- ízes do cafezal implantado após o plantio das culturas mencionadas comprovou a erradicases nematóides nas raízes. Almeida & Campos (1991) estudaram a ção do nematóide durante o período do ensobrevivência de Meloidogyne exígua na rizos- saio. Conclui-se que a rotação de culturas é uma prática cultural de controle eficiente contra microorganismos necrotróficos de pouca capacidade competitiva, cujas estruturas de dispersão não sejam facilmente carregadas pelo vento, e que não produzam estruturas de resistência. Para patógenos habitantes do solo, a rotação de culturas pode não ser tão eficiente como para patógenos invasores do solo. Entretanto, neste caso o tempo de rotação de culturas será evidentemente muito maior. Constitui também numa prática muito eficiente na redução da população de nematóides no solo e conseqüentemente na redução da intensidade das doenças. Trata-se de uma prática muito antiga, pouco dispendiosa, que além do controle de doenças promove a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Pode ser usada para o controle de doenças de plantas causadas por fungos, bactérias e nematóides, baseando-se no princípio da erradicação do patógeno da área, e aplicase a muitas culturas agrícolas de relevante interesse econômico, especialmente culturas anuais. Apresenta algumas limitações no controle de nematóides tais como a não ser eficiência para todas as espécies e raças de nematóides presentes na área; apresenta também restrição de ordem climática, pois as espécies de plantas resistentes a nematóides nem sempre se adaptam nas mais diversas regiões geográficas do país; restrição de ordem edáfica; rentabilidade das culturas utilizadas na ro. tação e resistência dos produtores. tabela 02

tabela 01

Algodão Produção de cenoura cv. Nantes, em área infestada com Meloidogyne incognita, plantada em rotação como tomateiro cv. Santa Cruz ou com Crotalaria spectabilis.

Os nematóides causam prejuízos de 100 bilhões de dólares por ano à agricultura

24

Cultivar

www.cultivar.inf.br

Laércio Zambolim, UFV Erlei Melo Reis e Ricardo Trezzi Casa, UPF Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

Goiás contra o bicudo A cotonicultura goiana decide dar fim aos danos causados pelo bicudo e implanta uma estratégia de combate que envolve toda a cadeia produtiva do algodão na guerra contra essa praga

A

região do Oeste baiano conseguiu uma efetiva redução da população do bicudo do algodoeiro graças à implantação de uma estratégia regional de controle. Em apenas um ano, houve economia de 2 milhões de dólares. Agora é a vez de Goiás assumir o inseto como problema prioritário, pois é preocupante a velocidade de expansão e adaptação do bicudo às condições de cultivo do algodoeiro naquela região.

QUEM É O BICUDO?

Como todos os membros da família Curculionidae, o bicudo Anthonomus grandis -apresenta como maior caracDezembro de 2002 / Janeiro de 2003

terística o bico ou rostro, em cuja ponta situam-se as peças bucais; mais ou menos no centro do bico estão as antenas. O bicudo é lento ao caminhar e raramente voa, a não ser quando se dirige para a hibernação. Também chamada de diapausa, a hibernação é um meio de sobrevivência do inseto durante o inverno em países como os Estados Unidos, onde o frio é mais intenso. O local mais propício ao refúgio do bicudo, naquele país, é a camada de folhas secas que se forma sob as florestas localizadas nas proximidades das plantações. No Brasil, devido à condição tropical, ocorre a quiescência no lugar da diwww.cultivar.inf.br

apausa, o que significa que essa praga não paralisa totalmente suas atividades no inverno. Saindo da hibernação, o macho se dirige para as plantações de algodão, atraído pelo cheiro, e começa se alimentando de folhas novas. É então que libera os feromônios, atraindo as fêmeas para a plantação.

DANOS

Segundo Paulo E. Degrande, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), se não for controlado corretamente, o Anthonomus grandis pode causar perdas de até 70% da produção em função da sua alta capacidade de reCultivar

... 25


Divulgação

Anthonomus grandis causando sérios danos em algodão

... produção e elevado poder destrutivo.

Devido ao seu ataque, botões florais, flores e maçãs caem da planta. A praga também destrói, internamente, maçãs firmes provocando o carimã . Os danos repercutem, sobretudo, em perda da qualidade do algodão colhido e redução da produtividade.

AÇÃO CONJUNTA

Para tentar acabar com o bicudo em Goiás, criou-se uma parceria regional entre Fundação Goiás, Fialgo Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão em Goiás, Agência Rural, Agopa Associação Goiana dos Produtores de Algodão, Governo de Goiás, MAPA e Faeg Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás. Com a orientação técnica de Walter J o rg e ( I a p a r ) e Pa u l o D e g r a n d e (UFMS), foram elaboradas estratégias para a tomada de um conjunto de atitudes efetivas, regionais e coletivas que possam reduzir a proliferação da praga, para que os riscos e custos sociais, econômicos e ambientais não sejam fatores que venham a afetar a continuidade sustentada da atividade algodoeira na região. Se as medidas forem adotadas em todas as áreas nas quais se cultiva algodão em Goiás, será possível reverter essa situação. A meta prática é reduzir as populações do bicudo do algodoeiro visando eliminar o dano econômico ocasionado pela praga, através da adoção de um pacote tecnológico efetivo, fácil de im26

Cultivar

plementar, de baixo custo e de reduzido impacto ambiental. O objetivo final do projeto é obter significativos benefícios econômicos, ecológicos e biológicos, com o potencial produtivo assegurado e incrementado a médio e longo prazo. Por exemplo, a quantidade de inseticidas deverá ser reduzida pela melhor adequação de uso e também devido à gradativa queda populacional da praga. As medidas indicadas para as regiões infestadas para a safra 2002/03 em

Goiás, conforme Walter Jorge e Paulo Degrande, são estas: Semeadura concentrada nas regiões algodoeiras do Estado em até 30 a 40 dias; Aplicação de inseticidas nas bordaduras (30m) a partir do estádio V2 (segunda folha com 2,5 cm de comprimento) e até a fase de primeira maçã firme, a intervalos de 5 dias; Três aplicações de inseticidas a partir do surgimento dos primeiros e pequenos botões florais (estádio B1), a intervalos de 5 dias; Monitoramento constante da lavoura, e adoção do nível de controle de até 5% de botões florais atacados pelo bicudo. Este nível determinará a necessidade de reaplicação de inseticida para a praga; Três aplicações de inseticidas quando for identificado o primeiro capulho aberto (cut-out= fase que a planta finalmente pára seu crescimento vegetativo), a intervalos de 7 dias; Destruição das soqueiras até 30 de julho, ou como determina a Lei; Instalação de armadilhas contendo feromônio a partir de 1/09/2003. Obs.: datas/períodos/estádios deverão ser ajustados pelos monitores do projeto; as armadilhas deverão ser instaladas onde e quando for possível antes da safra; os inseticidas deverão ser recomen. dados aos assessores técnicos. PR

Cultivar

O bicudo, em certas condições, pode causar prejuízo de 70% na produção

www.cultivar.inf.br

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003


Algodão

Cor e valor As cultivares de fibra colorida valem 50% a mais do que as de fibra branca

O

algodão constitui-se numa das principais atividades agrícolas do Brasil, que na safra 2001/2002 plantou em torno de 800.000 ha. A maior parte desta área plantada deuse na Região Cento-Oeste, sendo o Estado do Mato Grosso detentor da maior área de plantio e da maior produtividade. As cultivares de algodão, para serem exploradas nesta região de cerrado, devem possuir além de características tecnológicas da fibra, que devem estar em consonância com os padrões exigidos pela industria têxtil, muitas outras características agronômicas, como produtividade e resistência a várias doenças de ocorrência comum naquela região. No algodoeiro, são pelo menos 15 características importantes que uma cultivar 28

Cultivar

deve possuir . Quanto maior o número de caracteres que se deseja reunir em uma variedade, mais difícil se tornam os trabalhos de melhoramento. A tarefa de produzir cultivares de algodoeiro com todas estas características não é, portanto, fácil de ser conseguida. Não obstante a estes fatores, nos últimos anos, algumas cultivares de algodão têm sido lançadas naquela região, as quais têm contribuído para o aumento de produtividade, que atualmente ultrapassa os 1000Kg de fibra/ha, sendo um dos maiores do mundo. Na região Nordeste, a cultura do algodão sempre foi uma importante atividade agrícola entre as culturas de subsistência. Sua importância se dá tanto no aspecto econômico quanto no social pela mãowww.cultivar.inf.br

de- obra ocupada no campo. Uma das características que as cultivares devem possuir para serem cultivadas na Região Nordeste é a resistência a seca. O algodão é considerado uma cultura tolerante a seca, mas deficits hídricos prolongados podem afetar o seu rendimento, bem como a qualidade da fibra. Nos últimos três anos tem aumentado o interesse no Nordeste pelo uso de cultivares de fibra colorida cujos preços são maiores em pelo menos 50% em relação às de fibra branca. Além disso, essas cultivares geram um produto com apêlo ecológico por dispensarem o preparo e o tingimento realizados pela indústria, evitando-se dejetos poluidores do meio ambiente. A Embrapa lançou uma cultivar de fibra creme de algodão perene que já foi Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

