Cultivar 49

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09 Soja sadia

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CGCMF : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro 160 – 7º andar Pelotas – RS 96015 – 300

Levantamento dos problemas desta safra e propostas para evitá-los

Site: www.grupocultivar.com Diretor-Presidente: Newton Peter

Inseticidas oleosos

Cultivar Grandes Culturas Ano V - Nº 49 Abril / 2003 ISSN - 1518-3157 E-mail: cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 86,00

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(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Avaliação das técnicas de aplicação de pesticidas à base de óleos no algodoeiro

Números atrasados: R$ 12,00 • Editor Geral:

Schubert K. Peter

• Editor:

Charles Ricardo Echer

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• Redação

Pablo Rodrigues Gilvan Dutra Quevedo

Milho Bt

• Design Gráfico e Diagramação

Fabiane Rittmann

Milhos transgênicos resistentes à lagarta-do-cartucho garantem 32% a mais de produtividade

• Marketing:

Neri Ferreira

• Assinaturas

Jociane Bitencourt

• Circulação:

Edson Luiz Krause

• Secretária Geral:

Simone Lopes

Praga é praga

• Promoções:

Marilanda Holz

• Assistente de Vendas

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Fabiana Maciel

A Spodoptera frugiperda já está desenvolvendo resistência à toxina Cry 1A(b)

• Ilustrações:

Rafael Sica

• Revisão:

Carolina Fassbender

• Fotolitos e Impressão:

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

NOSSOS TELEFONES: • GERAL / ASSINATURAS: 3028.4008 • REDAÇÃO : 3028.4002 / 3028.4003 • MARKETING: 3028.4004 • FAX: 3028.4001

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

índice

Nossa capa

Diretas 04 Comercialização de parasitóides 06 Soja - problemas desta safra 09 Soja - retorno da pústula bacteriana 12 O que é a transgenia 13 Algodão - óleo para a aplicação de pesticidas 16 Algodão - panorama da cultura 18 Milho - transgênico contra a Spodoptera 22 Milho - resistência da lagarta à toxina do Bt 27 Coluna da Aenda 29 Trigo - evolução das cultivares no PR 30 Trigo - custo no PR, RS e SC 33 Trigo - custo no MS 35 Feijão - controle químico da antracnose 36 Informe técnico - Cooplantio 38 Agronegócios 40 Mercado agrícola 42

Foto Capa / Dirceu Gassen Ataque da Spodoptera frugiperda


diretas Syngenta

Ferrugem no RS

Flávio Moscardi

Experiência Flávio Moscardi, pesquisador da Embrapa Soja, foi à África no fim de fevereiro para prestar consultoria ao projeto de desenvolvimento de produto biológico à base de baculovírus para o controle da lagarta africana (Spodoptera exempta). Moscardi elaborou uma proposta para a implementação de métodos de produção e processamento de inseticida biológico de baixo custo. O cientista brasileiro foi convidado a participar do projeto pela experiência adquirida no Brasil com o controle biológico da lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis).

Soja Pesquisadores da Embrapa, em parceria com técnicos da Emater, aproveitaram a Coopavel para apresentação de tecnologias indicadas no controle de plantas daninhas e doenças da soja. A ênfase especial ficou por conta da abordagem da ferrugem asiática e de indicações para a melhor utilização de semeadoras.

A região Norte do Rio Grande do Sul está infectada pela ferrugem da soja. Essa é a afirmação de pesquisadores da Embrapa Trigo, que detectaram focos da doença na área experimental da empresa em Passo Fundo. A ferrugem também foi identificada em condições de lavoura no município de Palmeira das Missões. Os produtores interessados em identificar a doença podem enviar o material (folhas) ao Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Trigo. Informações adicionais podem ser obtidas pelo telefone (54) 311 34 44.

A Syngenta iniciou uma campanha de orientação aos sojicultores do Paraná sobre os sintomas da ferrugem e sobre o uso correto dos defensivos. Dez engenheiras agrônomas estão visitando lavouras de soja na região de Maringá e Ivaiporã e levando informações sobre a doença e o controle eficiente, racional e sem desperdício. Conforme Nilson Oliveira, gerente de marketing da Syngenta no Sul do país, o que a agricultura mais necessita é de tecnologia com eficiência. “A missão principal desse projeto é a de orientar o produtor”, finaliza.

Nilson Oliveira

Altech A Alltech do Brasil apresentou durante o evento o novo inoculante para silagens de milho e sorgo. O Maize-All Grão Úmido foi desenvolvido

com o objetivo de fermentar a silagem. Composto por três bactérias (Lactobacillus plantarum, Streptococcus faecium e Pediococcus acidilactici) e

duas enzimas (aminolíticas e celulolíticas), o produto reduz as perdas de qualidade , melhora a palatabilidade e principalmente a resposta animal.

Ferrugem na Feira

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Transgênica no MT A soja geneticamente modificada está presente no Mato Grosso. A denúncia ao Ministério da Agricultura foi feita pela Aprosmat – Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso. Segundo Edeon Vaz Ferreira, presidente da Aprosmat, a soja transgênica no Estado não pode ser mensurada, por ser ilegal e fugir ao controle das autoridades. Edeon defende a liberação gradual dos transgênicos, com o produto rotulado e fiscalizado. Porém, diz que é inaceitável o contrabando de material genético da Argentina ou da Costa Rica.

BRS 134 Como a ferrugem da soja está atacando grandes áreas na safra atual, grande parte do público presente no Show Rural Coopavel 2003 buscou informações atuais sobre o controle e prevenção da doença. A Embrapa Soja foi mais além e apresentou a variedade BRS 134, que possui boa tolerância à ferrugem da folha e é resistente ao Cancro da haste, a manha “olho de râ” e ao mosaico comum da soja. A cultivar é indicada para os estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.

A Embrapa Trigo apresentou duas novas cultivares de soja – BRS Macota e BRS Torena, desenvolvidas em parceria com a Fundação Pró-Sementes de Apoio à Pesquisa. BRS Macota é indicada para plantio nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A variedade BRS Torena é indicada para cultivo no Rio Grande do Sul.

Ascensão DKB 747

Leila Costamilan

Daniel Glat

Por um erro de digitação, publicamos equivocadamente o percentual de aumento de custo de produção de semente de milho projetado pela Pioneer. O diretor executivo da empresa, Daniel Glat, esclarece que o valor correto gira ao redor de 35%.

Novas variedades

Durante a Expodireto 2003, a pesquisadora Leila Costamilan e a laboratorista Inês Mandelli, ambas da Embrapa Trigo, explicaram a produtores como combater a ferrugem da soja. Bastante atrativa foi a apresentação da doença através de uma lupa com aumento de 50x, permitindo clara visualização de sintomas de ataque e esporos do fungo. De quebra, foi possível observar ácaros brancos, problema em lavouras na safra passada.

Inês Mandelli

Erramos

A Dekalb já disponibiliza no mercado a cultivar de milho DKB 747, que se adapta a condições de estresse hídrico e por isso é indicada para a safrinha. O segredo da resistência está na raiz, que pode chegar a 1,8 metros de profundidade, aumentando a possibilidade de sobreviver a longos períodos sem chuva.

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A Bayer Cropscience tem novo gerente de marketing para a cultura do algodão. Haroldo K. Yamanaka assumiu o posto depois de haver trabalhado na empresa como assessor da diretoria. O novo gerente acredita que as perspectivas para a cotonicultura neste ano são as melhores possíveis, devido a vários fatores como, por exemplo, a redução da área plantada na Austrália, bem como as novas tecnologias disponíveis no mercado.

Haroldo Yamanaka

Abril de 2003



Dirceu Gassen

Pragas

A exemplo do que aconteceu com outros países, há grande espaço para o desenvolvimento comercial de técnicas de manejo natural de pragas

Controle natural O

Controle Biológico ressurgiu com mais intensidade nos últimos anos, especialmente com a adoção de programas de Manejo de Pragas, que foram implementados como conseqüência do uso indiscriminado de agroquímicos, que levaram a inúmeros problemas, como resistência de insetos e ácaros aos inseticidas e acaricidas, e, contaminações ambientais. Nesse contexto, em que são adotadas medidas que visam manter as pragas abaixo do nível de dano econômico, levando-se em conta critérios econômicos, ecológicos e sociais, o Controle Biológico, Clássico ou Aplicado, assume um papel relevante. Entretanto, para sua plena utilização é fundamental que o usuário disponha de insetos quando houver necessidade. Assim, após o desenvolvimento do pacote tecnológico, pelas Universidades ou por Institutos 06

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de Pesquisa, ele deverá ser repassado para empresas privadas ou cooperativas (ou equivalentes) que passarão a multiplicar e disponibilizar tais inimigos naturais (parasitóides ou predadores). E aí surge o primeiro problema: como a comunidade está acostumada, ao longo destes últimos 50 anos, a tratar com inseticidas e com grandes empresas associadas a estes insumos, pensa-se numa empresa, para produzir insetos, semelhante às que produzem inseticidas. Entretanto, as empresas de Controle Biológico são pequenas, muitas vezes familiares e cuja forma de condução deve ser diferente da de multinacionais. Tais empresas se expandiram nos EUA, na Europa e mesmo em países da América Latina (Colômbia, Venezuela) nos últimos 30 anos, seja para liberação de insetos de forma inoculativa, inoculativa estacional ou inundativa, para casas-dewww.cultivar.inf.br

vegetação ou em condições de campo. Entretanto, são empresas pequenas - conseqüência do próprio mercado - pois enquanto o mercado mundial de inseticidas na década de 90 era de 7 bilhões de dólares, o de produtos biológicos (incluindo insetos e patógenos) era de 340 milhões de dólares (embora com projeções de dobrar ou triplicar no início deste novo século). Existe um componente cultural muito importante na adoção de técnicas de Controle Biológico, muito mais estabelecido na Europa e EUA, onde o usuário já sabe o potencial e onde utilizar os inimigos naturais. Nesses locais, já existem disponíveis mais de 50 espécies de agentes de controle biológico, com preços muito bem definidos e com eficiência comprovada de controle. No Brasil, ainda existem problemas relacionados à falta de estudos básicos (inAbril de 2003


opta pelo método químico, que é mais fácil de ser adotado; faltam estudos básicos da praga e inimigos naturais (ainda poucos laboratórios no Brasil trabalham exclusivamente com técnicas de criação de insetos); existe, como frisado, uma grande tradição em se utilizarem inseticidas e, evidentemente, pressão de multinacionais; desconhecimento ou informações erradas sobre Controle Biológico (há necessidade de maior divulgação sobre o assunto); especificidade no controle de pragas e o modelo agrícola vigente no Brasil. É preciso ainda enfatizar, que como qualquer método de controle, o Biológico, pode não ter sucesso, seja devido ao clima, competição do inimigo natural com fauna nativa ou pela falta de alimento ao agente biológico. Desta forma, somente uma total mudança de mentalidade do usuário e do povo em geral, poderá levar a uma crescente adoção do Controle Biológico no Brasil. Para competirmos internacionalmente é fundamental que estes problemas sejam corrigidos e que haja um equilíbrio entre pesquisa básica e aplicada para desenvolvimento de novas tecnologias, incluindo biologia molecular, plantas transgênicas e produção de parasitóides e predadores “in vitro”. E este é um processo dinâmico, pois o Controle Biológico continuará a passar por inovações nos próxi-

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cluindo análises de impacto ambiental); descontinuidade de programas e/ou projetos mal planejados e, muitas vezes, isolados (sem características inter ou multidisciplinares); falta de credibilidade no Controle Biológico (o que dificulta o aparecimento de firmas idôneas que comercializem inimigos naturais, a exemplo de EUA e Europa); inexistência de uma política nacional com definição de prioridades, principalmente voltada para estudos de Controle Biológico em culturas de subsistência; poucos investimentos na área; dificuldade de transferência da tecnologia gerada ao usuário. O Brasil tem grande futuro nesta área de Controle Biológico, por ser uma região tropical com alto potencial de agentes biológicos e por possuir massa crítica na área, com laboratórios de boa qualidade, com pesquisas de bom nível e resultados em várias culturas. No entanto, faltam estudos em culturas de subsistência, sendo os melhores resultados obtidos em culturas de exportação (cana-de-açúcar, soja, trigo, etc.). Em nosso país, a utilização do Controle Biológico depende da transposição de alguns obstáculos, ou seja, disponibilidade de insumos biológicos com qualidade; a adoção do pacote (quando chegar ao usuário) depende da tecnologia, e, por este motivo, muitas vezes, o agricultor,

Parra esclarece sobre a comercialização de parasitóides para o controle biológico

mos anos, em função dos avanços tecnológicos: serão aprofundados os estudos das relações tritróficas; serão desenvolvidas li-

...


Telenomus podisi parasitando ovos de Euchistus heros

quarentena, controle de qualidade, definição de prioridades (seleção de inimigos naturais), devem ser feitos após uma discussão conjunta. É fundamental uma legislação em que seja previsto o acompanhamento da qualidade dos insetos produzidos, pelas Universidades ou Instituições de Pesquisas. Mas, sobretudo, quando da transferência de tecnologia (este um dos grandes problemas, dado ao baixo nível cultural dos agricultores) que seja prevista uma forma adequada de ensinamento, compatível com o nível do receptor (pode ser feita através de campos de demonstração), mas que seja acompanhada a eficiência, incluindo o número de pontos de liberação, o número de parasitóides liberados, forma

de liberação, etc. Somente com estes cuidados na implementação de firmas comercializando inimigos naturais é que poderemos fazer com que esta alternativa seja mais aceita, num país em que existem programas de Controle Biológico Clássico ou Aplicado comparáveis aos melhores do mundo. É importante, sobretudo, para consolidação de firmas que comercializem inimigos naturais, que tal atividade não seja encarada exclusivamente com fins comerciais, mas que tenha, principalmente, um grande respaldo técnico, para que tenha total credibilidade junto ao usuário. . José Roberto P. Parra, ESALQ/USP Embrapa Soja

turais (adaptáveis às drásticas variações climáticas), ao lado do aprimoramento de técnicas de criação, (manejo de criação envolvendo exigências térmicas, por exemplo), com controle de qualidade do parasitóide ou predador produzido, desenvolvimento de produtos cada vez mais seletivos e novas técnicas de liberação e armazenamento, tornando este insumo biológico cada vez eficiente e acessível ao usuário. Para ampliar seu espectro de utilização é importante que cada vez mais o Controle Biológico seja analisado sob um ponto de vista global, e não como uma atividade isolada dentro de um programa de Manejo de Pragas. Nos últimos anos, começaram a surgir as primeiras empresas comercializando insetos (parasitóides e predadores). Entretanto, elas devem iniciar tal atividade no Brasil, satisfazendo alguns requisitos para alcançarem tal credibilidade: tem que haver um conhecimento profundo do assunto, incluindo não só a tecnologia de produção do inimigo natural, como também o mercado para venda do insumo na cultura em que o parasitóide ou predador será utilizado. Deverá haver principalmente avaliação da qualidade do inseto produzido, qualidade esta que deverá ser acompanhada em todas as etapas incluindo produção, processo e produto. Assim, para que iniciemos corretamente, não cometendo erros de outros países, é fundamental que haja uma ação conjunta entre representantes da Academia, Governo e Indústria no acompanhamento das diferentes etapas, pois aspectos como

Embrapa Soja

...nhagens mais vigorosas de inimigos na-

Adulto do parasitóide de ovos Trissolcus basalis

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Cultivar

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Abril de 2003


Soja Cultivar

Saiba quais os principais problemas desta safra e as maneiras maneiras de evitá-los no próximo cultivo

Cultura sadia T

odo o ano a história se repete: quase tudo vai bem com a safra de soja (Graças a Deus), mas sempre tem alguma coisa que espezinha alguns agricultores. Quando não é doença é seca, às vezes é fitotoxicidade de herbicida, outras, uma praga diferente. O agricultor brasileiro dispõe, na atualidade, da melhor tecnologia para produção de soja disponível no mundo. Não é por outro motivo que, nos últimos seis anos, a produção cresceu 100% (de 26 para 50 milhões de toneladas) e a produtividade 25% (de 2.300 para 2.800 kg/ha). Não existe referência a outro crescimento a taxas tão altas, em tão curto espaço de tempo, na agricultura mundial. Se as lideranças nacionais se aperceberem do potencial de apropriação de mercado do agronegócio da soja, o Brasil será o maior produtor mundial ainda nesta década. Se, do ponto de vista da tecnologia, vamos muito bem, obrigado, é necessário retirar alguns gargalos extra-porteira, como o crédito de investimento (tipo Moderfrota), as deficiências do Seguro Rural, as vias de escoamento, a capacidade de armazenagem estática, a operação dos portos e uma política ambiciosa e agressiva de comércio internacional. Abril de 2003

Enquanto o Governo se preocupa com essas questões, vejamos onde o calo apertou na questão tecnológica.

ESTABELECIMENTO DA LAVOURA Por ocasião da semeadura, alguns agricultores se queixaram da morte de plântulas, logo após a germinação. O problema esteve localizado em algumas regiões de São Paulo e do Paraná, sendo também observado pelos agricultores paraguaios. Como regra geral, os pesquisadores da Embrapa Soja atribuem a gênese do problema às chuvas intensas, que se concentraram no mês de novembro. Tendo esse fenômeno como pano de fundo, o mau manejo do solo acabou provocando a mortalidade de plantas e o ataque de microorganismos. Quando a temperatura do solo é muito elevada, pode haver morte de plântulas pelo “estrangulamento” do caule, na região do colo. Esse dano foi observado pelos pesquisadores quando a temperatura ultrapassou 50º C. Além da restrição à circulação de seiva, o que já significa um retardo no desenvolvimento da planta, a lesão facilita o ingresso de patógenos, que infeccionam a planta. www.cultivar.inf.br

MUITA ÁGUA, POUCO AR Solos rasos, com baixa capacidade de drenagem, pouco permeáveis, com alto teor de argila e/ou baixo teor de matéria orgânica são propensos a acumular água nas camadas mais superficiais. Nessa condição, o ambiente radicular apresenta pouca ou nenhuma aeração, podendo levar a planta à morte. Os pesquisadores isolaram, das raízes de plantas das áreas afetadas, os fungos Sclerotium rolfsii, Rhizoctonia solani e Fusarium sp, que são conhecidos por utilizarem a matéria orgânica em decomposição como fonte de energia, tendo comportamento saprófito. Esses fungos também são encontrados atacando raízes da soja, porém em baixa intensidade. Entretanto, quando as defesas da planta estão combalidas, como no caso de encharcamento do solo, pode, eventualmente, ocorrer uma infecção intensa dos fungos no sistema radicular, constituindo-se em fator adicional de morte das plantas. Os pesquisadores da Embrapa Soja verificaram que a falta de aeração adequada provocou morte por asfixia dos terços médio e inferior das raízes, o que redundou em morte das plantas, em especial daquelas que apresentavam desenvolvimento deficiente. Cultivar

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Nos casos mais graves houve necessidade de ressemeadura da lavoura.

