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Ano V - Nº 48 Março / 2003 ISSN - 1518-3157 Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 7º andar Pelotas – RS 96015 – 300 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Site: www.cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 86,00
Ácaro da soja Características e sintomas das principais espécies de ácaros que atacam a soja
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 12,00 • Diretor:
Newton Peter
Adubo barato
• Editor Geral:
Schubert Peter
Entenda como a soja fixa nitrogênio no solo e reduz o custo de adubação para a cultura subseqüente
• Editor Assistente:
Charles Ricardo Echer
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• Redação
Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo • Design Gráfico e Diagramação
Fabiane Rittmann • Marketing:
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Neri Ferreira • Assinaturas
Jociane Bitencourt
Opções no manejo
• Circulação:
As opções para reduzir a incidência de formigas nos cultivos são analisadas
Edson Luiz Krause • Secretária Geral:
Simone Lopes • Promoções:
Marilanda Holz • Assistente de vendas
Fabiana Maciel
Ferrugem do milho
• Ilustrações:
Rafael Sica • Revisão:
Carolina Fassbender
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• Fotolitos e Impressão:
Variedades resistentes ainda são o melhor método para o controle da ferrugem polissora
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. NOSSOS TELEFONES: • GERAL / ASSINATURAS: 3028.4006 • REDAÇÃO : 3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING: 3028.4004 • FAX: 3028.4001
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
índice Diretas Perspectivas de renda não-agrícola Monsanto: pesquisa no Cerrado Syngenta: junto ao produtor Praga: o ataque dos ácaros Praga: Torrãozinho na soja Doença: ferrugem da soja avança Soja: adubo barato Coluna da Aenda Show Rural Coopavel 2003 Milho: manejo da ferrugem polissora Produtos: controle de formigas Herbicidas: água para a pulverização Cooplantio: aplicação sem erros Agronegócios Mercado agrícola
Nossa capa 06/07 08 11 12 14 16 17 18 22 23 24 26 28 30 32 34
Foto Capa / Dirceu Gassen Bactéria da espécie Bradyrhizobium em soja
diretas Basf Urias Piovan Costa está deixando o Paraná para retornar ao marketing em São Paulo. Ele gerenciará a cultura da soja. Sua expectativa é aproveitar o bom momento da cultura e da linha de ponta da empresa, a Família de produtos F500.
Novo nome
Análise Foliar
A Aenda acaba de A Microquímica mudar a razão social. divulga o método de análise foliar Deixa de ser Associação para detecção de necessidades das Empresas nutricionais das plantas. De Nacionais de acordo com o gerente Jorge Ricci Defensivos Agrícolas Júnior, da Microquímica, o para se chamar método supre a carência de Associação Brasileira de informações quanto às Defensivos Genéricos. deficiências vegetais, não A sigla permanece a detectadas pela análise do solo. mesma.
Promoção André Dias é o novo diretor comercial da Monsanto no Brasil. Há 11 anos na empresa, ele ocupava o cargo de gerente de vendas para a Região Sul.
Sobretaxa Após 18 meses da instalação de processo antidumping contra as importações de glifosato da China, o governo brasileiro proferiu veredicto, sobretaxando a operação em 35,8%. A decisão consta na resolução de número cinco da Camex, datada de sete de fevereiro de 2003. Para o diretor executivo da Aenda, Túlio Teixeira de Oliveira, a medida ameaça a sobrevivência de empresas nacionais que fabricam herbicidas a partir da importação do produto.
Olho na Ferrugem O momento é de muita atenção em relação à ferrugem da soja, mas não de precipitação. É o que garante o engenheiro agrônomo e melhorista da Monsanto, Carlos Norio Matsumoto. “O problema é grave, mas ainda há muito erro de avaliação e precipitação por parte dos produtores. Se há desconfiança de que a lavoura esteja infectada, é o momento de consultar alguém especializado no assunto e não sair aplicando fungicidas sem critérios.”
Urias Piovan Costa
Semente mais cara Os reajustes de até 100% registrados na comercialização de milho durante o ano passado terão reflexos no preço das sementes em 2003. Embora nenhuma das indústrias confirme qual será o percentual de aumento, todas admitem que a suba é inevitável. Para o diretor de marketing da Syngenta Seeds, Jorge Souza, os custos das empresas estão entre 45% e 85% mais caros. Daniel Glat, diretorexecutivo da Pioneer, comenta que a produção de híbridos foi onerada em cerca de 60%. O gerente de negócios milho e sorgo da Agroceres, Paulo Cau, diz que o aumento médio do custo das empresas foi de 50%. Já Neimar Brusamarello, da Agroeste, arrisca um palpite quanto ao índice que deverá atingir o bolso dos produtores. “Os preços devem ficar entre 40% e 60 % maiores em relação a 2002.”
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Cultivar
Carlos Matsumoto
Livro A Universidade Federal de Santa Maria lança o livro Doenças da Soja, do professor de fitopatologia Ricardo Silveiro Balardin. Em 107 páginas ilustradas, o pesquisador
Túlio Oliveira
aborda impacto, descrição, danos, estádios e controles das principais doenças que atacam a cultura. O material é destinado a agrônomos, técnicos agrícolas e agricultores. Outras informações no site : www.balardin.com.br
Curso Prospecção e Análise Funcional de Genes de Interesse Agronômico em Plantas. Esse é o tema do curso que a Embrapa Milho e Sorgo promove de 9 a 20 de setembro, sob a coordenação do pesquisador Antônio Álvaro Corsetti Purcino. Estão sendo oferecidas 14 vagas para pesquisadores e professores que tenham conhecimentos básicos de genética, biologia molecular e biologia celular. Como demonstração será utilizada a prospecção e a análise de expressão de genes induzidos por alumínio em ápices de raízes de milho. As inscrições deverão ser feitas até o dia 15 de abril, através do endereço eletrônico corsetti@cnpms.embrapa.br. Outras informações através do site: http://www.cnpms.embrapa.br/treinar/ prospec.html
Expocafé A Comissão organizadora da Expocafé, liderada pelo professor Nilson Salvador, da Universidade Federal de Lavras, está divulgando a edição 2003 da feira, que acontece de 12 a 14 de junho na Fazenda Experimental de Três Pontas (MG). A edição deste ano, além do novo local de realização, promete grandes avanços e muitas novidades para quem marcar presença no evento.
Nilson Salvador
Feijão O Iapar lançou duas novas variedades de feijão, com características que privilegiam o paladar e o cultivo. São as variedades IPR Graúna, preto, e o IPR Juriti, carioca, já comercializadas na última safra e que apresentaram um rendimento satisfatório. Em ensaios a produção média é de aproximadamente 44
sacas por hectare, mas essa variedade tem potencial para produzir até 66 sacas, se cultivadas em condições ideais de solo e clima. Além do excelente sabor e grande potencial de rendimento, as cultivares apresentam ampla adptação e porte ereto que favorece a colheita mecânica.
Instalações Mais uma para o grupo das boas notícias da Alltech do Brasil: no primeiro semestre haverá inauguração das novas instalações em Araucária (PR). A empresa passa a concentrar em uma unidade de produção cinco pontos anteriormente distribuídos na Cidade Industrial de Curitiba. A expectativa é de aumento de 50% na capacidade de produção, com investimento de US$ 2,5 milhões.
Dia de Campo O grupo Brejeiro reuniu em fevereiro 1,2 mil sojicultores em Dia de campo na cidade de Morro Agudo (SP). Ao longo do ano estão previstas nove edições do evento, distribuídas entre São Paulo, Minas
Gerais e Goiás. O objetivo é apresentar novas cultivares de soja e trabalhos avançados na área de melhoramento genético. Em 2003 estão incluídas na programação as cidades de Birigui, Uberaba e Andradina. A
promoção é da Divisão de Sementes do grupo Brejeiro, empresa que conta com três unidades de beneficiamento no país e teve mais de 21 mil toneladas de soja comercializadas em 2002.
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Nova unidade da Alltech
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Pioneer
Um Show Rural Cerca de 130 mil pessoas passaram pelo Show Rural Coopavel 2003, que mais uma vez foi um espetáculo de organização e beleza. “Este foi o melhor evento entre os já realizados pela Coopavel”, disse o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli. Cerca de 3 mil profissionais trabalharam e 226 empresas de máquinas agrícolas, insumos agropecuários, avicultura, suinocultura e pecuária expuseram seus produtos e tecnologia. Nesta página, algumas novidades apresentadas na feira... Novo produto
Arroz híbrido
A Syngenta obteve registro emergencial para o uso do Clodinafop-propargil 240 EC na cultura do trigo. O herbicida leva o nome comercial “Topik”. O produto é totalmente seletivo ao trigo, controlando em pósemergência a aveia preta.
Osmar Bergamaschi, à esq.
Mantendo a tradição de empresa líder no mercado de alta tecnologia em híbridos de milho, a Pioneer usa o que Maurício Kobiraki chamou de “caminhos do conhecimento” para divulgar seus produtos. Num amplo espaço, diferentes variedades são apresentadas ao produtor, enfatizando não apenas suas características agronômicas, mas a utilização de cada tipo de grão.
As demonstrações comparativas de arroz convencional e arroz híbrido, lançado pela Bayer Seeds, chamam a atenção. A variedade híbrida destaca-se pela diminuição do volume de sementes por hectare. O plantio convencional leva 150 quilos por hectare, en-
quanto que no da variedade híbrida são necessários apenas 40. “Quem não conhece o arroz híbrido tem até uma certa dificuldade para acreditar que é possível uma redução tão grande no volume de semente”, diz Wagner Cabral, gerente do produto.
Representação Osmar Bergamaschi assume a representação da IpesaSilo, empresa especializada em silos horizontais, que possibilitam armazenar produtos como soja, arroz, feijão e trigo, na própria lavoura, dispensando os silos fixos. O sistema permite armazenar até 10 toneladas em um único silo, que mantém as propriedades dos grãos, desde que o produto tenha sido colhido com uma umidade de até 18%.
Herbicidas associados
José Missawa
O grande destaque da FMC é o Aurora + Glifosato, uma combinação que potencializa o controle de trapoeraba e corda de viola. O produto proporciona flexibilidade de utilização no manejo e
Publicação A Bayer CropScience lança a quarta edição da série Encontro Técnico. O material apresenta as Tecnologias de Aplicação de Defensivos Agrícolas, com objetivo de evitar prejuízos com a aplicação incorreta dos insumos. A criação e coordenação geral estão a cargo do gerente de marketing da empresa em Cascavel, Carlos Canal. O trabalho é uma parceria da Bayer com pesquisadores da Coopavel, Teejet, Comam e Coodetec.
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A empresa mostra por que continua na liderança. Não só pela famosa dupla Priori e Score, mas por seus conceitos em CRM (Custumer Relationship Manejament, conceito que enfatiza a importância da interação com o cliente) e projetos como o OTO (one to one, corpo-a-corpo, em tradução livre) e o CNT (Circuito Nacional de Tecnologia). Novidades como o Topic para a cultura do trigo e Cruiser para a cultura do milho animam o gerente de marketing José Carlos Bacili. Para conferir de perto o desempenho da empresa frente aos clientes, esteve no evento Antonio Carlos Costa, responsável pela comunicação corporativa da empresa. Já a área de sementes apresentou os híbridos de milho Tork, Speed e Penta. Para a próxima safra o produtor contará com o Strike, resistente à Cercospora.
A Bayer Seeds apresenta uma variedade de soja para produção de forragem, rica em proteínas e com um custo reduzido. Conforme Eduardo Zampar, o custo do farelo para alimentação animal, com 48% de proteínas é de aproximadamente R$ 0,28 por quilo, enquanto que a forragem de soja tem um custo de R$ 0,03, com 18% de proteínas. A cultivar mais apropriada para forragem é a A 7002, e o ponto ideal para ser processada é o estádio G6, quando o grão está quase no ponto final de maturação.
De acordo com a Coordenadora de Comunicação da Pioneer, Alice Oliveira, a empresa deverá nesta safra intensificar sua entrada no mercado de sementes de soja. Brevemente a empresa deverá consolidar uma unidade de beneficiamento em Planaltina, próximo à cidade de Brasília. À frente do empreendimento está o gerente da cultura, Geraldo Davanzo.
Alice Oliveira
Syngenta
Soja forrageira
pós-emergência, pois também é seletivo ao milho e soja. Segundo José Eduardo Missawa, essa flexibilidade na utilização torna mais favorável a relação entre custo e benefício.
Pé na tábua
Geraldo Davanzo
DuPont A empresa mostrou suas conhecidas vedetes do mercado, o Lannate e o Gallaxy, famosos por seus índices e segurança de controle em lagartas e que conquistaram a confiança dos produtores para uso nas culturas do milho, soja e algodão.
Carlos Canal
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Negócios
TURISMO RURAL
Renda extra O agroturismo surge como ótima opção para os agricultores aumentarem a renda de suas famílias
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s preços recebidos pelos produtores rurais em relação às principais commodities agrícolas mostram uma tendência de decréscimo nas últimas duas décadas. Principalmente nos anos 90, o comportamento adverso dos preços agrícolas causou uma queda generalizada da renda agrícola, com reduções que variam de 23% para a cebola até 75% para o trigo (Mattei, 1999). A exceção foi apenas a cultura do fumo, cujos preços se mantiveram estáveis na década. Devido a essa constatação e à oferta crescente de oportunidades em ocupações não ligadas diretamente à produção agropecuária, tem havido uma migração de membros das famílias agrícolas rurais para atividades não-agrícolas como meio de manter ou aumentar a renda familiar.