apropriados a diversos fins, como colheita mecanizada. Estes genes estão sendo incorporados em cultivares com propósito ainda de se estudar sua influência, por exemplo, no escape ou tolerância à seca por condicionarem a planta a apresentar um padrão de frutificação mais rápido e compactado que cultivares de frutificação normal. Os genes para coloração da fibra também encontram-se descritos na literatura, como o dominante Lg , para cor verde e aqueles determinantes da cor marrom. Existem também no algodoeiro genes que deixam a planta desprovida de gossipol, inclusive as sementes. O gossipol é tóxico ao homem e animais não ruminantes. O uso da semente do algodão na alimentação humana e de animais não ruminantes requer o desenvolvimento de cultivares sem glândulas de gossipol, sendo que neste caso.a farinha proveniente da semente de algodão, que é muito rica em proteínas de elevado valor biológico pode ser usada diretamente na alimentação humana, tendo em média 46% de proteína . O gene mais conhecido para ausência de gossipol é o recessivo gl2. Existe, no entanto, outro gene, obtido por indução de mutação, GL2E, que é dominante e possui vantagem em relação ao recessivo, pois as sementes oriundas de cruzamentos naturais entre uma variedade portadora deste gene e outra normal ainda são glandless. Desta forma, os trabalhos para a região Nordeste buscam, além dos objetivos do melhoramento tradicional, o desenvolvimento de novas cultivares que além das características conhecidas apresentem os três genes mencionados acima, ou seja, que sejam tipo cluster ou intermediárias no padrão de frutificação, visando uma maior tolerância ou escape à seca para cultivo no Nordeste, de fibra marrom ou verde, com expressão máxima de cada cor e que sejam glandless (com o gene dominante) para que as sementes das cultivares possam ser usadas na alimentação humana e de animais monogástricos. As figuras 1 e 2 apresentam linhagens de fibra marrom escura, de boa qualidade tecnológica e com padrão de frutificação compactado, com expressão máxima do gene cl2 , existindo outras com frutificação intermeFotos Luiz Paulo de Carvalho

Fig. 03

plantada em 700 ha na safra 2002 na região Nordeste , com previsão para 12.000 ha na safra de 2003. Com objetivo de produzir novas cultivares de fibra colorida de algodão anual, com características de frutificação diferenciadas e com outras características como tolerância à seca e ausência de gossipol, trabalhos de melhoramento vêm sendo realizados, utilizando-se de genes já conhecidos descritos a seguir. Os ramos frutíferos do algodoeiro em seu estado normal possuem crescimento indeterminado. Existem alguns genes que reduzem o comprimento deste ramos, tornando a planta mais compacta por apresentar apenas um ou poucos entre-nós e mais de um fruto por nó. Estes genes estão descritos na literatura e são chamados cluster, cl1 e cl2. Eles são ainda importantes no melhoramento porque permitem, caso sejam usados em cruzamentos, obter cultivares com padrão de frutificação intermediária entre os tipos com muitos ramos vegetativos e os inteiramente cluster e, portanto, mais

O algodão de fibra colorida tem valor 50% superior ao de fibra branca (Fig. 01)

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

www.cultivar.inf.br

Linhagem de fibra marromescura e de boa qualidade tecnológica (Fig. 02)

diária, com outras colorações. O gene para ausência de gossipol está sendo incorporado nestas linhas existindo progênies com os três genes. A figura 3 mostra que o ramo frutífero possui apenas um entre-nó e este termina com dois frutos ou capulhos por nó, tornando a planta mais compactada. Estas linhagens estão sendo avaliadas também quanto aos aspectos fitotécnicos, como espaçamento e densidade de plantio, pois elas permitem um adensamento muito maior em relação às cultivares normais, quanto ao consórcio com culturas alimentares e quanto às respostas à adubação e outros aspectos fisiológicos da planta, em relação às cultivares de fruti. ficação normal. Luiz Paulo de Carvalho, Embrapa Algodão Cultivar

29


Eficiência comprovada Estudo realizado na última safra mostra quais os melhores herbicidas para o controle de invasoras de folhas largas e estreitas em sistema de plantio direto

O

controle de plantas daninhas na cultura do milho reveste-se de acentuada relevância, visto que a ausência de espécies competidoras concorrendo com a cultura nos períodos de definição da produção pode possibilitar a obtenção de rendimentos compensadores (Dourado Neto, 2000). Para a garantia de altas produtividades, 30

Cultivar

o controle das plantas daninhas deve ser iniciado cedo, de preferência antes de 15 dias após a emergência da cultura (Zagonel et al., 2000). Entretanto, o início do controle vai depender da infestação, da população, da espécie presente e também da época que a gradagem ou a dessecação com herbicidas foi realizada. No último caso, a espécie e seu estádio de desenvolviwww.cultivar.inf.br

mento é que definem a época em que a dessecação deve ser realizada (Blanco et al., 1976; Ramos e Pitelli, 1994; Pitelli, 1985; Blanco, 1996; Souza et al., 1996; Zagonel et al., 1998). O manejo adotado em cada propriedade é que determina as espécies incidentes e sua população. Na região dos Campos Gerais de Ponta Grossa, entre as poáDezembro de 2002 / Janeiro de 2003

quadro 1:

Nomes comercial e comum, doses em gramas do ingrediente ativo (g ia.ha-1) e produto comercial (pc.ha-1) por hectare dos tratamentos utilizados no experimento com milho. Fazenda Escola (UEPG). Ponta Grossa, PR. 2001/2002. Nome Comercial

Dose (pc.ha-1)

Nome comum

Dose (g ia.ha-1)

foramsulfuron + iodosulfuron 36,0 + 2,4 1. Equip Plus1 0,12 kg foramsulfuron + iodosulfuron 45,0 + 3,0 2. Equip Plus 0,15 kg (24,0 + 1,6) + 1000,0 3. Equip Plus + Atrazinax2* 0,08 kg + 2,00 L (foramsulfuron + iodosulfuron) + atrazine (30,0 + 2,0) + 1000,0 4. Equip Plus + Atrazinax2* 0,10 kg + 2,00 L (foramsulfuron + iodosulfuron) + atrazine nicosulfuron 40,0 5. Sanson 40 SC3 1,00 L nicosulfuron + atrazine 24,0 + 1000,0 6. Sanson 40 SC + Atrazinax* 0,60 L + 2,00 L 7. Test. Capinada 8. Test. sem capina 1 Aos tratamentos 1, 2, 3 e 4 foi adicionado espalhante adesivo a 0,25% v.v-1 (0,5 L.ha-1 de Hoefix); 2Mistura no tanque * A partir de 26/07/2002, a Instrução Normantiva de n° 46 do MAPA determina a retirada das indicações de mistura em tanque.

MATERIAL E MÉTODOS

quadro 2:

ceas (gramíneas) de maior incidência destacam-se o capim-papuã (Brachiaria plantaginea) e o capim-milhã (Digitaria horizontalis), ambas de crescimento rápido e grande capacidade de perfilhamento. Entre as plantas daninhas de folhas largas que predominam na região e que também afetam a produtividade do milho, destaca-se o leiteiro (Euphorbia heterophylla) pela capacidade de competição e difícil controle (Kissmann, 1997). O controle de plantas daninhas em plantio direto é realizado através do uso de herbicidas de ação pré ou pós-emergente. Em muitos casos, é comum a mistura de produtos, pois em uma única aplicação é possível controlar um maior número de espécies, melhorar o controle sobre essas e, se um ou mais produtos da mistura apresentar ação residual, o controle pode se manter eficiente por maior tempo, evitando uma segunda aplicação. Entre os herbicidas tradicionalmente utilizados para o controle de plantas daninhas em milho, encontram-se a atrazine e o nicosulfuron. A atrazine, do grupo das triazinas, controla plantas daninhas latifoliadas, algumas gramíneas anuais, é seletiva à cultura e pode ser aplicada tanto em pré como em pós-emergência. O nicosulfuron atua principalmente pela ação pós-emergente, objetivando o controle de gramíneas e algumas espécies de folhas largas (Rodrigues e Almeida, 1998; Andrei, 1999; Lorenzi, 2000). Outro herbicida, de lançamento recente, é o Equip Plus, que consiste da mistura pronta de foramsulfuron com iodosulfuron methyl sodium, ambos do grupo das sulfoniluréias (Franco, 2002). O foramsulfuron tem ação predominantemente graminicida, enquanto para o iodosulfuron predomina a ação latifolicida, o que garante à mistura de ambos um amplo espectro de controle para as plantas das duas espécies. Nesse sentido, realizou-se o presente trabalho que teve como objetivo avaliar a eficiência e a seletividade do herbicida Equip Plus isolado e em mistura no tanque com atrazine no controle de plantas daninhas na cultura do milho em sistema de plantio direto na palha.

tabela 1:

Pablo Rodrigues

Informe técnico

Nomes científico e comum, número de plantas/m2 e estádio de desenvolvimento das plantas daninhas presentes no experimento com milho. Ponta Grossa, PR. 2000/01.