INSETOS DE SOLO Em algumas lavouras foram observadas outras causas de mortalidade de plantas, como a presença de larvas de insetos no ambiente radicular das plantas, especialmente larvas de vaquinhas. Em condições normais, esses insetos, que se alimentam de raízes secundárias de plantas, não são motivo de preocupação. Na condição das lavouras afetadas, provavelmente o dano das larvas somouse aos danos causados pelos demais fatores, contribuindo para a mortalidade de plantas. Essa contribuição pode ser adveniente do dano direto às raízes porém, principalmente, por permitir a entrada de fungos nas áreas danificadas pelos insetos. Também podem ser encontrados corós, larvas de coleópteros que costumam atacar as raízes secundárias e também a raiz primária da soja. Os corós costumam atacar em reboleira, não estando associados a condições de solo com saturação de água.

PARA O PRÓXIMO ANO Como não é possível controlar fenômenos climáticos extremos, como alta concentração de pluviosidade e alta temperatura, os pesquisadores da Embrapa Soja recomendam o preparo adequado do solo, a utilização de rotação de culturas e o cultivo de espécies (podem ser culturas de inverno) cujo sistema radicular auxilie a melhorar a drenagem do solo. Solos compactados devem ser trabalhados para eliminar esse defeito. As sementes devem possuir alto vigor e germinação adequada e devem ser tratadas com fungicidas, quando o agrônomo da assistência técnica assim o recomendar.

FERRUGEM DA SOJA

Os corós causam severos danos à sojicultura

primeira vez atacando lavouras de soja no Brasil, na safra 2001/02. Na última safra, os primeiros focos ocorreram em Itapeva, região Sul de São Paulo, em uma área onde houve um plantio precoce de diversas cultivares de soja, para teste de germinação. A ferrugem da soja é originária do Japão, onde ocorreu o primeiro relato (1902). Em 1998, foi constatada em lavouras de soja no Zimbábue, onde os pesquisadores relatam perdas de 60 % a 80 % na produção, em função de freqüentes epidemias. Na safra passada, a ferrugem foi detectada, inicialmente, no Paraguai e, posteriormente, no Brasil. A constatação ocorreu nos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás, onde foi observada uma redução média de 10% na produção de soja, com picos de perdas de até 70%, de acordo com observações do pesquisador Dr. José Tadashi Yorinori, fitopatologista da Embrapa Soja.

SINTOMAS O ataque normalmente se inicia pelas Dirceu Gassen

A ferrugem da soja, ocasionada pelo fungo Phakopsora packyrhizi, foi relatada pela

Dirceu Gassen

...

Os percevejos figuram como pragas principais da soja

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Cultivar

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folhas mais baixas da planta. Os primeiros sintomas são lesões foliares que se assemelham a um “encharcamento” da folha. Posteriormente, a lesão assume coloração acinzentada a marrom. Na face inferior das folhas com sintomas, podem ser observadas saliências que correspondem a estruturas de frutificação do fungo. A observação é facilitada com o auxílio de uma lupa (10 X). As lesões são delimitadas pelas nervuras das folhas, sendo mais numerosas na face inferior. Ao final, as folhas caem, causando desfolha precoce das plantas. A simples presença dos esporos do fungo, que são disseminados pelo vento, não é sinônimo de prejuízo certo. Para o seu desenvolvimento, o fungo necessita de chuvas bem distribuídas e/ou presença de orvalho (no mínimo por seis horas) e temperaturas amenas (18º-26ºC). Regiões altas, com temperaturas noturnas mais amenas, apresentam um maior número de horas de orvalho, favorecendo o processo de infecção. Altas temperaturas e períodos secos inibem o desenvolvimento da doença.

PARA A PRÓXIMA SAFRA Os pesquisadores da Embrapa Soja recomendam aos Engenheiros Agrônomos, que trabalham com a cultura da soja, que obtenham informações atualizadas sobre a doença. Os agricultores devem procurar o seu agrônomo para obter as indicações de procedimento. A observação criteriosa da lavoura, a partir do florescimento, é muito importante, porque a aplicação de métodos de controle somente será eficaz se efetuada na época adequada, ou seja, antes que a planta seja prejudicada pela ferrugem. Atenção especial deve ser dada às folhas da porção inferior das plantas, por onde se inicia o ataque da doença, o que significa que a inspeção da lavoura não poderá ser realizada pela janela da camionete: o exame terá de ser feito caminhando entre as plantas de soja. Abril de 2003


Embrapa Trigo

Quando necessário, o seu controle deve ser feito somente nas reboleiras. Deve-se assegurar sempre que o ácaro ainda esteja presente sobre a planta e que os danos sejam maiores do que índices referidos acima.

PARA A PRÓXIMA SAFRA

Gazzoni fala sobre os principais problemas da sojicultura nesta safra

As recomendações de controle são atualizadas, anualmente, pela pesquisa e estão disponíveis nos documentos elaborados pela Embrapa Soja. Também pode ser acessado o Sistema de Alerta no endereço http:// www.cnpso.embrapa.br.

ÁCAROS Na última safra, o ataque de ácaros ocorreu em algumas propriedades do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. O balanço de final de safra indica que os ataques não foram de intensos nem de grande amplitude. Verificou-se uma preocupante associação entre a presença de ácaros e pulverizações de inseticidas contendo piretróides, efetuadas para controle de outras pragas da soja. Também foi observada a associação entre o ataque de ácaros e a proximidade com áreas cultivadas com outros hospedeiros de ácaros, como algodão, café, plantas hortícolas etc. Não é a primeira safra em que são registradas queixas de agricultores, a respeito da presença de ácaros em lavouras de soja. Entretanto, em anos anteriores, as observações sempre estiveram restritas ao cultivo de soja na safrinha (soja cultivada entre março e junho). Os surtos de ácaros, principalmente do ácaro branco e do ácaro rajado, não têm redundado em prejuízos na produção ou na qualidade do grão ou da semente. Os ácaros são considerados pragas secundárias para a cultura da soja. Sua ocorrência é esporádica, limitada a algumas localidades, afetando poucas lavouras. Em cada lavoura, o ataque só ocorre em forma de reboleira, formando manchas de plantas com sintomas, localizadas em vários pontos da lavoura. Abril de 2003

Como a soja ainda é cultura nova no Brasil (menos de 40 anos de cultivo comercial) e em rápida expansão, por muito tempo ainda serão observados problemas com pragas secundárias ou eventuais que, em determinados anos e em regiões localizadas, se constituirão em preocupação para o agricultor. Esse fenômeno está associado a uma conjunção de fatores que envolvem o clima, a planta, a biologia, a ecologia e o comportamento da praga, a presença e a efetividade de inimigos naturais, o histórico de aplicação de agrotóxicos, entre outros. Embora impossível de prever o futuro, há grande probabilidade de o problema com ácaros não se repetir na próxima safra. Porém, eventualmente, poderá ocorrer uma conjunção de fatores que favoreça o surgimento de outro inseto que se constitua em uma praga esporádica. A recomendação geral dos pesquisadores da Embrapa Soja é o monitoramento constante e acurado da lavoura, com amostragens semanais de insetos. O agrônomo responsável pela assistência técnica deve ser consultado sempre que sobrevier alguma situação invulgar. Em se configurando a necessidade do controle dos ácaros, o Engenheiro Agrônomo deve reportar-se ao registro de agrotóxicos do Ministério da Agricultura (http:// masrv60.agricultura.gov.br/agrofit).

adultos, que abandonam as lavouras em fase de colheita, buscando alimento mais adequado. Nos últimos anos, tem sido observada uma dificuldade de controle de percevejos, por alguns agrotóxicos, em algumas localidades e micro-regiões geográficas. O Engenheiro Agrônomo responsável pela emissão do receituário agronômico deve estar atento a esta particularidade, a fim de evitar futuros contratempos.

PARA A PRÓXIMA SAFRA Embora seja praga muito séria, de alto potencial de danos, o percevejo é facilmente manejável. Para tanto, basta o agricultor seguir duas regras básicas. A primeira delas se refere a visitas semanais à lavoura, a partir do momento em que a soja apresentar “canivetinhos” (estádio R3). Quando a população de percevejos iniciar um crescimento consistente, as visitas devem ser efetuadas duas vezes por semana. Em cada visita, devem ser feitas amostragens criteriosas dos insetos presentes, de acordo com as recomendações técnicas da pesquisa. A segunda regra é efetuar um controle com agrotóxicos recomendados, quando a população atingir os níveis de ação estabelecidos pela pesquisa. Assim procedendo, o agricultor estará livre de surpresas desagradáveis e devidamente protegido contra perdas de produção ou qua. lidade, causadas por percevejos. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Soja e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.gazzoni.pop.com.br

PERCEVEJOS Ao contrário dos ácaros, os percevejos são nossos velhos conhecidos, figurando entre as principais pragas da soja. Os percevejos possuem o maior potencial, entre todas as pragas que atacam soja, para reduzir a produção e a qualidade dos grãos ou das sementes. Essa característica negativa decorre do ponto de ataque do percevejo (o grão de soja) e da época de sua ocorrência (fase reprodutiva), que coincide com o momento de maior sensibilidade da planta a quaisquer estresses, bióticos ou abióticos. Os percevejos costumam atacar lavouras de soja em qualquer região produtora do Brasil, podendo variar a composição das espécies em função da latitude e das condições climáticas locais. Os ataques são mais intensos a partir de meados de fevereiro e o potencial de prejuízo é maior nas lavouras colhidas a partir dessa data. O motivo do aumento do prejuízo nessa fase decorre da maior população de percevejos nas lavouras colhidas mais tardiamente, seja pelo crescimento natural da população, seja pela migração dos www.cultivar.inf.br

Apesar da severidade da ferrugem, já há maneiras de evitá-la

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Soja

Fotos Leila Costamilan

A pústula está de volta Depois de vários anos sem aparecer, a pústula bacteriana volta a ocorrer em lavouras de soja transgênica no RS

A

pós vários anos sem sua constatação, a doença conhecida como pústula bacteriana da soja voltou a ocorrer no Rio Grande do Sul, em lavouras de cultivares transgênicas. Essa doença era comum na região Sul do Brasil, nas décadas de 60 e de 70, devido ao uso de algumas cultivares de soja suscetíveis, oriundas dos Estados Unidos da América, onde foram relatadas perdas de rendimento de grãos de 15%, pela diminuição no número e no tamanho das sementes. É considerada uma das doenças bacterianas mais comuns, juntamente com o crestamento bacteriano, mas o principal problema é que serve como porta de en-

trada para o fogo selvagem, outra doença causada por bactéria, que pode levar ao desfolhamento completo das plantas. Desde a década de 80, o desenvolvimento de cultivares resistentes é um dos objetivos dos programas de melhoramento genético de soja, no Brasil, o que levou, praticamente, à erradicação da pústula bacteriana e do fogo selvagem no país. Entretanto, na safra 2001/2002, foi constatado fogo selvagem em cultivar de soja transgênica proveniente do município de Tupanciretã, no RS, o que alertou para a suscetibilidade do material também à pústula bacteriana. Devido à origem clandestina das sementes de culMagali Savoldi

Folíolo de soja com fogo selvagem

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Leila alerta para o retorno da pústula bacteriana

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Face inferior de folíolo de soja com pústula bacteriana

tivares de soja transgênicas que estão sendo cultivadas no RS, por vezes batizadas com novos nomes locais, pouco se conhece sobre seu comportamento. A entrada de doenças de soja novas ou já erradicadas através dessas sementes, como é o caso da pústula bacteriana, é um problema que vem sendo levantado por técnicos e pesquisadores desde o início do cultivo irregular de cultivares transgênicas. Os sintomas iniciais da pústula bacteriana, nas folhas, são manchas pequenas, de coloração verde-amareladas, passando à castanho-avermelhadas, com pequeno halo, ou borda, de cor amarela. Na face inferior da folha, forma-se uma leve saliência no centro da lesão. Dentre as doenças de soja, é a que mais se assemelha à ferrugem, que está merecendo maior atenção dos produtores na atual safra. Assim, várias amostras de folhas com suspeita de ferrugem eram, na verdade, de folhas com pústula bacteriana, e somente em cultivares transgênicas. Nesta safra, porém, não foi constatada a ocorrência simultânea de . fogo selvagem. Leila Maria Costamilan, Embrapa Trigo Abril de 2003


Biotecnologia

Embrapa Trigo

O que é transgenia? Nova técnica de melhoramento vegetal, polêmica entre os leigos, pode acelerar o desenvolvimento de plantas mais úteis ao Homem

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ara erradicar a fome e continuar a alimentar a crescente população mundial e brasileira, é necessário se chegar a uma taxa de aumento na produção de alimentos nunca antes alcançada. Para fazer frente a tal demanda, e outras que ainda se farão sentir no futuro, as novas cultivares a serem lançadas no mercado devem ser mais produtivas, com maior tolerância aos estresses e que demandem menor necessidade de insumos agrícolas, contribuindo para a recuperação e a manutenção do meio ambiente. Todavia, para isso, é preciso disponibilizar, aos programas de melhoramento vegetal, germoplasma com ampla variabilidade genética, imprescindível para a obtenção de plantas agronomicamente superiores. No entanto, métodos convencionais de transferência de genes para plantas cultivadas esbarram em problemas como a redução do pool gênico; a ligação gênica; a incompatibilidade sexual e; o tempo necessário e a dificuldade para a obtenção de genótipos recombinantes. Para a transferência de um gene de espécies afins, como de centeio para o trigo, além do maior número de anos e do intenso trabalho de citogenética necessários, outras seqüências gênicas, além do fator de interesse, são introduzidos, de forma não-controlável, na planta sendo melhorada (Figura 1). Realmente, o aumento de variabilidade, através de métodos como o cruzamento com espécies afins, ou mesmo a indução de mutações, apresenta a limitação de não se controlar quais genes são introduzidos ou alterados. Nos últimos anos, o melhoramento clássico recebeu, como ferramentas auxiliares, diversas técnicas baseadas nos conceitos de biologia celular e de biologia molecular, que ampliaram os horizontes na busca e na utilização da diversidade genética encontrada na natureza, possibilitando isolar e clonar genes de outras plantas, de bactérias, de vírus e até de animais. Essas técnicas possibilitam ao melhorista transcender o pool gênico primário, utilizado no melhoramento clássico, permitindo a introdução e a expressão de novas características nas plantas cultivadas, uma vez que, independente do organismo e de sua complexidade, os genes são formados pela mesma molécula, isto é, o ácido desoxirribonucleico (DNA). Neste contexto, a variabilidade existente na natureza como um todo é que passa a cons-

...

Abril de 2003

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Cultivar

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...tituir a fonte de genes para a criação de novas

cultivares. Genes de diferentes espécies vegetais, sexualmente compatíveis ou não, animais ou microorganismos podem, então, ser incorporados em um genoma vegetal, de forma controlada e independente da fecundação. Assim, por definição, transgênico é um organismo de constituição genética alterada pela introdução controlada de um gene definido, sem ocorrência de fecundação.

COMO OBTER PLANTAS TRANSGÊNICAS Independente do método selecionado, inicialmente, a obtenção de plantas transgênicas envolve a identificação do gene de interesse em um organismo doador. Em seguida, procede-se a seleção de um vetor e da técnica mais apropriada para a transferência do gene de interesse para a espécie que se está melhorando; a identificação do receptor mais adequado para este gene e, finalmente, a escolha dos genes marcadores de seleção e de genes repórteres, elementos básicos dos trabalhos de transformação genética. Os genes de seleção são aqueles que, introduzidos juntamente com o gene de interesse, conferem às células transformadas resistência a um substrato. Com isso, é possível distinguir o material transformado daquele nãotransformado, uma vez que apenas o primeiro irá crescer no meio de cultura em que foi colocado. Os genes que conferem às plantas resistência a algum antibiótico, atualmente em desuso, compõem a primeira categoria de genes marcadores. Outra categoria de marcador de seleção é composta por genes que conferem resistência a herbicidas. Os genes repórteres, por sua vez, que codificam para uma proteína com atividade enzimática facilmente detectada, possibili-

tam a identificação de células transformadas sem eliminar aquelas não-transformadas, permitindo, inclusive, a determinação do local de atividade do gene em células e tecidos intactos.

MÉTODOS INDIRETOS Os métodos de transformação de plantas mais comumente utilizados são aqueles envolvendo Agrobacterium tumefasciens, uma bactéria com a capacidade de infectar células vegetais. Em seu estado normal, esta bactéria provoca uma doença conhecida como galha-dacoroa, cujo sintoma característico é o aparecimento de um tumor no local da infecção. Esta bactéria possui um plasmídeo denominado Ti (indutor de tumor). Uma seqüência específica deste plasmídeo, o T-DNA (transferência de DNA), é transferido da bactéria para as células da planta hospedeira, integrando-se no seu genoma. Uma vez que apenas as seqüências de aproximadamente 25 pares de base (pb) localizadas nas extremidades do T-DNA são essenciais para sua transferência, a substituição de outros genes ali presentes por seqüências de interesse permite utilizar este plasmídeo no processo de transformação vegetal. Numa primeira etapa, se obtém as linhagens “desarmadas” do plasmídeo, isto é, as linhagens nas quais o T-DNA é deletado, mantendo apenas as extremidades 25 pb, entre as quais são clonados os genes de interesse quando do preparo do vetor. A transformação de plantas mediada por A. tumefasciens tem sido eficiente com diversas dicotiledôneas, com diversos registros de êxito encontrados em culturas de grande importância como o algodão, a beterraba, o fumo,

Fig. 01

Representação esquemática da transferência de genes entre espécies fazendo uso de metodologias envolvendo engenharia genética ou cruzamentos convencionais

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Embrapa Trigo

a soja e o tomate, dentre outras. Já seu emprego em monocotiledôneas (trigo, cevada, arroz, milho, ...) é mais limitado, apesar de que o aperfeiçoamento do processo e a obtenção de cepas de bactérias mais eficientes têm permitido sua maior utilização nesse grupo de plantas, explorando a vantagem de permitir a introdução de um menor número de cópias por evento de transformação.