MUDANÇA NA NATUREZA DAS ATIVIDADES Observou-se, a partir da década de 90, uma verdadeira “volta ao campo” em conseqüência do inchaço dos grandes centros urbanos, que não conseguem oferecer níveis de emprego suficientes aos moradores urbanos tradicionais e muito menos aos “exilados” rurais das duas décadas anteriores. No Estado de São Paulo, a população urbana economicamente ativa e ocupada aumentou a uma taxa anual de 2% ao ano, no período de 1992/97, enquanto a população rural economicamente ativa e ocupada diminuiu em 1% ao ano no mesmo período. Este decréscimo não foi maior porque houve um aumento de 2,5% ao ano 08
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Pablo Rodrigues
no número de ocupados em atividades não-agrícolas, que contrabalançou o decréscimo de 2,2% dos ocupados na agricultura, o que mostra que a população rural está mudando menos para as cidades. A diminuição menos drástica da população rural pode estar relacionada a duas dinâmicas distintas: uma decorrente da diminuição do êxodo rural, principalmente dos jovens que não encontram mais oportunidades atraentes de emprego nas cidades, e a outra resultante da crescente procura do meio rural por famílias urbanas para fins de moradia, os chamados “neo-rurais”. O projeto Rurbano, coordenado pelo Instituto de Economia da Unicamp e que conta com a participação de outras instituições de ensino e pesquisa, incluindo a Embrapa Meio Ambiente, identificou pelos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) – IBGE de 1997 que a população economicamente ativa no meio rural era de aproximadamente 14 milhões de pessoas. Deste montante, cerca de 4 milhões estavam ocupadas com atividades não-agrícolas, principalmente nos seguintes ramos: prestação de serviços, indústria de transformação, comércio de mercadorias, serviços sociais e indústria da construção civil. Entre as ocupações de prestação de serviços, que são as numericamente mais expressivas, destacam-se os empregos domésticos, como o de empregada doméstica, caseiro, jardineiro, vigia etc.
AS OPORTUNIDADES DO MEIO RURAL Há uma maior procura do meio rural para uma segunda moradia dos residentes urbanos em condomínios e chácaras, para a instalação de indústrias, e para a moradia da população pobre. Além disso, há demanda crescente por atividades de lazer, principalmente pela parcela da população que vive nos grandes centros urbanos, com o objetivo de se recuperarem do dia-a-dia estressante. Destacam-se aqui as atividades de turismo no meio rural nas suas diversificadas categorias. Uma delas é o agroturismo que, segundo Graziano da Silva et al. (1998), refere-se a: “atividades internas à propriedade, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam a fazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade. Devem ser entendidas como parte de um processo de agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não-materiais existentes nas propriedades rurais (paisagem, ar puro etc.) a partir do “tempo livre” das famílias agrícolas, com eventuais contratações de mão-de-obra externa”. Há muitas possibilidades para o agroMarço de 2003
turismo, destacando-se as seguintes: processamento caseiro de alimentos; restaurante de comidas típicas; lanchonete; pousada; venda direta ao consumidor; colheita no pomar; visita às atividades de produção agropecuária - ordenha, plantio, colheita, tratos culturais, viveiros de mudas, horta, sistemas de produção sem agrotóxicos, sistemas florestais, criações de animais exóticos -; visita às unidades de processamento de alimentos “in natura” - sucos, conservas, queijos, embutidos etc. -; visita a artesãos, oficinas e cooperativas; cursos/aulas de culinária pães, bolos, roscas etc. -; atividades de lazer passeios de barco, passeios a cavalo, passeios de trator, de carreta, de charrete, de trenzinho, de carro de boi, “play ground”, pesque-
Clayton Campanhola fala sobre as novas oportunidades no meio rural
pague -; artesanato; fazendas-escola; apiário; rodas d’água; destilaria; zoológico; arquitetura típica; e capelas e museus. Ressalte-se que, embora essas atividades sejam relacionadas ao turismo, muitas delas envolvem atividades agroindustriais e de serviços que podem inclusive gerar ocupação para pessoas externas à propriedade, aumentando o nível de emprego rural. Uma outra categoria turística em grande expansão no meio rural é o ecoturismo, que compreende atividades esportivas – esportes náuticos, escaladas, praias fluviais, trilhas para caminhadas; contemplação de paisagens - florestas, cachoeiras, montanhas, grutas, cavernas, vales, rochedos, áreas com degradação ambiental em recuperação -; observação da flora e fauna; banhos em piscinas naturais; “camping” rural; atividades pedagógicas; caça; e pesca amadora, com oferta de marinas e barcos. Essas atividades empregam diretamente no país mais de 30 mil pessoas, através de pelo menos 5 mil empresas e instituições privadas. O “trade” de ecoturismo já conta com cerca de 250 www.cultivar.inf.br
operadoras e agências especializadas, mais de 2 mil pousadas e mais de 1,5 mil prestadores de serviços, entre lojas de equipamentos, transporte, alimentação, consultorias e serviços de apoio (Meirelles Filho, 1998; citado por Graziano et al., 1998). O ecoturismo pode estar incluído no conceito de agroturismo, desde que seja praticado no interior de uma propriedade agrícola produtiva. Há, como no caso das outras modalidades de turismo, vários conceitos de ecoturismo, mas aquele que no nosso entender resume melhor as suas peculiaridades é o de Ceballos-Lascurain, 1987 (citado por Pires, 1998): “realização de uma viagem a áreas naturais que se encontram relativamente sem distúrbios ou contaminação, com o objetivo específico de estudar, admirar e desfrutar a paisagem juntamente com suas plantas e animais silvestres, assim como qualquer manifestação cultural (passada ou presente) que ocorra nestas áreas”. Essas possibilidades constituem oportunidades de agregação de renda para os pequenos agricultores e suas famílias, que podem explorar “nichos” locais de mercado, incorporando e valorizando, na oferta de produtos, bens e serviços, a sua cultura, os seus valores, as suas crenças e as suas tradições. Nesse sentido, surgem também as atividades agropecuárias não-convencionais, antes representadas por “hobbies” ou atividades de capricho pessoal, que adquirem escala suficiente para ocuparem “nichos” de mercado direcionados para uma faixa da população com maior renda, como é o caso da criação de aves nobres – faisão, ganso, codorna, perdiz, avestruz – e outros animais – rã, camarão de água doce, capivara, jacaré de papo amarelo, javali, “scargot” -, produção de ervas medicinais e de hortaliças e grãos orgânicos, floricultura e produção de mudas de plantas ornamentais e produção de polpas e sucos de frutas congelados, para citar alguns exemplos.
ALGUNS DADOS DA EMBRATUR Em um levantamento realizado pela Embratur em 1997, em um total de 1.692 municípios considerados turísticos ou com potencial para o turismo de todas as regiões do país, observa-se que tanto o turismo rural como o ecoturismo foram significativamente importantes em relação às outras modalidades turísticas. O turismo rural é mais freqüentemente citado nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, estando presente em 34% e 31% dos 519 e 148 municípios que responderam ao questionário nessas regiões, respectivamente. O ecoturismo, por sua vez, apresenta importância semelhante ao turismo rural nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, sendo que na região Norte ele é mais freqüente que o último. Além do ecoturismo, outras modalidades de turismo que ocorrem estritamente no meio rural – turismo de aventura e turismo de pes-
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...ca – foram registradas em muitos municípios.
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tencial de danos ambientais das atividades planejadas, envolvendo a comunidade local na tomada de decisão e no acompanhamento e avaliação das ações de implementação; b) estabelecimento de limites para a expansão de bolsões urbanos no meio rural, prática que tem sido rotineiramente adotada por alguns municípios para burlar a legislação ambiental rural; c) oferta de educação básica e profissionalizante, respeitando a cultura rural de cada localidade, de modo a propiciar o melhor aproveitamento das oportunidades de negócio do meio rural, com compromisso com a conservação da qualidade dos recursos naturais; d) estabelecimento de normas ambientais para licenciamento de atividades do turismo no meio rural, respeitando as particularidades locais, contando para isso com a participação da comunidade rural local; e) introdução de medidas de estímulo à constituição de cooperativas e de associações de pequenos produtores rurais que agreguem os interesses referentes às atividades agrícolas e não-agrícolas emergentes do meio rural; e f) revisão da estrutura organizacional pública municipal, assim como dos instrumentos operacionais de gestão do ambiente rural, de modo a conferir integração inter-setorial das ações planejadas, devido à necessidade de mudança do enfoque setorial para o enfoque no local. Em resumo, o aumento de atividades que dependem diretamente da oferta de serviços e produtos relacionados com o ambiente rural tem-lhe conferido novas e diversificadas dinâmicas que variam com cada localidade. Ou seja, ao meio rural têm sido alocados novos valores que abrem perspectivas para o seu uso que vai além das tradicionais atividades agropecuárias. Portanto, as políticas de desenvolvimento rural que busquem a sustentabilidade não podem prescindir da integração entre as diferentes atividades, nem de ações concretas que visem à conservação da qualidade dos ativos ambientais. Do mesmo modo, há que se priorizar não só a permanência das famílias e principalmente dos jovens no meio rural, como também proporcionar-lhes novas oportunidades para a melhoria de sua quali. dade de vida. Pablo Rodrigues
daquelas vinculadas à exploração dos atratiOutras categorias, como o turismo desporti- vos naturais e culturais do meio rural. vo, gastronômico, cultural e de saúde também podem ser desenvolvidas no meio rural. PorOS POSSÍVEIS PROBLEMAS tanto, se todas essas categorias forem tratadas A maior procura do meio rural para ativiem conjunto, a oferta de turismo no meio ru- dades de turismo e lazer poderá trazer probleral pelos municípios brasileiros adquire ainda mas de muitas ordens, destacando-se entre maior relevância. eles: a) poluição ambiental resultante do baEntre os atrativos naturais assinalados nos rulho dos veículos e do descarte de lixo e esgoquestionários, destacam-se aqueles relaciona- to; b) depredação do patrimônio natural – dos com os recursos hídricos, como os rios, recursos paisagísticos, flora e fauna; quedas d’água, lagos e lagoas. A oferta de pos- c) aumento da criminalidade e do uso de drosibilidades turísticas oferecidas pelos rios foi a gas por influência do aumento do fluxo da mais freqüente, ocorrendo em 75% a 95% dos população urbana no meio rural; municípios que responderam ao questionário d) degeneração da cultura local devido ao de todas as regiões geográficas. A presença de contato com turistas de diferentes origens; quedas d’água foi registrada em cerca de dois e) aumento da demanda por serviços públiterços dos municípios das regiões Centro- cos que pode resultar em competição com os Oeste, Sul e Sudeste, enquanto que lagos e serviços oferecidos à comunidade e no aumenlagoas oferecem perspectivas para 41% a 69% dos municípios de todas as regiões. O fato de essas atividades dependerem diretamente dos recursos hídricos reforça a necessidade de se estabelecerem políticas locais para a preservação da sua qualidade, envolvendo tanto as de controle ambiental das atividades produtivas como aquelas de tratamento de esgoto, de educação ambiental, e de conservação e recuperação das matas ciliares. Além dessas atividades, destacam-se outras relacionadas com a disponibilidade de O ecoturismo emprega áreas de caça/pesca, de grutas/ diretamente cerca de cavernas e de mangues/man30 mil pessoas no guezais. As áreas de caça e pesBrasil ca estão presentes em 47% a 69% dos municípios por região, com destaque para a região Norte, onde to no custo de vida; f) aumento no preço das elas ocorreram em 127 municípios de um to- terras devido à especulação imobiliária; tal de 184; as grutas e cavernas, em 30% a g) abandono das atividades agropecuárias 57% dos municípios, com destaque para as pelas famílias agrícolas em função da maior regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste; e os man- atratividade ou do apoio oficial às atividades gues e manguezais, em 30% a 45% dos muni- turísticas praticadas nas propriedades rurais. cípios, destacando-se as regiões Sul, Norte, Por isso, é importante que o poder públiNordeste e Centro-Oeste. co estabeleça, com a participação da comuniEmbora essas possibilidades tenham sido dade, critérios para o licenciamento da prátiidentificadas, muito pouco tem sido feito no ca dessas atividades no meio rural, tanto no Brasil em relação à definição de uma política que se refere aos assuntos de meio ambiente, específica de turismo para o meio rural. como à qualidade dos produtos e serviços ofePortanto, como em muitos países desen- recidos, além de proporcionar incentivos à revolvidos, também aqui muitos dos componen- cuperação do patrimônio histórico e cultural tes e características do meio ambiente e da rural. cultura rural que apresentavam apenas valor de existência e valor de uso passaram a ter USO SUSTENTÁVEL DO MEIO RURAL valor de troca, ou de mercado. Desse modo, A seguir, propomos algumas medidas para ampliam-se as possibilidades de renda para as amenizar esses possíveis problemas e para famílias agrícolas rurais, que podem tanto agre- aproveitar melhor as oportunidades emergengar valor à produção agrícola por meio de ati- tes do meio rural, quais sejam: vidades a ela associadas – como o processa- a) ordenamento territorial participativo, de mento artesanal ou industrial -, como por meio modo a incorporar a preocupação com o po-
Clayton Campanhola, Embrapa Março de 2003
Pesquisa no Cerrado O
Estado do Mato Grosso é o maior produtor de soja do Brasil e com potencial de sobra para disparar ainda mais na liderança. Na última década, a área plantada com soja no Estado cresceu em média 26% ao ano, passando de 1,5 milhão de hectares no início dos anos 90 para 4 milhões em 2002. Além do salto na área plantada, a produção também teve um crescimento considerável. Na primeira metade da década de 90 a média na região era de 2.400kg/ ha, e passou para 2.850 kg/ha em 1999. Hoje, a produtividade está em torno dos 3.000 kg/ ha, a maior média do país. A tendência para a região é que ocorra um novo aumento na produtividade média, pois a área e os investimentos em tecnologia e pesquisa continuam crescendo. Um dos espaços para o crescimento é na pesquisa de novas cultivares específicas para as diferentes regiões do Estado, que possuem condições de clima e solo peculiares, e necessitam de variedades adaptadas a cada micro-região. Um exemplo desta peculiaridade é a região de Sorriso, uma das áreas onde a soja está se expandindo mais rapidamente no Brasil, sendo o maior produtor nacional e com melhor média de produtividade. Sozinho, o município é responsável por 2,8% da safra anual da cultura no Brasil. Atualmente são plantados 509 mil hectares com a oleaginosa e colhidos, por ano, cerca de um milhão e 680 mil toneladas, o equivalente a 3.300 kg/ha, quase 300 kg/ha acima da média do próprio Estado do Mato Grosso, que tem o melhor desempenho por Estado do Brasil. Conhecendo o potencial e as chances da região, a Monsanto inaugurou em fevereiro a Estação de pesquisa e melhoramento genéti-
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co de soja, em Sorriso. Com essa unidade em funcionamento será possível o desenvolvimento de novas variedades adaptadas para a região e o Cerrado brasileiro, como forma de impulsionar ainda mais a produção local. “Buscaremos variedades mais produtivas e bem adaptadas às regiões de baixa latitude, como é o caso de Sorriso”, garante Claudiomar Abatti, gerente da nova estação. Até o momento, os produtores locais utilizavam cultivares pesquisadas na estação de Morrinhos, GO, ou outras regiões, que muitas vezes apresentavam um excelente desempenho na pesquisa mas não rendiam a mesma coisa quando trazidas para Sorriso. “Para o trabalho de melhoramento de soja é de suma importância que a seleção seja feita na região que as cultivares vão ser utilizadas, pois isso se traduz em produtividade”, explica o engenheiro agrônomo e melhorista da Monsanto, Marcos Norio Matsumoto. “A Monsanto tem um portifolio com boa adaptação às principais regiões do MT, e com a construção dessa unidade de pesquisa a geração de novas cultivares vai ser acelerada”, garante. É claro que os produtores não poderão contar com novas variedades adaptadas num
O município de Sorriso(MT) ganha estação de pesquisa de soja da Monsanto, onde serão desenvolvidas cultivares específicas para a região
Fotos Monsanto
Empresas
curto período de tempo, pois para criar uma nova cultivar são necessários aproximadamente oito anos de pesquisa, conforme explica Matsumoto: “São desenvolvidas cerca de 50 mil linhagens para se chegar no final com 3 ou 4 cultivares diferentes. E após chegar a uma nova variedade, ainda tem todo o processo de multiplicação das sementes, que leva mais algum tempo”. O foco principal da estação será a busca de novas características genéticas, melhoramento e resistências às doenças da região, principalmente as de final de ciclo, como a mancha-alvo e antracnose, que têm maior incidência em condições de temperatura e umidade altas, como é o caso de Sorriso. Segundo Rick Greubel, presidente da Monsanto no Brasil, foram investidos US$ 1 milhão na estação, entre a compra da área de 85 hectares, construção dos pavilhões e equipamentos. Inicialmente, trabalharão na unidade 12 pessoas entre engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas, auxiliares de pesquisa e administração. A estação também está apta a pesquisar algodão, sorgo e milho. CE . Charles Ricardo Echer viajou a convite da Monsanto do Brasil.