Estádio de Nome Nome O experimento foi instalado na 2 científico comum Plantas/m desenvolvimento Fazenda Escola Capão da Onça da Brachiaria plantaginea capim-papuã 136 3 folhas a 1 perfilho UEPG, no município de Ponta Groscapim-milhã Digitaria horizontalis 2 folhas a 1 perfilho 92 sa, PR, em um Cambisolo háplico leiteiro Euphorbia heterophylla 2 a 4 folhas 29 distrófico de textura argilosa, no ano agrícola 2001/02. O delineamento experimental utilizado foi de blocos Os herbicidas foram aplicados através ao acaso, com oito tratamentos e quatro de pulverizador costal, à pressão constanrepetições. As parcelas apresentaram área 2 total de 19,2 m2 (6,0 x 3,2 m) e área útil te de 30 lb/pol , pelo CO2 comprimido, com pontas de jato plano leque XR 110de 8,0 m2 (5,0 x 1,6 m). O sistema de plantio utilizado foi o 02. Aplicou-se o equivalente à 200 L.ha plantio direto na palha , com semeadura de calda. A aplicação dos tratamentos foi do híbrido DKB-214 realizada em 10/10/ realizada na pós-emergência da cultura e 01, mecanicamente, em fileiras espaçadas das plantas daninhas, no dia 08/11/01, com de 0,80 m. A adubação consistiu da apli- início às 9:30 min e término às 10:30 min. cação de 300 kg.ha de adubo de fórmula Na pulverização, a temperatura do ar era o 08-30-20 na semeadura e 90 kg.ha de ni- de 24,0 C, o tempo estava nublado (70 % de nuvens), sem ventos, umidade relativa trogênio (na forma de uréia), aplicado em do ar de 85 % e o solo encontrava-se úmicobertura quando as plantas de milho apredo. sentavam seis folhas em média. As plantas daninhas predominantes no O manejo de plantas daninhas antes da semeadura do milho foi realizado em experimento estão descritas no Quadro 2. As avaliações de controle de plantas daárea total com a aplicação de 2,0 L.ha de ninhas foram efetuadas visualmente aos 7, Roundup (glyphosate - 360 g ea.L) aos 15 dias antes da semeadura e 1,0 L.ha de Gra- 15 e 30 dias após a aplicação dos tratamenmoxone (paraquat 200 g ia.L) um dia tos, visualmente, comparando-se o controle exercido pelos herbicidas com a testeapós a semeadura . Os nomes comercial e comum, doses munha sem capina, onde 0% correspondo ingrediente ativo e do produto comer- deu a sem controle e 100% a controcial dos tratamentos utilizados, encon- le total . As avaliações de fitotoxicidade foram tram-se no Quadro 1. efetuadas nas mesmas datas das avaliações de controle, utilizando-se o como base os conceitos descritos na Tabela 1, recomenDescrição dos conceitos aplicados a avaliações de toxicidade ou seletividade dada pela Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas (1995). Conceito Descrição A colheita foi efetuada no dia 12/03/ A Sem injúria. Sem efeito sobre a cultura. 2002, manualmente, utilizando-se as planB Injúrias leves e/ou redução de crescimento com rápida recuperação. Efeitos insuficientes para promover reduções de produtividade tas da área útil das parcelas para a deterC Injúrias moderadas e/ou reduções de crescimento com lenta recuperação ou definitivas. Efeitos intensos o suficiente para promover minação da produtividade de grãos. Os pequenas reduções na produtividade. dados obtidos foram submetidos à análise D Injúrias severas e/ou reduções de crescimento não recuperáveis e/ou redução de estande. Efeitos intensos o suficiente para da variância e as diferenças entre as médipromover drásticas reduções de produtividade. as comparadas pelo teste de Tukey no níE Destruição completa da cultura ou somente algumas plantas vivas. vel de 5 % de probabilidade. Na análise

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

www.cultivar.inf.br

Cultivar

... 31


quadro 3:

Avaliação visual de controle (%) para Brachiaria plantaginea aos 7, 15 e 30 dias após a aplicação (DAA) dos tratamentos no milho. Fazenda Escola UEPG. Ponta Grossa, PR. 2001/02. Nome comercial 1. Equip Plus 2. Equip Plus 3. Equip Plus + Atrazinax 500 4. Equip Plus + Atrazinax 500 5. Sanson 40 SC 6. Sanson 40 SC+Atrazinax 500 7. Test. Capinada 8. Test. sem capina C.V. (%)

Dose (pc.ha) 0,12 kg 0,15 kg 0,08 kg + 2,00 L 0,10 kg + 2,00 L 1,00 L 0,60 L + 2,00 L

7 DAA

15 DAA

30 DAA

95,2 a 95,0 a 90,7 a 96,0 a 92,0 a 90,0 a 100,0 0,0 4,9

99,5 a 100,0 a 100,0 a 99,5 a 91,2 b 93,2 b 100,0 0,0 2,1

100,0 a 100,0 a 100,0 a 100,0 a 87,5 b 91,2 b 100,0 0,0 1,7

Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Tukey (p<5%); 1Dose em gramas do ingrediente ativo por hectare; C.V. = coeficiente de variação quadro 4:

Avaliação visual de controle (%) para Digitaria horizontalis aos 7, 15 e 30 dias após a aplicação (DAA) dos tratamentos no milho. Fazenda Escola UEPG. Ponta Grossa, PR. 2001/02. Nome comercial

Dose (pc.ha)

7 DAA

15 DAA

30 DAA

quadro 5:

0,12 kg 1. Equip Plus 90,0 ab 97,5 a 91,2 ab 0,15 kg 95,7 a 95,7 a 96,5 a 2. Equip Plus 0,08 kg + 2,00 L 97,7 a 96,0 a 99,5 a 3. Equip Plus + Atrazinax 500 0,10 kg + 2,00 L 4. Equip Plus + Atrazinax 500 94,0 ab 99,5 a 100,0 a 86,2 bc 1,00 L 71,2 c 82,5 c 5. Sanson 40 SC 81,2 c 88,7 b 88,7 b 6. Sanson 40 SC+Atrazinax 500 0,60 L + 2,00 L 100,0 7. Test. Capinada 100,0 100,0 0,0 0,0 0,0 8. Test. sem capina 4,2 2,3 3,2 C.V. (%) Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Tukey (p<5%); 1Dose em gramas do ingrediente ativo por hectare; C.V. = coeficiente de variação Avaliação visual de controle (%) para Euphorbia heterophylla aos 7, 15 e 30 dias após a aplicação (DAA) dos tratamentos no milho. Fazenda Escola UEPG. Ponta Grossa, PR. 2001/02. Nome comercial

Dose (pc.ha)

7 DAA

15 DAA

30 DAA

quadro 6:

93,7 a 98,5 a 0,12 kg 1. Equip Plus 65,0 a 97,0 a 94,5 a 0,15 kg 2. Equip Plus 67,5 a 97,0 a 96,0 a 0,08 kg + 2,00 L 65,0 a 3. Equip Plus + Atrazinax 500 99,5 a 98,0 a 0,10 kg + 2,00 L 60,0 a 4. Equip Plus + Atrazinax 500 86,2 b 93,2 a 1,00 L 5. Sanson 40 SC 65,0 a 99,0 a 92,5 a 6. Sanson 40 SC+Atrazinax 500 0,60 L + 2,00 L 67,5 a 100,0 100,0 7. Test. Capinada 100,0 0,0 0,0 8. Test. sem capina 0,0 3,6 3,0 C.V. (%) 14,1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Tukey (p<5%); 1Dose em gramas do ingrediente ativo por hectare; C.V. = coeficiente de variação Produtividade de grãos (kg.ha) e fitotoxicidade dos tratamentos de controle de plantas daninhas aplicados no milho. Fazenda Escola - UEPG. Ponta Grossa, PR. 2001/02. Produtividade 7 DAA (kg.ha) a 10105 a 0,12 kg 1. Equip Plus a 0,15 kg 10313 a 2. Equip Plus a 3. Equip Plus + Atrazinax 500 0,08 kg + 2,00 L 9485 a a 4. Equip Plus + Atrazinax 500 0,10 kg + 2,00 L 9538 a a 1,00 L 9057 a 5. Sanson 40 SC a 9740 a 6. Sanson 40 SC+Atrazinax 500 0,60 L + 2,00 L a 10121 a 7. Test. Capinada a 5743 b 8. Test. sem capina 8,6 C.V. (%) Nome comercial

Dose (pc.ha)

Medias seguidas da mesma letra, não diferem pelo teste de Tukey (p<5%); Conceito conforme a Tabela 1; 2Dias após a aplicação dos tratamentos

1

32

Cultivar

15 DAA 30 DAA b b b b b a a a -

a a a a a a a a -

... das avaliações de controle

foram comparados somente os resultados dos tratamentos herbicidas, isolando-se as testemunhas.