MÉTODOS DIRETOS As técnicas de transferência de genes, que permitem a introdução e integração de DNA exógeno em um genoma receptor por meio de mecanismos químicos ou físicos, sem a interferência de um vetor, constituem os métodos diretos de transformação, dentre os quais a eletroporação e a biobalística são os mais comuns. Eletroporação de protoplastos – neste método, um pulso de alta voltagem é aplicado a uma solução contendo protoplastos e DNA em suspensão. Em decorrência deste choque elétrico, são formados poros reversíveis na membrana plasmática que, permitindo a passagem do DNA, possibilitam a penetração e eventual integração do gene desejado no genoma da célula vegetal. A principal limitação no uso da eletroporação de protoplastos como método de transformação de plantas é a dificuldade de regeneração de plantas a partir de protoplastos. Biobalística ou biolística – este método de transformação genética, também denominado aceleração de micropartículas, foi, primeiramente, proposto para a introdução de material genético no genoma de plantas superiores (Sanford et al., 1987), sendo capaz de transformar monocotiledôneas com eficiência. Mais tarde, foi demonstrada sua efetividade para a introdução e expressão de genes em organisAbril de 2003


As plantas transformadas poderão ser usadas para gerar novas cultivares e no melhoramento convencional

mos procariotos e eucariotos, desde bactérias e protozoários até insetos e animais. Na biolística, a transferência de DNA se dá através de partículas de ouro ou de tungstênio de, aproximadamente, 1 mm de diâmetro, nas quais está adsorvido o DNA que se pretende transferir. Estes microprojéteis são impulsionados a velocidades superiores a 1.500 km/h por meio de uma descarga de alta energia (gás hélio sob alta pressão, por exemplo) e penetram, de forma não letal, a parede e a membrana do organismo a ser transformado. Uma vantagem da biobalística é poder ser usada em tecidos intactos. A introdução e integração do DNA exógeno no genoma receptor é, comumente, efetuada em explantes primários com alta capacidade de regeneração e de gerar uma planta inteira transformada. Ao mesmo tempo, os danos causados pelo bombardeio são considerado pouco expressivos, o que faz com que a maioria das células atingidas sobreviva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente, a transgenia está sendo utilizada, com sucesso, na transformação de meristemas; na introdução de DNA exótico em células, tecidos e órgãos intactos e regeneráveis; na transformação de organelas, a exemplo de cloroplastos; e na transformação de espécies recalcitrantes a outros métodos de transformação, como cereais, legumes e lenhosas. Entretanto, a maioria dos caracteres de interesse econômico são controlados por poligenes ou genes com mecanismos moleculares desconhecidos, não podendo ser transferidos por transformação (Binsfeld, 1999). Assim, das estratégias biotecnológicas disponíveis para a transferênAbril de 2003

cia gênica, a transgênese só é vantajosa quando se trata de caracteres monogênicos, que devem estar disponíveis e clonados, possibilitando a sua transferência ao genoma da planta. Todavia, um dos grandes problemas para o uso, em transformação de plantas, da extensa variabilidade genética existente na natureza é, exatamente, a dificuldade em obter os genes que codificam características de interesse. Conseqüentemente, atualmente, estão envolvidas, nesta tarefa, inúmeras instituições públicas e privadas do país e do mundo. Diversos monogenes de interesse agronômico já foram isolados, a exemplo do gene que codifica para uma proteína de alto valor nutricional presente na castanha-do-pará; genes que codificam proteínas-chave nos processos de panificação e de forragem em trigo e em cevada; além de diversos outros tipos de genes com potencial para aumentar a resistência das plantas a estresses abióticos e bióticos. Dentre estes últimos, já estão disponíveis, para introdução em plantas cultivadas, genes como aqueles que codificam para substâncias que conferem tolerância ao alumínio tóxico, a exemplo da citrato-sintase; genes determinantes de tolerância à seca por codificarem produtos envolvidos no metabolismo de prolina, por exemplo; genes que codificam para proteínas que inativam herbicidas; genes bacterianos que codificam para proteinases tóxicas a insetos; genes cujos produtos determinam tolerância a doenças fúngicas, como stilbene-sintase, quitinase, b1,3-glucanase, taumatinas e proteínas antifúngicas de baixo peso molecular; e genes que conferem resistência a viroses, derivados do patógeno ou versões antisenso de fatores necessários para a replicação dos vírus, para citar alguns. Isto posto, a transformação genética vegetal deverá, em futuro próximo, desempenhar um papel-chave na incorporação de características essenciais nas mais importantes culturas e no alcance da sustentabilidade dos níveis desejados de produtividade. Neste contexto, as plantas transformadas poderão ser usadas diretamente, gerando novas cultivares, ou indiretamente, pelo uso dos genótipos transgênicos para a criação de cultivares em programas de melhoramento convencional. Mas o potencial de uso da transformação de plantas transcende o melhoramento genético, envolvendo desde a produção de metabólitos secundários até aspectos de pesquisa básica como o estudo e a caracterização de . genes e sua expressão. Ana Christina A. Zanatta, Embrapa Trigo www.cultivar.inf.br

Glossário Anti-senso – ou anti-sentido – é uma fita simples de ácido nucleico (RNA ou DNA) complementar à fita codificante de um gene (fita senso), assim como ao RNA mensageiro (mRNA) produzido por este gene. Dessa forma, se o RNA anti-senso de um gene está presente na célula ao mesmo tempo que o mRNA deste gene, eles irão hibridizar, formando uma fita dupla. Por estar na forma de fita dupla, este RNA não será traduzido pelo ribossoma e não haverá síntese proteica, ou seja, o gene não irá se expressar. Calo – massa de células com grau de diferenciação e crescimento desordenado. Explante – segmento de tecido ou de órgão vegetal utilizado para iniciar a cultura in vitro. Expressão – expressão de um gene corresponde à manifestação da característica especificada por este gene. Membrana plasmática – uma camada citoplasmática de espessura muito delgada (75 Ao) formando um envoltório contínuo na superfície das células. Plasmídeo – molécula de DNA extracromossômico, de fita dupla e circular, com capacidade de autorreplicação, ou seja, de autoduplicação. O plasmídeo é comumente encontrado no citoplasma de bactérias, de forma independente do DNA cromossômico. Protoplasto – células vegetais das quais foi retirada a parede celular, permanecendo apenas a membrana plasmática. Transgênico - um organismo de constituição genética alterada pela introdução controlada de um gene definido, sem ocorrência de fecundação. Vetor – é um agente de transmissão, classificado como vetor de clonagem, vetor de expressão ou vetor de transporte. Este último consiste de um plasmídeo construído de modo a possuir origens de replicação para dois hospedeiros, o que permite sua utilização para carregar uma seqüência de nucleotídeos, tanto em procariotes como em eucariotes. Dessa forma, um plasmídeo, vetor de DNA, transmite informação genética de uma célula ou de um organismo para outro.

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Algodão

Nem sempre as técnicas de aplicação de pesticidas baseadas no uso de óleo, se comparadas a aplicações aquosas, melhoram a eficácia do produto. Diversos fatores podem influir nesse resultado

O

Óleo Óleo ou ou água água

conhecimento convencional e a relativa falta de pesquisa científica levam à idéia de que técnicas de aplicação de pesticidas baseadas no uso de óleos, quando comparadas com aplicações aquosas, sempre melhoram a eficácia do pesticida. Essa percepção ocorre devido à melhor uniformidade no tamanho de gotas, melhor cobertura do vegetal, reduzida deriva e baixo custo de aplicação, já que um maior número de hectares pode ser tratado com a mesma quantidade de dinheiro. Em muitos casos, os óleos vegetais têm sido usados com sucesso, sejam puros em caldas de ultrabaixo volume (UBV), ou como adjuvantes em baixo volume (BV). Entretanto, estudos mais criteriosos têm demonstrado que os impactos destes óleos na eficácia dos inseticidas podem ser positivos, neutros ou negativos, sendo dependente de fatores como: tipo de óleo, classe/grupo químico do inseticida, tipo de formulação do inseticida, espécie de praga-alvo ou planta hospedeira e fatores abióticos (temperatura, intensidade de chuva, e até o pH da folha). Aplicações de pesticidas em baixo volume em óleo (BVO) são baseadas em caldas oleosas, cujas diluições estão, usualmente, compreendidas entre 4 e 45 litros por hecta16

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re. Caldas com volumes inferiores a 4 l/ha são denominadas de UBV, e aquelas superiores a 45 l/ha são consideradas de alto volume (AV). Os óleos vegetais têm muitos usos na agricultura, como: a) sozinhos, como pesticidas em pulverização; b) como adjuvante em misturas de agroquímicos pulverizáveis visando melhorar suas eficiências; c) como diluente de formulações de agroquímicos em aplicações; d) matéria-prima na síntese de pesticidas; e) como condutores de ingredientes ativos nas formulações, facilitando a diluição nas caldas de campo; f) como agentes de controle de deriva durante as aplicações, visando minimizar os movimentos não desejados da calda de pesticida no ambiente.

HISTÓRICO As primeiras aplicações dos óleos vegetais associados a pesticidas provavelmente foram feitas antes de 1950, quando o controle químico de pragas se iniciou, mas o grande desenvolvimento nesta área começou no início dos anos 70, coincidindo com o advento dos piretróides. Na época, o objetivo principal dos trabalhos era identificar as vantagens e desvantagens da aplicação dos agroquímicos em diluentes não baseados somente www.cultivar.inf.br

em água. Aplicações aéreas de inseticidas em UBV a 2 l/ha tornaram-se populares no início da década de 80. Já as aplicações de inseticidas em BV (8 a 24 l/ha), com óleos emulsionáveis (óleo em água), por avião ou equipamentos terrestres, passaram a ser usadas mais recentemente.

A TÉCNICA O uso dos óleos vegetais com agroquímicos tem sido considerado um importante instrumento em sistemas de produção, sendo ambientalmente, agronomicamente e economicamente adequado. No Brasil, os óleos vegetais geralmente podem ser oriundos de soja, algodão, girassol, milho, amendoim, palmeira, coco, canola, castanha ou gergelim. Por serem diluentes, adjuvantes ou condutores seguros de ingredientes ativos, geralmente de baixo custo, os óleos vegetais oferecem uma série de benefícios práticos na produção de algodão. Além disso, seu uso contribui para diminuir a dependência de derivados de petróleo. Os óleos vegetais podem modificar as propriedades físico-químicas dos agroquímicos, além de provocar efeito na atividade biAbril de 2003


EFEITOS

Método

Volume de calda

Função básica do óleo

UBV (ultrabaixo-volume)

< 4 l.ha

Diluente

BV (baixo-volume)

4 a 45 l.ha

Adjuvante

AV (alto-volume)

> 45 l.ha

Adjuvante

King (1982) demonstrou que o óleo de caroço de algodão reduziu significativamente as perdas por evaporação de paration metílico. A aplicação de monocrotofós em solução água-óleo aumentou a persistência do inseticida quando comparado com calda aquosa (Hopkins e Taft, 1971). Aplicações em alto volume de fenpropatrina contendo óleo conferiu maior persistência do que caldas não oleosas (Ishaaya, 1986). Wilson

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Pablo Rodrigues

ológica e residual destes produtos. Mesmo tendo propriedades físicas e composições químicas similares, estes óleos vegetais podem alterar o comportamento da calda pesticida em função da planta, sistema de extração e purificação do óleo, e espécie-alvo, afetando o impacto de uma aplicação em particular. As maiores influências da adição de óleos vegetais à calda de um agroquímico são aquelas ligadas à deposição, absorção e translocação do ingrediente ativo até o sítio de ação, e alguns óleos têm melhorado significativamente a atividade biológica de muitos pesticidas. Como adjuvantes ou diluentes de pesticidas, os efeitos dos óleos vegetais estão diretamente relacionados com o aumento da exposição e absorção do produto pelo organismo-alvo, melhora da cobertura de aplicação do local tratado, redução da deriva de aplicação, e aumento do poder residual do pesticida na cultura tratada. Baixas volatilidades, toxicidades e fitotoxicidades são consideradas vantagens dos óleos vegetais comparados com outros solventes orgânicos. Também são relativamente pouco inflamáveis e fáceis de adquirir. A limitada capacidade de dissolver a alta viscosidade podem ser consideradas desvantagens destes óleos, além de geralmente serem mais caros que a água.

Segundo Degrande, é necessário analisar bem a intenção na qual será usado o óleo vegetal

(1989) observou mais rápida perda de endosulfan em solução aquosa do que oleosa. Bigley et al. (1981) constataram que paration metílico teve uma persistência mais longa em folhas de algodão quando aplicado em solução a base de óleo do que em água, eles também identificaram que a adição de óleo não teve efeito na persistência de metomil. Ware et al. (1983) descobriram que óleo de caroço de algodão (em comparação com água) prolongou o efeito residual de flucitrinato, fenvalerato, paration metílico, sulprofós e clordimeform. Nesse mesmo estudo, os autores identificaram que a cipermetrina e o

...


...azinfós metílico tiveram o mesmo residual

Praga

Inseticida

Ácaro-rajado

cias iniciais de controle das formulações oleosas. Matsumura (1975) sugeriu que óleos facilitam a passagem de certos inseticidas através da cutícula do inseto. Trabalhando com malation, Awad e Vinson (1968) encontraram maiores quantidades do inseticida no Referência bibliográfica interior da lagartadas-maçãs quando esKowalski e Keaster (1984) tas foram tratadas Treacy et al. (1986) com caldas oleosas, indicando uma melhor Luttrell (1985) absorção. Mulrooney (1999) Treacy et al. McDaniel (1980); McDaniel e Dunbar (1981) (1986) concluiram King e King (1984) que óleo de soja meLuttrell e Wofford (1984) lhorou a toxicidade do piretróide ciflutrina Wofford et al. (1987) contra o bicudo, mais Sckerl (1982) do que inseticidas carAndrews et al. (1975) bamatos ou fosforaBell e Kanavel (1978); Bell e Romine (1980) dos.

malation UBV em comparação com caldas CE. Estudos conduzidos por Southwick et al. (1983) trabalhando com permetrina e de Hesler e Plapp (1986) com paration etílico,

quando aplicados em óleo ou água. Cole et al. (1986) determinaram que óleo de caroço de algodão prolongou a atividade residual do fenvalerato e do paration metíli-

Efeito

Tipo de óleo

Cipermetrina, dimetoato, sulprofós e metomil

~

Óleo de soja

Bicudo

Oxamyl, ciflutrina e azinfós metílico

+

Óleo de soja (BV)

Bicudo

Permetrina e azinfós metílico

~

Óleo vegetal não especificado

Bicudo

Fipronil

+

Óleo de caroço de algodão

Lagarta-das-maçãs

Permetrina

+

Óleo não especificado (UBV)

Lagarta-das-maçãs

Permetrina

+

Óleo de caroço de algodão

Lagarta-das-maçãs

Permetrina

+

Óleo de soja (UBV)

Lagarta-das-maçãs

Permetrina

+

Óleo vegetal não especificado (UBV)

Lagarta-das-maçãs

Fenvalerato

+

Óleo de caroço de algodão (UBV)

Lagarta-das-maçãs

Vírus da poliedrose nuclear (VPN)

+

Óleo vegetal não especificado

Lagarta-das-maçãs

Bacillus thuringiensis e VPN

+

Oleo cru de caroço de algodão

Lagarta-das-maçãs

Permetrina, azinfós metílico e malation

~

Óleo vegetal não especificado

Lagarta-das-maçãs

Cipermetrina

~

Óleo de caroço de algodão

Robinson et al. (1986)

Percevejo-rajado

Cipermetrina, dimetoato, sulprofós e metomil

~

Óleo de soja

Kowalski e Keaster (1984)

Luttrell (1985)

+ melhora de eficácia quando comparado com calda de base aquosa ~ pouca ou nenhuma diferença significativa quando comparado com calda de base aquosa - perda de eficácia quando comparado com calda de base aquosa

diluídos em óleos, mostraram que estes produtos tiveram penetração mais lenta para o interior da folha que as aplicações de base aquosa, explicando assim as maiores eficiên-

Paulo Degrande

co, e não teve efeito no residual de cipermetrina. Southwick et al. (1983, 1986) constataram que diluições de permetrina à base de óleo de caroço de algodão não tiveram grandes melhorias no residual quando comparadas com diluições de base aquosa. Wheeler et al. (1967) provaram que o malation misturado em óleo diluente é mais resistente à lavagem da chuva do que em calda aquosa. Likewise (1969) demonstrou que óleo de algodão não emulsificado aumentou a estabilidade de monocrotofós em folhas de algodão quando comparado com água, após ser submetido a uma chuva de 25 mm. Treacy (1988 a,b) encontrou melhor residual no controle da lagarta-das-maçãs com tiodicarb em formulações à base de óleo de caroço de algodão não-emulsionável do que em formulações de base aquosa ou emulsionadas em óleo vegetal. Awad et al. (1967) identificaram que caldas aquosas de malation penetraram mais rapidamente nas folhas que as não-aquosas, explicando os maiores períodos residuais de 18

Cultivar

Micronair: equipamento de aplicação de UBV em aviões

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CONCLUSÃO Os óleos vegetais diluentes ou adjuvantes de caldas inseticidas têm propriedades que podem influenciar o controle das pragas do algodoeiro, como: tamanho de gota, cobertura da cultura e transferência da substância tóxica até a praga. Entretanto, esta interação entre óleo vegetal e inseticida é complexa e pode trazer resultados variáveis na eficiência de controle. Os fatores conhecidos que podem influenciar essa interação são: a) tipo de óleo (emulsificado versus não-emulsificado); b) classe/grupo do inseticida (piretróide versus fosforado versus carbamato, por exemplo); c) fatores operacionais (tipo de bico de aplicação versus altura do equipamento de aplicação em relação ao topo da cultura versus orientação dos bicos); d) tipo e fenologia do vegetal (folhas cerosas versus folhas não-cerosas; pH da folha; área foliar e fechamento da lavoura); e) praga-alvo (espécie móvel versus não-móvel); f) condições de clima (velocidade e direção do vento na hora da aplicação, temperatura, intensidade de chuva e umidade relativa). Em síntese, pesquisadores, consultores e aplicadores de inseticidas precisam identificar com muita acuracidade os impactos desses óleos na eficácia do sistema de aplicação, antes de saírem recomendando generalizadamente as aplicações em óleo vegetal para o controle de pragas do algodoeiro, mesmo sabendo que usualmente . essa tecnologia tem vantagens. Paulo Degrande, UFMS

Abril de 2003


Algodão Cultivar

De acordo com o Comitê Consultivo Internacional do Algodão, o Brasil tem hoje uma das maiores produtividades de algodão em pluma do mundo. Porém, para que a produtividade continue satisfatória é preciso dar atenção aos problemas da cultura

A safra brasileira O

agronegócio do algodão no mundo, em especial no Brasil, é um dos mais importantes do ponto de vista social e também econômico, movimentando por ano mais de 300 bilhões de dólares, quando se adiciona as demais fibras, artificiais (oriundadas de subprodutos de origem vegetal, como a celulose) e sintéticas (derivadas do petróleo). Sendo que a fibra do algodão (unicelular) é o insumo têxtil mais importante, representando mais de 40 % da vestidura de toda humanidade, hoje com mais de 6,5 bilhões de pessoas. O algodão pode ser considerado uma planta de múltiplos usos, tendo vinculação no mercado como fibrosa (fibra e linter), oleaginosa (é a sexta mais importante fonte de óleo da humanidade) e produtora de proteínas provenientes das sementes de elevado valor biológico (boa e equilibrada composição de aminoácidos). É bastante utilizada, também, na alimentação animal e, quando desintoxicada, com a retirada do gosssipol (alcalóide tóxico) ou proveniente de cultivares sem glândulas (glandless), na alimentação humana. Daí o fato de o algodoeiro ser denominado por alguns autores de “boi vegetal”. A cotonicultura assume lugar de destaque em todo mundo com mais de 70 países produtores e mais de Abril de 2003

150 países consumidores, sendo uma das culturas que mais empregam mão-de-obra e distribuem renda, gerando milhões de empregos. Somente a China, que na safra 2002/ 2003 teve uma área plantada de 4,17 milhões de hectares, com produtividade elevada de mais de 1000 kg fibra/ha, tem mais de 60 milhões de produtores desta malvaceae. A Índia, nessa mesma safra, teve área plantada de mais de 7,95 milhões de hectares, dos quais metade são híbridos, que empregam somente no processo de polinização e emasculação manual mais de 70 pessoas em cada hectare por dia. Em nível mundial, na safra de 2002 / 2003 foram plantados mais de 31,6 milhões de hectares, a grande maioria de algodão herbáceo (Gossypium hirsutum L. raça latifolium Hutch.), produtor de fibra de comprimento médio, sendo que o consumo de 20,99 milhões de toneladas de pluma foi maior do que a produção, que foi de menos de 19 milhões de toneladas. A produtividade mundial foi de 603 kg de fibra/hectare, equivalente a 2,76 fardos internacionais de 217,7 kg por hectare. O Brasil continua sendo um dos maiores produtores e consumidores de fibra de algodão do mundo, representando este insumo mais de 65 % do total consumido industrialmente no nosso país. Neste breve artigo prowww.cultivar.inf.br

curou-se fazer um estudo sobre a mais recente safra de algodão produzida no Brasil, envolvendo os principais avanços, problemas e possíveis soluções para as próximas safras, quando se espera atingir a auto-suficiência e até tornar-se de fato um exportador líquido de algodão em pluma para outros países consumidores.