Investimento para a construção da nova unidade superou US$ 1 milhão
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Fotos Pablo Rodrigues
Empresas
Circuito Nacional de Tecnologia diminui a distância entre a empresa e os seus clientes, dando mais informações para agricultores e agrônomos
Junto ao produtor A
Syngenta Proteção de Cultivos está melhorando os sistemas de transferência de tecnologia ao agricultor. Segundo o Gerente de Marketing da cultura da Soja regional sul, Nilson Oliveira, a empresa resolveu interiorizar suas ações, isto é, a indústria está diminuindo a distância entre ela e os produtores - sem com isso queimar etapas. Os canais de distribuição continuam sendo a ligação entre a empresa e o produtor. Entretanto, o CNT - Circuito Nacional de Tecnologia - vem para revolucionar a comunicação no meio rural. Esse evento, que fica apenas um dia em cada município, oportu-
Ricardo Balardin falou sobre doenças da soja e as técnicas usadas no manejo
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Cultivar
nidade única de informação e formação para técnicos e produtores, rodará pelo Brasil durante três anos. O projeto ambicioso, explica Nilson, quer conhecer a fundo cada produtor, identificar suas necessidades, ânsias, projetos de vida e profissionais. Saber quais são seus principais valores. Enfim, ter condições de atender todas essas necessidades de modo personalizado. A Syngenta, diz Oliveira, quer dar um atendimento diferenciado para cada um de seus clientes, pessoas essas que antes de tudo são encaradas como “ seres humanos que precisam e querem nossa atenção”. Nesse sentido, a empresa já implementou o programa OTO, sigla do inglês One To One, que significa, em tradução livre, corpo-a-corpo. Esse não é apenas um conceito, mais um projeto de marketing, mas uma realidade que já está em campo. Numa das reuniões com os produtores, em Cruz Alta (RS), foram apresentadas palestras sobre doenças em Soja com o fitopatologista Ricardo Balardin (Universidade Federal de Santa Maria) e exposições sobre as vantagens do uso de Cruiser na cultura do milho. O produto possui efeito fitotônico, conferindo crescimento mais vigoroso às plantas. Quanto a isso, o gerente técnico da empresa, Milto Facco, demonstrou in loco as vantagens desse efeito no estande inicial da cultura do milho. O CNT, em Cruz Alta, aconteceu na propriedade de Rogério Furian. A área consiste em 1,5 mil hectares nos quais são plantados milho e soja no verão e trigo, aveia e azevém no inverno. “Cedi parte da área à Syngenta, mas antes de todo o circo armado eu não www.cultivar.inf.br
Furian: “Não há mais espaços para errar. Precisamos ter certeza dos resultados“
tinha idéia do tamanho da estrutura que seria montada”, diz Furian. De acordo com Rogério, iniciativas inovadoras como a da Syngenta são capazes até mesmo de reduzir os custos de produção da lavoura. “Não há espaço para errar. Precisamos estar certos do que fazemos, precisamos saber o que vamos aplicar para otimizar a produção. Projeto como este contribui muito para o nosso aperfeiçoamento”. A estrutura moderna do CNT permitiu aos participantes, mesmo debaixo de muita chuva, tirarem o máximo proveito do evento. De acordo com os dados da empresa, participaram do circuito em Cruz Alta mais de setecentas pessoas, entre técnicos, agrônomos . e produtores. NF e PR Neri Ferreira e Pablo Rodrigues viajaram a convite da Syngenta
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Praga
Ácaros no ataque Pesquisador da Embrapa Soja ainda considera a praga um problema secundário, restrito a algumas propriedades, mas o ataque e a possível relação com inseticidas piretróides preocupam
N
ácaros em lavouras de soja sempre estiveram restritas ao plantio de soja na safrinha, ou seja, na soja cultivada durante o período entre março e junho. Em alguns anos isolados, têm sido relatados surtos de ácaros, principalmente do ácaro branco e do ácaro rajado. Normalmente, esses ataques não redundam em prejuízos na produção ou na qualidade do grão ou da semente. Nesta safra, alguns focos foram relatados por agricultores ou extensionistas de algumas regiões do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. A partir dos relatos foi observada uma preocupante associação entre as constatações de Fotos Dirceu Gassen
a cultura da soja, os ácaros são considerados pragas secundárias, que têm surgido, esporadicamente, em algumas localidades. Normalmente, poucas lavouras são afetadas e, mesmo dentro de cada lavoura, o ataque costuma acontecer em reboleiras. Os pesquisadores, acostumados a conduzir experimentos em casa de vegetação, já haviam observado a presença de ácaros atacando a cultura. Entretanto, como o ambiente das estufas é muito diferente das condições de campo, não é possível usar essa experiência para orientar os agricultores. As primeiras observações da presença de
Normalmente, quando o dano é percebido no campo, os ácaros não estão mais nas folhas
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Cultivar
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ataques de ácaros e aplicações de inseticidas piretróides, para controle de outras pragas da soja. Também foi observada a associação entre o ataque de ácaros e a proximidade com áreas cultivadas com outros hospedeiros de ácaros, como algodão, café, plantas hortícolas etc. Os ácaros não são insetos e pertencem a outro grupo do filo artrópoda. Esse filo, além dos ácaros e insetos, abriga também os camarões, lagostas, caranguejos, piolhos de cobra, centopéias e lacraias. Os ácaros sugam a seiva das folhas e pecíolos de plantas novas. Quando o ataque é muito forte, as folhas ficam amarelas, secam e caem. É de conhecimento amplo que a soja suporta, sem qualquer tipo de prejuízo, até 30% de desfolha, antes da floração e 15% após o florescimento. Normalmente, quando o dano é percebido no campo, os ácaros já não estão mais presentes nas folhas. Os ácaros possuem quatro pares de patas. A cabeça e o tórax são fundidos, sendo o conjunto denominado cefalotórax. Seu tamanho é diminuto e sua visualização somente é possível com o auxílio de uma lupa. De acordo com as observações preliminares efetuadas até o momento, as espécies que se alimentam de soja são os ácaros branco, vermelho e rajado. Essas espécies possuem hábito de formarem colônias, localizando-se, principalmente, na face inferior das folhas. O ataque costuma ocorrer em reboleiras, formando manchas de plantas com sintomas localizadas em vários pontos da lavoura. Quando necessário,
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Ácaro branco - Polyphagotarsonemus latus • Mede cerca de 0,14 a 0,17mm de comprimento; • A fêmea tem coloração branca à amarelada-brilhante; • Não tece teias; • O ataque se dá nas folhas mais novas, ocorrendo inicialmente um escurecimento. O dano pode evoluir para folíolos com aspecto brilhante e bronzeado na face inferior da folha, enrolamento dos bordos das folhas para baixo e rasgaduras; quando este sintoma se manifesta, em geral, os ácaros não estão mais presentes nos folíolos; • Pode atacar também os ponteiros da soja; • Ataques intensos causam a seca e queda das folhas; • É favorecido por temperatura e umidade elevadas .
Embrapa Soja
Características e sintomas dos três tipos de ácaros que podem ocorrer em soja:
o seu controle pode ser feito somente nas reboleiras. Deve-se assegurar sempre que o ácaro ainda esteja presente sobre a planta e que os danos sejam maiores do que índices referidos acima. Para o controle dos ácaros devese consultar o registro no Ministério da Agricultura, através do endereço http://masrv60.agricultura.gov.br/ agrofit. O ácaro rajado é mais difícil de ser controlado, pois desenvolve resistência aos produtos químicos mais rapidamente, enquanto que o ácaro branco e o ácaro vermelho normalmente são controlados por inseticidas aplicados para controle de outras . pragas na cultura. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Soja http://www.gazzoni.pop.com.br
Gazzoni aborda as características e sintomas das principais espécies de ácaro em soja
Ácaro vermelho -Tetranychus ludeni, Tetranychus desertorum • Mede cerca de 0,26 a 0,5mm de comprimento; • As fêmeas são de cor vermelha intensa; os machos e as formas jovens são amarelo-esverdeados; • Ovos amarelados ou vermelho-opacos; • Formam colônias densas na página inferior das folhas (preferência pelos folíolos do ponteiro ou da região mediana); • As folhas ficam amareladas e caem prematuramente; • T. ludeni: predomina no início da cultura, até janeiro; • T. desertorum: maior incidência a partir de janeiro. Ácaro rajado - Tetranychus urticae • Mede entre 0,25 a 0,46 mm comprimento; • Todas as fases ativas são esverdeadas e as fêmeas apresentam manchas verde escuras no dorso; • Formam compactas colônias na parte inferior dos folíolos, que recobrem com teias; • Sugam a seiva, principalmente da face inferior das folhas novas e têm preferência pela região mediana da planta; • Folíolos atacados ficam inicialmente amarelos e posteriormente apresentam manchas branco-prateadas, na face inferior, e áreas cloróticas, ou com aspecto bronzeado (avermelhado) na face superior; • Ataques intensos causam a seca e queda de folhas; • Temperaturas elevadas e baixas precipitações favorecem o seu aumento populacional.
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Cultivar
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Praga
Torrãozinho na soja Nos últimos anos, a alta incidência do inseto causou prejuízos em lavouras no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul; além de soja o torrãozinho ataca feijão, trigo e quiabo - amendoim bravo e trapoeraba, também
A
cultura da soja está sujeita ao ataque de insetos desde a germinação até a colheita, e o impacto que os mesmos têm no rendimento e na qualidade das sementes representa um fator econômico na produção de grãos. Caso medidas de controle não sejam tomadas quando as populações tendem a exceder os níveis de danos econômicos, os rendimentos certamente serão reduzidos drasticamente (Panizzi, 1990; HoffmannCampo et al., 2000).
OCORRÊNCIA A primeira referência do torrãozinho Aracanthus mourei descrita em 1981 (Rosado-Neto, 1981) foi observada atacando soja, em dezembro de 1977 em Palmeira das Missões-RS. Na safra de 1988/89, Panizzi (1990) constatou grandes populações atacando plântulas de soja e causando desfolhamento em plantas adultas, na região de Santa Mariana-PR. Nos últimos anos, alta incidência da praga tem ocorrido em lavouras de soja dos Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. O inseto tem sido observado conforme Corso et al. (2002c) também em feijão, trigo e quiabo, além de atacar plantas daninhas como o amendoim bravo e a trapoeraba.