RESULTADOS

As condições do tempo no decorrer do experimento foram adequadas ao desenvolvimento do milho e das plantas daninhas, que se encontravam em plena atividade metabólica na época da aplicação dos tratamentos. Aos 7 dias após a aplicação (DAA) dos tratamentos, o controle promovido pelos herbicidas foi eficiente e similar para Brachiaria plantaginea (Quadro 3). Aos 15 e 30 DAA, observase que o Equip Plus isolado e em mistura com Atrazinax 500 mostrou controle superior ao verificado para o Sanson 40 SC isolado e em mistura com Atrazinax 500. No controle para Digitaria horizontalis (Quadro 4), aos 7 DAA o Equip Plus isolado e em mistura com Atrazinax 500 apresentou controle superior ao Sanson 40 SC (isolado e em mistura). Aos 15 e 30 DAA, embora todos os tratamentos tenham se mostrado eficientes, o Equip Plus isolado e em mistura com Atrazinax 500 promoveu controle estatisticamente superior ao Sanson 40 SC isolado e em mistura com Atrazinax 500. O controle mostrado pelos herbicidas para Euphorbia heterophylla foi baixo aos 7 DAA e o potencial dos mesmos somente foi exteriorizado a partir de 15 DAA, quando todos mostraram controle eficiente e adequado para a infestação em questão (Quadro 5), mantendo esse controle até 30 DAA, onde todos promoveram controle similar. Analisando-se o controle como um todo, observouse que o Equip Plus foi eficiente para as três espécies avaliadas e que sua mistura www.cultivar.inf.br

com Atrazinax 500 promoveu resultados similares. No entanto, a única espécie de folhas largas presente era Euphorbia heterophylla e a mistura pode constituir na melhor opção quando outras espécies de folhas largas incidirem, onde o Atrazinax 500 pode representar o diferencial no controle. Outro fato importante é que a semeadura foi realizada no cedo, onde a emergência das espécies de folhas largas é menor. Para semeaduras mais tardias e para o milho safrinha, o número de espécies de folhas largas é maior e o uso da atrazine pode ser necessário. Para o Sanson 40 SC, a adição de Atrazinax 500 foi benéfica, pois aumentou a eficiência de controle para as três espécies avaliadas, especialmente para Euphorbia heterophylla. Os herbicidas mostraram produtividade similar entre si e a testemunha capinada (Quadro 6). Embora tenham ocorrido diferenças no controle promovido pelos herbicidas, especialmente para Brachiaria plantaginea (Quadro 3), essas não foram suficientes para interferir na produção final, uma vez que as diferenças foram mais acentuadas aos 15 e 30 DAA, época correspondente ao final do período crítico de interferência (Pitelli, 1985). Em relação à fitotoxicidade, os tratamentos contendo Equip Plus e o Sanson 40 SC isolado promoveram uma leve redução de porte do milho aos 15 DAA (Quadro 6), sintomas que não foram mais observados aos 30 DAA, indicando que, com o crescimento, as plantas vieram a se recuperar. Outro fato a se destacar é que os tratamentos com Equip Plus isolado e a testemunha capinada foram os únicos a apresentar produtividade superior a 10.000 kg.ha, o que mostra que a fitotoxicidade inicial não veio a afetar a produtividade de grãos.

CONCLUSÕES

O Equip Plus é efetivo no controle de espécies de folhas largas e estreitas, visto que tanto aplicado isoladamente como em mistura com Atrazinax 500 foi eficiente no controle para Brachiaria plantaginea, Digitaria horizontalis e Euphorbia heterophylla, com resultados iguais ou superiores ao Sanson 40 SC; Os tratamentos contendo Equip Plus e o Sanson 40 SC isolado promoveram uma leve redução de porte do milho aos 15 DAA. Porém, não foi observado nenhum efeito na produtividade de grãos, indicando que os mesmos são se. letivos à cultura. Jeferson Zagonel, UEPG Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003


Adubação na safrinha

Além da dose de manutenção dos nutrientes que estão com os teores ótimos no solo, é necessário aplicar prioritariamente os nutrientes mais deficientes

aumentou a produtividade em todas as fórmulas de adubo aplicadas no sulco de plantio; Na ausência de sulfato de amônio em cobertura, a maior produtividade foi obtida aplicando-se 250 kg ha de 08-1616 + Ca: 8,0%; S: 5,0%; Zn: 0,5%; B: 0,05% (5.458 kg/ha). No entanto, na utilização de sulfato de amônio em cobertura, a maior produtividade foi obtida utilizando-se 252 kg/ha de 10-20-10 + Ca: 8,5%; S: 5,5%; Zn: 0,32%; B: 0,05%; Cu: 0,06%; Mn: 0,25%; Mo: 0,006% (5.823 kg/ha); Nas características de solo do local de realização de experimento somente a aplicação de sulfato de amônio em cobertura (sem adubação de plantio) proporcionou maior produtividade (4.669 kg/ha) do que os seguintes tratamentos utilizados no plantio: 248 kg/ha de 1020-20 + Zn: 1%; 100 kg/ha de uréia e 100 kg/ha de MAP. Isto provavelmente se deve ao fato de que estas fórmulas de adubo usadas no plantio não apresentam enxofre e o solo em questão encontra-se deficiente do elemento; Cabe salientar que foi utilizada uma população de plantio de 70.000 plantas/ha e, 20 dias após a emergência, foi feito desbaste, deixando uma população final de 45.000 plantas/ha. No entanto, observou-se que a aplicação de 100 Fotos Pionner

Descrição dos tratamentos contendo fórmulas e dose ha-1usadas no sulco de plantio, na presença e ausência de sulfato de amônio (S.A.) em cobertura. Maracaju/MS, FUNDAÇÃO MS, 1999.

Adubação no sulco de plantio Tratamento

Fórmula

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Testemunha (sem adubo) Testemunha (sem adubo) Uréia (N: 45%) Uréia (N: 45%) Uréia (N: 45%) Uréia (N: 45%) 10-20-20 + Zn: 1% 10-20-20 + Zn: 1% 10-20-10 + Micro1 10-20-10 + Micro1 08-16-16 + Micro2 08-16-16 + Micro2 10-50-00 (MAP) 10-50-00 (MAP)

Cobertura

Dosagem/ha S.A. (kg/ha) 100 100 160 160 248 248 252 252 250 250 100 100

0 143 0 143 0 143 0 143 0 143 0 143 0 143

1- 252 kg/ha de 10-20-10 + Ca: 8,5%; S: 5,5%; Zn: 0,32%; B: 0,05%; Cu: 0,06%; Mn: 0,25%; Mo: 0,006% (fonte: ADM). 2- 250 kg/ha de 08-16-16 + Ca: 8,0%; S: 5,0%; Zn: 0,5%; B: 0,05% (fonte: Serrana).

tabela 2

P

ara se obter melhores resultados técnicos e econômicos é fundamental que se conheça os fatores mais limitantes de cada área (gleba) dentro da propriedade, pois só assim se consegue programar uma adubação equilibrada, aplicando-se prioritariamente os nutrientes mais deficientes, além de uma dose de manutenção dos nutrientes que estão com os teores ótimos no solo. As principais ferramentas disponíveis para esse fim são: histórico da área, análise de solo e análise foliar. O objetivo deste trabalho foi de avaliar o efeito da adubação de plantio e de cobertura sobre a produtividade do milho safrinha. Desta forma, o interesse não foi comparar fórmulas entre si, pois as mesmas diferem na composição e concentração de nutrientes. Na Tabela 2 encontram-se os resultados de produtividade obtidos em função da adubação utilizada no sulco de plantio, na ausência e presença de sulfato de amônio em cobertura. De acordo com as informações contidas no respectivo quadro, faz-se os seguintes comentários: Todas as fórmulas de adubo utilizadas no sulco de plantio aumentaram a produtividade do milho safrinha; A aplicação de sulfato de amônio em cobertura aos 16 dias após o plantio

tabela 1

Milho

Produtividade do milho safrinha (kg ha-1) em resposta à adubação. Média de seis repetições. Maracaju/MS, FUNDAÇÃO MS, 1999. Adubação de plantio kg/ha

252 (10-20-10 + micro)1 250 (08-16-16 + micro)2 160 (Uréia N: 45%) 248 (10-20-20 + Zn: 1,0%) 100 (Uréia N: 45%) 100 (MAP N: 10% e P205: 50%) Testemunha (sem adubo) Média para S. amônio

S. amônio (143 kg/ha) Ausência Presença 5.150 a3 5.458 a 4.694 b 4.522 bc 4.569 bc 4.402 bc 4.141 c 4.705 B

5.823 a3 5.488 a 4.972 b 4.953 b 4.729 b 4.714 bc 4.669 b 5.050 A

Média 5.487 a3 5.473 a 4.833 b 4.737 b 4.649 bc 4.558 bc 4.405 bc 4.877 c

1- 252 kg/ha de 10-20-10 + Ca: 8,5%; S: 5,5%; Zn: 0,32%; B: 0,05%; Cu: 0,06%; Mn: 0,25%; Mo: 0,006% (fonte: ADM). 2- 250 kg/ha de 08-16-16 + Ca: 8,0%; S: 5,0%; Zn: 0,5%; B: 0,05% - (fonte: Serrana). 3- Médias seguidas da mesma letra minúscula nas colunas e maiúsculas na linha não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. CV(%) = 7,5.

Adubação nitrogenada em cobertura aplicada por difusor a lanço

34

Cultivar

www.cultivar.inf.br

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003

www.cultivar.inf.br

e 160 kg/ha de uréia no sulco de plantio atrasou a germinação e diminuiu o estande. Isto se deve ao efeito salino da uréia, acentuado ainda pelo estresse hídrico ocorrido após o plantio. Na Tabela 3 encontram-se os resultados de produtividade obtidos em função da adubação utilizada no sulco de plantio, na média da adubação de cobertura com sulfato de amônio. De acordo com as informações, têm-se os seguintes comentários: A adubação de plantio aumentou significativamente a produtividade do milho safrinha, sendo que os tratamentos que proporcionaram maiores produtividades foram: 252 kg/ha de 10-20-10 Cultivar

... 35


Fazenda Agropecuária Mazzochin, situada em Maracaju/MS.

Tratamentos:

São diferentes fórmulas de adubo usadas no sulco de plantio, contendo um ou mais nutrientes, na presença e ausência de sulfato de amônio em cobertura (conforme Tabela 1).

Delineamento experimental:

Inteiramente ao acaso com seis repetições.