SITUAÇÃO DO ALGODÃO DO BRASIL De acordo com as informações do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC)- International Cotton Advisory Committee - o Brasil tem hoje uma das maiores produtividades de algodão em pluma do mundo e teve nos últimos anos os maiores ganhos de rendimento do produto em caroço e em percentagem de fibra. Há quase dez anos não há aumento de produtividade nos países que têm maiores índices de geração e uso de tecnologias, sendo que de 1950 até 1993, ocorreu no mundo um aumento médio de 8 kg de fibra/hectare por ano. Na safra de 2001/2002, o Brasil teve uma produtividade média de quase 1000 kg de fibra/ha, igual aos países de maiores índices de produtividade e com o cultivo em condições irrigadas, como os casos de Israel, Austrália, China, Síria e Turquia, com custo de produ-

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Cultivar

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... ção, na média, pelo menos

50 % maior do que o nosso, em condições de sequeiro na grande e esmagadora maioria. Na safra mais recente de 2002/2003, que ainda irá ser colhida, a estimativa para o Brasil feita pelo ICAC é a seguinte: O Brasil deverá colher cerca de 805 mil hectares, com produtividade de 990 kg de fibra/ha e uma produção em torno de 798 mil toneladas de algodão em pluma. Para a CONAB, órgão oficial do nosso país, a estimativa para a safra nacional de algodão 2002/2003 deverá ser em torno de 766 mil toneladas de algodão em pluma e consumo de 805 mil toneladas, com uma área plantada de 747 mil hectares. Assim, a produtividade média deverá ser superior a 1000 kg de fibra/ha, uma das cinco maiores do mundo, sendo que as outras são obtidas em sistemas irrigados, mais caros, caso de Israel, Austrália e Turquia. A região Nordeste era, outrora, bastante produtora de algodão, chegando a ter mais de 2,56 milhões de hectares plantados com o algodoeiro arbóreo, perene, mocó (G. hirsutum L. raça Marie galante Hutch.) como na safra de 1976/ 1977, e mais de 1 milhão de hectares cultivados com o algodoeiro herbáceo, por ano, como na safra de 1984/ 1985, quando o bicudo (Anthonomus grandis Bohm.) já estava no Brasil. Hoje, essa região tem somente 157.000 hectares cultivados com algodão, sendo a maioria de herbáceo e quase metade no Estado da Bahia, em especial nas condições de cerrado, região de Barreiras, com o uso de elevado nível tecnológico, e produtividade elevada, média de 3.180 kg/ha de algodão em caroço, contra média de 1.928 kg/ha do Nordeste como um todo. Isolando-se o Maranhão, que teve área plantada em 2002/2003 de 4000 hecta-

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res, todos em condições de cerrado e de elevado nível de uso de tecnologias, com produtividade média de 2.700 kg/ha de algodão em caroço e a Bahia (cerrado), os demais Estados (PE, PB, CE, RN, AL, PI e SE) apresentaram baixa produtividade, média de 700 kg/ha de algodão em caroço e produção total de pluma de somente 16.000 toneladas. Muito abaixo do consumo da região, que é superior a 300.000 toneladas de pluma/ano, uma das maiores da América Latina. A região é o terceiro pólo de consumo desta parte do continente americano, tendo que importar o produto de outros Estados e de outros países como Argentina, Paraguai e Estados Unidos. O Estado da Bahia é o que tem quase toda área de algodão irrigado do Brasil, cerca de 11.700 hectares com produção estimada de 52.907 toneladas de algodão em caroço. Tem produtividade de 4.500 kg/ha (300 @/ha), Cultivar

Napoleão diz que a produtividade esperada é de 990 Kg/ha de fibra

equivalente a 1.800 kg de pluma/ha, bem maior do que a de Israel, que é de 1.513 kg/ha, de acordo com o ICAC, com custo de produção superior a 3000 dólares/ha, o dobro da nossa em nível irrigado. Utiliza-se de modernas tecnologias, como adubação nitrogenada elevada, superior a 250 kg N/ha; uso de herbicidas de terceira geração; maturadores e reguladores de crescimento e irrigação via pivô central. A região Sudeste, que envolve os Estados de São Paulo e Minas Gerais, teve área plantada de 100.900 hectares, sendo 59.900 em São Paulo que, na segunda metade do século passado, chegou a ter mais de 400.000 hectares por ano. O restante em Minas Gerais, que tem estimativa de produção de 146.300 toneAbril de 2003


ladas de algodão em caroço, produtividade de 2.434 kg/ha. Na região Sul, que tem somente o Estado do Paraná como produtor de algodão, foram plantados 37.600 hectares com esta malvaceae, com produção estimada de 43.900 toneladas de algodão em caroço e produtividade de 2.340 kg/ha. A região Centro-Oeste, que envolve os Estados produtores de algodão Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal, é a que tem a maior área plantada do Brasil e a maior parcela da produção, sendo que somente no Estado do Mato Grosso foram plantados 28.7800 ha com algodão herbáceo, produção de 63.7200 toneladas de algodão em caroço, equivalente a mais de 350.000 toneladas de pluma, metade da produção nacional. Na região do Centro-Oeste foram plantados 451.500 ha de algodão, com produção de 930.000 toneladas de algodão em caroço e produtividade média de 3.525 kg/ha, equivalente a mais de 1.200 kg/ha de algodão em pluma, a maior do mundo em condições de sequeiro. Somente perdendo para a Austrália (1.485 kg /ha) e Israel (1.513 kg /ha), ambos em condições de irrigação e custo de produção mais elevado do que o praticado no cerrado brasileiro, em torno de 1100 dólares por hectare. Nas figuras que ilustram este trabalho podem ser verificadas as participações por Estado e por região do Brasil na atual safra de algodão, denotando-se a região Centro-Oeste como atual grande celeiro de algodão do país e, em particular, o Estado do Mato Grosso, como foi dito anteriormente. Foram cultivadas diversas variedades na atual safra, como CNPA ITA 90, Delta Opal, Makina, Fabrica, Faber Max, Sucupira, Aroeira, Ipê, Cedro, Codetec (várias), CNPA 7 H, BRS 201, IACs e outras sintetizadas pela Epamig, IAPAR e por organizações privadas que estão atuando no Brasil. Nas ilustrações podem ser vistos detalhes da atual safra de algodão do Brasil, com destaque para a produtividade do algodão no Mato Grosso e demais Estados da região Centro-Oeste; a qualidade intrínseca do algodão produzido no Nordeste e a importância social que esta cultura tem para a pequena produção, pois pode ocupar um enorme contingente de pessoas, em especial na colheita manual.

PRINCIPAIS PROBLEMAS DA SAFRA ATUAL Como se sabe, praticamente quase toda produção de algodão do Brasil na atualidade é obtida em condições de sequeiro (dependente de chuvas, sem irrigação). Assim, o risco é maior do que o que é verificado em áreas irrigadas. Cerca de 65 % do algodão plantado no mundo é em regime de irrigação, representando cerca de 20,56 milhões de hectares, equivalente a 7 % de toda área irrigada do mundo, estimada em um pouco mais de 300 milhões Abril de 2003

de hectares. Produz alimentos e vestes, em especial do algodão, para mais da metade da humanidade, apesar de globalmente representar somente 16 % da área total cultivada com todas as culturas no mundo. O meio ambiente é muito complexo, com variáveis múltiplas do clima e do solo e as plantas estão condicionadas a tais fatores que atuam isolados e coletivamente, produzindo interações que interferem positiva ou negativamente no seu crescimento e desenvolvimento. No Nordeste, os problemas principais em nível de campo são as secas periódicas e o manejo inadequado, em especial do controle dos insetos pragas, com destaque para o bicudo na região semiárida. Na maioria dos campos, os produtores não fazem nem sequer a destruição dos restos culturais e o plantio uniforme por município, elementos fundamentais para a redução das populações do bicudo, e que facilitam o controle e reduzem os custos de produção. Nessa região, em função do clima seco e quente, a incidência de doenças é insignificante. Nas áreas de cerrado, em especial da Bahia, várias pragas são importantes e podem, em caso de controle inadequado, reduzir a produtividade e elevar os custos de produção. As pragas mais importantes na atual safra foram a lagarta militar (Spodoptera frugiperda), que é de elevada nocividade, atacando o algodão desde a fase inicial até a maturidade, sendo que uma única fêmea pode colocar cerca de 1000 ovos; e o pulgão (Aphis gossypii). Na região Centro-Oeste, os principais problemas foram ocasionados pelo percevejo rajado, oriundo da soja e pulgões que além de danificarem as plantas, são transmissores de viroses, como o vermelhão e o mosaico das nervuras, incluindo a forma “Ribeirão Bonito”. As principais doenças foram a bacteriose, causada pela Xanthomonas axonopodis pv. Malvacearum (Smith) Dye., em especial no Mato Grosso; a ramulose, causada pelo fungo Collewww.cultivar.inf.br

totrichum gossypii (South) var. cephalosporioides A. S. Costa.; e ramularia, também causada por um fungo, Ramularia aerola Atk. Nas demais regiões produtoras, os problemas foram semelhantes, sendo que outras pragas e doenças ocorreram em . maior intensidade. Napoleão E. de Macêdo Beltrão e Gleibson Dionízio Cardoso, Embrapa Algodão Cultivar

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Nossa capa

Gene bom Diferentes tipos de toxinas incorporadas ao milho via técnica de transgenia garantem controle da lagarta-do-cartucho

A

lagarta-do-cartucho do milho (LCM), Spodoptera frugiperda (Smith), é um inseto polífago, podendo se alimentar de uma ampla variedade de plantas hospedeiras, incluindo várias espécies cultivadas. Entre as culturas mais importantes, destaca-se a do milho, sorgo, arroz, algodão, pimentão etc. Tanto no milho como no sorgo, os seus danos podem causar perdas de 17 a 38,7% na produção, dependendo do ambiente, da cultivar e principalmente do estádio de desenvolvimento das plantas atacadas. Sob determinadas condições, ela pode também atacar o coleto da planta causando sua morte e, neste caso, os prejuízos são ainda maiores. Devido à sua ampla distribuição geográfica e sua freqüente incidência ao longo do ano, como também sua reincidência em todos os anos, a LCM constitui-se numa das principais pragas na cultura do milho. No Brasil, estimase que a LCM seja responsável por mais de 25% dos prejuízos causados por pragas ao milho e pela maior parte dos 38,3 milhões de dólares gastos com pulverização de inse22

Cultivar

ticidas, resultando num prejuízo anual de aproximadamente 250 milhões de dólares. Para o manejo dessa espécie, são recomendadas várias estratégias incluindo métodos culturais e biológicos, entretanto, o que mais se tem utilizado são os métodos químicos através do tratamento de sementes e pulverizações que variam de duas até 12 vezes para cada ciclo da cultura. A resistência genética de plantas a doenças e pragas, através da seleção natural ou dirigida, vem sendo intensivamente utilizada pelo homem, desde que as plantas foram domesticadas, há mais de 11 mil anos. Na literatura, há registro de várias fontes de resistência genética do milho aos insetos-praga. Destacam-se como fontes de resistência à LCM os genótipos do grupo “Antigua”. Milhos tropicais como CMS 23, CMS 14C e CMS 24 foram identificados na Embrapa Milho e Sorgo com níveis razoáveis de resistência à LCM e vêm sendo incluidos nos programas de melhoramento genético tradicional. Fatores da planta que inibem o desenvolvimento e preferência das lagartas pewww.cultivar.inf.br

los tipos resistentes são citados como os mecanismos de resistência do milho à LCM. Nos últimos 15 anos, mais de 30 cultivares de milho resistentes a lagartas foram registradas e distribuídas, entretanto, a maioria dessas fontes de resistência é proveniente do grupo “Antigua” e tem a base genética muito estreita e níveis limitados de resistência. Outras fontes, com alto nível de resistência à LCM, não têm sido encontradas. Recentemente, com o desenvolvimento das técnicas de engenharia genética, viabilizando, inclusive, a transformação do milho, o conjunto de genes disponíveis para serem utilizados como fonte de resistência aumentou drasticamente, incluindo espécies evolutivamente distantes. Isso quebra o paradigma até então utilizado na pesquisa de resistência de plantas que era limitado à mesma espécie. Um esforço tremendo tem sido feito para desenvolver plantas expressando o gene bt, clonado da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt.), que codifica uma proteína tóxica. Essa espécie de bactéria produz a -endotoxina, que tem ação tóxica sobre um granAbril de 2003


duzido com sucesso, pela primeira vez, na planta de fumo, e resultou numa alta resistência dessa planta ao mandarová Manduca sexta, na Bélgica, pela empresa “Plant Genetic System”. Os milhos transgênicos vêm sendo obtidos e comercializados pelas empresas privadas. Nos EUA e Europa, o milho Bt. tem por objetivo dar resistência às duas gerações da lagarta-européia, Ostrinia nubilalis, que não ocorre no Brasil. Embora, normalmente, se considere que o milho Bt. seja efetivo contra as pragas em geral do milho, sabe-se que as toxinas do Bt. são altamente específicas na sua atividade, não apresentando o amplo espectro de ação encontrado nos inseticidas, resultando em eficiência diferenciada para cada espécie de inseto-alvo. Por outro lado, devido a essa especificidade, a sua utilização não oferece riscos a outros organismos. Embora os bioinseticidas à base de Bt. não tenham dado bons resultados no controle da LCM, existe a possibilidade de que plantas transgênicas com o gene bt apresentem níveis satisfatórios de resistência a essa espécie. Milho transgênico expressando a toxina (Cry 1A(b)) mostrou-se resistente à broca-do-colmo, Diatraea grandiosella e à lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea, com 100% de mortalidade. Neste tipo de ensaio, a LCM foi a menos susceptível à toxina do Bt., mas foi observado redução de 40% na sobrevivência e de 94% na biomassa das larvas sobreviventes. Aumento significativo no nível de resistência do milho à LCM foi obtido Fotos José M. Waquil

de número de espécie de insetos que passam pela fase de lagartas. A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt.) foi encontrada pela primeira vez causando doença em bicho-da-seda, no Japão, por volta de 1900. Como bioinseticida, essa bactéria vem sendo utilizada desde de 1920, em todo o mundo, sem causar qualquer problema aos produtores, consumidores ou ao ambiente. A limitação para sua maior participação no

Infestação inicial da lagarta-do-cartucho do milho

mercado se deve ao alto custo de produção e à instabilidade dos resultados obtidos no campo. Mesmo sendo o Bt. efetivo no controle de várias espécies de pragas do milho, conforme seu registro de uso, a eficiência das estirpes, hoje comercializadas, sobre a LCM é baixa. O que causa a morte a determinados grupos de insetos (lepidópteros) são vários tipos diferentes de proteínas, que se acumulam na bactéria na forma de um cristal, daí essas toxinas serem denominadas de “Cry” que é a abreviatura da palavra inglesa “Crystal”. Hoje, conhecem-se milhares de raças do Bt. com dezenas de diferentes toxinas. Entretanto, até então, as toxinas do Bt., incorporadas ao milho, são quatro: Cry 1A(b), Cry 1A(c), Cry 9C e Cry 1F. A transgenia tem sido uma tecnologia amplamente aceita em vários países do mundo e, em seis anos de existência, já atingiu cerca de 60 milhões de hectares (Figura 1). Entretanto, no Brasil, a introdução dessa tecnologia encontra-se sob avaliação. O gene, que determina a expressão da toxina Cry 1A(b), foi clonado do Bt. e introAbril de 2003

Waquil na colheita do milho Bt.; note-se que não há dano da lagarta-do-cartucho ao milho

pelo cruzamento de linhas com genes de resistência natural (não-transgênico) com linhas expressando o gene bt. Para se avaliar o potencial de utilização de milho transgênico no controle da LCM, foi avaliada uma coleção de híbridos expressando todas as toxinas do Bt. incorporadas no milho, nos EUA: Cry 1A(b), Cry 1A(c), Cry 9C e Cry 1F. Como testemunha, foi avaliado também um híbrido de milho com o mais alto nível de resistência natural (RN) à LCM. Sendo as toxinas Cry 1A(b) e Cry 9C as mais comuns entre os milhos transgênicos. Estas foram testadas em mais de um cul-

...