INSETO Trata-se de um pequeno besouro marrom, de aproximadamente 4-5 mm de comprimento, pertencente à Ordem Coleóp-
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Cultivar
tera, Família Curculionidae, semelhante a um torrão de solo. Daí, o nome popular que recebe por parte dos agricultores de “torrãozinho”. As fases imaturas (larva e pupa) desenvolvem-se no solo (Corso et al., 2002c; Gallo et al., 2002).
ga, alguns trabalhos de pesquisa com inseticidas em tratamento de sementes e em pulverização mostraram-se eficientes, podendo ser alternativas na implantação e desenvolvimento vegetativo da soja. . Silvestre Bellettini, FFALM
PREJUÍZOS O adulto do torrãozinho geralmente inicia o ataque nas bordaduras da lavoura, próximo de estradas ou carreadores da propriedade. Na fase inicial de desenvolvimento das plantas, os danos são mais graves, caracterizando-se por pequenos orifícios e cortes nas margens das folhas e dos cotilédones, deixando-os com aspecto serrilhado, retardando o desenvolvimento da cultura. Altas populações do inseto podem danificar a gema apical e até mesmo cortar o caule da planta recém-emergida, diminuindo o estande da lavoura, sendo às vezes necessário replantio da área (Corso et al. 2002c).
PULVERIZAÇÃO Ingrediente ativo
Concentração g i.a./kg ou L
Lambdacyhalothrin Methamidophos Thiamethoxan Parathion metilico Acephate Clothianidin
50 600 250 600 750 200
CONTROLE Embora não exista recomendação oficial de inseticidas para o controle da pra-
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CE CS WG CE PS SC
Dose g i.a./ha 7,5(2); 12,5(2); 15(1) 480 (2) 35(2) 600 (1) 562,5(1) 60(1)
Fonte: (1) Bellettini et al. (2002a) (2) Corso (2002b)
NÍVEL DE CONTROLE Não existe recomendação oficial do nível de controle, entretanto, o agricultor não deve deixar a desfolha ultrapassar 30%, mesma recomendação para pragas desfolhadoras da soja (Corso et al., 2002c).
Formulação
TRATAMENTO DE SEMENTES Ingrediente ativo
Concentração g i.a./kg ou L
Fipronil Thiamethoxan Thiamethoxan Acephate
250 700 350 750
Formulação
FS WS FS PS
Dose g i.a./100 kg sementes 50(1,2) 17,5(1); 24,5(1,2); 35(1,2) 17,5(1); 24,5(1); 35(1) 600(1) e 750(1)
Fonte: (1) Bellettini et al. (2002b) (2) Corso (2002a)
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Fotos Cultivar
Doença
Pesquisadores analisam a disseminação da ferrugem da soja pelo Brasil e os cuidados necessários para amenizar as perdas
A ferrugem avança A
ferrugem da soja disseminouse pelo país, embora pesquisadores da Embrapa afirmem que ainda não há registros da doença em lavouras comerciais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Na Bahia, por exemplo, por causa da utilização de fungicidas ineficientes contra a doença - os benzimidazóis - já há a desfolha da planta. Goiás e Paraná também apresentam regiões severamente atacadas. Agrônomos indicam que algumas propriedades, sobretudo na região de Água Fria de Goiás, poderão perder 90% da produção caso o controle químico adequado, na época recomendada, não seja executado. Para o pesquisador da Embrapa Soja, José Tadashi Yorinori, o principal motivo para o avanço da doença é a falta de informação. “Como a ferrugem da soja se dissemi-
José Tadashi: “é necessário atenção para a ocorrência em lavouras vizinhas”
Março de 2003
na facilmente pelo vento, o produtor deve estar atento aos relatos de ocorrência da doença em sua vizinhança”. Tadashi diz ainda que o agricultor deve fazer o monitoramento contínuo da lavoura com lupa capaz de aumentar a imagem em pelo menos 20 vezes. Caso contrário, pode haver confusão entre a ferrugem e o míldio. As regiões atacadas no ano passado não apresentaram a ocorrência da doença em 2003. “Os produtores dessas áreas armaram um verdadeiro arsenal de guerra contra a ferrugem da soja”. No Rio Grande do Sul a doença foi detectada apenas em dois canteiros de teste de germinação, semeados em setembro. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Trigo, Leila Maria Costamilan, a ferrugem pode permanecer, de uma safra para outra, em vários
A pesquisadora Leila explica que a ferrugem pode permanecer de uma safra para a outra em vários hospedeiros
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hospedeiros ainda não identificados. “Um dos principais hospedeiros é o kudzu (Pueraria lobata), uma leguminosa forrageira bastante utilizada no Paraguai”, informou. Segundo a pesquisadora, os defensivos que estão indicados pela pesquisa para o controle de ferrugem têm se mostrado eficientes, embora ainda sejam necessários mais estudos sobre doses, época e número de aplicações. Já o professor Laércio Zambolim, da Universidade Federal de Viçosa, está otimista quanto ao controle da doença. “Não é bicho de sete cabeças”, define. Embora exista a facilidade de propagação através do vento e qualquer leguminosa silvestre possa servir como hospedeiro, o pesquisador lembra que muitos dos defensivos já aplicados na cultura protegem contra a ferrugem asiática. GQ e PR .
Zambolim está otimista e lembra que já há muitos defensivos que protegem contra a doença
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Nossa capa
NITROGÊNIO
Soja aduba a lavoura Através de simbiose de bactérias do gênero Bradyrhizobium com raízes de leguminosas, o nitrogênio é retirado do ar e liberado no solo através de nódulos desprendidos das plantas. Esse processo pode dispensar a adubação nitrogenada nas culturas seguintes
O
nitrogênio é um dos nutrientes que as culturas agrícolas necessitam em quantidades relativamente grandes, sendo, portanto, considerado um macronutriente. Cerca de 78% do ar atmosférico é constituído por esse elemento, mas sob forma não diretamente assimilável pelas plantas. Entretanto, as plantas da família botânica das leguminosas (fabáceas), e somente elas, são capazes de absorvê-lo por meio de nódulos formados nas raízes, os quais se desprendem espontaneamente no solo. Isso ocorre graças à simbiose estabelecida com bactérias do gênero Bradyrhizobium, que são adicionadas às sementes imediatamente antes da semeadura. No caso da soja, a bactéria é da espécie Bradyrhizobium japonicum, cuja eficiência é de tal magnitude que a adubação nitrogenada pode até mesmo ser dispensada pelo sojicultor. O mesmo não ocorre com espécies cultivadas não-leguminosas, para as quais há respostas a esse tipo de adubação, como por exemplo as gramíneas, entre elas o milho, o arroz, o trigo, o sorgo e a cana-de-açúcar. A simbiose soja/rizóbio pode proporcionar uma fixação de 100 a 160 kg de nitrogênio por hectare de solo cultivado. Em termos de suprimento de nitrogênio, temse ainda o efeito benéfico da sucessão de uma cultura de leguminosa por outra não leguminosa. No entanto, para que esses resultados possam ser obtidos na máxima grandeza possível, faz-se necessária a inoculação ar18
Cultivar
tificial prévia das sementes de soja com a bactéria específica anteriormente mencionada. Também o solo precisa estar adequadamente corrigido por meio da calagem, para que a saturação por bases trocáveis (V%), como cálcio, magnésio e potássio, esteja num nível adequado, ou seja, 50% a 60%, conforme orientação dos especialistas. Na atual crise energética e econômica mundial, o custo da produção agrícola tem sido consideravelmente aumentado em função do preço dos fertilizantes nitrogenados. A energia dispendida para produção de 50kg de fertilizante nitrogenado é equivalente àquela proporcionada por cerca de 80 litros de gasolina, quantidade essa superada pela fixação biológica pela soja, segundo estimativa de pesquisadores norte-americanos. Assim é que, no contínuo cumprimento da missão institucional e, com conseqüente relevante contribuição para o agronegócio paulista, a partir dos anos 70, no Instituto Agronômico - IAC, sediado em Campinas, SP, foram sendo realizadas diversas pesquisas relacionadas à cultura da soja em rotação com gramíneas de importância alimentícia e econômica, particularmente o milho, arroz, trigo, sorgo e cana, sendo então demonstrada a efetiva possibilidade de substituição parcial ou total da adubação nitrogenada, com garantia de otimização da produtividade, redução parcial dos custos de produção, além da contribuição para a preservação ambiental. www.cultivar.inf.br
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Dirceu Gassen
Exemplificando, em experimentação realizada com a cultura do milho na região da Alta Mojiana, em Guaíra, SP, em áreas em sucessão com soja, cultivar Santa Rosa, após um a quatro anos consecutivos, não houve efeito na produtividade da gramínea em função da aplicação de 12 kg/ ha de nitrogênio, na semeadura, e das doses crescentes zero, 20, 40, 60 e 80 kg/ha desse nutriente, na forma de sulfato de amônio, em cobertura, aos 35 dias após a emergência das plântulas, nos diferentes tratamentos. Os rendimentos variaram entre 5.180 e 5.684 kg de grãos/ha e, dessa maneira, o nitrogênio do solo foi suficiente para suprir as necessidades do milho, sendo evidenciada a contribuição dos restos culturais da leguminosa - incluindo-se ainda as raízes e nódulos - para a manutenção do nitrogênio do solo em nível de suficiência. Além disso, a produtividade do milho foi crescente após um maior número de anos de cultivos sucessivos de soja, tendo sido aumentada de 4.158 para 6.483 kg/ha, do 1º para o 4º ano. Isso pode ser atribuído a efeitos indiretos, tais como, maior volume de raízes de soja, melhoria da estruturação do solo e armazenamento mais adequado de elementos nutricionais. Resultados similares também foram obtidos em Mococa, SP. Em Ribeirão Preto, SP, após quatro anos consecutivos de cultivo da soja, cultivar Santa Rosa, para a multiplicação de sementes, obteve-se acréscimo de 15,8 kg de arroz em casca, do cultivar Batatais, para cada quilograma de nitrogênio aplicado. Os tratamentos utilizados nessa experimentação foram as doses zero, 20, 40, 60 e 80 kg/ha de nitrogênio, na forma de sulfato de amônio, em cobertura, aos 35 dias após a emergência do arroz, além de 12 kg/ha de N na semeadura. Como não houve diferenças de produtividade devido às doses de N aplicadas, concluiu-se ser desnecessária a adubação nitrogenada, do ponto de vista econômico. Ressalte-se, ainda, o maior desenvolvimento vegetativo do arroz em condições de utilização de elevadas doses de nitrogênio, o que pode contribuir para o aumento da incidência de brusone, doença causada pelo fungo Pyricularia grisea, com prejuízos à produtividade. Portanto, esse é um outro fator a ser também considerado no momento de decisão pela aplicação de N em cobertura ou pela realização da sucessão com a soja. Em experimentação com a cultura do trigo, cultivar IAC-5, em Campinas, SP, utilizou-se uma área destinada, em ano anterior, à multiplicação de sementes de duas linhagens de soja, distintas quanto à capacidade de nodulação. As sementes da linhagem nodulante haviam sido inoculadas com Bradyrhizobium japonicum e as
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Dirceu Gassen
A simbiose soja/rizóbio pode proporcionar fixação de 100 a 160 Kg de N por hectare
... plantas da linhagem não nodulante adu-
badas com 50 kg/ha de N, em cobertura, na forma de sulfato de amônio, aos 35 dias após a emergência. Após a colheita da soja, o solo foi revolvido, sendo incorporadas as raízes remanescentes da cultura e aplicados 60 kg/ha de P2O5, na forma de superfosfato simples, no sulco, antes da semeadura do trigo. A produtividade do trigo foi 30% superior nas áreas anteriormente cultivadas com soja nodulante, variando de 1.529 para 1.974 kg/ha, aumento esse devido, sobretudo, ao aumento do teor de nitrogênio do solo. Resultados semelhantes foram obtidos na Flórida, E.U.A. Em 86 experimentos desenvolvidos a campo, por dois anos, nos municípios de Maracaí, Assis e Cruzália, SP, na cultura do trigo, obtiveram-se respostas positivas à aplicação de doses crescentes de nitrogênio em apenas 9 deles, e satisfatórias em 44. Nos demais 33 experimentos, entretanto, não foram observados quaisquer efeitos, pelo fato de os mesmos terem sido instalados em áreas anteriormente cultivadas com soja. Após quatro anos de estudo das doses 1, 4, 7 e 10 t/ha de calcário na cultura da soja, avaliou-se o efeito residual dessa calagem e também do nitrogênio, aplicado nas doses zero, 40, 80 e 120 kg/ha, na forma de sulfato de amônio, em cobertura, aos 35 dias após a emergência, na produtividade de sorgo, cultivar Contigrão 111, como cultura subseqüente. A produtivida-
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de em grãos foi pequena: 690 e 1740kg/ha com 1 e 4 t/ha de calcário, devido aos menores e inadequados valores de V%, respectivamente 23% e 37% e à toxidez de alumínio nas folhas, de 424 e 300 ppm. Já com a aplicação de 7 e 10 t/ha de calcário, as produtividades do sorgo foram substancialmente aumentadas para 2540 e 4100kg/ha não sendo obtidas respostas positivas à aplicação de níveis de nitrogê-
Segundo Hipólito, a adubação nitrogenada pode ser dispensada pelo produtor
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nio. Isso é indicativo de que os resíduos culturais da soja supriram adequadamente as necessidades de N do sorgo, na ausência de nitrogênio mineral. Além disso, na dose máxima de nitrogênio, que foi 120 kg/ha, verificou-se efeito depressivo na produtividade da gramínea. Em Orlândia, SP, em lavoura de canade-acúcar, plantada em sistema de plantio direto, sem aplicação de nitrogênio em cobertura e, após um ou dois anos de cultivo com soja, IAC-Foscarin-31 mantida até a colheita de seus grãos, avaliou-se o efeito dos tratamentos pousio, pousio + N (40 kg/ha de N em cobertura, na forma de sulfato de amônio) e cultivo de soja em novembro, instalados simultaneamente. As produtividades da cana foram respectivamente 132 e 128 t/ha nos tratamentos pousio + N, após uma safra de soja, não havendo diferenças estatísticas entre ambos, tendência essa observada no rendimento de açúcar, em t/ha. Isso demonstrou a desnecessidade de aplicação de N mineral na cultura da cana após a soja. Ainda, além da economicidade na utilização de herbicidas, a receita obtida com a venda dos grãos de soja seria suficiente para cobrir as despesas com o plantio da cana. Após dois anos de cultivo de soja, as produtividades também foram maiores, correspondendo a aumentos de 26 t/ha de cana e 3 t/ha de açúcar. Entretanto, na prática, o empresário agrícola deve optar pelo plantio da cana-de-açúcar após um ou dois anos com soja, baseado nos preços de ambas as culturas. Assim, considerando-se apenas alguns dos resultados positivos da pesquisa, como os anteriormente relatados, cabe salientar, sobretudo: • a possibilidade de redução parcial do custo de produção para o agricultor, em função da diminuição ou até mesmo da eliminação da necessidade de utilização da adubação mineral nitrogenada, com conseqüente otimização dos rendimentos de algumas culturas de expressão econômica, como o arroz, milho, sorgo, trigo e canade-açúcar, unicamente devido à inclusão da soja nos esquemas de rotação, sucessão ou consórcio; • a contribuição para a preservação ambiental com a redução da poluição do solo pelos adubos minerais nitrogenados; • a contribuição para a Economia do país em função da redução, tanto da importação do adubo sulfato de amônio, quanto da quantidade de petróleo dispen. dido na produção de uréia. Hipólito A. Antônio Mascarenhas, Roberto Tetsuo Tanaka e Elaine Bahia Wutke, IAC Março de 2003
AENDA
Defensivos Genéricos
Vários avanços foram obtidos nas regulamentações de agroquímicos. Porém, ainda há muito a ser feito
A reforma dos defensivos
E
cos de uso indiscriminado, intoxicações freqüentes, contaminações invisíveis nos alimentos, degradação do meio ambiente por sobras de produtos ou descarte indevido de embalagens e produtos de qualidade duvidosa reverberaram por décadas na sociedade brasileira. Mas, a partir dos anos 80 o Brasil verdadeiramente vem promovendo profundas e positivas reformas na regulamentação, no controle e na utilização deste insumo agrícola. Uma verdadeira marcha cívica. Uma força que vem atropelando as amarras do comodismo e da resistência natural dos sistemas implantados. Primeiro os organoclorados foram banidos; depois, um poderoso filtro de registro dos produtos foi desenvolvido, incluindo pesada carga de avaliação dos riscos à saúde humana e ambiental. O público logo percebeu a mudança de atitude, através dos novos modelos de rótulos e bulas, com muito mais informação. Em seguida a lei de patentes foi alinhada com a de países desenvolvidos. Todo esse conjunto de reformas, por certo prejudicaram alguns inocentes desatentos, mas sem dúvida afastou do mercado a figura dos aproveitadores que produziam ou comercializavam sem a qualificação devida.