Plantio: 27/02/99.

Híbrido: CO 32.

Adubação:

Conforme planejado.

Sulfato de amônio:

143 kg ha aplicados a lanço 16 dias após o plantio.

População de plantio: 70.000 plantas/ha.

População final, após desbaste: 45.000 plantas/ha.

Herbicida:

Para folha larga e estreita.

Inseticida:

Para lagarta-do-cartucho.

...+ Ca: 8,5%; S: 5,5%; Zn: 0,32%; B:

0,05%; Cu: 0,06%; Mn: 0,25%; Mo: 0,006% e 250 kg/ha de 08-16-16 + Ca: 8,0%; S: 5,0%, Zn: 0,5%; B: 0,05%, respectivamente, em relação ao tratamento testemunha que não recebeu adubação; O uso de 100 kg/ha de uréia (N: 45 kg/ha) e 100 kg/ha de MAP (N: 10 kg ha e P2O5: 50 kg/ha) não aumentou significativamente a produtividade. Isto provavelmente se deve ao fato de que as duas fórmulas não apresentam enxofre e zinco em sua composição e, segundo os resultados de análise de solo, estes dois nutrientes estão abaixo do nível ideal;

36

Cultivar

tabela 3

Produtividade do milho safrinha (kg/ha) em resposta à adubação utilizada no sulco de plantio. Média de 12 repetições. Maracaju/MS, FUNDAÇÃO MS, 1999. Produtividade Variação4 (kg/ha) (sc/ha) (%)

Adubação de plantio kg/ha

252 (10-20-10 + micro)1 250 (08-16-16 + micro)2 160 (Uréia N: 45%) 248 (10-20-20 + Zn: 1,0%) 100 (Uréia N: 45%) 100 (MAP N: 10% e P2O5: 50%) Testemunha (sem adubo)

5.487 a3 5.473 a 4.833 b 4.737 b 4.649 bc 4.558 bc 4.405 c

18,0 17,8 7,1 5,5 4,1 2,6 0,0

24,6 24,2 9,7 7,5 5,5 3,5 0,0

1- 252 kg/ha de 10-20-10 + Ca: 8,5%; S: 5,5%; Zn: 0,32%; B: 0,05%; Cu: 0,06%; Mn: 0,25%; Mo: 0,006% (fonte: ADM). 2- 250 kg/ha de 08-16-16 + Ca; 8,0%; S: 5,0%; Zn: 0,5%; B: 0,05% (fonte: Serrana). 3- Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. CV (%): 7,5. 4- Variação da produtividade de milho safrinha, em sc/ha e em % em relação à testemunha.

PRINCIPAIS INFORMAÇÕES

O equilíbrio nutricional é muito mais importante do que doses maiores de certos elementos. Isso ficou evidente através da análise do solo (Tabela 5), pois a mesma mostrou que os nutrientes mais deficientes foram o enxofre e zinco e os tratamentos que continham estes dois elementos associados e uma manutenção de N, P e K proporcionaram maiores produtividades; As doses de uréia (100 e 160 kg/ ha) aplicadas no sulco de plantio, associadas ao déficit hídrico ocorrido após o plantio, prejudicaram a germinação das sementes e a emergência das plântulas; O sulfato de amônio em cobertura, fornecendo nitrogênio e enxofre, aumentou estatisticamente a produtividade do milho safrinha.

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que: Todos os tratamentos com adubação no sulco de plantio aumentaram a produtividade; Os tratamentos contendo enxofre, zinco e boro, além de N, P e K, não dife-

Produtividade do milho safrinha (kg/ha) em resposta à adubação com sulfato de amônio. Média de 42 repetições. Maracaju/MS, FUNDAÇÃO MS, 1999.

tabela 4

Local:

tabela 5

Metodologia

As duas formulações contendo mais nutrientes em suas composições, especialmente S e Zn, além de N, P e K, aumentaram a produtividade em torno de 24% em relação à testemunha. No entanto, os demais tratamentos que não apresentam enxofre e/ou zinco em suas composições contribuíram em menos de 10% na produtividade. Na Tabela 4 encontram-se os resultados de produtividade obtidos em resposta à adubação de cobertura com sulfato de amônio, na média dos sete tratamentos utilizados no plantio. Observase que a aplicação de 143 kg/ha de sulfato de amônio (N: 30 kg/ha e S: 34 kg/ ha) em cobertura, aumentou significativamente a produtividade do milho safrinha, tendo este um acréscimo de 5,8 sc/ ha ou 7,3%.

Sulfato de amônio Produtividade (kg/ha) (kg/ha) 1431 0

Variação3 (sc/ha) (%)

5.050 a2 4.705 b

5,8 0,0

7,3 0,0

1-143 kg/ha de sulfato de amônio aplicados a lanço, 16 dias após o plantio (N: 21% e S: 24%). 2-Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. CV (%): 7,5. 3-Variação da produtividade de milho safrinha, em sc/ha e em % em relação à testemunha.

riram estatisticamente entre si, mas diferiram dos demais; A aplicação de sulfato de amônio em cobertura aumentou estatisticamente a produtividade do milho safrinha, sendo uma opção que deve ser mais ex. plorada. Dirceu Luiz Broch, Carlos Henrique Fernandes, Fundação MS

Resultados da análise de solo do local de realização do experimento. cmolc dm-3

Prof. (cm)

CaCl2

H2O

M.O. g dm3

P (M) mg dm3

P (R) mg dm3

K

Ca

M

Al

H + Al

SB

T

0-20

5,1

6,0

26,0

-

20,0

0,26

3,2

0,9

0,0

3,4

4,4

7,8

Prof. (cm)

S

Na

Fe

Mn

Cu

Zn

B

0-20

5,0

-

13,0

26,8

12,9

0,5

0,30

pH

mg/dm3

Relações Ca/Mg 3,6

Ca/K 12,3

V% 56

Argila Mg/K

(%)

3,5

55

Metodologia: P, K, Ca, Mg = resina; S-SO4 = acetado de amônio 0,5 N; Fe, Mn, Zn e Cu = DTPA; B = água quente.

www.cultivar.inf.br

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003


Fotos Dirceu Gassen

Ovos de Diabrotica speciosa

Diabrotica no milho

Larvas da Diabrotica

Diabrotica sob controle A

vaquinha ou patriota, Diabrotica speciosa, é reconhecida como praga em mais de 40 plantas cultivadas, destacando feijão, hortaliças e fruteiras. A vaquinha adulta é a principal praga desfolhadora de plântulas de feijão, soja e hortaliças. A larva da vaquinha, conhecida como alfinete em batata, é o principal inseto-de-solo, praga em milho, milheto e esporadicamente em cereais de inverno. A ocorrência de populações de larva-alfinete, como praga, não se repete todos os anos nem ocorre de forma generalizada. O controle biológico natural é responsável pela manutenção da população de larvas e adultos em equilíbrio. Para o controle da vaquinha adulta e da larva é importante conhecer a biologia, os hábitos e os fatores de supressão natural para estabelecer estratégias de manejo integrado da praga.

BIOLOGIA

Larva: ataque de 30 e 50 dias pós-plantio

Formigas, inimigas da Diabrotica

Diabrotica predada por inimiga natural

Os insetos do gênero Diabrotica, associados ao milho nos Estados Unidos, são classificados em dois grupos de acordo com o ciclo biológico. O grupo denominado virgifera apresenta espécies univoltinas, com diapausa de inverno na fase de ovo. Os adultos realizam a postura antes do inverno, os ovos se mantêm no solo e as larvas emergem com o aquecimento na primavera seguinte, quando germina o milho. O outro grupo, denominado fucata é representado por espécies com até seis gerações por ano sem fase de diapausa. No Brasil, estudos sobre a sazonalidade reprodutiva do inseto evidenciam que as fêmeas desenvolvem ovário e ovos o ano todo, demonstrando a ausência de diapausa. O ciclo biológico de D. speciosa, determinado em laboratório, teve período larval de 36 dias, pupal de 7 dias, e dois meses de longevidade dos adultos.

A fêmea adulta faz a postura no solo, ou junto às plantas, duas a quatro semanas depois da semeadura de milho. Os ovos de coloração amarela, forma de salsicha e tamanho inferior a 1 mm, são depositados em grupos de dezenas, junto às plantas hospedeiras de larvas e sob torrões. As larvas não estão presentes no solo, na fase de semeadura e de germinação de plantas. A postura é feita depois da germinação do milho e outros hospedeiros da larva. Os danos causados pelas larvas em milho, milheto e cereais de inverno ocorrem no período entre 30 e 50 dias depois da semeadura. Em geral, não se desenvolve segunda geração na mesma cultura. Os adultos emergem de câmaras pupais no solo, alimentam-se de folhas de feijão, soja etc., e fazem a postura em outras espécies de plantas (milho, batata etc.), onde desenvolvem as larvas. As fêmeas com ovário mais desenvolvido têm dificuldade de locomoção e de vôo, determinando a oviposição e ocorrência de populações mais elevadas de larvas nas bordas de lavouras. Os machos se deslocam com facilidade e se alimentam de folhas. Talvez, por isso, os danos nas folhas de plântulas ocorrem distribuídos em toda a lavoura, enquanto as larvas atacam em manchas. A ocorrência de populações elevadas de adultos, recém-emergidos, na fase de espigamento do trigo, indicam a emergência da geração que se completou na cultura de inverno. Em milho, a ocorrência de adultos é observada na fase de pendoamento, 60-70 dias depois da semeadura, caracterizando uma geração nessa cultura.