Spodoptera frugiperda em bioensaio de laboratório

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Fotos José M. Waquil

Danos ocasionados por Spodoptera às folhas do milho

... tivar. A toxina Cry 1A(c), como foi a primei-

ra a ser incorporada no milho e devido a sua instabilidade de resultados, encontra-se em desuso no milho. A toxina Cry 1F, por ser lançamento recente, só estava disponível em um único híbrido experimental. As avaliações da proteção à planta de milho dada por essas quatro toxinas e pela RN basearam-se em dois indicadores do inseto, sobrevivência de larvas e biomassa dos insetos sobreviventes e dois indicadores da planta, área foliar destruída e produção de grãos.

SOBREVIVÊNCIA DE LAGARTAS O número médio de larvas de LCM sobreviventes nas plantas se reduz naturalmente, mesmo nos hospedeiros mais susceptíveis, devido a vários fatores naturais de mortalidade. Normalmente, no campo, uma postura com cerca de 500 ovos do adulto da LCM é suficiente para infestar cinco plantas, o que daria em média cerca de 100 ovos/planta. Entretanto, no início do desenvolvimento o consumo foliar das larvas é muito pequeno e os danos causados pelas larvas pequenas são insignificantes. Os danos são causados pelas larvas médias e grandes no 1/3 final do ciclo larval. Acontece que, devido ao canibalismo (as lagartas maiores comem as menores), no final do ciclo, geralmente, fica uma ou, raramente, duas lagartas em cada cartucho do milho. Assim, partindo de uma média de 100 larvas/planta colocadas artificialmente, mesmo nas testemunhas, 15 dias após a infestação foram observadas apenas 4 larvas/planta (Figura 2). Com base no número de larvas sobreviventes do elenco de híbridos avaliados, notou-se três grupos: resistentes – que apresentaram menos de uma lagarta viva a cada 24

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embora as toxinas do Bt. apresentem atividade diferenciada, essa atividade também é afetada pela interação com o genótipo na qual os genes foram incorporados. As mesmas toxinas Cry 1A(b) e Cry 1A(c) presentes em híbridos diferentes apresentaram lagartas com diferentes biomassas. Assim, baseandose na biomassa das lagartas sobreviventes, o elenco das cultivares avaliadas pode ser classificado em: imune (toxina Cry 1F); altamente resistente (toxina Cry 1A(b)); moderadamente resistentes (RN, toxinas Cry 1A(b) e Cry 1A(c)) e suscetíveis (toxinas Cry 1A(c) e Cry 9C). Nota-se que, dependendo do genótipo onde os genes do Bt. são incorporados, as toxinas podem produzir diferentes respostas. Por exemplo, em uma cultivar com a toxina Cry 1A(b) obteve-se alta resistência e em outra cultivar com a mesma toxina a resistência foi moderada.

DANOS NAS FOLHAS

10 plantas; intermediários – cujo número de lagartas vivas variou de 2 a 3/planta e susceptíveis – cujo número de lagartas vivas foi mais de 4/planta (Figura 2). Notou-se, ainda, interação entre eventos e genótipos, pois as mesmas toxinas Cry 1A(b) e Cry 1A(c), expressas em híbridos diferentes, produziram resultados diferenciados quanto à sobrevivência e desenvolvimento da LCM.

BIOMASSA DAS LAGARTAS VIVAS Além de causar mortalidade, plantas inadequadas para determinada espécie de inseto podem reduzir seu desenvolvimento: pela presença de substâncias que inibem sua alimentação, pelo desequilíbrio dos nutrientes ou pela presença de substâncias que afetam o metabolismo e desenvolvimento, entretanto, sem causar morte. Normalmente, se avalia esse efeito estimando-se a biomassa dos insetos sobreviventes nas diferentes fontes de alimentação. Partindo-se de lagartas recémeclodidas, 15 dias após a infestação, já foi observada a inibição no desenvolvimento das lagartas que sobreviveram em alguns dos híbridos de milho Bt. e no híbrido com RN (Figura 3). Nas plantas de milho com a toxina Cry 1F, não houve sobrevivência de nenhuma LCM, portanto, com a concentração da toxina Cry 1F presente no híbrido 2722 IMI, a biomassa produzida foi zero. Sob a ação das toxinas Cry 1A(b) e Cry 1A(c) ou com RN ocorreu redução na biomassa das lagartas aí desenvolvidas. Entretanto, nas plantas contendo as toxinas Cry 9C, além de não ocorrer nenhuma mortalidade, as lagartas desenvolvidas nesse milho Bt. apresentaram a mesma biomassa (133.28 e 146.55 mg) das desenvolvidas no milho não-Bt (159.08 e 187.03 mg). É importante enfatizar que www.cultivar.inf.br

As mariposas da LCM colocam seus ovos nas folhas e, logo após a eclosão, as larvas iniciam sua alimentação raspando o limbo foliar. À medida que crescem dirigem-se para o cartucho do milho e provocam pequenas lesões nas folhas antes de se abrirem. Como os insetos possuem um corpo rígido externamente (exoesqueleto), eles crescem através de mudas da cutícula (casca). Apenas depois da terceira muda é que as lagartas consomem um volume expressivo de biomassa da planta. O consumo aumenta até a quinta muda, quando a lagarta paralisa sua alimentação e cai no solo, onde se transforma em pupa ou crisálida. Como a população de lagartas se reduz durante esse período e a quantidade de folha consumida depende de suas características, os danos variam de planta para planta e podem ser estimados, visualmente, através da escala de notas onde o zero seria sem nenhum dano e a nota nove para o máximo possível de dano, ou seja, o cartu-

Aspecto de planta resistente ao ataque da lagarta-do-cartucho

Abril de 2003


Figura 1. Área cultivada com plantas transgênicas no mundo

Figura 2. Sobrevivência de lagartas aos 15 dias

Planta suscetível (esq.) e planta resistente à Spodoptera frugiperda

cho da planta totalmente destruído. As avaliações indicaram apenas pequenas lesões nas plantas contendo a toxina Cry 1F. Por outro lado, as plantas não-Bt.(s) suscetíveis e as Bt.(s) contendo as toxinas Cry 1A(c) e Cry 9C não ofereceram nenhuma proteção às plantas de milho (Figura 4). Assim, de acordo com a área foliar destruída, pode-se reafirmar a imunidade das plantas com a toxina Cry 1F, a alta resistência oferecida pela toxina Cry 1A(b) que, dependendo do genótipo do milho, pode se manifestar com resistência moderada, juntamente com a RN e os demais tratamentos como suscetíveis.

PRODUÇÃO DE GRÃOS Sendo a produção de grãos resultado de herança quantitativa, muitas características da planta afetam o seu potencial. Desta forma, a produção geralmente não é um bom indicador de resposta de um único fator, como por exemplo, resistência da planta a uma espécie-praga. Assim, notou-se uma grande variação nos resultados devido às diferentes bases genéticas de cada cultivar (Figura 5). Em geral, os milhos transgênicos resistentes produziram cerca de 32% a mais que as testemunhas susceptíveis, com base no peso de grãos corrigido para 13% de umidade. Esta média está dentro dos limites estimados para as perdas causadas pela LCM. Duas exceções foram a cultivar com RN

Figura 3. Biomassa das lagartas sobreviventes

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Abril de 2003

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Fotos José M. Waquil

Figura 4. Notas de danos nas folhas

Normalmente, uma postura com cerca de quinhentos ovos é suficiente para infestar cinco plantas

uma estratégia única de controle. Adicionalmente, deve-se enfatizar que embora seja uma tecnologia revolucionária no manejo de pragas, ela deve ser acompanhada de rigoroso monitoramento e de estra-

Figura 5. Produção de grãos

Spodoptera frugiperda: danos de até 38,7% na produção de milho

... e sua respectiva testemunha, que devido à

sensibilidade ao fotoperíodo não floresceram e, conseqüentemente, não produziram grãos. Por outro lado, as plantas contendo as toxinas Cry 9C produziram praticamente igual à testemunha suscetível. Com base nos resultados observados, é possível concluir que há diferenças significativas entre os eventos Bt.(s), que produzem diferentes toxinas no milho quanto à resistência à LCM, destacando-se o que expressa a toxina Cry 1F como praticamente imune. Dependendo da base genética da cultivar, a toxina Cry 1A(b) pode produzir cultivares com alta resistência à LCM. Por

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Cultivar

outro lado, a toxina Cry 9C foi praticamente inócua para a LCM. Os milhos Bt.(s), contendo as toxinas Cry 1F e Cry 1Ab, reduzem a sobrevivência e o desenvolvimento da LCM resultando em menor área foliar destruída e maior produtividade. A cultivar com resistência natural (RN) à LCM apresentou resistência intermediária com base em quaisquer dos indicadores avaliados, podendo ser utilizada em adição à resistência conseguida via planta transgênica. Finalmente, torna-se necessária a conscientização das diferenças de respostas obtidas com as diferentes toxinas do Bt. e de não considerar milho Bt. como www.cultivar.inf.br

tégias para o manejo de possíveis raças de insetos resistentes como as áreas de refúgio. Por outro lado, no manejo dessa possível resistência, não se pode ignorar a ação efetiva dos demais métodos de controle, como o biológico, controle químico de focos de infestação e estratégias de erradicação de espécies. Não se pode considerar as áreas de refúgio como única prática efetiva no manejo dessa resistência. . José Magid Waquil, Embrapa Milho e Sorgo Francys M. F. Vilella, Embrapa Cenargen Abril de 2003


Dirceu Gassen

Nossa capa

Milho transgênico é alternativa contra a lagartado-cartucho, mas o uso equivocado pode aumentar a população de insetos resistentes

Ela resiste !!! A

cultura do milho é uma das mais importantes no Agronegócio brasileiro e mundial e representa cerca de 70% de todo o alimento usado na produção de ração animal. O controle dos insetos-praga desta cultura é um fator chave a ser considerado e a resistência dos insetos aos inseticidas é um dos maiores problemas da agricultura moderna. A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt.), comumente encontrada no solo, produz um cristal contendo uma proteína tóxica a certos insetos como lepidópteros, coleópteros e dípteros, mas sem efeito nocivo ao homem ou a animais silvestres e domésticos. A toxina Bt. tem-se mostrado segura tanto ao agricultor quanto ao meio ambiente. Abril de 2003

O milho transgênico (Bt.) é considerado um importante avanço na tecnologia de controle de lepidópteros em milho. Estudos mostram que alguns híbridos de milho Bt. expressando a toxina Cry1A(b) apresentaram um nível significativo de controle deste inseto, apesar de terem sido observados insetos sobreviventes nestes híbridos. Há, ainda, estudos mostrando até mesmo um aumento da tolerância de espécies-pragas a toxinas Cry 1A(c) no caso do algodão transgênico. Um dos fatores mais importantes no estabelecimento de sistemas de manejo baseados no uso de plantas transgênicas é o estudo do nível de suscetibilidade e tolerância de populações de S. frugiperda às toxinas do Bt. Isto possibilita a detecção e o monitoramento da suscetibilidade/resiswww.cultivar.inf.br

tência de populações da lagarta-do-cartucho (LCM), Spodoptera frugiperda, a essas toxinas, possibilitando o uso de táticas adequadas ao manejo da variabilidade das populações desse inseto-praga. A evolução da resistência dos insetos às toxinas do Bt. é uma das mais sérias características a serem consideradas no uso dessas toxinas como métodos de controle de pragas. Estudos de seleção em laboratório têm produzido lepidópteros resistentes a essas toxinas e, no campo, o primeiro inseto a apresentar resistência à toxina do Bt. foi Plutella xylostella. Apesar da importância econômica e ecológica dos lepidópteros-praga, pouco se conhece sobre a genética da maioria dos lepidópteros, especialmente a genética dos mecanismos relacionados à resistência às toxinas do Bt.

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Embrapa Cenargen

Francys explica a resistência da Spodoptera frugiperda ao Bt.

hereditário. Isso mostra um potencial para o aumento da proporção de sobreviventes desse inseto quando expostos a essa toxina geração após geração, utilizando a estratégia de baixa dose. Em algodão Bt., expressando a toxina Cry1A(c), já foi reportado um aumento na tolerância a essa toxina, mas sem evidências de diferenças na adaptação dos insetos. Entretanto, a extrapolação desses resultados para as condições de campo deve ser cuidadosamente considerada, uma vez que o uso do milho Bt. utiliza a estratégia de alta dose e devido a uma significativa redução na adaptação dos insetos, baseado numa significativa redução na biomassa das lagartas sobreviventes. Além disso,

no campo os possíveis indivíduos resistentes ao Bt., através de acasalamento com indivíduos não resistentes, podem diluir essa condição. No laboratório, o menor tamanho da população limita essa ocorrência. Tabela 1: Geração da família; biomassa do controle e dos insetos sobreviventes; porcentagem de mortalidade; número de indivíduos avaliados e categoria das famílias da lagarta-do-cartucho sobreviventes, após exposição à toxina do Bt. Cry 1A(b), durante três gerações, . Lincon, NE, 2001. Francys M. F. Vilella, Embrapa Cenargen José M. Waquil, Embrapa Milho e Sorgo

Tab. 01

... A maioria dos modelos para predizer a re-

sistência ao Bt. assume que a resistência é atribuída a uma mutação em um único locus. Em contraste, a genética quantitativa não faz suposição ao número de genes envolvidos e a expressão desta característica é dependente tanto do ambiente quanto das características genéticas. Informação sobre a questão de os sobreviventes no milho Bt. serem geneticamente diferentes não estão disponíveis. Desta forma, estudos de seleção em laboratório fornecem um modelo para estudos da evolução da resistência. Estudos de seleção de insetos da lagarta-do-cartucho foram realizados utilizando a toxina Cry1A(b), trabalhando-se com uma dose capaz de matar 50% da população (LC50). Dezenove famílias foram obtidas na primeira geração (F1), oito na segunda (F2) e seis na terceira (F3). Para cada família em cada geração foi esperado 50% de mortalidade, entretanto das 19 famílias da geração F1, apenas duas mostraram 50% de mortalidade, que foram consideradas susceptíveis. Apenas uma família foi considerada susceptível na geração F2 e uma na geração F3. Após quatro gerações, foram realizados novos bioensaios para determinar a LC50 que passou de 690 (F 0) para 3.771 g/ cm 2 (F 4) com um aumento de 5 vezes. Neste estudo, foi considerada também a biomassa de todos os insetos. Não houve correlação entra a porcentagem de mortalidade e a porcentagem de inibição do peso, sugerindo que são características independentes. Notou-se que os insetos sobreviventes à exposição à toxina Cry1A(b) são mais tolerantes e há um componente

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Geração

Família

F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F1 F2 F2 F2 F2 F2 F2 F2 F2 F3 F3 F3 F3 F3 F3

507 514 516 519 522 524 527 530 602 625 626 628 629 630 631 632 647 653 679 507C1 514C2 514C3 527C4 527C9 527C12 530C4 632C1 507C1II1 514C2II3 527C4II1 527C4II5 527C4AII10 527C4BII5

Biomassa Controle sobrevivente 387.31 269.48 254.75 336.47 294.78 213.47 332.77 141.54 145.17 213.21 304.74 220.73 255.35 259.3 191.42 224.2 150.39 271.17 278.35 310.32 211.76 162.17 131.21 242.59 222.34 184.34 220.56 239.75 149.05 283.33 257.97 248.05 303.53

81.51 29.01 92.99 85.74 160.25 31.89 112.18 55.22 97.49 54.11 101.12 22.47 89.65 70.89 43.63 52.52 0.99 32.27 20.29 49.94 22.7 18.22 47.36 49.51 41.55 29.53 27.95 32.04 27.34 15.44 6.88 26.87 20.64

% de mortalidade

Número

Categoria

10.42 45.87* 9 13.97 0 10.42 6.25 16.37 0 0 4.17 27.08 0 0 13.57 0 78.57* 7.29 8.33 13.59 13.66 63.84* 12.88 8.16 21.46 12.69 34.32 25.73 0 24.11 65.08* 6.73 17.5

64 64 126 128 64 127 127 125 39 128 128 128 128 128 128 128 128 128 128 244 251 256 382 256 256 128 768 116 128 256 256 255 76

R S R R R R R R R R R R R R R R SS R R R R S R R R R R R R R S R R

Porcentagem de insetos mortos com * mostram que não houve diferença significativa de 50%. O símbolo S significa susceptível, SS alto nível de susceptibilidade e R resistente

www.cultivar.inf.br

Abril de 2003


AENDA

Defensivos Genéricos

Revisão das monografias promovida pela ANVISA gera protestos no setor agrícola

A dança das monografias A

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA promoveu em 2002 uma ampla revisão nas Monografias dos ingredientes ativos usados nos defensivos agrícolas. Essas Monografias resumem para o público as características químicas e toxicológicas dessas substâncias e, principalmente, estabelecem limites máximos de resíduos nos alimentos a serem consumidos pela população, que se obedecidos não causarão danos à saúde com grande margem de segurança. No início da revisão eram catalogadas 457 Monografias, ao final restaram 385. Motivo principal das supressões: não haviam produtos registrados com aqueles ingredientes ativos. É isso mesmo, está escrito com todas as letras no Diário Oficial da União do dia 31 de dezembro de 2002, na Resolução 347 da ANVISA. Não, não são substâncias banidas por riscos inaceitáveis à saúde, simplesmente não estavam sendo ofertadas no momento, ou seja, risco zero. Por que então essa vassourada? Só nos resta divagar: seria por se tratar de substâncias mais antigas (e se inesperadamente algum fabricante independente de genéricos resolve fabricar e registrar alguns desses produtos, vade retro!)? ou, talvez, seria um potencial risco para o controle sanitário ou para a concorrência bem combinada, quiçá disputada?