A maior conscientização do fornecedor e do usuário submetidos a essa pressão de segurança e cautela por si só deu um choque educativo, tal qual uma boa sova na criança ladina, minimizando o crônico e ainda persistente problema do uso indevido. A isso, ações mais recentes foram atreladas: 1º) a iniciativa dos industriais que resolveram alavancar um programa nacional de racionalização do descarte das embalagens e sobras; e 2º) a contrapartida governamental ao instituir um programa nacional de monitoramento dos resíduos destes produtos. E, finalmente, o governo percebendo a drástica diminuição do número de competidores no jogo da oferta, baixou instrumentos para adoção do regime de registro por equivalência química e de revigoramento dos controles da qualidade fabril e da proteção aos dados proprietários, projeto que bem conduzido, certamente viabilizará uma concorrência mais horizontal nos produtos ditos genéricos. Entenda-se como horizontal a formação de inúmeras pequenas empresas regionais e a ampliação das linhas das empresas existentes, disseminando essa tecnologia e assegurando a estabilidade dos preços nesta faixa da concorrência. Neste contexto, vale à pena o governo se esmerar em adotar de maneira correta e sem atropelos a operação do regis-
tro por equivalência. A agricultura vai agradecer. É necessário rever a Instrução Normativa Nº 49/2002 que, elaborada de maneira açodada, represou o sistema de registro dos produtos genéricos ao invés de irrigá-lo. As regras para a comparação química com alguma precaução de efeitos biológicos estabelecidas pela FAO funcionam bem em muitos países e foram incorporadas à legislação brasileira. Elas por si só farão o trabalho. Implementem um regime de transição: quem quiser registrar pelo regime da similaridade anterior (diversos testes biológicos e apresentação de literatura) que continue por um tempo e quem quiser apresentar seu pedido de produto equivalente que entregue os testes químicos de cinco bateladas para atestar sua composição. O governo simplesmente irá comparar com a composição referência apontada, aquela que estiver à disposição no processo de registro. Logo verá, como muitos detentores dos atuais registros de produtos em grau técnico irão espontaneamente atualizar seus dados, visando mais qualificação e impulsionando a tecnologia. A reforma está em marcha e ainda há muito que fazer. Não a obstruam com pequenas querelas, pois a sociedade está com menos animosidade em relação aos pesticidas, sinal que a situação é bem mais sus. tentável do que há 20 anos.
Mais um show
Fotos Charles Echer
Coopavel 2003
O centro tecnológico da Coopavel acolheu 226 empresas e um público de quase 130 mil visitantes na maior edição já realizada
O
circuito de feiras agrícolas deste ano iniciou em grande estilo com a realização do Show Rural 2003, de 17 a 21 de fevereiro no Centro Tecnológico da Coopavel, em Cascavel (PR). A feira mostrou mais uma vez a força do agrobusiness brasileiro e o potencial existente num setor que cresce em tamanho, competitividade, tecnologia e produção a cada ano. Com público de 129.654 visitantes em cinco dias de evento, o Centro Tecnológico da Coopavel atraiu a atenção de todos os segmentos do setor agropecuário para conferir de perto as últimas novidades em defensivos, sementes, adubos e máquinas agrícolas. Seguindo a tendência da edição anterior, o setor de máquinas foi o que mais cresceu tanto em área ocupada como em números comercializados. Das 226 empresas participantes, 60 são do setor de máquinas que além da exposição estática realizaram as chamadas dinâmicas, onde os produtores puderam conferir de perto as máquinas trabalhando em situações reais de plantio, aplicação de defensivos, adubação e colheita, e comparar o desempenho entre os modelos disponíveis no mercado. Mas diversidade não foi exclusividade do setor de máquinas. A grande gama de produtos apresentados pelas agroquímicas movimentou excelente público em praticamente todos os estandes, onde cada empresa mostrava, ao seu modo, a melhor maneira de impulsionar e garantir bons resultados desde a escolha da semente até a colheita. Valeu de
Março de 2003
tudo para chamar a atenção e atrair quem passava em frente aos estandes: vídeos, canteiros com experimentos e testemunhas, labirintos e até teatro. Para os organizadores do evento, a 15ª edição superou as expectativas. Na avaliação do presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, a feira foi um sucesso. “Este foi o melhor evento entre os já realizados pela Coopavel”, disse eufórico. “Apresentamos a maior quantidade de demonstrações tecnológicas em cerca de cinco mil experimentos entre as centenas de diversidades da produção agropecuária”. Entre as novidades apresentadas na estrutura do parque estão praças de descanso, mirante, capela, ruas asfaltadas e cobertas. Para o engenheiro agrônomo responsável pelo
CTC, Jorge Luiz Knebel, os visitantes tiveram mais conforto que nos anos anteriores. “Também nos preocupamos em investir na espiritualidade do ser humano. Tudo isso proporciona às pessoas uma reflexão sobre o quanto elas podem melhorar a qualidade de vida de sua família através de melhoras na propriedade”, garante. Além de bons negócios, quem costuma percorrer o país durante todo o ano, no circo das feiras agrícolas, espera também um pouco de conforto e bem-estar. A Coopavel mostra a cada ano que é possível aliar tamanho com beleza e conforto para visitantes e expositores, num evento digno do nome que leva. Um verdadeiro show, que há 15 anos cresce . em quantidade e qualidade. CR
Cultivar presenteará assinante com um VValtra altra BM 110 O Grupo Cultivar de Publicações aproveitou o sucesso do evento para lançar a promoção “Assine Cultivar e ganhe um trator”. A campanha será realizada durante todo o ano de 2003. As pessoas que assinarem uma das revistas, neste período, estarão concorrendo a um Valtra BM 110. A assinatura da Cultivar HF ou Cultivar Máquinas dá direito a um cupom. Já os assinantes da Cultivar Grandes Culturas terão direito a dois cupons. As assinaturas conjuntas acumulam os cupons e o assinante que optar pelas três revistas tem direito a cinco cupons. Para saber mais sobre a promoção acesse o site www.cultivar.inf.br.
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Cultivar
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Milho
Dirceu Gassen
ças mais destrutivas à cultura do milho naquele país. No Brasil, a doença começou a ser um problema para a cultura do milho a partir do final da década de 80, principalmente nas regiões do Sudoeste de Goiás, Triângulo Mineiro, Norte e Noroeste de São Paulo, Norte e Oeste do Paraná e Mato Grosso do Sul. A doença ocorre principalmente nas folhas, mas, em ataques mais severos em cultivares de maior suscetibilidade pode ocorrer também no colmo, palhas e bainha, causando a seca prematura da planta e, como conseqüência, uma redução no tamanho das espigas e dos grãos.
SINTOMAS
Doença antiga, a ferrugem polissora do milho preocupa em algumas lavouras, mas pode ser controlada quimicamente ou através de variedades resistentes
Ainda uma ameaça A
ferrugem polissora do milho é uma doença de ampla distribuição no mundo, tendo já sido constatada nas regiões Leste, Oeste e Sul da África, Sudeste da Ásia, Filipinas, Austrália, Américas do Norte, Central e do Sul, e Índia. No leste da África, por volta de 1950, essa doença mos24
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trou, pela primeira vez, o seu potencial destrutivo ao causar perdas na produção de milho de até 60% em algumas áreas. Nos Estados Unidos, a ferrugem polissora causou severas perdas em 1972 e em 1973, passando da condição de uma doença de importância secundária para a posição de uma das doenwww.cultivar.inf.br
A ferrugem polissora do milho pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta. Os sintomas assemelham-se àqueles da ferrugem comum, mas com diferenças bem marcantes, caracterizando-se pela presença de pústulas (urédias), de formato circular a oval, com cerca de 0,2 a 2,0 mm de diâmetro, coloração marrom-clara em plantas jovens, que passa a marrom-escura à medida que a planta aproxima-se da maturação. As pústulas apresentam-se densamente distribuídas na superfície superior da folha. Em condições naturais, o desenvolvimento das pústulas na face inferior da folha ocorre de maneira mais lenta e com menor abundância do que na face superior. Em casa de vegetação, as pústulas raramente se formam na superfície inferior da folha. No caso da ferrugem comum, as pústulas se desenvolvem abundantemente em ambas as superfícies da folha, sendo esta uma boa maneira de se distinguir as ferrugens comum e polissora. As télias têm formato circular a alongado, com 0,2 a 0,5 mm de diâmetro, coloração marrom-escura, aparecendo normalmente em círculos ao redor das urédias, permanecendo cobertas pela epiderme, por um tempo mais longo que o da ferrugem comum. Ocasionalmente as télias podem ser distinguidas pela presença de manchas escuras abaixo da epiderme.
ORGANISMO CAUSAL A ferrugem polissora é causada pelo patógeno Puccinia polysora Underwood, o qual produz uredosporos de formato elíptico a oval, binucleados, de coloração amarelada a dourada, medindo de 20-29x29-40ìm. As paredes do uredosporo apresentam uma espessura de 1 a 1,5ìm, são esparsamente equinuladas e possuem 4 a 5 poros equatoriais. Os teliosporos apresentam coloração marrom-clara, formato elipsóide, com ambas as extremidades arredondadas, são bicelulares, com uma constrição no septo e medem 18-27x29-41ìm, são produzidos nas extremidades de pedicelos curtos (10 a 30ìm), amarelados a castanhos e persistentes, e atingem, no máximo, um quarto do comprimento dos uredosporos; Março de 2003
CICLO DA DOENÇA E EPIDEMIOLOGIA Os teliosporos de P. polysora são raros e não germinam, sendo aparentemente de pouca ou nenhuma importância no ciclo da doença. Os uredosporos constituem, portanto, a fonte primária e secundária de inóculo, sendo transportados de plantas infectadas para plantas sadias através do vento ou de materiais infectados. Os uredosporos podem ser transportados a longas distâncias pela ação do vento. Não são conhecidos hospedeiros alternativos para o patógeno P. polysora, sendo conhecidos apenas os estádios uredial e telial deste organismo. A ferrugem polissora é favorecida por temperaturas elevadas (270C) e alta umidade relativa. Os uredosporos germinam melhor a temperaturas entre 23 e 280C, enquanto que a 130C e a 300 a germinação é bastante reduzida. A germinação e a penetração dos uredosporos requerem também a presença de água livre na superfície da folha. Trabalhos conduzidos no Brasil permitiram identificar a existência de raças fisiológicas na população deste patógeno. Existe, atualmente, uma série diferencial que permitirá avaliar com maiores detalhes a extensão desta variabilidade, considerando-se que este é um aspecto de fundamental importância para o desenvolvimento de cultivares de milho com resistência a este patógeno.