DANOS

Os danos mais severos de vaquinhas, adultas e larvas, ocorrem nas lavouras isoladas e semeadas fora de época. As lavouras de safrinha e as

primeiras áreas semeadas depois do inverno sofrem as infestações de adultos e a oviposição das fêmeas resultando na necessidade de controle da praga. As plântulas são nutridas, inicialmente, pela semente e as primeiras folhas realizam a fotossíntese com energia dirigida para o desenvolvimento de raízes. As plantas de feijão, soja e de outras espécies necessitam de desenvolvimento inicial vigoroso e não toleram desfolhamentos nas primeiras folhas. Em milho e milheto os danos são causados pelas larvas, no período que se situa entre um a dois meses de desenvolvimento da planta, atacando somente as raízes adventícias. Em conseqüência, causam o tombamento de plantas e reduzem o rendimento de grãos. Aos 60 dias após a semeadura, depois da fase de danos das larvas, as plantas emitem raízes nos nós superiores, firmando-as ao solo, resultando no curvamento típico da planta de milho, denominado de pescoço-de-ganso ou milho ajoelhado . As plantas acamadas dificultam a colheita mecanizada, provocando perdas no rendimento de grãos. As larvas atacam as raízes na fase em que as plantas extraem maior quantidade de nutrientes do solo. Resultados de experimentos em lavouras determinaram perdas de 27 % na produção de grãos de milho atribuídas ao dano da larva-alfinete. Em geral, a cultura que antecede o milho não influencia sobre a ocorrência da larva-alfinete, pois os adultos voam com facilidade e apresentam hábitos alimentares diferentes das larvas. Entretanto, a presença de culturas hospedeiras para adultos (feijão, girassol, abóbora, ervilhaca e outras), pode facilitar a postura e a ocorrência de larvas em milho.

AMOSTRAGEM

A amostragem da larva-alfinete no solo é um processo trabalhoso e

demorado. A lavagem da terra através de peneiras e a flutuação em meio líquido é o processo mais demorado. Muitas larvas são perdidas por amassamento e por desintegração no processo de lavagem. Estudos sobre amostragem visando determinar índices de controle de larvas da vaquinha em milho evidenciaram que estas foram encontradas na camada não-compactada do solo, junto às raízes e sob a bainha das folhas próximo da coroa da planta, e a menos de 10 cm de profundidade no solo. A distribuição errática das larvas indica a conveniência de adotar unidades de amostra de tamanho pequeno e repetidas maior número de vezes. Unidades de amostra de uma planta de milho, com a remoção de solo na forma de um cubo com lado de 0,2 m, parecem ser adequadas para extração de larvas no sul do Brasil. Em torno de 10 unidades de amostra por unidade experimental parece ser um número razoável e possível de ser executado.

INIMIGOS NATURAIS

A dinâmica populacional e os fatores de mortalidade de D. speciosa são pouco conhecidos. O parasitóide Celatoria bosqi (Dip., Tachinidae) e o predador Oplomus cruentus (Hem., Pentatomidae) são as citações mais antigas sobre inimigos naturais da vaquinha. Larvas do predador Condylostylus (Dip., Dolychopodidae) foram observadas predando larvas-alfinete no solo e o percevejo do gênero Podisus (Hem., Pentatomidae), atacando adultos da vaquinha. As formigas pretas, principalmente ao gênero Pheidole, predam adultos e larvas de D. speciosa no solo. Grupos de formigas se prendem nas antenas, na cabeça e nas pernas de insetos adultos, especialmente as fêmeas durante a oviposição. As larvas da vaquinha são predadas por formigas no solo individualmente. Nos Estados Unidos, a

A Vaquinha é reconhecida como praga em mais de 40 plantas cultivadas

formiga Lasius neoginer (Hym., Formicidae), foi responsável pela redução de até 80 % na população de larvas de Diabrotica spp. em milho. No sul do Brasil, as formigas parecem ser os principais predadores de larvas-alfinete. As lavouras sob plantio direto, com abundância de palha na superfície do solo, propiciam um ambiente favorável ao desenvolvimento de populações de inimigos naturais da vaquinha e reduzem as populações de larvas e adultos da praga. Entre os parasitóides, merece destaque o himenóptero Centistes gasseni (Hym., Braconidae), parasito de adultos. Esse parasitóide é constatado com até 50 % de parasitismo natural. Esse parasitóide parece ser um dos fatores bióticos chave do controle natural da praga no sul do Brasil. Nematódeos do gênero Hexamermis (Nematoda: Mermithidae) foram constatados em adultos de D. speciosa. O fungo Beauveria bassiana foi encontrado causando epizootias em adultos e em larvas da vaquinha. Larvas-alfinete mortas por fungos dos gêneros Metarhizium e Beuveria foram encontradas em lavouras de trigo.

MANEJO E CONTROLE

Os insetos adultos voam alguns quilômetros em busca de hospedeiros adequados, com infestação contínua de lavouras de feijão, soja e hortaliças, especialmente na fase de plântula. O tempo de persistência de inseticidas aplicados na parte aérea de plantas e expostos à radiação solar é de aproximadamente uma semana. Por isso, podem ser necessárias aplicações semanais de inseticidas em regiões ou em períodos com elevadas populações de vaquinhas adultas. O tratamento de sementes, com inseticidas sistêmicos, é uma alternativa prática e eficiente de proteção contra os insetos adultos nas

À dir. raiz atacada pela Diabrotica

fases de germinação e de plântula. Porém, a persistência efetiva no campo é de aproximadamente três semanas, insuficiente para proteger contra o dano de larva-alfinete, que se estabelece na lavoura a partir de quatro ou cinco semanas depois da semeadura. A aplicação de inseticidas no sulco de semeadura, na forma de grânulos ou de líquidos aspergidos é a alternativa mais eficiente de controle da larva-alfinete e de proteção das plantas de milho contra o dano da praga. Os inseticidas podem se aplicados via líquido, dirigidos para o fundo do sulco de semeadura. Deve-se evitar a aplicação em faixas, na superfície do solo. A exposição de inseticidas à radiação solar resulta na perda do produto por foto-decomposição. Inseticidas com baixa solubilidade em água como o clorpirifós, o endossulfam e o fipronil, aplicados no sulco de semeadura resultaram em controle da larva-alfinete e na proteção das plantas de milho. O emprego de raízes de taiuiá (Cayaponia tayuya) foi apresentado como alternativa de isca atrativa para controle de adultos. Esta prática não evoluiu entre os agricultores e foi considerada até como fator de atração da praga para as áreas com a presença de raízes. Coletas de adultos em raízes de taiuiá evidenciam que apenas machos são atraídos pela planta, sugerindo alguma forma de atração sexual dos componentes desta raiz. Nos Estados Unidos da América, estão sendo produzidos extratos de plantas, denominados de cucurbitacin que atraem adultos de Diabrotica. O atrativo é adicionado na aplicação de doses reduzidas de inseticidas matando a praga que ingere inseticida e preservando populações de inimigos naturais nas la. vouras. Dirceu N. Gassen, Gerente Técnico Cooplantio

À esq. milho tratado com Clorpirifos

Planta comprometida pelo ataque

Feijão atacado por Diabrotica

Perdas chegam a 27%

Folha destruída pela vaquinha


Agronegócios

Carta ao Presidente Décio Luiz Gazzoni

Exmo. Sr. Luis Inácio Lula da Silva DD. Presidente da República Federativa do Brasil Palácio do Planalto Brasília DF

Brasil, dezembro de 2002.

Meu presidente

E

nquanto a Nação (respiração suspensa) aguarda ansiosa sua investidura como autoridade máxima do País, permitimo-nos submeter à vossa consideração um tema que concilia inúmeras oportunidades para o nosso Brasil. Referimonos à Agricultura de Energia, um segmento embrionário dos agronegócios, que crescerá a altas taxas durante seu mandato, ganhará importância transcendental no Governo de seu sucessor e será o componente hegemônico do agronegócio, quando nossos netos assumirem o leme do Brasil. As oportunidades a que aludimos são: 1. Ambiental: A elevada participação de combustíveis fósseis na matriz energética é um dos maiores perigos à qualidade ambiental, amplificando o efeito estufa, provocando chuvas ácidas e poluindo a atmosfera com substâncias deletérias à saúde humana. Em não havendo uma intervenção a tempo e a hora, os cientistas prevêem uma seqüência catastrófica de mudanças climáticas, com conseqüências imprevisíveis; 2. Econômica: A geração de energia, a partir de fontes renováveis, será um dos mais importantes negócios do mundo, que superará em valor o complexo energético e químico baseado em carbono. O Brasil é o país com melhores condições para liderar a produção mundial de fontes renováveis de energia; 3. Comercial: Analistas estimam que a agricultura de energia será responsável pelo maior volume financeiro das transações do comércio internacional do agronegócio, até a metade deste século; 4. Social: Investindo na produção de biomassa haverá um aumento ponderável da renda nacional, com distribuição mais eqüitativa, geração de grande número de empregos no interior do país, com baixo investimento, e ampliação da arrecadação tributária para aplicação em saúde, educação, habitação e segurança; 5. Tecnológica: O Brasil pode consolidar sua liderança em tecnologia para o agronegócio tropical, constituindo uma plataforma com poder de induzir inovações em outros setores de C & T; e 40 36

Cultivar

6. Estratégica: Ancorado em um agronegócio potente e com uma imagem positiva, associada à proteção ambiental, o Brasil magnificará seu peso específico no concerto das Nações, que conferirá à V. Ex.a um poder de negociação potencializado em relação ao nosso passado recente.