Abrindo parênteses para explicar um dispositivo essencial ao processo de registro de um defensivo agrícola: somente após análise de todo o dossiê toxicológico e dos estudos de resíduos apresentados pelo introdutor de uma nova substância é que o governo publica sua Monografia; por sua vez, um bem público, fruto do labor de funcionários especializados e pagos pelo povo. Se não há mais uma Monografia, não há como restabelecer o uso de uma substância no mercado, mesmo que já estudada, salvo se você desenvolver novamente todo o dossiê toxicológico e de resíduos, a custos estratosféricos. Moral da história: cancelar uma Monografia significa diminuir a pressão de concorrência de substâncias já em domínio público. Fechando os parênteses. Exemplificando, vejam o caso do fungicida BENOMIL, introduzido pela Du Pont há décadas e recentemente retirado do mercado por iniciativa da própria empresa. Sua Monografia disciplinava o uso para abacaxi, algodão, amendoim, arroz, banana, brássicas (repolho), cana-de-açúcar, café, cebola, citros, cucurbitáceas (pepino, melancia, melão, abóbora, abobrinha), ervilha, essências florestais, feijão, fumo, maçã, manga, morango, ornamentais, pêssego, pimenta do reino, seringueira, soja, tomate, trigo e uva. Por não ter registro em vigor, dançou. Este caso é ainda mais incompreensível que outros, pois ha-

via pleito de registro em andamento: duas empresas protocolaram pedidos em 2001. Simplesmente os exames dos registros foram paralisados alegando-se reavaliação futura do ingrediente ativo. Fato inteiramente irregular e violador da legislação federal. A ANVISA além de não cumprir com sua obrigação de análise em prazo estimado por lei de um pleito de registro, cometeu a arbitrariedade de cancelar uma Monografia sem qualquer motivação de ordem pública plausível. A não ser o impedimento da entrada de novos concorrentes no mercado. Como o agricultor vai impedir a proliferação do fungo Ceratocystis paradoxa, causador da podridão dos toletes na canade-açúcar?...a infecção conhecida por mancha aureolada nos citros?...a murcha de verticilium no morango e tomate?...a gomose no pêssego?...o mal de mariquita na pimenta-do-reino?...como, se não há substância substitutiva? Foi uma festa e tanto. Sob a orquestra desafinada da ANVISA e o olhar complacente do MINISTÉRIO DA AGRICULTURA dançaram as Monografias, dançaram os fabricantes independentes de genéricos e dançaram os agricultores. Dançaram ao som de uma marcha anticomercial! Quando o governo é o autor ou vetor de práticas desleais de comércio, a quem se deve recorrer? À JUSTIÇA que demora . anos para decidir?...a quem?


Trigo

No caminho certo Os avanços no melhoramento genético de cultivares de trigo têm permitido substancial aumento da produtividade e maior qualidade final do produto

N

o Brasil, a considerável adaptação de algumas cultivares italianas introduzidas, marcou o início da cultura de trigo no sul do país, no século XIX. No entanto, a expansão de trigo para outros Estados e o desenvolvimento da cultura nessas áreas, processaram-se mais tarde. No Paraná, a cultura de trigo expandiu-se, primeiro, em Guarapuava, na região Sul e, posteriormente, adquiriu grande importância ao norte e oeste desse Estado, tornando-a a principal área produtora do cereal do país. Também cresceu a área de trigo no oeste do Estado de São Paulo e no sul de Mato Grosso do Sul. Atualmente, no Brasil Central, na região dos Cerrados, mais precisa30

Cultivar

mente no Estado de Goiás, no oeste de Minas Gerais e no sul de Mato Grosso, vem aumentando a área tritícola. Ainda merece destaque a Bahia, que tem algumas regiões potencialmente favoráveis à cultura de trigo, mesmo que não tenha expressão no momento. As atuais e potenciais regiões tritícolas brasileiras são: Região Sul, Região Centro-Sul e Região Central. As regiões Sul e Centro-Sul representam cerca de 98% da área atualmente cultivada com trigo. A Região Central, embora ainda pouco cultivada com trigo, representa enorme potencial para produção da cultura, tanto em regime de sequeiro, quanto em regime irrigado. www.cultivar.inf.br

A Região tritícola Centro-sul-brasileira, composta pelos Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, é, atualmente, a mais importante, considerando-se a área em cultivo. Nessa região, ocorrem solos com e sem alumínio, sendo o clima classificado como subtropical, com chuvas menos uniformes durante a época de cultivo de trigo. Em geral, pelas condições de ambiente mais seco, as cultivares de trigo produzidos nessa região têm apresentado melhor aptidão para panificação do que as mesmas cultivares produzidas na Região Tritícola Sul. No Paraná, o programa de melhoramento de trigo da Embrapa está sendo conduzido por meio de parceria entre Embrapa Trigo e Embrapa Soja, localiAbril de 2003


Fotos Arquivo Embrapa Trigo

zado em Londrina, PR. Também, em parceria com a Embrapa Trigo, na Região Centro-Sul, há trabalhos de melhoramento de trigo com a Embrapa Agropecuária Oeste, localizada em Dourados, MS.

CULTIVARES DE TRIGO DA EMBRAPA A cultura de trigo no Brasil, durante o século XX, sempre mereceu destaque na pesquisa, voltada, principalmente, para o incremento do potencial produtivo, que foi associado à melhor arquitetura de planta, à maior resistência a doenças e à adaptação a estresses causados por organismos vivos ou por oscilações ambientes. Esses fatores predominaram como objetivos do melhoramento genético da cultura. No entanto, com a privatização da comercialização de trigo, novo fator, denominado qualidade tecnológica, foi incorporado aos principais objetivos do melhoramento genético da cultura. As cultivares de trigo chamadas de “antigas” tinham a rusticidade (adaptação e resistência geral a estresses bióticos e abióticos) como característica de destaque. Além disso, as cultivares de trigo chamadas “modernas” têm porte baixo e, por isso, têm revelado grande redução na incidên-

Devido ao melhoramento genético, o potencial da triticultura aumentou

Abril de 2003

Pedro fala sobre a evolução das cultivares de trigo no Brasil

cia de acamamento. A adição de novos genes de resistência a doenças, a pragas e a estresses causados pelo ambiente adverso tem proporcionado substancial aumento no potencial de rendimento de grãos, que, atualmente, ultrapassa, com facilidade, os 1.500 kg/ha, que eram alcançados nas melhores lavouras de 20 anos atrás, e até ultrapassando 5.000 kg/ ha em muitas lavouras do Sul e Centro-sul do Brasil, sob ambiente de chuva natural. Atualmente, a Embrapa desenvolve um projeto de melhoramento genético de trigo de abrangência nacional, coordenado pela Embrapa Trigo e cobrindo diversas regiões produtoras do cereal. Esse projeto conta com 29 subprojetos/atividades, distribuídos em oito unidades de pesquisa da Embrapa, que abrangem sete Estados da nação. Fazem parte subprojetos que visam à avaliação e à identificação de novos materiais exótiwww.cultivar.inf.br

cos, que tenham genes de características importantes, sob os aspectos de resistência, de adaptação, de produtividade ou de aptidão tecnológica de uso. Esses genes passam a ser incorporados em genótipos brasileiros com adaptação local e, depois, disponibilizados para os subprojetos de criação de cultivares, conforme as macrorregiões de adaptação. Na Região Tritícola 8, correspondente ao Sul do Paraná, os objetivos principais envolvem, principalmente: elevado potencial produtivo e resistência ao acamamento; as resistências a doenças (destacando-se as ferrugens da folha e do colmo, o oídio, a giberela, as manchas foliares, a septoriose da gluma e as viroses), ao crestamento e à germinação na espiga. Na Região 7, Centro-Oeste do Paraná, e na Região 11, Sudeste de São Paulo, os objetivos são semelhantes aos da Região Sul, acrescentando-se, ainda, a resistência à helmintosporiose e à brusone. Nas regiões tradicionalmente mais quentes, correspondendo à Região 6 ( Norte do Paraná), Região 9 (Sul do Mato Grosso do Sul), e Região 12 (Sudoeste de São Paulo), abrangendo áreas com menor precipitação pluvial durante o ciclo de cultivo de trigo, os objetivos do projeto de melhoramento genético de trigo são direcionados para produtividade e resistência ao calor e à seca, e, em ambos, a resistência à mancha marrom (helmintosporiose) e à brusone são importantíssimas. Assim, a Embrapa está presente na criação de cultivares de trigo em todo o Brasil, visando atender às diversas regiões de adaptação e às diferentes demandas dos consumidores. Na tabela 1 são apresentadas as cultivares de trigo da Embrapa, indicadas para comercialização de semente

...

Cultivar

31


Arquivo Embrapa Trigo

Lavoura de trigo plantada com a cultivar BRS 179

...na região de adaptação Centro-sul-brasi-

leira. São apresentadas, também, algumas das principais características das cultivares que poderão influenciar por ocasião da escolha da cultivar a ser semeada. Merecem destaque as cultivares de trigo, indicadas na Região Centro-sul-brasileira: BRS 177, pelo potencial de rendimento, pela cor branca da farinha, pela resistência à giberela e às manchas foliares e

pela considerável resistência à germinação na espiga; BRS 192, pelo rendimento e cor branca da farinha, desejada pelo mercado de moagem e consumidor de farinha; BRS 208 e BRS 220, pela produtividade, resistência, rusticidade e qualidade para panificação; BRS 209, BRS 210, pela produtividade associada à superior qualidade industrial. Novas cultivares de trigo continuam a ser

CULTIVARES* DE TRIGO DA EMBRAPA INDICADAS PARA SEMEADURA NA REGIÃO CENTRO-SUL-BRASILEIRA EM 2003 Cultivar

Estado

Ciclo

BRS 49 BRS 120 BRS 176 BRS 177 BRS 192 BRS 193 BRS 208 BRS 209 BRS 210 BRS 220 BRS Figueira Embrapa 10-Guajá Embrapa 16 Trigo BR 17-Caiuá Trigo BR 18-Terena Trigo BR 23 Trigo BR 31-Miriti Trigo BR 35 Trigo BR 40 -Tuiúca

PR PR PR PR PR PR PR, MS PR PR PR PR MS PR MS PR, MS, SP PR MS PR MS

MÉDIO MÉDIO TARDIO MÉDIO MÉDIO PRECOCE MÉDIO PRECOCE PRECOCE MÉDIO MÉDIO PRECOCE MÉDIO PRECOCE PRECOCE MÉDIO PRECOCE MÉDIO PRECOCE

32

Cultivar

Grupo Bioclimático** SP SP ST P/SP SP SP SP P SP P T SP P SP SP SP SP SP P

Crestamento (Al+++)*** ALTA R MÉDIA MR-MS ALTA MR ALTA MR MÉDIA MR MÉDIA MS MÉDIA MR MÉDIA MR BAIXA MR MÉDIA MR BAIXA MR BAIXA S MÉD/ALTA R-MR BAIXA MS BAIXA MR-MS MÉDIA R-MR BAIXA S MÉDIA R BAIXA MR- MS Altura

Classe Comercial PÃO PÃO BRANDO BRANDO BRANDO PÃO PÃO MELHORADOR MELHORADOR PÃO BRANDO MELHORADOR PÃO MELHORADOR PÃO BRANDO PÃO BRANDO MELHORADOR

www.cultivar.inf.br

desenvolvidas pela Embrapa, anualmente, para todas as regiões produtoras. A melhoria da resistência, do potencial de rendimento e da qualidade, em novos “ideotipos” de planta, adaptados às condições brasileiras, estão sendo buscadas pela pesquisa. São desafios que requerem investimentos de longo prazo em recursos humanos e materiais. Como cada ciclo de melhoramento de trigo requer, de quatro a oito anos, até a produção de linhagens geneticamente uniformes, que, somado a, no mínimo, três anos de experimentação, para testes comparativos com variedades testemunhas, que estão em cultivo, cada nova cultivar representa, em média, dez anos de pesquisa para que ela chegue às lavouras. As demandas das indústrias moageiras e do mercado consumidor de farinhas estão em constante ajuste, e a pesquisa, em geral, está atendendo aos novos desafios que vêm sendo apresentados, ofertando ao mercado cultivares com distintas aptidões tecnológicas de uso. Espera-se que, no futuro, a pesquisa, os produtores de grãos e as indústrias de moagem e de transformação consigam atender às demandas dos consumidores finais, consumidores de pão, de massas, de bolos, de biscoitos e de. mais produtos derivados de trigo. Pedro Luiz Scheeren e Martha Zavariz de Miranda, Embrapa Trigo Dionisio Brunetta, Sergio Roberto Dotto e Manoel Carlos Bassoi, Embrapa Soja Paulo Gervini de Sousa, Embrapa Agropecuária Oeste Abril de 2003


Dirceu Gassen

Trigo

RS e PR

O custo do plantio O

s custos de produção de uma lavoura estão condicionados ao tipo de sistema produtivo, ao nível tecnológico utilizado, às variações de preço sazonal e local às condições climáticas e à produtividade resultante. A Tabela 1 apresenta estimativas de custo operacional de produção e o perAbril de 2003

centual de participação de cada item no custo para a cultura de trigo conduzidas sob sistema plantio direto, levantados nos municípios de Guarapuava/PR, Cascavel/PR, Erechim/RS, Não-Me-Toque/RS e Campos Novos/SC. O custo operacional é composto pela soma dos custos variáveis (despesas diretas - sementes, fertilizantes, defensiwww.cultivar.inf.br

vos etc.) e parcela dos custos fixos diretamente associados à implantação da lavoura. A matriz de custos usada está estruturada por atividades do ciclo de cultivo (sistematização do solo, plantio, tratos culturais, colheita e outros custos) e os coeficientes empregados baseiam-se em informações de técnicos e produtores destas localidades e nas reco-

...

Cultivar

33


104,46 a 237,23, com uma relação benefício/custo operacional de 1,11 a 1,25. Se estabelecermos um preço de paridade de R$32,00/sc 60kg para próxima safra, as margem obtidas serão de R$183 a 352,5/ha, com uma relação de benefício/custo de 1,19 a 1,38. Em relação aos custos no ano anterior, estima-se um aumento nos custos de produção entre 40 a 51 %, em função da alta generalizada de insumos, em especial dos fertilizantes, combustíveis e sementes (reajustes entre 48 a 60%). .

Gráfico 1 Custo operacional médio por tonelada (R$/t), safra 2002/2003

Cláudia De Mori, Embrapa Trigo

Gráfico 2

Tabela 1 . Custo operacional de trigo (R$/ha) e % de participação dos itens no custo t

Porcentagem de participação das diferentes etapas no ciclo de produção ITENS DE CUSTO

... mendações técnicas da cultura. Os pre-

ços de insumos, de máquinas, de equipamentos e de produtos usados nos cálculos são de março de 2003 nas respectivas cidades. Os custos operacionais de produção de trigo estimados nestas localidades variaram de R$ 927,51/ha a R$ 966,21/ ha. Considerando produtividades médias observadas nas localidades, os custos médios operacionais estimados por tonelada variaram de R$ 386,46/tonelada a R$ 446,63/tonelada (ou R$23,19 a 26,80/sc 60 kg). As despesas diretas (gastos com insumos – semente, fertilizantes, fungicidas, herbicidas e inseticidas) variam de R$ 545,34 a 586,66/ ha. De maneira geral, o plantio representa de 38,96 a 42,7% dos custos operacionais. Os itens de maior participação nos custos são: sementes (de 15,25 a 19,16%), fertilizante de base (de 15,73 a 17,60 %) e operações de colheita (de 11,08 a 12,42%). Considerando os preços praticados no início de março, que estão variando de R$ 29,00 a R$30,40/sc, a margem operacional por hectare obtida varia de

34

Cultivar

SISTEMATIZAÇÃO DE SOLO Herbicida dessecação Aplicação herbicida PLANTIO Sementes (tratada ou não) Tratamento de semente Adubo de base Semeadura/adubação TRATOS CULTURAIS Adubo de cobertura Aplic.adubação de cobertura Herbicida Aplicação herbicida Inseticida Fungicida 1 Espalhante adesivo Aplicação fungicida/inseticida Fungicida 2 Aplicação fungicida Formicida Mão-de-obra aplicação Transporte interno COLHEITA OUTROS CUSTOS Transporte externo Recebimento/secagem Assistência Técnica Seguridade Social Juros de custeio Seguro da Produção CUSTO OPER. TOTAL CUSTO OPER. / TONELADA

Guarapuava/PR R$/ha % 35,20 25,40 9,80 380,07 143,00 34,96 163,20 38,91 255,12 56,00 9,83 1,07 9,80 9,08 55,00 1,61 19,61 67,20 19,61 6,30 104,40 152,72 23,20 18,00 15,50 25,52 40,29 30,22 927,51 386,46

3,80 2,74 1,06 40,98 15,42 3,77 17,60 4,20 27,51 6,04 1,06 0,12 1,06 0,98 5,93 0,17 2,11 7,25 2,11 0,68 11,26 16,47 2,50 1,94 1,67 2,75 4,34 3,26 -

Cascavel/PR R$/ha %

Erechim/RS R$/ha %

R$/ha

%

33,57 18,90 14,67 412,46 180,00 36,10 152,00 44,36 244,96 37,80 9,80 1,24 12,22 6,80 69,00 1,90 29,33 41,60 29,33 5,94 107,07 168,18 38,72 17,29 15,97 23,55 41,51 31,13 966,21 439,18

28,50 18,15 10,35 365,37 143,00 33,06 153,00 36,31 290,79 65,60 15,34 1,24 10,35 9,12 62,75 2,93 20,70 62,60 20,70 8,00 0,64 10,82 105,00 148,26 21,00 16,51 15,79 23,10 41,06 30,80 937,91 446,63

32,43 23,3 9,13 366,44 172,50 153,00 40,94 274,14 65,60 15,69 1,24 6,08 62,50 18,25 62,50 18,25 16,00 0,63 7,40 107,43 149,04 21,49 17,29 15,61 23,64 40,58 30,44 929,48 422,49

3,49 2,51 0,98 39,42 18,56 16,46 4,40 29,49 7,06 1,69 0,13 0,65 6,72 1,96 6,72 1,96 1,72 0,07 0,80 11,56 16,04 2,31 1,86 1,68 2,54 4,37 3,27 -

3,47 1,96 1,52 42,7 18,62 3,74 15,73 4,59 25,35 3,91 1,01 0,13 1,26 0,70 7,14 0,20 3,03 4,30 3,03 0,61 11,08 17,40 4,01 1,79 1,65 2,44 4,30 3,22 -

3,04 1,94 1,10 38,96 15,25 3,52 16,31 3,87 31,00 6,99 1,64 0,13 1,10 0,97 6,69 0,31 2,21 6,67 2,21 0,85 0,07 1,15 11,20 15,81 2,24 1,76 1,68 2,46 4,38 3,28 -

Não Me Toque/RS

Campos Novos/SC R$/ha % 34,75 25,40 9,35 395,45 187,50 170,00 37,95 267,02 70,40 8,49 10,64 9,35 7,12 51,30 18,70 51,30 18,70 13,00 0,63 7,40 121,60 159,96 24,32 18,00 16,38 26,75 42,58 31,93 978,77 407,82

3,55 2,60 0,96 40,40 19,16 17,37 3,88 27,28 7,19 0,87 1,09 0,96 0,73 5,24 1,91 5,24 1,91 1,33 0,06 0,76 12,42 16,34 2,48 1,84 1,67 2,73 4,35 3,26 -

Guarapuava/PR Cascavel/PR Erechim/RS Não-Me-Toque/RS Campos Novos/SC Produtividade média estimada (kg/ha) Custo operacional (R$/sc. 60 kg) * Preço de mercado ** Receita Bruta (R$/ha) Custos Variáveis Diretos*** Custo operacional (R$/ha) Margem Operacional (R$/ha) Relação Benefício / Custo operacional Produtividade mínima considerando preço de mercado

2.400,00 23,19 29,00 1.160,00 556,52 927,51 232,49 1,25 1.918,98

2.200,00 26,35 29,20 1.070,67 545,34 966,21 104,46 1,11 1.985,36

2.100,00 26,80 30,00 1.050,00 559,45 937,91 112,09 1,12 1.875,83

2.200,00 25,35 29,30 1.074,33 556,64 929,48 144,85 1,16 1.903,37

2.400,00 24,47 30,40 1.216,00 586,66 978,77 237,23 1,24 1.931,79

* segundo produtividade média esperada na região ** preço médio pago na primeira quinzena de março/03 *** gastos desembolsados com a compra de insumos (semente, fertilizante, fungicidas, inseticidas e herbicidas)

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Abril de 2003


Fotos Arquivo Embrapa Trigo

Trigo

Custo Custo maior maior no no MS MS Apesar do aumento do custo de produção, Estado deverá expandir em 13% a área plantada

N

os últimos três anos vem crescendo o interesse pela cultura do trigo em Mato Grosso do Sul. Nesse Estado, a área cultivada com trigo que foi de 34.949 ha em 2000, passou para 61.748 ha em 2001 e 91.716 em 2002. No período ocorreu, portanto, substancial crescimento de 162% na área cultivada. Essa tendência deve continuar neste ano, pois, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, a estimativa da área plan-

Geraldo: “o plantio de trigo no MS deverá concentrar-se em abril”

Abril de 2003

tada em Mato Grosso do Sul na safra de 2003 será de, aproximadamente, 103 mil hectares, um aumento de 13% em relação a 2002. No Estado, o plantio de trigo deverá concentrarse no mês de abril. Do ponto de vista agronômico, a sucessão soja/trigo é de uma importância incontestável, pois o solo permanece coberto durante o ano, evitando ou reduzindo os graves problemas de erosão, degradação da matéria orgânica e perda de umidade.