CONTROLE DA DOENÇA Controle Químico: É possível a realização do controle químico da ferrugem
polissora no Brasil através da utilização de fungicidas, sendo vantajoso do ponto de vista econômico, apenas nas fases iniciais do desenvolvimento da planta. As pulverizações devem ser, neste caso, realizadas desde o início do aparecimento dos primeiros sintomas, para se evitar o aumento do potencial de inóculo na área. Há registro no Ministério da Agricultura de produtos comerciais a base de Tebuconazole para o controle da ferrugem polissora. Manejo Cultural: Deve-se evitar o plantio sucessivo de milho, principalmente em áreas sob irrigação por pivô central, por permitir a perpetuação e multiplicação do potencial de inóculo na área. Resistência Genética: Esta é a maneira mais eficiente e econômica de se controlar a ferrugem polissora do milho. Esta medida é dificultada em parte pela variabilidade apresentada pelo patógeno, já que há possibilidade de desenvolvimento de raças adaptadas às cultivares resistentes existentes no mercado. Há basicamente duas formas de resistência à ferrugem polissora: a resistência vertical e a resistência horizontal. A primeira caracteriza-se pela sua capacidade de impedir totalmente o desenvolvimento da doença. Apesar de sua eficiência, vários autores ressaltam o risco de se utilizá-la como principal estra-
tégia de controle da ferrugem polissora, pelo risco que ela oferece de se selecionar raças de maior virulência na população do patógeno. Prioridade tem sido dada, em programas de melhoramento, ao desenvolvimento de cultivares com resistência do tipo horizontal, também denominada de “slow rusting” a qual, por não exercer pressão de seleção excessiva contra a população do patógeno, está menos sujeita a quebras pelo surgimento de novas raças. Por outro lado, outros autores defendem o uso combinado das resistências vertical e horizontal. Neste caso, a quebra da resistência vertical não estaria necessariamente associada à ocorrência de epidemias severas, já que a resistência horizontal impediria o desenvolvimento rápido da doença. A identificação de genótipos resistentes à ferrugem polissora tem sido um dos principais objetivos do programa de melhoramento genético de milho no Brasil. Híbridos experimentais e linhagens de milho da Embrapa Milho e Sorgo têm sido avaliados quanto a sua reação à doença através de testes realizados em campo e em casa de vegetação, na busca da associação das formas de . resistência acima referidas. Carlos Roberto Casela, Embrapa Milho e Sorgo
Produtos
Formigas sob controle Considerando custo e benefício, existem soluções viáveis para minimizar os estragos causados pela praga às lavouras
I
númeras espécies de formigas prejudicam as atividades agrícolas, causando prejuízos direta ou indiretamente. Entre estas, estão as formigas cortadeiras dos gêneros Atta e Acromyrmex que cortam folhas e as utilizam no cultivo do seu alimento, um fungo comestível semelhante ao champignon; outras, como as formigas doceiras, do gênero Camponotus, podem causar danos diretos, exemplo é a formiga preta, Camponotus mus, que invade colméias, podendo até eliminar os enxames, e a formiga “cupim”, Camponotus punctulatus, que faz ninhos de barro nas várzeas, dificultando o preparo do solo para os cultivos nestas áreas. Para o controle de formigas em geral, a utilização de produtos químicos, em diferentes modalidades de uso, como iscas, pós, termonebulização etc, tem sido a maneira 26
Cultivar
tradicional de controle. Este procedimento pressupõe que o interessado precisa localizar a sede do formigueiro para a aplicação do formicida; esta localização, por outro lado, apresenta um custo de mãode-obra bastante elevado. Estimativas realizadas na região central do Rio Grande do Sul apresentaram custos variáveis entre R$30,00 e R$150,00/ha, sendo que a mão-de-obra para localização do ninho e a aplicação do formicida varia entre 60 e 80% deste valor. Procurando alternativas, no controle destas pragas e com menores custos, principalmente da mão-de-obra, foram realizadas pesquisas direcionadas a problemas específicos que permitiram o desenvolvimento de metodologias eficazes e de menor custo. Para a formiga “cupim”, Camponotus www.cultivar.inf.br
punctulatus, os melhores resultados (mais de 90% de eliminação dos formigueiros) foram obtidos quando, logo após a destruição dos ninhos, com barras de arrasto, nos terrenos de várzeas, pulverizou-se o ingrediente ativo Fipronil, formulação líquida, (Klap), na dose de 50ml/ha, do produto comercial, isolado ou junto com dessecante, até quatro horas após o desmanche dos ninhos. Aplicações no dia seguinte (24 horas ou mais, após o desmanche dos ninhos) apresentaram eficácias entre 20 e 40% de eliminação de formigueiros, valores considerados pouco ou nada eficientes. Para o controle da formiga doceira, Camponotus mus, tanto em ataque nas colméias, como quando em ocorrência em fruteiras, espalhando pulgões e cochonilhas e defendendo estas pragas dos inimigos naMarço de 2003
Fotos Cultivar
Inúmeras espécies de formigas prejudicam a atividade agrícola
Link
turais, aplicou-se uma cinta de proteção com cola adesiva de gel repelente (Repelente americano) de 2cm de largura no suporte da colmeia ou no tronco da fruteira; esta cinta impede a passagem das formigas por um período mínimo de 60 a 90 dias. Deve-se, semanalmente, vistoriar estas cintas para a retirada de qualquer material vegetal que ali grude e forme ponte para a passagem das formigas. Este gel repelente serve também para proteção de árvores ornamentais em praças e jardins. Outra medida de proteção para mudas de essências florestais é a rega ou pulverização das mudas, pouco antes do transplante, com nicotinóides, como o Imidacloprid (Confidor) e Thiamethoxam (Actara) na dose de 5g do produto comercial diluídos em dois litros de água e aplicados sobre mil mudas de eucaliptus ou pinus. Este tratamento confere proteção por até 60 dias, dependendo da densidade de formigueiros da área plantada e da rapidez de crescimento da planta. Para proteção de mudas florestais, ornamentais e frutíferas, também foram eficientes pulverização com Acefato a 0,075% (proteção de dez dias), com Fipronil a 0,2% (proteção por quatro semanas) e polvilhamento com Deltametrina (proteção por até cinco dias). Verificou-se que, quando da pulverização em área total, para o controle de determinadas pragas, o Fipronil (Klap) afetava o comportamento das formigas cortadeiras em até 20/25 dias após a aplicação, fazendo com que cessasse as atividades de
Dionisio Link, UFSM Fábio Moreira Link, Engenheiro Agrônomo
Dionísio Link explica como obter controle satisfatório de formigas
Março de 2003
corte e forrageio. Testes realizados mostram que com a aplicação de Fipronil (Klap), na dose de 20ml do produto comercial/ha, há proteção das plântulas de soja, milho ou arroz, por até quatro semanas, permitindo o desenvolvimento normal destas culturas sem redução do stand, pois neste período não ocorre corte e, passada esta fase crítica, os danos de formigas cortadeiras, nestas culturas, são mínimos e de controle anti-econômico. Pode-se afirmar que é possível conviver com este tipo de praga, com um custo relativamente baixo, optando por uma tecnologia que seja eficaz e de custo adequado aos cultivos que se pretende proteger ou reduzir os danos causa. dos por formigas.
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Neri Ferreira
Herbicidas
A qualidade química da água usada como veículo na aspersão afeta a eficiência das moléculas de herbicida
Água na pulverização O
emprego de herbicidas tem sido a prática usual no controle de plantas daninhas nas culturas anuais. O custo dessa prática pode representar cerca de 30% do custo total de produção e requer aplicações cada vez mais eficientes desses insumos para diminuir os impactos ambientais e econômicos. Existem limitações a serem sobrepujadas para melhorar sua eficiência no manejo de plantas daninhas. A qualidade química da água (teor de sais e pH) usada como veículo na aspersão do produto é uma característica que pode afetar grandemente a eficiência de determinadas moléculas herbicidas. As moléculas herbicidas possuem características químicas que lhes conferem capacidade de reação com íons presentes na água de aspersão, os quais podem imobilizá-las, reduzindo sua atividade nas plantas. A intensidade das reações é variável com o pH da solução e com o tipo de íon presente, sendo que as propriedades físico-químicas e a atividade dos herbicidas podem ser alteradas com a redução do pH da calda (McCormick, 1990). 28
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A acidificação da calda reduz a dissociação das moléculas; assim, herbicidas dissolvidos em condições de baixo pH são absorvidos com maior facilidade pelas plantas devido às moléculas encontrarem-se na forma não-dissociada (Wanamarta & Penner, 1989). Aumentando o pH de uma solução contendo glyphosate, verifica-se a ocorrência de sucessiva desprotonização da molécula herbicida. Dentro da faixa de pH fisiológico (de 5 a 8), o glyphosate está carregado negativamente, existindo tanto como ânion monovalente como bivalente. Devido a essas múltiplas cargas negativas existentes sobre a molécula do glyphosate, ele pode formar complexos estáveis (quelatos) com cátions bivalentes e trivalentes em solução aquosa (Mervosh & Balke, 1991). O pH da solução e os íons presentes na calda influenciam a fitotoxicidade do herbicida sethoxydim, sendo que sódio e cálcio mostraram-se antagônicos ao herbicida em pH acima de 7 (Nalewaja et al., 1994). Esse fato pode ser devido à protonação das moléculas do sethoxydim em baixo pH, o que facilita sua absorção (Nalewaja et al., 1994; Mcmullan, 1996). www.cultivar.inf.br
Outro efeito associado com a eficiência do herbicida deve-se ao fato de que o ajuste do pH na solução pode interferir na solubilidade do herbicida e, potencialmente, aumentar a eficiência do mesmo. Por exemplo, nicosulfuron tem solubilidade de 400 mg kg-1 de água em pH 5,0 e 39200 mg kg-1 em pH 4,9 (Mcmullan, 2000). O pH da solução mostra influência sobre a cutícula e a ionização das moléculas do herbicida, o que aumenta a absorção do produto (Wanamarta & Penner, 1989). A absorção pela cutícula é diferente para moléculas íntegras e para os ânions e cátions resultantes da dissociação. Por isso, o grau de dissociação influencia no grau de eficiência (Mcmullan, 2000). Tentativas em manter ou aumentar a fitotoxicidade de certos herbicidas pela redução do volume do diluente, adição de ácido sulfúrico ou sulfato de amônio à calda herbicida têm-se mostrado práticas promissoras. Essas modificações na aplicação têm permitido reduções na dose herbicida, resultando em diminuição do custo, enquanto mantêm um nível de controle eficiente das planMarço de 2003
tas daninhas (Carlson & Burnside, 1984). O ácido sulfúrico tem-se mostrado eficiente em aumentar a ação herbicida, quando adicionado à água de poços artesianos (Buhler & Burnside, 1983; Carlson & Burnside, 1984). Os adubos nitrogenados, como nitrato de amônio e sulfato de amônio, também possuem, pelo seu caráter ácido, potencial para alterar o pH da solução, pela neutralização do antagonismo de cátions à plena atividade dos herbicidas. Um trabalho realizado por Roman & Mattei (dados não publicados) demonstrou o efeito do sulfato de amônio no pH da calda herbicida (Tabela 1). O sulfato de amônio aumenta a toxicidade do glyphosate por neutralizar o antagonismo decorrente de sódio e de cálcio (Nalewaja & Matysiak, 1993). De outro modo, o antagonismo do bicarbonato de sódio ao herbicida sethoxydim é superado através da adição de nitrato de amônio à solução (Nalewaja et al., 1993). Da mesma forma, o sulfato de amônio aumenta a absorção e a translocação de sethoxydim (Smith & Vanden Born, 1992). O sulfato de amônio incrementa a absorção de imazethapyr e seu efeito aumenta ainda mais quando o herbicida é aplicado em baixas doses (Gronwald et al., 1993). O amônio compete com o cálcio e impede que esse forme complexos com a molécula de glyphosate e a imobilize (Thelen et al., 1995). A adição de sulfato de amônio na calda previne o antagonismo ocasionado ao glyphosate pelos íons presentes na água, evitando a for-
Tabela 1 – Variação do pH em doses de HCl e Sulfato de Amônio. Tratamento Dose (g ou ml/L) pH Água 7,1 Sulfato de Amônio 30g 5,5 HCl 1g 5,6 Março de 2003