MATRIZ ENERGÉTICA ANACRÔNICA

Senhor Presidente, entendemos que, no decurso do horizonte temporal previsível, o agronegócio estruturar-se-á em quatro macrosegmentos: alimentação e fibras, biomassa, plantas ornamentais e nichos especializados. A biomassa será a base da energia renovável. Especialistas antevêem que esse segmento movimentará o maior volume de recursos das transações agrícolas internacionais, a partir de 2050. Somos cônscios do quanto preocupa V. Ex.a a finitude das principais fontes de energia, como petróleo (35%), carvão (23%) e gás natural (21%), que se esgotarão neste século. Posta a escassez e a extração mais complexa, os preços dispararão. A principal região produtora de petróleo é politicamente instável. Com sua visão da geopolítica, V. Ex.a vislumbra a temeridade de o abastecimento de energia, e de matéria prima para a indústria química, depender dos humores do Oriente Médio. A solução será a progressiva incorporação de energia renovável, investindo na eficiência da produção, do transporte, da conversão e do consumo de energia. Paralelamente, devese inculcar nos usuários uma cultura radical de poupança de energia.

PRESSÃO SOCIAL

Entrementes, com sua sensibilidade política, V. Ex.a vislumbra que a maior pressão da sociedade, para a mudança da matriz energética, provém da poluição atmosférica causada por combustíveis fósseis. Estes são a principal fonte de emissão de gases, que acentuam o efeito estufa e provocam chuvas ácidas . Portanto, antes que os poços sequem ou o preço dispare, a sociedade global exigirá de suas lideranças a abdução das causas do Aquecimento Global, para prevenir suas desastrosas conwww.cultivar.inf.br www.cultivar.inf.br

seqüências. V. Ex.a sabe que o consumo atual de energia no mundo é estimado em 400 EJ/ano (400 x 1018 J) e, para 2100, antecipa-se uma demanda de 2.700 EJ. Até lá, seria necessário seqüestrar 1,5 trilhões de toneladas de CO2 para estabilizar sua concentração na atmosfera. Alternativamente, evita-se sua descarga no ar substituindo energia fóssil por verde. Os países ricos consomem 75% da energia fóssil. Os EUA respondem por 25% da poluição atmosférica mundial, devido ao intenso uso de energia fóssil e ao atraso tecnológico de suas principais plantas industriais. Porém, países com alta densidade populacional e restrições energéticas, como a Indonésia, a China e a Índia, serão grandes importadores de energia. Em 2018, a Índia necessitará de energia equivalente a 7 bilhões de barris de petróleo anuais, prevendo a importação de um terço desse volume.

ENERGIA VERDE

As principais fontes de energia renovável - eólica, solar, hidroelétrica e biomassa - têm vantagens e restrições. Por exemplo, como converter, em larga escala, energia eólica no Hemisfério Norte, com vento inconstante, mormente noturno? Ou heliotérmica, com radiação solar de baixa intensidade e comprimento do dia de grande amplitude sazonal? Na impossibilidade de armazenar energia, em grande quantidade e por longo tempo, o ritmo de produção de eletricidade é determinado pela demanda de cada momento. Presidente, os países ricos têm uma restrição insuperável que é, justamente, nosso diferencial competitivo: a produção de biomassa exige uso contínuo de enormes extensões de terra, sem competir com a agricultura de alimentos. O comércio internacional de biomassa para a produção de energia renovável é denominado Biotrade. Para esse efeito, biomassa é um produto agrícola que possa ser convertido em energia, tal como cana-de-açúcar, florestas cultivadas, soja, dendê, girassol, colza, milho ou mandioca. Os restos de processamento como palha de arroz, lascas ou serragem de Dezembro de 2002 /Outubro Janeiro de 2003 2002

madeira e dejetos da criação animal, também são aproveitáveis.

SUSTENTABILIDADE

O valor energético da biomassa é alto e uma tonelada de matéria seca gera 19 GJ, quando utilizada para aquecimento. Atualmente, a cana pode produzir 980 GJ/ha e a mesma área de reflorestamento, em torno de 400 GJ. Porém, inovações tecnológicas que emanarão da cornucópia tecnológica da Embrapa e de outras instituições devem dobrar esses índices, no médio prazo. O balanço energético, e a sustentabilidade da produção serão as variáveis diretrizes da agricultura energética, facilmente atingíveis com investimentos inteligentes em nossas instituições de pesquisa. A cana-de-açúcar é um bom exemplo do potencial brasileiro. Se, hipoteticamente, o Brasil cultivasse cana em metade da terra arável não utilizada atualmente (cerca de 50 milhões de ha), produziria 16,5 EJ de energia a partir do álcool e 25 EJ (35 EWh/ano) de energia elétrica a cada ano, equivalendo a 23 milhões de barris de petróleo (Mboe), representando 10% da demanda mundial de energia.

OPORTUNIDADES LATENTES

Em seu périplo pelo Brasil, V. Ex.a consolidou a certeza de que nosso país possui potencial para dominar os três ramos do mercado de biomassa: produtos florestais (lenha e briquetes); combustíveis líquidos (biodiesel, etanol e metanol); e energia elétrica (queima de resíduos e dejetos). Podemos fazê-lo conciliando produção com preservação ambiental, distante dos santuários ecológicos como a Amazônia ou o Pantanal. Utilizaremos culturas de alto teor de carboidratos (cana-de-açúcar, milho, mandioca), oleaginosas (soja, colza, palmáceas) e essências florestais (eucalipto, pinus). A tecnologia do álcool combustível made in Brazil está dominada e aceita pelos consumidores. O biodiesel conquista espaço crescente nos mercados americano e europeu, inclusive utilizando o poder de compra do Governo, para acelerar sua adoção. Seu desempenho e balanço energético equivalem-se ao petrodiesel, porém não emite gases sulfurosos, de alto potencial poluidor. Os novos veículos, equipados com sensores eletrônicos, que otimizam a regulagem do motor para operar em qualquer proporção da mistura álcool e gasolina (0:100 a 100:0), ou que combinam o uso de energia elétrica com combustíveis líquidos, darão o impulso definitivo ao mercado de novos combustíveis.

QUÍMICA E FARMÁCIA

Há mais oportunidades, Senhor Presidente. A agricultura de energia será a base da indústria química e farmacológica do porvir. Cultivando espécies já disponíveis, ou com o auxílio da biotecnologia, poderemos investir Dezembro Outubro dede2002 2002 / Janeiro de 2003

nas biofábricas. Será possível produzir moléculas orgânicas complexas ou elementos simples como carbono, hidrogênio e nitrogênio, em grande quantidade e baixo custo. Este arsenal constituirá a matéria-prima para monômeros, polímeros, plásticos, tintas, medicamentos, perfumes, agrotóxicos e um amplo leque de produtos consumidos pela sociedade moderna, hoje dependentes do petróleo. O Biotrade (comércio de biomassa) incluirá produtos primários (florestais), de alto valor energético (álcool, biodiesel ou carvão vegetal) e eletricidade. A biomassa também será fonte de hidrogênio para células de combustível, que são micro-usinas de geração de energia elétrica baseadas em reações químicas. Assemelham-se a baterias, possuindo dois pólos externos e contêm, internamente, um eletrólito que efetua o transporte de elétrons entre os eletrodos. As células de combustível se encontram na fronteira da ciência, na área de geração de energia, sendo uma das maiores esperanças de revolução na matriz energética, no curto prazo.

CRÉDITOS DE CARBONO

Enquanto o Biotrade se estrutura, o Brasil pode beneficiar-se do mercado internacional de carbono, criado pelo Protocolo de Kyoto, que postula a redução das emissões em 5,2% em relação a 1990 (700 milhões ton/ ano de CO2). Como é do conhecimento de V. Ex.a, as indústrias dos países ricos adquirem o direito de poluir , através de certificados de crédito de carbono. Assim, nossas indústrias podem incrementar o uso de energia verde, ou nossos agricultores podem implantar projetos agrícolas que, comprovadamente, fixem (seqüestrem) gás carbônico atmosférico, utilizando recursos financeiros dos certificados.

ARREGAÇAR AS MANGAS

A História lhe reservou, senhor Presidente, uma missão de estadista. Embora o Brasil disponha de vantagens comparativas superiores às de outros países - grande disponibilidade de terra não utilizada, disponibilidade de mão-de-obra, diferenciação climática, diversidade de espécies vegetais e de tecnologia de cultivo e processamento de biomassa - haverá uma renhida disputa por espaço no Biotrade. Esta acirrar-se-á conforme o negócio agricultura de energia tornar-se mais remunerador e mais estratégico. O paradigma protecionista da agricultura de alimentos deve repetir-se na produção de biomassa, sendo o maior empecilho para os países emergentes. Senhor Presidente, o Brasil é um dos raros países do mundo aquinhoado pelo Criador com a potencialidade de poder usufruir as principais fontes de energia renovável. Entendemos que, no contexto da estratégia para transformar as oportunidades latentes em qualidade de vida para nosso povo, o Brasil deve fornecer o exemplo e elaborar um plano www.cultivar.inf.br

estratégico para migrar sua matriz energética para fontes renováveis, contemplando um horizonte de 30 anos. Como político de larga visão de futuro, V. Ex.a intui que, assim agindo, o Brasil demonstrará convicção no modelo de re-engenharia da matriz energética, antecipando o inexorável. Sua implementação atuará como uma mudança portadora de futuro e tornará vulneráveis as resistências à transição. Ademais, constituir-se-á em poderoso instrumento mercadológico, por eliminar incertezas. Um modelo baseado em energia verde criará um mercado interno fabuloso, conferindo escala a todo o setor primário da economia nacional, amortizando investimentos e custos fixos em curto prazo, tornando imbatível nossa competitividade internacional. O novo modelo energético deve diferenciar aglomerados urbanos e zonas rurais, que podem utilizar tecnologias diferenciadas e mais apropriadas a cada segmento.