Segundo Alceu, o que mais pressiona os custos são as sementes, os fungicidas e as pulverizações da parte aérea

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Quanto ao aspecto econômico, cabe ao produtor decidir se planta ou não o trigo, decisão que deve ser tomada mediante a possibilidade de lucro com a cultura. Nesta safra de 2003, a estimativa do custo de produção por hectare é de R$ 674,44. Estão incluídas, nesse custo, as despesas com os insumos, com as operações agrícolas (serviços de máquinas) e outras mais relacionadas ao processo produtivo e comercialização. Os itens que mais estão pressionando os custos são: sementes (33,33% do custo total), fertilizantes (22,24%) e os fungicidas para tratamento das sementes e pulverizações da parte aérea (15,48%), totalizando esses três insumos, 71,08% do custo total com a lavoura. A lucratividade vai depender, logicamente, da produtividade a ser alcançada e do preço do trigo na época da comercialização. Na hipótese de ser obtido o preço do ano de 2002, que foi em média de R$23,40 por saco de 60 kg, o produtor poderá alcançar uma receita líquida de R$261,56 por hectare. Considerando uma possível produtividade de 40 sacos por hectare, o custo por saco seria de R$16,86, abaixo, portanto, do preço do ano passado e do preço atual (março/ . 03) que está por volta de R$30,00. Geraldo Augusto de Melo Filho e Alceu Richetti, Embrapa Agropecuária Oeste Cultivar

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Feijão Embrapa Arroz e Feijão

Pelo alto O

feijoeiro comum é afetado por grande número de doenças incitadas por fungos, bactérias, vírus e nematóides. Dentre as doenças fúngicas que afetam a parte aérea da planta, a antracnose, cujo agente causal é o fungo Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. & Magn.) Scrib., merece especial destaque tanto pela freqüência com que é constatada como pela magnitude dos danos que ocasiona. Apresenta ampla distribuição no Brasil, sendo prevalecente nos principais Estados produtores, afetando as cultivares suscetíveis estabelecidas em localidades com temperaturas moderadas a frias e alta umidade relativa. Os danos por ela ocasionados são tanto maiores quanto mais precoce for o seu aparecimento na lavoura, podendo atingir 100% quando sementes infectadas são semeadas em condições de ambiente favoráveis à doença. As estratégias que podem ser utilizadas Tab. 1 - Efeito de fungicidas sozinhos ou em misturas, aplicados via convencional, no controle da antracnose e no rendimento do feijoeiro comum. Embrapa Arroz e Feijão, 1999 Dose p.c.1 Severidade (L/ha) de Doença2

Fungicida

Testemunha Derosal 500 SC + Opus 0,5 + 0,1 Cercobin 500 SC + Opus 0,6 + 0,1 Comet 0,2 Comet 0,3 Comet 0,4 Folicur 200 CE 1,0 C. V. (%) -

7,0 5,1 5,9 2,8 2,0 2,3 4,0 21,3

Rendimento (kg/ha)

Eficiência de controle (%)3

943 1813 1538 1800 2002 2163 1732 19,6

31,7 18,3 70,0 83,3 78,3 50,0 -

1 p.c. = produto comercial. 2Severidade de doença, escala 1 a 9; onde: 1 = ausência de sintomas e 9 = plantas mortas ou próximas ao colapso. 3Eficiencia de Controle (%) = 100 - [(Nota do tratamento - 1) / (Nota da testemunha - 1)] 100.

Tab. 2 - Efeito de misturas de fungicidas, aplicados via convencional, no controle da antracnose e no rendimento do feijoeiro comum. Embrapa Arroz e Feijão, 2001. Severidade Rendimento Eficiência de Dose p.c.1 (kg ou L/ha) de doença2 (kg/ha) controle (%)3

Fungicida Testemunha Folicur 200 CE + Suport Folicur 200 CE + Brestanid Folicur 200 CE + Brestanid Folicur 200 CE + Amistar Tilt + Brestanid CV (%)

0,7 + 0,8 0,7 + 0,4 0,5 + 0,4 0,7 + 0,12 0,35 + 0,4 -

8,1 5,5 5,5 5,2 4,4 5,5 9,0

454 1687 2312 2156 2036 2069 20,8

36,6 36,6 40,8 52,1 36,6 -

p.c. = produto comercial. 2Severidade de doença, escala de 1 a 9, onde: 1 = ausência de sintomas e 9 = plantas mortas ou próximas ao colapso. 3Eficiencia de Controle (%) = 100 - [(Nota do tratamento - 1) / (Nota da testemunha - 1)] 100. 1

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Cultivar

Dentro as doenças que afetam a parte aérea da planta, a antracnose é uma das mais prejudiciais ao fejoeiro. No entanto, alguma medidas a serem tomadas pelo produtor podem evitar danos para o controle da doença incluem as práticas culturais, a resistência genética e o emprego de produtos químicos. Dentre as práticas culturais, podem ser citadas a utilização de sementes de boa qualidade sanitária, a rotação de culturas e a época de plantio. O emprego de sementes de boa qualidade sanitária é uma prática cultural que apresenta excelentes resultados. Estas sementes devem ser produzidas em condições de clima semi-árido, utilizando-se o sistema de irrigação por infiltração ou por subirrigação em várzeas tropicais. O emprego de cultivares resistentes à doença é, para o produtor, a forma mais prática e econômica de controle. Entretanto, a variabilidade patogênica apresentada pelo agente causal dificulta a obtenção das mesmas pelos programas de melhoramento das instituições de pesquisa. Conseqüentemente, muitas vezes, o produtor não tem outra alternativa e acaba utilizando cultivares suscetíveis. Nessa situação, e na maioria das vezes, é obrigatório o uso de produtos químicos para minimizar os danos ocasionados pela doença. O controle da doença com fungicidas pode ser alcançado através do tratamento químico das sementes e da pulverização da parte aérea das plantas. Através do tratamento químico das sementes, o controle só será efetivo se destruir os esporos e/ou o micélio do fungo que estiverem alojados internamente. Entretanto, é através das pulverizações foliares preventivas, utilizando-se fungicidas protetores e/ou sistêmicos, que o controle desta enfermidade tem sido realizado com maior sucesso. Tanto a época de aplicação como a alternância de princípios ativos são fatores primordiais no controle da antracnose. www.cultivar.inf.br

Os fungicidas recentemente testados pela Embrapa Arroz e Feijão e suas eficiências relativas de controle quando aplicados, em duas e três pulverizações, pelo método convencional, utilizando-se um pulverizador costal de CO2, com barra de 5 bicos Teejet (11002 VK) em leque, distanciados de 0,50 m, sob pressão de 0,4 Mpa e vazão de 280 L.ha, são apresentados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. Pode-se observar que todos os fungicidas e misturas utilizadas controlaram eficientemente a antracnose do feijoeiro comum, diferindo significativamente da testemunha. Entretanto, as maiores eficiências de controle foram obtidas com o fungicida Comet nas três doses utilizadas e, com a mistura de Folicur + Amistar. Nessas tabelas são apresentados, também, o efeito do controle da doença utilizando-se os fungicidas e doses testados, no rendimento da cultura. Ao comparar a média dos rendimentos dos tratamentos com fungicidas, com a testemunha sem controle, foram obtidos incrementos no rendimento da ordem de 95% (Tabela 1) e 352% (Tabela 2). Esses resultados demonstram que, em casos de alta severidade de doença, a utilização de fungicidas aplicados mediante pulverização convencional é uma medida eficiente e econômica para o controle da antracnose do feijoeiro comum. O emprego dos fungicidas mencionados depende de seu registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e . Abastecimento - MAPA. Aloisio Sartorato e Carlos Agustín Rava, Embrapa Arroz e Feijão Abril de 2003



Fotos Dirceu Gassen

Perigo no frio Os corós e o pulgão-verde são as principais pragas iniciais dos cereais de inverno

A

s pragas iniciais causam a redu ção na população de plantas e de afilhos de cereais de inverno. Ocorrem em manchas na lavoura e necessitam de proteção no momento da semeadura ou da emergência de plantas. Entre os insetos consumidores de sementes e de plântulas de cereais de inverno se destacam os corós. Na fase inicial de desenvolvimento vegetativo, a principal praga é o pulgão verde dos cereais.

CORÓS Os corós são insetos com hábitos alimentares diversos. Espécies diferentes desenvolvem em madeira, material orgânico, excrementos, animais mortos e em plantas cultivadas. É importante diferenciar as espécies que ocorrem no sul do Brasil, no Uruguai e na Argentina, das que ocorrem nos cerrados. No sul do Brasil a distribuição de chuvas durante o ano todo permite o desenvolvimento de corós no inverno e no verão. As larvas

causam danos, principalmente no inverno e no início da primavera. Nos cerrados as espécies de corós apresentam ciclo biológico adaptado para o período de estiagem de inverno. As larvas ou pupas entram em diapausa de inverno e não causam danos nesse período. Os adultos nascem depois das primeiras chuvas de primavera. Realizam a postura em outubro e novembro. As larvas desenvolvem e iniciam os danos em fim de dezembro e até março. Quando inicia o período de estiagem (abril) as larvas estão completamente desenvolvidas entrando em diapausa. Por isso, nos cerrados as larvas de corós causam danos nas culturas de verão e não no inverno. No sul do Brasil, o coró-da-pastagem e o coró-do-trigo causam danos, principalmente, nos meses de inverno. As estratégias de controle e a expectativa de controle de corós no sul do Brasil e nos cerrados são completamente diferentes. Nesse texto desenvolveremos as estratégias de manejo de corós que causam danos

nas culturas de inverno.

CORÓ-DA-PASTAGEM O coró-da-pastagem, Dilobodrus abderus, ocorre em regiões de vegetação rasteira, típica de pastagens e de lavouras sob plantio direto. A fêmea adulta faz a postura elaborando pastilhas de palha, em galerias no solo, em janeiro e fevereiro. A palha é necessária para a alimentação das larvas pequenas. O desenvolvimento de populações de larvas está associado à presença de palha na superfície do solo na época da oviposição. As larvas atingem o terceiro estádio de desenvolvimento em fim de maio, quando inicia a fase de danos em plantas. As larvas desenvolvem até o início de setembro, causando danos severos em culturas de inverno.

CORÓ-DO-TRIGO O coró-do-trigo foi constatado pela primeira vez com danos severos em cereais de inverno em 1982, em Tapera, RS. Inicialmente foi identificado como Phytalus sancti-


do o secamento prematuro das folhas. A capacidade de dano desta espécie parece ser maior do que a dos outros pulgões, principalmente, na fase de emergência e até o afilhamento do trigo, cevada ou aveia. O nível de danos para pulgões é estimado em 10 insetos por plântula ou afilho. No caso de transmissão de virose o teste de alimentação pode ser suficiente para inocular o vírus e comprometer o desenvolvimento da planta.

CONTROLE DE PULGÕES

Os pulgões são extremamente prejudiciais à agricultura

DANOS DE CORÓS Nos meses de inverno os danos de larvas de corós ocorrem apenas no sul. Nos cerrados as espécies são distintas e os danos ocorrem no verão. Cada larva do coró-da-pastagem ou do coró-do-trigo consome aproximadamente 10 plantas de trigo, cevada ou aveia. Portanto, 10 larvas/m² consumirão 100 plantas. Mais de 20 larvas/m² consumirão todas as plantas cultivadas na área. O nível de dano deve ser estabelecido com base no potencial de produção da lavoura. Cada larva/m² poderá reduzir, aproximadamente 4 % o rendimento de grãos de trigo e de cevada. Em lavoura com elevado potencial de produção (60 sacos/ha), dois corós/ m2 poderão causar 8 % de perdas, compensando a adoção de métodos de controle. Em lavouras com potencial de 20 sacos/ha o nível de dano poderá ser elevado para 4 a 5 larvas/m2, para compensar a adoção de métodos de controle.

CONTROLE DE CORÓS A população e a distribuição de corós na lavoura deve ser determinada antes da semeadura das culturas de inverno. A forma mais eficiente de controle de corós é o tratamento de sementes com inseticidas. A distribuição de aproximadamente 300 sementes/m² e espaçamento de 17 cm entre fileiras facilitam a cobertura da área e o controle com o tratamento de sementes. Na cultura de milho, com apenas 5 ou 6 sementes/m² e espaçamento de 80 cm entre fileiras, semeado em agosto e início de setembro, a aplicação de inseticida líquido no sulco de semeadura apresenta maior eficácia do que o tratamento de semente, no controle de corós.

PULGÃO-VERDE DOS CEREAIS Os pulgões se deslocam longas distâncias, levados por correntes de ar. Instalam-se nas plantas e se reproduzem por partenogênese telítoca e viviparidade. Os embriões desenvolvem-se no interior do corpo do pulgão, a partir de óvulos não fecundados, dando origem a ninfas fêmeas. Enquanto o alimento é adequado os pulgões dão origem a ninfas sem asas. A falta de alimento e populações aglomeradas induzem a geração de pulgões com asas, que disseminam por centenas de quilômetros até encontrar plantas hospedeiras adequadas. O pulgão-verde dos cereais, Schizaphis graminum, ocorre com maior freqüência, em regiões ou em períodos de temperatura elevada. É a única espécie de pulgão que ocorre em cereais de inverno e que desenvolve também em culturas de verão como o sorgo. A população de pulgões desenvolve no início do desenvolvimento de cereais de inverno, quando a temperatura ainda é mais elevada, causando danos severos em trigo, cevada e aveia. É a espécie de pulgão de maior importância econômica no sul do Brasil e nos cerrados. Apresenta longevidade de até um mês e cada fêmea pode dar origem a mais de 70 ninfas. O dano do pulgão ocorre pela injeção de saliva tóxica, pela extração de seiva e pela possibilidade de ser transmissor do vírus do nanismo amarelo da cevada. Nos pontos de alimentação provoca pequenos pontos de coloração negra e amarelecimento geral das plantas. Inicia a infestação na base das plantas, seguindo na bainha das folha e na base do limbo foliar, provocando a morte do tecido e causan-

O programa de controle biológico de pulgões, desenvolvido pela Embrapa, com a introdução de parasitóides, resultou em extraordinário sucesso. O pulgão-verde dos cereais apresenta maior capacidade de reprodução e desenvolve nos períodos de temperatura elevada, sobrevivendo à ação dos agentes de controle biológico natural. Ao decidir pelo controle de pulgões em cereais de inverno é importante optar por inseticidas seletivos ou pelo tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos. A capacidade de reprodução muito elevada e o dano severo do pulgão-verde dos cereais, no início do desenvolvimento de cereais de inverno, exigem monitoramento freqüente para evitar perdas na lavoura. O tratamento de sementes apresenta a vantagem de ação seletiva sobre o pulgão e de proteção contra pragas-de-solo que consomem as partes subterrâneas das plantas. . Dirceu Gassen, Gerente técnico da Cooplantio Cultivar

pauli. Em 1991 adultos dessa espécie foram encaminhadas ao Dr. Morón, no México, que mais tarde descreveu o inseto como Phyllophaga triticophaga. Com base em estudos realizados a partir da década de 80, esse coró apresenta ciclo biológico de um ano em pastagens naturais. As características de oviposição em setembro e outubro e o desenvolvimento inicial das larvas no verão indicam que o coró-do-trigo apresenta aspectos biológicos similares aos corós adaptados ao clima de cerrados. Essa espécie pode ter migrado para o sul e sob condições de lavoura, fora do habitat natural e com disponibilidade intermitente de plantas (alimento) entre colheitas de verão e de inverno, atrasa o ciclo biológico do inseto. A postura é realizada em áreas de solo arado, plantio direto ou pastagens e independe da presença de palha na superfície. A larva causa danos em culturas de verão (soja, milho, feijão e pastagens) e estende o consumo até julho ou agosto.