mação de sais de cálcio e de magnésio de glyphosate, os quais são pouco absorvidos pelas plantas (Penner, 1989). O efeito do sulfato de amônio foi demonstrado ser superior ao do nitrato de amônio (Gronwald et al., 1993). Ácidos e adubos nitrogenados são referidos como substâncias adjuvantes capazes de aumentar a eficiência de vários herbicidas de pós-emergência. A adição de determinados ácidos à solução contendo glyphosate supera a perda de eficiência desse herbicida causada por água ‘dura’ (Buhler & Burnside, 1983) . O sinergismo ou o antagonismo à atividade fitotóxica do glyphosate, provocada pela adição de diferentes substâncias, envolvem a resposta do herbicida ao pH, a sua complexação com íons metálicos, efeitos da concentração do herbicida e do surfactante e diferenças de retenção da aspersão por distintas espécies vegetais (Nalewaja et al., 1994). A importância do uso de adjuvantes em otimizar a atividade de muitos compostos herbicidas de pós-emergência atualmente está bem reconhecida, e pode representar economia na aplicação pela possibilidade do uso de doses reduzidas (Sherrick et al., 1986; Mcmullan, 2000). Cabe ressaltar, que a adição de substâncias ácidas no tanque do aspersor pode provocar corrosão em alguns componentes do equipamento. Além disso, o exato mecanismo pelo qual os ácidos e/ou substâncias nitrogenadas superam o efeito negativo do pH elevado (alcalino) e de sais presentes na calda ou qual a quantidade a ser utilizada, ainda não são totalmente conhecidos. No entanto, a utilização dessas substâncias, geralmente aumenta a eficiência dos herbicidas e pode proporcionar redução na dose utilizada. No entanto, isso não significa que o agricultor possa usar tais produtos sem critérios, ou seja, é necessário que o agrônomo analise cada caso e faça a recomendação correta, pois em alguns casos, dependendo do tipo de íon e da molécula herbicida envolvida, a redução do pH da calda pode aumentar ainda mais a imobilização das moléculas do produto. Um levantamento do pH das águas da Região Alto do Jacuí, Região do Noroeste Colonial, Região da Fronteira Noroeste, Região das Missões, Região da Produção, Região Central e Região do Vale do Rio Pardo (classificação segundo o Mapa político das regiões e Municípios do Rio Grande do Sul) mostrou que das 69 amostras (100%) analisadas, em 3 amostras (4,4%) o pH variou entre 4,5 e 5,5; em 30 amostras (43,7%) o pH variou entre 5,5 e 6,5 e que, em 36 amostras (52,1%) o pH estava acima de 6,5. Destas últimas, a água mais alcalina apresentou o pH 7,9, proveniente de poço artesiano. As águas amostradas nesse estudo foram oriundas de poços artesianos, poço subterrâneo, www.cultivar.inf.br
Tabela 2- pH de amostras de água de algumas localidades do Estado do Rio Grande do Sul. Localidade Procedência Boa Vista do Buricá Poço Catuípe Sanga Cerro Largo Poço Colorado Poço artesiano Cruz Alta Lagoa Cruz Alta Poço Entre-Ijuís Poço Espumoso Poço artesiano Espumoso Poço artesiano Fortaleza dos Valos Sanga Fortaleza dos Valos Poço Fortaleza dos Valos Poço Giruá Vertente Giruá Poço Não-Me-Toque Poço artesiano Não-Me-Toque Poço artesiano Não-Me-Toque Poço artesiano Palmeira das Missões Poço artesiano Pejuçara Poço artesiano Ronda Alta Poço Santo Ângelo Poço artesiano Santo Ângelo Poço São Luiz Gonzaga Poço São Miguel Missões Poço Sarandi Poço subterrâneo Sarandi Água da Fonte Soledade Poço Tupanciretã Poço artesiano Tupanciretã Poço artesiano
PH 7,2 7,2 7,9 7,3 7,3 5,7 7,2 5,7 7,0 7,3 6,1 7,0 6,7 4,6 6,7 7,3 7,6 6,4 7,1 6,5 5,9 7,0 6,8 7,2 7,2 6,4 5,7 6,6 7,4
lagoa, sanga, vertente e açude (Tabela 2). Portanto fica claro que existe ampla variação do pH da água, o que pode afetar significativamente a atividade de determinadas moléculas herbicidas sobre as plantas e alterar tanto a seletividade quanto a capacidade de controle das plantas daninhas. Além do pH, a presença de materiais em suspensão como argila deve ser considerada. A água suja ou barrenta (com partículas de argila em suspensão) e com fitoplâncton, podem causar adsorção do herbicida, diminuindo a eficiência de herbicidas que podem ser adsorvidos fortemente pelos colóides do . solo como o Paraquat, por exemplo. Erivelton Scherer Roman, Embrapa Trigo Mauro A. Rizzardi, UPF Leandro Vargas, FACTU Cultivar
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John Deere
Aplicação Aplicação sem sem erros erros
Baixa qualidade de recursos humanos é o primeiro fator a ser corrigido para garantir sucesso na pulverização de produtos fitossanitários
O
cultivo de espécies de plantas em áreas extensivas e contínuas é o principal fator de seleção de organismos que competem com o homem na produção de alimentos. Nessas condições, as pragas, as plantas daninhas e os patógenos desenvolvem populações cada vez maiores e necessitam ser controladas. A tecnologia de aplicação evoluiu para o uso de GPS (Global Positioning System), bicos com a formação de gotas uniformes e equipamentos com maior capacidade de área pulverizada, cabines fechadas com ar condicionado e controle computadorizado da pulverização. Estão sendo lançados novos produtos químicos com necessidade de conhecimento diferenciado para a obtenção da melhor eficiência técnica na lavoura. Agricultores desenvolveram equipamentos arrastados na superfície do solo ou das plantas com bicos acoplados em cabo
de aço com até 100 m de comprimento. Esse equipamento reduz o amassamento pelas rodas do trator, aumenta a cobertura de folhas da parte inferior das plantas e aumenta o rendimento de área de pulverização. Não houve evolução significativa na qualificação de recursos humanos e na compreensão dos aspectos relacionados com a deposição de gotas, com a distribuição efetiva na superfície da planta ou no alvo desejado e com a influência de elementos climáticos sobre a eficácia de produtos fitossanitários. A tecnologia de aplicação nas lavouras continua sendo o ponto de estrangulamento para a melhor eficácia e para o melhor retorno econômico. Os problemas com a tecnologia de aplicação iniciam com a diluição de produtos no tanque, a qualidade de água, a seqüência de mistura e seguem com a aplicação na lavoura. A mistura de produtos deve obedecer
à recomendação indicada no rótulo da embalagem. Os produtos devem ser adicionados isoladamente no tanque de pulverização com a bomba acionada e a agitação constante da calda. No caso de aplicar mais de um produto no mesmo tanque, adicionar primeiro um dos produtos e depois da mistura adequada no tanque, adicionar o segundo produto e, assim, sucessivamente. Os erros no método tradicional de medição de vazão com copos ou sacos de plástico graduados, iniciam com a imprecisão das escalas e seguem com a variação na velocidade de deslocamento na lavoura. Poucas vezes os aplicadores de produtos na lavoura têm capacidade de elaborar cálculos matemáticos e determinar a vazão real de calda dos pulverizadores. Em geral adotam uma medida padrão e conferem a exatidão da vazão. O controle de espaçamento entre faixas de aplicação com o GPS é uma evolução muito importante para se evitar as fai-
xas de sobreposição e as faixas sem aplicação. Na Austrália está se dando ênfase no controle de tráfego de tratores para as pulverizações. Na semeadura do trigo, os agricultores marcam o espaço onde deve passar o equipamento de aplicação, fechando duas fileiras da semeadora, exatamente onde passam as rodas do pulverizador. Com isso, diminui o amassamento e não há erro na faixa de aplicação dos produtos fitossanitários.
agricultores para o controle de pragas. Entretanto, se considerar o elevado volume de água aplicado na irrigação (5 mm= 50.000 l/ha) e a baixa capacidade da planta em reter água (800 a 1.000 l/ha na superfície da parte aérea e no milho até 2.000 l/ha no cartucho), o índice de aproveitamento de inseticida é inferior a 6 %. Ou seja, 94 % do volume de inseticida aplica-
VOLUME E CALDA O volume de calda utilizado na pulverização é definido pelo tamanho de gota produzido pelos bicos de pulverização. Ou seja, o diâmetro médio volumétrico (DMV) e a sua densidade por unidade de área. Alguns agricultores ainda acreditam, erroneamente, que aumentar o volume de água (100 a 200 l/ha) e aumentar a pressão sobre o líquido até a formação de gotas pequenas (névoa) resultaria em melhor eficácia ou melhor distribuição de produtos fitossanitários. A formação de névoa resulta na falsa impressão visual de que o produto está cobrindo totalmente as plantas. Essa névoa é formada por gotas muito pequenas (50 micrômetros), que evaporam rapidamente, ou são arrastadas pelo vento, muitas vezes não atingindo o alvo. A formação de névoa é sinônimo de perda de produto por evaporação, de deriva e de repelência pela carga elétrica igual à da folha de plantas. É desejável usar baixa pressão (15 lb/pol) e bicos de baixa vazão (50 l/ha) com gotas de tamanho maior e que, efetivamente, atinjam o alvo biológico. Resultados de estudos mostram vantagens econômicas e de tempo com a aplicação de volumes menores. Nas aplicações com orvalho nas plantas, os cuidados quanto à vazão e escorrimento foliar devem ser maiores, porque a folha já está no ponto de molhamento. Nesse caso a adição de espalhantes siliconados pode ser importante para melhorar a distribuição de produtos. Durante o dia, com temperaturas elevadas e umidade relativa do ar baixa, a adição de óleos pode ser desejável para diminuir as perdas por evaporação.
APLICAÇÃO NA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO A aplicação de produtos fitossanitários na água de irrigação, também denominada de quimigação, é adotada por alguns
Fig. 1 - Temperatura (do ar, do solo nu e do solo com palha na superfície) e umidade relativa do ar em diferentes momentos do dia.
Fig. 2 - Distância percorrida por gotas de água com diâmetro de 100 micrômetros e de 200 micrômetros até a evaporação completa em diferentes momentos do dia e umidade relativa do ar.
do cairá no solo com a água de irrigação. A aplicação de produtos fitossanitários através da água de irrigação é um método inadequado e deve ser evitado pelo baixo aproveitamento de produto na planta e pelo efeito negativo na fauna de solo.
TAMANHO DAS GOTAS Entre os fatores críticos que determinam a perda de produtos fitossanitários na lavoura se destacam o tamanho da gota na pulverização e a perda por evaporação na distância entre a saída da gota da ponteira até a superfície da folha da planta alvo. No passado se recomendava o uso de bicos cones e gotas de tamanho pequeno para a aplicação de fungicidas e de inseti-
cidas. Tinha-se a falsa impressão visual de que a formação de névoa (gotas com tamanho < 50 micrômetros) garantiria melhor distribuição da calda e melhor cobertura das folhas na base das plantas. A carga elétrica negativa na folha e na gota dificulta a adesão das gotas pequenas. Essas gotas evaporam rapidamente resultando na perda de produtos fitossanitários que deveriam atingir a planta. A variação na temperatura da superfície de solos nus, de solos com palha e do ar, e a variação nos teores de umidade relativa do ar, em diferentes momentos do dia (Figura 1) determinam os riscos de perda de gotas por evaporação. Gotas com diâmetro de 100 micrômetros, consideradas pequenas e próximas da formação de névoa percorrem distância aproximada de 2 m até a evaporação nas horas de maior umidade relativa do ar e de menor temperatura (Figura 2). Essas gotas percorrem distância de queda inferior a 0,4 m a partir das 10 h e até as 22 h (Figura 2), sendo perdidas no objetivo de proteger as plantas. Gotas com diâmetro de 200 micrômetros percorrem distâncias superiores a 2,6 m, mesmo nos momentos de déficit de saturação mais intensos do dia (Figura 2). Outro aspecto importante na pulverização é a carga elétrica das gotas. A superfície da folha de plantas apresenta carga elétrica negativa e a gota de água também. Portanto, a mudança da carga elétrica da água é desejável para facilitar e garantir a adesão da calda na superfície da planta. Persistem algumas dificuldades na tecnologia de mudança de carga elétrica da gota como a pequena distância efetiva de atração da gota pela folha, o tempo de persistência de carga positiva nas gotas desde a saída da ponteira até o alvo e a concentração de produtos nas folhas superiores das plantas.