PROJETO NACIONAL

Senhor Presidente, essa é uma tarefa complexa, trabalhosa e absorvente. Tão abrangente, que não pode ser uma missão exclusiva de Governo, porém deve constituir-se em um compromisso inter pares. V. Ex.a detém a condição de articular as forças vivas da Nação, empresários e organizações setoriais (produtores, cooperativas, sindicatos, associações, investidores) em torno da proposta. Data maxima venia, ousamos sugerir a constituição da Bio-energia, uma Organização Não Governamental destinada a conferir o suporte estratégico ao Biotrade. Esta ONG deve organizar estudos, consolidar informações, traçar cenários, constituir bancos de dados, elaborar estratégias de negociação, dimensionar mercados, financiar o desenvolvimento tecnológico, orientar políticas públicas, entre outras ações. A atuação deve ocorrer em parceria com as instituições brasileiras de C & T e articulada com os diferentes estamentos governamentais. Sem uma forte ação pró-ativa e uma visão de futuro focada na oportunidade, perderemos anos preciosos, cederemos espaço estratégico para concorrentes e permitiremos que dezenas de bilhões de dólares, auferidos com a produção de biomassa, fluam para os concorrentes. Senhor Presidente, agradecemos, penhoradamente, a atenção que nos dispensou, como agradecemos a Deus por haver concedido ao Brasil mais esta oportunidade para traçar seu destino e realizar sua vocação agrícola, tornando-o consentâneo com a visão que V. Ex.a tem de um Brasil . melhor para o seu povo. Décio Luiz Gazzoni

Engenheiro Agrônomo e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.agropolis.hpg.com.br

Cultivar

41 37


Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Fechando o ano com boa rentabilidade do Setor Agrícola O setor agrícola mostrou sua força econômica em 2002 como em nenhum outro ano, com incremento nas exportações, que já superam a marca dos US$ 20 bilhões e ganham força política e econômica. Como é um dos segmentos que mais gera empregos, está sendo visto como uma grande alternativa do novo governo. Enquanto isso, pelo lado dos produtores, talvez este seja o melhor ano já avaliado, com todos os grandes grãos mostrando boa rentabilidade e o setor produtivo fechando o ano com boa capitalização e baixo índice de endividamento, o que já sinaliza um bom ano para 2003, porque sem estar atolado em dívidas, o setor terá melhor condição de negociação dos produtos colhidos e também poderá esperar pelo melhor momento e ganhar novamente. O câmbio em alta favoreceu o setor, porque deu grande rentabilidade aos produtores e, ao mesmo tempo, limitou as importações. Enquanto isso, podemos apontar que em 2003 o quadro dos principais produtos agrícolas brasileiros não será muito diferente do que vivemos em 2002. O mercado mundial dos grãos vem em queda forte no volume dos estoques, a produção não tem acompanhado o crescimento da demanda e, assim, vão-se abrindo novos espaços para o Brasil exportar e manter boa rentabilidade aos produtores por aqui. Outro fator importante que vem de fora mostra as cotações dos principais produtos agrícolas dentro das médias históricas, saindo da fase “baixista” que vínhamos enfrentando nos últimos 5 anos. Agora estamos vendo o milho na faixa dos US$ 110,00 por t e a Soja sendo negociada em Chicago acima dos US$ 5,50 por bushel, muito além do preço mínimo de garantia dos EUA, que é de US$ 5,26. Também mostrando cotações em alta no Trigo e Arroz, que seguem com demanda crescente e produção em queda. Tudo caminha para que o setor produtivo brasileiro continue a sua escalada de boa rentabilidade e capitalização.

MILHO

Final de ano sem ofertas

O mercado do milho vai chegando ao final do ano sem ofertas. O quadro está apertado e as cotações já atingiram o limite suportado pelos consumidores; temos visto que até mesmo cooperativas que normalmente são vendedoras de milho estão no mercado para se abastecer e atender às necessidades de seus afilhados. Com isso, dando suporte para entrarmos no novo ano com o mercado forte. Temos de levar em consideração que em janeiro deveremos ter milho importado chegando e isso poderá segurar novas tentativas de ajustes. O plantio da safra de verão veio abaixo das expectativas, podendo ficar abaixo dos 8,5 milhões de hectares, contra 9 milhões que vinham sendo projetados. O milho nesta virada de ano deverá trabalhar entre os R$ 25,00 e R$ 30,00 por saca no mercado consumidor.

SOJA

Indústrias parando e poucos negócios

Neste mês de dezembro grande parte das indústrias esmagadoras da soja devem estar paradas, e assim os negócios com a oleaginosa devem ficar, localizados e restritos a poucos volumes. As cotações aparentemente já chegaram aos melhores momentos do ano e de agora em diante deveremos ver indicativos estabilizados e poucos fechamentos. A safra nova também não deverá despertar interesse dos produtores em fechar, porque o ritmo da comercialização futura foi grande entre agosto e setembro e, assim, o setor já está coberto para as principais despesas. O plantio está fechando a maior área da história da soja, com mais de 17 milhões de hectares sendo cultivados, e apontando para colher uma safra de 48 milhões de t ou mais.

FEIJÃO

Safra chegando neste mês

O mercado do feijão estará recebendo parte da safra de verão neste mês de dezembro, e como estamos num período de fraca deman-

42

Cultivar

da, não se espera por pressão altista nas cotações. O mercado vem trabalhando há vários meses com indicativos lineares, onde apontava a saca de R$ 60,00 a R$ 75,00, chegando a pagar R$ 90,00 pelo produto de ponta novo em novembro, mas com poucas chances de manter estes números. Devendo voltar a negociar dos R$ 65,00 aos R$ 80,00, com a entrada da safra devendo se dar escalonada, sem pressionar com excesso de oferta.

ARROZ

Pico veio antes do final do ano

O mercado do arroz teve as cotações atingindo o máximo do ano em outubro e novembro. Estamos chegando a dezembro, que nor-

malmente tem demanda menor do que os meses anteriores, com as indústrias carregadas de estoques ainda há muitos produtores com produto armazenado esperando para comercializar e, pelo lado do governo, está-se conseguindo liquidar com quase todos os estoques que tinha nas mãos, os quais foram vendidos entre setembro e novembro. Com isso, estamos num período de poucos fechamentos e se os produtores forçarem para vender, poderemos ver queda. O arroz teve neste ano as melhores cotações de todo o período do Real, chegando a negociar nos R$ 30,00 e até acima, com boa rentabilidade aos produtores. A nova safra promete trabalhar com cotações médias favoráveis ao setor.

CURTAS E BOAS EUA - a safra está colhida e a produção local vai fechando com 228 milhões de t de milho frente às 241 do ano passado. Para a soja, o USDA aponta a safra em 73,2 milhões de t contra as expectativas de 78 a 80 milhões que vinham sendo projetadas no começo do ano. A safra local vem fechando com números médios abaixo das expectativas e muito aquém das necessidades internacionais. É um bom fator para que os produtores brasileiros apostem no crescimento da produtividade como fator de ganho econômico. TRIGO - continua com mercado apertado. A safra nacional está bem abaixo do que vinha sendo projetada, sinalizando fechar ao redor das 2,8 milhões de t, contra as 3,6 milhões previstas. Com isso, manterá as importações na ordem de 6,5 a 7 milhões de t., com as cotações mantendose firmes, com indicativos de R$ 550,00 a R$ 650,00 por t. ARGENTINA - mesmo com a grande crise por que o país passa, o setor agrícola vem conseguindo dar a voltar por cima e mostra a nova estimativa da safra da soja em 32,5 milhões de t, ou 1,5 milhões de t acima do que apontava em outubro. Para o Milho, os novos números apontam ao redor das 13 milhões de t, com alguns esperando acima, e outros um pouco abaixo. Porém, não sinaliza para a forte queda que era esperada, em que se chegou-se a comentar que não se conseguiria plantar para colher 10 milhões de t. ALGODÃO - neste último mês o governo veio dominando os negócios com o algodão, com vendas via leilão e abastecendo as necessidades das indústrias ao mesmo tempo em que criava liquidez aos produtores. Continuamos mostrando que a saída para a nova safra continua se dando em cima de contratos antecipados de exportação, já que as cotações internacionais têm melhorado e o câmbio caminha para se manter alto em 2003. Com isso, parte da safra terá de ser exportada logo após a colheita para criar liquidez e gerar recursos para que o setor consiga dar contas dos custos de produção e das dívidas financeiras. www.cultivar.inf.br

Dezembro de 2002 / Janeiro de 2003



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.