Gassen fala sobre as principais pragas dos cereais de inverno


Agronegócios

Comércio, fome e biotecnologia

V

ocê já cedeu à tentação de refletir por que existem leis não escritas? Que essas leis, usualmente, impõem-se com maior rigor que àquelas votadas, aprovadas, sancionadas e publicadas? Que a sua transgressão é muito difícil e a punição, quando ocorre uma violação aos seus ditames, é severa, inflexível e inexorável? As denominadas leis de mercado adaptam-se admiravelmente para a reflexão proposta. A oferta e a demanda mundiais de alimentos mantêm-se em equilíbro instável, sob o efeito tampão dos estoques que atenuam impactos conjunturais, em uma ou outra direção. Sua outra finalidade é regular preços, evitando oscilações abruptas e freqüentes. Esse equilíbrio obedece às leis do mercado, as quais não reconhecem as mazelas sociais, sendo insensíveis à miséria e à fome. Uma das leis não escritas pode ser sintetizada na frase “Fome não é mercado!”. É um corolário da lei da oferta e da procura. Não basta haver demanda, impõe-se que haja recursos para adquirir o alimento demandado, caso contrário a fome passa a ser catalogada como demanda reprimida ou potencial.

DESMENTIR O PROFETA Há 200 anos, a Ciência se esmera para desmentir a profecia de um cientista. Em especial nós, agrônomos, pugnamos para contestar Malthus e sua profecia pessimista, embora plausível no contexto em que foi formulada. A lógica fria do mercado indica que estamos produzindo alimentos em quantidade suficiente para 40

Cultivar

atender à demanda de quem possui recursos para adquiri-los. Porém, sob a óptica da dignidade humana, o mundo tem alargado, inexoravelmente, o fosso que separa a oferta da demanda efetiva de alimentos. A maior parcela dos alimentos são consumidos no país onde são produzidos. Apenas um quarto da produção agrícola é transacionada no mercado internacional. Entretanto, regiões endemicamente famélicas como a África sub-Sahara ou o sudeste asiático, constituem áreas onde as condições para produção são adversas, a demanda por alimentos é elevada e crescente, porém a renda é baixa e decrescente. Como a globalização potencializa a insensibilidade das leis de mercado às questões sociais, as inovações tecnológicas devem ser analisadas sob outro ângulo: a nova tecnologia contribui para incluir os excluídos? Essa consideração humanitária também auxilia a tornar menos embaçado o cenário futuro do agronegócio. É possível imiscuir em uma única reflexão a inexorabilidade das leis de mercado e o advento da biotecnologia, emoldurada pela fome endêmica. A discussão sobre Organismos Geneticamente Modificados embute uma grande dúvida e diversas inquietudes que lhe são caudatárias. A grande dúvida é: os consumidores europeus e japoneses, que evidenciam um grau diferenciado de resistência a OGMs, persistirão nessa posição no médio prazo? No frigir dos ovos, a sua propalada aversão será suficiente para barrar o crescimenwww.cultivar.inf.br

to que vem sendo observado na área cultivada com OGMs?

INOVAÇÃO E RESISTÊNCIA Toda a inovação introduz incertezas e altera paradigmas, dificultando a antecipação de rumos. Entretanto, é possível elaborar cenários, considerando as invariantes e aventando algumas hipóteses plausíveis. Uma das invariantes aponta para o esgotamento das áreas agricultáveis, ainda passiíveis de incorporação ao processo produtivo, sob o paradigma tecnológico atual. A segunda invariante assinala que essas áreas estão concentradas em algumas regiões do planeta, claramente demarcadas. Uma hipótese provável é a inflexão da curva populacional a partir de 2050, quando a taxa de crescimento populacional flutuará em torno de zero. Aceita-se como imutável a exigência dos consumidores por elevada qualidade fisiológica, organoléptica e nutricional dos alimentos. O quadro de protecionismo (ou o seu phasing out) é considerado neutro, para os eventuais efeitos de comércio internacional de OGMs. Porém, temos de admitir que as exigências de biossegurança serão rígidas e crescentes, independente do cenário estabelecido.

REJEIÇÃO A TRANSGÊNICOS Os principais fatores que impulsionaram e mantêm as restrições a alimentos transgênicos, até o momento, são: a) os consumidores de países ricos têm Abril de 2003


suas necessidades alimentares e nutricionais plenamente atendidas, não havendo demanda potencial reprimida; b) esses consumidores, de alta renda per capita e baixo comprometimento do orçamento doméstico com alimentação, têm decisões de consumo relativamente inelásticas em relação aos preços; c) surpreendentemente, existe um elevado grau de desinformação e desconhecimento em relação à biossegurança. O cidadão de Primeiro Mundo é bombardeado, diariamente, com milhares de informações, relativas às mais díspares áreas do conhecimento. Estando bem nutrido e sem pressão do custo da alimentação, não há razão para preocupar-se em qualificar sua informação a respeito de OGMs. Em conseqüência, assume a postura cômoda de rejeitar, liminarmente, seu uso; d) a seqüência de fiascos dos desaparelhados sistemas de proteção à saúde dos países europeus, no decurso da última década, minou a confiança dos consumidores. Agastados, preferem evitar qualquer risco por não acreditarem na capacidade dos Governos em proteger a sua saúde; e) no inconsciente coletivo, moldou-se o estereótipo de ser politicamente correto posicionar-se favoravelmente a ONGs brandindo bandeiras de proteção ao ambiente, justiça social, combate à fome e outras questões às quais não cabe, em tese, contestação. Essas ONGs também adotaram a luta contra OGMs; f) atente-se que, até pouco tempo, a Europa estava tecnologicamente defasada no setor, em relação aos EUA, o que provocou uma onda de xenofobia tecnológica, com um discreto apoio de governos e empresas concorrentes às ações das ONGs. Com o avanço científico recente do Velho Continente, muda a postura dos Governos e empresas high-tech em relação a OGMs.

PROGNÓSTICOS Com o avanço da Ciência e o reaparelhamento dos órgãos de controle sanitário, é possível antever uma mudança na percepção dos OGMs pela sociedade. Os riscos hipotéticos, aventados em relação a esses produtos, não estão se concretizando, sobrevindo um efeito capitis diminutio na opinião pública. Agreguese o realinhamento focal da inovação tecnológica, que se transmuta do produtor para ser orientada às demandas do consumidor. Os OGMs do futuro estarão voltados a aspectos nutricionais, organolépticos, de qualidade e de melhoria da saúde da população. Mesmo assim, algumas questões chave, como a resistência a estresses bióticos (pragas) ou abióticos (seca, alagamento, salinidade, baixa fertilidade ou acidez do solo) continuarão a ser expoentes entre as prioridades de desenvolvimento tecnológico. Os principais fatores que impulsionarão a incorporação desses atriAbril de 2003

butos serão a estabilidade da produção, o crescimento da demanda e a necessidade de incorporação de áreas marginais, inacessíveis pela tecnologia atualmente disponível.

MERCADO Os alimentos derivados de OGMs deverão inserir-se, paulatinamente, no mercado exigente e sofisticado dos países ricos. O nicho inicial se consolidará uma vez solvidas as questões de biossegurança e proteção ambiental. A moldura desse quadro é um aumento substancial nas condições de biossegurança e da credibilidade do sistema de vigilância sanitária. Nos países pobres, onde a fome é alcunhada de demanda represada, a sofisticação alimentar é uma exigência marginal, posto que duas outras preocupações são transcendentais: produzir a baixo custo e com estabilidade e garantir a segurança alimentar. As populações desses países, seguramente, terão resistência quase nula ao consumo de OGMs.

PLANO B Num mundo em constante mutação, não é de bom alvitre fixar-se em uma alternativa exclusiva, por mais provável que aparente ser. O estigma do bioterrorismo é uma preocupação que consta da agenda de lideranças, cientistas e formadores de opinião. Na horripilante hipótese de os alimentos (ou medicamentos) virem a se transformar em armas de guerra biológica (como os aviões foram transformados em mísseis), é factível uma introversão do consumidor e uma adesão maciça a produtos orgânicos. Não que alimentos orgânicos sejam infensos à ação de bioterroristas, porém a paranóia coletiva tenderá a associar técnicas de bioterrorismo e avanços tecnológicos na fronteira da ciência, rejeitando a ambos, como forma de aplacar o medo e obnubilar a impotência.

ECONOMETRIA O IFPRI (International Food Policy Research Institute) e o Danish Institute of Agriculture têm efetuado predições do comportamento do mercado internacional de alimentos, face ao ingresso de OGMs. A assunção é que países emergentes adotarão a tecnologia em diferentes graus, os Estados Unidos, a China e a Argentina manterão ou ampliarão o estado atual, ao passo que o Japão e a Europa permaneceriam parcialmente refratários. Os cientistas utilizaram um sofisticado modelo matemático do comércio agrícola mundial, abordando preços, produção e as conseqüências da mudança de preferência alimentar dos consumidores. Tomou-se como exemplo o milho e a soja, com suas variantes OGM e não OGM. O modelo assume que é possível manter cadeias de processamento e comercialização estanques, certificando a origem e garantindo a identidade ao longo da cadeia. www.cultivar.inf.br

MERCADO INTERNACIONAL O estudo objetivou prospectar a redivisão do mercado, posto o cenário de um mercado parcialmente restrito a OGMs, apesar da expansão de sua área de plantio. Por definição, o modelo assume que o custo de produção de OGMs é menor e/ou que a sua rentabilidade é igual ou maior, caso contrário os agricultores não adotariam a tecnologia em larga escala. Os resultados empíricos indicam que o mercado se ajustaria rapidamente a uma situação de segregação, distribuindo as partidas de commodities de acordo com as exigências de cada mercado. O modelo detectou prêmios e ágios do mercado em função da segmentação, condicionados à arbitragem de cada commoditie. Em mercados que aceitam OGMs, o preço de variedades não modificadas cai, em virtude do alto grau de substituibilidade entre OGMs e não OGMs, e também pela extensa área de não OGMs destinada a atender aos mercados restritivos. Os resultados são análogos aos obtidos com um eventual aumento da preferência por produtos orgânicos. Os produtos orgânicos são consistentemente mais caros, reflexo de custos de produção mais elevados e da menor escala de produção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os autores concluem que os países em desenvolvimento, com menores restrições ao uso e consumo de OGMs, tenderão a beneficiar-se em maior grau. As regiões mais receptivas à biotecnologia e mais sensíveis aos aumentos de produtividade, deverão apropriar-se da maior parcela de mercado. Entretanto, pela velha máxima do beati possidentis, as empresas e os países que efetivamente dominarem a tecnologia estarão em condições excepcionais para apropriação do maior ganho financeiro, qualquer que seja a forma de reorganização do mercado. Estrategicamente, mais importante que o uso de OGMs, será dominar a tecnologia, para auferir os ágios e prêmios que o mercado vier a conceder, aliados aos ganhos com a propriedade intelectual da inovação tecnológica. A oportunidade está em direcionar as energias, atualmente despendidas em protestos contra conglomerados multinacionais que lideram o mercado de biotecnologia, para exigir maiores investimentos em institutos nacionais de pesquisa, permitindo que o Brasil possa ombrear-se com outros detentores de tecnologia agrícola na fronteira do conhecimento, seja ela lastreada em biotecnologia ou em outra vertente que possa conferir ao agronegócio o mesmo grau de competitividade . no mercado globalizado. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Soja e Diretor Técnico da FAEA-PR http://www.gazzoni.pop.com.br

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Mercado Agrícola - Brandalizze Consulting

Colheita a todo vapor e fretes “comendo” parte dos ganhos Os produtores estão colhendo a maior safra da história do Brasil, com o ritmo crescendo neste mês de abril, quando deveremos ter a concentração da entrada de produto nos armazéns e também o maior movimento de entrega nos portos para a exportação. O ponto chave é que a safra cresceu e, ao mesmo tempo, o volume de produto a ser transportado avançou em pelo menos 25% em relação ao ano passado. Neste mês de abril teremos chegando ao mercado cerca de 30 das 50 milhões de t previstas para a soja; 6 milhões de t de arroz e, também, 20 milhões de t de milho. Ou seja, dos grandes grãos, teremos mais de 56 milhões de t chegando em abril, mais ou menos 50% da safra total em apenas um mês. Com isso, deveremos ver forte pressão de alta nos fretes neste período. O Brasil ainda tem mais de 90% da safra transportada via rodovia, por caminhões, o que, com o aumento dos custos dos pedágios, combustível, pneus e principalmente pelo crescimento da procura de transporte, irá dar fôlego no avanço nos fretes, por um período de 45 a 70 dias. Neste momento, os produtores perdem para os fretes entre 5 e 10% a mais do que normalmente os custos dos transportes levam, desvalorizando o valor final dos grãos. Estamos no mês em que os produtos deveriam ficar nos armazéns e não nas estradas.

MILHO Governo traz opções e segura a queda O mercado do milho, que atingiu os menores indicativos do ano em março, aparentemente chegou ao fundo do poço e já começou a dar pequenos sinais de reação. Para melhorar o quadro, ainda tivemos os primeiros pregões de Opções do governo, que serviram para dar sustentação às cotações. Mesmo assim, o balcão do Sul continuou trabalhando em cima dos R$ 16,00 e R$ 17,00, com um e outro conseguindo manter os R$ 18,00. Enquanto isso, os lotes nessa região giraram ao redor dos R$ 19,00, com posições semelhantes também no Sudeste, números melhores para o Nordeste e sem movimento no Centro-Oeste. Os consumidores estiveram recebendo grandes volumes de milho diretamente no balcão, sem criar, com isso, necessidade de grandes compras no mercado de lotes livres. Ainda estamos em momentos desfavoráveis aos produtores, que devem manter o produto estocado para fechar mais à frente.

SOJA Chegando ao fundo do poço A colheita da safra da soja está chegando aos 40% neste começo de abril e, agora, teremos os maiores volumes de entrada da oleaginosa no mercado. Assim, a pressão de fretes, junto ao mercado de exportação, deverá fazer com que trabalhemos em cima dos piores momentos do ano para os produtores. Com isso, a melhor alternativa é entregar os contratos antecipados e tentar segurar o que restar para negociar mais à frente, já que em maio poderemos ter oscilações devido ao plantio da safra americana, e a cada problema climático nos EUA, teremos reflexos positivos por aqui. Os indicativos da soja ficaram entre R$ 37,50 e R$ 40,00 no Sul do país, e também no mercado paulista; entre R$ 29,00 e R$ 33,00 no Mato Grosso; entre R$ 31,00 e R$ 34,00 em Goiás, com R$ 1,50 acima no Mato Grosso do Sul, e entre R$ 33,00 e R$ 36,00 em Minas Gerais. No Nordeste houveram poucos negócios, ficando os valores próximos aos dos mineiros. As cotações atuais são, pelo menos, 70% acima do que se negociava na colheita passada.

FEIJÃO Pico de preço em março O mercado do feijão, que em fevereiro foi buscar os menores indicativos do ano, em março conseguiu

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Cultivar

reverter o quadro e chegou a negociar em R$ 150,00 pelo carioca, melhores valores praticados em tempos de Real. O Feijão já mostrou neste ano as suas duas pontas, ou seja, a de baixa, que chegou a recuar aos R$ 80,00 e a máxima, que pagou aos produtores R$ 140,00. Assim, já demarcou o espaço que deverá trabalhar neste ano, com a safra chegando agora em abril e devendo ficar entre os R$ 95,00 e os R$ 120,00, com alguns momentos podendo mostrar números melhores. A safra deste ano aparentemente é menor que a safra passada mas, como temos um grande “marketeiro” falando no feijão todo dia - nosso Presidente, que segue em seus discursos apontando que a população tem de comer feijão - estamos tendo pressão de demanda, devendo manter as cotações do produto firmes. O Feijão Preto continua com o valor próximo a R$ 65,00, mas chegou a ficar acima dos R$ 90,00, devendo girar acima dos R$ 75,00 pelo que resta da safra.

ARROZ Safra abaixo da demanda A colheita da safra gaúcha estará se concentrando neste mês de abril e, assim, os maiores volumes que

irão chegar poderão segurar grandes avanços nos indicativos. Em março tivemos os menores indicativos do ano e, pelo que observou, já bateu o fundo do poço. Como neste ano os produtores estão mais capitalizados e grande parte do setor irá transformar o arroz em ativo real, ou seja, um investimento, estes estão segurando, devendo, também, tentar forçar alta em poucas semanas. Mas as chances de reação são pequenas porque para os próximos 45 a 60 dias, a maior parte das grandes indústrias estarão cobertas com produto que receberam a fixar, não podendo forçar a venda, e sim trabalhar com estoques dos produtores, sem necessidade de capital de giro. A safra poderá ficar abaixo das 11 milhões de t porque a produtividade das lavouras gaúchas, colhidas no final de março, apresentaram números menores que as expectativas e, assim, poderemos ver o Brasil colhendo menos que se apontava. No Mato Grosso, os produtores voltaram a dizer que não devem fechar um milhão de t, contra os 1,3 previstos. Assim, deveremos ter um quadro de oferta e demanda apertado, porque o consumo deste ano deverá ir acima das 12 milhões de t, e pouco produto tem para ser comprado no Mercosul, além de não termos estoques. É uma boa notícia para os produtores.

CURTAS E BOAS CHINA - trouxe uma ótima notícia em março, apontando que as importações da soja, que antes eram de 14 a 16 milhões de t, estão indicadas em 17,2 milhões de t, e há comentários que este número poderá ir acima. O país está apontando para um forte avanço no consumo. EUA - o plantio da safra americana do milho e da soja começa neste mês de abril e, de agora em diante, é bom estarmos atentos ao andar do clima pelos campos americanos. Segue com indicativos de 75 milhões de t para a soja e 260 milhões de t para o milho. ARGENTINA - a colheita da safra do milho local está em crescimento e já avança para acima dos 50%. Com isso, tudo indica que poderá fechar acima das 14 milhões de t. Para a soja, os números cresceram e agora são de 35 milhões de t - no ano passado foram 29 milhões. A colheita da soja estará começando em abril, devendo continuar durante todo o mês de maio ALGODÃO - o Brasil entrou com um pedido, junto à OMC, de avaliação dos subsídios que os americanos dão ao setor algodoeiro local, fazendo com que aos poucos a pressão cresça. O Brasil também está tendo apoio da Índia e da Argentina, que querem ver os subsídios recuarem. O ponto certo é que temos de continuar batendo nesta tecla, para que mais tarde consigamos derrubar as proteções existentes e, assim, poder crescer com sustentabilidade de mercado livre. A safra segue em andamento no Brasil e a colheita vem nas próximas semanas. O mercado deste ano sinaliza para números maiores que na safra passada. TRIGO - o plantio está começando no Paraná, e pelo visto irá ter área em crescimento. Os produtores reclamam que não têm conseguido boa disponibilidade de sementes, e isso acaba sendo um limitador para o crescimento da área. Aponta-se a safra em torno das 4 milhões de t. Novamente sinaliza para boas cotações aos produtores, que devem receber de R$ 500 a R$ 650 por tonelada.

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Abril de 2003




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