CONCLUSÕES Com a evolução dos conhecimentos, as indicações para a pulverização eficiente são de gotas de tamanho maior (> 200 micrômetros), volume de água menor (50 a 100 l/ha) nas pulverizações com equipamento de barra terrestres, baixa pressão no fluxo da calda (15 lb/polegada), barra mais próxima das plantas e bicos (ponteiras) do tipo . leque com formação de gotas maiores e de tamanho uniforme. Dirceu Gassen, Gerente técnico da Cooplantio
Agronegócios
A fome no mundo e os países ricos Quarenta milhões de pessoas morrem de fome todo ano; poderiam ser salvas com o dinheiro usado para matar outras dezenas de milhares
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irenze (1265) - Durante nasceu em Firenze, filho de Alighiero e Bella, da pequena nobreza guelfa, em 23/05/1265. Apelidado de Dante, tornouse um dos maiores poetas de todos os tempos, tendo testemunhado o fim da Idade Média, vivido no século das Cruzadas, das viagens de Marco Polo, da Inquisição em Castela, da agonia do feudalismo na Itália. As cidades, independentes, eram agitadas por convulsões políticas. Florença era rica, seus mercadores famosos, os banqueiros tinham poder por toda a Europa, sua vida cultural era intensa. Os contrastes apareciam nas ruas estreitas, com esgotos a céu aberto e o desfile de sedas e jóias compradas com o ouro das mercadorias de todo o mundo conhecido. Logo viria o Renascimento e as mudanças de valores. Exilado e incompreendido, o poeta morreu em Ravenna, em 1321. A injustiça de seu tempo inspirou Dante Alighieri a escrever a Divina Comédia, onde colocou uma inscrição na porta do Inferno que dizia “Lasciate ogni speranza, voi che’ntrate” (Deixai toda a esperança, vós que entrais - Inferno, III, 9). Roma (1997) - Estatísticas da FAO mostraram que a fome atinge 800 milhões de pessoas no mundo. Cerca de 20 milhões de crianças morrem, anualmente, por desnutrição ou por doenças associadas. Para mitigar a tragédia, a ONU, através da FAO, convocou os países membros para o “World Food Summit”. A meta mobilizadora era a redução de 50% dos famintos do mundo, no horizonte de 25 anos. A proposta da FAO, embora modesta frente ao mortícídio causado pela fome, teria que ser, necessariamente, custeada pelos países ricos. Davos (2001) - Na edição 2000 do Fórum Econômico Mundial foi criado um grupo para discutir o protecionismo no comércio internacional. Na reunião de 2001, o grupo apresentou as recomendações aos governos participantes da nova rodada global de negociações comerciais, que seria realizada em Doha (Qatar). O documento alertava para os riscos do uso do poder econômico para sufocar as opor32
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tunidades comerciais dos países pobres. Genebra (2001) - Em 2000, os subsídios agrícolas dos países do Primeiro Mundo atingiram US$ 327 bilhões, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Esse valor é quase o dobro da exportação agrícola dos países em desenvolvimento (US$ 170 bilhões). Segundo o Banco Mundial, os gastos com agricultura (grande parte deles devotados aos subsídios) equivalem a 1,3% do PIB dos países da OCDE, e são mais que seis vezes o valor da ajuda ao desenvolvimento. O protecionismo agrícola é maior que o industrial, apesar das mudanças previstas na Rodada Uruguai, berço da OMC. A tarifa média para produtos agrícolas é 62% e, para os demais produtos, é de 4%. A agricultura emprega 65% da força de trabalho nos países pobres, 28% nos de renda média (Brasil e a maior parte da América Latina) e apenas 2% nos países de renda mais alta. Melhores condições de acesso aos grandes mercados, para produtos das economias em desenvolvimento, facilitariam o combate à pobreza. Nova York (2002) - Uma força-tarefa composta por executivos de organizações de peso, como Cargill, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, Coca Cola, Sadia, Unilever, Agência Católica para o Desenvolvimento e mais 25 entidades divulgou um manifesto, defendendo a reforma do comércio agrícola. O documento do grupo critica o protecionismo do Primeiro Mundo e os subsídios que distorcem o mercado e derrubam os preços. Se o comércio agrícola for liberalizado, as economias em desenvolvimento poderão obter uma renda extra de US$ 150 bilhões em 2015. E as economias dos países ricos deverão ter um benefício de US$ 100 bilhões naquele ano, segundo o Banco Mundial. O então ministro brasileiro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, propôs que o subsídio interno aos agricultores, no mundo rico, seja desvinculado da produção. Nos EUA, o governo paga a diferença entre o preço de mercado e um preço-alvo, por vezes defasada em mais de 20%. Políticas www.cultivar.inf.br
desse tipo induzem a um excesso de oferta, depreciando as cotações, com prejuízos para produtores de outros países. Assim, os governos complementariam a renda dos agricultores, principalmente dos pequenos, sem excesso de produção e sem reduzir os preços de mercado. Poder-se-ia eliminar uma distorção sem deixar de assistir as famílias de agricultores, enquanto se persegue o fim de todo e qualquer subsídio. Mesmo nos países de renda média, com alta produtividade agrícola e bem desenvolvida atividade agroindustrial, as condições de competição internacional são desfavoráveis, por causa dos subsídios e do protecionismo. O atual Ministro do Comércio Exterior, então presidente da Sadia, Luiz Fernando Furlan, era membro da força-tarefa. Disse, na oportunidade, que a Sadia é a 12ª maior exportadora do Brasil e vende para 60 países, Março de 2003
Dante e Virgílio diante do portal do inferno. Ilustração de William Blaker. (séc XVIII)
mas não consegue entrar nos mercados da América do Norte. Alberto Weisser, presidente do Grupo Bunge, quinto maior exportador brasileiro, reforçou as palavras de Furlan. Roma (2002) - A International Alliance Against Hunger (Aliança Internacional contra a Fome), criada no World Food Summit de 1997, reuniu-se em junho, para avaliar os avanços obtidos. O balanço demonstra o que já se sabia e, também, o que se intuía: durante os cinco anos que separaram uma e outra conferência, não apenas não houve avanços, como os compromissos da maioria dos países não foram cumpridos e a fome no mundo aumentou! O Brasil foi um dos poucos países que apresentou estatísticas melhores após cinco anos, reduzindo os índices negativos associados à fome e desnutrição, melhorando também a saúde e a educação das populações alvo. Davos (2003) - O presidente do Brasil, Março de 2003
Luiz Inácio Lula da Silva, conclamou os países ricos e as grandes corporações internacionais a constituírem um fundo internacional de combate à fome, um Fome Zero Mundial. Os participantes do encontro ouviram em silêncio a proposta do presidente e, ao final do encontro, mostraram-se amplamente favoráveis à sua implementação. Washington (2003) - No seu discurso sobre o Estado da União, o Presidente Bush reiterou sua disposição de declarar guerra ao Iraque. As estimativas mais conservadoras apontam para gastos de US$ 500 bilhões nessa aventura belicosa. Londrina (2003) - A leitura conjunta desses fatos, por indigna que pareça, sinaliza que nenhum país rico vai ajudar a acabar com a fome no mundo, em especial na acepção “permitir que se pesque”. Eventualmente, em situações especiais de alta comoção mundial, podem tirar algum dinheiro da guaiaca para dar uma esmola à turba famélica. Porém, jamais vão deixar suas próprias prioridades para mitigar a desgraça alheia. Mesmo sabendo que a fome é o principal componente que move fluxos migratórios, violência, tráfico de drogas, terrorismo e outras desgraças que se abatem sobre o mundo – inclusive sobre o Primeiro! Estudiosos já demonstraram que bastariam alguns dias do orçamento militar das nações de maior poderio bélico para acabar com toda a pobreza do mundo. Usemos a estatística da FAO (800 milhões de famintos) e sua estimativa financeira (US$ 2,00/ pessoa/dia) para acabar com a fome. De acordo com esses números, seriam necessários US$ 1,6 bilhões/dia ou US$ 584 bilhões/ano para debelar a fome no mundo, através do condenado sistema paternalista de distribuição de alimentos. Portanto, apenas o dinheiro que os EUA jogarão no esgoto da História, para defenestrar Saddam Hussein, seria suficiente para aplacar a fome mundial por 312 dias. Como os orçamentos bélicos sempre são subestimados, seguramente, ao final de um conflito que todos esperamos que não ocorra, gastou-se para matar dezenas – quiçá centenas - de milhares de iraquianos, o equivalente à salvação de 30 ou 40 milhões de pessoas que vão morrer de fome, ou em decorrência dela, ao longo de 2003. Seria Bush um monstro, um insensível? Não disporia o presidente americano dessa www.cultivar.inf.br
informação? Todos sabemos que não se trata disso. Trata-se, sim, de garantir o fornecimento de petróleo para um país que detém 2% da população do mundo, mas gasta 25% da energia mundial. Trata-se de garantir bons negócios para a indústria petrolífera - que financiou a campanha de Bush - no subsolo iraquiano, que tem a segunda maior reserva de petróleo do mundo. Trata-se de dar oxigênio à falida indústria siderúrgica americana, que também investiu na campanha eleitoral. Trata-se de garantir a sobrevivência de outro financiador, a indústria bélica americana – se não houver guerras, venderão para quem? Trata-se de testar as novas máquinas de matar, o que só é possível em uma guerra de verdade.
O INFERNO DE DANTE Portanto, 40 milhões de pessoas morrem de fome todo o ano, as quais poderiam ser salvas com o dinheiro usado para matar outras dezenas de milhares – uma matemática digna do Inferno de Dante Alighieri. Mas a questão não se esgota aí. O leitor se recorda da referência aos US$ 327 bilhões em subsídios agrícolas? Pois, nesse caso, muito mais do que representar 204 dias de alimento, a cada ano, o subsídio significa o seqüestro da vara-de-pesca. Na ausência de subsídios agrícolas, mais da metade da fome no mundo poderia ser debelada, pois são eles que impedem pequenos agricultores da África, da Ásia e da América Latina de competir no mercado internacional de produtos agrícolas. Muitos desses agricultores competem, e bem, com seus congêneres europeus ou americanos. Só não conseguem competir com os Departamentos de Tesouro desses países. Se Dante Alighieri vivo fosse, seu gênio poético continuaria insuperável. Inspirado pelos fatos acima, cunharia novamente a mesma frase, colocada na porta do Inferno. Inferno que está em qualquer lugar onde haja fome, doença, falta de renda e de perspectiva, e não apenas no subsolo de Jerusalém, como imaginado na Divina Comédia. Lasciate ogni speranza, voi che’ntrate é, na realidade, a divisa marcada a fogo - qual se marca um animal - nas crianças que ousam nascer fora das fron. teiras de países ricos. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Soja e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.gazzoni.pop.com.br
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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting
Safra bate recorde e supera as 100 milhões de toneladas Depois de dezenas de anos em que observamos as notícias vagas de que o Brasil estaria colhendo uma safra recorde, neste ano de 2003, realmente estamos chegando a um recorde, e pelos nossos levantamentos estaremos quebrando a barreira das 100 milhões de t. A Soja está agora dominando a produção, com mais ou menos 49 milhões de t, seguida pelo milho com outras 37 milhões , e de uma safra de arroz apontada em 10,5 milhões de t. Há também outras 3,5 milhões do Trigo; 2,8 milhões de feijão, e daí para frente, além de pequenos volumes de outros produtos. Não devemos, porém, deixar de falar do Sorgo, que poderá resultar em 1,5 milhões de t. Ou seja, chegamos aos nossos primeiros 100 milhões de t, e ainda estamos distantes de sermos o seleiro do mundo. Isto porque se olharmos o nosso principal concorrente que é os EUA, veremos que a safra nova do milho local está apontada em 260 milhões de t. Isto quer dizer que este primeiro recorde de 100 milhões, ou pouco mais, é o marco de partida da agricultura profissional, e que deveremos sim crescer para números maiores com boa rentabilidade e estabilidade econômica aos produtores.
MILHO Colheita traz calmaria O mercado do milho em fevereiro esteve com a colheita andando a todo o vapor, devendo avançar forte também em março, quando se espera pelos maiores volumes da safra. A boa notícia do setor é que a produtividade está em forte crescimento. Houve avanço na tecnologia empregada e, assim, a produtividade vem superando as expectativas, com uma safra total, antes apontada para a casa das 35 milhões de; agora passando a ser comentada em 37 milhões de t. Novamente temos como lastro das cotações os indicativos de exportação. Em momentos de colheita é normal que a pressão dos indicativos venha para baixo, mas como as exportações vêm liquidando acima dos R$ 17,00 por saca no interior do Sul do país, este valor servirá de base de queda nas cotações. E como as grandes indústrias não vêem com bons olhos as exportações, estas com certeza devem ser pagas acima dos valores normais para se cobrirem e não deixar escapar o cereal para o mercado internacional. As posições de fevereiro estiveram variando dos R$ 19,50 aos R$ 21,00 para os produtores, e podem ter números um pouco abaixo em março. Mas não devemos esquecer que novamente os produtores estão com a faca e o queijo nas mãos e, se estes quiserem, as cotações não recuarão, basta não forçar venda.
SOJA Estabilidade em cima da safra A colheita da safra deverá se concentrar neste mês de março, e os indicativos que vinham mostrando ligeira estabilidade em fevereiro, agora podem sofrer pressão dos custos dos fretes e da concentração da colheita. Mesmo tendo valores estabilizados nos portos, no interior os indicativos podem recuar. Os produtores atrasaram o plantio da safra em função do clima, e agora devem enfrentar uma colheita concentrada, com previsão de 30 milhões de t colhidas somente neste mês de março, forçando os valores para baixo devido à pressão de logística, e não a indicativos internacionais, que
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podem estar trabalhando em cima de estabilidade. O mercado mostra que poderemos ver o valor da soja variando dos R$ 30 aos R$ 38,00 aos produtores, com os menores números nas regiões mais distantes e maiores próximo aos portos. Estaremos num mês de grandes embarques de exportação.
FEIJÃO Demanda em crescimento O mercado do feijão teve forte pressão de baixa em fevereiro devido à concentração de colheita, mostrando um produto chegando do Brasil Central e também do Nordeste, sem esquecer da safra do Sul e Sudeste, ou seja, praticamente todas as regiões colocaram feijão novo no mercado. Agora em março, o mercado estará em cima de um consumo aquecido, e a colheita tende a diminuir a oferta. Assim, poderemos ver a recuperação das posições, que chegaram aos R$ 75,00 pelo Carioca e R$ 60,00
ao Preto. Há expectativa de avançarmos entre R$ 10,00 e R$ 20,00 em março, com o ponta podendo ter números mais atrativos.
ARROZ Concentrando a colheita O mercado do arroz está em cima da colheita, agora com todas as regiões produtoras tendo produto novo em oferta, forçando os valores para os menores níveis do ano. O mercado já está trabalhando com expectativa de que as cotações mínimas devam ficar nos R$ 20,00 acima. Em fevereiro, os indicativos do arroz novo aos produtores variaram dos R$ 24,00 aos R$ 27,00, podendo agora recuar um pouco mais. Porém, não se acredita em grandes baixas, por isso ficaremos muito acima dos R$ 14,00 que eram praticados no mesmo período do ano passado. Os produtores estão melhor capitalizados, devendo segurar os indicativos em patamares acima dos R$ 20,00.
CURTAS E BOAS EUA O USDA divulgou suas novas estimativas de safra e área a ser plantada nesta safra, que começará em abril e se estenderá para maio até o começo de junho. Os indicativos do USDA sinalizam que a safra de milho deverá chegar à marca das 260 milhões de t, contra as 228,8 milhões colhidas na safra passada. Para a Soja, o USDA aponta a safra em 75 milhões de t contra as 74,3 milhões da última safra, lembrando que há queda na área de soja. Ou seja, o otimismo americano continua grande. ARGENTINA A nova safra de soja dos portenhos segue com boas condições de clima, mostrando que devem colher mais de 33 milhões de t, contra as 29 milhões da safra passada. TRIGO Os produtores devem apostar forte nesta nova safra porque tiveram bom desempenho econômico no ano passado. E agora, com o câmbio em alta, o trigo novamente se torna uma cultura economicamente viável, com uma previsão de 3,5 milhões de t, contra um consumo esperado de 10 milhões de t.
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Março de 2003